Microeconomia 8535279202, 9788535279207

Paul Krugman e Robin Wells falam sobre Economia a partir de exemplos práticos, do dia a dia - um texto construído em tor

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Folha de Rosto
Copyright
Dedicatória
Os Autores
Sumário
Prefácio
Agradecimentos
PARTE 1 O QUE É ECONOMIA?
INTRODUÇÃO Negócios comuns da vida
QUALQUER DOMINGO
A mão invisível
Meu benefício, seu custo
Bons tempos, maus tempos
Para frente e para cima
Uma máquina de descobertas
CAPÍTULO 1 Princípios básicos
TERRENO COMUM
Princípios que fundamentam a escolha individual: o cerne da economia
Interação: Como as economias funcionam
Interações no conjunto da economia
CAPÍTULO 2 Modelos econômicos: trade-offs e comércio
DE KITTY HAWK PARA DREAMLINER
Modelos em economia: alguns exemplos importantes
O uso de modelos
CAPÍTULO 2 APÊNDICE Gráficos em economia
Percebendo o quadro geral
Gráficos, variáveis e modelos econômicos
Como os gráficos funcionam
Um conceito fundamental: inclinação de uma curva
Cálculo da área acima ou abaixo da curva
Gráficos que retratam informação numérica
PARTE 2 OFERTA E DEMANDA
CAPÍTULO 3 Oferta e demanda
JEANS INDIGO BLUE
Oferta e demanda: um modelo de mercado competitivo
A curva da demanda
A curva da oferta
Oferta, demanda e equilíbrio
Variações na oferta e demanda
Mercados competitivos – e outros
CAPÍTULO 4 Excedente do produtor e do consumidor
GANHANDO COM LIVROS
Excedente do consumidor e curva da demanda
Excedente do produtor e curva da oferta
Excedente do consumidor, excedente do produtor e ganhos do comércio
Uma economia de mercado
CAPÍTULO 5 Controle de preços e cotas: intervenção nos mercados
CIDADE GRANDE, IDEIAS NEM TANTO
Por que os governos controlam preços
Teto de preços
Pisos de preços
Controle de quantidades
CAPÍTULO 6 Elasticidade
MAIS PRECIOSO QUE VACINA CONTRA A GRIPE
Definição e medida da elasticidade
Interpretação da elasticidade-preço da demanda
Outras elasticidades da demanda
A elasticidade-preço da oferta
Elasticidades
PARTE 3 INDIVÍDUOS E MERCADOS
CAPÍTULO 7 Impostos
OS COBRADORES DE IMPOSTOS – O INÍCIO
A economia dos impostos: visão preliminar
Benefícios e custos da tributação
Equidade e eficiência tributária
Entendendo o sistema tributário
CAPÍTULO 8 Comércio internacional
PEÇAS DE CARRO E SUCÇÃO DE EMPREGOS
Vantagem comparativa e comércio internacional
Oferta, demanda e comércio internacional
Os efeitos da proteção comercial
A economia política de proteção comercial
PARTE 4 ECONOMIA E TOMADA DE DECISÃO
CAPÍTULO 9 Tomada de decisão por indivíduos e empresas
VOLTANDO A ESTUDAR
Custos, benefícios e lucro
Tomando decisões “quanto”: o papel da análise marginal
Custos irrecuperáveis
Economia comportamental
PARTE 5 O CONSUMIDOR
CAPÍTULO 10 O consumidor racional
MEXILHÕES DEMAIS
Utilidade: obtendo satisfação
Orçamento e consumo ótimo
Gasto do dólar marginal
Da utilidade à curva da demanda
CAPÍTULO 10 APÊNDICE Preferências e escolhas do consumidor
O mapa da função utilidade
Curvas de indiferença e escolha do consumidor
Usando as curvas de indiferença: substitutos e complementos
Preços, renda e demanda
PARTE 6 DECISÃO DE PRODUÇÃO
CAPÍTULO 11 Por trás da curva da oferta: insumos e custos
A MARGEM DE LUCRO DOS AGRICULTORES
A função de produção
Dois conceitos fundamentais: custo marginal e custo médio
Custos de curto prazo versus de longo prazo
CAPÍTULO 12 Concorrência perfeita e curva da oferta
FAZENDO O QUE É NATURAL
Concorrência perfeita
Produção e lucros
A curva de oferta do setor
PARTE 7 ESTRUTURA DE MERCADO: ALÉM DA CONCORRÊNCIA PERFEITA
CAPÍTULO 13 Monopólio
O DESEJO DE TODOS É TER PEDRAS PRECIOSAS
Tipos de estrutura de mercado
O significado de monopólio
Como um monopolista maximiza o lucro
Monopólio e políticas públicas
Discriminação de preços
CAPÍTULO 14 Oligopólio
PEGO EM FLAGRANTE
A prevalência do oligopólio
Entendendo o oligopólio
Os jogos dos oligopolistas
Oligopólio na prática
CAPÍTULO 15 Concorrência monopolística e diferenciação de produto
DIFERENCIAÇÃO DO FAST-FOOD
Significado de concorrência monopolística
Diferenciação de produto
Entendendo a concorrência monopolística
Concorrência monopolística versus concorrência perfeita
Controvérsias sobre diferenciação de produto
PARTE 8 MICROECONOMIA E POLÍTICA PÚBLICA
CAPÍTULO 16 Externalidades
QUEM VAI FAZER A CHUVA PARAR?
Economia da poluição
Políticas contra a poluição
Externalidades positivas
Externalidades de rede
CAPÍTULO 17 Bens públicos e recursos comuns
O GRANDE FEDOR
Bens privados – e outros
Bens públicos
Recursos comuns
Bens artificialmente escassos
CAPÍTULO 18 Análise econômica do estado do bem-estar
ALIMENTANDO 40 MILHÕES
Pobreza, desigualdade e políticas públicas
O estado de bem-estar nos Estados Unidos
O debate sobre o estado de bem-estar
PARTE 9 RISCO E FATORES DE MERCADO
CAPÍTULO 19 Mercados de fatores e distribuição de renda
O VALOR DE UM DIPLOMA
Fatores de produção da economia
Produtividade marginal e demanda de fatores
Teoria de distribuição de renda segundo a produtividade marginal é realmente verdadeira?
Oferta de trabalho
CAPÍTULO 19 APÊNDICE Análise da oferta de trabalho pelas curvas de indiferença
A linha do orçamento da alocação de tempo
Efeito de um salário mais alto
Análise da curva de indiferença
CAPÍTULO 20 Incerteza, risco e informação privilegiada
UMA DÉCADA DIFÍCIL
A economia de aversão ao risco
Comprando, vendendo e reduzindo o risco
Informação privilegiada: O que você não sabe pode prejudicá-lo
Glossário
Soluções para as questões de “Teste seu entendimento”
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Microeconomia
 8535279202, 9788535279207

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MICROECONOMIA 3.ed. Paul Krugman e Robin Wells

Tradução Regina Célia Simille de Macedo

Do original: Microeconomics Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Worth Publishers Copyright © 2013, 2009, 2006 by Worth Publishers © 2015, Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográ cos, gravação ou quaisquer outros. Copidesque: Barbara Miguel Alves Revisão: Edna da Silva Cavalcanti Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani Produção digital: Freitas Bastos Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras

Rua Sete de Setembro, 111 – 16º andar 20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Rua Quintana, 753 – 8º andar 04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil Serviço de Atendimento ao Cliente 0800-0265340 [email protected] ISBN 978-85-352-7920-7 ISBN (versão digital): 978-85-352-7921-4 Edição original: ISBN: 978-1-4292-8342-7 Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão. Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação. Créditos Capítulo 6, Tabela 6-1: Eggs, beef. Kuo S. Huang and Biing-Hwan Lin, Estimation of Food Demand and Nutrient Elasticities from Household Survey Data, United States Department of Agriculture Economic Research Service Technical Bulletin, n. 1887 (Washington, DC: U.S. Department of Agriculture, 2000); Stationery, gasoline, airline travel, foreign travel. H.S. Houthakker e Lester D. Taylor, Consumer Demand in the United States, 1929–1970: Analyses and Projections (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1966); Housing, restaurant meals. H.S. Houthakker e Lester D. Taylor, Consumer Demand in the United States: Analyses and Projections, 2nd ed. (Cambridge, MA: Harvard

University Press, 1970). Capítulo 6, Economia em ação: Leslie, L.L. e Brinkman, P.T. (1988) e Economic Value of Higher Education. Washington, DC: American Council on Education: Heller, D.E. (1999) e Effects of Tuition and State Financial Aid on Public College Enrollment. e Review of Higher Education, 23(1), 65–89; Hemelt, S.W. e Marcotte, D.E. (2008), “Rising Tuition and Enrollment in Public Higher Education”, IZA Discussion Paper n. 3827. Capítulo 11, Economia em ação: www.ercb.com, Dr. Dobb’s Electronic Review of Computer Books. Capítulo 16, Economia em ação: M. Gross, J.L. Sindelar, J. Mullahy e R. Anderson, Policy Watch: Alcohol and Cigarette Taxes, Journal of Economic Perspectives, 7, 211–222, 1993. Capítulo 19, Para mentes curiosas: Nancy Stokey, A Quantitative Model of the British Industrial Revolution, 1780–1850. Carnegie-Rochester Conference Series on Public Policy, 55, 55–109, 2001. Capítulo 20, Para mentes curiosas: Joe Nocera, “Can We Turn Off Our Emotions When Investing?” New York Times, september 29, 2007; http://www.nytimes.com/2007/09/29/business/29nocera.html? r=1&scp=1&sq=nocera%20Zweig&st=cse&oref=slogin. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ W95m           Wells, Paul Krugman 3. ed.           Microeconomia / Paul Krugman, Robin Wells; [tradução Regina Célia Simille de Macedo]. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. il. ; 28 cm. Tradução de: Microeconomics Inclui índice ISBN 978-85-352-7920-7 1. Microeconomia. 2. Economia. I. Wells, Robins. II. Título. 14-17841

CDD: 330 CDU: 330

Em qualquer lugar, para os iniciantes que todos fomos um dia.

Os Autores

Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008, é professor de Economia na Universidade de Princeton, onde leciona regularmente o curso introdutório. Formou-se na Universidade de Yale e tem PhD pelo MIT. Lecionou na Universidade de Yale, Stanford e MIT. Entre 1982 e 1983 fez parte da equipe do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência dos Estados Unidos. Suas pesquisas estão principalmente na área de comércio internacional, sendo um dos criadores da “nova teoria do comércio”, que se concentra em retornos crescentes e concorrência imperfeita. Também trabalha com finanças internacionais, concentrando-se em crises cambiais. Em 1991, recebeu a medalha John Bates Clark da American Economic Association. Além das aulas e da pesquisa acadêmica, escreve extensivamente para o público leigo. É colunista regular do New York Times. Seus livros mais recentes, ambos best-sellers, incluem A crise de 2008 e a economia da depressão (Elsevier), uma história das recentes dificuldades econômicas e suas implicações para a política econômica e e Conscience of a Liberal, um estudo da economia política da desigualdade econômica e suas relações com a polarização da política da era dourada até o momento. Seus livros anteriores, Peddling Prosperity e e Age of Diminished Expectations, tornaram-se clássicos modernos. Robin Wells foi professora e pesquisadora em Economia na Universidade de Princeton. Formou-se na Universidade de Chicago e tem PhD pela Universidade da Califórnia, em Berkeley. Fez pesquisa de pós-doutorado no MIT. Lecionou na Universidade de Michigan, Universidade de Southampton

(Reino Unido), Stanford e MIT. Suas aulas e pesquisa se concentram em teoria da organização e incentivos.

Sumário

PARTE 1

O QUE É ECONOMIA?

INTRODUÇÃO Negócios comuns da vida QUALQUER DOMINGO A mão invisível Meu benefício, seu custo Bons tempos, maus tempos Para frente e para cima Uma máquina de descobertas CAPÍTULO 1 Princípios básicos TERRENO COMUM Princípios que fundamentam a escolha individual: o cerne da economia Interação: Como as economias funcionam Interações no conjunto da economia CAPÍTULO 2 Modelos econômicos: trade-offs e

comércio

DE KITTY HAWK PARA DREAMLINER Modelos em economia: alguns exemplos importantes O uso de modelos

CAPÍTULO 2 APÊNDICE Gráficos em economia Percebendo o quadro geral Gráficos, variáveis e modelos econômicos Como os gráficos funcionam Um conceito fundamental: inclinação de uma curva Cálculo da área acima ou abaixo da curva Gráficos que retratam informação numérica

PARTE 2

OFERTA E DEMANDA

CAPÍTULO 3 Oferta e demanda JEANS INDIGO BLUE Oferta e demanda: um modelo de mercado competitivo A curva da demanda A curva da oferta Oferta, demanda e equilíbrio Variações na oferta e demanda Mercados competitivos – e outros CAPÍTULO 4 Excedente do produtor e do

consumidor

GANHANDO COM LIVROS Excedente do consumidor e curva da demanda Excedente do produtor e curva da oferta Excedente do consumidor, excedente do produtor e ganhos do comércio Uma economia de mercado CAPÍTULO 5 Controle de preços e cotas: intervenção

nos mercados

CIDADE GRANDE, IDEIAS NEM TANTO

Por que os governos controlam preços Teto de preços Pisos de preços Controle de quantidades CAPÍTULO 6 Elasticidade MAIS PRECIOSO QUE VACINA CONTRA A GRIPE Definição e medida da elasticidade Interpretação da elasticidade-preço da demanda Outras elasticidades da demanda A elasticidade-preço da oferta Elasticidades

PARTE 3

INDIVÍDUOS E MERCADOS

CAPÍTULO 7 Impostos OS COBRADORES DE IMPOSTOS – O INÍCIO A economia dos impostos: visão preliminar Benefícios e custos da tributação Equidade e eficiência tributária Entendendo o sistema tributário CAPÍTULO 8 Comércio internacional PEÇAS DE CARRO E SUCÇÃO DE EMPREGOS Vantagem comparativa e comércio internacional Oferta, demanda e comércio internacional Os efeitos da proteção comercial A economia política de proteção comercial

PARTE 4

ECONOMIA E TOMADA DE DECISÃO

CAPÍTULO 9 Tomada de decisão por indivíduos e

empresas

VOLTANDO A ESTUDAR Custos, benefícios e lucro Tomando decisões “quanto”: o papel da análise marginal Custos irrecuperáveis Economia comportamental

PARTE 5

O CONSUMIDOR

CAPÍTULO 10 O consumidor racional MEXILHÕES DEMAIS Utilidade: obtendo satisfação Orçamento e consumo ótimo Gasto do dólar marginal Da utilidade à curva da demanda CAPÍTULO 10 APÊNDICE Preferências e escolhas do

consumidor

O mapa da função utilidade Curvas de indiferença e escolha do consumidor Usando as curvas de indiferença: substitutos e complementos Preços, renda e demanda

PARTE 6

DECISÃO DE PRODUÇÃO

CAPÍTULO 11 Por trás da curva da oferta: insumos e

custos

A MARGEM DE LUCRO DOS AGRICULTORES A função de produção

Dois conceitos fundamentais: custo marginal e custo médio Custos de curto prazo versus de longo prazo CAPÍTULO 12 Concorrência perfeita e curva da

oferta

FAZENDO O QUE É NATURAL Concorrência perfeita Produção e lucros A curva de oferta do setor

PARTE 7

ESTRUTURA DE MERCADO: ALÉM DA CONCORRÊNCIA PERFEITA

CAPÍTULO 13 Monopólio O DESEJO DE TODOS É TER PEDRAS PRECIOSAS Tipos de estrutura de mercado O significado de monopólio Como um monopolista maximiza o lucro Monopólio e políticas públicas Discriminação de preços CAPÍTULO 14 Oligopólio PEGO EM FLAGRANTE A prevalência do oligopólio Entendendo o oligopólio Os jogos dos oligopolistas Oligopólio na prática CAPÍTULO 15 Concorrência monopolística e

diferenciação de produto

DIFERENCIAÇÃO DO FAST-FOOD Significado de concorrência monopolística Diferenciação de produto Entendendo a concorrência monopolística Concorrência monopolística versus concorrência perfeita Controvérsias sobre diferenciação de produto

PARTE 8

MICROECONOMIA E POLÍTICA PÚBLICA

CAPÍTULO 16 Externalidades QUEM VAI FAZER A CHUVA PARAR? Economia da poluição Políticas contra a poluição Externalidades positivas Externalidades de rede CAPÍTULO 17 Bens públicos e recursos comuns O GRANDE FEDOR Bens privados – e outros Bens públicos Recursos comuns Bens artificialmente escassos CAPÍTULO 18 Análise econômica do estado do bem-

estar

ALIMENTANDO 40 MILHÕES Pobreza, desigualdade e políticas públicas O estado de bem-estar nos Estados Unidos O debate sobre o estado de bem-estar

PARTE 9

RISCO E FATORES DE MERCADO

CAPÍTULO 19 Mercados de fatores e distribuição de

renda

O VALOR DE UM DIPLOMA Fatores de produção da economia Produtividade marginal e demanda de fatores Teoria de distribuição de renda segundo a produtividade marginal é realmente verdadeira? Oferta de trabalho CAPÍTULO 19 APÊNDICE Análise da oferta de trabalho

pelas curvas de indiferença

A linha do orçamento da alocação de tempo Efeito de um salário mais alto Análise da curva de indiferença CAPÍTULO 20 Incerteza, risco e informação

privilegiada

UMA DÉCADA DIFÍCIL A economia de aversão ao risco Comprando, vendendo e reduzindo o risco Informação privilegiada: O que você não sabe pode prejudicá-lo

Glossário Soluções para as questões de “Teste seu entendimento”

Prefácio

Histórias são boas se as ouvimos, lemos, escrevemos ou imaginamos. Mas as histórias que lemos são boas especialmente para nós. De fato, acredito que sejam essenciais. Frank Smith

DE PAUL E ROBIN Há mais de uma década, quando começamos a escrever a primeira edição deste livro, tivemos muitas ideias simples: aspectos particulares da economia que acreditávamos que não tinham sido abordados da maneira correta pelos livros didáticos já existentes. Mas também tivemos uma grande ideia: a crença de que um livro de economia poderia e deveria ser construído em torno de narrativas, que nunca deveria perder de vista o fato de que a economia é, no final, um conjunto de histórias sobre o que as pessoas fazem. Muitas das histórias que os economistas contam assumem a forma de modelos – para qualquer coisa, os modelos econômicos são histórias sobre como o mundo funciona. Mas acreditamos que a compreensão dos estudantes e a valorização dos modelos pode ser bastante reforçada se forem apresentados, tanto quanto possível, no contexto de histórias sobre o mundo real, histórias que ilustram os conceitos econômicos e tocam nas preocupações que enfrentamos como indivíduos que vivem em um mundo moldado por forças econômicas. Essas histórias foram integradas em todas as edições, incluindo esta, que contém mais histórias do que as edições

anteriores. Mais uma vez, você as encontrará na abertura dos capítulos, nas seções Economia em ação, Para mentes curiosas e Comparação global e agora, também, na nova seção Caso Empresarial. Estamos satisfeitos com a recepção que essa abordagem narrativa tem recebido, mas também ouvimos usuários nos estimulando a expandir a variedade de nossas histórias para alcançar um público ainda mais amplo. Nesta edição, tentamos expandir o apelo do livro com algumas mudanças cuidadosamente selecionadas. Como na edição anterior, fizemos grandes mudanças e atualizações para refletir eventos recentes – eventos que surgiram em uma economia mundial conturbada e problemática, que está afetando a vida e as perspectivas de estudantes em todo o mundo. A atualidade é muito importante para nós. Também expandimos a abrangência de questões empresariais, tanto porque a experiência empresarial é uma importante fonte de lições econômicas como porque a maioria dos estudantes acabará por trabalhar no mundo dos negócios. Estamos especialmente satisfeitos com a forma como os novos estudos de casos surgiram e como melhoraram em quantidade e riqueza nossas histórias. Fizemos um grande esforço para racionalizar e simplificar em locais onde o zelo pela acurácia estava à frente do nosso compromisso de mantê-lo claro. Tivemos muita sorte com os revisores que trabalharam muito ajudandonos a tornar este livro ainda melhor. E também estamos profundamente gratos a todos os usuários que nos deram feedback, dizendo o que funciona e, ainda mais importante, o que não funciona. (Também recebemos comentários muito úteis daqueles que optaram em não usar o livro, explicando o motivo!) Muitas coisas mudaram desde a segunda edição deste livro. Como veremos, há uma grande quantidade de material novo, e algumas mudanças significativas (e melhorias, assim esperamos) na didática. Mas tentamos manter o mesmo espírito. Este é um livro sobre economia que enfoca o estudo do que as pessoas fazem e como elas interagem, um estudo que recebe muita informação da experiência do mundo real.

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A TERCEIRA EDIÇÃO: O QUE HÁ DE NOVO Embora a segunda edição tenha sido um sucesso retumbante como um dos livros de microeconomia mais vendidos, aprendemos com cada edição nova que há sempre espaço para melhorar. Assim, para esta edição, empreendemos uma revisão com três objetivos em mente: expandir o apelo do livro para estudantes de administração de empresas, ser o mais atual e de vanguarda em tópicos abordados e exemplos, e tornar o livro mais didático e acessível. Esperamos que as revisões levem você a uma experiência de aprendizagem de sucesso. Novos estudos de caso

Agora, mais do que nunca, os estudantes que entram em uma comunidade empresarial precisam ter sólida compreensão dos princípios de economia e suas aplicações para as decisões de negócios. Para atender a essa demanda, todos os capítulos foram concluídos com um estudo de caso do mundo real (Caso empresarial), mostrando como os problemas econômicos discutidos se comportam no mundo de empresários e de resultados. Os casos vão desde a história da empresa de comércio de Li & Fung, que está no negócio de obter lucro com vantagem comparativa, a uma análise de como aplicativos como o e Find estão tornando o mercado de venda de eletrônicos muito mais competitivo ou um exame de como as técnicas de produção enxuta da Boeing e da Toyota tiveram impacto na vantagem comparativa dos setores aéreo e de automóveis. Os casos fornecem informação sobre a tomada de decisões de negócios, tanto em empresas americanas como internacionais e em empresas conhecidas como a Barnes & Noble Booksellers, Amazon.com e Priceline. Também foi usado o exemplo de empresas menos conhecidas para ilustrar os conceitos econômicos subjacentes aos custos de oferta de trabalho durante o trabalho sazonal (Sistema Kiva e o debate sobre se o atendimento de pedidos deve ser feito por humanos ou robôs), o papel dos incentivos na preservação de espécies ameaçadas de extinção (Mauricedale Game Ranch) e as

externalidades positivas da geografia econômica durante o boom digital (o Vale do Silício na Califórnia e a Rota 128 do lado de fora de Boston). Cada caso é seguido por questões de raciocínio crítico, instigando os estudantes a aplicar a economia aprendida em situações da vida real. Nova abrangência de economia comportamental

Adicionamos uma seção completamente nova sobre economia comportamental no Capítulo 9 porque cada vez mais os instrutores estão incluindo essa perspectiva inovadora de tomada de decisão “irracional” em seus cursos. Originária da pesquisa de Amos Tversky e Daniel Kahneman, laureado com o Prêmio Nobel, e além disso desenvolvido por uma nova geração de economistas, esta emocionante subdisciplina sonda múltiplas falácias da mente humana. Esta edição aborda tópicos como a interseção da equidade na tomada de decisão, o efeito das decisões tomadas sob risco e incerteza, equívocos dos custos de oportunidade e os perigos do excesso de confiança. Acreditamos firmemente que, aprendendo como as pessoas fazem escolhas irracionais de forma persistente, os estudantes obtêm uma compreensão mais profunda do que constitui a tomada de decisão econômica racional. Ênfase na atualidade

Esta edição foi aprimorada para permanecer como o livro mais atual do mercado em relação a dados, exemplos e histórias de abertura – itens que impulsionam o interesse do estudante em cada capítulo. Economia em ação: são contadas histórias mais ricas

Tanto estudantes como instrutores sempre foram favoráveis a esta obra pelas aplicações aos princípios de economia, especialmente na seção Economia em ação. Nesta edição, revisamos ou substituímos um número significativo dessas seções. Acreditamos que isso proporcione riqueza de conteúdo, motivando o interesse de estudantes e instrutores.

Histórias de abertura

Sempre tivemos muito cuidado em garantir que cada história de abertura mostre os conceitos fundamentais do capítulo de forma atrativa e acessível. E, como sempre, atualizamos a maioria delas em cada edição e fornecemos outras histórias completamente novas – quase um terço foi substituído em um esforço de fazer a ponte entre os conceitos econômicos e o interesse dos estudantes. Como novidade, incluímos a história da Embraer Dreamliner e sua gênese no túnel de vento que os irmãos Wright construíram em Kitty Hawk; a história subjacente ao preço alto do jeans à medida que a oferta de algodão caía após os desastres naturais terem atingido os principais produtores; e a história de Ashley Hildreth, uma turma de jornalismo de 2008 da Universidade do Oregon, que reflete as decisões que os graduandos universitários devem tomar em uma economia deprimida. Abrangência de política pública

Esta edição continua a oferecer uma análise importante da política do mundo real que ajuda os estudantes a verem como a nação se envolve na política pública. Incluímos uma visão atualizada da reforma da assistência à saúde e o aumento da igualdade de renda no Capítulo 18, e muito mais.

APRESENTAÇÃO MAIS DIDÁTICA E ACESSÍVEL Capítulos racionalizados

Como, muitas vezes, menos é mais, simplificamos a exposição em partes onde nosso desejo de perfeição estava um pouco à frente da didática. Nesta edição, os capítulos sobre oligopólio e externalidades, em particular, estão muito mais curtos e brandos. Exposição mais visual

Pesquisas relatam que os estudantes leem mais on-line e em textos condensados e, mais do que nunca, respondem melhor às representações

visuais de informações. Nesta edição, trabalhamos arduamente para apresentar informações no formato que melhor se adequa aos estudantes. Encurtamos parágrafos para facilitar a leitura e incluímos novas tabelas resumidas que são muito úteis. E o mais útil de todos são os indicadores visuais do livro, incluindo representações dinâmicas que deslocam a demanda e os fatores que deslocam a oferta, entre outros.

VANTAGENS DESTE LIVRO Nossa abordagem básica permanece inalterada: Capítulos intuitivos por meio de exemplos reais. Em cada capítulo, usamos exemplos do mundo real, histórias, aplicações e estudos de caso para ensinar conceitos e motivar o aprendizado. A melhor maneira de introduzir e consolidar conceitos é através de exemplos do mundo real. Os estudantes se relacionam mais facilmente com eles. Capítulos acessíveis e divertidos. Usamos um estilo de escrita fluida e amigável para tornar os conceitos acessíveis e, sempre que possível, usar exemplos familiares aos estudantes. Apesar de ser de fácil compreensão, este livro também prepara os estudantes para novos cursos. Não há necessidade de ter que escolher entre duas alternativas desagradáveis: um livro “fácil de ensinar”, mas que deixa grandes lacunas na compreensão dos estudantes, ou um livro “difícil de ensinar”, mas que prepara os estudantes para um curso futuro de forma adequada. Oferecemos o melhor dos dois mundos.

INSTRUMENTOS PARA O APRENDIZADO Cada capítulo é estruturado em torno de um conjunto comum de recursos que ajudam os estudantes a aprender enquanto os mantém envolvidos. Visão geral dos capítulos oferece aos estudantes uma apresentação prévia útil dos conceitos fundamentais que serão aprendidos no capítulo.

As Histórias de abertura de cada capítulo começam com uma situação convincente que, muitas vezes, está integrada ao resto do capítulo. Mais de 1/3 das histórias desta edição é nova, inclusive a que está sendo mostrada aqui. Os casos da seção Economia em ação concluem cada seção do texto principal. Este recurso, muito elogiado, permite que os estudantes apliquem os conceitos recém-lidos sobre fenômenos reais. As seções Teste seu entendimento permitem aos estudantes testar imediatamente a compreensão de uma seção. As respostas estão no fim do livro. As seções Breve revisão oferecem aos estudantes um breve resumo, com marcadores dos conceitos fundamentais na seção para auxiliar a compreensão. Os quadros Comparação global usam dados reais de vários países e gráficos para ilustrar como e por que os países alcançam resultados econômicos diferentes, e fornecem aos estudantes uma perspectiva internacional que irá expandir sua compreensão da economia. Os quadros Para mentes curiosas aplicam conceitos econômicos para eventos do mundo real de maneira inesperada e, às vezes, surpreendente, gerando uma sensação de poder e amplitude da economia. O recurso reforça o objetivo do livro de ajudar os estudantes a intuir com exemplos do mundo real. O quadro Armadilhas esclarece conceitos facilmente mal interpretados pelos estudantes novos em economia. As seções Caso Empresarial, estudos de casos que fecham cada capítulo, aplicam os princípios econômicos fundamentais para a situação comercial da vida real em empresas americanas e internacionais. Cada caso é concluído com questões de espírito crítico. As seções Resumo incluem no fim de cada capítulo um resumo breve mas completo dos conceitos fundamentais, uma lista de palavras-chave e um conjunto de problemas de final de capítulo completo e de alta qualidade.

Agradecimentos

omos gratos aos seguintes revisores, participantes de grupos focais e consultores pelos conselhos e sugestões. Rebecca Achée ornton, University of Houston Carlos Aguilar, El Paso Community College Terence Alexander, Iowa State University Morris Altman, University of Saskatchewan Farhad Ameen, State University of New York, Westchester Community College Christopher P. Ball, Quinnipiac University Sue Bartlett, University of South Florida Scott Beaulier, Mercer University David Bernotas, University of Georgia Marc Bilodeau, Indiana University and Purdue University, Indianapolis Kelly Blanchard, Purdue University Anne Bresnock, California State Polytechnic University Douglas M. Brown, Georgetown University Joseph Calhoun, Florida State University Douglas Campbell, University of Memphis Kevin Carlson, University of Massachusetts, Boston Andrew J. Cassey, Washington State University Shirley Cassing, University of Pittsburgh Sewin Chan, New York University Mitchell M. Charkiewicz, Central Connecticut State University

S

Joni S. Charles, Texas State University, San Marcos Adhip Chaudhuri, Georgetown University Eric P. Chiang, Florida Atlantic University Hayley H. Chouinard, Washington State University Kenny Christianson, Binghamton University Lisa Citron, Cascadia Community College Steven L. Cobb, University of North Texas Barbara Z. Connolly, Westchester Community College Stephen Conroy, University of San Diego omas E. Cooper, Georgetown University Cesar Corredor, Texas A&M University and University of Texas, Tyler Jim F. Couch, University of Northern Alabama Daniel Daly, Regis University H. Evren Damar, Pacific Lutheran University Antony Davies, Duquesne University Greg Delemeester, Marietta College Patrick Dolenc, Keene State College Christine Doyle-Burke, Framingham State College Ding Du, South Dakota State University Jerry Dunn, Southwestern Oklahoma State University Robert R. Dunn, Washington and Jefferson College Ann Eike, University of Kentucky Tisha L. N. Emerson, Baylor University Hadi Salehi Esfahani, University of Illinois William Feipel, Illinois Central College Rudy Fichtenbaum, Wright State University David W. Findlay, Colby College Mary Flannery, University of California, Santa Cruz Robert Francis, Shoreline Community College Shelby Frost, Georgia State University Frank Gallant, George Fox University Robert Gazzale, Williams College Robert Godby, University of Wyoming

Michael Goode, Central Piedmont Community College Douglas E. Goodman, University of Puget Sound Marvin Gordon, University of Illinois at Chicago Kathryn Graddy, Brandeis University Alan Day Haight, State University of New York, Cortland Mehdi Haririan, Bloomsburg University Clyde A. Haulman, College of William and Mary Richard R. Hawkins, University of West Florida Mickey A. Hepner, University of Central Oklahoma Michael Hilmer, San Diego State University Tia Hilmer, San Diego State University Jane Himarios, University of Texas, Arlington Jim Holcomb, University of Texas, El Paso Don Holley, Boise State University Alexander Holmes, University of Oklahoma Julie Holzner, Los Angeles City College Robert N. Horn, James Madison University Steven Husted, University of Pittsburgh John O. Ifediora, University of Wisconsin, Platteville Hiro Ito, Portland State University Mike Javanmard, RioHondo Community College Robert T. Jerome, James Madison University Shirley Johnson-Lans, Vassar College David Kalist, Shippensburg University Lillian Kamal, Northwestern University Roger T. Kaufman, Smith College Herb Kessel, St. Michael’s College Rehim Kilic, Georgia Institute of Technology Grace Kim, University of Michigan, Dearborn Michael Kimmitt, University of Hawaii, Manoa Robert Kling, Colorado State University Sherrie Kossoudji, University of Michigan Charles Kroncke, College of Mount Saint Joseph

Reuben Kyle, Middle Tennessee State University (aposentado) Katherine Lande-Schmeiser, University of Minnesota, Twin Cities David Lehr, Longwood College Mary Jane Lenon, Providence College Mary H. Lesser, Iona College Solina Lindahl, California Polytechnic Institute, San Luis Obispo Haiyong Liu, East Carolina University Jane S. Lopus, California State University, East Bay María José Luengo-Prado, Northeastern University Rotua Lumbantobing, North Carolina State University Ed Lyell, Adams State College John Marangos, Colorado State University Ralph D. May, Southwestern Oklahoma State University Wayne McCaffery, University of Wisconsin, Madison Larry McRae, Appalachian State University Mary Ruth J. McRae, Appalachian State University Ellen E. Meade, American University Meghan Millea, Mississippi State University Norman C. Miller, Miami University (de Ohio) Khan A. Mohabbat, Northern Illinois University Myra L. Moore, University of Georgia Jay Morris, Champlain College in Burlington Akira Motomura, Stonehill College Kevin J. Murphy, Oakland University Robert Murphy, Boston College Ranganath Murthy, Bucknell University Anthony Myatt, University of New Brunswick, Canadá Randy A. Nelson, Colby College Charles Newton, Houston Community College Daniel X. Nguyen, Purdue University Dmitri Nizovtsev, Washburn University omas A. Odegaard, Baylor University Constantin Oglobin, Georgia Southern University

Charles C. Okeke, College of Southern Nevada Una Okonkwo Osili, Indiana University and Purdue University Terry Olson, Truman State University Maxwell Oteng, University of California, Davis P. Marcelo Oviedo, Iowa State University Jeff Owen, Gustavus Adolphus College James Palmieri, Simpson College Walter G. Park, American University Elliott Parker, University of Nevada, Reno Michael Perelman, California State University, Chico Nathan Perry, Utah State University Dean Peterson, Seattle University Ken Peterson, Furman University Paul Pieper, University of Illinois at Chicago Dennis L. Placone, Clemson University Michael Polcen, Northern Virginia Community College Raymond A. Polchow, Zane State College Linnea Polgreen, University of Iowa Eileen Rabach, Santa Monica College Matthew Rafferty, Quinnipiac University Jaishankar Raman, Valparaiso University Margaret Ray, Mary Washington College Helen Roberts, University of Illinois at Chicago Jeffrey Rubin, Rutgers University, New Brunswick Rose M. Rubin, University of Memphis Lynda Rush, California State Polytechnic University, Pomona Michael Ryan, Western Michigan University Sara Saderion, Houston Community College Djavad Salehi-Isfahani, Virginia Tech Elizabeth Sawyer Kelly, University of Wisconsin, Madison Jesse A. Schwartz, Kennesaw State University Chad Settle, University of Tulsa Steve Shapiro, University of North Florida

Robert L. Shoffner III, Central Piedmont Community College Joseph Sicilian, University of Kansas Judy Smrha, Baker University John Solow, University of Iowa John Somers, Portland Community College Stephen Stageberg, University of Mary Washington Monty Stanford, DeVry University Rebecca Stein, University of Pennsylvania William K. Tabb, Queens College, City University of New York Sarinda Taengnoi, University of Wisconsin, Oshkosh Henry Terrell, University of Maryland Michael Toma, Armstrong Atlantic State University Brian Trinque, University of Texas, Austin Boone A. Turchi, University of North Carolina, Chapel Hill Nora Underwood, University of Central Florida J. S. Uppal, State University of New York, Albany John Vahaly, University of Louisville Jose J. Vazquez-Cognet, University of Illinois, Urbana–Champaign Daniel Vazzana, Georgetown College Roger H. von Haefen, North Carolina State University Andreas Waldkirch, Colby College Christopher Waller, University of Notre Dame Gregory Wassall, Northeastern University Robert Whaples, Wake Forest University omas White, Assumption College Jennifer P. Wissink, Cornell University Mark Witte, Northwestern University Kristen M. Wolfe, St. Johns River Community College Larry Wolfenbarger, Macon State College Louise B. Wolitz, University of Texas, Austin Gavin Wright, Stanford University Bill Yang, Georgia Southern University Jason Zimmerman, South Dakota State University

Nosso profundo e sincero agradecimento aos seguintes revisores, aplicadores de testes e colaboradores cujo conhecimento ajudou-nos a dar forma a esta edição. Carlos Aguilar, El Paso Community College Seemi Ahmad, Dutchess Community College Farhad Ameen, Westchester Community College Dean Baim, Pepperdine University David Barber, Quinnipiac College Janis Barry-Figuero, Fordham University at Lincoln Center Hamid Bastin, Shippensburg University Michael Bonnal, University of Tennessee, Chattanooga Milicia Bookman, Saint Joseph’s University Anne Bresnock, California State Polytechnic University, Pomona Colleen Callahan, American University Giuliana Campanelli Andreopoulos, William Patterson University Charles Campbell, Mississippi State University Randall Campbell, Mississippi State University Joel Carton, Florida International University Andrew Cassey, Washington State University Sanjukta Chaudhuri, University of Wisconsin, Eau Claire Eric Chiang, Florida Atlantic University Abdur Chowdhury, Marquette University Chad Cotti, University of Wisconsin, Oshkosh Maria DaCosta, University of Wisconsin, Eau Claire James P. D’Angelo, University of Cincinnati Orgul Demet Ozturk, University of South Carolina Harold Elder, University of Alabama Rudy Fichenbaum, Wright State University Sherman Folland, Oakland University Amanda Freeman, Kansas State University Shelby Frost, Georgia State University Sarah Ghosh, University of Scranton Satyajit Ghosh, University of Scranton

Fidel Gonzalez, Sam Houston State University Michael G. Goode, Central Piedmont Community College Alan Gummerson, Florida International University Eran Guse, West Virginia University Don Holley, Boise State University Scott Houser, Colorado School of Mines Russell A. Janis, University of Massachusetts, Amherst Jonatan Jelen, e City College of New York Miles Kimball, University of Michigan Colin Knapp, University of Florida Stephan Kroll, Colorado State University Vicky Langston, Columbus State University Richard B. Le, Cosumnes River College Yu-Feng Lee, New Mexico State University Mary Lesser, Iona College Solina Lindahl, California Polytechnic State University Volodymyr Lugovskyy, Indiana University Mark E. McBride, Miami University Michael Mogavero, University of Notre Dame Gary Murphy, Case Western Reserve University Anna Musatti, Columbia University Christopher Mushrush, Illinois State University ABM Nasir, North Carolina Central University Gerardo Nebbia, El Camino College Pattabiraman Neelakantan, East Stroudsburg University Pamela Nickless, University of North Carolina, Asheville Nick Noble, Miami University (Ohio) Walter Park, American University Brian Peterson, Central College Michael Polcen, Northern Virginia Community College Reza Ramazani, Saint Michael’s College Ryan Ratcliff, University of San Diego Robert Rebelein, Vassar College

Ken Roberts, Southwestern University Greg Rose, Sacramento City College Jeff Rubin, Rutgers University, New Brunswick Jason C. Rudbeck, University of Georgia Michael Sattinger, State University of New York, Albany Elizabeth Sawyer Kelly, University of Wisconsin, Madison Arzu Sen, West Virginia University Marcia Snyder, College of Charleston Liliana V. Stern, Auburn University Adam Stevenson, University of Michigan Eric Stuen, University of Idaho Christine Tarasevich, Del Mar College Henry S. Terrell, George Washington University Mickey Wu, Coe College Um agradecimento especial a Michael Sattinger, da State University of New York, em Albany, pela cuidados avaliação dos capítulos da edição anterior e oportunas orientações sobre as principais alterações desta edição. Muito obrigado também a Kathryn Graddy, da Brandeis University, pelas valiosas contribuições. Um agradecimento especial também a David Barber que nos encorajou a fazer esta edição mais visual para poder ser mais acessível aos estudantes. Como na primeira e segunda edições, confiamos em Andreas Bentz e em sua análise incansável a detalhes enquanto nos concentramos em outras questões. Estamos extremamente felizes por ter encontrado Andreas. Seus esforços também foram apoiados pelos revisores Myra Moore, da University of Georgia; Nora Underwood, University of Central Florida; Martha Olney, University of California-Berkeley; James Watson, Salt Lake Community College, e Rod Hill, University of New Brunswick. Jose J. Vasquez-Cognet, University of Illinois at Urbana– Champaign e Solina Lindahl, California Polytechnic State University, nos proporcionaram orientação especializada ao programa de mídia associado à edição americana. Devemos também agradecer a diversas pessoas do Worth Publishers por suas contribuições. Elizabeth Widdicombe, presidente da Freeman and

Worth, e Catherine Woods, vice-presidente sênior, desempenharam um papel importante no planejamento dessa revisão. Temos de agradecer a Liz pela ideia que se tornou o Caso empresarial de cada capítulo. Charles Linsmeier, editor, supervisionou habilmente a revisão e deu contribuições para toda a obra. Um agradecimento especial a Craig Bleyer, nosso editor original no Worth e agora diretor nacional de vendas, que se esforçou muito para tornar cada edição um sucesso. Seu aguçado instinto apareceu novamente no planejamento da revisão dessa edição. Mais uma vez, tivemos uma incrível equipe de produção e design, pessoas cujo trabalho árduo, criatividade, dedicação e paciência continuam a nos surpreender. Mais uma vez, vocês se superaram. Obrigado a todos: Tracey Kuehn, Lisa Kinne e Anthony Calcara por produzir este livro; Babs Reingold e Lyndall Culbertson pelo belo desenho gráfico no interior do livro e pela capa espetacular; Karen Osborne pelo cuidado com as citações; Barbara Seixas, que mais uma vez fez milagres na etapa da produção, apesar das incertezas no cronograma do projeto; Cecilia Varas e Elyse Rieder, pelas pesquisas de fotos; Stacey Alexandre e Edgar Bonilla por coordenarem a produção de todo o material suplementar; e Maria Melis, assistente de edição que atuou em várias frentes dessa revisão e em todas muito bem. Muito obrigado a Marie McHale por criar e coordenar a impressionante coleção de mídia e suplementos que acompanham a edição original. Obrigado à incrível equipe de escritores e coordenadores de suplementos que trabalharam com Marie nos pacotes de mídia e suplementos; somos eternamente gratos por seus esforços incansáveis. Obrigado a Scott Guile, gerente executivo de marketing, pela defesa incansável deste livro; a Steve Rigolosi e Kerri Russini pelas contribuições em desenvolvimento de mercado e a Tom Kling por seu papel pela defesa deste livro no departamento de vendas. Acima de tudo, um agradecimento especial a Sharon Balbos, editora executiva de desenvolvimento em cada uma de nossas edições. Muito do sucesso deste livro se deve à sua dedicação e profissionalismo. Como sempre, manteve a calma até em momentos mais difíceis. Sharon, não temos certeza se merecemos uma editora tão boa quanto você, mas temos certeza de que todos os envolvidos, inclusive os que adotarem o livro e seus estudantes, serão beneficiados pela sua presença.

Paul Krugman

Robin Wells

PARTE 1

O QUE É ECONOMIA?

INTRODUÇÃO » Negócios comuns da vida

QUALQUER DOMINGO

ra uma tarde de domingo no segundo semestre de 2011 e a Rodovia 1 em New Jersey estava completamente lotada. Milhares de pessoas se apinhavam nos shoppings por 30 quilômetros ao longo da estrada de Trenton a New Brunswick. A maioria das pessoas que faziam compras estava entusiasmada – e por que não estaria? As lojas daqueles shoppings oferecem uma variedade extraordinária de escolhas; pode-se comprar de tudo, desde equipamento eletrônico sofisticado a roupas de moda ou cenouras orgânicas. Provavelmente, há 100 itens distintos disponíveis ao longo desse trecho de estrada. E a maioria desses itens não são bens de luxo que apenas os ricos podem comprar; são produtos que milhões de americanos compram no dia a dia. A cena ao longo da Rodovia 1 nesse dia de primavera, certamente, é perfeitamente habitual – muito parecida com a cena ao longo de centenas de outros trechos de estrada pelos Estados Unidos, nessa mesma manhã. A

E

disciplina Economia tem muito a ver com coisas comuns. Como o grande economista do século XIX, Alfred Marshall, definiu, economia é o “estudo da humanidade nos negócios comuns da vida”. O que a economia tem a dizer sobre esses “negócios comuns”? Muito. O que veremos neste livro é que mesmo cenas familiares da vida econômica colocam algumas questões muito importantes – questões que a economia pode ajudar a responder. Entre essas questões estão: Como funciona o sistema econômico? Ou seja, como ele administra a distribuição dos bens? Quando e por que o sistema econômico comete erros levando as pessoas a comportamento contraproducente? Por que há expansões e retrações na economia? Ou seja, por que, ocasionalmente, a economia tem um ano ruim? Finalmente, por que o longo prazo é mais uma história de expansões do que de retrações? Ou seja, por que os Estados Unidos, junto com outras nações avançadas, ficaram tão ricos ao longo do tempo? Vamos examinar essas questões e oferecer uma visão breve do que será aprendido neste livro.

A MÃO INVISÍVEL A cena de New Jersey não teria parecido comum para um americano dos tempos coloniais; ou seja, um dos patriotas que ajudou George Washington a vencer a Batalha de Trenton em 1776. Naquela época, Trenton era uma pequena aldeia e as fazendas margeavam a estrada da épica marcha noturna chefiada por Washington, de Trento até Princeton, uma marcha que passou bem em frente ao que seria no futuro o conjunto gigantesco do shopping de Quakerbridge. Imagine que você pudesse transportar um americano do período colonial para os dias de hoje (isso não é o roteiro de um filme? De vários filmes, até). O que esse viajante no tempo acharia espantoso? Certamente, o mais espantoso seria a prosperidade dos Estados Unidos moderno – o leque dos bens e serviços que as famílias comuns podem

adquirir. Olhando toda essa riqueza, nosso colono transplantado do século XVIII indagaria: “Como posso ter uma parte disso?” Ou talvez perguntasse: “Como minha sociedade pode ter uma parte disso?” A resposta é que, para chegar a esse tipo de prosperidade, é necessário um sistema que funcione bem para coordenar as atividades produtivas – as atividades que criam os bens e serviços que as pessoas desejam e que fazem chegar às pessoas que os querem. Esse tipo de sistema é o que temos em mente quando falamos de economia. E a análise econômica é a ciência social que estuda a produção, a distribuição e o consumo dos bens e serviços. Uma economia tem sucesso à medida que, literalmente, distribui bens. Um viajante no tempo vindo do século XVIII – ou até de 1950 – ficaria admirado com a quantidade de bens e serviços que a economia americana moderna fornece e com o número de pessoas com acesso a eles. Em comparação com qualquer economia do passado e com um punhado de outros países nos dias de hoje, os Estados Unidos têm um padrão de vida incrivelmente elevado. Então, nossa economia deve estar fazendo alguma coisa certa, e o viajante no tempo gostaria de cumprimentar o responsável. Mas, adivinhe. Não há ninguém responsável. Os Estados Unidos têm uma economia de mercado em que a produção e o consumo são o resultado de decisões descentralizadas de muitas empresas e indivíduos. Não há autoridade central dizendo às pessoas o que produzir e para onde transportar. Cada produtor individual faz o que pensa ser mais lucrativo; cada consumidor compra o que escolhe. A alternativa para uma economia de mercado é uma economia de comando, em que existe uma autoridade central tomando decisões sobre produção e consumo. Esse tipo de economia foi experimentado em diversos países, notadamente na União Soviética entre 1917 e 1991. Mas não funcionou muito bem. Na União Soviética, os produtores rotineiramente não podiam produzir porque faltavam matérias-primas essenciais ou conseguiam produzir mas não encontravam ninguém que quisesse seus produtos. Muitas vezes, os consumidores não encontravam os itens necessários – as economias de comando são famosas pelas longas filas nas lojas.

Contudo, as economias de mercado são capazes de coordenar atividades extremamente complexas e de garantir aos consumidores a oferta dos bens e serviços que desejam. De fato, quase sem pensar, as pessoas confiam a vida ao sistema de mercado. Os moradores de qualquer cidade grande morreriam de fome em poucos dias se as ações não planejadas, mas de algum modo ordenadas, de milhares de empresas, não fornecessem uma oferta constante de alimentos. Surpreendentemente, o “caos” de uma economia de mercado não planejada acaba sendo muito mais ordenado que o “planejamento” de uma economia de comando. Em 1776, em uma passagem famosa do livro A Riqueza das Nações, o economista escocês pioneiro, Adam Smith, escreveu sobre como os indivíduos, buscando o próprio interesse, muitas vezes, acabam servindo ao interesse da sociedade em seu conjunto. Sobre homens de negócios cuja busca do lucro torna a nação mais rica, Smith escreveu: “Ele procura apenas seu próprio ganho e, nisso, como em muitos outros casos, é levado por uma mão invisível a promover um fim que não fazia parte de sua intenção.” Desde então, os economistas usam o termo mão invisível para referir-se à maneira pela qual uma economia de mercado consegue domar o poder do interesse próprio em favor do bem da sociedade. O estudo de como os indivíduos tomam decisões e de como essas decisões interagem é denominado microeconomia. Um dos temas centrais da microeconomia é a validade da percepção de Adam Smith: na busca do interesse próprio os indivíduos, muitas vezes, promovem o interesse da sociedade como um todo. Assim, parte da resposta à questão do viajante no tempo – “Como a sociedade pode alcançar esse tipo de prosperidade que é considerada fato natural?” – é que sua sociedade deveria aprender a apreciar as virtudes de uma economia de mercado e o poder da mão invisível. Mas essa mão invisível não é sempre nossa amiga. Também é importante saber quando e por que a busca do interesse próprio individual pode levar a comportamentos contraproducentes.

MEU BENEFÍCIO, SEU CUSTO

Provavelmente, o viajante no tempo não iria gostar do tráfego na Rodovia 1. De fato, apesar de a maioria das coisas ter melhorado nos Estados Unidos ao longo do tempo, o congestionamento do tráfego ficou um pouco pior. Quando há congestionamento, cada motorista impõe um custo a todos os demais motoristas da estrada – literalmente, está atrapalhando os outros (e os outros o estão atrapalhando). Esse custo pode ser substancial: na maior parte das áreas metropolitanas, cada vez que uma pessoa dirige para o trabalho, em vez de usar transporte público ou trabalhar em casa, pode facilmente impor um custo oculto de $15 ou mais aos outros motoristas. Contudo, ao decidir se vai ou não de carro, os motoristas não têm incentivo de considerar os custos que impõem aos outros. O congestionamento é um exemplo familiar e um problema maior: muitas vezes, a busca do interesse próprio pelo indivíduo, em vez de promover o interesse da sociedade, real mente pode tornar a sociedade pior. Quando isso acontece, é conhecido como falha de mercado. Outros exemplos importantes de falha de mercado envolvem a poluição do ar e da água, bem como o excesso de exploração dos recursos naturais, como peixes e florestas. A boa notícia, que você aprenderá à medida que usar este livro para estudar microeconomia, é que a análise econômica pode ser usada para diagnosticar casos de falha de mercado. E, muitas vezes, também pode ser usada para formular soluções para o problema.

BONS TEMPOS, MAUS TEMPOS A Rodovia 1 estava movimentada naquele dia de 2011. Mas se você tivesse visitado os shop pings em 2008, não teria visto uma cena tão animada. Isso porque a economia de New Jersey, junto com a dos Estados Unidos como um todo, estava deprimida em 2008: no início de 2007, as empresas começaram a demitir grande parte dos trabalhadores, e o emprego só começou a se recuperar em meados de 2009. Esses períodos conturbados são uma característica regular nas economias modernas. O fato é que a economia nem sempre funciona sem qualquer problema: passa por flutuações, uma série de altos e baixos. Ao chegar à meia-idade, um americano típico terá passado por três ou quatro retrações,

conhecidas como recessões. (A economia dos Estados Unidos passou por sérias recessões: em 1973, 1981, 1990, 2001 e 2007.) Durante uma recessão grave, milhões de trabalhadores podem perder o emprego. Assim como as falhas de mercado, a recessão é um fato da vida; mas, como as falhas de mercado, constitui um problema para o qual a análise econômica oferece algumas soluções. As recessões estão entre as principais preocupações do ramo da economia conhecido como macroeconomia, que se preocupa com as expansões e retrações da economia. Ao estudar macroeconomia, você verá como os economistas explicam as recessões e como as políticas governamentais podem ser aplicadas para minimizar os danos causados por flutuações econômicas. Entretanto, apesar das recessões ocasionais, a história da economia dos Estados Unidos contém muito mais expansões do que retrações no longo prazo. E esse crescimento de longo prazo é o tema da nossa questão final.

PARA FRENTE E PARA CIMA No início do século XX, a maioria dos americanos vivia em condições que hoje consideraríamos de extrema pobreza. Somente 10% das casas tinham vasos sanitários com descarga, apenas 8% tinham aquecimento central, só 2% tinham eletricidade e quase ninguém tinha carro, muito menos máquina de lavar ou ar condicionado. Essas comparações são um lembrete de quanto nossa vida mudou em decorrência do crescimento econômico, a capacidade de crescimento da economia para produzir bens e serviços. Por que a economia cresce ao longo do tempo? E por que o crescimento econômico ocorre mais rápido em certos períodos e lugares do que em outros? Essas são questões fundamentais para a economia, pois o crescimento econômico é uma coisa boa, como as pessoas que fazem compras na Rodovia 1 podem atestar, e a maioria de nós deseja que esse crescimento aumente.

UMA MÁQUINA DE DESCOBERTAS

Esperamos ter convencido você de que os “negócios comuns da vida” realmente são extraordinários. Se pararmos para pensar, isso pode nos levar a indagar a respeito de algumas questões importantes e interessantes. Neste livro, descreveremos as respostas que os economistas têm dado a essas questões. Mas este livro, como a economia em seu conjunto, não é uma lista de respostas: é uma introdução a uma disciplina, um modo de tratar as questões que acabamos de mencionar. Ou como Alfred Marshall, que descreveu a economia como um estudo dos “negócios comuns da vida”, definiu: “Economia… não é um corpo de verdades concretas, mas uma máquina para descobrir a verdade concreta.” Tratemos de virar a chave da ignição.

• PALAVRAS-CHAVE Economia, p. 2 Análise econômica, p. 2 Economia de mercado, p. 2 Mão invisível, p. 2 Microeconomia, p. 2 Falha de mercado, p. 3 Recessão, p. 3 Macroeconomia, p. 3 Crescimento econômico, p. 3 www.worthpublishers.com/krugmanwells

CAPÍTULO 1 » Princípios básicos

TERRENO COMUM

REUNIÃO ANUAL da American Economic Association atrai milhares de economistas, jovens e idosos, famosos e desconhecidos. Existem vendedores de livros, reuniões de negócios e algumas entrevistas de emprego. Mas, principalmente, os economistas se reúnem para falar e ouvir. Durante o período de maior movimento, podem ocorrer 60 ou mais apresentações simultaneamente sobre questões que variam da crise no mercado financeiro até a decisão de quem cozinha em uma família de dois assalariados. O que essas pessoas têm em comum? Um especialista em mercado de ações provavelmente conhece muito pouco sobre a economia do trabalho doméstico e vice-versa. No entanto, um economista que entra no seminário errado e acaba ouvindo as apresentações sobre algum tema desconhecido, mesmo assim vai escutar muita coisa familiar. A razão disso é que toda a análise econômica baseia-se em um conjunto de princípios comuns que se aplicam a muitas questões diferentes. Alguns desses princípios envolvem escolha individual – pois a análise econômica trata, antes de tudo, das escolhas que os indivíduos fazem. Você vai poupar dinheiro e tomar ônibus ou comprar um carro? Manterá o celular antigo ou irá atualizá-lo para um novo? Essas decisões implicam fazer uma escolha entre um número limitado de opções – limitado porque ninguém pode ter tudo que deseja. Cada questão de economia, no seu nível mais básico, envolve fazer escolhas individuais.

A

Mas para compreender como uma economia funciona, é necessário algo mais do que compreender como os indivíduos fazem suas escolhas. Nenhum de nós é Robinson Crusoé sozinho em uma ilha. Temos que tomar decisões em um ambiente que é moldado pelas decisões dos outros. Com efeito, em uma economia moderna, mesmo as decisões mais simples que tomamos – ou seja, o que tomar no café da manhã – são formadas por decisões de milhares de outras pessoas, desde o produtor de banana da Costa Rica, que decide cultivar a fruta, até o fazendeiro de Iowa que produz o milho do cereal matinal. Como cada um de nós, em uma economia de mercado, depende de tantos outros – e eles, por sua vez, dependem de nós – nossas escolhas interagem. Assim, apesar de, em um nível básico, a análise econômica ser uma questão de escolha individual, para compreender como a economia de mercado funciona temos também de compreender a interação econômica – como as minhas escolhas afetam as suas escolhas e vice-versa. O que você vai aprender neste capítulo • Um conjunto de princípios para compreender a análise econômica sob o ponto de vista de como as pessoas fazem escolhas. • Um conjunto de princípios para compreender como a economia funciona através da interação das escolhas individuais. • Um conjunto de princípios para compreender as interações da economia como um todo.

Muitas das interações econômicas importantes podem ser entendidas analisando os mercados de bens individuais, como o mercado de milho. Mas a economia tem altos e baixos, e, portanto, precisamos compreender as interações de toda a economia, além das interações mais limitadas que ocorrem nos mercados individuais. Neste capítulo, vamos analisar doze princípios básicos de análise econômica – quatro princípios que envolvem escolha individual, cinco que envolvem o modo pelo qual as escolhas individuais interagem e outros três que envolvem as interações da economia de forma ampla.

Í

PRINCÍPIOS QUE FUNDAMENTAM A ESCOLHA INDIVIDUAL: O CERNE DA ECONOMIA Qualquer questão econômica, em seu nível mais básico, envolve escolha individual – as decisões de um indivíduo sobre o que fazer e o que não fazer. De fato, pode-se afirmar que não é economia, se não for uma questão de escolha. Entre em uma grande loja como a Walmart ou Target. Existem milhares de produtos diferentes disponíveis e é pouco provável que você – ou qualquer pessoa – possa comprar tudo o que deseja. De qualquer maneira, o espaço que existe em seu quarto ou apartamento não estica. Então você irá comprar outra estante ou uma geladeira pequena? Em virtude das limitações de orçamento e de espaço interno, é necessário escolher entre que produtos comprar e quais deixar na prateleira. O fato de esses produtos estarem na prateleira já envolve escolha – o gerente da loja escolheu colocá-los lá e os fabricantes desses produtos escolheram fabricá-los. Todas as atividades econômicas envolvem escolha individual. Na economia da escolha individual, quatro princípios econômicos estão subjacentes, como mostrado na Tabela 1-1. Vamos examinar agora em mais detalhes cada um desses princípios. TABELA 1-1 Princípios da escolha individual 1. As pessoas têm que fazer escolhas, porque os recursos são escassos. 2. O custo de oportunidade de um item – do que você é obrigado a desistir para adquiri-lo – é o seu verdadeiro custo. 3. As decisões “quanto” requerem um trade-off na margem: comparação dos custos e benefícios de se fazer um pouco mais de uma atividade em vez de fazer um pouco menos. 4. As pessoas geralmente respondem aos incentivos, explorando as oportunidades de melhorar a sua própria situação.

Princípio 1: É necessário fazer escolhas porque os recursos são escassos

Você não pode ter sempre o que quer. Todo mundo gostaria de ter uma casa bonita em um ótimo local (e uma faxineira), um ou dois carros novos e férias frequentes em hotéis de luxo. Mas mesmo em um país rico como os Estados Unidos, nem todas as famílias podem ter tudo isso. Então, têm que escolher – ir para a Disney World ou comprar um carro melhor, contentarse com um jardim pequeno ou aceitar um longo trajeto de ônibus para viver onde o terreno é mais barato. A limitação da renda não é o único fator que impede que as pessoas tenham tudo o querem. O tempo também tem oferta limitada: há apenas 24 horas em um dia. E como o tempo de que dispomos é limitado, escolher passar o tempo em uma atividade também significa escolher não passar o tempo em outra – ou seja, passar o tempo estudando para um exame significa renunciar a ir ao cinema naquela noite. De fato, muitas pessoas estão tão limitadas pela quantidade de horas no dia que estão dispostas a trocar tempo por dinheiro. Por exemplo, lojas de conveniência normalmente cobram preços mais altos do que um supermercado regular. Mas desempenham um papel valioso ao satisfazer a pressão de tempo dos clientes que preferem pagar mais a enfrentar um percurso maior até o supermercado. Isso nos leva ao primeiro princípio de escolha individual: As pessoas devem fazer escolhas porque os recursos são escassos. Recurso é qualquer coisa que pode ser usada para produzir outra coisa. As listas de recursos da economia geralmente começam com terra, trabalho (o tempo dos trabalhadores), capital (maquinaria, construção e outros ativos produtivos fabricados pelo homem) e capital humano (as conquistas educacionais e habilidades dos trabalhadores). Um recurso é escasso quando não há quantidade suficiente disponível para satisfazer todos os usos que a sociedade quer fazer deles. Há muitos recursos que são escassos, incluindo os recursos naturais – recursos que provêm do ambiente físico, como minérios, madeira e petróleo. Há também uma quantidade limitada de recursos humanos – trabalho, habilidade e inteligência. E em uma economia mundial em crescimento, com rápido aumento da população, até o ar e a água pura tornaram-se recursos escassos. Assim como os indivíduos precisam fazer escolhas, a escassez de recursos significa que a sociedade como um todo deve fazer escolhas. Uma forma de

a sociedade fazer escolhas é permitir o surgimento a partir do resultado de escolhas individuais, o que geralmente acontece em uma economia de mercado. Por exemplo, os americanos, como grupo, têm uma quantidade dada de horas por semana: quantas dessas horas irão gastar indo ao supermercado para conseguir preços mais baixos, em vez de poupar tempo ao fazer compras em lojas de conveniência perto de casa? A resposta é a soma das decisões individuais: cada um dos milhões de indivíduos na economia faz sua própria escolha sobre onde comprar, e a escolha do conjunto é a soma dessas decisões individuais. Mas, por várias razões, há algumas decisões tomadas pela sociedade que seria melhor que não fossem tomadas pelos indivíduos. Por exemplo, os autores deste livro vivem em uma área que até pouco tempo atrás era principalmente agrícola, mas as construções estão se expandindo rapidamente. A maioria dos moradores locais acha que a comunidade seria mais aprazível se parte do terreno ficasse sem lotear ou construir. Mas ninguém foi incentivado a manter a terra como espaço verde aberto, em vez de vendê-la a uma incorporadora. Assim, surgiu uma tendência em muitas comunidades nos Estados Unidos de que a prefeitura compre os terrenos ainda não urbanizados para preservá-los como área verde. Veremos mais adiante por que decisões sobre como utilizar recursos escassos são, muitas vezes, deixadas a cargo dos indivíduos, quando, na verdade, às vezes deveriam ser tomadas em um nível mais alto, abrangendo toda a comunidade. Princípio 2: O custo real de algo é o seu custo de oportunidade

É o último semestre do curso e seus horários de aula permitem que curse apenas uma disciplina eletiva. No entanto, há duas que você gostaria de fazer: Introdução à Computação Gráfica e História do Jazz. Suponha que você decida cursar História do Jazz. Qual o custo dessa decisão? É o de não poder cursar Computação Gráfica, a segunda melhor alternativa. Os economistas denominam esse tipo de custo – de que se deve abrir mão para obter algo desejado – de custo de oportunidade daquele item. Isso nos leva ao segundo princípio de escolha individual:

O custo de oportunidade de um item – a escolha do que abrir mão para obtêlo – é o seu custo verdadeiro. Assim, o custo de oportunidade de cursar História do Jazz é o benefício que se recebe em relação à aula de Introdução à Computação Gráfica. O conceito de custo de oportunidade é crucial para compreender a escolha individual porque, no final, todos os custos são custos de oportunidade. Isso porque cada escolha feita significa renunciar a uma alternativa. Às vezes, os críticos afirmam que os economistas estão preocupados apenas com custos e benefícios que podem ser medidos em dinheiro. Mas isso não é verdade. A análise econômica também envolve casos como esse da escolha de uma disciplina, onde não existe valor adicional para cursar uma disciplina eletiva – ou seja, não há custo monetário direto. Mesmo assim, a disciplina escolhida tem um custo de oportunidade – a outra disciplina desejável à qual você abdica, pois seu tempo limitado permite cursar apenas uma. Mais especificamente, o custo de oportunidade de uma escolha é o que você abdica por não escolher a próxima melhor alternativa. Você poderá pensar que o custo de oportunidade é um acréscimo – isto é, algo adicional ao custo monetário do item. Suponha que uma disciplina eletiva tenha um valor adicional de $750; agora há um custo monetário para cursar História do Jazz. O custo de oportunidade de cursar essa disciplina é algo separado do custo monetário? Bem, consideremos os dois casos. Primeiro, suponha que cursar Introdução à Computação Gráfica também custe $750. Nesse caso, teriam que ser gastos $750, independente da disciplina escolhida. Então, a disciplina da qual você abdica para cursar a aula de História do Jazz ainda seria a de Computação Gráfica – há o gasto de $750 nos dois casos. Mas suponha que você não tenha que pagar nada pela aula de Computação Gráfica. Nesse caso, para assistir à aula de jazz você abdica do benefício da aula de Computação Gráfica e de tudo o mais que poderia comprar com $750. De qualquer forma, o custo real de assistir à aula preferida é tudo do que você teve que abrir mão para obtê-la. Ao expandir o conjunto de decisões que fundamentam cada escolha – assistir ou não a uma disciplina eletiva, terminar os cursos do período ou não, abandonar a faculdade ou não – você

perceberá que, em última análise, todos os custos são custos de oportunidade. Às vezes, o dinheiro que temos para pagar por algo é um bom indicativo de seu custo de oportunidade. Mas, muitas vezes, não é. Um exemplo importante é como o custo em dinheiro de cursar uma faculdade é um mal indicador do custo de oportunidade. O custo da instrução e a moradia são as principais despesas para a maioria dos estudantes; mas, mesmo se fosse de graça, cursar a faculdade ainda seria dispendioso, pois a maioria dos estudantes universitários, se não estivesse na faculdade, teria algum emprego. Ou seja, ao frequentar a faculdade, os estudantes abdicam da renda que teriam caso trabalhassem. Isso significa que o custo de oportunidade é o que se paga pelo custo de instrução, moradia, mais a renda perdida, aquela que teria sido recebida em um emprego. É fácil verificar que o custo de oportunidade de ir à faculdade é especialmente alto para as pessoas que poderiam estar ganhando muito dinheiro durante os anos em que estariam estudando. É por isso que atletas campeões como LeBron James e empresários como Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, muitas vezes, desistem da faculdade. Princípio 3: “Quanto” é uma decisão na margem

Algumas decisões importantes envolvem uma escolha do tipo “ou-ou” – por exemplo, você decide cursar uma faculdade ou começar a trabalhar; você decide cursar Economia ou outro curso. Mas outras decisões importantes envolvem escolhas do tipo “quanto” – por exemplo, se nesse semestre estiver cursando tanto economia como química, deverá decidir quanto tempo deverá dedicar a cada uma dessas matérias. Quando se trata de compreender as decisões “quanto”, a economia tem uma visão importante a oferecer: “quanto” é uma decisão na margem. Suponha que você esteja cursando economia e química. E suponha também que esteja se preparando para o curso de medicina, de modo que o curso de química é mais importante do que o de economia. Isso significa que você deveria dedicar todo o seu tempo de estudo à química e contar com a sorte no exame de economia? Provavelmente não; mesmo considerando

que a nota de química é mais importante, deveria dedicar algum esforço ao estudo de economia. Passar mais tempo estudando química envolve um benefício (uma nota esperada mais alta) e um custo (você poderia passar esse tempo fazendo outra coisa, como estudar para obter uma nota mais alta em economia). Ou seja, sua decisão envolve um trade-off, uma comparação entre custos e benefícios. Como você decide esse tipo de questão “quanto”? A resposta típica é tomar a decisão aos poucos a cada momento, decidindo como gastar a próxima hora. Digamos que os dois exames sejam no mesmo dia e, na noite anterior, você usou o tempo para revisar as anotações dos dois cursos. Às 18 horas, decide que uma boa ideia é dedicar pelo menos uma hora para cada curso. Às 20 horas decide que é melhor dedicar mais uma hora para cada curso. Às 22 horas está cansado e percebe que só tem mais uma hora de estudo antes de dormir – química ou economia? Se você também se prepara para medicina, é provável que seja química; se quer cursar um MBA, é provável que seja economia. Observe como tomou a decisão de alocar o tempo: a cada momento, a questão é se deve ou não gastar mais uma hora com cada curso. E ao optar por passar mais uma hora estudando química, pondera os custos (renunciar a uma hora de estudo de economia ou a uma hora de sono) em comparação com os benefícios (provavelmente uma nota mais alta em química). Enquanto o benefício de estudar química por mais uma hora superar o custo, você deve optar por estudar nessa hora adicional. Decisões desse tipo – fazer um pouco mais ou um pouco menos de uma atividade, o que fazer com a hora seguinte, o dólar seguinte e assim por diante – são decisões marginais. Isso nos leva ao terceiro princípio de escolha individual: As decisões “quanto” envolvem um trade-off na margem: comparar custos e benefícios de fazer um pouco mais de uma atividade versus um pouco menos. O estudo de tais decisões é conhecido como análise marginal. Muitas das questões que enfrentamos em economia – e na vida real – envolvem análise marginal: quantos empregados devem ser contratados na minha loja? Com qual quilometragem devo trocar o óleo do carro? Qual é a taxa aceitável de efeitos colaterais adversos de um novo medicamento? A análise

marginal desempenha um papel central na economia porque é a chave para decidir “quanto” fazer de algo. Princípio 4: As pessoas geralmente respondem a incentivos, explorando oportunidades de melhorar a situação

Um dia, escutando o noticiário financeiro da manhã, os autores ouviram uma dica ótima sobre como estacionar de forma barata em Nova York. Os estacionamentos na área de Wall Street cobram até $30 por dia. Mas segundo o repórter, algumas pessoas encontraram uma solução melhor: em vez de parar em um estacionamento, deixavam o carro para troca de óleo no Manhattan Jiffy Lube, cuja troca custa $19,95 – e lá ficava o dia todo! Boa história, mas infelizmente não é verdadeira – o Jiffy Lube nem existe. Mas se existisse, certamente teria uma grande procura por troca de óleo. Por quê? Porque quando as pessoas veem uma oportunidade de melhorar a situação, normalmente aproveitam – se encontrassem uma forma de estacionar o carro o dia todo por $19,95 em vez de $30, o fariam. Neste exemplo, os economistas argumentam que as pessoas estão respondendo a um incentivo – uma oportunidade de usufruir de uma situação melhor. Podemos agora afirmar o nosso quarto princípio de escolha individual: As pessoas geralmente respondem a incentivos, explorando oportunidades de obter vantagens. Ao se tentar prever como as pessoas vão se comportar em uma situação econômica, uma boa aposta é que irão responder a incentivos – ou seja, explorar oportunidades para obter vantagens. Além disso, as pessoas continuarão a explorar essas oportunidades até que se esgotem completamente. Se realmente houvesse um posto em Nova York em que a troca de óleo fosse realmente uma maneira barata de estacionar o carro, poderíamos prever que em pouco tempo a lista de espera para troca de óleo seria de semanas, se não de meses. Na verdade, o princípio de que as pessoas exploram as oportunidades para melhorar a situação é a base de todas as previsões dos economistas sobre o comportamento individual. E se o rendimento de quem obtém MBA

aumentar, enquanto o dos advogados diminuir, pode-se esperar mais alunos nos cursos de Administração e menos no de Direito. Se o preço da gasolina subir e permanecer elevado por muito tempo, pode-se esperar a compra de carros menores com maior economia de gasolina – para obter vantagem ao dirigir carros mais econômicos em virtude dos preços mais elevados da gasolina.

PARA MENTES CURIOSAS PAGAR POR NOTAS ALTAS? A verdadeira recompensa da aprendizagem é, evidentemente, o próprio aprendizado. No entanto, muitos estudantes entram em conflito entre a motivação para estudar e o trabalho. Os professores e os formuladores de políticas têm sido particularmente desafiados a ajudar os estudantes oriundos de meios desfavorecidos, com pouca frequência escolar, altas taxas de evasão e pontuações baixas em testes padronizados. Em um estudo entre 2007 e 2008, o economista de Harvard, Roland Fryer Jr., descobriu que o incentivo financeiro – prêmios em dinheiro – poderia melhorar o desempenho acadêmico dos estudantes nas escolas de áreas economicamente desfavorecidas. O fato de os incentivos financeiros oferecerem resultados, no entanto, é tanto surpreendente como previsível. Fryer realizou sua pesquisa em quatro distritos distintos da escola, empregando um conjunto de incentivos e uma medida de desempenho diferente em cada. Em Nova York, os estudantes eram pagos de acordo com suas pontuações em testes padronizados, em Chicago, eram pagos de acordo com suas notas, em Washington, D.C., eram pagos de acordo com a assiduidade e bom comportamento, bem como pelas notas; em Dallas, no segundo ano de escolaridade, eram pagos cada vez que liam um livro. Fryer avaliou os resultados, comparando o desempenho dos alunos que estavam no programa com outros alunos da mesma escola que não estavam. Em Nova York, o programa não teve nenhum efeito perceptível sobre os resultados dos testes. Em Chicago, os alunos do programa obtiveram notas melhores, e a frequência às aulas aumentou. Em Washington, o programa impulsionou os resultados normalmente mais difíceis de alcançar das crianças com problemas graves de comportamento, aumentando suas notas se assistissem a cinco meses de aula extra. Os resultados mais surpreendentes ocorreram em Dallas, onde os alunos impulsionaram significativamente os resultados dos testes de compreensão de leitura. Os resultados continuaram durante o ano seguinte, após a recompensa financeira ter acabado. Então, o que explica os vários resultados?

Para motivar os alunos com recompensas financeiras, Fryer achava que eles tinham que acreditar que isso poderia ter um efeito significativo sobre a medida de desempenho. Assim, em Chicago, Washington e Dallas – onde os estudantes tiveram muito controle sobre os resultados, como notas, frequência, comportamento, bem como o número de livros lidos – o programa produziu resultados significativos. Mas como os estudantes de Nova York tinham pouca ideia de como um teste padronizado afetava a pontuação, a perspectiva de uma recompensa teve pouca influência em seu comportamento. Além disso, a escolha do tempo mais adequado da recompensa importa: $1 de recompensa tem mais efeito sobre o comportamento se o desempenho for medido em intervalos mais curtos e a recompensa for entregue em seguida. A experiência de Fryer revelou algumas visões críticas sobre a forma de motivar o comportamento através de incentivos. A concepção dos incentivos é muito importante: a relação entre esforço e resultado, assim como a velocidade da recompensa, importa muito. Além disso, o projeto de incentivos pode depender bastante das características das pessoas que se está tentando motivar: o que motiva o estudante com uma estrutura economicamente privilegiada pode não motivar o estudante com uma estrutura economicamente desfavorecida. As percepções de Fryer ofereceram aos professores e formuladores de políticas uma nova e importante ferramenta para ajudar os desfavorecidos a serem bem-sucedidos na escola.

Um último ponto: os economistas tendem a ser céticos em relação a qualquer tentativa de mudança no comportamento das pessoas que não mude seus incentivos. Por exemplo, um plano que peça aos industriais para reduzir a poluição voluntariamente provavelmente não será eficaz, por não alterar os incentivos dos fabricantes. Em contrapartida, é provável que um plano que lhes ofereça uma recompensa financeira para reduzir a poluição funcione melhor por alterar seus incentivos. Então, estamos prontos para fazer economia? Não ainda – porque a maioria das coisas interessantes que acontecem na economia é resultado não apenas de escolhas individuais, mas da forma pela qual as escolhas individuais interagem.

economia em ação Menino ou menina? Depende do custo

Um fato sobre a China é indiscutível: é um país grande, com muitas pessoas. Em 2009, a população da China era de 1.331.460.000. Isso mesmo: mais de 1 bilhão e 300 milhões. Em 1978, o governo da China introduziu a “política do filho único” para enfrentar os desafios econômicos e demográficos apresentados pela grande população da China. Em 1978, a China era muito, muito pobre, e seus líderes temiam que o país não pudesse ter recursos para educar e cuidar da população crescente de forma adequada. A mulher chinesa média, em 1970, dava à luz a mais de cinco filhos durante a sua vida. Assim, o governo restringiu a maioria dos casais, especialmente nas áreas urbanas, a uma criança, impondo penalidade para os que desafiassem o mandato. Como resultado, em 2009, o número médio de filhos por mulher na China foi de apenas 1,8. Mas a política do filho único teve uma consequência não intencional infeliz. Como a China é um país predominantemente rural e são os filhos homens que realizam o trabalho manual agrícola, as famílias tinham uma forte preferência por meninos em detrimento de meninas. Além disso, a tradição ditava que as noivas se tornariam parte das famílias de seus maridos e que os filhos deveriam tomar conta dos pais idosos. Como resultado da política do filho único, existem, na China, muitas “meninas indesejadas”. Algumas foram oferecidas para adoção no exterior, mas muitas delas “desapareceram” durante o primeiro ano de vida, vítimas de negligência e maus-tratos. A Índia, outro país pobre, predominantemente rural e com altas pressões demográficas, também tem um problema significativo com “meninas que desaparecem”. Em 1990, Amartya Sen, um economista britânico nascido na Índia, que viria a ganhar o Prêmio Nobel em 1998, estimou a existência de 100 milhões de “mulheres desaparecidas” na Ásia. (O número exato ainda está em questão, mas é claro que Sen identificou um problema real e generalizado.) Os demógrafos observaram recentemente uma reviravolta de acontecimentos na China, a urbanização rápida. Em todos os lugares, exceto em uma das províncias com centros urbanos, o desequilíbrio de gênero entre meninos e meninas atingiu o pico em 1995 e, desde então, tem caído constantemente em direção à proporção biologicamente natural. Muitos

acreditam que a origem da mudança é o forte crescimento econômico da China e o aumento da urbanização. Como as pessoas se deslocam para as cidades para aproveitar a oferta de emprego, não precisam de filhos para trabalhar nos campos. Além disso, o preço da terra em cidades chinesas está subindo rapidamente, tornando o costume dos pais de comprar um apartamento para o filho antes de casar inacessível para muitos. Por segurança, os filhos ainda são os preferidos nas áreas rurais. Mas para demonstrar a certeza de como os tempos mudaram, recentemente têm aparecido sites que aconselham os casais a ter uma menina em vez de um menino.

BREVE REVISÃO Todas as atividades econômicas envolvem escolha individual. As pessoas devem fazer escolhas porque os recursos são escassos. O custo real de alguma coisa é o seu custo de oportunidade – do que se deve abdicar para obtê-lo. Todos os custos são custos de oportunidade. Às vezes, os custos monetários são um bom indicador dos custos de oportunidade, mas nem sempre. Muitas das escolhas não são do tipo fazer algo ou não, mas o quanto fazer. Escolhas “quanto” necessitam fazer um trade-off na margem. O estudo das decisões marginais é conhecido como análise marginal. Como as pessoas costumam explorar oportunidades de tornar a própria situação melhor, os incentivos podem mudar o comportamento delas.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 1-1 1.

Explique como cada uma das seguintes situações ilustra um dos quatro princípios da escolha individual. a. É a terceira vez que você se dirige à mesa de sobremesas de um restaurante tipo bufê e já está se sentindo satisfeito. Embora possa não custar nenhum valor adicional, você desiste de pegar mais

2.

uma fatia de torta com creme de coco, mas se serve de uma fatia de bolo de chocolate. b. Mesmo se houvesse mais recursos no mundo, ainda haveria escassez. c. Vários professores ministram cursos de introdução à economia. Os cursos que dispõem dos professores com melhor reputação enchem rapidamente, enquanto sobram vagas nos cursos ministrados por professores com menos reputação. d. Para decidir quantas horas por semana fazer exercícios, você compara os benefícios de saúde de uma hora a mais de exercício com o efeito em suas notas de uma hora a menos de estudo. Você recebe $45.000 por ano em seu emprego atual na empresa de consultoria Garotos Geniais. Você está considerando uma oferta de emprego da empresa Maníacos Cerebrais, da qual receberá $50.000 por ano. Qual dos seguintes são elementos de custo de oportunidade ao aceitar o novo emprego na empresa Maníacos Cerebrais? a. O aumento do tempo de deslocamento gasto para o novo emprego. b. O salário de $45.000 do antigo emprego. c. O escritório mais espaçoso do novo emprego. As respostas estão no fim do livro.

INTERAÇÃO: COMO AS ECONOMIAS FUNCIONAM Como vimos na Introdução, uma economia é um sistema para coordenar as atividades produtivas de muitas pessoas. Em uma economia de mercado, como a que vivemos, a coordenação ocorre independente do coordenador: cada indivíduo faz suas próprias escolhas. No entanto, essas decisões estão longe de ser independentes umas das outras: as oportunidades de cada indivíduo e, portanto, suas escolhas, dependem, em grande parte, das escolhas feitas por outras pessoas. Então, para compreender como uma

economia de mercado se comporta, temos de examinar essa interação em que as minhas escolhas afetam as suas escolhas e vice-versa. Ao estudar a interação econômica, aprendemos rapidamente que o resultado final das escolhas individuais pode ser bem diferente da pretensão de qualquer indivíduo. Por exemplo, ao longo do século passado, os agricultores dos Estados Unidos adotaram entusiasticamente novas técnicas agrícolas e variedades de cultivo que reduziram os custos e aumentaram o rendimento. Certamente, é de interesse de cada agricultor manter-se atualizado com as mais recentes técnicas de cultivo. Mas, na verdade, o resultado final de cada agricultor tentando aumentar a própria renda foi afastar muitos agricultores dessa atividade. Como os agricultores americanos tiveram sucesso em aumentar o rendimento de suas lavouras, os preços agrícolas caíram continuamente. A queda de preços reduziu a renda de muitos agricultores, e o resultado é que cada vez menos agricultores consideram que a agricultura valha a pena. Ou seja, um agricultor que planta uma variedade melhor de cereal fica em melhor situação; mas quando muitos agricultores plantam variedades melhores, o resultado pode ser o de piorar a situação dos agricultores no conjunto. Um agricultor que planta uma variedade nova e mais produtiva de cereal não está apenas colhendo mais cereal. Esse agricultor também afeta o mercado de cereais através do aumento do rendimento da terra, com consequências que serão sentidas por outros agricultores, consumidores e mais além. Assim como há quatro princípios econômicos que fundamentam a escolha individual, há cinco princípios que estão na base da economia de interação. Esses cinco princípios estão resumidos na Tabela 1-2. Examinaremos agora em mais detalhes cada um desses princípios. TABELA 1-2 Os princípios da interação de escolhas individuais 5. Há ganhos do comércio. 6. Como as pessoas respondem a incentivos, os mercados se movem em direção ao equilíbrio. 7. Os recursos devem ser usados de forma eficiente para alcançar os objetivos da sociedade. 8. Como em geral as pessoas costumam explorar ganhos a partir do comércio, os mercados geralmente levam à eficiência.

9.

Quando os mercados não atingem a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade.

Princípio 5: Há ganhos do comércio

Por que as escolhas que faço interagem com as escolhas que você faz? Uma família poderia tentar suprir todas as suas necessidades – cultivar a própria comida, costurar as próprias roupas, prover o próprio entretenimento, escrever os próprios livros de economia. Mas tentar viver dessa maneira pode ser muito difícil. A solução para um melhor padrão de vida para todos é o comércio, em que as pessoas dividem tarefas entre si e cada uma fornece um bem ou serviço que outras pessoas desejam, em troca de bens e serviços diferentes que ela própria deseje. A razão pela qual temos uma economia, com poucos indivíduos autossuficientes, é a existência de ganhos do comércio: ao dividir tarefas e comerciar, duas pessoas (ou 6 bilhões de pessoas) podem receber mais do que desejam do que se fossem autossuficientes. Isso nos leva ao quinto princípio: Há ganhos do comércio. Os ganhos do comércio surgem a partir dessa divisão de tarefas, que os economistas denominam de especialização – uma situação em que pessoas diferentes se ocupam de tarefas diferentes, especializando-se nas tarefas que realizam bem. As vantagens da especialização e os ganhos resultantes do comércio foram o ponto de partida do livro de Adam Smith de 1776, A Riqueza das Nações, que muitos consideram como o início da economia como disciplina. O livro de Smith começa com a descrição de uma fábrica de alfinetes do século XVIII. Em vez de cada um dos 10 operários fabricar um alfinete do início ao fim, cada um se especializava em uma das muitas etapas da fabricação de um alfinete: Um homem estica o arame, outro o endireita, outro o corta, outro faz a ponta, um quinto o amassa na ponta para receber a cabeça. Fabricar a cabeça exige duas ou três operações distintas, colocá-la é uma tarefa específica, clarear os alfinetes é outra; e até embrulhar em papel é outra tarefa. Desse modo, o negócio importante de fabricar um alfinete é dividido em cerca de 18 operações distintas.

Portanto, aquelas dez pessoas podiam fabricar 48 mil ou mais alfinetes por dia. Mas se fizessem tudo separadamente, de forma independente e sem treinamento para esse tipo específico de atividade, certamente não conseguiriam produzir nem 20, talvez nem um alfinete por dia… O mesmo princípio se aplica quando observamos como as pessoas dividem as tarefas entre si e comerciam em uma economia. A economia como um todo pode produzir mais quando cada pessoa se especializa em uma tarefa e comercia com outras. O benefício da especialização é a razão pela qual uma pessoa normalmente escolhe apenas uma carreira. Para tornar-se médico são necessários muitos anos de estudo e experiência, assim como para tornar-se piloto de linha aérea comercial. Pode ser que muitos médicos tenham potencial para se tornar excelentes pilotos e vice-versa, mas é muito improvável que alguém que decida seguir as duas carreiras seja um bom piloto e bom médico tanto quanto alguém que desde o início decida se especializar em uma dessas áreas. Por isso, é uma vantagem para todos que os indivíduos se especializem nas carreiras que escolheram. Os mercados é que permitem que um médico e um piloto se especializem em suas áreas. Como existe o mercado de voos comerciais e de serviços médicos, um médico pode ter certeza de que pode encontrar um voo, assim como um piloto pode ter certeza de que pode encontrar um médico. Enquanto os indivíduos souberem que podem encontrar os bens e serviços de que necessitam no mercado, não estarão interessados na autossuficiência e em se especializar. Mas o que garante às pessoas que os mercados irão fornecer o que querem? A resposta a essa pergunta leva ao segundo princípio de como as escolhas individuais interagem. Princípio 6: Os mercados caminham para o equilíbrio

Em uma tarde movimentada no supermercado, há muitas filas nos caixas. Então, um dos caixas, que estava fechado, abre. O que acontece? A primeira coisa, claro, é uma corrida para esse caixa. No entanto, depois de alguns minutos, tudo se estabiliza; os compradores terão se reorganizado de tal modo que a fila no caixa recém-aberto terá aproximadamente o mesmo comprimento que as demais.

Como sabemos disso? A partir do quarto princípio sabemos que as pessoas irão explorar as oportunidades para melhorar a própria situação. Isso significa que as pessoas correrão para o caixa recém-aberto para economizar tempo de espera em pé na fila. E tudo se estabilizará quando os compradores já não puderem melhorar sua posição trocando de fila – ou seja, quando as oportunidades de ficar em melhor situação tiverem se exaurido. Pode parecer que uma história sobre filas de caixa em supermercados tenha pouco a ver com a interação das escolhas individuais, mas, na verdade, ilustra um princípio importante. Uma situação em que os indivíduos não podem ficar em uma situação melhor fazendo algo diferente – a situação na qual todas as filas de espera têm o mesmo comprimento – é o que os economistas chamam de equilíbrio. Uma situação econômica está em equilíbrio quando nenhum indivíduo estiver em melhor situação se fizer algo diferente. Lembre-se da história do posto de gasolina Jiffy Lube, onde supostamente seria mais barato deixar o carro para troca de óleo do que pagar o estacionamento. Se essa oportunidade tivesse realmente existido e as pessoas ainda estiverem pagando $30 para estacionar, a situação não estaria em equilíbrio. E isso deveria ser um sinal de que a história não poderia ser verdadeira. Na verdade, as pessoas aproveitaram a oportunidade para estacionar de forma barata, assim como aproveitaram a oportunidade de poupar tempo na fila do caixa. E, ao agir assim, eliminam a oportunidade! Ou se tornaria muito difícil conseguir uma vaga para trocar óleo ou o preço do trabalho de lubrificação teria aumentado a tal ponto que deixaria de ser uma opção atraente (a menos que você realmente precise do trabalho de lubrificação). Isso nos leva ao sexto princípio: Como as pessoas respondem a incentivos, os mercados se movem em direção ao equilíbrio. Como veremos, os mercados costumam atingir o equilíbrio por meio da variação nos preços, que sobem ou descem até não haver mais oportunidade para os indivíduos ficarem em melhor situação. O conceito de equilíbrio é extremamente útil para a compreensão das interações econômicas, pois permite, por assim dizer, cortar caminho entre os detalhes, muitas vezes complexos, dessas interações. Para compreender o

que acontece quando uma nova fila se forma no caixa de um supermercado, não é preciso se preocupar em como os compradores se reorganizam exatamente, quem passa à frente de quem, qual foi o caixa que acabou de abrir e assim por diante. O que é necessário saber é que toda vez que houver mudança, a situação se moverá para um novo equilíbrio. O movimento dos mercados em direção ao equilíbrio faz com que dependamos deles para agir de forma previsível. De fato, podemos confiar nos mercados para nos fornecer o básico da vida. Por exemplo, as pessoas que vivem nas grandes cidades podem ter certeza de que as prateleiras dos supermercados sempre estarão totalmente abastecidas. Por quê? Porque se alguns comerciantes que distribuem alimentos não fizerem as entregas, haverá uma grande oportunidade de lucro para outro comerciante fazer – e haverá uma corrida para fornecer alimentos, assim como se fosse uma corrida para um caixa de supermercado recém-aberto. Dessa forma, o mercado assegura que os alimentos estarão sempre disponíveis para os moradores da cidade. E, voltando ao quinto princípio, isso possibilita que os moradores da cidade sejam moradores da cidade – e se especializem em trabalhos urbanos, em vez de viver em fazendas cultivando os próprios alimentos. Uma economia de mercado, como vimos, permite que as pessoas alcancem ganhos do comércio. Mas como sabemos se essa economia vai bem? O próximo princípio fornece um padrão para ser usado na avaliação do desempenho de uma economia. Princípio 7: Os recursos devem ser usados de forma eficiente para atingir os objetivos da sociedade

Suponha que você esteja participando de um curso em que a sala de aula é muito pequena para o número de alunos – muitas pessoas são obrigadas a ficar de pé ou sentar-se no chão – apesar de haver salas de aula grandes e vazias disponíveis nas proximidades. Você pensa, corretamente, que essa não é maneira de administrar uma faculdade. Os economistas chamam isso de uso ineficiente de recursos. Mas se o uso ineficiente de recursos é indesejável, o que significa usar recursos de forma e ciente? Talvez você imagine que o uso eficiente de recursos tem algo a ver com dinheiro, medido em reais e centavos. Mas, em economia, como na vida, o dinheiro é

apenas um meio para outros fins. A medida com a qual os economistas realmente se preocupam não é o dinheiro, mas a felicidade ou o bem-estar das pessoas. Para os economistas, os recursos de uma economia são usados de maneira e ciente quando usados de forma a explorar completamente as oportunidades para melhorar a situação de todos. Expressando isso de outra forma, uma economia é e ciente quando considera todas as oportunidades de melhorar a situação de um sem piorar a de outros. Em nosso exemplo em sala de aula, há uma maneira clara de melhorar a situação de todos – transferir as aulas para uma sala maior levaria as pessoas a se sentirem melhor sem ferir ninguém na faculdade. Alocar o curso em uma sala de aula menor foi uma utilização ineficiente de recurso da faculdade, enquanto que a atribuição de uma sala de aula maior teria sido um uso eficiente de recurso da faculdade. Quando uma economia é eficiente, está produzindo o máximo de ganho do comércio com os recursos disponíveis. Por quê? Porque não existe maneira de reorganizar a forma de utilização dos recursos de modo a melhorar a situação de todos. Quando uma economia é eficiente, uma pessoa pode ficar em situação melhor, reorganizando o uso dos recursos apenas se piorar a situação de outra pessoa. Em nosso exemplo, se todas as salas de aula maiores já estivessem ocupadas, a faculdade estaria sendo administrada de forma eficiente: aquela turma só poderia melhorar a situação passando para uma sala de aula maior, piorando a situação dos que estavam em uma sala maior, transferindo-os para uma sala de aula menor. Podemos agora afirmar o sétimo princípio: Os recursos devem ser usados de forma e ciente para atingir os objetivos da sociedade. Os formuladores de política econômica devem sempre se esforçar para alcançar a eficiência econômica? Bem, nem sempre, porque a eficiência é apenas um meio de alcançar os objetivos da sociedade. Às vezes, a eficiência pode entrar em conflito com um objetivo que a sociedade considera que vale a pena alcançar. Por exemplo, na maioria das sociedades, as pessoas também se preocupam com questões de justiça ou equidade. E, normalmente, há um trade-off entre equidade e eficiência: políticas que promovem a equidade, muitas vezes ao custo da diminuição da eficiência na economia, e vice-versa.

Para verificar isso, considere o caso das vagas de estacionamento público destinadas aos deficientes ou idosos. Muitas pessoas têm dificuldade de locomoção em decorrência de idade ou invalidez, por isso parece justo atribuir vagas de estacionamento mais próximo especificamente para essas pessoas. No entanto, você deve ter observado que existe certa quantidade de ineficiência. Para ter certeza de que sempre haverá uma vaga de estacionamento disponível caso uma pessoa com deficiência necessite, normalmente há mais vagas disponíveis do que pessoas com deficiência que precisem usá-las. Como resultado, há vagas de estacionamento desejáveis que não são utilizadas. (E a tentação das pessoas sem deficiência de usá-las é tão grande que devem ser dissuadidas pelo receio de levar uma multa.) Então, a não ser que sejam contratados manobristas de estacionamento para alocar vagas, há um conflito entre equidade, isto é, tornar a vida “mais justa” para as pessoas com deficiência, e e ciência, que é certificar-se de que todas as oportunidades para melhorar a situação das pessoas tenham sido totalmente exploradas sem nunca deixar vagas de estacionamento sem ser utilizadas. Até onde os formuladores de políticas públicas devem ir para promover a equidade em relação à eficiência é uma questão difícil, que se localiza no âmago do processo político. Como tal, não é uma questão que os economistas possam responder. Contudo, o que é importante para os economistas é sempre procurar utilizar os recursos da economia de forma tão eficiente quanto possível na busca dos objetivos da sociedade, quaisquer que eles sejam.

PARA MENTES CURIOSAS ESCOLHENDO O LADO Por que nos Estados Unidos as pessoas dirigem do lado direito da estrada? Certamente, por causa da lei. Mas muito antes da lei, havia um equilíbrio. Antes de haver leis formais de trânsito, havia “regras de estradas” informais. Eram práticas que se esperava que todos seguissem. Essas regras incluíam um entendimento de que as pessoas iriam normalmente se manter

em um lado da estrada. Em alguns lugares, como na Inglaterra, a regra era manter a esquerda; em outros, como na França, era manter a direita. Por que em alguns lugares escolheram a direita e em outros a esquerda? Isso não é completamente claro, embora possa ter influenciado a forma do tráfego dominante. Homens a cavalo portando espadas na anca direita preferiam trafegar pelo lado esquerdo (pense em montar ou descer do cavalo e compreenderá a razão). Por outro lado, pessoas destras a pé, mas levando um cavalo, aparentemente preferiam ir pelo lado direito. Em qualquer um dos casos, uma vez estabelecida a regra da estrada, havia fortes incentivos para que as pessoas permanecessem do lado “usual” da estrada: quem não o fizesse ficaria colidindo com o tráfego vindo do lado oposto. Assim, uma vez estabelecida, a regra da estrada seria autoaplicável – isto é, haveria um equilíbrio. Hoje em dia, é claro, o lado da direção é determinado por lei; alguns países até trocam os lados (a Suécia passou da esquerda para a direita, em 1967). Mas e os pedestres? Não há leis – mas existem regras informais. Nos Estados Unidos, os pedestres urbanos mantêm-se normalmente à direita. Mas caso visite um país onde as pessoas dirigem pelo lado esquerdo, fique atento: as pessoas que dirigem pela esquerda normalmente também caminham pela esquerda. Assim, quando estiver em um país estrangeiro, aja como as pessoas locais. Você não será preso se andar pela direita, mas estará em pior situação do que se aceitar o equilíbrio e caminhar pela esquerda.

Princípio 8: Os mercados geralmente levam à eficiência

Não há nenhum departamento do governo dos Estados Unidos encarregado de garantir a eficiência econômica geral da economia de mercado – não há agentes viajando pelo país verificando se os neurocirurgiões estão arando os campos ou se os agricultores de Minnesota estão tentando cultivar laranjas. O governo não precisa forçá-los ao uso eficiente de recursos, porque, na maioria dos casos, a mão invisível realiza esse trabalho. Os incentivos embutidos em uma economia de mercado já garantem que os recursos geralmente sejam bem usados e que as oportunidades para melhorar a situação das pessoas não sejam desperdiçadas. Se uma faculdade fosse conhecida pelo hábito de aglomerar seus alunos em salas de aula pequenas, deixando as salas de aula grandes vazias, em breve veria as matrículas caírem, colocando o emprego de seus administradores em risco. O “mercado” para estudantes universitários iria responder de forma a induzir os administradores a gerir a faculdade de forma eficiente.

Uma explicação detalhada de por que os mercados geralmente são muito bons em assegurar que os recursos sejam bem utilizados terá que esperar até que tenhamos estudado como os mercados realmente funcionam. Mas a razão mais básica é que, em uma economia de mercado, em que os indivíduos são livres para escolher o que consumir e o que produzir, normalmente é aproveitada a oportunidade de ganho mútuo – ou seja, ganhos do comércio. E se houver uma maneira de melhorar a situação de algumas pessoas, elas, em geral, serão capazes de aproveitar essa oportunidade. E é exatamente isso que define a eficiência: todas as oportunidades de melhorar a situação de algumas pessoas foram exploradas, sem piorar a situação de outras pessoas. Isso dá origem ao oitavo princípio: Como as pessoas exploram ganhos do comércio, os mercados, em geral, levam à e ciência. No entanto, como vimos na introdução, existem exceções ao princípio de que os mercados geralmente são eficientes. Em casos de falha de mercado, a busca individual do próprio interesse fundada nos mercados torna a sociedade pior – isto é, o resultado do mercado é ineficiente. E, como veremos na análise do próximo princípio, quando os mercados falham, a intervenção do governo pode ajudar. Mas exceto em instâncias de falha de mercado, a regra geral é que os mercados são uma maneira notável de organizar a economia. Princípio 9: quando os mercados não alcançam a eficiência, a intervenção governamental pode melhorar o bem-estar da sociedade

Lembremo-nos da natureza da falha de mercado causada pelo congestionamento de trânsito, descrito na introdução – um morador do subúrbio dirigindo para o trabalho não tem incentivo para considerar o custo que a sua ação inflige aos outros motoristas na forma de aumento do congestionamento do tráfego. Existem várias soluções possíveis para essa situação; os exemplos incluem a cobrança de pedágios, subsídio ao custo do transporte público e tributação sobre a venda de gasolina para os motoristas particulares. Todos esses remédios funcionam mudando os incentivos dos possíveis motoristas, motivando-os a dirigir menos e usar o transporte alternativo. Mas também compartilham outra característica: cada um deles

depende de uma intervenção do governo no mercado. Isso leva ao nono princípio: Quando os mercados não alcançam a e ciência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Ou seja, quando os mercados dão errado, uma política de governo concebida adequadamente, às vezes, aproxima a sociedade de um resultado eficiente ao modificar a forma como os recursos da sociedade são utilizados. Um ramo muito importante da economia é dedicado a estudar por que os mercados falham e que políticas devem ser adotadas para melhorar o bemestar social. Estudaremos esses problemas e soluções em profundidade nos próximos capítulos, mas, aqui, apresentamos um resumo das principais formas: As ações dos indivíduos têm efeitos colaterais que não são devidamente considerados pelo mercado. Um exemplo é uma ação que provoca poluição. Uma das partes impede que ocorram trocas mutuamente benéficas em uma tentativa de capturar para si maior parcela de recursos. Um exemplo é uma empresa farmacêutica que coloca o preço de um medicamento mais elevado do que o custo de produzi-lo, tornando-o inacessível para algumas pessoas que poderiam beneficiar-se dele. Alguns bens, por sua própria natureza, não servem para uma gestão eficiente pelos mercados. Temos como exemplo o controle de tráfego aéreo. Uma parte importante do estudo em economia é aprender a identificar não apenas quando os mercados funcionam, mas também quando não funcionam, e avaliar quais são as políticas governamentais adequadas em cada situação.

economia em ação Restabelecimento do equilíbrio das rodovias

Em 1994, um forte terremoto atingiu a área de Los Angeles, nos Estados Unidos, causando a destruição de várias pontes e, assim, interrompendo as

estradas que milhares de motoristas usavam para chegar ao trabalho. Os acontecimentos que se seguiram oferecem um exemplo particularmente claro de interdependência na tomada de decisão – nesse caso, a decisão dos moradores do subúrbio, que normalmente utilizam a estrada para chegar ao trabalho. No rescaldo do terremoto, houve uma grande preocupação com o impacto no trânsito, já que os motoristas agora teriam que se somar aos que usavam outras estradas ou desviar em torno de partes bloqueadas usando as ruas da cidade. Os funcionários públicos e os programas de notícias advertiram sobre a expectativa de enormes atrasos e incentivaram os motoristas a evitar deslocamento desnecessário, reprogramando sua rotina, para dirigir antes ou depois do horário de pico, ou usar transporte público. Inesperadamente, esse aviso foi eficaz. Na verdade, tantas pessoas atenderam os apelos que, nos primeiros dias após o terremoto, aqueles que mantiveram sua rota regular realmente acharam o trajeto para o trabalho mais rápido do que antes. É claro que essa situação não poderia durar. Como se espalhou a notícia de que o tráfego estava relativamente leve, as pessoas abandonaram os novos métodos alternativos e voltaram aos carros – e, assim, o trânsito ficou cada vez pior. Dentro de poucas semanas após o terremoto, apareceram sérios congestionamentos. No entanto, após algumas semanas, a situação se estabilizou: a realidade de um trânsito pior do que o usual foi suficiente para desanimar os motoristas, evitando que o pesadelo de congestionamento em toda a cidade se concretizasse. Em resumo, o trânsito de Los Angeles havia se estabelecido em um novo equilíbrio, em que cada morador de subúrbio estava fazendo a melhor escolha que podia, considerando as ações das outras pessoas. Aliás, esse não foi o fim da história: o temor de que a cidade fosse estrangulada pelo trânsito levou as autoridades municipais a reparar as estradas com velocidade recorde. Dentro de apenas um ano e meio após o terremoto, todas as rodovias voltaram ao normal, prontas para o próximo terremoto.

BREVE REVISÃO

A maioria das situações econômicas envolve a interação de escolhas, às vezes com resultados indesejados. Em uma economia de mercado, a interação ocorre através do comércio entre os indivíduos. Os indivíduos interagem porque existem ganhos do comércio, que surgem a partir da especialização. Em geral, os mercados movem-se em direção ao equilíbrio, porque as pessoas exploram ganhos do comércio. Para atingir os objetivos da sociedade, deveria ocorrer um uso eficiente de recursos. Tanto a equidade como a eficiência pode ser desejável em uma economia. Muitas vezes, há um trade-off entre equidade e eficiência. Considerando-se algumas exceções bem definidas, os mercados normalmente são eficientes. Quando os mercados não conseguem atingir a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 1-2 1.

Explique como cada uma das seguintes situações ilustra um dos cinco princípios de interação. a. Usando o site da faculdade, qualquer estudante que deseje vender um livro usado por pelo menos $30 consegue vendê-lo a outro estudante disposto a pagar $30. b. Em uma cooperativa de monitores na faculdade, os estudantes podem-se organizar para oferecer aulas de assuntos que dominam (como economia) em troca de receber ajuda de um monitor em assuntos que não dominam (como filosofia). c. A prefeitura impôs uma lei que exige que bares e discotecas perto de áreas residenciais mantenham o nível de ruído abaixo de determinado limite. d. Para proporcionar melhor atendimento a pacientes de baixa renda, a prefeitura decidiu fechar algumas clínicas de bairro subutilizadas e transferir fundos para o hospital principal.

e. 2.

No site da faculdade, livros de determinado título, com aproximadamente o mesmo grau de desgaste, são vendidos pelo mesmo preço. Dentre as situações a seguir, qual descreve uma situação de equilíbrio? Qual não descreve? Justifique a resposta. a. Os restaurantes do outro lado da rua da cafeteria da universidade servem refeições mais saborosas e a preços mais acessíveis do que as servidas na cafeteria da universidade. A maioria dos alunos continua a comer na cafeteria. b. Atualmente, você vai de metrô ao trabalho. Embora o ônibus seja mais barato, leva mais tempo. Então, você está disposto a pagar a tarifa superior do metrô, para poupar tempo. As respostas estão no fim do livro.

INTERAÇÕES NO CONJUNTO DA ECONOMIA Como mencionamos na introdução, a economia em seu conjunto tem seus altos e baixos. Por exemplo, os negócios nos shopping centers dos Estados Unidos diminuíram em 2008, porque a economia estava em recessão. Em 2011, de alguma forma, a economia recuperou-se. Para compreender as recessões e recuperações, é necessário compreender as interações no conjunto da economia e o panorama que a economia requer entendendo os três princípios econômicos mais importantes. Esses três princípios do conjunto da economia estão resumidos na Tabela 1-3. TABELA 1-3 Princípios das interações no conjunto da economia 10. O gasto de uma pessoa é a renda de outra. 11. O gasto total às vezes fica desalinhado com a capacidade produtiva da economia. 12. As políticas governamentais podem alterar os gastos.

Princípio 10: O gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa

Em 2006, a indústria de construção de casas nos Estados Unidos iniciou um rápido declínio, pois os construtores encontravam cada vez mais dificuldade para vender. No início, o prejuízo era limitado principalmente à indústria da construção. Mas com o tempo a crise se espalhou para quase todas as partes da economia, com os gastos de consumo caindo em todos os setores. Mas por que uma queda na construção de casas significa lojas vazias nos shoppings? Afinal, os shoppings são lugares onde as famílias, e não as empresas, fazem compras. A resposta é que a redução dos gastos com a construção civil levou a rendimentos mais baixos no conjunto da economia. As pessoas que estavam empregadas tanto diretamente na construção, produzindo os bens e serviços que os construtores precisavam (como o gesso), como na produção dos bens e serviços que os novos proprietários de casas precisavam (como mobiliário novo) perderam os empregos ou foram forçadas a cortes salariais. E como a renda diminuiu, assim também os gastos dos consumidores. Esse exemplo ilustra o décimo princípio: O gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa. Em uma economia de mercado, as pessoas ganham a vida vendendo coisas – inclusive seu trabalho – a outras pessoas. Se algum grupo na economia decide, por qualquer motivo, gastar mais, a renda de outros grupos aumentará. Se algum grupo decide gastar menos, a renda de outros grupos cairá. Como o gasto de uma pessoa é a renda de outra, uma reação em cadeia de mudanças de comportamento nos gastos tende a ter repercussões que se propagam no conjunto da economia. Por exemplo, um corte nos gastos de investimento, como o que ocorreu em 2008, leva a uma redução da renda familiar. As famílias reagem reduzindo gastos de consumo, o que leva a uma nova rodada de cortes na renda, e assim por diante. Essas repercussões desempenham papel importante na compreensão das recessões e recuperações econômicas. Princípio 11: O gasto total, às vezes, fica fora de alinhamento com a capacidade produtiva da economia

A macroeconomia surgiu na década de 1930, como um ramo separado da economia, quando um colapso nos gastos dos consumidores e das empresas, uma crise no setor bancário e outros fatores levaram a uma queda nos gastos em geral. Essa queda nos gastos, por sua vez, levou a um período de desemprego muito elevado, conhecido como Grande Depressão. A lição que os economistas aprenderam com os problemas da década de 1930 é que o gasto em seu conjunto – a quantidade de bens e serviços que os consumidores e as empresas querem comprar – às vezes não corresponde à quantidade de bens e serviços que a economia é capaz de produzir. Na década de 1930, o montante de gasto ficou muito aquém do que era necessário para manter os trabalhadores americanos empregados, e o resultado foi uma desaceleração econômica grave. Na verdade, os déficits nos gastos são responsáveis pela maioria das recessões, ainda que não por todas. Também é possível que o gasto total seja demasiado elevado. Nesse caso, a economia experimenta in ação, um aumento de preços no conjunto da economia. Esse aumento ocorre porque quando o montante que as pessoas desejam comprar ultrapassa a oferta, os produtores podem aumentar os preços e ainda encontrar consumidores dispostos a comprar. A consideração dos déficits e dos excessos nos gastos nos leva ao princípio 11: O gasto total, às vezes, ca desalinhado com a capacidade produtiva da economia. Princípio 12: As políticas governamentais podem modificar os gastos

O gasto total, às vezes, fica desalinhado com a capacidade produtiva da economia. Mas será possível fazer algo a respeito disso? Sim – o que leva ao décimo segundo e último princípio: As políticas governamentais têm forte impacto sobre os gastos. De fato, as políticas governamentais podem afetar acentuadamente os gastos. Por um lado, o próprio governo realiza gastos elevados, desde equipamentos militares até educação – e pode optar em gastar mais, ou menos. O governo também pode variar o quanto arrecada de impostos da

população, o que, por sua vez, afeta o montante de renda disponível que fica para os consumidores e para as empresas gastarem. E o controle do governo sobre a quantidade de moeda em circulação, ao que parece, oferece mais uma ferramenta poderosa que afeta o gasto total. Os gastos do governo, impostos e o controle da moeda são ferramentas de política macroeconômica. Os governos modernos utilizam esses instrumentos de política macroeconômica em um esforço para gerir o gasto total na economia, tentando manobrar entre os perigos de recessão e de inflação. Nem sempre esses esforços são bem-sucedidos – as recessões e os períodos de inflação ainda ocorrem. Mas, em geral, acredita-se que os esforços agressivos para sustentar os gastos em 2008 e 2009 ajudaram a evitar que a crise financeira de 2008 se transformasse em uma depressão profunda.

economia em ação Cuidar de bebês

O site myarmyonesource.com, que oferece aconselhamento às famílias de militares, sugere que os pais participem de uma cooperativa de baby-sitters – um artifício comum em muitos grupos. Em uma cooperativa desse tipo, para cuidar de crianças, certo número de pais utiliza serviços de baby-sitter, em vez de contratar alguém por hora como babá. Mas como essas organizações garantem que cada um dos membros contribui de forma justa com o serviço de babá? Como se explica no myarmyonesource.com: “Em vez de dinheiro, a maioria dessas cooperativas troca bilhetes ou pontos. Ao precisar de babá, chama um dos amigos da lista e paga com bilhetes. E obtém bilhetes tomando conta de outras crianças da cooperativa.” Em outras palavras, uma cooperativa para tomar conta de crianças é uma economia em miniatura em que as pessoas compram e vendem horas de serviço para tomar conta de crianças. E ainda é um tipo de economia que pode ter problemas macroeconômicos. Um artigo famoso intitulado “Monetary eory and the Great Capitol Hill Babysitting Co-Op Crisis” (Teoria monetária e a grande crise da cooperativa de babysitting de Capitol Hills), publicado em 1977, descreve as dificuldades de uma cooperativa para

cuidar de crianças ao emitir uma quantidade insuficiente de bilhetes. Tenha em mente que, em média, as pessoas em uma dessas cooperativas querem ter uma reserva de bilhetes ou pontos guardados, para o caso de terem que sair diversas vezes antes de repor o estoque cuidando de crianças. Nesse caso, como já de início não havia uma grande quantidade de bilhetes a ganhar, a maioria dos pais queria aumentar sua reserva de bilhetes cuidando de crianças, mas relutava em usar seus bilhetes para sair sem as crianças. A decisão de um casal de sair é que permitia a outros pais ter a oportunidade de obter bilhetes, e, assim, se tornou difícil obtê-los. Sabendo disso, os pais tornaram-se ainda mais relutantes em usar os bilhetes, exceto em ocasiões especiais. Em suma, a cooperativa entrou em recessão. As recessões em uma economia mais ampla são um pouco mais complicadas que isso. Mas os problemas da cooperativa de babysitting de Capitol Hill demonstraram dois ou três princípios de interação na economia em seu conjunto. O gasto de uma pessoa é a renda de outra: a oportunidade de servir de babá surge apenas na medida em que outros pais saiam. E uma economia pode sofrer com pouco gasto: quando não há gente suficiente disposta a sair, todos ficam frustrados com a falta de oportunidade para cuidar das crianças dos outros. O que dizer sobre a política do governo para mudar os gastos? Na verdade, a cooperativa de Capitol Hill também fez isso. No final, resolveu o problema distribuindo mais bilhetes e, com o aumento das reservas, as pessoas se dispuseram a sair mais.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 1-3 1.

Explique como cada um dos exemplos a seguir ilustra um dos três princípios de interações da economia em seu conjunto. a. A Casa Branca pediu que o Congresso aprovasse um pacote temporário de aumento de gastos e cortes de impostos no início de 2009, época em que o emprego estava imergindo e o desemprego crescendo. b. “As companhias de petróleo estão investindo pesadamente em projetos para extrair petróleo de solo betuminoso no Canadá.” Em

c.

Edmonton, Alberta, estão sendo abertos restaurantes e outras empresas de consumo perto dos projetos. Em meados de 2000, a Espanha, que passava por um boom imobiliário, tinha ao mesmo tempo a maior taxa de inflação na Europa. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Como a Priceline.com revolucionou a indústria de viagens Em 2001 e 2002, o setor do turismo estava em apuros. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, muitas pessoas pararam de utilizar o transporte aéreo. À medida que a economia entrava em depressão profunda, os aviões ficavam na pista vazios e as companhias aéreas perdiam bilhões de dólares. Quando várias companhias aéreas grandes foram em espiral em direção à falência e demitiram 100 mil empregados, o Congresso aprovou um pacote de $15 bilhões de ajuda que foi crucial na estabilização da indústria aérea. Esse também foi um momento particularmente difícil para a Priceline.com, um serviço de viagens on-line. Apenas quatro anos após a fundação, estava em perigo de desmoronar. A mudança na sorte da empresa foi dramática. Em 1999, um ano após a constituição da Priceline.com, os investidores ficaram tão impressionados com seu potencial para revolucionar a indústria de viagens que avaliaram a empresa em $9 bilhões. Mas, em 2002, os investidores mudaram para uma visão mais cética da empresa, o que fez reduzir sua valorização em 95%, para apenas $425 milhões. Para piorar a situação, a Priceline.com perdeu vários milhões de dólares por ano. No entanto, conseguiu sobreviver, em 2010, sendo avaliada em $8,8 bilhões pelos investidores. Não só sobreviveu como prosperou. Então, como foi exatamente que a Priceline.com trouxe essa mudança dramática para a indústria de viagens? E o que lhe permitiu sobreviver e

prosperar como empresa em face das conturbadas condições econômicas? O sucesso da Priceline.com reside na capacidade de prospectar oportunidades exploráveis para si e para seus clientes. A empresa entendeu que, quando um avião parte com assentos vazios ou um hotel tem camas vazias, isso tem um custo – a receita a ser obtida se o assento ou a cama tivesse sido ocupado. E, apesar de alguns turistas apreciarem a segurança da reserva dos voos e hotéis com bastante antecedência e de fazer questão de pagar por isso, outros se sentem satisfeitos em aguardar até o último minuto, arriscando não obter o voo ou hotel que desejam, mas desfrutando de um preço menor. Os clientes especificam o preço que estão dispostos a pagar por determinada viagem ou localização de hotel e a Priceline.com apresenta uma lista de opções de companhias aéreas e hotéis dispostos a aceitar esse preço, normalmente com o preço baixando à medida que a data da viagem se aproxima. Ao apresentar de um lado as companhias aéreas e hotéis disponíveis e de outro os clientes dispostos a sacrificar algumas de suas preferências por um preço mais baixo, a Priceline.com melhora a situação de todos – inclusive dela própria, uma vez que cobra uma pequena comissão a cada venda que facilita. A Priceline.com também foi experta quando viu seu mercado desafiado pelos recém-chegados Expedia e Orbitz. Em resposta, começou a direcionar mais agressivamente o seu negócio para reservas de hotel e para a Europa, onde a indústria de viagens on-line ainda era muito pequena. Sua rede era particularmente valiosa no mercado de hotel europeu, que é composto de hotéis bem menores em comparação com o mercado dos Estados Unidos, que é dominado por cadeias de hotéis em todo o país. O esforço valeu a pena e, em 2003, a Priceline.com obteve o primeiro lucro. A Priceline.com agora opera dentro de uma rede de mais de 100 mil hotéis em mais de 90 países. Até 2010, as receitas cresceram pelo menos 24% em relação a cada um dos três anos anteriores, até mesmo crescendo 34% durante a recessão de 2008. Certamente, a indústria de viagens nunca mais será a mesma novamente.

• QUESTÃO PARA PENSAR 1.

Explique como cada um dos 12 princípios da economia é ilustrado nessa história.

• RESUMO 1.

2. 3.

4. 5.

Toda a análise econômica é baseada em um conjunto de princípios básicos que se aplicam a três níveis de atividade econômica. Primeiro, é preciso compreender como os indivíduos fazem escolhas; segundo, é preciso compreender como essas escolhas interagem; e terceiro, temos que compreender como a economia funciona em seu conjunto. Cada pessoa deve fazer escolhas sobre o que fazer e o que não fazer. A escolha individual é a base da economia – se não envolver escolha, não é economia. A razão pela qual as escolhas são necessárias é que os recursos – qualquer coisa que possa ser usada para produzir outra coisa – são escassos. Os limites para as escolhas individuais são tempo e dinheiro; as economias são limitadas por suas fontes de recursos humanos e naturais. Como se é obrigado a escolher entre alternativas limitadas, o custo real de algo é o que se tem de abdicar para obtê-la – todos os custos são custos de oportunidade. Muitas decisões econômicas envolvem questões que não são “se”, mas “quanto”: quanto gastar em algum item, quanto produzir e assim por diante. Tais decisões devem ser tomadas realizando um trade-off na margem – comparando os custos e benefícios de fazer um pouco mais ou um pouco menos. Decisões desse tipo são chamadas de decisões marginais e o estudo delas, a análise marginal, desempenha um papel central na economia.

6.

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9.

10.

11. 12. 13.

14.

O estudo de como as pessoas devem tomar decisões também é uma boa maneira de compreender o comportamento real. Normalmente, os indivíduos respondem a incentivos – explorando oportunidades para levar vantagem. O próximo nível de análise econômica é o estudo da interação – como minhas escolhas dependem de suas escolhas, e vice-versa. Quando os indivíduos interagem, o resultado final pode ser diferente do que se pretende. Os indivíduos interagem porque existem ganhos do comércio: ao se envolver no comércio de bens e serviços uns com os outros, os membros de uma economia podem melhorar a situação. Especialização – cada pessoa se especializa na tarefa em que se sobressai – é a fonte de ganhos do comércio. Como normalmente as pessoas respondem a incentivos, os mercados em geral se movem em direção ao equilíbrio – situação em que nenhum indivíduo pode melhorar sua situação optando por uma ação diferente. Uma economia é e ciente se forem aproveitadas todas as oportunidades de melhorar a situação de alguém, sem piorar a de outrem. Os recursos devem ser usados de forma tão eficiente quanto possível para alcançar os objetivos da sociedade. Mas a eficiência não é a única maneira de avaliar a economia: equidade, ou justiça, também é desejável, e, muitas vezes, há um trade-off entre equidade e eficiência. Os mercados geralmente levam à eficiência, com algumas exceções bem definidas. Quando os mercados falham e não alcançam a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Como em uma economia de mercado as pessoas recebem renda com a venda de coisas, inclusive do seu próprio trabalho, o gasto de uma pessoa é a renda de outra. Em consequência, variações no comportamento dos gastos podem se espalhar por toda a economia. O gasto total na economia pode ficar desalinhado com a capacidade produtiva da economia. Gastos abaixo da capacidade produtiva da economia levam à recessão; gastos acima da capacidade produtiva da economia levam à inflação.

15. Os governos têm capacidade de afetar fortemente o gasto total, uma habilidade que usam no esforço de orientar a economia entre a recessão e a inflação.

• PALAVRAS-CHAVE Escolha individual, p. 6 Recurso, p. 6 Escasso, p. 6 Custo de oportunidade, p. 7 Trade-off, p. 8 Decisão marginal, p. 8 Análise marginal, p. 8 Incentivo, p. 8 Interação, p. 10 Comércio, p. 11 Ganhos do comércio, p. 11 Especialização, p. 11 Equilíbrio, p. 12 Eficiente, p. 13 Equidade, p. 13

• PROBLEMAS 1.

Em cada uma das seguintes situações, identifique qual dos 12 princípios está funcionando. a. Você escolhe comprar na ponta de estoque local em vez de pagar preços mais elevados pela mesma mercadoria no shopping. b. Na viagem de férias, seu orçamento está limitado a $35 por dia.

c.

2.

O diretório acadêmico tem um site em que os alunos que estão saindo podem vender itens como livros usados, eletrodomésticos e móveis, em vez de dá-los aos colegas, como antes faziam. d. Depois que um furacão causou danos consideráveis às casas na Ilha de St. Crispin, os proprietários queriam comprar muito mais material de construção e contratar mais trabalhadores do que havia disponível na ilha. Como resultado, os preços de bens e serviços na ilha aumentaram drasticamente. e. Você compra um livro usado do seu colega de quarto. Ele usa o dinheiro para comprar músicas no iTunes. f. Você decide quantas xícaras de café vai tomar quando estuda à noite antes de uma prova, considerando o quanto mais consegue estudar com mais uma xícara, em comparação com o quanto vai ficar nervoso de tanto tomar café. g. Há um limite de espaço no laboratório que tem que ser usado pelos estudantes de química. O supervisor do laboratório agenda os alunos com base na hora em que podem comparecer. h. Você percebe que pode-se formar um semestre mais cedo se renunciar a um semestre de estudos no exterior. i. No centro acadêmico, há um quadro de avisos em que as pessoas anunciam itens usados para venda, como bicicletas. Ajustadas pela diferença de qualidade, todas as bicicletas são vendidas, aproximadamente, pelo mesmo preço. j. Você é mais competente na realização de pesquisas de laboratório, e sua colega ao escrever relatórios de pesquisa. Assim, vocês concordam que você irá fazer todos os experimentos e ela, escrever todos os relatórios. k. Os governos estaduais determinam que é ilegal dirigir se não passar no exame para carteira de motorista. l. A renda líquida dos seus pais aumentou depois de um corte de impostos aprovado pelo Congresso. Portanto, a sua mesada foi aumentada, e você irá gastá-la nas férias da primavera. Descreva alguns dos custos de oportunidade quando você decide fazer o seguinte. a. Cursar a faculdade, em vez de aceitar um emprego.

3.

b. Assistir a um filme, em vez de estudar para um exame. c. Andar de ônibus, em vez de dirigir seu carro. Liza precisa comprar um livro para a próxima aula de economia. O preço na livraria da faculdade é $65. Um site oferece o mesmo livro por $55 e outro site, por $57. Todos os preços incluem imposto sobre vendas. A tabela a seguir indica as tarifas normais do livro encomendado on-line. Modo de transporte

Tempo de entrega

Valor

3-7 dias

$3,99

Aéreo, em 2 dias

2 dias úteis

$8,98

Aéreo, em 1 dia

1 dia útil

$13,98

Standard

a.

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5.

Qual é o custo de oportunidade de comprar on-line em vez de na livraria? Observe que se comprar o livro on-line, vai ter que esperar um tempo para recebê-lo. b. Mostre a escolha relevante para esse estudante. O que determina qual dessas opções ele vai escolher? Use o conceito de custo de oportunidade para explicar o seguinte. a. Mais pessoas decidem frequentar uma faculdade quando o mercado de trabalho não está bom. b. Mais pessoas escolhem fazer seus próprios consertos em casa quando a economia está crescendo pouco e os salários por hora estão baixos. c. Há mais parques no subúrbio do que no centro da cidade. d. As lojas de conveniência, que cobram preços mais elevados, atendem as pessoas ocupadas. e. Menor número de estudantes se matricula nas aulas antes das 10 horas. Nos exemplos a seguir, indique como poderia usar o princípio da análise marginal para tomar uma decisão. a. Decidir quantos dias esperar antes de lavar a roupa. b. Decidir quanto tempo fazer pesquisa na biblioteca antes de escrever o trabalho solicitado no curso.

6.

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8.

c. Decidir quantos pacotes de batata frita comer. d. Decidir a quantas aulas do curso não comparecer. De manhã você fez as seguintes escolhas individuais: comprou uma broinha e um café no bar local, foi para a faculdade no seu carro na hora de pico e digitou o trabalho de curso da sua colega porque você é um digitador rápido – e em troca ela vai lavar sua roupa durante um mês. Para cada uma dessas ações, descreva como suas escolhas individuais interagem com as escolhas individuais feitas por outras pessoas. As outras pessoas melhoraram ou pioraram a situação com o resultado das suas escolhas em cada caso? A família Hatfield mora no lado leste do Rio Hatatoochie e a família McCoy vive no lado oeste. A alimentação de cada família consiste de frango frito e espigas de milho cozido e cada uma é autossuficiente, criando suas próprias galinhas e plantando seu próprio milho. Explique em que condições seriam verdadeiras as seguintes afirmações: a. As duas famílias ficariam em situação melhor, se os Hatfields se especializassem na criação de frangos e os McCoys se especializassem no cultivo de milho e as duas famílias comerciassem. b. As duas famílias ficariam em situação melhor, se os McCoys se especializassem na criação de frangos e os Hatfields no cultivo de milho e as duas famílias comerciassem. Qual das seguintes situações descreve um equilíbrio? E qual não descreve? Se a situação não descreve um equilíbrio, o que seria um equilíbrio? a. Muitas pessoas vão e vêm todos os dias do subúrbios para o centro de Pleasantville. Em virtude do congestionamento de trânsito, a viagem leva 30 minutos pela rodovia, mas apenas 15 minutos pelas ruas laterais. b. No cruzamento entre a Main e a Broadway, há dois postos de gasolina. Um cobra $3 por galão de gasolina e o outro cobra $2,85. Os clientes podem obter o produto imediatamente no primeiro posto, mas devem esperar em uma longa fila no segundo. c. Cada aluno matriculado em Introdução à Economia também deve assistir a uma aula de orientação semanal. Esse ano há a oferta de

duas seções: A e B, no mesmo horário, em salas de aula contíguas e os instrutores são igualmente competentes. A seção A está superlotada, com pessoas sentadas no chão e, muitas vezes, incapazes de ver o quadro-negro. Na seção B há muitos lugares vazios. 9. Em cada um dos seguintes casos, explique se considera a situação eficiente ou não. Se não é eficiente, por quê? Que ações tornariam a situação eficiente? a. A eletricidade está incluída no preço do aluguel do quarto. Alguns moradores deixam a luz, os computadores e os aparelhos elétricos ligados quando não estão no quarto. b. Embora a preparação tenha o mesmo custo, o restaurante da sua república regularmente fornece muitos pratos que os estudantes não gostam, como caçarola de tofu, e em menor quantidade alguns pratos que eles gostam, como peru assado com molho. c. As matrículas de certa disciplina excedem as vagas disponíveis. Alguns estudantes que precisam dessa disciplina para completar o curso não conseguem vaga, enquanto outros para os quais a disciplina é eletiva conseguem. 10. Discuta as implicações de eficiência e equidade de cada uma das seguintes políticas de governo. Como você iria equilibrar as preocupações de equidade e eficiência nessas áreas? a. O governo paga instrução integral para os alunos de faculdade estudarem qualquer assunto que desejem. b. Quando as pessoas perdem o emprego, o governo oferece segurodesemprego até que encontre um novo emprego. 11. Os governos, muitas vezes, adotam determinadas políticas, a fim de promover o comportamento desejado entre os cidadãos. Para cada uma das seguintes políticas, determine qual é o incentivo e qual o comportamento que o governo deseja promover. Em cada caso, por que você acha que o governo estaria querendo modificar o comportamento das pessoas, em vez de permitir que suas ações sejam determinadas unicamente pela escolha individual? a. Foi cobrado um imposto de $5 por maço de cigarros.

b.

O governo paga aos pais $100 quando o filho é vacinado contra sarampo. c. O governo paga aos estudantes universitários para darem instrução aos filhos de famílias de baixa renda. d. O governo impõe um imposto sobre a quantidade de ar poluído emitido por empresa. 12. Em cada uma das situações a seguir, explique como a intervenção do governo poderia melhorar o bem-estar da sociedade, alterando os incentivos das pessoas. Em que sentido o mercado está funcionando errado? a. A poluição provocada pelos automóveis atingiu níveis insustentáveis. b. Todo mundo em Woodville ficaria em situação melhor se as ruas da cidade fossem iluminadas. Mas nenhum morador está disposto a pagar por um poste de luz na frente de casa, pois será impossível cobrar o custo de outros moradores pelo benefício que recebem dele. 13. Em 2 de agosto de 2010, Tim Geithner, secretário do Tesouro, publicou um artigo defendendo as políticas de administração. Disse: “A recessão que começou no final de 2007 foi extraordinariamente grave. Mas as ações que foram tomadas na época para estimular a economia ajudaram a deter a queda livre, evitando um colapso ainda mais profundo e colocando a economia no caminho da recuperação.” Quais os dois princípios dentre os três princípios da interação na economia em seu conjunto que estão funcionando nessa afirmação? 14. Em agosto de 2007, uma mudança acentuada no mercado imobiliário dos Estados Unidos reduziu a renda de muitos que trabalhavam na indústria da construção. Um artigo no Wall Street Journal contou que provavelmente os serviços de transferência bancária internacional do Walmart iriam diminuir porque muitos trabalhadores na indústria da construção civil são hispânicos e remetem regularmente, via Walmart, parte de seus salários de volta para os parentes em seus países de origem. Com essa informação, use um dos princípios de interação na economia em seu conjunto para traçar uma cadeia de ligações que explique como uma redução nos gastos de compra de residências nos

Estados Unidos é suscetível de afetar o desempenho da economia mexicana. 15. Em 2005, o furacão Katrina causou destruição em massa na Costa do Golfo dos Estados Unidos. Dezenas de milhares de pessoas perderam suas casas e pertences. Mesmo os não afetados diretamente pela destruição, foram afetados pelo desaparecimento de negócios e empregos. Usando um dos princípios da interação no conjunto da economia, explique como uma intervenção do governo pode ajudar nessa situação. 16. Durante a Grande Depressão, a comida apodrecia sem ser colhida ou os campos que antes eram cultivados foram abandonados. Um dos princípios da interação na economia em seu conjunto explica como isso pode ocorrer. www.worthpublishers.com/krugmanwells

CAPÍTULO 2 » Modelos econômicos: tradeoffs e comércio

DE KITTY HAWK PARA DREAMLINER

M 15 DE DEZEMBRO de 2009, o avião a jato mais recente da Boeing, o Dreamliner 787, realizou o primeiro voo de teste de três horas. Foi um momento histórico: o Dreamliner era o resultado de uma revolução aerodinâmica – um avião supereficiente projetado para reduzir os custos operacionais das companhias aéreas e o primeiro a utilizar materiais compósitos muito leves. Para garantir que o Dreamliner fosse suficientemente leve e aerodinâmico, passou por mais de 15 mil horas de testes em túnel de vento – testes que resultaram em alterações sutis do projeto para melhorar o desempenho, proporcionando eficiência de 20% de combustível e menos 20% de emissão de poluentes do que os jatos de passageiros existentes. O primeiro voo do Dreamliner foi um avanço espetacular desde a viagem inaugural do Wright Flyer em 1903, o primeiro avião a motor bem-sucedido, em Kitty Hawk, Carolina do Norte. No entanto, os engenheiros da Boeing – e todos os engenheiros aeronáuticos – têm uma enorme dívida com os inventores do Wright Flyers, Wilbur e Orville Wright. O que realmente transformou os Wrights em visionários foi a invenção do túnel de vento, um aparelho que possibilitou experimentar muitos projetos diferentes de asas e superfícies de controle. Ao realizar experimentos com um avião em miniatura, dentro de um túnel de vento do tamanho de um contêiner de navio, os irmãos Wright adquiriram o conhecimento que tornaria possível o voo mais pesado que o ar.

E

Um avião em miniatura dentro de um caixote de madeira ou um modelo em miniatura do Dreamliner dentro de um túnel de vento transônico da Boeing com tecnologia de ponta difere de uma aeronave real em voo. Mas é um modelo de avião pilotável muito útil – uma representação simplificada da realidade que pode ser usada para responder a questões cruciais, como o grau de elevação que um formato de asa irá gerar em uma determinada velocidade. Não é necessário comentar que testar um projeto de avião em um túnel de vento é mais barato e seguro do que construir uma versão em escala real, com a esperança de que voe. De modo mais geral, os modelos desempenham um papel fundamental em quase todas as pesquisas científicas – em grande medida na economia. Na verdade, pode-se dizer que a teoria econômica consiste principalmente de uma coleção de modelos, uma série de representações simplificadas da realidade econômica que nos permite compreender uma variedade de questões econômicas. Neste capítulo, analisaremos dois modelos econômicos que são muito importantes e também ilustram por que esses modelos são tão úteis. Ao final, faremos uma análise de como os economistas realmente usam os modelos no trabalho. O que você vai aprender neste capítulo • Por que modelos – representações desempenham papel crucial na economia.

simplificadas

da

realidade



• Dois modelos simples, mas importantes: a fronteira das possibilidades de produção e a vantagem comparativa. • O diagrama do fluxo circular, uma representação esquemática da economia. • A diferença entre economia positiva, que analisa a forma como a economia funciona, e a economia normativa, que tenta prescrever a política econômica. • Quando os economistas concordam e por que discordam.

MODELOS EM ECONOMIA: ALGUNS EXEMPLOS IMPORTANTES Um modelo é qualquer representação simplificada da realidade utilizada para entender melhor as situações da vida real. Mas como podemos criar uma

representação simplificada de uma situação econômica? Uma possibilidade – equivalente a um túnel de vento – é encontrar ou criar uma economia real, mas simplificada. Por exemplo, os economistas interessados no papel econômico do dinheiro estudaram um sistema de trocas que se desenvolveu nos campos de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, em que os cigarros se tornaram uma forma de pagamento universalmente aceita, mesmo entre os prisioneiros que não fumavam. Outra possibilidade é simular o funcionamento da economia em um computador. Por exemplo, quando são propostas alterações na legislação tributária, os funcionários do governo usam modelos tributários – extensos programas matemáticos de computador – para avaliar como as mudanças propostas podem afetar diferentes tipos de pessoas. Os modelos são importantes porque sua simplicidade permite aos economistas se concentrarem nos efeitos de uma mudança de cada vez. Ou seja, permitem manter todo o resto constante e analisar como as mudanças afetam o resultado econômico global. Assim, um pressuposto importante na construção de modelos econômicos é o pressuposto de que tudo o mais permanece constante, o que significa que todos os outros fatores relevantes permanecem inalterados. Mas nem sempre é possível encontrar ou criar uma versão em pequena escala de toda a economia e um programa de computador tão bom quanto os dados que usa (os programadores têm um ditado: “lixo que entra, lixo que sai”). Para muitos propósitos, a forma mais eficaz de modelagem econômica é a construção de “experimentos mentais”: versões simplificadas, hipotéticas, de situações da vida real. No Capítulo 1, ilustramos o conceito de equilíbrio com o exemplo de como os clientes em fila no supermercado se reorganizam quando abre um novo caixa. Apesar de não ter sido dito, representa um exemplo de um modelo simples – um supermercado imaginário, em que muitos detalhes foram ignorados. (O que os clientes estavam comprando não interessa.) Esse modelo poderia ser usado para responder a uma questão do tipo “e se”: e se outro caixa fosse aberto? Como a história do caixa de supermercado mostrou, muitas vezes é possível descrever e analisar um modelo econômico útil em linguagem comum. No entanto, como muito do que ocorre na economia envolve variação de quantidade – no preço de um produto, no número de unidades produzidas, ou

no número de trabalhadores empregados na produção –, os economistas, muitas vezes, acreditam que a utilização de um pouco de matemática ajuda a esclarecer um problema. Especialmente, um exemplo numérico, uma equação simples, ou principalmente um gráfico, podem ser essenciais para compreender uma concepção econômica. Seja qual for a forma, um bom modelo econômico pode ser uma tremenda ajuda para a compreensão. A melhor maneira de entender esse conceito é considerar alguns modelos econômicos simples, mas importantes, e analisar o que nos informam. Primeiro, vamos analisar a fronteira das possibilidades de produção, um modelo que ajuda os economistas a pensar sobre os trade-offs que cada economia enfrenta. Então, passamos à vantagem comparativa, um modelo que explica o princípio de ganhos do comércio – tanto o comércio entre indivíduos como entre países. Além disso, vamos examinar o diagrama do uxo circular, uma representação esquemática que ajuda a entender como os fluxos de dinheiro, de bens e serviços são canalizados por meio da economia. Ao discutir esses modelos, fazemos uso considerável de gráficos para representar as relações matemáticas. Os gráficos desempenham um papel importante neste livro. Quem já está familiarizado com o uso de gráficos não terá problemas. Quem não está deveria passar agora ao Apêndice deste capítulo que fornece uma breve introdução ao uso de gráficos em economia. Trade-offs: A fronteira das possibilidades de produção

O primeiro princípio de economia, apresentado no Capítulo 1, expõe que os recursos são escassos e que, como resultado, qualquer economia – seja um grupo isolado de algumas dezenas de pessoas que subsistem com caça e forrageio ou os seis bilhões de pessoas que compõem a economia global do século XXI – enfrentam trade-offs. Não importa a leveza do Boeing Dreamliner, nem a eficiência da linha de montagem da Boeing. A produção do Dreamliner significa que estão sendo utilizados recursos que poderiam ter sido utilizados para produzir outra coisa. Ao examinar os trade-offs que uma economia enfrenta, os economistas costumam usar o modelo conhecido como fronteira das possibilidades de produção. A ideia subjacente a esse modelo é melhorar a compreensão dos trade-offs ao considerar uma economia simplificada, que produz apenas dois bens. Essa simplificação nos permite mostrar graficamente o trade-off.

Suponha, por um momento, que os Estados Unidos sejam uma economia de uma empresa, sendo a Boeing seu único empregador e os aviões o único produto. Haveria ainda uma escolha de que tipo de aviões produzir – digamos, Dreamliners ou jatinhos de poucos passageiros. A Figura 2-1 mostra uma fronteira das possibilidades de produção hipotética representando o trade-off que essa economia de empresa única iria enfrentar. A fronteira – a curva no gráfico – mostra a quantidade máxima de jatos pequenos que a Boeing pode produzir por ano, dada a quantidade de Dreamliners que produz por ano, e vice-versa. Ou seja, responde às questões da forma: “Qual é a quantidade máxima de jatos pequenos que a Boeing pode produzir em um ano, se também produz 9 (ou 15, ou 30) Dreamliners por ano?” Há uma distinção crucial entre os pontos dentro ou sobre a fronteira das possibilidades de produção (área sombreada) e fora da fronteira. Se o ponto de produção situa-se dentro ou na fronteira – como o ponto C, em que a Boeing produz 20 jatos pequenos e 9 Dreamliners em um ano – é possível. Afinal, a fronteira informa que se a Boeing produz 20 jatos pequenos, também poderá produzir nesse ano um máximo de 15 jatos grandes, por isso certamente pode construir 9 Dreamliners. No entanto, o ponto de produção que se situa fora da fronteira – tal como o ponto de produção hipotético D na figura, em que a Boeing produz 40 jatos pequenos e 30 Dreamliners – não é viável. A Boeing pode produzir 40 jatos pequenos e nenhum Dreamliner – ou pode produzir 30 Dreamliners e nenhum jato pequeno, mas não pode fazer as duas coisas. Na Figura 2-1, a fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo horizontal em 40 jatos pequenos. Isso significa que se a Boeing dedicasse toda a sua capacidade de produção para construir jatos pequenos, poderia produzir 40 jatos pequenos por ano, e nenhum Dreamliner. A fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo vertical em 30 Dreamliners. Isso significa que se a Boeing dedicasse toda a capacidade de produção para construir Dreamliners, poderia produzir 30 Dreamliners por ano e nenhum jato pequeno. A figura também mostra trade-offs não tão extremos. Por exemplo, se os gestores da Boeing decidirem construir 20 jatos pequenos nesse ano, podem produzir, no máximo, 15 Dreamliners. Essa escolha de produção é ilustrada pelo ponto A. E se os gestores da Boeing decidirem produzir 28 jatos pequenos podem construir no máximo 9 Dreamliners, como mostrado pelo ponto B.

PARA MENTES CURIOSAS MODELOS POR DINHEIRO Um modelo é apenas um modelo, certo? Então, quais os danos que pode trazer? Os economistas provavelmente teriam respondido a essa pergunta de forma bastante diferente antes da crise financeira entre 2008 e 2009. A crise financeira continua a ressoar até hoje – prova da importância dos modelos econômicos. Um modelo econômico – que, descobriu-se depois, se mostrou um modelo econômico ruim – desempenhou um papel significativo na origem da crise. “O modelo por dinheiro” teve origem na teoria financeira, o ramo da economia que procura entender quais ativos, como ações e bônus, valem a pena. Os teóricos financeiros, muitas vezes, são contratados (com salários muito elevados) para elaborar modelos matemáticos complexos e ajudar as empresas de investimento a decidir quais ativos comprar e vender e a que preço. A teoria financeira tornou-se cada vez mais importante à medida que Wall Street (um bairro de Nova York, onde quase todas as grandes empresas de investimento têm sede) mudou da negociação de ativos simples, como ações e títulos, a ativos mais complexos – com destaque, títulos garantidos por hipotecas (Mortgage Backed Securities – MBS). Um MBS é um ativo que habilita o proprietário a um fluxo de rendimentos com base nos pagamentos dos empréstimos de habitação efetuados por milhares de pessoas. Os investidores queriam saber o risco desses ativos complexos. Ou seja, a probabilidade de um investidor perder dinheiro em um MBS. Embora não entrando em detalhes, estimar a probabilidade de perder dinheiro em um MBS é um problema complicado. Trata-se de calcular a probabilidade de que uma quantidade significativa de proprietários de imóveis pelo sistema hipotecário irá parar de pagar as hipotecas. Enquanto essa probabilidade não for calculada, os investidores não querem comprar MBS. Para induzir a venda, as empresas de Wall Street precisaram fornecer aos compradores potenciais de MBS alguma estimativa de risco. Em 2000, um teórico financeiro de Wall Street anunciou que tinha resolvido o problema, empregando uma enorme abstração estatística – supondo que os atuais proprietários de casas não estavam mais propensos a parar de pagar as hipotecas do que em décadas anteriores. A partir dessa premissa, desenvolveuse um modelo simples para estimar o risco de comprar um MBS. Os operadores financeiros adoraram o modelo por ter aberto um mercado enorme e extremamente rentável para eles. Usando esse modelo simples, Wall Street foi capaz de criar e vender bilhões de MBS, gerando bilhões de dólares em lucro para si mesmo. Os investidores pensaram que o risco de perder dinheiro em um MBS havia sido calculado. Alguns especialistas financeiros – principalmente Darrell Duffie, professor de Finanças da Universidade de Stanford – advertiu como espectador que as estimativas de risco calculado através daquele modelo simples estavam

erradas. Ele e outros críticos disseram que, na busca pela simplicidade, o modelo subestimou seriamente a possibilidade de que muitos proprietários de casas poderiam parar de pagar as hipotecas ao mesmo tempo, expondo os investidores em MBS a riscos de incorrer em perdas enormes. As advertências não surtiram efeito – não havia dúvida de que era porque Wall Street estava fazendo muito dinheiro. Bilhões de dólares em MBS foram vendidos a investidores, tanto dos Estados Unidos como do exterior. Entre 2008 e 2009, os problemas sobre os quais os críticos haviam alertado explodiram de forma catastrófica. Ao longo da década anterior, os preços das casas americanas subiram muito, e as hipotecas estenderam-se a muitos que não puderam pagar. À medida que os preços das casas caíam por terra, milhões de proprietários deixavam de pagar as hipotecas. Com a elevação das perdas dos investidores em MBS, tornou-se muito claro que o modelo realmente havia subestimado os riscos. Quando os investidores e as instituições financeiras de todo o mundo perceberam a extensão das perdas, a economia mundial foi levada a uma parada abrupta. E até hoje ainda não se recuperou totalmente. FIGURA 2-1

Fronteira de possibilidade de produção

A fronteira de possibilidades de produção ilustra os trade-offs que a Boeing enfrenta na produção de Dreamliners e jatos pequenos. Mostra a quantidade máxima de um bem que pode ser produzido tendo em conta a quantidade do outro bem produzido. Aqui, a quantidade máxima de Dreamliners fabricados por ano depende da quantidade de jatos pequenos produzidos nesse mesmo ano e vice-versa. A produção viável da Boeing é mostrada na área interior ou sobre a curva. A produção no ponto C é viável, mas não é eficiente. Os pontos A e B são viáveis e eficientes na produção, mas o ponto D não é viável.

Pensar em termos de fronteira das possibilidades de produção simplifica as complexidades da realidade. A economia do mundo real nos Estados Unidos produz milhões de bens diferentes. Até a Boeing pode produzir mais do que dois tipos de aviões diferentes. No entanto, é importante perceber que, mesmo em sua simplicidade, esse modelo despojado fornece informações importantes sobre o mundo real. Ao simplificar a realidade, a fronteira das possibilidades de produção nos ajuda a compreender alguns aspectos da economia real melhor do que compreenderíamos sem o modelo: eficiência, custo de oportunidade e crescimento econômico. Eficiência

Em primeiro lugar, a fronteira das possibilidades de produção é uma boa maneira de ilustrar o conceito econômico geral de e ciência. Lembrem-se do Capítulo 1 que uma economia é eficiente se não houver perda de oportunidades – não há maneira de melhorar a situação de alguém sem piorar a situação do outro. Um elemento fundamental da eficiência é que não existem oportunidades perdidas na produção – não há maneira de produzir mais de um bem, sem produzir menos de outros. Enquanto a Boeing opera na fronteira das possibilidades de produção, sua produção é eficiente. No ponto A, 15 Dreamliners são a quantidade máxima possível, uma vez que a Boeing também se comprometeu a produzir 20 jatos pequenos; no ponto B, os 9 Dreamliners são o número máximo que pode ser construído em virtude da opção de produzir 28 jatos pequenos; e assim por diante. Mas vamos supor que por algum motivo a Boeing esteja operando no ponto C, construindo 20 jatinhos e 9 Dreamliners. Nesse caso, não estaria operando de forma eficiente e, por conseguinte, seria ine ciente: poderia estar produzindo mais dos dois tipos de avião. Apesar de termos usado um exemplo das escolhas de produção de uma empresa, uma economia de dois bens para ilustrar a eficiência e a ineficiência, esses conceitos também valem para a economia real, que contém muitas empresas e produz muitos bens. Se a economia no conjunto não pode produzir mais de um bem sem produzir menos de outro – ou seja, se estiver na fronteira das possibilidades de produção, então podemos dizer que a economia é e ciente na produção. Se, no entanto, a economia puder produzir mais de

algumas coisas sem produzir menos de outras – o que normalmente significa que pode produzir mais de tudo –, então é ineficiente na produção. Por exemplo, uma economia em que um grande número de trabalhadores involuntariamente está desempregado, certamente é ineficiente na produção. E isso é ruim, porque a economia poderia estar produzindo mais se essas pessoas estivessem empregadas. Embora a fronteira das possibilidades de produção ajude a esclarecer o que significa uma economia ser eficiente em produção, é importante entender que eficiência na produção é apenas parte do que é necessário para uma economia em seu conjunto ser eficiente. A eficiência também exige que a economia aloque seus recursos de tal modo que os consumidores fiquem tão bem quanto possível. Quando a economia faz isso, dizemos que é e ciente na alocação. Para verificar por que eficiência na alocação é tão importante quanto eficiência na produção, observe que os pontos A e B na Figura 2-1 representam situações em que a economia é eficiente na produção, pois, em cada caso, não pode produzir mais de um bem sem produzir menos do outro. Mas essas duas situações podem não ser igualmente desejáveis sob o ponto de vista da sociedade. Suponha que a sociedade prefira ter mais jatos pequenos e menos Dreamliners do que no ponto A; digo, prefere ter 28 jatos pequenos e 9 Dreamliners, que corresponde ao ponto B. Nesse caso, o ponto A é ineficiente em alocação sob o ponto de vista da economia em seu conjunto, pois prefere que a Boeing produza no ponto B em vez de no ponto A. Esse exemplo mostra que a eficiência para a economia em seu conjunto requer tanto eficiência na produção como na alocação: para ser eficiente, uma economia deve produzir o máximo de cada bem dada a produção dos demais, e também deve produzir a combinação dos bens que as pessoas desejem consumir. (E também deve distribuir os bens às pessoas certas: uma economia que fornece jatos pequenos para companhias aéreas internacionais e Dreamliners para companhias aéreas suburbanas que servem pequenos aeroportos rurais também é ineficiente.) No mundo real, economias de comando, como a antiga União Soviética, são notórias pela ineficiência na alocação. Por exemplo, era comum que os consumidores encontrassem lojas com estoques de itens que poucas pessoas queriam, mas faltavam itens básicos, como sabonete e papel higiênico. Custo de oportunidade

A fronteira das possibilidades de produção é útil também para lembrar o ponto fundamental de que o verdadeiro custo de qualquer bem não é apenas a quantidade de dinheiro que custa, mas também do que temos que abrir mão para obtê-lo – o custo de oportunidade. Se, por exemplo, a Boeing decidir ir do ponto A para o B, produzirá mais 8 jatos pequenos, mas menos 6 Dreamliners. Assim, o custo de oportunidade de 8 jatos pequenos é a renúncia de 6 Dreamliners, para poder produzir mais 8 jatos pequenos. Significa que cada jato pequeno tem um pequeno custo de oportunidade de 6/8 = 3/4 de um Dreamliner. Esse custo de oportunidade de um jato pequeno a mais, em termos de Dreamliners, é sempre o mesmo, não importa quantos jatos pequenos e Dreamliners sejam produzidos atualmente? No exemplo ilustrado na Figura 21, a resposta é sim. Se a Boeing aumentar a produção de jatos pequenos de 28 para 40, o número de Dreamliners que produz cai de nove para zero. Então, o custo de oportunidade da Boeing por jato pequeno adicional é 9/12 = 3/4 de um Dreamliner, o mesmo que era quando a Boeing passou de 20 jatos pequenos para 28. No entanto, o fato de que, nesse exemplo, o custo de oportunidade de um jato pequeno adicional, em termos de um Dreamliner, seja sempre o mesmo resulta de um pressuposto adotado, que se reflete no formato da curva da Figura 2-1. Especificamente, sempre que assumimos que o custo de oportunidade de uma unidade adicional de um bem não muda independentemente das proporções na produção, a fronteira das possibilidades de produção é uma linha reta. Além disso, como você já deve ter imaginado, a inclinação da linha reta que representa a fronteira das possibilidades de produção é igual ao custo de oportunidade – especificamente o custo de oportunidade de um bem medido no eixo horizontal em termos do bem medido no eixo vertical. Na Figura 2-1, a fronteira das possibilidades de produção tem uma inclinação constante de – 3/4, o que implica que a Boeing se defronta com um custo de oportunidade constante de um jato pequeno igual a 3/4 de um Dreamliner. (No apêndice deste capítulo, há uma revisão de como a inclinação de uma reta é calculada.) Esse é o caso mais simples, mas o modelo da fronteira das possibilidades de produção também pode ser usado para examinar situações em que os custos de oportunidade variam com a composição dos produtos. A Figura 2-2 ilustra um pressuposto diferente, um caso em que a Boeing enfrenta um custo de oportunidade crescente. Aqui, quanto mais produz jatos

pequenos, mais caro será produzir mais um jato pequeno em termos de renúncia de produzir um Dreamliner. E o mesmo se aplica no sentido inverso: quanto mais a Boeing produz Dreamliners, mais caro fica produzir outro Dreamliner em termos de renunciar à produção de jatinhos. Por exemplo, em termos de jatos pequenos para ir da produção de 0 a 20, a Boeing tem que renunciar a produzir 5 Dreamliners. Ou seja, o custo de oportunidade desses 20 jatinhos é de 5 Dreamliners. Mas para aumentar para 40 a produção de jatinhos – ou seja, para produzir 20 jatos pequenos adicionais – deve renunciar à produção de mais 25 Dreamliners, um custo de oportunidade muito maior. Como se observa na Figura 2-2, quando os custos de oportunidade são crescentes e não constantes, a fronteira das possibilidades de produção é uma curva abaulada em vez de uma linha reta. Embora, muitas vezes, seja útil trabalhar com a simples suposição de que a fronteira das possibilidades de produção seja uma linha reta, os economistas acreditam que, na realidade, os custos de oportunidade normalmente são crescentes. Quando apenas uma pequena quantidade de um bem é produzida, o custo de oportunidade de produzir esse bem é relativamente baixo porque a economia precisa usar apenas os recursos que são especialmente adequados para a sua produção. Por exemplo, se uma economia cultiva apenas uma pequena quantidade de milho, esse pode ser cultivado em lugares onde o solo e o clima são perfeitos para o cultivo de milho, mas não tão adequado para o cultivo de outras culturas, como o trigo. Assim, o cultivo do milho envolve a desistência de apenas uma pequena quantidade de produção potencial de trigo. No entanto, quando a economia passa a cultivar uma quantidade grande de milho, tem de usar terra adequada para o trigo, mas não tão boa para o milho. Como resultado, a produção adicional de milho envolverá sacrificar consideravelmente a produção de trigo. Em outras palavras, quanto mais de um bem é produzido, o custo de oportunidade aumenta porque os insumos apropriados estão esgotados e, em vez disso, é preciso usar insumos menos adaptáveis. FIGURA 2-2

Custo de oportunidade crescente

O formato abaulado da fronteira das possibilidades de produção reflete o custo de oportunidade crescente. Neste exemplo, para produzir os primeiros 20 jatinhos, a Boeing deve renunciar à produção de 5 Dreamliners. Mas para produzir um adicional de 20 jatinhos, a Boeing deve sacrificar mais 25 Dreamliners.

Crescimento econômico

No final, a fronteira das possibilidades de produção nos ajuda a entender o que significa falar sobre crescimento econômico. Apresentamos o conceito de crescimento econômico na Introdução, definindo-o como a capacidade crescente da economia de produzir bens e serviços. Como vimos, o crescimento econômico é uma das características fundamentais da economia real. Mas será que a economia realmente cresceu ao longo do tempo? Afinal, embora a economia dos Estados Unidos produza hoje muito mais do que produzia há um século, produz menos de outros itens – por exemplo, carruagens. Em outras palavras, a produção de muitos bens é realmente baixa. Então, como podemos afirmar com certeza que a economia cresceu no conjunto? A resposta está ilustrada na Figura 2-3, onde traçamos duas fronteiras das possibilidades de produção hipotéticas da economia. Nelas assumimos novamente que na economia todos trabalham para a Boeing e, consequentemente, a economia produz apenas dois bens, Dreamliner e jatos

pequenos. Observe como as duas curvas estão aninhadas, uma denominada “PPF original” situada dentro da outra, denominada “PPF nova”. Agora podemos observar no gráfico o que significa crescimento econômico da economia: uma expansão das possibilidades de produção da economia, isto é, a economia pode produzir mais de tudo. Por exemplo, se a economia produz inicialmente no ponto A (25 Dreamliners e 20 jatinhos), o crescimento econômico significa que ela poderia se mover para o ponto E (30 Dreamliners e 25 jatinhos). O ponto E está fora da fronteira original; assim, no modelo de fronteira das possibilidades de produção, o crescimento é mostrado por um deslocamento da fronteira para fora. O que pode levar a fronteira das possibilidades de produção a se deslocar para fora? Há basicamente duas origens de crescimento econômico. Uma delas é o aumento dos fatores de produção da economia, os recursos usados para produzir bens e serviços. Os economistas geralmente usam o termo fator de produção para se referir a um recurso que não é esgotado durante a produção. Por exemplo, na fabricação tradicional de aviões, os trabalhadores usavam máquinas de rebitagem para ligar chapas metálicas na construção da fuselagem do avião; os trabalhadores e as rebitadeiras são fatores de produção, mas os rebites e as chapas de metal, não. Uma vez que a fuselagem seja construída, o trabalhador e o rebitador podem ser utilizados na construção de outra fuselagem, mas a folha de metal e os rebites utilizados na construção da fuselagem não podem ser usados em outra. De modo geral, os principais fatores de produção são os recursos: terra, trabalho, capital físico e humano. A terra é um recurso fornecido pela natureza; o trabalho é o conjunto dos trabalhadores da economia; o capital físico se refere a recursos criados, como máquinas e edifícios; e o capital humano se refere às realizações educacionais e habilidades da força de trabalho, que aumentam sua produtividade. Claro que cada um desses itens é, na verdade, uma categoria e não um fator único: a terra em Dakota do Norte é bem diferente de terra na Flórida. FIGURA 2-3

Crescimento econômico

O crescimento econômico resulta em um deslocamento para fora da fronteira das possibilidades de produção porque as possibilidades de produção se expandiram. Agora, a economia pode produzir mais de tudo. Por exemplo, se a produção estivesse inicialmente no ponto A (25 Dreamliners e 20 jatinhos), o crescimento econômico significa que a economia poderia mover-se para o ponto E (30 Dreamliners e 25 jatinhos).

Para verificar como a adição dos fatores de produção em uma economia leva ao crescimento econômico, suponha que a Boeing constrói outro hangar de construção que lhe permite aumentar o número de aviões – jatos pequenos ou grandes, ou ambos – que pode produzir em um ano. O novo hangar de construção é um fator de produção, um recurso que a Boeing pode usar para aumentar a produção anual. Não podemos determinar quantos mais aviões de cada tipo a Boeing irá produzir, pois é uma decisão de gestão que vai depender, entre outros fatores, da demanda do cliente. Mas pode-se dizer que a fronteira das possibilidades de produção da Boeing deslocou-se para fora porque agora pode produzir mais jatinhos, sem reduzir o número de Dreamliners produzidos, ou pode produzir mais Dreamliners, sem reduzir o número de jatinhos produzidos. Outra fonte de crescimento econômico é o progresso em tecnologia, os meios técnicos para a produção de bens e serviços. Antes do Dreamliner da Boeing ser desenvolvido, foram usados materiais compósitos em algumas

partes da aeronave. Mas os engenheiros da Boeing perceberam que havia grandes vantagens adicionais na construção de um avião inteiro sem compósitos. O avião seria mais leve, mais forte e teria melhor aerodinâmica que um avião construído da forma tradicional. Teria, portanto, maior alcance, capacidade de transportar mais pessoas e utilização de menos combustível, além de ser capaz de manter uma pressão mais elevada na cabina. Assim, em um sentido real, a inovação da Boeing – um avião inteiro construído sem compósitos – foi uma forma de fazer mais com qualquer quantidade de recursos, empurrando para fora a fronteira das possibilidades de produção. Como a tecnologia do jato melhorada empurrou para fora a fronteira das possibilidades de produção, tornou possível que a economia produzisse mais de tudo e não apenas jatos e viagens aéreas. Ao longo dos últimos 30 anos, os maiores avanços tecnológicos ocorreram em tecnologia da informação e não em serviços de construção ou de alimentos. No entanto, os americanos optaram em comprar casas maiores e comer mais do que antes, pois o crescimento da economia possibilitou isso. A fronteira das possibilidades de produção é um modelo muito simplificado da economia. No entanto, oferece lições importantes sobre a economia real. Fornece a primeira noção clara do que seja eficiência econômica, ilustra o conceito de custo de oportunidade, e esclarece sobre o que versa o crescimento econômico. Vantagem comparativa e ganho do comércio

Entre os 12 princípios da economia descritos no Capítulo 1, encontra-se o do ganho com comércio – os ganhos mútuos que os indivíduos podem alcançar ao se especializar em coisas diferentes e negociando um com o outro. Essa segunda ilustração é de um modelo econômico especialmente útil de ganho com comércio – comércio fundamentado em vantagens comparativas. Uma das descobertas mais importantes da economia é que há ganho com comércio – faz sentido produzir o que se tem um talento especial e comprar de outras pessoas o que não se tem habilidade. Isso seria verdadeiro mesmo que se pudesse produzir tudo por si mesmo: mesmo se um cirurgião brilhante pudesse reparar a própria torneira pingando, provavelmente seria uma ideia melhor chamar um encanador profissional.

Como podemos modelar os ganhos com o comércio? Voltemos ao exemplo do avião e imaginemos novamente que os Estados Unidos são uma economia de uma empresa onde todos trabalham para a Boeing que produz aviões. Vamos supor, porém, que os Estados Unidos podem negociar com o Brasil – outra economia de uma única empresa onde todos trabalham para a empresa brasileira de aeronaves Embraer que, no mundo real, é um produtor de jatos pequenos de passageiros de sucesso. (Ao voar de uma cidade grande dos Estados Unidos para outra, é provável que o avião seja um Boeing, mas ao voar entre cidades pequenas, é muito provável que seja da Embraer.) No exemplo, os dois únicos bens produzidos são jatos grandes e pequenos. Os dois países podem produzir os dois tipos de jatos. Mas, como veremos a seguir, podem levar vantagem produzindo itens diferentes e negociando um com o outro. Para o propósito desse exemplo, vamos voltar ao caso mais simples da fronteira das possibilidades de produção em linha reta. A fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos está representada pela fronteira das possibilidades de produção no painel (a) da Figura 2-4, que é semelhante à fronteira das possibilidades de produção da Figura 2-1. De acordo com esse diagrama, os Estados Unidos podem produzir 40 jatos pequenos se não produzir jatos grandes e 30 jatos grandes se não produzir jatos pequenos. Lembre-se que isso significa que a inclinação da fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos é −3/4: o custo de oportunidade de um jato pequeno é 3/4 de um jato grande. O painel (b) da Figura 2-4 mostra as possibilidades de produção do Brasil. Como os Estados Unidos, a fronteira das possibilidades de produção do Brasil é uma linha reta, o que implica um custo de oportunidade constante de jatos pequenos em relação a jatos grandes. A fronteira das possibilidades de produção do Brasil tem uma inclinação constante de −1/3. O Brasil não pode produzir tanto quanto os Estados Unidos: pode produzir no máximo 30 jatos pequenos ou 10 jatos grandes. Mas é melhor do que os Estados Unidos na fabricação de jatos pequenos; ao passo que os Estados Unidos sacrificam 3/4 de jato grande por jato pequeno produzido, para o Brasil o custo de oportunidade de um jato pequeno é apenas 1/3 de um jato grande. A Tabela 21 resume os custos de oportunidade dos jatos pequenos e grandes dos dois países.

TABELA 2-1 Custos de oportunidade de jatos pequenos e grandes dos Estados Unidos e do Brasil Custo de oportunidade dos EUA

Custo de oportunidade do Brasil

Um jato pequeno

3/4 de um jato grande

>

1/3 de um jato grande

Um jato grande

4/3 de um jato pequeno


3/4, seria uma quantidade a ser rejeitada pelos Estados Unidos. Da mesma forma, o Brasil não iria aceitar um negócio que proporcionasse menos de 1/3 de um jato grande por um pequeno. O ponto a ser lembrado é que os Estados Unidos e o Brasil estão dispostos a negociar somente se o “preço” do bem de cada país a ser obtido no comércio for menor do que o próprio custo de oportunidade da produção do bem no mercado interno. Além disso, é uma afirmação geral que se aplica sempre que duas partes – países, empresas ou pessoas – comercializam voluntariamente. Enquanto nossa história simplifica a realidade, também nos ensina algumas lições muito importantes que se aplicam à economia real. Primeiro, o modelo fornece uma ilustração clara dos ganhos com o comércio: através da especialização e do comércio, os dois países produzem mais e consomem mais do que se fossem autossuficientes.

TABELA 2-2 Como os Estados Unidos e o Brasil ganham com o comércio

Produção

Consumo

Produção

Consumo

Ganhos do comércio

Sem comércio

Com comércio

Estados

Jatos grandes

18

18

30

20

+2

Unidos

Jatos pequenos

16

16

0

20

+4

Brasil

Jatos grandes

8

8

0

10

+2

Jatos pequenos

6

6

30

10

+4

FIGURA 2-5

Vantagem comparativa e ganho com comércio

Ao se especializar e comerciar, os Estados Unidos e o Brasil podem produzir e consumir mais tanto jatos grandes como pequenos. Os Estados Unidos se especializaram na fabricação de jatos grandes, sua vantagem comparativa, e o Brasil – que tem uma desvantagem absoluta nos dois bens, mas uma vantagem comparativa nos jatos pequenos – especializou-se na fabricação de jatos pequenos. Com o comércio, os dois países podem consumir mais dos dois bens do que poderiam sem o comércio.

Segundo, o modelo demonstra um ponto muito importante, que, muitas vezes, é esquecido nas discussões do mundo real: cada país tem uma vantagem comparativa na produção de alguma coisa. Isso também se aplica a empresas e

pessoas: cada pessoa tem uma vantagem comparativa em algo, assim como cada pessoa tem uma desvantagem comparativa em algo. Nesse exemplo, não importa se, como provavelmente ocorre na vida real, os trabalhadores americanos são tão bons quanto ou até mesmo melhores do que os trabalhadores brasileiros na produção de jatos pequenos. Suponha que os Estados Unidos seja realmente melhor do que o Brasil em todos os tipos de produção de aeronaves. Nesse caso, diríamos que os Estados Unidos têm vantagem absoluta na produção tanto de jatos grandes como pequenos: em uma hora, um trabalhador americano pode produzir mais tanto de jatos grandes como pequenos do que um trabalhador brasileiro. Nesse caso, existe a tentação de pensar que os Estados Unidos não têm nada a ganhar na negociação com o Brasil, que é menos produtivo. Mas acabamos de ver que os Estados Unidos podem realmente se beneficiar do comércio com o Brasil porque a vantagem comparativa e não absoluta é a base para o ganho mútuo. Não importa se o Brasil utiliza mais recursos do que os Estados Unidos para fabricar um jato pequeno; o que importa para o comércio é que, para o Brasil, o custo de oportunidade de um jato pequeno é menor do que o custo de oportunidade dos Estados Unidos. Então, o Brasil, apesar da desvantagem absoluta, mesmo em jatos pequenos, tem uma vantagem comparativa na fabricação de jatos pequenos. Em contrapartida, os Estados Unidos, que podem usar os recursos de forma mais produtiva na fabricação de jatos grandes, têm uma desvantagem comparativa na fabricação de jatos pequenos. Vantagem comparativa e comércio internacional

Repare na etiqueta de um bem manufaturado vendido nos Estados Unidos, e é bem provável que descobrirá que foi produzido em algum outro país – China, Japão, ou mesmo no Canadá. Por outro lado, muitas indústrias dos Estados Unidos vendem uma grande parte da produção no exterior. (Isso é verdadeiro particularmente para agricultura, alta tecnologia e entretenimento.) Todo esse intercâmbio internacional de bens e serviços deve ser celebrado, ou é motivo de preocupação? Os políticos e o público, muitas vezes, questionam a conveniência do comércio internacional, argumentando que a nação deveria produzir os próprios bens, em vez de comprá-los do estrangeiro. As indústrias em todo o mundo exigem proteção contra a concorrência estrangeira: os agricultores japoneses querem manter fora o arroz americano,

os metalúrgicos americanos querem manter fora a siderúrgica europeia. E essas exigências são, muitas vezes, apoiadas pela opinião pública. Os economistas, no entanto, têm uma visão muito positiva do comércio internacional. Por quê? Porque o analisam em termos de vantagem comparativa. Como aprendemos com o exemplo dos jatos grandes americanos e dos jatos pequenos brasileiros, o comércio internacional beneficia os dois países. Cada país pode consumir mais do que se não comercializasse e se mantivesse autossuficiente. Além disso, esses ganhos mútuos não dependem de cada país ser melhor do que outros países na produção de um tipo de bem. Mesmo que um país tiver, por exemplo, maior produtividade por trabalhador em ambas as indústrias – isto é, mesmo se um país tiver uma vantagem absoluta em ambas as indústrias – o comércio ainda será vantajoso. A próxima seção Comparação global, que explica o padrão de produção de vestuário no conjunto da economia, ilustra esse ponto.

ARMADILHAS CONFUNDINDO A VANTAGEM COMPARATIVA Os estudantes e os especialistas o fazem e os políticos fazem o tempo todo: confundem vantagem comparativa com vantagem absoluta. Por exemplo, na década de 1980, quando a economia dos Estados Unidos parecia estar ficando para trás em relação ao Japão, muitas vezes os comentaristas alertavam que se a produtividade não melhorasse, dentro em pouco não teriam vantagem comparativa em nada. O que os comentaristas queriam dizer é que os Estados Unidos não teriam mais vantagem absoluta em nada – que chegaria um momento em que os japoneses seriam melhores em tudo. (Não aconteceu dessa maneira, mas isso é outra história.) E eles tinham a ideia de que, nesse caso, não seria mais vantajoso o comércio dos Estados Unidos com o Japão. Mas, em nosso exemplo, assim como o Brasil foi capaz de ser beneficiado com o comércio com os Estados Unidos (e vice-versa), apesar do fato de os Estados Unidos serem melhor tanto na fabricação de jatos grandes como pequenos, na vida real os países ainda podem ganhar com o comércio, mesmo sendo menos produtivos do que os países com os quais negociam.

Transações: Diagrama do fluxo circular

Os modelos de economia que estudamos até agora – cada um contendo apenas uma empresa – são de uma simplificação enorme. O comércio entre os

Estados Unidos e o Brasil também foi bem simplificado. Partimos do princípio de que eles se envolvem apenas na mais simples das transações econômicas, o escambo, em que uma parte negocia diretamente um bem ou serviço por outro bem ou serviço sem o uso de dinheiro. Em uma economia moderna, o escambo simples é raro: geralmente as pessoas trocam bens ou serviços por dinheiro – pedaços coloridos de papel sem valor intrínseco – e, em seguida, trocam essas peças de papel colorido pelos bens ou serviços que desejam. Ou seja, vendem bens ou serviços e compram outros bens ou serviços. E ambos vendem e compram uma porção de coisas diferentes. A economia americana é uma entidade muito complexa, com mais de uma centena de milhões de trabalhadores empregados por milhões de empresas, produzindo milhões de bens e serviços diferentes. Mesmo assim, é possível aprender algo importante sobre a economia, considerando o modelo simples mostrado na Figura 2-6, o diagrama do uxo circular. Esse diagrama representa as transações que ocorrem em uma economia com dois tipos de fluxo ao redor de um círculo: o fluxo físico, como de bens, serviços, trabalho e matérias-primas em uma direção, e os fluxos de dinheiro, que pagam por esses itens físicos, na direção oposta. Nesse caso, o fluxo físico é mostrado pelas setas internas, e o dinheiro, pelas setas externas.

COMPARAÇÃO GLOBAL REPÚBLICAS DE PIJAMAS Os países pobres tendem a ter baixa produtividade na fabricação de vestuário e produtividade ainda menor em outros setores (veja a seguir Economia em ação), mesmo assim, têm vantagem comparativa na produção de vestuário. Como resultado, a indústria do vestuário tende a dominar suas economias. Um funcionário de um desses países, uma vez brincou: “Não somos uma república de bananas, somos uma república de pijamas.” O gráfico à direita representa a renda per capita (a renda total do país dividida pelo total da população) em relação ao emprego industrial dedicado à produção de vestuário em vários países. O gráfico mostra a enorme relação entre o nível de renda per capita de um país e o tamanho

da indústria do vestuário: os países pobres têm indústrias de vestuário em grande escala, enquanto os países ricos têm poucas. Segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a indústria de vestuário de Bangladesh tem “baixa produtividade, baixos níveis de alfabetização, perturbações trabalhistas frequentes e tecnologia desatualizada”. No entanto, emprega a maior parte da força de trabalho na fabricação de vestuário, o setor que, apesar disso, tem uma vantagem comparativa, pois a produtividade nas outras indústrias é ainda menor. Ao contrário, a Costa Rica tem “produtividade relativamente alta” na indústria do vestuário. No entanto, uma fração muito menor e declinante da força de trabalho da Costa Rica está empregada na produção de vestuário. Isso acontece porque a produtividade nas indústrias não têxteis é um pouco maior na Costa Rica do que em Bangladesh.

Fonte: Banco Mundial, Indicadores do desenvolvimento mundial; Nicita A. e M. Olarreaga, “Trade, Producion and protetion” 1976-2004, World Bank Economic Review 21, n. 1 (2007): 165-171.

O diagrama de fluxo circular mais simples ilustra uma economia que tem apenas dois tipos de habitantes: domicílios e empresas. Um domicílio é composto de uma pessoa ou grupo de pessoas (geralmente, mas não necessariamente, uma família) que compartilha sua renda. A empresa é uma organização que produz bens e serviços para venda e emprega membros dos domicílios. Como se pode ver na Figura 2-6, existem dois tipos de mercados nessa economia simples. De um lado (nesse caso, do lado esquerdo), existem mercados de bens e serviços em que os domicílios compram os bens e serviços que desejam das empresas.

Assim é produzido um fluxo de bens e serviços para os domicílios e um fluxo de retorno financeiro para as empresas. Do outro lado, há os mercados de fatores, em que as empresas compram os recursos de que necessitam para produzir bens e serviços. Lembrem-se do início do capítulo, em que os principais fatores de produção são terra, trabalho, capital e capital humano. O mercado de fatores que a maioria das pessoas conhece melhor é o mercado de trabalho, em que os trabalhadores vendem seus serviços. Além disso, podemos pensar que os domicílios possuem e vendem às empresas outros fatores de produção. Por exemplo, quando uma empresa adquire capital na forma de máquinas, o pagamento, em última análise, vai para os domicílios que possuem a empresa que fabrica a máquina. Nesse caso, as transações ocorrem no mercado de capital, o mercado em que o capital é comprado e vendido. Como analisaremos mais adiante em detalhe, os mercados de fatores, no final, determinam a distribuição de renda da economia, ou como a renda gerada em uma economia é alocada entre os trabalhadores menos qualificados, altamente qualificados e proprietários de terra e capital. O diagrama do fluxo circular ignora uma série de complicações do mundo real, no interesse da simplicidade. Alguns exemplos: No mundo real, a distinção entre empresas e domicílios nem sempre é clara. Considere um pequeno negócio familiar – uma fazenda, uma loja, um pequeno hotel. É uma empresa ou um domicílio? Um quadro mais completo incluiria uma caixa separada para as empresas familiares. Muitas das vendas que as empresas realizam não são para os domicílios, mas para outras empresas. Por exemplo, as siderúrgicas vendem principalmente para outras empresas, como os fabricantes de automóveis, e não para os domicílios. Um panorama mais completo incluiria esses fluxos de bens, serviços e dinheiro dentro do setor empresarial. FIGURA 2-6

Diagrama do fluxo circular

Esse diagrama representa o fluxo de dinheiro e de bens e serviços em uma economia. No mercado de bens e serviços, os domicílios adquirem bens e serviços das empresas, gerando um fluxo de dinheiro em direção às empresas e um fluxo de bens e serviços em direção aos domicílios. O dinheiro flui de volta para os domicílios quando as empresas compram fatores de produção dos domicílios nos mercados de fatores.

A figura não mostra o governo, que, no mundo real, retira uma boa quantidade de dinheiro do fluxo circular, na forma de impostos, mas também injeta de volta ao fluxo uma grande quantidade de dinheiro, na forma de gastos. Em outras palavras, a Figura 2-6 não é de forma alguma um quadro completo de todos os tipos de habitantes da economia real ou de todos os fluxos de dinheiro e de itens físicos que ocorrem entre os habitantes. Apesar da simplicidade, o diagrama do fluxo circular ajuda a pensar sobre economia.

economia em ação Nação rica, nação pobre

Tire a roupa – em um momento e local adequado, é claro – e olhe as etiquetas que mostram de onde vêm. Pode-se apostar que muitas delas, se não a maioria, foram fabricadas no exterior, em um país muito mais pobre – em El Salvador, Sri Lanka ou Bangladesh. Por que esses países são muito mais pobres do que os Estados Unidos? A razão imediata é que suas economias são muito menos produtivas – a partir de uma determinada quantidade de recursos, as empresas desses países não conseguem produzir tanto quanto as empresas dos Estados Unidos ou de outros países ricos. O motivo pelo qual a diferença de produtividade entre os países é tão grande é, de fato, uma questão profunda – realmente, uma das principais questões que preocupam os economistas. Mas, em qualquer caso, a diferença de produtividade é um fato. Mas se as economias desses países são muito menos produtivas do que a dos Estados Unidos, como é que produzem uma quantidade tão grande de vestuário? Por que não fazemos nós mesmos? A resposta é “vantagem comparativa”. Provavelmente, quase toda a indústria de Bangladesh é muito menos produtiva do que a indústria correspondente nos Estados Unidos. Mas a diferença de produtividade entre países ricos e pobres varia segundo o bem; é muito grande na produção de bens sofisticados, como aviões, mas não tão grande na produção de bens mais simples como roupa. Assim, a posição de Bangladesh com respeito à produção de roupas é análoga à posição da Embraer no que diz respeito à produção de jatos pequenos: não é tão bom como a Boeing, mas é o que a Embraer faz relativamente bem. Bangladesh, embora tenha uma desvantagem absoluta em quase tudo em comparação com os Estados Unidos, tem vantagem comparativa na produção de vestuário. Isso significa que tanto os Estados Unidos como Bangladesh podem consumir mais porque se especializam na produção de coisas diferentes, Bangladesh fornecendo roupas aos Estados Unidos, e este fornecendo a Bangladesh bens mais sofisticados.

BREVE REVISÃO A maioria dos modelos econômicos são “experimentos mentais” ou representações simplificadas da realidade baseadas na suposição de que tudo o mais permanece constante. O modelo da fronteira das possibilidades de produção ilustra os conceitos de eficiência, custo de oportunidade e crescimento econômico. Toda pessoa e todo país têm vantagem comparativa em alguma coisa, dando origem a ganho com o comércio. A vantagem comparativa é, muitas vezes, confundida com vantagem absoluta. Nas economias mais simples, as pessoas realizam escambo ou troca direta, em vez de negociar com dinheiro. O diagrama do fluxo circular é um modelo que ilustra transações dentro da economia, como os fluxos de bens e serviços, os fatores de produção e o dinheiro entre domicílios e empresas. Essas transações ocorrem nos mercados de bens e serviços e no mercado de fatores. Em última análise, os mercados de fatores determinam a distribuição de renda da economia.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 2-1 1. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. Um aumento na quantidade de recursos disponíveis para a Boeing para usar na produção de Dreamliners e pequenos jatos não muda sua fronteira das possibilidades de produção. b. Uma mudança tecnológica que permite que a Boeing fabrique mais jatos pequenos para qualquer quantidade de Dreamliners resulta em uma mudança na sua fronteira das possibilidades de produção. c. A fronteira das possibilidades de produção é útil porque ilustra a quanto de um bem uma economia é obrigada a renunciar para ter mais de outro bem, independentemente de os recursos estarem sendo utilizados de forma eficiente. 2. Na Itália, um automóvel pode ser produzido por oito trabalhadores em um dia e uma máquina de lavar roupa por três trabalhadores em um dia. Nos Estados Unidos, um automóvel pode ser produzido por seis trabalhadores em um dia e uma máquina de lavar roupa por dois trabalhadores em um dia. a. Que país tem uma vantagem absoluta na produção de automóveis? E em máquinas de lavar? b. Que país tem vantagem comparativa na produção de máquinas de lavar roupa? E de automóveis? c. Que padrão de especialização resulta nos maiores ganhos com o comércio entre os dois países?

3. Usando os números da Tabela 2-1, explique por que os Estados Unidos e o Brasil estão dispostos a uma troca de 10 jatos grandes por 15 jatos pequenos. 4. Use o diagrama do fluxo circular para explicar como um aumento do dinheiro gasto pelos domicílios resulta em um aumento do número de empregos na economia. Descreva com palavras o que prevê o modelo do fluxo circular. As respostas estão no fim do livro.

O USO DE MODELOS Vimos que a economia é principalmente uma questão de criar modelos que se baseiam em um conjunto de princípios básicos e algumas hipóteses mais específicas que permitem que o modelador aplique esses princípios em uma situação particular. Mas o que os economistas fazem realmente com esses modelos? Economia positiva versus economia normativa

Imagine que você seja um assessor econômico do governador do estado. Que tipos de perguntas o governador pode solicitar que responda? Eis aqui três perguntas possíveis: 1. 2. 3.

Qual será a receita dos pedágios nas rodovias do estado no próximo ano? Qual será a receita se o pedágio aumentar de $1 para $1,50? O pedágio deve aumentar, tendo em conta que reduzirá o trânsito e a poluição do ar perto da estrada, mas isto trará dificuldade financeira para os usuários frequentes?

Há uma grande diferença entre as duas primeiras questões e a terceira. As duas primeiras são questões sobre fatos. Será verificado se a previsão total de pedágio a ser arrecadado está certa ou errada quando a cobrança de pedágio realmente ocorrer. A estimativa do impacto de uma mudança no preço do pedágio é um pouco mais difícil de verificar – a receita depende de outros fatores além do preço do pedágio. E é possível que seja difícil separar as causas de qualquer mudança na receita. Ainda assim, em princípio, só existe uma resposta correta.

Mas a questão sobre se o pedágio deve ou não ser aumentado pode ter mais de uma resposta “correta” – duas pessoas podem concordar sobre os efeitos de um pedágio mais alto, porém podem discordar sobre se o aumento do preço do pedágio é uma boa ideia. Por exemplo, alguém que mora perto da rodovia, mas não transita nela, irá se preocupar muito com barulho e poluição, mas não com o custo de usar a rodovia. Já no caso de um usuário regular, que não vive perto da rodovia, será o oposto. Esse exemplo destaca uma distinção fundamental entre duas funções desempenhadas pela análise econômica. A análise que tenta responder a questões sobre a maneira como o mundo funciona, que tem respostas definitivamente certas ou erradas, é conhecida como economia positiva. Por outro lado, a análise que envolve informar como o mundo deveria funcionar é conhecida como economia normativa. A economia positiva trata de descrição e a normativa, de prescrição. A economia positiva ocupa a maior parte do tempo e do esforço dos economistas. E os modelos desempenham um papel fundamental em quase toda a economia positiva. Mas, como mencionado anteriormente, o governo dos Estados Unidos usa um modelo de computador para avaliar propostas de mudança na política tributária nacional, assim como muitos governos estaduais têm modelos semelhantes para avaliar os efeitos da própria política tributária. É importante observar que existe uma diferença sutil, mas relevante, entre a primeira e a segunda questão que imaginamos que pudesse ser perguntada pelo governador. A primeira questão pede um prognóstico da receita do próximo ano – uma previsão. A segunda questão é do tipo “se, então”, questionando como a receita mudaria se a lei tributária fosse alterada. Muitas vezes, os dois tipos de perguntas são direcionadas aos economistas, mas os modelos são especialmente úteis para responder perguntas “se, então”. As respostas a tais questões, muitas vezes, servem de guia para políticas públicas, mas ainda assim são previsões, e não prescrições. Ou seja, informam o que acontecerá se uma política se modifica, mas não informam se o resultado é bom ou não. Suponha que o seu modelo econômico informe que o aumento do pedágio nas rodovias, proposto pelo governador, vai elevar o valor das propriedades nas comunidades próximas à rodovia, mas prejudicar as pessoas que precisam usar a rodovia para chegar ao trabalho. Isso faz da proposta de aumento do pedágio uma boa ou má ideia? Depende de quem seja

questionado. Como acabamos de ver, quem estiver preocupado com as comunidades próximas à rodovia vai apoiar o aumento, mas alguém que esteja mais preocupado com o bem-estar dos motoristas que têm que chegar ao trabalho, vai analisar de outra forma. Esse é um juízo de valor e não uma questão de análise econômica. Ainda assim, os economistas, muitas vezes, se envolvem em economia normativa e dão conselhos de política. Como podem fazer isso se não há resposta “certa”? Uma resposta é que os economistas também são cidadãos e todos nós temos nossas opiniões. Mas a análise econômica pode ser usada para mostrar que algumas políticas são nitidamente melhores que outras, independentemente da opinião de quem quer que seja. Suponha que as políticas A e B atinjam o mesmo objetivo, mas a política A deixa todos em melhor situação do que a política B – ou pelo menos torna melhor a situação de alguns sem piorar a dos outros. Então A é certamente mais eficiente que B. Não é um juízo de valor: trata de como alcançar melhor um objetivo e não o próprio objetivo. Por exemplo, foram utilizadas duas políticas diferentes para ajudar famílias de baixa renda a conseguir moradia: tabelamento de aluguéis, que limita o que os locatários podem cobrar, e subsídios para o aluguel, que proporciona às famílias uma quantia adicional para pagar o aluguel. Quase todos os economistas concordam que os subsídios são uma política mais eficiente. E, assim, a grande maioria dos economistas, independentemente da preferência política, favorece mais os subsídios do que o controle do aluguel. Quando as políticas podem ser classificadas dessa forma, então os economistas geralmente concordam. Mas não é segredo que, às vezes, discordam. Quando e por que os economistas discordam

Os economistas têm a reputação de discutir uns com os outros. De onde vem essa reputação, ela é justificada? Uma das respostas é que a cobertura da mídia tende a exagerar sobre as diferenças reais de opinião entre os economistas. Quando todos concordam a respeito de uma questão – por exemplo, a proposição de que o controle do aluguel leva à escassez de habitação – a tendência dos repórteres é concluir que

essa não é uma história digna de cobertura, fazendo esse consenso profissional ficar fora da reportagem. Mas quando há uma questão em que os economistas proeminentes tomam lados opostos – por exemplo, se o corte de impostos nesse momento ajudaria a economia – é uma notícia que vale a pena informar. Então, ouve-se muito mais sobre as áreas de desacordo entre os economistas do que sobre as amplas áreas de concordância. Também vale a pena lembrar que a economia, inevitavelmente, muitas vezes está amarrada à política. Em uma série de questões, há grupos poderosos de interesse econômico que sabem as opiniões que querem ouvir. Assim, têm incentivo de descobrir e promover os economistas que professem essas opiniões, fornecendo, com o seu apoio, proeminência e visibilidade fora de proporção entre os colegas. Mas ainda que a aparência de desacordo entre os economistas seja maior que a realidade, continua sendo verdade que os economistas, muitas vezes, discordam sobre coisas importantes. Por exemplo, alguns economistas respeitados afirmam veementemente que o governo dos Estados Unidos deveria substituir o imposto de renda por um imposto sobre o valor agregado (um imposto nacional sobre as vendas, principal fonte de receita do governo em muitos países europeus). Outros economistas, igualmente respeitados, discordam. Por que essa diferença de opinião? Uma fonte importante de diferença reside nos valores: como em qualquer grupo de indivíduos diversificado, pessoas razoavelmente sensatas podem divergir. Em comparação com o imposto de renda, um imposto sobre valor agregado normalmente tende a recair de forma mais pesada sobre as pessoas com renda modesta. Assim, um economista que valorize mais uma sociedade com mais igualdade social e de renda tenderá a se opor ao imposto sobre valor agregado. Um economista com valores diferentes é menos propenso a se opor. Uma segunda fonte importante de divergência surge da construção de modelos econômicos. Como os economistas baseiam suas conclusões em modelos, que são representações simplificadas da realidade, dois economistas podem discordar legitimamente sobre quais simplificações são apropriadas – e, portanto, chegar a conclusões diferentes.

PARA MENTES CURIOSAS

QUANDO OS ECONOMISTAS CONCORDAM ”Quando dois economistas se juntam há três opiniões diferentes”, diz uma piada sobre economistas. Mas será que eles realmente discordam tanto assim? Não, de acordo com uma pesquisa entre os membros da Associação Americana de Economia, publicada na edição de maio 1992 na American Economic Review. Os autores perguntaram aos participantes se concordavam ou discordavam de uma série de proposições sobre economia e o que encontraram foi um alto nível de consenso entre os economistas em muitas delas. Houve mais de 90% de concordância entre os economistas sobre “Tarifas e cotas de importação geralmente reduzem o bem-estar econômico geral” e “Um teto para aluguéis reduz a quantidade e a qualidade da habitação disponível”. O que é notável nessas duas proposições é que muitos dos que não são economistas discordam delas: tarifas e cotas de importação para impedir a entrada de produtos estrangeiros têm o apoio de muitos eleitores, e as propostas para acabar com o controle de aluguel em cidades como Nova York e San Francisco encontraram ferrenha oposição política. Então, esse estereótipo de que os economistas divergem é apenas um mito? Não totalmente: os economistas discordam bastante em algumas questões, especialmente em macroeconomia. Mas há uma ampla área de concordância.

Suponha que o governo dos Estados Unidos esteja considerando a introdução de um imposto sobre o valor agregado. O economista A pode basear-se em um modelo que se concentre sobre os custos administrativos do sistema tributário, isto é, o custo de monitorar, processar documentos, arrecadar imposto, e assim por diante. Esse economista poderá, então, apontar para os bens conhecidos altos custos de administrar um imposto sobre o valor agregado e argumentar contra essa mudança. Mas o economista B pode pensar que a maneira correta de abordar a questão é ignorar os custos administrativos e se concentrar em como a lei proposta irá modificar o comportamento da poupança. Esse economista poderá apontar para estudos que sugerem que o imposto sobre o valor agregado promova maior economia de consumo, um resultado desejável. Como os dois economistas usaram modelos diferentes – ou seja, adotaram hipóteses simplificadoras –, chegaram a conclusões diferentes. E, assim, os dois economistas podem se situar em lados diferentes da questão. Na maioria dos casos, essas disputas ao final são resolvidas pelo acúmulo de evidências mostrando quais dentre os vários modelos propostos pelos

economistas aderem melhor aos fatos. No entanto, em economia, como em qualquer ciência, pode levar um longo tempo antes que a pesquisa resolva disputas importantes – em alguns casos, décadas. E uma vez que a economia está sempre mudando, de forma que torna os modelos antigos inválidos ou levanta novas questões políticas, há sempre novas questões sobre as quais os economistas discordam. Os formuladores de políticas têm, então, que decidir em quais economistas acreditar. O ponto importante é que a análise econômica é um método, não um conjunto de conclusões.

economia em ação Economistas, além da torre de marfim

Muitos economistas se ocupam principalmente com o ensino e a pesquisa. Mas uma boa quantidade deles tem uma participação mais direta nos eventos. Conforme descrito no início deste capítulo (na seção Para mentes curiosas “Modelos por dinheiro”), a teoria financeira, um ramo específico da economia, desempenha um papel importante em Wall Street – nem sempre com bons resultados. Mas os preços dos ativos não são de forma alguma a única função útil que os economistas desempenham no mundo dos negócios. As empresas precisam de previsões da demanda futura de seus produtos, previsões dos preços futuros das matérias-primas, avaliações das necessidades financeiras futuras. Além disso, para todos esses fins, a análise econômica é essencial. Alguns dos economistas empregados no mundo dos negócios trabalham diretamente para instituições que precisam de seus conselhos. As principais empresas financeiras, como a Goldman Sachs e a Morgan Stanley, em particular, mantêm grupos econômicos altamente qualificados, que produzem análises das forças e eventos suscetíveis de afetar os mercados financeiros. Outros economistas são colaboradores de empresas de consultoria, como a Macro Advisers, que vende análise e aconselhamento para uma ampla gama de outras empresas. Por último, mas não menos importante, os economistas participam extensivamente do governo. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, as agências governamentais empregam cerca de 50% dos economistas profissionais nos Estados Unidos. Isso não deveria surpreender: uma das

funções mais importantes do governo é fazer política econômica. E em quase toda a decisão política do governo devem-se considerar os efeitos econômicos. Assim, os governos em todo o mundo empregam economistas em uma variedade de funções. No governo dos Estados Unidos, o Conselho de Assessores Econômicos desempenha um papel fundamental, cuja única finalidade é assessorar o presidente em assuntos econômicos. Diferentemente da maioria dos funcionários públicos, a maioria dos economistas do Conselho não consiste em funcionários de longa data; na verdade, são, sobretudo, professores universitários em licença por um ou dois anos. Muitos dos economistas mais conhecidos do país serviram no Conselho de Assessores Econômicos em algum momento de suas carreiras. Os economistas também desempenham um papel importante em outros setores do governo americano, desde o Ministério do Comércio até o Ministério do Trabalho. Dominam o quadro de pessoal da Reserva Federal, uma agência do governo que controla a oferta de moeda da economia, bem como supervisiona os bancos. E desempenham um papel especialmente importante em duas organizações internacionais com sede em Washington, D.C.: o Fundo Monetário Internacional, que presta consultoria e empréstimos a países com dificuldades econômicas, e o Banco Mundial, que presta consultoria e empréstimos para promover o desenvolvimento econômico de longo prazo. No passado, não era assim tão fácil controlar o que todos esses economistas que trabalham com assuntos práticos estavam fazendo. Hoje em dia, no entanto, há uma linha de discussão muito animada sobre as perspectivas econômicas e políticas, em sites que vão desde a homepage do Fundo Monetário Internacional (www.imf.org), aos sites orientados a negócios como o economy.com ou blogs de economistas individuais, como o de Mark oma (economistsview.typepad.com) ou, também, nosso próprio blog, que está entre os 100 melhores da Technorati, krugman.blogs.nytimes.com.

BREVE REVISÃO Economia positiva – o foco da maioria da pesquisa econômica – é a análise da forma como o mundo funciona, em que as respostas são claramente certas ou

erradas e, muitas vezes, envolve fazer previsões. Mas, na economia normativa, que faz prescrições sobre como as coisas deveriam ser, muitas vezes, não há respostas certas ou erradas, apenas juízos de valor. Os economistas discordam – embora nem tanto como reza a lenda – por duas razões principais. Primeiro, podem discordar sobre quais simplificações adotar em um modelo. Segundo, os economistas podem discordar – como qualquer pessoa – sobre valores.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 2-2 1. Qual das seguintes afirmações é positiva? Qual é normativa? a. A sociedade precisa tomar medidas para evitar que as pessoas tenham um comportamentos pessoal perigoso. b. As pessoas que têm comportamento pessoal perigoso impõem custos mais altos para a sociedade em virtude dos custos médicos mais elevados. 2. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. A opção política A e a opção política B tentam alcançar o mesmo objetivo social. No entanto, A resulta no uso menos eficiente de recursos do que B. Por isso, os economistas são mais propensos a concordar com a escolha da política B. b. Quando dois economistas discordam sobre a conveniência de uma política, geralmente é porque um deles cometeu um erro. c. Os formuladores de políticas públicas sempre podem aplicar análise econômica para decidir que objetivos a sociedade deveria tentar alcançar. As respostas estão no fim do livro

• CASO EMPRESARIAL A eficiência, o custo de oportunidade e a lógica da produção enxuta na Boeing No verão e no outono de 2010, ao se prepararem para a produção do Boeing 767, os trabalhadores estavam reorganizando os equipamentos na fábrica de montagem final da Boeing em Everett, Washington. No entanto, foi um processo difícil e demorado, por causa dos itens dos “equipamentos” – os equipamentos de montagem da Boeing –, que pesavam aproximadamente 200 toneladas cada. Mas foi uma parte necessária na criação de um sistema de fabricação que se baseia em “produção enxuta”, também chamado de produção “just-in-time”. A produção enxuta, lançada pela Toyota Motors do Japão, é baseada na prática de as peças

estarem no chão de fábrica, logo que necessário para a produção. Isso reduz a quantidade de peças da Boeing mantidas em estoque, bem como a quantidade necessária à produção no chão de fábrica – nesse caso, reduziu em 40% a metragem quadrada requerida para a produção do 767. A Boeing adotou o processo de produção enxuta em 1999 na fabricação do 737, o avião comercial mais popular. Em 2005, depois de um refinamento constante, a Boeing conseguiu uma redução de 50% no tempo que leva para produzir um avião e uma redução de quase 60% no estoque de peças. Uma característica importante é a linha de montagem que fica em movimento contínuo, movimentando os produtos de um grupo de montagem para o próximo em um ritmo constante e eliminando a necessidade de os trabalhadores perambularem pelo chão de fábrica de uma tarefa para outra, ou em busca de ferramentas e peças. A técnica de produção enxuta da Toyota foi amplamente adotada entre todas as técnicas de fabricação e revolucionou a fabricação em todo o mundo. Em termos simples, a produção enxuta é focada na organização e na comunicação. Os trabalhadores e as peças são organizados de forma a garantir um fluxo de trabalho suave e consistente que minimiza o desperdício de esforço e materiais. A produção enxuta também foi projetada para ser altamente sensível às mudanças no mix desejado de produtos – por exemplo, alterar rapidamente para produzir mais sedans e menos minivans de acordo com as mudanças nas demandas dos clientes. O método de produção enxuta da Toyota obteve tanto sucesso que transformou a indústria automobilística mundial e ameaçou seriamente a dominação dos fabricantes americanos. Até os anos 1980, os “Três Grandes” – Chrysler, Ford e General Motors, dominavam a indústria automobilística americana, não havia praticamente nenhum carro de fabricação estrangeira vendido nos Estados Unidos. Contudo, na década de 1980, os carros da Toyota se tornaram cada vez mais populares nos Estados Unidos, em virtude de sua alta qualidade e preço relativamente baixo – tão populares que os Três Grandes convenceram o governo dos Estados Unidos a protegê-los, restringindo a venda de automóveis japoneses no país. Ao longo do tempo, a Toyota respondeu com a construção de fábricas de montagem nos Estados Unidos, trazendo consigo as técnicas de produção enxuta, que, em seguida, se espalharam por toda a linha de fabricação americana. O crescimento da Toyota continuou e, em 2008, ultrapassou a General Motors, considerada a maior montadora do mundo.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Qual é o custo de oportunidade associado em ter um trabalhador perambulando pelo chão de fábrica, de uma tarefa para outra, ou em busca de ferramentas e peças? 2. Explique como a produção enxuta melhora a eficiência da alocação na economia. 3. Antes de inovar com o processo de produção enxuta, o Japão vendia principalmente eletroeletrônicos para os Estados Unidos. Como as inovações

advindas da produção enxuta mudaram a vantagem comparativa do Japão visà-vis com os Estados Unidos? 4. Preveja como a mudança no local de produção da Toyota, do Japão para os Estados Unidos, foi passível de alterar o padrão de vantagem comparativa na fabricação de automóveis entre os dois países.

• RESUMO 1. Quase toda a economia é baseada em modelos, que são “experimentos mentais”, ou versões simplificadas da realidade, e, muitas vezes, usam ferramentas matemáticas, como gráficos. Uma suposição importante em modelos econômicos é o pressuposto de tudo o mais constante, que permite analisar o efeito de uma mudança em um fator, mantendo todos os outros fatores relevantes inalterados. 2. Um modelo econômico importante é a fronteira das possibilidades de produção. Ele ilustra o custo de oportunidade (mostrando qual a quantidade produzida a menos de um produto quando é produzida maior quantidade de outro), eficiência (uma economia é eficiente na produção quando produz na fronteira das possibilidades de produção e eficiente na alocação se produz o mix de produtos e serviços que as pessoas querem consumir) e crescimento econômico (um deslocamento da fronteira das possibilidades de produção para fora). Há duas fontes básicas de crescimento: um aumento dos fatores de produção – recursos como terra, trabalho, capital, e capital humano, insumos que não desaparecem no processo produtivo – e progresso da tecnologia. 3. Outro modelo importante é o da vantagem comparativa, que explica a fonte dos ganhos com o comércio entre indivíduos e países. Todos têm vantagem comparativa em algo, algum bem ou serviço em que a pessoa tem um custo de oportunidade menor do que todos os outros. Mas, muitas vezes, é confundida com vantagem absoluta, a capacidade de produzir determinado bem ou serviço melhor do que ninguém. Essa confusão leva alguns a concluírem erroneamente que não existe ganho do comércio entre pessoas ou países. 4. Na mais simples das economias, as pessoas fazem escambo – trocam bens e serviços umas com as outras – em vez de trocá-los por dinheiro, como em uma economia moderna. O diagrama de fluxo circular representa as transações dentro da economia como os fluxos de bens, serviços e dinheiro entre domicílios e empresas. Essas operações ocorrem no mercado de bens e serviços e no mercado de fatores, mercados dos fatores de produção – terra, trabalho, capital e capital humano. É preciso entender como os gastos, produção, emprego, renda e crescimento se relacionam em uma economia. Em última análise, os mercados de fatores determinam a distribuição de renda da economia, como a renda total é alocada entre os donos dos fatores de produção. 5. Os economistas usam modelos econômicos tanto para a economia positiva, que descreve como a economia funciona, como para a economia normativa,

que prescreve como a economia deveria funcionar. A economia positiva, muitas vezes, envolve fazer previsões. Os economistas podem determinar as respostas corretas para questões positivas, mas, normalmente, não para questões normativas, que envolvem julgamento de valor. As exceções ocorrem quando políticas destinadas a alcançar determinado objetivo podem ser claramente hierarquizadas em termos de eficiência. 6. Há duas razões principais pelas quais os economistas discordam. Primeiro, podem discordar sobre quais simplificações devem ser feitas no modelo. Em segundo lugar, os economistas, como qualquer outra pessoa, podem discordar sobre valores.

• PALAVRAS-CHAVE Modelo, p. 22 Pressuposto de tudo o mais constante, p. 22 Fronteira das possibilidades de produção, p. 22 Fatores de produção, p. 26 Tecnologia, p. 27 Vantagem comparativa, p. 29 Vantagem absoluta, p. 30 Escambo, p. 31 Diagrama de fluxo circular, p. 32 Domicílio, p. 32 Empresa, p. 32 Mercados de bens e serviços, p. 32 Mercados de fatores, p. 32 Distribuição de renda, p. 32 Economia positiva, p. 34 Economia normativa, p. 34 Previsão, p. 34

• PROBLEMAS

Dois setores muito importantes nas Ilhas Bermudas são a pesca e o turismo. 1. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e do Departamento de Estatística das Ilhas Bermudas, no ano de 2009, os 306 pescadores registrados nas Bermudas pescaram 387 toneladas de peixes. E as 2.719 pessoas empregadas nos hotéis produziram 554.400 estadias em hotéis (medido pelo número de chegada de visitantes). Suponha que esse ponto de produção seja eficiente na produção. Considere também que o custo de oportunidade de uma tonelada adicional de peixes é 2 mil estadias em hotéis e que esse custo de oportunidade é constante (o custo de oportunidade não varia). a. Se todos os 306 pescadores registrados fossem empregados pelos hotéis (além das 2.719 pessoas que já trabalham nos hotéis), quantas estadias de hotéis as Bermudas poderiam produzir? b. Se todos os 2.719 funcionários do hotel se tornassem pescadores (além dos 306 pescadores que já trabalham na indústria da pesca), quantas toneladas de peixe as Bermudas poderiam produzir? c. Desenhe uma fronteira das possibilidades de produção para as Bermudas, com os peixes no eixo horizontal e as estadias no eixo vertical, e denomine o ponto de produção real das Bermudas para o ano 2009. 2. Atlantis é uma pequena ilha isolada no Atlântico Sul. Seus habitantes cultivam batatas e pescam. A tabela a seguir mostra o produto anual máximo de combinações de batata e peixe que pode ser produzido. Obviamente, dado seus recursos e tecnologia limitados, se usarem mais recursos para a produção de batata haverá menos recursos disponíveis para a pesca. Opções de produto máximo anual

Quantidade de batatas (kg)

Quantidade de peixe (kg)

A

1.000

0

B

800

300

C

600

500

D

400

600

E

200

650

F

0

675

a. Desenhe a fronteira das possibilidades de produção com a batata no eixo horizontal e o peixe no eixo vertical. Ilustre essas opções, mostrando os pontos A–F. b. Atlantis pode produzir 500 quilos de peixe e 800 quilos de batatas? Explique. Onde estaria esse ponto em relação à fronteira das possibilidades de produção? c. Qual é o custo de oportunidade de aumentar a produção anual de batatas de 600 para 800 kg?

d. Qual é o custo de oportunidade de aumentar a produção anual de batatas de 200 para 400 kg? e. Explique por que as respostas das partes c e d não são as mesmas. O que isso implica em relação à inclinação da fronteira das possibilidades de produção? 3. De acordo com dados do Departamento Nacional de Estatística Agrícola do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, em 2004 foram usados 124 milhões de acres de terra nos Estados Unidos para o cultivo de trigo ou milho. Desses 124 milhões de acres, os agricultores usaram 50 milhões para obter 2,158 bilhões de sacas de trigo e 74 milhões de acres de terra para obter 11,807 bilhões de sacas de milho. Suponha que os cultivos de trigo e milho dos Estados Unidos sejam eficazes na produção. Nesse ponto de produção, o custo de oportunidade de produzir uma saca de trigo adicional é de 1,7 saca de milho a menos. No entanto, os agricultores têm custos de oportunidade crescentes, de modo que as sacas adicionais de trigo têm um custo de oportunidade maior do que 1,7 saca de milho. Para cada um dos três pontos de produção seguintes, decida se o ponto de produção é (i) viável e eficiente em produção, (ii), viável mas não eficiente em produção, (iii) inviável, ou (iv) não fica claro se é ou não viável. a. Os agricultores usam 40 milhões de acres de terra para produzir 1,8 bilhão de sacas de trigo, e usam 60 milhões de acres para produzir 9 bilhões de sacas de milho. Os 24 milhões de acres restantes são deixados sem cultivo. b. Do seu ponto de produção original, os agricultores transferem 40 milhões de acres de terra de produção de milho para a de trigo. Agora produzem 3,158 bilhões de sacas de trigo e 10,107 bilhões de sacas de milho. c. Os agricultores reduzem a produção de trigo para 2 bilhões de sacas e aumentam a produção de milho para 12,044 bilhões de sacas de milho. Ao longo da fronteira das possibilidades de produção, o custo de oportunidade de passar de 11,807 bilhões de sacas de milho para 12,044 bilhões de sacas de milho é de 0,666 saca de trigo por uma saca de milho. 4. Na Antiga Roma, apenas dois bens eram produzidos, espaguete e almôndegas. Há duas tribos em Roma, os Tivoli e os Frivoli. Sem ajuda, os Tivoli podem produzir 30 quilos de espaguete e nenhuma almôndega, ou 50 quilos de almôndegas e nenhum espaguete ou, então, qualquer combinação entre eles. Os Frivoli, por si só, podem produzir 40 quilos de espaguete e nenhuma almôndega, ou 30 quilos de almôndegas e nenhum espaguete, ou qualquer combinação entre eles. a. Suponha que todas as fronteiras das possibilidades de fronteiras de produção sejam linhas retas. Desenhe um diagrama mostrando a fronteira das possibilidades de produção mensal para os Tivoli e outra para os Frivoli. Mostre como foram calculadas. b. Qual tribo tem vantagem comparativa na produção de espaguete? E na produção de almôndega? No ano 100 d.C., os Frivoli descobriram uma nova técnica para fazer almôndegas que dobra a quantidade de almôndegas que eles podem produzir por mês.

c.

Desenhe as novas fronteiras de possibilidades de produção mensal para os Frivoli. d. Após a inovação, qual tribo agora tem vantagem absoluta na produção de almôndegas? E na produção de espaguete? Quem tem a vantagem comparativa na produção de almôndega? E na produção de espaguete? 5. De acordo com o Censo dos Estados Unidos, em julho de 2006, os Estados Unidos exportaram para a China aviões no valor de $1 bilhão e importaram da China aviões no valor de apenas $19.000. Durante o mesmo mês, no entanto, os Estados Unidos importaram da China $83 milhões em calças e jeans masculinos, mas exportaram para a China calças e jeans masculinos no valor de apenas $8.000. Usando o que você aprendeu sobre como o comércio é determinado pela vantagem comparativa, responda às perguntas seguintes. a. Que país tem vantagem comparativa na produção de aviões? E na produção de calças e jeans? b. Você pode determinar que um país tenha vantagem absoluta na produção de aviões? E na produção de calças e jeans? 6. Pedro Pundit, um repórter de economia, afirma que a União Europeia (UE) está aumentando sua produtividade muito rapidamente em todos os setores. Alega que esse avanço de produtividade é tão rápido que a produção da União Europeia nessas indústrias em breve vai superar a dos Estados Unidos e, como resultado, já não será vantajoso para os Estados Unidos comerciar com a União Europeia. a. Pedro Pundit está correto ou não? Se não está, qual é a fonte do seu erro? b. Se a União Europeia e os Estados Unidos mantiverem o comércio, o que caracterizará os bens que a União Europeia vai exportar para os Estados Unidos e os bens que os Estados Unidos vão exportar para a União Europeia? 7. Você é responsável em distribuir seus colegas de universidade entre os times de beisebol e de basquete. Já está nos quatro últimos colegas, dois deles têm que ser alocados no beisebol e dois no basquete. A tabela a seguir fornece a média de sucesso de cada um deles nos lances de beisebol e de cesta no basquete. Nome

Média de acerto no beisebol

Média de cestas no basquete livre

Kelley

70%

60%

Jackie

50%

50%

Curt

10%

30%

Gerry

80%

70%

a. Explique como usaria o conceito de vantagem comparativa para alocar os jogadores. Comece por calcular o custo de oportunidade dos lances à cesta, no basquete, em termos dos lances de beisebol. b. Por que é provável que outros jogadores de basquete vão ficar tristes com esse arranjo, mas outros jogadores de beisebol vão ficar satisfeitos? No

entanto, por que um economista diria que essa é uma maneira eficiente de alocar os jogadores nas equipes esportivas da universidade? Os habitantes da economia fictícia de Atlantis usam o dinheiro na forma de 8. conchas. Desenhe um diagrama do fluxo circular mostrando domicílios e empresas. As empresas produzem batata e peixe, e os domicílios compram batata e peixe. Os domicílios também fornecem terra e trabalho para as empresas. Identifique em que parte do fluxo de conchas ou de itens físicos (bens e serviços ou recursos) ocorrerá cada um dos impactos seguintes. Descreva como esse impacto se espalhará ao redor do círculo. a. Um ciclone devastador inunda a área plantada de batata. b. A temporada de pesca é produtiva, e a quantidade de peixes pescados é muito grande. c. Os habitantes de Atlantis descobrem Shakira e passam vários dias por mês em festivais de dança. 9. Um economista pode dizer que as faculdades e universidades “produzem” educação usando como insumo estudantes e professores de universidade. De acordo com essa linha de raciocínio, a educação é, então, “consumida” pelos domicílios. Construa um diagrama do fluxo circular para representar o setor da economia dedicado à educação universitária: as faculdades e universidades representam as empresas e os domicílios tanto consomem educação quanto fornecem professores e alunos para as universidades. Quais são os mercados relevantes nesse diagrama? O que será comprado e vendido em cada direção? O que aconteceria no diagrama se o governo decidisse subsidiar 50% da taxa de matrícula de todos os estudantes universitários? 10. Sua colega de quarto na universidade toca música alta na maioria das vezes, e você prefere paz e tranquilidade. Você sugere que ela compre alguns fones de ouvido. Ela responde que, embora fique feliz em usar fones de ouvido, no momento prefere gastar o dinheiro em outras coisas que têm maior prioridade. Você discute essa situação com um amigo que está estudando economia. A seguir, a conversa: Ele: Quanto custa um fone de ouvido? Você: $15. Ele: Que valor você dá a mais pela tranquilidade no resto do semestre? Você: $30. Ele: Então, é eficiente que você compre os fones de ouvido e os dê à sua colega de quarto. Você ganha mais do que perde, o benefício supera o custo. Você deveria fazer isso. Você: Mas não é justo que eu pague pelos fones de ouvido quando não sou o único a fazer barulho. a. Que parte dessa conversa contém afirmações positivas e que parte contém afirmações normativas? b. Construa uma argumentação que apoie o seu ponto de vista de que é sua colega de quarto quem deveria mudar os hábitos dela. Da mesma forma, construa uma argumentação para o ponto de vista da sua colega de quarto, de que é você quem deveria comprar os fones de ouvido. Se a política do dormitório da universidade é dar pleno direito aos residentes de tocar música quando queiram, qual é o argumento que é mais provável que ganhe? Se o seu dormitório na universidade tem uma regra que diz

que a pessoa deve parar de tocar música sempre que um companheiro reclame, qual é o argumento que é mais provável que ganhe? Um representante da indústria americana de vestuário recentemente fez a 11. seguinte declaração: “Os trabalhadores na Ásia muitas vezes trabalham em condições desumanas ganhando apenas alguns centavos por hora. Os trabalhadores americanos são mais produtivos e, por isso, ganham salários mais altos. Para preservar a dignidade do trabalhador americano, o governo deveria aprovar uma legislação que proíbe a importação de vestuários de países asiáticos e baixos salários.” a. Que parte dessa citação é de afirmações de economia positiva? Que partes são afirmações normativas? b. A política que está sendo defendida está de acordo com as afirmações anteriores sobre salários e produtividade dos trabalhadores americanos e asiáticos? c. Uma política assim melhoraria a situação de alguns americanos sem tornar pior a de outros? Ou seja, essa política seria eficiente do ponto de vista do conjunto dos americanos? d. Os trabalhadores asiáticos que recebem salários baixos se beneficiariam ou seriam prejudicados por tal política? 12. As afirmações seguintes são verdadeiras ou falsas? Explique suas respostas. a. “Quando as pessoas são obrigadas a pagar impostos mais altos sobre o seu salário, ocorre uma redução de incentivo ao trabalho” é uma afirmação positiva. b. “Deveríamos reduzir impostos para incentivar mais o trabalho” é uma afirmação positiva. c. A análise econômica nem sempre pode ser usada para decidir inteiramente o que a sociedade deveria fazer. d. “O sistema de educação pública desse país gera maiores benefícios para a sociedade do que o custo de funcionamento desse sistema” é uma afirmação normativa. e. Todas as divergências entre os economistas são geradas pela mídia. 13. Avalie a seguinte afirmação: “É mais fácil construir um modelo econômico que reflete com precisão os eventos que já ocorreram do que construir um modelo econômico para prever eventos futuros.” Isso é verdade ou não? Por quê? O que isso implica em relação às dificuldades de construir bons modelos econômicos? 14. Os economistas que trabalham para o governo são chamados frequentemente a fazer recomendações políticas. Por que você acha que é importante para o público poder diferenciar entre as afirmações positivas e as normativas nessas recomendações? 15. O prefeito do município de Gotham, preocupado, nesse inverno, com uma possível epidemia devastadora de gripe, pediu a um economista aconselhamento sobre uma série de questões. Determine se essas questões exigem avaliações positivas ou normativas do conselheiro econômico. a. Quanta vacina é preciso ter em estoque no município até o final de novembro? b. Se for oferecido pagar 10% a mais por dose às empresas farmacêuticas, elas fornecerão doses adicionais?

Se houver escassez de vacinas no município, quem deverá ser vacinado primeiro, os idosos ou os bem jovens? (Suponha que uma pessoa de um grupo tenha uma probabilidade igual de morrer de gripe que uma pessoa do outro grupo.) d. Se o município cobrar $25 por dose, quantas pessoas vão pagar? e. Se o município cobrar $25 por dose, poderá lucrar $10 em cada vacina. Esse dinheiro poderá pagar a vacinação das pessoas pobres. O município deve implementar tal esquema? 16. Avalie a seguinte afirmação: “Se os economistas tivessem dados suficientes, poderiam resolver todas as questões de política econômica de modo a maximizar o bem-estar social. Não haveria necessidade de debates políticos acirrados, tal como se o governo deveria fornecer assistência médica gratuita para todos.” c.

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» Capítulo 2 Apêndice Gráficos em economia PERCEBENDO O QUADRO GERAL

Ao ler sobre economia, seja no Wall Street Journal ou em um livro, sempre haverá muitos gráficos. Imagens visuais podem facilitar a compreensão de descrições verbais, informações numéricas ou conceitos. Em economia, os gráficos são usados para facilitar a compreensão. Para entender por completo as ideias e informações que estão sendo discutidas, é preciso estar familiarizado com a forma de interpretar esses recursos visuais. Este apêndice explica como os gráficos são construídos e interpretados e como são usados em economia.

GRÁFICOS, VARIÁVEIS E MODELOS ECONÔMICOS Uma das razões para frequentar a faculdade é que um diploma universitário dá acesso a empregos mais bem remunerados. Um diploma adicional, como MBAs ou cursos de Direito, aumenta ainda mais os rendimentos. Se tivéssemos que ler um artigo sobre a relação entre escolaridade e renda,

provavelmente veríamos um gráfico mostrando os níveis de renda para trabalhadores com diferentes níveis de educação. E esse gráfico retrataria a ideia de que, em geral, mais educação leva a um aumento de renda. Esse gráfico, como a maioria dos gráficos em economia, descreveria a relação entre duas variáveis econômicas. Uma variável é uma quantidade que pode assumir mais de um valor, tal como o número de anos de estudo de uma pessoa, o preço de uma lata de refrigerante ou a renda de uma família. Como você viu neste capítulo, a análise econômica baseia-se fortemente em modelos, descrições simplificadas de situações reais. A maioria dos modelos econômicos descreve a relação entre duas variáveis, simplificada ao manter constantes outras variáveis que podem afetar essa relação. Por exemplo, um modelo econômico pode descrever a relação entre o preço de uma lata de refrigerante e o número de latas de refrigerantes que os consumidores irão comprar, supondo que tudo o mais que afeta as compras de refrigerante dos consumidores permaneça constante. Esse tipo de modelo pode ser descrito matematicamente ou verbalmente, mas a ilustração dessa relação por meio de um gráfico torna mais fácil a compreensão. Em seguida, mostraremos como os gráficos que representam modelos econômicos são construídos e interpretados.

COMO OS GRÁFICOS FUNCIONAM A maioria dos gráficos em economia se baseia na representação de pares de variáveis como pontos em um plano quadriculado, com eixos perpendiculares entre si que mostram os valores das duas variáveis, ajudando a visualizar a relação entre elas. Assim, um primeiro passo na compreensão do uso de tais gráficos é verificar como esse sistema funciona. Gráficos de duas variáveis

A Figura 2A-1 mostra um gráfico típico de duas variáveis. Ela ilustra os dados da tabela anexa sobre a temperatura externa e a quantidade de refrigerantes que um vendedor típico pode esperar vender no estádio durante o jogo. A primeira coluna mostra os valores da temperatura externa (a primeira variável) e a segunda coluna mostra o número de latas de refrigerantes vendidas (a segunda variável). São apresentadas cinco

combinações de pares das duas variáveis, cada uma indicada de A até E, na terceira coluna. Agora vamos voltar a representar graficamente os dados nessa tabela. Em qualquer gráfico de duas variáveis, uma variável é denominada x e a outra, y. Aqui, a temperatura externa é a variável x, e a quantidade de refrigerantes vendidos é a variável y. A linha sólida horizontal no gráfico é denominada eixo horizontal ou eixo dos x e os valores da variável x – temperatura externa – são medidos sobre ele. Da mesma forma, a linha vertical sólida no gráfico é denominada eixo vertical ou eixo dos y e os valores da variável y – número de latas de refrigerantes vendidas – são medidos sobre ela. Na origem, o ponto onde os dois eixos se encontram, cada variável é igual a zero. À medida que se move para a direita a partir da origem, ao longo do eixo dos x, os valores da variável x são positivos e crescentes. À medida que se move para cima a partir da origem, ao longo do eixo dos y, os valores da variável y são positivos e crescentes. É possível representar cada um dos cinco pontos de A até E nesse gráfico usando um par de números – os valores que a variável x e y assumem em determinado ponto. Na Figura 2A-1, no ponto C, a variável x assume o valor 40 e a variável y, o valor 30. O ponto C é representado traçando-se uma linha vertical no ponto 40 do eixo x e uma linha horizontal no ponto 30 do eixo y. Escrevemos o ponto C como (40,30) e a origem como (0,0). Analisando os pontos A e B na Figura 2A-1, observa-se que quando uma das variáveis para demarcar um ponto tem um valor zero, o ponto estará sobre um dos eixos. Se o valor de x for zero, o ponto estará sobre o eixo vertical, como o ponto A. Se o valor de y for zero, o ponto estará sobre o eixo horizontal, como o ponto B. A maioria dos gráficos que retratam relações entre duas variáveis econômicas representa uma relação causal, uma relação em que o valor assumido por uma variável influencia diretamente ou determina o valor que toma a outra variável. Em uma relação causal, a variável determinante é denominada variável independente, a variável que é determinada por ela é chamada de variável dependente. Em nosso exemplo de venda de refrigerante, a temperatura externa é a variável independente, que influencia diretamente o número de latas de refrigerantes vendidas, nesse caso, a variável dependente. Por convenção, coloca-se a variável independente no eixo horizontal e a variável dependente no eixo vertical. A Figura 2A-1 foi construída de acordo

com essa convenção; a variável independente (temperatura externa) está no eixo horizontal e a variável dependente (refrigerante vendido) está no eixo vertical. Uma exceção importante nessa convenção é a dos gráficos que mostram a relação econômica entre o preço de um produto e a quantidade: embora o preço seja geralmente a variável independente que determina a quantidade, é sempre medido no eixo vertical. Curvas em um gráfico

O painel (a) na Figura 2A-2 repete algumas das informações da Figura 2A1, com uma reta passando pelos pontos B, C, D e E. Tal linha em um gráfico é denominada curva, independentemente de ser uma reta ou uma curva. Se a curva que mostra a relação entre duas variáveis é uma linha reta ou linear, as variáveis têm relação linear. Quando a curva é uma linha que não é reta, ou não linear, as variáveis têm uma relação não linear. Um ponto sobre uma curva indica o valor da variável y para um valor específico da variável x. Por exemplo, o ponto D indica que, à temperatura de 60ºF, um vendedor pode esperar vender 50 latas de refrigerantes. O formato e a orientação da curva revelam a natureza geral da relação entre as duas variáveis. A inclinação ascendente da curva no painel (a) da Figura 2A-2 significa que os vendedores podem esperar vender mais refrigerantes com temperaturas externas mais elevadas. FIGURA 2A-1

Representação de pontos em um gráfico de duas variáveis

Os dados da tabela foram representados onde a temperatura externa (a variável independente) é medida no eixo horizontal e o número de refrigerantes vendidos (a variável dependente) é medido no eixo vertical. Cada uma das cinco combinações de temperatura e refrigerantes vendidos é representada por um ponto: A, B, C, D e E. Cada ponto no gráfico é identificado por um par de valores.

Por exemplo, o ponto C corresponde ao par (40, 30) – uma temperatura externa de 40°F (o valor da variável x) e 30 refrigerantes vendidos (o valor da variável y). Quando duas variáveis se relacionam dessa forma – isto é, quando um aumento em uma variável está associado a um aumento na outra variável – diz-se que as variáveis têm relação positiva. Isso é ilustrado pela curva que se inclina para cima, da esquerda para a direita. Como essa curva também é linear, a relação entre a temperatura externa e o número de latas de refrigerantes vendidas ilustrada pela curva do painel (a) da Figura 2A-2 é uma relação linear positiva. Quando um aumento em uma variável está associado a uma diminuição em outra variável, as duas variáveis têm uma relação negativa. Isso é ilustrado por uma curva que se inclina para baixo, da esquerda para a direita, tal como a curva no painel (b) da Figura 2A-2. Como essa curva também é linear, a relação que representa é uma relação linear negativa. Duas variáveis que podem ter uma relação assim são a temperatura externa e a quantidade de bebida quente que um vendedor pode esperar vender em um estádio. Por um momento, voltemos à curva no painel (a) da Figura 2A-2. Pode-se notar que ela toca o eixo horizontal no ponto B. Esse ponto, conhecido como intercepto horizontal, mostra o valor da variável x quando o valor da variável y é zero. No painel (b) da Figura 2A-2, a curva toca o eixo vertical no ponto J. Esse ponto, chamado de intercepto vertical, indica o valor da variável y quando o valor da variável x é zero.

UM CONCEITO FUNDAMENTAL: INCLINAÇÃO DE UMA CURVA A inclinação de uma curva é a medida de sua ingremidade e indica o grau de sensibilidade da variável y em relação a uma variação na variável x. No exemplo da temperatura externa e das latas de refrigerantes que um vendedor

espera vender, a inclinação da curva indica a quantidade a mais de latas de refrigerante que o vendedor pode esperar vender a cada aumento de 1 grau na temperatura. Interpretada dessa forma, a inclinação fornece informação que faz sentido. Mesmo sem números para x e y, é possível chegar a conclusões importantes sobre a relação entre as duas variáveis examinando o grau de inclinação em vários pontos da curva. FIGURA 2A-2

Traçando curvas

A curva do painel (a) ilustra a relação entre duas variáveis, temperatura externa e latas de refrigerantes vendidos. As duas variáveis têm uma relação linear positiva: positiva, porque a curva tem uma inclinação para cima, e linear, porque é uma linha reta. Isso implica que um aumento na variável x (temperatura externa) leva a um aumento na variável y (refrigerante vendido). A curva no painel (b) também é uma linha reta, mas se inclina para baixo. Aqui, as duas variáveis, temperatura externa e quantidade de bebida quente vendida, têm uma relação linear negativa: um aumento na variável x (temperatura externa) leva a uma redução na variável y (quantidade de bebida quente vendida). A curva no painel (a) tem um intercepto horizontal no ponto B, onde toca o eixo horizontal. A curva no painel (b) tem um intercepto vertical no ponto J, onde toca o eixo vertical, e um intercepto no ponto M, onde toca o eixo horizontal.

Inclinação de uma curva linear

Ao longo de uma curva linear, a inclinação é medida pela divisão da “distância vertical” entre dois pontos na curva pela “distância horizontal” entre

os mesmos dois pontos. A distância vertical é o quanto y varia e a distância horizontal é o quanto x varia. Eis a fórmula:

Na fórmula geral, o símbolo Δ (a letra grega maiúscula delta) significa “variação em”. Quando uma variável aumenta, a variação dessa variável é positiva, e quando uma variável diminui, a variação dessa variável é negativa. A inclinação de uma curva é positiva quando a distância vertical (a variação na variável y) tem o mesmo sinal que a distância horizontal (a variação na variável x). Isso porque, quando dois números têm o mesmo sinal, a relação entre eles é positiva. A curva no painel (a) da Figura 2A-2 tem uma inclinação positiva: ao longo da curva, tanto a variável y como a variável x aumentam. A inclinação de uma curva é negativa quando a distância vertical e a distância horizontal têm sinais diferentes. Isso porque, quando dois números têm sinais diferentes, a proporção entre eles é negativa. A curva no painel (b) da Figura 2A-2 tem inclinação negativa: ao longo da curva, um aumento da variável x está associado a uma diminuição na variável y. A Figura 2A-3 ilustra a forma de cálculo da inclinação de uma curva linear. Vamos nos concentrar primeiro no painel (a). Do ponto A ao B, o valor da variável y varia de 25 para 20 e o valor da variável x varia de 10 para 20. Assim, a inclinação da reta entre esses dois pontos é:

Como uma reta é igualmente íngreme em todos os pontos, a inclinação de uma reta é a mesma em todos os pontos. Em outras palavras, uma reta tem inclinação constante. Pode-se verificar isso calculando a inclinação da curva linear entre os pontos A e B e entre os pontos C e D no painel (b) da Figura 2A-3.

Curvas horizontais e verticais e suas inclinações

Quando uma curva é horizontal, o valor da variável y ao longo da curva nunca varia – é constante. Em qualquer ponto da curva, a variação em y é zero. Zero dividido por qualquer número é igual a zero. Assim, independentemente do valor da variação em x, a inclinação de uma curva horizontal é sempre zero. FIGURA 2A-3

Cálculo da inclinação

Os painéis (a) e (b) mostram duas curvas lineares. Entre os pontos A e B na curva do painel (a), a variação em y (distância percorrida na vertical) é –5 e a variação em y (distância percorrida na horizontal) é 10. Assim, a inclinação de A a B é onde o sinal de menos indica que a curva se inclina para baixo. No painel (b), a curva tem inclinação de A para B de A inclinação de C para D é

. . A inclinação é positiva, indicando que a curva tem

inclinação para cima, da esquerda para a direita. Além do mais, a inclinação entre A e B é a mesma que a inclinação entre C e D, tornando-a uma curva linear. A inclinação de uma curva linear é constante. É a mesma, independente de onde seja medida ao longo da curva.

Se a curva é vertical, o valor da variável x ao longo da curva não varia – é constante. Em todos os pontos, ao longo da curva, a variação em x é zero. Isso significa que a inclinação de uma curva vertical é uma razão com zero no denominador. Uma razão com zero no denominador é igual ao infinito – isto é, um número infinitamente elevado. Assim, a inclinação de uma curva vertical é igual ao infinito.

Uma curva vertical ou horizontal tem uma implicação especial: significa que as variáveis x e y não estão relacionadas. Duas variáveis não estão relacionadas quando a variação em uma delas (a variável independente) não tem efeito sobre a outra (a variável dependente). Ou, dito de outra maneira, duas variáveis não são relacionadas quando a variável dependente é constante, não importa o valor da variável independente. Se, como é habitual, a variável y for a dependente, a curva é horizontal. Se for a variável x, a curva é vertical. A inclinação de uma curva não linear

Uma curva não linear é aquela em que a inclinação muda à medida que se move ao longo dela. Os painéis (a), (b), (c) e (d) da Figura 2A-4 mostram várias curvas não lineares. Os painéis (a) e (b) mostram curvas não lineares, cujas inclinações variam ao se mover ao longo delas, mas essas inclinações permanecem sempre positivas. Apesar de as duas curvas se inclinarem para cima, a curva no painel (a) fica mais íngreme quando se vai da esquerda para a direita, ao contrário da curva no painel (b), que fica mais achatada. Diz-se que uma curva inclinada para cima e que se torna mais íngreme, como no painel (a), tem uma inclinação crescente positiva. A curva que é inclinada para cima, mas fica mais achatada, como no painel (b), tem inclinação decrescente positiva. FIGURA 2A-4

Curvas não lineares

No painel (a), a inclinação da curva de A a B é

e de C a D é

inclinação é positiva e crescente. A curva torna-se mais íngreme à medida que se move para a direita. No painel (b), a inclinação da curva de A a B é

e de C a D é

A inclinação é positiva e decrescente. A curva torna-se mais suave à medida que se move para a direita. No painel (c), a inclinação de A a B é é

e de C a D

A inclinação é negativa e crescente.

A curva torna-se mais íngreme quando se move para a direita. E, no painel (d), a inclinação de A a B é

e de C a D é

A inclinação é negativa e decrescente.

A curva torna-se mais suave ao mover-se para a direita. Em cada caso, a inclinação foi calculada usando o método de cálculo pela secante – isto é, traçando uma linha reta conectando dois pontos ao longo da curva. A inclinação média entre os pontos é a inclinação da linha reta entre esses dois pontos.

Ao se calcular a inclinação ao longo dessas curvas não lineares, obtemos valores diferentes de inclinação em diferentes pontos. A maneira como a inclinação varia ao longo da curva determina o formato da curva. Por

exemplo, no painel (a) da Figura 2A-4, a inclinação da curva é um número positivo que aumenta constantemente à medida que se move da esquerda para a direita, enquanto que no painel (b) a inclinação é um número positivo que diminui constantemente. As inclinações das curvas nos painéis (c) e (d) são números negativos. Com frequência, os economistas preferem expressar um número negativo por seu valor absoluto, que é o valor do número negativo sem o sinal de menos. Em geral, indica-se o valor absoluto de um número por duas barras paralelas em torno do número; por exemplo, o valor absoluto de −4 é | −4 | = 4. No painel (c), o valor absoluto da inclinação aumenta continuamente à medida que se move da esquerda para a direita. Portanto, a curva tem uma inclinação crescente negativa. E, no painel (d), o valor absoluto da inclinação da curva diminui continuamente ao longo da curva. Assim, essa curva tem uma inclinação decrescente negativa. Cálculo da inclinação ao longo de uma curva não linear

Acabamos de ver que, ao longo de uma curva não linear, o valor da inclinação depende do ponto em que se está nessa curva. Assim, como se calcula a inclinação de uma curva não linear? Iremos nos concentrar em dois métodos: o método do arco e o método de ponto. Método do arco para calcular a inclinação

O arco de uma curva é uma parte ou segmento dessa curva. Por exemplo, o painel (a) da Figura 2A-4 mostra um arco que é o segmento da curva entre os pontos A e B. Para calcular a inclinação ao longo de uma curva não linear, usando o método de arco, traça-se uma linha reta entre os dois pontos das extremidades do arco. A inclinação dessa linha reta é uma medida da inclinação média da curva entre esses dois pontos. Pode-se verificar a partir do painel (a), da Figura 2A-4, que a linha reta traçada entre os pontos A e B aumenta de 6 para 10 ao longo do eixo dos x (de modo que Δx = 4) e de 10 para 20 ao longo do eixo dos y (de modo que Δy = 10). Portanto, a inclinação da linha reta ligando os pontos A e B é:

Isto significa que a inclinação média da curva entre os pontos A e B é 2,5. Agora, considere o arco na mesma curva entre os pontos C e D. Uma linha reta traçada através desses dois pontos cresce ao longo do eixo dos x de 11 para 12 (Δx = 1), à medida que aumenta ao longo do eixo y de 25 para 40 (Δy = 15). Assim, a inclinação média entre os pontos C e D é:

Portanto, a inclinação média entre os pontos C e D é maior que a inclinação média entre os pontos A e B. Esses cálculos confirmam o que já observamos – que essa curva que se inclina para cima fica mais íngreme ao se mover da esquerda para a direita e, portanto, tem uma inclinação crescente positiva. Método de cálculo da tangente no ponto

Esse método calcula a inclinação de uma curva não linear em um ponto específico nessa curva. A Figura 2A-5 ilustra como se calcula a inclinação no ponto B na curva. Primeiro, traçamos uma linha reta que apenas toca a curva no ponto B. Essa linha denomina-se tangente: o fato de apenas tocar a curva no ponto B e não tocar a curva em qualquer outro ponto significa que a reta é tangente à curva no ponto B. A inclinação dessa tangente é igual à inclinação da curva não linear no ponto B. Pode-se observar na Figura 2A-5 como a inclinação da tangente foi calculada: do ponto A até o ponto C, a variação de y é 15 e a variação de x é 5, gerando uma inclinação de:

Através do método do ponto, a inclinação da curva no ponto B é igual a 3. Uma questão que surge naturalmente nesse momento é como determinar o método a utilizar no cálculo da inclinação de uma curva não linear – o método do arco (pela secante) ou do ponto (pela tangente). A resposta depende da própria curva e dos dados usados para construí-la. Usa-se o método do arco quando não há informação suficiente para traçar uma curva contínua. Por exemplo, suponha que no painel (a) da Figura 2A-4 haja apenas os dados representados pelos pontos A, C e D e não haja os dados representados pelo

ponto B, ou qualquer outro ponto no restante da curva. Nesse caso, é claro que não se pode usar o método do ponto para calcular a inclinação no ponto B. Deve-se usar o método do arco para obter uma aproximação da inclinação da curva nessa área, traçando uma linha reta entre os pontos A e C. Mas se houver dados suficientes para traçar uma curva contínua como mostrado no painel (a) da Figura 2A-4, então se pode utilizar o método da tangente para calcular a inclinação no ponto B – e em todos os outros pontos ao longo da curva. FIGURA 2A-5

Cálculo da inclinação pelo método do ponto

Aqui foi traçada uma tangente, uma reta que apenas toca a curva no ponto B. A inclinação dessa reta é igual à inclinação da curva no ponto B. A inclinação da tangente, medida de A a C, é

Pontos máximo e mínimo

A inclinação de uma curva não linear pode mudar de positiva para negativa, ou vice-versa. Quando a inclinação de uma curva muda de positiva para negativa, cria o que é denominado de ponto máximo da curva. Quando a inclinação de uma curva muda de negativa para positiva, cria um ponto mínimo.

O painel (a) da Figura 2A-6 ilustra uma curva em que a inclinação muda de positiva para negativa quando se move da esquerda para a direita. Quando x está entre 0 e 50, a inclinação da curva é positiva. Quando x é igual a 50, a curva atinge o ponto mais alto – o maior valor de y ao longo da curva. Esse ponto é denominado de máximo da curva. Quando x for superior a 50, a inclinação se torna negativa e a curva passa a se mover para baixo. Muitas das curvas importantes em economia, tal como a curva que representa a forma como o lucro de uma empresa varia à medida que ela produz mais, tem esse formato, como de um morro. FIGURA 2A-6

Pontos máximo e mínimo

O painel (a) mostra uma curva com um ponto máximo, o ponto em que a inclinação muda de positiva para negativa. O painel (b) mostra uma curva com um ponto mínimo, o ponto em que a inclinação muda de negativa para positiva.

Por outro lado, a curva mostrada no painel (b) da Figura 2A-6 tem forma de U: tem uma inclinação que muda de negativa para positiva. Em x igual a 50, a curva atinge o ponto mais baixo – o menor valor de y ao longo da curva. Esse ponto é denominado de mínimo da curva. Em economia, várias curvas importantes, tal como a que representa como os custos por unidade de algumas empresas variam à medida que a produção aumenta, são em forma de U, como essa.

Á

Á

CÁLCULO DA ÁREA ACIMA OU ABAIXO DA CURVA Às vezes, é útil poder medir a área abaixo ou acima de uma curva. Haverá um caso assim em outro capítulo. Para simplificar, iremos apenas calcular a área abaixo ou acima da curva linear. Qual o tamanho da área sombreada abaixo da curva linear no painel (a) da Figura 2A-7? Primeiro observe que essa área tem a forma de um triângulo retângulo. Um triângulo retângulo é o que tem dois lados formando entre eles um ângulo reto. Denominaremos um desses lados de altura e o outro lado de base do triângulo. Para nosso propósito, não importa a qual dos dois lados nos referimos como base e a qual nos referimos como altura. O cálculo da área de um triângulo retângulo é simples: multiplicar a altura do triângulo pela base do triângulo e dividir o resultado por 2. A altura do triângulo do painel (a) da Figura 2A-7 é 10 − 4 = 6. E a base do triângulo é 3 − 0 = 3. Assim, a área desse triângulo é

Como calcular a área sombreada acima da curva linear no painel (b) da Figura 2A-7? Podemos usar a mesma fórmula para calcular a área desse triângulo retângulo. A altura do triângulo é 8 − 2 = 6. E a base do triângulo é 4 − 0 = 4. Assim, a área desse triângulo é

GRÁFICOS QUE RETRATAM INFORMAÇÃO NUMÉRICA Os gráficos podem também ser usados como um meio prático de resumir e apresentar dados sem assumir qualquer relação causal subjacente. Os gráficos que mostram informações numéricas são chamados de grá cos numéricos. Aqui iremos considerar quatro tipos de gráficos numéricos: grá cos de séries temporais, diagramas de dispersão, grá cos de pizza e grá cos de barras. Esses são amplamente usados para representar dados empíricos reais sobre variáveis

econômicas diferentes, pois, muitas vezes, ajudam os economistas e formuladores de políticas a identificar padrões ou tendências na economia. Mas, como veremos, é preciso cuidado para não interpretá-los de forma enganosa ou tirar conclusões injustificadas. Ou seja, é preciso estar ciente tanto da utilidade quanto das limitações dos gráficos numéricos. FIGURA 2A-7

Cálculo da área abaixo e acima de uma curva linear

A área acima ou abaixo da curva linear forma um triângulo retângulo. A área de um triângulo retângulo é calculada multiplicando a altura pela base do triângulo e dividindo o resultado por 2. No painel (a), a área sombreada do triângulo é

No painel (b), a

área sombreada do triângulo é

Tipos de gráficos numéricos

Provavelmente você já tenha visto gráficos em jornais que mostram o que aconteceu ao longo do tempo com variáveis econômicas, como a taxa de desemprego ou o valor das ações. Um grá co de série temporal tem datas sucessivas no eixo horizontal e os valores da variável ocorridos nessas datas no eixo vertical. Por exemplo, a Figura 2A-8 mostra o produto interno bruto (PIB) real per capita – uma medida aproximada do padrão de vida de um país – nos Estados Unidos de 1947 até o final de 2010. A linha que liga os pontos que correspondem ao PIB real per capita para cada trimestre do ano civil durante esses anos fornece uma ideia clara da tendência geral do padrão de vida ao longo desses anos.

A Figura 2A-9 é um exemplo de um tipo diferente de gráfico numérico. Representa a informação de uma amostra sobre o padrão de vida de 184 países, novamente medido pelo PIB per capita e o montante de emissões de carbono per capita, uma medida de poluição ambiental. Aqui, cada ponto indica o padrão de vida de um residente médio e as emissões anuais de carbono de determinado país. Os pontos situados no canto superior direito do gráfico, que mostram combinações de um alto padrão de vida com emissões elevadas de carbono, representam países economicamente avançados, como os Estados Unidos. (No topo do gráfico, o país com maior nível de emissão de carbono é o Qatar.) Os pontos que se situam na parte inferior esquerda do gráfico mostram combinações de um baixo padrão de vida com baixas emissões de carbono e representam países menos avançados economicamente, como Afeganistão e Serra Leoa. O padrão de pontos indica que há uma relação positiva entre o padrão de vida e as emissões de carbono per capita: em geral, as pessoas geram mais poluição em países com padrão de vida alto. Esse tipo de gráfico é denominado de diagrama de dispersão, em que cada ponto corresponde a uma observação real da variável x com a variável y. Nos diagramas de dispersão, uma curva normalmente é ajustada na dispersão de pontos, ou seja, é traçada uma curva que se aproxima ao máximo da relação geral entre as variáveis. Como se pode ver, a linha ajustada na Figura 2A-9 é ascendente, indicando uma relação positiva subjacente entre as duas variáveis. Os diagramas de dispersão são usados para mostrar como se pode inferir uma relação geral a partir de um conjunto de dados. Um grá co de pizza mostra a participação de uma quantidade total que é explicada por vários componentes expressos normalmente em porcentagem. Por exemplo, a Figura 2A-10 é um gráfico de pizza que mostra o nível educacional dos trabalhadores que receberam em 2009 o salário mínimo oficial ou menos. Como se pode ver, a maioria dos trabalhadores com remuneração igual ou inferior ao salário mínimo não tinha diploma universitário. Apenas 8% dos trabalhadores com remuneração igual ou inferior ao salário mínimo tinham grau de bacharel ou superior. Os grá cos de barras usam barras de diferentes alturas ou comprimentos para indicar os valores de uma variável. No gráfico de barras da Figura 2A-11, as barras indicam a variação porcentual do número de trabalhadores desempregados nos Estados Unidos de 2009 a 2010: brancos, negros ou afroamericanos e asiáticos. Os valores exatos da variável que está sendo medida

podem ser escritos ao final da barra, como nessa figura. Por exemplo, nos Estados Unidos, o número de trabalhadores desempregados negros ou afroamericanos aumentou 9,4% entre 2009 e 2010. Mas mesmo sem os valores precisos, a comparação das alturas ou comprimentos das barras pode oferecer indicação útil sobre as magnitudes relativas dos diversos valores da variável. FIGURA 2A-8

Gráficos de séries temporais

Gráficos de séries temporais mostram datas sucessivas no eixo dos x e valores de uma variável no eixo dos y. Esse gráfico de série temporal mostra o verdadeiro produto interno bruto per capita, uma medida do padrão de vida de um país, nos Estados Unidos, de 1947 até o final de 2010.

Fonte: Bureau of Economic Analysis.

FIGURA 2A-9

Diagrama de dispersão

Em um diagrama de dispersão, cada ponto representa os valores correspondentes das variáveis x e y para determinada observação. Aqui, cada ponto indica o PIB per capita e a quantidade de emissão de carbono per capita de determinado país para uma amostra de 184 países. A curva ajustada com inclinação para cima é a melhor aproximação da relação geral entre as duas variáveis.

Fonte: Banco Mundial.

FIGURA 2A-10 Gráfico de pizza

Nível educacional dos trabalhadores remunerados que recebem salário mínimo ou menos, 2009

Um gráfico de pizza mostra as porcentagens de um montante total que podem ser atribuídas a vários componentes. Este gráfico de pizza mostra a porcentagem de trabalhadores com determinado nível de ensino, cujo salário é igual ou inferior ao salário mínimo federal em 2009.

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

FIGURA 2A-11 Gráfico de barras

Variação na quantidade de desempregados por raça (2009–2010)

Um gráfico de barras mede uma variável usando barras com alturas ou comprimentos diversos. Esse gráfico de barras mostra a variação percentual no número de trabalhadores desempregados entre 2009 e 2010, em separado para brancos, negros ou afroamericanos e asiáticos.

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Problemas na interpretação de gráficos numéricos

No início deste apêndice, enfatizou-se que os gráficos são imagens visuais que facilitam a compreensão de ideias ou informações, mas eles podem ser construídos (intencionalmente ou não) de modo enganoso e levar a conclusões imprecisas. Esta seção levanta algumas questões que devem ser consideradas ao interpretar gráficos. Características da construção

Antes de tirar conclusões sobre as implicações de um gráfico numérico, é necessário prestar atenção à escala ou ao tamanho dos incrementos, mostrados nos eixos. Pequenos incrementos tendem a exagerar visualmente as variações nas variáveis, enquanto que incrementos grandes tendem a diminuí-las. Assim, a escala utilizada na construção de um gráfico pode influenciar a interpretação do significado das mudanças que ele ilustra, talvez de forma injustificada. Tomemos como exemplo a Figura 2A-12, que mostra o PIB real per capita dos Estados Unidos de 1981 a 1982 usando incrementos de $500. Pode-se observar que o PIB real per capita caiu de $26.208 para $25.189. Com certeza uma diminuição, mas é tão grande quanto a escala escolhida para o eixo vertical faz parecer? Se examinar novamente a Figura 2A-8, que mostra o PIB real per capita nos Estados Unidos de 1947 ao final de 2010, pode-se observar que essa seria uma conclusão equivocada. A Figura 2A-8 inclui os mesmos dados apresentados na Figura 2A-12, mas foi construída em uma escala com incrementos de $10.000 em vez de $500. Nela, pode-se observar que a queda do PIB real per capita de 1981 a 1982 foi, de fato, relativamente insignificante. Na verdade, a história do PIB real per capita – uma medida da qualidade de vida – nos Estados Unidos é mais uma história de altos do que de baixos. Essa comparação mostra que, se você não tiver cuidado de levar em consideração a escolha da escala para interpretar um gráfico, pode chegar a conclusões muito diferentes e possivelmente equivocadas. Em relação à escolha da escala há a utilização do truncamento na construção de um gráfico. Um eixo é truncado quando parte da âmbito é omitido. Isso é indicado com duas barras (//) no eixo, perto da origem. É possível verificar que o eixo vertical da Figura 2A-12 foi truncado – algo na

escala de valores de $0 a $25.000 – foi omitido e um // aparece no eixo. O truncamento economiza espaço na apresentação de um gráfico e permite que pequenos incrementos sejam usados para construí-lo. Como resultado, as variações na variável representadas em um gráfico truncado parecem maiores em comparação com um gráfico que não tenha sido truncado e que utiliza incrementos maiores. É necessário também prestar atenção ao que o gráfic o está ilustrando exatamente. Por exemplo, na Figura 2A-11, é preciso reconhecer que o que está sendo mostrado são variações percentuais no número de desempregados e não variações nos números absolutos. A taxa de desemprego dos trabalhadores negros ou afro-americanos aumentou em uma porcentagem mais elevada, de 9,4% nesse exemplo. Ao confundirmos variações numéricas com percentuais, iremos concluir erroneamente que a maior parte dos trabalhadores desempregados recentemente era de negros ou afro-americanos. Mas, na verdade, a interpretação correta da Figura 2A-11 mostra que o maior número de trabalhadores recém-desempregados era de brancos: o número total de trabalhadores desempregados brancos cresceu para 268 mil trabalhadores, que é maior do que o aumento do número de trabalhadores desempregados negros ou afro-americanos, que, nesse exemplo, é de 246 mil. Embora a existência de um maior aumento percentual no número de trabalhadores desempregados negros ou afro-americanos em 2009, o número destes trabalhadores desempregados nos Estados Unidos foi menor do que o de brancos, levando a um número menor de trabalhadores negros ou afro-americanos recémdesempregados em relação aos trabalhadores brancos. Variáveis omitidas

A partir de um diagrama de dispersão que mostra duas variáveis que se deslocam de forma positiva ou negativa em relação à outra, é fácil concluir que há uma relação causal. Mas as relações entre duas variáveis nem sempre são diretamente de causa e efeito. Muito possivelmente, uma relação observada entre duas variáveis se deva ao efeito não observado de uma terceira variável sobre cada uma dessas outras duas variáveis. Uma variável não observada que, através de sua influência sobre outras variáveis, cria uma aparência errônea de uma relação causal direta entre essas variáveis é denominada variável omitida. Por exemplo, na Nova Inglaterra, uma maior quantidade de neve que caia durante uma semana normalmente fará as pessoas comprarem mais pás para

retirar a neve. Também fará as pessoas comprarem mais fluido descongelante. Mas se a influência da neve for omitida e representarmos o número de pás vendidas em relação ao número de garrafas de fluido descongelante vendidas, teremos um diagrama de dispersão mostrando a tendência para cima no padrão de pontos, indicando uma relação positiva entre pás e fluido descongelante vendidos. No entanto, atribuir uma relação causal entre essas duas variáveis é um equívoco; mais pás vendidas não causa a venda de mais fluido descongelante ou vice-versa. Eles se movem em conjunto por serem influenciados por uma terceira variável determinante – a queda de neve na semana, que, nesse caso, é a variável omitida. Então, antes de assumir que um padrão em um diagrama de dispersão implica uma relação de causa e efeito, é importante considerar se o padrão não, na verdade, o resultado de uma variável omitida. Em resumo: correlação não é causação. FIGURA 2A-12 Interpretando gráficos: o efeito da escala

Alguns dos mesmos dados para os anos 1981 e 1982, usados na Figura 2A-8, estão aqui representados, exceto que estão sendo mostrados com incrementos de $500, em vez de com incrementos de $10.000. Como resultado dessa mudança de escala, nessa figura as variações no padrão de vida aparentam ser muito maiores em comparação com a Figura 2A-8.

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Causalidade reversa

Mesmo tendo certeza de que não há nenhuma variável omitida e que existe uma relação causal entre duas variáveis apresentadas em um gráfico numérico, deve-se também tomar cuidado para não cometer o erro de causalidade reversa – chegar a uma conclusão errada sobre qual é a variável dependente e qual a independente, invertendo o verdadeiro sentido da causalidade entre as duas variáveis. Por exemplo, imagine um diagrama de dispersão mostrando as notas médias de 20 de seus colegas de turma em um eixo e o número de horas que cada um deles ficou estudando em outro eixo. A linha ajustada entre os pontos provavelmente terá uma inclinação positiva, demonstrando uma relação positiva entre a nota e a quantidade de horas de estudo. Podemos inferir razoavelmente que horas de estudo é a variável independente, e nota é a variável dependente. Mas é possível cometer o erro da causalidade reversa: inferir que uma nota alta faz o aluno estudar mais, ao passo que uma nota baixa faz o aluno estudar menos. A importância de compreender como os gráficos podem enganar ou ser interpretados de forma incorreta não é uma preocupação puramente acadêmica. As decisões políticas, empresariais e argumentos políticos, muitas vezes, são fundamentados na interpretação dos tipos de gráficos numéricos que acabamos de discutir. Problemas de aspectos de construção enganosos, variáveis omitidas e causalidade reversa podem levar a consequências muito importantes e indesejáveis.

• PROBLEMAS 1. Analise os quatro gráficos a seguir. Considere as afirmações seguintes e indique que gráfico corresponde a cada afirmação. Que variável aparecerá no eixo horizontal e no vertical? Em cada uma dessas afirmações, a inclinação é positiva, negativa, zero ou infinita?

a. Se o preço da entrada de cinema subir, menos pessoas irão ao cinema. b. Trabalhadores mais experientes geralmente têm renda mais elevada do que os menos experientes. c. Seja qual for a temperatura externa, os americanos consomem a mesma quantidade de cachorro-quente por dia. d. Os consumidores compram mais frozen yogurt quando o preço do sorvete sobe. e. As pesquisas não encontram relação entre a quantidade de livros de dieta adquiridos e o número de quilos perdidos na média das pessoas que fazem dieta. f. Independentemente do preço, os americanos compram a mesma quantidade de sal. 2. Durante a administração Reagan, o economista Arthur Laffer argumentou em favor da redução do imposto de renda, a fim de aumentar a receita tributária. Como a maioria dos economistas, Laffer acreditava que se a alíquota dos impostos estivesse acima de determinado nível, a receita tributária cairia, pois impostos elevados desencorajam algumas pessoas de trabalhar, e definitivamente não trabalhariam se após o pagamento dos impostos não sobrar renda. Essa relação entre alíquota de impostos e receita tributária é resumida graficamente no que é amplamente conhecido como curva de Laffer. Trace a curva de Laffer supondo que tenha o formato de uma curva não linear. As questões a seguir ajudarão na construção do gráfico. a. Qual é a variável independente? Qual é a variável dependente? Em que eixo, portanto, a alíquota de imposto de renda é medida? Em que eixo a receita tributária é medida? b. Qual é a receita tributária se a alíquota de imposto de renda for 0%? c. A taxa máxima possível de imposto de renda é 100%. Qual é a receita tributária a uma alíquota de imposto de renda de 100%?

Há estimativas que mostram agora que o ponto máximo da curva de Laffer d. ocorre (aproximadamente) a uma alíquota de imposto de 80%. Para as alíquotas de imposto inferiores a 80%, como você descreve a relação entre a alíquota de imposto e a receita tributária? E como essa relação se reflete na inclinação? Para as taxas de imposto superiores a 80%, como você descreve a relação entre alíquota de impostos e a receita tributária e como essa relação se reflete na inclinação? 3. Nas figuras a seguir, os números nos eixos foram perdidos. Tudo o que se sabe é que as unidades indicadas no eixo vertical são as mesmas que as unidades no eixo horizontal.

a. No painel (a), qual é a inclinação da reta? Mostre que a inclinação é constante ao longo da reta. b. No painel (b), qual é a inclinação da reta? Mostre que a inclinação é constante ao longo da reta. 4. Responda cada uma das seguintes perguntas desenhando um diagrama esquematizado. a. Ao medir, pelo método do ponto, a inclinação de uma curva em três pontos cada vez mais à direita ao longo do eixo horizontal, a inclinação da curva muda de −0,3 para −0,8, para −2,5. Desenhe um diagrama esquemático dessa curva. Como descreveria as relações ilustradas no diagrama? b. Ao medir, pelo método do ponto, a inclinação de uma curva em cinco pontos cada vez mais à direita ao longo do eixo horizontal, a inclinação da curva muda de 1,5, para 0,5, para 0, para −0,5 e para −1,5. Trace um diagrama esquemático dessa curva. Ela tem um máximo ou um mínimo? 5. Para cada um dos diagramas a seguir, calcule a área do triângulo retângulo sombreado.

6. A base de um triângulo retângulo é 10 e sua área é 20. Qual é a altura desse triângulo? 7. A tabela a seguir mostra a relação entre horas de trabalho por semana de cada trabalhador e o salário por hora. Fora o fato de receberem salário por hora diferente e trabalharem quantidade de horas diferente, esses cinco trabalhadores são idênticos. Nome

Quantidade de trabalho (horas por semana)

Salário (por hora)

Athena

30

$15

Boris

35

30

Curt

37

45

Diego

36

60

Emily

32

75

a. Qual é a variável independente e a dependente? b. Desenhe um diagrama de dispersão ilustrando essa relação. Ajuste uma curva (não linear), que ligue os pontos. Coloque o salário por hora no eixo vertical. c. À medida que o salário aumenta de $15 para $30, como o número de horas trabalhadas responde de acordo com a relação aqui descrita? Qual é a inclinação média da curva entre os pontos de Athena e de Boris usando o método de arco? d. À medida que o salário aumenta de $60 para $75, como o número de horas trabalhadas responde de acordo com a relação aqui descrita? Qual é

a inclinação média da curva entre os pontos de Diego e Emily usando o método do arco? 8. Há estudos que mostram uma relação entre a taxa anual de crescimento de um país e a taxa anual de aumento da poluição atmosférica. Acredita-se que uma maior taxa de crescimento econômico permite que os residentes de um país possuam mais carros e viajem mais, liberando, assim, mais poluentes no ar. a. Qual é a variável independente? Qual é a variável dependente? b. Suponha que em um país chamado Sulândia, quando a taxa de crescimento econômico caiu de 3% para 1,5%, a taxa anual de aumento da poluição do ar caiu de 6% para 5%. Usando o método do arco, qual é a inclinação média de uma curva não linear entre esses pontos? c. Agora, suponha que quando a taxa anual de crescimento econômico passou de 3,5% para 4,5%, a taxa anual de aumento da poluição do ar passou de 5,5% para 7,5%. Usando o método do arco, qual é a inclinação média de uma curva não linear entre esses dois pontos? d. Como você descreveria a relação entre essas duas variáveis? 9. Uma companhia de seguros descobriu que a gravidade do dano à propriedade em caso de incêndio está relacionada positivamente com o número de bombeiros que chegam ao local. a. Desenhe um diagrama que ilustre essa descoberta, com o número de bombeiros no eixo horizontal e os danos à propriedade no eixo vertical. O que esse diagrama nos informa? Suponha que se inverta o que está sendo medido nos dois eixos. Qual então é o argumento? b. A fim de reduzir o pagamento de indenização aos segurados, a companhia de seguros deve solicitar à prefeitura o envio de menor número de bombeiros para qualquer incêndio? 10. A tabela a seguir mostra o salário anual e o imposto de renda devido por cinco indivíduos. Fora o fato de receberem salários diferentes e deverem valores diferentes de imposto de renda, esses cinco indivíduos são idênticos. Nome

Salário anual ($)

Imposto de renda anual ($)

Susan

22.000

3.304

Eduardo

63.000

14.317

3.000

454

Camila

94.000

23.927

Peter

37.000

7.020

John

a. Se você quisesse traçar esses pontos em um gráfico, usando o método do arco, qual seria a inclinação média da curva entre os pontos para o salário e o imposto de Eduardo e Camila? Como você interpretaria esse valor de inclinação? b. Usando o método do arco, qual é a inclinação média da curva entre os pontos para o salário e o imposto de John e Susan? Como você

c.

interpretaria esse valor de inclinação? O que acontece com a inclinação quando o salário aumenta? O que essa relação implica sobre como o nível de imposto de renda afeta o incentivo de uma pessoa de ganhar um salário maior?

PARTE 2

OFERTA E DEMANDA

CAPÍTULO 3 » Oferta e demanda

JEANS INDIGO BLUE

e você comprou jeans em 2011, deve ter ficado chocado com o preço. Ou talvez não: modas mudam e talvez você tenha imaginado estar pagando o preço para acompanhar a moda. Mas não estava – estava pagando pelo algodão. Jeans são feitas de denim, que é um determinado tecido de algodão. No final de 2010, quando os fabricantes de jeans estavam comprando estoque de material para o próximo ano, os preços do algodão mais do que triplicaram em comparação ao que eram dois anos antes. Em dezembro de 2010, o preço de um quilo de algodão havia atingido uma alta que só iria atingir em 140 anos, o maior preço do algodão desde que os registros começaram, em 1870. E por que o preço do algodão estava tão alto? De um lado, estava surgindo demanda por vestuário de todos os tipos. Entre 2008 e 2009, à medida que o mundo lutou contra os efeitos da crise financeira, os consumidores, nervosos, cortaram as compras de vestuário.

S

Mas, em 2010, quando o pior tinha aparentemente acabado, os compradores estavam de volta, com todo vigor. Do lado da oferta, eventos climáticos severos abateram a produção mundial de algodão. Mais notavelmente, o Paquistão, o quarto maior produtor de algodão do mundo, foi atingido por inundações devastadoras que colocaram 1/5 do país embaixo da água e a lavoura de algodão ficou praticamente destruída. Temendo que os consumidores tivessem limitado a tolerância a grandes aumentos no preço de roupas de algodão, os fabricantes de vestuário começaram a tentar encontrar alguma forma de reduzir os custos sem ofender o senso de moda dos consumidores. Adotaram mudanças como botões menores, revestimentos mais baratos, e – sim – poliéster, duvidando que os consumidores estivessem dispostos a pagar mais por produtos de algodão. Na verdade, alguns especialistas do mercado de algodão alertaram que os altíssimos preços do algodão entre 2010 e 2011 poderiam conduzir a uma permanente mudança nos gostos, com os consumidores querendo usar cada vez mais sintéticos mesmo quando os preços do algodão caíssem. Ao mesmo tempo, essa não foi uma notícia totalmente má para as pessoas ligadas ao comércio de algodão. Nos Estados Unidos, os produtores de algodão não tinham sido atingidos pelo mau tempo e estavam tirando vantagem dos preços mais altos. Os agricultores americanos responderam aos altíssimos preços do algodão com um aumento acentuado da área de plantio da cultura. Contudo, nada disso foi suficiente, para produzir alívio imediato nos preços. Espere um pouco: como exatamente que as inundações no Paquistão se transformaram em preços mais altos de jeans e mais poliéster nas camisetas? O que você vai aprender neste capítulo • O que é um mercado competitivo e como é descrito pelo modelo de oferta e demanda. • O que é a curva da demanda e a curva da oferta. • A diferença entre movimentos ao longo da curva e deslocamentos da curva. • Como as curvas da oferta e demanda determinam o preço e a quantidade de equilíbrio de mercado. • Em caso de escassez ou excedente, como o preço move o mercado de volta ao equilíbrio.

Essa é uma questão de oferta e demanda – mas o que isso significa? Muitas pessoas usam “oferta e demanda” como uma espécie de slogan que quer dizer “as leis do mercado em funcionamento”. Entretanto, para os economistas, o conceito de oferta e demanda tem um significado preciso: é um modelo de como o mercado se comporta que é extremamente útil para a compreensão de muitos – mas não de todos os mercados. Neste capítulo, apresentamos as peças que compõem o modelo de oferta e demanda, juntamos as peças e mostramos como esse modelo pode ser usado para entender como funcionam muitos mercados – mas não todos.

OFERTA E DEMANDA: UM MODELO DE MERCADO COMPETITIVO Vendedores e compradores de algodão constituem um mercado – um grupo de produtores e consumidores que trocam um bem ou serviço por pagamento. Neste capítulo, vamos nos concentrar em um determinado tipo de mercado conhecido como mercado competitivo. Grosso modo, um mercado competitivo é aquele em que há muitos compradores e vendedores de um mesmo bem ou serviço. Mais precisamente, o elemento fundamental de um mercado competitivo é que nenhuma ação de qualquer indivíduo tem efeito significativo sobre o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido. É importante entender, no entanto, que essa não é uma descrição precisa de cada mercado. Por exemplo, não é uma descrição exata do mercado de bebidas do tipo cola. Isso porque, no mercado dessas bebidas, a Coca-Cola e a Pepsi contam com uma proporção tão grande nas vendas totais que são capazes de influenciar o preço pelo qual essas bebidas são compradas e vendidas. Mas é uma descrição precisa do mercado de algodão. O mercado mundial de algodão é tão grande que até mesmo um fabricante de jeans como a Levi Strauss & Co. é responsável por apenas uma pequena fração de transações, sendo incapaz de influenciar o preço pelo qual o algodão é comprado e vendido.

É um pouco difícil de explicar por que os mercados competitivos são diferentes de outros mercados sem verificar primeiro como funciona um mercado competitivo. Então, vamos adiar o assunto – voltaremos a essa questão no final deste capítulo. Por ora, vamos apenas afirmar que é mais fácil modelar mercados competitivos do que outros mercados. Ao prestar um exame, sempre é uma boa estratégia começar respondendo às questões mais fáceis. Neste livro, vamos fazer a mesma coisa. Então, vamos começar pelos mercados competitivos. Quando um mercado é competitivo, seu comportamento é bem descrito pelo modelo de oferta e demanda. Como muitos mercados são competitivos, o modelo de oferta e demanda, realmente, é muito útil. Há cinco elementos essenciais nesse modelo: A curva da demanda. A curva da oferta. O conjunto de fatores que faz a curva da demanda se deslocar e o conjunto de fatores que faz a curva da oferta se deslocar. O equilíbrio de mercado, que inclui o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio. A forma como o equilíbrio de mercado varia quando a curva da oferta ou da demanda se desloca. Para entender o modelo de oferta e demanda, vamos examinar cada um desses elementos.

A CURVA DA DEMANDA Quantos quilos de algodão, na forma de calças jeans, os consumidores ao redor do mundo querem comprar em um determinado ano? A princípio, você pode imaginar que possamos responder a essa pergunta, verificando o número total de calças jeans compradas ao redor do mundo a cada dia, multiplicar esse número pela quantidade de algodão necessária para fabricar uma calça jeans e depois multiplicar por 365. Mas isso não é suficiente para responder a questão, porque quantos jeans – em outras palavras, quantos

quilos de algodão – os consumidores desejam comprar depende do preço de um quilo de algodão. Quando o preço do algodão sobe, como aconteceu em 2010, algumas pessoas respondem ao aumento do preço de roupas de algodão, comprando menos ou, talvez, trocando completamente por peças de vestuário elaboradas com outros materiais, como materiais sintéticos ou de linho. Em geral, a quantidade de roupas de algodão, ou de qualquer bem ou serviço que as pessoas desejam comprar, depende do preço. Quanto mais alto o preço, menos as pessoas querem adquirir desse bem ou serviço; alternativamente, quanto menor o preço, mais querem comprar. Portanto, a resposta à questão: “Quantos quilos de algodão os consumidores desejam comprar?” depende do preço de um quilo de algodão. E por não saber qual será esse preço, o ideal é fazer uma tabela de quantos quilos de algodão as pessoas gostariam de comprar a preços diferentes. Essa tabela é conhecida como tabela da demanda. Isso, por sua vez, pode ser usado para desenhar uma curva da demanda, que é um dos elementos fundamentais do modelo de oferta e demanda. hipotética para o algodão. É hipotética porque não utiliza dados reais da demanda mundial de algodão e pressupõe que todo algodão tem a mesma qualidade. A tabela da demanda e a curva da demanda

A tabela da demanda mostra quanto de um bem ou serviço os consumidores vão querer comprar a preços diferentes. À direita da Figura 31, mostramos uma tabela da demanda FIGURA 3-1

A tabela da demanda e a curva da demanda

A tabela da demanda de algodão produz a curva da demanda correspondente, que mostra o quanto de um bem ou serviço os consumidores desejam comprar a qualquer preço determinado. A curva da demanda e a tabela da demanda refletem a lei da demanda: à medida que o preço sobe, a quantidade demandada cai. Da mesma forma, uma queda no preço aumenta a quantidade demandada. Como resultado, a curva da demanda tem inclinação para baixo.

De acordo com a tabela, se um quilo de algodão custar $1, os consumidores ao redor do mundo irão querer comprar 10 bilhões de quilos de algodão ao longo de um ano. Se o preço for $1,25 o quilo, vão querer comprar apenas 8,9 bilhões de quilos; se for de apenas $0,75 o quilo, irão querer comprar 11,5 bilhões de quilos, e assim por diante. Quanto maior o preço, menor a quantidade de quilos de algodão que os consumidores estarão dispostos a comprar. Assim, à medida que o preço sobe, a quantidade demandada de algodão – a quantidade real que os consumidores estão dispostos a comprar a determinado preço – cai. O gráfico da Figura 3-1 é uma representação visual da informação na tabela. (Revise a discussão sobre gráficos em economia no apêndice do Capítulo 2, se necessário.) O eixo vertical mostra o preço de um quilo de

algodão e o horizontal mostra a quantidade de algodão em quilos. Cada ponto no gráfico corresponde a uma das entradas na tabela. A curva que une esses pontos é a curva da demanda. A curva da demanda é uma representação gráfica da tabela da demanda, outra forma de mostrar a relação entre quantidade demandada e preço. Observe que a curva da demanda mostrada na Figura 3-1 tem inclinação para baixo. Isso reflete a proposição geral de que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada. Por exemplo, fabricantes de calças jeans sabem que irão vender menos peças, quando o preço de um jeans for mais alto, refletindo um preço de $2 por quilo de algodão, em comparação com a quantidade que irão vender, quando o preço da peça for mais baixo, refletindo o preço de apenas $1 por quilo de algodão. Da mesma forma, alguém que compra jeans de algodão quando o preço está relativamente baixo vai mudar para sintético ou linho, quando o preço do algodão para fabricar o jeans estiver relativamente elevado. Assim, no mundo real, as curvas de demanda quase sempre têm inclinação para baixo. (As exceções são tão raras que, na prática, podemos ignorá-las.) Geralmente, é tão confiável a proposição de que um preço mais elevado de um bem, quando tudo o mais é mantido constante, leva as pessoas a procurar uma quantidade menor de tal bem, que os economistas estão dispostos a chamá-la de “lei” – a lei da demanda. Deslocamentos da curva da demanda

Embora o preço do algodão estivesse bem mais alto em 2010 do que em 2007, o total de consumo mundial de algodão foi maior em 2010. Como podemos conciliar esse fato com a lei da demanda, que prega que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada, quando tudo o mais se mantém constante?

COMPARAÇÃO GLOBAL

PAGUE MAIS, ABASTEÇA MENOS Para uma ilustração do mundo real da lei da demanda, observe como o consumo de gasolina varia de acordo com o preço que o consumidor paga no posto. Em decorrência dos impostos elevados, a gasolina e o diesel, na maioria dos países europeus, custa mais que o dobro do que nos Estados Unidos. De acordo com a lei da demanda, isso deveria levar os europeus a comprar menos gasolina do que os americanos – e de fato isso acontece. Como se vê na figura, os europeus consomem por pessoa menos da metade do que os americanos, principalmente porque dirigem carros menores e fazem menor quilometragem. O preço não é o único fator que afeta o consumo de combustível, mas, provavelmente, é a principal causa da diferença do consumo por pessoa entre europeus e americanos.

Fonte: U.S. Energy Information Administration, 2009.

A resposta está na frase fundamental: tudo o mais mantido constante. Nesse caso, tudo o mais não foi mantido constante: o mundo mudou entre 2007 e 2010, de forma que aumentou a quantidade demandada de algodão a qualquer preço dado. Para começar, a população do mundo, e, portanto, o número de consumidores potenciais de algodão, aumentou. Além disso, a popularidade crescente de roupa de brim, bem como os rendimentos mais elevados em países como a China, permitiu que as pessoas comprassem mais roupas do que antes, levou a um aumento na quantidade demandada

de algodão a qualquer preço. A Figura 3-2 ilustra esse fenômeno usando a tabela e a curva da demanda por algodão. (Tal como antes, os números da Figura 3-2 são hipotéticos.) A tabela da Figura 3-2 mostra duas tabelas da demanda. A primeira é a tabela da demanda para 2007, a mesma mostrada na Figura 3-1. A segunda é a tabela da demanda para 2010. Essa difere da tabela da demanda de 2007, em decorrência de fatores como população maior e aumento da popularidade de roupas de brim, que levaram a um aumento na quantidade de algodão demandado a qualquer preço. Assim, para cada preço, a tabela de 2010 mostra uma quantidade maior demandada do que em 2007. Por exemplo, a quantidade de consumidores de algodão que queriam comprar ao preço de $1 por quilo aumentou de 10 para 12 bilhões de quilos por ano, a quantidade demandada a $1,25 por quilo passou de 8,9 para 10,7 bilhões, e assim por diante. O exemplo esclarece que as mudanças ocorridas entre 2007 e 2010 geraram uma nova tabela da demanda, em que a quantidade demandada é maior, a qualquer preço dado, que na tabela da demanda original. As duas curvas da Figura 3-2 mostram essa informação graficamente. Como se observa, a tabela da demanda de 2010 corresponde a uma nova curva, D2, à direita da curva da demanda de 2007, D1. Esse deslocamento da curva da demanda mostra a variação na quantidade demandada a qualquer preço, representando a variação na posição da curva da demanda original D1, para a nova posição em D2. É fundamental fazer a distinção entre os deslocamentos da curva da demanda e os movimentos ao longo da curva da demanda, variação na quantidade demandada de um bem proveniente de uma alteração no preço do bem. A Figura 3-3 ilustra essa diferença. O movimento do ponto A ao ponto B é um movimento ao longo da curva da demanda: a quantidade demandada aumenta em virtude da queda no preço à medida que nos movemos para baixo em D1. Aqui, uma queda no preço do algodão de $1,50 para $1 por quilo gera um aumento na quantidade demandada de 8,1 bilhões para 10 bilhões de quilos por ano. Mas a quantidade demandada também pode subir quando o preço permanece inalterado, se houver um aumento na demanda – um

deslocamento para a direita da curva da demanda. Essa situação está ilustrada na Figura 3-3 pelo deslocamento da curva da demanda de D1 para D2. Mantendo o preço constante em $1,50 o quilo, a quantidade demandada aumenta de 8,1 bilhões no ponto A em D1 para 9,7 bilhões no ponto C em D2. FIGURA 3-2

Aumento da demanda

Um aumento na população é um fator que gera um aumento na demanda – um aumento na quantidade demandada a qualquer preço dado. Isso é representado por duas tabelas de demanda – uma que mostra a demanda em 2007, antes do aumento da população, a outra que mostra a demanda em 2010, após o aumento da população – e as curvas de demanda correspondentes. O aumento da demanda desloca a curva da demanda para a direita.

