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Portuguese Pages [73]
)ean Marcel Carvalho França
História damaconha no Brasil
7
TRÊS ESTRELAS
L't\rthr
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rror5 lít{ Estrclas-selo editoriâldâ Publifolha Editora Ltda.
Sumário
ti(1,!\ (,\ (li11 iro\ rcservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada .rr tr'.rrrsrnititla tlc ncnhuma íorma ou por nenhum meio sem a permissão expressa e por .\riro(Lrl\rt iftrhâ Editora Ltdâ.. detentorâdoselo edito al TÉs Estrelâs. r()R Alcino Lcite Neto
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(x)Rr)r:N^(Ào
Ritâ Pâlmeirâ DÉ PRODUçÀO GRÁFrCÀ
Mariana Metidieri
pR()r)U(Ào cRÁFrcA lris Polâchini r
Paulo Bezzera
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Mrolo Mayumi okuyema r,,)rroR^çÂo ELETRôNrC^ Jussara Fino IRril'ÂRAçÂo BeatrizdeFreitasMorcira frr(),!:To GRÁFrco Do
xr.:vrsÀo Luciana Araujo e Carmen T.
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S. Costa
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íNDrcE REMrsslvo Câú Mattos
Dâdos Intcrnacionâisde Câtalogação na Publicaçâo lcrp) (C,imara Brasileira do Li\1o, sB Brâsil)
As histórias de uma planta O vício dos pretos?
48 Diambismo, um flagelo social 72 O canabismo dos hippies e dos excluídos ro6 Canabismo, um hábito economicamente viável
liaúça, )ean Marcel cârvalho Httória da macoíha noBrâsil/rean MarcelCârvalho Frânça Sãô Peúlô: Tês tstÍelâs. 2or8. r"
reimp., da r. ed. de
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rolt.
928-8!68491o6-9
Canilbir ,. Maconha sociaij '. ^spectos l. Maconha - Bnsil - HistóÍia a. Maconha Efêito fisiologi.o
cDDJór.29ro98r indiccs para caráloso sislemárico: r.
Maconhar ,{spEtos sociais: Brasil: HisÍó.ia
Este
livro
segtre âs regrâs do Acordo
ortográfico
cm vigor desde ro de janeiro de 2oo9.
IRÉS
7 ESTRELAS It.nlii) d. l.inrdra. aor, 6'andar i^1. r,rr(,: e(n),S,oPâulo, sP Ll.: (rl) r:2.r-rn6/r'87l,re7
cdÍofu n\rIl.rírtiil(mrcstrclas.com.br
wwwr,lir,nnre\rrüs.eoD.br
,62.29ro98r
de Língua Portuguesâ (r99o),
rg
Notas
ru7 Bibliografia r4s Índice remissivo
rsr
Sobre o autor
As histórias de uma planta l.i pclo menos três his_tórias possíveis das relaçõcs cntre as socie-
I
,l.rrlcs hunranas e o cânhamo, uma planta, provavelmente de
ilcm asiática, que o renomado botânico sueco Lineu batizou, , rr r;53, de Cannabts sativa. A mais longa, abrangente e mais bem or
rrncntada
,1,,r ,
,rrro íonte
dúvida, aquela que diz respeito aos seus usos
de fibras para a confecção de tecidos e, postcriormente,
prrltir do sécu1o I a.C., para a produção de papel. Das civilizar's cluc floresceram na Ásia àqr,relas resultantes da colonização
,r ,
é, sem
,
,l.r  rlórica, passando pelas que prosperaram na Europa, na
.,
r
Áfri-
(
na Oceania, praticamente todas, em determinada altura de
r.rs
cxistências, utilizaram, por vezes em grande quantidade, as
(,r
lrlrr'.rs do cânhamo para, entre tantas outras coisas, rrestir as suas 1r,
,ptrlaçÕes, equipar os seus navios com cordas e velas ou oferecer
ros irrtcressados Lrm suporte prático e resistente parâ o registro de
rrrrs cxperiências.r lr cla China que vêm os rastros mais antigos do seu uso comcr
Írl)rir, rastros que remontam ao
rlrrt lrojc íaz parte de Taiwan ;,.r
r
tir
clc
neolítico
cncontrados em local
e passam a scr bastante comuns a
4ooo a.C. Por volta de zjoo a.C., escritos da região já des-
t,r( iurr, cntre as riquezas que fazem a prosperidade de um Íeino, as '' r'rr s1:rs ,1,
plantações de cânhamo".2 Um pouco mais tarde, por volta
, secLrlo t a.C., ainda na China, descobre-se
;,,rrrr rr
Íibra do cânhamo:
a
confecção de
outra útil aplicação
papcl
um suporte leve,
7
rcsistcntc c barato para a escrita. Os indianos cedo também começrrrarrr a scrvir-se
d
as frbras da Cannabis, ainda que outros usos da
PIanta, sobretudo os inebriantes, tenham predominado entre eles.
