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Portugueze Pages [332] Year 1965
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HO.1F. 1 E SOCIEDAbE Organização e introdução de FERNANDO HE RIQUE CARDOSO
e OCTAVIO IANNI
Para atender às eXlgencias daqueles que se iniciam nos estudos de sociologia,
economia
política,
antropologia,
psicologia etc., e procurando levar em conta
os
contínuos
desenvolvimentos
das ciências humanas no Brasil, a Companhia Editora Nacional está publicando obras introdutórias de alto valor científico.
Ao lado da expansão das
edições originais de autores nacionais, procuramos desenvolver um programa paralelo de traduções, a fim de oferecermos aos estudiosos um conjunto de obras equilibrado e de boa qualidade. 1!ste volume destina-se a servir aos estudantes dos cursos univer
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Direitos desta edição reservados à
COMPANHIA EDITORA NACIONAL Rua dos Gusmões, 639 - São Paulo 2, SP
1965 Impresso nos Estados Unidos do Brasil Printed in the U nited States of Brazil
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SUMÁRIO
Introdução
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PRIMEIRA PARTE
OS SISTEMAS SOCIAIS
Conceito de sociologia (Florestan FERNANDES) 25 Organização social e estrutura social (Rayrnond FIRTH) 35 O conceito de sistema social (Talcott PARSONS) 47 Os componentes dos sistemas sociais (Talcott PARSONS) 56 Socialização (Marion J. LEVY JR.) .....•........................ 60 Papel e sistema social (Talcott PARSONS e colaboradores) 63 "Status" social e papel social (Eugene L. HARTI.EY e Ruth E. HARTI.EY) 69 Características do "status" social (E. T. HILLER) 75 A noção de valor cultural (Florian ZNANIECKI) 88 Normas sociais: características gerais (Ferdinand TÔNNIES) 92 O indivíduo, a cultura e a sociedade (Ralph LINTON) 98 O conceito de personalidade básica (Abram KARDlNER) 103 SEGUNDA PARTE
A INTERAÇÃO SOCIAL A interação social (Talcott PARSONS e Edward A. SmLLs) O indivíduo e a díade (Georg SIMMEL) O contacto social (Leopold von WIESE e H. BECKER) Isolamento social (Karl MANNHEIM) Comunicação e contacto social (Edward SAPIR) O significado da comunicação para a vida social (Charles H. COOLEY) Os símbO'los e o comportamento humano (Leslie A. WmTE) Os símbolos sociais (Georges GURVITCH)
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TERCEIRA PARTE
OS PROCESSOS DE INTERAÇÃO SOCIAL Processo social (Max
LERNER)
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Os processos de interação social (Leopold von
WIESE)
Espaço social, distância social e posição social (Pitirim
•...•••....• SOROKIN)
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O tempo s6cio-cultural - Características preliminares do tempo s6cio231 cultural (Pitirim SOROKIN)
Cooperação, competição e conflito (William F. NIMKOFF)
OGBURN e Meyer F. ••••..••••••••.•••..••••••..•••••.....•....•.•.•
Acomodação e assimilação (William F.
OGBURN
e Meyer F.
NIMKOFF)
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O impacto dos processos sociais na formação da personalidade (Karl MANNHEIN)
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A ideologia em geral (Karl MARX)
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Introdução
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LIVRO não é uma antologia no sentido tradicional da expressão. Não escolhemos os textos clássicos sôbre um conjunto de problemas para que fôssem traduzidos. É possível que algumas das leituras selecionadas possuam as qualidades de um texto clássico, mas não foi a excelência do conteúdo ou da forma literária que nos levou a selecioná-las. Tivemos apenas a intenção de ajudar a preencher uma velha necessidade do ensino de sociologia no nível introdutório. Por esta razão, guiamos nossa escolha tendo em vista um conjunto de problemas essenciais que devem ser esclarecidos em qualquer curso de iniciação em nível superior. As leituras capazes de cumprir esta função precisavam ser relativamente simples e claras, sem, entretanto, desfigurar a matéria e faltar com a precisão necessária à ciência. Daí o caráter dêste livro: nem bem um manual escrito com textos alheios, nem bem uma antologia. Estamos persuadidos da necessidade da radicação completa no Brasil do procedimento científico no trato dos problemas da sociedade. Para isto a formação de pessoal capaz de produzir e consumir a ciência é primordial. Uma das barreiras centrais, tanto para a preparação de professôres de sociologia e de especialistas na matéria, como para o ensino de sociologia no curso normal e nos cursos superiores que exigem rudimentos desta disciplina, é a dificuldade de acesso à bibliografia especializada. Esta dificuldade decorre de que os textos básicos desta disciplina na sua maioria não foram escritos em português, o que impõe o conhecimento de outras línguas como condição prévia para o aprendizado de sociologia. Além disso, mesmo para os que lêem Qutras línguas (condição fund~mental para quem deseja real·
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Homem e sociedade