Quando os economistas dizem que “a demanda por x aumentou” ou “a demanda por y diminuiu”, querem dizer que a curva da demanda para x ou y se deslocou – não que a quantidade demandada aumentou ou diminui em virtude de uma variação no preço. FIGURA 3-3

Movimento ao longo da curva da demanda versus deslocamento da curva da demanda

O aumento na quantidade demandada quando se passa do ponto A para o ponto B reflete um movimento ao longo da curva da demanda: é o resultado de uma queda no preço do bem. O aumento na quantidade demandada quando se passa do ponto A para o ponto C reflete um deslocamento da curva da demanda: é o resultado de um aumento na quantidade demandada a qualquer preço.

ARMADILHAS DEMANDA VERSUS QUANTIDADE DEMANDADA Quando os economistas dizem “um aumento na demanda”, significa um deslocamento para a direita na curva da demanda, e quando dizem “uma redução na demanda”, significa um deslocamento para a esquerda na curva da demanda – isto é, quando estão sendo cuidadosos. Em linguagem comum, a maioria das pessoas, incluindo economistas profissionais, usa a palavra demanda de forma coloquial. Por exemplo, um economista talvez diga “a demanda por viagens aéreas dobrou nos últimos 15 anos, em parte por causa da queda nos preços” quando realmente quer dizer que a quantidade demandada dobrou. Pode-se aceitar algum desleixo no uso dos termos em conversa comum. Mas na análise econômica é importante fazer a distinção entre variação na

quantidade demandada, que envolve movimento ao longo de uma curva da demanda e deslocamento ao longo da curva da demanda. (Veja a Figura 3-3 como ilustração.) Às vezes, os alunos acabam escrevendo algo assim: “Se a demanda aumenta, o preço aumenta, mas isso leva a uma queda na demanda, empurrando o preço para baixo…” e, em seguida, ficam girando em torno disso. Se for feita uma distinção clara entre variação na demanda, que significa deslocamento na curva da demanda, e variação na quantidade demandada, uma série de confusão será evitada.

Entendendo os deslocamentos da curva da demanda

A Figura 3-4 ilustra as duas formas básicas como as curvas da demanda podem-se deslocar. Quando os economistas falam sobre um “aumento da demanda”, referem-se a um deslocamento para a direita da curva de demanda: a qualquer preço, os consumidores demandam maior quantidade de bens ou serviços do que antes. Isso é mostrado pelo deslocamento para a direita da curva da demanda original de D1 para D2. E quando os economistas falam de uma “queda na demanda”, referem-se a um deslocamento para a esquerda da curva da demanda: a qualquer preço, os consumidores demandam menor quantidade de bens ou serviços que antes. Isso é demonstrado pelo deslocamento para a esquerda da curva da demanda original de D1 para D3. O que fez a curva da demanda por algodão se deslocar? Já mencionamos duas razões: mudança na população e mudança na popularidade das roupas de brim. Pensando bem, podemos imaginar outras coisas que possivelmente deslocariam a curva da demanda do algodão. Por exemplo, suponha que o preço do poliéster aumente. Isso vai induzir as pessoas, que antes compravam roupas de poliéster, a comprar roupas de algodão, aumentando a demanda por algodão. Os economistas acreditam que existem cinco fatores principais que deslocam a curva da demanda por um bem ou serviço: Mudança nos preços de bens ou serviços relacionados. Mudança na renda. Mudança nos gostos. Mudança nas expectativas. Mudança no número de consumidores.

Embora essa não seja uma lista exaustiva, contém os cinco fatores mais importantes que podem deslocar as curvas da demanda. Assim, quando afirmamos que a quantidade de um bem ou serviço demandado cai quando o preço aumenta, tudo o mais mantido constante, estamos de fato afirmando que os fatores que deslocam a demanda permanecem inalterados. Vamos agora explorar com mais detalhes como esses fatores deslocam a curva da demanda. Mudanças nos preços de bens ou serviços relacionados

Embora não haja nada igual a uma confortável calça jeans, por alguma razão a calça de sarja – geralmente feita com mistura de poliéster – não é uma alternativa ruim. A calça de sarja é o que os economistas chamam de substituto do jeans. Um bem é substituto quando o aumento no preço de um bem (jeans) torna os consumidores mais dispostos a comprar o outro bem (calça de sarja). Substitutos são os bens que geralmente têm uma função semelhante: café e chá, bolos e rosquinhas, viagens de trem e aéreas. Um aumento no preço do bem alternativo induz alguns consumidores a comprar o bem original, deslocando a demanda do bem original para a direita. FIGURA 3-4

Deslocamentos da curva da demanda

Qualquer evento que aumente a demanda desloca a curva da demanda para a direita, refletindo um aumento na quantidade demandada a qualquer preço. Qualquer evento que diminua a demanda desloca a curva da demanda para a esquerda, refletindo uma queda na quantidade demandada

Mas, às vezes, um aumento no preço de um bem torna os consumidores menos dispostos a comprar outro bem. Esses bens são conhecidos como complementares. Geralmente são bens que em certo sentido são consumidos juntos: computadores e soware, cappuccinos e cookies, carros e gasolina. Como os consumidores procuram consumir um bem e seu complemento em conjunto, uma variação no preço de um dos bens irá afetar a demanda do seu complemento. Em particular, quando o preço de um bem aumenta, a demanda pelo seu complemento diminui, deslocando a curva da demanda do complemento para a esquerda. Assim, por exemplo, quando o preço da gasolina subiu entre 2007 e 2008, a demanda por carros beberrões de gasolina caiu. Variação na renda

Quando as pessoas têm mais dinheiro, normalmente são mais propensas a comprar um bem a qualquer preço. Por exemplo, se a renda familiar aumenta, é provável que a família faça aquela viagem de verão para a Disneylândia aguardada há muito tempo – e, consequentemente, também é mais provável que compre passagens aéreas. Então, um aumento na renda do consumidor fará as curvas da demanda se deslocarem para a direita para a maioria dos bens. Por que dizemos “a maioria dos bens” e não “todos os bens”? A maioria dos bens são bens normais – e a demanda por eles aumenta quando a renda do consumidor aumenta. No entanto, a demanda por alguns produtos cai quando a renda aumenta. Os bens para os quais a demanda cai quando a renda aumenta são conhecidos como bens inferiores. Normalmente, um bem inferior é aquele considerado menos desejável do que as alternativas mais caras, como tomar um ônibus em vez de um táxi. Quando as pessoas têm condições, param de comprar um bem inferior e mudam para a alternativa preferida mais cara. Assim, quando um bem é inferior, um aumento na renda desloca a curva da demanda para a esquerda. E não é surpresa que uma queda na renda desloque a curva da demanda para a direita. Um exemplo da distinção entre bens normal e inferior com muito destaque nos jornais de economia é a diferença entre os chamados restaurantes informais, como Applebee’s ou Olive Garden, e as cadeias de fast-food, como McDonald’s e KFC. Quando a renda dos americanos aumenta, eles tendem a sair mais para jantar em restaurantes informais em vez de frequentar as cadeias de fast-food – em certa medida, as pessoas vão menos ao McDonald’s quando podem dar-se ao luxo de ir jantar em um lugar melhor. Assim, os restaurantes informais são bens normais, ao passo que o fast-food parece ser um bem inferior. Mudança nos gostos

Por que as pessoas querem o que querem? Felizmente, não precisamos responder a essa pergunta – só precisamos reconhecer que as pessoas têm certas preferências ou gostos que determinam o que escolhem para consumir e que esses gostos podem mudar. Normalmente, os economistas agrupam as variações na demanda em decorrência de modismos, crenças,

mudanças culturais, e assim por diante, sob o título de evolução dos gostos ou preferências. Por exemplo, antigamente os homens usavam chapéus. Até por volta da Segunda Guerra Mundial, um homem respeitável não estaria bem vestido se não estivesse com um chapéu decente junto com o terno. Mas os soldados que voltaram da guerra adotaram um estilo mais informal, em virtude dos rigores da guerra. E o Presidente Eisenhower, que foi o comandante supremo das Forças Aliadas antes de se tornar presidente, muitas vezes andava sem chapéu. Após a Segunda Guerra Mundial, ficou claro que a curva da demanda por chapéus havia se deslocado para a esquerda, refletindo a diminuição da demanda por chapéus. Os economistas têm relativamente pouco a dizer sobre as forças que influenciam os gostos dos consumidores. (Embora os comerciantes e publicitários tenham muito a dizer sobre elas!) No entanto, uma alteração nos gostos tem um impacto previsível sobre a demanda. Quando os gostos mudam em favor de um bem, mais pessoas querem comprá-lo a qualquer preço, e assim a curva da demanda se desloca para a direita. Quando os gostos mudam contra um bem, poucas pessoas desejam comprá-lo a qualquer preço, por isso a curva da demanda se desloca para a esquerda. Mudanças nas expectativas

Quando os consumidores têm alguma escolha sobre quando realizar uma compra, a demanda corrente de um bem, muitas vezes, é afetada por expectativas sobre seu preço futuro. Por exemplo, os consumidores sabidos costumam esperar as liquidações – ou seja, compram os presentes de Natal do próximo ano durante as liquidações pós-natalinas do ano corrente. Nesse caso, as expectativas de queda de preço no futuro levam a uma diminuição na demanda atual. Por outro lado, expectativas de aumento de preços no futuro tendem a aumentar a demanda atual. Por exemplo, como os preços do algodão começaram a subir em 2010, muitos moinhos têxteis começaram a comprar mais algodão e armazenar em antecipação a mais aumentos de preços. As expectativas de variação na renda futura também podem levar a mudanças na demanda: se alguém espera que a renda aumente no futuro, normalmente pede emprestado hoje e aumenta a demanda por

determinados bens; e, se espera que caia no futuro, é provável que poupe e reduza a demanda por alguns bens. Variação no número de consumidores

Como vimos, uma das razões para a demanda crescente de algodão entre 2007 e 2010 foi o crescimento da população mundial. Em virtude do crescimento da população, a demanda total de algodão teria aumentado ainda que a demanda de cada consumidor individual de roupas de algodão tivesse ficado inalterada. Vamos introduzir um novo conceito: a curva da demanda individual, que mostra a relação entre a quantidade demandada e o preço para um consumidor individual. Por exemplo, suponha que Darla seja uma consumidora de jeans, suponha também que todos os jeans sejam iguais e, portanto, vendidos pelo mesmo preço. O painel (a) da Figura 3-5 mostra a quantidade de jeans que ela vai comprar por ano, a determinado preço. Então DDarla é a curva da demanda individual de Darla. A curva da demanda de mercado mostra como a quantidade demandada conjunta de todos os consumidores depende do preço de mercado desse bem. (Na maioria das vezes, quando os economistas referem-se à curva da demanda, referem-se à curva da demanda de mercado.) A curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individuais de todos os consumidores nesse mercado. Para saber o que significa soma horizontal, suponha por um momento que haja apenas dois consumidores de jeans, Darla e Dino. A curva da demanda individual de Dino, DDino, é mostrada no painel (b). O painel (c) mostra a curva da demanda de mercado. A qualquer preço, a quantidade demandada pelo mercado é a soma das quantidades demandadas por Darla e Dino. Por exemplo, a um preço de $30 por jeans, Darla compra três calças por ano e Dino, duas. Assim, a quantidade demandada pelo mercado é de cinco calças por ano. É óbvio que a quantidade demandada pelo mercado a qualquer preço é maior com a presença de Dino do que se Darla fosse a única consumidora. A quantidade demandada a qualquer preço seria ainda maior se fosse acrescentado um terceiro consumidor, em seguida, um quarto, e assim por

diante. Então, o aumento no número de consumidores conduz a um aumento na demanda. Para rever os fatores que deslocam a demanda, consulte a Tabela 3-1. FIGURA 3-5

Curvas da demanda individual e curva da demanda de mercado

Darla e Dino são os dois únicos consumidores de jeans no mercado. O painel (a) mostra a curva da demanda individual de Darla: a quantidade de calças jeans que irá comprar por ano a um determinado preço. O painel (b) mostra a curva da demanda individual de Dino. Dado que Darla e Dino são os dois únicos consumidores, o painel (c) mostra a curva da demanda de mercado, que fornece a quantidade de calças jeans demandada por todos os consumidores a qualquer preço. A curva de demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores. Nesse caso, a qualquer preço dado, a quantidade demandada pelo mercado é a soma das quantidades demandadas por Darla e Dino.

TABELA 3-1

Fatores que deslocam a demanda

economia em ação Enfrentando o trânsito

Todas as grandes cidades têm problemas de trânsito, e muitas autoridades locais tentam desencorajar o tráfego de veículos no centro congestionado da cidade. Se pensarmos que o percurso de automóvel até o centro da cidade é um bem que as pessoas consomem, podemos usar a análise econômica da demanda para examinar as políticas contra o trânsito. Uma estratégia comum é reduzir a demanda de viagens de automóvel, diminuindo o preço dos substitutos. Muitas áreas metropolitanas subsidiam serviços de ônibus e de transporte ferroviário, esperando levar as pessoas a deixar os carros em casa. Uma alternativa é aumentar o preço dos complementos: várias das principais cidades dos Estados Unidos impõem altos impostos sobre o estacionamento comercial em garagens e prazos curtos nos parquímetros, tanto para aumentar a receita como para desencorajar as pessoas de dirigir na cidade. Algumas grandes cidades – incluindo Cingapura, Londres, Oslo, Estocolmo e Milão – se dispuseram a adotar uma abordagem direta e controversa politicamente: reduzir o congestionamento, elevando o preço de dirigir. Sob “preço de congestionamento” (ou “taxa de congestionamento”, no Reino Unido), é imposta uma taxa sobre os veículos que entram no centro da cidade durante o horário comercial. Os motoristas compram passes, que são debitados eletronicamente à medida que dirigem por estações de monitoramento. O cumprimento é monitorado por câmeras automáticas que fotografam as placas. Atualmente, Moscou está pensando em um esquema de taxa de congestionamento para enfrentar os piores congestionamentos nas grandes cidades, com 40% dos motoristas relatando engarrafamentos superiores a três horas. O custo diário atual de dirigir em Londres vai de £9 a £12 (cerca de $13 a $19). E os motoristas que não pagam e são apanhados pagam uma multa de £120 (cerca de $192) para cada transgressão. Não é surpresa que os estudos demonstraram que após a aplicação do preço do congestionamento, o tráfego, de fato, diminuiu. Na década de 1990, Londres tinha um dos piores trânsitos da Europa. A introdução da taxa de congestionamento em 2003 reduziu imediatamente o tráfego no centro da cidade de Londres em aproximadamente 15%, com 21% de queda no tráfego total entre 2002 e 2006. E aumentou o uso de substitutos, como o transporte público, bicicletas, motos e carona.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Transportes dos EUA aplicaram programas piloto em cinco locais para estudar o pedágio urbano. Alguns especialistas em transporte sugeriram a utilização de preços de congestionamento variáveis, com o aumento dos preços durante os horários de pico. Assim, embora o pedágio urbano possa ser controverso, parece estar ganhando aceitação lentamente.

BREVE REVISÃO O modelo de oferta e demanda é um modelo de um mercado competitivo – aquele em que existem muitos compradores e vendedores de um mesmo bem ou serviço. A tabela da demanda mostra como a quantidade demandada muda quando o preço varia. A curva da demanda ilustra essa relação. A lei da demanda afirma que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada. Assim, as curvas da demanda normalmente tem inclinação para baixo. Um aumento na demanda leva a um deslocamento para a direita da curva da demanda: a quantidade demandada aumenta a qualquer preço dado. Uma diminuição na demanda leva a um deslocamento para a esquerda: a quantidade demandada cai para qualquer preço dado. Uma variação nos preços resulta em uma variação na quantidade demandada e em um movimento ao longo da curva da demanda. Os cinco principais fatores que podem deslocar a curva da demanda são variação (1) no preço de um bem relacionado, como bem substituto ou complementar, (2) na renda, (3) nos gostos, (4) nas expectativas e (5) no número de consumidores. A curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores do mercado.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 3-1 1.

Explique se cada um dos eventos seguintes representa (i) um deslocamento da curva da demanda ou (ii) um movimento ao longo da curva da demanda. a. O proprietário de uma loja descobre que os clientes estão dispostos a pagar mais por guarda-chuvas em dias de chuva.

b.

c. d.

Quando XYZ Telecom, uma prestadora de serviços de telefonia de longa distância, ofereceu tarifas reduzidas nos fins de semana, o volume de chamadas aumentou acentuadamente no final de semana. As pessoas compram mais rosas na semana do Dia dos Namorados, embora os preços estejam mais altos do que em qualquer outro tempo durante o ano. Um forte aumento do preço da gasolina leva muitas pessoas a formar grupos a que uma pessoa dá carona, para reduzir a compra de gasolina. As respostas estão no fim do livro.

A CURVA DA OFERTA Algumas partes do mundo são especialmente adequadas à cultura do algodão, e os Estados Unidos é uma dessas. Mas mesmo nos Estados Unidos, há terras mais adequadas ao cultivo do algodão que outras. A opção dos agricultores americanos de restringir o cultivo do algodão apenas aos locais ideais ou expandir às terras menos produtivas depende do preço que esperam obter pelo algodão. Além disso, existem muitas outras áreas no mundo onde o algodão pode ser cultivado – tal como Paquistão, Brasil, Turquia e China. A decisão dos agricultores de cultivar algodão nesses lugares depende, novamente, do preço. Portanto, assim como a quantidade de algodão que os consumidores desejam comprar depende do preço a ser pago, a quantidade que os produtores estão dispostos a produzir e a vender – a quantidade ofertada – depende do preço oferecido a eles. A tabela da oferta e a curva da oferta

A tabela da Figura 3-6 mostra como a quantidade de algodão disponibilizado varia com o preço – ou seja, mostra uma tabela da oferta hipotética do algodão. A tabela da oferta funciona da mesma forma que a tabela da demanda apresentada na Figura 3-1: nesse caso, mostra a quantidade de quilos que os

produtores de algodão estão dispostos a vender a preços diferentes. Ao preço de $0,50 o quilo, os agricultores desejam vender apenas 8 bilhões de quilos de algodão por ano. Por $0,75 o quilo, estão dispostos a vender 9,1 bilhões de quilos. A $1, desejam vender 10 bilhões de quilos, e assim por diante. Da mesma forma que uma tabela da demanda pode ser representada graficamente pela curva da demanda, uma tabela da oferta também pode ser representada por uma curva da oferta, como mostrado na Figura 3-6. Cada ponto da curva representa uma entrada da tabela. Suponha que o preço do algodão aumente de $1 para $1,25. Podemos ver que a quantidade de algodão que os agricultores estão dispostos a vender sobe de 10 bilhões para 10,7 bilhões de quilos. Essa é uma situação normal para uma curva da oferta, refletindo a proposição de que preços mais elevados conduzem a uma quantidade ofertada maior. Assim como as curvas da demanda normalmente são inclinadas para baixo, as curvas da oferta normalmente são inclinadas para cima: quanto maior o preço oferecido, os produtores estarão dispostos a vender mais de qualquer bem ou serviço. Deslocamentos da curva da oferta

Até recentemente, o algodão manteve-se relativamente barato ao longo das últimas décadas. Uma das razões é que a quantidade de terra cultivada do algodão expandiu mais de 35% de 1945 a 2007. No entanto, o principal fator responsável pelo barateamento do algodão foi o avanço na tecnologia de produção, com a produção por acre mais do que quadruplicada de 1945 a 2007. A Figura 3-7 ilustra esses eventos em termos de tabela e curva da oferta de algodão. FIGURA 3-6

A tabela da oferta e a curva da oferta

Os pontos da tabela de oferta de algodão foram representados para obter a curva da oferta, que mostra quanto de um bem os produtores estão dispostos a vender a qualquer preço. A curva da oferta e a tabela da oferta refletem o fato de que as curvas da oferta geralmente se inclinam para cima: a quantidade ofertada aumenta quando o preço sobe.

A tabela da Figura 3-7 mostra duas tabelas de oferta. A tabela de antes da melhoria de tecnologia da cultura do algodão é a mesma que na Figura 3-6. A segunda mostra a oferta de algodão após a adoção de melhor tecnologia. Assim como uma variação nas tabelas de demanda leva a um deslocamento da curva da demanda, uma variação nas tabelas de oferta leva a um deslocamento da curva de oferta – uma variação da quantidade ofertada a qualquer preço. Isso é mostrado na Figura 3-7 pelo deslocamento da curva da oferta antes da adoção da nova tecnologia de cultivo de algodão, S1, para a nova posição após a adoção da nova tecnologia de cultivo de algodão, S2. Observe que S2 situa-se à direita de S1, um reflexo do fato de que a quantidade ofertada aumenta a qualquer preço.

Da mesma forma que na análise da demanda, é fundamental fazer a distinção entre tais deslocamentos da curva da oferta e movimentos ao longo da curva da oferta – variação na quantidade ofertada proveniente de variação de preço. Podemos ver essa diferença na Figura 3-8. O movimento do ponto A ao ponto B é um movimento ao longo da curva da oferta: a quantidade ofertada sobe ao longo de S1 em virtude de um aumento no preço. Um aumento no preço de $1 para $1,50 leva a um aumento na quantidade ofertada de 10 bilhões para 11,2 bilhões de quilos de algodão. Mas a quantidade ofertada também pode aumentar quando o preço não é alterado, se houver um aumento na oferta – há um deslocamento da curva da oferta para a direita. Isso é mostrado pelo deslocamento para a direita da curva da oferta de S1 para S2. Mantendo o preço constante em $1, a quantidade ofertada sobe de 10 bilhões de quilos no ponto A em S1 para 12 bilhões de quilos no ponto C em S2. Entendendo os deslocamentos da curva da oferta

A Figura 3-9 ilustra as duas formas básicas de deslocamento da curva da oferta. Quando os economistas falam sobre um “aumento da oferta”, referem-se a um deslocamento para a direita da curva da oferta: a qualquer preço, os produtores ofertarão maior quantidade do bem que antes. Isso é mostrado na Figura 3-9 pelo deslocamento para a direita da curva da oferta original de S1 para S2. E quando os economistas falam sobre uma “diminuição na oferta”, referem-se a um deslocamento para a esquerda da curva da oferta: os produtores ofertarão uma menor quantidade do bem que antes, a qualquer preço. Isso é representado pelo deslocamento para a esquerda de S1 para S3. FIGURA 3-7

Um aumento na oferta

A adoção de melhor tecnologia para o cultivo do algodão gerou um aumento da oferta – um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço. Esse evento é representado pelas duas tabelas de oferta – uma mostra a oferta antes da adoção da nova tecnologia, a outra mostra a aferta após a adoção da nova tecnologia – e as curvas de oferta correspondentes. O aumento da oferta desloca a curva de oferta para a direita.

FIGURA 3-8

Movimento ao longo da curva da oferta versus deslocamento da curva da oferta

O aumento na quantidade ofertada quando se passa do ponto A ao ponto B reflete um movimento ao longo da curva da oferta: é o resultado de um aumento no preço do bem. O aumento na quantidade ofertada quando se passa do ponto A ao C reflete um deslocamento da curva da oferta: é o resultado de um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço dado.

Os economistas acreditam que os deslocamentos da curva da oferta de um bem ou serviço resultam principalmente de cinco fatores (apesar de, como no caso da demanda, existirem outras causas possíveis): Variação nos preços dos insumos Variação nos preços dos bens ou serviços relacionados Variação na tecnologia Variação nas expectativas Variação na quantidade de produtores Variação nos preços dos insumos

Para produzir um produto são necessários insumos. Por exemplo, para fazer sorvete de baunilha, é necessário favas de baunilha, creme, açúcar, e assim por diante. Um insumo é qualquer bem ou serviço utilizado para produzir outro bem ou serviço. Insumos, como produtos, possuem preços. E o aumento no preço de um insumo torna a produção do bem final mais cara para aqueles que produzem e vendem. Assim, os produtores estarão menos dispostos a fornecer o bem final a qualquer preço e a curva da oferta desloca

para a esquerda. Por exemplo, o combustível é um custo importante para as companhias aéreas. Quando o preço do petróleo subiu entre 2007 e 2008, as companhias aéreas começaram a cortar as programações de voo e algumas abandonaram o negócio. Da mesma forma, a queda no preço de um insumo faz a produção do bem final ficar menos onerosa para os vendedores. Eles se dispõem a fornecer o bem a qualquer preço e a curva da oferta se desloca para a direita. FIGURA 3-9

Deslocamentos da curva da oferta

Qualquer evento que aumente a oferta desloca a curva da oferta para a direita, refletindo um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço. Qualquer evento que diminua a oferta desloca a curva da oferta para a esquerda, refletindo uma queda na quantidade ofertada a qualquer preço.

Variação nos preços dos bens ou serviços relacionados

Um único produtor, muitas vezes, produz uma mistura de bens e não um único produto. Por exemplo, uma refinaria produz gasolina do petróleo bruto, mas também produz óleo combustível para aquecimento e outros produtos da mesma matéria-prima. Quando um produtor vende vários

produtos, a quantidade de qualquer dos produtos que se dispõe a fornecer a qualquer preço depende do preço de outros produtos produzidos em conjunto. Esse efeito pode ocorrer em qualquer direção. Uma refinaria produzirá menos gasolina a qualquer preço, quando o óleo combustível para aquecimento aumentar de preço, deslocando a curva da oferta da gasolina para a esquerda. Mas irá fornecer mais gasolina a qualquer preço, quando o preço do óleo combustível para aquecimento cair, deslocando a curva da oferta da gasolina para a direita. Isso significa que a gasolina e outros derivados do petróleo são substitutos na produção das refinarias. Por outro lado, em decorrência da natureza do processo produtivo, outros bens podem ser complementares na produção. Por exemplo, os produtores de petróleo – que perfuram poços – muitas vezes verificam que os poços de petróleo também produzem gás natural como subproduto da extração do óleo. Quanto maior o preço pelo qual uma empresa de petróleo possa vender o gás natural, mais poços irá explorar e mais petróleo irá vender a qualquer preço. Como resultado, o gás natural é um complemento na produção de petróleo. Variação na tecnologia

Quando os economistas falam sobre “tecnologia”, não significa necessariamente tecnologia de ponta – referem-se a todos os métodos que as pessoas podem usar para transformar insumos em bens e serviços úteis. Nesse sentido, toda a sequência complexa de atividades que transformam o algodão do Paquistão em uma calça jeans pendurada no armário é tecnologia. Melhorias em tecnologia permitem que os produtores de gás usem menos insumos para produzir o mesmo produto. Quando uma tecnologia melhor fica disponível, reduzindo o custo de produção, a oferta aumenta e a curva da oferta se desloca para a direita. Como já mencionamos, a melhoria na tecnologia permitiu que os agricultores mais que quadruplicassem a produção de algodão por hectare plantado ao longo das últimas décadas. A melhora na tecnologia foi a principal razão pela qual, até recentemente, o

algodão manteve-se relativamente barato, mesmo com o crescimento da demanda mundial. Variação nas expectativas

Assim como mudanças nas expectativas podem deslocar a curva da demanda, também podem deslocar a curva da oferta. Quando os produtores têm alguma opção sobre quando colocar à venda o produto, a variação no preço esperado do produto no futuro pode levá-los a fornecer mais ou menos do bem hoje. Por exemplo, considere o fato de que a gasolina e outros derivados do petróleo, muitas vezes, são armazenados por períodos significativos nas refinarias antes de serem vendidos ao consumidor. Na verdade, estoques, normalmente, fazem parte da estratégia de negócio dos produtores. Sabendo que a demanda de gasolina é mais alta no verão, as refinarias normalmente estocam parte da gasolina produzida durante a primavera para vender no verão. Do mesmo modo, sabendo que a demanda de óleo para aquecimento sobe no inverno, normalmente estocam parte da produção de óleo para aquecimento para vender no inverno. Em cada caso, há uma decisão a ser assumida entre vender o produto agora e guardá-lo para vender posteriormente. A escolha do produtor depende da comparação entre o preço atual e o preço esperado no futuro. Esse exemplo ilustra como a variação na expectativa pode alterar a oferta: a expectativa de aumento de preço de um bem ou serviço reduz a oferta atual, um deslocamento para a esquerda da curva da oferta. Mas a expectativa de queda no preço de um bem aumenta a oferta atual, um deslocamento para a direita da curva da oferta. Variação no número de produtores

Assim como a variação no número de consumidores afeta a curva da demanda, a variação no número de produtores também afeta a curva da oferta. Vamos analisar a curva da oferta individual, examinando o painel (a) na Figura 3-10. A curva da oferta individual mostra a relação entre quantidade ofertada e o preço de um produtor individual. Por exemplo, suponha que o Sr. Silva seja um agricultor brasileiro que produz aldodão e

que o painel (a) da Figura 3-10 mostre quantos quilos de algodão ele irá fornecer por ano a qualquer preço. Então SSilva é sua curva de oferta individual. A curva da oferta de mercado mostra como a quantidade total da oferta combinada de todos os produtores individuais no mercado depende do preço de mercado desse bem. Assim como a curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individuais de todos os consumidores, a curva de oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores. Suponha, por um momento, que haja apenas dois produtores de algodão, o Sr. Silva e o Sr. Liu, um agricultor chinês. A curva da oferta individual do Sr. Liu é mostrada no painel (b). O painel (c) mostra a curva da oferta de mercado. A quantidade ofertada para o mercado é a soma das quantidades fornecidas pelo Sr. Silva e pelo Sr. Liu a qualquer preço. Por exemplo, ao preço de $2 o quilo, o Sr. Silva oferta 3.000 quilos de algodão por ano e o Sr. Liu, 2.000 quilos por ano, perfazendo 5.000 quilos a quantidade ofertada para o mercado. FIGURA 3-10

A Curva da oferta individual e a curva da oferta de mercado

O painel (a) mostra a curva de oferta individual para o Sr. Silva, SSilva, a quantidade de algodão que irá vender a qualquer preço. O painel (b) mostra a curva da oferta individual do Sr. Liu, SLiu. O painel (c) mostra a curva da oferta de mercado com a quantidade de algodão ofertada por todos os produtores a um preço determinado. A curva da oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores.

É óbvio que a quantidade ofertada para o mercado a qualquer preço é maior com o Sr. Liu presente do que seria se o Sr. Silva fosse o único fornecedor. A quantidade ofertada a um determinado preço será ainda maior se adicionarmos um terceiro produtor, então, um quarto, e assim por diante. Assim, um aumento no número de produtores leva a um aumento na oferta e a um deslocamento da curva da oferta para a direita. Para uma análise dos fatores que deslocam a oferta, consulte a Tabela 3-2.

economia em ação Só animais pequenos e de luxo

Durante os anos 1970, a televisão britânica apresentava um show popular intitulado All Creatures Great and Small. Narrava o cotidiano real de James Herriot, um veterinário que trabalhava no campo e cuidava de vacas, porcos, ovelhas, cavalos e, ocasionalmente, também algum animal doméstico de estimação, muitas vezes em condições difíceis, na Inglaterra rural, durante os anos 1930. O show deixava claro que, naquele tempo, o veterinário local era um membro crítico nas comunidades agrícolas, salvando animais valiosos e ajudando os camponeses a sobreviver financeiramente. E também deixava claro que o Sr. Herriot considerava que o trabalho de toda a vida tinha valido a pena. Mas isso foi naquela época, agora é diferente. De acordo com um artigo recente do New York Times, os Estados Unidos passaram por uma redução severa no número de veterinários agrícolas ao longo das últimas duas décadas. A origem do problema é a concorrência. Como aumentou o número de famílias com animais de estimação e também a renda dos seus donos, a demanda por médicos veterinários aumentou acentuadamente. Como resultado, os veterinários foram afastando-se do negócio de cuidar de animais de fazenda para o negócio mais lucrativo de cuidar de animais de estimação. Como uma veterinária contou, ela iniciou a carreira cuidando de animais de fazenda, mas depois mudou de opinião: “Uma cesariana em uma vaca custa $50 e em uma chihuahua, $300. É o dinheiro. Odeio dizer, mas é isso.”

Como podemos traduzir isso em curvas da oferta e demanda? Serviços veterinários para fazendas e serviços veterinários para animais de estimação são como gasolina e óleo combustível: são bens relacionados que são substitutos na produção. Um veterinário normalmente se especializa em um ou outro tipo de prática, e, muitas vezes, essa decisão vai depender do preço corrente do serviço. O crescimento da população de animais de estimação nos Estados Unidos, combinado com a crescente disposição dos donos amorosos de gastar no cuidado com seus companheiros tem impulsionado o preço dos serviços veterinários para animais. Como resultado, cada vez menos veterinários exercem a profissão atendendo a animais em fazendas. Assim, a curva de oferta de veterinários nas fazendas se deslocou para a esquerda – menos veterinários nas fazendas estão oferecendo seus serviços a qualquer preço. TABELA 3-2

Fatores que deslocam a oferta

No final, os agricultores entenderam que essa era uma questão financeira; havia menos veterinários, porque não estavam dispostos a pagar mais. Como disse um fazendeiro, que recentemente perdeu uma vaca valiosa em virtude da falta de um veterinário: “Quando não há nada que se possa fazer, o remédio é aceitar como um gasto do negócio. Você acostuma. Se tem animais vivos, mais cedo ou mais tarde terá animais mortos.” (Embora se deva notar que essse fazendeiro poderia ter optado em pagar mais por um veterinário, que então teria salvado a sua vaca.)

BREVE REVISÃO A tabela de oferta mostra como a quantidade ofertada depende do preço. A curva da oferta ilustra essa relação. Curvas de oferta normalmente têm inclinação para cima: a um preço mais elevado, os produtores estão dispostos a oferecer maior quantidade de um bem ou serviço. A variação no preço resulta em um movimento ao longo da curva da oferta e uma mudança na quantidade ofertada. Aumentos ou reduções na oferta levam ao deslocamento da curva da oferta. Um aumento na oferta é um deslocamento para a direita: a quantidade ofertada aumenta a qualquer preço dado. Uma redução na oferta é um deslocamento para a esquerda: a quantidade ofertada cai a qualquer preço. Os cinco principais fatores que podem deslocar a curva da oferta são variações: (1) no preço dos insumos, (2) no preço dos bens e serviços relacionados, (3) na tecnologia (4), nas expectativas e (5) no número de produtores. A curva da oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individual de todos os produtores do mercado.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 3-2 1.

Explique se cada um dos eventos seguintes representa (i) um deslocamento da curva da oferta ou (ii) um movimento ao longo da curva da oferta. a. Mais proprietários colocaram casas à venda durante um boom imobiliário que aumentou o preço das casas. b. Muitos produtores de morangos abrem estandes temporários na estrada durante a época de colheita, apesar de os preços geralmente estarem baixos nesse período. c. Imediatamente após o início do ano escolar, as cadeias de lanchonetes precisam aumentar os salários, que representa o preço do trabalho, para atrair empregados. d. Muitos trabalhadores da construção civil se mudam temporariamente para áreas atingidas por furacões, atraídos por salários mais altos. e. Desde que novas tecnologias tornaram possível a construção de grandes navios de cruzeiro (cuja manutenção por passageiro é menor), as linhas de cruzeiros do Caribe oferecem mais cabines do que antes a preços mais baixos. As respostas estão no fim do livro.

ARMADILHAS COMPRADO E VENDIDO? Falamos sobre o preço pelo qual um bem ou serviço é comprado e também vendido, tal como se os dois fossem a mesma coisa. Mas não devemos fazer uma distinção entre o preço recebido pelo vendedor e o pago pelos compradores? Em princípio, sim; mas é conveniente sacrificar um pouco de realismo em prol do interesse da simplicidade – deixando de lado a diferença entre o preço recebido pelos vendedores e o pago pelos compradores. Na realidade, muitas vezes, há um intermediário – alguém que faz compradores e vendedores se encontrarem. O intermediário compra dos fornecedores, em seguida vende aos consumidores com um adicional de preço – por exemplo, os comerciantes de algodão que compram dos produtores de algodão e vendem para as fábricas têxteis – que transformam o algodão em roupas para nós. Os agricultores geralmente recebem menos do que as fábricas têxteis, que, eventualmente, compram os fardos de algodão. Não há mistério: a diferença é como os comerciantes de algodão ou qualquer outro intermediário ganham a vida. Contudo, em muitos mercados, a diferença entre o preço de compra e de venda é muito pequena. Portanto, não é tão irreal pensar no preço pago pelos compradores como sendo o mesmo que o recebido pelos vendedores. E é isso que vamos assumir neste capítulo.

OFERTA, DEMANDA E EQUILÍBRIO Abordamos os três elementos essenciais do modelo de oferta e demanda: a curva da demanda, a curva da oferta e o conjunto de fatores que deslocam cada curva. O próximo passo será reunir esses elementos para mostrar que podem ser usados para prever o preço efetivo de compra e venda de um bem, assim como a quantidade real transacionada. O que determina o preço pelo qual um bem ou serviço é comprado e vendido? O que determina a quantidade transacionada de um bem ou serviço? No Capítulo 1, aprendemos o princípio geral de que os mercados se movem em direção ao equilíbrio, uma situação em que nenhum indivíduo ficaria em situação melhor caso decidisse por uma ação diferente. No caso de um mercado competitivo, temos que ser mais específicos: um mercado competitivo está em equilíbrio quando o preço passou para um nível em que a quantidade demandada de um bem é igual à quantidade ofertada desse bem. A esse preço, nenhum vendedor individual poderia melhorar a

situação oferecendo vender uma quantidade maior ou menor do bem e nenhum comprador individual poderia melhorar sua situação propondo comprar uma quantidade maior ou menor do bem. Em outras palavras, no equilíbrio de mercado, o preço moveu para um nível que corresponde exatamente à quantidade demandada pelos consumidores com a quantidade ofertada pelos vendedores. O preço que corresponde à quantidade ofertada e à quantidade demandada é o preço de equilíbrio; a quantidade comprada e vendida a esse preço é a quantidade de equilíbrio. O preço de equilíbrio é conhecido também como preço que “ajusta o mercado”, garantindo que cada comprador disposto a pagar esse preço encontre um vendedor disposto a vender a esse preço, e vice-versa. Então, como encontramos o preço e a quantidade de equilíbrio? Encontrando o preço e a quantidade de equilíbrio

A maneira mais fácil de determinar o preço e a quantidade de equilíbrio em um mercado é colocar a curva da oferta e a curva da demanda no mesmo diagrama. Como a curva da oferta mostra a quantidade ofertada a qualquer preço e a curva da demanda mostra a quantidade demandada a qualquer preço, o preço em que as duas curvas se cruzam é o preço de equilíbrio: o preço ao qual a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. A Figura 3-11 combina a curva da demanda da Figura 3-1 e a curva da oferta da Figura 3-6. Elas se cruzam no ponto E, que é o equilíbrio desse mercado; $1 é o preço de equilíbrio e 10 bilhões de quilos é a quantidade de equilíbrio. Queremos confirmar que o ponto E se ajusta à definição de equilíbrio. Ao preço de $1 o quilo, os produtores de algodão estão dispostos a vender 10 bilhões de quilos por ano e os consumidores de algodão querem comprar 10 bilhões de quilos por ano. Então, ao preço de $1 o quilo, a quantidade ofertada de algodão é igual à quantidade demandada. Observe que a qualquer outro preço o mercado não se ajustaria: nem todo o comprador seria capaz de encontrar um vendedor disposto, ou vice-versa. Mais especificamente, se o preço fosse mais de $1, a quantidade ofertada

excederia a quantidade demandada; se o preço fosse inferior a $1, a quantidade demandada excederia a quantidade ofertada. O modelo de oferta e demanda, portanto, prevê que dadas as curvas de demanda e oferta mostradas na Figura 3-11, 10 bilhões de quilos de algodão iriam mudar de mãos a um preço de $1 o quilo. Mas como poderemos ter certeza de que o mercado chegará ao preço de equilíbrio? Começamos por responder a três perguntas simples: 1. Por que todas as vendas e compras em um mercado ocorrerem ao mesmo preço? 2. Por que o preço de mercado cai se estiver acima do preço de equilíbrio? 3. Por que o preço de mercado sobe se estiver abaixo do preço de equilíbrio? Por que todas as vendas e compras em um mercado ocorrem ao mesmo preço?

Existem alguns mercados onde o mesmo bem pode ser vendido a vários preços, dependendo de quem está vendendo ou de quem está comprando. Por exemplo, você nunca comprou uma lembrança em uma “loja para turistas” e, depois, viu o mesmo item à venda em outro lugar (às vezes até mesmo na loja ao lado) por um preço mais baixo? Como os turistas não sabem quais as lojas que oferecem as melhores ofertas e não têm tempo para comparações, os vendedores em áreas turísticas podem cobrar preços diferentes pelo mesmo bem. Mas em qualquer mercado em que tanto compradores como vendedores estiverem presentes por algum tempo, as vendas e as compras tendem a convergir para um preço geralmente uniforme, de modo que podemos falar com segurança sobre o preço de mercado. É fácil perceber o motivo. Suponha que um vendedor ofereceu a um comprador potencial um preço visivelmente acima do que o comprador sabia que outras pessoas estavam pagando. É claro que o comprador ficaria em situação melhor se fosse comprar em outro lugar – a menos que o vendedor estivesse disposto a oferecer um negócio melhor. Por outro lado, um vendedor não estaria disposto a vender um bem por menos do que o montante que sabia que a maioria dos compradores estava pagando; ele estaria em melhor situação se

esperasse por um cliente razoável. Então, em qualquer mercado bem estabelecido, todos os vendedores e todos os compradores pagam aproximadamente o mesmo preço. Isso é o que chamamos de preço de mercado. FIGURA 3-11

Equilíbrio de mercado

O equilíbrio de mercado ocorre no ponto E, onde a curva da oferta e a curva da demanda se cruzam. Em equilíbrio, a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Nesse mercado, o preço de equilíbrio é $1 o quilo e a quantidade de equilíbrio é 10 bilhões de quilos por ano.

Por que o preço de mercado cai se está acima do preço de equilíbrio?

Suponha que as curvas da oferta e demanda sejam as da Figura 3-11, mas que o preço de mercado esteja acima do nível de equilíbrio de $1 – digamos, $1,50. Essa situação está ilustrada na Figura 3-12. Por que o preço não pode ficar nesse patamar?

Como mostra a figura, ao preço de $1,50 haveria mais quilos de algodão disponíveis do que os consumidores desejariam comprar: 11,2 bilhões de quilos contra 8,1 bilhões de quilos. A diferença de 3,1 bilhões de quilos é o excedente – também conhecido como excedente de oferta – de algodão a $1,50. Esse excedente significa que alguns produtores de algodão estão frustrados: ao preço atual, não conseguem encontrar consumidores que desejem comprar seu algodão. O excedente oferece um incentivo aos vendedores supostamente frustrados a oferecer a um preço mais baixo a fim de atrair negócios de outros vendedores e incentivar mais consumidores a comprar. O resultado desse corte no preço será o de empurrar o preço prevalecente para baixo até que alcance o preço de equilíbrio. Portanto, o preço de um bem cairá sempre que houver excedente – ou seja, sempre que o preço de mercado estiver acima do nível de equilíbrio. Por que o preço de mercado aumenta se está abaixo do preço de equilíbrio?

Agora, suponha que o preço esteja abaixo do nível de equilíbrio – digamos, a $0,75 o quilo, como mostrado na Figura 3-13. Nesse caso, a quantidade demandada de 11,5 bilhões de quilos ultrapassa a quantidade ofertada de 9,1 bilhões de quilos, o que implica que há compradores que não conseguem encontrar algodão: há escassez, também conhecida como demanda em excesso, de 2,4 bilhões de quilos. Se há escassez, há compradores potenciais frustrados que querem comprar algodão, mas não conseguem encontrar vendedores dispostos a vender ao preço atual. Nessa situação, ou os compradores vão oferecer mais do que o preço prevalecente ou os vendedores irão perceber que podem cobrar preços mais elevados. De qualquer maneira, o resultado é elevar o preço vigente. Esse tipo de leilão de preços acontece sempre que há escassez – e haverá escassez sempre que o preço estiver abaixo do nível de equilíbrio. Assim, o preço de mercado sempre irá subir se estiver abaixo do nível de equilíbrio. O uso do equilíbrio para descrever os mercados

Vimos agora que o mercado tende a ter um preço único, o preço de equilíbrio. Se o preço de mercado estiver acima do nível de equilíbrio, o excedente que se segue fará compradores e vendedores tomarem medidas que reduzam o preço. E se o preço de mercado estiver abaixo do nível de equilíbrio, a escassez resultante fará compradores e vendedores tomarem medidas que aumentem o preço. Assim, o preço de mercado sempre se move em direção ao preço de equilíbrio, o preço pelo qual não há excedente nem escassez. FIGURA 3-12

Preço acima do nível de equilíbrio cria excedente

O preço de mercado de $1,50 está acima do preço de equilíbrio de $1. Isso cria um excedente: a um preço de $1,50, os produtores desejariam vender 11,2 bilhões de quilos, mas os consumidores estão dispostos a comprar apenas 8,1 bilhões de quilos, de modo que há um excedente de 3,1 bilhões de quilos. Esse excedente irá empurrar o preço para baixo até que atinja o preço de equilíbrio de $1.

FIGURA 3-13

Preço abaixo do nível de equilíbrio cria escassez

O preço de mercado de $0,75 está abaixo do preço de equilíbrio de $1. Isso cria escassez: os consumidores querem comprar 11,5 bilhões de quilos, mas apenas 9,1 bilhões de quilos está à venda, assim há uma escassez de 2,4 bilhões de quilos. Essa escassez irá empurrar o preço para cima até que atinja o preço de equilíbrio de $1.

economia em ação O Preço do ingresso

O equilíbrio de mercado, conforme a teoria, é bastante igualitário, pois o preço de equilíbrio se aplica a todos. Ou seja, todos os compradores pagam o mesmo preço – o preço de equilíbrio – e todos os vendedores recebem esse mesmo preço. Mas isso é realista? O mercado de ingressos para concertos é um exemplo que parece contradizer a teoria – há um preço de bilheteria e outro (normalmente muito mais elevado) para o mesmo evento em sites, onde as pessoas que já têm ingressos os revendem, como StubHub.com ou eBay. Por exemplo, compare o preço de bilheteria de um concerto recente de Drake em Miami,

Flórida, com o preço na StubHub.com para assentos no mesmo local: $88,50 contra $155. Ainda que possa parecer intrigante, não há contradição, se levarmos em conta os custos de oportunidade e gostos. Para megaeventos, a compra de ingressos na bilheteria significa espera em longas filas. Os compradores de ingressos que usam revendedores da Internet decidiram que o custo de oportunidade do seu tempo é muito alto para ser gasto em filas de espera. E nos grandes eventos em que há tanto vendas on-line como em bilheteria pelo mesmo preço, as primeiras acabam em minutos. Nesse caso, algumas pessoas que querem ir ao concerto, mas perderam a oportunidade de comprar on-line a preços mais baratos, estão dispostas a pagar um preço mais elevado aos revendedores da Internet. E não é só isso – ao passar pelo site StubHub.com, pode-se comprovar que o mercado realmente se move para o equilíbrio. Você irá notar que os preços cobrados pelos diferentes vendedores para assentos próximos uns dos outros também são muito próximos: $184,99 e $185 para assentos na plateia central do concerto de Drake. Como o modelo de mercado competitivo prevê, unidades do mesmo bem acabam por ser vendidas pelo mesmo preço. E os preços se movem em resposta à demanda e à oferta. De acordo com um artigo no New York Times, ingressos no StubHub.com podem ser vendidos por menos do que o valor nominal para eventos de pouca repercussão, mas os preços podem chegar à altura para eventos de alta popularidade. (O artigo cita um preço de $3.530 para um concerto da Madonna.) Até o executivo principal do StubHub.com diz que seu site é “a personificação da economia da oferta e demanda”. Assim, a teoria dos mercados competitivos não é apenas especulação. Se quiser experimentar, tente comprar bilhetes para um concerto.

BREVE REVISÃO O preço em um mercado competitivo move-se para o preço de equilíbrio, ou preço que ajusta o mercado, em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. Essa representa a quantidade de equilíbrio. Todas as compras e vendas em um mercado ocorrem ao mesmo preço. Se estiver acima do nível de equilíbrio, há um excedente que impulsiona o

preço para baixo. Se estiver abaixo do nível de equilíbrio, há escassez que impulsiona o preço para cima.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 3-3 1.

Nos três casos seguintes, o mercado inicialmente está em equilíbrio. Explique as mudanças na oferta e demanda que resultam de cada evento. Após cada evento descrito a seguir, haverá excedente ou escassez ao preço de equilíbrio original? Como resultado, o que acontecerá com o preço de equilíbrio? a. 2009 foi um ano muito bom para os produtores de vinho da Califórnia, que tiveram uma colheita recorde. b. Depois de um furacão, os hotéis da Flórida verificam que muitas pessoas cancelam as férias, deixando-os com quartos vazios. c. Depois de uma forte nevasca, muitas pessoas querem comprar removedor de neve de segunda mão na loja de ferragens local. As respostas estão no fim do livro.

VARIAÇÕES NA OFERTA E DEMANDA Em 2010, a inundação no Paquistão foi uma surpresa, diferentemente do consequente aumento no preço do algodão. Repentinamente, houve uma queda na oferta: a quantidade de algodão disponível a qualquer preço caiu. Como previsto, uma queda na oferta elevou o preço de equilíbrio. A inundação no Paquistão é um exemplo de evento que deslocou a curva da oferta de um bem sem ter muito efeito sobre a curva da demanda. Há muitos desses eventos. Também existem eventos que deslocam a curva da demanda sem deslocar a curva da oferta. Por exemplo, um relatório médico que informe que o chocolate faz bem à saúde aumenta a demanda por chocolate, mas não afeta a oferta. Ou seja, muitas vezes há eventos que deslocam a curva da oferta ou da demanda, mas não as duas. Por isso convém analisar o que acontece em cada caso. Vimos que quando a curva se desloca, o preço e a quantidade de equilíbrio mudam. Vamos agora nos concentrar na análise de como o deslocamento de uma curva altera o preço e a quantidade de equilíbrio.

O que acontece quando a curva da demanda se desloca

Algodão e poliéster são substitutos: se o preço do poliéster sobe, a demanda por algodão aumenta e se o preço do poliéster cai, a demanda por algodão diminui. Mas como o preço do poliéster afeta o equilíbrio do mercado do algodão? A Figura 3-14 mostra o efeito de um aumento no preço do poliéster no mercado de algodão. O aumento de preço do poliéster aumenta a demanda por algodão. O ponto E1 mostra o equilíbrio que corresponde à curva da demanda original, com P1 o preço de equilíbrio e Q1 a quantidade de equilíbrio comprada e vendida. Um aumento na demanda é indicado por um deslocamento da curva da demanda para a direita de D1 para D2. Ao preço original P1, esse mercado não está mais em equilíbrio: ocorre escassez porque a quantidade demandada excede a ofertada. Então, o preço do algodão aumenta e gera um aumento na quantidade ofertada, um movimento ascendente ao longo da curva da oferta. Um novo equilíbrio é estabelecido no ponto E2, com um preço de equilíbrio mais elevado, P2, e uma quantidade de equilíbrio mais elevada, Q2. Essa sequência de eventos reflete um princípio geral: quando a demanda por um bem ou serviço aumenta, o preço e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço também aumentam. FIGURA 3-14

Equilíbrio e deslocamentos da curva da demanda

O equilíbrio original no mercado de algodão está em E1, na interseção da curva da oferta com a curva da demanda original, D1. Um aumento no preço do poliéster, um substituto, desloca a curva da demanda para a direita para D2. A escassez existe ao preço original, P1, fazendo tanto o preço como a quantidade ofertada aumentarem, um movimento ao longo da curva da oferta. Um novo equilíbrio é atingido em E2, com um maior preço de equilíbrio, P2, e uma maior quantidade de equilíbrio, Q2. Quando a demanda de um bem ou serviço aumenta, o preço e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço aumentam.

E o que aconteceria no caso inverso, uma queda no preço do poliéster? Uma queda no preço do poliéster reduz a demanda de algodão, deslocando a curva da demanda para a esquerda. Ao preço original, ocorre um excedente, pois a quantidade ofertada excede a demandada. O preço cai e leva a uma redução da quantidade ofertada, resultando em um preço e uma quantidade de equilíbrio mais baixos. Isso ilustra outro princípio geral: quando a demanda de um bem ou serviço cai, o preço e a quantidade de equilíbrio caem.

Para resumir como um mercado responde a uma variação na demanda: um aumento na demanda leva a um aumento tanto no preço como na quantidade de equilíbrio. A redução na demanda leva a uma queda, tanto no preço como na quantidade de equilíbrio. O que acontece quando a curva da oferta se desloca

No mundo real, é um pouco mais fácil prever mudanças na oferta do que na demanda. Os fatores físicos que afetam a oferta, como o clima ou a disponibilidade de insumos, são mais fáceis de captar do que os gostos inconstantes que afetam a demanda. Ainda assim, tanto na oferta como na demanda, o que melhor se pode prever são os efeitos dos deslocamentos da curva da oferta. Como mencionamos na história introdutória deste capítulo, as inundações devastadoras no Paquistão reduziram drasticamente a oferta de algodão em 2010. A Figura 3-15 mostra como esse deslocamento afetou o equilíbrio de mercado. O equilíbrio original está em E1, o ponto de interseção entre a curva de oferta original, S1, e a curva de demanda com o preço de equilíbrio P1 e a quantidade de equilíbrio Q1. Como resultado do mau tempo, a oferta cai, e S1 se desloca para a esquerda para S2. Ao preço original P1, existe uma escassez de algodão e o mercado já não está em equilíbrio. A escassez provoca um aumento no preço e uma queda na quantidade demandada, um movimento ascendente ao longo da curva da demanda. O novo ponto de equilíbrio está em E2, com um preço de equilíbrio P2 e uma quantidade de equilíbrio Q2. No novo equilíbrio, E2, o preço é maior e a quantidade de equilíbrio é menor do que antes. Pode-se definir como um princípio geral: quando a oferta de um bem ou serviço diminui, o preço de equilíbrio do bem ou serviço sobe, e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço cai. O que acontece com o mercado quando a oferta aumenta? Um aumento na oferta leva a um deslocamento da curva da oferta para a direita. Ao preço original, agora há um excedente. Como resultado, o preço de equilíbrio cai e a quantidade demandada aumenta. Isso descreve o que aconteceu no mercado do algodão à medida que a nova tecnologia aumentou a

produtividade do algodão. Podemos formular um princípio geral: quando a oferta de um bem ou serviço aumenta, o preço de equilíbrio cai e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço aumenta. Para resumir como o mercado responde a uma mudança na oferta: um aumento na oferta leva a uma queda no preço de equilíbrio e a um aumento na quantidade de equilíbrio. Uma redução na oferta leva a um aumento no preço de equilíbrio e a uma queda na quantidade de equilíbrio. FIGURA 3-15

Equilíbrio e deslocamentos da curva da oferta

O equilíbrio original no mercado de algodão está em E1. O mau tempo nas áreas de cultivo de algodão provoca uma queda na oferta de algodão e desloca a curva da oferta para a esquerda, de S1 para S2. Um novo equilíbrio é estabelecido em E2, com um preço de equilíbrio maior, P2, e uma quantidade de equilíbrio menor, Q2.

ARMADILHAS QUE CURVA É ESSA, AFINAL?

Quando o preço de um bem ou serviço varia, em geral, podemos dizer que isso reflete uma variação na oferta ou demanda. Mas é fácil ficar confuso sobre qual será. Uma dica útil é a direção da variação na quantidade. Se a quantidade vendida muda na mesma direção que o preço – por exemplo, se tanto o preço como a quantidade sobem – isso sugere que a curva da demanda se deslocou. Se o preço e a quantidade se movem em direção oposta, é provável que seja um deslocamento da curva da oferta.

Deslocamentos simultâneos das curvas da oferta e da demanda

Finalmente, às vezes acontece de os eventos deslocarem tanto a curva da demanda como da oferta ao mesmo tempo. Isso não é incomum. Na vida real, as curvas da oferta e da demanda de muitos bens e serviços normalmente se deslocam com frequência, pois o ambiente econômico muda continuamente. A Figura 3-16 ilustra dois exemplos de deslocamentos simultâneos. Nos dois painéis, há um aumento da demanda – ou seja, um deslocamento para a direita da curva da demanda, de D1 para D2 – digamos, por exemplo, que represente um aumento na demanda de algodão, em decorrência da mudança nos gostos. Observe que o deslocamento para a direita no painel (a) é maior do que o do painel (b): pode-se supor que o painel (a) represente um ano em que mais pessoas do que de hábito escolheram comprar jeans e camisetas de algodão, e o painel (b) represente um ano normal. Os dois painéis também mostram uma diminuição na oferta – isto é, um deslocamento para a esquerda da curva da oferta de S1 para S2. Além disso, observe também que o deslocamento para a esquerda no painel (b) é relativamente maior do que o do painel (a): pode-se supor que o painel (b) represente o efeito do mau tempo no Paquistão em particular, e o painel (a) represente o efeito da ocorrência de um evento climático muito menos severo. Nos dois casos, o preço de equilíbrio sobe de P1 para P2, à medida que o equilíbrio move-se de E1 para E2. Mas o que acontece com a quantidade de equilíbrio, a quantidade de algodão comprada e vendida? No painel (a), o aumento na demanda é grande em relação à redução na oferta e, como resultado, a quantidade de equilíbrio sobe. No painel (b), a redução na oferta é grande em relação ao aumento na demanda e, como resultado, a quantidade de equilíbrio cai. Ou seja, quando a demanda aumenta e a oferta

cai, a quantidade comprada e vendida de fato pode baixar ou subir, dependendo do quanto se deslocaram as curvas da oferta e da demanda. Em geral, quando a demanda e a oferta se deslocam em sentidos opostos, não se pode prever qual o resultado final sobre a quantidade comprada e vendida. O que podemos dizer é que a curva que se desloca de forma desproporcional em relação à outra terá um efeito desproporcionalmente maior sobre a quantidade comprada e vendida. Dito isso, podemos fazer a seguinte previsão sobre o resultado quando as curvas de oferta e demanda se deslocam em direções opostas: FIGURA 3-16

Deslocamentos simultâneos das curvas da demanda e oferta

No painel (a), há um deslocamento simultâneo da curva da demanda para a direita e da curva da oferta para a esquerda. Aqui, o aumento na demanda é relativamente maior do que a queda na oferta, de modo que tanto o preço de equilíbrio como a quantidade de equilíbrio sobe. No painel (b), há também um deslocamento simultâneo da curva da demanda para a direita e da curva da oferta para a esquerda. Aqui, a queda na oferta é relativamente maior do que o aumento na demanda, de modo que o preço de equilíbrio sobe e a quantidade de equilíbrio cai.

PARA MENTES CURIOSAS

AGRURAS NA PASSARELA Provavelmente você não se preocupa muito com os desfiles e as agruras das modelos na indústria da moda. Na verdade, a maioria delas não leva uma vida de glamour; com exceção do caso de poucas de muita sorte, hoje, a vida de modelo de moda pode ser muito difícil e pouco lucrativa. E tudo por causa da oferta e da demanda. Considere o caso de Bianca Gomez, uma menina esbelta de 18 anos de idade, de Los Angeles, olhos verdes, cabelos cor de mel, pele impecável, cuja experiência foi detalhada em um artigo do Wall Street Journal. Bianca começou a trabalhar como modelo ainda no último ano do ensino médio, ganhando cerca de $30.000. Tendo atraído a atenção de alguns bons estilistas de Nova York, ela se mudou para lá após a formatura, com a esperança de conseguir emprego nas principais casas de moda e oportunidade de fotos para as principais revistas de moda. Mas, uma vez em Nova York, Bianca entrou no mercado global das modelos. E não foi nada agradável. Em virtude da facilidade de transmissão de fotos pela Internet e ao custo relativamente baixo das viagens internacionais, os principais centros de moda, como Nova York e Milão, na Itália, hoje em dia estão inundados de belas jovens vindas de todo o mundo, ansiosas em vencer como modelo. Embora as da Rússia, da Europa do Leste e do Brasil sejam particularmente numerosas, há algumas que vêm de lugares como Cazaquistão e Moçambique. Como disse um estilista: “Há tantas modelos agora…. São milhares, todos os anos.” Voltando ao nosso (menos glamoroso) modelo econômico de oferta e demanda, o afluxo das aspirantes a modelo de moda, vindas de todo o mundo, pode ser representado por um deslocamento para a direita da curva da oferta no mercado de modelos de moda, o que, por si só, tende a baixar o preço pago às modelos. E essa não é a única variação no mercado. Infelizmente, para Bianca e outras como ela, os gostos de muitos dos que contratam modelos também mudaram. Nos últimos anos, as revistas de moda começaram a dar preferência a mostrar celebridades como Angelina Jolie em suas páginas em vez de modelos anônimas, acreditando que os leitores se liguem melhor em um rosto familiar. Isso equivale a um

deslocamento para a esquerda da curva da demanda para modelos, o que de novo reduziu o preço de equilíbrio pago a elas. Isto foi comprovado com a experiência de Bianca. Depois de pagar o aluguel, transporte, todas as despesas para ser modelo e 20% de seus rendimentos para a agência de modelos (que faz a sua publicidade para clientes potenciais e agenda seu trabalho), Bianca descobriu que mal sobrava alguma coisa. Às vezes, teve até que avançar na poupança do tempo de escola. Para economizar dinheiro, comia macarrão e cachorroquente. Ia aos testes, muitas vezes, quatro ou cinco por dia, de metrô. Como relatou o Wall Street Journal, Bianca estava pensando seriamente em abandonar a carreira de modelo por completo. Quando a demanda aumenta e a oferta diminui, o preço de equilíbrio aumenta, mas a variação na quantidade de equilíbrio é ambígua. Quando a demanda diminui e a oferta aumenta, o preço de equilíbrio cai, mas a variação na quantidade de equilíbrio é ambígua. Mas suponha que as curvas da oferta e demanda se desloquem na mesma direção. Antes de 2010, foi esse o caso no mercado global de algodão, onde tanto a oferta como a demanda aumentaram ao longo da última década. Podemos prever seguramente variações de preço e de quantidade? Nessa situação, a variação na quantidade comprada e vendida pode ser prevista, mas a variação no preço é ambígua. Os dois resultados possíveis, quando as curvas da oferta e demanda se deslocam no mesmo sentido (que você deve verificar por si mesmo) são os seguintes: Quando tanto a demanda como a oferta aumentam, a quantidade de equilíbrio aumenta, mas a variação no preço de equilíbrio é ambígua. Quando tanto a demanda como a oferta diminuem, a quantidade de equilíbrio cai, mas a variação no preço de equilíbrio é ambígua.

economia em ação O aumento no preço do arroz em 2008

Em abril de 2008, o preço do arroz exportado da Tailândia – uma referência mundial do preço do arroz comercializado nos mercados internacionais – passou de $360 por tonelada, no início de 2008, para $950 por tonelada. Em poucas horas, o preço do arroz nas principais bolsas de comércio de arroz ao redor do mundo estava quebrando recordes. Os fatores por trás do aumento no preço do arroz eram tanto relacionados com a demanda como com a oferta: a renda crescente na China e na Índia, tradicionalmente grandes consumidores de arroz, a seca na Austrália e a infestação de pragas no Vietnã. Mas foi o armazenamento pelos agricultores, a compra decorrente do pânico dos consumidores e a proibição de exportação pela Índia, um dos maiores exportadores de arroz, que explicou a expansão sem precedentes do aumento de preço. Em grande parte da Ásia os governos são os maiores compradores de arroz. Compram arroz dos produtores, que são pagos pelo preço fixado pelo governo, e, em seguida, vendem para os pobres a preços subsidiados (preços mais baixos do que o preço de equilíbrio de mercado). No passado, o preço fixado pelo governo era melhor do que qualquer preço que os agricultores pudessem obter no mercado privado. Agora, até mesmo os agricultores nas zonas rurais da Ásia têm acesso à Internet e podem acompanhar as cotações nas bolsas de valores globais de arroz. E à medida que os preços do arroz subiram em resposta à variação na oferta e na demanda, os agricultores começaram a ficar insatisfeitos com o preço do governo e, então, armazenaram arroz acreditando poder obter preços mais elevados. Essa crença se concretizou, uma vez que a reserva deslocou a curva da oferta para a esquerda e aumentou o preço do arroz ainda mais. Ao mesmo tempo, a Índia, um dos maiores produtores de arroz, suspendeu as exportações de arroz para proteger os consumidores domésticos, causando outro deslocamento da curva da oferta para a esquerda e empurrando o preço do arroz ainda mais alto. Como mostrado na Figura 3-17, os efeitos também se espalharam para os Estados Unidos, que ainda não tinham sofrido queda na produção de arroz. Os consumidores de arroz americanos ficaram alarmados quando os grandes varejistas limitaram o volume de compra dos consumidores em resposta à turbulência no mercado mundial de arroz.

Temerosos de pagar preços ainda mais elevados no futuro, o pânico se estabeleceu. Como uma mulher que estava comprando 14 quilos de arroz disse: “Nem sequer comemos muito arroz. Mas li algo no jornal e decidi comprar.” Em San Francisco, alguns mercados asiáticos relataram corrida para o arroz. E, como era de se esperar, isso levou a preços ainda mais altos, à medida que as compras desencadeadas pelo pânico deslocaram a curva da demanda para a direita, alimentando mais o frenesi de compra. Como um proprietário de mercado disse: “As pessoas estão com medo. Embora a informação de que ainda não há escassez aqui está uma loucura.”

BREVE REVISÃO Mudanças no preço e na quantidade de equilíbrio em um mercado resultam de deslocamentos da curva da oferta, da curva de demanda ou de ambas. Um aumento na demanda aumenta tanto o preço de equilíbrio quanto a quantidade de equilíbrio. Uma queda na demanda pressiona para baixo tanto o preço de equilíbrio como a quantidade de equilíbrio. Um aumento na oferta pressiona o preço de equilíbrio para baixo, mas aumenta a quantidade de equilíbrio. Uma queda na oferta eleva o preço de equilíbrio, mas reduz a quantidade de equilíbrio. Muitas vezes, as flutuações nos mercados envolvem um deslocamento simultâneo das curvas da oferta e demanda. Quando se deslocam no mesmo sentido, a variação na quantidade de equilíbrio é previsível, mas a variação no preço de equilíbrio não é. Quando se deslocam em sentido oposto, a variação no preço de equilíbrio é previsível, mas a variação na quantidade de equilíbrio não é. Quando ocorrem deslocamentos simultâneos da curva da demanda e da oferta, a curva que desloca uma distância maior tem efeito mais forte sobre a variação no preço e na quantidade de equilíbrio.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 3-4 1. Em cada um dos exemplos seguintes, determine (i) o mercado em questão, (ii) se ocorreu um deslocamento da demanda ou da oferta, a direção e o que provocou e (iii) o efeito do deslocamento sobre o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio. FIGURA

3-17 Elevação do preço do arroz nos Estados Unidos, 2003-2011

a. Quando na década de 1990, nos Estados Unidos, o preço da gasolina caiu, mais pessoas compraram carros grandes. b. À medida que a inovação tecnológica reduziu o custo de reciclar papel usado, este tem sido usado com mais frequência. c. À medida que a TV a cabo oferece mais filmes mais baratos, os cinemas locais têm mais lugares vazios. 2. Quando um chip de computador novo, mais rápido, é introduzido, a demanda por computadores que usam o chip mais antigo e lento diminui. Ao mesmo tempo, os fabricantes de computadores aumentam a produção de computadores que contêm os chips antigos, para se livrar dos estoques de chips antigos. Trace dois diagramas do mercado de computadores com os chips mais antigos: a. um em que a quantidade de equilíbrio cai em resposta a esses eventos; b. e outro em que a quantidade de equilíbrio aumenta. O que acontece com o preço de equilíbrio em cada diagrama? As respostas estão no fim do livro.

MERCADOS COMPETITIVOS – E OUTROS

No início deste capítulo, definimos um mercado competitivo e explicamos a estrutura da oferta e da demanda em um modelo com mercados competitivos. Mas havíamos adiado a questão da importância de saber se um mercado é ou não competitivo. Agora, que vimos como funciona o modelo de oferta e demanda, podemos oferecer alguma explicação. Para entender por que os mercados competitivos são diferentes de outros mercados, compare os problemas enfrentados por dois indivíduos: um produtor de trigo, que deve decidir se deve cultivar mais trigo, e o presidente de uma grande empresa de alumínio – a Alcoa –, que deve decidir se vai produzir mais alumínio. Para o produtor de trigo, a questão é se o trigo produzido a mais pode ser vendido por um preço alto o suficiente para justificar esse custo extra de produção. O fazendeiro não precisa se preocupar se a produção de mais trigo vai afetar o preço do trigo que já estava planejando cultivar. Isso porque o mercado de trigo é competitivo. Existem milhares de produtores de trigo, e a decisão de um fazendeiro não tem qualquer impacto sobre o preço de mercado. Para o executivo da Alcoa a questão não é assim tão simples porque o mercado de alumínio não é competitivo. Há apenas alguns poucos grandes participantes, incluindo a Alcoa, e cada um deles está ciente de que suas ações têm um impacto notável sobre o preço de mercado. Isso torna muito mais complexas as decisões que os produtores têm de tomar. A Alcoa não pode decidir se irá ou não produzir mais alumínio apenas perguntando se o produto adicional será vendido por mais do que o custo de fabricação. A empresa também tem que perguntar se produzir mais alumínio vai reduzir o preço de mercado e o lucro, isto é, o ganho líquido de produzir e vender o produto. Quando o mercado é competitivo, as pessoas podem basear as decisões em análises menos complicadas do que as utilizadas nos mercados menos competitivos. Isso, por sua vez, significa que é mais fácil para os economistas construir um modelo de um mercado competitivo do que de um mercado não competitivo. Mas não significa que a análise econômica não tenha nada a dizer sobre mercados não competitivos. Pelo contrário, os economistas podem oferecer

percepções muito importantes sobre o funcionamento de outros tipos de mercado. Mas elas exigem outros modelos, que trataremos mais adiante neste texto.

• CASO EMPRESARIAL Chicago Board of Trade

Em todo o mundo, as commodities são compradas e vendidas como “trocas”, em mercados organizados em um local específico, onde compradores e vendedores se encontram para negociar. Mas nem sempre foi assim. A primeira bolsa de mercadorias foi a Chicago Board of Trade, fundada em 1848. Na época, os Estados Unidos já eram um grande produtor de trigo. E St. Louis, não Chicago, era a principal cidade do Oeste americano e a localização dominante para o comércio de trigo. Mas o mercado de trigo de St. Louis sofreu por uma falha grave: não havia mercado central, nenhum local específico onde as pessoas se reunissem para comprar e vender trigo. Em vez disso, os vendedores vendiam os grãos de vários armazéns ou de sacos de grãos empilhados no dique do rio. Os compradores vagavam pela cidade, buscando o melhor preço. Contudo, em Chicago, os vendedores tiveram uma ideia melhor. A Chicago Board of Trade, uma associação dos principais comerciantes de grãos da cidade, criou um método muito mais eficiente para a negociação de trigo. Lá, os comerciantes se reuniam em um só lugar – “pit” (ou área de operações) – onde faziam ofertas de venda e aceitavam ofertas de compra. O centro de comércio garantia que esses contratos seriam cumpridos, eliminando a necessidade de o trigo estar no local fisicamente quando o negócio fosse acordado. Com esse sistema, os compradores podiam encontrar vendedores muito rapidamente e vice-versa, reduzindo o custo dos negócios. Também assegurava que todos pudessem ver o último preço, fazendo o preço subir ou cair rapidamente em resposta às condições de mercado. Por exemplo, a

notícia de mau tempo, em uma área de cultivo de trigo, há centenas de quilômetros de distância, faria o preço na bolsa de Chicago subir em questão de minutos. A Chicago Board of Trade acabou se tornando o centro mais importante do mundo de comércio de trigo e de muitas outras mercadorias agrícolas, posição que mantém até hoje. E a ascensão da bolsa também ajudou a ascensão de Chicago. A cidade, como Carl Sandburg colocou em seu famoso poema, “Chicago”, tornou-se: Chacinadora de porcos para o mundo, fabricante de máquinas, ensiladora de trigo, tu que brincas com as ferrovias e transportas os produtos do país; tumultuosa, grosseira, sempre aos gritos, ó cidade das costas largas Em 1890, Chicago tinha mais de 1 milhão de habitantes, perdendo apenas para Nova York, e estava muito distante de St. Louis. Descobriu que comerciar era, de fato, um bom negócio.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Mencionamos neste capítulo como os preços podem variar em uma loja para turistas. Que mercado, St. Louis ou Chicago, era mais provável de se comportar como uma loja para turistas? Explique. 2. Qual era a vantagem para os compradores de comprar o trigo na área de operações de Chicago, em vez de em St. Louis? Qual era a vantagem para os vendedores? 3. Com base no que você aprendeu com esse caso, explique por que o eBay é como a área de operações de Chicago. Por que tem tido tanto sucesso como um mercado de artigos de segunda mão em comparação com um mercado composto de vários mercados de pulgas e de negociantes?

• RESUMO

1. O modelo de oferta e demanda ilustra como funciona um mercado competitivo, que tem muitos compradores e vendedores, sendo que nenhum deles pode influenciar o preço de mercado. 2. A tabela da demanda mostra a quantidade demandada a cada preço e é representada graficamente pela curva da demanda. A lei da demanda diz que as curvas da demanda se inclinam para baixo; ou seja, um preço mais alto de um bem ou serviço leva as pessoas a procurar uma quantidade menor, tudo o mais mantido constante. 3. Um movimento ao longo da curva da demanda ocorre quando o preço muda e leva a uma variação na quantidade demandada. Quando os economistas falam de aumento ou de queda na demanda, referem-se a deslocamentos na curva da demanda – uma variação na quantidade demandada a qualquer preço dado. Um aumento na demanda provoca um deslocamento da curva da demanda para a direita. Uma diminuição na demanda provoca um deslocamento da curva da demanda para a esquerda. 4. Há cinco fatores principais que deslocam a curva da demanda: • Variação nos preços dos bens ou serviços relacionados, como substitutos ou complementos. • Variação na renda: quando a renda sobe, a demanda por bens normais aumenta e a demanda por bens inferiores diminui. • Variação nos gostos.

5. 6.

7.

8.

• Variação nas expectativas. • Variação no número de consumidores. A curva da demanda de mercado de um bem ou serviço é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores do mercado. A tabela da oferta mostra a quantidade ofertada a cada preço e é representada graficamente por uma curva de oferta. As curvas de oferta geralmente têm inclinação para cima. Um movimento ao longo da curva da oferta ocorre quando o preço muda e provoca uma variação na quantidade ofertada. Quando os economistas falam em aumento ou diminuição da oferta, referem-se a deslocamentos da curva da oferta – uma variação na quantidade ofertada a qualquer preço. Um aumento na oferta provoca um deslocamento da curva da oferta para a direita. Uma redução na oferta provoca um deslocamento para a esquerda. Há cinco fatores principais que deslocam a curva da oferta: • Variação nos preços dos insumos. • Variação nos preços dos bens ou serviços relacionados. • Variação na tecnologia. • Variação nas expectativas.

• Variação na quantidade de produtores. 9. A curva da oferta de mercado de um bem ou serviço é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores nesse mercado.

O modelo de oferta e demanda baseia-se no princípio de que o preço em 10. um mercado se move em direção ao preço de equilíbrio, ou preço que ajusta o mercado – o preço pelo qual a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Essa quantidade representa a quantidade de equilíbrio. Quando o preço está acima do preço que ajusta o mercado, há um excedente que empurra os preços para baixo. Quando o preço está abaixo do preço que ajusta o mercado, há uma escassez que pressiona os preços para cima. 11. Um aumento na demanda aumenta tanto o preço de equilíbrio quanto a quantidade de equilíbrio. Uma diminuição na demanda tem o efeito oposto. Um aumento na oferta reduz o preço de equilíbrio e aumenta a quantidade de equilíbrio; uma diminuição na oferta tem o efeito oposto. 12. Podem ocorrer simultaneamente deslocamentos das curvas da demanda e da oferta. Quando elas se deslocam em direções opostas, a variação no preço de equilíbrio é previsível, mas a variação na quantidade de equilíbrio não é. Quando se deslocam na mesma direção, a variação na quantidade de equilíbrio é previsível, mas a variação no preço de equilíbrio não é. Em geral, a curva que desloca uma distância maior tem um efeito maior nas variações do preço e da quantidade de equilíbrio.

• PALAVRAS-CHAVE Mercado competitivo, p. 56 Modelo de oferta e de demanda, p. 56 Tabela da demanda, p. 56 Quantidade demandada, p. 57 Curva da demanda, p. 57 Lei da demanda, p. 57 Deslocamento da curva da demanda, p. 58 Movimento ao longo da curva da demanda, p. 58 Substitutos, p. 61 Complementaress, p. 61 Bens normais, p. 61 Bens inferiores, p. 61 Curva da demanda individual, p. 62 Quantidade ofertada, p. 65 Tabela da oferta, p. 65

Curva da oferta, p. 65 Deslocamento da curva de oferta, p. 66 Movimento ao longo da curva da oferta, p. 66 Insumo, p. 67 Curva da oferta individual, p. 68 Preço de equilíbrio, p. 71 Quantidade de equilíbrio, p. 71 Preço que “ajusta o mercado”, p. 71 Excedente, p. 73 Escassez, p. 73

• PROBLEMAS 1. Uma pesquisa indicou que o sabor de sorvete preferido dos americanos é o de chocolate. Para cada um dos itens seguintes, indique os efeitos possíveis sobre a demanda e/ou oferta, bem como sobre o preço e a quantidade de equilíbrio do sorvete de chocolate. a. Uma seca severa no Centro-Oeste fez os pecuaristas reduzirem em 1/3 o número de animais produtores de leite em seus rebanhos. Esses pecuaristas fornecem o creme utilizado na fabricação do sorvete de chocolate. b. Um novo relatório da Associação Médica Americana revelou que o chocolate, de fato, faz bem à saúde. c. A descoberta de baunilha sintética mais barata reduziu o preço do sorvete de baunilha. d. Uma nova tecnologia para misturar e congelar sorvete reduziu o custo de fabricação de sorvete de chocolate. 2. Em um diagrama de oferta e demanda, trace um deslocamento da curva da demanda por hambúrgueres da sua cidade, em virtude dos eventos adiante. Em cada caso, mostre o efeito sobre o preço e a quantidade de equilíbrio. a. O preço dos tacos aumentou. b. Todos os vendedores de hambúrgueres aumentaram o preço das fritas. c. A renda caiu na cidade. Suponha que o hambúrguer seja um bem normal para a maioria das pessoas. d. A renda caiu na cidade. Suponha que o hambúrguer seja um bem inferior para a maioria das pessoas. e. A carrocinha de cachorro-quente reduziu o preço dos cachorrosquentes.

O mercado de muitos bens varia de forma previsível de acordo com a época do ano, em resposta a eventos como feriados, férias, mudanças sazonais na produção e assim por diante. Usando oferta e demanda, explique a variação de preço em cada um dos seguintes casos. Observe que a oferta e a demanda podem-se deslocar simultaneamente. a. O preço da lagosta costuma cair durante o pico do verão, safra da lagosta, apesar de as pessoas gostarem de comer lagosta durante o verão mais do que em qualquer outra época do ano. b. O preço de uma árvore de Natal é mais baixo após o Natal do que antes, mas são vendidas menos árvores. c. O preço de uma passagem de ida e volta para Paris, pela Air France, caiu mais que $200, após o fim das férias escolares em setembro. Isso acontece apesar de a piora no clima aumentar o custo de operação dos voos para Paris, e assim a Air France reduziu o número de voos para Paris a qualquer preço. 4. Em um diagrama mostre o efeito sobre a curva da demanda, a curva da oferta, o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio em cada um dos eventos seguintes. a. O mercado de jornais na cidade. Caso 1: os salários dos jornalistas sobem. Caso 2: há eventos de grande sensação na cidade que são noticiados nos jornais. b. O mercado de camisetas de algodão para um clube popular. Caso 1: o clube ganhou o campeonato. Caso 2: o preço do algodão aumentou. c. O mercado de pãezinhos. Caso 1: as pessoas perceberam que o pãozinho engorda. Caso 2: as pessoas têm menos tempo para preparar o café da manhã. d. O mercado do livro de economia do Krugman e Wells Caso 1: seu professor torna-o leitura obrigatória para todos os alunos. Caso 2: o custo de impressão de livros didáticos reduziu em decorrência do uso de papel sintético. 5. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos informou que, em 2004, cada pessoa nos Estados Unidos consumiu uma média de 37 galões de refrigerantes (fora os light) a um preço médio de $2 por galão. Suponha que, ao preço de $1,50 por galão, cada consumidor individual consumiria 50 galões de refrigerante. A população dos Estados Unidos, em 2004, era de 294 milhões. A partir dessa informação sobre a tabela de demanda individual, calcule a tabela de demanda de mercado de refrigerantes para os preços de $1,50 e $2 por galão. 6. Suponha que a tabela da oferta de lagosta no Maine seja: 3.

Preço da lagosta (por quilo) $

Quantidade de lagosta ofertada (quilos)

25

800

20

700

15

600

10

500

5

400

Suponha que as lagostas do Maine possam ser vendidas apenas nos Estados Unidos. A tabela da demanda nos Estados Unidos para lagostas do Maine é: Preço da lagosta (por quilo) $

Quantidade de lagosta demandada (quilos)

25

200

20

400

15

600

10

800

5

1.000

a. Trace a curva da demanda e a curva da oferta para lagostas do Maine. Qual é o preço e a quantidade de equilíbrio para lagostas? Agora, suponha que as lagostas do Maine possam ser vendidas na França. A tabela da demanda francesa para lagostas do Maine é: Preço da lagosta (por quilo) $

Quantidade de lagosta demandada (quilos)

25

100

20

300

15

500

10

700

5

900

b. Agora que os consumidores franceses também podem comprar, qual é a tabela da demanda de lagostas do Maine? Trace um diagrama de oferta e demanda que ilustre o novo preço e a quantidade de equilíbrio para lagostas. O que acontecerá com o preço pelo qual os pescadores podem vender lagosta? O que acontecerá com o preço pago pelos consumidores americanos? O que acontecerá com a quantidade consumida pelos consumidores americanos? 7. Encontre os erros de raciocínio nas seguintes afirmações, com especial atenção para a distinção entre deslocamentos da e movimentos ao longo das curvas da oferta e da demanda. Trace um diagrama para ilustrar o que realmente acontece em cada situação. a. “Uma inovação tecnológica que reduz o custo de produção de um bem, a princípio, parece trazer uma queda no preço desse bem para o consumidor. Mas uma queda no preço aumentará a demanda pelo bem e uma demanda mais elevada irá fazer o preço subir novamente. Não é certo, portanto, que uma inovação irá realmente reduzir o preço no final.” b. “Um estudo que mostra que comer um dente de alho por dia ajuda a prevenir doenças cardíacas leva muitos consumidores a procurar por mais alho. Esse aumento na demanda resulta em aumento no preço do alho. Os consumidores, vendo que o preço do alho subiu, reduzem a demanda por alho. Isso faz a demanda por alho cair, e o seu preço também. Portanto, o efeito final do estudo sobre o preço do alho é incerto.” 8. A tabela a seguir mostra a tabela da demanda de um bem normal. Preço ($)

Quantidade demandada

23

70

21

90

19

110

17

130

a. Você acha que o aumento na quantidade demandada (por exemplo, de 90 para 110 na tabela) quando o preço cai (de $21 para $19) é decorrente de um aumento na renda dos consumidores? Explique claramente (e brevemente) as duas possibilidades, ou seja, sim ou não. b. Agora, suponha que se trate de um bem inferior. Será que essa tabela da demanda poderia ser válida para um bem inferior? c. Por fim, suponha que você não saiba se o bem é normal ou inferior. Formule um experimento que permita determinar se é um ou outro. Explique. 9. De acordo com o New York Times (18 de novembro de 2006), o número de fabricantes de automóveis na China está aumentando rapidamente. O jornal

informa: “A China hoje tem mais marcas de carro do que os Estados Unidos… mas enquanto as vendas de carros subiram 38% nos três primeiros trimestres desse ano, as montadoras têm aumentado a produção ainda mais rapidamente, causando uma concorrência acirrada e uma erosão lenta nos preços.” Ao mesmo tempo, a renda dos consumidores chineses aumentou. Suponha que carro seja um bem normal. Use um diagrama de curvas da oferta e demanda dos carros na China para explicar o que aconteceu no mercado de automóveis chinês. 10. Aaron Hank é uma estrela do time de beisebol em Bay City. Está perto de bater o recorde de jogadas da estação e se espera que esse recorde seja batido no próximo jogo. Como resultado, os ingressos para o próximo jogo da equipe estão vendendo como água. Mas hoje foi anunciado que, em virtude de uma lesão no joelho, Hank não vai poder participar do próximo jogo. Suponha que aqueles que têm ingressos para a temporada possam revendê-los, se quiserem. Use diagramas de oferta e demanda para explicar o seguinte: a. Mostre o caso em que esse anúncio resulta em preço e quantidade de equilíbrio mais baixo do que antes do anúncio. b. Mostre o caso em que esse anúncio resulta em preço de equilíbrio mais baixo e quantidade de equilíbrio mais alta que antes do anúncio. c. Qual a explicação para ocorrer o caso a ou o caso b? d. Suponha que um cambista soube secretamente, antes do jogo, que Aaron Hank não iria jogar no próximo jogo. Que ações você acha que tomaria? 11. Na revista Rolling Stone, vários fãs e estrelas do rock, inclusive Pearl Jam, lamentaram o preço alto dos ingressos para os concertos. Um dos astros argumentou: “Não vale $75 me ver tocar. Ninguém deveria ter que pagar tanto para ir a um concerto.” Suponha que os ingressos para ver esse astro tenham se esgotado a um preço médio de $75. a. Como você avalia o argumento de que o preço dos ingressos esteja muito alto? b. Suponha que, em decorrência dos protestos desse astro, o preço dos ingressos seja reduzido para $50. Em que sentido esse preço é baixo demais? Trace um diagrama usando as curvas de oferta e demanda para apoiar seu argumento. c. Suponha que Pearl Jam realmente queira diminuir o preço dos ingressos. Como a banda controla o fornecimento dos seus serviços, o que você recomendaria que eles fizessem? Explique usando um diagrama de oferta e demanda. d. Suponha que o último CD da banda tenha sido um fracasso total. Você acha que ainda precisariam se preocupar com ingressos muito caros? Por quê? Trace um diagrama de oferta e demanda para apoiar sua argumentação. e. Suponha que o grupo anunciou que essa será sua última série de apresentações. Qual será o efeito provável desse anúncio na demanda e no preço dos bilhetes? Ilustre com um diagrama de oferta e demanda.

12. Os números a seguir representam as tabelas da demanda e da oferta anuais de picapes nos Estados Unidos. Preços da picape ($)

Quantidade de picapes demandada (milhões)

Quantidade de picapes ofertada (milhões)

20.000

20

14

25.000

18

15

30.000

16

16

35.000

14

17

40.000

12

18

a. Trace as curvas de oferta e demanda, usando essa tabela. Indique o preço e a quantidade de equilíbrio no diagrama. b. Suponha que se descobriu que os pneus usados nas picapes têm defeito. O que você espera que aconteça no mercado de picapes? Mostre isso no diagrama. c. Suponha que o Departamento de Transporte dos Estados Unidos imponha regulamentações onerosas aos fabricantes que os levem a reduzir a oferta em 1/3 a qualquer preço. Calcule e construa a nova tabela de oferta e indique o novo preço e a quantidade de equilíbrio. 13. Depois de vários anos de declínio, o mercado de guitarras acústicas artesanal está voltando. Essas guitarras geralmente são feitas em pequenas oficinas que empregam poucos especialistas altamente qualificados. Avalie o impacto sobre o preço e a quantidade de equilíbrio das guitarras acústicas artesanais, como resultado dos seguintes eventos. Nas respostas, indique que curva(s) se desloca(m) e em que direção. a. Os ambientalistas conseguiram proibir a utilização do jacarandá brasileiro nos Estados Unidos, forçando os fabricantes de guitarras a procurar alternativas mais caras. b. Um produtor externo fez uma reengenharia do processo de fabricação de guitarras e inundou o mercado com guitarras idênticas. c. A música de guitarras acústicas artesanais voltou à moda à medida que o público cansou de heavy metal e rock alternativo. d. O país entrou em profunda recessão, e a renda do americano médio caiu bruscamente. 14. Torcendo a demanda: desenhe e explique a relação da demanda em cada uma das seguintes afirmações. a. Eu nunca compraria um CD da Britney Spears! Não quero nem de graça. b. Costumo comprar um pouco mais de café quando o preço cai. Quando o preço cair para $2 por quilo, comprarei todo o estoque do supermercado.

c.

Gasto mais com suco de laranja, mesmo quando o preço sobe. (Será que isso significa que estou violando a lei da demanda?) d. Em virtude do aumento do custo da instrução, a maioria dos estudantes de uma faculdade fica com menos renda disponível. Quase todos fazem as refeições com mais frequência no refeitório da escola e menos nos restaurantes, embora o preço no refeitório também tenha subido. (Aqui é preciso desenhar tanto as curvas da demanda como as da oferta para as refeições no refeitório.) 15. Será que Shakespeare era um dramaturgo em dificuldades na Londres do século XVI? À medida que o preço que recebia para escrever uma peça de teatro aumentava, dispunha-se a escrever mais peças. Nas situações seguintes, use um diagrama para ilustrar como cada evento afeta o preço e a quantidade de equilíbrio no mercado de peças de Shakespeare. a. O dramaturgo Christopher Marlowe, principal rival de Shakespeare, foi morto em uma briga de bar. b. A peste bubônica, uma doença infecciosa mortal, irrompeu em Londres. c. Para comemorar a derrota da Armada Espanhola, a Rainha Elizabeth declarou várias semanas de festividades, implicando a encomenda de novas peças de teatro. 16. Na pequena cidade de Middling, a taxa de natalidade dobrou subitamente. Após três anos, a taxa de natalidade voltou ao normal. Use um diagrama para ilustrar o efeito desse evento sobre o seguinte: a. O mercado de uma hora de serviços de babá em Middling, hoje. b. O mercado de uma hora de serviço de babá dentro de 14 anos, após a taxa de natalidade ter voltado ao normal, e quando as crianças que nasceram hoje tiverem idade suficiente para trabalhar como babá. c. O mercado de uma hora de serviços de babá dentro de 30 anos, quando as crianças que nasceram hoje provavelmente estarão tendo seus próprios bebês. 17. Use um diagrama para ilustrar como cada um dos eventos seguintes afetou o preço e a quantidade de equilíbrio de pizza. a. O preço do queijo mussarela subiu. b. Foi amplamente divulgado o risco dos hambúrgueres para a saúde. c. O preço do molho de tomate caiu. d. A renda dos consumidores aumentou, e a pizza é um bem inferior. e. Os consumidores esperam que o preço da pizza diminua na próxima semana. 18. Embora tenha sido um artista prolífico, Pablo Picasso pintou apenas mil telas durante o “período azul”. Picasso está morto e todas as obras do “período azul” estão em exibição em museus e galerias privadas na Europa e nos Estados Unidos. a. Trace uma curva da oferta das obras do “período azul” de Picasso. Por que essa curva de oferta é diferente das outras? b. Dada a curva da oferta do item a, o preço de uma obra de Picasso do “período azul” será inteiramente dependente de qual fator ou quais

fatores? Trace um diagrama mostrando como é determinado o preço de equilíbrio de tal obra. c. Suponha que os colecionadores de arte ricos decidam que é essencial adquirir para suas coleções as obras de Picasso do “período azul”. Mostre que impacto isso tem sobre o mercado dessas pinturas. 19. Desenhe as curvas apropriadas em cada um dos seguintes casos. São semelhantes ou não às curvas vistas até agora? Explique. a. A demanda de cirurgia de ponte de safena, uma vez que o governo paga o custo total para qualquer paciente. b. A demanda de cirurgia plástica eletiva, uma vez que cada paciente paga o custo total. c. A oferta de pinturas de Rembrandt.

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CAPÍTULO 4 » Excedente do produtor e do consumidor

GANHANDO COM LIVROS

xiste um mercado bem movimentado de livros usados de faculdade. No fim de cada semestre, alguns estudantes que terminam um curso julgam que o dinheiro que podem ganhar com a venda dos livros usados vale mais para eles do que guardá-los. E alguns que estão começando o curso preferem comprar um livro usado, um pouco maltratado, mas barato, em vez de comprar um livro novo. As editoras e os autores não gostam dessas transações, pois reduzem a venda de livros novos. Mas tanto os estudantes que vendem os livros usados quanto os que os compram se beneficiam desse mercado. Daí que muitas livrarias universitárias facilitam esse comércio, comprando livros usados e vendendo junto com os novos. E é por isso que existem vários sites dedicados exclusivamente à compra e venda de livros de segunda mão. É possível apresentar uma cifra de quanto os compradores e vendedores de livros usados ganham com essas transações? Podemos responder à questão: “Quanto os compradores e vendedores de livros usados ganham com a existência desse mercado?” É possível. Neste capítulo, veremos como medir os benefícios, tal como os dos compradores de livros usados, de ser capaz de comprar um bem – conhecido como excedente do consumidor. E veremos que há uma medida correspondente, o excedente do produtor, dos benefícios que os vendedores recebem ao ser capaz de vender um bem.

E

Os conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor são extremamente úteis para analisar uma ampla variedade de questões econômicas. Permitem calcular quanto é o benefício que produtores e consumidores recebem a partir da existência de um mercado. Também nos permitem calcular como o bem-estar dos consumidores e produtores é afetado por variações nos preços de mercado. Tais cálculos desempenham um papel crucial na avaliação de muitas políticas econômicas. Qual a informação que precisamos para o cálculo do excedente do consumidor e do produtor? Surpreendentemente, tudo o que precisamos são as curvas de oferta e demanda de um bem. Ou seja, o modelo de oferta e demanda não é apenas um modelo de como funciona um mercado competitivo; é também um modelo de quanto consumidores e produtores ganham ao participar desse mercado. Assim, o primeiro passo é aprender como o excedente do consumidor e do produtor pode ser derivado das curvas de oferta e demanda. Veremos, então, como esses conceitos podem ser aplicados às questões econômicas reais. O que você vai aprender neste capítulo • O significado do excedente do consumidor e sua relação com a curva de demanda. • O significado do excedente do produtor e sua relação com a curva de oferta. • O significado do excedente total e como pode ser usado tanto para medir os ganhos do comércio como para ilustrar a eficiência dos mercados. • A importância dos direitos de propriedade e econômicos do bom funcionamento do mercado.

preços

como

sinais

• Por que normalmente os mercados levam a resultados eficientes, apesar de às vezes falharem.

EXCEDENTE DO CONSUMIDOR E CURVA DA DEMANDA O mercado de livros usados é um grande negócio em termos monetários, aproximadamente $3 bilhões em 2009. O mais importante é ser um ponto

de partida conveniente para desenvolver os conceitos de excedente do consumidor e do produtor. Usaremos esses conceitos para entender exatamente como compradores e vendedores se beneficiam de um mercado competitivo e qual é o tamanho desse benefício. Além disso, esses conceitos desempenham papel importante na análise do que acontece quando os mercados competitivos não funcionam bem ou quando há interferência no mercado. Então, analisemos o mercado de livros usados, começando pelos compradores. O ponto-chave, como será visto em seguida, é que a curva da demanda é derivada de seus gostos ou preferências – e essas mesmas preferências determinam o quanto ganham com a oportunidade de comprar livros usados . Disposição de pagar e curva da demanda

Um livro usado não é tão bom quanto um livro novo – talvez esteja um pouco amassado e manchado de café, pode ter textos realçados por outra pessoa e pode não estar completamente atualizado. O quanto isso incomoda depende das preferências de cada um. Alguns compradores potenciais preferem comprar o livro usado, desde que seja um pouco mais barato do que um novo, enquanto que outros comprariam o livro usado somente se fosse consideravelmente mais barato. Vamos definir a disposição de pagar de um comprador potencial como o preço máximo pelo qual ele compraria o bem, nesse caso, um livro usado. Um indivíduo não comprará o bem se custar mais do que esse valor, mas tem muito interesse em comprá-lo se custar menos. Se o preço for apenas igual à disposição de pagar do indivíduo, será indiferente entre comprar ou não. Por questão de simplicidade, suponhamos que, nesse caso, o indivíduo compre o bem. A tabela da Figura 4-1 mostra cinco compradores potenciais de um livro usado, que quando novo custa $100, listados em ordem da disposição de pagar. Em um extremo está Aleisha, que comprará um livro de segunda mão, mesmo se o preço for $59. Brad tem menos disposição de comprar livros usados e vai comprar um apenas se o preço for $45 ou menos. Cláudia está disposta a pagar apenas $35 e Darren, apenas $25. Edwina, que realmente não gosta da ideia de livros usados, comprará apenas se não custar mais que $10.

Dentre esses cinco estudantes, quem realmente comprará um livro usado? Depende do preço. Se o preço do livro usado for $55, apenas Aleisha, se o preço for $40, Aleisha e Brad, e assim por diante. Assim, a informação na tabela pode ser usada para construir a tabela da demanda de livros usados . Como vimos no Capítulo 3, podemos usar essa tabela de demanda para derivar a curva da demanda de mercado apresentada na Figura 4-1. Como estamos considerando apenas um pequeno número de consumidores, essa curva não tem a aparência de suave continuidade das curvas de demanda do Capítulo 3, onde os mercados continham centenas ou milhares de consumidores. Em vez disso, essa curva de demanda é em forma de degrau, com a alternância de segmentos horizontais e verticais. Cada segmento horizontal – cada passo – corresponde à disposição de pagar de um comprador potencial. No entanto, veremos em breve que para a análise do excedente do consumidor, não importa se a curva de demanda é em forma de degrau, como nessa figura, ou se existem muitos consumidores, que tornam a curva suave. FIGURA 4-1

Curva da demanda para livros usados

Com apenas cinco consumidores potenciais nesse mercado, a curva da demanda tem a forma de degrau. Cada degrau representa um consumidor, e sua altura indica a

disposição de pagar desse consumidor – o preço máximo que o estudante estará disposto a pagar por um livro usado – como indicado na tabela. Aleisha tem disposição de pagar se for $59; Brad se for $45, e assim por diante até Edwina, com a disposição mais baixa, $10. Ao preço de $59, a quantidade demandada é um (Aleisha); ao preço de $45, a quantidade demandada é dois (Aleisha e Brad), e assim por diante até chegar ao preço de $10, em que todos os cinco estudantes estão dispostos a comprar um livro usado.

TABELA 4-1 Excedente do consumidor, quando o preço do livro usado = $30 Disposição de pagar

Preço pago

Excedente do consumidor individual = disposição de pagar – preço pago

$59

$30

$29

Brad

45

30

15

Claudia

35

30

5

Darren

25





Edwina

10





Comprador potencial Aleisha

Todos os compradores

Excedente do consumidor total = $49

Disposição de pagar e excedente do consumidor

Suponha que a livraria do campus torne os livros usados disponíveis a um preço de $30. Nesse caso, Aleisha, Brad e Cláudia irão comprar os livros. Será que há ganho dessas compras, e, em caso afirmativo, quanto? A resposta, mostrada na Tabela 4-1, é que cada estudante que compra um livro consegue um ganho líquido, mas o valor do ganho difere entre os estudantes. Aleisha estaria disposta a pagar $59, portanto seu ganho líquido é $59 − $30 = $29. Brad estaria disposto a pagar $45, assim, seu ganho líquido é $45 − $30 = $15. Cláudia estaria disposta a pagar $35, assim, seu ganho líquido é $35 − $30 = $5. Darren e Edwina, no entanto, não estão dispostos a comprar um livro usado ao preço de $30, então, nem ganham nem perdem.

O ganho líquido que um comprador atinge na compra de um bem é chamado de excedente do consumidor individual do comprador. O que podemos aprender com esse exemplo é que sempre que um comprador paga um preço menor que está disposto a pagar, o comprador atinge algum excedente do consumidor individual. A soma dos excedentes dos consumidores individuais alcançada por todos os compradores de um bem é conhecida como excedente do consumidor total alcançado no mercado. Na Tabela 4-1, o excedente do consumidor total é a soma dos excedentes dos consumidores individuais obtidos por Aleisha, Brad e Claudia: $29 +$15 +$5 = $49. Muitas vezes, os economistas usam o termo excedente do consumidor para se referir tanto ao excedente individual como total do consumidor. Seguiremos essa prática; estará sempre claro no contexto se estamos nos referindo ao excedente do consumidor alcançado por um indivíduo ou por todos os compradores. O excedente do consumidor total pode ser representado graficamente. A Figura 4-2 reproduz a curva da demanda da Figura 4-1. Cada degrau nessa curva da demanda é um livro e representa um consumidor. Cada degrau dessa curva da demanda abrange um livro e representa um consumidor. Por exemplo, a altura do degrau de Aleisha é $59, sua disposição de pagar. Esse degrau constitui o topo do retângulo, com $30 – o preço que ela realmente paga por um livro – formando a base. A área do retângulo de Aleisha ($59 − $30) × 1 = $29 é o seu excedente do consumidor ao comprar um livro ao preço de $30. Assim, o excedente do consumidor individual que Aleisha obtém é a área do retângulo azul-escuro mostrado na Figura 4-2. Além de Aleisha, Brad e Cláudia também irão comprar o livro ao preço de $30. Como Aleisha, também irão se beneficiar de suas compras, embora não tanto, porque cada um deles tem disposição de pagar menor. A Figura 4-2 também mostra o excedente do consumidor ganho por Brad e Cláudia. Repetindo, pode ser medido pelas áreas dos retângulos adequados. Como Darren e Edwina não estão dispostos a comprar livros pelo preço de $30, não recebem o excedente do consumidor. O excedente do consumidor total alcançado nesse mercado é apenas a soma dos excedentes do consumidor individual recebidos por Aleisha, Brad e Cláudia. Então, o excedente do consumidor total é igual à área combinada

dos três retângulos – a área total sombreada na Figura 4-2. Outra maneira de dizer isso é que o excedente do consumidor total é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. A Figura 4-2 ilustra o seguinte princípio geral: o excedente do consumidor total gerado pelas compras de um bem a determinado preço é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima desse preço. O mesmo princípio se aplica, independentemente do número de consumidores. FIGURA 4-2

Excedente do consumidor no mercado de livros usados

Ao preço de $30, Aleisha, Brad e Cláudia compram os livros, mas Darren e Edwina, não. Aleisha, Brad e Cláudia obtêm excedentes do consumidor individual igual à diferença entre a disposição de pagar e o preço, ilustrado pelas áreas dos retângulos sombreados. Darren e Edwina têm disposição de pagar menos que $30, então não estão dispostos a comprar um livro nesse mercado; eles recebem zero de excedente do consumidor. O excedente do consumidor total é dado por toda a área sombreada – a soma dos excedentes do consumidor individual de Aleisha, Brad e Cláudia – igual a $29 +$15 + $5 = $49.

Para grandes mercados, essa representação gráfica do excedente do consumidor torna-se extremamente útil. Considere, por exemplo, as vendas de iPads para milhões de compradores potenciais. Cada comprador potencial tem um preço máximo que estará disposto a pagar. Com tantos compradores potenciais, a curva da demanda será suave, como mostrado na Figura 4-3. Suponha que ao preço de $500, será comprado um total de 1 milhão de iPads. Quanto os consumidores ganharão por ser capazes de comprar esse 1 milhão de iPads? Poderíamos responder a essa questão através do cálculo do excedente do consumidor de cada comprador individual e, em seguida, adicionar esses números até chegar ao total. Mas é muito mais fácil apenas examinar a Figura 4-3 e considerar o fato de que o excedente do consumidor total é igual à área sombreada. Como no exemplo original, o excedente do consumidor é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. (Para relembrar como calcular a área de um triângulo retângulo, reveja o apêndice do Capítulo 2.) FIGURA 4-3

Excedente do consumidor

A curva da demanda de iPads é suave porque há muitos compradores potenciais. Ao preço de $500, será demandado 1 milhão de iPads. O excedente do consumidor a esse preço é igual à área sombreada: área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. Esse é o ganho líquido total gerado para os consumidores ao comprarem e consumir iPads ao preço de $500.

Como a variação nos preços afeta o excedente do consumidor

Muitas vezes, é importante saber o quanto o excedente do consumidor varia quando o preço varia. Por exemplo, podemos querer saber quanto os consumidores serão prejudicados se uma enchente no Paquistão fizer o preço do algodão subir ou quanto os consumidores ganharão se a introdução da piscicultura tornar o preço dos filés de salmão mais barato. A mesma abordagem que usamos para derivar o excedente do consumidor pode ser usada para responder a questões sobre como a variação nos preços afeta os consumidores. Voltemos ao exemplo do mercado de livros usados. Suponha que a livraria decidiu vender livros usados por $20, em vez de $30. Quanto essa queda no preço aumentará o excedente do consumidor? A resposta é ilustrada pela Figura 4-4. Como mostra a figura, existem duas partes no aumento do excedente do consumidor. A primeira parte, com sombra escura, é o ganho de quem teria comprado livros mesmo com o preço mais elevado de $30. Cada um dos estudantes que teria comprado livros a $30 – Aleisha, Brad e Cláudia, agora paga $10 a menos e, portanto, cada um ganha $10 de excedente do consumidor em virtude da queda no preço para $20. Assim, a área escura representa o aumento de $10 × 3 = $30 no excedente do consumidor para esses três compradores. A segunda parte, a área clara, é o ganho daqueles que não teriam comprado um livro a $30, mas estão dispostos a pagar mais do que $20. Nesse caso, o ganho vai para Darren, que não teria comprado um livro a $30, comprou a $20. Ele ganha $5, a diferença entre sua disposição de pagar $25 e o novo preço de $20. Assim, a área clara representa um ganho adicional de $5 no excedente do consumidor. O aumento total no excedente do consumidor é a soma das áreas sombreadas, $35. Da mesma forma, um aumento no preço de $20 para $30

diminuiria o excedente do consumidor no montante igual à soma das áreas sombreadas. A Figura 4-4 mostra que, quando o preço de um bem cai, aumenta a área sob a curva da demanda, mas acima do preço – que, como vimos, é igual ao excedente do consumidor. A Figura 4-5 mostra o mesmo resultado no caso de uma curva de demanda suave, a demanda por iPads. Aqui supomos que o preço dos iPads cai de $2.000 para $500, levando ao aumento da quantidade demandada de 200 mil para 1 milhão de unidades. Como no exemplo do livro usado, dividimos o ganho no excedente do consumidor em duas partes. O retângulo escuro na Figura 4-5 corresponde à área escura na Figura 4-4: é o ganho das 200 mil pessoas que teriam comprado iPads mesmo ao preço mais alto de $2.000. Em consequência da redução do preço, cada um recebe um excedente adicional de $1.500. O triângulo claro, na Figura 4-5, corresponde à área clara da Figura 4-4: é o ganho das pessoas que não teriam comprado o bem a um preço mais elevado, mas estão dispostas a fazê-lo a um preço de $500. Por exemplo, o triângulo claro inclui o ganho de alguém que estaria disposto a pagar $1.000 por um iPad e, portanto, recebe $500 como excedente do consumidor quando é possível comprar um iPad por apenas $500. FIGURA 4-4

Excedente do consumidor e queda no preço de livros usados

Existem duas partes no aumento do excedente do consumidor gerado por uma queda no preço de $30 para $20. A primeira é dada pelo retângulo escuro: cada pessoa que teria comprado ao preço original de $30 – Aleisha, Brad e Cláudia – recebe um aumento no excedente do consumidor igual ao total da queda de preço, $10. Assim, a área do retângulo escuro corresponde a um montante igual a 3 × $10 = $30. A segunda parte é dada pelo retângulo claro: o aumento no excedente do consumidor daqueles que não teriam comprado ao preço original de $30, mas que compram ao preço novo de $20 ou seja, Darren. A disposição de pagar de Darren era $25, então ele agora recebe um excedente do consumidor de $5. O aumento total no excedente do consumidor é (3 × $10) + $5 = $35, representado pela soma das áreas sombreadas. Do mesmo modo, um aumento no preço de $20 para $30 reduziria o excedente do consumidor em $35, o valor correspondente à soma das áreas sombreadas.

FIGURA 4-5

A queda no preço aumenta o excedente do consumidor

A queda no preço de um iPad de $2.000 para $500 leva a um aumento na quantidade demandada e a um aumento no excedente do consumidor. A variação no excedente do consumidor total é dada pela soma das áreas sombreadas: a área total por baixo da curva da demanda e entre o preço antigo e o novo. Aqui, a área escura representa um aumento no excedente do consumidor para os 200 mil consumidores que teriam comprado um iPad ao preço original de $2.000. Cada um recebe um aumento no excedente do consumidor de $1.500. A área clara representa o aumento no excedente do consumidor daqueles dispostos a comprar a um preço igual ou superior a $500, mas inferior a $2.000. Da mesma forma, um aumento no preço de um iPad de $500 para $2.000 gera uma diminuição no excedente do consumidor igual à soma das duas áreas sombreadas.

Como antes, o ganho total em excedente do consumidor é a soma das áreas sombreadas: o aumento da área sob a curva da demanda, mas acima do preço. O que aconteceria se o preço de um bem fosse subir em vez de cair? Faríamos a mesma análise em sentido inverso. Suponha, por exemplo, que por alguma razão o preço dos iPads aumentou de $500 para $2.000. Isso levaria a uma diminuição do excedente do consumidor, igual à soma das áreas sombreadas na Figura 4-5. Essa perda é constituída de duas partes. O

retângulo escuro representa a perda para os consumidores que ainda iriam comprar um iPad, mesmo a um preço de $2.000. O triângulo claro representa a perda para os consumidores que decidem não comprar um iPad a um preço mais elevado.

PARA MENTES CURIOSAS UMA QUESTÃO DE VIDA E DE MORTE Em 2010, mais de 3.900 pessoas nos Estados Unidos morreram à espera de um transplante de rim. No início de 2011, quase 90 mil pessoas estavam na lista de espera. Como o número de pessoas que necessitam de um transplante de rim excede em muito a disponibilidade, qual é a melhor maneira de alocar os órgãos disponíveis? Um mercado não é viável. Por motivos óbvios, a venda de partes do corpo humano é ilegal naquele país. Assim, a tarefa de estabelecer um protocolo para essa situação recaiu para um grupo sem fins lucrativos, a UNOS, sigla para United Network for Organ Sharing, ou Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos. Segundo as diretrizes atuais da UNOS, o rim doado vai para a pessoa que estiver esperando há mais tempo. De acordo com esse sistema, um rim disponível iria para uma pessoa de 75 anos de idade que estivesse esperando há dois anos, em vez de ir para alguém com 25 anos de idade, que estivesse esperando há 6 meses, embora a pessoa com 25 anos de idade provavelmente viverá mais tempo e se beneficiará mais do órgão transplantado. Para abordar essa questão, a UNOS está formulando um novo conjunto de diretrizes baseadas em um conceito que ela denomina de “benefício líquido”. De acordo com essas novas diretrizes, os rins seriam doados com base em quem receberá o maior benefício líquido, onde o benefício líquido é mensurado pela expectativa de anos de vida a partir do transplante. E a idade é de longe o maior previsor de quanto tempo alguém viverá depois do transplante. Por exemplo, um diabético típico de 25 anos de idade ganhará 8,7 anos extras de vida com um transplante, mas um diabético típico de 55 anos de idade ganhará apenas 3,6 anos a mais. Conforme o sistema atual, com base no tempo de espera, os transplantes levam aproximadamente 44 mil anos extra de vida para os beneficiários; com o novo sistema, esse número subirá para 55 mil anos a mais. A parcela dos rins que iria para os que têm vinte e poucos anos vai triplicar; a que vai para os que têm 60 anos ou mais será reduzida pela metade.

O que isso tem a ver com o excedente do consumidor? Como você deve ter adivinhado, o conceito de “benefício líquido” da UNOS é muito parecido com o excedente do consumidor individual gerado a partir da obtenção de um rim novo. Em essência, a UNOS desenvolveu um sistema que aloca rins doados de acordo com quem obtém o maior excedente do consumidor individual. Em termos de resultado, então, o sistema de “benefício líquido” proposto funciona muito como um mercado competitivo.

economia em ação Quando o dinheiro não basta

Uma percepção essencial que deriva do conceito de excedente do consumidor é que as compras geram um benefício líquido para o consumidor, pois o consumidor normalmente paga um preço inferior ao que estaria disposto a pagar pelo bem. Outra maneira de dizer isso é que o direito de comprar um bem ao preço corrente é em si mesmo valioso. Na maioria das vezes, não pensamos sobre o valor associado ao direito de comprar um bem. Em uma economia de mercado, temos certeza de poder comprar o que quisermos desde que paguemos o preço de mercado. Mas nem sempre isso é verdade. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, a demanda de produção para o esforço de guerra criou escassez de bens de consumo, quando esses bens eram vendidos a preços de antes da guerra. Em vez de permitir que os preços subissem, os funcionários do governo, em muitos países, criaram um sistema de racionamento. Para comprar açúcar, carne, café, gasolina e muitos outros bens, não apenas devia se pagar em dinheiro, como também tinha que ser apresentado selos ou cupões de cadernetas especiais emitidas pelo governo para cada família. Esses pedaços de papel, que representavam o direito de comprar mercadoria a um preço regulado pelo governo, rapidamente tornaram-se mercadorias valiosas. Em consequência, surgiu um mercado negro de selos para carne e cupões de gasolina. Além disso, os criminosos começaram a roubar cupões e até mesmo fabricar selos falsificados. O engraçado é que, mesmo que a pessoa tivesse comprado um cupão de gasolina no mercado negro, ainda assim teria que pagar o preço regular da

gasolina. Então, o que você estava comprando no mercado negro não era o bem, mas o direito de comprar o bem ao preço regulado pelo governo. Ou seja, as pessoas que compravam cupões de racionamento no mercado negro estavam pagando pelo direito de obter algum excedente do consumidor.

BREVE REVISÃO A curva da demanda de um bem é determinada pela disposição de pagar de cada consumidor potencial. O excedente do consumidor individual é o ganho líquido que um consumidor obtém pela compra de um bem. O excedente do consumidor total em determinado mercado é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. Uma queda no preço de um bem aumenta o excedente do consumidor por meio de dois canais: um ganho para os consumidores que teriam comprado ao preço original e um ganho para os consumidores que são persuadidos a comprar pelo preço mais baixo. Um aumento no preço de um bem reduz o excedente do consumidor de forma similar.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 4-1 1.

Considere o mercado de queijo recheado com pimentas jalapão. Há dois consumidores, Casey e Josey, e a disposição de pagar pela pimenta é mostrada na tabela ao lado. (Nenhum dos dois está disposto a consumir mais de 4 pimentas a qualquer preço.) Use a tabela (i) para construir a tabela da demanda de pimentas para os preços $0,00, $0,10, e assim por diante, até $0,90, e (ii) calcule o excedente do consumidor total quando o preço de uma pimenta é $0,40. Quantidade de pimentas

Disposição de Casey de pagar

Disposição de Josey de pagar

1ª pimenta

$0,90

$0,80

2ª pimenta

0,70

0,60

3ª pimenta

0,50

0,40

4ª pimenta

0,30

0,30

As respostas estão no fim do livro.

EXCEDENTE DO PRODUTOR E CURVA DA OFERTA Assim como alguns compradores de um bem estariam dispostos a pagar mais por uma compra do que o preço que realmente pagam, alguns vendedores de um bem também estariam dispostos a vendê-lo por menos do que o preço que realmente recebem. Então, assim como há consumidores que recebem o excedente do consumidor por comprar em um mercado, há produtores que recebem o excedente do produtor por vender em um mercado. Custo e excedente do produtor

Considere um grupo de estudantes vendedores potenciais de livros usados. Como têm preferências diferentes, os vários vendedores potenciais diferem no preço que estão dispostos a vender seus livros. A Tabela 4-6 mostra os preços pelos quais diversos estudantes estão dispostos a vender. Andrew está disposto a vender o livro se conseguir obter pelo menos $5; Betty não vai vender por menos que $15; Carlos, a menos que possa obter $25; Donna, a menos que possa obter $35; Engelbert, a menos que possa obter $45. O preço mais baixo pelo qual um vendedor potencial está disposto a vender tem um nome especial em economia: custo do vendedor. Assim, o custo de Andrew é $5, o de Betty é $15, e assim por diante. Usar o termo custo, que as pessoas normalmente associam com custo monetário de produzir um bem, pode soar um pouco estranho, quando aplicado a vendedores de livros usados. Os estudantes não têm que fabricar livros, então não custa nada a quem vende um livro usado fabricar esse livro e deixá-lo disponível para venda, não é? Sim, custa. Um estudante que vende um livro, mais tarde não o possui mais na sua coleção pessoal. Então, há um custo de oportunidade na venda de um livro, mesmo que o proprietário tenha concluído o curso para o qual

o livro foi exigido. E lembre-se de que um dos princípios básicos em economia é que a verdadeira medida do custo de fazer alguma coisa sempre é o seu custo de oportunidade. Ou seja, o custo real de algo é a que se deve renunciar para obtê-lo. Por isso, falar sobre o preço mínimo pelo qual alguém irá vender um bem como sendo o “custo” de vender esse bem, mesmo sem gastar dinheiro na confecção do bem, constitui bom senso econômico. Claro que, na maioria dos mercados do mundo real, os vendedores também são aqueles que produzem o bem e, portanto, gastam dinheiro para disponibilizá-lo para venda. Nesse caso, o custo de tornar o bem disponível para venda inclui os custos monetários, mas também pode incluir outros custos de oportunidade. Voltando ao exemplo, suponha que Andrew venda o livro por $30. É evidente que ele ganhou nessa transação: ele estaria disposto a vender por apenas $5, assim, ganhou $25. Esse ganho líquido, a diferença entre o preço que ele realmente obtém e seu custo – o preço mínimo pelo qual ele estaria disposto a vender – é conhecido como excedente do produtor individual. Assim como a curva da demanda é derivada da disposição de pagar de diferentes consumidores, podemos derivar a curva da oferta do custo de produtores diferentes. A curva em forma de escada na Figura 4-6 representa a curva de oferta implícita nos custos da tabela que a acompanha. A um preço inferior a $5, nenhum dos estudantes estará disposto a vender, a um preço entre $5 e $15, apenas Andrew estará disposto a vender, e assim por diante. Como no caso do excedente do consumidor, podemos acrescentar o excedente do produtor individual dos vendedores para calcular o excedente do produtor total, o ganho líquido total de todos os vendedores no mercado. Os economistas usam o termo excedente do produtor para se referir tanto ao excedente do produtor total como individual. A Tabela 4-2 mostra o ganho líquido para cada um dos estudantes que iria vender um livro usado ao preço de $30: $25 para Andrew, $15 para Betty e $5 para Carlos. O excedente do produtor total é $25 + $15 + $5 = $45. FIGURA 4-6

Curva da oferta de livros usados

A curva da oferta mostra o custo do vendedor, o menor preço pelo qual um vendedor potencial está disposto a vender o bem e a quantidade ofertada a esse preço. Cada um dos cinco estudantes tem um livro para vender e cada um tem um custo diferente, como indicado na tabela a seguir. A um preço de $5, a quantidade ofertada é de um (Andrew), a $15 é de dois (Andrew e Betty), e assim por diante até chegar a $45, o preço pelo qual todos os cinco estudantes estão dispostos a vender.

TABELA 4-2 Excedente do produtor se o preço do livro usado = $30 Custo $

Preço recebido $

Excedente do produtor individual = preço recebido – custo $

5

30

25

Betty

15

30

15

Carlos

25

30

5

Donna

35





Engelbert

45





Vendedor potencial Andrew

Todos os vendedores

Total do excedente do produtor

Tal como acontece com o excedente do consumidor, o excedente do produtor recebido por aqueles que vendem livros pode ser representado graficamente. A Figura 4-7 reproduz a curva da oferta da Figura 4-6. Cada degrau da curva da oferta abrange um livro e representa um vendedor. A altura do degrau de Andrew é $5, seu custo. Isso forma a base do retângulo, com $30, o preço que realmente recebe pelo livro, formando o topo. A área desse retângulo – ($30 − $5) × 1 = $25 – é o excedente do produtor. Assim, o excedente do produtor que Andrew obtém com a venda do livro é a área do retângulo vermelho escuro mostrado na figura. Vamos supor que a livraria do campus esteja disposta a comprar todas as cópias usadas desse livro que os estudantes estão dispostos a vender ao preço de $30. Então, além de Andrew, Betty e Carlos também vão vender seus livros. Também serão beneficiados com as vendas, embora nem tanto quanto Andrew, por ter custos mais elevados. Andrew, como vimos, obtém $25. Betty obtém uma quantia menor: como seu custo é $15, obtém apenas $15. Carlos recebe menos, apenas $5. Mais uma vez, assim como com o excedente do consumidor, temos uma regra geral para determinar o excedente do produtor total da venda de um bem: o excedente do produtor total da venda de um bem a um dado preço é a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. Essa regra se aplica aos dois exemplos, como mostrado na Figura 4-7, onde há um número pequeno de produtores e uma curva de oferta representada por um degrau sombreado, e para exemplos mais realistas, onde há muitos produtores, e a curva da oferta é suave. Considere, por exemplo, a oferta de trigo. A Figura 4-8 mostra como o excedente do produtor depende do preço por saca. Suponha que, como mostrado na figura, o preço é $5 por saca, e os agricultores ofertem 1 milhão de sacas. Qual é o benefício para os agricultores da venda do trigo ao preço de $5? O excedente do produtor é igual à área sombreada na figura – a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço de $5 por saca. Como a variação de preços afeta o excedente do produtor

Como no caso do excedente do consumidor, uma variação no preço altera o excedente do produtor. Mas os efeitos são opostos: enquanto uma queda no preço aumenta o excedente do consumidor e reduz o excedente do produtor, um aumento no preço reduz o excedente do consumidor, mas aumenta o excedente do produtor. FIGURA 4-7

Excedente do produtor no mercado de livros usados

Ao preço de $30, Andrew, Betty e Carlos vendem um livro, mas Donna e Engelbert, não. Andrew, Betty e Carlos obtêm excedentes do produtor individual igual à diferença entre o preço e o seu custo, aqui ilustrado pelos retângulos sombreados. Donna e Engelbert têm um custo que é maior que o preço de $30, portanto não estão dispostos a vender o livro e assim recebem zero de excedente do produtor. O excedente do produtor total é dado pela área sombreada total, a soma dos excedentes do produtor individual de Andrew, Betty e Carlos, o equivalente a $25 + $15 + $5 = $45.

FIGURA 4-8

Excedente do produtor

Eis aqui a curva da oferta de trigo. Ao preço de $5 por saca, os agricultores ofertam 1 milhão de sacas. O excedente do produtor a esse preço é igual à área sombreada: a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. Esse é o ganho total dos produtores – agricultores, nesse caso – ao ofertar seu produto quando o preço é $5.

Para verificar, consideremos primeiro um aumento no preço do bem. Os produtores do bem irão experimentar um aumento no excedente do produtor, embora nem todos os produtores ganhem a mesma quantia. Alguns produtores terão produzido o bem mesmo ao preço original; irão ganhar todo o aumento de preço em todas as unidades produzidas. Outros produtores entrarão no mercado por causa do preço mais alto. Irão ganhar apenas a diferença entre o novo preço e seu custo. A Figura 4-9 é a contrapartida da oferta da Figura 4-5. Mostra o efeito sobre o excedente do produtor de um aumento no preço do trigo de $5 para $7 por saca. O aumento no excedente do produtor é a soma das áreas sombreadas, que consiste de duas partes. Primeiro, há um retângulo vermelho escuro correspondente aos ganhos dos agricultores que teriam ofertado trigo mesmo ao preço original de $5. Segundo, há um triângulo

vermelho claro adicional que corresponde aos ganhos dos agricultores que não teriam ofertado trigo ao preço original, mas são atraídos para o mercado em decorrência do preço mais elevado. FIGURA 4-9

Um aumento no preço aumenta o excedente do produtor

Um aumento no preço do trigo de $5 para $7 leva a um aumento na quantidade ofertada e a um aumento no excedente do produtor. A variação no excedente do produtor total é dada pela soma das áreas sombreadas: a área total acima da curva da oferta, mas entre os preços antigo e novo. A área vermelha escura representa o ganho dos agricultores que teriam ofertado 1 milhão de sacas, ao preço original de $5. Cada um deles recebe um aumento de excedente do produtor de $2 para cada uma dessas sacas. A área triangular vermelha clara representa o aumento do excedente do produtor alcançado pelos agricultores que oferecem 500 mil sacas adicionais por causa do preço mais alto. Da mesma forma, uma queda no preço do trigo de $7 para $5 gera uma redução no excedente do produtor igual à soma das áreas sombreadas.

Se o preço caísse de $7 para $5 a saca, a história seria inversa. A soma das áreas sombreadas agora seria o declínio no excedente do produtor, a redução na área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. A perda seria composta de duas partes, a perda dos agricultores que ainda iriam cultivar

trigo ao preço de $5 (o retângulo escuro) e a perda dos agricultores que deixam de cultivar trigo por causa do preço mais baixo (o triângulo claro).

economia em ação Quando o milho está em alta

O valor médio da terra arável no Iowa bateu um recorde em 2010, ao subir 15,9% durante o ano. A Figura 4-10 mostra o aumento explosivo no preço das terras do Iowa de 2009 a 2010. E não havia nenhum mistério: a razão eram os preços elevados pagos pelo trigo, milho e soja. Em 2010, o preço do milho saltou 52%, a soja, 34% e o trigo, 47%. Por que os produtos agrícolas do Iowa influenciavam na alta dos preços? Havia três razões principais: o etanol, aumento da renda em países como a China e o mau tempo em outros países produtores de gêneros alimentícios, como a Austrália e a Ucrânia. Etanol – produto fabricado do milho e o mesmo tipo de álcool da cerveja e de outras bebidas alcoólicas – também pode ser combustível para automóveis. E nos últimos anos, a política do governo, tanto federal como estadual, encorajou o uso da gasolina que contém uma porcentagem de etanol. Há algumas razões para essa política, incluindo alguns benefícios no combate à poluição do ar e a esperança de que o uso de mais etanol vá reduzir a dependência de importação de petróleo dos Estados Unidos. Uma vez que o etanol vem do milho, seu deslocamento para combustível deu origem a um aumento na demanda de milho. FIGURA 4-10

Preço da terra em Iowa, 1950–2010

Mas os agricultores do Iowa também se beneficiaram muito dos eventos na economia global. Como no caso do algodão, que estudamos no Capítulo 3, a variação na oferta e demanda de produtos alimentares nos mercados mundiais levou ao aumento de preços do milho americano, da soja e do trigo. O aumento da renda em países como a China levou ao aumento do consumo e da demanda de alimentos. Simultaneamente, as condições climáticas ruins na Austrália e na Ucrânia levaram a uma queda na oferta. Previsivelmente, o aumento da demanda juntamente com a redução da oferta levou a um aumento de preços nos gêneros alimentícios e a uma sorte inesperada para os agricultores do Iowa. O que isso tem a ver com o preço da terra? Uma pessoa que compra uma fazenda no Iowa compra o excedente do produtor gerado pela fazenda. E os preços mais elevados do milho, da soja e do trigo, que aumentam o excedente do produtor dos agricultores do Iowa, tornam as terras do Iowa mais valiosas. De acordo com uma pesquisa da Iowa State University, no final de 2010, o preço médio de um acre de terra no Iowa era $5.064, um aumento de 172% em 10 anos.

BREVE REVISÃO

A curva da oferta de um bem é determinada pelo custo de cada vendedor. A diferença entre o preço e o custo é o excedente do produtor individual do vendedor. O excedente do produtor total é igual à área acima da curva de oferta do mercado, mas abaixo do preço. Quando o preço de um bem aumenta, o excedente do produtor aumenta através de dois canais: os ganhos de quem teria ofertado o bem ao preço original e os ganhos daqueles que são induzidos a oferecer o bem pelo preço mais elevado. Uma queda no preço de um bem leva, de forma semelhante, a uma queda no excedente do produtor.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 4-2 1.

Considere novamente o mercado de queijo recheado com pimentas jalapão. Existem dois produtores, Cara e Jamie, e o custo de produção de cada pimenta é fornecido na tabela a seguir. (Ninguém está disposto a produzir mais do que quatro pimentas a qualquer preço.) Use a tabela (i) para elaborar o cronograma de fornecimento de pimentas aos preços de $0,00, $0,10, e assim por diante, até $0,90, e (ii) calcule o excedente do produtor total quando o preço de uma pimenta for $0,70. Quantidade de pimentas

Custo de Cara

Custo de Jamie

1ª pimenta

$0,10

$0,30

2ª pimenta

0,10

0,50

3ª pimenta

0,40

0,70

4ª pimenta

0,60

0,90

As respostas estão no fim do livro.

EXCEDENTE DO CONSUMIDOR, EXCEDENTE DO PRODUTOR E GANHOS DO COMÉRCIO Um dos 12 princípios fundamentais da economia que apresentamos no Capítulo 1 é que os mercados são uma forma extremamente eficaz de

organizar a atividade econômica: geralmente torna a situação da sociedade a melhor possível, dado os recursos disponíveis. Os conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor podem ajudar a aprofundar a compreensão de por que isso é assim. Ganhos do comércio

Voltemos ao mercado de livros usados, mas considere agora um mercado muito maior – digamos, em uma grande universidade estadual. Há muitos compradores e vendedores potenciais, assim, o mercado é competitivo. Vamos listar os novos alunos que são compradores potenciais de livros em ordem de disposição de pagar, de modo que o aluno que está entrando com a maior disposição de pagar será o comprador potencial número 1, o aluno com a seguinte disposição de pagar será o número 2, e assim por diante. Então, podemos usar a sua disposição de pagar para derivar uma curva da demanda como a da Figura 4-11. Da mesma forma, podemos listar os alunos que estão saindo, que são vendedores potenciais de livros, em ordem do seu custo – começando com o aluno com o custo mais baixo, em seguida, o aluno com o próximo custo mais baixo, e assim por diante, para obter uma curva de oferta, como a mostrada na mesma figura. Como traçado pelas curvas, o mercado atinge o equilíbrio a um preço de $30 por livro e 1 mil livros são comprados e vendidos a esse preço. Os dois triângulos sombreados mostram o excedente do consumidor (o superior) e o excedente do produtor (o inferior) gerado por esse mercado. A soma do excedente do consumidor e do produtor é conhecida como excedente total gerado no mercado. O que realmente surpreende sobre esse quadro é que os consumidores e os produtores ganham – isto é, tanto os consumidores como os produtores ficam em melhor situação porque há mercado para esse bem. Mas isso não é nenhuma surpresa – ilustra outro princípio fundamental da economia: existem ganhos do comércio. Esses ganhos do comércio são a razão pela qual todos ficam em melhor situação ao participar de uma economia de mercado do que se cada indivíduo tentasse ser autossuficiente. A eficiência dos mercados

Os mercados produzem ganhos do comércio. Mas, no Capítulo 1, fizemos uma afirmação mais significativa: a de que os mercados geralmente são e cientes. Ou seja, argumentou-se que uma vez que o mercado tenha produzido ganhos do comércio, normalmente não há nenhuma maneira de tornar a situação de algumas pessoas melhor sem piorar a de outras, exceto sob certas condições bem definidas. A análise do excedente do consumidor e do produtor nos ajuda a entender por que os mercados geralmente são eficientes. Para perceber por que isso é assim, considere o fato de que o equilíbrio de mercado é apenas uma maneira de decidir quem consome o bem e quem vende o bem. Há outras maneiras possíveis de tomar essa decisão. FIGURA 4-11

Excedente total

No mercado de livros usados, o preço de equilíbrio é $30 e a quantidade de equilíbrio é 1 mil livros. O excedente do consumidor é dado pela área azul, a área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. O excedente do produtor é dado pela área vermelha, a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. A soma das áreas azul e vermelha é o excedente total, o benefício total para a sociedade da produção e do consumo do bem.

Considere, por exemplo, o caso do transplante de rim, discutido anteriormente na seção Para mentes curiosas. Lá você aprendeu que os rins disponíveis atualmente vão para as pessoas que estão esperando há mais tempo, em vez de para as pessoas que se beneficiarão do órgão por mais tempo. Para lidar com essa ineficiência, um novo conjunto de diretrizes está sendo elaborado para determinar a elegibilidade para transplantes de rim com base no “benefício líquido”, um conceito muito parecido com o do excedente do consumidor: os rins seriam alocados em grande parte em função de quem mais se beneficiaria deles. Para reforçar ainda mais a compreensão de por que os mercados geralmente funcionam tão bem, imagine um comitê encarregado de melhorar o equilíbrio de mercado ao decidir quem fica e quem desiste de um livro usado. O objetivo final do comitê: ignorar o resultado do mercado e elaborar outro arranjo, que iria produzir mais excedente total. Vamos considerar as três formas em que a comissão pode tentar aumentar o excedente total: 1. Realocação do consumo entre consumidores. 2. Realocação de vendas entre vendedores. 3. Alteração da quantidade comerciada. Realocação do consumo entre consumidores

O comitê pode tentar aumentar o excedente total com a venda de livros para diferentes consumidores. A Figura 4-12 mostra por que isso resultará em excedente mais baixo em relação ao resultado de equilíbrio de mercado. Os pontos A e B mostram posições sobre a curva da demanda de dois compradores potenciais de livros usados, Ana e Bob. Como se vê na figura, Ana está disposta a pagar $35 por um livro, mas Bob está disposto a pagar apenas $25. Uma vez que o preço de equilíbrio de mercado é $30, com o resultado do mercado Ana compra um livro e Bob, não. Agora suponha que o comitê realoque o consumo. Isso significaria tirar o livro de Ana e entregar a Bob. Como o livro vale $35 para Ana, mas apenas $25 para Bob, isso reduzirá o excedente do consumidor total em $35 – $25 = $10. Além disso, esse resultado não depende dos alunos escolhidos. Cada aluno que compra um livro no equilíbrio de mercado tem disposição de

pagar $30 ou mais, e os que não compram têm disposição de pagar menos de $30. Então, a realocação do bem entre consumidores sempre significa tirar um livro de um aluno que valoriza mais e entregá-lo a quem valoriza menos. Isso necessariamente reduz o excedente total do consumidor. Realocação de vendas entre vendedores

O comitê pode tentar aumentar o excedente total, alterando quem vende os livros, tirando as vendas dos vendedores que teriam vendido seus livros no equilíbrio de mercado e, em vez disso, convencendo aqueles que não teriam vendido os livros no equilíbrio de mercado a vendê-los. A Figura 4-13 mostra por que isso resultará em um excedente menor. Aqui os pontos X e Y mostram as posições na curva da oferta de Xavier, que tem um custo de $25, e Ivone, que tem um custo de $35. No preço de mercado de equilíbrio de $30, Xavier venderia seu livro, mas Ivone não. Se o comitê realocar as vendas, forçando Xavier a ficar com o livro e Ivone a vender o dela, o excedente do produtor total será reduzido em $35 – $25 = $10. FIGURA 4-12

Realocação do consumo reduz o excedente do consumidor

Ana (ponto A) tem disposição de pagar $35. Bob (ponto B) tem disposição de pagar apenas $25. No preço de equilíbrio de mercado de $30, Ana compra um livro, mas Bob, não. Se reorganizarmos o consumo, tirando um livro de Ana e entregando a Bob, o excedente do consumidor cai para $10 e, em consequência, o excedente total cai para $10.

Mais uma vez, não importa qual dos dois alunos se escolha. Qualquer aluno que venda um livro no equilíbrio de mercado tem um custo menor do que qualquer aluno que mantém um livro. Então, realocando as vendas entre os vendedores, necessariamente aumenta o custo total e reduz o excedente total produtor. Variação na quantidade comerciada

O comitê pode tentar aumentar o excedente total obrigando os alunos a vender e comprar mais livros ou menos livros do que a quantidade de equilíbrio do mercado. A Figura 4-14 mostra por que isso resultará em excedente menor. Ela representa os quatro alunos: os compradores potenciais Ana e Bob e os vendedores potenciais Xavier e Ivone. Para reduzir as vendas, o comitê terá que evitar uma transação que teria ocorrido no mercado de equilíbrio, isto é, terá de evitar que Xavier venda para Ana. Como Ana estaria disposta a pagar $35, mas o custo de Xavier é $25, impedir essa venda reduziria o excedente total em $35 – $25 = $10. Mais uma vez, esse resultado não depende dos alunos escolhidos: qualquer aluno que tenha vendido seu livro no equilíbrio de mercado teria um custo de $30 ou menos e qualquer aluno que tenha comprado o livro no equilíbrio de mercado estaria disposto a pagar $30 ou mais. Então, o impedimento de qualquer venda que teria ocorrido no equilíbrio de mercado necessariamente reduz o excedente total. Por fim, o comitê poderia tentar aumentar as vendas, forçando Ivone, que não teria vendido seu livro no equilíbrio de mercado, a vendê-lo a alguém como Bob, que não teria comprado o livro no equilíbrio de mercado. Como o custo de Ivone é $35, mas Bob está disposto a pagar apenas $25, isso reduz o excedente total em $10. E, mais uma vez, não importa qual o par de alunos selecionado – qualquer um que não tenha comprado o livro tem uma

disposição de pagar de menos de $30, e quem não o tenha vendido, tem um custo de mais de $30. O ponto fundamental a ser lembrado é que uma vez que esse mercado está em equilíbrio, não há nenhuma maneira de aumentar os ganhos do comércio. Qualquer outro resultado reduz o excedente total. (É por isso que a UNOS, com as novas diretrizes baseadas no “benefício líquido”, está tentando reproduzir a alocação de rins doados que ocorreria se não houvesse mercado de órgãos.) Pode-se resumir os resultados afirmando que um mercado eficiente desempenha quatro funções importantes: 1. Aloca o consumo de um bem aos compradores potenciais que o valorizam, como indicado pelo fato de que têm a maior disposição para pagar. 2. Aloca as vendas aos vendedores potenciais que valorizam mais o direito de vender o bem, como indicado pelo fato de que eles têm o menor custo. 3. Garante que cada consumidor que faz uma compra valoriza mais o bem que cada vendedor que faz a venda, de modo que todas as transações são mutuamente benéficas. 4. Garante que cada comprador potencial que não faz uma compra valoriza menos o bem do que cada vendedor potencial que não faz uma venda, de modo que não se perde nenhuma transação mutuamente benéfica. FIGURA 4-14

Alterar a quantidade reduz o excedente total

Se Xavier (ponto X) fosse impedido de vender seu livro para alguém como Ana (ponto

A), o excedente total cairia $10, a diferença entre a disposição de pagar de Ana ($35) e o custo de Xavier ($25). Isso significa que o excedente total cai sempre que sejam transacionados menos que 1 mil livros – a quantidade de equilíbrio. Da mesma forma, se Ivone (ponto Y) fosse obrigada a vender seu livro a alguém como Bob (ponto B), o excedente total também cairia $10, a diferença entre o custo de Ivone ($35) e a disposição de pagar de Bob ($25). Isso significa que o excedente total cai sempre que mais de 1 mil livros são transacionados. Esses dois exemplos mostram que no equilíbrio de mercado ocorrem todas as transações mutuamente benéficas e as transações somente mutuamente benéficas.

Como resultado dessas quatro funções, qualquer forma de alocar o bem que não seja o resultado do equilíbrio de mercado reduz o excedente total. No entanto, há três ressalvas. Primeiro, ainda que o mercado possa ser eficaz, não é necessariamente justo. Na verdade, a justiça, ou equidade, muitas vezes fica em conflito com a eficiência. Discutiremos isso a seguir. A segunda ressalva é que os mercados, às vezes, falham. Como mencionado no Capítulo 1, sob certas condições bem definidas, os mercados podem deixar de oferecer eficiência. Quando isso ocorre, os mercados já não maximizam o excedente total. Fornecemos, no fim deste

capítulo, uma breve visão geral de por que os mercados falham, reservando uma análise mais detalhada para os capítulos a seguir. Em terceiro lugar, mesmo quando o equilíbrio de mercado maximiza o excedente total, isso não significa que seja o melhor resultado para cada consumidor e produtor individual. Tudo o mais mantido constante, cada comprador gostaria de pagar um preço mais baixo e cada vendedor gostaria de receber um preço mais elevado. Então, se o governo interferir no mercado – digamos, diminuindo o preço abaixo do preço de equilíbrio para agradar os consumidores ou aumentando o preço acima do nível de equilíbrio para agradar os produtores – o resultado já não seria eficiente. Embora algumas pessoas ficassem mais felizes, o excedente total seria menor. Equidade e eficiência

Para muitos pacientes que precisam de transplantes de rim, as diretrizes propostas pela UNOS, comentadas anteriormente, serão má notícia. Aqueles que esperaram anos por um transplante, sem dúvida, vão achar essas diretrizes, que dão prioridade aos pacientes mais jovens… injustas. E as diretrizes levantam outras questões sobre justiça: por que limitar os recipientes potenciais de transplante a americanos? Por que incluir pacientes jovens com outras doenças crônicas? Por que não dar prioridade aos que reconhecidamente fizeram contribuições à sociedade? E assim por diante. O ponto é que a eficiência é sobre como atingir objetivos, e não sobre quais deveriam ser esses objetivos. Por exemplo, a UNOS decidiu que seu objetivo é maximizar o tempo de vida dos recipientes de rins. Outros teriam defendido um objetivo diferente e a eficiência não tenta saber qual objetivo é o melhor. A e ciência trata da melhor maneira de atingir um objetivo, uma vez que ele tenha sido determinado – nesse caso, utilizando o conceito da UNOS de “benefício líquido”. É fácil exagerar no entusiasmo com a ideia de que os mercados estão sempre certos e que políticas econômicas que interferem na eficiência são ruins. Mas isso é um equívoco, pois há outro fator a considerar: a sociedade se preocupa com a equidade, ou o que é “justo”.

Como discutimos no Capítulo 1, muitas vezes há um trade-off entre equidade e eficiência: políticas que promovam a equidade, muitas vezes, se concretizam ao custo da diminuição na eficiência, e políticas que promovam a eficiência muitas vezes, resultam em diminuição da equidade. Por isso, é importante perceber que a escolha da sociedade de sacrificar alguma eficiência em prol da equidade, no entanto, é uma escolha válida. E é importante entender que a justiça, ao contrário da eficiência, pode ser muito difícil de definir. Justiça é um conceito sobre o qual as pessoas bem intencionadas, muitas vezes, discordam.

economia em ação Aqui estão as chaves

Sem dúvida, os livros de história (ou leitores digitais), um dia irão citar o eBay, o serviço de leilão on-line, como uma das grandes inovações americanas do século XX. Fundada em 1995, a empresa diz que sua missão é “ajudar praticamente qualquer pessoa a comerciar praticamente qualquer coisa na terra”. Ela fornece um caminho para futuros compradores e vendedores – de itens únicos ou usados – por vezes se encontrarem. E os ganhos resultantes do comércio, para os usuários do eBay, evidentemente são grandes: em 2010, o eBay reportou $53,5 bilhões em bens comprados e vendidos em seus sites. E a correspondência on-line não parou por aí. Agora estão aparecendo sites que permitem às pessoas alugar itens pessoais – como carros, ferramentas elétricas, aparelhos eletrônicos pessoais e quartos vazios. À semelhança do que aconteceu no eBay entre compradores e vendedores, esses novos sites fornecem uma plataforma para inquilinos e proprietários se encontrarem. Um artigo recente da Business Week descreveu como um casal de Boston usou o site RelayRides para alugar um carro que estava sem uso, ganhando o suficiente para pagar pela manutenção e seguro. E de acordo com o fundador da RelayRides, Shelby Clark, o locatário médio de carro, ganha $250 por mês em seu site.

Judith Chevalier, economista da Yale School of Management, diz: “Com essas empresas, pode-se tirar algum valor de… bens que estão sem uso.” RelayRides e empresas semelhantes esperam receber um bom retorno, ajudando-as a gerar um pouco mais de excedente de suas posses.

BREVE REVISÃO O excedente total mede os ganhos do comércio em um mercado. Os mercados são eficientes, exceto em condições bem definidas. Podemos demonstrar a eficiência de um mercado, considerando o que acontece com o excedente total quando partimos do equilíbrio e rearranjamos o consumo, rearranjamos as vendas, ou alteramos a quantidade comerciada. Qualquer resultado que não seja o equilíbrio de mercado reduz o excedente total, o que significa que o equilíbrio de mercado é eficiente. Como a sociedade se preocupa com a equidade, justifica-se a intervenção do governo em um mercado para reduzir a eficiência e aumentar a equidade.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 4-3 1. Use as tabelas das seções Teste seu entendimento 4-1 e 4-2, para encontrar o preço e a quantidade de equilíbrio no mercado de queijo recheado com pimentas jalapão. Qual é o excedente total no equilíbrio desse mercado e quem o recebe? 2. Mostre como cada uma das três ações seguintes reduz o excedente total: a. Fazer Josey consumir uma pimenta a menos e Casey uma pimenta a mais que no equilíbrio de mercado b. Fazer Cara produzir uma pimenta a menos, e Jamie uma pimenta a mais, que no equilíbrio de mercado c. Fazer Josey consumir uma pimenta a menos, e Cara produzir uma pimenta a menos que no equilíbrio de mercado 3. Suponha que a UNOS altere suas diretrizes para a alocação de rins doados, não mais dependendo exclusivamente do conceito de “benefício líquido”, mas também dando preferência a pacientes com crianças pequenas. Se o “excedente total” nesse caso for definido como sendo o ciclo de vida total de receptores de rins, essa nova diretriz é suscetível de reduzir, aumentar ou deixar inalterado o excedente total? Como se pode justificar essa nova diretriz? As respostas estão no fim do livro.

UMA ECONOMIA DE MERCADO Como aprendemos no início deste livro, em uma economia de mercado, as decisões sobre produção e consumo são realizadas através dos mercados. De fato, a economia como um todo é constituída de muitos mercados interrelacionados. Até agora, para aprender como os mercados funcionam, analisamos um mercado único – o mercado de livros usados. Mas, na realidade, os consumidores e produtores não tomam decisões de mercado de forma isolada. Por exemplo, a decisão de um aluno no mercado de livros usados pode ser afetada pela quantidade de juros que devem ser pagos em um empréstimo estudantil; assim, a decisão no mercado de livros usados é influenciada pelo que está acontecendo no mercado financeiro. Sabemos que um equilíbrio de mercado eficiente maximiza o excedente total – ganhos de compradores e vendedores nesse mercado. Existe um resultado comparável para uma economia como um todo, uma economia composta por um grande número de mercados individuais? A resposta é sim, mas com qualificações. Quando cada um e todos os mercados na economia maximizam o excedente total, então a economia como um todo é eficiente. Esse é um resultado muito importante: assim como é impossível melhorar a situação de alguém sem piorar a de outras pessoas em um mercado isolado, é impossível melhorar o resultado de uma economia de mercado quando todo e cada mercado dessa economia é eficiente. No entanto, é importante perceber que esse é um resultado teórico: é praticamente impossível encontrar uma economia em que todo e cada mercado seja eficiente. Por ora, vamos examinar por que os mercados e as economias de mercado normalmente funcionam muito bem. Depois de entender por que, então podemos abordar brevemente por que os mercados, às vezes, dão errado. Por que em geral os mercados funcionam tão bem

Os economistas já escreveram muito sobre por que os mercados são uma forma eficaz de organizar a economia. No final, o bom funcionamento dos

mercados deve sua eficácia a duas características poderosas: os direitos de propriedade e o papel dos preços como sinais econômicos. Entende-se por direito de propriedade um sistema em que os objetos de valor na economia têm proprietários específicos que podem dispor deles como quiserem. Em um sistema de direitos de propriedade, através da compra de um bem se recebe “direitos de propriedade”: o direito de usar e dispor do bem como se considerar adequado. Direitos de propriedade são o que tornam as transações mutuamente benéficas no mercado de livros usados ou em qualquer mercado possível. Para saber por que os direitos de propriedade são cruciais, imagine que os alunos não tenham direitos de propriedade plenos sobre seus livros e estejam proibidos de vendê-los ao fim do semestre letivo. Essa restrição do direito de propriedade impede muitas transações mutuamente benéficas. Alguns alunos vão ficar com livros encalhados que jamais lerão de novo, quando ficariam muito mais felizes em receber algum trocado. Outros serão obrigados a pagar o preço total por livros novíssimos, quando estariam satisfeitos com cópias um pouco maltratadas por um preço inferior. Quando um sistema de direito de propriedade bem definido já está em vigor, pode operar a segunda característica necessária do bom funcionamento dos mercados – preços como sinais econômicos. Um sinal econômico é qualquer informação que ajude as pessoas a tomar decisões econômicas melhores. Existem milhares de sinais que as empresas monitoram no mundo real. Por exemplo, os analistas das empresas que fazem previsões afirmam que a venda de caixas de embalagens é um bom indicador precoce de alterações na produção industrial: se as empresas estão comprando lotes de caixas de papelão, pode-se ter certeza de que em breve a sua produção aumentará. Mas os preços são, de longe, os sinais mais importantes em uma economia de mercado porque transmitem informação essencial sobre os custos de outras pessoas e sobre sua disposição de pagar. Se o preço de mercado de livros usados for $30, isso de fato informa a todos que há consumidores dispostos a pagar $30 ou mais e que há vendedores potenciais com custo de $30 ou menos. O sinal dado pelo preço de mercado assegura que o excedente total seja maximizado informando às pessoas se devem comprar livros, vender livros ou não fazer nada.

Cada vendedor potencial com custo de $30 ou menos fica sabendo do mercado que é uma boa ideia vender o livro. No caso de custo mais elevado, é uma boa ideia mantê-lo. Da mesma forma, cada consumidor disposto a pagar $30 ou mais aprende com o mercado que é uma boa ideia comprar um livro; se não estiver disposto a pagar $30, então é uma boa ideia não comprar o livro. Esse exemplo mostra que o preço de mercado “sinaliza” aos consumidores com disposição de pagar igual ou superior ao preço de mercado que eles devem comprar o bem, da mesma forma que sinaliza aos produtores com um custo igual ou inferior ao preço de mercado ao qual devem vender o bem. E uma vez em equilíbrio, a quantidade demandada iguala a quantidade ofertada. Todos os consumidores dispostos encontrarão vendedores dispostos. Os preços, às vezes, podem falhar como sinais econômicos. Às vezes, o preço não é um indicador preciso de quão desejável é o bem. Quando há incerteza sobre a qualidade de um bem, o preço por si só pode não ser um indicador preciso do valor do bem. Por exemplo, não se pode inferir apenas pelo preço se um carro usado é uma boa compra ou não. De fato, um dos problemas conhecidos em economia é o mercado com informações assimétricas, que em inglês denomina-se “market for lemons”, um mercado em que os preços não funcionam bem como sinais econômicos. (Esse tipo de mercado será tratado no Capítulo 20.) Algumas palavras de advertência

Como vimos, os mercados são uma maneira surpreendentemente eficaz de organizar a atividade econômica. Mas, como notamos, os mercados, às vezes, podem dar errado. Vimos isso no Capítulo 1, no quinto princípio da interação: Quando os mercados não alcançam a e ciência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Quando os mercados são ine cientes, há oportunidades perdidas – maneiras como a produção ou o consumo podem ser reorganizados que dariam a algumas pessoas melhores condições, sem deixar outras em situação pior. Em outras palavras, há ganhos do comércio que acabam despercebidos: o excedente total pode ser aumentado. E quando um mercado ou mercados são ineficientes, a economia em que está embutido também é ineficiente.

Os mercados podem tornar-se ineficientes por diversas razões. Duas das razões mais importantes são a falta de direito de propriedade e a imprecisão de preços como sinais econômicos. Quando o mercado é ineficiente, temos o que é conhecido como falha de mercado. Examinaremos vários tipos de falha de mercado nos capítulos a seguir. Por enquanto, vamos rever as três razões principais pelas quais os mercados, às vezes, na realidade, não são eficientes. Primeiro, os mercados podem falhar quando, na tentativa de captar mais excedente, uma das partes impede que ocorram trocas mutuamente benéficas. Essa situação surge, por exemplo, quando um mercado tem apenas um vendedor de um bem, conhecido como monopolista. Nesse caso, o pressuposto em que baseamos a análise da oferta e demanda – que nenhum comprador ou vendedor individual pode ter um efeito notável no preço de mercado – não é válido; o monopolista pode determinar o preço de mercado. Como veremos no Capítulo 13, isso dá origem à ineficiência à medida que um monopolista manipula o preço de mercado para aumentar o lucro, impedindo, assim, a ocorrência de trocas mutuamente benéficas. Segundo, as ações dos indivíduos, às vezes, têm efeitos colaterais sobre o bem-estar de outras pessoas que os mercados não levam em conta. Em economia, esses efeitos colaterais são conhecidos como externalidades, e o exemplo mais conhecido é a poluição. Pode-se pensar sobre poluição como um problema de direito de propriedade incompleto; por exemplo, os direitos de propriedade vigentes não garantem o direito de propriedade do ar limpo. Veremos, no Capítulo 16, que a poluição e outras externalidades também dão origem à ineficiência. Terceiro, os mercados de alguns bens falham porque esses bens, pela própria natureza, não são adequados para uma gestão eficiente dos mercados. No Capítulo 20, analisaremos bens que se enquadram nessa categoria em virtude de problemas de informação privativa – informação sobre um bem que algumas pessoas possuem, mas outras não. Por exemplo, o vendedor de um carro, que é um “abacaxi”, pode ter informações desconhecidas de compradores potenciais. No Capítulo 17, encontraremos outros tipos de bens que se enquadram nessa categoria de serem inadequados para uma gestão eficiente de mercados – bens públicos, recursos comuns e bens arti cialmente escassos. São bens em relação aos quais os

mercados falham em virtude de problemas limitando o acesso das pessoas e o consumo deles. Constitui exemplos os peixes no mar e as árvores na floresta amazônica. Nesses casos, os mercados geralmente falham em decorrência dos direitos de propriedade incompletos. Mas, mesmo com essas ressalvas, é notável a forma como os mercados funcionam bem maximizando os ganhos do comércio.

economia em ação Um grande salto para trás

As economias em que um planejador central toma decisões de consumo e produção, em vez dos mercados, são conhecidas como economias plani cadas. A Rússia (anteriormente parte da União Soviética), muitos países do leste europeu e vários países do sudeste asiático, já foram economias planificadas. Países como a Índia e o Brasil já tiveram partes significativas de suas economias com planejamento central. Atualmente, a China ainda tem. Economias planificadas são notórias pela ineficiência, e o exemplo mais convincente provavelmente seja o do Grande Salto para Frente, um plano econômico ambicioso instituído na China durante a década de 1950 pelo seu líder Mao Tsé-Tung. Sua intenção era acelerar a industrialização do país. O fundamental nesse plano era um deslocamento da manufatura urbana para a rural: aldeias agrícolas começariam a produzir bens industriais pesados, como o aço. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra. Desviar agricultores de seu trabalho usual levou a uma queda acentuada na produção de alimentos. Enquanto isso, a produção industrial caiu também porque as matérias-primas para o aço, como carvão e minério de ferro, foram enviadas para produtores rurais mal equipados e inexperientes, em vez de para fábricas urbanas, a produção industrial caiu bem. O plano, em suma, levou a uma queda na produção de tudo na China. De início, como a China era um país muito pobre, os resultados foram catastróficos. Estima-se que a fome que se seguiu reduziu a população da

China em até 30 milhões. A China recentemente se aproximou de um sistema de livre mercado, permitindo maior crescimento econômico, o aumento da riqueza e a emergência de uma classe média. Mas alguns aspectos de planificação central permaneceram, em grande parte, na alocação de capital financeiro e outros insumos para negócios ligados politicamente. Como resultado, persistem ineficiências significativas. Muitos economistas comentaram que essas ineficiências devem ser abordadas se a China sustentar seu crescimento rápido e os consumidores chineses aproveitarem o nível eficiente de excedente do consumidor.

BREVE REVISÃO Em uma economia de mercado, os mercados são interligados. Quando todo e cada mercado na economia é eficiente, a economia como um todo é eficiente. Mas, quase certamente, no mundo real, alguns mercados em uma economia de mercado não conseguirão ser eficientes. Um sistema de direito de propriedade e operação de preços como sinais econômicos são dois fatores essenciais para permitir um mercado eficiente. Mas, sob condições em que os direitos de propriedade estão incompletos ou os preços dão sinais econômicos imprecisos, os mercados podem falhar. Sob certas condições, ocorre falha de mercado e o mercado é ineficiente: os ganhos do comércio não se realizam. As três maneiras de falha de mercado são: a prevenção de transações mutuamente benéficas causada pela tentativa de uma parte de capturar mais excedente, os efeitos colaterais não contabilizados devidamente e os problemas da natureza dos próprios bens.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 4-4 1. Em alguns estados ricos em recursos naturais, como petróleo, a lei separa o direito de propriedade do uso da terra na superfície do direito de perfuração abaixo da superfície (chamado de “direito mineral”). Alguém que possui a propriedade tanto da superfície como do subsolo pode vender esses direitos separadamente. Explique como essa divisão nos direitos de propriedade reforça a eficiência em comparação com uma situação em que os dois direitos devem sempre ser vendidos em conjunto.

2. Suponha que, no mercado de livros usados, o preço de equilíbrio seja $30, mas, por engano, se anuncie que o preço de equilíbrio é $300. Como isso afeta a eficiência do mercado? Seja específico. 3. O que está errado com a seguinte afirmação: “Os mercados são sempre a melhor forma de organizar a atividade econômica. Todas as políticas que interferem nos mercados reduzem o bem-estar da sociedade.” As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Stubhub apresenta The Boss

Nos idos de 1965, muito antes do Ticketmaster, StubHub e TicketsNow, o lendário promotor de rock, Bill Graham, percebeu que partidos de massa irrompiam onde tocavam grupos de rock locais. Graham percebeu que os fãs pagariam pela experiência do concerto, além de pagar pela gravação da música. Ele prosseguiu no negócio de promoção de shows de rock – reserva e gestão de múltiplas turnês para assistir às bandas e venda de ingressos. Esses ingressos foram cuidadosamente racionados, um único comprador autorizado a comprar apenas um número limitado. Os fãs se alinhavam nas bilheterias, às vezes acampando à noite quando havia bandas populares. Querendo manter a aura da década de 1960 que tornou os shows de rock acessíveis a todos os fãs, muitas bandas top escolheram precificar os ingressos abaixo do nível de equilíbrio do mercado. Por exemplo, em 2009, Bruce Springsteen vendeu ingressos para os shows em New Jersey (seu estado natal e lar dos fãs mais ardorosos) entre $65 e $95. Os ingressos para os concertos de Springsteen poderiam ser vendidos por muito mais: os economistas Alan Krueger e Marie Connolly analisaram um concerto de Springsteen de 2002 para o qual os ingressos foram vendidos por $75 e concluiu que e Boss perdeu cerca de $4 milhões por não cobrar o preço de mercado, cerca de $280. Então, qual era o entendimento do e Boss? Ingressos baratos podem garantir que um concerto venda, tornando-se uma experiência melhor tanto para a banda como para o público. Mas acredita-se que há outros fatores – bilhetes baratos são uma maneira de uma banda recompensar a fidelidade

dos fãs, bem como um meio para parecer mais “autêntico” e menos comercial. Como Bruce Springsteen disse: “De alguma forma, ajudo as pessoas a ficar de acordo com os próprios valores quando estiver fazendo meu trabalho de forma correta.” Mas o advento da Internet tornou as coisas muito mais complicadas. Agora, em vez de fila para ingressos no local, os fãs compram ingressos online, a partir de um vendedor direto como o Ticketmaster (que obtém ingressos diretamente do produtor de concertos) ou de um revendedor, como o StubHub ou o TicketsNow. Os revendedores (também conhecidos como cambistas) podem – e fazem – muito dinheiro pegando grande quantidade de ingressos ao preço de bilheteria e revendendo-os a preço de mercado. O StubHub, por exemplo, fez $1 bilhão no mercado de revenda de bilhetes em 2010. Essa prática tem enfurecido os fãs, bem como as bandas. Mas a questão para os revendedores é a de ter liberdade de dispor do próprio bilhete como se escolhe. Em 2011, os dois lados – bandas e fãs contra os revendedores de bilhetes – estiveram ocupados fazendo lobby para as autoridades governamentais moldar as leis de revenda de ingressos de modo que tivessem vantagem.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. 2. 3.

Use os conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor para analisar o intercâmbio entre e Boss e seus fãs. Trace um diagrama para ilustrar. Explique como a ascensão da Internet atrapalhou esse intercâmbio. Trace um diagrama para mostrar o efeito de revendedores na alocação do excedente do consumidor e do produtor no mercado de ingressos de shows. Quais são as implicações da Internet para todas essas trocas?

• RESUMO

1. A disposição de pagar de cada consumidor individual determina a curva da demanda. Quando o preço é menor ou igual à disposição de pagar, o consumidor potencial adquire o bem. A diferença entre a disposição de pagar e o preço é o ganho líquido para o consumidor, o excedente do consumidor individual. 2. O excedente do consumidor total no mercado, a soma de todos os excedentes do consumidor individual em um mercado, é igual à área abaixo da curva da demanda de mercado, mas acima do preço. Um aumento no preço de um bem reduz o excedente do consumidor; uma queda no preço aumenta o excedente do consumidor. O termo excedente do consumidor é usado frequentemente para se referir tanto ao excedente do consumidor individual como total. 3. O custo de cada produtor em potencial, o menor preço ao qual ele está disposto a ofertar uma unidade de um bem particular, determina a curva da oferta. Se o preço de um bem estiver acima do custo do produtor, uma venda gera um ganho líquido para o produtor, conhecido como excedente do produtor individual. 4. O excedente do produtor total em um mercado, a soma dos excedentes do produtor individual em um mercado, é igual à área acima da curva da oferta de mercado, mas abaixo do preço. Um aumento no preço do bem aumenta o excedente do produtor; uma queda no preço reduz o excedente do produtor. O termo excedente do produtor é usado frequentemente para se referir tanto ao excedente do produtor individual como total. 5. O excedente total, o ganho total para a sociedade decorrente da produção e do consumo de um bem, é a soma do excedente do consumidor e do excedente do produtor. 6. Normalmente, os mercados são eficientes e atingem o excedente total máximo. Qualquer rearranjo possível do consumo ou das vendas, bem como variação na quantidade comprada e vendida, reduz o excedente total. No entanto, a sociedade se preocupa também com a equidade. Assim, a intervenção do governo que reduz a eficiência, mas aumenta a equidade pode ser uma opção válida feita pela sociedade. 7. Uma economia composta de mercados eficientes também é eficiente, embora isso seja praticamente impossível de alcançar de fato. As chaves para a eficiência de uma economia de mercado são os direitos de propriedade e funcionamento dos preços como sinais econômicos. Sob certas condições, ocorre falha de mercado, tornando o mercado ineficiente. As três principais fontes de falha de mercado são: tentativa de capturar mais excedentes que criam ineficiência, efeitos colaterais de algumas transações e problemas na natureza do bem.

• PALAVRAS-CHAVE

Disposição de pagar, p. 86 Excedente do consumidor individual, p. 87 Excedente do consumidor total, p. 87 Excedente do consumidor, p. 87 Custo, p. 91 Excedente do produtor individual, p. 92 Excedente do produtor total, p. 92 Excedente do produtor, p. 92 Excedente total, p. 96 Direitos de propriedade, p. 100 Sinal econômico, p. 100 Ineficiente, p. 101 Falha de mercado, p. 101

• PROBLEMAS 1. Determine o montante de excedente do consumidor gerado em cada uma das seguintes situações. a. Leon vai à loja comprar uma camiseta pela qual está disposto a pagar até $10. Ele encontra uma que lhe agrada com o preço de exatamente $10. Quando chega ao caixa para pagar, descobre que sua camiseta está em liquidação pela metade do preço. b. Alberto vai à loja de CD na esperança de encontrar um exemplar usado de Os Maiores Sucessos do Nirvana por até $10. A loja tem uma cópia que está vendendo por $10, que ele compra. c. Após um treino de futebol, Stacey está disposto a pagar $2 por uma garrafa de água mineral. A 7-Eleven vende água mineral por $2,25 por garrafa, e ele se recusa a comprá-la. 2. Determine o montante do excedente do produtor gerado em cada uma das situações seguintes. a. Gordon registra no eBay o antigo trenzinho elétrico Lionel. Ele estabelece um preço mínimo aceitável, conhecido como preço de reserva, de $75. Após cinco dias recebendo ofertas, a oferta final é exatamente $75. Ele aceita a oferta. b. So-Hee anuncia seu carro para venda na seção de carros usados do jornal estudantil por $2.000, mas está disposta a vender o carro por

qualquer preço acima de $1.500. A melhor oferta que ela consegue é $1.200, que ela recusa. c. Sanjay gosta tanto do seu trabalho que estaria disposto a trabalhar de graça. No entanto, seu salário anual é $80.000. 3. Há seis consumidores potenciais de jogos de computador, cada um disposto a comprar apenas um jogo. O consumidor 1 está disposto a pagar $40 por um jogo de computador, o consumidor 2 está disposto a pagar $35, o consumidor 3 está disposto a pagar $30, o consumidor 4 está disposto a pagar $25, o consumidor 5 está disposto a pagar $20 e o consumidor 6 está disposto a pagar $15. a. Suponha que o preço de mercado seja $29. Qual é o excedente do consumidor total? b. O preço de mercado cai para $19. Qual é, então, o excedente do consumidor total? c. Quando o preço cai de $29 para $19, quanto variou o excedente do consumidor individual de cada consumidor? Como mudou o excedente total do consumidor? 4. a. Em um leilão, compradores potenciais competem por um bem dando lances. Adam Galinsky, psicólogo social da Northwestern Unversity, comparou leilões do eBay em que o mesmo bem era vendido. Verificou que, em média, quanto maior o número de pessoas dando lances, tanto maior o preço de venda do bem. Por exemplo, em dois leilões de iPods idênticos, aquele com a maior quantidade de licitantes trouxe um preço de venda mais elevado. De acordo com Galinsky, isso explica por que os vendedores espertos do eBay colocam preços de abertura absurdamente baixos (o preço mais baixo que um vendedor aceitará), como $0,01 para um iPod novo. Use os conceitos de excedente do consumidor e do produtor para explicar o raciocínio de Galinsky. b. Você está considerando vender seu fusca 1969. Se o carro estiver em bom estado, vale bastante; se estiver em mau estado, só é útil como sucata. Suponha que o carro esteja em excelente estado de conservação, mas que custará ao comprador potencial $500 para uma inspeção da condição do carro. Use o que aprendeu na parte (a) desse exercício para explicar se deve ou não pagar por uma inspeção e compartilhar os resultados com todos os compradores interessados. 5. De acordo com o Bureau of Transportation Statistics, em virtude de um aumento da demanda, a tarifa média nas linhas aéreas domésticas aumentou no quarto trimestre de 2009 de $319,85 para $328,12 no primeiro trimestre de 2010, um aumento de $8,27. O número de passagens vendidas no quarto trimestre de 2009 foi 151,4 milhões. No mesmo período, os custos das companhias aéreas permaneceram praticamente os mesmos: o preço do combustível de aviação foi, em média, cerca de $2 por galão em ambos os trimestres (Fonte: Energy Information Administration), e os salários dos pilotos de avião permaneceram praticamente os mesmos (de acordo com o Bureau of Labor Statistics, em média, $117.060 por ano em 2009). Você pode determinar com precisão em quanto o excedente do produtor aumentou como resultado do aumento de $8,27 na tarifa média?

Se não puder ser preciso, pode determinar se ele será menor ou maior que uma quantia específica? 6. Os roteiristas de Hollywood negociaram um novo acordo com os produtores de cinema para receber 10% da receita de cada locação de vídeo de um filme no qual trabalharam. Não há um acordo desse tipo para filmes exibidos na televisão pelo sistema pay-per-view. a. Quando o novo acordo dos escritores entrar em vigor, o que acontecerá no mercado de aluguel de vídeo – isto é, a curva de oferta ou da demanda se deslocará, e como? Como resultado, como irá variar o excedente do consumidor no mercado de aluguel de vídeos? Ilustre com um diagrama. Será que os consumidores que alugam vídeos vão gostar do acordo dos escritores? b. Os consumidores consideram que assistir a um vídeo alugado ou filmes no sistema pay-per-view até certo ponto são substituíveis. Quando o novo acordo dos escritores entrar em vigor, o que acontecerá no mercado de filmes pay-per-view – ou seja, irá ofertar ou demandar deslocamento, e como? Em consequência, como o excedente do produtor no mercado de filmes pay-per-view irá variar? Ilustre com um gráfico. Você acha que o acordo dos escritores será popular com as empresas de TV a cabo que mostram filmes pay-per-view? 7. A tabela a seguir mostra dados de oferta e demanda de cópias usadas da segunda edição deste livro. A coluna da oferta advém de ofertas da Amazon.com. A coluna da demanda é hipotética.

Preço do livro

Quantidade de livros demandados

Quantidade de livros ofertados

$55

50

0

60

35

1

65

25

3

70

17

3

75

14

6

80

12

9

85

10

10

90

8

18

95

6

22

100

4

31

105

2

37

110

0

42

a. Calcule o excedente do consumidor e do produtor no equilíbrio desse mercado. b. A terceira edição desse livro está disponível. Assim, a disposição de pagar de cada comprador potencial de uma cópia de segunda mão da segunda edição cai para $20. Em uma tabela, mostre a nova coluna de demanda e calcule novamente o excedente do consumidor e do produtor para o novo equilíbrio. 8. Nas noites de quinta-feira, um restaurante local tem uma massa especial. Ari gosta da massa do restaurante e sua disposição de pagar a cada vez que se serve é apresentada na tabela a seguir.

Quantidade de pasta (porção)

Disposição de pagar pela massa (por porção)

1

$10

2

8

3

6

4

4

5

2

6

0

a. Se o preço de uma porção de macarrão é $4, quantas porções Ari irá comprar? Quanto de excedente do consumidor receberá? b. Na semana seguinte, Ari volta ao restaurante, mas agora o preço de uma porção de massa é $6. Quanto o excedente do consumidor diminuiu em comparação com a semana anterior? c. Uma semana depois, ele volta ao restaurante novamente. Descobre que o restaurante está oferecendo um “tudo o que você puder comer” por $25. Quantos pratos de massa Ari vai comer, e qual o excedente do consumidor que obtém? d. Suponha que você seja dono do restaurante e que Ari seja um cliente típico. Quanto se pode cobrar pelo “tudo o que você puder comer” e ainda atrair clientes? 9. Imagine-se como gerente do Mundo da Diversão, um pequeno parque de diversões. O gráfico a seguir mostra a curva da demanda de um cliente típico no Mundo da Diversão.

a. Suponha que o preço de cada brinquedo seja $5. A esse preço, quanto de excedente do consumidor um consumidor individual obtém?

(Lembre-se de que a área de um triângulo retângulo é 1/2 × altura do triângulo × base do triângulo.) b. Suponha que o Mundo da Diversão esteja pensando em cobrar um ingresso, mesmo mantendo o preço de $5 para cada brinquedo. Qual é o máximo de entrada que poderia cobrar? (Suponha que todos os visitantes potenciais tenham dinheiro suficiente para pagar a entrada.) c. Suponha que o Mundo da Diversão baixe para zero o preço de cada brinquedo. Qual o excedente do consumidor que cada consumidor individual obtém? Qual é o máximo que o Mundo da Diversão pode cobrar pela entrada? 10. O diagrama a seguir ilustra a curva da oferta individual de um motorista de táxi (suponha que cada corrida de táxi tem a mesma distância).

a. Suponha que a prefeitura estabeleça um preço obrigatório de $4 por corrida, e a esse preço o taxista seja capaz de fazer tantas corridas de táxi quanto queira. Qual é o excedente do produtor desse taxista? (Lembre-se de que a área do triângulo é a base do triângulo × a altura do triângulo dividido por 2.) b. Suponha que a prefeitura mantenha o tabelamento da corrida de táxi fixado em $4 por corrida de táxi, mas decida cobrar dos taxistas uma “taxa de licenciamento”. Qual é o máximo de taxa de licenciamento que a prefeitura poderia extrair desse taxista? c. Suponha que a prefeitura permita que o preço das corridas de táxi aumente para $8 por corrida. Suponha também que, a esse preço, o taxista consiga vender tantas corridas de táxi quanto queira. Qual o excedente do produtor que um taxista obtém agora? Qual é o máximo de taxa de licenciamento que a prefeitura pode cobrar desse motorista de táxi? 11. Em 10 de maio de 2010, um juiz distrital de Nova York pronunciou-se sobre um processo de violação de direitos autorais contra o site de compartilhamento de arquivos LimeWire e em favor das 13 principais gravadoras que entraram com a ação judicial. Incluindo a Sony, Virgin e Warner Brothers, que alegaram que o serviço de compartilhamento de

arquivos encoraja os usuários a fazer cópias ilegais de material de direitos autorais. A permissão que os usuários da Internet obtenham música gratuita limita o direito das gravadoras de dispor da música como queiram; em particular, limita o direito de dar acesso à sua música apenas aos pagantes. Em outras palavras, limita os direitos de propriedade das gravadoras. a. Se todos obtivessem conteúdo de música e vídeo grátis a partir de sites como o LimeWire, em vez de pagar as gravadoras, qual seria o excedente do produtor das gravadoras pela venda de música? Quais são as implicações de incentivo de produção de música no futuro para as gravadoras? b. Se as gravadoras perderem a ação judicial e a música puder ser baixada gratuitamente da Internet, o que você acha que acontecerá com as transações mutuamente benéficas (produção e compra de música) no futuro? www.worthpublishers.com/krugmanwells

CAPÍTULO 5 » Controle de preços e cotas: intervenção nos mercados

CIDADE GRANDE, IDEIAS NEM TANTO

ova York é um lugar onde se pode encontrar qualquer coisa – ou seja, quase tudo, menos um táxi quando se precisa ou um apartamento decente por um aluguel que se possa pagar. Talvez você pense que a escassez de táxis e apartamentos em Nova York seja o preço inevitável de viver em uma cidade grande. No entanto, em grande parte é o produto de políticas de governo – especificamente, de políticas governamentais que, de uma forma ou de outra, tentaram prevalecer sobre as forças da oferta e demanda do mercado. No Capítulo 3, aprendemos o princípio de que o mercado se move para o equilíbrio – que o preço de mercado aumenta ou diminui até o nível em que a quantidade de um bem que as pessoas estão dispostas a oferecer é igual à quantidade que outras pessoas demandam. Mas, às vezes, os governos tentam desafiar esse princípio. Sempre que um governo tenta ditar um preço ou uma quantidade diferente do preço ou da quantidade de equilíbrio, o mercado bate de volta de forma previsível. Nossa capacidade de prever o que vai acontecer quando os governos tentam desafiar a oferta e a demanda mostra a força e a utilidade da própria análise da oferta e demanda. A escassez de apartamentos e táxis em Nova York são exemplos particulares que iluminam o que acontece quando a lógica do mercado é afrontada. A escassez habitacional em Nova York é o resultado do controle

N

de aluguel, uma lei que impede os locadores de aumentar os aluguéis exceto quando recebem permissão específica. O controle do aluguel foi introduzido durante a Segunda Guerra Mundial para proteger os interesses dos inquilinos e ainda continua em vigor. Muitas outras cidades americanas tiveram controle de aluguel em um momento ou outro, com as exceções notáveis de Nova York e San Francisco, onde esses controles foram largamente eliminados. Da mesma forma, a oferta limitada de táxis em Nova York é o resultado de um sistema de licenciamento introduzido na década de 1930. As licenças de táxi em Nova York são conhecidas como “medalhões”, e apenas táxis com medalhões estão autorizados a pegar passageiros. Embora esse sistema tenha sido originalmente destinado a proteger os interesses tanto de motoristas como de clientes, gerou falta de táxis na cidade. O número de medalhões permaneceu fixo durante quase 60 anos, sem aumento significativo até 2004. Neste capítulo, começamos analisando o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo, mantendo o preço de mercado abaixo do nível de equilíbrio – um teto de preço, tal como o controle de aluguel – ou acima dele – um piso de preço, como o salário mínimo pago aos trabalhadores em muitos países. Em seguida, voltaremos a esquemas como os medalhões de táxi que tentam ditar a quantidade de um bem comprado e vendido. O que você vai aprender neste capítulo • O significado de controle de preço e quantidade, dois tipos de intervenção governamental nos mercados. • Como os controles de preço e quantidade criam problemas e tornam o mercado ineficiente. • O que é perda por peso morto. • Por que os efeitos colaterais previsíveis da intervenção nos mercados muitas vezes levam os economistas a serem céticos em relação a sua utilidade. • Quem ganha e quem perde com as intervenções no mercado e por que são usadas, apesar de seus problemas bem conhecidos.

POR QUE OS GOVERNOS CONTROLAM PREÇOS Aprendemos, no Capítulo 3, que o mercado se move para o equilíbrio – ou seja, os preços de mercado se movem até o nível em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. Mas esse preço de equilíbrio não agrada necessariamente a compradores e vendedores. Afinal de contas, os compradores sempre gostariam de pagar menos, se pudessem, e, muitas vezes, têm argumentação moral ou política forte em favor de pagar preços mais baixos. Por exemplo, o que acontece se o equilíbrio entre a oferta e a demanda de apartamentos em uma cidade grande leva a aluguéis que uma pessoa, um trabalhador médio, não pode pagar? Nesse caso, o governo pode muito bem se sentir sob pressão e impor limites sobre os aluguéis que os locadores podem cobrar. Contudo, os vendedores sempre gostariam de obter mais dinheiro pelo que vendem e, às vezes, têm argumentos morais ou políticos fortes defendendo que deveriam receber preços mais elevados. Por exemplo, considere o mercado de trabalho: o preço do tempo de um trabalhador é o salário. E se o equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalhadores menos qualificados leva a salários abaixo do nível da pobreza? Nesse caso, o governo será pressionado a obrigar os empregadores a não pagar salários inferiores a um mínimo especificado. Em outras palavras, muitas vezes há uma forte pressão política para que os governos intervenham nos mercados. E interesses poderosos podem convencer de que uma intervenção no mercado, favorecendo-os, é “justa”. Quando um governo intervém para regular preços, dizemos que impõe controle de preços. Esses controles normalmente tomam a forma de um limite superior, um teto de preços, ou um limite inferior, um piso de preços. Infelizmente, não é tão fácil dizer ao mercado o que fazer. Como veremos agora, quando um governo tenta legislar preços – seja legislar para baixo, impondo um teto de preço, ou para cima, impondo um piso de preço – há certos efeitos secundários previsíveis e desagradáveis. Podemos trabalhar com um pressuposto importante neste capítulo: os mercados em questão são eficientes antes da imposição do controle de

preços. Como observamos no Capítulo 4, os mercados podem-se tornar ineficientes – por exemplo, um mercado dominado por um monopolista, um único vendedor que tem o poder de influenciar o preço de mercado. Quando os mercados são ineficientes, o controle de preços não causa problema, necessariamente, e pode mover o mercado para mais perto da eficiência. Na prática, porém, controles de preços, muitas vezes, são impostos em mercados eficientes – como o de apartamentos de Nova York. A análise deste capítulo se aplica a muitas situações importantes do mundo real.

TETO DE PREÇOS Fora o controle de aluguel, não há muitos tetos de preços nos Estados Unidos hoje em dia. Mas houve um tempo em que eram comuns. Geralmente, tetos de preços são impostos durante crises – guerras, quebras de safra, desastres naturais –, pois esses eventos, muitas vezes, levam a aumentos de preços repentinos que prejudicam muitas pessoas e proporcionam ganhos elevados a alguns poucos felizardos. O governo dos Estados Unidos impôs tetos a muitos preços durante a Segunda Guerra Mundial: a guerra aumentou significativamente a demanda por matériaprima, como alumínio e aço, e o controle de preços impedia que as pessoas com acesso a essas matérias-primas tivessem lucros enormes. O controle do preço do petróleo foi imposto em 1973, quando parecia que um embargo por parte dos países árabes exportadores de petróleo geraria enormes lucros para as companhias petrolíferas americanas. Em 2001, foi imposto controle de preços no mercado atacadista de eletricidade da Califórnia, quando a escassez estava criando grandes lucros para algumas companhias geradoras de energia, mas levando a um grande aumento na conta de energia elétrica dos consumidores. O controle de aluguel em Nova York é, acredite ou não, um legado da Segunda Guerra Mundial: foi imposto porque a produção militar produziu um boom econômico, que aumentou a demanda por apartamentos em um momento em que a mão de obra e as matérias-primas que poderiam ter sido usadas para construí-los, em vez disso, estavam sendo usadas para ganhar a guerra. Embora a maioria dos controles de preços tenha sido eliminado logo

após o fim da guerra, os limites para o aluguel em Nova York foram mantidos e gradualmente estendidos aos edifícios que, anteriormente, não estavam cobertos, levando a algumas situações muito estranhas. É possível alugar um apartamento de um quarto em Manhattan rapidamente – se você for capaz e estiver disposto a pagar milhares de dólares por mês e viver em uma área menor do que o desejável. No entanto, algumas pessoas pagam apenas uma pequena fração disso em apartamentos semelhantes, e outras pagam apenas um pouco mais por apartamentos maiores em localizações melhores. Contudo, além de proporcionar bons negócios para alguns locatários, quais são as consequências mais amplas do sistema de controle de aluguéis de Nova York? Para responder a essa pergunta, voltemos ao modelo que desenvolvemos no Capítulo 3: o modelo da oferta e demanda. Modelo de um teto de preços

Para ver o que pode dar errado quando um governo impõe um teto de preços em um mercado competitivo, considere a Figura 5-1, que mostra um modelo simplificado do mercado de apartamentos de Nova York. Por questão de simplicidade, vamos imaginar que todos os apartamentos são exatamente iguais e que seriam alugados pelo mesmo preço em um mercado não regulamentado. As tabelas da demanda e da oferta são mostradas do lado direito da figura, as curvas da oferta e da demanda estão à esquerda. A quantidade de apartamentos está no eixo horizontal, e o aluguel mensal por apartamento, no eixo vertical. Pode-se observar que em um mercado não regulamentado o equilíbrio se daria no ponto E: 2 milhões de apartamentos seriam alugados por $1.000 por mês. FIGURA 5-1

O mercado de apartamentos na ausência de controle de preços

Sem a intervenção do governo, o mercado de apartamentos atinge o equilíbrio no ponto

E com um aluguel de mercado de $1.000 por mês e 2 milhões de apartamentos alugados.

Agora, suponha que o governo tenha imposto um teto de preços, o que limita o aluguel abaixo do preço de equilíbrio – digamos, não mais que $800. A Figura 5-2 mostra o efeito do teto de preço, representado pela linha em $800. Com o limite do aluguel em $800, os locadores têm menos incentivos de oferecer apartamentos, assim, não estarão dispostos a fornecer tantos apartamentos quanto ao nível de equilíbrio de $1.000. Irão escolher o ponto A na curva da oferta, oferecendo apenas 1,8 milhão de apartamentos para alugar, 200 mil a menos do que no mercado não regulamentado. Ao mesmo tempo, mais pessoas irão querer alugar apartamentos ao preço de $800 do que ao preço de equilíbrio de $1.000; como mostrado no ponto B da curva da demanda, a um aluguel mensal de $800, a quantidade de apartamentos demandados sobe para 2,2 milhões, 200 mil a mais que no mercado não regulamentado e 400 mil a mais do que estão realmente disponíveis ao preço de $800. Então, agora, há uma escassez persistente de imóveis para locação: por esse preço, há mais 400 mil pessoas que querem alugar do que as que conseguem encontrar apartamentos.

Tetos de preços sempre causam escassez? Não. Se um teto de preço for fixado acima do preço de equilíbrio, não terá qualquer efeito. Suponha que o aluguel de equilíbrio seja $1.000 por mês e que a prefeitura estabeleça um teto de $1.200. Quem se importa? Nesse caso, o teto de preço não será observado – não restringirá realmente o comportamento de mercado – e não terá nenhum efeito. Como um teto de preço provoca ineficiência

A escassez habitacional mostrada na Figura 5-2 não é apenas irritante: como qualquer escassez induzida pelo controle de preços, pode ser seriamente prejudicial, pois leva à ineficiência. Em outras palavras, existe ganho do comércio que não irá se realizar. O controle de aluguel, como todo o teto de preços, gera ineficiência de pelo menos quatro maneiras distintas. Reduz a quantidade de apartamentos alugados abaixo do nível de eficiência; normalmente leva à má alocação de apartamentos entre pretensos locatários; leva à perda de tempo e esforço à medida que as pessoas procuram por apartamentos e leva os locadores a manter os apartamentos em más condições e sem manutenção. Além de ineficiência, o controle de preços incentiva comportamento ilegal quando as pessoas tentam burlar os controles. FIGURA 5-2

Efeitos de um teto de preços

A linha horizontal escura representa o teto de preços imposto pelo governo para os aluguéis de $800 por mês. Esse teto reduz a quantidade de apartamentos ofertados a 1,8 milhão, ponto A, e aumenta a quantidade demandada para 2,2 milhões, ponto B. Isso cria uma escassez persistente de 400 mil unidades: 400 mil pessoas que querem apartamentos ao preço de $800, mas não conseguem encontrá-los.

Quantidade baixa em relação à eficiência

No Capítulo 4, aprendemos que o equilíbrio de mercado de um mercado eficiente leva à quantidade “correta” de um bem ou serviço que está sendo comprado ou vendido – ou seja, a quantidade que maximiza a soma do excedente do produtor e do consumidor. Como o controle de aluguel reduz o número de apartamentos ofertados, reduz também o número de apartamentos alugados. A Figura 5-3 mostra as implicações do excedente total. Lembre-se de que o excedente total é a soma da área acima da curva da oferta e abaixo da curva da demanda. Se o único efeito do controle do aluguel fosse reduzir o número de apartamentos disponíveis, isso iria causar uma perda de

excedente igual à área do triângulo sombreado na figura. A área representada por esse triângulo tem um nome especial em economia, perda por peso morto: o excedente perdido associado às operações que já não ocorrem em virtude da intervenção no mercado. Nesse exemplo, a perda por peso morto é o excedente perdido associado aos aluguéis de apartamentos que já não ocorrem em virtude do teto de preço, uma perda que é vivida pelos dois locatários desapontados e senhorios frustrados. Os economistas costumam chamar triângulos como o da Figura 5-3 de triângulo de perda por peso morto. Perda por peso morto é um conceito fundamental em economia, aquele que encontramos sempre que uma ação ou uma política leva a uma redução na quantidade transacionada abaixo da quantidade de equilíbrio de um mercado eficiente. É importante perceber que a perda por peso morto é uma perda para a sociedade: é uma redução no excedente total, uma perda no excedente que não reverte em ganho para ninguém. Não é o mesmo que uma perda do excedente para uma pessoa que, em seguida, resulta em ganho para outra pessoa, que um economista chamaria de uma transferência de excedente de uma pessoa para outra. Para verificar como um teto de preço pode criar perda por peso morto bem como transferência de excedente entre inquilinos e proprietários, consulte a seção Para mentes curiosas a seguir. A perda por peso morto não é o único tipo de ineficiência que surge a partir de um preço de teto. Os tipos de ineficiência criados pelo controle de aluguel vão além da redução da quantidade de apartamentos disponíveis. Essas ineficiências adicionais – alocação ineficiente para consumidores, desperdício de recursos e qualidade ineficientemente baixa – levam à perda de excedente para além da perda por peso morto. Alocação ineficiente entre consumidores

O controle de aluguel não resulta apenas em menor quantidade de apartamentos disponíveis. Também pode levar à má alocação das unidades disponíveis: pessoas que precisam muito encontrar um apartamento podem não encontrá-lo, mas alguns apartamentos podem estar ocupados por pessoas que têm muito menos urgência.

No caso mostrado na Figura 5-2, 2,2 milhões de pessoas gostariam de alugar um apartamento por $800 por mês, mas apenas 1,8 milhão de apartamentos estão disponíveis. Dos 2,2 milhões que estão procurando um apartamento, alguns querem muito alugar e estão dispostos a pagar um preço alto para obtê-lo. Outros têm uma necessidade menos urgente e só se dispõem a pagar um preço baixo, talvez porque tenham moradia alternativa. Uma alocação eficiente de apartamentos reflete essas diferenças: as pessoas que realmente querem um apartamento conseguem um e as que não estão tão interessadas não conseguem. Em uma distribuição ineficiente de apartamentos, ocorre o oposto: algumas pessoas que não estão especialmente ansiosas em encontrar um apartamento encontram, enquanto que outras com grande urgência não encontram. FIGURA 5-3

Um teto de preço causa quantidade baixa e ineficiente

Um teto de preço reduz a quantidade ofertada abaixo da quantidade de equilíbrio de mercado, levando à perda por peso morto. A área do triângulo sombreado corresponde

ao montante de perda de excedente total em virtude da baixa quantidade transacionada de forma ineficiente.

Como, geralmente quando há controle de aluguéis, as pessoas encontram apartamentos por sorte ou contatos pessoais, isso geralmente resulta em uma alocação ine ciente entre os consumidores dos poucos apartamentos disponíveis. Para perceber a ineficiência envolvida, considere a situação dos Lees, uma família com crianças pequenas, sem moradia alternativa e que estaria disposta a pagar até $1.500 por um apartamento – mas não consegue encontrar. Considere também George, um aposentado que vive a maior parte do ano na Flórida e mantém um contrato de aluguel em Nova York, para onde se mudou há 40 anos. George paga $800 por mês por esse apartamento, mas se o aluguel fosse um pouco mais caro – digamos, $850 – ele iria desistir e ficar com seus filhos quando estivesse em Nova York. Essa alocação de apartamentos – George tem e a família Lee não – representa uma oportunidade perdida: há uma maneira de melhorar a situação da família Lee e de George, sem custo adicional. Os Lee ficariam felizes em pagar a George, digamos, $1.200 por mês para sublocar o apartamento, que ele ficaria feliz em aceitar, uma vez que o apartamento não vale mais do que $849 por mês para ele. George prefere o dinheiro que os Lees podem oferecer e os Lee preferem o apartamento, em vez do dinheiro. Assim, ambos melhorariam de situação com essa transação – e não haveria prejuízo para ninguém. Geralmente, se as pessoas que realmente querem apartamentos pudessem alugar daqueles que têm menos interesse em viver lá, tanto quem consegue um apartamento como os que trocam a sua ocupação por dinheiro ficariam em melhor situação. No entanto, a sublocação é ilegal pelo controle de aluguéis porque pode ocorrer a preços acima do teto. O fato de a sublocação ser ilegal não significa que não aconteça. Na verdade, descobrir sublocação ilegal é um grande negócio para os detetives particulares de Nova York. Um artigo do e New York Times descreveu como os detetives particulares usam câmeras ocultas e outros truques para provar que os inquilinos legais dos apartamentos com controle de preços vivem realmente nos subúrbios, ou até mesmo em outros estados, e

sublocam os apartamentos em duas ou até três vezes o teto de controle. Essa sublocação é um tipo de atividade ilegal, que vamos discutir em breve. Por ora, basta observar que os proprietários e as agências legais ativamente desencorajam a prática da sublocação ilegal. Como resultado, o problema de alocação ineficiente dos apartamentos permanece.

PARA MENTES CURIOSAS GANHADORES, PERDEDORES E CONTROLE DE ALUGUEL O controle de preços cria vencedores e perdedores: algumas pessoas se beneficiam da política, mas outras ficam em situação pior. Em Nova York, alguns dos maiores beneficiários do controle de aluguel são inquilinos ricos que vivem há décadas em apartamentos escolhidos que atualmente é dominado por aluguéis muito altos. Esses vencedores incluem celebridades como o ator Al Pacino e a cantora pop Cyndi Lauper. Lauper paga apenas $989 por mês por um apartamento que valeria $3.750, se não fosse regulamentado. Há também o caso clássico do apartamento da atriz Mia Farrow, que, quando perdeu o status de controle de aluguel, aumentou da pechincha de $2.900 por mês para $8.000. Ironicamente, em casos como esses, os perdedores são os locatários da classe trabalhadora, que o sistema pretendia ajudar. Podemos usar os conceitos de excedente do consumidor e do produtor, vistos no Capítulo 4, para avaliar graficamente os vencedores e os perdedores do controle de aluguel. O painel (a) da Figura 5-4 mostra o excedente do consumidor e do produtor no equilíbrio do mercado não regulamentado de apartamentos – antes do controle de aluguel. Lembre-se de que o excedente do consumidor, representado pela área abaixo da curva da demanda e acima do preço, é o ganho líquido total dos consumidores no equilíbrio de mercado. Da mesma forma, o excedente do produtor, representado pela área acima da curva da oferta e abaixo do preço, é o ganho líquido total dos produtores no equilíbrio do mercado. O painel (b) dessa figura mostra o excedente do consumidor e do produtor no mercado após a imposição do teto de preço de $800. Como se pode ver, para consumidores que ainda podem obter apartamentos sob controle de aluguel, o excedente do consumidor aumentou. Esses locatários claramente são vencedores: obtêm um apartamento de $800, pagando $200 a menos do que o preço não regulamentado de mercado. Essas pessoas recebem uma transferência direta de excedente dos proprietários na forma de aluguel mais

baixo. Mas nem todos os locatários ganham: há menos apartamentos para alugar agora do que se o mercado permanecesse regulamentado, o que torna difícil, se não impossível para alguns, encontrar um lugar para chamar de lar. Sem cálculo direto dos excedentes ganhos e perdidos, geralmente não fica claro se os locatários como um todo ficam em situação melhor ou pior com o controle de aluguel. O que se pode dizer é que quanto maior a perda por peso morto – maior a redução da quantidade de apartamentos alugados – o mais provável é que os locatários como um todo percam. No entanto, pode-se afirmar de forma inequívoca que os proprietários ficam em situação pior: o excedente do produtor diminui claramente. Os proprietários que continuam a alugar seus apartamentos recebem $200 por mês a menos de aluguel, e outros retiram seus apartamentos do mercado. O triângulo de perda por peso morto, no painel (b), representa o valor perdido tanto para inquilinos como para proprietários dos aluguéis que desaparecem, essencialmente em virtude do controle de aluguel. FIGURA 5-4

Vencedores e perdedores do controle de aluguel

O painel (a) mostra o excedente do consumidor e do produtor no equilíbrio do mercado não regulamentado de apartamentos – antes do controle de aluguel. O painel (b) mostra o excedente do consumidor e do produtor no mercado depois de um teto de preço de $800. Como se pode ver, para aqueles consumidores que ainda podem obter apartamentos com controle de aluguel, o excedente do consumidor aumentou, mas o excedente do produtor e o excedente total diminuíram.

Desperdício de recursos

Outra razão pela qual o teto de preços causa ineficiência é que leva ao desperdício de recursos: as pessoas gastam dinheiro, esforço e tempo para

lidar com a escassez causada pelo teto de preço. Em 1979, o controle de preços dos Estados Unidos sobre a gasolina levou à escassez que forçou milhões de americanos a passar horas nas filas de espera dos postos de gasolina toda a semana. O custo de oportunidade do tempo gasto nas filas de gasolina – os salários não ganhos, o tempo de lazer não usufruído – constitui recursos desperdiçados sob o ponto de vista dos consumidores e da economia como um todo. Em virtude do controle de aluguel, os Lees vão gastar todo o tempo livre, durante vários meses, à procura de um apartamento, um tempo que prefeririam passar trabalhando em atividades familiares. Ou seja, há um custo de oportunidade na prolongada busca de um apartamento pela família Lee – o lazer ou a renda à qual tiveram que renunciar. Se o mercado de apartamentos funcionasse livremente, os Lee iriam encontrar rapidamente um apartamento ao aluguel de equilíbrio de $1.000 e teriam tempo para ganhar mais dinheiro ou para se divertir – um resultado que melhoraria a situação deles sem piorar a dos outros. Mais uma vez, o controle de aluguéis provoca perda de oportunidades. Baixa qualidade por ineficiência

Outra maneira de o teto de preço gerar ineficiência é fazendo os bens serem de baixa qualidade por ine ciência. Isso significa que os vendedores oferecem produtos de baixa qualidade a um preço baixo, mesmo que os compradores prefiram ter mais qualidade a um preço mais elevado. Consideremos, mais uma vez, o controle de aluguel. Os locadores não têm incentivo em oferecer melhores condições porque não podem aumentar os aluguéis para cobrir os custos de manutenção, mas conseguem inquilinos com facilidade. Em muitos casos, os inquilinos estariam dispostos a pagar mais por melhorias do que custaria ao proprietário realizá-las – por exemplo, a atualização de um sistema elétrico antiquado que não pode suportar aparelhos de ar condicionado ou computadores com segurança. Mas qualquer pagamento adicional dessas melhorias seria considerado legalmente um aumento de aluguel, o que é proibido. De fato, apartamentos com controle de aluguel são notoriamente mal conservados, raramente pintados, sujeitos a problemas elétricos e hidráulicos frequentes, às vezes até perigosos de morar. Como disse um antigo administrador de prédios de

Nova York: “Nos apartamentos não regulamentados, fazíamos a maioria das coisas que os inquilinos solicitavam. Mas, nas unidades de aluguel controlado, fazíamos exclusivamente o que a lei exigia… tínhamos um incentivo perverso de tornar os inquilinos infelizes.” Toda essa situação é uma oportunidade perdida – alguns inquilinos ficariam felizes em pagar por melhores condições, e os locadores ficariam felizes em proporcioná-las em troca de pagamento. Mas essa troca ocorreria apenas se o mercado pudesse operar livremente. Mercado negro

Isso nos leva a um último aspecto do teto de preços: o incentivo que propicia atividades ilegais, especificamente o surgimento de mercados negros. Já descrevemos um tipo de atividade de mercado negro – a sublocação pelos inquilinos. Mas não para por aí. Existe claramente uma tentação de um locador de dizer a um inquilino em potencial: “Olha, você pode ter o lugar se escorregar algum dinheiro extra todo mês” – e de o inquilino concordar se for uma daquelas pessoas que estariam dispostas a pagar muito mais do que o aluguel máximo legal.

PARA MENTES CURIOSAS CONTROLE DE ALUGUEL AO ESTILO DE BOMBAIM Até onde você iria para manter um apartamento com aluguel controlado? Alguns inquilinos da cidade de Bombaim, na Índia, foram mesmo muito longe. De acordo com um artigo do Wall Street Journal, três pessoas foram mortas quando desabaram quatro andares de um prédio de apartamentos de aluguel controlado em Bombaim. Apesar da exigência, por parte da prefeitura, de que os inquilinos desocupassem o prédio condenado, 58 inquilinos se recusaram a sair. Ficaram mesmo depois do corte de energia elétrica e da água, depois de terem sido retirados de seus apartamentos. E continuaram depois que a polícia tentou esvaziar o prédio. Acamparam na varanda do edifício, prometendo não desistir.

Nem todos esses inquilinos eram desesperadamente pobres e sem outras opções. Um dos inquilinos com aluguel controlado era proprietário de uma próspera empresa têxtil, pagava um total de $8,50 por mês por um espaçoso apartamento de dois quartos. (Apartamentos de luxo em Bombaim podem ter aluguel de milhares de dólares por mês.) Apesar de estar do outro lado do mundo, a dinâmica de controle de aluguel de Bombaim é parecida com a de Nova York (embora Bombaim tenha tido uma experiência muito mais extrema). O controle de aluguel de Bombaim começou em 1947, para tratar uma grave escassez de moradia causada por uma avalanche de refugiados oriundos dos conflitos entre hindus e muçulmanos. A intenção era ser uma medida temporária, mas foi tão popular politicamente que foi prorrogada 20 vezes e hoje se aplica a cerca de 60% dos edifícios do centro da cidade. Os inquilinos passam os apartamentos a seus herdeiros ou vendem o direito de ocupação a outros inquilinos. Apesar de o preço dos imóveis em Bombaim ter subido mais de 60% entre 2007 e 2010, os locadores em edifícios controlados sofreram financeiramente pelo resultado do abandono e deterioramento de belos edifícios do centro da cidade, apesar de 50% dos 12 milhões de habitantes da cidade viverem em favelas por causa da falta de construção de novas moradias.

O que há de errado com o mercado negro? Em geral, desobedecer qualquer lei é ruim, pois incentiva o desrespeito à lei em geral. Pior ainda, nesse caso, a atividade ilegal agrava a posição daqueles que são honestos. Se os Lees forem escrupulosos na manutenção da lei de controle de aluguel, mas outras pessoas – que estão precisando menos de um apartamento do que os Lee – estiverem dispostos a subornar os locadores, os Lee podem nunca encontrar um apartamento. Então, por que existe teto de preços?

Vimos três resultados comuns do teto de preços: Escassez persistente do bem. Ineficiência decorrente dessa escassez persistente na forma de baixa quantidade transacionada por ineficiência (perda por peso morto), alocação ineficiente do bem entre os consumidores, desperdício de recursos na busca pelo bem e baixa qualidade por ineficiência do bem colocado à venda. Surgimento de atividade ilegal no mercado negro.

Em decorrência dessas consequências desagradáveis, por que às vezes os governos ainda impõem tetos de preço? Por que o controle de aluguel, em particular, persiste em Nova York? Uma resposta é que, embora o teto de preços possa ter efeitos adversos, beneficia algumas pessoas. Na prática, as regras de controle de aluguel em Nova York – que são mais complexas do que o nosso modelo simples – prejudicam a maioria dos moradores, mas a uma pequena minoria de inquilinos oferece moradia mais barata do que teriam em um mercado não regulamentado. E aqueles que se beneficiam do controle normalmente são mais organizados e influentes do que os prejudicados. Além disso, quando o teto de preços vigora por longo tempo, os compradores podem não ter ideia do que aconteceria sem ele. No exemplo anterior, o aluguel em um mercado não controlado (Figura 5-1), seria apenas 25% mais alto do que em um mercado controlado (Figura 5-2): $1.000 em vez de $800. Mas como os inquilinos vão saber? De fato, podem ter ouvido falar sobre as transações no mercado negro a preços muito mais altos – os Lee ou outra família pagando a George $1.200 ou mais – e não perceberiam que esses preços do mercado negro são muito mais elevados do que o preço que prevaleceria em um mercado totalmente sem controle. A última resposta é que os funcionários do governo, muitas vezes, não entendem a análise da oferta e da demanda! É um grande erro supor que as políticas econômicas no mundo real são sempre sensatas ou bem informadas.

economia em ação Controle da fome e de preço na Venezuela

Havia algo podre na Venezuela – especificamente, 30 mil toneladas de alimentos em decomposição em Puerto Cabello em junho de 2010. A descoberta foi particularmente embaraçosa para o então Presidente Hugo Chávez, que governava a Venezuela desde 1998. Era um presidente populista que rotineiramente denunciava a elite econômica do país e perseguia políticas promissoras favorecendo as classes pobres e trabalhadoras. Entre

essas políticas estava o controle de preços dos alimentos básicos, que levou à escassez iniciada em 2003 e que se tornou grave em 2006. A política governamental generosa levou ao aumento de gastos por parte dos consumidores e a um nítido aumento no preço dos bens que não estavam sujeitos ao controle de preços ou que eram comprados no mercado negro. O resultado foi um grande aumento na demanda por bens de preço controlado. Mas uma queda acentuada no valor da moeda na Venezuela levou a uma queda na importação de alimentos estrangeiros, e o resultado foi prateleiras vazias na seção de alimentos dos supermercados do país. Como a escassez persistiu e a inflação dos preços dos alimentos piorou (nos primeiros cinco meses de 2010, os preços de alimentos e bebidas aumentou 21%), Chávez declarou a “guerra econômica” no setor privado, criticando-o por “enriquecimento e contrabando”. O governo desapropriou fazendas, fabricantes de alimentos e supermercados, criando no seu lugar as estatais, que eram corruptas e ineficientes – foi a empresa de distribuição de alimentos do governo, PDVAL, que deixou dezenas de milhares de toneladas de alimentos apodrecerem nos portos venezuelanos. A produção de alimentos também caiu, e a Venezuela teve então que importar 70% da sua alimentação. Não era surpresa que as prateleiras dos supermercados administrados pelo governo estavam bem mais vazias do que as que ainda estavam em mãos privadas. A escassez de alimentos foi tão grave que diminuiu consideravelmente a popularidade de Chávez entre os venezuelanos da classe trabalhadora e suspendeu seus planos de desapropriação. Como um velho ditado venezuelano, “amor com fome não dura”.

BREVE REVISÃO Controles de preços assumem a forma de preços máximos legais – teto de preços – ou de preços mínimos legais – piso de preços. Um teto de preço abaixo do preço de equilíbrio beneficia os compradores que conseguem comprar, mas provoca efeitos adversos previsíveis, como escassez persistente que leva a quatro tipos de ineficiência: perda por peso morto, alocação ineficiente entre consumidores, recursos desperdiçados e baixa qualidade por ineficiência.

Perda por peso morto constitui a perda do excedente total que ocorre sempre que uma política ou ação reduz a quantidade transacionada abaixo do nível de equilíbrio de eficiência do mercado. Teto de preços também leva a mercados negros quando os compradores e vendedores tentam fugir dos controles de preços.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 5-1 1. Em dias de jogo, proprietários, perto do estádio da Universidade de Middletown, costumavam alugar vagas de estacionamento nas calçadas para os fãs a uma taxa de $11. Um novo decreto municipal definiu a taxa de estacionamento em $7. Use o gráfico da oferta e demanda a seguir para explicar como cada um dos itens seguintes corresponde a um conceito de teto de preços.

a. Alguns proprietários agora pensam que não vale a pena alugar o espaço. b. Alguns fãs, que vinham de carona para economizar, agora vêm sozinhos. c. Alguns fãs não conseguem encontrar estacionamento e vão embora sem ver o jogo. Explique como cada um dos seguintes efeitos adversos surge do teto de preços. d. Alguns fãs agora chegam várias horas mais cedo para encontrar estacionamento. e. Amigos dos donos das casas próximas ao estádio assistem aos jogos regularmente, mesmo não sendo entusiastas. Mas alguns fãs entusiastas desistiram por causa da situação do estacionamento. f. Alguns proprietários alugam espaços para estacionar por mais de $7, mas fingem que os que estacionam são amigos ou familiares.

2. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. Um teto de preço abaixo do preço de equilíbrio de um mercado de outro modo eficiente faz o seguinte: a. Aumenta a quantidade ofertada. b. Piora a situação de algumas pessoas que querem consumir o bem. c. Piora a situação de todos os produtores. 3. Quais dos itens a seguir criam peso morto? Quais não criam e são apenas uma transferência de excedente de uma pessoa para outra? Justifique a resposta. a. Você foi despejada do apartamento com controle de aluguel depois que o locador descobriu sua jiboia de estimação. O apartamento foi alugado rapidamente para outra pessoa ao mesmo preço. Você e o novo locatário não têm necessariamente a mesma disposição de pagar pelo apartamento. b. Em uma competição, você ganhou uma entrada para um concerto de jazz. Mas não pode ir por causa de um exame e os termos do concurso não permitem dar ou vender a entrada para outra pessoa. A resposta a essa pergunta mudaria se a entrada não pudesse ser vendida, mas pudesse ser doada? c. O reitor da faculdade, que é um defensor de uma dieta com baixo teor de gordura, decreta que não se pode mais vender sorvete no campus. d. O seu sorvete de casquinha cai no chão e seu cão come. (Tome a liberdade de considerar o cão um membro da sociedade, e suponha que, se pudesse, ele estaria disposto a pagar a mesma quantia pelo sorvete que você.) As respostas estão no fim do livro.

PISOS DE PREÇOS Algumas vezes, o governo intervem para pressionar os preços de mercado para cima, em vez de para baixo. Os pisos de preços foram amplamente estabelecidos para produtos agrícolas, como trigo e leite, como forma de garantir renda aos agricultores. Historicamente, também houve pisos de preços para serviços como transporte rodoviário e aéreo, embora tenham sido eliminados pelo governo dos Estados Unidos na década de 1970. Quem já trabalhou em um restaurante fast-food nos Estados Unidos, provavelmente já tenha encontrado um piso de preço: os governos dos Estados Unidos e de outros países mantêm um limite inferior para o salário por hora de trabalho de um trabalhador, ou seja, um piso sobre o preço do trabalho – chamado de salário mínimo.

Assim como o teto de preços, o piso de preços é destinado a ajudar algumas pessoas, mas gera efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis. A Figura 5-5 mostra curvas da demanda e da oferta hipotéticas para manteiga. Sem interferência, o mercado se moveria para o equilíbrio no ponto E, com 10 milhões de quilos de manteiga comprada e vendida ao preço de $1 por quilo. Agora, suponha que o governo, para ajudar os produtores de leite, imponha um piso para o preço da manteiga de $1,20 por quilo. Os efeitos aparecem na Figura 5-6, onde a reta em $1,20 representa o piso. Ao preço de $1,20 por quilo, os vendedores querem vender 12 milhões de quilos (ponto B na curva da oferta), mas os consumidores só querem comprar 9 milhões de quilos (ponto A na curva da demanda). Assim, o piso de preço leva a um excedente persistente de 3 milhões de quilos de manteiga. Será que um piso de preços sempre leva a um excedente indesejado? Não. Tal como no caso de um teto de preços, o piso pode não ser cumprido – ou seja, pode ser irrelevante. Se o preço de equilíbrio da manteiga é $1 por quilo, mas o piso é estabelecido em $0,80, não tem efeito. FIGURA 5-5

O mercado da manteiga na ausência de controles governamentais

Sem a intervenção do governo, o mercado da manteiga atinge o equilíbrio ao preço de $1 por quilo, com 10 milhões de quilos de manteiga comprada e vendida.

Mas suponha que um piso de preço seja cumprido: o que acontece com o excedente indesejado? A resposta depende da política do governo. No caso de piso de preço agrícola, o governo compra o excedente indesejado. Por isso, em algumas épocas, o governo dos Estados Unidos teve que estocar milhares de toneladas de manteiga, queijo e outros produtos agrícolas. (A Comissão Europeia, que administra pisos de preços em vários países europeus, já se viu dona de uma montanha de manteiga, de peso igual ao de toda a população da Áustria.) O governo, então, teve que encontrar uma maneira de dispor desses bens indesejados. FIGURA 5-6

Efeitos de um piso de preços

A linha preta horizontal representa o piso de preço imposto pelo governo de $1,20 por quilo de manteiga. A quantidade demandada de manteiga cai para 9 milhões de quilos e a quantidade ofertada aumenta 12 milhões de quilos, gerando um excedente persistente de 3 milhões de quilos de manteiga.

Alguns países pagam aos exportadores para vender os produtos no exterior, procedimento padrão da União Europeia. Os Estados Unidos doam o excedente dos alimentos às escolas, que usam os produtos na merenda escolar. Em alguns casos, os governos têm realmente que destruir a produção excedente. Para evitar o problema de lidar com o excedente indesejado, o governo dos Estados Unidos normalmente paga aos agricultores para não produzir os produtos. Quando o governo não está preparado para comprar o excedente indesejado, um piso de preço significa que vendedores potenciais não conseguem encontrar compradores. Isso é o que acontece quando há um piso para o preço do salário pago, o salário mínimo: quando o salário mínimo está acima do salário de equilíbrio, algumas pessoas dispostas a trabalhar – isto é, vender trabalho – não conseguem encontrar compradores – ou seja, empregadores dispostos a lhes dar emprego. Como um preço mínimo provoca ineficiência

O excedente persistente que resulta de um piso de preços gera oportunidades perdidas – ineficiências – que se assemelham àquelas criadas pela escassez que resulta de um teto de preço. Incluem-se perda por peso morto por baixa quantidade por ineficiência, alocação ineficiente das vendas entre vendedores, desperdício de recursos, alta qualidade segundo o critério da eficiência e a tentação de burlar a lei vendendo abaixo do preço legal.

ARMADILHAS TETOS, PISOS E QUANTIDADES Um teto de preço empurra o preço de um bem para baixo. Um piso de preço empurra o preço de um bem para cima. Assim, é fácil supor que o efeito de um piso de preço é o oposto do efeito de um teto de preço. Em especial, se um teto de preço reduz a quantidade comprada e vendida de um bem, um piso de preço não aumentaria a quantidade? Não, isso não acontece. Na verdade, tanto o piso como o teto reduzem a quantidade comprada e vendida. Por quê? Quando a quantidade ofertada de um bem não é igual à quantidade demandada, a quantidade real vendida é determinada pelo “lado curto” do mercado – qualquer quantidade será menor.

Se os vendedores não quiserem vender tanto quanto os compradores quiserem comprar, são os vendedores que determinam a quantidade real vendida, porque os compradores não podem forçar os vendedores que não estão dispostos a vender. Se os compradores não quiserem comprar tanto quanto os vendedores quiserem vender, são os compradores que determinam a quantidade real vendida, porque os vendedores não podem forçar os compradores que não estão dispostos a comprar.

Quantidade baixa por ineficiência

Como um piso de preço aumenta o preço de um bem para os consumidores, reduz a quantidade demandada desse bem; como os vendedores não podem vender mais do que os compradores estão dispostos a comprar, um piso de preço reduz a quantidade dos bens comprados e vendidos abaixo da quantidade de equilíbrio do mercado e leva à perda por peso morto. Observe que esse é o mesmo efeito de um teto de preço. Talvez você imagine que um piso de preço e um teto de preço tenham efeitos opostos, mas ambos têm o efeito de reduzir a quantidade de um bem comprado e vendido (veja o quadro Armadilhas, anteriormente). Como o equilíbrio de um mercado eficiente maximiza a soma do consumidor e do produtor, um piso de preço que reduz a quantidade abaixo da quantidade de equilíbrio reduz o excedente total. A Figura 5-7 mostra as implicações do excedente total de um piso de preço sobre o preço da manteiga. O excedente total é a soma da área acima da curva da oferta e abaixo da curva da demanda. Ao reduzir a quantidade de manteiga vendida, um piso de preço causa perda por peso morto igual à área do triângulo sombreada na figura. Contudo, como no caso do piso de preço, a perda por peso morto é a única das formas de ineficiência que o controle de preço cria. Alocação ineficiente de vendas entre vendedores

Como um teto de preço, um piso de preço pode levar à alocação ine ciente – mas, nesse caso, alocação ine ciente de vendas entre vendedores, em vez de alocação ineficiente para consumidores. Um episódio do filme belga Rosetta, uma história de ficção bastante realista, ilustra bem o problema da alocação ineficiente das oportunidades de venda. Como muitos países europeus, a Bélgica tem um salário mínimo elevado e os empregos para os jovens são escassos. Em certo momento,

Rosetta, uma jovem ansiosa por trabalhar, perdeu o emprego em uma barraca de fast-food, pois o proprietário da barraca a substituiu pelo filho, um jovem sem vontade de trabalhar. Rosetta estaria disposta a trabalhar por menos dinheiro, e com o dinheiro economizado o dono da barraca poderia dar uma mesada ao filho e deixá-lo fazer outra coisa. Mas contratar Rosetta por menos que o salário mínimo seria ilegal. Desperdício de recursos

Assim como um teto de preço, um piso de preço gera ineficiência por desperdiçar recursos. Os exemplos mais evidentes envolvem compras governamentais de excedentes indesejáveis de produtos agrícolas em virtude do piso de preço. O excedente da produção, algumas vezes, é destruído, o que é puro desperdício; em outros casos, o produto armazenado fica “fora de condição”, como dizem eufemisticamente os funcionários, e tem que ser jogado fora. Pisos de preços também provocam desperdício de tempo e esforço. Considere o salário mínimo. Trabalhadores potenciais que passam muitas horas à procura de emprego ou esperando na fila na esperança de conseguir emprego, no caso do piso de preço, desempenham o mesmo papel que o das famílias infelizes em busca de apartamentos, no caso do teto de preço. FIGURA 5-7

Um piso de preço causa quantidade baixa por ineficiência

Um piso de preço reduz a quantidade demandada abaixo da quantidade de equilíbrio do mercado e leva à perda de peso morto.

Alta qualidade segundo o critério da eficiência

Mais uma vez, assim como o teto de preço, o piso de preço leva à ineficiência na qualidade dos bens produzidos. Vimos que quando há um teto de preço, há uma oferta de produtos que são de qualidade ineficientemente baixa: os compradores preferem produtos de qualidade mais alta e estariam dispostos a pagar por eles, mas os vendedores se recusam a melhorar a qualidade dos produtos porque o teto de preço impede que sejam compensados por isso. Essa mesma lógica se aplica aos pisos de preço, mas de forma inversa: os fornecedores oferecem bens de alta qualidade por ine ciência. Como assim? A qualidade não é uma coisa boa? Sim, mas apenas se valer o custo. Suponha que os produtores gastem muito para fabricar produtos de

altíssima qualidade, mas que essa qualidade não interesse aos consumidores, que preferem receber o dinheiro gasto com essa qualidade na forma de um preço mais baixo. Isso representa uma oportunidade perdida: vendedores e compradores poderiam fazer um negócio mutuamente benéfico em que os compradores obteriam bens de menor qualidade por um preço muito mais baixo. Um bom exemplo de ineficiência proveniente da qualidade excessiva vem desde o tempo em que as passagens aéreas internacionais tinham um preço muito elevado fixado por um tratado internacional. Proibidas de competir por clientes oferecendo preços mais baixos, as companhias aéreas passaram a oferecer serviços caros, como refeições generosas, que, em grande parte, ninguém comia. Em certo momento, os reguladores tentaram restringir essa prática estabelecendo um padrão máximo de serviços – por exemplo, que o lanche não podia ter mais que um sanduíche. A seguir, uma companhia aérea introduziu o que chamou de “sanduíche escandinavo”, algo tão impressionante que forçou a convocação de uma nova conferência para definir o “sanduíche”. Tudo isso era um desperdício, especialmente considerando que o que os passageiros realmente queriam era menos comida e tarifas aéreas mais baixas. Desde a desregulamentação das companhias aéreas dos Estados Unidos, na década de 1970, os passageiros americanos experimentaram considerável queda nos preços dos bilhetes aéreos acompanhada por uma diminuição na qualidade do serviço de bordo – assentos menores, comida de qualidade inferior, e assim por diante. Todo mundo reclama do serviço – mas agradece pelas tarifas mais baixas. A quantidade de pessoas voando em companhias aéreas nos Estados Unidos cresceu vertiginosamente desde a desregulamentação. Atividade ilegal

Por fim, assim como o teto de preços, o piso de preços oferece incentivos para a atividade ilegal. Por exemplo, em países onde o salário mínimo está muito acima do salário de equilíbrio, trabalhadores desesperados por trabalho, por vezes, concordam em trabalhar sem registro em carteira com empregadores que escondem esse emprego do governo – ou subornam os fiscais. Essa prática, conhecida na Europa como “trabalho negro”, é comum

especialmente nos países do sul da Europa, como Itália e Espanha (veja adiante Economia em Ação).

COMPARAÇÃO GLOBAL CONFIRA OS BAIXOS SALÁRIOS AMERICANOS! Como mostra o gráfico, o salário mínimo nos Estados Unidos realmente é muito baixo em comparação com o de outros países ricos. Como o salário mínimo é fixado em moeda nacional – o salário mínimo britânico é definido em libras, o da França em euros, e assim por diante –, a comparação depende da taxa de câmbio de um dia determinado. Em 15 de abril de 2011, a Austrália tinha um salário mínimo duas vezes maior que o dos Estados Unidos, com a França, Canadá e Irlanda não muito atrás. Pode-se observar um efeito dessa diferença na fila do caixa do supermercado. Nos Estados Unidos, geralmente há alguém para empacotar as compras para você – alguém que normalmente recebe o salário mínimo ou um pouco mais. Na Europa, onde é mais caro contratar alguém para empacotar compras, você mesmo tem que fazer o trabalho.

Fonte: National Employment Rights Authority (Irlanda); Ministère du Travail, de l’Emploi et de la Santé (França); Fair Work Australia

(Austrália); Department for Business, Innovation and Skills (GrãBretanha); Human Resources and Skills Development Canada (Canadá); Department of Labor (Estados Unidos); Federal Reserve Bank of St. Louis (taxas de câmbio em 15 de abril de 2011). *O salário mínimo no Canadá varia, segundo as províncias, de C$8,00 a C$11,00.

Então, por que existe piso de preços?

Em suma, um piso de preço cria vários efeitos colaterais negativos: Excedente persistente do bem. Ineficiência decorrente do excedente persistente na forma de quantidade ineficientemente baixa (perda por peso morto), alocação ineficiente de vendas entre vendedores, desperdício de recursos e qualidade ineficientemente alta do bem ofertado. Tentação de se envolver em atividades ilegais, principalmente suborno e corrupção de funcionários públicos. Então, por que os governos impõem pisos de preços, quando existem tantos efeitos colaterais negativos? As razões são as mesmas ao impor um teto de preços. Os funcionários do governo, muitas vezes, ignoram as advertências sobre as consequências do piso de preços, seja porque acreditam que o mercado em questão não está bem descrito pelo modelo de oferta e demanda, ou, com mais frequência, porque não entendem o modelo. Acima de tudo, assim como o teto de preços, muitas vezes, é imposto porque beneficia alguns compradores influentes, o piso de preços também, muitas vezes, é imposto por beneficiar alguns vendedores influentes.

economia em ação “Mercado negro de trabalho” no Sul da Europa

O exemplo mais conhecido de piso de preço é o salário mínimo. Contudo, a maioria dos economistas acredita que o salário mínimo tenha

relativamente pouco impacto sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, principalmente porque o piso é baixo. Em 1964, o salário mínimo nos Estados Unidos era de 53% do salário médio de um operário da linha de produção. Em 2010, apesar de vários aumentos, caiu para aproximadamente 44%. No entanto, a situação é diferente em muitos países europeus, onde o salário mínimo estabelecido é muito mais elevado do que nos Estados Unidos. Isso acontece apesar de os trabalhadores europeus serem um pouco menos produtivos do que os homólogos americanos, o que significa que o salário de equilíbrio na Europa – o salário que ajusta o mercado de trabalho – provavelmente é mais baixo na Europa do que nos Estados Unidos. Além disso, os países europeus muitas vezes obrigam os empregadores a pagar pelos benefícios do trabalhador, como seguro saúde e aposentadoria, que são mais amplos e, desse modo, mais caros que os benefícios americanos. Esses benefícios, fixados em lei, tornam o custo real de contratação de um trabalhador europeu consideravelmente mais alto do que o salário de fato recebido pelo trabalhador. O resultado é que, na Europa, o piso de preço do salário definitivamente é algo que precisa ser cumprido: o salário mínimo é bem superior àquele que igualaria a quantidade de trabalho ofertada pelos trabalhadores à quantidade de trabalho demandada pelos empregadores. O excedente persistente que resulta desse piso de preços aparece na forma de desemprego elevado – milhões de trabalhadores, especialmente jovens, em busca de emprego, mas não encontram. No entanto, em países onde a fiscalização do cumprimento das leis trabalhistas é fraca, há um segundo resultado totalmente previsível: fraude generalizada da lei. Tanto na Itália como na Espanha, acredita-se que haja centenas de milhares, senão milhões, de trabalhadores que são empregados por empresas que pagam menos do que o salário mínimo legal, ou não oferecem os benefícios de saúde e aposentadoria, ou ambos. Em muitos casos, os empregos não são registrados: os economistas espanhóis estimam que cerca de 1/3 de desempregados do país esteja, na verdade, trabalhando no mercado negro – exercendo trabalho não registrado. Na verdade, os espanhóis que esperam nas filas para receber seus cheques de seguro-

desemprego queixam-se das longas filas que os impedem de voltar logo para o trabalho! Os empregadores desses países também encontraram maneiras legais de contornar o piso salarial. Por exemplo, as leis trabalhistas da Itália se aplicam apenas às empresas com 15 ou mais trabalhadores. Isso oferece uma grande vantagem de custo às pequenas empresas italianas, de modo que muitas permanecem pequenas para evitar o pagamento de salários e benefícios. E, com certeza, em algumas indústrias italianas há uma proliferação surpreendente de pequenas empresas. Por exemplo, uma das indústrias italianas mais bem-sucedidas é a de fabricação de tecidos de lã de alta qualidade, que se concentra na região de Prato. A empresa têxtil média, nessa região, emprega apenas quatro trabalhadores!

BREVE REVISÃO O piso de preço mais conhecido é o salário mínimo. Comumente, os impostos também são pisos de preços para bens agrícolas. Um piso de preço acima do preço de equilíbrio beneficia os vendedores de sucesso, mas provoca efeitos adversos previsíveis, como um excedente persistente, que leva a quatro tipos de ineficiência: perda por peso morto em virtude da baixa quantidade segundo o critério de eficiência, alocação ineficiente de vendas entre vendedores, desperdício de recursos e alta qualidade segundo o critério de efi ciência. Pisos de preços incentivam a atividade ilegal, como os trabalhadores que trabalham sem carteira assinada, muitas vezes levando à corrupção oficial.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 5-2 1. A Assembleia Legislativa do Estado aprova um piso de preço para a gasolina de PF por galão. Avalie as seguintes afirmações e ilustre a resposta usando o gráfico fornecido. a. Os defensores da lei afirmam que ela aumentará a renda dos proprietários de postos de gasolina. Os opositores afirmam que irá prejudicá-los porque irão perder clientes. b. Os defensores alegam que os consumidores serão beneficiados porque os postos de gasolina irão oferecer um serviço melhor. Os opositores

c.

afirmam que os consumidores serão prejudicados porque preferem comprar gasolina a preços mais baixos. Os defensores alegam que estão ajudando os proprietários de postos de gasolina, sem prejudicar ninguém. Os opositores afirmam que os consumidores estão sendo prejudicados e serão obrigados a fazer coisas como comprar gasolina em outro estado ou no mercado negro.

As respostas estão no fim do livro.

CONTROLE DE QUANTIDADES Nos anos 1930, a prefeitura de Nova York instituiu um sistema de concessão de licenças para táxis: apenas táxis com um “medalhão” podiam pegar passageiros. Como esse sistema pretendia garantir a qualidade, os proprietários de medalhão deveriam manter certos padrões, incluindo segurança e limpeza. Foi emitido um total de 11.787 medalhões, com os taxistas pagando $10 por medalhão. Em 1995, havia apenas 11.787 táxis licenciados em Nova York, embora, nesse meio-tempo, a cidade tenha se tornado a capital financeira do mundo, um lugar onde centenas de milhares de pessoas a cada dia estão com pressa e tentam pegar um táxi. (Em 1995, foram emitidos mais 400 medalhões e, após várias rodadas adicionais, em 2009, existiam 13.128 medalhões.) O resultado dessa restrição no número de táxis é que os medalhões se tornaram muito valiosos na cidade de Nova York: quem quiser operar um táxi naquela cidade, terá que fazer um leasing do medalhão de alguém ou comprar um pelo preço de algumas centenas de milhares de dólares.

Acontece que essa história não é única; outras cidades introduziram sistemas semelhantes na década de 1930 e, como em Nova York, emitiram poucas licenças desde então. Em San Francisco e Boston, assim como em Nova York, medalhões de táxi se comerciam em cifras de seis dígitos. Um sistema de medalhão para táxis é uma forma de controle de quantidade, ou cota, pelo qual o governo regula a quantidade de um bem que pode ser comprado e vendido e não o preço da transação. O valor total do bem que pode ser transacionado quando há controle da quantidade é chamado de limite de cota. Normalmente, o governo limita a quantidade em um mercado através da emissão de licenças, apenas as pessoas com licença podem fornecer o bem legalmente. Um sistema de medalhão para táxi é uma licença. A prefeitura de Nova York limita o número de corridas de táxi que podem ser vendidas limitando o número de táxis apenas aos que possuem medalhões. Há muitos outros casos de controle de quantidade, variando do limite da quantidade de moeda estrangeira (por exemplo, libras esterlinas ou pesos mexicanos) que as pessoas podem comprar, até a quantidade de moluscos que os barcos de New Jersey podem pescar. Observe, a propósito, que embora exista controle de preço em ambos os lados do equilíbrio – pisos e tetos de preços –, no mundo real o controle de quantidade sempre define um limite sobre quantidade superior, e não inferior. Afinal, ninguém pode ser forçado a comprar ou vender mais do que quer! Algumas tentativas de controle de quantidade se realizam por boas razões econômicas, outras por más. Em muitos casos, como veremos, controles de quantidade introduzidos para resolver um problema temporário tornam-se, mais tarde, politicamente difíceis de remover porque os beneficiados não querem mais abrir mão deles, mesmo que as razões para a sua existência tenham desaparecido. Mas quaisquer que sejam as razões para tais controles, há certas consequências previsíveis e, geralmente, indesejáveis. Anatomia dos controles de quantidade

Para entender por que um medalhão de táxi vale tanto em Nova York, consideremos uma versão simplificada do mercado de corridas de táxi,

como mostrado na Figura 5-8. Assim como na análise do controle de aluguel, assumimos que todos os apartamentos são iguais, suponhamos agora que todas as corridas de táxi sejam iguais – ignorando as complicações do mundo real, onde algumas corridas são mais longas e são mais caras que outras. No lado direito da figura, aparecem as tabelas de oferta e demanda. O equilíbrio – indicado pelo ponto E na figura e pelas entradas sombreadas na tabela – é uma tarifa de $5 por corrida, com 10 milhões de corridas por ano. (Veremos a seguir por que o equilíbrio é apresentado dessa forma.) O sistema de medalhões de Nova York limita o número de táxis, mas cada motorista de táxi pode oferecer tantas corridas quanto aguente. (Agora você sabe por que os taxistas de Nova York são tão agressivos!) Contudo, para simplificar a análise, vamos supor que um sistema de medalhão limite a 8 milhões por ano o número de corridas de táxi que legalmente podem ser feitas. FIGURA 5-8

O mercado de corridas de táxi na ausência de controles governamentais

Sem a intervenção do governo, o mercado atinge o equilíbrio com 10 milhões de corridas por ano a uma tarifa de $5 por corrida.

Até agora derivamos a curva da demanda, respondendo às questões da seguinte forma: “Quantas corridas de táxi os passageiros vão querer fazer ao

preço de $5 por corrida?” Mas é possível reverter a questão e, em vez disso, perguntar: “A que preço os consumidores vão querer fazer 10 milhões de corridas por ano?” O preço pelo qual os consumidores querem comprar uma determinada quantidade – nesse caso, 10 milhões de corridas a $5 por corrida – é o preço de demanda dessa quantidade. Você pode ver, a partir da tabela da demanda na Figura 5-8, que o preço de demanda de 6 milhões de corridas é de $7 por corrida, o preço de demanda de 7 milhões de corridas é de $6,50 por corrida, e assim por diante. Da mesma forma, a curva da oferta representa a resposta às questões da forma: “Quantas corridas de táxi os taxistas ofereceriam a um preço de $5 cada?” Mas também é possível inverter essa questão: “A que preço quem oferece o serviço estará disposto a suprir 10 milhões de corridas por ano?” O preço pelo qual o fornecedor está disposto a suprir determinada quantidade – nesse caso, 10 milhões de corridas a $5 por corrida – é o preço da oferta dessa quantidade. Depreende-se da tabela de oferta da Figura 5-8 que o preço de oferta de 6 milhões de corridas é de $3 por corrida, o preço de oferta de 7 milhões de corridas é de $3,50 por corrida, e assim por diante. Agora estamos prontos para analisar uma cota. Suponhamos que a prefeitura da cidade limita a quantidade de corridas de táxi a 8 milhões por ano. Medalhões, que têm o direito de fornecer certo número de corridas de táxi por ano, são disponibilizados para pessoas selecionadas de tal forma que um total de 8 milhões de corridas serão oferecidas. Os donos de medalhões podem dirigir seus próprios táxis ou alugar o medalhão a outros por uma tarifa. A Figura 5-9 mostra o mercado resultante para corridas de táxi, com a linha preta vertical em 8 milhões de corridas por ano, representando o limite de cota. Como a quantidade de corridas é limitada em 8 milhões, os consumidores devem estar no ponto A da curva de demanda, que corresponde à entrada sombreada na tabela da demanda: o preço de demanda de 8 milhões de corridas é de $6 por corrida. Enquanto isso, os taxistas devem estar no ponto B da curva da oferta, que corresponde à entrada sombreada na tabela da oferta: o preço de 8 milhões de corridas é de $4 por corrida. Mas como pode o preço recebido pelos taxistas ser $4, quando o preço pago pelos clientes é $6? A resposta é que, além do mercado de corridas de

táxi, há também um mercado de medalhões. Os detentores de medalhão nem sempre querem dirigir seus táxis: podem estar doentes ou em férias. Aqueles que não querem dirigir os próprios táxis vendem o direito de usar o medalhão para outra pessoa. Então, aqui, precisamos considerar dois conjuntos de transações e também dois preços: (1) as transações das corridas de táxi e o preço pelo qual essas corridas ocorrem, e (2) as transações com medalhões e o preço pelo qual ocorrem. Acontece que como estamos analisando dois mercados, os preços de $4 e $6 estão corretos. FIGURA 5-9

Efeito de uma cota no mercado de corrida de táxi

A tabela mostra o preço de demanda e de oferta correspondente a cada quantidade: o preço pelo qual essa quantidade seria demandada e ofertada, respectivamente. A prefeitura impôs uma cota de 8 milhões de corridas com a venda de licenças para apenas 8 milhões de corridas, representada pela linha preta vertical. O preço pago pelos consumidores subiu de $6 por corrida, o preço de demanda de 8 milhões de corridas, mostrado no ponto A. O preço de oferta de 8 milhões de corridas é de apenas $4 por corrida, mostrado pelo ponto B. A diferença entre esses dois preços é a renda da cota por corrida, o resultado obtido pelo proprietário de uma licença. A renda da cota introduz uma cunha entre o preço de demanda e o de oferta, e a cota desestimula transações mutuamente benéficas, cria perda por peso morto igual ao triângulo sombreado.

Para verificar como tudo isso funciona, considere dois taxistas imaginários de Nova York, Sunil e Harriet. Sunil tem um medalhão, mas não pode usá-lo porque está se recuperando de uma torção severa no pulso.

Então ele está analisando a possibilidade de alugar seu medalhão para alguém. Harriet não tem um medalhão, mas gostaria de alugar um. Além disso, a qualquer momento, haverá muitas outras pessoas como Harriet que gostariam de alugar um medalhão. Suponha que Sunil concorde em alugar o medalhão para Harriet. Para simplificar, suponha que qualquer motorista possa dar apenas uma corrida por dia e que Sunil está alugando seu medalhão para Harriet por um dia. Qual preço de aluguel será acordado entre os dois? Para responder a essa questão, precisamos analisar as transações sob o ponto de vista de ambos os motoristas. Uma vez que ela tem o medalhão, Harriet sabe que se tiver o medalhão poderá ganhar $6 por dia – o preço de demanda de uma corrida havendo a cota. Ela está disposta a alugar o medalhão se receber pelo menos $4 por dia, o preço de oferta, havendo a cota. Então, Sunil não pode exigir um aluguel de mais de $2 por dia – a diferença entre $6 e $4. E se Harriet oferecer a Sunil menos que $2 – digamos, $1,50 – outros motoristas ansiosos estarão dispostos a oferecer-lhe mais, até $2. Assim, para obter o medalhão, Harriet deve oferecer a Sunil pelo menos $2. Como o aluguel pode ser maior que $2 e não pode ser menor que $2, deve ser exatamente $2. Não é por acaso que $2 seja exatamente a diferença entre $6, o preço de demanda de 8 milhões de corridas, e $4, o preço de oferta de 8 milhões de corridas. Em cada caso em que a oferta de um bem é legalmente restrita, há uma cunha entre o preço de demanda da quantidade transacionada e o preço de oferta da quantidade transacionada. Essa cunha, ilustrada pela seta dupla na Figura 5-9, tem um nome especial: renda da cota. É a renda que vai para o dono da licença pela posse de um bem valioso, a licença. No caso de Sunil e Harriet, a renda da cota de $2 vai para Sunil porque ele possui a licença e os $4 restantes do preço total da corrida de $6 vão para Harriet. Assim, a Figura 5-9 ilustra também a renda da cota no mercado de táxis de Nova York. A cota limita a quantidade de corridas a 8 milhões por ano, uma quantidade em que o preço de demanda de $6 excede o preço de oferta de $4. A cunha entre esses dois preços, $2, é a renda da cota que resulta das restrições sobre a quantidade de corridas de táxi desse mercado. Mas espere um pouco. E se Sunil não alugar seu medalhão? Se ele mesmo o usar? Isso não quer dizer que ele obterá o preço de $6? Realmente não.

Mesmo que Sunil não alugue o medalhão, poderia tê-lo alugado, o que significa que ele tem um custo de oportunidade de $2: se Sunil decidir usar o medalhão e conduzir o próprio táxi em vez de alugar para Harriet, $2 representa o custo de oportunidade de não alugar o medalhão. Ou seja, a renda de cota de $2 é agora a renda de aluguel que ele renuncia ao dirigir o seu próprio táxi. Com efeito, Sunil está em dois negócios – o negócio de taxista e o de alugar o medalhão. Recebe $4 por corrida dirigindo o seu táxi e $2 por corrida alugando o medalhão. Não faz nenhuma diferença que, nesse caso específico, tenha alugado o medalhão a si mesmo! Assim, independentemente de o medalhão ser usado pelo próprio dono ou alugado, é um ativo valioso. E isso está representado no preço corrente de um medalhão de táxi em Nova York: em outubro de 2011, era cerca de $694.000. De acordo com Simon Greenbaum, uma corretora de Nova York de medalhões de táxi, um proprietário de medalhão que aluga para um motorista pode esperar ganhar cerca de $2.500 por mês, ou um uma taxa de retorno de 3% – uma taxa atrativa em comparação com outros investimentos. A propósito, observe que essas cotas – assim como tetos e pisos de preços – nem sempre têm um efeito real. Se a cota fosse fixada em 12 milhões de corridas – ou seja, acima da quantidade de equilíbrio em um mercado não regulamentado – não teria efeito, pois não precisaria ser cumprida. Custos de controle de quantidade

Assim como o controle de preços, o controle de quantidade também pode ter alguns efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis. O primeiro é o problema familiar de ineficiência em virtude das oportunidades perdidas: controles de quantidade criam perda por peso morto, evitando que transações mutuamente benéficas ocorram, transações que beneficiariam tanto compradores como vendedores. Analisando a Figura 5-9, pode-se observar que, começando a partir do limite de cota de 8 milhões de corridas, os nova-iorquinos estariam dispostos a pagar pelo menos $5,50 por corrida para um adicional de 1 milhão de corridas e que os taxistas estariam dispostos a fornecer essas corridas, desde que recebessem pelo menos $4,50 por corrida. Essas corridas teriam ocorrido se não houvesse limite de cota.

O mesmo se aplica ao próximo milhão de corridas: os nova-iorquinos estariam dispostos a pagar pelo menos $5 por corrida quando a quantidade de corridas aumentasse de 9 milhões para 10 milhões, e os taxistas estariam dispostos a suprir essas corridas desde que obtivessem pelo menos $5 por corrida. Mais uma vez, essas corridas teriam ocorrido sem o limite de cota. Apenas quando o mercado atingisse a quantidade de equilíbrio do livre mercado de 10 milhões de corridas é que não haveria mais “corridas de oportunidade perdida” – o limite de cota de 8 milhões de corridas causou 2 milhões de “corridas de oportunidade perdida”. Geralmente, enquanto o preço de demanda de determinada quantidade excede o preço de oferta, há uma perda por peso morto. Um comprador estaria disposto a comprar um bem por um preço que o vendedor estaria disposto a aceitar, mas essa transação não ocorre por ser proibida pela cota. A perda por peso morto que surge de 2 milhões em oportunidades perdidas de corridas é representada pelo triângulo sombreado na Figura 5-9. E como existem transações que as pessoas gostariam de fazer, mas não são permitidas, os controles de quantidade geram incentivos para evadir ou até mesmo ferir a lei. A indústria de táxis de Nova York novamente fornece exemplos claros. A regulamentação dos táxis se aplica apenas aos motoristas que são parados pelos passageiros na rua. Serviços de motorista que transportam passageiros, com os quais foi antecipadamente combinado, não precisam de medalhão. Como resultado, esses carros alugados fornecem a maior parte do serviço que poderia ser prestado pelos táxis, como em outras cidades. Além disso, há um número substancial de táxis sem licença que desafiam a lei pegando passageiros sem ter medalhão. Como esses táxis são ilegais, os motoristas não passam por nenhuma fiscalização e geram uma parcela desproporcionalmente grande de acidentes de trânsito em Nova York. Na verdade, em 2004, as dificuldades causadas pelo número limitado de táxis em Nova York levaram os líderes da cidade a autorizar um aumento no número de táxis licenciados. Em uma série de vendas, a cidade vendeu 900 novos medalhões, levando ao total de 13.128 medalhões – um movimento que certamente animou os passageiros de Nova York. Mas aqueles que já possuíam medalhões ficaram menos felizes com o aumento, entenderam que 900 novos táxis iriam reduzir ou eliminar a

escassez de táxis. Como resultado, os taxistas anteciparam uma queda em suas receitas, porque já não teriam sempre a certeza de encontrar clientes dispostos. E, por sua vez, o valor do medalhão iria cair. Então, para agradar os proprietários de medalhão, a prefeitura também elevou as tarifas de táxi: 25% em 2004 e, de novo, um percentual menor em 2006. Embora agora seja mais fácil encontrar um táxi, uma corrida custa mais – e esse aumento de preço diminuiu um pouco a alegria recém-sentida dos nova-iorquinos. Em suma, os controles de quantidade normalmente criam os seguintes efeitos indesejáveis: Perda por peso morto, na forma de transações mutuamente benéficas que não ocorrem. Incentivos a atividades ilegais.

economia em ação Os Moluscos de New Jersey

Esqueça as refinarias ao longo da avenida principal ou os reality shows; uma indústria que New Jersey realmente domina é a pesca de moluscos. Em 2009, o Garden State fornecia 39% dos mariscos do país, que são usados para fazer ensopado de vôngoles, e 71% de amêijoa branca (surf clams), geralmente fritos. Contudo, na década de 1980, em decorrência do excesso de pesca os moluscos de New Jersey estavam ameaçados de extinção. Para salvar o recurso, o governo dos Estados Unidos introduziu uma cota de molusco, que estabelece um limite global sobre a quantidade de toneladas de moluscos que pode ser pescada e atribui licenças aos proprietários de barcos de pesca com base na quantidade histórica de pesca. Observe, a propósito, que esse é um exemplo de cota que, provavelmente, é justificado por considerações mais amplas, econômicas e ambientais – diferentemente das cotas de táxis de Nova York, que há muito perdeu qualquer razão econômica. Ainda assim, qualquer que seja sua razão de ser, a cota de moluscos de New Jersey funciona da mesma maneira que qualquer outra cota.

Uma vez estabelecido o sistema de cotas, muitos proprietários de barco pararam de pescar moluscos. Perceberam que em vez de operar um barco em tempo parcial, seria mais rentável vender ou alugar as licenças a outro dono de barco, que, então, teria licenças suficientes para operar um barco em tempo integral. Hoje, existem cerca de 50 barcos de pesca colhendo moluscos em New Jersey. A licença necessária para operar um deles vale mais do que o próprio barco.

BREVE REVISÃO Controles de quantidade ou cotas são limites impostos pelo governo sobre a quantidade que um bem pode ser comprado ou vendido. A quantidade permitida para venda é o limite de cota. O governo emite uma licença – o direito de vender determinada quantidade de um bem sujeito a cota. Quando o limite da cota é menor do que a quantidade de equilíbrio em um mercado não regulamentado, o preço de demanda é mais alto do que o preço de oferta – há uma cunha entre eles no limite de cota. Essa cunha é a renda da cota, os resultados que o titular da licença obtém pela propriedade do direito de vender o bem – seja realmente com o fornecimento do bem ou alugando a licença para outra pessoa. O preço de mercado de uma licença é igual à renda da cota. Assim como os controles de preços, os controles de quantidade criam ineficiência e incentivam a atividade ilegal.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 5-3 1. Suponha que a oferta e a demanda de corridas de táxi são dadas pela Figura 5-8, mas a cota é fixada em 6 milhões de corridas em vez de 8 milhões. Encontre os dados seguintes e indique na Figura 5-8. a. O preço de uma corrida. b. A renda da cota. c. Perda por peso morto. d. Suponha que o limite da cota em corridas de táxi tenha aumentado para 9 milhões. O que acontece com a renda da cota? 2. Suponha que o limite da cota seja de 8 milhões de corridas. Suponha ainda que a demanda diminua em decorrência de um declínio no turismo. Qual é o menor deslocamento paralelo da demanda para a esquerda que teria como

resultado que a cota não mais teria efeito no mercado? Ilustre a resposta usando a Figura 5-8. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Medallion Financial: no caminho certo

Voltemos para 1937, antes da cidade de Nova York congelar o número de medalhões de táxi, quando o avô imigrante de Andrew Murstein comprou seu primeiro medalhão por $10. Com o tempo, o avô acumulou 500 medalhões, que alugou para outros motoristas. Esses 500 medalhões de táxi tornaram-se a base para a Medallion Financial: a empresa que acabaria por pertencer a Andrew, o atual presidente. Com um valor de mercado de $200 milhões no final de 2011, a Medallion Financial mudou sua principal linha de negócios de aluguel de medalhões para financiamento da compra de novos medalhões, emprestando dinheiro para aqueles que querem comprar um medalhão, mas não têm o montante considerável de dinheiro necessário para fazê-lo. Murstein acredita estar ajudando pessoas que, como seu avô, imigrante polonês, quer comprar um pedaço do sonho americano. Andrew Murstein observa cuidadosamente o valor de um medalhão de táxi na cidade de Nova York – quanto mais custa, há mais demanda de empréstimos para a Medallion Financial e mais juros a empresa recebe sobre os empréstimos. Um empréstimo pela Medallion Financial é garantido pelo próprio valor do medalhão. Se o tomador do empréstimo não for capaz de pagá-lo, a Medallion Financial toma posse do medalhão e revende-o para compensar o custo da inadimplência. A partir de 2011, o valor de um medalhão aumentou mais rapidamente do que ações, petróleo e ouro. Ao longo das duas últimas décadas, de 1990 até o outono de 2011, o valor de um medalhão aumentou 440%, comparado com apenas 255% do índice das ações. Mas o preço do medalhão pode variar drasticamente, ameaçando o lucro. Durante períodos de economia muito forte, como entre 1999 e 2001, o preço

dos medalhões de táxi de Nova York caiu à medida que os motoristas encontravam empregos em outros setores. Quando a economia de Nova York despencou, no rescaldo do 11 de Setembro, o preço do medalhão caiu para $180.000, o menor nível em 12 anos. Em 2004, os proprietários de medalhão estavam preocupados com a iminente venda, pela New York City Taxi and Limousine Comission, de um adicional de 900 medalhões. Como comentou na época Peter Hernandez, um taxista preocupado de Nova York que financiou seu medalhão com um empréstimo da Medallion Financial: “Se colocarem novos táxis na indústria, o medalhão será desvalorizado, bem como minha renda diária.” No entanto, Murstein sempre foi otimista no sentido de que os medalhões iriam manter o valor. Acreditava que um aumento da tarifa de 25% iria compensar uma eventual perda de valor causada pela venda de novos medalhões. Além disso, mais medalhões significariam mais empréstimos para a sua empresa. A partir de 2011, o otimismo de Murstein tinha sido justificado. Em virtude da crise financeira entre 2007 e 2009, muitas empresas de Nova York cortaram os serviços de limousine que normalmente forneciam aos seus empregados, forçando-os a tomar táxis. Como resultado, em outubro de 2011, o preço de um medalhão subiu para impressionantes $694.000. E os investidores perceberam o valor da linha de negócios da Medallion Financial: a partir de novembro de 2010 até novembro de 2011, as ações da Medallion Financial subiram 44%.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Como a Medallion Financial se beneficiou da restrição do número de medalhões de táxi em Nova York? 2. Qual seria o efeito sobre a Medallion Financial se as empresas de Nova York retomassem a utilização generalizada dos serviços de limousine para seus empregados? Qual é a motivação econômica que faz as empresas oferecerem esse privilégio aos seus empregados? (Observe que é muito difícil e caro ter um carro, em Nova York.) 3. Preveja o efeito sobre os negócios da Medallion Financial se a cidade de Nova York eliminasse as restrições sobre o número de táxis.

• RESUMO 1. Mesmo quando um mercado é eficiente, os governos, muitas vezes, intervêm em busca de maior justiça ou para agradar a um grupo de interesse poderoso. As intervenções podem assumir a forma de controle de preço ou de quantidade, sendo que ambos geram efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis que consistem em várias formas de ineficiência e atividade ilegal. 2. Um teto de preço, um preço de mercado máximo abaixo do preço de equilíbrio, beneficia compradores de sucesso, mas cria escassez persistente. Como o preço é mantido abaixo do preço de equilíbrio, a quantidade demandada é aumentada, e a quantidade ofertada é diminuída em comparação com a quantidade de equilíbrio. Isso leva a problemas previsíveis: ineficiências na forma de perda por peso morto em virtude da quantidade baixa pelo critério da eficiência, alocação ineficiente a consumidores, desperdício de recursos e baixa qualidade pelo critério da eficiência. Além disso, incentiva a atividade ilegal, com as pessoas recorrendo ao mercado negro para obter o bem. Em decorrência desses problemas, tetos de preço, em geral, perderam prestígio como ferramenta de política econômica. Mas alguns governos continuam a impôla, seja porque não entendem seus efeitos ou porque os tetos de preço beneficiam algum grupo influente. 3. Um piso de preço, um preço de mercado mínimo acima do preço de equilíbrio, beneficia vendedores de sucesso, mas cria um excedente persistente. Como o preço é mantido acima do preço de equilíbrio, a quantidade demandada cai e a quantidade ofertada aumenta em comparação com a quantidade de equilíbrio. Isso leva a problemas previsíveis: ineficiência na forma de perda por peso morto em virtude da quantidade baixa pelo critério da eficiência, alocação ineficiente das vendas entre vendedores, desperdício de recursos e alta qualidade pelo critério da eficiência. Além disso, incentiva a atividade ilegal e o mercado negro. O tipo mais conhecido de piso de preço é o salário mínimo, mas pisos de preços também são comumente aplicados aos produtos agrícolas. 4. Controles de quantidade, ou cotas, limitam a quantidade de um bem que pode ser comprada ou vendida. A quantidade permitida para venda é o limite de cota. Os governos emitem licenças aos indivíduos, o direito de vender determinada quantidade do bem. O proprietário da licença recebe a renda da cota, rendimento que decorre do direito de vender o bem. É igual à diferença entre o preço de demanda no limite da cota, o que os consumidores estão dispostos a pagar pela quantidade e o preço de oferta no limite da cota, o que os fornecedores estão dispostos a aceitar por aquela quantidade. Os economistas dizem que uma cota introduz uma cunha entre o preço de demanda e o preço de oferta; essa cunha é igual à

renda da cota. Controles de quantidade geram perda por peso morto além de incentivar a atividade ilegal.

• PALAVRAS-CHAVE Controle de preços, p. 108 Teto de preço, p. 108 Piso de preço, p. 108 Alocação ineficiente para consumidores, p. 111 Desperdício de recursos, p. 113 Baixa qualidade pelo critério da eficiência, p. 113 Mercados negros, p. 113 Salário mínimo, p. 115 Alocação ineficiente de vendas entre vendedores, p. 117 Alta qualidade por ineficiência, p. 118 Controle de quantidade, p. 121 Cota, p. 121 Limite da cota, p. 121 Licença, p. 121 Preço de demanda, p. 122 Preço da oferta, p. 122 Cunha, p. 123 Renda da cota, p. 123

• PROBLEMAS 1. Suponha que se decidiu abolir o controle sobre preços de aluguel em Nova York e que agora vai prevalecer o mercado de aluguéis. Suponha que todas as unidades para locação sejam idênticas e, portanto, são ofertadas ao mesmo preço de aluguel. Para resolver a situação dos moradores que não podem pagar o aluguel de mercado, será pago um complemento de renda a

todas as famílias de baixa renda igual à diferença entre o antigo aluguel controlado e o novo aluguel de mercado. a. Use um gráfico para mostrar o efeito da eliminação do controle de aluguel sobre o mercado de aluguéis. O que irá acontecer com a qualidade e a quantidade de imóveis ofertados para locação? b. Use um segundo gráfico para mostrar o efeito da política de suplementação de renda sobre o mercado. Que efeito tem sobre o aluguel de mercado e sobre a quantidade de imóveis oferecida para locação em comparação com a resposta do item a? c. Os inquilinos estão em melhor ou pior situação como resultado dessas políticas? E os locatários ficam em melhor ou pior situação? d. Do ponto de vista político, para ajudar as pessoas de baixa renda a pagar pela moradia, por que você acha que as cidades têm estado mais propensas a recorrer ao controle de aluguel em vez de usar uma política de suplementação de renda? 2. Para agradar os eleitores, o prefeito de Gotham decidiu baixar o preço das corridas de táxi. Suponha, para simplificar, que todas as corridas de táxi tenham a mesma distância e, portanto, custam o mesmo preço. A seguir estão as tabelas de oferta e demanda de corridas de táxi correspondentes. Quantidade de corridas (milhões por ano) Tarifa (por corrida) ($)

Quantidade demandada

Quantidade ofertada

7,00

10

12

6,50

11

11

6,00

12

10

5,50

13

9

5,00

14

8

4,00

15

7

a. Suponha que não haja restrições sobre o número de corridas de táxi que podem ser oferecidas (não existe sistema de medalhões). Encontre o preço e a quantidade de equilíbrio. b. Suponha que o prefeito estabeleça um teto de preço de $5,50. Qual a magnitude da falta de corridas? Ilustre através de um gráfico quem perde e quem se beneficia com essa política? c. Suponha que o mercado de ações sofra enorme queda e as pessoas em Gotham fiquem mais pobres. Isso reduz a quantidade de corridas de táxi demandadas em 6 milhões de corridas por ano a qualquer preço. Qual efeito a nova política do prefeito terá agora? Ilustre com um gráfico.

d. Suponha que o mercado de ações se recupere e a demanda de corridas de táxi volte ao normal (isto é, retorne à tabela de demanda que foi dada). O prefeito agora decide agradar os motoristas de táxi. Anuncia uma política em que serão concedidas licenças de táxi aos taxistas existentes; o número de licenças é restrito, de tal forma que podem ser feitas apenas 10 milhões de corridas por ano. Ilustre o efeito dessa política sobre o mercado e indique o preço resultante e a quantidade transacionada. Qual é a renda da cota por corrida? 3. No final do século XVIII, o preço do pão em Nova York era controlado, prefixado acima do preço de mercado. a. Desenhe um gráfico mostrando o efeito dessa política. Essa política funcionou como teto de preço ou piso de preço? b. Que tipos de ineficiências poderiam surgir quando o preço controlado do pão estava acima do preço de mercado? Explique em detalhes. Um ano durante esse período, a colheita de trigo foi fraca e provocou um deslocamento para a esquerda na oferta do pão e, portanto, um aumento no preço de mercado. As padarias de Nova York descobriram que o preço controlado do pão estava abaixo do preço de mercado. c. Desenhe um gráfico mostrando o efeito do controle de preços no mercado de pão durante o período de um ano. A política funcionou como um teto de preço ou um piso de preço? d. Que tipos de ineficiências você acha que ocorreram durante esse período? Explique em detalhes. 4. O U.S. Department of Agriculture (USDA) administra o piso do preço da manteiga, que a 2008 Farm Bill fixou em $1,05 por quilo. A esse preço, de acordo com os dados do USDA, a quantidade de manteiga ofertada em 2010 era de 1,7 bilhão de quilos e a quantidade demandada de 1,6 bilhão de quilos. Para suportar o preço da manteiga no piso de preço, o USDA tinha que comprar 100 milhões de quilos de manteiga. O gráfico a seguir mostra as curvas de oferta e demanda ilustrando o mercado de manteiga.

a. Na ausência de um piso de preço, quanto é o excedente do consumidor criado? Quanto é o excedente do produtor? Qual é o excedente total? b. Com o piso de preço de $1,05 por quilo de manteiga, os consumidores compram 1,6 milhão de quilos de manteiga. Quanto é o excedente do consumidor criado agora? c. Com o piso de preço de $1,05 por quilo de manteiga, os produtores vendem 1,6 bilhão de quilos de manteiga. Quanto é o excedente do produtor criado agora? d. Quanto dinheiro o USDA gasta na compra do excedente de manteiga? e. É necessário uma arrecadação de impostos para que o USDA possa comprar o excedente de manteiga. Como consequência, o excedente total (produtor e consumidor) é reduzido pelo montante que o USDA gasta na compra do excedente de manteiga. Usando as respostas das partes b-d, quanto é o excedente total quando há um piso de preço? Como isso se compara com o excedente total sem preço mínimo do item a? 5. A tabela a seguir mostra a demanda hipotética e a tabela da oferta de leite por ano. O governo dos Estados Unidos decide que a renda dos produtores de leite deve ser mantida em um nível que permita a uma família tradicional sobreviver em uma fazenda de gado leiteiro. Por isso, estabelece um piso de preço de $1 por garrafa, comprando o leite excedente, até que o preço de mercado chegue a $1 por garrafa.

Quantidade de leite (milhões de garrafas por ano) Preço do leite (por garrafa) ($)

Quantidade demandada

Quantidade ofertada

1,20

550

850

1,10

600

800

1,00

650

750

0,90

700

700

0,80

750

650

a. No diagrama, mostre a perda por peso morto por baixa quantidade comprada e vendida pelo critério de eficiência. b. Qual o excedente de leite que será produzido como resultado dessa política? c. Qual será o custo dessa política para o governo? d. Uma vez que o leite é uma importante fonte de proteína e cálcio, o governo decide fornecer o leite excedente que adquire para as escolas de ensino fundamental ao preço de apenas $0,60 por garrafa. Suponha que as escolas irão comprar qualquer quantidade de leite disponível a esse preço. Mas os pais agora reduzem a compra de leite a qualquer preço a 50 milhões de garrafas por ano, pois sabem que os filhos estão recebendo leite na escola. Qual será o custo do programa de leite para o governo agora? e. Explique como, a partir dessa política, surgem ineficiências na forma de alocação ineficiente para os vendedores e desperdício de recursos. 6. Os governos europeus tendem a fazer maior uso de controle de preços do que o governo dos Estados Unidos. Por exemplo, o governo francês estabelece salários mínimos iniciais para quem tenha completado o le bac francês, certificado equivalente a um diploma de ensino médio nos Estados Unidos. A tabela de demanda para novas contratações com o le bac e a tabela de oferta de jovens com essas credenciais procurando emprego estão na tabela a seguir. O preço é dado em euros, moeda utilizada na França, e corresponde ao salário anual.

Salário (por ano) ($)

Quantidade demandada (novas ofertas de emprego)

Quantidade ofertada (número de pessoas procurando emprego)

45.000

200.000

325.000

40.000

220.000

320.000

35.000

250.000

310.000

30.000

290.000

290.000

25.000

370.000

200.000

a. Na ausência de interferência do governo, qual é o salário de equilíbrio e o número de recém-graduados contratados por ano? Ilustre com um gráfico. Haverá alguém à procura de emprego ao salário de equilíbrio e que seja incapaz de encontrar um, ou seja, haverá alguém em desemprego involuntário? b. Suponha que o governo francês estabeleça um salário mínimo anual de €35.000. Existe alguma situação de desemprego involuntário com esse salário? Se sim, quanto? Ilustre com um gráfico. E se o salário mínimo for fixado em €40.000? Também ilustre com um gráfico. c. Dada a resposta do item b e as informações da tabela, qual é a relação entre nível de desemprego involuntário e nível de salário mínimo? Quem se beneficia com essa política? Quem perde? Qual é a oportunidade perdida aqui? 7. Até recentemente, o número padrão de horas de trabalho por semana em empregos de tempo integral na França era de 39 horas, como nos Estados Unidos. Mas, em resposta à agitação social com os altos níveis de desemprego involuntário, o governo francês instituiu a semana de trabalho de 35 horas – um trabalhador não pode trabalhar mais de 35 horas por semana, mesmo que tanto o trabalhador como o empregador desejem. A motivação por trás dessa política é a ideia de que se os empregados atuais trabalharem menos horas, os empregadores serão obrigados a contratar novos trabalhadores. Suponha que seja dispendioso para os empregadores treinar novos trabalhadores. Os empresários franceses se opuseram fortemente a essa política e ameaçaram transferir as operações para países vizinhos que não tivessem tais restrições de emprego. Você pode explicar essa atitude? Dê um exemplo, tanto de ineficiência como de atividade ilegal que é provável que surja a partir dessa política. 8. Durante os últimos 70 anos, o governo dos Estados Unidos tem usado preços de apoio para ajudar a manter a renda dos fazendeiros americanos. Para implementar esse apoio de preços, às vezes, o governo usa pisos de preços, que são mantidos pela compra do excedente agrícola. Em outras ocasiões, usa metas de preços, política pela qual o governo fornece ao fazendeiro um montante igual à diferença entre o preço de mercado e a

meta de preço para cada unidade vendida. Considere o mercado de milho ilustrado no gráfico.

a. Se o governo estabelece um piso de preço de $5 por saca, quantas sacas de milho são produzidas? Quantas são adquiridas pelos consumidores? Pelo governo? Quanto o programa custa para o governo? Qual é a receita dos produtores de milho? b. Suponha que o governo estabeleça uma meta de $5 por saca para qualquer quantidade ofertada até o limite de 1 mil sacas. Quantas sacas de milho serão compradas pelos consumidores e a que preço? Pelo governo? Quanto o programa custa para o governo? Qual o montante de receita dos fazendeiros com milho? c. Qual desses programas (itens a e b) custa mais aos consumidores de milho? Qual o programa que custa mais ao governo? Explique. d. Uma dessas políticas é menos ineficiente que a outra? Explique. 9. A costa norte do Atlântico já esteve repleta de peixes. Mas por causa da pesca industrial excessiva, os estoques de peixes estão em perigo de esgotamento. Em 1991, o Serviço Nacional de Pesca Marinha do governo dos Estados Unidos implementou uma cota para permitir que os estoques de peixe se recuperassem. A cota limitou a 7 milhões de quilos a quantidade de peixe-espada que pode ser pescada por ano pela totalidade dos barcos pesqueiros licenciados. Assim que a frota pesqueira atinge o limite de pesca, essa fica proibida pelo resto do ano. Seguem as tabelas hipotéticas de demanda e de oferta de peixe-espada pescado nos Estados Unidos por ano.

Quantidade de peixe-espada (em milhões de quilos por ano) Preço do peixe-espada (por quilo) $

Quantidade demandada

Quantidade ofertada

20

6

15

18

7

13

16

8

11

14

9

9

12

10

7

a. Use um gráfico para mostrar o efeito da cota no mercado de peixeespada em 1991. Nele ilustre a perda por peso morto da quantidade baixa em virtude da ineficiência. b. Como os pescadores vão mudar a forma de pescar, em resposta a essa política? 10. No Maine, é preciso ter uma licença para pescar lagostas comercialmente. Essas licenças são emitidas anualmente. O estado de Maine está preocupado com o desaparecimento das lagostas da sua costa. O departamento de pesca do estado decidiu colocar uma cota anual de 80 mil quilos para lagostas pescadas em águas do Maine. Esse ano, também decidiu fornecer licenças apenas aos pescadores que já tinham licenças no ano anterior. O gráfico a seguir mostra as curvas de demanda e oferta de lagostas do Maine.

a. Na ausência de restrições do governo, qual é o preço e a quantidade de equilíbrio? b. Qual é o preço de demanda pelo qual os consumidores desejam adquirir 80 mil quilos de lagosta?

Qual é o preço de oferta pelo qual os pescadores estarão dispostos a oferecer 80 mil quilos de lagostas? d. Qual é a renda da cota por quilo de lagosta quando 80 mil são vendidas? Ilustre, no gráfico, o aluguel de cota e a perda por peso morto. e. Explique uma transação que beneficie tanto o comprador como o vendedor, mas é impedida pela restrição de cota. 11. O governo da Venezuela impôs um teto de preço sobre o preço de varejo de café torrado. O diagrama a seguir mostra o mercado de café. Na ausência de controle de preços, o equilíbrio está no ponto E, com o preço de equilíbrio de PE e uma quantidade de equilíbrio comprada e vendida de QE. c.

a. Mostre o excedente do consumidor e do produtor antes da introdução do teto de preço. Após a introdução do teto de preço, o preço cai para PC e a quantidade comprada e vendida cai para QC. b. Mostre o excedente do consumidor após a introdução do teto de preço (supondo que os consumidores com a maior disposição de pagar começam a comprar os grãos de café disponíveis; isto é, supondo que não haja alocação ineficiente entre consumidores). c. Mostre o excedente do produtor após a introdução do teto de preço (supondo que os produtores com o custo mais baixo comecem a vender os grãos de café; isto é, supondo que não haja alocação ineficiente de venda entre produtores). d. Usando o diagrama, mostre o quanto do que era excedente do produtor, antes da introdução do teto de preço, foi transferido para os consumidores como resultado do teto de preço. e. Usando o diagrama, mostre o quanto do que foi excedente total antes da introdução do preço teto foi perdido. Isto é, qual a magnitude da perda por peso morto?

O gráfico abaixo mostra os dados do U.S. Bureau of Labor Statistics sobre o 12. preço médio de um bilhete aéreo nos Estados Unidos de 1975 até 1985, ajustado para eliminar o efeito da inflação (o aumento geral nos preços de todos os bens ao longo do tempo). O ato de desregulamentação do transporte de passageiros aéreos dos Estados Unidos de 1978 retirou o preço mínimo das tarifas e também permitiu às companhias maior flexibilidade para oferecer novas rotas.

a. Observando os dados dos preços de passagens aéreas no gráfico, você acha que o piso de preço que existia antes de 1978 tinha que ser necessariamente cumprido ou não? Ou seja, estava fixado acima ou abaixo do preço de equilíbrio? Desenhe um gráfico de oferta e demanda, mostrando onde o piso de preço que existia antes de 1978 estava em relação ao preço de equilíbrio. b. A maioria dos economistas concorda que o preço médio da passagem aérea por milha percorrida realmente caiu depois da desregulamentação do transporte de passageiros aéreos dos Estados Unidos. Como você pode conciliar essa visão com o que vê no gráfico?

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CAPÍTULO 6 » Elasticidade

MAIS PRECIOSO QUE VACINA CONTRA A GRIPE

ânico era a única palavra apropriada para descrever a situação nos hospitais, clínicas e casas de repouso nos Estados Unidos, em outubro de 2004. No início daquele mês, a Chiron Corporation, um dos dois únicos fornecedores de vacina contra a gripe para todo o mercado americano, anunciou que foi forçado a fechar sua fábrica em decorrência de problemas de contaminação. Com esse fechamento, o fornecimento de vacina para a temporada de gripe entre 2004 e 2005 foi repentinamente cortado pela metade, de 100 milhões para 50 milhões de doses. Por ser um processo caro e demorado, não puderam ser fabricadas mais doses para substituir a produção perdida da Chiron. E uma vez que os países guardam zelosamente a própria oferta de vacina para os seus cidadãos, não foi possível importar de outros países. Se você já teve gripe, sabe como é desagradável. E pode ser pior que desagradável: a cada ano, a gripe mata cerca de 36 mil americanos e leva mais 200 mil ao hospital. Normalmente, as vítimas são crianças, idosos ou pessoas com o sistema imunológico comprometido. Em 2004, quando a notícia da escassez da vacina contra a gripe se propagou, houve uma corrida das pessoas querendo ser vacinadas. Faziam fila no meio da noite diante dos poucos locais que, de alguma forma, haviam obtido a vacina e a ofereciam a preço razoável: a multidão incluía idosos com balões de oxigênio, crianças dormindo no colo dos pais e outros em cadeiras de rodas. Enquanto isso, alguns distribuidores farmacêuticos –

P

empresas que obtêm vacina dos fabricantes e as distribuem aos hospitais e farmácias – detectaram, no frenesi, uma oportunidade lucrativa. Uma empresa, a Med-Stat, que normalmente cobra $8,50 pela dose, começou a cobrar $90, mais que 10 vezes o preço normal. Embora a maioria das pessoas se recusasse ou não pudesse pagar um preço tão alto pela vacina, outras, sem dúvida, podiam. A Med-Stat julgou corretamente que um número significativo de consumidores era insensível ao preço; isto é, um grande aumento no preço da vacina deixou a quantidade demandada pelos consumidores relativamente inalterada. É claro que essa demanda de vacina contra a gripe era incomum. Para alguns, ser vacinado significava uma questão de vida ou morte. Consideremos um cenário muito diferente e menos urgente. Suponha, por exemplo, que a oferta de determinado tipo de cereal tivesse sido reduzida pela metade em decorrência de problemas de fabricação. Seria pouco provável, se não impossível, encontrar um consumidor disposto a pagar 10 vezes o preço original por uma caixa desse cereal. Em outras palavras, os consumidores de cereal matinal são muito mais sensíveis a preços do que os consumidores da vacina contra a gripe. O que você vai aprender neste capítulo • Por que os economistas usam a elasticidade para medir a sensibilidade a variações nos preços ou na renda. • Por que a elasticidade-preço da demanda, a elasticidade-renda da demanda e a elasticidade-preço cruzada da demanda são indicadores importantes do comportamento do consumidor em resposta a variações nos preços ou na renda. • Por que a elasticidade-preço da oferta é um indicador importante do comportamento do produtor em resposta a variações no preço. • Que fatores influenciam o tamanho dessas várias elasticidades.

Mas como definir essa sensibilidade? Os economistas medem a sensibilidade dos consumidores ao preço com um número especial, chamado de elasticidade-preço da demanda. Neste capítulo, veremos como é calculada a elasticidade-preço da demanda e por que ela é a melhor medida de como a quantidade demandada responde a variações de preço. Veremos, então, que a elasticidade-preço da demanda pertence a uma família de

conceitos relacionados, incluindo a elasticidade-renda da demanda e a elasticidade-preço cruzada da demanda e a elasticidade-preço da oferta.

DEFINIÇÃO E MEDIDA DA ELASTICIDADE Para que a Flunomics, uma distribuidora hipotética de vacinas contra a gripe, pudesse calcular se poderia aumentar sua receita aumentando significativamente o preço da vacina durante o pânico de 2004, teria que saber a elasticidade-preço da demanda de vacinas contra a gripe. Cálculo da elasticidade-preço da demanda

A Figura 6-1 mostra uma curva de demanda hipotética de vacina contra a gripe. Ao preço de $20 por vacina, os consumidores demandariam 10 milhões de vacinas por ano (ponto A); pelo preço de $21 a vacina, a quantidade demandada cairia para 9,9 milhões de vacinas por ano (ponto B). A Figura 6-1, portanto, informa a variação na quantidade demandada para determinada variação no preço. Mas como podemos transformar isso em uma medida de sensibilidade ao preço? A resposta é calcular a elasticidade-preço da demanda. A elasticidade-preço da demanda compara a variação percentual na quantidade demandada com a variação percentual no preço à medida que se move ao longo da curva da demanda. Como veremos mais adiante neste capítulo, a razão pela qual os economistas usam variações percentuais é a obtenção de uma medida que não dependa das unidades em que um bem é medido (digamos, dose infantil ou dose de adulto da vacina). Mas antes de chegar a isso, vejamos como a elasticidade é calculada. Para calcular a elasticidade-preço da demanda, primeiro calcula-se a variação percentual na quantidade demandada e a correspondente variação percentual no preço à medida que se move ao longo da curva da demanda. São definidos como segue:

Na Figura 6-1, vemos que quando o preço sobe de $20 para $21, a quantidade demandada cai de 10 milhões para 9,9 milhões de vacinas, produzindo uma variação na quantidade de 0,1 milhão de vacinas. Assim, a variação percentual na quantidade demandada é: % de variação na quantidade demandada

O preço inicial é $20, e a variação no preço é $1, portanto, a variação percentual no preço é: FIGURA 6-1

Demanda de vacinas

Ao preço de $20 por vacina, a quantidade de vacinas demandada é 10 milhões por ano (ponto A). Quando o preço sobe para $21 por vacina, a quantidade demandada cai para 9,9 milhões de vacinas por ano (ponto B).

