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Portuguese Pages [108] Year 1981
Outros livros de interesse
OS FASCISMOS T.BURONeP.GAUCHON
Uma história descritiva dos movimentos fascistasna Europa elaborada a partir de uma série de documer F que vão desde volantes distribuídos em comícios. mania X s e programas partidários, artigos em jornais anónimos X assinados. até trechos de discursos e de livros dos líderes X fas e des cismo. O método adotado pelos autoresé limpe' critivo: cada capítulo e cada seção sâo apresentados por uma
breve nota. à qual se seguemos textos-documentos ATRI)LICE ALIANÇA PETE R EVANS
A fim de analisar a recente acumulaçãode capital no Brasil à uz de suacontinuada dependência.o autor focaliza nesselivro as relações entre as empresasmultinacionais, os empresários nacionais e empresas estatais que se desenvolveram no
a classe operária::a burocracia e o est
a revolucão permanente: teoria ou estratégia?
Brasil no decorrer da década de 1979
recimento dos est
DAIDEOLOGIA CENTRE POR CONTEMPORARY
Esse livro
s dostr
cuLrunAL STuolES(org.)
aborda o constante
problema
da articulação
de
estudos culturais com algumas teorias marxistas de ideologia. Apresenta as exposições e comentários críticos de importan tes teóricos da ideologia desde Lukács e Gramsci a Althusser e Poulantzas. e uma panorâmica geral das abordagens sociológicas. Analisa, a seguir, os problemas suscitados pelas noções de "subjetividade" e "individualidade'
a crise do eurocomunismo -- cubo trotski e as conseqliências da guerra. a situacão da classe operária norte-americana três setores da revolucão mundial
a picãodo irã ZAHAR EDITORES a cultura a serviço do progresso social
MARXISMO
Marxismo Revolucionário Atual
REVOLUCIONARIOATUAL
g
l Neste livro, ERNEST MANOEL faz uma análise ampla
do cenário mundial contemporâneoe das oportunidades que proporciona a uma abertura revolucio-
nária para a democraciasocialista. Inicia seuestudo com a análise da dinâmica económica e social das sociedades capitalistas adiantadas da Europa Ocidental num período de crise. e a estratégia necessária
para enfrentar as instituições democrático-burguesas que dominam, tipicamente,
a sua vida política.
MANDEL examina o ''modelo" da Revolução Russa
de outubro de 1917, que Ihe parecemaisadequado aos países capitalistas adiantados do que às nações em desenvolvimento; analisa a experiência da demcF cracia soviética nas primeiras fases da revolução,
com o regimedos sov/etse a dualidadede governo, concluindo com observaçõessobre a crise no eu-
rocomunismo e a hegemonia do reformismoe da frente única.
Os movimentos antiimperialistas no Terceiro Mundo,
desde1945. constituem o tópico do segundocapítulo. centralizado no desenvolvimentoda teoria da revolução permanente. de Trotski. cujas origens históricas MANDEL examina desde sua formulação em
1905. como uma tentativa de identificar as forças motrizes de uma possível revolução na Rússia,chegando à conclusão de que as tarefas da revolução não podem ser as mesmas nos países subdesenvolvidos e nos países atrasados. As lições das revoluções
iraniana e cubana são comentadas. com referências
também aos movimentos no Egito. SI'ria. Moçambique e Angola.
O terceiro capítulo volta-se para as sociedadesdo Leste. nas quais o capitalismo foi derrubado. Numa análise marxista bem fundamentada. MANOEL analisa a natureza e evolução dessas sociedades -- mais
notadamente da União Soviética -- ressaltandoo seu
caráter transitório e afirmando a possibilidadee a
continua na 2Q aba
Ernest Mandei
Marxismo revolucionário Atual Tradução :
Waltensir Dutra
BIBLIOTECA DE CIÉNCIASSOCIAIS Ciência Pol ética
ZAHAR EDITORES Rio de Janeiro
Índice
l ntrodução (Jon Rothschild) Capa: Minam Struchiner Diagramação: Ana Cristina Zahar
Composição: Zahar Editores S.A.
Título original : /?eKO/ut/onary A4arx&m Toda/
Traduzidoda ediçãoinglesapublicadaem 1979 por New Left Books, de Londres. Inglaterra. © Ernest Mandei, 1979 All rights reserved worldwide b y NLB
Direitos reservados. Proibida a reprodução (Lei n9 5.988)
1981t
Direncs para a língua portuguesa adquiridos por ZAHAR EDITORESS.A.
Caixa Postal 207 [ZC-00) Rio de Janeiro
1. A Estratégia Socialista no Ocidente O "Modelo''
de Outubro
A Crise Revolucionáriae a Democracia Burguesa A Experiência da Democracia Soviética Dualidade de Poder e Governos de Trabalhadores Resultados e Perspectivasno Sul da Europa A Crise do Eurocomunismo A Hegemoniado Reformismo e a Frente Unica 2. A RevolucãoPermanenteno Terceiro Mundo Os Limites da Acumulação Dependente A Revolução Permanente: Teoria ou Estratégia? O Padrãoda Luta Antiimperialista A Lição do Irã Cuba.1959-1979 Sul da África O Aparecimento dos Estadosdos Trabalhadores 3. Os Regimes de Transição no Leste O Conceito de ''Transição" As Leis do Movimento da Economia Soviética O Caráter Social da Burocracia
que se reservam a propriedade desta versão.
A Classe Operária, a Burocracia e o Estado
Impresso no Brasii
Restauração Capitalista ou Revolução Política?
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58 6.1
68 75 82 90 93
95 100 101
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Europa Oriental A Revolução Chinesa
''Séculos de Transição''? 4. A Política do Internacionalismo Contemporâneo
Trotski e as Consequências da Guerra .. A Guerra Fria e o Longo Surto de Prosperidade A Disputa Sino-Soviética A Situação da ClasseOperária Americana Japão Três Setores da Revolução Mundial A Quarta Internacional O Socialismo que Desejamos
índice
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140 144 146 153 161
165 177 186 190 193 203
Introdução Jon Rothschild
9
marxismo revolucionário atual
8
contexto
da história
e da teoria
das crises capitalistas.
introdução comissão de estudos económicos da FGTB, a federação nacional sindical
The Z.ong }Vaves
belga. Nessa condição, foi co-autor do relatório sobre a concentração do poder económico, aprovado pelo congresso especial da FGTB em 1956.
of Cap/fa//sm l)ei'e/opment;,4 /1#arx/st V/ew (a ser publicado proxtmamen te pela Cambridge Uníversity Press),baseadonuma série de conferências
Foi também diretor do semanário Z.a Gaucbe, órgão da ala esquerdado Partido Socialista. cujos membros foram expulsos dessepartido em 1965 pela sua oposição sistemática às políticas oficiais de coalizão com o Parti-
pronunciadas na Universidade de Cambridge em 1978, representa um maior
desenvolvimento de sua pesquisateórica e empírica no funcionamento e perspectivasdaseconomiascapitalistasdoOcidente. 't"SÓ num passado relativamente recente.
porém,
, o público
.
do Social 'Cristão e às leis contra as greves aprovadas por essa coalizão
geral
tomou consciênciada importância de Mandeicomo líder político, como Lnn dos mais destacados teóricos da Quarta Internacional IQI). a organiza-
em 1 962.
Mandei vem sendo. há mais de vinte anos, participante ativo de seminários sindicais e de trabalhadores em toda a Europa, colaborando na educação de milhares de ativistas, dentro e fora da QI. O folheto /ntroduct/0/7 fo /Uarx/st fconono/cs. baseado numa apresentação feita numa dessassessões. foi traduzido para muitas línguas e vendeu mais de 400.000 exempla-
k
cão mundial criada por Leon Trotski e seuspart:dórios em 1938 para inl-
res. Eram C/assSoc/ety fo Conomun/sm(Ink Links, 1978), introdução à teoria marxista como um todo, publicada posteriormente.tem toda probabilidade de atingir níveis de difusão semelhantes.Até mesmoZ-ateCap/ta-
nou-se revolucionário eM 1939 e aderiu ao movimento trotskista em sua
//sm. um trabalho teórico difícil, foi publicado em dez idiomase vendeu
.+
cerca de 70.000 exemplares. Os trabalhos de Mandei cobrem quase todos os aspectos da política revolucionária,
zes pelos alemães, fugiu da primeira vez; ao ser recapturado,foi ''julgado '
todo: seusescritosforam publicadosnum total de trinta ll'águas.' A bur-
formalmente por um tribunal nazista e deportado paraum campode pn-
iiui iz!;:,::i's.:: 3 S$ZI
guesia reagiu a essetrabalho político ao seu modo: Mandei já teve sua en-
trada proibida nos EstadosUnidos, França,AlemanhaOcidental,Suíça e Austrália. para mencionarmos apenas alguns países "liberal-democratas
cujos governantesconsideram sua presençacomo prejudicial à ''seguran-
da organização reuniu os militantes europeus que haviam sobrevivido à
ca nacional
guerra e seus camaradas de todo o mundo, Mandei foi eleito para o órgão
li."'ini;i.;
b, l-t.,«.i.«l.
N.l. p''m;""-
Mandei está. portanto, em condições excepcionais de apresentar uma
d«d. «tã', "'"i-d.
sinopsegeral da análiseque a Quarta Internacional fez do cenário mundial contemporâneo e das oportunidades que oferece à democracia socialista.
como o relator de política internacional em cada um dos congressosmundiais. realizados a partir de meadosda décadade 1950. Com o aumento do
É essa a finalidade de /Uarx;sma cepo/uc/orar/o
Impactopolítico e do númerode membrosda Internacionala partirde
,4fua/. As entrevistas aqu
reunidas. embora realizadas em diferentes épocas e complementadas com
1968. Mandei tornou-se uma dasprincipais figuras públicas do movimento trotskista, defendendo suasopiniões contra críticas de outras correntes da movimento dos trabalhadores e contra ataques dos representantes da classe capitalista. Adquiriu, com isso. uma reputação de hábil polemista, em discussõescom adversários como Shirley Williams. do Partido Trabalhista Bri
desde a teoria leninista da organiza-
ção partidária até a natureza da burocracia do movimento trabalhista. No
perguntas adicionais, foram organizadas de modo a apresen.tar uma visão
l
sistemáticada política mundial.** A primeira trata da estratégiada revolução proletária nos países capitalistas adiantados, com especial referência à Europa Ocidental. A segunda examina a teoria trotskista da revolução per'
manqntee a estratégiaque ela impl.icaparaa luta antiimperialistae demo crática, nos paísescapitalistas dependentesdo Terceiro Mundo. argumen
crítica geral da evolução dos partidos comunistas da Europa Ocidental na década de 1970. .. . . . Embora a Qt tenha sido o centro da atividade política de Mandei, ele teve também influência significativa êm outros setores. Durante as décadas
de 1950 e 1960, quando os trotskistas belgasparticipavam ativame.ntedo Partido Socialista. ele mergulhou no movimento sindical, como membro da
$
. + Versões anteriores de partes dessasdiscussõesforam pub.Bicadas na revista Cr/t/que Commur7fsN tParis) e. em inglês, na /Vew Left Rer;ew { Londres)
marxismo revolucionário anual
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tendo que astarefasdessaluta só podem serconcluídas atravésda revolução À memória de .JABRA NICOLA
árabemarxista e palestino trotskista pioneiro o internacionalista mais impressionante
que conheci. 'b
IRHgl%il$! ilh: '+
''>
tra ba Iho ?
1.
A Estratégia Socialista no Ocidente
]
lucro mundial? A revolução mundial é um processo objetivo que dominou a história do
século XX. Mas a revolução mundial, como a economiamundial a que corresponde, se desenvolve de maneira desigual. Até agora. as revoluções socialistas -- mov mentos que envolveram a ação de massana eliminação do
capitalismo. mesmo que tal ação estivesseem grande parte controlada de forma burocrática -- ocorreram em paísesrelativamente subdesenvolvidos :
:=ull::==:' '.:=:'',=ln:i'=:==.=='" : .':'nll;.;:;;l: dado urbano -- e mesmo na Rússia. essa classe era socialmente fraca. t
apesardo papel político de liderança que desempenhou.As principais formas de luta' revolucionária e as características centrais dos Estados que surgiram dessas.revoluções foram influenciadas de maneira decisiva por esses fatores.
Embora os marxistas revolucionários devam explicar as causasdessa evolução, em caso algum devem .sugerir que o curso específico da revolu-
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marxismo revolucionário atual
aestratéga socialistano ocidente
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rapa Ocidental em primeiro lugar.
O ''Mo(leio" de Outubro
quisto do poder. 0 que pensadisso? Há várias questões diferentes combinadas nessapergunta. Devemos dist n-
ê:l;= É«;ã:..'T,i ,fi,m,çã. «ã.éd.gmáti«, m";im-m'""'';;. ' Europa, em particular no sudoesteda Europa.
que somoslevadospela experiênciahistórica de mais ae meio secuio
17 marxismo revolucionário atual
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a estratéga socialista no ocidente
pela primeira vez na Europa Ocidental.
A Crise Revolucionária e a Democracia Burguesa
tal situação inimaginável.
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marxismo revolucionário atual
a estratégiasocialistano ocidente
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é exaustiva -- a um denominador comum único. Mas podemos isolar dois
na Fiança ser caracterizado dessamaneira? 0u a Libertação? 0u os episó-
ou três fatores básicos.
dios de maio de 1968?
Pr/he/ro. uma fase altamente desenvolvida de decomposição da máquina repressiva do mecanismo estatal. É um elemento decisivo na perda de autoridade e iniciativa pela burguesia. Pode ser devido a uma guerra ou
aos efeitos desintegradoresque um golpe de Estado parcialmente fracassado tem sobre importantes setores do exército, como aconteceu na Espinha. Ou pode ser resultado de uma greve geral, ou de um levante de trabalhadores de uma força moral e política tãa grande que desintegra o exér-
cito a partir de dentro. como ocorreu nos dias que se seguiramaopt/tscb de Kapp na Alemanha, em 1920. Segundo {o lado positivo da mesma
moeda). uma generalização, ou pelo menos um desenvolvimento amplo dos
órgãosde poderoperárioe popular.a ponto de criar umadualidade de poderes, com o mesmo impacto sobre a máquina repressiva O mecanismo estatal burguês fica. é evidente, totalmente paralisado quando os conselhos de trabalhadores e populares são bastante fortes para que a maior parte dos serviços públicos se identifique com eles. Se o pessoal dos bancos recusa as
ordens do Ministro da Fazendaou do presidente do Banco Central, em favor do conselho de trabalhadores do setor bancário.' então toda a administração é paralisada. O mesmo acontece no setor de transportes, e assim
par diante.Seo fenómenosegeneralizaa ponto de incluir até mesmosetores da polícia. é evidente que resultará numa paralisia total do mecanismo
estatal burguês e da capacidade que tem a burguesia de tomar iniciativas pol íticas centralizadas. ' Mas é a force/ra dimensão. pol ítico-ideológica. da crise crescente que
mais nos interessa,porque foi. até hoje. muito negligenciada.Dera haç/er
uma crise de legitimidade das instituições estatais aos olhos da grande
'
.
ma;or/à da classeope/ár/a. A menos que essamaioria se identifique com uma nova legitimidade em ascensão,será pouco provável a evolução da crise num sentido revolucionário. Não digo que tal possibilidadeseja inexistente. pois o desenvolvimento desigual da consciência de classe pode'dar
origem a certas combinações estranhase surpreendentes.Mas se usarmos a palavra "legitimidade" em seu sentido mais geral. então o simples fato de
que as massasjá não se reconhecem num governo eleito pelo sufrágiouniversal - e talvez refletindo uma maioria de dois ou três anos, ou mesmo seis mesesantes -- não basta para criar uma crise revolucionária. É uma
crise governamentalou ministerial, ou no máximo uma crise do regime, mas não é ainda uma crise revolucionária autêntica. Deve haver uma outra dimensão ideológicaamoral, pela qual as massascomecem a rejeitar a legiti-
midade das instituições do Estado burguês. E isso só pode ocorrer através das experiências profundas da luta e de um choque intenso -- nao necessariamente violento. ou sangrento -- entre essasinstituições e as asplraçoes revol:ucionáriasimediatas das massas.
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a estratégia socialista no ocidente 20
marxismo revolucionário atual
Bem. é essaa minha tentativa. que não Me parecetotalmente satisfa-
maneira mais correta.
:;
:j"
Acredita que Trotski estavaerradoquando.escreveu,a propósito dejunho de 1936, que ''a revolução francesa começou"?
situação.
Existe. é claro. uma certa contradicão entre essatarefa poli'tecae
espero realmente que a revolução francesa tenha comecado'\ mas tam-
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marxismo revolucionário atua]
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a estratégia socialista no ocidente
Não devemos esquecer que a preseça de soldados americanos foi limi-
tada no tempo e que eles pressionarammuito no sentido de serem mandados de volta à sua terra. Além disso, mesmo sem qualquer situação de dua-
111UR !:Blue:Eg: Uil! análisessuperobjetivistas E quanto à Libertação?
as massasifforam muito além de uma grevegeral de protesto e ocuparam
fábricas. es açoes ferroviárias, usinas de energia elétrica etc., demonstrando com isso que levantavam instintivamente a questão do poder. .Se já exis-
tissem conselhosde trabalhadores e se uma parte do proletariado estivesse armada. então julho de 1948 poderia ter criado uma crise profundamente revolucionária na ltália. Tal evolução teria sido possível também na França
-- mas é evidente que com a ajuda do ''se'' poderíamos reescrever.toda a história do mundo!
ta séria da classe operária. Não estou .convencido
disso. Há. é claro, tantos fatores desconhecidos.
implícitos nessetipo de questão, que é difícil dar umà resposta totalmente satisfatória -- entramos no terreno da especulação e da contra-especulação
Parece-me.porem que os membrosdos partidos comunistasna época{e que têm' um complexo de culpa do qual sem dúvida precisamse al:alar) subestimam geralmente os fatores seguintes: a crise. chegando ao ponto de
motim. no exército dos Estados Unidos; o desejo dos soldados americanos
de voltar à sua terra tão depressaquanto possível; a pressãoda guerra no Pacífico. que não havia terminado; a necessidadeque o imperialismo americano tinha de estabelecerum controle completo do Pacífico e do Japão, para assegurarsua hegemorlia mundial, o que significava a impossibilidade de manter o grosso das suastropas na Europa Ocidental.
l: . l..
Creio que o prestígio enorme da União Soviética e do Exército Vermelho também é subestimado. bem como a extrema fraqueza política, militar e moral da burguesia européia. Repito: a questão de ser ou não pos'
sáveltomar o poder me parecefalsa. O que é c/aro é que a re/açaode forças poderia ter sido infinitamente mais favorável ao movimento dos trabalhadores se houvesse uma liderança comunista que não estivesse disposta a liquidar as conquistas da resistência de massa.reconstruir o Estado burguês e capitular ante as exigências da reconstrução económica burguesa. Se essa
liderança tivesse existido. poderia ter sida criada uma situação de duplo poder, que bem poderia ter dado frutos numa fase posterior: 1947. 1948 ou 1949, é difícil dizer exatamente quando.
Y' 25 a estratégiasocialistano ocidente
marxismo revolucionário atual 24
!. e como podem ser superadas?
nüidade é a seguante: na
a estratégia socialista no ocidente 2z
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marxismo revolucionário atuãl pies órgão no qual todos os soviéticos se podiam expressar livremente. qual-
l:i iBilzl$xÊ ngiia ç;
legitimidade democrático-burguesa. SÓ uma experiência real, indo além das resoluções. artigos de jornal
BãhÜÜi:a'm:.:leia':i:::i número dessasvariações e combinações
Finalmente. eu gostaria de ressaltara importância absolutamente isiva do controle dos trabalhadores. Embora a relação entre a democra
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marxismo revolucionário atual
a estratégia socialista no ocidente
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A Experiência da Democracia Soviética
.'
do poder.
tão real quanto possível?
i!;i:'i?!:iEui,ini ai iiiililii burguês 'em' numerosos campos '
em particular, na admín straça: local,
a produção industrial aumentou acentuadamentee que o funcionamento de restaurantes, teatros. educação e justiça em Barcelona, estimulado, entre 0 tra o "social-fascismo distam.con
marxismo revolucionário atual
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a estratégia socialista no ocidente
Não somos cegos aos limites da democracia proletária. tal como Lênin não o foi. Na medida em que o Estada não desaparece imediatamente, na medida em que sobrevive, o mesmo ocorre com a direita burguesa e os
elementosda burocracia. A experiência da revolução russa,o pesadelodo cos dos autores anarquistas).
stalinismo. e o aprofundamento de nossa compreensão do fenómeno da burocracia deveriam nos alertar para a necessidadede maiores salvaguardas
que as previstaspor Marx e Lênin: a elegibilidade de todos aos postos estatais. a possibilidade de afastamento de todos os delegados. a redução de
seusvencimentosao nível do salário médio. e uma rotação mais ou menos rápida de delegados. A primeira
e talvez mais importante
dessas três novas salvaguardas
é que o Estado da ditadura proletária deve, desde o início, ser um Estado
que começa a decompor'se. E essaa forma concreta de seu desaparecimen'
to. O q-uepretendo dizer com isso é que a centralização do poder'só é jus-
tificável em relaçãoa uma série bastantelimitada de problemas..Deveser o Congresso dos Conselhos de Trabalhadores que toma decisõesrelacionadas com a distribuição dos recursos nacionais. Isso porque é a classe ope
ráfia que suporta o sacrifício de=não consumir uma parcela daquilo que produz, cabendo-lhepor isso decidir qual a extensão do sacrifício que está preparadaa fazer. Uma vez, porém, que tenha decidido dedicar 7, 10 ou 12% da produção nacional à educação ou saúde. não há absolutamente ne-
cessidadede administração estatal dos orçamentos de educaçãoou saúde. E desnecessárioao Congresso dos Conselhos de Trabalhadores assumir essa
tarefa de administração.que pode ser muito melhor realizadano nível mais democrático dos conselhos escolares ou de educação superior, e nos conse-
i
mento. sem elimina-lo totalmente.
lhos de pessoal médico
e de pacientes.
As pessoas que participam
desses
órgãos serão diferentes daquelas que são delegadas ao Congresso dos Con-
selhos dos Trabalhadores. Essa separação das funções do Estado central
significa que dezenasde conselhos se reunirão ao mesmo tempo, com a participação de dezenas de milhares de pessoas,em escalanacional e continental. E como o mesmo tipo de processo estará ocorrendo em ni'vel regio-
nal e municipal, essa''separação" permitirá a centenasde milhares, ou mesmo milhões, de pessoas,participarem no exercício direto do poder.
A segundasalvaguardaimportante é uma atenção muito maior ao problema da rotação de postos do que era possível aos bolcheviques. que
contavam com uma classe operária culturalmente subdesenvolvidae que constituía uma minoria da população..Nos paísesindustrialmente adiantados. será possível uma aplicação do princi'pio de rotação de postos muito mais radical do que a existente. por exemplo, na lugoslávia. Se tal princípio for rigorosamente
aplicado
(entre
outras
coisas,
com
a,.proibição
da
eleição do mesmo delegado mais de duas vezes), então depois de alguns anos um número muito grande de pessoasterá participado do exercício do poder nos vários congressose outras assembléias.A idéia da participaburguês. que é dez vezes mais burocrático, repressivo e autontario-
32
marxismo revolucionário anual .
ção de todos os trabalhadores no exercício direto (IP.podertomará..dessa
ll
a estratégia socialista no ocidente
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:WHnlHllÊ mas nas presentes condições. excepcionalmente favoráveis à revolução so-
cialista na Europa Ocidental, tal hipótese nãç) é muito digna de crédito. Exceto na ocorrência de uma guerra nuclear ou uma intervenção militar com bombardeios em grande escala, não há razão para se supor que uma revolução socialista na Espanha. Itália ou França seria acompanhada de
uma queda na produção material. Pelo contrário, o desenvolvimento das
forçasprodutivas no põs-guerraconfirmou que o sistemaindustrial criado pela burguesia encerra vastas reservas para a expansão da produção
.
De fato. uma das principais razões do declínio das forças produtivas depois da Revolução de Outubro foi o êxodo generalizado da jntelectuaiidade técnica e dos quadros administrativos. que se afastaram da produção e a sabotaram. Incidentalmente, podemos lembrar que Engels havia mani-
festado grande receio de que essa se tornasse a característica mais ou menos universal das revoluções socialistas, até mesmo nos países industria-
lizados. Mas. como muitos observadoresvêm dizendo desdemaio de.1968. isso é muito improvável no Ocidente. hoje. pois houve uma modificação radical na natureza do trabalho desempenhadopela intelectualidade técnica. que se integra. cada vez mais, no próprio processo de produção. em conseqilência da terceira revolução tecnológica. Como a intelectualidade se proletariza de maneira crescente. os trabalhadores técn.ices passam.a ficar
sujeitos às leis do mercadode trabalho e. portanto. tendem a identificar-se com outros vendedoresde força de trabalho, primeiro no comportamento prático e, em seguida. ná consciência. A intelectualidade, altamente sindicalizada, tem participado de grandes ações de greve e até mesmo de movi-
mentos radicais anticapitalistas. em vários países imperialistas. Maio de 1968 na Fiança é um exemplo. Segue-seque o proletariado, hoje. compre' endendo uma parcela significativa da intelectualidade -- muito maior do que no proletariado russo de 1917 ou no proletariado alemão de 1918 ou 1923 -- será muito mais capaz de manter. e mesmo de expandir. a produ-
ção e a produtividade a despeito do comportamento dos antigosdonos e administradores das fábricas.
r marxismo revolucionário atual
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a estratégia socialista no ocidente
Quanto a isso. devemos ter consciência da existência de dois aspectos da evolução dos partidos comunistas, nos últimos anos, e que uma delas.é
positiva. Essaevolução está. na realidade, ocorrendo sob uma dupla e contraditória pressão.De um lado. tais partidos estão seinclinado ante a pies' são da burguesia e da Social-Democracia -- por exemplo. a abandonarem o conceito de "ditadura
do proletariado".
Discordamos totalmente dessas
concessõese continuamos a sustentar a argumentação marxista-leninista clássica contra as inadequações. o formalismo.
o caráter classista e a natu-
reza indireta. opressora e severamente truncada da democracia parlamentar outquesa. Mas a segunda dimensão dessa evolução. representa urna conces-
são à classeoperaria da Europa Ocidental -- classeque desenvolveuuma consciência profundamente anttburocrática. em reação à experiência stalinista e náb quer unoâ repet/çáb do 'sta//n&mo. A isso só podemos dizer: 'muito bem!
Quando Marchais diz estar abandonando a palavra "ditadura" porque lembra Hitler e Pétain, a hipocrisia é evidente. Ninguém. na França ou
em qualquer outro país europeu, identifica o partido comunista com Hitler ou Pétaln. O que ele quer realmente dizer. mas não ousa fazê-lo devido à simpatia pelos seus antigos amigos na burocracia soviética. é que quando as massasda Europa Ocidental ouvem a expressão ''ditadura comunista pensam não em Hitler ou Pétain, mas em Stálin:'Hungria. Tchecoslováquia -- em outras palavras. numa ditadura burocrática que não desejam.
Na tradição dos escritos de Marx sobre a Comunade Parise de O Estadoe a devo/uçáb. de Lênin, a ditadura do proletariadoé, para nós, a ditadura que consolida e aprofunda todas as liberdadesdemocráticas-a liberdade de imprensa, o direito de manifestação. a liberdade de associação e de partidos políticos, o direito de greve, e a independência dos sindi
Gatos em relação ao Estado. Naturalmente, essamaneira de postular. as bém el;saposição. depois da derrubada.
coisas constitui também um avanço em relação ao modelo da União Sovié-
tica. sob Lênin e Trotski. De qualquermodo, essescamaradasnuncatransformaram em modelo ou norma as suas realizaçõespioneiras, que foram a
primeira tentativa de uma ditadura proletária em circunstanciasmu to desfavoráveis.Pelo contrário. Lênin repetiu dezenasde vezesque não devemos criar dogmas. É esse Lênin realista e lúcido. de carne e osso. que deve servir como nossa inspiração, e não as fórmulas que também se encontram em seusescritos, e que justificam as medidas temporárias tomadas pela
revolução russa. elevando-asa nl'vel de teoremas. ou mesmo de axiomas. Permitam-me citar o exemplo concreto dos partidos políticos. que
l
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a estratégia socialista no ocidente
marxismo revolucionário atual
esmagando a violência e o poder da burguesia. Não toma, porém. medidas
despóticascontra as idéias burguesasou os partidos burguesesque se limitam à propaganda e "contra-educação".
'.
Nesse nível. a superioridade
política do marxismo. do povo armado no controle do poder económico, parece-mesuficiente para impedir o retorno do capitalismo.
Se não respondi à pergunta sobre a necessidadede órgãosparlamentares, é porque essa questão me parece essenc/'a/mentetár/a. Não
devemos trata-la como uma questão de princl'pío absoluto. e ela não será respondida da mesma maneira em todos. os países. Se um órgão parlamentar for usado numa tentativa de reprimir e "fazer recuar" as organizações espontâneas de massa, ele será então, evidentemente. um instrumento da
contra-revoluçãoe teremos de adotar uma posição de acordo com issoIfoi o que aconteceu em Portugal em 1975, como aconteceu na Alemanha em
1918 e na Rússiadepois de outubro de 1917). Não devemosesquecerque Rosa Luxemburg tomou posição bastante clara contra a transferência do
poder à AssembléiaConstituinte. na Alemanha. Ela r e os delegadosespar' taquistas ao Primeiro Congresso dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados -- se opuseram à convocação da Assembléia Constituinte, argumentando em favor da manutenção da soberania do Congresso dos Conselhos como
o único órgão
representativo
do poder da classe operária
alemã.
Porém. uma vez estabelecidaessasoberania,já não é mais uma questão de princípio se deve haver um órgão parlamentar para tratar de assuntos secundar/os. Sua utilidade não me parece clara. mas a resposta dependerá da tradição política nacional dos diferentes países e do papel que tal órgão poderia desempenhar na arena de luta entre as principais correntes cultu-
rais e ideológicasi'Oessencialé que o poder poli'tico e económicoesteja firme e autenticamente nas mãos dos trabalhadores armados,organizados em sovietes. O pensamento de Trotski
sobre essa questão sofreu uma evolução
inquestionável. a que temosüde dar continuidade. Cimo Lênin, ele com-
binou dois elementos no período de 1920-21. De um lado. para defender
o poder soviéticoem condiçõesextremamentedifíceis e perigosas, eles tomaram decisões-- com uma determinação férrea, que só podemos louvar -- que os levou a adotar medidas que na prática se chocaram com a demoi:bacia soviética. e assumiram plena responsabilidade por isso. Indo mais além de Trotski, Lênin declarou em 1920 que o Estado soviético já não era um Estado sadio dos trabalhadores, mas um Estado de trabalhadores com
deformaçõesburocráticas.Estavaabsolutamentelúcido quanto a issoe nao pretendeu enganarninguém. É claro que podemos discutir se uma determinada medida ou outra se justificava numa certa conjuntura, masessenao e
o ponto essencial.Mais importante é que essasmedidasforam reconhecidas. pelo menos implicitamente, como deformações. e não regrasgerais. Por exemplo, nem as teses da Terceira Internacional sobre a ditadura do proletariado nem O Estado e a Rapo/uçáb fazem qualquer mençãoa um
marxismo revolucionário atual
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Estado unipartidário. Ou, tomando outro exemplo: a proibição de facções
no Décimo Congressodo Partido Bolchevique. Evidentemente.tal medida foi excepcional, tornada sob a pressãode condições não menos excepcio. naus.Que estava em contradição com a tradição do bolchevismo e a prática
da Internacional Comunista evidencia-sepelo fato de que os bolcheviques jamais tentaram estabelecê-lacomo norma dentro da l nternacional
.
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a estratégia socialista no ocidente
qüência da adição da Nova Política Económica era um ressurgimento político da pequena e média burguesia, que ameaçada com o restabeleci:
mento do capitalismoa curto prazo Foi um erro de análiseconjuntural. mas nem por isso deixou de ser um erro. Os camponeses estavam demasia-
do dispersose desmoralizadas paraconstituir uma ameaçaimediataao poder soviético. IE claro que, a longo prazo,como observoua Oposlçio Esquerdista. essaanálise estavacarreta, e seis anos depois, emÉ:1927,o perigo se tornou agudo.) Mas em 1921 o principal perigo não era a contrarevolução burguesa,e sim a despolitização da classe operária e o rápido processo de burocratização. As medidas tomadas àquela época ajudaram e acentuaram esseprocesso. Devemos ter a coragem de reconhecer que foi
um erro e que a palavrade ordem da Oposiçãoem 1923.''Ampliar. e não reduzir. a democracia soviética", fói válida a partir de 1921.
Dualidade de Poder e Governos de Trabalhadores que,eLênineTrotskicometeramvànoserros
.
.
.
./.:
Trotski demonstrou sempre uma acentuada retlcencia rias auluu- lu'
Ao contrário da classe operária russa. a classe opor.ária..dos países capitalis-
tas adiantados de hoje tem uma tradição de sindicalism.o. de m.essa .e de organizaçãoe instituições pol íticas com as quais se identifica. Além disso.
os reformistas,tanto social-democratas como stalinistas, lutarão .contra.o desenvolvimentodos sovietes. Acredita que apesarde tudo a dualidade de poder tomará a forma soviética, ou se poderá.expressarde c).utras maneiras -- através de um bloco de forças de esquerda, eu mesmo através dos sindicatos?
Nessaquestão, podemos basear-nosnuma prolongada exper.iência histórica,
cujas lições são absolutamenteclaras e sem ambigilidade. Sempreque houve uma crise revolucionária num país industrialmente adiantado, onde há uma classe operária no auge de sua maturidade social. política e económica. testemunhamos o aparecimento de órgãos do tipo soviético. Por mais
diferentesque tenham sido em nome ou origem, não há a menor dúvida sobre a natureza de tais órgãos. É certo que na revolução espàflhola de
1936-7 foi imposto um bloco organizacionalao nível das cidadese dos órgãos de poder político, mas não houve nada semelhante ao nível do local
de trabalho>ali. as próprias massasse organizaram. Na maioria dos países da Europa Ocidental, o movimento dos trabalhadores está dividido entre diferentes
organizações de massa fragmentadas,
que em si mesmas nao
estão'1livresde contradições internas, e que além do mais raramente com-. preendem
úma maioria
{ou mais do que uma pequena
maioria)
das massa?.
Dada essasituação, um impetuoso movimento revolucionário do proleta-
riado terá de encontrar uma forma de auto-representaçãoque envolvaa classeem sua totalidadejTA história não produziu nadamelhor do que a
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a estratégia socialista no ocidente
marxismo revolucionário atual
forma soviética..que não é uma "invenção" dos bolcheviquesou {rotskistas. mas o resultado de uma experiência histórica real.
:. . ..
De ordem bem diferente é a questãoda origem precisadessesórgãos em cada país, e a maneira pela qual as organizações de massa, políticas e sindicais. se combinarão com eles e neles se representarão. A história já nos ofereceu uma grande variedade de respostas e h'á até mesmo diferenças consideráveis entre as duas experiências na R(issia. Os primeiros sovietes
dentro dos conselhos.
surgiram em 1905, a partir de comissõesde greve.enquanto que em 1917 ocorreu o oposto: o çomltê executivo dos sovietesde Petrogradofoi constituído antes do aparecimento dos sovietes no rosto do país. Na Espanha
em 1936 houve. novamente.uma diferença:os comitês de basesurgiram primeiro, sendo depois coroados por um bloco de organizações
'
d
''"'' O mais importante paraos revolucionáriosé acabarcom todo pensamentoesquemáticoe a pr/or/ -- o que se aplica a muitos debatesani-
=:ãl"L;'ã-,,:; 'iL;.,«.l.«' . -' "q"'.. ,«.i«i-á,i,
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geral''Não devemospensar que existe apenasuma palavrade ordem. ou apenasuma forma na qual os conselhosde trabalhadorespodem surgir. na situacão presente. Em certas circunstâncias, por exemplo no caso de luta defensiva da classe operária contra a ascensão do fascismo, é possível.
e mesmoprovável. que os órgãosdo poder proletário só surjama partir de órgãos'da frente única de partidos e sindicatos.Foi o que Trotski esperou, logicamente. da Alemanha, até 1933. Mas em outras circunstâncias
por exemplo na França entre 1934 e 1936. Trotski estavacerta ao rejeitar essaidéia. Ele acusou os centristas. e até mesmo alguns pseudotrotskistas,
de pensar que Blum e Thorez deviam chegar primeiro a um acordo. õntes que pudesse haver comités de ação. Rejeitou o argumento de que o desen-
volvimento de órgãosde poder duplo tinha de subordinar-seà assinatura de um acordo de cúpula entre as respectivasorganizações.Pareceu-lhebastante provável que acontecesseo oposto: as basescriariam p.rimeiro esses comitês. e só depois disso os burocratas na cúpula os aceitariam. A experiência portuguesa fez nos uma advertência suficiente dos perigos de qual-
de que não há margem para equívocos.
tipo de esquematismo.Em todos os seusescritos sobre a situação revoluc onária. Lênin e Trotski insistiram em que a principal tarefa é manter os olhos e os ouvidos abertospara o clue8conteceentre a classe operária e para indícios da verdadeira direção organizacional que está tomando -- e não impor um esquemateórico a essatendência real dos trabail IhadoreSno sentido de encontrar suasformas próprias de organização-. Combaterão os reformistas. sempre e em toda parte, essaformação.esntânea de conselhos de trabalhadores? A resposta sectária seria : ''l nfeliz-
rnente. não!"umas como não sou sectário. direi simplesmente:"Não O núcleo racional da respostasectáriaé o fato óbvio de que a tarefa dos revdltlcionários seria muito mais fácil se os burocratas nadassem. ''corajosa'
mente". contra a corrente. Seria tão simples isolar as máquinasburocráticas. se elas se colocassemcontra milhões de trabalhadores identificados
trabalhadores.
Y 43
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marxismo revolucionário atual
Em paísesonde a estrutura da democraciaüburguesa estábem cmsolidada provavelmente não será necessárioatravessarumjperi'odo que na antiga Internacional Comunista era chamado de governo dos trabalhadores, seja
a estratégia socialista no ocidente existir uma situação de dualidade de poder), e outras formas de representa-
?
no sentidoforte 0u fraco da expressão lem outraspalavras,um governo composto%de partidos de trabalhadores, se possível incluindo até mesmo partidos pequeno-burgueses, mas tendo um programa que pede o rompi-
mento com o capitalismo)? Não será provável que o movimento operário tenha de atravessar uma fase de tais governos, antes da criação de instituições de poder duplo? E não será também provável que hajam representan-
tes pró-sovietes no Parlamento. antesda generalização do poderduplo? Será concebível uma situação revolucionária sem a eleição de um único defensor de uma solução revolucionária para a crise geral da sociedade? Parece-meque estão sendo introduzidos muitos elementos especulati-
vos numa problemática que é realmenteclara. Preferiria abordar a questão de uma outra maneira. Primeiro, nos paísesde fortes tradições democrático-burguesas -- e ainda mais nos países imperialistas que estão saindo das
ditaduras,caso em que as ilusõesdemocrático-burguesas tendem a ser maiores do que nos países onde tais tradições são profundas - é inconcebível que se desenvolva o poder dos conselhos de trabalhadores, a menos
que a classeoperária adquira experiênciasconcretas de formas de democracia superiores à burguesia. Os trabalhadores deverá.ser capazes de comparar os méritos de ambas, na prática.
Segundo, eu concordaria em que é improvável a ocorrência de uma verdadeira luta pelo poder soviético sem que uma corrente revolucionária marxista ganhe força suficiente na classeoperáriapara conseguir representacão no Parlamento. E. terceiro, é inconcebível que surja uma situação de
dualidade de poder num país com um movimento trabalhista antigo e trai dicional, sem que essasituação acabecom o atual controle total das buro-
Mas essegoverno poderia proclamar que rompera com os capitalistas,
cracias reformistas, colaboracionistas, sobre essespartidos.
mesmo que realmente nâo o faça.
Essastrês afirmações me parecem quase que evidentes por si mesmas. hipóteses especulativas,:tãQ detalhadas que seria difícil responder com um
Isso é diferente. A diferença é mostrada na análisedo Comintern, sendo especialmente confirmada pela experiência histórica. Já tivemos seis ou
simples''sim" ou "não".: Vamosdar um exemplo. Dissemosque emgeral
sete governos trabalhistas.
Mas fazer novas deduções com base nelas seria suscitar to.da uma série de
uma situação de dualidade de poder implicaria uma corrente socialista revolucionária bastante forte para ter representação no Parlamento, se eleições parlamentares fossem realizadas naquele momento. Mas. como muitos
Mas nenhum delestinha um programaque proclamastea necessidade de romper com o capitalismo.
parlamentos são eleitos para períodos de quatro ou cinco anos,é possível a ocorrência de grandes comoções entre as eleições,..que alterem drástica-: mente as relações de forças dentro da classe operária. Nesse caso, se não
forem realizadas novas eleições parlamentares naquele período, haveria uma defasagemséria entre a composição do parlamento e a relação real de forças, em especial dentro dos sindicatos, conselhos de trabalhadores (se
Ihor das hipóteses
T a estratégia socialista no ocidente
marxismo revolucionário atua]
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programasdo tipo apresentadopelo Partido Trabalhista Britânico em 1945. que eraum programa reformista radical, ou do Partido SocialistaAustríaco. que pedia a nacionalização de setores importantes da economia. Nenhum dessesprogramas é, de modo algum. anticapitalista. Nenhum
deles pode ser comparado com o programa da Unidad Popular. no Chile. Mesmo nesta. o caráter anticapitalista do programalera dúbio, mas a dinâ-
mica!!eramais radical. Na Europa Ocidental. porém. com os tradicionais
A questão alistática a ier adotada para com um governo burguês.dos
partidos de classeoperária hoje existentes, é difícil visualizar qualquer evo-
# ]Ül:$ :n=Hl:Í=.1=:
lução que vá além da União da Esquerda.ou do programado Partido Trabalhista de 1945.
Seria.então.carreto concluir que não Ihe parecemuito importantedesenvolver reivindicaçõesprogramáticase palavrasde ordem dirigidasa essetipo de governo burguêsdos trabalhadores-- reivindicações. que mostram corllo se poderia processar um verdadeiro rompimento com o capitalismo?
Você quer dizer que será impossi'vel impor medidasanticapitalistasa esses governos?
Voltamos novamente à especulação.N inguém pode prever as formas exatas
nas quais as situaçõesrevolucionárias surgirão na Europa Ocidental. É im-
possívelimaginar qualquer padrão que se possaaplicar a todos os casos. O que se descrevenessapergunta é apenasuma variante. Não afasto a sua possibilidade, e concordo totalmente
em que sempre que exIstIr um gover-
no composto exclusivamentede representantesdo movimento trabalhista, os revolucionários terão de apresentar reivindicações insistindo em que esse governo rompa Com o capitalismo. Mas é outra coisa dizer que este será o principal canal pelo qual a consciência da classe operária se elevará a um
nível qualitativamente superior. Isso pode ocorrer em consequênciade luta direta. de uma grevegeral, de um confronto com a reaçãoou a máquina estatal -- há muitas variantes para que possamser reunidas num esquema. Isso é evidente pelo que realmente aconteceu na Europa durante os úl-
timos 40 anos. Na França. em 1936. a crise surgiu da combinacão de uma
vitória eleitoral da Frente Popular e uma grevegeral; na Espanha,de um
confronto direto com os fascistas;em Portugal,da quedade um governo bonapartista e semlfascista senil. através de uma conspiração militar; mais recentemente. e ainda na Espanhà, originou-se da demora da burguesia em
acabarcom uma ditadura que na décadade 1970 jó não correspondiaà relação real de forças de classe.SÓaí jó temos quatro variantes.
O problema mais geral -- suscitado de passagempor Trotski masnão suficientemente desenvolvido pelos marxistas revolucionários durante um longo período -- é o seguinte: num país capitalista adiantado. com uma estrutura política altamente sofisticada e um complexo sistemasocial. onde há uma longa tradição conservadorano movimento trabalhista, é inconcebível que os trabalhadores escolham diretamente formas soviéticas de orga-
d
marxismo revo]ucionário atua]
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caçõesdas massas,relacionadascom a nacionalizaçãosob o controle dos
a estratégia socialista no ocidente
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Resultados e Perspectivas no Sul da Europa
trabalhadores.que expressaa lógicada dualidadede poder. A segunda categoria básica das reivindicações dirigidas ao governo rela-
ciona-se com a resposta aos inevitáveis fitos burgueses de sabotagem e
ruptura económica.Aqui, a política orientadora deveóer a dç)olho por olho: ocupação e controle de fábricas, seguida de sua coordenação: elabo-
ração de um plano dos trabalhadores para a reconversãoe renascimento económico; extensão e generalizaçãodo controle dos trabalhadores, no sentido da auto-administração; administração de váriasáreasda vida social pelos que delas participam diretamente {transporte.público, mercados de
rua. creches.universidades. terra agrícola etc.). Numerosascamadasse transferirão do reformismo para a centro-esquerda e para o marxismo revo-
ter os marxistas revolucionários, nessascondições?
lucionário. através da discussãodessasquestõesdentro da moldura da democraciadproletária e através de sua própria experiência prática. proteg/-
A pergunta se fundamenta numa premissa básica que discutotNão é
das pela defesa intransigente da liberdade de acho e mobilização de massa. mesmo quando isso ''atrapalhe'' os planos do governo ou dos reformistas. Esse rompimento com o reformismo será ajudado pela ilustração..consoli-
;:;;. .';.IÍàii:l.Çâ. d« «á,i,; «p''';":«
d...".-..g;-i«Çãj?
.!! :E:á
ajudado, porém.'pelos excessossectários, pelos insultos do tipo ''social-fascistas''. ouiignorando-se a sensibilidade especial daqueles que colocam sua
fé noi reformistas.A política de conquistar as massaspela frente única está''portanto. inseparavelmente ligada à afirmação, extensão e generaliza-
ção do poder dual, até [e inclusivo) a consolidaçãodo poder dos trabalhadores pela insurreição. Os resultados objetivos das pol éticas dos reformistas sâo os seguintes : crescente :impotência do governo+Çesquerdista; incapacidade de cumprir
suas promessas; crescente desilusão entre as massase criação. em virtude disso. de um terreno fértil para a desmobilização e desmoralização, e o .re-
torna da reação, cóm novo vigor, sejaatravésda violência ou mesmo pelos meios egâis e eleitorais.-Isso mostra que não temos escolha: ou estendemos
a manobra de massaPna direção da vitória. ou o declínio e a derrota são inevitáveis. Nesse período, há uma curada entre dois movimentos. um que leva à superação dos aparelhos reformistas e o outro, que leva à retirada das ma'smas eM conseqilência da bancarrota dos reformistas. O primeiro sõ vencerá se as relaçõessociais e políticas de massanão forem interrompidos.
mas crescerem cada vez mais; se a auto-organizaçãofor fortalecida e generalizada.e não rapidamente fragmentada; e se os revolucionários conseguirem superar sua fraqueza e isolamento. e criarem milhares de novos elos com as massas,com base numa extensão e generalização de experiências autênticas. vividas, da frente única (e não daquela caricatura propagan-
dística que consisteem exigir que a liderançareformista dê uma resposta. a fim de desmascara-laem palavras). Essecaminho não nos oferece uma garantia de vitória.'mas é a única oportunidade que existe.
quistar a maioria da classe operária. É claro que precisamos ser muito mais específicos: eu mencionada
49 marxismo revo]ucíonário atua]
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Os burocratas e os dirigentes sindicais sabem muito bem que um comício
de massae um referendo ou votação postal produzirão resultadosdiferentes em relação a uma proposta para declarar ou suspender uma greve. Isso nos leva à seguhda questão: a marginalização das lideranças refor-
mistas. É possível. e mesmo provável, que ocorra um processodtip/o na Europa Ocidental. As massasconcederão à maioria parlamentar,ou governo de esquerda.uma confiança relativa, condicional e vigilante -- a formu-
iãã «Ãt«dita.i, «p'"" b'm; '"tid;d..A' m""''t'm.p'. ''" "i-
denciarão a tendência de romper os limites da ação estabelecidos antecipa-
damente pelo programa reformista. e colaboracionista de classe,que evita o rompimento
com o sistema burguês. É a lógica inexorável do desdobra-
mento da luta de classes.e não a clareza teórica das massas.que determinará a dinâmica desse processo.
A maior fraqueza analítica dos reformistas e centristas está na sua incapacidade de compreender essalógica. a despeito de sua clara demonstracao nas experiências revolucionárias dos países industrializados. inclusive o
Chile, que sesitua no limite exterior dessegrupo. No mundo de hoje o pro-
letariado. com o seu peso social, económicoe político muito maior, enfrenta uma crise das relações capitalistas de produção e de todas as outras relacões sociais burguesas.É inimaginável que um aprofundamento quanta
uva da atividade. combatividade e reivindicações das massasnão leve a uma verdadeira explosão do conflito de classes,que paralisa a economia capitalista e o Estado burguês. Qualquer socialista ou comunista que pense ser possível dizer a esseproletariado, que representa 60 ou 70% da popula-
cao. "Vocês estão no poder. A fábrica pertence a vocês. Agora é possível elevar o padrão de vida, reduzir a jornada de trabalho. estender as nacionalizações e colocar em prática uma legislação social progressista", e que tam-
bém pensa ser possível conseguir. ao mesmo tempo, um aumento no lnvestimentoj!capitalista,
um aumento
na taxa
de lucro
para financiar
esse
crescimento capitalista, essapessoaserá um sonhador utópico absolutamente ride'culo. Ninguém acredita nisso, seja no lado dos operários ou no lado dos burgueses. SÓ os donciliadores desonestos ou muito ingênuos podem
difundir tais contos de fada. No presenteclima da Europa do Sul. portanto. podemos afastar a possibilidade de que as massaspermaneçam passivasse um governo esquerdista assumir o poder. Isso será acompanhado. inevitavelmente. de uma intensificação da luta de classes,sabotagem da produção,
conspiraçãoconstante contra o governo pelos reacionários e uma extrema direita apoiadapeloaparelho estatal. terrorismo direitista etc. .. . l . Ora. os trabalhadores não deixarão de reagir. Nâo acreaitarao que d polícia burguesa combata os conspiradores, ou que .o Ministro da Fazenda procure impedir a fuga de capitais. O f/anqueamenfo nâo é provoca(io por
um estado de espírito, de confiança ou desconfiança.nem pelos "agitadores esquerdistas" que atíçam tais coisas. É o resultado da inevitável colisão
pronta/ entre as pr/nclpa/s c/essessoc/a/s. Além disso, embora o programa
a estratégiasocialistano ocidente
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marxismo revolucionário atua]
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a estratégia socialista no ocidente
l volucionárias poderiam conquistar o apoio da maioria dos trabalhadores nos conselhos. Tais organizações já têm milhares de membros e dezenasde
um dos elementos catalizadores do golpe de Estado foi o medo que os ofi-
milhares de simpatizantes. e num período prolongado de crise poderiam
entre os soldados, em especial na Marinha. É claro que os conspiradores militares tiveram a ajuda da inépcia traiçoeira dos líderes da Unidade Popular. frente a essesprimeiros indícios de insubordinação das tropas contra
ciais contra-revolucionários
conquistar dezenas de milhares de novos membros e centenas de milhares de simpatizantes. Nada disso acontecerá. porém. a menos que tais organiza-
ções adotem políticas carretas, em especial em relação à frente única.
