Metodologias de investigação anti-racistas: Questões críticas
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críticas passadas. actuais e e xistentes em torno do anti-rac ismo, também senti que um dos meios de deslocar o assunto para outros territórios seria através da produção de um manual que suscitasse algumas questões chave acerca da investigação anti-racista. Sempre procurei e aceitei com agrado o trabalho intelectual colaborativo, e a oportunidade de partilhar pensamentos e ideias com Gurpreet Johal, enquanto co-editor desta colecção, foi extremamente gratifi· cante. Algumas das visões veiculadas nesta introdução toram apresentadas numa comunicação proferida na Ryerson Polythecnic University, Spring Faculty Community Services (SRC), a 21 de Maio de 1997, e gostaria de agradecer à audiência os seus comentários críticos. Esta introdução tem como propósito assumido levantar questões e não tanto facultar respostas. Os estudos no âmbito do anti-racismo intensificaram-se ao longo dos anos com o reforço mútuo da indagação critica e do traba· lho político no sentido de cimentar a mudança anti-racista, mas de que modo entendemos a investigação anti-racista? Esta colecção editada procura fornecer algumas respostas a estas questões, e reúne trabalhos que examinam os perigos e desejos da Investigação anti-racista, com particular enfoque na noção de di feren ça por via da observação séria das intersecções/implicações de raça. género. classe e sexualidade no contexto da investigação em educação. A investigação anti-racista coloca os minoritlzados1 no cen tro da análise ao centrar-se nas suas experiências vivi· das e na "simultaneidade das [suas] opressões• (Brewer, 1993, p. 16). O propósito dai investigação é o de compreen· der a opressão social e de que modo ajuda a cons truir e constranger identidades (raça. género, classe, sexualida· de), tanto externa como internamente, através de processos de inclusão e de exclusão. As pessoas de cor (por exemplo, as mulheres negras) experienciam a opressão de um modo que é diferente tanto em substância como em 1 :; N. T. AdJectlvo procedonte do neologlsmo mlnotltonon/smo - filosofia ou agenda poUtlca que defende que um segmento da população de um pars. por norma um grupo étnteo dellneado segundo a rellg1Ao. a Ungua ou ou1ro tactor

de ldenullcaç4o, ao qual penence uma minoria dos seus cidadãos, tem direito a um certo grau da primazJa. concre11zado ne tomada de decisões que afoctam a sociedade.

intensidade. A investigação anti-racismo não tem que ver com a circunstância de alguém se localizar ou situar nas experiências vividas de outra pessoa. mas antes com uma oportunidade para o(a) investigador(a) abraçar criticamente a sua própria experiência como parte da procura do conhecimento. Ao mesmo tempo que se discutem essas experiências no processo de investigação, também se deve colocar a seguinte questão : ·o que me diz esta experiência em te rmos de teorização de experiências e procura da acção política para a mudança?• A crença no poder das ideias para mudar a sociedade requer que o investigador anti-racista explore formas e meios de compreender a filosofia por detrás dos ideais sociais e das práticas em que as pessoas estão envolvidas. Um entendimento da simultaneidade da opressão é essen cial se o(a) educador(a)/investigador(a) quiser compreender a experiência de opressão com que lidam os indivíduos minoritizados. A simultaneidade da opressão comunica sempre directamente com a experiência vivida dos minoritizados, mas para que este modo de conceptualização da opressão avance para além da teoria, deverá informar a prática através da acção l socialJ humana quotidiana (por exemplo, através da investigação, do ensino). A investigação em torno da raça deve abordar múltiplas identidades do sujeito e a forma como estas identidades :se entrelaçam, para além do modo como estas informam a prática política. A mudança nas atitudes anti-racistas depende da capacidade de seguir uma política que vá para além das nossas identidades frag mentadas juntamente com a concentração em determinados objectivos. As líções da história sugerem que na construção de uma coligação, assim que as lutas conhecem um fim , certas pessoas permanecem oprimidas enquanto outras envergam o manto do poder e do privilégio. Das poifticas dos movimentos sociais também se sabe que ignoraram certos desejos e agendas. Estes são os tipos de problemáticas que impelem a repensar e rever as políticas de coligação de modo a promover a mudança social. Há força em termos numéricos, e esta consc ienc ialização é suficientemente importante para fazer com que as políticas anti-racistas atra vessem fronteiras e procurem aliados importantes.

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É importante reiterar que o nosso propósito não é o de pregar os desejos e perigos do trabalho anti-racista a quem quer que seja. Na verdade. vemo-nos como parte do tópico de discussão, e trazemos connosco ideias que são um ref lexo das nossas próprias práti

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liberal sugere que a ques~ão de relevância fulcral nas diferentes comunidades culturais é a de que há uma falta de reconhecimento de contribuições, faltas de comunicação e mal-entendidos de carác t er positivo. Isto é manifesta· do por via da intolerância e da falta de boa vontade no seio das pessoas. O principal mecanismo de rectificação é a educação, a sensibilidade cultu ral, a partilha e a troca. Dentro deste paradigma, o preconceito dos indivíduos, e não tanto a iniquidade sistemática, é o principal obstáculo com que se deparam as comunidades etnoculturais. Os preconceitos discernidos deveriam ser rectificados através da linguagem dos direitos democráticos. O anti-racismo, por outro lado, sugere que toda a empresa de construção da nação é suspeita, co mo o são os pressu postos que subjazem à empatia, ao sentido de comunidade e à boa vontade. A definição de anti-racismo do Secretariado Anti-Racista (um organismo mandatado pelo governo no Ministério da Cidadania, responsáve l pelo desenvolvimento de pollticas em torno de iniciativas anti-racismo na provín cia de Ontario) sugere que c·o nstitui a prática de identificar, desafiar e mudar os valores, estruturas e co mportamentos que perpetuam o racismo sistemático. O discurso do anti· racismo enfatiza as iniquidades persistentes no seio de comun idades que estão inscritas em relações de dominaç ão e subordinação. A primeira questão é a da desigualdade entrincheirada e dos desequilíbrios de poder. Isto é manifestado no preconceito , na discriminação, no ódio, na exclusão e, mais importante , na violência. Os mecanismos de rectificação sublinhados pelo anti-racismo são as mudanças estruturais e sociais fundamenta is. Neste conte xto, o preconceito é entendido conno uma parte integrante, e não anómala, da ordem social. A raça, o género, a c lasse e a consciência da identidade social influenciam o que vemos e interpretamos no traba· lho de investigação em torno da raça e do an ti-racismo. Os estudos sobre raça e anti -racismo, enquanto área séria de investigação, apresentam desafios epistemológicos e teóricos fundamentais . Nos dias de hoje, aqueles que trabalham no universo do anti-racismo continuam a procurar modos apropriados de conseguir, interrogar . validar, afirmar e/ou

desafiar o conhecimento de senso comum sobre raça/e racismo. Questões de ética e valores humanos reemergem continuamente na prática anti-r acista. Stanfield ( 1995a, p. 1 3) acertadamente observa que a Investigação convencio· nal sobre a raça tem sido notória pela sua passividade e degradação das minorias ra ciais e particularmente pela sua exclusão dos investigadores enquanto sujeitos que desempenham papéis significativos de tomada de decisões em projectos de Investigação env·olvendo membros das suas próprias comunidades. Não constitui segredo que a legiti· midade é atribuída à investigação em torno da raç a quando esta é produzida por membros do grupo dominante (ver Fine, 1994a; Fine, 1994b, p. 80; Stanfield , 1995b, p. 26). Há questões emergentes respeitantes à relevância e à apli· cação da investigação anti-racista, bem como aos efeitos da investigação em torno da raça sobre os sujeitos (por exemplo, dor, sofrimento e custos materiais). Uma preocupação emergente para a investigação anti-ra cista contemporanea consiste em ir para além da polltica branda de inclusão rumo a uma nova polltica de transparência e responsabílidade . Os investigadores académicos críticos estão a assumir a responsabilidade pelo que fazem e pelo que não são capazes de fazer, ao mesmo tempo que asseguram que os seus sujeitos são continuamente informados acerca do processo e dos objectivos da sua investigação. Inscrita nesta preocupação está a consc iência, por parte dos investigadores anti-racistas. das reacções ao seu trabalho, à medida que procuram quebrar o status quo. A nossa concepção teórica e praxis polltica de envolvimento na indagação critica encontram -se ancoradas num quadro discursivo anti-racismo inclusivo, num reconhecimento do carácter penetrante do poder e do seu domínio numa sociedade racializada, d ividida por géneros e disposta em c lasses. Há uma ligação poderosa entre identidade da raça e produção de conhecimento. Todo o investigador deve reconhe cer o impacto crucial da identidade da raça e da diferença social. As nossas identidades subJectivas e os nossos posic ionamentos políticos informam o modo como produzimos conhecimento e vimos a Interpretar e compre ender o mundo . Juntamente com este conhec imento

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conhecedores)? Por que motivo(s) e de que modo seleccionamos sujeitos para traba lhar e para que fins e propósitos 7 Quantos dos nossos sujeitos têm um input em rela ção às muitas decisões que tomamos sobre a nossa investigação? Quando afirmamos saber, fazemo-lo porque 'estivemos lá' no sentido antropológico clássico, ou porque a parafernália da academia e/ou os adornos da condição de membros académicos nos concederam certos privilégios e honras que nos poderão distanciar dos sujeitos que estudamos? Esta reivindicação de autoridade etnográfica, de controlo autoral, e o privilégio da voz autoral poderão ser aspectos assumidos por nós, investigadores, mas que não se encontra necessariamente perdida nos nossos sujeitos. Na verdade, esta apropriação nua da voz e das experiências está no âmago da suspeita crescente que muitos habitan· tes locais têm em relação à investigação académica e aos investigadores. Bramble (2000) interroga esta situação na seguinte questão: "por que é que nós pensamos" (para citar um dos meus alunos) que os "nativos se tornaram nos investigadores de si mesmos?# O desafio consiste em que a investigação crítica, anti-racista promova e sustente um espaço discursivo e interpretativo para os nossos sujeitos de investigação. Enquanto investigadores académicos. entramos frequentemente no espaço social dos sujeitos de investigação " inscritos no contexto dos ln ossos 1 próprios ambientes académicos• (Borland, 199 11, p. 71 ). As nossas interpreta· ções poderão ou não ser necessariamente um reflexo pre· ciso do que disseram os nossos sujeitos. A tarefa consiste em não nos debatermos pela colaboração com sujeitos da investigação de modo a val idar as nossas descobertas de investigação. É mais uma questão das nossas responsa · bilidades variadas e diferenciais quando de trata de produzir e disseminar conhecimento. As nossas histórias pessoais, experiências educacionais, e formação académica podem moldar as nossas interpretações (enquanto investigadores). Precisamos de estar conscientes deste facto na investigação critica. No seio das nossas academias eurocêntricas existe uma inegável história de práticas de ensino racistas, sexistas, homofóbicas e preconceituosas do ponto de

vista da c lasse que são incapazes de informar os alunos da totalidade da história das ideias e dos acontecimentos que moldaram e continuam a moldar o crescimento e desenvo lvimento humanos. A investigação anti-ra cista requer a subversão de processos convencionais de obtenção, interrogação, validação, e disseminação do conhecimento. O anti-racismo exige que se renegoceie com os nossos sujeitos as questões cruciais do poder discursivo, do controlo e da autoridade interpretativa na investigação. Nos dias de hoje, os sujeitos locais encontram -se no processo de procura de uma voz rea l e legítima na interpretação e no processo interpretativo da investigação social. Não são simplesmente as fontes da informação crua. Querem ser capazes de criar, dizer, analisar e interpretar as suas próprias histórias e experiências, e não se verem na circuns tância de simplesmente terem investigadores que assumam essa autoridade etnográfica, interpretativa e discursiva . Como destaca Borland ( 1991 ), nem sempre há esta similaridade de mente entre sujeitos e investigadores. Há sempre uma diferença de pensamento que deve

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ser preservada na invest igação social. Os investigadore s não podem partir do pressuposto de que os seus sujeitos simplesmente aceitarão as suas interpretações. Uma vez que os investigadores constroem constantemente as suas próprias identidades através de interacções sociais com os sujeitos de investigação, temos de ser cau telosos no modo como #construímos a nossa noção dos outros• na investi· gação no terreno (ver também Borland, 1991, p. 70). Como notado num outro espaço (Dei et ai., 2002), os estudos anti-rac ismo sofrem acusa ções de constituírem um discurso ferozmente partidário e de perseguirem fins políticos, mas a questão não tem que ver com o facto de o anti-racismo declarar que inf orma de forma legítima ou não. É antes uma questão de saber se os trabalhadores no universo do anti-racismo (educadores/alunos/investigadores/activistas) permitirão a jprodução de conhecimento crítico (através de múltiplos saberes) de modo a contrariar a corrupção e invalidação de f,ormas não hegemónicas de saber enquanto conhecimento llegltimo/inválldo. Particu larm ente para os investigadores e sujeitos m inoritizados.

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o anti-racismo concede possibilidades para nomear, narrar as nossas próprias opressões e delinear estratégías de resistência através da prática críitica. Como todos os discursos contestados, o anti-racismo vê a "autoridade para saber" como contextual, situacional, contestável e problemát ica. Embora o anti -racismo possa não criar necessariamente novas epistemologias (através do seu enfoque em contestações, ambivalências e ambiguidades). pelo menos não se deverá apresentar através da prátíca de investigação como um projecto imperialista afirmando ser um discurso com garantias. Há riscos envolvidos no seguimento da investigação anti-racista. Não há fim para as questões constantemente emergentes acerca da ética da investigação anti-opressão . A investigação anti-racista não afirma que o único conhe cedo r válido é aquele que tenha experienciado o facto. No entanto, o discurso an ti-racismo problematiza quaisquer tentativas de desracializar o sujeito enquanto conhecedor legítimo. particularmente se as políticas de desracialização visam subverter o poder da subjectividade e de saberes

subjectivos de forma a criar espaço para a chamada objectividade e/ou para o saber objec tivo. Como nota Wahab na sua colecção. não podemos apagar ou secundarizar sabe res do sujeitol subjectivos na procura do conhecimento. O conhecimento reside na memória corporal e cultural. No en tanto, para muitos de nós, a contemplação eurocêntríca influenciou e determinou o que vemos e o que não vemos, e o que caracterizamos como (in)válido e (i)legltimo. O anti -racismo coloca a questão: como podemos atribuir a autoridade discursiva e o controlo au to ra! aos especialistas (incluindo os investigadores) que não têm nenhuma ligação incorporada com o conhecimento ou com as experiências particulares que produzem o conhecimento que procuram? Não há resposta definitiva para esta questão a menos que deslindemos o que significa ter "conhecímento incorporado". Também não deveremos confundir esta interrogação critica com uma posição problemática como. por exemplo, a de que a cor (raça) por si só determina o que uma dada pessoa sabe. Incorporar o conhecimento signífica transportar sentimentos pessoaís. uma ligação emocional e espiritual.

e um profundo comp romisso e paixão para procurar conhecimen to. e usar estes elementos para t ransformar as condições existentes como uma causa nobre que emana do

"eu". A investigação anti-racismo, em virtude dos ditames e políticas do d iscurso. constitui um tremendo obstáculo aos investigadores na sua procura de fo rmas de resolver/ abordar questões crít icas. A investigação an t i-racismo deve lidar com a possibilidade de os grupos que colaboram num estudo de investigação partilharem necessariamente ou não um entendimento comum da natureza e das políticas da investigação (isto é, definições, front eiras, objectivos). Como é que os anti-racistas traba lham com os seus sujeitos num espírito genuíno de colaboração e partilha de poder no contexto de uma negação aberta e insidiosa do privilé gio que acompanha identidades raciais particulares, leia-se, a identidade branca? O investigador anti-racista é sempre acusado de levantar a questão da raça e do racismo quan· do e onde nunca exis tiu. Num estudo sobre o desprendimento de jovens minoritários em relação à escola (Dei. M azzuca, M clsaac, e Zine, 1 997). fomos acusados de levantar questões de raça e fomentar divisões nas escolas porque os alunos negros começaram a exigir professores negros e o ensino da história e da cultu ra negra/africana no âmbito dos currículos escolares. Dito de outro modo, os alunos começaram, subitamente, a ler o seu mundo em termos de corl Nos dias de hoje, somos confrontados com leituras diver· gentes e comp licadas do poder e da diferença. Como é que diversos grupos trabalham juntos na Investigação social no contexto da complex idade do poder das relações assimétricas? As hierarquias dle poder e os emblemas de mérito são uma praga sobre as instituições nos dias de hoje (ver Hatcher, 1998). Os jogos de poder da academia podem influenciar as comunidades, e temos de compreender as relações de poder entre investigação, invest igador e os designados sujeitos de estudo. Como compreendemos as relações de poder entre os investigadores e as autoridades Institucionais, especialmen te quando violam os princípios básicos da liberdade académica, da liberdade de expressão

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Apesar de as questões de raça e dos estudos anti-racistas continuarem a ser postas em causa pelas ciências sociais eurocêntricas positivistas/pós-modernistas, e mesmo por aqueles que proferem discursos de anti-alterização, de maneiras diferentes e para diferentes projectos políticos, o discurso anti-racista constitui um projecto episte· mológico específico, rico em actividade e em comp lexidade (Troyna e Carrington, 1989). A raça e outras características de construção social também estão imbuídas em/implicam (leituras de) histórias específicas, determinando o contexto em que são evoca das. O objectivo da investigação anti-racista, tal como o vejo, consiste, por conseguinte, em ligar de forma crítica estruturas e práticas de dominação racial de modo a expor as suas hegemonias e trans~ormar as políticas económicas em formas através das quais as minorias e os grupos e

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discursos de Houtros" exerçam maior au t onomia na sua