Para calcular a elasticidade-preço da demanda, calculamos a razão entre a variação percentual na quantidade demandada e a variação percentual no preço: (6-3)

Elasticidade-preço da demanda

Na Figura 6-1, a elasticidade-preço da demanda é, portanto, A lei da demanda diz que as curvas da demanda têm inclinação para baixo, de modo que o preço e a quantidade demandada sempre se movem em direções opostas. Em outras palavras, uma variação percentual positiva no preço (aumento) leva a uma variação percentual negativa na quantidade demandada, uma variação percentual negativa no preço (queda) leva a uma variação percentual positiva na quantidade demandada. Isso significa que a elasticidade-preço da demanda é, em termos estritamente matemáticos, um número negativo. Contudo, é inconveniente escrever o sinal de menos a

todo o momento. Assim, quando os economistas falam sobre elasticidadepreço da demanda, costumam deixar de lado o sinal de menos e informam o valor absoluto. Nesse caso, por exemplo, os economistas normalmente diriam “a elasticidade-preço da demanda é 0,2”, tendo como certo que querem dizer menos 0,2. Também seguiremos essa convenção. Quanto maior a elasticidade-preço da demanda, maior a sensibilidade da quantidade demandada ao preço. Quando a elasticidade-preço da demanda é elevada – quando os consumidores mudam a quantidade demandada em um grande percentual em comparação com a variação percentual no preço – os economistas dizem que a demanda é altamente elástica. Como veremos adiante, uma elasticidade-preço de 0,2 indica uma resposta fraca da quantidade demandada ao preço. Ou seja, a quantidade demandada cai relativamente pouco quando o preço sobe. Isso é o que os economistas chamam de demanda inelástica. E demanda inelástica era exatamente o que a Flunomics precisava para sua estratégia de aumentar a receita, elevando o preço da vacina contra a gripe. Maneira alternativa de cálculo da elasticidade: o método do ponto médio

A elasticidade-preço da demanda compara a variação percentual na quantidade demandada com a variação percentual no preço. Quando analisamos outras elasticidades, o que faremos em breve, veremos por que é importante se concentrar nas variações percentuais. Mas, antes, precisamos discutir uma questão técnica que surge quando se calculam variações percentuais nas variáveis. A melhor maneira de entender o problema é com um exemplo real. Suponha que você estivesse tentando estimar a elasticidade-preço da demanda por gasolina comparando preços e consumo da gasolina em diferentes países. Em decorrência dos impostos elevados, normalmente a gasolina custa cerca de três vezes mais por litro na Europa que nos Estados Unidos. Então, qual é a diferença percentual entre os preços da gasolina na Europa e nos Estados Unidos? Depende da maneira como se mede. Como o preço da gasolina na Europa é aproximadamente três vezes maior do que nos Estados Unidos, ele

é 200% superior. Como o preço da gasolina nos Estados Unidos é 1/3 do preço da Europa, é 66,7% inferior. Isso é incômodo: o ideal seria uma medida percentual de diferentes preços que não dependa da maneira de medir. Para evitar que o cálculo da elasticidades seja diferente para preços em queda e em alta usa-se o método do ponto médio. O método do ponto médio substitui a definição usual de variação percentual em uma variável, X, por uma definição ligeiramente diferente:

em que o valor médio de X é definido como:

Ao calcular a elasticidade-preço da demanda, usando o método do ponto médio, tanto a variação percentual no preço quanto a variação percentual na quantidade demandada são medidas usando esse método. Para ver como esse método funciona, suponha que você tenha os seguintes dados de um bem:   Situação A Situação B

Preço $0,90 $1,10

Quantidade demandada 1.100 900

Para calcular a variação percentual na quantidade da situação A para a situação B, comparamos a variação na quantidade demandada – uma queda de 200 unidades – com a média da quantidade demandada nas duas situações. Assim, calculamos: % de variação na quantidade demandada

Da mesma forma, calculamos: % de variação no preço

Portanto, nesse caso, a elasticidade-preço da demanda seria calculada como: Elasticidade-preço da demanda

novamente ignorando o sinal de menos. O ponto importante é que obteríamos o mesmo resultado, a elasticidadepreço da demanda igual a um, tanto subindo na curva da demanda da situação A para a situação B quanto descendo na curva da demanda da situação B para a situação A. Para chegarmos a uma fórmula mais geral da elasticidade-preço da demanda, suponha que tenhamos dados para dois pontos em uma curva da demanda. No ponto 1: a quantidade demandada e o preço são (Q1, P1); no ponto 2 são (Q2, P2). Em seguida, a fórmula para o cálculo da elasticidadepreço da demanda é:

Assim como antes, ao determinar uma elasticidade-preço da demanda calculada pelo método do ponto médio, ignora-se o sinal de menos e usa-se o valor absoluto.

economia em ação

Estimativas das elasticidades

Talvez você imagine ser fácil calcular a elasticidade-preço da demanda a partir de dados do mundo real: basta comparar variações percentuais nos preços com variações percentuais nas quantidades demandadas. Infelizmente, não é tão simples assim, pois a variação no preço não é o único item que afeta a variação na quantidade demandada: outros fatores – como variações na renda, nos gostos e nos preços dos bens e serviços – deslocam a curva da demanda, alterando, assim, a quantidade demandada a qualquer preço dado. Para calcular a elasticidade-preço da demanda, os economistas precisam analisar cuidadosamente as estatísticas, para separar a influência desses vários fatores, mantendo tudo o mais igual. O esforço mais abrangente do cálculo da elasticidade-preço da demanda foi um estudo enorme dos economistas Hendrik S. Houthakker e Lester D. Taylor. Alguns dos resultados estão na Tabela 6-1. Mostram uma grande amplitude da elasticidade-preço. No caso de alguns bens, como ovos, a demanda quase não responde à variação de preços. Existem outros bens, principalmente viagens ao exterior, para os quais a quantidade demandada é muito sensível ao preço.

TABELA 6-1 Alguns cálculos da elasticidade-preço da demanda

Bem Demanda inelástica

Elasticidade-preço da demanda

Ovos

0,1

Carne

0,4

Material de papelaria

0,5

Gasolina

0,5 Demanda elástica

Habitação

1,2

Refeições em restaurantes

2,3

Viagens aéreas

2,4

Viagens ao exterior

4,1

Fonte: nota na página de copyright.

Observe que a Tabela 6-1 se divide em duas partes: demanda inelástica e elástica. Na próxima seção, explicaremos o significado dessa divisão.

BREVE REVISÃO Elasticidade-preço da demanda é a variação percentual na quantidade demandada dividida pela variação percentual no preço à medida que se move ao longo da curva da demanda, ignorando o sinal de menos. Na prática, variações percentuais são mais bem medidas pelo método do ponto médio, em que a variação percentual em cada variável é calculada usando a média entre os valores inicial e final.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 6-1

1. O preço da caixa de morango caiu de $1,50 para $1,00, e a quantidade demandada aumentou de 100 mil para 200 mil caixas. Use o método do ponto médio para calcular a elasticidade-preço da demanda. 2. No nível atual de consumo, 4 mil ingressos de cinema e ao preço de $5 por entrada, a elasticidade-preço da demanda dos ingressos é 1. Usando o método do ponto médio, calcule em quanto os proprietários de cinema têm de reduzir o preço para vender 5 mil entradas. 3. A elasticidade-preço da demanda de sanduíches é 1,2 ao preço corrente de $0,50 por sanduíche e ao consumo corrente de 100 mil sanduíches. Calcule a variação na quantidade demandada quando o preço aumenta em $0,05. Use as Equações 6-1 e 6-2 para calcular as variações porcentuais e a Equação 6-3 para relacionar a elasticidade-preço da demanda com essas variações percentuais. As respostas estão no fim do livro.

INTERPRETAÇÃO DA ELASTICIDADEPREÇO DA DEMANDA A Med-Stat e outros distribuidores de produtos farmacêuticos acreditavam que poderiam elevar muito o preço da vacina contra gripe em face da escassez porque a elasticidade-preço da demanda de vacinas era baixa. Mas o que isso significa? Até onde deve cair a elasticidade-preço para que seja classificada como baixa? Até onde deve subir para ser classificada como alta? E o que determina que a elasticidade-preço da demanda seja alta ou baixa? Para responder a essas questões, é preciso analisar mais profundamente a elasticidade-preço da demanda. Quão elástico é elástico?

Como primeiro passo para classificar elasticidade-preço da demanda, vamos analisar os casos extremos. Primeiro, consideremos a demanda de um bem quando as pessoas não prestam atenção ao preço – por exemplo, veneno contra cobra. Suponha que os consumidores irão comprar 1 mil doses de veneno ao ano, independente do preço. Nesse caso, a curva da demanda de veneno seria parecida com a curva mostrada no painel (a) da Figura 6-2: seria uma linha vertical em 1

mil doses do veneno. Uma vez que a variação percentual na quantidade demandada é zero para qualquer variação de preço, a elasticidade-preço da demanda nesse caso é zero. O caso da elasticidade-preço da demanda zero é conhecido como demanda perfeitamente inelástica. O extremo oposto ocorre quando um aumento mínimo no preço leva a quantidade demandada a cair a zero ou quando uma queda mínima no preço leva a quantidade demandada a tornar-se extremamente elevada. O painel (b) da Figura 6-2 mostra o caso de bolas de tênis cor-de-rosa. Suponhamos que os jogadores de tênis realmente não se importam com a cor das bolas e que outras cores, como verde ou amarelo, estejam disponíveis a $5 a dúzia. Nesse caso, o consumidor não comprará bolas cor-de-rosa, se custarem mais do que $5 a dúzia, mas comprará apenas bolas cor-de-rosa se custarem menos de $5 a dúzia. A curva da demanda será, portanto, uma linha horizontal ao preço de $5 por dúzia de bolas. Ao se mover para trás e para frente ao longo dessa linha, há uma variação na quantidade demandada, mas nenhuma variação no preço. Grosso modo, quando se divide um número por zero, obtém-se infinito, indicado pelo símbolo ∞. Assim, uma curva de demanda horizontal implica uma elasticidade-preço da demanda infinita. Quando a elasticidade-preço da demanda é infinita, os economistas dizem que a demanda é perfeitamente elástica. A elasticidade-preço da demanda para a grande maioria dos bens está em algum lugar entre esses dois casos extremos. Os economistas usam um critério principal para classificar esses casos intermediários: questionam se a elasticidade-preço da demanda é maior ou inferior a 1. Quando a elasticidade-preço da demanda é maior que 1, os economistas dizem que a demanda é elástica. Quando a elasticidade-preço da demanda é menor que 1, dizem que é inelástica. O caso limite é a demanda de elasticidade unitária, onde a elasticidade-preço da demanda é – surpresa – exatamente 1. FIGURA 6-2

Dois casos extremos de elasticidade-preço da demanda

O painel (a) mostra uma curva da demanda inelástica, que é uma linha vertical. A quantidade demandada de veneno contra cobra é sempre 1 mil doses, independente do preço. Como resultado, a elasticidade-preço da demanda é zero – a quantidade demandada não é afetada pelo preço. O painel (b) mostra uma curva da demanda perfeitamente elástica, que é uma linha horizontal. Ao preço de $5, os consumidores vão comprar qualquer quantidade de bolas de tênis cor-de-rosa, mas não vão comprar nenhuma a um preço acima de $5. Se o preço cair abaixo de $5, comprarão um número extremamente grande de bolas de tênis cor-de-rosa e nenhuma de outra cor.

Para verificar por que a elasticidade-preço da demanda igual a 1 é uma linha divisória útil, vejamos um exemplo hipotético: uma praça de pedágio operada pelo departamento rodoviário estadual. Tudo o mais mantido constante, o número de motoristas que usam esse caminho depende do pedágio, o preço cobrado pelo departamento rodoviário ao cruzar esse ponto da estrada: quanto mais alto o preço, menor o número de motoristas. A Figura 6-3 mostra três curvas da demanda hipotéticas – uma em que a demanda tem elasticidade unitária, outra em que é inelástica e, a última, em que é elástica. Em cada caso, o ponto A mostra a quantidade demandada se o pedágio for $0,90 e o ponto B mostra a quantidade demandada se o pedágio for $1,10. Um aumento do pedágio de $0,90 para $1,10 constitui um aumento de 20% se usarmos o método do ponto médio para calcular as variações percentuais. O painel (a) mostra o que acontece quando o pedágio passa de $0,90 para $1,10 e a curva da demanda tem elasticidade unitária. Aqui, o aumento de

preço de 20% leva a uma queda na quantidade de veículos que usam esse trajeto por dia de 1.100 para 900, correspondendo a uma queda de 20% (mais uma vez usando o método do ponto médio). Assim, a elasticidadepreço da demanda é 20%/20% = 1. O painel (b) mostra um caso de demanda inelástica quando o pedágio aumenta de $0,90 para $1,10. O mesmo aumento de 20% no preço reduz a quantidade demandada de 1.050 para 950. É uma queda de apenas 10%, e, nesse caso, a elasticidadepreço da demanda é 10%/20% = 0,5. O painel (c) mostra o caso da demanda elástica quando o pedágio sobe de $0,90 para $1,10. O aumento de 20% no preço leva a quantidade demandada a cair de 1.200 para 800, uma queda de 40%, de modo que a elasticidade-preço da demanda é 40%/20% = 2. FIGURA 6-3

Demanda de elasticidade unitária, demanda inelástica e demanda elástica

O painel (a) mostra o caso da demanda com elasticidade unitária: 20% de aumento no preço gera uma queda de 20% na quantidade demandada, o que implica elasticidadepreço da demanda 1. O painel (b) mostra o caso da demanda inelástica: um aumento de 20% no preço gera uma queda de 10% na quantidade demandada, o que implica uma elasticidade-preço da demanda de 0,5. O painel (c) mostra o caso de demanda elástica: um aumento de 20% no preço causa uma queda de 40% na quantidade demandada, o que implica em elasticidadepreço da demanda igual a 2. Todas as porcentagens são calculadas pelo método do ponto médio.

Por que isso importa se a demanda tem elasticidade unitária, é inelástica ou elástica? Porque essa classificação prevê como as mudanças no preço de um bem afetarão a receita total obtida pelos produtores com a venda desse bem. Em muitas situações da vida real, como a enfrentada pela Med-Stat, é

crucial saber como as variações de preços afetam a receita total. A receita total é definida como o valor total das vendas de um bem ou serviço, igual ao preço multiplicado pela quantidade vendida. (6-6)

Receita total = preço × quantidade vendida

A receita total tem uma representação gráfica que ajuda a entender por que é crucial conhecer a elasticidade-preço da demanda quando queremos saber se um aumento de preço reduz ou aumenta a receita total. O painel (a) na Figura 6-4 mostra a mesma curva da demanda do painel (a) da Figura 63. Vemos que 1.100 motoristas passarão pelo pedágio, se o preço for $0,90. Assim, a receita total do preço de $0,90 é $0,90 × 1.100 = $990. Esse valor é igual à área do retângulo que tem o canto inferior esquerdo no ponto (0, 0) e o canto superior direito em (1.100, 0,90). Em geral, a receita total a qualquer preço é igual ao retângulo cuja altura é o preço e cuja largura é a quantidade demandada a esse preço. Para ter uma ideia de por que a receita total é importante, considere o seguinte cenário. Suponha que o pedágio seja atualmente $0,90, mas que o departamento rodoviário precise arrecadar mais dinheiro para reparos na estrada. Uma possibilidade é aumentar o preço do pedágio. Mas esse plano pode sair pela culatra, uma vez que um preço maior vai reduzir o número de motoristas que usam esse caminho. E se o tráfego desse trajeto cair muito, um pedágio mais alto realmente vai reduzir a receita total, em vez de aumentá-la. Portanto, é importante para o departamento rodoviário saber como os motoristas irão responder a um aumento de pedágio. Podemos ver graficamente como o aumento do pedágio afeta a receita total do pedágio examinando o painel (b) da Figura 6-4. A um pedágio de $0,90, a receita total é dada pela soma das áreas A e B. Após o aumento do pedágio para $1,10, a receita total é dada pela soma das áreas B e C. Então, quando o pedágio aumenta, a receita representada pela área A se perde, mas a receita representada pela área C é ganha. Essas duas áreas têm interpretações importantes. A área C representa a receita ganha com os $0,20 adicionais pagos por motoristas que continuam a usar o trajeto. Ou seja, os 900 que continuam a usar o pedágio contribuem com um adicional de $0,20 × 900 = $180 por dia para a receita total,

representada pela área C. Mas 200 motoristas que teriam usado o pedágio ao preço de $0,90 deixam de fazê-lo, gerando uma perda de receita total de $0,90 × 200 = $180 por dia, representada pela área A. (Nesse exemplo em particular, como a demanda é a elasticidade unitária – como no painel (a) da Figura 6-3 – o aumento da taxa de pedágio não tem efeito sobre a receita total, e as áreas A e C têm o mesmo tamanho.) FIGURA 6-4

Receita total

O retângulo no painel (a) representa a receita total gerada por 1.100 motoristas, cada um pagando um pedágio de $0,90. O painel (b) mostra como a receita total é afetada quando o preço aumenta de $0,90 para $1,10. Em virtude do efeito quantidade, a receita total cai no valor da área A. Em virtude do efeito preço, a receita total aumenta no valor da área C. Em geral, o efeito global pode ser de aumento ou redução, dependendo da elasticidade-preço da demanda.

Exceto no caso raro de um bem com demanda perfeitamente elástica ou perfeitamente inelástica, quando um vendedor aumenta o preço de um bem, dois efeitos de compensação estão presentes: Efeito preço: Depois de um aumento de preço, cada unidade é vendida a um preço mais elevado, o que tende a aumentar a receita. Efeito quantidade: Depois de um aumento de preço, menos unidades são vendidas, o que tende a reduzir as receitas.

Mas então, pergunta-se, qual é o efeito líquido final sobre a receita total: sobe ou desce? A resposta é que, em geral, o efeito sobre a receita total pode ir para qualquer lado – um aumento de preço pode tanto aumentar a receita total como diminuí-la. Se o efeito preço, que tende a elevar a receita total, é o mais forte dos dois efeitos, então a receita total aumenta. Se o efeito quantidade, que tende a reduzir a receita total, é o mais forte, então a receita total diminui. E se a força dos dois efeitos é exatamente igual, como no exemplo do pedágio, onde um ganho de $180 é compensado por uma perda de $180 – a receita total não muda com o aumento de preço. A elasticidade-preço da demanda informa o que acontece com a receita total quando o preço muda: seu tamanho determina qual efeito – o efeito preço ou o efeito quantidade – é o mais forte. Especificamente: Se a demanda por um bem tem elasticidade unitária (a elasticidade-preço da demanda é 1), um aumento no preço não muda a receita total. Nesse caso, o efeito quantidade e o efeito preço compensam um ao outro. Se a demanda por um bem é inelástica (a elasticidade-preço da demanda é menor que 1), um aumento de preço reduz a receita total. Nesse caso, o efeito preço é mais forte do que o efeito quantidade. Se a demanda por um bem é elástica (a elasticidade-preço da demanda é maior que 1), um aumento no preço reduz a receita total. Nesse caso, o efeito quantidade é mais forte que o efeito preço. A Tabela 6-2 mostra como o efeito de um aumento de preço sobre a receita total depende da elasticidade-preço da demanda, usando os mesmos dados que a Figura 6-3. Um aumento de preço de $0,90 para $1,10 deixa a receita total inalterada em $990, quando a demanda tem elasticidade unitária. Quando a demanda é inelástica, o efeito preço domina o efeito quantidade, o mesmo aumento de preço leva a um aumento na receita total de $945 para $1.045. E quando a demanda é elástica, o efeito quantidade domina o efeito preço; o aumento de preço leva a uma queda na receita total de $1.080 para $880. A elasticidade-preço da demanda também prevê o efeito de uma queda no preço sobre a receita total. Quando o preço cai, estão presentes as duas

mesmas forças contrapostas, mas funcionam em sentido oposto, comparando com o caso de um aumento de preço. Há o efeito preço de um preço mais baixo por unidade vendida, que tende a diminuir a receita. Isso é contrabalançado pelo efeito quantidade de mais unidades vendidas, que tende a aumentar a receita. O efeito que domina depende da elasticidade-preço. Eis um resumo rápido: Quando a demanda tem elasticidade unitária, os dois efeitos são equivalentes; uma queda no preço não tem efeito sobre a receita total. Quando a demanda é inelástica, o efeito preço domina o efeito quantidade, por isso uma queda no preço reduz a receita total. Quando a demanda é elástica, o efeito quantidade domina o efeito preço, por isso uma queda no preço aumenta a receita total. TABELA 6-2 Elasticidade-preço da demanda e receita total Preço do pedágio = $0,90

Preço do pedágio = $1,10

Demanda de elasticidade unitária elasticidade-preço da demanda = 1) Quantidade demandada

1.100

900

$990

$990

Quantidade demandada

1.050

950

Receita total

$945

$1.045

Receita total Demanda inelástica (elasticidade-preço da demanda = 0,5)

Demanda elástica (elasticidade-preço da demanda = 2) Quantidade demandada Receita total

1.200

800

$1.080

$880

Elasticidade-preço ao longo da curva de demanda

Suponha que um economista diga que “a elasticidade-preço da demanda de café é 0,25”. O que ele está dizendo é que ao preço corrente, a elasticidade é 0,25. Na discussão anterior do pedágio, o que na verdade estávamos descrevendo é a elasticidade ao preço de $0,90. Por que essa qualificação? Porque para a grande maioria das curvas da demanda, a elasticidade-preço da demanda em um ponto da curva é diferente da elasticidade-preço da demanda em outros pontos ao longo da mesma curva. Para observar isso, considere a tabela na Figura 6-5, que mostra uma relação de demanda hipotética. Mostra também, na última coluna, a receita total gerada por cada uma das combinações de preço e a quantidade da tabela de demanda. O painel superior do gráfico da Figura 6-5 mostra a curva da demanda correspondente. O painel inferior ilustra esses mesmos dados de receita total: a altura de uma barra em cada nível de quantidade demandada – que corresponde a um determinado preço – mede a receita total gerada a esse preço. Na Figura 6-5, pode-se ver que quando o preço é baixo, a elevação do preço aumenta a receita total: a partir de um preço de $1, a elevação do preço para $2 aumenta a receita total de $9 para $16. Isso significa que quando o preço é baixo, a demanda é inelástica. Além disso, pode-se ver que a demanda é inelástica na seção inteira da curva da demanda que vai do preço $0 ao preço $5. No entanto, quando o preço é alto, elevá-lo ainda mais reduz a receita total: a partir do preço de $8, o aumento do preço para $9 reduz a receita total, de $16 para $9. Isso significa que, quando o preço é alto, a demanda é elástica. Além disso, pode-se dizer que a demanda é elástica na seção inteira da curva da demanda que vai do preço $5 ao $10. Para a grande maioria dos bens, a elasticidade-preço da demanda varia ao longo da curva da demanda. Assim, ao medir a elasticidade de um bem, realmente está se medindo em um ponto ou seção particular da curva da demanda do bem. FIGURA 6-5

A elasticidade-preço da demanda varia ao longo da curva da demanda

O painel superior mostra a curva da demanda que corresponde à relação da demanda na tabela. O painel inferior mostra como a receita total varia ao longo dessa curva da demanda: a cada preço e combinação de quantidade, a altura da barra representa a receita total gerada. Pode-se observar que a um preço baixo, a elevação do preço aumenta a receita total. Assim, a demanda é inelástica a preços baixos. No entanto, a um preço elevado, um aumento no preço reduz a receita total. Assim, a demanda é elástica a preços elevados.

Quais fatores determinam a elasticidade-preço da demanda?

A escassez de vacinas contra a gripe entre 2004 e 2005 permitiu aos distribuidores de vacinas aumentarem significativamente o preço por duas razões importantes: era difícil obter substitutos e, para muitas pessoas, a vacina era uma necessidade médica.

As pessoas responderam de várias maneiras. Alguns pagaram preços altos, outras viajaram para o Canadá e para outros países para se vacinar. Alguns ficaram sem (e, ao longo do tempo, mudaram seus hábitos para evitar gripe, como sair menos e evitar transporte de massa). Essa experiência ilustra os quatro fatores principais que determinam a elasticidade: a disponibilidade de substitutos, se o bem é de primeira necessidade ou de luxo, a parcela da renda que o consumidor gasta com o bem e o tempo que passou desde a mudança de preço. Examinaremos brevemente cada um desses fatores. A disponibilidade de bens substitutos

A elasticidade-preço da demanda tende a ser alta quando existem outros bens que o consumidor considera semelhantes e estaria disposto a consumir em seu lugar. A elasticidade-preço da demanda tende a ser baixa quando não há bens substitutos. Se o bem é de primeira necessidade ou de luxo

A elasticidade-preço da demanda tende a ser baixa se o bem for algo necessário, como um remédio que salva vidas. A elasticidade-preço da demanda tende a ser alta se o bem for de luxo, algo que não é necessário para viver. Parcela da renda gasta com o bem

A elasticidade-preço da demanda tende a ser baixa quando o gasto com o bem representa uma parcela pequena da renda do consumidor. Nesse caso, uma variação significativa no preço do bem tem pouco impacto sobre o que o consumidor gasta. Por outro lado, quando o bem representa uma parte significativa do gasto do consumidor, esse tende a ser muito sensível a uma mudança no preço do bem. Nesse caso, a elasticidade-preço da demanda é alta. Tempo decorrido desde a mudança de preço

Em geral, a elasticidade-preço da demanda tende a aumentar à medida que os consumidores têm mais tempo para se adaptar à mudança de preço. Isso significa que a elasticidade-preço da demanda de longo prazo, muitas vezes, é mais alta do que a elasticidade de curto prazo. Uma boa ilustração do efeito do tempo sobre a elasticidade da demanda vem da década de 1970, quando pela primeira vez os preços da gasolina aumentaram drasticamente nos Estados Unidos. Inicialmente, o consumo caiu muito pouco, porque não havia substitutos próximos da gasolina e porque o uso do carro era necessário para as pessoas realizarem as tarefas comuns do cotidiano. Com o tempo, no entanto, os americanos mudaram seus hábitos de forma a reduzir gradual mente o consumo de gasolina. O resultado foi um declínio constante no consumo de gasolina ao longo da década, mesmo que o preço da gasolina não continuasse a subir, confirmando que a elasticidade-preço da demanda de gasolina de longo prazo era de fato muito maior do que a elasticidade de curto prazo.

economia em ação Reação ao custo da instrução universitária

Fazer um curso universitário está ficando mais caro do que nunca e não é apenas por causa da inflação. Durante anos o custo da instrução tem aumentado mais rapidamente do que o custo de vida global. Mas será que esse aumento de preços faz as pessoas desistirem de fazer faculdade? Dois estudos descobriram que a resposta depende do tipo de universidade. Os dois estudos avaliaram o grau de sensibilidade que essa decisão tem em relação à variação do preço da instrução. Um estudo de 1988 descobriu que um aumento de 3% no custo de instrução levou a uma queda de aproximadamente 2% no número de alunos matriculados em instituições de quatro anos, o que dá uma elasticidadepreço da demanda de 0,67 (2%/3%). No caso das instituições com estada de dois anos, o estudo verificou uma sensibilidade bem maior: um aumento de 3% no custo da instrução levou a uma queda de 2,7% no número de matrículas, resultando em uma elasticidade-preço de 0,9. Em outras palavras, a decisão de se matricular em uma faculdade de dois anos é

significativamente mais sensível ao preço do que a decisão de se matricular em uma faculdade de quatro anos. Resultado: os alunos de cursos universitários de dois anos têm maior probabilidade de não fazer o curso em virtude do custo da instrução do que os dos cursos de quatro anos. Um estudo de 1999 confirmou esse padrão. Em comparação com os cursos de quatro anos, as matrículas nas faculdades de dois anos são muito mais sensíveis a variações na ajuda financeira estatal (uma queda na ajuda leva a uma diminuição no número de matrículas), um efeito previsível em razão da grande sensibilidade desses alunos ao custo do curso. Outra evidência também sugere que os alunos das faculdades de dois anos são mais propensos a custear seus estudos e fazer um trade-off entre estudar e trabalhar: a pesquisa constatou que as matrículas nos cursos universitários de dois anos são muito mais sensíveis a variações na taxa de desemprego (um aumento da taxa de desemprego leva a um aumento nas matrículas) do que as matrículas nos cursos universitários de quatro anos. Então, nos Estados Unidos, o custo da instrução é uma barreira para a obtenção de um diploma universitário? Sim, mas mais nos cursos de dois anos do que nos cursos de quatro anos. Curiosamente, o estudo de 1999 verificou que, tanto para as faculdades de dois anos quanto para as de quatro anos, a sensibilidade da demanda ao preço tinha caído um pouco desde o estudo de 1988. Uma explicação possível é que, mesmo com o valor da formação universitária tendo aumentado consideravelmente ao longo do tempo, menos pessoas renunciam à faculdade, mesmo quando o custo da instrução aumenta. E a elasticidade-preço da demanda de educação manteve-se baixa. Um estudo de 2008 estima que a elasticidade-preço da demanda de educação em instituições de quatro anos pode estar tão baixa quanto 0,11. (Fonte: Nota na página de copyright.)

BREVE REVISÃO A demanda é perfeitamente inelástica quando é completamente insensível ao preço. É perfeitamente elástica quando é infinitamente sensível ao preço. A demanda é elástica quando a elasticidade-preço da demanda é maior que 1. É inelástica quando a elasticidade-preço da demanda é menor que 1. Tem

elasticidade unitária quando a elasticidade-preço da demanda é exatamente 1. Quando a demanda é elástica, o efeito quantidade de um aumento de preço domina o efeito preço, e a receita total cai. Quando a demanda é inelástica, o efeito preço de um aumento de preço domina o efeito quantidade, e a receita total aumenta. Como a elasticidade-preço da demanda pode variar ao longo da curva da demanda, quando os economistas falam “da” elasticidade-preço da demanda, referem-se a um ponto específico na curva de demanda. A disponibilidade imediata de bens substitutos torna a demanda de um bem mais elástica, assim como o tempo decorrido desde a mudança de preço. A demanda de bens de primeira necessidade é menos elástica e a de bens de luxo é mais elástica. A demanda tende a ser inelástica para bens que absorvem pequena parcela da renda do consumidor e elástica para bens que absorvem grande parte da renda.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 6-2 1. Para cada caso, escolha a condição que caracteriza a demanda: elástica, inelástica ou de elasticidade unitária. a. A receita total diminui quando o preço aumenta. b. A receita adicional gerada por um aumento na quantidade vendida é exatamente anulada por perda de receita resultante da queda no preço recebido por unidade. c. A receita total cai quando a produção aumenta. d. Os produtores em uma indústria acham que podem aumentar a receita total ao coordenar uma redução na produção da indústria. 2. Para os bens seguintes, qual é a elasticidade da demanda? Explique. Qual é o formato da curva da demanda? a. Demanda de uma transfusão de sangue por uma vítima de acidente. b. Demanda dos alunos por borrachas verdes. As respostas estão no fim do livro.

OUTRAS ELASTICIDADES DA DEMANDA A quantidade de um bem demandado não depende apenas do preço desse bem, mas também de outras variáveis. Em particular, as curvas da demanda se deslocam por causa de variações nos preços dos bens

relacionados e variações na renda dos consumidores. Muitas vezes, é importante ter uma medida desses outros efeitos, e as melhores medidas – adivinhe – são as elasticidades. Especificamente, pode-se avaliar melhor como a demanda de um bem é afetada pelos preços de outros bens usando uma medida chamada elasticidade-preço cruzada da demanda, e podemos avaliar melhor como a demanda é afetada por variações de renda usando a elasticidade-renda da demanda. A elasticidade-preço cruzada da demanda

No Capítulo 3, aprendemos que a demanda de um bem muitas vezes é afetada pelos preços de outros bens – bens que são substitutos ou complementares. Lá você viu que uma variação no preço de um bem relacionado desloca a curva da demanda do bem original, refletindo uma variação na quantidade demandada a qualquer preço. A força desse efeito cruzado sobre a demanda pode ser medida pela elasticidadepreço cruzada da demanda, definida como a razão entre a porcentagem de variação na quantidade demandada de um bem com a variação percentual no preço do outro. (6-7)

Elasticidade-preço cruzada da demanda entre os bens A e B

Quando dois bens são substitutos, como cachorro-quente e hambúrguer, a elasticidade-preço cruzada da demanda é positiva: um aumento no preço do cachorro-quente aumenta a demanda de hambúrgueres, ou seja, causa um deslocamento para a direita da curva da demanda de hambúrgueres. Se os bens são substitutos muito próximos, a elasticidade-preço cruzada será positiva e elevada; se são substitutos não tão próximos, a elasticidade-preço cruzada será positiva, mas baixa. Então, quando a elasticidade-preço cruzada da demanda for positiva, seu tamanho é uma medida de quanto os bens são substituíveis um pelo outro. Quando dois bens são complementares, como o cachorro-quente e o pão de cachorro-quente, a elasticidade-preço cruzada é negativa: o aumento no preço do cachorro-quente diminui a demanda do pão de cachorro-quente –

ou seja, causa um deslocamento para a esquerda da curva da demanda de pães de cachorro-quente. Tal como acontece com substitutos, o tamanho da elasticidade-preço cruzada da demanda entre dois complementos informa o grau de complementariedade entre eles: se a elasticidade-preço cruzada for apenas ligeiramente inferior a zero, trata-se de complementariedade fraca e, se for muito negativa, a complementariedade é forte. Observe que no caso da elasticidade-preço cruzada da demanda, o sinal (mais ou menos) é muito importante: informa se os dois bens são complementares ou substitutos. Portanto, não podemos deixar de lado o sinal de menos como fizemos com a elasticidade-preço da demanda. Nossa análise sobre a elasticidade-preço cruzada da demanda é um ponto conveniente para retornar ao que dissemos anteriormente: a elasticidade é uma medida sem unidades, isto é, não depende das unidades em que os bens são medidos. Para verificar um problema potencial, suponha que alguém diga que “se o preço do pão de cachorro quente subir $0,30, os americanos comprarão 10 milhões a menos de cachorro-quente esse ano”. Se alguma vez você já comprou esse pãozinho, ficará em dúvida: é um aumento de $0,30 no preço por pão ou é um aumento de $0,30 no preço do pacote? (Esses pães geralmente são vendidos em pacotes de oito.) Faz uma grande diferença sobre qual unidade estamos falando! No entanto, se alguém diz que a elasticidade-preço cruzada da demanda entre pãezinhos e cachorro-quente é −0,3, não importa se eles são vendidos individualmente ou em pacote. A elasticidade é definida como uma razão entre variações percentuais, como uma forma de certificar-se de que não há confusão entre as unidades. Elasticidade-renda da demanda

A elasticidade-renda da demanda é uma medida de quanto a demanda de um bem é afetada por variações na renda dos consumidores. Permite determinar se um bem é normal ou inferior, bem como medir a intensidade com que a demanda do bem responde a variações na renda. (6-8)

Elasticidade-renda da demanda

Assim como a elasticidade-preço cruzada da demanda entre dois bens pode ser positiva ou negativa, dependendo se os bens são substitutos ou complementares, a elasticidade-renda da demanda de um bem também pode ser positiva ou negativa. Lembre-se do Capítulo 3, que os bens podem ser tanto bens normais, cuja demanda aumenta quando a renda aumenta, como bens inferiores, cuja demanda diminui quando a renda aumenta. Essas definições se relacionam diretamente com o sinal da elasticidade-renda da demanda:

PARA MENTES CURIOSAS A CHINA IRÁ SALVAR O SETOR AGRÍCOLA DOS ESTADOS UNIDOS? Nos dias dos Pais Fundadores, a grande maioria dos americanos vivia em fazendas. Na década de 1940, um americano em cada seis – ou aproximadamente 17% – assim vivia. Mas em 1991, o último ano em que o governo dos Estados Unidos coletou dados sobre a população de agricultores, o número oficial era de 1,9%. Por que hoje vivem e trabalham em fazendas tão poucas pessoas nos Estados Unidos? Há duas razões principais, e ambas envolvem elasticidade. Primeiro, a elasticidade-renda da demanda de alimentos é bem menor que 1 – renda inelástica. À medida que os consumidores ficam mais ricos, tudo o mais mantido constante, os gastos com alimentos sobem menos do que a renda. Em consequência, como a economia dos Estados Unidos cresceu, a parcela da renda gasta em alimentos – e, portanto, a parcela da renda total dos Estados Unidos recebida pelos agricultores, caiu. Segundo, a demanda por alimentos é inelástica em relação ao preço. Isso é importante porque os avanços tecnológicos na agricultura americana elevaram a produtividade firmemente ao longo do tempo e levaram a uma tendência de longo prazo de baixa de preços dos alimentos nos Estados Unidos na maior parte do século e meio passado. A combinação da inelasticidade em relação ao preço e da queda dos preços levou a uma queda total das receitas dos agricultores. É isso mesmo: o progresso na agricultura tem sido bom para os consumidores, mas ruim para os agricultores americanos. A combinação desses efeitos explica a relativa queda de longo prazo da agricultura nos Estados Unidos. A baixa elasticidaderenda da demanda de alimentos garante o crescimento da renda dos agricultores mais lentamente do que a economia como um todo. E a combinação do progresso tecnológico

rápido na agricultura, com demanda de alimentos inelástica em relação aos preços, reforça esse efeito, reduzindo ainda mais o crescimento da renda agrícola. Ou seja, até agora. A partir de meados da década de 2000, o aumento da demanda de produtos alimentares de países de crescimento rápido como a China provocou o aumento dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. E os agricultores americanos foram beneficiados, com a renda agrícola dos Estados Unidos aumentando 24% somente em 2010. Ao final, como o crescimento nos países em desenvolvimento diminuiu gradualmente, e a inovação agrícola continuou a progredir, é provável que o setor agrícola vá retomar a tendência de queda. Mas, atualmente e no futuro previsível, os fazendeiros americanos estão desfrutando da revitalização do setor.

Quando a elasticidade-renda da demanda é positiva, o bem é normal. Nesse caso, a quantidade demandada a qualquer preço dado aumenta quando a renda aumenta. Quando a elasticidade-renda da demanda é negativa, o bem é inferior. Nesse caso, a quantidade demandada a qualquer preço dado cai quando a renda aumenta. Os economistas costumam usar estimativas da elasticidade-renda da demanda para prever que setores irão crescer mais rapidamente à medida que a renda dos consumidores cresce ao longo do tempo. Ao fazer isso, muitas vezes, é útil fazer uma nova distinção entre os bens normais, identificando os que são elásticos e inelásticos em relação à variação na renda. A demanda de um bem é elástica em relação à renda se a elasticidaderenda da demanda for maior que 1. Quando a renda aumenta, a demanda de bens elásticos em relação à renda aumenta mais rápido do que a renda. Os artigos de luxo, como residências de veraneio e viagens internacionais, tendem a ser elásticos em relação à renda. A demanda de um bem é inelástica em relação à renda se a elasticidade-renda da demanda desse bem for positiva, mas menor que 1. Quando a renda aumenta, a demanda do bem inelástico em relação à renda aumenta, mas menos que o aumento proporcional da renda. Bens de primeira necessidade, como alimentos e roupas, tendem a ser inelásticos em relação à renda.

economia em ação Fazendo gastos

O Departamento de Estatística do Trabalho dos Estados Unidos (Bureau of Labor Statistics) realiza pesquisas extensas por amostragem sobre como as famílias gastam sua renda. Não é apenas questão de curiosidade intelectual. Diversos programas de benefício do governo envolvem algum ajuste de mudança no custo de vida e, para calcular essas mudanças, o governo precisa saber como as pessoas gastam o dinheiro. Mas uma vantagem adicional dessas pesquisas é a evidência sobre a elasticidade-renda da demanda de vários bens. O que esses estudos revelam? O resultado clássico é que a elasticidaderenda da demanda de “refeições feitas em casa” é bem menor que 1: à medida que a renda familiar aumenta, a parcela da renda gasta com alimento consumido em casa diminui. Do mesmo modo, quanto mais baixa a renda familiar, maior a proporção da renda gasta com alimentos consumidos em casa. Em países pobres, muitas famílias gastam mais da metade da renda com alimentos consumidos em casa. Embora a elasticidade-renda da demanda de “alimentos consumidos em casa” seja estimada em menos de 0,5 nos Estados Unidos, a elasticidade-renda da demanda de “refeições feitas fora de casa” (refeições em restaurantes) é bem mais elevada – perto de 1. Famílias com renda mais alta comem fora mais vezes e em lugares mais sofisticados. Em 1950, aproximadamente 19% da renda nos Estados Unidos era gasta em refeições feitas em casa, número que caiu para 7% atualmente. Mas durante o mesmo período, a parcela da renda dos Estados Unidos gasta em refeições fora de casa permaneceu constante em 5%. Na verdade, um sinal seguro de elevação de níveis de renda em países em desenvolvimento é a chegada das cadeias de restaurantes fast-food que servem clientes abastados. Por exemplo, o McDonald’s, hoje em dia, pode ser encontrado em Jacarta, Xangai e Bombaim.

COMPARAÇÃO GLOBAL Porção de alimentos no orçamento mundial Se a elasticidade-renda da demanda de alimentos for menor que 1, é de se esperar que as pessoas em países pobres gastem uma parcela maior da renda em alimentos do que as pessoas nos países ricos. E isso é exatamente o que os dados mostram. Nesse gráfico, comparamos a renda per capita – a renda total do país dividida pela população – com a parcela da renda que é gasta em alimentos. (Para fazer o gráfico de tamanho apropriado, a renda per capita é medida como porcentagem da renda per capita dos Estados Unidos.) Em países muito pobres, como o Sri Lanka, as pessoas gastam a maior parte da renda em alimentos. Em países de renda média, como Israel, a parte dos gastos que vai para alimentos é muito menor. E é ainda menor nos países ricos, como os Estados Unidos.

Fonte: Base de dados de cotas alimentares do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Renda per capita do OECD, The World Economy: Historical Statistics.

Há um exemplo claro de bens inferiores encontrados nas pesquisas: aluguel de habitação. Famílias com maior renda, de fato, gastam menos com aluguel que famílias com renda mais baixa, pois é muito mais provável que sejam proprietárias das próprias casas. E a categoria identificada como “outra residência” – que basicamente significa residência secundária – tem elasticidade-renda elevada. Apenas famílias de renda mais elevada têm condições de ter uma casa de veraneio, por isso “outra residência” tem elasticidade-renda da demanda maior que 1.

BREVE REVISÃO Bens são substitutos quando a elasticidade-preço cruzada da demanda é positiva. Bens são complementares quando a elasticidade-preço cruzada da demanda é negativa. Bens inferiores têm elasticidade-renda da demanda negativa. A maioria dos bens é normal, quando têm elasticidade-renda da demanda positiva. Bens normais podem ser elásticos em relação à renda, quando a elasticidade-renda da demanda é maior que 1, ou inelásticos em relação à renda, quando a elasticidade-renda da demanda é positiva, mas menor que 1.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 6-3 1. Depois que a renda de Chelsea aumentou de $12.000 para $18.000 ao ano, as compras de CDs aumentaram de 10 para 40 ao ano. Calcule a elasticidade-renda da demanda de CDs usando o método do ponto médio. 2. Comer fora em restaurantes caros é um bem de alta elasticidade-renda para a maioria das pessoas, inclusive Sanjay. Suponha que a sua renda caia 10% esse ano. Qual a sua previsão sobre a variação no consumo de restaurantes caros de Sanjay? 3. À medida que o preço da margarina aumenta 20%, uma panificadora aumenta sua quantidade demandada de manteiga em 5%. Calcule a elasticidade-preço cruzada da demanda entre manteiga e margarina. A manteiga e a margarina são bens substitutos ou complementares para esse fabricante? As respostas estão no fim do livro.

A ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA Na esteira da escassez de vacinas contra a gripe de 2004, a tentativa dos distribuidores de elevar o preço das vacinas teria sido muito menos eficaz se um preço mais elevado tivesse induzido a um grande aumento na produção de vacinas contra a gripe por outros fabricantes que não a Chiron. De fato, se o aumento de preço tivesse precipitado um aumento significativo na produção de vacinas, o preço poderia ter sido pressionado de volta para baixo. Mas isso não aconteceu; como dissemos, teria sido muito caro e tecnicamente difícil produzir mais vacinas para a temporada de gripe entre 2004 e 2005. (Na realidade, a produção de vacina começa um ano antes da distribuição.) Esse foi mais um elemento crítico da capacidade de algumas distribuidores de vacinas, como a Med-Stat, de obter preços significativamente mais altos, restringindo a oferta de seus produtos: a baixa sensibilidade da quantidade ofertada pelos produtores a um preço mais alto da vacina. Para medir a resposta dos produtores à variação no preço, precisamos de uma medida paralela à elasticidade-preço da demanda – a elasticidade-preço da oferta.

Medindo a elasticidade-preço da oferta A elasticidade-preço da oferta é definida da mesma forma que a elasticidade-preço da demanda (embora aqui não haja sinal de menos para ser eliminado): (6-9)

Elasticidade-preço da oferta

A única diferença é que agora consideramos movimentos ao longo da curva da oferta, e não mais ao longo da curva da demanda. Suponha que o preço do tomate aumente 10%. Se a quantidade de tomates também aumenta 10%, em resposta a isso, a elasticidade-preço da

oferta do tomates é 1 (10%/10%) e a oferta tem elasticidade unitária. Se a quantidade unitária aumenta 5%, a elasticidade-preço da oferta é 0,5, e a oferta é inelástica; se a quantidade aumenta 20%, a elasticidade-preço da oferta é 2 e a oferta é elástica. Como no caso da demanda, os valores extremos da elasticidade-preço da oferta têm uma representação gráfica simples. O painel (a) da Figura 6-6 mostra a oferta de frequência de telefonia celular, a parte do espectro do rádio que serve para envio e recepção de sinais de telefonia celular. Dentro de suas fronteiras, os governos têm o direito de vender o uso dessa parte do espectro de rádio para as operadoras de telefonia celular. Mas o governo não pode aumentar ou diminuir o número de frequências de telefonia celular que têm a oferecer – por razões técnicas, a quantidade de frequências adequadas para operação de telefonia celular é uma quantidade fixa. Assim, a curva da oferta de frequência de telefonia celular é uma linha vertical e supomos que seja uma linha vertical com 100 frequências. À medida que se move para cima ou para baixo nessa curva, a mudança na quantidade ofertada pelo o governo é zero, qualquer que seja a mudança de preço. Assim, o painel (a) ilustra o caso em que a elasticidade-preço da oferta é zero. Esse é o caso da oferta perfeitamente inelástica. FIGURA 6-6

Dois casos extremos de elasticidade-preço da oferta

O painel (a) mostra a curva da oferta perfeitamente inelástica, que é uma linha vertical. A elasticidade-preço da oferta é zero: a quantidade ofertada é sempre a mesma, independentemente do preço. O painel (b) mostra a curva da oferta perfeitamente elástica, que é uma linha horizontal. Ao preço de $12, os fabricantes irão fornecer

qualquer quantidade, mas não vão ofertar nenhuma ao preço abaixo de $12. Se o preço subir acima de $12, ofertarão uma quantidade extremamente grande.

O painel (b) mostra a curva da oferta de pizza. Supomos que custe $12 fabricar uma pizza, incluindo todos os custos de oportunidade. A qualquer preço abaixo de $12, não seria lucrativo fabricar pizza, e todas as pizzarias nos Estados Unidos iriam fechar. Como alternativa, existem muitos fabricantes que poderiam operar pizzarias se fossem rentáveis. Os ingredientes – farinha, tomate, queijo – são abundantes. E, se necessário, podem ser cultivados mais tomates, pode ser produzido mais leite para fabricar queijo muçarela, e assim por diante. Assim, qualquer preço acima de $12 resultaria em uma quantidade extremamente grande de oferta de pizza. A curva da oferta implícita é, portanto, uma linha horizontal em $12. Uma vez que até um pequeno aumento no preço leva a um aumento enorme na quantidade ofertada, a elasticidade-preço da oferta é mais ou menos infinita. Esse é um caso de oferta perfeitamente elástica. Como nossos exemplos de frequência de telefonia celular e de pizza sugerem, exemplos reais de oferta perfeitamente inelástica e perfeitamente elástica são fáceis de encontrar – muito mais fácil do que suas contrapartes na demanda. Quais fatores determinam a elasticidade-preço da oferta?

Nossos exemplos sugerem o principal determinante da elasticidade-preço da oferta: a disponibilidade de insumos. Além disso, assim como com a elasticidade-preço da demanda, o tempo desempenha um papel na elasticidade-preço da oferta. Aqui resumimos os dois fatores. A disponibilidade de insumos

A elasticidade-preço da oferta tende a ser elevada quando os insumos estão disponíveis e podem ser deslocados para dentro e para fora da produção com um custo relativamente baixo. Tende a ser baixa, quando os

insumos são difíceis de ser obtidos – e podem ser deslocados para dentro e para fora da produção apenas a um custo relativamente elevado. Tempo

A elasticidade-preço da oferta tende a crescer mais à medida que os produtores têm mais tempo para responder à variação de preço. Isso significa que a elasticidade-preço da oferta no longo prazo, muitas vezes, é maior do que a elasticidade de curto prazo. (No caso da escassez de vacina contra a gripe, o tempo era o elemento crucial porque é necessário que a vacina seja cultivada em culturas por muitos meses.) A elasticidade-preço da oferta de pizza é muito elevada porque é fácil a obtenção dos insumos necessários à expansão da atividade. A elasticidadepreço da frequência de telefonia celular é zero porque um insumo essencial – o espectro da frequência de rádio – não pode aumentar. Muitas indústrias são como a de pizza e têm elasticidade-preço da oferta elevada: podem-se expandir facilmente, porque não necessitam de recursos especiais e exclusivos. Por outro lado, a elasticidade-preço da oferta geralmente está longe de ser perfeitamente elástica para bens que envolvem recursos naturais limitados: minérios como ouro ou cobre; produtos agrícolas, como o café que floresce apenas em determinados tipos de terra; e recursos não renováveis, como os peixes do mar, que só podem ser explorados até certo ponto, sob pena de destruir o recurso. Mas, com tempo suficiente, os produtores são capazes de mudar significativamente a quantidade que produzem em resposta a uma mudança de preço, mesmo quando a produção envolve recursos naturais limitados. Por exemplo, considere novamente o efeito de um aumento de preço da vacina contra a gripe, mas, desta vez, concentre-se sobre a resposta da oferta. Se o preço aumentasse para $90 por vacina e assim permanecesse por vários anos, certamente haveria um aumento substancial na produção de vacinas contra a gripe. Produtores como Chiron eventualmente reagiriam aumentando o tamanho das instalações industriais, contratando mais técnicos de laboratório, e assim por diante. Mas a expansão significativa de um laboratório de biotecnologia leva vários anos e não semanas ou meses ou mesmo um ano.

Por essa razão, os economistas costumam fazer uma distinção entre a elasticidade da oferta de curto prazo, em geral de poucas semanas ou meses, e a elasticidade da oferta de longo prazo, geralmente significando vários anos. Na maioria das indústrias, a elasticidade de oferta de longo prazo é maior que a de curto prazo.

economia em ação Excedentes agrícolas europeus

Uma das políticas analisadas no Capítulo 5 foi o estabelecimento de pisos de preços, um limite inferior para o preço de um bem. Vimos que os pisos de preços são, muitas vezes, usados pelos governos para apoiar as rendas dos agricultores, mas criam enormes excedentes agrícolas indesejáveis. O exemplo mais drástico é o da União Europeia, onde pisos de preços criaram “montanhas de manteiga”, “lagos de vinho” e assim por diante. Será que os políticos europeus estavam conscientes de que pisos de preços criariam enormes excedentes? Provavelmente sabiam que haveria excedentes, mas subestimaram a elasticidade-preço da oferta agrícola. De fato, quando os preços agrícolas de apoio foram estabelecidos, muitos analistas pensavam que era pouco provável que levariam a um grande aumento de produção. Afinal de contas, os países europeus são densamente povoados e havia pouca terra disponível para o cultivo. No entanto, o que os analistas não conseguiram perceber é o quanto a produção agrícola pode-se expandir com a adição de outros recursos, especialmente fertilizantes e pesticidas, que estavam prontamente disponíveis. Assim, apesar de a área cultivada europeia não aumentar muito em resposta à imposição de preços mínimos, a produção agrícola aumentou bastante!

BREVE REVISÃO A elasticidade-preço da oferta é a variação percentual na quantidade ofertada dividida pela variação percentual no preço.

Com a oferta perfeitamente inelástica, a quantidade ofertada é completamente insensível ao preço e a curva da oferta é uma linha vertical. Com a oferta perfeitamente elástica, a curva da oferta é horizontal em algum preço específico. Quando o preço cai abaixo desse nível, a quantidade ofertada é zero. Quando o preço sobe acima desse nível, a quantidade ofertada é infinita. A elasticidade-preço da oferta depende da disponibilidade de insumos, da facilidade de deslocar insumos para dentro e para fora de usos alternativos e do período decorrido desde a variação no preço.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 6-4 1. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade-preço da oferta para serviços de construção de sites, quando o preço por hora aumenta de $100 para $150 e o número de horas comercializadas aumenta de 300 mil para 500 mil. A oferta é elástica, inelástica ou tem elasticidade unitária? 2. Verdadeiro ou falso? Se a demanda de leite aumentasse, então, no longo prazo, quem bebe leite ficaria em situação melhor se a oferta fosse elástica em vez de inelástica. 3. Verdadeiro ou falso? A elasticidade-preço da oferta de longo prazo em geral é maior que a elasticidade-preço da oferta de curto prazo dos preços de abastecimento. Como resultado, as curvas da oferta de curto prazo geralmente são menos inclinadas do que as curvas de oferta de longo prazo. 4. Verdadeiro ou falso? Quando a oferta é perfeitamente elástica, mudanças na demanda não têm qualquer efeito sobre o preço. As respostas estão no fim do livro.

ELASTICIDADES Acabamos de passar por algumas elasticidades diferentes. Pode ser um desafio distingui-las. Assim, na Tabela 6-3, há um resumo de todas as elasticidades que analisamos e suas implicações.

TABELA 6-3 Elasticidades

0

Perfeitamente inelástica: o preço não tem efeito sobre a quantidade demandada (curva da demanda vertical).

Entre 0 e 1

Inelástica: um aumento no preço aumenta a receita total.

Exatamente 1

Elasticidade unitária: variações no preço não têm efeito sobre a receita total.

Maior que 1, menor que ∞

Elástica: um aumento no preço reduz a receita total.



Perfeitamente elástica: um aumento no preço faz a quantidade demandada cair a zero. Uma queda no preço leva a quantidade demandada ao infinito.

Negativo

Complementares: a quantidade demandada de um bem cai quando o preço do outro bem sobe.

Positivo

Substitutos: a quantidade demandada de um bem sobe quando o preço de outro bem sobe.

Negativo

Bem inferior: a quantidade demandada cai quando a renda sobe.

Positivo, menor que 1

Bem normal, inelástico em relação à renda: a quantidade demandada sobe quando a renda sobe, mas não tão rápido quanto a renda.

Maior que 1

Bem normal, elástico em relação à renda: a quantidade demandada sobe quando a renda sobe e mais rápido que a renda.

0

Perfeitamente inelástica: o preço não tem impacto sobre a quantidade ofertada (curva da oferta vertical).

Maior que 0, menor que ∞

Curva da oferta normal com inclinação para cima.



Perfeitamente elástica: qualquer queda no preço faz a quantidade ofertada cair a zero. Qualquer aumento de preço provoca uma quantidade ofertada infinita (curva da oferta horizontal).

• CASO EMPRESARIAL A indústria aérea: menos voos, tarifas mais altas

A recessão que começou em 2008 atingiu o setor aéreo pesadamente e tanto as empresas como as famílias reduziram os planos de viagem. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo, a indústria perdeu $11 bilhões em 2008. No entanto, até 2009, a despeito do fato de a economia ainda estar extremamente fraca e do tráfego aéreo ainda estar bem abaixo do normal, a rentabilidade do setor começou a se recuperar. E, em 2010, mesmo em meio à contínua fraqueza econômica, o panorama do setor aéreo era de recuperação definitiva, com a indústria alcançando um lucro de $8,9 bilhões naquele ano. Como disse Gary Kelly, CEO da Southwest Airlines: “O setor está em posição melhor – certamente em uma década – apresentará rentabilidade.” Como a indústria da aviação conseguiu uma reviravolta tão drástica? Simples: menos voos e tarifas mais altas. Em 2011, as tarifas estavam 14% mais altas do que no ano anterior, e os voos estavam mais cheios do que em décadas, com menos de um em cada cinco assentos vazios nos voos domésticos. Além de um corte no número de voos – particularmente das companhias que estavam perdendo dinheiro – as companhias aéreas implementaram

variações mais extremas nos preços dos bilhetes com base em quando um voo partia e quando o bilhete era adquirido. Por exemplo, o dia mais barato para voar é quarta-feira; sexta-feira e sábado são os dias mais caros. O primeiro voo da manhã (o que requer que o passageiro levante às 4 horas) é mais barato do que os voos que partem durante o restante do dia. E o momento mais barato para comprar um bilhete é terça-feira às 15 horas (horário padrão da costa leste dos Estados Unidos); bilhetes comprados no fim de semana têm os preços mais elevados. Além disso, como todos os viajantes sabem, as companhias aéreas impuseram uma grande variedade de novas tarifas e aumentaram as antigas – taxas para refeições, uso de cobertor, despacho de malas, bagagem de mão, direito de embarcar em determinado voo, direito de escolher o lugar com antecedência e assim por diante. As companhias aéreas também ficaram mais criativas ao impor taxas difíceis de os viajantes descobrirem com antecedência – como reivindicar que as tarifas não aumentem durante as férias, enquanto elas impõem um “custo adicional de férias”. Em 2010, as companhias aéreas arrecadaram mais de $4,3 bilhões em taxas de verificação de bagagem e de mudança de bilhetes, até 13,5% a partir de 2009. Mas a questão na mente dos analistas do setor é se as companhias aéreas conseguem manter o alto nível de rentabilidade atual. No passado, quando a procura voltou, as companhias aéreas aumentaram a capacidade – adicionaram assentos – rapidamente, levando à queda das tarifas aéreas. “Sempre, a carta na manga é a capacidade de disciplina”, diz William Swelbar, um pesquisador da indústria aeronáutica. “Tudo o que é necessário é uma operadora começar a adicionar capacidade de forma agressiva, e depois seguir e desfazer todo o bom trabalho que foi feito.”

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Como você descreveria a elasticidade-preço da demanda dos voos, em relação às informações desse caso? Explique. 2. Usando o conceito de elasticidade, explique por que as companhias aéreas criam essas grandes variações no preço de um bilhete, dependendo de quando ele seja comprado e do dia e da hora da partida do voo. Suponha

que algumas pessoas estão dispostas a gastar tempo pesquisando promoções, bem como voar em horários inconvenientes, mas outros não. 3. Usando o conceito de elasticidade, explique por que as companhias aéreas impuseram taxas sobre itens como despacho de bagagem. Por que elas tentam esconder ou disfarçar as taxas? 4. Use o conceito de elasticidade para explicar em que condições a indústria aérea será capaz de manter sua alta rentabilidade no futuro. Explique. As respostas estão no fim do livro.

• RESUMO 1. Muitas questões econômicas dependem do tamanho da resposta do consumidor ou do produtor a mudanças de preço ou outras variáveis. A elasticidade é uma medida geral de sensibilidade que pode ser usada para responder a essas questões. 2. A elasticidade-preço da demanda, ou seja, a variação percentual na quantidade demandada dividida pela variação percentual no preço (ignorando o sinal de menos) é uma medida da sensibilidade da quantidade demandada a variações de preço. Nos cálculos práticos, geralmente é melhor usar o método do ponto médio, que calcula a variação percentual de preços e quantidades com base na média entre os valores inicial e final. 3. A resposta da quantidade demandada ao preço pode variar de demanda perfeitamente inelástica, quando a quantidade demandada não é afetada pelo preço, a demanda perfeitamente elástica, onde existe um preço único pelo qual os consumidores comprarão qualquer quantidade ofertada. Quando a demanda é perfeitamente inelástica, a curva da demanda é uma linha vertical; quando é perfeitamente elástica, a curva da demanda é uma linha horizontal. 4. A elasticidade-preço da demanda é classificada como maior ou menor que 1. Se for maior que 1, a demanda é elástica. Se for menor que 1, a demanda é inelástica. Se for exatamente 1, a demanda tem elasticidade unitária. Essa classificação determina a receita total, o valor total das vendas, quando o preço muda. Se a demanda for elástica, a receita total cai quando o preço aumenta e aumenta quando o preço cai. Se a demanda for inelástica, a receita total aumenta quando o preço aumenta e cai quando o preço cai. 5. A elasticidade-preço da demanda depende de existirem substitutos próximos para o bem em questão, de o bem ser de primeira necessidade ou de luxo, da parcela da renda gasta com o bem e do tempo decorrido desde a variação do preço. 6. A elasticidade-preço cruzada da demanda mede o efeito da variação no preço de um bem sobre a quantidade demandada de outro bem. A

elasticidade-preço cruzada da demanda pode ser positiva, quando os bens são substitutos, ou negativa, quando são complementares. 7. A elasticidade-renda da demanda é a variação percentual na quantidade demandada de um bem quando a renda do consumidor varia, dividida pela variação percentual na renda. A elasticidade-renda da demanda indica o quanto a demanda de um bom responde a variações na renda. Pode ser negativa; nesse caso, trata-se de um bem inferior. Bens com elasticidadesrenda da demanda positiva são normais. Se a elasticidade-renda for maior que 1, a demanda do bem é elástica em relação à renda. Se for positiva e menor que 1, é inelástica em relação à renda. 8. A elasticidade-preço da oferta é a variação percentual na quantidade ofertada de um bem dividido pela variação percentual no preço. Se a quantidade ofertada não muda nada, temos um exemplo de oferta perfeitamente inelástica; a curva da oferta é uma linha vertical. Se a quantidade ofertada é zero abaixo de certo preço, mas infinita acima desse preço, temos um exemplo de oferta perfeitamente elástica; a curva da oferta é uma linha horizontal. 9. A elasticidade-preço da oferta depende da disponibilidade de recursos para expandir a produção e do tempo. É tanto mais elevada quanto mais os insumos sejam fáceis de obter e quanto mais tempo tenha decorrido desde a variação no preço.

• PALAVRAS-CHAVE Elasticidade-preço da demanda, p. 132 Método do ponto médio, p. 133 Demanda perfeitamente inelástica, p. 135 Demanda perfeitamente elástica, p. 135 Demanda elástica, p. 135 Demanda inelástica, p. 136 Demanda de elasticidade unitária, p. 136 Receita total, p. 137 Elasticidade-preço cruzada da demanda, p. 141 Elasticidade-renda da demanda, p. 142 Demanda elástica em relação à renda, p. 143 Demanda inelástica em relação à renda, p. 143 Elasticidade-preço da oferta, p. 144

Oferta perfeitamente inelástica, p. 145 Oferta perfeitamente elástica, p. 145

• PROBLEMAS 1. A Nile.com, uma livraria on-line, quer aumentar a receita total. Uma das estratégias sugeridas é um desconto de 10% em todos os livros vendidos. A Nile.com sabe que os clientes podem ser divididos em dois grupos distintos de acordo com a resposta provável ao desconto. A tabela a seguir mostra como os dois grupos reagem com o desconto. Grupo A (vendas por semana)

Grupo B (vendas por semana)

Volume de vendas antes do desconto de 10%

1,55 milhão

1,50 milhão

Volume de vendas depois do desconto de 10%

1,65 milhão

1,70 milhão

a. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade-preço da demanda dos grupos A e B. b. Explique como o desconto afetará a receita total resultante de cada grupo. c. Suponha que a Nile.com saiba a qual grupo pertence cada cliente ao se comunicar pela internet e possa escolher se oferece ou não o desconto de 10%. Se a Nile.com quiser aumentar a receita total, o desconto deverá ser oferecido ao grupo A ou ao grupo B, a nenhum deles ou a ambos? 2. A elasticidade-preço da demanda dos utilitários esportivos (SUVs) da Ford vai aumentar, diminuir ou permanecer a mesma em cada um dos eventos seguintes? Justifique a resposta. a. Outras empresas, como a General Motors, decidem fabricar e vender utilitários. b. O uso de utilitários produzidos no exterior é proibido no mercado americano. c. Em decorrência de campanhas publicitárias, os americanos acreditam que os utilitários são mais seguros que os automóveis comuns. d. O período durante o qual se mede a elasticidade aumenta. Durante esse tempo, aparecem novos modelos, como caminhonetes de carga com tração nas quatro rodas.

3. Para os Estados Unidos, 2007 foi um ano ruim para o cultivo de trigo. E à medida que a oferta de trigo diminuiu, o preço do trigo subiu drasticamente, levando a uma menor quantidade demandada (um movimento ao longo da curva da demanda). A tabela a seguir descreve o que aconteceu com os preços e a quantidade de trigo demandada.

Quantidade demandada (sacas) Preço médio (sacas)

2006

2007

2,2 bilhões

2,0 bilhões

$3,42

$4,26

a. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade-preço da demanda do trigo na colheita de inverno. b. Qual é a receita total dos agricultores de trigo dos Estados Unidos em 2006 e 2007? c. A colheita ruim aumentou ou diminuiu a receita total dos produtores de trigo dos Estados Unidos? Como você poderia ter previsto isso a partir da resposta do item a? 4. A tabela a seguir apresenta parte da oferta de computadores pessoais nos Estados Unidos. Preço do computador

Quantidade de computadores ofertados

$1.100

12.000

$900

8.000

a. Calcule a elasticidade-preço da oferta quando o preço aumenta de $900 para $1.100 usando o método do ponto médio. b. Suponha que as empresas produzem mais de 1 mil computadores a um determinado preço, em virtude da melhora da tecnologia. À medida que o preço sobe de $900 para $1.100, agora a elasticidade-preço da oferta é maior, menor ou a mesma que no item a? c. Suponha que um longo período em análise significa que a quantidade fornecida a determinado preço seja 20% maior do que os valores apresentados na tabela. Com o aumento de preços de $900 para $1.100, a elasticidade-preço da oferta passou a ser maior, menor ou é a mesma que era na parte a? 5. A tabela a seguir enumera a elasticidade-preço cruzada da demanda de vários bens, onde a variação percentual da quantidade é medida para o primeiro bem do par e a variação percentual de preço é medida para o segundo bem.

Bem

Elasticidade-preço cruzada da demanda

Unidades de ar condicionado e quilowatts de eletricidade

− 0,34

Coca-Cola e Pepsi

+ 0,63

Veículo utilitário esportivo de alto consumo de combustível e gasolina

− 0,28

Hambúrguer do McDonald’s e do Burger King

+ 0,82

Manteiga e margarina

+ 1,54

a. Explique o sinal de cada uma das elasticidades-preço cruzadas. O que implica para a relação entre os dois bens em questão? b. Compare os valores absolutos das elasticidades-preço cruzadas e explique sua magnitude. Por exemplo, por que a elasticidade-preço cruzada entre McDonald’s e Burger King é menor que a elasticidadepreço cruzada entre manteiga e margarina? c. Use a informação da tabela para calcular como um aumento de 5% no preço da Pepsi afeta a quantidade de Coca-Cola demandada. d. Use a informação na tabela para calcular como uma redução de 10% no preço da gasolina afeta a quantidade de utilitários demandada. 6. O que se pode concluir sobre a elasticidade-preço da demanda em cada uma das seguintes afirmações? a. “A entrega de pizza em domicílio nessa cidade é muito competitiva. Eu perderia metade dos meus clientes se aumentasse o preço em 10%.” b. “Eu possuía ambas as litografias existentes autografadas por Jerry Garcia. Vendi uma no eBay por um preço elevado. Mas quando vendi a segunda, o preço caiu 80%.” c. “Meu professor de Economia optou em usar o livro do Krugman/Wells. Não tive outra escolha senão comprá-lo.” d. “Sempre gasto exatamente $10 por semana de café.” 7. Considere uma curva de demanda linear como a mostrada na Figura 6-5, onde está indicada a faixa de preços para a qual a demanda é elástica e para a qual é inelástica. Em cada um dos cenários seguintes, a curva da oferta se desloca. Mostre em qual parte da curva da demanda (ou seja, a parte elástica ou inelástica) a curva da oferta deve ter se deslocado, para gerar o evento descrito. Em cada caso, mostre o efeito preço e o efeito quantidade no diagrama. a. Na verdade, tentativas recentes do Exército colombiano de deter o fluxo de drogas ilegais para os Estados Unidos beneficiaram os traficantes. b. Construções novas aumentaram o número de assentos no estádio de futebol e resultaram em aumento da receita total de vendas de ingressos para os jogos de futebol.

Uma queda nos preços dos insumos levou a uma produção maior de Porsches. Mas o resultado foi que a receita total da Porsche Company declinou. 8. A tabela a seguir mostra o preço e a quantidade vendida anualmente de camisetas que são lembranças da cidade de Crystal Lake de acordo com a renda média dos turistas que a visitam. c.

Quantidade de camisetas demandada quando a renda média do turista é $20.000

Quantidade de camisetas demandada quando a renda média do turista é $30.000

$4

3.000

5.000

5

2.400

4.200

6

1.600

3.000

7

800

1.800

Preço da camiseta

a. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidadepreço da demanda quando o preço de uma camiseta aumenta de $5 para $6 e a renda média do turista é $20.000. Calcule também quando a renda média do turista é $30.000. b. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade-renda da demanda quando o preço da camiseta é $4 e a renda média do turista aumenta de $20.000 para $30.000. Também calcule com o preço de $7. 9. Um estudo recente determinou as seguintes elasticidades para o fusca: Elasticidade-preço da demanda = 2 Elasticidade-renda da demanda = 1,5 A oferta de fuscas é elástica. Com base nessas informações, as afirmações seguintes são verdadeiras ou falsas? Explique o raciocínio. a. Um aumento de 10% no preço do fusca vai reduzir a quantidade demandada em 20%. b. Um aumento na renda do consumidor aumentará o preço e a quantidade vendida de fuscas. Como a elasticidade-preço da demanda é maior que 1, a receita total diminuirá. 10. Em cada um dos seguintes casos, você acha que a elasticidade-preço da oferta é (i) perfeitamente elástica, (ii) perfeitamente inelástica, (iii) elástica, mas não perfeitamente, ou (iv) inelástica, mas não perfeitamente? Explique usando um diagrama. a. Neste verão, um aumento na demanda de cruzeiros de luxo leva a um salto no preço de venda de uma cabine no Queen Mary 2. b. O preço de um quilowatt de energia elétrica é o mesmo nos períodos de demanda elevada de eletricidade e nos períodos de demanda baixa. c. A quantidade de pessoas que querem passagens aéreas em fevereiro é menor do que em qualquer outro mês. As companhias aéreas cancelam

cerca de 10% dos voos e os preços dos bilhetes caem cerca de 20% durante o mês. d. Proprietários de casas de férias no estado do Maine costumam alugá-la durante o verão. Em virtude do crescimento suave da economia nesse ano, houve uma queda de 30% no preço do aluguel para férias que levou mais da metade dos proprietários a ocupar suas próprias casas de férias durante o verão. 11. Use o conceito de elasticidade para explicar as observações seguintes. a. Durante booms econômicos, a abertura de novos negócios que oferecem cuidados pessoais, como academias e salões de bronzeamento, é proporcionalmente maior do que a abertura de outros negócios, como mercearias. b. Cimento é um material básico de construção no México. Depois que uma nova tecnologia barateia a produção de cimento, a curva da oferta da indústria de cimento mexicana torna-se relativamente mais achatada. c. Alguns bens que eram considerados de luxo, como telefone, hoje são considerados praticamente de primeira necessidade. Como resultado, a curva da demanda de serviços de telefonia teve inclinação mais acentuada ao longo do tempo. d. Consumidores em países menos desenvolvidos como a Guatemala gastam proporcionalmente mais da renda em equipamentos para a produção de itens em casa, como máquinas de costura, que os consumidores em países mais desenvolvido como o Canadá. 12. Taiwan é um fornecedor mundial importante de chips semicondutores. Um terremoto recente danificou severamente as instalações das empresas produtoras de chips e reduziu drasticamente a quantidade de chips que elas produzem. a. Suponha que a receita total de um fabricante de chip típico fora de Taiwan aumente em decorrência desse evento. No que se refere a elasticidades, o que precisa ser verdade para que isso aconteça? Ilustre essa modificação na receita total, com um diagrama, indicando o efeito preço e o efeito quantidade do terremoto de Taiwan sobre a receita total dessa empresa. b. Suponha agora que a receita total de um fabricante de chip típico fora de Taiwan diminua em decorrência desse evento. Em termos de elasticidade, o que deve ser verdade para isso acontecer? Ilustre essa modificação na receita total com um diagrama, indicando o efeito preço e o efeito quantidade do terremoto de Taiwan sobre a receita total dessa empresa. 13. Há um debate sobre se as agulhas hipodérmicas esterilizadas deveriam ser distribuídas de forma gratuita em cidades com alto uso de drogas. Os defensores dessa medida argumentam que isso iria reduzir a incidência de doenças, como a AIDS, que, muitas vezes, se espalham pelo compartilhamento de seringas entre usuários de drogas. Os opositores acreditam que isso iria incentivar o uso de drogas, reduzindo o risco desse comportamento. Como economista a quem se pede avaliação dessa política, é necessário saber o seguinte: (i) qual é a resposta da propagação de

doenças como a AIDS ao preço de agulhas esterilizadas e (ii) qual é a resposta do uso de drogas ao preço das agulhas esterilizadas. Supondo que você conheça essas duas coisas, use os conceitos de elasticidade-preço da demanda de agulhas esterilizadas e de elasticidade-preço cruzada entre drogas e agulhas esterilizadas para responder às seguintes perguntas: a. Em que circunstâncias essa política poderia ser benéfica? b. Em que circunstâncias seria uma política ruim? 14. Em todo o mundo, os plantadores de café em média aumentaram a área cultivada nos últimos anos. O resultado é que a plantação de café média produz significativamente mais café do que há 10 ou 20 anos. No entanto, infelizmente para quem cultiva, esse também foi um período de queda na receita total. Em termos de elasticidade, o que deve ser verdadeiro para que esses eventos tenham ocorrido? Ilustre esses eventos com um diagrama, indicando o efeito quantidade e o efeito preço que originaram esses eventos. 15. Um relatório recente do U.S. Centers for Deaseses Control and Prevention (CDC), publicado no Morbidity and Mortality Weekly Report, estudou o efeito no aumento do preço da cerveja na incidência de novos casos de doenças sexualmente transmissíveis em adultos jovens. Em particular, os pesquisadores analisaram a capacidade de resposta dos casos de gonorreia a um aumento no preço da cerveja induzido por impostos. O relatório concluiu que “… a análise sugere que o aumento de preço da cerveja em $0,20 em decorrência de impostos nos engradados de seis latas poderia reduzir a gonorreia em até 8,9%”. Supondo que um engradado de seis latas custe $5,90 antes do aumento de preço, use o método do ponto médio para determinar o percentual de aumento no preço do engradado. Depois calcule a elasticidade-preço cruzada da demanda entre cerveja e a incidência de gonorreia. De acordo com o resultado da elasticidade-preço cruzada da demanda, a cerveja e a gonorreia são complementares ou substitutos? 16. O governo dos Estados Unidos está considerando reduzir a quantidade de dióxido de carbono que as empresas estão autorizadas a produzir mediante a emissão de um número limitado de licenças comercializáveis de emissão de dióxido de carbono (CO2). Em 25 abril de 2007, o Congressional Budget Office (CBO) argumentou que “a maior parte do custo de satisfazer um limite para as emissões de CO2 viria dos consumidores, que teriam que enfrentar preços persistentemente altos dos produtos, tais como eletricidade e gasolina… as famílias mais pobres teriam que aguentar uma carga maior em relação à renda do que as famílias mais ricas”. Que pressuposto sobre uma das elasticidades aprendidas neste capítulo teria que ser verdadeiro para as famílias mais pobres serem afetadas desproporcionalmente? 17. De acordo com dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos, as vendas do híbrido Toyota Prius, eficiente em combustível, caiu de 158.574 veículos vendidos em 2008 para 139.682 em 2009. Durante o mesmo período, de acordo com os dados da U.S. Energy Information Administration, o preço médio da gasolina regular caiu de $3,27 para $2,35 por galão. Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade cruzada

da demanda entre a Toyota Prii (o plural oficial de “Prius” é “Prii”) e da gasolina comum. De acordo com a estimativa da elasticidade-preço cruzada, os dois bens são complementares ou substitutos? A resposta faz sentido?

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PARTE 3

INDIVÍDUOS E MERCADOS

CAPÍTULO 7 » Impostos

OS COBRADORES DE IMPOSTOS – O INÍCIO

m 1794, as queixas de longa data vieram à tona e os agricultores, indignados, se uniram em uma revolta generalizada. Os oficiais responderam com força mortal: foram disparados tiros e várias pessoas foram mortas, antes de, ao final, prevalecerem as forças do governo. Não é surpresa confundir essa rebelião com um episódio da Revolução Francesa. Mas, de fato, ocorreu no oeste da Pensilvânia – um evento que abalou a nação americana e seu primeiro presidente, George Washington. Mesmo tendo sido reprimida ao final, a rebelião do uísque reformulou definitivamente a política americana. E sobre o que versava a luta? Impostos. Diante de uma grande dívida, após a Guerra da Independência e incapaz de aumentar os impostos sobre os bens importados, o governo de Washington, em 1791, por sugestão do secretário do Tesouro, Alexander Hamilton, promulgou um imposto sobre os destiladores de uísque. Uísque era uma bebida popular na época, assim,

E

esse imposto poderia levantar muita receita. Ao mesmo tempo, o imposto iria incentivar “o comportamento íntegro” dos cidadãos jovens que bebiam muito. No entanto, a forma como o imposto foi aplicado foi considerada profundamente injusta. Os destiladores podiam pagar um valor fixo ou por galão. Os grandes destiladores podiam arcar com o valor fixo, mas os pequenos não podiam e pagavam por galão. Em consequência, os pequenos destiladores – agricultores que destilavam uísque para complementar a renda – pagavam uma proporção maior de seus rendimentos em impostos do que os outros. Além disso, na fronteira do oeste da Pensilvânia, o dinheiro era comumente difícil de adquirir e o uísque, muitas vezes, era usado como forma de pagamento nas transações. Ao desencorajar os pequenos destiladores de produzir uísque, o imposto deixou a economia local com menos renda e menos meios de comprar e vender bens. Embora a rebelião contra o imposto do uísque finalmente tenha sido reprimida, o partido político que apoiava o imposto – o partido Federalista de Alexander Hamilton – nunca recuperou plenamente a popularidade. A rebelião do uísque pavimentou o caminho para o surgimento de um novo partido político: o Partido Republicano de omas Jefferson, que revogou o imposto em 1800. A história tem duas morais. Uma que impostos são necessários: os governos precisam de dinheiro para funcionar. Sem impostos, os governos não conseguiriam prover os serviços necessários, de defesa nacional a parques públicos. Mas os impostos têm um custo que normalmente excede o dinheiro efetivamente pago para o governo. Isso porque os impostos distorcem os incentivos para se envolver em transações mutuamente benéficas. O que você vai aprender neste capítulo • O efeito dos impostos sobre a oferta e a demanda. • O que determina quem realmente arca com o peso dos impostos. • Os custos e benefícios dos impostos e por que eles impõem um custo que é maior do que a receita tributária que arrecadam. • A diferença entre impostos progressivos e regressivos e o trade-off entre equidade e eficiência tributária

• A estrutura do sistema tributário dos Estados Unidos.

E isso nos leva à segunda moral da história: fazer política fiscal não é fácil – na verdade, ser político pode prejudicar a saúde profissional. Mas a história também ilustra algumas questões cruciais sobre política fiscal – questões que os modelos econômicos ajudam a esclarecer. Um princípio usado para orientar a política fiscal é a eficiência: os impostos devem ser projetados para distorcer os incentivos o menos possível. Mas a eficiência não é a única preocupação ao projetar impostos. Como a administração de Washington aprendeu com a rebelião do uísque, também é importante que um imposto seja visto como justo. A política fiscal sempre envolve alcance de equilíbrio entre a busca da eficiência e da justiça percebida. Neste capítulo, veremos como os impostos afetam a eficiência e a equidade, além de arrecadar receita para o governo.

A ECONOMIA DOS IMPOSTOS: VISÃO PRELIMINAR Para entender a economia dos impostos convém analisar um tipo de imposto simples conhecido como imposto seletivo – imposto cobrado sobre cada unidade de bem ou serviço vendido. A maior parte da receita tributária dos Estados Unidos provém de outros tipos de impostos, que descreveremos adiante neste capítulo. Mas os impostos seletivos são comuns. Por exemplo, existem impostos seletivos sobre a gasolina, cigarros e caminhões de fabricação estrangeira, e muitos governos locais impõem impostos seletivos sobre serviços, como o uso do quarto de hotel. As lições aprendidas a partir do estudo de impostos seletivos se aplicam também a outros impostos mais complexos. Efeito do imposto seletivo sobre quantidades e preços

Suponha que a oferta e a demanda de quartos de hotel na cidade de Potterville estejam representadas na Figura 7-1. Para simplificar, suponhamos que todos os quartos são iguais. Na ausência de impostos, o

preço de equilíbrio de um quarto é $80 por noite e a quantidade de equilíbrio de quartos de hotel ocupados é de 10 mil por noite. Agora, suponha que o governo de Potterville imponha um imposto seletivo de $40 por noite sobre os quartos de hotel – isto é, cada vez que um quarto é alugado por uma noite, o dono do hotel tem de pagar $40 ao município. Por exemplo, quando um cliente paga $80, $40 são impostos pagos, deixando o dono do hotel com apenas $40. Em consequência, os donos de hotel estão menos dispostos a oferecer quartos a um preço determinado. O que isso implica para a curva da oferta de quartos de hotel em Potterville? Para responder a questão devemos comparar os incentivos dos donos do hotel pré-imposto (antes de o imposto ser cobrado) com os incentivos pós-imposto (após o imposto ser cobrado). FIGURA 7-1

Oferta e demanda de quartos de hotel em Potterville

Na ausência de impostos, o preço de equilíbrio de quartos de hotel é de $80 por noite e a quantidade de equilíbrio de quartos ocupados é de 10 mil por noite, como mostra o

ponto E. A curva de oferta S mostra a quantidade ofertada a cada preço dado, préimposto. Ao preço de $60 por noite, os donos de hotel estão dispostos a oferecer 5 mil quartos, ponto B. Mas pós-imposto, os donos do hotel estão dispostos a oferecer a mesma quantidade ao preço de $100: $60 para si mesmo e $40 como pagamento de imposto à prefeitura.

A partir da Figura 7-1, sabemos que os donos de hotel, estão dispostos a ofertar 5 mil quartos por noite préimposto, ao preço de $60 por quarto. Mas depois que o imposto de $40 por quarto passou a ser cobrado, estão dispostos a ofertar a mesma quantidade, 5 mil quartos, apenas se receberem $100 por quarto – $60 para si e $40 pagos ao município como impostos. Em outras palavras, para que os donos do hotel estejam dispostos a oferecer a mesma quantidade pós-imposto que estavam dispostos a oferecer préimposto, precisam receber $40 adicional por quarto, o montante do imposto. Isso implica que a curva da oferta pós-imposto se desloca para cima no montante do imposto em relação à curva da oferta pré-imposto. A cada quantidade ofertada, o preço da oferta – o preço que os produtores precisam receber para produzir determinada quantidade – aumenta em $40. O deslocamento para cima da curva da oferta causado pelo imposto é mostrado na Figura 7-2, onde S1 é a curva da oferta pré-imposto e S2 é a curva da oferta pós-imposto. Como se pode ver, o equilíbrio de mercado se move a partir de E, ao preço de equilíbrio de $80 por quarto e 10 mil quartos ocupados por noite, para A, a um preço de mercado de $100 por quarto e apenas 5 mil quartos ocupados por noite. A, é claro, está tanto na curva da demanda D como na nova curva da oferta S2. Nesse caso, $100 é o preço de demanda de 5 mil quartos; mas, na verdade, os donos de hotel recebem apenas $60, considerando que têm que pagar $40 de imposto. Do ponto de vista dos donos de hotel, é como se estivessem na curva da oferta original no ponto B. Vamos verificar de novo. Como sabemos que 5 mil quartos serão oferecidos ao preço de $100? Porque o preço líquido de impostos é $60 e, de acordo com a curva da oferta inicial, 5 mil quartos serão ofertados ao preço de $60, como mostrado pelo ponto B na Figura 7-2. Isso parece familiar? Deveria. No Capítulo 5, descrevemos os efeitos de uma cota sobre vendas: uma cota introduz uma cunha entre o preço pago

pelos consumidores e o preço recebido pelos produtores. Um imposto seletivo também o faz. Em virtude dessa cunha, os consumidores pagarão mais, e os produtores receberão menos. Em nosso exemplo, os consumidores – pessoas que ocupam quartos de hotel – acabam pagando $100 por noite, $20 a mais que o preço pré-imposto de $80. Ao mesmo tempo, os produtores – donos de hotel – recebem o preço líquido de impostos de $60 por quarto, $20 a menos que o preço préimposto. Além disso, o imposto cria oportunidades perdidas: 5 mil consumidores potenciais que teriam ocupado os quartos de hotel – aqueles dispostos a pagar $80, mas não $100 por noite – são desencorajados de fazêlo. Do mesmo modo, 5 mil quartos que teriam sido disponibilizados pelos donos de hotel ao receber $80, não são ofertados ao receber apenas $60. Como uma cota, esse imposto leva à ineficiência, distorcendo os incentivos e criando oportunidades perdidas para transações mutuamente benéficas. É importante reconhecer que, como descrito, o imposto sobre os hotéis de Potterville é cobrado dos donos do hotel, e não de seus hóspedes – é um imposto sobre os produtores e não sobre os consumidores. No entanto, o preço recebido pelos produtores, líquido de impostos, caiu apenas $20, metade do valor do imposto, e o preço pago pelos consumidores subiu $20. Com efeito, metade do imposto está sendo paga pelos consumidores. FIGURA 7-2

Imposto seletivo sobre quartos de hotel

Um imposto de $40 por quarto cobrado dos donos de hotel desloca a curva de oferta de S1 para S2, um deslocamento para cima de $40. O preço de equilíbrio dos quartos de hotel sobe de $80 para $100 por noite, e a quantidade de equilíbrio dos quartos ocupados cai de 10 mil para 5 mil por noite. Embora os donos dos hotéis paguem o imposto, realmente arcam com apenas metade da carga: o preço que recebem líquido de impostos cai apenas $20, de $80 para $60. Os hóspedes que alugam os quartos sofrem a outra metade da carga, pois o preço que pagam aumenta em $20, de $80 para $100.

O que aconteceria se o município criasse um imposto cobrado sobre os consumidores, em vez de sobre os produtores? Ou seja, suponha que, em vez de exigir que os donos de hotel paguem $40 por noite para cada quarto ocupado, o município requeira que os hóspedes de hotel paguem $40 por cada noite que permaneçam no hotel. A resposta aparece na Figura 7-3. Se um hóspede tiver que pagar um imposto de $40 por noite, então o preço do quarto pago por esse hóspede tem de baixar $40 para que a quantidade de quartos de hotel demandada pós-imposto seja a mesma que a demanda pré-

imposto. Assim, a curva da demanda se desloca para baixo, de D1 para D2, pelo montante do imposto. A cada quantidade demandada, o preço de demanda – o preço oferecido ao consumidor para que demande determinada quantidade – cai em $40. Isso desloca o equilíbrio de E para B, onde o preço de mercado dos quartos de hotel é $60 e 5 mil quartos de hotel são transacionados. Com efeito, os hóspedes do hotel pagam $100 ao incluir o imposto. Então, do ponto de vista dos hóspedes, é como se estivessem na curva de demanda original no ponto A. Ao comparar as Figuras 7-2 e 7-3, nota-se de imediato que mostram o mesmo efeito preço. Em cada caso, os consumidores pagam um preço efetivo de $100, os produtores recebem um preço efetivo de $60, e 5 mil quartos de hotel são comprados e vendidos. Na verdade, não importa quem paga o imposto o cialmente – o resultado de equilíbrio é o mesmo. Essa visão ilustra um princípio geral da economia tributária: a incidência de um imposto – quem realmente carrega o ônus fiscal – não é uma questão típica que se possa responder perguntando quem assina o cheque para o governo. Nesse caso específico, um imposto de $40 sobre quartos de hotel reflete em um aumento de $20 no preço pago pelos consumidores e uma redução de $20 no preço recebido pelos produtores. Aqui, independentemente de o imposto ser cobrado dos consumidores ou dos produtores, a incidência do imposto é dividida igualmente entre eles. Elasticidade-preço e incidência tributária

Acabamos de ver que a incidência de um imposto seletivo não depende de quem o paga oficialmente. Nos exemplos das Figuras 7-1 a 7-3, um imposto sobre quartos de hotel incide igualmente sobre consumidores e produtores. Mas é importante notar que esse resultado de meio a meio entre consumidores e produtores é o resultado dos pressupostos do exemplo. No mundo real, a incidência de um imposto seletivo geralmente recai de forma desigual entre consumidores e produtores, um grupo arca mais com a carga do que o outro. O que determina a forma como a carga de um imposto é alocada entre consumidores e produtores? A resposta depende do formato das curvas da

oferta e demanda. Mais especi camente, a incidência de um imposto seletivo depende da elasticidade-preço da oferta e da elasticidade-preço da demanda. Podemos verificar isso analisando primeiro um caso em que os consumidores pagam a maior parte do imposto seletivo e, em seguida, um caso em que os produtores pagam a maior parte do imposto. FIGURA 7-3

Imposto seletivo cobrado dos hóspedes

Um imposto de $40 por quarto cobrado dos hóspedes de hotel desloca a curva da demanda de D1 para D2, um deslocamento para baixo de $40. O preço de equilíbrio dos quartos de hotel cai de $80 para $60 por noite, e a quantidade de quartos ocupados cai de 10 mil para 5 mil. Embora, nesse caso, o imposto seja pago oficialmente pelos consumidores, enquanto na Figura 7-2 era pago pelos produtores, o resultado é o mesmo: pós-imposto, os donos de hotel recebem $60 por quarto, mas os hóspedes pagam $100. Isso ilustra um princípio geral: a incidência do imposto seletivo

não depende de os consumidores ou produtores oficialmente pagarem o imposto.

Quando um imposto seletivo é pago principalmente pelos consumidores

A Figura 7-4 mostra um imposto seletivo que recai principalmente sobre os consumidores: um imposto seletivo sobre a gasolina, estabelecido em $1 por galão. (Há realmente um imposto sobre a gasolina, embora seja apenas $0,18 por galão nos Estados Unidos. Além disso, os estados impõem impostos seletivos entre $0,04 e $0,38 por galão.) De acordo com a Figura 74, na ausência do imposto, a gasolina seria vendida por $2 por galão. Duas premissas fundamentais estão refletidas no formato das curvas da oferta e da demanda na Figura 7-4. Primeiro, pressupõe-se que a elasticidade-preço da demanda de gasolina seja consideravelmente baixa, e assim a curva de demanda é bem inclinada. Lembre-se de que uma elasticidade-preço baixa significa que a quantidade demandada varia pouco em resposta à variação no preço – característica de uma curva de demanda íngreme. Segundo, pressupõe-se que a elasticidade-preço da gasolina seja consideravelmente elevada, de modo que a curva da oferta é relativamente plana. A elasticidade-preço da oferta alta significa que a quantidade ofertada varia em resposta à variação no preço – característica de uma curva de oferta relativamente plana. Acabamos de verificar que um imposto seletivo introduz uma cunha, igual ao tamanho do imposto, entre o preço pago pelos consumidores e o preço recebido pelos produtores. Essa cunha impulsiona o preço pago pelos consumidores para cima e o preço recebido pelos produtores para baixo. Mas como podemos ver na Figura 7-4, nesse caso, esses dois efeitos são muito desiguais em tamanho. O preço recebido pelos produtores cai apenas ligeiramente, de $2,00 para $1,95, mas o preço pago pelos consumidores aumenta muito, de $2,00 para $2,95. Nesse caso, os consumidores arcam com a maior parte do ônus tributário. Esse exemplo ilustra outro princípio geral da tributação: quando a elasticidade-preço da demanda é baixa e a elasticidade-preço da oferta é alta, o ônus de um imposto seletivo recai principalmente sobre os consumidores. Por quê? A baixa elasticidade-preço da demanda significa que os consumidores têm poucos substitutos e poucas alternativas à compra de gasolina a preço mais elevado. Por outro lado, uma elasticidade-preço da oferta elevada resulta do fato de que os produtores têm muitos substitutos de produção para a gasolina (ou seja, outros usos para o óleo bruto a partir do qual a gasolina é refinada). Isso oferece aos produtores maior flexibilidade ao se

recusar a aceitar preços mais baixos da gasolina. E não é surpresa que a parte com menor flexibilidade – nesse caso, os consumidores – acabe pagando a maior parte do imposto. Essa é uma boa descrição de como a carga dos principais impostos seletivos, hoje efetivamente arrecadados nos Estados Unidos, como aqueles sobre cigarros e bebidas alcoólicas, é alocada entre consumidores e produtores. Quando um imposto seletivo é pago principalmente pelos produtores

A Figura 7-5 mostra um exemplo de imposto seletivo pago principalmente pelos produtores, um imposto de $5,00 por dia para estacionamento no centro de uma cidade pequena. Na ausência do imposto, o preço de equilíbrio de mercado do estacionamento é $6,00 por dia. Nesse caso, pressupomos que a elasticidade-preço da oferta é muito baixa, porque a área usada para estacionamento tem poucos usos alternativos. Isso torna a curva da oferta para vagas de estacionamento com inclinação relativamente acentuada. No entanto, supõe-se que a elasticidadepreço da demanda seja alta: os consumidores podem facilmente trocar as vagas do centro por estacionamentos a poucos minutos de caminhada do centro, cujas vagas não estão sujeitas ao imposto. Isso torna a curva da demanda relativamente plana. FIGURA 7-4

Imposto seletivo pago principalmente por consumidores

Aqui a curva da demanda relativamente inclinada reflete uma baixa elasticidade-preço da demanda de gasolina. A curva da oferta relativamente plana reflete uma elasticidadepreço da oferta elevada. O preço pré-imposto de um galão de gasolina é $2,00, e foi determinado um imposto de $1,00 por galão. O preço pago pelos consumidores aumenta de $0,95 para $2,95, refletindo o fato de que a maior parte do ônus do imposto recai sobre os consumidores. Apenas uma pequena parte do imposto é paga pelos produtores: o preço que recebem caiu de $0,05 para $1,95.

O imposto introduz uma cunha entre o preço pago pelos consumidores e o preço recebido pelos produtores. Nesse exemplo, o imposto provoca um aumento muito pequeno do preço pago pelos consumidores, de $6,00 para $6,50, mas uma queda grande do preço recebido pelos produtores, de $6,00 para $1,50. No fim das contas, o consumidor arca com apenas $0,50 da carga tributária de $5,00, enquanto o produtor arca com os $4,50 restantes. Mais uma vez, esse exemplo ilustra um princípio geral: quando a elasticidade-preço da demanda é alta e a elasticidade-preço da oferta é baixa, o ônus do imposto seletivo recai principalmente sobre os produtores. Um exemplo real é um imposto sobre a compra de casas existentes. Antes do colapso do mercado imobiliário, que começou em 2007, o preço das casas bem localizadas em muitas cidades americanas aumentou de forma significativa, pois gente rica de outras localidades mudou-se para elas,

comprando as casas dos ocupantes originais, menos abastados. Alguns desses municípios impuseram impostos sobre a venda das casas com o intuito de recolher dinheiro dos recém-chegados, ignorando o fato de que a elasticidade-preço da demanda por casas de determinada cidade, muitas vezes, é alta, pois os compradores potenciais podem optar em mudar para outra cidade. Além disso, a elasticidade-preço da oferta, muitas vezes é baixa, pois a maioria dos vendedores vende suas casas em decorrência da transferência de trabalho ou para arrecadar fundos para a aposentadoria. Assim, os impostos sobre a compra das casas são pagos, principalmente, pelos vendedores menos abastados – não pelos compradores ricos, como os funcionários municipais imaginam. Juntando tudo

Acabamos de ver que, quando a elasticidade-preço da oferta é alta e a elasticidade-preço da demanda é baixa, o imposto seletivo recai principalmente sobre os consumidores. E quando a elasticidade-preço da oferta é baixa e a elasticidade-preço da demanda é alta, o imposto recai principalmente sobre os produtores. Isso nos leva à regra geral: quando a elasticidade-preço da demanda é mais elevada do que a elasticidade-preço da oferta, o imposto seletivo recai principalmente sobre os produtores. Quando a elasticidade-preço da oferta é mais elevada do que a elasticidade-preço da demanda, o imposto seletivo recai principalmente sobre os consumidores. Assim, a elasticidade – não quem paga o imposto oficialmente – determina a incidência do imposto seletivo.

economia em ação Quem paga a Previdência Social?

Qualquer pessoa que trabalhe para um empregador recebe um contracheque que detalha não apenas o salário pago, mas também o dinheiro deduzido do salário decorrente de impostos. Para a maioria das pessoas, uma das grandes deduções é o que é pago para a Previdência Social. Nos Estados Unidos, o Federal Insurance Contribuition Act, conhecido pela

sigla FICA, são as deduções relativas aos sistemas da Previdência e do Medicare, programas federais de seguro social que fornecem renda e assistência médica aos americanos aposentados e deficientes. Em 2010, a maioria dos trabalhadores americanos pagou 7,65% de seus ganhos ao FICA. (Em 2011, houve uma redução temporária da alíquota de imposto dos trabalhadores.) Mas isso é apenas a metade: cada empregador é obrigado a pagar um montante igual às contribuições de seus funcionários. FIGURA 7-5

Imposto seletivo pago principalmente por produtores

A curva da demanda relativamente plana reflete aqui a elevada elasticidade-preço da demanda do estacionamento no centro, e a curva da oferta com inclinação relativamente acentuada resulta da baixa elasticidade-preço da oferta. O preço préimposto de uma vaga é $6,00 por dia, e é criado um imposto de $5,00 por dia. O preço recebido pelos produtores cai muito, para $1,50, refletindo o fato de que eles carregam a maior parte da carga tributária. O preço pago pelos consumidores aumenta um pouco, $0,50, para $6,50, de modo que sobre eles recai só uma parte da carga do imposto.

Como devemos considerar as deduções da Previdência Social pelo FICA? São realmente compartilhadas igualmente entre trabalhadores e empregadores? Podemos usar a análise anterior para responder a essa pergunta porque o FICA é como um imposto seletivo – um imposto sobre a

compra e a venda do trabalho. Metade dele é um imposto que incide sobre os vendedores – ou seja, trabalhadores. A outra metade é um imposto cobrado dos compradores – ou seja, empregadores. Mas já sabemos que a incidência de um imposto realmente não depende de quem realmente faz o cheque. Quase todos os economistas concordam que o FICA é um imposto efetivamente pago pelos trabalhadores, não pelos empregadores. A razão dessa conclusão reside em uma comparação das elasticidades-preço da oferta de trabalho por parte das famílias e da demanda de trabalho por parte das empresas. A evidência indica que a elasticidade-preço da demanda de trabalho é bastante elevada, pelo menos três. Ou seja, um aumento dos salários médios de 1% leva, pelo menos, a uma queda de 3% no número de horas de trabalho demandadas pelos empregadores. Porém, os economistas do trabalho acreditam que a elasticidade-preço da oferta de trabalho é muito baixa. A razão é que, embora uma queda de salários reduza o incentivo de trabalhar mais horas, também torna as pessoas mais pobres e menos capazes de se dar ao luxo de ter tempo para o lazer. A força desse segundo argumento aparece nos dados: o número de horas que as pessoas estão dispostas a dedicar ao trabalho cai muito pouco – se é que cai – quando o salário por hora diminui. A regra geral de incidência tributária diz que quando a elasticidade-preço da demanda é muito mais alta que a elasticidade-preço da oferta, o ônus de um imposto seletivo recai principalmente sobre os fornecedores. Assim, o FICA recai principalmente sobre os fornecedores de mão de obra, ou seja, os trabalhadores – mesmo que no papel metade do imposto seja pago pelos empregadores. Em outras palavras, o FICA é largamente arcado pelos trabalhadores na forma de salários mais baixos, e não pelos empregadores, na forma de lucros mais baixos. Essa conclusão informa algo importante sobre o sistema tributário americano: as deduções do FICA, mais do que o imposto de renda, que é muito criticado, são a principal carga tributária sobre a maioria das famílias. Para a maioria dos trabalhadores, o FICA corresponde a 15,3% do total dos salários para remunerações até $106.800 ao ano (observe que 7,65% + 7,65% = 15,3%). Isto é, a grande maioria dos trabalhadores nos Estados Unidos pagam 15,3% de seus salários para o FICA. Apenas uma minoria das famílias americanas paga mais de 15% de sua renda em imposto de renda.

De fato, de acordo com estimativas do Escritório de Orçamento do Congresso, para mais de 70% das famílias o FICA é a mordida principal do Tio Sam na renda.

BREVE REVISÃO Um imposto seletivo introduz uma cunha entre o preço pago pelo consumidor e o preço recebido pelo produtor, levando a uma queda na quantidade transacionada. Cria ineficiência ao distorcer incentivos e criar oportunidades perdidas. A incidência de um imposto seletivo não depende de quem é tributado oficialmente, mas das elasticidades-preço da demanda e da oferta. Quanto maior a elasticidade-preço da oferta e menor a elasticidade-preço da demanda, tanto maior é a carga e imposto seletivo sobre os consumidores. Quanto menor a elasticidade-preço da oferta e maior a elasticidade-preço da demanda, tanto mais pesada a carga sobre os produtores.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 7-1 1. Considere o mercado da manteiga, mostrado na figura ao lado. O governo impõe um imposto seletivo de $0,30 por quilo de manteiga. Qual o preço pago pelos consumidores pós-imposto? Qual é o preço recebido pelos produtores pós-imposto? Qual é a quantidade de manteiga transacionada? Como fica a incidência do imposto alocado entre consumidores e produtores? Mostre na figura.

2. A demanda por livros de economia é muito inelástica, mas a oferta é um pouco elástica. O que isso implica sobre a incidência de um imposto seletivo? Ilustre com um gráfico. 3. Verdadeiro ou falso? Quando um substituto de um bem está prontamente disponível aos consumidores, mas é difícil para os produtores ajustar a quantidade do bem produzida, o ônus do imposto sobre o bem recai mais pesadamente sobre os produtores. 4. A oferta de água mineral engarrafada é muito inelástica, mas a demanda é um pouco elástica. O que isso implica sobre a incidência de imposto? Ilustre com um gráfico. 5. Verdadeiro ou falso? Tudo o mais mantido constante, os consumidores iriam preferir enfrentar uma curva de oferta menos elástica de um bem ou serviço com a imposição de um imposto seletivo. As respostas estão no fim do livro.

BENEFÍCIOS E CUSTOS DA TRIBUTAÇÃO Quando um governo considera a possibilidade de criar um imposto ou elaborar um sistema tributário, tem que pesar os benefícios de um imposto com os custos. Não costumamos pensar em impostos como algo que traga benefícios, mas os governos precisam de dinheiro para oferecer o que a população deseja, como defesa nacional ou serviços de saúde para aqueles que não podem pagar. O benefício de um imposto é a receita que o governo arrecada para proporcionar esses serviços. Infelizmente, tais benefícios têm um custo – custo que normalmente é maior do que a quantia total que os consumidores e produtores pagam. Primeiro vamos analisar o que determina a quantidade de receita que um imposto arrecada, em seguida, os custos que o imposto impõe. A receita de um imposto seletivo

Quanta receita o governo arrecada de um imposto seletivo? No exemplo anterior do imposto sobre quartos de hotel, a receita é igual ao retângulo sombreado da Figura 7-6. Para ver por que essa área representa a receita arrecadada com um imposto de $40 sobre quartos de hotel, observe que a altura do retângulo é

$40, igual ao imposto por quarto. Como vimos, também é igual à cunha que o imposto introduz entre o preço de oferta (o preço recebido pelos produtores) e o preço de demanda (o preço pago pelos consumidores). Enquanto isso, a largura do retângulo é de 5 mil quartos, igual à quantidade de equilíbrio dos quartos, dado o imposto de $40. Com essa informação, podemos fazer os seguintes cálculos: A receita tributária arrecadada é: Receita tributária = $40 por quarto × 5.000 quartos = $200.000 A área do retângulo sombreado é: Área = Altura × Largura = $40 por quarto × 5.000 quartos = $200.000 ou

Receita tributária = Área do retângulo sombreado

Esse é um princípio geral: a receita arrecadada por um imposto seletivo é igual à área do retângulo cuja altura represente uma cunha entre as curvas de oferta e demanda e cuja largura seja a quantidade transacionada dado o imposto. Alíquota de imposto e receita

Na Figura 7-6, $40 por quarto, é a alíquota de imposto sobre os quartos do hotel. Uma alíquota de imposto é o montante dos impostos que recaem sobre a unidade do que está sendo tributado. Às vezes, os impostos são definidos em termos da quantia de unidades monetárias de um bem ou serviço, por exemplo, $2,46 por maço de cigarros vendido. Em outros casos, são definidos como uma porcentagem do preço, por exemplo, o imposto sobre a folha de pagamentos é 15,3% do salário de um trabalhador de até $106.800. Há, obviamente, uma relação entre alíquota de impostos e receita. Contudo, esse relacionamento não é de 1 para 1. Em geral, a duplicação da alíquota de imposto seletivo sobre um bem ou serviço não vai dobrar o montante da receita arrecadada, porque o aumento do imposto vai reduzir a

quantidade do bem ou serviço transacionado. E a relação entre o nível do imposto e o montante da receita arrecadada não pode nem mesmo ser positiva: em alguns casos, aumentar a alíquota de imposto efetivamente reduz o montante de receita que o governo arrecada. FIGURA 7-6

A receita de um imposto seletivo

A receita de $40 de um imposto seletivo sobre quartos de hotel é $200.000, igual à alíquota de imposto, $40 – o tamanho da cunha que o imposto introduz entre o preço de oferta e de demanda – multiplicado pelo número de quartos alugados, 5 mil. Isso é igual à área do retângulo sombreado.

Podemos ilustrar esses pontos usando o exemplo do quarto de hotel. A Figura 7-6 mostra a receita que o governo arrecada com um imposto de $40 sobre os quartos de hotel. A Figura 7-7 mostra a receita que o governo arrecadaria com duas taxas de impostos alternativas – um imposto baixo de apenas $20 por quarto e um mais alto de $60 por quarto. O Painel (a) da Figura 7-7 mostra o caso de um imposto de $20, igual à metade da alíquota de imposto ilustrada na Figura 7-6. Com essa alíquota de imposto mais baixa, 7.500 quartos são ocupados, gerando receita tributária de:

Receita tributária = $20 por quarto × 7.500 quartos = $150.000 Lembre-se de que a receita tributária arrecadada de uma alíquota de imposto de $40 é $200.000. Assim, as receitas arrecadadas com uma alíquota de imposto de $20, $150.000, constituem apenas 75% do valor arrecadado quando a alíquota de imposto é duas vezes mais alta ($150.000/$200.000 × 100 = 75%). Dito de outra forma, um aumento de 100% na alíquota de imposto de $20 para $40 por quarto leva a apenas 1/3, ou 33,3% de aumento na receita, de $150.000 para $200.000 (($200.000 – $150.000)/$150.000 × 100 = 33,3%). O Painel (b) mostra o que acontece se a alíquota de imposto for aumentada de $40 para $60 por quarto, levando a uma queda no número de quartos ocupados de 5 mil para 2.500. A receita arrecadada cobrada a uma alíquota de imposto de $60 por quarto é: Receita tributária = $60 por quarto × 2.500 quartos = $150.000 Isso é igualmente menos do que a receita arrecadada com $40 por quarto. Então aumentar a taxa de $40 para $60 realmente reduz a arrecadação. Mais precisamente, nesse caso, o aumento da taxa em 50% (($60 − $40)/$40 × 100 = 50%) reduz a receita tributária em 25% (($150,000 − $200.000)/200.000 × $100 = −25%). Por que isso acontece? Acontece porque a queda da receita tributária causada pela redução do número de quartos ocupados mais que compensou o aumento da receita tributária causado pelo aumento da alíquota de imposto. Em outras palavras, a criação de uma alíquota de imposto tão alta que impeça um número significativo de transações tende a resultar em queda da receita tributária. FIGURA 7-7

Alíquotas de imposto e receita

Em geral, a duplicação da alíquota de imposto seletivo sobre um bem ou serviço não vai dobrar a receita total arrecadada, porque o aumento do imposto vai reduzir a quantidade do bem ou serviço comprado e vendido. E a relação entre o nível do imposto e o montante da receita arrecadada pode nem mesmo ser positiva. O Painel (a) mostra a receita obtida por um imposto de $20 por quarto, apenas a metade da alíquota de imposto da Figura 7-6. A receita tributária arrecadada, igual à área do retângulo sombreado, é de $150.000, ou seja, 3/4 a mais do que a receita arrecadada pela alíquota de $40 de imposto. O painel (b) mostra que a receita arrecadada pela alíquota de imposto de $60 é de $150.000. Assim, o aumento da alíquota de imposto de $40 para $60, na verdade, reduz a receita tributária.

Uma maneira de pensar no efeito da receita do aumento de um imposto seletivo é que o aumento no imposto afeta a receita tributária de duas maneiras. De um lado, o aumento do imposto significa que o governo arrecada mais receita para cada unidade do bem vendido, o que, tudo o mais mantido constante, leva a um aumento da receita tributária total. Por outro lado, o aumento do imposto reduz a quantidade das vendas, que, tudo o mais mantido constante, leva a uma queda da receita tributária. O resultado final depende tanto das elasticidades-preço da oferta e da demanda como do nível inicial do imposto. Se as elasticidades-preço da oferta assim como da demanda são baixas, o aumento do imposto não reduzirá muito a quantidade do bem vendido, por isso a receita tributária certamente aumentará. Se as elasticidades-preço são elevadas, o resultado é menos certo; se são altas o suficiente, o imposto reduz a quantidade vendida a

ponto de diminuir a receita tributária. Além disso, se a alíquota de imposto inicial é baixa, o governo não perde muita receita com a queda da quantidade de produtos vendidos, por isso o aumento do imposto certamente aumentará a receita tributária. Se a alíquota de imposto inicial já é alta, o resultado mais uma vez é incerto. A receita tributária tende a cair ou subir muito pouco em decorrência do aumento do imposto apenas nos casos em que as elasticidades-preço são altas e a alíquota de imposto já é elevada. A possibilidade de que uma alíquota de imposto mais alta leve a uma queda da receita tributária e a possibilidade correspondente de que o corte de impostos possa aumentar a receita tributária constituem o princípio básico de tributação que os formuladores de políticas levam em consideração ao definir as taxas de imposto. Ou seja, quando se considera um imposto criado com a finalidade de elevar a receita (diferentemente dos impostos criados para desencorajar um comportamento indesejável, conhecido como “impostos do pecado”), um formulador de políticas bem informado não vai impor uma alíquota de imposto tão alta que o corte do imposto aumente a receita. No mundo real, os formulares de políticas nem sempre são bem informados, mas geralmente também não são completamente tolos. É por isso que é muito difícil encontrar exemplos do mundo real em que o aumento do imposto reduziu a receita tributária ou a queda do imposto aumentou a receita. No entanto, a possibilidade teórica de que uma redução de impostos aumente a receita tributária desempenha papel importante no folclore da política americana. Conforme explicado na seção Para mentes curiosas, um economista que, na década de 1970, esboçou em um guardanapo o gráfico de uma redução de impostos que aumentava a receita teve um impacto significativo nas políticas econômicas adotadas nos Estados Unidos na década de 1980. Os custos da tributação

O que é o custo de um imposto? Talvez você esteja inclinado a responder que é o dinheiro que o contribuinte paga ao governo. Em outras palavras, você pode acreditar que o custo de um imposto seja a receita tributária arrecadada. Mas suponha que o governo use esse dinheiro para a prestação de serviços que os contribuintes desejam. Ou suponha que o governo

devolva a receita tributária aos contribuintes. Será que, nesses casos, diríamos que o imposto não custou nada? Não, porque o imposto, como uma cota, impede que ocorram transações mutuamente benéficas. Considere mais uma vez a Figura 7-6. Aqui, com $40 de imposto sobre quartos de hotel, os hóspedes pagam $100 por quarto, mas os donos do hotel recebem apenas $60. Por causa da cunha introduzida pelo imposto, sabemos que deixam de ocorrer algumas transações que teriam ocorrido sem o imposto. Mais especificamente, sabemos das curvas de oferta e demanda que existem alguns clientes potenciais que estariam dispostos a pagar até $90 por noite e alguns donos de hotel dispostos a oferecer quartos se recebessem pelo menos $70 por noite. Se fosse permitido a esse conjunto de pessoas fazer transações entre elas sem o imposto, elas completariam transações mutuamente benéficas, isto é, mais quartos de hotel seriam ocupados. Mas tais transações seriam ilegais, pois o imposto de $40 não seria pago. Em nosso exemplo, 5 mil quartos que potencialmente seriam ocupados sem o imposto – para benefício mútuo de hóspedes e donos do hotel – deixam de ser ocupados por causa do imposto.

PARA MENTES CURIOSAS A CURVA DE LAFFER Em uma tarde de 1974, o economista Arthur Laffer se reuniu em um bar com Jude Wanniski, que escrevia para o Wall Street Journal, e Dick Cheney, que viria a ser vice-presidente dos Estados Unidos, mas que, na época, era o vice-chefe da Casa Civil. Durante a conversa, Laffer fez um gráfico em um guardanapo com a intenção de explicar como os cortes de impostos podem levar a uma receita tributária mais alta. De acordo com o gráfico de Laffer, aumentar impostos inicialmente aumenta a receita, mas, depois de certo nível, a receita, em vez disso, começa a cair enquanto as taxas de impostos continuam a subir. Ou seja, em algum ponto, os impostos se tornam tão altos e reduzem o número de transações de maneira tão intensa que as receitas tributárias caem. Não havia nada de novo nessa ideia, mas anos mais tarde o tal guardanapo se tornou lenda. Os editores do Wall Street Journal começaram a promover a “curva de Laffer” como justificativa para a redução de impostos. E quando Ronald Reagan assumiu em 1981, usou a curva de Laffer para argumentar

que suas propostas de corte no imposto de renda não reduziriam a receita federal do governo. Então, existe uma curva de Laffer? Sim, como proposição teórica é definitivamente possível que as alíquotas de imposto possam ser tão altas a ponto de um corte aumentar a receita. Mas bem poucos economistas acreditam hoje em dia que os cortes de impostos de Reagan de fato aumentaram a receita, e exemplos do mundo real em que as receitas e as taxas de imposto se movem em direções opostas são muito difíceis de encontrar. Isso porque é raro encontrar uma alíquota de imposto tão alta que a redução leve a um aumento da receita. Assim, para além da receita tributária arrecadada, o imposto seletivo impõe custos na forma de ineficiência, que ocorre porque o imposto desestimula transações mutuamente benéficas. Como vimos no Capítulo 5, o custo desse tipo de ineficiência para a sociedade – o valor das transações mutuamente benéficas que foram evitadas – é chamado de perda por peso morto. Embora no mundo real os impostos causem perda por peso morto, um imposto mal calculado impõe uma perda desse tipo maior do que um imposto bem calculado.

Para medir a perda por peso morto de um imposto, vamos passar aos conceitos de excedente do consumidor e do produtor. A Figura 7-8 mostra os efeitos de um imposto seletivo sobre o excedente do consumidor e do produtor. Na ausência do imposto, o equilíbrio está em E, e o preço e a quantidade de equilíbrio estão em PE e QE, respectivamente. Um imposto seletivo introduz uma cunha igual ao montante do imposto entre o preço recebido pelos produtores e o preço pago pelos consumidores, reduzindo a quantidade vendida. Nesse caso, em que o imposto é T dólares por unidade, a quantidade vendida cai para QT. O preço pago pelos consumidores sobe para PC, o preço de demanda da quantidade reduzida, QT, e o preço recebido pelos produtores caem para PP, o preço de oferta dessa quantidade. A diferença entre esses preços, PC − PP, é igual ao imposto seletivo, T. Usando os conceitos de excedente do produtor e do consumidor, podemos mostrar exatamente o quanto se perde de excedente do produtor e do consumidor em decorrência do imposto. No Capítulo 4, Figura 4-5, vimos que uma queda no preço de um bem gera um ganho no excedente do consumidor, que é igual à soma das áreas de um retângulo e de um triângulo. Do mesmo modo, um aumento do preço provoca uma perda para os consumidores representada pela soma das áreas de um retângulo e de um

triângulo. Portanto, não é surpreendente que, no caso de um imposto seletivo, o aumento no preço pago pelos consumidores provoque uma perda igual à soma das áreas de um retângulo e de um triângulo: o retângulo A e a área do triângulo B na Figura 7-8. Enquanto isso, a queda do preço recebido pelos produtores leva a uma queda no excedente do produtor. Isso, também, é igual à soma das áreas de um retângulo e de um triângulo. A perda no excedente do produtor é a soma das áreas do retângulo C e do triângulo F na Figura 7-8. É claro que, embora os consumidores e produtores sejam prejudicados pelo imposto, o governo ganha receita. A receita que o governo arrecada é igual ao imposto por unidade vendida, T, multiplicado pela quantidade vendida, QT. Essa receita é igual à área do retângulo com largura QT e altura T. E já temos esse retângulo na figura: é a soma dos retângulos A e C. Assim, o governo ganha parte do que os consumidores e os produtores perdem com o imposto seletivo. Mas uma parte da perda para os produtores e consumidores decorrente do imposto não é compensada pelo ganho do governo – especificamente, os dois triângulos B e F. A perda por peso morto causado pelo imposto é igual à área combinada desses triângulos. Representa a perda de excedente total para a sociedade por causa do imposto – ou seja, o montante de excedente que teria sido gerado por transações que agora não acontecem por causa do imposto. A Figura 7-9 é uma versão da Figura 7-8 deixando de fora os retângulos A (o excedente transferido dos consumidores para o governo) e C (o excedente transferido dos produtores para o governo) e mostra apenas a perda por peso morto, aqui representado por um triângulo amarelo sombreado. A base desse triângulo é a cunha tributária, T; a altura do triângulo é igual à redução na quantidade negociada em virtude do imposto, QE − QT. Fica claro que, quanto maior a cunha do imposto e quanto maior a redução nas quantidades negociadas, tanto maior a ineficiência derivada do imposto. Mas também observe um ponto importante de comparação: se o imposto seletivo não reduzir a quantidade comprada e vendida nesse mercado – se QT permanecer igual a QE após a cobrança do imposto – o triângulo amarelo desapareceria e o peso morto do imposto seria zero. Essa observação é o outro lado do princípio encontrado no início deste capítulo:

um imposto provoca ineficiência porque desestimula transações mutuamente benéficas entre compradores e vendedores. Portanto, se um imposto não desestimula transações, não causa perda por peso morto. Nesse caso, o imposto desloca o excedente diretamente dos consumidores e produtores para o governo. FIGURA 7-8

Um imposto reduz o excedente do consumidor e do produtor

Antes do imposto, o preço e a quantidade de equilíbrio são PE e QE, respectivamente. Depois da introdução do imposto seletivo T por unidade, o preço para os consumidores sobe para PC e o excedente do consumidor cai pela soma do retângulo A, com o triângulo B. O imposto também faz o preço para os produtores cair para PP; o excedente do produtor cai pela soma do retângulo C, e do triângulo F. O governo recebe receita do imposto, QT × T, que é dado pela soma das áreas A e C. As áreas B e F representam as perdas do excedente do consumidor e do produtor que não são arrecadadas pelo governo como receita. Essa é a perda por peso morto causada pelo imposto à sociedade.

FIGURA 7-9

Perda por peso morto de um imposto

Um imposto leva a uma perda por peso morto porque cria ineficiência: algumas transações mutuamente benéficas nunca acontecem por causa do imposto, ou seja, as transações de QE × QT. A área amarela representa o valor da perda por peso morto: é o excedente total que teria sido obtido das transações de QE × QT. Se o imposto não tivesse desestimulado as transações – se o número de transações permanecesse em

QE – não teria havido perda por peso morto.

Usar um triângulo para medir a perda por peso morto é uma técnica que tem muitas aplicações econômicas. Por exemplo, triângulos são usados para medir a perda por peso morto derivado não só de impostos seletivos, mas de outros tipos de impostos. Também são usados para medir a perda por peso morto produzido por monopólios, outro tipo de distorção do mercado. E triângulos de perda por peso morto frequentemente são usados para avaliar os custos e benefícios de outras políticas públicas, além da política fiscal – como a possibilidade de impor normas de segurança mais rigorosas em um produto. Ao considerar o montante total de ineficiência causada por um imposto, também é preciso levar em conta algo não mostrado na Figura 7-9: os recursos efetivamente usados pelo governo para arrecadar impostos, e dos

contribuintes pagá-los, sobre o montante do imposto. Esses recursos são chamados de custos administrativos do imposto. O custo administrativo mais conhecido do sistema tributário dos Estados Unidos é o tempo que as pessoas gastam com o preenchimento de formulários para o imposto de renda ou o que pagam aos contadores para preparar esses formulários. (O último é considerado uma ineficiência do ponto de vista da sociedade, porque os contadores, em vez disso, poderiam estar realizando outros serviços, não relacionados com os impostos.) Nos custos administrativos que os contribuintes incorrerem estão incluídos os recursos usados para evadir impostos, tanto legalmente quanto ilegalmente. Os custos de operação da Receita Federal, o órgão do governo federal que tem a tarefa de arrecadar o imposto de renda federal, são realmente baixos em comparação com os custos administrativos pagos pelos contribuintes nos Estados Unidos. Assim, a ineficiência total causada por um imposto é a soma das perdas por peso morto e seus custos administrativos. A regra geral para a política econômica é que, tudo o mais mantido constante, um sistema tributário deveria ser projetado para minimizar a ineficiência total que impõe à sociedade. Na prática, também se aplicam outras considerações (como a administração Washington aprendeu durante a rebelião do uísque), mas esse princípio, no entanto, oferece orientações valiosas. Os custos administrativos geralmente são bem conhecidos, mais ou menos determinados pelo estado atual da tecnologia para a arrecadação (por exemplo, entrega eletrônica comparada com formulário impresso). Mas como prever o tamanho da perda por peso morto associado a determinado imposto? Não é surpresa que, como em nossa análise da incidência dos impostos, as elasticidades-preço da oferta e da demanda desempenhem um papel crucial nessa previsão. Elasticidades e a perda por peso morto de um imposto

Sabemos que a perda por peso morto decorrente de um imposto seletivo ocorre porque impede a ocorrência de algumas transações mutuamente benéficas. Em particular, o excedente do produtor e do consumidor que deixa de ganhar porque essas transações foram perdidas é igual ao tamanho

da própria perda por peso morto. Isso significa que, quanto maior o número de transações impedidas pelo imposto, tanto maior a perda por peso morto. Isso fornece uma pista importante para a compreensão da relação entre elasticidade e tamanho da perda por peso morto de um imposto. Lembre-se de que, quando a demanda ou a oferta é elástica, a quantidade demandada ou ofertada é relativamente sensível ao preço. Assim, um imposto que incide sobre um bem para o qual a demanda ou a oferta, ou ambas, são elásticas causa uma queda relativamente grande na quantidade transacionada e uma grande perda por peso morto. E quando dizemos que a demanda ou a oferta é inelástica, queremos dizer que a quantidade demandada ou a quantidade ofertada é relativamente insensível ao preço. Em consequência, quando a demanda ou a oferta, ou ambas, são inelásticas, um imposto causará uma queda relativamente pequena na quantidade transacionada e uma perda pequena por peso morto. FIGURA 7-10

Perda por peso morto e elasticidades

No painel (a), a demanda é elástica, e, no painel (b), é inelástica, mas as curvas de oferta são idênticas. A oferta é elástica no painel (c) e inelástica no painel (d), mas as curvas de demanda são idênticas. As perdas por peso morto são maiores nos painéis (a) e (c) do que nos painéis (b) e (d) porque, quanto maior a elasticidade-preço da demanda ou da oferta, maior a queda induzida pelo imposto na quantidade transacionada. Por outro lado, quanto menor a elasticidade-preço da demanda ou da oferta, menor a queda induzida pelo imposto na quantidade transacionada e menor a perda por peso morto.

Os quatro painéis da Figura 7-10 ilustram as relações positivas entre elasticidade-preço da demanda ou da oferta de um bem e a perda por peso morto decorrente do imposto sobre esse bem. Cada painel representa o

mesmo montante de imposto que incide sobre bens diferentes. O tamanho da perda por peso morto é dado pela área do triângulo sombreado. No painel (a), o triângulo referente à perda por peso morto é grande porque a demanda desse bem é relativamente elástica – um grande número de transações não ocorre por causa do imposto. No painel (b), a mesma curva da oferta é desenhada como no painel (a), mas a demanda do bem é relativamente inelástica, o resultado é que o triângulo é pequeno, porque apenas um pequeno número de transações é evitado. Do mesmo modo, os painéis (c) e (d) contêm a mesma curva da demanda, mas curvas de oferta diferentes. No painel (c), uma curva de oferta elástica dá origem a um grande triângulo de perda por peso morto, mas no painel (d) uma curva de oferta inelástica dá origem a um pequeno triângulo de perda por peso morto. A implicação desse resultado é clara: se queremos reduzir o custo da tributação em termos de eficiência, devemos escolher impostos que incidam sobre bens cuja demanda ou oferta, ou ambas, sejam relativamente inelásticas. Para esses bens, o imposto tem pouco efeito sobre o comportamento porque esse comportamento é relativamente insensível à variação no preço. No caso extremo em que a demanda é perfeitamente inelástica (uma curva de demanda vertical), a quantidade demandada não se altera com a imposição do imposto. Em consequência, o imposto não provoca perda por peso morto. Da mesma forma, se a oferta é perfeitamente inelástica (curva da oferta vertical), a quantidade ofertada fica inalterada pelo imposto e também não há perda por peso morto. Portanto, se o objetivo na escolha de quem tributar é minimizar a perda por peso morto, então os impostos devem incidir sobre bens e serviços que tenham a resposta mais inelástica – isto é, bens e serviços em relação aos quais os consumidores e produtores mudem menos seu comportamento em resposta a um imposto. (A menos, é claro, que se revoltem.) E essa lição traz outro aspecto: o uso do imposto com o objetivo de reduzir a extensão de uma atividade nociva, como o consumo de bebida alcoólica por menor de idade, terá maior impacto quando essa atividade for de demanda ou de oferta elástica.

economia em ação

Imposto sobre o homem de Marlboro

Um dos impostos seletivos mais importantes nos Estados Unidos é o imposto sobre cigarros. O governo federal impõe um imposto de $0,39 por maço; os governos estaduais impõem impostos que variam de $0,07 por maço na Carolina do Sul até $2,47 por maço em Rhode Island. E muitas outras cidades impõem impostos adicionais. Em geral, as alíquotas de imposto sobre cigarros aumentaram ao longo do tempo porque cada vez mais os governos as consideram não apenas como fonte de receita, mas também como uma forma de desencorajar o tabagismo. Mas o aumento nos impostos sobre os cigarros não foi gradual. Normalmente, quando um governo estadual decide aumentar o imposto sobre o cigarro, aumenta bastante – fornecendo informações úteis aos economistas sobre o que acontece quando há um aumento grande de imposto. A Tabela 7-1 mostra os resultados de grandes aumentos nos impostos sobre o cigarro. Em cada caso, as vendas caíram, como nossa análise prevê. Embora seja teoricamente possível para a receita tributária cair depois de um grande aumento de impostos, na realidade, a receita tributária aumentou em cada caso. Isso porque os cigarros têm uma baixa elasticidadepreço da demanda.

BREVE REVISÃO Um imposto seletivo gera receita tributária igual à alíquota do imposto multiplicada pelo número de unidades do bem ou serviço transacionado, mas reduz o excedente do consumidor e do produtor. A arrecadação tributária do governo é inferior à perda no excedente total porque o imposto cria ineficiência ao desencorajar algumas transações mutuamente benéficas. A diferença entre a receita tributária de um imposto seletivo e a redução no excedente total é a perda por peso morto resultante do imposto. O grau de ineficiência resultante de um imposto é igual à perda por peso morto, mais os custos administrativos do imposto.

TABELA 7-1 Resultados dos aumentos do imposto sobre o cigarro

Ano

Aumento no imposto (por maço)

Novo imposto estadual (por maço)

Variação na quantidade transacionada

Variação na receita do imposto

Utah

1997

$0,25

$0,52

–0,7%

+86,2%

Maryland

1999

0,30

0,66

–15,3

+52,6

Califórnia

1999

0,50

0,87

–18,9

+90,7

Michigan

1994

0,50

0,75

–20,8

+139,9

Nova York 2000

0,55

1,11

–20,2

+57,4

Estado

Fonte: MC Farrelly, C.T. Nimsch e J. James, State Cigarrete Taxes: implocations for Revenue and Tax Evasion, RTI International 2003.

Quanto maior o número de transações impedidas em virtude de um imposto, maior a perda por peso morto. Em consequência, impostos sobre bens com maior elasticidade-preço da oferta ou da demanda, ou ambas, geram perdas maiores por peso morto. Não há perda por peso morto, quando o número de transações mantém-se inalterado pelo imposto.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 7-2 1. A tabela ao lado mostra a disposição de cinco consumidores de pagar por uma lata de refrigerante diet, bem como o custo de venda de uma lata de refrigerante diet de cinco produtores. Cada consumidor compra no máximo uma lata de refrigerante; cada produtor vende, no máximo, uma lata de refrigerante. O governo pede conselho sobre os efeitos de um imposto seletivo de $0,40 por lata de refrigerante. Suponha que não há custos administrativos do imposto.

Consumidores

Disposição de pagar

Produtores

Custo

Ana

$0,70

Zhang

$0,10

Bernice

0,60

Yves

0,20

Chizuko

0,50

Xavier

0,30

Dagmar

0,40

Walter

0,40

Ella

0,30

Vern

0,50

a. Sem o imposto seletivo, quais serão o preço e a quantidade de equilíbrio do refrigerante comerciado? b. O imposto seletivo aumenta o preço pago pelos consumidores pósimposto para $0,60 e reduz o preço recebido pelos produtores pósimposto para $0,20. Com o imposto seletivo, qual é a quantidade de refrigerante comerciado? c. Sem o imposto seletivo, quanto de excedente do consumidor individual cada um dos consumidores obtém? E pós-imposto? Quanto de excedente do consumidor se perde como resultado do imposto? d. Sem o imposto seletivo, quanto de excedente do produtor individual cada um dos produtores obtém? Quanto com o imposto? Quanto de excedente total do produtor é perdido como resultado do imposto? e. Quanto de receita do governo o imposto seletivo cria? f. Qual é a perda por peso morto da imposição desse imposto seletivo? 2. Em cada um dos seguintes casos, concentre-se na elasticidade-preço da demanda e use um gráfico para ilustrar o tamanho provável – grande ou pequeno – da perda por peso morto resultante de um imposto. Explique seu raciocínio. a. Gasolina b. Barras de chocolate de leite As respostas estão no fim do livro.

EQUIDADE E EFICIÊNCIA TRIBUTÁRIA Acabamos de ver como a análise econômica pode ser usada para determinar a ineficiência causada por um imposto. É claro que, tudo o mais mantido constante, os formuladores de políticas devem escolher um imposto que gere menos ineficiência, em vez de um que cria mais ineficiência. Mas essa orientação ainda deixa os formuladores de políticas

com amplo poder discricionário de escolha do que tributar e, consequentemente, de quem deve arcar com o ônus do imposto. Como devem exercer esse critério? Uma resposta é que os formuladores de políticas devem tornar o sistema tributário equitativo. Mas o que significa exatamente equidade e justiça? Além disso, como os formuladores de políticas devem equilibrar considerações de justiça em relação às considerações de eficiência? Dois princípios de justiça tributária

A justiça, como a beleza, muitas vezes está nos olhos de quem vê. No entanto, quando se trata de impostos, a maioria dos debates sobre justiça depende de um dos dois princípios de justiça tributária: o princípio dos benefícios e o princípio da capacidade de pagar. De acordo com o princípio de justiça tributário, chamado de princípio dos benefícios, aqueles que se beneficiam dos gastos públicos deveriam arcar com o ônus do imposto que paga por esses gastos. Por exemplo, aqueles que se beneficiam com uma estrada, deveriam pagar pela manutenção dessa estrada, aqueles que viajam de avião deveriam pagar pelo controle do tráfego aéreo, e assim por diante. O princípio dos benefícios é a base para algumas partes do sistema tributário nos Estados Unidos. Por exemplo, a receita do imposto federal sobre a gasolina está reservada especificamente para a manutenção e melhoria das rodovias federais, incluindo o sistema interestadual de rodovias. Dessa forma, os motoristas que se beneficiam do sistema rodoviário também pagam por ele. O princípio dos benefícios é atraente do ponto de vista econômico porque combina bem com uma das principais justificativas do gasto público – a teoria dos bens públicos, que será abordada no Capítulo 17. Essa teoria explica por que a ação do governo, às vezes, é necessária para prover bens às pessoas que os mercados por si só não fornecem, bens como defesa nacional. Se esse é o papel do governo, parece natural cobrar de cada pessoa na proporção dos benefícios recebidos a partir desses bens. No entanto, considerações práticas tornam impossível basear todo o sistema tributário no princípio dos benefícios. Seria complicado ter um imposto específico para cada um dos vários programas distintos que o

governo oferece. Além disso, tentativas de basear os impostos no princípio dos benefícios, muitas vezes, são conflitantes com o outro grande princípio da justiça tributária: o princípio da capacidade de pagar, segundo o qual aqueles com maior capacidade de pagar devem pagar mais impostos. O princípio da capacidade de pagar geralmente é interpretado com o sentido de que os indivíduos de alta renda devem pagar mais impostos do que os indivíduos de baixa renda. Muitas vezes, o princípio da capacidade de pagar é usado para discutir não apenas que os indivíduos de alta renda devem pagar mais impostos, mas também que devem pagar uma porcentagem mais alta da renda em impostos. Mais adiante iremos considerar a questão de como os impostos variam em porcentagem da renda. A rebelião do uísque descrita no início deste capítulo foi basicamente um protesto contra o fracasso do imposto do uísque ao levar em conta o princípio da capacidade de pagar. De fato, o imposto fez os pequenos destiladores – agricultores de renda modesta – pagarem uma proporção maior de sua renda do que os destiladores relativamente abastados. É evidente que os agricultores ficaram chateados porque o novo imposto ignorou totalmente o princípio da capacidade de pagar. Equidade versus eficiência

De acordo com o imposto do uísque, a quantia fixa de imposto pago pelos grandes destiladores (diferentemente do imposto pago por galão pelos pequenos destiladores) era um exemplo de imposto de soma xa, um imposto que é o mesmo, independentemente de quaisquer ações que as pessoas tomem. Nesse caso, os grandes destiladores pagaram o mesmo montante de imposto, independentemente de quantos litros produziram. Impostos de soma fixa são amplamente percebidos como sendo muito menos justos do que um imposto que seja proporcional ao montante da transação. E isso aconteceu na rebelião do uísque: embora os pequenos agricultores ficassem descontentes ao pagar um imposto proporcional, ainda era menos do que deveriam pagar com o imposto de soma fixa, que os faria arcar com um ônus ainda mais injusto.

Mas o imposto do uísque por galão definitivamente distorcia os incentivos para que as pessoas fizessem transações mutuamente vantajosas, e assim gerava perda por peso morto. Em virtude do imposto, alguns agricultores reduziram a quantidade de uísque destilada. O resultado, com certeza, foi uma produção menor de uísque e menos renda auferida aos agricultores por causa do imposto. Em contrapartida, um imposto de soma fixa não distorce os incentivos. Como as pessoas têm de pagar o imposto, independentemente de sua situação, ele não leva as pessoas a mudar suas ações e, portanto, não causa perda por peso morto. Então, os impostos de soma fixa, embora injustos, são melhores que outros impostos para promover a eficiência econômica. Pode-se tornar um sistema tributário mais justo, movendo-o na direção do princípio dos benefícios ou do princípio da capacidade de pagar. Mas isso vai ter um custo, porque o sistema tributário passará a tributar as pessoas mais pesadamente com base em suas ações, aumentando a quantidade de perda por peso morto. Essa observação reflete um princípio geral que aprendemos no Capítulo 1: muitas vezes, há um trade-off entre equidade e eficiência. A menos que um sistema tributário seja mal projetado, só poderá tornar-se mais justo à custa de se tornar mais eficiente. Por outro lado, só poderá tornar-se mais eficiente ao preço de se tornar menos justo. Isso significa que normalmente há um trade-off entre equidade e e ciência na concepção de um sistema tributário. É importante entender que a análise econômica não pode informar o peso que um sistema tributário deve dar à equidade e à eficiência. Essa escolha é um juízo de valor, realizada por meio do processo político.

economia em ação Filosofia dos impostos federais

Qual é o princípio em que se baseia o sistema federal de impostos? (Por federal, entendemos os impostos arrecadados pelo governo federal, diferente dos impostos arrecadados pelos estados e municípios.) A resposta é que isso depende do imposto.

O imposto federal mais conhecido nos Estados Unidos, responsável por cerca de metade de toda a receita federal, é o imposto de renda. A estrutura do imposto de renda reflete o princípio da capacidade de pagar: famílias de baixa renda pagam pouco ou nenhum imposto de renda. De fato, algumas famílias pagam imposto de renda negativo: nos Estados Unidos, um programa conhecido como Crédito Tributário sobre Renda do Trabalho paga um adicional diferenciado que se soma aos ganhos dos trabalhadores de baixa renda. Enquanto isso, aqueles com renda elevada não só pagam muito imposto de renda, mas também pagam uma parcela maior de sua renda a título de impostos de renda. O segundo imposto federal em importância nos Estados Unidos, o FICA, também conhecido como imposto sobre a folha de pagamentos, está estruturado de forma muito diferente. Foi introduzido originalmente em 1935 para pagar a Previdência Social, um programa que garante aposentadoria aos americanos idosos que se qualificam para seu recebimento, além de fornecer benefícios para os trabalhadores que se tornam incapacitados e aos membros da família de trabalhadores que morrem. (Parte do imposto da folha de pagamento agora também é usada pelo Medicare, um programa que paga a maioria das contas médicas de americanos idosos.) O sistema de previdência social foi criado para se assemelhar a um programa de seguro privado: as pessoas contribuem para o sistema durante os anos de trabalho e depois recebem benefícios com base nos pagamentos. E o imposto de certa maneira reflete o princípio dos benefícios: pois os benefícios da Previdência Social são destinados principalmente a oferecer assistência às pessoas de renda média e baixa, e não aumentam substancialmente para os ricos, o imposto da Previdência Social incide apenas sobre as rendas até um nível máximo dado – $106.800 em 2011. (A parcela do imposto sobre a folha de pagamentos que vai para o Medicare continua a ser cobrada sobre as rendas que passam de $106.800.) Em consequência, uma família de alta renda não paga muito mais imposto sobre a folha de pagamentos do que uma família de renda média. A Tabela 7-2 ilustra a diferença entre os dois impostos, usando dados de um estudo do Congresso americano. O estudo dividiu as famílias americanas em cinco grupos de um quinto cada: o quinto mais baixo é o de 20% de famílias mais pobres, o segundo quinto é dos 20% de famílias que

vêm logo a seguir, e assim por diante. A segunda coluna mostra a parcela de renda total antes do imposto recebido por cada quinto. A terceira coluna mostra a parcela total do imposto de renda federal pago por cada quinto. Como se vê, as famílias de renda baixa de fato pagam imposto de renda negativo, por intermédio do programa de Crédito Tributário sobre Renda do Salário. Mesmo as famílias de renda média pagam uma parcela do total do imposto de renda arrecadado bem menor do que sua parcela na renda total. Por outro lado, o quinto das famílias de renda mais alta, os 20% de famílias mais ricas, pagam uma parcela muito maior do imposto de renda em comparação com sua participação na renda total. A quarta coluna mostra a parcela do imposto total sobre a folha de pagamento arrecadada que é pago por cada quinto, e os resultados são muito diferentes: a parcela do total do imposto sobre a folha de pagamento paga pelo quinto das famílias de renda mais alta é substancialmente menor do que sua participação na renda total.

BREVE REVISÃO Tudo o mais mantido constante, a política tributária do governo visa à eficiência tributária. Mas também tenta alcançar a justiça tributária ou a equidade tributária. Existem dois princípios importantes de justiça tributária: o princípio dos benefícios e o princípio da capacidade de pagar. Um imposto de soma fixa é eficiente porque não distorce o incentivo, mas, geralmente, é considerado injusto. Em qualquer sistema tributário bem concebido, há um trade-off entre equidade e eficiência. Como o sistema tributário deve pesar entre equidade e eficiência é um juízo de valor a ser decidido pelo processo político.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 7-3 1. Avalie cada um dos impostos seguintes em termos do princípio dos benefícios em relação ao princípio da capacidade para pagar. Que ações são distorcidas pelo imposto? Suponha, para simplificar, que em cada caso o comprador do bem arque com 100% da carga de imposto. a. Um imposto de $500 por carro novo comprado que financia programas de segurança nas rodovias.

b. Um imposto municipal de 20% sobre quartos de hotel que financia os gastos do governo. c. Um imposto municipal de 1% sobre o valor estimado dos imóveis residenciais, que financia as escolas locais. d. Um imposto de 1% sobre as vendas de alimentos que paga os programas do governo de regulação e inspeção sanitária do setor de alimentos. As respostas estão no fim do livro

ENTENDENDO O SISTEMA TRIBUTÁRIO Um imposto seletivo é o mais fácil de analisar, tornando-se um bom instrumento para a compreensão do princípio geral da análise tributária. No entanto, nos Estados Unidos, os impostos seletivos são de fato uma fonte relativamente pouco importante de receita do governo. Nesta seção, desenvolvemos uma estrutura para compreender as formas mais gerais de tributação e analisarmos alguns dos principais impostos usados nos Estados Unidos. Base e estrutura tributária

Cada imposto é constituído de duas partes: uma base e uma estrutura. A base tributária é a medida ou o valor que determinam quanto imposto é pago por um indivíduo ou empresa. Normalmente, é uma medida monetária, como renda ou valor da propriedade. A estrutura tributária especifica como o imposto depende da base tributária. Geralmente, é expresso em termos porcentuais, por exemplo, donos de imóveis em algumas áreas pagariam um imposto de 2% sobre o valor de seus imóveis.

TABELA 7-2 Parcela da renda antes do imposto, parcelas do imposto de renda e parcelas do imposto sobre a folha de pagamento, por quintos em 2007 Porcentagem da renda total recebida antes do imposto

Porcentagem total paga do imposto de renda federal

Porcentagem total paga do imposto sobre a folha de pagamento

Quinto com renda mais baixa de

4,0%

–3,0%

4,8%

Segundo quinto

8,4

–0,3

10,8

Terceiro quinto

13,1

4,6

16,6

Quarto quinto

19,3

12,7

24,7

Quinto mais rico

55,9

86,0

42,9

Grupo de renda

Fonte: Congressional Budget Office.

Eis alguns impostos importantes e suas bases tributárias: Imposto de renda: imposto que depende da renda de um indivíduo ou família proveniente de salários e investimentos. Imposto sobre a folha de pagamentos: imposto que depende dos salários e honorários que um empregador paga a um empregado. Imposto sobre a venda: imposto que depende do valor de um bem vendido (também conhecido como imposto seletivo). Imposto sobre o lucro: imposto que depende do lucro de uma empresa. Imposto sobre a propriedade: imposto que depende do valor da propriedade, como o valor de um imóvel. Imposto sobre fortuna: imposto que depende da riqueza acumulada individual.

Uma vez definida a base tributária, a questão seguinte é como o imposto depende da base. A estrutura tributária mais simples é um imposto proporcional, também, às vezes, chamado de imposto horizontal, que é a mesma porcentagem da base, e sem nenhuma relação com a renda ou riqueza do contribuinte. Por exemplo, um imposto territorial fixado em 2% do valor da propriedade, independentemente de o imóvel valer $10.000 ou $10.000.000, é um imposto proporcional. Muitos impostos, no entanto, não são proporcionais. Em vez disso, pessoas diferentes pagam porcentagens diferentes, geralmente porque a lei tenta levar em consideração tanto o princípio dos benefícios como o princípio da capacidade de pagar. Como, em última análise, os impostos são pagos com renda, os economistas classificam os impostos de acordo com a forma como variam conforme a renda dos indivíduos. Um imposto que aumenta em proporção maior do que a renda, de tal modo que os contribuintes de alta renda pagam uma porcentagem maior da renda do que os contribuintes de baixa renda, é um imposto progressivo. Um imposto que aumenta menos do que em proporção ao aumento da renda, de tal modo que os contribuintes de alta renda pagam uma porcentagem menor da renda em imposto comparado com os contribuintes de baixa renda, é um imposto regressivo. Um imposto proporcional sobre a renda não é nem progressivo nem regressivo. O sistema tributário dos Estados Unidos inclui uma mistura de impostos progressivos e regressivos, embora em seu conjunto sejam levemente progressivos. Equidade, eficiência e tributação progressiva

A maioria das pessoas, mas nem todas, considera que um sistema tributário progressivo é mais justo do que um regressivo. O motivo é o princípio da capacidade de pagar: uma família de alta renda que paga 35% da renda em impostos ainda assim fica com muito mais dinheiro do que uma família de baixa renda que paga apenas 15%. Mas as tentativas de tornar os impostos fortemente progressivos se defrontam com um trade-off entre equidade e eficiência. Para saber por que, consideremos um exemplo hipotético, ilustrado na Tabela 7-3. Supomos que haja dois tipos de pessoas em Tasmânia: metade da população ganha $40.000 por ano e metade ganha $80.000, de modo que a

renda média é $60.000 por ano. Supomos também que o governo de Tasmânia precise arrecadar 1/4 dessa renda – $15.000 por ano por pessoa, em impostos. TABELA 7-3 Imposto proporcional versus progressivo em Tasmânia Renda préimposto

Renda pós-imposto com tributação proporcional

Renda pós-imposto com tributação progressiva

$40.000

$30.000

$40.000

$80.000

$60.000

$50.000

Uma forma de arrecadar essa receita é mediante um imposto proporcional que tomaria 1/4 da renda de cada pessoa. Os resultados desse imposto proporcional aparecem na segunda coluna da Tabela 7-3: pósimposto, as pessoas de renda mais baixa de Tasmânia ficariam com uma renda de $30.000 por ano e as de renda mais alta, com $60.000. Mesmo esse sistema poderá ter algum efeito negativo sobre os incentivos. Suponha, por exemplo, que terminar a faculdade melhoraria a chance de uma pessoa em Tasmânia de conseguir um emprego mais bem remunerado. Algumas pessoas que investiram tempo e esforço para frequentar a faculdade na esperança de aumentar a renda de $40.000 para $80.000, um ganho de $40.000, talvez não fizessem esse esforço por um ganho potencial de apenas $30.000, a diferença pós-imposto entre um emprego que paga menos e um mais bem remunerado. Mas um sistema tributário fortemente progressivo criaria um problema de incentivo muito maior. Suponha que o governo de Tasmânia decidiu isentar a metade mais pobre da população de todos os impostos, mas, ainda assim, queira arrecadar a mesma quantidade de receita tributária. Para fazer isso, teria que arrecadar $30.000 de cada indivíduo que ganha $80.000 por ano. Como mostra a terceira coluna da Tabela 7-3, as pessoas que ganham $80.000 ficariam com uma renda pós-imposto de $50.000 – apenas $10.000 a mais do que a renda pós-imposto das pessoas que ganham a metade. Isso reduz muito o incentivo de as pessoas investirem tempo e esforço para aumentar sua renda.

O ponto aqui é que qualquer sistema tributário anulará parte do ganho que um indivíduo recebe, movendo para cima a escala de renda, reduzindo o incentivo para ganhar mais. Mas um imposto progressivo tira uma parte maior do ganho do que um imposto proporcional, criando um efeito mais adverso sobre incentivos. Ao comparar os efeitos de sistemas tributários, os economistas costumam se concentrar na alíquota de imposto marginal: a porcentagem do aumento de renda que é anulada pelo imposto. Nesse exemplo, a alíquota de imposto marginal sobre a renda acima de $40.000 é de 25% com o imposto proporcional, mas de 75% com o imposto progressivo. Nosso exemplo hipotético é muito mais extremo do que a realidade da tributação progressiva nos Estados Unidos – embora, como explica a seção Economia em ação, em anos anteriores, as alíquotas de impostos marginais pagos por pessoas de renda elevada eram realmente muito altas. No entanto, com o passar do tempo, esses impostos se tornaram mais moderados à medida que surgiram preocupações a respeito dos efeitos severos sobre incentivos quando os impostos são extremamente progressivos. Em suma, o princípio da capacidade de pagar empurra o governo para um sistema tributário altamente progressivo, mas considerações de eficiência empurram em sentido oposto. Impostos nos Estados Unidos

A Tabela 7-4 mostra a receita arrecadada nos Estados Unidos em 2010 com os principais impostos. Alguns desses impostos são arrecadados pelo governo federal e outros pelos governos estadual e municipal.

TABELA 7-4 Principais impostos dos Estados Unidos, 2010 Impostos federais ($ bilhões) Renda

Impostos estaduais e municipais ($ bilhões)

$874,6

Renda

$262,6

Folha de pagamento

986,3

Vendas

429,9

Lucros

304,3

Lucros

87,6

Propriedade

436,3

Fonte: Bureau of Economic Analysis.

Há um imposto importante para cinco das seis bases tributárias identificadas anteriormente. Há imposto de renda, impostos sobre a folha de pagamento, impostos sobre vendas, impostos sobre lucros, impostos sobre propriedade, os quais desempenham papel importante no sistema tributário em seu conjunto. O único item que falta é um imposto sobre fortuna. De fato, os Estados Unidos têm um imposto sobre fortuna, o imposto sobre o patrimônio, que depende do valor do patrimônio de uma pessoa depois que ela morre. Mas, no momento da escrita, a lei atual prevê a redução e a eliminação do imposto sobre o patrimônio ao longo de uns poucos anos e, em qualquer caso, arrecada muito menos dinheiro do que os impostos indicados na tabela. Além dos impostos indicados, os governos estaduais e municipais arrecadam somas substanciais de outras fontes bastante variadas, como licença de motorista e taxa de esgoto. Essas tarifas e taxas são parte importante da carga tributária, mas são muito difíceis de resumir ou analisar. Os impostos na Tabela 7-4 são progressivos ou regressivos? Depende do imposto. O imposto de renda de pessoa física é fortemente progressivo. O imposto sobre a folha de pagamentos, com exceção da parcela que vai para o Medicare, pago apenas sobre rendimentos de até $106.800, é um pouco regressivo. Os impostos sobre vendas, em geral, são regressivos porque as famílias de alta renda economizam uma parte maior da sua renda e, assim, gastam uma parcela menor em bens tributáveis do que as famílias de baixa

renda. Além disso, existem outros impostos, principalmente os que incidem em níveis estadual e municipal, que são normalmente bastante regressivos: custa o mesmo obter uma nova licença de motorista, não importa qual seja a renda. No geral, os impostos arrecadados pelo governo federal são bastante progressivos. A segunda coluna da Tabela 7-5 mostra estimativas da taxa média de imposto federal paga pelas famílias em diferentes níveis de renda obtida, em 2004. Essas estimativas não contam apenas o dinheiro que as famílias pagam diretamente. Também tentam estimar a incidência de impostos diretamente pagos pelas empresas, como o imposto sobre lucros corporativos, que, em última análise, recai sobre acionistas individuais. A tabela mostra que o sistema tributário federal é de fato progressivo, com famílias de baixa renda pagando uma parcela relativamente pequena da renda em impostos federais e famílias de alta renda pagando uma parcela maior da renda. TABELA 7-5 Impostos federal, estadual, municipal como porcentagem da renda, por categoria de renda, 2004 Grupo de renda

Federal

Estadual e municipal

Total

Quinto mais pobre

7,9%

11,8%

19,7%

Segundo quinto

11,4

11,9

23,3

Terceiro quinto

15,8

11,2

27,0

Quarto quinto

18,7

11,0

29,8

15% seguintes

21,1

10,5

31,6

4% seguintes

22,5

9,7

32,2

1% mais rico

24,6

8,2

32,8

Média

19,8

10,3

30,1

Fonte: Institute on Taxation and Economic Policy.

COMPARAÇÃO GLOBAL VOCÊ PENSA QUE PAGA IMPOSTOS ALTOS? Todo o mundo, em todo lugar, se queixa dos impostos. Mas, na verdade, os americanos têm menos do que se queixar do que os cidadãos da maioria dos outros países ricos. Para avaliar o nível geral de impostos, em geral os economistas os calculam como porcentagem do produto interno bruto – o valor total de bens e serviços produzidos em um país. Por essa medida, como se pode ver na figura a seguir, em 2009, os impostos dos Estados Unidos estavam perto da parte inferior da escala. Até o vizinho Canadá tinha impostos significativamente mais elevados. As alíquotas de impostos na Europa, onde os governos precisam de muita receita para pagar benefícios extensivos, como cuidados de saúde garantidos e subsídios de desemprego generosos, são 50% a 100% mais elevadas do que nos Estados Unidos.

Fonte: OCDE.

Desde 2000, o governo federal reduziu o imposto de renda para a maioria das famílias. Os maiores cortes, tanto como parcela da renda, como parcela

dos impostos federais arrecadados, beneficiaram as famílias de renda elevada. Em consequência, o sistema federal é menos progressivo (no momento em que este livro está sendo escrito) do que era em 2000, pois a parcela da renda paga pelas famílias de alta renda caiu em relação à parcela paga pelas famílias de média e baixa renda. E se tornará ainda menos progressivo ao longo dos próximos anos, à medida que algumas partes adiadas da legislação de corte de impostos pós-2000 entrarem em vigor. Apesar disso, mesmo após essas mudanças, o sistema federal de tributos permanecerá progressivo. No entanto, como mostra a terceira coluna da Tabela 7-5, os impostos estaduais e municipais geralmente são regressivos. Isso porque o imposto sobre vendas, a maior fonte de receita dos estados, é um tanto regressivo, e outros itens, como o licenciamento de veículos, são fortemente regressivos. Em suma, o sistema tributário dos Estados Unidos é de certa forma progressivo, com a parte mais rica da população pagando uma parcela mais alta de imposto de renda do que a parcela paga pelas famílias de classe média e baixa. Contudo, há diferenças importantes dentro do sistema tributário americano: o imposto de renda federal é mais progressivo do que o imposto sobre a folha de pagamento, o que pode ser visto na Tabela 7-2. Além disso, os impostos federais são mais progressivos do que os impostos estaduais e municipais. Impostos diferentes, princípios diferentes

Por que alguns impostos são progressivos e outros regressivos? Os governos não conseguem tomar uma decisão? Há duas razões principais para a mistura de impostos regressivos e progressivos no sistema tributário dos Estados Unidos: a diferença entre níveis de governo e o fato de que impostos diferentes são fundamentados em princípios diferentes. Em geral, os estados e, especialmente, os municípios não fazem muito esforço para aplicar o princípio da capacidade de pagar. Principalmente porque estão sujeitos à guerra scal: um estado ou município que decida impor impostos elevados às pessoas com renda alta pode ver essas pessoas

se deslocarem para outras localidades onde os impostos sejam mais baixos. Essa preocupação é bem menor em nível nacional, embora um punhado de pessoas muito ricas tenha abdicado da cidadania americana para evitar o pagamento de impostos nos Estados Unidos. Embora o governo federal esteja em uma posição melhor do que o governo estadual ou municipal, para aplicar princípios de justiça tributária adota princípios diferentes a impostos diferentes. Vimos isso no último exemplo na seção Economia em ação. O imposto mais importante, o imposto de renda, é fortemente progressivo, refletindo o princípio da capacidade de pagar. Mas o segundo imposto mais importante, o imposto sobre a folha de pagamentos, ou FICA, é ligeiramente regressivo, porque a maior parte está vinculada a programas específicos – Previdência Social e Medicare – e, refletindo o princípio dos benefícios, é cobrado mais ou menos na proporção dos benefícios recebidos desses programas.

PARA MENTES CURIOSAS TRIBUTAR RENDA VERSUS CONSUMO O governo dos Estados Unidos tributa as pessoas, principalmente, em relação ao dinheiro que recebem, e não sobre o dinheiro que gastam. No entanto, a maioria dos especialistas em tributação argumenta que essa política distorce os incentivos. Se uma pessoa obtém renda e, em seguida, investe essa renda para o futuro, é tributada duas vezes: uma vez quando ganha a soma original e novamente sobre qualquer rendimento que advenha de investimento. Assim, um sistema que tributa a renda desencoraja as pessoas a poupar e investir, e oferece um incentivo para que gastem sua renda hoje. E incentivar a poupança e o investimento é um objetivo importante de política econômica, tanto porque os dados empíricos mostram que os americanos tendem a poupar muito pouco para a aposentadoria e despesas médicas que ocorrem mais tarde na vida, mas também porque a poupança e o investimento contribuem para o crescimento econômico. Passar de um sistema que tributa renda para um que tributa consumo poderia resolver o problema. De fato, os governos de muitos países obtêm grande parte da receita de imposto sobre o valor agregado, que funciona

como um imposto nacional sobre vendas. Em alguns países, a alíquota de imposto sobre o valor agregado é muito elevada; na Suécia, por exemplo, é 25%. Os Estados Unidos não têm um imposto sobre o valor agregado, por dois motivos principais. Um é que é difícil, mas não impossível, tornar progressivo um imposto sobre o consumo. O outro é que impostos sobre o valor agregado normalmente têm custos administrativos muito elevados.

economia em ação A Alíquota máxima de imposto de renda marginal

O montante de dinheiro que um americano deve em imposto de renda federal é definido mediante a aplicação de alíquota de imposto marginal sobre “faixas” de renda que se tornam sucessivamente mais altas. Por exemplo, em 2010, uma pessoa solteira pagava 10% sobre os primeiros $8.375 de renda tributável (isto é, renda após subtrair isenções e deduções), 15% sobre os $25.625 seguintes, e assim por diante até a taxa máxima de 35% da renda, se houver, superior a $373.650. Relativamente poucas pessoas (menos de 1% dos contribuintes) têm renda alta o suficiente para pagar a taxa marginal máxima. De fato, 72% dos americanos não pagam imposto de renda, ou caem na faixa de 10% ou 15%. Mas a taxa marginal máxima, muitas vezes, é considerada como um indicador útil da progressividade do sistema tributário, uma vez que mostra o quanto é alta a alíquota de imposto de renda que o governo dos Estados Unidos está disposto a impor aos muito ricos. A Figura 7-11 mostra a alíquota de imposto de renda marginal máxima a partir de 1913, quando o governo dos Estados Unidos cobrou pela primeira vez imposto de renda, até 2010. O primeiro grande aumento da alíquota marginal máxima veio durante a Primeira Guerra Mundial (1914) e foi revertido após o fim da guerra (1918). Depois disso, a figura é dominada por duas grandes mudanças: um enorme aumento da taxa marginal máxima durante o governo de Franklin Roosevelt (1933-1945) e uma redução acentuada durante o governo de Ronald Reagan (1981-1989). As mudanças recentes têm sido relativamente pequenas em comparação com aquelas. FIGURA 7-11

A alíquota máxima de imposto de renda marginal

BREVE REVISÃO Todo imposto é composto por uma base tributária e uma estrutura tributária. Entre os tipos de impostos há impostos sobre a renda, sobre a folha de pagamento, sobre vendas, sobre lucros, sobre a propriedade e sobre o património. Os sistemas são classificados conforme sejam proporcionais, progressivos ou regressivos. Impostos progressivos, muitas vezes, se justificam pelo princípio da capacidade de pagar. Mas impostos fortemente progressivos levam a alíquotas de imposto marginais elevadas, que criam sérios problemas de incentivo. Os Estados Unidos têm uma mistura de impostos progressivos e regressivos. No entanto, a estrutura geral do imposto é progressiva.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 7-4 1. Um imposto de renda cobra 1% sobre os primeiros $10.000 de renda e 2% sobre toda a renda acima de $10.000. a. Qual é a alíquota de imposto marginal para alguém com renda de $5.000? Quanto de imposto total essa pessoa paga? Qual a porcentagem do total de imposto em relação à sua renda? b. Qual é a alíquota de imposto marginal para alguém com renda de $20.000? Quanto de imposto total essa pessoa paga? Qual a porcentagem do total de imposto em relação à sua renda?

c. Esse imposto é proporcional, progressivo ou regressivo? 2. Ao comparar famílias de diferentes níveis de renda, os economistas verificam que os gastos de consumo crescem mais lentamente que a renda. Suponha que quando a renda aumenta 50%, de $10.000 para $15.000, o consumo aumente 25%, de $8.000 para $10.000. Compare a porcentagem da renda paga em impostos por uma família com $15.000 de renda com uma família com $10.000 de renda, supondo que haja um imposto de 1% sobre gastos de consumo. Esse imposto é proporcional, progressivo ou regressivo? 3. Verdadeiro ou falso? Explique as respostas. a. Impostos sobre a folha de pagamento não afetam o incentivo de uma pessoa em aceitar um emprego porque são pagos pelos empregadores. b. Um imposto de soma fixa é um imposto proporcional, pois é o mesmo montante para cada pessoa. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Amazon versus BarnesandNoble.com

Faça uma comparação entre um livro na Amazon e na BarnesandNoble.com, e é bastante provável que o preço final na Amazon seja mais barato que na BarnesandNoble.com. Por quê? Será que a BarnesandNoble.com gosta de extorquir clientes inadvertidos? Ou a Amazon é mais eficiente que o seu concorrente? A resposta a ambas as perguntas é não. É uma questão de impostos – ou, mais especificamente, quem cobra ou não imposto estadual sobre vendas dos pedidos dos clientes. Imposto sobre vendas incide sobre as transações da maioria dos bens e serviços não essenciais em 45 estados (as exceções são Alaska, Delaware, Montana, New Hampshire e Oregon), sendo o imposto médio sobre vendas cerca de 8% do preço de compra. Assim, por exemplo, vamos comparar o preço final de Murder at the Margin de Marshall Jevons, ao ser enviado para New Jersey (estado natal do autor): o preço da Amazon é $25,98 e o da BarnesandNoble.com é $27,52. Conforme detalhado na tabela a seguir, a diferença entre os dois preços é de $1,54, com o imposto sobre vendas de New Jersey adicionado ao preço final da

BarnesandNoble.com. (New Jersey tem um imposto de vendas de 7%.) Por outro lado, a Amazon não cobra imposto sobre os pedidos para New Jersey. (Veja a Tabela 7-6.) Essa diferença entre a Amazon e a BarnesandNoble.com é o resultado da lei fiscal interestadual. De acordo com essa lei, os varejistas on-line que não têm presença física em um determinado estado podem vender produtos nesse estado sem cobrança de imposto sobre vendas. (O imposto ainda é devido, mas os moradores devem denunciar a transação e pagar o imposto por si – fato ignorado pelos clientes on-line.) A vantagem da Amazon é ter presença física em muito poucos estados – somente em Kansas, Kentucky, Nova York, Dakota do Norte e Washington. A Amazon também adotou uma estratégia de minimização de impostos, muitas vezes tomando medidas extremas, como a que proíbe os funcionários de trabalhar ou até mesmo enviar e-mails em alguns estados para evitar a possibilidade de desencadear incidência de impostos estaduais. Ela cobra imposto sobre vendas apenas nos estados onde tem presença de varejo ou corporativo, tal como Washington. Em resposta a uma nova lei fiscal dura da Califórnia, em junho de 2011, a Amazon encerrou seu programa de publicidade conjunta com 25 mil afiliados da Califórnia. TABELA 7-6 Comparação de compra de MURDER AT THE MARGIN, de Marshall Jevons

Preço do livro Imposto sobre vendas

Amazon

BarnesandNoble.com

$21,99

$21,99

0

$1,54

$3,99

$3,99

$25,98

$27,52

New Jersey (7%) Taxa de envio Preço final

Em contrapartida, a varejista Barnes e Noble, matriz da BarnesandNoble.com, tem livrarias em todos os estados. Como

consequência, a BarnesandNoble.com é obrigada a cobrar impostos sobre vendas nos pedidos on-line. Conforme relatado no Wall Street Journal, entrevistas e documentos da empresa mostraram que a Amazon acredita que sua política fiscal foi fundamental para o seu sucesso. Estima-se que a Amazon teria perdido até $653 milhões em vendas em 2011, ou 1,4% de sua receita anual, se fosse forçada a cobrar imposto sobre vendas. Mas sua capacidade em evitar a cobrança desse imposto está sob ataque por parte das autoridades fiscais estaduais, famintos por novas receitas durante tempos econômicos difíceis. Por exemplo, no Texas, onde a Amazon tem um armazém e não uma loja de varejo, tentaram forçá-la a iniciar a cobrança de imposto sobre vendas estaduais. E as autoridades da Califórnia estão alegando que a Amazon deve cobrar esse imposto, pois tem fornecedores afiliados localizados no estado. Nesses e em outros casos, a Amazon tem lutado vigorosamente para manter o direito de não recolher o imposto sobre vendas. E não é difícil de adivinhar de que lado está a BarnesandNoble.com.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Que efeito tem a diferença na arrecadação estadual de impostos sobre vendas entre a Amazon e a BarnesandNoble.com? 2. Suponha que o imposto sobre vendas seja cobrado em todos os livros de vendas on-line. A partir da evidência desse caso, qual é a incidência do imposto entre o vendedor e o comprador? O que isso implica sobre a elasticidade da oferta de livros por varejistas? (Dica: Compare o preço do livro pré-imposto.) 3. Como você acha que a estratégia fiscal da Amazon distorceu seu comportamento no negócio? Que política fiscal eliminaria essa distorção?

• RESUMO 1. Impostos seletivos – imposto sobre a compra ou venda de um bem – aumenta o preço pago pelos consumidores e reduz o preço recebido pelos produtores, introduzindo uma cunha entre os dois. A incidência do imposto

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– como a carga do imposto é dividida entre consumidores e produtores – não depende de quem paga o imposto oficialmente. A incidência de um imposto seletivo depende das elasticidades-preço da oferta e da demanda. Se a elasticidade –preço da demanda for superior à elasticidade-preço da oferta, o imposto recai principalmente sobre os produtores; se a elasticidade-preço da oferta for superior à da demanda, o imposto recai principalmente sobre os consumidores. A receita tributária gerada por um imposto depende da alíquota do imposto e do número de unidades compradas e vendidas com o imposto. Impostos seletivos causam ineficiência na forma de perda por peso morto por desencorajar algumas transações mutuamente benéficas. Impostos também impõem custos administrativos: recursos usados para arrecadar o imposto, para pagá-lo (para além do montante do imposto) e para evitálo. Um imposto seletivo gera receita para o governo, mas reduz o excedente total. A perda no excedente total excede a receita tributária, resultando em perda por peso morto para a sociedade. Essa perda por peso morto é representada por um triângulo cuja área é igual ao valor das transações desencorajadas pelo imposto. Quanto maior a elasticidade da demanda ou da oferta, ou ambas, tanto maior a perda por peso morto provocada por um imposto. Se a demanda ou a oferta for perfeitamente elástica, não haverá perda por peso morto. Um imposto eficiente minimiza a quantidade da perda por peso morto em decorrência dos incentivos distorcidos e dos custos administrativos do imposto. No entanto, a justiça tributária, igualmente, é um objetivo da política tributária. Existem dois grandes princípios de justiça tributária, o princípio dos benefícios e o princípio da capacidade de pagar. O imposto mais eficiente, o imposto de soma fixa, não distorce os incentivos, mas funciona mal em termos de justiça. No entanto, os impostos mais justos em termos do princípio da capacidade de pagar distorcem os incentivos e funciona mal, por questões de eficiência. Assim, em um sistema tributário bem concebido, há um trade-off entre equidade e eficiência. Todo imposto consiste de uma base tributária, que define o que é tributado, e uma estrutura tributária, que especifica como o imposto depende da base tributária. Bases tributárias diferentes dão origem a impostos diferentes: o imposto de renda, sobre a folha de pagamentos, sobre vendas, sobre os lucros, sobre a propriedade e sobre a fortuna. Um imposto proporcional é a mesma porcentagem da base tributária para todos os contribuintes. Um imposto é progressivo quando as pessoas de renda mais alta pagam um percentual maior da renda em impostos do que as pessoas de renda mais baixa e é regressivo se as pessoas mais ricas pagam uma porcentagem menor. Impostos progressivos, muitas vezes, se justificam pelo princípio da capacidade de pagar. No entanto, um sistema tributário altamente progressivo distorce significativamente os incentivos, pois leva a uma alíquota de imposto marginal alta, a porcentagem de aumento de

renda que é absorvida pelos impostos, no caso de rendas mais altas. O sistema tributário dos Estados Unidos, em geral, é progressivo, embora contenha uma mistura de impostos progressivos e regressivos.

• PALAVRAS-CHAVE Imposto seletivo, p. 154 Incidência, p. 156 Alíquota de imposto, p. 160 Custos administrativos, p. 164 Princípio dos benefícios, p. 167 Princípio da capacidade de pagar, p. 167 Imposto de soma fixa, p. 168 Trade-off entre equidade e eficiência, p. 168 Base tributária, p. 169 Estrutura tributária, p.170 Imposto de renda, p.170 Imposto sobre a folha de pagamento, p. 170 Imposto sobre a venda, p. 170 Imposto sobre o lucros, p. 170 Imposto sobre a propriedade, p. 170 Imposto sobre fortuna, p. 170 Imposto proporcional, p. 170 Imposto progressivo, p. 170 Imposto regressivo, p. 170 Alíquota de imposto marginal, p. 171

• PROBLEMAS 1. Os Estados Unidos cobram um imposto seletivo sobre a venda de passagens aéreas domésticas. Vamos supor que, em 2010, o imposto seletivo total

fosse de $6,10 por passagem aérea (que consiste do imposto de $3,60 por segmento voado mais o imposto de $2,50 por segurança depois do atentado de 11 setembro). De acordo com dados do Bureau of Transportation Statistics, em 2010, 630 milhões de passageiros viajaram com passagens aéreas nacionais ao preço médio de $337 por viagem. A tabela a seguir mostra a oferta e demanda de viagens aéreas. A quantidade demandada de $337 é real, o resto é hipotético. Preço da viagem

Quantidade de viagens demandadas (milhões)

Quantidade de viagens ofertadas (milhões)

$337,02

629

686

337,00

630

685

335,00

680

680

330,90

780

630

330,82

900

629

a. Qual é a receita tributária de imposto seletivo do governo em 2010? b. Em 1º de janeiro de 2011, o imposto seletivo total aumentou para $6,20 por passagem. Qual é a quantidade de equilíbrio transacionada agora? Qual é o preço médio da passagem? Qual é a receita do governo para esse imposto de 2011? c. O aumento do imposto seletivo aumentou ou diminuiu a receita tributária do governo? 2. O governo dos Estados Unidos gostaria de ajudar a indústria automobilística americana a competir contra as montadoras estrangeiras que vendem caminhões nos Estados Unidos. Pode fazê-lo com a imposição de um imposto seletivo sobre cada caminhão estrangeiro vendido nos Estados Unidos. Segue a tabela da demanda e oferta do pré-imposto hipotético de caminhões importados.

Quantidade de caminhões importados (milhares) Preço do caminhão importado

Quantidade demandada

Quantidade ofertada

$32.000

100

400

31.000

200

350

30.000

300

300

29.000

400

250

28.000

500

200

27.000

600

150

a. Na ausência de interferência do governo, qual é o preço de equilíbrio de um caminhão importado? E a quantidade de equilíbrio? Ilustre com um gráfico. b. Suponha que o governo imponha um imposto seletivo de $3.000 por caminhão importado. Ilustre o efeito desse imposto no gráfico do item a. Quantos caminhões importados são comprados agora a esse preço? Quanto a montadora estrangeira recebe por caminhão? c. Calcule a receita do governo arrecadada pelo imposto seletivo no item b. Ilustre com um gráfico. d. Como o imposto seletivo sobre caminhões importados beneficia as montadoras americanas? A quem prejudica? Como é que a ineficiência surge a partir dessa política do governo? 3. Em 1990, os Estados Unidos começaram a aplicar um imposto sobre as vendas de carros de luxo. Para simplificar, suponha que era um imposto seletivo de $6.000 por carro. A figura a seguir mostra curvas da demanda e oferta hipotéticas de carros de luxo.

a. Com o imposto, qual é o preço pago pelos consumidores? Qual é o preço recebido pelos produtores? Qual é a receita tributária do governo proveniente do imposto seletivo? Com o tempo, o imposto sobre carros de luxo foi lentamente extinto (e completamente eliminado em 2002). Suponha que o imposto seletivo caia de $6.000 para $4.500 por carro. b. Após a redução do imposto seletivo de $6.000 para $4.500 por carro, qual é o preço pago pelos consumidores? Qual é o preço recebido pelos produtores? Qual é agora a receita tributária? c. Compare a receita tributária criada pelos impostos nos itens a e b. O que explica a mudança da receita tributária pela redução do imposto seletivo? 4. Todos os estados impõem imposto seletivo sobre a gasolina. De acordo com dados da Federal Highway Administration, o estado da Califórnia impôs um imposto seletivo de $0,18 por galão de gasolina. Em 2009, as vendas de gasolina na Califórnia totalizaram 14,8 bilhões de litros. Qual foi a receita tributária da Califórnia proveniente do imposto seletivo sobre a gasolina? Se a Califórnia duplicasse o imposto seletivo, a receita tributária duplicaria? Por quê? 5. Nos Estados Unidos, cada governo estadual pode impor seu próprio imposto seletivo sobre a venda de cigarros. Suponha que no estado de Texarkana do Norte, o governo estadual impôs um imposto de $2,00 por maço vendido dentro do estado. Em contrapartida, o estado vizinho Texarkana do Sul não impôs imposto seletivo sobre cigarros. Suponha que nos dois estados o preço pré-imposto de um maço de cigarros seja $1,00. Suponha que o custo total para um morador de Texarkana do Norte de contrabandear um maço de cigarros de Texarkana do Sul seja $1,85 por maço. (Isso inclui o custo do tempo, gasolina, e assim por diante.) Suponha que a curva da oferta de cigarros não seja perfeitamente elástica nem inelástica. a. Desenhe um gráfico das curvas de oferta e demanda de cigarros de Texarkana do Norte, mostrando a situação em que faz sentido, do ponto de vista econômico, para um morador de Texarkana do Norte

contrabandear cigarros de Texarkana do Sul para Texarkana do Norte. Explique o gráfico. b. Desenhe um gráfico correspondente mostrando uma situação em que não faz sentido econômico para um morador de Texarkana do Norte contrabandear um maço de cigarros de Texarkana do Sul para Texarkana do Norte. Explique o gráfico. c. Suponha que a demanda de cigarros em Texarkana do Norte seja perfeitamente inelástica. Até que ponto poderia chegar o custo de contrabandear um maço de cigarros até que um morador de Texarkana do Norte não achasse o contrabando mais lucrativo? d. Suponha ainda que a demanda de cigarros em Texarkana do Norte seja perfeitamente inelástica e que todos os moradores em Texarkana do Norte estejam contrabandeando seus cigarros a um custo de $1,85 por maço, de modo que nenhum imposto seja pago. Existe ineficiência nessa situação? Se sim, de quanto é por maço? Suponha que um chip embutido no maço de cigarros torne impossível contrabandear os cigarros de um estado para o outro. Existe alguma ineficiência nessa situação? Se sim, de quanto é por maço? 6. Em cada um dos seguintes casos envolvendo impostos, analise: (i) se a incidência do imposto recai mais pesadamente sobre os consumidores ou sobre os produtores, (ii) por que a receita governamental arrecadada com o imposto não é um bom indicador do verdadeiro custo do imposto, e (iii) que perda por peso morto surge como resultado do imposto. a. O governo impõe um imposto seletivo sobre a venda de todos os livros da faculdade. Antes do imposto, eram vendidos 1 milhão de livros a cada ano, ao preço de $50. Depois do imposto, 600 mil livros são vendidos por ano; os alunos pagam $55 por livro, dos quais a editora recebe $30. b. O governo impõe um imposto seletivo sobre a venda de todas as passagens aéreas. Antes do imposto eram vendidos 3 milhões de passagens aéreas por ano ao preço de $500. A partir da existência do imposto, 1,5 milhão de bilhetes são vendidos anualmente; os passageiros pagam $550 por passagem, dos quais as companhias aéreas recebem $450. c. O governo impõe um imposto seletivo sobre a venda de todas as escovas de dente. Antes do imposto, eram vendidos 2 milhões de escovas todos os anos ao preço de $1,50 cada. Depois do imposto são vendidas 800 mil escovas de dente a cada ano. Os consumidores pagam $2 por escova, dos quais $1,25 vai para os produtores. 7. O gráfico a seguir mostra o mercado de cigarros. O preço de equilíbrio corrente por maço é $4, e a cada dia se vendem 40 milhões de maços. A fim de recuperar uma parte dos gastos de saúde associados ao tabagismo, o governo impõe um imposto de $2 por maço. Isso vai elevar o preço de equilíbrio para $5 por maço e reduzir a quantidade de equilíbrio para 30 milhões de maços.

O economista que trabalha para o lobby do tabaco alega que esse imposto reduzirá o excedente do consumidor dos fumantes em $40 milhões por dia, pois 40 milhões de maços agora custam $1 a mais por maço. O economista que trabalha para o lobby dos fumantes passivos argumenta que essa é uma estimativa exagerada e que a redução do excedente do consumidor será de apenas $30 milhões por dia, pois após o estabelecimento do imposto apenas 30 milhões de maços de cigarros serão comprados e cada um deles agora vai custar $1 a mais. Ambos estão errados. Por quê? 8. Considere o mercado original de pizza em Collegetown, ilustrado na tabela a seguir. Os funcionários de Collegetown decidem estabelecer um imposto seletivo sobre a pizza de $4 por pizza.

Preço de pizzas

Quantidade de pizzas demandada

Quantidade de pizzas ofertada

$10

0

6

9

1

5

8

2

4

7

3

3

6

4

2

5

5

1

4

6

0

3

7

0

2

8

0

1

9

0

a. Qual é a quantidade de pizza comprada e vendida após a imposição do imposto? Qual é o preço pago pelos consumidores? Qual é o preço recebido pelos produtores? b. Calcule o excedente do consumidor e o excedente do produtor após a imposição do imposto. Em quanto a criação do imposto reduziu o excedente do consumidor? Em quanto reduziu o excedente do produtor? c. Quanto é a receita arrecadada por Collegetown com esse imposto? d. Calcule a perda por peso morto desse imposto. 9. Um estado americano precisa arrecadar dinheiro, e o governador tem a opção de criar um imposto seletivo do mesmo montante de um de dois bens anteriormente não tributados: pode estabelecer o imposto sobre refeições em restaurantes ou sobre a gasolina. Tanto a demanda quanto a oferta das refeições em restaurantes são mais elásticas que a demanda e a oferta de gasolina. Se o governador quer minimizar a perda por peso morto decorrente do imposto, qual bem deveria ser tributado? Para cada bem, desenhe um gráfico que ilustre a perda por peso morto gerado pelo imposto. 10. Suponha que a demanda de gasolina seja inelástica e a oferta seja relativamente elástica. O governo impõe um imposto de vendas sobre a gasolina. A receita tributária é usada para financiar pesquisa sobre combustíveis limpos alternativos à gasolina, o que irá melhorar o ar que respiramos. a. Quem sofre mais a carga desse imposto: os consumidores ou os produtores? Mostre em um gráfico quem carrega quanto do excesso de carga.

Esse imposto é fundamentado no princípio do benefício ou no princípio b. da capacidade de pagar? Explique. 11. Analise os quatro impostos seguintes, em termos do princípio do benefício comparado com o princípio da capacidade de pagar. a. Um imposto sobre a gasolina que financia a manutenção das rodovias estaduais. b. Um imposto de 8% sobre bens importados de valor superior a $800 por família, trazidos em voos de passageiros. c. Uma tarifa de aterrissagem de aviões que custeia o controle do tráfego aéreo. d. Uma redução no montante de imposto de renda a pagar com base no número de filhos dependentes por família. 12. Você está assessorando o governo sobre como pagar a defesa nacional. Existem duas propostas de um sistema de impostos para financiar a defesa nacional. Nas duas propostas, a base tributária é a renda individual. Na proposta A, todos os cidadãos pagam exatamente o mesmo imposto de soma fixa, independentemente da renda. Na proposta B, os indivíduos com renda mais elevada pagam uma proporção maior da renda em impostos. a. O imposto na proposta A é progressivo, proporcional ou regressivo? E o da proposta B? b. O imposto na proposta A se baseia no princípio da capacidade de pagar ou no princípio dos benefícios? E o imposto da proposta B? c. Em termos de eficiência, que imposto é melhor? Explique. 13. Cada uma das seguintes propostas tem a renda como base tributária. Em cada caso, calcule a alíquota de imposto marginal para cada nível de renda. Em seguida, calcule a porcentagem de renda paga em impostos para um indivíduo com uma renda pré-imposto de $5.000 e para um indivíduo com uma renda pré-imposto de $40.000. Classifique o imposto como proporcional, progressivo ou regressivo. (Dica: Você pode calcular a alíquota de imposto marginal como porcentagem de $1 da renda adicional que é tomada pelo imposto.) a. Toda a renda é tributada em 20%. b. Toda a renda até $10.000 é isenta de impostos. Toda a renda acima de $10.000 é tributada a uma taxa constante de 20%. c. Toda a renda entre $0 e $10.000 é tributada em 10%. Toda a renda entre $10.000 e $20.000 é tributada em 20%. Toda a renda superior a $20.000 é tributada em 30%. d. Cada indivíduo que ganha mais de $10.000 paga um imposto de soma fixa de $10.000. Se a renda do indivíduo for inferior a $10.000, esse indivíduo paga em impostos exatamente o montante da renda. e. Das quatro políticas tributárias, qual a que tende a causar os piores problemas de incentivo? Explique. 14. Na Transilvânia, o sistema de imposto de renda básico é bastante simples. Os primeiros 40.000 silvers (a moeda oficial da Transilvânia) ganhos por ano são livres de imposto de renda. Qualquer renda adicional paga um imposto de 25%. Além disso, cada indivíduo paga uma taxa de previdência

social, que é calculada da seguinte forma: toda a renda até 80.000 silvers é tributada em mais 20%, mas não há um imposto de previdência social adicional sobre rendas acima de 80.000 silvers. a. Calcule as taxas de imposto marginal (incluindo tanto o imposto de renda como o da previdência social) para os moradores da Transilvânia com os seguintes níveis de renda: 20.000 silvers, 40.000 silvers e 80.000 silvers. (Dica: Você pode calcular a taxa marginal do imposto como porcentagem de 1 silver de renda adicional que é tomado pelo imposto.) b. O imposto de renda da Transilvânia é progressivo, regressivo ou proporcional? O imposto de previdência social é progressivo, regressivo ou proporcional? c. Qual grupo de renda tem seus incentivos mais afetados negativamente pelo sistema tributário combinado do imposto de renda e da previdência social? 15. Você trabalha para o Conselho de Assessores Econômicos, dando assessoria econômica para a Casa Branca. O presidente quer reformar o sistema de imposto de renda e pede seu conselho. Suponha que o sistema de imposto de renda corrente seja constituído de um imposto proporcional de 10% sobre todas as rendas e que haja uma única pessoa no país que ganha $110 milhões; todos os demais ganham menos que $100 milhões. O presidente propõe um corte de impostos voltado para os muito ricos, de tal modo que o novo sistema de imposto de renda consistirá de um imposto proporcional de 10% sobre todas as rendas até $100 milhões e alíquota de imposto marginal de 0% (sem impostos) sobre a renda acima de $100 milhões. Avalie essa proposta de imposto. a. Para rendas de $100 milhões ou menos, esse sistema é progressivo, regressivo ou proporcional? E para rendas superiores a $100 milhões? Explique. b. Será que esse sistema tributário cria mais ou menos receita tributária, tudo o mais mantido constante? Esse sistema de imposto é mais ou menos eficiente que o atual sistema de impostos? Explique.

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CAPÍTULO 8 » Comércio internacional

PEÇAS DE CARRO E SUCÇÃO DE EMPREGOS

are em uma loja de carros e a probabilidade é que a maioria dos carros à venda foi produzida nos Estados Unidos. Mesmo que sejam da Nissan, Honda ou Volkswagen, a maioria dos carros vendidos no país foi fabricada aqui por três grandes empresas automobilísticas dos Estados Unidos ou por subsidiárias de empresas estrangeiras. Os carros são montados em “Auto Alley”, um corredor norte-sul, definido aproximadamente como o espaço entre a Interstate 65, que vai de Chicago a Mobile, e a Interstate 75, que vai de Detroit ao oeste da Flórida. Apesar de o carro em exposição ter sido fabricado nos Estados Unidos, uma parte significativa do que está dentro dele provavelmente foi fabricada em outro lugar, muito provavelmente no México. Desde a década de 1980, a produção automobilística dos Estados Unidos depende cada vez mais das fábricas do México para a produção de autopeças que requerem trabalho intensivo, como assentos, produtos que usam uma quantidade relativamente elevada de mão de obra na produção. Ao longo dos anos, as mudanças na política econômica têm contribuído enormemente para o surgimento de grandes importações americanas de autopeças do México. Até os anos 1980, o México tinha um sistema de proteção comercial – impostos e regulamentações que limitavam as importações – que mantinha de fora os bens manufaturados americanos e incentivavam a indústria mexicana a se concentrar em vender para os consumidores mexicanos, em vez de para um mercado mais amplo. Contudo, em 1985, o governo mexicano começou a desmantelar grande parte da proteção comercial, aumentando o comércio com os Estados Unidos. Um novo impulso veio em

P

1993 quando Estados Unidos, México e Canadá assinaram um acordo de livre comércio (North America Free Trade Agreement – NAFTA), que eliminou a maioria dos impostos sobre o comércio entre os três países e previu garantias de que o investimento de negócios no México estaria protegido de mudanças arbitrárias na política do governo. O NAFTA foi profundamente controverso quando entrou em vigor: os trabalhadores mexicanos recebiam somente cerca de 10% do que os trabalhadores homólogos americanos e muitos tinham preocupação de que os empregos nos Estados Unidos seriam perdidos pela concorrência de baixos salários. De forma muito marcante, Ross Perot, candidato a presidente dos Estados Unidos em 1992, advertiu que haveria um “grande barulho de sucção (de empregos)”, à medida que a fabricação dos Estados Unidos estava se movendo para a fronteira do lado sul. E apesar de terem acontecido predições apocalípticas sobre o impacto do NAFTA, o acordo permanece controverso até hoje. O que você vai aprender neste capítulo • O que você vai aprender neste capítulo • Como a vantagem comparativa leva ao comércio internacional mutuamente benéfico. • As fontes de vantagem comparativa internacional. • Quem ganha e quem perde com o comércio internacional e por que os ganhos excedem as perdas. • Como tarifas e cotas de importação causam ineficiência e reduzem o excedente total. • Por que os governos frequentemente fazem protecionismo comercial e como os acordos internacionais contrabalançam isso.

A maioria dos economistas discorda dos que viam o NAFTA como uma ameaça à economia dos Estados Unidos. No Capítulo 2, vimos como o comércio internacional pode levar a ganhos mútuos de comércio. Os economistas, em sua maior parte, acreditam que a mesma lógica se aplica ao NAFTA, que o tratado tornará tanto os Estados Unidos como o México mais ricos. Mas tornar uma nação mais rica como um todo não é a mesma coisa que melhorar o bem-estar de todos aqueles que vivem no país, e há razões para acreditar que o NAFTA prejudica alguns cidadãos americanos.

Até agora, analisamos a economia como se fosse autossuficiente, como se produzisse todos os bens e serviços que consome, e vice-versa. Isso certamente é verdadeiro para a economia mundial como um todo. Mas não é verdade para um país individualmente. Supondo que a autossuficiência tenha sido muito mais precisa há 50 anos, quando os Estados Unidos exportavam apenas uma pequena fração do que produziam e importavam apenas uma pequena fração do que consumiam. Desde então, no entanto, tanto as importações como as exportações dos Estados Unidos cresceram muito mais rápido que o conjunto da economia. Além disso, em comparação com os Estados Unidos, outros países se dedicam muito mais ao comércio internacional em relação ao tamanho de suas economias. Para ter uma ideia completa de como as economias nacionais funcionam, deve-se entender o comércio internacional. Este capítulo analisa a economia do comércio internacional. Começamos a partir do modelo de vantagem comparativa, que, como vimos no Capítulo 2, explica por que existe ganho com o comércio internacional. Vamos recapitular brevemente esse modelo e, em seguida, estender o estudo para abordar questões mais profundas sobre o comércio internacional, tal como por que algumas pessoas podem ser prejudicadas pelo comércio internacional, enquanto que o país, como um todo, ganha. Na conclusão deste capítulo, vamos analisar os efeitos das políticas que os países usam para limitar as importações ou promover as exportações, bem como a forma como os governos trabalham juntos para superar os obstáculos ao comércio.

VANTAGEM COMPARATIVA E COMÉRCIO INTERNACIONAL Os Estados Unidos compram autopeças – e muitos outros bens e serviços – de outros países. Ao mesmo tempo, vendem outros bens e serviços para outros países. Bens e serviços adquiridos do exterior são importações; bens e serviços vendidos para o exterior são exportações. Como ilustrado na história de abertura, importações e exportações têm assumido um papel cada vez mais importante na economia dos Estados Unidos. Ao longo dos últimos 50 anos, tanto as importações como as exportações dos Estados Unidos cresceram mais rápido do que a economia americana. O painel (a) da Figura 8-1 mostra como os valores das importações

e exportações dos Estados Unidos cresceram em porcentagem do produto interno bruto (PIB). O painel (b) mostra as importações e exportações como porcentagem do PIB, para uma série de países. Mostra que o comércio exterior é muito mais importante para muitos outros países do que para os Estados Unidos. (O Japão é exceção.) FIGURA 8-1

Importância crescente do comércio internacional

O painel (a) ilustra o fato de que, nos últimos 50 anos, os Estados Unidos exportaram uma parcela crescente do PIB para outros países e importaram uma parcela crescente do que consomem. O painel (b) mostra que o comércio internacional é muito mais importante para outros países do que para os Estados Unidos, com exceção do Japão.

Fonte: Bureau of Economic Analysis [painel (a)] e World Trade Organization [painel (b)].

O comércio exterior não é o único modo como os países interagem economicamente. No mundo moderno, os investidores de um país costumam investir fundos em outra nação; muitas empresas são multinacionais, com subsidiárias que operam em vários países; e um número crescente de pessoas trabalha em um país diferente daquele em que nasceu. O crescimento de todas essas formas de vínculo econômico entre os países é, muitas vezes, chamado de globalização. Neste capítulo, no entanto, vamos nos concentrar principalmente no comércio internacional. Para entender por que o comércio internacional ocorre e por que os economistas acreditam que seja benéfico para a economia, vamos primeiro rever o conceito de vantagem comparativa.

Possibilidades de produção e vantagem comparativa, revisitado

Para produzir autopeças, qualquer país deve usar os recursos – terra, trabalho, capital, e assim por diante – que poderiam ter sido usados para produzir outros bens. O potencial de produção de outros bens aos quais o país deve renunciar para produzir uma peça de automóvel é o custo de oportunidade dessa peça. Em alguns casos, é fácil observar por que o custo de oportunidade de produzir um bem é especialmente baixo em determinado país. Considere, por exemplo, o camarão – atualmente, vem muito camarão de fazendas de frutos do mar do Vietnã e da Tailândia. É muito mais fácil produzir camarão no Vietnã, onde o clima é quase ideal e há abundância de terra costeira adequada para a piscicultura, do que nos Estados Unidos. Por outro lado, outros bens não são produzidos com a mesma facilidade no Vietnã como nos Estados Unidos. Por exemplo, o Vietnã não tem a base de trabalhadores qualificados e know-how tecnológico que tornam os Estados Unidos tão bons na produção de bens de alta tecnologia. Assim, o custo de oportunidade de uma tonelada de camarão, em termos de outros bens, como aeronaves, é muito menor no Vietnã do que nos Estados Unidos. Em outros casos, as questões são um pouco menos óbvias. É tão fácil produzir autopeças nos Estados Unidos como no México, e os trabalhadores mexicanos de autopeças são, quando muito, menos eficientes do que as contrapartes americanas. Mas os trabalhadores mexicanos são muito menos produtivos do que os trabalhadores dos Estados Unidos em outras áreas, como aeronaves e produção química. Isso significa que desviar um trabalhador mexicano para a produção de autopeças reduz menos a produção de outros bens do que desviar um trabalhador americano para a produção de autopeças. Ou seja, o custo de oportunidade de produção de autopeças no México é menor do que nos Estados Unidos. Assim, dizemos que o México tem vantagem comparativa na produção de autopeças. Vamos repetir a definição de vantagem comparativa do Capítulo 2: um país tem vantagem comparativa na produção de um bem ou serviço quando o custo de oportunidade de produzir o bem ou serviço é menor nesse país do que em outros países. FIGURA 8-2

Vantagem comparativa e fronteira das possibilidades de produção

O custo de oportunidade de um pacote de autopeças em termos de aviões é dois: para cada pacote adicional de autopeças, deve-se renunciar a dois aviões. O custo de oportunidade mexicano de um pacote de autopeças em termos de aviões é 1/2: para cada pacote adicional de autopeças, deve-se renunciar apenas a 1/2 de um avião. Consequentemente, os Estados Unidos têm vantagem comparativa na produção de aviões, e o México tem vantagem comparativa na produção de autopeças. Em autarquia, cada país é obrigado a consumir apenas o que produz: 1 mil aviões e 500 pacotes de autopeças nos Estados Unidos, 500 aviões e 1 mil pacotes de autopeças no México.

A Figura 8-2 fornece um exemplo numérico hipotético de vantagem comparativa no comércio internacional. Suponhamos que apenas dois bens sejam produzidos e consumidos, autopeças e aviões, e que haja apenas dois países no mundo, Estados Unidos e México. (Na vida real, autopeças não valem muito sem carrocerias, mas deixemos de lado essa questão.) A figura mostra a fronteira das possibilidades de produção hipotética para os Estados Unidos e o México. Como no Capítulo 2, simplificamos o modelo, supondo que a fronteira das possibilidades de produção seja uma linha reta, como mostrado na Figura 2-1, em vez de ter o formato mais realista, abaulado para fora, mostrado na Figura 2-2. O formato em linha reta implica que o custo de oportunidade de uma peça de automóvel em termos de aviões em cada país é constante – não dependendo de quantas unidades do bem cada país produz. A análise do comércio internacional sob o pressuposto de que os custos de oportunidade são constantes e que, portanto, as fronteiras das possibilidades de produção são linhas retas é conhecido como modelo ricardiano de comércio internacional, em homenagem ao economista inglês David Ricardo, que introduziu essa análise no início do século XIX.

Na Figura 8-2, agrupamos autopeças em pacotes de 10 mil, assim, por exemplo, um país que produz 500 pacotes de autopeças está produzindo 5 milhões de autopeças individuais. Pode ser observado na figura que os Estados Unidos podem produzir 2 mil aviões se não produzir nenhuma autopeça, ou 1 mil pacotes de autopeças se não produzir aviões. Assim, a inclinação da fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos, ou PPF, é −2.000/1.000 = − 2. Ou seja, para produzir um pacote adicional de autopeças, os Estados Unidos devem renunciar à produção de dois aviões. Da mesma forma, o México pode produzir 1 mil aviões, se não produzir autopeças ou 2 mil pacotes de autopeças se não produzir aviões. Assim, a inclinação da PPF do México é −1.000/2.000 = −1/2. Ou seja, para produzir um pacote adicional de autopeças, o México deve renunciar à produção de 1/2 avião. Os economistas usam o termo autarquia para se referir a uma situação em que um país não negocia com outros países. Suponhamos que em autarquia os Estados Unidos decidiram produzir e consumir 500 pacotes de autopeças e 1 mil aviões. Suponhamos também que em autarquia o México produz 1 mil pacotes de autopeças e 500 aviões. Os trade-offs que os dois países enfrentam quando não comerciam estão resumidos na Tabela 8-1. Como se pode ver, os Estados Unidos têm vantagem comparativa na produção de aviões porque têm um custo de oportunidade menor em termos de autopeças do que o México: a produção de um avião custa aos Estados Unidos apenas 1/2 de um conjunto de autopeças, enquanto custa ao México dois pacotes de autopeças. Do mesmo modo, o México tem vantagem comparativa na produção de autopeças: um pacote custa apenas 1/2 de um avião, enquanto que para os Estados Unidos custam dois aviões. Como vimos no Capítulo 2, cada país pode-se sair melhor se envolvendo em comércio do que se não o fizesse. Um país pode fazer isso se especializando na produção do bem que tem vantagem comparativa e exportando esse bem e importando o bem em que tem desvantagem comparativa. Vamos ver como isso funciona. Ganhos do comércio internacional

A Figura 8-3 ilustra como os dois países ganham com a especialização e com o comércio, mostrando um rearranjo hipotético de produção e consumo que permite a cada país consumir mais de ambos os bens. De novo, o painel (a)

representa os Estados Unidos, e o painel (b) representa o México. Em cada painel indicamos novamente a produção e o consumo em autarquia assumido na Figura 8-2. Contudo, uma vez que o comércio torna-se possível, tudo muda. Com o comércio, cada país pode passar a produzir apenas o bem que tem uma vantagem comparativa – aviões para os Estados Unidos e autopeças para o México. Como agora a produção mundial dos dois bens é maior do que em autarquia, o comércio torna possível que cada país consuma mais dos dois bens. A Tabela 8-2 soma as variações resultantes do comércio e mostra por que os dois países podem ganhar. A parte esquerda da tabela mostra a situação de autarquia, antes do comércio, em que cada país produz os bens que consome. A parte direita da tabela mostra o que acontece como resultado do comércio. Depois do comércio, os Estados Unidos se especializam na produção de aviões, produzindo 2 mil aviões e nenhuma autopeça; o México se especializa na produção de autopeças, produzindo 2 mil pacotes de autopeças e nenhum avião. TABELA 8-2 Como os Estados Unidos e o México ganham com o comércio Em autarquia

Estados Unidos

México

FIGURA 8-3

Com comércio

Produção

Consumo

Produção

Consumo

Ganhos do comércio

500

500

0

750

+250

Aviões

1.000

1.000

2.000

1.250

+250

Pacotes de autopeças

1.000

1.000

2.000

1.250

+250

Aviões

500

500

0

750

+250

Pacotes de autopeças

Ganhos do comércio internacional

O comércio aumenta a produção mundial de ambos os bens, permitindo aos dois países consumir mais. Aqui, resultante do comércio, cada país se especializa na sua produção: os Estados Unidos se concentra na produção de aviões, e o México se concentra na produção de autopeças. A produção mundial total dos dois bens aumenta, o que significa que para os dois países é possível consumir mais desses bens.

O resultado é um aumento na produção mundial total dos dois bens. Como se pode ver na coluna da Tabela 8-2, na extrema direita, mostrando o consumo com comércio, os Estados Unidos são capazes de consumir tanto mais aviões como mais autopeças que antes, apesar de já não produzirem autopeças, pois podem importar autopeças do México. O México também pode consumir mais dos dois bens, mesmo que já não produza mais aviões, porque pode importar aviões dos Estados Unidos. O fundamento desse ganho mútuo é o fato de que o comércio liberta os dois países da autossuficiência – da necessidade de produzir as mesmas combinações de bens que consomem. Como cada país pode-se concentrar na produção do bem em que tem vantagem comparativa, a produção mundial total aumenta, tornando possível um padrão de vida melhor nas duas nações. Agora, nesse exemplo, supomos os pacotes de consumo pós-comércio dos dois países. De fato, as escolhas de consumo de um país refletem tanto as preferências dos seus moradores como os preços relativos – os preços de um bem em termos do outro nos mercados internacionais. Embora não tenhamos dado explicitamente o preço dos aviões em termos de autopeças, esse preço está implícito no exemplo: o México vende aos Estados Unidos 750 pacotes de autopeças que os Estados Unidos consomem em troca dos 750 aviões que o México consome. Então, um pacote de autopeças é trocado por um avião. No

nosso exemplo, isso nos diz que no mercado mundial o preço de um avião é igual ao preço de um pacote com 10 mil autopeças. Um requisito que o preço relativo deve satisfazer é que nenhum país pague um preço relativo maior do que o custo de oportunidade de obter o bem em autarquia. Ou seja, os Estados Unidos não vão pagar mais do que dois aviões para cada pacote de 10 mil autopeças do México, e o México não vai pagar mais do que dois pacotes de 10 mil autopeças para cada avião dos Estados Unidos. Uma vez que esse requisito seja satisfeito, o preço relativo real no comércio internacional é determinado pela oferta e demanda. Na próxima seção, vamos nos voltar para a oferta e demanda no comércio internacional. No entanto, antes vamos analisar mais profundamente a natureza dos ganhos do comércio. Vantagem comparativa versus vantagem absoluta

É fácil aceitar a ideia de que o Vietnã e a Tailândia têm uma vantagem comparativa na produção de camarão: têm um clima tropical mais adequado à piscicultura do que o dos Estados Unidos (mesmo na costa do Golfo) e bastante área costeira que pode ser usada. Assim, os Estados Unidos importam camarão do Vietnã e da Tailândia. Contudo, em outros casos, é difícil entender por que os Estados Unidos importam determinados bens do exterior. As importações americanas de autopeças do México são um caso em questão. Não há nada acerca do clima ou dos recursos do México que o torne especialmente bom na fabricação de autopeças. Na verdade, é quase certo que nos Estados Unidos se consome menos horas de trabalho para produzir um assento ou um feixe de cabos do que no México. O que nos leva, então, a comprar autopeças do México? Porque os ganhos do comércio dependem da vantagem comparativa e não da vantagem absoluta. Sim, há menos trabalho na fabricação de um feixe de cabos nos Estados Unidos do que no México. Isto é, a produtividade dos trabalhadores mexicanos de autopeças é menor do que os homólogos americanos. Mas o que determina a vantagem comparativa não é a quantidade de recursos utilizados para produzir um bem, mas o custo de oportunidade desse bem – nos Estados Unidos, a quantidade de outros bens renunciados para produzir um assento de carro. E o custo de oportunidade de autopeças é menor no México do que nos Estados Unidos.

Eis como funciona: os trabalhadores mexicanos têm baixa produtividade em comparação com os trabalhadores dos Estados Unidos na indústria de autopeças. Mas os trabalhadores mexicanos têm ainda produtividade mais baixa em comparação com os trabalhadores dos Estados Unidos em outras indústrias. Como a produtividade do trabalho mexicano em outras indústrias que não a de autopeças é relativamente baixa, a produção de um feixe de cabos no México, apesar de empregar mais trabalho, não necessita de renúncia à produção de grandes quantidades de outros bens. Nos Estados Unidos, o oposto é verdadeiro: a alta produtividade em outras indústrias (como bens de alta tecnologia) significa que produzir um assento de carro nos Estados Unidos, mesmo que não requeira tanto trabalho, exige sacrificar muitos outros bens. Assim, o custo de oportunidade de produzir autopeças é menor no México do que nos Estados Unidos. Apesar da baixa produtividade do trabalho, o México tem vantagem comparativa na produção de muitas autopeças, embora os Estados Unidos tenham vantagem absoluta. A vantagem comparativa do México em autopeças é refletida nos mercados globais pelos salários pagos aos trabalhadores mexicanos. Isso porque os salários de um país, em geral, refletem a produtividade do trabalho. Em países onde o trabalho é altamente produtivo em muitas indústrias, os empregadores se dispõem a pagar altos salários para atrair trabalhadores, assim a competição entre os empregadores leva a um índice alto de salários. Em países onde o trabalho é menos produtivo, a concorrência por trabalhadores é menos intensa, e os salários são proporcionalmente menores. Como mostra a seção Comparação global a seguir, há de fato uma forte relação entre os níveis gerais de índices de produtividade e de salários em todo o mundo. Como, em geral, o México tem baixa produtividade, tem um índice de salário relativamente baixo. Por sua vez, os baixos salários dão ao México uma vantagem de custo na produção de bens, onde a produtividade é apenas moderadamente baixa, como em autopeças. Em decorrência, é mais barato produzir essas peças no México que nos Estados Unidos.

COMPARAÇÃO GLOBAL Á

PRODUTIVIDADE E SALÁRIOS EM TODO O MUNDO É verdade que o argumento do trabalho pobre e do trabalho explorado são falácias? Sim, é verdade. A verdadeira explicação para baixos salários nos países pobres é a baixa produtividade geral. O gráfico mostra estimativas de produtividade do trabalho medidas pelo valor da produção (PIB) por trabalhador e salários medidos pela remuneração mensal do trabalhador médio em diversos países em 2009. Tanto a produtividade como os salários são expressos em porcentagem da produtividade e dos salários nos Estados Unidos; por exemplo, a produtividade e os salários no Japão foram de 79% e 91%, respectivamente, dos níveis dos Estados Unidos. Pode-se observar a forte relação positiva entre salário e produtividade. A relação não é perfeita. Por exemplo, a Alemanha tem salários mais altos do que se espera pela sua produtividade. Mas comparações simples de salários dão uma sensação enganosa dos custos do trabalho em países pobres: a vantagem do salário baixo geralmente é compensada pela produtividade baixa.

Fonte: Bureau of Labor Statistics, Fundo Monetário Internacional.

O tipo de comércio que ocorre em economias com baixos salários e baixa produtividade como o México, e altos salários e alta produtividade como os Estados Unidos, dá origem a dois equívocos comuns. Um deles, a falácia do trabalho pobre, é a crença de que quando um país com altos salários importa

bens produzidos por trabalhadores que recebem salários baixos, deve prejudicar o padrão de vida dos trabalhadores do país importador. O outro, a falácia do trabalho explorado, é a crença de que o comércio deve ser ruim para os trabalhadores nos países exportadores pobres, porque esses trabalhadores recebem salários muito baixos para os nossos padrões. Ambas as falácias não percebem a natureza dos ganhos do comércio: é vantajoso para ambos os países quando o país mais pobre e com salários mais baixos exporta bens em que tem vantagem comparativa, mesmo que a vantagem de custo desses bens dependa de salários baixos. Ou seja, os dois países conseguem atingir um padrão de vida mais elevado através do comércio. É particularmente importante entender que a compra de um bem produzido por alguém que recebe um salário muito mais baixo do que a maioria dos trabalhadores americanos não implica, necessariamente, que se esteja tirando vantagem dessa pessoa. Depende das alternativas. Como os trabalhadores nos países pobres têm baixa produtividade em todos os setores, são oferecidos salários baixos tanto pela produção de bens exportados para os Estados Unidos como pela produção de bens vendidos no mercado local. Um trabalho que pode parecer terrível para os padrões dos países ricos pode ser um avanço para alguém em um país pobre. O comércio internacional que depende das exportações produzidas por pessoal com salários baixos pode, contudo, elevar o padrão de vida desse país. Isso é especialmente verdade para nações com salários muito baixos. Por exemplo, Bangladesh e países semelhantes estariam mais pobres do que são – seus cidadãos poderiam até estar passando fome – se não pudessem exportar produtos, como roupas, com base em seus salários baixos. Fontes de vantagem comparativa

O comércio internacional é impulsionado por vantagem comparativa. Mas de onde ela vem? Os economistas que estudam o comércio internacional encontraram três fontes principais de vantagem comparativa: diferenças internacionais de clima, diferenças internacionais na disponibilidade de fatores e diferenças internacionais de tecnologia. Diferenças de clima

Um dos principais motivos para que o custo de oportunidade de produção do camarão no Vietnã e na Tailândia seja menor do que nos Estados Unidos é que o camarão precisa de água quente, o que o Vietnã tem muito e os Estados Unidos não têm. Em geral, as diferenças de clima desempenham um papel significativo no comércio internacional. Países tropicais exportam produtos tropicais como café, açúcar, banana e camarão. Países de zonas temperadas exportam cultivos como trigo e milho. Algum comércio ainda é movido pela diferença de estações entre o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul: o fornecimento de inverno de uvas chilenas e maçãs da Nova Zelândia tornaramse comuns em supermercados americanos e europeus. Diferenças na disponibilidade de fatores

O Canadá é um exportador importante para os Estados Unidos de produtos florestais – madeira e derivados, como papel e celulose. Essas exportações não refletem alguma habilidade especial dos canadenses. O que o Canadá tem é uma vantagem comparativa em produtos florestais, porque suas áreas de floresta são muito maiores em comparação com o tamanho da sua força de trabalho comparando com a razão florestas/força de trabalho dos Estados Unidos. Floresta, como trabalho e capital, é um fator de produção: insumo usado na produção de bens e serviços. (Lembre-se do Capítulo 2, que os fatores de produção são terra, trabalho, capital e capital humano.) Em decorrência da história da geografia, a combinação de fatores de produção disponíveis difere entre os países, fornecendo uma fonte importante de vantagem comparativa. A relação entre vantagem comparativa e disponibilidade de fatores é encontrada em um modelo influente do comércio internacional, o modelo de HeckscherOhlin, desenvolvido por dois economistas suecos na primeira metade do século XX. Dois conceitos fundamentais nesse modelo são abundância do fator e intensidade do fator. Abundância do fator refere-se à magnitude da oferta do fator de um país em relação à oferta de outros fatores. Intensidade do fator refere-se ao fato de que os produtores usam proporções diferentes de fatores de produção na produção de bens diferentes. Por exemplo, as refinarias de petróleo usam muito mais capital por trabalhador do que as fábricas de vestuário. Os economistas usam o termo intensidade de fator para descrever essa diferença entre os bens: as refinarias de petróleo são intensivas em capital

porque tendem a usar uma alta proporção de capital para trabalho, mas a produção de assentos para carros é intensiva em trabalho porque tende a usar uma alta proporção de trabalho em relação ao capital. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, o país que tem uma fonte abundante de um fator de produção terá uma vantagem comparativa em bens cuja produção seja intensiva nesse fator. Assim, um país que tem abundância relativa de capital vai ter uma vantagem comparativa nas indústrias intensivas em capital, como refinarias de petróleo, mas um país que tem abundância de mão de obra terá uma vantagem comparativa em indústrias intensivas em trabalho, como a produção de assentos para carros. A intuição básica por trás desse resultado é simples e se baseia no custo de oportunidade. O custo de oportunidade de determinado fator – o valor que esse fator geraria em usos alternativos – é baixo para o país que tem abundância relativa desse fator. Em relação aos Estados Unidos, o México tem abundância de trabalhadores pouco qualificados. Em decorrência, o custo de oportunidade da produção de bens intensivos em trabalho de baixa qualificação é menor no México do que nos Estados Unidos. O exemplo mais drástico da validade do modelo Heckscher-Ohlin é o comércio mundial de vestuário. A produção de vestuário é uma atividade intensiva em trabalho: não usa muito capital físico, nem exige muito capital humano na forma de trabalhadores altamente qualificados. Então é de se esperar que países com mão de obra abundante, como a China e Bangladesh, tenham uma vantagem comparativa na produção de vestuário. E realmente têm. O fato de que boa parte do comércio internacional resulta da diferença na disponibilidade de fatores ajuda a explicar ainda outro fato: a especialização internacional da produção muitas vezes é incompleta. Ou seja, um país, muitas vezes, mantém alguma produção doméstica de um bem que importa. Um bom exemplo disso é o petróleo nos Estados Unidos. A Arábia Saudita exporta petróleo para os Estados Unidos, porque tem uma oferta abundante de petróleo em relação a outros fatores de produção. Os Estados Unidos exportam equipamentos médicos para a Arábia Saudita, porque têm uma oferta abundante de expertise em tecnologia médica em relação aos outros fatores de produção. Mas os Estados Unidos também produzem um pouco de petróleo no mercado doméstico, pois o tamanho de suas reservas domésticas no Texas e no Alasca faz com que tenham uma vantagem econômica para isso.

Na próxima seção, em nossa análise da oferta e da demanda, vamos considerar que a especialização incompleta de um país seja a norma. Devemos ressaltar, contudo, que o fato de que os países têm especialização incompleta não muda de modo algum a conclusão de que ocorrem ganhos do comércio. Diferenças de tecnologia

Nas décadas de 1970 e 1980, o Japão tornou-se, de longe, o maior exportador do mundo de automóveis, vendendo grande quantidade para os Estados Unidos e para o resto do mundo. A vantagem comparativa do Japão em automóveis não foi resultado do clima. Também não pode ser facilmente atribuída às diferenças na disponibilidade de fatores: fora a escassez de terra, a combinação de fatores disponíveis no Japão é bastante semelhante à de outros países avançados. Em vez disso, como discutido no estudo de caso do Capítulo 2 sobre a produção enxuta da Toyota e da Boeing, a vantagem comparativa em automóveis do Japão baseou-se em técnicas de produção superiores desenvolvidas por seus fabricantes, o que permitiu que produzissem mais carros com uma determinada quantidade de trabalho e capital do que os homólogos americanos ou europeus. A vantagem comparativa do Japão em automóveis foi um caso de vantagem comparativa causada por diferenças em tecnologia – técnicas usadas na produção.

PARA MENTES CURIOSAS RETORNOS DE ESCALA CRESCENTES E COMÉRCIO INTERNACIONAL A maioria das análises de comércio internacional se concentra em como as diferenças entre os países – diferenças de clima, de disponibilidade de fatores e de tecnologia – determinam a vantagem comparativa nacional. No entanto, os economistas também assinalam outro motivo para o comércio internacional: o papel dos retornos de escala crescentes. A produção de um bem se caracteriza por retornos de escala crescentes quando a produtividade do trabalho e de outros recursos utilizados na produção aumenta com a quantidade do produto. Por exemplo, em uma indústria caracterizada por retornos de escala crescentes, um aumento de 10% da

produção pode requerer apenas 8% a mais de trabalho e 9% a mais de matériaprima. Exemplos de indústrias com retornos de escala crescentes incluem a indústria automobilística, o refino de petróleo e a produção de aviões a jato; todos requerem grandes investimentos de capital. Retornos de escala crescentes (por vezes também chamados de economias de escala) podem dar origem ao monopólio, situação em que um setor é composto por apenas um produtor, que oferece às grandes empresas vantagem de custo sobre as pequenas. Mas retornos de escala crescentes também podem dar origem ao comércio internacional. A lógica é a seguinte: se a produção de um bem se caracteriza por retornos de escala crescentes, faz sentido concentrar a produção em apenas alguns locais, de modo que cada local tenha um elevado nível de produção. Mas isso também significa que o bem é produzido em poucos países que o exportam para outros países. Um exemplo comumente citado é o da indústria automobilística americana: embora tanto os Estados Unidos como o Canadá produzam carros e seus componentes, cada modelo ou componente específico tende a ser produzido em apenas um dos dois países e exportado para o outro. Retornos de escala crescentes, provavelmente, desempenham um grande papel no comércio de bens manufaturados entre países avançados, o que corresponde a aproximadamente 25% do valor total do comércio mundial.

As causas das diferenças em tecnologia são um tanto misteriosas. Às vezes, parecem ser baseadas no conhecimento acumulado por meio da experiência – por exemplo, a vantagem comparativa da Suíça em relógios reflete uma longa tradição de relojoaria. Por vezes, é o resultado de um conjunto de inovações que, por alguma razão, ocorre em um país, mas não em outros. Contudo, a vantagem tecnológica, muitas vezes, é transitória. Como também discutimos no estudo de caso do Capítulo 2, através da adoção da produção enxuta, os fabricantes de automóveis americanos já fecharam grande parte da lacuna de produtividade com os concorrentes japoneses. Além disso, a indústria aeronáutica da Europa fechou uma lacuna semelhante com a indústria aeronáutica dos Estados Unidos. No entanto, em determinado ponto no tempo, as diferenças de tecnologia são uma importante fonte de vantagem comparativa.

economia em ação Trabalho qualificado e vantagem comparativa

Em 1953, os trabalhadores americanos estavam nitidamente mais bem equipados com máquinas do que os trabalhadores de outros países. A maioria dos economistas, nessa época, achava que a vantagem comparativa dos Estados

Unidos residia em bens com elevada intensidade de capital. Mas Wassily Leontief fez uma descoberta surpreendente: a vantagem comparativa americana não era exatamente em bens intensivos em capital. De fato, os bens que os Estados Unidos exportavam eram ligeiramente menos intensivos em capital do que os bens que o país importava. Essa descoberta veio a ser conhecida como o paradoxo de Leontief, e levou a esforços sustentados para entender o padrão de comércio internacional dos Estados Unidos. A principal resolução desse paradoxo, ao que parece, depende da definição do capital. As exportações dos Estados Unidos não são intensivas em capital físico – máquinas e construções. Em vez disso, são intensivas em competências – isto é, são intensivas em capital humano. As indústrias exportadoras dos Estados Unidos usam uma proporção substancialmente maior de trabalhadores altamente qualificados do que é encontrado nas indústrias que competem com as importações. Por exemplo, um dos setores que mais exportam nos Estados Unidos é o da Aeronáutica. A indústria aeronáutica emprega grande número de engenheiros e outras pessoas graduadas em relação ao número de trabalhadores manuais. Da mesma forma, os Estados Unidos importam muito vestuário, que, na maioria das vezes, é produzido por trabalhadores com pouca educação formal. Em geral, os países com força de trabalho altamente qualificada tendem a exportar bens intensivos em competência técnica, enquanto que os países com força de trabalho menos qualificada tendem a exportar bens que não exigem mão de obra altamente qualificada. A Figura 8-4 ilustra esse ponto ao comparar os bens que os Estados Unidos importam da Alemanha, país com força de trabalho altamente qualificada, com os bens que os Estados Unidos importam de Bangladesh, onde cerca da metade da população adulta ainda é analfabeta. Em cada país as indústrias são classificadas, primeiro, de acordo com a intensidade de mão de obra qualificada. Em seguida, para cada indústria, calculamos a proporção de exportações para os Estados Unidos. Isso nos permite representar, para cada país, vários setores de acordo com a intensidade de qualificação dos trabalhadores e sua parte nas exportações para os Estados Unidos. FIGURA 8-4

Educação, intensidade de qualificação e comércio

Fonte: John Romalis, Factor Proportions and the Structure of Commodity Trade, American Economic Review 94, n. 1 (2004): 67–97.

Na Figura 8-4, o eixo horizontal mostra uma medida da intensidade de qualificação do trabalho para diferentes indústrias, e o eixo vertical mostra a participação das importações dos Estados Unidos vindas de cada indústria na Alemanha (à esquerda) e de Bangladesh (à direita). Como se pode ver, as exportações de cada país para os Estados Unidos refletem o seu nível de qualificação de mão de obra. A curva representando a Alemanha se inclina para cima: quanto maior a intensidade de qualificação de uma indústria, maior a proporção de exportações para os Estados Unidos. Por outro lado, a curva que representa Bangladesh se inclina para baixo: quanto menos intensiva em qualificação para o trabalho for um setor em Bangladesh, tanto maior será sua parcela de exportações para os Estados Unidos.

BREVE REVISÃO Importações e exportações representam uma parcela crescente da economia dos Estados Unidos e da economia de muitos outros países. O crescimento do comércio internacional e de outras interligações internacionais é conhecido como globalização.

O comércio internacional é movido por vantagem comparativa. O modelo ricardiano de comércio internacional mostra que o comércio entre dois países torna a situação dos dois países melhor do que seria em autarquia – ou seja, existe ganho do comércio internacional. As principais fontes de vantagem comparativa são as diferenças internacionais no clima, disponibilidade de fatores e tecnologia. O modelo Heckscher-Ohlin mostra como a vantagem comparativa pode surgir de diferenças na disponibilidade de fatores: os bens diferem na intensidade dos fatores e os países tendem a exportar bens que são intensivos nos fatores que têm em abundância.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 8-1 1. Nos Estados Unidos, o custo de oportunidade de uma tonelada de milho é de 50 bicicletas. Na China, o custo de oportunidade de uma bicicleta é de 0,01 tonelada de milho. a. Determine o padrão de vantagem comparativa. b. Em autarquia, os Estados Unidos podem produzir 200 mil bicicletas, se não produzir milho. A China pode produzir 3 mil toneladas de milho se não produzir bicicletas. Trace a fronteira das possibilidades de produção de cada país, supondo que o custo de oportunidade seja constante, com toneladas de milho no eixo vertical e bicicletas no eixo horizontal. c. Havendo comércio, cada país especializa a produção. Os Estados Unidos consomem 1 mil toneladas de milho e 200 mil bicicletas. A China consome 3 mil toneladas de milho e 100 mil bicicletas. Indique os pontos de produção e consumo nos gráficos e os utilize para explicar os ganhos do comércio. 2. Explique os seguintes padrões de comércio usando o modelo Heckscher-Ohlin. a. A França exporta vinho para os Estados Unidos e os Estados Unidos exportam filmes para a França. b. O Brasil exporta sapatos para os Estados Unidos e os Estados Unidos exportam maquinaria para a produção de sapatos para o Brasil. As respostas estão no fim do livro.

OFERTA, DEMANDA E COMÉRCIO INTERNACIONAL Modelos simples de vantagem comparativa são úteis para a compreensão das causas fundamentais do comércio internacional. No entanto, para analisar os efeitos do comércio internacional em mais detalhes e compreender as

políticas comerciais, convém voltar ao modelo de oferta e demanda. Começaremos analisando os efeitos das importações sobre os produtores e consumidores domésticos para, em seguida, passar para os efeitos das exportações. Efeitos das importações

A Figura 8-5 mostra o mercado dos Estados Unidos de assentos para carros, ignorando, por um momento, o comércio internacional. Introduz alguns conceitos novos: a curva da demanda doméstica, a curva da oferta doméstica e o preço doméstico ou autarquia. A curva da demanda doméstica mostra como a quantidade demandada de um bem pelos moradores de um país depende do seu preço. Por que “doméstica”? Porque pessoas que vivem em outros países também podem demandar o bem. Uma vez introduzido o comércio internacional, é preciso distinguir entre a compra de um bem por parte dos consumidores domésticos e a compra por consumidores estrangeiros. Assim, a curva da demanda doméstica reflete apenas a demanda dos moradores desse país. Da mesma forma, a curva da oferta doméstica mostra como a quantidade de um bem ofertada pelos produtores dentro de um país depende do preço desse bem. Uma vez introduzido o comércio internacional, é preciso distinguir entre a oferta de produtores domésticos e estrangeiros – ou seja, a oferta do exterior. Em autarquia, sem o comércio internacional de assentos para carros, o equilíbrio nesse mercado seria determinado pela interseção entre as curvas da demanda doméstica e da oferta doméstica, o ponto A. O preço de equilíbrio de assentos para carros seria PA, e a quantidade de equilíbrio de assentos para carros produzidos e consumidos seria QA. Como sempre, tanto os consumidores como os produtores ganhariam com a existência do mercado doméstico. Em autarquia, o excedente do consumidor seria igual à área do triângulo sombreada de azul na Figura 8-5. O excedente do produtor seria igual à área do triângulo sombreada de vermelho. E o excedente total seria igual à soma desses dois triângulos sombreados. FIGURA 8-5

Excedente do consumidor e do produtor em autarquia

Na ausência de comércio, o preço doméstico é PA, o preço de autarquia ao qual a curva da oferta doméstica e a curva da demanda doméstica se cruzam. A quantidade produzida e consumida internamente é QA. O excedente do consumidor é representado pela área sombreada de azul, e o excedente do produtor é representado pela área sombreada de vermelho.

Agora vamos imaginar que esse mercado se abra para importações. Para isso, devemos fazer uma suposição sobre a oferta de importações. A hipótese mais simples, que adotaremos aqui, é que quantidades ilimitadas de assentos para carros podem ser compradas a um preço fixo no exterior, conhecido como preço internacional de assentos para carros. A Figura 8-6 mostra uma situação em que o preço internacional de um assento para carro, PW, é mais baixo do que o preço de um assento para carro que prevaleceria no mercado doméstico em autarquia, PA. Dado que o preço internacional está abaixo do preço doméstico de assentos para carros, é lucrativo para os importadores comprar esses assentos no exterior e revendê-los no mercado doméstico. Os assentos importados aumentam a oferta de assentos para carros no mercado doméstico, reduzindo

seu preço. Os assentos para carros continuarão a ser importados até que o preço doméstico caia para o nível igual ao preço internacional. FIGURA 8-6

Mercado doméstico com importações

Aqui, o preço mundial de autopeças, PW, está abaixo do preço de autarquia, PA. Quando a economia está aberta ao comércio internacional, as importações penetram no mercado doméstico e o preço doméstico cai do preço de autarquia, PA, para o preço internacional,

PW. À medida que o preço cai, a quantidade demandada doméstica aumenta de QA para QD, e a quantidade ofertada doméstica cai de QA para QS. A diferença entre quantidade demandada doméstica e quantidade ofertada doméstica em PW, a quantidade QD − QS, é preenchida com importações.

FIGURA 8-7

Efeitos das importações sobre o excedente

Quando o preço doméstico cai para PW, em virtude do comércio internacional, os consumidores obtêm excedente adicional (área X + Z), e os produtores perdem excedente (área X). Como o ganho dos consumidores supera as perdas dos produtores, há um aumento no excedente total na economia como um todo (área Z).

O resultado é mostrado na Figura 8-6. Por causa das importações, o preço doméstico de um assento cai de PA para PW. A quantidade de assentos para carros demandada pelos consumidores domésticos sobe de QA para QD, e a quantidade ofertada pelos produtores domésticos cai de QA para QS. A diferença entre quantidade doméstica demandada e quantidade doméstica ofertada, QD − QS, é coberta por importações. FIGURA 8-8

Mercado doméstico com exportações

Aqui, o preço do mercado internacional, PW, é mais alto que o preço de autarquia, PA. Quando a economia é aberta ao comércio internacional, parte da oferta doméstica é exportada. O preço doméstico sobe em relação ao preço de autarquia, PA, para o preço internacional, PW. À medida que o preço aumenta, a quantidade demandada cai de QA para QD, e a quantidade doméstica ofertada sobe de QA para QS. A parcela da produção doméstica que não é consumida internamente, QS − QD, é exportada.

Passemos agora aos efeitos das importações sobre o excedente do consumidor e do produtor. Como as importações de assentos para carros levam a uma queda no preço doméstico, o excedente do consumidor aumenta, e o excedente do produtor cai. A Figura 8-7 mostra como funciona. Marcamos quatro áreas: W, X, Y e Z. O excedente do consumidor em autarquia que identificamos na Figura 8-5 corresponde a W, e o excedente do produtor em autarquia corresponde à soma de X e Y. A queda no preço doméstico até o nível do preço internacional leva a um aumento no excedente do consumidor; aumenta X e Z, por isso o excedente do consumidor agora é igual à soma de W, X e Z. Ao mesmo tempo, os produtores perdem a área X em excedente, por isso o excedente do produtor agora é igual apenas a Y.

A tabela da Figura 8-7 resume as mudanças nos excedentes do consumidor e do produtor quando o mercado de assentos para carros se abre para importações. Os consumidores ganham excedente igual à área X + Z. Os produtores perdem excedente igual à área X. Assim, a soma dos excedentes do produtor e do consumidor – o excedente total gerado no mercado de assentos para automóveis – aumenta Z. Decorrente do comércio, os consumidores ganham, e os produtores perdem, mas o ganho dos consumidores excede a perda dos produtores. Esse é um resultado importante. Acabamos de mostrar que a abertura de mercado às importações leva a um ganho líquido no excedente total, que era de se esperar, dada a proposição de que existem ganhos com o comércio internacional. No entanto, também aprendemos que, embora o país como um todo ganhe, alguns grupos – nesse caso, os produtores domésticos de autopeças – perdem como resultado do comércio internacional. Como veremos em breve, o fato de o comércio internacional normalmente criar perdedores e ganhadores é crucial para a compreensão da política comercial. Passaremos agora ao caso em que um país exporta um bem. Efeitos das exportações

A Figura 8-8 mostra os efeitos sobre um país quando ele exporta um bem, nesse caso, aviões. Nesse exemplo, vamos supor que uma quantidade ilimitada de aviões possa ser vendida no exterior a determinado preço internacional, PW, que é mais alto do que o preço que prevaleceria no mercado doméstico em autarquia, PA. O preço internacional mais alto torna rentável para os exportadores comprar aviões no mercado doméstico e vendê-los no exterior. As compras de aviões domésticos pressionam para cima o preço doméstico até que ele fica igual ao preço internacional. Em decorrência, a quantidade demandada pelos consumidores domésticos cai de QA para QD, e a quantidade ofertada pelos produtores domésticos sobe de QA para QS. Essa diferença entre a produção doméstica e o consumo doméstico, QS – QD, é exportada. Assim como as importações, as exportações trazem um ganho geral no excedente total do país exportador, mas também criam perdedores e vencedores. A Figura 8-9 mostra o efeito da exportação de aviões sobre os excedentes do produtor e do consumidor. Na ausência de comércio, o preço de

cada avião seria PA. Na ausência de comércio, o excedente do consumidor é a soma das áreas W e X, e o excedente do produtor é a área Y. Decorrente do comércio, o preço sobe de PA para PW, o excedente do consumidor cai para W, e o excedente do produtor sobe para Y + X + Z. Assim, os produtores ganham X + Z, os consumidores perdem X, e, como mostrado na tabela que acompanha a figura, a economia no conjunto ganha um excedente total, no montante de Z. FIGURA 8-9

Efeitos das exportações sobre o excedente

Quando o preço doméstico sobe para PW, em virtude do comércio, os produtores ganham excedente adicional (áreas de X + Z), mas os consumidores perdem excedente (área X). Como o ganho dos produtores supera a perda dos consumidores, há um aumento no excedente total na economia como um todo (área Z).

Aprendemos, então, que as importações de determinado bem prejudicam os produtores domésticos desse bem, mas ajudam os consumidores domésticos, enquanto as exportações de determinado bem prejudicam os consumidores domésticos, mas ajudam os produtores domésticos desse bem. Em cada caso, os ganhos são maiores do que as perdas. Comércio internacional e salários

Até agora, concentramo-nos nos efeitos do comércio internacional sobre produtores e consumidores em um determinado setor. Para muitas finalidades

essa é uma abordagem útil. No entanto, produtores e consumidores não são as únicas partes da sociedade afetadas pelo comércio – os proprietários dos fatores de produção também são afetadas. Em particular, os proprietários de trabalho, terra e capital que são empregados na produção de bens que são exportados, ou bens que competem com bens importados, podem ser profundamente afetados pelo comércio. Além disso, os efeitos do comércio não se limitam apenas aos setores que exportam ou competem com as importações, pois os fatores de produção, muitas vezes, podem-se mover de um setor para outro. Então, agora, voltamos a nossa atenção para os efeitos de longo prazo do comércio internacional sobre a distribuição de renda – como a renda total de um país é distribuída entre vários fatores de produção. Para começar a análise, considere a situação de Maria, uma contadora na empresa Autopeças Centro-oeste. Se a economia estiver aberta para a importação de autopeças do México, a indústria doméstica de autopeças irá contrair e contratar menos contadores. Mas a contabilidade é uma profissão com oportunidades de emprego em muitos setores. É bem provável que Maria encontre um emprego melhor na indústria aeronáutica, que se expande como resultado do comércio internacional. Por isso, pode não ser apropriado pensar nela como uma produtora de autopeças que foi prejudicada pela concorrência de autopeças importadas. Ao contrário, devemos pensar nela como uma contadora que foi afetada pela importação de autopeças apenas na medida em que tais importações alteram os salários dos contabilistas na economia como um todo. O salário dos contadores é um preço de fator – o preço que os empregadores têm que pagar pelos serviços de um fator de produção. Uma questão importante sobre o comércio internacional é como ele afeta os preços dos fatores – não apenas os fatores de produção estritamente definidos como contadores, mas fatores como capital, trabalho não qualificado e mão de obra com formação universitária. No início deste capítulo, descrevemos o modelo Heckscher-Ohlin de comércio, que afirma que a vantagem comparativa é determinada pela dotação de fatores de um país. Esse modelo também sugere como o comércio internacional afeta o preço dos fatores em um país: em comparação com autarquia, o comércio internacional tende a elevar o preço dos fatores que estão abundantemente disponíveis e reduz o preço dos fatores que são escassos.

Não vamos analisar isso em detalhe, mas a ideia é simples. Os preços dos fatores de produção, assim como os preços dos bens e serviços, são determinados pela oferta e demanda. Se o comércio internacional aumenta a demanda de um fator de produção, o preço desse fator aumenta; se o comércio internacional reduz a demanda de um fator de produção, o preço desse fator diminui. Agora imagine que as indústrias de um país sejam de dois tipos: indústrias exportadoras, que produzem bens e serviços vendidos no exterior, e indústrias que competem com importações, que produzem bens e serviços que também são importados do exterior. Em comparação com autarquia, o comércio internacional leva a uma produção maior nas indústrias exportadoras e menor nas indústrias que competem com importações. Isso indiretamente aumenta a demanda dos fatores usados pelas indústrias exportadoras e diminui a demanda pelos fatores usados pelas indústrias que competem com importações. Além disso, o modelo Heckscher-Ohlin diz que um país tende a exportar bens intensivos em seus fatores abundantes e a importar bens intensivos em seus fatores escassos. Assim, o comércio internacional tende a aumentar a demanda de fatores que são abundantes em dado país, em comparação com outros países, e a diminuir a demanda de fatores que são escassos nesse país, em comparação com outros países. Como resultado, o preço dos fatores abundantes tende a subir e os preços dos fatores escassos tende a cair à medida que o comércio internacional cresce. Em outras palavras, o comércio internacional tende a redistribuir a renda em favor dos fatores abundantes de um país e contra os fatores menos abundantes. No final da seção anterior, em Economia em ação, vimos como as exportações dos Estados Unidos tendem a ser intensivas em capital humano e as importações dos Estados Unidos tendem a ser intensivas em mão de obra não qualificada. Isso sugere que o efeito do comércio internacional sobre os mercados de fatores dos Estados Unidos seja elevar o nível de salário dos trabalhadores altamente qualificados e reduzir o nível de salário de trabalhadores menos qualificados. Esse efeito tem sido fonte de grande preocupação nos últimos anos. A desigualdade de salário – o hiato entre os salários dos que são muito bem pagos e os dos trabalhadores com baixa remuneração – aumentou substancialmente ao longo dos últimos 30 anos. Alguns economistas acreditam

que o crescimento do comércio internacional é um fator importante dessa tendência. Se o comércio internacional tem efeitos previstos pelo modelo Heckscher-Ohlin, o seu crescimento aumenta os salários dos trabalhadores americanos altamente qualificados, que já têm salários relativamente altos, e reduz os salários dos trabalhadores americanos menos qualificados, que já têm salários relativamente baixos. Mas esteja ciente de outro fenômeno: o comércio reduz a desigualdade de renda entre países à medida que os países pobres melhoram seu padrão de vida por meio da exportação para os países ricos. Qual a importância desses efeitos? Em alguns episódios históricos, o impacto do comércio internacional sobre os preços dos fatores tem sido muito grande. Como explicaremos no exemplo em Economia em Ação, a seguir, a abertura do comércio transatlântico, no final do século XIX, teve um grande impacto negativo sobre a renda da terra na Europa, prejudicando os donos de terras, mas favorecendo os trabalhadores e donos de capital. Os efeitos do comércio sobre os salários dos Estados Unidos geraram controvérsia considerável nos últimos anos. A maioria dos economistas que estudaram o assunto concorda que o crescimento das importações de bens intensivos em trabalho proveniente das economias de industrialização recente, em troca das exportações de bens de alta tecnologia, ajudou a causar uma diferença salarial maior entre os trabalhadores altamente qualificados e os menos qualificados no país. No entanto, a maioria dos economistas acredita que essa é apenas uma entre várias forças que explicam o crescimento da desigualdade salarial.

economia em ação Comércio, salários e preços da terra no Século XIX

Por volta de 1870, houve um crescimento explosivo do comércio internacional de produtos agrícolas, em grande parte, com base na máquina a vapor. Navios a vapor podiam atravessar o oceano de modo muito mais rápido e confiável do que navios a vela. Até cerca de 1860, os navios a vapor tinham custos mais altos do que os navios a vela, mas, depois disso, os preços baixaram rapidamente. Ao mesmo tempo, a locomotiva a vapor tornou possível trazer grãos e outros produtos a granel de maneira mais barata do interior para os portos. O resultado foi que os países com terra abundante, como os Estados

Unidos, o Canadá, a Argentina e a Austrália, começaram a enviar grandes quantidades de produtos agrícolas para os países da Europa densamente povoados e com escassez de terra. Essa abertura do comércio internacional levou ao aumento de preços dos produtos agrícolas, como o trigo, nos países exportadores e a um declínio nos preços dos países importadores. Notavelmente, a diferença entre os preços do trigo no Meio Oeste dos Estados Unidos e da Inglaterra submergiu. A variação nos preços agrícolas criou tanto ganhadores como perdedores nos dois lados do Atlântico, à medida que os preços dos fatores se ajustaram. Na Inglaterra, o preço da terra caiu à metade em comparação com o salário médio; os donos de terra viram seu poder de compra baixar drasticamente, mas os trabalhadores se beneficiaram com alimentos mais baratos. Nos Estados Unidos, aconteceu o inverso: o preço da terra dobrou em comparação com os salários. Os donos de terra se deram muito bem, mas os trabalhadores viram o poder de compra dos salários prejudicados pelo aumento do preço dos alimentos.

BREVE REVISÃO A interseção da curva da demanda doméstica com a curva da oferta doméstica determina o preço doméstico de um bem. Quando o mercado se abre para o comércio internacional, o preço doméstico tende a se igualar ao preço internacional. Se o preço internacional for inferior ao preço de autarquia, o comércio leva à importação, e o preço doméstico cai até o nível do preço internacional. Ocorrem ganhos gerais do comércio internacional, porque o ganho no excedente do consumidor excede a perda do excedente do produtor. Se o preço internacional for superior ao preço de autarquia, o comércio leva à exportação e o preço doméstico aumenta até o nível do preço internacional. Ocorrem ganhos gerais do comércio internacional porque o ganho do excedente do produtor supera a perda do excedente do consumidor. O comércio leva a uma expansão das indústrias de exportação, o que aumenta a demanda pelos fatores abundantes do país, e contrai as indústrias que competem com importações, diminuindo a demanda por seus fatores escassos.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 8-2

1. Em virtude de uma greve de caminhoneiros, o comércio de alimentos entre os Estados Unidos e o México foi interrompido. Em autarquia, o preço das uvas mexicanas é menor do que as uvas americanas. Usando um gráfico para a curva da demanda doméstica e da oferta doméstica dos Estados Unidos para uvas, explique o efeito desses eventos sobre o seguinte: a. Excedente do consumidor de uvas nos Estados Unidos b. Excedente do produtor de uvas nos Estados Unidos c. Excedente total nos Estados Unidos 2. Que efeito isso terá sobre os produtores de uva mexicanos? Sobre os catadores de uva mexicanos? Sobre os consumidores de uva mexicanos? Sobre os catadores de uva dos Estados Unidos? As respostas estão no fim do livro.

OS EFEITOS DA PROTEÇÃO COMERCIAL Desde que David Ricardo apresentou o princípio da vantagem comparativa no início do século XIX, a maioria dos economistas defende o livre comércio. Ou seja, argumentam que políticas governamentais não devem tentar reduzir ou aumentar o nível das exportações e importações que ocorrem naturalmente como resultado da oferta e da demanda. Apesar dos argumentos dos economistas em favor do livre comércio, muitos governos usam impostos e outras restrições para limitar as importações. Com menos frequência, os governos oferecem subsídios para incentivar as exportações. A política para limitar as importações, geralmente com o objetivo de proteger os produtores domésticos das indústrias que competem com importações contra a concorrência externa, é conhecida como proteção comercial, ou apenas proteção. Vamos analisar as duas políticas protecionistas mais comuns, tarifas e cotas de importação, e, em seguida, verificar as razões pelas quais os governos seguem essas políticas. Os efeitos de uma tarifa

Uma tarifa é uma forma de imposto seletivo, que incide apenas sobre as vendas de bens importados. Por exemplo, o governo dos Estados Unidos pode determinar que alguém trazendo assentos para carros deva pagar uma tarifa de $100 por unidade. No passado distante, as tarifas eram uma fonte importante de receita do governo, pois eram relativamente fáceis de arrecadar. Mas, no

mundo moderno, as tarifas geralmente se destinam a desencorajar as importações e proteger os produtores domésticos que competem com as importações e não como fonte de receita do governo. A tarifa aumenta tanto o preço recebido pelos produtores domésticos como o preço pago pelos consumidores domésticos. Suponha, por exemplo, que os Estados Unidos importem assentos para carros, que custam $200 no mercado internacional. Como vimos anteriormente, sob o livre comércio, o preço doméstico também seria $200. Mas se uma tarifa de $100 por unidade for imposta, o preço doméstico se eleva para $300, porque não será lucrativo importar assentos para carros a menos que o preço no mercado doméstico seja alto o suficiente para compensar os importadores pelo custo de pagar a tarifa. A Figura 8-10 ilustra o efeito de uma tarifa sobre a importação de assentos para carros. Como antes, supusemos que PW seja o preço internacional de um assento para carro. Antes de a tarifa ser imposta, as importações baixaram o preço doméstico até PW, de modo que a produção doméstica antes da tarifa era QS, o consumo doméstico antes da tarifa era QD, e as importações antes da tarifa eram QD − QS. FIGURA 8-10

O efeito de uma tarifa

Uma tarifa eleva o preço doméstico do bem de PW para PT. A quantidade demandada doméstica cai de QD para QDT, e a quantidade doméstica ofertada aumenta de QS para

QST. Em decorrência, as importações – que eram QD − QS antes de a tarifa ter sido imposta – caem para QDT − QST após a imposição da tarifa.

Agora, suponha que o governo imponha uma tarifa para todos os assentos para carros importados. Como consequência, não é mais rentável importar assentos para carros a menos que o preço doméstico recebido pelo importador seja maior ou igual ao preço internacional acrescido da tarifa. Então, o preço doméstico sobe para a PT, que é igual ao preço internacional, PW, mais a tarifa. A produção doméstica sobe para QST, o consumo doméstico cai para QDT e as importações caem QDT − QST. A tarifa, então, eleva os preços domésticos, levando ao aumento da produção doméstica e à redução do consumo doméstico em comparação com a situação anterior de livre comércio. A Figura 8-11 mostra os efeitos sobre o excedente. Existem três efeitos:

1. O preço doméstico mais elevado aumenta o excedente do produtor, um ganho igual à área A. 2. O preço doméstico mais elevado reduz o excedente do consumidor, uma redução igual à soma das áreas A, B, C e D. 3. A tarifa gera receita para o governo. Quanta receita? O governo arrecada a tarifa – que, lembre-se, é igual à diferença entre PT e PW em cada uma das unidades importadas QDT − QST. Assim, a receita total é (PT − PW) × (QDT − QST). Isso é igual à área C. Os efeitos da tarifa sobre o bem-estar estão resumidos na tabela da Figura 811. Os produtores ganham, os consumidores perdem, e o governo ganha. Mas a perda do consumidor é maior do que a soma dos ganhos dos produtores e do governo, levando a uma redução líquida do excedente total igual à área B + D. Um imposto seletivo cria ineficiência ou perda por peso morto, pois faz com que as transações mutuamente benéficas deixem de ocorrer. O mesmo se aplica a uma tarifa, em que a perda por peso morto para a sociedade é igual à perda no excedente total representado pelas áreas B + D. As tarifas geram perdas por peso morto porque criam ineficiências de duas maneiras: 1. Algumas transações mutuamente benéficas deixam de ocorrer: alguns consumidores que estão dispostos a pagar mais do que o preço internacional, PW, não compram o bem, mesmo que PW seja o verdadeiro custo de uma unidade do bem para a economia. O custo dessa ineficiência é representado na Figura 8-11 pela área D. 2. Os recursos da economia são desperdiçados com produção ineficiente: alguns produtores, cujo custo excede PW, produzem o bem, mesmo podendo comprar uma unidade adicional do bem no exterior por PW. O custo dessa ineficiência é representado na Figura 8-11 pela área B. FIGURA 8-11

Uma tarifa reduz o excedente total

Quando o preço doméstico sobe como resultado de uma tarifa, os produtores ganham excedente adicional (área A), o governo ganha receita (área C), e os consumidores perdem excedente (áreas A + B + C + D). Como as perdas para os consumidores superam os ganhos dos produtores e do governo, a economia como um todo perde excedente (áreas B + D).

Efeitos da cota de importação

Uma cota de importação, outra forma de proteção comercial, é um limite legal sobre a quantidade de um bem que pode ser importado. Por exemplo, uma cota de importação dos Estados Unidos sobre assentos para carros mexicanos pode limitar a quantidade importada por ano a 500 mil unidades. Cotas de importação, em geral, são administradas através de licenças: uma quantidade de licenças é emitida, cada uma dando ao detentor o direito de importar uma quantidade limitada de bens a cada ano. Uma cota sobre vendas tem o mesmo efeito que um imposto seletivo, com uma diferença: o dinheiro que de outra forma passaria para o governo como receita tributária gerada pelo imposto seletivo torna-se renda para os detentores de licenças de cota – também conhecido como renda da cota. (A “renda da cota” foi definida no Capítulo 5.) Da mesma forma, uma cota de importação tem o mesmo efeito de uma tarifa, com uma diferença: o dinheiro que de outro modo seria receita do governo torna-se renda da cota para os

detentores da licença. Analise de novo a Figura 8-11. Uma cota de importação que limita as importações QDT − QST vai aumentar o preço doméstico de autopeças pela mesma quantia como a tarifa considerada previamente. Isto é, vai aumentar o preço doméstico de PW para PT. No entanto, a área C agora vai representar a renda da cota, em vez de a receita do governo. Quem recebe as licenças de importação e assim recolhe as rendas das cotas? No caso da proteção à importação dos Estados Unidos, a resposta pode surpreendê-lo: as licenças de importação mais importantes – principalmente para vestuário, em menor medida, para açúcar – são concedidas a governos estrangeiros. Como as rendas das cotas para a maior parte das cotas de importação dos Estados Unidos vão para os estrangeiros, o custo de tais cotas para a nação é maior do que o de uma tarifa comparável (uma tarifa que leva ao mesmo nível de importação). Na Figura 8-11, a perda líquida para os Estados Unidos de tal cota de importação é igual às áreas B + C + D, a diferença entre as perdas do consumidor e os ganhos do produtor.

economia em ação Proteção comercial nos Estados Unidos

Hoje em dia, os Estados Unidos geralmente seguem uma política de livre comércio, tanto em comparação com outros países como também em comparação com a própria história. A maioria das importações não está sujeita a nenhuma tarifa, ou está sujeita a uma tarifa baixa. Então, quais são as exceções principais dessa regra? A maioria da proteção restante envolve produtos agrícolas. No topo da lista está o etanol, que é produzido principalmente do milho nos Estados Unidos e é usado como ingrediente do combustível. A maioria do etanol importado está sujeita a uma tarifa muito alta, mas alguns países estão autorizados a vender uma quantidade limitada de etanol para os Estados Unidos, a preços elevados, sem pagar a tarifa. Os produtos lácteos também recebem proteção de importação substancial, através da combinação de tarifas e cotas. Até poucos anos atrás, outra área fortemente protegida da concorrência das importações era a de vestuário e têxteis, graças a um elaborado sistema de cotas

de importação. No entanto, esse sistema foi extinto em 2005, como parte de um acordo comercial alcançado uma década antes. Algumas importações de vestuário ainda estão sujeitas a tarifas relativamente altas, mas a proteção da indústria do vestuário é apenas uma sombra do que costumava ser. O que é mais importante saber sobre a proteção comercial atual dos Estados Unidos é a sua limitação, e como impõe pouco custo à economia. A cada dois anos, a U.S. International Trade Commission, um órgão governamental, produz estimativas do impacto das “restrições de comércio significativas” sobre o bem-estar americano. Como mostra a Figura 8-12, ao longo das últimas duas décadas, tanto os níveis médios de tarifas como de restrições do custo do comércio como porcentagem da renda nacional, que para início de conversa, não era tão grande assim, caíram bruscamente.

BREVE REVISÃO A maioria dos economistas defende o livre comércio, embora muitos governos se dediquem à proteção comercial de indústrias que competem com importações. As duas políticas protecionistas mais comuns são tarifas e cotas de importação. Em casos raros, os governos subsidiam as indústrias exportadoras. Tarifa é um imposto sobre importações. Eleva o preço doméstico acima do preço internacional, levando a uma queda no comércio e no consumo doméstico e a um aumento na produção doméstica. Os produtores domésticos e o governo ganham, mas o consumidor doméstico perde mais do que compensa esse ganho, levando à perda por peso morto. Uma cota de importação é um limite quantitativo legal sobre importações. Seu efeito é semelhante ao de uma tarifa, exceto que as receitas – as rendas das cotas – vão para os detentores das licenças, não para o governo. FIGURA

8-12 Tabela de tarifas e de ganhos de bem-estar estimados entre 1993 e 2011

Fonte: U.S. International Trade Commission (2011), “The Economic Effects of Significant U.S. Import Restraints.”

TESTE SEU ENTENDIMENTO 8-3 1. Suponha que o preço internacional da manteiga seja de $0,50 por quilo e que o preço doméstico em autarquia seja de $1,00 por quilo. Use um gráfico semelhante ao da Figura 8-10 para mostrar o seguinte: a. No caso de livre comércio, os produtores domésticos de manteiga querem que o governo imponha uma tarifa não inferior a $0,50 por quilo. b. O que acontece se for imposta uma tarifa superior a $0,50 por quilo? 2. Suponha que o governo imponha uma cota de importação de manteiga, em vez de uma tarifa. Que limite de cota geraria a mesma quantidade de importações que uma tarifa de $0,50 por quilo? As respostas estão no fim do livro.

A ECONOMIA POLÍTICA DE PROTEÇÃO COMERCIAL Vimos que o comércio internacional produz benefícios mútuos aos países que se dedicam a ele. Vimos também que tarifas e cotas de importação, ainda

que resultem em ganhadores e perdedores, reduzem o excedente total. Contudo, muitos países continuam a impor tarifas e cotas de importação e a adotar outras medidas protecionistas. Para entender por que ocorre a proteção comercial analisaremos, primeiro, algumas justificativas comuns da proteção. Em seguida, examinaremos a política da proteção comercial. Finalmente, analisaremos um aspecto importante da proteção comercial no mundo de hoje: tarifas e cotas de importação estão sujeitas a negociações internacionais e são fiscalizadas por organizações internacionais. Argumentos em favor da proteção comercial

Defensores de tarifas e cotas de importação oferecem uma variedade de argumentos. Três argumentos comuns são segurança nacional, criação de empregos e o argumento da indústria nascente. O argumento da segurança nacional é fundamentado na proposição de que fontes externas de bens estão sujeitas à interrupção em tempos de conflito internacional e, portanto, um país deveria proteger os produtores domésticos de bens essenciais, com o objetivo de ser autossuficiente em relação a esses bens. Na década de 1960, os Estados Unidos – que haviam começado a importar petróleo porque suas reservas domésticas estavam baixas – tinham uma cota de importação de petróleo, justificada por motivos de segurança nacional. Algumas pessoas argumentam que os Estados Unidos devem voltar a ter uma política que desencoraje a importação de petróleo, principalmente do Oriente Médio. O argumento da criação de emprego aponta que novos postos de trabalho foram criados nas indústrias que competem com importações, como resultado da proteção comercial. Os economistas argumentam que esses empregos são compensados pela perda de emprego em outras áreas, como as indústrias que usam insumos importados e que agora enfrentam custos de produção mais elevados. Mas quem não é economista nem sempre é persuadido por esse argumento. Finalmente, o argumento da indústria nascente, muitas vezes apresentado em países de industrialização recente, sustenta que novas indústrias requerem um período temporário de proteção comercial para se estabelecerem. Por exemplo, na década de 1950, muitos países na América Latina estabeleceram tarifas e cotas de importação sobre bens manufaturados, em um esforço para

mudar seu papel tradicional de exportadores de matérias-primas para um novo status de país industrializado. Em teoria, o argumento da indústria nascente pode ser persuasivo, especialmente em indústrias de alta tecnologia, que aumentam o nível geral de qualificação de mão de obra no país. A realidade, porém, é mais complicada: na maioria das vezes, indústrias politicamente influentes ganham proteção. Além disso, os governos tendem a ser precários em prever as melhores tecnologias emergentes. Finalmente, muitas vezes, é muito difícil desacostumar uma indústria da proteção, quando deveria estar suficientemente madura para não precisar mais dela. A política da proteção comercial

Na verdade, boa parte da proteção comercial tem pouco a ver com os argumentos que acabamos de descrever. Em vez disso, reflete a influência política dos produtores que competem com importações. Vimos que uma tarifa ou cota de importação leva a ganhos para os produtores que competem com importações e perdas para os consumidores. Os produtores, no entanto, geralmente têm muito mais influência sobre as decisões de política comercial. Os produtores que competem com as importações de determinado bem, em geral, são um grupo menor e mais coeso do que os consumidores desse bem. Um exemplo é a proteção comercial do açúcar: os Estados Unidos têm uma cota de importação sobre o açúcar que, em média, leva a um preço doméstico cerca de duas vezes o preço internacional. É difícil fornecer quaisquer argumentos econômicos racionais em favor dessa cota. No entanto, os consumidores raramente se queixam da cota, pois não sabem que ela existe: como nenhum consumidor individual compra grandes quantidades de açúcar, o custo da cota é de apenas alguns dólares por família a cada ano, e não chega a atrair a atenção. Mas há apenas uns poucos milhares de agricultores que cultivam açúcar nos Estados Unidos. São bem conscientes do benefício que recebem da cota e tratam de fazer seus representantes no Congresso também terem consciência de seu interesse nesse assunto. Dadas essas realidades políticas, pode parecer surpreendente que o comércio seja tão livre como é. Por exemplo, os Estados Unidos têm tarifas baixas e suas cotas de importação estão, principalmente, limitadas a roupas e a alguns produtos agrícolas. Seria bom dizer que a razão principal da proteção

comercial ser tão limitada é que os economistas convenceram os governos das virtudes do livre comércio. Contudo, uma razão mais importante é o papel dos acordos comerciais internacionais. Acordos comerciais internacionais e a Organização Mundial do Comércio

Quando um país se envolve em proteção comercial, prejudica dois grupos. Já enfatizamos o efeito adverso sobre os consumidores domésticos, mas também prejudica as indústrias de exportação no exterior. Isso significa que os países se preocupam com as políticas comerciais uns dos outros: a indústria madeireira canadense, por exemplo, tem um forte interesse em manter as tarifas americanas sobre produtos florestais baixas. Como os países se preocupam com as políticas comerciais uns dos outros, participam de acordos de comércio internacional: tratados em que um país se compromete a adotar menos proteção comercial em relação às exportações de outro país, em troca de uma promessa do outro país fazer o mesmo com suas exportações. A maior parte do comércio internacional hoje é governada por tais acordos. Alguns acordos de comércio internacional envolvem apenas dois ou um pequeno grupo de países. Estados Unidos, Canadá e México estão unidos pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Esse acordo, assinado em 1993, acabou por eliminar todas as barreiras comerciais entre esses três países. Na Europa, 27 países fazem parte de um acordo mais abrangente, a União Europeia (UE). No NAFTA, os países-membros definem suas próprias tarifas contra importação de países que não são membros. A UE, no entanto, é uma união aduaneira: as tarifas são estabelecidas no mesmo nível que sobre os bens de fora da UE que entram nos seus países-membros. Há também acordos comerciais globais que cobrem a maior parte do mundo. Tais acordos globais são supervisionados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), uma organização internacional composta de paísesmembros, que desempenha dois papéis. Primeiro, oferece o marco para as negociações extremamente complexas envolvidas em um acordo de comércio internacional importante (o texto completo do último grande acordo, aprovado em 1994, foi de 24 mil páginas). Em segundo lugar, a OMC resolve disputas entre os membros. Essas disputas surgem normalmente quando um país alega que a política de outro país viola acordos anteriores. Atualmente, a OMC tem

151 países-membros, que representam a maior parte do comércio internacional. Eis dois exemplos que ilustram o papel da OMC. Primeiro, em 1999, a OMC julgou que as restrições da União Europeia à importação de bananas, que discriminam a favor dos produtores nas antigas colônias europeias e contra os produtores da América Central, violam as regras de comércio internacional. Os Estados Unidos tomaram partido a favor dos países da América Central e a disputa ameaçou tornar-se uma fonte importante de conflito entre a União Europeia e os Estados Unidos. Atualmente, a Europa está em processo de revisão do seu sistema. Em 2009, a União Europeia concordou em reduzir as tarifas sobre os produtores de bananas da América Central em 35% pelos próximos sete anos, e em troca os Estados Unidos e os países da América Central abandonaram o processo, acabando com a “guerra da banana”. Um exemplo mais recente é a disputa entre os Estados Unidos e o Brasil sobre os subsídios americanos aos produtores de algodão. Esses subsídios, no valor de $3 bilhões a $4 bilhões por ano, são ilegais segundo as regras da OMC. O Brasil argumenta que esses subsídios reduzem artificialmente o preço do algodão americano no mercado mundial e prejudicam os produtores de algodão brasileiros. Em 2005, a OMC decidiu contra os Estados Unidos e a favor do Brasil, e os Estados Unidos responderam cortando alguns subsídios à exportação de algodão. No entanto, em 2007, a OMC julgou que os Estados Unidos não tinham feito o suficiente para cumprir integralmente as regras, como eliminar empréstimos do governo aos produtores de algodão. Por sua vez, em 2010, após a ameaça do Brasil de impor tarifas de importação sobre os bens manufaturados dos Estados Unidos, os dois lados entraram em acordo para a solução da disputa do algodão. A propósito, Vietnã e Tailândia são membros da OMC. Os Estados Unidos têm imposto e tirado tarifas sobre as importações de camarão procedente desses países. A razão pela qual isso é possível é que as regras da OMC permitem proteção comercial em determinadas circunstâncias. Uma circunstância é aquela em que a concorrência estrangeira é “injusta”, sob determinados critérios técnicos. A proteção comercial também é permitida como medida temporária, quando um aumento súbito de importações ameaça perturbar a indústria nacional. A resposta às exportações de pneus chineses, descrita em Para mentes Curiosas, a seguir, é um exemplo recente importante.

Às vezes, com grande exagero, a OMC é descrita como um governo internacional. Na verdade, ela não tem exército, nem polícia e nenhum direito de fazer cumprir acordos. A verdade que existe nessa descrição é que, quando um país decide tornar-se membro da OMC, concorda em aceitar os julgamentos da organização – e esses julgamentos se aplicam não apenas às tarifas e cotas de importação, mas também às políticas domésticas que a organização considera como proteção comercial disfarçada de outro nome. Assim, ao entrar na OMC, todo país abdica um pouco de sua soberania. Novos desafios da globalização

A marcha progressiva da globalização ao longo do século passado geralmente é considerada um grande sucesso político e econômico. Os economistas e formuladores de políticas têm visto o crescimento do comércio internacional, em particular, como uma coisa boa. Seríamos negligentes, no entanto, se deixássemos de reconhecer que muitas pessoas estão tendo dúvida sobre a globalização. Em grande medida, essas dúvidas refletem duas preocupações partilhadas por muitos economistas: preocupação sobre os efeitos da globalização na desigualdade e preocupação que novos desenvolvimentos, em especial o crescimento da terceirização ou subcontratação de serviços para fornecedores fora do país (offshore outsourcing), estejam aumentando a insegurança econômica. Globalização e desigualdade

Já mencionamos as implicações do comércio internacional nos preços dos fatores, como salários: quando países ricos como os Estados Unidos exportam produtos intensivos em conhecimento especializado, como aviões, enquanto importam produtos intensivos em trabalho não qualificado, como roupas, podem esperar uma ampliação de diferenciais de salários entre os trabalhadores domésticos com mais e menos educação. Trinta anos atrás, isso não era uma preocupação significativa, porque a maior parte dos bens que os países ricos importavam dos mais pobres eram matérias-primas ou bens cuja vantagem comparativa dependia do clima. Hoje, no entanto, são importados muitos produtos manufaturados de países relativamente pobres, sendo o efeito sobre a distribuição de renda muito maior.

PARA MENTES CURIOSAS PNEUS SOB PRESSÃO Em setembro de 2009, o governo dos Estados Unidos impôs tarifas exorbitantes sobre importações de pneus da China. As tarifas foram impostas por três anos: 35% no primeiro ano, 30% no segundo e 25% no terceiro. As tarifas foram uma resposta às queixas dos sindicatos sobre os efeitos do aumento das exportações de pneus chineses: entre 2004 e 2008, as importações americanas de pneus da China passaram de 15 milhões para 46 milhões e os grupos de trabalho advertiram que isso estava custando os empregos americanos. Os sindicatos queriam uma cota de importação, mas obter a tarifa seria uma vitória política para o trabalho organizado. Mas a tarifa não seria uma violação das regras da OMC? Não, disse a administração Obama. Quando a China aderiu à OMC em 2001, concordou com o que é conhecido, no jargão da política comercial, como “mecanismo de salvaguarda”: foi concedido aos países importadores o direito de impor limites temporários às exportações chinesas, no caso de um surto de importação. Apesar desse acordo, o governo da China protestou contra a ação dos Estados Unidos e apelou à OMC para regulamentar a tarifa ilegal. Mas, em dezembro de 2010, a OMC ficou do lado dos Estados Unidos, pois considerou que a administração Obama estava dentro de seus direitos. Não se deve ficar tão cínico sobre o fracasso da conquista do livre comércio completo no caso dos pneus. Negociações comerciais mundiais sempre foram baseadas no princípio de que metade de um pão é melhor que nada, que é melhor ter um acordo que permita às indústrias politicamente sensíveis a manter alguma proteção do que insistir na pureza do livre comércio. Apesar de ações como a tarifa de pneus, o comércio internacional é, em geral, extremamente livre, e em muitos aspectos mais livre do que jamais foi há alguns anos.

O comércio com a China, em particular, é fonte de preocupação entre grupos trabalhistas que tentam manter os níveis salariais nos países ricos. Embora a China tenha experimentado crescimento econômico espetacular desde as reformas econômicas que começaram no final de 1970, continua sendo um país pobre e de salários baixos: estima-se que os salários na manufatura chinesa correspondam a apenas 4% dos salários dos Estados Unidos. Enquanto isso, as importações provenientes da China subiram. Em 1983, menos de 1% das importações americanas vinha da China; em 2010, a cifra era de mais de 19%. Não há muita dúvida de que as importações crescentes provenientes da China exerçam ao menos alguma pressão

descendente sobre os salários dos trabalhadores americanos menos escolarizados. Outsourcing

Os bens manufaturados intensivos em trabalho predominam nas exportações chinesas para os Estados Unidos. No entanto, alguns trabalhadores americanos se defrontaram recentemente com uma nova forma de competição internacional. O chamado outsourcing (ou terceirização), em que uma empresa contrata outra para realizar alguma tarefa, como, por exemplo, cuidar da estrutura de informática da companhia, é uma prática antiga. Porém, até recentemente, essa terceirização era normalmente doméstica, com uma empresa contratando outra dentro da mesma cidade ou país. Agora, a telecomunicação moderna cada vez mais torna possível se envolver em offshore outsourcing, em que as empresas contratam pessoas de outros países para executar várias tarefas. O exemplo clássico são os call centers: quem atende a uma ligação para um número de atendimento ao cliente de uma empresa pode muito bem estar na Índia, que assumiu a liderança na captação desse tipo de serviço terceirizado. A terceirização internacional ou offshore outsourcing também se espalhou para áreas como de projeto de soware e até mesmo de cuidados de saúde: o radiologista que examina sua radiografia bem como a pessoa que dá suporte de informática podem estar em outro continente. Embora a terceirização internacional (offshore outsource) tenha sido um choque para alguns trabalhadores americanos, como os programadores cujos empregos foram terceirizados para a Índia, ainda é relativamente pequena em comparação com o comércio mais tradicional. Alguns economistas alertam, no entanto, que milhões ou até dezenas de milhões de trabalhadores que nunca pensaram que poderiam enfrentar a concorrência externa por empregos podem ter surpresas desagradáveis no futuro não muito distante. As preocupações com a distribuição de renda e outsourcing, como já dissemos, são compartilhadas por muitos economistas. Mas há, também, uma oposição bastante espalhada à globalização em geral, especialmente entre estudantes universitários. Em 1999, uma tentativa de iniciar uma grande rodada de negociações comerciais falhou em parte porque a reunião da OMC, em Seattle, foi interrompida por manifestantes antiglobalização. No entanto, a razão mais importante do fracasso foram desentendimentos entre os países

representados. Outra rodada de negociações que foi iniciada em 2001, em Doha, no Catar, e por isso é conhecida como “Rodada de Doha para o Desenvolvimento”, foi interrompida em 2008, principalmente por causa de divergências sobre as regras comerciais agrícolas. O que motiva o movimento antiglobalização? Até certo ponto, é a falácia do trabalho: é fácil ficar indignado com o baixo salário recebido pela pessoa que confeccionou a sua camisa. Mas é mais difícil reconhecer o quanto estaria pior a situação dessa pessoa se lhe fosse negada a oportunidade de vender bens no mercado dos países ricos. Mas também é verdade que o movimento representa uma reação contra defensores da globalização que exageram na promessa de benefícios. Foi prometido aos países da América Latina, em particular, que a redução das tarifas aduaneiras produziria um grande avanço econômico, mas os resultados decepcionaram. Alguns grupos, como os agricultores pobres que enfrentam a nova competição dos alimentos importados, ficaram em situação pior. Será que esses novos desafios à globalização minam o argumento de que o comércio internacional é uma coisa boa? A grande maioria dos economistas argumentaria que os ganhos com a redução da proteção comercial ainda superam as perdas. No entanto, tornou-se mais importante do que antes assegurar que os ganhos com o comércio internacional sejam amplamente difundidos. E a política de comércio internacional está se tornando cada vez mais difícil, à medida que o comércio se expande.

economia em ação Reforçando as exportações

Em dezembro de 2010, os negociadores dos Estados Unidos e da Coreia do Sul chegaram a um acordo final sobre a negociação de livre comércio que eliminaria muitas das tarifas e outras restrições ao comércio entre as duas nações. A negociação também envolveu mudanças em uma série de regulamentações de negócios que se esperava tornasse mais fácil a operação entre as empresas americanas e da Coreia do Sul. Esse foi, literalmente, um negócio bem amplo: a economia da Coreia do Sul é comparável em tamanho à do México, de modo que esse foi o acordo de livre comércio mais importante do qual os Estados Unidos tomaram parte desde o NAFTA.

O que tornou esse acordo possível? Estimativas da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos constataram que o negócio iria aumentar a renda média americana, embora modestamente: a comissão apresentou os ganhos em torno de um décimo de 1%. Não é mal quando se considera o fato de que a Coreia do Sul, apesar de ser uma economia relativamente grande, é apenas o sétimo parceiro comercial mais importante dos Estados Unidos. No entanto, esses ganhos globais desempenharam um papel ínfimo na política do negócio, que dependia das perdas e ganhos de círculos eleitorais americanos. Alguma oposição ao negócio veio do trabalho, especialmente de trabalhadores da indústria automobilística, que temiam que a eliminação da tarifa de 8% dos Estados Unidos sobre as importações de automóveis coreanos levaria à perda de emprego. Mas havia também grupos de interesse nos Estados Unidos que queriam muito o negócio, principalmente a indústria da carne: coreanos são grandes comedores de carne, mas o acesso a esse mercado americano foi limitado por uma tarifa coreana de 38%. E a administração Obama definitivamente queria o acordo, em parte por motivos não relacionados com a economia: a Coreia do Sul é um importante aliado dos Estados Unidos, e as tensões militares com a Coreia do Norte estavam aumentando gradualmente até mesmo quando as negociações estavam sendo finalizadas. Assim, um acordo comercial era visto, em parte, como um símbolo de cooperação entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Mesmo os sindicatos não estavam em oposição como se imaginava; a imposição de tarifas sobre pneus chineses, descrita em Para mentes curiosas, foi vista como uma demonstração de que se estava preparado para defender os interesses trabalhistas. Também ajudou o fato de que a Coreia do Sul – diferentemente do México, quando o NAFTA foi assinado – é ao mesmo tempo um país de salários bastante altos e não se localiza na fronteira com os Estados Unidos, o que significa menos preocupação com deslocamentos maciços de fabricação. No final, o equilíbrio de interesses era bastante favorável para tornar o negócio politicamente possível. Dito isso, no momento da redação, o Congresso dos Estados Unidos ainda teve de aprovar o negócio.

BREVE REVISÃO

As três justificativas principais para a proteção comercial são segurança nacional, criação de emprego e proteção de indústrias nascentes. Apesar das perdas por peso morto, com frequência se impõe a proteção contra importação porque grupos que representam indústrias que competem com importações são menores e mais influentes do que os grupos de consumidores. Para promover a liberalização do comércio, os países negociam acordos de comércio internacional. Alguns acordos são apenas entre um pequeno número de países, como o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e a União Europeia (UE). A Organização Mundial do Comércio (OMC) visa negociar acordos comerciais globais e arbitrar disputas comerciais entre os membros. A resistência à globalização surgiu em resposta ao aumento das importações de países relativamente pobres e à terceirização externa (outsourcing offshore) de muitos postos de trabalho que tinham sido considerados seguros da concorrência estrangeira.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 8-4 1. Em 2002, os Estados Unidos impuseram tarifas sobre as importações de aço, um insumo de grande número e variedade de indústrias nos Estados Unidos. Explique por que o lobby político para eliminar essas tarifas tem mais possibilidade de ser eficaz do que o lobby político para eliminar tarifas sobre bens de consumo, como açúcar e vestuário. 2. Ao longo dos anos, a OMC se viu cada vez mais envolvida na resolução de disputas comerciais que envolvem não apenas restrições de tarifas ou cotas, mas também restrições com base na qualidade, saúde e considerações ambientais. Por que você acha que isso ocorreu? Que método adotaria, como funcionário da OMC, para decidir se qualidade, saúde e restrições ambientais violam ou não um acordo de livre comércio? As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Li & Fung: de Guangzhou para você

Uma boa aposta é que ao ler esse caso você esteja usando algo fabricado na Ásia. E se estiver, também outra boa aposta é que a empresa de Hong Kong Li & Fung esteja envolvida na obtenção desse vestuário, projetando, produzindo e enviando para a sua loja local. Da Levi’s ao Walmart, Li & Fung é um canal

fundamental de fábricas ao redor do mundo até o shopping mais próximo de você. A empresa foi fundada em 1906 em Guangzhou, China. Segundo o presidente da companhia, Victor Fung, o “valor agregado do seu avô” era que ele falava inglês, permitindo que servisse de intérprete em negócios entre chineses e estrangeiros. Quando o Partido Comunista de Mao tomou o controle da China continental, a empresa mudou-se para Hong Kong. Lá, à medida que a economia de mercado de Hong Kong decolou durante os anos de 1960 e 1970, Li & Fung cresceu como exportador, unindo os fabricantes de Hong Kong e os compradores estrangeiros. No entanto, a transformação real da empresa chegou quando as economias asiáticas cresceram e mudaram. O rápido crescimento de Hong Kong levou a um aumento de salários, tornando Li & Fung uma empresa sem concorrência em vestuário, seu principal negócio. Assim, a empresa reinventou a si mesmo: em vez de se tornar uma simples intermediária, tornou-se “administradora de cadeia de suprimentos”. Não apenas alocava produção de um bem a um fabricante, também subdividia a produção, alocava a produção dos insumos e, em seguida, destinava a montagem final do bem entre seus 12 mil fornecedores ao redor do mundo. Às vezes, a produção era realizada em economias sofisticadas, como a de Hong Kong ou até mesmo no Japão, onde os salários são altos, e também a qualidade e a produtividade; outras vezes era realizada em locais menos avançados, como a China continental ou a Tailândia, onde o trabalho é menos produtivo, porém mais barato. Por exemplo, suponha que você possua uma cadeia de varejo nos Estados Unidos e deseje vender roupa de jeans desbotada. Em vez de apenas organizar a produção do jeans, Li & Fung irá trabalhar com você na concepção, fornecendo-lhe a mais recente informação sobre produção e estilo, que materiais e cores estão na moda. Após a conclusão do projeto, Li & Fung providenciará a criação de um protótipo, encontrará a maneira mais econômica de fabricação e, em seguida, emitirá um pedido em seu nome. Através da Li & Fung, o fio pode ser fabricado na Coreia e tingido em Taiwan, e o jeans costurado na Tailândia ou na China continental. E como a produção está ocorrendo em tantos locais, Li & Fung fornece logística de transporte, bem como controle de qualidade. O sucesso de Li & Fung tem sido enorme. Em 2010, a empresa tinha um valor de mercado de cerca de $23,3 bilhões com um volume de negócios de

mais de $15 bilhões, com escritórios e centros de distribuição em mais de 40 países. Ano após ano, regularmente, duplica ou triplica o lucro.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Por que você acha que era lucrativo para Li & Fung ir além da intermediação das exportações para tornar-se um administrador de cadeia de suprimentos, quebrando o processo de produção e abastecendo os insumos de diversos fornecedores em muitos países? 2. Que princípio você considera que está por trás das decisões de Li & Fung de como alocar a produção de insumos de um bem e sua montagem final entre os vários países? 3. Por que você acha que um varejista prefere ter a organização internacional da produção de Li & Fung de suas calças jeans em vez de comprá-las diretamente do fabricante de jeans na China? 4. Qual é a fonte de sucesso de Li & Fung? Baseia-se em capital humano, na propriedade de recurso natural ou na posse de capital?

• RESUMO 1. O comércio internacional tem importância crescente para os Estados Unidos e também para a maioria de outros países. O comércio internacional, assim como o comércio entre os indivíduos, surge da vantagem comparativa: o custo de oportunidade de produzir uma unidade adicional de um bem é menor em alguns países do que em outros. Bens e serviços adquiridos do exterior são importações; os que são vendidos no exterior são exportações. O comércio exterior, assim como outras ligações econômicas entre os países, vem crescendo rapidamente, um fenômeno que é chamado de globalização. 2. O modelo ricardiano de comércio internacional supõe que os custos de oportunidade são constantes. Isso mostra que existe ganho do comércio: dois países melhoram de situação com o comércio, em comparação com a autarquia. 3. Na prática, a vantagem comparativa reflete as diferenças entre os países quanto ao clima, dotação de fatores e tecnologia. O modelo Heckscher-Ohlin mostra como as diferenças na dotação de fatores determinam a vantagem comparativa: os bens diferem em intensidade de fator, e os países tendem a exportar os bens que são intensivos nos fatores que possuem em abundância. 4. A curva de demanda doméstica e a curva de oferta doméstica determinam o preço de um bem em autarquia. Quando o comércio internacional ocorre, o preço doméstico é levado a se igualar com o preço

internacional, o preço pelo qual o bem pode ser comprado e vendido no exterior. 5. Se o preço internacional for inferior ao preço de autarquia, um bem é importado. Isso leva a um aumento no excedente do consumidor, a uma queda no excedente do produtor e a um ganho no excedente total. Se o preço internacional estiver acima do preço autarquia, um bem é exportado. Isso leva a um aumento no excedente do produtor, a uma queda no excedente do consumidor e a um ganho no excedente total. 6. O comércio internacional leva à expansão das indústrias exportadoras e a uma contração das indústrias que competem com importações. Isso aumenta a demanda doméstica de fatores de produção abundantes e reduz a demanda de fatores escassos, afetando os preços dos fatores, como salários. 7. A maioria dos economistas defende o livre comércio, mas, na prática, muitos governos realizam proteção comercial. Duas formas mais comuns de proteção são tarifas e cotas. Em raras ocasiões, a indústria de exportação é subsidiada. 8. Uma tarifa é um imposto sobre importações. Aumenta o preço doméstico acima do preço internacional, prejudicando os consumidores, beneficiando os produtores domésticos e gerando receita governamental. Como resultado, o excedente total diminui. Uma cota de importação é um limite legal para a quantidade de um bem que pode ser importada. Tem os mesmos efeitos de uma tarifa, exceto que a receita não vai para o governo, mas para quem recebe licenças de importação. 9. Apesar de vários argumentos populares em favor da proteção comercial, na prática, a principal razão da proteção é provavelmente política: as indústrias que competem com importações são bem organizadas e bem informadas sobre o que ganham com a proteção comercial, enquanto que os consumidores não têm consciência dos custos que pagam. Ainda assim, o comércio dos Estados Unidos é bastante livre, principalmente por causa do papel dos acordos de comércio internacional, em que os países concordam em reduzir a proteção comercial referente às exportações um do outro. O NAFTA e UE abrangem um pequeno número de países. Por outro lado, a OMC abrange um número muito maior de países, representando o grosso do comércio internacional. Supervisiona as negociações comerciais e resoluções de litígios entre seus membros. 10. Nos últimos anos, muitas questões têm sido levantadas sobre os efeitos da globalização. Uma questão é o aumento da desigualdade de renda em virtude do aumento das importações de países relativamente pobres nos últimos 20 anos. Outra preocupação é o aumento da terceirização externa (offshore outsourcing), em que muitos postos de trabalho que antes eram considerados estar a salvo da concorrência estrangeira foram levados para o exterior.

