Micro-História: um método em transformação [1 ed.] 9786586903010


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Portuguese Pages 368 [359] Year 2020

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Micro-História: um método em transformação [1 ed.]
 9786586903010

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Anos 1970, Itália. Um grupo de

micro-história italiana e sua relação

historiadores se movia de modo

com questões gerais. Já a segunda

inquieto e em ampla atividade

parte é formada por pesquisas

política. Os debates sobre

específicas, com suas fontes

mobilização operária se davam em

pertinentes, e que partem da análise

paralelo com as discussões sobre

de seus temas para a realização

como deveriam ser compreendidos

de reflexões metodológicas

de modo dinô mico os fenômenos

relacionadas à micro-história. Ali

sociais no tempo. Era uma luta

estão temas caros ao fazer micro­

contra as visõ�s teleológicas que

histórico, como as formas complexas

dominavam o debate italiano, tanto

e dinâmicas de estratificaçÕo e

nos autores conservadores quanto

mobilidade social, as identidades

em diversos grupos marxistas -

sociais, agências e orientações

uma luta que se mesclava com a

valorativas de sujeitos, fam�ias

militância nas podas das fábricas,

e grupos. A terceira parte reúne

nos debates de diferentes grupos de

reflexões contemporâneas de dois

historiadores.

historiadores e pensadores centrais

Desde então, a micro-história italiana passou por diversas fases e

para o desenvolvimento do tema comum a todos os autores.

seus criadores formaram gerações

Neste livro, o leitor encontrará

de novos historiadores, Na esteira

um conjunto bem estruturado de

dessa tradição surgiram micro­

trabalhos con:'postos em momentos

histórias feitas em diversos lugares

diversos, por autores pertencentes

do mundo, com arranjos próprios.

a p�íses e formações distintas, mas

Elas produziram um repertório de

que têm em comum a reflexão

obras já reconhecido e que agora se

sobre as possibilidades das análises

enfrentam ou se alinham com outras

micro-históricas, sua construção e

abordagens.

o lugar que a micro-história ocupa

Os artigos que compõem este volume apresentam debates a respeito de um conjunto integrado, mas também diversificado, de questões relacionadas à micro­ história. Do ponto de vista temático, na primeira parte do livro estão os artigos que possuem um caráter de reflexão metodológica e historiográfica a partir dos estudos orientados pela

hoje· n a constelação metodológica da disciplina. Se é verdade que cada leitura compõe ela mesma uma experiência única, não temos· dúvida que as possibilidades de reflexão e de inspiração contidas aqui recompensarão aquele que percorrer estas páginas.

Micro-história, um método em transformação

organização:

Maíra Vendrame e Alexandre Karsburg

Copyright © 2019 Os organizadores Copyright © 2020 Letra e Voz Preparação de originais AntonioAyres

Mariana D'Abronzo

Revisão Marisa Ribeiro Capa Rafael Baldam

Diagramação Estúdio Xlack



Oadvs Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(eDOC·BRASIL, Belo Horizonrc/MG)

--�------

M67,.6 Micro-hístória:·um méto do e m transformação I Organizadores'Maira Vendrame, Alexandre Karsburg.­ São Paulo, SP: Letra e Voz, 2020.

368 p. : 16x23cm

ISBN 978-65-86903-01-0

1. História- Metodologia. 2. Historiografia. I. Vendrame, Maíra. li. Karsburg, Alexandre. CDD 907.2 Elaborado por Mauricio Amormino Júnior- CRB6/2422

Conselho editorial Daphne Patai (UMass Amherst), Fernando Luiz Cássio (UFABq, Frederico Augusto Garcia Fernandes (UEL}, Gerardo Necoechea Gracia (INAH), Márcia Ramos de Oliveira (Udesc), Marilda Aparecida de Menezes (UFCG), Mônica Rebecca Ferrari Nunes (ESPM), Ricardo Santhiago (Unifesp), Rid1ard Cándida Smith (UC Berkeley)

Todos os direitos desta e d ição reservados à LITRAEVOZ R u a Dr. João Ferraz, 67 03059-040- São Paulo- SP www.letraevoz.com.br fb.comfletraevoz

Sumário

Apresentação

.'

7

Luis Augusto Farinatti e Tiago Gil Introdução 13

Os organizadores Parte I 1.

Micro-história e história global 19

Giovanni Levi 2.

Método da história e ciências sociais:

Para uma micro-história aplicada 35

Giovanni Favero 3. Forma, tensão e movimento: A plasticidade da história 49 Maurizio Gribaudi 4. A produção histórica dos lugares

69

Angelo Torre 5.

Por uma micro-história translocal (micro-spatial history) 101

Christian G. De Vito 6.

Microglobal history: Agência, sociedade e pobreza da história cultural pós-estrutural 121

Jesus Bohorquez

Parte 11 7. Aherança móvel 143

Renata Ago

Carreiras em movimento: Mobilidade profissional

8.

e acesso ao trabalho em uma cidade do Antigo Regime (Roma, séculos XVll-:XVIII) 161

Eleonora Canepari Da trajetória politica à biografia:

9.