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auto-determinação e nas políticas relaclonais/representa cionai s . Ao empregar esta definição, também se p retende subverter a investigação convencional, que é ideologicamente guiada e culturalmente específica, mas que no entanto é apresentada como sendo universal, neutra e objectiva. A lém do mais, existe uma ênfase nas representações de descolonização e na invocação estratégica de diferenciação racíal para ronnper e manobrar as economias políticas de representa ção. A investigação anti-racista está interessada em/capa citada para colocar questões políticas, epistemológicas, teóricas e metodológicas significativas/criticas acerca de quem vê os seus interesses servidos pela investigação em ciências sociais (Scheurich e Young, 1997). Também toma a seu cargo dar possibilidade a grupos minoritários de apresentar relatos, indicando aquilo que nos oprime e quais as estratégias de res istência/sobrevivência . Por isso se trata explícita e desafiadoramente de um projecto político. Ao sê· -lo, carrega o estigma dos discursos de gueto, semelhante

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ao feminista e ao anti-colonialista, relegado para as margens dos mega-projectos liberais "objectivos" da corrente dominante . Troyna ( 1 995) afirma que o debate se centra na parceria do d iscurso, que pode ser Interpretado ora como "informando legitimamente" ora como "corrompendo ou Invalidando''. Ao escrever sobre teoria racial critica, Ladson Billings (1998) coloca a questão: "afinal o que é a teoria racial critic a e o que anda ela a fazer num campo tão simpático como a educação?", com o fim de sublinhar até que ponto o discurso carrega o peso da contestação. Neste terreno discursivo a experiência é valorizada, reconhe ce ndo que é válida mas passível de ser contestada e que precisa de ser ligada às estruturas macro-políticas mais vastas da sociedade. apesar de defensores do pós-estruturalismo poderem querer argumentar que as estruturas são, elas próprias, fluidas e que, em vez disso, os fluidos e os fluxos que alteram o panorama da contestação são leituras da experiência. A investigação anti-racista, de forma alguma monolítica no seu alcance teórico, epistemológico e metodológico, vê o observador como ocupante de posições específ icas da matéria de estudo (Dei, 1999; Troyna, 1995) e embrenhado na pesquisa enquanto alguém que aprende e que é agente de mudança. Simultaneamente, há discussão no que respeita a se a raça ou a cu ltura estão a ser alvo de transformação no processo investigativo. em especial quando todos os particüpantes (investigador e investigado> são múltiplos em termos de posicionamento e de voz. Fazer um reajustamento da investígação em ciências sociais enquanto projecto an ti-racista exige o questionamento da autoridade, um mito que a investigação tradicional institucionalizou, do investigador enquanto cartógrafo objectivo do conhecimento e da existência de uma verdade incontestável e carente de posição. No entanto, não é claro de que forma o assumir uma posição pode veicular ou facilitar a transformação da autoridade e, mais ainda, a economia política do conhecimento e da praxis que a pesquisa cartográfica entrincheirou. Com este questionamento da autoridade vem um fardo implícito de assumir responsabilidade por representações textuais, apesar da ressonânc ia dos discursos anti-racistas com

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noções pós· modernistas de fluidez e grupos e d iscursos solídamente situados. Para que a investigação anti·racista consiga encetar o seu próprio projecto torna·se cruc ial desafiar as pretensões universais de voz e de t eoria, sugerindo que os discursos são situacionais e contextu ais. e que a multiplicidade de vozes pressupõe uma multi plicidade de posições. O anti· -racismo, operando de fo rma diferente dos conceitos neo· liberais no contexto do discurso pós·modernista, sonda as hipóteses de o espaço de pesquisa racial Hintersubjectivo" ser sempre ou sequer poder ser um espaço de "negocia· ção", e as muitas formas como o texto escrito pode estar racialmente codificado. Apesar de ser frequentemente muito contestada, a inves· ligação anti· racista, à semelhança de outros d iscursos marginais, sente o peso da responsabilidade de ter a con· corrência de haver reivindicações da "verdade" (Troyna, 1 995). Tal comporta riscos, tanto para quem investiga como para quem é investigado (Dei, 1999), na medida em que o conhecimento de um acarreta consequências para o outro. M uitas vezes acontece que as vozes de membros de minorias que visam romper/interrogar os processos e as estruturas de dominação acabam por ficar retidas em guetos por intermédio de um vórtice de academismo branco, que insiste em manter um diálogo consigo mesmo. Por outras palavras, a academia atribui ao discurso anti·racista posi· ções simbólicas de inclusão espacial que, com a sua cum· plicidade, isenta o discurso imperialista. Dei ( 1999) afirma que o racismo, o sistema patriarcal, a preponderância da heterossexualidade e a divisão em classes perpetuam leituras selectivas das histórias, das cu ltu ras e dos saberes dos grupos minoritários, justificando os olhares co loniais e imperialistas da sociedade académica . A Investigação anti· · racista deve, portanto. ser cognoscente da natureza inter· ligada das opressões. Algumas das questões·chave do anti· racismo são as seguin· tes: de quem são as vozes e os relatos que são rea lçados e que projectos políticos representam e promovem? Como se define a re levãncia do estudo? De quem são os interesses servidos pelo projecto? Quais são as responsabilidades do

investigador para com outras pessoas que part1c1pem na Investigação? Deveria o investigador anti-racista ser capaz de situar e explicitar um compromisso para com políticas emancipatórias? Os objectivos de libertação desta inves· tigação surgem a partir do contexto de reconhecímento das desigualdades no sistema social actual. na importância de abordar questões morais, mudanças g lobais e transna cionais sem precedentes e a necessidade problemática de separar a teoria da prática. No entanto, será que a investigação anti-racista cria novas epistemologias à luz de uma continu idade de contestações e ambivalências? Estas questões podem parecer neces· sárias para se investigar a pesquisa anti-racista enquanto metodologia específica, mas ao mesmo tempo podem ser lidas como imperialistas, no sentido em que sugerem a responsabilidade de provocar um "fim da ética", um local de segurança. no qual não se assume nenhum risco. Punch (1994, p . 86) declara que a #polltica de investi· gação # é moldada pela personalidade do investigador, pela proximidade geográfica. pela natureza do objecto da pesquisa. pelo contexto institucional de fundo do investi· gador, por pessoas que levantam obstáculos, pelo estatuto dos traba lhadores no campo, pelas expectativas nas equi· pas de investigação. pelas obrigações morais e sociais e por outros factores que afectam a investigação no campo. É dentro desta última catego1ria que se considera que a raça e o género "fecham certos caminhos à investigação ao mesmo tempo que abrem outros. No entanto, o que é popularmente evidente a partir de artigos sobre metodologia e investigação qualitativa é a a1usência de - ou vassalagem simbólica em relação à - raça tal e como se entende na co· dificação sistemática da autoridade. Algumas das formas segundo as quais a autorídadle se constrói na produção de conhecimento serão, agora, mais expandidas e alvo de crítica construtiva, de modo a oferecer uma maior conscl· ência libertária para a investigação anti -racista . Antes de deslindar alguma da instrumentação da autorida· de. julgo ser importante expor o meu próprio posicionamen· to subjectivo e algumas das minhas políticas académicas que metaforicamente inscrevem os pensamentos neste H

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documento. A raça e o an t i-racismo, enquanto realidades discursivas e materiais para mim, implicam um leque muito complexo de evocações, nuances, justaposições e contes tações. Eu sou um homem lndo-trlnldadiano que Imigrou recentemente para a A mérica do Norte e que, de repente, se viu em face de uma crise de reinterpretação de categorias de raça , local, nação, género, entre outros elementos, numa forma complexa diferente daquela por intermédio da qual interpretava essas categorias em Trinidad. O facto de me ter de inserir numa "minoria visível" e numa política de "pessoas de cor", numa nação onde o natural é haver brancos e "outros" (não-brancos). desafiou-me a procurar e a analisar um espectro diversificado de discursos que ofereçam alternativas para reimagina r uma política de sobrevivência à contestação, à capacidade de resposta e, às vezes, simplesmente de conseguir furtar-se ao risco de violência inerente ao processo de reafirma ção da nação enquanto nação branca. Simultaneamente, as representações rac iais apresentaram um quadro caótico segundo o qual eu tenho unn aspecto de asiático do Sul termo ao qual nunca me senti associado em Trinidad - mas que me comporto como caribenho. O meu corpo é um Indicado r confuso de ausência de sítio todavia imbuído na sua presença racializada. Nesta fase inicial da emigração, não tenho a certeza onde/qual é a minha comunidade (parece que todas as minorias têm de ter uma). Estou, assim. a escrever a partir de uma zona fronteiriça/de transição, um delta de rio furioso de correntes raciais transnacionaliza das. onde se sentem puxões e empurrões de todo o lado. Tendo d ito isto. partilho com comunidades minoritárias uma continu idade de alterização histórica de corpo, nação, local e cultura. Subscrevo uma re leitura da história que visa descolonizar e subvert er textos hegemónicos racializados para promover a prátrica de uma política anti -racista pós- colonial, anti -co lonial , pós-modernista e indígena. Um dos níveis onde levo ª' cabo esta política é no meio académico, uma instituição "compacta" fortemente empenhada na elaboração de fantasias co loniais que impressionaram imaginações racializadas com noções de "eu-outro" na produção de conhecimento.

O meio académico e o expansionismo branco têm-se apropriado de e usado de forma arrogante o direito de chamar o que muito bem entenderem a povos Halterizados" através da escrita da hegemonia da representação. No entanto, prefiro fazer func ionar esta hegemonia contra si própria, criar uma metáfora para a implosão, invocar e converter a estrutura em fluxo e interrupção. Entendo que deste modo incorro no risco de me con tradizer, de me embrenhar na máquina do discurso com as figuras de retórica dominantes da autoridade . Ainda assim, e com base no posicionamento acima Indicado, será que posso reivindicar uma organicidade absolU1tista ou dar-me ao luxo de arriscar sofrer as consequências da cegueira em relação à diferença e às economias políticas? Não posso dar-me ao luxo de me desculpar pelo que pode, a espaços. ser visto como uma posição essencialista sobre corpos políticos em relação aos quais acredito que a presença e os comportamentos de elementos racializados provocam subjectividades racializadas que são constituídas nos jogos de poder da política de representação. Mas invoco um essencialismo estratég ico como meio de desnatu· ra lizar a normalidade do discurso hegemónico branco. Isto quer dizer que os grupos brancos dominantes vêm sempre à baila no que diz respeito às suspeitas da autoridade e a um olhar discursivo sobre a política de representação. Isto porque a história da produção intelectual, tal qual é consagrada pela comunidade académica. é uma história selectiva na qual os grupos brancos detiveram o privilégio de disci· plinar e construiram uma genealogia altamente defendida de desracificar a produção do conhecimento. Acred ito também que a presença dos nossos grupos constituldos em raças opera com circ unstâncias materiais e ideológicas vincadamente diferentes mas relacionadas. a partir dos nossos comportamentos. A presença de pessoas de origens raciais diferentes consti tu i uma metáfora da desconstrução, porque convida a um diálogo (não necessariamente a uma negociação) sobre os riscos de ambos os lados da cerca intersubjectiva. Compre endo que os investigadores brancos defendam que uma perspectiva antiessencialista est á mais sujeita a intersecções

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construímos tex tos de form a colaborativa, examinando de forma au toconsciente as nossas relações com /para/apesar de aqueles que têm sido considerados os "outros" contra os quais nos movemos, erntão facultamos res istência à "alterização"". No entanto, ela co-opta as alternativas/os grupos discursivas dos "outros" para o fazerem. Os seus relatos demonstram como a hegemonia branca se encai· xou no "outro" sem tentar uma desconstrução profunda de como institucionaliza a sua própria dominação através deste processo. Aquilo que surge é uma deslocação do mesmo, na qual a responsabilidade pelo anti-racismo/contra-hege· momia se mantém cont ingente sobre o domínio discursivo dos grupos e dos mundos não-brancos. Fine abre o seu artigo usando uma citação de Bell Hooks (1990); "Estou a escrever para que eles parem de escrever sobre o "outro•, uma opinião que Fine faria muito bem em reconhece r. " A ta refa de "escrever contra a alterização", como Fine (1994a) lhe chama, pode ser usada em projectos potrticos libertários que v isem escrever/autorizar a luta, a resistên · eia e a contra-hegemonia. Denzin e Lincoln ( 1994, p . 481) vêm a escrita como sendo interpretação, represen tação e, por conseguinte, como uma forma de inquérito. Lincoln 11997) e Rhodes ( 1994) consideram que o autor possui uma multiplicidade de vozes e que escolhe rep resentar um "eu" /uma voz em especial para participar no processo de entrevista como espaço de negociação. Eu penso que o conceito de espaço de negociação não reconhece que as negociações estão sempre carregadas de diferentes pari· dades de representação, diferentes projectos políticos que vêm para primeiro plano, várias estratégias que são, elas próprias, ambíguas, e vários interesses na participação e no relato. Isto aplica -se tanto ao Investigador como ao Investi· gado. Significa que a negociação não tem necessariamente de justificar nem abordar explicitamente o facto de a raça ser construtiva destas forças, que jogam no processo de entrevista. Para além disto, não apoio necessariamente a asserção de Lincoln (1997) de que o produtor do texto e os leitores do texto têm de partilhar um quadro de referên · eia comum para que um te.xto faça sen tido, constituindo uma comunidade interpretativa. Será que o panorama da

elaboração de significado é uniforme, homogéneo e monolítico? Na questão de quem investiga o quê, Rhodes ( 1994) afirma que no, contexto britânico, usar entrevistadores negros para entrevistar sujeitos negros enquanto estratégia política convoca o risco de uma marginalização tanto de temas como dos investigadores negros. Até certo ponto isto aplica-se do outro lado do Atlântico, onde a autorida de constitui guetos e se expressa através de suposições por parte do meio académico branco sobre que tipos de pesquisa deveriam fazer os estudantes de cor. Concordo com Lincoln (1997) que a decisão/escolha definitiva de representação seja do lnve.s tlgador, independentemente dos níveis de interpretação escolhidos pelo investigado. Neste ponto não me refiro a estratégias neo-realistas onde a entrevista é da co-autoria do investigador e do investigado, mas à forma como o texto elaborado em co-autoria é moldado enquanto estratégia de relato para encetar vários projectos que são importantes para a cred ibílidade e a autenticidade do autor. Admitamo-lo: a pré-ocupação do meio académico na preservação da autenticidade e da autoridade mantém-se soberana e, no entanto, incontestada pelos seus membros. O desafio e os custos de desafiar esta autoridade dentro desse clube tem um peso e consequências muito grandes para elementos que não são sujeitos naturalizados da instituição do saber, nomeadamente estudiosos pertencentes a minorias. De quem é o trabalho considerado credível, fundamentado e oficial? Estes tipos de considerações desempenham um papel muito importante nas formas como o meio académico representa a autoridade para o mundo exterior. Ao mesmo tempo que reconhece a posição pós-modernista de que todos os sujeitos têm um posicionamento múltiplo e estão em fluxo, também existe um poder construido e histórico de nomear realidades , um poder que, estou convencido, reside dentro do próprio grupo, um texto poderoso no processo de entrevista. Concordo que poderá haver convulsões textuais entre a presença e o desempenho dos membros dos grupos, e que estes podem convu lsionar o mapeamento das relações de poder raciais

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de muitas formas, no espaço das entrevistas. Isto é ainda mais complicado pelos mapas mentais que se int erseccionam com base em construções de raça, género, classe social, entre outros aspectos. No entanto, não estou convencido de que o poder possa ser equilibrado entre o investigador e o investigado. No fundo. a questão é que cada pessoa ocupa posições raciais, sexuais e sociais especificas e enceta inter-posicionamentos no processo de pesquisa . Assim , a desagregação de correntes e posições em cons trução é útil à investigação anti-racista . No entanto, a localização, a cultura, a língua e as histórias dificultam o posicionamento, que não pode ser imobilizado no papel. A escrita enquanto representação é , na minha perspectiva, um cânone selectivo mas hegemónico de relações de poder. institu indo uma autoridade especifi ca, um olho, um relatador, uma mão, um autor legitimado. Na minha própria experiência anteríor de trabalho de desenvolvimento nas Caraíbas, interpretei o poder de rela tar, de atribuir sen tido ou de denominar - apesar de estar nas mãos de intelectuais burgueses - como um poder localizado, se bem que universa lizado. A escolha da não-participação também é, por vezes, uma fonte poderosa - não obstante densa - de comunicação e relato para indivíduos e grupos que reconheçam que a sua participação é fundamental para os projectos de uma perspectiva diferente do tipo imperialista. Para os estudiosos anti-racistas, torna-se, por conseguinte. importante dotar o projecto político e a prática investigativa de informação que lhe permita operar a mudança. É uma afirmação sistemática e posicionada de res istência e de luta contra os relatos que consomem grupos e histórias de "outros", para reflectir a qualidade c ivilizada do sujeito burguês. Ao reconhecer as especificidades linguísticas. históricas e cullturais da investigação, a raça pode ser tornada mais visível enquanto construção social e, assim, influencia as formas como se analisam e mudam as relações de poder. Dentro deste contexto de política de representação influenciada pela raça (observada na materialização do conhecimento e do posicionamento) , acredito que a investigação anti-racista põe em causa e transforma os conceitos (pós)

modernistas e racistas de au t oridade. Oferece múltiplas localizações políticas, que se traduzem em diferentes reenquadramentos da autoridade, respecialmente baseados na acção e na estratégia, ambas associadas à praxls. Desta fo rma, o d iscurso consegue fazer com que múlt iplas localizações contestem e questionem a const rutividade da autoridade materializada (investigador branco) e histórica (colonial/liberal). Uma estratégia é o inquérito cooperati· vo/em co-autoria (Reason. 1994), onde o investigador e o investigado negociam o texto da entrevista e o texto que é escrito. Isto oferece uma oportunidade para um espaço no qual se podem contestar temas. onde o investigador é instado não só a ser ref lexivo, mas crítico do seu próprio posicionamento. da sua política, dos seus interesses. dos seus desejos e, por conseguinte, a desconstruir correntes raciais no processo de negociação/enredo textual. No entanto, Gupta e Ferguson (1992, p. 17) deixam o aviso de que " há, assim, uma política de alterização que não pode ser reduzida a uma política de representação. As estra tég ias tex tua is podem atrair atenções para a polftica de representação, mas a própria questão da alterização não é verdadeiramente abordada pelos dispositivos de construção textual polifónica ou pela co laboração com escrito res-Informadores. como por vezes parece ser sugerido por escritores como Clifford e Crapanzano·. Neste capítu lo não é minha intenção forçar uma dicotom ia simplista entre antropologia e discurso anti-racista. Na verdade, a etnografia crítica sobrepõe-se ao discurso anti-racista na medida em que sugere um projecto emancipa tório que requer uma desconstrução da personalida de e uma forte ligação crítica com a experiência. Simon e Dippo ( 1986, p . 196) opinam que a etnografia c rítica é tanto "pedagógica como poHtica e está organizada de acordo com uma tomada de posição. e que nos compro· mete com questões morais acerca de formas desejáveis de relações sociais e maneiras de viver.• Assim , a etnogra fia e toda a investigação das ciências sociais permite-nos registar um "momento político", que Gitlin et ai. !1989, p. 2381 descreve como •a relação entre o método e aquilo que o investigador procura obter at ravés do método". Lu e