A quartaobservação a serfeita é uma respostaà objeçãoque se segue, e que é provavelmentea maiavigorosade todas: ''Praticamentetudo o que se disse anteriormente já foi visto na Chile. Havia um governo esquerdista
tinham de que o vírus estivesse se espalhando
os oficiais do Exército e da Marinha, e pela notável fraqueza política da extrema esquerda centrista. que adotou uma posição totalmente errada em relação ao exército. Também nesse caso creio que poderemos evitar tais
l
erros e conseguir melhores resultados. A recente experiência do movimento de soldados -- em especial em Portugal. mas também na França e ltálía -- mostra que já estamos em melhores condições do que os chilenos.
em::estado de paralisia; havia setores esquerdistasdas massasatacando fortalezas marginais da burguesia; havia lutas internas no movimento de
trabalhadores,seguidasde choquesentre a maioria reformista e a minoria
Em países altamente industrializados
revolucionária. E no final. isso levou à vitória da reação, através de um
exército reflete a estrutura social do país -- é extremamenteimprovável
sangrento golpe de Estado e uma derrota esmagadora do movimento dos
que um movimento revolucionário gigantesconão encontre expressãoem movimentos de oposição dentro do Exército. Todos essestrunfos não exis-
trabalhadores.Em resposta,devo primeiro repetir o que já disse:ninguém pode dar uma garantia absoluta da vitória. A estratégia revolucionária cor-
tiam no Chile.
reta nunca se baseou na certeza de uma vitória da classe operária. Tudo o
De qualquer modo. o ponto essencialé que não temos escolhanessa
que podemosdizer é que nossalinha de marchaestratégicae tática é a úni-
questão. Quando há uma vigorosa ascensão de um movimento de massa
ca capaz de tornar tal vitória possa've/,masnão pode garanti-la. Paraa vitó-
anticapitalista e antíburocrático. enfrentado pelo endurecimentocontrâ-
ria são necessários falares adicionais,em particular uma vantagemno ba-
revolucionário de quasetoda a máquina burguesa.qualquer coisa que des-
lanço de forças que não pode ser calculada com precisão antecipadamente. A situação objetivo e subjetiva muito menos favorável no Chile foi,
evidentemente.o determinante final da disposiçãode forças entre as classes e entre os aparelhos reformistas e a extrema esquerda. Na Europa Ocidental a situação é muito mais promissora. de ambos os pontos de vista: a
grau de auto-suficiência é incomparavelmenteFmaior do que num pais como o Chile. e o proletariadotem uma capacidademuito maior de reagir e conquistar o apoio em nível internacional. Além disso, temos uma formidável ''arma secreta''. de que nâo fazemos segreda, ou seja, a crescente
identidade entre o pogramae objetivos de uma revolução proletária na Europa Ocidental e o programa aditado por setores do movimento dos trabalhadores nos países mais ''estáveis'': Grã-Bretanha, Holanda, Áustria,
Alemanha Ocidental. A diplomacia socialista será capaz de promover seu próprio ''Brest-Litovsk". se for organizadoum bloqueio económico contra Portugal,Itália. Espanha ou França, para ''castigar'' a classeoperária por ter estabelecido o controle ou a auto-administração pelos trabalhadores,
enquanto os sindicatos da Europa do Norte semovimentam no sentido de tomar as mesmas posições. Evidentemente. isso não será tãolifácil se a re-
volução usar a máscaratenebrosa da ditadura stalinista. Mas se apresentar a face comunista sorridente da soberania dos conselhosde trabalhadores, então não me pareceque será.fácil organizar tal bloqueio contra os países
-- onde até mesmo a composição do
mobilize a classe operária e contenha a sua ofensiva, e qualquer pessoa que b
l
procure diminuir seu entusiasmo, só pode servir à contra-revolução. O pro-
letariado nâo lucrou nunca com a desmobilização e a divisão de seu campo durante as batalhas de classe. Quando há uma polarização extrema das forças sociais, as únicas medidas que servem à causados trabalhadores são
o ampliamentoe a generalizaçãodas mobilizaçõese da tendênciada classe a uma auto-expansão unificada. Devemos colocar as forças centristas e vacilantes em guarda contra o grave perigo de medidas que reprimam, fragmentem.; duvidam ou desmobilizem o movimento de massa sob o pretexto
de "não alarmar a reação''. Qualquer coisaque tenha um efeito desmobilizante modifica imediatamente o equil ébrio de forças em favor da burguesia. Inversamente, qualquer coisa que imobilize e unifique a classeoperária
e as massastrabalhadorasmodifica o equilíbrio de forças em favor da classeproletária. É essaa basede nossaorientação.É issoque dá coerência ao nosso objetivo de conquistar a maioria da classe operária: é um dos nossos ttuntas po\ iscos. Numa situação revolucionária. as Marxistas revolucionários devem ser a força mais empenhada no fortalecimento da unidade
e da organ/zaçáb de c/asse.Elesdevemdefenderconstantemente a unidade do aparelho de classedos trabalhadores. e isso se torna mais fácil
socialistas europeus. Até mesmo o exército chileno, que tem características peculiares. não
pelo fato de que os órgãos da unidade dos trabalhadores são precisamente os órgãos de sua auto-representação: os conselhos de trabalhadores. Defendemos a unidade dos trabalhadores tanto quanto defendemos os órgãos do
estava automaticamente imune ao vírus do socialismo e revolução. De fato.
poder dos trabalhadores numa situação de cumplicidade de poder.
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a estratégia socialista no ocidente 52
marxismo:revolucionário atual
estou me referindo..aoslíderes reformistas,-.cujopapel é óbvio, massim ao baluarte da classe:operária, à vanguarda, idos quadros organizadores. aos representantes de fábricas T :.todos.os camaradas que estavam na linha de frente
da batalha .iproletária}
po«período
passado. Esses camaradas
eram experimentadose sabiamcomo organizaras lutas:para defender os saláriosreais contra a inflação, mas iiâo estavam preparadospara lutar contra o desemprego e© masca! Essa falta de experiência;se complicou
com a capitulação.:.total. da burocracia n Q partido comunista nã ltália e
podemos dizer: que o .proletariado.'ftendo :mantido a iniciativa por um longo período, passou agora} temporariamente,
à defensiva.. E um elemen-
to NOVO.: t'\ 'l!..i{.} .- Síii'ln'Í'ii'li.'t-Í:':ilJ.:ÚR {9'g'Í;Çj t !'?ii:i;'i:
ç:..{';;==;' ;=~'{.'''
;
O outro -- que aparente ente qtua na mesmadireção.mas.poderia
letarbdo
Ê;Qq ljw:itaçgo dos.casos de. f,lanquearnqnto,..
ill!:l:gilil: HRIÍÊJ!EE ll$i por setores; sendo :divididas e.'espontâneas. Mas seu-impulso mesmo as
levou numa:outra direção, à medida quê .astarefas políticas céntraii e as
:HEnBEfiimâE':1331E U$i fábrica. setor.a setor. ou cidade a cidade. Masoutra coisa é resolvero,pro' blema de um milhão e meio de desempregados.Essabatalha não pode $er travada cidade por i;idade; o problema sõ pôde ser resolvido em base nacional'(alguns observadores diriam mesmo em base européia)- :$t€1 : O mesmo ocorre em muitas;dàs lutas e questões setoriais. Por exam: plo. manifestações de massa limitadas eiaté. mesmo -campanhas.nac onals
podem ser realizadaspara exigir a liberdade de aborto, a.suspensãoda construcão de usinas nucleares, o direito de voto para os soldados. o direi-
to geral de voto aos 16 anos etc. Mas quando essesmovimentos ganham impulso, especialmentequando começam a fundir-se uns com os outros. então surge a questão de uma alternativa governamental. que significa yma solução política central. E nesse osso..é claro, as movimentos.de:massa espontâneos 'ou semi-espontâneos do..tipo que vimos na década: passada
chegam a um impasse, porque não podem.:criar.espontaneamente.soluça)es pol éticas alterhatlvas. Estas devem ;surgir do campo pol I'tico. cama resulta-
dos de modificações nas relações de forças dentro do movimentoltrabalhista organizado, através do crescimento das organizações revoluçi=Qnáríase
aumento de sua credibilidade aos olhos das:-grandesmassas;:Ocorre nesse
marxismo revolucionário atua]
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a'estratégia socialista no ocidente
caso um hiato temporal óbvio, do qual o movimento tem sofrido. Surgiu um grande potencial de lutas militantes nas fábricase sindicatos e
que'-isso não significa que o nível de consciência da c.las$eoperaria empa' nhola sejatão elevadoquanto em 1936 ou 1937i';Nãoobstante, houve uma
também
tas não se sentem satisfeitos com isso. Fizeram tudo o que puderam numa
um grande potencial
de movimentos
sociais setoriais de massa.
mas não houve uma alternativa política geral digna de crédito para os reformistas. Como os reformistas se encontravam num impassee faltavaIhes uma alternativa. a burguesia tomou a ofensiva.
Devemos,porém, examinar mais cuidadosamenteessesdois novos ingredientes, que até agora se reforçaram mutuamente. O primeiro -- a falta de reação, ou melhor. a demora da reação, da classeoperária contra a ofensiva dos empregados contra empregos -- foi principalmente, é claro,
uma questão de tempo. Por quê? Partimos, aqui, de uma de nossasnoçoes básicas para o julgamento da atual situação nos países imperialistas -- em especial na Europa Ocidental. mas não apenas ali. Estamos profundamente
convictos de que a modificação básica na relaçãodasforças sociaisocorrla nas décadas de 1950 e 1960 em consequência do desenvolvimento do
capitalismo moderno não foi neutralizada pela classecapitalista. E notamos -- o que é especialmente notável na Grã-Bretanha -- que apega.rdo desemprego maciço e os sucessostemporários da ofensiva contra a c asse
operaria promovida pelos empregadorese pelo governo.a força organizada
tremenda intensificação da força do proletariado naquele pal's. Os capitalissituação difícil, mas isso não pode ser considerado como uma vitoria para eles. pois foram obrigados a fazer amplas concessões à classe trabalhadora.
Não rne parece que a transição de um regime bonapartista. semifascista, para a democracia burguesa num pai's como a Espanha constitua uma concessão dos trabalhadores aos capitalistas. Parece-me antes uma conces-
são dos capitalistas aos trabalhadores. PI burguesia foi obrigada a conceder
liberdadesdemocráticas aos trabalhadores. sendo provável que o sucesso
temporárioda política de austeridadefosse.em parte. devidoao fato de que à classeoperária considera tal êxito muito importante. ::' -' Foi esse. incidentalmente.
o argumento do Partido Comunista:
troca-
mos certas concessõeseconómicas pela conquista dos direitos democráticos que nos permitirão reconquistar o terreno, a longo prazo Isso pode ria ser chamado de manobra oportunista, contra-revolucinária. para evitar
uma explosão imediata na Espanha. Estou de acordo. Mas não é um argu-
totalmente falso. Os trabalhadoresque foram lançados.'napnsãa
a autoconfiança da classe trabalhadora não declinaram. Isso acontece em
todosos paísesda EuropaOcidental, semexceçâo.. . . '. x.: .... A grevedos metalúrgicos na Alemanha Uciaentai. em ly/ , iul unia confirmacão:notável dessaopinião. A greve -- a primeira grevegeral em
toda a indústria siderúrgicana Alemanha.desdeo fim da guerra-- foi uma surpresa para muitos que haviam formulado julgamentos erroneos sobre
os acontecimentosbinaAlemanha,durante os últimos anos. E certo que a repressãofoi; séria. ocorreram restriçõespressagas dos direitos demo.
ução Os trabalhadores,que agora podem fazer greve legalmente,aos milhões. consideram essefato como uma vingança pela derrota de 1939. 'ão o vêem cama uma vitória da burguesia,mas como um grande passo à frente, uma vitória para si mesmos. E certo que os reformistas conseguiram com isso uma certa credibilidade, mas pessoalmente fui surpreendido
cráticos. e muitos fatos negativos.Mas tudo isso não modificou a relação
pelos limites de tal fenómeno. O presta'giodos reformistas aos olhos dos
básica de forças entre os trabalhadores e a classecapitalista, provocada pdr
trabalhadores não se aproxima do que era logo depois de 1945. Houve uma
todo o progresso económico dos últimos vinte anos. Simplesmente não
pausa durante a qual o ritmo da luta de classes diminuiu. Mas apenas isso.
podemos fortalecer a indústria capitalista, desenvolver as forças produtivas e estimular um surto de prosperidade de vinte anos, sem fortalecer também a classe trabalhadora. Essa tese básica do marxismo foi confirmada em toda a Europa capitalista. Observação
semelhante
aplica-se
à Espanha.
Duvido
muito
que a
situaçãoespanholapossaser consideradacomo um êxito político pa.raa burguesia. Podemos, é claro, observar que ela conseguiu fazer a transição
sem muitas comoções.Na verdade.você não mencionou o seu maior êxito: fez a transição sem ter de sacrificar seu exército de origem fascista e o mecanismo de repressão. Mas foi pago um preço elevado. Anteriormente.
havia 200.000 trabalhadoresem sindicatosilegais;hoje, há quatro ou cinco milhões de membros nos sindicatos legalizados -- três vezesmais do
que na Segunda República. Houve em Madri duas ou três manifestações maiores do que qualquer uma das realizadas durante a guerra civil. E claro
Esseritmo está voltando a intensificar-se. rapidamente. E não se pode dizer
que a relaçãobásicadasforcas de classe,que eracontra o capital no período anterior. setenha invertido.
:l: .
No todo. podemosdizer que nos últimos três anos a burguesiafez uistas muito reduzidas, aproveitando-se da desorientação inicial da classeoperaria frente ao desempregoem massa.Mas há todos os indícios de que ess.adesorientação está sendo superada. -'f . , -.., '' Algo semelhante está ocorrendo em relação ao segundo ingrediente
também. E certo que ainda há desorganização.As crisesideológicas
56
57
a estratégia socialista no ocidente
marxismo revolucionário atual
Devido a uma série de fatores -- a força da classe.~?perária, a fraqueza da burguesia, a crise da ordem burguesa. a crise social geral. a incapacidade
que têm 'os reformistasde apresentaruma verdadeiraalternativa antica-
pitalista, a falta de credibilidadeda extremaesquerdar a buscade uma
@ÜB:lH14HGUãEZtlH% Em minha opinião. esseexpediente só pode ser temporário. porque não é essaa função dos sindicatos, que não estão preparados para desempenhar tal papel. Podem fazer tudo isso em nível de propaganda, e até mesmo
dentro dos sindicatos.nto, resumir como segue:não houve modificação no
asconclusões necessárias.
caráter do pêríodal?:houve uma fase de certa desorientação, de adaptação a condições novas;íMasío$capitalistas não conseguiram estabilizar a situação.
f
l X X iiR j311:
dicalização em massa por toda a Espanha.
11
[hadores espanhóis ultrapassaram o recorde mundial de dias de greve por
mil assalariados. f/ouve uma série de greves gerais regionais. que foram cla-
ramente políticas, apresentandoabertamentereivindicaçõespolíticas. A
o for.:haverá sem dúvida uma reação em massa.
xi
''
marxismo revolucionário atual
58
É certo que subestimamos a possibilidade dessamanobra. para.a qual, incidentalmente. quase não há precedentesno século XX, mas nâo creio que isso reflita uma estimativa incorrera das relaçõesde forças de classena Espinha. naquele período. E certo que superestimamoso potencial de mobilizações espontâneas de massa sobre questões políticas,
da
parte de uma classeoperária que. embora extremamente militante. não se beneficia com o mesmo tipo de experiência política que ela acumulou de 1930 a .,1936, e que constituiu
um fator-chave nos acontecimentos de
julho de 1936.
A Crise do Eurocomunismo
a estratégia socialista no ocidente
59
agrupamento semelhante. pode começar a parecer a muitos um mal menor: os setores menlosradicais do movimento trabalhista, uma parte da pequena burguesia e talvez até mesmo um setor da própria burguesia.
O problema fundamental que enfrentamos em todos os paíseseurocontinua sendoeste: enquanto a esquerda revolucionária não for bastarlte forte para ser considerada como uma alternativa política digna de crédito aos partidos de massaexistentes entre a classe operária, e enquanto os trabalhadores forem suficientemente experimentados e conscientes para
acreditar que essespartidos, tal como. existem hoje, são incapazesde implementar 3s políticas anticapitalistas necessáriasà superaçãoda crise capitalista. haverá um impasse político difícil de superar através de uma manobra linha de propaganda ou acordo. Se todos os ll'deres dos partidos
comunistas e socialistas pudessem acabar com seus desentendimentos, talvez pudessem vencer as eleições por uns cem mil votos. A diferença na
Franca foi tão pequena que favores imprevistos poderiam ter decidido o f.à,i;:ld.. M« i". .m ;i -ã. f; i; «m; dif'"''ç; m-it. g« d D. .mb'; os lados das barricadas há muito ceticismo quanto à possibilidade de qual-
quer política reformista em condições de crise económica. Ninguém realmente acredita que ela possaser útil. Os capitalistas não acreditam nela, os agora mais difíceis de serem reacendidas e que, nessesentido, seria prova
vel o aparecimento do que poderíamos chamar de uma crise da perspec uva eurocomunista? Até certo ponto, sim. A curto prazo eu diria que sim, semnenhuma reserva. Mas devemos ser cautelosos e distinguir entre o que é parte da conjun-
tura e o que é inerenteà naturezado período. Qualquernovadeflagração de lutas da classeoperária tornará, imediatamente,o prometoeurocomunlsta mais útil e digno de crédito até mesmo aos olhos da burguesia liberal.
Na Fiança, por exemplo, vemosagorauma volta à açãodireta pelos trabalhadores. Isso, especialmentena ausênciade quaisquer perspectivas eleitorais a curto prazo, choca-se corri os princípios básicos do elirocomu-
nismo. Desde a formação da União da Esquerda,os trabalhadores foram aconselhados a não fazer greves. a preparar'se para as vitórias eleitorais.
Bem. os planos eleitorais falharam e há agora uma seqiiência de greves. E claro que ações fragmentadas contra a ofensiva de austeridade do governo
são. em última análise. ineficientes. Os trabalhadores compreendem isso e a propaganda de nossoscamaradasem favor de uma greve geral obteve boa reação entre eles. Mesmo que isso não seja uma respostasuficiente. seria pelo menos um passo na directo acertada.'A vanguarda dos trabalha-
dores franceses, inclusive os trabalhadores comunistas. está cada vez mais insatisfeita. O resultado disso não está claro. Não estou prevendo um novo maio de 1968. e nem mesmo uma greve gerar.,:Mas se a nova onda de greves e a
acho direta continuar a aumentar,a União da Esquerda,ou qualquer outro
trabalhadores também não, e até mesmo os próprios burocratas não Ihe
dão realmentecrédito. Isso, e não as dissençõesentre eles,é a raiz mais profunda do atual impasse.Os trabalhadores vêem o fracassodos reformistas. mas ai'nda não acreditam que a revolução seja possível. Daí o impasse. Não é fácil encontrar uma saída para ele. As propostas de frente úni-
ca são. é claro, um elementoimportante. Mas não devemosalimentar ilusões.mesmo involuntariamente, que já foram abandonadaspor uma boa parte da classe operária. Devemos ter muito cuidado na maneira pela qual sao apresentadas essaspropostas de frente Única e ''governo de trabalhadores'' De um lado, não há dúvida de que se a União da Esquerda na França,
por exemplo, tivesseconquistado a maioria nas eleiçõesde março de lu/ , uma dinâmica de radicalização muito poderosa teria sido desfechada,levando a uma confrontação generalizada -- senão imediatamente, então em seis meses ou um ano, aproximadamente. É por isso que sustentamos ter
sido a derrota dos partidos comunista e socialistanaquelaseleiçõesuma verdadeira derrota para a classeoperária. Por outro lado, isso não quer dizer que em certas condições M.archais
e Mitterrand poderiamcomeçara colocar em prática políticas anttcaptta" listas. Não acreditamos nessa possibilidade, nas circunstâncias atuais. E importante, por isso, não enfatizar apenas os resultados positivos da unida-
ilbiãB:i:i:n::ia a$ crítica. A reação da classe operária à ineficiência e à traição de um governo
60
marxismo revolucionário atual
6.1
:a$stratégta:socialista no ocidente
reformista é tão diferente quanto a noite e o dia, dependendoda existência, ou não, dessaalternativa dentro do movimento trabalhista. Nessesentido. há uma corrida contra o tempo na Europa Ocidental, hoje -- ou antes. uma:çorr.idaentre Qt:fortalecimentodo movimento revolucionário e as fases suc.es;idasde esperança e desespero das massas em relação às organizações -: de...--;massa .... : oficiais e tradicionais. . . Sou - . otim esta quanto J...:J-
a um aspecto: temos maia:tempo do que me parecia. há alguns anos, devido
à profundidade da crise social dos capitalistas. Isso nos dá mais tempo do que pensamos.mas não um tempo, Ilimitado. A classeoperária italiana e francesa, por exemplo. evidenciou uma militância surpreendente. na última
década.Parece-meque houve seisgrevesgerais na Itália. desde 1969. Mas isso não pode continuar indefinidamente.
[lual seria. então, a forma de UMa ofensiva reacionári? burguesa contra o proletariado, se a classe operária não tomar a iniciativa?
A curto prazo, essaofensiva não teria possibilidade de êxito. A longo prazo. é claro. teria.,:Mas antes que pudesse haver uma: derrota estratégica:.:da
classe operária, seriam necessáriasmuitas fases novas de luta. talvez. algumas derrotas em escaramuçaspreliminares, que não impediriam vitórias no periodó subsequente. Mas se houvesse uma derrota estratégica, upq modi-
ficacão decisiva na relação de forças qe;classe àscustas do proletariado.
e econõ:tnicq.i.ncontrolével:
então haveria um ataque não só contra,algumas,das conquistas fundamentais da classe trabalhadora nos últimos 25 anos, mas também contra alguns
direitos democráticos básicos.A burguéÊía;têm.*perfeita noção de que uma
A HeÓemohiq db: RefõrrnismdjÊ â:.F,i?ri+é .ü riiéá
classe operária consciente ê bem erga.hiza.dá::êÕh direito de. greve e com -- '' ;,. ê úàrlifé$taç ;.*, ãb.. está bem amplas possibilidades de ;organi2açãõ .. colocada
para bloquear qualquer modificação decisiva na situação economica. . Assim. se houver uma derrota estratégica da classe operária! êreió veremos uma redução radical do díréito de greve e da liberdade sindi
cal em geral. E isso terá implicaçõesprofundas para a estrutura política dos países em questão. Em dtltras palavras, haveria regimes poli'ticos auto'
ritários -'- não necessariamente Estadosde tipo fascista.emboraeu não exclua tal possibilidade. mas regimes autoritários qualitativamente diferen-
tes dos que existem hoje. Não falo apressadamente,quando digo que uma vitória estratégica da classe capitalista sobre a classe operária em qualquer
pais chave da Europa Ocidental seriaum acontecimento desastroso.Coco disse isso é extremamente improvável a curto e médio prazo. mas tal possa'
dó:diáriadentro da:classeproletária? ;.\
=::==:==' :@
1.; ! b..i=1 } q...=# :.l
r'':
bilidade não pode ser excluída para sempre.:E o pior aspecto da política da social.democraciae do eurocomunismo,e em grande parte também dos partidos "stalinistas órtodokos''; se assim os podemos chamar. Com todo o
elogio que fazem às instituições derüocrático-burguesas,com todas assuas genuflexões ideológicas ante os valores democrático-burgueses. eles subestimam de maneira total os perigos da situação europeia. Semeiam as mesmas
S e€1)=lsi\){
conduzida.
M:;M
marxismo revolucionário atual
62
Inicialmente. devemos notar que a realidade da luta de classesnos países capitalistas adiantados desde a Primeira Guerra Mundial -- ou desde
1905. na verdade-= não pode ser reduzida simplesmenteà fórmula do predomínio do reformísmo". ou à pretensãocontrária de que ''os traba-
lhadorestendem espontaneamente a ser revolucionáriasma$os traidores reformistas impedem que eles façam a revolução". Na realidade. essasduas
a estratégia socialista no ocidente
63
A fraqueza das organizações revolucionárias durante e imediatamente
após a SegundaGuerra Mundial. por exemplo era tal que foi impossível qualquer desafio político real aos reformistas. Aos olhos das massas,os revolucionários não representavam uma alternativa genuína aos reformistas
e stalinistas; a relação de forças teria de ser. primeiro. modificada. Masas
organizaçõesrevolucionárias,que contam não apenascom centenas,mas com aproximadamente dez mil membros. podem esperar. realisticamente.
travar batalha com a máquina reformista. quando surgiremcondiçõesmais
proposições são ambas analiticamente absurdas.
A primeira significaria simplesmente que o socialismo é impossível,
e a segundaé uma concepçãodemonológicada história. Nenhumadelasé capaz de explicar a realidade histórica. O fato é que durante períodos de funcionamento normal da sociedadeburguesa.a classeoperária é na realidade dominada pelo reformismo. Isso, na realidade, pouco mais é do que um truísmo, pois como funcionaria o capitalismo normalmente se a classe operária contentassesua existência pela ação díreta a cada dia? Mas o ca-
pitalismo não funcionou normalmentenos últimos 60 ou 70 anos.Períodos de normalidade foram interrompidos pela deflagraçãode crises,de situações pré-revolucionárias e revolucionárias=:E impossível -- económica.
social e psicologicamente-- para a classeoperária viver num estado constante de ebulição revolucionária. Essa atternação de condições suscita, portanto, a mesma velha questão dos limites temporais das crises revolucionárias e pré-revolucionárias.
Isso nos leva de volta à problemática trotskista fundamental: a da lideranca revolucionária. da concordância entre a elevaçãoda consciência de classe do proletariado e sua capacidade de auto-organização. da constru-
cão de uma liderança revolucionária. A coincidência de todos essesfatores pode levar a crise a um resu)tododiferente do habitual, que em si mesmo estimula a dominação reformista::Para os que podem querer classificar esta
análisecomo ''revisionlsta''. devemoslembrar que essetipo de revisionismo
favoráveis. A composição social das organizações e sua capacidade de recrutar um número suficiente de dirigentes da classe operária, reconhecidos
como líderes autênticos, ou pelo menos potenciais, da classena fábrica. também são elementos decisivos que podem ser estudados em detalhe em
vários casosespecíficos: o Partido Bolchevique entre 1912 e 1914. a ala esquerda do Partido Social-Democrata Independente (uspD) na Alemanha
entre 1917 e 1920. a esquerda revolucionária na Espinha entre 1931 e 1936 A isso devemos acrescentar que o desaparecimento de uma tradição
anticapitalista é um fenómeno relativamente recente. que acompanhou a fixação definitiva da posiçãodos partidos comunistas nos paísesindustrialmente adiantados ao término da Segunda Guerra Mundial e em especial ao
fim da Guerra Fria. Essetipo de educaçãoanticapitalista havia continuado até mesmo durante a Frente Popular. tendo a política stalinista sido imple
mentadaem dois níveis, por assimdizer. Hoje, o reformismo social-democrata e stalinista une forças para manter a classeoperáriacomo prisioneira da ideologia burguesa e pequeno-burguesasMas qualquer visão da luta de classesque se centralizasse exclusivamente sobre esseaspecto da realidade
subestimada as molas mestras quase que estruturalmente anticapitalistas inerentes à luta declasses, durante qualquer fase de instabilidade acentuada.
tem raízes profundas,Éjá que até mesmo Lênin disse que a classe operária
O fato de ser a classeoperáriaespontaneamente anticapitalistadu-
é naturalmente sindicalista'' durante períodos de funcionamento normal
rante os períodos pré-revolucionários foi confirmado em escalamaciçaem
do capitalismo, e ''naturalmente rias ou pré-revolucionárias.
anticapitalista''
em situações revolucioná-
país após país: Alemanha. 1918-1923; Itália, 1917-20; França.1934-36; Espanha. 1931-36; novamente a França em maio de 1968; novamente a
Os reformistas continuarão a ser a maioria da classe operária durante períodos ''normais", setal expressãotem qualquer significado durante a fase de decadência capitalista. De qualquer modo, é clara a existência de uma
Itália em 1969-70 e 1975-76; Espanha novamente em 1975-76; Portugal
diferenca fundamental entre. de um lado, uma situação na qual há dissen-
nea (e consciência) têm efeitos menos duradouros sobre a consciência de
são entre pequenos agrupamentos revolucionários isolados e, de outro, a
classee permitem aos reformistas reconquistar o controle de modo relativamente rápido, pois do contrário serãoaçambarcadaspor poderosaserga
máquina dos partidos de massaque sãopraticamente onipotentes na classe trabalhadora. bem como situaçõesnas quais os revolucionários jã atravessaram o umbral da acumulação primitiva de forças, embora ainda represen-
tem apenasuma pequenaminoria dessaclasse.Nesteúltimo caso,a luta para arrancar dos reformistas a hegemonia sobre as massasse torna infinita-
mente mais fácil. uma vez surgida a crise revolucionária.
em 1975; e assim por diante.
Por outro lado, essasexplosõesde atividade anticapitalista espontâ-
nizacões anticapitalistas de massa.como os partidos comunistas de princi
pios da década de 1920. ou por uma vanguardados trabalhada.resde proporções significativas,
burocráticas.
que têm permanente
desconfiança dasplmáquinas
65 marxismo re'üolucionário anual
64
a estratégia socialista no ocidente
nhum sindicato. nenhumafrente unida de partidos jamaisconseguiutal
dãdê pol:Íticâ;
ser concretizada. então, de que a política de unificação daq forças proletárias é uma 'constante. um ob/et/io estmtég;co pe/manente para os
atraídQs:Pelas forças mais moderadas.
iniii]]Ê:]á#'Ó]i]Íifiiç:i14:i?: ]::iilsl:iii:x;l'4$i fundamental dos revolucionários?
ou nacional raça, sexo. idade etc.
para iDilhões de assalariêdo$.
iÚlil$$ê:ilha:
67
marxismo revolucionário atua]
66
a estratégia socialista no ocidente
a açáb comum, ou pelo menos exercer. a partir das bases,pressãotal que os aparelhos teriam de pagar um alto preço por não aceitarem o caminho
se ignorar essaconfiança relativa ou supor que os trabalhadoressocialistas
ou comunistasparticiparão dâ frente sem levar em conta as atitudes e l
reações de suas próprias lideranças.
Segue-sequeluma política de frente única dirigida para os partidos. social ista e comunista
é um componente
tát/co da or/e/7taçáb estrafeig/ca
geral. Mas é apenasisso -- um componente e não um substitutivo dessa or/entaçáb. Isso é particularmente exato na medida em que a unificação e politização máximas de todo o proletariado exigem tanto a dedicação
dosçtrabalhadores$: socialistase comunistasquanto um rompimento, por
«
parte da grande maioria dessestrabalhadores, com as opções de colaboração de classemantidas pelos aparelhos burocráticos. É interessante assinalar que a redução simplista da estratégia de uni-
ficação das forças proletárias e elevaçãomáxima da consciência de classe à poli'tica da frente única dos partidos socialista e comunista tem paralelo
freqilente=:nailusão espontaneístade que a formação real dessasfrentes únicas é, por si só, suficiente para levar os trabalhadores a romper com os reformistas. em virtude da amplitude das lutas unificadas que resultariam.
Ó'
Ainda mais ilusória e espontaneísta é a nocão de que a experiência de um governo sem ministros capitalistas" seria suficiente para abrir caminho a um:'rompimento
das massas trabalhadoras com o reformismo e à formação
de um autêntico ''governo dos trabalhadores'' anticapitalista. A experiência da histórica mostra que essasnoções são falsas. Basta
lembrar. por exemplo. que depois de nada menos de seisgovernostrabalhistas "puros" na Grã-Bretanha -- e com isso quero dizer governosque não contavam com ministros burgueses-- a máquina reformista continua mantendo seu controle sobre a maioria da classetrabalhadora. embora tal máquina esteja integrada ao Estado burguês e à sociedade burguesa mais
estreitamente do que nunca, e embora defenda e mantenha uma política de colaboracão cada vez mais íntima com o grande capital. A tática da frente única só serve à estratégia de unificação do pro-
letariado e elevaçãode sua consciência se várias condições forem 'adequadamente atendidas.
Primeiro, as propostas de frente única dirigidas aos partidos socialista eljcomunista devem centralizar-se' nas questões mais prementes da luta de
Í'
classes e devem concítar as lideranças desses partidos a se unirem para lutar
por objetivos específicos, que articulem os interesses dos trabalhadores. Devem. portanto, conter um aspecto programático -- sem o qual poderiam
até mesmo lem condiçõesrevolucionáriaslfacilitar as operaçõescontra a classe operária.
Segundo. essaspropostas devem ser formuladas de maneira a serem
dignas de crédito pelasgrandesmassas,em momentos nos quais parece possívelimplemente-lase nas formas qüe levam na devida conta o nível de consciência dos trabalhadores que ainda seguem essespartidos. Em outras palavras, uma das funcões essenciaisdessaspropostas é provocar rea/mente
'1 f
premente.
a revolução pemlanente no terceiro mundo
by
2.
A revolução Permanente no Terceiro Mundo
. Uma das principaiscontribuiçõesde Leon Trotski ao marxismo foi a formulação da teoria da revolução permanente. Na verdade, essateoria p.rova-
velmente está mais intimamente associadaâaoseu nome do que qualquer
outra. Foi desenvolvida inicialmente para a análise e previsão do curso da revolução russa. com a argumentação de que não haveria um estágio burguês intermediário. que as tarefas ''clássicas'' da revolução burguesa seriam
resolvidas pela classeoperária sob a ditadura do proletariado, :Maistarde,
ele generalizouessateoria. aplicando-aa todo o mundo colonial, onde as revoluções chinesa, vietnamita e cubana confirmaram a sua exatidão, como
o haviafeito a revoluçãorussa. No período do pós-guerra, porém. houve uma grande onda de descolo-
nização, frequentemente lideradapor forças políticasnacionalistas burguesasi Isso levou à criação de Estados que gozam pelo menos de independên:
cia jurídica, surgidoscom o colapsodos impérioscoloniaiseuropeus Será que os marxistasrevolucionáriossubestimarama capacidadeda burguesia nativa do mundo colonial e semicolonial para conquistar a jndependência
política. e até mesmopara presidirrevoluçõesburguesasbastantep.rofundas? Não terá a Quarta Internacional subestimado a capacidade de luta dessespartidos e forças sociais nacionalistas burguesas?
Vou responder à pergunta em dois níveis. Primeiro, o que realmente ocor-
reu. e ainda está ocorrendo até certo ponto, embora o processoestejaagora quase concluído, já quq restam poucos paísescoloniais no sentido real da palavra. paasesadministrados diretamente pelas potências imperialistas. Segundo, quais as implicações desse.processo para a teoria da revolução permanente?
Para começar, não nego que muitos marxistas, inclusive Trotskí e o movírríento trotskista. fizeram generalizaçõesimprudentes, de tempos em
]
:
71
marxismo revolucionário atual
70
a revoluçãopemtanente no terceiro mundo
B
Ora. contrariará isso a teoria da revolução permanente?Não creio, e novamente temos de rejeitar as interpretações simplistas e unilaterais do
que essateoria afirma. Como se dedicou muita atençãoa isso{o Partido ComunistaBritânico publicou um de seusfolhetos maistradicionalmente
L:E::EF::FH :1:18B:l
stalinistas sobre essa questão, e isso não foi por acaso), gostaria de recapitular o que a teoria díz, sua estrutura real, e sua premissa essencial, que fo-
ram. com freqilência, mal entendidas. A premissa inicial da teoria é a de que a famosa frase de Marx de que
os paísesadiantadosrefletem o futuro dos menosdesenvolvidos deixa de ser exata com a ascensãodo imperialismo. A.Franca e a Bélgicaseguiram, em geral, o padrão do desenvolvimento inglêsla Alemanha e a Itálía repetiram. em grande parte. o desenvolvimento francês, embora sem uma revolução burguesa radical. Japão, Áustria e Rússia czarista começaram nesse
caminho. mas foram incapazesde trilha-los até o fim. E aí termina a questão. Uma vez estabelecida a natureza imperialista geral da economia mundial. tornou-se impossível aos países menos desenvolvidos repetir totalmen-
te o processode industrializaçãoe modernizaçãodos paísesimperialistas.
l
Há três razões essenciais para isso, que foram resumidas pelo jovem
Trotski. mais intuitivamente do que pelo estudo histórico profundo. quando primeiro formulou sua teoria, em 1905. Primeiro. o peso do capital imperialista no mercado mundial (e, portanto, em todos os paísesrinclusive os mais atrasados} foi tal que qualquer processo orgânico de industrializa-
ção em competição com o capital imperialista foi eliminado enquanto o imperialismo: dominou. Segundo, a burguesia.nativa nessespaísesfoi colhida entre seu desejo de industrializar-se e modernizar-se, de um lado, e suas
íntimas relações com a propriedade agrária, de outro. Devido a essarelação íntina. 'a burguesia não teve interesse em promover uma revolução agrária radical, pois isso seria a destruição de uma parte significativa de seu próprio capital. Essa revolução agrária, porém, é a condição preliminar pa-
ra a criação de um extenso mercado interno, necessárioa um processode industrialização profunda e orgânica. Houve, no caso,também uma convide
ração política : a classeoperária era relativamente maisforte do que a bur
guesiaem muitos dessespaíses,de modo que a burguesiatemia qualquer
.+
comoção radical no sistema de relações de propriedade, pois isso ameaçada
o seu controle. Terceiro, os camponeses-- que teriam oferecido o maior número de participantes potenciais do processorevolucionário burguês (e cujo potencial revolucionário Trotski não negou nuncal -- foi incapaz.de oferecer uma liderança política
central a esse processo. Estava historica-
mente condenado a seguir uma liderançaburguesaou proletária, Se os camponeses fossem liderados pelas forcas burguesas, a contra-revolução se-
ria Vitoriosa, porque a burguesia, pelas razões acima mencionadas. passaria
inevitavelmente à contra-revolução no curso do processo revolucionário. Portanto. somente se os camponesesfossem conquistados por uma liderança proletária, ou pelo menos participassem de um processo revolucionário
#
72
a revolução permanente no terceiro mundo
marxismo revolucionário atüal
73
escrito em 1960. Em essência.essefenómeno pode ser resumido da seguin-
por tremendas lutas revolucionárias, conflitos e guerrascivis, transforma-
te maneira: quando o setor que produz e exporta bens de equipamento passaa predominar, na metrópole, sobre o setor que produz e exporta bens
ções pol éticas dramáticas e embates de todos os tipos -- as tarefas da revoI'ução' burguesa foram realizadas realmente. talvez de maneira.p.alclal..de-
morada. em vários pai'sesintermediários do ''Terceiro Mundo''? Muitos
de consumo {inclusive mesmo os bens de consumo duráveis), o imperialis-
desses Estados possuem hoje máquinas estatais capitalistas, .independen-
mo passa a ter interesse num certo grau de industrialização nos países de-
tes. capazesde impulsionar a modernização e ? industrialização..Afinal de
pendentes. A razão é evidente: se exporta máquinas, o país precisa de cação na relação entre as várias frações da classeburguesa internacional, o
contas, mesmo nqs pai'ses onde houve revoluções socialistas, a industrialização está longe de ser ''orgânica'' e completa. Mas se examinarmos países
que por sua vez levaa uma modificação no bloco dominante em algunsdos principais paísesdo mundo subdesenvolvido,O bloco dominante clássico era o dos grandes latifundiários, da burguesia intermediária. e do capital
são hoje politicamente independentes ê não se baseiamem camadas sociais pré-capitalistas. Sem dúvida, muitos dessespaíses viram reformas agrárias
clientes. e estessãoprocuradosem todo o mundo. Issolevaa uma modifi-
como Méxíco,'Brasil, Argélia, Egito e mesmoa I'ndia,veremos Estadosque
tão profundas quanto algumasdas realizadasnos pa.I'ses metropolitanos.
imperialista que dominava a produção de matérias-primase produtos
Se tudo isso é certo, um dos postulados
primários.- Esse bloco dominante não tinha interesse em industrialização
em grandeescala,au rápida -- muito pelo contrário. Há agora um novo bloco dominante em alguns dessespaíses: um.bloco
tariado. Concordacom isso?
de monopólios capitalistas nativos. tecnocratas do Estado e da máquina militar. e multinacionais interessadasespecialmente na exportação de equi-
Não. Na verdade. discordo vigorosamente. Para começar, Trotski usa exatamente as mesmas palavras que usei antes: a rea//zacâb coar/efa e aufént/ca (não o /n/t/o de uma realização) das tarefas da revolução democrática e burguesa. A maneira como você caracterizou as revoluções burguesas no
pamento industrial. Essebloco, ao contrário do anterior. tem interessena industrialização dessaseconomias intermediárias até certo ponto. Essa mo-
dificação na composiçãodo bloco dominante em alguns países está. portanto, ligada tanto à$ modificações estruturais na metrópole da burgue-
passado,com base na qual você avaliou o que vem ocorrendo nos chama-
sia imperialista quanto a importantes modificações na composição social
dos paísesintermediários,é. na minha opinião, errónea.(De passagem, incidentalmente.eu não considerariao Egito como um dessespaísesinter-
dos países intermediários, pois nessesocorreram grandes comoções
mediários. Brasil e México, sim; a lhdia talvez. Os outros seriam a Coréia do Sul. as cidades-Estadode Hong-Kong e Singapura. que são casosespe-
Não haverá um perigo na maneira pela qual esseproblema foi apresentado acima? Num sentido, a resposta dada parece fixar padrões excessivame.nte
ciais, e a Argentina).
altos para o que poderia ser consideradoçom.o.processorevolucionário burguêsautêntico no "Terceiro Mundo''. Afinal de co.nuas, nospai.ses.me-
Você colocou ênfase excessivano caráter burguêsdo Estado e na eliminação das relações sociais ou relações de produção pré-capitalistas. Por que digo isso? Porque a lei do desenvolvimento desigual e combinado
tropolitanos adiantados a realização das várias tarefas.da revoluç.ão burgue-
sa exigiu um período prolongado.0 processo.foi.muito desigual;as.contas
evidentementecontinua a operar na época do imperialismo -- mais do que
mm a classe l;tifundiá'ria feudal foram ajustadas de maneira muito diferen-
nunca. na verdade. O atraso de um país como o Brasil, ou mesmo a Índia
tes na Fiança. Grã-Bretanha.Alemanha, Jap.ãoetc. Além disso, a con: cepção marxista clássicadas tarefas essenciaisda revolução burguesa não.se centraliza na modernização ou industrialização em plena escala. A Revolução Francesa em 1789, por exemplo, não produziu uma industrialização total na França, pelo menos a curto prazo A revolução burguesa envolveu.
t
um Estado independente.E. é claro, geralmenteassociadacom o que f.oi uma revolução agrária como a base. ou um componente essencial, da criação dessanova máquina estatal. Não se poderia dizer que em cerc? de três quartos de século desde que
Trotski tormli ou a teoria 'da revolução permanente= período marcado
em 1950. não pode ser comparadoao ''atraso" da Françaem 1789. Não quero repetir o debate que se vem realizando há várias décadassobre a
natureza da agricultura latino-americana.ou mais geralmentesobre a agricultura em muitos dos paísescoloniais no século XIX. Meu bom amigo André Gunder Frank levou essedebate até a natureza da agricultura no
essencialmente.' a expulsão das classes que dispunham de.poder e se b.atea-
vam em relações sociais pré-capitalistas, ou, no caso da Guerra Americana de Independência, a eliminação da máquina estatal cólon.ial e a criação de
básicos da teoria da revolução
permanente deve ser reexaminado e corrigido: o de que as ta.refaz.darevolução burguesa só podem ser plenamente realizadas pela ditadura do prole-
século XVI .
Deixemos isso de lado. Minha impressãoé que mesmo na épocade l
Trotski
as relações sociais semifeudais no sentido literal da palavra .--
para não mencionarmos estruturas estatais semifeudais como a monarquia absoluta na Rússia, ou a monarquia na França antes da revolução
de 1789 -- pouco existiam nos paísescoloniais. Podemoscitar o casoespecial dos príncipes indianos e das regiõesda Índia que elesdominavam,
l.
75
a revolução pemlanente no terceiro mundo
marxismo revolucionário atual
ficaria que o sistemaproduziu uma industrialização suficiente paraabran-
maísde cem milhõesde pessoa's; no Brasil,cercade 20 milhões.Mas essa estatística pode ser apresentada de forma oposta: 400 milhões de pessoas na lhdia e 80 milhões
no Brasil foram
totalmente
excluídas
desse
processo. Daí a fórmula: a realização autêntica e completa das tarefas democráticas da revolução burguesa é impossível no Estado burguês. O processo deve ser apenas inicia(1), e há acentuados limites objetivos ao seu desenvolvimento. Gostaria de acrescentar um outro ponto. mais controverso entre os
marxistas.tanto os revolucionárioscomo os do movimentooperário em geral. É o segundoaspecto da questão que estamosdiscutindo, ou seja,a relação exata entre essesEstados e o imperialismo.
Inclino-me a dizer que
o grau de autonomia política do capital imperialista que essesEstados atingiram é maior do que os marxistas esperavamhá 30 ou 40 anos. Ao que me parece.seria errado chamar hoje paísescomo o Brasil ou a Índia de semicoloniais no sentido de que seusgovernos devem ser consideradoscomo dependentes de alguma potência imperialista. Não o são. Mencionei an-
fb
tes o bloco de poder que hoje governa essespaíses.Evidentemente,o componente que compreendeas classesdominantes nativas é multo maior e mais autónomo, hoje, do que no passado. Mas eu acrescentaria imediatamente
que me parece um desastroso
erro analítico. com consequênciaspolíticas fatais, deixar de reconhecer o outro lado da moeda: essespai'sescontinuam dependentes.com burguesias dera/vdenfes. Isso tem. é claro, implicações para o grau de resistência
que essasmáquinasestatais podem ter contra o imperialismo. O domínio da economia imperialista internacional. do capital imperialista, sobro as economias desses pai'ses continua
tal que a fórmula
de dependência se
justifica plenamente.Essedomínio se refletede muitasmaneiras:dependência financeira e tecnológica. sujeição a instituições internacionais como
o Fundo Monetário Internacional, subordinaçãomonetária aos mercados monetários internacionais. a capacidade que tem o imperialismo de con-
tinuar a manipular e dominar as relaçõesde troca, o grau em que o pro-
f
cesso de industrialização nessespaíses integrou-se com as necessidadesdo capital imperialista, o peso das empresas imperialistas no processo de industrialização, e assim por diante.
Os Limites da Acumulacão Dependente )
Um dos fatos para os quais você tem chamado atenção nos últimos.anos é
a ascensãodo 'que você chamou de um novo capital financeiro autónomo em vários pa'ses capitalistas dependent.es..in.cluindo,entre outros, o Irã. os países árabes, o;Brasil e a Coréia do Sul. Vários anos transcorreram
nK
77
a devoluçãopemlanente no terceiro mundo
marxismo revolucionário atual
situam num ponto entre Itália ou Espanha,de um lado, e Tchad, Mali ou desdeque essaobservaçãofoi feita. Terá ela sido confirmada pelos últimos acontecimentos? Se assim for. esset.iplp de fenómeno não criará problemas para a teoria da revolução permanente?
Paraguai, do outro:'f'
..
- -
'
.
As consequênciasdisso são;é claro, sérias.Uma delasé a de que o objetivo do proletariado na revolução. nessespaíses,serámaior do
$
que em qualquer das re'/oluções socialistasanteriores, inclusive a russa,la
bei.©HÇi]mün:;311;'ãH lmport3nte e que essespaíses estão --.e estarão -- envolvidos em crises de
superproducãoclássicasmais diretamente do que ocorreu no passado.Em outras palavras, eles combinação cada vez mais os efeitos do atraso com os do desenvolvimento capitalista em grande escalamEste é, na verdade. um dos fatores que hoje minam a ditadura brasileira, e desempenhou um papel na revolução iraniana.
.
..= .
Ao mesmo tempo, essefenómeno não deve ser examinado de maneira
unilateral. É claro que em sua maior parte essesgrupos de capital financeiro autónomo nos paísesgemi-industrializados operam nos espaços, que
+
lhes sâo deixados pelas empresas imperialistas multinacionais. Isso é um dos reflexos de sua continuada dependência da economia capitalista mundial. Além disso, o uso da expressão "gemi-industrializado''
não Implica de
modo algum que essespaísessetornaram "imperialistas", ou mesmo' sub-
imperialistas". Essasfórmulas são muito enganosas,porque ofuscamas diferenças fundBmenfa/s entre os países imperialistas e os dependentes. De certos modos, a industrialização intensificada tornou tais países' os
)
mais desenvolvidos entre os subdesenvolvidos -- mais. e. não menos dependentes do imperialismo do que antes. São mais dependentes da tecnologia
imperialista. mais intimamente integrados e, portanto, mais sujeitos ao mercado mundial imperialista. Setores amplos da burguesia nacional estão
mais fortemente ligadosàs firmas multinacionais. De fato. seusrelativos êxitos económicos fortaleceram sua dependência do sistema de crédito internacional. Além disso, em casos nos quais há.um conflito de interesse
sobre mercados, entre empresasimperialistas e indústrias recém-desenvol-
vidas nos paísesdependentes,os últimos são particularmentevulneráveis às medidas protec onistas tomadas pelos governos imperialistas, especialmente num contexto de estagnaçãorelativa, ou mesmo de contração do
comércio mundial. Em 1976, por exemplo, a indústria têxtil de Hong Kong foi seriamente prejudicada por um embargo imposto pelo Canadá e pelas restrições de importação determinadas pelas Austrálla. Em 1977 os países do Mercado Comum procuraram reduzir suas importações de )
ilh@iimlESB'ãiH$Uln países do ''terceiro mundo", os subdesenvolvidos são em geral incapazes
de uma retaliação efetiva contra essasmedidas. Assim, eles só podem
78
a revolução permanente no terceiro mundo
marxismo revolucionário anual
79
à sua capacidadede modificar qualitativamentea suaestrutura social. Se desenvolver indústrias na medida em que ''preenchem lacunas" deixadas
não houvesse tais limites, então pelo menos alguns deles poderiam teorica-
1;;i. «pi«l :mp'':'''«.. só - m;. d. p''''t?? T.'l'!:."."'
mente continuar seu desenvolvimentoaté o ponto de se tornarem socie-
m;''''''-'
dades capitalistas.iplenamente modérnizad©, nas quais as tarefas da revolu-
ção burguesa teriam sido concluídas apelo menos na mesma medida em que foram cumpridas nos países mais adiantados). Uma revolução ''e.xclusi-
vamente proletária'' poderia então estar na ordem do dia. Isso significaria, sem dúvida. que a teoria da revolução permanente foi finalmente negada. f
Quais são. portanto, esses.limites objetivos? 0 que impede.um país como o Brasil ou alguns dos países da OPEP de se tornarem nações capitalistas
totalmente modernas? Vou começar focalizando os países da OPEP.Há, no caso deles, vários
fatores que limitam severamentea suacapacidadede promoverum processo autêntico de industrialização a longa prazo. Nós, na Quarta Internacional. observamos em várias ocasiões que existe uma tendência para exagerar
muito a acumulação real de reservasde divisawpelospaísesexportadores de petróleo. Na verdade. houve uma boa margem de falsificação deliberada
pelos círculos imperialistas quanto a isso, com o objetivo ideológico evidente de tentar convencer aos trabalhadores dos pai'sesimperialistasque a recessão de 1974-75 foi, em grande parte senão principalmente, culpa dos xeques do petróleo'' e que. como a causa da crise foi externa às econo-
mias dos países capitalistas adiantados, a única solução era a "austeridade
de um tipo ou de outro. O Banco Mundial, por exemplo fez inicialmente a alegação fantástica de que os membros da OPEPdentro em pouco acumulariam 650 bilhões de dólares em reservas de divisas. Fontes semelhantes
alegaram que o saldo dos excedentes de pagamentos recebidos pelos países exportadores de petróleo
totalizariam
80 bilhões de dólares em 1975.
Todos essesnúmeros foram constantemente revistos para menos. O número
real para o saldo dos pagamentosrecebidos.por exemplo, foi de apenas 57 bilhões de dólares, e em 1977 havia cai'do para cercajde 21 bilhões. Uma das razões dessaconstante sobreestimativa da suposta riqueza dos países da OPEP.à parte a falsificação deliberada. é que mesmo os recursoscriados pelos enormes aumentos dos preces do petróleo não foram sufl
#
cientes para financiar a industrialização a longo prazo, na maioria desses pal'ses.O resultado é que essespai'sesexportadores de petróleo. com popu' cações numéricam.ente significativas, na realidade enfrentavam déficits do balanço de pagamentos devido às grandes despesas das importações que necessitavam para seus planos de industrialização. Nigéria, Argélia, Irã. }
Iraque e Venezuela, por exemplo, todos eles enfrentam déficits, apesarde sua renda com o petróleo.
