História do ensino industrial no Brasil

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APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO EM CD-ROM

A História do Ensino Industrial no Brasil, de autoria do Professor Celso Suckow da Fonseca (1905-1966), Patrono do CEFET/RJ, encontra, no advento dos 30 anos de edição da Lei n° 6.545, de 30 de junho de 1978, o momento solene para uma edição comemorativa, em tributo, a um só tempo, ao autor, à sua obra e aos avanços no campo da educação profissional e tecnológica. A Lei nº 6.5456/78 representa o marco histórico da consolidação da educação tecnológica no Brasil, a partir do momento em que confere a escolas técnicas a prerrogativa de ministrar cursos de ensino superior, transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica. Esta edição eletrônica da História do Ensino Industrial no Brasil, ao incorporar novos suportes midiáticos, também contextualiza a obra na moderna cultura digital. Este clássico da historiografia educacional brasileira, principalmente no campo da formação profissional, foi concebido sem os atuais recursos, como computador, Internet e outras ferramentas da Tecnologia da Informação e da Comunicação, o que reporta ao vigor intelectual do Autor, que na Explicação (1º volume) relata: “Não havendo sido escrito, anteriormente, livro semelhante que abrangesse o estudo da matéria desde o tempo do descobrimento até nossos dias, viu-se o Autor obrigado a levantar dos arquivos e das bibliotecas, numa pesquisa que durou mais de dez anos, todo um acervo de elementos que, depois de ordenados e comentados, constituem êste ensaio da história do ensino de ofícios no Brasil.” Faz-se imperativo registrar que a História do Ensino Industrial no Brasil representa, ao mesmo tempo, uma obra de vulto sobre a construção do ensino técnicoprofissional e referência de pesquisa histórico-científica. Seu autor ombreia-se aos grandes protagonistas do pensamento educacional do seu tempo, como Anísio Teixeira e Gustavo Capanema, entre outros. Vultos históricos como Padre Anchieta, Padre Nóbrega, os reis de Portugal – de D. João I a D. João VI –, os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, além de expoentes da República, como Rui Barbosa, Deodoro da Fonseca, Affonso Penna, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz gravitam no universo educacional que a obra retrata, compondo um painel da cena histórico-social da primeira metade do Século XX. Editada originalmente pela Escola Técnica Nacional, a obra foi divida em dois volumes: o primeiro publicado em 1961, e o segundo em 1962, quatro anos antes do falecimento do autor. O primeiro contém 15 capítulos, abordando desde a época do descobrimento até a as primeiras iniciativas da República, passando pela influência de D. João VI e a ação do Governo Imperial, com um retrospecto das origens e funcionamento das Corporações de Ofício na Europa Medieval, as conseqüências da Lei Orgânica do Ensino Industrial de 1942, as iniciativas do Exército e da Marinha no que diz respeito ao ensino técnico-profissional e à questão das estradas de ferro, com destaque para o Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional – CFESP, a criação do SENAI, a atuação da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), a formação do professorado e a evolução da filosofia do ensino industrial.

O segundo volume, com 23 capítulos, reflete a visão federativa do autor sobre formação e iniciativas do ensino industrial nos Estados, no Distrito Federal, na então Prefeitura do Ex-Distrito Federal, e nos Territórios à época, além de iniciativas particulares e federais no Rio de Janeiro. O pensamento do engenheiro e educador Celso Suckow da Fonseca mantém sua atualidade. Pregando o valor do ensino industrial e, portanto, da formação para o trabalho, ele também pugnou pela educação como direito de todas as camadas da população, tendo defendido a República diante da Monarquia, no que diz respeito à democratização da educação: “A República [...] abriria novos horizontes e indicaria outros rumos à educação nacional, democratizando-a.” (volume 1, p.147). Esse pungente ideal republicano em face do labor educacional e do ensino técnico corporifica-se no atual quadro da educação profissional e tecnológica brasileira, que vivencia, nos nossos dias, sua maior expansão. A edição da História do Ensino Industrial no Brasil em cd-rom, associada aos 30 anos da Lei nº 6.5456/78, representa a convergência de sonhos e realizações, no passado e no presente, tendo como alcance a democratização da educação pública de qualidade e a busca de novas oportunidades em resposta às demandas sociais e aos interesses do País. Rio de Janeiro, 30 de junho de 2008 Miguel Badenes Prades Filho Diretor-Geral

