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Portuguese Pages 260 Year 2010
MD Magno
Economia Fundamental MetaMorfoses da Pulsão Falatório 2004
O direito de impressão é pessoal e intransferível.
MD Magno
ECONOMIA FUNDAMENTAL MetaMorfoses da Pulsão Falatório 2004
é uma editora da
Presidente Rosane Araujo Diretor Aristides Alonso Copyright 2009© MD Magno Preparação do texto Nelma Medeiros Nívia Maria Bittencourt Patrícia Netto A. Coelho Potiguara Mendes da Silveira Jr. Editoração Eletrônica e Produção Gráfica NovaMente Editora Editado por Rosane Araujo Aristides Alonso
M198e Magno, M. D. Economia fundamental : metamorfoses da pulsão : falatório 2004 / M D Magno. – Rio de Janeiro : Novamente, 2010. 260 p. ; 16 X 23 cm. ISBN – 978-85-87727-54-1 1. Psicanálise. 2. Freud, Sigmund, 1856-1939. 3. Lacan, Jacques, 1901-1981. I. Título. CDD 150.195 Direitos de edição reservados à: Rua Sericita, 391 - Jacarepaguá 22763-260 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Telefax: (55 21) 24453177 www.novamente.org.br
EXERGO “Busquem outros a velocidade da luz. Eu busco a velocidade da treva”. Paulo LEMINSKI
AGRADECIMENTO à Nívia Maria Bittencourt pela transcrição da baboseira.
DEDICATÓRIA a quem tiver a sorte (boa ou má) de acaso nos reler...
Sumário
01. 03/ABR Economia é consideração das composições do poder – Proposição de um Pensamento Perplexo e seu contraste com o Pensamento Complexo – “O Inconsciente é o (re) fluxo do Mesmo” – Economia Pulsional fundamenta qualquer economia – Crítica à abordagem lacaniana da questão econômica. 13
02. 17/ABR Comentários a propósito do livro Les penchants criminels de l’Europe démocratique, de Jean-Claude Milner – Consideração da tese milneriana sobre as relações entre a democracia européia e os judeus – Distinção entre modo de produção e modo de instalação de um Império no Creodo Antrópico – Produção e instalação do Primeiro, Segundo e Terceiro Impérios – Hipótese da produção romana do Terceiro Império e sua instalação cristã – Dificuldades de instalação do Quarto Império. 24
03. 08/MAI Nova Psicanálise é tentativa de introdução do Quarto Império – Economia Fundamental é anterior à economia política – Na morfose estacionária a relação com as formações do Haver é indireta – Equivalência entre transferência e alienação – Ato de apropriação depende da função Poder – Perversão é relação direta com as formações do Haver – A
produção de um Império é função de não-alienação e sua instalação é necessariamente religiosa – Trabalho é aplicação de força pulsional a uma formação – Crítica ao conceito marxista de mais-valia à luz do conceito freudiano de só-depois. 42
04. 22/MAI Razões de o pensamento de Lacan ser terminal – Consideração das teses de Jean-Claude Milner no livro Les penchants criminels de l’Europe démocratique – Crítica às conclusões lógico-políticas de Jean-Claude Milner extraídas do uso das fórmulas quânticas de Lacan – Democracia e diferocracia a partir das fórmulas quânticas. 57
05. 05/JUN Diferocracia se sustenta logicamente na fórmula do sexo resistente – Análise da economia e da política à luz da lógica do Consistente e do Inconsistente – Regime consistente e inconsistente do capitalismo – Movimento do capital e da tecnologia é compatível com a lógica resistente e com o Quarto Império. 72
06. 12/JUN Utilidade das teses de Pierre Janet (inadimplência) e Sigmund Freud (culpa) para a Economia Pulsional – Clínica como economia das formações no mercado pulsional – Entendimento da lógica de valor de troca e valor de uso para a Idioformação – Ordem generalizada do mercado no mundo. 87
