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Portuguese Pages 140 Year 2019
Eberhard Gainer (ed.) Pesquisas linguisticas em Portugal e no Brasil
LINGU~STICAIBEROAMERICANA Vol. 4 DIRECTORES:
Gerd Wotjak e Eberhard Gartner Centro de Investigaqiio Ibero-americana Universidade de Leipzig
Eberhard Gartner (ed.)
Pesquisas linguisticas em Portugal e no Brasil
Vervuert . Iberoamericana
1997
978-84-88906-73-1 (Iberoamericana)
Printed by Publidisa
Prefacio ............................................................................................................ 7 Evanildo Bechara A Tradiqiio Gramatical Luso-Brasileira .............................................. 9 Jorge Morais Barbosa 0 s Estudos de Linguistica Portuguesa na Universidade de Coimbra ................................................................................................ 21 Maria Helena Mira Mateus A Linguistica Generativa na Universidade Portuguesa ....................... 37 Maria Cristina Altman Fragmentos do SCculo XX.Bibliografia Cronol6gica e Comentada de Textos sobre a Produqiio Lingiiistica Brasileira ......... 41 Maria do Socorro Silva de Araggo A Situaqiio da Geografia Lingiiistica no Brasil .....................................79 Hildo Honorio do Couto 0 s Estudos Crioulos no Brasil ................................................................ 99 Francisco da Silva Borba Dicionario de Usos do PortuguCs ContemporPneo ..............................113 Leonor Scliar-Cabral Problemas de Processamento Lexical com Exemplos do PortuguCs ............................................................................................. 125
Temos o grande prazer de apresentar ao p ~ b l i c ointeressado em Linguistica Portuguesa este primeiro volume dedicado a lingua portuguesa da Serie Linguistic~Iberoamericana, patrocinada pel0 Centro de Estudos Ibero-americanos da Universidade de Leipzig.
0 nosso intuit0 ao conceber a ideia deste volume foi trazer a phblico informaqdes mais pormenorizadas do que as normalmente disponiveis sobre o desenvolvimento da Linguistica Portuguesa e das suas disciplinas nas diversas regides do vasto mundo lusofono. A ideia foi acolhida com entusiasmo pelos colegas a que nos haviamos dirigido. Lamentavelmente, motivos alheios a sua vontade levaram alguns a, decorrido algum tempo, desistirem da empresa. Isto explica algumas lacunas tanto no que se refere a cobertura do espaqo geogrifico como a certos campos de trabalho linguistico. Quer-nos parecer, no entanto, que os trabalhos aqui reunidos diio uma boa panorgmica do que se tem vindo a fazer em Linguistica Portuguesa, em Portugal e no Brasil. 0 volume abre com uma contribuiqlo do Prof. Evanildo Bechara, das Universidades Federal Fluminense e Estadual do Rio de Janeiro, que, partindo do aparecimento do metodo historico-comparativo no sCc. XIX, esboqa o desenvolvimento dos estudos gramaticais em Portugal e no Brasil em fins do stculo XIX e inicios do seculo XX. Segue-se o artigo do Prof. Jorge Morais Barbosa, da Universidade de Coimbra, que d6 uma vis5o bem hndamentada, consolidada por extensa bibliografia, da evoluqlo dos estudos de Linguistica Portuguesa na Universidade de Coimbra desde 1911, ano da criaqlo da Faculdade de Letras, ate aos dias que correm. A seguir, a Prof." Maria Helena Mira Mateus, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, esboqa brevemente o desenvolvimento da Linguistica Generativa na Universidade Portuguesa, nomeadamente em Lisboa. A Prof." Maria Cristina Altman, da Universidade de S l o Paulo, expde o process0 de institucionalizaqiio dos estudos linguisticos no Brasil, fornecendo valiosas informaqdes sobre a tradiqlo filologica, incluindo a dialectologia, e o surgimento da Linguistica e os seus primeiros representantes no Brasil, nomeadamente em Silo Paulo, Parana, Brasilia e Campinas. 0 trabalho e acompanhado por uma bibliografia cronologica e comentada de textos sobre a produqlo linguistics brasileira de 1941 a 1994. 0 s artigos que se seguem tratam do trabalho em disciplinas especificas da Linguistica Portuguesa no Brasil.
0 s estudos crioulisticos siio o tema da contribuiqiio do Prof. Hildo Honorio do Couto, da Universidade de Brasilia, que discute primeiro a quest50 da crioulizaq50 no Brasil, referindo-se tambem as linguas gerais de base indigena e africana, para depois esboqar o panorama da crioulistica brasileira, desde os estudos de Serafim da Silva Neto ate aos nossos dias. 0 tema da variaqiio linguistics esta presente com o trabalho da Prof." Maria do Socorro Silva de Aragiio, das Universidades Federais da Paraiba e do Ceara e Estadual da Paraiba, que esboqa a historia da Geografia Linguistica no Brasil, desde as actividades e estudos pioneiros de Serafim da Silva Neto nos anos cinquenta ate as pesquisas de campo ainda em curso, comentando brevemente os Atlas Linguisticos regionais ja publicados, em vias de realizaqiio e projectados, e destacando a necessidade de se estabelecer uma metodologia uniforme, visando a htura criaqiio de um Atlas Linguistic0 do Brasil.
0 s ultimos dois artigos siio de caracter mais especifico, discutindo problemas de dois campos de trabalho: a lexicografia e a psicolinguistica. 0 Prof. Francisco da Silva Borba, da Universidade Estadual Paulista e do Conselho Nacional de Pesquisa Tecnologica, apresenta um project0 lexicografico em curso no Centro de Estudos Lexicograficos da UNESP: o Dicionario de usos do portugues contemporineo do Brasil (DUP), discutindo problemas de metodo da Lexicografia e apresentando tr6s verbetes referentes a nome, verbo e adjectivo, respectivamente.
A Prof." Leonor Scliar-Cabral, da Universidade Federal de Santa Catarina e do Conselho Nacional de Pesquisa, contribui com urn estudo sobre o processamento lexical, onde discute problemas de identificaqiio de unidades (palavras) no continuum da cadeia falada (sindi, pausas, hesitaqbes, variaqiio sociolinguistica), destacando modelos interactivos que pressupbem a existzncia de urn lexico mental como os hnicos a poderem explicar satisfatoriamente os processos em causa e familiarizando assim o leitor com uma linha de pesquisa em andamento na Universidade de Santa Catarina. Agradecemos aos autores a benevolencia com que acolheram a ideia deste volume e o empenho com que se langaram a obra. Agradecimentos tambem a editora Vervuert pela gentileza da publicaqiio e a Sra. D. Monika Grafe pela preparaqlo do layout do volume. Eberhard Gartner Leipzig, Veriio de 1996
Evanildo Bechara Universidade Federal Fluminense Universidade Estadual do Rio de Janeiro
A TRADICAO GRAMATICAL LUSO-BRASILEIRA Esta assente em trabalhos especializados que os estudos lingiiisticos de feiqiio cientifica so comeqaram nos inicios do seculo XIX, com a introduqiio do rnetodo cornparativo, isto 6, com a gramatica comparada, que se ocupava corn o estudo sistematico das estreitas relaqdes entre linguas de uma mesma familia historica, sobretudo como gramatica comparada das linguas indo-europeias, com particular atenqso para as linguas classicas, germlnicas e romlnicas. Na verdade, como lembra Coseriul, o metodo historico-comparativo - e tambem o que em nossos dias se entende por lingiiistica modema - niio estiio A margem da tradiqiio nem deixam de entrecruzar-se com preocupaqdes proprias de outros periodos, embora faltem os traqos de ligaqiio de uma tradiqiio interrupta. A "ideologia positivista" na lingiiistica dessa Cpoca esta assentada em quatro principios, ora explicitamente indicados, ora so implicitos em todas as discliplinas especificas, cultivadas nessa epoca: o princkio do individuo ou "atomismo " cient$co, o principio da substincia, o princkio do evolucionismo e o princl'pio do naturalismo.* 0 principio do individuo privilegia cada fato de fala, cada som ou cada acepqiio de tal ou qua1 forma em varios textos; o principio da substlncia se caracteriza por niio se considerarem os fatos nas suas relaqdes hncionais, mas, sim, pelo que siio na fala, pela sua substlncia, e substincia material, se se trata de aspectos materiais da linguagem; o principio do evolucionismo se manifesta na predileqiio absoluta da "Historia" em vez da descriqiio; finalmente o principio do naturalism0 se denuncia ao se considerarem as linguas como objectos ou organismos naturais dotados de "evoluqiio" propria. Aponta-se, com inteira justiqa, como introdutor do metodo historico-comparativo em Portugal e, por extenslo, no Brasil, Francisco Adolfo Coelho, corn um pequeno mas revolucionLio volume intitulado A lingua portuguesa (Coimbra, 1868), de que apenas saiu a primeira parte, onde se aplicavam ao nosso idioma os principios expostos por Frederico Diez na sua Grambtica das linguas romcinicas, de 1836 a 1843.
Coseriu, Eugenio, Lecciones de lingiiistica general, Gredos, Madrid, 1981, pag. 15 e ss Coseriu, Eugenio, ibidem; pags. 33 e ss.
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Pondo de lado a importlncia com que os trabalhos de Adolfo Coelho iniciavam ou davam orientagiio cientifica a varios campos de investigagiio - como os estudos sobre linguas prC-romanas da Lusitlnia e da Peninsula, sobre crioulos, sobre etnografia e etimologia, sobre pedagogia, sobre folclore, sobre lingua dos ciganos e ainda no campo da fisiopsicologia e da lingiiistica geral ou teorica, fixar-me-ei no dominio propriamente da gramatica portuguesa para ressaltar seu maior empenho numa nova visiio da fonktica e morfologia historicas e, a partir dai, na consequente fundamentag80 da etimologia da lingua portuguesa, dentro do constante modelo do genial Diez, esquecido por uns tempos, mas hoje reabilitado em pesquisas como as que levaram a efeito os competentes romanistas Harri Meier e Joseph M. Piel, nas suas discussaes etimologicas. Como Adolfo Coelho niio chegou a escrever a gramatica completa que tinha engenho e arte para fazer, embora nos deixasse muito material neste sentido, compendios gramaticais escritos para outras linguas romlnicas, especialmente para o franc&, com a mesma inspirag20 historico-comparativa, vieram a preencher essa lacuna e a exercer extraordinaria influencia na elaboragiio de gramaticas destinadas as escolas secundarias e liceais em Portugal e no Brasil. Dentre estes compEndios estrangeiros, merecem referkcia especial os escritos por August Brachet - tradutor de Diez -, Ferdinand Brunot e Cyprien Ayer. Assim e que, em 1876, publicava Teofilo Braga a sua Gramatica portuguesa elementar, fundada sobre o metodo historico-comparativo, a imitaqiio, segundo afirmativa do pr6prio autor, do que para o franc& escreveu Brachet. 0 s trabalhos de Adolfo Coelho foram fonte de inspiraqiio, em 1881, para Julio Ribeiro elaborar sua Gramatica portuguesa, obra com que o brasileiro pretendeu romper com a tradiqiio gramatical entiio vigente. Dedica a Grambtica a Friedrich Diez, Emile LittrC, Michel Brtal e Adolfo Coelho; curiosamente, Julio Ribeiro niio reverencia, na dedicatoria, nenhuma de suas fontes de lingua inglesa em que a obra, pelo conselho e ate emprkstimo do historiador e lingiiista J. Capistrano de Abreu, tambem firmemente se baseia, segundo explicita no prefacio da 2. edigiio. Dez anos mais tarde, em 1891, ao escrever as suas Noqaes elementares de gramdtica portuguesa, Adolfo Coelho refere-se nestes termos ao trabalho de Julio Ribeiro: Aproveitamo-nos para o nosso trabalho das publicaqdes das gramaticas que tCm tido por objectivo a lingua portuguesa e das quais mencionaremos em particular os Srs. Epifgnio Dias e Jlilio Ribeiro, conquanto as doutrinas que eles adotaram nos fossem pela maior parte conhecidas ha muito das fontes a que recorreram; e certo portm que esses dois autores averiguaram muitos factos da lingua de mod0 mais completo que os seus predecessores e que o primeiro apresentou
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pela primeira vez entre nos modos de ver que se opunham a velha rotina em que se imobilizara o ensino gramatical e contribuiu sobretudo para a organizqgo da sintaxe (pag. VI).
0 metodo historico-comparative, niio so pela leitura das obras que se iam publicando em Portugal, mas tambem pel0 contact0 direto com os trabalhos dos autores estrangeiros representativos das nossas orientagaes, norteou a remodelag20 e plano de ensino de preparatorios, especialmente elaborado por Fausto Barreto. Catedratico do ColCgio Pedro II., constitui-se esse professor no centro irradiador das modernas idiias e o programa que organizou para o ensino do idioma, serviu de fonte e estimulo ao aparecimento de gramaticas tiio seriamente elaboradas, que ainda hoje siio lidas com proveito. Maximino Maciel, testemunha ocular desse movimento e autor de uma das melhores gramaticas para atender ao referido programa, assim se manifesta: 0 que foi este programa, a influencia quc cxccrccu, o cfeito que produziu pela orienta@o que paleava, desviando o alveo do curso das linguas, agitando quest6es a que se achavam alheios muitos docentes, t mister assergurarmo-lo: assinalou nova epoca na docencia das linguas e, quanto a vernacula, a emancipava das retrogradas doutrinas dos autores portugueses que esposavamos (Grambtica descritiva, pag. 444).
Desta atuagiio de Fausto Barreto sairam as gramaticas de Joiio Ribeiro, Pacheco da Silva Junior e Lameira de Andrade, de Alfredo Gomes, de Maximino Maciel. Deste grupo cabe destacar as figuras de Joiio Ribeiro e de Pacheco da Silva Junior: o primeiro, entre outros campos da erudiciio, cultivou a fraseologia e, nesse dominio, publicou as Frases Feitas, com duas edig6es. 0 segundo, entgo jovem talentoso do corpo docente do Coltgio Pedro 11, ledor da melhor bibliografia estrangeira, trabalhou a semintica contemporaneamente a Michel Breal, tendo saido postumamente as N o ~ d e sde semdntica, em 1903. Para atender a letra dos programas do ensino secundario oficial em Portugal, Antbnio Garcia Ribeiro de Vasconcelos, catedratico da Universidade de Coimbra e erudito em tantas areas do saber, redigiu em 1897, publicada no ano seguinte, uma Gramatica portuguesa destinada a terceira classe, reformulada um ano pouco depois, ja enderegada aos alunos de todo liceu, elaborada nos moldes dos melhores estudos que se faziam em Portugal (Adolfo Coelho, Carolina Michaelis de Vasconcelos, Leite de Vasconcelos, Gongalves Viana, entre outros) e no estrangeiro (Diez, Cornu, Meyer-Liibke), para colaborar no aperfeigoamento do ensino gramatical nas escolas que, segundo seu parecer, "ainda geralmente se faz pelos velhos processos, incoerentes, arbitrarios, metafisicos, que longe de imprimirem conveniente orientaggo ao espirito do adolescente, lhe diio uma
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noqiio falsa da lingua e da gramatica, e apenas servem para fatigar sem proveito a memoria com fixaqiio de paradigmas e regras, cujo fundamento fica sendo urna incognita para o aluno, como para toda a gente, e cuja exatidgo e muitas vezes desmentida pelos fatos" (pag. 5 do Prologo). A excelencia de doutrina dessa Gramcitica portuguesa parece ter caido num imerecido esquecimento, tanto em Portugal quanto no Brasil, mas os que a leram com atenqgo, niio deixaram de reputar-lhe o valor e considera-la dos melhores compendios gramaticais ja elaborados para nossa lingua. Martinz de Aguiar, catedratico de portugues no Ceara e dos que melhor conheceram o idioma entre os modernos professores brasileiros, tinha Ribeiro de Vasconcelos como nosso melhor gramatico. Tambem Mattoso C2mara3 chamou a atenqao para o fato de que, entre portugueses e brasileiros, foi ele o unico que enfrentou urna descriqiio dos padraes da flexgo verbal, e o resultado so n5o foi aproveitavel porque, seguindo o estilo teorico da sua Cpoca, "executou urna analise diacrhnica, partindo dos constituintes em latim para depreender os seus aspectos na lingua portuguesa atual". Escreveu ainda Ribeiro de Vasconcelos urna sintese preciosa de Gramatica historica, que continuava a revelar os dotes cientificos e didaticos do erudito catedratico de Coimbra. Neste movimento renovador desempenha papel de relevo a figura extraordinaria D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, cuja atividade se dividiu principalmente entre Filologia e Historia da Literatura, tendo neste campo, com menor embasamento t e o r i c ~para tais estudos, mas extremamente laboriosa, a companhia de Teofilo Braga. No Brasil, onde o acesso a textos antigos era dificil, niio surgiu, por aquela Cpoca, nenhum investigador que estivesse A altura do que publicaram estes dois mestres, exceqgo feita ao labor do filologo alemHo radicado em SHo Paulo, Oskar Nobiling, que preparou urna importante ediqHo critica de As cantigas do trovador Joan Garcia de Guilhade, com que, se niio estou enganado, concorreu a catedra de Filologia Rominica da Universidade de Bonn, juntamente com Wilhelm Meyer-Liibke. Temos a atividade de editor do Pe. Augusto Magne da Demanda do S. Graal, Boosco deleitoso, e a parte do Castelo perigoso e Vita Christi. Mais recente, ainda no campo da ediqiio de textos, e justo lembrar entre brasileiros os trabalhos de Celso Cunha e Serafim da Silva Neto. A fonetica experimental foi urna disciplina que muito se desenvolveu nesta epoca, imbuida que estava esta disciplina do principio do individuo ou do "atomismo" cientifico, pelo qua1 se estabelecia que cada som efetivamente pronunciado 6 diferente de qualquer outro, de mod0 que ngo ha duas vogais iguais, Mattoso C h a r a Jr., Joaquim, Estrutura da lingua portuguesa, Vozes, Pertopolis, 1970, pag. 95.
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ainda no mesmo falante. Em Portugal, a fonitica experimental encontrou em Gongalves Viana seu iniciador; dono de um ouvido apuradissimo, conseguiu elencar sons que so mais tarde, com a introdugiio de aparelhos sensiveis, puderam ser registrados. Alem deste dote excepcional, possuia um extenso conhecimento de linguas estrangeiras, entre modernas e antigas. Seus estudos podiam ombrear-se com o que de melhor se fazia no estrangeiro, nos grandes centros universitarios. 0 caminho aberto por Gongalves Viana estimulou o aparecimento de alguns pouquissimos seguidores em Portugal e no Brasil, entre os quais merecem refergncia Oliveira Guimariies e, mais recentemente, Armando Lacerda, Jost Oiticica e Antenor Nascentes. Devotou-se ainda Gongalves Viana a estudos lexicograficos, em cujo dominio escreveu as preciosas Apostilas aos dicionririos portugueses, campo em que trabalhou tambCm A.A. Cortesiio, com os seus Subsidios. Sua aptidiio de foneticista levou Gongalves Viana naturalmente a enfretar o problema da unificagiio ortografica do portugu&s, sendo, neste aspecto, o mestre incomparavel a quem todos devemos a parte melhor que hoje vige do nosso sistema da grafia. Seu esforgo neste sentido encontrou competente companheiro de luta no filologo classico Rebelo Gongalves. Pela extensiio de seu saber, pelo polifacetado horizonte de sua curiosidade intelectual e pela operosidade, Jose Leite de Vasconcelos poderia, com toda a justiga, dizer de si aquilo a que respondeu Gaston Paris, quando lhe perguntaram o que e' Filologia. Filologia, concluiu, Filologia e o que eu fago. Realmente a Filologia Portuguesa dessa epoca, em todas as suas necessidades de disciplinas e subdisciplinas, e o que Leite de Vasconcelos fazia nos seus livros e artigos, ou estimulava a fazer nas publicaqdes que dirigia, com particular atengiio a Revista Lusitana, hoje revivida gragas a devogiio e carinho de antigos discipulos e atuais admiradores. Podemos dizer que, se Adolfo Coelho foi o introdutor dos novos modelos teoricos que dominaram a lingiiistica historico-comparativa do sic. XIX, coube a Leite de Vasconcelos assentar definitivamente suas bases no Bmbito universitario e inocular no homem estudioso da sociedade o respeito por esse gznero de investigagiio, reafirmando pela sua agiio que se tratava de uma cizncia e niio de passatempo de ociosos. Em Portugal e no Brasil exerceu uma influencia tiio eficaz e decisiva, que dele se pode afirmar que tudo o que se escreveu sobre nossa lingua ou partia de suas ligdes ou a elas chegava como garantia de alicerce teorico. Falecido em 1938, ainda hoje se publicam os materiais recolhidos de uma vida toda dedicada a cigncia e ao desvendarnento da cultura do seu pais e sua gente.