Descaminhos de um bastardo candidato a rei de Portugal 193

facqueline Hermann Viver de favor em terras alheias: Trajetórias de indivíduos e

10.

grupos de egressos do cativeiro (Minas Gerais, século XVIII) 215

Mônica Ribeiro de Oliveira Vulnerabilidades cruzadas: Arranjos de

11.

co-dependência, segurança e trabalho entre ex-escravos e seus senhores precários (Brasil, século XIX) 231

Henrique Espada Lima "Molliamo tutto e ce ne andiamo a vivere in Brasile!":

12.

Trajetórias de imigrantes italianos em São Paulo 249

Ana Silvia Volpi Scott e Maria Silvia C. B. Bassanezi 13.

Detetives policiais, jornalistas e moedeiros

falsos na América do Sul dos anos 191O 283

Diego Galeano Micro-história e uma análise da relação entre

14.

a população e a justiça criminal 309

Deivy Ferreira Carneiro

Parte 111 15. Os andarilhos do bem, cinquenta anos depois 337

Carlo Ginzburg 16.

Entrevista com Maurizio Gribaudi 351

Maíra Ines Vendrame

Sobre os autores 363

Apresentação Luis Augusto Farinatti1 Tiago GiF

É muito comum que shows de grandes músicos sejam "abertos" por outros artistas, como se fosse uma preparação para o espetáculo que se dará em seguida, prática que procura entreter o público que espera o grande desfecho. É esse o caso desta apresentação. A dificuldade aumenta, pois não temos apenas uma banda para anteceder, e sim uma coletãnea que reúne diversos autores que tratam de temas muito variados, mas com um foco em comum: a relação entre o macro e o micro como método de reflexão teórica. Não é tarefa fácil apresentar autores que vêm trazendo contínuas contribuições para a historiografia brasileira. Há ainda outros nomes que sequer seria necessá­ rio apresentar, visto que a coletânea conseguiu reunir representantes de diversas gerações da micro-história, mesmo da italiana, que é a de formação. Nesse caso, a pergunta que fica é: que músicas vamos tocar na abertura de uma obra que começa com um artigo de Giovanni Levi e acaba com Carlo Ginzburg e Maurizio Gribaudi? Arrisquemos com antigos sucessos. Eram os anos 1970 na Itália, e um grupo de historiadores se movia de modo inquieto, em ampla atividade política. Os debates sobre mobilização operária se davam em paralelo com as discussões sobre como deveriam ser compreendidos de modo dinâmico os fenômenos sociais no tempo. Era uma luta contra as visões teleológicas que dominavam o debate italiano, tanto nos autores conservadores quanto em diversos grupos marxistas, uma luta que se mesclava com a militância nas portas das fábricas, nos debates de diferentes gru­ pos de historiadores em distintas cidades do Piemonte, Ligúria e Lombardia. Foram também os anos nos quais Edoardo Grendi apresentava novos conceitos 1. Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de SantaMaria.

2. Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília.

e ideias, posteriormente desenvolvidos ou adaptados por seus diferentes colegas e discípulos. A ideia de "excepcional-normal", hoje célebre, foi concebida nesse con­ texto, em meio a outras leituras que passavam pela história local, pela questão do modelo generativo e pela própria noção de escala, muitas das quais oriundas da leitura do antropólogo norueguês F. Barth.3 Desde então, a micro-história italia­ na passou por diversas fases, seus criadores formaram gerações de novos micro­ -historiadores e, na esteira da tradição italiana, surgiram micro-histórias feitas em diversos lugares do mundo, com arranjos próprios. Elas produziram um reper­ tório de obras já reconhecido e que agora se enfrentam ou se alinham com outras abordagens, como a chamada Global History, como se pode observar em parte dos trabalhos aqui apresentados. Essa relação das perspectivas da micro-história e da Global History é uma ques­ tão que aparece de modo transversal à primeira e à segunda parte da obra. Ela rece­ be aqui a atenção central dos trabalhos de Giovanni Levi, Christian De Vito e Jesus Bohorquez, na primeira parte. Quando postas lado a lado, as reflexões - nem sem­ pre convergentes- desses três autores constituem um importante debate acerca do tema. Por sua vez, os trabalhos de Henrique Espada, Diego Galeano ou Ana Scott e Maria Silvia Bassanezi, presentes na segunda parte do livro, constituem exemplos de estudos que congregam as perspectivas micro-histórica e global. . O conjunto desses seis artigos propicia ao leitor um importante material para a reflexão sobre a potência e os limites da interlocução entre essas abordagens. Os artigos que compõem este volume apresentam debates sobre um conjunto integrado, mas também diversificado, de questões relacionadas à micro-história. Do ponto de vista temático, na primeira parte do livro estão os artigos que têm caráter de reflexão metodológica e historiográfica a partir dos estudos orientados pela micro-história italiana e sua relação com questões gerais - como o espaço no texto de Angelo Torre e o tempo no ensaio de Maurizio Gribaudi; e também pro­ põem um debate da micro-história com outras abordagens, com destaque para a

Global History nos textos já referidos de Levi, De Vito e Bohorquez, e com as outras ciências sociais, no ensaio de Giovanni Favero.