Graus de Oração: E os Principais Fenômenos que os Acompanham [1ª ed.] 9788584910748


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Table of contents :
ARTIGO I E PRELIMINAR
Mistérios da vida cristã e vida mística .................................... 9
Apêndice ........... ......... ...... ............................................. 13
ARTIGO II
Os Diversos Graus de Oração e a Vida Espiritual... .............. 21
ARTIGO Ili
Graus de oração ordinária ou ascética ................................. 23
Apêndice ......................................................................... 29
ARTIGO IV
Graus de transição da oração "ordinária" à "sobrenatural" .... 39
Apêndice ........................................................................ 48
ARTIGO V
Os diversos graus da oração notoriamente "sobrenatural",
segundo Santa Teresa e a transição gradual em tudo ............ 63
ARTIGO VI
Comparação da classificação de Santa Teresa com
a de outros autores ............................................................... 69
ARTIGO Vil
Graus fundamentais: observações ......................................... 75
ARTIGO VIII
Breve ideia dos principais graus de união conformativa
e dos fenômenos que costumam acompanhá-los ................... 79
Apêndice ......................................................................... 91
ARTIGO IX
A união transformativa; seus graus e principais fenômenos .. 117
Apêndice ................ ....... .......... ..................................... 129
ARTIGO X
Exemplos desses graus e progressos da vida espiritual -
Santa Teresa; A ven. Ana Maria de São José ....................... 153
CONCLUSÕES ....••.•..•..••••..••......................•.•.••.•................... 171
POSFÁCIO
Por josé Eduardo Câmara de Barros Carneiro ....................... 209
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Graus de Oração: E os Principais Fenômenos que os Acompanham [1ª ed.]
 9788584910748

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PE. JUAN G. ARINTERO, O. P.

QRAUSPE ORAÇAO E OS PRINCIPAIS FENÔMENOS QUE OS ACOMPANHAM

Tradução de José Eduardo Câmara de Barros Carneiro

ECCLESIAE

Graus de oração - e os principais fenômenos que os acompanham Pe. Juan González Arintero, O. P. l' edição - novembro de 2017 - CEDET

Título original: Grados de oracion y principales fenomenos que les acompaiian, excerto do tratado Cuestiones místicas .

Os direitos desta edição pertencem ao CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Rua João Baptista de Queiroz Junior, 427 CEP: 13098-415 - Campinas - SP Telefone: 19-3249-0580 e-mail: [email protected]

Editor: Diogo Chiuso Tradução: José Eduardo Câ mara de Barros Ca rneiro Preparação do texto: Gabriel Buonpater Revisão ortográfica: Suzano Ferreira Capa: Gabriela Haeitmann Diagramação: Gabriel Hidalgo

~

ECCLESIAE - www.ecclesiae.com.br

Conselho Editorial: Adelice Godoy César Kyn d'Ávila Sílvio Grimaldo de Camargo

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecâ nica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do ed itor.

SUMÁRIO

ARTIGO I E PRELIMINAR

Mistérios da vida cristã e vida mística ............. ....... ...... ...... ....9 Apêndice ........ ... ......... .... .. ..... ........................................ 13 ARTIGO II

Os Diversos Graus de Oração e a Vida Espiritual... ............. .21 ARTIGO Ili

Graus de oração ordinária ou ascética ................................. 23 Apêndice ....... .. ....................................... ......................... 29 ARTIGO IV

Graus de transição da oração "ordinária" à "sobrenatural" .... 39 Apêndice ........................................................................ 48 ARTIGO V

Os diversos graus da oração notoriamente "sobrenatural", segundo Santa Teresa e a transição gradual em tudo .... ...... .. 63 ARTIGO VI

Comparação da classificação de Santa Teresa com a de outros autores .............. ................................................. 69 ARTIGO Vil

Graus fundam entais: observações ......................................... 75 ARTIGO VIII

Breve ideia dos principais graus de união conformativa e dos fenômenos que costumam acompanhá-los ................... 79 Apêndice .................................................................. ..... .. 91 ARTIGO IX

A união transformativa; seus graus e principais fenômenos .. 117 Apêndice ......... .. ..... .. ..... ...... .... ........................... .. ........ 129

ARTIGO X

Exemplos desses graus e progressos da vida espiritual Santa Teresa; A ven. Ana Maria de São José ....................... 153 CONCLUSÕES ....••.•..•..••••..••......................•.•.••.•................... 171 POSFÁCIO

Por josé Eduardo Câmara de Barros Carneiro ....................... 209

ARTIGO 1 E PRELIMINAR MISTÉRIOS DA VIDA CRISTÃ E VIDA MÍSTICA

abarca de certo modo toda a vida propriamente cristã, posto que todo fiel cristão, pelo mero fato de ser batizado em Cristo que é como despojar-se misticamente de si mesmo e revestir-se d'Ele - , 2 simboliza sua própria morte a tudo, sua sepultura e ressurreição espiritual, e sua nova vida oculta com Cristo em Deus. 1 Essa misteriosa vida assim oculta em Deus é a vida mística que, em cada cristão, para que seja perfeito e como outro Cristo - christianus alter Christus - deve reproduzir, segundo logo veremos, todos os adoráveis mistérios de nosso Salvador. 4

A VIDA MÍSTICA, PODEMOS DIZER,

1

Pelo batismo, com efeito, nos enxertamos em Cristo' para formar com Ele um só corpo, que é seu corpo místico, 6 animado de seu próprio Espírito e possuído cada vez mais de seus divinos sentimentos, à medida que nos despojamos dos nossos próprios. 7 Assim é como Cf. Evolución mística, p. 608; Weiss, Apolog., IX, cf. a. IV. 2

Gl 3,27.

3

Rm 6, 4; Co/ 2, 12; 3, 3.

4

IPd 1, 13-15; 2,21-25; Gl 2, 19-20; 2Tm 2, 11.

5

Rm 6, 5; 9, 24.

6

Rm 12, 4-5; 1Cor, 12, 12-27.

7

Rm 8, 5, 14, 16; 1Cor 6, 19; Ga l. 5, 25; Fp 2,5; Ef 4, 22-24. 9

"í< JUAN G ..-\RINTERO, O. P.

recebemos a adoção de filhos de Deus mediante a infusão do Espírito Santo, o qual, com seu dom de piedade, nos move a invocar o Todo-Poderoso com o doce nome de Pai, e a servi-lo, amá-lo e honrá-lo como tal, orando como convém. 8 Assim, mora em nós não apenas selando-nos com a viva imagem de Cristo, cuja fisionomia nos imprime,9 como também nos ungindo e nos ilustrando com a suavidade, doçura e clareza de sua Graça, que é em substância toda a vida mística e a própria vida eterna, oculta e imanente em nós. 10 Recebemo-lo como fonte de água viva que, por impulso ou instinto divino, nos faz saltar para a vida eterna; 11 e em nós mora não somente como vivificador que nos purifica, nos fortalece e renova, destruindo em nós todos os elementos de morte, 12 como também como Senhor 13 com pleno direito a dominar-nos, dirigir-nos e governar-nos, 14 impondo-nos suas doces leis de amor (c) que nos dão a espiritual e gloriosa liberdade dos filhos de Deus e nos livram das tiranias e escravidões mundanas e da vida rotineira.'' Todo o nosso bem consiste, pois, em nos unirmos a Deus 16 até formarmos um só espírito com Ele; 17 em 8

Rm 8, 15, 26; GI 4, 5.

9

Ef 1,13; 2Cor 1, 21-22; 3, 18.

l O Rm 6, 23; 1Jo 2, 20; 5, 11; cf. ib., 3, 1-5. 11

Jo 4, 14; 7, 37-39.

12

Rm 6, 6.

13

Credo ... in Spiritum, Dominum et vivifícantem.

14

1Cor 6, 19-20.

15

Rm 8, 14, 21; Gl 4, 5-7; 5, 18; 2Cl 3, 17.

16

Sl 7,2, 28.

17

lCor 6, 17. 10

GRAUS DE ORAÇÃO+

ser-Lhe verdadeiramente dóceis e docibiles, 18 sem nunca contristar a seu amoroso Espírito; sem resistir-Lhe nem menos extingui-Lo, 19 deixando-O clamar em vão. Em verdade, precisamos estar muito atentos a Ele, recolhidos em nosso interior, para ouvi-Lo bem, porque fala palavras de paz aos seus santos, e a todos que se convertem pelo coração.20 Então, morando em nós, conforme diz São João da Cruz, 21 "agradado", não tardará em constituir-se de fato o doce Dono, Diretor, Consolador e Mestre de nossas almas, que em tudo nos move e governa como perfeitos filhos de Deus, fazendo-nos proceder não segundo a carne e o sangue - non secundum hominem - , mas de um modo sobrenatural, sobre-humano e verdadeiramente divino, isto é, misticamente ou secundum Deum. A isto se ordena todo o trato íntimo, amoroso e familiar com Deus, mediante a oração e contemplação, a ir copiando e imitando o melhor possível - e deixar que o divino Espírito imprima "sobrenaturalmente" em nós - as adoráveis perfeições do Pai Celestial, procurando configurar-nos a seu Unigênito, esplendor de sua Glória e nosso exemplo e modelo. 22 18

Jn 6, 4 e 5.

19

Ar 7, 51; Ef 4, 30; 1Tcss 5, 19.

20

SI 84, 9.

21

Llama de amor viva, canc. 4, v. 3.

22

A oração, diz Santa Teresa ( Vida, c. 8), é "trato de amizade [... J a sós com quem sa bemos que nos ama". - "O que é a oração, pergunta por sua vez, Sa nto Afonso Rodríguez (Declaración dei Padre Nuestro, cap. 2), senão estar a alma ocupada com Deus, amando-o e contemplando suas perfeições?". Mas "a perfeita contemplação, diz o P. La Puente (Guía, tr.3, c. 4), consiste proporciona lmente em formar dentro de nosso espírito, que abarca entendimento e vontade, uma viva imagem da glória do próprio Deus. Isto é, de sua Divindade e de suas infinitas excelências e perfeições". E quem acaba de nos formar e imprime essa "viva imagem" é o Espírito Santo, imprimindo-se em nós Ele mesmo como vivo selo de C risto, e fazendo-nos 11

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JUA N G. ARI NTERO, O. P.

Para conhecer, pois, os graus que oferece esta divina vida e os fenômenos que apresenta desde que a recebemos no batismo até que se desenvolva plenamente na Glória, há de ter muito presentes os mistérios todos - gozosos, dolorosos e gloriosos - da vida de Nosso Senhor; e por isso nos convém meditá-los, ao lado de Maria, no Santo Rosário; pois todos eles - desde a própria Encarnação de Spiritu Sancto, ex Maria Virgine, e desde o Nascimento até à Paixão, Morte, Ressurreição, Ascensão; e até à Missão do mesmo divino Espírito - que é onde se consumam as maravilhas da vida cristã, há de reproduzir-se à sua maneira, como em outros tantos Cristas, em todos os cristãos pedeitos.23 E aqueles em quem não se assim participar das grandezas divinas e conhecê-las por experiência. Daí que enquanto na meditação, como observa o P. José de Jes ús María Quiroga (D efensa de los escritos de San Juan de la Cruz; cf. Obras dei Santo, t. 3, p. 574), "caminhamos ao conhecimen to das coisas espirituais e divinas por abstração das coisas criadas ... , nesta divina contemplação se caminha ao co nhecimento de Deus e de suas divinas perfeições por participação delas, recebendo nosso entendimento as notícias sobrenaturais das coisas divinas em sua espiritualidade e pureza por meio da luz simples da fé e da ilustração do dom da Sabedoria". Efetivamente: "Ratio forma/is qua cognoscit istas causas, diz Jo ão de Santo Tomás (in 1-2, q. 70, di sp. 18, a. 4, § VI), est experímen tum quoddam ínternum, quod habetur de Deo, et rehus di vinis in ipso gustu, seu affectu, et delectatione, seu tactu vo luntatis interno de istis rebus spiritualibus. Ex hac enim unione, quasi connaturaliza tur anima ad res divinas, et per gus tum ipsu m discernit eas a rebus sensihílíhus et creatis". "Cum ergo donum sapientiae non quaelihet sapientia sit, sed spiritus sapientiae, id est, ex affectu et spiritu, et donatione ipsa qua experimur in nobis quae sit voluntas Dei bona, et heneplacens, et perfecte judicans de ipsis rebus divinis, oportet quod ratio forma/is qua donum sapientiae attingit causara altissimam, id est, causam divinara, sit ipsa notitia quae habetur experimentaliter de Deo, quatenus unitur nobis, et in visceratui, et donat seipsum nobis: hoc enim est ex spiritu se ire, et non solum ex lumine, aut discursu monstrante quidditatem, sed ex affectu experiente unionem". Id. Ibid., § IX. - Cf. S. Thom., 2-2, q. 45, a. 2. 23

" ln Christo omnes crucifixi, onmes mortui, omnes sepulti, omnes etiam resuscitati". São Leão M., Serm. 64, 7. " Quidquid gestum est in cruce Christi, in sepultura, in resurrectione tertia die, in ascensione in coe/um, et 12

GRAUS OE ORAÇÃO+

tenham reproduzido de algum modo, serão sempre muito imperfeitos e pequeninos, segundo adverte São Bernardo (Serm. 4).