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Muitos mestres herdaram o honroso compromisso de levar avante a bandeira deixada por Leite de Vasconcelos: Jogo da Silva Correia, cuja morte prematura roubou as letras um talento em plena ascensgo; o competente e combativo Manuel Rodrigues Lapa, repartido entre a Historia Literaria e a Filologia, a quem o embate das ideias injustamente impediu de alqar a catedra universitaria; mas felizmente essa bandeira acabou sendo de direito arrebatada por essa figura de cientista e de homem que encamou L.F. Lindley Cintra, cujas liqbes e cujo exemplo ainda por muito tempo norteargo as investigaqbes lingiiisticas e filologicas de sua predileqgo. A pesquisa dialectologica empreendida por Leite de Vasconcelos e depois, com objectivos e metodos mais rigorosos, na geografia lingiiistica, encontrou em Lindley Cintra e Manuel Paiva Boleo e nos respectivos discipulos o entusiasmo e a cornpetencia que fazem da disciplina um dos dominios mais promissores da lingiiistica portuguesa. A Revista Portuguesa de Filologia, fundada e ate ha pouco dirigida por Paiva Boleo, e um exemplo desse entusiasmo e dessa competencia, exemplo que tem de ser prosseguido. Paralelamente as inovaqdes na investigaqgo lingiiistica sob o chamado metodo da gramatica comparativa e historica, chegam a Portugal, pel0 talento de um jovem professor de latim, as novas ideias no campo da tradicional filologia classica, que tinham a frente as figuras de Boecke, Wolff, Lachmann, Ritschel, na Alemanha, e de Madvig, na Dinamarca. Este jovem professor chamava-se Augusto Epifiinio da Silva Dias, a quem coube a renovaqgo do estudo do latim, para o que trasladou ao vemaculo a versa0 alemg da Gramatica latina de Madvig e, sob o impulso dessa orientaqgo, a reformulaq50, em 1876, de sua Gramatica prdtica, editada em 1870, com o titulo de Gramatica portuguesa, rotulada, a partir da 4a ediqBo de 1881, definitivamente, Gramatica portuguesa elementar. Estudiosos da historia das ideias gramaticais no Ocidente, entre eles Sebastigo Timparano, em La genesis del metodo de Lachmann, tern insistido na estreita relaqgo, e consequente interinfluencia dessa corrente renovadora da filologia classica, em especial das ideias do metodo da critica textual de feiqiio lachmanniana, com as ideias da lingiiistica historico-comparativa, pois que a busca de classificaq50 genealogica dos codigos e da reconstruqiio da liqiio do arquetipo se assemelha a busca do lingiiista de classificaqiio das linguas e, tanto quanto possivel, da reconstruqgo dos elementos hereditarios da lingua-mze, partindo das inovaqdes existentes nas linguas filhas. Na produggo cientifica de Epifiinio, quer no dominio do latim, quer no dominio do portugu&s, esta marcante influencia se manifesta na particular atengiio dada ao registro dos fatos sintiticos e na preocupaqgo da critica textual,
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dominios que, em Portugal, Epfiinio Dias practicamente inaugurou. Vale a pena registrar que ngo sendo o Brasil um cultor assiduo da filologia classica nesta feiqiio aqui assinalada, a influencia da obra de Epifinio Dias so se deu em aten980 ao dominio da sintaxe que encontrou em Mario Barreto, e, com menor extensgo, em Sousa da Silveira, entre outros, os seus principais emulos. A investigaqgo e a produqgo da critica textual chegou ao Brasil desgarrada dessa influzncia direta do mestre lusitano. Esta corrente de estudos voltados para a sintaxe, especialmente no registro dos fatos e n8o na sua tentativa de explicaqiio - como assinalou Paiva BolCo ao ajuizar a obra de natureza sintatica de Epifgnio Dias e do brasileiro Said Ali, de quem adiante falarei - conta com outro latinista, Julio Moreira, visivelmente influenciado pel0 seu compatriota; deixou-nos os preciosos Estudos de lingua portuguesa, inaugurando a preocupaqgo com os fatos da lingua popular. Ainda no dominio da filologia classica podemos citar, nessa ordem de estudos sintaticos e de estudos de critica textual, especialmente no que toca ao texto camoniano Cpico e lirico - este com menor assiduidade -, JosC Maria Rodrigues, cujas notas criticas as duas ediqdes da Epopeia que Epifinio Dias preparou, constituem observaqdes importantissimas sobre a lingua do seculo XVI, mormente no campo da sintaxe. Outro oriundo da filologia clhsica que desempenha, na nossa historia das ideias e movimentos gramaticais, papel de relevo C JosC Joaquim Nunes, que continua a preocupa@o com a critica textual, em particular da poesia trovadoresca, mas pelo lado puramente gramatical, esta ligado ao movimento inaugurado por Adolfo Coelho, a quem, por sinal, dedica seu Compgndio da gramatica histdrica, saido em 19 19. Um forte indicio dessa dicotomia que assinalo esta na inten980 de escrever, para essa obra, o capitulo de Sintaxe. No Prologo a l a ediqiio, justificando a ausencia desse capitulo, declara: (...) Verdade seja que, sabendo que o, ha pouco falecido, professor Epiffinio Dias, preparava um estudo especial dessa parte da gramatica, desistira de ocupar-me dela, visto estar entregue a quem melhor do que eu podia desempenhar-se de tal tarefa. Publicado, porem, esse trabalho, reconheci que nele, apesar de excelente, o seu autor seguira process0 diferente do meu e por isso voltei a primeira ideia, mas entre o aparecimento daquele e a publica$is deste foi-me impossivel tratar desse assunto corn a minucia e extensgo que ele requere; ficara portanto para mais tarde, se a vida me ngo faltar.
Ora a sintaxe historica de Epifinio, ja que seu autor vinha de uma tradiqiio clbsica, foi composta dentro dos modelos que encontrara nessa tradiqgo, por exemplo a Syntax de Drager para o latim, ou a de Matzner e de Ploetz para o frances, ambos tambem latinistas. Note-se ate a pouca referencia a citagdes das
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gramaticas de Diez e de Meyer-Lubke na Sintaxe histdrica, a qua1 pretendeu desde sempre, com esse titulo, ser uma sintaxe comparada (e niio historica) do latim e do portugu&s, intenqiio visivel na constantissima exemplificaqiio com textos latinos e com remissaes ao comp&ndiogramatical de Madvig que vertera ao vernaculo. As obras do notavel latinista sueco Einar Lofstedt sobre a Peregrinatio Aetheriae e sobre a latinidade posterior chegaram-lhe as miios ja tardiamente e o que delas citou no livro atenta apenas para questaes pontuais. De mod0 que a sintaxe em que pensara Nunes, deveria ser escrita nos moldes da que publicaram Diez e Meyer-Lubke para as linguas rominicas, ou Brunot ou K. Nyrop para o franc&. Seria uma obra gigantesca, praticamente impossivel aquela epoca (e o e ainda hoje) para uma lingua muito pouco investigada e, portanto, com muito pouco material colhido nessa selva selvaggia que e a sintaxe. Justifica-se, assim, que ainda no Prdlogo da 2a ediqiio, de 1930, passados 11 anos, J. J. Nunes niio pudera cumprir sua intenqiio: Contrariamente aos meus desejos, pelas razBes expostas ["porque outros trabalhos me t@mprendido a atengZo e absomido o tempo"], ainda desta vez me nZo ocupo da Sintaxe, como prometera; nlo desisto, porem da primeira intengZo, que procurarei pBr em pratica, se Deus me der vida e saude. Infelizmente, a 3a ediqiio, em 1945 deste excelente Compbndio, quiqa o mais rico de nossa lingua, saiu depois da morte de seu autor e as anotaqaes do exemplar de miio que os editores acrescentaram ao texto, nada diziam de sintaxe. Ainda nas pegadas de Epifinio Dias, no dominio da filologia classica e da portuguesa, ocupa lugar de distinqiio nessa dupla area de investigaqiio o Doutor Rebelo Gonqalves, preocupado com critica textual e com aspectos gramaticais da lingua no seculo XVI, em particular de Luis de Camaes. Inserido no context0 do movimento linguistico e pedagogic0 do final do seculo XIX, mas niio diretamente ligado a atividade magisterial de lingua portuguesa - pois era professor de alemiio e de geografia, vinha marcando seu lugar singular na produqiio filologica brasileira Manuel Said Ali, autor de trCs artigos publicados na Revista Brasileira, a partir de 1895, nos quais, fazendo aplicaqgo de teorias linguistas de autores alemges, particularmente de Sievers, Brugmann, Delbriick, H. Paul, denunciava uma nova orientaqgo no enfoque e tratamento de problemas especificos do idioma, como a colocaqiio dos pronomes obliquos atonos (problema que comeqou na gramaticografia portuguesa com as criticas ao romancista Jose de Alencar), os verbos impessoais e o emprego do infinitive flexionado e niio-flexionado. No primeiro tema, reforqou de Leite de Vasconcelos a classificaqiio do portugu&sdo Brasil como um dialeto, e como tal podia apresentar particularidades que distinguiam do falar geral lusitano. No segundo,
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tratou a impessoalizaqiio com vistas de um linguista e n5o de um gramatico, e acerca do infinitivo, procurou mostrar que alem das normas idiomaticas, ha urn espaGo de uso sujeito a criativa do utente, em que prevalecem as intenqties da 2nfase e do realce. Comeqava, assim, no Brasil, com parcimdnia C verdade, pela intervenqiio de Said Ali, uma nova orientaq80 em que niio se separa a lingua do homem que a fala, e aparecia aqui a influincia de Saussure. Num livro saido no inicio da dCcada de 20, a sua Lexeologia do portuguds histdricc. afirmava que: E a psicologia elemento essencial e indispensivel i investigaqilo de pontos obscuros. As mesmas leis foneticas seriam inexistentes sem os processos da memoria e da analogia. Ate o esquecimento, a memoria negativa, e fator, e dos mais importantes, na evoluqgo e progresso de qualquer lingua. Sentimos aqui, alCm da ideia de progresso linguistic0 de Otto Jespersen, a ressonsncia da liq5o de Saussure: Au fond, tout est psychologique dans la langue, y compris ses manifestations materielles et mecaniques, comme les changements de sons. (Cours, pag. 2 1)
0 Cours saiu em 1916 e ja na 2" ediqiio (1919) das Dificuldades da Lingua portuguesa, Said Ali se referia a dicotomia operacional da investigaqiio linguistica de sincronia e diacronia: Levei sempre em conta, nas diversas questdes de que me ocupei, o elemento psicologico como fator importantissimo das alteraqdes de linguagem e, inquirindo a persistencia ou instabilidade dos fatos linguisticos, tomei para campo de pesquisas ngo somente o portuguCs do period0 literario que se estende de Jogo de Barros a Manuel Bernardes, mas ainda o falar hodierno e, por outra parte, o menos estudado falar medieval. Pude assim colher resultados que dlo regular ideia da evoluqlo do idioma portugu&sdesde a sua existencia ate o momento presente, de onde se vC a razlo de certas dicqdes duplas, coexistentes ora, e ora sucessivas, fontes muitas vezes de renhidas e fiiteis controversias. Nesses fatos encontraria F. de Saussure, creio eu, materia bastante com que reforqar suas luminosas apreciaqdes sobre lingiiistica sincrdnica e lingiiistica diacrdnica (pag. XVII da 5" ediqgo, 1957). Se isso anunciava em 1919, na Lexeologia, que deve ter comeqado a redigir entre 1919 e 1920, optou por inovar nas pegadas do genial genebrino, e em vez de palmilhar, em obras do ginero "gramatica historica" a tradicional caminhada do latim ao portuguis, elegeu duas sincronias mais proximas, as do portuguis antigo e portuguis moderno, para "colher resultados que diio regular ideia da evoluq5o do idioma portuguis desde a sua existincia ate o momento presente."
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A novidade, apesar de rigorosamente cientifica, niio foi compreendida na epoca; a critica estranhava "uma gramatica historica sem latim" e a condenou a apenas duas ediqbes em vida do autor. So com o desenvolvimento da Linguistics no Brasil e com a iniciativa pioneira da Universidade de Brasilia de propor a reediqiio de obras importantes e que as gramaticas de Said Ali reataram seus vinculos com a geraqiio nova de estudiosos da lingua portuguesa. Alem de operar com a distingiio entre estudo sincr6nico e estudo diacr6nico dos fatos lingiiisticos, Said Ali intuiu os conceitos de sistema, norma e fala, em varios momentos de suas pesquisas, como se pode depreender, por exemplo, dessa afirmagiio em Meios de expressc?~e altera~aessemcinticas, ao referir-se ao emprego lusitano do pronome si em funqiio niio reflexiva: Explicar um fenbmeno lingiiistico nlo significa recomendar a sua aceitaglo no falar das pessoas cultas. Isto nlo e da jurisdiqlo do lingiiista. Dentro dessa visiio, muito cedo apoiado em Sayce, insiste na distinqiio entre gramatica descritiva, de carater cientifico, e a gramatica normativa, mera escolha de fatos tidos como recomendaveis na lingua standard. Outra intuiqiio do mestre brasileiro diz respeito a compreender a linguagem e, portanto, a uma lingua como um objeto cultural, pertencente ao mundo das atividades e criaqdes do homem e, assim, niio esti determinada por causas, mas que se produz com vistas a uma finalidade. E o principio da cultura, que se opde ao principio positivista do naturalismo. Estas antecipagdes na obra de Said Ali anunciando um movimento de trgnsito entre uma visiio exclusivamente historicista para outra em que encarecia o estudo sincr6nico dos fatos linguisticos, niio passaram despercebidas a um lingiiista da autoridade de J. Mattoso Cimara Jr.4, que afirma: E em verdade se pode dizer que o seu campo de interesse foi a descriqgo sincrbnica da lingua, nos moldes propugnados por Saussure. Assim, a gramatica histdrica (...) nlo e o que por esse nome entendiam os seus contemporgneos, os mestres neogramaticos alemles, e que se entende ainda hoje: um estudo da cadeia de mudangas, a partir do latim vulgar, dos sons vocais, das formas gramaticais e das construg6es sintaticas. E no fundo uma gramatica expositiva, complementada por um cotejo com as antigas fases da lingua.
Em Portugal, uma autoridade da compet6ncia de Manuel Paiva BolCo tambem reconhecia a superioridade dos estudos de sintaxe do mestre brasileiro, que ja caminhavam no sentido das explicaqdes do dominio da Estilistica. Estabelecido este Mattoso Chara Jr., Joaquim, "Said Ali e a lingua portuguesa", em: Disperses de J.M. Chara Jr., Fundaqgo Getulio Vergas, Rio de Janeiro, 1972, pag. 187.
A TradiqBo Gramatical Luso-Brasileira
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elo de ligaqiio entre os estudos linguisticos de carater historic0 e comparativo e a descriqiio de carater sincr6nic0, estrutural, ver-se-a surgir para a lingua portuguesa florescente period0 do estruturalismo e das correntes pos-estruturalistas de que da conta o aparecimento de obras de maior interesse cientifico e encontros altamente estimulantes e proveitosos. Iniciam-se os estudos linguisticos da 2" metade deste seculo sob a Cgide do metodo sincr6nico sobre o diacr6nic0, de tal forma, que ainda hoje ou se faz exclusivamente descriqiio, ou se faz primeiro descriqiio e depois historia. Ha, todavia, um grupo de linguistas neste final de seculo que pretende defender niio um retomo da primazia da historia nem, muito menos, negar a validade da descriqiio estrutural, que, para seu objetivo, e o Linico metodo adequado. 0 que Coseriu pretende - como acentuou numa recente comunicaqiio a um congress0 cujo tema era "A posiqiio atual da lingiiistica historica no ambito das disciplinas linguisticas" (Roma, 1992) - "6 Go somente procurar deixar patente que a historia (compreendidas tambtm aqui as descriqbes estruturais, ja que a descriqiio de um objeto, ainda que seja em um momento da sua historia, e uma parte desta historia), longe de ser, como frequentemente se diz, uma ciencia hibrida e incoerente (estrutural e atomizante ao mesmo tempo, sincrhica, linguistica e tambem niio linguistica, etc.) e a ciincia linguistica integral, que aspira a considerar os seus objetos, as linguas, em todos os seus aspectos e com todas as suas determinaqbes intemas e e ~ t e m a s . " ~
Coseriu, Eugenio, "Linguistica storica e storia delle lingue", em: Laposizione della linguistica storica neN ambito deNe discipline linguistiche, Roma, 1992, pag. 20.
Jorge Morais Barbosa Universidade de Coimbra
os ESTUDOS DE LINGUISTICA PORTUGUESA NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1. Depende necessariamente do arbitrio de quem escreve o estabelecimento de um termo a quo para apresentaqgo da investigaqgo linguistics produzida numa Universidade como a de Coimbra, cuja fundaqiio remonta a 1290. Tendo dominado largamente a vida intelectual do pais ao longo de seculos, num labor em que tambim intervieram congregaqbes religiosas, na Universidade de Coimbra se estudaram e ensinaram, a par da oratoria e da retorica, linguas como o latim, o grego, o hebraico, o arabe ou o sirio. So uma pesquisa sistematica, que esta por fazer, permitiria reunir os titulos e autores de todas as obras ngo perdidas resultantes de tal labor, bem como de quanto, no dominio da lingua portuguesa, se ficou devendo a professores ou antigos escolares seus. Refira-se apenas, a titulo de curiosidade, ter sido escrita por um professor de oratoria da Universidade, Ferngo de Oliveira, a primeira gramatica da lingua portuguesa, publicada em 1536'.
Fixar-se-a assim o referido termo a quo em 1911, ano da criaqiio da Faculdade de Letras, e circunscrever-se-a a apresentaqgo seguinte ao campo da linguistica portuguesa. 2. E certo que j6 em 1900 um lente da Faculdade de Teologia, Antonio Garcia Ribeiro de Vasconcelos (1 860- 194I), publicara a primeira gramatica historica portuguesa, contemporinea de outra gramatica sua, descritiva e normativa, ambas perfeitamente actualizadas no quadro da epoca2. Por importantes que tenham sido, e foram-no, estas obras ficaram, no entanto, praticamente isoladas, ja que a restante e vasta produqgo bibliografica do seu autor, que em 191 1 transitou para a Faculdade de Letras, se situou no dominio da historia. Isolada ficou tambem a Fone'tica Portuguesa. Compdndio de Ortologia Nacional, Coimbra, 1927, de Jose Joaquim de Oliveira Guimariies (1 877- 1960).
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Grammatica da lingoagem portuguesa. Lisboa, German Galhard, 1536. Ed. facsimilada, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1981. Ha uma boa leitura desta grarnatica por Rodrigo de Sa Nogueira, Lisboa, Ed. de Jose Fernandes Jr., 1933. E Barbosa Machado (Biblioteca Lusituna, t. 2, p. 47) quem diz que Oliveira explicou Quintiliano na Universidade de Coimbra. Grammatica histdrica da lingua portugu&za (VI e VII classes do curso dos lyceus). ParisLisboa-Rio de Janeiro-Silo Paulo-Belo Horizonte, Aillaud, Alves e Ca e Francisco Alves e Ca, 1900; Gramm~ticaportugu&sa (Para uso dos alunnos dos lyceus). Ib., ib., s.d. 118991.
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3. Mas logo no ano da sua criaqiio contratou a Faculdade a insigne filologa D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, que, nascida em Berlim em 185 1, se estabelecera em Portugal em 1876. Doutora pela Universidade de Friburgo em 1893, a data da sua nomeaqiio para Coimbra publicara ja D. Carolina numerosos artigos, especialmente na Zeitschrift fur Romanische Philologie3 e na Revista Lusitana, e bem assim a sua ediqiio critica do Cancioneiro da Ajuda, 2 vols., Halle, 1904, mais tarde completada por um GlossLio (Revista Lusitana, 23, 1920, pp. 1-95). A produqiio filologica de D. Carolina prosseguiu em Coimbra at6 ao ano da sua morte, 1925, com uma obra muito vasta, repartida por trabalhos sobre a Idade MCdia, Camces, Sa de Miranda, Gil Vicente e outros, o lexico, a etimologia,
Apresenta-se, neste momento, a lista das revistas e publicaqdes periodicas que serlo citadas quer no corpo do texto quer nas notas de rodape: Zeitschrift fur Romanische Philologie. Tiibingen; Revista Lusitana. Porto - Lisboa, Arquivo de Estudos Filol6gicos e Etnogrhficos relativos a Portugal; Revista de Portugal. Serie A, Lingua Portuguesa, Lisboa; Biblos. Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Coimbra, Imprensa da Universidade. (Comeqou por chamar-se Boletim da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra); Boletim de Filologia. Lisboa, Centro de Estudos Filologicos. A partir do tom0 XXV (1976-79) passou a ser editado pel0 Centro de Linguistics das Universidades de Lisboa, que substituiu o Centro de Estudos Filologicos; 0 Instituto. Coimbra; Verba. Anuario Gallego de Filologia. Santiago de Compostela. A partir do vol. 5 passou a designar-se Verba. Anuario Gallego de Filoloxia; Revista International de Lingua Portuguesa. Lisboa, AssociaqSo das Universidades de Lingua Portuguesa; Revista Portuguesa de Filologia. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade. Instituto de Estudos Romhicos; Revista de Filologia Romanica. Departamento de Filologia Romhica, Facultad de Filologia. Universidad Complutense de Madrid; Romanische Forschungen. Vierteljahresschrift f~ Romanische Sprachen und Literaturen, Frankfurt; Bulletin des Jeunes Romanistes. Strasbourg; Revista Portuguesa de Pedagogia. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade. Publicaqlo do Departamento de Psicologia e de Ciencias da Educaqlo; Discursos. Estudos de Lingua e Cultura Portuguesa. Coimbra, Universidade Aberta; Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade; Orbis. Bulletin International de Documentation Linguistique, Louvain; Aufsiitze zur Portugiesischen Kulturgeschichte. Portugiesische Forschungen der Gorresgesellschaft, Miinster; Cadernos de Literatura. Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, INIC; Degre's. Revue de Synthese a Orientation Semiologique, Bruxelles; Cadernos de Semrintica. Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade; Mathesis. Viseu, Universidade Catolica Portuguesa, Faculdade de Letras; Lexique. Lille; Revista da Universidade de Coimbra; Diacritica. Revista do Centro de Estudos Portugueses. Braga, Universidade do Minho; Revista Portuguesa de Educa@o. Braga; La Linguistique. Revue de la Societe Internationale de Linguistique Fonctionnelle. Paris, Presses Universitaires de France; Contrastes. Revue de I'Association pour le Developpement des ~ t u d e s Contrastives. Paris.