• PALAVRAS-CHAVE

Importações, p. 180 Exportações, p. 180 Globalização, p. 181 Modelo ricardiano de comércio internacional, p. 182 Autarquia, p. 182 Intensidade de fator, p. 185 Modelo Heckscher-Ohlin, p. 185 Curva de demanda doméstica, p. 188 Curva de oferta doméstica, p. 188 Preço internacional, p. 189 Indústrias exportadoras, p. 192 Indústrias que competem com importações, p. 192 Livre comércio, p. 194 Proteção comercial, p. 194 Proteção, p. 194 Tarifa, p. 194 Cota de importação, p. 196 Acordos de comércio internacional, p. 198 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), p. 198 União Europeia (UE), p. 198 Organização Mundial do Comércio (OMC), p. 198 Terceirização externa (offshore outsourcing), p. 200

• PROBLEMAS 1. Suponha que a Arábia Saudita e os Estados Unidos se defrontem com possibilidades de produção de petróleo e automóveis, como na tabela a seguir.

Arábia Saudita Quantidade de petróleo (milhões de barris)

Estados Unidos

Quantidade de carros (milhões)

Quantidade de petróleo (milhões de barris)

Quantidade de carros (milhões)

0

4

0

10,0

200

3

100

7,5

400

2

200

5,0

600

1

300

2,5

800

0

400

0

a. Qual é o custo de oportunidade de produzir um carro na Arábia Saudita? E nos Estados Unidos? Qual é o custo de oportunidade de produzir um barril de petróleo na Arábia Saudita? E nos Estados Unidos? b. Que país tem vantagem comparativa na produção de petróleo? E na produção de carros? c. Suponha que, em autarquia, a Arábia Saudita produza 200 milhões de barris de petróleo e 3 milhões de carros; e os Estados Unidos produzam 300 milhões de barris de petróleo e 2,5 milhões de carros. Sem comércio, a Arábia Saudita pode produzir mais petróleo e também mais carros? Sem comércio, os Estados Unidos podem produzir mais petróleo e também mais carros? 2. As possibilidades de produção dos Estados Unidos e da Arábia Saudita são dadas no Problema 1. Suponha agora que cada país se especialize no bem que tem vantagem comparativa e que os dois países comerciem. Suponha também que, para cada país, o valor das importações deva ser igual ao valor das exportações. a. Qual é a quantidade total de petróleo produzido? Qual é a quantidade total de carros produzidos? b. É possível para a Arábia Saudita consumir 400 milhões de barris de petróleo e 5 milhões de carros e para os Estados Unidos consumir 400 milhões de barris de petróleo e 5 milhões de carros? c. Suponha que, de fato, a Arábia Saudita consuma 300 milhões de barris de petróleo e 4 milhões de carros e os Estados Unidos consumam 500 milhões de barris de petróleo e 6 milhões de carros. Quantos barris de petróleo os Estados Unidos importam? Quantos carros os Estados Unidos exportam? Suponha que um carro custe $10.000 no mercado internacional. Quanto, então, custa um barril de petróleo no mercado internacional? 3. Tanto o Canadá como os Estados Unidos produzem madeira e CDs com custo de oportunidade constante. Os Estados Unidos podem produzir 10 toneladas de madeira e nenhum CD ou 1 mil CDs e nenhuma madeira, ou qualquer combinação entre eles. O Canadá pode produzir 8 toneladas de madeira e

nenhum CD ou 400 CDs e nenhuma madeira, ou qualquer combinação entre eles. a. Trace a fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos e do Canadá em dois gráficos separados, com CDs no eixo horizontal e madeira no eixo vertical. b. Em autarquia, se os Estados Unidos desejam consumir 500 CDs, qual é o máximo de madeira que podem consumir? Marque esse ponto como A no gráfico. Da mesma forma, se o Canadá deseja consumir uma tonelada de madeira, quantos CDs pode consumir em autarquia? Marque esse ponto como C no gráfico. c. Que país tem vantagem absoluta na produção de madeira? d. Que país tem vantagem comparativa na produção de madeira? Suponha que cada país se especialize no bem em que tenha vantagem comparativa, e que eles não comerciem. e. Quantos CDs os Estados Unidos produzem? Quanta madeira o Canadá produz? f. É possível que os Estados Unidos consumam 500 CDs e sete toneladas de madeira? Marque esse ponto como B no gráfico. É possível para o Canadá, ao mesmo tempo, consumir 500 CDs e uma tonelada de madeira? Marque esse ponto como D no gráfico. 4. Para cada uma das seguintes relações comerciais, explique a origem provável da vantagem comparativa para cada um dos países exportadores. a. Os Estados Unidos exportam software para a Venezuela, e a Venezuela exporta petróleo para os Estados Unidos. b. Os Estados Unidos exportam aviões para a China, que exporta vestuário para os Estados Unidos. c. Os Estados Unidos exportam trigo para a Colômbia, que exporta café para os Estados Unidos. 5. O U.S. Census Bureau mantém estatísticas sobre as importações e exportações dos Estados Unidos em seu site. Os passos seguintes farão você acessar as estatísticas de comércio exterior. Use-as para responder às perguntas a seguir. i. Acesse www.census.gov. ii. Sob o título “Business & Industry”, selecione “Foreign Trade”. iii. No topo da página, selecione “Data”. iv. Em seguida, selecione “Country/Product Trade”. v. Sob o título “North American Industry Classification System (NAICS)Based”, selecione “NAICS web application”. vi. No menu suspenso “3-digit and 6-digit NAICS by country”, selecione a categoria do produto que você está interessado e clique em “Go”. vii. No menu suspenso “Select 6-digit NAICS”, selecione o bem ou serviço que você está interessado e clique em “Go”. viii. Nos menus suspensos que permitem que você selecione mês e ano, selecione “December” e “2010” e clique em “Go”. ix. O lado direito da tabela agora mostrará as estatísticas de importação e exportação para todo o ano de 2010. Para as perguntas a seguir relativas às importações dos Estados Unidos, use a coluna “Consumption Imports, Customs Value Basis”.

a. Procure os dados de importação de chapéus e bonés (hats and caps) dos Estados Unidos: no passo vi selecione “(315) Apparel & Accessories” e no passo (vii), selecione “(315991) Hats and Caps”. De que país importamos a maioria de chapéus e bonés? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de chapéus e bonés? b. Procure os dados de importação de uvas americanas: no passo (vi), selecione “(111) Agricultural Products”, e no passo (vii), selecione “(111332) Grapes”. De que país importamos a maioria das uvas? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de uvas? c. Procure os dados de importação de maquinaria para a indústria de alimentos pelos Estados Unidos: no passo (vi), selecione “(333) Machinery, Except Electrical”, e no passo (vii), selecione “(333294) Food Product Machinery”. De que país importamos a maioria da maquinaria para a indústria de alimentos? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de maquinaria para a indústria de alimentos? 6. Compare os dados da importação americana de chapéus e bonés da China em 2010 que você obteve no Problema 5, com os mesmos dados para o ano 2000. Repita os passos listados no Problema 5, mas no passo (viii) escolha “December” e “2000”. a. O que aconteceu com o valor das importações americanas de chapéus e bonés da China entre 2000 e 2010? b. Que previsão faz o modelo Heckscher-Ohlin sobre os salários recebidos pelo trabalho na China? 7. A produção de sapatos é intensiva em trabalho e a de satélites é intensiva em capital. Os Estados Unidos têm capital abundante. A China tem mão de obra abundante. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, qual bem a China vai exportar? Qual bem os Estados Unidos irão exportar? O que acontecerá com o preço do trabalho (o salário) e com o preço do capital nos Estados Unidos? 8. Antes que o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) eliminasse gradualmente as tarifas de importação de bens, o preço de autarquia dos tomates no México estava abaixo do preço internacional e, nos Estados Unidos, estava acima do preço internacional. Da mesma forma, o preço de autarquia de aves no México estava acima do preço internacional e, nos Estados Unidos, estava abaixo do preço internacional. Trace gráficos com curvas de oferta e de demanda para cada país e para cada um dos dois bens. Como resultado do NAFTA, os Estados Unidos agora importam tomate do México e exportam aves para o México. Como você imagina que os grupos seguintes são afetados? a. Os consumidores de tomate do México e dos Estados Unidos. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do consumidor. b. Os produtores de tomate do México e dos Estados Unidos. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do produtor. c. Trabalhadores mexicanos e americanos do setor de tomate.

d. Consumidores mexicanos e americanos de aves. Ilustre o efeito sobre o excedente do consumidor no gráfico. e. Produtores mexicanos e americanos de aves. Ilustre o efeito sobre o excedente do produtor no gráfico. f. Trabalhadores mexicanos e americanos da indústria de aves. 9. A seguir estão as tabelas de demanda e oferta doméstica dos Estados Unidos para aviões a jato comerciais. Suponha que o preço internacional de um avião a jato comercial seja de $100 milhões. Preço do jato (milhões) $

Quantidade demandada de jatos

Quantidade ofertada de jatos

120

100

1.000

110

150

900

100

200

800

90

250

700

80

300

600

70

350

500

60

400

400

50

450

300

40

500

200

a. Em autarquia, quantos aviões a jato comerciais os Estados Unidos produzem e a que preço são comprados e vendidos? b. Com o comércio, qual será o preço dos aviões a jato comerciais? Será que os Estados Unidos irão importar ou exportar aviões? Quantos? 10. A seguir estão as tabelas de demanda doméstica e de oferta doméstica de laranjas dos Estados Unidos. Suponha que o preço internacional de laranjas seja de $0,30 por laranja.

Preço da laranja

Quantidade demandada de laranjas (milhares)

Quantidade ofertada de laranjas (milhares)

1,00

2

11

0,90

4

10

0,80

6

9

0,70

8

8

0,60

10

7

0,50

12

6

0,40

14

5

0,30

16

4

0,20

18

3

a. Trace as curvas de oferta e de demanda doméstica dos Estados Unidos. b. Com o livre comércio, quantas laranjas os Estados Unidos irão importar ou exportar? Suponha que o governo dos Estados Unidos imponha uma tarifa de importação de $0,20 por laranja. c. Quantas laranjas os Estados Unidos vão importar ou exportar após a introdução da tarifa? d. Indique com sombreado no gráfico o ganho ou a perda para a economia como um todo a partir da introdução dessa tarifa. 11. As tabelas de demanda e de oferta doméstica de laranjas dos Estados Unidos foram dadas no Problema 10. Suponha que o preço internacional de laranjas seja $0,30 por laranja. Os Estados Unidos introduzem uma cota de importação de 3 mil laranjas e deixam a renda da cota para os exportadores de laranja estrangeiros. a. Trace a demanda doméstica e as curvas de oferta. b. Qual será o preço doméstico de laranjas após a introdução da cota? c. Qual é o valor de renda da cota que os exportadores estrangeiros de laranjas recebem? 12. O gráfico a seguir ilustra a curva da demanda doméstica e a curva da oferta doméstica de carne bovina dos Estados Unidos.

O preço internacional da carne bovina é PW. Os Estados Unidos atualmente aplicam uma tarifa de importação para a carne, por isso o preço da carne é PT. O Congresso decide eliminar a tarifa. Em termos das áreas marcadas no gráfico, responda às seguintes perguntas: a. Qual é o ganho/perda no excedente do consumidor? b. Qual é o ganho/perda no excedente do produtor? c. Qual é o ganho/perda do governo? d. Qual é o ganho/perda para a economia como um todo? 13. À medida que os Estados Unidos se abriram para o comércio, perderam muitos de seus empregos industriais de baixa qualificação, mas ganharam postos em indústrias de alta qualificação, como a indústria de software. Explique se, de modo geral, os Estados Unidos tiveram uma melhora em virtude do comércio. 14. Os Estados Unidos são altamente protetores de sua indústria agrícola, impondo tarifas de importação e, às vezes, cotas para a importação de produtos agrícolas. Este capítulo apresentou três argumentos a favor da proteção do comércio. Para cada argumento, discuta se ele pode ser uma justificativa válida para a proteção do comércio dos produtos agrícolas nos Estados Unidos. 15. Nas negociações da OMC, quando um país se compromete a reduzir uma barreira comercial (tarifa ou cota), normalmente se refere a isso como uma concessão a outros países. Você considera essa terminologia adequada? 16. Produtores em indústrias que competem com importações, muitas vezes, argumentam da seguinte forma: “Outros países têm vantagem na produção de certos bens apenas porque são pagos salários mais baixos aos trabalhadores do exterior. De fato, os trabalhadores americanos são muito mais produtivos que os estrangeiros. Então, as indústrias que competem com importações precisam ser protegidas.” Esse argumento é válido? Justifique a resposta.

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PARTE 4

ECONOMIA E TOMADA DE DECISÃO

CAPÍTULO 9 » Tomada de decisão por indivíduos e empresas

VOLTANDO A ESTUDAR

a primavera de 2010, Ashley Hildreth, formanda da turma de jornalismos de 2008 na Universidade de Oregon, estava profundamente frustrada. Após trabalhar por 18 meses em um emprego de meio período na indústria de alimentos, que descreveu como “beco sem saída”, decidiu se inscrever em um programa de mestrado em didática de ensino. Ao explicar sua decisão, apontou para os inúmeros pedidos de emprego ao qual havia se submetido, sem um único retorno para uma entrevista. O que ela queria era uma oportunidade em publicidade e marketing ou uma posição administrativa em uma organização sem fins

N

lucrativos. Em vez disso, o que obteve foram e-mails de silêncio ou rejeição. Depois de considerar as opções, decidiu candidatar-se à pós-graduação. Hildreth não estava sozinha na decisão. Na primavera de 2010, faculdades e universidades relataram um número recorde de inscrições. As inscrições não eram apenas para cursos de bacharelado e programas associados, como ilustra a história de Hildreth, eram também para pósgraduação e programas de extensão de todos os tipos. Por que tantas pessoas fizeram escolhas semelhantes no segundo semestre de 2010? Responderemos essa pergunta em breve. Antes disso, observe que todos os anos milhões de pessoas – exatamente como você – enfrentam escolha entre emprego e extensão universitária: Devo continuar por mais um ano (ou semestre, ou trimestre) na escola, ou arrumar um emprego? Ou seja, estão tomando uma decisão. Este capítulo é sobre a economia da tomada de decisão: como tomar uma decisão que tenha o melhor resultado econômico possível. Os economistas formularam princípios de tomada de decisão que levam à melhor situação possível – muitas vezes chamada de resultado “ótimo”, independente de o tomador de decisão ser o consumidor ou o produtor. Vamos começar analisando três tipos diferentes de decisões econômicas. Para cada um desses tipos, há um princípio correspondente, ou método, de tomada de decisão que leva ao melhor resultado econômico possível. Neste capítulo, veremos por que os economistas consideram que a tomada de decisão seja a própria essência da microeconomia. Apesar do fato de que as pessoas devem usar os princípios de tomada de decisão econômica para alcançar o melhor resultado econômico possível, às vezes não conseguem atingi-lo. Em outras palavras, as pessoas nem sempre são racionais ao tomar decisões. Por exemplo, um cliente em busca de desconto pode conscientemente gastar mais em gasolina do que economiza. No entanto, os economistas também descobriram que, muitas vezes, as pessoas são irracionais de modo previsível. Neste capítulo, aprenderemos sobre essas tendências ao discutir a economia comportamental, o ramo da economia que estuda o comportamento econômico previsivelmente irracional. O que você vai aprender neste capítulo

• Por que uma tomada de decisão sensata começa com a definição precisa de custos e benefícios. • A importância de custos implícitos e explícitos, para a tomada de decisão. • A diferença entre lucro contábil e lucro econômico e por que o lucro econômico é a base correta para a tomada de decisões. • Por que há três tipos diferentes de decisão econômica: decisões “ou-ou”, “quanto” e decisões que envolvem custos irrecuperáveis. • Os princípios da tomada de decisão que correspondem a cada tipo de decisão econômica. • Por que, às vezes, de modo previsível, as pessoas se comportam de forma irracional.

CUSTOS, BENEFÍCIOS E LUCRO Ao tomar qualquer tipo de decisão, é fundamental definir custos e benefícios com precisão. Se não se conhece os custos e benefícios, é quase impossível tomar uma boa decisão. É por aqui que começamos. Um primeiro passo importante é reconhecer o papel do custo de oportunidade, um conceito abordado no Capítulo 1, onde aprendemos que os custos de oportunidade surgem porque os recursos são escassos. Como os recursos são escassos, o verdadeiro custo de qualquer coisa é o que se deve desistir para obtê-lo – o custo de oportunidade. A decisão de continuar na escola por mais um ano ou sair para procurar emprego tem custos e benefícios. Como o tempo – um recurso – é escasso, não se pode ser ao mesmo tempo estudante e trabalhador em tempo integral. Se optar por ser estudante em tempo integral, o custo de oportunidade dessa escolha é a renda que seria recebida em um emprego em tempo integral. E pode haver custos de oportunidade adicionais, como o valor da experiência que se obtém trabalhando. Ao tomar decisões, é fundamental pensar em termos de custo de oportunidade, pois o custo de oportunidade de uma ação, muitas vezes, é consideravelmente maior do que o custo do desembolso monetário. Os economistas usam os conceitos de custos explícitos e implícitos para comparar a relação entre o custo de oportunidade e o desembolso monetário. Primeiro, discutiremos esses dois conceitos. Em seguida,

definiremos os conceitos de lucro contábil e lucro econômico, uma forma de medir se o benefício de uma ação é maior do que o custo. Armado com esses conceitos para avaliação de custos e benefícios, estaremos em posição de considerar o primeiro princípio da tomada de decisão econômica: como tomar decisões “ou-ou”. Custo explícito versus custo implícito

Suponha que, depois de se formar na faculdade, você tenha duas opções: continuar na faculdade por mais um ano para obter um título mais elevado ou aceitar um emprego imediatamente. Você gostaria de fazer mais um ano de faculdade, mas está preocupado com o custo. Mas qual é exatamente o custo de um ano adicional na faculdade? Aqui é importante lembrar o conceito de custo de oportunidade: o custo do ano gasto na obtenção de mais um diploma inclui a que se renuncia por não estar empregado nesse ano. Como qualquer custo, esse custo de oportunidade pode ser dividido em duas partes: o custo explícito do ano de escolaridade e o custo implícito. Custo explícito é aquele que requer desembolso em dinheiro. Por exemplo, o custo explícito de um ano adicional de faculdade inclui a mensalidade. O custo implícito, porém, não envolve desembolso em dinheiro; em vez disso, é medido pelo valor, em termos monetários, dos benefícios a que se é obrigado a renunciar. Por exemplo, o custo implícito de um ano a mais na faculdade inclui a renda que se teria recebido se, em vez disso, tivesse optado por um emprego. Um erro comum, tanto na análise econômica como na vida – tanto para as pessoas como para as empresas – é ignorar os custos implícitos e se concentrar exclusivamente nos custos explícitos. Mas, muitas vezes, o custo implícito de uma atividade é bastante substancial; às vezes, é de fato muito maior do que o custo explícito. A Tabela 9-1 apresenta os componentes dos custos hipotéticos explícitos e implícitos associados à opção de passar um ano na faculdade em vez de aceitar um emprego. O custo explícito consiste em mensalidade, livros, material escolar e um computador para realizar tarefas – atribuições – todos requerem gasto em dinheiro. O custo implícito é o salário que se teria

recebido se, em vez disso, tivesse aceitado um emprego. Como se vê, o custo total de frequentar um ano adicional de faculdade é $44.500, a soma do custo implícito total – $35.000 em salário não recebido e o custo explícito total – $9.500 em gastos com mensalidade, material e computador. Porque o custo implícito é três vezes maior do que o custo explícito, ao ignorar que o custo implícito levaria a uma decisão seriamente equivocada. TABELA 9-1 Custo de oportunidade de um ano adicional de faculdade Custo implícito

Custo explícito

Mensalidade

$7.000

Livros e material

1.000

Computador

1.500

Custo explícito total

9.500

Salário não recebido

$35.000

Custo implícito total

$35.000

Custo de oportunidade total = Custo explícito total + Custo implícito total = $44.500

Uma maneira um pouco diferente de analisar o custo implícito nesse exemplo pode aprofundar a compreensão do custo de oportunidade. O salário que se deixa de ganhar é o custo de usar os próprios recursos – o tempo – em ir para a faculdade em vez de ir ao trabalho. O uso do tempo para mais formação, apesar do fato de não ter que gastar dinheiro com isso, é um custo. Isso ilustra um aspecto importante do custo de oportunidade: ao considerar o custo de uma atividade, deve-se incluir o custo de usar qualquer dos próprios recursos para essa atividade. Pode-se calcular esse custo, determinando o ganho com o melhor uso alternativo de tais recursos. A compreensão do papel dos custos de oportunidade deixa clara a razão para o aumento das matrículas escolares em 2010: um mercado de trabalho pobre. A partir de 2009, o mercado de trabalho nos Estados Unidos deteriorou drasticamente quando a economia entrou em recessão grave. Em 2010, o mercado de trabalho ainda era muito fraco; apesar de as vagas de emprego terem começado a reaparecer. Uma proporção relativamente elevada dessas vagas era de cargos com salários baixos e sem benefícios. Como resultado, o custo de oportunidade de mais um ano de formação

diminuiu significativamente, tornando um ano adicional na faculdade uma opção muito mais atraente do que quando o mercado de trabalho estava forte. Lucro contábil versus lucro econômico

Voltemos a Ashley Hildreth. Suponha, hipoteticamente, que Ashley tenha que escolher completar um programa de pós-graduação em tempo integral de dois anos em didática de ensino ou passar esses dois anos trabalhando na área original de publicidade. Suponha também que para adquirir o diploma de didática de ensino, ela tenha que completar os dois anos do programa de pós-graduação. Que escolha deve fazer? Primeiro, vamos considerar o que Ashley ganhará ao obter o grau de didática de ensino – o que podemos chamar de receita proveniente do diploma em didática de ensino. Depois que terminar o programa de pósgraduação, daqui a dois anos, receberá salário em decorrência da graduação no valor de $600.000 pelo resto da vida. Por outro lado, se não conseguir o grau de didática de ensino e permanecer em publicidade, daqui a dois anos seu salário para a vida futura está avaliado em $500.000. O custo da mensalidade do programa de pós-graduação é $40.000, mais $4.000 de juros com o empréstimo estudantil. Nesse ponto, o que ela deve fazer parece óbvio: se escolher a pósgraduação receberá um aumento no valor do salário de $600.000 – $500.000 = $100.000, pagando $40.000 em mensalidade, mais $4.000 de juros. Isso não significa que ela tem um lucro de $100.000 – $40.000 – $4.000 = $56.000 ao obter o diploma de didática de ensino? Esses $56.000 são o lucro contábil de Ashley ao obter o diploma de didática de ensino: sua receita menos o custo explícito. Nesse exemplo o custo explícito ao obter o diploma é $44.000, o valor da mensalidade, acrescido dos juros de empréstimo estudantil. Embora o lucro contábil seja uma medida útil, seria enganoso para Ashley usá-lo para a tomada de decisão. Para tomar a decisão correta, aquela que leva ao melhor resultado econômico possível, ela precisa calcular o lucro econômico – a receita que recebe pelo diploma de didática de ensino menos o custo de oportunidade de permanecer na escola (que é igual ao

custo explícito mais o custo implícito). Em geral, o lucro econômico de determinado projeto será menor do que o lucro contábil, porque, em geral, há custos implícitos, além dos explícitos. Quando os economistas usam o termo lucro, referem-se a lucro econômico, não lucro contábil. Essa será nossa convenção no restante do livro: ao usarmos o termo lucro, queremos dizer lucro econômico. Como o lucro econômico de Ashley de permanecer na escola difere do lucro contábil? Já encontramos a fonte da diferença: seus dois anos de renúncia ao recebimento de salário. Esse é um custo implícito de ir para a faculdade em tempo integral durante dois anos. Suponha que o total de salário não ganho de Ashley durante dois anos seja de $57.000. Ao levar em consideração os custos implícitos de Ashley e calcular o lucro econômico, vemos que é melhor não obter o diploma em didática de ensino. Pode-se ver isso na Tabela 9-2: o lucro econômico de obter o grau em didática de ensino é −$1.000. Em outras palavras, ela incorrerá em perda econômica de $1.000 se receber o diploma. É claro que estará em melhor situação ao optar por publicidade e trabalhar imediatamente. Para se certificar de que os conceitos de custo de oportunidade e lucro econômico estão bem compreendidos, vamos considerar um cenário ligeiramente diferente. Suponhamos que Ashley não tenha que fazer o empréstimo de $40.000 para pagar a mensalidade e que possa pagar com uma herança da avó. Assim, não precisa pagar $4.000 de juros. Nesse caso, seu lucro contábil é $60.000 em vez de $56.000. Será que agora sua melhor decisão é obter o diploma em didática de ensino? O lucro econômico do diploma não seria agora $60.000 – $57.000 = $3.000? A resposta é não, porque Ashley está usando o próprio capital para financiar a educação, e o uso desse capital tem um custo de oportunidade, mesmo quando ela o possui. Capital é o valor total dos ativos de uma pessoa ou empresa. O capital de uma pessoa geralmente consiste de dinheiro no banco, ações, títulos e o valor de imóveis, como uma casa. No caso de uma empresa, o capital também inclui equipamentos, ferramentas e estoque de bens não vendidos e peças usadas. (Os economistas gostam de distinguir entre ativos nanceiros, como dinheiro, ações e bônus, e ativos físicos, como edifícios, equipamentos, ferramentas e estoque.)

O ponto é que, mesmo se Ashley possui $40.000, o uso desse valor para pagar as mensalidades incorre em um custo de oportunidade – a que ela renuncia para o próximo melhor uso dos $40.000. Se ela não usar o dinheiro para pagar a mensalidade, o próximo melhor uso do dinheiro seria depositálo em um banco para render juros. Para simplificar, suponhamos que ela ganhe $4.000 sobre os $40.000 quando depositado em um banco. Agora, em vez de pagar $4.000 em custos explícitos na forma de juros de empréstimo estudantil, Ashley paga $4.000 de custo implícito ao renunciar ao juro que poderia ter recebido. Esses $4.000 de juros renunciados é o que os economistas chamam de custo implícito do capital – a renda que o proprietário do capital poderia ter recebido se o capital tivesse sido empregado no próximo melhor uso alternativo. O efeito líquido é que não faz diferença se Ashley financia as mensalidades com um empréstimo estudantil ou usa os próprios recursos. Essa comparação reitera o cuidado que se deve manter do controle dos custos de oportunidade ao tomar uma decisão. TABELA 9-2 O lucro econômico de Ashley ao obter o diploma de didática de ensino Valor do crescimento da renda ao longo da vida

$100.000

Custo explícito: Mensalidade

−40.000

Juros pagos sobre empréstimo estudantil Lucro contábil

−4.000 56.000

Custo implícito: Renda renunciada ao passar dois anos na faculdade Lucro econômico

−57.000 −1.000

Tomando decisões “ou-ou”

Uma decisão “ou-ou” é aquela em que se deve escolher entre duas atividades. Em contrapartida, uma decisão “quanto” requer que se escolha

quanto de determinada atividade empreender. Por exemplo, Ashley enfrentou uma decisão “ou-ou”: passar dois anos na escola de pósgraduação para obter diploma em didática de ensino ou trabalhar. Diferentemente da decisão “quanto”, que seria decidir quantas horas estudar ou quantas horas trabalhar em um emprego. A Tabela 9-3 apresenta a diferença de uma variedade de decisões “ou-ou” e “quanto”. Ao tomar decisões econômicas, como enfatizado, é importante calcular os custos de oportunidade corretamente. A melhor maneira de tomar uma decisão “ou-ou”, o método que conduz ao melhor resultado econômico possível, é o princípio simples de tomada de decisão “ou-ou”. Conforme esse princípio, ao fazer uma escolha “ou-ou” entre duas atividades, escolha a que tem lucro econômico positivo. Examinemos o dilema de Ashley de um ângulo diferente para entender como esse princípio funciona. Se ela continuar na área de publicidade e for trabalhar imediatamente, o valor total de seus ganhos durante a vida será $57.000 (seus ganhos ao longo dos próximos dois anos) + $500.000 (o valor que receberá ao longo da vida depois disso) = $557.000. Em vez disso, obtendo o diploma de didática de ensino e trabalhando como professor, o valor total de seus ganhos durante a vida será de $600.000 (valor que receberá ao longo da vida depois de dois anos de faculdade) – $40.000 (mensalidade) – $4.000 (pagamento de juros) = $556.000. O lucro econômico de continuar em publicidade em relação a se tornar professor é $557.000 – $556.000 = $1.000. Assim, a escolha certa para Ashley é começar a trabalhar em publicidade imediatamente, que oferece um lucro econômico de $1.000, em vez de se tornar um professora, que oferecerá um lucro econômico de −$1.000. Em outras palavras, ao se tornar professora, perde o lucro econômico $1.000 que obteria trabalhando em publicidade imediatamente. Ao tomar a decisão “ou-ou”, os erros mais comuns surgem quando as pessoas ou empresas usam os próprios recursos em projetos, em vez de alugar ou pedir recursos emprestados. Isso porque não consideram o custo implícito do uso do capital próprio. Ao contrário, quando alugam ou emprestam ativos, esse custo de aluguel ou empréstimo aparece como custo explícito. Se, por exemplo, um restaurante possuísse equipamentos e ferramentas, teria que calcular o custo implícito do capital, pelo cálculo de

quanto de equipamento poderia ser vendido e quanto poderia ser obtido por meio do uso dos recursos no próximo melhor projeto alternativo. Além disso, empresas geridas pelo proprietário (entrepreneur) muitas vezes falham no cálculo do custo de oportunidade do tempo do proprietário ao gerir o negócio. Dessa forma, as pequenas empresas tendem a subestimar os custos de oportunidade e superestimar o lucro econômico de permanecer no negócio. Será que estamos dando a entender que as centenas de milhares de pessoas que optaram em voltar para a faculdade, em vez de encontrar trabalho nos últimos anos, estão equivocadas? Não necessariamente. Como mencionamos antes, o mercado de trabalho em declínio diminuiu muito o custo de oportunidade dos salários não cobrados de muitos estudantes, tornando a continuidade da educação a melhor opção para eles. A seção seguinte, Economia em ação, ilustra a importância de entender a diferença entre lucro contábil e lucro econômico na vida real. TABELA 9-3 Decisões “quanto” versus “ou-ou” Decisões “ou-ou”

Decisões “quanto”

Detergente Tide ou Cheer?

Depois de quantos dias a roupa deve ser levada para a lavanderia?

Comprar um carro ou não?

Quantos quilômetros devem ser rodados antes da troca de óleo de um carro?

Pedir nachos ou sanduíche?

Quantos jalapenos nos nachos?

Administrar o próprio negócio ou trabalhar para alguém?

Quantos funcionários a empresa deve contratar?

Prescrever a droga A ou B para os pacientes?

Quanto um paciente deve tomar de um fármaco que gera efeitos colaterais?

Cursar universidade ou não?

Quantas horas de estudo?

ARMADILHAS POR QUE EXISTEM APENAS DUAS ESCOLHAS?

Ao tomar uma decisão “ou-ou”, supõe-se que existam apenas duas atividades para escolher. Mas, e se, em vez de apenas duas alternativas, existirem três ou mais? Será que o princípio da tomada de decisão “ou-ou” ainda se aplica? Certamente. Isso porque qualquer escolha entre três (ou mais) alternativas pode sempre ser resumida a uma série de escolhas entre duas alternativas. Eis aqui uma ilustração com três atividades alternativas: A, B ou C. (Lembre-se de que essa é uma decisão “ou-ou”: pode-se escolher apenas uma das três alternativas.) Comecemos considerando A versus B: nessa comparação, A tem um lucro econômico positivo, mas B gera uma perda econômica. Nesse ponto, deve-se descartar B como uma opção viável porque A será sempre superior a B. O próximo passo é comparar A com C: nessa comparação, C tem um lucro econômico positivo, mas A produz uma perda econômica. Agora se pode descartar A porque C será sempre superior a A. Agora está feito: como A é melhor que B e C é melhor que A, C é a escolha correta.

economia em ação Agricultura à sombra do subúrbio

Além dos subúrbios que se esparramam pela Nova Inglaterra, a região é coberta por uma floresta densa. Mas essa não é a floresta primitiva: se caminharmos pela floresta, há muitas paredes de pedra, relíquias do passado agrícola da região, quando as paredes de pedra cercavam cultivos e pastagens. Em 1880, mais da metade das terras da Nova Inglaterra era cultivada; em 2009, essa área havia caído para 10%. As fazendas que sobraram da Nova Inglaterra estão localizadas principalmente perto de grandes áreas metropolitanas. Os agricultores cobram preços elevados por seus produtos, pois os moradores da cidade estão dispostos a pagar um prêmio por frutas e legumes extremamente frescos, cultivados no local. Mas, hoje, mesmo essas fazendas estão sob pressão econômica causada por um aumento do custo implícito da agricultura perto da área metropolitana. Como as áreas metropolitanas se expandiram nas últimas duas décadas, os agricultores cada vez mais se perguntam se eles estariam em situação melhor com a venda das terras às empresas incorporadoras e imobiliárias. Em 2009, em Rhode Island, o valor médio de um acre de terra nos Estados Unidos era de $2.100 em média. No estado mais densamente

povoado da Nova Inglaterra, a média era de $15.300. O Federal Reserve Bank de Boston observou que “os preços elevados da terra pressionam intensamente os agricultores da região para gerar renda suficientemente elevada para justificar a manutenção da terra em atividade agrícola”. O ponto importante é que a pressão é intensa, mesmo que o agricultor possua a terra, pois ela é uma forma de capital usado para gerir o negócio. Assim, manter a terra na agricultura em vez de vendê-la a uma incorporadora de imóveis constitui um elevado custo implícito de capital. Um dado fornecido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ajuda a estimar aquela parte do custo implícito do capital em decorrência da pressão de desenvolvimento urbano sobre algumas fazendas de Rhode Island. Em 2004, um programa do USDA destinado a evitar que a área agrícola de Rhode Island fosse absorvida pelo desenvolvimento urbano, pagava aos proprietários da terra pelos “direitos de desenvolvimento urbano” dessa terra, em média $4.949 por acre exclusivamente por conta desses direitos. Em 2009, o montante havia subido para $15.366. Cerca de 2/3 das fazendas restantes em atividade na Nova Inglaterra dão pouco dinheiro. São mantidas como “residências rurais” por pessoas com outras fontes de renda, não por serem comercialmente viáveis, mas mais por compromisso pessoal e pela satisfação da vida no campo. Embora muitos negócios tenham custos implícitos importantes para os proprietários, também podem oferecer benefícios importantes para os proprietários, além da receita que se pode obter.

BREVE REVISÃO Todos os custos são custos de oportunidade. Podem ser divididos em custos explícitos e custos implícitos. O lucro contábil de uma atividade não é necessariamente igual ao lucro econômico. Em virtude do custo implícito do capital – o custo de oportunidade de utilização do capital de uma empresa – e o custo de oportunidade do próprio tempo, o lucro econômico é, muitas vezes, substancialmente menor do que o lucro contábil. O princípio da tomada de decisão “ou-ou” afirma que ao realizar uma escolha “ou-ou” entre duas atividades, escolhe-se a com lucro econômico positivo.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 9-1 1. Karma e Don têm uma empresa de restauração de móveis na própria residência. Dentre os itens seguintes, qual representa um custo explícito do negócio e qual representa um custo implícito? a. Suprimentos como removedor de tinta, verniz, material de polimento, lixa e assim por diante. b. Espaço no porão, que foi convertido em sala de trabalho. c. Salários pagos a ajudantes em tempo parcial. d. Uma van que herdaram e é usada para o transporte de móveis. e. O emprego em uma grande empresa de restauração de móveis que Karma abandonou, a fim de abrir o próprio negócio. 2. Suponha que Ashley tenha uma terceira alternativa a considerar: entrar em um programa de dois anos de aprendizagem qualificada para mecânicos que, após a conclusão, torna o mecânico credenciado. Durante a aprendizagem, ela ganha um salário reduzido de $15.000 por ano. Ao final da aprendizagem, o valor do ganho durante a vida é de $725.000. Qual é a melhor escolha de carreira para Ashley? 3. Suponha que haja três alternativas – A, B e C – e você possa realizar apenas uma deles. Ao comparar A com B, você percebe que B tem um lucro econômico e A produz uma perda econômica. Mas ao comparar A com C, você supõe que C tem um lucro econômico e A produz uma perda econômica. Como você decide o que fazer? As respostas estão no fim do livro.

TOMANDO DECISÕES “QUANTO”: O PAPEL DA ANÁLISE MARGINAL Embora muitas decisões de economia sejam “ou-ou”, outras são “quanto”. Não são muitas as pessoas que deixam de dirigir o carro quando o preço da gasolina sobe, mas muitas dirigem menos. Quanto menos? Um aumento no preço do milho não vai necessariamente convencer muita gente a virar agricultor, mas vai persuadir alguns que já cultivam milho a plantar mais. Quanto mais? Lembre-se do princípio da microeconomia de que “quanto” é uma decisão na margem. Então, para entender as decisões “quanto”, usaremos

uma abordagem conhecida como análise marginal. A análise marginal envolve comparar o benefício de fazer um pouco mais de uma atividade com o custo de fazer um pouco mais dessa atividade. A vantagem de fazer um pouco mais de algo é o que os economistas chamam de benefício marginal, e o custo de fazer um pouco mais de algo é o que chamam de custo marginal. Por que se chama análise “marginal”? Uma margem é uma beira; o que se faz na análise marginal é empurrar a beira um pouco mais e ver se é uma atitude acertada. Começaremos o estudo da análise marginal considerando a decisão hipotética de quantos anos de faculdade fazer. Vamos considerar o caso de Alex, que estuda programação e projeto de computação. Uma vez que existem muitas linguagens computacionais, métodos de projeto de aplicativos e programas de gráficos que podem ser aprendidos um ano de cada vez, a cada ano Alex pode decidir se continua ou não os estudos. Diferentemente de Ashley, que enfrentou a decisão “ou-ou” de obter um diploma em didática de ensino, Alex enfrenta uma decisão “quanto” de quantos anos estudar programação e projeto de computação. Por exemplo, ele poderia estudar mais um ano, ou cinco anos mais, ou qualquer número de anos entre esses. Iniciaremos a análise do problema de decisão de Alex definindo o custo marginal de Alex de mais um ano de estudo. Custo marginal

Suponhamos que cada ano adicional de escolaridade custe $10.000 a Alex em custos explícitos – mensalidade, juros sobre empréstimo estudantil e assim por diante. Além dos custos explícitos, há também os custos implícitos – a renda não ganha ao passar mais um ano na faculdade. Ao contrário dos custos explícitos de Alex, que são constantes (isto é, o mesmo a cada ano), o custo implícito de Alex varia todos os anos. Isso porque cada ano que passa na faculdade fica mais bem preparado que no ano anterior, e quanto mais bem preparado estiver, maior salário poderá receber. Consequentemente, a renda à qual renuncia por não trabalhar aumenta a cada ano adicional que permanece na faculdade. Em outras palavras, quanto maior o número de anos passados na faculdade, maior o custo implícito de mais um ano na escola.

A Tabela 9-4 contém os dados sobre como o custo de Alex de mais um ano na faculdade varia à medida que ele completa mais anos. A segunda coluna mostra como o custo total da escolaridade varia à medida que o número de anos concluídos aumenta. Por exemplo, o primeiro ano de Alex tem um custo total de $30.000: $10.000 em custos explícitos de mensalidades e $20.000 em salário não recebido. A segunda coluna mostra também que o custo total de frequentar dois anos é $70.000: $30.000 no primeiro ano, mais $40.000 no segundo ano. Durante o segundo ano da faculdade, os custos explícitos permaneceram o mesmo ($10.000), mas o custo implícito do salário não ganho subiu para $30.000. Isso porque será um trabalhador mais valioso com um ano de estudo em comparação com outro sem escolaridade. Da mesma forma, o custo total de três anos de faculdade é $130.000: $30.000 em custos explícitos por três anos de mensalidade, além de $100.000 em custos implícitos de três anos de salário renunciado. O custo total de frequentar quatro anos é $220.000 e $350.000 por cinco anos. A variação no custo total de escolaridade de Alex ao frequentar a escola por mais um ano é o custo marginal do aumento de um ano nos anos de escolaridade. Em geral, o custo marginal de produzir um bem ou serviço (nesse caso, a produção da própria educação) é o custo adicional incorrido pela produção de mais uma unidade desse bem ou serviço. As setas, em zigue-zague, entre o custo total na segunda coluna e o custo marginal na terceira coluna estão lá para ajudá-lo a verificar como o custo marginal é calculado a partir do custo total e vice-versa. Como já mencionado, a terceira coluna da Tabela 9-4 mostra o custo marginal de Alex de mais anos de escolaridade, que tem um padrão claro: está aumentando. Vai de $30.000 para $40.000, para $60.000, para $90.000, e, finalmente, para $130.000 no quinto ano de escolaridade. Isso porque o aumento do grau de instrução torna Alex um empregado mais valioso e muito bem pago quando for trabalhar. Em consequência, a renúncia a um emprego fica cada vez mais cara à medida que aumenta o grau de instrução. Esse é um exemplo do que os economistas chamam de custo marginal crescente, que ocorre quando cada unidade de um bem custa mais para produzir do que a unidade anterior.

A Figura 9-1 mostra uma curva de custo marginal, uma representação gráfica dos custos marginais de Alex. A altura de cada barra sombreada corresponde ao custo marginal de determinado ano de escolaridade. A linha vermelha ligando os pontos no ponto médio da parte superior de cada barra é a curva de custo marginal de Alex. Alex tem uma curva de custo marginal inclinada para cima, porque tem custo marginal crescente proveniente de anos adicionais de escolaridade. Embora o custo marginal crescente seja um fenômeno frequente na vida real, não é a única possibilidade. O custo marginal constante ocorre quando o custo de produzir uma unidade adicional é o mesmo que o custo de produção da unidade precedente. Um viveiro de mudas, por exemplo, geralmente tem custo marginal constante – o custo de cultivo de mais uma planta é o mesmo, independentemente de quantas plantas foram produzidas. Com o custo marginal constante, a curva de custo marginal é uma linha horizontal. Também pode haver custo marginal decrescente, que ocorre quando o custo marginal cai à medida que o número de unidades produzidas aumenta. Com custo marginal decrescente, a linha do custo marginal tem inclinação para baixo. O custo marginal decrescente, muitas vezes, é decorrente dos efeitos de aprendizagem na produção: para tarefas

complicadas, como a montagem de um novo modelo de carro, os trabalhadores, muitas vezes, são lentos e propensos a erros ao montar as primeiras unidades, gerando custo marginal mais elevado nessas unidades. Mas à medida que os trabalhadores ganham experiência, o tempo de montagem e a taxa de erros caem, gerando custo marginal mais baixo para as unidades posteriores. Como resultado, a produção total diminui o custo marginal. Finalmente, para a produção de alguns bens e serviços, a forma da curva do custo marginal varia à medida que o número de unidades produzidas aumenta. Por exemplo, é provável que a produção de automóveis tenha diminuído os custos marginais para o primeiro lote de carros produzidos na medida em que os trabalhadores repararam danos e erros na produção. Então, a produção tem custos marginais constantes para o próximo lote de carros à medida que os trabalhadores se estabelecem em um ritmo previsível. Mas em algum ponto, à medida que os trabalhadores produzem mais e mais carros, o custo marginal começa a aumentar à medida que ficam sem espaço de chão de fábrica e a empresa incorre em horas extras dispendiosas. Isso dá origem ao que chamamos de curva de custo marginal em formato de “swoosh” (a logomarca da Nike) – tópico que será discutido em mais detalhes no Capítulo 11. Por enquanto, vamos ficar com o exemplo mais simples de uma curva de custo marginal crescente. FIGURA 9-1

Custo marginal

A altura de cada barra sombreada corresponde ao custo marginal de Alex de um ano adicional de escolaridade. A altura de cada barra é mais elevada do que a anterior, pois cada ano de escolaridade custa mais do que os anos anteriores. Como resultado, Alex tem custo marginal crescente e a curva de custo marginal, a linha que liga os pontos médios no topo de cada barra, é inclinada para cima.

ARMADILHAS CUSTO TOTAL VERSUS CUSTO MARGINAL Pode ser fácil concluir que o custo marginal e o custo total devem sempre se mover na mesma direção. Ou seja, se o custo total está aumentando, então o custo marginal também deve aumentar. Ou se o custo marginal está caindo, então o custo total também deve cair. Mas o exemplo a seguir mostra que essa conclusão está errada. Consideremos o exemplo da produção de automóveis, que, como mencionamos anteriormente, é provável que envolva efeitos de aprendizagem. Suponha que, para o primeiro lote de carros de um novo modelo, cada carro custe $10.000 para montar. À medida que os trabalhadores ganham experiência com o novo modelo, aprimoram-se na produção. Em consequência, o custo de montagem por carro cai para $8.000 para o segundo lote. Para o terceiro lote, o custo de montagem por carro cai novamente para $6.500 à medida que os trabalhadores continuam a ganhar experiência. Para o quarto lote, o custo de

montagem por carro cai para $5.000 e permanece constante para o resto do prazo de produção. Neste exemplo, o custo marginal é decrescente ao longo dos lotes de um a quatro, caindo de $10.000 para $5.000. No entanto, é importante observar que o custo total ainda é crescente em todo o ciclo de produção, porque o custo marginal é maior que zero. Para analisar esse ponto, suponhamos que cada lote seja composto de 100 carros. Então, o custo total de produzir o primeiro lote é 100 × $10.000 = $1.000.000. O custo total de produzir o primeiro e o segundo lotes de carros é $1.000.000 + (100 × $8.000) = $1.800.000. Da mesma forma, o custo total de produzir o primeiro, o segundo e o terceiro lotes é $1.800.000 + (100 × $6.500) = $2.450.000, e assim por diante. Como se vê, embora o custo marginal seja decrescente nos primeiros lotes de carros, o custo total é crescente nos mesmos lotes. Isso nos mostra que totais e marginais, às vezes, podem-se mover em direções opostas. Por isso, é errado afirmar que sempre se movem na mesma direção. O que se pode afirmar é que o custo total aumenta sempre que o custo marginal é positivo, independentemente de o custo marginal ser crescente ou decrescente.

Benefício marginal

Alex se beneficia de ganhos mais elevados, à medida que conclui mais anos de escola. O quanto ele se beneficia é mostrado na Tabela 9-5. A segunda coluna mostra o benefício total de Alex de acordo com o número de anos de escola concluído, expresso como valor do aumento nos ganhos durante a vida. A terceira coluna mostra o benefício marginal de Alex de um ano adicional de escolaridade. Em geral, o benefício marginal de produção de um bem ou serviço é o benefício adicional ganho de produzir mais uma unidade.

Tal como na Tabela 9-4, os dados na terceira coluna da Tabela 9-5 mostram um padrão claro. No entanto, dessa vez os números estão diminuindo, em vez de aumentar. O primeiro ano de escolaridade oferece a Alex um aumento de $300.000 no valor dos ganhos durante a vida. O segundo ano também oferece um retorno positivo, mas o tamanho desse retorno caiu para $150.000; o retorno do terceiro ano também é positivo, mas diminuiu mais uma vez para $90.000, e assim por diante. Em outras palavras, quanto mais anos de escola Alex tiver concluído, menor o aumento no valor de seus ganhos durante a vida de concluir mais um ano. A decisão de escolaridade de Alex tem o que os economistas chamam de benefício marginal decrescente: cada ano adicional de faculdade produz um benefício menor do que o ano anterior. Ou, para colocar de forma ligeiramente diferente, com o benefício marginal decrescente, o benefício de produzir mais uma unidade do bem ou serviço cai à medida que a quantidade já produzida aumenta. Assim como o custo marginal pode ser representado por uma curva do custo marginal, o benefício marginal pode ser representado por uma curva de benefício marginal, mostrada em azul na Figura 9-2. A curva do benefício marginal de Alex é inclinada para baixo, pois está diante do benefício marginal decrescente de anos adicionais de escolaridade.

Nem todos os bens ou atividades apresentam benefício marginal decrescente. De fato, há muitos bens para os quais o benefício marginal de produção é constante – isto é, o benefício adicional de produzir uma unidade a mais é o mesmo, independentemente do número de unidades já produzidas. Nos próximos capítulos, onde estudaremos as empresas, veremos que a forma da curva do benefício marginal de uma empresa na fabricação de um produto tem implicações importantes para a forma como essa empresa se comporta dentro da indústria. Nos Capítulos 11 e 12, veremos também por que o benefício marginal constante é considerado a norma para muitas indústrias importantes. Agora estamos prontos para observar como os conceitos de benefício e custo marginal se reúnem para responder à pergunta de quantos anos de escolaridade adicional Alex deve cursar. Análise marginal

A Tabela 9-6 mostra os números de custo e benefício marginal das Tabelas 9-4 e 9-5. Também apresenta uma coluna adicional: o lucro adicional de Alex ao ficar na escola mais um ano, igual à diferença entre o benefício marginal e o custo marginal desse ano a mais na escola. (Lembrese de que é com o lucro econômico de Alex que nos preocupamos, não com o seu lucro contábil.) Podemos agora usar a Tabela 9-6 para determinar quantos anos adicionais de escolaridade Alex deve cursar para maximizar o lucro total. Primeiro, imagine que Alex não escolha cursar anos adicionais na faculdade. Na quarta coluna, pode-se observar que é um erro Alex querer atingir o lucro total mais alto proveniente da escolaridade – a soma do lucro adicional gerado por mais um ano de escolaridade. Se cursar um ano adicional de faculdade, aumenta o valor dos ganhos durante a vida em $270.000, o lucro do primeiro ano adicional cursado. Agora, vamos considerar se Alex deve cursar o segundo ano da faculdade. O lucro adicional do segundo ano é $110.000, assim Alex também deve cursar o segundo ano. E o terceiro ano? O lucro adicional desse ano é $30.000; então, sim. Alex também deve cursar o terceiro ano. E o quarto ano? Nesse caso, o lucro adicional é negativo: é –$30.000. Alex

perderá $30.000 do valor dos ganhos durante a vida se frequentar o quarto ano. É claro que Alex ficará em pior situação ao frequentar o quarto ano adicional em vez de aceitar um emprego. E o mesmo também é verdade para o quinto ano: terá um lucro adicional negativo de –$80.000. O que aprendemos? Alex deve cursar três anos adicionais de faculdade e parar. Embora o primeiro, o segundo e o terceiro anos de escolaridade adicional aumentem o valor dos ganhos durante a vida, o quarto e o quinto ano diminuem. Assim, três anos de escolaridade adicional levam à quantidade que gera o lucro máximo total possível. É o que os economistas chamam de quantidade ótima – a quantidade que gera o lucro máximo total possível. FIGURA 9-2

Benefício marginal

A altura de cada barra sombreada corresponde ao benefício marginal de Alex por um ano adicional de escolaridade. Cada barra é mais baixa do que a precedente porque um ano adicional de escolaridade diminui o benefício marginal. Em consequência, a curva do benefício marginal de Alex, a que liga os pontos médios no topo de cada barra, é inclinada para baixo.

A Figura 9-3 mostra como a quantidade ótima pode ser determinada graficamente. O benefício marginal de Alex e as curvas de custo marginal são mostrados juntos. Se Alex escolher menos do que três anos adicionais (ou seja, 0, 1 ou 2), irá escolher um nível de escolaridade em que a curva de benefício marginal encontra-se acima da curva de custo marginal. Ele pode ficar em situação melhor permanecendo na faculdade. Se, em vez disso, escolher mais que três anos adicionais (4 ou 5 anos), vai escolher um nível de escolaridade em que a curva de benefício marginal se encontra abaixo da curva de custo marginal. Ele pode ficar em situação melhor não cursando o ano de faculdade adicional se, em vez disso, procurar emprego. A tabela da Figura 9-3 confirma o resultado. A segunda coluna repete a informação da Tabela 9-6, apresentando o benefício de Alex menos o custo marginal – o lucro adicional por ano adicional de escolaridade. A terceira coluna apresenta o lucro total de Alex para diferentes anos de escolaridade. O lucro total, para cada ano possível de escolaridade, é a soma dos números da segunda coluna, inclusive aquele ano. Por exemplo, o lucro de Alex por anos adicionais de escolaridade é $270.000 no primeiro ano e $110.000 no segundo ano. Assim, o lucro total de dois anos adicionais de escolaridade é $270.000 + $110.000 = $380.000. Da mesma forma, o lucro total de mais três anos é $270.000 + $110.000 + $30.000 = $410.000. A tese de que três anos é a quantidade ideal para o Alex é confirmada pelos dados da tabela na Figura 9-3: em três anos de escolaridade adicional, Alex obtém o maior lucro total, $410.000. FIGURA 9-3

Quantidade ótima de Alex de anos de escolaridade

A quantidade ótima é a quantidade que gera o lucro total possível mais alto. É a quantidade em que o benefício marginal é maior que ou igual ao custo marginal. De forma equivalente, é a quantidade em que as curvas de benefício marginal e custo marginal se cruzam. Aqui, eles se cruzam em três anos adicionais de escolaridade. A tabela confirma que três é de fato a quantidade ótima: leva ao lucro total máximo de $410.000.

O problema de decisão de Alex ilustra a forma de encontrar a quantidade ótima quando a escolha envolve um pequeno número de quantidades. (Nesse exemplo, um entre cinco anos.) Com pequenas quantidades, a regra para escolher a quantidade ótima é: aumentar a quantidade enquanto o benefício marginal de uma unidade a mais é maior do que o custo marginal, mas antes de o benefício marginal tornar-se menor que o custo marginal. Por outro lado, quando uma decisão “quanto” envolve quantidades relativamente grandes, a regra para a escolha da quantidade ótima resumese a: a quantidade ótima é a quantidade em que o benefício marginal é igual ao custo marginal. Para verificar por que isso é assim, considere o exemplo de um agricultor que descobre que a quantidade ótima de trigo produzido é 5 mil bushels. Normalmente, vai achar que de 4.999 a 5 mil bushels, o benefício marginal é apenas ligeiramente maior do que o custo marginal – isto é, a diferença entre o benefício marginal e o custo marginal está próxima de zero. Da mesma forma, de 5.000 para 5.001 bushels, o custo marginal é apenas

ligeiramente maior do que o benefício marginal – de novo, a diferença entre o custo marginal e o benefício marginal é muito próxima de zero. Assim, uma regra simples para ela na escolha da quantidade ótima de trigo é produzir a quantidade em que a diferença entre o benefício marginal e o custo marginal é aproximadamente zero – isto é, a quantidade em que o benefício marginal é igual ao custo marginal. Agora estamos prontos para afirmar a regra geral para a escolha da quantidade ótima – que se aplica a decisões que envolvem tanto pequenas como grandes quantidades. Essa regra geral é conhecida como princípio de análise marginal de maximização do lucro: Ao tomar uma decisão “quanto” de maximização do lucro, a quantidade ótima é a maior quantidade em que o benefício marginal é maior que ou igual ao custo marginal. Graficamente, a quantidade ótima é a quantidade de uma atividade em que a curva de benefício marginal cruza a curva de custo marginal. Por exemplo, na Figura 9.3, as curvas de benefício marginal e de custo marginal se cruzam em três anos – ou seja, o benefício marginal é igual ao custo marginal na escolha de três anos adicionais de escolaridade, o que já foi observado em relação à quantidade ótima de Alex. A aplicação direta da análise marginal também explica por que tantas pessoas voltaram para a faculdade de 2009 a 2011: no mercado de trabalho deprimido, o custo marginal de mais um ano de instrução caiu porque o custo de oportunidade de renúncia ao salário caiu.

COMPARAÇÃO GLOBAL TAMANHO DAS PORÇÕES Especialistas em saúde chamam de “paradoxo francês”. Se você acha que a comida francesa engorda, você tem razão: a dieta francesa, em média, tem mais gordura do que a americana. No entanto, os franceses são consideravelmente mais magros: em 2011, entre 9% e 11% dos franceses adultos foram classificadas como obesos, em comparação com 33,8% dos americanos.

Qual é o segredo? Parece que os franceses comem menos, em grande parte porque comem porções menores. Esse gráfico compara o tamanho da porção média em estabelecimentos alimentares em Paris e na Filadélfia. Em quatro casos, os pesquisadores analisaram porções servidas pela mesma cadeia; em outros casos, analisaram estabelecimentos comparáveis, como pizzarias locais. Em todos os casos, exceto um, as porções americanas eram maiores, na maioria dos casos, muito maiores. Por que as porções dos americanos é tão grande? Porque o alimento é mais barato nos Estados Unidos. Faz sentido para restaurantes oferecer grandes porções na margem, uma vez que o custo adicional de ampliar uma porção é relativamente pequeno. Como informa um artigo recente de jornal: “Embora possa custar para um restaurante alguns centavos a mais oferecer 25% a mais de batatas fritas, o preço pode aumentar muito mais. O resultado é que porções maiores são uma maneira confiável de aproveitar o controle médio nos restaurantes americanos.” Então, se você já se perguntou por que a dieta parece ser uma obsessão exclusivamente americana, o princípio da análise marginal pode ajudar a fornecer a resposta: é neutralizar os efeitos das porções maiores americanas.

Fonte: Paul Rozin, Kimberly Kabnick, Erin Pete, Claude Fischler e Christy Shields, The ecology of eating Psychological Science 14 (Setembro de 2003): 450-454.

A aplicação direta da análise marginal também pode explicar muitos fatos, tal como por que tamanhos de porções nos restaurantes dos Estados Unidos geralmente são maiores do que em outros países (como se acabou de discutir na seção Comparação global). Um princípio com muitos usos

O princípio da análise marginal da maximização do lucro pode ser aplicado a praticamente qualquer decisão “quanto” em que se quer maximizar o lucro total de uma atividade. É igualmente aplicável às decisões de produção, consumo e decisões políticas. Além disso, as decisões em que os benefícios e custos não são expressos em moeda também podem ser realizadas por meio de análise marginal (desde que os benefícios e custos possam ser medidos em algum tipo de unidade padrão). Eis aqui alguns exemplos de decisão que são adequadas à análise marginal: Um produtor, a varejista PalMart, deve decidir sobre o tamanho da nova loja em construção em Pequim. Toma essa decisão, comparando o benefício marginal de ampliar a loja em um metro quadrado (o valor das vendas adicionais que realiza a partir do metro quadrado adicional de espaço) frente ao custo marginal (o custo de construção e manutenção do metro quadrado adicional). O tamanho ótimo da loja PalMart é o maior tamanho em que o benefício marginal é maior ou igual ao custo marginal. Muitos fármacos úteis têm efeitos colaterais que dependem da dosagem. Então, o médico deve considerar o custo marginal, em termos de efeitos colaterais, de aumentar a dosagem de um fármaco contra o benefício marginal de melhoria da saúde, aumentando a dosagem. O nível de dosagem ótima é o maior nível em que o benefício marginal de melhoria da doença é maior ou igual ao custo marginal dos efeitos colaterais. Um agricultor deve decidir o quanto de fertilizante aplicar. Uma quantidade maior de fertilizante aumenta o rendimento das culturas, mas também o custo. A quantidade ideal de fertilizante é a maior quantidade em que o benefício marginal de maior rendimento da cultura é maior ou igual ao custo marginal de comprar e aplicar mais fertilizante.

ARMADILHAS CONFUSÃO NA MARGEM A ideia de estabelecer o benefício marginal igual ao custo marginal, às vezes, confunde as pessoas. O que queremos maximizar não é a diferença entre benefícios e custos? Sim. E não estamos eliminando ganhos ao determinar que benefícios e custos devam ser iguais uns aos outros? Sim. Mas não é o que estamos fazendo. Pelo contrário, o que estamos fazendo é definir o benefício e o custo marginal, não total, iguais, um ao outro. Mais uma vez, o que interessa é maximizar o lucro total de uma atividade. Se o benefício marginal de uma atividade for maior que o custo marginal, realizar um pouco mais aumentará esse ganho total. Se o benefício marginal for menor que o custo marginal, realizar um pouco menos aumentará o ganho líquido total. Assim, só quando o benefício e o custo marginal são iguais é que a diferença entre o benefício total e o custo total estará no ponto máximo.

Apresentação prévia: como as decisões de consumo são diferentes

Verificou-se que a análise marginal é uma ferramenta extremamente útil. É usada nas decisões “quanto” aplicadas em ambas as escolhas de consumo e também para maximizar o lucro. Os produtores a usam para tomar decisões de produção ótimas na margem e as pessoas a usam para tomar decisões de consumo ótimas na margem. Mas as decisões de consumo e de produção diferem na forma. Por que a diferença? Porque quando as pessoas fazem escolhas, possuem uma quantidade limitada de renda. Em consequência, quando escolhem mais de um bem para consumir (digamos, roupas novas), devem escolher menos de outro bem (digamos, jantares em restaurante). Por outro lado, as decisões que envolvem maximização do lucro por meio da produção de um bem ou serviço – como anos de educação ou toneladas de trigo – não são afetadas por limitações de renda. Por exemplo, no caso de Alex, ele não está limitado pela renda, porque sempre pode pedir empréstimo para pagar por mais um ano de instrução. No Capítulo 10, analisaremos como as decisões de consumo diferem das decisões de produção – mas também como são semelhantes.

economia em ação

O custo de uma vida

Qual é o benefício marginal para a sociedade de salvar uma vida humana? Você pode ser tentado a responder que a vida humana é infinitamente preciosa. Mas, no mundo real, os recursos são escassos, por isso precisamos decidir quanto gastar em salvar vidas, pois não podemos gastar somas infinitas. Afinal, certamente poderíamos reduzir as mortes nas estradas, reduzindo o limite de velocidade nas rodovias interestaduais a 40 quilômetros por hora, mas o custo de um limite tão baixo – em termos de tempo e dinheiro – é mais do que a maioria das pessoas estão dispostas a pagar. Em geral, as pessoas relutam em falar de maneira direta sobre uma comparação do custo marginal de uma vida salva com o benefício marginal – parece demasiado insensível. Às vezes, porém, essa questão se torna inevitável. Por exemplo, o custo de salvar uma vida se tornou objeto de intensa discussão no Reino Unido depois de um acidente de trem terrível perto da Estação Paddington, em Londres, matando 31 pessoas. Houve acusação de que o governo britânico estava gastando muito pouco em segurança ferroviária. No entanto, o governo estimou que a melhoria da segurança ferroviária custe um adicional de $4,5 milhões por vida salva. Mas se fosse considerado que valia a pena gastar esse montante, isto é, que o benefício marginal de salvar uma vida ultrapassaria $4,5 milhões, então a implicação era que o governo britânico estava gastando muito pouco em segurança no trânsito. Ao contrário, a estimativa do custo marginal por vida salva através de melhoria nas rodovias era de apenas $1,5 milhão, tornando isso um negócio muito melhor do que salvar vidas por meio de maior segurança nas ferrovias.

BREVE REVISÃO A decisão “quanto” é realizada por meio do uso O custo marginal de produzir um bem graficamente pela curva de custo marginal. com inclinação para cima reflete um custo

de análise marginal. ou serviço é representado Uma curva de custo marginal marginal crescente. Custo

marginal constante é representado por uma curva de custo marginal horizontal. Uma curva de custo marginal com inclinação para baixo reflete um custo marginal decrescente. O benefício marginal de produção de um bem ou serviço é representado por uma curva de benefício marginal. Uma curva de benefício marginal com inclinação para baixo reflete um benefício marginal decrescente. A quantidade ótima, a que gera o maior lucro total possível, é encontrada aplicando o princípio de análise marginal de maximização do lucro segundo o qual a quantidade ótima é a maior quantidade em que o benefício marginal é maior ou igual ao custo marginal. Graficamente, é a quantidade em que a curva do custo marginal cruza a curva de benefício marginal. TESTE SEU ENTENDIMENTO 9-2 1. Para cada uma das decisões “quanto” listadas na Tabela 9-3, descreva a natureza do custo marginal e do benefício marginal. 2. Suponha que a faculdade de Alex cobra uma taxa fixa de $70.000 para quatro anos de escolaridade. Se Alex desistir antes de terminar os quatro anos, ainda terá que pagar $70.000. O custo total de Alex para diferentes anos de escolaridade é dado pelos dados na tabela a seguir. Suponha que o benefício total de Alex e o benefício marginal permanecem como apresentados na Tabela 9-5. Use essa informação para calcular (i) o novo custo marginal de Alex, (ii) o novo lucro e (iii) os novos anos ótimos de escolaridade. Que tipo de custo marginal Alex tem agora – constante, crescente ou decrescente? Quantidade de escolaridade (anos)

Custo total

0

$0

1

90.000

2

120.000

3

170.000

4

250.000

5

370.000 As respostas estão no fim do livro.

CUSTOS IRRECUPERÁVEIS

Ao tomar decisões, saber o que ignorar pode ser tão importante quanto saber o que incluir. Embora, neste capítulo, tenhamos dedicado muita atenção aos custos que são importantes levar em consideração ao tomar uma decisão, alguns custos devem ser ignorados. Nesta seção, nos concentraremos nos tipos de custos que as pessoas devem ignorar ao tomar decisões – o que os economistas chamam de custos irrecuperáveis – e por que devem ser ignorados. Considere o seguinte cenário. Você possui um carro que tem alguns anos e que as pastilhas de freio acabaram de ser substituídas, a um custo de $250. Mas, então, descobre-se que todo o sistema de freio está com defeito e também deve ser substituído. Isso vai ter um custo adicional de $1.500. Alternativamente, você também pode vender o carro e comprar outro de qualidade comparável, mas sem defeito de freio, gastando um adicional de $1.600. O que você deve fazer: consertar o carro velho, ou vendê-lo e comprar outro? Pode-se dizer que você deve optar pela segunda escolha. Afinal de contas, por essa linha de raciocínio, se você reparar o carro, acabará gastando $1.750: $1.500 pelo sistema de freios e $250 pelas pastilhas de freio. Se, em vez disso, vender o carro velho e comprar outro, gastará apenas $1.600. Mas esse raciocínio, embora pareça plausível, está errado. É errado porque ignora o fato de que você já gastou $250 em pastilhas de freio, e que esses $250 são irrecuperáveis. Ou seja, depois de já ter sido gasto, os $250 não podem mais ser recuperados. Portanto, devem ser ignorados e não devem ter nenhum efeito sobre a decisão de consertar o carro e mantê-lo. Sob o ponto de vista racional, nesse momento, o custo real de reparar e manter o carro é $1.500 e não $1.750. Assim, a decisão correta é reparar o carro e mantê-lo, em vez de gastar $1.600 em um carro novo. Neste exemplo, em que os $250 que já foram gastos e não podem ser recuperados, é o que os economistas chamam de custo irrecuperável. Os custos irrecuperáveis devem ser ignorados na tomada de decisões sobre ações futuras porque não têm influência sobre os custos e benefícios reais. É como o velho ditado: “Não adianta chorar sobre leite derramado.” Uma vez que algo não pode ser recuperado, é irrelevante tomar decisões sobre o que fazer no futuro.

Muitas vezes, é psicologicamente difícil ignorar os custos irrecuperáveis. E se, na verdade, você ainda não incorreu em custos, então deve levá-los em consideração. Ou seja, se você soubesse desde o início que custaria $1.750 consertar o carro, então, naquele momento, a escolha certa seria comprar um carro novo por $1.600. Uma vez que já foram pagos $250 pelas pastilhas de freio, isso não deve mais ser incluído na tomada de decisão sobre as próximas ações. Pode ser difícil aceitar que “passado é passado”, mas é o caminho certo para tomar uma decisão.

economia em ação Um bilhão aqui, outro ali…

Se existe uma indústria que exemplifica o princípio de que custos irrecuperáveis não importam, é a indústria da biotecnologia. As empresas de biotecnologia usam técnicas de bioengenharia de ponta para combater doenças. Mas de acordo com Arthur Levinson, principal executivo da Genentech, uma das maiores e mais bem-sucedidas empresas de biotecnologia, o setor tem sido “uma das indústrias que mais perderam dinheiro na história da humanidade”. Estima-se que essa indústria tenha perdido quase $100 bilhões desde 1976 (sim, bilhões). De 225 empresas americanas de biotecnologia de capital aberto, apenas 17 tiveram lucro em 2009. No entanto, essa não é uma história de incompetência, pois o problema está na natureza da ciência. Leva cerca de sete a oito anos, em média, desenvolver e colocar no mercado um novo fármaco. Além disso, há uma taxa de fracasso enorme ao longo do caminho, pois apenas um em cada cinco fármacos testados em seres humanos chega ao mercado. A empresa Xoma é um desses casos: sofreu retrocesso em vários fármacos para o tratamento de doenças variadas como a acne e de complicações dos transplantes de órgãos. Desde 1981, nunca teve lucro e já queimou mais de $780 milhões. Por que a Xoma continua em atividade? E, o mais importante, por que há investidores que permanecem dispostos a continuar fornecendo mais dinheiro? Porque a Xoma possui tecnologia

promissora, e os investidores astutos entendem o princípio dos custos irrecuperáveis

BREVE REVISÃO Os custos irrecuperáveis devem ser ignorados nas decisões referentes a ações futuras. Como já foram incorridos e são irrecuperáveis, não têm efeito sobre custos e benefícios futuros.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 9-3 1. Você decidiu abrir um negócio para vender sorvetes e comprou um caminhão usado por $8.000 para transportar gelados. Agora está reconsiderando. Qual é o custo irrecuperável nas situações seguintes? a. O caminhão não pode ser revendido. b. O caminhão pode ser revendido, mas apenas com um desconto de 50%. 2. Você estudou dois anos de Medicina, mas de repente está pensando que seria mais feliz como músico. Qual das seguintes afirmações são argumentos potencialmente válidos e quais não são? a. “Não posso desistir agora, depois de todo o tempo e dinheiro já gasto.” b. “Se eu tivesse pensado desde o início, jamais teria ido para a faculdade de Medicina, então é melhor desistir agora.” c. “Perdi dois anos, mas paciência, tratemos de começar a partir de agora.” d. “Meus pais me matariam se eu parasse agora.” (Dica: Estamos discutindo a sua capacidade de tomar decisões e não a de seus pais.) As respostas estão no fim do livro.

ECONOMIA COMPORTAMENTAL A maioria dos modelos econômicos pressupõe que as pessoas fazem escolhas com base no atingimento do melhor resultado econômico possível para si. No entanto, o comportamento humano, muitas vezes, não é tão simples. Em vez de agir como computadores econômicos, as pessoas costumam fazer escolhas que ficam aquém – por vezes, bem aquém – do

maior resultado ou recompensa econômica possível. Por que as pessoas, às vezes, fazem escolhas não tão perfeitas é o tema da economia comportamental, um ramo da economia que combina modelagem econômica com visão de psicologia humana. A economia comportamental surgiu das tentativas dos economistas e psicólogos de entender como as pessoas realmente fazem na realidade – em vez de teoricamente – escolhas econômicas. É certo que as pessoas sempre se envolvem em comportamento irracional, escolhendo uma opção que as deixa em situação pior do que outras opções disponíveis. No entanto, como veremos adiante, às vezes, é inteiramente racional para as pessoas fazer uma escolha que é diferente daquela que gera o maior lucro possível para si mesmo. Por exemplo, Ashley pode decidir obter um diploma em didática de ensino, porque gosta mais de dar aula do que de publicidade, mesmo que o lucro do diploma de didática de ensino seja menor do que continuar em publicidade. O estudo do comportamento econômico irracional foi iniciado em grande parte por Daniel Kahneman e Amos Tversky. Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de 2002 em Economia por seu trabalho integrando conhecimentos de psicologia do julgamento humano e tomada de decisão em economia. O seu trabalho e as ideias de outros de por que as pessoas, muitas vezes, se comportam de forma irracional estão tendo influência significativa sobre como os economistas analisam os mercados financeiros e de trabalho, bem como outras preocupações econômicas. Racional, mas também humano

Se você é racional, escolherá a opção disponível que leva ao resultado que a maioria prefere. Mas o resultado preferido é sempre o que oferece o melhor retorno econômico possível? Não. Pode ser amplamente racional escolher uma opção que oferece um retorno econômico pior, ao se preocupar com algo diferente do que o montante de retorno econômico. Há três razões principais pelas quais as pessoas podem preferir um retorno econômico pior: preocupação sobre equidade, racionalidade limitada e aversão ao risco.

Preocupação sobre equidade

Em situações sociais, as pessoas, muitas vezes, se preocupam com equidade, bem como com retorno econômico para eles. Por exemplo, não há lei que exija que você dê gorjeta a um garçom ou garçonete. Mas a preocupação com equidade leva a maioria das pessoas a deixar gorjeta (a não ser que tenha ocorrido um mau serviço), pois uma gorjeta é considerada uma compensação justa por um bom serviço de acordo com as normas da sociedade. Quem dá gorjeta está reduzindo o próprio retorno econômico, a fim de ser justo com garçons e garçonetes. Um comportamento relacionado é presentear: se você se preocupa com o bemestar de outra pessoa, é racional que presenteie essa pessoa, mesmo diminuindo o próprio retorno econômico. Racionalidade limitada

Agir como um computador em economia – escolher a opção que oferece a melhor recompensa econômica – pode exigir muito trabalho: avaliação das opções, cálculo dos custos de oportunidade, cálculo dos valores marginais e assim por diante. O esforço mental requerido tem seu próprio custo de oportunidade. Essa constatação levou os economistas ao conceito de racionalidade limitada – fazer uma escolha próxima a, mas não exatamente a que leva ao maior lucro possível porque o esforço de encontrar a melhor recompensa é muito caro. Em outras palavras, a racionalidade limitada é o método de tomada de decisão “bom o suficiente”. Os varejistas são particularmente bons em explorar a tendência dos clientes em participar da racionalidade limitada. Por exemplo, itens de preços em unidades que terminam em ¢99 tiram proveito da tendência dos consumidores de interpretar um item que custa, por exemplo, $2,99 como significativamente mais barato do que um que custe $3,00. A racionalidade limitada os leva a dar mais peso à parte inteira do preço (o primeiro número que veem) do que aos centavos. Aversão ao risco

Como a vida é incerta e o futuro desconhecido, às vezes uma escolha vem com risco significativo. Embora se possa receber um alto retorno, se tudo

sair bem, também existe a possibilidade de que as coisas possam acabar mal e o deixe em situação pior. Assim, mesmo que ache que uma escolha vai conduzir ao melhor retorno entre todas as opções disponíveis, pode renunciar a ela por considerar a possibilidade de que as coisas possam acabar mal, que também seja arriscado. Isso é chamado de aversão ao risco – a disposição de sacrificar um retorno econômico potencial, para evitar uma perda potencial. (Discutiremos a aversão ao risco em mais detalhes no Capítulo 20.) Como o risco torna a maioria das pessoas desconfortável, é racional desistir de algum ganho econômico potencial, para evitá-lo. De fato, se não fosse pela aversão ao risco, não existiria seguro. Irracionalidade: A visão de um economista

Porém, às vezes, em vez de serem racionais, as pessoas são irracionais – realizam escolhas que as deixam em situação pior em termos de retorno econômico e outras considerações como justiça, do que se tivesse escolhido outra opção disponível. Há algo sistemático que os economistas e os psicólogos possam dizer sobre comportamento economicamente irracional? Sim, porque a maioria das pessoas é irracional de modo previsível. O comportamento irracional das pessoas normalmente decorre de seis erros que cometem ao pensar sobre as decisões econômicas. Os erros estão listados na Tabela 9-7, e vamos discutir um por vez. Não perceber custos de oportunidade

Como discutimos no início deste capítulo, as pessoas tendem a ignorar custos de oportunidade não monetários – custos de oportunidade que não envolvem um desembolso de dinheiro. Da mesma forma, uma percepção equivocada do que constitui exatamente um custo de oportunidade (e o que não é) está na raiz da tendência de computar os custos irrecuperáveis na tomada de decisão. Nesse caso, alguém leva um custo de oportunidade em consideração, quando na realidade não existe.

TABELA 9-7 Os Seis erros comuns na tomada de decisão econômica 1. Não perceber custos de oportunidade. 2. Excesso de confiança. 3. Expectativa irreal sobre comportamento futuro. 4. Cálculo do dinheiro de forma desigual. 5. Aversão à perda. 6. Tendência ao status quo.

Excesso de confiança

É uma função do ego: uma tendência a pensar que sabemos mais do que realmente sabemos. E mesmo sabendo como o excesso de confiança é em geral, as pessoas tendem a pensar que isso é um problema dos outros e não deles. (Certamente nem meu nem seu!) Por exemplo, um estudo de 1994 pediu aos estudantes que estimassem quanto tempo levariam para completar a tese “se tudo corresse tão bem quanto pudesse, possivelmente” e “se tudo corresse tão mal quanto pudesse, possivelmente”. O resultado: o estudante típico pensaria que leva 33,9 dias para terminar, com uma estimativa média de 27,4 dias, se tudo correr bem, e 48,6 dias, se tudo correr mal. Na verdade, o tempo médio que leva para concluir uma tese é muito maior, 55,5 dias. Os estudantes, em média, eram entre 14% e 102% mais confiantes do que deveriam ser sobre o tempo necessário para completar a tese. Como se pode ver na seção Para mentes curiosas, o excesso de confiança pode causar problemas no cumprimento de prazos. Mas pode causar muito mais problemas por ter um forte efeito negativo sobre a saúde financeira das pessoas. Excesso de confiança, muitas vezes, pode persuadir as pessoas a estar em melhor forma financeira do que real mente estão. Também pode levar a mau investimento e à má decisão sobre gastos. Por exemplo, investidores não profissionais que se envolvem em uma grande quantidade de investimento especulativo – tal como a compra e venda de ações de forma rápida –, em média, têm resultados significativamente piores do que os corretores profissionais por causa da crença equivocada na capacidade de

identificar um negócio vencedor. Da mesma forma, o excesso de confiança pode levar as pessoas a tomar uma decisão de gasto, como a compra de um carro, sem pesquisar os prós e os contras, contando apenas com provas empíricas. Pior ainda, as pessoas tendem a ficar excessivamente confiantes em lembrar o sucesso e explicam ou esquecem os fracassos. Expectativa irreal sobre o comportamento futuro

Outra forma de excesso de confiança é excesso de otimismo sobre o comportamento futuro: amanhã vou estudar, amanhã não vou tomar sorvete, amanhã vou gastar menos e poupar mais e assim por diante. Claro que, como todos sabem, quando o amanhã chega, ainda é tão difícil estudar ou desistir do que se gosta, pois o amanhã é agora. Estratégias que mantêm uma pessoa no caminho certo ao longo do tempo, muitas vezes, na raiz, são formas de lidar com o problema de expectativa irreal sobre o comportamento futuro. Como exemplo, temos os planos de aposentadoria com dedução automática na folha de pagamentos, planos de dieta de comida pronta e presença obrigatória em grupos de estudo. Ao fornecer uma maneira de alguém se comprometer hoje com uma ação futura, os planos neutralizam o hábito de empurrar ações difíceis para o futuro.

PARA MENTES CURIOSAS EM HOMENAGEM AOS PRAZOS RÍGIDOS Dan Ariely, professor de Psicologia e Economia Comportamental, gosta de fazer experiências com seus alunos que ajudam a explorar a natureza da irracionalidade. Em seu livro Previsivelmente irracional, Ariely descreve uma experiência que chega ao coração de procrastinação e às formas de lidar com isso. Na época, Ariely estava ensinando o mesmo assunto a três classes diferentes, mas ofereceu a cada classe atribuições diferentes. O grau em todas as três classes era fundamentado em três teses igualmente ponderadas.

Os alunos da primeira classe tinham que escolher os próprios prazos para a apresentação de cada tese. Uma vez definido, os prazos não podiam ser alterados. As últimas teses seriam penalizadas, à taxa de 1% da nota para cada dia de atraso. As teses poderiam ser entregues antes, sem penalidade, mas também sem qualquer vantagem, uma vez que Ariely não graduaria as teses antes do final do semestre. Os alunos da segunda classe poderiam entregar as três teses, quando quisessem, sem prazos predefinidos, desde que fosse antes do fim do prazo. Mais uma vez, não haveria nenhum benefício para a entrega antes do prazo. Os alunos da terceira classe enfrentavam o que Ariely chamou de “tratamento ditatorial”. Foram estabelecidos três prazos rígidos na quarta, oitava e décima segunda semanas. Então, quais classes você acha que obtiveram as melhores e piores notas? Como se viu, a classe com o prazo menos flexível – aquela que recebeu tratamento ditatorial – obteve as melhores notas. A classe com total flexibilidade obteve as piores notas. E a que teve que escolher os prazos ficou no meio. Ariely aprendeu duas coisas simples sobre o excesso de confiança a partir desses resultados. Primeiro – sem nenhuma surpresa – estudantes tendem a procrastinar. Segundo, prazos com espaços iguais são a melhor cura para a procrastinação. Mas a maior revelação veio da classe que definiu os próprios prazos. A maioria desses alunos espaçou os prazos e obteve notas tão boas como os alunos sob tratamento ditatorial. Alguns, no entanto, não espaçaram os prazos o suficiente, e alguns não os espaçaram. Esses dois últimos grupos ficaram pior, colocando a média de toda a classe abaixo da média da classe com o mínimo de flexibilidade. Como Ariely observou, sem prazos bem separados, os estudantes procrastinam e a qualidade do trabalho é penalizada. Essa experiência oferece duas percepções importantes: 1. Pessoas cientes da tendência a procrastinar são mais propensas a usar as ferramentas para se comprometer com uma linha de ação. 2. O fornecimento dessas ferramentas permite que as pessoas fiquem em melhor situação. Se você tem um problema com procrastinação, prazos rígidos, por mais cansativos que sejam, realmente são para o próprio bem.

Cálculo do dinheiro de forma desigual

Se você tende a gastar mais quando paga com cartão de crédito do que quando paga em dinheiro, especialmente se você tende a fazer alarde, então é muito provável que esteja envolvido em contabilidade mental. Esse é o hábito de atribuição monetária mental para contas diferentes, fazendo

algum valor valer mais do que o outro. Ao gastar mais com cartão de crédito, você está efetivamente considerando o dinheiro na carteira mais valioso do que o dinheiro no saldo do cartão de crédito, embora, na realidade, tenham o mesmo valor no orçamento. O uso excessivo do cartão de crédito é a forma mais reconhecível de contabilidade mental. No entanto, também existem outras formas, como ostentar depois de ter uma sorte inesperada, como uma herança inesperada, ou gastos excessivos em vendas, comprando algo que parecia ser um grande negócio e do qual mais tarde se arrependeu. É a incapacidade de compreender que, independente da forma, dinheiro é dinheiro. Aversão à perda

Aversão à perda é uma hipersensibilidade à perda, levando a uma falta de vontade de reconhecer uma perda e seguir em frente. Na verdade, no jargão do mercado financeiro, “vender disciplina” – estar apto e disposto a reconhecer rapidamente quando uma ação que comprou está em baixa e vendê-la – é uma característica altamente desejável de ter. Muitos investidores, no entanto, mostram-se relutantes em reconhecer que perderam dinheiro em ações e que não conseguirão trazê-lo de volta. Embora seja racional vender ações nesse ponto e reorientar os fundos restantes, a maioria das pessoas acha tão doloroso admitir uma perda que evita vender por muito mais tempo do que deveriam. De acordo com Daniel Kahneman e Amos Tversky, a maioria das pessoas sente a decepção de perder $100 cerca de duas vezes mais profundamente do que o prazer de ganhar $100. A aversão à perda pode ajudar a explicar por que os custos irrecuperáveis são tão difíceis de ignorar: ignorar um custo irrecuperável significa reconhecer que o dinheiro gasto é irrecuperável e, portanto, está perdido. Tendência ao status quo

Outro comportamento irracional é a tendência ao status quo, a tendência a evitar tomar uma decisão por completo. Um exemplo bem conhecido é a maneira que os funcionários tomam decisões sobre como investir nas contas de aposentadoria dirigidas pelo empregador, conhecida

nos Estados Unidos como 401(k)s. Com um 401(k), os funcionários podem, por meio de desconto em folha, reservar uma parte do seu salário livre de impostos, uma prática que poupa uma quantidade significativa de dinheiro em impostos todos os anos. Algumas empresas operam em regime de consentimento prévio (opt-in): os funcionários devem escolher ativamente participar de um 401(k). Outras empresas operam em um regime de autoexclusão (opt-out): os funcionários são automaticamente inscritos no 401(k), a menos que optem em sair. Se todos se comportassem de forma racional, então a proporção de empregados cadastrados nas contas 401(k) nas empresas que operam em regime de consentimento prévio (opt-in) seria mais ou menos igual à proporção dos cadastrados nas empresas que operam em regime de autoexclusão (opt-out). Em outras palavras, a decisão sobre a possibilidade de participação em um plano 401(k) deve ser independente da opção padrão da empresa. Mas, na realidade, quando as empresas mudam para inscrição automática e para o sistema de autoexclusão, o cadastro dos empregados no plano sobe drasticamente. É claro que as pessoas tendem apenas ao status quo. Por que as pessoas apresentam tendência ao status quo? Alguns afirmam que é uma forma de “paralisia de decisão”: quando há muitas opções, as pessoas acham difícil tomar uma decisão. Outros afirmam que é decorrente de aversão à perda e o medo do arrependimento, pensar que “se não fizer nada, então não vou ter que me arrepender da escolha”. Irracional, sim. Mas não surpreendente. No entanto, as pessoas racionais sabem que, no final, o ato de não fazer uma escolha ainda é uma escolha. Modelos racionais para pessoas irracionais?

Então, por que os economistas ainda usam modelos fundamentados no comportamento racional quando as pessoas às vezes são irracionais? Por um lado, modelos fundamentados no comportamento racional ainda fornecem previsões robustas sobre como as pessoas se comportam na maioria dos mercados. Por exemplo, a grande maioria dos agricultores vai usar menos fertilizantes, quando este se tornar mais caro – um resultado consistente com o comportamento racional.

Outra explicação é que, por vezes, a força de mercado pode obrigar as pessoas a se comportar de forma mais racional ao longo do tempo. Por exemplo, se você for um pequeno empresário que exagera persistentemente nas habilidades ou se recusa a reconhecer que a linha de itens favorita não tem sucesso, então, cedo ou tarde, estará fora do negócio a menos que aprenda a corrigir os erros. Em consequência, é razoável supor que quando as pessoas são disciplinadas pelos erros, como acontece na maioria dos mercados, a racionalidade ganha com o tempo. Por fim, os economistas dependem do pressuposto da racionalidade pela razão simples, mas fundamental, que torna a modelagem muito mais simples. Lembre-se de que os modelos são construídos como generalizações, e é muito mais difícil extrapolar a partir do comportamento confuso, irracional. Mesmo os economistas comportamentais, em suas pesquisas, optam pelo comportamento previsivelmente irracional em uma tentativa de construir modelos melhores de como as pessoas se comportam. É claro que há um diálogo permanente entre os economistas do comportamento com o restante dos economistas, e que a economia tem sido mudada irrevogavelmente por ele.

economia em ação “O Jingle Mail Blues”

Jingle mail é quando o proprietário fecha com lacre a chave da casa em um envelope, deixando-a com o banco que detém a hipoteca da casa. (A hipoteca é um empréstimo contraído para comprar a casa.) Ao deixar as chaves com o banco, o proprietário está se afastando não só da casa, mas também da obrigação de continuar pagando a hipoteca. E para sua grande consternação, os bancos ultimamente têm sido inundados com jingle mail. O default de uma hipoteca – ou seja, o afastamento da obrigação de pagar um empréstimo e perder a casa para o banco no processo – costuma ser um fenômeno bastante raro. Durante décadas, o valor dos imóveis em crescimento contínuo tornou a casa própria um bom investimento para a família típica. Nos últimos anos, porém, surgiu um fenômeno totalmente diferente – chamado “default estratégico”. Em um default estratégico, um

proprietário que seja financeiramente capaz de pagar a hipoteca, em vez disso, escolhe não pagar, desistir voluntariamente. Defaults estratégicos são responsáveis por uma proporção significativa de jingle mail. Em março de 2010, foram responsáveis por 31% de todas as execuções hipotecárias, acima de 22%, em 2009. E há pouca indicação de que o número vá mudar muito: no primeiro semestre de 2011, defaults estratégicos ainda eram responsáveis por 30% de todos os defaults. O que aconteceu? A grande quebra no mercado imobiliário americano. Depois de décadas de grandes aumentos, os preços das casas começaram uma queda vertiginosa em 2008. Os preços caíram tanto que uma proporção significativa de proprietários encontraram suas casas “debaixo d’água” – deviam mais do que as casas valiam. E com o preço das casas projetado para ficar deprimido por vários anos, possivelmente uma década, parecia haver pouca chance de que uma casa iria recuperar o valor o suficiente, no futuro previsível, para ficar acima novamente. Muitos proprietários sofreram uma grande perda. Perderam pagamentos baixos, dinheiro gasto em reparos e renovação, despesas de mudança e assim por diante. E como estavam pagando uma hipoteca que era maior do que a casa valia, descobriram que podiam alugar um imóvel comparável por menos do que os pagamentos mensais da hipoteca. Nas palavras de Benjamin Koellmann, que pagou $215.000 por um apartamento em Miami, onde unidades similares agora estavam sendo vendidas por $90.000, “não há sentido, em termos financeiros, em ficar”. Percebendo os custos irrecuperáveis, os proprietários que estavam afundados desistiram. Talvez não tenham tomado a melhor decisão econômica na compra das casas, mas abandoná-las mostrou uma lógica econômica impecável.

BREVE REVISÃO A economia comportamental combina modelagem econômica com conhecimentos de psicologia humana. O comportamento racional leva ao resultado mais proveitoso para a pessoa. Racionalidade limitada, aversão ao risco e preocupação com

justiça são razões pelas quais as pessoas preferem resultados com retornos econômicos piores. O comportamento irracional ocorre por não perceber custos de oportunidade, excesso de confiança, contabilidade mental e expectativas irreais sobre o futuro. Aversão à perda e tendência ao status quo também podem levar a escolhas que deixam as pessoas em pior situação do que estariam se escolhessem outra opção disponível.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 9-4 1. Que tipos de comportamento irracional são sugeridos pelos seguintes eventos? a. Embora o mercado imobiliário tenha afundado e Jenny quisesse mudar, não queria vender a casa por um montante menor do que havia pagado por ela. b. Dan trabalhou mais horas extras na semana passada do que esperava. Embora esteja precisando de dinheiro, gasta os ganhos extras inesperados em um final de semana, em vez de tentar quitar o empréstimo estudantil. c. Carol acaba de começar no primeiro emprego e decidiu deliberadamente não optar pelo plano de aposentadoria da empresa. Seu raciocínio é que é muito jovem e há muito tempo no futuro para começar a poupar. Por que não aproveitar a vida agora? d. A empresa de Jeremy exige que os empregados baixem e preencham um formulário se quiserem participar do plano de aposentadoria patrocinado pela empresa. Um ano depois de iniciar o trabalho, Jeremy ainda não tinha apresentado o formulário necessário para participar do plano. 2. Como você determina se a decisão que tomou foi racional ou irracional? As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL O Citi coloca os titulares de cartão “inControl”

No final de 2010, o Citi, empresa global de serviços financeiros, com 200 milhões de clientes em 160 países, tornou-se a primeira empresa americana

a apresentar o Master Cards com um conjunto especial de características conhecidas como inControl. Anteriormente introduzido no Reino Unido pelo Barclays Bank, os cartões inControl contêm recursos orçamentários e de alerta que ajudam os titulares de cartão de crédito a permanecer dentro do limite de gastos e previnem a fraude do cartão de crédito. Com inControl, os titulares do cartão podem fazer o seguinte: Configurar e gerenciar limites de gastos. Configurar orçamentos para determinados tipos de gastos. Gerenciar onde, quando, como e para que tipos de compras os cartões de crédito podem ser usados. Receber alertas, através de texto ou e-mail, para se proteger contra gastos excessivos e fraude. Os usuários podem personalizar seus cartões, optando em receber alertas quando os gastos forem superiores ao limite ou ter o cartão recusado quando o limite for ultrapassado. Assim, por exemplo, se você escolheu o último e configurou um limite mensal em refeições de restaurante, o cartão será rejeitado para contas de restaurante acima do saldo predefinido. Os titulares do cartão também podem comandar um bloqueio no cartões de crédito assim que determinado limite seja atingido, correspondente à renda mensal disponível. O inControl não é o primeiro produto que alerta os titulares de cartão ao exceder o limite. O Mint.com também oferece um serviço parecido, mas é necessário entrar no site do banco para recuperar as atualizações, porém esses sites são atualizados apenas a cada 24 horas. Em contrapartida, os alertas do inControl acontecem em tempo real. Até a apresentação do inControl, nenhum outro produto permitia o corte completo de certos tipos de gastos. “A personalização dos produtos do consumidor atingiu um limite nunca antes alcançado”, disse Ed McLaughlin, diretor de pagamento da MasterCard. Mas e sobre a questão óbvia se isso ajuda ou prejudica as empresas de cartão de crédito? Afinal, se o consumidor levar a sério o orçamento e colocar limite nos gastos de cartão de crédito, os juros que as empresas de cartão de crédito têm não serão reduzidos? Em resposta a essa pergunta,

McLaughlin respondeu: “Acho que todos sabem que uma oferta superior traz vitória no longo prazo.” O serviço, no entanto, não é tão rígido – ao atingir o limite autoimposto, o cliente pode retornar o cartão ao limite inicial com um telefonema ou mensagem de texto. Pensando além, no entanto, ter o cartão rejeitado resultará em uma impressão bastante significativa de entravar o desejo de estourar o orçamento. No final, o benefício do inControl, e se algo parecido é adotado por concorrentes como a VISA, depende de os clientes realmente usarem o serviço e de quanto a nova disciplina dos clientes prejudica o resultado das empresas de cartão de crédito.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. A quais aspectos de tomada de decisão o cartão inControl se refere? Seja específico. 2. Considere a pontuação de crédito, a pontuação atribuída às pessoas por agências de classificação de crédito, com base em se elas pagam as contas em dia, quantos cartões de crédito possuem (muitos é um mau sinal), se já declararam falência, e assim por diante. Agora, considere as pessoas que escolhem cartões inControl e os que não escolhem. Que grupo você acha que tem melhor pontuação de crédito, antes de adotar os cartões inControl? Depois de adotar os cartões inControl? Explique. 3. O que você acha que explica o otimismo de Ed McLaughlin sobre o lucro que a sua empresa vai receber com a introdução do inControl?

• RESUMO 1. Todas as decisões econômicas envolvem a alocação de recursos escassos. Algumas decisões são do tipo “ou-ou”, em que a questão é fazer ou não algo. Outras decisões são do tipo “quanto”, em que a questão é o quanto de um recurso aplicar em determinada atividade. 2. O custo de usar um recurso para determinada atividade é o custo de oportunidade desse recurso. Alguns custos de oportunidade são custos explícitos, pois envolvem pagamento direto em dinheiro. Outros custos de

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oportunidade, no entanto, são custos implícitos, não envolvem desembolso em dinheiro, mas representam o fluxo de dinheiro que se deixa de obter. Tanto os custos explícitos como os implícitos devem ser levados em consideração na tomada de decisão. Muitas decisões envolvem o uso de capital e tempo, tanto dos indivíduos como das empresas. Então, devem basear as decisões no lucro econômico, que leva em conta os custos implícitos, como o custo de oportunidade do tempo e o custo implícito de capital. Tomar decisões com base no lucro contábil pode ser enganoso. Muitas vezes, é consideravelmente maior do que o lucro econômico, pois inclui apenas os custos explícitos e não os custos implícitos. De acordo com o princípio de tomada de decisão “ou-ou”, ao enfrentar uma escolha “ou-ou” entre duas atividades, deve-se escolher a atividade com o lucro econômico positivo. Uma decisão “quanto” é feita usando análise marginal, que consiste em comparar o benefício e o custo de empreender uma unidade adicional de uma atividade. O custo marginal de produção de um bem ou serviço é o custo adicional incorrido ao produzir mais uma unidade desse bem ou serviço. O benefício marginal de produção de um bem ou serviço é o benefício adicional obtido ao produzir mais uma unidade. A curva de custo marginal é a representação gráfica do custo marginal e a curva do benefício marginal é a representação gráfica do benefício marginal. No caso do custo marginal constante, cada unidade adicional custa o mesmo para produzir que a unidade anterior. No entanto, o custo e o benefício marginal normalmente dependem de quanto a atividade já foi feita. Com custo marginal crescente, cada unidade custa mais para produzir do que a unidade anterior e é representada por um curva de custo marginal com inclinação para cima. Com a custo marginal decrescente, cada unidade custa menos para produzir do que a unidade anterior, levando a uma curva de custo marginal com inclinação para baixo. No caso do benefício marginal decrescente, cada unidade adicional produz um benefício menor que a unidade anterior. A quantidade ótima é a quantidade que gera o máximo possível de lucro total. De acordo com o princípio da análise marginal de maximização do lucro, a quantidade ótima é a quantidade em que o benefício marginal é maior ou igual ao custo marginal. É a quantidade em que a curva de custo marginal e a curva de benefício marginal se cruzam. Um custo que já foi incorrido e que não se pode reaver é um custo irrecuperável. Os custos irrecuperáveis devem ser ignorados nas decisões sobre ações futuras, porque não têm efeito sobre benefícios e custos futuros. Com comportamento racional, as pessoas vão escolher a opção disponível que leva ao resultado que a maioria prefere. A racionalidade limitada ocorre porque o esforço necessário para encontrar o melhor retorno econômico é caro. A aversão ao risco faz as pessoas sacrificarem algum retorno econômico, a fim de evitar perda potencial. As pessoas também podem preferir resultados com retornos econômicos piores, a se preocupar com equidade.

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Uma escolha irracional deixa alguém em situação pior do que se tivesse escolhido outra opção disponível. Toma a forma de dificuldade na percepção do custo de oportunidade; excesso de confiança; expectativa irreal sobre o comportamento futuro; contabilidade mental, em que o valor monetário é valorizado de forma desigual; aversão à perda, hipersensibilidade à perda e tendência ao status quo, ao evitar uma decisão por ater-se ao status quo.

• PALAVRAS-CHAVE Custo explícito, p. 208 Custo implícito, p. 208 Lucro contábil, p. 209 Lucro econômico, p. 209 Capital, p. 209 Custo implícito do capital, p. 210 Princípio da tomada de decisão “ou-ou”, p. 210 Custo marginal, p. 213 Custo marginal crescente, p. 213 Curva do custo marginal, p. 213 Custo marginal constante, p. 213 Custo marginal decrescente, p. 213 Benefício marginal, p. 214 Benefício marginal decrescente, p. 215 Curva de benefício marginal, p. 215 Quantidade ótima, p. 216 Princípio da análise marginal de maximização do lucro, p. 217 Custo irrecuperável, p. 219 Racional, p. 221 Racionalidade limitada, p. 221 Aversão ao risco, p. 221 Irracional, p. 221 Contabilidade mental, p. 223 Aversão à perda, p. 223.

Tendência ao status quo, p. 223

• PROBLEMAS 1. Hiro possui e opera uma pequena empresa de consultoria econômica. Durante o ano, gasta $57.000 em viagens a clientes e outras despesas. Além disso, possui um computador que usa para negócios. Se não usasse o computador, poderia vendê-lo e ganhar $100 por ano em juros sobre o dinheiro obtido com a venda. A receita total de Hiro durante o ano é $100.000. Em vez de trabalhar como consultor durante o ano, poderia dar aula de economia em uma faculdade local e receber um salário de $50.000. a. Qual é o lucro contábil de Hiro? b. Qual é o lucro econômico de Hiro? c. Ele deve continuar trabalhando como consultor ou, em vez disso, deve dar aula de economia? 2. Jackie é proprietária e opera um negócio de web design. Para se manter com a nova tecnologia, gasta $5.000 por ano atualizando o equipamento. Ela desenvolve o negócio em um quarto da casa. Se não usasse o quarto como escritório, poderia alugá-lo por $2.000 por ano. Jackie sabe que, se não gerisse o próprio negócio, poderia voltar ao emprego anterior em uma grande empresa de software que lhe pagaria um salário de $60.000 por ano. Jackie não tem outras despesas. a. Quanto de receita total Jackie precisa para igualar receita e despesa segundo o seu contador? Ou seja, quanta receita total daria a Jackie um lucro contábil de apenas zero? b. Quanta receita total Jackie precisa ter para ficar por conta própria? Ou seja, quanto de receita total daria a Jackie um lucro econômico de zero? 3. Você possui e opera uma loja de bicicletas. Recebe uma receita de $200.000 com vendas de bicicletas, e a compra das bicicletas custa $100.000. Além disso, paga $20.000 de eletricidade, impostos e outras despesas por ano. Em vez de administrar a loja de bicicletas, poderia se tornar contador e receber um salário anual de $40.000. Uma grande rede de varejo de vestuário quer expandir e oferece para alugar sua loja por $50.000 por ano. Como você explicaria a seus amigos que, apesar de estar conseguindo lucro, o custo de manter a loja é muito caro? 4. Suponha que você tenha acabado de pagar uma taxa não reembolsável de $1.000 por refeições na universidade neste semestre. Isso permite jantar no refeitório todas as noites. a. Você recebe a oferta de um emprego de tempo parcial em um restaurante em que pode comer de graça todas as noites. Seus pais dizem que você deveria jantar no refeitório da universidade de qualquer

maneira, uma vez que já pagou pelas refeições. Seus pais estão corretos? Explique por quê. b. Você recebe a oferta de um emprego de tempo parcial em um restaurante, onde, em vez de poder comer de graça, receberá um desconto sobre as refeições. Cada refeição custará $2. Se você comer lá todas as noites, no semestre, custará $200. Seu colega de quarto diz que você deve comer no restaurante, porque custa menos do que os $1.000 que você já pagou pelas refeições na universidade. Seu colega está certo? Por quê? 5. Você comprou com antecedência um ingresso de $10, que não pode ser revendido, para o campeonato de futebol entre as faculdades. Você sabe que assistir ao jogo de futebol traz um benefício igual a $20. Depois que comprou o ingresso, descobriu que vai haver um jogo de beisebol profissional, ao mesmo tempo. Os ingressos para o jogo de beisebol custam $20, e você sabe que ir ao jogo de beisebol traz um benefício de $35. Você diz aos amigos o seguinte: “Se eu soubesse sobre o jogo de beisebol antes de comprar o ingresso para o jogo de futebol, teria ido ao jogo de beisebol. Mas agora que já tenho o ingresso para o futebol, é melhor assistir a esse jogo.” Você está tomando a decisão correta? Justifique a resposta através do cálculo dos custos e benefícios da decisão. 6. Amy, Bill e Carla cortam grama para ganhar dinheiro. Cada um deles usa um cortador de grama diferente. A tabela a seguir mostra o custo total de cortar grama para Amy, Bill e Carla. Quantidade de grama cortada

Custo total de Amy

Custo total de Bill

Custo total de Carla

0

$0

$0

$0

1

20

10

2

2

35

20

7

3

45

30

17

4

50

40

32

5

52

50

52

6

53

60

82

a. Calcule os custos marginais de Amy, Bill e Carla e trace cada uma das curvas de custo marginal. b. Quem tem custo marginal crescente, quem tem custo marginal decrescente e quem tem custo marginal constante? 7. Você é gerente de uma academia de ginástica e tem que decidir quantos clientes admitir a cada hora. Suponha que cada cliente permaneça exatamente uma hora. Há um custo em admitir clientes, pois causam

desgaste aos equipamentos. Além disso, cada cliente adicional gera mais desgaste que o anterior. Em consequência, a academia enfrenta um custo marginal crescente. A tabela a seguir mostra os custos marginais associados a cada número de clientes por hora.

a. Suponha que cada cliente pague $15,25 por hora de ginástica. Use o princípio da análise marginal de maximização do lucro para encontrar o número ótimo de clientes que deve admitir por hora. b. Você aumenta o preço da hora de ginástica para $16,25. Qual é agora o número ótimo de clientes por hora que deve admitir? 8. Geórgia e Lauren são estudantes de economia que vão à aula de caratê juntos. As duas precisam decidir quantas aulas fazer por semana. Cada aula custa $20. A tabela a seguir mostra as estimativas de Geórgia e Lauren do benefício marginal que cada uma delas obtém em cada aula por semana.

a. Use análise marginal para encontrar o número ótimo de aulas de caratê por semana para Lauren. Justifique a resposta. b. Use análise marginal para encontrar o número ótimo de aulas de caratê por semana para Geórgia. Justifique a resposta. 9. O CDC (Centers for Disease Control e Prevention) recomenda que não vacine toda a população contra o vírus da varíola, pois a vacinação tem efeito colateral indesejável e, às vezes, fatal. Suponha que a tabela a seguir apresente os dados sobre os efeitos de um programa de vacinação contra a varíola.

Porcentagem da população vacinada

Mortes em decorrência de varíola

Mortes decorrentes de efeitos colaterais

0%

200

0

10

180

4

20

160

10

30

140

18

40

120

33

50

100

50

60

80

74

a. Calcule o benefício marginal (em termos de vidas salvas) e o custo marginal (em termos de vidas perdidas) de cada 10% de aumento de vacinação contra a varíola. Calcule o aumento líquido em vidas humanas para cada incremento de 10% na população vacinada.

b. Usando análise marginal, determine a porcentagem ótima da população que deve ser vacinada. 10. Patty entrega pizza usando o próprio carro e é paga de acordo com o número de pizzas que entrega. A tabela a seguir mostra o benefício e o custo total de Patty ao trabalhar um número específico de horas. Quantidade de horas trabalhadas

Benefício total

Custo total

0

$0

$0

1

30

10

2

55

21

3

75

34

4

90

50

5

100

70

a. Use análise marginal para determinar o número ótimo de horas trabalhadas de Patty. b. Calcule o lucro total de Patty ao trabalhar 0 hora, 1 hora, 2 horas, e assim por diante. Agora, suponha que Patty opte em trabalhar 1 hora. Compare o lucro total de trabalhar 1 hora com o lucro total de trabalhar o número ótimo de horas. Quanto ela perderia trabalhando por apenas 1 hora? 11. Suponha que a De Beers seja o único produtor de diamantes. Quando quer vender mais diamantes, deve baixar o preço, a fim de induzir os consumidores a comprar mais. Além disso, cada diamante adicional que é produzido custa mais que o anterior, em virtude da dificuldade de mineração de diamantes. O cronograma total de benefício da De Beers é apresentado na tabela a seguir, juntamente com o cronograma de custo total.

Quantidade de diamantes

Benefício total

Custo total

0

$0

$0

1

1.000

50

2

1.900

100

3

2.700

200

4

3.400

400

5

4.000

800

6

4.500

1.500

7

4.900

2.500

8

5.200

3.800

a. Trace a curva de custo marginal e a curva de benefício marginal e, a partir do gráfico, derive graficamente a quantidade ótima de diamantes a produzir. b. Calcule o lucro total para a De Beers ao produzir cada quantidade de diamantes. Que quantidade oferece à De Beers o maior lucro total? 12. Em cada um dos exemplos a seguir, explique se a decisão é racional ou irracional. Descreva o tipo de comportamento apresentado. a. O melhor amigo de Kookie gosta de dar cartões de presente que Kookie pode usar nas lojas favoritas. No entanto, muitas vezes, Kookie se esquece de usar os cartões antes da data de expiração ou os perde. Kookie, porém, é cuidadoso com o próprio dinheiro. b. Em maio de 2010, a empresa Panera Bread abriu uma loja em Clayton, Missouri, que permite aos clientes pagar qualquer quantia que quiserem de suas ordens. Em vez de preços, a loja lista sugestão de doações com base no custo dos bens. Todos os lucros vão para uma fundação de caridade criada pela Panera. Em maio de 2011, a loja celebrou o sucesso do programa. c. Rick acaba de começar a cursar didática de ensino e teve duas ofertas de emprego. Um trabalho, substituindo um professor que saiu de férias, com duração de dois anos. É uma escola de prestígio, e ele receberá $35.000 por ano. Ele acha que provavelmente será capaz de encontrar outro bom emprego na área após dois anos, mas não tem certeza. O outro emprego, também em uma escola, paga $25.000 por ano e ele estará praticamente garantido por cinco anos. Após esses cinco anos será avaliado para um cargo de professor permanente na escola. Cerca de 75% dos professores da escola são contratados para cargos permanentes. Rick decide pela posição de cinco anos recebendo $25.000 por ano.

Kimora planejou uma viagem para a Flórida durante as férias de d. primavera em março. Ela tem vários projetos escolares previstos para o seu retorno. Em vez de realizá-los em fevereiro, ela descobre que pode levar seus livros para a Flórida e concluir os projetos lá. e. Sahir pagou muito na compra de um carro usado que acabou por dar dor de cabeça. Ele poderia vendê-lo por partes mas, ao invés disso, deixou-o na garagem deteriorando. f. Barry se considera um excelente investidor em ações. Ele seleciona novas ações encontrando as que têm características semelhantes às da carteira de ações que dá lucro. Ficou chocado ao perder negócios devido aos altos e baixos da macroeconomia. 13. Você foi contratado como consultor por uma empresa para desenvolver um plano de aposentadoria, levando em consideração diferentes tipos de comportamento previsivelmente irracionais exibidos, em geral, pelos funcionários. Enumere pelo menos dois tipos de comportamento irracional que os empregados podem exibir no que diz respeito ao plano de aposentadoria e as atitudes que tomaria para evitar esse tipo de comportamento.

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PARTE 5

O CONSUMIDOR

CAPÍTULO 10 » O consumidor racional

MEXILHÕES DEMAIS

casionalmente, os restaurantes oferecem o sistema de “bufê a preço fixo” para atrair clientes: saladas, almoço e jantares com mexilhões fritos à vontade. Mas como pode um dono de restaurante oferecer esse sistema e ter certeza de que não vai ter prejuízo no negócio? Se cobrar $12,99 por jantar com mexilhão frito, sem limite de quantidade, o que impede que o cliente médio devore $30 em mexilhão? A resposta é que, embora de vez em quando alguém se aproveite da oferta – colocando em um prato 30 ou 40 mexilhões fritos –, essa é uma ocorrência rara. E mesmo quem gosta de mexilhão frito fica meio horrorizado ao ver uma situação dessas. De 5 a 10 mexilhões fritos pode ser um prazer, mas 30 chega a ser absurdo. Qualquer um que pague por esse tipo de refeição quer tirar o melhor proveito, mas uma pessoa sensata sabe quando um mexilhão a mais é demais.

O

Observe essa última sentença. Dissemos que os clientes em um restaurante querem “aproveitar ao máximo” a refeição. Soa como se quisesse maximizar algo. E dissemos também que ele vai parar quando o consumo de um mexilhão a mais for um erro. Soa como se estivesse tomando uma decisão marginal. A resposta é sim, é uma questão de gosto – e os economistas não conhecem muito sobre de onde vêm os gostos. Mas os economistas podem dizer muito sobre como um indivíduo racional satisfaz seus gostos. E essa é, de fato, a maneira que os economistas pensam sobre a escolha do consumidor. Eles trabalham com um modelo de consumidor racional – um consumidor que sabe o que quer e faz o melhor das oportunidades disponíveis. Neste capítulo, mostraremos como analisar as decisões de um consumidor racional. Começaremos mostrando co mo o conceito de utilidade – uma medida de satisfação do consumidor – nos permite começar a pensar sobre a escolha do consumidor racional. Analisaremos, então, como as restrições orçamentárias determinam o que um consumidor pode comprar e como a análise marginal pode ser usada para determinar a escolha de consumo que maximiza a utilidade. Finalmente, veremos como usar a análise marginal para entender a lei da demanda e por que a curva da demanda se inclina para baixo. Para os interessados em um tratamento mais detalhado do comportamento do consumidor e sobre as curvas de indiferença, consulte o apêndice deste capítulo. O que você vai aprender neste capítulo • Como os consumidores optam em gastar sua renda em bens e serviços. • Por que os consumidores fazem escolhas maximizando a utilidade, uma medida de satisfação do consumo. • Por que o princípio da utilidade marginal decrescente se aplica ao consumo da maior parte dos bens e serviços. • Como usar a análise marginal para encontrar o conjunto ótimo de consumo. • O que são efeito renda e substituição.

Ã

UTILIDADE: OBTENDO SATISFAÇÃO Ao analisar o comportamento do consumidor, estamos falando de pessoas que tentam obter satisfação, isto é, sobre os sentimentos subjetivos. No entanto, não há uma maneira simples de medir os sentimentos subjetivos. Qual o grau de satisfação ao comer o terceiro mexilhão frito? É mais ou menos que o seu? Faz sentido perguntar? Felizmente, não precisamos fazer comparação entre os seus sentimentos e os meus. Tudo que é necessário para analisar o comportamento do consumidor é supor que cada indivíduo está tentando maximizar alguma medida pessoal de satisfação obtida com o consumo de bens e serviços. Essa medida é conhecida como utilidade do consumidor, um conceito que usamos para entender o comportamento, mas que não esperamos medir na prática. No entanto, veremos que a suposição de que o consumidor maximiza a utilidade nos ajuda a analisar a escolha do consumidor. Utilidade e consumo

A utilidade de um indivíduo depende de tudo o que ele consome, desde maçãs até sacos plásticos. O conjunto desses bens e serviços que um indivíduo consome é conhecido como pacote de consumo. A relação entre o pacote de consumo de um indivíduo e a quantidade total de utilidade gerada é conhecida como função utilidade. A função utilidade é uma questão pessoal, duas pessoas com gostos diferentes terão funções utilidade diferentes. Alguém que realmente gosta de consumir 40 mexilhões fritos em uma refeição deve ter uma função utilidade com aparência diferente da de alguém que prefere parar em cinco mexilhões. Assim, podemos imaginar que os consumidores usassem o consumo para “produzir” utilidade, de maneira semelhante ao que faremos nos próximos capítulos, ao pensar nos produtores usando insumos para produzir produtos. Mas é óbvio que as pessoas não têm um pequeno computador na cabeça que calcula a utilidade gerada pelas escolhas de consumo. No entanto, elas têm que fazer escolhas, e costumam baseá-las em pelo menos uma tentativa grosseira de decidir qual escolha lhe dará maior satisfação. Posso ter sopa ou salada no meu jantar. O que me dará maior prazer? Posso

ir à Disneyworld ou guardar dinheiro para comprar um carro novo esse ano. O que vai me fazer mais feliz? O conceito de função utilidade é apenas uma maneira de representar o fato de que quando as pessoas consomem, levam em consideração suas preferências e gostos de uma forma mais ou menos racional. Como medimos a utilidade? Por uma questão de simplicidade, vamos supor que possamos medir a utilidade com uma unidade hipotética denominada – util. A Figura 10-1 ilustra a função utilidade. Mostra a utilidade total que Cassie, que gosta de mexilhão frito, recebe de um jantar com mexilhão frito no qual pode comer quanto quiser. Supomos que um pacote de consumo consista em um acompanhamento de verdura, que vem com a refeição, além de um número de mexilhões a ser determinado. A tabela que acompanha a figura mostra que a utilidade total de Cassie depende do número de mexilhões. A curva no painel (a) da figura mostra graficamente a mesma informação. A função utilidade de Cassie tem inclinação para cima, na maior parte do âmbito mostrado, mas torna-se mais achatada à medida que aumenta o número de mexilhões consumidos. E, nesse exemplo, a curva, ao final, passa a ter inclinação para baixo. De acordo com a informação da tabela da Figura 10-1, nove mexilhões significa mexilhões demais. Adicionar esse último mexilhão realmente piora a situação de Cassie: diminui sua utilidade total. Se for racional, é claro, perceberá e não consumirá o nono mexilhão. Então, quando Cassie escolhe quantos mexilhões consumir, tomará essa decisão considerando a mudança em sua utilidade total de consumir mais um mexilhão. Isso ilustra a ideia geral: para maximizar a utilidade total, o consumidor precisa se concentrar na utilidade marginal. O princípio da utilidade marginal decrescente

Além de mostrar como a utilidade total de Cassie depende do número de mexilhões que consome, a tabela na Figura 10-1 mostra também a utilidade marginal gerada pelo consumo de cada mexilhão adicional, isto é, a mudança na utilidade total de consumir um mexilhão adicional. O painel (b) mostra a curva de utilidade marginal implícita. Seguindo a prática do

Capítulo 9 com a curva de benefício marginal, a curva de utilidade marginal é construída através da representação gráfica de pontos no ponto médio dos intervalos entre as unidades. A curva de utilidade marginal tem inclinação para baixo: cada mexilhão sucessivo adiciona menos utilidade total do que o anterior. Isso se reflete na tabela: a utilidade marginal cai de 15 utils no primeiro mexilhão consumido para –1 quando o nono mexilhão é consumido. O fato de que o nono mexilhão tem utilidade marginal negativa significa que consumi-lo realmente reduz a utilidade total. (Os restaurantes que oferecem bufês, onde as pessoas podem-se servir à vontade, dependem da proposição de que mesmo algo que é bom pode ser demais.) Nem todas as curvas de utilidade marginal, no final, tornam-se negativas. Mas, geralmente, é aceito que as curvas de utilidade marginal se inclinam para baixo – que o consumo da maioria dos bens e serviços está sujeito à utilidade marginal decrescente. FIGURA 10-1

Utilidade total e marginal de Cassie

O painel (a) mostra como a utilidade total de Cassie depende do consumo de mexilhões fritos. Aumenta até que atinja o nível máximo de utilidade de 64 utils quando são consumidos oito mexilhões e diminui depois disso. A utilidade marginal está calculada na tabela. O painel (b) mostra a curva de utilidade marginal, que tem inclinação para baixo em virtude da utilidade marginal decrescente. Isto é, cada mexilhão adicional dá a Cassie menos utilidade que o mexilhão anterior.

A ideia básica do princípio da utilidade marginal decrescente é que a satisfação adicional que um consumidor recebe de uma unidade a mais de um bem ou serviço diminui à medida que a quantidade consumida do bem ou serviço aumenta. Ou, dito de modo diferente, quanto mais consumimos um bem ou serviço, tanto mais próximo chegamos à saciedade – chegando ao ponto em que uma unidade adicional do bem não acrescenta nada à nossa satisfação. Para quem quase nunca encontra uma banana, poder comer uma banana é uma delícia. (Como era no leste da Europa antes da queda do comunismo, quando era muito difícil encontrar bananas.) Mas para quem come banana o tempo todo, a banana… é apenas, bem, uma banana. O princípio da utilidade marginal decrescente nem sempre é verdadeiro. Mas, na grande maioria dos casos, vale o suficiente para servir de base para nossa análise do comportamento do consumidor.

PARA MENTES CURIOSAS A UTILIDADE MARGINAL É DE FATO DECRESCENTE? Será que todos os bens realmente estão sujeitos à utilidade marginal decrescente? Claro que não, há uma série de bens para os quais, pelo menos, em algum intervalo, a utilidade marginal certamente é crescente. Por exemplo, há bens que requerem alguma experiência para se desfrutar. A primeira vez da prática de esqui alpino envolve muito mais medo do que prazer, assim dizem: os autores nunca tentaram! A atividade só se torna prazerosa depois de praticar o suficiente para se tornar razoavelmente competente. E até mesmo para algumas atividades menos exigentes requerse alguma prática: quem nunca tomou café acha amargo na primeira vez e não consegue entender como alguém gosta de café. (Os autores, por outro lado, consideram o café alimento essencial.) Outro exemplo seria bens que só têm utilidade positiva, se comprados em quantidade suficiente. O grande economista da era vitoriana, Alfred Marshall, que mais ou menos inventou o modelo de oferta e demanda, deu o exemplo do papel de parede: comprar apenas o suficiente para cobrir metade do quarto é pior do que inútil. Se dois rolos de papel de parede forem necessários para completar o quarto, a utilidade marginal do segundo rolo é maior do que a utilidade marginal do primeiro. Então, por que faz sentido supor que a utilidade marginal seja decrescente? Por um lado, a maioria dos bens não necessitam dessas qualificações: ninguém precisa aprender a gostar de sorvete. Além disso, embora a maioria das pessoas não pratique esqui e algumas pessoas não tomem café, as que o fazem é em quantidade suficiente para que a utilidade marginal de mais uma hora esquiando ou de mais uma xícara de café seja menor que a última. Assim, dentro da margem relevante de consumo, a utilidade marginal está diminuindo.

economia em ação Ostras versus frango

Determinada comida é especial, algo que se consome em ocasiões especiais? Ou é algo corriqueiro, que não importa? A resposta depende muito da quantidade da comida que normalmente a pessoa consome, a qual

determina quanta utilidade ela obtém na margem de consumir um pouco mais. Considere o frango. Atualmente, os americanos comem muito frango, tanto que não consideram algo especial. No entanto, nem sempre foi assim. Antigamente frango era um prato de luxo, porque era caro criar aves. Os menus dos restaurantes de dois séculos atrás mostram pratos de frango como os mais caros. Ainda em 1928, quando Herbert Hoover concorreu à presidência dos Estados Unidos, fez campanha com o bordão: “Um frango em cada panela”, uma promessa aos eleitores de grande prosperidade, se fosse eleito. O que mudou o status do frango foi o surgimento de tecnologia avançada para a criação e processamento de aves. (Quer saber?) Esses métodos proporcionam fartura de frangos, a preço baixo e também, graças ao princípio da utilidade marginal decrescente – nada de causar entusiasmo. Com as ostras ocorreu o contrário. Nem todo mundo gosta de ostras, ou já experimentou algum dia – definitivamente não é um alimento comum. Mas é considerada iguaria por alguns; nos restaurantes que servem ostras, um aperitivo de ostras, muitas vezes, custa mais do que o prato principal. No entanto, as ostras já foram muito baratas, abundantes e consideradas comida de pobre. Em As Aventuras do Sr. Pickwick, de Charles Dickens, publicado na década de 1830, o autor observa que “pobreza e ostras parecem sempre andar juntas”. O que mudou? A poluição que destruiu muitos dos lugares onde as ostras se reproduzem reduziu muito a oferta, enquanto o crescimento da população aumentou muito a demanda. O resultado, graças ao princípio da utilidade marginal decrescente, é que as ostras passaram de alimento comum, considerada como nada especial, a bem de luxo altamente valorizado.

BREVE REVISÃO Utilidade é uma medida da satisfação do consumidor em consumir, expressa em unidades de util. Os consumidores tentam maximizar sua utilidade. A

função utilidade do consumidor mostra a relação entre o pacote de consumo e a utilidade total gerada por ele. Para maximizar a utilidade, o consumidor considera a utilidade marginal de consumir uma unidade a mais de um bem ou serviço, ilustrada pela curva da utilidade marginal. No consumo da maioria dos bens e serviços, e para a maioria das pessoas, vale o princípio da utilidade marginal: cada unidade sucessiva consumida acrescenta menos à utilidade total que a unidade anterior.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 10-1 1. Explique por que um consumidor racional que tem utilidade marginal decrescente de um bem não consumiria uma unidade adicional de tal bem quando gerasse utilidade marginal negativa, mesmo que essa unidade fosse gratuita. 2. Marta bebe três xícaras de café por dia, o que resulta em uma utilidade marginal decrescente. Qual das três xícaras gera o maior aumento da utilidade total? Qual gera o menor aumento? 3. Em cada um dos seguintes casos, o consumidor tem utilidade marginal decrescente, constante ou crescente? Explique a resposta. a. Quanto mais Mabel faz ginástica, mais gosta de cada visita adicional à academia. b. Embora a coleção de CDs clássicos de Mei seja enorme, seu prazer de comprar mais um CD não mudou à medida que a coleção aumentou. c. Quando Dexter era um estudante em dificuldades, seu prazer de ir a um bom restaurante era maior do que agora que vai com mais frequência. As respostas estão no fim do livro.

ORÇAMENTO E CONSUMO ÓTIMO O princípio da utilidade marginal decrescente explica por que a maioria das pessoas, no final, chega a um limite, mesmo no bufê livre, onde o custo de mais um mexilhão é medido apenas em termos de indigestão futura. Contudo, em condições normais, consumir mais quantidade de um bem custa recursos adicionais, e esse custo o consumidor deve levar em conta ao fazer escolhas. O que se entende por custo? Como sempre, a medida fundamental do custo é o custo de oportunidade. Como a quantidade de dinheiro que um

consumidor pode gastar é limitada, a decisão de consumir mais de um bem é ao mesmo tempo a decisão de consumir menos de outro. Restrições orçamentárias e linhas de orçamento

Considere Sammy, cujo apetite é exclusivamente por mexilhões e batatas (gosto não se discute). Ele tem renda semanal de $20 e, dado o seu apetite, mais de qualquer bem é melhor do que menos, de modo que ele gasta toda a renda em mexilhão e batata. Vamos supor que cada mexilhão custe $4 o quilo e as batatas custem $2 o quilo. Quais as escolhas possíveis? Seja qual for a escolha de Sammy, sabemos que o custo de seu pacote de consumo não pode exceder o montante de dinheiro que tem para gastar. Isto é, (10-1)

Gasto com mexilhões + Gasto com batata ≤ renda total

Os consumidores sempre têm renda limitada, o que restringe o quanto podem consumir. Assim, o requisito ilustrado pela Equação 10-1, de que o consumidor deve escolher o pacote de consumo que não custe mais que sua renda, é conhecido como restrição orçamentária do consumidor. É uma maneira simples de dizer que o consumidor não pode gastar mais do que o total da renda disponível. Em outras palavras, pacotes de consumo são acessíveis quando obedecem à restrição orçamentária. Chamamos o conjunto de todos os pacotes de consumo acessíveis a Sammy de possibilidades de consumo. Em geral, os pacotes de consumo incluídos nesse conjunto vão depender da renda do consumidor e dos preços dos bens e serviços. A Figura 10-2 mostra as possibilidades de consumo de Sammy. A quantidade de mexilhões no seu pacote de consumo é medida no eixo horizontal e a quantidade de batatas, no eixo vertical. A linha inclinada para baixo ligando os pontos de A a F mostra quais pacotes de consumo são acessíveis e quais não são. Cada pacote sobre a linha ou em seu interior (área sombreada) pode ser comprado; cada pacote fora dessa linha é impossível ser comprado. Como exemplo, tomemos o ponto C que representa 2 quilos de mexilhão e 6 quilos de batata, para ver se satisfaz à restrição orçamentária de Sammy.

O custo do pacote C é 6 quilos de batatas × $2 por quilo + 2 quilos de mexilhão × $4 por quilo = $12 + $8 = $20. Assim, o pacote C de fato satisfaz à restrição orçamentária de Sammy: não custa mais que sua renda semanal de $20. De fato, o pacote C custa exatamente a renda de Sammy. Ao fazer essa conta, é possível verificar que todos os outros pontos que ficam na linha inclinada para baixo também são pacotes onde Sammy gastaria o total da sua renda. A linha inclinada para baixo tem um nome especial, linha do orçamento. Ela mostra todos os pacotes de consumo disponíveis para Sammy quando ela gasta toda a sua renda. Tem inclinação para baixo porque quando Sammy está consumindo toda a sua renda, digamos no ponto A da linha do orçamento, para consumir mais mexilhões deve consumir menos batatas, ou seja, deve-se mover para um ponto como B. Em outras palavras, quando Sammy escolhe um pacote de consumo que está em sua linha do orçamento, o custo de oportunidade de consumir mais mexilhões é consumir menos batatas, e vice-versa. Como indica a Figura 102, qualquer pacote de consumo que esteja acima da linha do orçamento é inviável. FIGURA 10-2

A linha do orçamento

A linha do orçamento representa todas as combinações possíveis de quantidades de batata e mexilhão que Sammy pode comprar, quando gasta toda a sua renda. Além

disso, é o limite entre o conjunto de pacotes de consumo a preços acessíveis (as possibilidades de consumo) e o que não tem condições de comprar. Dado que o mexilhão custa $4 o quilo e a batata custa $2 o quilo, se Sammy gasta toda a sua renda em mexilhão (pacote F), pode comprar 5 quilos de mexilhão; se gasta toda a renda em batata (pacote A), pode comprar 10 quilos de batata.

Será preciso considerar outros pacotes dentro das possibilidades de consumo de Sammy, aqueles que estão dentro da área sombreada da Figura 10-2 delimitada pela linha do orçamento? A resposta, para todas as situações práticas, é não: enquanto Sammy continua a obter utilidade marginal positiva ao consumir o bem (em outras palavras, Sammy não fica saciada), e não recebe qualquer utilidade de poupar em vez de gastar, então irá sempre optar em consumir um pacote que se encontre em sua linha do orçamento e não dentro da área sombreada. Dado esse orçamento de $20 por semana, que ponto da linha do orçamento Sammy irá escolher? Escolha ótima de consumo

Como Sammy tem uma restrição orçamentária – o que significa que irá consumir um pacote de consumo na linha do orçamento – a opção de consumir determinada quantidade de mexilhão também determina o consumo de batata, e vice-versa. Queremos encontrar o pacote de consumo, o ponto da linha do orçamento que maximiza a utilidade total de Sammy. Este é o pacote de consumo ótimo de Sammy que maximiza a utilidade total, dada a restrição orçamentária. A Tabela 10-1 mostra quanto de utilidade Sammy obtém de diferentes níveis de consumo de mexilhão e batata, respectivamente. De acordo com a tabela, Sammy tem muito apetite; quanto mais consome qualquer dos bens, maior sua utilidade. Mas como tem um orçamento limitado, deve aceitar um trade-off: quanto mais mexilhões consome, menos batata, e vice-versa. Ou seja, deve escolher um ponto na linha do orçamento. A Tabela 10-2 mostra como sua utilidade total varia para diferentes pacotes de consumo ao longo da linha do orçamento. Cada um dos seis pacotes de consumo possíveis, de A a F, na Figura 10-2, aparece na primeira

coluna. A segunda coluna mostra o nível de consumo de mexilhão correspondente a cada escolha. A terceira coluna mostra a utilidade obtida por Sammy ao consumir esses mexilhões. A quarta coluna mostra a quantidade de batatas que Sammy pode comprar, dado o nível de consumo de mexilhão; essa quantidade diminui conforme aumenta o consumo de mexilhão, pois está deslizando para baixo na linha do orçamento. A quinta coluna mostra a utilidade que obtém ao consumir batatas. E a última coluna mostra a utilidade total. Nesse exemplo, a utilidade total de Sammy é a soma da utilidade obtida do mexilhão com a da batata. A Figura 10-3 oferece uma representação visual dos dados apresentados na Tabela 10-2. O painel (a) mostra a linha do orçamento de Sammy, para nos lembrar de que quando ele decide consumir mais mexilhões, também decide consumir menos batata. O painel (b) mostra como sua utilidade total depende dessa escolha. O eixo horizontal no painel (b) tem dois rótulos: mostra tanto a quantidade de mexilhão aumentando da esquerda para a direita quanto a quantidade de batata, aumentando da direita para a esquerda. A razão de podermos usar o mesmo eixo para representar o consumo dos dois bens, naturalmente, é a linha do orçamento: quanto mais quilos de mexilhão Sammy consome, menos quilos de batata pode pagar, e vice-versa.

TABELA 10-1 Utilidade do consumo de batata e mexilhão de Sammy Utilidade de consumo de mexilhão Quantidade de mexilhões (kg)

Utilidade do consumo de batata

Utilidade do mexilhão (util)

Quantidade de batatas (kg)

Utilidade da batata (util)

0

0

0

0

1

15

1

11,5

2

25

2

21,4

3

31

3

29,8

4

34

4

36,8

5

36

5

42,5

6

47,0

7

50,5

8

53,2

9

55,2

10

56,7

TABELA 10-2 Orçamento e utilidade total de Sammy Pacote de consumo

Quantidade de mexilhões (kg)

A

0

B

Utilidade dos mexilhões (util)

Quantidade de batatas (kg)

Utilidade das batatas (util)

Utilidade total (util)

0

10

56,7

56,7

1

15

8

53,2

68,2

C

2

25

6

47,0

72,0

D

3

31

4

36,8

67,8

E

4

34

2

21,4

55,4

F

5

36

0

0

36,0

PARA MENTES CURIOSAS REFLEXÃO SOBRE RESTRIÇÕES ORÇAMENTÁRIAS Restrições orçamentárias não versam apenas sobre dinheiro. Na verdade, existem muitas outras restrições orçamentárias que afetam nossas vidas. Há restrição orçamentária, quando existe quantidade limitada de espaço no armário de roupas. Todos nós enfrentamos restrição orçamentária de tempo: existem apenas 24 horas no dia. E as pessoas que tentam perder peso com o programa dos Vigilantes do Peso também enfrentam restrição orçamentária em relação aos alimentos ingeridos. O Vigilantes do Peso atribui a cada alimento certo número de “pontos”. Uma bola de sorvete de creme recebe oito pontos, uma fatia de pizza, cinco pontos, uma xícara de uvas, zero ponto. É permitido um número máximo de pontos por dia, mas a pessoa é livre para escolher quais alimentos consumir. Em outras palavras, alguém fazendo dieta no plano do Vigilantes do Peso é como um consumidor escolhendo um pacote de consumo: os pontos são o equivalente a preços, e o limite global equivale à renda total.

É claro que o pacote de consumo que aproveita ao máximo o trade-off entre o consumo de mexilhão e o de batata, o pacote de consumo ótimo, é o que maximiza a utilidade total de Sammy. Ou seja, o pacote de consumo ótimo de Sammy o coloca no ponto mais alto da curva de utilidade total. Como sempre, podemos ver o ponto mais alto da curva, diretamente por observação. Podemos ver na Figura 10-3 que a utilidade total de Sammy é maximizada no ponto C – seu pacote de consumo ótimo contém 2 quilos de mexilhão e 6 quilos de batata. Mas sabemos que, em geral, problemas de “quanto” se tornam mais claros quando usamos a análise marginal. Assim, na próxima seção, iremos representar e resolver o problema da escolha de consumo ótimo usando a análise marginal. FIGURA 10-3

Pacote de consumo ótimo

O painel (a) mostra a linha do orçamento de Sammy e os seis pacotes de consumo possíveis. O painel (b) mostra como sua utilidade total é afetada por seu pacote de consumo, que deve estar na sua linha do orçamento. A quantidade de mexilhões é medida a partir da esquerda para a direita sobre o eixo horizontal, e a quantidade de batata é medida no mesmo eixo, da direita para a esquerda. Sua utilidade total é maximizada no pacote C, o ponto mais alto da função utilidade, onde ele consome 2 quilos de mexilhão e 6 quilos de batata. Esse é o pacote de consumo ótimo de Sammy.

economia em ação A grande mania de condimento

Quem tem mais idade, lembra quando o único tipo de mostarda disponível nos supermercados americanos era uma mistura amarela, fluorescente, embalada em garrafas de esguicho de plástico. O mesmo vale para ketchup e maionese – o pouco que havia, tinha o mesmo gosto. Quanto à salsa – não era algum tipo de passo de dança… Não mais. Ultimamente, os americanos desenvolveram um gosto intenso por condimentos – com uma variedade estonteante. Quem quer uma simples mostarda, quando pode ter mostarda aromatizada com alho assado, damasco ou mesmo Bourbon/melaço? Da mesma forma, você gostaria de maionese com açafrão e alho com toque de wasabi no sanduíche? E as vendas de molho nos Estados Unidos há muito ultrapassaram as de ketchup. Então o que aconteceu? Os gostos e os orçamentos mudaram. Com os consumidores preocupados com o orçamento e mais propensos a comer em casa, mas expostos à cozinha gourmet e à cozinha étnica, os condimentos especiais tornaram-se uma forma acessível de apimentar a comida caseira. Em 2010, o mercado de condimento dos Estados Unidos foi avaliado em $5,6 bilhões e projetado para crescer para $7 bilhões até 2015, impulsionado, principalmente, pela demanda de pessoas entre 18 e 34 anos. A explosão de variedades decorre do fato de que é bastante fácil fazer condimentos engarrafados. Isso permite que empresas pequenas experimentem sabores exóticos, encontrando os que apelam aos gostos cada vez mais sofisticados dos consumidores. No fim, os sabores que atraem um significativo número de seguidores são captados por grandes empresas como a Kra. Como disse um analista da indústria, “as pessoas querem produtos gourmet mais especializados e mais baratos. É como moda”. Embora alguns analistas acreditem que a grande mania de condimento possa continuar indefinidamente, outros pensam que um limite acabará por ser alcançado à medida que o entusiasmo dos compradores de alimentos diminua.

BREVE REVISÃO A restrição orçamentária requer que o gasto total de um bem consumido não seja superior à sua renda. O conjunto de pacotes de consumo que satisfazem a restrição orçamentária constitui as possibilidades de consumo do consumidor. Um consumidor que gasta toda a sua renda escolhe um ponto na linha do orçamento. A linha do orçamento tem inclinação para baixo, porque o consumidor tem que consumir menos de um bem, para consumir mais do outro. A escolha de consumo que maximiza a utilidade total, dada a restrição orçamentária do consumidor, é o pacote de consumo ótimo. Ele tem de estar na linha do orçamento do consumidor.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 10-2 1. Nos dois exemplos seguintes, encontre todos os pacotes de consumo que estão na linha do orçamento do consumidor. Ilustre essas possibilidades de consumo em um gráfico e trace a linha do orçamento através delas. a. Um pacote de consumo consiste de ingressos de cinema e baldes de pipoca. O preço de cada ingresso é $10,00, o preço de cada balde de pipoca é $5,00 e a renda do consumidor é $20,00. No gráfico, coloque ingressos de cinema no eixo vertical e baldes de pipoca no eixo horizontal. b. O pacote de consumo consiste de cuecas e meias. O preço da cueca é $4,00, o preço de cada par de meias é $2,00 e a renda do consumidor é $12,00. No gráfico, coloque os pares de meias no eixo vertical e as cuecas no eixo horizontal. As respostas estão no fim do livro.

GASTO DO DÓLAR MARGINAL Como acabamos de ver, podemos encontrar a escolha de consumo ótimo de Sammy, verificando a utilidade total que ele obtém de cada pacote de consumo na sua linha do orçamento e, em seguida, escolhendo o pacote pelo qual a utilidade total é maximizada. Mas podemos, em vez disso, usar a

análise marginal, transformando o problema de Sammy de encontrar sua opção de consumo ótimo em um problema de “quanto”. Como fazemos isso? Pensando sobre a escolha de um pacote de consumo ótimo como um problema de quanto gastar em cada bem. Ou seja, para encontrar o pacote de consumo ótimo usando análise marginal, perguntamos se Sammy pode melhorar de situação gastando um pouco mais de sua renda em mexilhões e menos em batatas, ou fazendo o oposto, gastando um pouco mais em batatas e menos de mexilhões. Em outras palavras, a decisão marginal é a de como gastar o dólar marginal, como alocar $1 adicional entre mexilhão e batata de forma que maximize a utilidade. O primeiro passo na aplicação da análise marginal é perguntar se Sammy melhora de situação ao gastar $1 adicional em qualquer dos bens; e, em caso afirmativo, em quanto melhora sua situação. Para responder a essa questão, temos que calcular a utilidade marginal por dólar gasto, seja em mexilhão ou batata, isto é, quanta utilidade adicional Sammy obtém ao gastar $1 adicional em qualquer dos bens.

ARMADILHAS COMPARAÇÃO MARGINAL CORRETA A análise marginal nos ajuda a entender decisões de “quanto” pesando custos e benefícios na margem: o benefício de fazer um pouco mais em relação ao custo de fazer um pouco mais. No entanto, como vimos no Capítulo 9, a forma da análise marginal pode diferir, dependendo de se estar tomando uma decisão de produção que maximize o lucro ou uma decisão de consumo que maximize a utilidade. Vamos rever essa diferença novamente para ter certeza que foi entendida claramente. No Capítulo 9, a decisão do Alex era uma decisão de produção, porque o problema que enfrentou foi de maximização do lucro de anos de escolaridade. A quantidade ótima de anos que maximizou seu lucro foi encontrada por meio da análise marginal: na quantidade ótima, o benefício marginal de mais um ano de escolaridade era igual ao seu custo marginal. Alex não enfrentou uma restrição orçamentária, porque sempre podia fazer um empréstimo para financiar mais um ano de faculdade. Mas se você estender essa forma de resolver o problema de produção de Alex ao problema de consumo de Sammy, sem qualquer alteração na forma, poderia

ser tentado a dizer que o pacote de consumo ótimo de Sammy é aquele em que a utilidade marginal de mexilhões era igual à utilidade marginal de batatas, ou que a utilidade marginal de mexilhões era igual ao preço dos mexilhões. Mas essas duas afirmações estão erradas porque não levam em consideração corretamente a restrição orçamentária e o fato de que consumir mais de um bem requer o consumo de menos de outro. Em uma decisão de consumo, o objetivo é maximizar a utilidade que nosso orçamento limitado pode resgatar. E o caminho certo de encontrar o pacote de consumo ótimo é definir a utilidade marginal por dólar igual para cada bem no pacote de consumo. Quando essa condição é atendida, “o uso mais eficaz do dinheiro” é o mesmo em todos os bens e serviços consumidos. Só que então não há maneira de voltar a organizar o consumo e obter mais utilidade no orçamento.

Utilidade marginal por unidade de moeda

O conceito de utilidade marginal já foi introduzido, a utilidade adicional que um consumidor obtém ao consumir uma unidade a mais de um bem ou serviço. Agora vamos ver como esse conceito pode ser usado para derivar uma medida relacionada com ele, a utilidade marginal por unidade de moeda. A Tabela 10-3 mostra como calcular a utilidade marginal por unidade de moeda gasta em mexilhão e batata, respectivamente.

No painel (a) da tabela, a primeira coluna mostra vários níveis possíveis de consumo de mexilhão. A segunda coluna mostra a utilidade que Sammy deriva de cada nível de consumo de mexilhão; a terceira coluna mostra a utilidade marginal, o aumento na utilidade que Sammy obtém ao consumir 1 quilo adicional de mexilhão. O painel (b) faz o mesmo para a batata. O próximo passo é derivar a utilidade marginal por dólar de cada bem. Para fazer isso, temos que dividir a utilidade marginal do bem pelo seu preço em dólares. Para saber por que é preciso dividir pelo preço, compare a terceira e a quarta coluna do painel (a). Considere o que acontece quando Sammy aumenta o consumo de mexilhão de 2 kg para 3 kg. Como se pode ver, esse aumento no consumo de mexilhão aumenta a utilidade total em 6 utils. Mas ele precisa gastar $4 por quilo adicional, por isso o aumento da utilidade por dólar adicional gasto com mexilhão é 6 utils/$4 = 1,5 util por dólar. Da mesma forma, se aumenta o consumo de mexilhão de 3 kg para 4 quilos, sua utilidade marginal é três utils por mexilhão, mas sua utilidade marginal por dólar é 3 utils/$4 = 0,75 util por dólar. Observe que, por causa da utilidade marginal decrescente por quilo de mexilhão, a utilidade marginal de Sammy

por quilo de mexilhão cai à medida que aumenta o consumo de mexilhão. Em decorrência, a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhão também cai à medida que aumenta a quantidade de mexilhão que ele consome. Assim, a última coluna do painel (a) mostra como a utilidade marginal de Sammy por dólar gasto em mexilhão depende da quantidade de mexilhão que ele consome. Da mesma forma, a última coluna do painel (b) mostra como sua utilidade marginal por dólar gasto em batatas depende da quantidade de batatas que consome. Mais uma vez, a utilidade marginal por dólar gasto em cada bem cai à medida que a quantidade consumida aumenta, por causa da utilidade marginal decrescente. Usaremos os símbolos MUC e MUP para representar a utilidade marginal por quilo de mexilhão e batata, respectivamente. E usaremos os símbolos PC e PP para representar o preço do mexilhão (por quilo) e o preço da batata (por quilo). Então, a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhão é MUC/PC e a utilidade marginal por dólar gasto em batatas é MUP/PP. Em geral, a utilidade adicional gerada a partir de $1 adicional gasto em um bem é igual a: (10-2) Utilidade marginal por dólar gasto em um bem = utilidade marginal de uma unidade do bem/preço de uma unidade do bem = MUBem/PBem Agora vamos ver como esse conceito nos ajuda a derivar o consumo ótimo do consumidor por meio da análise marginal. Consumo ótimo

Vamos considerar a Figura 10-4. Como na Figura 10-3, podemos medir a quantidade de mexilhões e a quantidade de batatas no eixo horizontal em virtude da restrição orçamentária. Ao longo do eixo horizontal da Figura 104 – como na Figura 10-3 – a quantidade de mexilhões aumenta à medida que se move da esquerda para a direita e a quantidade de batatas aumenta à medida que se move da direita para a esquerda. A curva rotulada MUC/PC na Figura 10-4 mostra a utilidade marginal de Sammy por dólar gasto em mexilhões, como derivado na Tabela 10-3. Da mesma forma, a curva

rotulada MUP/PP mostra a utilidade marginal por dólar gasto em batatas. Observe que as duas curvas, MUC/PC e MUP/PP, cruzam no pacote de consumo ótimo, ponto C, que consiste de 2 quilos de mexilhão e de 6 quilos de batata. Além disso, a Figura 10-4 ilustra uma característica importante do pacote de consumo ótimo de Sammy: quando Sammy consome 2 quilos de mexilhão e 6 quilos de batata, sua utilidade marginal por dólar gasto é a mesma, 2, para ambos os bens. Isto é, no pacote de consumo ótimo MUC/PC = MUP/PP = 2. FIGURA 10-4

Utilidade marginal por dólar

A cesta de consumo ótimo de Sammy está no ponto C, onde sua utilidade marginal por dólar gasto em mexilhão, MUC/PC, é igual à utilidade marginal por dólar gasto com batatas, MUP/PP. Isso ilustra o princípio da análise marginal de maximização da

utilidade: no pacote de consumo ótimo, a utilidade marginal por dólar gasto em cada bem e serviço é a mesma. Em qualquer outro pacote de consumo na linha do orçamento de Sammy, como o pacote B na Figura 10-3, aqui representado pelos pontos BC e BP, o consumo não é o ótimo: Sammy pode aumentar sua utilidade, sem custo adicional, realocando os gastos.

Isso não é acidental. Consideremos outro dos pacotes de consumo de Sammy – digamos, B na Figura 10-3, quando ele consome um quilo de mexilhão e 8 quilos de batata. A utilidade marginal por dólar gasto em cada um dos bens aparece nos pontos BC e BP da Figura 10-4. Nesse pacote de consumo, a utilidade marginal de Sammy por dólar gasto em mexilhão é de aproximadamente 3, mas sua utilidade marginal por dólar gasto em batatas seria apenas aproximadamente 1. Isso mostra que ele cometeu um erro: está consumindo muitas batatas, porém poucos mexilhões. Como sabemos isso? Se a utilidade marginal de Sammy por dólar gasto em mexilhão for maior que a utilidade marginal por dólar gasto em batata, ele tem uma maneira simples de melhorar a situação, permanecendo dentro do orçamento: gastar $1 a menos de batata e $1 a mais de mexilhão. Ao gastar $1 adicional em mexilhão, adiciona cerca de 3 utils à utilidade total, ao passo que, ao gastar $1 a menos em batata, subtrai apenas cerca de 1 util da sua utilidade total. Como a utilidade marginal por dólar gasto é maior para mexilhões do que para batatas, realocar os gastos em mexilhões e não em batatas aumentará a utilidade total. Mas se a sua utilidade marginal por dólar gasto em batatas for maior, ele pode aumentar a utilidade gastando menos com mexilhões e mais com batatas. Então, se Sammy de fato escolheu o melhor pacote de consumo, a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhões e batatas deve ser igual. Esse é um princípio geral, que chamamos de princípio de análise marginal de maximizar a utilidade: quando um consumidor maximiza a utilidade em face de uma restrição orçamentária, a utilidade marginal por dólar gasto em cada bem ou serviço no pacote de consumo é a mesma. Ou seja, para qualquer de dois bens C e P, a regra de consumo ótimo diz que o pacote de consumo ótimo é:

É mais fácil entender essa regra usando exemplos em que o pacote de consumo contém apenas dois bens, mas ela se aplica sem importar quantos

bens ou serviços o consumidor compre: no pacote de consumo ótimo, as utilidades marginais por dólar gasto para cada bem ou serviço nesse pacote são iguais.

economia em ação Pagando para escapar da tentação

Pode parecer estranho pagar mais para receber menos. Mas empresas de alimentos que vendem biscoitos e salgadinhos descobriram que os consumidores de fato estão dispostos a pagar mais por porções menores. Explorar essa tendência é uma receita de sucesso. Ao longo dos últimos anos, as vendas de pacotes de 100 calorias de biscoitos, batatas fritas e doces já ultrapassaram a marca de $20 milhões por ano nos Estados Unidos, crescendo muito mais rapidamente do que o resto da indústria de lanche. Um executivo de empresa explicou por que os pacotes pequenos são populares. Eles ajudam os consumidores a comer menos, sem ter que contar calorias. “A ironia”, disse David Adelman, analista do setor de alimentos, “é que se você comprar um pacote grande de biscoitos Wheat  ins ou Goldfish, dividi-los em várias porções e colocá-los em saquinhos plásticos, terá essencialmente o mesmo produto”. Ele estima que os minipacotes sejam cerca de 20% mais rentáveis do que os pacotes grandes desse tipo de alimento. É claro que, nesse caso, os consumidores estão fazendo um cálculo: a utilidade extra que se obtém quando não precisar se preocupar em saber se estão comendo demais vale o custo extra. Como disse uma compradora: “São caros, mas vale a pena. São embalados individualmente na quantidade que preciso, então não há perigo de exagerar.” Nesse caso, é claro que os consumidores não estão sendo irracionais. Em vez disso, estão sendo totalmente racionais: além do biscoito, estão comprando uma restrição da mão para a boca.

BREVE REVISÃO

De acordo com o princípio da análise marginal de maximizar a utilidade, a utilidade marginal por dólar – a utilidade marginal de um bem, dividida pelo seu preço – é a mesma para todos os bens no pacote de consumo ótimo. Sempre que a utilidade marginal por dólar for maior para um bem do que para outro, o consumidor deve gastar $1 a mais sobre o bem com a utilidade marginal por dólar mais alta e $1 a menos sobre o outro bem. Ao fazer isso, o consumidor se aproximará do seu pacote de consumo ótimo.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 10-3 1. Na Tabela 10-3, pode-se ver que a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhões e a utilidade marginal por dólar gasto em batatas são iguais quando Sammy aumenta o consumo de mexilhões de 3 quilos para 4 quilos e o consumo de batatas de 9 quilos para 10 quilos. Explique por que esse não é o pacote de consumo ótimo de Sammy. Ilustre a resposta usando a linha do orçamento da Figura 10-3. 2. Explique o que está errado na afirmação seguinte, usando os dados da Tabela 10-3: “A fim de maximizar a utilidade, Sammy deveria consumir o pacote que oferece a utilidade marginal máxima por dólar para cada bem.” As respostas estão no fim do livro.

DA UTILIDADE À CURVA DA DEMANDA Acabamos de analisar a escolha de consumo ótimo de um consumidor com determinada renda e que se defronta com determinado conjunto de preços, no exemplo de Sammy, $20 de renda por semana, $4 por quilo de mexilhão e $2 por quilo de batata. Mas a principal razão para o estudo do comportamento do consumidor é saber o que está por trás da curva da demanda de mercado – explicar como o comportamento de maximizar a utilidade dos consumidores individuais leva à inclinação para baixo da curva da demanda de mercado. Utilidade marginal, efeito substituição e a lei da demanda

Suponha que o preço do mexilhão frito, PC, suba. O aumento de preço não muda a utilidade marginal que um consumidor obtém de 1 quilo adicional de mexilhão, MUC, em qualquer nível de consumo de mexilhão. No entanto, reduz a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhões fritos, MUC/PC. E a diminuição da utilidade marginal por dólar gasto em mexilhões oferece ao consumidor um incentivo para consumir menos mexilhões, quando o preço dos mexilhões sobe. Para saber por que, lembre-se do princípio da análise marginal de maximizar a utilidade: um consumidor que maximiza a utilidade escolhe um pacote de consumo para o qual a utilidade marginal por dólar gasto em qualquer bem é a mesma. Se a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhão cai porque o preço sobe, o consumidor pode aumentar sua utilidade comprando menos mexilhões e mais de outros bens. O oposto acontece quando o preço do mexilhão cai. Nesse caso, a utilidade marginal por dólar gasto em mexilhões, MUC/PC, aumenta em qualquer nível de consumo de mexilhão. Em decorrência, o consumidor pode aumentar sua utilidade comprando mais mexilhões e menos de outros bens quando o preço do mexilhão cai. Assim, quando o preço de um bem aumenta, normalmente um indivíduo vai consumir menos desse bem e mais de outros bens. Do mesmo modo, quando o preço de um bem diminui, um indivíduo normalmente vai consumir mais desse bem e menos de outros. Isso explica por que a curva de demanda individual, que relaciona o consumo de um bem individual com o preço desse bem, normalmente se inclina para baixo, ou seja, obedece à lei da demanda. E uma vez que – como vimos no Capítulo 3 – a curva da demanda de mercado é a soma horizontal de todas as curvas de demanda individual dos consumidores, ela também terá inclinação para baixo. Uma forma alternativa de ver por que as curvas de demanda individuais têm inclinação para baixo é se concentrar nos custos de oportunidade. Quando o preço do mexilhão ou de qualquer outro bem diminui, um indivíduo não precisa abdicar de tantas unidades de outros bens, para comprar mais uma unidade de mexilhão. Assim, consumir mexilhão se torna mais atraente. Inversamente, quando o preço do bem aumenta, o consumo desse bem torna o uso de recursos menos atraente, e o consumidor compra menos.

Esse efeito de variação de preço sobre a quantidade consumida está sempre presente. É conhecido como efeito substituição da variação na quantidade consumida à medida que o consumidor substitui o bem que se tornou relativamente mais caro pelo consumo do bem que se tornou relativamente mais barato. Quando um bem absorve apenas uma pequena parcela dos gastos do consumidor, o efeito substituição é essencialmente a única explicação para a inclinação descendente da curva da demanda individual desse consumidor. E, por implicação, quando um bem absorve apenas uma pequena parcela dos gastos do consumidor típico, o efeito substituição é essencialmente a única explicação de por que a curva de demanda do mercado se inclina para baixo. No entanto, alguns bens, como a moradia, absorvem uma grande parte dos gastos de um consumidor típico. Para esses bens, a história por trás da curva da demanda individual e da curva da demanda de mercado se torna um pouco mais complicada. Efeito renda

Para a grande maioria dos bens, o efeito substituição praticamente é a história por trás da inclinação da curva da demanda individual e de mercado. Há, no entanto, alguns bens, como alimentação e moradia, que representam uma parte substancial dos gastos de muitos consumidores. Nesse caso, outro efeito, chamado efeito renda, também entra em jogo. Considere o caso de uma família que gasta metade da renda com o aluguel da moradia. Suponha, agora, que o preço do aluguel da moradia aumente. Isso terá um efeito substituição sobre a demanda da família: tudo o mais mantido constante, a família terá um incentivo para consumir menos moradia – digamos, mudando para um apartamento menor – e consumir mais de outros bens. Mas em um sentido real, a família também se tornará mais pobre por causa do aumento de preço – sua renda comprará menos moradia do que antes. O montante de renda ajustado para refletir o verdadeiro poder de compra é, muitas vezes, chamado de “renda real”, diferente da “renda monetária” ou “renda nominal”, que não foi ajustada. E essa redução da renda real do consumidor terá um efeito adicional, além do efeito substituição sobre o pacote de consumo da família, incluindo o consumo da moradia.

A variação na quantidade consumida de um bem que resulta da variação do poder de compra geral do consumidor, em virtude da variação no preço do bem, é conhecida como efeito renda da variação no preço. Nesse caso, uma variação no preço de um bem efetivamente altera a renda do consumidor, pois muda o poder de compra do consumidor. Junto com o efeito substituição, o efeito renda é outro meio pelo qual a variação nos preços altera as escolhas de consumo. É possível dar definições mais precisas do efeito substituição e do efeito renda de uma variação no preço, e o faremos no apêndice deste capítulo. Na maioria dos casos, no entanto, há apenas duas coisas que se deve saber sobre a distinção entre esses dois efeitos. Primeiro, para a grande maioria dos bens e serviços, o efeito renda não é importante e não tem efeito significativo sobre o consumo individual. Assim, a maioria das curvas de demanda tem inclinação para baixo unicamente por causa do efeito substituição, e o assunto termina aí. Segundo, quando importa, o efeito renda geralmente reforça o efeito substituição. Ou seja, quando sobe o preço de um bem que absorve parcela substancial da renda, os consumidores desse bem se tornam um pouco mais pobres, porque o seu poder de compra cai. Como aprendemos no Capítulo 3, a grande maioria dos bens são bens normais, cuja demanda cai quando a renda cai. Portanto, a redução efetiva da renda leva a uma redução na quantidade demandada e reforça o efeito substituição. No entanto, no caso de um bem inferior, um bem cuja demanda aumenta quando a renda cai, os efeitos renda e substituição funcionam em direções opostas. Embora o efeito substituição tenda a produzir uma diminuição na quantidade demandada de qualquer bem quando seu preço sobe, no caso de um bem inferior o efeito renda de um aumento no preço tende a produzir um aumento na quantidade demandada. Em decorrência, há casos hipotéticos envolvendo bens inferiores, em que a distinção entre efeito renda e efeito substituição é importante. O exemplo mais extremo dessa distinção é o bem de Giffen, um bem que tem uma curva de demanda inclinada para cima. A história clássica usada para descrever o bem de Giffen remonta ao século XIX, na Irlanda, quando era um país desesperadamente pobre e uma grande parte da dieta das famílias consistia de batatas. Tudo o mais mantido

constante, um aumento no preço da batata levaria as pessoas a reduzir a demanda de batata. Mas nem tudo o mais era mantido constante: para o século XIX irlandês, um preço mais elevado da batata os teria deixado mais pobres e aumentado a demanda de batatas porque era um bem inferior. Se o efeito renda de um aumento de preço supera o efeito substituição — como foi conjecturado pelas batatas na Irlanda do século XIX –, um aumento no preço leva a um aumento na quantidade demandada. Em decorrência, a curva da demanda se inclina para cima, e a lei da demanda não se sustenta. Em teoria, os bens de Giffen podem existir; mas nunca foram validados em qualquer situação real, inclusive na Irlanda do século XIX. Então, como questão prática, não é um assunto com o qual precisamos nos preocupar quando discutimos a demanda para a maioria dos bens. Normalmente, efeitos rendas são importantes apenas para um número muito limitado de produtos.

economia em ação Juros de empréstimos imobiliários e renda do consumidor

A maior parte das pessoas compra casas com empréstimo hipotecário – empréstimos garantidos pelo valor da casa. As taxas de juros desses empréstimos variam ao longo do tempo; por exemplo, baixaram bastante no período entre 2000 a 2003. E em 2011, caiu para o nível mais baixo em mais de 50 anos. Quando isso acontece, o custo da moradia para milhões de pessoas diminui, até mesmo as pessoas que têm empréstimo hipotecário com taxas de juros altas muitas vezes conseguem “refinanciamento” desse empréstimo a juros mais baixos. A porcentagem de famílias americanas que eram proprietárias de casas aumentou de 67,1% em 2000 para um recorde histórico de 69,2% em 2004. (Desde 2004 voltou a cair ligeiramente, para 66,9% no início de 2010, por causa da turbulência no mercado de crédito hipotecário.) Não é surpresa que a demanda de moradia aumente quando os juros de empréstimo hipotecário baixam. No entanto, os economistas notaram que a demanda de muitos outros bens também aumenta quando as taxas de juros

hipotecários caem. Alguns desses bens são itens relacionados com casas novas ou maiores, tal como móveis. Mas as pessoas também compram carros novos, frequentam mais restaurantes e viajam de férias. Por quê? A resposta ilustra a distinção entre efeito substituição e o efeito renda. Quando a moradia se torna mais barata, há um efeito substituição: as pessoas têm um incentivo para substituir a moradia por outros bens em seu pacote de consumo. Mas a moradia também é um bem responsável por grande parte do gasto do consumidor, com muitas famílias que gastam 1/4 ou mais da renda para pagar empréstimos imobiliários. Assim, quando o preço da moradia cai, as pessoas de fato ficam mais ricas – há um efeito renda significativo. O aumento na quantidade demandada de moradias, quando há queda nos juros de hipoteca, é o resultado dos dois efeitos: a moradia se torna um negócio melhor em comparação com outros bens de consumo, e as pessoas também compram mais casas e maiores porque se sentem mais ricas. E como se sentem mais ricas, também compram mais de todos os bens normais, como carros, refeições em restaurantes e férias.

BREVE REVISÃO A maioria dos bens absorve apenas uma pequena fração do gasto do consumidor. Para esses bens, o efeito substituição de uma variação de preço é o único efeito importante sobre a demanda que resulta dessa variação de preço. Isso faz as curvas de demanda individual e a curva de demanda de mercado terem inclinação para baixo. Quando um bem absorve grande fração do gasto do consumidor, o efeito renda de uma variação no preço está presente, além do efeito substituição. Para bens normais, a demanda aumenta quando o consumidor fica mais rico e cai quando o consumidor fica mais pobre, de modo que o efeito renda reforça o efeito substituição. Para bens inferiores, a demanda aumenta quando o consumidor fica mais pobre e cai quando o consumidor fica mais rico, de modo que os efeitos renda e substituição se movem em direções opostas.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 10-4

1. Em cada um dos casos a seguir, verifique se o efeito renda, o efeito substituição ou se ambos são significativos. Em que caso eles se movem na mesma direção? E em direções opostas? Por quê? a. O suco de laranja representa uma pequena parcela do gasto de Clare. Ela compra mais limonada e menos suco de laranja quando o preço do suco de laranja sobe. Ela não muda seus gastos com outros bens. b. Os aluguéis de apartamentos aumentaram drasticamente esse ano. Como o aluguel absorve a maior parte da renda, Delia se muda para um apartamento menor. Suponha que moradia de aluguel seja um bem normal. c. O custo de um vale-refeição válido para o semestre no restaurante da faculdade aumenta, o que representa um aumento significativo no custo de vida. Suponha que as refeições do restaurante sejam um bem inferior. 2. No exemplo descrito na questão 1c, como você determinaria se o restaurante da faculdade é ou não um bem de Giffen? As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Um lanche feliz no McDonald’s Em julho de 2011, o McDonald’s anunciou que iria tornar a refeição infantil mais saudável. Para ter certeza, opções mais saudáveis estavam sempre disponíveis: os pais poderiam pedir fruta ou leite em vez de fritas ou refrigerante. Mas a maioria das pessoas optava pela refeição padrão. O McLanche Feliz inclui 1/4 de xícara de fatias de maçã em pedaços e menos fritas, com diminuição do sal, açúcar, gordura e conteúdo calórico. Mas cabe aos pais escolher a bebida: leite desnatado, suco de maçã, ou refrigerante. De acordo com o analista de restaurantes, Peter Saleh, “é uma boa publicidade, e se vender mais McLanche Feliz, estará vendendo mais Big Macs para os pais”. As alterações são suscetíveis de ajudar a compensar a longa crítica à empresa pela falta de equilíbrio nutricional do menu e de preocupação acerca do crescimento da obesidade infantil. Em Nova York e San Francisco, os defensores dos alimentos propuseram acabar com o McLanche Feliz se não atender a certos padrões nutricionais. Os críticos dizem que as

mudanças atuais são apenas um pequeno primeiro passo em direção ao caminho certo. Observadores de longo tempo dizem que mais do que apenas lutar contra as críticas, o McDonald’s está tentando manter a clientela fiel: o McLanche Feliz representa 10% das vendas anuais, ou $3 bilhões. E a concorrência não é apática: o Burger King, IHOP, Denny’s, Cracker Barrel e Sizzler uniram-se em uma campanha por refeições infantis mais saudáveis. O McDonald’s tem sido, de fato, incrivelmente bem-sucedido em manter seus clientes felizes, mesmo em um ambiente difícil. Em 2009, no ponto mais baixo da recessão que começou em 2007, as vendas em restaurantes de serviço completo caíram mais que 6%, mas se mantiveram nas redes de fastfood. Esses restaurantes mantiveram a ascensão nas vendas, oferecendo descontos e promoções, bem como menus de $1 e refeições combinadas baratas. As vendas em algumas lojas do McDonald’s mantiveram o mesmo nível durante a crise. No entanto, muitas redes de fast-food, como o Burger King, Jack in the Box e Carl Jr.’s, viram as vendas caírem durante a recessão. Eles cortaram gastos com publicidade à medida que o McDonald’s aumentou seus gastos em 7% e aumentou sua participação no mercado. E o McDonald’s expandiu agressivamente seus menus – desde as refeições mais saudáveis do Mc Lanche Feliz até a linha de bebidas expressas do “McCafé”, aperitivos e wraps com sabores exóticos. Os observadores estão divididos quanto a se o McDonald’s está seriamente tentando fazer seus clientes comerem alimentos saudáveis ou é apenas publicidade. Não se sabe como os clientes reagirão: como um comentarista disse: “O sal pode ser ruim para a saúde, mas o gosto fica bom… Não se pode exigir que o McDonald’s ou o Burger King parem de vender hambúrgueres e batatas fritas.” Na mesma linha, um proprietário de franquia observou, “Espere os clientes experimentar maçãs e, em seguida, voltar a pedir fritas.”

• QUESTÕES PARA PENSAR

1. Dê um exemplo de um bem normal e um bem inferior mencionado nesse caso. Cite exemplos de efeitos substituição e renda provenientes desse caso. 2. Para induzir os clientes de fast-food a comer refeições mais saudáveis, que alternativas existem para a proibição? Você acha que essas alternativas funcionam? Por quê? 3. O que você acha que contribui para o sucesso do McDonald’s? Relacione isso com os conceitos discutidos neste capítulo. • RESUMO 1. Os consumidores maximizam uma medida de satisfação chamada utilidade. Cada consumidor tem uma função utilidade que determina o nível total de utilidade do seu pacote de consumo, os bens e serviços que são consumidos. Para medir a utilidade usa-se uma unidade hipotética chamados util. 2. A utilidade marginal de um bem ou serviço é a utilidade adicional gerada pelo consumo de uma unidade a mais desse bem ou serviço. Supõe-se que geralmente seja válido o princípio da utilidade marginal decrescente: o consumo de uma unidade extra de um bem ou serviço gera menos utilidade adicional que a unidade anterior. Em decorrência, a curva de utilidade marginal se inclina para baixo. 3. A restrição orçamentária limita o gasto do consumidor para que não possa ser superior à sua renda. Ele define as possibilidades de consumo, o conjunto de todos os pacotes de consumo a preços acessíveis. Um consumidor que gasta toda a renda vai escolher um pacote de consumo sobre sua linha do orçamento. Um indivíduo escolhe o pacote de consumo que maximiza a utilidade total, o pacote de consumo ótimo. 4. Usamos análise marginal para encontrar o pacote de consumo ótimo, analisando como se deve alocar o dólar marginal (ou qualquer outra unidade de moeda). De acordo com o princípio de análise marginal de maximizar a utilidade, ao pacote de consumo ótimo, a utilidade marginal por dólar gasto com cada bem ou serviço – a utilidade marginal de um bem dividido pelo seu preço – é a mesma. 5. As variações no preço de um bem afetam a quantidade consumida de duas maneiras: efeito substituição e efeito renda. A maioria dos bens absorve apenas uma pequena parcela do gasto do consumidor; para esses bens, apenas o efeito substituição é significativo, isto é, compra-se menos do bem que se tornou relativamente mais caro e mais do bem que se tornou relativamente mais barato. Isso faz as curvas de demanda individuais de mercado terem inclinação para baixo. Quando um bem absorve grande fração do gasto, o efeito renda também se torna significativo: um aumento no preço de um bem torna o consumidor mais pobre, mas a queda no preço torna o consumidor mais rico. Essa variação no poder de compra faz os consumidores demandarem mais ou menos de um bem, dependendo se o bem é normal ou inferior. Para os bens normais, o efeito renda e substituição se reforçam mutuamente. No entanto, para os bens inferiores,

funcionam em direção oposta. A curva da demanda de um bem de Giffen se inclina para cima, porque é um bem inferior, em que o efeito renda supera o efeito substituição. No entanto, os dados nunca confirmaram a existência de um bem de Giffen.

• PALAVRAS-CHAVE Utilidade, p. 230 Pacote de consumo, p. 230 Função utilidade, p. 230 Util, p. 230 Utilidade marginal, p. 230 Curva de utilidade marginal, p. 230 Princípio da utilidade marginal decrescente, p. 231 Restrição orçamentária, p. 233 Possibilidades de consumo, p. 233 Linha do orçamento, p. 233 Pacote de consumo ótimo, p. 234 Utilidade marginal por dólar, p. 236 Princípio de análise marginal de maximizar a utilidade, p. 239 Efeito substituição, p. 240 Efeito renda, p. 241 Bem de Giffen, p. 241

• PROBLEMAS 1. Para cada uma das seguintes situações, decida se Al tem utilidade marginal crescente, constante ou decrescente. a. Quanto mais aulas de economia Al assiste, mais gosta do assunto. E quanto mais aulas assiste, mais fácil ficam as aulas, fazendo-o gostar de cada aula adicional mais do que da anterior.

b. Al gosta de música alta. Na verdade, segundo ele, “quanto mais alto, melhor”. Cada vez que aumenta um pouco o volume, acrescenta cinco utils à sua utilidade total. c. Al gosta de assistir reprises do seriado Friends na televisão. Alega que episódios antigos são sempre engraçados, mas admite que, quanto mais vê um episódio, menos engraçado se torna. d. Al adora marshmallows. No entanto, quanto mais come, mais saciado fica e menos agradável acha o doce adicional. Há um ponto em que fica saciado: além desse ponto, mais marshmallows realmente o fazem sentir-se pior. 2. Use o conceito de utilidade marginal para explicar o seguinte: as máquinas automáticas de vender jornal são projetadas de tal modo que, quando se paga por um jornal, pode–se pegar mais de um jornal de cada vez. Mas as máquinas de vender refrigerante, com o pagamento, soltam apenas um por vez. 3. Brenda gosta de pãozinho e café para o café da manhã. A tabela a seguir mostra a utilidade total de Brenda de vários pacotes de consumo de pãozinho e café. Quantidade de pãezinhos

Quantidade de café (xícaras)

Utilidade total (utils)

0

0

0

0

2

28

0

4

40

1

2

48

1

3

54

2

0

28

2

2

56

3

1

54

3

2

62

4

0

40

4

2

66

Suponha que Brenda saiba com certeza que irá consumir duas xícaras de café. No entanto, ela pode optar em consumir quantidades diferentes de pãezinhos: ela pode escolher 0, 1, 2, ou 4 pãezinhos. a. Calcule a utilidade marginal de Brenda ao consumir pãezinhos quando ela passa de 0 para 1, de 1 para 2, de 2 para 3 e de 3 para 4.

b. Trace a curva da utilidade marginal de Brenda para o pão. Brenda tem utilidade marginal crescente, decrescente ou constante? 4. Brenda, consumidora do Problema 3, precisa agora tomar uma decisão sobre quantos pãezinhos comer e quantas xícaras de café tomar no café da manhã. Ela tem $8 de renda para gastar em pãezinhos e café. Use a informação dada na tabela do Problema 3 para responder às seguintes perguntas: a. O pão custa $2 a unidade e a xícara de café custa $2. Que pacotes estão na linha do orçamento de Brenda? Para cada um desses pacotes, calcule o nível de utilidade (em utils) que Brenda gosta. Qual é o seu pacote ótimo? b. O preço do pão aumentou para $4, mas o preço do café permaneceu em $2 a xícara. Que pacotes estão agora na linha do orçamento de Brenda? Para cada pacote, calcule o nível de utilidade de Brenda (em utils). Qual é o seu pacote ótimo? c. O que implica as respostas das partes A e B sobre a inclinação da curva da demanda de Brenda para pãezinhos? Descreva o efeito substituição e o efeito renda desse aumento no preço dos pãezinhos, supondo que os pãezinhos são um bem normal. 5. Bruno pode gastar sua renda com dois bens diferentes: CDs de Beyoncé e cadernos para anotar suas notas. Para cada uma das três situações seguintes, decida se o pacote de consumo dado está dentro das possibilidades de consumo de Bruno. Verifique, então, se está ou não na linha do orçamento. a. CDs custam $10 cada, e cadernos custam $2. Bruno tem uma renda de $60. Está considerando o consumo de um pacote de 3 CDs e 15 cadernos de notas. b. CDs custam $10 cada, e os cadernos custam $5 cada. Bruno tem uma renda de $110. Está considerando o consumo de um pacote de 3 CDs e 10 cadernos de notas. c. CDs custam $20 cada e os cadernos custam $10 cada. Bruno tem uma renda de $50. Está considerando o consumo de um pacote de 2 CDs e 2 cadernos de notas. 6. Bruno, o consumidor do Problema 5, é o melhor amigo de Bernie, que compartilha seu amor por cadernos e CDs da Beyoncé. A tabela a seguir mostra a utilidade que Bernie obtém de cadernos e CDs da Beyoncé. O preço de um caderno é $5, o preço de um CD é $10 e Bernie tem $50 de renda para gastar.

Quantidade de cadernos

Utilidade dos cadernos (utils)

Quantidade de CDs

Utilidade dos CDs (utils)

0

0

0

0

2

70

1

80

4

130

2

150

6

180

3

210

8

220

4

260

10

250

5

300

a. Que pacotes de consumo de cadernos e de CDs Bernie pode consumir se gasta toda a sua renda? Trace a linha do orçamento de Bernie, com CDs no eixo horizontal e cadernos no eixo vertical. b. Calcule a utilidade marginal de cada caderno e de cada CD. Em seguida, calcule a utilidade marginal por dólar gasto em cadernos e a utilidade marginal por dólar gasto em CDs. c. Trace um gráfico semelhante ao da Figura 10-4, em que tanto a utilidade marginal por dólar gasto em cadernos como a utilidade marginal por dólar gasto em CDs estejam ilustrados. Usando esse gráfico e o princípio da análise marginal de maximizar a utilidade, preveja que pacote – de todos os pacotes na linha do orçamento – Bernie vai escolher. 7. Para cada uma das seguintes situações, decida se o pacote que Lakshani pretende consumir é ótimo ou não. Se não é ótimo, como Lakshani poderia melhorar seu nível geral de utilidade? Ou seja, determine em que bem deve gastar mais e em que bem deve gastar menos. a. Lakshani tem $200 para gastar em tênis e camisetas. Os tênis custam $50 e as camisetas custam $20 cada. Ela está pensando em comprar dois pares de tênis e cinco camisetas. Ela diz para sua amiga que a utilidade adicional que teria com o segundo par de tênis é a mesma que a utilidade adicional que teria comprando a quinta camiseta. b. Lakshani tem $5 para gastar em canetas e lápis. Cada caneta custa $0,50 e cada lápis custa $0,10. Ela está pensando em comprar 6 canetas e 20 lápis. A última caneta acrescentaria cinco vezes mais à sua utilidade total que o último lápis. c. Lakshani tem $50 por temporada para gastar com ingressos para jogos de futebol e ingressos para jogos de futebol americano. Cada ingresso de futebol americano custa $10 e cada ingresso de futebol custa $5. Ela está pensando em comprar três ingressos para o futebol americano e dois ingressos para futebol. Sua utilidade marginal obtida no terceiro ingresso do futebol americano é o dobro da utilidade marginal do segundo ingresso de futebol.

8. Cal “Cool” Cooper tem $200 para gastar em celulares e óculos de sol. a. Cada celular custa $100 e cada óculos custa $50. Quais pacotes estão na linha do orçamento de Cal? Trace um gráfico semelhante ao da Figura 10-4, que ilustre tanto a utilidade marginal por dólar gasto em celulares como a utilidade marginal por dólar gasto em óculos de sol. Use esse gráfico e a regra do consumo ótimo para decidir como Cal deve alocar o dinheiro. Ou seja, de todos os pacotes na linha do orçamento, que pacote Cal escolherá? A tabela a seguir apresenta a utilidade de celulares e óculos de sol.

Quantidade de celulares

Utilidade de celulares (utils)

Quantidade de óculos de sol (pares)

Utilidade de óculos de sol (utils)

0

0

0

0

1

400

2

600

2

700

4

700

b. O preço dos celulares cai para $50 cada, mas o preço dos óculos de sol permanece $50. Quais pacotes estão na linha do orçamento de Cal? Trace um gráfico semelhante ao da Figura 10-4 que ilustre tanto a utilidade marginal por dólar gasto em celulares quanto a utilidade marginal por dólar gasto em óculos de sol. Use esse gráfico e o princípio da análise marginal de maximizar a utilidade para decidir como Cal deve alocar o dinheiro. Ou seja, de todos os pacotes na sua linha do orçamento, qual é o pacote que Cal escolherá? A tabela a seguir apresenta sua utilidade de celulares e óculos de sol.

Quantidade de celulares

c.

Utilidade de celulares (utils)

Quantidade de óculos de sol (pares)

Utilidade de óculos de sol (utils)

0

0

0

0

1

400

1

325

2

700

2

600

3

900

3

825

4

1.000

4

700

Como o consumo de celulares de Cal muda quando o preço dos celulares cai? Em outras palavras, descreva o efeito renda e o efeito substituição dessa queda no preço dos celulares, supondo que os celulares sejam um bem normal.

9. Damien Matthews é um ator ocupado. Ele aloca o tempo livre vendo filmes e malhando na academia. A tabela a seguir apresenta sua utilidade do número de vezes por semana que ele assiste filmes ou vai para a academia. Damien tem 14 horas por semana para gastar assistindo filmes ou indo à academia. Cada filme leva duas horas e cada visita à academia leva duas horas. (Dica: O tempo livre de Damien é análogo à renda que ele pode gastar. As horas necessárias para cada atividade são análogas ao preço dessa atividade.) Quantidade de visitas à academia por semana

Utilidade das visitas à academia (utils)

Quantidade de filmes por semana

Utilidade dos filmes (utils)

1

100

1

60

2

180

2

110

3

240

3

150

4

280

4

180

5

310

5

190

6

330

6

195

7

340

7

197

a. Que pacotes de visitas à academia e de filmes Damien pode consumir por semana se gasta todo o tempo indo à academia ou assistindo filmes? Trace a linha do orçamento de Damien em um gráfico com visitas à academia no eixo horizontal e filmes no eixo vertical. b. Calcule a utilidade marginal de cada visita à academia e a utilidade marginal de cada filme. Em seguida, calcule a utilidade marginal por hora gasta na academia e a utilidade marginal por hora gasta assistindo filmes. c. Trace um gráfico semelhante ao da Figura 10-4, em que se mostre a utilidade marginal por hora gasta na academia e a utilidade marginal por hora gasta assistindo filmes. Use esse gráfico e o princípio da análise marginal de maximizar a utilidade para decidir como Damien deve alocar seu tempo. 10. Anna Jenniferson é uma atriz que atualmente passa várias horas por semana assistindo filmes e indo à academia. Nos preparativos para um novo filme, conhece Damien, o consumidor no Problema 9. Ela conta que prefere assistir filmes a ir à academia. De fato, ela diz que se tivesse que desistir de ver um filme, teria que ir para a academia duas vezes para compensar a perda de utilidade de não ver o filme. Um filme demora duas horas, assim como a visita à academia. Damien diz a Anna que não está assistindo filmes o suficiente. Ele está certo?

11. Sven é um estudante pobre que cobre a maior parte de suas necessidades alimentares comendo cereal matinal barato, uma vez que contém a maioria das vitaminas importantes. À medida que o preço do cereal aumenta, decide comprar ainda menos de outros alimentos e ainda mais cereal para manter sua ingestão de nutrientes importantes. Isso transforma o cereal em um bem de Giffen para Sven. Descreva em palavras o efeito substituição e o efeito renda desse aumento no preço do cereal. Em que sentido se move cada um dos efeitos e por quê? O que isso implica para a inclinação da curva da demanda de cereal de Sven? 12. Em cada uma das situações seguintes, descreva o efeito substituição e, se for significativo, o efeito renda. Em que sentido se move cada um desses efeitos? Por quê? a. Ed gasta grande parte da renda com a educação de seus filhos. Como a mensalidade aumentou, um de seus filhos tem de deixar a faculdade. b. Homer gasta a maior parte da renda mensal na amortização de um empréstimo imobiliário. O juro desse empréstimo de taxa variável cai, reduzindo os pagamentos do empréstimo, e Homer decide mudar para uma casa maior. c. Pam acha que Spam, uma marca de presunto enlatado, é um bem inferior. No entanto, à medida que o preço aumenta, ela decide comprar menos. 13. Refeições em restaurantes e moradia (medida em número de quartos) são os dois únicos bens que Neha compra. Ela tem renda de $1.000. Inicialmente, compra um pacote de consumo tal que ela gasta exatamente metade de sua renda com refeições em restaurantes e a outra metade com moradia. Então, sua renda aumenta 50%, mas o preço dos restaurantes aumenta 100% (dobra). O preço da moradia permanece o mesmo. Após essas mudanças, se quisesse, Neha ainda poderia comprar o mesmo pacote de consumo que antes? 14. Scott verifica que quanto mais alto o preço do suco de laranja, tanto mais dinheiro gasta com suco de laranja. Será que ele descobriu um bem de Giffen? 15. A utilidade marginal de Margo de uma aula de dança é 100 utils por aula. Sua utilidade marginal de um novo par de sapatos de dança é 300 utils por par. O preço de uma aula de dança é $50 por aula. Atualmente, ela gasta toda o sua renda, e compra seu pacote de consumo ótimo. Qual é o preço de um par de sapatos de dança? 16. De acordo com dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos, o preço médio de varejo da gasolina comum aumentou de $1,16 em 1990 para $2,79 em 2010, um aumento de 140%. a. Tudo o mais mantido constante, descreva o efeito desse aumento de preço sobre a quantidade demandada de gasolina. Em sua explicação, use o princípio da análise marginal de maximizar a utilidade e descreva os efeitos renda e substituição. Na verdade, porém, tudo o mais não permaneceu constante. Durante o mesmo período, o preço de outros bens e serviços também subiram. De acordo com dados do Bureau of Labor Statistics, o preço global de um

pacote de bens e serviços consumidos por um consumidor médio aumentou 63%. b. Levando em conta o aumento do preço da gasolina e dos preços em geral, e tudo o mais mantido constante, descreva o efeito sobre a quantidade demandada de gasolina. No entanto, esse ainda não é o fim da história. Entre 1990 e 2010, a renda nominal do consumidor típico também aumentou: conforme o U.S. Census Bureau informou que a renda nominal média familiar nos Estados Unidos subiu de $29.943 em 1990 para $49.445 em 2010, um aumento de 65%. c. Levando em conta o aumento do preço da gasolina, em preços globais, e na renda do consumidor, descreva o efeito sobre a quantidade de gasolina demandada.

www.worthpublishers.com/krugmanwells

 

» Capítulo 10 Apêndice Preferências e escolhas do consumidor

Pessoas diferentes têm preferências diferentes. Mas mesmo considerando as preferências individuais, pode haver pacotes de consumo diferentes – combinações diferentes de bens e serviços que um indivíduo consome – que produzem a mesma utilidade total. Essa percepção leva ao conceito de curva de indiferença, uma forma útil de representar as preferências individuais. Neste apêndice, vamos analisar de perto as curvas de indiferença. Além disso, a utilidade total de um indivíduo depende não apenas da renda, mas também dos preços – e tanto a renda como os preços afetam as escolhas do consumidor. Vamos aplicar essa análise mais completa da escolha do consumidor para a distinção importante entre complementos e substitutos. Ao final, usaremos essa percepção para continuar analisando os efeitos renda e substituição que discutimos brevemente no Capítulo 10. Vamos começar pelas curvas de indiferença.

O MAPA DA FUNÇÃO UTILIDADE No Capítulo 10, introduzimos o conceito da função utilidade que determina a utilidade total do consumidor, dado o seu pacote de consumo. Na Figura 10-1, vimos como a utilidade total de Cassie mudava ao modificarmos a quantidade de mexilhão frito consumido, mantendo fixas as quantidades de outros itens do pacote. Isto é, na Figura 10-1 mostramos como a utilidade total variava à medida que o consumo de apenas um bem variava. Mas, no Capítulo 10, a partir do exemplo de Sammy, também aprendemos que a busca do pacote de consumo ótimo envolve o problema

de como alocar o último dólar gasto entre dois bens, mexilhão e batata. Neste apêndice, vamos estender a análise, aprendendo como expressar a utilidade total em função do consumo de dois bens. Dessa forma, vamos aprofundar o entendimento do trade-off envolvido na escolha do pacote de consumo ótimo e como o próprio pacote de consumo ótimo varia em resposta à variação nos preços dos bens. Para fazer isso, passamos a uma forma diferente de representar a função utilidade do consumidor com base no conceito de curvas de indiferença. Curvas de indiferença

Ingrid é uma consumidora que compra apenas dois bens: moradia, medida em número de quartos e refeições em restaurantes. Como podemos representar sua função utilidade de forma que leve em consideração o consumo de ambos os bens? FIGURA 10A-1 Função utilidade de Ingrid

O morro tridimensional mostra como a utilidade total de Ingrid depende do seu consumo de moradia e refeições em restaurantes. O ponto A corresponde ao consumo de três quartos e 30 refeições em restaurante. Esse pacote de consumo gera para Ingrid 450 utils, correspondendo à altura do morro no ponto A. As linhas ao redor do

morro são linhas de contorno ao longo das quais a altura é constante. Assim, todos os pontos em determinada linha de contorno geram a mesma utilidade.

Uma das maneiras é traçar um gráfico tridimensional. A Figura 10A-1 mostra um “morro de utilidade”. A distância ao longo do eixo horizontal mede a quantidade de moradias que Ingrid consome em termos de número de quartos; a distância ao longo do eixo vertical mede o número de refeições que ela consome em restaurantes. A altitude ou altura do morro em cada ponto é indicada por uma linha de contorno, ao longo da qual a altura do morro é constante. Por exemplo, o ponto A, que corresponde a um pacote de consumo de três quartos e 30 refeições em restaurante, está em uma linha de contorno indicada por 450. Assim, a utilidade total que Ingrid recebe de três quartos e 30 refeições em restaurante é 450 utils. Um gráfico tridimensional como o da Figura 10A-1 nos ajuda a pensar sobre a relação entre pacotes de consumo e utilidade total. Mas quem já usou um mapa topográfico para praticar alpinismo sabe que é possível representar uma superfície tridimensional em apenas duas dimensões. Um mapa topográfico não oferece uma visão tridimensional do terreno, em vez disso, informa sobre altitudes unicamente por meio do uso de linhas de contorno. O mesmo princípio pode ser aplicado para representar a função utilidade. Na Figura 10A-2, o consumo de quartos de Ingrid é medido no eixo horizontal e o consumo de refeições em restaurante, no eixo vertical. Aqui a curva corresponde à linha de contorno da Figura 10A-1, e foi traçada a uma utilidade total de 450 utils. Essa curva mostra todos os pacotes de consumo que produzem utilidade total de 450 utils. Um ponto nessa linha de contorno é A, um pacote de consumo composto de três quartos e 30 refeições em restaurante. Outro ponto na linha de contorno é B, um pacote de consumo consiste de 6 quartos, mas apenas 15 refeições em restaurante. Como o ponto B também se encontra na linha de contorno, gera para Ingrid a mesma utilidade total que A, 450 utils. Dizemos que Ingrid é indiferente entre A e B: como A e B geram o mesmo nível de utilidade total, Ingrid fica igualmente bem com os dois pacotes. Uma linha de contorno que mapeia pacotes de consumo que produzem a mesma quantidade de utilidade total é conhecida como curva de

indiferença. Um indivíduo fica sempre indiferente entre dois pacotes que se encontram na mesma curva de indiferença. Para determinado consumidor, existe uma curva de indiferença correspondente a cada nível possível de utilidade total. Por exemplo, a curva de indiferença da Figura 10A-2 mostra pacotes de consumo que geram 450 utils para Ingrid. Curvas de indiferença diferentes mostrariam pacotes de consumo que geram 400 utils, 500 utils e assim por diante para Ingrid. Uma coleção de curvas de indiferença que representam toda a função utilidade de determinado consumidor, em que cada curva de indiferença corresponde a um nível diferente de utilidade total, é conhecida como mapa das curvas de indiferença. A Figura 10A-3 mostra três curvas de indiferença, I1, I2, e I3 – do mapa das curvas de indiferença de Ingrid, assim como vários pacotes de consumo, A, B, C e D. A tabela da figura enumera cada pacote, sua composição em quartos e refeições em restaurantes e a utilidade total que cada pacote gera. Como os pacotes A e B geram o mesmo número de utils, 450, eles se encontram na mesma curva de indiferença, I2. Apesar de Ingrid ser indiferente entre A e B, certamente não é indiferente entre A e C: como se depreende da tabela, C gera apenas 391 utils, uma utilidade mais baixa que A e B. Então Ingrid prefere os pacotes de consumo A e B ao pacote C. Isso é representado pelo fato de C estar na curva de indiferença I1 e I1 situar-se abaixo de I2. Porém, o pacote D gera 519 utils, uma utilidade total superior a A e B. Está em I3, uma curva de indiferença que se situa acima de I2. Claramente, Ingrid prefere D a A ou B. E, mais ainda, prefere D a C. FIGURA 10A-2 Curva de indiferença

Uma curva de indiferença é uma linha de contorno ao longo da qual a utilidade total é constante. Nesse caso, mostramos todos os pacotes de consumo que geram para Ingrid 450 utils. O pacote de consumo A, que consiste de três quartos e 30 refeições em restaurante, gera a mesma utilidade total que o pacote B, que consiste de 6 quartos e 15 refeições em restaurante. Ou seja, Ingrid é indiferente entre os pacotes A e B.

FIGURA 10A-3 Mapa de uma curva de indiferença

A função utilidade pode ser representada em maior detalhe através do aumento do número de curvas de indiferença traçadas, cada uma correspondendo a um nível diferente de utilidade total. Nessa figura, o pacote C situa-se em uma curva de indiferença que corresponde a uma utilidade total de 391 utils. Como na Figura 10A-2, os pacotes A e B situam-se em uma curva de indiferença que corresponde a uma utilidade total de 450 utils. O pacote D situa-se em uma curva de indiferença que corresponde a uma utilidade total de 519 utils. Ingrid prefere qualquer pacote em I2 a qualquer pacote em I1 e prefere qualquer pacote em I3 a qualquer pacote em I2.

Propriedades das curvas de indiferença

Não existem duas pessoas com o mesmo mapa de curva de indiferença porque não existem duas pessoas com as mesmas preferências. Mas os economistas acreditam que todo e qualquer mapa de indiferença tenha duas propriedades gerais, conforme ilustrado no painel (a) da Figura 10A-4: Curvas de indiferença nunca se cruzam. Suponha que tenhamos tentado traçar um mapa de curva de indiferença como o que aparece no gráfico à esquerda no painel (a), em que duas curvas de indiferença cruzam no ponto A. Qual é a utilidade total no ponto A? É 100 ou 200 utils? Curvas de indiferença não podem cruzar porque cada pacote de consumo deve corresponder a um único nível de utilidade total, e não, como mostrado em A, a dois níveis diferentes de utilidade total.

Quanto mais para fora esteja situada uma curva de indiferença – mais distante da origem – mais elevado o nível de utilidade total ela indica. O motivo, ilustrado no gráfico à direita no painel (a), é que pressupomos que mais seja melhor – consideramos apenas os pacotes de consumo para os quais o consumidor não esteja saciado. O pacote B, na curva de indiferença mais distante da origem, contém mais de ambos os bens do que o pacote A, na curva de indiferença mais perto da origem. Assim, B gera um nível de utilidade total mais alto (200 utils) e, portanto, situa-se em uma curva de indiferença mais elevada que A. Além disso, os economistas acreditam que, para a maioria dos bens, os mapas de curva de indiferença dos consumidores têm mais duas propriedades adicionais. Elas estão ilustradas no painel (b) da Figura 10A-4: Curvas de indiferença têm inclinação para baixo. Aqui, também, a razão é que mais é melhor. O gráfico à esquerda no painel (b) mostra quatro pacotes de consumo na mesma curva de indiferença: W, X, Y e Z. Por definição, esses pacotes de consumo geram o mesmo nível de utilidade total. Mas à medida que se move ao longo da curva para a direita, de W para Z, a quantidade de quartos consumidos aumenta. A única maneira de uma pessoa consumir mais quartos sem ganhar mais utilidade é renunciando a algumas refeições em restaurante. Assim, a curva de indiferença tem de ter inclinação para baixo. Curvas de indiferença são convexas. O gráfico à direita no painel (b) mostra que a inclinação da curva de indiferença muda à medida que se move para baixo na curva e para a direita: a curva fica mais achatada. Ao mover para cima em uma curva de indiferença e para a esquerda, a curva fica mais inclinada. Assim, a curva de indiferença tem inclinação maior em A do que em B. Quando isso ocorre, dizemos que a curva de indiferença tem forma convexa – o arco vai em direção à origem. Essa característica decorre da utilidade marginal decrescente, um princípio discutido no Capítulo 10. Lembre-se de que quando um consumidor tem utilidade marginal decrescente, o consumo de outra unidade de um bem gera um aumento menor na utilidade total que a unidade anterior consumida. Na próxima seção, examinaremos em detalhes como a

utilidade marginal decrescente dá origem a curvas de indiferença de forma convexa. FIGURA 10A-4 Propriedades das curvas de indiferença

O painel (a) representa duas propriedades gerais de todos os mapas de curvas de indiferença. O gráfico à esquerda mostra por que curvas de indiferença não podem cruzar: se o fizessem, um pacote de consumo, como A, geraria 100 utils e ao mesmo tempo 200 utils, uma contradição. O gráfico direito do painel (a) mostra que curvas de indiferença situadas mais para fora geram utilidade total mais alta: o pacote B, que contém mais de ambos os bens do que o pacote A, gera utilidade total mais alta. O painel (b) descreve duas propriedades adicionais das curvas de indiferença para bens ordinários. O gráfico à esquerda do painel (b) mostra que as curvas de indiferença têm inclinação para baixo: quando se move do pacote W para o pacote Z na curva, o consumo de quartos aumenta. Para manter a utilidade total constante, é preciso compensar com redução na quantidade de refeições em restaurantes. O gráfico à direita do painel (b) mostra uma curva de indiferença convexa. A inclinação da curva de indiferença fica mais achatada à medida que se move sobre a curva para baixo e à direita, uma característica decorrente da utilidade marginal decrescente.

Bens que satisfazem todas as quatro propriedades dos mapas de curva de indiferença são denominados bens ordinários. A grande maioria dos bens em qualquer função utilidade do consumidor se enquadra nessa categoria. Na próxima seção, definiremos bens ordinários e veremos o papel essencial que a utilidade marginal decrescente desempenha em relação a eles.

CURVAS DE INDIFERENÇA E ESCOLHA DO CONSUMIDOR No início da seção anterior, usamos curvas de indiferença para representar as preferências de Ingrid, cujos pacotes de consumo consistem de quartos e refeições em restaurantes. O próximo passo é mostrar como usar o mapa das curvas de indiferença de Ingrid para encontrar o pacote de consumo que maximiza sua utilidade, dada a restrição orçamentária, fato pelo qual ela deve escolher um pacote de consumo que não custe mais do que sua renda total. É importante entender como a nossa análise se relaciona com a que fizemos no Capítulo 10. Neste apêndice, não estamos propondo uma nova teoria de comportamento do consumidor – como no Capítulo 10, supomos que os consumidores maximizam a utilidade total. Em particular, sabemos que os consumidores seguem a regra de consumo ótimo do Capítulo 10: o pacote de consumo ótimo se situa na linha do orçamento, e a utilidade marginal por dólar é a mesma para cada bem no pacote. Mas, como veremos em breve, podemos derivar esse comportamento ótimo do consumidor de uma maneira um pouco diferente – uma maneira que gera percepções mais profundas na escolha do consumidor. Taxa marginal de substituição

O primeiro elemento da nossa abordagem é um conceito novo, taxa marginal de substituição. A essência desse conceito está ilustrada na Figura 10A-5. Lembre-se da seção anterior em que, para a maioria dos bens, as curvas de indiferença do consumidor têm inclinação para baixo e são convexas. A Figura 10A-5 mostra uma dessas curvas de indiferença. Os pontos indicados

V, W, X, Y e Z estão nessa curva de indiferença, ou seja, representam pacotes de consumo que geram o mesmo nível de utilidade total para Ingrid. A tabela da figura a seguir mostra os componentes de cada um dos pacotes. À medida que nos movemos ao longo da curva de indiferença de V a Z, o consumo de moradia de Ingrid aumenta progressivamente de dois para seis quartos, seu consumo de refeições em restaurante diminui progressivamente de 30 para 10 refeições, mas sua utilidade total se mantém constante. Quando nos movemos para baixo ao longo da curva de indiferença, Ingrid está trocando mais de um bem por menos do outro, sendo que os termos desse trade-off (a proporção entre quartos adicionais consumidos e refeições em restaurantes renunciadas) vão sendo escolhidos para manter sua utilidade total constante. Observe que a quantidade de refeições em restaurantes a que Ingrid está disposta a renunciar em troca de um quarto adicional muda ao longo da curva de indiferença. À medida que nos movemos de V para W, o gasto em moradia aumenta de dois para três quartos, e o consumo de refeição em restaurante cai de 30 para 20, um trade-off de 10 refeições em restaurante por um quarto adicional. Mas à medida que nos movemos de Y para Z, o consumo de moradia aumenta de cinco para seis quartos e o consumo de refeição em restaurante cai de 12 para 10, um trade-offde apenas duas refeições em restaurante por um quarto adicional. FIGURA 10A-5 Variação na inclinação de uma curva de indiferença

Essa curva de indiferença tem inclinação para baixo e é convexa, o que implica que refeições em restaurantes e quartos são bens ordinários para Ingrid. À medida que Ingrid se move para baixo em sua curva de indiferença de V a Z, ela troca cada vez menos refeições em restaurantes por cada vez mais consumo das moradias. No entanto, os termos desse trade-off muda. À medida que ela se move de V para W, está disposta a desistir de 10 refeições no restaurante, em troca de mais um quarto. Como seu consumo de quartos sobe e seu consumo de refeições no restaurante cai, ela está disposta a desistir de menos refeições em restaurante, em troca de cada quarto adicional. O achatamento da inclinação quando se move da esquerda para a direita deriva da utilidade marginal decrescente.

Em termos de inclinação, a inclinação da curva de indiferença entre V e W é −10: a variação no consumo de refeição em restaurante, −10, dividido pela variação no consumo de moradia, um. Da mesma forma, a inclinação da curva de indiferença entre Y e Z é −2. Assim, a curva de indiferença se torna mais achatada à medida que nos movemos para a direita, isto é, ela tem uma forma convexa, uma das quatro propriedades da curva de indiferença para os bens ordinários. Por que o trade-off muda dessa forma? Vamos pensar sobre isso de forma intuitiva, em seguida, analisar com mais cuidado. Quando Ingrid se move para baixo na curva de indiferença, seja de V para W ou de Y para Z, ela ganha utilidade de seu consumo adicional de moradia, mas perde um montante igual de utilidade por ter reduzido o consumo de refeições em restaurante. Mas, a cada etapa, a posição inicial a partir da qual Ingrid começa a troca é diferente. Em V, Ingrid consome apenas pequena quantidade de quartos, de modo que, por causa da utilidade marginal decrescente, sua utilidade marginal por quarto nesse momento é alta. Em V, então, um quarto adicional acrescenta muito à utilidade total de Ingrid. Mas em V ela já consome uma grande quantidade de refeições no restaurante, por isso sua utilidade marginal de refeições em restaurante é baixa nesse ponto. Isso significa que é preciso uma grande redução na quantidade de refeições consumidas em restaurante para compensar o aumento da utilidade que obtém de um quarto extra de moradia. Em Y, ao contrário, Ingrid consome uma quantidade muito maior de quartos e muito menor de refeições em restaurante do que em V. Isso significa que um quarto adicional acrescenta menos utils, e uma refeição em restaurante à qual ela renuncia subtrai muito mais utils do que em V. Então,

Ingrid está disposta a renunciar a uma quantidade menor de refeições em restaurante em troca de mais um quarto de moradia em Y (renunciando a duas refeições por um quarto) do que em V (renunciando a dez refeições por um quarto). Agora expressemos a mesma ideia – de que o trade-off que Ingrid está disposta a fazer depende de a partir de onde ela está começando – usando um pouco de matemática. Fazemos isso por meio da análise de como a inclinação da curva de indiferença varia à medida que avançamos para baixo. O movimento para baixo na curva de indiferença – a redução do consumo de refeição em restaurante e o aumento do consumo de moradia – vai produzir dois efeitos opostos sobre a utilidade total de Ingrid: o menor consumo de refeição em restaurante reduzirá a utilidade total, mas o maior consumo de moradia aumentará a utilidade total. E já que estamos movendo para baixo na curva de indiferença, esses dois efeitos devem-se eliminar mutuamente: Ao longo da curva de indiferença: (10A–1) (Variação na utilidade total em virtude do menor consumo de refeição em restaurante) + (Variação na utilidade total em decorrência de maior consumo de moradia) = 0

ou, rearranjando os termos, Ao longo da curva de indiferença: (10A–2) – (Variação na utilidade total decorrente do menor consumo de refeição em restaurante) = (Variação na utilidade total decorrente do maior consumo de moradia)

Vamos agora nos concentrar sobre o que acontece à medida que avançamos apenas uma distância curta abaixo da curva de indiferença, trocando um pequeno aumento no consumo de moradia em lugar de um pequeno decréscimo no consumo de refeição em restaurante. Seguindo a notação do Capítulo 10, vamos usar MUR e MUM para representar a utilidade marginal de quartos e refeições em restaurantes, respectivamente, e ΔQR e ΔQM para representar as variações no consumo de quarto e refeição, respectivamente. Em geral, a variação na utilidade total causada por uma

pequena variação no consumo de um bem é igual à variação no consumo multiplicado pela utilidade marginal desse bem. Isto significa que se pode calcular a variação na utilidade total de Ingrid gerada por uma variação no seu pacote de consumo usando as seguintes equações: (10A-3) Variação na utilidade total em virtude de uma variação no consumo de refeição em restaurante = MUM × ΔQM

e (10A-4) Variação na utilidade total em virtude da variação no consumo de moradia = MUR × ΔQR

Assim, podemos escrever a Equação 10A-2 simbolicamente como: (10A-5) Ao longo da curva de indiferença: −MUM × ΔQM = MUR × ΔQR

Observe que o termo esquerdo da Equação 10A-5 tem sinal de menos, que representa a perda de utilidade total da redução no consumo de refeição em restaurante. Isso deve ser igual ao ganho de utilidade total do aumento do consumo de quartos, representado pelo termo direito da equação. Queremos saber como isso se traduz pela inclinação da curva de indiferença. Para encontrar a inclinação, dividimos ambos os lados da Equação 10A-5 por ΔQR, e novamente por MUM, para que os termos ΔQM e ΔQR fiquem de um lado e os termos MUM e MUR, de outro lado. Isso resulta em:

O lado esquerdo da Equação 10A-6 é a inclinação da curva de indiferença, é a taxa pela qual Ingrid está disposta a trocar uma quantidade maior de quartos (o bem no eixo horizontal) em lugar de refeições em restaurante (o bem no eixo vertical), sem alterar seu nível de utilidade total. O lado direito da Equação 10A-6 é a razão entre a utilidade marginal de quartos e a utilidade marginal de refeições em restaurante com sinal de menos – isto é, a razão entre o que ganha com mais um quarto e o que ganha com mais uma refeição.

Juntando tudo isso, vemos que a Equação 10A-6 mostra que, ao longo da curva de indiferença, a quantidade de refeições em restaurante à qual Ingrid está disposta a renunciar em troca de um quarto, ΔQM/ ΔQR, é exatamente igual à razão entre a utilidade marginal de um quarto e a utilidade marginal de uma refeição, −MUR/MUM. Somente quando essa condição é satisfeita seu nível de utilidade total permanece constante à medida que ela consome mais quartos e menos refeições em restaurantes. Os economistas têm um nome especial para a relação entre a utilidade marginal encontrada ao lado direito da Equação 10A-6: taxa marginal de substituição, ou TMS, de quartos (o bem no eixo horizontal) em lugar de refeições em restaurante (o bem no eixo vertical). Isso porque, à medida que se desliza para baixo na curva de indiferença de Ingrid, estamos substituindo mais quartos em lugar de menos refeições em restaurante no seu pacote de consumo. Como veremos em breve, a taxa marginal de substituição desempenha um papel importante para encontrar a pacote de consumo ótimo. Lembre-se de que as curvas de indiferença tornam-se mais planas ao movê-las para baixo à direita. A razão, como já discutimos, é a utilidade marginal decrescente: à medida que Ingrid consome mais moradia e menos refeições em restaurante, sua utilidade marginal de moradia cai, e sua utilidade marginal de refeições em restaurante aumenta. Então, sua taxa marginal de substituição, que é igual à inclinação da curva de indiferença, cai à medida que ela desce pela curva de indiferença. O achatamento das curvas de indiferença à medida que se desce por elas à direita – que reflete a mesma lógica que o princípio da utilidade marginal decrescente – é conhecido como princípio da taxa marginal de substituição decrescente. Ela informa que um indivíduo que consome apenas um pouco do bem A e muito do bem B está disposto a trocar uma grande quantidade do bem B, por mais uma unidade de A; e um indivíduo que já consome grande quantidade de A e pouca de B está menos disposto a fazer esse tradeoff. Pode-se ilustrar esse ponto, voltando à Figura 10A-5. No ponto V, um pacote em que a proporção de refeições em restaurante é mais alta que a de quartos, Ingrid está disposta a abrir mão de 10 refeições em restaurante, em troca de um quarto. Mas no ponto Y, um pacote com menor proporção de

refeições em restaurante comparado com um com menos quartos, ela está disposta a abrir mão de apenas duas refeições em restaurante, em troca de um quarto. A partir desse exemplo, depreende-se que, na função utilidade de Ingrid, quartos e refeições em restaurantes possuem as duas propriedades adicionais que caracterizam os bens ordinários. Ingrid precisa de quartos adicionais para compensá-la pela perda de uma refeição, e vice-versa; por isso, suas curvas de indiferença para esses dois bens têm inclinação para baixo. E suas curvas de indiferença são convexas: a inclinação da curva de indiferença – a taxa marginal de substituição com sinal de menos, torna-se mais achatada à medida que descemos na curva. Na verdade, uma curva de indiferença é convexa só quando tem uma taxa marginal de substituição descendente – essas duas condições são equivalentes. FIGURA 10A-6 O pacote de consumo ótimo

A linha do orçamento, BL, mostra os pacotes de consumo possíveis de Ingrid dada uma renda de $2.400 por mês, quando os quartos custam $150 por mês e as refeições em restaurantes custam $30 cada. I1, I2, e I3 são curvas de indiferença. Pacotes de consumo, como B e C, não são ótimos porque Ingrid pode mover-se para uma curva de

indiferença mais alta. O pacote de consumo ótimo é A, onde a linha do orçamento é apenas tangente à curva de indiferença mais alta possível.

Com essa informação, podemos definir bens ordinários, que representam a grande maioria dos bens em qualquer função utilidade do consumidor. Dois bens são ordinários em função da utilidade do consumidor se possuírem duas propriedades: o consumidor precisa mais de um bem para compensar menos do outro, e o consumidor experimenta uma taxa marginal de substituição decrescente quando substitui um bem pelo outro. Em seguida, veremos como determinar o pacote de consumo ótimo de Ingrid usando curvas de indiferença. A condição de tangência

Agora vamos colocar algumas das curvas de indiferença de Ingrid no mesmo gráfico com a linha de orçamento para obter uma forma alternativa de representar a escolha do consumo ótimo. A Figura 10A-6 mostra a linha do orçamento de Ingrid, BL, quando sua renda é $2.400 por mês, a moradia custa $150 por quarto, e cada refeição em restaurantes custa $30. Qual é o pacote de consumo ótimo? Para responder a essa questão, vamos mostrar algumas curvas de indiferença de Ingrid: I1, I2, e I3. Ingrid gostaria de alcançar o nível de utilidade total representado por I3, a mais alta das três curvas, mas não tem condições para isso porque está limitada pela renda: nenhum pacote de consumo na linha do orçamento gera tanta utilidade total. Mas ela não deveria se contentar com o nível de utilidade total gerado por B, que está em I1: existem outros pacotes de consumo em sua linha do orçamento, como A, que claramente oferecem uma utilidade total maior que B. De fato, A – um pacote de consumo composto de 8 quartos e 40 refeições em restaurantes por mês – é a escolha de consumo ótimo de Ingrid. A razão é que A se situa na curva de indiferença mais alta que Ingrid pode alcançar em razão da sua renda.

No pacote de consumo ótimo A, a linha do orçamento de Ingrid apenas toca a curva de indiferença relevante – a linha do orçamento é tangente à curva de indiferença. Essa condição de tangência entre a curva de indiferença e a linha do orçamento se aplica ao pacote de consumo ótimo quando as curvas de indiferença têm a forma convexa: no pacote de consumo ótimo, a linha de orçamento apenas toca – é tangente – à curva de indiferença. Para ver por que, vamos analisar mais de perto de que modo sabemos que um pacote de consumo que não satisfaz à condição de tangência pode não ser o ótimo. Reexaminando a Figura 10A-6, podemos ver que os pacotes de consumo B e C são acessíveis porque se situam na linha do orçamento. No entanto, nenhum deles é o ótimo. Ambos se situam sobre a curva de indiferença I1, que corta a linha do orçamento nos dois pontos. Mas como I1 corta a linha do orçamento, Ingrid pode obter uma situação melhor: pode descer pela linha do orçamento a partir de B ou subir pela linha do orçamento a partir de C, como indicado pelas setas. Em cada caso, isso lhe permite chegar a uma curva de indiferença mais alta, I2, que aumenta a utilidade total. No entanto, Ingrid não pode conseguir nada melhor que I2: qualquer outra curva de indiferença corta sua linha do orçamento, ou nem a toca. E o pacote que lhe permite alcançar I2, obviamente, é seu pacote de consumo ótimo. A inclinação da linha do orçamento

A Figura 10A-6 mostra como usar um gráfico da linha do orçamento e das curvas de indiferença para descobrir o pacote de consumo ótimo, o pacote em que a linha do orçamento e a curva de indiferença são tangentes. Mas em vez de contar com traçados gráficos – podemos determinar o pacote de consumo ótimo usando um pouco de matemática. Como se pode ver na Figura 10A-6, no ponto A, o pacote de consumo ótimo, a linha do orçamento e a curva de indiferença têm a mesma inclinação. Por quê? Porque duas curvas só se podem tocar se tiverem a mesma inclinação em seu ponto de tangência. Caso contrário, elas se cruzariam em algum ponto. E sabemos que, se estamos em uma curva de indiferença que cruza a linha

do orçamento (como I1 na Figura 10A-6), não podemos estar na curva de indiferença que contém o pacote de consumo ótimo (como I2). Assim, podem-se usar informações sobre as inclinações da linha do orçamento e da curva de indiferença para encontrar o pacote de consumo ótimo. Para isso, é preciso verificar primeiro a inclinação da linha do orçamento, uma tarefa bastante simples. Sabemos que Ingrid obterá o máximo de utilidade, gastando toda a sua renda e consumindo um pacote sobre a sua linha do orçamento. Assim, podemos representar a linha do orçamento de Ingrid e os pacotes de consumo possíveis quando ela gasta toda a renda, com a equação: (10A-7) (QR × PR) + (QM × PM) = N onde N representa a renda de Ingrid. Para encontrar a inclinação da linha do orçamento, dividimos o intercepto vertical (onde a linha do orçamento toca o eixo vertical) pelo intercepto horizontal (onde a linha do orçamento toca o eixo horizontal). O intercepto vertical é o ponto em que Ingrid gasta toda o sua renda em refeições em restaurantes e nada em moradia (isto é, QR = 0). Nesse caso, o número de refeições em restaurante que consome é: (10A-8) QM = N/PM = $2.400/($30 por refeição) = 80 refeições = intercepto vertical da linha do orçamento

No outro extremo, Ingrid gasta toda a renda com moradia e nada em refeições em restaurantes (de modo que QM = 0). Isso significa que no intercepto horizontal da linha do orçamento o número de quartos que ela consome é: (10A-9) QR = N/PR = $2.400/($150 por quarto) = 16 quartos = intercepto horizontal da linha do orçamento

Agora temos as informações necessárias para encontrar a inclinação da linha do orçamento, que é: (10A-10) Inclinação da linha de orçamento = −(intercepto vertical)/(interceptação horizontal)

Observe que o sinal de menos na Equação 10A-10 está lá porque a linha do orçamento se inclina para baixo. A quantidade PR/PM é conhecida como preço relativo dos quartos em termos de refeições em restaurante, para distingui-lo do preço normal em termos de dólares. Como para Ingrid comprar um quarto a mais requer abdicar da quantidade PR/PM de refeições em restaurante, ou cinco refeições, podemos interpretar o preço relativo PR/PM como a velocidade com que um quarto é trocado por refeições em restaurante no mercado. É o preço – em termos de refeições em restaurante – que Ingrid deve “pagar” para obter mais um quarto. Analisando de outra forma, a inclinação da linha do orçamento – menos o preço relativo – informa o custo de oportunidade de cada bem em termos do outro. O preço relativo ilustra o custo de oportunidade de um indivíduo consumir uma unidade a mais de um bem em termos de quanto do outro bem em seu pacote de consumo se vê obrigado a renunciar. Esse custo de oportunidade existe porque o consumidor tem recursos limitados – seu orçamento é limitado. É interessante notar que as equações 10A-8, 10A-9 e 10A-10 fornecem toda a informação necessária sobre o que acontece com a linha do orçamento quando o preço ou renda relativa variam. A partir das Equações 10A-8 e 10A-9, depreende-se que uma variação na renda, N, leva a uma variação paralela na linha do orçamento: tanto o intercepto vertical quanto o horizontal se deslocarão. Isto é, o grau de afastamento da linha do orçamento a partir da origem depende da renda do consumidor. Se a renda do consumidor aumenta, a linha do orçamento se desloca para fora. Se a renda do consumidor diminui, a linha de orçamento se desloca para dentro. Em cada caso, a inclinação da linha do orçamento permanece a mesma, porque o preço relativo de um bem em termos do outro não varia. Por outro lado, uma variação no preço relativo PR/PM levará a uma variação na inclinação da linha do orçamento. Analisaremos mais adiante e com mais detalhes, neste apêndice, essas variações na linha do orçamento e

como o pacote de consumo ótimo varia quando o preço relativo varia ou quando a renda varia. Preços e taxa marginal de substituição

Temos agora todos os elementos para reunir a inclinação da linha do orçamento e a inclinação da curva de indiferença para encontrar o pacote de consumo ótimo. Da Equação 10A-6, sabemos que a inclinação da curva de indiferença em qualquer ponto é igual à taxa marginal de substituição com sinal de menos:

Como observado, no pacote de consumo ótimo a inclinação da linha do orçamento e a inclinação da curva de indiferença são iguais. Podemos escrever isso formalmente reunindo as Equações 10A-10 e 10A-11, o que nos dá a regra do preço relativo para encontrar o pacote de consumo ótimo:

Isto é, em um pacote de consumo ótimo, a taxa marginal de substituição de um bem por outro é igual à relação entre seus preços. Ou, de forma mais intuitiva, no pacote de consumo ótimo de Ingrid, a taxa pela qual ela trocaria um quarto por menos refeições em restaurantes ao longo de sua curva de indiferença, MUR/MUM, é igual à taxa pela qual são trocados quartos por refeições em restaurante no mercado, PR/PM. O que aconteceria se essa igualdade não se aplicasse? Podemos verificar isso por meio da análise da Figura 10A-7. Ali, no ponto B, a inclinação da curva de indiferença, – MUR/MUM, é maior em valor absoluto do que a inclinação da linha do orçamento, – PR/PM. Isso significa que, em B, Ingrid atribui a um quarto adicional em lugar de refeições um valor maior do que lhe custa comprar um quarto adicional e renunciar a algumas refeições.

Como resultado, a situação de Ingrid melhoraria se descesse pela linha de orçamento em direção a A, consumindo mais quartos e menos refeições e, por isso, B não poderia ter sido seu pacote ótimo! Da mesma forma, em C, a inclinação da curva de indiferença de Ingrid é menor que a inclinação da linha do orçamento. A implicação é que, em C, Ingrid valoriza refeições adicionais no lugar de um quarto mais do que lhe custa comprar refeições adicionais e renunciar a um quarto. Mais uma vez, Ingrid estaria em melhor situação se subisse pela linha do orçamento, consumindo mais refeições em restaurante e menos quartos – até chegar a A, seu pacote de consumo ótimo. FIGURA 10A-7 Entendendo a regra do preço relativo

O preço relativo de quartos em termos de refeições em restaurantes é igual à inclinação da linha do orçamento com sinal de menos. A taxa marginal de substituição de refeições por quartos é igual à inclinação da curva de indiferença com sinal de menos. A regra do preço relativo diz que no pacote de consumo ótimo, a taxa marginal de substituição deve ser igual ao preço relativo. Isso pode ser demonstrado considerando o que acontece quando a taxa marginal de substituição não é igual ao preço relativo. No pacote de consumo B, a taxa marginal de substituição é maior do que o preço relativo; Ingrid pode aumentar sua utilidade total descendo na linha do orçamento, BL. Em C, a taxa marginal de substituição é menor que o preço relativo e Ingrid pode aumentar sua utilidade total subindo ao longo da linha do orçamento. Apenas em A, onde vale a regra do preço relativo, sua utilidade total é maximizada dada sua restrição orçamentária.

Mas suponha que façamos a seguinte transformação para o último termo da Equação 10A-12: dividir os dois lados por PR e multiplicar os dois lados por MUM. Então, a regra do preço relativo se torna (Capítulo 10, Equação 10-3):

Assim, usando a regra de consumo ótimo (Capítulo 10) ou a regra do preço relativo (deste apêndice), encontramos o mesmo pacote de consumo ótimo. Preferências e escolhas

Agora que vimos como representar a escolha de consumo ótimo em um gráfico de curvas de indiferença, podemos passar à relação entre preferências do consumidor e escolhas do consumidor. Quando dizemos que dois consumidores têm preferências diferentes, queremos dizer que eles têm funções de utilidade diferentes. Por sua vez, isso significa que eles têm mapas de curvas de indiferença com formatos diferentes. E esses mapas diferentes se traduzem em escolhas de consumo diferentes, mesmo entre consumidores com a mesma renda e que se defrontam com os mesmos preços. Para verificar isso, suponha que Lars, amigo de Ingrid, igualmente consome apenas moradia e refeições em restaurante. No entanto, Lars tem preferência mais forte por refeições em restaurante e menos gosto por moradia. Essa diferença de preferência é apresentada na Figura 10A-8, que mostra dois conjuntos de curvas de indiferença: o painel (a) mostra as preferências de Ingrid, e o painel (b) mostra as preferências de Lars. Atenção para a diferença entre os formatos. Suponha, como antes, que os quartos custem $150 por mês e que as refeições em restaurante custem $30 cada. Suponha, também, que tanto Ingrid quanto Lars têm renda mensal de $2.400 e, portanto, linhas de

orçamento idênticas. No entanto, como têm preferências distintas, fazem escolhas de consumo diferentes, como mostrado na Figura 10A-8. Ingrid vai escolher 8 quartos e 40 refeições em restaurante; Lars vai escolher 4 quartos e 60 refeições em restaurante.

USANDO AS CURVAS DE INDIFERENÇA: SUBSTITUTOS E COMPLEMENTOS Agora que já vimos como analisar a escolha do consumidor usando curvas de indiferença, podemos obter alguns retornos da nova técnica. Primeiro é uma nova visão sobre a distinção entre substitutos e complementos. De volta ao Capítulo 3, vimos que o preço de um bem, muitas vezes, afeta a demanda de outro, mas que a direção desse efeito pode ser qualquer uma: o aumento do preço do chá aumenta a demanda de café, mas um aumento no preço do creme reduz a demanda de café. Chá e café são substitutos; creme e café são complementos. Mas o que determina se dois bens são substitutos ou complementares? Depende da forma das curvas de indiferença do consumidor. Essa relação pode ser ilustrada com dois casos extremos: os casos dos substitutos perfeitos e dos complementos perfeitos. FIGURA 10A-8 Diferenças nas preferências

Ingrid e Lars têm preferências diferentes, refletidas nas formas diferentes dos mapas de curva de indiferença. Então, escolherão pacotes de consumo diferentes, mesmo se tiverem as mesmas escolhas possíveis. Ambos têm renda de $2.400 por mês e enfrentam preços de $30 por refeição e $150 por quarto. O painel (a) mostra a escolha de consumo de Ingrid: 8 quartos e 40 refeições em restaurante. O painel (b) mostra a escolha de Lars: mesmo tendo a mesma linha do orçamento, consome menos quartos e mais refeições em restaurante.

Substitutos perfeitos

Considere Cokie, que gosta de cookies. Não precisa ser especial: não importa se tem três cookies de manteiga de amendoim e sete cookies de chocolate, ou vice-versa. Como pareceriam as curvas de indiferença entre cookies de manteiga de amendoim e de chocolate? A resposta é que seriam linhas retas como I1 e I2 na Figura 10A-9. Por exemplo, I1 mostra que qualquer combinação de cookies de manteiga de amendoim e cookies de chocolate que adiciona até 10 cookies gera a mesma utilidade para Cokie. Um consumidor cujas curvas de indiferença são linhas retas está sempre disposto a substituir a mesma quantidade de um bem por uma unidade do outro, independentemente de quanto se consome desse bem. Cokie, por exemplo, está sempre disposta a aceitar menos um cookie de manteiga de amendoim em troca de mais um biscoito de chocolate, tornando sua taxa marginal de substituição constante. Quando as curvas de indiferença são linhas retas, dizemos que os bens são substitutos perfeitos. Quando dois bens são substitutos perfeitos, só há um preço relativo pelo qual os consumidores estarão dispostos a comprar os dois bens; um preço relativo ligeiramente mais alto ou mais baixo fará os consumidores comprarem apenas um dos dois bens. A Figura 10A-10 ilustra esse ponto. As curvas de indiferença são as mesmas da Figura 10A-9, mas agora incluímos a linha do orçamento de Cokie, BL. Em cada painel supusemos que Cokie tem $12 para gastar. No painel (a), supusemos que cookies de chocolate custam $1,20 e cookies de manteiga de amendoim custam $1,00. O pacote de consumo ótimo de Cokie está, então, no ponto A: ela compra 12 cookies de manteiga de amendoim e nenhum cookie de chocolate. No painel (b), a situação é inversa: cookies de chocolate custam $1,00 e cookies de manteiga de amendoim custam $1,20. Nesse caso, seu consumo ótimo está no ponto B, onde ela consome apenas cookies de chocolate. FIGURA 10A-9 Substitutos perfeitos

Dois bens são substitutos perfeitos quando a taxa marginal de substituição não depende da quantidade consumida. Nesse caso, as curvas de indiferença são linhas retas.

Por que uma variação tão pequena no preço faz Cokie mudar todo o seu consumo de um bem para o outro? Porque sua taxa marginal de substituição é constante, e, portanto, não depende da composição do pacote de consumo. Se o preço relativo de cookies de chocolate for maior que a taxa marginal de substituição de cookies de chocolate por cookies de manteiga de amendoim, ela compra apenas cookies de manteiga de amendoim e, se for menor, compra apenas cookies de chocolate. E se o preço relativo de cookies de chocolate for igual à taxa marginal de substituição, Cokie pode maximizar sua utilidade através da compra de qualquer pacote na linha do orçamento. Ou seja, ficará igualmente feliz com qualquer combinação de cookies de chocolate e cookies de manteiga de amendoim que possa pagar. Em decorrência, nesse caso, não podemos prever qual pacote especial irá escolher entre todos os pacotes que estão na sua linha do orçamento. FIGURA 10A-10 Escolha do consumidor entre substitutos perfeitos

Quando dois bens são substitutos perfeitos, pequenas variações de preços levam a grandes variações no pacote de consumo. No painel (a), o preço relativo de cookies com gotas de chocolate é um pouco mais alto do que a taxa marginal de substituição de cookies com gotas de chocolate por cookies de manteiga de amendoim. Isso é suficiente para induzir Cokie a escolher o pacote de consumo A, que consiste inteiramente de cookies de manteiga de amendoim. No painel (b), o preço relativo de cookies com gotas de chocolate é um pouco mais baixo do que a taxa marginal de substituição de cookies com gotas de chocolate por cookies de manteiga de amendoim, o que induz Cokie a escolher o pacote B, que consiste inteiramente de cookies de chocolate.

Complementos perfeitos

O caso dos substitutos perfeitos representa uma forma extrema de preferência do consumidor; o caso dos complementos perfeitos representa a outra. Os bens são complementos perfeitos quando um consumidor quer consumir dois bens na mesma proporção, independentemente do preço relativo. Suponha que Aaron goste de cookies e leite – mas apenas juntos. Um cookie extra sem um copo de leite extra não gera utilidade adicional; nem um copo de leite extra sem cookie. Nesse caso, as suas curvas de indiferença formam ângulos retos, tal como mostrado na Figura 10A-11.

Para ver por que, considere os três pacotes denominados A, B e C. Em B, sobre I4, Aaron consome quatro cookies e quatro copos de leite. Em A, consome quatro cookies e cinco copos de leite; mas o copo extra de leite não acrescenta nada à sua utilidade. Então, A está na mesma curva de indiferença de B, I4. Da mesma forma, em C, ele consome cinco cookies e quatro copos de leite, mas isso gera a mesma utilidade total que quatro cookies e quatro copos de leite. Então C também está na mesma curva de indiferença, I4. Uma linha de orçamento que permite a Aaron escolher o pacote B também é mostrada na Figura 10A-11. O ponto importante é que a inclinação da linha do orçamento não tem efeito sobre o consumo relativo de cookies e leite. Isso significa que ele sempre consumirá os dois bens na mesma proporção, independentemente dos preços – o que torna os bens complementos perfeitos. Talvez você esteja imaginando o que aconteceu com a taxa marginal de substituição na Figura 10A-11. Ou seja, exatamente a taxa marginal de substituição de Aaron entre cookies e leite, dado que ele não está disposto a fazer quaisquer substituições entre eles? A resposta é que, no caso de complementos perfeitos, a taxa marginal de substituição é inde nida porque as preferências individuais não permitem qualquer substituição entre os bens. Casos menos extremos

Há exemplos do mundo real de pares de bens que estão muitos próximos de ser substitutos perfeitos. Por exemplo, a lista de ingredientes de um pacote de mistura para panquecas Bisquick diz que contém “óleo de soja e/ou de algodão”: o produtor usa o que for mais barato, uma vez que os consumidores não podem notar a diferença. Há outros bens que estão muito perto de ser complementos perfeitos – por exemplo, carros e pneus. No entanto, na maioria dos casos, as possibilidades de substituição situam-se em algum lugar entre esses extremos. Em alguns casos, não é fácil ter certeza se os bens são substitutos ou complementos.

PREÇOS, RENDA E DEMANDA Vamos voltar agora para as escolhas de consumo de Ingrid. Na situação que consideramos, a renda era de $2.400 por mês, o custo da moradia $150 por quarto e as refeições em restaurante $30 cada. Seu pacote de consumo ótimo, como visto na Figura 10A-7, continha 8 quartos e 40 refeições em restaurante. FIGURA 10A-11 Complementos perfeitos

Quando dois bens são complementos perfeitos, um consumidor quer consumir os bens na mesma proporção, independentemente do seu preço relativo. As curvas de indiferença tomam a forma de ângulos retos. Nesse caso, Aaron vai escolher consumir quatro copos de leite e quatro cookies (pacote B), independentemente da inclinação da linha do orçamento passando por B. O motivo é que nem um copo adicional de leite sem um cookie adicional (pacote A) nem um cookie adicional sem um copo adicional de leite (pacote C) aumentam a utilidade total.

Vamos verificar agora como sua escolha de consumo mudaria se o aluguel por quarto ou a renda mudasse. Como veremos, podemos colocar essas partes juntas para aprofundar a compreensão da demanda do consumidor.

Os efeitos de um aumento de preço

Suponha que, por algum motivo, há um forte aumento nos preços da moradia. Ingrid deve agora pagar $600 por quarto em vez de $150. Enquanto isso, o preço das refeições em restaurante e sua renda permanecem inalterados. Como essa mudança afeta suas escolhas de consumo? Quando o preço dos quartos sobe, o preço relativo dos quartos em termos de refeições em restaurantes sobe; como resultado, a linha do orçamento de Ingrid muda (para pior – mas explicaremos isso mais adiante). Ela responde a essa mudança, escolhendo um novo pacote de consumo. A Figura 10A-12 mostra as linhas do orçamento de Ingrid original (BL1) e nova (BL2) – novamente com a suposição de que a renda permanece constante em $2.400 por mês. Com o custo da moradia a $150 por quarto e uma refeição em restaurante custando $30, a linha de orçamento, BL1, cruzou o eixo horizontal em 16 quartos e o eixo vertical em 80 refeições em restaurante. Depois de o preço de um quarto subir para $600 por quarto, a linha do orçamento, BL2, ainda bate no eixo vertical em 80 refeições em restaurante, mas ela atinge o eixo horizontal em apenas 4 quartos. Isso porque, pela Equação (10A-9), sabemos que o novo intercepto horizontal da linha do orçamento é agora $2.400/$600 = 4. Sua linha do orçamento girou para dentro e se tornou mais inclinada, refletindo o preço relativo novo, mais elevado, de um quarto em termos de refeições em restaurante. A Figura 10A-13 mostra como Ingrid responde às novas circunstâncias. Seu pacote de consumo ótimo original consiste de 8 quartos e 40 refeições. Depois da rotação da linha do orçamento em resposta à variação no preço relativo, ela descobre seu novo pacote de consumo ótimo escolhendo o ponto em BL2 que a leva a uma curva de indiferença tão alta quanto possível. No novo pacote de consumo ótimo, ela consome menos quartos e mais refeições em restaurante do que antes: 1 quarto e 60 refeições em restaurante. Por que o consumo de quartos de Ingrid cai? Parte – mas apenas parte – da razão é que o aumento no preço dos quartos reduz seu poder de compra, tornando-a mais pobre. Ou seja, o preço relativo mais alto dos quartos gira

sua linha do orçamento para dentro em direção à origem, reduzindo suas possibilidades de consumo, e a coloca em uma curva de indiferença mais baixa. Em certo sentido, quando ela enfrenta um preço de moradia mais elevado, é como se sua renda diminuísse. Para entender esse efeito e saber por que a história não está completa, vamos considerar uma mudança diferente nas circunstâncias de Ingrid: uma mudança em sua renda. Renda e consumo

No Capítulo 3, aprendemos sobre a curva da demanda individual, que mostra como a escolha de consumo do consumidor muda à medida que o preço de um bem varia, mantendo a renda e os preços de outros bens constantes. Ou seja, o movimento ao longo da curva da demanda individual mostra principalmente o efeito substituição, como aprendemos no Capítulo 10 – como a quantidade consumida varia em resposta às variações no preço relativo de dois bens. Mas também a questão é como a escolha de consumo irá variar se a renda variar, mantendo constante o preço relativo. FIGURA 10A-12 Efeitos de um aumento de preço na linha do orçamento

Um aumento no preço dos quartos, mantendo o preço das refeições em restaurante constante, aumenta o preço relativo dos quartos em termos de refeições em restaurantes. Como resultado, a linha do orçamento original de Ingrid, BL1, gira para dentro, para BL2. Sua compra máxima possível de refeições em restaurante mantém-se inalterada, mas sua compra máxima possível de quartos é reduzida.

FIGURA 10A-13 Respondendo a um aumento de preço

Ingrid responde ao preço relativo de quartos mais alto escolhendo um novo pacote de consumo com menos quartos e mais refeições em restaurantes. Seu novo pacote de consumo ótimo, C, contém 1 quarto em vez de 8 e 60 refeições em restaurante em vez de 40.

Antes de prosseguir, é importante entender como uma variação na renda, mantendo o preço relativo constante, afeta a linha do orçamento. Suponha que a renda de Ingrid caia de $2.400 para $1.200 e mantenha os preços constantes em $150 por quarto e $30 por refeição em restaurante. Em

decorrência, o número máximo de quartos que ela pode comprar cai de 16 para 8, e o número máximo de refeições em restaurante cai de 80 para 40. Em outras palavras, as possibilidades de consumo de Ingrid encolheram, como mostrado pelo deslocamento paralelo no sentido interno da linha do orçamento na Figura 10A-14, de BL1 para BL2. É um deslocamento paralelo porque a inclinação da linha do orçamento – o preço relativo – permanece inalterada quando a renda varia. Alternativamente, suponha que a renda de Ingrid aumente de $2.400 para $3.000. Agora, ela pode pagar um máximo de 20 quartos ou 100 refeições, levando a um deslocamento paralelo no sentido externo da linha do orçamento – o deslocamento de BL1 para BL3 na Figura 10A-14. Nesse caso, as possibilidades de consumo de Ingrid se expandiram. FIGURA 10A-14 Efeito de uma variação na renda na linha do orçamento

Quando os preços relativos são mantidos constantes, a linha do orçamento se desloca paralelamente em resposta à variação na renda. Por exemplo, se a renda de Ingrid cai de $2.400 para $1.200, é claro que ela fica em situação pior: sua linha do orçamento se desloca para dentro de BL1 para a nova posição em BL2. Em contrapartida, se a renda de Ingrid sobe de $2.400 para $3.000, claramente ela fica em situação melhor: sua linha do orçamento se desloca para fora de BL1 para sua nova posição em BL3.

Agora estamos prontos para considerar como Ingrid responde a uma variação direta na renda – ou seja, uma variação no nível de renda mantendo o preço relativo constante. A Figura 10A-15 compara a linha do orçamento de Ingrid e escolha de consumo ótimo com uma renda de $2.400 por mês (BL1) com sua linha do orçamento e escolha de consumo ótimo com uma renda de $1.200 por mês (BL2), mantendo os preços constantes em $150 por quarto e $30 por refeição em restaurante. O ponto A é o pacote de consumo ótimo de Ingrid com uma renda de $2.400, e o ponto B é o pacote de consumo ótimo com uma renda de $1.200. Em cada caso, seu pacote de consumo ótimo é dado pelo ponto em que a linha do orçamento é tangente à curva de indiferença. Como se pode ver, no nível de renda mais baixo, sua linha do orçamento se desloca para dentro em relação à linha do orçamento com renda mais alta, mas mantém a mesma inclinação, pois o preço relativo não mudou. Isso significa que ela deve reduzir seu consumo de moradia ou refeições em restaurante, ou ambos. Como resultado, ela está a um nível mais baixo de utilidade total, representado por uma curva de indiferença mais baixa. Como se vê, Ingrid escolhe consumir menos dos dois bens quando seu rendimento cai: à medida que sua renda vai de $2.400 para $1.200, o consumo de moradia cai de 8 para 4 quartos, e o consumo de refeições em restaurante passa de 40 para 20. Isso porque, em sua função utilidade os dois bens são bens normais, conforme definido no Capítulo 3: bens cuja demanda aumenta quando a renda aumenta e cuja demanda cai quando a renda cai. Embora a maioria dos bens sejam bens normais, também especificamos no Capítulo 6 que alguns bens são bens inferiores, bens cuja demanda se move em direção oposta à variação na renda: a demanda diminui quando a renda aumenta, e a demanda aumenta quando a renda diminui. Um exemplo pode ser mobília de segunda mão. Considerar um bem inferior depende do mapa da curva de indiferença do consumidor. A Figura 10A-16 ilustra um caso onde móveis de segunda mão são medidos no eixo horizontal e refeições em restaurante no eixo vertical. Observe que quando a renda de Ingrid cai de $2.400 (BL1) para $1.200 (BL2), e seu pacote de consumo ótimo vai de D para E, o consumo de móveis de segunda mão

aumenta – o que implica que móveis de segunda mão é um bem inferior. Ao mesmo tempo, o consumo de refeições em restaurante diminui – o que implica que refeições em restaurante são bens normais. Efeito renda e substituição

Agora que já examinamos os efeitos de uma variação na renda, podemos voltar à questão da variação no preço – e mostrar, de uma forma mais específica, que o efeito do preço mais elevado sobre a demanda tem componente renda. FIGURA 10A-15 Renda e consumo: bens normais

Com uma renda mensal de $2.400, Ingrid escolhe o pacote A, composto de 8 quartos e 40 refeições em restaurante. Quando o preço relativo permanece inalterado, uma queda na renda desloca a linha do orçamento para dentro, para BL2. Com uma renda mensal de $1.200, ela escolhe o pacote B, composto de 4 quartos e 20 refeições em restaurante. Como o consumo de Ingrid tanto de refeições em restaurante como de quartos cai quando a renda cai, ambos os bens são bens normais.

FIGURA 10A-16 Renda e consumo: um bem inferior

Quando a renda de Ingrid cai de $2.400 para $1.200, o pacote de consumo ótimo muda de D para E. O consumo de móveis de segunda mão aumenta, o que implica que móveis de segunda mão são bens inferiores. Ao contrário, o consumo de refeições em restaurante cai, o que implica que refeições em restaurante são bens normais.

A Figura 10A-17 mostra, mais uma vez, as linhas de orçamento e escolhas de consumo originais (BL1) e novos (BL2), com renda mensal de $2.400. A um preço de moradia de $150 por quarto, Ingrid escolhe o pacote de consumo em A; a um preço de moradia de $600 por quarto, ela escolhe o pacote de consumo em C. FIGURA 10A-17 Efeitos renda e substituição

O movimento do pacote de consumo ótimo original de Ingrid quando o preço do quarto é $150, A, para seu novo pacote de consumo ótimo, quando o preço dos quartos é $600, C, pode ser decomposto em duas partes. O movimento de A para B – movimento ao longo da curva de indiferença original I2, à medida que o preço relativo varia – é o efeito substituição puro. Capta como seu consumo iria variar se fosse dado um aumento de renda hipotético que apenas a compensasse pelo aumento no preço dos quartos de modo que sua utilidade total ficasse inalterada. O movimento de B para

C, a variação no consumo ao remover essa compensação hipotética na renda, é o efeito renda do aumento de preço – como seu consumo varia como resultado da queda no poder aquisitivo.

Vamos observar, mais uma vez, o que acontece com a linha do orçamento de Ingrid, após o aumento do preço da moradia. Continua a bater no eixo vertical a 80 refeições em restaurante, ou seja, se Ingrid fosse gastar toda a sua renda em refeições em restaurante, o aumento de preço da moradia não lhe afetaria. Mas a nova linha do orçamento atinge o eixo horizontal em apenas quatro quartos. Assim, a linha do orçamento girou, deslocando para

dentro e se tornando mais inclinada, como consequência do aumento do preço relativo dos quartos. Já sabemos o que acontece: o consumo de moradia de Ingrid cai de 8 para 1 quarto. Mas a figura sugere que há duas razões para a queda no consumo de moradia de Ingrid. Uma das razões pelas quais ela consome menos quartos é que, por causa do preço relativo mais alto dos quartos, o custo de oportunidade de um quarto medido em refeições em restaurante – a quantidade de refeições em restaurante de que ela deve abrir mão para consumir um quarto adicional – aumentou. Essa variação no custo de oportunidade, que se reflete em uma linha do orçamento mais íngreme, fornece um incentivo para substituir refeições em restaurante por quartos em seu consumo. Mas o outro motivo para Ingrid consumir menos quartos depois do aumento de preços é que o aumento no preço dos quartos a torna mais pobre. É verdade, sua renda monetária não variou. Mas ela tem que pagar mais pelos quartos, e como resultado sua linha de orçamento girou para dentro. Então, ela não consegue alcançar o mesmo nível de utilidade total que antes, o que significa que sua renda real caiu. É por isso que ela acaba em uma curva de indiferença mais baixa. No mundo real, esses efeitos – o aumento no preço de um bem aumenta seu custo de oportunidade e também torna os consumidores mais pobres – em geral andam juntos. Mas, na nossa imaginação, podemos separá-los. No Capítulo 10, introduzimos a distinção entre o efeito substituição de uma variação no preço (a variação no consumo que surge da substituição do bem que agora é relativamente mais barato em lugar do bem que agora é relativamente mais caro) e o efeito renda (a variação no consumo causada pela variação no poder de compra decorrente de uma variação no preço). Agora podemos mostrar esses dois efeitos com maior clareza. Para isolar o efeito substituição, mudemos temporariamente a história sobre por que Ingrid enfrenta um aumento na renda: não é que a moradia tornou-se mais cara, é o fato de ela ter se mudado de Cincinnati para San Jose, onde os aluguéis são mais elevados. Mas vamos considerar um cenário hipotético – suponhamos momentaneamente que ela ganhe mais em San Jose, e que a renda mais alta é apenas o suficiente para compensá-la pelo

preço mais alto da moradia, de modo que sua utilidade total é exatamente a mesma de antes. A Figura 10A-17 mostra sua situação antes e depois da mudança. O pacote denominado A representa a escolha de consumo original de Ingrid: 8 quartos e 40 refeições em restaurante. Quando ela se muda para San Jose, enfrenta um preço mais elevado da moradia, de modo que a linha do orçamento torna-se mais íngreme. Mas acabamos de supor que a mudança aumenta sua renda apenas o suficiente para compensar o preço mais elevado da moradia – ou seja, apenas o suficiente para atingir a curva de indiferença original. Então, seu novo pacote de consumo hipotético ótimo está em B, onde a linha tracejada que representa o orçamento hipotético mais íngreme (BLS) é apenas tangente à curva de indiferença original (I2). Ao supor que compensamos Ingrid pela perda no poder de compra em virtude do aumento no preço da moradia, isolamos o efeito substituição puro da variação no preço relativo em seu consumo. Em B, o pacote de consumo de Ingrid contém 2 quartos e 120 refeições em restaurante. Isso custa $4.800 (dois quartos de $600 cada e 120 refeições de $30 cada). Então, se Ingrid enfrenta um aumento no preço da moradia de $150 para $600 por quarto, mas também experimenta um aumento na renda de $2.400 para $4.800 por mês, ela acaba com o mesmo nível de utilidade total. O movimento de A para B é o efeito substituição puro da variação no preço. É o efeito sobre a escolha de consumo de Ingrid quando mudamos o preço relativo da moradia, mantendo a utilidade total constante. Agora que isolamos o efeito substituição, podemos trazer de volta o efeito renda de variação no preço. Isso é fácil: apenas voltamos para a história original, em que Ingrid enfrenta um aumento no preço da moradia sem qualquer aumento na renda. Já sabemos que isso a leva para C na Figura 10A-17. Mas podemos pensar na mudança de A para C como acontecendo em duas etapas. Primeiro, Ingrid se move de A para B, efeito substituição da variação no preço relativo. Então, excluímos a renda necessária extra para mantê-la na curva de indiferença original, fazendo-a mover para C. O movimento de B para C é a variação adicional na demanda de Ingrid, que resulta porque o aumento no preço da moradia realmente reduz sua utilidade. Portanto, este é o efeito renda da variação no preço.

Pode-se usar a Figura 10A-17 para confirmar que quartos são bens normais na preferência de Ingrid. Para bens normais, o efeito renda e substituição trabalham na mesma direção: um aumento de preço provoca uma queda na quantidade consumida pelo efeito substituição (o movimento de A a B) e uma queda na quantidade consumida pelo efeito renda (o movimento de B a C). É por isso que as curvas de demanda para bens normais sempre têm inclinação para baixo. O que teria acontecido como resultado do aumento do preço da moradia se, em vez de ser um bem normal, os quartos fossem bens inferiores para Ingrid? Primeiro, o movimento de A a B, representado na Figura 10A-17, o efeito substituição, permaneceria inalterado. Mas uma variação na renda faz a quantidade consumida mover-se na direção oposta para um bem inferior. Assim, o movimento de B a C, mostrado na Figura 10A-17, o efeito renda de um bem normal, não mais se mantém. Em vez disso, o efeito renda de um bem inferior fará a quantidade de quartos consumida por Ingrid aumentar de B – digamos, para um pacote composto de 3 quartos e 20 refeições em restaurantes. No final, as curvas da demanda por bens inferiores normalmente têm inclinação para baixo: se Ingrid consome 3 quartos após o aumento no preço da moradia, ainda é 5 quartos a menos do que consumia antes. Assim, embora o efeito renda se mova na direção oposta do efeito substituição no caso de um bem inferior, neste exemplo, o efeito substituição é mais forte do que o efeito renda. Mas e se existisse um tipo de bem inferior em que o efeito renda fosse tão forte que dominasse o efeito substituição? Será que uma curva da demanda para esse bem teria inclinação para cima – isto é, a quantidade demandada aumentaria com o aumento de preço? A resposta é sim: você já encontrou esse bem – é chamado bem de Giffen, e foi descrito na seção Para mentes curiosas no Capítulo 10. Como observado, bens de Giffen são raros, mas não podem ser descartados. A distinção entre os efeitos renda e substituição importam na prática? Ao analisar a demanda de bens, a resposta é que, geralmente, não é tão importante. No entanto, no Capítulo 19, discutiremos como os indivíduos tomam decisões sobre quanto do seu trabalho fornecer aos empregadores.

Nesse caso, os efeitos renda e substituição trabalham em direções opostas, e a distinção entre eles se torna crucial.

• PROBLEMAS 1. Para cada uma das seguintes situações, trace um gráfico contendo três curvas de indiferença de Isabella. a. Para Isabella, carros e pneus são complementos perfeitos, mas em uma proporção de 1:4, ou seja, para cada carro, Isabella quer exatamente quatro pneus. Certifique-se de rotular e numerar os eixos do gráfico. Coloque os pneus no eixo horizontal e os carros no eixo vertical. b. Isabella obtém utilidade da ingestão de cafeína. Ela pode consumir Valley Dew ou cola, e Valley Dew contém duas vezes mais cafeína que cola. Certifique-se de rotular e numerar os eixos do gráfico. Coloque cola no eixo horizontal e Valley Dew no eixo vertical. c. Isabella obtém utilidade do consumo de dois bens: tempo de lazer e renda. Ambos têm utilidade marginal decrescente. Certifique-se de rotular os eixos do gráfico. Coloque lazer no eixo horizontal e renda no eixo vertical. d. Isabella pode consumir dois bens: esquis e presilhas. Para cada esqui ela quer exatamente uma presilha. Certifique-se de rotular e numerar os eixos do gráfico. Coloque presilhas no eixo horizontal e esquis no eixo vertical. e. Isabella obtém utilidade ao consumir refrigerante. Mas não obtém utilidade ao consumir água: a mais, ou a menos, a água deixa seu nível de utilidade total inalterado. Certifique-se de rotular os eixos do gráfico. Coloque água no eixo horizontal e refrigerante no eixo vertical. 2. Use as quatro propriedades das curvas de indiferença para bens ordinários ilustradas na Figura 10A-4 para responder às perguntas seguintes. a. É possível classificar os dois pacotes seguintes? Se sim, que propriedade das curvas de indiferença o ajuda a classificá-los? Pacote A: dois ingressos de cinema e três refeições na lanchonete. Pacote B: quatro ingressos de cinema e oito refeições na lanchonete. b. Os dois pacotes a seguir podem ser classificados? Se sim, que propriedade das curvas de indiferença o ajuda a classificá-los? Pacote A: dois ingressos de cinema e três refeições em lanchonete. Pacote B: quatro ingressos de cinema e três refeições na lanchonete. c. Os dois pacotes a seguir podem ser classificados? Se sim, que propriedade das curvas de indiferença o ajuda a classificá-los? Pacote A: 12 vídeos e 4 pacotes de batatas fritas. Pacote B: 5 vídeos e 10 pacotes de batatas fritas. d. Suponha que você seja indiferente entre os dois pacotes seguintes:

Pacote A: 10 cafés da manhã e 4 jantares. Pacote B: 4 cafés da manhã e 10 jantares. Agora compare o pacote A com o seguinte pacote: Pacote C: 7 cafés da manhã e 7 jantares. Os pacotes A e C podem ser classificados? Se sim, que propriedade das curvas de indiferença o ajuda a classificá-los? (Dica: Um desenho pode ajudar, colocando jantares no eixo horizontal e cafés da manhã no eixo vertical. E lembre-se de que café da manhã e jantares são bens ordinários.) 3. As quatro propriedades das curvas de indiferença para bens ordinários ilustradas na Figura 10A-4 eliminam as curvas de indiferença. Determine se essas propriedades gerais permitem cada uma das seguintes curvas de indiferença. Se não, determine quais dos princípios gerais descartam as curvas.

4. Refeições em restaurante e moradia (medidos pelo número de quartos) são os dois únicos bens que Neha pode comprar. Ela tem renda de $1.000 e o preço de cada quarto é $100. O preço relativo de um quarto em termos de refeições em restaurante é 5. Quantas refeições em restaurante ela pode comprar, se gasta todo o seu dinheiro com eles?

5. Responda às seguintes perguntas com base em duas suposições: (1) A inflação aumenta o preço de todos os bens em 20%; (2) A renda da Iná aumentou de $50.000 para $55.000. a. A linha do orçamento de Iná torna-se mais íngreme, menos íngreme ou permanece igual? b. A linha do orçamento de Iná se deslocou para fora, para dentro, ou não se deslocou? 6. Kory tem uma renda de $50, que pode gastar em dois bens: CDs e xícaras de chocolate quente. Ambos são bens normais para ela. Cada CD custa $10 e cada xícara de chocolate quente custa $2. Para cada uma das seguintes situações, decida se esse é o pacote de consumo ótimo de Kory. Se não for, o que deve fazer para conseguir seu pacote de consumo ótimo? a. Kory está considerando a compra de quatro CDs e cinco xícaras de chocolate quente. Nesse pacote, sua taxa marginal de substituição de CDs no lugar de chocolate quente é um; ou seja, ela estaria disposta a abrir mão de apenas uma xícara de chocolate quente para adquirir um CD. b. Kory está considerando a compra de 2 CDs e 15 xícaras de chocolate quente. A utilidade marginal de Kory do segundo CD é 25, e sua utilidade marginal da décima quinta xícara de chocolate quente é 5. c. Kory está pensando em comprar 1 CD e 10 xícaras de chocolate quente. Nesse pacote, sua taxa marginal de substituição de CDs por chocolate quente é 5; ou seja, ela estaria disposta a trocar apenas 5 xícaras de chocolate quente por 1 CD. 7. Raul tem quatro figurinhas de beisebol de Cal Ripken e duas de Nolan Ryan. O preço dessas figurinhas de beisebol é $24 para Cal e $12 para Nolan. No entanto, Raul estaria disposto a trocar uma figurinha de Cal por uma figurinha de Nolan. a. Qual é a taxa marginal de substituição das figurinhas de beisebol de Cal Ripken por Nolan Ryan? b. Raul pode comprar e vender figurinhas de beisebol para ficar em situação melhor? Como? c. Suponha que Raul trocou figurinhas de beisebol e depois disso ainda tem um pouco de cada tipo de figurinha. Além disso, agora já não quer fazer mais trocas. Qual é agora a taxa marginal de substituição de figurinhas de Cal Ripken por Nolan Ryan? 8. Ralph e Lauren estão comentando sobre o quanto gostam de ir à academia e quanto gostam de comer no restaurante favorito, e regularmente fazem um pouco de cada uma dessas atividades. Uma sessão de academia custa o mesmo que uma refeição em restaurante. Ralph diz que, para o seu consumo atual de sessões de academia e refeições em restaurante, ele valoriza uma refeição a mais duas vezes mais do que valoriza uma sessão na academia a mais. Lauren está cursando Economia, e diz a Ralph que esse pacote de consumo atual pode não ser ótimo. a. Lauren está certo? Por quê? Trace um gráfico da linha do orçamento de Ralph e da curva de indiferença onde está situado ao fazer sua escolha

de consumo atual. Coloque refeições em restaurantes no eixo horizontal e sessões de academia no eixo vertical. b. Como Ralph deve ajustar seu consumo, de modo que seja ótimo? Ilustre uma escolha ótima em seu gráfico. 9. Sabine não sabe dizer qual é a diferença entre Coca-Cola e Pepsi – para ela o gosto dos dois é exatamente o mesmo. a. Qual é a taxa marginal de substituição de Sabine entre Coca-Cola e Pepsi? b. Desenhe algumas das curvas de indiferença de Sabine para Coca-Cola e Pepsi. Coloque Coca-cola no eixo horizontal e Pepsi no eixo vertical. c. Sabine tem $6 para gastar em Coca-Cola essa semana. Meia dúzia de Coca-Cola custam $1,50 e de Pepsi custam $1,00. Trace a linha do orçamento de Sabine para Coca-Cola e Pepsi no mesmo gráfico. d. Qual é o pacote de consumo ótimo de Sabine? Mostre isso no gráfico. e. Se o preço da Coca-Cola e da Pepsi for o mesmo, que combinação de Coca-Cola e Pepsi Sabine irá comprar? 10. Para Norma, tanto nachos como salsa são bens normais. São também bens ordinários. O preço dos nachos sobe, mas o preço da salsa permanece inalterado. a. Você pode determinar definitivamente se ela consome mais ou menos nachos? Explique com um gráfico, colocando nachos no eixo horizontal e salsa no eixo vertical. b. Você pode determinar definitivamente se ela consome mais ou menos salsa? Explique com um gráfico, colocando nachos no eixo horizontal e salsa no eixo vertical. 11. Tyrone é um maximizador de utilidade. Sua renda é $100, podendo gastar em refeições na lanchonete e em blocos de notas. Cada refeição custa $5 e cada bloco de notas custa $2. A esses preços, Tyrone opta em comprar 16 refeições na lanchonete e 10 blocos de notas. a. Desenhe um gráfico que mostre a escolha de Tyrone usando uma curva de indiferença e sua linha do orçamento, colocando blocos de notas no eixo vertical e refeições na lanchonete no eixo horizontal. Identifique a curva de indiferença I1 e a linha do orçamento BL1. b. O preço dos blocos de nota cai para $1, o preço das refeições na lanchonete continua o mesmo. No mesmo gráfico, trace a linha do orçamento de Tyrone com os novos preços e a rotule BLH. c.

Por fim, a renda de Tyrone cai para $90. No mesmo gráfico, desenhe a linha do orçamento com essa renda e os novos preços e o rotule de BL2. Ele está em situação melhor, pior ou igual com esses novos preços e renda mais baixa do que comparado com os preços originais e renda mais alta? (Dica: Determine se Tyrone pode se dar ao luxo de comprar o pacote de consumo original de 16 refeições e 10 blocos de nota com renda mais baixa e preços novos.) Ilustre a resposta usando uma curva de indiferença e a rotule de I2.

d. Dê uma explicação intuitiva da resposta ao item c.

Gus gasta sua renda em gasolina para o carro e comida. O governo 12. aumenta o imposto sobre a gasolina, aumentando, assim, o preço da gasolina. Mas o governo também reduz o imposto de renda, aumentando, assim, a renda de Gus. E esse aumento na renda é apenas o suficiente para colocar Gus na mesma curva de indiferença que ele estava antes de o preço da gasolina subir. Gus irá comprar mais, menos ou a mesma quantidade de gasolina que antes dessas mudanças? Ilustre a resposta com um gráfico, colocando a gasolina no eixo horizontal, e a comida no eixo vertical. 13. Pam gasta o dinheiro em pão e presuntada em lata e suas curvas de indiferença obedecem às quatro propriedades de curvas de indiferença para bens ordinários. Suponha que, para Pam, presuntada seja um bem inferior, mas não de Giffen; pão é um bem normal. Pão custa $2 o pedaço, e presuntada custa $2 a lata. Pam tem $20 para gastar. a. Trace o gráfico da linha do orçamento de Pam, colocando presuntada no eixo horizontal e pão no eixo vertical. Suponha que seu pacote de consumo ótimo seja quatro latas de presuntada e seis pedaços de pão. Ilustre esse pacote e trace a curva de indiferença em que se encontra. b. O preço da presuntada cai para $1; o preço do pão continua o mesmo. Pam agora compra sete pães e seis latas de presuntada. No gráfico, ilustre a nova linha do orçamento e o novo pacote de consumo ótimo. Também desenhe a curva de indiferença em que esse pacote se encontra. c. No gráfico, mostre a renda e substitua os efeitos dessa queda no preço da presuntada. Lembre-se que presuntada é um bem inferior para Pam. 14. Katya permuta para trabalhar. Ela pode usar transporte público ou o próprio carro. Suas curvas de indiferença obedecem às quatro propriedades de curvas de indiferença para bens ordinários. a. Trace a linha do orçamento de Katya com viagem de carro no eixo vertical e em transporte público no eixo horizontal. Suponha que Katya consome parte dos dois bens. Trace uma curva de indiferença que ajude a ilustrar seu pacote de consumo ótimo. b. Agora o preço do transporte público caiu. Trace a nova linha do orçamento de Katya. c. Para Katya, o transporte público é um bem inferior, mas não de Giffen. Trace uma curva de indiferença que ilustre seu pacote de consumo ótimo depois que o preço do transporte público caiu. Katya está consumindo mais ou menos transporte público? d. Mostre os efeitos renda e substituição da queda no preço do transporte público. 15. Para Crandall, cubos de queijo e biscoitos salgados são complementos perfeitos: ele quer consumir exatamente um cubo de queijo com cada biscoito salgado. Ele tem $2,40 para gastar com queijo e biscoitos salgados. Um cubo de queijo custa $0,20, e um biscoito custa $0,10. Desenhe um gráfico, com biscoitos salgados no eixo horizontal e cubos de queijo no eixo vertical, para responder às perguntas seguintes. a. Que pacote Crandall vai consumir?

b. O preço dos biscoitos salgados sobe para $0,20. Quantos cubos de queijo e quantos biscoitos salgados Crandall vai consumir? c. Mostre os efeitos renda e substituição desse aumento de preços. 16. Carmen não consome nada além de refeições na lanchonete e CDs. Suas curvas de indiferença apresentam as quatro propriedades gerais das curvas de indiferença. As refeições na lanchonete custam $5 cada e CDs custam $10. Carmen tem $50 para gastar. a. Desenhe a linha do orçamento de Carmen e uma curva de indiferença que ilustre seu pacote de consumo ótimo. Coloque refeições na lanchonete no eixo horizontal e CDs no eixo vertical. Você não tem informação suficiente para conhecer o ponto de tangência específico, assim, escolha um arbitrariamente. b. Agora a renda de Carmen aumenta para $100. Desenhe sua nova linha do orçamento no mesmo gráfico, bem como uma curva de indiferença que ilustre seu pacote de consumo ótimo. Suponha que as refeições na lanchonete são um bem inferior. c. Você pode traçar uma curva de indiferença, mostrando que refeições na lanchonete e CDs são bens inferiores? 17. O Ministério de Assuntos Internos e das Comunicações japonês reúne dados sobre os preços dos bens e serviços na Ku-area, de Tóquio, bem como dados sobre renda média mensal da família japonesa. A tabela a seguir mostra alguns desses dados. (¥ denota a moeda japonesa, o iene.)

Ano

Preço dos ovos (por dezena)

Preço do atum (porção de 100 gramas)

Renda média mensal

2003

¥187

¥392

¥524.810

2005

231

390

524.585

a. Para cada um dos dois anos para os quais existem dados, qual é o número máximo de embalagens de ovos que uma família média japonesa poderia ter consumido por mês? O número máximo de porções de 100 gramas de atum? Em um gráfico, desenhe a linha do orçamento da família média japonesa em 2003 e em 2005. b. Calcule o preço relativo dos ovos em termos de atum para cada ano. Use a regra do preço relativo para determinar como o consumo médio de ovos e atum da família mudaria entre 2003 e 2005.

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PARTE 6

DECISÃO DE PRODUÇÃO

CAPÍTULO 11 » Por trás da curva da oferta: insumos e custos

A MARGEM DE LUCRO DOS AGRICULTORES

h, beleza de céu aberto, das ondas de âmbar dos cereais.” Assim começa a canção America the Beautiful. E aquelas ondas de âmbar de cereais são reais: embora os agricultores sejam hoje uma pequena minoria da população americana, o setor agrícola dos Estados Unidos é extremamente produtivo e alimenta boa parte do mundo. No entanto, ao analisar as estatísticas agrícolas, encontramos algo que parece surpreendente: em rendimento por acre, os agricultores americanos, muitas vezes, estão bem longe do topo. Por exemplo, os agricultores nos países da Europa Ocidental colhem três vezes mais trigo por acre que os homólogos americanos. Será que os europeus cultivam trigo melhor do que os americanos? Não: os agricultores europeus são muito competentes, mas não mais do que os americanos. Produzem mais trigo por acre, porque empregam mais insumos, fertilizantes e, principalmente, mão de obra por acre. Claro que isso significa que os agricultores europeus têm custos mais elevados do que os americanos. Mas por causa de políticas do governo, os agricultores europeus recebem preços muito mais altos

“O

pelo trigo do que os agricultores americanos. Isso os motiva a usar mais insumos e gastar mais esforço na margem para aumentar o rendimento das culturas por acre. Observe o uso da expressão “na margem”. Como a maioria das decisões que envolvem comparação entre benefícios e custos, decisões sobre insumos e produção envolvem uma comparação entre quantidades marginais, ou seja, o custo marginal comparado com o benefício marginal de produzir um pouco mais em cada acre. No Capítulo 9, consideramos o caso de Alex, que teve que escolher o número de anos de escolaridade que maximizava o lucro de escolaridade. Lá usamos o princípio da análise marginal de maximização do lucro para encontrar a quantidade ótima de anos de escolaridade. Neste capítulo, vamos encontrar produtores que têm que tomar decisões “quanto” semelhantes: escolher a quantidade de produto produzido para maximizar o lucro. Neste capítulo e no Capítulo 12, mostraremos como a análise marginal pode ser usada para entender essas decisões de produto – decisões que estão por trás da curva da oferta. O primeiro passo dessa análise é mostrar como a relação entre o insumo e o produto de uma empresa – sua função de produção – determina as curvas de custo, a relação entre o custo e a quantidade produzida. Isso é o que faremos neste capítulo. No Capítulo 12, usaremos a compreensão das curvas de custos da empresa para derivar as curvas de oferta individual e de mercado. O que você vai aprender neste capítulo • A importância da função de produção da empresa, a relação entre a quantidade de insumos e a quantidade de produto. • Por que a produção frequentemente está sujeita aos rendimentos decrescentes dos insumos. • Os vários tipos de custos que uma empresa enfrenta e como geram as curvas de custos marginal e médio da empresa. • Por que os custos de uma empresa podem ser diferentes no curto prazo e no longo prazo. • Como a tecnologia de produção da empresa pode gerar rendimentos crescentes de escala.

A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO Uma empresa é uma organização que produz bens ou serviços para venda. Para fazer isso, deve transformar insumos em produto. A quantidade de produto que a empresa produz depende da quantidade de insumos; essa relação é conhecida como função de produção da empresa. Como veremos, a função de produção de uma

empresa é a base de suas curvas de custo. Como primeiro passo, vamos analisar as características de uma função de produção hipotética. Insumos e produto

Para entender o conceito da função de produção, consideremos uma fazenda que, por questão de simplicidade, supõe-se, produz apenas um produto, trigo, e usa apenas dois insumos, terra e trabalho. Essa fazenda em especial é de propriedade de um casal chamado George e Martha. Eles contratam trabalhadores para fazer o trabalho físico real da fazenda. Além disso, suponhamos que todos os trabalhadores potenciais sejam da mesma qualidade – todos possuem o mesmo nível de informação e capacidade para realizar o trabalho da fazenda. A fazenda de George e Martha tem 10 acres de terra; não há mais acres disponíveis para eles. No momento, não existe capacidade de aumentar ou diminuir o tamanho da fazenda, através de venda, compra ou arrendamento da terra. Terra, aqui, é o que os economistas denominam de insumo xo – insumo cuja quantidade é fixa por um período, sem poder variar. No entanto, George e Martha têm liberdade para decidir quantos trabalhadores contratar. A mão de obra fornecida pelos trabalhadores é chamada de insumo variável – um insumo cuja quantidade a empresa pode variar a qualquer momento. Na verdade, o fato de a quantidade de um insumo ser ou não fixa depende do horizonte de tempo. No longo prazo – isto é, dado um período suficientemente prolongado – as empresas podem ajustar a quantidade de qualquer insumo. Por exemplo, no longo prazo, George e Martha podem variar a quantidade de terra que cultivam por meio da compra ou venda de terra. Portanto, não há insumos fixos no longo prazo. Por outro lado, o curto prazo é definido como o período durante o qual pelo menos um insumo é fixo. Mais adiante, neste capítulo, analisaremos com mais atenção a distinção entre curto e longo prazo. Mas, por ora, restringiremos a atenção ao curto prazo e assumiremos que pelo menos um insumo é fixo. George e Martha sabem que a quantidade de trigo que produzem depende do número de trabalhadores contratados. Usando técnicas agrícolas modernas, um trabalhador pode cultivar 10 acres, embora não de modo muito intensivo. Quando um trabalhador adicional é contratado, a terra é dividida igualmente entre todos os trabalhadores: cada trabalhador tem cinco acres para cultivar quando dois trabalhadores estão empregados, cada um cultiva 3⅓ acres, quando três estão empregados, e assim por diante. Assim, à medida que trabalhadores adicionais são empregados, os 10 acres de terra são cultivados de forma mais intensa e mais sacas de trigo são produzidas. A relação entre a quantidade de trabalho e a quantidade de produto, para determinada quantidade de insumo fixo, constitui a função de produção da fazenda. A função de produção da fazenda de George e Martha, onde a

terra é insumo fixo e o trabalho é insumo variável, é mostrada nas duas primeiras colunas da tabela na Figura 11-1; o gráfico mostra a mesma informação. A curva na Figura 11-1 mostra como a quantidade de produto depende da quantidade de insumo variável para determinada quantidade de insumo fixo, que é chamada de curva de produto total da fazenda. A quantidade física do produto, sacas de trigo, é medida no eixo vertical; a quantidade de insumo variável, trabalho (isto é, o número de trabalhadores empregados), é medida no eixo horizontal. A curva de produto total aqui se inclina para cima, refletindo o fato de que mais sacas de trigo são produzidas à medida que mais trabalhadores são empregados. Embora a curva de produto total na Figura 11-1 tenha inclinação para cima em toda a extensão, a inclinação não é constante: à medida que se move na curva para a direita, torna-se mais achatada. Para entender essa mudança de inclinação, examine a terceira coluna da tabela na Figura 11-1, que mostra a variação na quantidade do produto que é gerada pela adição de mais um trabalhador. Isso é chamado de produto marginal do trabalho, ou PMT: a quantidade adicional de produto gerada por usar uma unidade a mais de trabalho (isto é, um trabalhador a mais). Em geral, o produto marginal de um insumo é a quantidade adicional de produto que é produzida através da utilização de mais uma unidade desse insumo. Nesse exemplo, temos dados sobre variação na produção em intervalos de um trabalhador. Às vezes, os dados não estão disponíveis em incrementos de unidade – por exemplo, pode-se obter informação apenas sobre a quantidade de produto quando há 40 trabalhadores e quando há 50 trabalhadores. Nesse caso, usamos a seguinte equação para calcular o produto marginal do trabalho:

FIGURA 11-1

Função de produção e curva do produto total da fazenda de George e Martha

A tabela mostra a função de produção, a relação entre a quantidade de insumo variável (trabalho, medido em número de trabalhadores) e a quantidade de produto (trigo, medido em sacas) para determinada quantidade de insumo fixo. Também calcula o produto marginal do trabalho na fazenda de George e Martha. A curva do produto total mostra a função de produção, graficamente. Inclinase para cima porque mais trigo é produzido à medida que mais trabalhadores são empregados. Também se torna mais plana, porque o produto marginal do trabalho diminui à medida que mais e mais trabalhadores são empregados.

Nessa equação, Δ, o delta grego maiúsculo representa a variação em uma variável. Agora, pode-se explicar o significado da inclinação da curva do produto total: é igual ao produto marginal do trabalho. A inclinação de uma linha é igual à mudança vertical sobre mudança horizontal (veja o apêndice do Capítulo 2). Isso implica que a inclinação da curva do produto total é a variação na quantidade do produto (a “mudança vertical”, ΔQ) dividido pela variação na quantidade de trabalho (“mudança horizontal”, ΔL). E isso, como se depreende da Equação 11-1, é o produto marginal do trabalho. Assim, na Figura 11-1, o fato de o produto marginal do primeiro trabalhador ser 19 também significa que a inclinação da curva do produto total ao ir de 0 a 1 trabalhador é 19. Da mesma forma, a inclinação da curva do produto total ao ir de 1 a 2 trabalhadores é a mesma que o produto marginal do segundo trabalhador, 17, e assim por diante.

COMPARAÇÃO GLOBAL Ã

PRODUÇÃO DE TRIGO NO MUNDO A produção de trigo difere substancialmente em todo o mundo. A disparidade entre a França e os Estados Unidos que se vê no gráfico é impressionante, uma vez que ambos são países ricos, com tecnologia agrícola comparável. No entanto, a razão para essa disparidade é simples: diferentes políticas governamentais. Nos Estados Unidos, os agricultores recebem pagamento do governo para complementar a renda, mas os agricultores europeus se beneficiam do piso de preço. Uma vez que os agricultores europeus obtêm preços mais elevados para a sua produção do que os americanos, empregam mais insumos variáveis e produzem rendimentos significativamente mais elevados. Curiosamente, nos países pobres, como Uganda e Etiópia, a ajuda externa pode conduzir a rendimentos significativamente deprimidos. A ajuda externa dos países ricos, muitas vezes, toma a forma de excedente de alimentos, o que deprime os preços do mercado local, prejudicando gravemente a agricultura local da qual os países pobres normalmente dependem. Organizações de caridade, como a Oxfam, pedem para os países ricos produtores de alimentos para modificar a política de auxílio, sobretudo fornecendo ajuda em dinheiro e não em produtos alimentares, exceto no caso de escassez alimentar aguda – para evitar esse problema.

Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations. Dados de 2009.

Nesse exemplo, o produto marginal do trabalho declina firmemente à medida que mais trabalhadores são contratados – ou seja, cada trabalhador sucessivo adiciona menos ao produto do que o anterior. Assim, à medida que o emprego aumenta, a curva do produto total fica mais achatada. A Figura 11-2 mostra como o produto marginal do trabalho depende do número de trabalhadores empregados na fazenda. O produto marginal do trabalho, PMT, é medido no eixo vertical em unidades de produto físico – sacas de trigo – produzidas por trabalhador adicional, e o número de trabalhadores empregados é medido no eixo horizontal. Pode-se ver da tabela na Figura 11-1 que se cinco trabalhadores

estiverem empregados em vez de quatro, o produto sobe de 64 para 75 sacas, e, nesse caso, o produto marginal do trabalho é de 11 sacas – o mesmo número encontrado na Figura 11-2. Para indicar que 11 sacas são o produto marginal quando o emprego aumenta de quatro para cinco, colocamos o ponto correspondente a essa informação a meio caminho entre quatro e cinco trabalhadores. Nesse exemplo, o produto marginal do trabalho cai à medida que o número de trabalhadores aumenta. Ou seja, há rendimentos decrescentes do trabalho na fazenda de George e Martha. Em geral, há rendimentos decrescentes de um insumo quando um aumento na quantidade desse insumo, mantendo a quantidade de todos os outros insumos fixos, reduz o produto marginal desse insumo. Em virtude dos rendimentos decrescentes do trabalho, a curva PMT é inclinada negativamente. Para compreender por que podem ocorrer rendimentos decrescentes, imagine o que acontece à medida que George e Martha adicionam cada vez mais trabalhadores sem aumentar a quantidade de terra. À medida que o número de trabalhadores aumenta, a terra é cultivada mais intensamente, e o número de sacas produzidas aumenta. Mas cada trabalhador adicional está trabalhando com uma parcela menor do que a anterior do total de 10 acres – o insumo fixo. Em decorrência, o trabalhador adicional não consegue produzir tanto produto como o anterior. Portanto, não é surpresa que o produto marginal do trabalhador adicional caia. O ponto que deve ser enfatizado sobre os rendimentos decrescentes é que, como muitas proposições em economia, trata-se de uma proposição do tipo “tudo o mais mantido constante”: cada unidade sucessiva de um insumo aumentará a produção menos do que a unidade anterior, se a quantidade de todos os outros insumos for mantida xa. O que aconteceria se os níveis de outros insumos pudessem variar? Pode-se ver a resposta ilustrada na Figura 11-3. O painel (a) mostra duas curvas do produto total, TP10 e TP20. TP10 é a curva do produto total da fazenda quando sua área total tem 10 acres (a mesma curva que na Figura 11-1). TP20 é a curva do produto total quando a fazenda aumentou para 20 acres. Exceto quando zero trabalhador estiver empregado, TP20 se situa em qualquer lugar acima de TP10, porque com mais acres disponíveis qualquer número dado de trabalhadores produz mais produto. O painel (b) mostra o produto marginal correspondente das curvas de trabalho. PMT10 é o produto marginal da curva de trabalho dado 10 acres para cultivar (a mesma curva que na Figura 11-2) e PMT20 é o produto marginal da curva do trabalho dado 20 acres. As duas curvas têm inclinação descendente, pois, em cada caso, a quantidade de terra é fixa, ainda que a níveis diferentes. Mas MPL20 situa-se em qualquer lugar acima de MPL10, refletindo o fato de que o produto marginal do mesmo trabalhador é mais alto quando pode trabalhar com mais insumo fixo.