APRESENTAÇÃO DA 2ª EDIÇÃO EM CD-ROM

O lançamento da 1ª edição eletrônica da História do Ensino Industrial no Brasil ganhou enorme acolhida por parte de estudiosos e atores sociais da educação profissional e tecnológica no país. Em um ano, vimos esgotar-se a impressão de 1.000 cópias de CD-ROM produzidas por ocasião do 30º aniversário da Lei de criação dos Cefets pioneiros. Respondendo a solicitações que nos têm chegado por parte de professores e dirigentes de instituições educacionais, com o apoio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, o CEFET/RJ lança esta nova edição eletrônica da obra de seu Patrono, o Professor Celso Suckow da Fonseca, nela guardando as feições dos volumes originais, impressos em 1961 e 1962. Faz 100 anos, no Brasil, o Presidente Nilo Peçanha, por meio do Decreto no 7.566, de 23 de setembro de 1909, criava, nas capitais dos estados da República, Escolas de Aprendizes Artífices para o ensino profissional primário gratuito. Nascia, assim, uma Rede Federal que, no atual Governo da República, vem ganhando quantitativo inédito de expansão das Unidades de Ensino que a constituem, disseminando, assim, a oportunidade de formação de técnicos também pelo interior do país. Esta é, portanto, uma edição comemorativa do Centenário da Rede Federal de Educação Tecnológica, reconhecendo-lhe a importância na trajetória histórica registrada pelo engenheiro e educador Celso Suckow da Fonseca em sua obra. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2009

Miguel Badenes Prades Filho Diretor-Geral

2009 – Ano da Educação Profissional e Tecnológica 23 de setembro – Dia Nacional dos Profissionais de Nível Técnico (Lei n. 11.940, de 19 de maio de 2009)

GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República José Alencar Gomes da Silva Vice-Presidente Fernando Haddad Ministro de Estado da Educação Eliezer Moreira Pacheco Secretário da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC Maria Paula Dallari Bucci Secretária da Secretaria de Educação Superior do MEC Miguel Badenes Prades Filho Diretor-Geral do CEFET/RJ Carlos Henrique Figueiredo Alves Vice-Diretor Maurício Saldanha Diretor de Ensino Pedro Manuel Calas Lopes Pacheco Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Nilton da Costa Silva Diretor de Extensão Carmen Perrotta Diretora de Gestão Estratégica Fernando Neves Pereira Diretor de Administração e Planejamento

Os Colegios de Roma. As guildas. As Corporafl5es da [dade Media, na Fran~a e em Portugal. 0 "Livro dos Regimentos dos Officiaes mecanicos da mui nobre e sempre Leal cidade de Lixboa". Um programa para certidao de exame profissional. 0 Codigo Filipino. Episodios da vida seiscentista de Sao Paulo. Atua~ao e fim das Corpora~6es no Brasil.

A aprendizagem das profissoes, durante certa fase de nossa vida colonial, processou-se nas Corporac;oes de Ofkio, tal como sucedera na Metr6pole

e em outros paises cia Europa, desde os

tempos medievais. As corporac;oes de ofkio europelas da Idade Media tiveram suas origens nos Colegios de Roma e nas guildas germanicas e escandinavas. Os primeiros representavam a associac;ao de todos os que se entregavam it mesma profissao e, portanto, estavam ligados pelos mesmos interesses. A origem dos colegios romanos nos e contada por Plutarco, na seguinte passagem, quando des creve a vida de Numa Pompilio: "Aquele dos seus estabelecimentos que mais -se aprova e a divisao que ele £ez do pavo por artes e oficios. A cidad'e, como temos dito, era compasta de duas nat;6es, Oil melbor, separada em dois prtidos, que nao queriam absolutamente se reunir nem apagar as difel'ent;as que nela faziam como dais povos estranhos urn ao O'ltro, e geravam cada dia entre eles querelas e debates interminaveis. Quando se quer unir corpos solido.> que naturalmente nao se pod,em misturar, costuma-se quebra-los, mae-los em particulas que se incorporam facilmente. Numa, ·seguindo 0 exemplo, para fazer desapa·recer esta grande e principal causa de divisao entl'e os dois pavos e como- que fragmenta-la em particulas, distribui'l todo 0 povo em diversos corpos, separado cada urn For interesses particulares _ ~le 0 .repartiu nos diversos oficios de musicos, ourives, carpinteiros, tintureiros, cordoeiros, curtidores, ferl'eiros e ceramistas. Reuniu em urn so corpo todos os artifices de urn mesmo oficio e instituiu festas e cerimonias de religiao convenientes a cada urn dos corpos. Por isso, foi 0 primeiro que baniu de Rama esS'e espirito de partido q'le fazia pensar e dizer a uns que eram sabinos, a outros qt:e eram romanos, a estes que estavam sujeitos a Tacio, e aqueles que tinham como rei Romulo".

Assim amalgamaram-se

todcs

os artifices

de uma mesma

profisao, quer fossem livres, quer escravos. Era a este agrupamento profissional que se chamava "coh~gio". Cada colegio tinha a sua assembleia, per ante a qual todos os seus componentes, livres ou escravos, eram considerados iguais. As assembleias escolhiam os oficiais do ofkio, votavam os estatutos,· escolhiam 0 patrono, que geralmente era uma pessoa poderosa do lugar, regravam os sacrifkios, 0 culto dos mortos e principalmente os banquetes, que constituiam

a parte mais importante

de t6das as

suas atividades e que eram organizados sob qualquer pretexto e a qualquer hora. Neles era proibido discutir, injuriar a quem quer que fosse e tratar de assuntos serios. As cerimonias funebres eram, sem duvida, em ordem de importancia, a segunda preocupa