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alguma linguistics, na tradiqiio filologica da Cpoca4. Nesta tradiqilo se inseriu Jose Maria Rodrigues (1857-1942), especialmente com os seus estudos camonianos, cuja cadeira regeu de 1924 a 1927. Vastissima foi igualmente a bibliografia produzida durante a sua longa estadia (1928-1954) como professor da Universidade de Coimbra por Joseph Maria Piel (1903-1992), tambCm alemilo, que para aqui veio por iniciativa do seu mestre de Bona (onde se doutorara em 1926) W. Meyer-Liibke, ele pr6prio professor da nossa Universidade entre 1925 e 1927. Na impossibilidade de se citarem todos os seus artigos e livros, mencione-se que a obra de Pie1 se repartiu especialmente pelos campos da lexicologia, etimologia, toponimia, historia da lingua (nomeadamente metafonia e flexilo verbal) e ediqbes criticas de textos medievais5. 0 s interesses etirnologicos que dominaram grande parte da actividade cientifica de Pie1 nilo tiveram, infelizmente, continuidade em Coimbra, com excepqilo de alguns trabalhos de Maria Jose de Moura Santos, a que adiante se fara referzncia. 4. E, no entanto, Manuel de Paiva BolCo (1904-1992) quem vai marcar decisivamente na Universidade de Coimbra um longo periodo de investiga~golinguistica, iniciado com a sua contrataqilo como professor, em 1938, e prosseguido mesmo apos a sua jubilaqilo, em 1974. Discipulo de Fritz Kriiger na Universidade de Hamburgo, onde seria leitor de Portugu&sde 1930 a 1935, repartiu Paiva Boleo os seus interesses por multiples campos, entre os quais a sintaxe e a estilistica6, a lexicologia e a onomastica7, mas foi sobretudo a dialectologia, em
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A sua bibliografia foi estabelecida por G. Moldenhauer na Miscelbnea de Estudos em Honra de Carolina Michaelis de Vasconcelos (= Revista da Universidade de Coimbra, vol. 11). Coimbra, 1933. Da ~rimeiraactividade docente de D. Carolina dtio conta as suas Licdes de filologia portuguesa segundo as prelec~desfeitas aos cursos de 1911/12 e de 1912/13. Lisboa, Ed. da Revista de Portugal, 1946. Na Biblos, vol. XXVII (1951), pp. 457-459, encontra-se uma lista das publicaqdes de Joseph M. Piel, quase completa no que respeita ao periodo da sua docencia em Coimbra. Em 1953, foram editadas em volume, pelos Acta Universitatis Conimbrigensis, com o titulo de Miscelcinea de etimologia portuguesa e galega, virios artigos de Piel, alguns ate entlo inkditos. Vide ainda Maria Jose de Moura Santos, "Prof. Joseph M. Pie1 (1903-1992)", Biblos, vol. LXVIII ( 1 992), pp. 649-65 1. Tempos e rnodos em portuguis. Contribui~c?~ para o estudo da sintaxe e estilistica do verbo. Separata do Boletim de Filologia, torno 111, fascs. 1-2 (1934-35); Lingua falada, ldgica e clcissicos (A propdsito da discussdo 'Um dos que ... 7 . Separata de Cursos e ConferEncias, Coimbra, Biblioteca da Universidade, vol. I1 (1935); 0 perfeito e o pretkrito em portuguis em confronto com outras linguas rombnicas. (Estudo de caracter sintactico-estilistico). Separata de Cursos e conferCncias. Coimbra, Biblioteca da Universidade, vol. VI (1937); 0 s valores temporais e modais do futuro imperfeito e do futuro perfrastico em portuguis. Separata de Biblos, vol. XLI (1973). 0 s nomes dos dias da semana em portuguds. (InfluEncia moura ou cristd?). Coimbra. Coimbra Editora, 1941; 0 s estudos de antroponimia e toponimia em Portugal. Separata da
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si mesma e como contributo para o conhecimento de certa historia da lingua, que mais segura e extensamente dominou a sua obra e a imp& ao respeito da comunidade cientifica internaciona18. Sem esquecer quanto escreveu, sem esquecer o lanqamento, em 1942, do Inque'rito Linguistico, que ficaria conhecido como I.L.B. e cujos materiais se encontram disponiveis no Instituto de Lingua e Literatura Portuguesas da Faculdade, por ele dirigido, com esse ou outro nome, durante muitos anos, sem esquecer ainda a criaqgo, em 1947, da Revista Portuguesa de Filologia, cujo volume XIX, publicado ap6s o seu falecimento, ainda deixou pronto, 6 importante mencionar, a par da sua actividade docente e dos cuidados que nela p6s, publicando sumdrios das liqBes e bibliografias dos assuntos nelas versados, a permanente dedicaqgo aos alunos e antigos alunos e o sentido de escola que sempre o nortearam e distinguirarn. Foram muitas, corn efeito, as dissertaqaes de licenciatura que orientou, algumas delas publicadas no corpo ou como suplementos da RPF). Niio permitiram as circunstilncias, entre as quais se ngo deve omitir o nivel de exig6ncia de Paiva BolCo, que muitos desses antigos alunos, remetidos para o ensino secundario, dessem continuidade ao trabalho do mestre na Faculdade. ExcepqBes foram Clarinda de Azevedo Maia, Maria JosC de Moura Santos, Evelina Verdelho, Maria Filomena Pereira de Brito e Adelina Angelica Pinto Coxito. 5. Clarinda de Azevedo Maia tern concentrado os seus interesses sobretudo na dialectologia e historia da lingua, esta especialmente no period0 medieval e com Revista de Portugal, serie A, Lingua portuguesa, vol. XVIII (1953); 0 s matronimicos nos apelidos populares portugueses. Separata da Revista de Portugal, serie A, Lingua portuguesa, vol. XVIII, 113 (1953); 0 s nomes e'tnico-geogrrijicose as alcunhas colectivas: o seu interesse linguistico, histbrico e psicolbgico. Separata de Biblos, vol. XXXI (1955); "0 problema da importaqiio de palavras e o estudo dos estrangeirismos (em especial dos francesismos) em portugu&sn,0 Instituto, vol. 127 (1965). Sobre os estudos de lexicografia na Faculdade de Letras de Coimbra ate 1986, pode ler-se Clarinda de Azevedo Maia, "0s estudos de lexicografia na Faculdade de Letras de Coimbra", Verba, Anexo 29 (1988), pp. 181-191. 0 s estudos de Paiva BolCo no campo dialectol6gico foram reunidos no seu livro Estudos de linguistics portuguesa e rombnica, vol. I: Dialectologia e histbria da lingua, 2 tomos, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1974 e 1975. A sua bibliografia encontra-se na Biblos, vol. LVII (1981), pp. VII-XLVIII, e sobre a sua personalidade podera ler-se Maria Jose de Moura Santos, "Jubileu universitirio do Prof. Doutor Manuel de Paiva Boleo", Biblos, vol. L (1974), pp. 641-648; Id., "Manuel de Paiva Boleo (1904-1992)", Revista Internacional de Lingua Portuguesa, no 8 (1993), pp. 121-124; e Clarinda de Azevedo Maia, "Manuel de Paiva Boleo (1904-1992)", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XX (1995), pp. 281-298, onde pode encontrar-se @. 289, n. 1) a indicaqiio dos tr&sartigos de Paiva Boleo posteriores a publicaqb da bibliografia acima citada nesta nota. Cf. Lista das Teses de Licenciatura em Linguistica Portuguesa, orientadas, desde 1942 ate 1971 por Manuel de Paiva Boleo. Coimbra, Instituto de Estudos Rominicos, 1971.
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relevo para o galegolo. Uma visgo sociolinguistica da dialectologia traditional, que caracteriza os seus interesses e marca a sua obra mais recente, permitiu-lhe orientar nesse sentido as Provas de Aptidgo Pedagogica e Capacidade Cientifica de Joiio Nuno Corr&aCardoso e as dissertaqdes de mestrado de Cristina Martins e Isabel Almeida Santos, adiante mencionadas.
lo
Histdria do galego-portuguis. Estado linguistico da Galiza e do noroeste de Portugal desde o se'culo XIII ao se'culo XVI. (Com referincia a situayclo do galego moderno). Coimbra, Instituto Nacional de Investigaqlo Cientifica, 1986; Historia da lingua. Guia de Estudo. Coimbra, Gabinete de Publicaqdes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995; "A penetraqgo da lingua nacional de Portugal e de Espanha nos falares frontciriqos do Sabugal e da vizinha regigo de Xalma e Alamedilla", XYLY Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciincias (Lisboa, 3 1 de Marqo a 4 de Abril de 1970) (= Revista Portuguesa de Filologia, vol. XV, tomos I e I1 (1969-1971), pp. 805-815). - Coloquio 2: Heran~asocial peninsular perante o desenvolvimento industrial. Lisboa, Associaqlo Portuguesa para o Progresso das CiCncias, tom0 111, pp. 231-243; Osfalares do Algarve (Inovaqcib e Conservayclo). Com 32 mapas. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XVII, tomos I e I1 (1975); 0 s Falares Fronteiriyos do Conscelho do Subugal e da Vizinhu Regiclo de Xalma e Alumedilla. Suplemento IV da Revista Portuguesu de Filologia (1977); Geografia dialectal e histdria do portuguis: resultados da termina~do latina -ANA. Separata de Biblos. vol. LVII (1981) (= Homenagem a M. Paiva Boleo); "ctOna)), um arcaismo galego-portuguks. Breve contributo para o estudo das formulas de tratamento na lingua medieval galego-portuguesa", Revista de Filologia Romanica, vol. I1 (1984), pp. 71-78; Antecedentes medievais do Seseo' galego. Homenaje a Alonso Zamora Vicente, vol. I (Historia de la lengua: el espafiol contemporineo). Madrid, Editorial Castalia, 1988, pp. 33-43; "0s estudos de lexicologia na Faculdade de Letras de Coimbra", Verba, Anexo 29 'Coloquio de Lexicografia' (1988), pp. 181-191; "Algumas questdes scriptologicas relativas a prosa documental galego-portuguesa", Homenagem a Joseph M. Pie1 por ocasirlo do seu 8.5" aniversbrio. Dieter Kremer (ed.), Tiibingen, Max Niemeyer Verlag, 1988, pp. 327-347; "Revista Portuguesa de Filologia", Romanische Forschungen, (1988), pp. 231-239; "A situaqgo linguistica da Galiza do sCculo XI11 ao seculo XVI", Actas do I Congreso Internacional da Culturu Galega (Santiago de Compostela, 22 a 27 de Outubro de 1992). Conselleria de Cultura e Xuventude, Xunta da Galicia, 1992, pp. 361370; Minorias linguisticas e sociolinguistica. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XX (1992); O Tratado de Tordesilhas: algumas observay6es sobre o estado da lingua portuguesa em finais do se'culo XV Separata de Biblos, vol. LXX (1994); "0 galego-portuguCs medieval: sua especificidade no context0 dos romances peninsulares e futura diferenciaqlo do galego e do portugds", Actas do Congresso Internacional sobre o Portuguis (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 11-15 de Abril de 1994). Associaqlo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1996; Sociolinguistica histdrica e periodizayrib Iinguistica. Algumas rejlex6es sobre a distinqclo entre portuguis arcaico e portuguis moderno. Separata de Diacritica, no 10 (1995); "Manuel de Paiva Boleo (1904-1992)", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XX; "Resultados das terminaqdes latinas -ANU, -ANE e -ONE em portuguCs. Estudo de geografia dialectal", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI; O mirandis. ContribuiyBo para a dialectologia hispanica. Manuel Alvar (coord.), Barcelona, Editorial Ariel.
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Maria Jose de Moura Santos tem repartido a sua investigaq50 n5o so pela dialectologia e historia da lingua, mas tambem pelos campos da romanistica, da etimologia e da l e x i ~ o l o g i aRazbes ~~. de saude levaram-na a aposentar-se precocemente em 1995, niio sem antes ter orientado uma dissertaqiio de mestrado, mas a todos resta na Faculdade a esperanqa de que, liberta agora das obrigaqhes oficiais, possa concluir o estudo que tem entre miios sobre o lexico de "0s Lusiadas" e ainda empreender outros. Evelina Verdelho tem-se dedicado especialmente a lexicologia, lexicografia e critica textualL2,dominio este onde actualmente prepara a ediyiio critica das
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kreas linguistico-etnogrhficasromrinicas, 2 vols. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1991. (Dissertaqgo de Doutoramento); "0 uso de desenhos em inqueritos linguisticos. A proposito do PLIM [Pictures Linguistic Interview Manual]", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XII, tomo I (1962-1963), pp. 199-211; "Remarques sur deux systemes vocaliques anciens du portugais du nord", Bulletin des Jeunes Romanistes, 9 (1964), pp. 5-12; "Histoire et bilinguisme: faits et problemes autour de la frontiere hispanoportugaise", Actes du Xe Congris International de Linguistique et de Philologie Romanes (Strasbourg, du 23 au 28 avril 1962) Tome 111. Paris, Librairie Klinckiseck, 1965, pp. 12531259; 0 s Estudos de linguistica romrinica em Portugal de 1945 a 1960. Separata do "Suplemento Bibliografico" da Revista Portuguesa de Filologia, vol. I1 (1966); 0.7 Falares Fronteiriqos de Tras-0s-Montes. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XII, tom0 11, vol. XI11 e vol. XIV (1966); "Jubileu universitirio do Prof. Doutor Manuel de Paiva Boleo", Biblos, vol. L (1974), pp. 641-648; "Nota sobre o rnovimento quinhentista de 'Defesa e ilustraqilo' das linguas vulgares", Biblos, vol. LI (1975), pp. 517-528; "ImportaqIo lexical e estruturaq30 sembtica. 0 s arabismos na lingua portuguesa", Biblos, vol. LVI (1980), pp. 537-598; "0s problemas etimologicos de tricha, trinchar, trincar e trinca. Historia de um campo morfo-semiinticon, Biblos, vol. LVIII (1982), pp. 150-189; "Nota sobre a etimologia de redoiqa", Biblos, vol. LXIV (1988), pp. 313-327; [In memoriam] "Adelina Angelica AragZo Pinto Coxito (1 94 1- 1988)", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XIX (1987-1991), pp. 491-499; [Cronica] "Prof. Joseph M. Pie1 (1903-1992)", Biblos, vol. LXVIII (1992), pp. 649-651; "Como se pronunciava o s latino? Contributo da investigaqZo romanistica", Misceldnea de Estudos em Honra do Prof A. Costa Ramalho. Coimbra, INIC, 1992, pp. 645-666; [Noticias] "Manuel de Paiva Boleo (1904-1992)", Revista Internacional de Lingua Portuguesa, no 8, (1993), pp. 121-124; "A origem de "mocho" 'banco' e o seu campo morfo-semhtico", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XX (1994), pp. 153-182. Linguagem regional e linguagem popular no romance regionalists portugu2s. Lisboa, Instituto Nacional de Investigaqgo Cientifica, Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa, 1983. Separata do Boletim de Filologia, tornos XXVI (1980181) e XXVII (1982); Livro de Obras de Garcia de Resende. Ediqr?o Critica, Estudo Textoldgico e Linguistico. Lisboa, Fundaqio Calouste Gulbenkian, 1994; Aspectos de urn discurso pedagdgico: a ((Cartilha Maternal, Segunda Parteu, de JoGo de Deus. Separata da Revista Portuguesa de Pedagogia, ano XIV (1980); Lexicografia sinonimica portuguesa: o ct VocabulLirio de Synonimos, e Phrases)) de Raphael Bluteau, o ((Ensaiosobre alguns Synonymosw, do Cardeal Saraiva. Separata de Biblos, vol. LVII (1981); Sobre o ((Dicionario Poiticow de Crindido Lusitano. Separata do Boletim de Filologia, tom0 XXVIII, fascs. 1-4 (1983); "Dicionirios de rimas da lingua portuguesa", Actas do Coldquio de Lexicologia e Lexicografia (26-27
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Obras M k t r i c a s de D. Francisco Manuel de Melo e colabora na ediqiio, tambem critica, das O b r a s C o m p l e t a s da Marquesa de Alorna.
Maria Filomena Brito, que tem explorado os materiais do I.L.B., dedica-se especialmente a antroponimia (tem em curso um trabalho sobre alcunhas) e ao ensino do portugues a estrangeiros13. Entre as discipulas e continuadoras de Paiva BolCo deve enfim citar-se Adelina AngClica Pinto Coxito (194 1- 1988)14, brutalmente desaparecida quando muito havia ainda que esperar da sua competencia cientifica e dedicaqiio a investigaqiio. 6. Muito rica e multifacetada foi a produqiio cientifica de JosC Gonqalo Herculano de Carvalho, que, por razaes de saude, se aposentou prematurarnente em 1974, num momento em que era legitimo esperar ainda muito da sua enorme capacidade de reflex50 critica. Se e certo que se pode discordar de algumas das
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de Junho de 1990). Universidade Nova de Lisboa, 1990, pp. 257-276; "Utilizaqgo da informatica na ediqgo e estudo de textos, na elaboraqgo de indices e outros materiais ling u i s t i c ~ ~Urna . expericncia e urn projecto", Actas do Seminario Novas Tecnologias no Ensino/Aprendizagem das Linguas (Braga, I1 a 13 de Julho de 1990). Braga, Universidade do Minho, 1991, pp. 15-19; Aspectos do vocabulario da Miscelinea de Garcia de Resende. Separata de Actas do XIX Congresso Internacional de Linguistica e Filoloxia Rombnicas (Santiago de Cornpostela, 1989), vol. 11, A Coruiia, 1992, pp. 717-734; A Mulher nu historiografiaportuguesa dos reinados de D. Afonso V e D. JoLib I1 Palavras e imagens. Separata da Revista da Universidade de Aveiro - Letras, nos 6-8 (1989-1991); "0 emprego das maiusculas, segundo gramaticas, ortografias e reformas ortograficas da lingua portuguesa", Actas do LY Encontro da Associa@a Portuguesa de Linguistica (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 29 de Setembro a 1 de Outubro). Associaqgo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1994, pp. 445-463. Linguagem e folclore no Concelho da MEda (distrito da Guarda). Algumas notas sobre a linguagem da mulher. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1973. (Dissertaqgo de Licenciatura); Estereotipia verbal e antroponimia. Alcunhas corn base em tiques verbais. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XIX (1987); "(Con)vivCncias em Coimbra. A alcunha no meio acadtrnico tradicional", Actas do Congresso Histdria da Universidade nos seus 700 Anos: Universidade(s). Histdria, Memdria, Perspectivas (Coimbra, 5 a 9 de Marqo de 1990), Coimbra, 1991, pp. 33 1-344; "0 ensino de linguas em laboratorio: objectivos, estrattgias e praticas inovadoras", Discursos, no 2 (1992), pp. 37-61. Isdfonas e isolPxicas portuguesas: perspectivas sincrdnicas e diacrdnicas. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coirnbra, 1973. (Dissertaqlo de Licenciatura); A neutralizaq60 da oposip7o fonoldgica v/b em portuguEs: estudo sincrdnico e diacrdnico. Separata de Biblos, vol. LVI (1980); "A africada c em portugues: estudo sincronico e diacronico", Boletim de Filologia, torno XXVI (1980-81), pp. 139-192; kreas linguisticoetnogrrificas de alfaias agricolas de corte (dialectologia e histdria). Separata de Biblos, LVII (1 981); Isolkxicas portuguesas (antigas medidas de capacidade). Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XVIII (1980-86).