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Horner (1998, p . 257) afirmam que a etnografia critica #rejeita a possibilidade de uma tomada de posição poli ticamente neutra" , mas argumentam que esta distinção entre experiência e compreensão discursiva deve ser mantida. Ê no âmbito desta tensão entre a prá tica e a teoria que o discurso anti-racista vai ter necessidade de possuir a sua própria bagagem retórica e de permitir um pensa mento crítico que ajude a fazer avançar as fronteiras do discurso. Na verdade. facultará também uma oportunidade para a redefinição de discurso. Talvez seja no seu enfoque especifico na crítica da racionalização da experiência, na interpretação, no posicionamento, no controlo autora!, na relação entre investigador e participante, e na produção discursiva que a investigação anti-racista difere de alguma forma da etnografia critica. Dessa forma, o discurso anti racista rearticula um relato de poder que ultrapassa a baliza de reflexividade da etnografia crítica . Assim, a investigação anti-racista representa um desafio legítimo aos campos do desenvolvimento internacional e da educação comparada . Enquanto empreendimento intercultural, estas disciplinas estão integradas nos discursos coloniais de salvação e civilízação através de categorias como a comunidade, a capacidade, a participação, a sustentabilidade e o desenvolvimento, e todas elas exigem ser desconstruídas para que se desvendem as suas projecções raciais do ·outro" nativo . Perguntar se um etnógrafo branco alguma vez conseguirá ser suficientemente refie xivo para aplicar convenientemente métodos anti-rac istas em terrenos onde os obJectos de estudo são nativos. equivale a assumir uma noção simplista e liberal do discurso no qual o tema da segurança parece ser mais preeminente para um meta-di scurso de privilégio racial. Ao nível do conhecimen to materializado, as projecções raciais são especificas, mas não limitadas a elementos políticos, enquanto que no espaço intersubjectivo entre investigador e partícipante, diferente e mais com plexo, conceitos de raça e de produção de conhecimento estão postos em camadas sobre o p rocesso de Investigação. A cresce que tanto as ciências sociais tradicionais como os métodos reflexivos mais crlticos trouxeram um impulso de privilégio branco à produção do conhecimento.

Neste ponto pretendo invocar um conceito de estratégia racialízada na qual as construções individuais e colectivas de projectos sociais assentam em estratégias que confirmam e contestam políticas raciais . Os investigadores brancos terão de lidar com este imaginário rac ial para perturbar o local de segurança que ocupam nos discursos tradicionais e nos alternativos. Por uma vez Isso pode significar a partilha do medo do desconhecido . No entanto, os investigadores brancos chegaram até aquí por escolha própria. O que determina essa escolha e a fo1rma como ela se manifesta enquanto estratégia política são aspectos que irão fazer avançar os limites da reflectividade e do discurso anti-racista até novas idealizações. A investigação anti-racista . fundamentada no discurso do conhecimento materializado (com posicionamento político e histórico), exige que a autoridade seja materializada, situada e racial, para que a própria autoridade seja englobada e dotada de cultura. Dessa forma, a investigação antiracista exige uma mudança da autoridade etnográfica para a autoridade discursiva e interpretativa. Os sujeitos escolhem diferentes vozes, alcances e reg istos, com base na forma como o Investigador os dispõe. Como resultado, a construção da autoridade na investigação anti-racista equivale a oferecer espaço e dlesenvolver a capacidade de ter voz entre grupos/vozes de cor que têm sido silenciados historicamente e calados pelo fluxo das cíências sociais. À semelhança de todos os outros discursos. as abordagens da investigação anti-racista à produção de conhecimento têm um posicionamento e fazem parte de projectos políticos. O discurso não oferece um espaço relativista que assegura segurança na representação . Aquilo que pode ser representado como #não-inclusivo e anti-branco" pelos que se sentem ameaçados por este discurso abertamente racializado, materializado. estratégico e histórico também é emancipatório para nós, pessoas de cor, que temos ocu pado múltiplas posições de exclusão ao longo da história no discurso colonial. Ajuda-nos a questionar as pretensões de quem afirma não ver a raça no d ia-a-dia das ciências sociais, mas que interpreta o anti -rac ismo como antagónico ao racismo . O discurso amti-racista é um incitamento

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estratégico à contestação, ao mesmo tempo que promove rupturas e suturas para idealízar uma economia política de representação indígena com autodeterminação. A única garantia é que o discurso anti-racista é um local onde pessoas de cor podem operar o traço de união e refazer a auto-representação. Existem também riscos tanto para pessoas brancas como para pessoas de cor, mas esses riscos devem ser equacionados e formulados historicamente. Assim, o campo do discurso anti-racista oferece um espaço emancipatório estratégico para pessoas de cor. em espec ial no contexto de um Presente historicamente imperialista e de uma dominação ocidental neo-globalizadora. Se quisermos ser donos das nossas próprias representações de quem somos, da nossa comun idade e da nossa cultura, o anti-ra· c ismo deve operar no sentido de criar locais de questionamento e deve ser ele próprio questionável nos seus limites.

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: : Alguns insights do discurso educativo anti-racista sobre epistemologia, ontologia e axiologia destinados a investigadores em educação comparativa. Louise Gormley O> ....

Este texto explora alguns meios por intermédio dos quais os investigadores comparativos internacionais podem bene ficiar de uma cons ideração mais profunda das teorias da epistemologia, ontologia e axiologia Inspiradas na fi losofia, com um enfoque específico no modo como estes termos foram recentemente definidos pelos anti-racistas. Embora alguns académicos na área da educação comparativa já tenham abordado aspectos da elaboração de teorias destas três construções filosóficas (Maseman. 1990; Hayhoe, 2000), sugiro que uma ênfase mais forte nestes conceitos, em particular em como eles foram analisados nos escritos

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dos estudiosos anti-racistas Scheurich e Young (1997) e Stanfleld li (1994), levará a uma Inquirição mais exigente e autocrítica. Cobrindo muito terreno geográfico, extraio exemplos dos contextos chíleno, canadiano, mexicano e tailandês, locais onde moreíl ou, sobre os quais li Imensamente, como no caso do Chile. Entrelaçar as minhas experiências vividas nestes locais com o meu discurso sobre os métodos de pesquisa antü -racistas permitiu -me alcançar, mais concretamente, as complexidades escondidas inerentes a muitos esforços da investigação comparativa. Refie· xões sobre várias definições de conhecimento (epistemologia), realidade (ontologia) e valor (axiologia) podem iluminar a situação discursiva, na qual os métodos anti-racistas e a pesquisa da educação comparada se podem encontrar. Dedico a primeira parte deste texto a uma discussão teórica um tanto longa destas três construções filosóficas (epis temologia, ontologia e .axiologia). É claro que a minha análise não é, de todo, suficiente para explorar as suas inúmeras complexidades, algumas das quais foram parcialmente desfiadas e unidas novamente no contexto da lite·

ratura da filosofia e das disciplinas com ela relacionadas (Ouran, 2001; Ginsberg, 1993; Marsonet, 1997; Neville, 1989; Scheurich e Young, 1997; Stanfield li, 1994). No entanto, espero que o meu discurso de abertura impulsione o trabalho para além de uma explicação excessivamente banal de três Ideias importantes. Em seguida. irei comentar assuntos relacionados com situações de sentidos duplos de estudos comparativos e anti -rac istas e especular sobre a falta de contacto contínuo entre ambos os campos. Posteriormente, debruçar-me-ei sobre outras monografias académicas de modo a oferecer duas sugestões práticas aos investigadores comparativos. Acredito que um compa· rativlsta que segue este exemplo terá menos probabilidades de, involuntariamente, produzir investigações racistas. Finalmente, sugiro que, num ambiente de diálogo crítico e de apoio, os campos da educação comparada e anti-racista podem aprender algo um com o outro . Como uma aluna de doutoramento em educação compa· ratlva internacional numa Importante universidade canadia· na. terminei recentemente. em 2001, um curso de Verão

intitulado "Seminário Avançado sobre Raça e M etodologia de Investigação An ti-racista em Educação". Fui atraída para este curso pois, assim como muitos dos meus colegas da educação comparativa, aspiro a produzir trabalho que não cause nenhum mal. Provavelmente fui também atraída a matricular-me neste curso pela minha aceitação. não comprovada, da falsa "divisão em brancos • bons" que chamam a atenção para o racismo e brancos "maus" que não o fazem " (Stanfield li, 1993, p. 26), e é claro que prefiro ver-me como uma boa pessoa a ver-me como uma mál Embora tivesse algumas suspeitas de que o curso se poderia to rnar, por vezes, intenso, não me apercebi de como alguns conceitos que emergiram durante as discussões poderiam ser perturbadores. particularmente os argumentos avança· dos pelos diplomados em Sociology and Equi ty Studies 1 (SESE) presentes na aula. Para minha desilusão, a maioria dos alunos de SESE matriculados neste cu rso avançado via a investigação comparativa internacional como inimiga dos esforços anti-racistas. Depressa me apercebi de que nem todas as pessoas encaram o campo da educação comparativa com tão elevada consideração quanto eu . A crescentados à minha confusão foram alguns autores anti-racistas, como os supracitados Scheurich e Young (1997) e St anfield li (1993. 1994) , para nomear dois, que me forçaram a examinar as minhas suposições prévias. O meu desafio logo se transformou em maneiras de conciliar (a) a minha afinidade ideológica com o campo da educação comparativa com (b) algumas perspectivas do campo dos estudos anti -racistas. Surgindo, em parte, das críticas destes outsiders em relação ao campo da educação comparativa, este trabalho representa , principalmente. os meus esforços em facultar uma solução parcial para a divisão observada entre as duas posições. Demostrarei que três construções da filosofia - a epistemologia. a ontologia e a axiologia - nos poderão levar em direcção a uma união benéfica destas duas d isciplinas de investigação. lnicío agora a minha argumentação para desvendar os significados dos três termos filosóficos.

1 :: Sociologia e Estudos om Equidada.

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"A epistemologia é o ramo da filosofia que estuda o conhecimento e procura responder à questão básica: o que distingue a verdade do erro? A um nfvel prático, esta pergunta traduz-se em assuntos contro· versos relativos às metodologias de investigação. Por exemplo, como se pode discernir teorias que se1am •melhores• na descrição de um determinado fenómeno ou experiência do que 1eorias existententes ou em compedção?" (Ptíncípia Cybernetlca Web . n. d .• p. 21.

Embora a epistemologia seja tradiciona lmente descrita como tendo origens gregas, muitas cu lturas em todo o mundo. e ao longo do curso da história. têm debatido amplamente o que constitui conhecimento valioso. "Epistemologia deriva da palavra grega episteme, que significa conhecimento, e logos. que significa teoria. Ela ... dedica-se aos pro·

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pisaram o solo a sul da f ronteira América/México. e cujo conceito do mundo não abarca nada da reslidad mexicana . Em vez disso, devo começar de uma perspectiva que reconheça uma filosofia latino-americana •com fortes Interesses humanos e sociais [que 1 foi sistematicamente afectada pelo pensamento escolástico e católico• (•xrefer-Latin A merican Philosophy," 2001, p. 1), assim como uma filosofia mexicana que entrelaça tanto as componentes derivadas dos Espanhóis como dos indígenas (Quiroga. 1 999). Quão rid ículo seria aplicar definições criadas por intelectuais eurocêntricos a um pars cujo caótico "nascimento foi uma batalha. O encontro ent re os espanhóis e os índios foi, simultaneamente. para usar a imagem vívida e pitoresca do poeta Jáuregui, elevação, tumu lar e leito de casamento" (Paz, 1990, p. 23). As versões mexicanas da rea lidade, historicamente influenciadas pelos poderes coloniais espanhóis e pelos sofrimentos 1fndios, facultariam um quadro conceptual mais apropriado à minha análise futura.

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: : Repensar abordagens anti-preconceito na educacão pré-escolar. Uma mudanca para 'uma educacão anti . . -racista.

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O reconhecimento da existência de um poder dominante tem sido alvo de pouca atenção até à data, silenciando a realidade que são as minorias racia is e as ex periências de alunos economicamente des favorecidos (Dei, 1996). Aos formandos é dada instrução na forma de uma educação anti-precon ceito limitada, o que os prepara para virem a estab elecer um programa rico em #turismo# cultural, isto é, abordar questões referentes a c ultu ras que não a dominante de forma superficial e reconhecendo-as como não-dominantes. Os educadores de instrução pré -escolar ficarão presos à noção de que trab alhar com crianças é um acto de caridade, em vez de se tornarem agentes de mudança social, a menos que sejam ensinados a reconhecer quais as relações dominantes inerentes ao racismo , à homofobia e a ou tros problemas no contexto de sala de aula. É de vital importância que os educadores se tornem agentes de mudança social, uma vez que uma das premissas fundamentais da instrução pré-escolar é que esta deve conduzi r à tolerância e à harmonia c ultural e racia l, uma boa forma de vacinação contra o racismo . A pesar de ser indispensável que os educadores de instrução pré-escolar sejam preparados para traba lhar com uma variedade de c rianças e famílias reconhecendo a crescen te diversidade racia l, económica. etnocultural e linguística da nossa comunidade, h á poucas pistas na literatura existente acerca de como nnelhor preparar educadores de instruç ão pré-escolar de modo a avaliar de forma crítica as suas capacidades para trabalhar dentro de um quadro de referência anti -racista quie esteja para lá do en feitar as salas de aula em ocasiões especiais. Em vez disso. os futu ros professores de instru ção pré-escolar são formados para serem cultu ralmen te consc ien tes e livres de preconceito no seu trabalho com c rianças. São encorajados a utilizar materiais que representem a população d iversa com a qual trabalham. São encorajados a decorar as salas de aula com fotog rafias de famílias provenientes de diversos cont extos raciais . São também encorajados a celebrar dias de festa c omo o Diwali 1 ou o Hanukkah 2 num esforço para serem 1 :: N . T. Festival Indiano. também conhecido como "'FostlvaJ das luzes • .

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um exemplo na comunidade em mudança onde traba lham. Há um crescente número de provas que apontam para a diversidade nos padrões de desenvolvimento de crianças mais jovens; ideias antigas acerc a de desenvolvimento universal estão a ser postas em causa e desafíadas de forma justa (Bernhard e Gonzalez-M ena, 2000) . Minimizar o valor da história de uma criança com uma • abordagem turística • é obviamen te ineficaz. Neste capítulo irei fornecer uma visão critica de dois recursos-chave utilizados no Programa de Educação para a Instrução Pré -Escolar (EIP) no George Brown College, fazendo comentáríos específicos acerca de como os princípios educativos anti-racistas são tratados pelos auto res . NDevelopmentally Appropriate Practices" (Gestwicki, 1999), usado essencialmente nos fundamentos da EIP e em cursos com currículo semelhante, explora os princípios de práticas apropriadas do ponto de vista do desenvolvimento na IEP e currículo do programa. O livro descreve também os papéis dos professores no planeamento apro priado do currículo. "Partnerships: Families and Communities in Canadian Early Childhood Education• (Wilson 2001) é usado para cu rsos relacionados com o trabalho com famílias. Explora o aspe cto em mudança das famflias canadia· nas e aborda questões relacionadas com famllias que têm um só progenitor, famílias que vivem na pobreza, famllias com d iversidade racial, famílias que passam por situações de divórcio e famílias com progenitores homossexuais . O livro presta especial atenção à criação de ambientes infantis que sejam convidativos tanto para pais como para crianças e que sejam respeitadores da diversidade racial e cultural das famílias canadianas. Posteriormente, concentrar-me-ei no crescente número de desafios que os formadores. de futuros professores têm de enfrentar nos estabelecimentos de ensino superior, em especial no que diz respeito ao t rabalho com uma população estudantil complexa num contexto de diferenças culturais, linguísticas e raciais . Na parte f inal do meu trabalho irei comentar algumas das sugestões avançadas por outros educadores no que concerne à integração de princípios e es tratégias educativas anti-racistas nos programas de instrução

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períodos de atenção caso estejam interessados naquilo que os rodeia e com aquilo que interagem, há geralmente uma grande resistência por parte do público em reconhecer a importância dos primeiros anos da intancia. Os primeiros anos são críticos no desenvolvimento da inteligência, da personalidade e do comportamento social, e os efeitos de negligência por estas alturas podem ser cumulativos. Há momentos críticos no desenvolvimento de uma criança nos quais é importante garantir que ela vivencia experiências que contribuem para o seu crescimento e desenvolvimento . Recentes pesquisas em desenvolvimento cerebra l mostram que grande parte do cérebro já está formada à nascença e que é durante os dois primeiros anos de vida que se dá o crescimento das células cerebrais. Nos anos que antecedem o ingresso na escola tem lugar a maior parte da estru turação das ligações neurológicas e estas têm um grande impacto nas competências de aprendizagem da criança. A investigação confirma a ideia de que também é importante garantir que quem cuida de crianças sabe contribuir para um desenvolvimento físico e emocional saudável (Evans,

2000) . Existem características comuns no desenvolvimento das crianças, apesar de haver diferenças de criança para crian ça quando se atingem momentos importantes do desenvolvimento. Existe também pesquisa mais do que suficiente que vem provar o quão importante é o papel das brincadeiras na aprendizagem, isto apesar de o conceito de "brinca deira· variar de acordo com a perspectiva do investigador, teórico ou participante (Gestwicki, 1999) . A simples ideia de que as crianç as aprendem através da brincadeira é estranha a muitos pais que ainda se lembram de como foi a sua própria experiência escolar, formal até na forma como as crianças se sentavam em filas de carteiras. A adaptação à natureza dos programas de educaç ão pré -escolar no oci dente, onde as crianças são, encorajadas a explorar muitas experiências sensoriais, a encetar uma conversação sempre que lhes apetecer e ainda podem escolher as suas pró prias actividades lúdicas. é para muitas famflias um salto enorme relativamente àquilo de que estariam à espera. Os cuidados a dar às crianças resu ltam de uma relação de

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interacção entre pais e pessoas que cu idam das crianças, mas este ponto fundamental raramente é explicado aos pai s quando estes vão às sessões iniciais das reuniões de orientação organizadas para as famlllas que optarem por colocar os seus filhos à guarda de um grupo de educadores. Se tal lhes for explicado, os pais acabam por ter pouco espaço para contribuir com a sua opinião e talvez até expll· car qual é a sua visão de como deve ser a educação dos filhos. Piaget achava que a aprendizagem das crianças se reali · zava através de processos construtivlstas que edifícavam o conhecimento e as competências através de um processo de construção lento mas continuo, que permanentemente altera a compreensão que se tem do mundo circundante com base em informação nova que cada c riança acres centa mediante uma dada situação. Piaget acreditava que as crianças encontram (assimilam) novas coisas e ideias enquanto brincam. No entanto, Vygotsky sublinhou e reco · nheceu o valor social das brincadeiras e acreditava que as actividades mentais cada vez mais complexas das crian· ças eram o produto de contextos sociais e cu lturais. Ao Interagir com os membros da sua sociedade, as crianças aprendem a pensar e a comportar-se de forma a reflectir a cultura da sua sociedade (Gestwicki, 1999).