07. 14/AGO Quem é Eu?: indagações preliminares sobre o que é língua, autor, personagem e personalidade – Exemplaridade da falência do sujeito em Drawing Hands, de Escher – Eu é pólo de formações com foco e franja – Ego é pletora de formações primárias e secundárias sem HiperDeterminação – Equivalência entre Eu e Pessoa
– Diferenças no entendimento do conceito de Pessoa segundo o personalismo e a Nova Psicanálise. 99
08. 21/AGO Pessoa é processo sem sujeito e em regime de unilateralidade – Tratamento nominalista do sujeito e significante lacanianos – Condição nominalista do não-Haver como nome do impossível absoluto desejado – Distinções entre a postura inclusiva da psicanálise e a postura de exclusão da filosofia – Característica comunal do conceito de Pessoa. 115
09. 28/AGO Equivalência do conceito de Pessoa à idéia de rede – Problematização da idéia de corpo a partir do conceito de Pessoa – Importância do conceito de sobredeterminação para considerar a questão evento-escolha – Pessoa inclui suposição de mestria e poder – Problematização recíproca das afirmações “a morte não há” e “a morte é certa”. 129
10. 04/SET Indivíduo resulta de ato de discrição – Querela dos universais e o conceito de Revirão – A coisa do Primário e a coisa do Secundário – Lógica da trindade nos registros de Primário, Secundário e Originário – Pessoas gramaticais e o nó borromeu – Primário, Secundário e Originário pensados a partir do nó borromeu. 140
11. 18/SET Trindade divina como o processo de geração interna ao Haver – Trialética do Dono, do Escravo e do Mundo – Psicanálise é performance de Ator – Psicanálise e a perene suspensão e suspeição de seus construtos – Aparelho Haver desejo de não Haver é auto-dissolvente e auto-destrutivo – Analista é de Arreligião e Arreligioso. 153
12. 25/SET O que os analistas poderiam aprender com o credo poético de Rimbaud – Crítica a pseudo postura dos analistas – Preço da reposturação – Teoria da produção do analista e aparelhos de reconhecimento. 165
13. 09/OUT Denegação presente nas construções elegantes – Formulação do Nome do Pai é uma construção elegante dispensável para o entendimento da psicose – Psicose resulta de HiperRecalque – HiperRecalque e o movimento regressivo nas morfoses regressivas – Eu (ou ego) é definido como Pessoa – Conceito de Pessoa como pólo focal e franjal de Primário, Secundário e Originário – Democracia é uma violência lógica e uma violência política – Millor Fernandes, a denegação do preconceito e a condição moral. 177
14. 16/OUT Século 21 e o lema too late – Espécie humana jamais conseguiu gerir seu repertório a tempo – Parque Humano de Peter Sloterdijk é Hospício para psicanálise – Exemplaridade do HiperRecalque em Estamira – Espécie é retardada em relação aos efeitos de seus movimentos. 191
15. 23/OUT Imbecilidade humana é conjunto das Morfoses somadas à posterioridade do sentido e ao conatus das formações – Estupidez e o conceito de só-depois de Freud – Personagem do Homem Aranha como exemplar da mudança de paradigma no século 21 – Homem como IdioFormação secretou o Globo como teia – Personalidade é reconfiguração de uma Pessoa. 201
16. 06/NOV Infernar Pessoas – Exercício da Indiferença é único céu consecutível – Redefinição do conceito de Personalidade – Hipótese mental de um Caminho do Meio é Revirão – Antibudismo de Lacan – Reconsideração dos temas da culpa e da vergonha – Indiferenciação é condição de renúncia – Psicanálise depende de gnoseologia. 214
17. 13/NOV Perguntas sobre o Caminho do Meio – Distinção entre loucura e patologia – Dinâmica do HiperRecalque nas Morfoses Regressivas – Questões sobre a Morfose Progressiva. 228