RBli:lllR:liiBll$ ÇiR:lUIlilB\lll
Em última análise essesimples fato estatl'suco é um reflexo do atraso sócio-económico dessespaíses. Falta a quase todos uma infra-estrutura
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80
marxismo revolucionário anual
a revolução permanente no te.rceiro mundo da OPEP.A economia capitalista internacional é, sob aspectos importantes. um todo unitário. .É. portanto. impossl'vel.cexaminar as perspectivas de
desenvolvimentoeconõÚico num setor isoladamentedo todo ou de outras partes componentes. Segundo nossa análise :- confirmada pelas ev dências
existentes,-- a economia capitalista mundial não está caminhandopara um período
de expansão
vigorosa.
Pelo contrário,
as próximas
recessões
serão mais profundas. os surtos de prosp.eridade e recuperação serão ainda
mais hesitantese desiguais.Nessascondições,atendoos próprios países imperialistasdificuldade em manter taxas de desenvolvimento significat vas, e difícil pensarnum surto prolongado de construção industrial n?seconomias menos desenho/v/das e noenos v prosas. Pode haver. é claro..exceçõl:s
individuais durante um ou outro breve período. masem geral podemoseliminar a possibilidade do tipo de crescimento que seria hecessànopara transformar a estrutura sócio-económica de paísesdo "Terceiro MunOO
ao ponto em que uma revolução.:;'realmenteproletária" fizesseparte da ordem do dia. A verdade final dessa afirmação..poderá ser vista se examinarmos rapidamente a posição dessespaíses no mercado mundial. Essa posição é
no mínimo. marginal. Vejamos um exemplo. As exportações totais dos países da Comunidade Económica Européia para o.Brasil, Índia e Paquistão estagnaram ou diminuíram
em 1975. 1976 e 1977. Observei isso tam-
bém em The Sn0/7d S/ump. mas é um ponto que mereceser repetido. Essestrês pal'ses,com uma populaçãototal de cerca de 800 milhõesde habitantes, compram
menos mercadorias dos nove países do Mercado
Comum do que a Austria apenascuja populaçãoé inferior a 8 milhõesl Qual a razãodessanotável disparidade? É evidente. O "modelo de desenvolvimento" brasileiro baseou-sena superexploraçâo do proletariado e no empobrecimento dos camponeses. O resultado, como já disse, é que apenas
cerca de um quinto da população está inclui'do no mercado interno. E isso
cria um limite não só à capacidade de o Brasilabsorvermercadoriasdos países imperialistas, como também à sua própria industrialização. Tudo se
reduz ao mesmo ponto, no final: o imperialismo foi incapaz de livrar as populações dos paísesdependentes da miséria e da pobreza. Portanto, esses
paísesnão podem servir de mercados adequadosàsnovas impo.rtaçoesmaciças dos países imperialistas. ou à industrialização intensiva de suas próprias economias.
n Todas as observações podem ser resumidas como se segue. Houve, e
continua havendo, uma reestruturaçãodo mercado mundial. Uma das características desse processo é que alguns dos mais adiantados entre os países subdesenvolvidos estão conseguindo um grau bastante significativo de industrialização que. no fundo, é resultado da combinação.de.duas
tendências:primeiro, a transferência pelo capital impe.realista de alguns centros de produção para os países dependentes; segundo, o aumento do
capital financeiro autónomo nessespaíses que tem interesseem realizar
marxismo revolucionário atual
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a revolução pemlanente no terceiro mundo
lução russa,à luz das lições da experiência de 1905. Qual poderia ser a di nâmica de classe daquela revolução, e qual o papel da classe operária dentro dela? Foram essasas questões que Trotski abordou em Besta/fados e Perspecf/vas. Nos anos anteriores à Revolução de Outubro, a expressão
lução permanente" estava associadaquase que exclusivamenteao nome de Trotski. significando simplesmente que a revolução na Rússia co-
locaria a classeoperaria no poder e que. uma vez no poder. os trabalhadores seriam forçados a tomar medidas radicais contra as relaçõesde proprie-
dade burguesas,se quisessemresolver os problemas criados pela falta de uma revolução burguesa no país. Durante aqueles anos. a revolução perma' nente foi contestada. de um lado, pela posição dos mencheviques, os quais sustentavam que a revolução seria inevitavelmente burguesa e que a sua li
derança.caberia logicamente aos liberais. e. por outro lado, pela posição dos bolcheviques, mais nuançada. segundo a qual as tarefas da revolução. embora fossem burguesas. seriam realizadas por uma aliança do proletariado e dos camponeses.Segundo tal posição, uma vez que essaaliança tomas-
se o poder, haveria uma ''ditadura democrática dos trabalhadorese cam-
i;H:==:=='=;=',!:.=1;=;='=:='=í,=:=i=B.:::==':i: cas seriam desastrosas.
poneses''.
Trotski
caracterizou
essa fórmula
coma
'algébrica
', no..sentido
de que o peso relativo das duas classesna aliança não era especificado, bem como o caráter de classedo Estado dominado por ela.
Na prática, os bolcheviques,'sob o Ímpeto de Lênin, chegarama Revolução Permanente: Teoria ou Estratégia?
adotar a estratégia da revolução permanente no curso das comoções de
1917. Não conheço, porem indícios de que Lênin tenha jamais reconsiderado a revolução permanentedo ponto de vista teórico. Com efeito. duran-
ugHXiÜ;=::=f:.füTmm estratégicas e de tarefas do proletariado e seusaliados. Prefiro. realmente. a expressão "estratégia" da revolução permanente, em-
que. que inicialmente as recebeu como um desvio "trotskista". ponente
campones
da fórmula
algébrica
da "ditadura
Se o com-
democrática
dos
trabalhadores e camponeses'' recebesseo valor zero, então a fórmula seria
simplesmenteigual a:'ditadura do proletariado'
g$1#:RilW;llHiRiH$
Toda a questãofoi então posta de lado pela .pressão dos aconteci-
mentos. Durante os anos desesperadosda guerra civil, a discussão das im-
plicações teóricas de outubro para os países subdesenvolvidos não foi
sobre a aplicabilidade ou não da revolução permanente a este ou aquele
tas adiantados se torn8 realmente significativa.
incluída com destaque na agenda. em especial porque a onda de luta revo-
iLiiliL;:' q-. «
«g«i- à P,ím'i"
G""; M"-di'l « "-t':lj"''
p''"'P'''
mente óa Europa desenvolvida.A prioridade central para os líderes do Partido Bolchevique e a Terceira Internacional, àquela época. era a extensão da revolução aos paísescapitalistas adiantados. SÕmais tarde, durante a década de 1920, e em especial após a experiência da revolução chinesa
de 1926-7. á que se reavivou o debate em torno da revolução permanente
:::«'«i$$HK$$$1$81HHi:$$
e a teoria foi melhor desenvolvidapor Trotski. Naquelaépoca,porem,os termos da discussão se haviam modificado de maneira dramática. O preces'
marxismo revolucionário atual
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a revolução pemlanente no terceiro mundo
mento da ditadura do proletariado. Terceiro, a experiência histórica demonstrou que os camponeses,por variadas razões. eram incapazesde se organizar num partido #)dependente,
com um papel independente.«Por
maior que fosse o seu papel revolucionário. os camponesesseguiriam,poli'
iÜiÜÕii:uzRÊigii:ii::: lli ==HH;=1=t=«==:s=':',= =:u=mí= um adjunto da teoria do socialismonum paíse. como tal, foi um instrumento da burocracia cada vez mais conservadora. O núcleo dessaversão stalinista da ''ditadura democrática" foi sua divisão do mundo em países que estavam "maduros" para o socialismo e os que nãa estavam. Todos os países do mundo colonial {todos os países do mundo. finalmente. mas isso ocorreu depois) foram colocados na segunda categoria. Em termos de
estratéga política, isso significava que os partidos revolucionários dos trabalhadores naqueles países não deveriam procurar conquistar a hegemonia sobre os camponeses, tomar o poder e estabelecer a ditadura do proletaria-
do como se haviafeito na Rússiaem 1917. Isso foi consideradocomo utÓPico. já que tais paísesnão estavamsupostamente''maduros" para o socialismo. Em lugar disso, os partidos do Comintern foram conotadas a apoiar a burguesia. numa tentativa de fazer uma revolução ''democrática
(isto é. burguesa).SÓ num futuro indefinido essespaísesestariamentão "maduros" para uma transformação socialista. A teoria menchevique da revolução em duas etapas" foi ressuscitada e generalizada -- mas numa
ticamente. aí:burguesia ouço proletariado,amas em caso algum conquista'
riam o poder estatal e estabeleceriamum9regimeque expressasse seuspr.oprios interessesde classe.Em outras palavras,o ''componente campones da ''ditadura
democrática
dos trabalhadores e camponeses" ser/a sempre
zero e. portanto, a ''ditadura democrática" só poderia realizar-sena forma da ditadura do proletariado apoiada pelos camponeses.Quarto, essaditadura do proletariado. tendo subido ao poder à testa da revoluçãodemocrática. seria obrigada, para realizar as tarefas dessa revolução, a restringir profundamente os direitos de propriedade burgueses.A tomada do poder marcaria então não a conclusão. mas o início do processo revolucionário
de transformação das relações sociais do pai's em questão. A revolução democrática. na famosa frase de Trotski. evolui diretamente paraa revolução socialista, que por sua vez só .pode ser completada em escala interna-
cional. A revolução é, portanto, permanente no sentido duplo de que a transformação+da
revolução
"democrática''
em "socialista"
ocorre
sem
qualquer descontinuidade, e esseprocesso de revolução em escalanacional
deve também fundir-se continuamente com a extensão do processo internacionalmente.
Conceptualmente. portanto, a teoria/estratégia da revolução perma'
nente questionavaa divisão do mundo em países"maduros" parao socialismo e países que eram demasiado "imaturos"
para Q socialismo. Em lugar
pelo menosdefendido a independênciaorganizacionaldo partido proletá-
disso. ela sustentavaque um país no qual o proletariado era demasiado fraco para conquistar a hegemoniasobreos camponeses e tomar o poder por si mesmoera 'demasiadoimaturo'' não só parao socialismo,mastambém para uma rapo/uçâbdemos/atacabem st/ced/da,que. em virtude da
rio em relaçãoao
fraqueza sócio-económica e/ou política da classe operária, não poderia ser
forma ainda mais direitista do que antes, já que os mencheviqueshaviam partidodos
Foi nesse contexto
democratas
que Trotski
liberais.
..
.
escreveu o livro intltulaao
'
...
nevoluç;Éru
Permanentee completou a teoria que até então estavaem grandeparte implícita nos seus escritos sobre a revolução russa. Em outras palavras. a
completada. Implicitamente. portanto, temos não duas categoriasde países -- os maduros parao socialismo, e os imaturos para o socialismo -- mas três :
paísesnos quais a revolução burguesajá ocorreu e que estão portanto maduros" para a revolução proletária no sentido ''puro"; paísesnos quais as tarefas da revolução burguesa ainda devem ser completadas e nos quais a dêsse operária enfrenta a tarefa de conseguir a hegemonia sobre os campo'
neses.tomando o poder e realizando as tarefas burguesasnum processo
permanente"que evolui diretamente para a transformaçãosocialistada sociedade;paísesnos quais o proletariado é tão fraco que as tarefasde revolução democrático-burguesanão podem ser completadas.Isso não sjgnifica que a burguesia nãb possamanter o poder nos paísesda segunda categoria, mesmo por um período prolongado. Significa, isso sim, que en-
quanto o domínio burguês não for derrubado, as tarefas da revolução democrática não estarãocompleta e autenticamente cumpridas.
86
a revolução pemlanente no terceiro mundo
marxismo revolucionário atua]
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Bem pode ocorrer que certos camaradas, pretendendo-se trotskistas. jamais
Ora. o que devemos perguntar. ao julgar se essateoria fdi confirmada
tenham realmente compreendido a teoria da revolução permanentee este-
pelos fatos. é se qualquer país da segundacategoriaelevou-seá primeira
jam sob a ilusão de que ela afirma que as tarefas da revolução sãa, no
através de um processo de desenvolvimento capitalista. sob o domínio da burguesia: Existirá um país capitalista dependente. ou uma ex-colónia, que
fundo, idênticas nos países subdesenvolvidos e desenvolvidos. Mas isso
nadatem a ver com aquilo que a corrente principal da Quarta Internacio-
tenha sofrido urnatransformaçãosócio-económica suficientede modo
nal manteve desde sua criação. Não há nada na estratégia da revolução
que as tarefas hoje enfrentadas pelo proletariado em tal país sejam substan. clalmente idênticas às tarefas enfrentadas pelo proletariado de pa asescomo
permanenteque sugiraque as lutas popularesnos paísesdependentesdevam começar em torno das reivindicações proletárias. Pelo contrário. é altamente improvável. embora. como:tjá disse, pudesseocorrer em alguns dos paísesgemi-industrializadosÍIMesrüoneles, porém. não é certo que as
Alemanha. França, Grã-Bretanha ou EstadasbUnidos?Feita a pergunta dessa maneira a resposta se torna evidente. Não existe essepaís, e não há razão para esperar que venha a existir. Na verdade, em alguns países depen-
reivindicações puramente proletárias e socialistas passemao primeiro plano
derües houve uma industrialização significativa. Mas issoapenascoloca a revolução permanente na agenda de uma maneira mais premente do que
nos primeiros momentos da processo revolucionário. A própria estrutura sócio-económica desses países é tal que as reivin-
antes As contradições de classe desses países são muito)mais agudas; o proletariado tem maiores possibilidades de manter sua independência política e organizacional e de estabelecer sua hegemonia sobre as massas
dicacões democráticas provavelmente predominarão no primeiro período
camponesas. Mas as tarefas básicas não se modificaram. Poderíamos dizer.
da revolução, desde que por reivindicações democráticas entendamos tambémtas relacionadas com a questãonagrária.: Foi essa, afinal de contas, a essênciado processo revolucionário na Rüssia, que começou como uma ba
um pouco metaforicamente, que tornou-se politicamente crucial distinguir
talha contra a tirania e o absolutismo do Czar e pela emancipação dos cam-
entre Argentina e México, de um lado, e Tchade Paraguai,do outro; mas
poneses.. e não como uma luta pelo socialismo.Tais reivindicaçõeseram
não a ponto de esquecer a diferença qualitativa entre Argentina e México. de um lado. e Alemanha e França, do outro.
tipicamente democráticas, e Trotski nunca negou isso. Pelo contrário. essa foi a base da estratégia da revolução permanente em sua forma original:
tais reivindicações centrais conquístariam o apoio da maioria esmagadora
M iiiiHai !iií Úiiaii:zl:::ll1li
da população, mas só poderiam sêr satisfeitas se o próprio proletariado subisse ao poder. Mas o proletariado representava apenas cerca de 10%oda população; portanto, teria sido puro aventureirismo supor que os trabalha
dores poder am ter tomado o poder sem se tornar os defensoresdaquelas reivindicações que estavami:no centro das preocupações da esmagadora
maioria da população, constituída em grande parte pela pequena burguesia e pelos camponeses. Longe de ser uma surpresa para os t(otskistas, o predo-
mínio das reivindicações democráticas no período inicial do processo revo-
lucionário é uma confirmação da.análise de Trotski. Se tivermos de fazer qualquer correção hoje, é a de que nos paísesgemi-industrializados.onde a classeoperária é numericamente maior e o campesinato menor do que na Rússia as questões de democracia política serão provavelmente mais desta-
cadasdo que asrelacionadascom o problema agrário. E mesmo issodepende da estrutura social e política de cada país. Isso não ocorreria. por exemplo. na lhdia, onde a esmagadora importância da questão agrária é evidente.
li p''""'im.l-t. -ã. «.«.,';
iill Ü11Üãm: !St:i3UE'lllQ T
***üjü !$HHl$HWliH:ll:WH
-'m m«m. .m g,; d. p;"' ''..H'??i!. ' Devemoster cautelaquanto ao perigo de cair em armadilhastáticas e políticas, em conseqüênciade uma visão demasiadoesquematizadada dinâmica da luta. É por isso que não me agrada a palavra ''fase!'. Admito
que não é tão má quanto ''etapa" pelasrazõesmencionadas.Masainda ntroduz uma certa idéia de seqilênciastemporais, que em minha opinião é uma abordagem erradasiO impor'tente é ver o processo revolucionário não
marxismo revolucionário
88
a revolução permanente no terceiromundo
anual
favoráveis a tais formas e os que a elas se opoem. o grau de autonomia do movimento de massa.o grau de consciência de classe,ou 50 outros fatores. O importante é manter o espírito aberto, dedicar grande atenção ao que os
como umasérie de intervalosde tempo, durante a qual uma ou outra relvln dicação adquire maior ou menor destaque,mas.como uma luta contínua por uma combinaçãade palavras de ordem e reivindicações, na qual não há uma separação clara entre ''democrático"
e "proletário"
89
camponesese trabalhadores estão realmente fazendo, e não afastar quais-
ou "socialista
quer possibilidades com base em esquemas preconcebidas.
A perigosa armadilha política que espera quem opta pela abordagem do'tipo sequência temporal é ê seguinte: as reivindicações democráticas
.m
Há uma lógica organizacional e política da estratégiada revolução
da "primeira fase" da revoluçãose identificam, ainda que apenaspor omis-
permanente. bem como uma lógica sócio-económica. Quando dizemos que as tarefas democráticas só podem ser resolvidas pela ditadura do proleta-
são. com as exigências de instituições de uma caráter democrático burguês,
riado. estamosdizendotambém que'a liderançaproletária da luta é impos-
de uma democraciaparlamentar burguesa.Como aconteceu na Espanha e
sível. a menos que a classeoperária tenha suaspróprias estruturas organi-
em Portugalnos últimos anos,essaarmadilhaé um perigoaté mesmonos
zacionais e políticas independentes:.sindicatos. partidos, sovietes e. natu-
paísescapitalistasadiantados. O fato. porém, é que não há nada de automático na ligação entre as reivindicações democráticas e as instltulçoes
ralmente. um partido revolucionária que possacompreendero potencial da situacão e aproveitar todas as oportunidades para desdobraro conteúdo
estatais democrático-burguesas. E se estivermos pensando nessaidentifica-
pro etário das lutas democráticas nos países dependentes. Esta é uma das
ção, acabaremostentando impõ-la ao processo::históricoreall como os
mais gravesacusaçõesque nós. trotskistas, fazemoscontra os stalinístas
social-democratas. stalinistas e pessoasoriundas da tradição stalinista vêm
clássicos de inclinação pró-Moscoutle aos maoístas: eles mantém um esquema que não dá ênfase à organização independente da classeoperária
fazendo constantemente nos últimos 50 anos, aproximadamente. testou me referindo às basesjno caso da liderança dessascorrentes, trata-se de
nesse processo revolucionário. E, o que é pior, elesfavoreceram freqtlentemente a dissolução de qualquer organização independente dessetipo em partidos da burguesia naciç)nal "progressista''. . >.
um problema diferente.) Uma das consequênciasdessaatitude é que os seus partidários tornam-se cegos às possibilidades do aparecimento de formas de democraciadireta. democracia proletária e auto-organizaçãoda
lqa realidade.porém. essalinha é aventureira,porque do ponto de
classe proletária;; no curso das mobilizações para reivindicações democráti-
vista marxista é loucura alimentar esquemas grandiosos de insurreição,
cas. Como
luta armada.tomada do poder. semconstruir os instrumentos elementares de um partido proletário para impulsionar.a organizaçãoindependenteda
vimos
naiÇRússia
e em muitos
outros
países
também,
essas
formas de auto-organizaçãoproletária tendem a surgir espontaneamentea partir de lutas revolucionárias. O problema é que, emboü surjam espontaneamente. nãoPlutam da mesma forma para substituir a máquina estatal
classe operária. Além disso, seu aventureirismo é agravado por uma.con-
existente. Não se coordenam e centralizam espontaneamentee não ques-
Trotski observou que não é uma posiçãomaterialista esperarque qualquer
cepção totalmente
tionam automaticamentee de forma direta a legitimidadedo Estadoburguês. Isso exige uma liderança revolucionária. E qualquer corrente política ofuscada pelo esquema de que umâ ''fase" democrática é necessária e que
essa''fase" necessita.portanto. de instituições estataisdemocráticas, tentará logicamente reprimir essesembiões de auto-organização como poema'
turos. não estando em conformidade com o caráter da etapa '= ou fase. ou qualquer que seja a denominação usada .- democrática. Um partido
d
com essa linha desempenharáum papel objetivamente contra-revolucionário -- a despeito das intenções de seus membros'o.u mesmo de sua liderança. É essaarmadilha que deve s9r evitada. O que devemos ressaltar é que os conselhos de trabalhadores. conselhos ou comunas de camponeses, e outras formas de organização das mas-
sastrabalhadoras podem surgir nas primeiras fases de um processorevolu-
cionário aparentemente''democrático". Não estou dizendo que surjam sempre, maspodem surgir. Se isso acontecerá ou não. dependerá de muitos
fatores: a formação histórica do país e a tradição de seu movimento trabalhista. a relaçãode forças dentro do movimento de massa.entre os que sao
.»
ideal.ista da consciência e da organização de classe
91
marxismo revo]ucíonário atua]
90
a revolução pemianente no terceiro mundo
:li=;.ZiliEEi::!ilillB: B:
a nacionalização dos grandes monopólios, em seguidaa nacionalização mais
ampla. e assim por diante. De um ponto de vista exclusivamenteteórico. é provável que essateria sido a maneira mais eficiente de começar a cons-
trução do socialismona Rússla.Mas era totalmente abstrata; ignoravaa dinâmica real das modificações üas relações de classeprovocadas pelas conquista do poder pela classe operária.gOs trabalhadores, perfeitamente
confiantes e estimulados pela sua vitória histórica. simplesmentenão estavam dispostos a tolerar a existência dos proprietários privados, nem mesmo dos negociantes privados, por nenhum período de tempo. Começaram, por
Isso. a colocar em prática a revolução socialista, no ritmo que desejavam. Há nisso uma grande lição. A imposição de um esquematemporal na mobilização
realÉldo
proletariado
leva à burocratização,
na melhor
das
hipóteses. a sérias deformações burocráticas da revolução, desde o seu ini cio deformações essasque mais tarde têm efeito nocivos até mesmo sobre
o sistema de planejamento económico. como vimos na China. Nos piores casos. leva à derrota sangrentada revolução. É esseo perigo de qualquer
concepção:zqueprocureltimpor ''esquemastemporais'' à revolução nos paasessubdesenvolvidos
O Padrão da Luta Antiimperialista Uma das observações que os trotskistas fizeram sobre.o mu.ndo semicoloe analisar.
nial é que o padrão da luta de classes nesses papel dizer.e do padrãoTpre. dominante
nos países capitalistas
adiantados.
Em particular.
Para explicar essesciclos devemos concentrar-nos prin.cipalmente na
as massas
parecem capazes de se recuperar de derrotas .mais rapidamente nos pjlises subdesenvo vidosl mas as conquistas foram, da mesma for.ma, menos duráveis Essaobservação parece ser confirmada pelos acentuados altos e baixos
da revolucão anücoloniat e antiímperialista. Houve a descolonização da década de 1950. depois a radicalização dos regimes naco.onali.smas em prinvitórias do cip os e meados da década de 1960.,ese.cuida de .uma.série de '''''' ' "'' ' '' golpe imperialismo:oCongo,o. . eachacinana Indonésia.:,aguerrade1967 . ,. . . .,. .....
no 0 riente Mêdo, etc'. Agora. com os acontecimentos na Áfr.i.cado.Sul! Angola Etiópia e outros pontos, a tendência .pareceestar .modificando-se novamente. Seria possível:estabeleceruma espéciede periodização da revolução colonial? Esse assim for: .quais as razõ.es.subjacentespara as varias oscilações, nos dois sentidos? Haverá p.ossibilidade de vermos uma nova
onda de luta antiimperialista na décadade 19807 '>
Houve uma tendência geral de crise quase que contínua da ordem imperialista
nos
países
coloniais
e semicoloniais,
desde
a
vitória
da
revolução
ch.m-
esa. senão desde as últimas fases da Segunda Guerra Mundial. A cadeia de
explosões e revoluções no ''Terceiro Mundo'' tem sido quase que constante,
com a deflagração de movimentos em uma ou outra parte do mundo colo-
Disso pareceseguir-seque vitórias importantes contra o imperialismo são no momento, mais difíceis de serem obtidas nos principais paísessemi-
92
marxismo revolucionário atua]
industrializadost:da América Latina. ou da I'ndia. ouÊno sul da Áfríca, do
que nas partes mais atraídas da Ásia e África, É claro que circunstâncias peculiares. como a importância relativa de determinadas matérias-primas
encontradas nesteiCounaquele país subdesenvolvido poderiam tornar o
imperialismomais hesitanteem passardo domínio direto para o índireto
nessepaís,ou passardo domínio indireto atravésde testas-de-ferro paraQ domínio índireto atravésde forças políticas mais sofisticadas{inclusive
93
a revolução pemianente no terceiro mundo
Industrializados dos Estados buroc atizados de trabalhadores.
H
'BÜ
É certo. naturalmente. que esse ponto não deveria ser exagerado.
os nacionalistas pequeno-burgueses). Considerações estratégicas ou pol éticas também podem ter um papel nessasquestões.
Em geral, porém. eu defenderia a tese de que a conquista da indepen-
dência política pela classeoperaria e pelo movimento trabalhista e o rom-
pimento dos laçospolíticos e de organizaçãocom o nacionalismoburguês e pequeno-burguêssão, cada vez mais, uma precondiçãoabsoluta para novos progressosda revolução em paísescomo Brasil. Argentina. México,
Colõmbia. Peru. I'ndia. etc. No documento político l)/nám/cada Rapo/uçâb /çfun(]ia/ Ho/e, que serviu de base à reunião das principais forças da Quarta Internacional em 1936, depois de uma divisão que durou dez anos. observou-seque por várias razões,detalhadas no documento, a classeoperária pode conquistar o poder em alguns pal'sesdo mundo semicolonial
com um ''instrumento imperfeito". ou seja, um partido e uma liderança que não se comparavam aos padrões de organização e de programa do Par-
tido Bolchevique. Em minha opinião. issojá não se pode repetir nos países gemi-industrializados -- isto é. nos países subdesenvolvidos mais adiantados.
No caso dos países mais atrasados,êxitos iniciais e parciais na luta contra o imperialismo ainda podem ser registrados sob a liderança colaboracionista ou pequeno-burguesa. embora uma realização de todas as tarefas da revolucão democrático-burguesa seja,é claro, impossível sob tal liderança.
Num certohsentido, isso significa que algumasdas condiçõesde luta nosj;pai'ses semi-industrializados se aproximamFhoje mais das condições existentes nos países capitalistas adiantados. Sob esseaspecto, há um fenó-
meno que não recebeua devida atenção.Em muitos paísesimperialistas em fins da década de 1960 e princípios da década de 1970, observamosa
militante e desconfiada em relação à burocracia tradicional..
a6 n +É
ü.
Essefator terá importância cada vez mais decisivano futuro -- e é motivo de grande otimismo, especialmenteao considerarmosque os dois países por mlm mencionados. Brasil e Espinha, eram ambos governados por ditaduras rias quais não havia qualquer liberdade política e nas quais a
menor participação numa atividade pol ítica organizadaencerravaenormes riscos pessoais e físicos (e ainda encerra, embora em menores proporções, no Brasill. Não devemos exagerar o número de pessoasenvolvidas nas co-
missõesde trabalhadores na Espinha. sob a ditadura. Não foi grande. mas suficiente para constituir
uma nova espinha dorsal. uma nova vanguarda.
para uma classe operaria que passou de 3 a 9 milhões, em consequência do
desenvolvimentoeconómico.Esseprocesso,em si mesmo,teve um papel importante na rnodificaçâo das condições políticas. e quando ellas se modificaram a vanguardarelativamente pequenaliderou um processode organização de classe que afetou milhões de operários. Algo semelhanteestá ocorrendo agora no Brasil e em vários outros paísesgemi-industrializados. e os resultados serão cruciais na década de 1980.
ascensão do que chamamosuma novavanguardada massaf-num grupo de atividades (de composição social cada vez mais proletária; nos últimos anos) preparado para mobilizar-se independentemente.,e mesmo contra as
A Licão do Irã
liderançasreformistas tradicionais. Sou de opinião que essefenómeno, de
grandeimportânciapara a explicaçãode muitos dos mais importantes acontecimentos da política.mundial nos últimos dez anos, não se limita apenasaos paísesimperialistas, afetando também vários paísesdependentes semi-industrializados -- nem todos, mas apenas alguns. Um dos casos
mais notáveisé a Argentina. Os líderes e participantesdo cordobazos.as grevesgerais insurreicionais de fins da década de 1960. eram do mesmo tipo de pessoasque desempenharam o papel propulsor na explosão de maio de 1968 na França. e na agitação da Primavera de Praga, na Tchecos-
ilil[li:gT ]]$1i]]]i]$'.iE;]]H]i]E ]]]ÊERU a derrubadado Xá?
HX:l;Hl:lUÜ#i:E: 14:
marxismo revolucionado âtual
94
que derrubou o regime do Xá -= e as insurreiçõesparalelasem outras grandescidades iranianas -- foi a maior insurreição urbana de massa na história contemporânea. envolvendo literalmente milhões de pessoas.Foi uma confirmação notável de uma tese-chavedos marxistas revolucionários. em seus debatesrcom
os social-democratas, eurocomunistas e "terceiro-
mundistas". O argumento básico de todas essastendências -- apoiado até mesmo por centristas como Régis Debray -- é que as insurreições urbanas
de massasão impotentes contra um exército moderno e bem equipado, e só podem levar a uma mortandade insensata.
Ora. o exército iraniano era provavelmenteo quartobmaíspoderoso do mundo capitalista. Tinha um equipamento moderno, sem dúvida equivalente. senãosuperior, ao do exército britânico. Seus membros haviam
a revolução permanenteno terceiro mundo
95
ser analisadas pelos camaradas iranianos, melhor versados na história do
lslã e do país. Mas essaanálise não pode.tomar o lugar de uma posição
política clara em relaçãoa certasquestões.Apoiamos. acertadamente o evante contra o Xá. muito embora fosse liderado pelo clero. Apoiariamos
o novo regime iraniano contra qualquer conflito real com o imperialismo.
Masem todos os conflitos entre o novo regimee setoresdas massasque lutam pelas suas reinvindicações justas, ficamos totalmente ao lado das
massas. e contra o regime. Isso se aplica não só aos setoresproletáriosou semiproletários das massasque lutam pelo seu direito elementar de organizar-se e por melhores padrões de vida Ino caso, qualquer outra atitude seria
uma traição de classe).mas também das minorias nacionaisque lutam contra a opressão,das mulheresque lutam contra a discriminaçãoe códi-
sido bem tratados eemimados pelas classes dominantes. desfrutavam de
gos religiosos reacionários. de todos os que lutam contra a repressão esta-
grandes vantagensmateriais. Não obstante. éle começou a desintegrar-se sobejoimpacto das enormes mobilizações de massa,que saíram repeti.das
força não é mais ''progressista" no Irã de hoje do em qualquer outro país
vezes às ruas em número
cada vez maior. apesar da repressão assassina:
Seria possível dizer, realmente, que as massasproletárias da Argentina ou Brasil. da Espinha ou ltália, são tão inferiores às massasiranianas em ter-
mos de consciênciapolítica, resoluçãomoral, militância e capacidadede
tal dos "crimes" sexuais,etc. A tentativade impor códigosreligiosospela desde o alvorecer da moderna sociedade burguesa. Identificar a revolução
com o obscurantismo religioso é um ato de traição ideológicatão prejudicial à causa do socialismo iraniano e mundial quanto as formas mais clássicas de capitulação ante as classes opressoras.
organização que seriam incapazes de repetir o que as massasde Teerã con-
seguiram realizar? Seria possível argumentar seriamente que os exércitos dessespaíses seriam menos sensíveis.aos milhões que lutavam nas ruas, do
que o exército iraniano? Afirmamos que o inverso é verdade,quando
menosdevido ao pesomuito maior do proletariadona populaçãoativa e ao maior número de soldadosde origem social proletária nessespaíses É certo que as propagandas e questões democráticas semelhantes ás que estavam na origem das mobilizações de massa no Irã parecem, tradicio-
nalmente. ter uma .atracão mais ampla e mais eletrizante do que os s/ogans
puramente" socialista-proletários, especialmente em países governados por regimes ditatoriais corruptos. Mas não devemos generalizar indevida-
Cubaa1959-1979 Um dos exemplos mais notáveis de um processo real de revolução perma' nente ocorreu' em juba.
A revolução cubana comemo.rou recentemen.tc
o 20o aniversário de sua vitória. Como avaliar a importância dessavitória, vinte anos depois? A revolução cubana ocupa um lugar excepcional na história das revoluções
que. a despeito da estrutura sócio-económico e política de um país, as mo-
de pós guerra. É a única revolução vitoriosa que não foi liderada por uma força originária da Internacional Comunista stalinista e influenciada pelo stalinismo. pelo menos na educaçãoteórica básicade seusquadrosdirigen-
mente essasobservações; não há razão para chegarmos à conclusão falsa de bilizações em massa do âmbito das ocorridas no Irã só podem ser conse-
tes. De fato. como bem se sabia em fins da década de 1950 e princl'pios da
guidas através da luta pelos direitos democráticos. Se o movimento operário conseguir mobilizar e organizar sistematicamente as massasassalariados em torno de reivindicações anticapitalistas. em condições de crise social e
década de 1960n(mas está sendo esquecido nos círculos esquerdistasde
política, açõesde massatão grandesquanto as de Teerã-- e até maiores
Revolucionário. Proporcionaram até mesmo ajuda à ditadura de Batista em mais de uma ocasião. sabotaram abertamente a greve pedida por Fidel em
-- são perfeitamente possíveis. É essaa base de nossa estratégia alternativa tanto16nos países imperialistas como nos países subdesenvolvidos mais adiantados. O que aconteceu no Irã tende a confirmar que essaestratégia é eminentemente realista.
A grande pergunta irrespondida sobre os acontecimentos iranianos é.
de certo. o papel do3lslã. As razões pelas quais o clero xiita estabeleceua hegemonia sobre as mobilizações de massa contra a ditadura do Xá devem
hoje), os stalinistas cubanos se opuseram :insistentemente ao Movimento
de Julho em suafase'inicial. e à guerrilha urbanae rural do Diretório
1958 e participaram das ''eleições'' forjadas de Batista. Mesmodepoisque o Movimento 26 de Julho tomou o poder. a liderançado Partido Comunista Cubano jconhecido como Partido Socialista Popular, psp} se opôs à orien' tação do governo de Castra, quando a expropriação da burguesia foi inicia-
da e teve começo a evolução no sentido de um Estado dos trabalhadores.
97
marxismo revolucionário anual
96
a revolução pemlanente no terceiro mundo
Várias características essenciaisda revolução cubana foram mal inter-
campesinato e do proletariado rural.
pela decisãode promover uma revolução agráriaradical. destruiu essasten-
tativas. como destruiu também a máquina burguesa.Esse processofoi
;companhado por uma divisão do Movimento 26 de Julho em alas proburguesa e pro-socialista (isto é, proletária). E.asasimportantes lutas de classede 1959 e 1960. combinadas com a vitória da ala proletária, provo' caram a destruição total da máquina estatal burguesa e o estabelecimento
do Estado cubano dos trabalhadores.que não foi, de modo algum, o pro' duto automático ou inevitável da vitória da luta de guerrilhas.
Da mesma forma, embora seja certo que o imperialismo americano
foi colhido de surpresapelaevoluçãopolítica do movimentofidelista ime-
poder dos trabalhadores. Enquanto isso, a burocracia soviética avaliava com argúcia a situação
diatamente após sua entrada em Havana, Washington reagiu brutal e rapida-
coma menos perigosa para seus interesses do que poderia ter parecido ini-
mente. quando a dinâmica antiimperialista e anticapitalista das mobiliza-
cialmente. Moscou apoiou Cuba revolucionária contra o imperialismo dos
ções de massa e sua liderança se tornou evidente. O favor decisivo para lm' pedir uma intervenção maciça dos soldados americanos foi a onda de sob
Estados Unidos
ganhando com isso prestígio na América Latina e influên-
cia na propna ilha. A liderançarevolucionáriacubanacontinuou a dispor
dariedade internacional à revolução cubana. especialmentena própria
de certa margemde ação tanto nas experiênciasinternas como nas iniciati-
América L atina. E qualquer invasão direta dos Estados Unidos ameaçava
inflamar todo o continente, risco que Eisenhowere, maistarde, Kennedy
vas internacionais. mas a influência soviética cresceu. tendo em vista principalmente as subvenções à economia cubana contra o bloqueio imper alis-
não ousaram correr. Foi por isso, e não devido a um erro de julgamento da situação, que o imperialismo americano preferiu agir através de mercená-
ta Enquanto isso, um número crescentede funcionários da máquina esta-
rios. sabotadores e operações de comando, das quais a invasão de 1961 foi
educados politicamente na URSS.Isso estimulou muito o processo de esta-
g pont' "-minante.
Guatémala em 1954.anão conseguiram fazer recuar uma revolução que
belecimento de controle burocrático e sufocação da iniciativa revolucionáa de massa A tendência nessesentido tornou-se especialmenteclara a
havia mobilizado literalmente centenas de milhares de homens e mulheres.
partir de 1967.
M"
"sas 'p'''ções,
que acabaram t"do..êxito
na
;;i.'b;=.lili.;
.:b"idá.i,
. d,;
t.,ç"
«m.d,;
A razão hist6r ca da derrota do imperialismo em Cuba está nessasmobiliA razão ijisLru mo tomado pela lideranca fidelista, e não nos supost(5s erros
de Washington. Finalmente. a revolução cubana caracterizou-se. desde o início. por uma intensa atividade de massa,de organização e de espontaneidade revolucionária. muito além de tudo o que se havia visto desde a revolução espa-
nhola de 1936-37. O aspecto criativo da ação de massae da liberdade foi evidente em muitos setores,desdea transformação de vilas de Havanaem
vê a atuação de Cubo na política mundial?
«b""
',,m
t"i-.'d.;
.
marxismo revolucionário atua]
98
A revolução cubana foi muito menos burocratizada. menos controlada, do que a iugoslava, a chinesa ou a vietnamita. O peso das camadas proletárias ou semiproletárias nas mobilizações de massaque levaram à tomada do po.-
der e a ela se seguiramfoi muito maior; a liderançacubanaesteve,de iní-
cio. relativamentelivre da educação e do dogmastalinistas.Por isso,e provavelmente por outras razõestambém. o internacionalismo teve um pa'
pel muito maior nas políticas da revolução cubanae na con.scíência das massascubanas do que em outras revoluções socialistas ocorridas desde a Segunda Guerra Mundial. É um fato inegável. e numerosas evidências empíricas podem ser reunidas para ilustra-lo.
99
a revolução pemlanente no terceiro mundo
Um exemplo notável é a posição quase que permanente de Havana de concordância com a política da Kremlin na América Latina e de apoio a estra-
tégia dos partidos comunistas stalinistasdaquele continente. nte certo pomo isso representa um abandono de algumas das principais lições da própria revolução cubana e a inversão das principais poli'tecas formuladas na Segunda Declaração de Havana. . ., . . , Poderíamos argumentar, é claro, que essaposição e apenastemporária,
considerados. Em primeirolugar.devidoao crescente'Isolamento da
$
revolução cubana na América Latina e à pressãocontínua do imperialismo
por si mesmo.seriaum indício importantedo graude burocratizaçãodo
americano. tanto económica como militar. o Estado cubano dos trabalhadores tornou-se cada vez mais dependente da ajuda soviética, em especial
Estado cubano dostrabalhadores.
depois da crise dos mísseisde 1962'Essa dependênciadeu um salto quali-
ser positiva. A política cubana na África demonstra que as massase a l de-
Contudo, para interpretar adequadamente o desenvolvimento recente
do papel de Cuba na política mundial, outros fatores também devem ser
trabalhadores naquela área. Se ela será modificada, é .o que resta.ver:Isso. .
,.
,
Quanto à nossa opinião geral sobre a presença cut)ana na nlrna,
-''...
uuvu
tativo para frente. depois do fracasso da za/za. a colheita de 10 milhões de
toneladas de cana de açúcar. A dependênciapassou a ser expressano alinhamento dos líderes cubanoscom a política internacional do Kremlin, do
qual o apoioedeCastraà invasãoda Tchecoslováquia em 1968.por mais relutante que tenha sido, foi a expressão concentrada. Essealinhamento teve importantes conseqilências políticas. ideológicas e organizacionais dentro da própria Cubo. HálÍhoje, toda uma geração de dirigentes de nível médio e de líderes no Partido Comunista Cubano cuja educação e cujas convicções são claramente stalinistas, a que nâo acontecia com o Movimento
26 de Julho. ou com o Diretório Revolucionário.em fins da décadade
do regime racista da África do Sul e as formaçõestribais tivessemtomado o poder em Luanda, o que teria feito de Angola um baluarte da contra-re-
1950 e princípios da décadade 1960:'
cecão possível é a Eritréia, mas ali a controvérsia se relaciona com os fatos.
Segundo, um processo de burocratizaçâo do isolado Estado cubana dos trabalhadores se vem realizando.há cerca de 15 anos, relacionado com
tenhamenvolvidona repressão da luta de libertaçãonacionaldo povo da
essacrescentedependênciada burocracia soviética, masdela parcialmente
autónomo. Os privilégiosmateriaissurgirame cresceram,bem como a depressão das críticas políticas. do pluralismo cultural, da liberdade artística
etc. Até onde foi esseprocesso,é o qüe ainda não foi determinado.Nosso movimento está examinando a questão. e ainda não chegamos à conclusão de que existe uma casta burocrática cristalizada em Cuba, que só possaser
afastada com uma revolução poli'rica. Isso, porém, não significa que os casos de buracratizacão não sejam muito mais sérios do que em princípios.
ou mesmoem fins, da décadade 1960. Essesprocessos impuseram grandes limitações à extensão e ao conteú-
do do internacionalismo da liderançado Partido ComunistaCubanoe do governo de Havana. jlncidentalmente, é muito difícil julgar seessaslimitações provocaram retrocesso semelhante na consciência das massascubanas.)
Algumas fontes -- inclusive alguns camaradas -- negam que os cubanos se
Eritréia. que em nossaopinião é uma luta justa. Se houver um apoio cuba-
no direto àstentativasdo regimede Mengistude esmagar a luta pelaliberdade do povo eritreano. é claro que o condenaremos,masaté agoranão exístemprovascabaisdequeissotenhaacontecido.
,
.
. ..
Há, porém, uma ressalvaimportante que devemosfazer score o papel
ioo
marxismo revo]ucionário atua]
glesase francesas,ao mesmo tempo em que continua a receber ajuda da
a revoluçãopemlanente no terceiro mundo
de Cubo. No caso da Etiópia. a justificativa dessaatitude é a mais frágil
que isso teria para o imperialismo mundial. (A 6.frica do Sulé ó pr napa produtor de ouro e diamantesno mundo capita isto e um dos ma ares prodo sistema h. ., dutores de urânio.} Eles têm um ódio de classe profundo
possível
guês/imperialista. alimentado pela sua exclusão total de quaisquer direitos
União Soviética e de outros Estados burocratizados$dd;trabalhadores
e
Naturalmente, seria irresponsável negar as tremendas conquistas do desdobramento ;das revoluções em Moçambique, Angola, Guiné-Blssau e
Etiópia, contra a podre ordem colonialista ou semifeudalque ali predominava antes. É de importância crucial defendê-las contra as tentativas imperialistas de fazer recuar tais conquistas. Mas uma coisa é saudar, apoiar e
ampliar essasconquistas,e outra apresentaros Estadosalí criadoscomo
políticos, pela sua condição de trabalhadores estrangeiros''imigrantes'' em seu próprio país. Sua luta é também estimulada pela consciência de que estão defendendo uma causa cuja justiça é evidente à grande maioria da po, pulação mundial.
Essepoder. porém, ainda está.em grande parte desorganizadoe não explorado. Na verdade. todos os esforços do regime de apartóe/d -- seus
sendo'' dos trabalhadores, ou apoiar essesgovernos, mesmo .em seus
bárbaros ates de repressão e suasvárias manobras políticas e ideológicas --
conflitos com as masmas.
visam a manter o aspecto do status que mais vital aos exploradores e opressores: a desunião e falta de organização dos explorados e oprimidos. A esta
Sul da África 0 Sul da África é, evidentemente.uma regiãode importância vital parao imperialismo mundial, e uma das áreasdo.''Terceiro Mundo'' onde foi maior a agitação nos últimos anos. 0$ problemas da revolução permanente são tão agudos na África do Sul quanto em outros países.:Na sua opinião. deveriam os marxistas revolucionários apoiar a formação de ''brigadas in-
altura. falar de brigadas internacionais é colocar o carro adiante dos bois. Os marxistas revolucionários
deveriam concentrar seus esforços na organi-
zação.unificação e mobilização das massassul-africanas,cujo potencial foi demonstrado de maneira tão notável pelo levante de Soweto e suasconsequências, e na mobilizacão de apoio político mundial a esta luta. O regime de apartar/c/ é hoje particularmente vulnerável à mobilização, açâo e organização das massas,devido ao contexto'internacional -- e
muito mais vulnerável do que seriaa um ataque heróico por pequenosgru-
ternacionais'', recrutadas principalmente em outros pontos'da África, para
pos armados, lutando pela libertação.:A questão da defesa armada contra
atacar o bastião do aWa/7e/d? Pode esse regime ser derrubado apenas com
os assassinos que governam atualmente a África do Sul semdúvida surgirá
um movimento interno? É provável que a África do Sul venha a ser uma das últimas fortalezas
da imperialismo a cair, porque há vários milhões de pessoasque têm um interesse material evidente na defesa dessa fortaleza. mesmo contra toda a ló-
gica, E como é provável que esseregime venhaa adquirir armas nucleares, se já nâo dispuserdelas, o preço que terá de ser pago pela libertação das massassul-africanas poderá ser extremamente elevado -- a menos que o movimento revolucionário conduza com eficiência um esforço consciente para neutralizar. se não Ihe for possa'üelconquistar, um setor da$população bran-
ca, com base em consideraçõesde sobrevivênciafísica:,Numa relação de forças$favorável, essasconsideraçõesdeveriamgneutralizar os efeitos dos sul-africanos brancos de defender seus$privilégiosmateriais a qualquer custo. O esforço para desenvolver uma liderança não-racista na luta de liberta-
à medida que a luta se desdobrar, como surgirá também a questão da solidariedade internacional a essaluta. em suasformas mais variadas. Nessemomento, os esforços internacionais dentro dessas linhas seriam prematuros.
Completamentedistinta é a questãoda reaçâocoletivada revolução africanaà agressãocínica por parte do regimede PretóriaÇ(e Salisbury} contra Zumbia. Mocambique, Angola e outros Estadosafricanos.Nesse caso,a resistência armada coletiva por forças de libertação africanas. em es-
cala internacional, certamente seria oportuna. Se issoenvolveria exclusivamente os exércitos regulares dos Estados existentes, ou brigadas internacio-
nais de voluntários, dependerádo estado e ritmo da revoluçãomundial, do
caráterda liderançapolítica em pelo menosalgunspaísesda "linha de frente" e da relação de forças políticas dentro dos movimentos de libertação, bem como de outros fatores.
ção sul-africana é, por isso, importante -- principalmente para salvar as vidas de milhares, talvez milhões, de pessoas,sobretudo de africanos negros. Na presente etapa. falar de brigadas internacionais parece. no mínimo, prematuro. As massasnegrasda Africa do Sul têm um enorme poder em potencial.
Elas constituerHEa esmagadora maioria do proletariado do mais
rico e desenvolvido país da África. e sema força de trabalho dessamaioria a economia entraria. em :colapso. com todas as desastrosasconsequências
O Aparecimento dos Estados de Trabalhadores Concluindo,vamos fazer$umaqperguntaqanali'ricaque está intimamente relacionadacom a teoria da revoluçãopermanente.Em vários pai'ses.nos últimos anos, as lutaside massa.de uma forma ou de outra, levarama regimes nos quais a maioria dos meios de produção foram nacionalizados e nos
marxismo revolucionário atual
102
103
a revolução permanenteno terceiro mundo
de trabalhadores foi ou não criado?
A perguntaresume-se, essencialmente. nisto: por que afirmamosque uma revolução socialista triunfou em Cuba, ao passoque nenhuma revolução socialista ocorreu no Egito ou na Síria na década de 1960. ou em Maçam-
bique, Angola ou Etiópia na décadade 1970?
galmente. e isso constitui uma grande diferenca.
Seria perigoso reduzir tudo a um critério único. Em lugar disso, apre-
sentarei uma série de argumentos. Inicialmente. a questãoda supressãoda propriedade privada dos meios de produção deve ser examinada concreta-
mente. à luz da estrutura económica particular do pal's em questão. Se tivermos. por exemplo. um país na qual 90% da populaçãovivam no inte-
.O terceiro fator a serconsiderado.e que jó mencionei.é a natureza
do Estado. Poder-se-iaargumentar que nosso raciocínio é çircular (enquanto não houver total supressãoda propriedade privada. dizemos que o Estado é burguês; na medida em que o Estado é burguês, nâo há supressãolegal
e constitucional da propriedade privada. Mas. por trás do que pareceser um raciocínio circular, encontra-se uma análise concreta. Quem são as pessoasno poder e qual sua atitude para com a pr.opriedadeprivada?Como rea mente agem, nessecampo? Há uma enorme diferença entre o burocrata
balhadores. Num país com essaestrutura sócio-económica.dado o peso
nasserista no Egito e o burocrata russo,chinêsou iugoslavo,hoje. Podemos dizer que todos são corruptos Na minha opinião, os jugoslavossão
dos camponesese da agricultura na economianacional.a estruturadasre-
significativamente menos corruptos do que os egípcios, mas deix:emosIsso
!uiz IJli Six;i='Eül l!
propriedade privada continuou a predominar na economia nacional, dev.jdo ao seu predomínio esmagador na agricultura, apesar da alta taxa de nacio-
nal zacão da indústria. e mesmo apesarda reduçãoda áreade terra de propriedade dos grandes latifundiários.
O segundoponto, que está intimamente relacionadocom o primeiro, tem
sido
fonte
de confusão
nosaúltimos
anos,
principalmente
em cc=nse-
qüênc ia das teorias do capitalismo estatal apresentadas por Bettelheim. É es-
te o segundo ponto: há uma diferença enorme.entre a nacionalizaçãoda maior parte da propriedade privada num país e a supressâbdo d/re/to â propr/ecíade pr/fiada na cansa/tu/çáb dessepala. Bettelheim afirma que isso f" uma questão jurídica, puramente formal. mas isso não é verdade É uma
questão predominantemente económica, e muito prática. Aquilo que é eli.
minado pode ser facilmente reconstituído, se não for proibido -- e com
e lado. A questãofundamental é: como usam os seuslucros ilegais?A pergunta deve ser respondida não com especulação.abstrata. mas.:om os fatos reais. Uma coisa é os burocratas usarem seu dinheiro simplesmente
para adquirir mais bens de consumo e privilégios. como carros, telef iões,
viagensao exterior, etc. Mas se usam o dinheiro para adquirir propriedades que geram uma renda baseada na exploração do trabal.ho de outrost o problema é dife.rente. Nessecaso. estão usando sua.posição na ínaquiiia estatal como meio para realizar a acumulação primitiva de capital. . Os dois casos resultam em duas dinâmicas sociais qualitativamente
r' marxismo revolucionário atual
104
-105
a revolução pemtanente no terceiro mundo
freqtlência importante para se determinar em que direção. um determinado pais subdesenvolvido evoluirá, quando as estruturas da velha máquina estatal tiverem sido seriamente abaladas. Falo da combinação do grau de mobilização de massae sua consciência e liderança. O âmbito das mobilizações em Cuba em 1961 e 1962, particularmente em momentos de crise como a invasão contra-revolucionária
e a crise dos mísseis. foi um fator-chave para
impedir o retorno aos padrões capitalistas e levar o governo de Castro a
prodamar socialista a revolução e suprimir completamente a propriedade pr veda dos meios de produção -- contra a opinião da maioria dos líderes
do Partido ComunistaCubano. A mobilização em massa,porém. não é uma garantia de que tal evolução se processará. Não foram poucas as mobidores potenciais.