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posiq6es que tomou no campo da linguistica teorica, especialmente traduzidas na sua Teoria da Linguagem, que, sob a aparincia de grandes certezas, por vezes manifestam profundas inquietaq6es e dfividas, niio menos verdade e que, pela variedade dos assuntos de que se ocupou e pela maneira como os tratou, Herculano de Carvalho merece ser considerado o mais completo linguista portuguis da segunda metade do nosso seculo. Tendo sido o primeiro a dedicar-se entre nos ao que entiio se chamou a linguistica moderna (pensa-se em particular na sua Fonologia Mirandesa - I e na referida Teoria da Linguagem), a historia competira decidir se niio seriio afinal os seus trabalhos sobre temas mais tradicionais, mas informados por uma visiio renovada dos factos, como Coisas e Palavras e varios artigos sobre problemas de historia da lingua, que o consagrariio definitivamente15. Por infelicidade, Herculano de Carvalho niio deixou continuadores, ja que os que estariam destinados a si-lo, Joaquim Fonseca e Fernanda Irene Fonseca, foram enriquecer a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 7. Continuadores tambCm niio deixou Armando de Lacerda (1902- 1984), que, tendo-se especializado nas Universidades de Hamburgo e Bona e depois Wisconsin (E.U.A.), organizou e instalou o Laboratorio de Fonetica Experimental, criado em 1936, com os mais modernos aparelhos do tempo, alguns de sua invenqiio, e depois (1952) fundou e dirigiu a Revista desse Laboratorio, que chegou ao vol. VIII (1975)16. Outro tanto sucedeu corn alguns professores l5
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Na impossibilidade material de se indicarem todas as suas publicaq6es, indicam-se os seguintes livros: Coisas e palavras. Alguns problemas etnograjcos e linguisticos relacionados com os primitives sistemas de debulha nu Peninsula Ibirica. Separata de Biblos, vol. XXIX (1953); Fonologia Mirandesa - I. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1958; Teoria da linguagem. Natureza do,fendmeno linguistic0 e a analise das linguas. tom0 I, Coimbra, Coimbra Editora, 1967 e tom0 11, Coimbra, Atlhtida Editora, 1973; Estudos linguisticos. l o vol., Lisboa, Editorial Verbo (col. 'Presenqas', 3), 1964, 2" vol., Coimbra, Atlhtida Editora, 1969 e 3" vol., Coimbra, Coimbra Editora, 1984, que reunem um conjunto de artigos dispersos. Torna-se imprescindivel mencionar ainda Pequena contribuiqdo a histdria da linguistica. ObservaqBes (algo tardias) a "Linguistics Cartesiana" de Noam Chomsky, Coimbra, Coimbra Editora, 1984, estudo do qua1 se dira que, se houvesse sido publicado dez anos antes, quando ficou pronto, e em lingua de grande circulaqgo, talvez houvesse inflectido decisivamente o sentido de muito que viria a escrever-se dentro e a proposito do gerativismo. Caracteristicas da entoaqrTo portuguesa, 2 vols. Coimbra, Coimbra Editora, 1941 e s.d. [1946?]; Analise de express6es sonoras da compreensdo. Coimbra, Acta Universitatis Conirnbrigensis, 1950; em colaboraqgo com Francis M. Rogers, Sons dependentes dafricativa palatal afona em portugu6s. Coimbra, Coimbra Editora, 1939; em colaboraqgo com Maria Josefa Canellada, Comportarnientos tonales voc~licosen espaAol y portugue's. Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1945; em colaboraq8o com A. Badia Margarit, Estudios de fone'tica y fonologia catalanas. Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1948; "Laboratorio de FonCtica Experimental da Faculdade de
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estrangeiros que durante anos ensinaram em Coimbra, entre os quais merecem relevo Vicenzo Cocco (1910-1969)17, que se ocupou sobretudo de problemas de substrato, e Heinz Kr011~~, especialmente dedicado a onomasiologia, e os brasiLetras da Universidade de Coimbra", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. I (1952), pp. 136-148; em colaboraqgo com Goran Harnmarstrom, "Transcriqgo fonetica do portuguCs normal", Revista do Laboratdrio de FonPtica Experimental, voi. ! (1952), pp. 119-135; "Recolha, arquivo e analise de falares regionais portugueses. Recolhas no Algarve, Baixo e Alto Alentejo, em 1952, 1953 e 1954", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. I1 (1954), pp. 128-157; em colaboraqlo com Augusto Gonqalves, "0 problema do ensino da expressgo a individuos com audiqlo deficiente ou nula", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. I1 (1954), pp. 30-104; "Transcriqiio indirecta dos aspectos fontticos particularizantes", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. 111 (1956), pp. 147-189; em colaboraqgo com John Morris Parker, "Variantes foneticas de falares regionais do distrito de Beja", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. 111 (1956), pp. 38-146, IV (1958), pp. 107-174 e V (1960), pp. 5-72; em colaboraqgo com Nelson Rossi, "Particularidades foneticas do comportamento elocucional do falar do Rio de Janeiro", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. IV (1958), pp. 5-102; em colaboraqgo com Brian F. Head, "Analise de sons nasais e sons nasalisados do portugu&s", Revista do Laboratdrio de Fone'tica Experimental, vol. VI, 1966, pp. 5-74. l 7 "CABALLUS. Studio lessicografico ed etimologico", Biblos, vol. XX (1944), pp. 71-1 19; I1 problema di ILEX. Separata de Biblos, vol. XXIII (1947); "Em torno do ((Dictionnaire etymologique grec et latin)) de Abel Juret", Biblos, vol. XXIV (1948), pp. 485-506; Tradizione indoeuropea e lessico mediterraneo. Nota a margine d'un recente lavoro. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. IV, tom0 I1 (1951); "Ibero-rom. 'cdrrego, corgo ' vale fendido com agua, regueiro, atalho fundo, etc. Contribuiqgo para o estudo do substrato pre-latino da Lusitkia", Biblos, vol. XXVII (1952), pp. 249-304; "D' un'antichissima designazione mediterranea della ctmalva));preell. prirhv ccpianta magica, malva))", Archivio Glottologico Italiano, vol. XL, fasc. 1 (1955), pp. 10-28; "Flumen Banduge ". Contributo a110 studio dell hmhiente linguistic0 prelatino della Lusitania. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. VIII (1957); Preistoria linguistica del "Fraxinus ornus". Separata do tom0 VIII das PublicaqBes do XXIII Congresso Luso-Espanhol (Coimbra, 1956). AssociaqBo Portuguesa para o Progress0 das Cigncias, Coimbra, 1957; Sopravvivenze della cultura dei "castros " nel lessico del nord-ovest ispanico. Separata das Actas do LY Congresso Internacional de Linguistica Romcinica, tom0 I (= Boletim de Filologia, tom0 XVIII, 1959); Incroci di culture nelle sopravvivenze linguistiche dell'lberia. Separata da Miscelcinia de Estudos a Joaquim de Carvalho, no 9. Figueira da Foz, Tipografia Cruz e Cardoso, 1963. " 0 eufemismo e o disfemismo no portuguCs moderno. Lisboa, Instituto de Cultura e Lingua Portuguesa (col. Biblioteca Breve, Serie Lingua Portuguesa, no 84), 1984; A propdsito das locu~despara "nunca". Notas a margem de um artigo de A. Taylor. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. 111 (1950); "Termes designant les seins de la femme en portugais", Orbis, tom0 11, no 1 (1953), pp. 19-32; Designa~des portuguesas para 'embriaguez'. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vols. V, VI e VII (1955); "Portugiesisch ctcontou-lhas bem contadas))", Orbis, 10 (1961), pp. 476-486; "Ein kulturhistorischer und onomasiologischer Beitrag zum portugiesischen Wortschatz ((Die Bezeichnungen fur Zigarre und Zigarette))", Aufsatze zur Portugiesischen Kulturgeschichte, 2
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leiros Gladstone Chaves de Melo e Evanildo BecharaI9, que, pel0 pouco tempo que aqui permaneceram, ngo chegaram a ter tempo para tanto. De Michael Metzeltin ficaram dois livrosZO.Durante algum tempo ensinou tambem o american0 Brian F. Head.*I
8. Se a jubilaqgo de Paiva Boleo e a aposentaqgo de Herculano de Carvalho criaram inevitaveis dificuldades a Faculdade, tambem 6 certo que estas vieram a ser superadas pela renovaqgo de metodos e perspectivas e pel0 alargamento tematico da investigaqgo devidos a duas docentes mais jovens, Ana Cristina Macario Lopes e Graqa Maria Rio-Torto. A primeira tem-se dedicado especialmente a problemas de semlntica, pragmatica e analise discursivaZZe a segunda a
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(1961), pp. 134-202; Aditamentos as ctdesignaqdesportuguesas para 'embriaguez ' w , Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XIII, tomos I e I1 (1964-65); Algumas designaqdes portuguesas para "urn sitio muito rernoto e desconhecido '. Separata das Actas do V Coldquio International de Estudos Luso-Brasileiros, vol. 111. Coimbra, 1966; Contribuiqdes para o esrudo da linguagem falada em portugub. Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XVIII (1980); "ExpressBes injuriosas: nomes de animais empregados metaforicamente", Biblos, vol. LVII (1981), pp. 242-268. Estes dois linguistas slo autores de vasta bibliografia que aqui se n8o menciona por nlo ter sido produzida durante a sua permankncia em Coimbra. 0 signo, o enunciado, o cddigo. Introduq60 a 1ingui.stica tedrica. Coimbra, Livraria Almedina, 1978; com a colaboraqlo de Marcolino Candeias, Semcintica e sintme do portuguCs. Coimbra, Livraria Almedina, 1982. Ver nota 16 supra. 0 texto proverbial portuguCs. Elementos para uma anrilise semrintica e pragmritica. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1992. (Dissertaqlo de Doutoramento); em colaboraqlo com Carlos Reis, Dicioncirio de narratologia. Coimbra, Livraria Almedina, 1987; em colaboraqlo com Carlos Reis, Dicionririo de teoria da narrativa (verslo brasileira do Dicionirio de narratologia). Editora ~ t i c a Slo , Paulo, 1988; Analyse skmiotique de contes traditionnels portugais. Textos de Literatura, no 14, Centro de Literatura da Universidade de Coimbra, INIC, 1987; "Acerca das modalidades", Cadernos de Literatura, no 9 (1981), pp. 75-82; "Literatura culta e literatura tradicional: a bipartiqlo da esfera literaria", Revista Lusitana, vol. IV (1982- 1983), pp. 121-148; "Linguistica textual: objectivos e pressupostos teoricos", Biblos, vol. LX (1984), pp. 90-102; "0 valor semintico dos antroponimos no texto proverbial", Actas do I V Encontro da Associaq6o Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1988, pp. 69-81; "Texte proverbial et construction du sens", Degrks, 66 (1991), pp. c. 1-c. 12; "Proverbios: o etemo retomo", Literatura popular portuguesa. Teoria da literatura oral/tradicional/popular. Lisboa, Acarte, Fundaqlo Calouste Gulbenkian, 1992, pp. 269-280; "Aspectos da genericidade", Cadernos de Semrintica, no 6 (1992); "Sobre a referencia nominal generica", Discursos, no 4 (1993), pp. 115-134; "Tipos de genericidade: algumas questBes", Actas do IX Encontro da Associaq6o Portuguesa de Linguistica (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 29 de Setembro a 1 de Outubro). Associaqlo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1994, pp. 285-296; em colaboraqlo com Pedro Santos, "A condicionalidade das frases genericas", Cadernos de Semcintica, no 17 (1993); "A pragmatica linguistica e os novos programas de PortuguCs", Mathesis, 4 (1995), pp. 293- 306; em colaboraqlo com Fatima Oliveira, "Tense and aspect in Portuguese", R. Thieroff (ed.), Tense Systems in European Languages, Tiibingen, Max Nie-
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morfologia, ao lexico e as suas relag6es com a semfntica e sintaxeZ3.De ambas se espera muito, tanto no que respeita ao que ainda produzirgo como a continuidade que, pela orientaggo de teses, dargo as suas linhas de pesquisa. 9. Outro aspect0 de renovaggo e enriquecimento das perspectivas de investi-
gaggo linguistica em Coimbra prende-se corn a contrataggo, em 1989, como professor catedratico da Faculdade de Letras, de Jorge Morais Barbosa, para aqui transferido da Universidade de ~ v o r adepois , de ter passado por outras, no Pais e no estrangeiro. Antigo discipulo de Andre Martinet, em Paris, representa em Coimbra o funcionalismo linguistico e dedica-se agora especialmente a linguistica geral, sintaxe e semfntica do p o r t ~ g u & sCom ~ ~ . a colaboraggo de Maria
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meyer Verlag, 1995, pp. 95-1 15; "Da ambivalencia do texto proverbial", Discursos, no 10 (1995), pp. 77-94; "A argumentaqgo: uma irea de investigaqgo interdisciplinar", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI. Formaqrlo de palavras em portuguis. Aspectos da construqrib de avaliativos. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1993. (Dissertaggo de Doutoramento); "Contribuiggo para o estudo da especificidade morfo-lexical dos sufixos: os sufixos -arian, Biblos, vol. LXII (1986), pp. 305-364; "Estruturas lexicas de intensificaqgo no portugu&s contemporheo", Actas do Congresso sobre a Situaqrlo Actual da Lingua Portuguesa no Mundo (Lisboa, 28 de Junho a 3 de Julho de 1983), vol. 11, Lisboa, Instituto de Cultura e Lingua Portuguesa, 1987, pp. 87-1 13; "Operaq6es derivacionais que envolvem os sufixos -20 em portugu&sn,Actas do Segundo Encontro da Associaqrlo Portuguesa de Linguistica (Lisboa, 1-3 de Outubro de 1986). Lisboa, Associaqgo Portuguesa de Linguistica, 1987, pp. 105-145; "Morfologia das palavras construidas em -ad(-a)", Biblos, vol. LXIII (1987), pp. 97-178; "Morphologie des mots construits en -ad(o), -ad(a) et -ad(o/a)", W.U. Dressier, H.Ch. Luschiitzky, O.E. Pfeiffer e J.R. Rennison (eds.), Discussion Papersfor the Sixth International Phonology Meeting and Third International Morphology Meeting (Krems, 17 July 1988). vol. 3. Institut fiir Sprachwissenschaft der Universitat Wien, Wiener Linguistische Gazette, Supplement Beiheft 8, 1988, pp. 24-26; "Morphologie des adjectifs portugais en -adox, Lexique, 10 (1991), pp. 241-267; "Do ser a acqgo: (to facto de ser x)), ttestatuto de ser x)) e ttatitude de (quem e) x))", Revista da Universidade de Coimbra, vol. XXXVII (1992), pp. 427-456; Para uma teoria da formaqfio de palavras em portuguis. Anhlise dos locativos nrlo-deverbais. Separata de Actas do XLY Congreso International de Linguistica e Filoloxia Romanicas (Santiago de Compostela, 4-9 de Setembro de 1989), tom0 V. A Coruiia, 1993, pp. 869-891; "Processamento derivacional em portugu&s",Actas do Primeiro Encontro de Procesamento da Lingua Portuguesa Escrita e Falada, Lisboa, Fundaggo Calouste Gulbenkian, 1983, pp. 89-92; "Formaggo de verbos em portuguts: parassintese, circunfixaqgo elou derivaqgo?", Actas do LY Encontro da Associaqrlo Portuguesa de Linguistica (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 29 de Setembro a 1 de Outubro). Associaggo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1994, pp. 351-362; "Regras de formaqgo de palavras em portugu&s: achegas para urn quadro geral", Diacritica, no 9 (1994), pp. 319-342; "Formag20 de palavras: um espaqo de conflutncia e de interactividade", Biblos, vol. LXXI. Grande parte da bibliografia deste linguista foi produzida em periodo anterior a sua vinda para Coimbra. Destacamos aqui apenas alguns dos mais importantes titulos relativos a esse periodo: Crdnica de Castela (ms. 881 7 da Biblioteca Nacional de Madrid). Elementos para o estudo linguistico, texto (Fernando I - Afonso VI). Glossario. 3 vols. Lisboa, Facul-
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Joana Vieira Santos, Isabel Lopes e Ana Paula Loureiro, da Universidade de Coimbra, e Maria Filomena Gonqalves, Maria Jog0 Marqalo e Maria do Ceu Fonseca, da Universidade de ~ v o r a cujas , teses de doutoramento orienta, prepara neste momento uma Gramatica Funcional do Portuguis; e, no Pmbito dos seus seminarios de Sintaxe e SemBntica do Portuguis e Problemas de Lindade de Letras da Universidade de Lisboa, 1958. (Dissertaqlo de Licenciatura); 0 Problema linguistico da entoaqdo. Teoria e aplicaqdo ao portuguis. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1963; Andre Martinet, Elementos de linguistica geral. Traduqlo baseada em original ampliado pelo autor e adaptada para leitores de lingua portuguesa por Jorge Morais Barbosa. Lisboa, Livraria Sa da Costa, 1964. (10" ed., refundida, Lisboa, Livraria Sa da Costa, 1985); Essai sur le probltme linguistique de I'intonation. Thkse complementaire pour le doctorat es-lettres presentee a la Facultt des lettres et sciences humaines de 1'Universite de Paris. Paris, 1965; Etudes de phonologie portugaise. Junta de Investigaqdes do Ultramar, Lisboa, 1965. 2" ed., Universidade de ~ v o r a ~, v o r a , 1983; Estudos linguisticos. Crioulos. Reediqlo de artigos publicados no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Introduqlo e notas. Lisboa, Academia Intemacional da Cultura Portuguesa, 1967; A lingua portuguesa no mundo. Lisboa, Sociedade de Geografia, 1968. 2" ed. revista, Lisboa, AgCncia Geral do Ultramar, 1969. A partir de 1989, contam-se as seguintes publicaqdes: Introduqdo ao estudo da fonologia e morfologia do portuguCs. Coimbra, Livraria Almedina, 1994; Andre Martinet, Funqdo e dindmica das linguas. TraduqFio de Jorge Morais Barbosa e Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos. Coimbra, Livraria Almedina, 1995; "Ensinar portugues: que portuguCs e para que fins?", Diacritica, nos 3-4 (1988-1989), pp. 33-45; "Notas sobre a pron~inciaportuguesa nos ultimos cem anos", Biblos, vol. LXIV (1988) [1990], pp. 329-382; "Contribuiqlo para o estudo do sistema verbal portuguCs: cctempos simples)) e cctempos compostos)~",Biblos, vol. LXV (1989), pp. 221 -228; "Para uma tipologia do erro linguistico", Actas do Congesso sobre a Investigaqdo e Ensino do PortuguCs. Institute de Cultura e Lingua Portuguesa, 1989, pp. 170- 178; "Modelos de descriqlo linguistica", Revista Portuguesa de Educaqdo, 3, (3) (1990), pp. 11-18; "Les prolongements de la phonologie pragoise", Actes du XVIIe Colloque International de Linguistique Fonctionnelle (Prague, 199I), Prague, 1992, pp. 7080; "Sobre o Conceito de Silema", Biblos, vol. LXVIII (1992), pp. 103-108; "Towards a functional identification of moneme in the Portuguese creole of Slo Tome", Actas do Coldquio sobre Crioulos de Base Lexical Portuguesa. Lisboa, Ediqdes Colibri,1992, pp. 171-189; "Linguistica ou linguisticas?", Universidade e Desenvolvimento. Lisboa, Universidade Intemacional, 1993, pp. 55-64; "La situation linguistique du portugais", Fernand Carton et J. M. Oderic Delefosse (dir.), Les langues duns /'Europe de demain. Paris, Presses de la Sorbome Nouvelle, 1994, pp. 141-146; "Les ctvibrantes))portugaises et la dynamique linguistique", La Linguistique, vol. 30, fasc. 1 (1994), pp. 37-43; "Portugues: entoaqgo e pronuncia", Lexikon der Romanistischen Linguistik (LRL), vol. VI, 2, Max Niemeyer, Tiibingen, 1994, pp. 143-148; "PortuguCs: fonetica e fonologia", Lexikon der Romanistischen Linguistik (LRL), vol. VI, 2, Max Niemeyer, Tiibingen, 1994, pp. 130-142; "Le portugais parmi les langues: rapport." Relatorio do tema 1 do XIXe Colloque International de Linguistique Fonctiomelle, Actas do XLX Coldquio Internacional de Linguistica Funcional (Coimbra, 21-26 de Maio de 1993), Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade, 1995, pp. 41-49; "Modalidades verbais portuguesas: ((tempo)), ccperspectiva)) e ctaspecto))", Biblos, vol. LXX; "Sintemas verbais portugueses: ir + Infinitivo e haver de + Infinitivo", Revista Portuguesa de Filologia, Vol. XXI.
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guistica Geral, estiio em curso varios trabalhos que, sem excluirem outros temas, se concentram em particular no estudo do sistema verbal portugu&s. 10. A geraqiio de jovens assistentes, de quem dependera o futuro da investigaqiio linguistica em Coimbra, reparte-se por diferentes areas de interesses.
Assim, a sintaxe e a semfntica estzo representados por Maria Joana Vieira S a n t ~ sque ~ ~ prepara , uma tese sobre o conjuntivo em portugu&s,Isabel Lopes26, que acaba de defender a sua tese de mestrado e vai iniciar os trabalhos preparatorios da tese de doutoramento na area do sistema verbal e Ana Paula Loureiro, a mais recente aquisiqiio da Faculdade, que prepara a sua tese de mestrado sobre a temporalidade linguistica nos discursos directo, indirecto e indirecto livre. A fonologia por Isabel Pires Pereira27,que prepara a sua tese de 25
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A expressrlo do aspecto nos tempos do passado indicativo em lingua francesa. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1989. (Provas de Aptidb Pedagogica e Capacidade Cientifica); Michel Minder, Didactica funcional. Traduqlo de Nicolau Raposo e Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos. Coimbra, Coimbra Editora (Col. Psicopedagogia), 1985; Andre Martinet, Funqa'o e dindmica das linguas. Traduqb de Jorge Morais Barbosa e Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos. Coimbra, Livraria Almedina, 1995; "A influencia do tempo presente e dos valores aspectuais no uso do passt simple e do passe compose", Biblos, vol. LXVI (1990), pp. 193-201; "La subversion du discours ptdagogique: le cas des Souvenirs de Marcel Pagnol", Actas do Coldquio Le Maftre et le Disciple (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1993) (= ConJuOncias); "Conjuntivo em portugutslsubjonctif en franqais: primos ou falsos amigos", Actes des II Journe'es Pe'dagogiques (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995). Estudo sintactico e axioldgico das formas cantava e cantaria em portuguOs. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995. (Dissertaqlo de Mestrado); "Contribution a la redefinition des relations entre les modalites verbales: temps et modes", Actes du XIXe Colloque International de Linguistique Fonctionnelle (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 6-9 de Maio de 1993). Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade, 1995, pp. 103-108; "As formas cantava e cantaria e a dinimica linguistica", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI. Da prosddia. Analise da evoluqa'o do conceit0 de prosddia e das diferentes abordagens das quest6es prosddicas. Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1990. (Disserta~lode Mestrado); "Guia lexico-fonetico-socio-geogrificopara urn nil0 indigena", Constrastes (1986); em colaboraqgo com Ana Isabel Mata e Maria J o b Freitas, Estudos em prosddia. Lisboa, Ediqdes Colibri (Col. Estudos Linguisticos), 1992; em colaboraqlo com Maria Jolo Freitas, "Valores do siltncio: contributo para o estudo da pausa na delimitaggo do grupo entonacional em portugds", Actas do V Encontro da Associaqa'o Portuguesa de Linguistica (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 9 a 11 de Outubro de 1989). Associaq2o Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1990, pp. 171-1 86; "Linguistica e ensino da lingua materna", Revista International de Lingua Portuguesa, no 4 (1991); em colaboraqgo com Ana Isabel Mata, "Flexibilidade de contornos entoacionais em sequincias de natureza interrogativa: percepqlo e interpretaqb", Actas do VII Encontro da Associaqa'o Portuguesa de Linguistica (Faculdade de CiCncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 7 a 8 de Outubro de 1991). Associaqlo Portuguesa de Linguistica, Lisboa. 1992, pp. 21 1-224; "Panorama das abordagens linguisticas das quest6es prosodicas", Isabel
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Jorge Morais Barbosa
doutoramento sobre 0 Acento de Palavra em Portugues, na perspectiva da fonologia metrica. A dialectologia, a sociolinguistica e a variaqiio linguistica por Jo5o Nuno Correa Cardosoz8,que actualmente se ocupa da tematica do bilinguismo e da aquisiqiio de linguas, corn vista a sua tese de doutoramento, orientada por Maria Jost de Moura Santos; Cristina martin^^^, que tern trabalhado especialmente sobre o mirandes sob a orientaqiio de Clarinda de Azevedo Maia; e Isabel Maria de Almeida Santos3O, que desenvolveu investigaqiio sob orientaqiio da mesma professora sobre fenomenos dialectais, numa perspectiva sociolinguistica.
Pereira, Ana Isabel Mata e Maria JoBo Freitas, Estudos de Prosddia. Lisboa, Ediqdes Colibri (col. Estudos Linguisticos), 1992; "Questdes de acento", Actas do VIII Encontro da Associaqdo Portuguesa de Linguistica (Faculdade de CiCncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1 a 3 de Outubro de 1992). AssociaqBo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1993, pp. 418-430; "Grid-only vs. constituency in the study of stress in Portuguese", Actas do Workshop sobre Fonologia, Coimbra, 1993; "0 acento de palavra em portuguis: algumas consideraqdes", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI. 28 Sociolingui~ticarural. A freguesia de Almalaguis. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1991. (Provas de Aptidlo Pedagogica e Capacidade Cientifica); "Estudo sociolinguistico de uma freguesia rural portuguesa", Actas do LY Encontro da Associaqfio Portuguesa de Linguistica (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 29 de Setembro a 1 de Outubro). AssociaqBo Portuguesa de Linguistica, Lisboa, 1994, pp. 113-129; "A freguesia de AlmalaguCs ((par elle-mCmes", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI; "0 dialect0 misto de Deil?io", Biblos, vol. LXX; "Sociolingui~ticaescolar. Estudo avaliativo das atitudes linguisticas de comunidades escolares fronteiriqas", Actas del Congreso International Luso-Espafiol de Lengua y Cultura en la Frontera (Universidad de Extremadura, 1-3 diciembre, 1994), Caceres. 29 Estudo sociolinguistico do mirandis. Padrdes de alterncincia de cddigos e escolha de linguas numa comunidade trilingue. 2 vols. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1994. (DissertaqBo de Mestrado); "0 desaparecimento do mirandCs na cidade de Miranda do Douro: uma leitura dos Estudos de filologia mirandesa de Jose Leite de Vasconcelos", "Variaqlo Linguistica no espaqo, no tempo e na sociedade". Actas do Encontro Regional da Associaqdo Portuguesa de Linguistica (Miranda do Douro, Setembro de 1993). Lisboa, Ediqdes Colibri, 1994, pp. 95-105; "Expressdes de marginalidade e de periferia nos comportamentos verbais. A altemkcia de codigos exemplificados pelo discurso bilingue mirandss-portugu&sn, Discursos, no 10 (1995), pp. 123- 141; "A vitalidade de linguas minoritbias e atitudes linguisticas: o caso do mirandCsm,Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI. 30 Analise sociolinguistica de fendmenos dialectais. A vogal mista ii numa localidade do Baixo-Mondego. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1994. (Dissertaqlo de Mestrado); "Estudo da variaqlo linguistica (contributos para o esclarecimento da mudanqa): enquadramento disciplinar", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI; "A vogal mista ii: traqo dialectal e variavel sociolinguistica numa localidade do Baixo-Mondego", Biblos, vol. LXX.