FIGURA 11-2

Produto marginal do trabalho (sacas por trabalhador)

O produto marginal da curva de trabalho representa o produto marginal de cada trabalhador, o aumento na quantidade de produto gerada por cada trabalhador adicional. A variação na quantidade de produto é medida no eixo vertical e o número de trabalhadores empregados, no eixo horizontal. O primeiro empregado contratado gera um aumento na produção na ordem de 19 sacas, o segundo gera um aumento de 17 sacas, e assim por diante. A curva apresenta uma inclinação para baixo em virtude do retorno decrescente do trabalho.

A Figura 11-3 apresenta o resultado geral: a posição da curva do produto total de determinado insumo depende das quantidades de outros insumos. Quando se altera a quantidade de outros insumos, tanto a curva do produto total como a do produto marginal do insumo restante se deslocam.

ARMADILHA O QUE É UMA UNIDADE? O produto marginal do trabalho (ou qualquer outro insumo) é definido como o aumento na quantidade do produto quando aumenta a quantidade de insumo em uma unidade. Mas o que se entende por “unidade” de trabalho? É uma hora adicional de trabalho, uma semana ou uma pessoa-ano? A resposta é que isso não importa, contanto que sejamos consistentes. Uma fonte comum de erro em economia é confundir as unidades – por exemplo, comparar o produto adicionado por uma hora de trabalho adicional com o custo de contratar um trabalhador

por uma semana. Com qualquer unidade que se use, sempre tenha o cuidado de usar a mesma unidade em toda a análise de qualquer problema.

Da função de produção às curvas de custo

No momento em que George e Martha conhecem sua função de produção, conhecem a relação entre insumos de trabalho e terra e a produção de trigo. Mas se desejam maximizar o lucro, precisam traduzir esse conhecimento em informação sobre a relação entre a quantidade de produto e o custo. Vejamos como fazem isso. Para traduzir a informação sobre a função de produção da empresa em informação sobre custo, é necessário saber quanto a empresa deve pagar pelos insumos. Suponhamos que George e Martha se defrontem com um custo explícito ou implícito de $400 pelo uso da terra. Como aprendemos no Capítulo 9, é irrelevante se George e Martha precisam arrendar a terra de outra pessoa por $400 ou se são donos da terra e deixam de ganhar $400 que obteriam com o arrendamento. De qualquer forma, pagam um custo de oportunidade de $400, ao usar a terra para cultivar trigo. Além disso, uma vez que a terra é um insumo fixo, os $400 que George e Martha pagam por ela são um custo xo, denotado por CF – um custo que não depende da quantidade produzida (no curto prazo). Nos negócios, muitas vezes nos referimos ao custo fixo como “custos indiretos”. FIGURA 11-3

Produto total, produto marginal e insumo fixo

Esta figura mostra como a quantidade do produto e do produto marginal do trabalho depende do nível de insumo fixo. O painel (a) mostra duas curvas do produto total da fazenda de George e Martha, TP10, quando a fazenda tem 10 acres e TP20 quando tem 20 acres. Com mais terra, cada trabalhador pode produzir mais trigo. Então, um aumento no insumo fixo desloca a curva do produto total para acima, de TP10 para TP20. Isso implica também que o produto marginal de cada trabalhador é mais alto quando a fazenda tem 20 acres do que quando tem 10. O painel (b) mostra o produto marginal das curvas de trabalho. O aumento da área plantada também desloca a curva do produto marginal do trabalho para cima, de PMT10 para PMT20. Observe que ambas as curvas

do produto marginal do trabalho continuam com inclinação para baixo em virtude dos rendimentos decrescentes do trabalho.

Suponhamos também que George e Martha devam pagar a cada trabalhador $200. Usando sua função de produção, George e Martha sabem que o número de trabalhadores que precisam contratar depende da quantidade de trigo que pretendem produzir. Assim, o custo do trabalho, que é igual ao número de trabalhadores multiplicado por $200, é um custo variável, denotado por CV – um custo que depende da quantidade produzida. Adicionando o custo fixo e o custo variável de determinada quantidade de produto resulta no custo total, ou CT, dessa quantidade de produto. Podese expressar a relação entre custo fixo, custo variável e custo total como uma equação: (11-2) Custo total = custo fixo + custo variável ou CT = CF + CV A tabela na Figura 11-4 mostra como é calculado o custo total da fazenda de George e Martha. A segunda coluna mostra o número de trabalhadores empregados, L. A terceira coluna mostra o nível de produto correspondente, Q, retirado da tabela da Figura 11-1. A quarta coluna mostra a variável custo, CV, igual ao número de trabalhadores multiplicado por $200. A quinta coluna mostra o custo fixo, CF, que é $400, independentemente de quantos trabalhadores estão empregados. A sexta coluna mostra o custo total do produto, CT, que é o custo variável mais o custo fixo. A primeira coluna denomina cada linha da tabela com uma letra, de A a I. Essa denominação será útil para a compreensão do próximo passo: o desenho da curva de custo total, uma curva que mostra como o custo total depende da quantidade do produto. A curva do custo total de George e Martha é mostrada no gráfico da Figura 11-4, onde o eixo horizontal mede a quantidade de produção em sacas de trigo e o eixo vertical mede o custo total em dólares. Cada ponto na curva corresponde a uma linha da tabela na Figura 11-4. Por exemplo, o ponto A mostra a situação quando zero trabalhadores são empregados: o produto é zero, e o custo total é igual ao custo fixo, $400. Da mesma forma, o ponto B mostra a situação quando um trabalhador é empregado: o produto é 19 sacas, e o custo total é $600, igual à soma de $400 de custo fixo e $200 de custo variável. FIGURA 11-4

Curva do custo total de George e Martha

Ponto no gráfico

Quantidade de trabalho L (trabalhadores)

Quantidade de trigo Q (sacas)

Custo variável CV

Custo fixo CF

Custo total CT= CF + CV

A

0

0

O$

$400

400$

B

1

19

200

400

600

C

2

36

400

400

800

D

3

51

600

400

1.000

E

4

64

800

400

1.200

F

5

75

1.000

400

1.400

G

6

84

1.200

400

1.600

H

7

91

1.400

400

1.800

I

8

96

1.600

400

2.000

A tabela mostra o custo variável, o custo fixo e o custo total para diversas quantidades de produto da fazenda de 10 acres de George e Martha. A curva de custo total mostra como o custo total (medido no eixo vertical) depende da quantidade do produto (medido no eixo horizontal). Os pontos indicados por letras na curva correspondem às linhas da tabela. A curva de custo total tem inclinação para cima porque o número de trabalhadores empregados e, portanto, o custo total, aumenta com o aumento da quantidade do produto. A curva se torna mais inclinada à medida que o produto aumenta, em decorrência dos rendimentos decrescentes do trabalho.

Como a curva do produto total, a curva do custo total tem inclinação para cima: em virtude do custo variável, quanto mais produto produzido, mais alto o custo total da fazenda. Mas, diferentemente da curva do produto total, que fica mais achatada quando o emprego aumenta, a curva do custo total fica mais íngreme. Isto é, a inclinação da curva do custo total é maior quando a quantidade de produto aumenta. Como veremos adiante, a inclinação da curva do custo total também se deve aos rendimentos decrescentes do insumo variável. Para compreender isso melhor, primeiro devemos analisar as relações entre várias medidas úteis de custo.

economia em ação O mítico homem-mês

O conceito de rendimentos decrescentes de insumo foi formulado por economistas pela primeira vez no final do século XVIII. Esses economistas, notadamente omas Malthus, obtinham inspiração a partir de exemplos agrícolas. Embora ainda sejam válidos, esses exemplos podem parecer um pouco forçados e antiquados na economia moderna. No entanto, a ideia de rendimento decrescente de insumo se aplica com igual força às mais modernas atividades econômicas, como, por exemplo, projetos de sowares. Em 1975, Frederick P. Brooks Jr., gerente de projetos da IBM, nos dias em que ela dominava o negócio de computadores, publicou um livro intitulado O Mítico Homem-Mês, que logo se tornou um clássico, tanto que uma edição especial de aniversário foi publicada 20 anos mais tarde. O capítulo que deu nome ao livro é basicamente sobre rendimentos decrescentes para a atividade de programação de computador. Brooks observou que multiplicar o número de programadores em um projeto não resultava em uma redução proporcional do tempo que levava para obter o programa totalmente codificado. Um projeto que poderia ser desenvolvido por um programador em 12 meses não podia ser desenvolvido por 12 programadores em um mês, daí o “mítico homem-mês”, a falsa noção de que o número de linhas de código de programação produzidas era proporcional ao número de programadores empregados. De fato, acima de certo número, adicionar mais um programador para trabalhar no mesmo projeto aumentava o tempo que levava para completar o projeto. O argumento de O Mítico Homem-Mês é resumido na Figura 11-5. A parte superior da figura mostra como a quantidade de produto do projeto, medida pelo número de linhas de código produzidas por mês, varia de acordo com o número de programadores. Cada programador adicional consegue menos resultados que o anterior e, depois de certo ponto, um programador adicional é de fato

contraproducente. A parte inferior da figura mostra o produto marginal de cada programador sucessivo, que cai à medida que mais programadores são empregados e, no fim, se torna negativo. Em outras palavras, codificar programas está sujeito a rendimentos decrescentes tão severos que, em algum momento, mais programadores de fato têm o produto marginal negativo. A fonte dos rendimentos decrescentes está na natureza da função de produção de um projeto de programação: cada programador deve coordenar seu trabalho com o dos demais programadores do projeto, levando a que cada pessoa gaste cada vez mais tempo se comunicando com as outras à medida que o número de programadores aumenta. Em outras palavras, tudo o mais mantido constante, existem rendimentos decrescentes do trabalho. É provável, porém, que no caso do aumento dos insumos fixos dedicados a projetos de programação – digamos, a instalação de um sistema mais rápido de comunicação – o problema dos rendimentos decrescentes de programadores adicionais possa ser mitigado. FIGURA 11-5

O mítico homem-mês

Um colaborador da edição reeditada do Mítico Homem-Mês resumiu as razões do retorno decrescente: “Há uma sobrecarga inevitável de amontoar programadores paralelamente. Os membros da equipe têm de ‘perder tempo’ participando de reuniões, elaborando planos de projeto, trocando e-mails, negociando interfaces,

submetendo-se a avaliações de desempenho, e assim por diante… Na Microso, haverá pelo menos um membro da equipe que apenas desenha camisetas para o resto da equipe usar.” (Fonte: Veja na página de copyright.)

BREVE REVISÃO A função de produção da empresa é a relação entre quantidade de insumos e produto. A curva do produto total mostra como a quantidade de produto depende da quantidade de insumo variável para determinada quantidade de insumo fixo, e sua inclinação é igual ao produto marginal do insumo variável. No curto prazo, o insumo fixo não pode variar; no longo prazo, todos os insumos são variáveis. Quando os níveis de todos os demais insumos são fixos, podem ocorrer rendimentos decrescentes de insumo, gerando uma curva de produto marginal com inclinação para baixo e uma curva de produto total que se torna mais achatada à medida que mais produto é produzido. O custo total de determinada quantidade de produto é igual ao custo fixo mais o custo variável daquele produto. A curva de custo total torna-se mais acentuada quando mais produto é produzido em virtude dos rendimentos decrescentes do insumo variável.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 11-1 1. A empresa de fabricação de gelo de Bernie produz cubos de gelo usando um equipamento de 10 toneladas e eletricidade. A quantidade de produto, medido em termos de quilos de gelo, é dada na tabela a seguir. a. Qual é o insumo fixo? Qual é o insumo variável? b. Construa uma tabela mostrando o produto marginal do insumo variável. Isso mostra rendimentos decrescentes? c. Suponhamos que um aumento de 50% no tamanho do insumo fixo aumente o produto em 100% para qualquer montante de insumo variável. Qual é agora o insumo fixo? Elabore uma tabela mostrando a quantidade do produto e o produto marginal nesse caso. Quantidade de eletricidade (quilowatts)

Quantidade de gelo (kg)

0

0

1

1.000

2

1.800

3

2.400

4

2.800

As respostas estão no fim do livro.

DOIS CONCEITOS FUNDAMENTAIS: CUSTO MARGINAL E CUSTO MÉDIO Acabamos de aprender como derivar a curva de custo total de uma empresa a partir da função de produção. O próximo passo é uma análise mais profunda do custo total ao derivar duas medidas extremamente úteis: custo marginal e custo médio. Como veremos, essas duas medidas do custo de produção têm uma relação um tanto surpreendente entre elas. Além disso, serão essenciais no Capítulo 12, onde serão usadas para analisar a decisão de produto da empresa e a curva de oferta do mercado.

Custo marginal

Definimos custo marginal no Capítulo 9: é a variação no custo total gerada ao produzir uma unidade a mais do produto. Vimos que o produto marginal de um insumo é mais fácil de calcular se os dados sobre o produto estiverem disponíveis em incrementos de unidade de insumo. Da mesma forma, o custo marginal é mais fácil de calcular se os dados do custo total estiverem disponíveis em incrementos de unidade de produto. Quando os dados se apresentam em incrementos menos práticos, ainda é possível calcular o custo marginal. Mas, por questão de

simplicidade, vamos trabalhar com um exemplo em que os dados vêm em incrementos convenientes de unidade. Selena’s Gourmet Salsas produz molho engarrafado, e a Tabela 11-1 mostra que o custo por dia depende do número de caixas de molho produzidos por dia. A empresa tem um custo fixo de $108 por dia, registrado na segunda coluna, que representa o custo diário de seu equipamento para produção de alimentos. A terceira coluna mostra o custo variável e a quarta coluna mostra o custo total. O painel (a) da Figura 11-6 representa graficamente a curva do custo total. Da mesma forma que a curva do custo total da fazenda de George e Martha na Figura 11-4, essa curva tem inclinação para cima, ficando mais íngreme à medida que se move para a direita. O significado da inclinação da curva de custo total é mostrado na quinta coluna da Tabela 11-1, que calcula o custo marginal: o custo de cada unidade adicional. A fórmula geral para o custo marginal é:

Como no caso do produto marginal, o custo marginal é igual à “mudança vertical” (aumento no custo total) dividida pela “mudança horizontal” (aumento na quantidade do produto). Assim, como o produto marginal é igual à inclinação da curva do produto total, o custo marginal é igual à inclinação da curva do custo total. Agora podemos entender por que a curva de custo total se torna mais inclinada quando se move para a direita: como se pode ver na Tabela 11-1, o custo marginal da Selena’s Gourmet Salsas aumenta à medida que o produto aumenta. O painel (b) na Figura 11-6 mostra a curva de custo marginal correspondente aos dados da Tabela 111. Observe que, assim como na Figura 11-2, representamos o custo marginal de aumentar o produto de 0 para 1 caixa de molho a meio caminho entre 0 e 1; representamos o custo marginal de aumentar o produto de 1 para 2 caixas de molho a meio caminho entre 1 e 2, e assim por diante. FIGURA 11-6

Curvas de custo total e custo marginal da Selena’s Gourmet Salsas

O painel (a) mostra a curva do custo total da Tabela 11-1. Da mesma forma que a curva do custo total na Figura 11-4, ela se inclina para cima e fica mais acentuada à medida que sobe para a direita. O painel (b) mostra a curva do custo marginal. Também tem inclinação para cima, refletindo rendimentos decrescentes do insumo variável.

Por que a curva de custo marginal tem inclinação para cima? Porque há rendimentos decrescentes de insumos nesse exemplo. À medida que o produto aumenta, o produto marginal do insumo variável diminui. Isso implica que cada vez mais insumo variável deve ser usado para produzir cada unidade adicional do produto à medida que a quantidade de produto já produzido aumenta. E como cada unidade de insumo variável deve ser paga, o custo por unidade adicional do produto também aumenta. Além disso, lembre-se de que o achatamento da curva do produto total também se deve a rendimentos decrescentes: o produto marginal de um insumo cai à medida que mais desse insumo é usado enquanto as quantidades dos demais insumos são fixas. O achatamento da curva do produto total à medida que o produto aumenta e a inclinação da curva do custo total à medida que o produto aumenta são apenas dois lados do mesmo fenômeno. Ou seja, à medida que o produto aumenta, o custo marginal do produto também aumenta, porque o produto marginal do insumo variável diminui. Voltaremos ao custo marginal no Capítulo 12, onde consideraremos a decisão de maximização sobre a quantidade de produto a produzir que maximiza o lucro da empresa. O próximo passo é a introdução de outra medida de custo: o custo médio. Custo médio total

Além do custo total e do marginal, é útil o cálculo de outra medida, o custo total médio, muitas vezes chamado de custo médio. O custo total médio é o custo total dividido pela quantidade produzida; ou seja, é igual ao custo total por unidade de produto. Se CTM denotar o custo total médio, a equação fica assim:

O custo total médio é importante porque informa ao produtor quanto custa produzir a unidade média ou típica do produto. O custo marginal, por outro lado, informa ao produtor quanto custa produzir uma unidade adicional do produto. Embora possam ser muito parecidas, essas duas medidas de custo normalmente diferem. E a confusão entre elas é uma fonte de erro em economia, tanto em sala de aula como na vida real, como ilustrado na seção Economia em ação adiante. A Tabela 11-2 usa dados da Selena’s Gourmet Salsas para calcular o custo total médio. Por exemplo, o custo total de produção de 4 caixas de molho é $300, que consiste de $108 de custo fixo e $192 de custo variável (ver Tabela 11-1). Assim, o custo total médio de produzir 4 caixas de molho é $300/4 = $75. Depreende-se da Tabela 11-2 que à medida que a quantidade do produto aumenta, o custo total médio primeiro cai e depois aumenta. TABELA 11-2 Custos médios da Selena’s Gourmet Salsas Quantidade de molho Q (caixas)

Custo total CT

Custo total médio da caixa CTM = CT/Q

Custo fixo médio da caixa CFM = CF/Q

Custo variável médio da caixa CVM = CV/Q

1

$120

$120,00

$108,00

$12,00

2

156

78,00

54,00

24,00

3

216

72,00

36,00

36,00

4

300

75,00

27,00

48,00

5

408

81,60

21,60

60,00

6

540

90,00

18,00

72,00

7

696

99,43

15,43

84,00

8

876

109,50

13,50

96,00

9

1.080

120,00

12,00

108,00

10

1.308

130,80

10,80

120,00

A Figura 11-7 representa os dados para traçar a curva do custo total médio que mostra como esse custo depende do produto. Como antes, o custo em dinheiro é medido no eixo vertical, e a quantidade do produto, no eixo horizontal. A curva de custo total médio tem forma de U, significando que o custo total médio primeiro cai e, em seguida, sobe à medida que o produto aumenta. Os economistas acreditam que tais curvas de custo total médio em forma de U são a norma para os produtores de muitas indústrias. Para ajudar a compreensão de por que a curva de custo total médio tem a forma de U, a Tabela 11-2 decompõe o custo total médio em dois componentes, custo xo médio e custo variável médio. O custo xo médio, ou CFM, é o custo fixo dividido pela quantidade de produto, também conhecido como custo fixo por unidade de produto. Por exemplo, se Selena’s Gourmet Salsas produz 4 caixas de molho, o custo fixo médio é de $108/4 = $27 por caixa. Custo variável médio, ou CVM, é o custo variável dividido pela quantidade de produto, também conhecido como custo variável por unidade de produto. Em uma produção de 4 caixas, o custo variável médio é de $192/4 = $48 por caixa. Escrevendo em forma de equação:

O custo total médio é a soma do custo fixo médio e do custo variável médio. Tem formato em U, porque os componentes se movem em sentidos opostos, à medida que o produto aumenta. FIGURA 11-7

Curva de custo total médio da Selena’s Gourmet Salsas

A curva do custo total médio da Selena’s Gourmet Salsas tem forma de U. Em níveis mais baixos de produto, o custo total médio cai por causa do “efeito de distribuição” da queda do custo fixo médio dominar o "efeito dos rendimentos decrescentes” do aumento do custo variável médio. Em níveis mais altos de produto, acontece o inverso, e o custo total médio aumenta. No ponto M, que corresponde a uma produção de três caixas de molho por dia, o custo total médio atinge o nível mínimo, o custo total médio mínimo.

O custo fixo médio cai à medida que mais do produto é produzido porque o numerador (custo fixo) é um número fixo, mas o denominador (a quantidade de produto) aumenta junto com a produção. Outra maneira de analisar essa relação é que, à medida que mais produto é gerado, o custo fixo se distribui por mais unidades de produto; o resultado final é que o custo fixo por unidade de produto – o custo fixo médio – cai. Pode-se observar esse efeito na quarta coluna da Tabela 11-2: o custo fixo médio diminui continuamente à medida que o produto aumenta. No entanto, o custo variável médio aumenta à medida que o produto aumenta. Como vimos, isso reflete os rendimentos decrescentes do insumo variável: cada unidade adicional de produto incorre em mais custo variável do que a unidade anterior. Assim, o custo variável aumenta mais rapidamente do que a quantidade do produto. Então, o aumento do produto tem dois efeitos opostos sobre o custo total médio: o “efeito de distribuição do custo fixo” e o “efeito do retorno decrescente”:

Efeito de distribuição. Quanto maior a quantidade de produto, maior a quantidade pela qual o custo fixo se espalha, baixando o custo fixo médio. Efeito de rendimentos decrescentes. Quanto maior a quantidade de produto, mais insumo variável é necessário para produzir unidades adicionais e, assim, mais alto é o custo variável médio. Em níveis baixos de produção, o efeito de distribuir o custo fixo é muito poderoso, pois mesmo pequenos aumentos na produção causam grande redução no custo fixo médio. Assim, em níveis baixos de produção, o efeito de distribuir o custo fixo domina o efeito dos rendimentos decrescentes e faz a curva de custo total médio ter inclinação para baixo. Mas quando a produção é elevada, o custo fixo médio já fica bastante pequeno, por isso aumentar mais o produto tem apenas um efeito pequeno de distribuir o custo fixo. No entanto, os rendimentos decrescentes tornam-se cada vez mais importantes à medida que o produto aumenta. Em decorrência, quando a produção é grande, o efeito dos rendimentos decrescentes domina o efeito de distribuição do custo fixo, fazendo a curva do custo total médio ter inclinação para cima. Na parte inferior da curva do custo total médio em forma de U, o ponto M na Figura 11-7, os dois efeitos eliminam-se um ao outro. Nesse ponto, o custo total médio atinge o nível mínimo, o custo total médio mínimo. A Figura 11-8 reúne em uma única imagem quatro membros da família das curvas de custo derivadas da curva de custo total da Selena’s Gourmet Salsas: a curva de custo marginal (MC), a curva de custo total médio (CTM), a curva de custo variável médio (CVM) e a curva de custo fixo médio (CFM). Todas são baseadas na informação das Tabelas 11-1 e 11-2. Como antes, o custo é medido no eixo vertical e a quantidade de produto é medida no eixo horizontal. Vejamos algumas características das várias curvas de custo. Primeiro, o custo marginal tem inclinação para cima, resultado dos rendimentos decrescentes que fazem uma unidade adicional de produto ter maior custo de produção do que a anterior. O custo variável médio também tem inclinação para cima – novamente em decorrência dos rendimentos decrescentes – mas a curva é mais achatada do que a curva de custo marginal. Isso ocorre porque o custo mais alto de uma unidade adicional de produto é dividido por todas as unidades, não apenas pelas unidades adicionais, ao medir o custo variável médio. Enquanto isso, o custo fixo médio tem inclinação para baixo em decorrência do efeito de distribuicão, isto é, de ir se dividindo entre mais unidades. FIGURA 11-8

Curvas de custo marginal e médio da Selena’s Gourmet Salsas

Aqui temos a família de curvas de custo da Selena’s Gourmet Salsas: a curva de custo marginal (CM), a curva de custo total médio (CTM), a curva de custo variável médio (CVM) e a curva de custo fixo médio (CFM). Observe que a curva de custo total médio tem a forma de U e a curva de custo marginal corta a curva de custo total médio na parte inferior do U, no ponto M, o que corresponde ao custo total médio mínimo da Tabela 11-2 e da Figura 11-7 .

Finalmente, observe que a curva de custo marginal intercepta a curva de custo total médio abaixo e a cruza no ponto mais baixo, o ponto M na Figura 11-8. Essa característica é o próximo objeto de estudo. Custo total médio mínimo

Para uma curva de custo total médio em forma de U, o custo total médio está no nível mínimo na parte inferior do U. Os economistas denominam a quantidade de produto que corresponde ao custo total médio mínimo de produto de custo mínimo. No caso da Selena’s Gourmet Salsas, o produto de custo mínimo é de três caixas de molho por dia. Na Figura 11-8, a parte inferior do U é o nível de produto ao qual a curva do custo marginal cruza a curva do custo total médio vindo de baixo. É um acidente? Não – reflete os princípios gerais que são sempre verdadeiros sobre as curvas de custo marginal e de custo total médio da empresa:

Na quantidade de produto de custo mínimo, o custo total médio é igual ao custo marginal. Na quantidade de produto inferior ao custo mínimo, o custo marginal é inferior ao custo total médio, e o custo total médio está diminuindo. Quando o produto é superior ao produto de custo mínimo, o custo marginal é maior que o custo total médio, e o custo total médio está aumentando. Para entender esses princípios, pense como sua nota em um curso – digamos, 3 em Física – afeta a média geral de notas. Se a média geral no curso antes de receber essa nota era maior do que 3, a nova nota irá baixar a média. Da mesma forma, se o custo marginal – o custo de produzir uma unidade a mais – for inferior ao custo total médio, a produção dessa unidade adicional reduz o custo total médio. Isso é mostrado na Figura 11-9 pelo movimento de A1 para A2. Nesse caso, o custo marginal de produzir uma unidade adicional de produto é baixo, como indicado pelo ponto CML na curva de custo marginal. Quando o custo de produzir a próxima unidade for inferior ao custo total médio, o aumento da produção reduz o custo total médio. Assim, qualquer quantidade de produto em que o custo marginal é inferior ao custo total médio deve estar no segmento de U com inclinação para baixo. Mas se a nota em Física for maior do que a média das notas anteriores, essa nova nota eleva a média geral do curso. Da mesma forma, se o custo marginal for maior do que o custo total médio, a produção de uma unidade adicional aumenta o custo total médio. Isso é ilustrado pelo movimento de B1 para B2 na Figura 11-9, onde o custo marginal, CMH, é mais elevado do que o custo total médio. Assim, qualquer quantidade de produto em que o custo marginal seja superior ao custo total médio deve estar no segmento de inclinação ascendente de U. Finalmente, se uma nova nota for exatamente igual à média das notas anteriores, a nota adicional não aumenta nem diminui a média – permanece a mesma. Isso corresponde ao ponto M na Figura 11-9: quando o custo marginal é igual ao custo total médio, devemos estar na parte inferior do U, pois só, nesse ponto, o custo total médio não está nem caindo nem subindo. FIGURA 11-9

A relação entre as curvas de custo total médio e de custo marginal

Para ver por que a curva de custo marginal (CM) deve cortar a curva de custo total médio no custo total médio mínimo (ponto M), correspondente ao produto de custo mínimo, devemos analisar o que acontece quando o custo marginal é diferente do custo total médio. Se o custo marginal é

inferior ao custo total médio, um aumento no produto deve reduzir o custo total médio, como no movimento de A1 para A2. Se o custo marginal é maior do que o custo total médio, um aumento da produção deve aumentar o custo total médio, como no movimento de B1 para B2.

A curva de custo marginal sempre tem inclinação ascendente?

Até esse ponto, enfatizamos a importância dos rendimentos decrescentes, que levam a uma curva de produto marginal, que sempre se inclina para baixo, e a uma curva de custo marginal, que sempre se inclina para cima. Na prática, porém, os economistas acreditam que curvas de custo marginal, muitas vezes, se inclinam para baixo à medida que a empresa aumenta sua produção de zero até certo nível relativamente baixo, passando a ter inclinação para cima apenas em níveis mais elevados de produção: elas se parecem com a curva CF da Figura 11-10. Essa inclinação inicial para baixo ocorre porque uma empresa, muitas vezes, descobre que, quando inicia empregando poucos trabalhadores, ao empregar mais trabalhadores e aumentar a produção permite que os trabalhadores se especializem em diversas tarefas. Isso, por sua vez, reduz o custo marginal da empresa à medida que expande o produto. Por exemplo, um indivíduo ao produzir molho teria que executar todas as tarefas envolvidas: selecionar e preparar os ingredientes, misturar o molho, engarrafar e rotular, embalar em caixas, e assim por diante. À medida que

mais trabalhadores são empregados, podem dividir as tarefas, com cada trabalhador especializado em um ou alguns aspectos da produção do molho. Essa especialização leva a rendimentos crescentes com a contratação de novos trabalhadores e resulta em uma curva de custo marginal que, inicialmente, se inclina para baixo. Mas, uma vez que haja trabalhadores suficientes para esgotar completamente os benefícios de uma maior especialização, os rendimentos decrescentes do trabalho começam a impactar e a curva de custo marginal muda de direção e se inclina para cima. Então, curvas de custo marginal típicas realmente têm o formato da “logomarca da Nike ou swoosh” como mostrado por CF na Figura 11-10. Pela mesma razão, as curvas de custo variável médio geralmente parecem com CVM na Figura 11-10: são em forma de U, em vez de inclinada estritamente para cima. FIGURA 11-10

Curvas de custo mais realistas

Uma curva de custo marginal realista tem o formato da “logomarca da Nike ou swoosh”. A partir de um nível de produto muito baixo, o custo marginal, muitas vezes, cai à medida que a empresa aumenta a produção. Isso porque a contratação de trabalhadores adicionais permite maior especialização das tarefas e leva a rendimentos crescentes. Contudo, uma vez alcançada a especialização, ocorre rendimentos decrescentes por trabalhadores adicionais e o custo marginal aumenta. A curva de custo variável médio correspondente tem formato de U, assim como a curva de custo total médio.

No entanto, como a Figura 11-10 também mostra, as principais características que vimos do exemplo da Selena’s Gourmet Salsas permanecem verdadeiras: a curva de custo total médio é em forma de U, e a curva de custo marginal passa pelo ponto de custo total médio mínimo.

economia em ação Não se deve estender o tapete vermelho

Projetos de urbanização e construção residencial são tão comuns nos Estados Unidos quanto torta de maçã. Dado a oferta abundante de terrenos não urbanizados, as incorporadoras imobiliárias consideram lucrativo comprar grandes áreas de terra, construir grande número de casas e criar novas comunidades inteiras. Mas o que é rentável para as imobiliárias não é necessariamente bom para os moradores existentes. Nos últimos anos, essas incorporadoras têm encontrado resistência cada vez mais acirrada dos moradores locais por causa dos custos adicionais – os custos marginais – impostos aos proprietários de imóveis em virtude do novo desenvolvimento urbano. Vejamos por quê. Nos Estados Unidos, grande porcentagem do financiamento para serviços locais provém de impostos pagos pelos proprietários locais. Em certo sentido, a autoridade municipal local usa esses impostos para “produzir” serviços municipais para a cidade. O nível geral do imposto sobre a propriedade territorial urbana, o IPTU local, é estabelecido para refletir o custo da prestação desses serviços. O custo do serviço, que é de longe o mais alto na maioria das comunidades, é o da educação pública. A taxa de imposto local que os novos proprietários de casas pagam sobre as novas casas é a mesma que os antigos proprietários já pagavam por suas casas mais velhas. Essa taxa de imposto reflete o custo de serviços total corrente, e os impostos pagos por um proprietário médio refletem o custo total médio de prestação de serviços para uma família. O custo total médio de prestação de serviços é fundamentado no uso da infraestrutura de serviços existentes no município, como a quantidade existente de escolas, professores, a frota de ônibus escolares e assim por diante. Mas quando um grande número de casas é construído, a infraestrutura anterior não é mais adequada: é preciso construir novas escolas, contratar novos professores e assim por diante. A quantidade de produto aumenta. Assim, o custo marginal de fornecer serviços municipais por família associado ao novo desenvolvimento urbano em grande escala acaba sendo muito mais elevado do que o custo total médio por família nas casas existentes. Como resultado, novos desenvolvimentos urbanos e serviços fazem a taxa de imposto local de todos aumentar, tal como se esperaria, de acordo com a Figura 11-9. Um estudo recente em Massachusetts estima que uma casa nova de $250.000 ocupada com uma criança em idade escolar impõe um custo adicional à comunidade de $5.527 por ano, além dos impostos pagos pelos novos proprietários. Como resultado, em muitas cidades americanas, os novos conjuntos residenciais e os recém-chegados são recebidos com frieza.

BREVE REVISÃO O custo marginal é igual à inclinação da curva de custo total. Rendimentos decrescentes fazem a curva de custo marginal ter inclinação para cima. O custo total médio (ou custo médio) é igual à soma do custo fixo médio e do custo variável médio. Quando a curva de custo total médio em forma de U se inclina para baixo, o efeito de distribuição do custo fixo domina: o custo fixo se dilui por mais unidades de produto. Quando tem inclinação para cima, o efeito dos rendimentos decrescentes domina: uma unidade de produto adicional exige mais insumos variáveis. O custo marginal é igual ao custo total médio no ponto do produto de custo mínimo. Nos níveis mais elevados de produto, o custo marginal é mais alto que o custo total médio, e o custo total médio é crescente. Em níveis mais baixos de produto, o custo marginal é mais baixo que o custo total médio, e o custo total médio é decrescente. Em níveis baixos de produto, muitas vezes há rendimentos crescentes de um insumo variável em virtude dos benefícios da especialização, dando à curva de custo marginal a forma da “logomarca da Nike”: inicialmente tem inclinação para baixo antes de começar a ter inclinação para cima.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 11-2 1. Alicia’s Apple Pie é um negócio de beira de estrada. Alicia tem que pagar $9 de aluguel por dia. Além disso, custa $1 a produção da primeira torta do dia, e o custo de cada torta subsequente é a metade do custo da anterior. Por exemplo, fazer a segunda torta custa $1 × 1,5 = $1,50 e assim por diante. a. Calcule o custo marginal, o custo variável, o custo total médio, o custo variável médio e o custo fixo médio de Alicia quando sua produção diária de torta passa de 0 a 6. (Dica: O custo variável de duas tortas é o custo marginal da primeira mais o custo marginal da segunda, e assim por diante.) b. Indique a faixa de produção de tortas em que o efeito de diluição do custo fixo domina e a faixa em que o efeito de rendimentos decrescentes domina. c. Que quantidade do produto de Alicia é o de custo mínimo? Explique por que fazer mais uma torta reduz o custo total médio de Alicia quando o produto é menos que o produto do custo mínimo. Da mesma forma, explique por que fazer uma torta adicional eleva o custo total médio de Alicia quando o produto é maior do que a produto do custo mínimo. As respostas estão no fim do livro.

CUSTOS DE CURTO PRAZO VERSUS DE LONGO PRAZO Até agora tratamos o custo fixo como sendo completamente fora do controle de uma empresa, pois nos concentramos no curto prazo. Mas, como vimos

anteriormente, todos os insumos são variáveis no longo prazo, o que significa que, no longo prazo, o custo fixo também pode variar. Em outras palavras, no longo prazo, o custo xo de uma empresa torna-se uma variável que ela pode escolher. Por exemplo, com o tempo, Selena’s Gourmet Salsas pode adquirir equipamento adicional de preparação de alimentos ou se desfazer de parte do equipamento existente. Nesta seção, examinaremos como os custos de uma empresa comportam-se no curto e no longo prazo. Veremos também que a empresa escolherá seu custo fixo no longo prazo com base na quantidade de produto que espera produzir. Comecemos supondo que Selena’s Gourmet Salsas esteja considerando a possibilidade de adquirir mais equipamento para a preparação de alimentos. A aquisição de equipamento adicional afetará o custo total de duas maneiras. Primeiro, a empresa terá que alugar ou comprar o equipamento adicional; de qualquer forma, isso significa um custo fixo mais elevado no curto prazo. Segundo, como os trabalhadores terão mais equipamento, tornar-se-ão mais produtivos: menos trabalhadores serão necessários para produzir qualquer produto dado, por isso o custo variável para qualquer quantidade de produto dado diminuirá. FIGURA 11-11

Escolha do nível de custo fixo da Selena’s Gourmet Salsas

Custo fixo baixo (CF = $108)

Custo fixo elevado (CF = $216) Custo variável baixo

Custo total

Custo total médio das caixas CTM2

Quantidade de molho (caixas)

Custo variável elevado

Custo total

Custo total médio das caixas CTM1

1

$12

$120

$120,00

$6

$222

$222,00

2

48

156

78,00

24

240

120,00

3

108

216

72,00

54

270

90,00

4

192

300

75,00

96

312

78,00

5

300

408

81,60

150

366

73,20

6

432

540

90,00

216

432

72,00

7

588

696

99,43

294

510

72,86

8

768

876

109,50

384

600

75,00

9

972

1.080

120,00

486

702

78,00

10

1.200

1.308

130,80

600

816

81,60

Há um trade-off entre custo fixo mais alto e custo variável mais baixo para qualquer nível dado de produto, e vice-versa. CTM1 é a curva de custo total médio correspondente a um custo fixo de $108 que leva a um custo fixo mais baixo e a um custo variável mais elevado. CTM2 é a curva de custo total médio correspondente a um custo fixo mais elevado de $216, mas de um custo variável mais baixo. Em nível de produção reduzida, de menos de quatro caixas de molho por dia, CTM1 fica abaixo de CTM2: o custo total médio fica mais baixo com apenas $108 de custo fixo. Mas à medida que o produto aumenta, o custo total médio é mais baixo com um montante mais alto de custo fixo, $216: quando são produzidas mais de 4 caixas de molho por dia CTM2 fica abaixo de

CTM1.

A tabela na Figura 11-11 mostra como a aquisição de equipamento adicional afeta os custos. No exemplo inicial, assumimos que Selena’s Gourmet Salsas tinha um custo fixo de $108. A metade esquerda da tabela mostra o custo variável, bem como o custo total e o custo total médio para um custo fixo de $108. A curva de custo total médio para esse nível de custo fixo é dada por CTM1 na Figura 11-11. Vamos compará-la com uma situação em que a empresa compra equipamento para preparação de alimentos adicional, duplicando o custo fixo para $216, mas reduzindo o custo variável em qualquer determinado nível de produto. A metade à direita da tabela mostra o custo variável da empresa, o custo total e o custo total médio com

esse nível de custo fixo mais elevado. A curva de custo total médio correspondente a $216 em custo fixo é dada por CTM2 na Figura 11-11. Depreende-se da figura que quando a produção é pequena, 4 caixas de molho por dia ou menos, o custo total médio é menor quando Selena renuncia ao equipamento adicional e mantém o custo fixo mais baixo de $108: CTM1 se situa abaixo do CTM2. Por exemplo, com 3 caixas por dia, o custo total médio é $72, sem o equipamento adicional, e $90 com o equipamento adicional. Mas como a produção aumenta para mais de 4 caixa por dia, o custo total médio da empresa é mais baixo se ela adquirir o equipamento adicional, elevando o custo fixo para $216. Por exemplo, com 9 caixas de molho por dia, o custo total médio é $120 quando o custo fixo é $108, mas apenas $78 quando o custo fixo é $216. Por que o custo total médio varia dessa forma quando o custo fixo aumenta? Quando a produção é baixa, o aumento do custo fixo em virtude do equipamento adicional compensa a redução do custo variável em decorrência da produtividade mais alta do trabalhador, isto é, há poucas unidades de produto para distribuir o custo fixo adicional. Então, se Selena planeja produzir 4 caixas ou menos por dia, ficaria em situação melhor escolhendo o menor nível de custo fixo, $108, para atingir um custo total médio mais baixo na produção. No entanto, quando se planeja produzir muito, deve-se adquirir o equipamento adicional. Em geral, para cada nível de produto existe uma escolha de custo fixo que minimiza o custo total médio da empresa para esse nível de produto. Assim, quando a empresa tem um nível de produto desejado que espera manter ao longo do tempo, deve escolher o nível de custo fixo adequado para esse nível, isto é, o nível de custo fixo que minimiza o custo total médio. Agora que estamos estudando uma situação em que o custo fixo pode variar, é preciso levar em conta o tempo quando se discute o custo total médio. Todas as curvas de custo total médio que analisamos até agora são definidas para determinado nível de custo fixo, ou seja, são definidos para o curto prazo, o período em que o custo fixo não varia. Para reforçar essa distinção, no restante deste capítulo, iremos nos referir a essas curvas de custo total médio como “curvas de custo total médio de curto prazo”. Para a maioria das empresas, é razoável supor que haja muitas escolhas possíveis de custo fixo, e não apenas duas. A implicação para essa empresa é que existem muitas curvas de custo total médio de curto prazo possível, cada uma correspondendo a uma escolha diferente de custo fixo e dando origem ao que é denominado “família” de curvas de custo total médio de curto prazo de uma empresa. Em determinado ponto no tempo, a empresa estará em uma de suas curvas de custo de curto prazo, a que corresponde ao seu nível corrente de custo fixo; uma

variação no produto fará com que ela se mova ao longo dessa curva. Se a empresa espera que a variação no nível de produto seja por muito tempo, é provável que o nível atual de custo fixo da empresa já não seja adequado. Havendo tempo suficiente, a empresa desejará ajustar o custo fixo para um novo nível que minimize o custo total médio para o novo nível de produto. Por exemplo, se a Selena’s Gourmet Salsas estivesse produzindo duas caixas de molho por dia, com um custo fixo de $108, mas, em um futuro próximo, fosse aumentando a produção para 8 caixas por dia, então, no longo prazo, deve comprar mais equipamentos e aumentar o custo fixo em um nível que minimize o custo total médio no nível de produto de 8 caixas por dia. Suponhamos uma experiência imaginária calculando o custo total médio mais baixo possível que pode ser alcançado para cada nível de produto se a empresa for escolher o custo fixo para cada nível de produto. Os economistas denominaram essa experiência imaginária de curva de custo total médio de longo prazo. Especificamente, a curva de custo total médio de longo prazo (LRATC), é a relação entre o produto e o custo total médio, ao se escolher o custo fixo para minimizar o custo total médio de cada nível de produto. Se houver muitas escolhas possíveis de custo fixo, a curva de custo total médio de longo prazo terá a forma familiar suave em U, como mostrado por LRATC na Figura 11-12. Agora se pode fazer uma distinção mais nítida entre curto e longo prazo. No longo prazo, quando o produtor teve tempo de escolher o custo fixo apropriado para o nível desejado de produto, esse produtor estará em algum ponto na curva de custo total médio de longo prazo. Mas se o nível de produto for alterado, a empresa não estará mais na curva de custo total médio de longo prazo, ao contrário, estará se movendo ao longo da curva de custo total médio de curto prazo corrente. Não estará na curva de custo total médio de longo prazo novamente até que reajuste o custo fixo para o novo nível de produto. FIGURA 11-12

Curvas de custo total médio de curto e longo prazo

Curvas de custo total médio de curto e longo prazo diferem porque uma empresa pode escolher o seu custo fixo no longo prazo. Se Selena escolheu o nível de custo fixo que minimiza o custo total médio de curto prazo em uma produção de 6 caixas, e realmente produz 6 caixas, então estará no ponto C em LRATC e CTM6. Mas se produz apenas 3 caixas, moverá para o ponto B. Se espera produzir apenas 3 caixas por um longo tempo, irá reduzir seu custo fixo e passará para o ponto A em CTM3. Da mesma forma, se produz 9 caixas (situando-se no ponto Y) e espera continuar assim por um longo tempo, aumentará o custo fixo no longo prazo e mudará para o ponto X.

A Figura 11-12 ilustra esse ponto. A curva CTM3 mostra o custo total médio de curto prazo se Selena escolher o nível de custo fixo que minimize o custo total médio com produção de 3 caixas de molho por dia. Isso é confirmado pelo fato de que com 3 caixas por dia, CTM3 toca LRATC, a curva de custo total médio de longo prazo. Da mesma forma, CTM6 mostra o custo total médio de curto prazo se Selena escolher o nível de custo fixo que minimize o custo total médio com a produção de 6 caixas por dia. Ela toca LRATC em 6 caixas por dia. E CTM9 mostra o custo total médio de curto prazo se Selena escolher o nível de custo fixo que minimize o custo total médio com a produção de 9 caixas por dia. Ela toca LRATC em 9 caixas por dia. Suponha que Selena inicialmente escolheu estar em CTM6. Se realmente produzir 6 caixas de molho por dia, sua empresa estará no ponto C tanto sobre sua curva de custo total médio de curto como de longo prazo. Suponha, porém, que Selena acaba produzindo apenas 3 caixas de molho por dia. No curto prazo, o custo total médio é

indicado pelo ponto B em CTM6, que não está mais em LRATC. Se Selena soubesse que estaria produzindo apenas 3 caixas por dia, estaria em situação melhor se tivesse escolhido um nível de custo fixo mais baixo, o que corresponde a CTM3, conseguindo assim um custo total médio mais baixo. Então sua empresa se encontraria no ponto A sobre a curva de custo total médio de longo prazo, que se situa abaixo do ponto B. Suponha, por outro lado, que Selena termine produzindo 9 caixas por dia, embora inicialmente tenha escolhido estar em CTM6. No curto prazo, seu custo total médio é indicado pelo ponto Y em CTM6. Mas estaria melhor se tivesse comprado mais equipamentos e incorrido em um custo fixo mais elevado, para reduzir o custo variável e mover para CTM9. Isso lhe permitiria alcançar o ponto X sobre a curva de custo total médio de longo prazo, que se situa abaixo de Y. A distinção entre custo total médio de curto e longo prazo é muito importante para entender como as empresas realmente operam ao longo do tempo. Uma empresa que tenha que aumentar o produto de repente para atender a um aumento na demanda normalmente vai achar que no curto prazo o custo total médio irá aumentar acentuadamente, porque é difícil obter produção extra com as instalações existentes. Mas com tempo para construir uma nova fábrica ou adicionar equipamentos, o custo total médio de curto prazo diminuirá. Rendimentos de escala

O que determina a forma da curva de custo total médio de longo prazo? A resposta é que escala, a dimensão das operações de uma empresa, muitas vezes, é um determinante importante do custo total médio de produção de longo prazo. As empresas que sofrem efeitos de escala na produção verificam que o custo total médio de longo prazo varia consideravelmente, dependendo da quantidade de produto que produzem. Há rendimentos crescentes de escala (também conhecidos como economias de escala), quando o custo total médio de longo prazo diminui à medida que o produto aumenta. Como se vê na Figura 11-12, Selena’s Gourmet Salsas experimenta rendimentos crescentes de escala em relação aos níveis de produção que variam de 0 a 5 caixas de molho por dia – os níveis de produto em que a curva de custo total médio de longo prazo está em declínio. Em contrapartida, há rendimentos decrescentes de escala (também conhecido como deseconomias de escala), quando o custo total médio de longo prazo aumenta à medida que o produto aumenta. Para Selena’s Gourmet Salsas, rendimentos decrescentes de escala ocorrem nos níveis de produto de 7 caixas ou mais, os níveis de produto para os quais a curva de custo total médio de longo prazo está subindo. Há também uma terceira relação possível entre o custo total médio de longo prazo e de escala: as empresas

experimentam rendimentos constantes de escala quando o custo total médio de longo prazo é constante à medida que a produção aumenta. Nesse caso, a curva de custo total médio de longo prazo da empresa é horizontal sobre os níveis de produto para os quais há rendimentos constantes de escala. Como se pode ver na Figura 1112, Selena’s Gourmet Salsas tem rendimentos constantes de escala quando produz em algum ponto entre 5 e 7 caixas de molho por dia. O que explica esse efeito de escala na produção? Em última análise, a resposta está na tecnologia de produção da empresa. Rendimentos crescentes, muitas vezes, surgem do aumento da especialização que aumenta os níveis de produção permitidos – uma escala maior de operação significa que cada trabalhador individual pode-se limitar a tarefas mais especializadas, tornando-se mais qualificado e eficiente em sua execução. Outra fonte de rendimentos crescentes é um custo de instalação inicial muito elevado; em algumas indústrias, como a automobilística, a de geração de energia elétrica e a de refino de petróleo, é necessário incorrer em custo fixo elevado em termos de planta e equipamento para produzir qualquer nível de produto. Uma terceira fonte de rendimentos crescentes, encontrada em determinadas indústrias de alta tecnologia, como desenvolvimento de soware, é a externalidades de rede, um tema a ser abordado no Capítulo 16. Como veremos no Capítulo 13, ao estudar monopólio, os rendimentos têm implicação importante para a forma como as empresas e indústrias interagem e se comportam. Rendimentos decrescentes – o cenário oposto – surgem normalmente em grandes empresas em decorrência de problemas de coordenação e de comunicação: à medida que a empresa aumenta de tamanho, torna-se cada vez mais difícil e dispendioso se comunicar e organizar as atividades. Apesar de rendimentos crescentes induzirem as empresas a crescer, rendimentos decrescentes tendem a limitar seu tamanho. E quando há rendimentos de escala constantes, a escala não tem efeito sobre o custo total médio de longo prazo de uma empresa: é o mesmo, independentemente de a empresa produzir uma unidade ou 100 mil unidades. Resumindo custos: curto e longo prazo

Se uma empresa estiver tomando as melhores decisões sobre quanto produzir, tem que entender como os custos se relacionam com a quantidade de produto que escolhe produzir. A Tabela 11-3 fornece um breve resumo dos conceitos e medidas de custo aprendidas.

economia em ação Não há nenhum negócio como o da remoção de neve

Quem que já viveu tanto em uma cidade com neve intensa, como Chicago, como em uma que ocasionalmente neva intensamente, como Washington, D.C., está ciente da diferença de custo total que surge ao fazer escolhas diferentes sobre o custo fixo. TABELA 11-3 Conceitos e medidas de custo Medida Curto prazo

Curto e longo prazos

Longo prazo

Definição

Termo matemático

Custo fixo

Custo que não depende da quantidade produzida

CF

Custo fixo médio

Custo fixo por unidade de produto

CFM = CF/Q

Custo variável

Custo que depende da quantidade produzida

CV

Custo variável médio

Custo variável por unidade de produto

CVM = CV/Q

Custo total

Soma do custo fixo (curto prazo) e do custo variável

CT = CF (curto prazo) + CV

Custo total médio (custo médio)

Custo total por unidade de produto

CTM = CT/Q

Custo marginal

Variação no custo total gerada ao produzir uma unidade a mais de produto

MC =ΔCT/ ΔQ

Custo total médio de longo prazo

Custo total médio quando o custo fixo foi escolhido de modo a minimizar o custo total para cada nível de produto

LRATC

Em Washington, até mesmo uma neve leve – digamos de uma ou duas polegadas durante a noite – é suficiente para criar um caos durante o trajeto na manhã seguinte. A mesma quantidade de neve em Chicago não tem quase nenhum efeito. A razão não é que os moradores de Washington são fracos e os de Chicago são mais resistentes; é que Washington, onde raramente neva, tem apenas uma fração de máquinas limpaneve e outros equipamentos de limpeza de neve em comparação com as cidades onde a neve pesada é um fato na vida. Nesse sentido, Washington e Chicago são como dois produtores que esperam para produzir níveis de produto diferentes, onde o “produto” é a remoção de neve. Washington, que raramente tem neve intensa, optou por um baixo nível de custo fixo

na forma de equipamentos de limpeza de neve. Isso faz sentido, em circunstâncias normais, mas deixa a cidade despreparada quando a neve é mais intensa. Chicago, que sabe que vai enfrentar muita neve, opta em aceitar o custo fixo mais elevado que a deixa em posição de responder de forma eficaz.

BREVE REVISÃO No longo prazo, as empresas escolhem o custo fixo de acordo com o produto esperado. Um custo fixo mais alto reduz o custo total médio quando a produção é alta. Custos fixos mais baixos reduzem o custo total médio quando a produção é baixa. Existem muitas possibilidades de curvas de custo total médio de curto prazo, cada uma correspondendo a um nível diferente de custo fixo. A curva de custo total médio de longo prazo (LRATC) mostra o custo total médio no longo prazo, quando a empresa optou pelo custo fixo que minimiza o custo total médio para cada nível de produto. Uma empresa que ajustou plenamente o custo fixo ao seu nível de produto irá operar em um ponto que está tanto sobre a curva de custo total médio de curto prazo como da curva de custo total médio de longo prazo. A variação no produto move a empresa ao longo da curva de custo total médio de curto prazo corrente. Uma vez que tenha reajustado o custo fixo, ela vai operar em uma nova curva de custo total médio de curto prazo e na curva de custo total médio de longo prazo. Efeitos de escala surgem da tecnologia de produção. Rendimentos crescentes de escala tendem a tornar as empresas maiores. Rendimentos decrescentes de escala tendem a limitar o seu tamanho. Com rendimentos constantes de escala, a escala não tem efeito.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 11-3 1. A tabela a seguir mostra três combinações possíveis de custo fixo e o custo variável médio. O custo variável médio é constante neste exemplo (não varia com a quantidade produzida). Escolha

Custo fixo

Custo variável médio

1

$ 8.000

$1,00

2

12.000

0,75

3

24.000

0,25

a. Para cada uma das três opções, calcule o custo total médio de produzir 12 mil, 22 mil e 30 mil unidades. Para cada uma dessas quantidades, qual é a escolha que resulta no custo total médio mais baixo? b. Suponha que a empresa que historicamente produziu 12 mil unidades experimenta um aumento acentuado e permanente na demanda que a leva a

produzir 22 mil unidades. Explique como seu custo total médio vai variar no curto e no longo prazo. c. Explique o que a empresa deveria fazer, em vez disso, se acreditar que a mudança na demanda seja temporária. 2. Em cada um dos casos a seguir, explique o tipo de efeito de escala que imagina que irá ocorrer e por quê. a. Uma empresa de telemarketing em que funcionários fazem chamadas para vender algo usando computadores e telefones. b. Uma empresa de decoração de interiores em que os projetos são fundamentados na experiência do proprietário da empresa. c. Uma empresa de mineração de diamantes. 3. Trace um gráfico como o da Figura 11-12 e insira uma curva de custo total médio de curto prazo correspondente a uma escolha de produto de longo prazo de 5 caixas de molho por dia. Use o gráfico para mostrar por que Selena deve mudar seu custo fixo se espera produzir apenas 4 caixas por dia por um longo período. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Robôs do Sistema Kiva versus seres humanos: o desafio do atendimento a pedidos de férias

Para quem gosta de procrastinar quando se trata de férias para compras, a ascensão do e-commerce foi um fenômeno bem-vindo. A Amazon.com se gaba de que, em 2010, um cliente era capaz de colocar um pedido no dia 23 de dezembro e ainda recebê-lo antes do Natal. Os varejistas do e-commerce, como a Amazon.com e a Crate&Barrel.com, observam as vendas quadruplicar nas férias. Com o avanço da tecnologia de atendimento de pedidos que permite aos clientes receber os pedidos rapidamente, quem vende por meio de comércio eletrônico tem conseguido capturar uma parcela cada vez maior das vendas varejistas tradicionais. As vendas em sites de comércio eletrônico durante as férias cresceram mais de 15% de 2009 para 2010. Por trás desses avanços tecnológicos, no entanto, reside um debate intenso: pessoas versus robôs. A Amazon.com conta com uma grande equipe de trabalhadores humanos temporários para conseguir atender aos clientes em férias, muitas vezes quadruplicando seu pessoal e operando 24 horas por dia. Em contrapartida, a Crate&Barrel.com só duplica a força de trabalho. Graças a um grupo de robôs laranja, cada trabalhador consegue fazer o trabalho de seis pessoas. O líder em robótica de atendimento de pedidos é o Sistema Kiva. De acordo com a Kiva, é possível instalar um sistema de robótica com poucos milhões de dólares. Mas algumas instalações têm custado até $20 milhões. No entanto, a contratação de

trabalhadores também tem um custo: durante a temporada de férias de 2010, a Amazon contratou 12.500 trabalhadores temporários em seus 20 centros de distribuição em todo os Estados Unidos. Mas como um analista do setor observou, um obstáculo para a adoção de um sistema de robótica para muitos varejistas de e-commerce é que não faz sentido econômico: é muito caro comprar robôs suficientes para o período mais movimentado do ano, pois ficariam ociosos em outros momentos. Kiva agora está testando um programa para alugar seus robôs sazonalmente, de modo que os varejistas possam “contratar” robôs suficientes para lidar com os pedidos nas férias, assim como a Amazon.com contrata mais trabalhadores.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Suponha que uma empresa possa vender um robô, mas que a venda leve tempo e é provável que a empresa receba menos do que foi pago. Tudo o mais mantido constante, que sistema, com base em seres humanos ou robótica, terá um custo fixo mais elevado? Qual terá um custo variável mais elevado? Explique. 2. Prediga o padrão de vendas fora do período de férias em relação às vendas durante as férias que induz um varejista a manter um sistema de base humana, como a Amazon.com. Prediga o padrão que induz um varejista a passar para um sistema robótico, como o da Crate&Barrel.com. 3. Como é que a adoção de um programa de “aluguel de robô” através da Kiva afetaria a resposta à questão 2? Explique.

• RESUMO 1. A função de produção do produtor é a relação entre insumos e produto. No curto prazo, a quantidade de insumo fixo não pode variar, mas a quantidade de um insumo variável pode. No longo prazo, as quantidades de todos os insumos podem variar. Para determinado montante de insumo fixo, a curva de produto total mostra como a quantidade de produto varia à medida que a quantidade de insumo variável varia. Podemos calcular também o produto marginal de um insumo, o aumento de produto que advém de utilizar mais de uma unidade de insumo. 2. Há rendimentos decrescentes de um insumo quando o produto marginal diminui à medida que o insumo é usado, mantendo fixas as quantidades de todos os demais insumos. 3. O custo total, representado pela curva de custo total, é igual à soma do custo fixo, que não depende do produto, e do custo variável, que depende do produto. Em virtude dos rendimentos decrescentes, o custo marginal, o aumento do custo total gerado pela produção de mais uma unidade de produto, normalmente aumenta à medida que o produto aumenta.

4. O custo total médio (também conhecido como custo médio), o custo total dividido pela quantidade de produto, é o custo da unidade média de produto, e o custo marginal é o custo de uma unidade a mais produzida. Os economistas acreditam que as curvas de custo total médio em forma de U são típicas, porque o custo total médio é composto de duas partes: custo fixo médio, que cai quando o produto aumenta (o efeito de distribuição do custo fixo por mais unidades) e o custo variável médio, que aumenta com o produto (o efeito dos rendimentos decrescentes). 5. Quando o custo total médio tem forma de U, a parte inferior do U é o nível de produto pelo qual o custo total médio é minimizado, o ponto do produto de custo mínimo. Esse é também o ponto em que a curva de custo marginal cruza a curva de custo total médio vindo de baixo. Em decorrência dos ganhos de especialização, a curva de custo marginal pode inicialmente ter inclinação para baixo, antes de subir, tomando a forma da “logomarca da Nike”. 6. No longo prazo, um produtor pode variar o insumo fixo e o nível de custo fixo. Ao aceitar um custo fixo mais alto, uma empresa pode reduzir o custo variável de qualquer nível de produto, e vice-versa. A curva de custo total médio de longo prazo mostra a relação entre o custo total médio e o produto, quando o custo fixo foi escolhido de modo a minimizar o custo total médio em cada nível de produto. A empresa se move ao longo da curva de custo total médio de curto prazo à medida que a quantidade de produto varia e retorna a um ponto tanto sobre a curva de custo total médio de longo como de curto prazo, uma vez ajustado o custo fixo ao novo nível de produto. 7. À medida que o produto aumenta, há rendimentos crescentes de escala se o custo total médio de longo prazo diminuir; rendimentos decrescentes de escala, se aumentar, e rendimentos constantes de escala se permanecer constante. Efeitos de escala dependem da tecnologia de produção.

• PALAVRAS-CHAVE Função de produção, p. 270 Insumo fixo, p. 270 Insumo variável, p. 270 Longo prazo, p. 270 Curto prazo, p. 270 Curva do produto total, p. 270 Produto marginal, p. 270 Rendimentos decrescentes de um insumo, p. 272 Custo fixo, p. 273 Custo variável, p. 274 Custo total, p. 274 Curva do custo total, p. 274 Custo total médio, p. 278 Custo médio, p. 278

Curva do custo total médio em forma de U, p. 278 Custo fixo médio, p. 278 Custo variável médio, p. 278 Produto de custo mínimo, p. 280 Curva de custo total médio de longo prazo, p. 284 Rendimentos crescentes de escala, p. 285 Rendimentos decrescentes de escala, p. 285 Rendimentos constantes de escala, p. 286

• PROBLEMAS 1. A variação nos preços dos produtos básicos pode ter um impacto significativo sobre os resultados de uma empresa. De acordo com um artigo no Wall Street Journal de 27 de setembro de 2007: “Agora, com os preços do petróleo, do gás e da energia elétrica em alta, as empresas estão começando a perceber que poupar energia pode se traduzir em redução drástica de custos.” Outro artigo do Wall Street Journal, de 9 de setembro de 2007, afirma: “Os preços mais elevados dos grãos estão pesando cada vez mais nas finanças das empresas.” A energia é um insumo em praticamente todos os tipos de produção; milho é insumo na produção de carne, frango, xarope de milho com alta frutose e etanol (combustível que substitui a gasolina). a. Explique como o custo da energia elétrica pode ser tanto um custo fixo como um custo variável para a empresa. b. Suponha que a energia elétrica seja um custo fixo e que o seu preço suba. O que acontece com a curva de custo total médio da empresa? O que acontece com a curva de custo marginal? Ilustre a resposta com um gráfico. c. Explique por que o custo do milho é um custo variável e não um custo fixo para um produtor de etanol. d. Quando o custo do milho sobe, o que acontece com a curva de custo total médio de um produtor de etanol? O que acontece com a curva de custo marginal? Ilustre a resposta com um gráfico. 2. Marlyse Frozen Yogurt é uma pequena loja que vende copinhos de sorvete de iogurte em uma cidade universitária. Marty é dono de três máquinas de frozen-yogurt. Seus outros insumos são refrigeradores, mistura para sorvete, copinhos, coberturas e, é claro, trabalhadores. Ele calcula que a função de produção diária quando varia o número de trabalhadores (e, ao mesmo tempo, de mistura para sorvete, copinhos, e assim por diante) é apresentada na tabela a seguir.

Quantidade de trabalho (trabalhadores)

Quantidade de sorvete (copinhos)

0

0

1

110

2

200

3

270

4

300

5

320

6

330

a. Quais são os insumos fixos e variáveis na produção de copinhos de sorvete? b. Trace a curva do produto total. Coloque a quantidade de trabalho no eixo horizontal e a quantidade de sorvete no eixo vertical. c. Qual é o produto marginal do primeiro trabalhador? E do segundo? E do terceiro? Por que o produto marginal declina quando o número de trabalhadores aumenta? 3. A função de produção da Marty’s Frozen Yogurt é dada no Problema 2. Marty paga a cada um dos trabalhadores $80 por dia. O custo dos outros insumos variáveis é $0,50 por copinho de sorvete. O custo fixo é $100 por dia. a. Qual é o custo variável e o custo total de Marty quando ele produz 110 copinhos de sorvete? E 200 copinhos? Calcule o custo variável e o custo total para cada nível de produto dado no Problema 2. b. Trace a curva de custo variável de Marty. No mesmo gráfico, trace a curva de custo total. c. Qual é o custo marginal por copinho para os primeiros 110 copinhos de sorvete? E para os próximos 90 copinhos? Calcule o custo marginal para todos os níveis restantes de produto. 4. A função de produção da Marty Frozen Yogurt é dada no Problema 2. Os custos são dados no Problema 3. a. Para cada um dos níveis de produto, calcule o custo fixo médio (CFM), o custo variável médio (CVM) e o custo total médio (CTM) por copinho de sorvete. b. Em um gráfico, trace as curvas CFM, CVM e CTM. c. Que princípio explica por que o CFM diminui à medida que o produto aumenta? Que princípio explica por que CVM aumenta à medida que o produto aumenta? Explique as respostas. d. Quantos copinhos de sorvete são produzidos quando o custo total médio é minimizado? 5. A tabela a seguir mostra o custo total de produção de uma fábrica de automóveis.

Quantidade de carros

Custo total

0

$500.000

1

540.000

2

560.000

3

570.000

4

590.000

5

620.000

6

660.000

7

720.000

8

800.000

9

920.000

10

1.100.000

a. Qual é o custo fixo desse fabricante? b. Para cada nível de produto, calcule o custo variável (CV). Para cada nível de produto, exceto zero, calcule o custo variável médio (CVM), o custo total médio (CTM) e o custo fixo médio (CFM). Qual é o produto de custo mínimo? c. Para cada nível de produto, calcule o custo marginal do fabricante (CF). d. Em um gráfico, trace as curvas CVM, CTM e CF do fabricante. 6. Os custos do trabalho representam uma grande porcentagem dos custos totais para muitas empresas. De acordo com um artigo do Wall Street Journal de 29 de julho de 2011, os custos do trabalho dos Estados Unidos aumentaram 0,7% no segundo trimestre de 2011, comparado com o primeiro trimestre de 2011. a. Quando o custo do trabalho aumenta, o que acontece com o custo total médio e com o custo marginal? Considere um caso em que os custos do trabalho são apenas custos variáveis e outro em que são tanto custos variáveis como fixos. Um aumento na produtividade do trabalho significa que cada trabalhador pode produzir mais produto. Dados recentes sobre produtividade mostram que a produtividade do trabalho do setor não agrícola dos Estados Unidos cresceu 1,7% entre 1970 e 1999, 2,6% entre 2000 e 2010 e 4,1% em 2010. b. Quando o crescimento da produtividade é positivo, o que acontece com a curva do produto total e com a curva do produto marginal do trabalho? Ilustre a resposta com um gráfico. c. Quando o crescimento da produtividade é positivo, o que acontece com a curva de custo marginal e com a curva de custo total médio? Ilustre a resposta com um gráfico. d. Se, em média, os custos do trabalho estão aumentando ao longo do tempo, por que uma empresa desejaria adotar equipamentos e métodos que aumentam a produtividade do trabalho? 7. Magnificent Blooms é uma florista especializada em arranjos florais para casamentos, formaturas e outros eventos. Magnificent Blooms tem um custo fixo associado a espaço e equipamento de $100 por dia. Cada trabalhador recebe $50 por dia. A função de produção diária da Magnificent Blooms é mostrada na tabela a seguir.

Quantidade de trabalho (trabalhadores)

Quantidade de arranjos florais

0

0

1

5

2

9

3

12

4

14

5

15

a. Calcule o produto marginal de cada trabalhador. Que princípio explica por que o produto marginal por trabalhador diminui à medida que o número de trabalhadores empregados aumenta? b. Calcule o custo marginal de cada nível de produto. Que princípio explica por que o custo marginal por arranjo floral aumenta à medida que o número de arranjos aumenta? 8. Você tem as informações mostradas na tabela a seguir sobre os custos de uma empresa. Complete os dados faltantes.

9. Avalie cada uma das seguintes afirmações. Se uma afirmação for verdadeira, explique por que; se for falsa, identifique o erro e tente corrigi-lo. a. Um produto marginal decrescente nos informa que o custo marginal deve ser crescente. b. Um aumento no custo fixo aumenta o produto de custo mínimo. c. Um aumento no custo fixo aumenta o custo marginal. d. Quando o custo marginal está acima do custo total médio, o custo total médio deve estar caindo. 10. Mark e Jeff operam uma pequena empresa que produz bolas de futebol. Seu custo fixo é $2.000 por mês. Eles podem contratar trabalhadores por $1.000 por mês por trabalhador. Sua função de produção mensal para bolas de futebol é apresentada na tabela a seguir.

Quantidade de trabalho (trabalhadores)

Quantidade de bolas

0

0

1

300

2

800

3

1,200

4

1,400

5

1,500

a. Para cada quantidade de trabalho, calcule o custo variável médio (CVM), o custo fixo médio (CFM), o custo total médio (CTM) e custo marginal (CM). b. Em um gráfico, trace as curvas CVM, CTM e CF. c. Em que nível de produto o custo total médio de Jeff e Mark está minimizado? 11. Você produz uma bugiganga qualquer. Atualmente você produz 4 bugigangas a um custo total de $40. a. Qual é o seu custo total médio? b. Suponha que seja possível produzir mais uma bugiganga (a quinta) a um custo marginal de $5. Caso produza essa quinta unidade, qual será seu custo total médio? Ele aumenta ou diminui? Por quê? c. Suponha que, em vez disso, seja possível produzir mais uma bugiganga (a quinta) a um custo marginal de $20. Se produzir essa quinta unidade, qual será o custo total médio? Ele aumenta ou diminui? Por quê? 12. Na aula de Economia, cada conjunto de exercícios feito em casa recebe nota, sendo 100 a nota máxima. Você completou 9 dos 10 conjuntos de exercícios e a média atual é 88. Que nota o 10º conjunto de exercícios deve receber para aumentar a média da nota? Que nota reduzirá a média geral? Explique. 13. Don é dono de uma concreteira. Seu custo fixo é o custo da máquina de bater concreto mais os caminhões com betoneiras. Seu custo variável é o custo da areia, cascalho e outros insumos para produzir concreto, a gasolina e a manutenção de máquinas e caminhões e os trabalhadores. Ele está tentando decidir quantos caminhões com betoneiras comprar. Calculou os custos na tabela a seguir com base na estimativa do número de pedidos que a empresa receberá por semana. CV Quantidadede caminhões

CF

20 pedidos

40 pedidos

60 pedidos

2

$6.000

$2.000

$5.000

$12.000

3

7.000

1.800

3.800

10.800

4

8.000

1.200

3.600

8.400

a. Para cada nível de custo fixo, calcule o custo total de Don para produzir 20, 40 e 60 pedidos por semana. b. Se Don está produzindo 20 pedidos por semana, quantos caminhões deverá comprar e qual será o custo total médio? Responda às mesmas perguntas para 40 e 60 pedidos por semana.

14. Considere o negócio de mistura de concreto de Don descrito no Problema 13. Suponha que Don comprou três caminhões, com a expectativa de produzir 40 pedidos por semana. a. Suponha que, no curto prazo, o negócio caia para 20 pedidos por semana. Qual é o custo total médio de Don por pedido no curto prazo? Qual será o custo total médio por pedido no curto prazo se os negócios aumentarem para 60 pedidos por semana? b. Qual é o custo total médio de Don no longo prazo para 20 pedidos por semana? Explique por que o custo total médio no curto prazo de produzir 20 pedidos por semana, quando o número de caminhões é fixo em 3, é maior do que o custo total médio de longo prazo de produzir 20 pedidos por semana. c. Trace a curva de custo total médio de longo prazo de Don. Trace a curva de custo total médio de curto prazo quando possui três caminhões. 15. Verdadeiro ou falso? Explique seu raciocínio. a. O custo total médio de curto prazo nunca pode ser menor que o custo total médio de longo prazo. b. O custo variável médio de curto prazo nunca poderá ser menor do que o custo total médio de longo prazo. c. No longo prazo, a escolha de um nível mais alto de custo fixo desloca a curva de custo total médio de longo prazo para cima. 16. Wolfsburg Wagon (WW) é uma pequena montadora. A tabela a seguir mostra o custo total médio de longo prazo da WW. Quantidade de carros

LRATC do carro

1

$30.000

2

20.000

3

15.000

4

12.000

5

12.000

6

12.000

7

14.000

8

18.000

a. Em que níveis de produto WW experimenta rendimentos crescentes de escala? b. Em que níveis de produto WW experimenta rendimentos decrescentes de escala? c. Em que níveis de produto WW experimenta rendimentos constantes de escala?

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CAPÍTULO 12 » Concorrência perfeita e curva da oferta

FAZENDO O QUE É NATURAL

s consumidores de comida nos Estados Unidos estão preocupados com questões de saúde. A demanda por alimentos e bebidas naturais, como água engarrafada e frutas e vegetais cultivadas organicamente, aumentou rapidamente nas últimas duas décadas, a uma taxa média de crescimento de 20% ao ano. O pequeno grupo de agricultores que foram pioneiros em técnicas de agricultura orgânica prosperou graças aos preços mais elevados. Mas todos sabiam que os altos preços dos produtos orgânicos não eram suscetíveis de persistir mesmo com o novo aumento da demanda por alimentos cultivados naturalmente: a oferta de alimentos orgânicos, embora fosse relativamente inelástica aos preços no curto prazo, certamente era muito elástica aos preços no longo prazo. Com o tempo, as fazendas que já produziam alimentos orgânicos aumentaram a capacidade, e os agricultores convencionais entraram no negócio de alimentos orgânicos. Assim, o aumento da quantidade ofertada em resposta ao aumento de preços é muito maior no longo prazo que no curto prazo. De onde vem a curva da oferta? Por que há diferença entre a curva da oferta de curto e de longo prazos? Neste capítulo, usaremos a compreensão dos custos, desenvolvida no Capítulo 11, como base para a análise da curva da oferta. Como veremos, isso vai exigir que entendamos o comportamento

O

tanto de empresas individuais como de todo um setor composto dessas muitas empresas individuais. Neste capítulo, a análise pressupõe que o setor em questão se caracteriza pela concorrência perfeita. Começamos por explicar o conceito de concorrência perfeita, oferecendo uma breve introdução sobre as condições que dão origem a um setor em concorrência perfeita. Em seguida, mostramos como um produtor em concorrência perfeita decide quanto produzir. Finalmente, usamos as curvas de custo dos produtores individuais para derivar a curva da oferta do setor em concorrência perfeita. Ao analisar a forma como um setor competitivo evolui ao longo do tempo, compreendemos a distinção entre os efeitos de curto e de longo prazo das variações na demanda de um setor competitivo – como, por exemplo, o efeito do novo gosto dos americanos por alimentos orgânicos no setor de agricultura orgânica. Concluiremos com uma discussão mais profunda das condições necessárias para uma concorrência perfeita. O que você vai aprender neste capítulo • O que é um mercado em concorrência perfeita e as características de um setor em concorrência perfeita. • Como um produtor tomador de preços determina a quantidade de produto que maximiza o lucro. • Como avaliar se um produtor é ou não lucrativo e por que um produtor não lucrativo pode continuar a operar no curto prazo. • Por que os setores se comportam de forma diferente no curto e no longo prazo. • O que determina a curva da oferta do setor, tanto no curto como no longo prazo.

CONCORRÊNCIA PERFEITA Suponha que Yves e Zoe sejam fazendeiros vizinhos, ambos cultivando tomates orgânicos. Os dois vendem sua produção para a mesma cadeia de mercearias que vendem produtos orgânicos; assim, em um sentido real, Yves e Zoe concorrem um com o outro.

Isso quer dizer que Yves deveria impedir Zoe de cultivar tomate ou que Yves e Zoe deveriam fazer um acordo e produzir menos? Certamente que não: há centenas ou milhares de agricultores de tomate orgânico, e Yves e Zoe estão concorrendo com todos esses outros agricultores, bem como um com o outro. Como tantos agricultores vendem tomates orgânicos, se qualquer um deles produzir mais ou menos, não trará efeito mensurável sobre os preços de mercado. Quando as pessoas falam sobre concorrência comercial, a imagem que têm em mente é uma situação em que duas ou três empresas rivais batalham intensamente para obter vantagem. Mas os economistas sabem que quando um setor é composto de poucos concorrentes principais, isso é realmente um sinal de que a concorrência é bastante limitada. Como sugere o exemplo dos fazendeiros que cultivam tomates orgânicos, quando há muita concorrência, não faz sentido identificar os rivais: há tantos concorrentes que não importa destacar qualquer um deles como rival. Colocando de outra forma: Yves e Zoe são produtores tomadores de preço. Um produtor é tomador de preço quando suas ações não podem afetar o preço do bem ou serviço que vende no mercado. Como resultado, um produtor tomador de preço considera o preço de mercado como dado. Quando a concorrência é suficiente, ou seja, quando a concorrência é o que os economistas chamam de “perfeita”, cada produtor é um tomador de preço. E há uma definição semelhante para os consumidores: um consumidor tomador de preço é aquele que não pode influenciar o preço de mercado do bem ou serviço por meio de suas ações. Ou seja, o preço de mercado não é afetado pela quantidade do bem que o consumidor compra. Definindo concorrência perfeita

Em um mercado em concorrência perfeita, todos os participantes do mercado, tanto consumidores como produtores, são tomadores de preço. Isto é, nem as decisões de consumo dos consumidores individuais, nem as decisões de produção dos produtores individuais afetam o preço de mercado do bem. O modelo de oferta e demanda, introduzido no Capítulo 3 e usado várias vezes desde então, é um modelo de mercado em concorrência perfeita.

Depende fundamentalmente do pressuposto de que nenhum comprador ou vendedor individual de um bem, seja café em grão ou tomates orgânicos, acredita que é possível afetar o preço pelo qual comprará ou venderá o bem. Como regra geral, os consumidores de fato são tomadores de preços. São raros os casos em que os consumidores são capazes de afetar os preços que pagam. No entanto, é bastante comum que os produtores tenham uma capacidade significativa de afetar os preços que recebem, um fenômeno que vamos abordar no Capítulo 13. Assim, o modelo de concorrência perfeita é apropriada para alguns, mas não para todos os mercados. Um setor industrial em que os produtores são tomadores de preços é chamado de setor em concorrência perfeita. É claro que alguns setores não estão em concorrência perfeita. Nos próximos capítulos, veremos como analisar os setores que não se encaixam no modelo de concorrência perfeita. Em que circunstâncias todos os produtores serão tomadores de preços? Na próxima seção, veremos que existem duas condições necessárias para um setor estar em concorrência perfeita e há uma terceira condição que, muitas vezes, também está presente. Duas condições necessárias para a concorrência perfeita

Os mercados dos principais cereais, como trigo e milho, são perfeitamente competitivos: fazendeiros individuais de trigo e de milho, bem como compradores individuais de trigo e de milho, consideram os preços de mercado como dados. Em contrapartida, os mercados de alguns alimentos elaborados com esses cereais – em particular, cereais matinais, estão longe de estar em concorrência perfeita. Há uma concorrência intensa entre as marcas de cereais, mas a concorrência não é perfeita. Entender a diferença entre o mercado de trigo e o mercado de cereal matinal é compreender a importância das duas condições necessárias para a concorrência perfeita. Primeiro, para que uma indústria esteja em concorrência perfeita, deve ter muitos produtores, e nenhum deles pode ter uma grande participação de mercado. A participação de mercado de um produtor é a fração do setor representada pelo produto total daquele produtor. A distribuição das

parcelas de mercado constitui uma grande diferença entre a indústria de cereais e a indústria de cereais matinais. Existem milhares de fazendeiros de trigo, nenhum deles representa mais do que uma pequena fração do total das vendas de trigo. No entanto, a indústria de cereais matinais nos Estados Unidos é dominada por quatro produtores: Kellogg, General Mills, Post Foods e Quaker Oats Company. A Kellogg sozinha representa cerca de 1/3 de todas as vendas de cereais. Os executivos da Kellogg sabem que se tentarem vender mais cereais, possivelmente pressionarão para baixo o preço de mercado de flocos de milho. Ou seja, sabem que suas ações influenciam o preço de mercado, porque são uma parcela tão grande do mercado que variações na sua produção afetam significativamente a quantidade total ofertada. Só faz sentido supor que os produtores são tomadores de preços quando um setor não tem nenhum participante tão grande como a Kelloggs. Segundo, um setor só pode estar em concorrência perfeita se os consumidores considerarem os produtos de todos os produtores como equivalentes. É claro que isso não é verdade no mercado de cereais matinais: os consumidores não consideram que Cap’n Crunch seja um bom substituto para Wheaties. Como resultado, o fabricante de Wheaties tem alguma capacidade de aumentar o preço, sem temer perder todos os clientes para o fabricante Cap’n Crunch. Compare isso com o caso de um produto padronizado, que é um produto que os consumidores consideram idêntico, mesmo que venha de produtores diferentes, às vezes conhecido como commodity. Como o trigo é um produto padronizado, os consumidores consideram o produto de um fazendeiro de trigo como perfeitamente substituível pelo produto de outro fazendeiro de trigo. Consequentemente, um fazendeiro não pode aumentar o preço do trigo sem perder todas as vendas para os outros produtores de trigo. Assim, a segunda condição necessária para que uma indústria seja competitiva é que o produto da indústria seja padronizado (veja a seguir na seção Para mentes curiosas). Livre entrada e saída

Todas as indústrias em concorrência perfeita têm muitos produtores com pequenas parcelas de mercado produzindo um produto padronizado. A maioria das indústrias em concorrência perfeita tem ainda outra característica: é fácil para novas empresas entrar na indústria ou para as empresas que já estão nela, sair. Ou seja, não há obstáculos na forma de regulamentação do governo ou acesso limitado a recursos essenciais impedindo novos produtores de entrar no mercado. E não há custos adicionais associados ao encerramento de uma empresa e abandono do setor. Os economistas se referem à chegada de novas empresas em um setor como entrada e à partida das empresas que deixam o setor como saída. Quando não existem obstáculos para a entrada ou saída no setor, dizemos que a indústria tem livre entrada e saída. A livre entrada e saída não é estritamente necessária para a concorrência perfeita. No Capítulo 5, descrevemos o caso da pesca de mexilhões em New Jersey, onde a regulamentação governamental limita o número de barcos de pesca, de modo que a entrada no setor é limitada. Apesar disso, o número de barcos operando é suficiente para que os pescadores sejam tomadores de preço. Mas a livre entrada e saída é um fator essencial na maioria dos setores competitivos. Garante que o número de produtores em um setor possa se ajustar às novas condições de mercado. Em particular, garante que os produtores de um setor não possam manter outras empresas afastadas. Resumindo, então, a concorrência perfeita depende de duas condições necessárias. Primeiro, a indústria deve conter muitos produtores, cada um tendo uma pequena participação no mercado. Segundo, a indústria deve produzir um produto padronizado. Além disso, setores perfeitamente competitivos são normalmente caracterizados por livre entrada e saída. Como um setor que atende esses três critérios se comporta? Como primeiro passo para responder a essa pergunta, vamos analisar como um produtor individual em um setor perfeitamente competitivo maximiza o lucro.

economia em ação A dor da concorrência

Algumas vezes é possível observar uma indústria se tornar perfeitamente competitiva. De fato, isso acontece com frequência no caso dos medicamentos quando a patente de um remédio popular expira.

PARA MENTES CURIOSAS O QUE É UM PRODUTO PADRONIZADO? Um setor em concorrência perfeita precisa produzir um produto padronizado. Mas basta que o produto de diferentes empresas seja de fato o mesmo? Não: é preciso que as pessoas também pensem que é a mesma coisa. E os produtores muitas vezes não medem esforços para convencer os consumidores de que têm um produto distinguível, diferenciado, mesmo quando não o têm. Considere, por exemplo, o champanhe – não os champanhes prêmio excessivamente caros, mas um mais comum. A maioria das pessoas não consegue diferenciar entre o champanhe realmente produzido na região de Champagne, na França, de onde o produto é original, de produtos similares da Espanha ou da Califórnia. Mas o governo francês pediu e obteve proteção jurídica para os produtores de vinho de Champagne, garantindo que em todo o mundo só o vinho espumante dessa região pode ser chamado de champanhe. Se for de algum outro lugar, tudo que o vendedor pode fazer é dizer que foi produzido usando o méthode champenoise. Isso cria uma diferenciação na mente dos consumidores e permite que os produtores de champanhe de Champagne cobrem preços mais altos. Da mesma forma, os produtores coreanos de kimchi, o repolho fermentado e condimentado que é um prato coreano nacional, estão fazendo o possível para convencer os consumidores de que o mesmo produto embalado por empresas japonesas não é verdadeiro. O objetivo é, naturalmente, garantir preços mais elevados para o kimchi coreano. Então, um setor está em concorrência perfeita quando os produtores vendem produtos que não se distinguem, exceto pelo nome, mas que os consumidores, por qualquer motivo, não acham que sejam padronizados? Não. Quando se trata de definir a natureza da concorrência, o consumidor tem sempre razão.

Quando uma empresa desenvolve um novo remédio, geralmente pode receber uma patente, que lhe confere direito de monopólio – a exclusividade legal de vender o fármaco – por 20 anos a partir da data de registro. Legalmente, ninguém pode vender um fármaco sem a permissão do detentor da patente. Quando a patente expira, o mercado fica aberto para outras empresas vender a própria versão do medicamento, conhecida coletivamente como genéricos. Os genéricos são produtos padronizados, como a aspirina, e, muitas vezes, são vendidos por muitos produtores. O deslocamento de um mercado com um único vendedor para a concorrência perfeita, não por coincidência, é acompanhado por uma queda acentuada no preço de mercado. Por exemplo, quando a patente do analgésico ibuprofeno expirou e foram introduzidos os genéricos, seu preço caiu quase 75%; o preço do analgésico naproxen caiu 90%. Em média, os preços dos medicamentos são 40% mais baixos quando um genérico entra no mercado. Não é surpresa que os fabricantes de medicamentos protegidos por patentes fiquem ansiosos para impedir a entrada de concorrentes genéricos e tentem uma variedade de estratégias. Uma tática especialmente bemsucedida é de o fabricante do medicamento original fazer um acordo com o concorrente potencial genérico, essencialmente pagando ao concorrente para adiar sua entrada no mercado. Como resultado, o fabricante do medicamento original continua a praticar preços elevados e colher lucros elevados. Esses acordos têm sido fortemente contestados por muitos reguladores do governo, que os veem como práticas anticoncorrência que prejudicam os consumidores. No momento da elaboração deste livro, os fabricantes de medicamentos, consumidores e funcionários do governo estavam aguardando uma decisão do tribunal sobre a legalidade de tais acordos.

BREVE REVISÃO Nenhuma das ações de um produtor tomador de preço ou de um consumidor tomador de preço pode influenciar o preço de mercado de um bem.

Em um mercado em concorrência perfeita, todos os produtores e consumidores são tomadores de preço. Os consumidores quase sempre são tomadores de preço, mas, muitas vezes, isso não é verdade para os produtores. Uma indústria em que os produtores são tomadores de preços é uma indústria em concorrência perfeita. Uma indústria em concorrência perfeita contém muitos produtores, cada um dos quais produz um produto padronizado (também conhecido como commodity), mas nenhum deles tem uma participação de mercado grande. A maioria das indústrias em concorrência perfeita também se caracterizada por livre entrada e saída.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 12-1 1. Em cada uma das situações seguintes, a indústria descrita estará em concorrência perfeita ou não? Justifique a resposta. a. Há dois produtores de alumínio do mundo, um bem que é vendido em muitos lugares. b. O preço do gás natural é determinado pela oferta e demanda global. Uma pequena parte dessa oferta global é produzida por uma dezena de empresas localizadas no Mar do Norte. c. Dezenas de designers vendem roupas de alta-costura. Cada designer tem um estilo distinto e uma clientela fiel. d. Há muitos times de beisebol nos Estados Unidos, um ou dois em cada grande cidade, e cada um vendendo ingressos para seus eventos nas cidades de origem. As respostas estão no fim do livro.

PRODUÇÃO E LUCROS Imagine que Jennifer e Jason administrem uma fazenda de tomate orgânico. Suponha que o preço de mercado do tomate orgânico seja $18 por saca e que Jennifer e Jason sejam tomadores de preço – eles podem vender tanto quanto desejam a esse preço. Então, podemos usar os dados da Tabela 12-1 para encontrar o nível de produção que maximiza o lucro por cálculo direto. A primeira coluna mostra a quantidade de produto em sacas, e a segunda coluna mostra a receita total de Jennifer e Jason da produção: o valor de

mercado do produto. A receita total, RT, é igual ao preço de mercado multiplicado pela quantidade do produto: (12-1) RT = P × Q Neste exemplo, a receita total é igual a $18 por saca vezes a quantidade de produto em saca. A terceira coluna da Tabela 12-1 mostra o custo total de Jennifer e Jason. A quarta coluna mostra o lucro, igual à receita total menos o custo total: (12-2) Lucro = RT – CT Como indicado pelos números na tabela, o lucro é maximizado a um produto de 5 sacas, onde o lucro é igual a $18. Mas podemos adquirir mais conhecimento sobre a escolha do produto que maximiza o lucro, analisando-o como um problema de análise marginal, tarefa que faremos a seguir. TABELA 12-1 Lucro do cultivo de Jennifer e Jason quando o preço de mercado é $18 Quantidade de tomates Q (sacas)

Receita total RT

Custo total CT

Lucro RTCT –$14

0

$0

$14

1

18

30

–12

2

36

36

0

3

54

44

10

4

72

56

16

5

90

72

18

6

108

92

16

7

126

116

10

Uso de análise marginal para escolher a quantidade de produto que maximiza o lucro

Lembre-se do princípio da análise marginal de maximização do lucro do Capítulo 9: a quantidade ótima de uma atividade é o nível em que o benefício marginal é igual ao custo marginal. Para aplicar esse princípio, consideremos o efeito sobre o lucro do produtor ao aumentar o produto em uma unidade. O benefício marginal dessa unidade é a receita adicional gerada pela venda; essa medida tem um nome – é chamada de receita marginal daquela unidade de produto. A fórmula geral da receita marginal é:

ou RM = ΔRT/ΔQ Assim, Jennifer e Jason maximizam o lucro ao produzir sacas de tomate até o ponto em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Pode-se resumir isso como regra do produto ótimo: o lucro é maximizado por meio da produção da quantidade em que a receita marginal da última unidade produzida é igual ao custo marginal. Isto é, RM = CM na quantidade de produto ótimo. A aprendizagem da aplicação da regra do produto ótimo é através da ajuda da Tabela 12-2, que fornece várias medidas de custo de curto prazo da fazenda de Jennifer e Jason. A segunda coluna contém o custo variável da fazenda e a terceira coluna mostra o custo total do produto com base na suposição de que a fazenda incorre em um custo fixo de $14. A quarta coluna mostra o custo marginal. Observe que, nesse exemplo, o custo marginal cai inicialmente à medida que o produto aumenta, mas a seguir começa a aumentar. Isso faz a curva do custo marginal tomar a forma da “logomarca da Nike” descrito no exemplo de Selena’s Gourmet Salsas, no

Capítulo 11. (Em breve ficará claro que essa forma tem implicações importantes para as decisões de produção de curto prazo.) A quinta coluna contém a receita marginal da fazenda que tem uma característica importante: a receita marginal de Jennifer e Jason é constante em $18 para cada nível de produto. A sexta e última coluna mostra o cálculo do ganho líquido por saca de tomate, que é igual à receita marginal menos o custo marginal – ou, nesse caso de forma equivalente, o preço de mercado menos o custo marginal. Como se vê, é positivo da primeira à quinta saca, fazendo cada uma dessas sacas elevar o lucro de Jennifer e Jason. No entanto, para a sexta e sétima sacas, o ganho líquido é negativo: a produção diminui o lucro em vez de aumentá-lo. (Verifica-se isso examinando a Tabela 12-1.) Então, 5 sacas é o produto que maximiza o lucro de Jennifer e Jason. É o nível de produto em que o custo marginal é igual ao preço de mercado de $18.

Esse exemplo ilustra uma outra regra geral derivada da análise marginal – a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço, que diz que o lucro de uma empresa tomadora de preço é maximizado ao produzir a quantidade de produto em que o preço de mercado é igual ao custo marginal da última unidade produzida. Ou seja, P = CM na quantidade de produto ótimo da empresa tomadora de preço. De fato, a regra do produto ótimo de tomada de preço da empresa é apenas uma aplicação da regra do produto ótimo para o caso particular de uma tomada de preço de uma

empresa. Por quê? Porque no caso da empresa tomadora de preço, a receita marginal é igual ao preço de mercado. Uma empresa tomadora de preço não pode influenciar o preço de mercado por meio de suas ações. Ela sempre toma o preço de mercado como dado porque não pode baixar o preço de mercado vendendo mais, ou aumentar o preço de mercado vendendo menos. Assim, para uma empresa tomadora de preço, a receita adicional gerada ao produzir mais uma unidade é sempre o preço de mercado. Devemos ter isso em mente nos próximos capítulos, onde veremos que a receita marginal não é igual ao preço de mercado, quando a empresa não está em concorrência perfeita. Como resultado, as empresas não são tomadoras de preços quando uma indústria não estiver em concorrência perfeita. No restante deste capítulo, vamos supor que o setor em questão seja como a fazenda de tomate orgânico em concorrência perfeita. A Figura 12-1 mostra que a quantidade de produto que maximiza o lucro de Jennifer e Jason é, de fato, o número de sacas em que o custo marginal de produção é igual ao preço. A figura mostra a curva de custo marginal, CM, traçada a partir dos dados da quarta coluna da Tabela 12-2. Como no Capítulo 9, representamos graficamente o custo marginal de aumentar o produto de uma para duas sacas a meio caminho entre 1 e 2, e assim por diante. A linha horizontal em $18 é a curva de receita marginal de Jennifer e Jason. Observe que sempre que uma empresa é tomadora de preço, a curva de receita marginal é uma linha horizontal no preço de mercado: ela pode vender quanto quiser ao preço de mercado. Independentemente de vender mais ou menos, o preço de mercado não é afetado. Com efeito, a empresa individual se defronta com uma curva de demanda perfeitamente elástica do produto – uma curva de demanda individual do produto que é equivalente à curva de receita marginal. A curva de custo marginal cruza a curva de receita marginal no ponto E. Com certeza, a quantidade de produção em E é de 5 sacas. Será que isso significa que a decisão de produção da empresa tomadora de preço pode ser completamente resumida como “produzir até o ponto em que o custo marginal de produção é igual ao preço”? Não, não é bem assim. Antes de aplicar o princípio de análise marginal de maximização do lucro para determinar quanto produzir, o primeiro passo de um produtor

potencial é responder a uma questão “ou-ou”: deve ou não produzir? Se a resposta for sim, passa para o segundo passo – uma decisão “quanto”: maximizar o lucro escolhendo a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço. FIGURA 12-1

Quantidade de produto que maximiza o lucro da empresa tomadora de preço

Na quantidade de produto que maximiza o lucro, o preço de mercado é igual ao custo marginal. Localiza-se no ponto em que a curva de custo marginal cruza a curva de receita marginal, que é uma linha horizontal no preço de mercado. Aqui, o ponto de maximização do lucro é a produção de 5 sacas de tomate, a quantidade de produto do ponto E.

ARMADILHAS E SE A RECEITA E O CUSTO MARGINAL NÃO FOREM EXATAMENTE IGUAIS?

A regra do produto ótimo diz que, para maximizar o lucro, devese produzir a quantidade em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Mas o que fazer se não houver um nível de produto em que a receita marginal é igual ao custo marginal? Nesse caso, deve-se produzir a maior quantidade para a qual a receita marginal exceda o custo marginal. Esse é o caso na Tabela 12-2 de uma produção de 5 sacas. A versão mais simples da regra do produto ótimo aplica-se quando a produção envolve grandes números, como centenas ou milhares de unidades. Em tais casos, o custo marginal tem incrementos pequenos, e sempre há um nível de produto em que o custo marginal é quase exatamente igual à receita marginal.

Para entender por que o primeiro passo para a decisão de produção envolve uma questão “ou-ou”, é necessário perguntar como determinamos se é ou não lucrativo produzir. Quando a produção é lucrativa?

Lembre-se do Capítulo 9, em que a decisão de uma empresa de permanecer ou não em determinado negócio depende do lucro econômico – a medida do lucro com base no custo de oportunidade dos recursos usados no negócio. Para colocar de uma maneira diferente: no cálculo do lucro econômico, o custo total de uma empresa incorpora o custo implícito – os benefícios renunciados no próximo melhor uso dos recursos da empresa – bem como o custo explícito na forma de desembolsos reais. Em contrapartida, o lucro contábil é calculado usando apenas os custos explícitos incorridos pela empresa. Isso significa que o lucro econômico incorpora o custo de oportunidade dos recursos de propriedade da empresa usados na produção, enquanto o lucro contábil não os incorpora. Uma empresa pode ter lucro contábil positivo ao ter lucro econômico zero ou mesmo negativo. É importante entender claramente que a decisão de uma empresa de produzir ou não, permanecer no negócio ou fechar de forma permanente, deve ser baseada no lucro econômico e não no lucro contábil. Então, vamos supor, como sempre, que os números de custo dados nas Tabelas 12-1 e 12-2 incluem todos os custos, tanto implícitos como explícitos, e que os números de lucro da Tabela 12-1 são, portanto, lucro econômico. Então, o que determina se a fazenda de Jennifer e Jason é lucrativa ou gera perda? A resposta é que, dadas as curvas de custos da

fazenda, se ela é ou não lucrativa depende do preço de mercado do tomate – especi camente se o preço de mercado é superior ou inferior ao custo total médio mínimo da fazenda. Na Tabela 12-3, calculamos o custo variável médio de curto prazo e o custo total médio de curto prazo da fazenda de Jennifer e Jason. Trata-se de valores de curto prazo, porque consideramos o custo fixo como dado. (Mais adiante veremos o efeito da variação do custo fixo.) A curva de custo total médio de curto prazo, CTM, é mostrada na Figura 12-2, juntamente com a curva de custo marginal, CM, da Figura 12-1. Como se vê, o custo total médio é minimizado no ponto C, que corresponde a um produto de 4 sacas – o ponto de custo mínimo – e um custo total médio de $14 por saca. Para ver como essas curvas podem ser usadas para decidir se produzir dá lucro ou não, recordemos que o lucro é igual à receita total menos o custo total, RT – CT. Isso significa que: Se a empresa produz uma quantidade em que RT > CT, a empresa é lucrativa. Se a empresa produz uma quantidade em que RT = CT, a empresa iguala custo e receita. Se a empresa produz uma quantidade em que RT < CT, a empresa incorre em prejuízo. Também pode-se expressar essa ideia em termos de receita e custo por unidade de produto. Quando dividimos o lucro pelo número de unidades de produto, Q, obtemos a seguinte expressão para o lucro por unidade de produto: (12-4) Lucro Q = RT/Q – CT/Q RT/Q é a receita média, que é o preço de mercado. CT/Q é o custo total médio. Assim, uma empresa é lucrativa se o preço de mercado para seu produto for maior do que o custo total médio da quantidade que a empresa produz; uma empresa perde dinheiro se o preço de mercado for menor do que o custo total médio da quantidade que a empresa produz. Isso significa que:

TABELA 12-3 Custos médios de curto prazo para a fazenda de Jennifer e Jason Custo variável médio de curto prazo

Custo total médio de curto prazo por

Quantidade de tomates Q (sacas)

Custo variável CV

Custo total CT

por saca CVM = CV/Q

saca CTM = CT/Q

1

$16,00

$30,00

$16,00

$30,00

2

22,00

36,00

11,00

18,00

3

30,00

44,00

10,00

14,67

42,00

56,00

10,50

14,00

5

58,00

72,00

11,60

14,40

6

78,00

92,00

13,00

15,33

7

102,00

116,00

14,57

16,57

4

Se a empresa produz uma quantidade em que P >CTM, a empresa é lucrativa. Se a empresa produz uma quantidade em que P = CTM, a empresa está no ponto de equilíbrio. FIGURA 12-2

Custo e produção no curto prazo

Essa figura mostra a curva de custo marginal, CM, e a curva de custo total médio de curto prazo, CTM. Quando o preço de mercado é $14, o produto será de 4 sacas de tomate (o produto de custo mínimo), representado pelo ponto C. O preço de $14 igual ao custo total médio mínimo da empresa é o preço de equilíbrio da empresa.

Se a empresa produz uma quantidade em que P < CTM, a empresa incorre em perda. A Figura 12-3 ilustra esse resultado, mostrando como o preço de mercado determina se uma empresa é lucrativa. Também mostra a representação do lucro graficamente. Cada painel mostra a curva de custo marginal, CM, e a curva de custo total médio de curto prazo, CTM. O custo total médio é minimizado no ponto C. O painel (a) mostra um caso já analisado, em que o preço de mercado do tomate é de $18 por saca. O painel (b) mostra o caso em que o preço de mercado do tomate é inferior a $10 por saca.

No painel (a), vemos que ao preço de $18 por saca a quantidade de produto que maximiza o lucro é de 5 sacas, indicado pelo ponto E, onde a curva de custo marginal, CM, cruza a curva de receita marginal – que para uma empresa tomadora de preço é uma linha horizontal ao preço de mercado. Naquela quantidade de produto, o custo total médio é de $14,40 por saca, indicado pelo ponto Z. Como o preço por saca excede o custo total médio por saca, a fazenda de Jennifer e Jason é lucrativa. O lucro total de Jennifer e Jason quando o preço de mercado é $18 é representada pela área do retângulo sombreado no painel (a). Para ver por que, observe que o lucro total pode ser expresso em termos de lucro por unidade: (12-5) Lucro = RT – CT = (RT/Q – CT/Q) × Q ou, de forma equivalente, Lucro = (P – CTM) × Q desde que P é igual a RT/Q e CTM é igual a CT/Q. A altura do retângulo sombreado no painel (a) corresponde à distância vertical entre os pontos E e Z. É igual a P – CTM = $18 – $14,40 = $3,60 por saca. O retângulo sombreado tem largura igual ao produto: Q = 5 sacas. Assim, a área desse retângulo é igual ao lucro de Jennifer e Jason: 5 sacas × $3,60 de lucro por saca = $18 – o mesmo número calculado na Tabela 12-1. E sobre a situação ilustrada no painel (b)? Aqui, o preço de mercado do tomate é $10 por saca. Definir o preço igual ao custo marginal leva a um produto que maximiza o lucro de 3 sacas, indicado pelo ponto A. Nesse produto, Jennifer e Jason têm um custo total médio de $14,67 por saca, indicado pelo ponto Y. Na quantidade de produto que maximiza o lucro quantidade – 3 sacas – o custo total médio excede o preço de mercado. Isso significa que a fazenda de Jennifer e Jason gera prejuízo e não lucro. Quanto eles perdem produzindo quando o preço de mercado é $10? Em cada saca, perdem CTM – P = $14,67 – $10 = $4,67, valor que corresponde à distância vertical entre os pontos A e Y. E produzem 3 sacas, que correspondem à largura do retângulo sombreado. Portanto, o valor total do

prejuízo é $4,67 × 3 = $14 (arredondado), valor que corresponde à área do retângulo sombreado no painel (b). Mas, em geral, como um produtor sabe se o negócio será ou não lucrativo? O teste crucial está em uma comparação entre o preço de mercado e o custo total médio mínimo do produtor. Na fazenda de Jennifer e Jason, o custo total médio mínimo, que equivale a $14, ocorre em uma quantidade de 4 sacas, indicado pelo ponto C. Sempre que o preço de mercado exceder o custo total médio mínimo, o produtor pode encontrar algum nível de produto para o qual o custo total médio seja menor que o preço de mercado. Em outras palavras, o produtor pode encontrar um nível de produto em que a empresa tem lucro. Então, a fazenda de Jennifer e Jason será lucrativa sempre que o preço de mercado for superior a $14. E conseguirão o maior lucro possível, produzindo a quantidade em que o custo marginal é igual ao preço de mercado. FIGURA 12-3

Lucratividade e preço de mercado

No painel (a), o preço de mercado é $18. A fazenda tem lucro porque o preço excede o custo total médio mínimo, o preço de equilíbrio, $14. A escolha do produto ótimo da

fazenda é indicada pelo ponto E, que corresponde a um produto de 5 sacas. O custo total médio de produzir 5 sacas é indicado pelo ponto Z na curva de CTM, correspondendo a um valor de $14,40. A distância vertical entre E e Z corresponde ao lucro da fazenda por unidade, $18 – $14,40 = $3,60. O lucro total é dado pela área do retângulo sombreado, 5 × $3,60 = $18. No painel (b), o preço de mercado é $10; a fazenda não é lucrativa porque o preço fica abaixo do custo total médio mínimo de $14. Quando se produz a escolha do produto ótimo da fazenda é indicada pelo ponto A, que corresponde a um produto de três sacas. O prejuízo por unidade da fazenda, $14,67 – $10 = $4,67, é representado pela distância vertical entre A e Y. O prejuízo total da fazenda é representado pelo retângulo sombreado, 3 × $4,67 = $14 (arredondado).

Por outro lado, se o preço de mercado é inferior ao custo total médio mínimo, não há nível de produto em que o preço exceda o custo total médio. O resultado é que a empresa não terá lucro, independentemente da quantidade de produto. Como vimos, ao preço de $10, uma soma inferior ao custo total médio mínimo, Jennifer e Jason, de fato, perdem dinheiro. Ao produzir a quantidade em que o custo marginal é igual ao preço de mercado, Jennifer e Jason fizeram o melhor que podiam, mas o melhor que podiam trouxe um prejuízo de $14. Qualquer outra quantidade aumentaria o prejuízo. O custo total médio mínimo de uma empresa tomadora de preço é denominado preço de equilíbrio, o preço pelo qual se obtém lucro zero. (Lembre-se do lucro econômico.) A empresa obterá lucro positivo quando o preço de mercado estiver acima do preço de equilíbrio e sofrerá prejuízo quando o preço de mercado estiver abaixo do preço de equilíbrio. O preço de equilíbrio de $14 de Jennifer e Jason é o preço no ponto C nas Figuras 122 e 12-3. Portanto, a regra para determinar se um produtor de um bem terá lucro depende da comparação entre o preço de mercado do bem e o preço de equilíbrio do produtor – custo total médio mínimo: Sempre que o preço de mercado exceder o custo total médio mínimo, o produtor terá lucro. Sempre que o preço de mercado for igual ao custo total médio mínimo, o produtor estará em equilíbrio. Sempre que o preço de mercado for inferior ao custo total médio mínimo, o produtor terá prejuízo.

Decisão de produção de curto prazo

Pode ser que imaginemos que se uma empresa não tem lucro porque o preço de mercado é inferior ao custo total médio mínimo, não deve produzir nenhum produto. No entanto, no curto prazo, essa conclusão não está correta. No curto prazo, por vezes, a empresa deve produzir, mesmo que o preço caia abaixo do custo total médio mínimo. A razão é que o custo total inclui o custo xo – custo que não depende da quantidade de produto produzida e só pode ser alterado no longo prazo. No curto prazo, o custo fixo continua tendo de ser pago, independentemente de a empresa produzir ou não. Por exemplo, se Jennifer e Jason alugaram um trator por um ano, eles têm de pagar o aluguel do trator, produzindo, ou não, tomates. Como isso não pode mudar no curto prazo, o custo xo é irrelevante para a decisão de produzir ou não no curto prazo. Embora o custo fixo não desempenhe qualquer papel na decisão sobre a possibilidade de produzir no curto prazo, outros custos – custos variáveis – desempenham. Um exemplo de custo variável é o salário dos trabalhadores que devem ser contratados para ajudar com o plantio e a colheita. Os custos variáveis podem ser economizados deixando de produzir, por isso desempenham um papel na determinação de produzir ou não no curto prazo. Vamos voltar à Figura 12-4: ela mostra tanto a curva de custo total médio de curto prazo, CTM, como a curva de custo variável médio de curto prazo, CVM, traçadas a partir das informações da Tabela 12-3. Lembre-se de que a diferença entre as duas curvas – a distância vertical entre elas – representa o custo fixo médio, o custo fixo por unidade de produto, CF/Q. Como a curva de custo marginal tem o formato da “logomarca da Nike” – caindo no início antes de subir –, a curva de custo variável médio de curto prazo tem a forma de U: a queda inicial no custo marginal faz o custo variável médio também cair, antes que o custo marginal crescente, ao final, o pressione para cima novamente. A curva de custo variável médio de curto prazo atinge seu valor mínimo de $10 no ponto A, com uma produção de 3 sacas. Agora estamos preparados para analisar integralmente a decisão de produção ótima no curto prazo. Temos de considerar dois casos:

Quando o preço de mercado está abaixo do custo variável médio mínimo. Quando o preço de mercado está acima ou é igual ao custo variável médio mínimo. FIGURA 12-4

Curva de oferta individual de curto prazo

Quando o preço de mercado iguala ou excede o preço de encerramento de $10 de Jennifer e Jason, no custo variável médio mínimo indicado pelo ponto A, eles produzem a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço. Assim, a qualquer preço igual ou superior ao custo variável médio mínimo, a curva de oferta individual de curto prazo é a curva de custo marginal da empresa; isso corresponde ao segmento da curva de oferta individual que tem inclinação ascendente. Quando o preço de mercado cai abaixo do custo variável médio mínimo, a empresa deixa de operar no curto prazo. Isso corresponde ao segmento vertical da curva de oferta individual ao longo do eixo vertical.

Quando o preço de mercado está abaixo do custo variável médio mínimo, o preço que a empresa recebe por unidade não está cobrindo o custo variável por unidade. Nessa situação, uma empresa deveria cessar a produção imediatamente. Por quê? Porque não há nível de produto em que a

receita total da empresa cubra os custos variáveis – custos que podem ser evitados, não operando. Nesse caso, a empresa maximiza o lucro não produzindo – de fato, minimizando o prejuízo. Irá ainda incorrer em custo fixo no curto prazo, mas deixará de incorrer em qualquer custo variável. Isso significa que o custo variável médio mínimo é igual ao preço de encerramento, o preço em que a empresa cessa a produção no curto prazo. Quando o preço é mais elevado que o custo variável médio mínimo, no entanto, a empresa deve produzir no curto prazo. Nesse caso, a empresa maximiza o lucro – ou minimiza o prejuízo – escolhendo a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço de mercado. Por exemplo, se o preço de mercado de tomates for $18 por saca, Jennifer e Jason deverão produzir no ponto E da Figura 12-4, que corresponde a um produto de 5 sacas. Observe que o ponto C na Figura 12-4 corresponde ao preço de equilíbrio de $14 por saca da fazenda. Como E se situa acima de C, a fazenda de Jennifer e Jason será lucrativa, irá gerar um lucro por saca de $18 – $14,40 = $3,60, quando o preço de mercado for $18. Mas e se o preço de mercado estiver entre o preço de encerramento e o preço de equilíbrio – isto é, entre o custo variável médio mínimo e o custo total médio mínimo? No caso da fazenda de Jennifer e Jason, isso corresponde aos preços entre $10 e $14, digamos, um preço de mercado de $12. A $12, a fazenda de Jennifer e Jason não é lucrativa; como o preço de mercado é inferior ao custo total médio mínimo, a fazenda está perdendo a diferença entre o preço e o custo total médio por unidade produzida. No entanto, ainda que não esteja cobrindo o custo total por unidade, está cobrindo o custo variável por unidade e algum – mas nem todo – custo fixo por unidade. Se a empresa fecha nessa situação, deixa de incorrer em custo variável, mas incorre em custo fixo total. Como resultado, o encerramento gera um prejuízo ainda maior do que se continuasse operando. Isto significa que sempre que o preço fica entre o custo total médio mínimo e o custo variável médio mínimo, a empresa fica em melhor situação se estiver produzindo algum produto no curto prazo. A razão é que, ao produzir, cobre o custo variável por unidade e, pelo menos, algum custo fixo, mesmo que esteja incorrendo em prejuízo. Nesse caso, a empresa maximiza o lucro – ou seja, minimiza o prejuízo – ao escolher a quantidade de produto à qual o custo marginal é igual ao preço de mercado. Então, se

Jennifer e Jason enfrentarem um preço de mercado de $12 por saca, o produto que maximiza o lucro é dado pelo ponto B na Figura 12-4, o que corresponde a uma produção de 3,5 sacas. É importante observar que a decisão de produzir quando a empresa consegue cobrir o custo variável, mas não todo o custo fixo, é semelhante à decisão de ignorar os custos irrecuperáveis, um conceito que estudamos no Capítulo 9. Lembre-se de que o custo irrecuperável é um custo já incorrido e não pode ser recuperado, e como não pode ser mudado, não deve ter efeito sobre a decisão corrente. Na decisão de produção de curto prazo, o custo fixo é, de fato, como um custo irrecuperável – já foi gasto, e é impossível reavê-lo no curto prazo. Essa comparação também ilustra por que o custo variável de fato importa no curto prazo: pode ser evitado deixando de produzir. E o que acontece se o preço de mercado for exatamente igual ao preço de encerramento, o custo variável médio mínimo? Nesse caso, a empresa é indiferente entre produzir três ou zero unidades. Como veremos em breve, esse é um ponto importante ao examinarmos o comportamento de um setor como um todo. Por questão de clareza, vamos supor que a empresa, embora indiferente, de fato continue produzindo quando o preço do produto é igual ao preço de encerramento. Juntando tudo, podemos agora traçar a curva de oferta individual de curto prazo da fazenda de Jennifer e Jason, a linha vermelha na Figura 12-4, que mostra como a quantidade de produto que maximiza o lucro no curto prazo depende do preço. Como se pode ver, a curva está em dois segmentos. O segmento vermelho com inclinação ascendente que inicia no ponto A mostra o produto que maximiza o lucro no curto prazo, quando o preço de mercado é igual ou superior ao preço de encerramento de $10 por saca. Enquanto o preço de mercado é igual ou superior ao preço de encerramento, Jennifer e Jason produzem a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço de mercado. Ou seja, ao preço de mercado iguais ou acima do preço de encerramento, a curva de oferta de curto prazo da empresa corresponde à curva de custo marginal. Mas em qualquer preço de mercado abaixo do custo variável médio mínimo – nesse caso, $10 por saca – a empresa fecha, e o produto cai a zero no curto prazo. Isso

corresponde ao segmento vertical da curva que se situa no topo do eixo vertical. Será que as empresas realmente encerram as atividades temporariamente sem sair do negócio? Sim. De fato, em alguns negócios, encerramentos temporários são rotina. Os exemplos mais comuns são os setores em que a demanda é altamente sazonal, como parques de diversão ao ar livre em climas com invernos rigorosos. Esses parques teriam que oferecer preços muito baixos para atrair clientes durante os meses mais frios – preços tão baixos que os proprietários não iriam cobrir os custos variáveis (principalmente salários e energia elétrica). A escolha mais sábia economicamente é fechar até que o tempo quente traga clientes que estejam dispostos a pagar um preço mais elevado. Alterando o custo fixo

Embora o custo fixo não possa ser alterado no curto prazo, no longo prazo as empresas podem adquirir ou se livrar de máquinas, edifícios e assim por diante. Como aprendemos no Capítulo 11, no longo prazo, o nível do custo fixo é uma questão de escolha. Vimos que uma empresa vai escolher o nível de custo fixo que minimiza o custo total médio para a quantidade de produto desejada. Agora iremos nos concentrar em uma questão ainda mais importante com que a empresa se defronta ao escolher o custo fixo: realmente vale a pena incorrer em algum custo fixo e permanecer no negócio corrente. No longo prazo, um produtor sempre pode eliminar o custo fixo com a venda de instalações e equipamentos. Se assim o fizer, é claro, não poderá voltar a produzir – saiu do setor. Em contrapartida, um produtor potencial pode assumir algum custo fixo, comprando equipamentos e outros recursos, colocando-o em posição de produzir – pode entrar no setor. Na maioria dos setores em concorrência perfeita, o conjunto de produtores, embora fixo no curto prazo, varia no longo prazo, à medida que as empresas entram ou saem do setor. Considere a fazenda de Jennifer e Jason mais uma vez. A fim de simplificar nossa análise, vamos deixar de lado o problema de escolher entre vários níveis possíveis de custo fixo. Em vez disso, vamos supor que, a partir

de agora, Jennifer e Jason tenham uma única escolha possível de custo fixo ao operar, $14, a base dos cálculos das Tabelas 12-1, 12-2 e 12-3. (Com esse pressuposto, a curva de custo médio total de curto prazo e de longo prazo de Jennifer e Jason são uma só e a mesma.) Como alternativa, podem escolher o custo fixo de zero se saírem do negócio. Suponha que o preço de mercado de tomates orgânicos seja consistentemente menor que $14 ao longo de um período prolongado. Nesse caso, Jennifer e Jason nunca conseguem cobrir totalmente o custo fixo: o negócio funciona com prejuízo. No longo prazo, ficariam em situação melhor fechando o negócio e deixando o setor. Em outras palavras, no longo prazo, as empresas sairão do setor se o preço de mercado for consistentemente inferior ao preço de equilíbrio – o custo total médio mínimo. Por outro lado, suponha que o preço do tomate orgânico seja consistentemente superior ao preço de equilíbrio, $14, por um período prolongado. Como a fazenda é lucrativa, Jennifer e Jason permanecerão no setor e continuarão produzindo. Mas as coisas não param por aí. O setor de tomate orgânico satisfaz o critério de livre entrada: existem muitos produtores potenciais de tomate orgânico, pois os insumos necessários são fáceis de obter. E as curvas de custo desses produtores potenciais são provavelmente semelhantes às de Jennifer e Jason, pois a tecnologia usada pelos outros produtores é provável que seja muito semelhante à usada por Jennifer e Jason. Se o preço for alto o suficiente para gerar lucro para os produtores existentes, também irá atrair para o setor alguns desses produtores potenciais. Assim, no longo prazo um preço superior a $14 deve levar à entrada: novos produtores entrarão no setor de tomate orgânico. Como veremos na próxima seção, entrada e saída levam a uma distinção importante entre a curva de oferta do setor de curto prazo e de longo prazo. Em resumo: lucratividade e condições de produção da empresa em concorrência perfeita

Neste capítulo, estudamos de onde vem a curva de oferta de uma empresa tomadora de preços em concorrência perfeita. Cada empresa em

concorrência perfeita toma suas decisões de produção, maximizando o lucro, e essas decisões determinam a curva de oferta. A Tabela 12-4 resume as condições de lucratividade e produção da empresa em concorrência perfeita. Também se refere à entrada e saída do setor. TABELA 12-4 Resumo das condições de lucratividade e produção da empresa em concorrência perfeita Condição de lucratividade (CTM mínimo = preço de equilíbrio)

Resultado

P > CTM mínimo

Empresa lucrativa. Entrada no setor no longo prazo.

P = CTM mínimo

Empresa em equilíbrio. Não há entrada nem saída do setor no longo prazo.

P < CTM mínimo

Empresa tem prejuízo. Saída do setor no longo prazo.

Condição de produção (CVM mínimo = preço de encerramento)

Resultado

P = CVM mínimo

Empresa produz no curto prazo. Se P < CTM mínimo, a empresa cobre o custo variável e parte, mas não todo, do custo fixo. Se P > CTM mínimo, a empresa cobre o total dos custos variável e fixo.

P > CVM mínimo

Empresa indiferente entre produzir no curto prazo ou não. Apenas cobre o custo variável.

P < CVM mínimo

Empresa encerra no curto prazo. Não cobre o custo variável.

economia em ação Os preços estão subindo… Mas também os custos

De acordo com a Lei de Política Energética de 2005, 7,5 bilhões de galões de combustível alternativo, principalmente etanol à base de milho, terão sido adicionados à oferta de combustível americano até 2012, a fim de reduzir o consumo de gasolina. O resultado pouco surpreendente desse mandato: a demanda de milho disparou, juntamente com o preço. Em junho de 2011, uma saca de milho atingiu uma alta de $7,99, quase quadruplicou do preço de $2,09 do início de janeiro de 2005. Esse forte aumento do preço do milho chamou a atenção dos agricultores americanos, como Ronnie Gerik de Aquilla, Texas, que reduziu o tamanho da safra de algodão e aumentou a área plantada de milho em 40%. Em geral, a área plantada de milho nos Estados Unidos em 2011 era 9% maior do que a média plantada na década anterior. Como Gerik, outros agricultores substituíram a produção de outras culturas pela produção de milho, por exemplo, em 2011, a área plantada de soja caiu cerca de 3%. Embora soe como uma maneira de obter lucro, Gerik e os agricultores como ele estavam fazendo uma aposta. Considere o custo de um insumo importante, fertilizante. Milho requer mais fertilizante que outras culturas e, com mais agricultores plantando o milho, o aumento da demanda de fertilizantes levou a um aumento de preços. Em 2006 e 2007, o preço do fertilizante subiu cinco vezes o nível de 2005. Em 2011, ainda era três vezes mais alto. Além disso, o milho é mais sensível à quantidade de chuva do que uma cultura como o algodão. Assim, os agricultores que plantam milho em lugares propensos à seca como o Texas estão aumentando o risco de prejuízo. Gerik teve que incorporar nos cálculos o melhor palpite do que um período de seca lhe custaria. Apesar de tudo isso, o que Gerik e outros agricultores decidiram fazia total sentido econômico. Ao plantar mais milho, estavam deslocando para cima a curva de oferta de curto prazo da produção de milho. E como a curva de oferta individual também é a curva de custo marginal, o custo de cada agricultor também subiu em decorrência da necessidade de aplicar mais insumos – insumos que agora são mais caros de obter. Assim, a moral da história é que os agricultores irão aumentar a área plantada de milho até que o custo marginal de produção de milho seja aproximadamente igual ao preço de mercado do milho, o que não será

surpresa, porque a produção de milho satisfaz todos os requisitos de uma indústria de concorrência perfeita.

BREVE REVISÃO Um produtor escolhe o produto de acordo com a regra do produto ótimo. Para uma empresa tomadora de preço, a receita marginal é igual ao preço e ela escolhe a quantidade de produto de acordo com a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço. Uma empresa é lucrativa sempre que o preço de mercado é superior ao preço de equilíbrio, igual ao seu custo total médio mínimo. Abaixo desse preço a empresa tem pre juízo. Fica em equilíbrio quando o preço de mercado é igual ao preço de equilíbrio. O custo fixo é irrelevante para a decisão ótima de produção de curto prazo da empresa. Quando o preço excede o preço de encerramento, o custo variável médio mínimo, a empresa tomadora de preço produz a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço. Quando o preço é inferior ao preço de encerramento, ela cessa de produzir no curto prazo. Isto define a curva de oferta individual de curto prazo da empresa. Ao longo do tempo, o custo fixo importa. Se o preço cai consistentemente abaixo do custo total médio mínimo, a empresa sairá do setor. Se o preço excede o custo total médio mínimo, a empresa é lucrativa e permanecerá no setor; outras empresas entrarão no setor no longo prazo.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 12-2 1. Trace um gráfico de curto prazo, mostrando uma curva de custo total médio em forma de U, uma curva de custo variável médio em forma de U e uma curva de custo marginal na forma da “logomarca da Nike”. Nela, indique o intervalo de produto e o intervalo de preço para os quais as ações seguintes são ótimas. a. A empresa encerra imediatamente. b. A empresa opera no curto prazo, apesar de levar prejuízo. c. A empresa opera dando lucro. 2. O estado do Maine explora intensamente a pesca de lagosta durante os meses de verão. No resto do ano, pode-se obter lagostas de outras partes do mundo, mas a um preço muito mais elevado. O Maine também tem muitas “barracas de lagosta”, restaurantes de beira de estrada que servem pratos de lagosta e que abrem apenas durante o verão. Explique por que o

ponto ótimo de produção das barracas de lagosta é operar apenas durante o verão. As respostas estão no fim do livro.

A CURVA DE OFERTA DO SETOR Por que um aumento na demanda de tomates orgânicos leva a um grande aumento do preço no começo, mas a um aumento muito menor no longo prazo? A resposta está no comportamento da curva de oferta do setor – a relação entre o preço e o produto total de um setor em seu conjunto. A curva da oferta do setor é o que tratamos em capítulos anteriores como curva de oferta ou curva de oferta de mercado. Mas aqui tomamos cuidado em distinguir entre a curva de oferta individual de uma única empresa e a curva do setor como um todo. Como se pode imaginar da seção anterior, a curva de oferta do setor deve ser analisada de forma um pouco diferente no curto e no longo prazo. Comecemos com o curto prazo. A curva de oferta do setor de curto prazo

Lembre-se de que no curto prazo o número de produtores de um setor é fixo – não há entrada ou saída. E talvez você se lembre do Capítulo 3, em que a curva de oferta do setor é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores – você a encontra pela soma do produto total de todos os fornecedores em cada preço determinado. Faremos esse exercício aqui sob o pressuposto de que todos os produtores são iguais – pressuposto que torna a derivação particularmente simples. Então vamos supor que existam 100 fazendas de tomate orgânico, cada uma com os mesmos custos que a fazenda de Jennifer e Jason. Cada uma dessas 100 fazendas terá uma curva de oferta individual de curto prazo, como a da Figura 12-4. A um preço abaixo de $10, nenhuma fazenda irá produzir. A um preço de mais de $10, cada fazenda produzirá a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço de mercado. Como se vê da Figura 12-4, isso irá fazer cada fazenda produzir 4 sacas, se o preço for $14 por saca, 5 sacas, se o preço for $18, e assim por

diante. Então, se houver 100 fazendas de tomate orgânico e o preço do tomate orgânico for $18 por saca, o setor como um todo irá produzir 500 sacas, que corresponde a 100 fazendas × 5 sacas por fazenda, e assim por diante. O resultado é a curva de oferta do setor de curto prazo, mostrada como S na Figura 12-5. Essa curva mostra a quantidade que os produtores irão ofertar a cada preço, tomando como dado o número de produtores. A curva de demanda D na Figura 12-5 cruza a curva da oferta do setor de curto prazo em EMKT, que corresponde a um preço de $18 e a uma quantidade de 500 sacas. O ponto EMKT é um equilíbrio de mercado de curto prazo: a quantidade ofertada iguala a quantidade demandada, tomando como dado o número de produtores. Mas no longo prazo pode parecer diferente, porque os fazendeiros podem entrar ou sair do setor. Curva de oferta do setor no longo prazo

Suponha que além dos 100 fazendeiros atualmente no negócio de tomate orgânico, existem muitos outros produtores potenciais. Suponha também que se cada um desses produtores potenciais entrasse no setor, teriam as mesmas curvas de custo que os produtores já existentes, como Jennifer e Jason. Quando os produtores adicionais entrarão no setor? Sempre que os produtores existentes estiverem tendo lucro – isto é, sempre que o preço de mercado estiver acima do preço de equilíbrio de $14 por saca, o custo total médio mínimo de produção. Por exemplo, a um preço de $18 por saca, novas empresas entrarão no setor. O que vai acontecer à medida que produtores adicionais entrarem no setor? Certamente, a quantidade ofertada a qualquer preço dado irá aumentar. A curva de oferta do setor de curto prazo se deslocará para a direita. Essa, por sua vez, irá alterar o equilíbrio de mercado e resultar em um preço de mercado mais baixo. As empresas existentes responderão ao preço de mercado mais baixo, reduzindo o produto, mas o produto total do setor vai aumentar em virtude do maior número de empresas no setor. FIGURA 12-5

Equilíbrio de mercado de curto prazo

A curva de oferta do setor de curto prazo, S, é a curva de oferta do setor, tendo como dado o número de produtores – aqui, 100. É gerada pela soma das curvas de oferta individuais dos 100 produtores. Abaixo do preço de encerramento de $10, nenhum produtor quer produzir no curto prazo. Acima de $10, a curva de oferta do setor de curto prazo se inclina para cima, à medida que cada produtor aumenta a produção quando o preço sobe. Cruza a curva da demanda, D, no ponto de EMKT, o ponto de equilíbrio no mercado de curto prazo, o que corresponde a um preço de mercado de $18 e a uma quantidade de 500 sacas.

A Figura 12-6 ilustra os efeitos dessa cadeia de eventos em uma empresa existente e no mercado; o painel (a) mostra como o mercado responde à entrada, e o painel (b) mostra como uma empresa individual existente responde à entrada. (Observe que esses dois gráficos foram redimensionados em comparação com as Figuras 12-4 e 12-5 para melhor ilustrar como o lucro varia em resposta ao preço.) No painel (a), S1 é a curva de oferta inicial do setor de curto prazo, com base na existência de 100 produtores. O equilíbrio de mercado de curto prazo inicial está em EMKT, com um preço de mercado de equilíbrio de $18 e uma quantidade de 500 sacas. A esse preço os produtores existentes têm lucro, que se reflete no painel (b): uma empresa existente tem um lucro total representado pelo retângulo sombreado de verde rotulado de A, quando o preço de mercado é $18.

Esses lucros irão induzir novos produtores a entrar no setor, deslocando a curva de oferta do setor de curto prazo para a direita. Por exemplo, quando o número de produtores aumenta para 167, a curva de oferta do setor de curto prazo é S2. Há um novo equilíbrio de mercado de curto prazo rotulado de DMKT que corresponde a essa curva de oferta, com um preço de mercado de $16 e uma quantidade de 750 sacas. A $16, cada empresa produz 4,5 sacas, assim, o produto desse setor é 167 × 4,5 = 750 sacas (arredondado). No painel (b), pode-se ver o efeito da entrada de 67 novos produtores em uma empresa já existente: a queda no preço faz com que ela reduza o produto, e o lucro cai para a área representada pelo retângulo listrado rotulado de B. Embora diminuído, o lucro das empresas existentes em DMKT significa que a entrada vai continuar e o número de empresas vai continuar a subir. Se o número de produtores subir para 250, a curva de oferta do setor de curto prazo se deslocará novamente para S3, e o equilíbrio de mercado ficará em CMKT, com uma quantidade ofertada e demandada de 1 mil sacas e um preço de mercado de $14 por saca. Como EMKT e DMKT, CMKT é um equilíbrio de curto prazo. Mas é também algo mais. Como o preço de $14 é o preço de equilíbrio de cada empresa, um produtor existente tem lucro econômico zero – nem lucro nem perda – ao produzir o produto de 4 sacas que maximiza o lucro. A esse preço, não há incentivo nem para a entrada no setor de produtores potenciais nem para a saída dos produtores existentes. Assim, CMKT corresponde ao equilíbrio de mercado de longo prazo – situação em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada, dado que o tempo decorrido foi suficiente para os produtores entrarem ou saírem do setor. No equilíbrio de mercado de longo prazo, todos os produtores existentes e potenciais se ajustam plenamente às suas escolhas ótimas de longo prazo e, como resultado, nenhum produtor tem incentivo de entrar ou sair do setor. FIGURA 12-6

O Equilíbrio de mercado de longo prazo

O ponto EMKT no painel (a) mostra o equilíbrio de mercado de curto prazo inicial. Cada um dos 100 produtores existentes têm um lucro econômico, ilustrado no painel (b) pelo retângulo verde indicado por A, o lucro de uma empresa existente. Lucros induzem a entrada de produtores adicionais, deslocando para fora a curva de oferta do setor de curto prazo de S1 para S2 no painel (a), resultando em um novo equilíbrio de curto prazo no ponto DMKT, a um preço de mercado mais baixo de $16 e a uma produção maior do setor. As empresas existentes reduzem o produto e o lucro cai para a área dada pelo retângulo listrado rotulado de B no painel (b). A entrada continua a deslocar para fora a curva de oferta do setor de curto prazo, à medida que o preço cai e o produto do setor aumenta mais uma vez. A entrada cessa no ponto CMKT sobre a curva de oferta S3 no painel (a). Aqui o preço de mercado é igual ao preço de equilíbrio; os produtores existentes têm lucro econômico zero e não há incentivo para entrar ou sair. Então CMKT também é um equilíbrio de mercado de longo prazo.

Para explorar ainda mais o significado da diferença entre equilíbrio de curto e de longo prazo, considere o efeito de um aumento na demanda em um setor com livre entrada que esteja inicialmente em equilíbrio de longo prazo. O painel (b) na Figura 12-7 mostra o ajuste de mercado; os painéis (a) e (c) mostram como uma empresa individual existente se comporta durante o processo. No painel (b) da Figura 12-7, D1 é a curva da demanda inicial e S1 é a curva de oferta do setor de curto prazo inicial. A interseção no ponto XMKT

é um equilíbrio de mercado tanto de curto como de longo prazo, porque o preço de equilíbrio de $14 leva ao lucro econômico zero – e, portanto, não há entrada nem saída. Ele corresponde ao ponto X no painel (a), onde uma empresa existente individual está operando no mínimo da curva de custo total médio. Agora, suponha que a curva de demanda se desloque para fora, por algum motivo para D2. Como mostrado no painel (b), no curto prazo, o produto do setor se move ao longo da curva de oferta do setor de curto prazo, S1, para o novo equilíbrio de mercado de curto prazo em YMKT, a interseção de S1 e D2. O preço de mercado sobe para $18 por saca, e o produto do setor aumenta de QX para QY. Isso corresponde ao movimento de uma empresa existente de X para Y no painel (a) à medida que a empresa aumenta o produto em resposta ao aumento do preço de mercado. FIGURA 12-7

O efeito de um aumento na demanda no curto e no longo prazo

O painel (b) mostra como um setor se ajusta no curto e no longo prazos a um aumento na demanda. Os painéis (a) e (c) mostram os ajustes correspondentes por uma empresa já existente. Inicialmente, o mercado está no ponto XMKT no painel (b), que é um equilíbrio de curto e longo prazo ao preço de $14 e produção do setor de QX. Uma empresa existente tem lucro econômico zero, operando no ponto X no painel (a) ao custo total médio mínimo. A demanda aumenta quando D1 se desloca para a direita para D2 no painel (b), elevando o preço de mercado para $18. As empresas existentes aumentam a produção, e o produto do setor se move ao longo da curva de oferta de

curto prazo, S1, para um equilíbrio de curto prazo em YMKT. Do mesmo modo, a empresa existente no painel (a) move-se do ponto X para o ponto Y. Mas ao preço de $18, as empresas existentes têm lucro. Como mostra o painel (b), no longo prazo chegam novos entrantes, e a curva de oferta do setor de curto prazo se desloca para a direita, de S1 para S2. Há um novo equilíbrio no ponto ZMKT, a um preço mais baixo de $14 e produção mais alta do setor em QZ. Uma empresa existente responde ao passar de Y para Z no painel (c), retornando ao nível de produto inicial e lucro econômico zero. A produção dos novos entrantes explica o aumento total no produto do setor, de QZ –

QX. Como XMKT, ZMKT também é um equilíbrio de curto e longo prazo: com as empresas existentes recebendo lucro econômico zero, não há incentivo para as empresas entrarem ou saírem do setor. A linha horizontal que passa por XMKT e ZMKT,

LRS, é a curva de oferta do setor de longo prazo: ao preço de equilíbrio de $14, os produtores irão produzir qualquer quantidade que os consumidores demandarem no longo prazo.

Mas sabemos que YMKT não é um equilíbrio de longo prazo, porque $18 é maior do que o custo total médio mínimo, por isso os produtores existente estão tendo lucro econômico. Isso fará outras empresas entrarem no setor. Com o tempo a entrada fará a curva de oferta do setor de curto prazo se deslocar para a direita. No longo prazo, a curva de oferta do setor de curto prazo se deslocará para S2, e o equilíbrio estará em ZMKT – com o preço voltando para $14 por saca e o produto do setor aumentando, mais uma vez, de QY para QZ. Como XMKT antes do aumento da demanda, ZMKT é um equilíbrio de mercado tanto de curto como de longo prazo. O efeito da entrada de uma empresa existente está ilustrado no painel (c), no movimento de Y para Z, juntamente com a curva de oferta individual da empresa. A empresa reduz o produto em resposta à queda no preço de mercado, em última instância, voltando à quantidade de produto original, que corresponde ao mínimo de sua curva de custo total médio. De fato, cada empresa que está agora no setor – o conjunto de empresas inicial e novos entrantes – operará no mínimo da curva de custo total médio, no ponto Z. Isso significa que todo o aumento de produto do setor, de QX para QZ, vem da produção de novos entrantes. A linha LRS que passa por XMKT e ZMKT no painel (b) é a curva de oferta do setor de longo prazo. Mostra como a quantidade ofertada em um setor

responde ao preço, dado que os produtores tiveram tempo de entrar ou sair do setor. Nesse caso particular, a curva de oferta do setor de longo prazo é horizontal em $14. Em outras palavras, nesse setor a oferta é perfeitamente elástica no longo prazo: tendo tempo para entrar ou sair, os produtores irão ofertar qualquer quantidade que os consumidores demandem ao preço de $14. A oferta de longo prazo perfeitamente elástica é realmente uma boa suposição para muitos setores. Nesse caso, falamos da existência de custos constantes para o conjunto do setor: cada empresa, independentemente de se tratar de uma empresa já estabelecida ou uma nova entrante, enfrenta a mesma estrutura de custos (ou seja, têm as mesmas curvas de custo). Os setores que satisfazem essa condição são aqueles em que a oferta dos insumos é perfeitamente elástica, como a agricultura ou padarias. No entanto, em outros setores, mesmo a curva de oferta do setor de longo prazo se inclina para cima. A razão disso é que os produtores devem usar algum insumo cuja quantidade seja limitada (ou seja, de oferta inelástica). À medida que o setor se expande, o preço desse insumo é pressionado para cima. Consequentemente, as empresas que entram mais tarde no setor verificam que têm uma estrutura de custos mais elevada do que os primeiros participantes. Um exemplo são os resorts de frente para o mar, que precisam competir por uma quantidade limitada de propriedades privilegiadas. Os setores que assim se comportam têm custos crescentes em relação ao conjunto do setor. É possível que a curva de oferta de longo prazo do setor tenha inclinação para baixo. Isso pode ocorrer quando um setor enfrenta retornos crescentes de escala, em que os custos médios caem à medida que o produto aumenta. Observe que dissemos que o setor enfrenta retornos crescentes. No entanto, quando os retornos crescentes se aplicam no nível da empresa individual, o setor geralmente acaba dominado por um pequeno número de empresas (oligopólio) ou uma única empresa (monopólio). Em alguns casos, as vantagens da larga escala para um setor inteiro resultam para todas as empresas desse setor. Por exemplo, os custos de novas tecnologias, como painéis solares, tendem a cair à medida que o setor cresce porque esse crescimento leva à melhora do conhecimento, um maior número de trabalhadores com as habilidades certas, e assim por diante. Tais benefícios

para o tamanho do setor são conhecidos como economias externas, que analisaremos no Capítulo 16. Independentemente de a curva de oferta do setor de longo prazo ser horizontal ou ter inclinação para cima ou mesmo para baixo, a elasticidadepreço de longo prazo é maior do que a elasticidade-preço de curto prazo sempre que há livre entrada e saída. Como mostrado na Figura 12-8, a curva de oferta do setor de longo prazo é sempre mais achatada do que a curva de oferta do setor de curto prazo. O motivo é a entrada e saída: um preço mais alto causado por um aumento na demanda atrai a entrada de novos produtores, resultando em um aumento do produto do setor e em uma queda eventual no preço, um preço baixo causado por diminuição na demanda induz as empresas existentes a sair, levando a uma queda no produto do setor e a um eventual aumento de preço. Na prática, a distinção entre a curva de oferta do setor de curto e de longo prazo é muito importante. Muitas vezes, vemos uma sequência de eventos, como o mostrado na Figura 12-7: um aumento na demanda inicialmente leva a um grande aumento de preços, mas os preços voltam ao nível inicial, quando novas empresas entram no setor. Ou vemos a sequência no sentido inverso: a queda na demanda reduz os preços no curto prazo, mas eles voltam ao nível inicial à medida que os produtores saem do setor. Custo de produção e eficiência no equilíbrio de longo prazo

Essa análise nos leva a três conclusões sobre o custo de produção e eficiência no equilíbrio de longo prazo de um setor em concorrência perfeita. Esses resultados serão importantes para a análise, no Capítulo 13, de como o monopólio gera ineficiência. Primeiro, em um setor em concorrência perfeita em equilíbrio, o valor do custo marginal é o mesmo para todas as empresas. Isso acontece porque todas as empresas produzem a quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço de mercado e, como tomadoras de preço, todas se defrontam com o mesmo preço de mercado. FIGURA 12-8

Comparação entre as curvas de oferta do setor de curto e longo prazo

A curva de oferta do setor no longo prazo pode ter inclinação para cima, mas é sempre mais achatada – mais elástica – do que a curva de oferta do setor no curto prazo. Isso é decorrente de entrada e saída: um preço mais elevado atrai novos entrantes, no longo prazo, resultando em aumento do produto do setor e em queda no preço. Uma queda no preço induz os produtores existentes a sair no longo prazo, gerando queda no produto do setor e um eventual aumento de preço.

Segundo, em um setor com concorrência perfeita, com livre entrada e saída, cada empresa terá lucro econômico zero no equilíbrio de longo prazo. Cada empresa produz a quantidade de produto que minimiza o custo total médio, que corresponde ao ponto Z, no painel (c) da Figura 12-7. Assim, o custo total de produção do produto de um setor é minimizado no setor em concorrência perfeita. (A exceção é um setor com custos crescentes em todo o setor. Dado um preço de mercado suficientemente alto, os primeiros entrantes obtêm lucros econômicos positivos, mas os últimos não. Os custos são minimizados para os entrantes tardios, mas não necessariamente para os que entraram cedo.) A terceira e última conclusão é que o equilíbrio de mercado de longo prazo de um setor em concorrência perfeita é eficiente: nenhuma transação mutuamente benéfica deixa de ser explorada. Para entender isso, precisamos recordar, do Capítulo 4, um requisito fundamental para a eficiência: todos os consumidores que têm disposição de pagar um preço igual ou superior aos custos dos vendedores realmente obtêm o bem. E aprendemos também que

quando um mercado é eficiente (exceto em certas condições bem-definidas), o preço de mercado propicia a que todos os consumidores de um bem com disposição de pagar um preço de mercado igual ou superior ao preço de mercado se encontrem com todos os vendedores que têm um custo de produção do bem igual ou inferior ao preço de mercado. Assim, no equilíbrio de longo prazo de um setor perfeitamente competitivo, a produção é eficiente: os custos são minimizados, e não há recursos desperdiçados. Além disso, a alocação de bens aos consumidores é eficiente: todos os consumidores que estão dispostos a pagar o custo de produção de uma unidade do bem, conseguem obtê-lo. De fato, nenhuma transação mutuamente benéfica fica inexplorada. Além disso, essa condição tende a persistir ao longo do tempo à medida que o ambiente muda: a força da concorrência faz os produtores responderem às mudanças no desejo dos consumidores e na tecnologia.

ARMADILHAS LUCRO ECONÔMICO, NOVAMENTE Alguns leitores podem-se perguntar por que uma empresa iria querer entrar em um setor se o preço de mercado é apenas ligeiramente mais elevado do que o preço de equilíbrio. Será que não iria preferir entrar em outro negócio que gerasse lucro maior? A resposta está aqui, como sempre, quando calculamos o custo, queremos dizer custo de oportunidade – ou seja, o custo que inclui o retorno que uma empresa poderia obter usando seus recursos em outros lugares. E assim o lucro que calculamos é o lucro econômico. Se o preço de mercado está acima do nível de equilíbrio, não importa o quanto, a empresa pode ganhar mais neste setor que em qualquer outro.

economia em ação Reversão esmagadora

“O reinado do algodão está de volta”, proclamou um artigo de 2010 no Los Angeles Times, descrevendo um boom de algodão que “tornaram

grandes áreas do centro da Califórnia brancas como a neve durante a estação da colheita”. Os preços do algodão estavam em alta: mais que triplicaram entre o início de 2010 e o início de 2011. E os agricultores responderam com o plantio de mais algodão. O que estava por trás do aumento de preço? Como aprendemos no Capítulo 3, em parte, foi causado por fatores temporários, nomeadamente inundações graves no Paquistão que destruíram grande parte do plantio de algodão naquele país. Mas também houve um grande aumento na demanda, especialmente da China, cujas indústrias têxteis e de vestuário de algodão crescentes exigiam cada vez mais algodão cru para tecer o pano. E tudo indicava que a demanda elevada veio para ficar. A partir de então, a cultura do algodão será um negócio altamente rentável? A resposta é não, porque quando uma indústria se torna altamente rentável, atrai novos produtores, e isso faz os preços diminuírem. E a indústria do algodão estava seguindo o roteiro padrão. Assim, não foi apenas o Vale Central da Califórnia que ficou “branco como a neve”. Os agricultores ao redor do mundo também estavam mudando para a cultura do algodão. “Esse verão, o algodão vai se estender desde Queensland até Nova Gales do Sul (NGS) ao norte, todo o caminho para o vale Murrumbidgee em Nova Gales do Sul (NGS) ao sul”, declarou um relatório australiano. E, no verão de 2011, a entrada de todos esses novos produtores já estava surtindo efeito. No final de julho, os preços do algodão tinham caído 35% desde o seu pico no início de 2011. Os preços ainda estavam elevados para os padrões históricos, deixando muito incentivo para expandir a produção. Mas já estava claro que o boom do algodão acabaria por chegar ao limite – e que em algum momento, no futuro não muito distante, alguns dos agricultores que tinham entrado às pressas no setor iriam deixá-lo novamente.

BREVE REVISÃO A curva de oferta do setor corresponde à curva de oferta vista nos capítulos anteriores. No curto prazo, o período em que o número de

produtores é fixo, o equilíbrio de mercado de curto prazo é dado pela interseção entre a curva de oferta do setor de curto prazo e a curva da demanda. No longo prazo, o período em que os produtores podem entrar ou sair do setor, o equilíbrio de mercado de longo prazo é dado pela interseção entre a curva da oferta do setor de longo prazo e a curva de demanda. No equilíbrio de mercado de longo prazo, nenhum produtor tem incentivo para entrar ou sair do mercado. A curva de oferta do setor de longo prazo, muitas vezes, é horizontal, embora possa ter inclinação para cima quando um insumo necessário tem quantidade limitada. É sempre mais elástica do que a curva de oferta do setor de curto prazo. Em equilíbrio de mercado de longo prazo de um setor em concorrência perfeita, cada empresa produz com o mesmo custo marginal que é igual ao preço de mercado, e o custo total de produção do produto do setor é minimizado. Também é eficaz.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 12-3 1. Qual dos seguintes eventos irá induzir as empresas a entrar em um setor? O que vai induzir as empresas a sair? Quando a entrada ou saída irá cessar? Justifique a resposta. a. Um avanço tecnológico reduz o custo fixo de produção de todas as empresas do setor. b. Os salários pagos aos trabalhadores de um setor sobem por um período prolongado de tempo. c. Uma variação permanente no gosto do consumidor aumenta a demanda do bem. d. O preço de um insumo fundamental sobe em virtude da escassez de longo prazo. 2. Suponha que a indústria do ovo é perfeitamente competitiva e está em equilíbrio de longo prazo com uma curva de oferta do setor de longo prazo perfeitamente elástica. Preocupações de saúde com o colesterol, então, levam a uma redução na demanda. Construa uma figura semelhante à Figura 12-7, mostrando o comportamento de curto prazo da indústria e como o equilíbrio de longo prazo é restabelecido. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL

TheFind encontra o preço mais barato

Recentemente, em Sunnyvale, Califórnia, Tri Trang entrou no Best Buy e encontrou o presente perfeito para a namorada, um sistema de GPS Garmin por $184,85. Um ano antes, ele teria colocado o item no carrinho para comprá-lo. Em vez disso, sacou o telefone Android; usando um aplicativo que instantaneamente comparou o preço do Best Buy com o de outros varejistas, encontrou o mesmo item na Amazon. com por $106,75, sem custos de envio e nenhum imposto sobre vendas. Trang comprou o item na Amazon, ali no mesmo local. E não para por aí. eFind, o mais popular dos sites de comparação de preços, também irá fornecer um mapa da loja com o melhor preço, identificará códigos de cupom e ofertas de transporte, e fornecerá outras ferramentas para ajudar os usuários a organizar as compras. Terror tem sido a palavra usada para descrever a reação dos varejistas tradicionais. Antes do advento de aplicativos como o eFind, um varejista podia atrair clientes para dentro da loja com promoções, e esperar, razoavelmente, que comprassem também outras coisas mais lucrativas – com alguma insistência dos vendedores. Mas esses dias estão sumindo. Um estudo recente da empresa de consultoria Accenture descobriu que 73% dos clientes com dispositivos móveis preferem fazer compras por telefone, em vez de falar com um vendedor. A Best Buy, recentemente, fez um acordo judicial alegando postar preços da web em quiosques dentro das lojas mais rápido do que os clientes poderiam ver nos computadores domésticos, manobra que foi rapidamente descoberta pelos usuários do aplicativo eFind. Não é surpresa que o uso do aplicativo eFind tenha aumentado a um ritmo extremamente rápido. Do Black Friday de 2009 (o dia depois da Ação de Graças, o dia mais movimentado de compras do ano) para o Black Friday de 2010, houve um aumento de 50 vezes no número de consumidores visitando sites de varejo com seus dispositivos móveis. De fato, os varejistas estão esperando que mais consumidores usem telefones para fazer compras nos próximos anos. A Figura 12-9 ilustra as projeções de crescimento acentuado das vendas por celulares até 2016. No eFind, os itens mais procurados nas lojas são iPhones, iPads, jogos de vídeo e outros eletrônicos.

FIGURA 12-9

Crescimento esperado na compra por celulares nos Estados Unidos, 2010, 2016

De acordo com especialistas em comércio eletrônico, em resposta, os varejistas americanos começaram a alterar suas estratégias de venda. Estratégia envolvendo estoque de produtos que os fabricantes modificaram a favor do varejista, permitindo ser seu vendedor exclusivo. Além disso, alguns varejistas, quando confrontados com um cliente na loja mostrando um preço mais baixo em um dispositivo móvel, baixam o preço para não perder a venda. No entanto, os varejistas com certeza estão assustados. Como um analista disse: “Poucos varejistas podem jogar o jogo do menor preço. Isso vai acelerar o desaparecimento dos varejistas que não têm preços competitivos ou domínio de experiência em loja.”

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. A partir da evidência, o que se pode inferir comparativamente sobre se o mercado de varejo de eletrônicos preenchia ou não as condições de concorrência perfeita, antes do advento de compra através de dispositivo móvel? Qual era o impedimento mais importante para a concorrência? 2. Que efeito a introdução do TheFind e de aplicativos semelhantes teve sobre a concorrência no mercado de varejo de eletrônicos? E sobre a lucratividade

dos varejistas tradicionais como a Best Buy? Em média, qual será o efeito sobre o excedente do consumidor dos compradores desses itens? 3. Por que alguns varejistas estão fazendo os fabricantes produzirem versões exclusivas para eles? É provável que essa tendência aumente ou diminua?

• RESUMO 1. Em concorrência perfeita todos os produtores são produtores tomadores de preços e todos os consumidores são consumidores tomadores de preços – nenhuma ação pode influenciar o preço de mercado. Normalmente, os consumidores são tomadores de preço, mas os compradores nem sempre são. Em um setor perfeitamente competitivo, todos os produtores são tomadores de preço. 2. Há duas condições necessárias para a concorrência perfeita de um setor: há muitos produtores, nenhum deles com uma parcela de mercado grande, e a indústria produz um produto padronizado ou commodity – bens que os consumidores consideram equivalentes. A terceira condição, muitas vezes, também é satisfeita: livre entrada e saída para e do setor. 3. Um produtor escolhe o produto de acordo com a regra do produto ótimo: produzir a quantidade em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Para uma empresa tomadora de preço, a receita marginal é igual ao preço, e a curva de receita marginal é uma linha horizontal ao preço de mercado. Ela escolhe o produto de acordo com a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço: produz a quantidade em que o preço é igual ao custo marginal. No entanto, uma empresa que produz a quantidade ótima pode não ser lucrativa. 4. Uma empresa é lucrativa se a receita total excede o custo total, ou, de forma equivalente, se o preço de mercado excede o preço de equilíbrio – o custo total médio mínimo. Se o preço de mercado for superior ao preço de equilíbrio, a empresa é lucrativa. Se for inferior, a empresa não é lucrativa. Se for igual, está em equilíbrio. Quando lucrativa, o lucro por unidade da empresa é P – CTM, quando não é lucrativa, o prejuízo por unidade é CTM – P. 5. O custo fixo é irrelevante para a decisão de produção ótima de curto prazo da empresa, que depende de seu preço de encerramento – o custo variável médio mínimo – e do preço de mercado. Quando o preço de mercado é igual ou superior ao preço de encerramento, a empresa produz a quantidade de produto onde o custo marginal é igual ao preço de mercado. Quando o preço de mercado está abaixo do preço de encerramento, a empresa cessa a produção no curto prazo. Isso gera a curva de oferta individual de curto prazo da empresa. 6. O custo fixo importa ao longo do tempo. Se o preço de mercado estiver abaixo do custo total médio mínimo por um período prolongado de tempo,

as empresas vão sair do setor no longo prazo. Se estiver acima, as empresas existentes serão lucrativas, e novas empresas entrarão no setor no longo prazo. 7. A curva de oferta do setor depende do período de tempo. A curva de oferta do setor de curto prazo é a curva de oferta do setor, dado um número fixo de empresas. O mercado de equilíbrio de curto prazo é dado pela interseção da curva de oferta do setor de curto prazo e da curva de demanda. 8. A curva de oferta do setor de longo prazo é a curva de oferta do setor dado tempo suficiente para a entrada ou saída do setor. No mercado de equilíbrio de longo prazo – dado pela interseção da curva de oferta do setor de longo prazo e da curva da demanda – nenhum produtor tem incentivo para entrar ou sair. A curva de oferta do setor de longo prazo, muitas vezes, é horizontal. Pode ter inclinação ascendente, se houver oferta limitada de um insumo, resultando em aumento de custos em todo o setor. Pode também ter inclinação para baixo, no caso de redução de custo em todo o setor. Mas é sempre mais elástica do que a curva de oferta do setor de curto prazo. 9. No equilíbrio de mercado de longo prazo de um setor competitivo, a maximização do lucro leva cada empresa a produzir com o mesmo custo marginal, que é igual ao preço de mercado. Livre entrada e saída significa que toda a empresa recebe zero de lucro econômico – produzindo o produto correspondente ao custo total médio mínimo. Assim, o custo total de produção de um setor é minimizado. O resultado é eficiente, pois todo o consumidor disposto a pagar um preço maior ou igual ao custo marginal obtém o bem.

• PALAVRAS-CHAVE Produtores tomadores de preço, p. 294 Consumidores tomadores de preço, p. 294 Mercado em concorrência perfeita, p. 294 Setor em concorrência perfeita, p. 294 Participação de mercado, p. 294 Produto padronizado, p. 295 Commodity, p. 295 Livre entrada e saída, p. 295 Receita marginal, p. 297 Regra do produto ótimo, p. 297

Regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço, p. 298 Curva de receita marginal, p. 298 Preço de equilíbrio, p. 301 Preço de encerramento, p. 303 Curva de oferta individual de curto prazo, p. 303 Curva de oferta do setor, p. 305 Curva de oferta do setor de curto prazo, p. 306 Equilíbrio de mercado de curto prazo, p. 306 Equilíbrio de mercado de longo prazo, p. 308 Curva de oferta do setor de longo prazo, p. 309

• PROBLEMAS 1. Em cada um dos itens seguintes, trata-se de produtor tomador de preço? Explique a resposta. a. Um cappuccino em uma cidade universitária, onde existem dezenas de cappuccinos semelhantes. b. Os fabricantes de Pepsi-Cola. c. Um dos muitos vendedores de abobrinha em um mercado de fazendeiros locais. 2. Em cada um dos itens seguintes, o setor tem concorrência perfeita? Referindo-se à participação no mercado, à padronização do produto e/ou livre entrada e saída, explique as respostas. a. Aspirina. b. Concertos de Alicia Keys. c. SUVs. 3. Kate’s Katering oferece serviço de bufê, e esse setor é perfeitamente competitivo. O maquinário de Kate custa $100 por dia e é o único insumo fixo. Seu custo variável consiste de salários pagos aos cozinheiros e ingredientes alimentares. O custo variável por dia associado a cada nível de produto é dado na tabela a seguir.

Quantidade de refeições

CV

0

0

10

2

20

4

30

10

40

10

50

10

a. Calcule o custo total, o custo variável médio, o custo total médio e o custo marginal para cada quantidade de produto. b. Qual é o preço de equilíbrio? Qual é o preço de encerramento? c. Suponha que o preço pelo qual Kate pode vender refeições de bufê seja de $21 por refeição. No curto prazo, Kate obtém lucro? No curto prazo, deve produzir ou fechar? d. Suponha que o preço pelo qual Kate pode vender refeições de bufê é de $17 por refeição. No curto prazo, Kate obtém lucro? No curto prazo, deve produzir ou fechar? e. Suponha que o preço pelo qual Kate pode vender refeições de bufê é $13 por refeição. No curto prazo, Kate obtém lucro? No curto prazo, deve produzir ou fechar? 4. Bob produz filmes em DVD para venda, o que exige um local físico e uma máquina que copia o filme original em um DVD. Bob aluga um local por $30.000 por mês e aluga uma máquina por $20.000 por mês. Esses são seus custos fixos. Seu custo variável por mês é dado na tabela a seguir.

Quantidade de DVDs

CV

0

$0

1.000

5.000

2.000

8.000

3.000

9.000

4.000

14.000

5.000

20.000

6.000

33.000

7.000

49.000

8.000

72.000

9.000

99.000

10.000

150.000

a. Para cada quantidade de produto calcule o custo variável médio, o custo total médio e o custo marginal de Bob. b. Há livre entrada no setor, e qualquer um que entre terá os mesmos custos que Bob. Suponha que atualmente o preço de um DVD é $25. Qual será o lucro de Bob? Esse é um equilíbrio de longo prazo? Se não for, qual será o preço dos filmes em DVD no longo prazo? 5. Considere a empresa de DVD de Bob descrita no Problema 4. Suponha que a produção de DVD seja um setor em concorrência perfeita. Para cada uma das seguintes perguntas, explique a resposta. a. Qual é o preço de equilíbrio de Bob? Qual o preço de encerramento? b. Suponha que o preço de um DVD seja $2. O que Bob deve fazer no curto prazo? c. Suponha que o preço de um DVD seja $7. Qual é a quantidade que maximiza o lucro dos DVDs que Bob deve produzir? Qual será seu lucro total? No curto prazo, ele deve produzir ou fechar? No longo prazo deve permanecer no setor? d. Suponha que, em vez disso, o preço do DVD seja $20. Agora, qual é a quantidade que maximiza o lucro dos DVDs e que Bob deve produzir? Qual é o lucro total? No curto prazo, ele deve produzir ou fechar? No longo prazo, deve permanecer no setor? 6. Considere novamente a empresa de DVD de Bob descrita no Problema 4. a. Trace a curva de custo marginal de Bob. b. No curto prazo, em que intervalo de preço Bob não produz DVDs? c. Trace a curva de oferta individual de Bob.

a. Uma empresa que maximiza o lucro incorre em prejuízo econômico de 7. $10.000 por ano. Seu custo fixo é $15.000 por ano. Deve produzir ou encerrar no curto prazo? Deve permanecer no setor ou sair no longo prazo? b. Em vez disso, suponha que essa empresa tenha um custo fixo de $6.000 por ano. Deve produzir ou encerrar no curto prazo? Deve permanecer no setor ou sair no longo prazo? 8. Abre na cidade o primeiro restaurante de sushi. Inicialmente, as pessoas estão receosas de comer pequenas porções de peixe cru, pois nessa cidade sempre foi popular grandes porções de carne grelhada. No entanto, um relatório médico influente alertou os consumidores contra carne grelhada, sugerindo aumentar o consumo de peixe, especialmente de peixe cru. O restaurante de sushi torna-se popular, e o lucro aumenta. a. O que acontecerá com o lucro do restaurante de sushi no curto prazo? O que acontecerá com o número de restaurantes de sushi na cidade, no longo prazo? O primeiro restaurante de sushi será capaz de manter o lucro de curto prazo no longo prazo? Explique as respostas. b. As churrascarias locais começam a sofrer com a popularidade do sushi e a incorrer em prejuízo. O que acontecerá com o número de churrascarias na cidade no longo prazo? Justifique a resposta. 9. Uma empresa em concorrência perfeita tem o seguinte custo total no curto prazo: Quantidade

CT

0

$5

1

10

2

13

3

18

4

25

5

34

6

45

A demanda do mercado para o produto da empresa é dada pela seguinte tabela de demanda do mercado:

Preço

Quantidade demandada

12

$300

10

500

8

800

6

1.200

4

1.800

a. Calcule o custo marginal dessa empresa para todos os níveis de produto exceto zero, bem como o custo variável médio e o custo total médio. b. Há 100 empresas nesse setor, todos com custos idênticos aos dessa empresa. Trace a curva da oferta do setor de curto prazo. No mesmo gráfico, trace a curva da demanda de mercado. c. Qual é o preço de mercado, e qual o lucro que terá cada empresa? 10. Uma nova vacina contra uma doença mortal acaba de ser descoberta. Atualmente, 55 pessoas morrem da doen ça por ano. A nova vacina salvará vidas, mas não é completamente segura. Alguns pacientes que a receberam morrerão de reações adversas. Os efeitos projetados da vacinação são dados na tabela a seguir:

a. No caso, como interpretar “benefício marginal” e “custo marginal”? Calcule o benefício marginal e o custo marginal para cada aumento de 10% na taxa de vacinação. Escreva as respostas na tabela. b. Qual será a proporção ótima da população a ser vacinada? c. Como interpretar “lucro” aqui? Calcule o lucro para todos os níveis de vacinação. 11. Avalie cada uma das seguintes afirmações. Se a afirmação for verdadeira, explique por que; se for falsa, identifique o erro e tente corrigi-lo. a. Uma empresa que maximiza o lucro em um setor em concorrência perfeita deveria escolher o nível de produto em que a diferença entre o preço de mercado e o custo marginal é máximo. b. Um aumento no custo fixo diminui a quantidade de produto que maximiza o lucro produzido no curto prazo. 12. A produção de produtos agrícolas como trigo é um dos poucos exemplos de um setor em concorrência perfeita. Nessa questão, analisamos os resultados de um estudo divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sobre a produção de trigo nos Estados Unidos em 1998.

a. O custo variável médio do cultivo de trigo era de $107 por acre. Supondo um rendimento de 50 sacas por acre, calcule o custo variável médio por sacas de trigo. b. O preço médio do trigo recebido por um agricultor em 1998 foi de $2,65 por saca. Você acha que o agricultor médio teria saído do setor no curto prazo? Explique. c. Com um rendimento de 50 sacas de trigo por acre, o custo total médio por fazenda foi de $3,80 por saca. A área cultivada de centeio (um tipo de trigo) nos Estados Unidos caiu de 418 mil acres em 1998 para 274 mil em 2006. Usando as informações sobre preços e custos aqui e nos itens a e b, explique por que isso pode ter acontecido. d. Usando a informação acima, você acha que os preços do trigo eram mais altos ou mais baixos antes de 1998? Por quê? 13. A tabela a seguir apresenta os preços de lavar e passar uma camisa masculina, conforme um levantamento sobre lavanderias na Califórnia.

Lavanderia

Cidade

Preço

A-1 Cleaners

Santa Barbara

$1,50

Regal Cleaners

Santa Barbara

1,95

St. Paul Cleaners

Santa Barbara

1,95

Zip Kleen Dry Cleaners

Santa Barbara

1,95

Effie the Tailor

Santa Barbara

2,00

Magnólia Too

Goleta

2,00

Master Cleaners

Santa Barbara

2,00

Santa Barbara Cleaners

Goleta

2,00

Sunny Cleaners

Santa Barbara

2,00

Casitas Cleaners

Carpinteria

2,10

Rockwell Cleaners

Carpinteria

2,10

Norvelle Bass Cleaners

Santa Barbara

2,15

Ablitt’s Fine Cleaners

Santa Barbara

2,25

Califórnia Cleaners

Goleta

2,25

Justo the Tailor

Santa Barbara

2,25

Pressed 4 Time

Goleta

2,50

King’s Cleaners

Goleta

2,50

a. Qual é o preço médio da camisa lavada e passada em Goleta? E em Santa Barbara? b. Trace curvas do custo marginal e do custo total médio para a California Cleaners em Goleta, supondo que seja uma empresa em concorrência perfeita, mas que está tendo lucro em cada camisa no curto prazo. Marque o ponto de equilíbrio de curto prazo e sombreie a área que corresponde ao lucro obtido pela lavanderia. c. Suponha que $2,25 seja o preço de equilíbrio de curto prazo em Goleta. Trace curvas típicas de demanda e de oferta de curto prazo para o mercado. Indique o ponto de equilíbrio. d. Observando os lucros na área de Goleta, outra lavanderia, Diamond Cleaners, entra no mercado. Cobra $1,95 por camisa. Qual é o novo preço médio de lavar e passar uma camisa em Goleta? Ilustre o efeito

da entrada no preço médio de Goleta por meio de um deslocamento na curva de oferta de curto prazo, na curva de demanda, ou em ambas. e. Suponha que California Cleaners cobre agora o novo preço médio e esteja agora no preço de equilíbrio (ou seja, tenha lucro econômico zero) a esse preço. Mostre o efeito provável da entrada no gráfico no item b. f. Se o setor de lavanderia está em concorrência perfeita, o que implica a diferença média de preço entre Goleta e Santa Barbara sobre os custos nas duas áreas?

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PARTE 7

ESTRUTURA DE MERCADO : ALÉM DA CONCORRÊNCIA PERFEITA

CAPÍTULO 13 » Monopólio

O DESEJO DE TODOS É TER PEDRAS PRECIOSAS

á anos, a De Beers, o principal fornecedor mundial de diamantes, publicou um anúncio pedindo para que os homens comprassem joias com diamantes para suas esposas. “Ela se casou com você na riqueza e na pobreza”, dizia o anúncio. “Deixe que saiba como vão as coisas.” De mau gosto? Sim. Eficaz? Sem dúvida. Por gerações os diamantes têm sido um símbolo de luxo, valiosos não só pela aparência, mas também pela raridade. Mas os geólogos dizem que os diamantes não são tão raros assim. Na verdade, de acordo com o guia de pedras preciosas Dow-Jones-Irwin Guide

H

to Fine Gems and Jewelry, os diamantes são “mais comuns que qualquer outra pedra preciosa colorida. Apenas parecem mais raros”… Por que os diamantes parecem mais raros do que outras pedras preciosas? Parte da resposta é uma campanha de marketing brilhante. (Falaremos mais sobre marketing e diferenciação de produto no Capítulo 15.) Mas os diamantes, sobretudo, parecem raros porque a De Beers os torna raros: a empresa controla a maior parte das minas de diamantes do mundo e limita a quantidade de diamantes fornecidos no mercado. Até agora, nos concentramos exclusivamente em mercados com concorrência perfeita – mercados em que os produtores são concorrentes perfeitos. Mas a De Beers não é como os produtores que estudamos até agora: é monopolista, o único (ou quase único) produtor de um bem. Os monopolistas se comportam de forma diferente dos produtores em setores com concorrência perfeita: enquanto os concorrentes perfeitos tomam o preço ao qual podem vender o produto como dado, os monopolistas sabem que suas ações afetam os preços de mercado e levam esse efeito em conta ao decidir quanto produzir. Antes de começarmos nossa análise, vamos dar um passo atrás e analisar monopólio e concorrência perfeita como partes de um sistema mais amplo de classificação de mercado. A concorrência perfeita e o monopólio são tipos determinados de estruturas de mercado. São categorias particulares em um sistema que os economistas usam para classificar mercados e setores de acordo com duas dimensões principais. Este capítulo começa com uma breve visão geral dos tipos de estruturas de mercado. Isso nos ajudará neste capítulo e nos seguintes a entender em um nível mais profundo por que os mercados são diferentes e por que os produtores nesses mercados se comportam de forma bastante diferente. O que você vai aprender neste capítulo • O significado de monopólio, em que o monopolista é o único produtor de um bem. • Como um monopolista determina a quantidade de produto e o preço que maximiza o lucro. • A diferença entre monopólio e concorrência perfeita, e os efeitos dessa diferença no bem-estar da sociedade.

Como os formuladores de políticas resolvem os problemas que aparecem • em decorrência do monopólio. • O que é discriminação de preços e por que é tão comum quando os produtores têm poder de mercado.

TIPOS DE ESTRUTURA DE MERCADO No mundo real, há uma variedade imensa de mercados distintos. Observamos padrões diferentes de comportamento dos produtores nos diversos mercados: em alguns mercados, os produtores são extremamente competitivos, em outros, parecem, de alguma forma, coordenar suas ações para evitar competir entre si, e, como acabamos de descrever, alguns mercados são monopólios em que não há concorrência alguma. A fim de desenvolver princípios e fazer previsões sobre mercados e como os produtores devem comportar-se dentro deles, os economistas desenvolveram quatro modelos principais de estrutura de mercado: concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. Esse sistema de estruturas de mercado baseia-se em duas dimensões: No número de produtores no mercado (um, poucos, ou muitos). Se os bens oferecidos são idênticos ou diferenciados. Bens diferenciados são aqueles que são diferentes, mas que os consumidores consideram até certo ponto substituíveis um pelo outro (Coca-Cola e Pepsi, por exemplo). A Figura 13-1 oferece um resumo visual simplificado dos tipos de estrutura de mercado classificados de acordo com as duas dimensões. No monopólio, um único produtor vende um único produto, sem diferenciação. No oligopólio, poucos produtores – mais que um, mas não um grande número – vendem produtos que podem ser idênticos ou diferenciados. Em concorrência monopolística, muitos produtores, mas cada um vendendo um produto diferenciado (imagine os produtores de livros de economia). E, finalmente, como sabemos, em concorrência perfeita, muitos produtores, mas cada um vende um produto idêntico.

Você deve imaginar o que determina o número de empresas em um mercado: se há uma (monopólio), algumas (oligopólio), ou muitas (concorrência perfeita e concorrência monopolística). Não vamos responder a essa pergunta aqui porque será abrangida em detalhes mais adiante neste capítulo e nos Capítulos 14 e 15, que analisam oligopólio e concorrência monopolística. Apenas observaremos brevemente que, no longo prazo, depende da existência de condições que tornam difícil para as novas empresas entrar no mercado, tal como o controle dos recursos ou insumos necessários, retornos crescentes de escala na produção, superioridade tecnológica, externalidade de rede ou regulamentos governamentais. Quando essas condições estão presentes, as indústrias tendem a ser monopólios ou oligopólios; quando não estão presentes, as indústrias tendem a ficar em concorrência perfeita ou em concorrência monopolística. Pode-se imaginar também por que alguns mercados têm produtos diferenciados e outros idênticos. A resposta é que depende da natureza do bem e da preferência dos consumidores. Alguns bens, como refrigerantes, livros de economia, cereais matinais – podem ser facilmente produzidos em variedades que diferem aos olhos e gostos dos consumidores. Outros bens – martelos, por exemplo – são mais difíceis de diferenciar. Embora este capítulo seja dedicado ao monopólio, aspectos importantes do monopólio transitam para o oligopólio e para a concorrência monopolística. Na próxima seção, definiremos monopólio e iremos rever as condições que o tornam viável. Essas mesmas condições, de forma menos extrema, também dão origem ao oligopólio. Em seguida, mostraremos como um monopolista pode aumentar o lucro por intermédio da limitação da quantidade ofertada no mercado – comportamento que também ocorre no oligopólio e na concorrência monopolística. Como veremos, esse tipo de comportamento é bom para o produtor, mas ruim para os consumidores e provoca ineficiência. Um tópico importante de estudo é como a política pública tenta limitar o prejuízo. Finalmente, abrangeremos um dos efeitos surpreendentes do monopólio – frequentemente está presente tanto no oligopólio como na concorrência monopolística: o fato de que consumidores diferentes, muitas vezes, pagam preços diferentes para o mesmo bem. FIGURA 13-1

Tipos de estrutura de mercado

O comportamento de qualquer empresa e do mercado que ela ocupa é analisado usando um dos quatro modelos de estrutura de mercado – monopólio, oligopólio, concorrência perfeita ou concorrência monopolística. Esse sistema que categoriza a estrutura de mercado baseia-se em duas dimensões: (1) se os produtos são diferenciados ou idênticos, e (2) o número de produtores na indústria – um, alguns ou muitos.

O monopólio da De Beers na África do Sul foi criado em 1880 por Cecil Rhodes, um empresário britânico. Em 1880, as minas da África do Sul já dominavam a oferta mundial de diamantes. Havia, no entanto, muitas empresas de mineração, todas competindo entre elas. Durante a década de 1880, Rhodes comprou a maioria dessas minas e as consolidou em uma única empresa, a De Beers. Em 1889, a De Beers controlava quase toda a produção mundial de diamantes.

O SIGNIFICADO DE MONOPÓLIO Em outras palavras, a De Beers tornou-se monopolista. Um produtor é monopolista quando é o único a ofertar um bem que não tem substituto próximo. Quando uma empresa é monopolista, a indústria ou o setor é um monopólio.

Monopólio: primeiro desvio da concorrência perfeita

Como vimos Capítulo 12, em “Definindo concorrência perfeita”, o modelo de oferta e demanda de um mercado não é válido universalmente. Ao contrário, é um modelo de concorrência perfeita, que é apenas um entre vários tipos diferentes de estrutura de mercado. No Capítulo 12, aprendemos que um mercado estará em concorrência perfeita apenas se houver muitos produtores, todos produzindo o mesmo bem. Monopólio é o desvio mais extremo da concorrência perfeita. Na prática, monopólios verdadeiros são difíceis de serem encontrados na economia americana moderna, em parte por causa de obstáculos legais. Um empresário contemporâneo que tente consolidar todas as empresas de um setor da forma como Rhodes fez, logo iria para um tribunal acusado de violar leis antitruste, destinadas a evitar que surjam monopólios. Oligopólio, uma estrutura de mercado em que há um pequeno número de grandes produtores, é muito mais comum. De fato, a maioria dos bens e serviços que compramos, de carros a passagens aéreas, é fornecida por oligopólios, que analisaremos em detalhe no Capítulo 14. No entanto, os monopólios desempenham um papel importante em alguns setores da economia, como a indústria farmacêutica. Além disso, a análise do monopólio fornece a base para a análise posterior de outros desvios da concorrência perfeita, como oligopólio e concorrência monopolística. O que os monopolistas fazem

Por que Rhodes quis consolidar os produtores de diamantes da África do Sul em uma única empresa? Que diferença fez para o mercado mundial de diamantes? A Figura 13-2 oferece uma visão preliminar dos efeitos do monopólio. Mostra um setor em que a curva da oferta em concorrência perfeita intercepta a curva da demanda em C, levando ao preço PC e ao produto QC. FIGURA 13-2

O que um monopolista faz

Em concorrência perfeita, o preço e a quantidade são determinados pela oferta e demanda. Aqui, o equilíbrio competitivo está em C, onde o preço é PC e a quantidade é

QC. Um monopolista reduz a quantidade ofertada para QM e move para cima na curva da demanda de C para M, elevando o preço para PM.

Suponha que essa indústria se consolide em um monopólio. O monopolista se move para cima na curva da demanda, reduzindo a quantidade ofertada para um ponto como M, em que a quantidade produzida, QM, é mais baixa e o preço, PM, é mais alto do que em concorrência perfeita. A capacidade de um monopolista de elevar o preço acima do nível de concorrência pela redução do produto é conhecida como poder de mercado. E o poder de mercado é o que importa para os monopolistas. Um produtor de trigo que é um entre 100 mil produtores não tem poder de mercado: deve vender o trigo ao preço corrente de mercado. No entanto, sua

empresa local de serviço de abastecimento de água tem poder de mercado: pode aumentar os preços e ainda manter a maior parte (embora nem todos) dos consumidores, pois não têm alternativa. Em resumo, é um monopolista. A razão para um monopolista reduzir a quantidade de produto e aumentar o preço comparado com um setor em concorrência perfeita é aumentar o lucro. Cecil Rhodes consolidou os produtores de diamantes na De Beers porque percebeu que o conjunto valeria mais do que a soma das partes, o monopólio geraria mais lucro do que a soma dos lucros das empresas concorrentes individuais. Como vimos no Capítulo 12, em concorrência perfeita, o lucro econômico normalmente desaparece no longo prazo, à medida que os concorrentes entram no mercado. No monopólio, os lucros não desaparecem, o monopolista é capaz de continuar tendo lucro no longo prazo. Na verdade, os monopolistas não são os únicos tipos de empresas que possuem poder de mercado. No próximo capítulo, estudaremos os oligopolistas, empresas que também podem ter poder de mercado. Em certas condições, os oligopolistas podem obter lucros econômicos positivos no longo prazo, restringindo o produto como fazem os monopolistas. Mas por que os lucros não desaparecem com a concorrência? O que permite que os monopolistas sejam monopolistas? Por que existem monopólios?

Os lucros de um monopolista não irão passar despercebidos. (Lembre-se de que se trata de “lucro econômico”, receita superior aos custos de oportunidade dos recursos da empresa.) Mas as outras empresas também não vão entrar na festa, pegar sua parte, e pressionar para baixo os preços e os lucros no longo prazo? Para que um monopólio lucrativo continue existindo, algo deve evitar que outras pessoas entrem no negócio; esse “algo” é conhecido como barreira à entrada. Existem cinco tipos principais de barreiras à entrada: controle de um recurso ou insumo escasso, retornos crescentes de escala, superioridade tecnológica, externalidade de rede e barreiras criadas pelo governo para a entrada. 1. Controle de um recurso ou insumo escasso

Um monopolista que controla um recurso ou insumo fundamental para um setor pode impedir outras empresas de entrar no mercado. Cecil Rhodes criou o monopólio da De Beers, ao estabelecer controle sobre as minas que produziam grande parte dos diamantes do mundo. 2. Retornos crescentes de escala

Muitos americanos têm gás natural encanado em suas casas para cozinhar e para aquecimento. Invariavelmente, a companhia de gás local é monopolista. Mas por que as empresas rivais não competem para fornecer gás? No início do século XIX, quando a indústria de gás estava apenas começando, as empresas concorriam por clientes locais. Mas essa competição não durou muito tempo, logo o fornecimento de gás local tornou-se um monopólio em quase todas as cidades, em virtude do elevado custo fixo envolvido em estender a tubulação de gás de uma cidade. Como o custo de colocar a tubulação de gás dependia de quanto gás a empresa vendia, as empresas com maior volume de venda tinham vantagem de custo: como podiam distribuir os custos fixos sobre um volume maior, tinham custos totais médios mais baixos do que as empresas menores. O fornecimento de gás local é um setor em que o custo total médio sempre cai à medida que o produto aumenta. Como vimos no Capítulo 11, esse fenômeno é chamado de retorno crescente de escala. Ali aprendemos que quando o custo total médio cai, à medida que o produto aumenta, as empresas tendem a crescer mais. Em um setor caracterizado por retornos crescentes de escala, as grandes empresas são mais lucrativas e expulsam as menores. Pela mesma razão, as empresas estabelecidas têm vantagem de custo sobre qualquer entrante novo, o que constitui uma barreira potencial à entrada. Assim, retornos crescentes de escala podem não só dar origem, mas manter o monopólio. Um monopólio criado e sustentado por retornos crescentes de escala é chamado de monopólio natural. A característica definidora de um monopólio natural é que ele apresenta retornos crescentes de escala no âmbito de produção relevante para a indústria ou setor. Isto está ilustrado na Figura 13-3, que mostra a curva de custo total médio e a curva de demanda de mercado da empresa, D. Aqui se pode ver que a curva CTM do

monopolista natural diminui no âmbito do produto no qual o preço é maior que ou igual ao custo médio total. Assim, um monopolista natural tem retornos crescentes de escala no âmbito total do produto em que qualquer empresa gostaria de permanecer no setor – o âmbito do produto em que a empresa pelo menos estaria em equilíbrio no longo prazo. Isso ocorre porque os custos fixos são elevados: quando o custo fixo necessário para operar é muito elevado, determinada quantidade de produto é produzida a um custo total médio mais baixo por uma grande empresa do que seria produzida por duas ou mais empresas menores. Os monopólios naturais mais visíveis na economia moderna são de serviço público local: água, gás e, às vezes, energia elétrica. Como veremos mais adiante neste capítulo, os monopólios naturais representam um desafio especial para a política pública. 3. Superioridade tecnológica

Uma empresa que mantém vantagem tecnológica consistente sobre concorrentes potenciais pode-se estabelecer como monopolista. Por exemplo, a partir da década de 1970 até a década de 1990, a fabricante de chips Intel foi capaz de manter vantagem consistente sobre os concorrentes potenciais, tanto na concepção como na produção de microprocessadores, chips que fazem os computadores funcionarem. Mas a superioridade tecnológica normalmente não constitui barreira à entrada no longo prazo: ao longo do tempo, os concorrentes investirão na modernização da tecnologia para corresponder ao líder em tecnologia. De fato, nos últimos anos, a Intel teve sua superioridade tecnológica corroída por um concorrente, a Advanced Micro Devices (também conhecido como AMD), que agora produz chips tão rápidos e poderosos como os da Intel. 4. Externalidade de rede

Se você fosse a única pessoa no mundo com acesso à Internet, quanto essa conexão valeria para você? A resposta, certamente, é nada. Seu acesso à Internet é valioso porque outras pessoas também estão conectadas. E, em geral, quanto mais pessoas estão conectadas, mais valiosa fica sua conexão. Esse fenômeno, segundo o qual o valor de um bem ou serviço para um

indivíduo é maior quando muitos outros usam o mesmo bem ou serviço, é denominado de externalidade de rede – seu valor deriva de possibilitar aos usuários participarem de uma rede com outros usuários. A forma mais antiga de externalidade de rede surgiu no transporte, onde o valor de uma estrada ou aeroporto aumentava à medida que o número de pessoas que tinham acesso a eles aumentava. Mas externalidades de rede são particularmente prevalentes em setores de tecnologia e comunicação da economia. O caso clássico são os sistemas operacionais de computador. Em todo o mundo, a maioria dos computadores pessoais é executada no sistema operacional Microso Windows. Embora muitos acreditem que a Apple tem um sistema operacional superior, o uso mais amplo do Windows nos primórdios dos computadores pessoais atraiu mais desenvolvimento de soware e suporte técnico, ofertando-lhe um domínio duradouro. Quando existe externalidade de rede, a empresa com a maior rede de clientes usando seu produto tem vantagem na atração de novos clientes, o que pode possibilitar a transformação em monopolista. No mínimo, a empresa dominante pode cobrar um preço mais elevado e, assim, obter lucros mais elevados do que os concorrentes. Além disso, a externalidade de rede oferece vantagem às empresas que têm as “mãos mais largas”. Empresas com mais dinheiro na mão podem vender maior quantidade bens tendo prejuízo com a expectativa de que isso aumentará sua base de clientes. FIGURA 13-3

Retornos crescentes de escala criam monopólio natural

Um monopólio natural pode surgir quando os custos fixos necessários para operar são muito elevados. Quando isso ocorre, a curva CTM da empresa declina ao longo do âmbito do produto em que o preço é mais elevado que ou igual ao custo total médio. Isso oferece à empresa retornos crescentes de escala em toda a amplitude em que a empresa pelo menos está em equilíbrio no longo prazo. Como resultado, determinada quantidade de produto é produzida com menor custo por uma empresa grande em relação à produção por duas ou mais empresas menores.

5. Barreira criada pelo governo

Em 1998, a empresa farmacêutica Merck introduziu o Propecia, um medicamento eficaz contra a calvície. Apesar de o produto ser muito lucrativo e outras companhias farmacêuticas terem know-how para produzilo, nenhuma outra empresa desafiou o monopólio da Merck. Isso porque o governo dos Estados Unidos tinha concedido à Merck o direito exclusivo de produzir o fármaco nos Estados Unidos. Propecia é um exemplo de monopólio protegido por barreiras criadas pelo governo. Os monopólios mais importantes criados legalmente, hoje em dia, surgem de patentes e de copyrights. Uma patente dá ao inventor direito exclusivo de fazer, usar ou vender essa invenção, por um período que, na

maioria dos países, tem a duração entre 16 e 20 anos. Patentes são concedidas aos inventores de novos produtos, tais como medicamentos ou dispositivos. Da mesma forma, um copyright dá ao criador de uma obra literária ou artística o direito exclusivo de lucrar com esse trabalho, geralmente por um período igual ao tempo de vida do criador e mais 70 anos. A justificativa para patentes e copyrights é a questão do incentivo. Se os inventores não fossem protegidos por patentes, a recompensa pelo esforço seria bem pequena: logo que uma invenção valiosa fosse tornada pública, outros a copiariam e venderiam produtos com base nela. E se os inventores não esperassem lucrar com suas invenções, então, em primeiro lugar, não haveria incentivo para incorrer em custos de invenção. Da mesma forma para os criadores de obras literárias ou artísticas. Assim, a lei dá um monopólio temporário que incentiva a invenção e a criação por meio da imposição de direitos de propriedade temporários. Patentes e copyrights são temporários porque a lei estabelece um compromisso. O preço elevado do bem que prevalece enquanto a proteção legal está em vigor compensa os inventores pelo custo da invenção; por outro lado, o preço mais baixo, depois que a proteção legal expira e surge a concorrência, beneficia os consumidores e aumenta a eficiência econômica. Como a duração do monopólio temporário não pode ser fixada segundo cada caso específico, esse sistema é imperfeito e leva à existência de oportunidades perdidas. Em alguns casos, há questões importantes de bemestar. Por exemplo, a violação de patentes de medicamentos americanas por empresas farmacêuticas de países pobres tem sido fonte de ampla controvérsia, colocando de um lado as necessidades dos pacientes pobres que não podem pagar os preços dos medicamentos no varejo e, do outro lado, os interesses dos fabricantes de medicamentos que incorreram em gastos elevados em pesquisa para descobrir esses medicamentos. Para resolver esse problema, algumas companhias farmacêuticas americanas e os países pobres negociam acordos pelos quais as patentes são honradas, mas a companhia americana vende seu medicamento ao país pobre a preços muito baixos. (Esse é um exemplo de discriminação de preços, que veremos mais adiante neste capítulo.)

Ã

COMPARAÇÃO GLOBAL O PREÇO QUE PAGAMOS Apesar de o fornecimento de medicamentos protegidos por patentes a preços mais baixos em países pobres ser um fenômeno novo, a cobrança de preços diferentes para os consumidores de diversos países não é: constitui um exemplo de discriminação de preços. Um monopolista maximizará os lucros cobrando um preço mais elevado no país com elasticidade-preço menor (país rico) e um preço mais baixo no país com elasticidade-preço maior (país pobre). Curiosamente, contudo, os preços dos medicamentos podem divergir substancialmente, mesmo entre países com níveis de renda comparáveis. Como explicar isso? A resposta está nas diferenças de regulação. Esse gráfico compara os preços pagos por moradores de diversos países ricos de determinada cesta de medicamentos. Mostra que os consumidores americanos pagam muito mais pelos medicamentos do que os moradores de outros países ricos. Por exemplo, os espanhóis e os australianos pagam cerca de 1/3 do que os americanos pagam pelos medicamentos. O motivo: o governo desses países regula os preços dos medicamentos de forma mais ativa do que os Estados Unidos, ajudando a manter o preço dos medicamentos acessível para os cidadãos. Para economizar dinheiro, não surpreende que os americanos viajem para o Canadá e o México para comprar medicamentos, ou os comprem do exterior pela Internet. Além disso, os fabricantes de medicamentos americanos afirmam que os preços mais altos são necessários para cobrir o alto custo de pesquisa e desenvolvimento, que pode chegar a dezenas de milhões de dólares ao longo de vários anos para medicamentos bem-sucedidos. Os críticos das empresas farmacêuticas rebatem que os preços dos medicamentos americanos excedem o que é necessário para um nível socialmente desejável de inovação de medicamentos. Em vez disso, afirmam que as companhias farmacêuticas, muitas vezes, estão focadas no desenvolvimento de medicamentos que geram altos lucros, em vez daqueles que melhoram a saúde ou salvam vidas. O que é indiscutível é que certo nível de lucro é necessário para financiar a inovação.

Fonte: Judith L. Wagner e Elizabeth McCarthy, International Diferences in Drug Prices, Annual Review of Public Health 25 (2004): 475-495.

economia em ação Mercados emergentes recentes: o melhor amigo de um monopolista de diamantes

Quando Cecil Rhodes criou o monopólio da De Beers, o momento era particularmente oportuno. As novas minas de diamantes na África do Sul ofuscavam todas as fontes anteriores, de modo que quase toda a produção mundial de diamantes estava concentrada em poucos quilômetros quadrados. Até recentemente, a De Beers foi capaz de estender seu controle sobre os recursos, mesmo quando novas minas foram descobertas. A De Beers comprou os novos produtores ou fez acordos com governos locais que controlavam algumas das novas minas, tornando-as de fato parte do seu

monopólio. O mais notável foi um acordo com a antiga União Soviética, que garantiu que os diamantes russos seriam comercializados através da De Beers, preservando sua capacidade de controle dos preços no varejo. A De Beers também chegou a estocar a oferta de um ano de diamantes em seus cofres em Londres, de modo que quando a demanda caía, as pedras extraídas eram armazenadas em vez de vendidas, restringindo a oferta no varejo até que a demanda e os preços se recuperassem. No entanto, ao longo dos últimos anos, o monopólio da De Beers esteve sob ataque. Reguladores do governo forçaram a De Beers a afrouxar o controle de mercado. Pela primeira vez na história, a De Beers tem concorrência: uma série de empresas independentes iniciou a mineração de diamantes em outros países africanos. Além disso, diamantes sintéticos de alta qualidade e mais baratos tornaram-se uma alternativa para a pedra natural, corroendo os lucros da De Beers. Então, isso significa que acabaram os preços altos dos diamantes, assim como os lucros da De Beers? Realmente não. Embora hoje a De Beers seja um “quase monopólio” e não um verdadeiro monopólio, ainda é a mineradora que extrai a maior parcela da oferta mundial de diamantes do que qualquer outro produtor individual. E ela tem se beneficiado dos novos mercados emergentes. A demanda de diamantes aumentou em países como China e Índia, levando ao aumento de preços. No entanto, a crise econômica de 2009 afetou seriamente a demanda mundial de diamantes. A De Beers respondeu cortando 20% da produção em 2011 (em relação a 2008). Mas os chineses ricos continuaram a investir pesadamente em diamantes, e a De Beers antecipa que a demanda asiática irá acelerar o esgotamento das minas de diamantes existentes no mundo. Como resultado, os analistas do setor preveem que os preços aumentem pelo menos 5% ao ano durante os próximos cinco anos. No final, apesar de um monopólio de diamante não poder durar para sempre, um quase monopólio, com demanda crescente pelos novos mercados emergentes, também pode ser lucrativo.

BREVE REVISÃO

Em um monopólio, uma única empresa usa seu poder de mercado para cobrar preços mais altos e produz menos do que em um setor competitivo, gerando lucro no curto e no longo prazo. O lucro não persiste no longo prazo, a menos que haja uma barreira de entrada, tal como o controle dos recursos naturais, retornos crescentes de escala, superioridade tecnológica, externalidades de rede ou restrições legais impostas pelo governo. Um monopólio natural surge quando o custo total médio está declinando ao longo do âmbito do produto relevante para o setor. Isso cria uma barreira para a entrada porque um monopolista estabelecido tem custo total médio menor do que um entrante. Em certos setores de tecnologia e de comunicação da economia, a externalidade de rede permite que uma empresa com grande número de clientes torne-se monopolista. Patentes e copyrights, barreiras criadas pelo governo, são fonte de monopólio temporário que tentam equilibrar a necessidade de preços mais elevados para compensar o custo da invenção de um inventor com o aumento do excedente do consumidor a partir de preços mais baixos e maior eficiência.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 13-1 1. Atualmente, a Texas Tea Oil Co. é a única fornecedora de óleo combustível para aquecimento doméstico em Frigid, Alaska. Neste inverno, os moradores se assustaram quando o preço de um galão de óleo para aquecimento dobrou, acreditando estarem sendo vítimas do poder de mercado. Explique qual das evidências enumeradas a seguir apoiam ou desmentem essa conclusão. a. Há uma escassez nacional de óleo combustível para aquecimento e a Texas Tea conseguiu adquirir apenas uma quantidade limitada. b. No ano passado, a Texas Tea e várias outras empresas que competem no mercado local de fornecimento de óleo fundiram-se em uma única empresa. c. O custo da compra de óleo para aquecimento das refinarias subiu significativamente para a Texas Tea. d. Recentemente, algumas empresas não locais começaram a oferecer óleo para aquecimento para os clientes regulares da Texas Tea a um preço muito mais baixo. e. A Texas Tea adquiriu uma licença exclusiva do governo para tirar o óleo do único oleoduto no estado destinado a aquecimento. 2. Suponha que o governo esteja pensando em estender o prazo de vigência de uma patente de 20 para 30 anos. Como isso mudaria os itens seguintes? a. O incentivo para inventar novos produtos.

O período durante o qual os consumidores têm de pagar preços mais elevados. 3. Explique a natureza da externalidade de rede em cada um dos casos seguintes. a. Um novo tipo de cartão de crédito, chamado Passaporte. b. Um novo tipo de motor de carro, que funciona com células solares. c. Um software que comercializa bens e serviços fornecidos localmente. As respostas estão no fim do livro. b.

COMO UM MONOPOLISTA MAXIMIZA O LUCRO Como sugerimos, depois que Cecil Rhodes consolidou os produtores de diamantes concorrentes da África do Sul em uma única empresa, o comportamento do setor mudou: a quantidade ofertada caiu, e o preço de mercado subiu. Nesta seção, vamos aprender como um monopolista aumenta o lucro por meio da redução do produto. E vamos ver o papel crucial que a demanda de mercado desempenha na condução de um monopolista a se comportar de forma diferente de um setor em concorrência perfeita. (Lembre-se de que o lucro aqui é o lucro econômico e não o lucro contábil.) Curva da demanda do monopolista e receita marginal

No Capítulo 12, derivamos a regra de produto ótimo para a empresa: a empresa que maximiza o lucro produz a quantidade de produto em que o custo marginal de produzir a última unidade de produto é igual à receita marginal – a variação na receita total gerada por essa última unidade de produto. Ou seja, RM = CM na quantidade de produto que maximiza o lucro. Embora a regra do produto ótimo seja válida para todas as empresas, veremos em breve que a sua aplicação leva a diferentes níveis de produto que maximizam o lucro para um monopolista em relação a uma empresa em um setor em concorrência perfeita – isto é, uma empresa tomadora de preço. A fonte dessa diferença está na comparação entre a curva da demanda enfrentada por um monopolista com a curva da demanda enfrentada por uma empresa individual em concorrência perfeita.

Além da regra do produto ótimo, também aprendemos no Capítulo 12 que, apesar de a curva da demanda de mercado sempre se inclinar para baixo, cada uma das empresas que compõem um setor em concorrência perfeita se defronta com uma curva de demanda perfeitamente elástica que é horizontal ao preço de mercado, como DC no painel (a) da Figura 13-4. Qualquer tentativa de uma empresa individual em um setor em concorrência perfeita cobrar mais do que o preço de mercado vigente fará com que perca todas as suas vendas. No entanto, pode vender tanto quanto queira ao preço de mercado. Como vimos no Capítulo 12, a receita marginal de um produtor em concorrência perfeita é o preço de mercado. Em decorrência, a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço é produzir o nível de produto em que o custo marginal da última unidade produzida seja igual ao preço de mercado. Um monopolista, por outro lado, é o único fornecedor do bem. Portanto, a curva da demanda é a curva da demanda de mercado que se inclina para baixo, como DM no painel (b) da Figura 13-4. Essa inclinação para baixo cria uma “cunha” entre o preço do bem e a receita marginal do bem – a variação na receita gerada pela produção de mais uma unidade. A Tabela 13-1 mostra essa cunha entre o preço e a receita marginal para um monopolista, ao calcular a tabela de receita total e receita marginal do monopolista a partir da tabela de demanda. As duas primeiras colunas da Tabela 13-1 mostram uma tabela de demanda hipotética para os diamantes da De Beers. Por questão de simplicidade, vamos supor que todos os diamantes sejam exatamente iguais. E para facilitar a aritmética, vamos supor que o número de diamantes vendidos seja muito menor do que realmente ocorre. Por exemplo, ao preço de $500 por diamante, supomos que apenas 10 diamantes sejam vendidos. A curva da demanda implícita dessa tabela é mostrada no painel (a) da Figura 13-5. A terceira coluna da Tabela 13-1 mostra a receita total da De Beers pela venda de cada quantidade de diamantes, o preço por diamantes multiplicado pelo número de diamantes vendidos. A última coluna calcula a receita marginal, a variação na receita total de produzir e vender outro diamante.

Claramente, depois do primeiro diamante, a receita marginal que um monopolista recebe com a venda de uma unidade a mais é inferior ao preço pelo qual essa unidade é vendida. Por exemplo, se a De Beers vende 10 diamantes, o preço pelo qual o 1º diamante é vendido é $500. Mas a receita marginal – a variação na receita total ao passar do 9º para o 10º diamante – é de apenas $50. FIGURA 13-4

Comparação das curvas de demanda de um produtor em concorrência perfeita e de um monopolista

Como o produtor individual em concorrência perfeita não pode afetar o preço de mercado do bem, ele se defronta com uma curva de demanda horizontal DC, como mostrado no painel (a), o que lhe permite vender tanto quanto queira ao preço de mercado. Um monopolista, no entanto, pode afetar o preço. Como é o único fornecedor no setor, ele se defronta com uma curva de demanda de mercado DM, como mostrado no painel (b). Para vender mais produto, deve baixar o preço; ao reduzir o produto, aumenta o preço.

Por que a receita marginal do 10º diamante é inferior ao preço? É inferior ao preço porque o aumento da produção por um monopolista tem dois efeitos opostos sobre a receita: Efeito quantidade. Uma unidade a mais é vendida, aumentando a receita total pelo preço pelo qual a unidade é vendida.

Efeito preço. Para vender a última unidade, o monopolista deve cortar o preço de mercado de todas as unidades vendidas. Isso diminuiu a receita total. O efeito quantidade e o efeito preço quando o monopolista vai da venda de 9 para 10 diamantes são ilustrados pelas duas áreas sombreadas no painel (a) da Figura 13-5. Aumentar as vendas de diamantes de 9 para 10 significa mover para baixo a curva da demanda de A para B, reduzindo o preço por diamante de $550 para $500. A área verde sombreada representa o efeito quantidade: a De Beers vende o 10º diamante ao preço de $500. Contudo, isso é compensado pelo efeito preço, representado pela área sombreada laranja. Para vender o 10º diamante, a De Beers deve reduzir o preço de todos os diamantes de $550 para $500. Então, perde 9 × $50 = $450 em receita, a área sombreada laranja. Como o ponto C indica, o efeito total sobre a receita de venda de mais um diamante – a receita marginal – derivada de um aumento na venda de diamantes de 9 para 10 é de apenas $50. O ponto C se situa na curva da receita marginal do monopolista, denominada RM no painel (a) da Figura 13-5 e retirada da última coluna da Tabela 13-1. O ponto fundamental sobre a curva da receita marginal do monopolista é que está sempre abaixo da curva de demanda. Isso se deve ao efeito preço: a receita marginal de um monopolista com a venda de uma unidade adicional é sempre menor do que o preço que o monopolista recebe pela unidade anterior. É o efeito preço que cria a cunha entre a curva da receita marginal do monopolista e a curva de demanda: para vender um diamante adicional, a De Beers deve cortar o preço de mercado de todas as unidades vendidas. De fato, essa cunha existe para qualquer empresa que possua poder de mercado, seja como oligopolista ou monopolista. Ter poder de mercado significa que a empresa se defronta com uma curva de demanda inclinada para baixo. Em decorrência, haverá sempre um efeito preço a partir de um aumento no produto. Assim, para uma empresa com poder de mercado, a curva da receita marginal sempre se situa abaixo da curva da demanda. Compare por um momento a curva da receita marginal do monopolista com a curva da receita marginal de uma empresa em concorrência perfeita,

sem poder de mercado. Para essa empresa, não há efeito preço a partir de um aumento no produto: sua curva de receita marginal é a curva de demanda horizontal. Assim, para uma empresa em concorrência perfeita, o preço de mercado e a receita marginal são sempre iguais.

Para enfatizar como os efeitos preço e quantidade compensam-se entre si para uma empresa com poder de mercado, mostramos a curva da receita total da De Beers no painel (b) da Figura 13-5. Observe seu formato de

montanha: à medida que o produto aumenta de 0 para 10 diamantes, a receita total aumenta. Isso reflete o fato que em níveis mais baixos de produto, o efeito quantidade é mais forte que o efeito preço: como o monopolista vende mais, tem que baixar o preço em poucas unidades, por isso o efeito preço é pequeno. À medida que o produto aumenta além dos 10 diamantes, a receita total realmente cai. Isso reflete o fato de que em altos níveis de produto, o efeito preço é mais forte do que o efeito quantidade: à medida que o monopolista vende mais, agora tem que baixar o preço em muitas unidades de produto, tornando o efeito preço muito grande. Do mesmo modo, a curva de receita marginal se situa abaixo de zero ao nível de produto acima de 10 diamantes. Por exemplo, um aumento na produção de diamantes de 11 para 12 rende apenas $400 para o 12º diamante, simultaneamente reduzindo a receita obtida com diamantes de 1 até 11 em $550. O resultado é que a receita marginal do 12º diamante é – $150. Produto e preço que maximizam o lucro do monopolista

Para completar a história de como um monopolista maximiza o lucro, introduziremos a noção de custo marginal do monopolista. Suponha que não haja custo fixo de produção, suponha também que o custo marginal de produzir um diamante adicional é constante em $200, não importa quantos diamantes a De Beers produz. O custo marginal será sempre igual ao custo médio total, e a curva de custo marginal (e a curva de custo total médio) será uma linha horizontal em $200, como mostrado na Figura 13-6. Para maximizar o lucro, o monopolista compara o custo marginal com a receita marginal. Se a receita marginal excede o custo marginal, a De Beers aumenta o lucro produzindo mais; se a receita marginal é menor que o custo marginal, a De Beers aumenta o lucro produzindo menos. Assim, o monopolista maximiza o lucro usando a regra do produto ótimo: (131)   

RM = CM na quantidade de produto que maximiza o lucro do monopolista

O ponto ótimo do monopolista é mostrado na Figura 13-6. Em A, a curva de custo marginal, CM, cruza a curva de receita marginal, RM. O nível de produto correspondente, 8 diamantes, é a quantidade de produto que maximiza o lucro do monopolista, QM. O preço em que os consumidores demandam 8 diamantes é $600, assim, o preço do monopolista, PM, é $600 – correspondente ao ponto B. O custo total médio de produção de cada diamante é $200, assim, o monopolista obtém um lucro de $600 – $200 = $400 por diamante e o lucro total é 8 × $400 = $3.200, como indicado pela área sombreada.

ARMADILHAS ENCONTRANDO O PREÇO DO MONOPÓLIO Para encontrar a quantidade de produto que maximiza o lucro de um monopolista, procuramos pelo ponto em que a curva de receita marginal cruza a curva de custo marginal. O ponto A na Figura 13-6 é um exemplo. FIGURA 13-5

Curvas da demanda, receita total e receita marginal de um monopolista

O painel (a) mostra as curvas da demanda e da receita marginal de diamantes de um monopolista, a partir dos dados da Tabela 13-1. A curva da receita marginal está abaixo

da curva da demanda. Para saber por que, considere o ponto A na curva da demanda onde são vendidos 9 diamantes a $550 cada, gerando uma receita total de $4.950. Para vender o 10º diamante, o preço de todos os 10 diamantes deve ser reduzido para $500, como mostrado pelo ponto B. Como resultado, a receita total aumenta conforme a área verde (efeito quantidade: + $500), mas diminui conforme a área laranja (efeito preço: – $450). Assim, a receita marginal do 10º diamante é $50 (a diferença entre as áreas verdes e laranja), que é muito menos do que o preço de $500. O painel (b) mostra a curva da receita total do monopolista de diamantes. À medida que o produto vai de 0 a 10 diamantes, a receita total aumenta. Atinge seu máximo em 10 diamantes – o nível em que a receita marginal é igual a 0 – e em seguida declina. O efeito quantidade domina o efeito preço quando a receita total está aumentando; o efeito preço domina o efeito quantidade quando

No entanto, é importante evitar um erro comum: imaginar que o ponto A mostra também o preço pelo qual o monopolista vende seu produto. Não é assim: mostra a receita marginal recebida pelo monopolista, que, como sabemos, é inferior ao preço. Para encontrar o preço de monopólio, é necessário subir verticalmente de A até a curva da demanda. Lá encontraremos o preço pelo qual os consumidores demandam a quantidade que maximiza o lucro. Assim, a combinação de preço e quantidade que maximiza o lucro é sempre um ponto sobre a curva da demanda, como B na Figura 13-6.

ARMADILHAS HÁ UMA CURVA DE OFERTA NO MONOPÓLIO? Dada a maneira como um monopolista aplica a regra do produto ótimo, talvez se queira saber o que isso implica para a curva de oferta de um monopolista. Mas essa pergunta não faz sentido: monopolistas não têm curva de oferta. Lembre-se de que uma curva de oferta mostra a quantidade que os produtores estão dispostos a ofertar a qualquer preço de mercado dado. Um monopolista, no entanto, não toma o preço como dado; escolhe a quantidade que maximiza o lucro, levando em conta sua própria capacidade de influenciar o preço.

Monopólio versus concorrência perfeita

Quando Cecil Rhodes consolidou muitos produtores independentes de diamantes na De Beers, converteu um setor em concorrência perfeita em

monopólio. Podemos agora usar nossa análise para verificar os efeitos de tal consolidação. Analisemos novamente a Figura 13-6 para indagar como esse mesmo mercado funcionaria se, em vez de ser um monopólio, o setor estivesse em concorrência perfeita. Continuemos supondo que não haja custo fixo e que o custo marginal seja constante, de modo que o custo total médio e o custo marginal sejam iguais. Se o setor de diamante consiste de muitas empresas em concorrência perfeita, cada um desses produtores aceita o preço de mercado como dado. Ou seja, cada produtor age como se sua receita marginal fosse igual ao preço de mercado. Assim, cada empresa dentro do setor usa a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço: (13- P = CM na quantidade de produto que maximiza o lucro da empresa 2) em concorrência perfeita Na Figura 13-6, isso corresponderia a produzir em C, onde o preço por diamante, PC, é $200, igual ao custo marginal de produção. Então, o produto que maximiza o lucro de um setor em concorrência perfeita, QC, é 16 diamantes. Mas será que o setor em concorrência perfeita obtém algum lucro em C? Não: o preço de $200 é igual ao custo total médio por diamante. Portanto, não há lucro econômico nesse setor quando produz ao nível de produto em concorrência perfeita. Vimos que, uma vez que o setor esteja consolidado em um monopólio, o resultado é muito diferente. O cálculo da receita marginal do monopolista leva o efeito preço em consideração, de modo que a receita marginal é inferior ao preço. Isto é, (13- P >RM = CM na quantidade de produto que maximiza o lucro do 3) monopolista Como já vimos, o monopolista produz menos que setores em concorrência – 8 diamantes em vez de 16. O preço no monopólio é $600,

comparado com apenas $200 em concorrência perfeita. O monopolista tem um lucro econômico positivo, mas os setores competitivos, não. Então, como sugerimos anteriormente, verifica-se que, em comparação com um setor em concorrência, o monopolista faz o seguinte: Produz uma quantidade menor: QM < QC Cobra um preço mais elevado: PM > PC Obtém lucro Monopólio: quadro geral

A Figura 13-6 usou números específicos e supôs que a curva de custo marginal fosse constante, que não houvesse qualquer custo fixo, e, por conseguinte, que a curva de custo total médio fosse uma linha horizontal. A Figura 13-7 mostra um quadro mais geral de monopólio em ação: D é a curva da demanda do mercado; RM, a curva de receita marginal; CM, a curva de custo marginal, e CTM, a curva de custo total médio. Aqui voltamos à suposição habitual de que a curva de custo marginal tem a forma da “logomarca da Nike”, e a curva de custo total médio tem forma de U. Aplicando a regra do produto ótimo, vemos que o nível de produto que maximiza o lucro é o produto em que a receita marginal é igual ao custo marginal, indicado pelo ponto A. A quantidade que maximiza o lucro do produto é QM, e o preço cobrado pelo monopolista é PM. No nível de produto que maximiza o lucro, o custo total médio do monopolista é CTMM, mostrado pelo ponto C. FIGURA 13-6

Produto e preço que maximizam o lucro do monopolista

Esta figura mostra as curvas de demanda, receita marginal e custo marginal. O custo marginal por diamante é constante em $200, de modo que a curva de custo marginal é horizontal em $200. De acordo com a regra do produto ótimo, a quantidade de produto que maximiza o lucro para o monopolista é RM = CM, mostrado pelo ponto A, onde as curvas de custo marginal e de receita marginal se cruzam em um nível de produto de 8 diamantes. Encontramos o preço que a De Beers pode cobrar por diamante indo até o ponto na curva de demanda diretamente acima do ponto A, aqui o ponto B, a um preço de $600 por diamante. O lucro é $400 × 8 = $3.200. Um setor em concorrência perfeita produz um nível de produto em que P = CM, dado pelo ponto C, onde as curvas de demanda e de custo marginal se cruzam. Assim, uma indústria competitiva produz 16 diamantes, vende a um preço de $200, e tem lucro zero.

Lembre-se de que calculamos o lucro na Equação 12-5, o lucro é igual à diferença entre a receita total e o custo total. Portanto, temos: (13-4) Lucro

= RT – CT = (PM × QM) – (CTMM × QM) = (PM – CTMM) × QM

O lucro é igual à área do retângulo sombreado na Figura 13-7, com altura PM – CTMM e largura QM. No Capítulo 12, aprendemos que um setor em concorrência perfeita pode ter lucro no curto prazo, mas não no longo prazo. No curto prazo, o preço pode exceder o custo total médio, permitindo que uma empresa em concorrência perfeita tenha lucro. Mas sabemos também que isso não pode persistir. No longo prazo, todo o lucro em um setor em concorrência perfeita desaparecerá à medida que novas empresas entram no mercado. Em contrapartida, barreiras à entrada permitem que um monopolista tenha lucro, tanto no curto como no longo prazo.

economia em ação Choque pelo alto preço da energia elétrica

Historicamente, empresas de energia elétrica eram reconhecidamente monopólios naturais. Serviço de utilidade pública em uma área geográfica definida, que possuía as usinas geradoras de energia elétrica, bem como as linhas de transmissão que fornecem energia elétrica aos clientes no varejo. A tarifa cobrada dos clientes era regulada pelo governo, fixada de tal modo que cobrisse o custo da operação do serviço de utilidade, além de um retorno modesto sobre o capital dos acionistas. Porém, no final de 1990, houve um movimento em direção à desregulação, com base na crença de que a concorrência resultaria em preços mais baixos de energia elétrica no varejo. A concorrência foi introduzida em dois momentos cruciais: (1) os distribuidores iriam competir para vender energia elétrica aos clientes no varejo, e (2) os geradores de energia iriam competir para fornecer energia aos distribuidores. Em teoria, pelo menos. De acordo com um relatório detalhado, 92% dos domicílios nos estados afirmavam que a escolha no varejo realmente não implicava escolher um fornecedor alternativo de energia elétrica porque um gerador de energia ainda dominava o mercado no atacado.

O que os defensores da desregulação não conseguiram perceber é que a maior parte da geração de energia ainda acarretava custos fixos iniciais grandes. Embora, na última década, tenham sido construídos geradores de energia a gás pequenos, usinas maciças, movidas a carvão ainda são a forma mais barata e mais abundante de geração de energia elétrica. FIGURA 13-7

O Lucro do monopolista

Nesse caso, a curva de custo marginal tem a forma da “logomarca da Nike”, e a curva de custo total médio tem forma de U. O monopolista maximiza o lucro produzindo o nível de produto em que RM = CM, dado pelo ponto A, gerando a quantidade QM. Ele encontra seu preço de monopólio, PM, do ponto sobre a curva de demanda diretamente acima do ponto A, aqui o ponto B. O custo total médio de QM é mostrado pelo ponto C. O lucro é dado pela área do retângulo sombreado.

Além disso, a desregulação e a falta de concorrência verdadeira propiciou que os geradores de energia se envolvessem em manipulação de mercado – reduzindo intencionalmente a quantidade de energia que forneciam aos distribuidores, para elevar os preços. O caso mais chocante ocorreu durante a crise de energia da Califórnia de 2000-2001, que trouxe apagões e bilhões

de dólares em sobretaxas de energia elétrica para residências e empresas. Posteriormente, em fitas de áudio adquiridas pelos órgãos reguladores, era possível ouvir os funcionários discutindo planos de fechar usinas de energia durante os períodos de pico de demanda de energia, ironizando sobre como iriam “roubar” mais de $1 milhão por dia da Califórnia. De acordo com um estudo da Universidade de Michigan, de 2002 a 2006, os preços médios da energia elétrica no varejo subiram 21% nos estados regulados versus 36% nos estados totalmente desregulados. Outro estudo constatou que, de 1999 a 2007, a diferença entre os preços cobrados dos clientes industriais no varejo nos estados desregulados e regulados triplicou. Os clientes, irritados, levaram vários estados a pensar de forma contrária, tendo Illinois, Montana e Virginia regulado o setor. A Califórnia foi mais longe, a ponto de mandar que as distribuidoras de energia elétrica readquirissem as usinas de produção de energia (e tem planos de retomar a regulação do setor). Além disso, os reguladores foram à espreita, multando serviços de utilidade no Texas e em Nova York por manipulação de mercado.

BREVE REVISÃO A diferença fundamental entre uma empresa com poder de mercado, como um monopolista, e uma empresa em um setor em concorrência perfeita é que as empresas em concorrência perfeita são tomadoras de preços que se defrontam com curvas de demanda horizontal, ao passo que empresas com poder de mercado se defrontam com uma curva de demanda inclinada para baixo. Em decorrência do efeito preço de um aumento do produto, a curva de receita marginal de uma empresa com poder de mercado está sempre abaixo da curva da demanda. Então, um monopolista que maximiza o lucro escolhe o nível de produto em que o custo marginal é igual à receita marginal, e não igual ao preço. Em decorrência, um monopolista produz menos e vende o produto a um preço mais elevado do que faria em um setor em concorrência perfeita. E consegue lucro no curto prazo e no longo prazo.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 13-2 1. Use a tabela de receita total a seguir da Esmerald, Inc., um produtor monopolista de esmeraldas de 10 quilates, para calcular as respostas dos itens a a d. Então responda o item e. a. A tabela de demanda. b. A tabela de receita marginal. c. O componente de efeito quantidade na receita marginal por nível de produto. d. O componente do efeito preço na receita marginal por nível de produto. e. Que informação adicional é necessária para determinar o nível de produto que maximiza o lucro da Esmeralda, Inc.? 2. Use a Figura 13-6 para mostrar o que acontece com o que está enumerado a seguir, quando o custo marginal de produção de diamantes sobe de $200 para $400. a. Curva de custo marginal. b. O preço e a quantidade que maximiza o lucro. c. Lucro do monopolista. d. Lucro do setor em concorrência perfeita. Quantidade de esmeraldas demandada

Receita total

1

$100

2

186

3

252

4

280

5

250 As respostas estão no fim do livro.

MONOPÓLIO E POLÍTICAS PÚBLICAS É bom ser monopolista, mas não é tão bom ser cliente de um monopolista. Um monopolista, ao reduzir o produto e aumentar o preço, se beneficia à custa dos consumidores. Mas os compradores e vendedores sempre têm interesses conflitantes. O conflito de interesses sob monopólio é diferente daquele em concorrência perfeita?

A resposta é sim, porque o monopólio é uma fonte de ineficiência: as perdas para os consumidores pelo comportamento monopolista são maiores do que os ganhos para o monopolista. Como o monopólio leva a perdas líquidas para a economia, os governos, muitas vezes, tentam prevenir o aparecimento dos monopólios ou limitar os seus efeitos. Nesta seção, veremos por que o monopólio leva à ineficiência e analisaremos as políticas que os governos adotam na tentativa de impedir essa ineficiência. Efeitos do monopólio sobre o bem-estar

Ao restringir o produto abaixo do nível em que o custo marginal é igual ao preço de mercado, o monopolista aumenta o lucro, mas prejudica os consumidores. Para avaliar se isso é um benefício líquido ou uma perda líquida para a sociedade, é preciso comparar o lucro ganho pelo monopolista com a perda do excedente do consumidor. E o que aprendemos é que a perda do excedente do consumidor é maior do que o ganho do monopolista. O monopólio provoca uma perda líquida para a sociedade. Para saber por que, vamos voltar ao caso em que a curva do custo marginal é horizontal, como mostrado nos dois painéis da Figura 13-8. Aqui, a curva do custo marginal é CM, a curva da demanda é D, e, no painel (b), a curva da receita marginal é RM. O painel (a) mostra o que acontece se esse setor estiver em concorrência perfeita. O equilíbrio do produto é QC; o preço do bem PC é igual ao custo marginal e o custo marginal também é igual ao custo total médio porque não há custo fixo e o custo marginal é constante. Cada empresa está ganhando exatamente o custo total médio por unidade de produto, de modo que não há lucro nem excedente do produtor nesse equilíbrio. O excedente do consumidor gerado pelo mercado é igual à área do triângulo azul sombreado ECC mostrado no painel (a). Como não há excedente do produtor quando o setor está em concorrência perfeita, ECC também representa o excedente total. O painel (b) mostra os resultados para o mesmo mercado, mas, dessa vez, supondo que o setor é um monopólio. O monopolista produz o nível de produto QM, em que o custo marginal é igual à receita marginal e cobra o preço PM. Agora o setor obtém lucro – que também é o excedente do

produtor – igual à área do retângulo verde, EPM. Observe que esse lucro é o excedente que foi capturado dos consumidores à medida que o excedente do consumidor diminui para a área do triângulo azul, ECM. Ao comparar os painéis (a) e (b), vemos que, além da redistribuição do excedente do consumidor para o monopolista, outra mudança importante ocorreu: a soma do lucro e do excedente de consumo – excedente total – é menor sob monopólio do que sob concorrência perfeita. Isto é, a soma de ECM e EPM no painel (b) é menor do que a área ECC no painel (a). No Capítulo 7, analisamos como os impostos geram peso morto para a sociedade. Aqui mostramos que o monopólio cria peso morto para a sociedade igual à área do triângulo amarelo, PM. Então o monopólio produz uma perda líquida para a sociedade. Essa perda líquida surge porque algumas transações mutuamente benéficas não ocorrem. Há pessoas para as quais uma unidade adicional do bem vale mais do que o custo marginal de produzi-lo, mas não o consome porque não estão dispostos a pagar PM. Ao lembrar a discussão sobre o peso morto dos impostos no Capítulo 7 irá notar que a perda por peso morto do monopólio é muito semelhante. De fato, introduzindo uma cunha entre o preço e o custo marginal, o monopólio atua como imposto sobre os consumidores e produz o mesmo tipo de ineficiência. Então, o monopólio causa dano ao bem-estar da sociedade como um todo e é uma fonte de falha de mercado. Será que não existe nada que a política governamental possa fazer sobre isso? Evitando o monopólio

Políticas em relação ao monopólio dependem essencialmente do fato de o setor em questão ser ou não um monopólio natural, em que retornos crescentes de escala asseguram que uma produção maior tenha um custo total médio mais baixo. Quando a indústria não é um monopólio natural, a melhor política é prevenir o surgimento do monopólio ou rompê-lo quando já existe. Vamos nos concentrar no primeiro caso para, em seguida, passar ao problema mais difícil de lidar com o monopólio natural.

O monopólio de diamantes da De Beers não tinha que acontecer, necessariamente. A produção de diamantes não é um monopólio natural: os custos do setor não seriam mais altos se consistisse de uma série de produtores independentes concorrendo entre si (como é o caso, por exemplo, na produção do ouro). Portanto, se o governo sul-africano estivesse preocupado sobre como o monopólio afetaria os consumidores, poderia ter impedido que Cecil Rhodes dominasse o setor ou poderia ter desmembrado o monopólio depois de formado. Hoje, os governos, com frequência, tentam evitar a formação de monopólios ou desmembram os já existentes. A De Beers é um caso bastante singular: por razões históricas complexas, pode permanecer como monopólio. Mas, ao longo do século passado, a maioria dos monopólios semelhantes foi quebrada. O exemplo mais famoso, nos Estados Unidos, foi o da Standard Oil, fundada por John D. Rockefeller, em 1870. Em 1878, a Standard Oil controlava quase todo o refino de petróleo dos Estados Unidos, mas, em 1911, uma ordem judicial determinou que a empresa fosse desmembrada em um número de unidades menores, incluindo as empresas que mais tarde se tornaram a Exxon e a Mobil (mais recentemente incorporadas para formar a ExxonMobil). FIGURA 13-8

O monopólio causa ineficiência

O Painel (a) representa um setor em concorrência perfeita: o produto é QC, e o preço de mercado, PC, igual a CM. Como o preço é exatamente igual ao custo total médio de produto por unidade de cada produtor, não há lucro e nem excedente do produtor. Assim, o excedente total é igual ao excedente do consumidor, toda a área sombreada. O painel (b) representa o setor sob monopólio: o monopolista reduz o produto para

QM e cobra PM. O excedente do consumidor encolheu: uma parte dele foi capturada como lucro, e uma parte foi perdida como perda por peso morto, o valor das transações mutuamente benéficas que não ocorreram por causa do comportamento do monopólio. Como resultado, o excedente total caiu.

As políticas governamentais usadas para prevenir ou eliminar monopólios são conhecidas como políticas antitruste, que discutiremos no próximo capítulo. Lidando com o monopólio natural

É certo que é uma boa ideia romper um monopólio que não seja natural: o ganho para os consumidores supera a perda para o produtor. Mas isso não está tão claro quando se trata de monopólio natural, aquele em que grandes produtores têm custos totais médios mais baixos do que os pequenos produtores, pois o desmembramento de um monopólio desses elevaria o custo total médio. Por exemplo, um governo municipal que tentasse impedir que uma única empresa dominasse o fornecimento local de gás – que, como já dissemos, é quase certamente um monopólio natural – elevaria o custo do fornecimento de gás para os seus moradores. No entanto, mesmo no caso do monopólio natural, o monopolista, ao maximizar o lucro, age de forma a gerar ineficiência – cobra dos consumidores um preço mais alto do que o custo marginal e, ao fazê-lo, impede algumas transações potencialmente benéficas. Além disso, pode parecer injusto que uma empresa que conseguiu estabelecer uma posição de monopólio obtenha um grande lucro à custa dos consumidores. O que a política pública pode fazer sobre isso? Há duas respostas comuns. Propriedade pública

Em muitos países, a resposta preferida para o problema do monopólio natural tem sido a propriedade pública. Em vez de permitir que um monopolista privado controle um setor, o governo estabelece um órgão público para fornecer o bem e proteger os interesses dos consumidores. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o serviço telefônico era fornecido pela estatal

British Telecom antes de 1984, e o transporte aéreo era fornecido pelo estatal British Airways antes de 1987. (Essas empresas ainda existem, mas foram privatizadas, competindo com outras empresas em seus setores respectivos.) Existe alguns exemplos de propriedade pública nos Estados Unidos. O transporte ferroviário de passageiros é oferecido pela empresa pública Amtrak; o serviço postal normal é fornecido por uma estatal, a U.S. Postal Service; algumas cidades, incluindo Los Angeles, têm empresas de energia elétrica públicas. A vantagem da propriedade pública, em princípio, é que um monopólio natural de propriedade do governo pode estabelecer um preço com base no critério da eficiência, em vez de no da maximização do lucro. Em uma indústria em concorrência perfeita, o comportamento de maximização do lucro é eficiente porque os produtores estabelecem o preço igual ao custo marginal. Por esse motivo não há argumento econômico que favoreça a propriedade pública, por exemplo, de fazendas de trigo. Contudo, a experiência sugere que a propriedade pública como solução para o problema do monopólio natural, muitas vezes, na prática, funciona mal. Uma razão é que as empresas de propriedade estatal, às vezes, se preocupam menos do que as empresas privadas em manter os custos baixos ou oferecer produtos de alta qualidade. Outra razão é que as companhias estatais, às vezes, acabam servindo a interesses políticos – fornecendo contratos ou empregos a pessoas com as conexões certas. Por exemplo, a Amtrak, notoriamente, tem fornecido serviço de trem com prejuízo para destinos que atraem poucos passageiros, mas que estão localizados em distritos de membros influentes do Congresso. Regulação

Nos Estados Unidos, a resposta mais comum tem sido a de deixar a indústria em mãos privadas, mas sujeita à regulação. Em particular, a maioria dos serviços de utilidade pública local, como a energia elétrica, telefone, gás natural, e assim por diante, têm regulação de preços, limitando o preço que eles podem cobrar. No Capítulo 5, vimos que a imposição de um teto de preço em uma indústria competitiva é uma receita para a escassez, mercados negros e

outros efeitos colaterais desagradáveis. A imposição de um limite de preço, digamos, para a companhia de gás local não terá o mesmo efeito? Não necessariamente: um teto de preço não precisa criar uma escassez para um monopolista – na ausência de um teto de preço, um monopolista iria cobrar um preço superior ao custo marginal de produção. Assim, mesmo se forçado a cobrar um preço mais baixo – enquanto esse preço esteja acima do CM e o monopolista, no mínimo, esteja com o produto total em equilíbrio – ainda tem incentivo de produzir a quantidade demandada a esse preço. A Figura 13-9 mostra um exemplo de regulação de preço de um monopólio natural, versão altamente simplificada de uma companhia municipal de gás. A empresa se defronta com a curva da demanda D, com a curva da receita marginal RM associada a ela. Para simplificar, vamos supor que o custo total da empresa consista de duas partes: custo fixo e custo variável, em que a empresa incorre em proporção constante do produto. Assim, o custo marginal é constante e a curva do custo marginal (que aqui também é a curva de custo variável médio) é uma linha horizontal em CM. A curva do custo total médio, CTM, tem inclinação para baixo porque, quanto maior a quantidade de produto, menor será o custo médio fixo (custo fixo por unidade de produto). Como o custo total médio se inclina para baixo no âmbito do produto relevante para a demanda de mercado, esse é um monopólio natural. O painel (a) ilustra o caso de um monopólio natural, sem regulação. O monopolista natural, não regulado, escolhe o produto QM e cobra o preço PM. Como o monopolista recebe um preço superior ao custo total médio, obtém lucro. Esse lucro é exatamente igual ao excedente do produtor nesse mercado, representado pelo retângulo sombreado verde. O excedente do consumidor é dado pelo triângulo sombreado azul. Agora suponha que os reguladores imponham um teto de preço para o fornecimento do gás local abaixo do preço de monopólio PM, mas acima de CTM, digamos, PR no painel (a). A esse preço, a quantidade demandada é QR. A empresa tem incentivo para produzir essa quantidade? Sim. Se o preço pelo qual o monopolista pode vender seu produto for fixado pelos órgãos

reguladores, o produto da empresa não mais afeta o preço de mercado – assim, ignora a curva RM e está disposta a expandir a produção para atender à quantidade demandada, desde que o preço que receba pela próxima unidade seja mais alto do que o custo marginal e o monopolista, no mínimo, esteja em equilíbrio nesse nível de produto, isto é, iguale receita e custo. Assim, com a regulação de preço, o monopolista produz mais, a um preço inferior. É claro que o monopolista não estará disposto a produzir nada, se o preço estabelecido fizer com que produza com prejuízo. Ou seja, o teto de preço tem que ser alto o suficiente para que a empresa possa cobrir o custo total médio. O painel (b) mostra uma situação em que o regulador fixou o preço no nível mais baixo possível, no nível em que a curva de custo total médio cruza a curva da demanda. A qualquer preço mais baixo a empresa perde dinheiro. O preço aqui, P*R, é o melhor preço regulado: o monopolista está disposto a operar e produz Q*R, a quantidade demandada a esse preço. Como resultado, os consumidores e a sociedade ganham. Os efeitos dessa regulação sobre o bem-estar podem ser observados por meio da comparação das áreas sombreadas nos dois painéis da Figura 13-9. O excedente do consumidor aumenta com a regulação, com ganhos provenientes de duas fontes. Primeiro, os lucros são eliminados, e o excedente do consumidor é adicionado. Segundo, maior quantidade de produto e preço mais baixo levam a um ganho de bem-estar geral, ou seja, um aumento no excedente total. De fato, o painel (b) ilustra o maior excedente total possível. Isso tudo parece fantástico: os consumidores estão em melhor situação, os lucros são eliminados, e o bem-estar geral aumenta. Infelizmente, na prática, as coisas raramente são tão fáceis. O principal problema é que os reguladores não têm as informações necessárias para definir o preço exatamente no nível em que a curva da demanda cruza a curva de custo total médio. Às vezes, eles o definem muito baixo, criando escassez; outras vezes, o definem muito acima. Além disso, os monopólios regulados, como as empresas públicas, tendem a exagerar os seus custos para os reguladores e a proporcionar qualidade inferior aos consumidores. FIGURA 13-9

Monopólio natural regulado e não regulado

Esta figura mostra o caso de um monopolista natural. No painel (a), onde é permitido que o monopolista cobre o preço PM, ele tem lucro, indicado pela área verde; o excedente do consumidor é indicado pela área azul. Quando ele é regulado e obrigado a cobrar o preço mais baixo PR, o produto aumenta de QM para QR e o excedente do consumidor aumenta. O painel (b) mostra o que acontece quando o monopolista é obrigado a cobrar um preço igual ao custo total médio, o preço P*R. O produto expande para Q*R, e o excedente do consumidor é agora toda a área azul. O monopolista tem lucro zero. Esse é o máximo de excedente total possível quando o monopolista tem permissão de pelo menos ficar em equilíbrio, tornando P*R o melhor preço regulado.

Os monopólios devem ser controlados?

Às vezes, a cura é pior do que a doença. Alguns economistas argumentam que a melhor solução, mesmo no caso do monopólio natural, talvez seja conviver com ele. O argumento em favor de não fazer nada é que as tentativas de controlar o monopólio, de uma forma ou de outra, fazem mais mal do que bem – por exemplo, a politização de preços, que leva à escassez, ou à criação de oportunidades para a corrupção política. A seção Economia em ação a seguir descreve o caso da TV a cabo, um monopólio natural que, no passado, alternou entre regulação e desregulação, à medida que os políticos mudavam de opinião sobre a política apropriada.

economia em ação

Acorrentados pela TV a cabo

Ao velho ditado “não se pode escapar da morte e dos impostos” deu-se um toque moderno: “Não se pode escapar da morte, dos impostos e do aumento de preços da TV a cabo.” Por vários anos, os consumidores têm visto os preços da TV a cabo aumentar cerca de 5% ao ano, índice bem superior à taxa de inflação. Até 1984, o preço da TV a cabo era regulado pelo município. Como a colocação de cabos através de uma cidade implica custos fixos grandes, a TV a cabo foi considerada monopólio natural. No entanto, em 1984, o Congresso americano aprovou uma lei que proibia a maioria dos governos locais de regular os preços da TV a cabo. Os preços aumentaram acentuadamente, e, em 1992, em virtude da reação dos consumidores, seguiu-se uma nova lei que, mais uma vez, permitiu que os governos locais estabelecessem limites sobre os preços da TV a cabo. Mas as operadoras de TV a cabo encontraram maneiras de contornar as restrições. O que deu errado? Uma explicação possível é que a lei de 1992 foi aplicada apenas aos pacotes “básicos”, e esses preços, de fato, se estabilizaram. Em resposta, os operadores de TV a cabo começaram a oferecer menos canais no pacote básico e cobrar mais pelos canais melhores, como o HBO. Os operadores de TV a cabo defendem sua política de preços. Alegam que foram obrigados a pagar preços mais elevados para os provedores de conteúdo de shows populares. Por exemplo, a rede Time Warner Cable e a Fox lutaram ferozmente quando o contrato expirou no final de 2009, com a exigência da Fox de cobrar $1 por assinante pelo seu conteúdo. Quando foi fechado um acordo, foi relatado que a Time Warner concordou em pagar para a Fox mais $0,50 por assinante. No entanto, os críticos rebatem que essa defesa, em grande parte, é inválida porque cerca de 40% dos canais que comandam os preços mais elevados são de propriedade, no todo ou em parte, dos próprios operadores de cabo. Assim, ao pagar preços altos por conteúdo, na verdade, os operadores de cabo estão obtendo lucro. Os operadores de cabo também alegam que precisam aumentar os preços para pagar por atualizações do sistema. Os críticos, no entanto, mais uma vez rejeitam a alegação, afirmando que as atualizações pagam por si próprias

através dos preços premium e por isso não devem ter qualquer efeito sobre o preço dos serviços não atualizados. Os críticos também apontam para a evidência de que as operadoras de TV a cabo estão explorando seu poder de monopólio. Por exemplo, um estudo realizado pela Comissão Federal de Comunicações mostrou que as operadoras de TV a cabo aumentaram o preço da assinatura em mais de 30% depois de eliminar todos os custos operacionais, incluindo o custo do conteúdo. Da mesma forma, o Escritório Geral de Contabilidade apurou que os preços, em média, são 17% mais baixos em comunidades com duas operadoras de TV a cabo em relação às que têm uma operadora. Quem assiste TV a cabo não deve perder a esperança. As empresas de telefonia Verizon e AT&T estão usando suas redes de fibra ótica para concorrer com as operadoras de TV a cabo em muitas comunidades. E os avanços tecnológicos na TV por Internet estão começando a afetar a base de assinantes a cabo. Fique atento.

BREVE REVISÃO Ao reduzir o produto e aumentar o preço acima do custo marginal, um monopolista captura uma parte do excedente do consumidor como lucro e provoca perda por peso morto. Para evitar a perda por peso morto, políticas governamentais tentam impedir o comportamento monopolista. Quando os monopólios são “criados” e não são naturais, os governos devem agir para impedir sua formação ou acabar com os já existentes. O monopólio natural representa um problema de política mais difícil. Uma resposta é a propriedade pública, mas as empresas estatais, muitas vezes, são mal administradas. Uma resposta comum nos Estados Unidos é a regulação dos preços. Um teto de preço imposto a um monopolista não cria escassez, desde que não seja muito baixo. Sempre permanece a opção de não fazer nada; o monopólio é ruim, mas a cura pode ser pior que a doença.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 13-3

1. Que política o governo deveria adotar nos seguintes casos? Explique. a. O serviço de Internet em Anytown, Ohio, é fornecido por cabo. Os clientes sentem que estão sendo cobrados mais que o devido, mas a empresa de TV a cabo afirma que precisa cobrar preços que permitam recuperar os custos de instalação dos cabos. b. As duas únicas companhias aéreas que voam para o Alasca atualmente precisam da aprovação do governo para uma fusão. Outras companhias aéreas desejam voar para o Alasca, mas para isso precisam da alocação do direito de pouso pelo governo. 2. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. O bem-estar da sociedade é menor no caso de monopólio, porque parte do excedente do consumidor é transformada em lucro para o monopolista. b. Um monopolista provoca ineficiência porque há consumidores dispostos a pagar um preço superior ou igual ao custo marginal, mas inferior ao preço de monopólio. 3. Suponha que um monopolista erroneamente acredite que sua receita marginal seja sempre igual ao preço de mercado. Supondo que o custo marginal seja constante e não haja custo fixo, trace um gráfico comparando o nível de lucro, o excedente do consumidor, o excedente total e a perda por peso morto desse monopolista equivocado em relação a um monopolista inteligente. As respostas estão no fim do livro.

DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS Até este ponto, consideramos apenas o caso de um monopolista de preço único, o que cobra o mesmo preço de todos os consumidores. Como o termo sugere, nem todos os monopolistas fazem isso. De fato, muitos, se não a maioria dos monopolistas, acham que podem aumentar seus lucros cobrando preços diferentes de clientes diferentes pelo mesmo bem: eles se envolvem em discriminação de preços. O exemplo mais flagrante de discriminação de preço que encontramos regularmente envolve passagens aéreas. Embora haja muitas companhias aéreas, a maioria das rotas nos Estados Unidos é servida por uma ou duas companhias, as quais, em virtude disso, têm poder de mercado e podem fixar preços. Assim, qualquer passageiro de companhia aérea tem consciência da questão “Quanto vai custar voar para lá?”. Raramente a resposta é simples.

Para quem está disposto a comprar uma passagem não reembolsável com um mês de antecedência e pernoitar no sábado, a passagem pode custar apenas $150 – ou menos, se for idoso ou estudante. Mas se tiver uma viagem de negócios amanhã, terça-feira, e voltar na quarta, a mesma passagem de ida e volta pode custar $550. No entanto, o viajante de negócios e o que vai visitar o avô recebem o mesmo produto – o mesmo assento apertado, a mesma comida horrível (se algo for servido). Pode-se argumentar que as companhias aéreas geralmente não são monopolistas – que, na maioria dos mercados, o setor aéreo é um oligopólio. De fato, a discriminação de preços ocorre no oligopólio e na concorrência monopolística, bem como no monopólio. Mas não acontece na concorrência perfeita. E uma vez que entendemos por que, às vezes, os monopolistas fazem discriminação de preços, fica mais fácil entender por que isso ocorre também em outros casos. A lógica da discriminação de preço

Para ter uma visão preliminar de por que a discriminação de preços pode ser mais lucrativa do que cobrar o mesmo preço de todos os consumidores, imagine que a Air Sunshine oferece os únicos voos sem escalas entre Bismarck, Dakota do Norte e Ft. Lauderdale, Flórida. Suponha que não haja problema de capacidade – a companhia pode colocar no ar tantos aviões quanto necessário. Suponha também que não haja custo fixo. O custo marginal de oferecer um assento é $125, qualquer que seja o número de passageiros que a companhia transporte. Suponha ainda que a companhia aérea saiba que há dois tipos de passageiros potenciais. Primeiro, os que fazem viagens de negócios, 2 mil dos quais querem viajar entre os dois destinos toda a semana. Segundo, os estudantes, 2 mil dos quais também querem viajar toda a semana. Os passageiros potenciais tomarão o voo? Depende do preço. Os homens de negócios, ao que parece, realmente precisam viajar, pois tomarão o avião, desde que o preço da passagem não seja superior a $550. Uma vez que eles estão voando apenas para negócios, supomos que o corte no preço abaixo de $550 não vai levar a qualquer aumento nas viagens de negócios. No entanto, os estudantes têm menos dinheiro e mais tempo, e se o preço passar de $150

eles irão de ônibus. A curva de demanda implícita é mostrada na Figura 1310. Então, o que a companhia aérea faz? Se tiver que cobrar o mesmo preço para todos, suas opções são limitadas. Poderia cobrar $550, e, dessa forma, ganharia o máximo possível com os que viajam a negócios, mas perderia o mercado dos estudantes. Ou poderia cobrar apenas $150; desse modo teria os dois tipos de passageiros, mas não ganharia tanto dinheiro com as vendas para os passageiros que viajam a negócios. Podemos calcular rapidamente o lucro de cada uma dessas alternativas. Se a companhia aérea cobrar $550, venderá 2 mil passagens para os passageiros que viajam a negócios, obtendo a receita total de 2.000 × $550 = $1,1 milhão e incorrerá em custos de 2.000 × $125 = $250.000, de modo que seu lucro será $850.000, ilustrado pela área B sombreada na Figura 13-10. Se a companhia aérea cobrar apenas $150, venderá 4 mil passagens, obtendo uma receita de 4.000 × $150 = $600.000, incorrendo em um custo de 4.000 × $125 = $500.000, por isso seu lucro será de $100.000. Se a companhia aérea deve cobrar o mesmo preço de todos, cobrar o preço mais alto e abrir mão da venda de passagens para os estudantes certamente é mais rentável. FIGURA 13-10

Dois tipos de clientes aéreos

A Air Sunshine tem dois tipos de clientes: os que viajam a negócios, dispostos a pagar no máximo $550 por passagem, e os estudantes, dispostos a pagar no máximo $150 por passagem. Há 2 mil clientes de cada tipo. A Air Sunshine tem custo marginal constante de $125 por assento. Se a Air Sunshine pudesse cobrar preços diferentes para esses dois tipos de clientes, maximizaria o lucro cobrando por passagem $550 dos passageiros que viajam a negócios e $150 dos estudantes. Capturaria todo o excedente do consumidor como lucro.

No entanto, o que a companhia aérea realmente deve fazer é cobrar dos passageiros que viajam a negócios a tarifa cheia de $550 e oferecer passagens de $150 aos estudantes. É muito menos do que o preço pago pelos que viajam a negócios, mas ainda é acima do custo marginal; por isso, se a companhia puder vender essas 2 mil passagens extras aos estudantes, terá um lucro adicional de $50.000. Ou seja, um lucro igual às áreas B mais S na Figura 13-10. Seria mais realista supor que existe alguma “flexibilidade” na demanda de cada grupo: a um preço abaixo de $550, haveria algum aumento de viagens de negócios; a um preço acima de $150, alguns estudantes ainda comprariam passagens. Mas isso não acabaria com o argumento da discriminação de preços. O ponto importante é que os dois grupos de consumidores diferem quanto à sensibilidade ao preço – um preço alto tem efeito maior em desencorajar as compras dos estudantes do que as dos passageiros que viajam a negócios. Sempre que grupos diferentes de consumidores respondem de forma diferente ao preço, um monopolista vai achar que pode capturar mais excedente do consumidor e aumentar seu lucro por meio da cobrança de preços diferenciados. Discriminação de preço e elasticidade

A descrição mais realista da demanda que as companhias aéreas enfrentam não especifica os preços particulares segundo os quais tipos de passageiros diferentes decidem voar. Em vez disso, distingue entre grupos com base na sensibilidade ao preço – a elasticidade da demanda. Suponha que uma empresa venda seu produto para dois grupos de pessoas facilmente identificáveis: homens de negócios e estudantes. Acontece que os passageiros que viajam a negócios são pouco sensíveis ao

preço: há certa quantidade do produto que precisam ter a qualquer preço, mas não podem ser persuadidos a comprar muito mais do que isso, não importa o quanto seja barato. Os estudantes, no entanto, são mais flexíveis: ofereça um bom preço e comprarão uma boa quantidade de passagens, mas se o preço for muito alto, mudarão para outro meio de transporte. O que a empresa deve fazer? A resposta é a que já foi sugerida pelo exemplo simplificado: a empresa deve cobrar dos passageiros que viajam a negócios e têm baixa elasticidadepreço da demanda, um preço mais elevado do que o cobrado aos estudantes, que têm elevada elasticidade-preço da demanda. A situação real das companhias aéreas é muito parecida com esse exemplo hipotético. Quem viaja a negócios normalmente coloca uma prioridade alta em estar no lugar certo na hora certa e não é muito sensível ao preço. Mas quem não viaja a negócios é bastante sensível ao preço: confrontado com um preço elevado, pode pegar o ônibus, dirigir para outro aeroporto para obter tarifa mais baixa, ou desistir da viagem por completo. Então, por que as companhias aéreas não anunciam preços diferentes para viagens de negócios e outras viagens? Primeiro, provavelmente isso seria ilegal (leis americanas impõem limites à prática da discriminação de preços). Segundo, mesmo que fosse legal, seria uma política difícil de aplicar: homens de negócios poderiam usar roupas casuais e afirmar estar indo visitar a família em Ft. Lauderdale, a fim de economizar $400. Então, o que as companhias aéreas fazem – com bastante sucesso – é impor regras que indiretamente têm o efeito de cobrar mais de quem viaja a negócios e menos de outros tipos de passageiros. Quem viaja a negócios costuma viajar durante a semana e quer estar em casa no fim de semana; por isso, a tarifa de ida e volta é muito mais cara se não houver pernoite no sábado. A exigência de permanência em final de semana para ter uma passagem mais barata, na verdade, serve para separar quem viaja a negócios dos outros passageiros. Da mesma forma, os passageiros que viajam a negócios, em geral visitam cidades em sucessão, em vez de fazer uma viagem simples; assim, passagens de ida e volta são mais baratas do que duas só de ida. Muitas viagens de negócios são programadas no curto prazo; as tarifas são muito mais baixas se forem reservadas com muita antecedência. As tarifas também são mais baixas, ao comprar um bilhete de última hora,

arriscando conseguir ou não uma assento – passageiros que viajam a negócios têm que chegar na hora à reunião, as pessoas que visitam parentes, não. Como os clientes têm que mostrar a identidade no check-in, as companhias aéreas se certificam de não haver revenda de bilhetes entre os dois grupos que possa prejudicar sua capacidade de discriminar preços – os estudantes não podem comprar bilhetes baratos e revendê-los para passageiros que viajam a negócios. Analise as regras que governam o preço dos bilhetes e verá uma implementação engenhosa de discriminação de preços maximizando o lucro. Discriminação de preço perfeita

Vamos voltar ao exemplo dos passageiros que viajam a negócios e dos estudantes que viajam entre Bismarck e Fort. Lauderdale, ilustrado na Figura 13-10, e questionar o que teria acontecido se a companhia aérea pudesse distinguir entre os dois grupos de clientes, a fim de cobrar preços diferentes de cada um dos grupos. É certo que a companhia aérea iria cobrar de cada grupo conforme sua disposição de pagar – isto é, como vimos no Capítulo 4, o máximo que cada grupo estivesse disposto a pagar. Para os passageiros que viajam a negócios, a disposição a pagar é $550, para os estudantes, $150. Suponhamos que o custo marginal é $125 e não depende do produto, tornando a curva do custo marginal uma linha horizontal. Como observamos anteriormente, podemos determinar facilmente o lucro da companhia: é a soma das áreas do retângulo B e do retângulo S. Nesse caso, os consumidores não recebem qualquer excedente do consumidor! Todo o excedente é capturado pelo monopolista em forma de lucro. Quando um monopolista é capaz de capturar todo o excedente dessa forma, dizemos que alcança discriminação de preços perfeita. Em geral, quanto maior a quantidade de preços diferentes que um monopolista é capaz de cobrar, mais perto chega da discriminação de preços perfeita. A Figura 13-11 mostra um monopolista que se defronta com uma curva de demanda inclinada para baixo, um monopolista que supomos ser capaz de cobrar preços diferentes de grupos de consumidores diferentes,

com os consumidores que estão dispostos a pagar mais sendo cobrados a mais. No painel (a), o monopolista cobra dois preços diferentes; no painel (b) o monopolista cobra três preços diferentes. Duas circunstâncias são aparentes: Quanto maior o número de preços que o monopolista cobra, menor o preço mais baixo cobrado – isto é, alguns consumidores vão pagar preços que se aproximam do custo marginal. Quanto maior o número de preços que o monopolista cobra, mais dinheiro extrai dos consumidores. Com uma quantidade muito grande de preços diferentes, a situação seria como a do painel (c), um caso de discriminação de preço perfeita. Aqui, os consumidores com menor disposição de comprar o bem pagam o custo marginal, e todo o excedente do consumidor é extraído como lucro. Tanto o exemplo das companhias aéreas como o exemplo da Figura 13-11 podem ser usados para verificar outro ponto: um monopolista que se envolve em discriminação de preços perfeita não causa qualquer ineficiência! A razão é que a fonte de ineficiência é eliminada: todos os consumidores potenciais que estão dispostos a comprar o bem a um preço igual ou superior ao custo marginal são capazes de fazê-lo. Em vez disso, o monopolista consegue “raspar o fundo do tacho”, conseguindo todos os consumidores, oferecendo a alguns deles preços mais baixos do que cobra de outros. A discriminação de preços perfeita quase nunca é possível na prática. Em um nível fundamental, a incapacidade de atingir a discriminação de preços perfeita é um problema de preços como sinais econômicos, um fenômeno que observamos no Capítulo 4. Quando os preços funcionam como sinais econômicos, transmitem as informações necessárias para garantir que todas as transações mutuamente benéficas de fato ocorram: o preço de mercado sinaliza o custo do vendedor, e um consumidor sinaliza a disposição de pagar comprando o bem, sempre que sua disposição de pagar seja pelo menos tão alta quanto o preço de mercado. No entanto, o problema, na realidade, é que os preços, muitas vezes, não são sinais perfeitos: a verdadeira disposição do consumidor de pagar pode

ser disfarçada, assim como um passageiro em viagem de negócios que afirma ser um estudante ao comprar um bilhete, a fim de obter uma tarifa mais baixa. Quando tais disfarces funcionam, um monopolista não pode atingir a discriminação de preços perfeita. No entanto, os monopolistas tentam mover-se na direção da discriminação de preços perfeita por meio de uma variedade de estratégias de preços. Técnicas comuns de discriminação de preços incluem o seguinte: FIGURA 13-11

Discriminação de preços

O painel (a) mostra um monopolista que cobra dois preços diferentes; seu lucro é representado pela área sombreada. O painel (b) mostra um monopolista que cobra três preços diferentes, e seu lucro também é representado pela área sombreada. Ele é capaz de capturar mais do excedente do consumidor e aumentar o lucro. Ou seja,

através do aumento da quantidade de preços diferentes cobrados, o monopolista capta mais do excedente do consumidor e tem um lucro maior. O painel (c) mostra o caso da discriminação de preços perfeita em que o monopolista cobra de cada consumidor sua disposição de pagar. O lucro do monopolista é dado pelo triângulo sombreado.

Restrições a compras antecipadas. Os preços são mais baixos para quem compra com antecedência (ou, em alguns casos, para quem compra no último minuto). Isso separa aqueles que são propensos a pesquisar preços melhores daqueles que não o fazem. Descontos por volume. Muitas vezes, o preço é mais baixo quando se compra em grande quantidade. Para um consumidor que pretende consumir grande quantidade de um bem, o custo da última unidade, ou seja, o custo marginal para o consumidor, é consideravelmente menor do que o preço médio. Isso separa aqueles que pretendem comprar muito e, assim, tendem a ser mais sensíveis ao preço dos que não pretendem. Tarifas em duas partes. Com uma tarifa em duas partes, um cliente tem uma taxa fixa inicial e, em seguida, uma taxa por unidade de cada item comprado. Assim, em um clube de desconto como o Sam’s Club (que não é monopolista, mas um concorrente monopolista), paga-se uma taxa anual, além do custo dos itens comprados. Assim, o custo do primeiro item que se compra é, de fato, muito maior do que a dos itens subsequentes, fazendo a tarifa em duas partes se comportar como um desconto por volume. Essa discussão também ajuda a entender por que as políticas governamentais sobre monopólio normalmente se concentram em evitar perda por peso morto, não em impedir a discriminação de preços, a menos que provoque problemas graves de equidade. Comparada com um monopolista de preço único, a discriminação de preços – mesmo quando não é perfeita – pode aumentar a eficiência de mercado. Se as vendas para um grupo de consumidores, que anteriormente estavam fora do mercado, mas agora têm possibilidade de adquirir o bem a um preço mais baixo, geram excedente suficiente para compensar a perda de excedente dos que agora estão diante de um preço mais elevado e já não compram o bem em

questão, então o excedente total aumenta quando se introduz a discriminação de preços. Um exemplo disso pode ser um medicamento que é prescrito desproporcionalmente para idosos, que, muitas vezes, têm renda fixa e por isso são muito sensíveis ao preço. Uma política que permite a uma empresa farmacêutica cobrar um preço baixo de idosos e um preço alto dos demais pode, de fato, aumentar o excedente total em comparação com uma situação em que todos têm que pagar o mesmo preço. Mas uma discriminação de preços que fere gravemente a equidade tende a ser proibida; por exemplo, um serviço de ambulância que cobre dos pacientes com base na gravidade da emergência.

economia em ação Vendas, lojas de fábrica e cidades fantasma

Você já se perguntou por que as lojas de departamento ocasionalmente realizam liquidações, oferecendo mercadoria por muito menos que o preço habitual? Ou por que, dirigindo nas estradas dos Estados Unidos, às vezes encontramos conjuntos com “lojas de fábrica”, muitas vezes, a poucas horas de carro da cidade mais próxima? Essas características familiares do cenário econômico são realmente bastante peculiares: por que lençóis e toalhas de repente passam a ser mais baratos por uma semana em cada inverno, ou impermeáveis são oferecidos por um preço mais baixo em Freeport, Maine, do que em Boston? Em cada caso, a resposta é que os vendedores – que, muitas vezes, são oligopolistas ou concorrentes monopolistas – estão envolvidos em uma forma sutil de discriminação de preços. Por que realizar liquidações regulares de lençóis e toalhas? As lojas sabem que alguns consumidores só compram esses produtos quando precisam; não costumam se esforçar em pesquisar preços e por isso têm uma elasticidadepreço da demanda relativamente baixa. Assim, a loja cobra preços elevados dos clientes que entram em dias normais. Mas os consumidores que planejam o futuro, procurando o menor preço, esperam até que haja

liquidação. Ao programar essas liquidações só de vez em quando, a loja, de fato, consegue discriminar entre os clientes de alta e baixa elasticidade. As lojas nos outlets têm a mesma finalidade: ao oferecer mercadoria por preço baixo, mas a uma distância considerável do centro, um vendedor consegue estabelecer um mercado distinto para os clientes que estão dispostos a fazer um esforço significativo na busca de preços mais baixos – e que, portanto, têm uma elasticidade-preço da demanda relativamente alta. Finalmente, voltemos às passagens aéreas para mencionar uma característica realmente antiga de seus preços. Muitas vezes, um voo de um destino importante para outro – digamos, de Chicago para Los Angeles – é mais barato do que um voo muito mais curto para uma cidade menor – digamos, de Chicago para Salt Lake City. Mais uma vez, a razão é a diferença na elasticidade-preço da demanda: os passageiros têm diversas opções de companhias aéreas entre Chicago e Los Angeles, de modo que a demanda em qualquer voo é bastante elástica. Os clientes têm pouca escolha em voos entre cidades pequenas, de modo que a demanda é muito menos elástica. Mas, muitas vezes, há voos entre duas grandes cidades que fazem uma parada no caminho – por exemplo, um voo de Chicago a Los Angeles com uma parada em Salt Lake City. Nesses casos, pode ser mais barato voar até a cidade mais distante do que até a cidade que é uma parada no meio do caminho. Por exemplo, pode ser mais barato comprar uma passagem para Los Angeles e saltar em Salt Lake City do que comprar uma passagem para Salt Lake City! Parece ridículo, mas faz todo sentido, dada a lógica de preços de monopólio. Então, por que os passageiros não compram uma passagem de Chicago para Los Angeles, e descem em Salt Lake City? Bem, alguns o fazem – mas as companhias aéreas, compreensivelmente, dificultam que os clientes saibam mais sobre essas “cidades fantasmas”. Além disso, a companhia aérea não permite que a bagagem seja despachada para ser retirada no meio do caminho quando a passagem é para o destino final. E as companhias aéreas se recusam a aceitar o voo de retorno quando o passageiro não completou todo o trajeto de ida. Todas essas restrições são destinadas a garantir a separação de mercado necessária para permitir a discriminação de preços.

BREVE REVISÃO Nem todos monopolistas são monopolistas de preço único. Muitas monopolistas, bem como oligopolistas e concorrentes monopolísticos, fazem discriminação de preços. A discriminação de preços é lucrativa quando os consumidores diferem em relação à sensibilidade ao preço. Um monopolista cobra preços elevados de consumidores com elasticidade baixa e preços mais baixos daqueles com elasticidade alta. Um monopolista capaz de cobrar de cada consumidor um preço igual à sua disposição de pagar pelo bem ou serviço atinge a discriminação de preços perfeita e não causa ineficiência porque todas as transações mutuamente benéficas são exploradas.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 13-4 1. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. Um monopolista de preço único vende para alguns consumidores que são rejeitados por um monopolista que discrimina preços. b. Um monopolista que discrimina preços gera mais ineficiência que um monopolista de preço único, porque capta mais do excedente do consumidor. c. Com discriminação de preços, um consumidor com demanda altamente elástica paga um preço mais baixo do que um consumidor com demanda inelástica. 2. Qual dos seguintes são casos de discriminação de preços e quais não são? Nos casos de discriminação de preços, identifique os consumidores com alta e com baixa elasticidade-preço da demanda. a. Mercadoria defeituosa com preço reduzido. b. Restaurantes com descontos para idosos. c. Fabricantes de alimentos que colocam cupons de desconto para a sua mercadoria nos jornais. d. Passagens aéreas custando mais no pico da estação de férias de verão. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL

A Macmillan encara a Amazon.com

O mundo normalmente polido de publicação de livros não era o mesmo no início de 2010. A guerra eclodiu entre a Macmillan, uma grande editora, e a Amazon.com, varejista gigante de e-books. Como comentou um especialista do setor: “… todos pensavam estar testemunhando uma briga de foice”. No início de 2010, a Amazon.com dominava o mercado de e-books, porque possuía a melhor plataforma de tecnologia para distribuição na época: o Kindle, que permite aos usuários baixar livros diretamente da Amazon.com. Embora algumas editoras temam que o deslocamento dos leitores de livros de papel para e-books possa prejudicar suas vendas, parece igualmente plausível que os e-readers, na verdade, iriam aumentá-las. Por quê? Porque o uso dos e-readers é conveniente, pois os e-books não podemse transformar em livros usados. No entanto, as editoras de livros não estavam nada felizes com o comportamento da Amazon no mercado de ebooks. O que estragou o relacionamento deles foi a política de preços da Amazon de vender cada e-book por $9,99, um preço que geraria prejuízo, uma vez pago à editora os direitos de copyright do livro. A Amazon argumentou que os editores deveriam acolher esse preço por encorajar mais pessoas a comprar e-books. As editoras, porém, temiam que o preço de $9,99 propiciasse corte nas vendas de livros impressos. Além disso, a Amazon não havia estabelecido um preço de venda mais elevado para ebooks de autores premium, comprometendo, assim, seu status especial. Talvez o mais preocupante fosse a perspectiva de que a Amazon viria a dominar permanentemente o mercado de e-books, tornando-se a guardiã entre editoras e leitores. Apesar dos protestos das editoras, a Amazon se recusou a ceder no preço. O assunto alcançou um ponto crítico no início de fevereiro de 2010, quando a Apple se preparava para lançar o iPad, que tem um aplicativo de e-book. Depois que John Sargent, CEO da Macmillan, foi incapaz de chegar a um acordo com a Amazon, durante uma reunião tensa, cara a cara, o varejista decidiu retirar todos os livros da Macmillan – tanto e-books como de papel,

até mesmo best-sellers – de seu site (exceto os adquiridos por meio de vendedores terceirizados). Depois de uma enxurrada de má publicidade, a Amazon recuou e concordou em permitir que a Macmillan definisse o preço de varejo de seus livros, e a Amazon receberia 30% de comissão por livro vendido, em vez da diferença mais comum entre o preço de venda e o preço de atacado. Esses termos eram a replicação próxima dos termos acordados uma semana antes entre as maiores editoras e a Apple.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. O que explica a disposição da Amazon.com em incorrer em prejuízo nas vendas de e-books? Relacione suas ações com um conceito discutido neste capítulo. 2. Os editores estavam certos de temer a política de preços da Amazon.com, apesar do fato de que provavelmente geraria aumento nas vendas de livros? 3. Como você acha que a entrada do iPad da Apple no mercado de e-readers afetou a dinâmica entre as editoras e a Amazon.com? Por que acha que uma grande editora como a Macmillan foi capaz de forçar a Amazon a recuar da sua política de preços?

• RESUMO 1. Existem quatro tipos principais de estrutura de mercado com base no número de empresas do setor e na diferenciação do produto: concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. 2. Um monopolista é um produtor que é o único fornecedor de um bem sem substitutos próximos. Uma indústria controlada por um monopolista é um monopólio. 3. A principal diferença entre um monopólio e um setor em concorrência perfeita é que uma empresa individual em concorrência perfeita se defronta com uma curva de demanda horizontal, mas um monopolista se defronta com uma curva de demanda inclinada para baixo. Isso dá ao monopolista poder de mercado, a capacidade de elevar o preço de mercado reduzindo a quantidade de produto em comparação com um setor em concorrência perfeita.

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9.

Para se manter, o monopólio deve ser protegido por uma barreira à entrada. Isso pode assumir a forma de controle de recursos ou insumos naturais, retornos crescentes de escala que dão origem ao monopólio natural, vantagem tecnológica, externalidade de rede ou regras governamentais que impedem a entrada de outras empresas, como patentes ou copyrights. A receita marginal de um monopolista é composta de um efeito quantidade (o preço recebido por unidade adicional) e um efeito preço (redução no preço pelo qual todas as unidades são vendidas). Em decorrência do efeito de preço, a receita marginal de um monopolista é sempre inferior ao preço de mercado, e a curva de receita marginal se situa abaixo da curva de demanda. Na quantidade de produto que maximiza o lucro do monopolista, o custo marginal é igual à receita marginal, que é inferior ao preço de mercado. Na quantidade de produto que maximiza o lucro de uma empresa em concorrência perfeita, o custo marginal é igual ao preço de mercado. Assim, em comparação com setores em concorrência perfeita, os monopólios produzem menos, cobram preços mais altos e obtêm lucro no curto e no longo prazo. Um monopólio gera perda por peso morto por cobrar um preço acima do custo marginal: a perda de excedente do consumidor ultrapassa o lucro do monopolista. Assim, monopólios são fonte de falha de mercado e deveriam ser impedidos ou desmembrados, exceto no caso dos monopólios naturais. Os monopólios naturais também podem causar perda por peso morto. Para limitar essas perdas, os governos, às vezes, estabelecem a propriedade pública e, em outros momentos, estabelecem a regulação de preços. Um teto de preço de um monopolista, diferentemente de uma indústria em concorrência perfeita, não causa escassez, necessariamente e pode aumentar o excedente total. Nem todos os monopólios são monopolistas de preço único. Monopolistas, bem como oligopolistas e concorrentes monopolísticos, muitas vezes, realizam discriminação de preços para obter lucros mais elevados, usando várias técnicas para diferençar os consumidores com base na sua sensibilidade aos preços e cobrando preços mais elevados daqueles com demanda menos elástica. Um monopolista que atinge discriminação de preços perfeita cobra de cada consumidor um preço igual à sua disposição de pagar e capta o excedente total do mercado. Embora a discriminação de preços perfeita não crie ineficiência, praticamente é impossível de implementar.

• PALAVRAS-CHAVE Monopolista, p. 319

Monopólio, p. 319 Poder de mercado, p. 320 Barreira à entrada, p. 320 Monopólio natural, p. 320 Externalidade de rede, p. 321 Patente, p. 322 Copyright, p. 322 Propriedade pública, p. 332 Regulação de preço, p. 332 Monopolista de preço único, p. 335 Discriminação de preços, p. 335 Discriminação de preços perfeita, p. 337

• PROBLEMAS 1. Cada uma das empresas seguintes possui poder de mercado. Explique sua fonte. a. Merck, produtor do medicamento para baixar o colesterol patenteado Zetia b. WaterWorks, fornecedora de água encanada c. Chiquita, fornecedor de bananas e proprietário da maioria das plantações de banana d. Walt Disney Company, criadora do Mickey Mouse 2. Skyscraper City tem um sistema de metrô, no qual uma passagem custa $1,50. Há pressão sobre a prefeita para reduzir o preço da passagem em 1/3, para $1. Ela está desanimada, achando que isso significa que a Skyscraper City irá perder 1/3 da receita de vendas de passagens de metrô. O conselheiro econômico da prefeita lembra que ela está se concentrando apenas no efeito preço e ignorando o efeito quantidade. Explique por que a estimativa da prefeita de perda de 1/3 da receita é suscetível de estar superestimada. Ilustre com um gráfico. 3. Considere um setor com a curva da demanda (D) e a curva de custo marginal (CM) mostrada no gráfico a seguir. Não há custo fixo. Se a indústria for um monopólio de preço único, a curva de receita marginal do monopolista será RM. Responda às seguintes perguntas nomeando os pontos ou áreas apropriadas.

a. Se o setor estiver em concorrência perfeita, qual será a quantidade total produzida? A que preço? b. Qual área reflete o excedente do consumidor em concorrência perfeita? c. Se o setor for um monopólio de preço único, que quantidade o monopolista irá produzir? Que preço irá cobrar? d. Que área reflete o lucro de preço único do monopolista? e. Que área reflete o excedente do consumidor sob monopólio de preço único? f. Que área reflete a perda por peso morto para a sociedade a partir do monopólio de preço único? g. Se o monopolista pode realizar discriminação de preço perfeita que quantidade irá produzir? 4. Bob, Bill, Ben e Brad Baxter acabam de fazer um documentário sobre o seu time de basquete. Estão pensando em permitir o download do documentário na internet e, se decidirem positivamente, pode funcionar como um monopolista de preço único. Cada vez que o filme for baixado, o provedor da Internet cobra uma taxa de $4. Os irmãos Baxter estão discutindo sobre que preço cobrar dos internautas por download. A tabela a seguir mostra a demanda do filme. Preço por download

Quantidade de downloads demandados

10

$0

8

1

6

3

4

6

2

10

0

15

a. Calcule a receita total e a receita marginal por download. b. Bob está orgulhoso do filme e quer que o máximo de pessoas faça download dele. Que preço escolherá? Quantos downloads serão vendidos? c. Bill quer o máximo de receita total possível. Que preço escolherá? Quantos downloads serão vendidos? d. Ben quer maximizar o lucro. Que preço escolherá? Quantos downloads serão vendidos? e. Brad quer cobrar o preço de eficiência. Que preço escolherá? Quantos downloads serão vendidos? 5. Jimmy tem um quarto com vista, a certa distância, para um grande estádio de beisebol. Decide alugar um telescópio por $50 por semana e cobrar de seus amigos e colegas para espiar o jogo por 30 segundos. Pode atuar como um monopolista de preço único para alugar as “espiadas”. Para cada um que dá uma espiada de 30 segundo, Jimmy tem um custo de $0,20 para limpar a lente do telescópio. A tabela a seguir mostra as informações reunidas por Jimmy sobre a demanda do serviço em determinada semana. Preço da espiada

Quantidade de espiadas demandada

$1,20

0

1,00

100

0,90

150

0,80

200

0,70

250

0,60

300

0,50

350

0,40

400

0,30

450

0,20

500

0,10

550

a. Para cada preço na tabela, calcule a receita total de vender espiadas de telescópio e a receita marginal por espiada. b. Em que quantidade Jimmy maximizará o lucro? Que preço cobrará? Qual será seu lucro total? c. A dona do apartamento de Jimmy reclama de tantos visitantes entrando no prédio e diz a Jimmy que pare de vender espiadas. No entanto, Jimmy descobre que se oferecer propina de $0,20 por espiada à

proprietária, ela vai parar de reclamar. Que efeito a propina de $0,20 por espiada tem sobre o custo marginal de Jimmy por espiada? Qual será a nova quantidade que maximiza o lucro? Que efeito a propina de $0,20 por espiada tem sobre o lucro total de Jimmy? 6. Suponha que a De Beers seja um monopolista de preço único no mercado de diamantes. A De Beers tem cinco clientes potenciais: Raquel, Jackie, Joan, Mia e Sofia. Cada uma dessas clientes potenciais comprará, no máximo, um diamante – e somente se o preço for igual ou inferior à sua disposição de pagar. A disposição de pagar de Raquel é $400; a de Jackie é $300; a de Joan, $200; a de Mia, $100 e a de Sofia, $0. O custo marginal por diamante para a De Beers é $100. Isso leva à tabela de demanda de diamantes mostrada a seguir. Preço do diamante

Quantidade de diamantes demandada

$500

0

400

1

300

2

200

3

100

4

0

5

a. Calcule a receita total e a marginal da De Beers. A partir do cálculo, trace a curva da demanda e a curva da receita marginal. b. Explique por que a De Beers se defronta com uma curva de demanda inclinada para baixo. c. Explique por que a receita marginal da venda de um diamante adicional é inferior ao preço do diamante. d. Suponha que a De Beers atualmente cobre $200 por diamante. Se reduzisse o preço para $100, de que tamanho seria o efeito preço? De que tamanho seria o efeito quantidade? e. Trace a curva de custo marginal no gráfico e determine qual a quantidade que maximiza o lucro da De Beers e que preço ela irá cobrar. 7. Use a tabela da demanda de diamantes dada no Problema 6. O custo marginal de produzir diamantes é constante em $100. Não há custo fixo. a. Se a De Beers cobra o preço de monopólio, de que tamanho será o excedente do consumidor individual que cada comprador experimenta? Calcule o excedente total do consumidor pela soma dos excedentes do consumidor individual. Qual o tamanho do excedente do produtor? Suponha que novos produtores russos e asiáticos entrem no mercado e que esse se torne perfeitamente competitivo.

Qual é o preço da concorrência perfeita? Que quantidade é vendida em b. um mercado em concorrência perfeita? c. Ao preço e à quantidade de concorrência perfeita, qual é o excedente do consumidor que cada comprador experimenta? Quanto é o excedente total do consumidor? Quanto é o excedente do produtor? d. Compare a resposta do item c com a resposta do item a. Nesse caso, de que tamanho é a perda por peso morto associado ao monopólio? 8. Use a tabela da demada de diamantes dada no Problema 6. A De Beers é monopolista, mas agora pode discriminar preços perfeitamente entre todos os cinco consumidores potenciais. O custo marginal da De Beers é constante em $100. Não há custo fixo. a. Se a De Beers consegue discriminar preços perfeitamente, para quais consumidores vende diamantes e a que preço? b. De que tamanho é o excedente de cada consumidor individual? De que tamanho é o excedente total do consumidor? Calcule o excedente do produtor somando o excedente do produtor gerado por cada venda. 9. A empresa Download Records decide lançar um álbum do grupo Mary and the Little Lamb. Produz o álbum sem custo fixo, mas o custo total de gravar o álbum em um CD e pagar direitos autorais a Mary é de $6 por álbum. A Download Records pode atuar como monopolista de preço único. Sua divisão de marketing considera que a tabela da demanda do álbum é a apresentada a seguir. Preço do álbum

Quantidade de álbuns demandados

$22

0

20

1.000

18

2.000

16

3.000

14

4.000

12

5.000

10

6.000

8

7.000

a. Calcule a receita total e a receita marginal por álbum. b. O custo marginal de produção de cada álbum é constante em $6. Para maximizar o lucro, que nível de produto a Download Records deve escolher e que preço deve cobrar por cada álbum? c. Mary renegocia seu contrato e agora precisa cobrar royalty mais elevado por álbum. Assim, o custo marginal sobe, ficando constante em $14.

Para maximizar o lucro, que nível de produto a Download Records deve escolher e que preço deve cobrar por cada álbum? 10. O diagrama a seguir ilustra o monopólio natural da companhia de energia elétrica local. O gráfico mostra a curva de demanda por quilowatt-hora (kWh) de energia elétrica, a curva de receita marginal da empresa (RM), a curva de custo marginal (CM) e a curva de custo total médio (CTM). O governo quer regular o monopólio por meio da imposição de um teto de preço.

a. Se o governo não regula esse monopolista, que preço ele cobra? Ilustre a ineficiência que gera sombreando a área de peso morto do monopólio. b. Se o governo impõe um teto de preço igual ao custo marginal, $0,30, o monopolista terá lucro ou prejuízo? Indique com sombreado a área de lucro (ou prejuízo) para o monopolista. Se o governo impõe esse teto de preço, a empresa continuará a produzir no longo prazo? c. Se o governo estabelece um teto de preço de $0,50, um monopolista terá lucro, prejuízo ou ficará em equilíbrio? 11. O cinema de Collegetown serve a dois tipos de clientes: estudantes e professores. Há 900 estudantes e 100 professores em Collegetown. Cada estudante tem disposição de pagar $5 por ingresso de cinema. Cada professor tem disposição de pagar $10 por ingresso. Cada um comprará no máximo um ingresso. O custo marginal do ingresso de cinema é constante em $3, e não há custo fixo. a. Suponha que o cinema não possa fazer discriminação de preços e precisa cobrar aos estudantes e professores o mesmo preço por ingresso. Quando o cinema cobra $5, quem compra ingresso e qual é o lucro do cinema? Quanto é o excedente do consumidor? b. Quando o cinema cobra $10, quem compra ingresso e qual é o lucro do cinema? Quanto é o excedente do consumidor? c. Agora suponha que, se quiser, o cinema pode realizar discriminação de preços entre estudantes e professores, exigindo que os estudantes mostrem a carteira de estudante. Se o cinema cobrar $5 dos estudantes

e $10 dos professores, qual será o lucro do cinema? Quanto será o excedente do consumidor? 12. Um monopolista sabe que se expandir a quantidade de produto de 8 para 9 unidades reduzirá o preço do produto de $2 para $1. Calcule o efeito quantidade e o efeito preço. Use esse resultado para calcular a receita marginal do monopolista ao produzir a 9ª unidade. O custo marginal de produzir a 9ª unidade é positivo. A produção da 9ª unidade é uma boa ideia para o monopolista? 13. Nos Estados Unidos, a Federal Trade Comission (FTC) é encarregada de promover a concorrência e fiscalizar fusões que possam conduzir a preços mais elevados. Há alguns anos, a Staples e a Office Depot, duas das maiores cadeias de lojas de material de escritório, anunciaram um acordo de fusão. a. Alguns críticos da fusão argumentaram que, em várias partes do país, essa fusão criaria um monopólio no mercado de materiais de escritório. Com base no argumento da FTC e da sua missão de questionar fusões que possam levar ao aumento de preços, você acha que a fusão foi permitida? b. A Staples e a Office Depot argumentaram que, ainda que, em algumas partes do país, pudessem criar um monopólio de lojas de material de escritório, a FTC tinha que considerar o mercado como um todo, incluindo todas as lojas que vendem material de escritório, que inclui muitas lojas pequenas (como supermercados e outros varejistas). Nesse mercado, a Staples e a Office Depot enfrentariam a concorrência de outras lojas menores. Se o mercado de todos os fornecedores é o mercado relevante que a FTC deve considerar, a possibilidade de a FTC permitir a fusão aumentaria ou diminuiria? 14. Antes do final de 1990, nos Estados Unidos, a mesma empresa que gerou energia elétrica também a distribuiu através de linhas de alta tensão. Desde então, 16 estados e o Distrito de Columbia começaram a separar a geração da distribuição de energia elétrica, permitindo a concorrência entre os geradores e distribuidores de energia elétrica. a. Suponha que o mercado de distribuição de energia elétrica fosse e permanecesse um monopólio natural. Use um gráfico para ilustrar o mercado de distribuição de energia elétrica se o governo definir o preço igual ao custo total médio. b. Suponha que a desregulação da geração de energia elétrica crie um mercado em concorrência perfeita. Suponha também que a geração de energia elétrica não apresenta características de monopólio natural. Use um gráfico para ilustrar as curvas de custo no equilíbrio de longo prazo para uma empresa individual desse setor. 15. Explique as seguintes situações. a. Na Europa, muitos prestadores de serviços de telefonia celular oferecem gratuitamente, na contratação de um serviço, telefones celulares que, de outra forma, seriam muito caros. Por que uma empresa age assim? b. No Reino Unido, a autoridade do país antitruste proibiu a operadora de telefonia celular Vodaphone de oferecer aos clientes um plano que

oferece chamadas gratuitas para outros clientes da Vodaphone. Por que a Vodaphone queria oferecer chamadas gratuitas? Por que o governo quer intervir e proibir essa prática? Por que pode não ser uma boa ideia para um governo interferir dessa forma?