''
.
: ..
.. é. em última análise.
;É por isso que a fórmula -4'burguesia estatal
lizações em massa no Egito, por exemplo. Imediatamente depois da guerra
de junho de 1967. quando Nascerrenunciou, houve uma das maioresmanifestaçõespopulares já vistas, quaseum milhão de pessoastomaram as ruas do Carro. Objetivamente, essamobilização foi positiva, pois impediu o.que teria sido um golpe de direita. Mas na ausência de uma consciência proletá-
ria e de uma liderança revolucionária, essamanifestação. embora maciça. apenas preservou o governo capitalista existente, e não tevt} nem sempreo
resultadode impulsiona-lo um pouco para a esquerda.
.
Esse foi também um dos aspectos trágicos da revolução argelina.
Também nessecaso houve um nível significativo de mobilização de massa. mas as questões em jogo não eram claras. mesmo para muitos revolucioná-
rios. sem falarmos nas massas.Naquelecontexto, uma figura como Boumedienne desempenhou um papel importante na suspensão.deum processo revolucionário que poderia ter levado ao estabelecimento de um Estado de trabalhadores. E apesar da radicalização ocoüida entre setores das massas,
nos últimos anos, ele continuou sendo uma figura ambígua até o fim. Em seu funeral, houve manifestações maciças, com o povo cantando: ' Quere-
mos continuar pela estrada socialista de Boumedienne". Isso foi, é claro, uma mistificação do que realmente ocorreu na Argélia. e mostra mais uma vez o que dissemos antes: a presença oü ausência de uma liderança revolu cionária organizada e consciente será cada vez mais decisiva na determinação da evolução dos Estados dos países subdesenvolvidos.
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os regimesde transição no leste
3. P
Os Regimes de Transição no Leste
107
pobres. Segundo. que a construção de uma sociedade sem classes.de uma sociedade totalmente socialista, nesse país atrasado seria obviamente impossível. Os mencheviques apegaram-seà posição que Marx tomara no
século XIX. Não compreenderamas conseqüênciasdo advento da era imperialista. Não compreenderam n peso e a lógica do subdesenvolvimento.
que marcaramfortemente a col ;ciênciado.srevolucionárioscontemporaneós e demonstram o que a Rússiapoderia ter se tornado se não fosse a vitória da Revolução de Outubro. Por outro lado. Stálin -- e os stalinistas até hoje. de todas as tendências. que analisam a natureza da União Soviética exclusivamente com base nas tendências internas que nela operam ' cometeu o erro paralelo de ignorar a inserção da Rússia no mundo, com todas as suas implicações económicas, militares e sociais, e de supor a pos-
sibilidade. em certas condições, de completar a construção de uma sociedadesemclassesnum único pais O que está implícito na posição teórica de Trotski, independente
das formulaçõese tendênciasconjecturais, é que para ele o destino da
l :llrHlãT::l:l ini!'iiW:i:Üiili Ml:l que sofreu deformações Muitos acontecimentos histór.ecosocorr:eramnas
últimas quatro décadas-Vimos a manutenção.e relativa estabi.lizacãoda burocracia soviética. e o aparecimento -- sob várias condições históricas --
de outros regimes burocráticos. Qual.sentão, a.validade da análise.de Trotski. 40 anos depois? Quais as contribuições do movimento trotskista a ela, e como essateoria enfrentou a prova dos fatos?
O ponto de partida de Trotski -- e nissoresidea fiFRiezade sua posição sobre o caráter da URSS-- foi a opinião. adotada por toda a esquerdaoperária ao início da Revolução Russa de 1917 {posteriormente abandonada por várias tendências revisionistas, uma após outra), de que era impossível
examinar as origens e desenvolvimentoda revolução ao mesmotempo em que se isolava a Rússia do resto do mundo. O paradoxo existente na raiz da teoria da revolução permanente -+ de que oHproletariado poderia conquistar o poder nos países capitalistas menos desenvolvidos antes que pudesse conquista-lo nos pai'ses mais desenvolvidos -- só tem significação no. contexto
de uma determinada
análise do imperialismo
União Soviética dependia, em última análise. do resultado da luta de classes em âmbito mundial. O stalinismo surge, assim, como uma variante imprevista da história. cuja função poderia ser chamada de equilíbrio instável
entre forças sociais antagónicasfundamentais numa escalamundial. O stalinismo é a expressão de uma derrota e uma regressão séria da revolução
mundial depois de 1923. Mas também reflete a fraqueza estrutural a longo
prazo do capitalismo mundial, que foi incapaz de restabelecero modo capitalista de produção na URSS,apesar de repetidas tentativas, tanto econó-
micascomo militares. Por trás das fórmulas ''etapa de transição'' e ''sociedade de transição" está a realidade dessaprova de força, ainda não resolvida definitivamente. entre o capital e o trabalho em escalamundial. Também nessesentido, a maneira pela qual Trotski formulou a alternativa em 1939-40 continua essencialmentecorreta, embora ele estivesseerrado em relação à previsão temporal. Uma esmagadoraderrota do proletariado mundial. por todo um período histórico, nâo só poderia levar como também inevitavelmente levaria ao restabelecimento do capitalismo na URSS. Uma esmagadoraderrota do capital, da burguesia mundial, .em vários dos principais paísescapitalistas. faria recuar a URSSno caminho da construção de uma sociedade sem classes.
e da luta de classes
em escalamundial. A velhafrase de Marx, segundoa qual os paísesmais adiantados espelham o futuro dos menos adiantados, já não é geralmente aplicável no século XX somente devido ao fenómeno do declínio do impe-
rialismo.ou maisprecisamente, do início do declíniodo modo de produção capitalista. Trotski chegou a duas conclusões. a partir dessa posição inicial.
Primeiro. que a vitória da RevoluçãoRussasó era possívelpelo estabelecimento
de uma ditadura do proletariado,
apoiada pelos camponeses
O Conceito de "Transição" Você empregou as expressõesde Trotski "etap.a de transição.'' e ''sõc.iedade de transicão''. Ora, evidenciou-se que a previsão de T.rotski de uma liquídacao relativamente rápida do stalinismo, seja através de uma revolução po.li'-
t ca proletária, ou através de uma restauração capitalista, estavaerrada
r' 108
$
que Trotski escreveu?
109
os regimes de transição no leste
marxismo revolucionário atua]
ilHÍBÊIÍ !ÊHUl$
''modo capitalista de produção'' e não "domínio do capital mercantil ou bancário". que é outra coisa; falo das relaçõescapitalistas de produçãol)
Em primeiro lugar. não há uma ''tradição marxista" sobre o assunto, no
verdadeiro sentido da palavra. O próprio Marx não teve tempo de seocu-
par desseproblema, e Engelstambém nãa. Depoisda morte de ambos,a vulgarizaçãoe a simplificação passarama predominar, culminando nos
Ihador assalariado, mas o produtor em pequena escala.com acessoaos
famosos escritos de Stálin sobre os modos de produção através dos quais todas as sociedades deveriam passar -- comunismo primitivo, escravidão,
em trabalhador assalaria(Jo,mas desseprodutor independente em trabalha-
feudalismo. capitalismo. socialismo. Na realidade.só no período mais
de produção. no sentido real da palavra, já que uma das caractere'éticasdo
recente, com o renascimento da análise histórica marxista e a penetração dos métodos inspirados pelo marxismo na pesquisahistórica acadêmica,é
proletariado é precisamentea de ser livre, não sujeito à servidãopessoal.
que as basesdesse entusiasmador capítulo da teoria marxista começaram a ser lançadas Mas essasbasesainda sâo fragmentárias,e há muito a ser feito Hoje. tomando apenas a Europa e deixando de lado o exame de
o modo escravistado modo feudal de produção. Envolvedificuldades mui-
outras partes do mundo e de outras civilizações, podemos ver que houve.
desigual e combinado. Se quisermosdar um8 definição realmente precisa das relaçõesde produção predominantes em:iFlandres. Brabante. Lombár-
na realidade, longos períodos de transição entre todos os grandes modos de produção A }uz desta observação, o caso da sociedade soviética. longe de constituir um processo de transição excepcional, extremamente prolongado. parece ser um período bastante limitado. Tomemos dois exemplos.
me os de produção e subsistência. De fato, é a transformação não do servo
dor assalariado,que dá origem ao capitalismo como o modo predominante
EsseperíC)dode transição é mais curto do que o período que separou to maiores de análise sócio-éconõmica, devido à complexidade da situação. Em geral. o que temas aqui é uma manifestação da lei do desenvolvimento
dia, Toscana e Renânia, e mesmo em certas regiões francesase inglesasem fins do século XV, teríamos grandes dificuldades. Seria difícil reduzi-las
todas a um único denominador comum. Houve uma fusão das relações
' Se definirmos o modo escravistade produção como baseadoessencialmente no trabalho produtivo~dos escravosna agricultura e artesanatos {as principais fontes do produto social) e se definirmos o modo feudal de produção como baseadoessencialmenteno trabalho dos servosna produção agrícola, então veremos que um período de transição.que durou séculos, separou a predominância de trabalho escravoda predominância do trabalho servil. pelo monos na Europa ocidental, central e meridional (dei-
semifeudais de produção, relaçõesde produção que sublinham a pequena produção de mercadorias, e as relações semicapitalistas de produç:uo: Houve também o início da manufatura capitalista, já baseadano trabalha assalariado.Não obstante, é impossível reduzir tudo isso a uma fórmula,
xei de lado o Império Bizantino).Esseperíodo viu, em váriasformase
Mas sob o modo escravista ou feuda] de produção, ]á se dose.nvolviam ele-
combinações, a melhoria da sorte dos escravos,lado a lado.com o agrava mento da sorte dos camponeseslivres, em especialos das chamadastribos
mentos do novo modo de produção, na forma de novas relações sociais
étnicas bárbaras que penetraram no Império Romano. Foí somente com a
volvem como novas relaçõesde produção dentro da própria sociedade
fusão dessasduas forças sociais, que provavelmentese completou em torno do século Vll ou VIII. que o modo de produçãofeudal passoua predominar. ndo exemplo é maisclaro, embora de menor duração. O declínio da servidão é bastante evidente nos séculos XIV e XV, nas partes mais adiantadas da economia europeia. em especial nos Países Baixos, Inglater
ra. parte da França. parte da ltália central e do norte, e Alemanha.Em algumas dessas regiões. a servidão desapareceu praticamerne como a relação de produção predominante na agricultura. Ora, o desaparecimento
da servidão não leva imediatamenteà generalização.ou mesmoà extensão
seja feudalismo ou capitalismo. É o que quero ressaltar. Apesar .das caracte-
rísticas particulares da época, temos aí. claramente, uma fase de transição.
e produção. Seria possível'dizer que elementos do socialismo se desencapitalista? Evidentemente que não. Pode-se dizer que as precondições para a.existência de uma sociedade sem classesestão se desenvolvendo dentro do modo
capitalista de produção, mas não relaçõessocializadasde produção. É exatamente por isca que o advento de uma sociedade.detransição entre o ;;l;iàil;«:
: . ;..i,li;m.
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burguesia; sem a derrubada do Estado burguês e, eu diria, sem incursões
despóticascontra o direito de propriedade -- para usarmosa fórmula de
r' 110
marxismo revo]ucionário
!ll
os regimes de transição no leste
atua]
A análiseda União Soviética e de sociedadessemelhantesé. obvia
Marx e Engels no A4an/restoCamun/sta. Não é um argumento contra a noção de que a União Soviética é uma sociedadede transicão. análogaàs
mente. menos difícil com essa estrutura conceptual de transição do que com um marxismo urra-simples. Se acreditarmosque ascoisassâo brancas
do passado. É simplesmente um argumento que justifica uma articulação
ou pretas, que há ou capitalismo ou uma sociedade sem classes.um poder
diferente das novasrelaçõesde produçãocom o poder estatal.É esse.na verdade. um dos elementos mais fortes de nossa análise. As relações de
democrático dos trabalhadores ou -- por definição a pr/or/ -- Q poder de
produção pós-capitalistasnão podem desenvolver-sedentro de uma sociedade dominada pela burguesia, governada por um Estado burguês. lesa
Mas se rejeitarmos essas simplificações exageradas e voltarmos a uma abor-
uma nova classe proprietária, então enfrentaremos mistério após mistério.
dagemque íntegra todas as dimensõesdo problema de sedeterminar o que
significa que o aparecimento dessas relações de produção só é possível depor de uma revolução socialista.
constitui uma sociedade de classes,o que constitui o desaparecimento das classessociais e o que constitui uma sociedade sem classes.então o fato de
Isso me traz de volta ao ponto de partida. A noção de um período de transição, uma sociedadede transição entre dois grandesmodos de produção "sucessivos'' na história da humanidade, nâo é um fenómeno isola-
o período de transição ser mais longo do que se esperavainicialmente se torna menos surpreendente. Apenas porque um certo tipo de sociedade dura mais do que se previa. nâo é razão para negar. por definição..que se
do, limitado à'sociedade soviética e a todos os problemas relacionados com
trata de uma sociedade transitória. Apenas porque a transição é mais com-
a transição do capitalismo para o socialismo. É um fenómeno que se evi-
plexa
denciou de modo muito mais geral em toda a história humana..Paraos
rapidamente do que o esperado, não é razão para dizermos que não é tran-
marxistas interessados na África, porlexemplo, há uma questão particularmente fascinante relacionada com essaproblemática : a definição exala do que era a sociedade africana à época da ocupação colonial, e mesmo duran-
te a fase que se seguiu à ocupação, na$medidaem que ela nâo levou a uma
transformação completa e radical das relaçõesde produção nativas, parti-
l
e -- paradoxalmente
-- menos
"dinâmica".
já que ''transita''
menos
sitória. O fato de que paramos numa ponte por um longo tempo em lugar de atravessa-lasem interrupções não modifica o caráter da ponte ou o fato da travessia.Significa. simplesmente, que fatores históricos üu individuais modificaram o ritmo, a orientação e as possibilidadesdo avanço do caminhante. A ponte continua, por definição. essencialmenteum meio de co-
cularmente nas aldeias, e mesmo parcialmente fora delas. Na realidade, é impossível compreender a África Negra na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX sem usar a noção. eminentemente transi-
municacão entre duas margens acima de uma superfície de água. Por analo-
cional, de "classes sociais em formação"
ralizada de mercadorias, de que os meios de produção já não são mercado-
ou ''classes sociais nascentes:
E esse. na realidade. o núcleo racional contido em todas as teses de um socialismo supostamente "africano", segundo o qual Ó.marxismo é inaplicável na África. Essasteses são, evidentemente, erróneas. Elas não compreendem$o processo histórico, não compreendem o desenvolvimento, tomando apenas instantâneos de um momento da evolução. Mas o instantâneo,
embora por vezesfora de foco. nem sempre é inexato. Ao trat8r da aldeia
africanatípicaem;afins do séculoXIX ou princípiosdo séculoXX quandoicerca de 80 a 90% da populacão vivia nessasaldeias -- não podemos dizer que os senhoresfeudais. ou os donos da propriedade capitalista tiveram pela frente uma massade proletários ou pequenoscamponesesno processo de se tornar camponeses sem terra.(Falo
da aldeia africana típica,
não da aldeia árabe,que é diferente; nem das aldeias na África do Sul ou das calõnías ocupadas pelos brancas, que são diferentes; nem das cidades
coloniais. também diferentes.)Concordo em que há casosdé feudalismo ou semifeudallsmo em alguns países africanos, em certas regiões de alguns países. Há até mesmo casos de agricultura semicapitalista, ou relações semicapitalistas. ellremanescentes da escravidão aqui e ali. Mas, repito, é um.
processo no qual uma boa parte da população se encontra precisamente numa fase de transição da sociedade sem classes para a sociedade de classes.
gia, uma fase de transição entre o capitalismo e o socialismo é definida,
pelo menosestruturalmente.pelo fato de nâo havermaisa produçãogenerias. de que perderam, por definição. o seu caráter de capital, de que a classedos capitalistas que existiu no país antes da revolução social já não tem poder político. económico e social, mas que ainda não há relaçõesde dução verdadeiramente socialistasauto-administradas e livres efltre os produtores associados.Em lugar dela, há uma combinação hl'brida de elementos do passado e elementos do futuro.
Mas essacombinação híbrida dá origem a algo específico--.senda
talvez desse ponto de vista que avançamos um pouco em relacão à análise de Trotski. Essa combinação dá origem a relações de produção específicas
dessafasetransitória. Devo levantar aqui um problemateórico que não é fácil de ser compreendido. mas constitui uma das chaves teóricas para se compreender a realidade sócio-económica da União Soviética. Refiro-me à
distinção entre a noção de re/anõesde produçáb espec/7fcas,que caracteriza qualquer formacâo social(uma formação social sem relacões de produção seria uma formação social sem produção; em outras palavras. uma for-
mação social que não poderia sobreviver. sem vida e sem existência). e a noção de modo de prcducâb. Embora seja carreto dizer que não há formação social sem relações de produção especl'ficas,é falso dizer que qual-
quer relaçãode produção especifica implica necessariamente a existência
113
marxismo revolucionário atual
112
de um modo de produção específicaou predominante. Uma dasdistinções essenciais entre os períodos de transição e as grandes ''etapas progressivas
da história. delineadaspor Marx no prefáciode suaConfrl'bu/çábâ Cr/t/m da Eco/ m;a Po//t/ca. é precisamentea de que os períodos não têm um modo específico de produção. ao passoque as etapassão. por defjniçãó, caracterizadas por esses modos. Vamos examinar primeiro a explicação
teórica dessadistinção, à luz da qual voltaremos à análise sócio-económica da União Soviética.
O que caracterizallum modo de produção é o fato de ele ser uma estrutura cuja modificação quantitativa, gradual, que ocorre pela evolução, só é possível enquanto compatível com a lógica interna do todo que. embora possa sér dividido e contraditório, continua sendo um toda orgânico.
Esse todo. come'qualquer com orgânica. pode reproduzir-se mais ou menos automaticamente. Não digo que se reproduza mais ou menos automaticamente. apenas através do mecanismo ecanõmico -- essacaracterís-
tica só é aplicável,em última análise.ao modo de produçãocapitalista. Nos modos pré-capitalistasde produção, as articulaçõesentre os vários instrumentos da reprodução económica. política e ideológica podem ser acentuadamente diferentes da que são numa sociedade burguesa. Mas a essência do problema continua a mesma: uma vez colocada em órbita. a
estruturacontinua nessaórbita e só pode ser afastadadela por revolucões sociais ou contra-revoluções, por explosões ou perturbações mu ito violentas. Por outro lado. precisamente devido ao seu caráter geral híbrido, as reaçíõesde produção de uma sociedade em transição entre dois modos de adução podem decompor-se por si mesmas, evoluir em várias direções sem experimentar necessariamenteperturbações revolucionárias do mesmo tipo das revoluções sociais necessáriasà passagemde um modo de produ-
ção para outro. A passagempara a pequenaprodução de mercadoriasnão foi antecedida da tomada do poder político pelos seus produtores; não houve um ''Estado da pequena produção de mercadorias". Houve um Estado feudal e. em seguida, um Estado burguês. O advento do capitalismo
não exigiu uma revoluçãosocial e política que modificasseas relaçõesde produção baseadasna pequena produção de mercadorias. A simples pene-
tração/expansão do capital monetário na economia. num contexto deter-
minado pelo mercadocapitalista mundial, pelo domínio clo capitalismo mercantil. foi suficiente para provocar esse fenómeno de decomposição
Resumindo. podemosdizer que a diferença fundamental entre ai relações de produção características das fases de transição. por um lado. e os modos
de produção,'por outro lado, é um grau de estabilidade qualitativamente e diferente
Examinando a situação na União Soviética à luz dessa distinção. podemos chegar a várias conclusões. Primeiro, pode-se demonstrar facil-
mente -- ao contrário das afirmações de que as relaçõesde produção na URSS são essencialmente socialistas -- que a expressão ''socialista" não
os regimes de transição no leste
marxismo revolucionário atua]
114
fico (ou grupo de países).Em outras palavras,trata-se da análise de relações de produção peculiares não ao período de transição do capitalismo para o socialismo em geral, mas para uma sociedade que. embora esteja atravessando essafase. já passou por processos particulares de desenvolvi-
mento num determinado contexto histórico. Isso implica uma acentuada fragilidade das relações de produção, em comparação com as relações características dos modos de produção estáveis, e uma maior estabilidade do que se poderia prever sob a suposição de que o fenómeno teria vida curta.
As Leis do Movimento da Economia Soviética Você mencionou que os defensores da teoria de que a União Soviética não é socialista nem capitalista, mas que suas relaçõesde produção são caracte-
re'éticasde uma nova sociedade de classes,teriam que demonstrar as leis de desenvolvimento dessasociedade.Mas não enfrentam a mesmatarefa os defensores da análise trotskista? Afinal de contas, eles sustentam que a
União Soviética não é capitalista, o que significa que as leis do desenvolvi-
mento económicocapitalista descritaspor Marx não se aplicam a ela. Ao mesmo tempo, insistem em que as relações de produção na URSS não são socialistas. Mas a economia soviética deve funcionar de acordo com deter. minadas leis. E elas teriam de ser analisadasquer essaeconomia seja caracte-
rizada como um ''modo de produção'' ou simplesmente como uma série híbrida de ''relações de produção".
Quais são as leis especi'ficas que gover-
nam o funcionamento da economia soviética?
Não há dúvida de que enfrentamos essatarefa. e na verdade procuramos dar-lhe
solução. Eu diria. por exemplo,
que grande parte do segundo
volume de minha Teorü fconóm/ca /l#arx&ta é dedicadaao exame da economia soviética e da economia do período de transição em geral. Evidentemente, não posso.entrar em detalhes nesta rápida entrevista, mas procurarei resumir os elementos centrais de nossaanálise. Vou começar ressaltando nossa afirmacão de que a economia sovié-
tica já não é capitalista. Issose evidenciapor várias observaçõesempíricas, Para começar, todas as grandes empresas industriais, de transporte e finan.
ceiras -- em outras palavras, os meios de produção e circulação -- são pro-
priedade do Estado. Além disso, essapropriedade estatal é complementada por três características adicionais: proibição do direito de apropriação
privada dessesmeios de produção e circulação; planejamento eeonõmico centralizado; e monopólio estatal do comércio exterior. Tudo issosignifica que a produção generalizada de mercadorias jó nâo existe na URSSe que a
lei.do'valor já não dom/na. Não há mercado para meios de produção em grande escala ou para a força de trabalho. Os meios de produção e a força de trabalho deixaram. portanto, de ser mercadorias.
os regimes de transição no leste
11J
r' 116
marxismo revolucionário atua]
ceira das empresas, em conseqtlência do uso generalizado do dinheiro na
contabilidade nacional. Como já dissemos,nessetipo de produção parcial de mercadoria, o
dinheiro não pode desempenharo papel que tem sob o capitalismo.ou mesmo sob a produção de mercadoriassimples, Não pode transformar-se
em grandecapital, e apenasem casosmarginais(comoa.produção para o mercado negro") torna-semeio de exploração direta da força de trabalho. Também não se transforma num Instrumento para a apropriação privada
l
117
os regimesde transição no leste viética nos últimos 50 anos foram provocadas por essestipos de deformações burocráticas. E outra lei básica de movimento da economia soviética. :
As massas de produtores
têm um interesse duplo
eml otimizar
o uso
olanificado dos recursos económicos. De um lado. querem reduzir os insumosde trabalho mecânicos,não-criativos, a um mínimo; do outro, querem a maior satisfação possível de suas necessidadese desejos como consumidores. Todo desperdi'cio de recursos económicos contraria um desses
autêntica dos principais meios de produção.Pode, porém. tornar-se um
interesses.ou ambos. Não há indícios, teóricos ou empíricos, de que uma economia centralmente planejada e CQletivizada,sob uma autêntica e de-
nHrumento da apropriação privada parcial do produto excedente social
mocrática administração dos trabalhadores, utilizasse o$ recursos economt-
jjuros e renda de aluguel) e rea/mente estimula uma tendência espontânea
cos com menos eficiência do que uma economia capitalista baseadana
para a acumulaçãoprimitiva do capital privado, masdentro de limites rigorosos. Continua sendo, também. um fator central na consolidação
competiçãoenacorridaparamaximizaroslucros. F
..
e transmissão da desigualdade social {herança. por exemplo). É outra con-
Na ausência do controle .democrático do planejamento,. produção e distribuição pelos próprios produtores associados, porém, uma economia
tradição central e lei básicade movimento da economia soviética.
planejadacentralmente só pode ser administrada atravésde uma combinação contraditória de busca de interesse material da parte da camada "admi-
Tudo o que foi dito.}até agora, se aplicaria a qualquer sociedade em transição'do capitalismo para o socialismo. Todas essas contradiçõe.s sao. como disse,objetivas. Mas não haverácontradições --,e leis de movimento -:'especi'ficas da economia soviética,.resultantes da forma de governo político. ou seja, o governo da burocracia? Se .há, como se relacionam
com a questãode constituir ou não essaburocraciaumaclassedominante =em outras palawas. sc estamostrotando de um.modo de produção ou uma série especi'fica, híbrida, de relações de produção7
nistrativa'' da burocracia. de um lado. e o controle político exercido pela máquina estatal. do outro. {A máquina do partido e a máquina do Estado
há Muito se tornaram uma só e mesma coisa.) A experiência confirmou aquilo que a teoria marxista poderia ter previsto: dada essacombinação. a economia soviética funcionará constantemente abaixo de suataxa ótima de crescimento; desproporções periódicas e explosivas surgirão entre os vários ramos da economia nacional. Ao mesmo tempo, devemos ter presente que os privilégios materiais
são essencialmenterestritos à esfera do consumo. (Deixo de lado os priEssas contradicões fundamentais, que seriam enfrentadas por qualquer formação social em transição do capitalismo para o socialismo: são muito agravadasna URSSpelas conseqüências da contra-revolução pol.ítica que ali
triunfouâem fins da décadade 1920, levando ao monopólio do exercício do poder e da administração em todas as esferasda vida social, hoje controlado por uma camada social materialmente privilegiada. a burocracia. Assim como a lel do valor reina da maneira mais ''natural". seminterferências, no capitalismo do /a/soez-fa»e,um sistemabaseadano investimento e na distribuição dos principais recursos económicos socialmente planejados
só funciona normal e livremente se toda a economia estiver sob o controle e administração dos próprios produtores. A administração das unidades produtivas e de todos os processoseconómicos básicos por uma burocracia
vilégiosnão-materiais,como ''prestígio social", "sede de poder" etc. Eles não se expressam em vantagens materiais e são irrelevantes para a análise econõm/ca.) Dada a natureza específica da economia soviética, essespnvt' légios tomam duas formas principais: maiores rendas monetárias (inclusive
renda obtida ilegalmenteatravésda corrupção, suborno, roubo e operações no mercado "negro" ou "cinzento") e vantagens não-monetárias oriundas da posição ocupada na estrutura hierárquica da burocracia apor exemplo, acessoa lojas especiais, uso pessoalde automóveis de propriedade do Estado, apartamentos ou casast.relativamente luxuosos etc.). Em ambos os
casos. o efeito é que o burocrata tem maior acesso ao$ bens de consumo Ide qualidade superiora do que o trabalhador médio, para não falarmos do
campon.ês médio. Não obstante, isso não leva à propriedadeprivadados
privilegiada inevitavelmente introduz uma grande deformação e desperdí-
meios de produção nem à acumulaçãode enormes fortunas em dinheiro. Tudo isso introduz outra contradição altamente explosiva no funcio-
cio no processo de planejamento.
namento da economia soviética. De um lado, o interesse material da buro-
Essasdeformações oriundas da sobrevivência da produção parcial de mercadoria. da pressãodo mercado mundial e dos outros fatores que mencÍanei, são agravadaspelas contradições adicionais introduzidas pelo
cracia é o instrumento central para a realizaçãodo plano. Dado o monopó'
próprio sistema burocrático. Muitas das crises específicas da economia so-
lio burocrata da administração de toda a economia, ele constitui o principal
mecanismopelo qual o crescimentoeconómico é obtido socialmente.Por outro lado, náb há qua/quermecan;smoeconómüo -- e muito menosum
r' 118
marxismo revolucionário atua]
:l
1}9
os regimes de transição no leste
mecanismo espontâneo e automático -- pelo qual a realização desseautointeresseburocrático possaser harmonizado com o crescimento economlco
de consumo, a burocracia náb pode neutralizar a sua tendência de subor-
ótimo -- pela menos. não após o limiar inicial da industrialização ter sido
das ao ni'vel de fábrica individual. empresa,localidade, região, ramo indus-
trarlsposto.
trial. nacionalidade etc.). Em outras palavras,não há comopermitir a
É essa;incidentalmente, uma das mais importantes objeções teóricas à ídéia de que a burocracia constitui uma nova c/assedomi.nante. Os que sustentam essa idéía enfrentam um grande paradoxo. que jamais resolve-
ram: são incapazes de demonstrara característicaessencialde qualquer
dinar as prioridades sociais gerais às vantagens setoriaís separadas {adquiri-
satisfação simultânea dos interesses privados dos burocratas e das necessidades e exigências de uma economia socializada e planificada. Por isso,
todas essasreformas levaram a uma nova forma de contradição. que por sua vez levou a uma nova reforma. que leva a uma nova manifestação
classe dominante numa sociedade de classe, ou seja, a correspondência. a correlação, pelo menos em nível geral, entre os interessese motivações da chamada classe dominante e a lógica interna do sistema económico. Não
da contradição, e assim por diante. ad /nf/n/tum.
pode havercontradição entre a motivaçãoe o comportamentoda grande maioria da classecapitalista e a lógica interna do sistemacapitalista.Se
pois tal situação é inimaginável sob um modo de produção estabilizado: De qualquer forma. não há precedente histórico para essasituação.
assim não fosse. toda a análise marxista das classes sociais se tornaria total-
mente incoerente e estará'amoslidando com um modo de.produção abstra-
Esse fato. em si, deveria
ser suficiente para indicar que a burocracia não é uma classedominante e que a União Soviética não produziu um modo de produção estabilizado,
Na medidaem que a burocraciatenta acumularvantagensmatenals.
to, reificado, completamente divorciado das forças sociais vivas e que de-
não pode administrar de maneira adequadauma economia planificada. E na medida em que tem de administrar a economia planificada pelo menos
sempenharia o papel do Zb/fge/st de Hegel.
adequadamente. não pode dar prioridade à acumulação de seus próprios
Ora. é evidente que não existe essacorrespondênciana União Soviética. Não só não existe. como tudo o que sabemossobreo comportamento e motivação da burocracia, especialmente as camadas mais intimamente
privilégios materiais. O erro daqueles'que consideram a burocracia como
ligadasà administraçãoeconómica.que supostamentecontrolam o produ-
uma encarnação
da "vontade
de acumular'',
"produção
pela produção
aumento da produção na indústria pesadaàs custasda indústria leve'' ou qualqtler idéia semelhante,é que eles têm uma imagemfalsa da verdadeira
to excedente social. contraria a lógica da economia planificada. Uma das forças da análise revolucionária marxista e trotskista do caráter social da
burocracia soviética. Pode ter havido planejacfares,e provavelmente alguns
URSS foi precisamente a de demonstrar esse aspecto das coisas, com base
para a acumulação. Os verdadeiros burocratas, aqueles de carne e ossoque
em uma concepçãoespecíficada burocraciae seu papel contraditório na sociedade soviética. Essaanálise apreendeuqo fato essencial de que temas,
no caso. um fenómeno que difere, qualitativamente e estruturalmente, de
uma classedominante. Como não há propriedade privada dos meios de Produção na União Soviética, como as vantagens dêsfrutadas pela burocracia são essencialmenteprivilégios relacionados com suasfunções e posições na hierarquia e comobessasvantagens continuam sempre precárias em con-
líderes políticos, com a paixão da produção pela produção, da produção vivem no mundo real, são sem dúvida motivados por muitas palxoes, mas são paixões mais mundanas do que a produção pela produção. Suas paixões estão rigorosamente ligadas à posição particular ocupada pela buro: cracia na sociedadesoviética de transição e à sua articulação muito especial e contraditória com o sistema de economia planificada.
A administração burocrática -- qualquer que seja a sua forma -levará sempre. portanto. ao desperdl'cio de recursos.de várias maneiras:
seqtlência da ausência de propriedade. foi impossível a um sistema de admi-
ocultação de reservas,transmissão de informações falsas, inflação de neces-
nistração baseado nos interesses individuais dos burocratas desenvolver
qualquer racionalidadeintrínseca autêntica. Na verdade.podemosdizer
sidadesde insumo, produção de baixa qualidade sem relaçãocom as necessidadesdo consumidor. roubos de insumos produtivos para uso na pro'
que todas asprincipais reformas económicasda economia soviéticaa partir
dução do mercado "cinzento"
do segundoplano qilinqilenal -- desdeo princípio do khozrachot llucratividade autónoma de cada empresaindividual) introduzido por Stálin,
ao terror. como no tempo de Stálin. nem o restabelecimento parcial do mecanismode mercado. como durante o período pós-stalinista.podem eli-
passandopelo sopnarkhoz/ de Krushev e a proposta de Liberman de ''res-
minar a raiz final dessedesperdl'cio,que é o conflito entre, de um lado, o
tauraçãodo lucro como índice do desempenhoeconómicogeral", até o
interessematerial da burocracia administrativa privilegiada e, de outro. a
ou "negro'' etc. Nem o recurso sistemática
sistemas de ''indicadores combinados" de Kossiguin. e as últimas contra-
necessidadede uso ótimo dos recursos económicos liberados pela abolição
reformas que eliminaram alguns dos efeitos das reformas de Liberman --
da propriedade privadados meios de produção e da lei do valor. O interesse coletivo da esmagadoramaioria dos produtores. porém. exige exatamente a utilizacão ótima de recursos. SÓos produtores democraticamente asso-
visaram. sem êxito. à superação dessa contradição.
Há uma razão fundamental .para essafalta.de êxito. Pelasua própria natureza de camada social que controla os privilégios materiais na esfera
ciados. recebendo ''dividendos sociais" iguais de um crescimento economi-
121
120
marxismo revolucionário atual
os regimes de transição no leste
co intensificadoou de uma maiorprodutividadedo trabalho,teriam um interesse material autêntico numa otimização soca/ global do uso dos recu rios econom ecos.
Mas será que o tipo de sistemaauto-administrado ao qual você se referiu
não exige um certo nível de desenvolvimentodasforças produtivas.que permita a reunião das precondições para o funcionamen.to desce sistema? E não tem a teoria marxista algo a dizer sobre as precondições económicas.
políticas'ssociaise culturais que permitiriam a estabilizaçãodessasnovas relações de produção, e sua cristalização num modode produção?
A questão se resume realmente a dois problemas. Quais as precondições
para o desaparecimentoda economia de mercado e da economia monetária? E quais as precandiçõespara o desaparecimentoda divisão social do
trabalho entre produtorese administradores?Na minha opinião, 8 atual riqueza dos países industrialmente
adiantados permitiria
a consecução
rápida de um nível de desenvolvimento tal que as necessidadesmateriais básicas poderiam ser plenamente atendidas. É um dos critérios mais óbvios para a possibilidade -- na verdade, a necessidade -- de desaparecimento
das categorias de mercado e monetárias.Nessascondições, tais categorias
só podem ser aplicadascom efeitos negativos.Já podemos ver indícios disso na tentativa de "organizar'' a .abundânciaagri'cola do Mercado Comum. com base na economia de mercado. Também acredito que seria possa'velimediatamente reduzir pela metade a jornada de trabalho. Além disso. é essaa condição material -- não suficiente em si mesma,mascertamente necessária-- para tornar a auto-administração uma realidade. e nãa
um simples s/oga/í. Se os produtores não têm tempo de administrar suas fábricas. suasvizinhanças e o Estado -- para não falarmos das federações de
Estadosqsocialistas -- pode-se anunciar auto-administração aos quatro cantos. mas ainda haverápoli'ticos profissionais, e portanto funcionários, e portanto burocratas potenciais, que controlarão essaadministração. Bem, as condições para reduzir a jornada de trabalho à metade e para a educação
universitária generalizadae compulsória existem hoje ern todos os grandes pa íses industriais.:
Masexistiamem 1920? Não. Falo da situação anual
Portanto, em 1920 não existiam?
Não na Rússia,certamente. E na Aiemaí:liw. em 1920?
O Caráter Social da Burocracia
123
!22
marxismo revolucionário atua]
social, mais a estabilidade do governo burocrático sugerir a existência de uma classedominante? Para comecar, essa discussão no Ocidente é. com freqilência. prejudicada por uma grande leviandade :Mais precisamente, a maioria dos que discutem
a URSS foram incapazes de abordara realidade sócio-económica do país com aquilo que Lênin considerou uma dascaracterísticasbásicasda diabética materialista, ou seja d/e ,4//se/f/bke/t -- o processo de se levar em conta
todos os aspectosdo problema. e não isolar certos aspectosdos demais. Toda uma história da savietologiaocidental.-- e incluí sob esserótulo bastante pejorativo todas as várias correntes e subcorrentes do próprio pensamento marxista -- poderia ser escrita desseponto de vista. Ora um aspecto, ora outro, foi ressaltado, dependendo do momento, das exigências pragmáticas da luta política, e até mesmo dos caprichos pessoais e do inte-
ressevulgar. A certa altura, é dada ênfase ao caráter limitado das forças produtivas; em outro momento, à contradição entre os baixos padrõesde
vida da população e o imenso potencial industrial; em outro ainda. aos avanços na tecnologia, ou ao enorme atraso tecnológico, e assim por diante. Além disso, não se trata tanto de uma questão de falta de imaginação.
Para desenvolver uma visão que pelo menos pretenda ser abrangente, o es-
sencialpénos darmos ao trabalho de examinaro todo. e lutar constantemente para integrar elementosfreqüentemente contraditórios numa visão dinâmica, geral, daÉrealidadesoviética. Fico surpreso, por exemplo. pela levlandadK, irresponsabilidade mesmo, com a qual muitos observadores ocidentais falam de crise económicaque supostamente''atinge a economia soviética, como atingiu a economia ocidental"; e pela maneira pela qual outros (inclusive alguns que se pretendem marxistas) consideram pouco importante o fato de que, embora tenha havido um terrível aumento do desemprego em todos os países industrializados do Ocidente, não há qual-
quer desempregonos paísesindustrializadosda Europa Oriental. Elesevitam essasdificuldades com fórmulas que na realidade são apenas frivolida-
des, sem conteúdo teórico sério. Tais observadoresdizem, por exemplo:
Sim. mashá um desemprego disfarçado,oculto dentro das fábricas,na União Soviética." A única "diferença" é que os trabalhadoressoviéticos continuam
sendo pagos, ao passo que os desempregados no Ocidente vão
para a rua. E por que a classedominante no$paísescapitalistas industrializados, embora mais ricos do que a União Soviética, não tem a capacidade ou a vontade
de eliminar
o desemprego
''evidente":,
substituindo-o
pelo
desemprego disfarçado? Evidentemente, todas essas perguntas remontam
ao método de análise geral, e à incapacidadede todos os que serecusam a aplica-lo ao entendimento da realidade muito complexa da União Soviética.
Vejamos outro exemplo. Crio que devemos rejeitar como incom-
patível com a realidade,como uma deformação.qualquer idéia de que houve uma estagnaçãodas forças produtivas na União Soviética, um des-
os regimes de transição no leste
124
marxismo revolucionário atual Finalmente. devemoster cautela ao falar da estabilidade.Eu preferi-
ria dizer que o reinadoda burocraciasoviéticacaracterizou-se por uma combinação
de estabilidade
e instabilidade.
Para os que.tinham
125
os regimes de transição no leste
Bretanha. Tudo isso constitui uma realização possibilitada pela derrubada do capitalismo.
esperanças
de uma revolução política, ou um colapso do regime a curto prazo, o que se revelou foi a estabilidade. Mas se fizermos o balance dos 25 anos desde a morte de Stálin, veremos que não houve um único ano sem modificações
importantes na União Soviética, em+comparaçãocom a velha imagemda
imobilidademonolítica. Poder-se-ia dizer que a União Soviéticacom o culto de Stálin e a União Soviéticasemo culto deStálin sãoexatamentea mesma coisa? Que a União Soviética com um padrão de vida dos trabalha-
dores comparável, digamos, ao da Turquia. é exatamente a mesmacoisa
que a União Soviéticacom nl'veiasalariaisque se aproximam aosdos trabalhadores italianos? Pode-se afirmar que a União Soviética que produzia
apenas30 milhões de toneladas de aço seja a mesma coisa que a União Soviética que é hoje o maior produtor de aço, com produção anual 20%
maior que a dos EstadosUnidos?Pode-sedizer que a União Soviéticana qual a oposição se encontrava nos campos de Gulag e a União Soviética de
hoje, com seu fermento de correntes políticas, um/zdaf, e discussãoem todos os nl'veia anão só entre intelectuais,
mas também nos sindicatos),.
sejam a mesma coisa? Desseponto de vista, também, o problema é mais complexo. Mas no caso, em contraste com o que eu disse antes, o que falta
não é tanto um método de integração de todas essasinformações, mas as informações em si. Temos pouco conhecimento em relaçãoàquilo que, na União Soviética, não é macroeconómico;ou macrossocial.Conhecemosas linhas gerais,os agregados:coisascomo os númerosda produção industrial, a renda nacional, até mesmo a parcela da burocracia na distribuição da renda nacional, não são difíceis de calcular. Tudo isso é mais ou menos conhecido.
MasÜestamos
tratando
com um país de 250 milhões
de pessoas.
Essasociedadecontém muitas mini-sociedadesdentro dela. E quanto a isso estamos, evidentemente, muito menos informados. Percebemosapenas certos aspectos da realidade. através de revelaçõessúbitas. atravésda luz que pode ser lançadade tempos em tempos, por uma ou outra fonte, sobre o que está acontecendo,
Como disse.houve um crescimentocumulativo da#economia soviéticanos
últimos 50 anos,apesarde todo o desperdícioburocrático.De fato. a URSS transformou-se de um país relativamente atrasado numa grande po-
tênciaindustrial.
implicitamente, com a análise trotskista? Pelo contrário O crescimento da economia soviética e o correspondente
aumento no peso social e nas habilitações técnicas e culturais da classe operaria não torna automaticamente mais fácil ou mais rápida a derrubada
do monopólio burocrata do poder e da administraçãoda sociedade.A estabilidade relativa do domínio da burocracia -- ou. de qualquer modo, sua longevidade relativa -- é basicamente resultado do fato de que a derrubada
desseregime exige uma ação poli'teca consc/É'Í7fe,uma revolução política. Isso, por sua vez, exige o amadurecimento de condições não só objetivas, mas também subjeíivas. A principal razão da duração do domínio burocrá-
tico na URSSé que essascondições subjetivas de revolução poli'tica ainda não amadureceram.
Dois fatores relacionadosentre si explicam isso. De um lado, um dos efeitos centrais do longo período de domínio burocrático -- e incluo nessa categoria não só o reino do terror de Stáli.n. mas também os períodos de Krushev e Brejnev -- foi um processo de atomização e despolitização con-
tínuas da classeoperária soviética. Isso coloca obstáculosenormes no caminho de umaÜrevoluçãopolíticaglComunismo. marxismo e socialismo foram desacreditados aos olhos de muitos trabalhadores soviéticos, pois fo-
ram sistematicamenteprostituídos numa religião estatal apologética.a serviçoda burocracia dominante. Isso é particularmente importante, tendo em vista a falta de uma revolução social vitoriosa no Ocidente. ou de uma revolução
política
num
país
do
leste
europeu,
pois
qualquer
uma :dessas
duas hipóteses poderia oferecer ao proletariado soviético um modelo alter-
nativo atraente. Por outro lado. o simples crescimento da economia soviética, apesar de todo o desperdício causado pela má administração burocrática. lançou
as basespara uma melhoria, lenta mas constante, nos padrõesde vida dos trabalhadores soviéticos. Portanto, a burocracia foi capaz de estimular um
fenómeno que se poderia chamar de ''consumismo reformista", que se tornou uma espéciede alternativa da ação política entre a classeoperária. certo que isso provoca ROU'astensões e contradições, em conseqtlência da
Não apenasuma grande potência industrial, masa segundamaior potência
aumento das expectativas dos trabalhadores: por bens de consumo de qua-
industrial, pelo menos.do ponto de vista dos númerostotais, absolutos, de produção. Mesmo a produtividade industrial do trabalho aumentou,
para viajar ao exterior etc$Mas isso também contribuiu para manter a des-
aproximando-se agora dos ni'veia médios regístrados na Itália e na Grã-
lidade. acessoà educaçãosuperior, melhor assistênciamédica. liberdade politização e atomização do proletariado e. portanto, contribuiu para
marxismo revolucionário atual
126
conter qualquer renascimento de uma ação ou organizaçãode massasistemática. tA única exceção -- parcial -- é a fermentação entre as nacionalida-
des oprimidas; mas, nesse caso. as mobilizações tenderam a se limitar às lutas pelos objetivos nacionais.)
r'
os regimesde transição no leste . em outras palavras. como a segurança de emprego é infinitamente
127 maior
na URSSjembora não devamos exagerar, pois ela não é absoluta), os trabalhadores soviéticos têm possibilidade de impor às fábricas várias realida-
des. como um ritmo de trabalho menos intenso, que não existem nos paísescapitalistas. E há uma fusão estranha. mais uma vez hl'brida. de gran-
Mas é importante ter presente que a relativa falta de amadurecimento das condições subjetivas de revolução política não significa que o domí-
de indiferença pelo esforço individual e do maior interessepela habilitação
nio burocrático se reproduzade maneirasuave,ou automática. Ela simplesmente introduz outra contradição na economia soviética. Quanto mais o crescente pesoobjetivo do proletariado soviético sechoca com a sua contí-
capitalista. Os dois aspectos dessa contradição não devem ser subestimados, pois
nua exclusão do processo de decisão na administração e planejamento, mais a indiferença generalizada para com o resultado dos processos produ-
tivos tende a infiltrar-se por todos os níveisdasatividadesdos trabalhadores. Isso, por sua vez, passaa ser uma fonte de redução do crescimento económico {e um vasto reservatório de crescimento adicional potencial, no caso de uma revolução política vitoriosa).
individual -- que de certa forma é o oposto do que acontece na sociedade
têm uma dinâmica social muito clara. Segundo dados oficiais {e embora estes sejam exagerados,mantêm certa relação com a realidade). há dez milhões de pessoas nas fábricas soviéticas hoje -- dez milhões -- com di: plumas universitários, ou diplomas de escolas técnicas pós-secundárias. E uma percentagem considerável do número total de trabalhadores (70 miIhõesl. e está aumentando a cada ano. Isso deve, inevitavelmente. ter um
certo efeito sobrea autoconfiança da classeoperária. Deveinevitavelmente modificar a relação de forças com a burocracia, no contexto de uma socie-
dadena qual o monopóliodo conhecimentofoi, de início. uma grande
A ClasseOperária. a Burocracia e o Estado
arma nas mãos das privilegiados. Esse monopólio está agora sendo reduzido
Apesar dessacontradição : ou talvez em virtude dela.--.a classeoperária conseguiu determinar ' várias modificaçõ.es:..mesmo pol.íticas., pelo .menos em alguns dos países da Europa Oriental. 0 proletariado está agora intervindo de forma cada vez mais fnaclça.
por esseesforço extraordinário de ç:ducaçãocultural e técnica por parte da classe operária soviética.
Nessascondições, como pode existir ao mesmo tempo indiferença
levar à idéia de que estamos às vésperas de CQrreções
pelo esforço produtivo? Também isso é difícil de ser explicado. A indiferençaexiste precisamentena proporção em que a massados produtores se convence,profundamente. da inutilidade de qualquer esforço real, quando tudo está, de um lado, rigorosamente controlado pelo centro e, do outro, Infinitamente desorganizadolpelo desperdício e pelos privilégios da buro-
qualitativas ou automáticas. Mas é evidente que a situação é muito diferen-
cracia.Há demasiadorisco em qualquer iniciativa. Por isso.o sfafusque é
te daquela que predomina nos paísescapitalistas industrialmente adiantados. tanto em termos da relação de forças sociais e económicas,como em
preferido, e as pessoassimplesmente tentam sair-se da melhor maneira pos-
termos da incapacidadeda burocraciaem desenvolveruma ideologiapró-
não é destituído de importância (talvez seja mais importante na Europa
pria. o que a obriga a não reconhecer seu próprio poder. e a apresentar-se
Oriental do que na União Soviética, mas mesmo nesta última ele tem certo peso). E a distância entre a realidade e as estatísticas, provocada pela fato de que uma boa quantidade de trabalho é investida em mercadorias vendi-
Eu teria cautela com a expressão''de forma cada vez mais maciça". porque isso quase poderia
como representante do poder da classe operária. Já tive oportunidade de
chamar a atenção para outro paradoxo fundamental da situação: o fato
de que a classeoperária,proclamadacomo a classedominante em toda a opagandaoficial. está na realidadedestituída de todos os direitos políticos. Ao mesmotempo, embora a classeoperária não participe da administração da economia e do Estado, na realidade dispõe de poderes e direitos de cacto. resultantes da Revolução
de Outubro,
e que continuam
sendo
consideráveis. Essa contradição deve ser compreendida. dominada, e suas consequências percebidas ;
Como não existe um mercado de trabalho na URSS,como é formalmente ilegal e habitualmente impossi'vela um diretor de fábrica soviética, ao contrário do chefe de uma empresacapitalista. demitir um trabalhador
sível. Podemosmencionar também outro fato, que. embora secundário,
das através de circuitos paralelos. O ritmo de trabalho lento nas grandes
empresasdeve-se.em parte, ao fato de que muitos trabalhadoresespecializadostêm outras octipacões, quando vão para casa.