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De modo a perceber qual a importância da forma como as crianças se relacionam com a cultura da sua comu· nidade, torna-se essencial que os programas de educação pré -escolar sejam cu lturalmente inclusivos e que respeitem as tradições das famílias das crianças. Segundo Gestwicki ( 19991, as crianças começam por estar emocionalmente ligadas às pessoas que primeiro cu idaram delas mas depois tornam-se mais autónomas, •o processo de Identificação tem um papel crucial a desempenhar nos seus relacio · namentos e no seu desenvolvimento social ... as crianças

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passam a querer ser como os adultos importantes nas suas vidas. Grande parte do processo de identi ficação dá-se a um nível individual e pessoal. se bem que a cultura mais abran gente acaba com certeza por influenciar mensagens sobre a valorização de certas identificações.• (p. 166). Apesar de o desenvolvimento do indiv1íduo ser importante, Ha ideologia do individualismo também desvia a nossa atenção das relações de grupo e das posições sociais, concentrando-a, em vez disso, na igualdade de oportunidades que permite obter mobilidade ascendente" (Sleeter, 1994) . Numa tenta tiva para explorar a identificação de grupo, Gestwicki explica que "as crianças em idade pré-escolar se identificam a si mesmas como membros de famílias e da cultura abrangente. Com o tempo, as crianças começam a evidenciar sinais de que sofrem influências por parte das normas e comportamentos sociais para com o grupo do qual fazem parte" (Gestwicki, 1999. p . 166). A autora afirma que a pesquisa demonstra que as crianças estão perfeitamente cientes da sua identidade racial/cultural por volta dos quatro anos de idade e que por essa altura já absorveram comportamentos perante a sua própria identidade racial e a de outros; no entanto, não identifica os di ferenciais de poder existentes entre a raça branca dominante e os grupos minoritários. Gestwicki diz ainda que "numa sociedade com tanta diversidade cultural como a nossa, as críanças aprendem acerca da sua identidade cultura l no contexto de um ambiente de diversidade. Este é claramente um tema sócio -emocional que merece atenção" (Gestwicki. 1999, p. 1661. Apesar de Gestwicki afirmar que a identidade cultural é merecedora de atenção, subsiste ainda o problema de que ainda não se explorou devidamente a questão de como dotar os educadores de bagagem que lhes permita lidar com a diversidade ou com os diferentes tipos de crianças com as quais têm de trabalhar e o que poderão pensar de trabalhar em semelhante contexto cultural. Não há nenhum reconhecimento do desafio que é ter de se estar constantemente ciente das diferenças e admitir o impac· to dessas diferenç as sob um ponto de vista histórico . Gestwicki sugere que "é importante que os professores tomem pessoalmente consciência dos preconceitos que

tiveram influência no seu próprio desenvolvimento e que compreendam de que formas é que mensagens de preconceito são passadas às crianças. Em vez de ensinarem currícu los multiculturais explícitos às crianças em idade pré-esco lar, os professores deviam examinar todas as interacções, materiais e experiências de modo a garantir que transmi tem comportamentos de respeito para com toda a gente # (Gestwicki, 1999, p. 172). Apesar de Gestwicki ter razão quando sugere que os educadores devem deixar de ensinar "multiculturalismo explícito• . as fotografias que ilustram o livro mostram bonecas que representam diferentes raças e um cartaz que diz "bem-v indo" em muitas línguas (Gestwicki, 1999, Imagens 11 · 5 e 11 -6 , p. 172). Quando os formandos entram em contacto com o exemplo dado por Gest wicki de como evitar o multiculturalismo explícito, eles acabam por ficar a pensar que é perfeitamente acei· tável colocar cartazes de boas- vindas em diversas línguas. Gestwickl perde assim a oportu nidade de reflectir sobre como evitar o multiculturalismo explícito sob um ponto de v ista anti-racista , bem como de promover o trabalho com crianças em idade pré·esc·olar enquanto oportunidades pró-activas de discutir e examinar de que forma o domínio do género masculino, da raça branca, da cultura ocidental e da heterossexualidade se entranhou nos programas de educação pré -escolar. Textos que abordem temáticas relacionadas com diferenças raciais e culturais têm de reconhecer o valor das mensagens não-verbais. Estas mensagens são passadas para os educadores. que podem muito bem f icar convencidos de que cartazes de boas-vindas em mui tas línguas são um esforço suficiente no sentido de Integrar uma abordagem anti-racista na educação dos mais novos . As representações visuais em Oevelopmente/ly Appropriate Practices são predominantemente de crianças e adultos brancos. apesar de se notar uma tentativa de Incluir representações de crianças negras nas legendas das fotografias . Gestwlcki defende uma abordagem pluralista da educação pré-escolar, explicando que • a sala de aula se deveria tornar num microcosmos da sociedade pluralista na qual as crianças vivem e vão continua r a viver, dando sempre

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maior destaque às semelhanças entre as pessoas do que às diferenças. O professor deveria centrar-se nas pessoas do mundo de hoíe das c rianças, não de um mundo histórico. O obJectivo Junto de c rianças em Idade pré -escolar não é ensinar-lhes história, mas vaciná-las contra o racismo" (Gestwicki, 1999. p. 172). No entanto, a autora não tem em conta a realidade do ambiente de casa da criança. no qual pode haver conversas sobre opressão no passado e que podem muito bem incluir experiências diárias de discriminação. Ignorar a história e a rea lidade do racismo no mundo dos dias de hoje não serve para nada a não ser para ignorar a verdade . Derman-Sparks (1998) sugere que Mos anos pré-escolares lançam os alicerces para o desenvolvimento nas crian ças de um sentido forte e c onflant e do eu, empatia, ati tu des positivas perante pessoas diferentes e competências de interacção social por parte das crianças. No entan to. formas subtis de racismo institucional e interpessoal, e outras formas de opressão na nossa sociedade, minam um desenvolvimento saudável nestas áreas. Professores pré -escolares e pais têm obrigação de ajudar as crianças a aprender a resistir" (Oerman-Sparks, 1998, p. 194). Apesar de Gestwicki se inspirar no trabalho de Derman-Sparks, encorajando os educadores pré-escolares a ler " Anti-blas Curriculum: Tools for Empowering Young Children", o debate sobre identidade racial e cultural limita-se geralmente a ideias de programação e a uma visão geral básica daquilo que os educadores das crianças não deveriam fazer. Na sua maioria , os professores pré-escolares são encorajados a "e xaminar todas as imagens e todos os livros para garantir que eles retratam de forma realista a d iversidade da sala de aula e da comunidade de indivíduos, a pôr à disposição brinquedos, materiais e actividades com os quais as crianças se possam identificar" (Ges t wicki, 1999, p. 176). Gestwicki ( 1999) , em consonânc ia com outras investigações sobre a infância dentro de uma abordagem anti-preconceito, deixa escapar a oportunidade de se debruçar sobre uma abordagem mais abrangente da educação multicultural. Nieto (1995) argumenta que a educação multicultural sem um enfoque explícito no racismo anula as prát icas

discriminatórias em recintos educativ os. Num a abordagem assimilacionista da educação multicultural, os professores oferecem pequenos pedaços de estudos cu lturais, em vez de apresentar o estatuto privilegiado dos grupos dominantes. A pesar de o trabalho de Gestwicki tentar dar atenção às necessidades das famílias provenientes de diversos con· textos, uma análise aprofundada da história, de juízos de valor e de prácticas educativas poderia ser fo rtalecida.

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: : Parcerias: famílias e comunidades na educação pré-escolar canadiana No parágrafo inicial da obra "Partnerships: Familles and Communities in Canadian Early Childhood Education#, Wilson escreve que "este livro foi desenvolvido como recurso para docentes universitários, formandos e professores em ambientes educativos pré-escolares, com o propósito de os encorajar a desenvolver re lações positivas e de respeito com todos os tipos de famllias. A nossa experiência canadiana é única e este livro tenta celebrar a nat ureza diversificada da nossa população, ao mesmo t empo que traça estratégias para práticas cultura lmente sensíveis e inclusivas.• (Wilson, 2001, p. 1). Numa tentativa de simplificar a tarefa, decidi centra r o meu discurso no capítulo intitulado "Construindo Parcerias Eficazes•. Neste capítulo, W ilson debruça-se sobre como se pode desenvolver relações de sucesso com as famílias e quais são as vantagens e os obs táculos à obtenção de parcerias e estratégias eficazes por parte de supervisores e professores. A maioria das imagens neste cap ítu lo representa c rianças e adultos oriundos de contextos raciais e cu lturais diversificados. Sem dúvida que as Imagens retratam uma comunidade diversificada, apesar de haver poucas imagens de crianças ou de adultos com deficiência. Parece que o autor seleccionou fotografias que mostram c rianças de muitas raças que se estão a divertir todas juntas e, na sua grande maioria, as representações Imagéticas são de crianças felizes.

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Wilson sublinha a necessidade de traba lhar com famílias numa parceria de igualdade que veja as famílias como fonte de apoio e conhecimento. Vê a parceria como um envolvimento constante, incluindo a necessidade de analisar e repensar abordagens. De forma a tirar partido das parcerias com sucesso. Derman-Sparks defende que "ensinar a partir de uma perspectiva an ti-preconceito significa procurar respeitar e apoiar o conte xto de origem e a realidade de cada criança e cada progenitor ao mesmo tempo que se introduz um conceito de diversidade adequado que desafie os estereótipos sociais e a discriminação. No entanto, respei tar os progenitores não quer dizer necessariamente aceitar

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mesmo tempo que reconhecia as limitações e a incapacidade para prestar toda a atenção aos princípios e às práticas anti-racistas. Numa tentativa de sermos lnclusivos e de incentivarmos uma abordagem pluralista da educação, perdemos a oportunidade de questionar a cultura dominante e. aparen temente, somos incapazes de dotar os formandos de equipamentos que lhes permitam pôr na prática princípios educativos anti-racistas. Apesar de haver alguns progressos a registar. penso que não existe consistência na forma como os formandos compreendem e praticam princípios anti-racistas . A mudança de uma perspectiva anti-precon ceito para uma educação anti-raci sta é difícil e criará tensões e levantará questões relativamente ao seu valor e à sua relevância nos programas de instrução pré-esco lar. As consequências dessa mudança afectarão a forma como os programas de instrução pré-escolar são apresen tados, os conteúdos das d isciplinas de Educação para a Instrução Pré-escolar, quem é contratado para que lugar e a revisão de pollticas governamentais e de elaboração dos programas. Apesar de haver instituições que no passado tentaram desenvolver políticas de emprego equitativas, não houve qualquer esforço activo por parte das institui· ções de maior porte para manter essa política quando o actual governo provincial a lterou a legislação. Fazer uma avaliação das políticas e prá ticas de con tratação a partir de um ponto de vista anti-racista significa observar quantas das pessoas recentemente contratadas não são represen tativas da maioria dominante. Seja ao nível do educador de infância ou ao nlvel do docente numa insti tuição de ensino superior, será que as creches e as universidades públicas estão a desenvolver um esforço para recrutar uma gama realmente diversa de pessoas? Se os formandos e os licenciados estão ne verdade a olebater-se com a integração de princípios anti -racistas no seu trabalho prático com crian ças e famílias. os programas de formação de Educação para a Instrução Pré-escolar precisam de levar a cabo uma análise co mpleta dos conteúdos curricu lares e métodos de ensino. Ensinar implica questionar de forma intencional as mensagens explícitas e implícitas que dizem re speito ao

desenvolvimento humano (Bernhard, 1998). Com o conhe cimento dos peritos à disposição, não há necessidade de os educadores infantis se limi tarem a uma abordagem "turística" dos programas de ensino. E a educação anti-racista tem que ver com a exploração e a ruptura das relações de poder entre a maioria e as minorias. Em Toronto o aspecto da maioria mudou; no entanto as Instituições educativas são lentas a dar resposta à mudança. Os educadores infantis deveriam ser capazes de articular os princípios da educaç ão anti-rac ista e de os pôr em prática.

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tem reve lar a personalidade do/a investigador/a de modo a reduzir (se não mesmo eliminar) as Ideias pré-concebidas e o seu próprio preconceito, o que acontece para que o estudo realizado seja digno de maior confiança. autenticidade e credibilidade. O posicionamento dos/as autores/as relativamente a quem são e qual a sua proveniência é um ponto importante a ter em conta. Segundo Andrew Gitlin e Robyn Russel (1994, p. 1811) ·a validade e o poder confiar nos resultados foram os c r itérios que estabeleceram os padrões segundo os quais a investigação é julgada.• Um exemplo de que me lembro é o dos autores de "The Feminist Classroom#, M aher e Tetreault ( 1997), que original mente haviam organizado os seus dados de acordo com quatro temas: controlo, voz, autoridade e posicionamento. Os autores re -analisaram os dados e descobriram que o seu posicionamento era da mais vita l importân cia para comp reender a sua própria condição de pessoas de raça branca. Procuraram então obter um conhecimento real e profundo da sua posição enquanto investigadores brancos e questionar a sua posição social privilegiada quando comparada com a das pessoas objecto do seu estudo; de certa forma, isso fez deles opressores e aliados. Neste capitulo examina-se um conjunto variado de abordagens relativamente à realiza ção de pesquisa anti-r acista.

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Acredito que não obstante os grandes avanços feitos nas polfticas anti-racistas a o longo das últimas décadas, a questão racial con tinua a ter um peso importante nas oportunidades que um indiv iduo tem a nível escolar e na sua vida em geral. A s diferenças de c lasse, género e orientação sexual continuam a afectar as nossas oportunidades académicas e profissionais, bem como a nossa mobilidade social. Uma consciencialização crescente re lativa a todas essas diferenças permite-nos fazer uma análise crítica mais profunda às diferentes formas como as pessoas que orientam as

políticas no campo da educação realmente compreendem o impacto desses factores no processo e nos produtos da educação dos mais novos. Tal consciencialização significaria um grande passo em frente na área da mudança social. Para ser mais específica, uma abordagem anti-racista, quer fosse limitada ao sector educativo ou abrangesse todas as franjas da sociedade. iria dar mais visibilidade ao impacto dessas diferenças em vez de as subestimar ou de as negar. Segundo David Corson, no seu livro intitulado "Language, Diversity and Education" (2000). as disciplinas das c iên· cias humanas sofreram uma transformação importante ao longo dos anos, passando a ter em conta pontos de vista cada vez mais divergentes no que diz respeito à v ida social. Corson salienta ainda que o positivismo se baseava na crença de que as acções humanas obedecem mais a padrões previsíveis do que ao acaso - querendo com Isto d izer que o conhecimento que se adquire ao es t udar as acções humanas numa cultura pode ser transportado para outras culturas, princípio que continua a ser aceite por muitos investigadores actualmente no activo. O autor faz referência ainda às seguintes limitações do positivismo: ( 1) as diferentes formas que as mentes das pessoas têm de trabalha r não foram devidamente tidas em con ta pe los cientistas sociais positivistas nas suas teorias, e (2) os papéis desempenhados por significado e interpretação não foram suficientemente respeitados. Concordo com Corson e defendo que a posição filosófi ca positivista de que a realidade consiste essencialmente naquilo que é perceptrvel pelos sentidos é falível . Na minha opinião, isso é apenas uma parte de um quadro maior, porque a realidade também é feita de valores, crenças e língua· gem, sendo que todos eles var iam de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. Em resumo, a posição positivista falha ao não ter em conta tal diversidade, que é claramente uma realidade social. Quando Burrell e Morgan (1979) examinaram os pressupostos filosóficos que estão na base dos vários tipos de abordagem às ciências sociais, estabeleceram quatro grupos de hipóteses: ontológicos, epistemológicos, da nacureza humana e metodológicos. Os pressupostos ontológicos

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agressivo em muitas partes do mundo). A nossa História proporciona-nos muitos exemplos desse tipo de racismo na sociedade e na educação do Canadá. Ao julgar as culturas nativas como sendo Inferiores. os colonos europeus decidiram tomar como missão #ci vilizar" os seus membros. Segundo Davies e Guppy ( 1 998). "o racismo tem sido historicamente entendido como uma caracterização de indivíduos, uma crença de que as pessoas de tipos biológicos diferentes são inferiores # (p. 130). Uma análise ao rac ismo implica necessariamente compreender o anti~racismo. Segundo Dei (1999) ,

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ligada. Desta forma o anti-racismo trabalha com e raça e a intersec· ção de diferenças sociais (clasge, género. sexualidade, raça e etnia) . Enquanto 'construção sociopolflica' (Omi e Winnant , 1993: Lopez,

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A ideia essencial que surge é a da tentativa de levar mudanças eficazes até indivíduos e instituições. O trabalho educativo anti-racista tem como objectivo mudar o mundo . A investigação é um processo que pode ser entendido como uma série de actividlades que têm um principio e um fim. Investigadores experientes desenvolvem um estilo próprio de realizar investigação. A maioria das Investigações tem em comum três fases. Segundo Gary Andersen (1998): •A Investigação em educação é uma tentativa disciplinada de abordar questões ou solucionar problemas através da recolha e análise de dados elementares com o fim de descrever, explanar, generalizar e prever •. . IAI Investigação é essencialmente uma actlvldade de resolução de problemas que encara um problema, testa uma hipótese ou explica um fenómeno•. (pp. 6 -7 )

Um método de investigação é uma forma de abordar uma questão ou um problema. Segundo Gary Anderson, a metodologia é comparável à boa cozinha na qual há uma variedade de fo rmas de se cozinhar o mesmo produto.