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CAPÍTULO 14 » Oligopólio

PEGO EM FLAGRANTE

empresa de produtos agrícolas Archer Daniels Midland (ADM) gosta de ser descrita como “supermercado para o mundo”. Seu nome é familiar para muitos, não só por causa de seu papel importante na economia, mas também em virtude da publicidade e do patrocínio de programas na televisão aberta. Mas, em 25 de outubro de 1993, a própria ADM estava no noticiário de televisão. Nesse dia, executivos da ADM e da sua concorrente japonesa Ajinomoto reuniram-se no Hotel Marriott, em Irvine, na Califórnia, para discutir o mercado de lisina, um aditivo usado na alimentação de animais. (Como é produzida a lisina? É excretada por bactérias geneticamente modificadas.) Nessa reunião e em reuniões subsequentes, as duas empresas se juntaram com vários outros concorrentes para estabelecer metas para o preço de mercado da lisina, comportamento chamado de fixação de preços. Cada empresa concordou em limitar a produção a fim de alcançar aquelas metas. Imaginavam que concordar quanto a limites específicos seria o desafio maior. O que os participantes da reunião não sabiam é que havia um problema maior: o FBI havia colocado grampo telefônico e os estava filmando com uma câmera escondida em uma lâmpada. O que as empresas estavam fazendo era ilegal. Para entender por que é ilegal e por que, apesar disso, essas empresas estavam tentando fazê-lo, é preciso analisar as questões colocadas pelos setores que não são nem

A

perfeitamente competitivos nem puramente monopolistas. Neste capítulo, vamos nos concentrar no oligopólio, um tipo de estrutura de mercado em que há apenas alguns produtores. Como veremos, oligopólio é uma realidade importante, muito mais importante do que o monopólio e, possivelmente, mais típico nas economias modernas do que a concorrência perfeita. Embora muito do que aprendemos sobre concorrência perfeita e sobre monopólio seja relevante para o oligopólio, esse também levanta algumas questões totalmente novas. Entre outras coisas, as empresas em um oligopólio, muitas vezes, são tentadas a se envolver em um tipo de comportamento que levou a ADM, a Ajinomoto e outros produtores de lisina a ter problemas com a lei. Nos últimos anos, houve muitas investigações e algumas condenações por fixação de preços em uma variedade de setores, desde seguros de elevadores até chips de computador. Por exemplo, em 2010, a União Europeia, que tem leis semelhantes às dos Estados Unidos, multou 10 companhias aéreas em $1,11 bilhão (sim, mais de 1 bilhão) por fixação de preços de carga aérea. Começaremos examinando o que é oligopólio e por que é tão importante. O que você vai aprender neste capítulo • O significado de oligopólio e por que ele ocorre. • Por que os oligopolistas têm incentivo para agir de forma a reduzir o lucro combinado e por que podem-se beneficiar da colusão. • Como nossa compreensão do oligopólio pode ser melhorada através da teoria dos jogos, especialmente o conceito de dilema do prisioneiro. • Como interações repetidas entre oligopolistas podem ajudá-los a alcançar uma colusão tácita. • Como o oligopólio funciona na prática, sob as restrições legais da política antitruste.

Em seguida, vamos nos voltar para o comportamento das indústrias oligopolísticas. Finalmente, analisaremos a política antitruste, que está preocupada, principalmente, em manter os oligopólios “bem comportados”.

A PREVALÊNCIA DO OLIGOPÓLIO

Na ocasião daquela reunião que foi cuidadosamente grampeada pelo FBI, nenhuma indústria controlava o setor de lisina no mundo, mas havia apenas alguns poucos grandes produtores. Um setor com alguns poucos vendedores é conhecido como oligopólio; uma empresa desse setor é conhecida como oligopolista. Os oligopolistas, obviamente, competem entre si por vendas. Mas nem a ADM nem a Ajinomoto eram empresas em um setor em concorrência perfeita, que tomam como dado o preço pelo qual podem vender seu produto. Cada uma dessas empresas sabia que sua decisão sobre quanto produzir afetaria o preço de mercado. Ou seja, como os monopolistas, cada uma das empresas tinha algum poder de mercado. Assim, a concorrência nesse setor não era “perfeita”. Os economistas referem-se a uma situação em que as empresas concorrem, mas também possuem poder de mercado – o que lhes permite afetar o preço de mercado – como concorrência imperfeita. Como vimos no Capítulo 13, na verdade, há duas formas importantes de concorrência imperfeita: oligopólio e concorrência monopolística. Entre ambos, provavelmente, na prática, oligopólio é o mais importante. Apesar de a lisina ser um negócio bilionário, não é exatamente um produto familiar para a maioria dos consumidores. No entanto, muitos bens e serviços familiares são fornecidos por apenas alguns vendedores concorrentes, o que significa que os setores em questão são oligopólios. Por exemplo, a maioria das linhas aéreas é servida por apenas duas ou três companhias: nos últimos anos, o serviço de ponte aérea entre Nova York e Boston ou Washington tem sido oferecido apenas pela Delta e pela US Airways. Três empresas – Chiquita, Dole e Del Monte, que possuem enormes plantações de banana na América Central — controlam 65% das exportações mundiais de bananas. A maioria das bebidas de cola é vendida pela Coca-Cola pela Pepsi. Essa lista poderia continuar por muitas páginas. É importante perceber que um oligopólio não é necessariamente composto de empresas grandes. O que importa não é o tamanho, mas a quantidade de concorrentes que existem. Quando uma pequena cidade tem apenas duas mercearias, esse serviço é tão oligopolista quanto o serviço de ponte aérea entre Nova York e Washington.

Por que os oligopólios são tão prevalentes? Essencialmente, o oligopólio é o resultado dos mesmos fatores que, às vezes, geram o monopólio, mas de forma um pouco mais atenuada. Provavelmente, a fonte mais importante de oligopólio é a existência de retornos crescentes de escala, que oferece aos maiores produtores vantagem de custo sobre os menores. Quando esses efeitos são muito fortes, levam ao monopólio, quando não são tão fortes, levam a um setor com um pequeno número de empresas. Por exemplo, normalmente os supermercados têm custos mais baixos do que os mercados menores. Mas a vantagem de uma escala maior vai desaparecendo à medida que a mercearia se torna razoavelmente grande, e por isso, muitas vezes, duas ou três sobrevivem em cidades pequenas. Se o oligopólio é tão comum, por que a maior parte deste livro se concentra na concorrência em setores onde o número de vendedores é muito grande? E por que estudamos monopólio, se é relativamente raro? A resposta tem duas partes. Primeiramente, muito do que aprendemos ao estudar mercados em concorrência perfeita – sobre custos, entrada e saída e eficiência – continua válido, apesar do fato de muitos setores não serem perfeitamente competitivos. Segundo, a análise dos oligopólios apresenta alguns quebracabeças para os quais não há solução fácil. Quase sempre é uma boa ideia – nos testes e na vida em geral – primeiro lidar com questões que se pode responder, em seguida, quebrar a cabeça com as mais difíceis. Seguimos a mesma estratégia, primeiro o desenvolvimento de teorias relativamente claras de concorrência perfeita e monopólio, e, então, voltar-se para os enigmas apresentados pelo oligopólio.

economia em ação É ou não um oligopólio?

Na prática, nem sempre é fácil identificar a estrutura de mercado de um setor apenas analisando o número de vendedores. Muitos setores oligopolísticos contêm diversos produtores em “nichos”, que realmente não competem com os principais participantes. Por exemplo, o setor aéreo dos Estados Unidos inclui uma série de companhias aéreas regionais como a

New Mexico Airlines, que voa com aviões de hélice entre Albuquerque e Carlsbad, Novo México. Se contarmos essas companhias, o setor de aviação civil dos Estados Unidos contém quase uma centena de vendedores, o que não parece competição entre grupos pequenos. Mas há apenas um punhado de concorrentes em âmbito nacional como a American e a United, e, em muitas rotas, como vimos, há apenas dois ou três concorrentes. Para visualizar melhor o quadro da estrutura de mercado, os economistas costumam usar uma medida denominada Índice de Her ndahl-Hirschman ou IHH. O IHH de um setor é a soma do quadrado da parcela de mercado de cada empresa nas vendas totais para todas as empresas desse setor. (No Capítulo 12, vimos que parcela de mercado é a porcentagem de venda de mercado contabilizada por uma empresa.) Por exemplo, se um setor contém apenas três empresas e as participações respectivas de mercado são 60%, 25% e 15%, então o IHH para o setor é: IHH = 602 + 252 + 152 = 4.450 Ao usar o quadrado de cada parcela de mercado, o cálculo do IHH produz números que são mais elevados quando uma parcela maior de mercado é dominada por poucas empresas. Portanto, é uma medida melhor do grau de concentração do setor. Isso é confirmado pelos dados da Tabela 14-1. Ali, os índices de setores dominados por um pequeno número de empresas, como o setor de sistemas operacionais de computadores pessoais ou de aviões de grande porte, muitas vezes, são maiores do que o índice para o setor de comércio varejista, que tem várias empresas de tamanho aproximadamente igual.

TABELA 14-1 IHH de alguns setores oligopolísticos Setor

IHH

Maiores empresas

Sistemas operacionais de computador

9.182

Microsoft, Linux

Aviões de grande porte

5.098

Boeing, Airbus

Mineração de diamantes

2.338

De Beers, Alrosa, Rio Tinto

Automobilística

1.432

GM, Ford, Chrysler, Toyota, Honda, Nissan, VW

Distribuidores de filmes

1.096

Buena Vista, Sony Pictures, 20th Century Fox, Warner Bros., Universal, Paramount, Lionsgate

Provedores de

750

SBC, Comcast, AOL,

serviços de

Verizon, Road Runner

Internet

Earthlink, Carta, Qwest

Mercearias de varejo

321

Walmart, Kroger, Sears, Target, Costco, Walgreens, Ahold, Albertsons

Fontes: governo canadense; Diamand Factos 2006; www.w3counter.com; Planet retail; Autodata; Reuters; ISP Planet; Swivel. Os dados abrangem 2006-2007.

O IHH é usado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pela Comissão Federal de Comércio, encarregados de aplicar a política antitruste, tema que analisaremos com mais detalhes mais adiante neste capítulo. A missão é tentar garantir que haja concorrência adequada em um setor, exercendo a fixação de preços, quebrando monopólios economicamente ineficientes e não permitindo fusões entre empresas, quando se acredita que a fusão irá reduzir a concorrência. De acordo com as diretrizes do Departamento de Justiça, um IHH inferior a 1.500 indica um mercado

fortemente competitivo, entre 1.500 e 2.500 indica um mercado pouco competitivo e mais de 2.500 indica oligopólio. Em um setor com um IHH acima de 1.500, uma fusão que resulta em um aumento significativo do IHH receberá um escrutínio especial e é suscetível de ser anulado. No entanto, como mostrado pelos acontecimentos recentes, a definição de um setor pode ser complicada. Em 2007, a Whole Foods e Wild Oats, dois fornecedores de alimentos orgânicos de alta qualidade, propuseram uma fusão. O Departamento de Justiça rejeitou, alegando que iria reduzir a concorrência substancialmente e definindo que o setor consistia apenas de mercearias fornecedoras de alimentos naturais no país. No entanto, foi interposto recurso da decisão em um tribunal federal, que considerou que a fusão deveria ser permitida, pois agora os supermercados regulares também vendem alimentos orgânicos e, assim, representariam concorrência suficiente após a fusão. No entanto, em 2011, o Departamento de Justiça não permitiu a fusão entre as operadoras de telefonia celular AT&T e T-Mobile, caso em que a definição do setor relevante era muito mais clara.

BREVE REVISÃO Além da concorrência perfeita e do monopólio, oligopólio e concorrência monopolística também são importantes tipos de estrutura de mercado. São formas de concorrência imperfeita. Oligopólio é uma estrutura de mercado comum, em que há apenas um pequeno número de empresas no setor, chamadas de oligopolistas. Surge das mesmas forças que levam ao monopólio, porém de forma mais fraca. O Índice de Herfindahl-Hirschman, a soma dos quadrados das parcelas de mercado de cada empresa no setor, é uma medida amplamente usada na indicação da concentração do setor.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 14-1 1. Explique por que cada um dos setores seguintes é um oligopólio e não um setor em concorrência perfeita. a. O setor de petróleo global, onde alguns países ao redor do Golfo Pérsico controlam grande parte das reservas mundiais de petróleo.

O setor de microprocessadores, onde duas empresas, a Intel e sua rival, a AMD, dominam a tecnologia. c. O setor de aviões de grande porte para passageiros, composto pela empresa americana Boeing e pela empresa europeia Airbus, cuja produção se caracteriza por custos fixos extremamente elevados. 2. A tabela a seguir mostra as parcelas de mercado para os sistemas de busca da Internet em 2011. a. Calcule o IHH desse setor. b. Se o Yahoo! e o Bing decidissem se fundir, qual seria o IHH? b.

Mecanismo de busca

Participação no mercado

Google

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2 As respostas estão no fim do livro.

ENTENDENDO O OLIGOPÓLIO Quanto uma empresa produzirá? Até agora sempre respondemos: a quantidade que maximiza o lucro. Junto com as curvas de custo, o pressuposto de que uma empresa maximiza o lucro é suficiente para determinar a quantidade a ser produzida quando se trata de concorrentes perfeitos ou monopolistas. No entanto, quando se trata de oligopólio, deparamo-nos com algumas dificuldades. Na verdade, os economistas sempre descrevem o comportamento das empresas oligopolistas como um “quebra-cabeça”. Exemplo de um duopólio

Comecemos analisando o quebra-cabeça do oligopólio pela versão mais simples, um setor que tem apenas duas empresas produtoras, um duopólio, e cada uma delas é denominada duopolista.

Voltando à história introdutória, imagine que a ADM e a Ajinomoto são os dois únicos produtores de lisina. Para simplificar ainda mais, suponha que, uma vez que a empresa tenha incorrido no custo fixo necessário para produzir lisina, tenha custo marginal zero para produzir um quilo adicional. Assim, as empresas estão preocupadas apenas com a receita que recebem com as vendas. A Tabela 14-2 mostra uma demanda hipotética de lisina e a receita total do setor com cada combinação de preço e quantidade. TABELA 14-2 Demanda de lisina Preço da lisina (por quilo)

Quantidade de lisina demandada

Receita total (milhões)

$12

0

$0

11

10

110

10

20

200

9

30

270

8

40

320

7

50

350

6

60

360

5

70

350

4

80

320

3

90

270

2

100

200

1

110

110

0

120

0

Se esse fosse um setor em concorrência perfeita, cada empresa teria um incentivo para produzir mais, desde que o preço de mercado estivesse acima do custo marginal. Como aqui supomos que o custo marginal seja zero, isso significa que, em equilíbrio, a lisina seria fornecida de graça. As empresas

produziriam até que o preço fosse igual a zero, gerando um produto total de 120 milhões de quilos e receita zero para ambas as empresas. No entanto, certamente as empresas não seriam tão tolas. Com apenas duas empresas no setor, cada uma iria perceber que, ao produzir mais, pressionaria para baixo o preço de mercado. Assim, cada empresa, como monopolista, perceberia que os lucros aumentariam se limitasse a produção. Então, quanto as duas empresas irão produzir? Uma possibilidade é que as duas empresas se envolvam em conluio ou colusão – vão cooperar para aumentar o lucro uma da outra. A forma mais forte de conluio é o cartel, um acordo entre os produtores que determina o quanto cada um está autorizado a produzir. O cartel mais famoso do mundo é da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, descrito em Economia em ação mais adiante, neste capítulo. Como o próprio nome indica, trata-se realmente de um acordo entre governos, em vez de entre empresas. Há uma razão pela qual esse cartel mais famoso consiste em um acordo entre governos: cartéis entre empresas são ilegais nos Estados Unidos e em muitas outras jurisdições. Mas ignoremos a lei por um momento (que é, naturalmente, o que a ADM e a Ajinomoto fizeram na vida real – em prejuízo próprio). Então, suponhamos que a ADM e a Ajinomoto formassem um cartel e que esse cartel decidisse agir como se fosse um monopolista, maximizando o lucro total do setor. Fica claro, observando a Tabela 14-2, que, a fim de maximizar os lucros combinados das empresas, esse cartel deve fixar a quantidade de produto total do setor em 60 milhões de quilos de lisina e deve vender ao preço de $6 o quilo, levando a uma receita de $360 milhões, o máximo possível. Então, a única questão seria o quanto dos 60 milhões de quilos cada empresa poderia produzir. Uma solução “justa” seria que cada empresa produzisse 30 milhões de quilos com receita de $180 milhões para cada uma. Mas mesmo que as duas empresas concordem, existe um problema: cada uma das empresas teria incentivo para quebrar a palavra e produzir mais do que a quantidade combinada. Colusão e concorrência

Suponha que os presidentes da ADM e da Ajinomoto concordam em cada um produzir 30 milhões de quilos de lisina durante o próximo ano. Ambos entendem que esse plano maximiza os lucros combinados. E os dois têm incentivo de trair o acordo. Para saber o porquê, considere o que ocorreria se a Ajinomoto honrasse o acordo, produzindo apenas 30 milhões de quilos, mas a ADM ignorasse a promessa e produzisse 40 milhões de quilos. Esse aumento na quantidade de produto total pressionaria para baixo o preço de $6 para $5 o quilo, preço pelo qual são demandados 70 milhões de quilos. A receita total do setor cairia de $360 milhões ($6 × 60 milhões de quilos) para $350 milhões ($5 × 70 milhões de quilos). No entanto, a receita da ADM aumentaria, de $180 milhões para $200 milhões. Como estamos assumindo um custo marginal zero, isso significaria um aumento de $20 milhões de lucro para a ADM. Mas quem sabe o presidente da Ajinomoto faça exatamente o mesmo cálculo, e se as duas empresas produzirem 40 milhões de quilos de lisina, o preço cairia para $4 por quilo. Assim, o lucro de cada empresa cairia, de $180 milhões para $160 milhões. Por que as empresas individuais têm incentivo para produzir mais do que a quantidade que maximiza os lucros comuns? Porque nenhuma empresa tem um incentivo tão forte de limitar sua quantidade de produto como um verdadeiro monopolista. Voltemos por um instante para a teoria do monopólio. Sabemos que um monopolista que maximiza o lucro estabelece o custo marginal (que nesse caso é zero) igual à receita marginal. Mas o que é a receita marginal? Lembre-se de que a produção de uma unidade adicional de um bem tem dois efeitos: 1.

Um efeito quantidade positivo: mais uma unidade é vendida, aumentando a receita total pelo montante pelo qual essa unidade foi vendida. 2. Um efeito preço negativo: para vender mais uma unidade, o monopolista deve cortar o preço de mercado de todas as unidades vendidas. O efeito preço negativo é a razão pela qual a receita marginal de um monopolista é inferior ao preço de mercado. No caso do oligopólio, quando

se considera o efeito de aumentar a quantidade de produto, uma empresa se preocupa apenas com o efeito preço sobre as unidades de produto próprias, não sobre as dos seus companheiros oligopolistas. A ADM e a Ajinomoto sofrerão efeito preço negativo se a ADM decidir produzir lisina extra, e assim baixar o preço. Mas a ADM se preocupa apenas com o efeito preço negativo sobre as unidades que produz, não sobre o prejuízo da Ajinomoto. Isso significa que uma empresa individual em um oligopólio enfrenta um efeito preço menor de uma unidade de produto adicional do que um monopolista; portanto, a receita marginal que essa empresa calcula é mais alta. Por isso, vai parecer lucrativo para qualquer empresa em um oligopólio aumentar a produção, mesmo se esse aumento reduzir o lucro do setor como um todo. Mas se todo mundo pensar dessa forma, o resultado é que todo mundo obterá um lucro mais baixo! Até agora, pudemos analisar o comportamento do produtor, perguntando o que ele deveria fazer para maximizar o lucro. Mas mesmo que a ADM e a Ajinomoto estejam tentando maximizar o lucro, o que isso permite prever sobre o seu comportamento? Será que eles irão se envolver em conluio, alcançando e mantendo um acordo que maximize o lucro combinado? Ou terão um comportamento não cooperativo, em que cada empresa atua em seu próprio interesse, mesmo que isso tenha o efeito de reduzir o lucro de todos? Ambas as estratégias soam como maximização de lucro. Qual será a que realmente vai corresponder ao seu comportamento? Agora dá para perceber por que o oligopólio apresenta um quebracabeça: há apenas um pequeno número de participantes, tornando a colusão uma possibilidade real. Se houvesse dezenas ou centenas de empresas, era seguro supor que teriam um comportamento não cooperativo. No entanto, quando há apenas algumas empresas em um setor, é difícil determinar se a colusão realmente vai se materializar. Como, em última instância, a colusão é mais lucrativa do que o comportamento não cooperativo, as empresas terão incentivo para conspirar, se puderem. Uma maneira é formalizar, assinar um acordo (talvez até mesmo elaborar um contrato legal) ou estabelecer incentivos financeiros para as empresas fixarem preços elevados. Mas, nos Estados Unidos e em muitos outros países, não se pode fazer isso – pelo menos não legalmente. As empresas não podem fazer um contrato legal para manter os preços altos:

além disso, não se pode garantir o cumprimento desse contrato, e redigi-lo é uma passagem só de ida para a cadeia. Também não se pode assinar um “acordo de cavalheiros!” que não tem força de lei, que talvez repouse em ameaças de retaliação, isso também é ilegal. De fato, executivos de empresas rivais raramente se encontram sem a presença de advogados, para garantir que a conversa não adentre em território impróprio. Mesmo a insinuação de que seria bom que os preços fossem mais elevados pode levar a uma entrevista indesejada com o Departamento de Justiça ou com a Comissão Federal do Comércio. Por exemplo, em 2003, o Departamento de Justiça americano iniciou um inquérito formal por fixação de preços contra a Monsanto e outros grandes produtores de sementes geneticamente modificadas. O Departamento de Justiça foi alertado de uma série de reuniões realizadas entre a Monsanto e a Pioneer Hi-Bred International, duas empresas que respondem por 60% do mercado dos Estados Unidos de milho e soja. As duas empresas, as partes de um acordo de licenciamento de sementes modificadas geneticamente, afirmaram que não houve discussões ilegais de fixação de preços nessas reuniões. Mas o fato de as duas empresas discutirem preços como parte do acordo de licenciamento foi o suficiente para o início de um inquérito formal pelo Departamento de Justiça. Às vezes, as empresas oligopolistas ignoram as regras. Mas, mais frequentemente, encontram maneiras de conseguir conluio sem acordo formal, como discutiremos mais adiante neste capítulo.

economia em ação Chocolate amargo?

Milhões de amantes de chocolate ao redor do mundo têm gasto cada vez mais para satisfazer seus desejos incontroláveis de produtos açucarados, e reguladores na Alemanha, no Canadá e nos Estados Unidos ficaram desconfiados. Estão investigando se as sete empresas principais de chocolate – incluindo Mars, Kra Foods, Nestlé, Hershey e Cadbury – formaram colusão para aumentar os preços. A quantidade de dinheiro envolvida pode muito bem chegar a bilhões de dólares.

Muitas das maiores lojas e lanchonetes do país estão convencidas de ter sido vítimas de conluio. Afirmam que o motivo da estagnação das vendas ao consumidor no setor de chocolate é a fixação de preços, alegação que os fabricantes de chocolate negaram com vigor. Em 2010, uma dessas lojas, Supervalu, entrou com uma ação judicial contra as empresas Mars, Hershey, Nestlé e Cadbury, que juntas controlam aproximadamente 76% do mercado de chocolates dos Estados Unidos. A Supervalu alegou que os confeiteiros tinham fixado preços desde 2002, aumentando-os regularmente de valores de um dígito para dois dígitos. E também afirmou que as mercearias que resistiram ou se recusaram a aumentar foram sistematicamente penalizadas por entregas atrasadas ou insuficientes dos produtos. O que está claro é que o preço do chocolate disparou, subindo 17% entre 2008 e 2010, enquanto as vendas caíram cerca de 7%. Os fabricantes de chocolate defenderam suas ações, alegando que estavam repassando os aumentos dos custos. No entanto, os críticos afirmam que o preço do cacau, o principal ingrediente do chocolate, ficou estável entre 2003 e 2007 e que também o preço do açúcar esteve estável durante esse tempo, exceto por um breve pico em 2005, período em que os preços do chocolate subiram. Mas, como os especialistas antitruste salientaram, é muito difícil provar preço de conluio, porque não é ilegal que as empresas aumentem seus preços ao mesmo tempo. Para provar a colusão, deve haver alguma evidência de conversação ou acordo escrito. No caso do chocolate, essa evidência surgiu. Segundo a imprensa canadense, 13 executivos da Cadbury forneceram voluntariamente informação aos tribunais sobre contatos entre as empresas, incluindo um episódio em 2005, em que um executivo da Nestlé entregou um envelope pardo contendo detalhes sobre um próximo aumento de preço a um funcionário da Cadbury. E, de acordo com depoimentos apresentados a um tribunal canadense, altos executivos da Hershey, da Mars e da Nestlé encontraram-se secretamente em lojas de cafezinho, restaurantes e em salas de convenções para fixar preços. Em breve, os críticos dos fabricantes de chocolate deverão encontrar uma justificativa doce.

BREVE REVISÃO Algumas das questões fundamentais do oligopólio podem ser compreendidas analisando o caso mais simples, o duopólio – setor que contém apenas duas empresas, chamadas duopolistas. Ao agir como se fosse um único monopolista, os oligopolistas podem maximizar os lucros combinados. Portanto, há um incentivo para formar um cartel. No entanto, cada empresa tem um incentivo para trair o acordo – produzir mais do que o pressuposto no acordo de cartel. Portanto, há dois resultados principais: colusão bem-sucedida ou comportamento não cooperativo por trapaça.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 14-2 1. Qual dos seguintes fatores aumenta a probabilidade de que um oligopolista se envolverá em conluio com outras empresas do setor? E a probabilidade de que o oligopolista agirá de forma não cooperativa e aumente a quantidade de produto? Explique as respostas. a. A parcela de mercado inicial da empresa é pequena. (Dica: Pense no efeito preço). b. A empresa tem vantagem de custo sobre as rivais. c. Os clientes da empresa têm custos adicionais quando trocam o uso dos produtos de uma empresa para os de outra empresa. d. O oligopolista tem muita capacidade de produção não utilizada, mas sabe que os rivais estão operando com capacidade máxima de produção e não podem aumentar a quantidade que produzem. As respostas estão no fim do livro.

OS JOGOS DOS OLIGOPOLISTAS No exemplo do duopólio e na vida real, cada empresa oligopolista percebe que tanto o seu lucro depende do que o concorrente faz como o lucro do concorrente depende do que ela faz. Ou seja, as duas empresas estão em uma situação de interdependência, em que a decisão de cada

empresa afeta significativamente o lucro da outra empresa (ou empresas, no caso de mais de duas). Com efeito, as duas empresas participam de um “jogo” em que o lucro de cada jogador depende não apenas de suas próprias ações, mas também das ações do outro jogador (ou jogadores). Para entender melhor como os oligopolistas se comportam, os economistas, junto com matemáticos, desenvolveram a área de estudo desses jogos conhecida como teoria dos jogos. Há muitas aplicações, não apenas em economia, mas também em estratégia militar, política e outras ciências sociais. Vejamos como a teoria dos jogos nos ajuda a entender o oligopólio. O dilema do prisioneiro

A teoria dos jogos lida com qualquer situação em que a recompensa de qualquer um dos jogadores – o ganho – não depende apenas das próprias ações, mas também das de outros jogadores do jogo. No caso de empresas oligopolistas, o ganho é o lucro da empresa. Quando existem apenas dois jogadores, como no duopólio, a interdependência entre os jogadores pode ser representada por uma matriz de ganhos, como a apresentada na Figura 14-1. Cada linha corresponde a uma ação de um jogador (neste caso, a ADM), cada coluna corresponde a uma ação do outro (neste caso, a Ajinomoto). Para simplificar, vamos supor que a ADM pode escolher apenas uma de duas alternativas: produzir 30 milhões ou 40 milhões de quilos de lisina. A Ajinomoto tem o mesmo par de escolhas. A matriz contém quatro caixas, cada uma dividida por uma linha diagonal. Cada caixa mostra o ganho de duas empresas que resulta de um par de opções; o número abaixo da diagonal mostra o lucro da ADM, o número acima da diagonal mostra o lucro da Ajinomoto. Esses ganhos mostram o que concluímos da análise anterior: o lucro combinado das duas empresas é maximizado se cada uma produz 30 milhões de quilos. No entanto, qualquer empresa pode aumentar o próprio lucro por meio da produção de 40 milhões de quilos, enquanto a outra produz apenas 30 milhões. Mas se ambas produzem a quantidade maior,

terão lucro menor do que se tivessem mantido a quantidade de produto baixa. A situação particular mostrada aqui é uma versão de um caso famoso – e aparentemente paradoxal – de interdependência que aparece em muitos contextos, conhecido como dilema dos prisioneiros, um tipo de jogo em que a matriz de jogos implica o seguinte: Cada jogador tem um incentivo, independente do que o outro jogador faça, para trair o acordo – tomar uma ação que traga benefício para si em detrimento do outro. Quando os dois jogadores rompem o acordo, ficam em situação pior do que se nenhum deles tivesse rompido. A ilustração original do dilema dos prisioneiros ocorreu em um conto de ficção sobre duas cúmplices em um crime – vamos chamá-las de elma e Louise – detidas pela polícia. A polícia tem provas suficientes para colocálas atrás das grades por cinco anos. Sabe também que a dupla cometeu outro crime mais grave, que acarreta uma sentença de 20 anos, mas, infelizmente, a polícia não tem provas suficientes para condenar as mulheres com base nessa acusação. Para isso, teria que contar com a colaboração de cada uma das prisioneiras no sentido de implicar a outra no segundo crime. FIGURA 14-1

Matriz de ganhos

Duas empresas, ADM e Ajinomoto, devem decidir quanta lisina produzir. Os lucros das duas empresas são interdependentes: o lucro de cada empresa depende não só da própria decisão, mas também da decisão da outra. Cada linha representa uma ação da ADM, cada coluna, da Ajinomoto. Ambas as empresas ficam em situação melhor se escolhem a quantidade de produto mais baixa. Mas o interesse individual de cada empresa é escolher a quantidade de produto mais alta.

Assim, a polícia põe as suspeitas em celas separadas e diz o seguinte a cada uma delas: “Se nenhuma confessar o crime, vamos colocá-las na prisão por cinco anos. Se você confessar e incriminar sua parceira e ela não fizer o mesmo, reduziremos a sua pena de cinco para dois anos. Mas se sua parceira confessar e você não, terá a pena máxima de 20 anos. E se as duas confessarem, a sentença de ambas será de 15 anos.” A Figura 14-2 mostra o ganho que será atribuído a cada uma das prisioneiras, dependendo da decisão de cada uma de permanecer em silêncio ou confessar. (Normalmente, uma matriz de ganhos reflete os ganhos dos jogadores; um ganho mais alto é melhor do que um ganho mais

baixo.) Esse caso é uma exceção: a maior quantidade de anos na prisão é ruim, não é bom!) Vamos supor que as prisioneiras não têm nenhuma maneira de se comunicar e que elas não fizeram um juramento para não prejudicar uma a outra, ou qualquer coisa desse tipo. Assim, cada uma age em seu próprio interesse. O que irão fazer? A resposta é óbvia: ambas vão confessar. Primeiro, analise o ponto de vista de elma: é melhor confessar, independentemente do que Louise faça. Se Louise não confessa, a confissão de elma reduz sua sentença de 5 para 2 anos. Se Louise confessa, a confissão de elma reduz sua sentença de 20 para 15 anos. De qualquer forma, certamente é do interesse de elma confessar. E como ela tem os mesmos incentivos, também é do interesse de Louise confessar. Nessa situação, confessar é um tipo de ação que os economistas chamam de estratégia dominante, pois é a melhor ação do jogador, independente das medidas tomadas pelo outro jogador. É importante notar que nem todos os jogos têm uma estratégia dominante que depende da estrutura de ganhos do jogo. Mas, no caso de elma e Louise, é claro que o interesse da polícia é estruturar os ganhos de tal modo que confessar seja a estratégia dominante para cada pessoa. Então, enquanto as duas prisioneiras não têm como fazer um acordo vinculativo de nenhuma delas confessar (algo que não podem fazer por não poder se comunicar e a polícia certamente não vai permitir a comunicação, pois seu interesse é obrigar cada uma delas a confessar), elma e Louise agirão de forma a prejudicar a outra. No jogo do dilema do prisioneiro, quando cada prisioneiro age racionalmente em seu próprio interesse, ambos irão confessar. No entanto, se nenhum deles confessasse, ambos receberiam uma sentença muito mais leve! É claro que cada jogador tem incentivo de agir de forma a prejudicar o outro – mas quando os dois fazem essa escolha, ambos ficam em situação pior. Quando elma e Louise confessam, atingem um equilíbrio no jogo. Usamos esse conceito de equilíbrio muitas vezes neste livro; é um resultado em que nenhum indivíduo ou empresa tem qualquer incentivo para mudar sua ação. Na teoria dos jogos, esse tipo de equilíbrio em que cada jogador executa a ação que é melhor para ele, dada as ações dos outros jogadores e vice-versa, é conhecido como equilíbrio de Nash, em homenagem ao

matemático e Prêmio Nobel John Nash. (A vida de Nash foi narrada em biografia que chegou a ser best-seller, Uma Mente Brilhante, em que se baseou o filme de mesmo nome.) Como os jogadores em equilíbrio de Nash não levam em conta o efeito de suas ações sobre os outros, também é conhecido como equilíbrio não cooperativo. FIGURA 14-2

Dilema do prisioneiro

Cada uma das duas prisioneiras mantidas em celas separadas recebe uma proposta da polícia: uma sentença leve se confessar e incriminar sua cúmplice e a cúmplice não fizer o mesmo. Uma sentença pesada, se não confessar, mas a cúmplice confessar, e assim por diante. O interesse comum das duas prisioneiras é não confessar; mas o interesse individual de cada uma é confessar.

Agora observe novamente a Figura 14-1: a ADM e a Ajinomoto estão na mesma situação que elma e Louise. Cada empresa sozinha está em melhor situação produzindo a quantidade mais elevada de produto, independentemente do que a outra empresa faz. No entanto, se ambas produzirem 40 milhões de quilos, as duas ficam em situação pior do que se

tivessem cumprido o acordo e produzissem apenas 30 milhões de quilos. Nos dois casos, a busca do próprio interesse individual – o esforço para maximizar o lucro ou minimizar o tempo de prisão – têm o efeito perverso de prejudicar os dois jogadores. Dilemas de prisioneiros aparecem em muitas situações. Adiante, a seção Para mentes curiosas descreve um exemplo do tempo da Guerra Fria. Certamente, os jogadores em qualquer dilema do prisioneiro ficariam em melhor situação se tivessem uma forma de aplicar um comportamento cooperativo – se elma e Louise tivessem feito um juramento de silêncio ou se a ADM e a Ajinomoto tivessem assinado um acordo passível de cumprimento de que não produziriam mais do que 30 milhões de quilos de lisina. Mas, nos Estados Unidos, um acordo fixando níveis de quantidade de produto de dois oligopolistas não pode ser feito, é ilegal. Assim, parece que o equilíbrio não cooperativo é o único resultado possível. Será que é mesmo?

ARMADILHAS JOGO LIMPO NO DILEMA DOS PRISIONEIROS Uma reação comum no dilema do prisioneiro é afirmar que não é realmente racional para qualquer recluso confessar. Thelma não confessaria porque ficaria com medo que Louise depois se vingasse ou porque se sentiria culpada achando que Louise não faria a mesma coisa com ela. Mas esse tipo de resposta é, bem, jogo sujo – equivale a modificar os ganhos na matriz de ganhos. Para entender o dilema, é preciso jogar limpo e imaginar prisioneiros cuja única preocupação seja o tamanho de suas sentenças. Felizmente, quando se trata de oligopólio, é muito mais fácil acreditar que as empresas se preocupam apenas com seus lucros. Não há nenhuma indicação de que qualquer um na ADM sentisse medo ou afeição pela Ajinomoto, ou viceversa. São apenas negócios.

Escapando do dilema dos prisioneiros: interação repetida e colusão tácita

elma e Louise em suas celas jogam o que é conhecido como jogo de um só lance, ou seja, jogam uma com a outra apenas uma vez. Escolhem,

uma só vez, confessar e aguentar firme, e ponto final. No entanto, a maioria dos jogos que os oligopolistas jogam não permite apenas um lance; em vez disso, esperam jogar o jogo repetidamente com os mesmos competidores. Um oligopolista geralmente espera permanecer no negócio por muitos anos, e sabe que a decisão de hoje sobre trapacear ou não é suscetível de afetar a forma como as outras empresas o tratarão no futuro. Assim, um oligopolista inteligente não decide o que fazer com base no efeito de curto prazo sobre o lucro. Em vez disso, ele se dedica a um comportamento estratégico, que leva em consideração os efeitos da ação que escolhe hoje sobre as ações futuras dos outros participantes no jogo. E em determinadas condições, os oligopolistas que se comportam estrategicamente conseguem se comportar como se tivessem um acordo formal de colusão. Suponha que a ADM e a Ajinomoto esperam estar no negócio de lisina por muitos anos e, portanto, esperam participar, muitas vezes, do jogo de traição versus colusão mostrado na Figura 14-1. Será que eles realmente continuariam a trair um ao outro? Provavelmente não. Suponha que a ADM esteja considerando duas estratégias. Em uma estratégia, sempre trai o acordo, produzindo 40 milhões de quilos de lisina por ano, independente do que a Ajinomoto faça. Na outra estratégia, começa pelo bom comportamento, produzindo apenas 30 milhões de quilos no primeiro ano, e observa o comportamento da rival. Se a Ajinomoto também mantém a quantidade de produto reduzida, a ADM permanece cooperativa, produzindo novamente 30 milhões de quilos no próximo ano. Mas se a Ajinomoto produz 40 milhões de quilos, a ADM vai tirar as luvas e produzir também 40 milhões no ano seguinte. Essa última estratégia – começar se comportando de forma cooperativa, mas, posteriormente, fazer o que o outro competidor fez no período anterior – geralmente é conhecida como toma lá dá cá. Essa é uma forma de comportamento estratégico, que acabamos de definir como comportamento com a intenção de influenciar ações futuras de outros jogadores. Toma lá dá cá oferece uma recompensa para o outro jogador pelo comportamento cooperativo – se você se comportar cooperativamente. Também prevê castigo por trapaça – se trapacear, não espere que eu seja bom no futuro.

O ganho para a ADM de cada uma dessas estratégias dependerá de qual estratégia a Ajinomoto escolher. Considere as quatro possibilidades, mostradas na Figura 14-3: 1. 2.

Quando a ADM joga Toma lá dá cá e a Ajinomoto faz o mesmo, ambas têm um lucro de $180 milhões por ano. Se a ADM sempre trapaceia, mas a estratégia da Ajinomoto é toma lá dá cá, o lucro da ADM é de $200 milhões no primeiro ano, mas apenas $160 milhões nos outros anos.

FIGURA 14-3

Como a interação repetida ajuda a colusão

A estratégia Toma lá dá cá, antes de tudo, envolve jogo cooperativo e, em seguida, seguir o movimento do outro jogador. Recompensa o bom comportamento e pune o mau comportamento. Se o outro jogador trapaceia, essa estratégia leva apenas a um prejuízo de curto prazo em comparação com trapacear sempre. Mas se a estratégia do outro jogador também for Toma lá dá cá, isso leva a um ganho de longo prazo. Assim, uma empresa que espera que a estratégia de outras empresas seja Toma lá dá cá, pode muito bem optar por fazer o mesmo, levando a uma colusão tácita de sucesso.

3. 4.

Se a estratégia da ADM é toma lá dá cá, mas a Ajinomoto sempre trapaceia, a ADM tem lucro de apenas $150 milhões no primeiro ano, mas $160 milhões nos anos subsequentes. Se a estratégia da ADM é sempre trapacear e a Ajinomoto faz o mesmo, ambas as empresas vão ter lucro de $160 milhões por ano.

Qual estratégia é melhor? No primeiro ano, a ADM fica em situação melhor usando a estratégia de trair sempre, qualquer que seja a estratégia da rival: garante um lucro de $200 milhões, ou $160 milhões (qual dos dois ganhos ela de fato tem depende de a estratégia da Ajinomoto ser trair sempre ou toma lá dá cá). É melhor do que seria se sua estratégia no primeiro ano fosse toma lá dá cá: ou $180 milhões ou $150 milhões. Mas, no segundo ano, a estratégia trapacear sempre resulta em apenas $160 milhões por ano para a ADM, no segundo e em todos os anos subsequentes, independente das ações da Ajinomoto.

PARA MENTES CURIOSAS PRISIONEIROS DA CORRIDA ARMAMENTISTA Entre a Segunda Guerra Mundial e o fim dos anos 1980, os Estados Unidos e a União Soviética ficaram presos em uma batalha aparentemente interminável que nunca chegou a irromper em guerra aberta. Durante essa Guerra Fria, os dois países gastaram somas enormes em armamentos, somas que foram um dreno significativo para a economia dos Estados Unidos e que se revelou como carga insuportável para a União Soviética, cuja base econômica subjacente era muito mais fraca. No entanto, nenhum dos dois países jamais foi capaz de alcançar uma vantagem militar decisiva. Como apontado por muita gente, as duas nações teriam ficado em situação muito melhor se tivessem gasto menos em armamento. No entanto, a corrida armamentista continuou por 40 anos. Por quê? Como os cientistas políticos logo perceberam, uma maneira de explicar a corrida armamentista seria supor que os dois países estavam encurralados em um dilema do prisioneiro clássico. Cada governo queria alcançar superioridade militar decisiva, e cada um temia a inferioridade

militar. Mas ambos prefeririam um impasse com gasto militar baixo do que com gasto militar alto. No entanto, cada governo racionalmente escolheu o gasto elevado. Se o rival não gastasse tanto, seu próprio gasto alto levaria à superioridade militar; não gastar tanto levaria à inferioridade militar caso o outro governo continuasse se armando. Assim, os países estavam em uma armadilha. A resposta a essa armadilha poderia ter sido um acordo para não gastar tanto. De fato, os dois lados repetidamente tentaram negociar limites para alguns tipos de armas. Mas esses acordos não eram muito eficazes. No final, o problema foi resolvido, quando os gastos militares pesados aceleraram o colapso da União Soviética em 1991. Infelizmente, a lógica da corrida armamentista não desapareceu. Desenvolveu-se uma corrida armamentista nuclear entre o Paquistão e a Índia, países vizinhos com uma história de antagonismo mútuo. Em 1998, os dois países confirmaram a lógica implacável do dilema dos prisioneiros: os dois fizeram o teste de suas armas nucleares em uma sequência de estratégias Toma lá dá cá, cada um buscando provar ao outro que poderia infligir tanto dano quanto seu rival.

Ao longo do tempo, o montante total ganho pela ADM, usando a estratégia trapacear sempre é menor do que o montante que ganharia com a estratégia toma lá dá cá: para o segundo e todos os anos subsequentes, nunca obteria menos que $160 milhões e ganharia $180 milhões no caso de a estratégia da Ajinomoto ser também toma lá dá cá. Qual das duas estratégias é mais lucrativa depende de duas coisas: quantos anos a ADM espera participar do jogo e que estratégia sua rival adotará. Se a ADM espera que o comércio de lisina irá acabar em um futuro próximo, será um jogo de lance único. Assim, poderá muito bem trapacear e agarrar o quanto pode. Mesmo que a ADM espere permanecer no negócio de lisina por muitos anos (portanto, estará jogando repetidamente esse jogo com a Ajinomoto) e, por alguma razão, espere que a Ajinomoto vá trair sempre, ela também deverá trair sempre. Ou seja, a ADM irá seguir a velha regra: “Faça aos outros antes que façam com você.” Mas se a ADM espera permanecer no negócio por muito tempo e acha que a estratégia da Ajinomoto será toma lá dá cá, terá mais lucro no longo prazo jogando toma lá dá cá, também. Ela poderia ter algum lucro extra de curto prazo traindo o acordo no início, mas isso levaria a Ajinomoto a trair também e, no final, significaria lucros mais baixos.

A lição dessa história é que quando os oligopolistas esperam competir um com o outro durante um período prolongado, muitas vezes, cada empresa individual concluirá que é do seu próprio interesse ser cooperativa com as outras empresas do setor. Então, restringirá a quantidade de produto de forma a aumentar os lucros das outras empresas, esperando que elas retribuam o favor. Apesar do fato de que as empresas não têm nenhuma maneira de fazer um acordo vinculativo para limitar a quantidade de produto e aumentar os preços (e estarão em perigo legal se apenas discutirem preços), tentam agir “como se” tivessem um acordo desse tipo. Quando isso acontece, dizemos que as empresas estão envolvidas em colusão tácita.

economia em ação Ascensão, queda e ascensão da OPEP

Eis um cartel que não precisa se reunir em segredo. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo, normalmente referida como OPEP, inclui 12 governos nacionais (Argélia, Angola, Equador, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela), controla 40% das exportações de petróleo no mundo e 80% das reservas provadas. Dois outros países exportadores de petróleo, Noruega e México, não tomam parte formalmente do cartel, mas agem como se tomassem. (Rússia, também um importante exportador de petróleo, ainda não faz parte do clube.) Ao contrário das corporações, que, muitas vezes, são legalmente proibidas pelos governos de fazer acordos sobre produção e preços, os governos nacionais podem falar do que quiserem. Os membros da OPEP reúnem-se rotineiramente para tentar estabelecer metas de produção. Essas nações não são particularmente amigas umas das outras. De fato, dois membros da OPEP, Iraque e Irã, travaram uma guerra sangrenta na década de 1980. E, em 1990, o Iraque invadiu outro membro da OPEP, o Kuwait. (Uma força principalmente americana, baseada em outro membro da OPEP, a Arábia Saudita, expulsou os iraquianos do Kuwait.) No entanto, os membros da OPEP, gostem ou não, são efetivamente jogadores em um jogo com interações repetidas. Em qualquer ano dado, o

interesse combinado dessas nações é manter a quantidade de produto baixa e os preços elevados. Mas também é do interesse de qualquer produtor enganar os demais e produzir mais do que a parcela acordada – a menos que o produtor acredite que tal ação irá trazer retaliação futura. Então, qual é o sucesso do cartel? Bem, tem seus altos e baixos. Os analistas estimam que de 12 reduções de cotas anunciadas, a OPEP foi capaz de defender com sucesso seu piso de preço 80% do tempo. A Figura 14-4 mostra o preço do petróleo em dólares constantes (isto é, o valor do barril de petróleo em termos de outros bens) desde 1949. A OPEP mostrou a força pela primeira vez em 1974: no rescaldo da guerra no Oriente Médio, inúmeros produtores da OPEP limitaram sua produção e gostaram tanto do resultado que decidiram continuar a prática. Depois de uma segunda onda de turbulência, logo após a revolução do Irã de 1979, os preços subiram ainda mais. Porém, em meados da década de 1980, houve um excesso crescente de petróleo no mercado mundial, e se tornou comum a trapaça pelos membros da OPEP com falta de divisas. Em 1985, o resultado foi que os produtores que tentavam cumprir as regras do jogo – especialmente a Arábia Saudita, o maior produtor, se cansaram, e se deu o colapso da colusão. FIGURA 14-4

Preços do petróleo bruto, 1949-2011 (em dólares constantes de 2005)

O cartel começou a atuar de forma eficaz novamente no final da década de 1990, em grande parte graças aos esforços do ministro do petróleo do México em orquestrar reduções de produção. As ações do cartel ajudaram a elevar o preço do barril de petróleo de menos de $10 em 1998, para uma faixa entre $20 e $30 o barril, em 2003. Desde 2008, a OPEP tem experimentado a mais íngreme montanha-russa de preços do petróleo de sua história. Em 2008, os preços subiram para mais de $145 o barril. Mas, no final de 2008, o ano da Grande Recessão entre 2007 e 2009, o preço caiu drasticamente para $32 por barril. Em resposta, os produtores se comprometeram a reduzir a produção em cerca de 5% da produção mundial, com a Arábia Saudita, o maior exportador do mundo, lidando com cortes de 20% na produção. No início de 2009, os preços começaram a se recuperar. Mais recentemente, a OPEP tem lutado para conter seu sucesso. Em 2011, a turbulência política em vários países do Oriente Médio fez os preços dispararem novamente. Com outros produtores relutantes ou incapazes de aumentar sua produção, em junho de 2011, a Arábia Saudita aumentou a produção, para prevenir a escassez no mercado mundial de petróleo.

BREVE REVISÃO Os economistas usam a teoria dos jogos para estudar o comportamento das empresas quando há interdependência entre seus ganhos. O jogo pode ser representado por uma matriz de ganhos. Dependendo dos ganhos, um jogador pode ou não ter uma estratégia dominante. Quando cada empresa tem um incentivo para trapacear, mas ambas ficam em situação pior quando trapaceiam, a situação é conhecida como dilema dos prisioneiros. Os jogadores que não levam em consideração a interdependência chegam ao equilíbrio de Nash ou não cooperativo. Mas quando o jogo é feito repetidamente, os jogadores podem-se envolver em comportamento estratégico, sacrificando o lucro de curto prazo para influenciar o comportamento futuro. Em jogos repetidos do tipo dilema dos prisioneiros, toma lá dá cá, muitas vezes, é uma boa estratégia, levando à colusão tácita com sucesso.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 14-3 1. Determine as ações de equilíbrio de Nash (não cooperativo) para a seguinte matriz de ganhos. Que ações maximizam os ganhos totais de Nikita e Margaret? Por que é improvável que irão escolher as ações, sem algum tipo de comunicação?

2. Que fatores tornam mais provável que os oligopolistas joguem de forma não cooperativa? Que fatores tornam mais provável que se envolvam em colusão tácita? Explique. a. Cada oligopolista espera que várias empresas novas entrem no mercado no futuro. b. É muito difícil para uma empresa detectar se outra empresa aumentou a quantidade de produto. c. As empresas têm coexistido, mantendo os preços elevados, por um longo tempo. As respostas estão no fim do livro.

OLIGOPÓLIO NA PRÁTICA Na seção Economia em ação do início do capítulo, descrevemos como as sete principais empresas de chocolate entraram supostamente em conluio para aumentar os preços por muitos anos. Felizmente, colusão não é a norma. Mas, na prática, como os oligopólios geralmente funcionam? A resposta depende tanto do marco legal que limita o que as empresas podem

fazer como da capacidade subjacente das empresas de determinado setor de cooperar sem acordos formais. O marco legal

Para entender como os oligopólios fixam preços na prática, é preciso nos familiarizarmos com as restrições legais ao abrigo das quais as empresas oligopolísticas operam. A primeira vez que o oligopólio surgiu como problema nos Estados Unidos, foi durante a segunda metade do século XIX, quando a expansão das ferrovias – setor oligopolístico em si – criou um mercado nacional para muitos bens. Logo surgiram grandes empresas produtoras de petróleo, aço e muitos outros produtos. Os industriais perceberam rapidamente que o lucro poderia ser mais elevado se pudessem limitar a concorrência de preços. Assim, muitos setores formaram cartéis, ou seja, assinaram acordos formais limitando a produção e aumentando os preços. Até 1890, quando a primeira legislação federal contra esses cartéis foi aprovada, era perfeitamente legal. No entanto, embora esses cartéis fossem legais, não podiam ser impostos por lei – membros de um cartel não podiam pedir aos tribunais para forçar uma empresa que estava violando o acordo a reduzir a quantidade produzida. E, muitas vezes, as empresas violavam os acordos, pela razão já sugerida pelo exemplo do duopólio: há sempre uma tentação das empresas em um cartel de produzir mais do que o devido. Em 1881, advogados habilidosos da Standard Oil Company de John D. Rockefeller criaram uma solução – o assim chamado truste. Em um truste, os acionistas de todas as grandes empresas de um setor colocavam suas ações nas mãos de um conselho de administração que controlava as empresas. Isso, de fato, fundia as empresas em uma única empresa que poderia, então, fixar preços como um monopólio. Dessa forma, a Standard Oil Trust estabeleceu o que era essencialmente um monopólio do setor de petróleo, e logo foi seguido de trustes do açúcar, uísque, chumbo, óleo de algodão e óleo de linhaça. No final, houve uma reação pública, em parte impulsionada pela preocupação com os efeitos econômicos da evolução dos trustes, em parte por medo de que os proprietários dos trustes estivessem se tornando muito

poderosos. O resultado foi a lei antitruste de Sherman de 1890, que se destinava tanto a evitar a criação de mais monopólios como a acabar com os já existentes. A princípio, essa lei foi amplamente descumprida. Mas ao longo das décadas que se seguiram, o governo federal tornou-se cada vez mais comprometido em dificultar que os setores oligopolistas se tornassem monopólios ou se comportassem como tal. Tais esforços são conhecidos até hoje como política antitruste. Uma das ações iniciais mais marcantes da política antitruste foi a dissolução da Standard Oil em 1911. (Seus componentes constituem o núcleo de muitas das grandes empresas de petróleo de hoje – a Standard Oil de New Jersey tornou-se Exxon, a Standard Oil de Nova York tornou-se Mobil, e assim por diante.) Na década de 1980, um processo de longa duração levou à dissolução da Bell Telephone, que já teve o monopólio do serviço de telefonia de longa distância nos Estados Unidos. Como já mencionado anteriormente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos examina as propostas de fusão entre empresas do mesmo setor e barra as que acredita que irão reduzir a concorrência. Entre os países avançados, os Estados Unidos são um país único na longa tradição de política antitruste. Até recentemente, outros países avançados não tinham políticas contra a fixação de preços, e alguns até apoiavam a criação de cartéis, acreditando que isso ajudaria suas empresas contra as rivais estrangeiras. Mas a situação mudou radicalmente nos últimos 25 anos, quando a União Europeia (UE), um organismo supranacional encarregado de fazer cumprir a política antitruste em seus países-membros, convergiu na direção das práticas americanas. Hoje, os reguladores da União Europeia e dos Estados Unidos muitas vezes visam as mesmas empresas, pois a fixação de preços “tornou-se global” à medida que o comércio internacional se expandiu.

COMPARAÇÃO GLOBAL

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CONTRAPOSIÇÃO DE ABORDAGENS DE REGULAMENTOS ANTITRUSTE Na União Europeia, a comissão de concorrência impõe regulação de concorrência e antitruste para os 27 países-membros. A comissão tem autoridade para bloquear fusões, forçar as empresas a vender subsidiárias e impor multas pesadas se verifica que as empresas agiram de forma injusta para inibir a concorrência. Embora as empresas sejam capazes de contestar acusações em audiência, uma vez emitida a queixa, se a comissão considera o caso convincente, regulamenta contra a empresa e aplica penalidade. Empresas que acreditam que foram tratadas de forma injusta, têm apenas recurso limitado. Os críticos se queixam que a comissão atua como promotor, juiz e júri. Em contrapartida, as acusações de concorrência desleal nos Estados Unidos devem ser realizadas em tribunal, onde os advogados da Comissão Federal de Comércio têm de apresentar as provas para juízes independentes. As empresas empregam legiões de advogados altamente treinados e bem pagos para combater o caso do governo. Para os reguladores americanos, não há nenhuma garantia de sucesso. Na verdade, em muitos casos, os juízes vão a favor das empresas e contra os reguladores. Além disso, as empresas podem recorrer das decisões desfavoráveis, e o veredito final pode levar vários anos. Não é surpresa que as empresas preferem o sistema americano. A figura a seguir esclarece o motivo. Nos últimos anos, em média, as multas por concorrência desleal têm sido mais altas na União Europeia do que nos Estados Unidos. Os observadores, no entanto, criticam os dois sistemas por inadequação. No sistema americano de baixa movimentação, litigioso e caro, os consumidores e as empresas rivais podem esperar muito tempo para garantir proteção. E as empresas costumam prevalecer, levantando questões sobre o quanto os consumidores estão bem protegidos. Mas alguns acusam que o sistema da União Europeia oferece proteção inadequada às empresas que são acusadas. Essa é uma preocupação particular do setor de alta tecnologia, onde as externalidades de rede fortes e rivais podem usar queixas de concorrência desleal e prejudicar os concorrentes.

Fontes: Comissão Europeia, “Report on Competition Policy”, 2005-2010; Department of Justice Workload Statistics; Federal Reserve Bank of St. Louis (dados da taxa de câmbio).

Durante o início da década de 1990, os Estados Unidos instituíram um programa de anistia, em que uma empresa fixadora de preço recebia penalidade bem reduzida quando informavam sobre seus coconspiradores de fixação de preços. Além disso, o Congresso americano aumentou substancialmente as penas máximas cobradas após a condenação. Essas duas novas políticas claramente transformam a denúncia dos parceiros de cartel em estratégia dominante, e tem valido a pena: nos últimos anos, executivos da Bélgica, da Grã-Bretanha, do Canadá, da França, da Alemanha, da Itália, do México, da Holanda, da Coreia do Sul e da Suíça, bem como dos Estados Unidos, foram condenados nos tribunais dos Estados Unidos por crimes de cartel. Como um advogado comentou: “você começa uma corrida para o tribunal”, na medida em que cada conspirador procura ser o primeiro a ficar limpo. A vida está muito mais difícil nos últimos anos para se operar um cartel. Então, o que um oligopolista faz? Conluio tácito e guerra de preços

Se um setor fosse tão simples como o exemplo da lisina, provavelmente não seria necessário que os presidentes das empresas se reunissem ou fizessem qualquer coisa que os colocassem em risco de parar na cadeia. As duas empresas perceberiam que era de interesse mútuo restringir a quantidade de produto a 30 milhões de quilos cada, e que os ganhos de curto prazo de cada empresa de produzir mais seriam muito menores do que as perdas posteriores quando a outra empresa retaliasse. Assim, mesmo sem qualquer acordo explícito, as empresas provavelmente atingiriam a colusão tácita necessária para maximizar os lucros combinados. Os setores reais estão longe de ser tão simples. No entanto, na maioria dos setores oligopolísticos, e na maioria das vezes, os vendedores parecem ter sucesso em manter os preços acima do nível não cooperativo. Em outras palavras, colusão tácita é o estado normal do oligopólio. Apesar de colusão tácita ser comum, raramente permite que um setor empurre os preços até o nível de monopólio; a colusão geralmente está longe de ser perfeita. Como discutiremos a seguir, uma série de fatores torna difícil para um setor coordenar preços elevados. Menos concentração

Em um setor menos concentrado, a empresa típica terá uma parcela de mercado menor do que em um setor mais concentrado. Isso conduz as empresas em direção a um comportamento não cooperativo, porque quando uma empresa menor trapaceia e aumenta a quantidade de produto, obtém para si todo o lucro da produção maior. E se os seus rivais retaliam aumentando a quantidade de produto, as perdas da empresa são limitadas em virtude de sua parcela de mercado relativamente modesta. Um setor menos concentrado muitas vezes é uma indicação de que há pouca barreira à entrada. Complexidade do produto e da estrutura de preços

No exemplo da lisina, as duas empresas produzem apenas um produto. Na realidade, porém, os oligopolistas, muitas vezes, vendem milhares ou mesmo dezenas de milhares de produtos diferentes. Nessas circunstâncias, é difícil controlar o que as outras empresas estão produzindo e os preços que

estão cobrando. Isso torna difícil determinar se uma empresa está trapaceando o acordo tácito. Diferenças de interesses

No exemplo da lisina, um acordo tácito para que as empresas dividissem o mercado era um resultado natural, que tendia a ser aceitável para as duas partes. Na realidade, no entanto, as empresas, muitas vezes, diferem tanto na percepção do que é justo e de quais são seus interesses reais. Por exemplo, suponha que a Ajinomoto seja um produtor de lisina que está há muito tempo no mercado e que a ADM esteja entrando recentemente. A Ajinomoto pode achar que merece continuar produzindo mais que a ADM, mas a ADM pode achar que tem direito a 50% do negócio. (Uma discordância desse tipo era um dos contenciosos daquelas reuniões que o FBI estava filmando.) Ou suponha que os custos marginais da ADM sejam menores do que os da Ajinomoto. Mesmo que elas pudessem concordar quanto à participação de mercado, discordariam sobre o nível de produto que maximiza o lucro da produção. Poder de barganha dos compradores

Com frequência, os oligopolistas vendem não para consumidores individuais, mas para grandes empresas – outras empresas industriais, cadeias de lojas com cobertura nacional, e assim por diante. Esses grandes compradores têm condição de barganhar preços mais baixos com os oligopolistas: podem pedir um desconto ao oligopolista e advertir que irão ao concorrente se não obtiverem. Uma razão importante de que grandes varejistas como a Walmart conseguem oferecer preços mais baixos aos clientes do que os varejistas menores é justamente sua capacidade de usar seu tamanho para extrair preços mais baixos dos fornecedores. Essa dificuldade em fazer cumprir a colusão tácita, por vezes, leva as empresas a desafiar a lei e criar cartéis ilegais. Já examinamos os casos do setor de lisina e do setor de chocolate. Um exemplo clássico, mais antigo, foi a conspiração de equipamento elétrico nos Estados Unidos na década de 1950, que levou ao indiciamento e sentença de prisão para alguns

executivos. Nesse setor, a colusão tácita era especialmente difícil por causa de todos os motivos já mencionados. Havia muitas empresas; 40 foram indiciadas. Elas produziam um conjunto muito variado de produtos, na maioria das vezes, feitos sob medida para clientes específicos. Diferiam muito em tamanho, de gigantes como a General Electric a empresas familiares com apenas algumas dezenas de funcionários. E os clientes, em muitos casos, eram grandes compradores como empresas de eletricidade, que normalmente tentam forçar os fornecedores a concorrer pelo seu negócio. A colusão tácita não parecia prática, de modo que os executivos se reuniram secreta e ilegalmente para decidir quem cobraria que preço de cada contrato. Como a colusão tácita, muitas vezes, é difícil de alcançar, a maioria dos oligopólios cobra preços que estão muito abaixo do que o mesmo setor cobraria se fosse controlado por um monopolista – ou o que iriam cobrar se fossem capazes de se envolver em colusão explícita. Além disso, às vezes, o conluio se rompe e há uma guerra de preços. Uma guerra de preços, por vezes, leva a um colapso dos preços até o nível não cooperativo. Às vezes, chegam até mesmo abaixo desse nível, quando os vendedores tentam expulsar uns aos outros do setor ou pelo menos punir os que consideram traidores. Diferenciação de produto e liderança de preço

Lisina é lisina: não havia dúvida de que a ADM e a Ajinomoto estavam produzindo o mesmo produto e que os consumidores escolheriam onde comprar lisina com base no preço. No entanto, em muitos oligopólios, as empresas produzem bens que os consumidores consideram semelhantes, mas não idênticos. Uma diferença de $10 no preço não vai fazer o consumidor mudar da Ford para a Chrysler, ou vice-versa. Às vezes, as diferenças entre os produtos são reais, como a diferença entre alguns tipos de cereais; às vezes, diferenças como entre marcas de vodca (que se supõe que não tem gosto), existem principalmente na mente dos consumidores. De qualquer forma, o efeito é reduzir a intensidade da concorrência entre as empresas: todos os consumidores não vão correr para comprar o produto que é mais barato.

Como se pode imaginar, os oligopolistas acolhem o poder de mercado extra que advém do fato de os consumidores acharem que seu produto é diferente daquele dos concorrentes. Assim, em muitos setores oligopolistas, as empresas fazem esforço considerável para criar a percepção de que seu produto é diferente, ou seja, dedicam-se à diferenciação do produto. Uma empresa que tenta diferenciar seu produto pode fazê-lo alterando o que realmente produz, acrescentando “extras” ou escolhendo um design diferente. Também pode usar campanhas de publicidade e marketing para criar a diferenciação na mente dos consumidores, apesar de seu produto ser mais ou menos idêntico aos dos rivais. Um caso clássico de como os produtos podem ser percebidos como diferentes, mesmo quando são realmente muito parecidos, é a medicação vendida sem receita. Durante anos, havia apenas três analgésicos amplamente vendidos – aspirina, ibuprofeno e paracetamol. No entanto, esses analgésicos genéricos eram comercializados sob uma série de nomes de marcas, cada uma com uma campanha de marketing que supunha alguma superioridade especial (um dos slogans mais conhecidos era “contém o analgésico que os médicos mais recomendam”, isto é, aspirina). Qualquer que seja a natureza da diferenciação do produto, os oligopolistas que produzem produtos diferentes, muitas vezes, chegam a um entendimento tácito de não competir em matéria de preço. Por exemplo, no tempo em que a grande maioria dos carros vendidos nos Estados Unidos era produzida pelas chamadas Três Grandes da indústria automobilística (General Motors, Ford e Chrysler), havia uma espécie de regra não escrita de que nenhuma das três empresas tentaria ganhar participação no mercado oferecendo carros muito mais baratos do que as outras. Mas, então, quem decidia o preço dos carros em geral? A resposta é que, normalmente, a General Motors: como a maior das três, anunciava os preços para o ano em primeiro lugar e as outras empresas se igualavam. Esse padrão de comportamento, em que uma empresa tacitamente fixa preços para o setor como um todo, é conhecido como liderança de preço. Curiosamente, as empresas que têm acordo tácito de não competir em preço, muitas vezes, se dedicam a uma vigorosa competição extrapreço – acrescentando características novas aos seus produtos, gastando grandes

somas em anúncios que proclamam a inferioridade das ofertas das rivais, e assim por diante. Talvez a melhor maneira de compreender o misto de cooperação e concorrência nesses setores seja com uma analogia política. Durante a longa Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, os dois países envolveram-se em rivalidade intensa por influência global. Não só forneciam ajuda financeira e militar aos aliados, algumas vezes apoiavam forças tentando derrubar governos aliados do rival (como a União Soviética fez no Vietnã, na década de 1960 e início de 1970, e como os Estados Unidos fizeram no Afeganistão de 1979 até o colapso da União Soviética, em 1991). Chegaram a enviar os próprios soldados para apoiar governos aliados contra os rebeldes (como os Estados Unidos fizeram no Vietnã e a União Soviética no Afeganistão). Mas não entraram em confronto militar direto entre si; uma guerra aberta entre as duas superpotências era considerada muito perigosa e era tacitamente evitada. Guerras de preços não são tão sérias quanto guerras de tiro, mas o princípio é o mesmo. Qual a importância do oligopólio?

Vimos que, em todos os setores, oligopólio é muito mais comum do que qualquer concorrência perfeita ou monopólio. Quando tentamos analisar o oligopólio, a forma usual de raciocínio dos economistas – ao questionar como os indivíduos com interesse próprio se comportariam e, então, analisando sua interação – não funciona tão bem como esperaríamos porque não sabemos se as empresas rivais vão se envolver em comportamento não cooperativo ou em algum tipo de conluio. Dada a prevalência do oligopólio, a análise que desenvolvemos nos capítulos anteriores, baseada em concorrência perfeita, ainda é útil? A conclusão da grande maioria dos economistas é que sim. Por um lado, partes importantes da economia são muito bem descritas pela concorrência perfeita. E mesmo que muitos setores sejam oligopolistas, em muitos casos, os limites para o conluio mantêm os preços relativamente próximos aos custos marginais – em outras palavras, o setor se comporta “quase” como se estivesse em concorrência perfeita.

Também é verdade que as previsões da análise da oferta e da demanda, muitas vezes, são válidas para os oligopólios. Por exemplo, no Capítulo 5, vimos que o controle de preços produziria escassez. A rigor, essa conclusão é certa apenas para setores em concorrência perfeita. Mas, na década de 1970, quando o governo dos Estados Unidos impôs controle de preços sobre o setor de petróleo que definitivamente é oligopolista, o resultado foi de fato gerar escassez e filas nas bombas de gasolina. Então, qual o grau de importância de se considerar o oligopólio? A maioria dos economistas adota uma abordagem pragmática. Como vimos neste capítulo, a análise do oligopólio é bem mais difícil e confusa do que a da concorrência perfeita. Por isso, em situações onde não se espera que as complicações associadas ao oligopólio sejam cruciais, os economistas preferem adotar em seu trabalho a hipótese de mercados em concorrência perfeita. Sempre se leva em conta a possibilidade de que o oligopólio possa ser importante; reconhecem que há questões fundamentais, desde política antitruste a guerras de preços, em que tentar entender o comportamento oligopolista é fundamental. Vamos adotar a mesma abordagem nos capítulos subsequentes.

economia em ação Guerras de preços natalinas

Durante os últimos natais, as seções de brinquedos dos varejistas nos Estados Unidos foram palco de concorrência acirrada: na temporada de compras natalinas de 2011, o preço da boneca Elmo na Target era $0,89 a menos que no Walmart (para os que tinham cupom de desconto), e $6 a menos do que na Toys “R” Us. A redução de preços foi tão extrema que desde 2003 três revendedoras de brinquedos – kB Toys, FAO Schwartz e Zany Brainy – foram forçadas a declarar falência. Em virtude da agressiva redução de preços pela Walmart, a parcela de mercado da Toys “R” Us caiu de primeiro para terceiro. O que está acontecendo? A turbulência pode ser atribuída tanto ao próprio setor de brinquedos como à variação na comercialização de brinquedos. Todos os anos, há vários anos, a venda total de brinquedos tem

caído alguns pontos percentuais à medida que as crianças se voltam cada vez mais para videogames e Internet. Houve também novos entrantes no setor de brinquedos: Walmart e Target expandiram o número de lojas e foram agressivos no corte de preços. O resultado é parecido com uma história de colusão tácita que se reverteu: como todo o setor está em situação de declínio e há novos entrantes, está encolhendo o ganho de conluio futuro. O resultado previsível é uma guerra de preços. Como os varejistas dependem das vendas de Natal para quase metade das vendas anuais, nessa época, a guerra de preços é particularmente intensa. Tradicionalmente, nos Estados Unidos, o dia de maiores compras do ano é o dia depois do feriado de Ação de Graças. Mas, em um esforço de expandir as vendas e ganhar dos rivais, os varejistas – especialmente a Walmart – começam com a redução de preços bem antes. Hoje em dia, inicia no início de novembro, bem antes do feriado de Ação de Graças. De fato, no início de novembro de 2010, a Walmart reduziu os preços dos brinquedos alguns centavos em relação aos preços da Target. Em resposta, a Target colocou cerca de metade dos seus 2 mil brinquedos em liquidação, o dobro do montante do ano anterior. Em vez disso, a Toys “R” Us baseou-se em uma seleção de brinquedos exclusivos para evitar a concorrência direta de preços. Com outros varejistas sentindo que não têm escolha a não ser seguir esse modelo, temos o fenômeno conhecido como “desmoronamento dos preços de Natal”: a guerra de preços do Natal chega mais cedo a cada ano.

BREVE REVISÃO Os oligopólios operam com restrições legais na forma de política antitruste. Mas muitos conseguem chegar a uma colusão tácita. A colusão tácita é limitada por uma série de fatores, incluindo grande número de empresas, preços e produtos complexos e diferenças de interesse entre empresas e poder de barganha dos compradores. Quando a colusão se rompe, há uma guerra de preços. Para limitar a concorrência, os oligopolistas, muitas vezes, se dedicam a fazer diferenciação do produto. Quando os produtos são diferenciados, às vezes, é possível para um setor alcançar a colusão tácita por meio da liderança de preço. Muitas vezes, os oligopolistas evitam competir diretamente quanto ao preço, envolvendo-se, em vez disto, em competição extrapreço através de

publicidade e outros meios.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 14-4 1. Qual dos seguintes fatores é suscetível de apoiar a conclusão em que há colusão tácita no setor? Qual não é? Explique. a. Durante muitos anos, o preço no setor tem variado pouco e todas as empresas do setor cobram o mesmo preço. A maior empresa publica um catálogo contendo os preços de varejo “sugeridos”. As variações de preço coincidem com as variações no catálogo. b. Houve uma variação considerável na participação de mercado das empresas do setor ao longo do tempo. c. As empresas do setor introduziram características desnecessárias em seus produtos que tornam mais difícil para os consumidores mudar dos produtos de uma empresa para os produtos da outra. d. As empresas se reúnem anualmente para discutir a previsão de venda anual. e. As empresas tendem a ajustar seus preços para cima na mesma época. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Virgin Atlantic denuncia em troca de imunidade

O Reino Unido é o lar de duas empresas aéreas de longa distância (que voam entre continentes): British Airways e sua rival, a Virgin Atlantic. Embora a British Airways seja a empresa dominante, com uma participação de mercado geralmente entre 50% e 100% nas rotas entre Londres e várias cidades americanas, a Virgin é uma concorrente tenaz. A rivalidade entre as duas variou de relativamente pacífica para abertamente hostil ao longo dos anos. Na década de 1990, a British Airways perdeu um processo judicial que alegava que tinha se envolvido em “truques sujos” para tirar a Virgem do páreo. Contudo, em abril de 2010, é provável

que a British Airways tenha se perguntado se os ventos não mudaram de direção. Tudo começou em meados de julho de 2004, quando os preços do petróleo estavam subindo (companhias aéreas de longa distância são especialmente vulneráveis à subida do preço do petróleo). Os promotores britânicos alegaram que as duas companhias haviam planejado cobrar dos passageiros as sobretaxas do combustível. De acordo com os promotores, nos dois anos seguintes, as rivais haviam estabelecido um cartel através do qual coordenavam aumentos com sobretaxas. A British Airways introduziu pela primeira vez uma sobretaxa de £5 ($8,25) em voos de longa distância, quando o barril de petróleo era negociado por $38. Aumentou a sobretaxa seis vezes, de modo que, em 2006, quando o petróleo era negociado a $69 o barril, a tarifa era £70 ($115). Ao mesmo tempo, a Virgin Atlantic também cobrava uma tarifa de £70. Essas sobretaxas aumentavam com poucos dias de intervalo. No final, três executivos da Virgen decidiram denunciar em troca de imunidade. A British Airways suspendeu imediatamente seus executivos sob suspeita e pagou multa de cerca de $500 milhões para os Estados Unidos e para as autoridades do Reino Unido. E, em 2010, quatro executivos da British Airways foram processados pelas autoridades britânicas pelo papel alegado desempenhado na conspiração. Os advogados dos executivos afirmavam que, embora as duas companhias aéreas tenham trocado informações, isso não era prova de conspiração criminal. Na verdade, argumentavam que a Virgin estava tão temerosa dos reguladores americanos que admitiu o comportamento criminoso antes mesmo da confirmação de ser realmente um delito. Um dos advogados de defesa, Clare Montgomery, argumentou que como as leis dos Estados Unidos contra concorrência são muito mais duras do que as do Reino Unido, as empresas podem ser compelidas a fazer uma denúncia para evitar investigação. “É uma corrida”, disse ela. “Se não chegar até eles e confessar primeiro, não consegue imunidade. A única maneira de se proteger é ir até as autoridades, mesmo que não tenha [feito nada].” O resultado foi que os executivos da Virgen receberam imunidade tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido, mas os executivos da British Airways

ficaram sujeitos a procedimento legal (e possíveis penas de prisão por vários anos) em ambos os países. No final de 2011, o caso chegou a um final chocante – chocante para as autoridades da Virgin Atlantic e do Reino Unido. Ao citar e-mails em que a Virgin no final tinha sido forçada pelo tribunal a se entregar às autoridades, o juiz considerou que não havia provas suficientes de que algum dia houve conspiração entre as duas companhias aéreas. O tribunal ficou tão furioso que ameaçou rescindir a imunidade concedida aos três executivos da Virgen.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Explique por que a Virgin Atlantic e a British Airlines podem ter feito conluio em resposta ao aumento de preços do petróleo. O mercado era favorável à colusão ou não? 2. Como você determinaria se realmente ocorreu comportamento ilegal? O que poderia explicar esses eventos a não ser o comportamento ilegal? 3. Explique o dilema enfrentado pelas duas companhias aéreas, bem como por seus executivos individualmente.

• RESUMO 1. Muitos setores são oligopólios: existem apenas alguns vendedores. Em especial, o duopólio tem apenas dois vendedores. Em certa medida, os oligopólios existem pelas mesmas razões que existem os monopólios, mas de forma mais fraca. Caracterizam-se pela concorrência imperfeita: empresas competem, mas possuem poder de mercado. 2. A previsão do comportamento dos oligopolistas é uma charada. As empresas em um oligopólio podem maximizar o lucro combinado, agindo como cartel, estabelecendo níveis de produto para cada empresa, como se fossem um único monopolista. Na medida em que as empresas conseguem fazer isso, envolvem-se em colusão. Mas cada empresa individual tem um incentivo para produzir mais do que o previsto pelo arranjo – apresentando comportamento não cooperativo. 3. A situação de interdependência, em que o lucro de cada empresa depende visivelmente do que as outras empresas fazem, é o tema da

teoria dos jogos. No caso de um jogo com dois participantes, o ganho de cada jogador depende tanto de suas próprias ações quanto das ações do outro. Essa interdependência pode ser representada por uma matriz de ganhos. Dependendo da estrutura dos ganhos da matriz de ganhos, um jogador pode ter uma estratégia dominante – uma ação que seja sempre a melhor, independentemente das ações do outro jogador. 4. Duopolistas enfrentam determinado tipo de jogo conhecido como dilema do prisioneiro; se cada um age de forma independente em seu próprio interesse, o equilíbrio de Nash ou equilíbrio não cooperativo resultante será ruim para ambos. No entanto, as empresas que esperam participar de um jogo repetidamente tendem a adotar um comportamento estratégico, tentando influenciar as ações futuras uma das outras. A estratégia que parece funcionar bem em manter a colusão tática é toma lá dá cá. 5. A fim de limitar a capacidade dos oligopolistas de se envolverem em colusão e agir como monopolistas, a maioria dos governos adota políticas antitruste, destinadas a dificultar a colusão. Na prática, no entanto, a colusão tácita está bastante generalizada. 6. Uma variedade de fatores torna a colusão tácita difícil: grande número de empresas, produtos e preços complexos, diferenças de interesses e poder de barganha dos compradores. Quando a colusão tácita se rompe, há guerra de preços. Os oligopolistas tentam evitar a guerra de preços de várias maneiras, como através de diferenciação do produto e de liderança de preço, em que uma empresa estabelece os preços para o setor. Outra forma é a competição extrapreço, geralmente com publicidade.

• PALAVRAS-CHAVE Oligopólio, p. 346 Oligopolista, p. 346 Concorrência imperfeita, p. 346 Duopólio, p. 348 Duopolista, p. 348 Colusão p. 348 Cartel, p. 348 Comportamento não cooperativo, p. 349 Interdependência, p. 350 Teoria dos jogos, p. 351 Ganho, p. 351

Matriz de ganhos, p. 351 Dilema dos prisioneiros, p. 351 Estratégia dominante, p. 352 Equilíbrio de Nash, p. 352 Equilíbrio não cooperativo, p. 353 Comportamento estratégico, p. 353

• PROBLEMAS 1. A tabela a seguir apresenta os dados de participação de mercado recentes para o mercado de cereal matinal dos Estados Unidos. Empresa

Participação no mercado

Kellogg

30%

General Mills

26

PepsiCo (Quaker Oats)

14

Kraft

13

Private Label

11

Other

6

Fonte: Advertising Age.

a. Use os dados fornecidos para calcular o Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH) para o mercado. b. Com base no índice IHH, que tipo de estrutura de mercado apresenta o mercado cereal dos Estados Unidos? 2. A tabela a seguir mostra a demanda de vitamina D. Suponha que o custo marginal de produzir vitamina D seja zero.

Preço da vitamina D (por tonelada)

Quantidade de vitamina D demandada (toneladas)

$8

0

7

10

6

20

5

30

4

40

3

50

2

60

1

70

a. Suponha que a BASF seja a única produtora de vitamina D e aja como monopolista. Atualmente, produz 40 toneladas de vitamina D a $4 por tonelada. Se a BASF fosse produzir mais 10 toneladas, qual seria o efeito preço para a BASF? Qual seria o efeito quantidade? A BASF teria incentivo para produzir essas 10 toneladas adicionais? b. Agora suponha que a Roche entre no mercado produzindo também vitamina D e que o mercado seja um duopólio. BASF e Roche concordam em produzir 40 toneladas de vitamina D, 20 toneladas cada. A BASF não pode ser punida por se desviar do acordo com a Roche. Se apenas a BASF se desviasse do acordo e produzisse mais 10 toneladas, qual seria o efeito preço para ela? Qual seria o efeito quantidade? A BASF teria incentivo para produzir essas 10 toneladas adicionais? 3. O mercado do azeite de oliva em Nova York é controlado por duas famílias, Soprano e Contralto. As duas famílias não têm escrúpulos em eliminar qualquer outra família que tente entrar no mercado de azeite de oliva de Nova York. O custo marginal de produção de azeite de oliva é constante e igual a $40 por litro. Não há custo fixo. A tabela a seguir apresenta a demanda de mercado do azeite de oliva.

Preço do azeite de oliva (por litro)

Quantidade demanda de azeite de oliva (litros)

$100

1.000

90

1.500

80

2.000

70

2.500

60

3.000

50

3.500

40

4.000

30

4.500

20

5.000

10

5.500

a. Suponha que Soprano e Contralto formem um cartel. Para cada uma das quantidades indicadas na tabela, calcule a receita total para o cartel e a receita marginal de cada litro adicional. Quantos litros de azeite de oliva o cartel vende no total e a que preço? As duas famílias compartilham o mercado igualmente (cada uma produz metade da produção total do cartel). Qual é o lucro de cada família? b. Tio Junior, o chefe da família Soprano, quebra o acordo e vende 500 litros de azeite a mais do que o acordo do cartel. Supondo que a família Contralto mantenha o acordo, como isso afeta o preço do azeite de oliva e o lucro obtido por cada família? c. Anthony Contralto, o chefe da família Contralto, decide punir tio Junior, aumentando também as vendas em 500 litros. Qual é agora o lucro obtido por cada família? 4. O mercado de água mineral na França é controlado por duas grandes empresas, Perrier e Evian. Cada empresa tem um custo fixo de €1 milhão e um custo marginal constante de €2 por litro de água engarrafada. A tabela a seguir apresenta a demanda de mercado de água mineral na França.

Preço da água mineral

Quantidade de água mineral demandada (milhões de litros)

€10

0

9

1

8

2

7

3

6

4

5

5

4

6

3

7

2

8

1

9

a. Suponha que as duas empresas formam um cartel e agem como monopolistas. Calcule a receita marginal de cada cartel. Qual será o preço e a quantidade de produto de monopólio? Supondo que as empresas dividam o produto de maneira uniforme, quanto cada uma irá produzir e qual será o lucro de cada empresa? b. Agora, suponha que a Perrier decida aumentar a produção em 1 milhão de litros. A Evian não altera a produção. Qual será o novo preço de mercado e a quantidade de produto? Qual será o lucro da Perrier? Qual será o lucro da Evian? c. E se a Perrier aumenta a produção em 3 milhões de litros? A Evian não altera sua produção. Qual será a quantidade de produto e o lucro em relação ao item b? d. O que informa o resultado sobre a possibilidade de trapaça em tais acordos? 5. Para preservar os estoques de peixes do Atlântico Norte, foi decidido que apenas duas frotas pesqueiras, uma dos Estados Unidos e outra da União Europeia (UE), podem pescar nessas águas. A tabela ao lado mostra a demanda de mercado de peixe por semana dessas águas. O único custo é o fixo, de modo que as frotas pesqueiras maximizam o lucro por meio da maximização da receita.

Preço do peixe (quilo)

Quantidade de peixe demandada (quilos)

$17

1.800

16

2.000

15

2.100

14

2.200

12

2.300

a. Caso as duas frotas pesqueiras cheguem a uma colusão, qual será a quantidade de produto que maximiza a receita na indústria de pesca do Atlântico Norte? Por quanto será vendido o quilo do peixe? b. Se as duas frotas pesqueiras chegam a uma colusão e dividem a quantidade de produto da mesma forma, qual será a receita da frota da União Europeia? E a dos Estados Unidos? c. Suponha que a frota da União Europeia trapaceia, expandindo a pesca em 100 quilos por semana. A frota dos Estados Unidos não varia sua captura. Qual será a receita da frota da União Europeia? E a dos Estados Unidos? d. Em retaliação à traição da frota da União Europeia, a frota dos Estados Unidos também expande a pesca em 100 quilos por semana. Qual será a receita da frota dos Estados Unidos? E da frota da União Europeia? 6. Suponha que seja rompido o acordo de pesca do Problema 5, de modo que as frotas passem a se comportar de forma não cooperativa. Suponha que os Estados Unidos e a União Europeia possam ter uma ou duas frotas pesqueiras operando. Quanto mais frotas na área, tanto mais peixes se pode capturar, porém tanto mais baixa será a quantidade de cada frota. A matriz de ganhos a seguir mostra o lucro (em dólares) obtido por semana de cada lado.

a. Qual é o equilíbrio de Nash não cooperativo? Cada lado escolherá enviar uma ou duas frotas? b. Suponha que o estoque de pescado esteja se esgotando. Cada região pensa no futuro e chega a um acordo do tipo toma lá dá cá, pelo qual cada lado enviará apenas uma frota ao mar, desde que o outro lado faça o mesmo. Se qualquer dos lados trai o acordo e envia uma segunda frota, o outro fará o mesmo e continuará enviando duas frotas até que o concorrente envie apenas uma frota. Se ambos jogarem com essa estratégia toma lá dá cá, quanto de lucro por semana terá cada lado? 7. Duas companhias aéreas, Untied e Air “R” Us, são um tomador de preço, as únicas que operam voos entre Collegeville e Bigtown. Ou seja, operam em duopólio. Cada companhia pode cobrar pela passagem tanto um preço alto como baixo. A matriz de ganhos a seguir mostra os lucros por assento (em dólares), para qualquer escolha que as duas companhias aéreas façam.

a. Suponha que as duas companhias aéreas façam um jogo de um só lance – ou seja, interagem apenas uma vez e depois nunca mais. Qual será o equilíbrio de Nash (não cooperativo) nesse jogo de um só lance? b. Agora, suponha que as duas companhias aéreas façam esse jogo duas vezes e que cada companhia possa escolher uma de duas estratégias: pode jogar “sempre cobrar o preço baixo” ou “toma lá dá cá”, isto é, começa cobrando preço alto no primeiro período, e, em seguida, no segundo período, faz o que a outra companhia fez no período anterior. Informe os ganhos da Untied com as quatro possibilidades seguintes: i. A Untied joga sempre cobrar o preço baixo quando a Air “R” Us também joga sempre cobrar o preço baixo. ii. A Untied joga sempre cobrar o preço baixo quando a Air “R” Us joga toma lá dá cá. iii. A Untied joga toma lá dá cá, quando a Air “R” Us joga sempre cobrar o preço baixo. iv. A Untied joga toma lá dá cá, quando a Air “R” Us joga sempre cobrar o preço baixo.

8. Suponha que Coca-Cola e Pepsi sejam os únicos fabricantes de refrigerantes, ou seja, um duopólio. As duas empresas têm custo marginal zero e um custo fixo de $100.000. a. Suponha primeiro que os consumidores consideram que Coca-Cola e Pepsi sejam substitutos perfeitos. Atualmente as duas são vendidas por $0,20 a lata e a esse preço cada empresa vende 4 milhões de latas por dia. i. Quanto é o lucro da Pepsi? ii. Se a Pepsi aumenta o preço da lata para $0,30, e a Coca não responde, o que acontecerá com o lucro da Pepsi? b. Agora, suponha que cada empresa faça uma campanha publicitária para diferenciar seu produto do da outra empresa. Como resultado da publicidade, a Pepsi percebe que se aumenta ou baixa o preço, vende menos ou mais do seu produto, como mostra a tabela de demanda a seguir. Preço da Pepsi (por lata)

Quantidade de Pepsi demandada (milhões de latas)

$0,10

5

0,20

4

0,30

3

0,40

2

0,50

1

Se agora a Pepsi aumentar o preço para $0,30 a lata, o que acontecerá com seu lucro? c. Comparando a resposta do item a(i) com a da parte b, qual é a quantidade máxima que a Pepsi estaria disposta a gastar em publicidade? 9. Philip Morris e RJ Reynolds gastam enormes somas de dinheiro por ano na publicidade de seus produtos de tabaco, na tentativa de roubar clientes uma da outra. Suponha que a cada ano a Philip Morris e a RJ Reynolds têm que decidir se irão ou não gastar em publicidade. Se nenhuma delas fizer publicidade, cada uma terá um lucro de $2 milhões. Se ambas fizerem, cada uma terá um lucro de $1,5 milhão. Se uma empresa fizer publicidade e a outra não, a que fizer terá lucro de $2,8 milhões e a outra, de $1 milhão. a. Use uma matriz de ganhos para descrever esse problema. b. Suponha que a Philip Morris e a RJ Reynolds possam assinar um contrato de cumprimento obrigatório sobre o que farão. Qual será a solução cooperativa desse jogo? c. Qual é o equilíbrio de Nash, se for impossível fazer cumprir o contrato? Explique por que esse é o resultado mais provável.

Ao longo dos últimos 40 anos, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) teve êxito variável em formar e manter seu cartel. Explique como os fatores seguintes podem contribuir para a dificuldade de formar e/ou manter acordos de preço e de quantidade de produto. a. Novos campos de petróleo foram descobertos e a exploração no Golfo do México e no Mar do Norte aumentou pelos países não membros da OPEP. b. Petróleo bruto é um produto que se diferencia pelo teor de enxofre: custa menos refinar petróleo com baixo teor de enxofre. Diferentes países da OPEP possuem reservas de petróleo com diferente teor de enxofre. c. Foram desenvolvidos carros movidos a hidrogênio. 11. Suponha que você seja um economista trabalhando para a Divisão Antitruste do Departamento de Justiça. Em cada um dos seguintes casos, tem a tarefa de determinar se o comportamento merece uma investigação antitruste por suspeita de atos ilegais ou se é apenas um caso de colusão tácita, indesejável, mas não ilegal. Explique seu raciocínio. a. Duas empresas dominam o setor de equipamento industrial a laser. Várias pessoas estão na diretoria das duas empresas. b. Três bancos dominam o mercado de serviço bancário em determinado estado. Os lucros aumentaram recentemente, pois adicionaram novas tarifas nas transações dos clientes. Há muita publicidade entre os bancos, e em todos os lugares surgem novas agências. c. As duas companhias de petróleo que produzem a maior parte do petróleo na metade ocidental dos Estados Unidos decidiram não construir seus próprios oleodutos e compartilhar um em comum, o único meio de transporte de produtos do petróleo para esse mercado. d. As duas principais empresas que dominam o mercado de suplementos à base de plantas criaram uma subsidiária que vende o mesmo produto que a matriz em grande quantidade, mas com nome genérico. e. As duas maiores empresas de cartão de crédito, Passaport e OmniCard, solicitaram a todos os bancos e lojas que aceitam seus cartões que concordem em limitar o uso dos cartões de crédito rivais. 10.

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CAPÍTULO 15 » Concorrência monopolística e diferenciação de produto

DIFERENCIAÇÃO DO FAST-FOOD

m best-seller nos Estados Unidos, intitulado Fast Food Nation, contém um relato fascinante, ainda que bastante negativo sobre hambúrguer, pizza, taco e frango frito, alimentos que compõem grande parte da dieta americana moderna. De acordo com o livro, todas as cadeias de fast-food produzem e fornecem a comida praticamente da mesma maneira. Em especial, boa parte do gosto da comida – qualquer que seja – vem de aditivos produzidos em New Jersey. Mas cada cadeia de fast-food faz um esforço enorme para convencer as pessoas de que tem algo especial a oferecer. Como um sinal de como o McDonald’s cultiva sua imagem, todos conhecem o slogan do McDonald’s “Amo muito tudo isso!” – e sabem o que é um Big Mac ou um Quarteirão. Seus rivais Burger King e Wendy, enfatizam suas técnicas de cozinhar – Burger com seus “hambúrgueres grelhados” e Wendy com o “quente e suculento, elaborado como um hambúrguer à moda antiga” – para fazer os consumidores acreditarem que os seus hambúrgueres têm gosto melhor. Há alguns anos, Wendy foi tão longe com um apelo publicitário com uma velhinha gritando “Cadê a carne?” para destacar que seus hambúrgueres eram maiores (em comparação com os do McDonald’s). Então, como você descreveria a indústria de fast-food? Por um lado, é evidente que não é um monopólio. Quando se vai a uma praça de alimentação de fast-food, pode-se escolher entre várias opções disponíveis e

U

há uma verdadeira concorrência entre vários balcões de sanduíche e entre hambúrgueres e frango frito. Por outro lado, de certo modo, cada vendedor tem um aspecto de monopólio: em uma época, o McDonald’s tinha o slogan “Ninguém faz isso como o McDonald’s”. Isso era verdade, literalmente – embora seus concorrentes alegassem fazer melhor. Em qualquer caso, o importante é que cada fornecedor de fast-food oferece um produto que se diferencia dos produtos de seus concorrentes. No setor de fast-food, muitas empresas competem para satisfazer mais ou menos a demanda – o mesmo desejo dos consumidores de algo saboroso, mas rápido. Mas cada empresa quer satisfazer essa demanda com um produto distinto, diferenciado – produtos que os consumidores tipicamente consideram próximos, mas não substitutos perfeitos. Quando existem muitas empresas que oferecem produtos concorrentes, diferenciados, como na indústria de fast-food, os economistas dizem que o setor é caracterizado por concorrência monopolística. Essa é a quarta e última estrutura de mercado que iremos discutir, depois de concorrência perfeita, monopólio e oligopólio. Iniciaremos definindo concorrência monopolista com mais cuidado, explicando seus aspectos característicos. O que você vai aprender neste capítulo • O significado da concorrência monopolística. • Por que oligopolistas e diferenciam seus produtos.

empresas

em

concorrência

• Como os preços e os lucros são determinados monopolística no curto e no longo prazo.

em

monopolística concorrência

• Por que a concorrência monopolística representa um trade-off entre preços mais baixos e diversidade maior de produtos. • A importância econômica da publicidade e das marcas.

Em seguida, analisaremos como as empresas diferenciam seus produtos, o que nos permitirá avaliar como a concorrência monopolística funciona. O capítulo termina com uma discussão sobre algumas controvérsias em curso sobre diferenciação de produto – especialmente a questão de até que ponto a publicidade é eficaz.

Ê

SIGNIFICADO DE CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA Leo gerencia o balcão da Wonderful Wok, na praça de alimentação de um grande shopping. É o único que oferece comida chinesa no local, mas existe uma dúzia de alternativas, desde Bodacious Burgers até Pizza Paradise. Ao decidir quanto cobrar por uma refeição, Leo sabe que deve levar essas alternativas em consideração: mesmo quem gosta muito de comida chinesa não vai pagar $15 por um almoço no Leo quando pode comer hambúrguer com fritas e refrigerante por $4. Mas Leo também sabe que não vai perder todos os clientes, mesmo que seu almoço custe um pouco mais do que as alternativas. Comida chinesa não é a mesma coisa que hambúrgueres ou pizza. Algumas pessoas realmente vão querer comer comida chinesa naquele dia, e vão almoçar no Leo mesmo podendo comer mais barato em outros lugares. É claro que o inverso também é verdade: se a comida chinesa é um pouco mais barata, algumas pessoas, mesmo assim, vão querer hambúrgueres. Em outras palavras, Leo tem algum poder de mercado: tem alguma capacidade de fixar o próprio preço. Então, como você descreveria a situação de Leo? Definitivamente, não é um tomador de preço, de modo que não está em uma situação de concorrência perfeita. Mas também não se pode chamá-lo de monopolista. Embora seja o único vendedor de comida chinesa naquela praça de alimentação, enfrenta a concorrência de outros vendedores de comida. No entanto, seria errado chamá-lo de um oligopolista. Oligopólio, lembre-se, envolve a competição entre um pequeno número de empresas interdependentes em um setor protegido por alguma – embora limitada – barreira à entrada e cujos lucros são altamente interdependentes. Como seus lucros são altamente interdependentes, os oligopolistas têm um incentivo para se envolver em colusão, tácita ou explicitamente. Mas no caso de Leo existem muitos vendedores no shopping, muitos para tornar a colusão tácita viável. Os economistas descrevem a situação de Leo como concorrência monopolística. É muito comum no setor de serviços, como restaurantes e postos de gasolina, mas também existem em alguns setores manufatureiros.

Envolve três condições: grande número de produtores concorrentes, produtos diferenciados e de livre entrada e saída no setor no longo prazo. Em um setor em concorrência monopolística, cada produtor tem alguma capacidade de fixar o preço de seu produto diferenciado. Mas o nível em que pode chegar é limitado pela concorrência dos outros produtores existentes e potenciais que produzem bens próximos, mas não idênticos. Grande número

Em um setor em concorrência monopolística, há muitos produtores. Tal setor não parece monopólio, em que a empresa não se defronta com concorrência, ou oligopólio, em que a empresa tem poucos rivais. Em vez disso, cada vendedor tem muitos concorrentes. Por exemplo, há muitos vendedores em uma praça de alimentação grande, muitos postos de gasolina ao longo de uma rodovia principal e muitos hotéis em uma praia turística. Produtos diferenciados

Em um setor em concorrência monopolística, cada produtor tem um produto que o consumidor considera distinto dos produtos das empresas concorrentes entre si, mas, ao mesmo tempo, os considera substitutos próximos. Se a praça onde Leo está tem 15 vendedores oferecendo exatamente o mesmo tipo e qualidade de comida, estão em concorrência perfeita: qualquer vendedor que tente cobrar um preço mais elevado não terá clientes. Mas suponha que o Wonderful Wok seja o único que vende comida chinesa, o Bodacious Burgers seja o único que vende hambúrgueres, e assim por diante. O resultado dessa diferenciação é que cada vendedor tem alguma capacidade de fixar o próprio preço: cada produtor tem algum poder de mercado – se bem que limitado. Livre entrada e saída no longo prazo

Em setores em concorrência monopolística, novos produtores, com seus próprios produtos distintos, podem entrar no setor livremente no longo prazo. Por exemplo, outros vendedores de alimentos podem abrir lojas na praça de alimentação se acharem que será lucrativo fazê-lo. Além disso,

algumas empresas sairão do setor se acharem que os custos não estão sendo cobertos no longo prazo. A concorrência monopolística, então, difere das três estruturas de mercado que examinamos até agora. Não é a mesma que a concorrência perfeita: a empresa tem algum poder de fixação de preços. Não é monopólio puro: as empresas enfrentam concorrência. E não é o mesmo que oligopólio: porque há muitas empresas e livre entrada, já não existe potencial de colusão, tão importante no oligopólio. Logo veremos como preços, produto e número de produtos disponíveis são determinados em setores de concorrência monopolística. Mas, primeiro, vamos analisar melhor o que significa ter produtos diferenciados.

DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTO Assinalamos, no Capítulo 14, que a diferenciação de produtos desempenha, muitas vezes, um papel importante nos setores oligopolísticos. Nesses setores, a diferenciação do produto reduz a intensidade da concorrência entre as empresas quando a colusão tácita não pode ser alcançada. A diferenciação do produto desempenha papel ainda mais importante nos setores em concorrência monopolística. Visto que a colusão tácita é praticamente impossível quando há muitos produtores, a diferenciação do produto é a única forma pela qual as empresas em concorrência monopolística podem adquirir algum poder de mercado. Como empresas do mesmo setor – vendedores de fast-food, postos de gasolina ou fabricantes de chocolate – diferenciam seus produtos? Às vezes, a diferença está principalmente na mente dos consumidores, em vez de nos próprios produtos. Vamos discutir, no final deste capítulo, o papel da publicidade e a importância da marca em atingir esse tipo de diferenciação do produto. Mas, em geral, as empresas diferenciam seus produtos – surpresa! – realmente tornando-os diferentes. O fundamento para a diferenciação do produto é que os consumidores têm preferências diferentes e estão dispostos a pagar um pouco mais para satisfazer essas preferências. Cada produtor pode cavar um nicho de mercado produzindo algo que atenda às preferências particulares de algum grupo de consumidores melhor do que os produtos de outras empresas.

Existem três formas importantes de diferenciação de produto: diferenciação por estilo ou tipo, por localização e pela qualidade. Diferenciação por estilo ou tipo

Os vendedores na praça de alimentação do Leo oferecem tipos diferentes de fast-food: hambúrguer, pizza, comida chinesa, comida mexicana e assim por diante. Cada consumidor chega à praça de alimentação com alguma preferência por uma ou outra dessas ofertas. Essa preferência pode depender do humor do consumidor, sua dieta ou o que já tenha comido naquele dia. Essas preferências não vão fazer os consumidores ficarem indiferentes ao preço: se a Wonderful Wok resolver cobrar $15 por um rolinho primavera, todo mundo vai se bandear para o Bodacious Burgers ou para a Pizza Paraíso. Mas algumas pessoas vão escolher a refeição mais cara porque atende melhor à sua preferência. Assim, produtos de vendedores diferentes são substitutos, mas não são substitutos perfeitos – são substitutos imperfeitos. Os vendedores na praça de alimentação não são os únicos que diferenciam seus produtos por tipo. Lojas de roupas concentram-se em vestuário feminino ou masculino, trajes formais ou esportivos, novas tendências ou estilo clássico, e assim por diante. Os fabricantes de automóveis fornecem sedãs, minivans, utilitários e carros esportivos, cada tipo destinado a motoristas com diferentes necessidades e gostos. Os livros oferecem mais um exemplo de diferenciação por tipo e estilo. Livros de mistério são diferentes de romances. Entre os livros de mistério, pode-se diferenciar entre histórias de detetive, suspense e policial. E não há dois escritores de romance policial que sejam exatamente iguais: Raymond Chandler e Sue Gra on, cada um tem seus fãs. De fato, a diferenciação do produto é característica da maior parte dos bens de consumo. Enquanto as pessoas diferem em gosto, os produtores acham possível e lucrativo produzir uma gama de variedades. Diferenciação por localização

Postos de gasolina ao longo de uma estrada oferecem produtos diferenciados. É verdade que a gasolina pode ser exatamente a mesma, mas

a localização dos postos varia, e isso importa para os consumidores: é mais conveniente encher o tanque perto de casa, perto do local de trabalho, ou perto de onde você estiver, quando o tanque está quase vazio. De fato, muitos setores em concorrência monopolística oferecem bens diferenciados por localização. Isso é especialmente verdadeiro no setor de serviços, de lavanderias a cabeleireiros, em que os clientes, frequentemente, escolhem o que está mais próximo e não o que é mais barato. Diferenciação por qualidade

Você gosta de chocolate? Quanto está disposto a pagar por chocolate? Como se vê, há vários tipos de chocolate: embora o chocolate comum possa não ser muito caro, um pedacinho de chocolate para gourmet pode custar muito. Em matéria de chocolate, e de muitos outros bens, há uma gama de qualidade possível. Você pode comprar uma bicicleta razoável por menos de $100, mas há bicicletas muito mais incrementadas por 10 vezes mais. Tudo depende de quanto a questão de qualidade adicional importa e quanto as outras coisas que poderiam ter sido compradas com esse dinheiro vão fazer falta. Pelo fato de que os consumidores variam no que estão dispostos a pagar por qualidade melhor, os produtores podem diferenciar seu produto pela qualidade – alguns oferecendo produtos de baixo custo e de menor qualidade e outros oferecendo produtos de alta qualidade a um preço mais elevado. A diferenciação de produtos, então, pode assumir várias formas. Seja qual for, no entanto, há duas características importantes dos setores com produtos diferenciados: concorrência entre vendedores e valor da diversidade. A concorrência entre vendedores implica que, mesmo que os vendedores de produtos diferenciados não ofereçam produtos idênticos, em certa medida, competem por um mercado limitado. Quando mais empresas entram no mercado, cada um descobre que vende menos quantidade a qualquer preço dado. Por exemplo, quando um novo posto de gasolina abre na estrada, cada um dos postos existentes venderá um pouco menos.

O valor da diversidade refere-se ao ganho dos consumidores oriundo da proliferação de produtos diferenciados. Uma praça de alimentação com oito balcões de comida torna os consumidores mais satisfeitos do que se tivesse apenas seis, mesmo que os preços sejam os mesmos, porque alguns clientes vão achar uma refeição mais de acordo com o que tinham em mente. Uma estrada com um posto de gasolina a cada 3 quilômetros é mais conveniente para os motoristas do que uma estrada onde os postos de gasolina se localizam a 7 quilômetros de distância. Quando um produto tem muitos níveis de qualidade, menos pessoas são obrigadas a pagar por mais qualidade do que o necessário ou se contentam com menos qualidade do que querem. Em outras palavras, a maior diversidade de produtos disponíveis gera benefício para os consumidores. Como veremos a seguir, a concorrência entre vendedores de produtos diferenciados é fundamental para a compreensão de como funciona a concorrência monopolística.

economia em ação Qualquer cor, desde que seja preto

O início da história da indústria automobilística oferece uma ilustração clássica do poder de diferenciação do produto. A indústria moderna do automóvel foi criada por Henry Ford, que introduziu pela primeira vez a produção em linha de montagem. Essa técnica tornou possível oferecer o famoso Modelo T a um preço muito mais baixo do que estava sendo cobrado por outros carros. Em 1920, a Ford já dominava a indústria automobilística. A estratégia da Ford era oferecer apenas um estilo de carro, que maximizava sua economia de escala, mas não fazia concessões às diferenças de gosto dos consumidores. Supostamente, teria declarado que os clientes poderiam ter o Modelo T em “qualquer cor, desde que fosse preto”. Essa estratégia foi desafiada por Alfred P. Sloan, que tinha fundido uma série de empresas de automóveis menores para formar a General Motors. A estratégia de Sloan foi oferecer uma variedade de tipos de carros,

diferenciados por qualidade e preço. O Chevrolet era um carro básico que desafiava diretamente o Modelo T, o Buick era maior e mais caro, e assim por diante, até o Cadillac. E cada modelo era oferecido em diversas cores. Na década de 1930, o veredito foi claro: os clientes preferiam uma variedade de estilos, e a General Motors, não a Ford, tornou-se a fabricante de automóveis dominante no restante do século XX.

BREVE REVISÃO Em concorrência monopolística há muitos produtores concorrentes, cada um com um produto diferenciado e livre entrada e saída no longo prazo. A diferenciação do produto pode ocorrer em oligopólios que não conseguem atingir a colusão tácita, bem como na concorrência monopolística. Toma três formas principais: estilo ou tipo, localização ou qualidade. Os produtos dos vendedores concorrentes são considerados substitutos imperfeitos. Os produtores concorrem pelo mesmo mercado, de modo que a entrada de novos produtores reduz a quantidade que cada produtor existente vende a qualquer preço dado. Além disso, os consumidores ganham com o aumento da diversidade de produtos.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 15-1 1. Cada um dos seguintes bens e serviços é um produto diferenciado. Quais deles são diferenciados como resultado de concorrência monopolística e quais não são? Explique as respostas. a. Escadas b. Refrigerantes c. Lojas de departamento d. Aço 2. Determine qual dos dois tipos de estrutura de mercado descreve melhor um setor, mas é permitido fazer apenas uma pergunta sobre o setor. O que deve perguntar para determinar se uma indústria está em: a. Concorrência perfeita ou monopolística? b. Monopólio ou concorrência monopolística? As respostas estão no fim do livro.

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ENTENDENDO A CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA Suponha que um setor esteja em concorrência monopolística: consiste de muitos produtores, todos competindo pelos mesmos consumidores, mas oferecem produtos diferenciados. Como essa indústria se comporta? Como o termo concorrência monopolista sugere, essa estrutura de mercado combina algumas características típicas de monopólio com outras típicas de concorrência perfeita. Como cada empresa está oferecendo um produto distinto, de certa forma é considerada um monopolista: está diante de uma curva de demanda inclinada para baixo e tem algum poder de mercado – capacidade, dentro dos limites, para determinar o preço do seu produto. No entanto, diferentemente de um monopolista puro, uma empresa em concorrência monopolística enfrenta concorrência: o montante do produto que pode vender depende do preço e dos produtos oferecidos por outras empresas do setor. Certamente, o mesmo se aplica ao oligopólio. Contudo, em um setor em concorrência monopolística, existem muitos produtores, em oposição ao pequeno número que define um oligopólio. Isso significa que o “quebracabeça” do oligopólio – ou seja, as empresas vão se envolver em colusão ou se comportar de forma não cooperativa? – não surge no caso de setores em concorrência monopolística. É verdade que se todos os postos de gasolina ou todos os restaurantes em uma cidade pudessem concordar – explícita ou tacitamente, em elevar os preços, isso seria de interesse mútuo. Mas tal colusão é praticamente impossível quando o número de empresas é grande e, por implicação, não há barreiras à entrada. Assim, em situação de concorrência monopolística, pode-se supor seguramente que as empresas se comportam de forma não cooperativa e ignoram a possibilidade de colusão. Concorrência monopolística no curto prazo

No Capítulo 12, introduzimos a distinção entre equilíbrio de curto e longo prazo. O equilíbrio de curto prazo de um setor toma o número de empresas como dado. O equilíbrio de longo prazo, por outro lado, só é alcançado depois que houve tempo suficiente para as empresas entrarem ou

saírem do mercado. Para analisar a concorrência monopolística, primeiro nos concentraremos no curto prazo e, em seguida, sobre como um setor se move do curto para o longo prazo. Os painéis (a) e (b) da Figura 15-1 mostram duas situações possíveis que uma empresa típica de um setor em concorrência monopolística pode enfrentar no curto prazo. Em cada caso, a empresa se parece com qualquer monopolista: está diante de uma curva de demanda com inclinação para baixo, o que implica uma curva de receita marginal com inclinação para baixo. Suponhamos que cada empresa tenha uma curva de custo marginal com inclinação para cima, mas que também tenha alguns custos fixos, de modo que a curva de custo total médio seja em forma de U. Essa suposição não importa no curto prazo, mas, como veremos adiante, é crucial para a compreensão do equilíbrio de longo prazo. Em cada caso, a empresa, a fim de maximizar o lucro, define a receita marginal igual ao custo marginal. Então, no que essas duas figuras diferem? No painel (a), a empresa é lucrativa; no painel (b) tem prejuízo. (Lembre-se de que estamos nos referindo sempre ao lucro econômico e não ao lucro contábil – ou seja, um lucro em que todos os fatores de produção estão sendo remunerados também pelo custo de oportunidade.) No painel (a), a empresa está diante da curva da demanda DP e da curva de receita marginal RMP. Ela produz a quantidade de produto que maximiza o lucro QP, quantidade em que a receita marginal é igual ao custo marginal, e vende ao preço PP. Esse preço está acima do custo total médio nessa quantidade de produto, CTMP. O lucro da empresa é indicado pela área do retângulo sombreado. No painel (b), a empresa tem a curva da demanda DU e a curva da receita marginal RMU. Ela escolhe a quantidade QU, em que a receita marginal é igual ao custo marginal. No entanto, nesse caso, o preço PU está abaixo do custo total médio CTMU; de modo que nessa quantidade a empresa perde dinheiro. Seu prejuízo é igual à área do retângulo sombreado. Como QU é a quantidade que maximiza o lucro – o que significa, nesse caso, a quantidade que maximiza o produto – não há nenhuma maneira de uma empresa ter

lucro nessa situação. Podemos confirmar isso observando que, para qualquer quantidade de produto, a curva de custo total médio no painel (b) está acima da curva da demanda DU. Como CTM >P em todas as quantidades de produto, essa empresa sempre tem prejuízo. FIGURA 15-1

Empresa em concorrência monopolística no curto prazo

A empresa no painel (a) pode ser lucrativa com certa quantidade de produto: a quantidade em que a curva de custo total médio, CTM, está abaixo da curva da demanda, DP. A quantidade de produto que maximiza o lucro é QP, o produto em que a receita marginal, RMP, é igual ao custo marginal, CM. A empresa cobra o preço PP e obtém o lucro representado pela área do retângulo sombreado de verde. A empresa no painel (b), no entanto, nunca pode ser lucrativa, porque sua curva de custo total médio está acima da curva da demanda, DU, para todas as quantidades de produto. O melhor que pode fazer, se é que produz, é produzir a quantidade QU ao preço PU. Isso gera um prejuízo indicado pela área do retângulo sombreado de amarelo. Qualquer outra quantidade de produto resulta em prejuízo maior.

Como essa comparação sugere, o modo de saber se uma empresa com poder de mercado é lucrativa ou não no curto prazo está na relação entre sua curva da demanda e sua curva de custo total médio. No painel (a), a curva da demanda DP cruza a curva de custo total médio, o que significa que uma parte da curva da demanda está acima da curva de custo total médio.

Assim, há algumas combinações entre preço e quantidade disponíveis em que o preço é mais elevado que o custo total médio, indicando que a empresa pode escolher a quantidade em que obtenha lucro positivo. No painel (b), por outro lado, a curva da demanda DU não cruza a curva de custo total médio – sempre fica abaixo. Portanto, o preço correspondente a cada quantidade demandada é sempre menor do que o custo total médio de produzir essa quantidade. Não há quantidade em que a empresa possa evitar perder dinheiro. Essas figuras que mostram empresas que se defrontam com curvas da demanda com inclinação para baixo e as respectivas curvas de receita marginal, têm a mesma aparência que a análise do monopólio comum. No entanto, o aspecto “concorrência” entra em jogo na concorrência monopolística, quando passamos do curto para o longo prazo. Concorrência monopolística no longo prazo

Obviamente, um setor em que as empresas existentes estão perdendo dinheiro, como o do painel (b) da Figura 15-1, não está em equilíbrio no longo prazo. Quando as empresas existentes estão tendo prejuízo, algumas saem do setor. O setor não atingirá o equilíbrio no longo prazo enquanto os prejuízos não tiverem sido eliminados pela saída de algumas empresas. Pode ser menos óbvio que um setor em que as empresas existentes estão tendo lucro, como o do painel (a) da Figura 15-1, também não esteja em equilíbrio no longo prazo. Dado que há livre entrada no setor, o lucro persistente auferido pelas empresas existentes implicará a entrada de produtores adicionais. O setor não estará em equilíbrio no longo prazo até que o lucro persistente seja eliminado com a entrada de novos produtores. Como a entrada ou saída de outras empresas afetará o lucro de uma empresa típica existente? Como os produtos diferenciados oferecidos pelas empresas de um setor em concorrência monopolística competem pelo mesmo conjunto de consumidores, a entrada ou saída de outras empresas irá afetar a curva da demanda com que se defronta cada produtor existente. Se abrir novos postos ao longo de uma estrada, cada um dos postos de gasolina existente não será mais capaz de vender tanta gasolina quanto antes a qualquer preço. Assim, tal como ilustrado no painel (a) da Figura 15-2, a

entrada de produtores adicionais em um setor em concorrência monopolística levará a um deslocamento para a esquerda da curva da demanda e da curva da receita marginal do produtor típico que permanece. Por outro lado, suponha que alguns dos postos de gasolina ao longo da próxima rodovia fechem. Então, cada um dos postos restantes será capaz de vender mais gasolina a qualquer preço. Então, como ilustrado no painel (b), a saída das empresas de um setor levará a um deslocamento para a direita da curva da demanda e da curva da receita marginal diante do produtor típico que permanece. O setor estará em equilíbrio de longo prazo quando não houver mais entradas nem saídas. Isso vai ocorrer somente quando cada empresa tiver lucro zero. Assim, no longo prazo, um setor em concorrência monopolística terminará no equilíbrio de lucro zero, em que as empresas só conseguem cobrir seus custos na quantidade de produto que maximiza o lucro. Vimos que uma empresa que está diante de uma curva da demanda com inclinação para baixo tem lucro positivo se qualquer parte da curva da demanda estiver acima da curva de custo total médio; incorrerá em prejuízo se a curva da demanda estiver em qualquer parte abaixo da curva de custo total médio. Assim, em equilíbrio de lucro zero, a empresa deve estar em uma posição de fronteira entre esses dois casos; a curva da demanda deve apenas tocar a curva de custo total médio. Ou seja, deve ser apenas tangente a ela na quantidade de produto que maximiza o lucro da empresa – a quantidade de produto em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Se não for o caso, a empresa que opera na quantidade que maximiza o lucro estará tendo lucro ou prejuízo, conforme ilustrado nos painéis da Figura 15-1. Mas sabemos também que a livre entrada e saída significa que isso pode não ser um equilíbrio de longo prazo. Por quê? Em caso de lucro, novas empresas entrarão no setor, deslocando a curva da demanda de cada empresa existente para a esquerda até que todos os lucros estejam extintos. No caso de prejuízo, algumas empresas existentes saem, deslocando, assim, a curva de demanda de cada empresa remanescente para a direita até que todas as perdas sejam extintas. Toda entrada e saída cessa somente quando todas as empresas existentes tiverem lucro zero na quantidade de produto que maximiza o lucro.

FIGURA 15-2

Entradas e saídas deslocam a curva da demanda e da receita marginal de cada empresa existente

No longo prazo, ocorre entrada quando as empresas existentes são lucrativas. No painel (a), a entrada faz a curva da demanda e a curva da receita marginal de cada empresa existente se deslocarem para a esquerda. A empresa recebe um preço mais baixo por cada unidade que vende e seu lucro cai. Cessará a entrada quando as empresas tiverem lucro zero. No longo prazo, ocorre saída quando as empresas existentes tiverem prejuízo. No painel (b), saídas do setor deslocam a curva da demanda e da receita marginal para a direita de cada empresa que permanece. A empresa recebe um preço mais elevado por cada unidade vendida e o lucro sobre. Saídas deixarão de ocorrer quando as empresas restantes tiverem lucro zero.

A Figura 15-3 mostra uma empresa típica em concorrência monopolística no equilíbrio de lucro zero. A empresa produz QCM, produto em que RMCM = CM, e cobra o preço PCM. A esse preço e quantidade, representada pelo ponto Z, a curva da demanda é apenas tangente à sua curva de custo total médio. A empresa obtém lucro zero, porque o preço, PCM, é igual ao custo total médio, CTMCM.

PARA MENTES CURIOSAS SUCESSOS E FRACASSOS

Em face disso, a indústria do cinema parece satisfazer os critérios da concorrência monopolística. Os filmes competem pelos mesmos consumidores; cada filme é diferente do outro; novas empresas podem entrar e sair do setor. Mas onde está o equilíbrio de lucro zero? Afinal, alguns filmes são extremamente rentáveis. A chave é perceber que, para cada grande sucesso de bilheteria, há vários fracassos e que os estúdios de cinema não sabem com antecedência como o filme será recebido pelo público. (Um observador de Hollywood resumiu sua conclusão da seguinte forma: “Ninguém sabe de nada”.) E no momento em que fica claro que um filme será um fracasso, é tarde demais para cancelar. A diferença entre a produção de filmes e o tipo de modelo monopolista que apresentamos neste capítulo é que os custos fixos de fazer um filme são custos irrecuperáveis, ou seja, uma vez que foram incorridos, não podem ser recuperados. No entanto, ainda há, de certa forma, um equilíbrio de lucro zero. Se em média os filmes fossem altamente lucrativos, mais estúdios entrariam na indústria e mais filmes seriam produzidos. Se, em média, os filmes dessem prejuízo, menos filmes seriam produzidos. Na verdade, como é de se esperar, a indústria do cinema, em média, ganha apenas o suficiente para cobrir o custo de produção, isto é, grosso modo, tem lucro econômico zero. Esse tipo de situação – em que as empresas em média têm lucro zero, mas têm uma mistura de sucessos altamente lucrativos e fracassos deficitários – pode ser encontrado em outros setores que se caracterizam por custos de partida elevados que são irrecuperáveis. Um exemplo notável é o do setor farmacêutico, em que muitos projetos de pesquisa não levam a lugar nenhum, mas alguns resultam em medicamentos altamente lucrativos. FIGURA 15-3

Equilíbrio de lucro zero no longo prazo

Se as empresas existentes são lucrativas, a entrada ocorrerá e deslocará cada curva da demanda de cada empresa existente para a esquerda. Se as empresas existentes não são lucrativas, cada curva da demanda de cada empresa remanescente se desloca para a direita, à medida que algumas empresas saem do setor. Entradas e saídas cessam quando cada empresa existente tiver lucro zero na quantidade que maximiza o lucro. Então, no equilíbrio de lucro zero de longo prazo, a curva da demanda de cada empresa é tangente à curva de custo total médio na quantidade que maximiza o lucro: na quantidade que maximiza o lucro, QCM, o preço, PCM, é igual ao custo total médio,

CTMCM. Uma empresa em concorrência monopolística é como um monopolista sem o lucro do monopólio.

A condição normal de um setor em concorrência monopolística no longo prazo, então, é que cada produtor se encontre na situação mostrada na Figura 15-3. Cada produtor aja como monopolista, diante de uma curva de demanda com inclinação para baixo, e fixe o custo marginal igual à receita marginal, de modo a maximizar o lucro. Mas isso só permite alcançar lucro econômico zero. Os produtores do setor são como monopolistas sem lucros de monopólio.

economia em ação

Estouro da bolha imobiliária e o desaparecimento da comissão de 6%

A grande maioria das vendas de casas nos Estados Unidos se realiza por intermédio de corretores imobiliários. O proprietário que deseja vender uma casa procura uma corretora que lista a casa e mostra aos compradores interessados. Do mesmo modo, quem quer comprar uma casa contrata um corretor que busca as casas disponíveis. Tradicionalmente, os corretores são pagos pelo vendedor, que paga uma comissão equivalente a 6% do preço de venda do imóvel, que os corretores do vendedor e do comprador dividem em partes iguais. Se uma casa é vendida por $300.000, por exemplo, os corretores do vendedor e do comprador recebem $9.000 cada (equivalente a 3% de $300.000). O setor de corretagem imobiliária se encaixa muito bem no modelo de concorrência monopolística: em qualquer mercado local, há muitas corretoras, todas competindo entre si, mas os agentes se diferenciam por localização e personalidade, bem como pelo tipo de casas que vendem (alguns se concentram em condomínios, outros em casas luxuosas e caras, e assim por diante). E a indústria tem livre entrada: é relativamente fácil para alguém tornar-se corretor de imóveis (é preciso fazer um curso e, em seguida, passar no teste para obter a licença). Mas existe, há muito tempo, uma característica que não se encaixa no modelo de concorrência monopolista: a comissão fixa de 6%, que não mudou ao longo do tempo e não foi afetada pelos altos e baixos do mercado imobiliário. Por exemplo, no sul da Califórnia, onde os preços das casas triplicaram nos últimos 15 anos, os corretores receberam três vezes mais do que recebiam há 15 anos, fazendo o mesmo trabalho de então. Você deve imaginar como os corretores conseguiram manter a comissão de 6%. Por que novos corretores não entraram no mercado, deslocando a comissão até o nível de lucro zero? Uma tática usada pelos corretores foi o controle do Multiple Listing Service ou MLS (Serviço de Listagem Múltipla), que lista quase todas as casas à venda em uma comunidade. Tradicionalmente, apenas os vendedores que concordam com a comissão de 6% são autorizados a listar suas casas na MLS.

Mas a proteção da comissão de 6% foi sempre um empreendimento duvidoso, pois qualquer ação por parte da indústria de corretagem para fixar a taxa de comissão em determinada porcentagem iria entrar em conflito com as leis antitruste. E no início ou em meados dos anos 2000, com a intensificação do boom imobiliário, aparecem em cena corretores que oferecem desconto. Mas os corretores tradicionais se recusavam a trabalhar com eles. Então, em 2005, o Departamento de Justiça processou a National Association of Realtors (Associação Nacional de Corretores de Imóveis), o poderoso grupo de comércio de corretores. A supervisão dos reguladores e a queda do mercado imobiliário que começou em 2006 aceleraram o desaparecimento da comissão inegociável de 6%. Com os vendedores forçados a aceitar menos por suas casas, surgiu pressão para que os corretores também aceitassem menos. Até 2009, a comissão média caiu para 5,36%, e os corretores agora estão oferecendo para listar imóveis no banco de dados por menos de $100. Como Steve Murray, o editor de uma publicação comercial, disse em 2011, “o padrão de 6% voou pela janela há muito tempo”.

BREVE REVISÃO Como um monopolista, cada empresa em um setor em concorrência monopolística está diante de uma curva da demanda e de uma curva de receita marginal com inclinação para baixo. No curto prazo, pode ter lucro ou incorrer em prejuízo na quantidade que maximiza o lucro. Se a empresa típica obtém lucro positivo, novas empresas entrarão no setor no longo prazo, deslocando cada curva da demanda de cada empresa existente para a esquerda. Se uma empresa ơ pica incorre em prejuízo, algumas empresas já existentes sairão do setor no longo prazo, deslocando a curva da demanda de cada empresa remanescente para a direita. O equilíbrio de um setor em concorrência monopolística no longo prazo é um equilíbrio de lucro zero em que as empresas permanecem em equilíbrio. A curva da demanda de uma empresa ơ pica é tangente à curva de custo total médio na quantidade que maximiza o lucro.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 15-2

1. Atualmente, um setor em concorrência monopolística, composto de empresas com curvas de custo total médio em forma de U, está em equilíbrio de longo prazo. Descreva de que modo a indústria se ajusta, tanto no curto como no longo prazo, em cada uma das seguintes situações. a. Uma mudança tecnológica que aumenta o custo fixo de cada empresa do setor. b. Uma mudança tecnológica que reduz o custo marginal de cada empresa do setor. 2. Por que, no longo prazo, é impossível que as empresas de um setor em concorrência monopolística formem um monopólio, juntando-se para criar uma única empresa? As respostas estão no fim do livro.

CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA VERSUS CONCORRÊNCIA PERFEITA O equilíbrio de longo prazo em um setor em concorrência monopolística se parece bastante com o equilíbrio de longo prazo de um setor em concorrência perfeita. Em ambos os casos, há muitas empresas; em ambos os casos, os lucros desapareceram com a concorrência; em ambos os casos, o preço recebido por cada empresa é igual ao custo total médio da produção. No entanto, as duas versões de equilíbrio de longo prazo são diferentes e essas diferenças são importantes do ponto de vista econômico. Preço, custo marginal e custo total médio

A Figura 15-4 compara o equilíbrio de longo prazo de uma empresa típica de um setor em concorrência perfeita com o de uma empresa típica de um setor de concorrência monopolística. O painel (a) mostra uma empresa em concorrência perfeita diante de um preço de mercado igual ao custo total médio mínimo; o painel (b) reproduz a Figura 15-3. Ao comparar os painéis, vemos duas diferenças importantes. Primeiro, no caso da empresa em concorrência perfeita mostrada no painel (a), o preço, PCP, recebido pela empresa na quantidade que maximiza o lucro, QCP, é igual ao custo marginal de produção da empresa, CMCP, naquela quantidade de produto. Por outro lado, na quantidade que

maximiza o lucro escolhida pela empresa em concorrência monopolística no painel (b), QCM, o preço, PCM, é mais alto que o custo marginal de produção, CMCM. Essa diferença se traduz em uma diferença de atitude das empresas com os consumidores. Um fazendeiro de trigo que pode vender quanto queira ao preço de mercado não fica animado se for oferecido para comprar um pouco mais de trigo ao preço de mercado. Uma vez que ele não quer produzir mais trigo a esse preço e pode vender todo o trigo a outros interessados, não estão lhe fazendo favor algum. Mas se decidir encher o tanque no posto de gasolina do Jamil em vez de no de Katy, estará fazendo um favor ao Jamil. Ele não está disposto a reduzir o preço para ter mais clientes – já extraiu o máximo desse trade-off. Mas para ele é muito bom quando consegue alguns clientes a mais do que esperava ao preço publicado: uma venda adicional ao preço publicado aumenta mais a receita do que os custos, porque o preço publicado excede o custo marginal. O fato de que os concorrentes monopolistas, diferentemente dos concorrentes perfeitos, querem vender mais ao preço corrente é crucial para entender por que se dedicam a atividades como publicidade que ajudam a aumentar as vendas. A outra diferença entre concorrência monopolística e concorrência perfeita, que se pode ver na Figura 15-4, envolve a posição de cada empresa na curva de custo total médio. No painel (a), a empresa em concorrência perfeita produz no ponto QCP, na parte inferior da curva de CTM em forma de U. Ou seja, cada empresa produz a quantidade em que o custo total médio é minimizado – a quantidade de produto com custo mínimo. Como consequência, o custo total do produto do setor também é minimizado. FIGURA 15-4

Comparação entre o equilíbrio de longo prazo em concorrência perfeita e concorrência monopolista

O painel (a) mostra a situação de uma empresa típica em equilíbrio de longo prazo em um setor em concorrência perfeita. A empresa opera no produto de custo mínimo QCP, vende ao preço de mercado competitivo PCP e tem lucro zero. Vender uma unidade a mais de produto é indiferente porque PCP é igual ao custo marginal, CMCP. O painel (b) mostra a situação da empresa típica em equilíbrio de longo prazo em um setor de concorrência monopolística. Em QCM ela tem lucro zero, porque o preço, PCM, é apenas igual ao custo total médio, CTMCM. Em QCM a empresa gostaria de vender outra unidade ao preço PCM que excede o custo marginal, CMCM. Mas não está disposta a baixar o preço para vender mais. Por conseguinte, opera à esquerda do nível de produto de custo mínimo e tem excesso de capacidade.

Em concorrência monopolista, no painel (b), a empresa produz em QCM, na parte da curva CTM em forma de U com inclinação para baixo: produz menos do que a quantidade que iria minimizar o custo total médio. Essa incapacidade de produzir o suficiente para minimizar o custo total médio às vezes é descrita como problema de excesso de capacidade. O vendedor típico em uma praça de alimentação ou posto de gasolina ao longo de uma estrada não é grande o suficiente para tirar o máximo proveito da possibilidade de reduzir custos. Assim, o custo do produto total do setor não é minimizado no caso do setor em concorrência monopolística. Algumas pessoas argumentam que, em virtude de cada concorrente monopolístico ter excesso de capacidade, os setores em concorrência

monopolística são ineficientes. Mas a questão da eficiência da concorrência monopolística é mais sutil e não tem uma resposta clara. A concorrência monopolista é ineficiente?

Um concorrente monopolista, como um monopolista, cobra um preço que está acima do custo marginal. Como resultado, algumas pessoas que estão dispostas a pagar tanto por um rolinho primavera no Wonderful Wok quanto custa produzi-lo, ficam impedidas de fazê-lo. Em concorrência monopolística, algumas transações mutuamente benéficas ficam inexploradas. Além disso, argumenta-se que a concorrência monopolística está sujeita a mais um tipo de ineficiência: a de que o excesso de capacidade de cada concorrente monopolista implica duplicação desnecessária porque os setores em concorrência monopolística oferecem excesso de variedade. De acordo com esse argumento, seria melhor que houvesse apenas dois ou três vendedores na praça de alimentação, e não seis ou sete. Se houvesse menos, cada um teria custos totais médios mais baixos e poderia oferecer alimentos mais baratos. Esse argumento contra a concorrência monopolística – de que ela reduz o excedente total causando ineficiência – está correto? Não necessariamente. É verdade que se houvesse menos postos de gasolina ao longo de uma estrada, cada posto venderia mais gasolina e assim teria custos mais baixos por galão. Mas existe uma desvantagem: os motoristas teriam o inconveniente de que os postos seriam mais distantes um dos outros. O ponto é que a diversidade de produtos oferecidos em um setor de concorrência monopolística é benéfica para os consumidores. Assim, o preço mais elevado que os consumidores pagam pelo excesso de capacidade é compensado em certa medida pelo valor que recebem pela maior diversidade. Em outras palavras, há um trade-off: mais produtores significa custos totais médios mais elevados, mas também maior diversidade de produtos. Será que um setor em concorrência monopolística chega ao ponto socialmente ótimo nesse trade-off? Provavelmente não – mas é difícil dizer se existem muitas ou poucas empresas! A maioria dos economistas acredita

agora que a duplicação de esforços e o excesso de capacidade nos setores em concorrência monopolística, na prática, não são questões importantes.

BREVE REVISÃO No equilíbrio de longo prazo de um setor em concorrência monopolística, existem muitas empresas, cada uma recebendo lucro zero. O preço excede o custo marginal, assim transações mutuamente benéficas não são exploradas. As empresas em concorrência monopolística têm excesso de capacidade porque não minimizam o custo total médio. Mas não está claro que isso realmente seja fonte de ineficiência, uma vez que os consumidores ganham com a diversidade do produto.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 15-3 1. Verdadeiro ou falso? Explique a resposta. a. Como uma empresa em um setor em concorrência perfeita, uma empresa em um setor em concorrência monopolística está disposta a vender um bem a qualquer preço que seja igual ou superior ao custo marginal. b. Suponha que haja um setor em concorrência monopolística em equilíbrio de longo prazo que possua excesso de capacidade. Todas as empresas do setor estariam em melhor situação se fizessem uma fusão, tornando-se uma única empresa, e produzissem um único produto, mas se os consumidores ficam ou não em situação melhor é ambíguo. c. Modas e modismos tendem a surgir mais em concorrência monopolística ou oligopólio do que em monopólio ou concorrência perfeita. As respostas estão no fim do livro.

CONTROVÉRSIAS SOBRE DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTO Até agora, nossa suposição foi a de que os produtos são diferenciados de forma a corresponder a um desejo real dos consumidores. Realmente é

conveniente ter um posto de gasolina no bairro; comida chinesa e mexicana são bem diferentes uma da outra. Entretanto, no mundo real, quando se pensa em alguns casos de diferenciação de produto, pode parecer confuso. Qual é a diferença real entre o creme dental Sorriso e o Colgate? Entre as pilhas Energizer e Duracell? Ou um quarto no Hotel Marriott ou no Hilton? A maioria das pessoas teria dificuldade em responder a qualquer uma dessas questões. No entanto, os produtores desses bens envidam esforços consideráveis para convencer os consumidores de que seus produtos são diferentes e melhores do que os dos concorrentes. Nenhuma discussão sobre diferenciação de produto estará completa sem passar pelo menos um pouco de tempo em duas questões relacionadas – publicidade e nomes de marca. O papel da publicidade

Os agricultores que cultivam trigo não anunciam seu produto na televisão, mas as revendedoras de carros sim. Isso não acontece por eles serem tímidos e as revendedoras extrovertidas, mas porque a publicidade só é válida em setores em que as empresas têm pelo menos algum poder de mercado. O objetivo da publicidade é convencer as pessoas a comprar mais do produto de um vendedor ao preço corrente. Uma empresa em concorrência perfeita, que pode vender tanto quanto queira ao preço de mercado, não tem incentivo de gastar dinheiro para convencer os consumidores a comprar mais. Apenas uma empresa que possua algum poder de mercado, e que, portanto, cobre um preço acima do custo marginal, pode ganhar com publicidade. (Setores que sejam mais ou menos perfeitamente competitivos, como o do leite, fazem publicidade, mas os anúncios são patrocinados por uma associação em nome do setor como um todo, e não em nome do leite de vaca de uma fazenda específica.) Visto que a publicidade “funciona”, não é difícil imaginar por que as empresas com poder de mercado gastam dinheiro com ela. Mas a grande questão a respeito da publicidade é por que funciona. Uma questão

relacionada é se a publicidade, do ponto de vista da sociedade, não é um desperdício de recursos. Nem toda a publicidade é uma charada. Algumas são bem diretas: é uma maneira que os vendedores têm de informar aos compradores potenciais sobre o que o produto tem a oferecer (ou, às vezes, para os compradores informar aos vendedores potenciais o que desejam). Não há muita polêmica sobre a utilidade econômica de anúncios que fornecem informação: o anúncio da imobiliária que diz “apto. ensolarado, charmoso, 2 quartos, 1 banheiro” informa algo que é necessário saber (mesmo que envolva alguns eufemismos – “charmoso”, certamente, significa “pequeno”). Mas qual informação está sendo transmitida quando uma atriz de televisão proclama as virtudes de um ou outro dentifrício ou um herói desportivo declara que a pilha de alguma empresa é melhor do que a do coelho mecânico cor-de-rosa? Certamente ninguém acredita que o astro do esporte seja especialista em pilhas – ou que escolhe a empresa que acredita que seja a melhor fabricante de pilhas, e não a que lhe está pagando mais pela publicidade. No entanto, as empresas acreditam que, com razão, o dinheiro gasto nessas promoções aumenta suas vendas e que estariam em apuros, se parassem de fazer publicidade e os concorrentes continuassem. Por que os consumidores são influenciados por anúncios que realmente não fornecem quaisquer informações sobre o produto? Uma resposta é que os consumidores não são tão racionais como os economistas normalmente acreditam. Talvez o julgamento dos consumidores, ou mesmo seus gostos, possam ser influenciados por coisas que os economistas pensam que deveriam ser irrelevantes, como uma empresa que contratou a celebridade mais carismática para endossar seus produtos. E há certamente alguma verdade sobre isso. Como aprendemos no Capítulo 9, a racionalidade do consumidor é uma hipótese útil de trabalho, mas não uma verdade absoluta. No entanto, outra resposta é que a reação do consumidor à publicidade não é inteiramente irracional porque os anúncios podem servir como “sinal” indireto em um mundo em que os consumidores não têm boa informação sobre os produtos. Considerando um exemplo comum, suponha que você precise avaliar algum serviço local que não use regularmente – conserto na lataria do carro ou troca de móveis. Você abre as páginas amarelas ou visita www.brasilpaginasamarelas.com.br, onde encontra muitos anúncios

pequenos e alguns grandes, ou em destaque. Você sabe que os anúncios são grandes porque a empresa pagou mais por eles. Ainda assim, pode ser bastante racional chamar uma das empresas com anúncio grande. Afinal, o anúncio grande provavelmente significa que é uma empresa grande e de sucesso; de outra forma, a empresa não teria considerado válido gastar dinheiro para colocar um anúncio maior. O mesmo princípio pode explicar, em parte, por que os anúncios usam celebridades. Você realmente não acredita que a supermodelo prefere aquele relógio; mas o fato de que o fabricante de relógios está disposto e é capaz de pagar o seu cachê informa que é provável que uma grande empresa esteja por trás do produto. De acordo com esse raciocínio, a publicidade dispendiosa serve para estabelecer a qualidade dos produtos de uma empresa aos olhos dos consumidores. A possibilidade de que seja racional para o consumidor responder à publicidade também tem alguma influência sobre a questão de saber se a publicidade é um desperdício de recursos. Se a publicidade funciona apenas para manipular pessoas de vontade fraca, o total de cerca de $149 bilhões que as empresas americanas gastaram em publicidade em 2007 terá sido um desperdício econômico – exceto pelo fato de que alguns anúncios proporcionam entretenimento. Na medida em que a publicidade transmite alguma informação importante, acaba sendo, afinal, uma atividade economicamente produtiva. Nomes de marcas

Você dirigiu pela estrada o dia todo e decide que é hora de encontrar um lugar para dormir. À sua direita, um grande sinal indica o Bates Motel, à esquerda, um sinal do Motel 6, ou um Best Western, ou alguma outra cadeia nacional. Qual deles você escolhe? A menos que estejam bem familiarizados com a área, a maioria das pessoas optaria pela cadeia de hotéis. Na verdade, a maioria dos motéis nos Estados Unidos são membros de grandes cadeias; o mesmo se aplica à maioria dos restaurantes de fast-food e muitas, se não a maioria, das lojas em shopping centers.

Cadeias de motel e restaurante fast-food são apenas um aspecto de um fenômeno mais amplo: o papel dos nomes de marcas, nomes de propriedade de empresas específicas que diferenciam seus produtos nas mentes dos consumidores. Em muitos casos, a marca é o ativo mais importante de uma empresa: é claro que o nome McDonald’s vale muito mais do que a soma das fritadeiras e chapas para hambúrgueres que a empresa possui. Na verdade, as empresas vão longe para defender suas marcas, processando qualquer pessoa que as utilize sem permissão. Você pode até dizer que assoa o nariz em um Kleenex e que vai xerocar um documento, mas a menos que o produto em questão venha da Kleenex ou da Xerox, legalmente o vendedor só pode descrevê-lo como lencinho de papel ou fotocopiadora. Tal como acontece com a publicidade, com a qual está intimamente ligada, a utilidade social da marca tem sido fonte de controvérsia. Será que a preferência dos consumidores por marcas conhecidas reflete a irracionalidade do consumidor? Ou as marcas transmitem informação real? Ou seja, nomes de marcas criam poder de mercado desnecessário ou servem a um propósito real? Como no caso da publicidade, provavelmente a resposta tem um pouco de ambas. De um lado, muitas vezes, marcas criam poder de mercado injustificado. Muitos consumidores pagam mais por produtos de marca no supermercado, embora especialistas em consumo assegurem que os produtos mais baratos com o nome do supermercado sejam igualmente bons. Da mesma forma, muitos medicamentos comuns, como a aspirina, são mais baratos, sem perda da qualidade, quando vendidos como genéricos. Por outro lado, para muitos produtos a marca transmite informação. Um viajante que chega a uma cidade estranha tem certeza do que espera encontrar em um Holiday Inn ou em um McDonald’s. O viajante cansado e faminto pode achar que isso seja preferível a tentar um hotel ou restaurante independente que poderia ser melhor, mas poderia ser pior. Além disso, marcas oferecem alguma garantia de que o vendedor está envolvido em uma interação repetida com seus clientes e por isso tem uma reputação a zelar. Se um viajante tem uma refeição ruim em um restaurante

de uma atração turística e promete nunca mais comer lá novamente, o dono do restaurante não se importa, já que a chance de o viajante voltar novamente à mesma área no futuro é pequena. Mas se esse viajante faz uma refeição ruim no McDonald’s e promete nunca mais comer em um McDonald’s, isso importa para a empresa. Isso fornece ao McDonald’s um incentivo para oferecer qualidade consistente, garantindo, assim, aos viajantes que existe controle de qualidade.

economia em ação Irracionalidade absoluta

Muitas vezes, a publicidade tem uma função útil. Entre outras coisas, pode tornar o consumidor consciente de uma ampla gama de alternativas que leva ao aumento da concorrência e a preços mais baixos. De fato, em alguns casos, a justiça considerou que acordos setoriais para não fazer propaganda violavam leis antitruste. Por exemplo, em 1995, a California Dental Association (Associação Dentária da Califórnia) foi condenada por conspiração por impedir a concorrência, desencorajando seus membros de fazer propaganda. De acordo com o juiz, ela havia “evitado o acesso do público a informações sobre preços, qualidade, superioridade de serviço, garantias bem como o uso de procedimentos para atenuar a ansiedade do paciente”. Por outro lado, a publicidade, por vezes, cria diferenciação de produto e poder de mercado, onde não há diferença real no produto. Considere-se, em particular, a campanha publicitária de sucesso espetacular da vodca Absolut. Em Vinte Propagandas que Abalaram o Mundo, James B. Twitchell coloca dessa forma: “A força da publicidade magnética da Absolut é curiosa, porque o produto em si é tão brando. Vodca é aquavit, e aquavit é o álcool com menos sofisticação… Sem gosto, sem cheiro… De fato, os suecos, que são os fabricantes, raramente bebem Absolut. Preferem marcas mais baratas, como Explorer, Renat Brannwinn ou Skane. Isso porque não pode haver propaganda de Absolut na Suécia, onde a publicidade do álcool é contra a lei.”

Mas eis aqui uma questão de metafísica: se o gosto da vodca Absolut realmente não é diferente do de outras marcas, mas a publicidade convence os consumidores de que estão recebendo um produto diferenciado, quem somos nós para dizer que não estão? A distinção não está na mente de quem vê?

BREVE REVISÃO Nos setores com diferenciação de produtos, as empresas anunciam a fim de aumentar a demanda por seus produtos. A publicidade não é um desperdício de recursos quando fornece aos consumidores informações úteis sobre os produtos. A publicidade que elogia um produto é mais difícil de explicar. Ou os consumidores são irracionais, ou a publicidade cara comunica que os produtos da empresa são de alta qualidade. Algumas empresas criam marcas. Tal como acontece com a publicidade, o valor econômico da marca pode ser ambíguo. Eles transmitem informação verdadeira quando garantem aos consumidores a qualidade de um produto.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 15-4 1. Em qual dos seguintes casos é provável que a publicidade seja útil economicamente? Ou um desperdício economicamente? Justifique a resposta. a. Publicidade sobre os benefícios da aspirina. b. Publicidade da aspirina Bayer. c. Publicidade sobre os benefícios de beber suco de laranja. d. Publicidade do suco de laranja Tropicana. e. Publicidade que indica quanto tempo de profissão tem um encanador ou um eletricista. 2. Alguns analistas do setor afirmam que uma marca de sucesso é como uma barreira à entrada. Explique o raciocínio por trás dessa afirmação. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL

Gillette versus Schick: caso de ardência no barbear?

No início de 2010, a Schick lançou o sistema Hydro, o aparelho de barbear mais recente e avançado, dois meses antes do lançamento da ProGlide da Gillette, a última atualização da sua linha Fusion. De acordo com relatos da época, Schick e Gillette em conjunto gastaram mais de $250 milhões em publicidade com os dois sistemas. Foi a última rodada de uma rivalidade secular entre as duas fabricantes de lâminas de barbear. Apesar da rivalidade, o negócio de lâminas de barbear tem sido bem lucrativo: um dos setores mais caros e com margem de lucro mais elevada de produtos embalados não alimentares. É óbvio que a Schick e a Gillette esperavam que a sofisticação e os recursos das novas lâminas de barbear fossem atraentes aos consumidores. A Hydro veio com um distribuidor de gel lubrificante e proteção da lâmina para um barbear mais suave, e a versão de cinco lâminas veio com uma lâmina de corte. A Schick considerou as duas versões da Hydro para oferecer tanto uma atualização como um valor estratégico ao produto já existente, o Quattro, de quatro lâminas, lançado em 2003. (O valor estratégico é um item que agrada aos clientes que estão comprando em função do preço.) E as duas versões da Hydro foram precificadas abaixo das versões comparativas do aparelho Fusion de cinco lâminas da Gillette e do Mach de três lâminas, bem como do Pro-Glide, que a Gillette planejava lançar a um preço de 10% a 15% acima da linha Fusion existente. Essa não foi a primeira vez que houve lançamento de lâminas de barbear concorrentes. Já em 2003, a Gillette e a Schick estiveram corpo a corpo quando a Gillette lançou o Mach 3 Turbo (uma atualização do Mach 3 de lâminas), que distribuía pulsos movidos a bateria que a Gillette dizia que fazia os folículos pilosos ficarem em pé, facilitando um barbear mais rente. Em 2003, a Schick lançou o Quattro, o primeiro aparelho de barbear no mundo com quatro lâminas, denominado de “diferente de qualquer outro aparelho de barbear”. A Gillette é, de longe, a maior empresa das duas, contando com cerca de 70% do mercado de lâminas de barbear nos Estados Unidos em 2010. Embora a Schick tenha apenas aproximadamente 12% do mercado, muitos

analistas acreditam que é a líder em inovação. “Parece que a Schick está liderando em inovação e colocando a Gillette na defensiva”, disse William Peoriello, analista do banco de investimentos Morgan Stanley. “A lista de novas lâminas de barbear da Schick está forçando a Gillette a mudar o ritmo de seus lançamentos de novos produtos e é provável que esteja experimentando uma concorrência mais acirrada do que nunca.” Alguns clientes, porém, não se impressionam com as ofertas das duas empresas. Em julho de 2010, o Wall Street Journal citou o exemplo de Jeff Hagan, um banqueiro de investimento, que procura e guarda versões descontinuadas de aparelhos e lâminas de barbear do Mach 3 da Gillette. Também o perfilado Steven Schimmel, proprietário de uma farmácia de luxo em Manhattan, que faz bons negócios com lâminas fora de linha da Gillette, de duas lâminas, importadas de um revendedor da Índia. Um cliente insatisfeito, Nick Meyers, desistiu do seu aparelho de barbear Quattro, de quatro lâminas, porque cansou de tentar encontrar funcionários na farmácia que desbloqueassem a caixa da lâmina quando precisava de recarga. “É mais fácil comprar urânio”, disse Meyers. “São tão caros, têm que ficar fechados, e foi aí que percebi que é tudo uma invenção publicitária.”

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. O que explica a complexidade das lâminas de barbear de hoje com o ritmo de inovação de suas características? 2. Por que o negócio de aparelhos de barbear é tão rentável? O que explica o tamanho dos orçamentos publicitários da Schick e da Gillette? 3. O que explica a reação dos clientes como Hagan e Meyers? Que dilema a Schick e a Gillette enfrentam na decisão sobre a possibilidade de manter os modelos de parelhos de barbear mais antigos e mais simples? O que isso indica sobre o valor do bem-estar pela inovação das lâminas de barbear?

• RESUMO

1. Concorrência monopolística é uma estrutura de mercado em que há muitos produtores concorrentes, cada um produzindo um produto diferenciado, e há livre entrada e saída no longo prazo. A diferenciação de produto assume três formas principais: por estilo ou tipo, localização e qualidade. Os produtos de vendedores concorrentes são considerados substitutos imperfeitos e cada empresa tem sua própria curva de demanda e curva de receita marginal com inclinação para baixo. 2. Lucros de curto prazo atraem a entrada de novas empresas no longo prazo. Isso reduz a quantidade que cada produtor existente vende a qualquer preço e desloca a curva da demanda para a esquerda. Prejuízos no curto prazo induzem a saída de algumas empresas no longo prazo. Isso desloca a curva da demanda de cada empresa remanescente para a direita. 3. No longo prazo, um setor em concorrência monopolística está em equilíbrio de lucro zero: na quantidade que maximiza o lucro, a curva da demanda de cada empresa existente é tangente à curva de custo total médio. O setor tem lucro zero e não há entrada nem saída. 4. No equilíbrio de longo prazo, as empresas em um setor em concorrência monopolística vendem a um preço superior ao custo marginal. Também têm excesso de capacidade porque produzem menos do que a quantidade de produto de custo mínimo. Como consequência, têm custos mais elevados do que as empresas em um setor em concorrência perfeita. A questão se a concorrência monopolística é ineficiente ou não é ambígua porque os consumidores valorizam a diversidade de produtos que ela cria. 5. Uma empresa em concorrência monopolística sempre prefere fazer uma venda adicional ao preço prevalente, por isso vai fazer publicidade para aumentar a demanda por seu produto e aumentar seu poder de mercado. Publicidade e nomes de marcas que fornecem informações úteis aos consumidores são economicamente valiosos. Mas são um desperdício econômico quando seu único propósito é criar poder de mercado. Na realidade, publicidade e marca tendem a ser um pouco dos dois: economicamente valiosos, mas também um desperdício sob o ponto de vista econômico.

• PALAVRAS-CHAVE Concorrência monopolística, p. 368 Equilíbrio de lucro zero, p. 372 Excesso de capacidade, p. 376 Nomes de marcas, p. 378

• PROBLEMAS 1. Use as três condições da concorrência monopolística discutidas neste capítulo para decidir qual das empresas seguintes são passíveis de estar operando em concorrência monopolística. Se não são empresas em concorrência monopolística, são monopólios, oligopólios ou empresas em concorrência perfeita? a. Uma banda local que toca para casamentos, festas e assim por diante. b. Minute Maid, um produtor de suco vendido em caixinhas de porção individual. c. Uma lavanderia de bairro. d. Um agricultor que produz soja. 2. Você está pensando em abrir um café. A estrutura de mercado para cafeterias é concorrência monopolística. Já existem três lojas da Starbucks e outros dois cafés muito parecidos com a Starbucks em sua cidade. Para que você tenha algum poder de mercado, deverá diferenciar o seu café. Pensando nas três maneiras como os produtos podem ser diferenciados, explique como decidiria se deve copiar a Starbucks ou vender café de uma maneira completamente diferente. 3. Os restaurantes da cidade são um setor em concorrência monopolística em equilíbrio no longo prazo. Uma proprietária de restaurante pede seu conselho. Diz que todas as noites nem todas as mesas estão ocupadas. Informa, também, que se reduzir os preços no menu, atrairá mais clientes, e ao fazer isso terá um custo total médio mais baixo. Ela deve baixar os preços? Para explicar o seu conselho, trace um gráfico mostrando a curva da demanda, a curva da receita marginal, a curva do custo marginal e a curva do custo total médio desse restaurante. Mostre no gráfico o que aconteceria com o lucro da proprietária do restaurante se reduzisse o preço até vender a quantidade de produto de custo mínimo. 4. A estrutura do setor de postos de gasolina local é concorrência monopolística. Suponha que, atualmente, cada posto de gasolina tem prejuízo. Trace um gráfico de um posto de gasolina típico para mostrar essa situa ção de curto prazo. Então, em um gráfico separado, mostre o que acontecerá com o posto de gasolina típico no longo prazo. Explique seu raciocínio. 5. O setor de cabeleireiros local tem a estrutura de mercado de concorrência monopolística. Seu cabeleireiro se gaba de estar tendo lucro e de que, se continuar assim, vai poder se aposentar em cinco anos. Use um gráfico para ilustrar a situação atual do seu cabeleireiro. Você espera que isso dure? Em um gráfico separado, trace o que espera que aconteça no longo prazo. Explique seu raciocínio. 6. A Magnificent Blooms é uma florista em um setor de concorrência monopolística. Opera com sucesso e produz a quantidade que minimiza o custo total médio, obtendo lucro. O proprietário também diz que em seu nível atual de produção, o custo marginal está acima da receita marginal.

Ilustre a situação atual da Magnificent Blooms em um gráfico. Responda às perguntas seguintes, ilustrando com um gráfico. a. No curto prazo, a Magnificent Blooms pode aumentar o lucro? b. No longo prazo, a Magnificent Blooms pode aumentar o lucro? 7. “No longo prazo, não há diferença entre a concorrência monopolística e a concorrência perfeita.” Discuta se essa afirmação é verdadeira, falsa ou ambígua em relação aos seguintes critérios. a. O preço cobrado dos consumidores. b. O custo total médio de produção. c. A eficiência do resultado de mercado. d. O lucro da empresa típica no longo prazo 8. “Tanto no curto como no longo prazo, a empresa típica está em concorrência monopolística e um monopolista obtém lucro.” Você concorda com essa afirmação? Explique seu raciocínio. 9. O mercado de vestuário tem estrutura de concorrência monopolística. Que impacto terá sobre você, como consumidor, uma redução no número de empresas desse setor? Aborde as questões seguintes. a. Variedade das roupas b. Diferenciação na qualidade do serviço c. Preço 10. Para cada uma das seguintes situações, decida se a publicidade fornece informação direta sobre o produto ou dá um sinal indireto da sua qualidade. Explique seu raciocínio. a. O grande campeão de futebol, Peyton Manning, dirige um Buick em um comercial de televisão e afirma que é o seu carro preferido. b. Um anúncio de jornal afirma: “Vende-se: Honda Civic 1999, 250.000 quilômetros, nova transmissão.” c. O McDonald’s gasta milhões de dólares em uma campanha de publicidade que informa: “Amo muito tudo isso.” d. A Subway anuncia um sanduíche, dizendo que contém 6 gramas de gordura e menos de 300 calorias. 11. Em cada um dos casos a seguir, explique como a publicidade funciona como um sinal para o comprador potencial. Explique qual a informação que o comprador não tem e que está sendo fornecida pelo anúncio e como a informação dada tende a afetar a disposição do comprador de comprar o bem. a. “Procurando trabalho. Excelentes referências de empregadores anteriores disponíveis.” b. “Equipamento eletrônico à venda. Toda a mercadoria com garantia de um ano, irrestrita.” c. “Carro à venda pelo único dono. Todos os recibos de reparo e manutenção disponíveis.” 12. A tabela a seguir mostra o Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) para os setores de restaurante, cereais matinais, cinema e sabão em pó, bem como os gastos com propaganda das 10 melhores empresas em cada setor em 2006. Use as informações da tabela para responder às perguntas a seguir.

Setor

IHH

Restaurantes

179

$1.784

2.098

732

918

3.324

2.068

132

Cereal matinal Produtores de filmes Sabão para lavar roupa

Gastos com publicidade (milhões)

a. Que estrutura de mercado – oligopólio ou concorrência monopolística – melhor caracteriza cada um dos setores? b. Com base na resposta do item a, que tipo de estrutura de mercado tem gastos mais altos com publicidade? Use as características de cada estrutura de mercado para explicar por que essa relação pode existir. 13. O McDonal’s gasta milhões de dólares por ano com proteção jurídica de sua marca, evitando, assim, qualquer uso não autorizado da mesma. Explique que informação isso transmite a você como consumidor sobre a qualidade dos produtos McDonald’s.

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PARTE 8

MICROECONOMIA E POLÍTICA PÚBLICA

CAPÍTULO 16 » Externalidades

QUEM VAI FAZER A CHUVA PARAR?

ilhões de pessoas no nordeste dos Estados Unidos acham que não há maneira melhor de relaxar do que pescar em um dos milhares de lagos da região. Mas, na década de 1960, pescadores entusiastas notaram algo alarmante: lagos que antes fervilhavam de peixes agora estavam quase vazios. O que houve? Descobriu-se que era a chuva ácida causada principalmente por termelétricas que queimavam carvão. Quando o carvão é queimado, libera dióxido de enxofre e óxido nítrico para a atmosfera; esses gases reagem com água, produzindo ácido sulfúrico e ácido nítrico. O resultado no nordeste, que recebe os ventos do coração industrial do país, foi uma chuva que, por vezes, era tão ácida quanto suco de limão. A chuva ácida não apenas matava

M

os peixes, mas também danificava árvores e colheitas e, com o tempo, até começou a causar erosão em edificações de pedra calcária. Felizmente, hoje, o problema da chuva ácida é muito menos grave do que era na década de 1960. As termelétricas reduziram as emissões convertendoas para carvão com baixo teor de enxofre e instalando purificadores nas chaminés. Mas não fizeram isso por bondade; fizeram em resposta à política do governo. Sem essa intervenção governamental, as termelétricas não teriam incentivo para considerar o impacto ambiental de sua atividade. Quando os indivíduos impõem custos ou oferecem benefícios aos outros, mas não têm incentivo econômico para levar em consideração esses custos ou benefícios, os economistas dizem que são geradas externalidades. Lembre-se que observamos brevemente esse fenômeno nos Capítulos 1 e 4. Constatamos que uma das principais fontes de falha de mercado são ações que criam efeitos colaterais que não são devidamente considerados, ou seja, externalidades. Neste capítulo, analisaremos a economia das externalidades, vendo como podem criar obstáculos à eficiência econômica e levar a falhas de mercado, por que razão elas justificam a intervenção governamental nos mercados e como a análise econômica pode ser usada para orientar a política do governo. Externalidades resultam dos efeitos colaterais das ações. Primeiro, analisaremos o caso da poluição, que gera uma externalidade negativa – um efeito colateral negativo que impõe custos sobre os outros. Sempre que um efeito colateral pode ser observado e quantificado diretamente, pode ser regulado: pela imposição de controles diretos sobre ele, por taxação, ou subsidiando. Como veremos, nesse caso, a intervenção governamental deve estar voltada diretamente a levar o mercado à quantidade certa de efeito colateral. O que você vai aprender neste capítulo • O que são externalidades e por que podem levar à ineficiência e à intervenção governamental em uma economia de mercado. • A diferença entre externalidades negativas, positivas e de rede. • A importância do teorema de Coase, que explica como os indivíduos podem, por vezes, resolver externalidades.

• Por que algumas políticas do governo para lidar com externalidades, como impostos sobre emissões poluentes, licenças de emissão comerciáveis ou subsídios pigouvianos, são eficientes e outras, como padrões ambientais, são ineficientes. • O que torna as externalidades de rede características importantes nos setores de alta tecnologia.

Outras atividades geram externalidades positivas, um efeito colateral que gera benefícios para os outros – por exemplo, preservar as terras agrícolas em vez de promover o desenvolvimento. Nesse caso, o governo pode usar subsídios para mover o mercado para a melhor quantidade de efeito colateral do ponto de vista da sociedade. No caso das externalidades positivas e negativas, o alcance da melhor solução ocorre na margem, igualar o benefício de fazer um pouco mais de algo com o custo de fazer um pouco mais. Por fim, voltaremos ao caso das externalidades de rede, fenômeno que aprendemos no Capítulo 13 e que é particularmente comum nos setores de alta tecnologia. Vamos aprender sobre o que gera externalidade de rede e por que as indústrias que a tem são particularmente difíceis de serem reguladas.

ECONOMIA DA POLUIÇÃO A poluição é uma coisa ruim. No entanto, a maior parte da poluição é efeito colateral de atividades que nos proporcionam coisas boas: o ar é poluído por termelétricas que iluminam as cidades, e os rios são danificados pelo escoamento de fertilizantes que correm com as chuvas das fazendas que cultivam alimento. Por que não devemos aceitar certa quantidade de poluição como custo de uma vida boa? Na verdade, é o que fazemos. Mesmo ambientalistas totalmente convictos não pensam que podemos ou devemos eliminar completamente a poluição; mesmo uma sociedade ambientalmente consciente aceitaria alguma poluição como o custo de produzir bens e serviços úteis. O que os ambientalistas argumentam é que, a não ser que haja uma política ambiental forte e eficaz, nossa sociedade irá gerar muita poluição, excesso de uma coisa ruim. E a grande maioria dos economistas concorda.

Para saber por que, é necessário haver uma estrutura de análise que nos permita pensar sobre quanta poluição uma sociedade deveria ter. Então, seremos capazes de saber por que uma economia de mercado, por si só, produzirá mais poluição do que deveria. Para analisar o problema, começaremos pela adoção de uma estrutura simples, supondo que a quantidade de poluição emitida por um poluidor seja diretamente observável e controlável. Custos e benefícios da poluição

Quanta poluição a sociedade deve permitir? Aprendemos no Capítulo 9 que decisões “quanto” sempre envolvem comparar o benefício marginal de uma unidade adicional de algo com o custo marginal dessa unidade adicional. O mesmo é verdade para a poluição. O custo social marginal da poluição é o custo adicional imposto sobre a sociedade como um todo por uma unidade adicional de poluição. Por exemplo, a chuva ácida prejudica peixes, culturas e florestas, e cada tonelada adicional de dióxido de enxofre lançado na atmosfera aumenta o dano. O benefício social marginal de poluição – o benefício adicional para a sociedade de uma unidade adicional de poluição – pode parecer um conceito confuso. O que é bom sobre poluição? No entanto, evitar a poluição requer o uso de recursos escassos que poderiam ter sido usados para produzir outros bens e serviços. Por exemplo, para reduzir a quantidade de dióxido de enxofre emitido, as termelétricas precisam comprar carvão com baixo teor de enxofre, que é mais caro, ou instalar purificadores especiais para remover o enxofre de suas emissões. Quanto mais dióxido de enxofre estiver autorizada a emitir, mais baixos serão esses custos adicionais. Suponha que possamos calcular o valor que o setor de energia pouparia se fosse autorizado a emitir uma tonelada adicional de dióxido de enxofre. Essa economia é o benefício marginal para a sociedade de emitir uma tonelada extra de dióxido de enxofre. Usando números hipotéticos, a Figura 16-1 mostra como podemos determinar a quantidade de poluição socialmente ótima – a quantidade de poluição que a sociedade escolheria se todos os custos e benefícios fossem integralmente contabilizados. A curva de custo social marginal com

inclinação para cima, CSM, mostra como o custo marginal para a sociedade de uma tonelada adicional de emissão de poluição varia de acordo com a quantidade de emissões. (É provável uma inclinação ascendente, pois a natureza, muitas vezes, consegue absorver com segurança níveis de poluição baixos, mas é cada vez mais prejudicada à medida que a poluição vai atingindo níveis elevados.) A curva de benefício social marginal, BSM, tem inclinação para baixo porque é progressivamente mais difícil e, portanto, mais caro conseguir uma redução maior na poluição à medida que a quantidade total de poluição diminui – é necessário usar tecnologia cada vez mais cara. Como resultado, à medida que a poluição diminui, aumenta a economia de custo para um poluidor que permite emitir uma tonelada a mais de poluentes.

ARMADILHAS ENTÃO, COMO SE MEDE O CUSTO SOCIAL MARGINAL DA POLUIÇÃO? Pode ser confuso pensar sobre custo social marginal – afinal, até esse ponto sempre definimos o custo marginal como incorrido por um indivíduo ou uma empresa, não pela sociedade como um todo. Mas é facilmente compreensível quando vinculado ao conceito familiar de disposição de pagar: o custo social marginal de uma unidade de poluição é igual à soma da disposição de pagar de todos os membros da sociedade para evitar essa unidade de poluição. É a soma porque, em geral, mais de uma pessoa é afetada pela poluição. Mas calcular o verdadeiro custo da poluição para a sociedade– marginal ou médio – é uma questão difícil, que exige muito conhecimento científico, como ilustra a seção a seguir Economia em Ação ao abordar o fumo. Como resultado, a sociedade, muitas vezes, subestima o verdadeiro custo social marginal da poluição. FIGURA 16-1

Quantidade de poluição socialmente ótima

A poluição gera tanto custo quanto benefício. Aqui a curva CSM mostra como o custo marginal, para a sociedade como um todo, de emitir uma tonelada a mais de poluentes depende da quantidade de emissões. A curva BSM mostra como o benefício marginal, para a sociedade como um todo, de emitir uma tonelada adicional de poluentes depende da quantidade de emissões. A quantidade socialmente ótima de poluição é

QOTI; nessa quantidade, o benefício social marginal da poluição é igual ao custo social marginal, correspondendo a $200.

Nesse exemplo, a quantidade socialmente ótima de poluição não é zero. É QOTI, a quantidade correspondente ao ponto O, onde BSM cruza CSM. Em QOTI, o benefício social marginal de uma tonelada adicional de emissão de poluentes e seu custo marginal social são equalizados em $200. Mas será que uma economia de mercado, por si mesma, chega à quantidade socialmente ótima de poluição? Não, não chega.

ARMADILHAS E COMO SE MEDE O BENEFÍCIO MARGINAL SOCIAL DA POLUIÇÃO? Assim como o problema de medir o custo social marginal da poluição, o conceito de disposição de pagar ajuda a compreender o benefício social marginal da poluição em comparação com o benefício marginal de um indivíduo ou de uma empresa. O benefício social marginal de uma unidade de poluição é igual à maior disposição de pagar pelo direito de emitir aquela unidade, considerando todos os poluidores. Mas, diferentemente do custo social marginal da poluição, o valor do benefício social marginal da poluição é um número passível de ser conhecido – ao menos pelos poluidores.

Poluição: Um custo externo

A poluição gera tanto benefícios quanto custos para a sociedade. Mas em uma economia de mercado, sem intervenção governamental, aqueles que se beneficiam da poluição, como os proprietários das termelétricas, decidem a quantidade de poluição que ocorre e não têm incentivo para considerar o custo da poluição que impõem aos outros. Para saber por que, lembre-se da natureza dos benefícios e custos decorrentes da poluição. Para os poluidores, os benefícios tomam a forma de economia monetária: ao emitir uma tonelada extra de dióxido de enxofre, o poluidor economiza o custo de comprar carvão com baixo teor de enxofre ou da instalação de equipamentos de controle de poluição. Assim, os benefícios da poluição vão direto para os poluidores. Contudo, os custos da poluição incidem sobre as pessoas que não têm influência na decisão sobre o quanto de poluição ocorre: por exemplo, as pessoas que pescam em lagos no nordeste dos Estados Unidos não controlam as decisões das termelétricas. A Figura 16-2 mostra o resultado dessa assimetria entre quem colhe os benefícios e quem paga os custos. Em uma economia de mercado sem intervenção governamental para proteger o meio ambiente, na escolha da quantidade de poluição são considerados apenas os benefícios da poluição. Assim, a quantidade de emissão não ocorre na quantidade socialmente ótima, QOTI; será QMKT, a quantidade pela qual o benefício social marginal

de uma tonelada adicional de poluição é zero, mas o custo social marginal dessa tonelada adicional é muito maior – $400. A quantidade de poluição em uma economia de mercado sem intervenção governamental será mais alta do que a quantidade socialmente ótima. (O imposto pigouviano mencionado na Figura 16-2 será explicado adiante.) A razão é que, na ausência de intervenção governamental, aqueles que obtêm benefícios da poluição – nesse caso, as termelétricas – não precisam compensar os que arcam com os custos. Assim, o custo marginal da poluição para qualquer poluidor é zero: os poluidores não têm incentivo para limitar a quantidade de emissões. Por exemplo, antes da Lei do Ar Puro de 1970 nos Estados Unidos, as termelétricas do Centro-Oeste usavam o tipo de carvão mais barato disponível, independentemente de quanta poluição causasse, e não faziam nada para filtrar as emissões. FIGURA 16-2

Por que uma economia de mercado produz tanta poluição

Na ausência de intervenção governamental, a quantidade de poluição será QMKT, o nível em que o benefício social marginal da poluição é zero. Essa é uma quantidade de poluição ineficientemente alta: o custo social marginal, $400, excede em muito o

benefício social marginal, $0. Um imposto pigouviano ótimo de $200, o valor do custo social marginal da poluição quando ele é igual ao benefício social marginal da poluição, pode mover o mercado para a quantidade de poluição socialmente ótima, QOTI.

Os custos ambientais de poluição são o exemplo mais conhecido e mais importante de custo externo – um custo sem compensação que um indivíduo ou uma empresa impõe aos outros. Há muitos exemplos de custo externo, além da poluição. Outro exemplo importante e, certamente familiar, é o custo externo do congestionamento de trânsito – uma pessoa que escolhe dirigir na hora do rush aumenta o congestionamento e, assim, aumenta o tempo de viagem de outros motoristas. Veremos mais adiante, neste capítulo, que também há exemplos importantes de benefícios externos, benefícios que os indivíduos ou empresas conferem aos outros sem receber compensação. Os custos e benefícios externos são conhecidos como externalidades, com os custos externos chamados de externalidades negativas e os benefícios externos chamados de externalidades positivas.

PARA MENTE CURIOSAS FALANDO, ENVIANDO MENSAGEM E DIRIGINDO Por que aquela mulher no carro da frente está dirigindo de modo tão imprevisível? Está bêbada? Não, está falando no seu celular ou enviando mensagem de texto. Especialistas em segurança de tráfego levam a sério os riscos que existem ao dirigir usando o celular: Um estudo recente descobriu um aumento de seis vezes em acidentes causados por dirigir estando distraído. E, em 2010, o National Safety Council (Conselho Nacional de Segurança) estimou que 28% dos acidentes de tráfico são atribuíveis ao uso do celular. Dos 1,4 milhão de acidentes de trânsito anuais nos Estados Unidos, 200 mil são imputados a envio de mensagens de texto enquanto se está ao volante. Uma estimativa sugere que falar ao celular ao volante pode ser responsável por 3 mil ou mais mortes no trânsito por ano. E usar o bluetooth do carro para fazer ligações não parece ajudar muito, porque o principal perigo é a distração. Como um

consultor de tráfego colocou, “não importa onde seus olhos estão, mas onde sua cabeça está”. O National Safety Council (Conselho Nacional de Segurança) exorta as pessoas a não usar telefones durante a condução. A maioria dos estados tem alguma restrição sobre falar ao celular enquanto dirige. Mas em resposta ao número crescente de acidentes, muitos estados proibiram o uso do celular ao volante por completo. Em 19 estados e no Distrito de Columbia, é ilegal o envio de mensagens de texto enquanto se estiver dirigindo. O uso do celular ao volante também é ilegal em muitos outros países, incluindo Israel e Japão. Por que não deixar a decisão com o motorista? Porque o risco que representa o uso do celular ao volante não é apenas um risco para o motorista, mas também para os outros – para os passageiros do motorista, pedestres, e para as pessoas nos outros carros. Mesmo que você decida que o benefício do uso do celular ao volante vale a pena o custo, não está considerando o custo para outras pessoas. Dirigir usando celular, em outras palavras, gera uma externalidade negativa séria – e às vezes fatal.

Como já sugerido, externalidades podem levar a decisões individuais que não são ótimas para a sociedade como um todo. Vamos saber por quê. A ineficiência do excesso de poluição

Acabamos de mostrar que, na ausência de ação governamental, a quantidade de poluição será ine ciente: os poluidores irão poluir até o ponto em que o benefício social marginal da poluição seja zero, como mostra a quantidade de poluição, QMKT, na Figura 16-2. Lembre-se de que um resultado é eficiente se alguém puder ficar em situação melhor sem piorar a situação do outro. No Capítulo 4, mostramos por que a quantidade de equilíbrio de mercado em um mercado em concorrência perfeita é a quantidade eficiente do bem, a quantidade que maximiza o excedente total. Aqui, podemos usar uma variação dessa análise para mostrar como a presença de externalidades negativas perturba esse resultado. Como o benefício social marginal da poluição é zero em QMKT, reduzir a quantidade de poluição em uma tonelada subtrai muito pouco do benefício social total da poluição. Em outras palavras, o benefício dos poluidores da última unidade de poluição é muito baixo, praticamente zero. Enquanto isso, o custo social marginal imposto ao resto da sociedade pela última tonelada de poluição em QMKT é bastante alto – $400. Dito isso, quando se reduz

quantidade de poluição em uma tonelada estando em QMKT, o custo social total da poluição se reduz em quase $400, mas o benefício social total reduz praticamente zero. Assim, o excedente total aumenta em aproximadamente $400 se a quantidade de poluição em QMKT for reduzida em uma tonelada. Se a quantidade de poluição for reduzida ainda mais, haverá mais ganhos no excedente total, embora menores. Por exemplo, se a quantidade de poluição for QH na Figura 16-2, o benefício social marginal de uma tonelada de poluição é $100, mas o custo social marginal ainda é $300. Em outras palavras, a redução da quantidade de poluição em uma tonelada leva a um ganho líquido no excedente total de aproximadamente $300 − $100 = $200. Isso informa que QH ainda é uma quantidade de poluição ineficientemente alta. Só se a quantidade de poluição for reduzida para QOTI, onde tanto o custo social marginal como o benefício social marginal de uma tonelada adicional de poluição é $200, o resultado será eficiente. Soluções particulares para externalidades

O setor privado pode resolver o problema das externalidades sem intervenção governamental? Tenha em mente que quando um resultado é ineficiente, existe uma transação potencial que poderia melhorar a situação das pessoas. Por que as pessoas não encontram uma maneira de fazer essa transação? Em um artigo influente de 1960, o economista e ganhador do prêmio Nobel, Ronald Coase argumentou que, em um mundo ideal, o setor privado poderia de fato lidar com todas as externalidades. De acordo com o teorema de Coase, mesmo na presença de externalidades uma economia sempre pode alcançar uma solução eficiente, desde que os custos de realizar uma transação sejam suficientemente baixos. Os custos de fazer um negócio são conhecidos como custos de transação. Para entender o argumento de Coase, imagine dois vizinhos, Mick e Christina, e que os dois gostem de fazer churrasco no quintal nas tardes de verão. Mick gosta de colocar o som bem alto com músicas antigas enquanto está assando churrasco, mas isso irrita Christina, que não suporta esse tipo de música.

Quem prevalece? Você pode pensar que depende dos direitos legais envolvidos no caso: se a lei diz que Mick tem direito de tocar qualquer música que queira, Christina só tem que aguentar; se a lei diz que Mick precisa do consentimento de Christina para tocar música no quintal, Mick tem que passar sem a música favorita enquanto está fazendo churrasco. Mas, como assinalou Coase, o resultado não precisa ser determinado por direitos legais, porque Christina e Mick podem fazer um acordo particular. Mesmo que Mick tenha o direito de tocar música, Christina pode pagar para que não o faça. E mesmo que Mick não possa tocar música sem a permissão de Christina, pode oferecer-lhe uma recompensa para que permita. Tais pagamentos permitem que se chegue a uma solução eficiente, independentemente de quem tenha o direito legal. Se o benefício da música para Mick excede o custo para Christina, a música vai continuar; se o benefício para Mick for menor do que o custo para Christina, haverá silêncio. A implicação da análise de Coase é que as externalidades não precisam levar à ineficiência porque os indivíduos podem ter um incentivo para fazer acordos mutuamente benéficos – transações que fazem com que considerem as externalidades ao tomar decisões. Quando as pessoas consideram externalidades ao tomar decisões, os economistas dizem que internalizam as externalidades. Se as externalidades forem totalmente internalizadas, o resultado será eficiente mesmo sem a intervenção governamental. Por que os indivíduos não conseguem sempre internalizar as externalidades? O exemplo do churrasco supõe implicitamente que os custos de transação são baixos o suficiente para que Mick e Christina possam chegar a um acordo. No entanto, em muitas situações que envolvem externalidades, os custos de transação impedem o indivíduo de fazer transações eficientes. Exemplos de custos de transação incluem o seguinte: Custos de comunicação entre as partes interessadas. Esses custos podem ser muito altos se muitas pessoas estiverem envolvidas. Custos de fazer acordos juridicamente obrigatórios. Esses custos podem ser elevados se forem necessários serviços jurídicos caros. Custos onerosos de atrasos envolvidos na negociação. Mesmo que a transação seja benéfica potencialmente, ambos os lados podem resistir

em um esforço de extrair condições mais favoráveis, levando ao aumento do esforço e do benefício que deixa de ser usufruído. Em alguns casos, as pessoas encontram maneiras de reduzir os custos de transação, permitindo que internalizem externalidades. Por exemplo, uma casa com o quintal cheio de porcarias e com a cerca descascada impõe uma externalidade negativa sobre as casas vizinhas, diminuindo o seu valor aos olhos dos compradores potenciais de casas. Por isso, muitas pessoas vivem em condomínios privados que estabelecem regras de conservação das residências e de comportamento tornando desnecessária a negociação entre vizinhos. Mas, em muitos outros casos, os custos de transação são altos demais para que seja possível lidar com externalidades por meio da ação particular. Por exemplo, dezenas de milhões de pessoas são prejudicadas pela chuva ácida. Seria proibitivamente caro tentar fazer um acordo entre todas as pessoas e a termelétrica. Quando os custos de transação evitam que o setor privado lide com externalidades, é hora de examinar as soluções do governo. Iremos abordar a política pública na próxima seção.

economia em ação Obrigado por não fumar

Os nova-iorquinos chamam essas pessoas de “pessoal da fumaça no gelo” – os fumantes do lado de fora dos locais de trabalho, mesmo em pleno inverno, fazendo uma pausa para o cigarro. Ao longo das duas últimas décadas, as regras contra o fumo em espaços compartilhados com outras pessoas tornaram-se cada vez mais rigorosas. Em parte, isso é questão de gosto pessoal – quem não fuma realmente não gosta de sentir o cheiro de cigarro dos outros; mas isso também reflete preocupação com o risco de saúde dos fumantes passivos. Os maços de cigarros trazem avisos do tipo: “Fumar causa câncer de pulmão, doenças cardíacas, enfisema e pode

complicar a gravidez.” E não há dúvida de que estar no mesmo recinto que um fumante expõe a alguns riscos de saúde. O fumante passivo, certamente, é um exemplo de externalidade negativa. Mas qual sua importância? Atribuir um valor monetário, ou seja, medir o custo social marginal da fumaça do cigarro, exige não apenas uma estimativa dos efeitos sobre a saúde, mas uma estimativa dos custos desses efeitos. Apesar da dificuldade, os economistas tentaram. Um artigo publicado em 1993 no Journal of Economic Perspectives apresentou uma revisão da pesquisa sobre os custos externos tanto do tabagismo como do consumo de bebidas alcoólicas. De acordo com esse trabalho, a estimativa dos custos de saúde dos cigarros depende de serem incluídos ou não os custos impostos aos membros das famílias dos fumantes, incluindo os nascituros, além dos custos diretos incorridos pelos fumantes. Quando não se contam os familiares, os custos externos para os fumantes passivos foram estimados em apenas $0,19 por maço consumido. (Usando esse método de cálculo, $0,19 corresponde ao custo social médio de fumar por maço de cigarros, no nível atual de tabagismo da sociedade.) Um estudo de 2005 elevou a estimativa para $0,52 por maço consumido. Se forem incluídos os efeitos sobre as famílias dos fumantes, o número sobe consideravelmente; os membros das famílias que convivem com fumantes estão expostos a muito mais fumaça. (Também estão expostos ao risco de incêndio, que por si só é estimado em $0,09 por maço.) Se forem incluídos os efeitos do tabagismo sobre a saúde futura dos filhos ainda não nascidos de mulheres grávidas, o custo é imenso – $4,80 por maço, que é mais que o dobro do preço praticado pelos fabricantes de cigarros. (Ver a fonte na página de copyright.)

BREVE REVISÃO Há custos, bem como benefícios, em reduzir a poluição, por isso a quantidade ótima de poluição não é zero. Em vez disso, a quantidade de poluição socialmente ótima é a quantidade em que o custo social marginal da poluição é igual ao benefício social marginal da poluição.

Por si só, uma economia de mercado irá gerar, normalmente, um nível ineficientemente elevado de poluição porque os poluidores não têm incentivo de considerar os custos que impõem aos outros. Custos e benefícios externos são conhecidos como externalidades. A poluição é um exemplo de custo externo ou externalidade negativa; por outro lado, algumas atividades podem dar origem a benefícios externos ou externalidades positivas. De acordo com o teorema de Coase, o setor privado pode, por vezes, resolver as externalidades por conta própria: se os custos de transação não forem muito altos, indivíduos podem chegar a um acordo para internalizar a externalidade. Quando os custos de transação são muito altos, pode-se justificar a intervenção governamental.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 16-1 1. O escoamento de grandes granjas de galinha afetam negativamente os vizinhos. Explique o seguinte: a. A natureza do custo externo imposto. b. O resultado na ausência de intervenção governamental ou de um acordo particular. c. O resultado socialmente ótimo. 2. De acordo com Yasmin, qualquer aluno que empreste um livro da biblioteca da universidade e não devolva no prazo impõe uma externalidade negativa aos outros alunos. Ela afirma que, em vez de cobrar uma multa modesta para devoluções fora de prazo, a biblioteca deveria cobrar uma multa alta para que nenhum aluno atrasasse a devolução de um livro. O raciocínio econômico de Yasmin está correto? As respostas estão no fim do livro.

POLÍTICAS CONTRA A POLUIÇÃO Antes de 1970, nos Estados Unidos, não havia regras que regulassem a quantidade de dióxido de enxofre que as termelétricas podiam emitir – é por isso que a chuva ácida tornou-se problema. Depois de 1970, a Lei do Ar Puro estabeleceu regras para as emissões de dióxido de enxofre e a acidez das chuvas diminuiu significativamente. Contudo, os economistas argumentaram que um sistema de regras mais flexíveis, que explorasse a eficácia dos mercados, poderia alcançar um grau menor de poluição com

custo menor. Em 1990, essa teoria foi posta em prática com uma versão modificada da Lei do Ar Puro. Adivinhem? Os economistas tinham razão! Nesta seção, analisaremos as políticas que os governos usam para lidar com a poluição e como a análise econômica tem sido usada para melhorar essas políticas. Padrões ambientais

Os custos externos mais graves no mundo moderno certamente são os associados a atividades que prejudicam o meio ambiente: poluição do ar, contaminação da água, destruição do hábitat, e assim por diante. A proteção do meio ambiente tornou-se um papel importante do governo em todas as nações avançadas. Nos Estados Unidos, a EPA (Environmental Protection Agency – Agência de Proteção Ambiental) é o principal executor de políticas ambientais a nível nacional, apoiada por ações dos governos estadual e municipal. Como um país protege o meio ambiente? Atualmente, os principais instrumentos de política são os padrões ambientais, regras que protegem o meio ambiente, especificando ações para produtores e consumidores. Um exemplo conhecido é a lei que exige que quase todos os veículos tenham catalisador, que reduz a emissão de produtos químicos que podem poluir a atmosfera e causar problemas à saúde. Outras regras exigem que as comunidades tratem o seu esgoto, que as fábricas evitem ou limitem certos tipos de poluição, e assim por diante. Os padrões ambientais se generalizaram na década de 1960 e 1970, e tiveram sucesso considerável na redução da poluição. Por exemplo, após a aprovação da Lei do Ar Puro nos Estados Unidos em 1970, a emissão total de poluentes no ar diminuiu em mais de um terço, embora a população tenha aumentado em 1/3, e o tamanho da economia tenha duplicado. Mesmo em Los Angeles, ainda famosa pela poluição, o ar melhorou de qualidade acentuadamente: em 1976, os níveis de ozônio na atmosfera na costa sul excederam as normas federais em 194 dias; em 2010, apenas em 7 dias. Apesar desse sucesso, os economistas acreditam que, quando os reguladores podem controlar diretamente as emissões dos poluidores,

existem maneiras mais eficientes de lidar com a poluição do que o estabelecimento de padrões ambientais. Usando métodos fundamentados na análise econômica, a sociedade pode alcançar um ambiente mais limpo a um custo menor. A maioria dos padrões ambientais atuais é inflexível e não permite que a redução na poluição seja alcançada a um custo mínimo. Por exemplo, duas termelétricas – usina A e usina B – podem ser obrigadas a reduzir a poluição na mesma porcentagem, mesmo que os custos de atingir esse objetivo sejam muito diferentes. Como a teoria econômica sugere que a poluição seja controlada diretamente? Na verdade, há duas abordagens: impostos e licenças de emissão comercializáveis. Como veremos, qualquer abordagem pode alcançar resultado eficiente com o menor custo possível. Impostos sobre emissões

Uma maneira de lidar diretamente com a poluição é cobrar um imposto sobre emissões dos poluidores. Impostos sobre emissões são os que dependem da quantidade de poluição que a empresa produz. Por exemplo, pode-se cobrar das termelétricas $200 para cada tonelada de dióxido de enxofre que emitem. Analisemos novamente a Figura 16-2, que mostra que a quantidade de poluição socialmente ótima é QOPI. Nessa quantidade de poluição, o benefício social marginal e o custo social marginal de uma tonelada de emissões adicional é igual a $200. Mas, na ausência de intervenção governamental, as termelétricas não têm qualquer incentivo de limitar a poluição pela quantidade socialmente ótima, QOTI; em vez disso, irão empurrar a poluição até a quantidade QMKT, em que o benefício social marginal é zero. Agora, é fácil verificar como um imposto sobre emissões pode resolver o problema. Se a termelétrica for obrigada a pagar uma taxa de $200 por tonelada de emissão, agora está diante de um custo marginal de $200 por tonelada e não tem incentivo de reduzir as emissões para QOTI, a quantidade socialmente ótima. Isso ilustra um resultado geral: um imposto

Ã

COMPARA ÇÃOGLOBAL CRESCIMENTO ECONÔMICO E GASES DE EFEITO ESTUFA EM SEIS PAÍSES À primeira vista, a comparação de gases de efeito estufa per capita entre vários países, mostrado no painel (a) deste gráfico, sugere que a Austrália, o Canadá e os Estados Unidos são os piores poluidores. O americano médio é responsável por 23,4 toneladas de emissão de gases de efeito estufa (medido em equivalentes de CO2) – a poluição que causa aquecimento global – comparado com apenas 6,9 toneladas para o cidadão médio do Uzbequistão, 5,5 toneladas para o chinês médio e 1,7 tonelada para o indiano médio. (Uma tonelada, também chamada de tonelada métrica, é igual a 1,10 tonelada.) Contudo, essa conclusão ignora um fator importante na determinação do nível de emissão de gases de efeito estufa de um país: seu produto interno bruto, ou PIB – o valor total do produto interno de um país. Normalmente, o produto não pode ser produzido sem mais energia. E mais uso de energia geralmente resulta em mais poluição. Na verdade, alguns argumentam que criticar o nível de emissão de gases de efeito estufa sem considerar o nível de desenvolvimento econômico de um país é enganoso. Seria equivalente a criticar um país por estar em um estágio mais avançado de desenvolvimento econômico. É mais certo comparar a poluição dos países medindo as emissões por $1 milhão do PIB de um país como mostrado no painel (b). Nessa base, os Estados Unidos, o Canadá, a Índia e a Austrália são agora países “verdes”, mas a China e o Uzbequistão não são. O que explica a inversão, uma vez que o PIB é contabilizado? A resposta: tanto a economia como o comportamento do governo. Primeiro, há a questão da economia. Países que são pobres e começaram a se industrializar, como a China e o Uzbequistão, muitas vezes, acham que o dinheiro gasto para reduzir a poluição estará mais bem empregado em outras coisas. Pela perspectiva deles, ainda são muito pobres para se dar ao luxo de ser tão limpos como os países avançados. Alegam que a imposição de padrões ambientais dos países ricos colocaria em risco seu crescimento econômico. Segundo, há a questão de comportamento do governo ou, mais precisamente, se o governo possui ou não os instrumentos necessários para controlar eficazmente a poluição. A China é um bom exemplo desse problema. O governo chinês não tem poder regulatório suficiente

para obrigar o cumprimento das próprias regras ambientais, promover a conservação de energia ou encorajar a redução da poluição. Por exemplo, para produzir $1 de PIB, a China gasta três vezes a média mundial de energia e muito mais que a Indonésia, que também é um país pobre. O caso da China ilustra o quanto é importante a intervenção governamental na melhoria do bem-estar da sociedade, na presença de externalidades.

Fonte: World Resources Institute.

Por que o imposto sobre emissões é uma forma eficiente (ou seja, uma forma que minimiza o custo) de reduzir a poluição, mas, em geral, os padrões ambientais não são? Porque um imposto sobre emissões garante que o benefício marginal da poluição seja igual para todas as fontes de poluição, enquanto um padrão ambiental não garante isso. A Figura 16-3 mostra um setor hipotético composto de apenas duas termelétricas, usina A e usina B. Vamos supor que a usina A use tecnologia mais moderna que a B e por isso tem um custo menor de redução da poluição. Refletindo essa diferença de custo, a curva de benefício marginal de poluição da termelétrica A, BMA, situa-se abaixo da curva de benefício marginal de poluição da usina B, BMB. Como é mais caro para a usina B reduzir a poluição em qualquer quantidade de produto, uma tonelada adicional de poluição vale mais para a usina B do que para a usina A. FIGURA 16-3

Padrões ambientais versus impostos sobre emissões

Nos dois painéis, BMA mostra o benefício marginal de poluição da usina A, e BMB mostra o benefício marginal de poluição da usina B. Na ausência de intervenção governamental, cada uma emitiria 600 toneladas. No entanto, o custo da redução de emissões é mais baixo para a usina A, demonstrado pelo fato que BMA se situa abaixo de BMB. O painel (a) mostra o resultado de um padrão ambiental que requer que as duas usinas reduzam as emissões pela metade, o que é ineficiente, porque deixa o benefício marginal da poluição mais elevado para a usina B do que para a A. O painel (b) mostra que um imposto sobre emissões atinge a mesma quantidade de poluição de forma eficiente: diante de um imposto sobre emissões de $200 por tonelada, cada usina reduz a poluição até o ponto em que o seu benefício marginal seja $200.

Na ausência de ação do governo, sabemos que os poluidores vão poluir até que o benefício social marginal de uma unidade adicional de emissão seja igual a zero. Lembre-se de que o benefício social marginal da poluição é a redução de custos, na margem, para os poluidores de uma unidade adicional de poluição. Como resultado, sem a intervenção governamental, cada usina vai poluir até seu próprio benefício marginal de poluição ser igual a zero. Isso corresponde a uma quantidade de emissão de 600 toneladas para cada usina A e B – a quantidade de poluição em que BMA e BMB são iguais a zero. Assim, embora as usinas A e B deem valor diferente a

uma tonelada de emissões, sem a ação do governo escolherão emitir a mesma quantidade de poluição. Agora, suponhamos que o governo decida que o nível geral de poluição desse setor deva ser cortado pela metade, de 1.200 toneladas para 600 toneladas. O painel (a) da Figura 16-3 mostra como isso pode ser alcançado com um padrão ambiental que exige que cada usina reduza as emissões pela metade, de 600 para 300 toneladas. Esse padrão tem o efeito desejado de reduzir as emissões gerais de 1.200 para 600 toneladas, mas consegue isso de forma ineficiente. Como se pode ver no painel (a), o padrão ambiental leva a usina A a produzir em SA, em que o benefício marginal da poluição é $150, mas a usina B produz no ponto SB, em que o benefício marginal da poluição é duas vezes maior, $300. Essa diferença de benefício marginal entre as duas usinas informa que a mesma quantidade de poluição pode ser alcançada com um custo mais baixo, permitindo que a usina B possa poluir mais que 300 toneladas, mas induzindo a usina A a poluir menos. De fato, o modo eficaz de reduzir a poluição é assegurar que o resultado de todo o setor, o benefício marginal da poluição, seja o mesmo para todas as usinas. Quando cada uma atribui o mesmo valor a uma unidade de poluição, não há nenhuma maneira de reorganizar a redução da poluição entre as várias usinas que possa atingir a quantidade de poluição ótima a um custo total mais baixo. Pode-se observar no painel (b) como um imposto sobre emissões consegue exatamente esse resultado. Suponha que tanto a usina A como a B paguem um imposto sobre emissões de $200 por tonelada, de modo que o custo marginal de uma tonelada adicional de emissão para cada uma seja agora de $200, em vez de $0. Em consequência, a usina A produz em TA e a B produz em TB. Então a usina A reduz mais a poluição do que o faria em um padrão ambiental inflexível, cortando as emissões de 600 para 200 toneladas; enquanto isso, a usina B faz uma redução menor, passando de 600 para 400 toneladas. No final, a poluição total – 600 toneladas – é a mesma que sob o padrão ambiental, mas o excedente total é maior. Isso porque a redução da poluição foi alcançada de forma eficiente, alocando a maior parte da redução para a usina A, que pode reduzir as emissões com custo menor.

O termo imposto sobre emissões pode dar a impressão enganosa de que impostos são uma solução aplicável a apenas um tipo de custo externo, a poluição. De fato, os impostos podem ser usados para desencorajar qualquer atividade que gere externalidade negativa, como dirigir na hora do rush ou abrir um bar barulhento em uma área residencial. Em geral, impostos destinados a reduzir custos externos são conhecidos como impostos pigouvianos, segundo o economista AC Pigou, que enfatizou sua utilidade em seu livro clássico de 1920, A Economia do Bem-estar. Em nosso exemplo, o imposto pigouviano ótimo é $200, como se observa na Figura 16-2, o que corresponde ao custo social marginal da poluição na quantidade de produto ótimo, QOTI. Há outros problemas com os impostos sobre emissões? A principal preocupação é que, na prática, os funcionários do governo geralmente não têm certeza de quanto o imposto deve ser elevado. Se for muito baixo, haverá pouca melhora no meio ambiente. Se for muito alto, as emissões serão reduzidas em um montante superior ao que é eficiente. Essa incerteza não pode ser eliminada, mas a natureza dos riscos pode ser alterada usando uma estratégia alternativa, a concessão de licenças de emissão comercializáveis. Licenças de emissão comercializáveis

Licenças de emissão comercializáveis são licenças para emitir quantidades limitadas de poluentes que podem ser compradas e vendidas pelos poluidores. Normalmente, são emitidas para as empresas poluentes de acordo com uma fórmula que reflete sua história. Por exemplo, para cada usina podem ser emitidas licenças equivalentes a 50% das suas emissões antes da entrada em vigor do sistema. O ponto mais importante, contudo, é que essas autorizações são comercializáveis. As empresas com custos de redução da poluição diferentes podem agora realizar transações mutuamente benéficas: aquelas que acham mais fácil reduzir a poluição vão vender algumas de suas licenças para aquelas que acham mais difícil. Em outras palavras, as empresas usarão as transações com licenças para realocar a redução da poluição entre elas, de modo que, no final, as com custo menor reduzirão mais a poluição e as com custo maior reduzirão

menos a poluição. Suponha que o governo emita 300 licenças para cada uma das usinas, A e B, sendo que uma licença permite a emissão de uma tonelada de poluição. Com um sistema de licenças de emissão comercializáveis, a usina A vai considerar mais lucrativo vender 100 das 300 licenças concedidas pelo governo para a usina B. O efeito de um sistema de licenças comercializáveis é criar um mercado de direitos de poluição. Assim como os impostos sobre emissões, as licenças de emissão comercializáveis fornecem aos poluidores um incentivo para levar em conta o custo social marginal da poluição. Para saber por que, suponha que o preço de mercado de uma licença para emitir uma tonelada de dióxido de enxofre seja $200. Então, cada usina tem um incentivo para limitar as emissões de dióxido de enxofre até que o benefício marginal de emitir outra tonelada de poluição seja $200. Isso é óbvio para usinas que compram o direito de poluir: se uma usina deve pagar $200 pelo direito de emitir uma tonelada adicional de dióxido de enxofre está diante dos mesmos incentivos que uma usina que se defronta com um imposto sobre emissões de $200 por tonelada. Mas é igualmente verdade para as usinas que têm mais licenças do que planejam usar: ao não emitir uma tonelada de dióxido de enxofre, uma usina libera uma autorização de venda de $200, de modo que o custo de oportunidade de uma tonelada de emissões para o proprietário da usina é $200. Em resumo, as licenças de emissão comercializáveis têm a mesma vantagem de minimização de custo que os impostos sobre emissões em relação aos padrões ambientais: cada sistema garante que aqueles que podem reduzir a poluição de forma mais barata são os que o fazem. A quantidade socialmente ótima de poluição mostrada na Figura 16-2 poderia ser eficazmente alcançada de qualquer maneira: através da imposição de um imposto sobre emissões de $200 por tonelada de poluição ou com licenças de emissão comercializáveis para emitir QOTI toneladas de poluição. Se os órgãos reguladores optarem por emitir QOTI licenças, onde uma licença permite a liberação de uma tonelada de emissões, então o preço de mercado de equilíbrio de uma licença entre os poluidores real mente será $200. Por quê? Pode-se ver na Figura 16-2 que, em QOTI, apenas os poluidores com um benefício marginal de poluição de $200 ou mais comprarão uma licença.

E o último poluidor a comprar – que tem um benefício marginal de exatamente $200 – define o preço de mercado. É importante perceber que os impostos sobre emissões e as licenças comercializáveis fazem mais do que induzir indústrias poluidoras a reduzir a quantidade de produto. Ao contrário de padrões ambientais rígidos, impostos sobre emissões e licenças comercializáveis fornecem incentivos para criar e usar tecnologia menos poluente – tecnologia nova que reduz o nível de poluição socialmente ótimo. O principal efeito do sistema de licenças para o dióxido de enxofre tem sido mudar a forma como a energia elétrica é gerada, e não reduzir a sua produção no país. Por exemplo, as termelétricas americanas passaram a usar combustíveis alternativos, como o carvão de baixo teor de enxofre e gás natural, como também instalaram purificadores que retiram a maior parte do dióxido de enxofre que é emitido por uma termelétrica. O principal problema das licenças de emissão comercializáveis é da mesma natureza que o problema com os impostos de emissões: como é difícil determinar a quantidade de poluição ótima, os governos podem acabar emitindo licenças em excesso (isto é, que não reduzem a poluição de modo satisfatório) ou poucas licenças (isto é, reduzindo muito a poluição). Depois de primeiro apoiar-se em padrões ambientais, o governo dos Estados Unidos passou a um sistema de licenças de emissão comercializáveis para controlar a chuva ácida. As propostas atuais em discussão estenderiam esse sistema para outras fontes importantes de poluição. E, em 2005, a União Europeia criou o maior esquema de comercialização de licenças de emissão, com a finalidade de controlar as emissões de dióxido de carbono, também conhecido como gases de efeito estufa. O esquema da União Europeia é parte de um mercado global mais amplo de comercialização de licenças de gases de efeito estufa. A seção Economia em Ação a seguir descreve esses dois sistemas.

economia em ação Limite e comércio (cap and trade)

Tanto o sistema de licenças de emissão comercializáveis para a chuva ácida nos Estados Unidos quanto o mesmo sistema para gases de efeito estufa na União Europeia são exemplos do sistema de limite e comércio: o sistema estabelece um teto (a quantidade máxima de poluente que pode ser emitida), emite licenças de emissão comercializáveis e impõe uma regra anual de que o poluidor tenha um número de licenças igual à quantidade de poluentes emitida. O objetivo é estabelecer um teto baixo o suficiente para gerar benefícios ambientais, dando aos poluidores a flexibilidade no cumprimento dos padrões ambientais e motivando-os a adotar novas tecnologias que reduzam o custo de reduzir a poluição. Em 1994, os Estados Unidos iniciaram um sistema de limite e comércio para as emissões de dióxido de enxofre que provocam chuva ácida por meio da emissão de licenças para as termelétricas com base em seu histórico de consumo de carvão. Graças ao sistema, a poluição do ar nos Estados Unidos diminuiu mais de 40% entre 1990 e 2008, e, em 2010, os níveis de chuva ácida caíram cerca de 50% em relação ao nível de 1980. Os economistas que analisaram o sistema de limite e comércio de dióxido de enxofre apontaram outra razão para o seu sucesso: teria sido muito mais caro – 80% a mais para ser mais exato – reduzir as emissões nessa proporção usando uma política regulatória não baseada no mercado. O sistema de limite e comércio da União Europeia, que abrange seus 27 países-membros, é o único sistema obrigatório de licenças de emissão comercializáveis para gases de efeito estufa. Está programado para alcançar uma redução de 21% nos gases de efeito estufa até 2020 em relação aos níveis de 2005. Outros países, como a Austrália e a Nova Zelândia, adotaram regimes de comércio menos abrangentes de gases de efeito estufa. De acordo com o Banco Mundial, o mercado mundial de gases do efeito estufa – também chamado de comercialização de créditos de carbono – cresceu rapidamente, de $11 bilhões em licenças negociadas em 2005 para $142 bilhões em 2010. Na Nova Zelândia, famosa pela indústria de ovelha e cordeiro, os agricultores estão ocupados convertendo pastagens em florestas, para que possam vender licenças a partir de 2015, quando as empresas serão obrigadas a pagar por emissões.

No entanto, apesar de todas as boas notícias, não se pode considerar que o sistema de limite e comércio seja uma bala de prata para acabar com os problemas de poluição do mundo. Embora seja apropriado para a poluição geograficamente dispersa, como o dióxido de enxofre e gases de efeito estufa, não funcionam para a poluição que está localizada, como a contaminação por mercúrio ou chumbo. Além disso, o montante de redução geral da poluição depende do nível estabelecido como teto. Havendo pressão da indústria, os reguladores correm o risco de emitir permissões demais, eliminando o teto efetivamente. Por fim, para que o sistema funcione, deve existir muita fiscalização para obrigar seu cumprimento. Sem o monitoramento de quanto o poluidor está de fato emitindo, não há maneira de saber com certeza se as regras estão sendo cumpridas.

BREVE REVISÃO Os governos, muitas vezes, limitam a poluição aplicando padrões ambientais. Geralmente, esses padrões são uma forma ineficiente de reduzir a poluição, porque são inflexíveis. Quando se pode observar e controlar diretamente a quantidade de poluição emitida, as metas ambientais podem ser alcançadas de forma eficiente de duas maneiras: impostos sobre emissões e licenças de emissão comercializáveis. Esses métodos são eficientes porque são flexíveis, alocando mais redução da poluição para aqueles que podem fazê-lo com custo menor. Também motiva os poluidores a adotar novas tecnologias de redução da poluição. Imposto sobre emissões é uma forma de imposto pigouviano. O imposto pigouviano ótimo é igual ao custo social marginal da poluição na quantidade de poluição socialmente ótima.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 16-2 1. Alguns opositores de licenças de emissão comercializáveis fazem oposição alegando que os poluidores que vendem suas licenças se beneficiam monetariamente da contribuição para a poluição do meio ambiente. Avalie esse argumento. 2. Explique:

Por que um imposto sobre emissões que seja inferior ou superior ao a. custo social marginal em QOTI reduz a um excedente total mais baixo em comparação com o excedente total gerado se o imposto sobre as emissões tiver sido definido de forma ótima? b. Por que um sistema de licenças de emissão comercializáveis que define a quantidade total de poluição permitida mais alta ou mais baixa que QOTI leva a um excedente total mais baixo em comparação com o excedente total gerado se o número de licenças tiver sido definido de forma ótima? As respostas estão no fim do livro.

EXTERNALIDADES POSITIVAS New Jersey é o estado mais populoso do país, situado ao longo do corredor nordeste, uma área de desenvolvimento quase contínua que se estende de Washington, D.C., a Boston. No entanto, uma circulada por New Jersey revela uma característica surpreendente: acre por acre de terra, cultivando de tudo, desde milho e abóboras até os famosos tomates Jersey. Essa situação não é por acaso: a partir de 1961, os cidadãos de New Jersey votaram uma série de medidas que subsidiaram os agricultores a preservar permanentemente a sua terra em vez de vendê-la para os incorporadores. Até 2011, o programa Green Acres, administrado pelo estado, atingiu mais de 650.000 acres preservados de espaço aberto. Por que os cidadãos de New Jersey votaram em elevar os próprios impostos para subsidiar a preservação da terra agrícola? Porque acreditavam que a terra preservada em um estado já fortemente desenvolvido proporcionaria benefícios externos, como beleza natural, acesso a alimentos frescos e conservação das populações de aves selvagens. Além disso, a preservação alivia os custos externos que vêm com mais desenvolvimento, como a pressão nas estradas, abastecimento de água e serviços municipais – e, inevitavelmente, mais poluição. Nesta seção, vamos explorar tópicos de benefícios externos e externalidades positivas. Em muitos aspectos, refletem os custos externos e as externalidades negativas. Deixado à própria sorte, o mercado vai produzir muito pouco de um bem (neste caso, as fazendas preservadas de Nova Jersey) que confere benefícios externos aos outros. Mas a sociedade como

um todo fica em melhor situação quando são adotadas políticas que aumentam a oferta desse bem. Terra agrícola preservada: benefício externo

Terras agrícolas preservadas produzem tanto benefícios como custos para a sociedade. Na ausência de intervenção governamental, o agricultor que quer vender sua terra incorre em todos os custos de preservação – nomeadamente, perda do lucro vendendo a terra agrícola a um incorporador. Mas os benefícios das terras agrícolas preservadas não cabem ao agricultor, mas aos moradores vizinhos, que não têm direito de influenciar a forma como a terra é utilizada. A Figura 16-4 ilustra o problema da sociedade. O custo social marginal da terra preservada, mostrado pela curva CSM, é o custo adicional imposto para a sociedade por um acre adicional dessa terra. Isso representa o lucro perdido que caberia aos agricultores se tivessem vendido as terras para incorporadoras. A reta tem inclinação ascendente, porque quando poucos acres são preservados e há abundância de terra agrícola disponível para incorporação, o lucro que poderia ter sido obtido com a venda de um acre para um incorporador é pequeno. Mas como o número de acres preservados aumenta e poucos são deixados para incorporação, o montante que um incorporador está disposto a pagar por eles, e, por conseguinte, o lucro não ganho, também aumenta. A curva BSM representa o benefício social marginal da terra agrícola preservada. É o benefício adicional que reverte para a sociedade – nesse caso, os vizinhos do agricultor, quando um acre de terra agrícola adicional é preservado. A curva tem inclinação para baixo, porque à medida que mais terra é preservada, o benefício para a sociedade de preservar outro acre cai. Como mostra a Figura 16-4, o ponto socialmente ótimo, O, ocorre quando o custo social marginal e o benefício social marginal são iguais – aqui, a um preço de $10.000 por acre. No ponto socialmente ótimo, QOTI acres de terras agrícolas são preservadas. O mercado, por si só, não irá fornecer QOTI acres de terras agrícolas preservadas. Em vez disso, no resultado de mercado nenhum acre será preservado; o nível da terra agrícola preservada, QMKT, é igual a zero. Isso

porque os agricultores vão definir o custo social marginal de preservação – o lucro não ganho – em zero e vender todos os acres para os incorporadores. Como os agricultores suportam a totalidade dos custos de preservação, mas não recebem nenhum benefício, no resultado de mercado, uma quantidade de acres ineficientemente baixa será preservada. FIGURA 16-4

Por que as economias de mercado preservam tão pouca área agrícola

Sem a intervenção governamental, a quantidade de terras agrícolas preservadas será igual a zero, o nível ao qual o custo social marginal de preservação é zero. É uma quantidade ineficientemente baixa de terras preservadas: o benefício social marginal é $20.000, mas o custo social marginal é zero. Um subsídio pigouviano ótimo de $10.000, quando o valor do benefício social marginal de preservação iguala o custo social marginal, pode mover o mercado para o nível socialmente ótimo de preservação,

QOTI.

Certamente isso é ineficiente porque com zero acres preservados, o benefício social marginal de preservar um acre de terra é $20.000. Então, como a economia pode ser induzida a produzir QOTI acres de terras

agrícolas preservadas, ao nível socialmente ótimo? A resposta é subsídio pigouviano: um pagamento destinado a incentivar atividades que geram benefícios externos. O subsídio pigouviano ótimo, como mostrado na Figura 16-4, é igual ao benefício social marginal da terra agrícola preservada no nível socialmente ótimo, QOTI, ou seja, $10.000 por acre. Assim, os eleitores de New Jersey de fato estão implementando a política certa para aumentar o seu bem-estar – tributando a si próprios para fornecer subsídios para a preservação de terras agrícolas. Externalidades positivas na economia moderna

Na economia dos Estados Unidos, a fonte mais importante de benefícios externos é a criação de conhecimento. Nas indústrias de alta tecnologia, como de semicondutores, design de soware, tecnologia verde e bioengenharia, as inovações de uma empresa são rapidamente imitadas e melhoradas pelas empresas rivais. Isso é conhecido como propagação de tecnologia entre indivíduos e empresas. Na economia moderna, as maiores fontes de propagação de tecnologia são as principais universidades e institutos de pesquisa. Nos países tecnologicamente avançados, como Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França e Israel, há um intercâmbio contínuo de pessoas e ideias entre empresas privadas, grandes universidades e institutos de pesquisa localizados nas proximidades. A interação dinâmica que ocorre nesses grupos de pesquisa estimula a inovação e a concorrência, avanços teóricos e aplicações de práticas. (Veja o estudo de caso, no final deste capítulo, para saber mais sobre grupos de pesquisa.) Um dos grupos de pesquisa mais conhecidos e de maior sucesso é o Research Triangle, na Carolina do Norte, ancorado pela Duke University e pela University of North Carolina, várias outras universidades e hospitais e empresas como a IBM, Pfizer e Qualcomm. Em última análise, essas áreas de propagação da tecnologia aumentam a produtividade da economia e elevam o padrão de vida. Mas grupos de pesquisa não aparecem do ar. Exceto em alguns casos em que as empresas financiam pesquisa básica de longo prazo, grupos de pesquisa se formam em torno de grandes universidades. E assim como a

preservação da terra agrícola em New Jersey, grandes universidades e suas atividades de pesquisa são subsidiadas pelo governo. De fato, os formuladores de políticas governamentais em países avançados perceberam a tempo que os benefícios externos gerados pelo conhecimento, resultantes da educação básica até a pesquisa de alta tecnologia, são o fundamento para o crescimento da economia ao longo do tempo.

economia em ação A lógica econômica impecável de programas de intervenção precoce na infância

Um dos problemas mais preocupantes que qualquer sociedade enfrenta é como romper o que os pesquisadores denominam de “ciclo da pobreza”: crianças que crescem em circunstâncias socioeconômicas desfavoráveis são muito mais propensas a permanecer presas à pobreza quando adultos, mesmo depois de considerar as diferenças de capacidade. São mais propensas a estar desempregadas ou subempregadas, a se envolver em crime e sofrer problemas de saúde crônicos. A intervenção precoce na infância oferece alguma esperança de romper o ciclo. Um estudo de 2006 pela RAND Corporation revelou que programas de primeira infância de alta qualidade com foco em educação e cuidados de saúde resultam em vantagens sociais, intelectuais e financeiras significativas para as crianças que, de outra forma, correriam o risco de evasão escolar ou de se envolver em comportamento criminoso. Crianças em programas como o Head Start são menos propensas a se envolver em tais comportamentos destrutivos e mais propensas a acabar empregadas, recebendo salário alto mais tarde na vida. Outro estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, em 2003, analisou os programas de intervenção na infância do ponto de vista monetário, encontrando de $4 a $7 de benefícios para cada dólar gasto no programa, enquanto que um estudo da Rand colocou uma cifra tão elevada quanto $17 por dólar gasto. O estudo Pittsburgh também destacou um programa cujos participantes, aos 20 anos, eram 26% mais propensos de ter terminado o ensino médio, 35% menos propensos de terem sido

processados pela Vara da Infância e da Juventude, e 40% menos propensos de ter repetido um ano em comparação com indivíduos de nível socioeconômico semelhante que não frequentaram a pré-escola. Os benefícios externos observados nesses programas são tão grandes para a sociedade que o Brookings Institution prevê que proporcionar educação pré-escolar de alta qualidade para cada criança americana resultaria em um aumento do PIB, o valor total do produto interno de um país, de quase 2%, o que representa mais de 3 milhões de empregos.

BREVE REVISÃO Quando há externalidades positivas ou benefícios externos, uma economia de mercado, por si só, produzirá muito pouco do bem ou atividade. A quantidade socialmente ótima do bem ou atividade pode ser alcançada pelo subsídio pigouviano ótimo. O exemplo mais importante de benefício externo na economia é a geração de conhecimento por meio da propagação de tecnologia.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 16-3 1. Em 2010, o Departamento de Educação dos Estados Unidos gastou quase $35 milhões com auxílio estudantil. Explique por que essa pode ser uma política ótima para gerar conhecimento. 2. Em cada um dos seguintes casos, determine se um custo externo ou um benefício externo foi imposto e qual seria uma resposta política adequada. a. Árvores plantadas em áreas urbanas melhoram a qualidade do ar e abaixam as temperaturas de verão. b. Caixas de descarga que economizam água reduzem a necessidade de bombear água de rios e aquíferos. O custo de um galão de água para os proprietários é praticamente zero. c. Monitores de computador antigos contêm materiais tóxicos que poluem o meio ambiente quando descartados de forma inadequada. As respostas estão no final do livro.

EXTERNALIDADES DE REDE

No Capítulo 13, explicamos que existe externalidade de rede quando o valor de um bem ou serviço para um indivíduo é maior quando um grande número de outras pessoas também usa o bem ou serviço. Apesar de externalidades de rede serem comuns em setores da economia orientados à tecnologia, o fenômeno é consideravelmente mais amplo que isso. Ao contrário de externalidades positivas e negativas, externalidades de rede não têm efeito inerentemente favorável ou adverso sobre a sociedade. O que compartilham, em vez disso, é a existência de um efeito externo a partir das ações de uma pessoa. Externalidades de rede desempenham um papel fundamental tanto na economia moderna como em uma série de controvérsias políticas. Aqui examinaremos mais de perto onde e como as externalidades de rede ocorrem e, em seguida, algumas das questões regulatórias que levantam. Tipos externalidades de rede

Para todas as externalidades de rede, o valor do bem ou serviço é inteiramente derivado da sua capacidade de vinculação de muitas pessoas ao mesmo bem ou serviço. Como resultado, o benefício marginal do bem ou serviço para qualquer indivíduo depende do número de outros indivíduos que o usam. Embora a maioria das externalidades de rede envolvam métodos de comunicação – Internet, telefones, aparelhos de fax e assim por diante –, podem existir sem ser estritamente necessário que outros usuários usem o bem, contanto que intensifiquem seu sucesso. Por exemplo, nos primeiros dias do desenvolvimento da estrada de ferro, uma estrada de ferro de Nova York a Chicago teria um valor considerável por si só, assim como teria uma estrada de ferro de Kansas City para Chicago. No entanto, cada estrada valeria mais, dada a existência da outra, porque uma vez que ambos estavam no local, os bens podiam ser enviados via Chicago entre Nova York e Kansas City. No mundo moderno, um voo regular entre dois aeroportos se torna mais valioso, se um ou ambos desses aeroportos forem um centro com conexões para outros lugares. Mesmo esse tipo de vinculação direta não é necessário na criação de importantes externalidades de rede. De qualquer forma, o fato de o

consumo de um bem ou serviço por outras pessoas aumentar o próprio benefício marginal do consumo desse bem ou serviço, pode dar origem a um efeito em rede. Lembre-se de que o caso clássico de externalidades de rede indiretas são os sistemas operacionais de computadores e que a maioria dos computadores pessoais de todo o mundo roda no sistema Windows da Microso. Por que o Windows domina sobre outros sistemas operacionais, como o OSX da Apple ou Linux? Um computador pessoal com o Windows é útil apenas na medida em que outras pessoas possuem o mesmo bem? Não em sentido direto; não há um problema literal de rede que torne o Windows o sistema preferido. O domínio do Windows é autossustentado, pelo menos, por duas razões indiretas. Primeiro, é mais fácil para um usuá rio do Windows obter ajuda e conselhos de outros usuários de computador do que para alguém usando um sistema menos popular. Segundo, o Windows atrai mais atenção dos desenvolvedores de soware, de modo que há mais programas executados no Windows do que em qualquer outro sistema operacional. Em sentido amplo, externalidades de rede ocorrem em vários bens e serviços. Mesmo a escolha de um carro é influenciada por uma forma de externalidade de rede. A maioria das pessoas não estaria disposta a mudar para um carro que funcionasse com gás natural, porque o abastecimento do carro poderia ser difícil: poucos postos de gasolina oferecem gás natural. E a razão pela qual os postos de gasolina não oferecem gás natural, certamente, é que poucas pessoas dirigem carros que não sejam movidos a gasolina. Ou, para tomar um exemplo menos drástico, as pessoas que vivem em cidades pequenas ficam relutantes em dirigir um veículo importado incomum: onde encontrariam um mecânico que soubesse como consertar o carro? Assim, a circularidade que faz uma pessoa escolher o Windows, porque todo mundo usa o Windows, também se aplica a bens que não são de alta tecnologia, como carros. Quando um bem ou serviço está sujeito a uma externalidade de rede, apresenta feedback positivo: se um grande número de pessoas o compra, outras pessoas também se tornam mais propensas a comprá-lo. Se as pessoas não compram o bem ou serviço, outros se tornam menos propensos

a comprá-lo. Assim, tanto o sucesso como o fracasso tendem a ser autossustentados. Isso leva a uma espécie de problema da “galinha versus o ovo”: se cada pessoa coloca um valor positivo em um produto com base em se a outra pessoa o possui, como foi conseguido que alguém comprasse a primeira vez? Os produtores de produtos que estão sujeitos a externalidades de rede estão cientes desse problema, compreendendo que de dois produtos concorrentes, é o que tem a maior rede – não necessariamente o melhor produto – que vai ganhar no final. Isto é, o produto com a maior rede eventualmente irá dominar o mercado, e competir com produtos que, no final, irão desaparecer. Uma forma de ganhar vantagem nas fases iniciais desse tipo de mercado é vender o produto mais barato, talvez tendo prejuízo, a fim de aumentar o tamanho da rede. Então, muitas vezes, vemos empresas que lançam novos produtos de alta tecnologia a um preço bem abaixo do custo de produção. Por exemplo, durante a década de 1990, os dois principais concorrentes no mercado de soware de navegador de Internet, o Netscape Navigator e o Microso Internet Explorer, ofereciam seu produto gratuitamente. E, ainda hoje, muitas empresas de telefonia celular oferecem aparelhos gratuitos para atrair os consumidores para a sua rede sem fio. Finalmente, as externalidades de rede apresentam um desafio especial aos reguladores antitruste, pois as leis antitruste, estritamente falando, não proíbem o monopólio. Em vez disso, proíbem apenas a “monopolização” – o esforço para criar um monopólio. Se você acabou dominando uma indústria, tudo bem, mas não se admite que tome medidas com o intuito de diminuir a concorrência. Assim, pode-se argumentar que monopólios de bens com externalidades de rede, quando ocorrem naturalmente, não devem causar problemas legais. Infelizmente, não é assim tão simples. As empresas que investem em novas tecnologias claramente tentam estabelecer posições de monopólio. Além disso, frente ao feedback positivo, as empresas têm incentivo para adotar estratégias agressivas de colocação dos produtos, a fim de aumentar o tamanho da rede e desviar os mercados em sua direção. Então, qual é a linha divisória entre ações legais e ilegais? Nesse ponto, as leis estão avançando um pouco. No caso antitruste contra a Microso, descrito em Economia em ação a seguir, os economistas e

peritos legais sensatos discordam acentuadamente sobre se a empresa violou a lei ao buscar uma posição de monopólio e sobre se a empresa devia ser dividida para diminuir sua capacidade de desviar novos mercados a seu favor.

economia em ação O caso Microsoft

Em 2000, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou a Microso em um dos processos antitruste mais famosos da história. Naquela época, a Microso tinha se tornado a empresa mais valiosa do mundo, e seu fundador, Bill Gates, o homem mais rico. O que o governo tentou foi nada menos do que o desmembramento da empresa. O caso envolveu quase todas as questões levantadas por bens com externalidades de rede. A Microso era, segundo qualquer definição razoável, um monopólio: deixando de lado os nichos de clientes da Apple e os usuários do Linux, quase todos os computadores pessoais usam o sistema operacional Windows. O fato fundamental de sustentação do sistema Windows era a força da externalidade de rede: as pessoas usavam Windows porque outras pessoas também usavam Windows. No entanto, o governo não desafiou o próprio monopólio do Windows (embora alguns economistas tenham estimulado isso). A maioria dos especialistas concordava que o monopólio em si é uma coisa natural em tais setores e não deveria ser evitado. Contudo, o que o governo alegava era que a Microso havia usado sua posição de monopolista no sistema operacional para dar aos seus outros produtos vantagem sobre os concorrentes. Por exemplo, alegou-se que ao incluir o Internet Explorer como parte do sistema Windows, a Microso estava concedendo a si mesma uma vantagem injusta sobre a rival Netscape no mercado de navegadores. Por que isso foi considerado prejudicial? O governo argumentou que estava sendo criado um monopólio desnecessariamente e que a Microso estava desencorajando a inovação. Segundo o governo, inovadores potenciais em soware não estavam dispostos a investir grandes somas por medo de que a Microso usasse seu controle do sistema operacional para

tirar quaisquer concorrentes do mercado que pudessem conquistar: a Microso produziria um produto concorrente que, então, seria vendido no pacote com o sistema operacional Windows. Por sua parte, a Microso argumentou que, ao definir o precedente de que as empresas seriam punidas pelo seu sucesso, o governo era o oponente real de inovação – inovação que havia beneficiado os clientes com preços mais baixos e produtos cada vez mais sofisticados. A princípio, a Microso foi condenada, quando um juiz ordenou a divisão da empresa em duas – uma empresa para o sistema operacional e outra para os demais produtos da empresa. Mas um recurso anulou essa decisão. Em novembro de 2001, o governo chegou a um acordo com a Microso, em que a empresa concordava em fornecer a outras empresas a tecnologia para desenvolver produtos que pudessem interagir perfeitamente com o soware da Microso, eliminando, assim, a vantagem especial que a empresa tinha pela venda dos produtos em pacote. Os concorrentes se queixaram amargamente de que esse acordo tinha demasiadas lacunas e que a capacidade da Microso de explorar a sua posição de monopólio permaneceria. E no início de 2004, o governo concordou: advogados antitruste do Departamento de Justiça informaram ao juiz que havia negociado o acordo original de que havia cada vez mais dúvidas sobre a capacidade do plano de estimular a concorrência. No entanto, em meados de 2004, um tribunal federal de apelação manteve a decisão de 2001 e em novembro de 2007, expirou as obrigações da Microso relativas ao acordo original.

BREVE REVISÃO Externalidades de rede surgem quando o valor de um bem aumenta quando um grande número de outras pessoas também o usa. Predominam nos setores de comunicações, transporte e indústrias de alta tecnologia. Bens com externalidades de rede apresentam um feedback positivo: o sucesso gera mais sucesso e o fracasso gera mais fracasso. No final, os bens que têm a maior rede dominam o mercado, e os bens das empresas rivais desaparecem. Como resultado, nos estágios iniciais do mercado, as empresas tomam ações agressivas, como a redução de preços abaixo do custo de produção, para aumentar o tamanho da rede do bem.

Bens com externalidades de rede apresentam problemas especiais para os reguladores antitruste porque tendem para o monopólio. Pode ser di realizar transações mutuamente cil distinguir o que seja um crescimento natural da rede e o que seja um esforço de monopolização ilegal por parte do produtor.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 16-4 1. Para cada um dos seguintes bens, explique a natureza da externalidade de rede presente. a. Aparelhos que usam uma tensão específica, como 110 volts contra 220 volts. b. Papel de 8½ por 11 polegadas versus papel de 8 por 12½ polegadas. 2. Suponha que haja duas empresas concorrentes em um setor com externalidade de rede. Explique por que é provável que a empresa que seja capaz de sustentar uma perda inicial maior acabará por dominar o mercado. As respostas estão no fim do livro.

• ESTUDO DE CASO Um conto de dois grupos de pesquisa

O Vale do Silício na Califórnia e a Rota 128 em Massachusetts são os polos de alta tecnologia mais proeminentes do mundo. O Vale do Silício remonta ao início dos anos 1930, quando a Stanford University incentivou seus alunos de engenharia elétrica a ficarem na área e fundar empresas. No início de 1950, a Stanford criou o Parque Industrial de Stanford, arrendando a área da universidade para empresas de alta tecnologia que trabalhavam perto da escola de Engenharia. Em meados da década de 1950, empresas como a Lockheed trouxeram dólares para a área. Até o final dos anos 1960, acumulou-se uma massa crítica de muito talento. Por exemplo, em 1968, oito jovens engenheiros saíram da empresa onde trabalhavam em decorrência de a um desacordo. Ao longo dos próximos 20 anos, fundaram 65 novas empresas, incluindo a Intel Corporation, que mais tarde criou o chip microprocessador, o cérebro dos computadores pessoais.

Esse padrão se repetia: um pesquisador estima que, em pequenas e médias empresas, havia rotatividade de 35% da força de trabalho, em média, em um ano. O Vale do Silício tornou-se um local fértil para iniciantes, com dezenas brotando a cada ano – havia de tudo, desde empresas especializadas em hardware e soware até empresas como eBay, Facebook e Google. Também se tornou o lar dos investidores que se especializaram no financiamento de novas empresas de alta tecnologia. A localização geográfica compacta do Vale do Silício permitia que as pessoas formassem laços sociais e de pesquisa, mesmo trabalhando para empresas rivais. Do outro lado do país, há outro polo de desenvolvimento de alta tecnologia, conhecido como Rota 128, situado em uma estrada de 100 km ao redor de Boston e Cambridge. Deve seu início ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a melhor universidade de Engenharia do mundo, bem como aos financiamentos da NASA e da National Science Foundation. Nos anos 1950, a Rota 128 dominava o Vale do Silício, oferecendo três vezes mais empregos. Mas logo de início, havia uma diferença significativa entre a Rota 128 e o Vale do Silício. Geograficamente, a Rota 128 era mais espalhada do que o Vale do Silício. Suas empresas eram maiores, refletindo a necessidade de contratantes do setor de defesa durante a Guerra Fria. E o MIT fornecia pouca ajuda para as empresas da Rota 128. Outra grande diferença entre os dois polos estava na forma de organização das empresas. As empresas da Rota 128 tendiam a estar “verticalmente integradas”, combinando toda a cadeia de produção de pesquisa ao projeto da produção na mesma empresa. As empresas do Vale do Silício concentravam-se exclusivamente em pesquisa e projeto, deixando a contratação da produção para empresas especializadas que tinham economias de escala. Nas empresas no Vale do Silício havia fluidez de funcionários e ideias, em contrapartida, as empresas da Rota 128 enfatizavam o compromisso de emprego vitalício e inovações muito bem guardadas para se manterem competitivas. Os anos 1970 e 1980 foram duros para a Rota 128. Os gastos militares secaram, perdendo vantagem em minicomputadores quando os computadores Apollo perderam sua excelência para uma empresa agressiva do Vale do Silício, a Sun Microsystems. Em 1980, o emprego em eletrônica

no Vale do Silício era três vezes maior do que na Rota 128. Com o tempo, a Rota 128 perdeu vantagem para o Vale do Silício em eletrônica e em rede. Hoje, tem seu nicho na área de biotecnologia, genética, engenharia de materiais e finanças.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Quais externalidades positivas eram comuns tanto ao Vale do Silício como à Rota 128? Quais externalidades positivas não eram comuns a ambas? Explique. 2. Que fatores tornaram o Vale do Silício um lugar fértil para início de empresas? Como esses fatores interagem uns com os outros? O que inibiu o início de empresas na Rota 128? 3. Em retrospectiva, o que a Apollo Computers poderia ter feito para manter sua vantagem em minicomputadores? O que geralmente isso informa sobre polos de pesquisa?

• RESUMO 1. Quando a poluição pode ser diretamente observada e controlada, as políticas governamentais devem ser orientadas diretamente para produzir a quantidade de poluição socialmente ótima, a quantidade em que o custo social marginal da poluição é igual ao benefício social marginal da poluição. Na ausência de intervenção governamental, um mercado produz muita poluição porque os poluidores consideram apenas o seu benefício de poluir e não os custos impostos aos outros. 2. Os custos de poluição para a sociedade são um exemplo de custo externo; em alguns casos, no entanto, as atividades econômicas geram benefícios externos. Custos e benefícios externos são conhecidos como externalidades, sendo os custos externos denominados de externalidades negativas e os benefícios externos denominados de externalidades positivas. 3. De acordo com o teorema de Coase, os indivíduos podem encontrar uma forma de internalizar a externalidade, tornando desnecessária a intervenção governamental, desde que os custos de transação – os custos de chegar a um acordo – sejam suficientemente baixos. No entanto, em muitos casos, os custos de transação são elevados demais para permitir um acordo assim.

4. Os governos, muitas vezes, lidam com a poluição por meio da imposição de padrões ambientais, um método que os economistas argumentam que, normalmente, é uma maneira ineficiente de reduzir a poluição. Dois métodos eficientes (que minimizam custos) para a redução da poluição são impostos sobre emissões, uma forma de imposto pigouviano e licenças de emissão comercializáveis. O imposto pigouviano ótimo sobre a poluição é igual ao seu custo social marginal na quantidade de poluição socialmente ótima. Esses métodos também oferecem incentivo para a criação e adoção de tecnologias de produção menos poluentes. 5. Quando um bem ou atividade gera benefícios externos ou externalidades positivas, como a propagação tecnológica, um subsídio pigouviano ótimo para os produtores move o mercado para a quantidade socialmente ótima de produção. 6. Comunicações, transporte e bens de alta tecnologia frequentemente estão sujeitos a externalidades de rede, que surgem quando o valor do bem para um indivíduo é maior quando grande número de pessoas o utiliza. É provável que esses bens estejam sujeitos a um feedback positivo: se um grande número de pessoas compra um bem, é provável que outras pessoas também o comprem. Assim, o sucesso gera maior sucesso e o fracasso gera maior fracasso: no final, o bem com a maior rede irá dominar e os bens das empresas rivais desaparecerão. Como resultado, a produção tem incentivo para tomar medidas agressivas nas fases iniciais de mercado para aumentar o tamanho da rede. Mercados com externalidades de rede tendem a ser monopólios. São especialmente desafiadores para os reguladores antitruste, pois pode ser difícil diferenciar entre a progressão natural da externalidade da rede e o esforço de monopolização ilegal por parte dos produtores.

• PALAVRAS-CHAVE Custo social marginal da poluição, p. 384 Benefício social marginal da poluição, p. 384 Quantidade de poluição socialmente ótima, p. 384 Custo externo, p. 386 Benefício externo, p. 386 Externalidades, p. 386 Externalidades negativas, p. 387 Externalidades positivas, p. 387 Teorema de Coase, p. 387 Custos de transação, p. 387 Internalizar a externalidade, p. 387 Normas ambientais, p. 389

Imposto sobre emissões, p. 389 Imposto pigouviano, p. 392 Licenças de emissão comercializáveis, p. 392 Subsídio pigouviano, p. 395 Propagação de tecnologia, p. 467 Feedback positivo, p. 397

• PROBLEMAS 1. Que tipo de externalidade (positiva ou negativa) está presente em cada um dos exemplos seguintes? O benefício social marginal da atividade é igual ou maior que o benefício marginal para o indivíduo? O custo social marginal da atividade é igual ou maior que o custo marginal para o indivíduo? Sem intervenção, haverá pouco ou muito dessa atividade (em relação ao que seria socialmente ótimo)? a. O Sr. Chau planta muitas flores coloridas no jardim frontal da casa. b. Seu vizinho gosta de acender fogueiras no quintal, e, muitas vezes, chegam faíscas em sua casa. c. Maija, que mora ao lado de um pomar de maçã, decide criar abelhas para produzir mel. d. Justine compra um veículo utilitário grande que consome muita gasolina. 2. A música alta que vem da fraternidade ao lado do seu dormitório é uma externalidade negativa que pode ser quantificada diretamente. A tabela a seguir mostra o benefício social marginal e o custo social marginal por decibel (dB, uma medida de volume) da música.

a. Trace a curva de benefício social marginal e a curva de custo social marginal. Use o gráfico para determinar o volume da música socialmente ótimo. b. Apenas os membros da fraternidade se beneficiam da música, e não têm nenhum custo com ela. Que volume de música será escolhido? c. A universidade impõe um imposto pigouviano de $3 por decibel de música tocada. No gráfico, determine o volume da música que a fraternidade vai escolher agora. 3. Muitos produtores de leite da Califórnia estão adotando uma nova tecnologia que lhes permite produzir a própria energia elétrica a partir do gás metano capturado dos resíduos dos animais. (Uma vaca pode produzir até 2 quilowatts por dia.) Essa prática reduz a quantidade de gás metano liberado na atmosfera. Além de reduzir as contas de eletricidade, os agricultores podem vender a energia elétrica que produzem a taxas favoráveis. a. Explique como a capacidade de ganhar dinheiro captando e transformando gás metano funciona como um imposto pigouviano sobre a poluição com o gás metano e pode levar os produtores de leite a emitir uma quantidade eficiente de poluição de gás metano. b. Suponha que alguns produtores de leite tenham custos menores para transformar o metano em energia elétrica. Explique como esse sistema leva a uma alocação eficiente da redução de emissões entre os produtores de leite. 4. Programas ambientais voluntários eram extremamente populares nos Estados Unidos, na Europa e no Japão na década de 1990. Parte de sua popularidade vem do fato de que esses programas não requerem leis, que muitas vezes são difíceis de aprovar. O programa 33/50 iniciado pela EPA é

um exemplo disso. Com esse programa, a EPA tentou reduzir as emissões industriais de 17 produtos químicos tóxicos, fornecendo informações sobre os métodos relativamente baratos de controle da poluição. Solicitou-se às empresas a se comprometerem voluntariamente a reduzir as emissões em 33% em relação aos níveis 1988 até 1992 e em 50% até 1995. O programa realmente atingiu a meta em 1994. a. Como na Figura 16-3, trace curvas de benefício marginal da poluição gerada por duas usinas, A e B, em 1988. Suponha que, sem intervenção governamental, cada usina emita a mesma quantidade de poluição, mas que em todos os níveis de poluição inferiores a esse valor, o benefício marginal da poluição da usina A seja inferior ao da usina B. O eixo vertical deve ser o do “benefício marginal do poluidor individual”, e o eixo horizontal a “quantidade de emissões de poluentes”. Indique a quantidade de poluição que cada usina produz sem a ação do governo. b. Você espera que a quantidade total de poluição antes que o programa seja posto em prática tenha menos ou mais do que a quantidade de poluição ótima? Por quê? c. Suponha que as usinas cujas curvas de benefício marginal tenham sido mostradas no item a sejam participantes do programa em 33/50. Em uma réplica do gráfico do item a, marque as metas de poluição em 1995 para as duas usinas. Que usina teve que reduzir mais as emissões? Essa solução foi necessariamente eficiente? d. Com que tipo de política ambiental o programa 33/50 mais se assemelha? Qual é a principal deficiência desse tipo de política? Compare-o com outros dois tipos de política ambiental discutidos neste capítulo. 5. De acordo com um relatório do Census Bureau dos Estados, “o salário médio [durante a vida] de um trabalhador em tempo integral, em todo o ano trabalhado, com ensino médio, é cerca de $1,2 milhão em comparação com $2,1 milhões para um graduado na faculdade”. Isso indica que há um benefício considerável para um gradua do de investir em sua própria educação. Na maioria das universidades, as mensalidades cobrem apenas cerca de 2/3 a 3/4 do custo, de modo que o estado aplica um subsídio pigouviano à educação universitária. Se um subsídio pigouviano é apropriado, a externalidade criada por uma educação universitária é uma externalidade positiva ou negativa? O que isso implica sobre as diferenças entre os custos e benefícios para os estudantes em comparação com os custos e benefícios sociais? Quais são algumas das razões da diferença? 6. A cidade de Falls Church, Virgínia, subsidia árvores plantadas nos quintais dos proprietários de imóveis, quando estão a 5 metros da rua. a. Usando os conceitos do capítulo, explique por que um município subsidiaria árvores plantadas em propriedades privadas, mas perto da rua. b. Trace um gráfico semelhante ao da Figura 16-4, que mostre o benefício social marginal, o custo social marginal e o subsídio pigouviano ótimo em árvores.

7. A pesca de badejo foi tão intensa a ponto de chegar ao risco de extinção. Após vários anos de proibição dessa pesca, o governo propõe agora a introdução de licenças comercializáveis, cada uma das quais dá direito ao detentor a determinado volume de captura. Explique como a pesca gera externalidade negativa e como o esquema de licença pode superar a ineficiência criada por essa externalidade. 8. Duas tinturarias em Collegetown, College Cleaners e Big Green Cleaners, são uma fonte importante de poluição do ar. Juntas produzem atualmente 350 unidades de poluição do ar, que a cidade quer reduzir para 200 unidades. A tabela a seguir mostra o nível de poluição corrente produzido por cada empresa e o custo marginal de cada empresa de reduzir a poluição. O custo marginal é constante. Nível de poluição inicial (unidades)

Custo marginal de reduzir a poluição (por unidade)

College Cleaners

230

$5

Big Green Cleaners

120

$2

Tinturarias

a. Suponha que Collegetown passe uma lei de padrão ambiental que limite cada empresa a 100 unidades de poluição. Qual será o custo total para as duas tinturarias se cada uma reduzir a emissão de poluição em 100 unidades? Suponha que, em vez disso, Collegetown emita 100 licenças de poluição para cada empresa, cada uma designando uma unidade de poluição à empresa, e que essas licenças possam ser comercializadas. b. Quanto vale cada licença de poluição para a College Cleaners? E para a Big Green Cleaners? (Isso é, quanto cada empresa estaria disposta a pagar, no máximo, por mais uma licença?) c. Quem vai vender licenças e quem vai comprá-las? Quantas licenças serão negociadas? d. Qual é o custo total de controle de poluição para as duas empresas no âmbito desse sistema de licenças? 9. a. EAuction e EMarketplace são dois sites concorrentes de leilão, onde compradores e vendedores negociam bens. Cada site de leilão ganha dinheiro cobrando dos vendedores para listar seus bens. O EAuction decidiu eliminar a cobrança da taxa para a primeira transação dos vendedores que são novos no site. Explique por que é provável que isso seja uma boa estratégia para o EAuction na competição com o EMarketplace. b. O EMarketplace queixou-se ao Departamento de Justiça que a prática do EAuction de eliminar a taxa para novos vendedores é anticompetitiva e levará à monopolização do setor de leilões na Internet. O EMarketplace está certo? Como o Departamento de Justiça deveria responder?

c.

O EAuction parou com a prática de eliminar taxas para novos vendedores. Mas como sempre ofereceu serviço técnico melhor que o seu rival, Emarketplace, compradores e vendedores acabaram preferindo o EAuction. O Emarketplace acabou fechando, deixando o EAuction como monopolista. O Departamento de Justiça deveria intervir para dividir o EAuction em duas empresas? Explique. d. Agora o EAuction é monopolista do setor de leilão na Internet. Também é dono de um site que trata de pagamentos pela Internet, chamado PayForIt. Está competindo com outro site de pagamentos pela internet, chamado PayBuddy. O EAuction agora estipulou que qualquer transação em seu site de leilões deve usar o PayForIt, em vez do PayBuddy, para pagamentos. O Departamento de Justiça deveria intervir? Explique. 10. Quais das situações a seguir se caracterizam por externalidades de rede? Quais não se caracterizam? Explique. a. A escolha entre instalar corrente elétrica de 110 ou de 220 volts. b. A escolha entre a compra de um Toyota ou de um Ford. c. A escolha de uma impressora, sendo que ela requer seu próprio tipo específico de cartucho de tinta. d. A escolha entre comprar um iPod Touch ou um iPod Nano.

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CAPÍTULO 17 » Bens públicos e recursos comuns

O GRANDE FEDOR

m meados do século XIX, Londres havia se tornado a maior cidade do mundo, com cerca de 2,5 milhões de habitantes. Infelizmente, todas essas pessoas produziam uma grande quantidade de lixo e não havia lugar para jogar essa sujeira, exceto no Tâmisa, o rio que atravessa a cidade. Ninguém com nariz em condições normais podia ignorar o resultado. E o rio não apenas cheirava mal, carregava doenças transmitidas pela água, como a cólera e a febre tifoide. Os bairros de Londres perto do Tâmisa tinham taxa de mortalidade por cólera seis vezes maior do que os bairros mais afastados. E a grande maioria dos londrinos tirava água do Tâmisa para uso doméstico. O que a cidade precisava, diziam os reformadores, era de um sistema de esgoto que levasse o lixo para longe do rio. No entanto, nenhum indivíduo da iniciativa privada estava disposto a construir tal sistema, e as pessoas influentes eram contrárias à ideia de que o governo deveria assumir a responsabilidade pelo problema. Por exemplo, a revista  e Economist pesava contra as propostas de um sistema de esgoto construído pelo governo, declarando que “o sofrimento e o mal são admoestações da natureza – impossíveis de se livrar”. Mas o verão quente de 1858 trouxe o que veio a ser conhecido como o Grande Fedor, que foi tão grave que um jornal médico relatou que “homens chegam a desmaiar com o mau cheiro”. Mesmo os privilegiados e poderosos

E

sofriam: o Parlamento se reunia em um prédio ao lado do rio. Depois de esforços malsucedidos de impedir o cheiro, cobrindo as janelas com cortinas encharcadas de produtos químicos, o Parlamento finalmente aprovou um plano de um imenso sistema de esgotos e estações de bombeamento para direcionar o esgoto para longe da cidade. O sistema, inaugurado em 1865, trouxe uma forte melhoria para a qualidade de vida da cidade. As epidemias de cólera e febre tifoide, que até então tinham sido ocorrências regulares, desapareceram completamente. O Tâmisa foi transformado de rio metropolitano mais sujo para o mais limpo do mundo, e o engenheiro principal do sistema de esgoto, Joseph Bazalgette, foi elogiado como tendo “salvo mais vidas do que qualquer funcionário público da era vitoriana”. Na época, estimava-se que o sistema de esgoto da Bazalgette adicionou em média 20 anos à expectativa de vida do londrino médio. A história do Grande Fedor e a resposta política que se seguiu ilustra duas razões importantes para a intervenção do governo na economia. O novo sistema de esgoto de Londres era um exemplo claro de bem público – um bem que beneficia muitas pessoas, tenham ou não pago por ele, e cujo benefício para um indivíduo não depende de quantos outros também se beneficiam. Como veremos adiante, os bens públicos diferem em aspectos importantes dos bens privados que estudamos até agora, e essas diferenças significam que bens públicos não podem ser fornecidos pelo mercado de forma eficiente. O que você vai aprender neste capítulo • Uma maneira de classificação dos bens que prevê se um bem é ou não um bem privado – um bem que pode ser eficientemente fornecido pelos mercados. • O que são bens públicos e por que os mercados não conseguem fornecêlos. • O que são recursos comuns e por que são usados em excesso. • O que são bens artificialmente escassos e por que são pouco consumidos. • Como a intervenção do governo na produção e no consumo desses tipos de bens pode tornar a sociedade melhor. • Por que é difícil encontrar o nível adequado de intervenção governamental.

Além disso, a água limpa do Tâmisa é um exemplo de recurso comum, um bem que muitas pessoas podem consumir tendo ou não pago por ela, mas cujo consumo por cada pessoa individual reduz a quantidade disponível para os outros. Em um sistema de mercado, tais bens tendem a ser usados em excesso pelos indivíduos, a menos que o governo tome medidas. Nos capítulos anteriores, vimos que, ocasionalmente, os mercados não conseguem oferecer níveis eficientes de produção e consumo de um bem ou atividade. Vimos como a ineficiência pode surgir do poder de mercado, que permite aos monopolistas e oligopolistas em conluio cobrar preços mais elevados do que o custo marginal, evitando, assim, que ocorram transações mutuamente benéficas. Vimos também como a ineficiência pode surgir das externalidades, positivas ou negativas, que causam uma divergência entre os custos e benefícios das ações de um setor ou indivíduo, e os custos e benefícios daquelas ações que a sociedade suporta em seu conjunto. Neste capítulo, vamos fornecer uma abordagem diferente para a questão de por que os mercados algumas vezes falham. Vamos nos concentrar em como as características dos bens muitas vezes determinam se os mercados podem ou não fornecê-los de forma e ciente. Quando os bens têm a característica “errada”, as falhas de mercado resultantes se assemelham àquelas associadas às externalidades ou poder de mercado. Essa forma alternativa de analisar as fontes de ineficiência aprofunda nossa compreensão de por que ocasionalmente os mercados não funcionam bem e como o governo pode tomar medidas que aumentem o bem-estar da sociedade.

BENS PRIVADOS – E OUTROS Qual é a diferença entre instalar um novo banheiro em casa e construir um sistema de esgoto municipal? Qual é a diferença entre cultivar trigo e pescar em mar aberto? Essas questões não são charadas. Em cada caso, existe uma diferença fundamental nas características dos bens envolvidos. Louças e metais sanitários e trigo têm as características necessárias que permitem que os

mercados funcionem de forma eficiente. Os sistemas de esgoto e os peixes no mar não têm. Vamos analisar essas características fundamentais e saber por que são importantes. Características dos bens

Bens como louças e metais sanitários ou trigo têm duas características que, como veremos adiante, são essenciais para que o bem possa ser oferecido de forma eficiente em uma economia de mercado. São excluíveis: os fornecedores podem impedir que as pessoas que não pagam por ele o consumam. São rivais no consumo: a mesma unidade do bem não pode ser consumida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Quando um bem é tanto excluível quanto rival no consumo, denominase bem privado. O trigo é um exemplo de bem privado. É excluível: o agricultor pode vender uma saca de trigo para um consumidor sem ser obrigado a fornecer trigo para todos no município. E é rival no consumo: se alguém come pão feito de trigo de um agricultor, esse trigo já não pode ser consumido por outra pessoa. Mas nem todos os bens possuem essas duas características. Alguns bens são não excluíveis – o fornecedor não pode evitar o consumo do bem por pessoas que não pagam por ele. A proteção contra incêndios é um exemplo: o corpo de bombeiros que apaga incêndio antes que se espalhe protege toda a cidade, e não apenas as pessoas que fizeram contribuições à Associação Beneficente dos Bombeiros. Um meio ambiente cuidado é outro exemplo: a cidade de Londres não poderia ter terminado com o Grande Fedor para alguns moradores, deixando o Rio Tâmisa poluído para outros. Nem todos os bens são rivais no consumo. Bens são não rivais no consumo quando mais de uma pessoa pode consumir a mesma unidade do bem ao mesmo tempo. Programas de televisão são não rivais no consumo: sua decisão de assistir um show não impede que outras pessoas assistam ao mesmo show.

Como os bens podem ser excluíveis ou não excluíveis, rivais ou não rivais no consumo, existem quatro tipos de bens ilustrados pela matriz na Figura 17-1. FIGURA 17-1

Quatro tipos de bens

Há quatro tipos de bens. O tipo de um bem depende de (1) se é ou não excluível – se o produtor pode impedir alguém de consumi-lo; e (2) se é ou não rival no consumo – se é impossível que a unidade de um bem seja consumido por mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

Bens privados, são excluíveis e rivais no consumo, como o trigo. Bens públicos, são não excluíveis e não rivais no consumo, como um sistema de esgoto público. Recursos comuns, são não excluíveis, mas são rivais no consumo, como água limpa em um rio. Bens arti cialmente escassos, que são excluíveis, mas não rivais no consumo, como filmes pagos na TV a cabo. Certamente, há muitas outras características que distinguem entre os tipos de bens – bens de primeira necessidade versus bens de luxo, normais versus inferiores, e assim por diante. Por que é importante considerar se os bens são excluíveis e rivais no consumo? Por que os mercados conseguem suprir de forma eficiente apenas os bens privados

Como aprendemos nos capítulos anteriores, os mercados normalmente são o melhor meio para uma sociedade fornecer bens e serviços aos seus membros, ou seja, os mercados são eficientes, exceto no caso de problemas bem-definidos de poder de mercado, externalidades ou outras instâncias de falha de mercado. Mas há ainda outra condição que deve ser cumprida, que tem suas raízes na natureza do bem em si: os mercados não conseguem fornecer bens e serviços de forma eficiente, a menos que sejam bens privados, excluíveis e rivais no consumo. Para saber por que é fundamental ser excluível, suponha que um agricultor tenha apenas duas escolhas: não produzir trigo nenhum ou fornecer uma saca de trigo para cada morador do país que a queira, independentemente de pagar ou não por isso. Parece improvável que alguém queira cultivar trigo nessas condições. No entanto, o operador de um sistema de esgoto municipal enfrenta praticamente o mesmo problema que o agricultor hipotético. Um sistema de esgoto torna toda a cidade mais limpa e mais saudável – mas esse benefício cabe a todos os moradores da cidade, paguem ou não o operador do sistema. É por isso que nenhum empresário privado avançou com o plano para acabar com o Grande Fedor em Londres. A questão é que quando um bem é não excluível, os consumidores com interesses próprios não estarão dispostos a pagar por ele – aproveitarão a “carona” de qualquer um que de fato pague. Portanto, há o problema da carona. Exemplos desse problema são comuns na vida cotidiana. Um exemplo, que você já pode ter presenciado, acontece quando os estudantes têm uma tarefa a fazer em grupo, e alguns membros do grupo relaxam, contando que os outros vão terminar o trabalho. Os aproveitadores tomam carona no esforço dos outros. Em decorrência do problema da carona, as forças do interesse próprio por si só não levam a um nível eficiente de produção dos bens não excluíveis. Mesmo que os consumidores pudessem se beneficiar com o aumento da produção desses bens, ninguém está disposto a pagar mais e, assim, nenhum produtor está disposto a oferecer mais. O resultado é que os bens não excluíveis sofrem de produção e cientemente baixa em uma economia de mercado. De fato, em face do problema das caronas, o interesse

próprio não pode assegurar que qualquer montante do bem – deixando de lado a quantidade eficiente – seja produzido. Bens que são excluíveis e não rivais no consumo, como filmes pagos na TV a cabo, sofrem de um tipo diferente de ineficiência. Desde que um bem seja excluível, é possível ter lucro, disponibilizando-o apenas para aqueles que pagam. Portanto, os produtores estão dispostos a fornecer um bem excluível. Mas o custo marginal de deixar um expectador adicional assistir a um filme pago é zero, porque se trata de consumo não rival. Portanto, o preço eficiente para o consumidor também é zero, ou, dito de outra forma, as pessoas poderiam assistir a filmes na televisão até o ponto em que seu benefício marginal seja zero.

ARMADILHAS CUSTO MARGINAL DE QUÊ, EXATAMENTE? No caso de um bem que é não rival no consumo, é fácil confundir o custo marginal de produzir uma unidade do bem com o custo marginal de permitir que uma unidade do bem seja consumida. Por exemplo, a TV a cabo incorre em custo marginal ao tornar o filme disponível aos seus assinantes, que é igual ao custo dos recursos que usa para produzir e transmitir esse filme. No entanto, quando o filme já está sendo transmitido, não há custo marginal de deixar uma família adicional assisti-lo. Em outras palavras, não são “usados” recursos valiosos quando mais uma família consome um filme que já foi produzido e está sendo transmitido. No entanto, essa complicação não surge quando um bem é rival no consumo. Nesse caso, os recursos usados para produzir uma unidade do bem se “esgotam” quando uma pessoa consome o bem, não ficam mais disponíveis para satisfazer o consumo de outra pessoa. Assim, quando um bem é rival no consumo, o custo marginal para a sociedade de permitir a um indivíduo consumir uma unidade é igual ao custo do recurso de produção dessa unidade – isto é, igual ao custo marginal de produzi-la.

Mas se a empresa de TV a cabo realmente cobra $4 por telespectador, os telespectadores consumirão o bem apenas até o ponto em que o benefício marginal seja $4. Quando os consumidores precisam pagar um preço superior a zero pelo bem que é não rival no consumo, o preço que pagam é superior ao custo marginal de permitir o consumo desse bem, que é zero. Assim, em uma economia de mercado, os bens que não são rivais no consumo sofrem de um consumo ine cientemente baixo.

Agora podemos ver por que os bens privados são os únicos que podem ser eficientemente produzidos e consumidos em um mercado competitivo. (Isto é, um bem privado será eficientemente produzido e consumido em um mercado que seja livre do poder de mercado, de externalidades ou outros casos de falha de mercado.) Como os bens privados são excluíveis, os produtores podem cobrar por eles e, assim, têm um incentivo para produzilos. Como também são rivais no consumo, é eficiente para os consumidores pagar um preço positivo, ou seja, um preço igual ao custo marginal de produção. Se uma ou ambas as características estão em falta, uma economia de mercado não levará à produção ao consumo eficientes do bem. Felizmente para o sistema de mercado, a maioria dos bens são privados. Alimentos, roupas, abrigo e a maioria das outras coisas desejáveis na vida são excluíveis e rivais no consumo, de modo que os mercados podem nos fornecer a maioria das coisas. No entanto, há bens fundamentais que não atendem a esses critérios, – e, na maioria dos casos, isso significa que o governo deve entrar em cena.

economia em ação Do caos à renascença

A vida durante a Idade Média Europeia – de aproximadamente 1100 a 1500 – era difícil e perigosa, com taxas altas de crimes violentos, banditismo e vítimas de guerra. Segundo os pesquisadores, as taxas de homicídio na Europa em 1200 eram de 30 a 40 por 100 mil pessoas. Mas, em 1500, a taxa havia sido reduzida para cerca de 20 por 100 mil, e hoje é de menos de 1 por 100 mil. O que explica a acentuada diminuição do caos nos últimos 900 anos? Pense em bens públicos, como a história das cidades-estados italianas medievais ilustra. Começando por volta do ano 900 em Veneza, e 1100 em outras cidadesestados, como Milão e Florença, os cidadãos começaram a organizar e criar instituições para proteção. Em Veneza, os cidadãos construíram uma frota de defesa para combater os piratas e outros saqueadores que os atacavam regularmente. Outras cidades-estados construíram fortes muralhas para

cercar as cidades e também pagavam milícias defensivas. Foram criadas instituições para manter a lei e a ordem: quadros de guardas vigilantes e magistrados foram contratados; tribunais e prisões foram construídos. Como resultado, floresceu o intercâmbio de mercadorias, o comércio e os bancos, bem como a alfabetização, a matemática e as artes. Por volta de 1300, houve um aumento de mais de 100 mil pessoas nas principais cidades de Veneza, Milão e Florença. Como os recursos e as condições de vida aumentaram, a taxa de mortes violentas diminuiu. Por exemplo, a República de Veneza era conhecida como La Sereníssima – a mais serena – em virtude da governança iluminada, supervisionada por um conselho de líderes cidadãos. Em decorrência de sua estabilidade, proeza diplomática e frota prodigiosa de navios, Veneza tornou-se imensamente rica, nos séculos XV e XVI. Também por meio da estabilidade, alfabetização acentuada e matemática, Florença tornou-se o centro bancário da Itália. Durante o século XV, foi governada pela família Medici, uma família de banqueiros imensamente ricos. E foi o patrocínio dos Medici aos artistas como Leonardo da Vinci e Michelangelo que introduziu o Renascimento. Assim, a Europa Ocidental foi capaz de se mover do caos ao Renascimento por meio da criação de bens públicos, como um bom governo e defesa – bens que beneficiaram a todos e não podem ser diminuídos pelo uso de qualquer pessoa.

BREVE REVISÃO Os bens podem ser classificados de acordo com dois atributos: excluíveis e rivais no consumo. Os bens que são excluíveis e rivais no consumo são bens privados. Bens privados podem ser eficientemente produzidos e consumidos em um mercado competitivo. Quando os bens são não excluíveis, há o problema da carona: os consumidores não vão pagar os produtores, levando à produção ineficientemente baixa. Quando os bens são não rivais no consumo, o preço eficiente para o consumo é zero. Mas se for cobrado um preço positivo para compensar os produtores pelo custo de produção, o resultado será um consumo ineficientemente baixo.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 17-1 1. Classifique cada um dos seguintes bens, se são excluíveis ou se são rivais no consumo. Que tipo de bem é cada um? a. O uso de um espaço público como um parque. b. Um burrito de queijo. c. Informações de um site que é protegido por senha. d. Informações anunciadas publicamente sobre a rota de um furacão que está chegando. 2. Quais dos bens da Questão 1 serão fornecidos por um mercado competitivo? Quais não serão? Justifique a resposta. As respostas estão no final do livro.

BENS PÚBLICOS Bem público é exatamente o oposto de um bem privado: é um bem que tanto é não excluível como não rival no consumo. Um sistema de esgoto é um exemplo de bem público: você não pode manter um rio limpo sem que todos que vivem perto de suas margens sejam beneficiados e protegidos contra o mau cheiro que também atinge a todos. Aqui estão alguns outros exemplos de bens públicos: Prevenção de doenças. Quando os médicos agem para erradicar, desde o início, uma epidemia antes que ela se espalhe, protegem as pessoas do mundo todo. Defesa nacional. Um exército forte protege todos os cidadãos. Pesquisa cientí ca. Mais conhecimento beneficia a todos. Como esses bens são não excluíveis, sofrem com o problema da carona, então nenhuma empresa privada estará disposta a produzi-los. E como são não rivais no consumo, seria ineficiente cobrar das pessoas para consumilos. Como resultado, a sociedade deve encontrar métodos não mercantis para prover esses bens.

Fornecimento de bens públicos

Os bens públicos são fornecidos por meio de uma variedade de meios. O governo nem sempre se envolve; em muitos casos, pode ser encontrada uma solução não governamental para o problema das caronas. Mas de alguma forma essas soluções são imperfeitas. Alguns bens públicos são fornecidos por meio de contribuições voluntárias. Por exemplo, doações privadas patrocinam uma quantidade considerável de pesquisa científica. Mas as doações privadas são insuficientes para financiar grandes projetos, socialmente importantes, como pesquisa médica básica. Alguns bens públicos são fornecidos por pessoas ou empresas por interesse próprio porque aqueles que os produzem conseguem ganhar dinheiro de forma indireta. O exemplo clássico são os canais de TV aberta dos Estados Unidos, mantidos totalmente pela publicidade. A desvantagem desse tipo de financiamento indireto é que distorce a natureza e a quantidade dos bens públicos oferecidos, além de impor custos adicionais aos consumidores. Emissoras de televisão mostram os programas que produzem a maior receita de publicidade (ou seja, programas mais adequados para a venda de medicamentos, remédios para calvície, antihistamínicos e afins para o segmento da população que os compra), esses são necessariamente os programas que as pessoas mais querem ver. E os telespectadores têm que aguentar muitos comerciais. Alguns bens potencialmente públicos são deliberadamente tornados excluíveis e, portanto, sujeitos a cobrança, como os filmes na televisão. No Reino Unido, onde a maior parte da programação de televisão é paga por meio de uma taxa de licença anual que incide sobre cada proprietário de televisão (£145,50, ou cerca de $233 em 2011), assistir aos programas passa a ser artificialmente excluível através da utilização das “vans de detecção de TV”: vans que percorrem os bairros, na tentativa de detectar televisores nos lares não licenciados e multá-los. No entanto, como observado antes, quando os fornecedores cobram um preço maior do que zero para um bem não rival, os consumidores consomem uma quantidade ineficientemente baixa desse bem.

Em comunidades pequenas, um alto nível de estímulo ou pressão social pode fazer as pessoas darem uma contribuição em dinheiro ou tempo para prover o nível eficiente de um bem público. Corpos de bombeiros voluntários, que dependem tanto dos serviços voluntários dos próprios bombeiros como de contribuições de moradores locais, são um bom exemplo. Mas à medida que as comunidades se tornam maiores e mais anônimas, fica cada vez mais difícil aplicar a pressão social, compelindo as cidades maiores a tributar os moradores para prover bombeiros assalariados para os serviços de proteção contra incêndio. Como esse último exemplo sugere, quando essas outras soluções falham, cabe ao governo fornecer bens públicos. Na verdade, os bens públicos mais importantes – defesa nacional, sistema jurídico, controle de doenças, proteção contra incêndio nas grandes cidades, e assim por diante – são fornecidos pelo governo e pagos com impostos. A teoria econômica nos diz que a provisão de bens públicos é um dos papéis cruciais do governo. Quanto de um bem público deve ser fornecido?

Em alguns casos, a provisão de um bem público é uma decisão do tipo “ou-ou”: Londres teria um sistema de esgoto – ou não. Mas, na maioria dos casos, os governos devem decidir não só se têm que fornecer o bem público, mas também quanto desse bem fornecer. Por exemplo, a limpeza urbana é um bem público, mas qual a frequência com que as ruas devem ser varridas? Uma vez por mês? Duas vezes por mês? A cada dois dias? Imagine uma cidade em que haja apenas dois moradores, Ted e Alice. Suponha que o bem público em questão seja a limpeza urbana e que Ted e Alice informem ao governo que valor atribuem a uma unidade do bem público, onde uma unidade é igual a uma varrida por mês. Especificamente, cada um deles informa ao governo sua disposição de pagar por outra unidade do bem público ofertado – uma quantidade que corresponde ao benefício marginal do indivíduo de outra unidade do bem público. Usando essa informação, além da informação do custo de fornecer o bem, o governo pode usar a análise marginal para encontrar o nível eficiente de prover o bem público: o nível pelo qual o benefício marginal social do bem público é igual ao custo marginal de produzi-lo. Lembre-se do Capítulo

16, em que o benefício marginal social de um bem é o benefício que a sociedade recebe em seu conjunto pelo consumo de uma unidade adicional do bem. Mas o que é um benefício marginal social de uma unidade a mais de um bem público – uma unidade que gera utilidade para todos os consumidores, não apenas para um consumidor, porque é não excluível e não rival no consumo? Essa questão nos leva a um princípio importante: no caso especial de um bem público, uma unidade do bem é igual à soma dos benefícios marginais individuais desfrutados por todos os consumidores daquela unidade. Ou, analisando de um ângulo ligeiramente diferente, se um consumidor puder ser obrigado a pagar por uma unidade do bem antes de consumi-la (o bem se torna excluível), então o benefício marginal social de uma unidade é igual à soma da disposição de pagar de cada consumidor por essa unidade. Usando esse princípio, o benefício marginal social de uma varrida de rua adicional por mês é igual ao benefício marginal individual de Ted que resulta dessa limpeza adicional mais o benefício marginal individual de Alice. Por quê? Porque o bem público é não rival no consumo – o benefício de Ted de uma rua mais limpa não diminui o benefício de Alice pela mesma rua limpa, e vice-versa. Como todas as pessoas podem consumir simultaneamente a mesma unidade de um bem público, o benefício marginal social de uma unidade adicional desse bem é a soma dos benefícios marginais individuais de todos os que desfrutam do bem público. E a quantidade eficiente de um bem público é a quantidade em que o benefício marginal social é igual ao custo marginal de fornecê-lo. A Figura 17-2 ilustra o fornecimento eficiente de um bem público, mostrando três curvas de benefício marginal. O painel (a) mostra a curva de benefício marginal individual de Ted para a varrição da rua, BMT: ele estaria disposto a pagar $25 para a cidade para que as ruas fossem varridas uma vez por mês, um adicional de $18 para uma segunda varrida, e assim por diante. O painel (b) mostra a curva de benefício marginal individual de Alice para a varrição de rua, BMA. O painel (c) mostra a curva de benefício marginal social para varrição de rua, BMS: é a soma vertical das curvas de benefício marginal individual de Alice e Ted, BMT e BMA.

Para maximizar o bem-estar da sociedade, o governo deveria limpar as ruas até o nível em que o benefício marginal social de uma limpeza adicional já não fosse maior do que o custo marginal. Suponha que o custo marginal da limpeza de ruas seja $6 por varrição. Então, a cidade deveria limpar suas ruas 5 vezes por mês, pois o benefício marginal social de passar de 4 para 5 varrições é $8, porém passar de 5 para 6 varrições geraria um benefício marginal social de apenas $2. A Figura 17-2 pode ajudar a reforçar a compreensão de por que não podemos confiar no próprio interesse individual para gerar provisão de uma quantidade eficiente de bens públicos. Suponha que a cidade fizesse uma varrição a menos do que a quantidade eficiente e que Ted ou Alice fosse solicitado a pagar pela última limpeza. Nenhum deles estaria disposto a pagar por ela! Ted ganharia pessoalmente apenas o equivalente a $3 de utilidade ao adicionar mais uma limpeza de rua de modo que não estaria disposto a pagar o custo marginal de $6 por mais uma limpeza. Alice, pessoalmente, ganharia o equivalente a $5 de utilidade, de modo que também não estaria disposta a pagar. O ponto é que o benefício marginal social de uma unidade a mais de um bem público é sempre maior do que o benefício marginal individual para qualquer indivíduo. É por isso que nenhum indivíduo está disposto a pagar pela quantidade eficiente do bem. Será que essa descrição do problema de bem público, em que o benefício marginal social de uma unidade adicional do bem público é maior do que o benefício marginal individual, não soa familiar? Deveria: encontramos uma situação um pouco semelhante quando discutimos externalidades positivas. Lembre-se de que no caso de uma externalidade positiva, o benefício marginal social usufruído por todos os consumidores de uma unidade adicional do bem é maior do que o preço que o produtor recebe por essa unidade; como resultado, o mercado produz muito pouco desse bem. No caso de um bem público, o benefício marginal individual de um consumidor desempenha o mesmo papel que o preço recebido pelo produtor, no caso de externalidades positivas: em ambos os casos é gerado incentivo insuficiente para prover uma quantidade eficiente do bem. O problema de fornecer bens públicos é muito semelhante ao problema de lidar com externalidades positivas; em ambos os casos, há uma falha de mercado que exige intervenção do governo. Uma razão fundamental para a

existência do governo é que ele proporciona uma forma de os cidadãos imporem tributos para eles mesmos pagarem a fim de proporcionar bens públicos, particularmente um bem público vital como a defesa nacional. É claro que se a sociedade realmente fosse composta de apenas dois indivíduos, provavelmente conseguiriam chegar a um acordo para fornecer o bem. Mas imagine uma cidade com 1 milhão de habitantes, cada um tendo um benefício marginal individual decorrente da provisão do bem igual a apenas uma pequena fração mínima do benefício marginal social. Seria impossível para as pessoas chegar a um acordo voluntário para pagar pelo nível eficiente de limpeza urbana – o potencial de pedir carona torna muito difícil de fazer e impor um acordo entre tantas pessoas. Mas eles votariam em estabelecer tributos a eles mesmos para pagar por um departamento de serviço sanitário municipal. FIGURA 17-2

Bem público

O painel (a) mostra a curva de benefício marginal individual de Ted, decorrente das limpezas de rua por mês, MBT, e o painel (b) mostra a curva de benefício marginal individual de Alice, BMA. O painel (c) mostra o benefício marginal social de um bem público, igual à soma dos benefícios marginais individuais de todos os consumidores (nesse caso, Ted e Alice). A curva de benefício marginal social, BMS, é a soma vertical das curvas de benefício marginal individual BMT e BMA. A um custo marginal constante de $6, haveria 5 limpezas de rua por mês, porque o benefício marginal social de passar de 4 para 5 limpezas de rua por mês é $8 ($3 para Ted, mais $5 para Alice), mas o benefício marginal social de passar de 5 para 6 limpezas é apenas $2.

PARA MENTES CURIOSAS O VOTO COMO UM BEM PÚBLICO É triste o fato de que muitos americanos que estão aptos a votar não se preocupem com isso. O resultado é que seus interesses tendem a ser ignorados pelos políticos. Mas o que é ainda pior é que esse comportamento autodestrutivo talvez seja completamente racional. Como o economista Mancur Olson assinalou no famoso livro intitulado The Logic of Collective Action, o voto é um bem público que sofre de graves problemas de carona. Imagine que você seja 1 em 1 milhão de pessoas que ganhariam o equivalente a $100 caso certo plano fosse aprovado em um referendo em todo o estado, por exemplo, um plano para melhorar as escolas públicas. E suponha que o custo de oportunidade do tempo que gastaria para votar seja $10. Você tem certeza de que vai à seção eleitoral votar no referendo? Se for racional, a resposta é não! A razão é que é muito improvável que de qualquer forma o seu voto vá decidir a questão. Se a medida for aprovada, você se beneficia, mesmo não tendo se preocupado em votar – os benefícios são não excluíveis. Se não for aprovado, seu voto não teria mudado o resultado. De qualquer maneira, não votando – isto é, tomando carona nos que votaram – você economiza $10. É claro que muitas pessoas votam por senso de dever cívico. Mas pelo fato de a ação política ser um bem público, em geral as pessoas dedicam muito pouco esforço para defender seus próprios interesses. O resultado, como Olson assinalou, é que quando um grande grupo de pessoas compartilha um interesse político comum, elas tendem a fazer muito pouco esforço em promover a sua causa, e assim são ignoradas. Por outro lado, grupos de interesse pequenos, bem organizados, que atuam em questões estritamente direcionadas a seu favor tendem a ter um poder desproporcional.

Essa é uma razão para desconfiar da democracia? Winston Churchill disse de forma melhor: “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras formas que foram experimentadas.”

COMPARAÇÃO GLOBAL VOTO COMO BEM PÚBLICO: PERSPECTIVA GLOBAL Apesar do fato de que não votar pode ser uma escolha totalmente racional, muitos países consistentemente alcançam taxas altas de comparecimento às urnas por adotar políticas que incentivam a votação. Na Bélgica, em Cingapura e na Austrália, o voto é obrigatório; eleitores são penalizados se não conseguirem cumprir o dever cívico. Essas sanções são eficazes no sentido de conseguir voto. Quando a Venezuela desistiu da exigência do voto obrigatório, a taxa de participação caiu 30%, quando a Holanda fez o mesmo, houve uma queda de 20%. Outros países têm políticas que reduzem o custo da votação; por exemplo, declarando o dia da eleição um feriado de trabalho (dando aos cidadãos tempo suficiente para exercer a votação), permitindo o registro de eleitores no dia da eleição (eliminando a necessidade de planejamento antecipado) e permitindo a votação por e-mail (aumentando a conveniência). Essa figura mostra as taxas de comparecimento em vários países medidas como a porcentagem de eleitores que votaram, em média, nas eleições realizadas entre 1945 e 2008. Como se vê, Cingapura, Austrália e Bélgica têm as maiores taxas de comparecimento de eleitores. Nos Estados Unidos, entretanto, é bem baixa: tem a menor taxa de participação entre os países avançados. Em geral, nas últimas quatro décadas tem havido um declínio nas taxas de comparecimento de eleitores nas grandes democracias, mais acentuadamente entre jovens eleitores.

Fonte: International Institute for Democracy and Electoral Assistance.

Análise de custo-benefício

Como os governos decidem na prática quanto prover de um bem público? Às vezes, os formuladores de políticas apenas imaginam – ou fazem o que acham que os levará a serem reeleitos. No entanto, governos responsáveis tentam estimar e comparar os benefícios e custos sociais de prover um bem público, processo conhecido como análise de custobenefício. É simples estimar o custo de suprir um bem público. Estimar o benefício é mais difícil. De fato, é um problema difícil. A dúvida é por que os governos não conseguem descobrir o benefício marginal social de um bem público apenas questionando as pessoas sobre a sua vontade de pagar por ele (seu benefício marginal individual). Mas verifica-se que é difícil obter uma resposta honesta. Não acontece o mesmo problema com os bens privados: podemos determinar o quanto um indivíduo está disposto a pagar por mais uma unidade de um bem privado, observando suas escolhas reais. Mas como as pessoas realmente não pagam por bens públicos, a questão da disposição de pagar é sempre hipotética.

Pior ainda, é uma questão que as pessoas não têm incentivo em responder de forma verdadeira. Naturalmente, as pessoas querem mais, e não menos. Como não se pode obrigá-las a pagar por qualquer quantidade do bem público que usam, as pessoas tendem a exagerar os verdadeiros sentimentos quando questionadas se desejam um bem público. Por exemplo, se a varrição das ruas fosse programada de acordo apenas com os desejos declarados dos proprietários, as ruas seriam varridas todos os dias – um nível ineficiente de provisão. Assim, os governos devem estar cientes de que não podem confiar nas afirmações do público ao decidir quanto de um bem público prover – se o fizerem, estariam propensos a fornecer muito. Em contrapartida, como se explicou na seção Para mentes curiosas, confiar no público para indicar quanto do bem público eles querem por meio de votação também traz problemas – é suscetível de conduzir a muito pouco do bem público a ser prestado.

economia em ação O velho rio

As águas vão fluindo tranquilas – mas, de vez em quando, decidem seguir em direção diferente. De fato, o Rio Mississippi muda de curso a cada poucas centenas de anos. Sedimentos levados pela água rio abaixo obstruem gradualmente e entopem a rota da corrente para o mar e, no final, o rio rompe as margens e abre um novo caminho. Ao longo de milênios, a foz do Mississippi oscilou ao longo de um arco com cerca de 300 quilômetros de largura. Então, quando o Mississippi deveria ter mudado o rumo novamente? Oh, há cerca de 40 anos. O Mississippi atualmente corre para o mar passando por Nova Orleans, mas por volta de 1950 era evidente que o rio estava prestes a mudar o curso, tomando uma nova rota para o mar. Se o Corpo de Engenheiros do Exército não tivesse sido acionado, a mudança provavelmente teria acontecido por volta de 1970.