Apesarde tudo isso, é certo que a classeoperária soviética. com suas habilitações, seu nível cultural muito superior e seu evidente desejo de
aperfeiçoarsuacapacidadetécnica, está profundamente frustrada, privada de qualquer participação real na administração do Estado e da economia. As poucas reformas, menos do que modestas, introduzidas na década de
1960 visaram,.nomáximo, à adoção de um grau de co-gestãonumas poucas questões sociais. como normas de trabalho e salários. Além disso, essa
128
marxismo revolucionário
atua]
129
osregimes de transição no leste
co-gestão se fazia entre aparelhos sindicais jem outras palavras, uma fração
des. mas um detonador suplementar será provavelmente necessário para
da burocracia) e os dirigentes de fábricas. Não envolvia assembléiasgerais de membros dos sindicatos, o que teria sido outra coisa -- levando-nosde volta a uma forma indireta de participação operária no exercício do poder. tal como existia na décadade 1920.
modificar a situação
Há outra grande incógnita: o que pensam os jovens trabalhadores sov'iéticos e como encaram a sociedade? Quero dizer, os trabalhadores
que se formaram em escolastécnicas e profissionais nos últimos c nco
Porque não houve ainda demonstraçõesmais explosivas de protesto
ou seis anos. e que nunca passaram por Stálin e a desestalinização.. e nem
por parte do proletariado soviético contra esseestadode coisas,que Ihe
mesmo pela invasão da Tchecoslováquia. que tól a ultima grande crise interna no sistema burocrático de dominação. E essaa grande interrogação.
deve ser cada vez mais intolerável? Creio haver duas razões para isso. Primeiro, a falta de um modelo alternativo, que já mencionei; em outras pala-
vras, o ceticismo ideológico e político, que deve'sermuito profundo. A
pode haver certas surpresas no caso, mas no momento não devemos ter esperançasexcessivas a curto prazo-
classe operária soviética ficou profundamente decepcionadapela maneira em que a Revolução de Outubro se transformou. com a degeneração stali-
0 que você disse sob.re.a classe.ope.rlária soviética suscita, novamente,,a
nista. num modelo de liderança social que não atende às necessidades dos
questão da natureza da buroc.bacia.Há os que concordam em que a buro:rac a não pode ser comparada a uma classe dominante num.modo de proução clãs'ico (a burguesi?, por !xempjo.), mas que têm dúvidas -:.não em geral masno.contexto.da formação social soviética específica -- sobre sso
trabalhadores, Os trabalhadores também não foram atrai'dos pelo modelo capitalista.,Eles não vêem alternativa no mundo de hoje, não vêem nenhum terceiro modelo. Não há dirigentes dentro da classe operária soviética capa-
zesde propor um modelodiferentede administração. Sob esseaspecto,o
dado o papel destacadodo Estado, particularmente na economia. como
extermínio radical, ordenado por Stálin, de todas as tendências de .oposi-
você ressaltou, e dada a atomizaçêo da classeoperária. nâo.teí.áa burocra-
ção comunista,de todos os quadrosdirigentescomunistas,teve efeitos
cia acumulado um conjunto de poderes nos setoles económico, social e
realmente desastrosos.Na ausência:desse modelo alternativo, houve um
político que a colocam fora da. classe.operária? E. signif.icaria.isso que a posição de -Trotski, que. falou de uma burocracia dos trabalhadores, uma
recuo no sentido da vida privada. de reivindicações imediatistas, de padrões
de vida mais elevados,e mesmode progressosocial individual atravésda
fracão da classe operária atravéslãdaqual a ditadura do pro.letariado se
educação lo lado negativo da corrida à educação que não deve ser ignora-
exerceria de uma maneira deformada, mas real, deixa de ser válida?
do). Todas essasformas de fuga são praticamente inevitáveis. A segunda razão principal é que houve um progressoinegávelno padrão de vida e nas
Se tivéssemos de definir a burocracia apenas como as camadas mais eleva-
condições de trabalho dos operários soviéticos. Esseprogresso, quase cona
tante desde a morte de Stálin, isto é, nos últimos 25 anos,gerou o que podemos chamar basicamente de um clima mais reformista do que revolucionário, dentro da classeoperária. Pode haver explosões passageirasprovo-
cadas por determinadas questões,por exemplo quando a escassezde pro' duros alimentícios ou a intensificação da repressãoé especialmentesevera. Normalmente, porém, os trabalhadores soviéticos esperam melhorar sua sorte exercendo pressãodentro da estrutura do sistema, e não desafiando-o de maneira global.
das da hierarquia, então é evidente que qualquer parentescocom a classe operária, seja psicológico ou social, seria cada vez mais difícil de demons-
trar. A relação se tornaria então puramente histórica, na melhor das hipó-
tesesl O Único elemento da definição de Trotski que permaneceria-embora me pareça que continuaria a ser decisivo, apesarde tudo.-- seria o modo de remuneração: o fato de que a burocracia, como não possui os meios de produção. participa da distribuição da renda nacional exclusivamente como uma função da remuneração de sua força de trabalho. Isso implica muitos privilégios, mas é uma forma de remuneração que não dife-
E a combinação dessesdois fatores que explica a presentepassividade política da classeoperária {fatores. incidentalmente, que vimos em ope' ração também em pai'sescapitalistas adiantados). Um detonador adicional pode ser necessáriopara provocar maioresexplosões: uma vitória revolu-
re qualitativamente
da
remuneração
em forma
de salário.
Embora
essa
cionária no Ocidente. ou o desenvolvimento de uma oposição pol ética mais
gógico. Explicar
articulada e efetiva entre os não-operáriosna União Soviética. que pudesse estabelecercontato e diálogo com a classeoperária; ou contradições muito profundas e explosivasdentro da própria burocracia, ou novas crisesmais explosivas na Europa Oriental. Podem'amosacrescentaroutras possibilida-
apenasporque aquelesque recebemvinte vezeso salário de um trabalha-
definição possa satisfazer aos teóricos. sobretudo aos marxistas que atribuem importância capital aos fenómenos económicos, eu admitiria imediatamente que não é muito satisfatória do ponto de vista psicológico e pedaque a burocracia é uma burocracia doK~trabalhadores
dor comum ainda sãa assalariados, é um argumento muito abstrata. Mesmo
assim,como digo. sua validade deve ser reconhecida. e acima de tudo a implicação de que a burocracia deixaria de ser uma burocracia dos tuba
130
marxismo revolucionário anual
osregimes de transição no leste
131
Ihadores tão..logo adquirisse as fontes essenciaisde renda derivadas db propriedade etc.
Mas na verdade essadefinição restritiva da burocracia é bastante arbitrária e. portanto, falsa. Certamentenão é a definição de Trotski, ao contrário do que afirmam algunsde seuscríticos. Tal definição é totalmente incapazde explicar a realidadedo domínio da burocracia.Se esta pudesse ser realmente reduzida a tais indivíduos. algumas centenas de milhares no máximo, e talvez apenas umas poucas dezenas de milhares, então
o enorme controle que ele continua a exercer sobrea sociedadecomo um toda seria difícil de explicar. O principal instrumento de controlo durante
a era stalinista-- o terror permanentee sangrento,o medo real de perder não só a liberdade, mas a própria vida -- evidentemente já não existe nas mesmasproporções. Tão logo, porém, estendemosa noção da burocracia para que inclua, coco deve, todas as camadas da sociedade soviética que
são, de uma maneiraau de outra, privilegiadas,então estaremosfalando de
milhõesde pessoas:entre cinco e dez milhões,talvez mais. Essetotal incluiria toda a burocraciasindical;todo o corpo de oficiais das forças armadas, e não apenas os generais e marechais, mas também todos os ofi-
ciais de menor patente; toda a hierarquiaÊldaprodução. e não apenasos diretores, mas também os engenheiros;e a grande maioria da intelectualidade (exceto os professores,que ganham menos do que os trabalhadores e não têm privilégios materiaisl'.
Tão logo aplicamosessadefiniçãocorreta da burocracia.então as premissas do argumento .anterior desaparecem. pois é absolutamente certo
que um bom número dos burocratas de hoje. nessesentido amplo e real da
expressão,não são apenasos filhos e filhas dos trabalhadores,mas até mesmo antigos trabalhadores. A mobilidade ascendente que já mencionei. e que -- com todos os seus aspectos negativos -- sublinha a sede de educação e de habilitações que caracteriza boa parte da classe operária, é essen-
cialmente a mobilidade na direção da burocracia. Umá dasprincipais armas que esta usou para manter a sua ditadura foi precisamente essamobilidade, o fato de que foi capaz de usar a nata de geraçõessucessivasde trabalhado: res, oferecendo-lhes algo que o sistema capitalista não pode oferecer. Nesse
sistema. o máximo que se pode oferecer a um trabalhador é uma posição
intermediáriaentre;;o proletariado e a burguesia.Não Ihe é oferecida a propriedade que Ihe permitiria tornar-se chefe de uma grande empresa.A estrutura particular da sociedadena União Soviética permite à burocracia absorver os filhos e filhas dos trabalhadores, e mesmo os próprios trabalhadores, no mecanismo. Não nas cúpulas dessemecanismo. mas em posições mu)to mais elevadas do que as ocupadas pelas chamadas classes médias nos
paísescapitalistas adiarltados. Há um problema
sociológico
muito
interessante
e concreto
nisso.
Depois do período de industrialização e após os primeiros planos qtlinqüe-
nais, depois das comoções da SegundaGuerra Mundial e da desestaliniza-
M14 g :x ;:Kisg:l:.Xmu Ihadores e camadas populares, nessascondições, são muito mais violentas do que quaisquer acusaçõesfeitas sobre a falta de acessoà administração
das empresas E um aspecto mais concreto, fenomenológico e imediatamentevisível dos privilégios da burocracia. pois bloqueia um mecanismo de compensação que até então era indispensável: ou seja. a educação..eo acessos'à'mobilidade
ascendente. E podemos esperar reações e conflitos
ainda mais violentos, no futuro. Mais uma vez, isso mostra que. embora a burocracia tente cortar o cordão umbilical com o seu passado,a classeope'
ráriae a ideologiamarxista, uma coisa é tentar. e outra muito diferenteé
ter êxito. O que estáem jogo, no caso.é um processocontinuado.que está longe de sua conclusão, sendo evidente que pode haver reaçõesmuito violentas.
Como você disse, há indícios de uma redução na mobilidade social. A mobilidade ascendente vem declinando nos últimos quinze anos, talvez desde
a mortede Stáiin. Não, não. O período de desestalinização viu um expurgo maciço .da máquina, que deu lugar a sangue jovem, embora só recentemente tenhamos rece-
bido dadossobreisso.
132
marxismo revolucionário atual
do qual o poder se articula tende a ser externo à classeoperária, que não tem quaisquer direitos poli'ticos7 Qual a validade da expressão ''Estado de
trabalhadores'',nessascondições,dadaa expropriaçãoda classeoperárias Nos últimos 40 anos, nós em nosso movimento deixamos de usar sem ressalvas a expressão ''Estado de trabalhadores",
exceto em poucas ocasiões.
Dizemos ''burocraticamente degenerado". ou "Estado de trabalhadores bu-
rocratizada", o que nâo é a mesmacoisa.Trotski falou de um automóvel quebrado,que se chocou de frente com urnaparedesA dificuldade, no caso. é a diferença entre ciência e pedagogia.A fórmula "Estado burocratizada de trabalhadores" refere-sea critérios da teoria marxista do Estado. Para o marxismo não existe um Estado acima das classes.O Estado se coloca a serviço de interesseshistóricos de uma determinada classesocial. Se deixarmos de lado a palavras"trabalhadores",ela poderá ser substituída por uma dentre duas alternativas. Podeser chamadode Estado burguês,ou Estado de uma burocracia que se tornou uma nova classe dominante. Já disse
por que essasdefinições sâo absolutamente falsas, e até mesmo confusas -mais carregadas com uma confusão totalmente irracional -- do que ''Esta-
do de trabalhadores''. Tomemos um exemplo. Se admitirmos que a burocracia é uma nova classe,os partidos comunistasno poder seriam partidos burocráticos"? Tornar-se-à então a luta de classesnos paísescapitalistas
um conflito triangular entre a classeoperária.a burguesiae a burocracia? Ou a burocracia seria a única classena história que só setorna uma classe depois de tomar o poder, embora nâo constituísse uma classeantes disso?
O Partido ComunistaChinêseratum partido dos trabalhadores-- ou um partido de:trabalhadorese camponeses,poucadiferençafaz -- até o momento em que tomou o poder. e então setransformou num partido burocrático? Tudo isso leva a absurdos, a uma falta de compreensão da realidade mundial de hoje. Torna impossível orientar-se na luta de classescotidía-
na, em escalamundial. E issoé infinitamente mais perigosodo que a desvantagem pedagógica ou político-pragmática de usar a expressão "Estado
de trabalhadores"em relaçãoao Estadosoviético.Dito isto, quandoa Quarta Internacional -- seguindoTrotski -- afirma que ainda há um Estado de trabalhadores, burocraticamente degenerado,na União Soviética, e que nessesentido a URSSainda preservauma forma de ditadura do proletariado, o faz de uma maneira bastanteEprecisa,que não Implica nada mais do
que aquilo que diz. Até agora esseEstado continuou,$objetivamente.adefender as estruturas, as relações de produção híbridas, nascidas da Revolu-
ção de Outubro. Assim. até agora esseEstado impediu a restauração do capitalismo e o poder de uma nova classeburguesa; impediu o reaparecimento da propriedade capitalista e de relações capitalistas de produção. É apenas nessesentido que.usamos a expressão ''de trabalhadores'
Masela tem, não obstante, um profundo significado histórico,:que se pode esclarecer pela comparação com outrossistemas, outras situações transi-
133
os regimesde transição no leste
terias. Tomemos um exemplo histórico particularmente revelador. Se fizer-
mos o balanço daquilo que foi chamado, um pouco superficialmente, de época da monarquia absoluta, veremos incontestavelmente que numa boa parte da Europa essatambém foi a era da acumulação primitiva de capital
e da ascensãoda jovem burguesia,a época do fortalecimento da burguesia . em outras palavras. a época que abriu o caminho para a revolução burguesa.Ao mesmo tempo, porém. se examinarmos o problema de outro ân-
gulo, do ponto de vista do que restou da aristocracia semifeudal, é igualmente incontestável que Q absóltitismo salvou essaclasse decrépita e degenerada, permitindo que continuasse a.existir durante dois séculos ou mais. Isso foi feito de maneira extremamente simples: como as rendas agrárias da
nobreza semifeudal eram cada vez menos adequadas para permitir que a nobreza mantivesse seu estilo de vida e seus hábitos, a monarquia absoluta
agiu como uma enorme ''bomba financeira'', arrancando rendasde outras
classes da sociedade.principalmenteos camponesese a burguesia,e tr8nsferindo-as para a nobreza da corte, na forma de estipêncios e contribuições. Pode-sedizer, assim, que o Estado da monarquia absoluta era um Estado semifeudal. que defendeu os interesses históricos da aristocracia. Mas interpretar isso como significando que esseEstado defendeu os nobres feu
dais. tal como eram ou queriam :er mas ao XVI ou XVll
-- é evidentemente
refiro-me agora não ao século Xll, um absurdo. Pelo contrário,
o Es-
tado os atacou,esmagandoas frondas dessesnobres por toda a Europa com uma violência e rigor não menos intensos -- quando todas as diferenças
são levadasem conta -- do que a repressãoda burocracia contra os trabalhadores na União Soviética. Assim, há uma diferença muito grande entre, de um lado. a manutenção de certas estruturas sócio-económicas historicamente ligadas aos interesses de uma determinada classe social e, de outro. a defesa dos Interesses imediatos e diários de uma classe social no sentido
daquilo que ela própria vê como -- e quer que seja -- seu lugar na sociedade. Portanto, a nossadefinição da União Soviética como um Estado de trabalhadores buracraticamente degenerado é correra -- tanto historicamente como teoricamente. Não obstante, é certo que essadefinição é dífi'cíl de ser compreendida
e assimilada,para quem abordar o problema não com essescritérios, mas com um senso comum simples. Evidentemente, para o senso comum é absurdo dizer que a ditadura do proletariado existe na União Soviética,já que a imensamaioria do proletariado não exerce a ditadura, e nem mesmo desfruta de qualquer poder. E se interpretarmos a expressão''ditadura do proletariado'' como significando ''governo direto da classeoperária", então essaditadura certamente não existe. Para nós, a ditadura do proletariado existe na União Soviética apenas no sentido derivado, indireto e sócio-teórico da expressão. Creio que também nesse caso a disputa é puramente se-
mânticae não tem maior interesse.Tão logo os rótulos sãoabandonadose somos obrigados ailusar circunlóquios mais detalhados e mais nuancados,
135
134
marxismo revolucionário atua]
voltamos aos problemas reais que nãa são problemas de rótulos. Qual o lugar da burocracia na sociedade soviética? Será o mesmo de uma classedo-
minante? Através de que métodos pode a burocracia estabilizarseu poder e seus privilégios indefinidamente? É possível à classeoperária modificar a situação? Precisará ela de uma derrubada completa de todo o sistema eco-
nómico. ou será suficiente modificar o sistemade poder, que sem dúvida produzirá conseqtiêncíaseconómicas consideráveis,mas que ainda é diferente de uma revolução social? Quando nos tornamos mais concretos, específicos e precisos, as diferenças não desaparecem. Pelo contrário, se11 significado real surge. Então, não é uma questão de diferençasde rótulos, termos ou conceitos, mas diferenças na interpretação de aspectoscontraditórios da sociedade soviética e nas conclusões políticas a serem deduzidas da avaliação dessesfenómenos.
l
os regimes de transição no leste
crescimento económico. Segundo, não há como superar a relativa indiferença que os próprios produtores diretos demonstram pela produção primeira dificuldade só poderia sef afastada se um laço .per.manentede interessematerial fosse restabelecido entre os burocratas individuais e as empresas - em outras palavras. se a propriedade privada dos meios de produção fosse restabelecida,
no sentido
económico
(embora
nâo necessaria-
mente jurídico) da palavra. Isso significaria, é claro, a''restauração do capitalismo. A segunda dificuldade só poderia ser removida pela .conquista do con-
trole generalizado dos trabalhadores, pela administração dos trabalhadores, e pelo poder político dos trabalhadores na economia e na sociedade A pri-
meira modificação representariauma contra-revolução social vitoriosa, e a segunda,uma revoluçãopol ítica antiburocrática vitoriosa. Ora. dentro da burocracia, especialmente em sua ala ''administrativa há sem dúvida tendências que lutam para ligar a busca da segurançaem ter-
Restauração Capitalista ou Revolucâo Pol ítica?
mos de situação social, renda e privilégios, a elos permanentes"com determinadas empresas ou grupos de empresas.:Essastendências são sim-
Mas não levantou .Trotski a possibilidade de que a burocracia pudessecortar até mesmo seus elos históricos com a classeoperária e efetuar a restau-
ração do capitalismo? Sem dúvida. não desejaríamosargumentarque.a única ameaçade restauraçãovem de fora da UniãoSoviética.naforma de um ataque militar ou de uma penetração económica imperialista..Se.dissermos que a URSS é uma sociedadetransitória, que a economia soviética não encerra um modo de produção plenamente articulado, e que a burocracia não é uma classe dominante.
não se seguirá.que a evolução subsequente
poderá orientar-se para qualquer dessasduas direções? Retomando a analo-
gia que você apresentou anteriormente: quando atravessamosuma ponte, podemos sempre parar, dar meia-volta e retornar ao outro lado. Não há na-
da na naturezada ponte, tal como definida, que impeçaessamudançade direção A observação é procedente. Mas devemos examinar cuidadosamente os fatores que pressionam numa ou noutra direção. Há cerca de 40 anos a burocracia soviética enfrenta crescentes problemas provocados pela necessidade
plesmenteum reflexo, provavelmenteem parte conscientedo:fato historicamente demonstrado de que sem esseslaços (isto é, a propriedade privada no sentido económico da palavra) não há garantias de que os privilégios materiais e a melhor posição social possam ser assegurados e transmitidos a novas gerações. Além disso, esses esforços se harmonizam muito bem
como a tendência objetiva que tem a ditadura de buscar uma justificativa
racional unificadora. que ligue o auto-interessematerial burocrático â necessidadede simplificar o funcionamento do sistema. Também se harmonizam com a pressão do mercado mundial. a tendência para a acumulação primitiva de capital, em pequena escala,a operação de setores do mercado 'cinzento"
ou ''negro''
da produção
etc.
Se todas essastendências se desdobrassemplenamente, veríamos pro' vavelmente um desaparecimento consciente do planejamento central, uma
erosãoe desmantelamentodo monopólio estatal do comércio exterior. e uma crescente simbiose entre várias empresas soviéticas, libertadas do con-
trole férreo do plano, e suascontrapartidas nos paísesimperialistas. O pró-
de passar da industrialização extensiva para a industrialização intensiva.
prio Trotski chamou a atenção para esseperigo. há muito tempo De.fato. ele pode até mesmo ter subestimado o grau de apego da maioria dos buro-
Essa necessidadefundamental resulta da exaustão gradual das reservasem
cratas à propriedade coletiva. Mas se assim foi, o erro, como é frequente.
grande escala de terra. trabalho agrícola e m.atérias-primas que alimentaram
foi simplesmentede tempo: ele notou uma tendência embrionária e a
a industrialização dos primeiros planos qtiinqtienais. Até agora. todas as tentativas deüresolver essestlproblemas não atingiram um grau qualitativamente superior da eficiência no uso de recursos económicos. embora se
modo. é notável que. embora no todo as reivindicações,digamos,dos
tenha feito certo progresso.
considerou. com demasiada rapidez, como já generalizada. De qualquer administradores soviéticos não se centralizem na questão da acumulação primitiva. eles não obstante vêm, há mais de 25 anosr levantando uma série
Há duas dificuldades básicas. que não podem ser superadas pela lide-
de questões cuja lógica enfraquece a economia planificada. Quando os
ranca burocrática. Primeiro. como disse antes, é impossível forjar um elo racional entre o auto-interesse material da burocracia e a otimização do
administradores falam de maiores direitos para os diretores, o que desejam
é o direitode demitirtrabalhadores, fixar preços,modificaresquemas de
l marxismo revolucionário atua]
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1.37
os regimes de transição no leste
produção de acordo com os incentivos do mercado. Pareceevidente que reivindicaçõesdessetipo contradizem a lógica da economia planificada, e constituem apenas outra fase passageirano caminho do restabelecimento da propriedade 'privada. É evidente que os diretores de grandes trustes automobil ísticos ou de equipamento elétrico não vão acordar certa manhã
e dizer: "Entreguem-nosas fábricas". Isso ocorreria atravésde toda uma série de fases intermediárias. Trata-$e de outro reflexo da contradição
entre. de um lado, a estruturaplanejadae o caráter.socializado,coletivo
e estatalda produçãoem grandeescala,e, do outro, a manutenção das normas burguesasde distribuição -- que resultam essencialmente da sobrevivência das categorias de mercado e monetária na esfera dos meios de consumo. e que constituem a basedos privilégios da burocracia. Mas antes que todas essastendências pudessem levar à restauração real
do capitalismo, teriam de superar a resistência dos setores-chavedo apare-
lho estatal, que não se opõem a essatendência. É essa.incidentalmente. a justificação objetivaido nosso uso da fórmula científica ''Estado degenera-
do de trabalhadores'' para descrever a Urss, apesarde todas as medidas contra a classeoperária e da falta total de poder proletário dÊreto,ou mesmo de direitos políticos. E o que é ainda mais importante, teriam de supe-
rar a resistênciado próprio proletariado, que tem muito a perdercom esse processo de restauração capitalista. em particular o que constitui sem dúvida a maior conquista remanescente de Outubro, do ponto de vista dos tra-
balhadores: um grau de segurançade emprego qualitativamente maior do que o existente no capitalismo.
A restauraçãogradual do capitalismo na União Soviética, atravésde um processo "frio''
{ou através de uma ''revolução
palaciana''
percebida
pelos maoístas, por Bettelheim e alguns outros teóricos) é tão impossível
quanto a derrubada gradual do capitalismo na Europa Ocidental atravésde uma série de reformas. Acreditar noutra coisa é, para usarmos uma boa fra-
se de Trotski. ''passarum filme.reformista ao contrário". Em suma,a restauração do capitalismo
só poderia ocorrer através de novas e desastrosas
derrotas do proletariado soviético e internacional, através de violentas comoções sociais e políticas.
A situação evidentementecontraditória da burocracia,em particular suas contradições internas, cria uma questão muito prática (embora não, infeliz-
mente. uma questãoque no momento seja premente): qual a natureza da revolução antiburocrática? Surgem, também em relação a isso, vários problemas, particu.larmente em conexão;*com a expressão ''revolução política''. Trotski apresentou uma única definição, mas com pontos de referên-
cia nem sempre idênticos. Em ,4 nego/uçâb Tra/da, ele comparou a rcvo-
lução política a 1830 e 1848 na França,e a 1918 na Alemanha:uFez outras comparações também. mas voltou constantemente a estas. Em outras pala-
vras, modificações realizadascom uma certa mobilização das massas,mas
ca" que pode dar origem a ambigiiidades?
139
marxismo revo]ucionário atua]
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os regimes de transição no leste
Pouco importa falar do ''desmantelamento" do aparelho estatal. A autoadministração. mesmo a auto-administração democraticamenteÍlcentralizada e planificada, é inconcebível sem que uma boa parte do aparelho esta-
tal hoje existente na União Soviética seja desmontado;mas o aparelho estatal não é apenas esseaparelho central.
Uma vez identificado esseconteúdo, podemosver se há diferenças básicasou simples disputas terminológícas. Estas últimas não têm interesse.
pois permanecemabstratas.:As diferençasbásicasrelacionam-secom diferentes análises da realidade soviética. diferentes opiniões sabre o que deve:
ria ser o poder dos trabalhadores e a ditadura do proletariado. Uma dessas diferenças provavelmente se relaciona com as capacidades e limites da classe operária. Também nesse caso a dimensão histórica e a relatividade histórica nâo devem $er nunca esquecidas. Não há comparação entre a classe
operária da União Soviética de hoje e a classeoperária de 1937. 1927, ou 191 7: Ela é diferente não só numericamente, onde houve considerável cres-
cimento. e do ponto de vista da consciênciapoli'tecae de classe.onde houve uma enorme regressão.É também diferente em seu nível educacional : sua capacidade técnica, cultural e administrativa de assumir a adminis-
tração da economia e do Estado.O que foi extremamente diíi'cil depois da Revolução de Outubro, com a classe operária daquela época, é hoje muita mais fácil.
Resta ver quais os detonadores, externos e internos, que podem colocar o proletariado soviético outra vez no caminho da consciência de classe. Se isso não acontecer. então o debate sobre "revolução política ou revolu-
ção social" se torna absolutamenteinútil, porque então o verdadeiropro' blema será a contra-revolução, tentar impedir a contra revolução. Porém. sesnossasexpectativas forem realistas -- e há muitas indicações de que são, na verdade. realistas -- então a questão de se o que vimos foi na realidade uma revolução política, social ou uma combinação das duas, ou nenhuma das duas. não terá interesse real. Teremos simplesmente de notar ohfím
dessecapítulo histórico com grandeprazere um suspirode alavio.É um intervalo da história que custou caro à humanidade. principalmente ao movimento comunista internacional, e que continuará a custar caro à revolução
socialista mundial. Masum intervalo que o proletariado soviético e mundial. terá levado a um fechamento definitivo.
Europa Oriental Até agora, falamos principalmente sobre a União Soviética. Parece evidente que os pontos gerais mencionados sobre a sociedade transitória e a natu-
reza de classedo Estado soviético se aplicariam igualmente bem aos Estados da Europa Oriental. Mas não haverá um sentido no qual essesEstados
coslováquia, ou Polõnia.)
]41
]40
marxismo revolucionário
atua}
1968. Mas resta saber se veremos a mesma maturidade notável de ambas
as formas de organização(conselhosde trabalhadoresl) e conteúdo político na Rússia. A essaaltura, é inútil especular sobre o assunto; nosso conhe-
cimento do que realmente está acontecendo na classeoperária é demasiado
IF
os regimes de transição no leste
::;u,==nWz=:m:;,IA='=ll'E,:n;"ã;:Ê; l W,l houvesse altos e baixos nas mobilizações dos camponeses e embora o movi-
mento .d.emassa nas cidades fosse sempre mais limitado, mesmo em 1947-
fragmentado. Quanto à melhor maneira de evitar a ameaçade intervenção russa, é evidente: a internacionalização do movimento de oposição. Em outras palavras:contatos mútuos e coordenação entre os países do leste euro-
peu e com a URSS;propaganda e agitação internacionalistasdirigidas para os povos e trabalhadores soviéticos; internacionalização das próprias lutas de massa. Infelizmente, é fato pouco sabido que a ocupação da Tchecos-
lováquia teve um impacto profundo em muitos soldadossoviéticos, alguns dos quais tiveram de ser retirados, como ''politicamente duvidosos''. Se o
quatr Sob esseaspecto, a situação é mais favorável na China do que na URSS,
Kremlin tivesse de ocupar vários paísesao mesmotempo -- especialmente numa época em que a oposição na própria URSSestivessemais avancada do
que em 1968 -- o impactodessasintervençõescontra-revolucionárias poderia na realidade inflamar a revolução política na própria Urss.
:l:lHlifr: ::
erual e na União Soviética, formas que refletem a combinação de condições mais ou menos favoráveis, que mencionamos. f\4asnão é notável que
A Revolucão Chinesa Toda essa.discussãodeixou um importante fenómeno inexplicado: a revolução chinesa. Sob um aspecto. ela foi superior à russa, poismobilizou ativamente maiores massasda população, inclusive, é claro, os camponeses
Por outro lado, o componente pro etário foi muito menos importante. Essacontradição marcou o Estado chinês de trabalhadores desdeentão Sua vida poli'rica tem sido mais ''sadia'' no sentido de que a participação em massa na poli'rica não deupareceu nunca. As massaschinesas nunca so-
l
freram a despolitização ocorrida na Rússia.Por outro lado, nunca houve uma verdadeira tradição bolchevique na China. e nessesentido a vida poli'rica da classe operária foi sempre mais ''primitiva''.
Significa isso que o
proces:lode revolução antiburocrática na China serádiferente do processo na União Soviética e Europa Oriental?
Nâo aceito a afirmação de que a revolução chinesamobilizou ativamente uma proporção maior da população que a russa.Não porque subestime o âmbito das mobilizações de massa dos camponeses chineses, que foi real-
mente importante, mas porque acredito que a afirmaçãocontida na pergunta implica uma subestimativa sériado âmbito das mobilizaçõesde mas' sa na Rússia em 1917 e 1918, que em minha opinião continuam insuperáveis. mesmoÊselevarmos em conta o$ camponeseschineses. É certo, porém, que a dinâmica subseqüente do movimento de massana Rússia e na China foi mu ito diferente. Na Rússia houve um processo continuado de desmobilização e despolitização depois de 1920-21 , que se prolongou por mais de uma década..:De-
142
marxismo revolucionário atual
nês, que não queria um desenvolvimento independente das lutas da classe trabalhadora. E então, nas fasesfinais da guerra civil, a inflação galopante e a repressãoferoz dos bandidos de Chiang tornou a luta urbana muito
1:
difícil. 11
IF'
Mesmo com essaressalva, é inegável que as principais forças envolvidas
na batalha revolucionária que derrubou Chiang e tornou possível a instala-
ção de um Estadode trabalhadores tinham suabaseno campo.Seráisso surpreendente?Eu diria que não. De fato, no sumário que Trotski fez das teses da teoria da revolução permanente, ele afirma explicitamente que os camponeses, como maioria esmagadora da população dos países atrasados.
A máquina do partido representava uma burocracia que era privilegiada em relação à massa do proletariado,
desde o início. Mas era uma formação in-
terna. e não externa, à classeoperária chinesa. A resposta à segunda pergunta é mais complexa. Nenhuma revolução social que envolva a derrubada de relações de propriedade que governam as
vidas de milhões de pessoaspode triunfar apenas pelos meios militares. A revolução agrária.que transformou as relações de propriedade numa área
habitada por vários milhões de pessoasao.Norte de Huang-ho {se não ao norte do Yàngtse-kiang)certarüente não se limitou a um conflito armado
entre dois exércitos.Há muitos indícios de que os levantesem massano
ocupariam um ''lugar excepcional'' na revolução, não só devido à questão
campo. no nordesteda China. foram na realidadeanfer;ares à guerra total
agrária em si mesma. mas também devido à questão nacional. isso se aplica a todos os países .nos quais os camponeses constituem a esmagadora
provavelmente constituíram um fator i.mportante para solapar as negocia-
entre o ExércitoPopularde Libertaçãoe o exércitodo Kuomintang. e
maioria da população.Hoje em dia. isso é mais raro (embora continue
ções que visavamao estabelecimentode um governo de coalizão entre os
sendo a norma em vários paísesimportantes, como a Indonésia, Nigéria, Índia e Egito). Mas era sem dúvida o que ocorria na China em 1945. Por-
dícios de que na China do norte e central esseslevantesrurais -- uma
tanto, a participação maciça dos camponeses nas batalhas revolucionárias do 1945-50 não é de surpreender. Mas os verdadeiros problemas analíticos são os seguintes: Que forca
socialteve a liderancapolítica dessaslutas? Como explicar a forma pecu-
liar de organizacão na qual a revoluçãotriunfou, ou seja.o confronto armado entre o Exército Popular de Libertação e as forças guerrilheiras, de um lado, e o exército de Chiang Kai-shek,do outro? A resposta à primeira pergunta me parece indiscutível. A liderança do
Exército Popular de Libertação estavanas mãos de forcas sociaisu/óa/7as, ou seja. a máquina e os militantes do Partido Comunista Chinês. {Dígo má quina e militantes porque houve um fluxo constante de mil'itantes urbanos para as forças guerrilheiras e as áreas libertadas, a partir de 1937 até a conquista das grandes cidades, fluxo esse que a princípio
foi de milhares, e em
seguida de dezenasde milhares.l Caracterizar essasforças como ''pequenoburguesas" é colocar em questão um princípio básico da teoria da revolução permanente; o de que a pequena burguesia é incapaz de desempenhar
um papel político independenteda burguesia e do proletariado. Em particular, à luz dos acontecimentos posteriores, essacaracterizaçãoda burocracia do Partido Comunista Chinês pareceinsustentável.Poderi4haver um partido pequeno-burguês que destru éssea propriedade privada. estabelecesse a ditadura do proletariado {talvez em condições altamente burocratiza-
líderes do Kuomintang e a liderança do Partido Comunista. Há também in' verdadeira revolução agrária popular -- acompanharam, e não vieram após
as vitórias militares do Exército Popular, tornando-as muito mais fáceis, ou até mesmo explicando-as. No sul da China. é claro, a situação se lnver teu. Ali. a revolução agrária seguiu-seà proclamação da República Popular
da China. e foi até mesmo conscientemente sufocada. por algum tempo, pelaburocracia do partido. A explosão sem precedentes da massado campo, no norte da China,
depoisda SegundaGuerra Mundial, cujo impulso revolucionário foi muito além dos levantes camponeses tradicionais da história chinesa, deve ser
analisadaobjetivamente. A sociedaderural nessaregião foi totalmente destruída por dez anos de conflitos constantes: guerra civil, impostos e repres' são imperialistas japoneses,saque e repressão pelas forças contra-revolucio-
náriasdo Kuomintang, operações maciçasde guerrilha contra a ocupação japonesae contra asforças de Chiang, e assim por diante. Tudo issoprovo-
cou o aparecimentode uma cardadade milhõesde camponeses pobres desalojados, afastados de sua vida tradicional e de seu sistema tradicional
de produção, e praticamente reduzidos ao estado de semiproletários, e mesmo de quase miséria. Essa transformação social explica o âmbito
maciço da guerrilha permanente, o recrutamento maciço do Exército Popular. os levantes espontâneos, a resistência fenomenal às tentativas de
Chiangde impor relações''normais'' entre arrendatáriose latifundiários.
Coréia? Não. A única conclusão razoável é a de que o Partido Comunista
depois de agosto de 1945. quando suasforças ocuparam o norte da China. e a forma radical que assumiu a revolução agrária em nível de aldeia. desde o início. Também explica por que a liderança do Partido Comunista foi
Chinês, independente de suasreviravoltas táticas, com frequência oportu-
capaz de fazer a transição de uma reforma
nistas e até mesmo traiçoeiras, estava lutando para destruir o capitalismo e.
da propriedade privada da classecapitalista sem encontrar resistênciasignificativa da populaçãorural. Urna grande'parte da burguesiarural já havia si-
das desde o íni'cio} contra a maior potência do imperialismo mundial. na.
portanto, representava' uma força social fundamentalmenteproletária. tl
143
os regimesde transição no leste
agrária radical para a supressão
144
145
marxismo revolucionário atual
do expropriada e eliminada pelos .próprios pobres rurais. antes da expropriação dos capitalistas urbanos.
Em todos essesaspectos. o caráter do Estado chinês dos trabalhado. res difere do russo, para não falarmos dos países da Europa Oriental. e a sua análiseilíndependente é sem dúvida uma necessidade da teoria revolu-
cionária marxista. Mas apesardessasdiferençasimportantes, parece evidente que nossa análise do caráter fundamental da sociedade soviética como uma sociedade em transição do capitalismo para o socialismo. transição essasustida pela usurpação do poder por uma burocracia privilegiada. que só pode ser afastada por uma revolução política antiburocrática. também é essencialmente aplicável à China.
O que permanece em aberto é a questão de se a vitória da revolução proletária nos países industrialmente adiantados. ou nos países nos quais o proletariado já representa a maioria absoluta da nação, desencadeará --
tanto dentro dessespaísescomo em escalamundialã--um processoque possa''desburocratizar" a experiência das revoluções.proletárias do século XX com uma rapidez multo mais desconcertante do que a duração do fenómeno da própria burocratização. Quanto a issoa história dará a última palavra.Se ela confirmar que os marxistas revolucionários vêm mantendo ilusões sobre esseassunto, então seria necessário chegar a conclusões sobre
as raízes históricas e sociais mais profundas da burocratização diferentes das conclusõesgeralmenteformuladas nasanálisesde Marx, Lêninr Trotski
''Séculos de Transição"?
Vam.o.sconcluir levantandooutra possibilidade,que também pode ser
toriadores, mas acima de tudo militantes, pessoasque participam com o objetivo de modificar conscientementeo curso da história.
considerada como excessivamenteespeculativa. Se aceitarmos a análise
formaram em Estados burocratízadosdos trabalhadores.;e se também analisarmos a fase pós-burguesade desenvolvimento. na moldura da luta de
classesem escalamundial, chegamosà conclusãode que outubro de 1917. a primeira revoluçãosocialistavitoriosa, iniciou um pari'odo de transição mundialt cuja duração, embora não possaser previstaexatamente, ameaça
se.r.relativamentelonga, em corrlparaçãocom as previsoesdos revolucionários russos, pouco antes .de tomarem o poder -- ou mesmo em compara-
ção com alguns dos escritos do próprio Trotski, Concorda com 'isso? Sim e não. Todos sabem que a questão dos chamados "séculos de transi-
ção'' teve um ce.rto papel na história da Quarta Internacional. Não quero
ser mal interpretado, e acima de tudo não quero dar a impressãode que um processo histórico especi'ficotinha fatalmente de ocorrer, ou foi governado por uma tendência inata dentro do proletariado, estrutural ou organicamente ligada a ele. Na verdade,'esseprocesso deve ser compreendido no contexto da prova de ft)rça entre as classesque se processou quando a era do declínio capitalista teve início. O que vimos na União Soviética. a ossifi-
cação da burocracia durante mais de meio século. não correspondea nenhuma necessidade objetiva, a nenhum destino. É produto de uma combinação de circunstâncias históricas excepcionais. O fato de essesistema se
ter difundido pela Europa Oriental, e influenciado profundamente a estrutura de dominação e organizaçãoBdo Estado dos trabalhadores. mesmo na China, Vietnã e Cuba. não invalida esta análise. É evidente que o que ocor-
reu em todos essespaísesfoi um subproduto do que ocorreu na União Soviética. e nâo se desenvolveu independentemente do poder da burocracia
soviética, ou do contexto mundial no qual a burocracia soviéticasurgiu. 1?
os regimes de transição no leste
e da Quarta Internacional. Masserá injustificado, impressionista e irrespon' sável chegar a essas conclusões prematuramente, antes de termos provas: especialmente para os marxistas, que não são simplesmente teóricos ou his-
troTskista de que os Estados nos quais o capitalismo foi derrubado se trans-
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Pessoalmente continuo a pensar que teremos algumas surpresas mui-
to agradáveisbquanto a isso. Dadas as condições de hoje, dada a riqueza
relativa da economia e o esmagadorpeso numérico do proletariado, com suastradições políticas democráticas, e alto ni'vel de habilitações técnicas e culturais. tendo dificuldades em conceber aiirepetição, em: países como
França, ltália, Espanha ou Grã-Bretanha, para não falarmos dos Estados
Unidos, de qualquer coisa que possa,Rmesmo remotamente.justificar a idéia de uma transição que dure séculos,ou uma burocratização de séculos {mesmo sendo mais benigna do que a da Urss). entre a queda do capitalismo e o advento de uma sociedade socialista.
a política do internacionalismo contemporâneo
147
4.
A Política do Internacionalismo Contemporâneo
rota antecipada.
Antes de tratarmos da SegundaGuerra Mundial. gostariade observar
Gostaríamos de começar com várias perguntas sobre a Segunda Guerra Mundial. Às vésperas de sua deflagração, Trotski e os marxistas revolucionários consideravam o conflito iminente essencialmente como uma guerra interimperialista, atitude essaque se estendeu até as primeiras fnes do con-
flito. Foram feitas,Üfreqüentemente,comparaçõescom a Primeir&Guerra Mundial. Não é verdade, porém. que a guerra, à medida que se desenrolava,
assumiaium caráter mais complexo, sem!;dúvidadiferente da Primeira Guerra, e que essatransformação refletiu-se em parte, embora não de maneira suficiente, nos slogans e anões dos trotskistas da época? A Quarta
Internacional, por exemplo, apoiou a resistênciachinesaao imperialismo japonês antes mesmo da guerra; apoiou a União Soviética contra a invasão nazista; em muitos pai'ses, os seus militantes participaram da resistência à
ÊÃÜFISTEF:B%m,;;:l:l:S fomtar numa combinação de três guerras numa só.
Ora. Trotski não era dogmático. Depois que Hitler tomou o poder. ndo Trotski começou a tentar preparar a vanguarda da classe operária internacional, em especial seus próprios camaradas e simpatizantes. para a inevitável conflagração mundial, levou em conta essasconsiderações. Na tese intitulada ''A Quarta Internaciorul e a Guerra", um surpreendente
documento escrito em princípios da décadade 1930 e infelizmente pouco
ocupação fascista. Na Grã-Bretanhae nos Estados Unidos os trotskistas não apresentaram os slogans clássicos do derrotismo revolucionário, mas defenderam uma luta contra os Estados fascistas que foi, sob n)uitos aspectos, original, e melhor exemplificada nos escritos de James P. Cannon, e em seusdiscursos no julgamento por sedição. nos Estados Unidos, em prin-
efender esseEstado contra o ataque imperialista, venhade onde vier. Esse documento tem todo um capítulo dedicado às diferentes táticas a serem
cípios da década de 1940. Não equivaleu tudo issoa uma nova caracterização da guerra, pelo menos implicitamente, e não estariam os trotskistas
aplicadas pelos marxistas revolucionários nos países.empenhados na agres-
melhor colocados para explorar a dinâmica revoluçionária potencial da luta antifascista se estivessem equipados com uma concepção estratégica mais excita e mais coerente?
que atacarem a União Soviética. disse Trotski. será dever dos revolucionários não só se opor à guerra politicamente. mas também procurar sabotar as
são direta contra a União Soviética e seus aliados. Nos países imperialistas
indústrias bélicas, impedir que armas sejam levadasà frente. e assim por diante. Nos países aliados à União Soviética. seria absurdo sabotar o embar-
Na minha opinião, a questão da natureza da Segunda Guerra Mundial está intimamente ligada à questão do cafáter das principais forças propulsoras
que de armas para a frente soviética. ou mesmo interferir na sua produção. Segundo, o mesmo documento também é perfeitamente claro quan-
da revolução mundial, tal como surgiramda Primeira Guerra Mundial.
to à necessidade de defender os Estados burgueses, e mesmo pré'capitalis-
Concordo que a questão é complexa e que houve um perigo de esquematis-
tas. empenhados em guerras de independência contra as potências tmperia'
mb dogmático. O maior perigo, porém. foi a capitulaçãooportunista à
listas. Mais uma vez. tratava-se de um problema concreto, e os marxistas
Y 148
marxismo revolucionário atua]
revolucionários adotaram uma posiçãoclara em apoio à guerra da Etiópia contraste imperialismo italiano e à guerra chinesa de resistência à invasão Japonesa.
Do ponto de vista analítico, portanto, os partidários de Trotski estavam bem colocados para compreender o desdobramento da Segunda Guer-
ra Mundial, que se tornou, diria etJ,c/nco guerrasnum%única: uma guerra interimperialista, entre saqueadores.à qual a classeoperária não podia dar o $eu apoio; umã guerra justa de defesapelo Estado burocratizado dos trabalhadores soviéticos contra a agressãoimperialista pela Alemanha nazista e seus aliados; uma guerra justa de defesa pela China semicolonial contra o
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]49
a política do internacionalismo contemporâneo
ra do imperialismo inglês, francês, americano, belga ou holandês contra o outro campo imperialista adversário. levaria apenas ao sacrifício de interesses imediatos da classe operária. à colaboração sistemática de classes e ao
estrangulamento das possibilidades revolucionárias ao término da guerra.
Na SegundaGuerra Mundial, como na Primeira, houve uma linha direta entre a aceitaçãoda ''defesa nacional'' por um governo imperialista e a colaboração de classe com a burguesia para conter os levantes revolucioná-
rios dos trabalhadores,aafim do conflito. Todos os que aceitarama pre missa também aceitaram a conclusão. Não foi por acaso que as forças polí-
ticas que afirmavam estar as potências imperialistas ocidentais travando
imperialismo japonês; guerrasjustas de libertação nacional de povos colo-
uma guerra justa contra o nazismo acabaram formando governos de coali-
niais oprimidos contra seusexploradores imperiais, fossem japoneses, ingleses:ou$franceses; etfínalmente uma guerra justa de resistência das massas
talista e a máquina estatal burguesa.
de trabalhadoresne oprimidos ,nos países ocupados da Europa)contra:a superexploração e opressão nacional impostas pelos nazistas. Ora, con-
ceptualmente, na medida em que essasüguerrqs eram distintas -- e até certo pontolieram -- a posiçãopolítica a sertomada é bastanteclara, e a esmagadoramaioria do movimento trotskista compreendeuissoe tomou as posições cornetas,embora eu admita ter havido camaradas,não muitos, que não compreenderam
a situação4:
A dificuldade surge -- e é resultado não da análise teórica inadequada
da guerra, mas da complexidade da própria realidade -- de dois problemas adicionais: primeiro, embora conceptualmente distintas, e em grande parte
distintas também na realidade. essascinco guerras estavarüevidentemente relacionadas entre $í de maneira altamente complexa; segundo, embora quatro dessas "cinco guerras" fossem intrinsecamente justas do ponto de
vista da classetrabalhadora internacional, no sentido de que deviam ser travadas. eram praticamente. em todos os casos, lideradas por forças políticas e/ou sociais que não tinham qualq;uer interesse em conduzi-ias de uma
maneira conforme ao interessehistórico objetivo do proletariado mundial e das massasdos países coloniais e semicoloniais. O problema, para os revo:
lucionários, torílou-se então;jcomoapoiar essasguerrasjustas,ao mesmo tempo em que não tinham confiança política nasforças que as lideravam: As
dificuldades táticas em termos:de s/oganse ações surgiramdessesdois problemas. que eram espinhososaquaisquerque:fossem os padrõesa ele aplicados, e não de qualquer inadequação teórica em nossa concepção do caráter da Segunda Guerra Mundial como um todo,
Na verdade. no que se relacionavacom o problema analítico funda-
mental nos própriosüpaíses imperialistas,haviaum paralelonotávelentre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, confirmado pela experiência prática
do que aconteceu imediatamente depois dejambas. Dentro dos países imperialistas. qualquer caracterização errónea'ida natureza da guerra anti-
imperialista, qualquer noção de que devido à naturezaespecíficado imperialismo nazista, italiano ou japonês, havia um elemento de justica na guer-
zão ao fim da guerra. para reconstruir a ordem burguesa,a economiacapiPosso mencionar um exemplo pessoal que expressa isso de forma notável. Durante a guerra. como representante de nossaspequenasforças revolucionáriasem Flandres Itínhamas apenasuma dezenade camaradas no setor de Antuérpia do movimento de resistência).tive oportunidade de
encontrar representantesda ala esquerdado Partido Socialista.entre os quais estavam alguns sionistas de esquerda. grandes militantes na Resistên-
cia à ocupação nazisthi Eles procuraram convencer-nosa formar uma espé-
cie de frente nacional,que na .Bélgica,como em todosiíosoutros países europeus, estava surgindo como uma forma
de grupo geral de várias
tendências na Resistência. Lembro-me de que lhes disse: vocês propõem que trabalhemos juntos hoje contra o inimigo comum -- e concordo em que
#X:ill:l(U!ãli*l:ÊÇIU UHHilX
indústria do carvão em Charleroi, razão pela qual aquelaspessoastinham interesse em nossa participação na organização geral). Além disso, estamos
ansiososparaver a difusão dessasgreves.Mas qual seráa atitude de vocês no dia em que os soldados alemães deixarem
tituídos
a Bélgica e forem
subs-
por tropas inglesas e americanas? Qual será a posição de vocês em
relaçãoàsgreves,então? l$W
:l.y
.
}
...
E es ficaram indignados e responderam: Se vocês acham que podem
convenceraupovo e os trabalhadoresbelgasa continuar a luta contra os aliados depois da derrota dos nazistas, estão enganando a si mesmos; isso é
uma utopia e. como tal, reacionária. porque, se tal coisa acontecesse.não
seria bom. A história mostrou, porém. que não era uma utopia e certamente não era umahidéia reacionária. As greves surgiram na Bélgica em grande escala logo depois que as tropas aliadas expulsaram.as forças ale
mãesde ocupação.Na Fiança. Itália. e Grécia houve maisdo que apenas greves -- houve urna guerra civil incipiente, o ini'cio de uma revolução
socialista em potendtal.Qualquer falta de clarezaquanto à naturezada guerra interimperiali.sta e do caráter de classe dos Estadas e governos que a
150
marxismo revolucionário atual
a t)olítica do internacionalismo contemporâneo
1 5]
conduziam, qualquer confusão sobre as tarefas históricas da classeoperária nesses países, só podia levar a poli'tecas contra-revolucionárias de colabo-
rejeita totalmente essesegundo aspecto e afirma que o movimento trots-
ração de classes.Não se trata de uma questão de teoria, masde algo com-
quebtrabalhava ao ser assassinado,começa com as palavras "A Franca tornou-se agora uma nação oprimida") capitulou ao patriotismo social e à
Havia também uma segundaconsequênciade qualquer incapacidade de compreender-o caráter imperialista da guerra dos Estados imperialistas ocidentais contra a Alemanha,;lltália. Japâo. Se a guerra da Inglaterta contra a Alemanha, :por exemplo, for consideradacomo justa, então qualquer levante das massasindianascontra o domínio. britânico, durante aque-
ideologia burguesa. participando na Resistência. Isso está completamente
provado pela realidade.
la guerra, deveria ser combatido. A razão disso é evidente. Mesmo se considerássemos o levante indiano contra a Grã-Bretanha como igualmente
justo, teríamos de reconhecerque a guerraentre ela e a Alemanhaera a guerra principal" no sentido de que envolvia maiores forças. era mais ampla e era, pior qualquer padrão razoável, "principal". Teríamos então duas guerras justas, e o problema estava em que o lado ''justo''
era o lado "injusto"
na primeira
na segunda. Uma vez estabelecido essetipo de estru-
tura lógica, seguese inevitavelmente que uma das duas lutas ''justas" deve
kista (e mesmoovpróprio.Tr.otski. porque seu último artigo, aquele em
errado. é claro. tanto na teoria como politicamente. E absurdo manter que em meio à superexploração, opressão e genocl'dio que se desenvolviam nos
pai'sesocupados. não havia tarefas imediatas e especl'ficasde autodefesa, apenasdevido à natureza geral da guerra como um todo. Isso não só é absurdo. como equivaletambém ao suicídio. O levante do gueto de Varsóvia
foi mil vezesjustificado, e qualquer revolucionárioali presenteque se recusassea participar dele, seja pela alegação de que sua liderança era favorá-
vel aosAliados pró-Ocidente(com um significativo componentesionista). ou sob a alegação de que a Segunda Guerra Mundial efa um conflito inte-
rimperialista no qual .o proletariadornão devia tomar posição, merece desprezo.
ter prioridade. Não se trata de um argumento abstrato. O movimento stali-
Não tomamos posição entre imperialistas, mas certamente nos defendemos contra assassinas(qualquer que seja o seu lado). Oõmesmo ocorre com as massassuperexploradas de trabalhadores, camponeses e pequenos
nista mundial denunciou, de forma coerente,.todos e quaisquerlevantes
burgueses em todos os países ocupados: Mesmo no$ países nos quais não
ter precedênciasobre a outra. e nessecasoé evidentequal a que deveria dos povos coloniais contra seus senhores imperialistas "democráticos durante a SegundaGuerra Mundial. Em muitos casos-- a maioria. se nãa todos -- isso não ocorreu porque os stalinistas fossem a favor do domínio imperialista nas colónias. Nem devido à sua preocupação,totalmente justificada, em defender a União Soviética, pois esta sem dúvida não tinha interesseno governo britânico na l ndia, por exemplo. Nem foi principalmen-
te por seremos ingleses"aliados" da URSS,emboraesseargumentofosse apresentado demagagicamentede tempos em tempos. Não. A verdadeira razão era que: os stalinistas acreditavam que os i.mperialistasbritânicos estavam travando uma guerra justa contra o imperialismo nazista e que essa guerra, como os interesses em jogo eram grandes, devia ter prioridade sobre todos os outros conflitos. A lógica é férrea; a premissa subjacente é que era
falsa. A história mostrou, creio eu, que essefoi o principal perigo para os revolucionários, na Segunda Guerra Mundial: a armadilha de considerar a guerra interímperialista cias desse "engano
como justa. Ainda estamos pagando as conseqüên-
Estou pronto a admitir, semdúvida, que algunscamaradasda Quarta Internacional -- poucos na Bélgica e uma minoria na França. talvez a maiona Gréciair--
cometeram o erro oposto. Ao ressaltar o perigo dessa
armadilha, eles subestímarama importância do outro aspecto da guerra: o caráter
historicamente
justo
de qualquer
forma
de resistência
de massa
ã superexploração e opressão -- na verdade. em certos casos, ao genocl'dio
-' impostas pela ocupaçãonazista da Europa. Até hoje. há uma ala do movimenta trotskista na França - os camaradas ddjLutte Ouvriére -- que
houve genocídio, o padrão de vida das massastrabalhadoras foi rebaixado
à metade.ou um terço, do que era antes da guerra.Por que abrir mão de uma luta?necessáriacontra aquela situação? Todos essesmovimentos me parecem absolutamente justificados, na medida em que foram movimentos
das massasem sua própria defesa::IAdificuldade surgiuquandohouve combinaçõesde movimentos autónomos de massae tentativas, pela máquina f)olítica burguesa,de integrar essesmovimentos em projetos. planos e operações ligados às decisões de guerra que estavam sendo tomadas em Londres ou Washington. Nesse caso, não é fácil separar as duas coisas na
prática. especialmente para os pequenos grupos revolucionários sem influência de massasignificativa. Mas isso se pode fazer conceptualmente,e pode ser realizado na prática até certo ponto.