Dc qualquer modo, a importância do cânhamo na cultura hindu ó
significativa
-
rezam os livros sagrados indianos que o cânhâmo
estava presente, com o próprio Shiva, no início do mundo
-, assim
como
dos seus
a
atuação dos indianos na disseminação da planta
e
usos no Oriente Médio, na África e Europa.
A Europa, a propósito, tomou contato com o cânhamo por pelos menos duas vias: primeiramente, através dos citas, grandes
usuários da Cannabis, que levaram a planta para a Grécia e para a Rússia
-
uma exportadora de volumes consideráveis de fibras de
cânhamo para o restante do continente até o início do século xx; e,
mais tarde, pelas mãos dos árabes, que a introduziram na Penín-
sula lbérica.r)á o grego Pedânio Dioscórdio, em Sobre
(zoo a.C.), comentâva que
a
planta era "muito útil
à
m atinamédica
vida humana,
pois dela se faziam cordas fortíssimas"a a partir de suas fibras. Os romanos, aindaque nãoa cultivassem em uma escala assinalável-a planta nunca figurou entre as suas principais produções agícolas
importavam-na em quantidade
e
-,
utilizavam-na cotidianamente.
Daí, por certo, as inúmeras referências à planta e às virtudes de suas fibras espalhadas pelas obras dos autores latinos
-
Leão
Afri-
cano, Aulio Gélio, Galeno, Catão, Lucílio, Gaio Catulo, Plutarco e
muitos outros. Plínio, o Velho, em Históría natural (sêctslo r d.C.), um dos livros mais influentes entre os sábios europeus interessados nas ciências naturais durante pelo menos catorze séculos,
menciona o cânhamo em diversas passagens, em uma das quais explica ao leitor que se trata de uma planta "extremâmente útil para
a
fabricação de cordas", que deveria "ser colhida no equinócio
de outono e secada ao yento, ao sol ou na fumaça".t Foi, no entanto,
na Península lbérica e por meio dos árabes que teve início na Europa, porvolta do século xrr, na região de Alicante, na Espanha rnourisca, um dos usos mais importantes da fibra do cânhamo no c()ntinente: a produção de papel. Da Europa e da África, que nunca mais deixaram de
utilizar do cânhamo, a planta seguiu, na esteirâ da expansão marítima europeia, para a América e para as terras do pací6co. A própria expansão dependeu em grande medida das fibras e da as fibras
rnassa de cânhamo,
muito utilizadas tanto na produção de velas c de cordas para navios como na calafetação das embarcações. Ao norte do continente americano, os ingleses começaram a plantáJo nas décadas iniciais do século xvrr, sob o governo de Thomas Dale, e os norte-americanos mantiveram o seu cultivo legal, contando com apoio do Estado, até pelo menos o final da Segunda Guerra Mundial (1945), como parte de um esforço
nacional para equipar a Marinha com cordas e outros supri_ rnentos derivados da fibra do cânhamo. E assim ocorreu mes_ rno depois de o rsr ter iniciado, a partir da segunda década do século xx, uma campanha sistemática co4tra o- plantio e o uso do cânhamo em todo o país.ó A Espanha tentou introduzira cultura do cânhamo nas Índias Ocidentais desde o século xvr, mas sem muito êxito, não obstantc a crescente demanda da Marinha do reino por suas fibras. por volta da segunda metade do século xvlu, Madri chegou mesmo a enviar
vários especialistas no cultivo e na utilização da planta para as possessões da América, com a missão de ensinar os habi_ lantes lôcais a cultivar e preparar o cânhamo para os mercados colonial, espanhol
e
internacional; providência seguida da reco_
rucrrdação de que os üce-reis incentivassem a suâ cultura por toda ir Nova Espanha. Em 1293, a planta desembarcou em Cuba, mas
It 9
l
!('r'()u Pouc() interesse; no mesmo período, o cânhamo foi intro(luzid() rra Cuatemala; no entanto, aí também não alcançou uma
cnorme dificuldade em conseguir sementes, o que apenas pôde
pr()dução significativa. Na região do Panamá, tentou-se introduzir
carioca. O governador,logo que pôs as mãos nas sementes fran-
o scu cultivo em maior escala no início do século xlx, mas, uma
cesas, mandou semeáJas e, ainda que os pássaros tenham
comido
vez mais, as iniciativas não vingaram. O mesmo ocorreu no Peru,
llgumas espigas,
e