Um deslocamento do Mississippi teria danificado severamente a economia da Louisiana. A principal área industrial teria perdido um bom acesso ao oceano e a água salgada teria contaminado muito do abastecimento de água. Assim, o Corpo de Engenheiros do Exército manteve o Mississippi no seu lugar com um enorme complexo de barragens, muros e portões, conhecido como a estrutura de controle do Velho Rio. Às vezes, a quantidade de água liberada por essa estrutura de controle é cinco vezes o fluxo do Niágara Falls. A estrutura de controle do Velho Rio é um exemplo drástico de bem público. Nenhum indivíduo teria incentivo para construí-la, mas ela protege bilhões de dólares em propriedade privada. A história do Corpo de Engenheiros do Exército, que lida com projetos de controle de água nos Estados Unidos, ilustra um problema persistente associado à provisão de bens públicos pelo governo. Ou seja, todo mundo quer um projeto que beneficie a própria propriedade – se outras pessoas forem pagar por isso. Portanto, há uma tendência sistemática para os beneficiários potenciais de projetos do Corpo de Engenheiros de exagerar os benefícios. E o Corpo de Engenheiros tornou-se notório por realizar projetos caros que não podem ser justificados por qualquer análise de custo-benefício razoável. O outro lado do problema do excesso de gastos em projetos públicos é a escassez crônica. Uma ilustração trágica desse problema foi a devastação de Nova Orleans pelo furacão Katrina, em 2005. Apesar de ter sido bem avaliado, no momento da fundação de New Orleans, o risco de inundações graves, pois a cidade fica abaixo do nível do mar, muito pouco foi feito para fortalecer o sistema principal de diques e bombas que protegem a cidade. Mais de 50 anos de escassez de fundos para construção e manutenção, juntamente com supervisão inadequada, deixaram o sistema enfraquecido e incapaz de lidar com o ataque do Katrina. A catástrofe foi agravada pelo fracasso do governo municipal e estadual em desenvolver um plano de evacuação em caso de furacão. No final, por causa dessa negligência de um bem público, 1.464 pessoas de New Orleans e dos arredores perderam a vida, e a cidade sofreu perdas econômicas no valor de bilhões de dólares.

BREVE REVISÃO Um bem público é tanto não excluível como não rival no consumo. Como a maioria das formas de provisão de bens públicos pelo setor privado tem defeitos graves, normalmente esses bens públicos são fornecidos pelo governo e pagos mediante impostos. O benefício marginal social de uma unidade adicional de um bem é igual à soma do benefício marginal individual de cada consumidor dessa unidade. Na quantidade eficiente, o benefício marginal social é igual ao custo marginal de prover o bem. Nenhum indivíduo tem incentivo de pagar pela provisão de quantidade eficiente de um bem público, porque o benefício marginal de cada indivíduo é menor do que o benefício marginal social. Essa é a justificativa principal para a existência do governo. Embora os governos devam-se apoiar na análise de custo-benefício para determinar quanto fornecer de um bem público, fazer isso é problemático porque as pessoas tendem a exagerar ao informar o valor do bem para eles.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 17-2 1. A cidade de Centreville, com população de 16 pessoas, tem dois tipos de moradores, os caseiros e os festeiros. Usando a tabela a seguir, a cidade precisa decidir quanto gastar em sua festa de Ano Novo. Nenhum morador espera arcar individualmente com o custo da festa.

a. Suponha que haja 10 caseiros e 6 festeiros. Determine a tabela de benefício marginal social do dinheiro gasto com a festa. Qual é o nível

eficiente de gasto? b. Suponha que haja 6 caseiros e 10 festeiros. Como isso altera a resposta do item a? Explique. c. Suponha que a tabela de benefício marginal individual seja conhecida, mas que ninguém sabe a verdadeira proporção de caseiros e festeiros. Pergunta-se aos indivíduos suas preferências. Qual é o resultado provável se cada pessoa supõe que os outros irão pagar qualquer valor adicional do bem público? Por que é provável que resulte em um nível ineficientemente elevado de gastos? Explique. As respostas estão no final do livro.

RECURSOS COMUNS Um recurso comum é um bem que é não excluível, mas é rival no consumo. Um bom exemplo é o estoque de peixes no mar, como as regiões pesqueiras da costa da Nova Inglaterra. Tradicionalmente, qualquer um que tivesse um barco poderia ir para o mar para pescar – peixes no mar são bens não excluíveis. No entanto, como a quantidade total de peixes é limitada, o peixe que uma pessoa captura não fica mais disponível para ser capturado por outra pessoa. Assim, os peixes no mar são rivais no consumo. Outros exemplos de recursos comuns são o ar puro e a água, bem como a diversidade de espécies animais e vegetais do planeta (biodiversidade). Em cada um desses casos, o fato de o bem, embora rival no consumo, ser não excluível apresenta um problema sério. O problema do uso excessivo

Como os recursos comuns são não excluíveis, os indivíduos não podem ser cobrados pelo uso. No entanto, como são rivais no consumo, um indivíduo que usa uma unidade esgota o recurso, tornando essa unidade indisponível para os outros. Como resultado, um recurso comum está sujeito ao uso excessivo: um indivíduo vai continuar a usá-lo até que o benefício marginal do seu uso seja igual ao seu próprio custo marginal individual, ignorando o custo que essa ação inflige sobre a sociedade como um todo. Como veremos em breve, o problema do uso excessivo de um recurso comum é semelhante ao problema que estudamos no Capítulo 16:

um bem que gera uma externalidade negativa, como a poluição emitida na geração de eletricidade. A pesca é um exemplo clássico de recurso comum. Em águas onde se pesca muito, a minha pesca impõe um custo sobre os outros por meio da redução da população de peixes, e tornando mais difícil para os outros a captura de peixes. Mas eu não tenho nenhum incentivo pessoal para levar esse custo em conta, uma vez que não posso ser cobrado por pescar. Como resultado, sob o ponto de vista da sociedade, eu recolho muitos peixes. O congestionamento do tráfego é mais um exemplo do uso excessivo de um recurso comum. Na hora do rush uma grande rua pode acomodar apenas determinado número de veículos por hora. Se decidir dirigir para o trabalho sozinho, em vez de organizar um grupo para ir no mesmo carro ou trabalhar em casa, torno a viagem das outras pessoas um pouco mais demorada, mas não tenho nenhum incentivo para considerar essa consequência. No caso de um recurso comum, o custo marginal social do meu uso desse recurso é maior do que o meu custo marginal individual, o custo do uso de uma unidade adicional do bem. A Figura 17-3 ilustra a questão. Mostra a curva da demanda de peixe, que mede o benefício marginal do peixe – o benefício para os consumidores quando uma unidade adicional de peixe é capturada e consumida. Também mostra a curva da oferta de peixes, que mede o custo marginal de produção da indústria pesqueira. Sabemos, conforme já abordamos no Capítulo 12, que a curva da oferta do setor é a soma horizontal da curva da oferta de cada pescador individual – equivalente à curva de custo marginal individual. O setor de pesca fornece a quantidade em que seu custo marginal é igual ao preço, a quantidade QMKT. Mas o resultado eficiente é pegar a quantidade QOTI, a quantidade de produto que iguala o benefício marginal ao custo marginal social, e não ao custo marginal de produção do setor de pesca. O resultado de mercado é excesso de uso do recurso comum. FIGURA 17-3

Recurso comum

A curva da oferta S, que mostra o custo marginal de produção da indústria da pesca, é composta das curvas de oferta individuais dos pescadores individuais. Mas o custo marginal de cada pescador individual não leva em consideração o custo que suas ações impõem aos outros: o esgotamento do recurso comum. Como resultado, a curva de custo marginal social, CMS, situa-se acima da curva da oferta; em um mercado não regulado, a quantidade usada do recurso comum, QMKT, excede a quantidade eficaz de uso, QOTI

Como observamos, há um estreito paralelo entre o problema de administrar um recurso comum e o problema colocado pelas externalidades negativas. No caso de uma atividade que gera uma externalidade negativa, o custo marginal social de produção é maior do que o custo de produção marginal do setor, sendo a diferença o custo externo marginal imposto à sociedade. Aqui, a perda para a sociedade que surge do esgotamento da pesca do recurso comum desempenha o mesmo papel que o custo externo quando há uma externalidade negativa. De fato, pode-se considerar que muitas externalidades negativas (como a poluição) envolvem recursos comuns (como o ar limpo). O uso e a manutenção eficiente de um recurso comum

Como os recursos comuns apresentam problemas semelhantes aos criados pelas externalidades negativas, as soluções também são similares. Para garantir o uso eficiente de um recurso comum, a sociedade deve encontrar uma maneira de fazer os usuários individuais do recurso considerarem os custos impostos sobre outros usuários. Isso é basicamente o mesmo princípio de fazer os indivíduos internalizarem uma externalidade negativa que surge de suas ações. Há três maneiras fundamentais para induzir as pessoas que usam recursos comuns a internalizar os custos que impõem aos outros. Tributar ou regulamentar o uso do recurso comum. Criar um sistema de licenças comercializáveis para o direito de usar o recurso comum. Tornar o recurso comum excluível e atribuir direitos de propriedade a alguns indivíduos. Como as atividades que geram externalidades negativas, o uso de um recurso comum pode ser reduzido até a quantidade eficiente pela imposição de um imposto pigouviano. Por exemplo, alguns países estabelecem “tarifas de congestionamento” para os que dirigem na hora do rush, na verdade, cobrando deles o uso do recurso comum que é o espaço nas ruas e estradas. Da mesma forma, os visitantes dos parques nacionais têm que pagar uma entrada e o número de visitantes a qualquer parque é restrito. Uma segunda maneira de corrigir o problema de excesso de uso é criar um sistema de licenças de comercializáveis para o uso do recurso comum muito parecido com os sistemas projetados para lidar com as externalidades negativas. Os funcionários do governo emitem determinado número de licenças que correspondem ao nível eficiente do uso do bem. Ao tornar as licenças comercializáveis, assegura-se que o direito do uso do bem seja alocado de forma eficiente, isto é, aqueles que acabam usando o bem (aqueles que estão dispostos a pagar mais por uma licença) são os que se beneficiam mais do seu uso.

PARA MENTES CURIOSAS Á

BRIGA PELAS ÁGUAS DO MAINE Aos olhos de muitos, o Maine é um paraíso natural na vanguarda do ambientalismo. O estado adotou diretrizes rígidas para proteger seus belos lagos, florestas e vida selvagem. Mas, desde 2004, os habitantes do Maine estão envolvidos em uma batalha feroz por um de seus recursos naturais: água subterrânea. As águas subterrâneas do Maine, ou água natural, é uma mercadoria valiosa como água potável, muito valorizada pela pureza e sabor. E água engarrafada é um grande negócio; todo mundo conhece a Poland Spring Water (água da Fonte Poland do Maine), cujas garrafas podem ser encontradas em todos os mercados dos Estados Unidos. No Maine, o princípio da “captura” define a propriedade da água: o dono de uma propriedade pode bombear qualquer quantidade de água subterrânea sem levar em conta o efeito sobre o aquífero, o reservatório subterrâneo natural de água de uma área. Essa situação não apresentava problema quando a água era retirada apenas para satisfazer a demanda local, pois havia muita água disponível para satisfazer as necessidades do Maine. Mas com grandes empresas, como a Poland Spring, extraindo águas subterrâneas para satisfazer a demanda de milhões de clientes em todo o país, alguns habitantes do Maine ficaram temerosos de continuar mantendo essa política. As preocupações expressas sobre a extração comercial de água são de dois tipos. Um deles é o problema da gestão de um recurso comum. Sem fiscalização, o que impede as engarrafadoras de explorar em excesso o aquífero do Maine, deixando pouca água para os seus moradores? Segundo, por lei, o subsolo pertence aos habitantes do Maine. Por que não revogar o princípio da captura de água e receber alguma compensação das engarrafadoras pela venda da água do seu subsolo? O exemplo do Alasca é apontado, com suas enormes reservas de petróleo, onde o governo do estado impõe um imposto de 22,5% sobre o lucro das companhias de petróleo. As receitas fiscais são distribuídas entre os moradores do Alaska na forma de mais serviços e menos impostos (e até mesmo subsídios). As engarrafadoras de água contra-argumentam que o imposto sobre a propriedade e os salários que eles já pagam trazem milhões de dólares para a economia do Maine. O debate sobre as águas subterrâneas veio à tona quando um referendo estadual sobre a regulação do uso da água subterrânea pretendia impor um imposto de $0,19 por galão de água a ser pago pelas grandes engarrafadoras e fracassou em decorrência de detalhes técnicos menores. Mas os defensores do referendo continuaram a lutar no âmbito municipal, com diversas cidades recusando-se a permitir a expansão da extração de água e exigindo que o engarrafamento de água seja dentro dos seus distritos. A Poland Spring e a Nestlé, sua controladora, vem enfrentando oposição aos planos de extração de água no Michigan, em Massachusetts e no Oregon.

Mas quando se trata de recursos comuns, muitas vezes a solução mais natural é atribuir direitos de propriedade. Em um nível fundamental, os recursos comuns estão sujeitos ao uso excessivo, porque ninguém é proprietário deles. A essência da propriedade de um bem – o direito de propriedade sobre o bem – é que você pode limitar quem pode e não pode usar o bem, assim como o quanto dele pode ser usado. Quando um bem é não excluível, em um sentido muito real, ninguém é o dono porque um direito de propriedade não pode ser imposto – e, consequentemente, ninguém tem incentivo de usá-lo de forma eficiente. Assim, uma maneira de corrigir o problema do uso excessivo é tornar o bem excluível e atribuir a alguém os direitos de propriedade sobre ele. Assim, o bem tem um proprietário que tem um incentivo de proteger o valor do bem – usá-lo de forma eficiente em vez de em excesso. Como mostra a próxima seção Economia em ação, um sistema de licenças comercializáveis, chamado de quotas individuais transferíveis, ou QIT, tem sido uma estratégia bem-sucedida em algumas pescarias.

economia em ação Salvando oceanos com QIT

Os oceanos do mundo estão em sérios apuros. De acordo com um estudo de 2011 pelo Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos, há um risco iminente de extinções generalizadas de várias espécies de peixes. Na Europa, 30% das unidades populacionais de peixes estão em perigo de colapso. No Mar do Norte, 93% de bacalhau são pescados antes que possamse reproduzir. E o atum rabilho, um dos favoritos no sushi japonês, está em perigo iminente de extinção. Não é surpresa que o culpado principal seja a pesca excessiva. O declínio dos estoques de peixe piorou à medida que os pescadores começaram a pescar com redes de arrasto muito grandes em águas mais profundas para capturar os peixes restantes, sem querer matando, no processo, muitos outros animais marinhos. A indústria da pesca também está em crise. À medida que a renda dos pescadores declina, eles são obrigados a pescar por longos períodos e em

águas mais perigosas, a fim de ganhar a vida. Mas as quotas individuais transferíveis, ou as QIT, podem fornecer uma solução para ambas as crises. Sob um esquema de QIT, um pescador recebe uma licença que lhe dá direito de pescar uma quota anual dentro de um pesqueiro. A QIT é fornecida por um período longo, por vezes por tempo indeterminado. Como é transferível, o proprietário pode vender ou alugá-la. Os pesquisadores que analisaram 121 esquemas de QIT estabelecidos em todo o mundo concluíram que as QIT podem ajudar a reverter o colapso da pesca, porque cada titular de uma QIT agora tem interesse financeiro na manutenção de longo prazo de sua pescaria. Esquemas de QIT (também chamados de sistemas de captura compartilhada) são comuns na Nova Zelândia, na Austrália e na Islândia, e cada vez mais nos Estados Unidos e no Canadá. A pesca de alabote no Alasca é um exemplo de um esquema de QIT de sucesso. Quando foi implementado, a temporada anual de pesca tinha encolhido de quatro meses para dois ou três dias, resultando em corridas de barcos perigosas. Agora, a temporada dura quase oito meses. Steve Gaines, Diretor do Instituto de Ciência Marinha da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, diz: “Os pescadores de alabote reclamavam – mas agora a pesca é insanamente lucrativa.”

BREVE REVISÃO Um recurso comum é rival no consumo, mas não excluível. O problema com os recursos comuns é o excesso de uso: o usuário esgota a quantia do recurso comum disponível para todos sem levar em consideração esse custo ao decidir quanto usar do recurso comum. Como as externalidades negativas, um recurso comum pode ser gerido eficientemente por impostos pigouvianos, pela criação de um sistema de licenças comercializáveis para seu uso ou tornando-o excluível e atribuindo direitos de propriedade sobre ele.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 17-3

1. Rocky Mountain Forest é uma floresta de propriedade do governo, em que, no passado, cidadãos privados foram autorizados a colher tanta madeira quanto quisessem gratuitamente. Em termos econômicos, formule por que isso é problemático do ponto de vista da sociedade. 2. Você é o novo comissário do serviço florestal e foi instruído a chegar a um meio de preservar a floresta para o público em geral. Cite três métodos diferentes que poderia usar para manter o nível de eficiência de corte de árvores e explique como cada um deles iria funcionar. Para cada método, de que informação precisaria para alcançar um resultado eficiente? As respostas estão no fim do livro.

BENS ARTIFICIALMENTE ESCASSOS Um bem arti cialmente escasso é o que é excluível, mas não rival no consumo. Como já vimos, os filmes pagos na TV a cabo são um exemplo familiar. O custo marginal para a sociedade de permitir que um indivíduo assista ao filme é zero, porque uma pessoa assistir não interfere em outras pessoas assistirem. No entanto, as empresas de TV a cabo impedem que um indivíduo assista ao filme que não pagou. Programas de computador ou arquivos de áudio, cujo valor está nas informações que embutem (e que, às vezes, são chamados de “bens de informação”), também são artificialmente escassos. Como já vimos, os mercados podem fornecer bens artificialmente escassos: por serem excluíveis, os produtores podem cobrar as pessoas por seu consumo. Mas bens artificialmente escassos são não rivais no consumo, o que significa que o custo marginal do consumo de um indivíduo é zero. Portanto, o preço que o fornecedor de um bem artificialmente escasso cobra excede o custo marginal. Como o preço eficiente é igual ao custo marginal de zero, o bem é “artificialmente escasso” e o consumo do bem é ineficientemente baixo. No entanto, a menos que o produtor possa, de alguma forma, gerar receita para a produção e venda do bem, não estará disposto a produzi-lo – um resultado que deixa a sociedade ainda em situação pior do que de outra forma estaria com um consumo positivo, mas ineficientemente baixo. A Figura 17-4 ilustra a perda do excedente total causada por escassez artificial. A curva da demanda mostra a quantidade de filmes pagos na TV a

cabo que se assiste a qualquer preço. O custo marginal de permitir que uma pessoa adicional assista ao filme é zero; então, a quantidade eficiente de filmes assistidos é QOTI. A companhia de TV a cabo cobra um preço positivo, nesse caso $4, para descodificar o sinal, e como resultado apenas QMKT filmes pagos são assistidos na TV. Isso leva a uma perda por peso morto igual à área do triângulo sombreado. Isso parece familiar? Como os problemas que surgem com bens públicos e recursos comuns, o problema criado por bens artificialmente escassos assemelham-se a algo que já vimos: nesse caso, é o problema do monopólio natural. Um monopólio natural, você deve-se lembrar, é um setor em que o custo total médio fica acima do custo marginal na faixa de produção relevante. Para estar disposto a produzir um produto, o produtor deve cobrar um preço pelo menos tão elevado quanto a média do custo total – ou seja, um preço acima do custo marginal. Mas um preço acima do custo marginal leva a um consumo eficientemente baixo.

economia em ação Jogos fora da tela

É noite de um jogo importante de um time da cidade – um jogo que está sendo televisado nacionalmente por uma das principais redes. Então você coloca no canal local que é uma afiliada da rede – mas o jogo não está passando. Em vez disso, há algum outro show com uma mensagem de rolagem na parte inferior da tela que esse jogo não está sendo transmitido na sua área. O que a mensagem provavelmente não diz, embora se possa entender muito bem, é que não está havendo transmissão por insistência dos proprietários do time, que não querem que as pessoas que poderiam pagar entrada para assistir ao jogo no estádio fiquem em casa e o assistam pela televisão. Muitas vezes, os jogos que não conseguem vender os bilhetes de estádio ficam fora do mercado de transmissão local. FIGURA 17-4

Bem artificialmente escasso

Um bem artificialmente escasso é excluível e não rival no consumo. Torna-se artificialmente escasso porque os produtores cobram um preço positivo, mas o custo marginal de permitir o consumo do bem por mais uma pessoa é zero. Nesse exemplo, o preço de mercado de um filme pago na TV a cabo é $4, e a quantidade demandada a esse preço é QMKT. Mas o nível eficiente de consumo é QOTI, a quantidade demandada quando o preço é zero. A quantidade eficiente, QOTI, excede a quantidade demandada em um mercado não regulamentado, QMKT. A área sombreada representa a perda de excedente total por cobrar um preço de $4.

Assim, o bem em questão – assistir ao jogo pela televisão – foi tornado artificialmente escasso. Porque o jogo está sendo transmitido de qualquer modo, nenhum recurso escasso seria usado para torná-lo disponível na própria localidade do jogo. Mas não está disponível, o que significa uma perda de bem-estar para aqueles que assistiriam ao jogo na televisão, mas não estão dispostos a pagar o preço, em tempo e dinheiro, de ir ao estádio. Às vezes, porém, são feitas acomodações em situações específicas. Em 2009, por exemplo, a NFL relaxou sua política e permitiu que jogos que não são transmitidos, fossem retransmitidos no site 72 horas após o final do jogo.

BREVE REVISÃO Um bem artificialmente escasso é excluível, mas não rival no consumo. Como o bem é não rival no consumo, o preço eficiente para os consumidores é zero. No entanto, como é excluível, os vendedores cobram um preço positivo, o que leva a um consumo ineficientemente baixo. Os problemas de bens escassos artificialmente são semelhantes àqueles encontrados em um monopólio natural.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 17-4 1. Xena é um software produzido pela Xenoid. Cada ano a Xenoid produz uma atualização que custa $300.000 para produzir. Não custa nada permitir que os clientes o baixem do site da empresa. A tabela de demanda para a atualização é mostrada abaixo. Preço da atualização

Quantidade de atualizações demandadas

$180

1.700

150

2.000

120

2.300

90

2.600

0

3.500

a. Qual é o preço eficiente dessa atualização para um consumidor? Justifique a resposta. b. Qual é o menor preço pelo qual a Xenoid está disposta a produzir e vender a atualização? Desenhe a curva da demanda e mostre a perda do excedente total que ocorre quando a Xenoid cobra esse preço em relação ao preço eficiente. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL

Mauricedale Game Ranch e a caça de animais ameaçados para salvá-los

A fazenda Mauricedale de John Hume ocupa 40.000 quilômetros quadrados de pastagens com arbustos no nordeste quente da África do Sul. Lá são criadas espécies ameaçadas de extinção, como rinocerontes negros e brancos, e espécies não ameaçadas, como o búfalo do cabo, antílopes, hipopótamos, girafas, zebras e avestruzes. De uma receita de cerca de $2,5 milhões por ano, a fazenda recebe um lucro pequeno, com cerca de 20% vinda de troféus de caça e 80% com a venda de animais vivos para os fazendeiros. Apesar de ter entrado nesse negócio pelo lucro, Hume vê a si mesmo como um conservador desses animais e dessa terra. E está convencido de que, a fim de proteger os rinocerontes negros e brancos, é necessário certa quantidade de caça legalizada deles. De acordo com Hume, “… rinocerontes são os animais mais incríveis da terra. Estou desesperadamente triste por eles, porque precisam da nossa ajuda”. A história de um dos rinocerontes machos de Hume, chamado “65”, ilustra a questão. Hume e sua equipe sabiam que 65 era um problema: apesar de muito velho para procriar, era agressivo o suficiente para matar rinocerontes machos mais jovens. Ele era parte do que os conservacionistas da fauna selvagem chamam de “problema macho excedente”, um macho cuja presença inibe o crescimento do rebanho. No final, Hume obteve permissão para a caça do 65 da CITES (Convention on International Trade in Endangered Species – Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas), órgão internacional que regula o comércio e a caça legalizada de espécies ameaçadas de extinção. Um caçador rico pagou a Hume $150.000, e o incômodo 65 foi despachado rapidamente. Fazendeiros conservacionistas, como Hume, que defendem a caça regulamentada de vida selvagem, apontam para a experiência do Quênia para reforçar o seu caso. Em 1977, o Quênia proibiu a caça de troféus ou atividade pecuária de vida selvagem. Desde então, o Quênia perdeu de 60% a 70% da ampla vida selvagem por meio de caça furtiva ou conversão do hábitat para a agricultura. Seu rebanho de rinocerontes negros, uma vez em

20 mil, agora está em 600, sobrevivendo apenas em áreas protegidas. Em contrapartida, desde que a caça regulamentada do búfalo branco, espécie menos ameaçada, começou na África do Sul, em 1968, seu número subiu de 1.800 para 19.400. Muitos ambientalistas concordam que o fundamental para a recuperação de um número de espécies ameaçadas de extinção é a caça legalizada em fazendas de caça menor bem regulamentadas – fazendas que estão ativamente envolvidas na criação e manutenção dos animais. No entanto, a caça legalizada atualmente é uma política muito controversa, fortemente em oposição por alguns defensores da vida selvagem. Pelo fato de o estabelecimento de uma fazenda como a Mauricedale requerer grande investimento de capital, muitos estão preocupados que fazendas menores vão se envolver na caça de animais – muitas vezes drogados ou doentes – obtidos de outros lugares. E há um temor de que os altos preços pagos por troféus de caça deixarão os fazendeiros muito ansiosos em abater os animais de seus rebanhos. A partir do momento da escrita, aqueles que defendem a caça legalizada parecem estar ganhando terreno.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Usando os conceitos aprendidos neste capítulo, explique os incentivos econômicos por trás das enormes perdas de vida selvagem do Quênia. 2. Compare os incentivos econômicos enfrentados por John Hume com aqueles que enfrenta um fazendeiro queniano. 3. Que regulamentos devem ser impostos a um fazendeiro que vende oportunidades de caça de troféus? Relacio ne-os com os conceitos do capítulo.

• RESUMO 1. Os bens podem ser classificados, de acordo com as características, como não excluíveis e não rivais no consumo.

2. Os mercados livres podem oferecer níveis eficientes de produção e consumo de bens privados, que são ambos excluíveis e rivais no consumo. Quando os bens são não excluíveis ou não rivais no consumo, ou ambos, os mercados livres não podem alcançar resultados eficientes. 3. Quando os bens são não excluíveis, há o problema das caronas: alguns consumidores não vão pagar pelo bem e vão consumir o que os outros pagarem, levando a uma produção ineficientemente baixa. Quando os bens são não rivais no consumo, devem ser gratuitos, e qualquer preço positivo leva a um consumo ineficientemente baixo. 4. Um bem público não é excluível e não rival no consumo. Na maioria dos casos, um bem público deve ser fornecido pelo governo. O benefício marginal social de um bem público é igual à soma dos benefícios marginais individuais para cada consumidor. A quantidade eficiente de um bem público é a quantidade pela qual o benefício marginal social é igual ao custo marginal de prover o bem. Como uma externalidade positiva, o benefício marginal social é maior do que o benefício marginal de qualquer indivíduo sozinho, de modo que nenhum indivíduo está disposto a fornecer a quantidade eficiente. 5. Uma razão comum para a presença do governo é que permite que os cidadãos estabeleçam tributos a serem pagos por eles mesmos para o fornecimento de bens públicos. Os governos usam a análise de custobenefício para determinar a provisão eficiente de um bem público. No entanto, tal análise é difícil, porque os indivíduos têm incentivo a exagerar o valor que o bem tem para eles. 6. Um recurso comum é rival no consumo, mas não excluível. Está sujeito ao excesso de uso porque um indivíduo não leva em consideração o fato de que o seu uso esgota a quantidade disponível para os outros. Isso é semelhante ao problema da externalidade negativa: o custo marginal social do uso do recurso comum por parte de um indivíduo é sempre mais alto que seu custo marginal individual. São soluções possíveis: impostos pigouvianos, a criação de um sistema de licenças comercializáveis, ou a cessão de direitos de propriedade. 7. Bens artificialmente escassos são excluíveis, mas não rivais no consumo. Como não há custo marginal em permitir que outro indivíduo consuma o bem, o preço eficiente é zero. Um preço positivo compensa o produtor pelo custo de produção, mas leva ao consumo ineficientemente baixo. O problema dos bens artificialmente escassos é semelhante ao de um monopólio natural.

• PALAVRAS-CHAVE Excluível, p. 404

Rival no consumo, p. 404 Bem privado, p. 404 Não excluível, p. 404 Não rival no consumo, p. 404 Problema das caronas, p. 405 Bem público, p. 406 Análise de custo-benefício, p. 410 Recurso comum, p. 412 Uso excessivo, p. 412 Bem artificialmente escasso, p. 415

• PROBLEMAS 1. O governo está envolvido no fornecimento de muitos bens e serviços. Para cada um dos bens ou serviços listados, determine se é rival ou não rival no consumo e se é excluível ou não excluível. Que tipo de bem é? Sem envolvimento governamental, a quantidade fornecida seria eficiente, ineficientemente baixa ou ineficientemente alta? a. Sinalização das ruas. b. Serviço ferroviário Amtrak. c. Regulamentos que limitam a poluição. d. Rodovia interestadual congestionada sem pedágio. e. Um farol na costa. 2. Um economista dá o seguinte conselho ao diretor de um museu: “Você deveria introduzir ‘um preço para o horário de pico’. Quando o museu tem poucos visitantes, a entrada para os visitantes deve ser gratuita. E nos horários em que o museu tem muitos visitantes, deve-se cobrar uma entrada mais alta.” a. Quando o museu está tranquilo, é rival ou não rival no consumo? É excluível ou não excluível? Que tipo de bem é o museu nesses momentos? Qual seria o preço eficiente para cobrar dos visitantes nesse horário e por quê? b. Quando o museu está lotado, é rival ou não rival no consumo? É excluível ou não excluível? Que tipo de bem é o museu nesses horários? Qual seria o preço eficiente para cobrar dos visitantes nesse horário e por quê? 3. Em muitas comunidades planejadas, vários aspectos da vida em comunidade estão sujeitos a regulamentos da associação de proprietários.

Essas regras podem regular aspectos de arquitetura, exigir a remoção de neve das calçadas, proibir que se tenha instalações ao ar livre, como piscinas no quintal, exigir conduta adequada nos espaços comuns como o clube da comunidade, e assim por diante. Suponha que tenha havido um conflito na comunidade, pois alguns proprietários sentem que alguns dos regulamentos são excessivamente intrusivos. Você foi chamado para mediar a disputa. Usando o que aprendeu sobre bens públicos e recursos comuns, como decidiria que tipo de regulamento se justifica e que tipo não se justifica? 4. Um condomínio residencial tem 100 moradores que estão preocupados com a segurança. A tabela a seguir fornece o custo total de contratação de um serviço de segurança 24 horas, bem como o benefício individual total de cada morador. Quantidade de seguranças

Custo total

Benefício individual total de cada morador

0

$0

$0

1

150

10

2

300

16

3

450

18

4

600

19

a. Explique por que o serviço de segurança é um bem público para os moradores da comunidade. b. Calcule o custo marginal, o benefício marginal individual de cada morador e o benefício marginal social. c. Se um morador individual tivesse de decidir sobre a contratação e pagamento de seguranças por conta própria, quantos seguranças contrataria? d. Se os moradores agem em conjunto, quantos seguranças vão contratar? 5. A tabela a seguir mostra o benefício marginal individual de Tanisha e de Ari de diferentes quantidades de limpezas de rua por mês. Suponha que o custo marginal das limpezas de rua seja constante em $9 cada.

a. Se Tanisha tivesse que pagar pela limpeza da rua por conta própria, quantas limpezas de rua haveria? b. Calcule o benefício marginal social da limpeza de rua. Qual é o número ótimo de limpezas de rua? c. Considere o número ótimo de limpezas de rua. A última limpeza de rua desse número ótimo custa $9. Tanisha estaria disposta a pagar por essa última limpeza por conta própria? Ari estaria disposto a pagar por essa última limpeza por conta própria? 6. Qualquer pessoa com um receptor de rádio pode ouvir estações de rádio públicas, que, em grande parte, são financiadas por doações. a. A estação de rádio pública é excluível ou não excluível? É rival no consumo ou não rival? Que tipo de bem é? b. O governo deve apoiar a rádio pública? Explique seu raciocínio. c. Para se autofinanciar, a rádio pública decide transmitir apenas para rádios com receptor de satélite, cobrando uma tarifa dos usuários. Que tipo de bem seria a rádio pública? A quantidade dos ouvintes da rádio será eficiente? Por quê? 7. Seu professor de Economia solicita um projeto de grupo para o curso. Descreva o problema das caronas que pode levar a um resultado abaixo do ideal para seu grupo. Para combater esse problema, o instrutor pede para avaliar a contribuição de seus colegas em um relatório confidencial. Essa avaliação terá o efeito desejado? 8. A aldeia de Upper Bigglesworth tem um “pasto comum”, um pedaço de terra em que cada morador, por lei, é livre para colocar as vacas para pastar. O uso do pasto comum é medido pelo número de vacas que pastam nele. Suponha que a curva de custo marginal privado de colocar a vaca no pasto comum é ascendente (digamos, em virtude de mais tempo gasto no pastoreio). Há também uma curva de custo marginal social sobre a vaca no pasto comum: cada vaca adicional pastando significa menos grama disponível para as outras, e os danos causados pelo excesso de pastoreio no pasto comum aumenta à medida que o número de vacas pastando aumenta. Finalmente, suponha que o benefício privado para os moradores, de cada vaca adicional pastando nos pastos comuns, diminui à medida que

mais vacas pastam, já que cada vaca adicional tem menos grama para comer do que a anterior. a. O pasto comum é um bem excluível ou não excluível? É rival no consumo ou não rival? Que tipo de bem é o pasto comum dessa aldeia? b. Trace um gráfico mostrando o custo marginal social, o custo marginal privado e o benefício marginal privado das vacas pastando nos pastos comuns, com a quantidade de vacas que pastam em terras comuns no eixo horizontal. Como a quantidade de vacas que pasta na ausência de intervenção do governo se compara com a quantidade eficiente? Mostre ambas no gráfico. c. Os aldeões pedem conselho de como conseguir um uso eficiente do pasto comum. Você informa que há três possibilidades: impostos pigouviano, atribuição de direitos de propriedade sobre o pasto comum e um sistema de licenças comercializáveis pelo direito de deixar uma vaca pastar no terreno. Explique como cada uma dessas opções levaria ao uso eficiente do pasto comum. Na atribuição dos direitos de propriedade, suponha que seja atribuído direito a uma pessoa sobre o pasto comum e direitos a todas as vacas. Trace um gráfico que mostre o imposto pigouviano. 9. Antes de 2003, muitas vezes a cidade de Londres era um grande parque de estacionamento. Os engarrafamentos eram comuns, e podia levar horas para percorrer um par de quilômetros. Cada motorista adicional contribuía para o congestionamento, o que pode ser medido pelo número total de carros nas ruas de Londres. Embora cada motorista sofresse por gastar um tempo precioso no trânsito, nenhum deles pagava pelo transtorno que estava causando aos outros. O custo total da viagem inclui o custo de oportunidade do tempo gasto no trânsito e todas as taxas cobradas pelas autoridades de Londres. a. Trace um gráfico que ilustre o uso excessivo das ruas de Londres, supondo que não seja cobrada uma taxa para entrar em Londres em um veículo e que as ruas sejam um recurso comum. Coloque o custo de fazer o trajeto no eixo vertical e a quantidade de carros no eixo horizontal. Trace a demanda típica, as curvas de custo marginal individual (CM) e de custo marginal social (CMS) e indique o ponto de equilíbrio. (Dica: O custo marginal leva em conta o custo de oportunidade de passar tempo na estrada para o motorista individual, mas não a inconveniência causada aos outros.) b. Em fevereiro de 2003, a cidade de Londres começou a cobrar uma taxa de congestionamento de £5 sobre todos os veículos que trafegam em Londres. Ilustre os efeitos dessa taxa de congestionamento no gráfico e indique o novo ponto de equilíbrio. Suponha que o novo ponto de equilíbrio não tenha alcançado o ponto ótimo (isto é, suponha que a cobrança de £5 é muito baixa em relação ao que seria eficiente). c. A taxa de congestionamento foi elevada para £9 em janeiro de 2011. Ilustre o novo ponto de equilíbrio no gráfico, supondo que agora foi estabelecida uma cobrança ótima.

10. A tabela a seguir mostra a disposição de pagar de seis consumidores (seu benefício marginal individual) por uma cópia de arquivos MP3 de um álbum do Jay-Z. O custo marginal de tornar o arquivo acessível para um consumidor adicional é constante em zero. Consumidor

Benefício marginal individual

Adriana

$2

Bhagesh

15

Chizuko

1

Denzel

10

Emma

5

Frank

4

a. Qual seria o preço eficiente a cobrar por um download de arquivo? b. Todos os seis consumidores são capazes de baixar o arquivo de graça a partir de um serviço de compartilhamento de arquivos, Pantster. Que consumidores vão baixar o arquivo? Qual será o excedente do consumidor total para os consumidores? c. O Pantster foi fechado por infringir a lei de direitos de propriedade intelectual. Para baixar o arquivo, os consumidores agora têm que pagar $4,99 para um site comercial de música. Quais consumidores vão baixar o arquivo? Qual será o excedente do consumidor total para esses consumidores? Que quantidade de excedente do produtor reverte para o site comercial de música? Qual é o excedente total? Qual é a perda por peso morto com a nova política de preços? 11. Butchart Gardens é um jardim muito grande em Victoria, Columbia Britânica, conhecido pelas belas plantas. É tão grande que poderia comportar, muitas vezes, mais visitantes do que atualmente o visitam. O jardim cobra uma taxa de admissão de cerca de $30. A esse preço, 1 mil pessoas visitam o jardim por dia. Se a admissão fosse grátis, 2 mil pessoas visitariam por dia. a. As visitas ao Butchart Gardens são excluíveis ou não excluíveis? São rivais no consumo ou não rivais? Que tipo de bem é? b. Em um gráfico, ilustre a curva da demanda de visitas ao Butchart Gardens. Indique a situação em que o Butchart Gardens cobra uma taxa de entrada de $30. Indique também a situação em que o Butchart Gardens não cobra nenhuma taxa de entrada. c. Ilustre a perda por peso morto de cobrar uma entrada de $30. Explique por que a cobrança de uma entrada de $30 é ineficiente. 12. Historicamente, o software tem sido um bem artificialmente escasso – é não rival, pois o custo de replicação é insignificante, uma vez que o investimento para escrever o código foi feito, mas as empresas de software o tornam excluíveis cobrando licenças dos usuários. Mas, então, surgiu o software de código aberto, a maioria do qual é gratuito para download e pode ser modificado e mantido por qualquer pessoa.

Discuta o problema das caronas que podem existir no desenvolvimento de software de código aberto. Que efeito isso pode ter sobre a qualidade? Por que esse problema não existe para o software proprietário, tal como os produtos de uma empresa como a Microsoft ou a Adobe? b. Alguns argumentam que o software de código aberto serve uma demanda de mercado insatisfeita que os proprietários de software ignoram. Trace um gráfico típico que ilustre como o software de proprietários pode estar sendo produzido de forma ineficiente. Coloque o preço e o custo marginal do software no eixo vertical e a quantidade de software no eixo horizontal. Trace uma curva de demanda típica e uma curva de custo marginal (CM) que seja sempre igual a zero. Suponha que a empresa de software cobre um preço positivo, P, para o software. Indique o ponto de equilíbrio e o ponto eficiente. 13. Ao desenvolver uma vacina para um novo vírus chamado SARS, uma empresa farmacêutica incorre em um custo fixo muito alto. No entanto, o custo marginal de fornecer a vacina aos pacientes é insignificante (podemos considerá-lo igual a zero). A empresa farmacêutica detém a patente exclusiva dessa vacina. Você é um regulador que deve decidir o preço que a empresa farmacêutica está autorizada a cobrar. a. Trace um gráfico mostrando o preço da vacina que seria cobrado se a empresa não fosse regulamentada e indique por PM. Qual é o preço eficiente para a vacina? Mostre a perda por peso morto que decorre do preço PM. a.

b. Em outro gráfico, mostre o menor preço que o regulador pode impor que ainda induziria a empresa farmacêutica a desenvolver a vacina. Denomine-o P*. Mostre a perda por peso morto que surge a partir desse preço. Como ele se compara à perda por peso morto que surge a partir desse preço PM? c. Suponha que você tenha informações precisas sobre o custo fixo da empresa farmacêutica. Como você pode usar a regulação de preços da indústria farmacêutica, combinada com um subsídio para a empresa, para ter a quantidade eficiente da vacina fornecida ao governo ao custo mais baixo?

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CAPÍTULO 18 » Análise econômica do estado do bem-estar

ALIMENTANDO 40 MILHÕES

m 29 de maio de 1961, o Sr. e a Sra. Alderson Muncy, de Paynesville, West Virginia, compraram uma lata de carne de porco e feijão no supermercado de Henderson. Normalmente, essa operação não teria sido notável. O que a tornou diferente foi que o Sr. e a Sra. Muncy não pagaram com dinheiro: pagaram com vale-alimentação, que o governo federal tinha começado a emitir para ajudar americanos de baixa renda a colocar comida na mesa. Desde então, o programa de vale-alimentação – conhecido oficialmente como SNAP (Supplement Nutrition Assistance Program – Programa de Assistência Nutricional Suplementar) tornou-se uma presença importante no cenário americano. Em 2011, mais de 44 milhões de americanos, um sétimo da população, estavam recebendo vale-alimentação. Não surpreende que as opiniões sobre o programa sejam profundamente divididas. Alguns argumentam que esse programa está fazendo exatamente o suposto: em um momento de crise econômica e desemprego elevado, está atenuando o sofrimento dos necessitados. Outros argumentam que o programa tem ficado muito amplo e caro, com muitas pessoas contando com o governo para ajudar a colocar comida na mesa, a um custo de $68 bilhões em 2010. Mas ninguém, de nenhum dos lados do debate, quer eliminar o programa. Nos Estados Unidos contemporâneo, os políticos, muitas vezes,

E

discordam sobre o quanto de ajuda famílias com dificuldades financeiras devem receber para pagar pela assistência à saúde, habitação, alimentação e outras necessidades, mas existe amplo consenso político de que as famílias com problemas devem receber alguma ajuda. E elas recebem. É o mesmo em todo o mundo. Os governos modernos, especialmente em países ricos, dedicam grande parte do orçamento para assistência à saúde, apoio à renda para os idosos, ajuda aos pobres e outros programas que reduzam a insegurança econômica e, até certo ponto, a desigualdade de renda. A coleção de programas governamentais dedicados a essas tarefas é conhecida como estado do bem-estar. Iniciaremos este capítulo discutindo a lógica subjacente dos programas de estado do bem-estar. Então, descreveremos e analisaremos os dois principais tipos de programas que operam nos Estados Unidos: programas de apoio à renda, dos quais a Previdência Social é de longe o maior, e programas de saúde, dominados pela Medicare e Medicaid. O que você vai aprender neste capítulo • O que é o estado do bem-estar e as razões para que exista. • O que define a pobreza, o que a causa e as consequências da pobreza. • Como a desigualdade de renda nos Estados Unidos mudou ao longo do tempo. • Como programas como o de Previdência Social afetam a pobreza e a desigualdade da renda. • As preocupações especiais apresentadas pelo seguro-saúde. • Por que existem diferenças políticas e debate sobre o tamanho do estado do bemestar.

POBREZA, DESIGUALDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS Durante a Segunda Guerra Mundial, um clérigo britânico fez um discurso em que comparou o “estado de guerra” da Alemanha nazista, dedicado à conquista, com o “estado do bem-estar” britânico, dedicado a servir o bem-estar da população. Desde então, a expressão estado do bem-

estar passou a se referir ao conjunto de programas de governo que se destinam a mitigar as dificuldades econômicas. Uma grande parcela dos gastos públicos em todos os países ricos consiste de transferências governamentais – pagamentos por parte do governo para indivíduos e famílias – que proporcionam ajuda financeira aos pobres, assistência aos trabalhadores desempregados, renda para a previdência dos idosos e assistência para pagar as contas médicas dos que têm gastos muito elevados com assistência à saúde. A lógica do estado do bem-estar

Há três grandes justificativas econômicas para a criação do estado do bem-estar. Iremos agora discutir cada uma delas. 1. Mitigar a desigualdade de renda

Suponha que a família Taylor, que tem uma renda de apenas $15.000 por ano, está para receber um cheque do governo de $1.500. Esse cheque pode permitir que os Taylors consigam um lugar melhor para viver, disponham de uma dieta mais nutritiva, ou, em geral, melhorem significativamente a qualidade de vida. Suponha também que a família Fisher, que tem uma renda de $300.000 por ano, esteja diante de um imposto extra de $1.500. Isso provavelmente não fará muita diferença no seu padrão de vida: na pior das hipóteses, pode ter que desistir de alguns luxos menores. Essa troca hipotética ilustra uma razão importante do estado do bemestar: atenuar a desigualdade de renda. Como $1 marginal vale mais para uma pessoa pobre do que para uma pessoa rica, transferências modestas de renda de ricos para pobres pouco prejudicarão os ricos, mas muito beneficiarão os pobres. Assim, de acordo com esse argumento, o governo que desempenha papel de Robin Hood, tirando dos ricos para dar aos pobres, faz mais bem do que mal. Programas destinados a ajudar os pobres são conhecidos como programas antipobreza. 2. Mitigar a insegurança econômica

A segunda grande razão para o estado do bem-estar é mitigar a insegurança econômica. Imagine dez famílias, cada uma delas podendo esperar uma renda de $50.000 no próximo ano, se nada der errado. Mas suponha que há chance de que algo dê errado para uma das famílias, embora ninguém saiba qual. Por exemplo, suponha que cada uma das famílias tenha probabilidade de 1 em 10 de sofrer uma queda acentuada na renda, porque um membro da família é demitido ou incorre em grandes gastos médicos. E suponha que esse evento produzirá dificuldades graves para a família – um membro da família terá que abandonar a escola ou a família vai perder a sua casa. Agora suponha que haja um programa do governo que oferece ajuda às famílias em dificuldades, pagando por essa ajuda por meio da tributação das famílias que estão tendo um bom ano. Sem dúvida, esse programa vai fazer todas as famílias ficarem em situação melhor, porque mesmo as famílias que atualmente não recebem ajuda do programa poderão precisar dela em algum momento no futuro. Portanto, cada família se sentirá mais segura sabendo que o governo está pronto para ajudar quando ocorre algum desastre. Os programas desenvolvidos para fornecer proteção contra dificuldades financeiras imprevisíveis são conhecidos como programas de previdência social. Essas duas justificativas para o estado do bem-estar, mitigando a desigualdade de renda e a insegurança econômica, estão intimamente relacionadas com o princípio da capacidade de pagar que aprendemos no Capítulo 7. Lembre-se como o princípio da capacidade de pagar é usado para justificar a tributação progressiva: informa que as pessoas de baixa renda, para quem $1 adicional faz uma grande diferença para o bem-estar econômico, deve pagar uma fração menor de sua renda em impostos do que as pessoas com rendimentos mais elevados, para quem $1 adicional faz muito menos diferença. O mesmo princípio sugere que as pessoas com renda muito baixa realmente devem receber o dinheiro de volta do sistema tributário. 3. Redução da pobreza e fornecimento de acesso à assistência à saúde

A terceira e última grande razão para o estado do bem-estar envolve os benefícios sociais de redução da pobreza e acesso à assistência à saúde,

especialmente quando aplicado a crianças de famílias pobres. Os pesquisadores documentaram que essas crianças, em média, sofrem desvantagens ao longo da vida. Como vimos no Capítulo 16, em ”A lógica econômica impecável de programas de intervenção precoce na infância”, crianças oriundas de ambientes economicamente desfavorecidos, mesmo após o ajuste da capacidade, são mais propensas a ficar subempregadas ou desempregadas, envolver-se em crime e sofrer de problemas de saúde crônicos – todos eles impõem custos sociais significativos. Assim, de acordo com evidências, programas que ajudam a mitigar a pobreza e proporcionar acesso à assistência à saúde geram benefícios externos para a sociedade. De forma mais ampla, como a seção seguinte Para mentes curiosas explica, alguns filósofos políticos argumentam que o princípio de justiça social exige que a sociedade cuide dos pobres e azarados. Outros discordam, argumentando que os programas de estado do bem-estar vão além do papel do governo. Em grande medida, a diferença entre essas duas posições filosóficas define o que, em política, denominamos por “liberalismo” e “conservadorismo”. Mas, antes de se deixar levar, é importante perceber que as coisas não são tão simples assim. Mesmo os conservadores, que acreditam na limitação do governo, normalmente apoiam alguns programas de estado do bem-estar. E mesmo os economistas, que apoiam os objetivos do estado do bem-estar, estão preocupados com os efeitos do auxílio aos pobres e aos que têm falta de sorte em grande escala em relação ao incentivo ao trabalho e à poupança. Como os impostos, os programas do estado do bem-estar podem gerar perdas substanciais do tipo peso morto, de modo que seus verdadeiros custos econômicos podem ser bem maiores do que o custo monetário direto. Vamos abordar os custos e benefícios do estado do bem-estar mais adiante neste capítulo. Antes, porém, vamos examinar os problemas com que o estado do bem-estar tem que lidar. O problema da pobreza

Nos últimos 75 anos, pelo menos cada presidente dos Estados Unidos prometeu fazer o possível para reduzir a pobreza. Em 1964, o então Presidente Lyndon Johnson chegou ao ponto de declarar uma “guerra contra a pobreza”, criando uma série de programas novos para ajudar os pobres. Os

programas antipobreza são responsáveis por uma parte significativa do estado do bem-estar dos Estados Unidos, embora programas de previdência social sejam uma parte ainda maior. Mas o que se entende exatamente por pobreza? Qualquer definição é um tanto arbitrária. Desde 1965, no entanto, o governo dos Estados Unidos tem mantido uma definição oficial do limiar da pobreza, uma renda mínima anual que é considerada suficiente para a compra das necessidades básicas para viver. Famílias cuja renda seja inferior ao limiar da pobreza são consideradas pobres. O limiar da pobreza oficial depende do tamanho e da composição da família. Em 2010, o limiar da pobreza para um adulto vivendo sozinho era $11.344, enquanto o limiar da pobreza de uma família composta por dois adultos e duas crianças era de $22.113. Tendências da pobreza

Ao contrário de equívocos populares, embora o limiar da pobreza oficial seja ajustado todo o ano para refletir as variações no custo de vida, não foi ajustado para cima ao longo do tempo para refletir a melhoria de longo prazo no padrão de vida da família americana média. Como resultado, à medida que a economia cresce e se torna mais próspera, e à medida que a renda média aumenta, pode-se esperar que a porcentagem da população que vive abaixo do limiar da pobreza diminua de forma constante. Surpreendentemente, no entanto, isso não aconteceu. A Figura 18-1 mostra a taxa de pobreza dos Estados Unidos – a porcentagem da população que vive abaixo do limiar da pobreza – de 1960 a 2010. Como se pode ver, a taxa de pobreza caiu acentuadamente durante a década de 1960 e o início da década de 1970. Desde então, no entanto, tem oscilado para cima e para baixo, sem tendência clara. De fato, em 2010, a taxa de pobreza foi mais alta do que em 1967. Quem são os pobres?

Provavelmente muitos americanos mantêm uma imagem estereotipada de pobreza: uma família afro-americana ou hispânica em que não há marido presente, e o chefe da família é uma mulher desempregada pelo menos parte

do tempo. Essa imagem não está completamente fora da realidade: a pobreza é desproporcionalmente elevada entre os afro-americanos e os hispânicos, bem como entre as famílias chefiadas por mulheres. Mas a maioria dos pobres não se encaixa nesse estereótipo.

PARA MENTES CURIOSAS JUSTIÇA E ESTADO DO BEM-ESTAR Em 1971, o filósofo John Rawls publicou A Theory of Justice, até agora a mais famosa tentativa de desenvolver uma teoria de justiça econômica. Ele pediu aos leitores que imaginassem a decisão de políticas econômicas e sociais por trás de um “véu de ignorância” sobre a própria identidade. Ou seja, suponha que você sabia que iria ser um ser humano, mas não sabia se seria rico ou pobre, saudável ou doente, e assim por diante. Rawls argumentou que as políticas que surgiriam se as pessoas tivessem que tomar decisões por trás do véu da ignorância definiriam o que entendemos por justiça econômica. É uma espécie de versão generalizada da Regra de Ouro: fazer aos outros o que gostaria que fizessem a você se estivesse no lugar deles. Rawls argumentou ainda que as pessoas por trás do véu da ignorância escolheriam políticas que colocassem um alto valor sobre o bem-estar dos membros menos favorecidos da sociedade: afinal, cada um de nós pode ser uma dessas pessoas infelizes. Como resultado, a teoria de Rawls frequentemente é usada como argumento para um estado do bem-estar generoso. Três anos depois de Rawls ter publicado seu livro, outro filósofo, Robert Nozick, publicou Anarchy, State and Utopia, que, muitas vezes, é considerado a resposta libertária. Nozick argumentou que a justiça é uma questão de direitos e não de resultados e que o governo não tem o direito de forçar as pessoas que recebem renda alta a apoiar as outras com renda mais baixa. Ele defendeu um governo mínimo que impõe a lei e oferece segurança – o “vigia noturno do estado” – e foi contra os programas do estado do bem-estar que são responsáveis pelos gastos do governo. Filósofos, certamente, não correm o mundo. Mas o debate político no mundo real, muitas vezes, contém argumentos que são claramente fundamentados em refletir tanto a posição do tipo Rawls como uma posição do tipo Nozick. FIGURA 18-1

Tendências da taxa de pobreza nos Estados Unidos, 1960-2010

A taxa de pobreza caiu acentuadamente da década de 1960 para a década de 1970, mas não apresentou uma tendência clara desde então.

Fonte: U.S. Census Bureau.

Em 2009, cerca de 43,6 milhões de americanos eram considerados pobres, 14,3% da população, ou cerca de uma em cada sete pessoas. Cerca de 1/4 dos pobres eram afro-americanos, superando substancialmente sua participação na população total (apenas aproximadamente 13% da população são de afro-americanos). A taxa média de pobreza entre o grupo era de 27,4%. Os hispânicos também eram mais propensos do que a média americana a ser pobres, com uma taxa de pobreza de 26,6%. Mas havia também pobreza generalizada entre os brancos não hispânicos, que compunham mais da metade na classificação da pobreza.

COMPARAÇÃO GLOBAL

Í

PESSOAS POBRES EM PAÍSES RICOS Como o problema da pobreza nos Estados Unidos se compara com a situação em outros países ricos? A resposta depende, em parte, da definição de pobreza – embora os Estados Unidos não tenham o melhor dos desempenhos, independentemente da definição. A figura mostra as taxas de pobreza em cinco países ricos em 2000, de acordo com duas definições. Uma definição, amplamente usada nas comparações internacionais, define alguém como pobre quando vive em uma família com menos da metade da renda média de seu país, que definiremos em uma seção adiante. Essa é uma definição relativa de pobreza: você é pobre, se tem uma renda baixa em comparação com as demais pessoas do país. Como as barras claras na figura mostram, por essa medida os Estados Unidos têm muita pobreza, em comparação com outros países ricos. Uma objeção a essa comparação é que os Estados Unidos são ainda mais ricos do que outros países ricos e têm uma renda média um pouco mais alta do que outros países mostrados. Será que os Estados Unidos ainda têm índices de pobreza elevados quando isso é levado em conta? As barras escuras usam uma medida de pobreza absoluta, semelhante ao limiar da pobreza oficial dos Estados Unidos. Os Estados Unidos já não são o país com a taxa de pobreza mais alta por essa medida – está em segundo lugar. Por qualquer medida, os Estados Unidos têm uma taxa de pobreza alta em comparação com outros países ricos.

Fonte: Timothy Smeeding, Poor people in Rich Nations: The United States in Comparative Perspective, Journal of Economic Perspectives 20, n. 1(2006): 69-90.

Há também uma correlação entre a composição familiar e a pobreza. Famílias chefiadas por mulheres sem marido presente têm taxa de pobreza muito elevada: 31,6%. Casais formados têm muito menos probabilidade de serem pobres, com uma taxa de pobreza de apenas 6,2%; ainda, cerca de 39% dos pobres estavam em famílias com ambos os cônjuges presentes. O que realmente se destaca nos dados, no entanto, é a associação entre pobreza e emprego inadequado. É muito pouco provável que os adultos que trabalham em tempo integral sejam pobres: apenas 2,6% dos trabalhadores em tempo integral eram pobres em 2010. Muitas indústrias, principalmente nos setores de varejo e serviços, agora se baseiam principalmente em trabalhadores em tempo parcial. Normalmente, o trabalho em tempo parcial carece de benefícios como planos de saúde, férias pagas e benefícios de aposentadoria, e também geralmente paga um salário por hora mais baixo do que o trabalho comparável em tempo integral. Como resultado, muitos dos pobres são membros do que os analistas chamam de trabalhadores pobres: trabalhadores cuja renda cai abaixo ou está no limiar da pobreza. O que causa a pobreza?

A pobreza, muitas vezes, é atribuída à falta de educação, e a escolaridade tem claramente um forte efeito positivo sobre o nível de renda – aqueles com mais educação têm, em média, renda mais elevada do que aqueles com menos educação. Por exemplo, em 1979, o salário médio por hora dos homens com diploma universitário era 38% mais alto do que a dos homens com apenas diploma de ensino médio; em 2011, o “prêmio da faculdade” tinha aumentado para 82%. A falta de proficiência em inglês também constitui barreira para o aumento da renda. Por exemplo, nos Estados Unidos, os trabalhadores do sexo masculino nascidos no México – 2/3 dos quais não têm diploma de ensino médio e muitos dos quais a habilidade no inglês é deficitária – ganham menos da metade do que os nativos. E é importante não esquecer o papel da discriminação racial e de gênero; embora menos difundida hoje do que há 50 anos, a discriminação ainda erige barreiras imensas ao avanço para muitos americanos. Quem não é branco ganha menos e fica menos propenso a estar empregado do que os brancos com nível de educação comparável. Através de estudos verificou-se

que afro-americanos do sexo masculino sofrem discriminação persistente por parte dos empregadores em favor dos brancos, mulheres afroamericanas e imigrantes hispânicos. As mulheres têm renda mais baixa do que os homens com qualificação semelhante. Além disso, uma importante fonte de pobreza que não deve ser esquecida é a má sorte. Muitas famílias ficam empobrecidas quando um assalariado perde o emprego ou um membro da família fica gravemente doente. Consequências da pobreza

As consequências da pobreza muitas vezes são graves, especialmente para as crianças. Em 2010, 22% das crianças nos Estados Unidos viviam na pobreza. Com frequência, a pobreza está associada à falta de acesso à assistência de saúde, o que prejudicam a capacidade de frequentar a escola e, mais tarde na vida, trabalhar. Com frequência, moradia acessível também é um problema pode levar a mais problemas de saúde que, que leva as famílias pobres a mudarem de lugar, interrompendo o comparecimento à escola e ao trabalho. Estudos médicos recentes mostram que crianças que são criadas em condições de pobreza severa tendem a sofrer de dificuldade de aprendizagem ao longo da vida. Como resultado, as crianças americanas que crescem na pobreza ou perto dela não têm uma chance igual no ponto de partida: tendem a estar em desvantagem ao longo da vida. Por exemplo, é pouco provável que até mesmo as crianças talentosas que vieram de famílias pobres terminem a faculdade. A Tabela 18-1 mostra os resultados de uma pesquisa de longo prazo realizada pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos, que acompanhou um grupo de estudantes que estavam no oitavo ano em 1988. Naquele ano, os estudantes tiveram um teste de matemática que o estudo usou como indicador de capacidade inata; o estudo também identificou os estudantes pelo status socioeconômico de suas famílias, uma medida que levava em consideração a renda dos pais e o emprego. Como se vê, os resultados foram preocupantes: apenas 29% dos alunos que estavam entre os 25% mais bem classificados no teste, mas cujos pais estavam classificados como de status baixo, terminaram a faculdade. Por outro lado, crianças igualmente talentosas de pais com status elevado mostraram uma chance de 74% de terminar a faculdade e os filhos de pais

de status elevado tinham uma chance de 30% de terminar a faculdade, mesmo com classificação baixa no teste de habilidade inata. O que isso informa é que a pobreza, em grande medida, se autoperpetua: os filhos dos pobres começam com tal desvantagem em relação a outros americanos que é muito difícil que alcancem padrão de vida melhor. TABELA 18-1 Porcentagem de alunos da 8ª série que terminaram a universidade, 1988 Quartil dos melhores no teste de matemática

Quartil dos piores no teste de matemática

Pais no quartil inferior

3%

29%

Pais no quartil superior

30

74

Fonte: National Center for Education Statistics, The Condition of Education 2003, p. 47.

Desigualdade econômica

Os Estados Unidos são um país rico. Em 2007, antes da recessão, a família média dos Estados Unidos tinha uma renda de $67.609, ultrapassando o limiar da pobreza de longe. Mesmo depois de uma recessão devastadora, a renda familiar média em 2010 ainda era de $67.530. Como é possível, então, que tantos americanos ainda vivam na pobreza? A resposta é que a renda é distribuída de forma desigual, com muitas famílias ganhando muito menos do que a média e outros ganhando muito mais. A Tabela 18-2 mostra a distribuição da renda antes do imposto de renda – a renda antes de ser pago o imposto de renda federal – entre as famílias americanas em 2010, com base na estimativa do Census Bureau. As famílias estão agrupadas em quintos, cada uma compondo 20%, ou um quinto da população. O primeiro, ou quinto inferior, contém as famílias cuja renda as coloca abaixo do 20º percentil em renda, o segundo quinto contém as famílias cuja renda as coloca entre o vigésimo e o quadragésimo percentil, e assim por diante.

Para cada grupo, a Tabela 18-2 mostra três números. A segunda coluna mostra as faixas de renda que definem o grupo. Por exemplo, em 2010, o quinto inferior consistia de famílias com renda anual de menos de $20.000, o próximo quinto de famílias de renda entre $20.000 e $38.043, e assim por diante. A terceira coluna mostra a renda média de cada grupo, variando de $11.034 para o quinto inferior até $287.686 para os 5% de americanos no quinto superior. A quarta coluna mostra a porcentagem da renda total dos Estados Unidos recebida por cada grupo. Renda mediana versus média das famílias

Na parte inferior da Tabela 18-2 há dois números úteis para raciocinar sobre a renda das famílias americanas. A renda familiar média é a renda total de todas as famílias americanas dividida pelo número de famílias. A renda familiar mediana é a renda de uma família exatamente no meio da distribuição de renda – o nível de renda em que metade de todas as famílias tem renda mais baixa e a outra metade tem renda mais alta. É importante perceber que esses dois números não medem a mesma coisa. Os economistas, muitas vezes, ilustram a diferença pedindo às pessoas que imaginem uma sala contendo várias dezenas de assalariados, então pense sobre o que acontece com a renda média e mediana das pessoas na sala se um magnata de Wall Street, daqueles que ganham mais de um bilhão de dólares por ano, entrar na sala. A renda média sobe, porque a renda do magnata puxa a média para cima, mas a renda mediana em geral quase não sobe. Esse exemplo ajuda a explicar por que os economistas geralmente consideram a renda mediana como um guia melhor para o status econômico das famílias típicas americanas do que a renda média: a renda média é fortemente afetada pela renda de um número relativamente pequeno de americanos, de renda muito alta, que não são representativos da população como um todo; a renda mediana, não. O que aprendemos da Tabela 18-2 é que a renda nos Estados Unidos é distribuída de forma muito desigual. A renda média do quinto mais pobre das famílias é inferior a um quarto da renda média das famílias do meio, e o quinto mais rico tem uma renda média três vezes mais alta que as famílias do meio. A renda do quinto mais rico da população é, em média, cerca de 15 vezes mais alta do que o quinto mais pobre. Na verdade, a distribuição de

renda nos Estados Unidos tornou-se mais desigual desde 1980, chegando ao ponto de se tornar uma questão política importante. A seção Economia em ação, mais adiante, discute tendências de longo prazo da desigualdade de renda nos Estados Unidos, que diminuiu na década de 1930 e 1940, manteve-se estável por mais de 30 anos após a Segunda Guerra Mundial, mas voltou a subir no final de 1970. O índice de Gini

Muitas vezes, convém ter um único número que resuma o nível de desigualdade de renda de um país. O índice de Gini, ou coeficiente de Gini, medida de desigualdade mais amplamente usada, baseia-se na desigualdade de renda dos quintos. Um país com distribuição de renda perfeitamente igual – isto é, em que 20% da população de renda mais baixa receberia 20% da renda, os 40% inferiores da população receberiam 40% da renda, e assim por diante – teria um índice de Gini zero. No outro extremo, o valor mais alto possível para o índice de Gini é 1 – nível que atingiria se a renda de todo um país fosse para apenas uma pessoa. TABELA 18-2 Distribuição de renda nos Estados Unidos em 2010

Grupo de renda

Faixa de renda

Renda média

Porcentagem de renda total

Quinto inferior

Menos que $20.000

$11.034

3,3%

Segundo quinto

$20.000 a $38.043

28.636

8,5%

Terceiro quinto

$38043 a $61,735

49.309

14,6%

Quarto quinto

$61.735 a $100.065

79.040

23,4%

Quinto superior

Mais que $100.065

169.633

50,2%

5% do topo

Mais que $180.810

287.686

21,3%

Renda média = $67.530

Renda mediana $49.445

Uma maneira de ter uma noção do que o índice de Gini significa na prática é analisar as comparações internacionais. A Figura 18-2 mostra as estimativas do índice de Gini mais recentes para muitos dos países do mundo. Com exceção de alguns países da África, os níveis mais altos de desigualdade de renda são encontrados na América Latina, especialmente na Colômbia, países com elevado grau de desigualdade têm índice de Gini próximo de 0,6. As distribuições de renda mais igualitárias estão na Europa, especialmente na Escandinávia. Países com distribuição de renda muito uniforme, como a Suécia, têm índice de Gini em torno de 0,25. Comparado com outros países ricos, os Estados Unidos, com índice de Gini de 0,41, têm desigualdade anormalmente elevada, embora não seja tão desigual quanto na América Latina. Até que ponto a desigualdade de renda é uma questão séria? Em sentido direto, a desigualdade de renda elevada significa que algumas pessoas não compartilham a prosperidade do conjunto da nação. Como vimos, a desigualdade crescente explica como é possível que a taxa de pobreza nos Estados Unidos não tenha caído nos últimos 40 anos, embora o país como um todo tenha se tornado consideravelmente mais rico. Além disso, a desigualdade extrema, como a que existe na América Latina, frequentemente está associada à instabilidade política por causa das tensões entre a minoria rica e o resto da população. É importante perceber, porém, que os dados apresentados na Tabela 18-2 superestimam o verdadeiro grau de desigualdade nos Estados Unidos, por várias razões. Uma delas é que os dados representam uma imagem em um único ano, enquanto a renda de muitas famílias individuais oscilam ao longo do tempo. Ou seja, muitos daqueles na parte inferior em determinado ano estão tendo um ano excepcionalmente ruim e muitos daqueles na parte superior estão tendo um ano excecionalmente bom. Com o tempo, sua renda pode ser revertida para um nível mais normal. Assim, uma tabela que mostra a renda média dos quintos durante um período mais longo, como uma década, não mostraria tanta desigualdade. Além disso, a renda de uma família tende a variar ao longo do seu ciclo de vida: na vida, a maioria das pessoas ganha muito menos nos primeiros anos de trabalho do que mais tarde e tem uma queda considerável na renda quando se aposenta. Consequentemente, os números da Tabela 18-2, que

combinam trabalhadores jovens, maduros e aposentados, mostram mais desigualdade do que uma tabela que comparasse famílias de idades similares. FIGURA 18-2

Desigualdade de renda no mundo

Os mais altos níveis de desigualdade de renda são encontrados na África e na América Latina. As distribuições de renda mais igualitárias se encontram na Europa, especialmente na Escandinávia. Comparado com outros países ricos, os Estados Unidos, com um índice de Gini de 0,41, têm desigualdade anormalmente elevada.

Fonte: Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial de 2010.

Apesar dessas qualificações, há uma quantidade considerável de desigualdade genuína nos Estados Unidos. De fato, a desigualdade não só persiste por longos períodos para os indivíduos, como se estende ao longo de gerações. Filhos de pais pobres têm muito mais probabilidade de serem pobres do que filhos de pais prósperos, e vice-versa – situação que é única nos Estados Unidos quando comparado com outros países ricos. Além disso, o fato de que a renda das famílias varia de ano para ano, não é uma notícia inteiramente boa. As medidas de desigualdade em determinado ano superestimam a verdadeira desigualdade. Mas essas flutuações de ano para ano são parte de um problema que preocupa a insegurança até mesmo de famílias abastadas – insegurança econômica.

Insegurança econômica

Como dissemos anteriormente, embora a razão para o estado do bemestar se baseie, em parte, nos benefícios sociais de redução da pobreza e da desigualdade, também repousa, em parte, no benefício da redução da insegurança econômica, que atinge até mesmo as famílias relativamente abastadas. Uma forma de insegurança econômica é o risco de uma súbita perda de renda, que, em geral, acontece quando um membro da família perde o emprego e leva um longo período sem trabalho ou é forçado a aceitar um novo emprego que paga consideravelmente menos. Em determinado ano, de acordo com estimativas recentes, cerca de uma em cada seis famílias americanas verá sua renda ser cortada pela metade em relação ao ano anterior. Estimativas relacionadas mostram que a porcentagem de pessoas que se encontram abaixo do limiar da pobreza em pelo menos um ano ao longo de uma década é várias vezes maior do que a porcentagem de pessoas abaixo do limiar da pobreza em qualquer ano determinado. Mesmo que uma família não enfrente perda de renda, pode enfrentar um surto de gastos. A razão mais comum para tal surto é um problema médico que requer tratamento caro, como doenças cardíacas ou câncer. Muitos americanos têm seguro-saúde que cobre grande parte dos seus gastos em tais casos, mas um número significativo não tem ou depende do seguro oferecido pelo governo.

economia em ação Tendência de longo prazo na desigualdade de renda nos Estados Unidos

A desigualdade tende a aumentar, diminuir ou permanecer a mesma ao longo do tempo? A resposta é: todas as três suposições. Ao longo do século passado, os Estados Unidos passaram por períodos caracterizados por todas as três tendências: uma era de desigualdade declinante nos anos entre 1930 e 1940, outra era de desigualdade estável por 35 anos após a Segunda Guerra Mundial, e a última de desigualdade crescente nos últimos 30 anos.

Nos Estados Unidos, os dados de renda detalhados por quintos, como mostra a Tabela 18-2, só estão disponíveis a partir de 1947. O painel (a) da Figura 18-3 mostra a taxa de crescimento da renda anual, ajustada pela inflação, para cada quinto relativo a dois períodos: 1947 a 1980 e 1980 e 2010. Há uma diferença clara entre os dois períodos. No primeiro perío do, a renda de cada grupo cresceu mais ou menos à mesma taxa, ou seja, não houve muita variação na desigualdade de renda, com a renda crescendo horizontalmente. Contudo, depois de 1980, a renda do quinto superior cresceu muito mais rapidamente no topo que no meio; e mais rapidamente no meio do que na parte inferior. Então, a desigualdade aumentou substancialmente desde 1980. No geral, a renda ajustada pela inflação para as famílias do quinto mais alto subiu 51% entre 1980 e 2010, enquanto, na verdade, caiu ligeiramente para as famílias no quinto mais baixo. FIGURA 18-3

Tendência de desigualdade de renda nos Estados Unidos

Embora não existam dados detalhados sobre a distribuição de renda antes de 1947, os economistas usaram outras informações, como dados de imposto de renda, para estimar a parcela de renda para os 10% de renda mais alta da população, conseguindo chegar até 1917. O painel (b) da Figura 18-3 mostra essa medida de 1917 a 2008. Esses dados, como os dados mais detalhados disponíveis desde 1947, mostram que a desigualdade americana

ficou mais ou menos estável entre 1947 e o fim de 1970, mas desde então subiu substancialmente. Contudo, os dados de longo prazo mostram que a distribuição relativamente igualitária de 1947 era algo novo. No final do século XIX, muitas vezes chamado de Era Dourada, a renda americana tinha distribuição muito desigual. Esse alto nível de desigualdade persistiu até 1930. Mas a desigualdade caiu acentuadamente entre o final dos anos 1930 e o fim da Segunda Guerra Mundial. Em um artigo famoso, dois historiadores econômicos, Claudia Goldin e Robert Margo, chamaram esse estreitamento da desigualdade de renda de “a Grande Compressão”. A Grande Compressão mais ou menos coincidiu com a Segunda Guerra Mundial, período durante o qual o governo dos Estados Unidos impôs controles especiais sobre salários e preços. Evidências indicam que esses controles foram aplicados de modo a reduzir a desigualdade, por exemplo, era muito mais fácil um empregador conseguir aprovação para aumentar o salário de seus empregados com remuneração mais baixa do que dos executivos. O que permanece intrigante é que a igualdade imposta pelos controles do tempo de guerra durou décadas após esses controles serem suspensos, em 1946. Desde a década de 1970, como já vimos, a desigualdade aumentou substancialmente. Na verdade, a renda antes do pagamento do imposto de renda parece estar tão desigualmente distribuída hoje nos Estados Unidos como na década de 1920, o que levou muitos comentaristas a descrever o estado atual da nação como nova Era Dourada – ainda que os efeitos da desigualdade sejam moderados por impostos e pela existência do estado do bem-estar. Há um intenso debate entre os economistas sobre as causas dessa desigualdade crescente. A explicação mais popular é da rápida mudança tecnológica, que aumentou a demanda por trabalhadores altamente qualificados ou talentosos mais rapidamente do que a demanda por outros trabalhadores, levando a um aumento do diferencial de salários entre os trabalhadores altamente qualificados e os demais. O crescimento do comércio internacional também pode ter contribuí do, permitindo que os Estados Unidos importem produtos intensivos em trabalho de países de salários baixos, em vez de produzi-los no mercado interno, reduzindo a demanda por trabalhadores americanos menos qualificados e reduzindo

seus salários. O aumento da imigração pode ser outra fonte. Em média, os imigrantes têm nível de escolaridade mais baixo do que os trabalhadores nativos, aumentando a oferta de mão de obra pouco qualificada e diminuindo os salários correspondentes. No entanto, todas essas explicações não levam em consideração uma característica fundamental: a maior parte do aumento da desigualdade não reflete um hiato crescente entre trabalhadores altamente qualificados e os que têm menos acesso à educação, mas sim entre os próprios trabalhadores altamente qualificados. Por exemplo, professores de escola primária e executivos de empresas têm nível de educação igualmente elevado, mas o ganho dos executivos aumentou acentuadamente e o salário dos professores não aumentou. Por alguma razão, algumas “estrelas” – um grupo que inclui estrelas do mundo do entretenimento, mas também grupos como os intermediários de Wall Street e os principais executivos das corporações – agora têm renda muito mais alta do que há uma geração atrás. Ainda não está claro o que causou a mudança.

BREVE REVISÃO Programas de estado do bem-estar, que incluem transferências do governo, absorvem grande parte dos gastos do governo nos países ricos. O princípio da capacidade de pagamento explica uma das razões do estado do bem-estar: aliviar a desigualdade de renda. Programas antipobreza fazem isso, ajudando os pobres. Os programas de previdência social lidam com a segunda das razões: aliviam a insegurança econômica. Os benefícios externos para a sociedade da redução da pobreza e o acesso à assistência de saúde, especialmente para as crianças, é uma terceira razão para o estado do bem-estar. O limiar da pobreza oficial dos Estados Unidos é ajustado anualmente para refletir variações no custo de vida, mas não no nível de vida médio. Mas embora a renda média tenha aumentado significativamente, a taxa de pobreza dos Estados Unidos não é menor do que era há 30 anos. As causas da pobreza incluem a falta de acesso à educação, o legado da discriminação racial e de gênero e má sorte. As consequências da pobreza são terríveis para as crianças. A renda mediana das famílias é um indicador melhor da renda do agregado familiar ơ pico do que a renda média das famílias. A comparação do índice de Gini entre os países mostra que os Estados Unidos têm menos

desigualdade de renda do que os países pobres, porém mais do que todos os outros países ricos. Os Estados Unidos tiveram períodos de desigualdade de renda declinante e crescente. Desde 1980, a desigualdade de renda aumentou substancialmente, em grande parte em virtude do aumento da desigualdade entre os trabalhadores altamente qualificados.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 18-1 1.

2.

3.

Indique se cada um dos seguintes programas é um programa antipobreza ou um programa de previdência social. a. Um programa de garantia de aposentadoria que oferece pensões aos aposentados que perderam a aposentadoria com base no emprego em decorrência da falência do empregador. b. O programa federal dos Estados Unidos, conhecido como SCHIP, oferece assistência à saúde para crianças de famílias que estão acima do limiar da pobreza, mas com renda ainda relativamente baixa. c. A seção 8 do programa de habitação americano, que fornece subsídios habitacionais para famílias de baixa renda. d. O programa federal contra inundações, que fornece ajuda financeira para as comunidades atingidas por grandes inundações. Lembre-se de que o limiar da pobreza não é ajustado para refletir variações no padrão de vida. Como resultado, o limiar da pobreza é uma medida de pobreza absoluta ou relativa? Ou seja, define a pobreza de acordo com o quanto alguém é pobre em relação aos outros ou de acordo com alguma medida fixa, que não muda com o tempo? Explique. A tabela a seguir fornece a distribuição de renda de uma economia bem pequena. a. Qual é a renda média? Qual é a renda mediana? Que medida é mais representativa da renda da pessoa média na economia? Por quê? b. Qual a faixa de renda que define o primeiro quinto?

Renda Sephora

$39.000

Kelly

17.500

Raul

900.000

Vijay

15.000

Oskar

28.000

4.

Qual das seguintes afirmações reflete com mais precisão a principal fonte de aumento da desigualdade nos Estados Unidos hoje em dia? a. O salário do gerente da agência local do Banco Sunrise aumentou em relação ao salário do frentista do posto de gasolina do bairro. b. O salário do CEO do Banco Sunrise aumentou em relação ao salário do gerente de agência local, que têm níveis de educação similares. As respostas estão no fim do livro.

O ESTADO DE BEM-ESTAR NOS ESTADOS UNIDOS O estado do bem-estar nos Estados Unidos é constituído de três programas amplos (Previdência Social, Medicare e Medicaid); vários outros programas grandes, incluindo a Assistência Temporária a Famílias Carentes, o vale-alimentação, o crédito tributário sobre a renda do trabalho (EITC – Earned Income Tax Credit), e uma série de programas menores. A Tabela 18-3 é uma maneira prática de categorizar esses programas, junto com o montante gasto em cada um dos programas listados em 2010. Primeiro, a tabela faz uma distinção entre os programas com critério de renda, nos quais os benefícios estão disponíveis apenas para famílias e indivíduos com renda e/ou riqueza abaixo de algum mínimo predefinido. Basicamente, os programas com critério de renda são programas antipobreza, destinados a ajudar apenas aqueles com baixa renda. Por outro lado, programas que não têm critério de renda fornecem benefícios para

todos, embora, como veremos, na prática, tendem a reduzir a desigualdade de renda. Segundo, a tabela faz distinção entre programas que oferecem transferências monetárias que os beneficiários podem gastar como quiser e os que oferecem benefícios em espécie, dados na forma de bens ou serviços, em vez de dinheiro. Como os números sugerem, os benefícios em espécie são dominados pelo Medicare e Medicaid, que paga por serviços de saúde. Examinaremos os serviços de saúde na próxima seção deste capítulo. Por ora, analisaremos outros programas importantes. TABELA 18-3 Principais programas do estado do bem-estar, Estados Unidos, 2010 Transferências monetárias Com critério de renda

Em espécie

Assistência Temporária às Famílias Carentes: $22 bilhões

Vale-alimentação: $68 bilhões

Renda da previdência suplementar: $44 bilhões

Medicaid: $273 bilhões

Crédito tributário sobre a renda do trabalho: $55 bilhões Sem critério de renda

Previdência social: $707 bilhões

Medicare: $519 bilhões

Seguro-desemprego: $158 bilhões

Programas com critério de renda

Quando as pessoas usam o termo bem-estar, muitas vezes estão se referindo à ajuda monetária para as famílias pobres. A principal fonte dessa ajuda nos Estados Unidos é a TANF (Temporary Assistance for Needy Families – Assistência Temporária para Famílias Carentes). Esse programa não ajuda quem é pobre, está disponível especificamente para famílias pobres com crianças e apenas por um período limitado. O TANF foi introduzido na década de 1990 para substituir um programa altamente controverso, conhecido como Ajuda a Famílias com Crianças Dependentes (AFDC – Aid to Families with Dependent Children). O AFDC

era acusado de criar incentivos perversos para os pobres, incluindo encorajar a desintegração familiar. Em parte como resultado da mudança nos programas, os benefícios do “bem-estar” moderno são consideravelmente menos generosos que os disponíveis para a geração anterior, uma vez que os dados são ajustados pela inflação. Além disso, esse programa agora contém limite de tempo, e, assim, os recebedores do benefício – mesmo sendo solteiros – no final devem procurar trabalho. Como se depreende da Tabela 18-3, o TANF é uma parte relativamente pequena do estado do bem-estar moderno dos Estados Unidos. Outros programas com critério de renda, embora mais caros, são menos controversos. O programa de Renda de Previdência Suplementar auxilia os americanos com deficiência e incapazes para o trabalho e que não têm outra fonte de renda. O programa de vale-alimentação, ou SNAP, que discutimos na história de abertura, ajuda famílias de baixa renda e pessoas individualmente, que podem usar o vale-alimentação para comprar alimentos básicos, mas não outros itens. Por fim, os economistas usam o termo imposto de renda negativo para um programa que complementa a renda das famílias de trabalhadores de baixa renda. Os Estados Unidos têm um programa conhecido como Crédito Tributário sobre a Renda do Trabalho (EITC), que proporciona renda adicional a milhões de trabalhadores. Tornou-se mais generoso à medida que o bem-estar tradicional tornou-se menos generoso. Apenas trabalhadores que recebem salários são elegíveis ao EITC. Em determinada faixa de renda, quanto mais o trabalhador recebe, mais alto o montante de EITC recebido. Ou seja, o EITC age como imposto de renda negativo para os trabalhadores com salários baixos. Em 2010, os casais com dois filhos e ganhando menos que $12.550 por ano, recebiam pagamento do EITC igual a 40% do seu salário. (Os pagamentos eram ligeiramente mais baixos para famílias em que só a mãe ou o pai estava presente ou trabalhadores sem filhos.) O EITC é eliminado para rendas mais elevadas, desaparecendo em uma renda de $45.373 para casais com dois filhos em 2010. Previdência social e seguro-desemprego

A Previdência Social, o maior programa do estado do bem-estar nos Estados Unidos, é um programa sem critério de renda mínima, que garante

renda na aposentadoria para americanos mais velhos elegíveis. Também oferece benefícios a trabalhadores que se tornaram incapacitados e “benefícios de sobrevivente” a membros da família de trabalhadores falecidos. A Previdência Social é baseada em um imposto específico sobre os salários: a parte da Previdência Social do total dos impostos sobre a folha de salários, que foi descrito no Capítulo 7, paga os benefícios da Previdência Social. O benefício que o trabalhador recebe na aposentadoria depende da sua remuneração tributável durante os anos de trabalho: quanto mais ganha, até o valor máximo sujeito a impostos da Previdência Social ($106.800 em 2011), mais recebe na aposentadoria. No entanto, os benefícios não são estritamente proporcionais ao salário. Em vez disso, são determinados por uma fórmula que dá mais aos assalariados de renda alta e menos aos assalariados de renda baixa, mas com uma escala móvel que torna o programa relativamente mais generoso para pessoas de baixa renda. Como a maioria dos idosos não recebe pensão dos antigos empregadores e a maioria não possui ativos suficientes para viver de renda, os benefícios da Previdência Social têm uma enorme importância como fonte de renda para eles. Em torno de 60% dos americanos acima de 65 anos contam com a Previdência Social para compor mais da metade de sua renda, e 20% não têm renda, exceto a Previdência Social. O seguro-desemprego, embora normalmente seja uma quantidade muito menor de transferências do governo do que a Previdência Social, é outro programa fundamental para atenuar a insegurança social. Fornece aos trabalhadores que perdem o emprego aproximadamente 35% dos antigos salários até que encontre um novo emprego ou até passarem 26 semanas. Porém, em resposta à grave recessão entre 2007 e 2009, alguns trabalhadores desempregados receberam benefícios por até 99 semanas. O segurodesemprego é financiado por um imposto sobre empregadores; os gastos de seguro-desemprego foram incomumente altos em 2010, em decorrência de um índice nacional elevado de desemprego. Como a Previdência Social, o seguro-desemprego não considera critério de renda. Efeitos do estado do bem-estar sobre pobreza e desigualdade

Como as pessoas que recebem transferências do governo tendem a ser diferentes das que são tributadas para pagar por essas transferências, o estado do bem-estar dos Estados Unidos tem o efeito de redistribuição de renda de algumas pessoas para outras. A cada ano o Census Bureau estima o efeito dessa redistribuição em um relatório intitulado “Efeitos dos impostos e transferências governamentais sobre a renda e a pobreza”. O relatório calcula apenas o efeito direto dos impostos e transferências, sem levar em consideração as mudanças de comportamento que esses impostos e transferências possam causar. Por exemplo, o relatório não tenta calcular quantos americanos mais velhos ainda estariam trabalhando se não estivessem recebendo os cheques da Previdência Social. Consequentemente, as estimativas são apenas um indicador parcial dos verdadeiros efeitos do estado do bem-estar. No entanto, os resultados são impressionantes. A Tabela 18-4 mostra como, em 2009, os impostos e transferências governamentais afetaram a taxa de pobreza para a população como um todo e para grupos etários diferentes. Mostra dois números para cada grupo: a porcentagem do grupo que teria tido renda abaixo do limiar da pobreza se o governo não coletasse impostos nem fizesse transferências e a porcentagem dos que realmente caíram abaixo do limiar da pobreza, depois de considerados os impostos e transferências. (Por questões técnicas, o segundo número é um pouco menor do que a medida padrão da taxa de pobreza.) Em geral, o efeito combinado de impostos e transferências é cortar a taxa de pobreza dos Estados Unidos quase pela metade. Os idosos tiveram os maiores benefícios de redistribuição, que reduziu sua taxa de pobreza potencial de 48,0% para uma taxa de pobreza real de 9,8%.

TABELA 18-4 Efeitos dos impostos e transferências sobre a taxa de pobreza, 2009 Taxa de pobreza sem impostos e transferências

Taxa de pobreza com impostos e transferências

23,7%

13,1%

Abaixo de 18

24,7

16,6

18 a 64

17,5

11,7

65 ou mais

48,0

9,8

Grupo (por idade) Todos

Fonte: U.S. Census Bureau.

A Tabela 18-5 mostra o efeito dos impostos e transferências na participação da renda total de cada quinto da distribuição de renda em 2009. Assim como a Tabela 18-4, mostra tanto o que a distribuição teria sido sem impostos e transferências do governo, e a distribuição de renda atual levando em consideração impostos e transferências. O efeito dos programas de governo foi o de aumentar a parcela da renda dos 80% mais pobres da população, especialmente a participação dos 20% mais pobres, reduzindo a participação da renda dos 20% mais ricos. TABELA 18-5 Efeitos de impostos e transferências sobre a distribuição de renda, 2009 Parcela da renda agregada sem impostos e transferências

Parcela da renda agregada com impostos e transferências

0,7%

3,7%

Segundo quinto

6,9

9,8

Terceiro quinto

14,0

15,9

Quarto quinto

24,1

24,2

Quinto quinto

54,3

46,4

Quinto Quinto mais baixo

Fonte: U.S. Census Bureau.

economia em ação Lula diminui desigualdade

O Brasil era uma das sociedades mais desiguais do mundo, em 2002, o ano em que Luiz Inácio Lula da Silva, universalmente conhecido como Lula, foi eleito presidente. E continuava sendo uma das sociedades mais desiguais do mundo em 2010, quando entregou as rédeas para Dilma Roussef, sua sucessora. Mas, em 2010, o Brasil estava menos desigual, e a pobreza era acentuadamente mais baixa. E a luta do Brasil contra a pobreza e a desigualdade tornou-se um modelo positivo internacional. Os números são impressionantes. A Figura 18-4 mostra as variações percentuais da renda real de diferentes decis (décimos) da população brasileira de 2001 a 2008. Como se vê, houve enormes ganhos para os 10% mais pobres, e o movimento geral, claramente, foi em direção à maior igualdade. Como os brasileiros conseguiram isso? Um fator fundamental foi um novo programa conhecido como Bolsa Família. Esse programa – inspirado em um modelo semelhante no México, mas realizado em escala maior – oferece o que é conhecido como “transferência de renda condicional”: pagamentos que são disponibilizados para as famílias pobres, desde que preencham certos requisitos concebidos para ajudar a quebrar o ciclo da pobreza. Em particular, para obter os subsídios, as famílias devem manter os filhos na escola e participar de exames médicos regulares, e as mães devem participar de workshops sobre temas como nutrição e prevenção de doenças. Os pagamentos vão para as mulheres em vez de para os homens, porque elas são mais propensas a gastar o dinheiro com as famílias. FIGURA 18-4

Variação porcentual na renda real dos brasileiros, 2001-2008

A partir de 2010, o Bolsa Família abrangeu 50 milhões de brasileiros, um quarto da população. Os pagamentos não parecem elevados para os padrões americanos: uma bolsa mensal de cerca de $13 para as famílias pobres para cada criança com 15 anos ou mais nova que frequente a escola, pagamentos ligeiramente superiores para as crianças mais velhas ainda na escola, e um benefício básico de $40 para famílias em situação de pobreza extrema. Mas os pobres do Brasil são realmente muito pobres, e essas somas foram o suficiente para fazer uma enorme diferença na renda. O sucesso do Bolsa Família levou à criação de programas semelhantes em muitos países, incluindo os Estados Unidos: um programa piloto pequeno com linhas semelhantes foi estabelecido em Nova York.

BREVE REVISÃO Programas com critério de renda são destinados a reduzir a pobreza, mas programas sem critério de renda também o fazem. Os programas são classificados de acordo com o fornecimento de benefícios monetários ou em espécie.

“Bem-estar”, mais conhecido nos Estados Unidos como TANF, é muito menos generoso hoje do que uma geração atrás, em virtude das preocupações sobre seu efeito sobre os incentivos ao trabalho e desintegração familiar. O imposto de renda negativo aborda essas preocupações: complementa a renda apenas de famílias trabalhadoras de baixa renda. A Previdência Social, programa mais amplo de bem-estar dos Estados Unidos, é um programa sem critério de renda que proporciona renda de aposentadoria para os idosos. Fornece uma parcela significativa da renda da maioria dos idosos americanos. O seguro-desemprego também é um programa de Previdência Social fundamental sem critério de renda. No geral, o estado do bem-estar americano é redistributivo. Aumenta a parcela da renda que vai para os 80% mais pobres, reduzindo a parcela que vai para os 20% mais ricos.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 18-2 1. Explique como o imposto de renda negativo evita o desincentivo ao trabalho que caracteriza os programas antipobreza que fornecem benefícios com base no baixo nível de renda. 2. De acordo com a Tabela 18-4, qual é o efeito do estado do bem-estar nos Estados Unidos sobre a taxa global da pobreza? Sobre a taxa da pobreza daqueles com idade acima de 65 anos? As respostas estão no fim do livro.

A economia de assistência à saúde

Grande parte do estado do bem-estar, tanto nos Estados Unidos como em outros países ricos, é dedicada ao pagamento à assistência à saúde. Na maioria dos países ricos, o governo paga entre 70% e 80% de todos os custos médicos. O setor privado desempenha um papel mais importante no sistema de saúde dos Estados Unidos. No entanto, mesmo lá o governo paga quase metade de todas as despesas de saúde; além disso, subsidia indiretamente o seguro-saúde privado, por meio do código tributário federal. A Figura 18-5 mostra quem pagou pela assistência à saúde nos Estados Unidos em 2009. Apenas 13% do consumo de serviços de saúde (ou seja, todo o gasto com assistência à saúde, exceto o investimento em edifícios e instalações) foram gastos “do próprio bolso” – isto é, pagos diretamente

pelos indivíduos. A maioria dos gastos de saúde, 72%, foi paga por algum tipo de seguro. Desses 72%, consideravelmente menos do que a metade, eram seguros privados, o resto era uma espécie de seguro do governo, principalmente Medicare e Medicaid. Para entender o porquê, é necessária uma análise econômica especial do sistema de saúde. FIGURA 18-5

Quem pagou assistência à saúde nos Estados Unidos em 2009?

Nos Estados Unidos, em 2009, o seguro pagou 72% dos custos de consumo com assistência à saúde: a soma de 34% (seguros privados), 22% (Medicare) e 16% (Medicaid). A porcentagem paga pelo seguro privado, 34%, foi o único número excepcionalmente elevado entre os países avançados. Mesmo assim, muito mais serviços de saúde foram pagos pelo Medicare, Medicaid e outros programas do governo nos Estados Unidos, do que por outros meios.

Fonte: Department of Health and Human Services Centers for Medicare and Medicaid Services.

A necessidade de seguro-saúde

Em 2009, os gastos com saúde pessoal nos Estados Unidos foram de $8.086 por pessoa – 17,6% do produto interno bruto. No entanto, não significa que o americano típico gastou mais que $8.000 em tratamento médico. De fato, em determinado ano, a metade da população incorre em despesas médicas menores. Mas uma pequena porcentagem da população tem contas médicas enormes, com 10% da população normalmente responsável por quase 2/3 dos custos médicos.

É possível prever quem terá custos médicos altos? Até certo ponto, sim: há padrões gerais de doença. Por exemplo, os idosos são mais propensos a precisar de cirurgia e/ou remédios caros do que os jovens. Mas o fato é que qualquer pessoa pode de repente precisar de tratamento médico muito caro, que custa milhares de dólares, em um tempo muito curto, muito além do que a maioria das famílias pode pagar facilmente. No entanto, ninguém quer ser incapaz de pagar por esse tratamento se for necessário. Seguro-saúde particular

As economias de mercado têm uma resposta para esse problema: segurosaúde. Com seguro-saúde particular, cada membro de um grande grupo de pessoas se compromete a pagar um montante fixado anualmente (chamado de prêmio) para um fundo comum, que é gerido por uma empresa privada, que, então, paga a maior parte das despesas médicas dos membros do grupo. Embora os membros tenham que pagar mensalidade, mesmo nos anos em que não têm grandes despesas médicas, usufruem do benefício de uma redução de risco: se tiverem gastos médicos muito altos, o fundo comum se encarregará desses gastos. Há, no entanto, problemas inerentes ao mercado de seguro-saúde privado. Esses problemas surgem do fato de que as despesas médicas, embora basicamente imprevisíveis, não são completamente imprevisíveis. Ou seja, as pessoas muitas vezes têm alguma ideia se terão ou não contas médicas elevadas ao longo dos próximos anos. Isso cria um problema sério para as empresas de seguro-saúde particulares. Suponha que uma companhia de seguro ofereça um plano de saúde do tipo “tamanho único”, em que os clientes pagam um prêmio anual igual à média dos gastos médicos anuais dos americanos, e um pouco mais para cobrir os gastos operacionais da empresa e uma taxa normal de lucro. Em troca, a seguradora paga as contas médicas do segurado, quaisquer que sejam. Se todos os clientes potenciais tivessem risco igual de incorrer em gastos médicos elevados no ano, poderia ser uma proposta de negócio viável. Porém, na realidade, as pessoas, muitas vezes, têm riscos diferentes de enfrentar despesas médicas elevadas – e, fundamentalmente, muitas vezes, sabem disso antes. Essa realidade minaria rapidamente qualquer tentativa de

uma seguradora de oferecer um seguro-saúde do tipo tamanho único. Essa política seria um mau negócio para as pessoas saudáveis, que não têm risco significativo de ter gastos médicos altos: na média, estariam pagando muito mais em prêmios de seguro do que o custo de suas contas médicas reais. Mas seria um bom negócio para as pessoas com condições crônicas, caras, que, na média, estariam pagando um prêmio menor do que o custo da sua assistência. O resultado é que algumas pessoas saudáveis tenderiam a assumir o risco e ficar sem seguro. Isso tornaria o cliente médio da companhia de seguros menos saudável do que o americano médio. Elevaria as contas médicas que a empresa terá que pagar e elevaria os custos da empresa por cliente. Ou seja, a companhia de seguros enfrentaria um problema chamado de seleção adversa, que será discutido em detalhe no Capítulo 20. Por causa da seleção adversa, uma empresa que oferece seguro-saúde para todos a um preço que reflete os custos médicos médios da população em geral, e que oferece às pessoas a liberdade de recusar a cobertura, irá perder muito dinheiro. A companhia de seguros poderia reagir cobrando mais – aumentando o prêmio do seguro para refletir as despesas médicas mais elevadas do que a média dos seus clientes. Mas isso afastaria ainda mais pessoas saudáveis, deixando a empresa com uma clientela ainda mais doente, de maior custo, forçando-a a elevar o prêmio ainda mais, afastando ainda mais as pessoas saudáveis, e assim por diante. Esse fenômeno é conhecido como espiral da morte da seleção adversa, que acaba por levar a empresa de seguro-saúde à falência. Essa descrição dos problemas com seguro-saúde pode levar a acreditar que o seguro-saúde privado não funcione. Na verdade, porém, a maioria dos americanos tem seguro-saúde privado. As companhias de seguros são capazes, até certo ponto, de superar o problema da seleção adversa de duas maneiras: analisando cuidadosamente as pessoas que se candidatam à cobertura e através do seguro-saúde com base em emprego. Com a triagem (sobre a qual vamos aprender mais no Capítulo 19) das pessoas que estão propensas a ter despesas médicas elevadas é cobrado um prêmio mais alto do que a média – ou, em muitos casos, recusar a cobertura. A próxima seção explica como o seguro-saúde com base no emprego, uma característica

única do mercado de trabalho americano, também permite que o segurosaúde privado funcione.

PARA MENTES CURIOSAS ESPIRAL DA MORTE NA CALIFÓRNIA No início de 2006, 116 mil trabalhadores em mais de 6 mil empresas de pequeno porte da Califórnia recebiam cobertura de saúde da PacAdvantage, uma espécie de “cooperativa de compra” que oferecia aos empregados das empresas uma escolha de plano de seguro. A ideia por trás da PacAdvantage, que foi fundada em 1992, era a de que ao se juntarem, as pequenas empresas poderiam receber ofertas melhores de seguro-saúde para os funcionários. Mas, apenas alguns meses depois, em agosto de 2006, a PacAdvantage anunciou que estava fechando, pois não conseguia mais encontrar seguradoras dispostas a oferecer planos aos seus membros. O que aconteceu? Foi a espiral da morte da seleção adversa. A PacAdvantage ofereceu o mesmo plano a todos, independentemente de seu histórico de saúde anterior. Mas os empregados não eram obrigados a ter o seguro da PacAdvantage – tinham a liberdade de comprar um seguro-saúde por conta própria. E, com certeza, os empregados saudáveis começaram a perceber que poderiam obter taxas mais baixas pela compra do seguro diretamente para si, mesmo que isso significasse abrir mão das vantagens da compra conjunta. Como resultado, a PacAdvantage começou a perder clientes saudáveis, restando apenas um grupo de clientes – cada vez mais doentes e caros. Os prêmios tiveram que subir, afastando ainda mais os trabalhadores saudáveis e, no fim, o plano teve que fechar.

Seguro-saúde com base no emprego

No entanto, na maioria dos casos, as empresas de seguro superam a seleção adversa com a venda de seguros, indiretamente, para os empregadores das pessoas, em vez de aos indivíduos. A grande vantagem do seguro-saúde com base no emprego – seguro que a empresa fornece aos seus empregados – é que esses empregados são suscetíveis de conter uma mistura representativa de pessoas saudáveis e menos saudáveis, em vez de um grupo

selecionado de pessoas que têm interesse no seguro, porque tem a expectativa de pagar contas médicas elevadas. Isso é especialmente verdadeiro se o empregador é uma grande empresa com milhares ou dezenas de milhares de trabalhadores. Os empregadores exigem que seus empregados participem do plano de seguro-saúde da empresa, porque ao permitir a não opção (que os mais saudáveis serão tentados a fazer) eleva o custo do fornecimento de seguro para todos os outros. Há outra razão pela qual o seguro-saúde com base no emprego é muito difundido nos Estados Unidos: recebe tratamento tributário favorecido. Os trabalhadores pagam impostos sobre seus salários, mas os trabalhadores que recebem seguro-saúde de seus empregadores não pagam impostos sobre o valor correspondente a esse benefício. Assim, o seguro-saúde com base no emprego é, de fato, subsidiado pelo sistema tributário dos Estados Unidos. Os economistas estimam que o valor desse subsídio seja de cerca de $150 bilhões por ano. Apesar desse subsídio, muitos americanos não recebem seguro-saúde com base no emprego. Incluem-se, nesse grupo, os americanos mais velhos, pois relativamente poucos empregadores oferecem seguro-saúde após a aposentadoria, muitos trabalhadores cujos empregadores não oferecem cobertura (especialmente trabalhadores de tempo parcial) e os desempregados. Seguro-saúde do governo

A Tabela 18-6 apresenta a composição da cobertura de seguro-saúde da população dos Estados Unidos em 2010. A maioria dos americanos, quase 170 milhões de pessoas, recebeu seguro-saúde por intermédio de seus empregadores. A maioria das pessoas que não tinham planos de seguro particulares era coberta por dois programas do governo, Medicare e Medicaid. (Os números não batem porque algumas pessoas têm mais do que uma forma de cobertura. Por exemplo, muitos beneficiários do Medicare também têm cobertura suplementar ou através do Medicaid ou de seguro privado.)

TABELA 18-6 Número de americanos cobertos por seguro-saúde, 2010 (milhares) Cobertos por planos de seguro-saúde particulares

195.874

Com base no emprego

169.264

Compra direta Cobertos pelo governo

30.147 95.003

Medicaid

48.580

Medicare

44.327

Plano de saúde militar

12.848

Não cobertos

49.904

Fonte: U.S. Census Bureau.

O Medicare, financiado por impostos sobre salários, está disponível para todos os americanos com 65 anos de idade ou mais, independentemente de sua renda ou riqueza. Começou em 1966 como um programa para cobrir custo de hospitalização, mas, desde então, foi ampliado para abranger uma série de outras despesas médicas. Pode-se ter uma ideia de quanta diferença o Medicare faz para as finanças dos idosos americanos comparando-se a renda mediana per capita dos americanos com 65 anos ou mais – $18.819 – com o pagamento médio anual do Medicare por beneficiário, que era superior a $11.000 em 2010. No entanto, tal como acontece com o gasto de seguro-saúde em geral, a média pode ser enganosa: em determinado ano, cerca de 7% dos beneficiários do Medicare são responsáveis por 50% dos custos. No início de 2006, houve uma grande ampliação do Medicare, dessa vez para cobrir o custo dos medicamentos prescritos. Na época em que o Medicare foi criado, os remédios representavam um papel relativamente pequeno na medicina e raramente representavam uma despesa grande para os pacientes. Hoje, no entanto, muitos problemas de saúde, especialmente entre os idosos, são tratados com medicamentos caros que devem ser administrados por anos a fio, arrebentando com as finanças de qualquer

pessoa. Como resultado, foi criado um novo programa Medicare, conhecido como Parte D, que ajuda a cobrir essas despesas. Ao contrário do Medicare, o Medicaid é um programa com critério de renda mínima, pago com a receita do governo federal e estadual. Não há nenhuma maneira simples de resumir os critérios de elegibilidade, porque é em parte pago pelos governos estaduais, e cada estado define suas próprias regras. Dos 48 milhões de americanos cobertos pelo Medicaid em 2009, 25 milhões eram crianças menores de 18 anos e muitos dos restantes eram pais de crianças menores de 18 anos. Contudo, a maior parte do custo do Medicaid decorre de gastos de um pequeno número de americanos mais velhos, especialmente aqueles que necessitam de assistência de longo prazo. Mais de 12 milhões de americanos recebem seguro-saúde em decorrência do serviço militar. Ao contrário do Medicare e do Medicaid que pagam as contas médicas, mas não prestam assistência à saúde diretamente, a Administração de Saúde dos Veteranos, que tem mais de 8 milhões de clientes, mantém hospitais e clínicas em todo o país. Portanto, o sistema de saúde dos Estados Unidos oferece uma mistura de seguro privado, principalmente por parte dos empregadores, e de seguro público de várias formas. A maioria dos americanos tem seguro-saúde, seja de companhias de seguro particulares ou através de várias formas de seguro do governo. No entanto, em 2010, havia quase 50 milhões de pessoas nos Estados Unidos, 16,3% da população, que não tinha nenhum tipo de segurosaúde. Como se explica esse problema, e qual é a importância da falta de seguro? O problema da falta de seguro

A Fundação Kaiser Family, um grupo apartidário independente que estuda questões de saúde, oferece um resumo sucinto de quem não é segurado nos Estados Unidos: “Em grande parte quem não tem seguro são os trabalhadores adultos de baixa renda, ou porque não têm condições de pagá-lo ou porque não está indisponível.” A razão pela qual são principalmente os adultos que não têm seguro é que o Medicaid, suplementado pelo SCHIP (que provê planos de saúde para crianças de famílias que estão acima do limiar da pobreza, mas relativamente ainda com

renda baixa), cobre muitas, embora nem todas, as crianças de baixa renda. Mas é muito menos provável de oferecer cobertura para adultos, especialmente se não têm filhos. Trabalhadores de baixa renda tendem a não ter seguro por dois motivos: são menos propensos a ter emprego que proporcione benefícios de segurosaúde do que os trabalhadores de renda mais elevada, e são menos propensos a poder comprar diretamente plano de seguro-saúde para si. Finalmente, as companhias de seguros frequentemente se recusam a cobrir as pessoas, independentemente da renda, que têm condição médica preexistente, ou algo no histórico médico, que sugira que são propensos a necessitar de tratamento médico caro em alguma data futura. Como resultado, um número significativo de americanos, cuja renda os classifica como classe média, não consegue ter seguro. É importante perceber que a falta de seguro não é sinônimo de pobreza. A maioria das pessoas sem seguro-saúde nos Estados Unidos têm renda acima do limiar da pobreza, e 35% dos sem seguro têm renda duas vezes acima do limiar da pobreza. Devemos observar também que alguns dos sem seguro são pessoas relativamente saudáveis que podiam pagar um seguro, mas preferem economizar dinheiro e assumir o risco, embora haja controvérsias sobre o tamanho desse grupo que voluntariamente fica sem seguro. Como a pobreza, a falta de seguro-saúde tem consequências graves, tanto médicas como financeiras. Do lado médico, os sem seguro normalmente têm acesso limitado à assistência à saúde. O painel (a) da Figura 18-6 apresenta um resumo dos problemas comuns associados ao acesso aos serviços de saúde. São muito piores para os sem seguro do que para os que têm seguro. Pelo ângulo financeiro, os sem seguro, muitas vezes, enfrentam sérios problemas quando uma doença os atinge. O painel (b) apresenta um resumo dos principais problemas financeiros associados à assistência à saúde, muito piores para quem não tem seguro-saúde. Assistência à saúde em outros países

Saúde é uma área em que os Estados Unidos são muito diferentes de outros países ricos, incluindo as nações europeias e o Canadá. De fato, há três formas de distinção. Primeiro, os Estados Unidos se apoiam muito mais

sobre seguro-saúde privado do que qualquer outro país rico. Segundo, é gasto muito mais em seguro-saúde per capita. Terceiro, é o único país rico em que um grande número de pessoas não tem seguro-saúde. FIGURA 18-6

As consequências da falta de seguro-saúde

Como mostra o painel (a), os sem seguro enfrentam barreiras bem maiores para receber assistência médica do que quem possui seguro. Comparado com quem tem seguro, uma proporção muito maior dos sem seguro necessita de assistência médica, mas não recebe ou adia. O painel (b) ilustra as graves consequências financeiras de estar sem seguro. Em comparação com quem tem seguro, uma proporção bem maior de quem não tem seguro tem problemas ao pagar uma conta médica.

Fonte: The Henry J Kaiser Family Foundation, The Uninsured: A Primer.

A Tabela 18-7 compara os Estados Unidos a três países ricos: Canadá, França e Grã-Bretanha. Os Estados Unidos são o único dos quatro países que se baseia em seguro-saúde privado para cobrir a maioria das pessoas; como resultado, é o único país em que o gasto privado em saúde é (ligeiramente) mais alto do que o gasto público. O Canadá tem um sistema de pagador único: um sistema de saúde em que o governo atua como o principal pagador de contas médicas financiadas através de impostos. Para efeito de comparação, o Medicare é

essencialmente um sistema de pagador único para os americanos idosos – aliás, o sistema canadense, de fato, chama-se Medicare. O sistema britânico é como a administração de saúde dos veteranos nos Estados Unidos, só que estendido a todos: uma agência do governo, o Serviço Nacional de Saúde Britânico, emprega trabalhadores no serviço de saúde e tem hospitais e clínicas que estão disponíveis de forma gratuita para o público. A França está em algum ponto entre os sistemas canadense e britânico. Na França, o governo atua como pagador único, fornecendo seguro-saúde para todos, e os cidadãos franceses podem receber tratamento de médicos e hospitais particulares, mas também têm a opção de receber assistência de um sistema de saúde considerável administrado diretamente pelo governo francês. Todos os três sistemas não americanos fornecem seguro-saúde para todos os seus cidadãos, os Estados Unidos, não. No entanto, todos os três gastam muito menos com saúde por pessoa do que os Estados Unidos. Muitos americanos assumem que isso deve significar que a assistência à saúde estrangeira é inferior em qualidade. Mas muitos especialistas em saúde discordam da afirmação de que os sistemas de saúde de outros países ricos prestam assistência de má qualidade. Como indicado, Grã-Bretanha, Canadá e França geralmente se igualam ou ultrapassam os Estados Unidos em termos de muitas medidas de prestação de assistência à saúde, como o número de médicos, enfermeiras e leitos hospitalares por 100 mil pessoas. É verdade que a assistência à saúde nos Estados Unidos inclui tecnologia mais avançada em algumas áreas e muitos procedimentos cirúrgicos mais caros. Os pacientes americanos também têm menor tempo de espera para cirurgia eletiva que os pacientes do Canadá ou da Grã-Bretanha. A França, no entanto, também tem tempo de espera muito curto.

TABELA 18-7 Sistemas de assistência à saúde em países avançados Parcela do governo de gastos com saúde Estados Unidos

Gasto com saúde per capita (US$, paridade de poder de compra)

Expectativa de vida (população total aonascer, anos)

Mortalidade infantil (mortes por 1.000 nascidos vivos)

47,7%

$7.960

78,2

6,5(2)

Canadá

70,6

4.363

80,7(1)

5,1(1)

França

77,9

3.978

81,5(3)

3,7(3)

GrãBretanha

84,1

3.487

80,4

4,6

Fonte: OECD. Dados de 2008 exceto: (1) dados de 2007; (2) dados de 2008; (3) dados de 2010.

Pesquisas de pacientes parecem sugerir que não há diferenças significativas na qualidade do atendimento recebido pelos pacientes no Canadá, na Europa e nos Estados Unidos. E como mostra a Tabela 18-7, os Estados Unidos são consideravelmente piores do que outros países avançados em termos de medidas básicas, como expectativa de vida e mortalidade infantil, embora o fraco desempenho dessas medidas possa ter outras causas diferentes da qualidade da assistência médica – principalmente os níveis relativamente altos de pobreza e desigualdade de renda. Então, por que os Estados Unidos gastam muito mais em saúde do que outros países ricos? Parte da disparidade é o resultado de salários mais elevados dos médicos, mas a maioria dos estudos sugere que esse é um fator secundário. Uma possibilidade é que os americanos estão recebendo assistência melhor do que as contrapartes no exterior, mas de um modo que não transparece nem nas pesquisas de experiências de pacientes ou estatísticas sobre o desempenho da saúde. No entanto, a explicação mais provável é que o sistema dos Estados Unidos sofra de deficiências sérias que os outros países conseguiram evitar.

Os críticos do sistema dos Estados Unidos enfatizam o fato da dependência do sistema das empresas de seguros privados, as quais gastam recursos em atividades como marketing e tentando identificar e eliminar os pacientes de alto risco, o que resulta em custos operacionais elevados. Em média, os custos operacionais das companhias privadas de seguro-saúde absorvem 14% dos prêmios que os clientes pagam, deixando apenas 86% para gastar com prestação de assistência à saúde. Por outro lado, o Medicare gasta apenas 3% dos seus fundos em custos operacionais, deixando 97% para gastar com saúde. Um estudo do McKinsey Global Institute constatou que os Estados Unidos gastam cerca de seis vezes mais por pessoa na administração de serviços de saúde que outros países ricos. Os americanos também pagam preços mais elevados para medicamentos prescritos porque, em outros países, as agências do governo barganham com as empresas farmacêuticas para obter preços mais baixos de medicamentos. A reforma do sistema de saúde de 2010

No entanto, avaliando as taxas de desempenho passado do sistema de saúde nos Estados Unidos, em 2009 estavam claramente em apuros. A raiz do problema era o aumento do custo do seguro-saúde, tanto privado como público. Um problema imediato foi que o custo do seguro privado aumentou muito mais rápido do que a renda. De 1999 a 2009, os prêmios médios de seguro-saúde com base no emprego mais do que duplicaram, mas o salário do trabalhador médio subiu apenas 35%. Até 2009, o custo médio do seguro para uma família de quatro pessoas era de quase $14.000. Como consequência dos custos crescentes, o seguro-saúde com base no emprego, a peça central do sistema para os americanos com menos de 65 anos, está em declínio. A Figura 18-7 mostra alterações selecionadas no status do seguro dos americanos entre 2000 e 2009. Nesse período, enquanto a população total aumentou 25 milhões, o número de pessoas com segurosaúde com base no emprego diminuiu quase 10 milhões. Apesar da expansão do Medicaid em 18 milhões de pessoas, em 2009, 12 milhões de pessoas se juntaram ao grupo dos sem seguro. FIGURA 18-7

Variação no status do seguro-saúde, 2000-2009

Desde 2000, a população dos Estados Unidos tem crescido substancialmente, mas o número de pessoas com seguro-saúde com base no emprego tem diminuído. O crescimento do seguro-saúde público, principalmente o Medicaid, constitui parte da diferença. No entanto, também houve aumento no grupo dos sem seguro.

Fonte: Census Bureau

FIGURA 18-8

Custo crescente dos serviços médicos

O gasto dos Estados Unidos com assistência à saúde como porcentagem do PIB, uma medida da renda total, triplicou desde 1965. Em outros países, observa-se a mesma tendência. A maioria dos analistas considera que o principal fator dessa tendência seja o progresso da medicina: gastamos mais em assistência médica porque mais problemas de saúde podem ser tratados.

Fonte: Department of Health and Human Services Centers for Medicare and Medicaid Services.

Ao mesmo tempo, à medida que o seguro-saúde privado vacila e o grupo dos sem seguro aumenta, o seguro-saúde público está sob crescente pressão financeira. Em parte, isso ocorre porque o Medicaid e outros programas do governo cobrem agora mais pessoas do que no passado. Principalmente, no entanto, isso se deve ao custo por beneficiário do seguro-saúde do governo, como o custo por beneficiário do seguro privado, estar aumentando rapidamente. O que há por trás do aumento dos custos? A Figura 18-8 mostra o gasto global dos Estados Unidos com assistência à saúde em porcentagem do PIB, uma medida da renda total do país, desde 1960. Como se vê, o gasto com saúde triplicou como proporção da renda desde 1965. Esse aumento nos gastos explica por que o seguro-saúde tornou-se mais caro. Tendências semelhantes podem ser observadas em outros países. Por que os gastos com saúde aumentaram? O consenso dos especialistas em saúde é que é um resultado do progresso da medicina. À medida que a ciência médica progride, condições que não podiam ser tratadas no passado se tornam tratáveis – mas, muitas vezes, apenas ao custo de gastos elevados. Tanto os programas de governo como as seguradoras privadas sentem-se compelidos a cobrir os novos procedimentos – mas isso significa custos mais elevados, que devem ser repassados na forma de prêmios de seguro ou exigência de maiores compromissos dos fundos dos contribuintes. A combinação de um número crescente de pessoas sem seguro e de custos crescentes levou a muitos apelos por reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos. E, em 2010, o Congresso aprovou uma lei de reforma de assistência à saúde abrangente, conhecida oficialmente como Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA), ou ACA, abreviando. A ACA, que não terá efeito pleno até 2014, é a maior expansão do estado do bem-estar americano desde a criação do Medicare e do Medicaid em 1965. Tem dois grandes objetivos: cobrir quem não tem seguro e o controle de custo. Vamos analisar um por vez.

Cobrir quem não tem seguro

Do lado da cobertura, a ACA segue de perto um modelo que já foi testado em Massachusetts, que apresentou um plano bem semelhante – com o republicano e posterior presidenciável Mitt Romney, em 2006. Para entender a lógica tanto do plano de Massachusetts como da ACA, considere o problema de estar diante de uma grande categoria de americanos sem seguro: as muitas pessoas que procuram cobertura no mercado de seguro individual, mas são rejeitadas porque têm condições médicas preexistentes, e as companhias de seguros temem que possam levar a despesas elevadas no futuro. (As companhias de seguro são conhecidas por negar cobertura para até mesmo pequenas doenças, como alergias ou uma erupção cutânea que você teve na faculdade.) Como disponibilizar o seguro para essas pessoas? Uma resposta seria regulamentos que exijam que as companhias de seguros ofereçam as mesmas políticas para todos, independentemente do histórico médico – regra conhecida como “community rating”, ou seja, sem exclusão por condições preexistentes. De fato, alguns estados têm tal regra. Mas a community rating tende a um espiral da morte por seleção adversa: os indivíduos saudáveis não compram seguro até ou, a menos, que fiquem doentes, e como apenas as pessoas com problemas de saúde estão recebendo cobertura, o seguro torna-se muito caro. Para que a community rating funcione, é necessário complementá-la com outras políticas. Tanto a reforma de Massachusetts como a ACA adicionam duas características fundamentais. Primeiro há o requisito de que todos adquiram seguro-saúde – conhecido como mandato individual. Isso impede a espiral da morte da seleção adversa. Segundo, os subsídios do governo tornam o seguro exigido acessível para famílias de renda baixa e médiabaixa. É importante perceber que esse sistema é como um tripé: todos os três componentes devem estar presentes para que ele funcione. Tire fora a community rating, e aqueles com doenças preexistentes não terão cobertura. Tire o mandato individual e a community rating irá produzir uma espiral da morte da seleção adversa. E não se pode exigir que as pessoas comprem seguro, sem fornecer subsídios para as pessoas com renda mais baixa. Será que esse arranjo, uma vez totalmente implementado, consegue cobrir mais ou menos todas as pessoas? O precedente de Massachusetts está

incentivando nessa frente: em 2010, mais de 98% dos moradores do estado tinham seguro-saúde, e praticamente todas as crianças estavam cobertas. Uma vez que a ACA é muito semelhante em estrutura, deve produzir resultados semelhantes. Controle de custo

Mas será que a ACA irá controlar custos? A expansão da cobertura irá aumentar os gastos com saúde, embora nem tanto quanto se pode esperar. Em geral, as pessoas que não têm seguro são relativamente jovens, e os jovens têm custos relativamente baixos de saúde. (Os idosos já estão cobertos pelo Medicare.) A questão é saber se a reforma pode ter sucesso em “diminuir a curva”: reduzir a taxa de crescimento dos custos de saúde ao longo do tempo. A promessa da ACA de controlar os custos começa a partir da premissa de que o sistema de saúde dos Estados Unidos, na sua forma atual, tem incentivos distorcidos que desperdiçam recursos. Como a maioria da assistência é paga pelo seguro, nem os médicos nem os pacientes têm incentivos para se preocupar com custos. Na verdade, como os prestadores de serviços de saúde geralmente são pagos por cada procedimento que realizam, há um incentivo financeiro de fornecer cuidado adicional – mais testes e, em alguns casos, realizar mais operações – mesmo quando há pouco ou nenhum benefício médico. O projeto de lei tenta corrigir esses incentivos distorcidos de várias maneiras, da supervisão mais rigorosa dos reembolsos, ligação entre os pagamentos e o valor dos procedimentos médicos, pagamento dos prestadores de serviços de saúde para melhorar os resultados em vez de o número de procedimentos e limitando a dedutibilidade tributária dos planos com base no emprego. Mesmo os defensores da reforma admitem que ninguém sabe o quanto essas medidas vão funcionar bem, mas apontam que a ACA incorpora praticamente todas as ideias para o controle de custos que tem sido proposto por economistas dedicados à assistência à saúde e é provável que algumas dessas ideias tenham sucesso. Ou terão sucesso mesmo se a reforma nunca entrar totalmente em vigor.

economia em ação Qual é a função da Medicaid?

Os programas de previdência social realmente ajudam seus beneficiários? A resposta nem sempre é tão óbvia quanto se pensa. Tomemos o exemplo de Medicaid, que fornece seguro-saúde para americanos de baixa renda. Alguns céticos sobre a eficácia do programa argumentam que, na ausência da Medicaid, os pobres ainda encontrarão maneiras de obter assistência à saúde essencial, e que não há provas claras de que receber Medicaid realmente leva a uma saúde melhor. Testar tais afirmações é complicado. Não se pode comparar pessoas que estão no Medicaid com pessoas que não estão, uma vez que os beneficiários do programa são diferentes em muitos aspectos daqueles que não estão no programa. E, normalmente, não são realizados experimentos controlados nos quais os grupos comparáveis recebem diversos benefícios do governo. De vez em quando, no entanto, os eventos oferecem o equivalente a uma experiência controlada – e foi isso o que aconteceu com o Medicaid. Em 2008, o estado do Oregon – que tinha reduzido drasticamente seu programa Medicaid por não haver fundos suficientes – encontrava-se com dinheiro suficiente para colocar alguns, mas não todos, beneficiários de volta no programa. Para alocar um número limitado de vagas, o estado usou uma loteria. E aí você tinha, de fato, uma experiência controlada, em que os pesquisadores puderam comparar uma amostra aleatória de pessoas semelhantes que tinham o Medicaid com outras que não tinham porque não ganharam na loteria. Então, quais foram os resultados? Descobriu-se que o Medicaid fez uma grande diferença. Aqueles que tinham o Medicaid receberam: 60% mais mamografias 35% mais atendimento ambulatorial 30% mais cuidados hospitalares 20% mais verificações de colesterol

Os beneficiários do Medicaid também foram: 70% mais propensos a ter uma fonte consistente de cuidados 55% mais propensos a consultar o mesmo médico ao longo do tempo 45% mais propensos a fazer o teste Papanicolaou no último ano (para mulheres) 40% menos propensos a precisar pedir dinheiro emprestado ou não pagar outras contas por causa de despesas médicas 25% mais propensos a se reportar como tendo saúde “boa” ou “excelente” 15% mais propensos a usar medicamentos com prescrição 15% mais propensos a fazer exame de sangue em decorrência de açúcar elevado no sangue ou diabetes 10% menos probabilidade à triagem de resultado positivo para a depressão Em resumo, o Medicaid levou a grandes melhorias no acesso à assistência à saúde e ao bem-estar de quem os recebe. Isso não significa, necessariamente, que o programa é bom, uma vez que, afinal, custou aos contribuintes uma quantia significativa em dinheiro. Mas os resultados do Oregon mostraram que uma crítica ao Medicaid – a alegação de que ele não funciona – não é válida.

BREVE REVISÃO O seguro-saúde cumpre uma função importante porque a maioria das famílias não tem condições de pagar por tratamento médico muito caro. O segurosaúde privado tem um problema inerente: a espiral da morte da seleção adversa. A triagem efetuada por companhias de seguros reduz o problema, e o seguro-saúde com base no emprego, a maneira pela qual a maioria dos americanos tem cobertura, evita-o completamente. A maioria dos americanos sem cobertura particular é atendida pelo Medicare, que é um programa sem critério de renda e se aplica apenas para pessoas com 65 anos ou mais, e pelo Medicaid, disponível apenas com critério de renda. Em comparação com outros países ricos, os Estados Unidos dependem mais fortemente de seguro saúde privado, tem maior gasto de saúde por pessoa,

custos administrativos mais elevados e preços mais elevados de medicamentos, mas sem evidência clara de melhores resultados em saúde. Em toda parte, o custo de assistência à saúde vem aumentando rapidamente em virtude dos progressos cienơ ficos. A legislação ACA 2010 é destinada a lidar com a grande e crescente parcela de americanos sem seguro-saúde e reduzir o índice de crescimento dos gastos de saúde.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 18-3 1. Se você frequenta um curso universitário de quatro anos nos Estados Unidos, é provável que seja obrigado a se inscrever em um programa de seguro-saúde gerido pela sua faculdade. a. Explique como você e seus pais se beneficiariam desse programa, ainda que, dada a sua idade, seja pouco provável que você vá precisar de tratamento médico caro. b. Explique como o programa de seguro-saúde da sua faculdade evita a espiral da morte da seleção adversa. 2. Segundo os críticos, o que explica os altos custos do sistema de assistência à saúde nos Estados Unidos em comparação com os de outros países ricos? As respostas estão no fim do livro.

O DEBATE SOBRE O ESTADO DE BEMESTAR Os objetivos sobre o estado do bem-estar parecem louváveis: ajudar os pobres, proteger contra graves dificuldades financeiras e assegurar o acesso à assistência à saúde essencial. Mas boas intenções nem sempre garantem boas políticas. Existe um debate intenso sobre o tamanho que o estado do bemestar deve ter, um debate que, em parte, reflete as diferenças de filosofia, mas também reflete a preocupação sobre os efeitos possivelmente contraproducentes sobre incentivos de programas estaduais de assistência social. Debates sobre o tamanho do estado do bem-estar são também uma das questões que definem a política americana moderna. Problemas com o estado do bem-estar

Há dois argumentos diferentes contra o estado do bem-estar. Um, que descrevemos no início deste capítulo, é fundamentado em preocupações filosóficas sobre o papel do estado. Como vimos, alguns teóricos de política acreditam que a redistribuição de renda não é um papel legítimo de governo. Em vez disso, acreditam que o papel do governo deve-se limitar à manutenção do estado de direito, fornecimento de bens públicos e gestão de externalidades. O argumento mais convencional contra o estado do bem-estar envolve o trade-off entre eficiência e equidade, uma questão que abordamos pela primeira vez no Capítulo 7. Como foi lá explicado, o princípio da capacidade de pagar – o argumento que $1 de renda extra é mais importante para um indivíduo menos abastado do que para um indivíduo mais bem de vida – implica que o sistema tributário deve ser progressivo, com os contribuintes de alta renda pagando uma fração mais alta de sua renda em impostos do que aqueles com renda mais baixa. Mas isso deve ser ponderado em relação aos custos de eficiência de uma alíquota de imposto marginal excessivamente alta. Considere um sistema tributário extremamente progressivo, que imponha uma alíquota marginal de 90% para rendas muito elevadas. O problema é que uma alíquota marginal tão elevada reduz o incentivo a aumentar a renda familiar, trabalhar duro ou fazer investimentos arriscados. Em decorrência, um sistema tributário extremamente progressivo tende a tornar a sociedade, como um todo, mais pobre, o que pode prejudicar até mesmo aqueles que o sistema pretende beneficiar. É por isso que mesmo os economistas que defendem fortemente a tributação progressiva não apoiam um retorno ao sistema extremamente progressivo como o que prevaleceu na década de 1950, quando a alíquota de imposto de renda marginal dos Estados Unidos era mais de 90%. Assim, o projeto de um sistema tributário envolve um trade-off entre equidade e eficiência. Um trade-off semelhante entre equidade e eficiência implica que deve haver um limite para o tamanho do estado do bem-estar. Um governo que opera um extenso estado do bem-estar precisa de mais receita do que o que se restringe principalmente a prover bens públicos, como defesa nacional. Um estado do bem-estar mais amplo requer receita tributária mais elevada e

alíquota de imposto marginal mais elevada do que um estado do bem-estar mais limitado. A Tabela 18-8 mostra o “gasto social”, uma medida que corresponde aproximadamente aos gastos com o estado do bem-estar, como porcentagem do PIB nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na França. Também compara com uma estimativa da alíquota de imposto marginal para um assalariado médio, incluindo impostos sobre salários pagos pelos empregadores e impostos estaduais e municipais. Como se vê, o extenso estado do bem-estar da França vem junto com uma alíquota de imposto marginal alta. Como a seção Economia em Ação a seguir explica, alguns, mas nem todos, economistas acreditam que essa alíquota de imposto elevada é uma das principais razões de o empregado francês trabalhar substancialmente menos horas por ano do que os americanos. Uma maneira de manter baixos os custos do estado do bem-estar são os benefícios com critério de renda: torná-los disponíveis apenas para os que necessitam. Mas benefícios com critério de renda criam um tipo diferente de trade-off entre equidade e eficiência. Considere o exemplo seguinte: suponha que haja um benefício com critério de renda, no valor de $2.000 por ano, que está disponível apenas para famílias com renda de menos de $20.000 por ano. Agora, suponha que, atualmente, uma família tenha uma renda de $19.500, mas que um membro da família está decidindo se começa em um novo emprego que irá aumentar a renda da família para $20.500. Bem, aceitar esse trabalho realmente vai piorar a situação da família, porque a diferença de ganho será de $1.000 a mais, mas perderá $2.000 em benefício do governo. TABELA 18-8 Gastos sociais e alíquota de imposto marginal Despesa social em 2007 (em porcentagem do PIB)

Alíquota de imposto marginal em 2009

16,2%

34,4%

Grã-Bretanha

20,5

38,8

França

28,4

52,0

Estados Unidos

Fonte: OCDE. A alíquota de imposto marginal é definida como porcentagem dos custos totais do trabalho.

Essa característica do benefício com critério de renda que torna uma família em situação pior se ganhar mais é conhecida como uma barreira à graduação do benefício. É um problema bem conhecido com programas que ajudam os pobres e se comporta como uma alíquota de imposto marginal elevado sobre a renda. A maioria dos programas do estado do bem-estar procura evitar a criação dessa barreira. Isso normalmente se faz adotando uma tabela progressiva para os benefícios. Com essa tabela, os benefícios diminuem gradualmente à medida que a renda do beneficiário aumenta, em vez de terminar de forma abrupta. Mesmo assim, os efeitos combinados dos principais programas com critério de renda mostrado na Tabela 18-3, somados a programas adicionais com critério de renda, como auxílio-moradia oferecido por alguns governos estaduais e municipais, podem ser equivalentes à criação de alíquotas de imposto marginal efetivo muito alto. Por exemplo, um estudo de 2005 descobriu que uma família com dois adultos e duas crianças que elevasse sua renda de $20.000 por ano em 2005, um pouco acima do limiar da pobreza, para $35.000, teria quase todo o aumento da renda após os impostos anulados pela perda de benefícios, como vale-alimentação, o crédito tributário sobre a renda auferida e o Medicaid. A política do estado do bem-estar

Em 1791, na fase inicial da Revolução Francesa, os cidadãos franceses tinham uma espécie de congresso, a Assembleia Legislativa, em que os representantes se sentavam de acordo com a classe social: as classes mais altas, que basicamente gostavam das coisas como eram, sentavam-se à direita; os plebeus, que queriam grandes mudanças, sentavam-se à esquerda. Desde então, tem sido comum nos discursos políticos dizer que são de “direita” (mais conservadores) ou de “esquerda” (mais liberais). Mas sobre o que os políticos modernos, à esquerda e à direita, discordam? No moderno Estados Unidos, discordam principalmente sobre o tamanho adequado do estado do bem-estar. O debate sobre a nova lei de seguro-saúde, o Affordable Care Act foi um exemplo disso, com a votação do

projeto de lei quebrando inteiramente o acordo entre os partidos – democratas (à esquerda) em favor da ACA e republicanos (à direita) contra. Você pode pensar que a afirmação de que todo o debate político é realmente sobre apenas uma coisa: que tamanho deve ter o estado do bemestar – é uma enorme simplificação. Mas os cientistas políticos descobriram que uma vez que cuidadosamente classificados os membros do Congresso da direita para a esquerda, a posição de cada congressista na classificação permite prever com bastante precisão seu voto relativo a qualquer proposta legislativa. Os mesmos estudos que mostram um forte espectro esquerda-direita na política dos Estados Unidos também mostram forte polarização entre os principais partidos com relação a esse espectro. Quarenta anos atrás, houve uma sobreposição substancial entre os partidos: alguns democratas estavam à direita de alguns republicanos, ou, se preferir, alguns republicanos estavam à esquerda de alguns democratas. Hoje, no entanto, os democratas mais à direita parecem estar à esquerda dos republicanos mais à esquerda. Não há nada de necessariamente errado com isso. Embora seja comum condenar o “partidarismo”, é difícil ver por que membros de partidos políticos diferentes não possam ter pontos de vista diferentes em política. A análise econômica pode ajudar a resolver esse conflito político? Só até certo ponto. Parte da controvérsia política sobre o estado do bem-estar envolve diferenças de opinião sobre os trade-offs que acabamos de discutir: se alguém acredita que os efeitos do desincentivo de benefícios generosos e impostos elevados são muito grandes, é provável que seja menos favorável aos programas do estado do bem-estar do que alguém que acredita que esses efeitos sejam bem pequenos. A análise econômica, melhorando o conhecimento dos fatos, pode ajudar a resolver algumas dessas diferenças. Em grande medida, no entanto, as diferenças de opinião sobre o estado do bem-estar refletem diferenças de valores filosóficos. E essas são diferenças que a economia não pode resolver.

economia em ação

Valores da família francesa

Os Estados Unidos têm o menor estado do bem-estar entre as economias avançadas. A França tem um dos maiores. Como já descrito, a França tem gasto social muito mais alto do que os Estados Unidos como porcentagem da renda total nacional, e os cidadãos franceses enfrentam alíquotas de impostos muito mais elevadas do que os americanos. Um argumento contra esse estado do bem-estar amplo é que tem efeitos negativos sobre a eficiência. A experiência francesa sustenta esse argumento? Em face disso, a resposta parece ser um sonoro sim. O PIB francês per capita – o valor total do produto da economia, dividido pela população total – é apenas cerca de 80% do nível dos Estados Unidos. Isso reflete o fato de que o francês trabalha menos: trabalhadores franceses e americanos têm quase exatamente a mesma produtividade por hora, mas uma fração menor da população francesa é empregada e o empregado francês médio trabalha substancialmente menos horas ao longo de um ano em comparação com o americano. Alguns economistas argumentam que alíquotas de impostos elevadas na França explicam essa diferença: os incentivos ao trabalho são mais fracos na França do que nos Estados Unidos, porque o governo tira muito do que você ganha em uma hora de trabalho adicional. Contudo, um exame mais detalhado revela que a história é mais complicada do que parece. O baixo nível de emprego na França é inteiramente resultante de índices de emprego baixos entre os jovens e os velhos; 80% dos moradores franceses nos anos de trabalho mais ativo, entre 25 e 54 anos, estão empregados, exatamente a mesma porcentagem que nos Estados Unidos. Assim, as alíquotas de impostos elevadas não parecem desencorajar os franceses de trabalhar no auge de suas vidas. Mas apenas cerca de 30% de quem tem entre 15 e 24 anos estão empregados na França, em comparação com mais da metade de quem tem entre 15 e 24 anos nos Estados Unidos. E os jovens na França, em parte, não trabalham porque não precisam: o ensino superior, em geral, é gratuito, e os estudantes recebem apoio financeiro, de modo que os estudantes franceses, ao contrário dos americanos, raramente trabalham enquanto frequentam a escola. Os franceses alegam que isso é uma virtude de seu sistema, e não um problema.

PARA MENTES CURIOSAS OCUPEM WALL STREET No outono de 2011, Zuccotti Park, um pequeno espaço aberto no distrito financeiro de Manhattan, foi tomado por manifestantes, parte de um movimento conhecido como “Ocupem Wall Street”. Os manifestantes tinham uma série de queixas, mas a mais urgente era sobre Wall Street e a contribuição percebida para a desigualdade de renda crescente dos Estados Unidos. “Somos os 99%!” tornou-se o slogan favorito do movimento, uma referência ao grande aumento na concentração da renda de 1% da população americana. Wall Street, acusavam, contribuía para o crescimento da desigualdade, pagando aos seus banqueiros enormes salários e bônus, enquanto se envolviam em comportamento excessivamente arriscado que levou ao boom imobiliário entre 2007 e 2009 e dizimou a economia. Essas acusações eram razoáveis? Aqueles que achavam que não era razoável mencionavam as contribuições que Wall Street e o setor financeiro americano, em geral, têm feito para a economia dos Estados Unidos. Comparado com outros países, os Estados Unidos são líderes em serviços financeiros e inovação, gerando anualmente bilhões em receitas e atraindo trilhões de dólares de investimento do exterior. Afirmam que os altos salários de Wall Street são a recompensa para a habilidade e o trabalho árduo no mercado competitivo para os talentos de Wall Street. O que é irrefutável, no entanto, são os dados que mostram que a renda no setor financeiro tem contribuído para o aumento da desigualdade nos Estados Unidos. Isso é especialmente claro quando se analisa o topo percentil da distribuição de renda, um grupo ainda menor, os 0,1% do topo – aqueles com uma renda anual mediana de $5,6 milhões. Embora as pessoas do setor financeiro sejam minoria (18%), dentro dessa elite de renda – que consiste de executivos, gerentes, advogados e outros – são bem representados, uma vez que apenas cerca de 6% dos trabalhadores americanos são empregados do setor financeiro. Assim, os manifestantes defendiam legitimamente: os salários de Wall Street são, de fato, uma das fontes do rápido aumento da renda no topo. Menos horas de trabalho também refletem fatores além das alíquotas de imposto. A lei francesa obriga os empregadores a oferecer pelo menos um mês de férias, mas a maioria dos trabalhadores americanos recebe menos de duas semanas de folga. Aqui, também, o francês irá dizer que a sua política é melhor do que a americana, porque ajuda as famílias a passarem mais tempo juntas. O aspecto da política francesa, que até mesmo os franceses concordam ser um grande problema, é que o seu sistema de aposentadoria permite que os

trabalhadores recebam pensões generosas, mesmo que se aposentem muito cedo. Como resultado, apenas 40% dos moradores franceses entre as idades entre 55 e 64 anos estão empregados, em comparação com mais de 60% dos americanos. O custo de suportar todos esses aposentados precoces é um grande fardo para o estado do bem-estar francês – e piora na medida em que a população francesa envelhece.

BREVE REVISÃO Um intenso debate sobre o tamanho do estado do bem-estar gira em torno de questões filosóficas e preocupações de equidade versus eficiência. A alíquota marginal de imposto elevada necessária para financiar um amplo estado do bem-estar pode reduzir o incentivo ao trabalho. A manutenção dos custos do estado do bem-estar por meio do critério de renda também pode causar ineficiência pela “barreira à graduação do benefício” que cria alíquotas de imposto marginal efetivas para quem recebe os benefícios. A política, muitas vezes, é descrita como uma oposição entre esquerda e direita; nos Estados Unidos moderno, essa divisão envolve principalmente desacordo sobre o tamanho adequado do estado do bem-estar.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 18-4 1. Explique como cada uma das políticas seguintes cria um desincentivo ao trabalho ou a realizar um investimento de risco. a. Um imposto de vendas elevado sobre itens de consumo. b. A perda completa do subsídio habitacional quando a renda anual passa de $25.000. 2. Nos últimos 40 anos, a polarização no Congresso americano aumentou, diminuiu ou permaneceu a mesma? As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL Estado do bem-estar dos empreendedores

Wiggo Dalmo é um tipo clássico de espírito empresarial: a Working Class Kid Made Good (Um menino da classe operária deu-se bem)”. Assim começou um perfil na edição de janeiro 2011 da revista Inc. Dalmo começou como mecânico industrial trabalhando para uma grande empresa, na reparação de equipamentos de mineração. No entanto, no final, decidiu se estabelecer por conta própria e começar seu próprio negócio. Momek, a empresa fundada por ele, se transformou em uma empresa de $44 milhões, operando com 150 empregados que realizam uma variedade de contratações em plataformas de petróleo e nas minas. Você pode ler histórias como essa o tempo todo nas revistas empresariais dos Estados Unidos. O que é incomum sobre esse artigo em particular é que Dalmo e sua empresa não são americanos, são noruegueses – e a Noruega, assim como outros países escandinavos, tem um estado do bem-estar muito generoso, apoiado em níveis elevados de tributação. Então, o que Dalmo acha desse sistema? Ele aprova, dizendo que o sistema tributário da Noruega é “bom e justo” e acha o sistema bom para os negócios. De fato, o artigo Inc. era intitulado, “In Norway, Start-Ups Say Ja to Socialism” (Na Noruega, empresas iniciantes dizem sim ao socialismo). Por quê? Afinal, as recompensas financeiras de ser um empresário de sucesso são mais limitadas em um país como a Noruega, com seus altos impostos, do que nos Estados Unidos, com impostos mais baixos. Mas há outras considerações. Por exemplo, quando um americano pensa em deixar uma grande empresa para iniciar um negócio novo precisa preocupar-se vai ser capaz de pagar o seguro-saúde, ao passo que um norueguês, na mesma posição, tem a garantia de assistência à saúde, independentemente do emprego. E a desvantagem do fracasso é maior no sistema dos Estados Unidos, que oferece assistência mínima aos desempregados. O caso de Wiggo Dalmo é excepcional? A Tabela 18-9 mostra as nações com o mais alto nível de atividade empresarial, de acordo com um estudo financiado pela U.S. Small Business Administration, que tentou quantificar o nível de atividade empreendedora em diferentes nações. Os Estados Unidos estavam entre as 10 melhores, assim como a Noruega. E a lista também inclui Dinamarca, Nova Zelândia, Suécia, Canadá e Austrália – países com impostos mais altos e previdência social mais extensiva do que a dos Estados Unidos.

A moral da história é que quando se compara o quanto os diferentes sistemas de estado do bem-estar são favoráveis às empresas, é necessário pensar um pouco além da questão óbvia do nível de impostos. TABELA 18-9 Os 10 países com maior empreendedorismo Posição

País

1

Dinamarcaq

2

Nova Zelândia

3

Irlanda

4

Porto Rico

5

Suécia

6

Canadá

7

Austrália

8

Estados Unidos

9

Noruega

10

Bélgica

Fonte: Zoltan Acs e Laszlo Serb (2011) “The Global Entrepreneurship and Development Index 2010”.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Por que a Noruega, em geral, tem que ter impostos mais altos do que os Estados Unidos? 2. Esse caso sugere que a assistência à saúde paga pelo governo ajuda os empresários. Como isso se relaciona com os argumentos sobre previdência social no texto? 3. Como os incentivos de pessoas como Wiggo Dalmo serão afetados se a assistência à saúde norueguesa usar o critério de renda em vez de estar disponível para todos?

• RESUMO 1. O estado do bem-estar absorve uma parcela elevada dos gastos públicos em países ricos. Transferências governamentais são pagamentos realizados pelo governo a indivíduos e famílias. Programas antipobreza aliviam a desigualdade de renda, ajudando aos pobres. Programas de previdência social aliviam a insegurança econômica. Programas do estado do bem-estar também oferecem benefícios externos para a sociedade por meio da redução da pobreza e melhoria de acesso da assistência à saúde, especialmente para as crianças. 2. Apesar do fato de o limiar da pobreza ser ajustado de acordo com o índice do custo de vida, e não de acordo com o aumento do padrão de vida, e apesar de a renda média americana ter aumentado substancialmente nos últimos 30 anos, a taxa de pobreza, a porcentagem da população com um renda inferior ao limiar da pobreza, não é hoje menor do que era há 30 anos. A pobreza tem várias causas: baixo nível de educação, legado da discriminação e má sorte. Em especial, as consequências da pobreza prejudicam as crianças, resultando em mais doenças crônicas, salários mais baixos ao longo da vida e altos índices de criminalidade. 3. Renda familiar mediana, a renda de uma família no centro da distribuição de renda, é um indicador melhor da renda de uma família típica do que a renda média das famílias, porque não é distorcido pela inclusão de um pequeno número de famílias muito ricas. O índice de Gini, um número que resume o nível de desigualdade de renda de um país com base no grau de desigualdade na distribuição de renda entre os quintos, é usado para comparar a desigualdade de renda entre os países. 4. Ambos os programas com critério de renda e sem critério de renda reduzem a pobreza. Os maiores programas de benefícios em espécie são o Medicare e o Medicaid, que pagam a assistência à saúde. Em virtude das preocupações com os efeitos sobre os incentivos ao trabalho e da coesão familiar, a ajuda às famílias pobres tornou-se significativamente menos generosa, à medida que o imposto de renda negativo tornou-se mais generoso. A previdência social, o maior programa de estado do bem-estar dos Estados Unidos, tem reduzido a pobreza significativamente entre os idosos. O seguro-desemprego também é um programa fundamental para o programa de seguro social. 5. O seguro-saúde satisfaz uma necessidade importante porque a maioria das famílias não pode pagar um tratamento médico caro. O seguro-saúde privado, a menos que seja com base no emprego ou realize triagem cuidadosa dos candidatos, tem potencial de chegar à espiral da morte da seleção adversa. A maioria dos americanos está coberta pelo seguro-saúde privado com base no emprego. Os restantes estão cobertos pelo Medicare (um sistema de pagador único para aqueles com mais de 65 anos em que o governo paga a maioria das contas médicas a partir de receitas

tributárias) ou pelo Medicaid (para aqueles com baixa renda). A porcentagem de americanos que não têm seguro está aumentando. 6. Comparado com outros países, os Estados Unidos apoiam-se mais fortemente no seguro-saúde privado e têm custos de saúde per capita substancialmente mais elevados, sem oferecer assistência melhor. Os custos com assistência de saúde estão aumentando, em grande parte em virtude dos avanços tecnológicos. Em 2010, foi aprovada uma lei denominada Pacient Protection and Affordable Care Act (ACA) com o objetivo de reduzir o número dos sem seguro e a taxa de crescimento dos custos de saúde. 7. Debates sobre a dimensão do estado do bem-estar são fundamentados em considerações filosóficas e considerações de equidade versus eficiência. Alíquotas de imposto marginal para financiar um extenso estado do bemestar podem reduzir o incentivo ao trabalho, mas programas com critério de renda para reduzir o custo do estado do bem-estar também podem reduzir o incentivo ao trabalho a menos que sejam cuidadosamente destinados a evitar barreira à graduação do benefício. 8. Os políticos de esquerda tendem a favorecer um estado do bem-estar maior, enquanto os de direita se opõem a isso. Essa distinção esquerda-direita é fundamental para a política americana de hoje. Os dois principais partidos políticos dos Estados Unidos tornaram-se mais polarizados nas últimas décadas, com uma distinção muito mais clara que no passado sobre a posição de seus membros no espectro esquerda-direita.

• PALAVRAS-CHAVE Estado do bem-estar, p. 422 Transferência governamental, p. 422 Programa antipobreza, p. 422 Programa de previdência social, p. 422 Limiar da pobreza, p. 423 Taxa de pobreza, p. 423 Renda familiar média, p. 426 Renda familiar mediana, p. 426 Índice de Gini, p. 426 Critério de renda, p. 430 Benefício em espécie, p. 430 Imposto de renda negativo, p. 431 Seguro-saúde privado, p. 434

Sistema de pagador único, p. 437

• PROBLEMAS 1. A tabela a seguir contém dados da economia dos Estados Unidos para os anos de 1983 e 2010. A segunda coluna mostra o limiar da pobreza. A terceira coluna mostra o índice de preços ao consumidor (IPC), uma medida do nível geral de preços. E a quarta coluna mostra o produto interno bruto (PIB) per capita dos Estados Unidos, uma medida do padrão de vida. Ano

Limiar da pobreza

IPC (1982– 1984 = 100)

PIB per capita

1983

$5.180

99,6

$15.084

2010

11.344*

218,1

47.275

Fontes: U.S. Census Bureau; Bureau of Labor Statistics; Bureau of Economic Analysis. * Indica estimativa.

a. Por qual fator o limiar da pobreza aumentou de 1983 a 2010? Ou seja, duplicou, triplicou, e assim por diante? b. Qual foi o aumento do IPC (uma medida do nível geral de preços) de 1983 a 2010? Ou seja, dobrou, triplicou, e assim por diante? c. Qual foi o aumento do PIB per capita (uma medida do padrão de vida) de 1983 a 2010? Ou seja, dobrou, triplicou, e assim por diante? d. O que seus resultados informam sobre o sucesso econômico das pessoas oficialmente classificadas como “pobres” em relação aos outros cidadãos americanos? 2. Na cidade de Metrópoles, há 100 moradores, e cada um deles vive até 75 anos. Os moradores de Metrópoles têm as seguintes rendas em seu ciclo de vida: até 14 anos, não ganham nada. De 15 a 29 anos, ganham 200 metros (a moeda de Metrópoles) ao ano. De 30 a 49 anos, ganham 400 metros. De 50 a 64 anos, ganham 300 metros. Finalmente, aos 65 anos se aposentam e passam a receber uma aposentadoria de 100 metros por ano até morrer aos 75 anos. A cada ano, todos consomem o que ganham (ou seja, não há poupança ou empréstimo). Atualmente, 20 moradores têm 10 anos de idade, 20 moradores têm 20, 20 moradores têm 40, 20 moradores têm 60, e 20 moradores têm 70 anos. a. Estude a distribuição de renda entre os moradores de Metrópoles. Divida a população em quintos de acordo com sua renda. Qual a renda de um morador no quinto mais baixo? No segundo, terceiro, quarto e quintos superiores? Que porcentagem do total da renda vai para os

moradores de cada quinto? Apresente uma tabela com a parcela da renda total apropriada em cada quinto. Será que essa distribuição de renda mostra desigualdade? b. Agora separe apenas os 20 moradores de Metrópoles que têm 40 anos atualmente e analise a distribuição de renda apenas desses moradores. Divida esses 20 moradores em quintos de acordo com sua renda. Que renda tem um morador no quinto mais baixo? No segundo, terceiro, quarto e quinto mais altos? Que parte da renda total de todos os que têm 40 anos vai para os moradores de cada quinto? Será que essa distribuição de renda é desigual? c. Qual é a relevância desses exemplos para avaliar os dados de distribuição de renda de cada país? 3. A tabela a seguir apresenta dados do U.S. Census Bureau sobre a renda mediana e média dos trabalhadores do sexo masculino dos anos de 1972 e 2009. As cifras foram ajustadas para eliminar o efeito da inflação. Ano

Renda mediana Renda média (em dólares)

1972

$34.159

$39.593

2009

32.184

46.800

Fonte: U.S Census Bureaus.

a. Qual a variação percentual da renda mediana nesse período? Qual a variação percentual da renda média nesse período? b. Entre 1972 e 2009, a distribuição de renda se tornou mais ou menos desigual? Explique. 4. Há 100 famílias na economia de Equalor. Inicialmente, 99 delas têm uma renda de $10.000 cada, e uma família tem uma renda de $1.010.000. a. Qual é a renda mediana dessa economia? Qual é a renda média? Por meio dos programas antipobreza, o governo do Equalor agora redistribuiu a renda: tomou $990.000 da família mais rica e distribui igualmente entre as 99 famílias restantes. b. Qual é agora a renda mediana dessa economia? E a renda média? A renda mediana mudou? A renda média mudou? Qual indicador (renda familiar média ou mediana) é o indicador melhor da renda típica da família do Equalor? Explique. 5. O país de Marxland tem o imposto de renda e o sistema de previdência social seguinte. A renda de cada cidadão é tributada a uma taxa média de 100%. Em seguida, um sistema de previdência social faz transferências para cada cidadão de tal forma que a renda de cada cidadão, depois de cobrado o imposto, é exatamente igual para todos. Ou seja, cada cidadão recebe (através de transferência governamental) uma parcela igual da receita tributária. Qual é o incentivo para que um cidadão individual trabalhe e receba renda do trabalho? Qual é a receita tributária total de Marxland? Qual é a renda após o imposto (incluindo a transferência) de

cada cidadão? Você acha que um sistema tributário assim que cria igualdade perfeita pode funcionar? 6. O sistema tributário de Taxilvânia inclui um imposto de renda negativo. Para toda a renda abaixo de $10.000, o indivíduo paga um imposto de renda de –40% (ou seja, recebe um pagamento de 40% da renda). Para qualquer renda acima do limite de $10.000, a alíquota de imposto sobre essa renda adicional é 10%. Para os três primeiros cenários a seguir, calcule o montante de imposto a ser pago e a renda após a incidência do imposto. a. Lowani recebe renda de $8.000. b. Midram recebe renda de $40.000. c. Hi-Wan recebe renda de $100.000. d. Você consegue encontrar alguma barreira à graduação do benefício nesse sistema fiscal? Ou seja, você consegue encontrar uma situação em que ganhar mais renda antes dos impostos realmente resulta em menos renda após os impostos? 7. Na cidade de Notchingham, cada trabalhador recebe $10 de salário por hora. Notchingham administra seu próprio seguro-desemprego, que está estruturado da seguinte forma: se você está desempregado (isto é, não trabalha nada), recebe um subsídio de desemprego (uma transferência do governo) de $50 por dia. Assim que passa a estar empregado, nem que seja apenas uma hora por dia, o benefício é cancelado. Ou seja, há uma barreira à graduação do benefício. a. Qual a renda que uma pessoa desempregada tem por dia? Qual é a renda diária de um indivíduo que trabalha quatro horas por dia? Quantas horas é necessário trabalhar para ganhar a mesma coisa como se estivesse desempregado? b. Será que ninguém vai aceitar um emprego de tempo parcial que requeira trabalhar quatro horas por dia, em vez de ficar desempregado? c. Suponha que agora Notchingham mude a maneira pela qual esse benefício de desemprego seja retirado. Para cada dólar adicional que um indivíduo ganha, $0,50 são deduzidos do subsídio. Qual será a renda diária agora de um indivíduo que trabalha quatro horas por dia? Existe um incentivo para trabalhar quatro horas por dia, em vez de ficar desempregado? 8. Em um mercado de seguro privado, existem dois tipos de pessoas diferentes: as que são mais propensas a necessitar de tratamento médico caro e as que são menos propensas e, se precisarem, não será caro. É oferecido um seguro-saúde adaptado às necessidades médias de assistência à saúde: o prêmio do seguro é igual aos gastos médicos de uma pessoa média (mais as despesas administrativas e o lucro normal da seguradora). a. Explique por que tal seguro dificilmente seja viável. Em um esforço de evitar a espiral da morte da seleção adversa, uma companhia de seguro privada oferece dois planos de seguro-saúde: um destinado a quem é mais propenso a necessitar de tratamento caro (e que, portanto, cobra um prêmio mais alto) e outro destinado a quem é menos propenso a necessitar de tratamento (e, portanto, cobra um prêmio mais baixo). b. Esse sistema supera o problema da seleção adversa?

c.

Como o Serviço Nacional de Saúde Britânico (NHS) evita esse problema? 9. A tabela a seguir mostra dados sobre o número total de pessoas nos Estados Unidos, bem como o número de todas as pessoas que estavam sem seguro, para os anos selecionados de 1999 a 2009. Também apresenta dados sobre o número total de crianças pobres nos Estados Unidos – menores de 18 anos e abaixo do limiar da pobreza – e o número de crianças pobres que estavam sem seguro.

População total Ano

Pessoas sem seguro

Total de crianças pobres

Total de crianças pobres sem seguro

(milhões)

1999

276,8

38,8

12,3

2,8

2001

282,1

39,8

11,7

2,4

2003

288,3

43,4

12,9

2,4

2005

293,8

44,8

12,9

2,4

2007

299,1

45,7

13,3

2,3

2009

304,3

50,7

15,5

2,3

Fonte: U.S. Census Bureaus.

Para cada ano, calcule a porcentagem de todas as pessoas que estavam sem seguro e a porcentagem de crianças pobres que estavam sem seguro. Como essas porcentagens mudaram ao longo do tempo? Qual seria uma explicação possível para a variação percentual de crianças pobres sem seguro? 10. Uma entidade denominada American National Election Studies realiza pesquisas periódicas sobre opiniões dos eleitores americanos. A tabela a seguir mostra a porcentagem de pessoas, em anos selecionados de 1952 a 2008, que concordou com a afirmação: “Há diferenças importantes entre o que é defendido pelos republicanos e pelos democratas.”

Ano

Concordam com a afirmação

1952

50%

1972

46

1992

60

2004

76

2008

78

Fonte: American National Election Studies.

O que esses dados informam a respeito do grau de partidarismo na política dos Estados Unidos ao longo do tempo?

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PARTE 9

RISCOE FATORES DE MERCADO

CAPÍTULO 19 » Mercados de fatores e distribuição de renda

O VALOR DE UM DIPLOMA

ale a pena ter ensino superior? Sim, vale: na economia moderna, os empregadores estão dispostos a pagar um prêmio por trabalhadores com mais educação. E o tamanho desse prêmio aumentou consideravelmente ao longo das últimas décadas. Por volta de 1973, trabalhadores com nível de graduação mais elevado, como os formados em Direito ou MBAs, ganhavam apenas 76% a mais do que aqueles que só tinham ensino médio. Até 2011, o prêmio por ter um diploma de nível de pós-graduação subiu mais que 225%. Quem decidiu que o salário dos trabalhadores com diplomas de nível de graduação ou pós-graduação subiria tanto em comparação com quem tinha

V

ensino médio? A resposta, é claro, é que ninguém decidiu. Salários são preços, preços de diferentes tipos de trabalho; e, como os outros preços, são decididos pela oferta e demanda. Ainda assim, há uma diferença qualitativa na comparação entre o salário dos graduados do ensino médio e o preço de livros didáticos usados: o salário não é o preço de um bem, é o preço de um fator de produção. E embora os mercados dos fatores de produção sejam, em muitos aspectos, semelhantes aos de bens, há também algumas diferenças importantes. Neste capítulo, examinaremos os mercados de fatores, os mercados em que fatores de produção, como trabalho, terra e capital, são negociados. Mercados de fatores, assim como mercados de bens e serviços, desempenham um papel crucial na economia: alocam os recursos produtivos aos produtores e contribuem para garantir que esses recursos sejam usados de forma eficiente. Este capítulo começa descrevendo os principais fatores de produção. Em seguida, iremos considerar a demanda por fatores de produção que nos leva a uma visão fundamental: a teoria da produtividade marginal para a distribuição de renda. Após, consideraremos alguns desafios para a teoria da produtividade marginal. Em seguida, examinaremos os mercados de capital e da terra. O capítulo conclui com a discussão do fator mais importante, o trabalho. O que você vai aprender neste capítulo • Como os fatores de produção – recursos como terra, trabalho, capital físico e capital humano – são negociados nos mercados de fatores, determinando a distribuição de renda por fator. • Como a demanda de fatores leva à teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal. • As fontes de disparidades salariais e o papel da discriminação. • Como a oferta de trabalho surge da decisão de um trabalhador sobre alocação de tempo.

FATORES DE PRODUÇÃO DA ECONOMIA

Você deve lembrar que definimos um fator de produção no Capítulo 2 no contexto do diagrama de fluxo circular: qualquer recurso que é usado por empresas para a produção de bens e serviços para o consumo das famílias. Os fatores de produção são comprados e vendidos nos mercados de fatores, e os preços nos mercados de fatores são conhecidos como preços de fatores. Quais são esses fatores de produção e por que os preços dos fatores importam? Os fatores de produção

Como vimos no Capítulo 2, os economistas dividem os fatores de produção em quatro classes principais: terra, trabalho, capital físico e capital humano. A terra é um recurso fornecido pela natureza; trabalho é o trabalho realizado por seres humanos. No Capítulo 9, definimos o capital: é o valor dos ativos que são usados por uma empresa na produção de um produto. Existem dois grandes tipos de capital. Capital físico – muitas vezes referido como “capital” – consiste em recursos manufaturados, como equipamentos, prédios, ferramentas e máquinas. Na economia moderna, o capital humano, a melhoria no trabalho criada pela educação e conhecimento e incorporada à força de trabalho, é igualmente significativo. A importância do capital humano aumentou muito mais com o progresso da tecnologia, que criou um alto nível de sofisticação técnica essencial para muitos trabalhos – uma das causas do aumento do prêmio pago aos trabalhadores com diploma com nível de graduação mais elevado. Por que os preços dos fatores importam: a alocação de recursos

Os mercados de fatores e os preços de fatores desempenham um papel fundamental em um dos processos mais importantes que ocorre em qualquer economia: a alocação de recursos entre produtores. Considere o exemplo do Mississippi e da Louisiana, no rescaldo do furacão Katrina, que foi o furacão mais caro a atingir a parte continental dos Estados Unidos até o momento. Os estados tinham necessidade urgente de

trabalhadores do setor de construção – carpinteiros, encanadores e assim por diante – para reparar ou reconstruir residências e empresas danificadas. O que garantiu que os trabalhadores necessários realmente viessem? O mercado de fatores: a elevada demanda de trabalhadores fez os salários subirem. Em 2005, o salário médio semanal nos Estados Unidos cresceu a uma taxa de aproximadamente 6%. Mas em áreas fortemente atingidas pelo Katrina, o salário médio durante o outono de 2005 cresceu 30% a mais do que o índice nacional, e algumas áreas tiveram um índice de aumento duas vezes maior. Com o tempo, esses salários elevados levaram um grande número de trabalhadores com as competências certas a se mudar temporariamente para esses estados e realizar o trabalho. Em outras palavras, o mercado de um fator de produção – trabalhadores da construção – alocou esse fator de produção onde era necessário. Nesse sentido, os mercados de fatores são semelhantes aos mercados de bens que alocam bens entre consumidores. Mas há duas características que tornam um mercado de fator especial. Ao contrário de um mercado de bens, em um mercado de fatores a demanda de um fator é o que chamamos de demanda derivada. Ou seja, a demanda pelo fator é derivada da opção de produto da empresa. A segunda característica é que o mercado de fatores é onde a maioria de nós obtém a maior parcela da nossa renda (transferências governamentais é a próxima fonte de maior renda na economia).

ARMADILHAS MAS O QUE É UM FATOR, AFINAL? Imagine uma empresa que fabrica camisas. A empresa usará trabalhadores e máquinas, isto é, trabalho e capital. Mas também usará outros insumos, como energia elétrica e tecido. Todos esses insumos são fatores de produção? Não: trabalho e capital são fatores de produção, mas tecido e eletricidade não. A distinção fundamental é que um fator de produção ganha uma renda com a venda repetida dos seus serviços, mas um insumo não. Por exemplo, um trabalhador obtém uma renda ao longo do tempo por vender repetidamente seus esforços; o proprietário de uma máquina obtém renda ao longo do tempo com a venda repetida do uso da máquina. Assim, um fator de produção, como o trabalho ou capital, representa uma fonte permanente de renda. Um insumo como eletricidade ou tecido, no

entanto, é consumido e acaba no processo de produção. Uma vez esgotado, pode não ser uma fonte de renda futura para o seu dono.

Renda de fatores e distribuição de renda

A maioria das famílias americanas obtém a maior parte de sua renda na forma de salários e honorários, isto é, obtém a renda com a venda de trabalho. Algumas pessoas, no entanto, obtêm a maior parte de sua renda do capital físico: quando se possui ações de uma empresa, na verdade, se é proprietário de uma quota de capital físico da empresa. E algumas pessoas obtêm a maior parte de sua renda arrendando terras de sua propriedade. Obviamente, então, os preços dos fatores de produção têm um impacto importante sobre a forma como o “bolo” econômico é fatiado entre os diferentes grupos. Por exemplo, um salário mais alto, tudo o mais mantido constante, significa que uma proporção maior da renda total na economia vai para as pessoas que derivam sua renda do trabalho e menos para os que derivam sua renda do capital ou da terra. Os economistas referem-se à forma como o bolo econômico é fatiado como “distribuição de renda”. Especificamente, os preços dos fatores determinam a distribuição da renda por fator – ou seja, como a renda total da economia é dividida entre trabalho, terra e capital. Como explica a seção Economia em ação a seguir, a distribuição de renda por fator nos Estados Unidos tem sido bastante estável ao longo das últimas décadas. Em outros tempos e lugares, no entanto, ocorreram grandes mudanças na distribuição por fatores. Um exemplo notável: durante a Revolução Industrial, a parcela da renda total auferida pelos proprietários de terras caiu drasticamente, enquanto a porcentagem auferida pelos proprietários de capital cresceu. Como explicado na seção Para mentes curiosas adiante, esse deslocamento teve efeitos profundos na sociedade.

economia em ação Distribuição de renda por fator nos Estados Unidos

Quando falamos sobre a distribuição de renda por fatores, sobre o que estamos falando, na prática? Nos Estados Unidos, assim como em todas as economias avançadas, o pagamento pelo trabalho constitui a maioria da renda total da economia. A Figura 19-1 mostra a distribuição de renda por fatores nos Estados Unidos em 2010: naquele ano, 68% do total da renda na economia tomou a forma de “remuneração dos empregados”, um número que inclui tanto salários como benefícios e seguro-saúde. Esse número é um pouco baixo em termos históricos (era 72,2% em 1972 e 70,4% em 2007). Reflete o estado depressivo da economia em 2010, que resultou em taxas de desemprego elevadas e salários reduzidos para muitos trabalhadores americanos. FIGURA 19-1

Distribuição de renda por fatores nos Estados Unidos em 2010

No entanto, a medida dos salários e benefícios não captura o total da renda do “trabalho”, pois uma parcela significativa do total da renda nos Estados Unidos (geralmente 10%) constitui a “renda dos proprietários”, o rendimento de pessoas que são donas do seu próprio negócio ou autônomas. Portanto, a verdadeira parcela do trabalho na economia provavelmente são alguns pontos percentuais a mais do que a parcela “remuneração dos empregados” informa. Mas muito do que chamamos de remuneração dos empregados é realmente um retorno sobre o capital humano. Um cirurgião não fornece

apenas o serviço de um par de mãos (pelo menos os pacientes esperam que não!): esse indivíduo está oferecendo também o resultado de muitos anos e centenas de milhares de dólares investidos em treinamento e experiência. Não se pode medir diretamente qual a parcela do salário que realmente constitui pagamento por educação e treinamento, mas muitos economistas acreditam que o capital humano tornou-se o fator de produção mais importante nas economias modernas.

PARA MENTES CURIOSAS DISTRIBUIÇÃO DE RENDA POR FATOR E MUDANÇA SOCIAL NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Você já leu todos os romances de Jane Austen? E de Charles Dickens? Quem já os leu, deve ter notado que eles parecem estar descrevendo sociedades bem diferentes. Os romances de Austen, na Inglaterra de 1800, descrevem um mundo em que os líderes da sociedade são aristocratas proprietários de terras. Dickens, que escreveu cerca de 50 anos mais tarde, descreve uma Inglaterra em que empresários, especialmente os donos de fábricas, é que pareciam estar no controle. Essa mudança literária reflete uma transformação dramática na distribuição de renda por fator. A Revolução Industrial, que se deu entre o final do século XVIII e meados do século XIX, transformou a Inglaterra de um país essencialmente agrícola, em que a terra rendia uma participação bastante substancial da renda, em um país urbanizado e industrial, em que a renda da terra foi superada de longe pela renda do capital. Estimativas recentes do economista Nancy Stokey mostram que entre 1780 e 1850 a parcela da renda nacional representada pela terra caiu de 20% para 9%, mas a participação representada pelo capital subiu de 35% para 44%. Esse deslocamento mudou tudo – até mesmo a literatura.

BREVE REVISÃO

Os economistas costumam dividir os fatores de produção da economia em quatro categorias principais: trabalho, terra, capital físico e capital humano. A demanda de um fator é uma demanda derivada. Os preços dos fatores, que são fixados nos mercados de fatores, determinam a distribuição de renda por fatores. Trabalho apresenta a maior parcela – 68% em 2010 – da renda na economia moderna dos Estados Unidos. Embora a proporção exata não seja mensurável diretamente, muito do que é chamado remuneração de empregados é um retorno do capital humano.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 19-1 1. Suponha que o governo estabeleça controle de preços no mercado para professores universitários, impondo salários inferiores ao salário de mercado. Descreva o efeito dessa política sobre a produção de diplomas universitários. Que setores da economia serão adversamente afetados por essa política? Que setores da economia podem-se beneficiar? As respostas estão no fim do livro.

PRODUTIVIDADE MARGINAL E DEMANDA DE FATORES Todas as decisões econômicas tratam de comparar custos e benefícios, e, geralmente, tratam de comparar custos marginais e benefícios marginais. Isso vale tanto para um consumidor, decidindo que vai comprar mais 1 quilo de mexilhão frito, quanto para um produtor, que vai contratar um trabalhador adicional. Embora existam algumas exceções importantes, a maioria dos mercados de fatores na economia americana moderna é perfeitamente competitiva, o que significa que compradores e vendedores de determinado fator são tomadores de preço. Em um mercado de trabalho competitivo, fica claro como se deve definir o custo marginal de um trabalhador para o empregador: é o salário do trabalhador. Mas qual é o benefício marginal desse trabalhador? Para responder a essa questão, voltamos a um conceito introduzido pela primeira vez no Capítulo 11: a função de produção, que relaciona insumos ao produto. E, como no Capítulo 12, vamos supor neste

capítulo que todos os produtores sejam tomadores de preço no seu mercado de produtos – ou seja, eles operam em um setor perfeitamente competitivo. Valor do produto marginal

A Figura 19-2 reproduz as Figuras 11-1 e 11-2, que mostraram a função de produção de trigo na fazenda de George e Martha. O painel (a) usa a curva de produto total para mostrar como a produção de trigo total depende do número de trabalhadores empregados na fazenda; o painel (b) mostra como o produto marginal do trabalho, o aumento da produção ao empregar mais um trabalhador, depende do número de trabalhadores empregados. A Tabela 19-1, que reproduz a tabela da Figura 11-1, mostra os números por trás da figura. Suponha que George e Martha queiram maximizar o lucro, que cada trabalhador deve receber $200 e que o trigo é vendido por $20 a saca. Qual é o número ótimo de trabalhadores? Ou seja, quantos trabalhadores deveriam estar empregados para maximizar o lucro? FIGURA 19-2

Função de produção da fazenda de George e Martha

O painel (a) mostra como a quantidade de produção de trigo na fazenda de George e Martha depende do número de trabalhadores empregados. O painel (b) mostra como o produto marginal do trabalho depende do número de trabalhadores empregados.

Nos Capítulos 11 e 12, mostramos como responder a essa questão em várias etapas. No Capítulo 11, usamos informação da função de produção do produtor para derivar o custo total da empresa e o custo marginal. E no Capítulo 12, derivamos a regra do produto ótimo da empresa tomadora de preço: o lucro de uma empresa tomadora de preço é maximizado quando ela produz a quantidade de produto pela qual o custo marginal da última unidade produzida é igual ao preço de mercado. Tendo determinado a quantidade ótima de produto, podemos voltar à função de produção e encontrar o número ótimo de trabalhadores – o número de trabalhadores necessários para produzir a quantidade ótima de produto. No entanto, há outra maneira de usar a análise marginal para encontrar o número de trabalhadores que maximiza o lucro do produtor. Pode-se ir diretamente à questão de qual nível de emprego que maximiza o lucro. Essa abordagem alternativa é equivalente à abordagem apresentada no parágrafo

anterior; é uma maneira diferente de ver a mesma coisa. Mas isso nos dá uma percepção melhor da demanda de fatores em comparação com a oferta de bens. Para ver como essa abordagem alternativa funciona, vamos supor que George e Martha estão considerando a possibilidade de empregar um trabalhador adicional. O aumento do custo de empregar esse trabalhador adicional é o índice de salário, W. O benefício para George e Martha ao empregar esse trabalhador adicional é o valor da quantidade de produto que o trabalhador pode produzir. Qual é esse valor? É o produto marginal do trabalho, PMT, multiplicado pelo preço por unidade do produto, P. Esse montante – o valor adicional do produto que é gerado ao empregar uma unidade a mais de trabalho – é conhecido como valor do produto marginal do trabalho, ou VPMT: (19-1)

Valor do produto marginal do trabalho = VPMT = P × PMT Então George e Martha devem contratar esse trabalhador extra? A resposta é sim, se o valor da quantidade de produto extra for maior do que o custo do trabalhador, isto é, se VPMT > W. Caso contrário, não deve contratar esse trabalhador. Assim, a decisão de contratar mão de obra é uma decisão marginal, em que o benefício marginal para o produtor de contratar um trabalhador adicional (VPMT) deve ser comparado com o custo marginal para o produtor (W). E como com qualquer decisão marginal, a escolha ótima é aquela em que o benefício marginal é igual ao custo marginal. Ou seja, para maximizar o lucro, George e Martha vão empregar trabalhadores até o ponto em que, para o último trabalhador empregado: (19-2) VPMT = W no nível de emprego que maximiza o lucro Essa regra não se aplica apenas ao trabalho, aplica-se a qualquer fator de produção. O valor do produto marginal de qualquer fator é o produto marginal vezes o preço do bem produzido. A regra geral é que um produtor tomador de preço que maximiza o lucro emprega cada fator de produção até

o ponto em que o valor do produto marginal da última unidade do fator empregado é igual ao preço do fator. É importante perceber que essa regra não entra em conflito com a análise feita nos Capítulos 11 e 12. Lá vimos que um produtor que maximiza o lucro de um bem escolhe o nível de produto ao qual o preço desse bem é igual ao custo marginal de produção. É apenas uma maneira diferente de analisar a mesma regra. Se, no nível de produto escolhido, o preço for igual ao custo marginal, então também é verdade que, naquele nível de produto, o valor do produto marginal do trabalho é igual ao nível do salário. Agora vamos analisar em mais detalhes por que funciona escolher o nível de emprego em que o valor do produto marginal do último trabalhador empregado é igual ao salário e como isso nos ajuda a entender a demanda de fatores. Valor do produto marginal e demanda de fatores

A Tabela 19-2 calcula o valor do produto marginal do trabalho na fazenda de George e Martha, no pressuposto de que o preço do trigo seja $20 por saca. Na Figura 19-3, o eixo horizontal mostra o número de trabalhadores empregados; o eixo vertical mede o valor do produto marginal do trabalho e do salário. A curva apresentada é a curva do valor do produto marginal do trabalho. Essa curva, como a curva do produto marginal do trabalho, tem inclinação para baixo em virtude dos retornos decrescentes do trabalho na produção. Ou seja, o valor do produto marginal de cada trabalhador é menor do que o do trabalhador precedente, porque o produto marginal de cada trabalhador é menor do que o do trabalhador precedente. Acabamos de ver que para maximizar o lucro, George e Martha devem contratar trabalhadores até o ponto em que o salário seja igual ao valor do produto marginal do último trabalhador empregado. Vamos usar um exemplo para verificar como esse princípio realmente funciona. Suponha que George e Martha empreguem atualmente três trabalhadores e que têm de pagar para cada trabalhador o salário de mercado de $200. Eles devem empregar um trabalhador adicional?

Observando a Tabela 19-2, vemos que, se George e Martha empregam atualmente três trabalhadores, o valor do produto marginal de um trabalhador adicional é $260. Então, se empregam um trabalhador adicional, aumentam o valor da produção em $260, mas o aumento nos seus custos será de apenas $200, gerando um aumento de $60 no lucro da fazenda. De fato, um produtor pode sempre aumentar o lucro total, empregando mais uma unidade de um fator de produção, desde que o valor do produto marginal produzido pela unidade exceda o preço do fator.

FIGURA 19-3

A curva do valor do produto marginal

Essa curva mostra como o valor do produto marginal do trabalho depende do número de trabalhadores empregados. Ela tem inclinação para baixo em virtude do retorno decrescente do trabalho na produção. Para maximizar o lucro, George e Martha escolhem o nível de emprego em que o valor do produto marginal do trabalho é igual ao salário de mercado. Por exemplo, a um salário de $200 o nível de emprego que maximiza o lucro é de cinco trabalhadores, indicado pelo ponto A. A curva do valor do produto marginal de um fator é a curva da demanda individual do produtor desse fator.

Como alternativa, suponha que George e Martha empregam oito trabalhadores. Ao reduzir o número de trabalhadores para sete, podem economizar $200 em salários. Além disso, o valor do produto marginal do último, o 8º trabalhador, era apenas $100. Assim, ao reduzir o emprego em um trabalhador, o lucro pode ser aumentado em $200 – $100 = $100. Em outras palavras, um produtor pode sempre aumentar o lucro total empregando uma unidade a menos de um fator de produção, desde que o valor do produto marginal produzido por essa unidade seja menor do que o preço do fator.

Usando esse método, podemos ver da Tabela 19-2 que o nível de emprego que maximiza o lucro é de cinco trabalhadores dado um salário de $200. O valor do produto marginal do 5º trabalhador é $220, assim adicionar o 5º trabalhador resulta em $20 de lucro adicional. Mas George e Martha não devem contratar mais do que cinco trabalhadores: o valor do produto marginal do 6º trabalhador é apenas $180, $20 a menos do que o custo desse trabalhador. Então, para maximizar o lucro total, George e Martha deverão empregar trabalhadores até, mas não além, o ponto em que o valor do produto marginal do último trabalhador empregado é igual ao salário. Agora analise novamente a curva do valor do produto marginal na Figura 19-3. Para determinar o nível de emprego que maximiza o lucro, fixamos o valor do produto marginal do trabalho igual ao preço do trabalho – um salário de $200 por trabalhador. Isso significa que o nível de emprego que maximiza o lucro está no ponto A, correspondente a um nível de emprego de cinco trabalhadores. Se o salário fosse maior que $200, iríamos nos deslocar para cima na curva e reduziríamos o número de trabalhadores empregados; se o salário fosse menor que $200 iríamos nos deslocar para baixo na curva e aumentaríamos o número de trabalhadores empregados. Nesse exemplo, George e Martha têm uma fazenda pequena em que o potencial de emprego varia de 0 a 8 trabalhadores e eles contrataram trabalhadores até o ponto em que o valor do produto marginal do último trabalhador é pelo menos igual ao salário. (Passar desse ponto e contratar trabalhadores cujos salários excedem o valor do produto marginal fará George e Martha perderem dinheiro.) Suponha, no entanto, que a empresa em questão seja grande e tenha um potencial de contratar muitos trabalhadores. Quando há muitos empregados, o valor do produto marginal do trabalho cai apenas ligeiramente quando um trabalhador adicional é empregado. Como resultado, haverá algum trabalhador cujo valor do produto marginal é quase exatamente igual ao seu salário. (No exemplo de George e Martha, isso significa algum trabalhador que tenha o valor do produto marginal de aproximadamente $200.) Nesse caso, a empresa maximiza o lucro escolhendo um nível de emprego em que o valor do produto marginal do último trabalhador contratado iguale (com aproximação) o nível de salário.

Para simplificar, de agora em diante, suponhamos que as empresas usem essa regra para determinar o nível de emprego que maximiza o lucro. Isso significa que a curva do valor do produto marginal do trabalho é a curva da demanda do trabalho do produtor individual. E, em geral, a curva do valor do produto marginal de um produtor para qualquer fator de produção representa a curva da demanda individual do produtor para esse fator de produção. Deslocamentos da curva da demanda do fator

Como no caso de curvas de demanda comuns, é importante distinguir entre movimento ao longo da curva da demanda e deslocamentos da curva da demanda do fator. O que faz as curvas de demanda de um fator se deslocarem? Existem três causas principais: 1. 2. 3.

Variação nos preços dos bens. Variação na oferta de outros fatores. Variação na tecnologia.

1. Variação nos preços dos bens

Lembre-se de que a demanda do fator é derivada da demanda: se o preço do bem que é produzido com um fator muda, o valor do produto marginal do fator também mudará. Ou seja, no caso da demanda de trabalho, se P mudar, VPMT = P × PMT irá mudar em qualquer nível de emprego determinado. A Figura 19-4 ilustra os efeitos das variações no preço do trigo, supondo que $200 seja o salário corrente. O painel (a) mostra o efeito de um aumento no preço do trigo. Desloca a curva do valor do produto marginal para cima, pois VPMT sobe para cada nível dado de emprego. Se o nível de salário permanece inalterado em $200, o ponto ótimo muda de A para B: o nível de emprego que maximiza o lucro sobe. O painel (b) mostra o efeito de uma redução no preço do trigo. Isso desloca a curva do valor do produto marginal do trabalho para baixo. Se o salário permanece inalterado em $200, o ponto ótimo move de A para C: o nível de emprego que maximiza o lucro cai.

2. Variação na oferta de outros fatores

Suponha que George e Martha adquiram mais terra para cultivar – digamos, limpando uma floresta na propriedade. Cada trabalhador agora produz mais trigo porque cada um tem mais terra para trabalhar. Como resultado, o produto marginal do trabalho na fazenda sobe em qualquer nível de emprego determinado. Isso tem o mesmo efeito que um aumento no preço do trigo, que está ilustrado no painel (a) da Figura 19-4: a curva do valor do produto marginal do trabalho se desloca para cima, e, em qualquer nível de salário, o nível de emprego que maximiza o lucro aumenta. Por outro lado, suponha que George e Martha cultivem menos terra. Isto leva a uma queda no produto marginal do trabalho em determinado nível de emprego. Cada trabalhador produz menos trigo porque tem menos terra para trabalhar. Como resultado, a curva do valor do produto marginal do trabalho se desloca para baixo – como no painel (b) da Figura 19-4 – e o nível de emprego que maximiza o lucro cai. FIGURA 19-4

Deslocamentos da curva de valor do produto marginal

O painel (a) mostra o efeito de um aumento no preço do trigo na demanda de trabalho de George e Martha. A curva do valor do produto marginal do trabalho se desloca para cima de VPMT1 para VPMT2. Se o salário de mercado permanece em $200, o emprego que maximiza o lucro aumenta de cinco para oito trabalhadores, apresentado pelo movimento do ponto A para o ponto B. O painel (b) mostra o efeito de uma redução no preço do trigo. A curva do valor do produto marginal do trabalho se desloca para baixo, de VPMT1 para VPMT3. Ao salário de mercado de $200, o emprego que maximiza o lucro cai de cinco para dois trabalhadores, apresentado pelo movimento do ponto A para o ponto C.

3. Variação na tecnologia

Em geral, o efeito do progresso tecnológico sobre a demanda de qualquer fator dado pode influir em qualquer direção: a melhoria na tecnologia pode aumentar ou reduzir a demanda por determinado fator de produção. Como o progresso tecnológico pode reduzir a demanda de fatores? Imagine cavalos, que outrora já foram um fator de produção importante. O desenvolvimento de substitutos para a tração animal, como automóveis e tratores, reduziu consideravelmente a demanda por cavalos. No entanto, o efeito habitual do progresso tecnológico é aumentar a demanda de determinado fator, aumentando a sua produtividade. Assim, apesar do temor persistente de que as máquinas reduzirão a demanda de trabalho, no longo prazo, a economia dos Estados Unidos tem visto tanto aumento acentuado nos salários como aumento de emprego. Isso porque o progresso tecnológico aumentou a produtividade do trabalho e, como resultado, aumentou a demanda por trabalho. Teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal

Vimos como produtores em concorrência perfeita em um mercado de fatores em concorrência perfeita maximiza o lucro com a contratação de trabalho até o ponto em que o valor do produto marginal é igual ao seu preço – no caso do trabalho, até o ponto em que VPMT = W. O que isso nos informa sobre a participação do trabalho na distribuição da renda segundo os fatores de produção? Para responder a essa questão, devemos analisar o equilíbrio no mercado de trabalho. A partir daí passaremos aos mercados de terra e capital para verificar como eles também influenciam a distribuição de renda por fator. Vamos começar supondo que o mercado de trabalho está em equilíbrio: ao índice de salário do mercado atual, o número de trabalhadores que os produtores querem empregar é igual ao número de trabalhadores dispostos a trabalhar. Assim, todos os empregadores pagam o mesmo salário, e cada empregador, indiferente do que esteja produzindo, emprega mão de obra até

o ponto em que o valor do produto marginal do último trabalhador contratado seja igual ao salário de mercado. Essa situação está ilustrada na Figura 19-5, que mostra o valor das curvas dos produtos marginais de dois produtores – o agricultor Jones, que produz trigo, e o agricultor Smith, que produz milho. Apesar do fato de produzirem produtos diferentes, competem pelos mesmos trabalhadores e por isso pagam o mesmo salário, $200. Quando os dois agricultores maximizam o lucro, contratam mão de obra até o ponto em que o valor do produto marginal é igual ao salário. Na figura, isso corresponde à contratação de cinco trabalhadores por Jones e sete por Smith. A Figura 19-6 ilustra o mercado de trabalho como um todo. A curva da demanda do mercado de trabalho, assim como a curva da demanda de mercado por um bem (mostrada na Figura 3-5), é a soma horizontal de todas as curvas de demanda de trabalho individuais de todos os produtores que contratam trabalho. E lembre-se de que cada curva de demanda de trabalho individual de cada produtor é a mesma que a curva do valor do produto marginal do trabalho. Por enquanto, vamos assumir uma curva de oferta de trabalho com inclinação para cima; mais adiante, neste capítulo, discutiremos a oferta de trabalho. Então, o salário de equilíbrio é o salário pelo qual a quantidade de trabalho ofertada é igual à quantidade de trabalho demandada. Na Figura 19-6, isso leva ao salário de equilíbrio S* ao nível de emprego de equilíbrio correspondente T*. (O salário de equilíbrio também é conhecido como salário de mercado.) E como mostramos nos exemplos das fazendas de Geor ge e Martha e dos agricultores Jones e Smith (onde o salário de equilíbrio é $200), cada fazenda contrata trabalho até o ponto em que o valor do produto marginal do trabalho é igual ao salário de equilíbrio. Portanto, em equilíbrio, o valor do produto marginal do trabalho é o mesmo para todos os empregadores. Assim, o salário de equilíbrio (ou de mercado) é igual ao valor de equilíbrio do produto marginal do trabalho – o valor adicional produzido pela última unidade de trabalho empregada no mercado de trabalho como um todo. Não importa onde essa unidade adicional é empregada, uma vez que o equilíbrio VPMT é o mesmo para todos os produtores. O que acabamos de aprender, então, é que o salário de mercado é igual ao valor de equilíbrio do produto marginal do trabalho. E o mesmo é verdade

para cada um dos fatores de produção: em uma economia de mercado em concorrência perfeita, o preço de mercado de cada fator é igual ao valor de equilíbrio do produto marginal. Analisemos agora os mercados de terra e capital (físico). (A partir deste ponto, vamos nos referir ao capital físico como “capital”.) Os mercados de terra e capital

Se mantivermos o pressuposto de que os mercados de bens e serviços estão em concorrência perfeita, o resultado obtido para o mercado de trabalho também se aplica a outros fatores de produção. Suponha, por exemplo, que um fazendeiro está considerando a possibilidade de arrendar um acre de terra adicional no próximo ano. Ele irá comparar o custo de arrendamento do acre com o valor do produto adicional gerado pelo emprego de um acre adicional – o valor do próduto marginal de um acre de terra. Para maximizar o lucro, o agricultor deve empregar terra até o ponto em que o valor do produto marginal de um acre de terra seja igual ao arrendamento por acre. FIGURA 19-5

Todos os produtores se defrontam com o mesmo nível salarial

Embora a Fazenda Jones cultive trigo e a Fazenda Smith cultive milho, ambas competem no mesmo mercado de trabalho e têm de pagar o mesmo salário, $200. Cada produtor contrata trabalho até o ponto em que VMPL = $200: 5 trabalhadores para Jones e 7 trabalhadores para Smith.

FIGURA 19-6

Equilíbrio do mercado de trabalho

A curva de demanda do mercado de trabalho é a soma horizontal das curvas de demanda de trabalho individual de todos os produtores. Aqui, o salário de equilíbrio é

S*, o nível de emprego de equilíbrio é E*, e cada produtor contrata trabalho até o ponto em que VPMT = S*. Então, o pagamento do trabalho é o seu valor de equilíbrio do produto marginal, o valor do produto marginal do último trabalhador contratado no mercado de trabalho como um todo.

E se o fazendeiro já possui a terra? Já vimos a resposta no Capítulo 9 quando tratamos das decisões econômicas: mesmo sendo proprietário da terra, há um custo implícito – do uso da terra – para determinada atividade, pois poderia ser usada para outra atividade, como arrendada para outros fazendeiros pela taxa de arrendamento de mercado. Assim, um produtor que maximiza o lucro emprega acres de terra adicionais até o ponto em que o custo do último acre empregado, explícito ou implícito, é igual ao valor do produto marginal desse acre. O mesmo é verdade para o capital. O custo explícito ou implícito do uso de uma unidade de terra ou capital para um determinado período é

chamado de taxa de arrendamento. Em geral, uma unidade de terra ou capital é empregada até o ponto em que o valor da unidade do produto marginal seja igual à taxa de arrendamento ao longo desse período. Como as taxas de arrendamento da terra e capital são determinadas? Certamente pelo equilíbrio no mercado de terra e de capital. A Figura 19-7 ilustra esses resultados. O painel (a) mostra o equilíbrio no mercado de terras. Somando as curvas de demanda individual da terra de todos os produtores obtemos a curva de demanda de mercado de terra. Em virtude dos retornos decrescentes, a curva da demanda tem inclinação para baixo, assim como a curva da demanda de trabalho. No formato em que a desenhamos, a curva de oferta de terra tem inclinação acentuada e é, portanto, relativamente inelástica. Isso reflete o fato de que encontrar novas ofertas de terra para a produção normalmente é difícil e caro – por exemplo, a criação de novas terras de cultivo por meio de irrigação cara. A taxa de arrendamento de equilíbrio da terra, R*Terra, e a quantidade de terra de equilíbrio empregada na produção, Q*Terra, são determinadas pela interseção das duas curvas. O painel (b) mostra o equilíbrio no mercado de capital. Diferentemente da curva de oferta de terra, a curva de oferta de capital é relativamente elástica. Isso porque a oferta de capital é relativamente sensível ao preço: o capital vem da poupança dos investidores e a quantidade de poupança que os investidores disponibilizam é relativamente sensível à taxa de arrendamento do capital. A taxa de arrendamento de equilíbrio do capital, R*Capital, e a quantidade de equilíbrio do capital empregado na produção, Q*Capital, são determinadas pela interseção das duas curvas. Teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal

Assim, aprendemos que quando o mercado de bens e serviços e o mercado de fatores estão em concorrência perfeita, um fator de produção será empregado até o ponto em que o valor do produto marginal é igual ao preço de equilíbrio de mercado. Ou seja, será pago o valor de equilíbrio do produto marginal. Mas o que isso informa sobre a distribuição de renda por fator? Isso nos leva à teoria

da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, que diz que cada fator receberá como pagamento o valor do produto gerado pela última unidade do fator empregado no mercado de fatores como um todo – o valor de equilíbrio do produto marginal. FIGURA 19-7

Equilíbrio nos mercados de terra e de capital

O painel (a) ilustra o equilíbrio no mercado de terra; o painel (b) ilustra o equilíbrio no mercado de capital. A curva de oferta de terra tem inclinação acentuada, refletindo o alto custo de aumentar a quantidade de terra produtiva. Por outro lado, a curva de oferta de capital é relativamente achatada, em virtude da alta sensibilidade relativa da poupança às variações na taxa do arrendamento de capital. As taxas de arrendamento de equilíbrio da terra e do capital, bem como as quantidades transacionadas de equilíbrio, são dadas pela interseção das curvas de oferta e demanda. Em um mercado de terras competitivo, cada unidade de terra receberá como pagamento o valor de equilíbrio do produto marginal da terra, R*Terra. Da mesma forma, em um mercado de capital competitivo, cada unidade de capital receberá como pagamento o valor de equilíbrio do produto marginal do capital, R*Capital.

Para entender por que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal é importante, voltemos à Figura 19-1, que mostra a distribuição de renda por fator nos Estados Unidos, e façamos a pergunta: o que ou quem decidiu que o trabalho iria receber 68% da renda total dos Estados Unidos? Por que não 90% ou 50%?

A resposta, de acordo com a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, é que a divisão de renda entre os fatores de produção da economia não é arbitrária: é determinada pela produtividade marginal de cada fator na economia em equilíbrio. O nível de salário ganho por todos os trabalhadores na economia é igual ao aumento no valor do produto gerado pelo último trabalhador empregado no mercado de trabalho em toda a economia. Aqui supusemos que todos os trabalhadores têm a mesma capacidade. (Da mesma forma, supusemos que todas as unidades de terra e capital são igualmente produtivas.) Mas, na realidade, os trabalhadores diferem consideravelmente em capacidade. Em vez de pensar em um mercado de trabalho para todos os trabalhadores da economia, podemos pensar em diversos mercados para tipos de trabalhadores diferentes, onde os trabalhadores tenham habilidade equivalente em cada mercado. Por exemplo, o mercado de programadores de computação é diferente do mercado de confeiteiros. E, no mercado de programadores, supõe-se que todos os participantes tenham capacidade igual; da mesma forma no mercado de confeiteiros. Nesse cenário, a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal continua valendo. Ou seja, quando o mercado de trabalho para programadores está em equilíbrio, o salário auferido pelos programadores é igual ao valor do produto marginal de equilíbrio do mercado – o valor do produto marginal do último programador contratado naquele mercado.

ARMADILHAS TEORIA DA PRODUTIVIDADE MARGINAL É importante ter cuidado com o que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal informa: diz que todas as unidades de um fator recebem como pagamento o valor de equilíbrio do produto marginal do fator – o valor adicional produzido pela última unidade do fator empregado. A fonte mais comum de erro é esquecer que o valor relevante do produto marginal é o valor de equilíbrio, e não o valor do produto marginal que se calcula a caminho do equilíbrio. Examinando a Tabela 19-2, poderíamos ser tentados a pensar que, como o primeiro trabalhador tem um valor de produto marginal de $380, esse trabalhador recebe $380 em equilíbrio. Mas não é

assim: se o valor de equilíbrio do produto marginal no mercado de trabalho for igual a $200, então todos os trabalhadores recebem $200.

economia em ação Precisa-se de ajudante!

A empresa Hamill Manufacturing, da Pensilvânia, fabrica componentes de precisão para helicópteros militares e submarinos nucleares. Seus mecânicos, altamente qualificados, são bem pagos, comparados com outros trabalhadores do setor. Receberam aproximadamente $70.000 em 2011, excluindo os benefícios. Como a maioria dos mecânicos qualificados nos Estados Unidos, os funcionários da Hamill são muito produtivos: de acordo com a pesquisa anual do censo de fabricantes nos Estados Unidos, em 2010, um mecânico qualificado, em média, gerou aproximadamente $137.000 em valor agregado. Mas há uma diferença de $67.000 entre o salário pago aos mecânicos da Hamill e o valor agregado gerado. Isso significa que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal não é válida? A teoria não implica que os mecânicos deveriam receber $137.000, o valor médio agregado gerado por cada um? A resposta é não, por duas razões. Primeiro, a cifra $137.000 é a média de todos os mecânicos atualmente empregados. A teoria diz que os mecânicos receberão o valor do produto marginal do último mecânico contratado, e em virtude dos rendimentos decrescentes do trabalho, esse será mais baixo do que a média de todos os mecânicos atualmente empregados. Segundo, o salário de equilíbrio de um trabalhador inclui outros custos, como os benefícios dos empregados, que devem ser adicionados ao salário de $70.000. A teoria da distribuição de renda, segundo a produtividade marginal, diz que os trabalhadores recebem um salário, incluindo todos os benefícios, igual ao valor do produto marginal. Você pode verificar que todos esses custos estão presentes na empresa de Hamill. Ali, os mecânicos têm benefícios bons e seguros de emprego, que são adicionados ao salário. Incluindo esses benefícios, a compensação total

dos mecânicos será igual ao valor do produto marginal do último mecânico contratado. No caso da Hamill, há ainda outro fator que explica o diferencial de $67.000: não há mecânicos suficientes ao nível atual de salários. Embora a empresa tenha aumentado o número de empregados de 85, em 2004, para 125 em 2011, desejaria contratar mais. Por que a Hamill não aumenta os salários para atrair mais mecânicos qualificados? O problema é que o trabalho que eles fazem é tão especializado que é difícil contratar de fora, mesmo aumentando os salários como incentivo. Para resolver esse problema, a Hamill gastou uma quantidade significativa de dinheiro no treinamento de cada nova contratação, aproximadamente $125.000, mais o custo dos benefícios por trainee. No final, a conclusão é que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal parece ser válida.

BREVE REVISÃO Em uma economia de mercado em concorrência perfeita, o preço de um bem multiplicado pelo produto marginal do trabalho é igual ao valor do produto marginal do trabalho: VPMT = P × PMT. Um produtor que maximiza o lucro contrata trabalho até o ponto em que o valor do produto marginal do trabalho é igual ao salário: VPMT = S. A curva do valor do produto marginal do trabalho tem inclinação para baixo em virtude dos retornos decrescentes do trabalho na produção. A curva de demanda do mercado do trabalho é a soma horizontal de todas as curvas de demanda individual dos produtores nesse mercado. Ela se desloca por três razões: variação no preço do produto, variação na oferta de outros fatores e progresso tecnológico. Assim como no caso do trabalho, os produtores empregarão terra ou capital até o ponto em que o valor do produto marginal seja igual ao valor do arrendamento. De acordo com a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, em uma economia em concorrência perfeita cada fator de produção recebe como pagamento o valor de equilíbrio do produto marginal.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 19-2

Nos casos seguintes, indique a direção do deslocamento da curva da demanda do trabalho e o que vai acontecer, tudo o mais mantido constante, com o salário de equilíbrio do mercado e a quantidade de trabalho empregada como resultado. a. Os setores de serviços, como varejo e bancos, experimentam um aumento na demanda. Essas indústrias usam relativamente mais trabalho do que os setores que não são de serviços. b. Em decorrência do excesso de pesca, há uma queda na quantidade de peixes capturados por dia pelas empresas de pesca comerciais. Essa redução afeta a demanda por trabalhadores. 2. Explique a seguinte afirmação: “Quando empresas de setores diferentes competem pelos mesmos trabalhadores, então o valor do produto marginal do último empregado contratado será igual em todas as empresas, independentemente de estar em indústrias diferentes.” As respostas estão no fim do livro. 1.

TEORIA DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA SEGUNDO A PRODUTIVIDADE MARGINAL É REALMENTE VERDADEIRA? Embora a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal seja uma parte bem estabelecida da teoria econômica, estreitamente ligada à análise dos mercados em geral, é fonte de alguma controvérsia. Há duas objeções principais a ela. Primeiro, no mundo real, vemos grandes disparidades de renda entre fatores de produção que, aos olhos de alguns observadores, deveriam receber o mesmo pagamento. Talvez o exemplo mais evidente dos Estados Unidos seja o das grandes diferenças entre os salários médios entre mulheres e homens e entre vários grupos étnicos e raciais. Essas diferenças salariais realmente refletem diferenças de produtividade marginal, ou está acontecendo alguma outra coisa? Segundo, muitas pessoas erroneamente acreditam que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal fornece uma justificativa moral para a distribuição de renda, implicando que a distribuição existente é justa e apropriada. Esse equívoco, às vezes, leva as

pessoas que acreditam que a distribuição de renda atual seja injusta a rejeitar a teoria da produtividade marginal. Para discutir essas controvérsias, começaremos examinando as disparidades de renda por gênero e grupos étnicos. Em seguida, indagaremos que fatores podem ser responsáveis por essas disparidades e se essas explicações são consistentes com a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal. Disparidades de salário na prática

A distribuição dos salários nos Estados Unidos tem uma amplitude muito grande. Em 2011, centenas de milhares de trabalhadores recebiam o mínimo legal federal de $7,25 por hora. No outro extremo, os principais executivos de diversas empresas recebiam mais de $100 milhões, perfazendo $20.000 por hora, mesmo que tivessem trabalhado 100 horas por semana. Mesmo deixando de lado esses extremos, os diferenciais de salários são enormes. As pessoas são realmente tão diferentes em suas produtividades marginais? Uma fonte específica de preocupação é a existência de diferenças salariais sistemáticas em questões de gênero e etnia. A Figura 19-8 compara o rendimento anual mediano em 2010 de trabalhadores com 25 anos de idade ou mais classificados por gênero e etnia. Como grupo, homens brancos tinham os maiores ganhos. Outros dados mostram que as mulheres (em média em todas as etnias) recebiam apenas o máximo de 65%; os trabalhadores afro-americanos (masculino e feminino combinados), apenas o máximo de 65%; trabalhadores hispânicos (mais uma vez, homens e mulheres combinados), apenas o máximo de 54%. Os Estados Unidos são uma nação fundamentada na crença de que todos os homens são criados iguais, e se a Constituição fosse reescrita, hoje, diria que todas as pessoas são criadas iguais. Então, por que recebem pagamento tão desigual? Comecemos pelas explicações da produtividade marginal; em seguida, analisemos outras influências. Produtividade marginal e desigualdade salarial

Grande parte da desigualdade observada nos salários pode ser explicada por considerações consistentes com a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal. Em particular, existem três fontes bem estudadas de diferenças salariais entre ocupações e indivíduos. FIGURA 19-8

Rendimentos medianos por gênero e etnia

O mercado de trabalho dos Estados Unidos continua mostrando grandes diferenças entre os trabalhadores de acordo com gênero e etnia. As mulheres recebem substancialmente menos que os homens; trabalhadores afro-americanos e hispânicos recebem bem menos que trabalhadores brancos do sexo masculino.

Primeiro está a existência dos diferenciais de compensação: entre diferentes tipos de trabalho, os salários, muitas vezes, são maiores ou menores, dependendo do grau de atratividade do trabalho. Trabalhadores com empregos desagradáveis ou perigosos demandam um salário maior em comparação com os empregos que exigem a mesma qualificação e esforço, mas não têm as características desagradáveis ou perigosas. Por exemplo, caminhoneiros que transportam cargas perigosas recebem mais do que caminhoneiros que transportam carga normal. Mas para determinado

trabalho, a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal geralmente é válida. Por exemplo, caminhoneiros que transportam carga perigosa recebem salário igual ao valor de equilíbrio do produto marginal da última pessoa empregada no mercado de trabalho de caminhoneiros de carga perigosa. Uma segunda razão para a desigualdade salarial, claramente consistente com a teoria da produtividade marginal, é a diferença de talento. As pessoas diferem em suas habilidades: uma pessoa com maior habilidade, produzindo um produto melhor que consegue um preço mais elevado em comparação com uma pessoa de menor capacidade, gera um valor mais alto do produto marginal. E essas diferenças no valor do produto marginal se traduzem em diferenças no potencial de renda. Todos nós sabemos que isso é verdade nos esportes: a prática é importante, mas 99,99% (pelo menos) da população não tem o que é preciso para arremessar passes como Tom Brady ou atingir as bolas de tênis como Roger Federer. O mesmo é verdade, embora menos óbvio, em outros campos de atuação. Uma terceira razão muito importante para as diferenças salariais são as diferenças na quantidade de capital humano. Lembre-se de que o capital humano – educação e treinamento – pelo menos é tão importante na economia moderna como o capital físico na forma de edifícios e equipamentos. Pessoas diferentes “incorporam” quantidades bem diferentes de capital humano, e uma pessoa com quantidade maior de capital humano normalmente gera um valor de produto marginal mais alto ao produzir um produto que consegue um preço mais elevado. Assim, diferenças de capital humano respondem por diferenças substanciais de salários. Pessoas com nível de capital humano elevado, como cirurgiões ou engenheiros habilidosos, geralmente têm rendimento elevado. A maneira mais direta de observar o efeito do capital humano sobre os salários é examinar a relação entre nível educacional e renda. A Figura 19-9 mostra diferenciais de renda por gênero e etnia e três níveis de educação para pessoas com mais de 25 anos de idade em 2010. Como se pode ver, independente de gênero ou etnia, a educação está associada à renda média mais elevada. Por exemplo, em 2010, as mulheres brancas com 9 a 12 anos de escolaridade, mas sem diploma de ensino médio, tinham salário médio 32% mais baixo do que aquelas com diploma de ensino médio e 65% menos

do que aquelas com diploma de nível superior – e padrões similares para os outros cinco grupos. Dados adicionais mostram que os cirurgiões – uma ocupação que requer mãos firmes e muitos anos de treinamento formal – ganharam em média $225.390. Como, mesmo agora, normalmente os homens têm mais anos de escolaridade do que as mulheres e os brancos mais do que os não brancos, as diferenças no nível de escolaridade são parte da explicação para as diferenças de rendimentos mostrados na Figura 19-8. FIGURA 19-9

Diferenciais de renda por educação, gênero e etnia, 2010

É claro que, independentemente de gênero ou etnia, a educação vale a pena: quem tem diploma de ensino médio ganha mais do que os que não têm, e os que têm diploma universitário ganham substancialmente mais do que aqueles que têm apenas diploma de ensino médio. Outros padrões são igualmente evidentes: para qualquer nível de educação, homens brancos ganham mais do que qualquer outro grupo, e em qualquer grupo étnico os homens ganham mais do que as mulheres.

Também é importante perceber que a educação formal não é a única fonte de capital humano; treinamento no próprio emprego e experiência

também são muito importantes. Esse ponto foi destacado em um relatório da National Science Foundation sobre diferenças salariais entre cientistas e engenheiros do sexo masculino e do feminino em 2006. O estudo foi motivado pela preocupação com a lacuna entre os salários de homens e mulheres: o salário mediano das mulheres na ciência e na engenharia é aproximadamente 24% mais baixo do que o salário mediano dos homens. O estudo mostrou que as mulheres nessas ocupações são, em média, mais jovens do que os homens e têm muito menos experiência do que os homens. Essa diferença de idade e experiência, de acordo com o estudo, explicava a maior parte do diferencial de remuneração. Diferenças de tempo e experiência no emprego podem explicar, em parte, um aspecto notável da Figura 19-9: em todas as etnias, o rendimento mediano das mulheres é inferior ao rendimento mediano dos homens para qualquer nível de educação. Mas também é importante enfatizar que as diferenças de ganho decorrentes de diferenças de capital humano não são necessariamente “justas”. Uma sociedade em que as crianças que não são brancas normalmente recebem educação deficiente porque vivem em distritos escolares sem verba e, depois, passam a ganhar salários baixos porque têm pouca educação, pode ter mercados de trabalho que são bem descritos pela teoria da produtividade marginal (e que seriam consistentes com os diferenciais de renda segundo grupos étnicos apresentados na Figura 19-8). No entanto, muitas pessoas ainda continuariam considerando a distribuição de renda resultante injusta. Ainda assim, muitos observadores consideram que os diferenciais atuais de salários reais não podem ser totalmente explicados por diferenciais de compensação, diferenças de talento e de capital humano. Acreditam que o poder de mercado, salários de e ciência, e discriminação também desempenham papel importante. Vamos examinar essas forças a seguir. Poder de mercado

A teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal se baseia no pressuposto de que os mercados de fatores são perfeitamente competitivos. Nesses mercados, podemos esperar que os trabalhadores

recebam como pagamento o valor de equilíbrio do seu produto marginal, independentemente de quem sejam. Mas qual a validade desse pressuposto? Estudamos os mercados que não estão em concorrência perfeita nos Capítulos 13, 14 e 15; agora vamos abordar brevemente de que maneira os mercados de trabalho podem-se desviar do pressuposto da concorrência. Uma fonte indubitável de diferença salarial entre trabalhadores que de outra forma seriam semelhantes é o papel dos sindicatos – organizações que tentam aumentar o salário e melhorar as condições de trabalho de seus membros. Os sindicatos, quando são bem-sucedidos, substituem os contratos salariais, um por um, entre trabalhadores e empregadores, pela negociação coletiva, em que o empregador deve negociar salários com representantes dos sindicatos. Sem dúvida, isso leva a salários mais elevados para os trabalhadores que são representados pelos sindicatos. Em 2010, a remuneração semanal mediana dos trabalhadores sindicalizados nos Estados Unidos era $917; comparativamente, trabalhadores não representados por sindicatos receberam $717, uma diferença de quase 30%. Assim como os trabalhadores podem, por vezes, organizar-se para receber salários maiores, os empregadores também podem-se organizar para pagar salários mais baixos do que os que resultariam da concorrência. Por exemplo, trabalhadores de saúde – médicos, enfermeiras, e assim por diante – às vezes argumentam que as organizações de prestação de serviços de saúde (cuja sigla em inglês é HMO) estão empenhados em um esforço coletivo para manter os salários baixos. Até que ponto a ação coletiva, seja de trabalhadores ou de empregadores, afeta os salários nos Estados Unidos moderno? Há várias décadas, quando cerca de 30% dos trabalhadores americanos eram sindicalizados, provavelmente os sindicatos tinham um efeito substancial no aumento dos salários. Hoje, porém, a maioria dos economistas acha que os sindicatos exercem influência bem menor. A adesão ao sindicato, nos Estados Unidos, é relativamente limitada: em 2010, menos de 7% dos empregados de empresas privadas eram representados por sindicatos. E embora haja setores, como a assistência à saúde, em que algumas grandes empresas representam uma parcela considerável do emprego em certas áreas geográficas, o tamanho do mercado de trabalho dos Estados Unidos é enorme e a facilidade com que a maioria dos trabalhadores pode-se mover

em busca de empregos que paguem mais, provavelmente significa que dificilmente ocorram tentativas de conter os salários abaixo do nível de equilíbrio de mercado sem restrição, e é mais difícil ainda que tenham sucesso. Salários de eficiência

Uma segunda fonte de desigualdade salarial é o fenômeno dos salários de e ciência – um tipo de esquema de incentivo usado pelos empregadores para motivar os trabalhadores a se esforçar e reduzir a rotatividade de trabalhadores. Suponha que um trabalhador execute uma tarefa que é extremamente importante, mas que o empregador possa observar como o trabalho está sendo realizado somente em intervalos pequenos – digamos, a babá da criança do empregador. Então, muitas vezes, faz sentido para o empregador pagar mais do que o trabalhador poderia ganhar em um emprego alternativo, isto é, pagar mais do que o salário de equilíbrio. Por quê? Porque o fato de estar ganhando um prêmio faz com que perder esse trabalho e ter que aceitar um trabalho alternativo se torne caro para o trabalhador. Assim, um trabalhador que passa a ser observado por mau desempenho e será demitido, ficará em situação pior por ter que aceitar um trabalho com salário inferior. A ameaça de perder um emprego que pague um prêmio motiva o trabalhador a ter um bom desempenho para evitar que seja demitido. Da mesma forma, pagar um adicional também reduz a rotatividade do trabalhador – a frequência com que um trabalhador pede demissão. Apesar do fato de que talvez não seja necessário mais esforço e habilidade para ser babá de uma criança do que para trabalhar em um escritório, os salários de eficiência mostram por que, muitas vezes, faz sentido econômico para os pais pagar para uma babá mais do que o salário de equilíbrio de um empregado de escritório. O modelo de salário de e ciência explica por que podemos observar salários oferecidos acima do nível de equilíbrio. Como o piso de preços que estudamos no Capítulo 5 – e, em particular, como o salário mínimo – esse fenômeno leva a um excedente de mão de obra ofertada em mercados caracterizados pelo modelo de salários de eficiência. Esse excedente de trabalho se traduz em desemprego – alguns trabalhadores estão ativamente

na busca de trabalho com salário de eficiência elevado, mas não conseguem encontrar, e outros trabalhadores mais afortunados, mas não mais merecedores, conseguem. O resultado é que dois trabalhadores exatamente com o mesmo perfil – as mesmas habilidades e o mesmo histórico de trabalho – podem ganhar salários desiguais: o trabalhador que tem sorte suficiente para obter um trabalho com salário de eficiência ganha mais do que o trabalhador que consegue um emprego normal (ou que permanece desempregado, enquanto busca um emprego mais bem remunerado). Salários de eficiência constituem uma resposta a um tipo de falha de mercado que surge do fato de que alguns empregados nem sempre têm o desempenho tão bom como deveriam e conseguem ocultar esse fato. Como resultado, o uso de salários fora do equilíbrio pelos empregadores para motivar seus funcionários leva a um resultado ineficaz. Discriminação

É um fato real e feio que ao longo da história tem havido discriminação contra trabalhadores que são desconsiderados em razão de raça, etnia ou gênero, ou qualquer outra característica. Como isso se encaixa em nossos modelos econômicos? A principal visão que a análise econômica oferece é que a discriminação não é uma consequência natural da concorrência de mercado. Pelo contrário, as forças de mercado tendem a trabalhar contra a discriminação. Para saber por que, considere os incentivos existentes se as convenções sociais ditassem que as mulheres recebessem, por exemplo, 30% a menos do que os homens com qualificação e experiência equivalente. A empresa que não tivesse esse preconceito ficaria confortável em reduzir os custos, contratando mulheres em vez de homens, e essas empresas teriam vantagem sobre outras que contratassem homens apesar do custo mais elevado. O resultado seria criar excesso de demanda por trabalhadores do sexo feminino, tendendo a elevar seus salários. Mas se a concorrência no mercado trabalha contra a discriminação, como é que tem ocorrido tanta discriminação? A resposta é dupla. Primeiro, quando os mercados de trabalho não funcionam bem, os empregadores

podem ter a possibilidade de discriminar sem prejudicar os lucros. Por exemplo, interferências no mercado (como sindicatos ou leis de salário mínimo) ou falhas de mercado (como salários de eficiência) podem levar a salários acima do nível de equilíbrio. Nesses casos, há mais candidatos do que vagas de trabalho, deixando os empregadores livres para discriminar entre os candidatos. Em 2011, com o desemprego acima de 9%, a Equal Employment Opportunity Comission (Comissão para a Igualdade de Oportunidades de Emprego), agência federal encarregada de investigar acusações de discriminação de emprego, informou que as queixas dos trabalhadores e candidatos a emprego haviam atingido o ponto mais alto registrado na história da agência em 46 anos. Em pesquisa publicada na American Economic Review, dois economistas, Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan, documentaram discriminação na contratação, enviando currículos fictícios para empregadores potenciais em base aleatória. Os candidatos com nomes que “pareciam de brancos”, como Emily Walsh, tinham 50% mais chance de ser contatados do que os candidatos com nomes que “pareciam de afro-americanos”, como Lakisha Washington. Além disso, candidatos com nomes que pareciam de pessoas brancas e tinham boas credenciais tinham muito mais probabilidade de ser contatados do que os que não tinham credenciais. Por outro lado, os empregadores pareciam ignorar as credenciais dos candidatos com nomes que pareciam de afro-americanos. Segundo, a discriminação, algumas vezes, foi institucionalizada pela política do governo. Essa institucionalização da discriminação tornou mais fácil mantê-la contra a pressão do mercado e, historicamente, é a forma que a discriminação tem apresentado. Por exemplo, houve um tempo, nos Estados Unidos, em que os afro-americanos foram impedidos de frequentar escolas e universidades públicas “somente para brancos” em várias partes do país e obrigados a frequentar escolas de qualidade inferior. Embora a concorrência de mercado tenda a trabalhar contra a discriminação atual, não é um remédio para a discriminação do passado, que geralmente teve um impacto sobre a educação e experiência de suas vítimas e, assim, reduzindo a sua renda. A seção Economia em ação, a seguir, ilustra a forma como a política do governo forçou a discriminação no regime racista mais famoso do mundo, o de antigos governos da África do Sul.

PARA MENTES CURIOSAS A ECONOMIA DO APARTHEID A República da África do Sul é o país mais rico da África, mas tem uma história política cruel. Até a transição pacífica para o governo da maioria em 1994, o país era controlado pela minoria branca, africanos descendentes de imigrantes europeus (principalmente holandeses). Essa minoria impunha um sistema econômico conhecido como apartheid, esmagadoramente favorável aos interesses dos brancos em detrimento dos nativos africanos e outros grupos considerados “não brancos”, como os asiáticos. As origens do apartheid remontam aos primeiros anos do século XX, quando um grande número de agricultores brancos começaram a migrar para as cidades em desenvolvimento da África do Sul. Lá, descobriram, para seu horror, que não recebiam automaticamente salários mais altos do que o de outras raças. Mas tinham o direito ao voto – e os não brancos não tinham. E, então, o governo da África do Sul instituiu a lei de “reserva de emprego” destinada a assegurar que os brancos obtivessem empregos que pagassem bem. O governo também começou a criar empregos para os brancos nas indústrias estatais. Como Allister Sparks observou em The Minds of South Africa (1990), em seu esforço de prover empregos de altos salários para os brancos, “no final, o país chegou a ter a maior quantidade de indústrias nacionalizadas de qualquer país fora do bloco comunista”. Em outras palavras, a discriminação racial era possível porque foi apoiada pelo poder do governo, que impossibilitou os mercados de seguir seu curso natural. Post-scriptum: Em 1994, em um dos milagres políticos dos tempos modernos, o regime dos brancos cedeu o poder e a África do Sul se tornou uma democracia plena. O apartheid foi abolido. Infelizmente, permaneceram grandes diferenças raciais nos rendimentos. A principal razão é que o apartheid criou enormes disparidades em termos de capital humano, que persistirão pelos muitos anos vindouros.

Então, a teoria da produtividade marginal funciona?

A principal conclusão que se deve tirar dessa discussão é que a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal não é uma descrição perfeita de como a renda por fator é determinada, mas que funciona muito bem. Os desvios são importantes. Mas, em geral, em uma economia moderna, com mercados de trabalho que funcionem bem, fatores

de produção recebem o valor de equilíbrio do produto marginal – o valor do produto marginal da última unidade empregada no mercado como um todo. É importante enfatizar, mais uma vez, que isso não significa que a distribuição de renda por fator é justificada moralmente.

economia em ação Produtividade marginal e o “1%”

No outono de 2011, estava disseminada a demonstração pública nos Estados Unidos e em vários outros países contra a crescente desigualdade da renda pessoal. Os manifestantes americanos, conhecidos pelo movimento Ocupem Wall Street, adotaram o slogan “Somos os 99%” para enfatizar o fato de que a renda dos 1% da população mais rica tinha crescido muito mais rápido do que a da maioria dos americanos. De fato, à medida que o movimento de protesto foi ganhando força, o Escritório de Orçamento do Congresso divulgou um estudo sobre a desigualdade de renda. Revelava que, entre 1979 e 2007, a renda da família média encabeçada por um trabalhador com grau de ensino médio caiu 7,8%, enquanto que a renda da família média encabeçada por um trabalhador com diploma de pós-graduação aumentou 24,3%. Mas a renda média dos 1% das famílias mais ricas subiu 277,5%. Por que os americanos mais ricos estavam se afastando do resto? Uma resposta breve é que as causas são uma fonte de controvérsia considerável e pesquisa contínua. Uma coisa é certa: esse aspecto da crescente desigualdade não pode ser explicado em termos da crescente demanda por trabalhadores com nível de formação elevado. Na história de abertura deste capítulo, observamos a existência de um prêmio salarial crescente para trabalhadores com nível de formação elevada. No entanto, apesar desse prêmio em crescimento, como a Figura 19-10 mostra, esses trabalhadores têm observado apenas uma fração dos ganhos indo para o 1% do topo. FIGURA 19-10

Variações de renda, 1979-2007

Isso não prova que o 1% do topo não está “recebendo” sua renda. Porém, mostra que qualquer que seja a explicação para os ganhos elevados, não é a educação.

BREVE REVISÃO As grandes disparidades de salário tanto entre os indivíduos como entre os grupos levam alguns a questionar a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal. Diferenciais de compensação, bem como diferenças nos valores dos produtos marginais de trabalhadores que surgem da diferença de talento, experiência de trabalho e capital humano, são responsáveis por algumas das disparidades salariais. O poder de mercado na forma de sindicatos ou ações coletivas por parte dos empregadores, bem como o modelo do salário de eficiência, em que os empregadores pagam um salário acima do equilíbrio para induzir a um desempenho melhor, também explicam como surgem algumas disparidades salariais. A discriminação tem sido historicamente um fator importante de disparidade salarial. A concorrência de mercado tende a trabalhar contra a discriminação. Mas a discriminação pode deixar um legado duradouro de aquisição de capital humano depreciado.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 19-3 1. Avalie cada uma das afirmações seguintes. Você as considera verdadeiras, falsas ou ambíguas? Explique. a. A teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal é inconsistente com a presença de disparidades de renda associadas a gênero, raça ou etnia. b. As empresas que praticam discriminação no trabalho, mas cujos concorrentes não o fazem, tenderão a ter lucros mais baixos, como resultado de suas ações. c. Os trabalhadores que recebem menos por ter menos experiência não são vítimas de discriminação. As respostas estão no fim do livro.

OFERTA DE TRABALHO Até esse ponto, temos nos concentrado na demanda de fatores que determinam as quantidades demandadas de trabalho, capital ou terra pelos produtores em função dos preços desses fatores. E a oferta de fatores? Nesta seção, iremos nos concentrar exclusivamente na oferta de trabalho. Fazemos isso por duas razões. Primeiro, na economia americana moderna, o trabalho é o fator de produção mais importante, respondendo pela maior parte da renda de fator. Segundo, como veremos, a oferta de trabalho é a área em que os mercados de fatores mostram as maiores diferenças na comparação com o mercado de bens e serviços. Trabalho versus lazer

No mercado de trabalho, os papéis das empresas e famílias são opostos aos que exercem nos mercados de bens e serviços. Um bem como o trigo é ofertado por empresas e demandado pelas famílias; no entanto, o trabalho é demandado pelas empresas e ofertado pelas famílias. Como as pessoas decidem quanto trabalho ofertar? Na prática, a maioria das pessoas tem um controle limitado sobre suas horas de trabalho: ou se aceita um emprego que implica trabalhar um determinado número de horas por semana ou não se consegue emprego.

Para entender a lógica da oferta de trabalho, no entanto, convém deixar a realidade de lado e imaginar um indivíduo que possa optar em trabalhar tantas horas quanto queira. Por que um indivíduo assim não trabalharia tantas horas quanto possível? Porque os trabalhadores também são seres humanos e têm outros usos para o seu tempo. Uma hora gasta no trabalho é uma hora que não é gasta em outras atividades presumivelmente mais agradáveis. Assim, a decisão sobre quanto trabalho ofertar envolve tomar uma decisão sobre alocação do tempo – quantas horas gastar em atividades diferentes. Ao trabalhar, as pessoas obtêm renda que podem usar na compra de bens. Quanto mais horas um indivíduo trabalha mais bens poderá comprar. Mas o crescimento desse poder de compra vem à custa de uma redução no lazer, o tempo gasto quando não se está trabalhando. (Lazer não significa necessariamente o tempo gasto jogando conversa fora. Significa o tempo gasto com a família, em busca de passatempo, fazendo exercícios, e assim por diante.) E embora bens adquiridos produzam utilidade, o mesmo acontece com o lazer. De fato, podemos pensar no lazer como um bem normal, que a maioria das pessoas gostaria de consumir mais à medida que seus rendimentos aumentam. Como um indivíduo racional decide o quanto de lazer consumir? Fazendo uma comparação marginal, é claro. Ao analisar a escolha do consumidor, indagamos como um consumidor que maximiza a utilidade usa $1 marginal. Ao analisar a oferta de trabalho, consideramos como um indivíduo usa uma hora marginal. Imagine Clive, um indivíduo que gosta tanto de lazer quanto dos bens que o dinheiro pode comprar. Suponha que seu salário seja $10 por hora. Ao decidir quantas horas ele quer trabalhar, deve comparar a utilidade marginal de uma hora de lazer adicional com a utilidade que obtém de $10 em bens. Se $10 em bens acrescenta mais à sua utilidade total do que uma hora de lazer, ele pode aumentar a sua utilidade total renunciando a uma hora de lazer para trabalhar mais uma hora. Se uma hora extra de lazer acrescentar à sua utilidade total mais do que $10 no valor de bens, ele pode aumentar sua utilidade total, trabalhando uma hora a menos para obter uma hora de lazer. No ponto de escolha da oferta de trabalho ótima de Clive, sua utilidade marginal de uma hora de lazer é igual à utilidade marginal que obtém dos

bens que seu salário por hora pode comprar. Isso é bastante semelhante à regra de consumo ótimo, que vimos no Capítulo 10, exceto que se trata de uma regra sobre tempo e não sobre dinheiro. O próximo passo é questionar como a decisão de Clive sobre a alocação do tempo é afetada quando o salário muda. Salários e oferta de trabalho

Suponha que o salário de Clive dobre de $10 para $20 por hora. Como ele vai mudar a alocação do tempo? Você pode argumentar que Clive vai trabalhar mais horas, porque seu incentivo ao trabalho aumentou: ao abrir mão de uma hora de lazer, agora ele pode obter duas vezes mais dinheiro que antes. Mas você também pode argumentar que ele irá trabalhar menos, porque não precisa trabalhar tantas horas para gerar renda que pague pelos bens que deseja. Como esses argumentos opostos sugerem, a quantidade de trabalho ofertada por Clive pode aumentar ou diminuir quando o nível de salário por hora aumenta. Para entender por que, recordemos a distinção entre efeito substituição e efeito renda que aprendemos nos Capítulos 10 e seu apêndice. Vimos ali que uma mudança de preço afeta a escolha do consumidor de duas formas: mudando o custo de oportunidade do bem em termos de outros bens (o efeito substituição) e tornando o consumidor mais rico ou mais pobre (o efeito renda). Imaginemos agora como um aumento no salário de Clive afeta sua demanda de lazer. O custo de oportunidade de lazer – o montante de dinheiro ao qual ele renuncia por uma hora livre em vez de trabalhar – aumenta. Esse efeito substituição fornece um incentivo, tudo o mais mantido constante, a consumir menos lazer e trabalhar mais horas. Por outro lado, um salário mais elevado torna Clive mais rico e esse efeito renda, tudo o mais mantido constante, o leva a querer consumir mais lazer e ofertar menos trabalho porque lazer é um bem normal. Assim, no caso de oferta de trabalho, o efeito substituição e o efeito renda funcionam em direções opostas. Se o efeito substituição é tão poderoso que domina o efeito renda, um aumento no salário de Clive faz com que ele oferte mais horas de trabalho. Se o efeito renda é tão poderoso que domina o

efeito substituição, um aumento no salário o leva a ofertar menos horas de trabalho. Vemos, então, que a curva de oferta de trabalho individual – ou seja, a relação entre o nível de salário-hora e o número de horas de trabalho ofertada por uma, trabalhador individual – não tem necessariamente inclinação para cima. Se o efeito renda domina, um salário mais alto reduzirá a quantidade de trabalho ofertada. A Figura 19-11 ilustra as duas possibilidades de oferta de trabalho. Se o efeito substituição domina o efeito renda, a curva de oferta de trabalho individual tem inclinação para cima; o painel (a) mostra um aumento de salário de $10 para $20 por hora levando a um aumento no número de horas trabalhadas de 40 para 50. No entanto, se o efeito renda domina, a quantidade de trabalho ofertada diminui quando o salário aumenta. O painel (b) mostra o mesmo aumento de salário levar a uma queda no número de horas trabalhadas de 40 para 30. (Os economistas referem-se a uma curva de oferta de trabalho individual que contém tanto segmentos com inclinação para cima como para baixo como “curva de oferta de dobra inversa do trabalho” – um conceito que analisaremos em detalhe no apêndice deste capítulo.) FIGURA 19-11

Curva da oferta de trabalho individual

Quando o efeito substituição de um aumento salarial domina o efeito renda, a curva de oferta de trabalho individual tem inclinação para cima, como no painel (a). Aqui, um aumento do salário de $10 para $20 por hora aumenta o número de horas trabalhadas

de 40 para 50. Mas quando o efeito renda de um aumento de salário domina o efeito substituição, a curva de oferta de trabalho individual tem inclinação para baixo, como no painel (b). Aqui, o mesmo aumento de salário reduz o número de horas trabalhadas de 40 para 30. A curva de oferta de trabalho individual mostra como a quantidade de trabalho ofertada por um indivíduo depende do salário do indivíduo.

É uma possibilidade real ocorrer uma queda na quantidade de trabalho ofertada em resposta ao nível salarial? Sim: muitos economistas especializados em trabalho acreditam que o efeito renda sobre a oferta de trabalho pode ser um pouco mais forte do que o efeito substituição. A evidência mais contundente dessa crença é o consumo crescente de lazer pelos americanos ao longo do século XX. No final do século XIX, os salários ajustados pela inflação não passavam de cerca de 1/8 do que são hoje. A semana de trabalho normal tinha 70 horas e bem poucos trabalhadores se aposentavam aos 65 anos de idade. Hoje, a semana de trabalho normal tem menos de 40 horas, e a maioria das pessoas se aposenta aos 65 anos ou antes. Assim, parece que os americanos decidiram aproveitar os salários mais altos, em parte, consumindo mais lazer. Deslocamentos da curva de oferta de trabalho

Agora que examinamos como os efeitos renda e substituição moldam a curva de oferta de trabalho individual, podemos passar à curva de oferta de trabalho de mercado. Em todo o mercado de trabalho, a curva de oferta de mercado é a soma horizontal das curvas da oferta de trabalho individual de todos os trabalhadores nesse mercado. Uma mudança em qualquer fator que não seja salário que altere a disposição dos trabalhadores de ofertar trabalho provoca um deslocamento da curva de oferta de trabalho. Uma variedade de fatores pode levar a tal deslocamento, incluindo mudança nas preferências e nas normas sociais, mudança na população, mudança nas oportunidades e mudança na riqueza. Mudança nas preferências e normas sociais

Uma mudança nas preferências e normas sociais pode levar os trabalhadores a aumentar ou diminuir a disposição de trabalhar a qualquer

salário determinado. Um exemplo marcante desse fenômeno é o grande aumento no número de empregados do sexo feminino – particularmente mulheres casadas empregadas – que ocorreu nos Estados Unidos desde 1960. Até essa data, as mulheres que podiam evitavam trabalhar fora de casa. A mudança nas preferências e normas após a Segunda Guerra Mundial (além da invenção de eletrodomésticos que poupam trabalho, como máquinas de lavar roupa, a crescente urbanização da população, e os níveis mais elevados de educação feminina) induziu um grande número de mulheres americanas a se juntar à força de trabalho – um fenômeno que, muitas vezes, foi repetido em outros países que experimentam forças sociais e tecnológicas semelhantes. Mudança na população

A mudança no tamanho da população em geral leva ao deslocamento da curva de oferta de trabalho. Uma população ampla tende a deslocar a curva de oferta de trabalho para a direita à medida que mais trabalhadores estão disponíveis a qualquer nível salarial. Uma população menor tende a deslocar a curva de oferta de trabalho para a esquerda. De 1990 a 2008, a força de trabalho dos Estados Unidos cresceu cerca de 1% ao ano, gerada pela imigração e por uma taxa de natalidade relativamente alta. Em decorrência, entre 1990 e 2008, o mercado de trabalho dos Estados Unidos teve um deslocamento para a direita da curva de oferta de trabalho. No entanto, enquanto a população continuou a crescer depois de 2008, o tamanho da força de trabalho começou a encolher em 2009 à medida que os trabalhadores, desiludidos com as perspectivas de emprego ruins, deixaram a força de trabalho. Como resultado, desde 2009, a curva de oferta de trabalho dos Estados Unidos está se deslocando para a esquerda.

PARA MENTES CURIOSAS POR QUE NÃO SE ENCONTRA TÁXI QUANDO CHOVE

Todo mundo diz que é impossível encontrar um táxi em Nova York quando realmente se precisa, por exemplo, quando está chovendo. Pode ser que isso aconteça porque todo mundo está tentando conseguir um táxi ao mesmo tempo. Mas, de acordo com um estudo publicado pela revista Quarterly Journal of Economics, é mais do que isso: na verdade, os taxista vão para casa mais cedo quando está chovendo. A razão é que o salário por hora de um taxista depende do tempo: quando chove, os motoristas pegam mais corridas e, portanto, ganham mais por hora. Mas parece que o efeito renda desse salário maior supera o efeito substituição. Esse comportamento levou os autores da análise a duvidarem da racionalidade dos motoristas. Ressaltaram que se os taxistas pensassem em termos de longo prazo, perceberiam que dias de chuva e de bom tempo acabam se cancelando e que a renda elevada nos dias de chuva realmente não afeta muito a renda no longo prazo. Na verdade, taxistas experientes (que provavelmente já descobriram isso) são menos propensos a deixar o trabalho mais cedo em dias chuvosos em relação aos taxistas menos experientes. Mas deixando essas questões de lado, a análise parece mostrar evidências claras de uma curva de oferta de trabalho com inclinação para baixo, em vez de para cima, graças ao efeito renda. (Fonte: Ver nota na página de copyright.)

Mudança nas oportunidades

Houve um tempo em que o magistério era a única ocupação considerada adequada para mulheres bem-educadas. No entanto, à medida que se abriram oportunidades em outras profissões para as mulheres a partir dos anos 1960, muitas deixaram o ensino, e professoras potenciais do sexo feminino foram em busca de outras carreiras. Isso gerou um deslocamento para a esquerda da curva de oferta de professores, refletindo um declínio na disposição de trabalhar a qualquer nível dado de salário, e forçou as escolas distritais a pagar mais para manter um corpo docente adequado. Esses eventos ilustram um resultado geral: quando surgem alternativas melhores para trabalhadores em outros mercados de trabalho, a curva de oferta no mercado de trabalho original se desloca para a esquerda, à medida que os trabalhadores se encaminham para as novas oportunidades. Da mesma forma, quando diminuem as oportunidades em um mercado de trabalho – digamos, demissões na indústria manufatureira em virtude do aumento da concorrência estrangeira – a oferta nos mercados de trabalho alternativos

aumenta à medida que os trabalhadores se movem para esses outros mercados. Mudança na riqueza

Uma pessoa, cuja riqueza aumentou, comprará mais bens normais, inclusive lazer. Assim, quando uma classe de trabalhadores experimenta um aumento geral na riqueza – digamos, em virtude de uma alta no mercado de ações – o efeito renda desse aumento da riqueza desloca a curva de oferta de trabalho desses trabalhadores para a esquerda à medida que consomem mais lazer e trabalham menos. Note-se que o efeito renda causado por uma mudança na riqueza desloca a curva de oferta de trabalho, mas o efeito renda de um aumento de salário – como discutimos no caso da curva de oferta individual de trabalho – é um movimento ao longo da curva de oferta de trabalho. A seção a seguir Economia em ação ilustra como tal mudança nos níveis de riqueza de muitas famílias, durante o final da década de 1990, levou a um deslocamento da curva de oferta do mercado de trabalho associada a seus filhos em idade de trabalhar.

COMPARAÇÃO GLOBAL O AMERICANO TRABALHA DEMAIS? Os americanos hoje talvez trabalhem menos do que trabalhavam há cem anos, mas ainda trabalham mais do que os trabalhadores de qualquer outro país industrializado. Essa figura compara o número anual de horas médias trabalhadas nos Estados Unidos com a média anual equivalente em outros países industrializados. As diferenças resultam de uma combinação de semanas de trabalho mais longas com férias mais curtas para os americanos. Por exemplo, a grande maioria dos trabalhadores americanos em tempo integral trabalha pelo menos 40 horas por semana. Até recentemente, no entanto, uma regulamentação do governo francês limitou a maioria dos trabalhadores franceses ao

máximo de 35 horas por semana. Uma negociação coletiva também conseguiu uma redução semelhante na semana de trabalho para muitos trabalhadores alemães. Em 2011, os trabalhadores americanos tiveram, em média, oito dias de férias pagas, mas 23% dos trabalhadores americanos não tiveram férias pagas. Em contrapartida, estão garantidas aos trabalhadores alemães seis semanas de férias pagas por ano. Além disso, os trabalhadores americanos usam menos dos dias de férias a que têm direito do que os trabalhadores de outros países industrializados. Uma pesquisa de 2011 revelou que apenas 57% dos trabalhadores americanos usam todos os dias de férias a que têm direito, em comparação com 89% na França. Por que os americanos trabalham muito mais do que os outros? Ao contrário de suas contrapartes em outros países industrializados, os americanos não têm direito a férias pagas; como resultado, o trabalhador americano médio tem menos férias. Mais ainda, as evidências sugerem que durante a recessão recente, com as elevadas taxas de desemprego, os trabalhadores americanos tornaram-se mais relutantes em usar os dias de férias a que tinham direito.

Fonte: OCDE (dados de 2010, exceto dados franceses, que são de 2009).

economia em ação

O declínio do emprego de verão

Todo o verão as cidades de veraneio ao longo da costa de New Jersey enfrentam um problema recorrente: escassez de salva-vidas. Tradicionalmente, a posição de salva-vidas, assim como muitos outros trabalhos sazonais, tem sido preenchida principalmente por estudantes de ensino médio e universitários. Mas, nos últimos anos, uma combinação de deslocamentos adversos na oferta e demanda diminuiu acentuadamente o emprego de verão para jovens trabalhadores. Em 1979, 71% dos americanos entre as idades de 16 e 19 anos estavam na força de trabalho de verão. Em 2007, esse número chegou a 42% e, em 2011, teve outra queda acentuada, para aproximadamente 25%. A queda na oferta é uma das explicações para a mudança. Mais estudantes sentem agora que deveriam dedicar o verão para estudos complementares em vez de trabalhar. Um aumento na afluência das famílias ao longo dos últimos 20 anos também contribuiu para a diminuição dos adolescentes que oferecem esse tipo de trabalho porque já não se sentem pressionados a contribuir para as finanças da família. Em outras palavras, o efeito renda levou a uma oferta de trabalho reduzida. Outra explicação é o efeito substituição: o aumento da concorrência dos imigrantes, que agora estão fazendo o trabalho que normalmente era feito pelos adolescentes (como cortar grama e entregar pizzas), levou a uma diminuição nos salários. Assim, muitos adolescentes têm prescindido do trabalho de verão para consumir lazer. Mas foi a recessão profunda entre 2007 e 2009 que contribuiu para o mais grave declínio do emprego de verão dos jovens nos anos seguintes. Em 2010 e 2011, novos cortes de emprego por parte dos empregadores privados, bem como nos programas municipais e estaduais do governo, que contrataram adolescentes durante o verão, levaram ao menor número de adolescentes empregados durante o verão em décadas. Assim, uma queda acentuada na demanda, juntamente com uma tendência de longo prazo de queda na oferta, levou ao declínio do que já foi uma tradição do verão.

BREVE REVISÃO

A escolha da quantidade de trabalho a ofertar é um problema de alocação de tempo: a escolha entre trabalho e lazer. Um aumento de salário provocará um efeito renda e um efeito substituição sobre a oferta de trabalho de um indivíduo. O efeito substituição de um salário mais elevado induz a trabalhar mais horas, tudo o mais mantido constante. Isso é contrabalançado pelo efeito renda: uma renda mais alta leva a uma demanda mais alta por lazer, um bem normal. Quando o efeito renda domina, um aumento de salário pode realmente fazer a curva de oferta de trabalho individual se inclinar na direção “errada” – para baixo. A curva de oferta de trabalho do mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individual de trabalho de todos os trabalhadores nesse mercado. Ela se desloca por quatro razões principais: mudança nas preferências e normas sociais, mudança na população, mudança nas oportunidades e mudança na riqueza.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 19-4 1.

2.

Antigamente, Clive tinha liberdade de trabalhar quantas horas por semana quisesse. Mas uma nova lei limita o número máximo de horas que ele pode trabalhar por semana a 35. Em virtude disso, explique em que circunstâncias ele pode: a. Ficar em situação pior. b. Ficar na mesma situação. c. Ficar em situação melhor. Explique, em termos dos efeitos renda e substituição, como uma queda no salário de Clive pode induzi-lo a trabalhar mais horas do que antes. As respostas estão no fim do livro.

• ESTUDO DE CASO Alta Gracia: fair trade funciona?

Confira as camisetas ou os agasalhos com o logotipo da escola na livraria do campus e há grande chance de terem sido fabricados pela Alta Gracia, principal fornecedora de vestuário com emblema das universidades americanas. Alta Gracia é propriedade da Knights Apparel, uma empresa com sede em Spartanburg, Carolina do Sul, que fabrica vestuário em 30 fábricas ao redor do mundo. A fábrica da Alta Gracia está localizada na República Dominicana, onde 120 funcionários produzem camisetas e agasalhos. Os trabalhadores em Alta Gracia se consideram sortudos porque a empresa paga o que consideram um “salário digno” – suficiente para alimentar e abrigar uma família de quatro – e permite aos trabalhadores aderir a um sindicato. A costureira Santa Castillo, por exemplo, ganha $500 por mês, três vezes o salário médio mensal de $147 recebido pelos trabalhadores de vestuário na República Dominicana, onde um pedaço de pão custa $1. Os trabalhadores da fábrica nem sempre foram tão afortunados. Quando a fábrica era de propriedade de outra empresa, BJ&B, que fabricava bonés de beisebol para a Nike e para a Reebok, os trabalhadores recebiam o salário vigente e eram demitidos ao se queixar das condições de trabalho ou ao tentar aderir ao sindicato. Mas a BJ&B transferiu suas operações para Bangladesh, onde o salário mínimo é 15 centavos por hora, em comparação com 85 centavos por hora, na República Dominicana. Em contrapartida, Alta Gracia paga $2,83 por hora. Joe Bozich iniciou a Knight Apparels em 2000; através de dezenas de negócios que ele fez com as universidades, sua empresa já ultrapassou a Nike como fornecedora número um das universidades. Ele trabalha em estreita colaboração com o Consórcio de Direitos do Trabalhador, um grupo de 186 universidades que pressiona os fabricantes de vestuário com emblema da universidade a melhorar o bem-estar dos trabalhadores. O consórcio é parte do Fair Trade Movement (Movimento de Comércio Justo), um órgão dedicado a melhorar o bem-estar dos trabalhadores nos países em desenvolvimento, principalmente por meio do aumento de salários. Em 2010, $6 bilhões de bens aprovados no Fair Trade foram vendidos no mundo, um aumento de 27% em relação a 2009.

Alta Gracia foi concebida por Bozich como fábrica modelo para mostrar que um fabricante de vestuário poderia pagar aos seus trabalhadores um salário digno e ainda ter sucesso, enquanto os concorrentes estavam pagando a seus trabalhadores muito menos. Seu custo de produção de uma camiseta é $4,80 – $0,80, ou 20%, mais alto do que se pagasse o salário mínimo. A Knights Apparel aceita uma margem de lucro menor para que não tenha que pedir aos varejistas que paguem um preço mais elevado pela mercadoria. Alguns observadores, no entanto, são céticos, pois a mercadoria da Alta Gracia é vendida ao lado dos produtos fabricados pela Nike e Adidas, aproximadamente ao mesmo preço mais elevado que essas marcas bem conhecidas impõem. “É um esforço nobre, mas é uma experiência”, diz Andrew Jassin, um analista do setor. “Há consumidores que realmente se importam e vão comprar essa roupa a um preço mais elevado, e há aqueles que dizem que se importam, mas querem apenas o valor.” Kellie McElhaney, professor de responsabilidade social corporativa da Universidade da Califórnia em Berkeley, é menos cético: “Muitos estudantes universitários vão preferir pagar por uma marca que mostra os trabalhadores sendo bem tratados.”

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Use a teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal para explicar como o salário vigente para os trabalhadores de vestuário pode cair abaixo do salário digno na República Dominicana. 2. Do ponto de vista da Knight Apparel, quais são os prós e os contras de pagar aos trabalhadores de Alta Gracia um salário digno? Quais são os prós e os contras do ponto de vista dos trabalhadores em geral? 3. De que fatores depende o sucesso ou o fracasso de Alta Gracia? O que a Knight Apparel deve fazer para melhorar suas chances de sucesso?

• RESUMO

1. Assim como há mercados de bens e serviços, há mercados de fatores de produção, incluindo trabalho, terra e capital físico e capital humano. Esses mercados determinam a distribuição de renda por fator. 2. Produtores tomadores de preço que maximizam o lucro empregarão um fator até o ponto em que o preço seja igual ao valor do produto marginal – o produto marginal do fator multiplicado pelo preço do produto que ele produz. A curva do valor do produto marginal é, portanto, a curva da demanda de um fator do produtor individual tomador de preço. 3. A curva da demanda de mercado para o trabalho é a soma horizontal das curvas de demanda individual dos produtores nesse mercado. Seu deslocamento ocorre por três razões principais: variação no preço do produto, variação na oferta de outros fatores e variações tecnológicas. 4. Quando um mercado de trabalho competitivo está em equilíbrio, o salário de mercado é igual ao valor de equilíbrio do produto marginal do trabalho, o valor adicional produzido pelo último trabalhador contratado no mercado de trabalho como um todo. O mesmo princípio se aplica a outros fatores de produção: a taxa de arrendamento da terra ou do capital é igual ao valor de equilíbrio dos produtos marginais. Essa percepção leva à teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, em que o pagamento de cada fator corresponde ao valor do produto marginal da última unidade desse fator empregada no mercado de fatores como um todo. 5. As grandes disparidades dos salários levantam questões sobre a validade da teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal. Muitas disparidades podem ser explicadas por diferenciais de compensação e por diferenças de talento, experiência de trabalho e capital humano entre os trabalhadores. Interferência no mercado na forma de sindicato e ações coletivas de empregadores também criam disparidades salariais. O modelo de salário de eficiência que ocorre de um tipo de falha de mercado mostra como as disparidades salariais podem resultar de tentativas dos empregadores de melhorar o desempenho dos trabalhadores. Mercados livres tendem a diminuir a discriminação, mas essa continua a ser uma verdadeira fonte de disparidade salarial, especialmente através de seus efeitos sobre a aquisição de capital humano. A discriminação normalmente é mantida por meio de problemas nos mercados de trabalho ou (historicamente) pela institucionalização de políticas governamentais. 6. A oferta de trabalho é o resultado de decisões sobre a alocação do tempo, quando cada trabalhador está diante de um trade-off entre lazer e trabalho. Um aumento no salário por hora tende a aumentar o número de horas trabalhadas por causa do efeito substituição, mas tende a reduzir o número de horas trabalhadas em virtude do efeito renda. Se o resultado líquido é o trabalhador aumentar a quantidade de trabalho ofertada em resposta a um salário mais alto, a curva de oferta de trabalho individual tem inclinação para cima. Se o resultado líquido é o trabalhador reduzir o número de horas trabalhadas, a curva de oferta de trabalho individual, diferentemente da curva de oferta de bens e serviços, tem inclinação para baixo.

7. A curva de oferta de trabalho do mercado é a soma das curvas de oferta de trabalho individual de todos os trabalhadores nesse mercado. Ela se desloca por quatro razões principais: mudança nas preferências e normas sociais, mudança na população, mudança nas oportunidades e mudança na riqueza.

• PALAVRAS-CHAVE Capital físico, p. 450 Capital humano, p. 450 Distribuição da renda por fator, p. 451 Valor do produto marginal, p. 453 Curva do valor do produto marginal, p. 454 Valor de equilíbrio do produto marginal, p. 457 Taxa de arrendamento, p. 458 Teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, p. 458 Diferenciais de compensação, p. 462 Sindicatos, p. 463 Modelo de salários de eficiência, p. 464 Alocação do tempo, p. 466 Lazer, p. 466 Curva de oferta de trabalho individual, p. 467

• PROBLEMAS 1. Em 2010, a renda nacional nos Estados Unidos era $11.722,60 bilhões. No mesmo ano, estavam empregados 139 milhões de trabalhadores, a um salário médio anual de $57.348 por trabalhador por ano. a. Qual o total pago de compensação aos empregados nos Estados Unidos em 2010? b Analise a distribuição de renda por fator. Que porcentagem da renda nacional foi recebida na forma de compensação pelos empregados em 2010? c. Suponha que uma enorme onda de downsizing corporativo leva muitos empregados demitidos a abrirem o próprio negócio. Qual é o efeito sobre a distribuição de renda por fator? d. Suponha que a oferta de trabalho aumenta em virtude de um aumento na idade de aposentadoria. O que acontece com a porcentagem da

renda nacional que é recebida pelos empregados em termos de compensação? 2. A Marty’s Frozen Yogurt tem uma função de produção por dia como a que aparece na tabela a seguir. O salário de equilíbrio para um trabalhador é $80 por dia. Cada casquinha de sorvete é vendida por $2. Quantidade de trabalho (trabalhadores)

Quantidade de sorvete (casquinhas)

0

0

1

110

2

200

3

270

4

300

5

320

6

330

a. Calcule o produto marginal do trabalho para cada trabalhador e o valor do produto marginal do trabalho por trabalhador. b. Quantos trabalhadores Marty deve empregar? 3. A Patty Pizza Parlor tem uma função de produção por hora mostrada na tabela a seguir. O salário por hora de cada trabalhador é $10. Cada pizza é vendida por $2. Quantidade de trabalho (trabalhadores)

Quantidade de pizza

0

0

1

9

2

15

3

19

4

22

5

24

a. Calcule o produto marginal do trabalho de cada trabalhador e o valor do produto marginal por trabalhador. b. Trace a curva do valor do produto marginal do trabalho. Use o gráfico para determinar quantos trabalhadores Patty deve empregar.

c.

Agora o preço da pizza aumentou para $4. Calcule o valor do produto marginal do trabalho por trabalhador e trace a nova curva do valor do produto marginal do trabalho no gráfico. Use o gráfico para determinar quantos trabalhadores Patty deve empregar agora. 4. A função de produção da Patty’s Pizza Parlor é dada na tabela do Problema 3. O preço da pizza é $2, mas o salário por hora aumenta de $10 para $15. Use um gráfico para determinar como a demanda de trabalhadores de Patty responderia a esse aumento de salário. 5. A Patty’s Pizza Parlor inicialmente tinha uma função de produção dada na tabela do Problema 3. O salário por hora de um trabalhador é $10 e a pizza é vendida por $2. Agora Patty compra um novo forno de pizza de alta tecnologia que permite aos trabalhadores ter o dobro de produtividade. Isto é, o primeiro trabalhador agora produz 18 pizzas por hora, em vez de 9, e assim por diante. a. Calcule o novo produto marginal do trabalho e o novo valor do produto marginal do trabalho. b. Use um gráfico para determinar como a decisão de Patty de contratar empregados responde a esse aumento de produtividade na força de trabalho. 6. Jameel é gerente de uma autoescola. Quanto mais instrutores contrata, mais aulas de direção pode vender. Mas ele é dono de um número limitado de automóveis de treinamento, de modo que cada instrutor adicional acrescenta menos à quantidade de aulas que Jameel pode oferecer. A tabela a seguir mostra a função de produção de Jameel por dia. Cada aula de condução é vendida por $35 a hora. Quantidade de trabalho (instrutores)

Quantidade de aulas de direção (horas)

0

0

1

8

2

15

3

21

4

26

5

30

6

33

Determine a tabela de demanda de trabalho de Jameel (a tabela de demanda de instrutores de direção) para cada um dos salários diários de instrutor: $160, $180, $200, $220 e $260. 7. Dale e Dana trabalham em um posto de gasolina de autosserviço com loja de conveniência. Dale abre todos os dias, e Dana chega mais tarde para

ajudar na loja. Ambos recebem como pagamento o salário de mercado atual de $9,50 por hora. Mas Dale acha que deveria ganhar muito mais porque a receita gerada pelas bombas de gasolina que liga todas as manhãs é muito maior do que a receita gerada pela loja de conveniência onde Dana fica. Avalie esse argumento. 8. Um artigo do New York Times de 2007 observou que o salário dos trabalhadores agrícolas no México era $11 por hora, mas o salário de imigrantes mexicanos que são trabalhadores agrícolas na Califórnia é $9 por hora. a. Suponha que o produto seja vendido pelo mesmo preço nos dois países. Isso implica que o produto marginal do trabalho de trabalhadores agrícolas é maior no México que na Califórnia? Explique sua resposta e ilustre com um gráfico mostrando as curvas de demanda e oferta de mão de obra nos respectivos mercados. No gráfico, suponha que a quantidade ofertada de trabalho a qualquer nível dado de salário seja a mesma para trabalhadores agrícolas mexicanos e para trabalhadores agrícolas imigrantes mexicanos na Califórnia. b. Suponha agora que o trabalho agrícola no México seja mais árduo e mais perigoso do que o trabalho agrícola na Califórnia. Como resultado, a quantidade ofertada de trabalho a qualquer nível dado de salário não é a mesma para trabalhadores mexicanos na Califórnia. Como isso muda a resposta do item a? Que conceito explica melhor a diferença entre os salários dos agricultores mexicanos e dos imigrantes mexicanos que trabalham na agricultura na Califórnia? C. Ilustre sua resposta da parte b com um gráfico. Nesse gráfico, suponha que a quantidade de trabalho demandada para qualquer nível de salário dado seja a mesma para empregadores mexicanos e californianos. 9. Kendra é proprietária da Wholesome Farms, uma empresa de laticínios. Ela emprega trabalho, terra e capital. Em suas operações, pode fazer alguma substituição entre a quantidade de trabalho e a quantidade de capital que ela emprega. Ou seja, para produzir a mesma quantidade de produto, pode usar mais trabalho e menos terra; da mesma forma, para produzir a mesma quantidade de produto pode usar menos trabalho e mais terra. No entanto, se usa mais terra, precisa usar tanto mais trabalho quanto capital; se usa menos terra, pode usar tanto menos trabalho como capital. Seja S* o custo anual do trabalho no mercado, rT* o custo anual de uma unidade de terra no mercado, e seja rK* o custo anual de uma unidade de capital no mercado. a. Suponha que Kendra possa maximizar o lucro empregando menos trabalho e mais capital do que usa atualmente, mas use a mesma quantidade de terra. Quais são as três condições que devem ser válidas agora para as operações de Kendra (envolvendo o valor do produto marginal do trabalho, terra e capital) para que isso seja verdade? b. Kendra acredita que possa aumentar os lucros arrendando e usando mais terra. Quais são as três condições que agora devem ser válidas

(envolvendo no valor do produto marginal do trabalho, terra e capital), para que isso seja verdade? 10. Para cada uma das situações seguintes, nas quais trabalhadores similares recebem salários diferentes, apresente a explicação mais plausível para essas diferenças. a. Pilotos de teste de aviões a jato novos ganham salários mais altos que os pilotos de linhas regulares. b. Os graduados em universidades costumam ter remunerações mais elevadas em seu primeiro ano de trabalho do que os trabalhadores sem diploma universitário. c. Professores titulares têm salários mais altos que seus assistentes para dar a mesma aula. d. Trabalhadores sindicalizados geralmente recebem salários maiores do que trabalhadores não sindicalizados. 11. As pesquisas mostram consistentemente que, a despeito de políticas contra a discriminação, em média trabalhadores afro-americanos recebem salários mais baixos do que os trabalhadores brancos. Qual é a razão possível para isso? Essa razão é consistente com a teoria da produtividade marginal? 12. Greta é uma jardineira amadora entusiasta e gasta boa parte do seu tempo livre trabalhando no seu jardim. Também tem um emprego exigente e bem remunerado como consultora de publicidade independente. Os negócios de publicidade não estão em um período favorável, sendo que o que Greta pode cobrar por hora de consultoria diminuiu. Greta decide passar mais tempo fazendo jardinagem e menos tempo dando consultoria. Explique sua decisão em termos dos efeitos renda e substituição. 13. Wendy trabalha em um restaurante de fast-food. Quando seu salário era $5 por hora, trabalhava 30 horas por semana. Quando seu salário aumentou para $6 por hora, decidiu trabalhar 40 horas. Mas quando seu salário subiu para mais de $7, decidiu trabalhar apenas 35 horas. a. Desenhe a curva de oferta de trabalho individual de Wendy. b. O comportamento de Wendy é irracional, ou existe uma explicação racional? Justifique a resposta. 14. Você é assessor econômico do governador. O governador quer implementar políticas que estimulem as pessoas empregadas a trabalhar mais horas em seus empregos e que estimule as pessoas desempregadas a buscar e aceitar empregos. Avalie cada uma das políticas seguintes em termos desses objetivos. Explique seu raciocínio em termos dos efeitos renda e substituição e indique quando o impacto da política pode ser ambíguo. a. Há uma redução no imposto de renda estadual, o que resulta em aumento do salário dos trabalhadores líquido de impostos. b. Há um aumento no imposto de renda estadual, o que resulta na diminuição do salário dos trabalhadores líquido de impostos. c. Há um aumento no imposto estadual sobre a propriedade, o que reduz o salário dos trabalhadores líquido de impostos. 15. Um estudo realizado por economistas do Federal Reserve Bank of Boston descobriu que entre 1965 e 2003 o tempo médio de lazer do americano

aumentou entre quatro e oito horas por semana. O estudo afirma que esse aumento se deve essencialmente a um aumento de salário. a. Use os efeitos renda e substituição para descrever a oferta de trabalho do americano médio. Que efeito domina? b. O estudo também constatou um aumento de participação da força de trabalho feminina, ou seja, mais mulheres estão optando em ter empregos em vez de executar exclusivamente tarefas domésticas. Para a média das mulheres que entraram recentemente no mercado de trabalho, que efeito predomina? c. Trace as curvas de oferta de trabalho individual típicas que ilustram as respostas da parte a e da parte b.

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» Capítulo 19 Apêndice Análise da oferta de trabalho pelas curvas de indiferença   o corpo deste capítulo, explicamos por que a curva de oferta de trabalho pode ter inclinação para baixo em vez de inclinação para cima: o efeito substituição de um salário mais elevado, que proporciona um incentivo para trabalhar mais horas, pode ser superado pelo efeito renda de um salário mais elevado, que pode levar as pessoas a consumirem mais lazer. Neste Apêndice, mostramos como essa análise pode ser realizada usando as curvas de indiferença introduzidas no apêndice do Capítulo 10.

N

A LINHA DO ORÇAMENTO DA ALOCAÇÃO DE TEMPO Voltemos ao exemplo de Clive, que gosta de lazer, mas também gosta de ter dinheiro para gastar. Vamos supor que Clive tenha um total de 80 horas por semana que pode passar trabalhando ou desfrutando de momentos de lazer. (Supomos que o restante das horas da semana sejam ocupadas com atividades necessárias, principalmente dormir.) Supomos também que, inicialmente, seu salário seja $10 por hora. Suas possibilidades de consumo são definidas pela linha do orçamento da alocação de tempo da Figura 19A-1, uma linha de orçamento que mostra o trade-off de Clive entre consumo de lazer e renda. As horas de lazer por semana são medidas no eixo horizontal e a renda que recebe para trabalhar é medida no eixo vertical.

O intercepto horizontal, ponto X, está em 80 horas: se Clive não trabalhasse nada, teria 80 horas de lazer por semana, mas não ganharia dinheiro algum. O intercepto vertical, ponto Y, está em $800: se Clive trabalhasse o tempo todo, ganharia $800 por semana. Por que podemos usar uma linha do orçamento para descrever a escolha de alocação de Clive? As linhas de orçamento do Capítulo 10 e seu apêndice representam os trade-offs com que os consumidores se defrontam ao decidir como alocar sua renda entre bens diferentes. Aqui, em vez de perguntar como Clive aloca sua renda, questionamos como ele aloca seu tempo. Mas os princípios subjacentes à alocação da renda e do tempo são os mesmos: cada um envolve a alocação de um montante fixo de um recurso (80 horas de tempo, neste caso) com um trade-off constante (Clive tem que renunciar a $10 para cada hora adicional de lazer). Então, usar uma linha de orçamento é tão apropriado para a alocação do tempo quanto para a alocação da renda. Como no caso das linhas de orçamento comuns, o custo de oportunidade desempenha um papel fundamental. O custo de oportunidade de uma hora de lazer é o que Clive renuncia trabalhando uma hora a menos, $10 em renda. Esse custo de oportunidade é, naturalmente, o salário por hora de Clive e é igual à inclinação da linha de orçamento da alocação de tempo com sinal de menos. Isso pode ser verificado, pois a inclinação é o intercepto vertical, ponto Y, dividido pelo intercepto horizontal, ponto X, isto é, − $800/(80 horas) = − $10 por hora. FIGURA 19A-1 Linha do orçamento da alocação de tempo

A linha do orçamento da alocação de tempo de Clive mostra o trade-off entre trabalho, que paga um salário de $10 por hora, e lazer. No ponto X ele aloca todo o seu tempo, 80 horas, para lazer, mas não tem renda. No ponto Y aloca todo o seu tempo ao trabalho, ganhando $800, mas não consome lazer. Seu salário de $10 por hora, o custo de oportunidade de uma hora de lazer, é igual à inclinação da linha do orçamento da alocação de tempo com sinal de menos. Assumimos que no ponto A, em 40 horas de lazer e $400 de renda, está a alocação de tempo ótima de Clive. Ele obedece à regra de alocação ótima do tempo: a utilidade adicional que Clive obtém de mais uma hora de lazer deve ser igual à utilidade adicional que obtém dos bens que pode comprar com o salário de uma hora.

Para maximizar sua utilidade, Clive tem que escolher o ponto ótimo da linha de orçamento da alocação de tempo na Figura 19A-1. No Capítulo 10, vimos que um consumidor que aloca os gastos para maximizar a utilidade encontra o ponto na linha de orçamento que satisfaz o princípio de análise marginal de maximização da utilidade: a utilidade marginal por dólar gasto em dois bens deve ser a mesma. Embora a escolha de Clive envolva alocação de tempo em vez de alocação de dinheiro, os mesmos princípios se aplicam. Como Clive “gasta” tempo, em vez de dinheiro, a contrapartida do princípio da análise marginal de maximização da utilidade é a regra de alocação ótima do tempo: a utilidade marginal que Clive obtém do

dinheiro extra recebido por trabalhar uma hora adicional deve ser igual à utilidade marginal de uma hora adicional de lazer.

EFEITO DE UM SALÁRIO MAIS ALTO Dependendo do seu gosto, a escolha que maximiza a utilidade para Clive entre horas de lazer e renda pode estar em qualquer ponto da linha de orçamento da alocação de tempo na Figura 19A-1. Suponha que sua escolha ótima seja o ponto A, em que ele consome 40 horas de lazer e ganha $400. Agora estamos prontos para estabelecer a ligação entre essa análise da alocação de tempo e a oferta de trabalho. Quando Clive escolhe um ponto como A em sua linha de orçamento da alocação de tempo, também está escolhendo a quantidade de trabalho que oferta ao mercado de trabalho. Ao optar em consumir 40 das 80 horas disponíveis como lazer, também escolheu ofertar as outras 40 horas para o trabalho. Agora, suponha que o salário de Clive dobre, de $10 para $20 por hora. O efeito desse aumento de salário é mostrado na Figura 19A-2. Sua linha de orçamento da alocação de tempo gira para fora: o intercepto vertical, que representa o montante que pode ganhar dedicando 80 horas ao trabalho, desloca-se para cima, do ponto Y para o ponto Z. Como resultado da duplicação do salário, Clive pode ganhar $1.600 em vez de $800, se dedicar todas as 80 horas ao trabalho. FIGURA 19A-2 Aumento de salário

Os dois painéis mostram a escolha ótima inicial de Clive, o ponto A em LO1, a linha do orçamento da alocação de tempo correspondente a um salário de $10. Depois que seu salário aumenta para $20, a linha do orçamento gira para fora para a nova linha do orçamento, LO2: se ele gasta todo o seu tempo trabalhando, a quantidade de dinheiro que recebe aumenta de $800 para $1.600, refletindo o movimento de Y para Z. Isso gera dois efeitos opostos: o efeito substituição o leva a consumir menos lazer e trabalhar mais horas; o efeito renda, que o leva a consumir mais lazer e trabalhar menos horas. O painel (a) mostra a mudança na alocação de tempo quando o efeito substituição é mais forte: a nova opção ótima de Clive é o ponto B, o que representa

uma diminuição de horas de lazer para 30 horas e um aumento das horas de trabalho para 50 horas. Nesse caso, a curva de oferta de trabalho individual tem inclinação para cima. O painel (b) mostra a mudança na alocação de tempo quando o efeito renda é mais forte: o ponto C é a nova escolha ótima, o que representa um aumento das horas de lazer para 50 e uma diminuição das horas de trabalho para 30. Agora, a curva de oferta de trabalho individual se inclina para baixo.

Mas como a alocação de tempo de Clive realmente vai mudar? Como vimos neste capítulo, isso depende do efeito renda e do efeito substituição que aprendemos no Capítulo 10 e seu apêndice. O efeito substituição de um aumento no salário funciona da seguinte forma. Quando o salário aumenta, o custo de oportunidade de uma hora de lazer aumenta; isso induz Clive a consumir menos lazer e trabalhar mais horas – ou seja, substituir lazer por trabalho à medida que o salário aumenta. Se o efeito substituição fosse a história toda, a curva de oferta de trabalho individual pareceria como qualquer curva de oferta normal e sempre teria inclinação para cima – um salário mais elevado leva a uma maior quantidade de trabalho ofertada. O que aprendemos em nossa análise da demanda foi que, para a maioria dos bens de consumo, o efeito renda não é muito importante porque a maioria dos bens representa apenas uma pequena parcela dos gastos do consumidor. Além disso, em alguns dos casos de bens, em que o efeito renda é significativo, por exemplo – grandes compras, como habitação – geralmente, reforçam o efeito substituição: a maioria dos bens são normais, por isso, quando um aumento de preços torna o consumidor mais pobre, ele compra menos desse bem. No entanto, na escolha entre trabalho e lazer, o efeito renda assume uma nova significância por duas razões. Primeiro, a maioria das pessoas obtém grande parte de sua renda do salário. Isso significa que o efeito renda de uma variação no salário não é pequeno: um aumento do salário gera um aumento significativo na renda. Segundo, lazer é um bem normal: quando a renda aumenta, tudo o mais mantido constante, as pessoas tendem a consumir mais lazer e trabalhar menos horas. Assim, o efeito de um salário mais alto tende a reduzir a quantidade de trabalho ofertada, funcionando na direção oposta do efeito substituição, que tende a aumentar a quantidade de trabalho ofertada. Assim, o efeito líquido

de um salário mais alto sobre a quantidade de trabalho que Clive oferta pode funcionar em outra direção – dependendo de suas preferências, pode optar em ofertar mais ou menos trabalho. Os dois painéis da Figura 19A-2 ilustram esses dois resultados. Em cada painel, o ponto A representa a escolha de consumo inicial de Clive. O painel (a) mostra o caso em que Clive trabalha mais horas em resposta a um aumento de salário. O aumento de salário o induz a passar do ponto A ao ponto B, onde consome menos lazer do que em A e, portanto, trabalha mais horas. Aqui o efeito substituição prevalece sobre o efeito renda. O painel (b) mostra o caso em que Clive trabalha menos horas, em resposta a um aumento de salário. Aqui, ele passa do ponto A para o ponto C, onde consome mais lazer e trabalha menos horas. Aqui, o efeito renda prevalece sobre o efeito substituição. Quando o efeito renda de um salário mais alto é mais forte que o efeito substituição, a curva de oferta de trabalho individual, que mostra o quanto de trabalho um indivíduo ofertará a qualquer nível dado de salário, inclinase no sentido “errado”, para baixo: um salário mais elevado leva a uma menor quantidade de trabalho ofertada. Um exemplo é o segmento que liga os pontos B e C na Figura 19A-3. FIGURA 19A-3 Curva de oferta individual de dobra inversa

Quando os salários são mais baixos, o efeito substituição dominao efeito renda para essa pessoa. Isto é ilustrado pelo movimento ao longo da curva de oferta de trabalho individual do ponto A para o ponto B: um aumento no salário de S1 para S2 leva a quantidade de trabalho ofertada a aumentar de T1 para T2. Mas quando o salários são mais altos, o efeito renda domina o efeito substituição, mostrado por meio do movimento do ponto B para o ponto C: aqui, um aumento no salário de S2 para S3 leva a quantidade de trabalho ofertada a diminuir de T2 para T3.

Os economistas acreditam que o efeito substituição geralmente domina o efeito renda na decisão de oferta de trabalho quando o salário do indivíduo é baixo. Uma curva de oferta de trabalho individual normalmente tem inclinação para cima para salários mais baixos à medida que as pessoas trabalham mais em resposta a salários crescentes. Mas eles também acreditam que muitas pessoas têm preferência forte por lazer e vão optar em reduzir o número de horas trabalhadas à medida que o salário continua a aumentar. Para esses indivíduos, o efeito renda, eventualmente, chega a dominar o efeito substituição à medida que o salário aumenta, levando suas curvas de oferta de trabalho individual a mudar de inclinação e a “dobrar para trás” quando os salários são elevados. Uma curva de oferta de trabalho individual com essa característica, denominada curva de oferta de trabalho individual de dobra inversa, é mostrada na Figura 19A-3. Apesar de que uma curva de oferta de trabalho individual possa dobrar para trás, curvas de oferta de trabalho de mercado quase sempre têm inclinação para cima em toda a sua amplitude à medida que salários mais elevados atraem novos trabalhadores para o mercado de trabalho.

ANÁLISE DA CURVA DE INDIFERENÇA No apêndice do Capítulo 10, mostramos que a escolha do consumidor pode ser representada com o uso do conceito de curva de indiferença, que fornece um “mapa” das preferências do consumidor. Se você já leu a matéria no apêndice, entenderá que as curvas de indiferença também são úteis para abordar a questão da oferta de trabalho. Na verdade, é onde são particularmente úteis.

Usando curvas de indiferença, a Figura 19A-4 mostra como um aumento de salário pode levar a uma queda na quantidade de trabalho ofertada. O ponto A é a escolha ótima inicial de Clive, dado um salário de $10 por hora. É o mesmo ponto A da Figura 19A-2; dessa vez, no entanto, incluímos uma curva de indiferença para mostrar que esse é um ponto em que a linha do orçamento é tangente à curva de indiferença mais alta possível. Agora, considere o efeito de um aumento de salário para $20. Imagine, por um momento, que ao mesmo tempo em que Clive recebia um salário mais alto, era informado de que tinha que começar a amortizar o empréstimo de estudante e que essa combinação de boas e más notícias deixou sua utilidade inalterada. Então, ele se encontra no ponto S: na mesma curva de indiferença, como em A, mas tangente a uma linha de orçamento com inclinação mais acentuada, a linha tracejada LOS da Figura 19A-4, paralela à LO2. O movimento do ponto A para o ponto S é o efeito substituição de seu aumento de salário: faz com que consuma menos lazer e, portanto, oferte mais trabalho. Mas agora cancelemos a amortização do empréstimo de estudante, e Clive pode mover-se para uma curva de indiferença mais alta. Seu novo ótimo está no ponto C, que corresponde a C no painel (b) da Figura 19A-2. O movimento do ponto S para C é o efeito renda do aumento salarial. E vemos que esse efeito renda pode compensar o efeito substituição: em C, ele consome mais lazer e, portanto, oferta menos trabalho do que em A.

• PROBLEMAS 1. Leandro tem 16 horas por dia que pode alocar entre trabalho e lazer. Seu emprego paga um salário de $20. Leandro decide consumir 8 horas de lazer. Suas curvas de indiferença têm o formato de sempre: têm inclinação para baixo, não se cruzam, e têm a forma convexa característica. FIGURA

19A-4 Escolha da oferta de trabalho: abordagem com curvas de indiferença

O ponto A, na linha do orçamento LO1, é a escolha ótima inicial de Clive. Depois de um aumento de salário, aumenta sua renda e seu nível de utilidade: a nova linha do orçamento de alocação de tempo é LO2, e a nova escolha ótima é o ponto C. Essa mudança pode ser decomposta em efeito substituição, a queda no número de horas de lazer do ponto A para o ponto S, e no efeito renda, aumento do número de horas de lazer do ponto S para o ponto C. Como mostrado aqui, o efeito renda domina o efeito substituição: o resultado líquido de um aumento no salário é um aumento nas horas de lazer consumidas e uma redução nas horas de trabalho ofertadas.

a. Trace a linha de orçamento da alocação de tempo de Leandro para um dia típico. Em seguida, ilustre a curva de indiferença em que está sua escolha ótima. Agora o salário de Leandro cai para $10. b. Trace a nova linha do orçamento de Leandro. c. Suponha que Leandro agora trabalhe apenas 4 horas, como resultado do seu salário reduzido. Ilustre a curva de indiferença nessa nova escolha ótima. d. A decisão de Leandro de trabalhar menos, à medida que o salário cai, é o resultado de um efeito substituição e de um efeito renda. No gráfico, mostre o efeito renda e o efeito substituição desse salário reduzido. Qual efeito é mais forte? 2. Florence é uma consultora de moda muito bem paga que ganha $100 por hora. Ela tem 16 horas por dia que pode alocar para trabalho e lazer e decide trabalhar 12 horas. a. Trace a linha do orçamento de alocação do tempo de Florence para um dia típico e ilustre a curva de indiferença em sua escolha ótima.

Uma das clientes de Florence é destaque na primeira página da Vague, uma revista de moda influente. Como resultado, a taxa de consultoria de Florence agora sobe para $500 por hora. Florence decide trabalhar apenas 10 horas por dia. b. Trace a linha de orçamento de alocação do tempo de Florence e ilustre a curva de indiferença em sua escolha ótima. c. No gráfico, mostre o efeito renda e o efeito substituição desse aumento no salário. Qual efeito é mais forte? 3. Tamara tem 80 horas por semana que pode alocar para trabalho ou lazer. Seu trabalho paga um salário de $20 por hora, mas Tamara está sendo tributada sobre sua renda da seguinte maneira. Nos primeiros $400 que recebe, não paga impostos. Ou seja, para as primeiras 20 horas de trabalho, seu salário líquido – o que leva para casa depois dos impostos – é $20 por hora. Para toda a renda acima de $400, Tamara tem que pagar 75% de imposto. Ou seja, para todas as horas acima das primeiras 20 horas, seu salário líquido é apenas $5 por hora. Tamara decide trabalhar 30 horas. Suas curvas de indiferença têm o formato habitual. a. Trace a linha do orçamento da alocação de tempo de Tamara para uma semana típica. Ilustre também a curva de indiferença em sua escolha ótima. O governo muda o regime tributário. Agora, apenas os primeiros $100 são isentos. Ou seja, para as primeiras 5 horas de trabalho, o salário líquido de Tamara é $20 por hora. Mas o governo reduz em 50% a taxa de imposto para a renda restante. Ou seja, para todas as horas acima das primeiras 5 horas, o salário líquido de Tamara é $10. Após essas alterações, Tamara acha que está tão bem quanto antes. Ou seja, sua escolha ótima se situa na mesma curva de indiferença que a escolha ótima inicial. b. Trace a nova linha do orçamento da alocação de tempo de Tamara no mesmo gráfico. Ilustre também sua escolha ótima. Tenha em mente que ela se encontra tão bem quanto antes de ocorrerem as mudanças tributárias (na mesma curva de indiferença). c. Tamara vai trabalhar mais ou trabalhar menos do que antes da alteração do regime tributário? Por quê?

