Tradução, reescrita e manipulação da fama literária [1 ed.] 9788574603186


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Portuguese Pages 264 [134] Year 2007

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Tradução, reescrita e manipulação da fama literária [1 ed.]
 9788574603186

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Reescritores sempre estiveram presentes entre nós. O. es­ cravo na Grécia organizava antologias dos clá�sicos gregos para ensinar aos filhos dos sénhores romanos. O erudito do Renasci­ mento coletava vários manuscritos e trechos de manuscritos, a fim de publicar uma edição mais ou menos confiável de um dás" sico grego ou romano. Destacam-se, também, os compiladores das primeiras histórias da literatura grega e latina no século 17 que não foram escritas nem em latim nem em grego, e os críticos do século 1"9, que explicavam a doçura e a clareza contidas nos trabalhos de literatura clássica ou moderna a um público cada vez menos interessado. Chega-se ao traP,utor do século 20, que tenta "transportar o original através" das culturas, como tantas gerações de tradutores tentaram antes dele e, ao compilador dos "Guias de Leitores"· contemporâneos· que fornecem reterências rápidas sobre autores e livros que deveriam ter sido lidos como parte da educação dos leitores não-profissi�nais, mas que cada vez mais não são. :· r: -� 1)·;·· Seu papel, no �ntanto; �udou e por duas razões principais: o fim de um período, ao menos na civiliiação ocidental, em que o livro ocupava uma posição central tanto no ensino da escrita quanto na transmissão de valores, e a divisão entre "alta" e "baixa" literatura, que começou a apárecer por volta de meados do sécu­ lo 19 e que levou à concomitante divisão e�tre "alta" e "baixâ' es­ critura de literatura, entre "altâ' e "baixa" reescritura. Em seu discurso presidencial aos membros da Modem Language Association ofAmerica [Associação Americana da Lín­ gua Moderna], em 1986, J. Hillis Miller observou que "nossa cul­ tura comum, por mais que desejemos que não seja assim, é cada vez menos uma cultura do livro e cada vez mais uln.a cultura do cinema, da televisão e da música popular" (285a). LeiJ;?�S..J?rO­ fissionais de literàtura (uso o termo para designar tanto profes-

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Tradução, reescrita e mal!ipulação da fama literária

Pré:escrever

sores quanto estudantes de litera�a) reconhecem o processo que está ocorrendo e podem talvez reagir, de fqrma pe�soal, a essa situação com indignação, cinismo, ,ou resignação, mas a .maioria deles continua· a conduzir seus trabalhos como sempre, mesmo porque a posição que eles ocupam deritro das institui­ ções que os abriga� deixa a eles, de fato, pouquíssima escolha: é necessário conceder diplomasd�erenciar çargos, cuidar das pro- . 1 c moções e outorgar tí!_ulos. 1:._; O_ fato d� �-�'�tâ��ratura ser, cada vez mais, lida apenas no contexto educacional (tanto secundário quanto superior), e não con�tituir o conte�do de leitura preferido pelos leitores não- · . profissionais, também tem limitado, cada vez mais, a influência dos leitores profissionais ao âmbito das· instituições de ensino. Ne- . nhum crítico atual pode �eclamar para si a pàsiçã� na sociedade que certa vez foi ocupada de fórma natural por, digamos, Mat­ thew 'Arnold. Talvez a explicação mais óbvia desse isolamento contemporâneo, tanto da "altâ' literatura quanto de seu estudo, possa ser fornecida pelo impacto muito diverso da desconstrução sobre leitor" es profissionais e não-profissio�ais. Enquanto leitores profissionais parecem mais ou menos convencidos de que a des­ construção de fato derrubou os fundanientos.de toda a metafísi­ ca ocidental, não se pode dizer que leitores não-profissionais t�.: nham prestado muita atenção a esse fato importaritíssimo: Certamente não se pôde comparar a atenção prestada por eles a ques­ tões mundanas, tais como ao seguro de saúde e à estabilidade de instituições financeiras com a ate�ção dedicada à descontrução. �e instit�ções educacionais funcionam- cada vez mais. como uma "reservâ: ondé a "altâ' literatura, seus leitores e seus . praticantes-podem vagar numa liberdade relativa,.ainda que não necessariamente relevante, elas também contribuem para o isola-

mertto do leitor profissional.Leitores profissionais precisam publi­ car para avançar na profissão e a pressão por publicação inevitavel­ mente conduz à "trivializaclo progressiva dos temas': que de fato _tem feito do encontro anual da Modem Language Association of America "UIÍl motivo de risos para a imprensa ;nacional" (Walter Jackson Bate, apud JOHNSON, 1 978, p. 1). Não é necessário dizer que essa "progressiva trivialização" também serve para:i a -;rr, aÍil _ da ro'ais o prestígio do leitor profissional fora do círculo privilegia­ �o construido à sua volta pelas instituições educacionais. Não obstante, dentro dessas instituições, os trabalhos continuarem, como sempre, aparentemente a maioria dos leito­ res profissionais ainda não se deu conta da mudança paradoxal que ocorreu. A maioria dos leitores profissionais de literatura normalmente não sé "rebaiXariâ' para produzir reescrituras do tipo cuja evolução, através dos séculos, foi caracterizada sucinta­ mente acima. Eles veriam o seu "real". trabalho como aquilo que leitores não-profissionais certamente estariam tentados a classi­ ficar sob a rubrica de "progressiva triVialização". Tal trabalho, é seguro afirmar, quase nunca alcança o leitor não-profissional. Paràdoxalmente, o único tral;>é!Jh.o proP.�iÇlo