O produto que se prefere é uma questão de gosto pessoal e está ligado àquilo que se quer fazer com ele. No entanto, na investigação, tal como no fazer pão, alguns ingredientes essenciais são comuns, como por exemplo a necessidade de obter dados, apesar de a sua natureza exacta poder variar de abordagem para abordagem. assim como o método através do qual se processa. Independentemente do tipo de pesquisa, a metodologia escolhida é d itada pela questão abordada pela investigação e pelos tipos de abordagem adoptados por quem investiga. A decisão de usar determinada metodologia está muito ligada à área de investigação e, mais precisamente, à questão central da investigação. Algumas metodologias podem ser mais adequadas e eficazes para determinado tipo de pesquisa. A parte da metodologia num relatório de investigação constitu i uma secção aparte onde se explica o que fo i feito por quem investigou. Uma metodologia descreve a totalidade da abordagem ou dos procedimentos, o quadro de referência, a questão a ser investigada, as fontes dos dados, os instrumentos de análise e as limitações. A investigação qualitativa é uma investigação das ciências sociais que fornece resultados que não podem ser obtidos através de procedimentos estatísticos ou simples quantificação. Apesar de os dados poderem ser quantificados ou medidos, a análise é qualitativa . Falando em termos gerais, a investigação qualitativa refer e-se às vidas das pessoas, às suas histórias e comportamentos . Torna-se muito útil ao examinar organizações, relações e movimentos sociais. A investigação qualitativa fornece dados que descrevem , por exemplo, as próprias palavras pronunciadas ou escritas por alguém, ou os seus comportamentos observáveis. Os investigadores qualitativos usam métodos que envolvem observações na qualidade de participantes, entrevistas não-estru turadas e histórias de vidas. As características mais importantes da investigação qualitativa incluem o envolvimento com as pessoas estudadas. Por exemplo, um investigador a fazer pesquisa sobre crianças com deficiência motora deverá ter uma compre ensão tão completa quanto possível das dificuldades por que passam tais crianças e aqueles que lhes são próximos.

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Outra carac terística importante prende-se com o facto de os objec tos de estudo da investigação qualitativa serem estudados ao longo de um período de tempo e de a atenção se centrar no processo e na forma como as coisas mudam. A investigação qualitativa também carece de estruturação fixa e a estratégia investigativa é tal que permite que a relação entre a teoria e a pesquisa vá emerg indo, enquan to que a investigação quantitativa se limita ter como fim confirmar a relação entre a teoría e as descobertas da pesquisa . Segundo Bouma e Atkinson ( 1995) , "a investigação quantitativa é estrutural, lógica, medida e ampla. A investigação qualitativa é mais intuitiva, subjectiva e profunda" (p. 2081 . A lguns temas a ser estudados encaixam melhor na investigação qualitativa, enquanto que outros são mais bem investigados usando métodos quantitativos. Por vezes, uma combinação dos dois métodos é mais eficaz. Pode ser visto a partir de cima o facto de a investigação qualitativa ser mais a mais apropriada quando se tenta compreender a natureza das experiências das pessoas. Pode ser útil para compreender situações e fenómenos acerca dos quais se sabe pouco e permitir-nos ganhar novas perspectivas sobre questões de que já dispomo·s de abundante informação . Segundo Foster ( 1991) os paradigmas psicométricos positivistas baseados na psicologia estão rapidamente a dar lugar a métodos de inve·stigação qualitativa. A mudança no sentido da investigação qualitativa é perceptível no número crescente de cursos ministrados e no crescente número de estudantes que depositam confiança nos méto· dos qualitativos. Os invest igadores qualitativos concentram -se no desenvolvimento de uma relação de confiança com aqueles com quem traba lham e este tipo de pesquisa implica um contacto próximo entre os investigadores e os estudados. Os investigadores tanto podem realizar pesqui· sa sobre um local especifico pré-exi stente ou podem incitar a acção intervindo nas vidas das pessoas estudadas e, desta forma, tornar-se catalisadores de mudança. Segundo Foster (1991), Newber9 deu Início a um programa de reestruturação Interescolar e a sua pesquisa foi levada a cabo como intuito de promover a mudança. Foster (1991)

afirma ainda que Kawakami e Edwards iniciaram projectos de leitura de livros nas comunidades que estudaram. No campo de trabalho da investigação qualitativa as técn i· cas utilizadas para reco lher dados podem ser de muitos tipos diferentes, desde entrevistas aprofundadas até observação. Por vezes utilizam-se múltiplas técnicas, como a entrevista, a observação e a análise de documentos. O uso de múltiplas fontes de dados para a investigação quali· tativa chama-se triangulação; esta aumenta a precisão das pesquisas e permite comparar e confirmar dados de várias maneiras. Uma investigação eficaz permite aos participantes formular as suas próprias respostas através de entrevistas de fina l aberto. Apesar de cons1u mirem mais tempo, estas entrevistas incentivam os participantes a expressar os seus sentimentos e ideias nas suas próprias palavras, de que resultam depoimentos mais profundos. Segundo Foster ( 1991) os depoimentos dos participantes em tais estudos são habitualmente gravados em cassetes; por vezes são até gravados em vldeo. Por exemplo, os dados apresentados no estudo de Edwards incluíam sessões gravadas em vídeo, o que ajudou os Investigadores a examinar e estudar a forma como os pais interagiam com as crianças durante a leitura dos livros. Outro factor que diferencia investigação qualitativa de investigação quantitativa é que a primeira, em vez de tentar confirmar ou negar uma dada hipótese, dá espaço à hipótese para que esta evolua a partir das provas recolhidas. A investigação qualitativa tem em linha de conta que pessoas diferentes dentro do mesmo contexto e na mesma situação podem muitas vezes ter visões diferentes do mesmo espaço. Por isso. quem faz investigação qualitativa partilha as suas descobertas com as pessoas que estuda, de modo a assegurar que os resultados encontrados são um reflexo das opiniões dos estudados. Em anos recentes tem havido um certo número de estudos sobre anti-racismo baseados na etnografia crítica, que é na sua essência uma forma de investigação qualitativa . O termo etnografia, segundo o "Oxford Dictionary ", refere -se à "descrição cientifica de povos e culturas# (p. 305).

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Segundo Simon e Dippo (1986), o termo etnografia faz mais do que simplesmente descrever um método de pesquisa. A etnografia é semelhante à produção de conheci mento; a atenção está concentrada em ambas as práticas e nos pontos de vista de pessoas num quadro organizado de relações sociais. É necessário sublinhar que um inquérito etnográfico deve ser entendido como uma prática conceptual de rea lizar pesquisa que é levado a cabo com a finalidade de dele se obter um determinado tipo de conhecimento. O facto de que o conhecimento é poder e que a aquisição de conhecimento dá mais poder a indivíduos e sociedades não pode ser por sobrerealçada . Os estudos etnográficos, que são um meio de obter conhecimento, tendem a alterar o equilíbrio de poder a favor daqueles que dão inicio a ditos estudos. Os estudos etnográficos podem ser classificados como clássicos ou críticos.

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das últimas décadas. Para c hegar até à raiz dos temas que a espaços podem ser mais subtis, os investigadores devem construir um elo de confiança com quem estudam. Esta é uma razão importante pela qual os estudos de etnografia critica se têm mostrado altamente eficazes na realização de pesquisa anti-rac ista. No cenário da aldeia global em que nos encontramos actualmente, no qual se dá grande importãncia à igualdade social. um estudo de pesquisa que revele (e que através de um processo disciplinado faça rea lçar) o rac imo e a discriminação que o acompanha de mão dada irá enco· rajar a mudança social. Uma vez que a etnografia crítica tem como objectivo provocar mudanças sociais, parece ser esta a estratégia de investigação mais eficaz na pesquisa anti-racista. O número cada vez maior de estudos anti -ra cismo altamente eficazes e aclamados que se baseiam na abordagem da etnografia crítica vem provar a eficácia da etnografia crítica na investigação anti-racista. Considerando a minha opinião pe ssoal enquan to mulher que cresceu numa sociedade patriarcal muito ortodoxa no Paqui stão e que mais tarde imigrou para uma sociedade de longe muito mais emancipada, sinto com muita convicção que a investigação qualitativa é uma fo rma muito mais efi caz de realiza r investigação anti-ra cista. Estando apenas há cinco anos longe do lugar da minha infância, sinto-me comple tamente deslígada da realidade das mulheres na minha terra. Só este facto é suficiente para me fazer sentir que uma investigação qualitativa, neste caso um estudo de etnografia crítica, seria o único método eficaz e credível de levar a cabo pesquisas junto das mulheres da minha pátria. A investigação incluiria um contacto próximo e uma exposição prolongada às pessoas a ser estudadas e daí sai ria con hecimento proveniente das ci rcu nstâncias exactas da sua existência no dia-a-dia e experiências em primeira mão dos problemas e desafios que enfrentam. É-me fácil verificar que a investigação quantitativa num tema co mo este poderia muito facilmente conduzir em erro. Tome-se como exemplo uma pesquisa quantitativa sobre o número de mulheres com profissões liberais no Paquistão rural. O baixo número de mulheres que ai trabalham, que aos olhos

do Ocidente pode parecer 1n11.11sto, desigual e explorador, poderá, na verdade, representar uma realidade muito diferente. Para dar um exemplo, um estudo etnográfíco mais aprofundado poderia revelar que por causa de tabus, discriminação e ameaças que as mulheres sofrem fora de casa nas sociedades muçulmanas rurais, patriarcais e ortodoxas, as mulheres emancipadas profissionalmente e com estudos têm menos privilégios que aquelas com casa· mentos fortes e estáveis. nos quais são os maridos que satisfazem todas as suas necessidades económicas. Sei que muitas mulheres na minha reg ião se viram para uma carreira profissional em última instância quando estão a lutar pela sobrevivência devido à perda trágica de alguém ou a um casamento falhado . Em contraste com a realidade do ocidente, uma mulher que viva como dona de casa, quase sem habilitações literárias e sem carreira própria pode deter uma posição mais privilegiada e respeitada que uma mulher emancipada profissionalmente e com estudos. Outro exemplo que considero ser testemunha da grande eficácia da investigação qualitativa nos estudos anti-racistas é a minha experiência como imigrante recente no Canadá. A maior parte da Informação divulgada ao mundo acerca da rea lidade da vida é q1u antitativa, como por exem· pio, onde é que o maior número de imigrantes é recebido cada ano, ou onde é que o rendimento per capita é muito superior ao dos países de origem dos imigrantes. Estes números tão concretos escondem muitos pormenores menos concretos que só podem ser observados por quem passa pela experiência de ser Imigrante na primeira pessoa . Pormenores como a frustração e desilusão da maioria dos Imigrantes que não conseguem encontrar emprego na sua área de formação . Mas há outros pormenores mais subtis e mais amargos: apesar de estas pessoas serem mais ricas do que eram nos seus países de orígem. muitos Imigrantes dão consigo no fundo na cadeia económica. Eu penso que estes pormenores poderiam ser revelados de forma muito mais eficaz através de estudos de etnografia crítica. ao passo que seria muito mais fácil esconder e enterrar estas formas subtis de racismo atrás de estatísticas e números, que são a base dos estudos quantitativos.

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saberíamos. por exemplo, como evoluíram o racismo e as lutas anti-racistas, incluindo a percepção e as experiências que as pessoas têm de ambos? O trabalho de campo, incluindo as entrevistas. constitui uma ferramenta fundamental no estudo dos fenómenos sociais. Os investigadores d'e scobriram que têm necessidade de levar a cabo entrevistas aprofundadas junto de pessoas que têm ligações emocionais fortes com as questões, de modo a ir além das respostas "ofíciai s". O racismo , ou opressão racia l. é um desses temas. Mas também se reconhece que as preferências pessoais podem ter Influência sobre a interpretação de fenómenos. Consequentemente, Weber ( 1949) admoestou especificamente os investigadores sociais para que não misturassem actividade intelectual com polftica. Ele apelou à •neutralidade ética" e à "objectividade". com as quais queria dizer que os investigadores e os professores deveriam evitar que os seus juízos de valor, ideias pré-concebidas e preconceitos afectassem o seu traba· lho, para que as suas descobertas fossem aceites como vál idas mesmo por quem não partilhe os seus padrões éti· cos. Para Weber, os juízos de valor significavam avaliações práticas do carácter bom ou mau de um fenómeno . Weber reconheceu que as pessoas fazem juízos de valor e que é nobre que os professores deixem bem claro quais são os seus juízos de va lor e tentem distinguir para os seus alunos (e para si mesmos) entre exemplos dos deles que são de dedução lógica - ou factos observáveis empirica mente - e aqueles que são 'e xemplos de avaliação prática. No en tan to, Webe r ficou na dúvida se os estudiosos deveriam, mediante a posição que ocupassem, imputar às universidades - e por Inerência a si mesmos - o papel universal de moldar seres humanos ou de transmitir princípios éticos, estéticos, culturais ou outros. A valiosa influência do anfiteatro académico, sublinhou Weber. reside na preparação especializada de pessoas altamen te qualificadas. O principal, segundo ele, é a inculcação de integridade intelectual. O seu medo residia no facto de o professor universitário ter o privilégio de ser livre de controlo exterior, daí a necessidade da especialização. O professor não deveria ter "o

direito de trazer o bastão de marechal do homem de estado ou do reformado r na sua mochila " (1949, p. 5). Em vez disso, ela/ele deveria cumprir uma determinada tarefa de fo rma profissional, admitir factos mesmo que sejam pesso almente embaraçosos, d istingui-los da própria análise que faz e subordinar-se à sua tarefa. Claramente adverso a reco nhecer o "pessoal" como o " político • de forma significativa, Weber sublinhou que as questões pessoais não se devem misturar com análises factuais especializadas, se se quiser que a ciência continue a ser uma vocação. Mas ele admitiu a influência das posições sociai s e dos valores das pessoas na sua percepção dos factos sociais. Contrariamente a um jurista que disse que nunca contrataria um anarquista para ensinar Direito, Weber contratá-lo(a)-ia, porque as convicções dum anarquista lhe permitem ver as debilidades dos pressupostos básicos da teoria do Direito, o que não acontece com pessoas que os têm -como adquiridos. Se por um lado Weber admitia que a Sociologia havia surgido como resposta a pro'biemas práticos, por outro afirmava convictamente que uma Ciência Emplrica não deve impor normas e Ideais dos quais possa advir actividade prática imediata. O centro da sua atenção deve estar na análise de meios e fins, demonstrando quais os meios mais apropriados para se obter um determinado propósito, assim como quais as consequênc ias da utilização desses meios. Para Weber uma Ciência Empírica não deve dizer às pessoas o que elas "deveriam fazer", mas sim o que elas "podem" fazer . Muitos outros estudiosos puseram em causa estas pretensões de objectividade e de neutralidade de valores. M uitos deles defendiam que ta i s pretensões não passavam de uma fraude, de uma máscara para uma Ciência Social do status quo (por exemplo, Bottomore e Nisbert, 1979; Gouldner, 1970; Code, 1991 ; Stanfield, 1994; Scheurich e Young, 1997). ~ mais fácil d i zer que se tem neutralidade ética e objectividade do que P'ô-las em prática. A História e o ca rácter da Indagação critica nas ciências sociais eurocêntricas dominantes vêm provar como as admoestações de Weber eram pouco realistas. ~ um sinal de privilégio uma pessoa poder não se preocupar com aquilo que é feito

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defender que a igualdade de oportunidades existe e que é adequada para fazer face à d iscriminação racial passada e presente. Por isso há a necessidade de procurar um quadro de referência metodológico que seja o mais adequado à investigação anti-racista e que aborde as questões da validade e da fiabilidade de forma politicamente significativa. De que maneira podem os investigadores anti-racismo abordar temas de objectividade, neutralidade de valores e outros temas de ética, moral e metodologia. como "quem está qualificado para estudar quem•, e "com que fim"? Até que ponto podem ser aplicados esses padrões à investigação anti-racista?