É impossível negar que as dificuldades tátícas foram imensase que cometemos alguns.erros. Mas o$ trotkistas belgasforam sem dúvida os membros da Resistência que tiveram a posição mais acertada e cometeram menos erros. Isso se deve. em grande parte. à destacada inteligência política e teórica de nossocamarada Abram Leon. o indiscutível gigante político de nossa organização na Bélgica, na época. assassinadopelos nazistas ainda muito jovem, aos 26 anos. Foi ele quem desenvolveu a fórmula estratégica
de nossotrabalho na Resistência:apoiar e estimular todos os movimentos de massados trabalhadores e camponeses pobres contra a superexploraçãa e opressão nacional oriundas da ocupação e lutar para transforma-los num
movimento pela revolução socialista, pela derrubadada ordem capitalista e pelo estabelecimento de Estados de trabalhadores. Não haveria muito sen-
152
marxismo revolucionário atual
a política do internacionalismo contemporâneo
153
tido em simplesmente tentar excluir todas as forças burguesasda Resistên-
Trotski e as Conseqiiências da Guerra
cia. por decreto, sob a alegaçãoabstratade que os revolucionáriosse recusaram. a se associarcom políticos burgueses.Inversamente,teria sido --
Vejamosagora uma questão correlata. Às vésperas.daSegundaGuerra
e foi T desastroso ligar a Resistência a uma frente única programática com
a classecapitalista dos pal'sesocupados.A linha estratégicaadequada,de realização reconhecidamente difícil, era promover a Resistência de acordo com a fórmula
desenvolvida
porE$Leon.
Eu disse que essa estratégia era de implementação difícil. Pequenos
grupos revolucionários, como os trotskistas. por exemplo, nâo dispõem de força suficiente para coloca-la em prática,:Tudo o que podíamos fazer era dar um exemplo, e creio que foi o que fizemos, e bem, levando-seem conta todas as coisas. Mas não era uma estratégia de realização impassível. especialmente para partidos com apoio de massa.Na verdade, em um caso
na Europa ocupada ela foi posta em prática com êxito, embora com deformações burocráticas: na lugoslávia. Embora o$ líderes do Partido Comunis-
ta jugoslavomanifestassem apoio formal à ideologiada ''frente única" do movimento stalinista mundial, na prática sua atitude era bem diferente.
Mundial, além de apresentar uma análise do caráter do conflito iminente. Trotski fez algumas previsões sobre o curso dos acontecimentos, uma vez terminado o conflito. Quase todas essasprevisões não se.co.nfirmaram..A democracia soviética não foi restabelecida na URSS através de uma revolução política. nem foi o capitalismo restaurado através de uma contra-revolução vitoriosa (alternativa previ.sta por. eles.. Pelo contra.rio.. Stálin não só sobreviveu, mas fortaleceu-se sob certos aspectos e o stalinismo expandiu-
se. Enquantoisso.e ao contrário dasprevia.ões de Trotski..o mundo l;apta' l sta ei;trava numa nova fase de desenvolvimento
económico acelerado.
não tendo a revolução proletária conquistado vitórias no,.Ocide.nteadianta: do Significam essesprofundos erros de previsão uma deficiênci.a de análise teórica? Podem eles ser explicados sem questionar toda a análise marxista revolucionária da realidade social contemporânea?
Já em 1942 eles organizaram não só a resistência contra os nazístas, mas
Em geral, os pronunciamentos políticos clássicos do marxismo podem scr divididos em duas categorias: primeiro. o que se pode chamar de prev/iões
também ações de guerra civil contra a ordem burguesa = e foram denuncia-
a curto prazo; segundo,as tentativas teóricas de descobriras tendências
dos por Stálin. por isso. Nasaldeiasda lugoslávía,a luta seprocessava não
fundamentais de desenvolvimento, em outras palavras, a tentativa de apre-
entre colaboradores e não-colaboradores, mas entre os que eram partidários da revolução socialista -- o que significava várias coisas nas aldeias -- e os que a ela se opunham. Não foi por acasoque o Partido Comunista jugoslavo organizou brigadas proletárias e fez apelos internacionalistas aos soldados italianos e, mais tarde. alemães, Isso deve ser enfatizado, porque pouca atenção foi dedicada a esseaspecto: no final da guerra, havia m//bares de
ender o caráter subjacentede uma época histórica e asprincipais contradi-
soldadositalianos e alemãeslutando no exército de Tito. Não dispomos de tempo suficiente para disçutir as razões pelas quais
issoocorreu na lugosláviae quais foram os limites dessefenómeno, ou seja. as deformações burocráticas do Partido Comunista jugoslavo e da liderança
de Tito. Mas o Importante é: se foi possível a um partido comunista altamente burocratizada, de origem stalinista, ainda muito influenciado pelos
ções que a definem.
Numerosos erros foram cometidos na primeira categoria -- por Marx, Engels, Lênin, Trotski e todos os outros. Devemos lembrar, por exemplo,
que em fins dç 1916 Lênin fez um discurso numa reunião de trabalhadores suíças. no qual apresentou conclusões sombrias e pe:sim estassobre a situa-
ção, após a derrota da revoluçãorussade 1905. Com efeito. apenasd:ls meses antes da explosão de fevereiro de 1917 ele argumentou que, embora 1905 tivesse iniciado um processo que acabaria levando a uma nova revolu-
ção, sua geraçãoprovavelmente não veria essa conclusão. A lista desses erros poderia ser estendida indefinidamente. Sua razãofundamental ê que
o rcursodos acontecimentosa curto prazo é determinado não só pelas
métodos stalinistas, obter esseêxito, o mesmo potencial existe sem dúvida
grandes tendências históricas. mas também por numerosos fatores secun-
em escalamuito maior em pai'sescomo !tília e França.Isso mostra que a
dários que não só não podem ser adequadamenteincorporados numa ana-
estratégia por nós desenvolvidaestavateoricamente correra e era politicamente realista, apesar dos erros táticos secundários que tenham sido come-
lise exaustiva. mas também frequentemente não podem ser conhecidos antecipadamente, e isso parque não é possível dispor de informações comple-
tidos. Maisdo que isso: foi uma tragédia histórica para a proletariado mundial o fato de que partidos tradicionais da classeaperárí:a.socialistase comunistas, tenham rejeitado essaestratégia em favor de uma continuação,
tas. Trotski. como Marx antes dele, disse freqilentemente que a função da análiseteórica não é produzir profetas ou videntes materialistas,uma contradição em termos, mas descobrir e codificar essastendênciashistóricas
ou reativação. de suas políticas de Frente Popular, de meados e fins da dé
amplas.
cada de 1930.
Por que, então, vemos repetidas incursões no terreno das previsõesa razo. não só de Trotski, mas por todos os outros marxistas também?
marxismo revolucionário anual
154
Qual a origem dessa inclinação. aparentementeirresistível, para as previsões, apesar de todas as negativas? E. mais do que qualquer outra coisa. uma conseqiiência da própria po/I'f/ca levo/uc/amar/a. Se os revolucionários
querem modificar o mundo -- e essaé, afinal de contas,a sua principal função -- eles devem agir dentro dos limites de uma sériede possibilidades a curto e médio prazo, para seremcapazesde determinar sua linha de ação prática. A teoria revolucionária analisa as tendências históricas subjacentes,
essenciais.mas a ação revolucionária é praticadaidentro das limitações da realidade imediata.
Para solucionar essa;dificuldade,
do ponto de vista
conceptual, devemosdistinguir entre. de um lado, a formulação, pelo marxismo revolucionário, das leis científicas do desenvolvimento de modos de produção ou de determinadasformações sociaise. de outro, a formulação daquilo que só pode ser consideradocomo hik)ótesesde fraga/ho, e não leis científicas.
sobre aÉevolução a curto prazo de acontecimentos.
Semnessas
hipóteses sobre a evolução a curto prazo, é simplesmente impossível agir; mas. ao mesmo tempo, sua verificação constante pela:;realidade é necessá-
ria, para que tenham base suficiente para determinar a ação carreta. Nesse sentido, essasprevisõesa curto prazo, embora freqiientemente falsas, são uma exigência da ação revolucionária -- desde que se/am ver/f/Gajase cora/bodas com base na paper/éncia. Por mais perigosas que sejam, sem elas
não pode haver ação revolucionária,masapenasa teoria histórica ampla. Ora. essadigressãoé necessáriapara que compreendemosa afirmação seguinte, aparentemente paradoxal: no seu entendimento das linhas mestras do desenvolvimento de nosso século. Trotski foi não só correto,
mas demonstrou uma lucidez tão grandeque suas previsõeserróneasa curto prazo foram. com freqilência, resultadoprecisamentedessalucidez extraordinária sobreas tendênciasda história a longo prazo. Desdeque o declínio da revoluçãomundial se tornou evidente em fins da décadade 1920 e no.inl'cio da décadade 1930, quando os fenómenosda fascismo e stalinismo começaram a adquirir dimensões cada vez mais bárbaras, os
marxistas revolucionários lúcidos enfrentaram três questões básicasna determinação da evoluçãode nossaépocaa longo prazo
Primeiro. sofreu a revolução mundial uma derrota duradoura. de modo a ser o mundo mergulhado num prolongado período de barbárie? Essa pergunta pode parecer hoje alarmista, mas era perfeitamente justa na
décadade 1930. Poderíamosreunir uma lista impressionantede citações de muitos marxistas.desdereformistascomo Rudolf Hilferding, o último grande teórico social-democrata, até uns poucos ex-trotskistas, que se con-
venceram de que Hitler venceriaa SegundaGuerra Mundial e que a Europa seria governada pelo fascismo durante um século ou mais. Trotski. por outro lado. responde de maneira diferente a essa pergunta. argumentando que as derrotas sofridas pela revolução mundial eram realmente sérias. mas limitadas no tempo. Haveria. disse ele. inevitavelmente, uma nova onda de
lutas revolucionárias por parte do proletariado e dos povos oprimidos ao
.apolítica dointernacionalismo contemporâneo
' ''
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marxismo revolucionário atual
'Y
nidade como um todo e depende da construção de uma liderança.revolu-
cionária adequada.Se essaslutas não produzirem vitórias, a agonia mortal da sociedade burguesa se arrastará, e, se isso acontecer, as.consequências
de nossa resposta à segunda pergunta se tornarão cada vez mais reais. A terceira pergunta tem também um corolário. de que Trotski tinha perfeita consciência. No .manifesto do congresso de emergência da Quarta [nternaciona[,
realizado
em maio de ]940
{que pode
ser considerado
o tes-
tamento político de Trotski. sob certos aspectos),ele escreveu.em respostas à pergunta sobre se as oportunidades revolucionárias abertas pela
SegundaGuerra Mundial seriam perdidas pela máquina burocrática tradicional, que a questão estava mal formulada. Um movimento revolucionário,
continuou ele, não é um acontecimentoa curto prazo, masum processo que durará muitos anos, décadasmesmo;haveráaltos e baixos, guerras,revoluções, contra-revoluções, armistícios e novas guerras. Essa época -- e a
essaaltura Trotski falava de décadas,e não apenasdos anos que se seguiram imediatamente à guerra -- será propícia à construção de organizações
revolucionárias. Essaprevisão, também, foi confirmada em escalahistórica.
Podemosresumir. portanto, dizendo que em relação a essastrês questões, que foram decisivas para o entendimento da época em que vi-
vemos, Trotski não estavaerrado. Pelocontrário, demonstrou que o método marxista de análise era capaz de apreender as tendências gerais do de-
senvolvimento histórico, a despeito do otimismo ou pessimismoconjuntural. Não houve, portanto, deficiência de análiseteórica, e o curso da histó-
ria desdeaiSegundaGuerra Mundial não sugere,de modo algum, que a análise revolucionária marxista da realidadesocial contemporânea estiver: se fu ndamentalmente errada.
Isso, porém, é apenasparte da,resposta à pergunta, pois continua sendo verdade que muitas das previsões de Trotski. a curto prazo, às vés-
perasda guerra,foram realmenteerróneas.Em que errou ele, e qual a razão do erro? Deixarei de lado supostoserros que na realidade se baseiam em citações desonestas,como a pretensão de que Trotski tenha afirmado que a União Soviética seria inevitavelmentederrotada na guerra. quando seusescritos na realidade mostram que ele não concordava com essaposição. Em primeiro lugar, ele superestimouo impacto a curto prazo, sobre a consciência da vanguarda dos trabalhadores, da nova ascensãoda revolução mundial. Foi. nessecaso, guiado por uma analogia histórica: o isolamento
de um punhado de internacionalistas dentro do movimento dos trabalhadores em 1914 deu lugar a umscrescimento extraordinário na força dos internacionalistas, nos últimos dias da Primeira G,uerraMundial e especialmente depois da vitória da Revolução de Outubro. Ao estabelecer essaana-
logia, Trotski subestimou seriamenteos efeitos cumulativos de vinte anos de derrotas não só de revoluçõesproletárias, mas também do movimento organizado dos trabalhadores como um todo. Num certo sentido isso era um paradoxo, pois ele não cometeu tal erro ao examinar casosnacionais
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]57 a política do internacionalismo contemporâneo
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marxismo revolucionário atua]
classe dos operários na Alemanha. mas houve também um enfraquecimen-
uma tradição$comum. e os internacionalistas não perderam nunca o contato díreto com as massastrabalhadoras. mesmo depois dos acontecimentos
to qualitativo do controle dos mecanismostradicionais da classeoperária. A situação oferecia a possibilidade de uma explosão espontâneaque fugi-
çou a alcançar os reformistas ma.ischauvinistas na maioria dos. partidos social-democratas. (Até mesmo os partidári.os de Kautski, por exemplo. compareceram à conferência de Zimmerwald e votaram a favor da resolução de
Trotskí, mas contrqüa de Lênin.) Essacontinuidade é mais clara no caso crítico da Alemanha. Exceto nos dois primeiros anos da guerra, os Espartaqulstas se viram numa situação que. em geral, foi positiva. Sua decisão de
unir-se ao Partido Social Democrático Independente {USPD)quando foi
fundado em 1917 não foi acidental, nem constituiu Um erro tático. Foi
ria rapidamente ao controle dos partidos socialista e comunista. Como uma
testemunha ocular nb Alemanha naquelalépoca {eu havia sido deportado para lá. como preso político, e trabalhei durante algum tempo na enorme
urina de petróleosintético em Wesseling..:próximo de Colónia), ainda acredito que essaperspectiva era menos irrealista do que poderia parecer. pelo menos até a primavera de 1944. Mas a decomposição social apossou'se
da Alemanhaaiiuma certa altura. A massa'dosprodutores erana realidade constitui'da de presos de guerra, presos políticos, internos em campos de concentração e trabalhadores estrangeiros deportados. A desorganização da vida coletiva foi quase total,#e até mesmo a simples cooperacãobnos
produto do fato de que os espartaquistas falavamVuma linguagem comum com muitos dos militantes, e mesmo um bom$número dos líderes do USPD. que apoiavam a revolução russa na época. Pouco depois. os partidos socialistas em numerosos países nos quais as tradições revolucionárias não eram
locais do trabalho entrara em colapso. Nessascondições, a perspectiva de um levante revolucionário na Álemanha começou a desaparecer, por nume-
excepcionalmente fortes solicitaram íhgressona l nternacional Comunsita:
cidades pelas forças aéreas inglesa e americana; os terríveis efeitos da inti-
os partidos socialistasitaliano e tchecoeslovaco,por exemplo: e não nos
midação, seguidos pela ocupação e desmembramento do país; o colapso
esqueçamosde que a maioria do Partido Socialista Francêsvotou a favor da Internacional Comunista. no congressode Touro de 1921. Assim, a situação enfrentada pelos revolucionários em 1944 era totalmente distinta da situação de 1918 ou mesmo de 1914. Estavam isolados num movimento operário cuja tradição internacionalista havia sido. há muito, interrompida. A política de colaboração de classedos partidos socialistas e comunistas não era uma aberraçãoedequatro anos. mas a cul-
dos meios de comunicação.
minação de pelo menos vinte anos de evolução {tomando 1927. o,ano em
que a Oposição Esquerdistafoi1lexpulsado Partido Comunista Soviético, como o:#início da eliminação do internacionalismo. embora em muitos
rosas razões objetivas: a "mobilização
total"
e o acentuado terror nazista,
especialmentedepois de 20 de julho de 1944; bombardeios maciçosdas
A tudo isso devemos acrescentar os efeitos da derrota sabre a população: fome, miséria, dispersão dai.:população urbana. Igualmente devastadoras foram as conseqilências políticas do stalinismo e reformismo. O Par-
tido Comunista Alemão havia preservado mais dirigentes operários do que seria de esperar. Emborago partido não estivessenuma posição muito fraca
inicialmente. teve de adaptar-seà política de Stálin, o que significou o en-
dossodas tesesmais contra-revolucionáriasque se poderia imaginar.Em particular. Q Partido Comunistaapoiou o desmantelamentodas fábricas
do Ruhr e sabotoua greve)contra ela. Enquantoisso,o PartidoSocial
casos#adata: deve ser ainda anterior). Nessascondições. os revolucionários tinham poucas possibilidades de aumentar significativamente as suasforças.
Democrata. violentamente anticomunista, apoiava a linha dos imperialistas
embora houvesseuma conjunção de uma acentuada radicalização dos tra-
esquerdistas. As conseqüências de tudo isso sobre/lume classeiroperária
balhadorese uma política ultrajante de colaboraçãode classedos social-
que já vacilavaante os golpes debilitantes dos acontecimentosde 1929-33,
democratas e stalinistas.
os anos do terror nazista. a guerra, o desmembramento do país, foram
A essaestimativa errónea da capacidade dos revolucionários de conquistar a hegemonia sobre os levantes deiipós-guerra, devemos acrescentar
incalculáveis.
dois fatores suplementaresque desempenharam um grandepapel na aná-
vão "o imperialismo e o stalinismo estrangularamiia Revolução Alemã" Essetipo de formulação significaria que Trotski e a Quarta Internacional
lise tanto de Trotskí pessoalmente,como da Quarta Internacional -- dois fatores que são importantes, mas poderiam nos levar a um raciocínio circular. sefossem isoladosdo contexto mais geral. O primeiro deles foi a ausênciade qualquer. revolução na Alemanha ao término da Segunda.rGuerraMundial. A revolução alemãhavia ocupado umq.posição d%limportãncia primordial em todas as previsõesde Trotski
e da Quarta Internacional.Houve, é claro. um declínio na consciênciade
l
159
Kart Liebknecht. Lênin ou Trotski. e todos os internacionalistas.Tinham
de 1914, exceto talvez por um breveperíodo, até 1916, pois após essadata a ala centrista. que se opunha à continuação da guerra imperialista, come-
1{
a política do internacionalismo contemporâneo
ocidentais, apesarde certos casosde rebeldia. mais nacionalistasdo que
Qual o balanço de toda essaanálise? Seria um erro reduzi-lo ao cha-
subestimaram a capacidade contra-revolucionária do, imperialismo e do
stallnismo, o que não é verdade.O fato é que esperávamosuma revolução alemã, ape r disso. O que negou essa hipótese foi a concatenação de circunstâncias que descrevi {que teriam sido difíceis de prever em 1940. ou
mesmoem 1943). e que tornaramlimpossível qualquer levante de massaa partir do verão de 1944. {É interessante, embora ocioso. especular sobre o
160
l
marxismo revolucionário atua]
16]
que poderia ter acontecido se o estado-maior alemão tivesseconseguido se
ano em que começou a série de derrotas. Na realidade, muitas vitórias
livrar de Hitler a 20 de julho de 1944 e se a guerrativessesido levadaa uma conclusão rápida.) De qualquer modo,ila ausênciade uma revolução na Alemanha, ou mesmode um levante revolucionário mais limitado, com-
ainda eram possíveis, apesar da derrota alemã de 1923. como se evidencia pelas revoluções chinesa e jugoslava e pelos acontecimentos na Espanha.e França, na década de 1930, Até mesmo a vitória de Hitler poderia ter sido
parável ao daliFrança, Itália ou Grécia, pesou muito no curso dos acontecimentos, tanto na Europa como em todo o mundo,
impedida. Em fins daquele período de vinte anos, porém. estávamosas voltas não apenascom os efeitos da derrota de 1923. da aniquilação da
O segundofator não previsto por Trotski e pelos trotskistasfoi o
revolução chinesa em 1926-27. do contínuo isolamento da URSS.da falta de perspectivas internacionais para os comunistas após a vitória do nazismo. da derrota das mobilizações francesasem meados da década de 1930 e
exercício de considerável poder de atração pelos partidos comunistas entre a classe operária européia, devido ao papel desempenhado pela União Sovi-
It
a política do intcrnacionalisnlo contemporâneo
ética na derrota do fascismo. e mesmodevido àstransformaçõessociaisna Europa Oriental. Em 1948 e 1949unão era fácil explicar a um militante comunista que Stálin preferia preservara ordem burguesafora das frontei-
da revolução espanhola na sangrenta guerra civil. mas também com os efeitos cama/af/Posde todos essesretrocessos.A subestimaçãoda?impor-
ras da URSS:Os trabalhadores e os jovens organizados identificaram, falsamente, as vitórias das revoluções iugoslavaçechinesa com o Exército Ver-
previsões de Trotski. Foi o que permitiuaospartidoscomunistas e social-democráticos na Europa Ocidentaldesempenhar com êxito o papel
melho Soviético. Em seguida.nos anos do augeda Guerra Fria, de 1949 a
que tiveram na reconstruçãoe consolidaçãoda ordem burguesa,depois
1952, as camadas mais radicalizadas do proletariado e da juventude foram
da Segunda Guerra Mundial.
tância dessefenómeno foi a que mais contribuiu para a inexatidão das
atraídas espontaneamentepara os partidos comunistas e as organizações
de juventude stalinistas, não devido à poli'tecade colaboraçãode classe seguida por essespartidos, mas devido à divisão politica mundial em "dois
A Guerra Fria e o Longo Surto de Prosperidade
campos", criada pela Guerra Fria. Sob esseaspecto, é importante notar que a Quarta Internacional foi
Uma. das principais razões pelas quais os partidos comunistas desempenha-
a primeira força no movimento dos trabalhadoresa compreenderZ- desde a época de seu Terceiro CongressoMundial em 1951 -- que a consolidação
e ampliação do stalinismo era apenasaparente, mesmo na zona geográfica
ram o papel que lhes foi dado na Europa Ocidental depois,da Segunda
Guerra Mundial fói certamente o fato de csTara liderança soviética lutando
para manter suas alianças de guerra com o ''imperi.ali.smo.democrático
posta sob?controle do Exército Soviético.$A realidade$erauma mistura
vendo.ascomo a base de uma ''nova ordem mundial". Alguns partidos
muito contraditória
comunistas, como.,o americano. por exemplo. levaram tão a sério essa
de extensão do#controle
pela burocracia soviética.
além das fronteiras da URSS,e de casos autênticos dp revoluções socialistas
noção que se dissolveram. Mas a guerra não foi seguida de uma era de.coo-
que acabariam atingindo as raízes do stalinismo e provocariam sua históri'
pencao internacional entre o imperialismo e a Un.iã.oSoviética. Em lugar
ca crise mundial. levando à decomposição gradual do controle dos burocra-
disse, foi deflagrada a Guerra Fria. Por que o imperial.ism.o rejeito.u a o.farta
tas de Kremlin sobre setoresinteiros dos seusdomínios. Masessesdois fa-
de Stálin. de uma colaboração a longo prazo? 0 que havia atrás da política
tores conjunturais -- ausência da revolução alemã e aparente consolidação
da Guerra Fria e dais'contenção''? Terá sido uma tentativa autêntica para
do stalinismo no. movimento internacional dos trabalhadores-- só tiveram
restaurar o capitalismo na União Soviética e na Europa Oriental?
esses efeitos desastrosos sobre o curso da revolução. especíalmentednos
países ocidentais, devido ao contexto geral do declínio histórico da consciência de classe.Se, por exemplo, a máquina do Partido Comunista Francês, ouHitalíano, tivesse sido posta de lado pela mabílização, tal como a máquina social-democrata foi posta de lado na Alemanha depois de 1918, os efei-
tos sobre o stalinismo teriam sido esmagadores.amas isso não aconteceu, porqueiidepoisdos efeitos cumulativos de vinte anosde derrota, a espontaneidade e capacidades:deorganizaçãoda classeoperária era muito menor do que Éeesperavaem 1940, ou mesmo 1944. Essesefeitos cumulativos foram a causa fundamental das limitações do'imovimento revolucionário de(1944-48 na Europa. Quero deixar claro que não estou dizendo que essasituação estavapredeterminado em 1923,
A cooperação ininterrupta entre o imperialismo e a burocracia soviética foi
interrompida em 1947 e 1948 par uma razãomuito simples:a ascensão da revolução mundial fora do controle de Washington ou Moscou. Os dois me-
lhores exemplos sãa. naturalmente, a lugoslávia e a China. Em ambos os casos. houve esmagadora evidência de que Stálin quis, sincera e realmente, governos de coalizão que presidissem Estados capitalistas nos quais as tendências políticas pró-Moscou e pró'Washington dividissem os cargos em basesmais ou menos igualitárias. Foi o que se estabeleceu nas conferências realizadas nas últimas etapas da guerra, não havendo nenhum indício de
que o Kremlin tivesse tentado violar tais acordos. Os partidos comunistas
marxismo revolucionário atual
162
a política do internacionalismo contemporâneo
163
iugoslavo e chinês, porém. revelaram sua verdadeira estratégia (e por verda-
por sua vez. serviu como base para uma caça generalizada às bruxas. prin-
deira estratégiaentendo o que estavamrealmentefazendo,e não a suafi-
cipalmente nos Estados Unidos.
delidade verbal ao "Camarada Stálin") rompendo com alguns postulados
básicosdo stalinismo. Em particular, recusaram-se a abrir mão de suas
O resultado de tudo isso foi a Guerra Fria que por sua vez obrigou Stálin a reagir de maneira defensiva.consolidando o. controle da burocra-
estruturas de poder independente e não quiseramdesarmarseusmembros. Foi por isso que em ambos os casosos governosde coalizão.falharam e
cia sobre os países da Europa Oriental sob seu domínio. Isso, porém. exigia a derrubada das relações de propriedade capitalistas naqueles países, e o
sob o crescente impacto das mobilizações de massa, as instltuiçoes
do Estado burguês je finalmente, embora não simultaneamente, as relações
de propriedade burguesas)foram varridas. Uma das lições aprendidaspelos mperialistas foi a de que o Kremlin já não tinha condiçõesde cumprir sua promessade conter os movimentos revolucionários em todo o mundo. Ele desejava faze-lo, mas não tinha poder para isso.
Por outro lado. os imperialistas sofriam grande pressãopara reconstruir seus mercados e campos de investimento na escalamais ampla possí-
vel. Eu não diria que elesresolveram.em definitivo. restabelecer o capitalismo na URSS.até mesmoao preço de uma terceira guerra mundial, embora alguns elementos entre os militares americanos sem dúvida tenham pen-
sado nisso. e tiveram certo apoio de círculos significativos dos políticos burgueses. Não houve. porém. um consenso imperial.lata quanto a Isso.
Mas eles sem dúvida haviam resolvido experimentar até onde poderiam ir. Uma vez recuperado o Estado capitalista e reconstituída a economia bur-
guesa,os partidos comunistasforam afastadosdo governona Itália e na Franca. Foi feito um esforço bem-sucedidopara ''recuperar" a Finlândia e a Austria daquilo que seestavatransformando, rapidamente, num "bloco
soviético''. Esforçosemelhantefoi feito em relacãoà AlemanhaOriental. mas falhou. tendo apenas Berlim Ocidental sido reintegrada no "mundo
livre". Operações semelhantes foram organizadas contra a lugoslávia e TchecoesloVáquia.Na Coréia. houve uma tentativa evidente de aniquilar o Estado norte-coreano dos trabalhadores. O que não está bem claro é se a classe dominante americana havia decidia, definitivamente, tentar fazer recuar também a revolução chinesa. Alguns poli'tacos burgueses americanos
semdúvida assim o queriam. e provavelmentetinham certo apoio na classe dominante.
estêbeecimento de Estados burocratizados dos trabalhadores. É importan-
te notar. incidentalmente.que a ideologiada Guerra Fria teve grande importância no fortalecimento ideológico do domínio burguêsnos países capitalistas adiantados e. com isso, na continuação de seu predomínio
muito tempo depoisde terminadaa Guerra Fria, no sentidopróprio da expressão. Na verdade, vemos ainda hoje não poucos aspectosdessaideologia. Mas quando se torrlQU claro a ambos os lados que um novo equilíbrio
havia surg do da Guerra Fria, o imperialismo começou a diminuir suaofensiva pelo menos em escala global, e a responder às manobras de "détente' e ."coexistência pacífica'' do Kremlin. Esta última sempre foi a meta esfm-
t47lca fu/}da/menta/ da burocracia soviética. mesmo no auge da Guerra Fria.
e continua sendo até hoje. Quando atacada. porém, essaburocracia teve de defender-se.pois apesarde tudo ainda sefundamenta em basesde classe diferentes das bases dos Estados burgueses.
hl)'l:ll\f e::lllU ?$H:lEBK ! pol ética imperialista'face aos Estados dos trabalhadores?
Não acredito numancorrelação direta entre a Guerra Fria, a estabilização
capitalista na Europa Ocidental e o surto de prosperidade económica do pós-guerra.Ou antes, um elemento decisivo fica de fora ao seapresentar essa espécie de cadeia causal, ou seja. a derrota do movimento operário
no pós-guerrana Europa Ocidental, e a onda de lutas sindicaisnos Estados Unidos entre fins de 1945 e princípios de 1947. Eu insistiria em que essa derrota deve ser vista como um fator autónomo, influenciado de maneira
i;Ei;i;. iiLi;;b.l Ítii« d« lid."-Ç« ",li
i«. . ;«í,l-d.m"'áfi?:
Dei*:'
Em outras palavras, tendo recuperado o sistefna burguês na Europa
de fora essefator é oferecer um quadro falso do que realmenteaconteceu
Ocidental. através da colaboração com o$ partidos de trabalhadorestradi-
depois da SegundaGuerra Mundial. e que resultaria numa verdadeira
cionais e com a burocracia soviética. tendo "perdido" a lugosláviae a
falsificação da história. É 'importante lembrar que, apesar de todos os fatores negativos que
China apesar de todas os esforços de Stálin. e necessitando do mais amplo
território possível para a expansãoeconómica, a fim de impedir a depressão de pós-guerra que se temia. o imperialismo lançou uma ofensiva internacional. A ideologia da "contenção" foi simplesmente um. disfarce para vender essa política à população dS)spaíses capitalistas adiantados (espe-
cialmente nos Estados Unidos), retratando a União Soviética como uma potência mundial com intencões de expansão imperialista Essa ideologia.
já discutimos. o período de 1945-1948 foi de grande /nstab///dadoeconómica. política e social em paísescomo França, ltália, AlemanhaOcidental e Japão. Na Grâ.Bretanha. a burguesia estavadesorganizada.depois da esmagadoravitória do Partido Trabalhista em 1945. enquanto o movimen-
to operário estavano apogeu de sua força histórica. Até mesmo nos Esta dos Unidos o quadro estava longe de ser tranquilo. O ano de 1946 viu a
]64
marxismo revolucionário atual
maior ;onda de grevesda história americana. A imagem que temos em 1953 é notavelmente diferente. Temos então a Europa dos tor/es, de Adenauer.
165
a política do internacionalismocontemporâneo
A Disputa Sino-Soviética
de De Gasperina Itália. de uma classeoperária dividida e desorientadana França. Nos Estados Unidos, Eisenhoweç:;subiu ao poder, tendo como
Secretário de Estado John$Foster Dulles, e o país estavaàs voltas com o macarthismo. A passagemdo primeiro quadro para o segundoexigiu mais do que simplesmenteos efeitos da Guerra Fria e do Plano Marshall. Pr.eci-
sou também da derrota da5ondade13greves na França,em 1947-48; dos efeitos da oportunidade perdida daégrevegeral política na Itália a 14 de julho de 1948, deliberadamente sufocada pela liderança do Partido Comu-
nista; da traição da grandegrevedo Ruhr contra o desmantelamentoda indústria. que acabou com oáPartido Comunista da Alemanha Ocidental; da traição do movimento de:amassacontra a remilitarização$pela SocialDemocracia Alemã, que iniciou a longa tendência decrescente de atividade política da classe operária; da espantosa capitulação da burocracia sindical
americana à Guerra Fria e à caca às feiticeiras de McCarthy; da rejeicão deliberadagdo Partido Trabalhista Britânico de romper com o capitalismo
em 1945-50, emborativessea força necessária para isso.Os acontecimen-
materiais reais Qntre as lideranças soviética e chinesa?
tosNppsteriores só são compreensíveis à luz de todos estes outros. Seria,
portanto. um erro supor que o lançamentoda Guerra Fria foi. em si,:responsável pela estabilização do capitalismo e pelo surto económico.
Quanto ao«mecanismodessesurto. remeto o leitor ao meu livro Cap/ta/ümo /14oderno, onde a questão é analisada em detalhe. É impossível repetir aqui essa longa análise. O importante. porém. é que a estabilização
política e social antecedeuo surto económico e proporcionou as suascondicõesipreliminares. Na Europa, o surto começou com uma taxa de exploracão herdada do fascismo. emj:outras palavras, com.uma taxa dej;lucro muito superior ao curto período de prosperidade de 1923 29.'Nos Estados
Unidos. a lei Tatf-Hartley e o;jmacarthismo tiveram efeitos semelhantes. lssa, por sua vez, explica por que houve um ni'vel muito superior de acumulacão de capital. Dai' a possibilidade de uma terceira revolução tecnoló-
gica,'que por sua,vez:explica a longa duração do surto. O.''ciclo econõi mica'' continuou a funcionar durante a expansão (isto é, houve crises de superprodução periódicas. mas foram muito mais breves e suaves do que no período entre as duas guerras):
Inicialmente. o ciclo de luta de classes,o ciclo de luta antiimperialista e a longa onda de desenvolvimento económico devem ser examinados separadamente, em grande parte. Eles estão relacionados entre si. .é claro,
mas nãb de maneira mecânica. Nos países imperialistas, a ''longa onda expansionista de desenvolvimento
económico"
(comumente
$41%31ili:iiu l iii::i E:iii:lqi:i de classesanticapitalista, proletária, começou a intensificar-se novamente.
sendo maio de 1968 a comocâo que simbolizou essefato. É importante observar porém. que a intensificação da luta de classescomeçou antes de
qualquer crise importante de superprodução.numa época em que não havia desempregoem massae os salários reais continuavam subindo. A crise do sistema imperialista mundial. porém, vinha crescendosem Interrupção séria desde fins da década de 1940. continuando
pelas décadas de
1950 e 1960, apesardos altos e baixos das mobilizaçõesde massanos vários paísesdependentes.Essacrise explodiu com a vitória da revolução
Finalmente. a classe operária, embora tivesse sofrido derrotas férias
depoiskde 1947. não foi totalmente esmagada.Conservousua força de organização e, portanto, tinha de ser ouvida. É esseo principal fator que
explica o aspecto''reformista'' da surto {por$exemplo.o fato de ele ter-se originado numa expansãodo mercadointerno, e não na reconquistados Estados dos trabalhadores}. para o qual a sua própria duração prolongada proporcionou
conhe.cida
os recursos materiais.
colónias portuguesas na África. e assim por diante.
lbo
marxismo revolucionário atual
Em geral. a radicalizaçãomundial da juventude ena;jascensãoda 'nova esquerda" foram, a princípio, subprodutos dessaonda de revolução
l #
167
chave de estratégia. como o problema das relaçõescom o imperialismo e a burguesianacional. as formas de luta e a dinâmica da revolução nessespa'
mundial centrada no "Terceiro Mundo". Muitas das idiossincrasiasda nova
íses (a revolução
corrente esquerdista, como o "terceiro-mundismo"
e a rejeição do prole-
a ser discutidas mais abertamente do quezhaviaacontecido em muitas dé-
tariado ;.urbano como "sujeito revolucionário". foram produtos típicos
cadas. Essa crise ideológica foi aguçada por vários contrastes notáveis na
de uma combinação singular de circunstâncias: calma relativa por um longo período nos países capitalistas adiantados, e ondas continuadas de luta nos países capitalistas dependentes. Os acontecimentos de maio de 1968 na
sorte da luta de massas:a vitória cubana e a derrota brasileira. as vitórias
trança, porém, modificaram subitamenteessas;icircunstâncias e com isso
do terceiro mundo'' estratégia tradicional
mudaram os temas e expressõesda radicalização de maneira duradoura. Durante todo essepera'odo;;aburocracia soviéticaaderiu firmemente
à sua linha fundamental de procurar colaborar com a burguesiacolonial e
em "duas etapas'', ou a revolução ininterrupta),
chinesa e vietnamita
passaram
e a mortandade da Indonésia, para darmos apenas
dois exemplos. Nessascondições. várias correntes entre os ''revolucionários começaram a pen.der?iparagum rompimento comia menchevique-stalinista de "revolução por etapas
e de alianca com a burguesia nacional nos países capitalistas dependentes. Mas. seja devido às origens stalinistas e aos remanescentes ideológicos de
bloquear qualquer tendência da revolução colonial de transformar-se em revolução socialista. Foi essaa orientação estratégicado Kremlín em todos
sua educaçãooriginal, ou devido à sua ênfaseunilateral nasformas de luta,
osepaíses.da China ad:Vietnâ, da Argélia a Cuba,da Indonésiaà I'ndia.
sico foi apenasparcial. Portanto. uma inversão, no sentido da colaboração
do Evito ao fraque. Sempre que os partidos comunistas locais tinham â
de classe. sempre era possível, embora o fermento ideológico entre essas
hegemonia dos movimentos de massa e se submeteram a essaorientação.
correntes fosse real, por um longo período A reação do imperialismo às lutas de libertação foi bem.mais complexa e diversificadado que se poderia deduzir pela pergunta. É certo que durante todo um período a força principal da política imperialista dirigiu-
ocorreram derrotas esmagadorase. com freqtlência, sangrentas.Por outro lado, sempre que os partidos comunistas locais (ou forças revolucionárias 11
a política do internacionalismo contemporâneo
independentes, como em Cuba) romperam com essaestratégia, mesmo que apenas empiricamente. a revolução pede triunfar. Nessas circunstâncias,: percebidas por todos,, mesmo quando não
em oposiçãoà estratégiapo//l/ca. esserompimento com o stalinismoclás-
se à intervenção militar contra-revolucionária aberta, à chantagem econó-
mica e à intervencâo política, tanto às claras como encoberta. Ao mesmo
compreendidas perfeitamente,surgiu uma profunda crise ideológicadentro do ''movirnentoqínternacíonal comunista e antiimperialista". Questões-
tempo, porém. as manobraspolíticas com a burguesiacolonial e amplos
chave de estratégia, como o problema das relaçõescom o imperialismo e a
certos casos. tais manobras tiveram maior êxito do que as intervenções
burguesia
mais abertas.como se vê pela derrota do imperialismono Vietnã e seus
nacional,
as formas
de luta
e a dinâmica
da revolução
nesses
setores da pequena burguesia nacionalista nunca cessaramrealmente. Em
países (a revolução em "duas etapas". ou a revolução íninterrupta}. passa'
êxitos na Egito. Desde princi'pios da década de 1970, na verdade, houve
ram a ser discutidas mais abertamente do que haviaacontecido erT#muitas décadas;iÍEssacrise Ideológica foi aguçadapor vários contrastes notáveis
uma tendência na política imperialista, no sentido dessasmanobras,e de um afastamento das intervenções militares diretas. O fator mais decisivo
na carte da luta de massas:a vitória cubana e a derrota brasileira. as vitórias chinesa e vietnamita e a mortandade da Indonésia. para darmos apenas dois exemplos. Nessascondições, párias correntes entre os "revolucionários do terceiro mundo" começaram a pender para um rampímento com a estra-
nessa mudança fai o movimento nos Estados Unidos contra a guerra no
tégia tradicional menchevíque-stalínista de ''revoluçãopor etapas", e de
para salvar o regime de Thíeu no último minuto, e criou condições políti-
aliança com a burguesia nacional nowpa asescapitalistas dependentes. Mas,
castais que a classedominante americana é hoje impotente paraempenhar-
seja devido às origens stalinistas e aos remanescentesideológicos de sua
se nos tipos de aventuras militares maciças e abertas que foram tão fre-
educacão original, ou devido à sua ênfase unilateral nas fomlas de luta,
qiientes nas décadas de 1 950 e princl'pios de 1 960. Isso não significa que o
em oposição à estratégiapo/í'f;ca; esserompimento com o stalinismo clãs' fico foi apenasparcial. Portanto, uma inversão,no sentido da colaboração
imperialismo americano tenha abandonada a política de vigorosa intervenção contra-revolucionária em escala mundial. nem imp.lacaque compromis-
de classe, sempre era possível, eylbora o fermento ideológíccrentre essas correntes fosse bastante real, por um longo período.
sos militares maciçosdo tipo da Indochina continuem impassíveisindefini-
Vietnã. que não só teve êxito em forçar Washingtona retirar suastropas terrestres e sustar os bombardeios, criando combisso as precondíções para
a vitória vietnamita. mastambém impediu que o governoFord interviesse
Nessascircunstâncias,percebidas apor todos, mesmoquando não
damente. Mas a combinação dos efeitos políticos do movimento antiguerra com os recentes sucessosdo imperialismo em manobras mais sutis geu ori-
compreendidas perfeitamente,, surgiu uma profunda crise ideológica den-
gem a uma evidente modificação na estratégia imperialista para com o
tro do ''movimento internacional comunista e antiimperfalista". Questões-
Terceiro Mundo.
H 168
l
marxismo revolucionário atua] Resta a questão da ligação entre todos essesfatos na década de 1 960
#
}
observações metodológicas. .Para compreendermos as origens e dinâmica dos conflitos entre as lideranças dos Estados burocratizados dos trabalhadores. devemos combinar constantemente a autonamía relativa do conflito
Pequim de tolerar o ''policentrismo" ou "faccionalismo'' em suasfileiras. pois isso desafiada o seu monopólio do poder e, com isso. os seusprivilé-
sino-soviético.
em última análise, diferentes táticas de autodefesaburocrática, sob cir-
nante nesses Estados, no caso as burocracias soviética e chinesa. Concen-
quistar" a Mongólia Interior e explorar sua riqueza. nem Pequimtem
trar-se exclusivamente
e
qualquer interesse em "conquistar a riqueza da Sibéria". Não há nada na
ideológico, seria tratar a burocracia como um grupo de pessoascarentesde
estrutura de nenhum dos dois países que leve seu grupo dominante a ex-
{ou quase exclusivamente)
no conflito
político
cunstâncias objetivas variadas. Isso. porém, não significa ''competição''. no
sentido capitalista da palavra. Moscou não procurou. por exemplo. ''con-
interesses materiais distintos dos interesses da classe operária e da burgue-
pandir-se dessa maneira. Portanto, é importante observar que as ''raizes ma-
sia. Por outro lado, concentrar-seexclusivamente lou quaseexclusivamen-
teriais'' do conflito sino-soviético diferem qualitativamente das ral'zes
te) nos interessesmateriaisseria,com efeito. identificara burocraciacomo
materiais dos conflitos interimperialistas, ou dos conflitos entre países imperialistas e Estados burocratizados dos trabalhadores. Os conflitos inter-
uma nova classedominante. A posição peculiar, ''intermediária", ocupada por ela na sociologia marxista -- não uma nova classedominante, mas uma
rentes burocracias dominantes. !sso se reflete na maneira particular pela qual cada burocracia governa, ou, em outras palavras, na maneira pela qual
mantém e garante seus privilégiosáçpelo exercício de um monopó//o (yo poder.
Exatamente por não ser uma nova classedominante, por nãoter um papel social necessárioa desempenhare nenhuma legitimidade subjetiva aos olhos dos trabalhadores e camponeses, ela só pode defender seus privilégios se mantiver um rigoroso monopólio do poder: A burocracia é, por-
tanto, abrigada a proteger ciosa e rigidamente essemonopólio -- daí o nexo entre a propriedade nacionalizada;'a manutenção de uma tradição comunista formal, o sistema unipartidário e a repressãopol ítica.
Em última análise,asraízesdo conflito sino-soviético estãono fato
111
gios materiais. As diferenças de orientação ideológica e política refletem,
político e ideológico e as disputas baseadasno contraste de interessesmateriais imediatos. Negligenciar qualquer um dessesaspectos é abandonar a análise marxista revolucionária clássicado caráter da burocracia domi-
política e interessesmateriais,que é a fonte final de conflitos entre dife-
11
O conflito. portanto, não é apenas político, ou mesmo ideológico, mas um reflexo da incapacidade que têm os burocratas de Moscou ou
do conflito
camada privilegiada do proletariado, com seuspróprios interessesmateriais específicos a defender -- implica exatamente essacombinação singular de
11
]69
Vou começar cam algumas
e o aparecimento
l
.a política do internacionalismo contemporâneo
imperialistas derivam da competição económica que é parte do próprio modo de produção capitalista. Essesconflitos podem ser mediadose reguladas sem conflito militar. em determinadas condições políticas e militares. mas não podem ser eliminados enquanto o sistema capitalista sobreviver. Os conflitos entre Estados imperialistas e Estados burocratizados dos trabalhadores refletem. em última análise, as estruturas sócio-económicas contraditórias dos pal'ses em questão, e podem ser mediadas e sustadas sem conflito militar em muitos casos, mas não podem ser eliminadas
enquanto não forem derrubados os principais Estadoscapitalistas.Os conflitos entre as burocracias dominantes, porém, embora sejam conseqüência inevitável do monopólio do poder pela burocracia. não são gerados inevitavelmente pela estrutura sócio-económica dos Estadosdos trabalhadores. É nessesentido que podem ser considerados ''políticos e ideológicos
de uma maneira que aqueles outros conflitos não podem ser encarados. A questão seguinte é bastante longa. mas de grande importância.. .Nadéca-
da de 1960, a Quarta Internacional deu apoio cri'rico à posiçãochinesanas
de que é objetívamente impossível às burocracias soviética e chinesa man-
questõesinternacionais,em oposição à russa.Afirmou-se.quea liderança
ter uma orientação político-ideológica comum (seja internamente. ou em
chinesa estava desempenhando um papel na poli'rica mundial que, embora
política externa), devido às condições sócio-económicas bastante diferentes dos dois países.nHáuma razão simples pela qual essadiferença político-
não fosse internacionalista e proletário, 8r8 significativamente mais posi-
ideológica transformou-seliinevitavelmentenuma disputa em nível estatal: Mao não podia tolerar a facção pró-Kremlin do Partido Comunista Chinês. tal como Krushev ou Brejnev não podiam ter tolerado uma facção próMao no Partido Comunista Soviético. Como a máquina partidária é idên-
externa chinesa, a posição da QI também se modificou, considerando hoje
tica à máquinaestatalem ambosos países,a disputatinha de refletir-se
tivo que o do Kremlin. Nos últimos anos, com a modificação.da p.olltica o papel dos dois maiores Estados de trabalhadores como igual.menu.e dele-
térios. embora continuando a atribuir alIMoscoua responsabilidadepela divisão sino-soviética
Examinemos, porém. o argumento seguinte. 0 papel contra-revolu
num conflito entre os dois poderesestatais.O Kremlin procurou colocar a
cionári@do Kremlin foi geralmenteafirmado de uma maneira negativa
liderança chinesa em sua linha através de pressãosobre o Estado chinês.
Em outras palavras, os li'deres soviéticos aconselharam as forças sob sua influência a'terem moderação. a não aproveitarem as oportunidades.revolu-
Peljiim foi então obrigada a retaliar, em nível estatal.
l 170
marxismo revo]ucionáríó atua]
a política do internacionalismo contemporâneo
17]
país em particular, ou de decidir se deve ser feito um esforço para conse-
cionárias, a apoiarem o ''mal' menor'' nos conflitos entre forças poli'ricas burguesas. Num número crescente de ocasiões, porém, a liderança chinesa
guir crescimento económico e progresso social tão grandes quanto possível,
não só conteve e desviou os movimentos revolucionários, como também apoiou ativamente a contra-revolução. Veja-se o exemplo da guerra de
mesmoem condiçõesde relativo isolamento de um Estado subdesenvolvido dos trabalhadores.É antesjluma questão de uma esfraféyü especl'f/ca
Bangladesh em 1971 . A liderança soviética teve um papel contra-revolucio-
para o desenvolvimento sócio-f;onõmico
nário no sentido 9alinista mais ou menosr:clássico,apoiando sem críticas
O socialismo num país represent l uma estratégia que subordina tudo o que
a Liga Awami de Mujibur Rahman e fazendo tudo para que a guerrase
ocorre no resto do mundo às necessidadesde desenvolvimento nacional. que é descrito como ''construção do socialismo na fortaleza principal"
limitasse à conquista da independência poli'rica. sem se transformar numa
revolução':socialista'',que Teriaconstitui'do uma ameaçareal à estabilidade do regime indiano pró-soviético. Mas Pequim deu, na realidade, ajuda aviva, não só poli'tida mas também militar. às forças armadas da ditadura
paquistanesa.0 Irã é um casosemelhante.0 Kremlin procurou uma aco-
num Estado dos trabalhadores.