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CAPÍTULO 20 » Incerteza, risco e informação privilegiada

UMA DÉCADA DIFÍCIL

década entre 2001 e 2011  foi especialmente difícil para as seguradoras. Tudo começou em 11 de setembro de 2001, com os ataques terroristas que levaram a perdas de aproximadamente $23 bilhões. Terminou com o ano da punição em 2011 – um dos piores anos da indústria – com $70 bilhões em prejuízo acumulado antes que a temporada dos furacões sequer tivesse começado. Houve o furacão Irene, que atingiu duramente Nova York e New Jersey, juntamente com o terremoto e tsunami japonês, tornados graves no sudeste e grandes inundações ao longo do Rio Mississippi. E isso veio na esteira de outro ano difícil em 2010, quando a indústria foi confrontada com perdas causadas pelo derramamento de óleo da BP no Golfo do México. No entanto, de acordo com o Instituto de Informações de Seguros, sem dúvida, o pior ano registrado da indústria foi 2005. Naquele ano, três grandes furacões atingiram os Estados Unidos. Em agosto, o furacão Katrina, classificado pela categoria 5 na escala de intensidade dos furacões do Serviço Nacional de Meteorologia de 1 a 5, causou danos para o Mississippi e para a Louisiana. Foi o pior desastre natural a atingir os Estados Unidos: mais de 1.400 mortos e comunidades inteiras devastadas. As perdas monetárias também foram enormes: $50 bilhões em perdas para as seguradoras privadas e $23 bilhões em perdas para o Programa Nacional de Seguro à Inundação do governo. Então, em setembro, o Rita soprou sobre

A

o Texas e sobre o sudoeste da Louisiana, causando mais de $11 bilhões em perdas, seguido, em outubro, pelo Wilma, que infligiu mais $29 bilhões em perdas na Flórida. Além disso, esses números subestimam significativamente o verdadeiro nível de perda, porque muitas pessoas estavam sem seguro ou com seguro com cobertura muito baixa. Qualquer pessoa que vive em área ameaçada por furacões, terremotos ou inundações – ou mesmo ataques terroristas – sabe que a incerteza é uma característica do mundo real. Até esse ponto, supusemos que as pessoas tomam decisões com conhecimento exato de como o futuro vai se desdobrar. (Tendo como exceção as decisões sobre seguro-saúde que discutimos no Capítulo 19.) Na realidade, as pessoas, muitas vezes, tomam decisões econômicas, como a possibilidade de construir uma casa em uma área costeira, sem pleno conhecimento de eventos futuros. Como as vítimas das catástrofes da década aprenderam, tomar decisões quando o futuro é incerto traz consigo o risco de perda. Muitas vezes, é possível para as pessoas usar os mercados para reduzir seu risco. Por exemplo, as vítimas do furacão que tinham seguro foram capazes de receber alguma, se não toda, compensação pelas perdas. De fato, por meio de seguros e outros dispositivos, a economia moderna oferece muitas maneiras de os indivíduos reduzirem sua exposição ao risco. O que você vai aprender neste capítulo • Risco é uma característica importante da economia; a maioria das pessoas tem aversão ao risco. • Por que a utilidade marginal decrescente faz as pessoas terem aversão ao risco e determina o prêmio que estão dispostas a pagar para reduzi-lo. • Como o risco pode ser comercializado, de tal forma que as pessoas que têm aversão a ele pagam a outras para assumir parte do risco. • Como a exposição ao risco pode ser reduzida por meio da diversificação e do sistema de garantia global (pooling). • Os problemas especiais colocados pela informação privilegiada, quando algumas pessoas sabem de coisas que outras não sabem.

No entanto, a economia de mercado nem sempre consegue resolver os problemas criados pela incerteza. Mercados fazem muito bem em lidar com o risco, quando existem duas condições: quando o risco pode ser

razoavelmente bem diversi cado e quando a probabilidade de perda é igualmente bem conhecida por todos. Ao longo dos últimos anos, o aumento significativo de eventos climáticos extremos levou muitas seguradoras a reduzir drasticamente a cobertura de perdas relacionadas com o clima: já não acreditam que o lucro proveniente de áreas com clima bom vai compensar as perdas de áreas com furacões e tornados. Mas, na prática, muitas vezes, a segunda condição é a mais limitante. Os mercados têm problemas quando algumas pessoas sabem de coisas que outras não sabem – uma situação que envolve o que é chamado de informação privilegiada. Veremos que a informação privilegiada pode causar ineficiência, impedindo transações mutuamente benéficas de ocorrer – especialmente nos mercados de seguros. Neste capítulo, vamos examinar por que a maioria das pessoas não gosta do risco. Em seguida, vamos explorar como uma economia de mercado permite que as pessoas reduzam o risco a um preço. Por fim, voltaremos aos problemas especiais criados pelos mercados de informações privilegiadas.

A ECONOMIA DE AVERSÃO AO RISCO Em geral, as pessoas não gostam do risco e estão dispostas a pagar um preço para evitá-lo. Basta perguntar ao setor de seguros, que arrecada $1 trilhão de prêmios a cada ano. Mas o que é exatamente o risco? E por que a maioria das pessoas não gosta de se submeter ao risco? Para responder a essas questões, precisamos examinar brevemente o conceito de valor esperado e o significado da incerteza. Então, podemos voltar-nos para a questão de por que as pessoas não gostam do risco. Expectativas e incertezas

A família Lee não sabe o quanto terá de despesas médicas no próximo ano. Se tudo correr bem, não terá despesas médicas alguma. Vamos supor que haja uma chance de 50% de ocorrer isso. Mas se os membros da família necessitarem de hospitalização ou medicamentos caros, haverá $10.000 de despesas médicas. Vamos supor que também haja uma chance de 50% de que essas despesas médicas elevadas se materializem.

Nesse exemplo – destinado a ilustrar um ponto, em vez de ser realista – as despesas médicas da família Lee para o próximo ano são uma variável aleatória, uma variável que tem um valor futuro incerto. Ninguém pode prever quais de seus valores possíveis, ou resultados, a variável aleatória irá assumir. Mas isso não significa que não possamos dizer nada sobre as despesas médicas futuras da família Lee. Pelo contrário, um atuário (uma pessoa treinada para avaliar eventos futuros incertos) poderia calcular o valor esperado das despesas do próximo ano – a média ponderada de todos os valores possíveis, onde o peso de cada valor possível corresponde à probabilidade de ocorrência desse valor. Nesse exemplo, o valor esperado das despesas médicas da família Lee é (0,5 × $0) + (0,5 × $10.000) = $5.000. Para obter a fórmula geral do valor esperado de uma variável aleatória, imaginemos que há um número diferente de situações do mundo, eventos futuros possíveis. Cada situação do mundo está associada a um valor percebido diferente – o valor que realmente ocorre – da variável aleatória. Você não sabe qual situação do mundo vai realmente ocorrer, mas é possível atribuir probabilidades, uma para cada situação do mundo. Vamos supor que P1 seja a probabilidade da situação 1, P2 seja a probabilidade da situação 2, e assim por diante. E você conhece o valor percebido do valor aleatório em cada situação do mundo: S1 na situação 1, S2 na situação 2, e assim por diante. Vamos supor também que existem N situações possíveis. Então, o valor esperado de uma variável aleatória é: (20-1)

O valor esperado de uma variável aleatória VE = (P1 × S1) + (P2 × S2) + … + (PN × SN) No caso da família Lee, existem apenas duas situações do mundo possíveis, cada uma com a probabilidade de 0,5. Observe, entretanto, que a família Lee, na verdade, não espera pagar $5.000 em despesas médicas no próximo ano. Isso porque, nesse exemplo, não há nenhuma situação do mundo em que a família pague exatamente $5.000. Ou a família não paga nada, ou paga $10.000. De maneira que a família Lee enfrenta uma incerteza considerável sobre as despesas médicas futuras. Mas e se a família Lee puder contratar um seguro-saúde que cubra essas despesas médicas, quaisquer que sejam? Suponha, em particular, que a

família possa pagar $5.000 em sua totalidade e de imediato, em troca de cobertura completa de todas as despesas médicas que de fato possam ter no próximo ano. Nesse caso, as despesas médicas futuras da família Lee já não são mais incertas para eles: em troca de $5.000 – um montante igual ao valor esperado das despesas médicas – a companhia de seguro assume toda a responsabilidade pelo pagamento dessas despesas. Será que isso é um bom negócio do ponto de vista da família Lee? Sim, é – ou pelo menos a maioria das famílias pensaria assim. A maioria das pessoas prefere, tudo o mais mantido constante, reduzir o risco, ou seja, a incerteza sobre os resultados futuros. (Vamos nos concentrar aqui no risco nanceiro, em que a incerteza é sobre resultados financeiros, em oposição à incerteza sobre resultados que não possam ser atribuídos ao valor monetário.) De fato, a maioria das pessoas está disposta a pagar um preço substancial para reduzir o risco; é por isso que existe o setor de seguros. Mas antes de estudar o mercado de seguros, é preciso entender por que as pessoas sentem que o risco é uma coisa ruim, uma atitude que os economistas chamam de aversão ao risco. A fonte da aversão ao risco encontra-se em um conceito que encontramos pela primeira vez na análise da demanda do consumidor, no Capítulo 10 – utilidade marginal decrescente. A lógica da aversão ao risco

Para entender como a utilidade marginal decrescente dá origem à aversão ao risco, precisamos analisar não só os custos médicos da família Lee, mas também a forma como esses custos afetam a renda que sobra para a família depois das despesas médicas. Suponha que a família saiba que terá uma renda de $30.000 no próximo ano. Se a família não tiver despesas médicas, ficará com toda essa renda. Se suas despesas médicas forem $10.000, a renda após as despesas médicas será de apenas $20.000. Como o pressuposto é que a probabilidade dos dois resultados seja igual, o valor esperado da renda da família Lee depois das despesas médicas é (0,5 × $30.000) + (0,5 × $20.000) = $25.000. Às vezes, vamos nos referir a isso como renda esperada. Mas como veremos, se a função utilidade da família tiver a forma típica da maioria das famílias, a utilidade esperada – o valor esperado da utilidade total, dada a incerteza sobre os resultados futuros, é menor do que

seria se a família não enfrentasse qualquer risco e soubesse com certeza que a sua renda após as despesas médicas seria de $25.000. Para verificar por que, precisamos saber como a utilidade total depende da renda. O painel (a) da Figura 20-1 mostra a função utilidade hipotética para a família Lee, onde a utilidade total depende da renda – o montante de dinheiro que a família Lee tem disponível para o consumo de bens e serviços (depois de pagar todas as contas médicas). A tabela dentro da figura mostra como a utilidade total da família varia ao longo da faixa de renda de $20.000 a $30.000. Como de costume, a função utilidade se inclina para cima, porque mais renda leva a uma utilidade total maior. Observe também que a curva fica mais achatada à medida que se move para cima e para a direita, refletindo a utilidade marginal decrescente. No Capítulo 10, aplicamos o princípio da utilidade marginal decrescente para bens e serviços individuais: cada unidade sucessiva de um bem ou serviço que um consumidor compra acrescenta menos à sua utilidade total. O mesmo princípio aplica-se à renda utilizada para consumo: cada unidade monetária sucessiva de renda acrescenta menos à utilidade total do que a unidade anterior. O painel (b) mostra como a utilidade marginal varia com a renda, o que confirma que a utilidade marginal da renda cai à medida que a renda aumenta. Como veremos adiante, a utilidade marginal decrescente é a chave para entender o desejo das pessoas de reduzir o risco. Para analisar como a utilidade de uma pessoa é afetada pelo risco, os economistas partem do pressuposto de que os indivíduos que enfrentam a incerteza maximizam a utilidade esperada. Podemos usar os dados da Figura 20-1 para calcular a utilidade esperada da família Lee. Primeiro vamos fazer o cálculo assumindo que a família Lee não tem seguro, e então recalcularemos assumindo que contrataram seguro. Sem seguro, se a família Lee tiver sorte e não incorrer em quaisquer despesas médicas terá renda de $30.000, gerando utilidade total de 1.080 utils. Mas se não tiver seguro e sorte, incorrendo em despesas médicas de $10.000, terá apenas $20.000 de renda para gastar em consumo e utilidade total de apenas 920 utils. Assim, sem seguro, a utilidade esperada da família é (0,5 × 1.080) + (0,5 × 920) = 1.000 utils. Agora, vamos supor que uma companhia de seguros oferece para pagar quaisquer despesas médicas que a família incorra durante o próximo ano,

em troca de um prêmio – um pagamento à empresa de seguro – de $5.000. Observe que o montante do prêmio, neste caso, é igual ao valor esperado das despesas médicas da família Lee – o valor esperado do direito futuro de indenização de acordo com a apólice de seguro. Uma apólice de seguro com essa característica, para a qual o prêmio é igual ao valor esperado da indenização, tem um nome especial, apólice de seguro justo. Se a família contrata essa apólice de seguro justo, o valor esperado da renda disponível para consumo é o mesmo que seria sem seguro: $25.000 – ou seja, $30.000 menos $5.000 de prêmio. Mas o risco da família foi eliminado: a família tem uma renda disponível para consumo de $25.000 garantida, o que significa que recebe uma utilidade total associada à renda de $25.000. A tabela da Figura 20-1 mostra que esse nível de utilidade é 1.025 utils. Ou, dito de maneira um pouco diferente, a utilidade esperada com seguro é de 1 × 1.025 = 1.025 utils, pois com o seguro receberão a utilidade total de 1.025 utils com probabilidade de 1. Isso é mais alto do que a utilidade esperada sem seguro – apenas 1.000 utils. Assim, ao eliminar o risco por meio da contratação de uma apólice de seguro justo, a família aumenta a utilidade esperada, embora a renda esperada não tenha alterado. Os cálculos desse exemplo estão resumidos na Tabela 20-1. Esse exemplo mostra que a família Lee, como a maioria das pessoas na vida real, tem aversão ao risco: escolherão reduzir o risco que enfrentam quando o custo dessa redução deixa o valor esperado da renda ou riqueza inalterado. Assim, a família Lee, como a maioria das pessoas, estará disposta a comprar um seguro justo. FIGURA 20-1

Função utilidade e curva de utilidade marginal de uma família com aversão ao risco

Renda

Utilidade total (utils)

$20.000

920

21.000

945

22.000

968

23.000

989

24.000

1.008

25.000

1.025

26.000

1.040

27.000

1.053

28.000

1.064

29.000

1.073

30.000

1.080

O painel (a) mostra como a utilidade total da família Lee depende da renda disponível para consumo (ou seja, a renda após as despesas médicas). A curva tem inclinação para cima: mais renda leva a uma utilidade total maior. Mas fica mais achatada à medida que se move para cima e para a direita, refletindo a utilidade marginal decrescente. O painel (b) reflete a relação negativa entre a renda e a utilidade marginal quando há aversão ao risco: a utilidade marginal de cada $1.000 adicional de renda é mais baixa quanto mais alta a renda. Assim, a utilidade marginal da renda é mais alta quando a família tem despesas médicas elevadas (ponto D) do que quando tem despesas médicas baixas (ponto S)

Pode-se imaginar que esse resultado depende de números específicos que foram escolhidos. Mas, na verdade, a proposição de que a compra de uma apólice de seguro justo aumenta a utilidade esperada depende apenas de uma suposição: a utilidade marginal decrescente. A razão é que, com utilidade marginal decrescente, cada dólar ganho quando a renda é baixa acrescenta mais à utilidade que cada dólar ganho quando a renda é alta. Ou seja, ter $1 adicional importa mais quando se está enfrentando uma situação difícil do que quando se está bem de finanças. E como veremos em breve, uma apólice de seguro justo é desejável porque transfere $1 de um estado de

renda alta (quando vale menos) para um estado de renda baixa (quando vale mais). TABELA 20-1 O efeito de um seguro justo sobre a renda disponível para consumo e a utilidade esperada da família Lee Renda em diferentes situações do mundo $0 de despesas médicas (probabilidade 0,5)

$10.000 de despesas médicas (probabilidade 0,5)

Sem seguro

$30.000

$20.000

(0,5 × $30.000) + (0,5 × $20.000) = $25.000

(0,5 × 1.080 utils) + (0,5 × 920 utils) = 1.000 utils

Com seguro

#25.000

$25.000

(0,5 × $25.000) + (0,5 × $25.000) = $25.000

(0,5 × 1.025 utils) + (0,5 × 1.025 utils) = 1.025 utils

Renda disponível para consumo

Utilidade esperada

Mas, primeiro, vejamos como a utilidade marginal decrescente leva à aversão ao risco, examinando a utilidade esperada mais de perto. No caso da família Lee, há apenas duas situações no mundo; vamos chamá-las de S e D, para saúde e doença. Na situação S, a família não tem despesas médicas; na situação D, tem $10.000 de despesas médicas. Vamos usar os símbolos US e UD para representar utilidade total da família Lee em cada situação. Então a utilidade esperada da família é: (20- Utilidade esperada = (Probabilidade da situação S × utilidade total na 2)   situação S) + (Probabilidade da situação D × utilidade total na situação D) = (0,5 × US) + (0,5 × UD) A apólice de seguro justo reduz a renda disponível da família para consumo na situação S em $5.000, mas aumenta na situação D na mesma

proporção. Como acabamos de ver, pode-se usar a função utilidade para calcular diretamente os efeitos dessas variações na utilidade esperada. Mas como também vimos em muitos outros contextos, obtivemos mais conhecimento sobre escolha individual, concentrando-nos na utilidade marginal. Para usar a utilidade marginal para analisar os efeitos do seguro justo, imaginemos que o seguro seja introduzido aos poucos, digamos $5.000, mas em pequenos passos. Cada um desses passos reduz a renda na situação S em $1 e, simultaneamente, aumenta a renda na situação D em $1. Em cada um desses passos, a utilidade total na situação S cai no montante da utilidade marginal da renda nessa situação, mas a utilidade total na situação D aumenta no montante da utilidade marginal da renda nessa situação. Agora analisemos novamente o painel (b) da Figura 20-1, que mostra como a utilidade marginal varia de acordo com a renda. O ponto D mostra a utilidade marginal quando a renda da família Lee é $20.000; o ponto S mostra a utilidade marginal quando a renda é $30.000. É certo que a utilidade marginal é maior quando a renda é baixa depois das despesas médicas. Em virtude da utilidade marginal decrescente, $1 adicional de renda acrescenta mais à utilidade total quando a família tem renda baixa (ponto D) do que quando tem renda alta (ponto S). Isso informa que o ganho na utilidade esperada de um aumento de renda na situação D é maior do que a perda na utilidade esperada ao reduzir a renda na situação S pelo mesmo montante. Então, em cada passo do processo de redução de risco, por meio da transferência de $1 de renda da situação S para a situação D, a utilidade esperada aumenta. Isso é o mesmo que dizer que a família tem aversão ao risco; isto é, a aversão ao risco é resultado da utilidade marginal decrescente. Quase todo mundo tem aversão ao risco porque quase todo mundo tem utilidade marginal decrescente. Mas o grau de aversão ao risco varia entre os indivíduos; algumas pessoas têm maior aversão ao risco do que outras. Para ilustrar esse ponto, a Figura 20-2 compara dois indivíduos, Danny e Mel. Suponha que cada um deles tenha a mesma renda, mas está diante da possibilidade de ganhar $1.000 a mais ou $1.000 a menos. O painel (a) da Figura 20-2 mostra como a utilidade total de cada indivíduo seria afetada pela mudança na renda. Danny ganharia poucos

utils por um aumento na renda, o que o move de N para HD, mas perde grande número de utils por uma queda na renda, que o move de N para LD. Isto é, ele tem elevada aversão ao risco. Isso se reflete no painel (b) pela curva de utilidade marginal com declive acentuado. Mel, no entanto, como mostrado no painel (a), ganharia quase tantos utils de um aumento de renda, que o moveria de N para HM, que perderia com um decréscimo de renda, que o moveria de N para LM. No geral, ele mal tem aversão ao risco. Isso se reflete na curva de utilidade marginal no painel (b), que é quase horizontal. Então, tudo o mais mantido constante, Danny ganhará muito mais utilidade do seguro em relação a Mel. Alguém que seja completamente insensível ao risco é denominado neutro ao risco.

PARA MENTES CURIOSAS O PARADOXO DO JOGO Se a maioria das pessoas tem aversão ao risco, e os indivíduos com aversão ao risco evitam jogar um jogo justo, por que há tanto movimento em Las Vegas, Atlantic City e em outros lugares onde o jogo é legal? Afinal, um cassino nem sequer oferece aos jogadores um jogo justo: todos os jogos em qualquer instalação de jogos são projetados de modo que, em média, o cassino ganhe dinheiro. Então, por que alguém jogaria o jogo deles? Você poderia argumentar que a indústria do jogo atende uma minoria de pessoas que sofrem do oposto da aversão ao risco: amam o risco. Mas uma simples olhada nos clientes dos hotéis de Las Vegas refuta rapidamente essa hipótese: a maioria deles não são pessoas valentes que fazem voo livre ou paraquedismo. Ao contrário, são pessoas normais que têm saúde e seguro de vida e que usam cinto de segurança no carro. Em outras palavras, têm a mesma aversão ao risco que nós. Então, por que as pessoas jogam? Presumivelmente, porque gostam da experiência. Além disso, o jogo pode ser uma dessas áreas em que o pressuposto do comportamento racional não tem sentido. Os psicólogos concluíram que o jogo pode ser um vício com efeito não tão diferente do efeito das drogas ilícitas. Usar drogas ilícitas é irracional; a mesma coisa com o jogo excessivo. Infelizmente, do mesmo jeito, essas duas coisas acontecem. FIGURA 20-2

Diferenças na aversão ao risco

Danny e Mel têm funções de utilidade diferentes. Danny tem grande aversão ao risco: um ganho de $1.000 em renda, que o move de N para HD, acrescenta apenas alguns utils para a utilidade total, mas uma queda de $1.000 na renda, que o move de N para

LD, reduz a utilidade total em grande número de utils. Em contrapartida, Mel obtém

quase tantos utils de um aumento de $1.000 na renda (o movimento de N para HM), quanto perde por uma queda de $1.000 na renda (o movimento de N para LM). Essa diferença – refletida nas diferentes inclinações da curva de utilidade marginal das duas pessoas – significa que Danny estaria disposto a pagar muito mais que Mel por um seguro.

Os indivíduos diferem quanto à aversão ao risco por duas razões principais: diferenças de preferência e diferenças de renda ou riqueza inicial Diferenças de preferência. Tudo o mais mantido constante, as pessoas diferem no que se refere ao montante em que sua utilidade marginal é afetada pelo seu nível de renda. Alguém cuja utilidade marginal seja relativamente insensível à variação na renda será muito menos sensível ao risco. Em contrapartida, alguém cuja utilidade marginal depende muito da variação na renda terá muito mais aversão ao risco. Diferenças na renda ou riqueza inicial. A possível perda de $1.000 faz uma grande diferença para uma família que vive abaixo do limiar da pobreza, mas faz pouca diferença para alguém que ganha $1 milhão por ano. Em geral, pessoas com renda ou riqueza elevada têm menos aversão ao risco. Diferenças de aversão ao risco têm consequência importante: afeta o quanto um indivíduo está disposto a pagar para evitar o risco.

ARMADILHAS ANTES DO FATO VERSUS APÓS O FATO Por que uma apólice de seguro é diferente de um pão doce? Não, não é uma charada. Embora a oferta e a demanda de seguro se comportem como a oferta e a demanda de qualquer bem ou serviço, a recompensa é muito diferente. Quando você compra pão doce, sabe o que recebe; quando contrata um seguro, por definição não sabe o que você vai obter. Se contratou um seguro de automóvel e não teve nenhum acidente, não recebeu nada pela apólice, a não ser paz de espírito, e raciocina que talvez não precisasse ter contratado o seguro. Mas se você teve um acidente, provavelmente cou feliz em ter contratado o seguro que cobre o custo.

Isso significa que temos que ter cuidado ao avaliar a racionalidade da compra de um seguro (ou, na verdade, de qualquer decisão em face da incerteza). Após o fato – depois que a incerteza foi resolvida – tais decisões quase sempre estão sujeitas a uma segunda opinião crítica. Mas isso não significa que a decisão estava errada antes do fato, dada a informação disponível no momento. Um investidor de grande sucesso em Wall Street nos disse que nunca olha para trás – que, enquanto acredita que tomou a decisão certa, dado o que tinha de conhecimento no momento, nunca se arrepende se depois as coisas saem mal. Essa é a atitude certa, e é quase certo que contribui para o seu sucesso.

Pagando para evitar o risco

A família Lee, com sua aversão ao risco, certamente fica em situação melhor ao contratar um seguro justo, comprando uma apólice de seguro que deixe sua renda esperada inalterada, mas elimine o risco. Infelizmente, as apólices de seguro reais raramente são justas: como as companhias de seguro têm que cobrir outros custos, como os salários dos vendedores e dos atuários, cobram mais do que esperam pagar em indenizações. Será que a família Lee ainda quer contratar uma apólice de seguro “injusta” – em que o prêmio é maior do que o valor da indenização esperada? Depende do tamanho do prêmio. Analisemos novamente a Tabela 20-1. Sabemos que sem seguro a utilidade esperada é 1.000 utils e que um seguro que custa $5.000 aumenta a utilidade esperada para 1.025 utils. Se o prêmio fosse $6.000, a família Lee ficaria com uma renda de $24.000, que, como se pode ver na Figura 20-1, daria uma utilidade total de 1.008 utils – que ainda é maior do que a utilidade esperada se não tivesse seguro algum. Assim, a família Lee estaria disposta a contratar um seguro com um prêmio de $6.000. Mas não estaria disposta a pagar $7.000, o que reduziria a renda para $23.000 e a utilidade total para 989 utils. Esse exemplo mostra que os indivíduos que têm aversão ao risco estão dispostos a fazer acordos que reduzem a renda esperada, mas também reduzem o risco: estão dispostos a pagar um prêmio que excede o valor da indenização esperada. Quanto maior a aversão ao risco, maior o prêmio que estão dispostos a pagar. Essa disposição de pagar é o que torna o setor de seguros possível. Em contrapartida, uma pessoa neutra ao risco nunca estará disposta a pagar para reduzir o risco.

economia em ação Garantias

Muitos bens de consumo caros – dispositivos eletrônicos, carros – vêm com algum tipo de garantia. Normalmente, o fabricante garante o conserto ou substitui o item, se algo der errado durante um período especificado após a compra – geralmente de seis meses ou um ano. Por que os fabricantes oferecem garantia? Parte da resposta é que a garantia sinaliza aos consumidores que os bens são de alta qualidade. Mas, principalmente, a garantia é uma forma de seguro do consumidor. Para muitas pessoas, o custo do conserto ou substituição de um item caro como uma geladeira, ou, pior ainda, um carro, seria um peso muito grande. Se fossem obrigados a pagar o conserto total, seu consumo de outros bens ficaria restrito; como resultado, a utilidade marginal da renda ficaria mais alta do que se não tivessem que pagar pelos consertos. Então, uma garantia que cobre o custo do conserto ou uma substituição aumenta a utilidade esperada do consumidor, mesmo que o custo da garantia seja maior que o direito futuro esperado que o fabricante venha a pagar.

BREVE REVISÃO O valor esperado de uma variável aleatória é a média ponderada de todos os valores possíveis, em que o peso corresponde à probabilidade de determinado valor ocorrer. A incerteza sobre situações do mundo implica risco ou risco financeiro quando existem resultados monetários duvidosos. Ao estar diante da incerteza, os consumidores escolhem a opção que gera utilidade esperada mais alta. A maioria das pessoas tem aversão ao risco: estariam dispostas a contratar uma apólice de seguro justa em que o prêmio é igual ao valor esperado do sinistro. A aversão ao risco decorre da utilidade marginal decrescente. Diferenças nas preferências e na renda ou riqueza levam a diferenças na aversão ao risco. Dependendo do tamanho do prêmio, uma pessoa que tem aversão ao risco pode estar disposta a comprar uma apólice de seguro “injusta” com um valor

de prêmio maior do que a indenização esperada. Quanto maior a aversão ao risco, maior o prêmio que se está disposto a pagar. Uma pessoa neutra ao risco não está disposta a pagar nenhum prêmio para evitar o risco. TESTE SEU ENTENDIMENTO 20-1 1. Compare duas famílias que possuem casas próximas à costa da Flórida. Que família é provável que tenha maior aversão ao risco: (i) a família com renda de $2 milhões por ano, ou (ii) a família com renda de $60.000 por ano? Será que alguma das duas famílias está disposta a contratar uma apólice de seguro “injusta” que cubra os prejuízos das suas casas na Flórida? 2. A renda de Karma no próximo ano é incerta: há uma probabilidade de 60% que receba $22.000 e uma probabilidade de 40% que receba $35.000. A tabela a seguir mostra níveis de renda e de utilidade de Karma. a. Qual é a renda esperada de Karma? E a utilidade esperada? Renda

Utilidade total (utils)

$22.000

850

25.000

1.014

26.000

1056

35.000

1260

b. Que nível de renda certa a deixa tão bem quanto sua renda incerta? O que isso implica sobre as atitudes de Karma em relação ao risco? Explique. c. Será que Karma está disposta a pagar algum montante em dinheiro maior do que zero para uma apólice de seguro que garanta sua renda de $26.000? Explique. As respostas estão no fim do livro.

COMPRANDO, VENDENDO E REDUZINDO O RISCO O Lloyd’s de Londres é a mais antiga companhia de seguros comercial existente, uma instituição com passado ilustre. Originalmente constituída no século XVIII, como um empreendimento comercial para ajudar os comerciantes a lidar com os riscos do comércio, no apogeu do Império Britânico transformou-se em parte essencial do comércio imperial.

A ideia básica do Lloyd’s era simples. No século XVIII, o transporte de bens em embarcações era arriscado: a chance de um navio afundar em uma tempestade ou ser capturado por piratas era bastante elevada. O mercador que fosse proprietário do navio e de sua carga podia facilmente ficar arruinado com um evento desse tipo. O Lloyd’s reuniu proprietários de navios que buscavam seguro com investidores ricos que prometiam compensar o comerciante pela perda do navio. Em troca, o comerciante pagaria ao investidor uma taxa antecipada; se o navio não afundasse, o investidor ainda ficaria com a taxa. Com efeito, o comerciante pagava um preço para se livrar do risco. Ao reunir pessoas que queriam contratar seguro com pessoas que queriam providenciá-lo, o Lloyd’s desempenhava as funções de mercado. O fato de que mercadores britânicos poderiam usar o Lloyd’s para reduzir o risco fez com que outras pessoas na Grã-Bretanha se dispusessem a empreender a atividade mercantil. As companhias de seguro mudaram bastante desde os primórdios do Lloyd’s. Hoje não consistem em indivíduos ricos que decidem acordos de seguro enquanto tomam vinho do Porto e comem carneiro cozido. Mas perguntar por que o Lloyd’s funcionou em benefício mútuo de comerciantes e investidores é uma boa maneira de entender como a economia de mercado como um todo “comercia” e, assim, transforma o risco. O setor de seguros assenta em dois princípios. O primeiro é que comerciar risco, assim como comerciar qualquer bem ou serviço, pode produzir ganhos mútuos. Nesse caso, os ganhos advêm do fato de que as pessoas menos dispostas a suportar o risco transferem esse risco para pessoas que estão mais dispostas a suportá-lo. O segundo é que algum risco pode ser eliminado por meio da diversi cação. Vamos analisar um princípio por vez. Comerciando risco

Pode parecer um pouco estranho falar de “comerciar” risco. Afinal, o risco é uma coisa ruim, e o pressuposto não é que o comércio é de bens e serviços? Mas, muitas vezes, as pessoas vendem coisas de que não gostam a outras pessoas que gostam menos ainda. Suponha que você acabou de comprar

uma casa por $100.000, o preço médio de uma casa no seu bairro. Mas descobriu, para seu horror, que o edifício vizinho está sendo transformado em uma discoteca e bar. Você quer vender a casa imediatamente e está disposto a aceitar $95.000 por ela. Mas quem estará disposto a comprar essa casa agora? Resposta: uma pessoa que realmente não se importe com barulho durante a madrugada. Essa pessoa poderá pagar até $100.000. Portanto, aqui há uma oportunidade para uma solução mutuamente benéfica – você está disposto a vender por $95.000 e a outra pessoa está disposta a pagar até $100.000, de modo que qualquer preço entre essa faixa beneficiará a ambos. O ponto fundamental é que as duas partes têm sensibilidade diferente ao ruído, o que permite que aqueles que não gostam de barulho de fato paguem a outras pessoas para tornar a vida mais calma. Comerciar risco funciona exatamente da mesma maneira: pessoas que querem reduzir o risco com que se defrontam podem pagar a outras pessoas que são menos sensíveis ao risco para que assumam parte do risco. Como vimos na seção anterior, preferências indivi duais são responsáveis por algumas das variações nas atitudes das pessoas em relação ao risco, mas as diferenças de renda e riqueza, provavelmente, são a principal razão por trás de sensibilidades diferentes ao risco. O Lloyd’s ganhou dinheiro reunindo investidores ricos que tinham maior tolerância ao risco com os proprietários de navios que eram menos ricos e, portanto, tinham maior aversão ao risco. Ainda na história do Lloyd’s de Londres, suponha que um comerciante cujo navio afundasse perderia £1.000 e que havia uma chance de 10% de um desastre como esse. A perda esperada, nesse caso, seria 0,10 × £1.000 = £100. Mas o comerciante, cuja subsistência estava em jogo, poderia estar disposto a pagar £150 para ser compensado com um montante de £1.000 se o navio afundasse. Enquanto isso, um investidor rico, para quem a perda de £1.000 não seria grande coisa, estava disposto a assumir esse risco por um retorno apenas um pouco maior do que a perda esperada, digamos, £110. É certo que aqui há espaço para um acordo mutuamente benéfico: o comerciante paga algo menor que £150 e maior que £110 – digamos, £130 – como retorno da compensação caso o navio afunde. Com efeito, ele pagou a um

indivíduo com menos aversão ao risco para arcar com o ônus do seu risco. Todos ficaram em situação melhor com essa transação. Os fundos que o segurador aplica com risco quando provê um seguro são chamados de capital em risco. No nosso exemplo, o rico investidor do Lloyd’s, aplica seu capital em risco de £1.000 em troca de um prêmio de £130. Em geral, o montante de capital que os seguradores potenciais estão dispostos a colocar em risco depende, tudo o mais mantido constante, do prêmio oferecido. Se cada navio vale £1.000 e tem 10% de chance de afundar, ninguém ofereceria um seguro por menos de £100 de prêmio, igual à indenização esperada. Na verdade, apenas um investidor que não tenha aversão ao risco – ou seja, que é neutro ao risco – estaria disposto a oferecer uma apólice a esse preço, porque aceitar um prêmio de £100 significa deixar a renda esperada do segurador inalterada enquanto o risco aumenta. Suponha que haja um investidor que seja neutro ao risco; mas o próximo investidor mais disposto tem um pouco de aversão ao risco e insiste em um prêmio de £105. O próximo investidor, que tem um pouco mais de aversão ao risco, exige um prêmio de £110, e assim por diante. Ao variar o prêmio e questionar quantos seguradores estariam dispostos a oferecer seguro a esse prêmio, pode-se traçar a curva de oferta de seguro, como mostrado na Figura 20-3. À medida que o prêmio aumenta, ao subirmos ao longo da curva da oferta, investidores com mais aversão ao risco são induzidos a oferecer cobertura. Enquanto isso, contratantes potenciais de seguro irão considerar a disposição de pagar determinado prêmio, definindo a curva de demanda de seguro. Na Figura 20-4, o maior prêmio que qualquer proprietário de navio está disposto a pagar é $200. Quem está disposto a pagar isso? Certamente, o proprietário de navio com maior aversão ao risco. Um proprietário de navio com aversão ao risco um pouco menor pode estar disposto a pagar £190, outro com um pouco menos de aversão ao risco estará disposto a pagar £180, e assim por diante. Agora imagine um mercado em que há milhares de proprietários de navios e seguradoras potenciais, de modo que as curvas de oferta e demanda de seguro são linhas suaves. Nesse mercado, como nos mercados de bens e serviços comuns, há um preço e uma quantidade de equilíbrio. A Figura 20-5 ilustra um equilíbrio

de mercado a um prêmio de £130, com uma quantidade total de 5 mil apólices compradas e vendidas, representando um capital total em risco de £5 milhões. Observe que, nesse mercado, o risco é transferido das pessoas que mais querem se livrar dele (os proprietários de navios que têm mais aversão ao risco) para pessoas menos incomodadas com o risco (os investidores com menos aversão ao risco). Portanto, assim como os mercados de bens e serviços normalmente produzem uma alocação eficiente de recursos, os mercados de risco normalmente também levam a uma alocação e ciente de risco – uma alocação de risco em que aqueles que estão mais dispostos a assumir riscos são os que de fato assumem. Mas como no caso dos mercados de bens e serviços, há uma qualificação importante para esse resultado: existem casos bem-definidos em que o mercado de risco falha em alcançar a eficiência. Isso surge a partir da presença de informação privilegiada, um tema importante que iremos abordar na próxima seção. O comércio de risco entre indivíduos que diferem no grau de aversão ao risco desempenha um papel extremamente importante na economia, mas não é a única maneira que os mercados podem ajudar as pessoas a lidar com o risco. Em algumas circunstâncias, os mercados podem realizar uma espécie de truque de mágica: conseguem fazer desaparecer uma parte (embora raramente a totalidade) do risco com que os indivíduos se defrontam. FIGURA 20-3

A oferta de seguro

Essa é a oferta de apólices de seguro que provê £1.000 de cobertura para um navio mercante que tem uma chance de perda de 10%. Cada investidor tem £1.000 de capital em risco. O prêmio mais baixo possível, ao qual a apólice é oferecida, é £100, igual à indenização esperada, e apenas um investidor neutro ao risco está disposto a ofertar essa apólice. À medida que o prêmio aumenta, os investidores que têm mais aversão ao risco são induzidos a ofertar apólices ao mercado, aumentando a quantidade de apólices ofertadas.

FIGURA 20-4

A demanda de seguro

Essa é a demanda de apólices de seguro para £1.000 de cobertura de um navio mercante, com 10% de chance de perda. Nesse exemplo, o prêmio mais alto pelo qual algum proprietário de navio demanda uma apólice de seguro é £200, que só os proprietários com maior aversão ao risco vão desejar. À medida que esse prêmio diminui, os proprietários de navio com menor aversão ao risco são induzidos a demandar apólices, aumentando a quantidade de apólices demandadas.

Fazendo o risco desaparecer: o poder da diversificação

Nos primeiros dias do Lloyd’s, navios mercantes britânicos atravessavam o mundo, negociando especiarias e seda da Ásia, tabaco e rum do Novo Mundo e têxteis e lã da Grã-Bretanha, entre muitos outros bens. Cada uma das muitas rotas que os navios britânicos tomavam tinham seus próprios e únicos riscos – piratas no Caribe, vendavais no Atlântico Norte, tufões no Oceano Índico. Em face de todos esses riscos, como os comerciantes conseguiam sobreviver? Uma maneira importante era reduzir os riscos não colocando todos os ovos na mesma cesta: enviando navios diferentes para destinos diferentes, conseguiam reduzir a probabilidade de haver perda de todos os

navios. Diversi cação é a estratégia de investir de forma a reduzir a probabilidade de perdas severas. Como veremos a seguir, a diversificação muitas vezes pode fazer alguns dos riscos da economia desaparecer. Voltemos ao exemplo do navio. Era muito provável que um pirata tomasse um navio mercante no Caribe ou um tufão afundasse outro navio no Oceano Índico. Mas o fundamental é que as várias ameaças à navegação não tinham muito a ver uma com a outra. Por isso, era muito menos provável que um comerciante que tivesse um navio no Caribe e outro no Oceano Índico fosse perder ambos em determinado ano, um por causa de piratas e outro por causa de tufões. Afinal, não havia conexão: as ações dos piratas no Caribe não tinham influência sobre o clima no Oceano Índico, ou vice-versa. FIGURA 20-5

O mercado de seguros

Representamos aqui o mercado hipotético de seguro de navios mercantes, em que cada navio demanda £1.000 de cobertura. A curva da demanda é composta de proprietários de navios que estão dispostos a comprar seguro, e a curva da oferta é composta de investidores ricos que desejam oferecer seguro. Nesse exemplo, a um prêmio de £200, apenas os proprietários de navios mais avessos ao risco irão contratar seguro; a um prêmio de £100, somente os investidores neutros ao risco estarão dispostos a oferecer o seguro. O equilíbrio situa-se no prêmio de £130 com 5 mil

apólices compradas e vendidas. Na ausência de informação privilegiada, o mercado de seguros leva a uma alocação eficiente do risco.

Os estatísticos referem-se a tais eventos – eventos que não têm conexão, de modo que não é mais provável que um ocorra se o outro ocorrer do que se não ocorrer – como independentes. Muitos eventos imprevisíveis são independentes uns dos outros. Se você jogar uma moeda duas vezes, a probabilidade de dar cara no segundo lance é o mesmo que se vier coroa no primeiro lance. Se a sua casa incendiar hoje, isso não afeta a probabilidade de que minha casa irá incendiar no mesmo dia (a menos que sejamos vizinhos lado a lado ou contratemos os serviços de um mesmo eletricista incompetente). Existe uma regra simples para calcular a probabilidade de que dois eventos independentes aconteçam: multiplicar a probabilidade de que um evento aconteça sozinho pela probabilidade de que outro evento aconteça sozinho. Se você lançar uma moeda uma vez, a probabilidade de que vai dar cara é 0,5; se você lançá-la duas vezes, a probabilidade de que vai dar cara em ambas as vezes é 0,5 × 0,5 = 0,25. Mas o que importava aos proprietários de navios ou aos investidores do Lloyd’s o fato de as perdas de navios no Caribe e no Oceano Índico serem eventos independentes? A resposta é que, espalhando seus investimentos em diferentes partes do mundo, os proprietários de navios ou os investidores do Lloyd’s podiam fazer desaparecer uma parte do risco do negócio de navegação. Vamos supor que José Moneypenny seja rico o suficiente para equipar dois navios – e vamos ignorar por um momento a possibilidade de ser feito seguro para os seus navios. O Sr. Moneypenny deveria equipar dois navios para comerciar no Caribe e enviá-los juntos? Ou deve enviar um navio para Barbados e outro para Calcutá? Suponha que as duas viagens serão igualmente lucrativas, se forem bemsucedidas, gerando £1.000 se for concluída. Suponha, também, que haja chance de 10% de que um navio enviado para Barbados seja atacado por piratas e que um navio enviado para Calcutá seja afundado por um tufão. E se os dois navios forem para o mesmo destino, vamos supor que corram o mesmo risco. Então, se o Sr. Moneypenny enviasse os dois navios para

qualquer dos dois destinos, estaria diante de uma probabilidade de 10% de perder todo o seu investimento. Mas se, em vez disso, o Sr. Moneypenny enviasse um navio para Barbados e outro para Calcutá, a probabilidade de que perderia os dois seria de apenas 0,1 × 0,1 = 0,01, ou apenas 1%. Como veremos adiante, o retorno esperado seria o mesmo, mas a chance de perder tudo seria bem menor. Então, através da diversi cação – investindo em várias coisas diferentes, onde as perdas possíveis são eventos independentes, consegue-se que parte do risco desapareça. A Tabela 20-2 resume as opções do Sr. Moneypenny e as possíveis consequências. Se ele enviar os dois navios para o mesmo destino incorre em 10% de chance de perder os dois. Se enviar para destinos diferentes, existem três resultados possíveis. Os navios podem chegar com segurança: porque há uma probabilidade de 0,9 de um deles conseguir isso, a probabilidade de que ambos irão conseguir é de 0,9 × 0,9 = 81%. Pode haver perda dos dois – mas a probabilidade de que isso ocorra é de apenas 0,1 × 0,1 = 1%. Finalmente, há duas possibilidades de que apenas um navio volte a salvo. A probabilidade de que o primeiro navio volte e o segundo seja perdido é de 0,9 × 0,1 = 9%. A probabilidade de que o primeiro navio seja perdido, mas o segundo navio volte a salvo é de 0,1 × 0,9 = 9%. Assim, a probabilidade de que apenas um navio consiga é 9% + 9% = 18%. Talvez se imagine que a diversificação seja uma estratégia disponível apenas para quem tem bastante dinheiro para começar. O Sr. Moneypenny pode diversificar se for capaz de financiar apenas um navio? Há formas de até mesmo os pequenos investidores diversificarem. Mesmo que o Sr. Moneypenny seja rico apenas o suficiente para guarnecer um navio, pode entrar em parceria com outro comerciante. Eles podem guarnecer dois navios em conjunto concordando em dividir o lucro e, em seguida, enviar os navios para destinos diferentes. Dessa forma, cada um enfrenta menos risco do que se guarnecesse apenas um navio separadamente. Na economia moderna, a diversificação é muito mais fácil para os investidores pelo fato de que eles podem facilmente comprar ações de muitas empresas, por meio do mercado de ações. O proprietário de uma ação em uma empresa é o proprietário de parte dessa empresa – normalmente uma parte muito pequena, um milionésimo ou menos. Um

indivíduo que coloca toda a sua riqueza em ações de uma única empresa perderá toda essa riqueza se a empresa falir. Mas a maioria dos investidores participa do capital de muitas empresas, tornando ínfima a chance de perder todo o investimento. Na verdade, o Lloyd’s de Londres não era apenas uma forma de comércio de riscos; era também uma maneira de os investidores diversificarem. Para ver como isso funcionava, vamos apresentar Lady Penélope SmedleySmythe, uma aristocrata rica, que decidiu aumentar sua renda colocando £1.000 de seu capital em risco através do Lloyd’s. Ela poderia usar esse capital para garantir apenas um navio. Mas, normalmente, participaria de um “sindicato”, um grupo de investidores que, em conjunto, seguram um número de navios enviados para destinos diferentes, concordando em dividir o custo, se qualquer um desses navios afundar. Como é muito menos provável que todos os navios segurados pelo sindicato afundem e não apenas um deles, Lady Penélope estaria com muito menos risco de perder todo o seu capital.

TABELA 20-2 Como a diversificação reduz o risco (a) Se ambos os navios forem enviados ao mesmo destino Situação

Probabilidade

Recompensa

Os dois navios voltam

0,9 = 90%

£2.000

Os dois navios se perdem

0,1 = 10%

0

Recompensa esperada

(0,9 × £2,000) + (0,1 × £0) = £1.800

(b) Se um navio toma a rota oriental e outra a ocidental Situação

Probabilidade

Recompensa

Os dois navios voltam

0,9 × 0,9 = 81%

£2.000

Os dois navios se perdem

0,1 × 0,9 = 1%

0

Os dois navios se perdem

(0,9 × 0,1) + (0,1 × 0,9)

Recompensa esperada

(0,81 × £2.000) + (0,01 × £0) + (0,18 × £1.000) = £1.800

1.000

Em alguns casos, o investidor pode fazer o risco desaparecer quase por completo, tendo assumido pequena parte do risco em muitos eventos independentes. Essa estratégia é conhecida como pooling ou sistema de garantia global. Considere o caso de uma empresa de seguro de saúde, que tem milhões de segurados detentores de apólice de seguro, com milhares deles requerendo tratamentos caros todos os anos. A companhia de seguros não pode saber se determinado indivíduo, por exemplo, vai precisar de uma operação de ponte de safena. Mas problemas cardíacos de dois indivíduos diferentes são praticamente eventos independentes. E quando há muitos eventos independentes possíveis, por meio de análise estatística consegue-se prever com grande precisão quantos eventos de determinado tipo irão ocorrer. Por exemplo, se você lança uma moeda mil vezes, vai dar cara aproximadamente 500 vezes – e é muito pouco provável que seja 1% ou 2% acima ou abaixo dessa cifra.

Assim, uma empresa que oferece seguro contra incêndio pode prever com bastante precisão quantas casas de seus clientes vão incendiar em determinado ano; uma empresa que oferece seguro-saúde pode prever com bastante precisão quantos dos seus clientes precisarão de cirurgia cardíaca em determinado ano; uma empresa de seguro de vida pode prever quantos de seus clientes irão… Bem, essa é a ideia.

PARA MENTES CURIOSAS QUANDO AS EMOÇÕES ATRAPALHAM Para um pequeno investidor (alguém que investe menos do que algumas centenas de milhares de dólares), os economistas financeiros concordam que a melhor estratégia para investir em ações é aplicar em fundos indexados. Por que fundos indexados? Porque contêm uma ampla gama de ações que refletem o mercado global, conseguem alcançar diversificação; e têm taxas de administração muito baixas. Além disso, os economistas financeiros concordam que é uma estratégia perdedora acertar o “tempo” de mercado: comprar quando o mercado de ações está baixo e vender quando está alto. Em vez disso, pequenos investidores deveriam aplicar em ações e outros ativos financeiros uma soma fixa a cada ano, independentemente da situação do mercado. No entanto, muitos, se não a maioria, de pequenos investidores não seguem esse conselho. Em vez disso, compram ações individuais ou fundos que cobram taxas elevadas. Passam horas intermináveis nas salas de batepapo da Internet caçando a última dica quente ou peneirando dados para tentar discernir padrões no comportamento das ações. Tentam entrar e sair do mercado na hora certa, mas invariavelmente compram quando as ações estão em alta e vendem quando as ações estão em baixa com medo de perder ainda mais. E não conseguem diversificar, concentrando muito dinheiro em poucas ações que acham que são “vencedoras”. Por que os seres humanos são tão pouco inteligentes quando se trata de investir? De acordo com muitos especialistas, o culpado é a emoção. Em seu livro recente Your Money and Your Brain, Jason Zweig afirma que “o cérebro não é uma ferramenta ótima para tomar decisões financeiras”. Como explica, o problema é que o cérebro humano evoluiu para detectar e interpretar padrões simples. (Existe um leão à espreita nesse mato?) Em consequência, “quando se trata de investir, a incorrigível busca por padrões nos leva a supor que existe ordem onde frequentemente não existe”. Em outras palavras, os

investidores se enganam em acreditar que descobriram um padrão lucrativo no mercado de ações, quando, na verdade, o comportamento do mercado de ações é amplamente aleatório. Não surpreende que o modo pelo qual as pessoas tomam decisões financeiras é um tópico importante de estudo na área da economia comportamental, um ramo da economia que estuda por que os seres humanos, muitas vezes, não conseguem se comportar de forma racional (ver o Capítulo 9 para mais informações sobre economia comportamental). Então, o que deve fazer o investidor típico do século XXI? De acordo com o Sr. Zweig, há esperança: se você reconhecer a influência de suas emoções, poderá domá-las. Teste o quanto você evoluiu desde o nível pré-histórico: seu investimento é diversificado? (Fonte: Ver na página de copyright.)

Quando uma companhia de seguros é capaz de tirar partido da previsibilidade que vem da agregação de um grande número de eventos independentes, diz-se que forma um agrupamento de riscos. E esse agrupamento, muitas vezes, significa que, apesar de as companhias de seguros protegerem as pessoas do risco, os proprietários das companhias de seguros podem não encarar muito risco. O Lloyd’s de Londres não era apenas uma maneira de os indivíduos ricos receberem por assumir alguns dos riscos de comerciantes menos ricos. Era também um veículo para garantia global de alguns desses riscos. O efeito desse sistema de garantia global foi deslocar a curva da oferta da Figura 20-5 para a direita: tornar os investidores dispostos a aceitar mais riscos, a um preço mais baixo, do que de outra forma teria sido possível. Os limites da diversificação

A diversificação pode reduzir o risco. Em alguns casos, pode eliminá-lo. Mas esses casos não são comuns, porque há limites importantes para a diversificação. Para conhecer a razão mais importante desses limites, vamos voltar mais uma vez ao exemplo do Lloyd’s. No período em que o Lloyd’s estava criando sua lenda, houve um desastre que afetou a navegação britânica diferente de piratas ou tempestades: a guerra. Entre 1690 e 1815, a Grã-Bretanha travou uma série de guerras, principalmente com a França (que, entre outras coisas, entrou em guerra com a Grã-Bretanha em apoio à Revolução Americana). Em cada ocasião, a França patrocinava “corsários” – basicamente piratas com apoio oficial –

para atacar os navios britânicos e, assim, indiretamente prejudicar o esforço de guerra da Grã-Bretanha. Sempre que uma guerra eclodia entre a Inglaterra e a França, as perdas de navios mercantes britânicos aumentavam repentinamente. Infelizmente, os comerciantes não podiam-se proteger contra essa eventualidade, enviando navios para portos diferentes: esses corsários atacavam navios britânicos em qualquer lugar do mundo. Assim, a perda de um navio para corsários franceses no Caribe e a perda de outro navio para corsários franceses no Oceano Índico não eram eventos independentes. Seria bastante provável que ocorressem no mesmo ano. Quando é mais provável que um evento ocorra quando outro evento ocorre, diz-se que esses dois eventos estão correlacionados positivamente. E assim como o risco de ter um navio capturado por corsários franceses, muitos dos riscos financeiros hoje são, infelizmente, correlacionados positivamente. Aqui estão alguns dos riscos financeiros correlacionados positivamente que os investidores do mundo moderno enfrentam: Ocorrências climáticas severas. Dentro de qualquer região dos Estados Unidos, perdas decorrentes do clima, definitivamente, não são eventos independentes. Quando um furacão atinge a Flórida, uma grande quantidade de casas na Flórida vai sofrer danos por causa do furacão. Em certa medida, as companhias de seguro podem diversificar o risco, segurando casas em muitos estados. Mas eventos como o El Niño (uma anomalia de temperatura recorrente no Oceano Pacífico que perturba o clima ao redor do mundo) podem causar inundações simultâneas nos Estados Unidos. E como mencionamos na história de abertura, ao longo dos últimos anos, tem havido um aumento significativo das condições meteorológicas extremas. Acontecimentos políticos. Governos modernos, felizmente, não apoiam corsários oficialmente, embora os submarinos tenham tido função semelhante durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo hoje, no entanto, alguns tipos de eventos políticos – digamos, uma guerra ou revolução em uma área importante de produção de matéria-prima – podem prejudicar os negócios em todo o mundo.

Ciclos econômicos. As causas dos ciclos econômicos, flutuações na produção da economia como um todo, são assunto de macroeconomia. O que podemos dizer aqui é que se uma empresa sofre um declínio nos negócios por causa de uma crise econômica em todo o país, muitas outras empresas também sofrerão o mesmo declínio. Então, esses eventos estão correlacionados positivamente. Quando os eventos estão correlacionados positivamente, os riscos que representam não podem ser diversificados. Um investidor pode-se proteger do risco de uma empresa ir mal, tratando de investir em muitas empresas; mas não pode usar a mesma técnica para se proteger contra uma crise econômica em que todas as empresas vão mal. Uma companhia de seguros pode proteger-se contra o risco de perdas decorrentes de inundações locais, segurando casas em muitas regiões diferentes; mas um padrão climático global que produz inundações em muitos lugares vai derrotar essa estratégia. Não surpreende que, como explicamos na história de abertura, as seguradoras evitaram a contratação de apólices, quando se tornou claro que os padrões climáticos extremos pioraram. Já não podiam ter certeza de que os lucros das apólices celebradas em áreas de clima bom seriam suficientes para compensar as perdas incorridas pelas apólices em áreas propensas a furacões e tornados. Assim, instituições como seguradoras e mercados de ações não conseguem fazer o risco desaparecer completamente. Existe sempre um núcleo irredutível de risco que não pode ser diversificado. Mercados de risco, no entanto, conseguem duas coisas: primeiro, permitem que a economia elimine o risco que pode ser diversificado. Segundo, alocam o risco restante às pessoas mais dispostas a arcar com ele.

economia em ação Quando o Lloyd’s quase foi à falência

No final da década de 1980, a venerável instituição do Lloyd’s esteve em grave dificuldade. Os investidores que haviam aplicado o capital em risco,

acreditando que os riscos eram pequenos e o retorno sobre seus investimentos de certa forma garantido, foram obrigados a fazer numerosos pagamentos de vultosas indenizações. Um número de investidores, incluindo membros de algumas famílias aristocráticas muito antigas, viu-se à beira da falência. O que aconteceu? Parte da resposta é que os gestores ambiciosos do Lloyd’s persuadiram os investidores a assumir riscos que eram muito maiores do que os investidores imaginavam. (Ou, dito de outra forma, os prêmios que esses investidores aceitaram não cobriam o verdadeiro nível de risco contido nas apólices.) Mas o maior problema foi que muitos dos eventos contra os quais o Lloyd’s havia se tornado um grande segurador não eram independentes. Nos anos 1970 e 1980, o Lloyd’s tornou-se um importante fornecedor de seguros de responsabilidade para as corporações nos Estados Unidos: protegia essas corporações americanas contra a possibilidade de que pudessem ser processadas pela venda de produtos defeituosos ou perigosos. Todos esperavam que tais processos fossem eventos em certa medida independentes. O que os problemas legais de uma empresa têm a ver com os de outra? Havia uma só palavra como resposta: amianto. Durante décadas, esse material à prova de fogo tinha sido usado em muitos produtos, o que significa que muitas empresas eram responsáveis por seu uso. Então, descobriu-se que o amianto pode causar graves danos aos pulmões, especialmente em crianças. O resultado foi uma enxurrada de ações judiciais por parte de pessoas que acreditavam que tinham sido prejudicadas pelo amianto e bilhões de dólares em indenizações – muitas das quais, em última instância, pagas pelos investidores do Lloyd’s.

BREVE REVISÃO Os mercados de seguros existem porque há ganho do comércio em risco. Exceto no caso de informação privilegiada, eles levam a uma alocação de risco eficiente: quem está mais disposto a assumir o risco coloca seu capital em risco para cobrir as perdas financeiras das pessoas menos dispostas a assumir o risco.

Quando eventos independentes estão envolvidos, a estratégia de diversificação pode reduzir o risco substancialmente. A diversificação é facilitada pela existência de instituições como o mercado de ações, em que as pessoas negociam ações de empresas. Uma forma de diversificação, relevante especialmente para as companhias de seguros, é pelo sistema de garantia global (pooling). Quando os eventos estão correlacionados positivamente, há um núcleo de risco que não pode ser eliminado, não importa o quanto os indivíduos diversificam.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 20-2 1. Explique como cada um dos eventos seguintes mudaria o prêmio e a quantidade de equilíbrio no mercado de seguros, indicando eventuais deslocamentos nas curvas de oferta e demanda. a. Um aumento do número de navios fazendo a mesma rota comercial e, assim, enfrentando os mesmos tipos de riscos. b. Um aumento no número de rotas comerciais, com o mesmo número de navios fazendo maior variedade de rotas e, assim, se defrontando com tipos de riscos diferentes. c. Um aumento no nível de aversão ao risco entre os proprietários de navios no mercado. d. Um aumento no nível de aversão ao risco entre os investidores no mercado. e. Um aumento no risco afetando a economia como um todo. f. Uma queda no nível de riqueza dos investidores no mercado. As respostas estão no fim do livro.

INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA: O QUE VOCÊ NÃO SABE PODE PREJUDICÁ-LO Os mercados funcionam muito bem ao lidar com o risco diversificável e com o risco decorrente da incerteza: situações em que ninguém sabe o que vai acontecer, qual casa será inundada ou quem vai ficar doente. No entanto, os mercados têm muito mais problema com situações em que algumas pessoas sabem coisas que outras não sabem – situações de informação privilegiada. Como veremos, a informação privilegiada pode distorcer as

decisões econômicas e, por vezes, impede que transações econômicas mutuamente benéficas ocorram. (Às vezes, os economistas usam o termo informação assimétrica em vez de informação privilegiada, mas são equivalentes.) Por que algumas informações são privilegiadas? A razão mais importante é que as pessoas geralmente sabem mais sobre si mesmas do que outras pessoas. Por exemplo, você sabe se é ou não um motorista cuidadoso; mas a menos que você tenha sido vítima de vários acidentes, a empresa de seguro de automóvel não sabe. É mais provável que você tenha uma percepção melhor do que a companhia de seguros, se vai precisar ou não de um procedimento médico caro. E se estiver vendendo o seu carro usado para mim, é mais provável que conheça mais quaisquer problemas do carro do que eu. Mas por que essas diferenças, de quem sabe o quê, podem ser um problema? Acontece que existem duas fontes distintas de problema: seleção adversa, que surge ao ter informações privilegiadas sobre a maneira como as coisas são, e risco moral, que surge ao ter informações privilegiadas sobre o que as pessoas vão fazer. Seleção adversa: A economia de abacaxis

Suponha que alguém lhe oferece para venda um carro quase novo, comprado apenas três meses atrás, com apenas 2.000 km e nenhum amassado ou arranhão. Você estaria disposto a pagar quase o mesmo que pagaria por um carro novo, direto do revendedor? Provavelmente não, por uma razão muito simples: você não consegue deixar de se perguntar por que esse carro está sendo vendido. Será que o proprietário descobriu que algo está errado com ele – será um “abacaxi”? O proprietário sabe mais sobre o carro do que você, por tê-lo dirigido por algum tempo – e as pessoas são mais propensas a vender carros que lhes dão problemas. Você pode pensar que o fato de os vendedores de carros usados saberem mais sobre eles do que os compradores representa vantagem para os vendedores. Mas os compradores potenciais sabem que os vendedores potenciais são suscetíveis de oferecer abacaxis – apenas não sabem

exatamente qual carro é um abacaxi. Como os compradores potenciais de carro usado sabem que os vendedores potenciais são mais propensos a vender abacaxis do que carros bons, os compradores vão oferecer um preço mais baixo do que ofereceriam se tivessem a garantia da qualidade do carro. Pior ainda, essa opinião ruim sobre carros usados tende a se reforçar precisamente porque deprime os preços que os compradores oferecem. Carros usados são vendidos com um desconto significativo, porque os compradores esperam que uma parcela desproporcional desses carros apresente problemas. Até mesmo um carro usado que não seja um abacaxi vai vender apenas se tiver um desconto grande, pois os compradores não sabem se ele é ou não um abacaxi. Mas os vendedores potenciais que têm carros bons não estão dispostos a vendê-los com um grande desconto, exceto sob circunstâncias excepcionais. Então, carros usados em boa condição raramente são colocados à venda, e os que são oferecidos para venda têm forte tendência a ser abacaxis. (É por isso que as pessoas que têm uma razão convincente para vender um carro, como mudança para o exterior, insistem em revelar essa informação aos compradores potenciais, como se dissessem: “Esse carro não é um abacaxi!”) O resultado final, então, não é apenas que carros usados são vendidos por preços baixos e que há um grande número de carros usados com problemas ocultos. Igualmente importante, muitas transações de vendas potencialmente benéficas – venda de carros bons por pessoas que gostariam de se livrar deles para pessoas que gostariam de comprá-los – acabam sendo frustradas pela incapacidade dos vendedores potenciais de convencer os compradores potenciais que seus carros realmente valem o preço mais elevado que está sendo pedido. Por isso, alguns comércios mutuamente benéficos entre aqueles que querem vender carros usados e os que querem comprar permanecem inexplorados. Embora os economistas às vezes se refiram a situações como essa como “abacaxi” (a questão foi introduzida em 1970, na tese famosa do economista e Prêmio Nobel George Akerlof, intitulada “e Market for Lemons”), o nome mais formal do problema é seleção adversa. A razão para o nome é óbvia: como os vendedores potenciais sabem mais sobre a qualidade do que

estão vendendo do que os compradores potenciais, têm incentivo em selecionar as piores coisas para vender. A seleção adversa não se aplica apenas a carros usados. É um problema para muitos setores da economia, especialmente para as companhias de seguro, e sobretudo para as de seguro-saúde. Suponha que uma companhia de seguro-saúde ofereça uma apólice padrão para todos com o mesmo prêmio. O prêmio reflete o risco médio de incorrer em uma despesa médica. Mas isso torna a apólice muito cara para as pessoas saudáveis, que sabem que são menos propensas do que a pessoa média de incorrer em despesas médicas. Então, as pessoas saudáveis estão menos propensas do que as menos saudáveis a contratar o seguro, deixando a companhia de seguro-saúde exatamente com os clientes que não quer: pessoas com risco acima da média de necessitar de assistência médica, e para eles o prêmio seria um bom negócio. A fim de cobrir as perdas esperadas desse grupo de clientes mais doentes, a companhia de seguro-saúde é obrigada a aumentar o prêmio, afastando mais os clientes restantes que são mais saudáveis, e assim por diante. Como a companhia de seguro não pode determinar quem é saudável e quem não é, deve cobrar de todos o mesmo prêmio, desencorajando, assim, as pessoas saudáveis de contratar apólices e encorajando as pessoas pouco saudáveis a contratar apólices. Como discutido no Capítulo 18, a seleção adversa pode levar a um fenômeno chamado de espiral da morte da seleção adversa à medida que o mercado de seguro-saúde desmorona: as companhias de seguros se recusam a oferecer apólices porque não há prêmio que possa cobrir as perdas. Em virtude dos graves problemas da seleção adversa, os governos de muitos países avançados assumem o papel de fornecer seguro-saúde aos cidadãos. Como vimos no Capítulo 18, o governo dos Estados Unidos, por meio de vários programas de seguro de saúde como o Medicare e o Medicaid, agora desembolsa quase metade do total de pagamentos de assistência médica nos Estados Unidos. Em geral, pessoas ou empresas confrontadas com o problema de seleção adversa seguem uma das diversas estratégias bem estabelecidas para lidar com ela. Uma estratégia é a triagem: uso de informações observáveis para fazer inferências sobre informações privilegiadas. Como discutimos no

Capítulo 19, ao se candidatar à contratação de um seguro-saúde, descobrese que a companhia de seguros vai exigir documentação do estado de saúde, na tentativa de “filtrar” os candidatos doentes – pessoas às quais será recusado o contrato do seguro ou que este será contratado apenas mediante prêmios muito elevados. Empresas de seguro de veículos também fornecem um bom exemplo do uso de triagem para reduzir a seleção adversa. Podem não saber se você é um motorista cuidadoso, mas têm dados estatísticos sobre os índices de acidentes de pessoas do seu perfil – e usam esses dados na definição dos prêmios. Um homem com 19 anos, que dirige um carro esporte e já teve carro amassado tenderá a pagar um prêmio muito alto. Uma mulher com 40 anos que dirige uma minivan e nunca teve um acidente é provável que pague muito menos. Em alguns casos, isso pode ser injusto: alguns adolescentes do sexo masculino são motoristas muito cuidadosos, e algumas mulheres maduras dirigem minivans como se fosse uma Ferrari. Mas ninguém pode negar que as companhias de seguro, em média, estão certas. Outra estratégia para combater os problemas causados pela seleção adversa são as pessoas que têm boa perspectiva de fazer algo sinalizando a informação privilegiada – tomando alguma ação que não valeria a pena tomar a menos que de fato tivessem boa perspectiva. Por exemplo, revendedores de carros frequentemente oferecem garantia – promessa de reparar quaisquer problemas com os carros que vendem que surjam dentro de determinado período de tempo. Essa não é apenas uma maneira de segurar os seus clientes contra possíveis gastos; é uma forma de mostrar com credibilidade que não estão vendendo abacaxis. Como resultado, ocorrem mais vendas e os revendedores podem aumentar os preços dos carros usados quando oferecem garantias. Finalmente, diante da seleção adversa, pode ser útil estabelecer uma boa reputação: um revendedor de carros usados, muitas vezes, vai anunciar há quanto tempo está no negócio para mostrar que continua a satisfazer seus clientes. Como resultado, novos clientes estarão dispostos a comprar carros e pagar mais pelos carros desse revendedor. Risco moral

No final de 1970, Nova York e outras grandes cidades passaram por uma epidemia de incêndios que pareciam ser propositais. Alguns desses incêndios provavelmente foram iniciados por adolescentes fazendo bagunça, outros por membros de gangues lutando por território. Mas os investigadores foram percebendo que havia certo padrão em vários desses incêndios. Certos locadores que possuíam vários edifícios pareciam ter um número invulgarmente elevado de edifícios incendiados. Apesar de difícil de provar, a polícia tinha poucas dúvidas de que a maioria desses locadores estava contratando incendiários profissionais para incendiar as próprias propriedades. Por que queimar seu próprio edifício? Normalmente, esses edifícios estavam em bairros decadentes, onde o aumento da criminalidade e o êxodo da classe média levaram a um declínio no valor dos imóveis. Mas as apólices de seguros dos imóveis foram celebradas para compensar os proprietários com base em valores de propriedades históricas, e assim pagariam ao proprietário de um edifício destruído mais do que o valor do imóvel no mercado atual. Para um proprietário inescrupuloso que conhecia as pessoas certas, essa era uma oportunidade lucrativa. A epidemia de incêndio tornou-se menos severa durante a década de 1980, em parte porque as empresas de seguro dificultaram a contratação de seguro com valor superior às propriedades e também porque um boom imobiliário fez os edifícios anteriormente ameaçados passarem a valer mais sem estar incendiados. Os episódios incendiários deixam claro que não é uma boa ideia para as companhias de seguro deixar os clientes segurar os edifícios por um valor mais alto que o real – isso oferece aos clientes incentivos destrutivos. No entanto, você pode achar que o problema de incentivo desaparece desde que o seguro não seja superior a 100% do valor que está sendo segurado. Mas, infelizmente, qualquer coisa próxima a 100% ainda distorce os incentivos – induz os segurados a se comportar de maneira diferente do que se comportariam na ausência do seguro. A razão é que a prevenção de incêndios exige esforço e custo por parte do proprietário do imóvel. Os alarmes de incêndio e os sistemas de combate ao fogo precisam ser bem mantidos, e as regras de segurança contra incêndio devem ser rigorosamente aplicadas, e assim por diante. Tudo isso leva tempo e

dinheiro que o proprietário não acha que vale a pena gastar se a apólice de seguro fornece plena compensação por eventuais perdas. É claro que a companhia de seguros poderia especificar na apólice que não pagaria caso as precauções básicas de segurança não tivessem sido tomadas. Mas nem sempre é fácil julgar até que ponto o proprietário do edifício foi cuidadoso – o proprietário sabe, mas a companhia de seguros, não. O ponto é que o dono do imóvel tem informação privilegiada sobre suas próprias ações, sobre se realmente tomou todas as precauções adequadas. O resultado é que a companhia de seguro provavelmente se confrontará com indenizações mais altas do que se fosse capaz de determinar exatamente o quanto de esforço que um proprietário do edifício empreende para evitar uma perda. O problema dos incentivos distorcidos surge quando um indivíduo tem informação privilegiada sobre as próprias ações, mas alguém arca com os custos de uma falta de cuidado ou de esforço. Isso é conhecido como risco moral. Para lidar com risco moral é necessário dar aos indivíduos que têm informação privilegiada algum interesse pessoal sobre o que acontece para que tenham motivo para se esforçar, mesmo quando os outros não possam verificar se esse esforço foi feito. O risco moral é uma das razões pelas quais os vendedores em muitas lojas recebem comissão sobre vendas: é difícil para os gerentes ter certeza de que os vendedores estão realmente trabalhando. Se fossem pagos apenas com salário fixo, não teriam incentivo para fazer um esforço maior para vender. Conforme descrito na seção seguinte Economia em ação, uma lógica semelhante explica por que há muitas lojas e restaurantes que, mesmo sendo parte de cadeias nacionais, na verdade são franquias, lojas licenciadas cuja propriedade é de pessoas que as administram. As companhias de seguros lidam com o risco moral, exigindo uma franquia: compensam as perdas apenas acima de determinado valor, de modo que a cobertura é sempre menor do que 100%. O seguro do carro, por exemplo, paga os consertos somente após os primeiros $500 em perda. Isso significa que um motorista descuidado que tem o carro amassado terá que pagar $500 pelo conserto, mesmo sendo segurado, o que oferece pelo menos algum incentivo para ter cuidado e reduzir o risco moral.

Além de reduzir o risco moral, as franquias oferecem uma solução parcial para o problema da seleção adversa. O prêmio de seguro, muitas vezes, cai substancialmente, se você está disposto a aceitar uma grande franquia. Essa é uma opção atraente para as pessoas que sabem que são clientes de baixo risco; é menos atraente para as pessoas que sabem que são de alto risco e que tendem a ter um acidente e acabar pagando a franquia. Ao oferecer um menu de apólices com prêmios e franquias diferentes, as companhias de seguro podem selecionar seus clientes, induzindo-os a se classificar de acordo com as informações pessoais. Como sugere o exemplo de franquias, o risco moral limita a capacidade da economia de alocar riscos de forma eficiente. Em geral, não é possível 100% de seguro da casa ou do carro, mesmo que se quisesse contratá-lo, e deve-se assumir o risco de grandes franquias, mesmo preferindo não fazê-lo. A seção seguinte Economia em Ação mostra como em alguns casos o risco moral limita a capacidade dos investidores de diversificar seus investimentos.

economia em ação Os proprietários de franquias se esforçam mais

Quando os americanos querem ter uma refeição rápida, acabam em uma das cadeias de fast-food – McDonald’s, Burger King, e assim por diante. Como são corporações grandes, a maioria dos clientes provavelmente imagina que as pessoas que estão servindo a comida são funcionários das grandes corporações. Mas, geralmente, não são. A maioria dos restaurantes de fast-food – por exemplo, 85% das lojas do McDonald’s – são franquias. Ou seja, um indivíduo pagou à empresa matriz pelo direito de operar um restaurante que vende o seu produto. Pode parecer um braço de uma empresa gigante, mas, na verdade, é um pequeno empresário. Tornar-se franqueado não é garantia de sucesso. Deve-se investir uma grande quantia, tanto para comprar a licença como para estabelecer o próprio restaurante (para abrir um Taco Bell, por exemplo, custava entre $1,1 milhão e $1,7 milhão, excluindo terreno ou custo de arrendamento, em 2010). E embora o McDonald’s cuide para que suas franquias não sejam

muito próximas umas das outras, muitas vezes enfrentam forte concorrência de cadeias rivais e até mesmo de alguns restaurantes verdadeiramente independentes. Tornar-se proprietário de uma franquia, em outras palavras, envolve assumir um grande risco. Mas por que as pessoas estão dispostas a assumir esses riscos? Não aprendemos que é melhor diversificar, para espalhar a riqueza entre muitos investimentos? A lógica da diversificação parece informar que é melhor para alguém com $1,7 milhão investir em uma ampla gama de ações, em vez de colocar tudo isso em uma empresa como o Taco Bell. Isso implica que o Taco Bell teria dificuldades em atrair franqueados: ninguém estaria disposto a ser um franqueado, a menos que espere ganhar muito mais do que ganharia como um simples gestor contratado, com a riqueza investida em uma carteira diversificada de ações. Então, não seria mais rentável para o McDonald’s ou para o Taco Bell contratar gestores para administrar seus restaurantes? Acontece que não é, porque o sucesso de um restaurante depende muito do quanto o gerente trabalha, do esforço que ele coloca em escolher direito os trabalhadores, em manter o lugar limpo e atraente para os clientes, e assim por diante. Será que o McDonald’s poderia obter o nível certo de esforço de um gerente remunerado? Provavelmente não. O problema é o risco moral: o gerente sabe se está realmente colocando 100% no trabalho; mas a sede da empresa, que arca com o custo de um restaurante mal administrado, não. Assim, um gerente assalariado, que recebe salário, mesmo sem fazer todo o esforço possível para tornar o restaurante bemsucedido, não tem incentivo de fazer essa porção extra – incentivo que o proprietário tem por ter interesse pessoal no sucesso do restaurante. Em outras palavras, há um problema de risco moral quando um gerente assalariado administra um McDonald’s, onde a informação privilegiada é o grau de dedicação do gerente. A franquia resolve esse problema. Um franqueado, cuja riqueza está amarrada no negócio e que lucra pessoalmente com seu sucesso, tem todo o incentivo de trabalhar arduamente. O resultado é que as cadeias de fast-food baseiam-se sobretudo em franqueados para operar seus restaurantes, mesmo que os contratos com esses gerentes proprietários permitam que os franqueados, em média, ganhem muito mais do que teria custado à companhia empregar gerentes de

loja. Os ganhos mais elevados dos franqueados são uma compensação pelo risco que aceitam, e as empresas são recompensadas pelo aumento das vendas que leva a um aumento no preço de licenciamento da franquia. Além disso, os franqueados são proibidos, pelo acordo de licenciamento com a empresa, de reduzir o risco por meio de ações, como a venda de ações da franquia para investidores de fora e do uso de recursos para diversificar. É uma ilustração do fato de que o risco moral impede a eliminação do risco por meio da diversificação.

BREVE REVISÃO A informação privilegiada pode distorcer incentivos e impedir que ocorram transações mutuamente benéficas. Uma fonte é a seleção adversa: os vendedores têm informação privilegiada sobre os seus bens e os compradores oferecem preços baixos, levando os vendedores de bens de boa qualidade a ficar de fora, deixando o mercado dominado por “abacaxis”. A seleção adversa pode ser reduzida por meio da revelação de informação privilegiada por triagem ou sinalização, ou pelo cultivo de reputação de longo prazo. Outra fonte de problema é o risco moral. No caso de seguro, leva os indivíduos a realizar muito pouco esforço para evitar perdas. Isso origina características como a franquia, que limita a eficiência na alocação de risco.

TESTE SEU ENTENDIMENTO 20-3 1. O prêmio do seguro do carro fica mais barato se você não teve multas de trânsito durante vários anos. Explique como essa característica tende a reduzir a ineficiência em potencial causada pela seleção adversa. 2. Uma característica comum dos contratos de construção de casas é que, quando o custo de construir uma casa é superior ao que havia sido originalmente estimado, a companhia contratada tem que absorver esse custo adicional. Explique por que essa característica reduz o problema do risco moral, mas também obriga o contratante a assumir mais riscos do que gostaria. 3. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta, afirmando que conceito analisado neste capítulo representa essa característica. Pessoas com maiores franquias no seguro do carro:

a. Em geral dirigem com mais cuidado. b. Pagam prêmios mais baixos. c. Geralmente são mais ricos. As respostas estão no fim do livro.

• CASO EMPRESARIAL A agonia da AIG

A AIG (American International Group) já foi a maior companhia de seguros dos Estados Unidos, conhecida por segurar milhões de casas e empresas e pela gestão de planos de pensão de milhões de trabalhadores. Mas, em setembro de 2008, a AIG adquiriu uma reputação muito mais notória. Estava no epicentro da crise que varria os mercados financeiros globais porque grandes bancos comerciais e de investimento foram confrontados com perdas potencialmente devastadoras por meio de suas operações com a AIG. Receosos de que uma falência caótica da AIG iria espalhar o pânico nos mercados financeiros já em dificuldades, o Federal Reserve entrou em cena e orquestrou o maior resgate corporativo da história dos Estados Unidos, pagando um total de $182 bilhões para satisfazer os pedidos de indenização contra a AIG. Em contrapartida, os contribuintes americanos tornaram-se proprietários de cerca de 80% da AIG. Como os acontecimentos chegaram a esse ponto? Os problemas da AIG não se originaram da sua principal linha de negócios – seguro de propriedades e gestão de pensões –, mas na Divisão de Produtos Financeiros, que era muito menor, que vendeu credit-default swaps, ou CDS. Um CDS é como uma apólice de seguro para um investidor que compra um título. Um título é um IOU – uma promessa de reembolso por parte do devedor (a pessoa ou empresa que emitiu a obrigação). Mas qualquer IOU traz consigo a possibilidade de o devedor tornar-se insolvente e não pagar o empréstimo. Assim, os investidores de títulos desejosos de se proteger contra o risco de default compravam CDS de uma empresa como a AIG. Mais tarde, se o devedor se tornasse insolvente, os investidores em

títulos cobravam um montante igual às suas perdas da empresa emissora do CDS. Em meados da década de 2000, Joseph Cassano, o chefe da Divisão de Produtos Financeiros da AIG, vendeu centenas de bilhões de dólares em CDS. Eles foram comprados por investidores em títulos lastreados por hipotecas – títulos criados pela combinação de milhares de hipotecas residenciais americanas. Como os proprietários pagavam suas hipotecas mensalmente, os próprios títulos lastreados por hipotecas recebiam os juros auferidos sobre essas hipotecas. Durante vários anos, a AIG ganhou bilhões de dólares em prêmios com a venda de CDS, tornando a Divisão de Produtos Financeiros o departamento mais lucrativo. E praticamente não havia custos envolvidos porque a inadimplência das hipotecas era baixa, e essa era baseada em Londres. A sua localização significava que a AIG não era obrigada a cumprir os regulamentos de seguros dos Estados Unidos, constituir reserva de capital para cobrir perdas potenciais – apesar do fato de que a AIG, a matriz, era sediada nos Estados Unidos. Como Cassano afirmou em 2007: “É difícil para nós… visualizar um cenário dentro de qualquer tipo de domínio da razão que nos faria perder $1 em qualquer uma dessas transações.” Cassano estava tão confiante em sua estratégia e temeroso da intromissão externa que impediu os auditores americanos da AIG de inspecionar seus livros, deixando os gestores e acionistas da AIG no escuro sobre os riscos que estavam correndo. No entanto, o cenário difícil de ver apareceu em 2008 em forma cataclísmica, quando o mercado imobiliário dos Estados Unidos ruiu. Como subiu a inadimplência das hipotecas, os investidores em títulos garantidos por hipotecas sofreram grandes perdas e se voltaram para a AIG para cobrar. Mas sem capital para a cobertura das indenizações, a AIG enfrentou falência até que o governo dos Estados Unidos interveio. Bancos, como o Goldman Sachs, tiveram lucros enormes reunindo títulos lastreados por hipotecas de baixa qualidade com alta probabilidade de default e, por isso, os segurando com a AIG. Apesar dos protestos, as indenizações do Goldman foram pagas integralmente pelo governo, pois a sua transação com a AIG era totalmente legal.

• QUESTÕES PARA PENSAR 1. Será que a AIG avaliou com precisão o risco de inadimplência colocado no seguro? Justifique a resposta. 2. O que a AIG supunha sobre as probabilidades de default de diferentes proprietários de imóveis no mercado imobiliário dos Estados Unidos? Estava errada ou certa? 3. Quais são os exemplos de risco moral no caso? Para cada exemplo, explique quem cometeu o risco moral e contra quem e identifique a fonte de informação privilegiada. 4. Cite um exemplo de seleção adversa do caso. Qual era a fonte de informação privilegiada? • RESUMO 1. O valor esperado de uma variável aleatória é a média ponderada de todos os valores possíveis, em que o peso corresponde à probabilidade de ocorrer determinado valor. 2. Risco é a incerteza sobre eventos futuros ou situações do mundo. É risco financeiro quando a incerteza é sobre resultados monetários. 3. Com incerteza, as pessoas maximizam a utilidade esperada. Uma pessoa que tem aversão ao risco escolherá reduzir o risco quando essa redução deixar o valor esperado de sua renda ou riqueza inalterada. Uma apólice de seguro justa tem essa característica: o prêmio é igual ao valor esperado da indenização. Uma pessoa neutra ao risco é completamente insensível ao risco e, portanto, sem disposição de pagar qualquer prêmio para evitá-lo. 4. A aversão ao risco decorre da utilidade marginal decrescente: $1 adicional de renda gera utilidade marginal maior em situações de baixa renda do que em situações de alta renda. Uma apólice de seguro justa aumenta a utilidade de uma pessoa que tem aversão ao risco porque transfere $1 de uma situação de alta renda (situação em que não ocorre perda) para uma situação de baixa renda (situação em que ocorre perda). 5. Diferenças nas preferências e na renda ou riqueza levam a diferenças na aversão ao risco. Dependendo do tamanho do prêmio, uma pessoa com aversão ao risco está disposta a comprar um seguro “injusto”, uma apólice para a qual o prêmio excede o valor esperado da indenização. Quanto maior a aversão ao risco, maior o prêmio que uma pessoa se dispõe a pagar. 6. Há ganho no comércio de risco, levando a uma alocação eficiente do risco: os que têm mais disposição de assumir o risco aplicam seu capital em risco para cobrir as perdas dos menos dispostos a assumir riscos. 7. O risco também pode ser reduzido por meio da diversificação, investindo em várias coisas diferentes que correspondem a eventos independentes. O mercado de ações onde as ações das empresas são negociadas oferece

uma maneira de diversificar. As companhias de seguros podem-se envolver em garantia global ou pooling, segurando muitos eventos independentes, de modo a eliminar quase todo o risco. Mas quando os eventos subjacentes são correlacionados positivamente, nem todo o risco pode ser diversificado. 8. Informação privilegiada pode causar ineficiência na alocação de risco. Um problema é a seleção adversa, informação privilegiada sobre a maneira como as coisas são. Cria o problema dos bens com defeitos ocultos (os “abacaxis” brasileiros e os “limões” americanos) no mercado de carros usados, em que os vendedores de carros em bom estado abandonam o mercado. A seleção adversa pode ser limitada de vários modos – por meio de triagem de indivíduos através da sinalização que as pessoas usam para revelar as informações privilegiadas e por meio da construção de uma reputação. 9. Um problema relacionado é o risco moral: os indivíduos têm informação privilegiada sobre suas ações, o que distorce os incentivos de exercer esforço ou cuidado quando alguém assume os custos dessa falta de esforço ou cuidado. Limita a capacidade dos mercados de alocar os riscos de forma eficiente. As companhias de seguros tentam limitar o risco moral, impondo franquias, colocando mais risco sobre o segurado.

• PALAVRAS-CHAVE Variável aleatória, p. 482 Valor esperado, p. 482 Situação do mundo, p. 482 Risco, p. 482 Risco financeiro, p. 482 Utilidade esperada, p. 483 Prêmio, p. 483 Apólice de seguro justa, p. 483 Aversão ao risco, p. 483 Neutro ao risco, p. 486 Capital em risco, p. 489 Alocação eficiente de risco, p. 489 Eventos independentes, p. 491 Diversificação, p. 491 Ação, p. 491 Pooling ou sistema de garantia global, p. 492 Correlacionado positivamente, p. 493 Informação privilegiada, p. 494 Seleção adversa, p. 495

Triagem, p. 496 Sinalização, p. 496 Reputação, p. 496 Risco moral, p. 497 Franquia, p. 497 • PROBLEMAS 1. Para cada uma das seguintes situações, calcule o valor esperado. a. Tanisha possui uma ação da IBM, que se comercia atualmente a $80. Há 50% de chance de que o preço da ação suba para $100, e 50% de chance que caia para $70. Qual é o valor esperado do preço futuro da ação? b. Sharon compra um bilhete de uma casa lotérica pequena. Há uma probabilidade de 0,7 de que não ganhe nada, de 0,2 de que ganhe $10 e de 0,1 de que ganhe $50. Qual é o valor esperado dos ganhos de Sharon? c. Aaron é um agricultor cuja colheita de arroz depende do clima. Se o clima estiver favorável, tem lucro de $100. Se o clima estiver desfavorável, tem lucro de −$20 (ou seja, vai perder dinheiro). A previsão do tempo informa que a probabilidade de o tempo estar favorável é 0,9 e a probabilidade de o tempo estar desfavorável é 0,1. Qual é o valor esperado do lucro do Aaron? 2. Vicky N. Vestor tenciona investir parte do seu dinheiro em uma empresa iniciante. Atualmente, ela tem uma renda de $4.000, e está considerando investir $2.000 dessa renda na empresa. Há 0,5 de probabilidade de que a empresa tenha sucesso e irá pagar $8.000 a Vicky (seu investimento original de $2.000 mais $6.000 de lucro da empresa). E há uma probabilidade de 0,5 de que a empresa não tenha sucesso e Vicky não receberá nada (e perderá o investimento). A tabela a seguir ilustra a função utilidade de Vicky.

Renda

Utilidade total (utils)

$0

0

1.000

50

2.000

85

3.000

115

4.000

140

5.000

163

6.000

183

7.000

200

8.000

215

9.000

229

10.000

241

a. Calcule a utilidade marginal da renda de Vicky para cada nível de renda. Vicky tem aversão ao risco? b. Calcule o valor esperado da renda de Vicky se ela fizer esse investimento. c. Calcule a utilidade esperada de Vicky de fazer o investimento. d. Qual é a utilidade de Vicky de não fazer o investimento? Será que Vicky investirá na empresa? 3. A função utilidade de Vicky foi dada no Problema 2. Como no Problema 2, atualmente Vicky tem uma renda de $4.000. Ela está pensando em investir em uma empresa iniciante, mas o investimento agora teria que ser $4.000. Se a empresa fracassar, Vicky não obtém nada. Mas se a empresa for bemsucedida, Vicky obterá $10.000 da empresa (seu investimento original de $4.000 mais $6.000 de lucro da empresa). Cada evento tem probabilidade de ocorrer de 0,5. Será que Vicky investirá na empresa? 4. Você tem $1.000 para investir. Se comprar ações da Ford terá os seguintes retornos e a probabilidade de ter que manter as ações por um ano: probabilidade de 0,2 de obter $1.500; probabilidade de 0,4 de obter $1.100 e probabilidade de 0,4 de obter $900. Se colocar o dinheiro no banco, em um ano terá $1.100 garantido. a. Qual é o valor esperado dos ganhos de investir em ações da Ford? b. Suponha que você tenha aversão ao risco. É possível dizer com certeza se investirá em ações da Ford ou colocará o dinheiro no banco? 5. Você tem $1.000 para investir. A compra de ações da General Motors em um ano terá os seguintes retornos: probabilidade de 0,4 de obter $1.600;

probabilidade de 0,4 de obter $1.100 e probabilidade de 0,2 de obter $800. Se colocar o dinheiro no banco em um ano terá $1.100 garantido. a. Qual é o valor esperado dos ganhos de investir em ações da General Motors? b. Suponha que você prefira colocar o dinheiro no banco a investir em ações da General Motors. O que isso informa sobre a atitude em relação ao risco? 6. Wilbur é um piloto de aviação atualmente com renda de $60.000. Se ficar doente e perder a licença médica para voar, perde o emprego e ficará apenas com $10.000 de renda. Sua probabilidade de se manter saudável é de 0,6, e a probabilidade de ficar doente é de 0,4. A função utilidade de Wilbur é dada na tabela a seguir. Renda

Utilidade total (utils)

$0

0

10.000

60

20.000

110

30.000

150

40.000

180

50.000

200

60.000

210

a. Qual é o valor esperado da renda de Wilbur? b. Qual é a utilidade esperada de Wilbur? Wilbur está pensando em comprar um seguro por “perda de licença” que o compense se ele perder o licença médica de voo. c. Uma companhia de seguros oferece a Wilbur compensação total pela perda de renda (ou seja, a seguradora pagará a Wilbur $50.000 se perder a licença médica de voo), cobrando dele um prêmio de $40.000. Ou seja, independentemente de ele perder a licença médica de voo, a renda de Wilbur após o seguro será $20.000. Qual é a utilidade de Wilbur? Ele comprará o seguro? d. Qual é o prêmio mais alto que Wilbur estaria disposto a pagar pelo seguro completo (seguro que compense a perda de renda completa)? 7. Em 2008, um em cada 270 carros, aproximadamente, foi roubado nos Estados Unidos. Beth tem um carro no valor de $20.000 e está pensando em contratar um seguro para se proteger do roubo do carro. Para as perguntas a seguir, suponha que a probabilidade de roubo de um carro é a mesma em todas as regiões e em todos os modelos de carro. a. Qual deveria ser o prêmio de uma apólice de seguro justo em 2008 que substitui o carro de Beth se for roubado?

b. Suponha que uma companhia de seguros cobra 0,6% do valor do carro para uma apólice que paga a substituição do carro roubado. Quanto vai custar a apólice de Beth? c. Será que Beth vai comprar o seguro do item b se for neutra ao risco? d. Discuta um possível problema de risco moral voltado à companhia de seguro de Beth se ela comprar o seguro. 8. A renda atual de Hugh é $5.000. Sua função utilidade é mostrada na tabela a seguir. Renda

Utilidade total (utils)

$0

0

1.000

100

2.000

140

3.000

166

4.000

185

5.000

200

6.000

212

7.000

222

8.000

230

9.000

236

10.000

240

a. Calcule a utilidade marginal da renda de Hugh. Qual a sua atitude em relação ao risco? b. Hugh está pensando em jogar em um cassino. Ele tem probabilidade de 0,5 de perder $3.000 e probabilidade de 0,5 de ganhar $5.000. Qual é o valor esperado da renda de Hugh? Qual é a utilidade esperada de Hugh? Será que ele vai decidir jogar? (Suponha que ele não obtenha nenhuma utilidade adicional de ir ao cassino.) c. Suponha que o “spread” (quanto ele pode ganhar comparado com quanto pode perder) do jogo diminua, de modo que ele tenha probabilidade de 0,5 de perder $1.000 e probabilidade de 0,5 de ganhar $3.000. Qual é o valor esperado da renda de Hugh? E a sua utilidade esperada? Esse jogo é melhor para ele do que o jogo do item b? Será que ele vai decidir jogar? 9. Eva tem aversão ao risco. Atualmente, tem $50.000 para investir. Ela está diante da seguinte escolha: pode investir em ações de uma empresa da internet, ou pode investir em ações da IBM. Se ela investir na empresa da

internet com probabilidade 0,5 perderá $30.000, mas com probabilidade 0,5 ganhará $50.000. Se investir em ações da IBM, com probabilidade 0,5 perderá apenas $10.000, mas com probabilidade 0,5 ganhará apenas $30.000. Que investimento irá preferir? 10. Suponha que você tenha $1.000 para investir na sorveteria de Ted e Larry ou na loja de chocolate quente de Ethel. O preço de uma ação de qualquer das empresas é $100. A sorte das empresas está intimamente ligada ao clima. Quando está quente, o valor da ação da sorveteria de Ted e Larry sobe para $150, mas o valor da ação de Ethel cai para $60. Quando está frio, o valor da ação de Ethel sobe para $150, mas o valor da ação de Ted e Larry cai para $60. As chances de fazer frio ou calor são iguais. a. Se você investir todo o seu dinheiro no negócio de Ted e Larry, qual será o valor esperado da ação? E se investir tudo no negócio de Ethel? b. Suponha que você diversifique e invista metade de seus $1.000 em cada empresa. Quanto vale o total de suas ações se fizer calor? E se fizer frio? c. Suponha que você tenha aversão ao risco. Você vai preferir colocar todo o seu dinheiro em Ted e Larry, como no item a? Ou vai preferir diversificar, como no item b? Explique seu raciocínio. 11. MidCap Growth e Energy são duas carteiras construídas e geridas pelo Grupo Vanguard de fundos mútuos, composto de ações de empresas americanas de médio porte e de ações de empresas de energia dos Estados Unidos. A tabela a seguir mostra os dados históricos para o período de 2001 a 2011, que sugerem o valor esperado do retorno em percentual anual associado a essas carteiras. Carteira MidCap Growth Energy

Valor de retorno esperado (%) 5,32% 14,2

a. Qual carteira um investidor neutro ao risco iria preferir? b. Juan, um investidor que tem aversão ao risco, opta por investir na carteira MidCap Growth. O que se pode inferir sobre o risco das duas carteiras a partir da escolha de investimento de Juan? Com base no comportamento histórico, um investidor neutro ao risco escolheria a MidCap Growth? c. Juan está ciente de que a diversificação pode reduzir o risco. Ele considera uma carteira em que metade do seu investimento esteja nas empresas MidCap e a outra metade nas empresas Energy. Qual é o valor esperado de retorno para essa carteira combinada? Você espera que essa carteira combinada seja mais arriscada ou menos arriscada do que a MidCap Growth? Por que sim, ou por que não? 12. Você está pensando em comprar um Volkswagen de segunda mão. A partir da leitura de revistas especializadas, você sabe que a metade de todos os carros da Volkswagen tem problemas de algum tipo (são “abacaxis”) e a

outra metade funciona bem. Se você soubesse que estaria comprando um carro bom, estaria disposto a pagar $10.000 por ele: é o quanto vale para você um carro que funciona bem. Você também está disposto a comprar um abacaxi, mas só se o preço não for mais do que $4.000: é o quanto um abacaxi vale para você. E alguém que é dono de um carro em bom estado está disposto a vendê-lo a qualquer preço acima de $8.000. Alguém que é dono de um abacaxi está disposto a vendê-lo a qualquer preço acima de $2.000. a. Por enquanto, vamos supor que você possa identificar imediatamente se o carro que está sendo oferecido é um abacaxi ou está em bom estado. Suponha que alguém lhe ofereça um carro em bom estado. Haverá negócio? Agora, suponha que o vendedor tenha informação privilegiada sobre o carro que está vendendo: o vendedor sabe se tem um abacaxi ou não. Mas quando o vendedor lhe oferece um Volkswagen, você não sabe se é um abacaxi ou não. Portanto, essa é uma situação de seleção adversa. b. Como você não sabe se estão lhe oferecendo um abacaxi ou não, você baseia a decisão sobre o valor esperado para você de um Volkswagen, supondo que está disposto a comprar tanto um carro que esteja em mal como em bom estado. Calcule o valor esperado. c. Suponha que ao dirigir o carro, o vendedor sabe se está em bom estado. No entanto, você não sabe se esse carro em particular é um abacaxi ou não, então o máximo que você está disposto a pagar é o seu valor esperado. Haverá negócio? 13. Você possui uma empresa que produz cadeiras e está pensando em contratar mais um funcionário. Cada cadeira produzida fornece uma receita de $10. Há dois empregados potenciais, Fred Ast e Sylvia Low. Fred é um trabalhador rápido que produz dez cadeiras por dia, gerando receita de $100 para você. Fred sabe que é rápido e por isso só vai trabalhar para você ao valor de $80 por dia. Sylvia é uma trabalhadora lenta que produz apenas cinco cadeiras por dia, gerando receita de $50 para você. Sylvia sabe que é lenta e assim vai trabalhar para você mediante o pagamento de mais de $40 por dia. Embora Sylvia saiba que é lenta e Fred saiba que é rápido, você não sabe quem é rápido e quem é lento. Portanto, essa é uma situação de seleção adversa. a. Como você não sabe que tipo de trabalhador terá, considera qual será o valor esperado de sua receita se contratar um dos dois. Qual é esse valor esperado? b. Suponha que você ofereça pagar um salário diário igual à receita esperada calculada no item a. Quem você conseguiria contratar: Fred, Sylvia, ambos ou nenhum? c. Se você soubesse que um trabalhador é rápido e outro lento, qual deles preferiria contratar e por quê? Você consegue conceber um sistema de compensação para garantir que contrate apenas trabalhadores que estão de acordo com sua preferência? 14. Em cada uma das seguintes situações, faça o seguinte: primeiro descreva se a situação é de risco moral ou de seleção adversa. Em seguida, explique

que ineficiência pode surgir a partir dessa situação e como a solução proposta reduz a ineficiência. a. Quando você compra um carro de segunda mão, não sabe se é um abacaxi (baixa qualidade) ou se está em bom estado, mas o vendedor sabe. A solução é que os vendedores oferecem junto com o carro uma garantia que paga os custos de eventuais reparos. b. Algumas pessoas são propensas a consultar médicos desnecessariamente por males menores, como dor de cabeça, e as instituições de prestação de assistência à saúde não conhecem sua urgência em consultar um médico. A solução é que os segurados tenham que fazer um pagamento conjunto de certo montante (por exemplo, $10) cada vez que visitam um prestador de serviços de saúde. Todos os segurados têm aversão ao risco. c. Quando as companhias aéreas vendem bilhetes, não sabem se o comprador é um viajante de negócios (que está disposto a pagar muito por um assento) ou um viajante de lazer (que tem pouca disposição de pagar). A solução para uma companhia aérea que maximiza o lucro é oferecer um bilhete caro que seja muito flexível (permite alteração de data e rota) e um bilhete barato que seja muito inflexível (tem que ser reservado com antecedência e não pode ser alterado). d. A empresa não sabe se os trabalhadores de uma linha de montagem trabalham duro ou não. Uma solução é pagar os trabalhadores por “peça”, ou seja, pagar de acordo com o quanto produzem por dia. Todos os trabalhadores têm aversão ao risco, mas a empresa é neutra ao risco. e. Ao tomar uma decisão sobre sua contratação, os empregadores prospectivos não sabem se você é um trabalhador produtivo ou improdutivo. A solução para os trabalhadores produtivos é fornecer referências aos empregadores potenciais dos empregadores anteriores. 15. Kory é dono de uma casa que vale $300.000. Se a casa for destruída em um incêndio, perde $300.000. Se não for destruída, não perde nada. A probabilidade de a casa queimar em um incêndio é de 0,02. Kory tem aversão ao risco. a. Quanto custaria uma apólice de seguro justo? b. Suponha que uma companhia de seguros ofereça um seguro completo contra a perda da casa em caso de incêndio, cobrando um prêmio de $1.500. Você pode afirmar com certeza se Kory fará ou não esse seguro? c. Suponha que a companhia de seguro ofereça um seguro completo contra a perda da casa em caso de incêndio, cobrando um prêmio de $6.000. Você pode afirmar com certeza se Kory fará ou não esse seguro? d. Suponha que a companhia de seguro ofereça um seguro completo contra a perda da casa em caso de incêndio, cobrando um prêmio de $9.000. Você pode afirmar com certeza se Kory fará ou não esse seguro?

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GLOSSÁRIO

Termos em itálico que aparecem dentro das definições são termos-chave definidos em outras partes deste glossário. ação propriedade parcial de uma empresa. Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) acordo de comércio entre os Estados Unidos, o Canadá e o México. acordos de comércio internacional tratados pelos quais os países concordam em diminuir as proteções comerciais um do outro. alíquota de imposto montante de imposto que as pessoas são obrigadas a pagar por unidade de tudo que é tributável. alíquota marginal de imposto porcentagem de um aumento da renda que é tributado. alocação do tempo decisão de quantas horas gastar em diferentes atividades, que leva à decisão de quanto trabalho ofertar. alocação e ciente de risco quando as pessoas mais dispostas a assumir o risco são as que de fato o assumem. alocação ine ciente de vendas entre vendedores forma de ineficiência em que os vendedores que estariam dispostos a vender um bem por um preço

mais baixo nem sempre são os que realmente conseguem vendê-lo, muitas vezes como resultado de um piso de preço. alocação ine ciente entre consumidores forma de ineficiência em que os consumidores que querem muito um bem e estão dispostos a pagar um preço alto por ele não conseguem obtê-lo e aqueles que não estão muito interessados e estão dispostos a pagar apenas um preço baixo conseguem, muitas vezes como resultado de um teto de preço. alta qualidade pelo critério da e ciência forma de ineficiência em que os vendedores oferecem produtos de alta qualidade a um preço elevado, embora os compradores prefiram menos qualidade a um preço inferior, muitas vezes como resultado de um piso de preço. aluguel custo implícito ou explícito do uso de uma unidade de terra ou capital para um período determinado. análise de custo-benefício estimativa dos custos e benefícios de oferecer um bem. Quando os governos usam a análise de custo-benefício, estimam os custos e benefícios sociais de proporcionar um bem público. análise marginal estudo das decisões marginais. apólice de seguro justa uma apólice de seguro para a qual o prêmio é igual ao valor esperado da indenização. autarquia situação em que um país não pode comerciar com outros países. aversão à perda hipersensibilidade à perda, levando à falta de vontade de reconhecer uma perda e seguir em frente. aversão ao risco disposição de sacrificar algum ganho econômico a fim de evitar uma perda potencial. avesso ao risco descreve os indivíduos que optam por reduzir o risco quando essa redução deixa o valor esperado da sua renda ou riqueza inalterado.

baixa qualidade pelo critério da e ciência forma de ineficiência em que os vendedores oferecem produtos de baixa qualidade a um preço baixo, embora os compradores prefiram qualidade superior a um preço alto, muitas vezes como resultado de um teto de preços. barreira à entrada algo que impede outras empresas de entrar em um setor industrial. É crucial para proteger os lucros de um monopolista. Existem cinco tipos de barreiras à entrada: controle sobre recursos ou insumos escassos, rendimentos crescentes de escala, superioridade tecnológica, externalidades de rede e barreiras criadas pelo governo. base tributária medida ou valor, como renda ou valor da propriedade, que determina quanto imposto um indivíduo paga. bem de Giffen bem inferior hipotético para o qual o efeito renda supera o efeito substituição e a curva da demanda se inclina para cima. bem escasso arti cialmente bem excluível, mas não rival no consumo. bem inferior bem cuja demanda cai quando a renda aumenta. bem normal bem cujo aumento da renda aumenta a demanda pelo bem – o caso “normal”. bem privado bem que é ao mesmo tempo excluível e rival no consumo. bem público bem ao mesmo tempo não excluível e não rival no consumo. benefício em espécie benefício concedido na forma de bens ou serviços. benefício externo benefício não recompensado que um indivíduo ou empresa confere aos outros; também conhecido como externalidade positiva. benefício marginal benefício adicional derivado de produzir uma unidade a mais de um bem ou serviço. benefício marginal decrescente cada unidade adicional de atividade produz menos benefícios do que a anterior.

benefício marginal social da poluição ganho adicional para a sociedade como um todo de uma unidade adicional de poluição. bens ordinários em uma função de utilidade do consumidor, aqueles bens para os quais são necessárias unidades adicionais do bem para compensar menos unidades de outro bem, e vice-versa; e para os quais o consumidor experimenta uma taxa de substituição marginal decrescente ao substituir um bem por outro. capital valor total de ativos de propriedade de um indivíduo ou empresa – ativos físicos mais ativos financeiros. capital em risco fundos que uma seguradora coloca em risco ao prover seguros. capital físico recursos manufaturados, como edifícios e máquinas. capital humano, melhoria no trabalho gerado pela educação e conhecimento incorporado à força de trabalho. cartel acordo entre vários produtores que concordam em estabelecer restrições à produção de cada um deles, a fim de aumentar o lucro comum. causalidade reversa erro cometido quando o verdadeiro sentido da causalidade entre duas variáveis é revertida e a variável independente e a variável dependente são identificadas incorretamente. coe ciente de Gini número que resume o nível de desigualdade de renda de um país com base em quão desigual é a distribuição de renda entre os quintos da população. colusão ou conluio cooperação entre produtores para limitar a produção e aumentar os preços de modo a elevar os lucros um do outro. colusão tácita cooperação entre produtores sem acordo formal para limitar a produção e aumentar os preços de forma a elevar o lucro um dos outros.

comércio prática, em economia de mercado, em que os indivíduos fornecem bens e serviços para outros e em troca recebem bens e serviços. commodity produto de diferentes produtores considerados pelos consumidores como sendo o mesmo bem; também chamado de produto padronizado. competição extrapreço competição em áreas que outros elementos em vez do preço aumentam as vendas, como novas características do produto e publicidade. É especialmente usada por empresas que têm entendimento tácito de não competir com base no preço. complementos pares de mercadorias para as quais um aumento no preço de um bem leva a uma diminuição da demanda do outro bem. complementos perfeitos bens que um consumidor deseja consumir na mesma proporção, independentemente do seu preço relativo. comportamento estratégico ações tomadas por uma empresa que tentam influenciar o comportamento futuro de outras empresas. comportamento não cooperativo ações de empresas que ignoram o efeito dessas ações sobre o lucro de outras empresas. concorrência imperfeita estrutura de mercado em que nenhuma empresa é monopolista, mas os produtores, no entanto, têm poder de mercado que podem usar para afetar os preços de mercado. concorrência monopolística estrutura de mercado em que existem muitos produtores concorrendo em um setor, em que cada produtor vende um produto diferenciado e em que não há livre entrada e saída no setor no longo prazo. condição de tangência em um gráfico na linha do orçamento do consumidor e das curvas de indiferença disponíveis dos pacotes de consumo disponíveis, o ponto em que uma das curvas de indiferença e a linha do

orçamento se tocam. Quando as curvas de indiferença têm a forma típica convexa, esse ponto determina o pacote de consumo ótimo. consumidor tomador de preço consumidor cujas ações não têm efeito sobre o preço de mercado do bem ou serviço que compra. contabilidade mental hábito de atribuir mentalmente dólares para contas diferentes de modo que alguns dólares são mais valiosos do que outros. controle de preços restrições legais sobre o nível superior ou inferior que o preço de mercado pode atingir. controle de quantidade limite superior, fixado pelo governo, sobre a quantidade de algum bem que pode ser comprado ou vendido; também chamado de cota. copyright direito legal exclusivo do criador de uma obra literária ou artística de obter lucro com esse trabalho; como uma patente, é um monopólio temporário. correlacionado positivamente descreve um relacionamento entre eventos em que é mais provável que cada evento ocorra se o outro evento também ocorre. cota limite superior, definido pelo governo, sobre a quantidade de um bem que pode ser comprado ou vendido, também conhecido como controle de quantidade. cota de importação limite legal sobre a quantidade de um bem que pode ser importada. crescimento econômico capacidade de crescimento da economia para produzir bens e serviços. cunha diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta da quantidade transacionada de um bem quando a oferta do bem é restringida legalmente. Muitas vezes, é criado por um controle de quantidade ou cota.

curto prazo período em que pelo menos um insumo é fixo. curva linha em um gráfico, que pode ser curva ou reta, retratando uma relação entre duas variáveis. curva da demanda representação gráfica da tabela de demanda que mostra a relação entre quantidade demandada e preço. curva da demanda doméstica curva da demanda que mostra como a quantidade de um bem demandada pelos consumidores domésticos depende do preço desse bem. curva da indiferença linha de contorno que mostra todos os pacotes de consumo que produzem a mesma quantidade de utilidade total para um indivíduo. curva da oferta representação gráfica de uma tabela de oferta que mostra a relação entre a quantidade ofertada de um bem ou serviço e o preço. curva da oferta de trabalho individual representação gráfica que mostra como a quantidade de trabalho ofertada por um indivíduo depende do salário desse indivíduo. curva da oferta do setor representação gráfica que mostra a relação entre o preço de um bem e a quantidade de produto total desse bem suprido pelo setor. curva da oferta doméstica curva da oferta que mostra como a quantidade de um bem ofertada pelos produtores domésticos depende do preço desse bem. curva da oferta individual representação gráfica da relação entre quantidade ofertada e preço para um produtor individual. curva de benefício marginal representação gráfica que mostra como o benefício de produzir uma unidade a mais depende da quantidade que já foi produzida.

curva de custo marginal representação gráfica que mostra como o custo de produzir uma unidade a mais depende da quantidade que já foi produzida. curva de custo total médio de longo prazo representação gráfica que mostra a relação entre o produto e o custo total médio quando o custo xo foi escolhido para minimizar o custo total médio de cada nível de produto. curva de custo total médio em forma de U representação gráfica característica da relação entre produto e custo total médio; a curva de custo total médio no começo é declinante quando o produto está em nível de quantidade baixa e, em seguida, é ascendente quando o produto aumenta. curva de demanda individual representação gráfica da relação entre quantidade demandada e preço para um consumidor individual. curva de oferta de trabalho individual de dobra inversa curva de oferta de trabalho individual que se inclina para cima quando os salários são baixos a moderados e se inclina para baixo quando os salários são mais altos. curva de oferta do setor de curto prazo representação gráfica que mostra como a quantidade ofertada por um setor depende do preço de mercado dado um número fixo de produtores. curva de oferta do setor de longo prazo representação gráfica que mostra como a quantidade ofertada responde ao preço quando os produtores têm tempo de entrar ou sair do mercado. curva de oferta individual de curto prazo representação gráfica que mostra como a quantidade de produto que maximiza o lucro de um produtor individual depende do preço de mercado, tomando o custo xo como dado. curva de receita marginal representação gráfica que mostra como a receita marginal varia quando o produto varia. curva de utilidade marginal representação gráfica que mostra como a utilidade marginal depende da quantidade do bem ou serviço consumido.

curva do custo total representação gráfica do custo total, mostrando como o custo total depende da quantidade do produto. curva do produto total representação gráfica da função de produção, mostrando como a quantidade de produto depende da quantidade de insumo variável para determinada quantidade de insumo xo. curva do valor do produto marginal representação gráfica que mostra como o valor do produto marginal de um fator depende da quantidade de fatores empregados. curva não linear curva em que a inclinação não é a mesma entre cada par de pontos. custo (de um vendedor) o menor preço pelo qual um vendedor está disposto a vender um bem. custo administrativo (de um imposto) recurso usado (que é um custo) pelo governo para cobrar o imposto e pelos contribuintes para pagá-lo, além do montante do imposto, bem como para evitá-lo. custo de oportunidade custo real de um item: o que você deve abrir mão para obtê-lo. custo explícito custo que requer desembolso de dinheiro. custo externo custo não recompensado que um indivíduo ou empresa confere aos outros; também conhecido como externalidade negativa. custo xo custo que não depende da quantidade de produto; o custo de um insumo xo. custo xo médio custo xo por unidade de produto. custo implícito custo que não exige dispêndio de dinheiro; é medido pelo valor, em moeda, dos benefícios renunciados.

custo implícito do capital custo de oportunidade do uso do próprio capital – renda auferida se o capital foi empregado na próxima melhor alternativa de uso. custo irrecuperável custo já incorrido e não recuperável. custo marginal custo adicional incorrido na produção de uma unidade a mais de um bem ou serviço. custo marginal constante cada unidade adicional custa o mesmo para produzir que a anterior. custo marginal crescente cada unidade adicional custa mais para produzir do que a anterior. custo marginal decrescente cada unidade adicional custa menos para produzir do que a anterior. custo marginal social da poluição custo adicional imposto à sociedade como um todo por uma unidade adicional de poluição. custo médio termo alternativo para custo total médio; o custo total dividido pela quantidade de produto produzido. custo total soma do custo xo e do custo variável de produzir determinada quantidade de produto. custo total médio custo total dividido pela quantidade de produto. Também denominado custo médio. custo variável custo que depende da quantidade de produto; custo de um insumo variável. custo variável médio custo variável por unidade de produto. custos de transação despesas de negociação e execução de um acordo.

decisão marginal decisão tomada à “margem” de uma atividade para fazer um pouco mais ou um pouco menos dessa atividade. demanda de elasticidade unitária quando a elasticidade-preço da demanda é exatamente 1. demanda elástica caso em que a elasticidade-preço da demanda é maior que 1. demanda elástica à renda quando a elasticidade-renda da demanda de um bem é maior que 1. demanda inelástica caso em que a elasticidade-preço da demanda é menor que 1. demanda inelástica à renda quando a elasticidade-renda da demanda de um bem é positiva, mas menor que 1. demanda perfeitamente elástica quando qualquer aumento de preço irá fazer a quantidade demandada cair a zero; a curva de demanda é uma linha horizontal. demanda perfeitamente inelástica quando a quantidade demandada não responder à variação no preço; a curva da demanda é uma linha vertical. deslocamento da curva da demanda variação na quantidade demandada de qualquer preço dado, representada graficamente pelo deslocamento da curva da demanda original para uma nova posição, descrita por uma nova curva da demanda. deslocamento da curva da oferta variação na quantidade ofertada de um bem ou serviço a qualquer preço dado, representado graficamente pela variação da curva de oferta original para uma nova posição, indicada por uma nova curva de oferta. diagrama de dispersão gráfico que apresenta pontos que correspondem a observações reais das variáveis x e y ; normalmente, uma curva é ajustada

aos pontos dispersos para indicar a tendência dos dados. diagrama de uxo circular diagrama que representa as transações em uma economia mediante dois tipos de fluxos em torno de um círculo: o fluxo das coisas físicas, como bens ou trabalho em uma direção, e o fluxo de dinheiro para pagar por essas coisas físicas na direção oposta. diferenciação de produto esforço que as empresas fazem para convencer os compradores de que seus produtos são diferentes daqueles de outras empresas do setor. Se a empresa consegue convencer os compradores, pode cobrar mais caro. diferenciais compensatórios diferenças salariais em empregos diferentes que refletem o fato de que alguns trabalhos são menos agradáveis ou mais perigosos que outros. dilema do prisioneiro jogo fundamentado em duas premissas: (1) cada jogador tem incentivo de escolher uma ação que beneficie a si mesmo à custa do outro jogador; e (2) os dois jogadores, então, ficam em situação pior do que se tivessem agido de forma cooperativa. direito de propriedade direitos dos proprietários sobre itens valiosos, sejam eles recursos ou bens, podendo dispor desses itens como escolher. discriminação de preços cobrança de preços diferentes de consumidores diferentes para o mesmo bem. discriminação de preços perfeita quando um monopolista cobra de todos os consumidores o máximo que estão dispostos a pagar. disposição de pagar preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por um bem. distribuição de renda maneira pela qual a renda total é dividida entre os proprietários dos vários fatores de produção.

distribuição de renda segundo os fatores divisão da renda total entre trabalho, terra e capital. diversi cação investimentos em diversos ativos diferentes com risco não relacionado ou independente, de modo que as perdas possíveis são eventos independentes. duopólio um oligopólio constituído por apenas duas empresas. duopolista uma de duas empresas em um duopólio. economia sistema de coordenação das atividades produtivas da sociedade. economia (análise econômica) ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. economia de mercado economia em que decisões sobre produção e consumo são realizadas por produtores e consumidores individuais. economia normativa ramo da análise econômica que faz prescrições sobre a forma como a economia deve funcionar. economia positiva ramo da análise econômica que descreve a forma como a economia funciona de verdade. efeito renda variação na quantidade de um bem consumido que resulta da variação no poder de compra do consumidor em virtude da variação no preço do bem. efeito substituição variação na quantidade de um bem consumido quando o consumidor substitui outros bens que agora são relativamente mais baratos no lugar dos bens que se tornaram relativamente mais caros. e ciente descrição de um mercado ou economia que aproveita todas as oportunidades de melhorar a situação de algumas pessoas sem piorar a de outras.

eixo dos xx linha horizontal dos números em um gráfico, ao longo da qual são medidos os valores da variável xx, também denominado eixo horizontal. eixo dos yy linha vertical dos números em um gráfico ao longo da qual são medidos os valores da variável yy, também denominado eixo vertical. eixo horizontal linha horizontal de números de um gráfico ao longo do qual os valores da variável xx são medidos, também chamado de eixo dos xx. eixo vertical linha vertical de números em um gráfico ao longo da qual são medidos os valores da variável yy. Denominada também de eixo dos yy. elasticidade-preço cruzada da demanda medida do efeito da variação no preço de um bem sobre a quantidade demandada do outro; é igual à variação percentual na quantidade demandada de um bem dividido pela variação percentual do preço do outro bem. elasticidade-preço da demanda razão entre a variação percentual na quantidade demandada e a variação percentual no preço à medida que se move ao longo da curva da demanda (ignorando o sinal de menos). elasticidade-preço da oferta medida da sensibilidade da quantidade de um bem ofertada ao preço desse bem; razão entre a variação percentual na quantidade ofertada e a variação percentual no preço à medida que se move ao longo da curva da oferta. elasticidade-renda da demanda variação percentual da quantidade demandada de um bem quando a renda do consumidor varia dividida pela variação percentual na renda do consumidor. empresa organização que produz bens e serviços para venda. entrada e saída livre descreve um setor em que os produtores potenciais podem facilmente entrar ou os produtores atuais sair. equidade justiça; todos recebem a parcela justa. Como as pessoas podem discordar sobre o que é “justo”, esse não é um conceito tão bem definido

como eficiência. equilíbrio situação econômica em que nenhum indivíduo estaria em melhor situação fazendo algo diferente. equilíbrio de lucro zero equilíbrio econômico em que a empresa tem lucro zero na quantidade que maximiza o lucro. equilíbrio de mercado de curto prazo equilíbrio econômico que resulta quando a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada, tomando o número de produtores como dado. equilíbrio de mercado de longo prazo equilíbrio econômico em que, dado tempo suficiente para os produtores entrar ou sair de um setor, a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. equilíbrio de Nash na teoria dos jogos, equilíbrio que resulta quando todos os jogadores escolhem sua estratégia que maximiza seus ganhos, dadas as estratégias dos outros jogadores, ignorando o efeito de tal estratégia sobre os ganhos obtidos pelos outros jogadores; também conhecido como equilíbrio não cooperativo. equilíbrio não cooperativo na teoria dos jogos, o equilíbrio que resulta quando todos os jogadores escolhem uma ação que maximiza seus ganhos, dadas as ações dos outros jogadores, ignorando o efeito dessa ação sobre os ganhos dos outros jogadores; também conhecido como equilíbrio de Nash. escambo troca direta de bens ou serviços por outros bens ou serviços sem o uso de dinheiro. escassez insuficiência de um bem ou serviço que ocorre quando a quantidade demandada excede a quantidade ofertada; a escassez ocorre quando o preço está abaixo do preço de equilíbrio. escasso em oferta limitada, um recurso é escasso quando a quantidade disponível não dá para satisfazer todos os usos que a sociedade quer fazer dele.

escolha individual decisão de um indivíduo do que fazer, que envolve, necessariamente, uma decisão do que não fazer. especialização situação em que cada pessoa se especializa na tarefa em que apresenta bom desempenho. estado do bem-estar conjunto de programas governamentais destinados a aliviar as privações econômicas. estratégia dominante na teoria dos jogos, é a melhor ação de um jogador independentemente da ação tomada pelo outro jogador. estrutura tributária especifica como um imposto depende da base tributária; geralmente expresso em termos percentuais. eventos independentes eventos para os quais a ocorrência de um não afeta a probabilidade de ocorrência de qualquer um dos outros. excedente excesso de um bem ou serviço, quando a quantidade ofertada é maior que a quantidade demandada. Ocorre excedente quando o preço cobrado está acima do preço de equilíbrio. excedente do consumidor termo usado frequentemente para se referir tanto ao excedente do consumidor individual como ao excedente do consumidor total. excedente do consumidor individual, ganho líquido de um comprador individual pela compra de um bem; igual à diferença entre a disposição de pagar do comprador e o preço pago. excedente do produtor termo frequentemente usado para se referir tanto ao excedente do produtor individual como ao excedente do produtor total. excedente do produtor individual ganho líquido de um vendedor individual com a venda de um bem; igual à diferença entre o preço recebido e o custo do vendedor.

excedente total ganho líquido total de consumidores e produtores por comerciarem em um mercado; a soma do excedente do consumidor e do excedente do produtor. excedente total do consumidor soma dos excedentes do consumidor individual de todos os compradores de um bem em um mercado. excedente total do produtor soma dos excedentes dos produtores individuais de todos os vendedores de um bem em um mercado. excesso de capacidade incapacidade de produzir o suficiente para minimizar o custo total médio; característica de empresas em concorrência monopolística. excluível quando se refere a um bem, descreve o caso em que o fornecedor pode impedir que aqueles que não pagam consumam o bem. exportações bens e serviços vendidos para outros países. externalidade de rede aumento do valor de um bem ou serviço para um indivíduo é maior quando um grande número de outros indivíduos possui ou usa o mesmo bem ou serviço. externalidades benefícios externos e custos externos. externalidades negativas custos externos. externalidades positivas benefícios externos. falha de mercado ocorre quando um mercado não consegue ser eficiente. família pessoa ou grupo de pessoas que compartilham a renda. fatores de produção recursos usados para a produção de bens e serviços. Trabalho e capital são exemplos de fatores. feedback positivo em poucas palavras, sucesso alimenta sucesso, falha alimenta falha; o efeito é observado nos bens que são sujeitos a

externalidades de rede. franquia soma especificada de uma apólice de seguro que o segurado individual deve pagar antes de ser compensado por uma indenização; franquias reduzem o risco moral. fronteira de possibilidades de produção modelo que ilustra os trade-offs enfrentados por uma economia que produz apenas dois bens. Mostra a quantidade máxima de um bem que pode ser produzida para qualquer quantidade dada do outro bem. função de produção relação entre a quantidade de insumos usada por uma empresa e a quantidade de produto que produz. função utilidade (de um indivíduo) utilidade total gerada por um pacote de consumo de um indivíduo. ganho na teoria dos jogos, a recompensa recebida por um jogador (por exemplo, o lucro obtido por um oligopolista). ganhos do comércio ganhos alcançados pela divisão de tarefas e pelo comércio. Através da troca cada parceiro pode obter mais do que se tentasse ser autossuficiente. globalização fenômeno das interligações econômicas crescentes entre países. grá co de barras gráfico que usa barras com alturas ou comprimentos diversos para mostrar os tamanhos comparativos de diferentes observações de uma variável. grá co de pizza gráfico circular que mostra como algum total é dividido entre seus componentes, normalmente expresso em porcentuais. grá co de séries temporais gráfico de duas variáveis que tem datas no eixo horizontal e valores de uma variável que ocorreu naquelas datas no eixo vertical.

guerra de preços colapso de preços quando uma colusão tácita é rompida. importações bens e serviços adquiridos de outros países. imposto de renda imposto sobre a renda de um indivíduo ou família. imposto de renda negativo programa do governo que complementa a renda de famílias de trabalhadores de baixa renda. imposto de soma xa imposto que não depende da renda do contribuinte. imposto progressivo imposto que leva uma parte maior da renda dos contribuintes de alta renda do que dos contribuintes de baixa renda. imposto proporcional imposto que é o mesmo percentual da base tributária, independentemente da renda ou riqueza do contribuinte. imposto regressivo imposto que toma uma parcela menor da renda dos contribuintes de alta renda em relação aos contribuintes de baixa renda. imposto seletivo imposto sobre a venda de um bem ou serviço. imposto sobre a folha de pagamento imposto sobre o salário pago pelo empregador a um empregado. imposto sobre a propriedade imposto sobre o valor da propriedade, tal como o valor de uma casa. imposto sobre emissões imposto que depende da quantidade de poluição que a empresa produz. imposto sobre fortuna imposto sobre a fortuna de um indivíduo. imposto sobre os lucros imposto sobre os lucros de uma empresa. imposto sobre venda imposto sobre o valor de bens vendidos. impostos pigouvianos impostos destinados a reduzir os custos externos.

incentivo recompensa oferecida às pessoas que mudam de comportamento. incidência (de imposto) uma medida de quem realmente paga imposto. inclinação medida da ingremidade de uma linha ou curva. A inclinação de uma linha é medida pela variação da variável yy entre dois pontos sobre a linha dividida pela variação da variável xx entre esses mesmos pontos. indústrias exportadoras indústrias que produzem bens ou serviços que são vendidos no exterior. indústrias que competem com importação indústrias que produzem bens ou serviços que também são importados. ine ciente descreve um mercado ou economia em que há oportunidades perdidas de melhorar a situação de alguns indivíduos sem piorar a de outros. informação privilegiada informação que algumas pessoas têm e outras não. insumo bem ou serviço usado para produzir outro bem ou serviço. insumo xo insumo cuja quantidade é fixada por um determinado período e não pode variar (por exemplo, terreno). insumo variável insumo cuja quantidade a empresa pode variar a qualquer momento (por exemplo, trabalho). intensidade de fator diferença na proporção entre fatores usados para produzir um bem entre vários setores. Por exemplo, o refino do petróleo é intensivo em capital, em comparação com a produção de assentos para carros, porque as refinarias de petróleo usam uma proporção maior de capital para o trabalho que os produtores de assentos para carros. interação (de escolhas) minhas escolhas afetam as suas e vice-versa; uma característica da maioria das situações econômicas. Os resultados dessa interação são, muitas vezes, bem diferentes do que os indivíduos pretendem.

intercepto horizontal ponto em que a curva atinge o eixo horizontal que indica o valor da variável xx quando o valor da variável yy é zero. intercepto vertical ponto em que a curva atinge o eixo vertical, mostra o valor da variável yy quando o valor da variável xx é zero. interdependência relacionamento entre as empresas, quando as suas decisões afetam de forma significativa o lucro uma da outra; característico dos oligopólios. internalizar a externalidade levar em conta os custos externos e benefícios externos. irracional descreve um tomador de decisão que escolhe uma opção que o deixa em pior situação do que se escolhesse outra opção disponível. lazer tempo disponível para outros fins que não seja ganhar dinheiro para comprar bens comercializados. lei da demanda princípio de que o preço mais alto cobrado por um bem ou serviço, tudo o mais mantido constante, leva as pessoas a demandarem menor quantidade de um bem ou serviço. licença direito conferido pelo governo ou por um proprietário de fornecer um bem. licenças de emissão comercializáveis licenças para emitir uma quantidade limitada de poluentes que podem ser compradas e vendidas pelos poluidores. liderança de preço padrão de comportamento em que uma empresa determina seu preço e outras empresas do setor a seguem. limiar da pobreza renda anual abaixo da qual uma família é considerada oficialmente pobre.

limite da cota quantidade total de um bem sob uma cota ou controle de quantidade que pode ser legalmente comercializado. linha de orçamento todos os pacotes de consumo disponíveis ao consumidor, supondo que ele gasta toda a sua renda. linha do orçamento da alocação do tempo possíveis trade-offs do indivíduo entre consumo de lazer e renda que permite o consumo de bens comercializados. livre comércio comércio entre países que não é regulado oficialmente por tarifas e outras barreiras artificiais; os níveis de exportação e importação ocorrem, naturalmente, como um resultado da oferta e demanda. longo prazo, período de tempo em que todos os insumos podem variar. lucro contábil receita menos custo explícito. lucro econômico receita de uma empresa menos o custo de oportunidade dos recursos utilizados; geralmente é menor que o lucro contábil. macroeconomia ramo da análise econômica que se preocupa com todos os altos e baixos da economia. mão invisível expressão usada por Adam Smith para se referir à forma como a busca dos interesses próprios dos indivíduos pode levar a bons resultados para a sociedade em seu conjunto, sem que seja esta a intenção dos indivíduos. mapa de curvas de indiferença coleção de curvas de indiferença para determinado indivíduo que representa a função utilidade total do indivíduo; cada curva corresponde a um nível diferente de utilidade total. matriz de ganhos na teoria dos jogos, um diagrama que mostra como o ganho de cada um dos participantes em um jogo de dois jogadores depende das ações de ambos; um instrumento para análise da interdependência.

máximo ponto mais alto de uma curva não linear, em que a inclinação muda de positiva para negativa. mercado competitivo mercado em que há muitos compradores e vendedores do mesmo bem ou serviço e nenhum deles consegue influenciar o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido. mercado negro mercado em que bens ou serviços são comprados e vendidos ilegalmente, porque é completamente ilegal vendê-los, pois os preços cobrados são legalmente proibidos por haver sido fixado um teto de preço. mercado perfeitamente competitivo mercado em que todos os participantes são tomadores de preços. mercados de bens e serviços mercados em que as empresas vendem os bens e serviços que produzem para as famílias. mercados de fatores mercados em que as empresas compram os recursos de que precisam para a produção de bens e serviços. método do ponto médio técnica de cálculo da variação percentual em que a variação de uma variável é comparada com a média, ou ponto médio entre os valores inicial e final. microeconomia ramo da análise econômica que estuda como as pessoas tomam decisões e como essas decisões interagem. mínimo ponto mais baixo em uma curva não linear na qual a inclinação muda de negativa para positiva. modelo representação simplificada de uma situação real que é usada para compreender melhor as situações reais. modelo de oferta e demanda modelo de como se comporta um mercado competitivo.

modelo de salário de e ciência modelo em que os empregadores estabelecem um salário acima do salário de equilíbrio como incentivo para um desempenho melhor. modelo Heckscher-Ohlin modelo de comércio internacional em que um país tem vantagem comparativa em um bem cuja produção é intensiva nos fatores que estão disponíveis em abundância no país. modelo ricardiano de comércio internacional modelo que analisa o comércio internacional sob o pressuposto de que os custos de oportunidade são constantes. monopólio setor controlado por um monopolista. monopólio natural um monopólio surge quando retornos crescentes de escala proporcionam uma vantagem de custo muito grande de produzir o produto em uma única empresa. monopolista empresa que é a única produtora de um bem que não tem substitutos próximos. monopolista de preço único monopolista que oferece seu produto a todos os consumidores pelo mesmo preço. movimento ao longo da curva da demanda variação na quantidade demandada de um bem que resulta da variação do preço desse bem. movimento ao longo da curva da oferta variação na quantidade ofertada de um bem que resulta da variação do preço desse bem. não excluível quando se refere a um bem, descreve o caso em que o fornecedor não pode impedir que aqueles que não pagam consumam o bem. não rival em consumo quando se refere a um bem, descreve o caso em que a mesma unidade pode ser consumida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

neutro ao risco descreve os indivíduos que são completamente insensíveis ao risco. nome de marca nome de propriedade de uma empresa particular, que distingue seus produtos dos de outras empresas. oferta perfeitamente elástica quando um pequeno aumento ou redução no preço vai levar a variações muito grandes na quantidade ofertada, de modo que a elasticidade-preço da oferta é infinita; a curva da oferta perfeitamente elástica é uma linha horizontal. oferta perfeitamente inelástica quando a elasticidade-preço da oferta é zero, de modo que a variação no preço do bem não tem nenhum efeito sobre a quantidade ofertada; a curva da oferta perfeitamente inelástica é uma linha vertical. oligopólio setor com apenas um pequeno número de produtores. oligopolista uma empresa em um setor com apenas um pequeno número de produtores. Organização Mundial do Comércio (OMC) organização internacional de países membros que supervisiona acordos comerciais internacionais e regras sobre disputas entre países sobre esses acordos. origem ponto em que os eixos de duas variáveis se encontram em um gráfico. pacote de consumo (de um indivíduo) reunião de todos os bens e serviços consumidos por determinado indivíduo. pacote de consumo ótimo pacote de consumo que maximiza a utilidade total do consumidor, dada a restrição orçamentária do consumidor. padrões ambientais regras estabelecidas pelo governo para proteger o ambiente, especificando ações para os produtores e consumidores.

participação de mercado fração do produto total do setor que corresponde ao produto de determinado produtor. patente monopólio temporário determinado pelo governo a um inventor pelo uso ou venda de uma invenção. perda por peso morto perda no excedente total que ocorre sempre que uma ação ou uma política reduz a quantidade transacionada para abaixo da quantidade de equilíbrio do mercado eficiente. piso de preço preço mínimo que os compradores são obrigados a pagar por um bem ou serviço. Uma forma de controle de preços. poder de mercado capacidade de um produtor de aumentar os preços. política antitruste esforço legislativo e regulatório empreendido pelo governo para evitar que setores oligopolistas tornem-se ou comportem-se como monopólios. pooling ou sistema de garantia global uma forma forte de diversi cação em que o investidor assume uma pequena parte do risco em muitos eventos independentes, de modo que há um risco global muito pequeno embutido no negócio. possibilidades de consumo conjunto de todos os pacotes de consumo que podem ser consumidos dada a renda do consumidor e os preços praticados. preço de demanda preço de determinada quantidade pelo qual os consumidores irão demandar essa quantidade. preço de encerramento preço pelo qual uma empresa deixa de produzir no curto prazo porque o preço de mercado caiu abaixo do custo variável médio mínimo. preço de equilíbrio preço pelo qual o mercado está em equilíbrio, isto é, a quantidade demandada de um bem ou serviço é igual à quantidade ofertada, também conhecido como preço de ajuste do mercado.

preço de oferta preço de determinada quantidade pela qual os produtores ofertariam aquela quantidade. preço de teto preço máximo que os vendedores estão autorizados a cobrar por um bem ou serviço. Uma forma de controle de preços. preço mundial preço pelo qual um bem pode ser comprado ou vendido no exterior. preço que ajusta o mercado preço ao qual o mercado está em equilíbrio, isto é, a quantidade de um bem ou serviço demandada é igual à quantidade desse bem ou serviço ofertada; também conhecido como preço de equilíbrio. preço que iguala receita e custo preço de mercado em que uma empresa tem lucro zero. preço relativo proporção entre o preço de um bem em relação ao preço de outro bem. prêmio pagamento a uma companhia de seguro em troca da promessa de ela pagar uma indenização em determinadas situações do mundo. pressuposto de tudo o mais constante no desenvolvimento de um modelo, o pressuposto de que todos os fatores relevantes, exceto aquele que está sendo examinado, permanecem inalterados (também se usa com a denominação de pressuposto ceteris paribus). previsão prognóstico simples do futuro. princípio da análise marginal de maximização da utilidade princípio em que a utilidade marginal por dólar gasto deve ser a mesma para todos os bens e serviços no pacote de consumo ótimo. princípio da análise marginal de maximização do lucro proposição que diz em uma decisão “quanto” de maximização do lucro a quantidade ótima é a maior quantidade em que o benefício marginal é maior ou igual ao custo marginal.

princípio da capacidade de pagar princípio de justiça tributária pelo qual quem tem maior capacidade de pagar impostos deve pagar mais impostos. princípio da tomada de decisão “ou-ou” em uma decisão entre duas atividades, a que tem lucro econômico positivo deve ser escolhida. princípio da utilidade marginal decrescente proposição de que cada unidade sucessiva de um bem ou serviço consumida adiciona menos de utilidade total que a unidade anterior. princípio do benefício princípio de justiça tributária segundo o qual se deve impor aos que se beneficiam do gasto público a carga de imposto que paga esse gasto. problema da carona (free-rider) quando os indivíduos não têm qualquer incentivo para pagar pelo próprio consumo de um bem, pegam “carona” de qualquer um que o pague; é um problema em relação aos bens que são não excluíveis. produto de custo mínimo quantidade de produto em que o custo total médio é mais baixo – a parte inferior da curva de custo total médio em forma de U. produto marginal montante em que aumenta a quantidade adicional do produto quando se usa uma unidade a mais de determinado insumo. produto padronizado produto de produtores diferentes considerado pelos consumidores como o mesmo bem; também chamado de commodity. produtor tomador de preço produtor cujas ações não têm efeito sobre o preço de mercado do bem ou serviço que vende. programa de seguridade social programa do governo destinado a proteger as famílias contra as dificuldades econômicas imprevisíveis. programas antipobreza programa do governo destinado a ajudar os pobres.

programas com critério de renda descrevem um programa em que os benefícios estão disponíveis apenas para indivíduos ou famílias cuja renda está abaixo de determinado nível. propagação de tecnologia benefício externo resultante da disseminação do conhecimento entre indivíduos e empresas. propriedade pública quando os bens são ofertados pelo governo ou por uma empresa de propriedade do governo para proteger o interesse do consumidor em resposta ao monopólio natural. proteção termo alternativo para proteção comercial. Política que limita as importações. proteção comercial políticas que limitam as importações. quantidade de equilíbrio quantidade de um bem ou serviço comprado e vendido ao preço de equilíbrio (ou preço de ajuste do mercado). quantidade de poluição socialmente ótima quantidade de poluição que a sociedade escolheria se todos os custos e benefícios da poluição fossem totalmente contabilizados. quantidade demandada quantidade real de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos a comprar a um preço específico. quantidade ofertada quantidade real de um bem ou serviço que os produtores estão dispostos a vender a um preço específico. quantidade ótima quantidade que gera o máximo ganho líquido total possível. racional descreve um tomador de decisão que escolhe a opção disponível que leva ao resultado que mais prefere. racionalidade limitada base para tomada de decisão que leva a uma escolha que é semelhante, mas não exatamente a que leva ao melhor resultado

econômico possível, método de tomada de decisão “bom o bastante”. receita marginal variação na receita total gerada por uma unidade de produto adicional. receita total valor total de venda de um bem ou serviço (o preço do bem ou serviço multiplicado pela quantidade vendida). recessão desaceleração da economia. recurso qualquer coisa, tal como terra, trabalho e capital, que pode ser usada para produzir outra coisa; inclui recursos naturais (do ambiente físico) e recursos humanos (trabalho, habilidade e inteligência). recurso comum recurso não excluível e rival no consumo. recursos desperdiçados forma de ineficiência na qual os consumidores gastam dinheiro, esforço e tempo para lidar com a escassez causada pelo teto de preço. regra de alocação de tempo ótimo princípio segundo o qual um indivíduo deve alocar o tempo de modo que a utilidade marginal obtida da renda recebida de uma hora de trabalho adicional é igual à utilidade marginal de uma hora adicional de lazer. regra do preço relativo no pacote de consumo ótimo, a taxa marginal de substituição de um bem em lugar de outro é igual ao preço relativo. regra do produto ótimo princípio pelo qual o lucro é maximizado por meio da produção da quantidade de produto em que a receita marginal da última unidade produzida é igual ao custo marginal. regra do produto ótimo de uma empresa tomadora de preço princípio pelo qual o lucro de uma empresa tomadora de preço é maximizado ao produzir a quantidade de produto em que o custo marginal da última unidade produzida é igual ao preço de mercado.

regulação de preço limitação do preço que um monopolista é autorizado a cobrar. relação causal relação entre duas variáveis em que o valor atribuído à variável influencia ou determina diretamente o valor da outra variável. relação linear relação entre duas variáveis em que a inclinação é constante e, portanto, está representada no gráfico por uma curva que é uma linha reta. relação não linear relação entre duas variáveis em que a inclinação não é constante e, portanto, está representada em um gráfico por uma curva que não é uma linha reta. relação negativa relação entre duas variáveis em que o aumento no valor de uma das variáveis está associado a uma diminuição no valor da outra variável. É ilustrado por uma curva que se inclina para baixo, da esquerda para a direita. relação positiva relação entre duas variáveis em que o aumento no valor de uma variável está associado ao aumento no valor da outra variável. É ilustrado por uma curva que se inclina para cima, da esquerda para a direita. renda da cota diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta no limite da cota; essa diferença, o ganho obtido pelo titular da cota, é igual ao preço de mercado da licença quando esta é negociada no mercado. renda familiar média renda média de todas as famílias. renda familiar mediana renda da família que fica exatamente no meio da distribuição de renda. rendimentos decrescentes de escala o custo total médio de longo prazo aumenta à medida que o produto aumenta (também conhecido como deseconomias de escala). reputação prestígio de longo prazo junto ao público que serve para assegurar que não está sendo ocultada informação privilegiada; é um recurso

valioso quando se trata de enfrentar a seleção adversa. restrição orçamentária o custo de um pacote de consumo de um consumidor não pode exceder a renda total desse consumidor. retornos constantes de escala o custo total médio de longo prazo é constante à medida que o produto aumenta. retornos crescentes de escala o custo total médio de longo prazo diminui à medida que o produto aumenta (também chamado de economias de escala). retornos decrescentes de um insumo efeito observado de que quando aumenta a quantidade de um insumo, mantendo fixo o nível de todos os outros insumos, o produto marginal daquele insumo declina. risco incerteza sobre o resultado futuro. risco nanceiro incerteza sobre resultados monetários. risco moral situação que pode ocorrer quando um indivíduo sabe mais sobre as implicações de suas próprias ações do que outras pessoas. Isso leva a uma distorção dos incentivos para tomar cuidado ou fazer esforço, sobretudo quando os outros sofrem o custo da falta de cuidado ou de esforço. rival no consumo quando se refere a um bem descreve o caso em que uma unidade não pode ser consumida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. salário mínimo piso legal do nível de salário. Salário é o preço do mercado do trabalho. seguro-saúde privado programa em que cada membro de um grande grupo de indivíduos paga um valor fixo para uma empresa privada, que se compromete a pagar a maior parte das despesas médicas dos membros do grupo.

seleção adversa caso em que um indivíduo sabe mais que os outros sobre como as coisas são. O problema da seleção adversa pode levar a problemas de mercado: informação privilegiada que leva os compradores a esperar problemas ocultos em itens oferecidos para venda, levando a uma baixa de preços e à exclusão dos melhores itens do mercado. setor perfeitamente competitivo setor em que todos os produtores são tomadores de preços. sinal econômico qualquer informação que ajuda as pessoas a tomar melhores decisões econômicas. sinalizar tomar alguma ação para estabelecer credibilidade apesar de possuir informação privilegiada; uma forma de reduzir a seleção adversa. sindicatos organizações de trabalhadores que tentam aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho dos seus membros através da negociação coletiva. sistema de pagador único sistema de assistência à saúde em que o governo é o principal pagador das contas médicas com recursos dos impostos. situação do mundo evento futuro possível. subsídio pigouviano pagamento destinado a incentivar atividades que produzem benefícios externos. substitutos dois bens para os quais um aumento no preço de um dos bens conduz a um aumento na demanda do outro bem. substitutos perfeitos bens para os quais as curvas de indiferença são linhas retas; a taxa marginal de substituição de um bem por outro bem é constante, independentemente de quanto de cada bem um indivíduo consome. tabela de demanda lista ou tabela mostrando a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estariam dispostos a comprar a preços diferentes.

tabela de oferta lista ou tabela que mostra quanto de um bem ou serviço os produtores ofertarão a preços diferentes. tangente linha reta que só toca uma curva não linear em um ponto particular, a inclinação da tangente é igual à inclinação da curva não linear nesse ponto. tarifa imposto cobrado sobre importações. taxa de pobreza porcentagem da população com renda abaixo do limiar da pobreza. taxa marginal de substituição relação entre a utilidade marginal de um bem e a utilidade marginal de outro. taxa marginal de substituição decrescente princípio de que quanto mais de um bem é consumido em proporção a outro, menos do segundo bem o consumidor estará disposto a substituir por outra unidade do primeiro bem. tecnologia meio técnico para a produção de bens e serviços. tendência ao status quo tendência a evitar tomar uma decisão. teorema de Coase proposição de que mesmo na presença de externalidades uma economia pode sempre alcançar uma solução e ciente, desde que os custos de transação sejam suficientemente baixos. teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal proposição de que cada fator de produção é pago segundo seu valor de equilíbrio do produto marginal. teoria dos jogos estudo do comportamento em situações de interdependência. Costuma explicar o comportamento de um oligopólio. terceirização externa (offshore outsourcing) prática das empresas de contratar pessoas de outro país para executar várias tarefas.

toma lá dá cá na teoria dos jogos, estratégia pela qual os parceiros começam cooperando e, depois, cada parceiro repete a ação do outro parceiro na rodada anterior. trade-off comparação de custos e benefícios de se fazer alguma coisa. trade-off entre equidade e e ciência dinâmica segundo a qual um sistema tributário bem formulado só pode tornar-se mais eficiente se se tornar menos justo e vice-versa. transferências do governo pagamento do governo para um indivíduo ou uma família. triagem uso de informação observável sobre as pessoas para fazer inferências sobre sua informação privilegiada; uma maneira de reduzir a seleção adversa. truncado cortado; em um eixo truncado, alguma parte do âmbito dos valores é omitida, geralmente, para economizar espaço. União Europeia (UE) união aduaneira entre 27 países europeus. uso excessivo esgotamento de um recurso comum quando os indivíduos ignoram o fato que seu uso esgota a quantidade de recursos restante para os outros. util unidade de utilidade. utilidade (de um consumidor) medida de satisfação derivada do consumo de bens e serviços. utilidade esperada valor esperado da utilidade total de um indivíduo dada a incerteza sobre os resultados futuros. utilidade marginal variação na utilidade total gerada pelo consumo de uma unidade adicional de um bem ou serviço.

utilidade marginal por dólar utilidade adicional obtida pelo gasto de $1 a mais em um bem ou serviço. valor absoluto valor de um número sem levar em conta o sinal positivo ou negativo. valor de equilíbrio do produto marginal valor adicional produzido pela última unidade de um fator empregado no mercado de fatores como um todo. valor do produto marginal valor do produto adicional gerado ao empregar uma unidade a mais de determinado fator, como trabalho. valor esperado com referência a uma variável aleatória é a média ponderada de todos os valores possíveis, onde os pesos de cada valor possível correspondem à probabilidade de que esse valor ocorra. vantagem absoluta vantagem conferida a um indivíduo ou país em uma atividade se o indivíduo ou país puder realizá-la melhor do que os outros. Um país com vantagem absoluta pode produzir mais produto por trabalhador do que outros países. vantagem comparativa vantagem obtida por um indivíduo ou país na produção de um bem ou serviço a um custo de oportunidade mais baixo do que o de outros produtores. variável quantidade que pode assumir mais de um valor. variável aleatória variável cujo valor futuro é incerto. variável dependente variável determinada em uma relação causal. variável independente variável determinante em um relacionamento causal. variável omitida variável não observada que, por meio de sua influência sobre outras variáveis, cria a aparência errônea de uma relação causal direta entre essas variáveis.

SOLUÇÕES

» Soluções para as questões de “Teste seu entendimento” Esta seção oferece sugestões de respostas para as questões “Teste seu entendimento” de cada capítulo. Capítulo 1 Teste seu entendimento 1-1

1.      a. b.

c.

d.

2.      a.

Isso ilustra o conceito de custo de oportunidade. Dado que há um máximo que uma pessoa pode comer em uma única refeição, comer uma fatia adicional de bolo de chocolate implica abrir mão de comer outra coisa, como uma fatia de torta de creme de coco. Isso ilustra o conceito que os recursos são escassos. Mesmo que houvesse mais recursos no mundo, a quantidade total desses recursos seria limitada. Em consequência, ainda assim haveria escassez. Para que não houvesse escassez, teria que haver quantidades ilimitadas de tudo (incluindo tempo ilimitado na vida humana), que certamente é impossível. Isso ilustra o conceito de que as pessoas costumam explorar as oportunidades de melhorar sua situação. Os estudantes procuram melhorar a situação se matriculando para receber orientação com os assistentes de ensino de melhor reputação e evitando aqueles com reputação que não são bons professores. Também ilustra o conceito de que os recursos são escassos. Se houvesse espaço ilimitado nas aulas dos bons assistentes de ensino, elas não iriam encher. Isso ilustra o conceito de análise marginal. Sua decisão sobre a alocação de tempo é uma decisão “quanto”: quanto tempo de exercício versus quanto tempo de estudo. A decisão é tomada comparando-se o benefício de uma hora adicional de exercício físico com seu custo, o efeito sobre as notas de uma hora a menos de estudo. Sim. O aumento do tempo gasto em viagem é um custo a incorrer aceitando o novo emprego. Esse tempo adicional gasto em viagem – ou de forma equivalente, o benefício que

b.

c.

se obtém em se gastar esse tempo fazendo outra coisa, é um custo de oportunidade do novo emprego. Sim. Uma das vantagens do novo emprego é que você estará recebendo $50.000. Mas se aceitar o novo emprego, terá de desistir do emprego atual, ou seja, deixará de receber o salário atual de $45.000. Então, $45.000 é um custo de oportunidade de aceitar o novo emprego. Não. Um escritório mais espaçoso é um benefício adicional do seu novo emprego e não envolve renúncia a alguma outra coisa. Portanto, não é um custo de oportunidade.

Teste seu entendimento 1-2

1.      a.

b. c.

d. e.

2.      a.

b.

Isso ilustra o conceito de que os mercados geralmente levam à eficiência. Qualquer vendedor que queira vender um livro por pelo menos $30, de fato, vende a alguém disposto a comprar um livro por $30. O resultado é que não existe maneira de mudar a forma como os livros usados são distribuídos entre compradores e vendedores de uma maneira que melhore a situação de uma pessoa sem piorar a de outra. Isso ilustra o conceito de que existem ganhos do comércio. Os estudantes intercambiam o serviço de monitor com base nas diferentes competências acadêmicas. Isso ilustra o conceito de que quando os mercados não alcançam eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Nesse caso, o mercado, por si, permitirá que bares e discotecas imponham um custo a seus vizinhos, na forma de música alta, custo que bares e discotecas não têm incentivo de levar em conta. Esse é um resultado ineficaz porque a sociedade em seu conjunto pode melhorar de situação se bares e discotecas forem obrigados a reduzir o ruído. Isso ilustra o conceito de que os recursos devem ser usados da forma mais eficiente possível para alcançar os objetivos da sociedade. Ao fechar clínicas de bairro e transferir fundos para o hospital central, pode ser oferecida melhor assistência médica a um custo menor. Isso ilustra o conceito de que os mercados se movem em direção ao equilíbrio. Aqui, dado que os livros com a mesma quantidade de desgaste são vendidos aproximadamente pelo mesmo preço, nenhum comprador ou vendedor pode melhorar a situação fazendo uma transação diferente da que levou a cabo. Isso significa que o mercado de livros usados se moveu para o equilíbrio. Isso não descreve uma situação de equilíbrio. Muitos estudantes desejariam mudar de comportamento e passar a comer no restaurante. Portanto, a situação descrita não é de equilíbrio. Um equilíbrio será estabelecido quando a situação dos estudantes for igualmente boa comendo no restaurante ou na cafeteria da faculdade – o que aconteceria se, por exemplo, os preços dos restaurantes fossem mais altos do que os da cafeteria. Isso é uma situação de equilíbrio. Ao mudar de comportamento usando o ônibus, você não estaria em situação melhor. Portanto, não tem incentivo para mudar de comportamento.

Teste seu entendimento 1-3 1.      a. Isso ilustra o princípio de que políticas governamentais podem mudar os gastos. O corte de impostos aumentaria a renda pós-impostos das pessoas, levando a maior gasto de consumo. b. Isso ilustra o princípio de que o gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa. Quando as empresas de petróleo aumentam seu gasto com trabalho com a contratação de mais trabalhadores ou pagando salários mais altos aos trabalhadores que já estão na empresa, a

c.

renda desses trabalhadores aumenta. Por sua vez, esses trabalhadores aumentam os gastos de consumo, que se transforma em renda de restaurantes e de outras empresas de consumo. Isso ilustra o princípio de que o gasto total, às vezes, fica fora de sintonia com a capacidade produtiva da economia. Nesse caso, o gasto de habitação foi muito alto em relação à capacidade da economia de criar novas moradias. Isso primeiro levou ao aumento de preços das moradias e, então, ao aumento geral de preços, ou à in ação.

Capítulo 2 Teste seu entendimento 2-1 1.      a. Falso. Um aumento nos recursos disponíveis da Boeing para usar na produção de Dreamliners e pequenos jatos muda a fronteira das possibilidades de produção, deslocandoa para fora. Isso ocorre porque agora a Boeing pode produzir mais jatinhos e Dreamliners do que antes. Na figura a seguir, a linha chamada “PPF original da Boeing” representa a fronteira das possibilidades de produção original da Boeing e a linha chamada “nova PPF da Boeing” representa a nova fronteira das possibilidades de produção que resulta de um aumento de recursos disponíveis para a Boeing.

b.

Verdadeiro. A mudança tecnológica que permite que a Boeing construa mais jatos pequenos para qualquer quantidade de Dreamliners resulta em uma mudança na fronteira das possibilidades de produção. Isso está ilustrado na figura a seguir: a nova fronteira das possibilidades de produção está representada pela linha chamada “nova PPF da Boeing”, e a fronteira de produção original está representada pela linha chamada “PPF original da Boeing”. Desde que a quantidade máxima de Dreamliners que a Boeing pode construir é a mesma que antes, a nova fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo vertical no mesmo ponto que a fronteira original. Mas, uma vez que a quantidade máxima possível de pequenos jatos agora é maior do que antes, a nova fronteira cruza o eixo horizontal à direita da fronteira original.

c.

2.      a.

b.

c.

Falso. A fronteira das possibilidades de produção ilustra a quanto de um bem uma economia deve renunciar para obter mais de outro bem apenas quando os recursos são usados de forma eficiente na produção. Se uma economia está produzindo de forma ineficiente – isto é, no interior da fronteira – não há necessidade de sacrificar uma unidade de um bem, a fim de obter uma unidade de outro bem. Em vez disso, ao se tornar mais eficiente, essa economia pode ter mais de ambos os bens. Os Estados Unidos têm vantagem absoluta na produção de automóveis porque são necessários menos americanos (6) para produzir um carro em um dia que italianos (8). Os Estados Unidos também têm vantagem absoluta na produção de máquinas de lavar roupa, porque são necessários menos americanos (2) para produzir uma máquina de lavar em um dia do que italianos (3). Na Itália, o custo de oportunidade de uma máquina de lavar roupa em termos de automóveis é 3/8: 3/8 de um carro pode ser produzido com o mesmo número de trabalhadores e no mesmo tempo que leva para produzir uma máquina de lavar. Nos Estados Unidos, o custo de oportunidade de uma máquina de lavar roupa em termos de automóveis é 2/6 = 1/3: 1/3 de um carro pode ser produzido com o mesmo número de trabalhadores e no mesmo tempo que leva para produzir uma máquina de lavar roupa. Como 1/3 < 3/8, os Estados Unidos têm vantagem comparativa na produção de máquinas de lavar roupa: para produzir uma máquina de lavar roupa, é necessário sacrificar somente 1/3 de um carro nos Estados Unidos, mas 3/8 de um carro na Itália. Isso significa que a Itália tem vantagem comparativa em automóveis. Isso pode ser verificado da maneira seguinte: o custo de oportunidade de um automóvel em termos de uma máquina de lavar na Itália é 8/3 = 2 2/3: 2 2/3 de máquinas de lavar roupa podem ser produzidas com o mesmo número de trabalhadores e no tempo que leva para produzir um carro na Itália. E o custo de oportunidade de um automóvel em termos de uma máquina de lavar roupa nos Estados Unidos é de 6/2 = 3: 3 máquinas de lavar roupa podem ser produzidas com o mesmo número de trabalhadores e no tempo que leva para produzir um carro nos Estados Unidos. Desde que 2 2/3 < 3, a Itália tem vantagem comparativa na produção de automóveis. Os maiores ganhos são obtidos quando cada país se especializa na produção do bem para o qual tem vantagem comparativa. Portanto, os Estados Unidos deveriam se especializar em máquinas de lavar roupa e a Itália em automóveis.

3.

4.

Em uma troca de 10 jatos grandes dos Estados Unidos por 15 jatos pequenos brasileiros, o Brasil abre mão de menos jatos grandes do que abriria ao construir esses jatos por si mesmo. Sem troca, o Brasil abre mão de três jatos pequenos para cada jato grande que produz. Com troca, o Brasil abre mão de apenas 1,5 jatos pequenos para cada jato grande dos Estados Unidos. Da mesma forma, os Estados Unidos abrem mão de menos jatos pequenos do que abriria se os tivesse fabricando. Sem troca, os Estados Unidos abrem mão de 3/4 de um jato grande para cada jato pequeno. Com troca, os Estados Unidos abrem mão de apenas 2/3 de um jato grande para cada jato pequeno do Brasil. Um aumento no montante de dinheiro gasto pelas famílias resulta em um aumento no fluxo de bens para as famílias. Esse, por sua vez, gera um aumento na demanda de fatores de produção por parte das empresas. Assim, há um aumento no número de empregos na economia.

Teste seu entendimento 2-2 1.      a. Essa é uma afirmação normativa, pois determina o que deve ser feito. Além disso, pode não haver nenhuma resposta “correta”. Ou seja, as pessoas deveriam ser impedidas de todo comportamento pessoal perigoso se gostam desse comportamento – como saltar de paraquedas? Sua resposta vai depender do ponto de vista. b. Essa é uma afirmação positiva, porque descreve um fato. 2.      a. Verdadeiro. Os economistas, muitas vezes, têm juízo de valor diferente sobre a conveniência de um objetivo social específico. Mas apesar dessas diferenças, tendem a concordar que quando a sociedade decide perseguir determinado objetivo social, deve adotar a política mais eficiente para alcançar esse objetivo. Por isso os economistas provavelmente concordariam em adotar a escolha política B. b. Falso. Os desacordos entre economistas são mais propensos a surgir porque baseiam suas conclusões em modelos diferentes ou porque têm juízo de valor diferente sobre a conveniência da política. c. Falso. Decidir quais as metas que uma sociedade deve procurar alcançar é uma questão de juízo de valor, não uma questão de análise econômica.

Capítulo 3 Teste seu entendimento 3-1

1.      a.

b. c. d.

A quantidade de guarda-chuvas demandada é mais alta a qualquer preço dado em dia chuvoso do que em um dia seco. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda, pois a qualquer preço dado a quantidade demandada aumenta. Isso implica que qualquer quantidade específica pode agora ser vendida a um preço mais elevado. A quantidade de telefonemas de fim de semana demandada aumenta em resposta à redução de preços. Isso é um movimento ao longo da curva da demanda por chamadas de fim de semana. A demanda de rosas aumenta na semana do dia dos namorados. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda. A quantidade demandada de gasolina cai em resposta a um aumento de preço. Esse é um movimento ao longo da curva da demanda.

Teste seu entendimento 3-2

1.      a. b. c.

d. e.

A quantidade de casas ofertadas aumenta como resultado de um aumento nos preços. Esse é um movimento ao longo da curva da demanda. A quantidade de morangos ofertada é maior a qualquer preço. Esse é um deslocamento da curva da oferta para a direita. A quantidade de trabalho ofertada é mais baixa a qualquer salário dado. Esse é um deslocamento para a esquerda da curva da oferta, comparada com a curva da oferta durante as férias escolares. Assim, a fim de atrair trabalhadores, as cadeias de fast-food precisam oferecer salários mais altos. A quantidade de trabalho ofertada sobe em resposta ao aumento de salários. Esse é um movimento ao longo da curva da oferta. A quantidade de cabines ofertada é mais alta a qualquer preço. Esse é um deslocamento para a direita da curva da oferta.

Teste seu entendimento 3-3

1.      a. b. c.

A curva de oferta se desloca para a direita. Ao preço de equilíbrio original do ano anterior, a quantidade de uvas ofertada excede a quantidade demandada. Esse é um caso de excedente. O preço das uvas vai cair. A curva da demanda se desloca para a esquerda. Ao preço de equilíbrio original, a quantidade de quartos de hotel ofertada excede a quantidade demandada. Esse é um caso de excedente. As diárias de hotel vão cair. A curva da demanda de removedores de neve de segunda mão se desloca para a direita. Ao preço de equilíbrio original, a quantidade de removedores de neve demandada excede a quantidade ofertada. Esse é um caso de escassez. O preço de equilíbrio dos removedores de neve vai aumentar.

Teste seu entendimento 3-4 1.      a. O mercado de carros grandes: esse é um deslocamento para a direita na demanda causado pela redução no preço de um complemento, a gasolina. Em consequência do deslocamento, o preço de equilíbrio dos carros maiores aumentará e a quantidade de equilíbrio dos carros maiores comprados e vendidos também aumentará. b. O mercado de papel novo feito de estoques reciclados: esse é um deslocamento para a direita na oferta, em virtude de uma inovação tecnológica. Em consequência desse deslocamento, o preço de equilíbrio do papel novo feito de reciclado vai cair, e a quantidade de equilíbrio comprada e vendida aumentará. c. O mercado de filmes em um cinema local: esse é um deslocamento para a esquerda na demanda causado por uma queda no preço de um substituto, os filmes pagos na televisão. Em consequência desse deslocamento, o preço de equilíbrio dos ingressos de cinema cairá, e o número de equilíbrio de pessoas que vão ao cinema também cairá. 2. Após o anúncio do novo chip, a curva da demanda de computadores que usam o chip antigo se deslocará para a esquerda à medida que a demanda cai e a curva da oferta para esses computadores se desloca para a direita à medida que a oferta aumenta. a. Se a demanda diminui relativamente mais do que a oferta aumenta, a quantidade de equilíbrio cai, como se vê a seguir:

b.

Se a oferta aumenta relativamente mais do que a demanda diminui, então a quantidade de equilíbrio aumenta, como mostrado aqui:

Em ambos os casos, o preço de equilíbrio cai.

Capítulo 4 Teste seu entendimento 4-1

1.

Um consumidor compra cada pimenta, se o preço for menor do que (ou apenas igual a) a disposição do consumidor de pagar por essa pimenta. A tabela de demanda é construída perguntando quantas pimentas serão demandadas a qualquer preço. A tabela a seguir ilustra essa demanda.

Preço da pimenta demandada

Quantidade de pimentas demandadas

Quantidade de pimentas por Casey

Quantidade de pimentas demandadas por Josey

$0,90

1

1

0

0,80

2

1

1

0,70

3

2

1

0,60

4

2

2

0,50

5

3

2

0,40

6

3

3

0,30

8

4

4

0,20

8

4

4

0,10

8

4

4

0,00

8

4

4

Quando o preço é $0,40, o excedente do consumidor de Casey da primeira pimenta é $0,50, da segunda pimenta é $0,30, da terceira pimenta é $0,10 e ele não compra mais pimentas. O excedente do consumidor individual de Casey é, portanto, $0,90. O excedente do consumidor de Josey da primeira pimenta é $0,40, da segunda pimenta é $0,20, da terceira pimenta é $0,00 (já que o preço é exatamente igual à disposição de pagar, ela compra a terceira pimenta, mas não recebe o excedente do consumidor), e não compra mais pimentas. O excedente do consumidor individual de Josey é, portanto, $0,60. O excedente do consumidor total a um preço de $0,40 é $0,90 + $0,60 = $1,50. Teste seu entendimento 4-2

1.

Um produtor oferta cada pimenta, se o preço for maior que o (ou apenas igual ao) custo do produtor de produzir essa pimenta. A tabela de oferta foi construída ao se questionar quantas pimentas serão fornecidas a qualquer preço. A tabela do canto superior direito ilustra a tabela de oferta. Quando o preço é $0,70, o excedente do produtor de Cara da primeira pimenta é $0,60, da segunda pimenta é $0,60, da terceira pimenta é $0,30, da quarta pimenta é $0,10, e ela não oferece mais pimentas. O excedente do produtor individual de Cara é, portanto, $1,60. O excedente do produtor de Jamie da primeira pimenta é $0,40, da segunda pimenta é $0,20, da terceira pimenta é $0,00 (já que o preço é exatamente igual ao custo, ele vende a terceira pimenta, mas não recebe nenhum excedente do produtor), e não fornece mais nenhuma pimenta. O excedente do produtor individual de Jamie é, portanto, $0,60. O excedente do produtor total ao preço de $0,70 é, portanto, $1,60 + $0,60 = $2,20.

Preço de pimentas ofertadas

Quantidade de pimentas ofertadas

Quantidade de pimentas por Casey

Quantidade de pimentas ofertadas por Josey

$0,90

8

4

4

0,80

7

4

3

0,70

7

4

3

0,60

6

4

2

0,50

5

3

2

0,40

4

3

1

0,30

3

2

1

0,20

2

2

0

0,10

2

2

0

0,00

0

0

0

Teste seu entendimento 4-3

1.

A quantidade demandada é igual à quantidade ofertada a um preço de $0,50, o preço de equilíbrio. A esse preço, será comprada e vendida a quantidade total de cinco pimentas. Casey vai comprar três pimentas e receber o excedente do consumidor de $0,40 pela primeira, $0,20 pela segunda e $0,00 pela terceira. Josey vai comprar duas pimentas e receber o excedente do consumidor de $0,30 pela primeira e $0,10 pela segunda pimenta. O excedente do consumidor total é, portanto, $1,00. Cara vai ofertar três pimentas e receber o excedente do produtor de $0,40 pela primeira, $0,40 pela segunda e $0,10 pela terceira. Jamie vai ofertar duas pimentas e receber o excedente do produtor de $0,20 pela primeira e $0,00 pela segunda. O excedente do produtor total é, portanto, $1,10. O excedente total nesse mercado é, portanto, $1,00 + $1,10 = $2,10. 2.      a. Se Josey consumir uma pimenta a menos, ela perde $0,60 (sua disposição de pagar pela segunda pimenta), se Casey consumir uma pimenta a mais, ganha $0,30 (a disposição de pagar pela quarta pimenta). Isso resulta em uma perda global do excedente do consumidor de $0,60 − $0,30 = $0,30. b. O custo de Cara da última pimenta ofertada (a terceira pimenta) é $0,40, e o custo de Jamie de produzir uma a mais (sua terceira pimenta) é $0,70. O excedente do produtor total, portanto, cai $0,70 – $0,40 = $0,30. c. A disposição de pagar de Josey pela segunda pimenta é $0,60; isso é o que ela perderia se fosse consumir uma pimenta a menos. O custo de Cara de produzir a terceira pimenta é $0,40; isso é o que ela pouparia se fosse produzir uma pimenta a menos. Se, portanto, a quantidade fosse reduzida em uma pimenta, perderíamos $0,60 − $0,40 = $0,20 do excedente total. 3. A nova diretriz é suscetível de reduzir o tempo de vida total dos receptores de rins porque os receptores antigos (aqueles com crianças pequenas) são mais propensos a receber um rim em

comparação com a diretriz inicial. Como resultado, o excedente total é provável que caia. No entanto, essa nova política pode ser justificada como um sacrifício aceitável de eficiência para a justiça por ser um objetivo desejável para reduzir a chance de uma criança pequena perder um pai. Teste seu entendimento 4-4

1.

2.

3.

Quando esses direitos são separados, alguém que possui tanto o direito do uso da superfície da terra como o direito minerário do subsolo pode vender cada um desses direitos separadamente em seus mercados. E cada um desses mercados alcançará a eficiência: se o preço de mercado do direito da superfície for maior do que o custo do vendedor, o vendedor irá vender esse direito, e o excedente total vai aumentar. Se o preço de mercado do direito minerário for maior do que o custo do vendedor, o vendedor irá vender esse direito e o excedente total vai aumentar. Se, no entanto, os dois direitos não puderem ser vendidos separadamente, um vendedor pode vender apenas os dois direitos ou nenhum deles. Imagine uma situação em que o vendedor valorize muito o direito minerário (isto é, possua um custo de venda elevado), mas valorize o direito da superfície muito menos. Se os dois direitos estiverem separados, o proprietário poderá vender o direito da superfície (aumentando o excedente total), mas não o direito minerário do subsolo. Se, no entanto, os dois direitos não puderem ser vendidos separadamente, e o proprietário valorize muito o direito minerário, pode não vender nenhum dos dois direitos. Nesse caso, o excedente poderia ter sido criado por meio da venda do direito da superfície da terra, mas não vai se realizar porque os dois direitos não podem ser vendidos separadamente. Haverá muitos vendedores dispostos a vender seus livros, mas apenas alguns compradores dispostos a comprar livros a esse preço. Como consequência, apenas algumas transações irão ocorrer e muitas transações que teriam sido mutuamente benéficas não terão lugar. Isto, naturalmente, é ineficiente. Mercados, infelizmente, nem sempre levam à eficiência. Quando há falha de mercado, o resultado do mercado pode ser ineficiente. Isso pode ocorrer por três razões principais. Os mercados podem falhar quando, em uma tentativa de captura mais excedente, uma parte – um monopolista, por exemplo – impede que o comércio mutuamente benéfico ocorra. Os mercados também podem falhar quando as ações de um indivíduo têm efeitos colaterais – externalidades – no bem-estar dos outros. Finalmente, os mercados podem falhar quando os próprios bens – como os bens sobre os quais alguma informação relevante é particular – são inadequados para uma gestão eficiente pelos mercados. E quando os mercados não alcançam a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade.

Capítulo 5 Teste seu entendimento 5-5 1.      a. Menos proprietários estão dispostos a alugar as calçadas porque o teto de preço reduziu o pagamento que recebem. Esse é um exemplo de redução de preço que conduz a uma redução na quantidade ofertada. O gráfico apresenta uma redução na quantidade de 400 lugares de estacionamento pelo movimento do ponto E para o ponto A ao longo da curva da oferta.

b.

c. d. e. f. 2.      a. b.

c. 3.      a.

A quantidade demandada aumenta em 400 vagas à medida que o preço diminui. A um preço mais baixo, mais fãs querem ir de carro e alugar uma vaga de estacionamento. O gráfico apresenta isso pelo movimento do ponto E para o ponto B ao longo da curva da demanda. Sob um teto de preço, a quantidade demandada excede a quantidade ofertada, como resultado, surge escassez. Nesse caso, haverá uma escassez de 800 vagas de estacionamento. Isso é mostrado pela distância horizontal entre os pontos A e B. Tetos de preço resultam em desperdício de recursos. O tempo adicional que os fãs gastam para garantir uma vaga de estacionamento é tempo perdido. Tetos de preço levam à alocação ineficiente de um bem – aqui, as vagas de estacionamento – para os consumidores. Tetos de preço levam a mercados negros. Falso. Ao baixar o preço que os produtores recebem, um teto de preço leva a uma diminuição na quantidade ofertada. Verdadeiro. Um teto de preço leva a uma menor quantidade ofertada do que em um mercado não regulamentado, eficiente. Em consequência, algumas pessoas que estariam dispostas a pagar o preço de mercado e assim teriam conseguido o bem em um mercado não regulamentado, são incapazes de obtê-lo com a imposição de um teto de preço. Verdadeiro. Os produtores que ainda vendem o produto, agora recebem menos por ele e, portanto, estão em situação pior. Outros produtores acham que não vale a pena vender o produto e assim também ficarão em situação pior. Uma vez que o apartamento é alugado rapidamente pelo mesmo preço, não há variação (ganho ou perda) do excedente do produtor. Assim, qualquer variação no excedente total vem da variação no excedente do consumidor. Ao ser despejado, o montante do excedente do consumidor perdido é igual à diferença entre a disposição de pagar pelo apartamento e o valor do aluguel com controle de preço. Quando o apartamento é alugado para outra pessoa ao mesmo preço, o montante de excedente do consumidor que o novo locatário obtém é igual à diferença entre sua disposição de pagar e o valor do aluguel com controle de preço. Portanto, será uma transferência de excedente pura de uma pessoa para outra somente se tanto a sua disposição de pagar como a do novo locatário for a mesma. Uma vez que apartamentos com controle de preço nem sempre são alugados para aqueles que têm a maior disposição de pagar, a disposição de pagar do novo locatário pode ser igual, inferior ou superior à sua disposição de pagar. Se a disposição de pagar do novo locatário for inferior, isso vai criar perda por peso morto adicional: há algum excedente de consumidor

b.

c.

d.

adicional que foi perdido. No entanto, se a disposição de pagar do novo locatário for superior, isso vai criar aumento no excedente total, já que o novo locatário obtém mais excedente do consumidor do que você perde. Isso cria perda por peso morto: se você pudesse doar a entrada, alguém conseguiria obter excedente do consumidor igual à sua disposição de pagar pelo bilhete. Você não ganha nem perde qualquer excedente, se não puder ir ao concerto, independentemente de ceder ou não a entrada para alguém. Se pudesse vender a entrada, o comprador obteria o excedente do consumidor igual à diferença entre sua disposição de pagar pela entrada e o preço pelo qual você venderia o bilhete. Além disso, você obteria excedente do produtor igual à diferença entre o preço pelo qual você venderia o bilhete e o custo de venda da entrada (que, como você ganhou a entrada, é zero, presumivelmente). Uma vez que a restrição de vender ou ceder a entrada significa que esse excedente não pode ser obtido por ninguém, cria perda por peso morto. Se você pudesse ceder a entrada, como descrito anteriormente, resultaria em excedente do consumidor para o destinatário da entrada. Se cedesse a entrada para a pessoa com a maior disposição de pagar, não haveria perda por peso morto. Isso cria perda por peso morto. Se os alunos compram sorvete no campus, obtêm excedente do consumidor: sua disposição de pagar é maior do que o preço do sorvete. A faculdade obtém excedente do produtor: o preço é maior do que o custo da faculdade de vender o sorvete. Proibir a venda de sorvete no campus significa que essas duas fontes de excedente total são perdidas: há perda por peso morto. Levando em conta que o cão valoriza sorvete tanto quanto você, isso é pura transferência de excedente. Como você perde excedente do consumidor, o cão obtém igualmente esse tanto de excedente do consumidor.

Teste seu entendimento 5-2 1.      a. Alguns proprietários de postos de gasolina serão beneficiados com a obtenção de um preço mais elevado. QF indica as vendas feitas por esses proprietários. Mas alguns vão perder; existem aqueles que realizam vendas a preços de equilíbrio de mercado PE, mas não realizam vendas ao preço regulado PF. Essas vendas perdidas são indicadas no gráfico pela queda na quantidade demandada ao longo da curva da demanda, do ponto E ao ponto A. b. Aqueles que compram gasolina a um preço mais elevado PF provavelmente irão receber um serviço melhor. Um exemplo de qualidade alta pelo critério da eficiência causado por piso de preço quando os proprietários de postos de gasolina competem por qualidade e não por preço. Mas os adversários estão corretos ao afirmar que os consumidores geralmente ficarão em pior situação – aqueles que compram em PF ficariam felizes em comprar em PE, e muitos que estão dispostos a comprar a um preço entre PE e PF agora não estão mais dispostos a comprar. Isso é indicado no gráfico pela queda na quantidade demandada ao longo da curva da demanda, do ponto E para o ponto A. c. Os defensores estão errados porque os consumidores e alguns proprietários de postos de gasolina são prejudicados pelo piso de preço. Cada piso de preço cria “oportunidades perdidas” – transações desejáveis entre consumidores e proprietários de postos que não acontecem. Além disso, a ineficiência de recursos perdidos surge à medida que os consumidores gastam tempo e dinheiro dirigindo para outros estados. O piso de preço também tenta as pessoas a se envolverem em atividade no mercado negro. Com o piso de preço, apenas as unidades QF são vendidas. Mas a preços entre PE e PF, há motoristas que,

cumulativamente, querem comprar mais em QF e proprietários que estão dispostos a vender para eles, uma situação suscetível de conduzir à atividade ilegal.

Teste seu entendimento 5-3

1.      a.

b.

c. d.

O preço de uma corrida é $7 desde que a quantidade demandada a esse preço seja 6 milhões: $7 é o preço de demanda de 6 milhões de corridas. Essa é representada pelo ponto A na figura a seguir.

Aos 6 milhões de corridas, o preço de oferta é $3 por corrida, representado pelo ponto B na figura. A cunha entre o preço de demanda de $7 por corrida e o preço de oferta de $3 por corrida é a renda da cota por corrida, $4. Isso é representado na figura acima pela distância vertical entre os pontos A e B. A cota desencoraja 4 milhões de transações mutuamente benéficas. O triângulo sombreado na figura representa a perda por peso morto. Aos 9 milhões de corridas, o preço de demanda é $5,50 por corrida, indicado pelo ponto C na figura a seguir e o preço de oferta é $4,50 por corrida, indicado pelo ponto D. A renda da

cota é a diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta: $1.

2.

A figura a seguir mostra uma diminuição na demanda de 4 milhões de corridas, representada por um deslocamento para a esquerda da curva da demanda de D1 para D2: a qualquer preço dado, a quantidade demandada cai em 4 milhões de corridas. (Por exemplo, ao preço de $5, a quantidade demandada cai de 10 milhões para 6 milhões de corridas por ano.) Isso elimina o efeito de um limite de cota de 8 milhões de corridas. No ponto E2, o novo equilíbrio de mercado, a quantidade de equilíbrio é igual ao limite da cota. Em decorrência, a cota não tem efeito sobre o mercado.

Capítulo 6

Teste seu entendimento 6-1 1.

Pelo método do ponto médio, a variação percentual no preço de morangos é

Da mesma forma, a variação percentual na quantidade demandada de morangos é

2.

3.

Deixando de lado o sinal de menos, usando o método do ponto médio, a elasticidade-preço da demanda é 67%/40% = 1,7. Pelo método do ponto médio, a variação percentual na quantidade de ingressos de cinema demandada quando se passa de 4 mil para 5 mil é

Uma vez que a elasticidade-preço da demanda é 1 no nível de consumo corrente, será necessária uma redução de 22% no preço do ingresso de cinema para gerar um aumento de 22% na quantidade demandada. Como o preço aumenta, sabemos que a quantidade demandada deve cair. Dado o preço atual de $0,50, um aumento de $0,05 no preço representa uma mudança de 10%, usando o método da Equação 6-2. Assim, a elasticidade-preço da demanda é

de modo que a variação percentual na quantidade demandada é 12%. Um decréscimo de 12% na quantidade demandada representa 100.000 × 0,12 ou 12.000 sanduíches. Teste seu entendimento 6-2

1.      a. b. c.

d.

Demanda elástica. Os consumidores são muito sensíveis às variações de preços. Para um aumento de preço, o efeito quantidade (que tende a reduzir a receita total) supera o efeito preço (que tende a aumentar a receita total). No geral, isso leva a uma queda na receita total. Demanda de elasticidade unitária. Aqui, a perda de receita em virtude da queda no preço é exatamente igual à receita obtida com as vendas mais elevadas. O efeito quantidade compensa exatamente o efeito preço. Demanda inelástica. Os consumidores são relativamente insensíveis a variações de preço. Para os consumidores comprarem um percentual de aumento no produto, o preço deve cair um percentual maior. O efeito preço de uma queda no preço (que tende a reduzir a receita total) supera o efeito quantidade (que tende a aumentar a receita total). Como resultado, a receita total diminui. Demanda inelástica. Os consumidores são relativamente insensíveis ao preço, assim uma queda percentual no produto é acompanhada de um aumento percentual ainda maior no preço. O efeito preço de um aumento no preço (que tende a aumentar a receita total) supera o efeito quantidade (que tende a reduzir a receita total). Como resultado a receita total aumenta.

2.      a.

b.

A demanda por transfusão de sangue de uma vítima de acidente é muito provável que seja perfeitamente inelástica porque não há substituto e é necessário para a sobrevivência. A curva da demanda será vertical em uma quantidade igual à quantidade necessária para a transfusão. A demanda de borrachas verdes por alunos é provável que seja perfeitamente elástica porque existem substitutos facilmente disponíveis: borrachas que não são verdes. A curva da demanda será horizontal, a um preço igual ao das borrachas que não são verdes.

Teste seu entendimento 6-3 1. Pelo método do ponto médio, o aumento percentual na renda do Chelsea é

Da mesma forma, o aumento percentual no consumo de CDs é

2. 3.

Assim, a elasticidade-renda da demanda de CDs do Chelsea é de 120%/40% = 3. O consumo de refeições em restaurantes caros de Sanjay cairá mais que 10%, porque determinada variação percentual da renda (aqui uma queda de 10%) induz a uma variação percentual maior no consumo de um bem elástico em relação à renda. A elasticidade-preço cruzada da demanda é 5%/20% = 0,25. Uma vez que a elasticidade-preço cruzada da demanda é positiva, os dois bens são substitutos.

Teste seu entendimento 6-4

1.

Pelo método do ponto médio, a variação percentual do número contratado de horas de serviço de construção de sites é:

Da mesma forma, a variação percentual no preço de serviços de construção de sites é:

2.

A elasticidade preço da oferta é 50%/40% = 1,25. Assim, a oferta é elástica. Verdadeiro. Um aumento na demanda eleva o preço. Se a elasticidade-preço da oferta de leite é baixa, então uma oferta resultante de um aumento de preço é relativamente pequena. Como resultado, o preço do leite vai aumentar substancialmente para satisfazer o aumento da demanda por leite. Se a elasticidade-preço da oferta é alta, um montante relativamente grande de oferta adicional será produzido à medida que o preço aumenta. Em consequência, o preço do leite aumentará somente um pouco para satisfazer a maior demanda por leite. É

3. 4.

Falso. É verdade que a elasticidade-preço da oferta de longo prazo, em geral, é maior do que a elasticidade de curto prazo. Mas isso significa que as curvas de oferta de curto prazo em geral têm inclinação maior, não são mais planas do que as curvas de oferta de longo prazo. Verdadeiro. Quando a oferta é perfeitamente elástica, a curva de oferta é horizontal. Assim, uma mudança na demanda não tem nenhum efeito sobre o preço, afeta apenas a quantidade comprada e vendida.

Capítulo 7 Teste seu entendimento 7-1 1. A figura a seguir mostra que, após a introdução de um imposto seletivo, o preço pago pelos consumidores aumenta para $1,20, o preço recebido pelo produtor cai para $0,90. Os consumidores arcam com $0,20 dos $0,30 sobre o quilo da manteiga; os produtores arcam com $0,10 dos $0,30 por quilo da manteiga. O imposto introduz uma cunha de $0,30 entre o preço pago pelo consumidor e o preço recebido pelo produtor. Em consequência, a quantidade de manteiga comprada e vendida agora é 9 milhões de quilos.

2.

O fato de que a demanda é muito inelástica significa que os consumidores reduzirão sua demanda por livros didáticos muito pouco no caso de um aumento no preço em decorrência do imposto. O fato de que a oferta é um pouco elástica significa que os fornecedores responderão à queda de preço reduzindo a oferta. Em consequência, a incidência de um imposto recai pesadamente sobre os consumidores de livros de economia e muito pouco sobre os editores, como mostrado na figura a seguir.

3.

4.

5.

Verdadeiro. Quando há um substituto prontamente disponível, a demanda é elástica. Isso implica que os produtores não podem repassar facilmente o custo do imposto para os consumidores, porque os consumidores responderão ao aumento de preço mudando para o bem substituto. Além disso, quando os produtores têm dificuldade em ajustar a quantidade de bens produzidos, a oferta é inelástica. Ou seja, os produtores não podem reduzir facilmente a quantidade do produto em resposta a um preço líquido de imposto mais baixo. Assim, a incidência do imposto recairá mais pesadamente sobre os produtores do que sobre os consumidores. O fato de que a oferta é muito inelástica significa que os produtores reduzirão a oferta de água mineral muito pouco em resposta à queda no preço causada pelo imposto. A demanda, por outro lado, vai cair em resposta ao aumento no preço porque a demanda é um pouco elástica. O resultado é que a incidência do imposto vai recair pesadamente sobre os produtores de água mineral e muito pouco sobre os consumidores, como se vê na figura a seguir.

Verdadeiro. Quanto mais baixa a elasticidade da oferta, mais o ônus do imposto recairá sobre os produtores, em vez de sobre os consumidores, tudo o mais mantido constante.

Teste seu entendimento 7-2 1.      a. Sem o imposto seletivo, Zhang, Yves, Xavier e Walter vendem, e Ana, Bernice, Chizuko e Dagmar compram uma lata de refrigerante cada, a $0,40 por lata. Assim, a quantidade

b. c.

d.

e. f. 2.      a.

b.

comprada e vendida é 4. Com o imposto seletivo, Zhang e Yves vendem, e Ana e Berenice compram uma lata de refrigerante cada. Assim, a quantidade comprada e vendida é 2. Sem o imposto seletivo, o excedente do consumidor individual de Ana é $0,70 − $0,40 = $0,30, o de Bernice é de $0,60 − $0,40 = $0,20, o de Chizuko é $0,50 − $0,40 = $0,10, e o de Dagmar é $0,40 − $0,40 = 0. O excedente do consumidor total é $0,30 + $0,20 + $0,10 = $0,60. Com o imposto, o excedente do consumidor individual de Ana é $0,70 − $0,60 = $0,10 e o de Bernice é $0,60 − $0,60 = 0. O excedente do consumidor total pós-imposto é $0,10 + 0 = $0,10. Assim, o excedente do consumidor total perdido por causa do imposto é $0,60 − $0,10 = $0,50. Sem o imposto seletivo, o excedente do produtor individual de Zhang é $0,40 − $0,10 = $0,30, o de Yves é $0,40 − $0,20 = $0,20, o de Xavier é $0,40 − $0,30 = $0,10 e o de Walter é de $0,40 − $0,40 = 0. O excedente do produtor total é $0,30 + $0,20 + $0,10 + 0 = $0,60. Com o imposto, o excedente do produtor individual de Zhang é $0,20 − $0,10 = $0,10 e de Yves é $0,20 − $0,20 = 0. Assim, o excedente do produtor total de pós-imposto é $0,10 + $0,00 = $0,10. Assim, o excedente total perdido do produtor por causa do imposto é $0,60 − $0,10 = $0,50. Com o imposto, são vendidas duas latas de refrigerante, por isso a receita do governo com esse imposto seletivo é 2 × $0,40 = $0,80. O excedente total sem o imposto é $0,60 + $0,60 = $1,20. Com o imposto, o excedente total é $0,10 + $0,10 = $0,20, e a receita tributária do governo é $0,80. Então, a perda por peso morto desse imposto é $1,20 − ($0,20 + $0,80) = $0,20. A demanda de gasolina é inelástica porque não há substituto próximo da gasolina e é difícil para os motoristas conseguir um substituto para o uso do carro, como o transporte público. Em consequência, a perda por peso morto de um imposto sobre a gasolina seria relativamente pequena, como mostrado no gráfico a seguir.

A demanda por barras de chocolate ao leite é elástica porque existem substitutos próximos: barras de chocolate meio amargo, bombons de chocolate ao leite e assim por diante. Por isso, a perda por peso morto de um imposto sobre barras de chocolate ao leite seria relativamente elevada, como mostrado no gráfico a seguir.

Teste seu entendimento 7-3

1.      a.

b.

c.

d.

Como os motoristas são os beneficiários de programas de segurança nas estradas, esse imposto tem um bom desempenho de acordo com o princípio dos benefícios. Mas como o nível do imposto não depende da capacidade de pagar, ele não funciona bem de acordo com o princípio da capacidade para pagar. Como as pessoas de renda elevada que compram um carro tendem a gastar mais em um carro novo, um imposto calculado como porcentagem do preço de compra do carro funcionaria melhor segundo o princípio da capacidade para pagar. Um imposto de $500 fará as pessoas comprarem menos carros novos, mas um imposto com base em porcentagem fará as pessoas comprarem menos carros e menos carros de luxo. Esse imposto não funciona bem de acordo com o princípio dos benefícios, porque os contribuintes não são moradores locais, mas os beneficiários são moradores locais que se beneficiarão de melhores serviços do governo. Mas na medida em que as pessoas que se hospedam em hotéis têm renda mais alta comparada com as que não ficam em hotéis, o imposto funciona bem de acordo com o princípio da capacidade de pagar. Ele distorce a ação de ficar em um quarto de hotel nessa área, resultando em menos estadas de noites em quartos de hotel. Esse imposto funciona bem de acordo com o princípio do benefício porque os proprietários de residências locais são usuários das escolas locais. Também funciona bem de acordo com o princípio da capacidade de pagar, porque é calculado como porcentagem do valor das casas: moradores de renda mais alta, que possuem as casas mais caras, pagarão impostos mais elevados. Vai distorcer a ação de comprar uma casa nessa área em comparação com outra área com imposto sobre a propriedade mais baixo ou a ação de fazer reformas em casas que aumentem o valor estimado. Esse imposto funciona bem de acordo com o princípio dos benefícios porque os consumidores de alimentos são beneficiários dos programas governamentais de segurança alimentar. Ele não funciona bem de acordo com o princípio da capacidade de pagar, porque a alimentação é um bem de primeira necessidade e as pessoas de baixa renda pagarão aproximadamente o mesmo que as de renda mais alta. Esse imposto distorce a ação de comprar alimentos levando as pessoas a comprar variedades mais baratas de alimentos.

Teste seu entendimento 7-4

1.      a.

A alíquota marginal de imposto para alguém com renda de $5.000 é 1%: para cada $1 adicional de renda, $0,01 ou 1% é taxado como imposto. Essa pessoa paga o imposto total de $5.000 × 1% = 450, que é $50/$5.000 × 100 = 1% de sua renda. b. A alíquota marginal de imposto para alguém com renda de $20.000 é 2%: para cada $1 adicional de renda, $0,02 ou 2% é entregue como imposto. Essa pessoa paga um imposto total de $10.000 × 1% + $10.000 × 2% = $300, que é ($300/$20.000) × 100 = 1,5% da renda. c. Como o contribuinte de alta renda paga uma porcentagem mais alta de sua renda que o contribuinte de baixa renda, esse imposto é progressivo. 2. Um imposto de 1% sobre gastos de consumo significa que uma família que ganha $15.000 e gasta $10.000 pagará um imposto de 1% × 10.000 = $100, equivalente a 0,67% de sua renda: ($100/15.000) × 100 = 0,67%. Mas uma família que ganhe $10.000 e gaste $8.000 pagará um imposto de 1% × $8.000 = $80, o equivalente a 0,80% da renda: ($80/$10.000) × 100 = 0,80%. Assim, o imposto é regressivo, pois famílias com renda mais baixa pagam uma porcentagem mais alta de sua renda em imposto do que famílias de renda mais alta. 3.      a. Falso. Lembre-se de que um vendedor sempre tem alguma carga de imposto, desde que sua oferta do bem não seja perfeitamente elástica. Uma vez que a oferta de trabalho que um trabalhador oferece não é perfeitamente elástica, o trabalhador arcará com parte da carga do imposto sobre a folha de pagamentos e, portanto, o imposto afetará o incentivo das pessoas a aceitar um emprego. b. Falso. Quando o imposto é proporcional, a porcentagem que incide sobre a base do tributo é a mesma para todos. Quando o imposto é de soma fixa, o imposto total pago é o mesmo para todos, independentemente da renda. Um imposto de soma fixa é regressivo.

Capítulo 8 Teste seu entendimento 8-1 1.      a. Para determinar a vantagem comparativa, é preciso comparar os custos de oportunidade dos dois países de determinado bem. Tome-se o custo de oportunidade de uma tonelada de milho em termos de bicicletas. Na China, o custo de oportunidade de uma bicicleta é 0,01 toneladas de milho; assim, o custo de oportunidade de uma tonelada de milho é 1/0,01 bicicletas = 100 bicicletas. Os Estados Unidos têm uma vantagem comparativa em milho, pois o custo de oportunidade em termos de bicicletas é 50, um número menor. Do mesmo modo, o custo de oportunidade de uma bicicleta em termos de milho é 1/50 toneladas de milho = 0,02 tonelada de milho nos Estados Unidos. Isso é superior a 0,01, o custo de oportunidade de uma bicicleta chinesa em termos de milho e implica que a China tem vantagem comparativa em bicicletas. b. Dado que os Estados Unidos podem produzir 200 mil bicicletas caso não produzam milho, podem produzir 200 mil bicicletas × 0,02 toneladas de milho/bicicleta = 4.000 toneladas de milho quando nenhuma bicicleta é produzida. Do mesmo modo, se a China pode produzir 3.000 toneladas de milho quando nenhuma bicicleta é produzida, pode produzir 3.000 toneladas de milho × 100 bicicletas/toneladas de milho = 300 mil bicicletas se não for produzido milho. Esses pontos determinam o intercepto vertical e horizontal na fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos e da China, como mostrado no gráfico a seguir.

c.

2.      a.

b.

O gráfico mostra os pontos de produção e consumo dos dois países. Cada país melhora nitidamente a situação com o comércio internacional, pois cada um consome agora um pacote de dois bens que se encontram fora da fronteira das possibilidades de produção, indicando que cada um desses pacotes seria inatingível em autarquia. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, esse padrão de comércio ocorre porque os Estados Unidos têm uma disponibilidade relativamente maior de fatores de produção, como capital humano e capital físico, que são adequados para a produção de cinema, mas a França tem uma disponibilidade relativamente maior de fatores de produção adequados para fazer vinho, como vinhedos e o capital humano dos viticultores. De acordo com o modelo de Heckscher-Ohlin, esse padrão de comércio ocorre porque os Estados Unidos têm uma disponibilidade de fatores de produção relativamente maior, como capital humano e físico, que são adequados para fabricar maquinaria, mas o Brasil tem uma disponibilidade relativa maior de fatores de produção adequados para fabricar sapatos, como mão de obra e couro.

Teste seu entendimento 8-2

1.

No gráfico a seguir, PA é o preço das uvas nos Estados Unidos em autarquia, e PW é o preço internacional das uvas havendo comércio internacional. Com o comércio, os consumidores americanos pagam por uvas o preço PW e consomem a quantidade QD, os produtores de uvas nos Estados Unidos produzem a quantidade QS e a diferença QD − QS, representa a importação de uvas mexicanas. Como consequência da greve dos caminhoneiros, as importações são

interrompidas, o preço pago pelo consumidor americano sobe para o preço de autarquia, PA, e o consumo nos Estados Unidos cai para a quantidade de autarquia, QA.

a.

2.

Antes da greve, os consumidores americanos desfrutavam de um excedente do consumidor igual à área W + X + Z. Após a greve, o excedente do consumidor encolheu para a área W. Assim, os consumidores pioram a situação, perdendo o excedente do consumidor representado pela área X + Z. b. Antes da greve, os produtores americanos tinham um excedente do produtor igual à área Y. Após a greve, o excedente do produtor aumentou para a área Y + X. Assim, os produtores americanos melhoraram a situação, ganhando o excedente do produtor representado por X. c. O excedente total dos Estados Unidos caiu em decorrência da greve, em um montante representado pela área Z, a perda do excedente do consumidor não passa aos produtores. Os produtores de uva mexicanos pioram a situação porque perdem venda de uvas exportadas para os Estados Unidos, e os catadores de uva mexicanos ficam em situação pior porque perdem salários que estavam associados às vendas perdidas. A demanda menor por uva mexicana causada pela greve implica que o preço pago pelo consumidor mexicano por uva diminuiu, tornando sua situação melhor. Os catadores de uva dos Estados Unidos estão em melhor situação porque seus salários aumentaram como resultado do aumento de QA − QS na venda de uvas nos Estados Unidos.

Teste seu entendimento 8-3 1.      a. Se a tarifa é $0,50, o preço pago pelos consumidores domésticos por um quilo de manteiga importada é $0,50 + $0,50 = $1,00, o mesmo preço que um quilo de manteiga doméstica. A manteiga importada não terá mais vantagem de preço sobre a manteiga doméstica, as importações serão suspensas, e os produtores domésticos vão capturar todas as vendas possíveis para os consumidores domésticos, vendendo a quantidade QA no gráfico a seguir. Mas se a tarifa for menor que $0,50 – digamos, apenas $0,25, o preço pago pelos consumidores domésticos por um quilo de manteiga importada é $0,50 + $0,25 = $0,75, que é $0,25 mais barato que um quilo de manteiga doméstica. Os produtores de manteiga

americana ganharão vendas na quantidade Q2 − Q1, em consequência da tarifa de $0,25. Mas isso é menos do que a quantia que teria ganhado com uma tarifa de $0,50, QA − Q1.

b. 2.

Contanto que a tarifa seja de pelo menos $0,50, aumentá-la não terá qualquer efeito. A uma tarifa de $0,50, todas as importações são de fato bloqueadas. Todas as importações são de fato bloqueadas com uma tarifa de $0,50. Então, essa tarifa corresponde a uma cota de importação zero.

Teste seu entendimento 8-4 1. Há bem menos empresas que usam aço como insumo do que há consumidores que compram açúcar ou roupa. Por isso, será mais fácil para aquelas empresas se comunicarem e coordenar entre si para fazer pressão contra tarifas do que será para os consumidores. Além disso, cada empresa percebe que o custo de uma tarifa sobre o aço é muito pesada para seu lucro, mas um consumidor individual desconhece ou percebe uma perda pequena por causa de tarifas sobre o açúcar ou roupa. As tarifas foram de fato suspensas no final de 2003. 2. Frequentemente, os países são tentados a proteger as indústrias nacionais, alegando que uma importação representa um perigo de qualidade, de saúde ou ambiental para o consumidor doméstico. Um funcionário da OMC deveria examinar se os produtores nacionais estão sujeitos ao mesmo rigor na aplicação de regulamentos de qualidade, saúde e ambiental que os produtores estrangeiros. Se o tratamento for o mesmo, é mais provável que os regulamentos tenham finalidade legítima e não a de proteção comercial. Se não for, então o mais provável é que os regulamentos sejam medidas de proteção comercial.

Capítulo 9 Teste seu entendimento 9-1 1.      a. Suprimentos são um custo explícito porque exigem desembolso de dinheiro. b. Se o porão puder ser usado de alguma outra forma que renda dinheiro, como alugá-lo a um estudante, o custo implícito é o dinheiro que se deixa de ganhar. Caso contrário, o custo implícito é zero. c. Salários são custos explícitos.

d.

2.

3.

Ao usar a van no negócio, Karma e Don renunciam ao dinheiro que podiam ter ganhado ao vendê-la. Assim, o uso da van é um custo implícito. e. O salário que Karma deixa de receber do seu trabalho é um custo implícito. Precisamos apenas comparar a escolha de se tornar mecânico com a escolha de aceitar um emprego em publicidade para fazer a escolha certa. Podemos descartar a opção de adquirir um diploma em didática de ensino, porque já se sabe que aceitar um emprego em publicidade é sempre melhor. Agora comparemos as duas alternativas restantes: tornar-se um mecânico habilidoso em comparação com aceitar imediatamente um emprego em publicidade. Como aprendiz de mecânico Ashley irá ganhar apenas $30.000 nos dois primeiros anos, em comparação com $57.000 em publicidade. Então, ela tem um custo implícito de $30.000 − $57.000 = −$27.000, tornando-se mecânico, em vez de trabalhar imediatamente em publicidade. No entanto, daqui a dois anos o valor dos ganhos durante a vida como mecânico é de $725.000 contra $600.000 em publicidade, proporcionando um lucro contábil de $125.000, ao optar pela carreira de mecânico. Resumindo, o lucro econômico ao escolher a carreira de mecânico em vez de em publicidade é $125.000 − $27.000 = $98.000. Em contrapartida, o lucro econômico de escolher, como alternativa, a carreira em publicidade em vez de a carreira de mecânico, é − $125.000 + $27.000 = −$98.000. Pelo princípio de tomada de decisão “ou-ou”, Ashley deve escolher ser mecânico, pois a carreira tem um lucro econômico positivo. Pode-se descartar a alternativa A, porque tanto B como C são superiores a ela. Mas se deve agora comparar B com C. Deve-se, então, escolher a alternativa B ou C que carrega um lucro econômico positivo.

Teste seu entendimento 9-2 1.      a. O custo marginal de lavar roupa é o dispêndio monetário mais o custo de oportunidade do tempo gasto lavando roupa hoje, isto é, o valor que seria colocado gastando mais tempo hoje com a melhor alternativa de atividade seguinte, como ir ao cinema. O benefício marginal é ter mais roupa limpa hoje para escolher. b. O custo marginal de trocar o óleo é o custo de oportunidade do tempo gasto trocando óleo agora bem como o custo explícito da troca de óleo. O benefício marginal é a melhoria de desempenho do carro. c. O custo marginal é a sensação desagradável de fogo na boca recebida mais qualquer custo explícito da pimenta-jalapenho. O benefício marginal de outra pimenta-jalapenho nos nachos é o sabor agradável dela. d. O benefício marginal de contratar mais um trabalhador na empresa é o valor do produto que o trabalhador produz. O custo marginal é o salário que se deve pagar a esse trabalhador. e. O custo marginal é o valor perdido em virtude do aumento dos efeitos colaterais dessa dose adicional. O benefício marginal de outra dose do medicamento é o valor da redução da doença do paciente. f. O custo marginal é o custo de oportunidade do tempo – o que se teria obtido pelo próximo melhor uso do tempo. O benefício marginal é o provável aumento da nota. 2. A tabela a seguir mostra o novo custo marginal de Alex e o novo lucro. Também reproduz o benefício marginal de Alex a partir da Tabela 9-5.

O custo marginal de Alex é decrescente até concluir dois anos de escolaridade, após o qual o custo marginal aumenta por causa do valor da renda não recebida. A quantidade ótima de escolaridade ainda é de três anos. Para menos de três anos de escolaridade, o benefício marginal excede o custo marginal; para mais de três anos, o custo marginal excede o benefício marginal. Teste seu entendimento 9-3

1.      a. b. 2.      a. b. c. d.

O custo irrecuperável é $8.000 porque nenhum valor gasto no caminhão é recuperável. O gasto irrecuperável é $4.000, porque 50% dos $8.000 gastos com o caminhão são recuperáveis. Esse é um argumento inválido porque tempo e dinheiro já gastos são custos irrecuperáveis. Esse também é um argumento inválido, porque o que você deveria ter feito há dois anos, é irrelevante para o que deve fazer agora. Esse é um argumento válido porque reconhece que custos irrecuperáveis são irrelevantes para o que se deve fazer agora. Esse é um argumento válido, dada a preocupação em não decepcionar os pais. Mas as ideias de seus pais são irracionais, pois não reconhecem que o tempo já passado é um custo irrecuperável.

Teste seu entendimento 9-4

1.      a.

2.

Jenny está apresentando aversão à perda. Ela tem muita sensibilidade à perda, levando a uma falta de vontade de reconhecer a perda e seguir em frente. b. Dan está fazendo contabilidade mental. O dinheiro dos ganhos provenientes de horas extras vale menos – gastos em um fim de semana – em comparação com o dinheiro ganho nas horas regulares que usa para pagar o empréstimo estudantil. c. Carol pode ter expectativas irreais de comportamento futuro. Mesmo que não queira participar do plano atualmente, deve encontrar uma maneira de comprometer-se a participar dele em uma data posterior. d. Jeremy está mostrando sinais de tendência ao status quo. Evita tomar uma decisão em conjunto; em outras palavras, ele está mantendo o status quo. Você determina se uma decisão foi racional ou irracional, primeiro avaliando com precisão todos os custos e benefícios da decisão. Em particular, deve-se medir com precisão todos os custos de

oportunidade. Em seguida, calcular o retorno econômico da decisão relativa à próxima melhor alternativa. Se ainda faria a mesma escolha depois dessa comparação, então fez uma escolha racional. Se não, a escolha foi irracional.

Capítulo 10 Teste seu entendimento 10-1

1.

O consumo de uma unidade que gera utilidade marginal negativa deixa o consumidor com utilidade total mais baixa que não consumir essa unidade. Um consumidor racional, um consumidor que maximiza a utilidade, não faria isso. Por exemplo, da Figura 10-1 você pode ver que Cassie recebe 64 utils se consumir 8 mexilhões, mas se consumir o 9º mexilhão, perde uma util, ficando com uma utilidade total de apenas 63 utils. Assim, sempre que consumir mais uma unidade gerar utilidade marginal negativa, o consumidor ficará em situação melhor se não consumir essa unidade, mesmo se for gratuita. 2. Como Marta tem utilidade marginal decrescente com café, a primeira xícara de café do dia gera o maior aumento de utilidade total. Sua terceira e última xícara do dia gera o menor aumento. 3.      a. Mabel tem utilidade marginal crescente com exercícios, pois cada unidade adicional consumida lhe traz mais prazer do que a unidade anterior. b. Mei tem utilidade marginal constante de CDs, pois cada unidade adicional gera o mesmo prazer adicional que a unidade anterior. c. As idas ao restaurante de Dexter tem utilidade marginal decrescente, pois a utilidade adicional gerada por uma boa refeição no restaurante é menor quando ele consome muitas refeições do que quando consome menos refeições. Teste seu entendimento 10-2 1.      a. A tabela a seguir mostra as possibilidades de consumo de um consumidor, de A a C. Essas possibilidades de consumo estão desenhadas no gráfico, juntamente com a linha do orçamento do consumidor, BL. Pacote de consumo

Quantidade de pipoca (balde)

Quantidade de ingressos de cinema

A

0

2

B

2

1

C

4

0

b.

A tabela a seguir mostra as possibilidades de consumo do consumidor, de A ate D. Essas possibilidades de consumo estao representadas no grafico a seguir, junto com a linha do orcamento do consumidor, BL.

Pacote de consumo

Quantidade de cuecas

Quantidade de meias

A

0

6

B

1

4

C

2

2

D

3

0

Teste seu entendimento 10-3

1.

Da Tabela 10-3 pode-se ver que a utilidade marginal por dólar de Sammy aumenta o consumo de mexilhões de 3 para 4 quilos e a utilidade marginal por dólar do aumento do consumo de batata de 9 para 10 quilos é a mesma: 0,75 utils. Mas um pacote de consumo que consiste de 4 quilos de mexilhões e 10 quilos de batata não é o pacote de consumo ótimo de Sammy, porque não é acessível dada a sua renda de $20, 4 quilos de mexilhões e 10 quilos de batatas custam $4 × 4 + $2 × 10 = $36, $16 a mais do que a renda de Sammy. Isso pode ser ilustrado com a linha do orçamento de Sammy da Figura 10-3: um pacote de 4 quilos de mexilhões e 10 quilos de batatas

é representado pelo ponto X no gráfico a seguir, um ponto que se encontra fora da linha do orçamento de Sammy. Ao observar o eixo horizontal da Figura 10-4, é bastante claro que não existe tal coisa na possibilidade de consumo de Sammy, um pacote que consiste de 4 quilos de mexilhões e 10 quilos de batatas.

2.

A utilidade máxima por dólar de Sammy é gerada quando vai de 0 a 1 quilo de mexilhões (3,75 utils) e quando vai de 0 a 1 quilo de batatas (5,75 utils). Mas esse pacote de 1 quilo de mexilhões e 1 quilo de batatas gera apenas 26,5 utils para ele. Em vez disso, Sammy deveria escolher o pacote de consumo que satisfaça a sua restrição orçamentária e para o qual a utilidade marginal por dólar é igual para os dois bens.

Teste seu entendimento 10-4

1.      a. b.

c.

2.

Como o gasto com suco de laranja é uma pequena parte dos gastos de Clare, o efeito renda de um aumento no preço do suco de laranja é insignificante. Apenas o efeito substituição, representado pela substituição de suco de laranja por limonada, é significativo. Como o aluguel representa uma porcentagem grande dos gastos de Delia, o aumento do aluguel gera um efeito renda, fazendo Delia se sentir mais pobre. Como a moradia é um bem normal para Delia, os efeitos renda e substituição se movem na mesma direção, levando-a a reduzir o consumo de moradia, mudando para um apartamento menor. Como um vale-refeição é uma parcela significativa do custo de vida dos alunos, um aumento no seu preço gera um efeito renda significativo. Como as refeições no refeitório são um bem inferior, o efeito substituição (que induz os alunos a substituir as refeições do restaurante por refeições no refeitório) e o efeito renda (que os induz a fazer as refeições no refeitório com maior frequência, por serem mais pobres) movem-se em direções opostas. Para determinar se qualquer bem é um bem de Giffen, primeiro deve-se estabelecer se se trata de um bem inferior. Em outras palavras, se a renda dos alunos diminui, tudo o mais mantido constante, a quantidade de refeições demandadas no refeitório da faculdade aumenta? Depois de ter estabelecido que o bem é um bem inferior, deve-se estabelecer que o efeito renda supera o efeito substituição. Ou seja, à medida que o preço das refeições no refeitório da faculdade aumenta, tudo o mais mantido constante, a quantidade de refeições demandada no restaurante aumenta? Observe bem se, de fato, tudo o mais se mantém constante. Mas, se a quantidade de refeições demandada no refeitório da faculdade realmente aumenta em resposta a um aumento de preço, você deve realmente ter encontrado um bem de Giffen.

Capítulo 11 Teste seu entendimento 11-1

1.      a. b.

O insumo fixo é o equipamento de 10 toneladas e o insumo variável é a eletricidade. Como se pode ver dos números decrescentes na terceira coluna da tabela a seguir, de fato a eletricidade apresenta retornos decrescentes: o produto marginal de todos os quilowatts adicionais de eletricidade é menor do que o dos quilowatts anteriores.

c.

Um aumento de 50% no tamanho do insumo fixo significa que Bernie agora tem um equipamento de 15 toneladas. Assim, agora o insumo fixo é um equipamento de 15 toneladas. Como gera 100% de aumento no produto para qualquer quantidade de eletricidade, a quantidade de produto e o produto marginal são apresentados na tabela a seguir.

Teste seu entendimento 11-2

1.      a.

Como mostrado na tabela a seguir, o custo marginal de cada torta é encontrado multiplicando-se o custo marginal da torta anterior por 1,5. O custo variável para cada nível

de produto é encontrado pela soma do custo marginal de todas as tortas produzidas para alcançar o nível de produto. Assim, por exemplo, o custo variável de três tortas é $1,00 + $1,50 + $2,25 = $4,75. O custo fixo médio por Q tortas é calculado como $9,00/Q, pois o custo fixo é $9,00. O custo variável médio para Q tortas é igual ao custo variável das Q tortas dividido por Q. Por exemplo, o custo variável médio de cinco tortas é $13,19/5, ou aproximadamente $2,64. Por fim, o custo médio total pode ser calculado de duas maneiras equivalentes: TC/Q ou como CVM +CFM.

b.

c.

O efeito propagador domina o efeito de retornos decrescentes quando o custo total médio está caindo: a queda no custo fixo médio, CFM domina o aumento no custo variável médio, CVM para tortas de 1 a 4. O efeito de retornos decrescentes domina quando o custo total médio é crescente: o aumento no CVM domina a queda no CFM nas tortas 5 e 6. O produto do custo mínimo de Alicia é 4 tortas, o que gera o menor custo total médio, $4,28. Quando o produto é inferior a 4, o custo marginal de uma torta é menor que o custo médio total das tortas já produzidas. Assim, fazer uma torta adicional reduz o custo médio total. Por exemplo, o custo marginal da torta 3 é $2,25, enquanto o custo médio total das tortas 1 e 2 é $5,75. Assim, fazer a torta 3 reduz o custo médio total para $4,58, o equivalente a (2 × $5,75 + $2,25)/3. Quando a produção é maior que 4, o custo marginal de uma torta é maior que o custo médio total das tortas já produzidas. Consequentemente, fazer uma torta adicional aumenta o custo médio total. Assim, embora o custo marginal da torta 6 seja $7,59, o custo total médio das tortas de 1 a 5 é $4,44. Fazer a torta 6 eleva o custo médio total de $4,96, equivalente a (5 × $4,44 + $7,59)/6.

Teste seu entendimento 11-3 1.      a. A tabela a seguir mostra o custo total médio de produzir 12 mil, 22 mil e 30 mil unidades para cada uma das três opções de custo fixo. Por exemplo, se a empresa faz a opção 1, o custo total de produzir 12 mil unidades de produto é $8.000 + 12.000 × $1,00 = $20.000. O

custo médio total de produzir 12 mil unidades de produto é, portanto, 20.000/12.000 = $1,67. Os outros custos médios totais são calculados da mesma forma.

Custo médio

12 mil unidades

22 mil unidades

30 mil unidades

1 $1,67

$1,36

$1,27

1,75

1,30

1,15

2,25

1,34

1,05

total da opção1 Custo médio total da opção 2 Custo médio total da opção 3

Então, se a empresa quisesse produzir 12 mil unidades, escolheria a opção 1 porque isso resulta no custo médio total menor. Se quisesse produzir 22 mil unidades, escolheria a opção 2. Se quisesse produzir 30 mil unidades, escolheria a opção 3. b. Tendo produzido historicamente 12 mil unidades, a empresa teria adotado a opção 1. Ao produzir 12 mil unidades, a empresa teria tido um custo médio total de $1,67. Quando a produção salta para 22 mil unidades, a empresa não pode alterar a escolha de custo fixo no curto prazo, de modo que o custo médio total no curto prazo será $1,36. No longo prazo, no entanto, adotará a opção 2, fazendo o custo médio total diminuir para $1,30. c. Se a empresa acredita que o aumento da demanda é temporário, não deve alterar o custo fixo da opção 1 porque a opção 2 gera um custo médio total mais alto assim que a produção volta à quantidade original de 12 mil unidades: $1,75, contra $1,67. 2.      a. Essa empresa provavelmente terá retornos de escala constantes. Para aumentar o produto, a empresa deve contratar mais trabalhadores, comprar mais computadores, e pagar tarifas telefônicas mais elevadas. Como esses insumos estão facilmente disponíveis, é improvável que o custo médio total de longo prazo mude à medida que o produto aumente. b. Essa empresa provavelmente terá retornos decrescentes de escala. À medida que a empresa aceita mais projetos, os custos de comunicação e coordenação necessários para aproveitar a experiência técnica do proprietário da empresa com certeza aumentará. c. Essa empresa tenderá a ter retornos crescentes de escala. Como a mineração de diamantes requer um custo de instalação inicial elevado de equipamentos de escavação, o custo médio total de longo prazo cairá à medida que o produto aumentar. 3. O gráfico a seguir mostra a curva de custo médio total de longo prazo (LRATC) e a curva de custo médio total de curto prazo que corresponde a uma opção de produto de longo prazo de produzir 5 caixas de molho (CTM5). A curva CTM5 mostra o custo médio total de curto prazo para o qual o nível do custo fixo minimiza o custo médio total com uma produção de 5 caixas de molho. Isso se confirma pelo fato de que 5 caixas por dia, CTM5 toca LRATC, a curva de custo médio total de longo prazo. Se Selena espera produzir apenas 4 caixas de molho por um longo tempo, deve mudar o custo fixo. Se não mudar o custo fixo e produzir 4 caixas de molho, seu custo total médio no curto

prazo é indicado pelo ponto B em CTM5, já não está em LRATC. Mas se mudar o custo fixo, o custo total médio poderia estar mais baixo, no ponto A.

Capítulo 12 Teste seu entendimento 12-1

1.      a. b. c. d.

Com apenas dois produtores no mundo, cada produtor representará uma parcela considerável do mercado. Assim, o setor não estará em concorrência perfeita. Como cada produtor de gás natural no Mar do Norte tem apenas uma pequena parcela da oferta global de gás natural, e uma vez que o gás natural é um produto padronizado, o setor de gás natural está em concorrência perfeita. Como cada designer tem um estilo distinto, as roupas de alta-costura não são um produto padronizado. Assim, o setor não está em concorrência perfeita. O mercado descrito aqui é o mercado de cada cidade para ingressos de jogos de beisebol. Uma vez que existe apenas um ou dois times em cada grande cidade, cada time representa uma parcela considerável do mercado. Assim, o setor não está em concorrência perfeita.

Teste seu entendimento 12-1

1.      a.

A empresa deveria encerrar imediatamente quando o preço é menor do que o custo variável médio mínimo, o preço de encerramento. No gráfico a seguir, essa é a solução ótima para os preços no intervalo de 0 a P1.

b.

c. 2.

Quando o preço é superior ao custo variável médio mínimo (o preço de encerramento), mas inferior ao custo total médio mínimo (o preço de equilíbrio), a empresa deve continuar a operar no curto prazo, mesmo que tenha prejuízo. É ótimo para preços que vão do intervalo P1 a P2 e da quantidade Q1 a Q2. Quando o preço excede o custo total médio mínimo (o preço de equilíbrio), a empresa tem lucro. Isso acontece para os preços superiores a P2 e para as quantidades superiores a Q2.

Esse é um exemplo de fechamento temporário de uma empresa quando o preço de mercado se situa abaixo do preço de encerramento, o custo variável médio mínimo. Nesse caso, o preço de mercado é o preço de uma refeição de lagosta, e o custo variável é o custo variável ao servir tal refeição, como o custo da lagosta, salários de empregados, e assim por diante. Nesse exemplo, contudo, é a curva de custo variável médio que se desloca ao longo do tempo e não o preço de mercado, em virtude das variações sazonais no custo da lagosta. As barracas que servem lagosta no verão têm custo variável médio relativamente baixo durante o verão, quando as lagostas baratas do Maine estão disponíveis. No resto do ano, o custo variável médio é relativamente elevado, em decorrência do alto custo das lagostas importadas. Assim, as barracas que servem lagostas estão abertas durante o verão, quando seu custo variável médio mínimo está abaixo do preço. Mas fecham durante o resto do ano, quando o preço fica abaixo do custo variável médio mínimo.

Teste seu entendimento 12-3

1.      a.

b.

c.

Uma redução no custo fixo de produção gera uma redução no custo total médio de produção e, no curto prazo, um aumento no lucro de cada empresa ao nível de produto corrente. Assim, no longo prazo, novas empresas entrarão no setor. O aumento da oferta pressiona para baixo preços e lucros. Quando os lucros são pressionados de volta para zero, a entrada cessa. Um aumento de salários gera um aumento no custo total médio de produção em todos os níveis de produto. No curto prazo, as empresas incorrem em perdas no nível de produto corrente, e assim, no longo prazo, algumas empresas sairão do setor. (Se o custo variável médio aumenta o suficiente, algumas empresas podem até fechar no curto prazo.) À medida que as empresas saem, a oferta diminui, os preços sobem, e as perdas vão diminuindo. As saídas das empresas cessam quando as perdas voltam a zero. O preço vai subir em decorrência da demanda crescente, levando a um aumento de curto prazo nos lucros ao nível de produção corrente. No longo prazo, as empresas entrarão no

2.

setor, gerando aumento de oferta, queda no preço e queda nos lucros. Quando os lucros são pressionados de volta para zero, a entrada cessa. d. A escassez de um insumo essencial faz o preço desse insumo aumentar, resultando em aumento no custo variável médio e no custo total médio para os produtores. As empresas incorrem em perdas no curto prazo, e algumas sairão do setor no longo prazo. A queda na oferta gera um aumento no preço e diminuiu as perdas. A saída cessa quando as perdas voltam a zero. No gráfico a seguir, o ponto XMKT no painel (b), a interseção de S1 e D1 representa o equilíbrio de longo prazo do setor antes da mudança nos gostos do consumidor. Quando os gostos mudam, a demanda cai e o setor se move no curto prazo para o ponto YMKT no painel (b), na interseção da nova curva de demanda D2 e S1, a curva de oferta de curto prazo representa o mesmo número de produtores de ovos que no equilíbrio original no ponto XMKT. À medida que o preço de mercado cai, a empresa individual reage produzindo menos, como mostrado no painel (a) – enquanto o preço de mercado permanece acima do custo variável médio mínimo. Se o preço de mercado cai abaixo do custo variável médio mínimo, a empresa tem de fechar imediatamente. No ponto YMKT, o preço dos ovos está abaixo do custo total médio mínimo, gerando perdas para os produtores. Isso leva algumas empresas a saírem, o que desloca a curva de oferta do setor no curto prazo para a esquerda, para S2. Um novo equilíbrio de longo prazo se estabelece no ponto ZMKT. Quando isso ocorre, o preço de mercado volta a subir e, como mostra o painel (c), cada produtor que permanece reage aumentando o produto (nesse caso, do ponto Y para o ponto Z). Todos os produtores restantes têm lucro zero novamente. A queda na quantidade ofertada de ovos origina-se totalmente da saída de alguns produtores do setor. A curva de oferta do setor de longo prazo é a curva indicada por LRS no painel (b).

Capítulo 13 Teste seu entendimento 13-1

1.      a. b.

Isso não sustenta a conclusão. A Texas Tea tem uma quantidade limitada de óleo, e o preço subiu de forma a equalizar a oferta e a demanda. Isso sustenta a conclusão porque o mercado de óleo para aquecimento doméstico tornou-se monopolizado, e um monopolista irá reduzir a quantidade ofertada e aumentar o preço para gerar lucro.

c. d. e. 2.      a.

b.

3.      a. b. c.

Isso não sustenta a conclusão. A Texas Tea elevou seu preço para os consumidores porque o preço do seu insumo, óleo para aquecimento doméstico, aumentou. Isso sustenta a conclusão. O fato de outras empresas começarem a ofertar óleo para aquecimento a preço mais baixo implica que a Texas Tea teve lucro suficiente para atrair outros para Frigid. Isso sustenta a conclusão. Indica que a Texas Tea desfruta de uma barreira à entrada, pois controla o acesso ao único oleoduto de aquecimento do Alasca. Estender a duração de uma patente também aumenta o período durante o qual o inventor pode reduzir a quantidade ofertada e aumentar o preço de mercado. Como isso aumenta o período durante o qual o inventor pode obter lucro econômico pela invenção, aumenta o incentivo para inventar novos produtos. Estender a duração de uma patente também aumenta o período durante o qual os consumidores têm de pagar preços mais elevados. Assim, a determinação da duração apropriada de uma patente envolve um trade-off entre o incentivo desejável pela invenção e o preço alto indesejável para os consumidores. Quando um grande número de outras pessoas usam cartões de crédito Passport, qualquer comerciante fica mais propenso a aceitar o cartão. Assim, quanto maior a base de clientes, maior a probabilidade que um cartão Passaport seja aceito como pagamento. Quando um grande número de pessoas possui um carro com um novo tipo de motor, é mais fácil encontrar um mecânico experiente para consertá-lo. Quando um grande número de pessoas usa um site desse tipo, o mais provável é que consiga encontrar um comprador para algo que se deseja vender ou um vendedor para algo que se deseja comprar.

Teste seu entendimento 13-2 1.      a. O preço em cada nível de produto é obtido pela divisão da receita total pelo número de esmeraldas produzidas; por exemplo, quando três esmeraldas são produzidas, o preço é $252/3 = $84. O preço nos vários níveis de produto é então usado para construir o lista de demanda na tabela a seguir. b. A tabela de receita marginal é encontrada por meio do cálculo da variação da receita total quando o produto aumenta uma unidade. Por exemplo, a receita marginal gerada pelo aumento do produto de 2 para 3 esmeraldas é ($252 − $186) = $66. c. O componente de efeito quantidade da receita marginal é a receita adicional gerada com a venda de mais uma unidade do bem ao preço de mercado. Por exemplo, como mostrado na tabela a seguir, para 3 esmeraldas, o preço de mercado é $84. Assim, ao passar de 2 para 3 esmeraldas, o efeito quantidade é $84. d. O componente do efeito preço na receita marginal é o declínio na receita total causado pela queda no preço quando mais uma unidade é vendida. Por exemplo, como mostrado na tabela a seguir, quando apenas 2 esmeraldas são vendidas, cada uma delas é vendida ao preço de $93. No entanto, quando a Esmeralda, Inc. vende uma esmeralda adicional, o preço deve cair de $93 para $84. Assim, o componente do efeito preço ao passar de 2 para 3 de esmeraldas é (−$9) × 2 = −$18. Isso porque duas esmeraldas só podem ser vendidas ao preço de $84, quando três esmeraldas são vendidas no total, embora pudessem ter sido vendidas ao preço de $93 quando apenas 2 esmeraldas foram vendidas no total.

e. 2.

A fim de determinar o nível de produto que maximiza o lucro da Emerald Inc., deve-se conhecer o custo marginal em cada nível de produto. O nível de produto que maximiza o lucro é aquele em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Como mostra o diagrama a seguir, a curva de custo marginal se desloca para cima, para $400. O preço que maximiza o lucro sobe, e a quantidade cai. O lucro cai de $3.200 para $300 × 6 = $1.800. O lucro do setor em concorrência, no entanto, mantêm-se inalterado em zero.

Teste seu entendimento 13-3 1.      a. O serviço de Internet por TV a cabo é um monopólio natural. Assim, o governo deve intervir somente se acredita que o preço exceda o custo total médio, quando o custo total médio for fundamentado no custo de instalação de cabos. Nesse caso, deve impor um teto de preço igual ao custo total médio. Caso contrário, não deve fazer nada. b. O governo deve aprovar a fusão somente se puder promover concorrência por meio da transferência de algumas rotas da companhia para outras companhias aéreas que estão competindo. 2.      a. Falso. Como se pode ver na Figura 13-8, painel (b), a ineficácia resulta do fato de que uma parte do excedente do consumidor é transformada em perda por peso morto (área amarela), e não do fato de que é transformada em lucro (área verde).

Verdadeiro. Se o monopolista vendesse a todos os consumidores que atribuem um valor superior ou igual ao custo marginal, todas as transações mutuamente benéficas ocorreriam e não haveria perda por peso morto. Como mostrado no gráfico seguinte, um monopolista que maximiza o lucro produz QM, o nível de produto em que a receita marginal é igual ao custo marginal (RM = CM). Um monopolista acredita erroneamente que P = RM produz o nível de produto em que P = CM (quando, na verdade, P >RM, e no nível de produto que de fato maximiza o lucro, P >RM = CM). Esse monopolista equivocado irá produzir o nível de produto QC, onde a curva de demanda cruza a curva de custo marginal – o mesmo nível de produto que seria produzido se o setor estivesse em concorrência perfeita. Ele cobrará o preço do PC, que é igual ao custo marginal e terá lucro zero. O total da área sombreada é igual ao excedente do consumidor, que, nesse caso, também é igual ao excedente total (uma vez que o monopolista recebe zero de excedente do produtor). Não há perda por peso morto, uma vez que cada consumidor que está disposto a pagar tanto quanto ou mais que o custo marginal recebe o bem. Um monopolista inteligente, no entanto, produzirá ao nível de produto QM e cobrará o preço PM. O lucro é igual à área verde, o excedente do consumidor corresponde à área azul e o excedente total é igual à soma dessas áreas. A área amarela é a perda por peso morto gerada pelo monopolista. b.

3.

Teste seu entendimento 13-4 1.      a. Falso. Um monopolista que discrimina preços venderá a alguns consumidores, algo que um monopolista de preço único não fará – ou seja, clientes com elasticidade-preço da demanda alta que estão dispostos a pagar apenas um preço relativamente baixo do bem. b. Falso. Apesar de um monopolista que discrimina preços, de fato, captar mais do excedente do consumidor, a ineficiência é menor: ocorrem mais operações mutuamente benéficas porque o monopolista realiza mais vendas para clientes com disposição de pagar pelo bem. c. Verdadeiro. Com discriminação de preços, cobra-se dos consumidores preços que dependem da sua elasticidade-preço da demanda. Um consumidor com demanda altamente elástica pagará um preço mais baixo que um consumidor com demanda inelástica. 2.      a. Esse não é um caso de discriminação de preços porque todos os consumidores, independente da elasticidade-preço da demanda, valorizam menos a mercadoria danificada do que a não danificada. Então, o preço deve ter reduzido para que a mercadoria seja vendida. b. Esse é um caso de discriminação de preços. Os idosos têm elevada elasticidade-preço da demanda por refeições em restaurantes (sua demanda por refeições em restaurante é mais

c. d.

sensível às variações de preços) do que a de outros clientes. Os restaurantes baixam o preço para consumidores de alta elasticidade (idosos). Consumidores com baixa elasticidadepreço da demanda pagarão o preço cheio. Esse é um caso de discriminação de preços. Consumidores com alta elasticidade-preço da demanda pagarão um preço mais baixo coletando e usando cupons de desconto. Consumidores com baixa elasticidade-preço da demanda não usarão cupons. Esse não é um caso de discriminação de preços, é um caso de oferta e demanda.

Capítulo 14 Teste seu entendimento 14-1

1.      a. b. c. 2.      a. b.

O setor de petróleo global é um oligopólio, pois poucos países controlam um recurso necessário à produção, as reservas de petróleo. O setor de microprocessadores é um oligopólio porque duas empresas possuem tecnologia superior e, assim, dominam a produção do setor. A indústria de aviões a jato de grande porte é um oligopólio, porque há retornos crescentes de escala na produção. O IHH desse setor é 822 + 72 + 52 + 42 + 22 = 6.818. Se o Yahoo! e o Bing chegassem a uma fusão, tornando-se um mercado combinado 7% + 4% = 11%, o índice IHH desse setor seria 822 + 112 + 52 + 22 = 6.874.

Teste seu entendimento 14-2 1.      a. A empresa tenderá a agir de forma não cooperativa e a aumentar a quantidade de produto, o que irá gerar um efeito preço negativo. Mas como atualmente a parcela de mercado da empresa é pequena, o efeito preço negativo recairá mais acentuadamente sobre as receitas dos rivais do que sobre a própria receita. Ao mesmo tempo, a empresa se beneficiará de um efeito quantidade positivo. b. A empresa tenderá a agir de forma não cooperativa e a aumentar a quantidade de produto, o que irá gerar uma queda no preço. Como seus rivais têm custos mais elevados, perderão dinheiro, ao preço mais baixo, enquanto a empresa continuará tendo lucro. Assim, a empresa poderá ser capaz de expulsar os rivais do negócio, aumentando a quantidade de produto. c. A empresa provavelmente irá buscar uma colusão. Como sai caro para os consumidores mudar de produto, a empresa terá de baixar o preço de forma substancial (aumentando muito a quantidade) para induzir os consumidores a mudar para o seu produto. Assim, aumentar a quantidade de produto é provável que seja lucrativo, dada o grande efeito preço negativo. d. A empresa provavelmente irá buscar uma colusão porque sabe que seus rivais não podem aumentar a quantidade de produto em retaliação. Teste seu entendimento 14-3 1. Quando Margaret construir um míssil, o ganho de Nikita de também construir um míssil será – 10. Será − 20 se não construir. O mesmo conjunto de ganhos vale para Margaret quando Nikita construir um míssil: o ganho é −10 se também construir e é −20 se não construir. Por isso, trata-

se de um equilíbrio de Nash (não cooperativo), tanto para Margaret quanto para Nikita construírem mísseis, e o ganho total é (−10) + (−10) = −20. Mas o ganho total é maior se nenhum dos dois construir um míssil: o ganho total é 0 + 0 = 0. Mas esse resultado – o resultado cooperativo – é improvável. Se Margaret construir um míssil, mas Nikita não, Margaret terá um ganho de +8 em vez de 0 que obtém se não construir o míssil. Então, Margaret fica em situação melhor se construir o míssil, mas Nikita não. Da mesma forma, Nikita fica em situação melhor se construir o míssil, mas Margaret não: ela obtém um ganho de +8, ao invés do 0 que obtém se não construir o míssil. Assim, os dois jogadores têm incentivo para construir o míssil. Ambos vão construir um míssil, e cada um obterá um ganho de −10. A menos que Nikita e Margaret possam-se comunicar de alguma forma para cooperar, agirão pelo próprio interesse individual e construirão o míssil. 2.      a. A entrada futura de várias empresas novas irá aumentar a concorrência e pressionará para baixo o lucro do setor. Como resultado, haverá menos lucro futuro para se proteger comportando-se cooperativamente hoje. Assim, é mais provável que cada oligopolista hoje se comporte de forma não cooperativa. b. Quando é muito difícil para uma empresa detectar se a outra aumentou a quantidade do produto, é muito difícil aplicar a cooperação através do jogo toma lá dá cá. Por isso, é mais provável que a empresa vá se comportar de modo não cooperativo. c. Quando as empresas coexistiram mantendo preços elevados por longo tempo, esperam que a cooperação continue. Portanto, o valor de se comportar cooperativamente hoje é alto, e é provável que as empresas se envolvam em colusão tácita. Teste seu entendimento 14-4 1.      a. É provável que seja interpretado como evidência de colusão tácita. As empresas de determinado setor podem-se envolver em colusão tácita fixando seus preços de acordo com o preço “sugerido” publicado da maior empresa do setor. Essa é uma forma de liderança de preços. b. É provável que isso não seja interpretado como evidência de colusão tácita. Variação considerável nas parcelas de mercado indica que as empresas estão concorrendo para conquistar o mercado umas das outras. c. É provável que isso não seja interpretado como evidência de colusão tácita. Essas características tornam menos provável que os consumidores mudem de um produto para outro em resposta a preços mais baixos. Portanto, é uma forma com que as empresas evitam a tentação de ganhar participação no mercado baixando o preço. É uma forma de diferenciação do produto usada para evitar a concorrência direta. d. É provável que isso não seja interpretado como evidência de colusão tácita. Com o disfarce de discutir metas de vendas, as empresas podem criar um cartel, designando as quantidades a serem produzidas por cada empresa. e. É provável que seja interpretado como evidência de colusão tácita. Ao elevar os preços em conjunto, cada empresa do setor está se recusando a concorrer com seus rivais, deixando seu preço inalterado ou baixando-o. Como se poderia ganhar parcela de mercado baixando o preço, a recusa em fazê-lo é evidência de colusão tácita.

Capítulo 15

Teste seu entendimento 15-1 1.      a.

b. c.

d. 2.      a.

b.

As escadas não são diferenciadas em virtude da concorrência monopolista. Um produtor fabrica diferentes escadas (pequenas, compridas) para satisfazer as necessidades de consumo diferentes e não para evitar a concorrência dos rivais. Então, os consumidores não distinguem duas escadas compridas fabricadas por dois produtores diferentes. Refrigerantes são um exemplo de diferenciação de produto em virtude da concorrência monopolística. Por exemplo, vários produtores produzem colas e cada um é diferenciado em termos de sabor, da cadeia de fast-food que os vende, e assim por diante. Lojas de departamento são um exemplo de diferenciação de produto que resulta da concorrência monopolística. Servem a clientelas diversas que têm sensibilidade aos preços e gostos diferentes. Também oferecem nível de serviço diferente ao consumidor e estão situadas em locais diferentes. O aço não se diferencia como resultado de concorrência monopolística. Diferentes tipos de aço (vergalhões versus chapas) são fabricados para diferentes propósitos, e não para distinguir o produto de uma siderúrgica da de outra. Setores em concorrência perfeita e em concorrência monopolística têm muitos vendedores. Por isso, pode ser difícil distinguir entre eles apenas em termos do número de empresas. Em ambas as estruturas de mercado, há entrada e saída livre do setor no longo prazo. Mas em um setor em concorrência perfeita, produtos padronizados são vendidos, enquanto que no setor em concorrência monopolística, os produtos são diferenciados. Então o que se deve perguntar é se os produtos no setor são diferenciados. Em um monopólio existe apenas uma empresa, mas em um setor em concorrência monopolística há muitas empresas. Portanto, o que se deve perguntar é se há ou não uma única empresa no setor.

Teste seu entendimento 15-2

1.      a.

2.

Um aumento no custo fixo aumenta o custo total médio e desloca a curva de custo total médio para cima. No curto prazo, as empresas incorrem em perda. No longo prazo, algumas sairão do setor, resultando em um deslocamento para a direita da curva da demanda para as empresas que permanecem no setor, uma vez que cada uma agora serve uma fatia maior do mercado. O equilíbrio de longo prazo é restabelecido quando a curva da demanda de cada empresa remanescente se deslocou para a direita até o ponto em que é tangente à nova curva de custo total médio mais alto. Nesse ponto, o preço de cada empresa é apenas igual ao custo total médio, e cada empresa tem lucro zero. b. Uma redução no custo marginal diminui o custo total médio e desloca a curva de custo total médio e de custo marginal para baixo. Como as empresas existentes agora têm lucro, novos entrantes serão atraídos para o setor no longo prazo. Isso resulta em deslocamento para a esquerda da curva da demanda de cada empresa existente no longo prazo, uma vez que cada empresa tem agora uma parcela menor do mercado. O equilíbrio de longo prazo é restabelecido quando a curva da demanda de cada empresa se desloca para a esquerda até o ponto em que é tangente à nova curva de custo total médio, agora mais baixa. Nesse ponto, o preço de cada empresa é apenas igual ao custo total médio e cada empresa tem lucro zero. Se todas as empresas existentes no setor se juntassem para criar um monopólio, alcançariam lucro de monopólio. Mas isso induziria novas empresas a criarem produtos novos diferenciados e, então, entrar no setor e capturar parte do lucro do monopólio. Assim, no longo prazo, seria

impossível manter o monopólio. O problema decorre do fato que, como novas empresas podem criar novos produtos, não há barreira de entrada que possa manter o monopólio. Teste seu entendimento 15-3

1.      a.

b.

c.

Falso. Como se pode depreende do painel (b) da Figura 15-4, uma empresa em concorrência monopolística produz no ponto onde o preço excede o custo marginal, ao contrário de uma empresa em concorrência perfeita, que produz onde o preço é igual ao custo marginal (no ponto do custo total mínimo). Uma empresa em concorrência monopolística se recusará a vender ao custo marginal. Estaria abaixo do custo total médio e a empresa incorreria em perda. Verdadeiro. As empresas em um setor em concorrência monopolística poderiam obter lucro maior (lucro de monopólio) se todas se reunissem e produzissem um único produto. Além disso, uma vez que o setor possui excesso de capacidade, a produção de uma quantidade maior de produto iria reduzir o custo total médio da empresa. O efeito sobre os consumidores, no entanto, é ambíguo. Eles passariam a ter menos escolha. Mas se a consolidação reduzisse substancialmente o custo total médio de todo o setor e, portanto, aumentasse substancialmente o produto do setor, os consumidores poderiam obter preços menores em monopólio. Verdadeiro. Modas e modismos são criados e promovidos pela publicidade, que ocorre em oligopólios e em setores em concorrência monopolística, mas não em monopólios ou setores em concorrência perfeita.

Teste seu entendimento 15-4 1.      a. Isso é economicamente útil, pois essa publicidade tenderá a focalizar os benefícios médicos da aspirina. b. Esse é um desperdício econômico porque essa publicidade tenderá a se concentrar em promover a aspirina Bayer contra uma aspirina rival. Os dois produtos são clinicamente indistinguíveis. c. Esse é útil economicamente porque essa publicidade tenderá a se concentrar nos benefícios de saúde e no prazer que o suco de laranja oferece. d. Esse é um desperdício econômico porque tal publicidade tenderá a se concentrar na promoção do suco de laranja Tropicana contra o produto de um rival. Provavelmente, os dois são indistinguíveis para o consumidor. e. Esse é economicamente útil, pois a longevidade de um negócio dá uma informação potencial ao cliente sobre a sua qualidade. 2. Uma marca de sucesso indica um atributo desejável, como qualidade, para o comprador potencial. Então, tudo o mais mantido constante, como o preço, uma empresa com marca de sucesso alcançará maiores vendas do que um rival com produto similar, mas sem marca de sucesso. Provavelmente isso dissuadirá novas empresas de entrar em um setor em que uma empresa já existente tem uma marca de sucesso.

Capítulo 16 Teste seu entendimento 16-1

1.      a.

2.

O custo externo é a poluição causada pelo escoamento das águas residuais, custo não compensado imposto pelas granjas aos seus vizinhos. b. Como as granjas não consideram o custo externo de suas ações na tomada de decisão sobre o quanto de efluentes gerar, na ausência de intervenção do governo ou de um acordo particular, vão gerar mais efluentes do que o socialmente ótimo. Produzirão efluentes até o ponto em que o benefício social marginal de uma unidade adicional de efluente seja zero. No entanto, seus vizinhos experimentam um custo social marginal elevado e positivo dos efluentes gerados a esse nível de produto. Assim, a quantidade de efluente é ineficiente: reduzir o efluente em uma unidade reduziria o benefício social total em menos do que reduziria o custo social total. c. Na quantidade socialmente ótima de efluentes, o benefício social marginal é igual ao custo social marginal. A quantidade é mais baixa do que a quantidade de efluentes que seria gerada na ausência de intervenção do governo ou de um acordo particular. O raciocínio de Yasmin não está correto: permitir que alguns livros sejam devolvidos com atraso é provável que seja socialmente ótimo. Apesar da imposição de um custo social marginal por cada dia de atraso na devolução de um livro, há algum benefício social marginal positivo para a pessoa que devolve o livro com atraso – por exemplo, um aluno ganha mais tempo para usar o livro para a tese que está redigindo. O número socialmente ótimo de dias de atraso na devolução de um livro é o número pelo qual o benefício social marginal é igual ao custo social marginal. Uma multa tão alta que impeça qualquer atraso na devolução tende a resultar em uma situação em que as pessoas devolvam o livro, embora o benefício social marginal de mantê-los por mais um dia seja maior do que o custo social marginal decorrente do atraso – um resultado ineficiente. Nesse caso, permitir que alguém em atraso tenha mais um dia aumentaria o benefício social total, mais do que aumentaria o custo social total. Então, é apropriado cobrar uma multa moderada que reduza o número de dias de atraso na devolução de livros para o número socialmente ótimo de dias de atraso.

Teste seu entendimento 16-2

1.

Esse é um argumento equivocado. Permitir a venda de licenças de emissão pelos poluidores faz com que fiquem diante de um custo de poluição: o custo de oportunidade da licença. Caso o poluidor opte em não reduzir suas emissões, não poderá vender as licenças de emissão. Como resultado, deixa de aproveitar a oportunidade de ganhar dinheiro com a venda das licenças. Assim, apesar do fato de que o poluidor recebe um benefício monetário ao vender as licenças, o esquema tem o efeito desejado: fazer os poluidores internalizarem a externalidade de suas ações. 2.      a. Se o imposto sobre emissão for mais baixo do que o custo social marginal QOTI, o poluidor estará diante do custo marginal de poluir (igual ao montante do imposto), que é inferior ao custo social marginal da quantidade de poluição socialmente ótima. Uma vez que o poluidor produzirá emissões até o ponto em que o benefício social marginal seja igual ao custo marginal, a quantidade resultante de poluição será maior do que a quantidade socialmente ótima. Portanto, há ineficiência: se a quantidade de poluição for maior do que a quantidade socialmente ótima, o custo social marginal excede o benefício social marginal e a sociedade poderá ganhar com a redução no nível de emissão. Se o imposto sobre emissão for mais alto do que o custo social marginal em QOTI, o poluidor estará diante de um custo marginal de poluir (igual ao montante do imposto) que é mais alto do que o custo social marginal da quantidade de poluição socialmente ótima. Isso levará o poluidor a reduzir as emissões abaixo da quantidade socialmente ótima. Isso

b.

também é ineficiente: sempre que o benefício social marginal excede o custo social marginal, a sociedade pode-se beneficiar com um aumento no nível de emissões. Se a quantidade total de poluição permitida for muito alta, a oferta de licenças de emissão será alta e, por isso, o preço de equilíbrio em que se permite o comércio será baixo. Ou seja, os poluidores estarão diante de um custo marginal de poluir (o preço de uma licença), que é “muito baixo”, inferior ao custo social marginal da quantidade de poluição socialmente ótima. Como resultado, a poluição será maior do que a quantidade socialmente ótima. Isso é ineficiente. Se o nível total de poluição permitida for muito baixo, a oferta de licenças de emissão será baixa e por isso o preço de equilíbrio em que se permite que as licenças sejam comercializadas será elevado. Ou seja, os poluidores estarão diante de um custo marginal de poluir (o preço de uma licença), “muito alto” – superior ao custo social marginal da quantidade de poluição socialmente ótima. Como resultado, a poluição será menor do que a quantidade socialmente ótima. Isso também é ineficiente.

Teste seu entendimento 16-3

1.

A educação universitária proporciona benefícios externos por meio da geração de conhecimento. E o auxílio estudantil age como subsídio pigouviano sobre o ensino superior. Se o benefício social marginal do ensino superior for de fato $35 bilhões, então o auxílio estudantil é uma política ótima. 2.      a. Plantar árvores resulta em um benefício externo: o benefício social marginal de plantar árvores é mais alto do que o benefício marginal para os plantadores de árvores individuais, uma vez que muitas pessoas (e não apenas as que plantam as árvores) podem-se beneficiar do aumento da qualidade do ar e de temperaturas mais amenas no verão. A diferença entre o benefício social marginal e o benefício marginal para o indivíduo que planta é o benefício externo marginal. Um subsídio pigouviano poderia ser colocado em cada árvore plantada em áreas urbanas a fim de aumentar o benefício marginal do indivíduo que planta árvores para o mesmo nível do benefício social marginal. b. Descargas de toaletes que economizam água impõem um benefício externo: o benefício marginal para os proprietários de casas individuais de substituir as descargas tradicionais por descarga que poupam água é zero, já que a água praticamente não tem custo. Mas o benefício social marginal é grande, uma vez que menos rios e aquíferos precisam ser explorados. A diferença entre o benefício social marginal e o benefício marginal para o proprietário de casa individual é o benefício externo marginal. Um subsídio pigouviano para a instalação de descargas de toaletes poupadoras de água pode trazer benefício marginal para o proprietário individual alinhado ao nível do benefício social marginal. c. Descartar monitores de computador antigos impõe um custo externo: o custo marginal daqueles que descartam monitores antigos é mais baixo do que o custo social marginal, pois a poluição ambiental é suportada por mais pessoas do que a que descarta o monitor. A diferença entre o custo social marginal e o custo marginal daqueles que estão dispondo de monitores antigos é o custo externo marginal. Um imposto pigouviano sobre o descarte de monitores de computador, ou um sistema de licenças comercializáveis para o seu descarte, poderia elevar o custo marginal para aqueles que descartam monitores antigos o suficiente para torná-lo igual ao custo marginal social. Teste seu entendimento 16-4

A voltagem de um aparelho elétrico deve ser compatível com a voltagem da tomada elétrica que esteja plugada nele. Os consumidores vão querer aparelhos de 110 volts quando as casas estão preparadas para tomadas de 110 volts, e as construtoras vão querer instalar tomadas de 110 volts, quando a maioria dos futuros proprietários usam aparelhos de 110 volts. Então, surge externalidade de rede, porque o consumidor vai querer usar aparelhos que operam com a mesma voltagem que os aparelhos usados pela maioria dos outros consumidores. b. Impressoras, copiadoras, aparelhos de fax, e assim por diante, são projetados para tamanhos de papel específicos. Os consumidores vão querer comprar papel do tamanho que pode ser usado nessas máquinas e os fabricantes vão querer fabricar suas máquinas para o tamanho de papel que a maioria dos consumidores usa. Então, surge externalidade de rede, porque o consumidor vai querer usar o tamanho de papel usado pela maioria dos consumidores. Das duas empresas concorrentes, a empresa que alcança a maior quantidade de vendas tenderá a dominar o mercado. Em um mercado com externalidade de rede, novos consumidores irão basear suas decisões de compra no número de consumidores existentes de um produto específico. Em outras palavras, quanto mais consumidores uma empresa puder atrair inicialmente, mais consumidores vão optar em comprar o produto daquela empresa e, portanto, o apresentará feedback positivo. Por isso, é importante para uma empresa realizar um grande número de vendas desde o início. Isso é possível colocando um preço inicial baixo, com prejuízo em cada unidade vendida. A empresa que melhor pode-se dar ao luxo de subsidiar um grande número de vendas no início tende a ser a vencedora dessa competição.

1.      a.

2.

Capítulo 17 Teste seu entendimento 17-1

1.      a.

2.

O uso de um parque público é não excluível, mas pode ou não ser rival no consumo, dependendo das circunstâncias. Por exemplo, se o parque for usado por você e por mim para correr, então o seu uso não vai evitar o meu uso – o uso do parque é não rival no consumo. Nesse caso, o parque público é um bem público. Mas o uso do parque é rival no consumo, se houver muitas pessoas tentando usar o percurso de jogging ao mesmo tempo ou quando o meu uso da quadra de tênis impedir o seu uso da mesma quadra. Nesse caso, o parque público é um recurso comum. b. Um burrito de queijo é tanto excluível como rival no consumo. Por isso, é um bem privado. c. Informações de um site protegido por senha é excluível, mas não rival no consumo. Por isso, é um bem escasso artificialmente. d. Informação anunciada publicamente sobre a rota de um furacão é não excluível e não rival no consumo. Por isso, é um bem público. Um produtor privado irá fornecer apenas um bem que seja excluível, caso contrário, o produtor não será capaz de cobrar um preço por isso que cubra os custos de produção. Assim, um produtor privado estaria disposto a fornecer um burrito de queijo e informação de um site protegido por senha, mas não estaria disposto a fornecer um parque público ou informações sobre a rota de um furacão.

Teste seu entendimento 17-2

1.      a.

b.

c.

Com 10 caseiros e 6 festeiros, a tabela de benefício social marginal de dinheiro gasto com a festa é mostrada a seguir.

O nível de gastos eficiente é $2, o nível mais alto em que o benefício social marginal é superior ao custo marginal ($1). Com 6 caseiros e 10 festeiros, a tabela de benefício social marginal de dinheiro gasto com a festa é mostrada a seguir.

O nível de gasto eficiente agora é $3, o nível mais alto em que o benefício social marginal é superior ao custo marginal ($1). O nível eficiente de gasto aumentou em comparação com o item (a) porque há relativamente mais pessoas festeiras do que caseiras, e $1 adicional gasto na festa gera um nível de benefício social mais alto comparado com a situação em que havia relativamente mais caseiros do que festeiros. Quando o número de caseiros e festeiros é desconhecido, mas é perguntado aos moradores sobre suas preferências, os caseiros vão se passar por festeiros para induzir um nível mais alto de gastos com a festa pública. Isso porque uma pessoa caseira continuará recebendo um benefício marginal individual positivo resultante de $1 adicional em gasto, apesar do fato de que seu benefício marginal individual é mais baixo que o da pessoa festeira para cada $1 adicional. Nesse caso, a tabela de benefício social marginal “relatada” de dinheiro gasto com a festa será a mostrada a seguir.

Como resultado, serão gastos $4 na festa, o nível mais alto para o qual o benefício social marginal “relatado” é maior que o custo marginal ($1). Independentemente de haver 10 caseiros e 6 festeiros (item a) ou 6 caseiros e 10 festeiros (item b), gastar um total de $4 na festa é claramente ineficiente, pois o custo marginal excede o benefício social marginal nesse nível de gasto. Como mais um exercício, consideremos quanto os caseiros ganham com essa falsa representação. No item (a) o nível eficiente de gasto é $2. Então, ao enganar sobre suas preferências, os 10 caseiros ganham, no total, 10 × ($0,03 + $0,02) = $0,50, ou seja, recebem um benefício individual marginal pelo fato de passarem de um nível de gasto de $2 para $4. Os 6 festeiros também ganham com a enganação dos caseiros; eles ganham 6 × ($0,09 + $0,07 ) = $0,96 no total. Esse resultado é claramente ineficiente, quando $4 no total é gasto, o custo marginal é $1, mas o benefício social marginal é apenas $0,62, o que indica que foi gasto dinheiro demais na festa. No item (b), o nível de eficiência dos gastos é realmente $3. A enganação dos caseiros faz com que ganhem, 6 × $0,02 = $0,12 no total, mas os 10 festeiros ganham 10 × $0,07 = $0,70 no total. Esse resultado também é claramente ineficiente quando são gastos $4, o benefício social marginal é apenas $0,12 + $0,70 = $0,82, mas o custo marginal é $1. Teste seu entendimento 17-3

1.

2.

Se os indivíduos tiverem permissão de retirar quanta madeira quiserem, a floresta de propriedade do governo se tornará um recurso comum e as pessoas a usarão em excesso – derrubarão um número de árvores ineficiente por ser excessivo. Em termos econômicos, o custo social marginal de cortar uma árvore é maior que o custo marginal individual de uma madeireira particular. Os três métodos consistentes com a teoria econômica são (i) impostos pigouvianos, (ii) sistema de licenças comercializáveis e (iii) alocação de direito de propriedade. i. Impostos pigouvianos. Seria estabelecido um imposto sobre as madeireiras que corresponde à diferença entre o custo social marginal e o custo marginal individual de cortar uma árvore quando a quantidade de corte for socialmente eficiente. Para fazer isso, é necessário conhecer a tabela de custo social marginal e a tabela de custo marginal individual. ii. Sistema de licenças comercializáveis. Seriam emitidas licenças comercializáveis, definindo o número total de árvores a serem cortadas igual à quantidade de corte socialmente eficiente. O mercado que surge para essas licenças alocará o direito de retirar madeira de forma eficiente quando houver diferença entre as madeireiras quanto aos custos de exploração

madeireira: serão adquiridas licenças por aqueles que têm um custo relativamente baixo. O preço de mercado de uma licença será igual à diferença entre o custo social marginal e o custo marginal individual de cortar uma árvore quando a quantidade de corte estiver no nível socialmente eficiente. A fim de colocar em prática esse nível, é necessário conhecer a quantidade de corte socialmente eficiente. iii. Alocação de direito de propriedade. Nesse caso, a floresta seria vendida ou concedida a um particular. Essa entidade privada teria direito de excluir outros do corte de árvores. A retirada de madeira agora é um bem privado – é excluível e rival no consumo. Como resultado, não há mais qualquer divergência entre custos sociais e privados, e a entidade privada vai cortar o nível eficiente de árvores. Não é necessário ter informação adicional para usar esse método. Teste seu entendimento 17-4 1.      a. O preço eficiente para o consumidor é $0, uma vez que o custo marginal de permitir que o consumidor baixe o programa é $0. b. A Xenoid não produzirá o programa de atualização a menos que possa cobrar um preço que lhe permita, pelo menos, recuperar o custo da sua produção de $300.000. Assim, o menor preço pelo qual a Xenoid está disposta a produzi-lo é $150. A esse preço, terá uma receita total de $150 × 2.000 = $300.000. A qualquer preço mais baixo, a Xenoid não conseguirá cobrir o custo. A área sombreada no gráfico a seguir mostra a perda por peso morto quando Xenoid cobra um preço de $150.

Capítulo 18 Teste seu entendimento 18-1 1.      a. Um programa que garante aposentadoria é um programa de previdência social. A possibilidade de um empregador ir à falência ou não cumprir a obrigação de pagar a aposentadoria dos empregados cria insegurança. Ao proporcionar renda de aposentadoria a esses funcionários, tal programa alivia essa fonte de insegurança econômica. b. O programa SCHIP dos Estados Unidos é um programa antipobreza. Ao proporcionar assistência à saúde para crianças de famílias de baixa renda, seus gastos concentram-se

especificamente nas camadas mais pobres. c. A seção 8 do programa habitacional é um programa antipobreza, pois se destina a famílias de baixa renda. d. O programa federal contra inundações é um programa de seguro social. Para muitas pessoas, o mais valioso da sua riqueza é a casa que possuem. O potencial de perda dessa riqueza cria insegurança econômica. Ao prestar assistência aos atingidos por inundação, o programa alivia essa fonte de insegurança. 2. O limiar da pobreza é uma medida absoluta da pobreza. Define uma pessoa como pobre se a sua renda estiver abaixo do nível considerado adequado para a compra das necessidades básicas, independentemente do nível de outras pessoas. E essa medida é fixa: em 2010, por exemplo, era de $11.139 para um indivíduo que vive sozinho comprar as necessidades da vida, independente do bem-estar de outros americanos. Em particular, o limiar da pobreza não é ajustado quando há aumento no padrão de vida: mesmo que outros americanos estejam ficando cada vez em situação melhor ao longo do tempo, em termos reais (isto é, quantos bens um indivíduo no limiar da pobreza pode comprar) o limiar da pobreza permanece o mesmo. 3.      a. Para determinar a renda média, tomamos a renda total de todos os indivíduos em uma economia e dividimos pelo número de indivíduos. A renda média é ($39.000 + $17.500 + $900.000 + $15.000 + $28.000)/5 = $999.500/5 = $199.900. Para determinar a renda mediana, analise a tabela a seguir, que alinha os cinco indivíduos em ordem de renda. Renda Vijay

$15.000

Kelly

17.500

Oskar

28.000

Sephora

39.000

Raul

4.

900.000

A mediana é a renda do indivíduo bem no meio da distribuição de renda: Oskar, com renda de $28.000. Assim, a renda mediana é de $28.000. A renda mediana é mais representativa da renda dos indivíduos dessa economia: quase todos têm renda entre $15.000 e $39.000, perto da renda mediana de $28.000. Apenas Raul é exceção: é a sua renda que eleva a média para $199.900, que não é representativa da maioria das rendas nessa economia. b. O primeiro quinto compreende 20% (ou um quinto) dos indivíduos com a renda mais baixa na economia. Vijay representa 20% dos indivíduos com renda baixa. Sua renda de $15.000 é a renda média do primeiro quinto. Oskar representa 20% dos indivíduos com o terceiro nível mais baixo de renda. Sua renda de $28.000 é a média do terceiro quinto. Como a seção Economia em ação assinalou, a maior parte do aumento da desigualdade reflete diferenças crescentes entre trabalhadores altamente qualificados. Ou seja, trabalhadores com nível semelhante de ensino obtêm renda muito diferente. Como resultado, a principal fonte de aumento da desigualdade nos Estados Unidos hoje está refletida na afirmação (b): o aumento do salário do alto executivo do banco comparado com o salário do gerente de agência.

Teste seu entendimento 18-2

1.

2.

O programa americano EITC, que corresponde a um imposto de renda negativo, aplica-se apenas aos trabalhadores que recebem renda; em determinado intervalo da renda, quanto mais um trabalhador recebe, maior o montante recebido do EITC. Uma pessoa sem renda não recebe nenhum crédito a título desse imposto de renda negativo. Por outro lado, programas antipobreza que fazem pagamentos a indivíduos com base unicamente na renda baixa ainda fazem esses pagamentos mesmo que o indivíduo não trabalhe. Quando o indivíduo passa a ter determinada renda, esses programas interrompem os pagamentos. Como resultado, tais programas contêm um incentivo para não trabalhar e receber renda ao mesmo tempo, pois se o indivíduo recebe mais que determinado nível de renda torna-se inelegível para o benefício. O imposto de renda negativo, no entanto, oferece um incentivo para trabalhar e receber renda, porque quanto mais o indivíduo trabalha, a renda aumenta. De acordo com os dados apresentados no Quadro 18-4, o estado do bem-estar nos Estados Unidos reduz a taxa de pobreza em todos os grupos etários, particularmente entre os que têm 65 anos ou mais, onde corta a taxa de pobreza em mais de 80%.

Teste seu entendimento 18-3

1.      a.

2.

O programa beneficia você e seus pais porque o conjunto de todos os estudantes universitários contém uma mistura representativa de pessoas saudáveis e menos saudáveis, diferentemente de um grupo selecionado de pessoas que quer o seguro-saúde porque tem a expectativa de pagar contas médicas elevadas. Nesse sentido, esse seguro é semelhante ao seguro-saúde com base no emprego. Como nenhum estudante pode sair, a escola pode oferecer um seguro-saúde com base nos custos de assistência médica de seu aluno médio. Se cada aluno tiver que comprar seu próprio seguro-saúde, alguns não conseguirão obter nenhum seguro e muitos pagariam mais do que se estivessem no programa de seguro da escola. b. Uma vez que todos os alunos são obrigados a se inscrever nesse programa de seguro-saúde, mesmo os mais saudáveis não podem sair do programa e procurar por um seguro mais barato talhado especificamente para pessoas saudáveis. Se isso vier a acontecer, o programa da escola pode ficar com seleção adversa dos estudantes menos saudáveis e assim terá de aumentar o prêmio, iniciando a espiral da morte da seleção adversa. Mas como nenhum estudante pode deixar o programa, a escola pode continuar a basear seu prêmio na probabilidade de o aluno médio necessitar de cuidados de saúde, evitando a espiral da morte da seleção adversa. Segundo os críticos, parte da razão pela qual o sistema de saúde dos Estados Unidos é muito mais caro do que em outros países é sua natureza fragmentada. Uma vez que cada uma das companhias de seguros tem custos administrativos significativos – em parte porque cada companhia de seguro incorre em custos de marketing e se esforça em peneirar segurados de alto risco – o sistema tende a ser mais caro do que se houvesse um único segurador. Outra parte da explicação é que o sistema de assistência médica dos Estados Unidos inclui tratamentos muito mais caros do que os encontrados em outros países ricos, paga salários mais elevados aos médicos e tem custo de medicamentos mais alto.

Teste seu entendimento 18-4 1.      a. Lembre-se de um dos princípios do Capítulo 1: o gasto de uma pessoa é a renda de outra. Um imposto elevado sobre vendas de itens de consumo é o mesmo que uma alíquota de

2.

imposto marginal elevada sobre a renda. Como resultado, o incentivo para receber renda, trabalhando ou investindo em projetos de risco, é reduzido, uma vez que a recompensa, depois dos impostos, é mais baixa. b. Se você perde o subsídio habitacional logo que sua renda atinge $25.000, o incentivo para ganhar mais do que $25.000 é reduzido. Se você ganha exatamente $25.000, obtém o subsídio de habitação. No entanto, logo que receba $25.001, perde todo o subsídio, ficando em situação pior do que se não tivesse recebido o dólar adicional. A retirada completa do subsídio quando a renda passa de $25.000 é o que os economistas às vezes chamam de gatilho. Ao longo dos últimos 40 anos, a polarização no Congresso americano aumentou. Há quarenta anos, alguns republicanos estavam à esquerda de alguns democratas. Hoje, o democrata mais à direita parece estar à esquerda do republicano mais à esquerda.

Capítulo 19 Teste seu entendimento 19-1

1.

Muitos professores universitários buscarão outro tipo de trabalho se o governo impuser um salário muito mais abaixo do salário de mercado. Menos professores representam menos cursos ministrados e, portanto, menos diplomas universitários produzidos. Isso irá afetar negativamente os setores da economia que dependem diretamente de universidades, como os comerciantes locais que vendem bens e serviços aos estudantes e professores, os editores de livros didáticos da faculdade, e assim por diante. Também afetará negativamente as empresas que usam o “produto” produzido pelas faculdades: os recém-formados. As empresas que precisam contratar novos empregados com diploma universitário serão prejudicadas à medida que uma oferta menor resulta em um salário de mercado mais elevado para os graduados da faculdade. Em última análise, a redução da oferta de trabalhadores com educação universitária resultará em um nível de capital humano mais baixo em toda a economia em relação ao que teria sido sem a política. E isso irá prejudicar todos os setores da economia que dependem de capital humano. Os setores da economia que podem-se beneficiar são as empresas que competem com as universidades na contratação de professores universitários potenciais. Por exemplo, empresas de contabilidade vão achar mais fácil contratar pessoas que de outra forma teriam optado em ser professores de contabilidade e os editores vão achar mais fácil contratar pessoas que teriam sido professores de português (mais fácil no sentido de que as empresas poderão recrutar professores potenciais com um salário mais baixo do que antes). Além disso, trabalhadores que já têm diploma universitário serão beneficiados; conseguirão salários mais altos, pois a oferta de trabalhadores com diploma universitário diminuirá.

Teste seu entendimento 19-2 1.      a. À medida que a demanda por serviços aumenta, o preço dos serviços aumenta. E, à medida que o preço do produto produzido pelas indústrias aumenta, desloca a curva VPMT (valor do produto marginal do trabalho) para cima – isto é, a demanda de trabalho aumenta. Isso resulta em um aumento tanto no salário de equilíbrio como na quantidade de trabalho empregada. b. A queda na pesca por dia significa que o produto marginal do trabalho na indústria declina. A curva VPMT (valor do produto marginal do trabalho) se desloca para baixo, gerando uma queda no salário de equilíbrio e na quantidade de equilíbrio do trabalho empregado.

2.

Quando as empresas de diferentes setores competem pelos mesmos trabalhadores, cada trabalhador nos diversos setores receberá o mesmo salário de equilíbrio, W. E uma vez que, pela teoria da distribuição de renda, segundo a produtividade marginal, VPMT = P × PMT = W para o último trabalhador contratado em equilíbrio, o último trabalhador contratado em cada um desses setores diversos apresentará o mesmo valor do produto marginal do trabalho.

Teste seu entendimento 19-3

1.      a.

b.

c.

Falso. Disparidades de renda associadas a gênero, raça ou etnia podem ser explicadas pela teoria da distribuição de renda segundo a produtividade marginal, desde que diferenças na produtividade marginal entre as pessoas sejam correlacionados com gênero, raça ou etnia. Uma fonte possível de tal correlação é a discriminação passada. Tal discriminação pode reduzir a produtividade marginal do indivíduo, por exemplo, impedindo-o de adquirir capital humano que aumentaria sua produtividade. Outra fonte possível de correlação é a diferença na experiência de trabalho que está associada a gênero, raça ou etnia. Por exemplo, em trabalhos em que a experiência de trabalho ou o tempo de serviço são importantes, talvez as mulheres recebam salários mais baixos, porque, em média, mais mulheres pedem licença do emprego para cuidar dos filhos. Verdadeiro. As empresas que praticam discriminação quando seus concorrentes não o fazem, tendem a contratar trabalhadores menos capacitados porque discriminam os trabalhadores mais capacitados que são considerados de gênero, raça, etnia ou outra característica errada. E com trabalhadores menos capacitados, essas empresas tenderão a ter lucro mais baixo do que os concorrentes que não discriminam. Ambíguo. Em geral, os trabalhadores que recebem menos porque têm menos experiência podem ser ou não vítimas de discriminação. A resposta depende da razão da falta de experiência. Se os trabalhadores têm menos experiência por serem jovens ou por terem optado em fazer outra coisa em vez de ganhar experiência, não são vítimas de discriminação quando recebem menos. Mas se os trabalhadores não têm experiência por causa da discriminação anterior que os impediu de obter experiência, então, de fato, são vítimas de discriminação quando recebem menos.

Teste seu entendimento 19-4 1.      a. A situação de Clive fica pior se, antes da nova lei, ele preferia trabalhar mais de 35 horas por semana. Como resultado da lei, não pode mais escolher a alocação de tempo preferida; agora consome menos bens e mais lazer do que gostaria. b. A utilidade de Clive não é afetada pela lei se, antes da lei, preferia trabalhar 35 horas ou menos por semana. Nesse caso, a lei não teria mudado sua alocação de tempo preferida. c. Clive jamais pode ficar em situação melhor com uma lei que restringe o número de horas que ele pode trabalhar. Ele só pode piorar de situação (caso a) ou ficar na mesma situação (caso b). 2. O efeito substituição induziria Clive a trabalhar menos horas e consumir mais lazer depois da queda de salário – a queda de salário significa que o preço de uma hora de lazer cai, levando-o a consumir mais lazer. Mas uma queda de salário também gera uma queda na renda de Clive. O efeito renda induzirá Clive a consumir menos lazer e, portanto, a trabalhar mais horas, já que agora ele está mais pobre, e lazer é um bem normal. Se o efeito renda domina o efeito substituição, Clive, no final, irá trabalhar mais horas do que antes.

Capítulo 20 Teste seu entendimento 20-1

1.

É provável que a família com renda mais baixa tenha maior aversão ao risco. Em geral, renda ou riqueza maior resulta em menor grau de aversão ao risco, em decorrência da utilidade marginal decrescente. Ambas as famílias podem estar dispostas a contratar uma apólice de seguro “injusta”. A maioria das apólices de seguro é “injusta”, pois a indenização prevista é inferior ao prêmio. Quanto a família está disposta a pagar mais do que a indenização esperada pelo seguro depende do grau da família de aversão ao risco. 2.      a. A renda esperada de Karma é a média ponderada de todos os valores possíveis de renda, ponderada pelas probabilidades de ela ganhar cada valor possível de renda. Como recebe $22.000 com probabilidade de 0,6 e $35.000 com probabilidade de 0,4, a renda esperada é (0,6 × $22.000) + (0,4 × $35.000) = $13.200 + $14.000 = $27.200. A utilidade esperada é o valor esperado do total de utilidades que experimentará. Como com probabilidade 0,6 experimentará uma utilidade total de 850 utils (sua utilidade ao receber $22.000) e com probabilidade 0,4 experimentará uma utilidade total de 1.260 utils (sua utilidade de receber $35.000), sua utilidade esperada é (0,6 × 850 utils) + (0,4 × 1.260 utils) = 510 utils + 504 utils = 1.014 utils. b. Se Karma recebe $25.000 é certo que experimenta um nível de utilidade de 1.014 utils. Da resposta do item (a) sabemos que isso a deixa com utilidade igual àquela com renda esperada de $27.200 com maior risco. Se Karma é indiferente entre uma renda esperada de $27.200 arriscada e uma renda certa de $25.000, pode-se concluir que irá preferir uma renda certa de $27.200 em vez de uma renda esperada de $27.200 arriscada. Ou seja, está definitivamente disposta a reduzir o risco quando essa redução deixa a renda esperada inalterada. Em outras palavras, Karma tem aversão ao risco. c. Sim. Karma experimenta um nível de utilidade de 1.056 utils quando tem renda certa de $26.000. É maior do que o nível de utilidade esperada de 1.014 utils gerada por uma renda esperada de $27.200 arriscada. Então Karma está disposta a pagar um prêmio para garantir uma renda certa de $26.000. Teste seu entendimento 20-2

1.      a.

b.

c.

Um aumento no número de navios implica aumento na quantidade de seguro demandado a qualquer prêmio dado. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda, resultando em um aumento tanto do prêmio como da quantidade de equilíbrio do seguro comprado e vendido. Um aumento no número de rotas comerciais significa que os investidores podem diversificar mais. Em outras palavras, podem reduzir o risco ainda mais. A qualquer prêmio dado, existem agora mais investidores dispostos a ofertar seguro. Esse é um deslocamento para a direita da curva da oferta de seguro, levando a uma queda no prêmio de equilíbrio e a um aumento na quantidade de equilíbrio do seguro comprado e vendido. Se os proprietários de navios no mercado tornam-se ainda mais avessos ao risco, estarão dispostos a pagar prêmios de seguro ainda mais elevados. Isto é, a qualquer prêmio dado, existem agora mais pessoas dispostas a comprar seguro. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda de seguro, levando a um aumento tanto no prêmio quanto na quantidade de equilíbrio do seguro comprado e vendido.

d.

e.

f.

Se os investidores no mercado tornam-se mais avessos ao risco, estarão menos dispostos a aceitar o risco com qualquer prêmio dado. Esse é um deslocamento para a esquerda da curva da oferta de seguro, levando a um aumento no prêmio de equilíbrio e a uma queda na quantidade de equilíbrio do seguro comprado e vendido. À medida que o nível geral de risco aumenta, aqueles dispostos a comprar seguro estarão mais dispostos a comprar seguro a qualquer prêmio dado; a curva da demanda de seguro se desloca para a direita. Mas como o risco geral não pode ser diversificado, aqueles que normalmente estão dispostos a assumir riscos, estarão menos dispostos a fazê-lo, levando a um deslocamento para a esquerda da curva da oferta do seguro. Como resultado, o prêmio de equilíbrio do seguro aumentará; o efeito sobre a quantidade de equilíbrio de seguro é incerto. Se o nível de riqueza dos investidores diminui, eles passarão a ter maior aversão ao risco e, por isso, estarão menos dispostos a oferecer seguro a qualquer prêmio. Esse é um deslocamento para a esquerda da curva da oferta de seguro, levando ao aumento do prêmio de equilíbrio e a uma queda na quantidade de equilíbrio do seguro comprado e vendido.

Teste seu entendimento 20-3

1.

A ineficiência causada pela seleção adversa é que uma apólice de seguro com um prêmio com base no risco médio de todos os motoristas irá atrair apenas uma seleção adversa de maus motoristas. Bons motoristas (ou seja, seguros) acharão esse prêmio de seguro caro demais, e assim, ficarão sem seguro. Isso é ineficiente. No entanto, motoristas seguros são também os que tiveram menor quantidade de multas durante vários anos. Reduzir o prêmio para os motoristas sem multa permite que a companhia de seguros faça uma triagem dos clientes e venda seguro apenas aos motoristas que também são seguros. Isso significa que, pelo menos, alguns dos bons motoristas agora têm seguro, o que diminui a ineficiência que surge da seleção adversa. De certa forma, não ser multado por vários anos equivale a construir uma reputação de ser um motorista seguro. 2. O problema do risco moral na construção de casas surge da informação privilegiada sobre o que a construtora faz: se tem o cuidado de reduzir o custo da construção ou permite que os custos aumentem. O proprietário da casa não consegue, ou consegue apenas de modo imperfeito, observar o esforço de redução de custos do contratante. Se o contratante é reembolsado integralmente por todos os custos incorridos durante a construção, não terá incentivo para reduzir custos. Tornar o contratante responsável por qualquer custo adicional acima da estimativa original significa que agora ela passa a ter um incentivo para manter os custos baixos. No entanto, isso impõe riscos à contratante. Por exemplo, se o clima estiver ruim, a construção residencial vai demorar mais tempo, e vai sair mais cara do que se o clima estiver bom. Como o contratante paga por quaisquer custos adicionais (como atrasos decorrentes de chuva) acima da estimativa original, ela se defronta com riscos que não pode controlar. 3.      a. Verdadeiro. Motoristas com franquia elevada têm mais incentivo para cuidar da condução para evitar o pagamento da franquia. Esse é um fenômeno de risco moral. b. Verdadeiro. Suponha que você saiba que é um motorista seguro. Você tem escolha de uma apólice com prêmio elevado, mas com franquia baixa, ou uma com prêmio mais baixo, mas com franquia mais alta. Nesse caso, você estaria mais disposto a escolher a apólice mais barata com franquia alta, porque sabe que é pouco provável que tenha que pagar a franquia. Quando há seleção adversa, as seguradoras usam técnicas de triagem como essa para fazer inferências sobre informação privilegiada das pessoas sobre sua própria capacidade como motorista.

c.

Verdadeiro. Quanto mais rico for, menor a aversão ao risco. O indivíduo com menor aversão ao risco está mais disposto a assumir o risco por si mesmo. Ter uma apólice de seguro com franquia alta significa estar exposto a um risco maior: deve-se pagar mais de qualquer indenização de seguro. Essa é uma implicação de quanto a aversão ao risco varia com a renda ou a riqueza de uma pessoa.