Apêndice a) A particifJação dos mistérios de Cristo. Toda alma cristã, diz o Ven. Olier, deve participar em geral de todos os mistérios de Jesus Cristo, e de um modo especial deste seis: A Encarnação, a Crucificação, a Morte, a Sepultura, a Ressurreição e a Ascensão. 1º. O mistério da Encarnação opera em nós a graça de aniquilamento de todo interesse e amor próprio; isto é, que assim como pelo sagrado mistério inefável da Encarnação, a Santa Humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo foi aniquilada em sua própria personalidade, de sorte que nem se buscava nem tinha nenhum interesse particular, nem operava por Si mesma, tendo-lhe sido substituída pela personalidade do Filho de Deus, a qual buscava sempre o interesse de seu Pai; assim devemos aniquilar todo próprio desígnio, todo interesse pessoal, para não ter mais que os de Jesus Cristo, que está em nós a fim de viver ali também para seu Pai, e como se nos dissesse: 24 Assim corno meu Pai me enviou, cortando toda raiz de buscar-me a Mim mesmo, não me dando a personalidade humana, senão unindo-me a uma Pessoa divina para fazer-me viver por Ele; assim, quando me comeis, viveis por Mim, e não por vós, pois Eu encho vossa alma de meus desejos e de minha própria vida, a qual deve consumir e aniquilar em vós tudo o que seja próprio: de sorte que Eu seja quem em vós viva e deseje tudo; e, deste modo, aniquilados em vós mesmos, ficareis revestidos de Mim. Este revestimento de Jesus Cristo é uma segunda graça do mistério da Encarnação, pois produz em nós completo despojamento, que nos torna plenos de Nosso Senhor por uma consagração total, como Ele, quando se encarnou, consagrou in sedere ad dexteram Patris, ita gestum est, ut his rebus ... configuraretur vita christiana quae hie. Geritur" . S. August. Enchirid. 14. 24

Cf. Jo 6, 58 . 13

* JUAN G. ARINTERO, O. P. todos os seus membros, santificando os nossos e os seus para serviço e Glória de seu Pai. E todos os dias continua esta oferenda sem interrompê-la jamais, oferecendo-se sempre em Si e em seus membros neste altar em que se consuma todo sacrifício. Jesus e o conjunto de todos seus filhos formam a hóstia: seu Espírito é o fogo, e Deus Pai, adorado em espírito e em verdade, é a quem tudo se oferece. 2º. O mistério da Crucificação nos dá a graça e a fortaleza para crucificar todos os nossos membros com a virtude do divino Espírito, que é o executor da sentença pronunciada contra a carne. Os cravos de que se servem são as virtudes que sujeitam o amor próprio e os desejos carnais. Este estado supõe, pois, que a alma está ainda vivendo para si mesma e lutando, e que o divino Espírito usa de violência para mortificar e crucificar o corpo. 3º. Do mistério da Morte de Nosso Senhor participamos pela Comunhão, onde O recebemos em estado de vítima, e recebemos a graça que nesses mistérios nos adquiriu. No estado de morte, o coração não se comove em seu fundo, por mais comoções ou impressões que de fora lhe venham; o cristão está então como insensível a tudo, por estar morto em Nosso Senhor. Mortui enim estis. 25 Podem sentir-se os ataques e haver grande perturbação no exterior, mas o interior está em paz, e sem alterar-se por nada, por estar como morto e insensível às coisas do século, por causa dessa íntima vida divina que absorve em si tudo o que é mortal. 26 4º. A Sepultura difere da morte pelo fato do morto estar ainda à vista de todos, mas, ao ser enterrado, desaparecer por completo, e vir a ser esquecido e pisoteado ... O estado de morte diz respeito somente a um estado de consciência, de firmeza e de insensibilidade; porém, a sepultura quer dizer podridão, destruição total de nós mesmos e a produção do germe de urna vida nova. Assim como do grão de trigo enterrado nasce urna 25

Cl 3, 3.

26

2Cor 5, 4. 14

GRAUS DE ORAÇÃO+

nova planta, ao ser em nós sepultado e destruído o velho Adão, renascemos à vida do espírito para ressuscitar a essa nova vida divina que o Espírito Santo ali produz com todos os efeitos e movimentos de santidade que a acompanham ... No mistério da sepultura de Nosso Senhor, vemos renascer sua vida divina por baixo da tumba onde havia sido trancado este admirável trigo dos eleitos. 5º. O mistério da Ressurreição nos dá uma graça de afastamento das coisas deste mundo e de tudo o que não é Deus. Além de um desapego da vida presente, que nos faz suspirar de forma contínua e incessante pela pátria, à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo que, depois de ressuscitar, desejando ardentemente estar com seu Pai, mal podia viver com seus próprios discípulos e nem permitiu que Madalena se lhe acercasse. O estado de santidade em que está a alma ressuscitada supõe afastamento de todo o presente. 6º. O mistério da Ascensão implica um estado de triunfo e de consumação em Deus, em que já não se vê nada que pareça miséria ou fraqueza humana. Nada disto tinha Nosso Senhor ressuscitado; mas conservava ainda alguns sinais, às vezes como se despojando em parte de sua glória, fazendo-se visível e palpável a seus discípulos. Mas, depois de sua Ascensão, já não tolera interrupção de sua glória, cujo resplendor é tal que não o podem suportar olhos humanos. Assim permanece escondido no seio de seu Eterno Pai, e em união com Ele nos envia o Espírito Santo. Daí também que uma alma, quando com a graça que emana desse admirável mistério, entra no sublime estado da divina ascensão, receba do Salvador uma maravilhosa participação de sua Divindade, ficando tão luminosa com sua própria claridade, tão abrasada em seu amor, tão transformada n'Ele e tão deificada, que com seus transportes de caridade envia também, à sua maneira, o Espírito Santo aos corações dos demais fiéis, alcançando-lhes copiosas graças. 27 27

Cf M. 0/ier, Catéchisme chrétien pour la vie intérieure, l '. P., leç. 20-25; Santa Maria Madalena de Pazzi, Obras, l ª. P., e. 2-4; em Evolución mística, p. 512-3. 15

+ JUAN G. ARINTERO, O. P. b) A morte mística e a vida nova. A vida de Jesus Cristo, observa o Pe. Grou, 28 foi um contínuo morrer, isto é, uma morte mística cujo último ato e consumação foi a morte natural. Deste modo, a nova vida que as almas fervorosas devem levar em Jesus Cristo não é outra coisa senão um contínuo morrer a si mesmas; é morrer aos mais leves pecados e mesmo às menores imperfeições; morrer ao mundo e a todas as coisas exteriores; morrer aos sentidos e aos cuidados imoderados do corpo; morrer ao caráter e aos defeitos naturais; morrer à própria vontade, à estima e ao amor de nós mesmos, e até às consolações espirituais; morrer aos apoios e seguranças com respeito ao estado de nossa alma; enfim, é morrer a toda propriedade - ou apego - nas coisas concernentes à santidade. Por estes diversos graus de morte, a vida mística de Jesus Cristo vai se estabelecendo em nós; e quando se tenha dado o último golpe de morte, então Jesus Cristo nos ressuscita, comunicando-nos as qualidades de sua vida gloriosa, enquanto possível neste mundo. Vejamos em poucas palavras esses diversos graus de morte.

Morte aos mais leves pecados e às menores imperfeições; isto é, que a primeira resolução que deve formar uma alma que queira ser toda de Deus é o não cometer jamais advertidamente nem a menor falta ... ; e não negar a Deus nada que Ele peça, nem dizer: "Isso é pouca coisa, Deus me dispensará esta bagatela". Esta resolução é essencial, e há que manter-se nela com fidelidade inviolável. Isto não quer dizer que não nos escapem faltas nos primeiros movimentos, de inadvertência, de fragilidade; mas estas, pelo mesmo que não são previstas nem advertidas, não bastam para nos deter no caminho da perfeição. Morte ao mundo e a todas as coisas exteriores; isto é, que não se deve amar mais ao mundo nem o buscar; senão conceder-lhe tão somente aquilo que não se pode negar, e que Deus mesmo quer que lhe conceda; mas com o coração angustiado e sofrendo por ter ainda com ele esse trato indispensável. Não 28

Manuel de ames intér.; Sur la vie nouvelle en J. C. 16

GRAUS DE ORAÇÃO+

há, pois, que respeitar o mundo, nem ter em conta seus juízos, nem temer seus desprezos, burlas e perseguições, nem se envergonhar diante dele de nossos deveres e práticas evangélicas, nem as suprimir pelo que dirão ...

A morte aos sentidos exige que estejamos alerta contra a tibieza, o amor às comodidades e à sensualidade; e não demos ao corpo mais do que o necessário em alimentos, sono e roupas; que o mortifiquemos com privações e ademais, se a saúde o permitir, Deus o inspirar e o confessor o aprovar, com certas penas aflitivas ... A morte ao caráter implica sua difícil reforma, de modo que conserve o que tenha de bom e se corrija o defeituoso ... O meio de consegui-lo é velar sobre a guarda do coração e conter seus primeiros movimentos, não agindo nem falando segundo o primeiro impulso, senão mantendo-nos em paz e em posse de nós mesmos ... A morte à própria vontade e ao próprio juízo é um ponto muito amplo e de difícil prática. Antes de tudo, nas coisas ordinárias, há que procurar submeter o próprio gosto e a própria vontade à razão, não se deixando levar por caprichos e fantasias, respeitando o parecer de outros quando for razoável. .. Em nossa conduta espiritual, recebamos com simplicidade o que Deus nos oferece e estejamos como Ele nos quer, sem desejar outra coisa ... ; pratiquemos a obediência ao nosso diretor e reprimamos a atividade de nossa mente, mantendo-nos sempre sob a dependência de Deus e sem refletir sobre nós mesmos ... Em geral, procuremos ter nossa mente e nosso coração vazios, a fim de que possa Deus pôr ali, a seu gosto, o que bem queira. A morte à estima e ao amor a nós mesmos deve ser cada vez mais corriqueira, posto que o mais arraigado que temos é o orgulho e o amor próprio, que são nossos grandes inimigos e de Deus. Ele os combate e persegue sem trégua em uma alma que se entregou. Ela deve deixá-Lo fazer, e mesmo ajudá-Lo, quando for a ocasião. 17

+

.JU AN G. ARINTERO, O. P.