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A teoria e a prática sociol ógicas têm-se dedicado a criar Noutros# desde o século X IX, inferiorizando-os, subtraindo-lhes legitimidade e excluindo-os. Esses outros incluem os povos não-euro -americanos, as mulheres, os homossexuais e os portadores de deficiência. Por causa das ralzes eurocêntricas da Sociologia no Iluminismo, na industrialização capitalista e nas lutas políticas liberais pelos direitos da c lasse média emergente, as sociedades que não estivessem a passar exactamente pelo mesmo eram julgadas indignas de ser sequer estudadas pela Sociologia ou pela Ciência Política. Essa tareia " Inferior" foi deixada à Antropologia, que fez um "bom" trabalho ao descobrir quão "primitivas" essas sociedades eram. Quando se vai estudar os "outros" com fe rramentas sociológicas, ta l só é feito habitualmente no seio de sociedades euro -americanas (por exemplo, os centros das cidades e os subúrbios pobres no contexto da Sociologia Urbanal . Eles são estudados enquanto problemas sociais urbanos patológicos (onde se incluem o crime, a delinquência, o consumo e o tráfico de drogas, o desalojamento, o excesso populacional, a gravidez na adolescência, o abandono escolar. as doenças mentais. o

alcoolismo, e por aí fora . Muitas vezes estas patologias são vistas como resultado da raça , de culturas estranhas, da organização familiar, irresponsabilidade sexual, etc.). Acabaram por sofrer o mesmo destino dos seus parentes nas #selvas primitivas # de África, da Ásia, da América do Sul e do Sul do Pacífico. Aqui impõe-se colocar algumas questões para ajudar a enquadrar o discurso. Até que ponto é que as ferramentas projectadas para estudar a sociedade ocidental racional , autonomizada. industrial. colonizadora e dominadora estão preparadas para estudar outras sociedades? Será que as ferramentas usadas pa ra o estudo do #eu· podem ser usadas para estudar o #ou.tro"? Será que se pode utilizar as mesmas ferramentas e métodos para estudar os dominadores e os dominados da mesma forma - e vice ·versa? Será que se pode utilizar as mesmas ferramentas para estudar os "inferiores • e os iguais? Na investigação, há probabilidades de fazermos as mesmas perguntas sobre os dominadores e os oprimidos, e será razoável contar com a extração de respostas aos opressor es e aos oprimidos que sejam igualmente desprovidos de embara ço? Podemos estar à espera que os dominantes coloquem questões aos dominados semelhantes às que os dominados colocariam aos dominantes se tivessem essa oportunidade? E será que os dominantes dariam aos dominados respostas semelhantes às que dariam a outro dominante? De que forma é que o ambiente opressivo no qual ambos grupos vivem de forma diferente iria influenciar as questões colocadas e as respostas dadas? Até que ponto é que os anti-racistas ainda podem rea lizar investigaç ão sob o manto da objectividade quando o ambiente social está tão inclinado e as diferenças de poder são tão profundas que o ambiente de investigação P•raticamente nem consegue ser neutro ? Como é que aqueles a quem há muito tempo não é dada voz são capazes de reconquistar a sua voz se o investigador não tentar facilitar o processo explicita· mente? É razoável estar à espera que os opressores cedam essa voz de sua livre vontade quando a própria negação dessa voz (e esse silêncio) é por sua vez negada também tantas vezes?

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do questionário que a seguir é apresentada, mostra clara· mente que algumas perguntas visam a obtenção de factos, enquanto outras (às vezes de forma sarcástica) pretendiam consclenclallzar os traba lhadores, familiarizando-os com termos teóricos como saldo positivo re lativo, salário, exploração, e por aí diante. Isto foi feito com base na experiência do dia·a·dia dos traba lhadores.

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A partir desta amostra torna-se claro verificar que Marx não queria apenas juntar e apresentar informação de factos, mas queria também incentivar os trabalhadores a situar os problemas no seu contexto social mais abrangen· te, levando-os mesmo a perceber qual é a fonte dos seus problemas. Como indica M ichal Bodemann (1978, p . 409). os questionários e os inquéritos de opinião têm um cariz político, não obstante as pretensões em contrário . O inves· tigador identifica o problema, estrutura as perguntas e, a partir daí, delimita o alcance das possíveis respostas. Na opinião de Bodemann, aquilo para que a Enquéte nos alerta é para "reunir 'experiências' e imediatamente transmitir de

volta essas experiências em forma de " informação" : ordenada e apresentada num quadro de referência teórico ." A objectividade e a neutralidade de valores são pouco mais que uma parte da ideologia profissional dos académicos . É a maneira de se afirmarem acima da barafunda quando, na verdade, estão bem no meio dela. Os investigadores anti-racistas podem muito bem basear·se nisto e projectar questionários que sirvam não só para reunir informação factual, mas que também prestem auxilio aos racialmente minoritários na articulação teórica da sua opressão. Na óptica do investigador anti-racista, os operá rios na Enquête de Marx e as experiências de exploração podem muito bem ser substltuldos pelas minorias raciais. pelos seus empregos mormente servis e pelas suas experiências de opressão racial. Podem ainda ser substituídos por estudantes oriundos de minorias, como também se pode substituir a situação de " empregadores/emprego" por "professores/estruturas e práticas escolares existentes• . É claro que os investigadores anti-racistas podem adoptar elementos das metodologias de investigação utilizadas nas Ciências Sociais em geral. Eles podem observar o ra cismo, classificar tipos de racismo e comparar a opressão racial através do tempo e do espaço . Podem até, por exemplo, levar a cabo análises estatlsticas da representação racial nos meios de comunicação social ou do racismo no sistema legal. Mas isto é insuficiente. 'Os sentidos e as interpretações subjectivas são fundamentais , porque o anti -racismo não se limita a lidar com os fenómenos objectivos que sejam observáveis; também lida com as suas formas escondidas, os sentidos subjectivos das pessoas. E estes têm de ser situados no seu contexto histórico, socioeconómico e político mais abrangente. Isto quer dizer que há elementos do método histórico-sociológico que são críticos e que as conclusões têm que ser úteis às pessoas estudadas. Por conseguinte, os investigadores anti-racistas irão encontrar mais vantagens no método histórico-socioló gico e em técnicas semelhantes de pesquisa no terreno - como a entrevista centrada (Merton, Fiske e Kendall, 1956), diálogo de conversação (Flshman, 1978) e técnica da informação-chave (Tremblay, 1982) - do que na análise

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quantitativa e na recolha aleatória de amostras. M as isto ainda não é suficiente. As entrevistas que fizerem com as pessoas têm de ser aprofundadas e de ca riz interventivo, se quiserem ser fiéis às suas obrigações intelectuais e poli· ticas. Os investigadores anti-racístas não se limitam a lidar com "factos sociais" - a questão passa também pela forma como as pessoas interpretam esses factos, como o investigador interpreta essas interpretações, as con textualiza e prest a assistência às pessoas para que estas desenvolvam uma compreensão teórica das suas v ivências. Tal como o proletariado de M arx , os oprimidos racialmente também não precisam de salvadores providenciais; só eles podem aplicar os remédios. M ao Tse-T ung pode ter feito alusão a esta estratégia de interven ção quando falou de "ensinar às massas de forma clara aquilo que recebemos deles de forma confusa" (in "Bodemann", 1978, p. 410). Assim , a forma como o investigador enquadra as pergun· tas é fundamental para que as pessoas dêem forma à compreensão das suas vivências, que podem ser influenciadas pelo género, pela classe social ou pela o ri entação sexual. O investigador também tem de ter em conta que é provável que algumas vozes tenham de algum modo. sido adulteradas e afectadas por relações de poder. Expressões como "Queremos electricldade, estradas asfaltadas. uma igreja nova ou impostos mais baixos" ou então "Vamos alinhar com isto" podem não ser mais do que reflexos da adulteração e das relações de poder locais. M as essa interpenetração tem de ser feita "com " (em vez de " para") as pessoas. num espaço seguro, li vre e sensível às rela· ções de poder envolvidas. Desta forma se vê que é problemático parar e perguntar às pessoas quais são as suas experiências ou quais são as suas justificações para elas, ou o que é que querem . Temos de arranjar teorias junto com as pessoas. reconhecer que o fazemos e most rar-lhes como o fazemos (Fine, 1994). Dessa forma as pessoas estudadas aprendem com o investigador ao mesmo tempo que o investigador aprende com elas. Isto impede que o investigador se aproprie ou que empregue indevidamente os conhecimentos das pessoas. Colocar questões que à part ida são neutras a pessoas que

foram e ainda são bombardeadas com ideologia rac ista (alguma dela apresentada como Ciência) e opressão não vai adiantar de muito à causa anti-racista. Como referem Cuadraz e Uttal (1999). a contextualização e a interpretação ajudam a ligar a biografia e a história - com a ajuda do investigador, faz-se depois uma ligação entre os problemas pessoais e torças estruturais e acontecimentos mais abrangentes. Como C. Wright Mills muito justamente referiu, "as Ciências Sociais lidam com problemas de Biologia, História e das suas intersecções no seio das estruturas sociais• (1959, p. 143). Através da obtenção de Informação e da transmissão de informação devidamente enquadrada em termos teóricos, os investigadores anti-racistas estariam encarregues da teorização fund amentada e comprometidos com a praxis política. O método de entrevistas aprofundadas de cariz interventivo co loca alguns desafios ao invest igador anti -racista. ~ óbvio que o investigador não consegue controlar ou prever quais serão as respostas dadas pelos entrevistados às perguntas que lhes colocar. Por exemplo, eles podem não conseguir articular questões estruturais nas suas respostas, ou mesmo negá-las (por exemplo, o impacto de racismo) . Os entrevistados podem também não reconhe cer como diferentes formas de opressão se interligam para os subjugar (por exemplo, raça . classe social, género). A multiplicidade de identidades e de estruturas sociais também constitui um desafio. Cuadraz e Uttal (1999) afirmam que o investigador tem de descobdr como abordar as questões estruturais e como analisar as múltiplas formas de intersecção entre as biografias individuais e as estrutura sociais, ao mesmo tempo que explica cada uma dessas estruturas sociais. Estas, na m inha opinião, traduzem claramente a necessidade de transformar construções teóricas em perguntas, mesmo que outras perguntas visem obter informação factual. Traduz também a necessidade de interpretar os dados em vez de partir do princípio que estes valem por si sós. Os co nhecimentos teóricos do investigador seriam úteis . Isto irá também ser útil à investigação anti-racista no sentido de evitar autenticar ou certificar todas as histórias ou relatos dos dominados.

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O investigador anti-racista deve te r em mente o poder que detém quando estiver frente a frente com as pessoas que vai estudar. Não deve haver nenhum tom de superioridade, compo rtamentos ou atitudes de condescendência , nem tentativas de deixar as pessoas completamente amarradas a perguntas de resposta fechada . As questões à volta da opressão e da resistência não pedem sempre respostas de sim /não , muito/pouco ou concordo/discordo. Para dar um exemplo, um est udante negro acompanhou um dos meus alunos numa das minhas aulas. Depois de visionar o filme "Blue Eyed w, de Jane Elliott, durante quarenta minutos, numa turma pequena onde ele era o único pertencente a uma minoria, ele perguntou-me onde e quando tinha o f ilme sido feito . Disse-lhe o que sabia e perguntei-lhe porquê. Ele respondeu que era porq ue nunca tinha sentido na pele o tipo de racismo descrito ino filme enquanto c rescia nos Estados Unidos. Mas quando as discussões que se foram desenrolando lá para o fim do f ilme começaram a desviar-se para o racismo que os membros de grupos minoritários enfrentam todos os dias. ele tomou de novo a palavra e, desta vez, contou como uma vez foi mandado encostar-se à berma da estrada por um polícia que lhe pediu que soletrasse o seu nome aindla antes de ele ter acabado de o pronunciar. E tratava-se d'e um nome inglês simples com apenas duas sílabas. É evidente que a sua resposta a uma pergunta de "sim" ou " não" visando saber se alguma vez tinha sido alvo de descriminação racia l não teria abrangido esta situação, especialmente tendo em conta como ele observava o óbvio pouco à-vontade com que o seu amigo branco ia vendo o filme. A investigação planeada no sentido de recolher informação a partir de estud a ntes pertencentes a grupos minoritários acerca das suas vivênc ias na escola, por exemplo, deve ter em conta quem são esses estudantes, a sua diversidade, como se definem a si mesmos e a percepção que têm da forma como os outros os definem. O que é que eles, os pais ,e as comunidades deles vêem como sendo problemas? O que é que eles julgam dever ser as prioridades no que diz respeito aos seus problemas educativos? O investigador deve reflectir sobre isto com

eles. O investigador não aborda a questão a partir duma posição de Ignorância. O investigador sabe alguma coisa e tem algumas noções teóricas que o ajudarão a enquadrar as perguntas e enquadrar-se no diálogo. Os investigadores devem seguir o conselho de Rosalie Wax de não entrevistar apenas aqueles que conhecem e confiam no investigador. As pessoas hostis ou "neutras# podem ser uma boa fonte de dados para a investigação e também é preciso estudá-las ( 1952, pp. 34-37). Vale a pena repetir quaisquer que sejam os méritos das entrevistas aprofundadas de cariz interventivo, não se deve rejeitar imediatamente todas as técnicas utilizadas pela ortodoxia da investigação. A questão não é substi· tu ir uma forma de obtenção de conhecimento hegemónica por ou tra. É, sim, retirar delas elemen tos que ainda permitam a liberdade de captar a unicidade das experiências e visões do mundo dos que constituem minorias racia is, e intervir politicamente, despertando as suas consciênc ias. É promover múltiplas leituras do mundo; é contar e analisar as histórias que, doutra forma. jamais seriam contadas ou correctamente analisadas; é dar voz àqueles a quem tem sido negada uma há tanto tempo e Indicar caminhos para acabar com a opressão racia l. As exigências de transmitir informação de volta às pessoas estudadas também implicam que os investigadores aprendam e façam uso de uma linguagem que as pessoas entendam. A linguagem s,ufocante e opaca de muitos teóricos críticos. muitas vezes utilizada pelos anti-racistas , deve ser evitada. Os escritos dos investigadores anti-racistas devem ser acessíveis àqueles em prol de quem eles dizem trabalhar, em vez de o ser apenas a académicos profissionais sofisticados. A investigação anti-racista deve ser pautada pelos princrpos -chave da teoria e da prática anti-racistas. como exposto por George Dei e outros (Dei, 1996; Dei et ai., 2000; Thomas, 1984; Lee, 1985) . Dado o seu carácte r. explicita e descomplexadame111te intelectual e político, os investigadores do anti-racismo têm de estar constantemente cientes da sua responsabilidade política e ter sempre em conta que as entrevistas de ca r iz interventivo não são uma

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licença para embelezar histórias ou relatos que sirvam os valores que defendem. Devem assegurar-se que as pessoas que estudam rejeitam qualquer noção de inferioridade dos seus saberes quando comparado com outros saberes e formas de obtenção de conhecimento. Também devem ajudar essas pessoas a perceber que elas têm capacidade para agir e que podem resistir (e têm vindo a resistir) à opressão. Ao auxiliar as pessoas alvo da pesquisa e as que acompanham a pesquisa a estabelecer as ligações entre os seus problemas pessoais e questões sociohistóricas mais abrangentes, o investigador também tem a capacidade de tornar aparente a natureza interligada das opressões e as maneiras segundo as quais diferentes formas de opressão se interseccionam na identidade e nas experiências de um individuo . Ao contrário de investigadores dominantes, os investigadores do anti-racismo não devem estudar as pessoas como se de patologias ou de problemas carentes de solução se tratasse. A opressão e a marginalização que sofrem é que são os seus problemas. Os problemas que parecem ser mais comuns entre eies são o desemprego, os delitos menores, o abandono escolar, as drogas, a violência e a gravidez na adolescência . Os investigadores que seguem a corrente oficial têm-se concentrado nestas questões, mas elas são, na sua maior parte, as consequências da opressão e da marginalização. Elas são os produtos das patologias das sociedades onde há discriminação racial. Esta discriminação racial é que devia ser o alvo príncipal de atenção, se é que se quer encontrar soluções duradouras para esses problemas. Os investigadores anti -racistas têm de compre ender que, em geral, as pessoas estudadas são vitimas de uma ordem social que descrimina racialmente e é desigual, e que não devem voltar a ser vítimas. Eles devem procurar criar espaços para o discurso e a praxis anti-racista com vista à erradicação do racismo. Por essa razão, estudar os relatos e as vivências das pessoas é apenas uma parte; a outra parte é estudar como elas são oprimidas. inferiorizadas. desprovidas de legitimidade e marginalizadas. Limitar-se a perceber as consequências da opressão não chega. As causas da opressão, como funciona a opressão e como

é perpetrada são questões essenciais para se c ompreender a fundo e erradicar a opressão. Essa compreensão irá ajudar o investigador a enquadrar perguntas e a perceber a racionalidade de certas respostas dadas pelas pessoas, bem como soluções para problemas que as pessoas possam estar a enfrentar. Irá ajudar os investigadores a ir mais além da camada oficial para conseguirem saber aquilo que lhes não é dito, ou o que as pessoas entrevistadas possam estar a deixar passar despercebido. A investigação anti-racista deve ter em conta a totali· dade das pessoas entrevistadas, incluindo a sua espiritua lidade. Tal como é explicado por George Dei e outros, a espiritualidade está ligada à pessoalidade e ao lugar que a pessoa ocupa neste mundo . Tem a ver com a forma como as pessoas estabelecem ligações entre corpo e alma, o sentimento de Totalidade. a reltação entre a pessoa e o que a rodeia , incluindo seres da mesma espécie. A c ompreensão que uma pessoa tem do eu, as ligações fam iliares, com a comunidade e com o ambiente c ircundante, são tudo aspectos da espiritualidade da pessoa. Neste contexto há uma necessidade de examinar de que forma a espiritualida de de um grupo tem influência sobre a sua experiência de opressão, e de que forma a opressão racial tem influência sobre a espiritualidade (Dei er ai. . 2000; Gadgil , Berkes e Folke, 1993; Vardey, 1996; Kolander e Chandler, 1990, citado em Dei et ai. , 2000) . Quando feita como deve ser, a entrevista aprofundada de cariz interventivo fornece não só uma compreensão pro funda e detalhada dos processos sociais e descobre novos conceitos, categorias e temáticas (Cuadraz e Uttal, 1999, p. 1 62), como também tem potencial para despertar as consc iências das pessoas. Passa a ser mais numa troca do que apenas uma extracção unilateral de informação a partir de sujeitos apáti cos. Isso acaba por compensar o tamanho das amostras, a taxa de representatividade (ou generalização estatística) e os grupos de controlo (Cuadraz e Uttal, 1999). Os investigadores anti-,acistas que consideram que a comparação é fundamental podem enveredar por um tipo de comparação diferente. Usando os tipos ideais de Weber ou de Marx. por exemplo, podem comparar sociedades ou

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de grupos minoritários a realiza r estudos sobre si próprios, para melhor compreender essas mesmas promessas e perigos. Vejamos primeiro os potenciais perigos. Um é o senti mento de Impotência que as pessoas muitas vezes sen tem face ao investigador. Sendo os próprios investigadores membros de minorias, podem ser vistos como impotentes para fazer alguma coisa a respeito das questões que investigam . As pessoas sabem onde res ide o verdadeiro poder. Podem já ter sido alvo de várias investigações anteriores por parte de quem detém realmente o poder e não ter - na sua opinião - tido nada para mostrar. Se bem que isto pouco possa ter a ver com a competência e a integridade do investigador, esta noção. juntamente com o legado das pesquisas de grupo dominantes, pode afectar as respostas que são dadas ao investigador anti-racista interno. Esta tomada de consciênc ia pode incentivar o investigador interno a exagerar os potenciais efeitos da pesquisa com o propósito de conseguir melhor cooperação por parte das pessoas. O investigador tem de resistir a isto. O investigador tem de se assegurar que as pessoas não vêem promessas irrealistas no processo de investigação. A s pessoas não devem ser ludibriadas para cooperar com o investigador . Outro perigo reside no legado da opressão colonial e do racismo. Por vezes torna-se mais fácil para o investigador dominante conseguir informação junto de uma comunida de ou instituição minoritárias do que para um investigador pertencente a esse grup o minoritário, dados o legado do colonialismo e as existentes desigualdades de acesso aos recu rsos e ao poder. Ainda a respeito do descrito no parágra fo anterior, o investigador do anti-racismo pode ainda ser tratado com desprezo pelas pessoas estudadas, compa rativamente com investigadores dominantes - como cons tatei ao entrevistar o presidente da Nigéria Olusegun Obasanjo em 1992 (então um chefe de estado militar aposentado) e outras pessoas. Os investigadores anti-rac istas podem ainda - como é muitas vezes o caso - dispor de menores recursos relativamente aos investigadores dominantes, pelo que podem não consegui r obter respostas nem demonstrar gra tidão por elas, dessa forma penhorando relações futuras, incluindo coope ração na investigação.