mente especializar-se numa disciplina científica), persiste a dificuldade, pois a quantidade de volumes de sociologia já esgotados editados no exterior e existentes no Brasil é pequena. Impõe-se, portanto, incrementar as traduções. Entretanto, estamos convencidos, também, de que esta solução é provisória: o essencial está no incentivo à produção original de trabalhos científicos e de divulgação. Nada justifica, senão o atraso cultural ainda vigente em nosso meio, que a iniciação e o treinamento elementar numa disciplina qualquer tenham que ser feitos através de traduções. É francamente constrangedor ter de utilizar traduções de manuais - às vêzes tão incrivelmente lacunosos - como tivemos que fazer. Mas a verdade é que sôbre alguns problemas elementares nada existe em português, de tal forma que ainda se impõe a tradução de trechos de manuais para a publicação de livros de leituras de sociologia. Isto dá bem a idéia do quanto ainda precisamos caminhar para obtermos um desenvolvimento apreciável desta disciplina. E esta situação infelizmente não se restringe à sociologia, pois ela não é diversa em outras ciências. Compreende-se, portanto, a necessidade de tomar medidas urgentes que permitam incentivar o ensino da sociologia no Brasil, de tal forma que dentro de alguns anos possamos contar com um conjunto de especialistas em franca produção. No plano do livro didático, pouca coisa existe que represente uma contribuição para facilitar e incrementar o ensino da sociologia, sem ao mesmo tempo deformar inteiramente a matéria. Certo tipo de "manual" serve apenas a interêsses mercantis, e tem como resultado desinteressar e mal informar, para não dizer deformar, o aluno. Excetuam-se os esforços de Fernando de AZEVEDO, cujo livro (Princípios de Sociologia), entretanto, como o próprio nome indica, trata dos problemas sociológicos num nível de complexidade teórica que o situa mais como um trabalho de sociologia geral do que como um manual, os de Donald PIERSON (Teoria e Pesquisa em Sociologia), de Gilberto FREYRE (Sociologia) e Delgado de CARVALHO (Sociologia, entre outros), bem como Leituras Sociológicas, de Emílio WILLEMS e Romano BARRETO. Além dêstes, pouca coisa mais haveria para mencionar, a não ser traduções recentes de manuais americanos, nem sempre
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Introdução
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os melhores. No que se refere às antologias, os dois livros do prof. PIERSON e o livro de leituras de WILLEMS e BARRETO continuam a prestar bons serviços, porém ninguém mais os imitou até hoje. Quando se pensa nos textos de introdução às técnicas de pesquisa, a situação é pior ainda. Nada há escrito em português para indicar aos alunos, salvo alguns artigos publicados em revistas especializadas. Verifica-se, pois, que as gerações mais novas de sociólogos, exatamente aquelas em cujo labor científico o moderno padrão de pesquisa e de reflexão nas ciências sociais está melhor refletido, ainda não contribuíram, neste terreno, para o adiantamento das ciências humanas no Brasil. A Série 2.a (Ciências Sociais) da "Biblioteca Universitária", dirigida pelo prof. Florestan FERNANDES, constitui o primeiro passo para que esta observação perca sentido. Oxalá êste panorama se modifique ràpidamente. Não é fácil, entretanto, organizar livros que tenham alguma utilidade didática e sejam, ao mesmo tempo, cientIficamente íntegros. Para o presente volume tivemos de escolher textos capazes de servir, a um tempo, como ilustração para desenvolvimentos feitos em aula e como guia nos primeiros passos para os que desejarem informar-se sôbre a sociologia. Ora, nesta matéria, além da dificuldade, digamos assim, didática, existe o velho problema de persistirem orientações contraditórias e conceitos equívocos. Explicar a razão disto e prever as possibilidades de superação relativa desta situação é tarefa até certo ponto fácil para os professôres. Para o aluno, e para quem organiza um manual ou um livro de leituras, entretanto, êstes problemas tornam-se verdadeiros tormentos. A pesquisa das soluções encontradas noutros países através da análise de manuais e coletâneas de textos é vã. A mera leitura dos índices dos manuais ou das várias coletâneas de textos selecionados, publicados em inglês, francês ou espanhol, mostra logo que, com raras exceções, a "unidade" do livro é assegurada através da sua divisão em partes, pouco relacionadas umas com as outras. Ou então os autores partem de um ponto de vista particular e organizam o texto sem considerar as perspectivas diversas de análise. Esta última solução, apesar de tudo, parece-nos menos má, desde que haja alguma integração teórica a partir da pers-
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Homem e sociedade