Morte aos consolos espirituais. Quando Deus os retira, querendo como desmamar a alma, esta não acha gosto em nada: tudo lhe pesa, tudo aborrece e cansa. Já não sente a presença de Deus, e ainda que tenha a paz, não se dá conta dela nem mesmo crê que a tem ... É preciso que a alma seja generosa e aceite estas privações, acostumando-se a não buscar-se em nada, amando a Deus com puro amor e servindo-o por Si mesmo e em detrimento próprio. O serviço de Deus custa muito à natureza, que grita e se queixa ... e há que deixá-la gritar e ser mais fiel que nunca, arrastando a vítima ao sacrifício, sem fazer caso das suas repugnâncias. Morte aos apoios espirituais ... Enquanto a alma, em meio a suas tentações e provações, tem algum apoio no fundo de sua consciência ou nas palavras de seu diretor. .. , não lhe é tão difícil suportar as maiores penas. Mas quando se encontra como que suspendida no vazio, vendo o inferno a seus pés, sem nada que a apoie e próxima a cair em cada movimento; em suma: quando se persuade de que Deus a abandonou e que se encontra perdida sem remédio, em vez de ter quem a desengane, tudo concorre para assegurá-la desta persuasão. Então são extremadas as angústias, é preciso uma coragem heroica para perseverar e submeter-se ao que Deus quer dispor para sempre dela. Morte a toda propriedade concernente à santidade. Como a alma se havia apropriado - de certa maneira - dos dons de Deus, as virtudes com que Ele a havia enriquecido e para qual tinha tido alguma complacência em sua pureza, a despoja Deus de tudo, não enquanto a realidade, senão aparentemente, reduzindo-a a uma completa desnudez; de modo que já não veja em si nem dons, nem virtudes, nem nada sobrenatural. Não sabe ela já o que é, nem o que foi, nem o que virá a ser. Seus pecados, seu nada, sua reprovação: eis aqui o que vê em si, e do que se crê digna. Eis aí o começo da consumação da morte mística. Mas perto está a ressurreição ao estado glorioso.

18

GRAUS DE ORAl
fc

que vêm, assim, a ficar na ordem inversa: "Amor enim, ele diz, rapit, unit, satisfacit. Primo quidem amor rapit ad amatum, et inde extasim facit. Secundo amor jungit cum amato et quasi unum efficit. Tertio sibi sufficit, nec aliud praeter amare quaerit". Os místicos posteriores a Santa Teresa que não se inspiram nela, seguem propondo graduações inaceitáveis. Assim, aproximando-se, em parte, a Santa Alvarez de Paz, 8 que considera até 15 graus, fundando-se em 15 denominações que encontrou nos autores, dizendo: "Quindecim nomina ad contemplationem pertinentia in ascetis invenio, quae mihi videntur totidem contemplátionis gradus designare. Haec autem sunt: 1 º. intuitio veritatis, 2º. secessus vírium animae ad interiora, 3º. silentium, 4º. quies, 5º. unio, 6º. auditio loquelae Dei, 7º. somnus spiritualis, 8º. extasis, 9º. raptus, 1Oº. apparitio corpora/is, 11 º. apparitio imaginaria, 12º. inspectio spiritualis, 13º. divina caligo, 14º. manifestatio Dei, 15. visio intuitiva Dei".

Godínez se funda na divisão geral da contemplação em querubínica e seráfica, que hoje já ninguém admite, pois não indica senão o predomínio que em mesmo grau podem ter, respectivamente, os dons de inteligência e sabedoria. - Assim, tem que subdividir a primeira atendendo quase unicamente aos mistérios ou atributos divinos a que se refere, incluindo nela, entretanto, a oração de silêncio e de quietude. Na seráfica distingue 10 graus, que são: contemplação ígnea, flamejante, confirmativa e de resignação, abnegação ou desnudamento, solidão afetiva, solilóquios da alma, névoa espiritual, liberdade do espírito, contemplação obscura e amor violento. 9 8

De grad. Contempl., 1 5, P. 3, lntrid.

9

Teologia Mística, Liv. 5 e 6. 73

ARTIGO VII GRAUS FUNDAMENTAIS: OBSERVAÇÕES

PRESCINDINDO DESTAS CLASSIFICAÇÕES, tão infundadas e desordenadas, e atendo-nos à simplificação feita nas magistrais descrições de Santa Teresa, poderemos reduzir os diversos graus que hoje costumam se admitir na contemplação a estes cinco fundamentais: recolhimento, quietude, união, noivado e matrimônio espiritual; pertencendo os três primeiros, segundo dissemos na Evolución mística, 1 à união conformativa, e os outros dois (entre os quais bem se poderia intercalar a contemplação obscura) à união transformativa.

Esses cinco ou seis graus principais cremos que, à primeira vez, lhes vão seguindo todas as almas com rigorosa ordem, não passando a nenhum deles sem ter-se detido mais ou menos no imediato inferior, nem geralmente, sem experimentar uma nova crise em que se prove a fidelidade e se mereça essa ascensão. - Mas depois de posta a alma em um grau, pode receber quase indistintamente, ora a oração própria dele, ora a pertencente a qualquer dos graus inferiores, segundo mais lhe convenha, sem excluir a própria meditação ou oração discursiva: à qual deve a alma recorrer para não estar ociosa - como os quietistas - senão andar como possa por seu pé ou P. 491.

7S

+ JUA N G. ARINTERO, O. P.

remar, sempre que se lhe dobrem as místicas asas ou cesse o sopro divino. 2 Contudo, certas almas, parece que vão de pouquinho em pouquinho chegando até o próprio grau da união, por uma transição insensível, ou melhor, entre tão contínuas provações e obscuridades que, por passarem rapidamente os momentos de luz, não conseguem reconhecer-se em nenhum dos precedentes graus e assim talvez lhes pareça que seu único estado é uma perpétua noite, só interrompida ou cruzada por breves raios de luz e consolo que não conseguem explicar. - Mas ao chegar à união e estabelecer-se por algum tempo nela, enquanto vai cessando a noite do sentido para dar lugar a do espírito, ao descer ocasionalmente aos graus precedentes ou ver sua descrição em algum livro, começam a compreender que isso não lhes é novo, e de que, mesmo sem adverti-lo, realmente tiveram já várias vezes essa maneira de oração. Tanto assim é que podem muito bem reconhecer que o recolhimento precedeu a quietude, por mais que muitos místicos - e às vezes a própria Santa Teresa - o associem a ela (o recolhimento à quietude) ou o descrevam depois, sem dúvida por não se ter fixado bem nele ou por considerá-lo tão somente como um repentino relâmpago em meio a obscura noite do sentido, ou melhor, como um simples raio de luz mais clara na habitual presença de Deus, de que já antes gozavam. Mas ao sentir claramente o descanso da alma na quietude, e ver como nela lhes vai ficando cativa a vontade, advertem que para isso vinham preparando-se com atos mais ou menos repentinos de recolhimento infuso.

2

Cf. Santa Teresa, Vida, e. 18. 76

GR AUS DF ORAÇAO >f
J
'f:, JUAN G. ARI J\i' TERO, O. l'.

favores e júbilos talvez não os podia dissimular .. , O efeito que a mim sempre me fez a oração, foi esse, .. Jamais me pus nela e diante de meu Senhor, [sem antes implorar], que se eu tivesse imperfeições não me as repreendesse, Que repreensões tão particulares são as do Senhor! Que misteriosas e quanto é o que ensinam! Só por recebê-las e o gozo de cumprir o que ensinam, parece que se podia servir à Sua Majestade". "Nesta infusa e quieta oração é onde a alma, cheia de amor a tanto bem como lhe dão, escreve a Ven. Ângela Maria da Conceição, 33 aprende a trabalhar nas mortificações de qualquer paixão e apetite, aqui onde saboreia exercitar as virtudes; aqui onde sabe sofrer por Deus e amá-lo; aqui onde conhece sua vontade tão cativa, que teme voltar a gozar de sua liberdade; aqui sabe bem agradecer ao Senhor as cruzes interiores e exteriores que por seu amor sofre; e aqui por fim aprende a não querer mais que a Deus, sem nenhuma adesão de sua vontade, porque está pronta a não gozar nada do que foi acima mencionado, se Deus não quer que o goze, e isso para não fazer-se infiel e que o Senhor a desampare por outra mais fiel; pelo qual queria a alma estar sempre recolhida dentro de si mesma, fazendo-se cela para o Senhor; porque com a luz que se lhe dá, reconhece que ainda que não caiba no mundo, saboreia e se molda a alma para que se faça trono de sua soberania e grandeza: - São tão grandes as graças e mercês que neste estado recebe a alma, que desfrutando delas uma ou duas vezes, a deixarão já tão rica suas potências que o entendimento gozará a certidão das coisas de fé, e a vontade com ardentes ânsias de amor às virtudes, porque ficam estas duas potências da alma tão ilustradas e inclinadas ao amor de Deus e ao sofrimento das baixezas do mundo, que em pouco tempo ganham mais o que podiam ganhar por muito nas meditações ... "A dificuldade maior e que é maior martírio, é julgar que naquela quietude não se faz nada, ainda que lhe pareça que é caminho muito seguro; mas como isto se lhe esconde, e pelo 33

Riego esp., cap. 38.

98

(;Jtr\US DF ORAÇ.4.0

+

espírito humano nada se vê nem se conhece, padece grande trevas, e é grande martírio aquele temor que padece de si, se lhe faltar aquela amorosa união de seu Amado; não obstante que se lhe dá a conhecer que, para que a conserve, é necessário todo o vazio do que não seja Deus, morrendo a tudo o que é antigo para ressuscitar nesta tão nova vida do espírito do Senhor, em que Sua Majestade opera sem que o saiba, concedendo-lhe só uma obscura vista que a guia a Deus, e isso lhe baste". f) Doce embriaguez de amor e fartura divina. -

"O Senhor, refere Irmã Mariana de Santo Domingo, me comunicava tanta doçura e suavidade, que esta mesma me embriagava; e me incorporava com Sua Majestade, dizendo-me: - Amada minha, assim regalo aos que se mortificam, e tudo deixam por Mim. Eu te fartarei, e será de ânsias de Mim, e que essa é a mais alta e elevada mesa, e quanto dela mais comes ... acharás por sobremesa a insaciável fome e ânsia, as quais Eu não te tirarei, porque ... é esse o melhor e mais gostoso bocado ... Desfruta, filha minha, e goza quão suave sou para os que me amam". 14

g) Como no sono místico, dorme a alma e o coração vela. -

"Eu não penso nem sei nada , escrevia em Junho de [18J81 a Irmã Bernarda Ezpelosín,i 1 só sinto que amo a Deus, que o amo muito, e que Ele me ama mais, muito mais; não sei outra coisa, aqui me perco e nada mais acho ... Ocorreu-me que perdia tempo, qu e não fazia nada, que meus sentidos e potências estavam adormecidos e talvez embargados por meus pecados; mas tudo isso que se me ocorria não me inquietava nem me secava, quando estou assim, neste estado tão particular, ao que parece me arrasta e me sujeita nele uma força sobrenatural. Eu me perco, me abismo em mim mesma: quanto menos entendo, mais sinto, e quanto mais sinto, mais parece ao mesmo tempo que deixo de sentir; e quando eu me vejo sem fazer nada e como adormecida e morta, então, como que por uma luz sobrenatural - como é 34

Vida, p. 289.

35

Vida , p. 188.

99

+

JU AN G. ARJNTERO, O. P.

tudo o que então me sucede - parece que entendo ou me dizem que, então, não somente não estou sem fazer nada, senão que assim faço muito".