0 s Estudos de Linguistica Portuguesa na Universidade de Coimbra
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A pragmatica, por Maria da Conceiqiio Carapinha Rodrigues3', cuja tese de doutoramento, orientada por Ana Cristina Macario Lopes, na area da analise do discurso, tratara da interacqiio verbal que se processa no imbito juridico, na sala de audik'ncias. Enfim, a historia da lingua, em especial no period0 arcaico, por Maria Carmen G ~ u v e i aque ~ ~ ,estuda textos desse period^.'^
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Pragmatics da sequbncia discursiva pergunta-resposta. Coimbra, 1994. (Provas de Aptidlo Pedagogica e Capacidade Cientifica); "Pergunta e argumentaggo", Revista Portuguesa de Filologia, vol. XXI; " A resposta-eco", Biblos, vol. LXX. Um aspect0 de morfologia histdrica: o ginero dos substantives e a4ectivos em portugubs. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1993. (Provas de Aptidlo Pedagogica e Capacidade Cientifica); "Algumas obsewagdes sobre a linguagem popular e regional no que se refere a categoria de genero. Reflexos do genero grarnatical do portuguis antigo na linguagem popular", Actas do XXI Congresso International de Linguistica e Filologia Romrinicas (Palermo, 18 a 24 de Setembro de 1995); "Consideragdes gerais sobre a categoria gramatical de gtnero. Sua evoluqlo do latim ao portugu&s arcaico", Revistu Portuguesa de Filologia, vol. X X I . A redacglo deste artigo foi por duas vezes interrompida por motivos de saude do autor e so p8de concluir-se gragas a prestimosa colaboraglo de Isabel Lopes, que tomou a seu cargo a organizaglo de todas as notas bibliograficas nele incluidas e o processamento do texto. Fico-lhe por isto imensamente reconhecido.
Maria Helena Mira Mateus Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras
A LINGUISTICA GENERATIVA NA UNIVERSIDADE PORTUGUESA A investigaqgo e o ensino da gramatica generativa nas universidades portuguesas desenvolveu-se apenas a partir de finais dos anos 60, e quase exclusivamente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Integrando-se no panorama epistemol6gico actual, a linguistica generativa ngo se confina aos limites da analise descritiva e classificatoria mas implica a formulaq50 e verificaq5o de hipoteses explicativas e preditivas com representag50 formal das estruturas da lingua. Numa primeira fase, a teoria da gramatica generativa prop& a existincia de um sistema de regras que atribuiam uma descriq50 estrutural as frases de mod0 explicit0 e bem definido, propondo ainda que tal descriqgo estrutural fosse interpretavel pelas componentes fonologica e semintica da gramatica. Foi tambem a partir dessa tpoca, e com base nas hipoteses formuladas pela teoria, que se iniciou a discuss50 da relaqzo entre os mecanismos formais da gramatica e os processos cognitivos subjacentes a actividade linguistica. Neste quadro teorico, o conceit0 de gramatica engloba dois vectores: uma descriq5o que o linguists faz do conhecimento que o falante tem da sua lingua e uma proposta sobre a faculdade da linguagem.
0 percurso cientifico da linguistica generativa nos liltimos vinte anos tem-se orientado para o estabelecimento de principios e pariimetros universais, atraves da analise comparada das linguas com incidencia sobre a mudanga historica e a variaq5o linguistica. Compreende-se assim que, em Portugal, a investigaqgo em gramatica generativa tenha rompido com a tradiq5o historicista e dialectologica que ocupava quase exclusivamente os linguistas portugueses exigindo destes, ao mesmo tempo, uma relaq5o interdisciplinar com a logica e a psicologia, relaq5o bem diversa da ligaqgo preferencial que anterioramente se estabelecia com a literatura e a historia. Foi neste context0 e numa perspectiva que hoje ja se considera "classica" que surgiram, em 1975, as primeras obras sobre fonologia generativa do portuguis da autoria de Maria Helena Mira Mateus e Ernesto d'Andrade Pardal (FLUL). 0 s trabalhos destes autores t2m acompanhado, na aplicaqgo a lingua portuguesa, a evoluq5o das teorias fonologicas generativas. Maria Raquel DelgadoMartins, tambem na FLUL, trabalha desde ha mais de vinte anos sobre a fonetica do portuguis, numa perspectiva que pode interpretar-se como uma
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interface foneticalfonologia. A investigagiio em fonologia generativa tem ainda recebido contribuig6es de outros docentes mais jovens formados na Universidade de Lisboa, dos quais uns se mantCm nesta Universidade - Fernando Martins, Sonia Frota, Maria Joiio Freitas, Ana Isabel Mata, Celeste Rodrigues - e outros leccionam em outras Universidades portuguesas - Isabel Pereira, Isabel FalC e Marina Vigario. 0 actual interesse pela prosodia abriu novo campo de analise na fonologia portuguesa, e alguns dos investigadores acima citados t&m tornado como objecto de estudo o acento, a silaba e outras unidades prosodicas, integrando esse estudo na teoria fonologica auto-segmental. Foi igualmente a partir do inicio dos anos setenta e na Faculdade de Letras de Lisboa que se desenvolveram trabalhos de sintaxe com orientagiio generativa. Devem referir-se, neste dominio, as teses e artigos de especializagiio dos professores InCs Duarte, Manuela Ambar, Gabriela Matos, Palmira Marrafa, Isabel Faria (actualmente interessada na investigagiio em Psicolinguistica), bem como a pesquisa conducente a doutoramento de Anabela Gongalves e Madalena Colago. Originirios da FLUL siio tambem investigadores que hoje trabalham sobre a sintaxe do portuguCs em outras universidades portuguesas e estrangeiras, merecendo destaque Eduardo Raposo (Universidade da California em Santa Barbara), Ana Maria Brito (Universidade do Porto), Andre Eliseu (Universidade do Algarve) e Maria Francisca Xavier (Universidade Nova de Lisboa). 0 s fenomenos sintacticos estudados por estes autores siio diversos e abrangem as principais quest6es da gramatica do portugu&s. Citem-se as estruturas relativas, interrogativas e de topicalizaqiio, a inversiio sujeito-verbo, a posiqiio dos cliticos e as estruturas anaforicas. A investigagiio a que se dedicam Joiio Peres e Telmo Moia, docentes da Universidade de Lisboa, e Fatima Oliveira, da Universidade do Porto incide sobretudo na area da semintica com relevo para as questaes de modalidade e quantificagiio. Alguns conceitos de gramatica generativa estiio presentes nestes trabalhos, no que se poderia designar como uma interface sintaxelsemPntica. A morfologia derivational tem vindo a autonomizar-se nos ultimos anos, em conjugagZo com a import5ncia progressiva que o lCxico adquiriu no actual modelo da gramatica generativa. Nesta mesma area veio a ser integrada a investigaggo sobre morfologia flexional que, na fase 'classica' da linguistics generativa, era desenvolvida no Pmbito da fonologia. Apenas Alina Villalva, da Universidade de Lisboa, e Graga Rio-Torto, da Universidade de Coimbra, trabalham sobre a morfologia do PortuguCs no quadro da gramatica generativa. A produgiio dos linguistas portugueses tem o seu reflex0 mais abrangente nas Actas dos Encontros da Associagiio Portuguesa de Linguistica, criada em 1985
A Linguistica Generativa na Universidade Portugesa
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e que reline pel0 menos uma vez por ano. Nesses Encontros se apresenta com regularidade o resultado das investigaq6es em curso; nos documentos deles emanados podem detectar-se as vias que estfo a ser exploradas na aplicaqfo da teoria generativa ao portugu6s. Acrescente-se por fim que a investigaqfo sobre a linguagem e sobre a lingua portuguesa em Portugal se encontra hoje a par da pesquisa desenvolvida neste dominio pela comunidade cientifica intemacional. A presente geraqfo de linguistas portugueses soube combinar uma tradiqgo de rigor e de intuiqfo linguistica com as perspectivas abertas pelos novos paradigmas cientificos que correspondem ao mais recente desenvolvimento da ci6ncia da linguagem.
AMBAR, M. (1992): Para uma Sintaxe da Inversfo Sujeito Verbo em Portugu&s.Lisboa; Ed. Colibri. ANDRADE PARDAL, E. (1977): Aspects de la phonologie (generative) du Portugais. Lisboa: INIC, Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa. ANDRADE PARDAL, E. 1 E. & A. KIHM (1987): "Fonologia autosegmental e nasais em portugu6s." In: Actas do 3" Encontro da AssociaqZo Portuguesa de Linguistica. Lisboa. BRITO, A.M. (1991): A Sintaxe das Oraqdes Relativas em Portugugs. Lisboa: INIC. COLACO, M. (1 992): ConstruqGes "Across-the-board" em Portugub Europeu. Diss. de Mestrado. FLUL. DUARTE, I. (1987): A Construqrlo de Topicalizaqlo nu Grambtica do Portugugs. Diss. de Doutoramento. UL. ELISEU, A. (1 984): Verbos Ergativos do PortuguSs. Diss. de Mestrado. FLUL. FARIA, I. (1974): "Conjuntivo e Restricfo da Frase Mais Alta." Boletim de Filologia, XXIII, 8- 188. FREITAS, M.J. (1990): Estratkgias de Organizaqlo Temporal do Discurso em PortuguSs. Diss. de Mestrado. FLUL. FROTA, S. (1 991): Para a Prosddia da Frase: Quantzjicador, Advkrbio e Marcaqrlo Prosddica. Diss. de Mestrado. FLUL. GONCALVES, A. (1992): Para uma Sintaxe dos Verbos Auxiliares em PortuguSs Europeu. Diss. de Mestrado. FLUL. MATA, A.I. (1990): QuestGes de Entoaqrlo e Interrogaqlo em Portugugs. Diss. de Mestrado. FLUL. MATOS, G. (1992): ConstruqGes de Elipse de Predicado. Diss. de Doutoramento. UL. MARTINS, M.R. Delgado (1983): Sept ktudes sur la perception. Lisboa: Publicaqties do Laboratorio de Fonetica da Faculdade de Letras.
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Maria Helena Mira Mateus
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Maria Cristina Altman Universidade de Siio Paulo
FRAGMENTOS DO SECULO XX.BIBLIOGRAFIA CRONOLOGICA E COMENTADA DE TEXTOS SOBRE A PRODUCAO L I N G ~ T ~ ~ T I C A
BRASILEIRA
0. Esclarecimentos Esta bibliografia comeqou a ser construida ainda naqueles anos da decada de oitenta em que iniciava a pesquisa que resultaria na minha tese de doutorado e diversificap70 na Lingiiistica. Pesquisa (Altman M.C. 1993. Unzfica~a"~ documental de produqa"~lingiiistica brasileira contempordnea (1968-1988). Tese de Doutorado. Universidade de Siio PauloIKatholieke Universitat Leuven, Belgica), recentemente publicada em livro, com o mesmo titulo, (1995. Munique: Lincom Europa). 0 trabalho de 1993, que embasa este e alguns outros textos que desde entiio tenho publicado, de certa maneira prenuncia o (ambicioso) tema em torno do qua1 orbitam atualmente minhas (e de alguns dos meus alunos) atividades academicas: a elaboraqiio da historiografia dos quatro sCculos de reflex20 e estudo sobre as linguas do Brasil. 0 cumprimento de tal tarefa envolve, evidentemente, alem de continuadas pesquisas a serem levadas a cab0 por historiografos(as) com s6lida formaqiio em lingiiistica - e pel0 menos com algum preparo tecnico em arquivologia, documentaqiio, paleografia - tarefas mais terra a terra, mas niio por isso menos importantes, como o levantamento e o estabelecimento das fontes a partir das quais sera possivel reconstruir nossa historia e escrevi-la. Com efeito, a literatura disponivel sobre os estudos lingiiisticos no Brasil e uma literatura extremamente dispersa. Niio temos obras de referencia que possibilitem recuperar, de forma segura e sistematica, a produqiio lingiiistica brasileira como um todo. Com exceqiio unica, talvez, da obra de Mattoso Cbmara (1904-1970), objeto de reflexdes mais constantes,' acredito que ainda niio se possam encontrar trabalhos suficientemente abrangentes sobre as tradiqdes brasileiras de estudos lingiiisticos que reflitam, com alguma justiqa, a extensiio desta produqiio, em nenhum seculo. E de uma parte deste trabalho de busca de fontes para a historia da lingiiistica no Brasil que resulta a presente bibliografia. No que diz respeito ao sCculo XX, a reconstruqiio dos processos de institucionalizaqiio dos estudos lingiiisticos no Brasil, que comeqa a se delinear a partir da decada de trinta, - objeto central deste artigo - s6 6 possivel atraves de urn
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Ver Naro & Reighard 1976; Rodrigues 1984, ou entso, Uch6a 1972.
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paciente trabalho de garimpagem em anais de Congressos, em prefacios de traduq6es, em alguns numeros monograficos de periodicos e em alguns poucos textos, geralmente feitos sob encomenda para ocasi6es especificas, em que se precisou dar noticia do que e que, afinal, se fazia em matiria de linguistica no Brasil. Por essa razgo, os autores que se debruqaram sobre a questgo tiveram muito mais a intenqgo de informar - intenqgo, alias, legitima - do que de repensar criticamente essa produqgo como um todo. Sgo mais noticiarios, levantados de forma n8o sistematica e organizados a partir de criterios muito variaveis, do que historiografias ou bibliografias criticas. Precedidos de um breve historic0 sobre os desenvolvimentos da filologia e da lingiiistica contemporlnea no Brasil (que reelaborei principalmente a partir dos capitulos 111e IV da tese de 1993) que os contextualiza, sgo estes depoimentos heterogeneos e dispersos em nossa literatura que apresento aqui sob a forma de bibliografia, no intento de divulgar as visaes daqueles que participaram dos diversos processos que levaram ao estabelecimento das ciencias da linguagem no Brasil, e tambim, talvez principalmente, no intuit0 de tornClos de alguma maneira acessiveis ao leitor europeu. 1. A tradiylo da Filologia "A Filologia C o estudo completo comparative, filosofico, literirio, historico das linguas (ou de uma lingua) consideradas em seus principios, nas relaqdes existentes entre elas, nas leis foneticas que presidem a formaqgo dos vocabulos, na origem das suas raizes e das suas formas." (UlhGa Cintra 1939%)
Mesmo que se encontrem citados em varios dos textos que cornpaern esta bibliografia estudos sobre o latim, linguas indigenas e linguas romlnicas, o material de investigaggo privilegiado no Brasil por todo o sCculo XX foi a propria lingua portuguesa. Na preferencia da linguistica latino-americana pel0 estudo das linguas nacionais, assinalada por Coseriu ([1968]1976), o Brasil parece, pois, ngo ter constituido exceqgo. Reconstituir os processos de formag80 dos nossos estudos lingiiisticos, do ponto de vista do seu objeto material equivale, portanto, de certa maneira, a reconstituir a historia do pensamento critic0 -e da pratica de analise linguistica - sobre o portugues do Brasil. E, deste ponto de vista, C possivel rastrear tres grandes tendEncias na abordagem dos fatos de lingua no Brasil. De um lado, a 'filologica' e a 'dialetologica', ambas caracterizadas, respeitadas suas especificidades, por uma visiio da lingua enquanto fato socio-cultural e por uma orientaqgo diacrbnica na analise do portuguE~.~
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Em suas consideraqdes retrospectivas sobre a Lingiiistica no Brasil ate os anos sessenta, Mattoso Cbmara ([I9681 1976: 47) assinala nZo ter havido interesse, da parte dos estudio-
Fragmentos do S&ulo XX
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E, de outro, a 'linguistics', eminentemente sincrbnica, que constituiu desde os anos sessenta um programa de investigaqiio autbnomo de que tratarei separadamente, na seqiio ~ e g u i n t e . ~
0 inicio do process0 de profissionalizaqiio dos estudos lingiiisticos no Brasil 6 frequentemente correlacionado com a criaqiio das primeiras Faculdades de Filosofia em Siio Paulo e no Rio, na decada de 30.4 A criaqiio destas Faculdades simbolizou o fim do autodidatismo em materia de linguagem e marcou, na percepqiio das geraq8es que se seguiram, o inicio da carreira do profissional de Letras (v. por ex. Elia 1963; Mattoso CBmara [1968]1976; Rodrigues 1984). Ate entiio, o unico centro que, do ponto de vista institucional, favorecia alguma produqiio no campo das chamadas Humanidades era o Colegio Pedro 11, do Rio de Janeiro, que exigia para seus candidatos a catedra a elaboraqiio de uma tese e promovia publicaq6es. Consequentemente, os entiio estudiosos das letras, em muitos casos, tinham formaqiio de nivel superior de outra natureza - quando tinham. Sousa da Silveira, por exemplo, era formado em Engenharia; Antenor Nascentes, em Direito; Mattoso CBmara, em Direito e Arquitetura. Para reger os cursos de Letras das recem-criadas Faculdades de Filosofia, com raras exceqees, contratavam-se professores, ou da Franqa, ou de Portugal, para aqui fazerem seus discipulos brasileiros. Professores como Manuel Said Ali Ida (1 86 1- 1953), ~ l v a r oFerdinand0 de Sousa da Silveira (1 883-1 967), Antenor Nascentes (1 886- 1972), Augusto Magne (1 887-1966), Ernesto de Faria (1906-1962), Silvio Edmundo Elia (n. 1913), Serafim da Silva Neto (1917-1960), Gladstone Chaves de Melo (n. 1917), Theodoro Henrique Maurer Jr. (1 906- 1979), Isaac Nicolau Salum (19 13-1993), Francisco da Silveira Bueno (1 898- 1989), Celso Ferreira da Cunha (19 171989), Antonio Houaiss (n. 191 9 , embora niio fossem todos da mesma geraqiio, nem tenham produzido exatamente sobre os mesmos assuntos, fizeram parte de uma tradiqiio de pesquisa vista pelos seus contemporPneos como continua, passos brasileiros pela "...filologia classica ou indo-europeia, imbito e funq6es da linguagem." e ressalta, como estudos predominantes no periodo, "...a historia e a filologia do portuguts, o estabelecimento de uma lingua padrlo para o Brasil, e a dialetologia brasileira." Ao reconstituir certos processos de estabelecimento dos estudos lingiiisticos no Brasil neste seculo, deixo de lado a orientaqlo prescritiva no tratarnento dos fatos de lingua, nlo por ter sido uma tradiqlo pouco representativa. Ao contririo, a forqa e continuidade desta tradiqlo exigiria um estudo em separado. Em 1934, foi criada a Universidade de Slo Paulo, que incorporou as instituiqces ja existentes - Direito, Medicina, Engenharia, Escola Agricola, Farmacia e Odontologia - uma Faculdade de Filosofia. Em 1935, foi criada a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, que tambem instituiu uma Faculdade de Filosofia e Letras.
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saram para a literatura critica posterior como 'grandes filologos' e perceberamE como grandes filologos ocuparam as principais catedras -se 'filologo~'.~ universitarias do pais durante pel0 menos tris decadas; hndaram os primeiros centros de pesquisa dedicados a assuntos lingiiisticos; dominaram o cenhrio das publicagbes monogrificas e periodicas e, por isso mesmo, foram aqueles capazes de congregar, ate meados dos anos sessenta pel0 menos, o maior numero de adeptos. De fato, tudo leva a crer que, e principalmente a partir da criagBo das Faculdades de Filosofia em SBo Paulo e no Rio, na eventual selegBo e divulgagBo de 'novas' ideias que fossem surgindo no campo, pesava - e muito - o crivo critic0 daqueles que, entBo, ocuparam uma citedra. Com excegBo de Maurer, Salum e Silveira Bueno, catedraticos de Filologia Rominica e Portuguesa, respectivamente, da Universidade de SBo Paulo, todos os outros trabalharam no Rio de Janeiro, ou em Filologia Rominica, ou em Filologia Portuguesa.
0 tipo de lideranqa exercido por estes filologos, bem como o mapeamento da rede de continuidades e descontinuidades que se formou a partir da sua atuagBo, ainda estiio por serem tragados. Mas, admitindo que os termos escolhidos para as designag6es das catedras, centros e publicaqdes periodicas deste period0 refletiam a orientaqiio autorizada para o tratamento de assuntos lingiiisticos, pode-se afirmar que o grupo de especialidade em evidincia ate a decada de sessenta no Brasil foi, sem duvida, o da Fil~logia.~ E, conseqiientemente, o estatuto socio-profissional e cientifico que legitimava o trabalho dos pesquisadores dedicados a materia lingiiistica era o de 'filologo'. 0 s trabalhos da chamada tradiqBo filologica stricto sensu tiveram no estudo hist o r i c ~do portuguis7 e na ediqBo critica de textos literarios seus principais objetos formais de investigagiio. Aos trabalhos produzidos sob esta orientaggo a literatura critica posterior reputou varias das maiores contribuigdes ao conhecimento diacrbnico da lingua portuguesa. 0 conteudo programatico da filologia brasileira enfatizou, de um lado, o estudo historic0 (gramatical) do portuguis principalmente, Fonetica, Morfologia, Sintaxe, Lexicologia/Etimologia - dentro "Salum ate o fim da carreira dizia:'n80 me chame de lingiiista. Sou filologo."' (depoimento de um ex-aluno, agosto de 1992). "N8o obstante o progress0 feito em lingiiistica geral, lingiiistica do portuguCs e dialetologia, a filologia em seu sentido estrito continua a merecer o interesse predominante dos estudiosos brasileiros. 0 ensino do portuguts nas universidades brasileiras e principalmente de carater filologico e freqiientemente se confunde com estudos literirios." (Mattoso Cimara, [1968]1976:58). "No Brasil, as principais linguas rominicas n8o s8o estudadas de forma detalhada, com a b i c a exceq8o do franc&, (...) a lingiiistica historica romhica contemporhea desenvolveu-se num sentido vertical, por assim dizer, voltando-se para o latim vulgar e as fontes latinas imediatas do portuguCs." (Mattoso Cimara [I9681 1976:53).
de um quadro politico e cultural mais amplo. E, de outro, a elaboraqiio de ediqdes criticas de textos do portuguCs medieval, arcaico, e de escritores portugueses e brasileiros - sobretudo p o e t a ~ . ~ 1.2 0 s dialetologos Voltados, por assim dizer, 'verticalmente', para trabalhos de grande erudiqiio sobre o portugues, enquanto lingua de cultura, seria dificil ver surgir, dentre os filologos da primeira geraqgo, a preocupaqiio com dados da fala do presente, objeto material considerado 'menor'. De fato, na alentada discussiio, desde o seculo passado, sobre a existCncia ou niio de uma lingua bra~ileira,~ coube a um literato mostrar um novo caminho. Amadeu Amaral (1875-1929) recolocou a questiio, ate entiio predominantemente tratada em outros dominios, em termos lingiiisticos. Para um velho problema, 0 dialeto caipira1° definia os parimetros de uma nova solu~iio,'cientifica', entendida aqui como oposta a normativa. Amaral inaugurou o que seria considerado pelas geraqdes que o sucederam o novo programa de investigaqiio a seguir. Tratava-se de obter, p e l ~acumulo de monografias parciais, resultantes de recolha cuidadosa de fatos, in loco, um retrato do dialeto brasileiro. Mesmo interessados em outros objetos, as primeiras geraqdes de dialetologos brasileiros nunca sustentaram uma retorica de ruptura corn o programa da Filologia. Pelo contrario, o estudo da variaqiio dialetal residual, rural, contribuiria para fbndamentar interpretaqdes historico-filologicas divergentes sobre os substratos da 'lingua brasileira'. Dessa maneira, mesmo com o crescente interesse pelos dados contemporineos da modalidade oral da lingua," em detrimento da modalidade literaria, niio surgiu um novo grupo de especialidade em conflito com o ja existente. A dialetologia brasileira, enquanto programa de levantarnento de dados das variantes regionais do portuguCs do Brasil foi incorporada, como tal, ao programa da
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Para alguns exemplos da vislo de lingiiistas posteriores sobre esta produqlo: Castilho 1962:139-142; Mattoso C h a r a [I9681197656-60; Coseriu [I9681 1976:15;20;34-35; Naro 1976:73-85; Mattos e Silva 1988. Discuss20 amplamente docurnentada nos dois volumes organizados por Pinto 1978 e 1981. Ver tambem Duarte [I95511976. 0 dialeto caipira. Gramritica - Vocabulririo.Publicado parcialmente, em 1916, pela Revista do Brasil, teve sua la ediq2o em 1920 (Slo Paulo, Casa Editora "0 Livro"); a 2", em 1955, (S2o Paulo, Ed. Anhembi) e a 3", reproduqlo facsimilada da anterior, em 1976, (Slo Paulo, HUCITEC). Ver por exemplo as inumeras publicaq6es entre 1930 e 1940 em Dietrich 1980.