Portanto. esm estratégiacombina. inevitavelmente,o nacionalismo e a messianlsmo-nacional, pois essa espécie de subordinação é nacionalista
por definição.e nenhumcomunistafora dessepaís (e não muitos, na realidade) a aceitaria. a menosque tivessesido convencido de que o país
modação com o Xá, e o Partido Tudeh, pró-Moscou, não realizou uma luta intransigente contra ele. Mas Pequim na realidade o saudou como uma figura progressistae um combatente antiimperialista.
em questão. e que só ele, representava o bastião do socialismo em escala
Finalmente, nos pai'sescapitalistas adiantados, vemos a liderança chinesa oferecer. com freqüência; apoio a figuras à direita do espectro pol i'rico burguês: Nixon; Henry Jackson. Franz-Josef Strauss, os democratas cristãos na ltália.. os gaullistas na Fiança. Todas essasforças têm uma coisa em
sentido da revolução mundial.
comum: o zlnti-sovíetismot-Estão todas identificadas, de uma forma ou de
outra, com a GuerraFria. A orientaçãoda poli'rica externachinesanos últimos oito anos pareceter sido a oposição à difusão da influência soviética. Por isso, os líderes chineses apoiaram ativamente forças imperialistas e pró-imperialistas em todos os casos nos quais temeram que a vitória da revolução -- ou mesmo da oposição -- fortalecesse objetivamente a liderança soviética. Inversamente. em várias ocasiões,suas respostasmenciona-
ram inda'aosde um reaparecimentode atitudes e poli'ticas da Guerra Fria da parte de governos imperialistas, especialmente Washington. Parece claro que essesnovos casos de Guerra Fria. até e inclusive a atual intensificação
da corrida armamentista determinada por Carter, são dirigidos principalmente contra a União Soviétícai 0 Kremlin tem. portanto, de defender-se e
se tem envolvido num crescentenúmero de conflitos com o imperialismo, nos' quais Pequim geralmente apoiou os imperialistas. À luz de tudo isso,
não se poderia dizer. se tais termos podem ser utilizados, que a política
soviéticaevoluiu positivamente.e a chinesanegativamente,a ponto deser esta última, hoje, palpavelmente pior?
mundial. Um corolário adicional dessaestratégiaé a ''coexistênciapack'fica" com o imperialismo, Q abandono de qualquer orientação genuína no Ora. a implementação exata dessa estratégia de desenvolvimento
depende, em qualquer momento, de várias limitações objetivas. sobre as quais a burocracia tem pouco controle. É por essemotivo que a realizacão prática do "socialismo num só país". na União Soviética, envolveu Q Kremlin numa série de variações inprevisi'vais, desde a tentativa de Bukharin
de integrar pacificamente o ku/ak no socialismo. até a coletivização forçada subseqtlente,'desdea lenta industrialização de 1925-27, até as espan-
tosas taxas de crescimento dos dois primeiros planos qtlinqiienals. e assim
por diante. Essasmodificaçõesde política foram acompanhadas por ziguezagues semelhantes ern política externa: o ''terceiro período". a Frente
Popular. o pacto Hitler-Stálín, a ''grande aliançaantifascista". o sectarismo da Guerra Fria..a renovação das estratégias da Frente Popular. eté. Essas
flutuações não refletem nenhuma mudançafundamental na estratégiada burocracia."pois o socialismo num só país e a coexistência pacífica con-
tinuam sendoas suaslinhas mestrasde orietanção.Pelocontrário, elas simplesmente representam respostas burocráticas e modificações nas circunstâncias objetivas apor vezes, é claro, provocadas não-intencionalmente pelos efeitos da linha anterior). A aplicação das linhas de orientação funda-
mentais exige várias modificações táticas. Teria sido realmente surpreendente se não tivesse havido oscilações igualmente imprevisíveis na política
Não me pareceque a questão possaser abordada dessamaneira. Devemos,
da burocracia chinesa.que vem aplicando as mesmaslinhas de orientação
em lugar disso,começarcom pontos maisfundamentais.Na raiz doscon-
a circunstâncias objetivas muito diferentes.
flitos entre burocracias está o conceito de socialismo num só país, o princípio fundamental do stalinismo como uma ideologia especi'fica da burocra-
Ora, quais são as várias limitações à implementaçãodas políticas de socialismonum único país?Mencionaremos cinco, masa lista não é
cia. refletindo seus interesses materiais específicos. Essaquestão não é pura-
exaustiva {simplesmentedelineia a forma geral da situação): a basesocial
mente platónica, nem puramente pragmática; isto é, não é s:implesmente
e material inicial da burocracia em questão; a atitude do imperialismo para
uma questão de decidir se o rótulo
com essaburocracia; o ni'vel de atividade política social (ou mesmocons-
"socialista''
pode ser aplicado a algum
]72
l
173
a política do internacionalismocontemporâneo
marxismo revolucionário atua]
capaz de igualar o poderio militar dos Estados Unidos (armas nucleares,
ciência) do proletariado do país dominado pela burocracia; as vicissitudes
por exemplo). A facção de Mao. por outro lado. defendia: colocar de lado
da revoluçãomundial como um todo; a capacidadeque tem a burocracia
os centros de poder imperialistas, recorrendo essencialmente à luta armada
de influenciar cada um dos setoresda revolução mundial através de parti-
nos paísesdo "Terceiro Mundo:". que eram consideradoscomo os verdadeiros centros da revolução mundial; recurso à ''guerra popular" como
dos sob seu domínio ou controle. Se examinarmos as variações da política
maoísta à luz dessescinco fatores. no que elesse relacionam com a China
meio de defesacontra a agressãoimperialista,com a descentralização si-
veremos que elas começam a ter sentido. Depois da morte de Stálin. Mao foi sem dúvida uma das principais autoridades, talvez a figura suprema. entre as burocracias do partido comunista em todo o mundo. As poli'tecas por ele defendidas nâo eram irracio-
multânea da disposição de armas nucleares entre os Estados de trabalhado-
res (o que significava.com efeito, que Moscouforneceria essasarmasaos outros Estados); um padrão de desenvolvimento económico baseadoprincipalmente no ''investimento de trabalho" (o que significa pequenasindús-
nais. Até mesmo sobre a questãoda desestalinização,ele mantevea princí-
trias descentralizadas, com uso intensivo de trabalho); um congelamento salarial para trabalhadores e camponeses e uma redução do grau de privilé-
pio as suas coordenadas.pois seus comentários em ''Da Experiência Histórica da Ditadura do Proletariado''e ''Do Trato Correto das Contra-
giolmaterial
dições entre o Povo'' foram na real.idade tentativas muito mais sofisticadas
dos burocratas, através da doutrinação
{"colocar
a poli'tica
de explicar os crimes de Stálin do que a imperfeita teoria de "culto da
no comando") e mobilizaçõesde massacomo instrumentosparaa acele-
personalidade'' elaborada por Krushev. Em 1956 ele apoiou a segunda das
As raízes materiais dessas diferenças poli'tecas e ideologias não são difíceis de descobrir. pois as condições objetivas nas quais as duas burocra-
racão do crescimento económico.
intervenções do exércitodo Kremlin na Hungria(a 4 de novembro).Mas Juntamente com a maioria dos ll'derescomunistas de todo o mundo e alguns líderes soviéticos também,' havia condenado a primeira intervenção
l
década de 1950üegprinci'pios da décadalãde 1960 eramí$muito diferentes;
(de 23 de outubro). Tambémlutou paraimpedir uma intervençãoseme-
Quatro distinções.
lhante na Polõnia, o que Ihe conquistou muita simpatia na Europa Orien-
o atraso muito maior da
China no domínio sócio-económico; o@maiornl'vel da atívidade poli'rica de massa na China (especialmente nas cidades); as diferentes áreas geográ-
sia. Sabemos que algumas forças antes pró-Krushev nos partidos ocidentais se estavam inclinando para Pequim, àquela época. Inversamente. sabemos
ficas nas quais a$ duas burocraciasdispunhamde importante influência sobre os partidos comunistas locais, tendo a China pesosignificativo quase quetlexclusívamentena Ária e em certos pai'sesdo$"Terceiro Mundo" em
que havia pelo menos um líder pró-Krushevno Partido Comunista Chinês. o marechal Peng Tehuai, que fez um ataque total às políticas de Mao. no
outros continentes,e oüKremlin principalmente nosepaíses imperialistas.
plenário de Lushan do Comité Central, no qual se fez um balanco do
Portanto. as políticasõalternativas das facções de Krushev e Mao fluíram
'grande salto à frente'
logicamente das diferentes limitações àBaplicaçãoda estratégia do ''socialismo num só país". No fim. a tentação de procurar solucionar essasdiferençasnão simplesmente pelo debate ideológico, mastambém pelo uso do poder estatal (''política das grandespotências"), tornou-se irresistível para
Há hoje evidências suficientes para delinear as principais diferenças entre as posições iniciais das correntes de Krushev e de Mao. Elas giravam
em torno de atitudes alternativaspara com o imperialismo mundial: de estratégias alternativas para com o movimento antiimperialísta (e. mais
ambas as$burocracias. Não há dúvida, para mim,;de que os passos decisivos
geralmente,sobre como fazer progredir o ''movimento comunista mun-
quanto a esseaspecto foram dados pelo Kremlin em 1960 e 1961. Portan-
dial''); alternativas políticas militares; e políticas económicasalternativas. Em suma, a facção de Krushevdefendia: ampliação da déíte/vtecom o imperialismo americano, aliança com a burguesia nacional nos paísessemi-
to, a burocracia soviética é que tem a principal responsabilidade pela transformação dessadisputa num conflito em nível estatal. Moscou cortou subitamente toda ajuda económica à China. retirou seustécnicos, e deixou ina-
coloniaís(inclusive seusgovernosj; menor ênfase na importância da revolu-
ção colonial em geral;maior ''consumismo''na União Soviéticae Europa (
económico nos Estados de trabalhadores menos desenvolvidosç(istoné. construção inicial de uns poucos centros gigantescosde indústria pesada); concentração.yapenas no exércit06sovlético,nde um arsenal sofisticado.
devemêser ressalvadas: a hostilidade
tica, evidenciada$ãpelo imperialismo@mundíal;
tas na maioria dos partidos comunistas, provavelmenteaté mesmona Rús-
lismo internacional; repetição do padrão soviético de desenvolvimento
em particular.
qualitativamente maior para com a China do que para com a União Sovié-
tal, e não só entre as facções "liberais". pró-Gomulka. Nâo há dúvidas de que, na época, havia correntes e líderes pró maoís-
Oriental. combinado com maior competição tecnológica com o imperia-
cias estavamtentando ''construir o socialismonum só país'';,:emfins da
cabadas as fábricas que estavam construindo, desperdiçando assim grande parte do enorme investimento que a ChinaEhavia feito nelas. Essasmedidas
foram seguidas, logo depois, por uma redução radical até mesmo do comér-
cio normal. equivalendo a um boicote de facto da China pela União Soviética. Ao mesmo tempo. o Kremlin recusou-se a fornecer armas nucleares à
China ou a ajuda-la a desenvolver a tecnologia para produzir suas próprias
174
marxismo revolucionário
atua]
irmãs. A isso seguiu-sea concentração de forças militares na fronteira sinosoviétíca na Sibéría central. A União Soviética até mesmo apontou mísseis com ogivas nucleares para as principais cidades chinesas. cinturões industrais e os centros de experiências nucleares no noroeste da China. Basta lembrar o contexto político internacional no qual essasmedi-
T
a política do internacionalismo
175
contemporâneo
Nesse ínterim. porém, a burocracia chinesa estavacontinuamente
alerta em relaçãoa possíveisaberturas.Com a supressãoda agitaçãoda revolução cultural, as manobras internacionais tornaram-se mais fáceis. Quando surgiram aberturas, elas nâo vieram do Kremlin. amaisuma vez, a culpa foi de Moscou; a retirada de algumasdas forças militares reunidas
das foram tomadasparacompreenderaté que ponto constituíram crimes contra a classeoperária mundial e a luta pelo socialismo.O imperialismo
na fronteira com a China e uma oferta de ajudaeconómicateriam modifi-
americano estava ocupado em construir suas bases por todo o sudeste da
imperialismo,
Agia. Uma ampla facção do Pentágonohavia iniciado uma campanhapara
que buscavamnovos escoadouros comerciais. A partir de 1971 a partici-
o uso de armas nuclearescontra a China, antes que ela desenvolvesse a sua capacidade defensiva. A agressãoimperialista contra a revolução vietrla-
cado a situacãa de maneira significativa.) Essasaberturasforam feitas pelo em primeiro
lugar pelos imperialistas
europeus e Japoneses.
pação chinesa no comércio mundial aumentou. colocando um fim à autar-
quia. Vieram em seguidaas aberturas de Nixon-Kissinger, em parte com o
mltâ estava ingressando na fase de escalada maciça, enquanto a agressão em
objetivode facilitar o término da guerrado Vietnã em condiçõesfavorá-
várias formas estava sendo preparada contra outras lutas asiáticas. A própria China enfrentava uma situação económica desesperada.em consequên-
veis ao imperialismoamericano, mas também para melhorar as relações a longorprazo entre Washíngtone Pequim. Os chinesesreagiramkcom
cia do colapsoda segunda fasedo "grandesaltoà frente". Nessascondições, as ações do Kremlin indicavam que a burocracia soviética considerava a China. e nâo o imperialismo. como seu principal inimigo.
Outro elemento deve ser levado em conta. No Plenário de Lushan do
entusiasmo. desenvolvendo uma: nova teoria e prática para acomodar tal
reação:a "teoria dos três mundos" e a concepção,intimamenterelacionada com essateoria. de que a União Soviética se haviatransformado no principal inimigo.
Comitê Central do Partido Comunista Chinês. Mao se viu em minoria con-
As atuais limitações objetivas à implementação chinesa da estraté-
tr8 a facção liderada por Liu Shao-chí e Tens Hsiao-ping. Procurou então reconquistar a liderança do partido lançando a Revolução Cutural. Mas as
gia do socialismonum único país {hoje expressasna fórmula das ''quatro
mobilizações de massaque foram iniciadas adquiriam logo uma dinâmica própria, surgindo entre os Guardas Vermelhos alguma; tendências esquerdistas autênticas. Urna limitação adicional foi então criada paraa burocracia de Mao, que passou a ter de levar em contado movimento entre as massas chinesas e o possível aparecimento de tendências oposicionistas de esquerda
Se combinarmas todos esseselementos.poderemoscompreender facilmente as razões para ai'políticayexterna adorada por Mao na década de 1960. Essa política evolui gradualmente da sua ênfase na hostilidade
para com o imperialismo americano até umasposiçãode igual hostilidade para com as duas superpotências, à medida que Mao passavaa preocuparse com o perigo de um entendimento americano-soviético dirigido contra
a China, obsessãoque não pareceter sido totalmente infundada. Ao mesmo tempo, Pequim continuava a expressar hostilidade para com o imperia-
lismoFdurante aquele período, apoiando as lutas antíimperialistas como uma ''linha;f:geral" a ser contraposta à versão soviética da ''coexistência
modernizações") são substancialmente diferentes das que predominavam há vinte anos (um fator desconhecido era o grau de politização e rebeldia
potencial das massasurbanas}. Não há, portanto, razões para aç},editar que a teoria e prática de considerar a União Soviética como o "principal inimigo" dure por várias décadas, tal como a oposição verbal feita anterior-
mentefipor Pequim à estratégia da "coexistência pacífica com o imperialismo" também não durou décadas.Não há, simplesmente,basesmateriais para se colocar em prática, por longo tempo, essapolítica, que era apenas uma racionalização de uma situação particular. A China continua sendo
um Estado burocratizado dos trabalhadores,como a União Soviética. e a longo prazo a burocracia chinesaterá maioresdificuldadesem ''coexistir pacificamente" com Washington do que com Moscou. O recurso unilateral
aos países capitalistas para comércio
e crédito na aceleração
da crescimento económico ameaça prejud.icar seriamente a economia
planificada.que é a basemesmado poder e dos privilégiosda burocracia
pacífica''. O ponto maisà direita a que chegouMao duranteesseperíodo
chinesa. Os burocratas iugoslavos fizeram essadescoberta há varasdécadas. e seus colegas chineses acabarão por faze-la também. Seriaiimuito mais
foi sua rejeição de uma frente única com Moscou.em defesada revolucão vietnamita. que Ihe custou o apoio do Partido Comunista Japonêse de vá-
racional para Pequim dividir seu comércio entre os '!dois campas", tentar obter dellambos créditos e ajuda. como os jugoslavosfizeram com-êxito.
rios outros partidosna Ária (o PartidoComunista-Marxista da I'ndía.por exemplo). A palavra de ordem, naquela época. era ''auto-suficiência
Tal modificação na política1lchinesaexigiria. é claro, uma modificação
que era::naverdade apenasuma justificativa racional do isolamento econó-
mico da China, provocado pelolduplo boicote imposto por Washinton e Moscou.
correspondente na atitude de Moscou, como também aconteceu no caso da lugoslávia. Mas, a longo prazo, essa modificação é do interesse também dos
burocratasbsoviéticas.embora de ambos as lados essamodificação possa ter de esperar por uma alteração na liderança em ambas as capitais.
marxismo revolucionário atual
176
] a política do internacionalismo
Evidentemente. qualquer justificativa
tais observações não implicam.
denmodo
algum,
para as ações e declarações contra-revolucionárias
dos
burocratas chineses, que foram acertadamente condenadas e que a Quarta
Internacional vem condenando há muitos anos. São. na realidade. exemplos primordiais de cinismo e traição burocráticos. Minha intenção, aqui,
é demonstrar que não constituem exceçõesao comportamento normal da burocracia; muitos paralelospodem ser lembradosentre as políticas anuaise passadasdos burocratas soviéticos. Seria realmente um erro restrin-
gir o impacto contra-revolucionário da diplomacia do Kremlin aos casosde
má orientação". O apoio claro à política\hitlerista de conquistaimperialista durante o pano nazi-soviético;a ajuda material {na forma de petróleo) à invasão da Etiópia
por Mussolini; as ações contra as greves dos aliados
de Moscoudurantea última décadado regimeqdeFranco{entregade carvão polonês à Espanhadurante as grevesdos mineiros, por exemplo); o apoio franco à ditadura de Videla na Argentina apeloKremlin e seustíteres argentinos); o apoio inicial a Lon No1contra o Khmer Vermelho, para não falarmos do esmagamento dos levantes de trabalhadores na Alemanha Oriental,
Hungria,
e Tchecoslováquia
177
contemporâneo
África je no Afeganistão) paramodificarmarginalmente a relaçãode forcas. A reacão de Washington foi intensificar a corrida armamentista e preparar contra-ataquesem certas partes do mundo. Mas tudo isso está ocorrendo na moldura geral da dérente e não de uma aliança agressiva entre Washington e Pequim, contra Moscou. Na realidade e em última aná-
lise. o imperialismo americano continua mais interessado na coexistencia pacífica com a burocracia soviética, pois necessitada assistênciacontra-
revolucionáriade Moscou em áreas-chave do mundo IEuropa Ocidental, América Latina) onde Pequim simplesmente não tem influência. Se esse aspecto fundamental da situação mundial se modificar. teremos de reavaliar
as reaçõesdas lideranças soviética e chinesa. Até agora. porém, não houve modificações. e. se posso fazer um prognóstico, não acredito que tal modi-
ficação venha a ocorrer dentro em breve, pois seria necessáriauma trans' formação radical nas relaçõessociais e políticas de forças de classena Eu' ropa Ocidental, EstadosUnidos ou América Latina.
+ são apenas alguns exemplos
que vão além do tipo#de política contra-revolucionária"negativa'';a que a pergunta se refere.
Resumindo, eu negariaque estejamosentrando numa nova situação de guerra fria, na qual o imperialismo, mais ou menos aliado a Pequim. estivesseBpreparando um movimento#agressivo t:entra a União Soviética
e no qual a burocracia soviética teria. portanto de defender-se.tornando-se mais "antiimperialista". É certo que a weró/agechinesaé atualmente mais reacíonária do que a russa. Mas suasanões -- fora do sudesteasiático -foram deãmenos$valia ao Imperialismo do que a@política da burocracia soviética, essencialmente parque são maislífracos de recursos materiais.
menoscapazesde agir fora de suasfronteiras.a(Háexceções, é claro: a criminosainvasãodo Vietnã. o treinamentodos soldadosde Mobutu, a ajuda às forças pró-imperialistas em Angola.l O Irã é um caso em foco. A
atavacolaboração comercial, industrial e técnica de Moscou com o Xá e â
rejeiçãodo partido Tudeh de desempenharum papel agressivona luta contra ele certamente ajudaram o monarca muito mais do que as saudações
traiçoeiras eHexageradas que Pequim Ihe fez, como um ''combatente antiimperialista". Afinal de contas, havia muito pouca coisa que Pequim podia realmente fazer$no irã, o que não é verdade emárelação aã'Moscou,apesar de seu vocabulário mais prudente. A8tendência básica na anual situação mundial, ao que me parece, não é no sentido de uma nova guerra fria de granidesproporções entre Moscou e Washington, mas de uma continuação:8da ''coexistência pacífica'' que vem sendo seguida há várias décadas. Nesse contexto, subsequente ao enfraquecimento do imperialismo americano após a sua esmagadora derro-
ta no Vietnã, o Kremiin pôde tomar algumasiniciativas,em particular na
A Situação da ClasseOperária Americana Passemosagora a um assunto diferente, outra falar crucial na política mundial. A crise económicada décadade 1970 tcve efeitos políticos muito diferentes nas várias regiões do imperialismo. Vimos uma radicali: zação profunda
da classe operaria
em vários países da Euíopa Ocide,n.tal
e mais geralmente. uma modificação básica para a .esquerdana política
da maioria dos Estadoseuropeus.Com o colapso das ditadurasgregae portuguesae a crisee liquidação do franquismo,a..Euro.pa .capitalista,pela primeira vez em cerca de meio século. está agora livre de ditaduras autori-
táriasdedireita.
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11 ãÜü:'i:==::iÍüuzé z:Hi!
marxismo revolucionário atual
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179
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a política do internacionalismo contemporâneo
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revisõesrelacionadas com a evolução da situação objetivo. A hegemo-
nia dos EstadosUnidos no mercadocapitalista mundial foi. na.!ealidade.
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confirmadas. com o tempo.
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trabalhista americano podem modificar a situação?
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11 11
11
Vou comecar com um comentário muito geral. Os diferentes efeitos da
Ü -a menor dúvida de que a chavefundamental paratoda a situaçãopolítica está precisamente n9 baixo nível de consciênciapo//'t/ca de classedo proletariado, exatamente o fator mencionado na pergunta.
Historicamente. eu manteria o prognóstico feito em "Para Onde Vai
il +;
11
a América?". A situaçãocomeçou.de fato. a modificar-se.emboravices tenham razão ao dizer que ela não se modificou tão rapidamente quanto
RI
esperávamos. Em última análise. porém. creio que se compreenderá que as modificações começaram quando o capitalismo americano perdeu. sua post'
11
ção de liderança na produtividade industrial. O capitalismo oa Alemanna
11
Ocidental tem hoje o primeiro lugar nessesetor decisivo, e mesmo o capita' cismo japonês alcançou os Estados Unidos, pelo menos temporariamente.
l
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marxismo revolucionário atual
a política do internacionalismo contemporâneo
18]
O segundofalar está, sob muitos aspectos,relacionadocom o pri'
Auto-lide e a grevedos motoristas de.caminhão de Minneapolis. Provavelmente não será exagerodizer que os quadros dirigentes do Partido Comu
meiro: é a total identificação, no espírito dos trabalhadores americanos.do
nisto foram indispensáveis na organizaçãodos sindicatosque passaram a constituir o cio. Em grandeparte, o sindicalismoindustrial tornou-seum fenómeno de massanos EstadosUnidos em conseqüênciado papel dos
comunismo com a repressão e opressão stalinista. A total ausência de qual-
marxistas. Isso também ocorreu na onda de grevesde 1946-47, que envolveu um número ainda maior de trabalhadores do que as grevesda década de 1930. Nas lutas de pós-guerra. surgiram significativas correntes de es-
esserompimento de continuidade, a esquerda organizada nos Estados Unidos. inclusive o Partido Comunista e o que resta da social-democracia disto é. os social-democratasque não se tornaram membros do Partido Democra-
qt;er alternativa de esquerda tem nos Estados Unidos efeitos muito diferen-
tes dos registrados na maioria dos paísesda Europa Ocidental. Devido a
querda nos sindicatos.em oposiçãoà linha do Partido Comunista,forças
ta) não éi.!maior.em termos absolutos.,do que a extrema esquerdaem
que haviam chegado a certas conclusões. partindo da gritante colaboração
pal'sescomo a Espanha. Em termos relativos, é mesmo menor. clara. A classedominante em todos os paísescapitalistas adiantados procura iden-
de classe praticada pelos stalinistas durante a Segunda Guerra Mundial.
tificar o socialismocom o que existe na União Soviética.bem consciente
Essa ponderável presença dos radicais políticos nas lutas da classe operária
de que a sociedade soviética há muito perdeu sua atração para as massasde
americana tem raízes muito mais profundas do que muitos pensam. Mencionei as duas ondas anteriores de lutas, mas podem'iair ainda mais longe e
trabalhadoresno Ocidente.(Num certo sentido, foi essaa maior contribui ção do stalinismo para a preservaçãodo capitalismo.) Na maioria dos países
discutir o papel da lww {lnternacional dos Trabalhadores do Mundos na criacão do movimento sindical americano e do Partido Socialista de Eugene..Debs, um dos poucos líderes da social-democraciaüque se opuseram
da EuropaOcidental,porém. há partidossocialistas ou comunistas de massaque não se identificamtotalmentecom a UniãoSotléticae em
à Primeira Guerra Mundial. Debs foi detido f)elas suasoplnioes contra a guerra e recebeu mais de um milhão de votos na eleição presidencial de'
sençaantíburocrática na vida política nacional.
muitos pal'sesa extrema esquerda conseguiu estabelecer-secomo uma preIsso não ocorre nos Estados Unidos. Devido à ausênciade uma es-
1920, numa campanha que realizou de sua cela na prisão.
Não é verdade, portanto, que a classeoperária americana não tenha uma tradicão socialista. ou que seu proletariado tenha sido sempre estra-
querda significativa, e porque boa parte da esquerda organizada que existe (ou seja. o Partido Comunistas continua a sustentar que a União Soviética
nho ao radicalismo político. O que aconteceu foi que a repressãoassociada
é realmente um modelo de democracia socialista, as massasamericanas tendem a ser não só anti-stalinistas. mas também antlcomunistas. Para a classeoperária americana. o comunismo simplesmente significa a Rússia
à Guerra Fria e ao macarthismodestruiu essecapital politico quaseque totalmente. Essaquebra na continuidade expressou-sede uma forma física:
de Brejnev. Não só não existe um modelo alternativo fora dos Estados
socialistas. comunistas e radicais foram expulsos dos sindicatos aos milha res e dezenas de milhares; as máquinas dos sindicatos foram expurgadas dos radicais, e os simpatizantes das organizações ou das idéias radicais, que
Unidos. mas não há nem mesmo um partido de massaque se intitule socialista ou comunista. com o qual os trabalhadores americanosse pudessem
eram sem dúvida centenasde milhares, foram intimidados e silenciadas
identificar. como representativode seus interesses.O resultado é que o
pela ação rigorosa contra eles.
socialismo é muito menos atraente para os trabalhadores do que foi nas
Em conseqüência. quando a situacão política geral começou a se modificar: na década de 1960,icom o aparecimento do movimento dos direi-
tos civis e as primeiras manifestaçõescontra a guerra do Vietnã, a presença
\
décadasde 1930 e 1940 -- e é difícil ter uma radicalização política séria do proletariado se as massastrabalhadoras consideram como execrável a própria noção de socialismo. Uma das conseqtlências disso é reforçar a falta de
dos radicais na classe operária era pequena, e sua influência nos sindicatos virtualmente?nulalsOs poucos ativistas socialistas que permaneceram no
política de classe no sentido organizacional. Na ausência de qualquer
proletariado não estavamnem mesmoem posiçãode falar sobreas ques-
dem a ser atraídos para os vários substitutivos da ação de classe. E essa
tões políticas discutidas pela sociedadeamericana em geral, já que a caça às feiticeiras durou maistempo no movimento sindical do que em qualquer
uma das razõesda enorme influência da politica do ''mal menor'' nos Estados Unidos. e do fenómeno concomitante da atração da ala esquerdado Partido Democrata.
outro selar da sociedade.Nesse;;entido é que me parececornetofalar de
uma destruicão da tradição socialista na classeoperária americana.A recuperação dessatradição, que é essencialpara que exista uma radicaliza-.
ção política autêntica. envolveum procés$Qmais longo do que prevíamos
alternativa socialista. mesmo no sentido mais amplo. os trabalhadores ten-
Há. ainda um terceiro favor que não deve ser subestimado. Sob muitos aspectos a classe dominante americana é politicamente
menos sofistica-
da do que a européia. Ela tende. com frequência. a ser mais brutal e cínica,
há dez ou quinze anos. E esse,portanto, o primeiro ponto: subestimamos
não havendo dúvida de que o pessoaldos partidos bu'rguesesé em geral
a amplitude dessa quebra de continuidade
menos competente do que o pesco?l europeu. (Isso é provavelmente outro
e seu impacto.
183 182
marxismo revolucionário atua]
a política do internacionalismo contemporâneo tem maiores reservas no mundo capitalista, e é provável que tenhamos tendências a subestimar os efeitos dessasreservas.
tercdros partidos burguesesparecemuito difícil. E difícil responder a essapergunta sem examinarmos em detalhe muitos problemas específicos da história americana. Vou limitar-me, portanto. a
uma observaçãogeral. que me levará a um quarto fator em relaçãoao atraso no despertar pol ítico do proletariado americano. .
Primeiro.
porém.
eu diria que sua avaliação
da .continuidade
das
instituições democrático-burguesas nos Estados Unidos é bastante ousada.
Não nos esquecamos de que a escravidãocontinuou a existir nos Estados Unidos durante cerca de: 75 anos depois da vitória da revolução, e que a classe escravibta era o componente preponderante
do bloco dominante,
durante a maior parte de tal período. A primeira revolução americanafez, na realidade. as menores modificações nas relações sociais promovidas por
qualquer granderevolução burguesana história mundial, e deixou intacta a mais poderosaclassedominante não-capitalista. Foi precisamentepor essa
ÚãKiqifii:iii: iiE:is::::i;üu
i84
marxismo revolucionário atu a]
a política do internacionalismo
nos esqueçamos que milhões de dólares em propriedade privada. na forma relações sociais no Sul escravista foi violentamente derrubada. e que duran-
te onze anos após a guerracivil os Estadossulistas.e=nmaioria, foram go-
res nos Estados Unidos têm um nível de consciência política de classein-
vernados por coalizões nas quais ex-escravostiveram um papel nada desprezível, tendo o governo federal sido colocado sob a influência da ala radical
ferior ao da maioria dos trabalhadores europeus. Mas, precisamente devido à falta de um partido de massa da classe operária. o proletariado america-
do Partido Republicano.que, incidentalmente,teve o apoio entusiástico
no tende a ter menos ilusões eleitorais do que o europeu. Em minha opinião. talvez a conseqüência mais importante da constante traição às promessaseleitorais -- a comecar com a çampanha de ''paz'' de Lyndon
de Karl Marx.
Essa segunda revolução americana foi na realidade seguida de uma
contra-revolução,uma espéciede restauração,que foi também uma das
Johnson nas eleições de 1964 e estendendo-se até a crise de Watergate e
mais completas e violentas da história burguesa. Todos os governos dos Es-
renúnciade Nixon -- tenha sido o fato de a populaçãoamericanater-se desencantadonão apenascom o sistema bipartídário, mastambém com
tados antes.escravistasforam novamente derrubados, os republicanos radicais foram afastadosde seuscargos no poder do governofederal, e finalmente destruídos. Nos Estados sulistas, essacontra-revolução foi imple-
a po//'f/ca e/e/fora/ em s/. Nâo há dúvida de que há um lado negativo nessa atitude, pois, o resto permanecendoconstante, ela tende a agravara falta
mentada. em grande parte. por uma milícia terrorista contra-revolucionária
de inclinação dos trabalhadorespara a participação poli'teca,dado que outro fato da vida política americanaé ciue a poli'tica identificou-se,na
que desfechouum verdadeiroterror branco no interior: a Ku Klux Klan. organização existente ainda hoje. As leis aprovadasdurante essacontra-
b
revolução para restabelecer a opressão da população negra foram as mesmas
leis que passarama ser atacadase foram finalmente revogadaspelo movi-
mento de direitos civis da décadade 1960. um séculodepoisda guerra civil. A realidadehistórica é, portanto, maiscomplexado que a pergunta pareceindicar.
Isso tornará»muito mais difícil às organizações reformistas controlar a poli-
tização dos trabalhadores americanos,já que Q recurso rigoroso à poli'teca eleitoral é uma das maiores fontes da hegemonia reformista. Assim. asreservaspolíticas da classe dominante americana.embora sem dúvida exis-
políticos das burguesias européias. Nesse sentido. a classe capitalista ame
ricana dispõe realmente de grandes reservaspolíticas, das quais se valeu
tam. podem ser mais facilmente superadas do que as menores reservas po-
livremente. ,A coalizão forjada por Roosevelt em torno do Partido Demo-
líticas da burguesiaeuropéia.
crata, na décadahde1930, é o mais importante exemplo recente disso. O
Há, porém, um importante elemento de verdadeno que você díz masque eu formulada de maneira um pouco diferente. É esseo quarto
New Deal". pode ser consideradocomo a versãoamericanada Frente Popular. não sendolpor acaso que, enquanto a versão européia implicava
obstáculo de que falava. e que pode ser considerado como técnica organizacional ou talvez institucional. Refiro-me às condições práticas em que se realizam as eleições americanas e à estrutura do sistema parlamentar dos
UM b/oco entre os partidos burguesese proletários no qual os primeiros tinham a hegemonia poli'teca. a versão americana compreendia a dissolução
EstadosUnidos. Os partidos palítlcos Consistemde máquinasenormes. com um monopólio quase que total de acessoaos meiosde divulgacão.Os gastos exigidos pelas campanhas eleitorais são astronómicos. apesardas reformas" em consequência de Watergate. As possibilidadesde fraude e manipulaçãodos eleitores são praticamente ilimitadas. Os distritos legisla-
Estarão) essas reservasvpoli'tidas desaparecendo juntamente com as
reservaseconómicas? Gostaria de chamar a atenção para um fato muito impressionante. Desde a guerra do Vietnã e a crise de Watergate, todos os
decrescente nas eleições. Apenas cerca de
50% dos eleitores votam nas eleiçõespara g Congresso.taxa essaque deve ser uma das mais baixas no mundo imperialista. Mesmo nas eleições pre:
sidenciais. o comparecimentoádos eleitores raramente ultrapassa 65%.
l
}
burguesia.
expressou num comparecimento
mente das massas.com poli'rica 8/ê/fora/. Mas há também um lado positivo: quando os trabalhadores começarem e reagir politicamente. como sem dúvida ocorrerá. à inflação crescente, aos aumentos de preços das habitacões ao permanente desemprego em massa. à erosão dos padrões de vida etc. terão maior tendência do que os trabalhadores europeus a escolher formas
de ação política direta não baseadasexclusivamente na poli'rica eleitoral
Concordo, porém, em que o sistemapolítico americano.dada a sua basefde força económicae as reservasde que estamosfalando. demonstroujuma flexibilidade e um êxito muito maioresdo que os sistemas
levantamentos de opinião pública nos EstadosUnidos indicaram um decll'nio notável na confiança pública no sistemabipartidário. Essadecepçãose
185
Entre os setores oprimidos da classe operária, como os negros. por exem plo, a taxa de abstenção ultrapassa sempre os 50%n.Isso expressauma outra grande contradição da vida poli'tida americana. É certo que os trabalhado
de escravos. foram expropriados sem indenizaçãa,que toda uma série de
poli'tica do movimento sindical e sua integraçãono principal partido da
contemporâneo
\
tivos são estabelecidos de tal modo que grandes números de eleitores existem até mesmo nos menores distritos. Finalmente. as eleições são estruturadas numa base estadual. até mesmo as eleições presidenciais. O resultado de tudo isso é que somente uma iniciativa maciça, cobrindo a maior parte do território nacional e muito bem financiadas. tem qualquer esperançade
desafiar seriamenteo sistema#bipartidário.O fenómeno que vimos na
l
186
marxismo revolucionário atua]
T a política do internacionalismocontemporâneo
Franca. Espinha ou Itália. onde a extrema esquerdafoi capazde provocar
187
na Europa Ocidental. O movimento trotskista fez provavelmentemais progressona correçgo dessadeficiência do que qualquer outra tendência do movimentogoperário. mas ainda estamos muito longe de uma verdadeira solução. A dinâmica da luta de classesjaponesa ainda é. em grandeparte.
um impacto significativo na poli'tida eleitoral nacional.é mais ou menos impossível nos Estados Unidos. E até mesmo muito improvável que pudes-
se haver uma repetição da experiência do antigo Partido Socialista Ameri-
cano, que começou pequenoe aos poucos aumentou sua votacão, até
um território não mapeado para o movimento revolucionário internacional. E possível, porém. citar pelo menos alguns dos problemas especl'focos
atingir certo grau de significação nacional. Isso tem várias conseqilências importantes. sendo que a mais crucial
que temos de enfrentar. Inicialmente, a expansãodo imperialismo japonês
é que a única força com potencial suficiente para contestar o sistemabipar-
desde a Guerra da Coréia foi espetacular. De forma ainda mais notável que o imperialismo alemão, a burguesia japonesa realizou pacificamente grande
tidário, a médio prazo. é o movimento sindical organizado. Isso nos leva de
volta ao ponto de partida: o inl'cio da radicalizaçãoe politização do movimentoSsindical americano e o aparecimento eventual de uma forte ala esquerda digna de crédito e dotada de princípios, suficiente para agir com independência no domínio político e pressionar por um rompimento com o Partido Democrata. Nisso reside a chave para a formação de um partido trabalhista de massanos Estados Unidos, que, pelos motivos mencionados, provavelmente seria muito mais radical e militante. e muito
parte do que não conseguiu realizar militarmente na SegundaGuerra Mundial, tornando-se a potência dominante na vida económica de amplas áreas
da Asia. O Japão é hoje um associadocomercial da Austrália mais importante do que a Grã-Bretanhaou os Estados Unidos. O capital japonêsâtraüessou o Pacífico
e conquistou
uma posição:#significativa
no mercado
americano.atingindo também o México ejo Brasil. Emlgeral, podemos dizer sem exageroque o capital japonês dispõe hoje de8posiçõesde poder
menos reformista. do que os partidos proletários de massana Europa Ocidental.. A lei de desenvolvimento combinado e desigual pode, então. ter
económico no mundo que ultrapassam àté mesmo os sonhos dos senhores belicistas daÊépocado auge do seu poderio militar. com a excecão de sua incapacidade de controlar o mercado chinêsi:Imãs isso resulta. é claro. d3
uma notável confirmação. Os trabalhadores americanosterãoÊgastomuita mais tempo para chegar à consciência poli'teca e para organizar o seu pró-
revolução chinesae não da competição de outras potências imperialistas.
prio partido. Masquandoo fizerem.essepartido crescerámuito maisde-
Devemos notar. porém, que muitas dessas posições são altamente vulneráveis, fato geralmente ignorado pelos analistüs ocidentais; freqt)entemente influenciados pelo ciúme ao estudar o Japão. A estrutura financeira
pressa e se chocará multo mais radicalmente com a sociedade burguesa do
que os partidos da classe operária européia. Não nos esqueçamosde que o
proletariado americano continua sendo o mais poderoso. e o maior. em
de algumasdas principais multinacionaissob controle japonêsé bastante
todo o mundo.
precária. Segundo certas informações. a Mitsublshi, a segundamaior empresa comercial e corretora financeira do Japão, estaria ameaçadade falência se apenas um de seus principais projetos estrangeiros fracassasse. (Devemos notar, de passagem, que um dos maiores projetos está no Irã.l Essa
Japâo
debiiidadejlresuitaem parte do financiamento do crédito e do investimento atravésde inflação crediü'cía, que foi imposto à indústria japonesade põs-
0 segundo ou terceiro mais importante país imperialista, o Japão. tem um papel no sistema mundial de poder político burguês que parece um enigma. As lutas do movimento operário japonês são em grande parte desconheci-
das no Ocidente. Possivelmentepor motivos culturais e linguísticos. nâo há muito intercâmbio de experiência.ou diálogo teórico, entre o proletariado japonês e o resto do movimento internacional. Terá-a Quarta Internacional conseguido superar esseisolamento relativo, em proporções significativas?
Concordo que um dos principais obstáculos,no caso. é o problema cultural e lingtlístico. Essabarreira opera em ambas as direções. elabora exista um
maior número de pessoascapazesde ler l I'nguaseuropéias no Japão. do que europeus que saibam ler o japonês e sigam os acontecimentos políticos,
económicos e sociais daqueledpaís.Somente num campo -- o da ciência económica -- onde há uma escola japonesa com caractere'éticaspróprias, a produção intelectual daquele país tornou-se razoavelmente bem conhecida
.1
guerra durante a reconstrução, sob a ocupação americana, quando muitos dos velhos trustes foram desmembrados, pelo menos segundo a leí.:'Em
parte resulta também do espantoso:ritmo de crescimento económico. que superou os processos normais de acumulação de capital na década de 1960 e princípios da década de 1970.
Politicamente, o;Estado japonês foi impedido, por vários, fatores, de desempenharum papel correspondente ao seu vigor económico. As dificuldades são, no casa. semelhantes às que teriam sido enfrentadas peia Alemanha Ocidental se tivesse sido forçada a resolver sozinha os seus problemas. A burguesia alemã ocidental
teve a boa sorte, em parte graças às escolhas
inteligentes de''seus líderes poli'taCOS,ndenão ser obrigada a operar independentemente, mas foi capaz de operar através do Mercado Comum e de todas as suas instituições. Estas foram estruturadas de modo a permitir
que o capitalismo alemão desempenhasseum papel significativo, apesarde
ÍI
188
marxismo revolucionário
anual
seu grande descrédito aos olhos dos povos da Europa. O que teria parecido uma hegemonia alemã clara. foi disfarçado por um certo equilíbrio e associação entre Bonn e Paras.O Japão não pôde operar dessamaneira no leste
189
a politica do internacionalismo cor.temporáneo
As condiçõesdo movimento trabalhista japonêstambém sãocontra-
ditórias. De um lado, o movimentosindical estábem organizadoe é sem dúvida mais politico do que o movimento americano. Os partidos de massa
da Afia, pois não teve associadosque desempenhassem o papel da França, Itália e Grã-Bretanha. no caso da Alemanha Ocidental. Procura-se,agora. criar uma espéciede Mercado Comum na Ãsia, constitui'do do Japão. Co-
da classeoperária, os partidos socialista e comunista, têm grande peso na
réia do Sul, Hong Kong, Formosae. possivelmente,as Filipinas. Essafor-
durante o augeiido crescimento económico, parece agora cada vez mais desorientado e desequilibrado. Há, sem dúvida, muitas razões para.isso,
mação, porém, teria mais a aparência de uma rede de satélites em torno .do Japão do que de uma liga de associadosmais ou menos em pé de igualdade. Devido às experiências da Segunda Guerra Mundial, a resistência ao impe-
vida política, mais do que em muitos pai'Seseuropeus. Ao mesmo tempo esse movimento,
que parecia tão fi)deroso há alguns anos. especialmente
a maioria das quais aínda$não foram totalmente
compreendidas.
Quero
Indicar, porém, algumas das peculiaridadesPdomovimento operário japo-
rialismo japonês continua sendo um fator poderoso na consciênciadas
nês. A:$principal força das organizações de classe, inclusive os sindicatos.
massasdo leste e sudeste da Asma,e isso, na ausência de um disfarce do tipo
Mercado Comum. contribuiu para limitar a força política do Estado japo-
o Partido Comunista e o Partido Socialista, está no enorme setor público. Por outro lado, muitos dos conglomerados,que em certos ramos da indús-
nês, fora de suas fronteiras.
tria são os maiores do mundo.: são organizados por sindicatos de compa-
Outra dificuldade enfrentada pela classedominante japonesaem de. sempenharum papel internacional compatível com a sua força económica está na resistência interna à militarizaçâo. O povo japonês foi Q único no
mundo a sofrer o holocaustonuclear,e issocriou um espl'ritoantimilitarista que atou as mãos da classedominante,em proporçõesmuito maiores do que em qualquer outro país imperialista. Em suma, portanto, o papel japonês no mundo caracterizou-sepor três aspectos básicos: enorme força económica e industrial. limitada influência política incompatível com essepoder económico, e uma quase total ausência de qualquer força militar. Isso. porém. não significa que o Estado japonês seja. em si, fraco. Pelo contrário; por várias razões históri-
cas. a menor das quaisnão é a maneirapelaqual o capitalismosurgiu ini-
nhias que permaneceramfora das grandeslbatalhasde classedos últimos anos. Isso nem sempre ocorreu. Nossoscamaradas japoneses observam que
o ponto marcanteocorreuem fins da décadade 1940 e princípios da décadas: de 1950, quando várias derrotas importantes foram sofridas por alguns .dos sindic.alas industriais:i Mas hoje o padrão predominante é o seguinte: significativa força operária no $etor público, relativa fraqueza no
setor privado. Isso cria o paradoxode um movimentoque parecemais forte no papel-: e naseleições- do que realmenteé nasfábricase oficinas, em escala nacional.}:Na realidade, a classe operária japonesa é menos capaz de resistir aos Mitsuis e Mitsubishis do que seria de esperar Intimamente ligado a isso está uma das mais estranhas características
da estrutura industrial do lapão, um fenómeno que tivemos grande dificuldade em compreender totalmente: o estranho sistema de antiguidade que
cialmenteno Japão,o Estadodesempenhou um papelmaisativo do que
predomina nas empresas gigantes. De acordo com esse sistema, os diferen:
em qualquer outro país imperialista. na influência, directo e controle dos assuntoseconómicos e monetários. Em vários setores;= comércio interna-
ciai$ de salários não se baseiam nos níveis de habilitação ou na produtividade, mas simplesmente no tempo de serviço na companhia. Essesistema de antiguidade também implica uma estrutura peculiar de segurança de emprego, na qual os trabalhadores estão permanentemente ligados a determi-
cional, por exemplo, tendo o petróleo como casoparticular -- o governo japonês apoiou suas empresas privadas de maneira muito mais decisiva e
vigorosado que qualquerdos governosda EuropaOcidental.Uma das razõespelas quais as companhiasjaponesaspodem na 'realidadetentar superar os americanosno setor de computadores.para citarmos outro exemplo é a existência#de um programamuito intensivode ajudaestatal à pesquisae ao desenvolvimentoprivados.(Se conseguirãoêxito, é outro problema.} O Estado também desempenhouum papel bastanteativo na
nadas firmas. Em conseqilêncía, a classe operária jap.onesa se situou entre
as menos móveis do mundo nos últimos trinta anos, e isso por sua vez criou obstáculos à integração de classe.já que os trabalhadores são estirou
lados, de forma material, a se identificarem com firmas específicas,e não
com a classecomo um todo. O que não é fácil decompreenderé por que essesistema não prejudicou seriamente a intensificação da consciência
limitação dos aumentos salariais, um dos fatores que alimentaram a expan-
política de classe;lem sido, porém, um obstáculo formidável ao desen.
são económica. Finalmente. depois da derrota dos Estados Unidos na
volvimento
Indochina e da diminuição da capacidadeda classeamericanade intervir diretamente em outros pal'ses,em particular no sudesteda Àsia, a influên-
profissionais'': Em outrasqpalavras.: fortaleceu o aspecto corporativista,
daquilo que os franceses chamam de "lutas sindicais inter-
particularista, das lutas sindicais, e introduziu divisões profundas no movi.
cia política de Tóquio estáaumentandonaquilo que é consideradocomo
mento sindical. A menos que essasdivisões sejam superadas, seria difícil
sua "esfera de influência''
conceber uma greve geral por reivlndicacões económicas, por exemplo
adequada.
190
marxismo revolucionário atua!
a política do internacionalismo contemporâneo
19]
Paradoxalmente. porém, essadivisão seria um obstáculo menor a uma
do mundo entra em conflito com o conceito de unidade do proletariado
greve geral po/i't/ça.
mundial e representa uma concessão às noções maoístas dos "três mun-
Estas são algumas dasltpeculiaridadesda formação social japonesa que ainda não foram explicadasde maneira adequadapelas marxistas. Há outras. ainda. O Partido Socialista japonês.por exemplo, foi o único partido social-democrata no..imundo com uma tendência maol'sta total. Sua linha política segue hoje. de perto, a dos partidos eurocomunistas. Durante umplongo período. o partido socialista teve posições formais à esquerda do partido comunista; a prática dos socialistas, porém, foi classicamente socialdemocrata. Essacontradição entre as palavrase os atos está sendo resolvida
dos". Como respondea isso? Devo admitir que sempre considerei tal acusaçãocomo baseadaprincipalmente na má fé. e não em objeções políticas sériasà nossaanálise. Quando falamos dos três setores da revolução mundial, falamos das diferentes tarefas estrafég/cas enfrentadas pelo proletariado nas três áreas mencionadas na
l
pergunta. Essadiferenciação das tarefas estratégicasremonta não a 1963. mas ao próprio Programa Transitório. o documento-chave do congresso de
também da maneira clássica, enquadrando-se a verborragia antes esquerdis-
criação da Quarta Internacional, em 1938. Mostra-se,ali, que nos países
taena prática reformista. Os partidos dos trabalhadores, especialmenteos socialistas. tiveram uma oportunidade excelente de derrubar Q Partido Democrático Liberal. que vinha governandohá mais de trinta anos.quando irrompeu o escândaloda Lockheed. Mas essaoportunidade foi deliberadamente perdida: o que constitui uma das razões da atuaÇlconfusãoe deso-
imperialistasexiste uma dinâmica da revolução proletária no sentido "clás-
rientação do movimento dos trabalhadores. Finalmente. uma das características mais surpreendentes da evolução
da vidqfpolítica japonesasnosj;últimos 15 anos foi o retumbante fracasso do movimento estudantil radical- Na décadade 1960 essemovimento foi,
sico" da palavra: Nos países capitalistas dependentes. o que está na agenda
é um processode revolução permanente pelo qual o proletariado. apoiado pelas massascamponesas, deve6realizar as tarefas da revolução burguesa,
mas só o pode fazer conquistando o poder estatal, isto é. estabelecendoa ditadura do proletariado, e derrubando as relaçõesde propriedade capitalistas também. Nos Estados burocratizados dos trabalhadores,o proletariado enfrenta as tarefas de uma revolução polítlcaájantiburocrática, que são distintas. em qualidade, tanto das tarefas da revolução social proletária
provavelmente.nomais poderosos do géneroem todo o mundo, e teve as
quanto das tarefas da revolução permanente. Essaespecificidadede tarefas
maiores oportunidades de estabelecerelos reais com o proletariado. provo' cando com isso umamodificação na relação de forças entre reformistas e
nos três setores só pode ser negada se rejeitarmos a teoria da revolucão permanente ou a análise trotskista da natureza da URSSe de outros Esta-
revolucionários,.'lna própria classe operária. Mas. emttlugar disso. o movi-
dos burocratizados dos trabalhadores. ou ambos. SÓ no nl'vel da maior
mento evoluiu num sentido espantosamentesectário. fragmentando-seem facções paramilitares que finalmente iniciaram campanhasde ataquesfísicos mútuos.áCom isso, a extrema esquerda degenerou no que só pode ser
abstração pode-se afirmar a sério que os trabalhadores enfrentam tarefas substancialmente idênticas e realizarão essastarefas substancialmente da mesma maneira nos Estados Unidos, t'ndia e União Soviética. A questão mais interessante é como a unidade subjacente do prole-
chamado de uma quadrilha belicosa. que praticava não só espancamentos e
intimidações, mas também assassinatosnos grupos rivais de ativistas. O setor japonês da Quarta Internacional foi o único grupo esquerdista de proporções significativasüque ficouafora desseilprocesso.e o condenou. Mais uma vez. as razões dessaevolução permanecem obscuras. e a sua ex-
plicação é sem dúvida uma das tarefas mais importantes dos marxistas revolucionários no Jap.ãode hoje,
tariado mundial é afirmada atrairés desseprocessode revolução mundial. que ocorre simultaneamente em três setores. No caso há dois aspectos fundamentais. Primeiro. as tarefagey)ecl'f/cas em cada um dessestrês setores só podem ser resolvidasse uma precondição comum for satisfeita: em todos
eles. o proletariado deve tomar o poder e estabeleceruma ditaduraijdo proletariado autêntica, o que significa um Estado governadopelas normas da democracia socialista. Segundo, a tarefa mais básica enfrentada pela humanidade como um todo -- ou seja. a criação de uma sociedade socialis
Três Setores da Revolucão Mundial
ta. sem classes=--só pode ser realizada em escalamundial Há, portanto.