"Quando, pois, te encontrares nesta simples e pura confian ça filial diante de Nosso Senhor - como uma criança no seio de sua mãe - adverte São Francisco de Sales, 36 ficai aí sem mover-te de nenhum modo para fazer atos sensíveis, nem do entendimento nem da vontade, porque este amor simples de confiança e este adormecimento amoroso de teu espírito entre os braços do Salvador compreende por excelência tudo quanto andas buscando por teu gosto". "E se neste simples modo de estar diante de Deus, adverte logo,37 for de sua vontade acrescentar algum curto sentimento de que somos todos seus e Ele todo nosso, ó grande Deus! Que graça tão desejável e preciosa!". "Imagine, diz Gema,38 uma menina que vai ficando adormecida no colo de sua mãe. Ali fica esquecida de si mesma e de tudo; não pensa em nada, mas descansa e dorme sem saber como nem por que; assim está minha alma nesse tempo. Mas é um sono muito doce". 39 Aqui foi suprimido um parágrafo inteiro em latim. Consta na página 64 do pdf (pág 58 do fac-símile original) 36

Amor de Dios, 1. 6, e. 8.

37

C. II.

38

Biografia, e. 17.

39

Com razão canta a M. Maria de Santo Alberto, C. D. (cf. Obras de San Juan de la Cruz, edic. Crie. t.3, p. 341) .

Durmiendo con reposo Los moradores libre la dejaron; Abrió y entrá el Esposo; Mas cuando desp ertaron De verse ya despiertos se quejaron. Dormindo em repouso Os moradores livre a deixaram; Abriu e entrou o Esposo; Mas quando desperta ram De ver-se já despertos se qu eixara m.

100

GRAUS DE ORAÇi\O

+

h) Misteriosa maneira de se manifestar, falar e ensinar Deus

à alma unida com Ele, e de percebê-lo mediante os "sentidos espirituais" - Frutos admiráveis destas divinas comunicações. - Não podia deixar de entender que estava (Cristo) perto de mim, o via claro, e sentia. Aqui, vê-se claramente que está aqui Jesus Cristo, Filho da Virgem. Nesta outra maneira de oração (quietude, presença de Deus) representam-se algumas influências da Divindade: aqui junto com estas influências vê-se que nos acompanha e quer fazer mercês também à Humanidade sacratíssima ... "Também é de um modo diferente que Deus ensina à alma e lhe fala sem falar ... É uma linguagem tão do céu, que aqui mal se pode dar a entender. Põe o Senhor o que deseja fazer a alma entender muito em seu interior, e ali o representa sem imagem, nem forma de palavras ... E note-se muito esta maneira de Deus fazer, que entende a alma o que Ele quer, e grandes verdades e mistérios ... Faz Deus ao entendimento que advirta, ainda que lhe pese, a entender o que se diz; e lá parece que a alma tem outros ouvidos com que ouve, e que a faz escutar, e que não se disperse ... Se vê a alma a tal ponto sábia, e tão manifesto o mistério da Santíssima Trindade e de outras coisas muito elevadas, que não há teólogo com que não se atrevesse a disputar verdades destas grandezas. - Fica tão espantada, que basta uma mercê destas para transformar toda uma alma, e fazê-la não amar coisa senão a Quem vê, que sem trabalho nenhum seu, a faz capaz de tão grandes bens, e lhe comunica segredos, e trata com ela com tanta amizade e amor, que não seria possível escrever" .40 "Que bem ensinais à alma nestas ocasiões (união), exclamava Irmã Catarina de Jesus Maria, 41 ao saber falar convosco! Que docemente lhe falais sem perturbação de vozes! Que bem se falam os dois sem ruído nem cansaço de palavras! Ó que duro se me faz, Dono meu, ter de voltar a tratar com as cria40

Santa Teresa, Vida, cap. 27.

41

Autohiogr., 2. P.

e.

74. 101

>!< JUAN C . ARI NTERO, O. P.

turas! Se Vós assim não o ordenásseis, eu não as voltaria a ver nem tratar". "Destas visões (da divina imensidade, etc.), diz a Ven. Mariana de Escobar, 42 fica a alma tão pungida, que parece ter outro novo ser, e outra nova vida espiritual muito diferente da ordinária". "Quando cessam os discursos, e Deus leva a alma ... e a mete no conhecimento de si mesmo, diz Santo Afonso Rodríguez ( Unión, c. 1), quanto mais lhe dá deste conhecimento, tanto mais ela se abrasa em seu amor; porque este exercício é mais alto e perfeito, por Deus tomar à mão nele, ensinando à alma por si mesmo e comunicando-se a ela altamente ... e como a alma não o compreende, nem é possível, causa nela este conhecimento que Deus lhe dá de si mesmo uma tão grande admiração e amor ao seu Deus, que deixa a alma toda suspensa ... De tal admiração e amor tão grandes da vontade vêm os raptos, particularmente quando a comunica sua bondade; e nesta bondade e infinito ser de Deus lhe comunica outras muitas e grandes coisas e segredos grandes de Deus, tudo de uma vez, sem confundir uma em outra, como se a coisa não fosse mais que uma só. E se isto que descobre Deus à alma é das perfeições de Deus, como este Senhor é Deus de infinito ser, cada coisa dessas é Deus de infinito ser". "Com essa comunicação que esse Senhor tem lá dentro com ela e ela com Ele, acrescenta (c. 6), está transformada n'Ele, que causa o amor dos dois: e assim a alma não olha a seu Amado Jesus de fora, senão dentro de si, por tê-lo e senti-lo, todo em tudo, seu corpo gozando n' Ele de tudo o que em si mesma lhe comunica de si mesmo, particularmente de suas dores e trabalhos. Porque como está nela, veste-a da farda de Si mesmo; como o sol que reveste uma nuvem, que lhe comunica seu grande resplendor e beleza. Já não discorre, por ter consigo o que buscava, que era seu Amado Jesus; e assim estão os dois em um, amando um ao outro e gozando um no outro; Ela com 42

Vida, 1. 3, e. 2, § 2. 102

GRAUS DE ORAÇAO

+

Ele e Ele com ela, transformando-a em Si mesmo, dando-se um ao outro tudo o que tem e tudo o que é, como bons amantes. Quem saberá dizer o que aqui nesta contemplação passa entre Cristo e a alma, sozinhos, e as grandes coisas que de Si mesmo lhe descobre por claro conhecimento, sem ruído de palavras, e o grande gosto que recebe com a presença de seu Amado? Só quem a saboreia sabe, sem sabê-lo dizer, senão saborear". "Como quando em uma esponja se incorpora e embebe a água, assim, diz Santa Teresa, 43 me parecia que minha alma se enchia daquela Divindade, e de certa maneira gozava em si mesma e tinha as três Pessoas [da Trindade]. E também entendi: "Não trabalhes tu em ter-me a Mim encerrado em ti, senão em encerrar-te tu em Mim". i) Diversidade de comunicações divinas e de efeitos que produzem. - Jogos de Deus na alma: ausências e desolações. "Como são tantos e tão diferentes modos os que S.M. tem para comunicar-se nestas orações, nem todos se podem declarar nem referir; porque os exercícios do divino amor não têm fim: umas vezes se sente sua presença e comunicação pela aniquilação profunda que sente em si a alma; outras vezes se manifesta como retirado em si mesmo; e como a alma lhe recebe presente, está como a reverente serva fiel a seu soberano Dono; outras vezes a põe na privação de suas operações, de modo que nada opere por si, enchendo-a o Senhor de si mesmo; mas muito disposta a deixar seu querer, e que opere só o que lhe permitisse sua santíssima vontade: outras vezes lhe põe em um espírito de sacrifício com um grande desapego de tudo, achando-se tão cheia de Deus, que não só a parte superior goza das doçuras, senão que também transborda pelos demais sentidos e todos gozam de sua suavidade; e enfim, outras vezes, a cativa tanto o amor do Senhor, que com seu gosto e doçura todo o resto lhe parece insípido e penoso; está Deus nestes estados de oração tão pródigo com a alma que parece que não tem que cuidar de si mesma, senão deixar-se servir e amar, que mesmo em suas 43

Relaciôn, ]. 103

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X•

não impede à alma o exercício de outros negócios nem as distrações do entendimento e imaginação ... é uma oração suave, sem cansaço, e se pode conservar por longo tempo ... Há outra também, que a essa é similar, é uma ânsia e desejo da Cruz de Cristo Senhor nosso, para imitá-lo nos trabalhos; e essa oração é muito segura ... Chama-se oração de união com Deus, porquanto a vontade nela e com ela não sente outro amor que aquele que este Senhor se tem a si mesmo, unindo-se com aquele único amor com que esse Senhor ama sua Bondade infinita, em que o amor da alma seja como uma pequenina centelha que se afoga e abisma naquela fogueira infinita do divino amor; e assim ... a alma engolfada não pode repousar no que não fosse Deus; e por isso é tão poderoso esse amor de unidade para o sofrimento de cruz e mortificação, que parece não haver diferença nele entre cruz e amor. .. " "É esta oração tão única do Senhor, que parece não necessitar das ajudas do entendimento, porque sem vista que a guie, se acha toda empregada com toques íntimos que lhe dá o amor divino em seu divino Esposo, que é o imã de seus movimentos; e tem esta alta oração tal virtude, que ainda que a alma não faça particular resolução ao exercício das virtudes, as ama e abraça com particular amor e as pratica, nascendo da vontade uma grande atração a todo gênero de mortificações e de cruz que se lhe ofereça sofrer; porque nelas se deu a entender que não a poderá conservar se não vive amorosamente crucificada". m) Divinos incêndios, toques prodigiosos e ais de amor.

"Todo o fervor e ardor de meu coração, refere de si a mesma Ven. Ângela Maria da Conceição,53 se me difundiu pelo corpo, e eu o sentia como um ferro que se lança do fogo ... ; do mesmo modo conhecia, estava eu toda em Deus, onde o fogo de sua caridade me abrasava, e eu desejava ser ali completamente consumida com aquela dor. É uma dor com sabor de glória, e a alma tem grande recreio n'Ele, porque sente toques e abraços de Deus, mais que se palpavelmente o visse diante, tem a 53

Vida, 1. 2, e. 8. 113

+ JUAN G. ARJNTERO, O. P. certeza que está em sua Majestade, e se lhe dá ali uma notícia de que aquilo é uma grandíssima mercê ... ; com o qual conhecendo juntamente sua indignidade também por conhecimento infuso - que de outra sorte não lhe deixam pensar em si mesma - isso lhe é outro dardo penetrante e incentivo de amor, vendo-se amada por um Senhor tão imenso, ao passo que não merece outra coisa que ser lançada em um profundo abismo. Ali conhece tudo de uma vez: sua ruindade e a suma Bondade, e um e outro a ajudam a intensificar aquele ato de amor de Deus geral e simples, que Ele próprio, por sua bondade lhe deu. Ama, e parece-lhe que não ama, goza e crê que não goza; padece e se lhe faz muito pouca coisa, com o que tudo são ânsias de amar e padecer pelo Amado, com uns ais e como que suspiros que nascem com força do coração, lançando em cada um todos seus afetos em Deus, e após eles a alma; e neste emprego não sabe ou pode dizer outra coisa mais que: Oh mare Magnum!, em que parece dizer quanto há que dizer, e ali fica como inundada". n) Dardos da ira divina - Em meio às calamidades da peste e tremores de terra - que em seu tempo houve em Quito - viu uma vez a Ven. M. Irmã Catarina de Jesus Maria, 54 que Nosso Senhor lhe falava muito irritado e ao mesmo tempo lhe lançava um dardo de fogo. - Então ela, depois de responder-lhe: 'Que queres fazer, Bem meu? Aqui está tua escrava', começou a gritar: 'Que me queime, que me abraso! ... Porque no ponto acrescenta - que aquele dardo deu em minha alma e coração, se abrasavam a alma e corpo, e o coração ardendo queria romper o peito, não de doce amor, não, não foi assim, senão daquele fogo que desprendia da ira de Deus, causando em minha alma um temor reverencial sobremaneira, ainda que não faltasse o amor para não querer vê-lo irado. - Enfim, a quem isso passou, bem me entenderá, mas eu entregava a vida com este fogo de ira.".