Mas isso pode também ser uma vantagem. Pelo menos, garante que as respostas obtidas não são promovidas por recompensas ou promessas de recompensas. Existe também o desafio de os investigadores obterem as opiniões sinceras das pessoas sobre as questões quando elas e os investigadores se "conhecem" tão bem uns aos outros e às experiências uns dos outros (e talvez até as opiniões). As pessoas podem não se sentir à vontade para fa lar abertamente com o Investigador. Existe também o risco de o investigador anti-racista se tornar parte da história, sendo "sugado" até um ponto que o impeça de recolher informação baseada em factos . Por exemplo, quanta compaixão deve o investigador mostrar durante a entrevista, em especial quando a cultura das pessoas estudadas as leva a contar com ela? O Investigador deve ser capaz de expressar a compaixão que se espera culturalmente que expresse enquanto mantém o seu olhar fixo nos objectivos da pesquisa, ou seja, recolher e fornecer informação que ajude a provocar mudanças reais na situação das pessoas. O outro desafio reside no risco de os internos se transfo rmarem em informadores Infiltrados no grupo que estudam e ao qual per tencem. Podem muito bem tornar-se recolecto res de dados ou "espiões· intelectuais que irão fornecer mais poder ou meramente entreter os dominantes. Mas há vantagens importantes no es tudo de grupos m inoritários por parte de membros desses grupos. Em cada conversa tida no seio de cada cultura e grupo social, há sempre as palavras que não são ditas, o espaço nas entrelinhas que cabe ao outro interlocutor preencher. Isto é semelhante àquilo a que os etno-metodologistas chamam "etceteras•. Como é que o investigador reage mediante "etceteras· (expressões como "Tás a ver o qu' eu quero dizer")? Será que essas expressões seriam usadas da mesma forma com um Investigador externo? De que modo iria o investigador estranho entender essas expressões se elas fossem usadas? O que é que se perderia se elas nem fossem usadas por causa de ser O· investigador um externo? E há também a linguagem corporal que alguém culturalmente estranho não consegue captar: abanar com a cabeça para a frente e para trás, piscar os olhos. esfregar as pálpebras

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ou as mãos - tudo isto faz sentido para alguém "dentro" da cultura, mas não para alguém externo. Alguns dos primeiros antropólogos tentaram dar a volta a estes desa· fios (especialmente toda a questão da manifestação e das funções latentes das práticas sociais) indo viver durante um ano ou mais junto de sociedades que estudavam. M as poucas pessoas conseguem acreditar verdadeiramente que a duração dessa estadia possa erradicar tota lmente o rótu lo de "estranho no meio de nós". Muitas vezes as pessoas sabem instintivamente o que não pode ser dito à frente de um estranho, por muito bem intencionado, amigável ou assimilado que esteja. Depois há as emoções, a raiva, o sofrimento, a compai xão, as súplicas. os "outra vez não" e "eles não querem saber• que eu ouço das pessoas que entrevisto, que não ouço quando entrevisto pessoas para quem estas questões são estranhas. Duvido que investigadores externos passem por estas ex periências da mesma maneira. A parti· lha de identidade com o investigador incentiva as pessoas a ex pressar essas emoções que deveriam fazer parte dos dados ou. pelo menos, ajudar a dar sentido aos dados ou a contextualizá-los. Ê por causa desta partilha de Identidade que os investigadores anti-racistas estão mais empenha· dos politicamente em erradicar o racismo. Para eles. a neutralidade face à opressão equivale a cumplicidade nessa opressão. Eles não se podem dar ao luxo de abordar o seu trabalho como meros "profissionais" que estão "só a fazer o seu trabalho " . Os investigadores anti -racistas sabem a partir dos livros de História (escritos na sua maior parte por euro-americanos) que os vencedores raramen te escrevem a história dos vencidos com luzes brilhantes. O melhor que o vencedor costuma admitir é a nobreza e a serenidade que os vencidos tinham na sua "selvajaria" ou "estupidez•. Também há questões de ética e de moral. Se os externos não conseguem conhecer os internos tão bem como os internos se conhecem a si mesmos, será justo confiar no conhecimento dos externos em políticas que afectam os internos? É claro que isto pode ser contrariado com a afir· mação de que os externos 111ão têm necessidade de conhe cer pessoas oriundas de grupos minoritários tão bem como

os internos desses grupos para as poder estudar, mas será correcto que os ex ternos se tornem peri tos nos internos, quando os internos nem sequer têm a possibilidade de se tornar peritos nos externos? A lém disso, para que propó sitos seria usado esse conhecimento ? Os investigadores anti-racis tas não podem dar-se ao luxo de faze r investigação só por fazer investigação; têm de ajudar a erradicar a subjugação racial. É mais provável que o interno se preocupe com os efeitos da investigação junto das pessoas. Será que a investigação conduzida por internos é menos válida por ter sido conduzida por internos? Será que deveria ser mais vá lida só quando realizada por externos, muitas vezes com mais poder e dispondo de mais recursos . como publicação de folhetos? Shulamith Rienharz ( 1979) defende de forma justa que se deve realizar investigação que seja relevante/útil para o grupo a ser estudado e, por consegu inte, a proximidade a esse grupo e às pessoas que o constituem é essencial. No anti-racismo acontece muitas vezes o interno ser o mais próximo da questão/das pessoas. No campo, os investigadores aconselham conexão, familia-

ridade com as pessoas/questões, pelo que isto é também um caso para a primazia do in terno. Resistir a Isto parece ser uma questão mais polít ica ,que outra coisa. Denzin ( 1978) observa que as pessoas tendem a puxar as conversas para si, aportando género. raça, c lasse social e por ar fora. E de acordo com Pamela Fisherman ( 1978) os homens aportam mais poder às conversas. Nós também sabemos que os dominantes aportam mais poder às conversas com os dominados, como bem sabem as pessoas negras que tenham estado presentes em reun iões de sindicato e feministas negras que participam em reuniões de feministas na América do Norte. Isto é certamente um apelo à necessidade de investi gadores internos. É normalmente o dominador quem nomeia, certif ica ou retira certificado , quali fica ou desqualifica os dominados. Os dominadores encurralaram historicamente o mercado para o estudo dos dominadores e dos dominados; no entanto, os dominadores não consegu iram ve r este quase monopólio de si mesmos e dos noutros" como sendo problemático intelectual. ética e moralmente. M as estes são os tipos de

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acusações que se fazem contra os dominados que estudam os dominados. Poucos duvidariam que a indagação critica feminista, em particular a teita por mulheres, enriqueceu as ciências sociais, bem como a nossa compreensão da sociedade e da sala de aula. Mas ainda não fez o suficiente para reconhece r que o género está diferenciado racialmente e por classes, nem para agir em reacção a esse reconhec imento. O que estas promessas e desafios significam é que, apesar de haver vantagens inquestionáveis de que seja o interno a levar a cabo a pesquisa sobre um grupo minoritário, há desafios que exigem precaução, preparação e compromisso. Também significam que os estudiosos dominantes podem e vão continuar a estudar as minorias raciais. M as esses estudiosos dominantes têm de tornar pública a sua posição e reconhecer que estão a abordar o trabalho a partir de posições de privilégio e, poder, e que o seu trabalho pode estar, de facto, limitad o pela sua posição de externo/ poderoso/dominador. M ais importante, eles têm de questionar os processos e estruturas que os colocam em posição de estudar as minorias, assumir o comp romisso político necessário para obter uma compreensão mais profunda das experiências das pessoas oriundas de minorias e estar disposto a assumir os riscos associados a fazer trabalho anti-racista. Por isso, em alguns casos pode ser necessário que as pessoas tenham um papel activo na decisão de serem estudadas por externos. M as será contraproducente para as pessoas reconhecer mais mérito ao trabalho dos externos do que ao dos internos por causa do maior poder e recursos à disposição dos externos, que lhes permi te impor a sua vontade sobre os restantes.

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:: Ordem no K.O.S. 1 Da raca, da fúria e do método. , Gurpreet Singh Johal

"Não podemos viver e vide sem es nossas vides". Audrev lorde, "Sister Out$1der ..

Este texto continua diálogos que se iniciaram muito antes de ter entrado neste mundo. Trata-se de uma v iagem para descobrir um conhecimento do "eu" (K.O.S. 2 1 que possa trazer ordem à vida. É uma tentativa de alímentar um eu que não se encontre separado do resto da vida. O conhecimento

1 : : N. T. Jogo fonttlco em língua lngle5'!, que todavia não funciona em Portu· guês. ' K.O.S' lê·se / kojosl • caos . 2 :: N. T. Knowledge ol sei/.

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pessoas brancas incitam-nos a permanecer cúmplices dos seus esfor-

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ços pare colonliar. oprimir e explorar". (p. 161

hooks afirma ainda que o processo político de descoloni zação não só permite que vejamos as coisas de um modo c laro, como também constitui um caminho para a liberdade tanto para o colonizado como para o colonizador. Os indivíduos que descolonizaram as suas mentes fazem com que seja passivei que a fúria seja ouvida e usada construtivamente através de um trabalho conjunto. Malcolm X serve como uma figura primeira na clara articulação desafiadora desta forma de fúria. Descaradamente pediu que as pessoas negras afirmassem a sua subjectividade emocional através da afirmação da sua fúria.

A seguinte afirmação de hooks permite-nos começar a ver a fúria como algo de produtivo. As palavras da autora aludem à urgência e à necessidade de reclamar a fúria: "Enquanto a fúria negra continuar a ser representada como sendo sempre e unicamente má e destrutiva, faltar-nos-á uma visão de militância que é necessária para a acção revolucionária transformativa# (p. 19). Paul Harris (1997) oferece uma crítica da utilização mainstream da fúria negra. O seu uso da "defesa da fúria negra" no aparelho íudicial norte-americano:

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Foi dito que ignorar a raça é um pri v1légio que só as pessoas brancas têm. Esta defesa força os brancos a, durante um momento critico no tempo, desistirem desse privilégio e pensarem sobre as consequên· cias de um sistema de supremacia branca•.

Harris também afirma que: "lamboral o uso do termo evoque violência , Imagens agressivas, a defesa da fúria negra abrange uma visão mais ampla da vida afro· -americana do que apenas a fúria e e violência. Inclui o orgulho na herança . Explica o desespero e lança luz sobre a escuridão do medo e do abuso. Acima de tudo, diz ao sistema legal americano: não me podes condenar sem ouvires quem sou e o que me moldou. Nilo nasci com uma carabina M-1 nas minhas mãos. Os meus sonhos de infância não Incluíam roubar um banco•. (p. 371

Harris nota que a fúria negra é a fúria dos oprimidos. É cultivada num ambiente opressivo. Na era neocolonial, todos aqueles que sofrem da supremacia branca, do cap italismo, do patriarcado e da homofobia são oprimidos. Tal como foi mencionado no início deste capítulo, o meu enfoque reside sobre os grupos de cor em relação à brancura. Por conseguinte, por muito que as pessoas brancas no contexto de diferenças de classe, género, sexualidade, etnicidade ou religião possam ser oprimidas em relação ao

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sujeito masculino, heterossexual. dominante, branco e de c lasse média mantêm um passaporte pigmentário de privilégio que permite a santidade como resultado da constituição política racial da brancura. Trata-se de um luxo que as pessoas de cor não têm. Esta é a questão central sobre a qual centro a minha análise rneste texto. Uma pedagogia da túria insiste num compromisso incondicional em relação à justiça. A justiça não é algo que esteja apenas disponível a um grupo seleccionado de seres neste planeta. Apesar de os sistemas de opressão tentarem assegurar a justiça como "apenas nós•, uma pedagogia da fúria constitui um catalisador instrumental de oposição.

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não se subordinem sob uma subjectividade genérica que assuma a capa da inocênc ia. O que pretendo deixar aqui explícito é que muitas pessoas de cor estiveram e estão implicadas em garantir o progresso pessoal de pessoa s brancas. O " Racial Contract" de Mills refere -se a esta situação como sendo uma na qual a condição bran ca oferece recompensas a algumas pessoas de cor à custa de out ras. Isto pode ser observado nos seguintes exemplos: ( 1) pessoas de cor a tentar granjear respeitabilidade burguesa mas, na verdade, acabam por favorecer a op ressão de outras comunidades de cor; (2) homens de cor, operando sob a égide do patri arcado para garantir o domínio masculino também favorecem a opressão das mulheres de cor; (3) pessoas de cor que operam segundo discursos heteronormativos naturalizados da sexualidade e, desta f orma, demonizam membros homossexuais da comunidade. Em todos os casos é preciso trabalhar no contexto do quadro de referência da co ndição branca pa ra ga rantir que surge uma mancha na capa do status quo (Fellow & Razack, 1 998) . Nós, enquanto pessoas de cor, temos de reconhecer que, apesar de sermos todas op rimidas pelo sistema da supremacia branca, os no ssos priv ilégios podem chega r até nós às custas de outras pessoa de co r . Alimentar a fúria dos op ri midos requer uma ética do amor que permita às pessoas de cor, d ife rentemente privilegiadas e opri midas , experimenta r a título ind ividual a dor co lectiva de todas as pessoas de cor. Esta não é uma tarefa fácil, principalmente devido aos esforços pessoais e colectivos que são um pré-requisito para a limpeza da mente co lon izad a . Como afirmou Mal colm X, nós "temos de mudar a nossa própria mente .. . nós temos de mudar aquilo que pensamos uns dos outros. Temos de nos ver uns aos outros com olhos novos. Temos de nos aproximar com calo r ... " (como citado em hooks, 1995, p. 146) . T emos de ser capazes de estabelece r ligações po r entre as ''nossas histórias", de ver como o patri arcado é vital para reproduzir certa s noções de nação que mantêm as mulheres de co r reféns - Radhika Mohanram ( 1999) documenta como as mulheres de co r acaba m por incorporar o espaço da nação em discursos de libertação nacional; desta forma, uma das responsabilidades

dos homens de cor é a de romper constantemente com os papéis destinados a elas pelas culturas das sociedades de colonos ocupadas no Canadá e no s Estados Unidos. Temos de ver até que ponto os relatos naturalizados de heterossexualidade são necessários para a reprodução da supremacia branca através dos dis curso s dominante s dos valo res da família. As pessoas de co r t êm de pôr em causa estes discursos natura lizado s e questionar a nossa própria cu mplicidade na s práticas hetero norm ativas que continuam a marginal izar as pessoas de cor homossex uais . Quão natural é a heterossexualidade? T ão natural co mo ser-se branco , acho . A dor de um de nós é a dor de todos nós . Temos de reconhecer a nossa dor e chamá-la como tal . Só então poderemos ver como há outros que também sofrem. bell hooks fa z-nos lembrar que " não é fácil dar um nome à nossa dor, fazer dela uma locação a partir da qual se teorize " (p. 74}. Patri c ia W illi ams ( 1991 } escreveu que até aqueles de nós que estamos conscientes acabamos por sentir a dor provo ca da por todas as forma s de dominação (homofobia , exploração de classes , racismo , descriminação sexual, imperialismo}: " Há momentos na minha v ida em que sinto como se fa ltasse uma parte de mim . Há dias em que me sinto tão invisível que nem me lembro que dias da semana são, em que me sinto tão manipulada que nem me lembro do meu próprio nome, em que me sinto tão perdida e zanga da que não sou ca paz de dirigir uma palavra delicada às pessoas q ue me querem bem. Há aquelas alturas em que capto o meu reflexo nas montras das lojas e f ico espantada por ver uma pessoa completa a devolver-me o olhar ... tenho de fec har os olhos a esses momentos e lembra r-me de quem sou, desenhar um padrão interno que seja suave e co mpleto " . (p . 228)

A fúria dos oprimidos é carburada por um amor que é articu lad o por acções de resi stên cia. Nesta era neo colonial, o amor do próprio constitui uma séria ameaça aos sistemas de opressão vigentes. O amor é uma forma de res ist ência po lítica tão poderosa po rque não pode nunca ser extinta, depois de ateada . A utilização que Che Guevara

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e Paul o Freire fi ze ram do conceito de amor revo lucionári o está bem documentada no texto sobre pedagogia da re v olu cão de Peter M c l aren (2000). O amor revo lucionário ' na sce do diálogo , da reciprocidade , da auto -reflexã o e d a memória hi stórica co lect iva. M c laren observa que:

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sobreviveu a tentativas de o extinguir e apagar dos arquivos dos f eitos humanos ... se por um lado muitas vezes abandonamos a esperança, por outro lado nunca somos abandonados pela esperança". (p. 172)

Reivind icar a identidade própria a partir das forças o bj ectifi cantes da opressão sistemática co nstitui a instituição que é a pedagogia da fú ri a. Um a pedagogia da fúri a exige inc o ndic ionalmente uma rec usa firme do estatuto de subpessoa g ravado nos nossos corpos de co r pela sup remacia branca. O processo de nos reivindi ca rmo s a nós mesm os do olhar dominante é um a pedagogia da fúria .