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Filologia e, nos anos cinquenta, conquistou amplo espaqo institucional.12 Aos poucos, o programa da Filologia passou a incluir dentre suas tarefas, alkm da reconstruqiio critica de textos medievais da Romkia velha, a elaboraqiio de atlas linguisticos brasileiros regionais, de acordo com os preceitos do metodo da Geografu Lingiiisticu. A elaboraqiio de um atlas geral do pais se definia, assim, como uma nova meta a ser cumprida por esta geraqiio que, embora questionasse a validade dos metodos empregados pelos autodidatas, deles reconheciam o merit0 do pioneirismo e se consideraram seus sucessores, cientificos.I3 0 s programas da Filologia e Dialetologia, unificaram-se, assim, na mesma tradiqiio de pesquisa. A continuidade desta linha de pesquisa, entretanto, seria interrompida antes de atingir os almejados resultados. No inicio da decada de sessenta, o trabalho de pesquisa de campo se tornara repentinamente perigoso em consequencia da crise politica de 1964 e, embora os principais centros academicos continuassem nas miios dos filologos, os estudos linguisticos niio avanqaram muito na direqiio que lhes imprimira Silva Neto. As tentativas de criar condiq6es para que se consolidasse no pais a 'mentalidade dialetologica' por ele idealizada - preparaqiio de inquiridores, laboratorios de fonitica, cursos de nivel superior, organizaqiio e execuqiio de projetos de itmbito nacional - esbarraram nos obstaculos imensos da extensiio territorial do pais e da crbnica falta de recursos. A(s) variante(s) brasileira(s) do portugu&sestava(m) longe de ser descrita(s) e seu mapeamento continuou se fazendo isoladamente - e cada vez menos - em projetos individuais ate, pelo menos, o final da dkcada de oitenta, quando se renovou o interesse pela publicaqiio dos Atlas. Alem disso, comeqava a tomar formas mais nitidas um outro programa de pesquisa que se Ihe apresentava como fortemente concorrente: o 'estruturalismo', que adentrava no cenario brasileiro via institucionalizaqiio da Linguistica, nos Curriculos Minimos Federais das Faculdades de Letras. Em 1968, pesquisadores de varias universidades bra-
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Observe-se, por exemplo, que o Centro de Estudos de Dialetologia Brasileira, no Museu Nacional do Rio de Janeiro C de 1953; a Revista Brasileira de Filologia, de 1955; ambos criados por Silva Neto; e o I Congress0 de Dialetologia e Etnografia foi realizado em Porto Alegre, em 1958. V. Magalhiies 1975. "Seria exagero e injustiqa dizer que a Dialetologia brasileira esteja no marco zero: vocabulirios regionais como o de Pereira da Costa, para Pemambuco, os de Romaguerra Correia, Luis Carlos de Morais e Roque Callage, para o Rio Grande do Sul, o de Florival Seraine para o Ceara e muitissimos outros, no campo da Lexicologia, trabalhos como os de Amadeu Amaral, de Mirio Marroquim para Pemambuco e Alagoas, ou de Jose Aparecida Teixeira para Minas e Goias, Aires da Mata Machado Filho, (...) s2o exemplos de subsidios para a Dialetologia brasileira ..." (Rossi 1967:106).
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sileiras passaram a integrar o Projeto NURC.I4 Data, alias, que passou a simbolizar o segundo e mais importante shifting teorico-metodologico neste programa: da dialetologia rural, voltada para o registro de variantes regionais ameaqadas de extinqgo, passa-se a dialetologia vertical, urbana, voltada para o registro de variantes sociais. 1.3 Em busca do padriio brasileiro Paralelarnente aos trabalhos de documentaqiio das variantes regionais rurais, o estudo do portuguEs do Brasil se desenvolveu em uma direqiio, a principio, complementar: a busca da defini~iiodo padriio brasileiro, centralizado inicialmente nas questbes relativas a pronuncia15de grupos profissionais especiais: atores, locutores, cantores. Essa quest50 motivou a realizagiio dos primeiros congressos especificos sobre lingua no pais e atraiu a atenqgo do grande publico: 0 Congresso da Lingua Nacional Cantadal e o I Congresso da Lingua Falada no Teatrol 7 .
0 Congresso da Lingua Nacional Cantada, organizado pel0 Departamento de Cultura do Municipio de Siio Paulo, na pessoa de Mario de Andrade, em 1936, objetivava o estabelecimento de normas - do ponto de vista fonetico -para o portuguEs do Brasil. Estabeleceu-se que a pronuncia carioca, ou seja, a do Rio de Janeiro, seria a pronuncia padriio do portuguEs do Brasil. A questgo, entretanto, n2o se esgotaria por aqui. A pronuncia padriio voltaria a ser assunto do I Congresso da Lingua Falada no Teatro, igualmente promovido por uma entidade extra-universitaria, o MEC, em Salvador, em 1956, que ratificou a variante carioca como o padrgo falado brasileiro, aparentemente por criterios outros que niio os puramente descritivos (cf. Rodrigues 1968:49): seis dos oito membros da subcomissiio de normas e moqbes do Congresso eram cariocas. Bairrismos a parte, o fato e que a comunidade cientifica rejeitou a definiqgo do padrgo fonktico brasileiro por decreto. As normas (no sentido descritivo do termo) por que se pautava a lingua falada do Brasil continuariam, como, alib, ate hoje, tacitas.
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"0 Projeto NURC (Norma Urbana Culta) data de 1968, "... como desdobramento e extens50 do 'Proyeto de estudio coordinado de la norma lingiiistica culta de las principales ciudades de Iberoamerica y de la Peninsula Iberica', de autoria do Professor Juan M. Lope Blanch do ColCgio de Mexico.", em 1964 (Preti 1981:290). Para urn historic0 do problema e bibliografia complementar, consulte-se Pinto 1981: XXVIII-XXXII e Rodrigues 1968. Anais do Congresso da Lingua Nacional Cantada. Dpto. de Cultura do Municipio de SZo Paulo, 1938. Para elenco das teses apresentadas no Congresso, consulte-se tambem Pinto 1981:XXIII; Nascentes (1953:442). Anais do I Congresso Brasileiro da Lingua Falada no teatro. Rio de Janeiro, MEC, 1958.
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A preocupaqiio com a descriqiio da lingua padrzo continuou paralela ao estudo das variedades regionais rurais ate o momento da grande crise em que se viu envolvida a Dialetologia tradicional. De fato, o momento critico de conscientizaqiio de que a falta de pessoal treinado e de condiqdes materiais minimas necessarias tornara os objetivos de mapeamento da variante brasileira infactivel num prazo razoavel coincidiu, de um lado, com o boom da urbanizaqzo da sociedade brasileira e, de outro, com a divulgaqiio, no pais, de uma bibliografia advinda de outra tradiqzo que niio a filologico-portuguesa. Autores como Labov, Sankoff, Gumperz, Hymes, Weinreich, Bernstein foram chamados a constar, como corpo teorico autorizado, das reflexBes de pesquisadores interessados na descriqiio do pad60 brasileiro (v. por ex. Castilho 197211973b; Callou & Marques 1973 e Cunha 1985). 0 context0 intelectual e social do Brasil no final dos anos sessenta, portanto, favorecia a guinada que os filologos/dialetologos mais jovens operaram na linha de investigaqiio que vinham seguindo: o foco principal de interesse deixou de ser a elaboraqzo de monografias locais e atlas regionais das variedades rurais e passou a ser o estudo sincr6nico da norma urbana, padriio, dita culta.
E n8o foi absolutamente uma reviravolta provocada por aqueles que entiio comeqavam a se autodenominar 'lingiiistas', estes niio possuiam ainda forqa institucional para tal. Foi uma mudanqa de rumo operada por aqueles que, recem-formados nos preceitos da filologia e da dialetologia, incorporaram o 'estruturalismo' as suas reflexBes. Embora mais abertos aos novos ventos que sopravam, os gatekeepers do momento ainda eram os filologos. As motivaqdes que justificaram a concentraqzo de esforqos - pessoais e materiais - no Projeto NURC foram, desde o seu inicio, o conhecimento do portuguEs do Brasil,I8 objeto material privilegiado, que continuou - e continua ainda - a imprimir, como fio condutor unificador, unidade ao programa da Filologia, lato sensu. 0 Projeto NURC se instaurou, simultaneamente, ligado as Universidades de cinco capitais brasileiras: Porto Alegre, Siio Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e RecifeI9 com o desafio duplo de levar finalmente ao conhecimento da comunidade brasileira a sua realidade lingiiistica em primeiro lugar, (cultural, em segundo) e de congregar pesquisadores brasileiros de varios centros do pais, aparentemente insatisfeitos com a dispersiio dos seus esforqos individuais. (Cf. Castilho 1981b:285). " 0 Projeto NURC apresenta as seguintes peculiaridades: (i) E urn estudo da lingua falada, (...). (ii) E urn estudo de natureza descritiva, que revelara certamente aspectos desconhecidos da norma objetiva do portugu&sbrasileiro. (...). (iii) 0 Projeto NURC e urn estudo sociolingiiistico, ..." (Castilho 1981b:271). l9 0 s coordenadores do projeto ent2o foram: Recife, Jose Brasileiro Vilanova; Salvador, Nelson Rossi, tambkrn o primeiro coordenador geral; Rio de Janeiro, Celso Cunha; SBo Paulo, Isaac Nicolau Salum e Ataliba de Castilho; Porto Alegre, Albino de Bem Veiga. (Castilho 1972/1973b: 147).
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2. A Lingiiistica "E certo que houve um erro lamentavel nos linguistas do seculo passado quando pretendiam que a CiCncia da Linguagem e essencialmente historica. Mas parece-me que agora caimos no err0 oposto, ao pretender que a Lingiiistica SincrBnica 6 a unica verdadeiramente cientifica." (Maurer 1967:28)
2.1 Lingiiistica ou Filologia ?
A criaqiio de um novo espaqo institucional nos anos trinta, de nivel superior, se propiciou a profissionalizaqiio do 'filologo' propiciou, igualmente, que se instalasse no pais, pela primeira vez junto a um Curso de Letras, um curso extensivo 'de Lingiiistica', ministrado por Mattoso Ciimara, em 1938 e 1939, na entiio chamada Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Divulgadas primeiramente pela Revista de C ~ l t u r a , ~ ~ suas liq6es constituiram, anos mais tarde, em 194 1, os Princbios de Lingiiistica Geral,21que fizeram do autor o grande divulgador e propagador das teorias, nas palavras de Pinto (1981:XL)" ... dos mais notaveis linguistas europeus e norte-americanos. "22 Extinta a Universidade do Distrito Federal, foi criada em seu lugar a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil que n5o concedera lugar especial a Lingiiistica (v. Sousa da Silveira 1941; Rodrigues 1984). Esta ruptura, ocorrida no inicio dos anos quarenta, retardou o process0 de especializaqiio profissional 'em Lingiiistica' que ma1 havia se iniciado e s6 seria retomado, efetivamente, duas decadas mais tarde, nos anos sessenta. Mattoso foi reconhecido como lider intelectual e 'pai da lingiiistica brasileira', aposteriori. Naquele momento niio conseguiu cumprir as funq6es organizacionais necessarias para formag50 de um grupo de especialidade independente da filologia - alias, niio me parece que tenha tido em algum momento intenqiio de faz6-lo. Por essa via,
0 s artigos s20: "Liqdes de lingiiistica geral". Revista de Cultura (Rio de Janeiro) 1939.25. 99-104; 183-189; 216-222; 279-284; 1939.26. 43-47; 81-86; 177-185; 1940.27. 21-27; 8388; 141-146; 202-208; 1940.28. 11-17. Para a referincia as outras ediqdes, inclusive recensdes, veja-se Naro & Reighard 1976:141. 0 livro 6 Princ@ios de lingiiistica geral como fundamenfo para estudos superiores da linguaportuguesa. Rio de Janeiro, F. Briguiet, 194 1 (reimpr. 1942). 22 Essa observaq2o e mais significativa do que parece. Mattoso n8o propas nos Principios 20
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uma teoria propria, ao contririo, inaugurou uma pratica que traria importantes conseqiiincias para a Lingiiistica brasileira, que consistia em derivar ideias lingiiisticas da Europa e dos Estados Unidos.
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Mattoso nunca chegou a fazer, como se costuma dizer, e ~ c o l aEste . ~ ~ primeiro embate entre Filologia e Linguistica nas recem-criadas Faculdades de Filosofia, teria sido, portanto, de ordem socio-institutional e, talvez, ate mesmo, de ordem pessoal. As fronteiras entre os dois dominios, em termos de areas de interesse, ou mesmo em termos de orientaqiio metodologica niio podiam estar, ainda, suficientemente nitidas. Vinte anos depois a situaqiio seria outra. Mattoso conseguiu organizar, em 1958, um Setor Lingiii~tico~~ na Divisiio de Antropologia do Museu Nacional, apenas tres anos depois que Silva Neto havia montado, no mesmo Museu, o Centro de Estudos Dialetoldgicos. A coexist2ncia, no Museu Nacional, ja no fim dos anos cinqiienta, de um Setor Lingiiistico, ao lado de um Centro de Dialetologia, seria o segundo sinal do novo embate que, na decada seguinte, caracterizaria uma agora nitida oposiqiio entre 'filologos' e 'linguistas'. 0 s anos sessenta assistiriam a uma nova e definitiva disputa entre Filologia e Lingiiistica pelos espaqos institucionais disponiveis. Paralelamente, ver-se-ia crescer a primazia da abordagem 'sincr6nica', 'descritiva', sin6nima de 'Linguistica', em detriment0 da abordagem 'diacr6nica', 'historica', sin6nima de 'Filologia'. Coseriu ([I9681 1976) apontou a dicada de quarenta como a da introduqiio do estruturalismo europeu da escola de Praga na America Latina e os anos cinquenta como os do inicio da sua efetiva difusiio. Na avaliaqiio do autor, os principais trabalhos em Lingiiistica publicados no period0 resultaram de uma extensiio do que foi feito na Europa. E isto se deveu niio so a coincidencias de interesse pel0 estudo de materiais rominicos, como tambem resultou da dificuldade de acesso a trabalhos divulgados em outras linguas que nHo o franc&, o que teria limitado o acesso a outras lingiiisticas, que se faziam por outros metodos e sobre outros materiais.
0 chamado estruturalismo norte-americano, por exemplo, so se tornaria conhecido mais tarde ainda, quer por razbes metodologicas, quer por razbes ideologicas. Segundo o mesmo autor, as poucas possibilidades de aplicaqiio dos metodos descritivistas as areas tradicionalmente estudadas pela lingiiistica latino-americana (lexicologia, dialetologia lexical, filologia) e a resistEncia geral dos estudiosos a uma postura antimentalista no estudo dos fatos lingiiisticos o que implicaria o quase abandon0 de areas por eles preferidas, como a semsntica e a estilistica - seriam um primeiro conjunto de razbes para a pequena repercuss%oda lingiiistica descritiva norte-americana dentre os latino-americanos. 23
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"0 lider era o Silva Neto. A sua lingiiistica [de Mattoso] nlo estava institucionalizada. Mattoso era isolado, ficava de fora do grupo." (Depoimento de um obsewador contemporineo, agosto de 1993). 0 ponto forte do Setor era o estudo das linguas indigenas.
Considere-se, ainda, a presenqa de muitos professores visitantes europeus e a formaqiio, em universidades europeias, de muitos dos lingiiistas latino-arnericanos.
E preciso lembrar que, sob o termo 'linguists', Coseriu ([1968]1976) encampou um grupo de pesquisadores muito mais amplo do que aquele que linguistas contemporiineos o fariam (cf. Naro 1976). A rigor, nos anos sessenta, no Brasil, sob a designaqiio de 'lingiiistas', se colocavam apenas os chamados 'estruturalistas': Mattoso Clmara e Aryon Dall'Igna Rodrigues. 0 termo 'linguistica' surgiu no context0 academico brasileiro ligado ao termo 'estruturalismo' e foi so no decorrer da dCcada de sessenta, que comeqaram a se tornar mais precisos os universos de referencia propostos pelos dois termos 'Filologia' e 'Lingiiistica' -justamente no momento em que as oposiq6es institucionais iam se fazendo mais nitidas. A busca de autonomia da Linguistica em relaqiio a tradiqiio entendida como da Filologia pode ser interpretada, a partir dos anos setenta, niio so como uma ruptura socio-institutional mas tambem como uma ruptura com o conhecimento anteriormente por ela produzido. Em outros termos, a busca de uma autonomia institucional e socio-profissional para a Linguistica corria, paralelamente, dentre os lingiiistas, a busca por um programa de investigaqgo sobre a linguagem, aut6nomo. 0 s 'linguistas' avanqavam enquanto grupo e comeqaram a apresentar, ao final dos anos sessenta, uma retorica francamente separatista em termos de problemas a investigar e de tarefas a cumprir; ao mesmo tempo em que comeqavam a criar e participar de suas proprias instituiqees.
No segundo confront0 entre Filologia e Lingiiistica, predominaram, desta vez, os segundos. 2 5 0 s estudos linguisticos efetuados no Brasil passaram a clamar por um outro estatuto de cientificidade apos a introduqiio - ainda que tardia e descontinua - do estruturalismo. A partir dos anos setenta, a Linguistica e suas disciplinas passariam rapidamente a constituir um dominio especifico e aut6nomo de investigaqgo e despertariam um interesse e uma procura maior da parte dos pos-graduandos do que a Filologia. Em termos institucionais, profissionais, teoricos e metodologicos, as decadas seguintes seriam dos 'lingiii~tas'.~6
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"0pessoal da Literatura Brasileira e da Teoria Literiria nlo implicava com a gente. Agora, o pessoal de Lingua Portuguesa, a turma da Filologia, herdeira do Silveira Bueno, e que era dificil. Na verdade, a gente e que nlo queria saber deles ..." (depoimento de aluno da primeira turma de Lingiiistica da Universidade de Slo Paulo, de fevereiro de 1994). Esta afirmaqlo nlo quer dizer, evidentemente, que o programa da Lingiiistica substituiu completamente o programa da Filologia. Quero assinalar que, enquanto programas concorrentes no estudo da lingua do Brasil, a abordagem proposta pela Lingiiistica passou a me-
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2.2 0 s linguistas Na Universidade de Siio Paulo, a Lingiiistica, enquanto disciplina academics e enquanto programa de investigagiio distinto da Filologia, entrou, de um lado, pela Cadeira de Lingua e Literatura Grega, durante a regcncia do Professor Robert Henri Aubreton (1909-?) e, de outro, pela cadeira de Filologia Rominica, de Maurer. A cadeira de Filologia Portuguesa, de Silveira Bueno, estava fechada a qualquer orientagiio neste sentido. Maurer ensinava 'lingiiistica' (Castilho 1991) mesmo antes da resolugiio do Conselho Federal de Educagiio que a tomou disciplina aut6noma e obrigatoria do Curricula Minimo de todos 0s cursos que habilitavam a Licenciatura em Letras (Castilho 1963; 1967; 1981; 1991) e divulgava Mattoso Cimara. Maurer estudara na Universidade de Yale - de 1945 a 1946 - com bolsa de estudos da Fundagiio Rockefeller e ali seguiu, entre outros, os cursos de Bloomfield (Castilho 1 9 8 1 ~ )De . volta dos Estados Unidos, assumiu a cadeira de Filologia Rominica, em 1947, "... ao mesmo tempo que se dedicava a atividades politicas e religiosas, nas quais foi grande lider" (depoimento de junho de 1992). Aubreton, professor visitante, ficou no Brasil por doze anos, de marqo de 1952 a marqo de 1964. E na unanimidade dos depoimentos, foi "uma grande figura, um grande lider, um trator ...". Fundou a AssociaqEo dos Estudos Clbssicos do Brasil; publicou seu Boletim (vol.1, 1956), montou a biblioteca da cadeira, promovia reuniaes periodicas de estudos na Escola da Praqa (Escola Caetano de Campos), "dava aulas apaixonantes ..." e conseguia bolsas do governo franc& para que seus alunos, ou os alunos que Maurer indicasse, fossem estudar na Franqa. E alguns alunos, formandos do final dos anos cinquenta e inicio dos anos sessenta, estimulados pelos cursos de Aubreton, de fato, foram. Ali tiveram- e dali trouxeram - informagaes sobre o que se fazia 'de mod e r n ~em ' materia de estudo da l i n g ~ a g e m . ~ ~ Diante da implantaqiio oficial da disciplina Lingiiistica, entretanto, Maurer renegou seu passado bloomfieldiano e preferiu delegar os encargos da nova disciplina aos brilhantes jovens 'aubretonistas' que chegavam da Franga. Izidoro Blikstein (n. 1938) foi o primeiro e Cidmar Teodoro Pais (n. 1940), o segundo. Foi Pais quem exerceu as funq6es intelectuais e, principalmente, organizacionais necessarias para a solidificagiio institucional da Lingiiistica e, mais tarde, da Semiotica, na Universidade de Siio Paulo, como campos autbnomos de
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recer a atenqzo de um numero maior de pesquisadores, se comparada a abordagem proposta pela Filologia. "Minha cabeqa virou cento e oitenta graus na Franqa. A viagem de navio, as novas experiincias, a cultura francesa. Tudo era novo. (...). Ao lado dos estudos classicos, tomei conhecimento de uma literatura de que nunca tinha ouvido falar: Benveniste, Martinet. Foi um terremoto ..." (depoimento de um 'aubretonista', agosto de 1992).