54

Autobiogr., 2 P. e. 79. 114

GRAUS DE ORAÇÃO+

o) Participação da onipotência divina. - "Como o ferro unido ao fogo, observa o Pe. La Puente, 55 participa da potência do fogo, assim a alma unida com Deus participa da onipotência de Deus ... Três modos há de entrar nas potências de Deus: primeiro, por conhecimento especulativo, e é próprio dos letrados; mas não fala deste Davi, antes diz (SI 70, 16): Quoniam non cognovi litteraturam, introibo in potentias Domini: Por ignorante do mundo, entrei nas comunicações do Senhor. - Se os letrados não se fizerem como loucos e ignorantes, não entrarão nas potências de Deus. - Outro modo de entrar por conhecimento, que é mais que especulativo e menos que experimental da onipotência, é um conhecimento com viva fé da facilidade com que a onipotência de Deus pode entrar dentro de mim, e fazer das minhas potências quanto convém ... Neste sentimento está a alma benigna para o que Deus quiser, e desejando que venha e a toque e junte consigo. Outro terceiro modo há, que é de experimental conhecimento ... quando uma alma, sentindo essa união com a divina onipotência, experimenta uma grandeza de ânimo para fazer em Deus coisas heroicas; ademais para padecer duríssimos trabalhos ... Este é o partícipe da onipotência em todas as suas virtudes: sua oração é onipotente para alcançar de Deus o que lhe pede, sua obediência é onipotente para executar quanto lhe manda; sua paciência é onipotente para sofrer quantos trabalhos lhe envia ... Ó como agradaria à tua onipotência, onipotentíssimo Senhor, que houvesse muitos onipotentes desses na tua Igreja!. .. Se desejas entrar nas potências de teu Deus, o caminho é fazer humilhações ... ". p) O operar divino na alma unida com Deus. - "Em havendo hábito de união, que é já um estado sobrenatural, observa São João da Cruz, 16 desfalece completamente a memória e as demais potências em suas naturais operações, e passam de seu termo natural ao de Deus, que é sobrenatural. E assim, estando a memória transformada em Deus, não se lhe podem imprimir 55

Sentimientos y avisos, § VI.

56

Subida, III, e. l. 115

>i< JUA N G. ARI NTERO, O. P.

formas nem notícias das coisas; pelo qual as operações da memória e das demais potências neste estado são todas divinas; porque possuindo já Deus as potências, como já inteiro Senhor delas, pela transformação delas em si, Ele mesmo é que as move e manda divinamente, segundo seu Divino Espírito e vontade; e então é de modo que as operações não são distintas, senão que as ações operadas pela alma são ações de Deus. E são operações divinas, porquanto o que se une com Deus um espírito se faz com Ele (1 Cor 6, 17). E daqui é que as operações da alma unida são do Espírito Divino, e são divinas. E daqui é que as obras de tais almas sozinhas são as que convém e são razoáveis, e não as que não convém; porque o Espírito de Deus as faz saber o que hão de saber e ignorar o que convém ignorar, e recordar-se do que se hão de recordar, com formas e sem formas, e olvidar o que é de se olvidar, e as faz amar o que hão de amar, e não amar o que não é em Deus. E assim todos os primeiros movimentos das potências de tais almas são divinos; e não deve impressionar que os movimentos e operações destas potências sejam divinas, pois estão transformadas em ser divino ... "Tenho para mim, diz Santa Teresa, 57 que uma alma que chega a este estado (de união extática, com raptos e voos), já não fala nem faz coisa por si, senão que de tudo o que há de fazer, tem cuidado esse soberano Rei. - Ó, valha-me Deus, que claro se vê aqui a declaração do verso (Quis dabit mihi pennas! ... ) e como se entende tinha razão, e teriam todos que pedir asas de pomba! Entende-se claro, é voo que dá o espírito, para levantar-se de todo o criado, e de si mesmo até o primeiro".

57

Vida, e. 20. 116

ARTIGO IX A UNIÃO TRANSFORMATIVA: SEUS GRAUS E PRINCIPAIS FENÔMENOS

e que graus e fenômenos oferece essa maravilhosa união conformativa, em que Deus vai tomando progressivamente uma possessão cada vez mais plena e perfeita de nossas faculdades e energias, unindo-as consigo intimamente na medida que vão ficando bem purificadas, a começar, no recolhimento, pela inteligência, que era a menos impura e viciada que tínhamos, seguindo pela vontade, na quietude; e estendendo-se logo, na plena união, às próprias potências e faculdades sensitivas, as quais embriaga também de sua doçura, para assim fazer-se dono de todo nosso agir; e agindo Ele mesmo em nós, comunica a todas nossas ações - com a participação de seu infinito poder - uma virtude e um valor inestimáveis. - Mas com ser prodigiosa e tão desejável essa união, e ao supor uma tão divina maneira de agir, e uma verdadeira deificação em todas nossas potências, ainda poderá parecer mais moral que vital, e por isso se chama simplesmente conformativa. - E Deus, que quer levar seus prodígios de amor até extremos incríveis (Jo 13, 1) não se contenta com isso, senão que, depois de dar a estes ilustres vencedores o maná escondido e o nome novo (Ap 2, 17), se sabem corresponder às suas generosidades, os configurará à sua imagem dolorosa e os acabará de renovar por completo, revestindo-os do

ACABAMOS DE VER EM QUE CONSISTE

117

+ JUAN G. ARINTERO, O. P.

manto da inocência e mesmo confirmando-os em graça; 1 e logo os fará ser firmes colunas de seu santo Templo (Ap 3, 12); e por fim os sentará em seu próprio Trono para que desde esta vida comecem a reinar com Ele (Ap 3, 21; 2 Tm 2, 12; Ef 2, 6; Lc 22, 28-30). É deste modo como quer levar em nós muito mais adiante suas conquistas de amor; quer, se lhe somos fiéis, apoderar-se não só de todas as nossas potências, senão também de nossa própria vida e alma, e de todo nosso ser, para logo identificá-lo em certo modo com o seu, abrasando-o, absorvendo-o, renovando-o e como transformando-o em Si mesmo, deificando-o assim tão completamente, que já pareçamos ser em tudo uma mesma coisa com Deus, a imitação da soberana maneira em que o são as Divinas Pessoas. Ut sint unum, sicut et Nos unum sumus. - Ego in eis, et Tu in Me, ut sint consummati in unum. (Jo 17, 22-23).

Isso já não é tão somente união, senão certa verdadeira unidade e como que identidade de vida; de sorte que já é Deus não somente quem age, senão também quem vive em nós, e "nosso novo viver é já Cristo", vindo tudo de seu próprio Espírito, como de verdadeiro Senhor e Vivificador nosso, "alma de nossa vida e vida de nossa alma" 2 • Qui vicerít, síc vestietur vestimentas a/bis: et non delebo nomen eius de Libra vitae ... (Apoc., 3, 5). 2

Refere a Ven. Irmã Bárbara de Santo Domingo, em Outubro de 1872 (Vida, p 375-6), que um dia, acabando de comungar, se lhe mostrou o Senhor e lhe disse: "Vem, filha minha, que quero que se consumas comigo e seias uma coisa em Mim". "Então, prossegue ela, me acerquei a meu Deus e senti que me abrasava toda em seu amor. Este divino fogo me consumia e unia tão estreitamente a meu Deus que em pouco tempo ... já não me via a mim, senão somente a Ele; e ... me encontro tão completamente perdida toda em Deus e como que transformada n'Ele, que posso dizer com toda verdade que não sei se vivo: creio estar morta, pois não vivo mais que em Deus ... É uma união muito mais íntima que a que tinha; pois já toda estou em Deus ...". "A visão de Deus tão cara de que goza minha alma me 118

GRAUS D E O RAÇÃO ,f

Eis aqui, pois, em que consiste essa mais que maravilhosa e deífica união transformativa a que todos somos chamados: todos, pois, assim o pediu Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo (Jo 17, 21): "Ut omnes unum sint, sicut Tu, Pater, in Me, et Ego in Te, ut et ipsi in nobis unum sint". Mas isso exige, para poder resplandecer com essa mesma claridade que Jesus recebe do Pai e nos promete dar (Jo 17, 22), uma prolongada e terrível série de purgações e renovações, que pouquíssimos estão bem resolvidos a sofrer; pois são extremamente dolorosas, ao mesmo tempo que deleitosas, e devem penetrar até a própria medula dos ossos, até no mais íntimo da alma e chegar até a separação da própria alma e do esf)írito (Hb 4, 12), reproduzindo os mistérios da sagrada Paixão. Esta união incomparável possui dois principais graus, em si bastante bem distintos e manifestos - por mais que haja certa transição insensível de um ao outro 3 - que são o Noivado místico e o Matrimônio Espiritual; além de outros importantíssimos [graus], mas muito ocultos e difíceis de determinar, que se sucedem ao longo da obscuríssima noite do espírito, em que toda essa renovação se realiza, e entre as quais figura a contemplação caliginosa, em que a alma, admitida a entrar no mar da luz inacessível onde Deus habita - purificada em extremo e aperfeiçoadas em sumo grau as três virtudes teologais - irá unindo-se diretamente com a própria Divindade e com impede cm ce rtas ocasiões que veja como os demais a luz do dia, pois a vejo tão esquisita, que mais hem a posso chamar trevas e não luz. Tudo é estranho pa ra mim; estou como uma pessoa que vem de terras remotas, a qual tudo se lh e faz esquisita .... Como continuamente vejo a meu Deus ... todo o demais me martiriza" . 3

"Essas dua s Moradas - ou seja a VI e VII - adverte Santa Teresa (Mor. VI , cap. 4), se poderiam junta r bem, porque de uma a outra não há porta fechada ". Se bem que " há coisas na última que não se manifestara m aos que não chegaram a ela " .

119

+ JUAN G. ARINTERO, O. I'.

cada uma das três adoráveis Pessoas, transformando-se n'Elas, segundo vai fazendo-se participante, no possível, dos atributos divinos (d). No Noivado; entre êxtases e raptos, se verificam as entrevistas do Verbo humanado com a alma a quem vai tomar por esposa depois de acabar de configurá-la consigo mesmo e revesti-la de suas virtudes, sentimentos e pensamentos. 4 E aí é onde essa altíssima união se inicia, se estabelece e confirma com mútuas e solenes promessas de amor e fidelidade, é com uma total comunicação de interesses, simbolizado, às vezes, ou confirmado, com a comunicação dos corações, assim como promessas empenhadas costumam ser garantidas com o místico anel, o qual desaparece da vista da alma quando esta afrouxa ou incorre em algum descuido. 5 Na próxima disposição para esse divino Noivado costuma intervir a Santíssima Virgem, como que imprimindo na alma suas próprias virtudes e perfeições, e visitando-a com o misterioso manto branco de sua pureza e inocência, para que assim, indo-se atrás d'Ela mesma, possa já dignamente comparecer diante do Rei da Glória (Sl 44, 15). 6 4

O noivado rigorosamente é uma promessa feita por Nosso Senhor a uma alma, que se acha em estado de união, para chegar ao matrimónio espiritual.