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: : Pedagogia da fúria "A sobrevivência não é uma competência académ ica". A udre Lorde, "Sister Outsider".

Nesta secção não proponho um quadro de referên cia coeso e exaustivo para o engajamento co m a pedagogia da fúria, mas pretendo realça r alguns pontos-chave que podem alimentar a nossa raiva pessoal e co lec t iva. O uso

que eu faço do conceito de pedagogia tem a ver com a necessidade de as pessoas de cor serem ao mesmo tempo reflexivas e pró-activas. Todos os nossos mecanismos de resistência pessoa is e colectivos, bem como os métodos de negociar a resistência às condições de opressão em que nos encontramos, devem ser constantemente al imentados . A s secções segu intes sintetizam pontos que podem prestar auxílio a esse esforce . Mas antes de . de alim entacão ' continua r , gostaria de sublinhar o seguinte: caso não tenha ainda fi cado bem cla ro, o objectivo deste documento é dizer àqueles tipos que se rebaixam serv ilmente, que se desorientam, sentem ressentimento e/ou que reagem às c ircunstâncias quando a fúria dos oprimidos não vaci la ao olhá-los olhos nos o lhos - nós não vos vamos fa ci litar as coisas. Nós não vamos adoçar as nossas experiênc ias de vio lência, dor e raiva. Só vamos falar contigo se estiveres disposto a ouvir o idioma das nossas línguas. Não achamos que p recises do luxo de um traduto r. Por isso é melhor que acredites que vamos ter contigo e soltar a nossa fúria se te apresentares como o sabe-tudo, ou quando nos qu iseres dar a tua opinião sobre as nossas vidas, ou quando disseres que reconheces a tua pos ição de sujeito e depois contin uares a fazer o que semp re fizeste. Népia, não vamos adoçar a nossa caca para ti.

: : Reclamando o TODO de nós "We refuse to be what you want us to be, we are what we are, and 4

that's the way it's going to be ". Bob M arley, " Babylon System"

Existe um espaço reservado a pessoas de co r no seio da ' imaginação da condição branca. E o espaço para o símbolo, para o porta-voz, o exótico e a ameaça. Os três primeiros dispõem de espaço lim itado e só há lugar para uns poucos .

4 : : N. T. O equivalente em Português será Recusamo-nos a ser o que queres/m que sejamos, nós somos o que somos e é assim que vai ser.

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O "Contrato Racial " de Mills demonstra a necessidade que há de a violência conter e regular os elementos de co r na era neocolonial. Estados ocupados por colonos, como o Canadá e os Estados Unid os , têm orgulho nas suas instituições " democráticas liberais " enquanto ga rantes de tradições de demo crac ia e justiça. No entanto, o legado histórico da sup ressão de pessoas de co r e das Primeiras Na ções, movimentos centrados nestes territórios ocupados, ilustra que a democracia e a justiça estão reservadas àqueles que desejam servir e manter o sistema tal como está. Basta olha r para a História Contemporânea da resposta do esta, do ao Movimento lndio ame ri cano em Wounded Knee em 1973, da resposta da polícia de Filadélfia à organização MOVE em 1979 e 1985, do exérc ito Canadiano a Oka e ao Lago Gustafson em 1 990 e 1 995 para ver o funciona mento íntimo de sistemas opressivos na era neocolonial . o sisteOs discursos oficiais nos meios de comunicacão, • ma penal (criadores das leis, agências policiais e governo) - todos trabalharam colectivamente para censura r e co nter quaisquer ameaças à ordem racial das coisas . Censura r e/ou conter respostas militantes à forma como os brancos fazem as coisas, ga rante que não haverá qualquer tentativa de revolução para reunir a raiva e usá-la no sentido de mudanças sociais construtivas. Por muito perpétuos que sejam, os incidentes violentos servem de lembrar com alguma severidade que devemos assumir uma posição , dizer o que pensamos e decidir se vamos se r cúmplices ou se vamos res ist ir. Lo rraine Hansberry (citada por bel l hooks, 1 990b) faz eco da necessidade de espírito militante ao escrever em 1962: " As c ondiç õ es do nosso povo exigem aquilo a qu e só podemos chamar atitudes revolucionárias ... os negros t êm de se ocupar d e todos e quaisquer meios de luta: legal, ilegal, passi va, activa, violenta e não-violenta. T êm de assediar, debater, fazer peti ções, dar dinheiro para acções em tribuna l, sentar-se, deitar-se, ataca r, boicotar, cantar

hinos, rezar em escadas - e disparar a partir das suas janelas quando os racistas atravessarem as suas comunidades ... a aceitacão da • nossa condição actua l é a única forma de extremismo que nos desacred ita perante os nossos fi lhos". (pp. 186- 187)

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Uma pedagogia da fúria reconhece a ne cessidade de militância, dadas as técnicas extremas de contencão e • co ntrolo utilizadas na era neoc o lonial. A vio lência que nós experimentamos numa base contínua e actual exige que nos defendamos a nós mesmos, bem como aos que amamos. Neste de ste co ntexto , o pacifismo (a aceitação que uma pessoa faz da sua co ndição , como sendo inevitável e imutável) tem de ser visto como uma pato logia (Church ill e Ryan, 1 998) . Não se pode ofere cer a outra fa ce quan do já não há mai s nenhuma face para oferecer. Uma vez mais, recorro às palavras d e Mal col m X: " não ac redito em nenhuma fo rma de extremismo injustificado, mas acredito que quando um homem [ou mulher] exerce extremismo, quando um se r humano exerce extremismo em defesa da liberdade para seres humanos, isso não é nenhum defeito . E quando se é moderado na perseguição de justiça para os seres humanos, eu digo que e le/ a é um /a pecador/a" (1970, p . 144). A História destas terras ocupadas é de extremismo. Quaisque r tentativas para conseguir prog resso social por intermédio de refo rmas institucionais moderadas são um retro cesso . Desde o tempo da oc upa ção colo nial d estas terras, os espaços ocupados têm sido extremos. Pes soas que operam sob a égide da cond ição bran ca têm usado de forma errada o seu poder (ou têm-no utilizado de forma egoísta às custas de pessoas de cor e de co munidades das Primeiras Nações) . As suas tácticas de gestão espacial são extremas . A única f orma de contrariar este abuso é através da mudan ça; a úni ca maneira da mudan ça chegar é através de métod os extremos .

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E se nós criamos falsas memórias?

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Isso é pior. Isso é assassínio ".

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A. Sivanandan, "When M emory Dies"

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Devemos estar dispostos a lembrar e tentar seguir as pegadas de todos aqueles que derramaram o seu sangue para desbravar o caminho por nós . Temos de resist ir às distorcões neocoloniais das "nossas histórias". A memória é um sítio-chave de res istênc ia que requer ser constante alimentado numa era em que somos inund ados com discursos oficiais que oferecem memórias falsas, truques com câmaras de filmar e lentes cor-de-rosa com as quais podemos ver os nossos passados. Toni Morrison ( 1990) capta este sentimento: I

"· Mas larguemos um véu por sobre estes acontecimentos terríveis de mais para serem narrados· ... Ao moldar as experiências de modo a torná-l as agradáveis àqueles que estavam em posi ção de trazer alívio, eles calaram-se sobre muitas coisas, e 'es quece ram -se' de muitas outras coisas". (p. 301 )

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Dito isto, temos de ser prudentes com a adve rtência de Franz Fanon , que nos avisa contra o recontar do nosso passado como sendo uma era de ouro unificada (Fanon, 1963). Nós, enquanto pessoas de cor e comunidades das Primeiras Nações, não partilhamos um passado mítico por entre todas as nossas diferenças - género, orientação sexu al, cu ltura, religião. T emos, sim , uma h istória partilhada , não obstante haver sido experimentada de forma diferente, de termos sido oprimidos na era co lonial e na neocolonial. Temos de extrapolar as nossas histórias de luta partilhada , bem como aqueles momentos em que fomos cúmplices na opressão uns dos outros . Em resumo, tem os de estar dispostos a dialogar como se fôssemos irmãos há muito tempo perdidos que se encontraram depois de te rem sido separados por um sistema apostado em manter-nos afastados.

A dor suportada pelos nossos antepassados pa ra que nós hoje pudéssemos sentar-nos e comun ica r juntos não pode ser esquecida. Temos de impulsionar este espíri to colectivo para que ele possa correr nas nossas ve ias agora. Temos de estar dispostos ao sacrifício sem hesitar e sem temer a morte. T emos de ver a morte como parte da vida; algo que devemos receber de braços abertos e para onde caminhar. De que serve vive r se uma pessoa não está disposta a arri scar o conforto em prol de melhoramentos para si próp ri o e para os outros co lectivamente? Há um cartaz de um mártir revolucionário que está pendu rado numa pa rede da casa da minha família há alguns anos. No ca rtaz está escrito o segu inte: " Eu não temo uma morte física. Mas uma morte da consciênc ia é uma morte ce rta. " Os m ortos vivos estão a toda a nossa vo lta. Eles são aqueles que dão mais va lo r ao lucro pessoal e à propriedade que ao bem-estar da vida neste planeta. A recordação do nosso passado e a percepção c rítica do nosso presente são vitais para garantir que somos capazes de dar forma a uma consciência colectiva . Para os oprim idos, o trauma assoc iad o à dor e ao sofrim ento do passado tem de se juntar ao amor do presente. Só então será possível impulsionar a nossa fúria e lutar pelo futuro. Relembro um dito orwe lliano que tem andado às voltas na minha cabeça há já algum tempo : "Aqueles que contro lam o presente, contro lam o passado. Aqueles que controlam o passado , controlam o futuro . " Um a pedagogia da fúria o ri enta uma luta pela tomada de pos ição na guerra da memória da era neocolonial.

: : Sobrevivendo juntos "Eu sou de uma ilha cuja História está mergulhada nos abusos do imperialismo ocidental, cujo povo ainda sofre com as deformidades causadas pelo colonialismo euro-americano, velho e novo. No entanto, ao contrá rio de muitos libertários do terceiro mundo, eu não posso reivindicar ser descendente de nenhum ram o em especial, nobre ou ignóbil. No entanto, sou ·de criação pura ·, descendente de todas as partes envolvidas naquela época cataclísmica . Eu desespero, porque

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as várias partes que me constituem exigem v ingança por ter sido

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alma chora a parte de mim que foi destruída por aquele instrumento

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obsessão pelo lucro do domínio e da probidade · brancos'. A minha

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ca loso ... a arma de fogo, o c hicote, o livro. A minha mente , ecos com

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o som da ruptura , da profanação, da des trui ção".

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Rose Villafane-Sisolak, citada em Anzaldua , "Making Face , M aking Soul "

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A necessidade que as pessoas têm de reconhecer quaisquer f o rmas de privilégio que possuem em rela ção a outrem é essencial pa ra orientar uma pedagogia da fúria . Temos de trabalhar juntos se quisermos ver alguma mudança na maneira de funcionar das co isas na era neo-colonial . Por isso, quem quer que detenha privi légio, quer seja pela cor da sua pele , género , orientação sexual, classe socia l, competênc ias ou idade, tem de reconhecer o seu privilégio como ta l e assumir responsab ilidade por ele . Dizer simplesmente que se vai fazer alguma coisa não vai servir de nada . O mero reconhecimento sem qualquer compromisso firme co m mudan ças materiais e/ou pessoa is significa politizar os movimentos camaleón icos que permitem a uma pessoa co m privilég io parece r progressista e preocupada com o bem -estar dos outros num determinado momento no tempo e no espaço, mas que não faz nada quando surgem momentos de possível ruptura no seu espaço de conforto pessoal . As atitudes politicamente correctas dizem às pe ss oas aquilo que elas querem ouvir sem revela r o que está escondido por detrás di sso : "eu escuto e sinto a tua dor e apoio-te, mas não vou fazer nada para te ajudar , se isso significar abandonar alguma co isa. " Não se pode simplesmente admit ir que se detém priv ilégio e continua r a fazer o que sempre se fez . A acção é a úni ca forma de medir o grau de compromisso dos privilegiados nos seus esforços pa ra retira r à sua po sição a no ção de que ela é natural. Uma pessoa não se pod e considerar aliada se estiver a contar que o mundo co ntinue a girar à sua volta. Pensar nos outros e mudar aquilo que sempre se fez é uma parte do pro cesso de amar necessá rio para a concretização de ligações espirituais. Isto é essenc ial para qualquer conversa sobre t ransgressão ou hibridização. Os actos mudam de

acordo com a necessidade de uma so lid ariedade na qual a sobrevivência de cada um depende da sobrevivência de todos. Só se vai entender o privilégio através da experiênc ia e da luta contra o sistema de opressão que possibilita esse privilégio. A questão de esquecer o privilégio é a mesma de esquecer o racismo , a descrim in ação sexual ou de qualquer outro aspecto da "divisão dos ismos". Não consegue fazê -lo? , E um erro pensar que se pode esquecer o privilégio que se detém . Yvonne Bown ( 1 997) expõe o seguinte :

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"E um erro pensar que se pode desaprender o racismo [ou qualquer outro 'ismo'], ainda não existe nenhuma teoria que diga que isso é possível. Uma vez aprendidas atitudes e comportamentos ra cistas, estes ficam disponíveis na memória para ser recuperados quando as condições socioeconómicas forem ideais para os fazer surgir. No en tanto, conhecer e compreender todos os aspectos do racismo dá ao indivíduo hipóteses de escolha de comportam ento e dá-lhe as bases para o pensamento crítico em todas as situações sociais e pessoais". (Brown, 1997)

Para ultrapassar a questão da culpa e do ressentimento, as pessoas que detêm privilégio têm de assum ir responsabilidade por todos os seus actos ou falta deles. Elas têm de comp reender e assumir as responsabilidades po r uma estrutura que não criaram, mas da qual beneficiaram. Não podem estar à espera que quem foi vítima desse privilégio lhes mostre como fazê-lo . Esta é uma v iagem pessoal que acabará por juntar as pessoas na luta contra sistemas de op ressão que desuman izam todos quantos estão envolvidos nela. Trair a respeitabi lid ade burguesa (condição branca, patriarcado, heteronormatividade, capitalismo) é ser-se leal à Hum anidade . Uma vez mais invoco as palavras de M alcolm X ( 1970): "E, na minha opinião, ó jovem geração de brancos, negros, castanhos, e o que mais houver, vocês estão a viver numa época de extremismo, uma época de revolução, uma época em que tem de haver uma mudança. As pessoas que estão no poder têm-no usado de forma errada , e agora tem de haver uma mudança e um mundo melhor para

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vel que existe nesta Terra". (1970, p . 182)

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: : Conclusão

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Antes de se poder estabelecer uma solidariedade e uma aliança duradouras e significativas entre pessoas brancas , pessoas de co r e comunidades das Prim eiras Nações, muitos de nós têm de estar dispostos a reconhecer a nossa própria cumpl icidade na opressão de outros. Esta disposição só será possível se as pessoas fizerem o trabalho necessário para evita r t irar partido do privilégio que lh es é outorgado. Terá de haver um despojamento do investimento possessivo numa subjectividade dominante , mas tem de ficar claro que qualquer reconhecimento ou anulação do privilégio não é um assunto que se trata de uma só vez e já está. Faz parte de um processo vigente de descolonização . Não estará completo até que os diversos sistemas de opressão que operam na era neocolonial sejam desmantelados. Enquanto continu arem a existir sistemas de opressão, diversos privi légios associados a estes sistemas estarão à disposição daqueles que qui se rem rece ber o lu cro do seu investimento. Não basta o simp les facto de uma pessoa re co nhecer que já compreende o que sign ifica deter privilégio . Têm de estar disposta s a calar a boca , arrebita r as orelhas e demonstrar através dos seus actos o que é que acham que já sabem. A minha fúria jamais me permitirá oferecer a outra fa ce em altu ras nas quais eu estiver em posição de ser um al iado de alguém, ou quando eu for um recipiente directo da violência da era neocolonial . Consoante as circunstâncias, dec id irei o meu plano de acção, mas a minha fúria jamais se extinguirá. Ela arde com tal intensidade que é pouco provável que eu venha alguma vez a compreendê-la . Isto é porque a origem da minha fúria é não só a tentativa vigente d e me respe it ar a mim mesm o no seguimento de

uma investida de vi o lência constante, mas um laco irrevo• gável c om aqueles que me trouxeram até aqu i. Tenho de me ass oc iar àqueles com quem posso dialogar, co nstruir uma comunidade e quest ionar de f o rma crítica a minha pró pria cumpli cidade . Estas almas ajudam -me a reabastecer a energia pesso al de que necessito para co ntinuar a mover-m e nesta v ida. Sei que tenho d e caminhar com c uidado , metod icam ente , e manter-me sempre co ncentrado. Eu co nsigo fazer isto por causa do meu am o r por mim m es mo e pelos outros , e a m inha presente demonstração de respeito por todos aquele s que continuam a carregar-me atrav és do rein o da lou c ura material na era n eo co lonial . Os espíritos dos nossos antepassado s tro uxeram -nos até aqui. O mínimo que podemos fazer é dar continu idade àquilo que eles sabiam ser verdade - uma verdade que se situa dentro de nó s . Uma verdade que emerge a partir de um conhec imento do " eu " interligado e traz uma ordem fundamentada ao K .O .S.

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