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estudos. Contratava voluntarios para ministrar aulas na Universidade, selecionava candidatos para a pos-graduaqiio, conseguia bolsas de estudo, organizava programas e curriculos. As novas proposiqdes de Pais eram objeto de fortes restriqdes da parte dos setores mais conservadores da Universidade. Ao contrario de Blikstein, Pais assumiu franca rota de colisiio com o establishment acadimico, o programa da Filologia e tambCm com outros grupos de especialidade que comeqavam a se delinear em torno de um ainda vago programa de investigaqiio da Lingiiistica. Mas, antes disso, outros nucleos despontavam, em outros pontos do pais, a partir de outras lideranqas. Rodrigues (n. 1925) era aluno de ginasio no Parana, no final da decada de trinta, quando conheceu o professor Rosario Farani Mansur Guerios (19071987) que, dentre varios interesses, dedicou especial atenqiio as linguas indigenas brasileiras (Rodrigues 1986).28Formado em Direito, autodidata em materia linguistica como quase todos da sua geraqiio, Mansur Guerios tambem fez carreira universitaria - em Lingua Portuguesa (da qua1 ocupou a catedra) e em Filologia Romiinica - na Faculdade de Filosofia de Curitiba, fundada em 1938 (Salum 1986). Nos anos quarenta, Mansur Guerios integrou-se aos pesquisadores do Museu Paranaense numa excursiio aos indios Kaingang de Palmas (sudoeste do Parana), para colher dados lingiiisticos (Rodrigues 1986). Licenciado em Letras Classicas em 1950, Rodrigues continuou professor no Parana, ate que conseguiu uma bolsa da Fundaqiio Humboldt na Alemanha, onde defendeu seu doutorado, em 1959.29Em 1960 ja era professor de Lingiiistica na Universidade Federal do Parana. La, provavelmente, teria continuado niio fossem duas razdes. De um lado, a entiio surpreendente resoluqiio do Conselho Federal de Educaqiio de 1962 que previa, ja para o ano seguinte, a implantaq80 da disciplina Lingiiistica em todas as Faculdades de Filosofia que tivessem cursos de Letras. A resoluqiio de 1962 surpreendeu a comunidade acadcmica com pouquissimos professores formados em Lingiiistica. Atuavam na area apenas Mattoso, Rodrigues e Francisco Gomes de Matos (n. 1933), mestrado em Linguistica pela Universidade de Michigan, em 1962.30De outro, sua ligaqiio com os antropologos e, em especial, com Darcy Ribeiro, entiio Ministro da Educaqiio. Por conta da precipitada resoluqiio e da indicaqiio de Ribeiro, Rodrigues deixava o Parana ao final de 1962 para, no ano seguinte, implantar em Brasilia o primeiro Departamento autBnomo de Lingiiistica e o primeiro programa de pos28
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Para uma bio-bibliografia de Mansur Gukrios, v. Rodrigues 1986 e Salum 1986. Phonologie der Tupinamba-Sprache. Universidade de Hamburgo, 1959. Gomes de Matos, reckm-graduado em Letras Anglo-Germgnicas, travara contato corn a Lingiiistica em 1955 corn Charles Fries, quando esteve pela primeira vez em Michigan. Foi o primeiro professor de Lingiiistica, a partir de 1962, nas Universidades Federais de Pernambuco e da Paraiba e, a partir de 1966, na PUC-SP.
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-graduaqiio, a nivel de mestrado, voltado especificamente para a formac$io de pesquisadores. Ao menos burocraticamente, a Lingiiistica constituiu, pela primeira vez, um programa de ensino e pesquisa distinto de um programa de Filologiakingua Portuguesa e de Teoria Literaria: Eunice Souza Lima Pontes, Marta Coelho, Gilda Azevedo e, indiretamente, Paulino Vandresen, mestraram-se neste Programa. A ideia inicial do curso de Brasilia era formar gente que, de volta as suas Universidades de origem, pudesse assumir as aulas de Lingiiistica. Em dedicaqiio de tempo integral, os alunos deveriam dedicar-se aos estudos e voltar, em dois anos, com o mestrado pronto. Paralelamente, Rossi dirigia o mestrado em Lingua Portuguesa, orientando trabalhos ou de ediqiio critica de textos antigos, ou de variaqiio dialetal. Ada Natal Rodrigues era, entiio, instrutora de Rossi. Neste programa formaram-se Rosa Virginia Mattos e Silva; Dinah Maria Montenegro Insensee (Callou); Nadia Andrade e Julia Conceiqiio Fonseca Santos. A promissora experiencia de Brasilia, entretanto, ainda incipiente, niio escapou ilesa da crise geral por que passava o pais nos primeiros anos da decada de sessenta. Com a chamada revoluqiio de 1964, comeqavam o 'expurgo' universitario, as intervenqdes, as demissdes. Em 1965, os programas de pos-graduaqzo se dissolveram e a Universidade foi fechada, com tropas. 0 s professores e pesquisadores voltaram aos seus estados de origem, ou se transferiram para outras Universidades, ou foram para o exterior. 0 primeiro curso de pos-graduaqiio em Lingiiistica do pais durara, apenas, pois, trEs anos. Rossi voltou para a Universidade Federal da Bahia e Rodrigues iria, pouco tempo depois, para o Rio de Janeiro, no Museu Nacional. 2.3 A especializaqiio profissional Por ocasiiio da regulamentaqiio dos cursos de pos-graduaqiio no pais, por decreto federal de 1970, ja operavam, pois, 'na pratica' dois modelos. Enquanto na Universidade de Siio Paulo buscava-se seguir o modelo das universidades francesas, no 0 curriculo Museu Nacional buscava-se seguir o modelo norte-ameri~ano.~' 31
Alguns professores norte-americanos trazidos por Rodrigues acabaramse instalando no pais: Brian Head, John Martin, Anthony Naro. Embora Rodrigues hoje negue sua eventual preferencia por um modelo americano e alerte para o fato de que convidara, na epoca, muitos professores e conferencistas europeus - entre eles, Jiirgen Heye, Nicolas Ruwet, Roman Jakobson, Paul Gamin, Tzvetan Todorov, Oswald Ducrot - o fato 6 que o Programa do Rio sempre foi percebido como fortemente voltado para as tradiqdes de pesquisa norte-americanas. Em oposiqgo, o Programa da USP sempre foi percebido como fortemente voltado para as tradiqdes de pesquisa francesas. Embora Pais nunca tenha negado suas preferkncias, curiosamente, tambem enfrentou com certo desconforto, ao longo dos anos, a pecha de 'anti-americanista', em termos teoricos. A explicitaq50 dos valores ideoIogicos particulares que as teorias advindas dessas duas tradiqhes assumiram no context0 politico brasileiro e, sem duvida, um estudo que merece ser feito.
planejado pela equipe de Rodrigues no inicio dos anos setenta deixava bem menos espaqo para as disciplinas historicas ou romiinicas, a enfase era para o trabalho descritivo, de orientaqlo gramatical ou aplicada ao ensino de linguas. A Universidade Federal do Rio de Janeiro acabou, entretanto, por absorver este programa e Rodrigues (e equipe) chegaram a conviver algum tempo com o grupo da Faculdade de L e t r a ~ . ~ ~ 0 s conflitos (e as rupturas) com as disciplinas mais tradicionais, entretanto, acabaram acontecendo de uma maneira ou de outra nas duas instituiqaes. Na Universidade de S l o Paulo, a Lingiiistica logo constituiu um curso autbnomo, a nivel de bacharelado e a nivel de pos-graduaqlo. No Rio, a equipe se dividiu: parte continuou ligada a Universidade Federal e parte saiu do Rio de Janeiro, juntamente com Rodrigues para, em 1973, incorporar-se, em S l o Paulo, a recem-criada Universidade de Campinas, a UNICAMP.
0 projeto de uma Universidade tecnologica, voltada essencialmente para atividades de pesquisa cientifica surgiu, em 1966, em Campinas, pelas mlos de Zeferino Vaz. 0 context0 politico e econbmico do Brasil pos-64 exigia mlo de obra altamente ticnica e especializada capaz de realizar o projeto do 'milagre brasileiro'. Vaz viera da Universidade de Slo Paulo e havia sido um dos principais assessores da Universidade de Brasilia. Com a revoluqlo (ou golpe) de 1964 - e a consequente deposiqgo do entlo reitor Anisio Teixeira - Vaz, indicad0 por Castello Branco, foi nomeado interventor da UnB. Sobre as relaqdes de Vaz com o poder 'revolucionario' ha controversias. Ao mesmo tempo que teria feito, na ocasigo, certas concessdes ao regime, demitindo, por exemplo, alguns dos professores politicamente mais visados, teria conseguido manter certa autonomia administrativa, o que Ihe permitiu, por algum tempo, sustentar o projeto inicial da UnB. Mas, ao que tudo indica, os dois objetivos eram incompativeis. Um ano depois, em meados de 1965, Vaz pediu demisslo e, ja no ano seguinte, em 1966, procurava fazer renascer, em Campinas, junto ao maior polo industrial do pais, o espirito da Universidade de Brasilia, pela hndaqlo de uma nova Universidade: a UNICAMP. Com o apoio de Laudo Natel, entlo governador do Estado, e a ajuda financeira do CNPq, Vaz trouxe varios pesquisadores de prestigio dos Estados Unidos, muitos brasileiros la radicados, com o objetivo claro de formar institutos de pesquisa autbnomos, de alto nivel e mais compativeis, dizem alguns, com a ideologia 'revolucionaria' do 'Brasil grande'. 32
Celso Cunha era entgo o coordenador do prograrna de Lingua Portuguesa. 0 Programa original alterou-se para o Programa Unificado de Pos-Graduaqlo em Lingiiistica da Universidade Federal do Rio de Janeiro porque reunia "... as atividades do Museu Nacional corn as atividades especificas de Lingiiistica da Faculdade de Letras da mesma Universidade". (Rodrigues 1972/1973:461-462).
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Ao contrario das outras instituiq6es, portanto, a Lingiiistica da UNICAMP constituiu, desde o inicio do seu funcionamento, em 1970, um departamento proprio e aut8nom0, encarregado de ministrar a disciplina, tanto a nivel de graduaqiio quanto a nivel de pos-graduaqiio. Tal autonomia lhe permitiu estabelecer desde o inicio, ao menos nas intenq6es, uma forte politica dirigida a atividades de pesquisa e busca de um estatuto socio-profissional pr6prio ao lingiiista-pesquisador, voltado para a criaqiio de mercados de trabalho ate entiio originais e niio obrigatoriamente restrito a atividades de magisterio secundario elou superior. 0 curriculo visava a desvincular a formaqiio dos futuros lingiiistas de qualquer associaqiio com Letras. Ao inves de Literatura(s), Latim e Lingua Portuguesa, o futuro bacharel deveria cursar Epistemologia, Sociologia, Antropologia. Se os 'filologos' haviam anteriormente excluido do seu grupo aqueles que niio possuiam a mesma formaqiio, os 'linguistas', agora, em contrapartida, clamavam, para si, o estatuto de cientificidade em materia de linguagem e renegavam qualquer contribuiqiio da filologia. As escalas de valores ja estavam completamente mudadas. Multiplicaram-se, no pais, a partir de entiio, as possibilidades de efetuar estudos pos-graduados em Lingiiistica - a nivel de mestrado pel0 menos - ou inseridos em programas de Letras - a maior parte dos casos, ou na forma de programas especificos de Lingiiistica - Geral ou Aplicada. Entraram em funcionamento, no periodo, alem dos cursos de p6s-graduaqiio na Pontificia Universidade Cat6lica de Siio Paulo (PUC-SP) ja existente; os do Rio Grande do Sul (PUC-RGS) e do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em 1970; o das Universidades Federais, Fluminense (UFF- 1971); Santa Catarina (UFSC- 1971); Goias (UFGO1972); Rio Grande do Sul (UFRS- 1973); Minas Gerais (UFMG- 1973); Brasilia (UnB- 1975); Paraiba (UFPB- 1975); Pernambuco (UFPe - 1976); Bahia (UFBa- 1975); Parana (UFPR- 1975); Para (UFPA- 1987); nas Universidades Estaduais Paulistas (UNESP-Assis 1979, Araraquara 1977); do Rio de Janeiro (UERJ- 1988) e Santa Maria (UESM- 1988) (v. Marcuschi 1989:7). Para obterem o doutorado, os mestrandos da maioria destas Universidades, quando nlo se dirigiam ao exterior, procuravam, em geral, os cursos da Universidade de S l o Paulo; da UNICAMP, ou do Rio que polarizaram ate h i bem pouco tempo, a pesquisa 'propriamente' lingiiistica no pais.
3. Bibliografia cronol6gica e comentada de textos sobre a produqiio lingiiistica brasileira 1941. Sousa da Silveira, ~ l v a r oFerdinand0 de: "Prefacio." Mattoso CImara Jr. 1941. Principios de Linguistica Geral. 1. ed. Rio de Janeiro: Livraria Briguiet, p. 5-8.
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Pequeno relato sobre a Universidade do Distrito Federal (1937-1939) e sobre os passos que levaram a publicaqiio dos Principios de Lingiiistica Geral, de Mattoso Cdmara. 1946. Silveira Bueno, Francisco da: "Explicaqdes Necessarias." Estudos de Filologia Portuguesa. 1" vol. Siio Paulo: Saraiva, p. 7-9. Pequeno relato sobre a orientaqiio da cadeira de Filologia e Lingua Portuguesa da Universidade de Siio Paulo na decada de quarenta e, principalmente, a percepqgo do autor sobre as relagbes Filologia e Lingiiistica. 1952. Maurer Jr., Theodoro Henrique: "Introduqiio." [ao trabalho de Hawking W. Neil. A Fonologia da Lingua Uaiuai].Boletim 157. 1-5. Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de Siio Paulo. Rapido historic0 sobre a pratica da descriqiio lingiiistica desde a Antigiiidade Classica ate Bloomfield. Raro testemunho da visiio de Maurer sobre a Lingiiistica Descritiva. 1952. Nascentes, Antenor: " ~ t u d e dialectologiques s au Bresil." ORBIS I. 1. 18 1184. Bibliografia comentada do que o autor considera a primeira fase dos estudos dialetologicos no Brasil, de 1826 (Domingos Borges de Barros) ate 1920 (Amadeu Amaral). Principalmente glossarios. 1953. Nascentes, Antenor: " ~ t u d e sdialectologiques au Bresil." ORBIS 2. 439444. Bibliografia comentada do que o autor considera a segunda fase dos estudos dialetologicos no Brasil, de 1920 (Amadeu Amaral) at6 1951 (Edson Carneiro). Principalmente glossarios. 1954. Mattoso Cdmara Jr., Joaquim: "Prefhcio do Tradutor." Edward Sapir, ao estudo da fala. Rio de Janeiro: Ins1954. A Linguagem: introdu~a"~ tituto Nacional do Livro, p. 7-14. Retrospectiva de aspectos da vida e da obra de Sapir. Comparaq6es entre Bloomfield e o chamado estruturalismo europeu. [I9551 1972. Mattoso Cdmara Jr., Joaquim: "Primeira Reuniiio de Antropologia." Dispersos de J. Mattoso Cdmara Jr. Seleqiio e introduqiio de Carlos Eduardo Falciio Uch8a. Rio de Janeiro: Fundaqiio Getulio Vargas, p. 25 1264. [Transcrito da Revista Brasileira de Filologia. 1.2.251-260. Rio de Janeiro: Livraria Acadimica, cf. nota do org.]. Historic0 da implantaqiio da disciplina Lingiiistica no Brasil e balanqo das contribuiqdes entre Lingiiistica e Antropologia.
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[I9551 1976. Duarte, Paulo: "Prefacio: dialeto caipira e lingua brasileira. Amadeu Amaral" 1976 119201, copia facsimilada da ediqiio de 1955. 0 dialeto caipira. Gramatica - Vocabulcirio. 3" ed. Siio Paulo: Hucitec, 7-40. [ l a ed. 1920, Siio Paulo: Casa Ed. 0 Livro, ed. 1955, Siio Paulo: Anhembi]. Revisiio dos varios tipos de tratamento e registros feitos sobre a "lingua brasileira", entremeados de elementos de historia da lingua portuguesa. [I9551 1978. Silva Neto, Serafim da: "Prefacio." Silvio Elia. 1978. Orientaqdes da Linguistica Moderna. 2a. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Ao Livro TCcnico, XIII-XVIII. [la. ed. 19551. ContCm visiio retrospectiva de Silva Neto sobre Saussure e sua percepqiio do que denomina 'lingiiistica modema'. 1959. Pereira FO, Emmanuel: "Bibliografia de Sousa da Silveira." Ibe'rida. Revista de Filologia Ibero-Americana 3. 209-229. Rio de Janeiro. ContCm tambem dados biograficos do homenageado. [I9611 1972. Mattoso Clmara Jr., Joaquim: "As idCias gramaticais de Joiio Ribeiro." Dispersos de J. Mattoso Ccirnara Jr. Seleqiio e introduqiio de Carlos Eduardo Falciio Uchba. Rio de Janeiro: Fundaqiio Getulio Vargas, p. 171-184. [Palestra na Academia Brasileira de Filologia, em 27 de agosto de 1960. Transcrito da revista Letras 12. 22-35. Universidade do Parana, cf. nota do org.]. Mattoso discute conceitos de 'gramatica', 'correqiio', 'verdade historica' e 'filologia' em Jog0 Ribeiro [1860-19341 e em outros autores da sua geraqgo. A revisiio critica de Mattoso freqiientemente ultrapassa esse quadro e estes conceitos siio recolocados da sua perspectiva contemporlnea. [I9611 1972. Mattoso Clmara Jr., Joaquim: "Said Ali e a Lingua Portuguesa." Dispersos de J. Mattoso Cdmara Jr. Seleqiio e introduqiio de Carlos Eduardo Falciio Uchba. Rio de Janeiro: Fundaqiio Getulio Vargas, p. 185189. [Transcrito da revista Vozes 55.6. 41 5-419. Petropolis, cf. nota do org.]. Mattoso ressalta o que considera o pioneirismo das proposiqdes de Said Ali para a 'doutrina' gramatical. 1962. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Estudos lingiiisticos no Brasil. Notas para sua historia." ALFA 2. 135-143. Siio Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Proposta de periodizaqiio dos estudos de lingua no Brasil em duas fases: a que antecede a criaqiio das Faculdades de Filosofia no pais (fins do seculo XIX at6
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decada de trinta) e a que com ela se inicia (de 1930 em diante). Enumeraqiio de autores e obras das duas fases; congressos realizados e periodicos em circulaqiio. 1963. Castilho, Ataliba Teixeira de: "A Reforma dos Cursos de Letras." ALFA 3. 5-38. Siio Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Retrospectiva dos aspectos institucionais dos estudos lingiiisticos no pais. Hist o r i c ~das principais Universidades, da implantaqiio dos cursos de Letras, reformas e curriculos. 1963. Elia, Silvio Edmundo: " 0 s estudos filologicos no Brasil." Ensaios de Filologia. Rio de Janeiro: Acadimica, p. 157-232. Proposta de periodizaqiio dos estudos filologicos no Brasil em duas fases: 18801900, fase 'de transiqiio'; 1900- 1960, fase 'cientifica'. Identifica, neste ultimo periodo, tris geraqbes: 1900- 1920: Said Ali e Otoniel Mota; 1920-1940: Augusto Magne, Antenor Nascentes, Sousa da Silveira, Jose Oiticica, Clovis Monteiro; 1940-1960 (geraqiio universitaria): Silva Neto, Celso Cunha, Gladstone Chaves de Melo, Rocha Lima e Silvio Elia. 1963. Rodrigues, Aryon Dall'Igna: " 0 s estudos de Lingiiistica Indigena no Brasil." Revista de Antropologia XI. 112. 9-2 1. [Relatorio apresentado a Sessiio de Lingiiistica da V Reuniiio Brasileira de Antropologia, Belo Horizonte, junho de 19611. Inclui comentirios dos co-relatores, Mattoso Cimara (17-20) e Sarah C. Gudschinsky (20-2 1). Resenha dos estudos descritivos e comparativos em linguistica indigena do Brasil desde o siculo XIX. Inclui bibliografia. 1963. Rodrigues, Aryon Dall'Igna: "Relatorio sobre a Lingiiistica e o ensino de Linguas no Brasil. Apresentado no Simposio Interamericano de Linguistica e Ensino de Linguas." ColBmbia, Cartagena, 19-25 de agosto de 1963. ESTUDOS 2.2. 19-32. Siio Paulo, Departamento de Estudos e Pesquisas: Instituto de Idiomas Yazigi. 0 relatorio de Rodrigues procura descrever o estado das atividades em ensino de linguas e lingiiistica no Brasil no inicio dos anos sessenta, bem como diagnosticar seus principais problemas. 0 relatorio contern informaqbes precisas sobre a regulamentaqiio e funcionamento do ensino da Lingiiistica, do portuguis, das linguas estrangeiras e das linguas indigenas - nas instituiqbes 'oficiais' e 'niio-oficiais' - tanto a nivel universidrio quanto a nivel do entiio chamado ensino medio. 1964. Nascentes, Antenor: " ~ t u d e sphilologiques au Bresil." Philologica Pragensia 2. 191-194.
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Proposta de periodizaqgo dos estudos filologicos no Brasil em tr2s fases, que denomina: dos principios da cultura brasileira ate 1835 (AntBnio ~ l v a r e sPereira Coruja), fase 'embrionaria'; de 1835 a 1881 (Julio Ribeiro), fase 'empirica'; de 188 1 a 1939 (Fundaqgo da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil), fase 'gramatical'. 1965. Castilho, Ataliba Teixeira de: "A Cadeira de Linguistica no Curso de Letras." ALFA 718. 155- 161. S5o Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. Analise, comentarios e adenda as indicaqdes bibliograficas de Gomes de Matos 1965, tendo em vista o ensino da disciplina Linguistica. Transcreve curriculos dos cursos superiores nos anos sessenta. 1965. Gomes de Matos, Francisco: "Bibliografia minima para professores de Linguistica em Faculdades de Filosofia." ALFA 718. 15 1- 161. Sgo Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. Bibliografia comentada das dez obras que o autor considera indispensaveis para um curso introdutorio de Linguistica: Gleason, Hockett, Contreras, Martinet, Robins, Sapir, Bloch & Trager, Buchanan e Mattoso CBmara. Comentado por Castilho 1965, cf. supra. 1965. Mattoso CBmara Jr., Joaquim: Introdu~u"~ cis Linguas Indigenas Brasileiras. Rio de Janeiro: Museu Nacional. Ver principalmente os capitulos: "0s Estudos Linguisticos no Passado. A Tupinologia" (99- 112) em que Mattoso faz uma retrospectiva critica dos estudos das linguas indigenas no Brasil desde o period0 colonial ate o final do seculo XIX e "0s Estudos Linguisticos no Passado. A Pesquisa Etnologica" (1 13-128), em que rev2 o final do seculo XIX e o inicio do seculo XX. 1966. do Valle, Rosalvo: Professor Ismael de Lima Coutinho. Estudos Linguisticos. Revista Brasileira de Linguistica Tedrica e Aplicada. 1.1. 3740. Silo Paulo, Centro de Linguistica Aplicada, Instituto de Idiomas Yazigi. Dados biogrificos e bibliografia comentada do homenageado. [I9661 1972. Mattoso Cdmara Jr., Joaquim: "Antenor Nascentes e a Filologia Brasileira." Disperses de J. Mattoso Ccimara Jr. SeleqSlo e introduqgo de Carlos Eduardo Falcgo UchBa. Rio de Janeiro: Fundaqgo Getulio Vargas, p. 191-195. [Transcrito da revista Vozes 60.6:459-462. Petropolis, cf. nota do org.]. Elogiosa revisgo da contribuiqgo de Nascentes para os estudos da fonetica, da historia e da dialetologia do portugu2s.