cm período anterior, que por muito tempo continuou a importar
rrandadas "para a Ilha de Santa Catarina, com ordem para que
a
fibra do Chile, onde o cultivo do cânhamo realmente prosperou â
scr contornado graças à passagem de um navio francês pelo
sc plantassem".e
"as que puderam escapar
Infelizmente,
multiplicaram"
porto
foram
as intempéries, a deterioração das
as demandas dos
scmentes, a inépcia dos colonos e as vicissitudes políticas impe-
movimentados portos do país e ainda exportar a fibra para as
tliram que a cultura prosperasse. Uma década mais tarde, em
regiões vizinhas. O quadro, depois dos processos de independên-
r782, o sucessor do marquês, o vice-rei
cia das possessões espanholas na América, nas primeiras décadas
c Souza,
ponto de permitir aos produtores locais suprir
do século xtx, não
se
alterou substantivamentc;
a
parca produção
perdurou até o início do século xx, quando acabou por praticamente desaparecer na região7-
a
importou do Chile z3 alqueires de sementes e também ;rs distribuiu entre os agricultores de Santa Catarina. o pouco conhecimento que tinham da cultura da planta
Na porção portuguesa da América, no Brasil, as notícias mais
rrruito a desejar.lo Dom Luiz deVasconcelos
frequentes sobre o plantio e uso da fibra do cânhamo, em espe-
-
e a má qualidade
tlas sementes, porém, fizeram com que os resultados deixassem
produção Iegal, bem entendido.
cial para as necessidades da Marinha
dom Luiz de Vasconcelos
uso amplamente conhe-
e
Souza, porém, não se deu
. ido e. apesar dos fracassos anteriores.
porven-
investiu em um empreen-
cido em Portugal, que do século xvlII até pelo menos 19+t editou
ilirnento ousado: a criaç ão da Real Feitoria do Linho Cânhamo
manuais agrícolas ensinando a plantar o cânhamo
l
a
ea
extrair dele
melhorfibras-, começam a aparecer em meados do século xvrtr.
Seu uso nos estaleiros locais é anterior: estrangeiros que passaram
rnais bem planejada tentativa de introduzir a cultura da planta
crn larga escala no país durante o período colonial. Instalada t
ialmente, em
1783, na região da
ini-
atual eidade de Pelotas e, mais
e
tirlde, em q88, em razáo da produtiüdade das terras e do melhor
velas de cânhamo nas cmbarcaçôes portuguesâs. É. no entanto.
cscoamento da produção, transferida para a região de São Leopol-
no descnrolar do século seguinte que o cultivo da planta ganha
rkr, a íeitoria chegou a contar com
impulso na Colônia. Em q7z, o vice-rei, marquês do Lavradio, tentou incentivar a sua cultura no Sul do Brasil, mandando para
l)llntel - número considerado pelo vice-rci insuficiente pâra os tllbalhos que devia realizar - e permaneceu produtiva até depois ,lrr proclamação da Independôncia. Vasconcelos e Souza, em um
pelos portos brasileiros no século
xvr
referem o uso de cordas
lá um entendido em seu cultivo e umas tantas sacas de sementes.
Em correspondência enviada à metrópole, datada de r779,omaÍ-
lo
a
rrrro relatório que encaminhou a Lisboa em r784, explica
à
admi-
intro-
rislração metropolitana que estava enfrentando inúmeras adver-
cultura do cânhamo no país, explica que havia, então, uma
sirlatlcs para implantar a empresa, mas que, em agosto de 1783,
quês, sobre os problemas enfrentados sete anos antes para
duzir
k
ünte casais de escravos em seu
,l
cuviara par.l il rcgjão
ulr
inspek)r, conl Ícrrantcntas c sclllclttcs,
"o qual no dia 9 de outubro deu princípio por conta de
Sr-ra
Majes
irl( slirlll, tlcsarltnjos
Iro sistcnlil tcproclutivo
rr.rlriria c lantos ontros. Um pouco
1.r.rais
fctlinino,
tarde, no primeiro século
cra cristà, Hua Tuo, conhecido como o pioneiro da cirurgia chi-
tadc à referida Feitoria".rl Por volta de r796, o cmpreendimento
t
persistia, mas a duras penas. O abandono era tanto quc urrr cstran-
ncsJ, utilizou Llm composto da planta, misturado ao vinho, para
geiro, de passagcm pelo Rio de Janeiro no ocaso do sóculo xvtlt, ao comentâr uma pintura que virâ nas paredes do Passeio Público
.Ir( s(csiar pacicntes durante suas experiências ciúrgicas.
da cidade, "a vista de uma plantação de cânhamo e da manufatu-
(
ra de cordas", destac