pectiva adotada, e que os conceitos sejam utilizados de forma unívoca. Resta o problema de que na preparação de textos para iniciação numa disciplina esta maneira de agir é naturalmente limitada e, por vêzes, pouco íntegra cientificamente. Dificuldades como as que apontamos acima não podem ser resolvidas por critério arbitrário algum. Não será através de tentativas livrescas de unificação de conceitos ou de seleção de problemas a serem tratados desta ou daquela maneira que se ampliará a área de consenso na sociologia. f:ste vem sendo pouco a pouco obtido em diversos campos de análise através do único método frutífero e legítimo para a superação dos mal-entendidos reinantes, ou para que se evidenciem as áreas do conhecimento sociológico nas quais as explicações existentes são realmente irredutíveis por causa da orientação geral diversa existente entre os sociólogos em face da realidade humana. Referimo-nos aos esforços de aproveitamento sistemático dos resultados de trabalhos de pesquisa ou de elaboração teórica fundada nos progressos do trabalho de campo. Pelo menos no que respeita à sociologia sistemática existe já larga área de consenso. Por isto, e porque esta é a parte mais geral do conhecimento sociológico, preferimos organizar êste livro de leituras (1.0 volume) em tôrno dos problemas da sociologia sistemática!, isto é, daquela parte da sociologia que considera os elementos básicos da estrutura e do funcionamento de qualquer sociedade. Não é por outra razão que a maior parte dos manuais se ocupa com problemas dêste setor da sociologia, ou discute, os conceitos básicos que descrevem as condições e fenômenos essenciais para a vida em sociedade, como a noção de ação social, relação social, normas sociais, sistema social, processo social, grupo social, instituições sociais, socialização etc. Outras dificuldades tiveram de ser enfrentadas para a seleção das leituras. Acreditamos por isto que seria conveniente reunir (>
(0) Além dêste primeiro volume, Homem e Sociedade, estamos preparaudo um segundo texto de leituras, Comunidade e Sociedade, que aparecerá nesta "Biblioteca Universitária". ( 1) "A sociologia sistemática procura explicar a ordem existente nas relações d?s f~nÔmenos sociais através de condições, fatôres e efeitos que operam num campo hlst6nco. Tôda ~ociedadc possui certos ele~entos, estruturais e funcionais idênticos, que tendem a combInar-se de modo a produzlI' efeItos constantes da mesma magnitude. A sociologia sistemática estuda tais elementos e os padrões assumidos pela combinação dêles entre si." Florestan FERNANDES, Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada, Livraria Pioneira Editôra, São Paulo, 1960, p. 24.
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Introdução
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nesta Introdução os esclarecimentos e comentários necessários para o entendimento dos textos selecionados e para a melhor utilização do livro no plano didático. Assim, exporemos, a seguir, indicando no subtítulo as partes onde se inserem os textos comentados, algumas considerações de ordem geral sôbre a significação dos trabalhos traduzidos, sôbre os cuidados requeridos . para sua indicação aos alunos de sociologia, e sôbre as deficiências que muitos dêles apresentam diante do desenvolvimento atual da sociologia. 1. O sistema social Afirmamos acima que a escolha de textos de sociologia sistemática para a organização dêste livro permitiu resolver mais fàcilmente o problema das orientações contraditórias no campo da sociologia. Ainda assim, entretanto, haveria possibilidade de optar entre direções diversas na seleção dos textos. Poderíamos considerar a sociologia como uma disciplina que lida com a interação social humana exclusivamente, ou como a disciplina básica da interação social, em qualquer nível de organização da vida, em que há condições suficientes para a caracterização do fenômeno de interação. Escolhemos a primeira alternativa porque, sendo o ponto de vista mais generalizadamente aceito, a maior parte da bibliografia disponível assenta neste pressuposto. Está claro que esta não é uma razão teórica, mas uma limitação que se impõe por uma questão de fato. Teàricamente, portanto, a escolha foi arbitrária e pode parecer, ao contrário do que pensamos, que, ao agir assim, endossamos a conotação ideológica subjacente ao ponto de vista dos que consideram a sociologia enquanto ciência do homem, como algo que se opõe às ciências da natureza. Para que tal equívoco não encontre apoio nas suposições dos leitores, e para que o horizonte intelectual dos que utilizarem êste livro como instrumento de aprendizado não seja arbitràriamente restringido sem que disto tomem conhecimento, iniciamos as leituras com um texto de Florestan FERNANDES (O objeto da Sociologia), onde êste autor mostra a possibilidade de orientação contrária. A fundamentação do ponto de vista oposto, isto é, de que a sociologia é uma ciência que limita
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Homem e sociedade
os estudos do comportamento social ao comportamento social humano é suficientemente conhecida. Como o presente livro não visa a discutir a sociologia no quadro geral das ciências, cremos que tanto a leitura indicada acima, de Florestan FEUNANDES, como a maior parte dos textos de PARSONS', e os de ZNANIECKI e Leslie WHITE, são suficientes para que o leitor tenha uma idéia do porquê daqueles que se apegam à noção de que a sociologia estuda a sociedade como um produto da atividade, do engenho e da cultura humanos. A segunda leitura escolhida tem, como a primeira, um sentido de preparação para os outros textos, sobretudo para os que serão publicados no segundo volume dêste trabalhoil