5

Eis aqui como refere, em compêndio, a celebração do seu noivado uma admirável religiosa que floresceu no Convento de Dominicanas de Quito no século XVIII: "Começastes - disse a Nosso Senhor, depois de ter ouvido de seus divinos lábios que nela mesma, em seu peito, tinha Ele seu reino - começastes a regalar-me e entre tuas carícias me deste a entender que trocássemos as vontades. Disse que sim, e então com modo especial fizestes a troca dizendo-me ou dando-me a entender: MINHA VONTADE SEJA A TUA (e ao dizer isso senti que se infundia tua vontade em minha alma); E A TUA A MINHA; e ao dizer-me essa outra razão, senti que de toda a alma te a dava, e se infundia dentro de tua divina Majestade". IRMÃ CATARINA DE JESUS MARIA E JOSÉ, Autobiografía inédita, 2.a P., e. 40, p. 298

6

Veja-se nossa obra: Desenvolvimiento y vitalidad de la lglesia, lib. 1, p. 166-167. 120

GRAUS DE O RAÇÃO •X
l< JUAN G. ARINTERO, O. P.

grandes revelações, a manifestação dos mais profundos segredos divinos, como se o Senhor, segundo diz São João da Cruz, 14 não pudesse ter já nada oculto a tão finos amantes seus. 15 E isto é muito conforme as leis de toda boa amizade; e assim a prometeu, efetivamente, o Salvador quando disse que havia de manifestar-se a quantos que de verdade o amassem, e que a quem tratasse como amigos lhes descobria seus íntimos segredos (Jo 14, 21; 15, 15). A estes, pois, sem mais títulos que o de sincera amizade, só por agradá-los e favorece-los, e mesmo prescindindo do bem que daí se possa seguir ao público, lhes faz ordinariamente grandes revelações 16 • 14

Cánt. espirit., anor. a canc. 23.

15

"ln sublimi statu spiritualis matrimonii, adverte Vallgornera (Theol. myst. q. 4, d. 2, a. 6, n. 1093), sponsus Christús Dominus mira coelestium arcanorum et suorum secretorum mysceria sponsae animae denunciar: mutuus namque sic tenere se diligentium amor secretum non patitur: cum enim sponsus totum se sponsae dedicet, Cordis sui erga ipsam acccnsi si nus omnes aperit, et ima pa ndit penetralia : non solum in patria .. . sec ctiam hic, quando jam sponsa perfecte virtutum onamentis decorata, sui sponsi societate ac familiaritate frui meruerit".

16

" Estas almas, a quem Nosso Senhor por sua bondade am a tanto, adverte a Ven. Marina de Escobar ( Vida, 1. 5, c. 23, § 5), por este amor que lhes tem, sem haver extraordinária nem particular causa ... se digna, e quer, e é sua vontade comunicar-se com elas, e visitá-las por Si mesmo e por seus Santos, à man eira que um grande Príncipe se poderia comunicar e revelar seus segredos a alguns ... privados seus ... não já por essa ra zão (de pública utilidade), nem por esse fim, senão por lhes amar tanto, que só por esse amor que lhes têm, sem outra ocasião, mal tem coisa em seu peito que não sê-la descubra ". "Em chegando o Senhor aqui uma alma, escreve Santa Teresa (Vida, c. 21), lh e vai comunicando mui grandes segredos. Aqui são as verdadeiras revelações em êxtase, e as grandes mercês e vis6es; e tudo aproveita para humilhar e fortalecer a alma, e que tenha em menos as coisas desta vida, e conheça mais claro as grandezas do prêmio que o Senhor tem preparado aos que o servem ... Pois tão lealmente paga sua Majestade, ainda nesta vida ... que será na outra? " Segundo a Santa, alguns destes favores que costumam passar por extraordinários, constituem um verdadeiro grau superior à simples união. Assim, acrescenta (c. 22): "Quem chegar a ter a união e não passar adiante - digo arrebatamentos 182

GRAUS DE ORAÇÃO+

Daí que, por muito amedrontadas que se achem as almas fiéis, e por muito possuídas que sempre estejam de um santo temor, ao chegar a hora oportuna e quando as ânsias de amor lhes apertam um pouco mais, esquecidas de todos os vãos medos que lhe tenham posto, não poderão menos que suspirar pela vista do Amado e por ouvir suas palavras de vida eterna. Todas juntas clamarão com Santa Teresa:

Véante mis ojos, Dulce Jesús bueno; Véante mis ojos, - Muérame yo luego ... Vejam-te meus olhos, Doce Jesus bom; Vejam-te meus olhos -

Morra-me eu logo ...

Todas repetirão com São João da Cruz:

Descubre tu presencia, Y máteme tu vista y hermosura: Mira que la dolencia De amor, que no se cura Sino con la presencia y la figura. e uisôes e outras mercês, que faz Deus ". " Ó, que doce é esta uni ão a a lma que a sa boreia! " - dizia o Eterno Pai a Santa Catarina de Sena (Diálugos, e. 89)-. Pois saboreando-a, uê meus segredos, de onde vem que muitas uezes receberá espírito profético para saber as coisas uindouras ... " Assim, a estes, bem pode aplicar-se a eles o que diz o Apóstolo (Hebr. 12, 2225): "Áccesistis ad Sion montem, et civitatem Dei viventis ... et multorum mili um angelorum frequenriam ... et judicem omnium Deum, et spiritus justorum perfectorum ... Videte ne recusetis loquentem". 18.3

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JUAN G. ARJNTERO, O. P.

Revela tua presença, E mate-me tua vista e beleza: Veja que a doença De amor, que não se cura Senão com a presença e a figura. E é porque todas estas visitas do divino Médico estão realmente ordenadas a curar, fortalecer, alentar, consolar e santificar a alma. E quem uma vez tenha experimentado tão grandes bens, por mais que se reconheça sempre muito indigno deles, não poderá menos que cobiçá-los e pedi-los, esperando na bondade do Senhor que por fim os voltará a conceder. E que mais lhes atormenta nos penosíssimos desamparos e abandonos, senão a apreensão de que já não irão voltar a ver aquela face divina, em que todas as graças foram derramadas? E se estes favores se ordenam ademais ao bem de outras almas, também isso pode ser obra, não de uma graça propriamente dita gratis data, senão dos próprios dons do Espírito Santo, sempre ordenados antes de tudo à própria santificação e que, em grau eminente, redundam em grande proveito do próximo. Tal sucede muito principalmente aos dois [dons] superiores, o da inteligência e da sabedoria, que fazem penetrar e saborear as maravilhas de Deus até o ponto de ser possível comunicar aos outros o que assim se conhece e se sente, e ainda que nisto participem um pouco da condição das graças gratis datas, sempre é, no entanto, com grande proveito da própria alma, como verdadeiro complemento de sua própria virtude e santidade, ao qual deste modo se lhe comunica um muito singular esplendor.17 E este [esplendorl não pode 17

"Spiritus Sanctus, f1er donum intellectus, diz São Boaventura (De 7 donis S. S. , P. 2, s. 6,-c. 4), fa cit nos penetrare omnia velamina occultantia no184

GRAUS DE ORAÇAO

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ser menos ordinário e comum em toda as almas já relativamente perfeitas, posto que todas devem contribuir, ainda que cada qual a seu modo, à comum edificação 18 • Esta obra não deve chamar-se excepcional ou extraordinária, ainda que muitas vezes o seja pelo modo especial como se realiza. Desde logo as que tenham recebido a dita de celebrar os místicos Noivados, ficam encarregadas de um modo especial de velar pelos interesses do Esposo e zelar sua honra; e isso exige certas luzes e graças ad hoc, muito privilegiadas que não podem ser comuns e ordinárias em estados inferiores, mas sim neste; onde para melhor fomentar o bem da Igreja, lhes convirá tê-las, desejá-las e pedi-las a Deus na maior abundância possível, segundo o que diz o Apóstolo (1 Cor 14, 12): Ada edificationem Ecclesiae quaerite ut abundetis. A estes seus "caríssimos" gosta muito o Senhor de embriagá-los com o doce vinho de seu amor, e uma vez que neles ordena a caridade, os faz sair de si e os leva em espíbis ueritates Scripturarum necessarias nobis ad salutem, donec intremus ad veritatis puras illuminationes et contemplaciones .. . Donum intellectus quandoque in tantum penetrai omnia veritatis uelamina, et in tantum introducit mentem ad sua interiora, ut audiat ibi uerba quae non licet homini loqui (/ l Cor. 12, 4), quia nec forte proprie poterunt dici per os carnis: quia cum sint verba intellectualia, nihil corpora/e habentia, nec imaginem, nec similitudinem, ideo per os carnis non exeunt. Et ideo il/a nemo scit, nisi qui accipit" (Apoc. 2, 17). "Quidam autem, escrive Santo Tomás (22, q. 45, a. 5), altiori gradu percipiunt sapientiae donum. f.t quantum ad contemplationem diuinorum, in quantum scilicet a/tiara quaedam mysteria et cognoscunt, et alus manifestare possunt, et quantum ad directionem humanorum secundum regulas divinas". 18

"Solet Spiritus Sanctus, adverte o P. Tomás de Jesus (De Contempl. div., 1. J, e. 9), medio intellectus dono contemplantium mentibus se insinuare, et lucis suae radios tam copiose illis infundere, ut sub Scripturae sacrae velamine veritates absconditas penetrare, et sub litterae cortice sublimes coelestesque theorias soleant percipere. Plerumque enim animae purae Scripturarum contemplationí incumbentes, tot ac tam multíplices profundosque sensus venantur, quot sunt fere verba ... omnesque illos ad divini amoris fomentum refenmt". 185

+ JUAN G. ARlNTERO, O. I'. rito a outras regiões, onde lhes revela seus adoráveis mistérios. Estas revelações, diz São Boa ventura, se fazem às almas já bem purificadas; antes de o estar, não teriam podido recebê-las nesta alta maneira, tão clara e tão íntima e amistosa. 19 Daí que sejam estas graças completamente extraordinárias nos principiantes e mesmo nos experientes, e verdadeiramente ordinária nos perfeitos. E o que dizemos do estado do Noivado com mais razão e em maior escala se deve dizer do tão portentoso Matrimônio espiritual, onde as felicíssimas almas já estão completamente configuradas com Cristo, feitas uma coisa com Ele, e participando pelo menos de sua divina missão e de uma copiosa abundância de graças e carismas com os quais a podem realizar. -Assim não somente costuma ter os sete dons em sua plenitude, ainda que ordenados ao bem dos outros, senão que os tem muito acompanhados de diversas graças verdadeiramente gratis datas, que os aperfeiçoam, e embelezam as próprias almas, ao mesmo tempo que lhe facilitam o influir grandemente pelo bem de todos os demais. 20 Assim muitas das coisas que são comuníssimas, e mesmo poderíamos dizer, completamente ordinárias nesse estado, são manifestamente extraordinárias nos anteriores. 19

" Ha ec autem revelado fit, quando Sf1iritus Sanctus, f1 er donum intellectus, m entem nostram a terrenis elevat et purgar, et inflammat. Affectus enim terrenus et anima/is impedit intellectum, ne spiritualia intelligat: quia anima/is hom o non percipit ea, quae sunt spiritus Dei. ait Apostolus ( 1Cor 2, 14 ). ldeo tali bus non fiunt revelationes. Spiritus S. intellectum , vo/1111tatem, memoriam, et totam fa miliam mentis ah inferioribus abstrahens, impellit ad Dominum quaerendum et habendum". -S. Boaventu ra, De 7 donis S. S., P. 2, s. 6, e. V.