É particularmente adequado concluir essadiscussão da evolução da.políti-
uma integração progressiva das tarefas especificas e tarefas gerais. através do processo mesmo daiprópria revolução mundial. Mas isso não significa
ca mundial com algumasperguntassobre a Quarta Internacional.Vamos começar com um ponto analítico geral'A maioria das resoluçõesda.QI
absolutamentea formulação de um ultimatismo abstrato, literário, em relação ao processoreal da revolução mundial. Significa que deve haver uma
desde 1963 falam de "três setores da revolução mundial'', os países capita-
integração rea/ das tarefas no curso de um processo revolucionário. que assumea forma de uma tomada de poder em determinados países. Lembremos que a oposição de Trotski à estratégia do socialismo em um sõ pais
listas adiantados. os Estados burocratizados de trabalhadoresi;eos países capitalistas dependentes. Formulou-se a crítica de que essetipo de divisão
192
marxismo revolucionário
anual
nada tinha em comum com a idéia absurda de que os trabalhadores não
podem conquistar o poder num só pal's,mesmo um país relativamente
a política do internacionalismo conten)porâneo
193
Portugal, na Espanha-- antes de ter efeitos;limportantes na Etiópia, Eri.;: tréia, Zimbabwe e Namíbia. Os acontecimentos de maio de..1968;.na
atrasado. ou com a noção igualmente absurda de que a tomada do poder tinha de ocorrer simultaneamentenuma série de pai'ses.Pelo contrário. a
França tiveram ecos profundos naiTchecoslováquia,e seus efeitos.na
teoria da revoluçãopermanenteargumentaprecisamente que a tomada
da Europa capitalista. Não há nenhuma lei objetivo segundo a qiial uma
do poder deve ocorrer pai's por pai's, de acordo com as diferentes tarefas e condições em cada Estado, mas que o processo revolucionário só pode ser cancluldo
através da extensão e integração continuada das tarefas da cons-
trução socialista.Finalmente,a unidade do proletariado mundial também é afirmada no curso do processoda revoluçãomundial pela un/Jade de
lugoslávia não foram totalmente diferentes dos efeitos registrados no resto
revoluçãocolonial só pode difundir a outrosdpal$es.;semicoloniais, ou uma revolução poli'ticaüsó se pode estender a outros Estados burocratiza-
dos de trabalhadores. ouüumanrevoluçãoproletária só se pode estendera outros
pal'ses imperial iscas.
A unidade do proletariado mundial determina, portanto, a interação
seus /nreressesc/e c/asse.Nenhuma luta revolucionária travada por nenhum
internacionalde todos os processosrevolucionários.talvez de maneira
proletariado em nenhum dos três setores é contrária aos interesses da classe
dessincronizada e em graus variados. E por essa razão, mais do que qual-
operária internacional como um todo, nem deve ser subordinada.:retardada
quer outra, que a unidade subjacentede interessesdo proletariado mundial deve encontrar expressãoorganizacional num partido mundial unido, para
ou sufocada em nome de algum ''interesse superior". Esseponto tem particular
importânciaõnos
casos da revolução
política
antiburocrática
e nas
que tal unidade se manifeste de maneira coerente na vida real.
lutas das massastrabalhadoras nos paísescapitalistas dependentes.
Essasobservaçõesimplicam uma dialética dupla, que deve ser adota-
da pelos marxistasrevolucionários e da qual a QuartaInternacionalé a expressão programática, pol i'tica e organizacional.
De um lado,a lei do desenvolvimento desiguale combinado,que
A Quarta l nternacional Issosuscita um outro ponto. Apesar da sua insistênciana necessidade de
governa a realidade objetíva na época do imperialismo, também governa o processoprático da revoluçãomundial, que não avançacontínua e simul-
uma organização internacional unida, o movimento trotskista sofreu várias cisões desde sua formação. Na verdade. os trotskistas foram freqüentemen.
taneamenteaem todas as frentes. Os revolucionários devem empenhar-se em
te ridicularizados por outras tendências do movimento operário por essa
unificar
razão. Quais as mais importantes dessas cisões, e terão sido justificadas7
esse processo. mas nãoldevemRsubordinar
as suas tarefas. nem o
seu apoio aos processosrevolucionáriosem evolucão.a essaunifícacão preliminar: Concretamente,issosignificaque a desigualdadeda revolução mundial implica uma como/naçáb de tarefas. Em cada pal's, o proletariado e sua vanguarda revolucionária têm a tarefabde apoiar as revoluções que se
processamem outros pontos do mundo. mas ao mesmo tempo devem
E acredita que a reunificação das principais forças do trotskismo mundial em 1963 põe fim a essatendência de divisão da Quarta Internacional?
Eu comecaría dizendo que a explicação das divisões que ocorreramx.em nosso movimento em fins da década de 1940 e princl'pios da décadade
preparar-se$ativamente para fazer a revolução em seu próprio país. Aban-
1950 está essencíalmenteênoprolongado isolamento e na lentidão da
donar a segundatarefa em favor da primeira é trandormar-se num freio da
crescimento do movimento trotskista depois da SegundaGuerra Mundial.
revolução. e abandonar a primeira em nome da.segunda, mesmo com fór-
em contradição direta, como já dissemos, com as previsões e expectativas
mulas edificantes como "a única ajuda adequada à revolução em outros
de Trotski. Como observei antes, a razão mais fundamental desseatraso
lugares é fazer a revolução aqui''l é abandonar a bandeira do internaciona-
imprevisto na intensificação da consciência da classe operária internacional foram os efeitos acumulados das terríveis derrotas sofridas pela revolução
lismo proletário, é retirar-separa o comunismo nacional. O segundo aspecto dessadíalética objetiva relaciona-secom a extensão geográfica prática da revolução. Ela não é, de forma alguma, predeter-
minado por qualquer ''lógica imanente'', e especialmentenão o é pela existência dos três Éetoresda revolução. É, issosim, ditada por uma variedade
de fatores que evoluemcom o tempo:a proximidadegeográfica.os elos
mundial nas décadas de 1 920 e: 1930.
Várias correntes do movimento trotskista, porém. resolveram que as
dificuldades de crescimento experimentadaspela Quarta Internacional
poli'tacos. a interdependência económica. as tradições históricas, a simila-
inadequadas,atitude incorreta para com os partidos comunistas.ênfase
ridadeyde situações poli'tecas.o poder de-atração de determinados movimentos revolucionários etc. Por exemplo, a revolucão:tnascolónias portu'
excessivano proletariado dos países capitalistas adiantados. houve muitas
guesas na Africa teve profundas repercussões em Portugal -- e. através de
rl
eram conseqiiência não de fatores objetivos, mas de algum fator subjetivo em particular -- uma teoria errónea da natureza da União Soviética. táticas
l }1
variaçõessobreo tema. E num movimento fraco asminorias têm tendência evidentea resolveremse separar. e procurar aplicar a teoria ou tática que >
+
marxismo revolucionário atua]
194
na sua opinião, provocará um crescimento rápido. O balançode todas essas várias tentativas é agora definitivo.
Em nenhum caso os grupos que se divi-
diram conseguiramum crescimentosubstancialmentemaior do que a taxa de crescimento da Quarta Internacional -- pela razãomuito simplesde que
!95
a política do internacionalismo contemporâneo
devido ao que chamo de certa inclinação à stalinofobia. desconfiaramque essa interpretação levaria à: ':'capitulação" ao stalinísmo. Durante anos, depois dos acontecimentos, por exemplo, elos se apegaram à nocão absurda
de que a China ainda era um Estado burguês após 1949 e que Mao estava
a explicação real de nosso fracassoem crescerdurante esseperíodo está
pondo em prática uma política de governo de coalizão capitalista. Enquan-
não em nossa fraqueza subjetiva. mas nas condições obietivas.
to esses problemas não foram esclarecidos, foi difícil
A principal cisão sofrida pela Quarta Internacional -- na realidade, a única importante. já que as outras compreenderam apenasforças marginais
-- foi a ocorrida em 1952-53.iniciada na Françapela corrente que hoje é
evitar uma descon-
fiança crescente de ambos os lados. Foí essaa base política da divisão.
Métodos incorretos de organização. adotados por Pablo, também tiveram um certo papel, masnão decisivo, já que algumasdessasmedidas
chamada de Organização Comunista Internacionalista {Ocl) e mais tarde se
erróneas foram apoiadas pelas forças que mais tarde se separaram e encon-
estendeu às organizaçõestrotskistas nos Estados Unidos, Grã-Bretanha,
traram oposiçãopelos li'deresda corrente de Pablo. De qualquer modo, todas essasquestõesestão bem documentadasnas publicaçõesde nosso
Canadá.Argentina e vários outros pal'ses.Foi essacisão que levou a uma divisão das principais forças da Quarta Internacional durante dez anãs. Foi a cisão principal não só porque envolveu o maior número de forças, mas também porque interessou também a alguns dos quadros dirigentes históri-
cos da Internacional. em especial,mas não exclusivamente,nos Estados Unidos.
As origens políticas da cisão estão nas diferentes maneirasde inter-
pretar as modificaçõesna situaçãomundial apóso início da Guerra Fria.' e o significado dessasmodificações no futuro da revolução mundial e da
Quarta Internacional. Os problemasenfrentadoslinaquela épocaforam os mais difíceis da história da Internacional, envolvendo uma evoluçãototal-
mente imprevista na situação mundial. Citaremosapenasum exemplo: o maior país do mundo, a China, foi testemunha de uma revolução socialista vitoriosa liderada por um partido comunista, enquanto que durante anos os trotskistas se haviam habituado à i.déia de que os partidos stalinistas se
haviam colocado definitivamente ao lado da ordem burguesa, em escala mundial.
Pessoalmente,continuo convencido de que as resoluçõesaprovadas no nosso Terceiro CongressoMundial, em 1951, a que o camaradaMichel Pablo fez uma grande contribuição pessoal,foram fundamentàlmenté corretas e permitiram à Quarta Internacional enfrentar a tempestade.E certo que algumas de nossasanálisesforam incorretas, que houve erros. Mas a contribuição essencial -- e posítivia -- de Pablo,anãocompreendida durante
certo tempo. fol a de afirmar que, ao contrário dasaparências,não estava
ocorrendo uma expansãoe consolidaçãodo stalinismo,mas sim uma extensão da revolução que acabaria provocando uma crise tremenda do stalinísmo:" uma Crise dentro do movimento comunista internacional e um prt)cesso de revoluções políticas nosqpaíses nos quais a burocracia havia
movimento. e não há necessidadede examina-lasem detalhe. aqui. O mais importante é que já em 1956, três anos apenasapós a cisão,os dois lados tinham reaçõespraticamente idênticas à revolução húngara, apoiando a rebelião e as tentativas dos trabalhadores húngaros de criar conselhos dos
trabalhadores e condenando a intervencão militar soviética. Isso demons-
trou que qualquer base poli'rica para a divisão haxriadesaparecido e que uma rápida reunificação de forças era necessária. Infelizmente, foram necessários seis anãs para conseguir essa reunificação, e acredito que pagamos um preço muito alto por essa demora. De ambos os lados, sérias tendências centra'fugas e aberrações programáticas
comecarama surgir, sob o ímpeto de tentativas para justificar e racionali-
zar o que se havia tornado, evidentemente.uma separaçãoarbitrária. É esseum dos perigos mortais de divisões apressadas:as forças que desejam manter uma existência orgânica à parte quando o grau de diferenças políticas não o justifica. são levadasa inventar ''princi'pios" que explicam senis
fitos. A degeneraçãosubseqíientedo grupo Healy na Grã-Bretanhateve origem nesse período e provavelmente teria sido possa'vel impedi-la com
uma reunificação anterior de forças. Observaçõessemelhantes poderiam ser
feitas sobre a corrente liderada por Juan Pomadas, que apoiou a maioria da Quarta Internacional na separacão. A degeneração dessegrupo nos levou a perder centenas de membros muito úteis, particularmente na América Latina a
Na minha opinião, embora váriasforças da Quarta Internacional possam avaliar hoje a cisão de 1953 e suas consequências de maneira diferente. todos aprenderam as licões -- se isso era necessário -- das conseq(}ênclas
negativasdas divisões não baseadasem princi'pios. Hoje, a Quarta Internacional tem cerca de dez vezesmais membros do que à épocado congresso
monopolizado o poder. Na minha opinião, essaavaliaçãofundamental da situação em princípios da década de i1950 mostrou-se substancialmente
de reunificação, em 1963. Ainda não alcançámoso ponto previsto por
correra rre
clara. E o que é mais importante, apesarde várias lutas de facçõese tendênciasextremamcnte veementesem relação a importantes questõespolí-
Alguns camaradasno movimento, seja devido a uma supersensibilidade a qualquer forma de modificação da análise e dos prognósticos, ou
Trotski às vésperas da Segunda Guerra Mundial, mas a dinâmica positiva é
ticas, a Internacional não sofreu uma única divisão internacional desde
'' -'n n=l 196
marxismo revolucionário atua]
1965. Fomos capazesde debater as nossasdivergênciaslivremente. e até
mesmoem público, e preservara democraciainterna. inclusivedo direito que têm as tendências e facções de se organizar e lutar por suas idéias. sem
sofrer divisões. Se compararmos isso ao que aconteceu nas outras tendên.
das do movimento operário internacional, acho que podemos dizer. com segurança, que stalinistas. maoístas e centristas deviam ter mais cuidado ao acusarem de maneira tão estridente os trotskistas de serem congenitamente suscetíveís de divisões destrutivas. Concluirei ressaltando um aspecto da democracia interna. A conclu-
são organizacional mais Importante proporcionada pelos últimos 25 anos de história da:.Quartal nternacional é que. ao contrário do mito profundamente arraigado. defendido pelos stalinistas e social-democratas. a liberda-
de de formar tendências e facçõese a defesaciosa dos direitos que têm os membros do partido de expressar suas opiniões e lutar por elas dentro do partido
(aokponto
mesmo
de exagerar
:esses direitosl
constituem
uma
proteção adequadada unidade do movimento revolucionário. e não numa causa de cisões. Sob esseaspecto, cama em outros. a Quarta Internacional
está defendendo hoje o legadode Lênin, os princípios leninistas do centra-
a política do internacionalismo contemporâneo
197
os partidos organizadosem linhas stalinistas. O grau de controle exercido por uma burocracia corrupta. bem integrada na sociedadeburguesa,sobre os membros de classe operária, em grande parte passivos,é tão grande quanto o da burocracia stalinista. Na verdade. é até mesmo mais fácil re-
produzir essetipo de estrutura burocrática, já que constitui um paralelo da estrutura do próprio Estad.o burguês. No pior dos casos,portanto seria
possíveldizer que o movimento trabalhista ainda não criou uma forma de organização que ofereça uma garantia estrutural duradoura e efetiva contra a degeneração burocrática. Eu não rejeito tal afirmação totalmente. A
essênciadesseproblema. com freqilência ignorado pelos que atribuem importância excessiva aos aspectos puramente formais da questão, é que em ma análise a única garantia real contra a burocracia é uma classeopera' ria politicamente
atava. ou pelo menos uma vanguarda da classe operária.
Isso não significa que regras e proteções organizacionais, o aspecto formal da questão. sejam destitui'das de importância. Há uma grande diferença. quando a classe operária politicamente atava,ou a vanguarda dos trabalhadores, encontra um partido como o Bolchevique. digamos, de março
lismo democrático, inclusive o direito de formar tendênciase faccõesna
e abril de 1917.;no qual era possa'vel modificar a linha partidária, de um
partido.
curso perigosamenteoportunista para um curso revolucionário; ou quando encontra um partido como a social-democraciaalemã de 1918.'E por isso que estou convencido da necessidadede centralismo democrático. Talvez
Cri'ricos desses princípios leninistas de organização fazem, em geral, duas
observações.Primeiro, que as evidênciashistóricas tendem a mostrar que as formas leninistas de organizaçãoevidenciam uma tendência inerente a se degenerar numa direção*burocrática,'lsufocando a capacidade de os membros do partido participarem plenamente na formulação de sua orientação. Segundo. que o conceito mesmo de uma organização constituída de revolucionários profissionais exclui efetivamente os trabalhadores comuns.
que nao têm tempo para conduzir debates internos e discussõescom a
pudéssemos parafrasearWinston Churchill. e dizer que setrata de um mau sistemade organização, mas o menos mau já criada pela classeoperária. até agora, em sua história, bastante rica de formas de organização.
Em que consiste essesistema?A essênciado centralismo democráti-
co não é,,realmenteorganizacional,maspolítica. ou melhor, sócio-poli'tica. A experiência imediata dos trabalhadores é sempre parcial e unilateral. Os verdadeiros trabalhadores,' em oposição':aos idealizados. atuam numa
mesma intensidade dos líderes partidários que a isso dedicam tempo inte-
fábrica. num ramo de indústria. ou numa cidade. As lições que aprendem
gral, ou de outros que não têm empregos ou responsabilidadesde família.
de suas experiências imediatas são'' portanto, sempre parciais. A atividade espontânea da classe operária. embora possa ser muito variada. é sempre fragmentada e. portanto. tende sempre a levar a uma consciência fragmen-
Nesse sentido, os direitos de formar' tendências podem transformar-se
numa mera formalidade, já que os membros do partido não têm, com freqtlência, condições'materiais de dar a essaforma um conteúdo democráti
co. Como a Quarta Internacional resolveuessestipos de problemas?
tada. A função essencial do centralismo democrático é superar essafragmentação pela centralização da experiência da classe operária como um todo. aprendendo com isso as lições adequadas, e organizando uma estra-
Vou responder seguindo duas'linhas. Primeiro. quaisquer que possamser
tégia que possaunificar a frente proletária, em sua batalha pelo poder
os problemas ligados ao centralismo democrático leninista. as formas altera nativas de organização parecem ainda mais inclinadas a degenerar na dire-
estatal.
ção da burocracia. Veja-se,por exemplo,.a forma mais comum de organi-
cidade do militante bolchevique individual, ou pelo meras das célulase
zação social-democrática:
o partido distrital,
com um grande número de
eleitores no .''papel". uma forma de..organizaçãoque tem sido usadapela maioria .dos3partidos comunistas dej:massa. atualmenten Na prática, esses
partidos mostraram-setão inclinados à manipulação burocrática quanto
Nessesentido, a essênciado centralismo democrático está na capa'
unidadesindividuaisdq,partido, de adotar iniciativasÜindependentes, de desfrutar da maior autonomia. Sem isso, nada há a centralizar. Se as ordens de marcha são simplesmente dadas pela liderança do partido em reação a
relatórios de campo recebidos depois da emissãode outras ordens, então
198
marxismo revoluciol)ária anual
a política do internacionalismo contemporâneo
199
não há necessidade de centralismodemocrático,pois estamostratando merameRte com uma organização militar. Foi essa, incidentalmente, a qualidade esplêndida, quase mágica. do
de qualquer coisa vista nos partidos social-democráticos. Até mesmo o Par.
Partido Bolchevique em seusmaiores períodos de iniciativa e êxito revo-
de Bordiga e. Gramsci, no inl'cio do domínio fascista. manteve a liberdade
lucionários. Foi a capacidadeque tinham os bolcheviquesde integrar e
de debate e de formação
centralizar as numerosasiniciativas independentestomadas pelos milhares
grandeamplitude de iniciativa. O importante é reconhecer o problema, que
de trabalhadoresavançadosque os distinguiu dos outros partidos. Com Stálin, é claro, todo o sistemafoi transformadoe issocriou grande resistência ao ''centralismo democrático". A verdadeiraobjeção,porém, é ao centralismo burocrático. que é o sistema instalado pelos partidos stalinistas sobre as ruínas do centralismo democrático.
tido Comunista Italiano. quando se dividiu profundamente entre as faccões de tendência, permitindo
aos seus membros
é espinhoso. mas não insolúvel.
Temos, finalmente, a questão mencionada na pergunta: a contradi-
ção entre a educação política séria e a participação dos trabalhadores comuns na vida avivada organizaçãorevolucionária, de um lado, e aspressões materiais a que o proletariado está sujeito, de outro lado. O que se
Ora, é fora de dúvida que essesprincípios gerais não respondem a todas as questões associadasà organizaçãopartidária. como estamosverificando cada vez mais. à medida que aumenta o número de membros de
cionãno entre o trabalhador menospolitizado e os intelectuais.estudantes
nossa organização. Temos agora um número significativo de trabalhadores
inevitavelmentefatal. Enfrentamos tal problema nasorganizaçõesda Quar-
em todos os países e, portanto.
enfrentamos
problemas novos e especi'focos
dos quais não tl'nhamos perfeita consciência quando éramos uma pequena vanguarda. Ainda não encontramos solucões para todos esses problemas.
muitos dos quais só podem ser resolvidos no curso de uma longa experiência. Mas vou mencionar alguns exemplos diretamente relacionados cam a segunda parte da pergunta.
A superioridade do bolchevismo sobre o menchevismo.do ponto de
deve evitar a todo custo é uma separação social dentro do partido revolue revolucionários
"profissionais''
superpolitizados,
pois
tal
distância
é
ta:-Internacional,cujos membrossão,em geral, três ou quatro vezesmais ativos do que os membros dos partidos de massa reformistas. O trabalhador
industrial, que passaoito horas ou mais numa fábrica, todos os dias. e tem responsabilidadesde família. não pode manter um ritmo de participa ção que inclui várias horas de reuniões, todas as noites. Por outro lado
as tarefas do partido revolucionária tendem semprea se expandir mais depressa do que as forças ativas desse partido, e muitos membros podem e
vista da democracia partidária, está precisamente no fato de que o bolchevismo exige um nível superior de dedicação e atividade, pois isso age como
desejam avidamente.manter uma atividade que outros poderiam conside-
uma proteção contra a manipulação burocrática. Quanto mais homogéneo
grupos especiais-- círculos de debate em torno de determinadasquestões teóricas, grupos de ação para questões especificas etc. -- que funcionem
em termos de nível de atividadede seusmembros.'maisdia'cil é manipular burocraticamente um grupo. Esseprincípio é fácil de ser aplicado a um pe-
rar como febril. Uma maneira de solucionar esse' problema é estabelecer
paralelamente.Essadivisão funcional do trabalho foi aplicada,por exem-
queno grupo; sua aplicaçãotorna-semais difícil num pequenopartido, e num partido de massaela é impossível.Portanto. é necessária uma escolha.
plo, pelo Partido Comunista Alemão durante seus melhores dias. em
Ou acreditamos que a revolução socialista pode ser liderada por um partido
podiam escolher entre cinco ou seis reuniões, OI outras atividades partidá-
com uns poucos milhares de membros, que dirigem com inteligência mi-
lhõesde trabalhadores. ou reconhecemos que o futuro partido revolucionário será um partido de massa,no verdadeiro sentido da palavra. com cen tenaz de milhares de membros e muitos simpatizantes. A verdadeira dificul-
dade é, portanto, a de construir UM partido cada vez maior da classeoperária, sem diluir o nl'vel médio de atividade e de educação politica a ponto de suscitar o perigo da manipulação burocrática.
Essa dificuldade não é superadafacilmente. mas também não é impossi'vel soluciona-la. Além do exemplo dos bolcheviques, há outros par-
tidos comunistas de massaque tiveram essavibrante vida interna. combinando o respeito às regrasformais do centralismo democrático e as inicia-
tivas múltiplas e independentesde seusmembros. O Partido Comunista Alemão de princl'pios da décadade 1920. par exemplo, tinha centenas de milhares de membros e realizavadebates.livres e públicos, que iam além
cidadescomo Hamburgo,Lelpzig e Berlim, onde os militantes do partido rias. a cada noite, ,mas eram obrigados a codbarecer apenasàs suasreuniões de células. É nessesentido que devemos buscar soluções para tal problema, reconhecendoao mesmotempo que até certo ponto ele deve ser atacado empiricamente, que não se podem estabelecer regras rígidas. A unlca regra geral que deve ser defendida a todo custo é a de que as normas
de centralismo democrático devem ser observadas.o que significa que os
mijit'"tes do pa'tidode«m ter o direito de ap"s'ntal li«,ement.;s ;.;s opiniões, e de organizar-separa lutar por elas dentro do partido. Isso signi-
fica que o direito de formar tendênciase facçõesirão deve scr limitado
Como observou, a Quarta Internac.ional cresceude maneira bastantesignificativa desde a reu.nificaçâo.em 1963, sendo anualmente maior do que
nunca.em sua história. Não obstante. depois de mais de 40 anosdeesfor: ços, ainda não se transformou na organizacãointernacional revolucionária
marxismo revolucionário atual
200
de massaimaginada pelo seu criador. e em nenhum país fez com êxito a
a política do internacionalismo
20]
contemporâneo
do que começou na segunda metade dos anos 60. Essaé a única interpre-
transição deum pequenogrupo de vanguarda que mantém a continuidade do
tação propriamente marxista da história da Quarta Internacional. como
programa revolucionários para um autêntico partido proletário de massa.
provam duas evidências convincentes
Ao -mesmo tempo; a crise do stalinísmo possibilitouuque tendências hostis
Nâo foram poucos os que.' no período anterior. atribuíram arles-
tanto à social-democraciacomo ao movimento comunista oficial conquis-
tagnaçãorelativa da Quarta Internacional ao que chamavam de ''defeitos
tassem a liderança da luta de massa e, pelo menos num caso, o dellCuba. liderassem a classe operária'na tomada do poder estatal. Que conclusões podemos tirar dessebalanço mistos Quais as perspectivas de que a Quarta
congênitos" do nosso movimento -- sua supostacomposicâopequeno-
Internacional venha finalmente a realizar os sonhos de seusfundadores?
de corrigir tais defeitos e criar um movimentorevolucionáriopróprio. Mas
Devemos distinguir duas fases na história da Quarta Internacional: a pri-
obteve resultados qualitativamente superiores aos da Quarta l nterna(iional.
meira, que vai desde $ua formação até fins da década de 1960; e a segunda,
entre ]948 e 1968.
burguesa, sua falta de ''raízes nacionais". sua ''falsa posição na questão russa", sua suposta revisão das idéias de Trotski -- e se impuseram a tarefa
nenhuma organização à esquerda do staíinismo e da social.democracia
a partir de então.: e mais particularmente de 1968::O crescimento registrado nessa segunda fase não deve ser subestimado:, O número de membros
cresceuem muitas vezes,mas nossainfluência política. a circulaçãode nossaspublicações, nosso peso nos sindicatos e mesmo nossainfluência eleitoral cresceram aindai;mais rapidamente do que o número de membros; A Qi teml=hoje organizações em mais de 60 países. quando em firls da dé-
cadaÍjde 1960 esse número era de apenas30 ou 40. Embora seja inexato
afirmar que os acontecimentosocorridos desde1968 correspondemàs previsões feitas por Trotski às vésperasda Segunda Guerra Mundial, e em-
bora ainda não tenhamosconseguidoum;iverdadeíro êxito em nenhum país. é hoje possível perceber as linhas mestrasdo processoque poderia resultar na criação de autênticos partidos revolucionários de massaem vários pa lhes.
Os próprios fatores que impediram o crescimentoda Quarta Interna-
cional no final da ll Guerra Mundial permitiram a rápidaexpansãoapós 1968. Os efeitos acumulados das derrotas da revoluçã08mundial nos anos 20 e 30 foram gradualmentegdesgastados pelos efeitos acumulados da ascensão da revolução mundial (mesmo limitada geográfica e socialmente}
Contesto a proposição de que outrasf;organizaçõesrevolucionárias que começaram como pequenos grupos, conseguiram ter êxito, quando
nosso movimento fracassou. O exemplo do Movimento 26 de Julho em Cuba não é cabível, no caso. Fidel era o li'der de uma organização de massa
em)Cuba. antes de tornar-se um revolucionário. Foi candidato às eleicões legislativas de 1952 e provavelmente teria sido eleito, se não tivesse ocor-
rido o golpe de Estado de Batísta. Era líder de uma das maioresorganiza-
ções nacionalistasdo'fpaís, o Partido Autêntico. Assim, o que aconteceu em Cuba não foi a transformação de um pequeno grupo revolucionário num partido de massa,mas sim o contrário: a transformação de uma corrente de massa,pequeno-burguesa, nacionalista e populista, numa organiza-
ção revolucionária através de uma evolução pragmática, em condições particulares.gFaía transformação de um movimento que dispunha de influência dê massa.mas que nâo era proletário em termos de programa ou composição,
num
movimento
semiproletário
com
influência
de massa, e
em seguidanum partido proletário de massa. Mas a revolução cubana não viu, em apenas uns poucos anos, a trans-
durantes oa anos 50 e 60. Oshefeítospositivos das revoluçõesiugoslava,
formação de um grupo revolucionário isolado num partido de massagraças
chinesa. cubana e vietnamita foram complicados pelas crises simultâneas
à descoberta de uma estratégia ou tática milagrosa. Há cerca de 40 anos alguns camaradas se deixaram seduzir pela busca dessesmilagres. Acrescentemos que houve entre 1936 e ]938 várias organizações centristas, muito
do stalinismo e do capitalismo que irromperam após maio de 1968* Uma nova geração de revolucionários surgiu desde então, não mais marcada por 20 anos de retrocessos. Mas confiante ;;nordestino da luta revolucionária
e preparada para se comprometer com o processode construir o partido revolucionário
exatamente por causa dessa confíanca:
Não se trata de um.processo linear. nem no tempo nem no espaço,
mas é evidente em muitos paísese em todos os continentes.Acima de tudo, está ligado ao próprio caráter da época, que provavelmentenão
maiores do que as secõesda Oposição EsquerdistaInternacional, precur-
sora da Quarta Internacional até 20 vezesmaiores:partidos com raízes profundas no movimento proletário de seus países Havia o POUMna Espanha,a corrente liderada por Brandler na 'Alemanha. o Partido Traba-
lhista Independente na Grã-Bretanha, o grupo~deBordígana Itália, o RASPnos PaísesBaixos, o psop na França' Essasorganizaçõesnasceram
levará a derrotas que esmaguemas esperançasda revolução durante gera-
em fasesparticularesdo movimento em seusrespectivospaísese tiveram
ções, mas a impulsos gerais de luta e recuperação relativamente rápida com reacão aos retrocessos e derrotas. Nessesentido;:é correto falar de um novo período mais favorável à construção de partidos revolucionários. um perío-
um papel considerável na luta de classesnacional, muito maisFimpartante
do que as pequenasseções da Quarta Internacional.Mashoje'a maioria delas desapareceu.
202
marxismo revolucionário at\tal
a po]éticado internacionalismo contemporâneo
203
Essefato simples mostra cabenosso movimento representaum componente universaldo movimento operário. ao passoque essasvárias organi-
diais. na erâ do imperialismo. SÓ os cegos não vêem que hoje asempresas
zações constituíam apenasfenómenos nacionalmente limitados. correspondentes a determinados momentos na história'da luta de classescontempo-
teca fundamental do desenvolvimento das forças produtivas e da organi-
multinacionais nâo são uma aberração, e sim a expressão de uma carácter ís. zação da economia capitalista.
rânea.Portanto,devemoster cuidadoao atribuir a estagnação de nosso
Os argumentos apresentados contra essaconcepção. no passado. fo-
movimento, até 1968. a quaisquer peculiaridades do trotskismo. As vicissi-
tudes dos esforços para construir um partido revolucionário internacional autêntico devem-se. em última análise, à evolução das relações objetivas de forças de classe em escala mundial. Há duas questões adicionais, relacionadas com esta. A primeira é
+
militantes sindicais em vários pai'seseuropeus vêm defendendo a semanade
uma crítica, feita com freqClênciapor organizaçõesde extrema esquerda. segundoa qual ? obsessãotrotskista com o que chamamosde continuidade
35 horas como um meio de neutralizar o desemprego. Os empregadores e burocratas do trabalho responderam que essa reivindicação. se atendida
programática e nossoscríticos chamam de dogmatismo impediu a unificação da extrema esquerda em momentos nos qua.is teria sido possível chegar à
poderia na realidade aumentar o desemprego. Se isso é ou nâo verdade -- e acreditamos que não seja -- a resposta evidente é clara: lutar pela reivindicação em escala internacional. primeiramente em escalaeuropéia, já que é
unidade. Os exemplos mais citados em relação a isso são ltália, França. Grã-Bretanha, Portugal e Aiemanha em diversas épocas entre 1970 e 1976.
Respondemossempre que essaunificação foi impedida não pela nossa
ram não só falsos como derrotístas, em relação.ao esforço de criar ascha madas organizações nacionais. A luta de classesdeve ser, hoje. travada internacionalmente. de forma coordenada, não só por motivos morais como também por motivos pragmáticos. Vejamos um exemplo prático. Os
o único meio eficiente para reduzir o desemprego imediatamente e de b
adesãofetichista ao rótulo da Quarta Internacional. maspor discordâncias políticas precisas e concretas em relação a importantes questões estratégicas
do processode luta de classes que sedesenrolana Europa.Em nossaopinião. embora novos problemassurjam sempre.e emboraexistam sempre
forma radical -- e o desemprego é o fantasma da classeoperária em toda a Europa capitalista de hoje Compreender essagrande verdade do corriunismo contemporâneo --
de que vivemos numa era de revolução e contra-revoluçãomund/a& -- é compreender também que uma organização proletária mundial é necessária
modificações na realidadeobjetiva que exigem novascontribuições à teoria
para que possamoscentralizar e integrar todos os aspectosdessarealidade
e análise marxista, as velhas aquisições dessateoria -- que a história mostrou serem corretas -- não devem ser liquidadas. Pelo contrário. a coerência da teoria deve ser preservada. Seria um erro dizer, por exemplo, que a teoria da frente única, de Lênin e Trotski. era inaplicável a Portugal em 1975,
cional Comunistaé compreenderque essaorganizaçãomundial deve ser
ou que as concepções leninista e trotskista das demandas transitórias e do
ditadura do proletariado com a ditadura da burocracia. jamais aceitaremos
Compreender os efeitos desastrosos da degeneração burocrática da l nterna-
governada pelas normas do centralismo democrático autêntico. Assim como jamais aceitaremosa identificação do leninismo com o stalinlsmo. da
s/otan do governoque coroariamum programade transiçãonão mais
a identificação do centralismo democrático internacional com a concepção
poderiam ser aplicados na França ou Itália em 1976 e 1977. O fracassodas
burocráticade um ''centro orientador''. com o direito de afastaras lideran-
organizações de centro em entenderem e aplicarem essascarretas posições programáticas, usualmente porque estavam ligadas ao "movimento'', levou a enganos catastróficos, à sua oscilacâo entre sectarismo e adaptações opor-
tunistas às organizaçõesde massada classeoperária. O resultado final foi uma perda maciça tanto de influência quanto de membrosapós um perío-
çasde organizaçõesrevolucionárias nacionais e de impor táticas nacionais que não são aceitas pela maioria dos militantes de um partido nacional. A construção de uma internacional revolucionária democraticamentecentraP
lizada, que unifique e dirija a luta do proletariado mundial contra seus Inimigoscomuns e em favor de seus interessescomuns -- é essaa nossa
do de crescimento rápido. A segunda observação realciona-se com a organização. Não é por acaso que nosso movimento é a única organização que realmente funciona
finalidade.
em escalamundial e que no$ identificamoscom a idéla de criar organiza-
O Socialismo que Desejamos
ções nacionais e uma organização mundial, ao mesmo tempo. Isso é apenas
a dimensão organizacional da teoria da revolução permanente e de nossa oposição à estratégia do socialismo num único país. A noção de que parti-
dos nacionaisfortes e revolucionáriosdevem ser criadosprimeiro e mais tarde federados internacionalmente baseia-senuma profunda falta de entendimento do caráter orgânico da economia. política e luta de classe mun-
Vamos concluir com uma questão bastantegeral. A revolução russa de! 1917 ab.riuuma era de grandesesperançasnão só paraa classeoperária nternaciona.l.mastambém para milhões de oprimidos e exploradosem todo o mundo. Maisde 60 anos depois, devemos reconhecer que em grande parte essasesperancasforam frustladõs. Você rTICsmoobservou em muitas
marxismo revolucionário atua]
204
205
a política do internacionalismo contemporâneo
Além disso. devemos ter cuidado em não cair numa versão ''tro:tskis-
ocasiões que a falta de um . 'modelo'' digno de crédito,contraponto à triste realidade da degeneração burocrática da União Soviética, é um grande obs:
ta'' do socialismo num só país, Devemosestabeleceruma distincão clara
do socialismo, e você mesmo .demonstrou também
entre uma sociedade governada democraticamente. em transição do capitalismo para o socialismo, e uma autêntica sociedade socialista, uma socie-
grande otimismo quanto ao futuro dessemodelo. A questãoé. llortanto.
dade semclasses.que só pode ser estabelecidaem ampla escalainternacio-
táculo à revolui;ão socialista: hoje. Não obstante, a Quarta Internacional tem um ''modelo''
nal. depois da derrubada do capitalismo em seus bastiões principais.
iiupla:' Qual a base'desseotimismo? Qual seria na prática a visão que a
Mesmo tendo em mente t: idos esse problemas, devemos apresentar
Quarta Internacional tem do socialismo?
às massasde hoje um "modelo'' ilo tipo de sociedadee Estado que surgi-
+
rão da derrubadado capitalismo,e esse.modelotem de constituir!ima
Em última análise. esseotímismo baseia-sena realidade do desenvolvimento revolucionário como um processo objetivo inevitável resultante da dupla
alternativa âtraent©tanto em relação ao capitalismo como aos Estados
crise da capitalismo mundial e da burocracia trabalhista em todas as suas
buroératizadosydosltrabalhadores.#:que
manifestações. Em 1967 The Econom/sf apresentou a hipótese de que o
saciedade realmente socialista, que nâo tem classese é constituída de pro-
nada têm em comum com uma
iniciado com a Revolução Francesa (essessenhores
dutores livremente associados.Essemodelo, que devemosintegrar no lega-
ignoraram as revoluções inglesa e americana, para não falarmos de outras) havia chegado ao fim com o fracasso da ''revolução cultural'' de Mao. Na
do teórico do marxismorevolucionáriocam as experiênciasde todasas revolucõese lutas proletárias dos;últimos 60 anos [tanto em seusêxitos
'ciclo revolucionário''
éooca escrevi um artigo respondendo que essaperspectiva era errónea. Tivemos. desde então. os acontecimentos de maio de 1968 na Franca. o início da revolução política na Tchecoslováquia, a vitória da revolução
b
como em seus fracassos). e com as conquistas da ciência e tecnologia con-
temporâneas,pode ter e terá sobre a classeoperária internacional o efeito que teve. imediatamenteaapós
a Primeira Guerra Mundialya
firme con-
vietnamita, o processo revolucionário português, o ini'cio da revolução ira-
vicção de que o capitalismo estavacondenado e que o socialismo era imi-
niana -- para mencionar apenas acontecimentos mais importantes. Não pode haver dúvidas de que os próximos anos verão muitas outras revoluções, algumas delas mais radicais, em termas de participação de massae medidas revolucionárias. do que qualquer outra já regístrada. É por Isso que estou convencido de que muitos dos problemasque parecemtão inso-
nente. Nofalvorecer
da::era
das revoluções
proletárias.
o sacialismob.era
considerado pela massa de trabalhadores como um gigantesca progresso b
em suas condições de vida. Ele deve voltar a ter essemesmo significado. Tal modelo deve ser construído essencialmente em torno das idéias que se seguem.
cional. em sí mesmo ligado à ascensãoda revolução mundial e da consciência de classedo proletariado. também contribuirá para a soluçãode muitos
A revolução socialista significa a derrubada do capitalismo e o estabelecimento da ditadura do proletariado, o que exige a destruição da máquina estatal burguesae o desarmamentoe expropriação da classecapita-
desses problemas.
lista?Indo significa uma supressão das liberdades democráticas, um sistema
lúveis hoje serão resolvidos pela história. O crescimento de Quarta Interna-
unipartidário, ou o domínio de déspotasburocráticos. O poder político
É inegável, porém, que a falta de uma alternativa socialista bem dife
estará nas mãos de um congresso de conselhos populares e de trabalhadores eleitos pelo sufrágio universal. com um sistema multipartidário a que lodos
rente do repugnante estado de coisas na:*Rússia, Europa Oriental e China,
é um obstáculo importante ao rompimento do proletariado ocidental com o reformismo. É um obstáculo ainda maior à possibilidade de que a classe
operária soviética acabecom sua apatia política. É par isso que a Quarta Internacional dedicou tanto tempo e esforço à definição de nossasmetas socialistas.;nos termos mais claros e precisos.
Essatarefa encontra dificuldades óbvias, pois a história nunca se
}
os partidos terão acesso.desdeque respeitem na prática a legalidadesocialista. o que significa que poderão existir se não se empenharemem luta armada contra o poder proletário. Todas as correntes e partidos terão livre
acessoaos meios de comunicacão de massa,em proporção ao número de seusmembros. e a sociedade deve desfrutar de uma vida ideológica e cul-
materializa de acordo com um plano preconcebido. Muitas dascaracterísticas da democracia socialista dependerão de fatores como as condições
tural vigorou e pluralista.Os marxistasrevolucionárioslutarão pelahege-
particulares de seu nascimento Inas quais o elemento mais importante são os recursos materiais disponíveis, em outras palavras. a situação económica concreta). sua rápida extensão geográfiça, a relação mundial de forcas, as
políticos -- inclusive mobilizações de massa-- mas não através de ações
modificações que provocará nos Estados burocratizados de trabalhadores, o realinhamento que provocará dentro do movimento trabalhista interna-
da propriedade privada como do direito de propriedade privada nos meios
cional. etc.
transição ao socialismo. Uma economia planificada deve lutar para eliminar
monia política dentro dos conselhosde trabalhadoresatravésde meios administrativas ou repressivas.
A nacionalização dos meios de produção, ou seja, a supressãotanta
de produção, é uma condição necessária.mas não suficiente, para uma
minha opinião, a respostaa essaperguntaé certamenteafirmativa. Creio.
não só o desemprego e as crises periódicas de superprodução -- para isso
é suficiente a supressãoda propriedade privada dos meios de produção -mas também a desigualdadesocial, a natureza opressivado trabalho mecâ-
na verdade.que sepode demonstrar facilmente que. se o tremendo desperdício inerente ao presente sistemade distribuição de recursosfosse elimi-
+
nado. se as enormes reservas do mecanismo produtivo já existente fossem racionalmente exploradas, e se a exploração de criatividade e inventividade da classe operária, que se seguiria a uma revolução socialista, fosse estimu-
nico. a alienaçãodos produtoresem relaçãoao seutrabalho,e o desperdício de recursose riquezas-- que impõem tais malescomo sacrifícios desnecessáriosnos padrões de vida. pobreza, frustrações das necessidadesbásicas,
lada. em lugar de ser limitada
desigualdade de acesso à informação e à cultura, e assim por diante.
Segue-seque, para abrir realmente o caminho ao socialismo. a supressão da propriedade privada deve ser combinada com a administração generalizada da economia pelos próprios produtores, em todos os níveis em que
)
dessas
realistas.seria suficiente para liberar uma quantidade de fundos, energiae recursos materiais que teria um papel decisivo na industrialização dos paí-
sesdependentes, sem provocar a menor redução nos padrões de vida dos
de ramo de atividadeslocal ou industrial. outras nacionalmente.outras
trabalhadores dos países adiantados. Segundo. constitui
ainda internacionalmente. Essa administração generalizada pelos trabalha-
ríveis condenações do sistema capitalista
dores está intimamente ligada à democraciasocialistano sentido de que as
uma das mais ter-
o fato de que massas de pessoas
no mundo de hoje passam fomeporque há alimentos demais. Esse aspecto foi por mim localizado em detalhe em The Second S/t/mp. e nãa voltarei a {
ele. exceto para dizer que ao contrário do que afirma a propagandaimpe
interessados,depois de debates democráticos abertos nos quais as várias
realistae uma crença generalizada.a razão mais premente da fome rlo
alternativas são livremente apresentadas. A longo prazo, essesistema encer-
mundo de hoje é a existência de uma cr/se de superpraducâo de alimentos,
rará muito menos desperdício do que o capitali;mo ou o$ Estados burecratizados dos trabalhadores, porque os responsáveis pelas decisões -- que podem cometer erros, e os cometerâo -- sâo também os que pagarão por esses erros, em seus padrões de vida e condições de trabalho, o que nâo
tipicamente capitalista. Essesdois exemplos simples demonstram que uma solução racional do problemade igualar os padrões de vida por todo o mundo não implica a redução das condições.de vida das classesexploradas nos países imperialistas. mas a melhoria simultânea das condições de vida das classesexplora-
ocorre, em geral, em relaçãoaos capitalistasocidentais e aos burocratas soviéticos.
das em todo o mundo. O obstáculo a isso não é a escassezmaterial, mas o
Como disseantes, uma reduçãoradicalda semanade trabalho --
sistemade produção para lucro privado. Ao examinar os padrõesde vida,
provavelmente à metade da jornada de trabalho -- é uma precondição material para a verdadeira administração pelos trabalhadores. Se estes traba-
porém, devemos distinguir as necessidades reais {como a eliminação da fome. a satisfação de todas as necessidaes básicas. a educação e a assis-
lharem oito horas por dia, com duas horas adicionais para o transporte.
tência médica gratuitas e generalizadas;'o acesso macico a todas as formas
simplesmente não terão tempo suficiente para tratar de seus problemas, seja na fábrica, no escritório ou na comunidade. Da mesma forma, uma extensão radical do processo de educacão, reorganização de modo a estender-
se por toda a vida do produtor médio, e o ecessogeneralizadoà informa-
e sufoi;ada. a realização simultânea
duas tarefas seria perfeitamente possível. Dois exemplos, quanto a isso, são especialmente evidentes. A erradicação dos espantosos gastos de recursos sociais em armamentos. em todo a mundo e em especial nos países impe:
isso seja tecnologicamente possível: certas decisões podem ser tomadas no próprio local do trabalho, outras em nível de fábrica, outras em nível
decisões-chave sobre a divisão do produto nacional, as prioridades na utilização de recursos escassas,as opções sociais. etc., devem ser tomadas pelos
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a política do internacionalislllo contemporâneo
marxismo revolucionário atua]
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de cultura -- muitas das quais não estão no alcanceda maioria dos trabalhadores nos pal'ses imperialistas) das conseqiiências dos padrões de con?
sumo induzidos pela burguesia, que são não apenasem grande parte destituídos de sentido. do ponto de vista da realizaçãodas possibilidadeshu
ção centralizada, também são condições preliminares para a realização de
manas individuais. como Também rigorosamente prejudiciais, do ponto de
um dos objetivos básicos da revolução social: a eliminação da divisão social
vista da saúdefi'siga e moral. Nosso "modelo'' de socialismo implica uma
do trabalho entre produtores e administradores. Ao mesmo tempo, não é possível nenhum progresso sério no sentido do socialismo sem uma redução radical das diferenças em padrões de vida médios entre os países industrializados e os países dependentes. Portanto,
a ajuda maciça das primeiros aos outros é indispensávelao progressona direção do socialismo. A questão, no caso. é se um aumento radical no
tranformacão radical da tecnologia capitalista e também dos hábitos de consumo. Nossaresponsabilidadepara com asgeraçõesfuturas de não desperdiçar os recursos naturais que sãa raros também leva a essaconclusão. Embora sejamos menos pessimistas sobre a capacidade da ciência humana.
a longo prazo. de resolver todos os principais problemasda escassez de
crescimento económico nos países dependentesé compatível com uma
energia e de matérias-primas do que alguns técnicos. reconhecemos que essaatitude responsável é imperativa. O desaparecimento das relações de
redução radical da semanade trabalho nos paísesdesenvolvidos e uma consolidação e extensão do programa material da classe operária ocidental. Na
mercado e dinheiro em todas as áreasnas quais as necessidades básicas
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marxismo revolucionário atua]
podem ser satisfeitas e.um.movimento
a poli'tida do interllacíonalismo contemporâeno
consciente contra a desigualdade
rável. Uma luta vitoridêa pelo socialismo seria uma contribuição frutífera para o progressohumano, e por isso a luta em prol de tais objetivos, por
social são, portanto. parte integrante de qualquer luta real pelo socialismo lo que não significa que todos os fenómenos do mercado possamser eliminados artificialmente}. As:desigualdades sociais básicas como as existentes entre homens
modestos que sejam. é a realização crucial de nossa era
e mulheres, nacionalidades e raçasopressoras e oprimidas, serão legalmente eliminadas pela revolução socialista. Mas sua realidade e seusefeitos prolongar-se-ão muito além da tomada do poder estatal pelo proletariado. par-
cialmente em consequênciada continuação dos preconceitos na consciên: cia de muitos trabalhadores. Aspectos-chavedo período de transição,:por-
y
tanto, serãoas lutas de massaorganizadapara a libertaçãodas mulheres e nacionalidadese raçasoprimidas,a luta contra a repressãodas crianças. e assim por diante. Tudo isso significa. entre outras coisas, que é impclssível construir o socialismo sem uma gigantesca revolução cultural, da qual
a dissoluçãoda família patriarcal e da distincão entre o trabalho particular
e o trabalho geral são aspectos-chave. embora não sejamÍosúnicos. As técnicas de educacão e saúde sofrerão modificações igualmente radicais, o mesmo acontecendo com as relações urbano-rurais. O restabelecimento
de um meio ambiente natural saudávelexigirá até mesmotransformação conscientemente preparadasda geografia da Terra. C)urro aspecto desse processoserá uma redução radical no nível de violência, pois um dos primeiros ates de uma federação socialista mundial seria suster e proibir a produção de armas em todo,o mundo. e começar imediatamentea reduzir os estoques de armas existentes a um ni'vel mínimo, controlado pelo povo.
Todos essespontos podem ser resumidosde formalsucinta. Nosso modelo'',.de socialismo,ao contrário do que muitos adversáriosdo marxismo pretendem, não*prometeo param'se na terra. nem o milénio. Nãa temos ilusões sobre uma sociedadesemconflitos-ou um ''fim da história Sabemosmuito bem que centenasde problemas continuarão sem solução
durante séculos":- e muitos outros. novos, surg,irão.;Somos.. na verdade. pessoasmuito modestas, com objetiüos também modestos. Tudo o que queremos
é $resolver
essa meia
dúzia
aproximadamente
de
problemas
resultantes da incongruência entrega capacidade'.'técnicae científica da espécie humana, de um lado, e o sistema de produção para o lucro privado. de outro. Não,há:mistério sobre quais são essesproblemas: fome, miséria física, desigualdade econõmi($ e social. guerra, desigualdade entre homens
e mulherese entre nacionalidadese raçasdiferentes.exploraçãodo trabalho de outros, repressãopolítica, violência socialmenteorganizada.Todos essesobstáculos à auto-realização da personalidade humana podem ser eliminados pela derrubada das relações de producão existentes e das estrutu, ras políticas
que as mantêm. Não pretendemos resolver os numerosos
outros problemas, e os problemas futuros que sem dúvida surgirão. Mas esses problemasÉcu$taram
a vida
de:centenas
de
milhões
de pessoas,
durante séculos, e tornaram la vida de bilhões de outras terrivelmente mise-
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+
€»
IMPRESSO POR TAVARES & TRISTÃO -
GRÁFICA
E EDITORA
DE LIVROS
LTDA..À RUA20DE ABRIL.28.SALA l .I08, Ri0
DE JANEIRO.
K.J.
continuaçãoda lq aba
necessidade de uma revolução antíburocrática e po-
lítica. como o único meio de alcançar uma democra-
cia proletária completa. É ressaltado.num outro enfoque, o caráter camponês da Revolução,Chinesa.
em contraposição ao marcante espírito urbano da Revolução Soviética, e a relação entre esse aspecto e a teoria da revolução permanente. O último
capítulo
integra os temas dessas discussões
numa análise geral da política mundial desde a Segunda Grande Guerra, delineando as principais linhas de força e de debilidade da luta de classesna era moderna. MANDEL analisa a natureza daquela Guerra. da Guerra Fria e do ''longo surto de prosperidade
para estudar em seguida a situação peculiar da classe operária nos Estados Unidos e Japão. Concluindo. delineia o programa e as perspectivas de sua organi-
zação,a Quarta Internacional. Do mesmo autor encontram-se também publicados pat es\a ed\tara. Trotski: um estudo da dinâmica do seu pensamento e A formação do pensamento eco-
nómico de Kart Marx.
ZAHAR EDITORES a cultura a serviço do progresso social