18. 27/NOV Homogeneidade do Haver é diferente do Deus sive Natura de Espinosa – Teoria do Pleroma e achados recentes da cosmologia – Os Quatro Tempos das Morfoses Regressivas: Composição, Estatuação, Catástrofe e Ruína – Morfose Regressiva na história – Império Romano como caso exemplar de Catástrofe – Distinção entre Morfose Progressiva e Morfose Regressiva é vetorial – Recusa como formação clínica – Osama Bin Laden e o século 21. 235
ENSINO DE MD MAGNO 255
03/ABR/2004
1. O que faço eu aqui? Quero dizer, aqui neste Falatório? Repito as questões que me acossam e as respostas que me socorrem como pacificação. Só o faço por duas razões: primeiro, porque, assim fazendo, posso eventualmente encontrar em outrem as mesmas questões, se não mesmo as mesmas respostas. Então, se for assim, terei sucesso onde o paranóico fracassaria, ao mesmo tempo que poderei oferecer de bandeja, como alhures já dissera, esses achados e perdidos. Segundo, porque insisto em fazer continuar minha Análise Efetiva – e este é um meio excelente, na medida em que, assim, pode acontecer que eu colha alguma intervenção, ao mesmo tempo que possam também colher alguma no que digo. Aproveite quem puder. Contudo, que vocês retornem continuadamente para me ouvir, isto sempre me espanta. Ano passado, conversamos sobre os avatares da morfose, sob o título Ars Gaudendi, isto é, A Arte do Gozo, tratando da Patemática da Psicanálise. O assunto não foi terminado, muito menos esgotado, pois me pareceu necessário pensar a respeito da Economia Pulsional, que constitui o fundo de toda a Psiconomia – nome que já sugeri para o que se chamou primeiro de psicanálise –, para depois retornar com mais recursos às formações progressivas, estacionárias e regressivas encontradiças na lida com a clínica. Então, este ano posso ficar mais focalmente em torno da questão da Economia Fundamental, título dado para o momento, isto é, ao redor das MetaMorfoses da Pulsão, conforme coloquei como subtítulo, o qual, aliás, melhor seria: O Mercado das Pulsões. Na verdade, é disso que se trata. Freud disse coisas como: “Duas ambições me devoram. Primeiro, descobrir a forma que assume a teoria do funcionamento mental quando nela introduzimos a noção de quantidade, uma espécie de economia das forças nervosas; e, segundo, tirar da psicopatologia algum ganho para a psicologia normal” (apud Ernest Jones: A Vida e a Obra de Sigmund Freud, 1953). Reduzem-se, então, a duas as suas ambições: 1) saber como funciona a economia
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Economia Fundamental - MetaMorfoses da Pulsão
das forças nervosas – o que é engraçado, pois, afinal, não passa de nervoso: as pessoas ficam nervosas e acabam fazendo coisas – quando introduzimos a noção de quantidade, algo que ele jamais conseguiu fazer e tampouco ninguém depois; e 2) tirar da psicopatologia algum ganho para a psicologia normal. Quer dizer, mais ambição tinha ele de pensar (não o normal, mas) o comum dos acontecimentos psíquicos do que a patologia, a qual era o caminho através do qual pensar como funcionamos. Isto é o importante, curar maluco é secundário. Diz ele também outra coisa: “A base sobre a qual repousa a sociedade humana é, em última análise, de natureza econômica”. Neste ponto, concorda plenamente com os economistas e mormente com Marx. Ou seja, em última instância, trata-se de economia – o resto vem depois. Concebo a noção de quantidade, que diz respeito ao quantum de formações, como: a quantidade de formações envolvidas em uma moção, e, conseqüentemente, o vetor resultante da composição dos vetores aí envolvidos. O problema é que, em psicanálise, a noção de quantidade se restringe aos valores ‘maior que’ (>) e ‘menor que’ (