20

"Fatemur, diz João de Santo Tomás (in 1-2, q. 70, disp. 18, a. 2, § XV), aliquando ista dona perfici et crescere ex aliqua illustratione data /) er modum raptus, vel prophetiae. Sed hoc non est quod f1er se post11la11t ex sua natura praecise, sed ex abundanti lumine. Dona enim per se requiruntur ad saiu tem, non illae illustrations" . 186

GRAUS DE ORAÇÃO+

Quando assim o sejam poderá haver algum perigo em desejá-las, porque não se fazem senão conforme o beneplácito de Deus, que pode ser outro, ou por si os desejam com vistas menos puras, e não unicamente para maior gloria do próprio Deus e edificação da Igreja. - Mas quando Ele as dá, seja de uma maneira ordinária, porque o estado atual da alma as requer, ou seja tão somente porque convém para o melhor desempenho de alguma missão especial, então, procurando empregá-las do modo mais santo, não há porque temê-las, senão bendizer a Deus e dar-lhe as mais rendidas graças por quanto assim se digna favorecer-nos com meios especialíssimos de procurar sua honra e glória e fomentar o bem do próximo. Isso é o que Ele quer e exige, que se lhe agradeçam os seus dons e os empreguem de modo que frutifiquem, e não que os descartem ou desprezem ou os tenham sepultados ou ociosos. Daí que tantas vezes repreenda as almas, ou a seus diretores, pelo pouco apreço e o medo que lhes tem. 21 Este medo, na maioria das vezes, costuma ser bem infundado: pois os mesmos que assim temem os dons sobrenaturais, segundo dizem, pelo perigo de vaidade que no uso deles poderia haver - ainda que estes dons por si sempre costumam induzir à humildade - nunca temem, senão ao contrário, desejam com ardor, outros dons puramente naturais, cujo fruto, por grande que possa ter, sempre é incomparavelmente de menor valor, e em que o perigo de vaidade e de abusos é muito maior ... 21

Suplicando a Deus sua serva, a Madre Maria Domingas Clara da Cruz, O. P. (Vie, 1910, e. X, p. 129), que não a levasse por caminhos tão pouco frequentados e mesmo tão extraordinários, como eram os seus, Ele lhe respondeu: "Quero acabar em ri o que comecei.. . Sou teu Dono e posso fazer em ti o que me agrada; e tu não deves pôr-me obstáculos ... Enquanto buscares só a mim e seriamente procurares fazer minha vontade, nenhum perigo há pa ra ti e nestas vias pouco comuns .. . 187

+ JUAN G. ARINTERO, O. P.

E se nas ciências e artes humanas, quantos voluntariamente se põem a estudá-las, aspiram sem dúvida a possuí-las com toda perfeição possível, e muito longe de contentar-se com ser vulgares ou medíocres, desejam ir muito mais além de todo o comum e ordinário, e sobressair o máximo que podem; por que, na verdadeira ciência das ciências, na mística Ciência dos Santos, que vale mais que todas as honras e riquezas do mundo e nos enche de inestimáveis tesouros eternos, não iremos aspirar com toda a alma a não ser medíocres, a sobressair aos olhos de Deus, crescendo sempre de virtude em virtude, para poder receber sem obstáculo algum quantas bênçãos tenha por bem nos dar o divino Legislador, a fim de poder-lhe ver do melhor modo possível no cume de seu Santo Monte e logo mostrar alguns de seus admiráveis reflexos a nossos irmãos? Esse é um manifesto engano, contra o qual nos quis prevenir o Apóstolo ao dizer-nos: Sectámini caritatem, aemulámini spiritualia, magis autem ut prophetetis,,, Nam qui prophetat ... Bcclesiam Dei aedificat (1 Cor 14, 1-4). 22 Aqui é, pois, onde nos convém alargar nossos desejos e ter muito altas e grande aspirações; as quais, muito longe de serem vãs e desagradar ao Senhor, sempre são frutuosíssimas e a Ele extremamente agradáveis. Pelo qual não só se mostra muito desposto a saciá-las - dizendo-nos (SI 80, 11 ): Dilata os tuum, et implebo illud, - senão que expressamente nos encarrega que procuremos ser muito grandes e excelentes nas coisa espirituais, aspirando nada menos que a ser per(eitos como o Pai Celestial; devendo, com efeito, crescer em tudo segundo Cristo (Ef 4, 15), e muito particularmente em graça e conhecimento de nosso 22

"São Paulo, adverte Bacuez (Man. Bihl. IV, n. 699), não vacila em antepor o dom da inspiração - ou profecia - a todos os outros; porque nenhum há tão útil à Igreja, ou seja, tão a propósito para converter e edificar as almas". 188

GRAUS DE O RAÇÃO +

divino Salvador (2 Pd 3, 18). Esta é a verdadeira ciência da salvação (Lc 1, 77), que nos quer comunicar a todos e de que todos necessitamos; e é a ciência verdadeiramente ilustre que nunca se eclipsa nem obscurece, e faz grandes a quantos a possuem; e uma ciência que todos poderiam alcançar, se a amassem e procurassem, posto que ela mesma se adiante a manifestar-se aos que a desejam - Daí que em pensar sempre nela e procurá-la esteja o cume do discernimento e do bom senso. 23 Aqui não podemos nem devemos contentar-nos com ser qualquer coisa, com ocupar, segundo tolamente se costuma dizer, o último cantinho do Céu, e, entretanto, permanecer sendo crianças; porque, por não crescer, estamos muito expostos a perecer de debilidade. 24 Devemos ser como crianças na malícia, mas não na virtude: nesta e nos sentidos espirituais temos que aspirar a ser prefeitos.2.1 Aqui não há perigo nem engano (Pd 3, 16-17; 4, 12), e por pouco que se trabalhe seriamente se recolhem preciosos frutos (Ecl 6, 20), muito ao contrário do que costuma acontecer nas loucas ambições e aspirações humanas. Estas sempre expõem a gravíssimos perigos e decepções; e por bem que se consigam realizar, no fim vem a ficar todas frustradas na morte, onde só servirão de maior tormento; e na maioria das vezes ficam defraudadas desde o princípio, por não haver quem as garanta. - Mas aqui a 23

"Clara est, et quae nunquam marcescit Sapientia, et facile videtur ah his qui diligunt eam, et invenitur ah his qui quaerunt iliam: praeocupat qui se concupiscunt, ut illis se prior ostendat ... Cogitare ergo de ilia sensus es t consummatus" (Sap., 6, i3, 14, 16).

24

"Assim como há meio termo nas crianças, que naturalmente ou hão de crescer ou hão de morrer, desta maneira a alma ou há de morrer na culpa, ou há de crescer sempre na graça até subir a Deus e gozá-lo em seu rein o, onde há de entrar na idade perfeita" . Ven. Ângela da Conceição, Vida, 1. 2, e. 8.

25

"Nolite pueri effici sensihus, sed ma lícia parvuli estore: sensihus aulem perfecti estofe" (1 Cor., 14,20). 189

+ JUAN G. ARINTERO, O. P.

todos os sedentos de justiça se lhes oferece gratuitamente as místicas águas que brotam da vida eterna, e que na última hora é quando causam maior refrigério (Ecl 6, 29); e todos irão conseguindo infalivelmente a seu divino tempo, ou seja, na hora que Deus lhes tem designada, não somente o que é ordinário em cada grau de perfeição, senão também muitas coisas preciosíssimas, verdadeiramente extraordinárias, ou reputadas por tais, e que, no entanto, nos planos divinos, estão já bem dispostas para o fiel cumprimento da missão especialíssima, e sempre gloriosa, que o Senhor quer confiar a cada qual, e que de fato lhes confiará habitando-os com as respectivas graças, caso não se façam indignos delas, se dispõem devidamente para recebe-las. Quão funesto é, pois, o engano dos que tantas aspirações têm no tocante a honras e dignidades humanas, que tão dificilmente se conseguem, tão logo se acabam e tantos perigos e responsabilidades oferecem - pelo qual exigem grande perfeição na virtude - e, no entanto, no tocante a esta, que é a que verdadeiramente enobrece e não se acaba, pondendo facilmente alcançá-la em altíssimo grau, se contentam com o mínimo, com só isso que chamam comum e ordinário!. .. 26 • 26

"É coisa de maravilhar, adverte o B. João de Ávila (Audi Filia, e. IV), que haja gente tão tacanha no serviço de Nosso Senhor, que se lhes dizem que façam algo, ainda que muito bom, andam vendo e revendo se é coisa que não lhes obriga a pecado mortal, para não a fazer. Porque dizem que são fracos, e não querem meter-se em coisas altas e de perfeição, senão andar caminho plano, como eles dizem. E estes por uma parte tão covardes em buscar a perfeita virtude para si mesmos - que com a graça do Senhor lhes seria fácil de alcançar -, por outra parte são tão atrevidos em meter-se em senhorios, e mandos e honras, que, para usar bem deles e sem dano prúprio, é necessário perfeita ou aproveitada virtude, que se fazem entender que a tem, e que darão boa conta do lugar alto, sem que periguem suas consciências, no que muitos hão perigado: tanto cega o desejo da honra e mandos; e de interesses humanos; que os que não ousam assumir o fácil e seguro, assumem o que está cheio de perigos e dificuldade. São os que não

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GRAUS DE ORAÇAO

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E o pior é que, acostumados a olhar como "extraordinário" o que não seja o vulgarmente corrente, essa frouxidão os leva a contentar-se com só uma virtude de aparências ou de pura fórmula; e por não esforçar-se e violentar-se na conquista do reino de Deus e entrar pelo caminho estreito que nos apontou Jesus Cristo, e procurar ir cada dia adiantando e subindo, não fazem mais que retroceder e decair, expostos a dar em despenhadeiros e precipitar-se de abismo em abismo, estando já na encosta desse fatal "caminho largo", espaçoso e "tortuoso", por onde vão os muitos que, contentes com pouco, se ficam, sem nada, indo como vão diretos à sua perdição. Senhor, abri-lhes os olhos!. .. Mostrai-lhes vossos caminhos! ...

"Quis sapiens, et intelliget ista? intelligens, et sciet haec? Quia rectae viae Domini, et justi ambulabunt in eis" (Os 14, 10). II. - EXCELÊNCIA DA VIDA CONTEMPLATIVA SOBRE A ATIVA, E DA MISTA OU APOSTÓLICA SOBRE AMBAS

Isto ficará evidente com só pensar que a verdadeira excelência da vida cristã se mede pelo grau de caridade, e esta não pode chegar a sua perfeição senão com a vida contemplativa; e quando já é verdadeiramente perfeita, como o verdadeiro amor não pode estar ocioso, tende necessariamente a manifestar-se nesse ardentíssimo zelo e fiam de Deus, que lhes ajudará nas boas obras que tocam a si mesmos, se prometem com grande ousadia que lhes trará Deus pela mão no que toca reger aos outros ... "A experiência nos mostrou que as dignidades e lugares de honra muito poucas vezes fizeram dos maus bons, e muitíssimas dos bons maus; porque para sofrer o peso da honra e ocasiões que vem com ela é necessária grande força de virtude". 191

+ J UAN G. ARINTERO, O. P. prodigiosa atividade que, em meio a sua altíssima e quase contínua contemplação, revelam os grandes místicos. 27 A caridade, com efeito, para excitar-se e crescer, necessita ser avivada com o fogo da santa meditação (Sl 38, 4); e nunca chega à perfeição requerida até ser "ordenada" na mística "adega" da contemplação mediante o sublime dom da sabedoria, que faz saborear e apreciar e conhecer as coisas divinas 28 , e julgar com acerto e segundo Deus as [coisas] humanas. 29 Daí que a perfeição essencial e a verdadeira eficácia das obras de zelo da vida ativa provenham de estar essa mais ou menos informada e animada da contemplativa·10 : sem participar algo dessa, mal merece o nome de vida cristã; pois seria quase puramente natural, sem espírito de fé e de verdadeira esperança e, portanto, resultaria numa vida completamente estéril, raquítica, e a cada passo ex27

"Quanto mais favorecida é uma alma de suhlimes contemplações, tanto com mais ardor se consagra à ação ... Só nos principiantes e imperfeitos pode uma atrapa lhar a outra ... Nos perfeitos desaparece a luta". São Gregório, ln I Reg. c. 2, n. 10. "Isto tem a boa oração, adverte a Vcn. AgrcJa (Escala, § 17), " que jamais está ociosa; e como a oração é todo amor, ou cm amor, está bem de acordo com o que comumente se diz, que o amor não sabe estar ocioso. E nisto se conhecerá se em verdade a tem, porque a oração perfeita sempre está o perando, estimulando e ensinando a muito trabalhar". C:f. S. Bernardo, Serm. 57 in Cant. "Quos repleverit Sp iritus Sanctus, a rdentes pariter ct loquentes facit ". S. GREG. M., ln Evang. Hom . 30,5 .

28

Cf. São Boaventura, in II1 Sent. D 35, a. 1, q 1.

29

Cf. S. Thom., 2-2, q. 40, a. 2 e 5.

30

Cf. Lall emant, Doctrine spirit., pr. 5, eh. 3, a. 1. " Vita contemplativa ... acrivam mover er dirigir". S. Th. 2-2, q. 182, a. 4 . "A ação, para ser fecunda, adverte o abade Chautard (EI Alma de todo Apostolado, 2" P., n. 3), tem necessidade da contemplação; esta, quando alcança certo grau de intensidade, derrama sobre a primeira algo do que lh e sobra, e por ela vai a alma tomar diretamente do coração de Deus as graças que haverá de distribuir mediante a ação. - Eis aqui porque, irmanando-se em perfeita harmonia a ação e a contemplação na a lma de um Santo, dão à sua vida uma maravilhosa unidade, como vemos em São Berna rdo que, sendo o ho mem mais contemplativo, foi também ao mesmo tempo o mais ativo de seu século" . 192

GRAUS DE ORAÇ,\O

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posta a perecer.-i 1 Pelo qual diz Santo Tomás que "para estar em estado de salvação é necessário participar algum tanto da divina contemplação" .32 E se o próprio trabalho exterior da vida ativa já é prova de amor e merece seu prêmio, esse por si é acidental; o verdadeiro prêmio essencial depende principalmente do grau de caridade, que se fomenta e mesmo se manifesta muito melhor com o trabalho interior da contemplação, do que com o exterior da ação: e por isso a vida contemplativa é por si mais excelente que a ativa. 33 No entanto, este mesmo exercício exterior de piedade, moderado e informado de certa vida interior, ajuda muito e dispõe para adiantar na contemplação; e assim a verdadeira vida cristã ativa, exercitando a alma e assegurando-a na virtude, longe de ser impedimento, como alguns supõem, é disposição para a contemplativa; 34 à qual 31

"Assim como um homem, por bons manjares que coma, se não repousa no sono, terá fraqueza, e mesmo corre o risco de perder o juízo; assim acontece a quem age e não ora; porque aquilo é a oração para a alma, tal como o sono ao Corpo. Não há patrimônio por grande que seja que não se acabe, se o gastam e não ganham; nem boas obras qu e durem sem oração; porque nela se alcança luz e espírito com que se compense o que com as ocupações, ainda que boas, diminuem de fervor da caridade e interior dcvoação" (Beato João de Ávila, Audi Filia, cap. LXX) . "A oração, diz o Beato Francisco Posadas (Carta dei Esposo,§ XX), é "comida que sustenta, conversão que fal a, trato que entretém e sono doce onde a alma descansa. Po is como não a rendes? Como estais sem a oração? - Digam-nos vossas obras, que saem disparatadas como as do que não come nem dorme ..."

32

Omnis c/Jristian11s q11i in statu sa/11tis est, oportet quod aliquid de contemplation participei (ln li/ Sent., D. 36, q. 1, a. 3, ad 5) .

.3.3

"Ex s110 genere, diz Santo Tomás (2-2, q. 182, a 2), contemplativa vita est majoris m eriti quam active ".-" Labor exterius, acrescente (ih. , ad 1) , operatur ad augmentum praemii accidentalis; sed augmentum meriti respectu praemii esscntialis consistit principabter in charitate; cuj11s q11odda111 signum est labor exterior tolerat11s propter Christum: Sed multo expressius ej11s signum est, quod aliquis praetermissis ómnibus quae ad hanc vitam pertinent. soli divina e contemplatióni vacare delectetur".

34

Cfr D. THOM., in IIl Sem., D. 35, q. I, a. 3, sol. 3; 2-2, q. 182, a. 4, e. et ad 3. 193

'*' JUAN G. ARINTERO, O. P. podem deste modo chegar mesmo aqueles que por seu entusiasmo pareceriam mais refratários. 35 E uma vez que, mediante a divina contemplação, vai chegando a alma a fazer-se perfeita em Cristo, poderá já, como tal, agir em tudo com perfeição, e comunicar ao próximo, nos exercícios da vida ativa, as luzes e graças que com efeito tenha recebido de Deus, e não o que tinha de sua própria colheita, que era ignorância e miséria, e assim é como, por oculta que viva, poderá, segundo dizem os Doutores, fazer em um só dia mais bem do que em meses e anos de muita atividade. 36 Daí que a perfeita e frutuosa vida ativa pressuponha a contemplação como apoio e contrapeso, e como fonte de toda sua verdadeira eficácia. 37 - Sem estar bem apoiada nela, ou se reduz a puras aparências de muito ruído sem fruto nenhum estável; ou no máximo é uma vida imperfeita e pobre, cujo fruto é muito escasso, e que de quase nada serve como disposição para a própria via contemplativa, na qual poderá logo achar a fecundidade 35

"Vocantur itaque a Deo ad contemplationem quieti, vocantur non semel et inquieti, ut in illis sui regiminis suavitatem, et in istis suae gratiae naturam domantis potentiam ostendat". Alvarez de Paz, De lnquisit. pacis, 1. 5, p. 1, c. II. Portanto, conforme declara e faz ressaltar São Francisco de Sales, "o progresso no amor de Deus não depende da compleição natural". "Assim como Deus Nosso Senhor, adverte o Pe. La Puente (Guía, tr. 3, c. 1, § 1), ao princípio do mundo, acabadas as obras dos seis dias, descansou no sétimo dia e o santificou, querendo que se dedicasse à quieta contemplação ... assim também aos que se hão exercitado nos trabalhos da vida ativa, lhe aponta o dia de sábado e descanso, em que exercitem as obras da vida contemplativa e participem algo do descanso eterno; porque como disse o Apóstolo (Hb. 4, 9), também o pouo de Deus tem seu sábado, e entra a gozar de seu descanso, descansando no que é centro e fim último de nossa alma".

36

Cf. Evolución mística, p. 471-474; Blosio, Instit. spir., e. 1; Lallemant, Doctr. spir., pr. 2, sect. 2, eh. 6, a. 2; pr. 7, eh. 4, a. 4; Sauvé, Etats myst., p. 60-63, etc.

37

Cf. La Vie contempl., son role apost., par un R. Chart., IV-XI. 194

(; RAUS DE ORAÇÃO+

e estabilidade que lhe falta; posto que a perfeição e heroísmo da virtude há de vir dos dons do Espírito Santo, os quais nunca adquirem seu devido desenvolvimento senão no íntimo trato com Deus mediante a santa oração e contemplação. E daí que as almas pouco amigas dessa vida interior, por muito zelo que aparentem mostrar e por mais atividade que desdobrem, como esta vai toda cheia de imperfeições e de vistas humanas, e aquele não é todo de Deus nem secundum scientiam, mal produzem frutos dignos de apreço: tudo é ruído e fumaça, enquanto a verdadeira e frutuosa atividade é muito silenciosa, paciente e modesta. - Os verdadeiros frutos de benção e vida supõem muito fervor e recolhimento e muita vigilância em defesa do coração que foge do bulício mundano. 38 Ninguém pode, com efeito, dar senão o que tem, nem influir sobre os demais senão em conformidade com as próprias disposições. E a alma imperfeita, dissipada ou pouco fervorosa, não estando ainda bastante possuída do zelo de Deus, nem enriquecida de grandes tesouros divinos que comunicar, e não se cuidando de recorrer aos pés do Senhor com contínua oração, a buscar o que tanta falta lhe faz, não poderá dar senão dos pobríssimos frutos de sua colheita mísera; com os quais, em vez de fortalecer e enriquecer aos demais, acaba ela mesma por debilitar-se e empobrecer-se. 19 38

" Omni custodia serva cor tuum, quia ex ipso vita procedit'' . - Prov., 4, 23 .

.19

"Creiam-me os ativos todos, diz Frei João dos Anjos (Conquista, dial. 8.º, § 3 ), que se não lhes ajuda Maria, que se hão de cansar e faltar naquilo que foi iniciado, por muito fervorosos qu e comecem, e mesmo cair em fartas misérias ... Instando à oração, diz São Paulo (Rom. 12 ), acudi às necessidades dos Santos. Pois se havendo de tratar com gente santa, é necessário instar à oração, para tratar com os pecadores, não será necessária dobrada oração? ... Creia-me, que para tratar uma hora com o próximo, com aproveitamento seu e não dano nosso, seja necessária outra hora de

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+ JUA N G. AR INTERO, O. P.

Mas uma vez que tenha alcançado, mediante a abnegação e a vida interior, despojar-se de suas vistas e misérias e vestir-se de Jesus Cristo, então poderá estar sempre dando dos inesgotáveis tesouros do Coração divino, com o qual se achará sempre em santa comunicação, recebendo assim as torrentes de sua plenitude, e derramando sobre os demais, sem ficção nem engano, abundantíssimas graças. 40 trato com Deus". Veja-se no precioso livrinho: A alma de todo Apostolado, pelo Abade Chautard, quão escasso e vão costuma ser hoj e o fruto das mais brilhantes obras de zelo e propaganda, quando não vão inspiradas e fund adas na vida interior, e quão ex postos estão a lamentáveis quedas os muito am igos da atividade que descuidam em temperar sua s almas com a oração e mortificação. A própria Santa Teresa ( Vida, c. 13) dedara por sua parte que, enquanto não se deu bastante à oração, depois de estar exposta a muitos perigos, mal conseguiu ganhar a umas pou cas almas para Deus, pelo mais que gostava de falar d'Ele; enquanto que depois, quase sem dar-se conta, atraía a inumeráveis. "Advirtam , pois, aqueles que são muito ativos, que pensam cingir o mundo com suas pregações e obras exteriores, diz São João da Cruz (Cántico espir., anotac. a canc. 29), que muito mais proveitos fariam à Igreja e muito agradari am a Deus (para além do bom exemplo que se daria) se gastassem sequer a metade deste tempo em estar com Deus na oração ... Ce rto então que fariam mais com menos trabalhos, e mais com uma obra do que com mil, merecendo-o sua oração e tendo retirado as forças espirituais dela; porque de outra maneira tudo é martelar e fazer pouco mais que nada, e às vezes, nada, e mesmo às vezes dano: porque Deus nos livre que se comece a apodrecer o sal..." "O homem, diz Santa Cata rina de Sena (Diálogos, c. 1 ), não pode trazer ao próximo a verdadeira utilidade da doutrina, exemplo e oração, se antes não aproveitou a si mesmo". De outro modo, "a alma enamorada da minha verdade, lhe adve rte logo o Eterno Pai (e. 7), nunca deixa de aproveita r a todo o mundo". 40

"Quando vivemos nesta união com Nosso Senhor, dizia Margarida Maria Doens (1842-1884; cf. Vie, 191 O, eh. XI), somos chamados a fazer o hem como à manei ra de outro sacra mento ... Esse bem o derram amos e infiltramos ao nosso redor sem adverti- lo. Assim como a Sagrada Euca ristia o vai fazendo pouco a pouco em nós, assim nós, a nossa vez, vamos dando a Jesus ... A maneira que Ele, nos dias de sua vida mortal, se comunicava a quantos se lhe acercavam, quer mesmo seguir comunicando-se por meio nosso a quantos nos rodeiam. Às vezes, me parece ouvir-lhe dizer no fundo da alma: "Toma, filha minha, e dá-me todo inteiro a estas almas, pois para isso estou completamente a tua disposição: dá-me cm um sorriso, em uma boa palavra, em um ato de caridade". " Nossa missão, advertia 196

GRAUS DE ORAÇÃO >l
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