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1967. Documentos do I Seminario de Linguistica, promovido por Ataliba Teixeira de Castilho na FFCL de Marilia, em 15-19 de agosto de 1966. ALFA 11. SBo Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. 0 objetivo do encontro foi uma primeira avaliaqBo do estado dos estudos lingiiisticos no Brasil por ocasigo do quinto aniversario da implantaqgo da disciplina Linguistica no pais. V., principalmente, contribuiqbes de Maurer sobre a 'lingiiistica historica' (19-42); de Mattoso CBmara sobre o 'estruturalismo linguistic~'(43-88) e de Nelson Rossi sobre a 'dialetologia' (89-1 15). Inclui: 1967. Castilho 1967. Maurer 1967. Mattoso CBmara (cf. infra) 1967. Rossi 1967. Mattoso CBmara Jr., Joaquim: "0Estrututralismo." ALFA 11. 43-88. SBo Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. RevisBo critica de Mattoso sobre o 'estruturalismo' de Saussure, Bally, Escola de Praga, Sapir, Bloomfield, Guillaume, Hjelmslev, Martinet, Chomsky. - Proferido durante o I Seminario de Linguistica, promovido por Ataliba Teixeira de Castilho na FFCL de Marilia, em 15- 19 de agosto de 1966. - Republicado na revista Tempo Brasileiro 15/16. 5-43. Revista Trimestral de Cultura. Rio de Janeiro, 1973. 1967. Uchea, Carlos Eduardo FalcBo: ~ l v a r oFerdinand0 de Sousa da Silveira (1883-1967). Estudos Lingiiisticos. Revista Brasileira de Lingiiistica Tedrica e Aplicada 2.112. 115-1 19. SBo Paulo, Centro de Lingiiistica Aplicada, Instituto de Idiomas Yizigi. Contem dados biograficos e comentarios sobre a obra e principais problemas estudados pelo homenageado. [I9681 1976. Mattoso CBmara Jr., Joaquim: "A Lingiiistica Brasileira." Tend&cias atuais da lingiiistica e da Jilologia no Brasil org. por Anthony J. Naro, 1976, p. 45-66. Rio de Janeiro: Francisco Alves. Inclui Bibliografia. - TraduqBo de Maria CIndida D. Bordenave do original inglcs: Brazilian Linguistics. Current trends in the language science ed. por Thomas Sebeok, 1968. Ibero-American and Caribbean Linguistics vol. 4. Haia: Mouton, p. 229-247. The Hague: Mouton. Texto panorBmico, em que o autor discorre criticamente sobre a produqiio lingiiistica brasileira, principalmente entre as decadas de 1940 e 1960. Organizada nos sub-topicos: linguistica geral (49-50), lingiiistica descritiva portuguesa (5052), lingiiistica romlnica (53-54), estudo historic0 do portugu6s (54-56), dialetologia (56-58), filologia (58-60), estilistica (60), tecnica do verso (60-61), filologia classica (6 1-62) e lexicografia (62).
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119681 1980. Coseriu, Eugenio: "Panorama da Lingiiistica Ibero-Americana (1 940- 1965)" Tradi~cloe Novidade na Cidncia da Linguagem. Estudos de Histdria da Lingiiistica. Sfio Paulo: EDUSP, p. 277-368. - Traduqfio de Carlos Alberto da Fonseca e Mario Ferreira da versiio espanhola "Panorama de la Linguistica Iberoamericana". Madrid: Gredos, 1977, p. 264364. - Originais em ingl&s Current trends in the language science ed. por Thomas Sebeok, 1968. Ibero-American and Caribbean Linguistics vol. 4. Haia: Mouton, p. 5-62. - [I9681 1976. Versiio reduzida em portugu&sdos trechos em que trata especialmente da situaqiio no Brasil, em Naro 1976: 45-66. 0 autor traqa um panorama bastante abrangente da lingiiistica na America do Sul e, com menos Snfase, na America Central. De forma abrangente, silo discutidas as condiq6es historicas e culturais da implantaqiio e desenvolvimento da lingiiistica latino-americana no periodo; os centros de pesquisa e as universidades; a produgfio monografica e periodica; as principais orientaqdes teoricas e metodologicas; as areas de interesse; os projetos em andamento; os principais resultados e a repercussiio da produggo linguistica latino-americana. 1968. Rodrigues, Aryon DalllIgna: "Problemas relativos a descriqfio do portugu&scontemporlneo como lingua padrfio no Brasil." Actas do I Sirnpdsio Luso-Brasileiro sobre Lingua Portuguesa Contemporcinea. Coimbra, 1968: 4 1-55, seguido de Discussclo: 56-60. 0 autor diagnostica os problemas relativos ao estabelecimento do padrfio brasileiro e sugere um conjunto de medidas praticas que visem a sua descriqfio. [1969] 1972. Mattoso Clmara Jr., Joaquim: " 0 s estudos de PortuguEs no Brasil." Disperses de J. Mattoso Ccirnara Jr. Seleqfio e introduqfio de Carlos Eduardo Falcfio Uch6a. Rio de Janeiro: Fundaqfio Getulio Vargas, p. 197232 [Comunicaqfio feita a convite no VI Coloquio Intemacional Luso-Brasileiro, realizado em setembro de 1966, na Universidade de Harvard, Cambridge Massachussets, e na Universidade de Columbia, Nova Iorque, sucessivamente. Publicada em ingl&s, abreviada, em Portugal and Brazil in transition. Minneapolis: Raymond Sayers, 1968. Transcrito da revista Letras 17. 23-52. Parana, 1969, cf. n. do org.] Proposta de periodizaqfio dos estudos lingiiisticos no Brasil em duas fases: do final do seculo XIX ate aproximadamente 1940 e a segunda, de 1940 em diante. Mattoso discute como nos dois periodos foram tratados os problemas relativos a norma para a lingua literaria; a teoria gramatical; as pesquisas filologicas; aos estudos foneticos e a diferenciaqiio geografica e social da lingua popular.
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1971. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Perspectivas da Lingiiistica na America Latina e no Brasil." 0 Estado de S6o Paulo. Suplemento Literbrio. 2910817 1, p. 4. 1971. Castilho, Ataliba Teixeira de: "A Lingiiistica no Brasil 2." 0 Estado de S6o Paulo. Suplemento Literario. 510917 1, p. 5. 0 s textos buscam, no seu conjunto, um elenco abrangente dos principais pesquisadores, centros de pesquisa, instituig6es universitarias, sociedades cientificas, produgiio monografica e periodica do seculo XX, principalmente do Mexico, Bolivia, ColBmbia, Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru, Venezuela e Brasil. Alem de Coseriu 1968, e o unico levantamento abrangente sobre a produgiio lingiiistica latino-americana que consegui ate o momento localizar. 1972. Mattoso Clmara Jr., Joaquim: " 0 s Congressos Internacionais de Linguistas." Dispersos de J. Mattoso Chmara Jr. Seleggo e introdugiio de Carlos Eduardo Falciio UchBa. Rio de Janeiro: Fundagiio Getulio Vargas, p. 233248. [Palestra proferida na Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae, em Siio Paulo, inedito, sld, n. do org.]. Esta retrospectiva elenca os participantes e discute os principais temas apresentados nos Congressos Internacionais de Linguistas ate o inicio dos anos sessenta: desde o primeiro, realizado em Haia, em 1928, famoso por ter marcado a entrada no cenkio internacional dos linguistas do Circulo de Praga; ate o nono Congresso, em Cambridge, Massachussets, de que participou o autor, em 1962. 1972. Mattoso Clmara Jr., Joaquim: Dispersos de J. Mattoso Chmara Jr. Selegiio e introdugiio de Carlos Eduardo Falciio UchBa. 1 ed. Rio de Janeiro: Fundaqiio Getulio Vargas. XLV, 273 pp. Antologia de textos de Mattoso CImara dividida em seis partes: Mattoso Clmara e os estudos de lingiiistica geral (1-32); Mattoso Clmara e os estudos de lingua portuguesa (33-130); Mattoso Clmara e os estudos estilisticos (131150); Mattoso CImara e a historia da lingiiistica (151-248); Mattoso Clmara, a linguistica e a antropologia (249-273). 1972. Uchba, Carlos Eduardo Falciio: " 0 s estudos e a carreira de Joaquim Mattoso Clmara Jr." Dispersos de J. Mattoso Ccimara Jr. Selegiio e introdug20 de Carlos Eduardo Falciio UchBa. Rio de Janeiro: Fundagiio Getulio Vargas, p. VII-XLII. Informag6es sobre a vida e a obra de Mattoso, inclui bibliografia cronologica. [I9721 1976. Naro, Anthony Julius & John Reighard: "Bibliografia analitica de Joaquim Mattoso CPmara." Tendgncias atuais da linguistica e da jilologia no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p. 115-147.
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- TraduqBo de Maria Candida Diaz Bordenave e Marilda Winkler Averbug do original ingles Analytical bibliography of J.M CLimara Jr., publicada como apgndice a obra de Mattoso CBmara The Portuguese Language. Chicago: The University of Chicago Press, 1972. 0 s autores examinam 126 obras de Mattoso CPmara - entre textos, ensaios, livros, artigos e recensdes - que organizam em 'estudos gramaticais do Portugues' (1 19-127); 'estudos estilisticos do Portugds' (128- 131); 'estudos linguisticos das linguas indigenas do Brasil' (13 1- 133); 'obras de referencia e ensaios bibliograficos' (1 33- 136); 'comentarios e critical (136- 138); 'recensdes criticas' (139-141) e 'livros de texto' (141-145). 1972. Naro, Anthony Julius: "Translator's Preface." Mattoso CBmara Jr. 1972. The Portuguese Language. Chicago: The University of Chicago Press, p. VII-XIII. Depoimento sobre a carreira de Mattoso CBmara, principalmente durante as dCcadas de 40 e 50. 0 autor focaliza tambem aspectos da recepqgo dos contemporlneos de Mattoso as suas proposiqdes. 197211973a. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Pos-GraduaqBo e Planejamento da Pesquisa Linguistica." Proferido no I Seminario de P6s-GraduaqBo, promovido pela FFCL de Marilia, em 1971. ALFA 18/19. 497-5 15. SBo Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Aspectos institucionais da disciplina Lingiiistica no Brasil: universidades; agincias de foment0 a pesquisa; regulamentaqgo dos cursos de pos-graduaqgo; curriculos. 197211973b. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Rumos da Dialetologia Portuguesa." Proferido no I Seminhrio de Pos-Graduaqgo, promovido pela FFCL de Marilia, em 1971. ALFA 18/19. 115-153. S5o Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. Historico dos estudos sobre variaqBo lingiiistica, subdivididos pel0 autor em duas fases: de 1920 a 1953; de 1953 em diante. Apresenta o desenvolvimento da dialetologia romBnica; da dialetologia rural em Portugal e no Brasil; e da dialetologia urbana: o projeto NURC (Projeto Norma Urbana Culta). 197211973. Pais, Cidmar Teodoro: "A Pos-Graduaqgo em Linguistica na Universidade de SBo Paulo." Proferido no I Seminario de Pos-Graduaqgo promovido pela FFCL de Marilia em 1971, publicado sem revisgo do autor. ALFA 18/19. 447-482. Sgo Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Registro das principais areas de investigaqgo, curriculos e pesquisadores da Universidade de SZo Paulo, quando da regulamenta@io dos cursos de Pos-GraduaqBo (pelo Decreto Federal 67 350 de 06 de outubro de 1970).
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197211973. Rodrigues, Aryon DalllIgna: "A Pos-Graduaqiio em Lingiiistica no Museu Nacional." Proferido no I Seminario de Pos-Graduaqiio promovido pela FFCL de Marilia, em 1971, e publicado sem revido do autor. ALFA 18119. 461-475. Siio Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Registro das principais areas de investigaqiio, curriculos e pesquisadores do Museu Nacional, Rio de Janeiro, quando da regulamentaqiio dos cursos de PosGraduaqiio (pelo Decreto Federal 67 350 de 06 de outubro de 1970). 197211973. Salum, Isaac Nicolau: "Filologia Romlnica e Pos-Graduaqiio." Proferido no I Seminario de Pos-Graduaqiio, promovido pela FFCL de Marilia, em 1971. ALFA 18119. 483-487. Siio Paulo, Revista de Linguistica da UNESP. Reflexiio sobre o escopo da Lingiiistica Romlnica e da Filologia Romdnica no context0 institucional da Universidade de Siio Paulo. 1973. Callou, Dinah Maria Isensee & Maria Helena Duarte Marques: " 0 s estudos dialetologicos no Brasil e o projeto de estudo da norma lingiiistica culta." Littera 3 : 100-11 1. [Conferencia realizada para o Departamento de Cultura do Estado da Guanabara na Faculdade de Humanidades Pedro 11, em 30 de agosto de 1972, cf. n. do a.]. Pequeno historic0 dos estudos dialetologicos no Brasil desde a decada de 20, focalizando, principalmente, seu deslocamento de interesse do registro rural para o registro urbano. Inclui analise de um aspect0 fonetico da fala carioca: o [s] implosivo pos-vocalico. 1974. Gomes de Matos, Francisco: "A Lingiiistica: uma superciencia da linguagem?" Construtura 2.3. 176- 180. Revista de Lingiiistica, Lingua e Literatura. Universidade Catolica do Parana. Breve reflex50 sobre as relaq6es entre a lingiiistica 'pura' e a 'aplicada'. Inclui referEncia aos centros de estudo em lingiiistica aplicada no Brasil, atividades e pequena bibliografia. 1974. Magalhiies, Erasmo d'Almeida: "Quinze anos de Lingiiistica Indigena Brasileira. (Notas e Informaq6es)." Lingua e Literatura 3. 251-278. Revista da Universidade de Siio Paulo. Refersncias aos principais centros de estudos em lingiiistica indigena no Brasil. Bibliografia publicada entre 1954 e 1972, comentada. Inclui discuss50 sobre problemas relativos a classificaqiio e a descriqiio das linguas indigenas brasileiras. Enumera as linguas indigenas sob estudo no periodo. 1974. Rossi, Nelson. Prefacio. Rodrigues, Ada Natal: 1974. 0 dialeto caipira na regizo de Piracicaba. Siio Paulo: ~ t i c ap. , 11- 15.
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0 autor rev2 o impact0 do estruturalismo e do gerativismo na dialetologia rural tradicional. 1975. Magalhiies, Erasmo d1Almeida: "indice da Revista Brasileira de Filologia." Revista do Instituto de Estudos Brasileiros 16. 99- 123. Universidade de Siio Paulo. indice dos seis volumes da Revista Brasileira de Filologia (1955-195911960), fundada pel0 professor Serafim da Silva Neto, por assunto e por autor. 1975. Magalhiies, Erasmo d'Almeida: "Bibliografia de Lingiiistica Indigena Brasileira (1954-1974)." Lingua e Literatura 4.149-1 84. Revista da Universidade de Siio Paulo. Bibliografia exaustiva (478 titulos) sobre linguistica indigena brasileira, niio comentada. 1976. Naro, Anthony Julius (org.): Tend6ncias atuais da linguistica e da Jilologia no Brasil. [Trad. de Maria Candida Diaz Bordenave e Marilda Winkler Averbug dos originais em ingl&s].Rio de Janeiro: Francisco Alves, 148 pp. Inclui Bibliografia. Pequena antologia de textos sobre a produqiio linguistica brasileira. Reune, traduzidos, os artigos originalmente publicados em 1968, na serie Current trends in linguistics, vo1.4: Eugenio Coseriu, "Perspectivas Gerais", (somente a parte brasileira, 11-44); Mattoso CHmara, "A Lingiiistica Brasileira" (45-66); texto do proprio organizador, "Tendencias atuais da lingiiistica e da filologia no Brasil" (67-1 14) e trabalho posterior, realizado conjuntamente com John Reighard, "Bibliografia analitica de Joaquim Mattoso Ciimara" (1 15-147). - v. Mattoso Cdmara [I9681 1976 - v. Coseriu [I9681 1976 - v. Naro & Reighard [I9721 1976 1977. Magalhiies, Erasmo d'Almeida: "0Jornal de Filologia." Lingua e Literatura 6. 369-392. Revista da Universidade de Siio Paulo. indices organizados por assunto e por autor dos 13 numeros (1953 I. 1-1960161 V.112) do Jornal de Filologia. Publicaqiio da Universidade de SZo Paulo dirigida pel0 professor Silveira Bueno. 1978. "Breve Historico do GEL." Estudos Linguisticos. Anais de Seminarios do GEL I . 6-22. Universidade de Mogi das Cruzes. Pequeno historic0 da fundaqiio do GEL - Grupo de Estudos Linguisticos do Estado de Sa"o Paulo - e resumo das atividades realizadas do primeiro (Araraquara, 1969) ao XVIII Seminario (Batatais, 1977).
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- v. tambem Castilho 1984b e 1989 - v. Magalh2es 1991 - v. Magalh2es 1993 1978. Mattoso C h a r a Jr., Joaquim: Dicioncirio de Lingiiistica e Gramdtica. 8" ed. Petropolis: Vozes. Inclui posfacio de Francisco Gomes de Matos. 267 pp. [la ed. 1956. Dicioncirio de fatos gramaticais. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa; 2" rev. 1964.Dicioncirio dejilologia e gramdtica refeente 6 linguaportuguesa.Rio de Janeiro: Ozon Editor; 3" rev. 19681. Contem "Sinopse dos Estudos Lingiiisticos no Brasil" de Hamilton Elia (7-10); bibliografia de Mattoso Clmara (1 1-23); verbetes e referencias bibliograficas acrescentadas por Gomes de Matos, a partir da 7" edig2o (253-266). 1978. Pinto, Edith Pimentel (sel./apres.): 0 Portugub do Brasil: textos criticos e tedricos, 1: 1820/1920, fontes para a teoria e a histdria. Rio de Janeiro: Livros Tecnicos e Cientificos/S20 Paulo: Edusp. Antologia de textos sobre a quest20 da chamada lingua brasileira. 1980. Dietrich, Wolf: BibliograJia da Lingua Portuguesa do Brasil. Tubingen: Narr. 292 pp. Bibliografia analitica e critica sobre 1465 trabalhos que trataram da variante do portugues brasileiro. Cobre principalmente as primeiras decadas do seculo XX. Inclui indice onomastico de autores. 1981a. Castilho, Ataliba Teixeira de: A Lingiiistica Portuguesa no Brasil nos anos 70. Texto apresentado no VI Congress0 International da Associaggo de Lingiiistica e Filologia da America Latina. Phoenix, Arizona, 14 de setembro de 1981. 40 pp. Balan~ocritico do autor sobre a produ~2olingiiistica brasileira na decada de 70, principalmente do ponto de vista das orientagdes teoricas e metodologicas. Inclui informe sobre as associa$des cientificas, produg20 periodica, monografica e teses. 1981b. Castilho, Ataliba Teixeira de: " 0 projeto NURC e a sintaxe do verbo. Antbnio Clndido et al. 198 1." Estudos de Jilologia e lingiiistica: em homenagem a Isaac Nicolau Salum. S2o Paulo: T.A. QueirozlEdusp, p. 269188. 1981c. Castilho, Ataliba Teixeira de: In memoriam Professor Theodoro Henrique Maurer Jr. (1906-1979). Cadernos de Estudos Lingiiisticos 2. 5-7. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Pequena bio-bibliografia de Maurer Jr.
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198 1. Magalhiies, Erasmo d'Almeida: "As atividades do Summer Institute of' Linguistics no Brasil." Biblos 57. 753-772. Coimbra. Historico sobre as principais atividades do SIL no pais, iniciadas em 1956: educaqiio bilingiie, cursos ministrados e linguas em estudos. Inclui comentarios sobre gramaticas, vocabulkios e dicionarios, manuais e textos produzidos. 1981. Preti, Dino: Subsidios para a historia do projeto NURC em Siio Paulo. Antbnio Clndido et al. 1981. Estudos de filologia e lingiiistica: em homenagem a Isaac Nicolau Salum. Siio Paulo: T.A. QueirozIEdusp. Fundaqiio do projeto e historic0 do seu desenvolvimento em Siio Paulo. 198 1. Pinto, Edith Pimentel (sellapres.): 0 Portuguds do Brasil: textos criticos e tedricos, 2: 1920/1945: fontes para a teoria e a histdria. Rio de Janeiro: Livros Tecnicos e CientificosISiio Paulo: Edusp. Antologia de textos sobre a quest20 da chamada lingua brasileira. 1982. Gomes de Matos, Francisco: "Pos-Graduaqiio em Linguistica no Brasil. Orientaq6es curriculares e output (dissertaqdes)". ABRALIN 3. 8 1-87. Boletim da Associaqiio Brasileira de Linguistica. A partir dos dados do Catalogo de Cursos - Pos-Graduaqiio, editado em 1978 pela CAPES (Coordenaqiio de Aperfeiqoamento de Pessoal de Nivel Superior), o autor compara os curriculos de 14 cursos de pos-graduaqiio em Linguistica, de universidades brasileiras, a nivel de mestrado, e faz uma analise preliminar dos temas das dissertaqdes neles produzidas. 1983. Silva, Marcio (org.): Lingiiistica Indigena e Responsabilidade Social. [Coletlnea dos trabalhos apresentados por ocasiiio da XI11 Reuniiio Brasileira de Antropologia, Siio Paulo, 4-7 de abril de 19821. Cadernos de Estudos Lingiiisticos 4. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). A primeira parte reune textos relativos as atividades de pesquisa em lingiiistica indigena, v. especialmente texto de Bruna Franchetto e Yonne Leite, 'A concepqiio dos Linguistas' (15-30), que discute a formaqiio dos lingiiistas brasileiros nesta especialidade. A segunda parte reune textos que versam sobre a questiio da educaqiio para os povos de lingua indigena. 1984a. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Discurso pronunciado por Ataliba T. de Castilho, por ocasiiio do V Instituto Interamericano de Lingiiistica e do VII Instituto Brasileiro de Linguistica," em Campinas, de 03 de janeiro a 15 de fevereiro de 1980. Cadernos de Estudos Lingiiisticos 6. 16-17. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Refergncias ao programa que instituiu o PILE1 (Programa Interamericano de Linguistica e Ensino de Idiomas), em 1963, em Cartagena de Indias, Colbmbia.
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1984b. Castilho, Ataliba Teixeira de: "Quinze anos do grupo de estudos linguisticos do Estado de Siio Paulo." Estudos Lingiiisticos. Anais de Seminarios do GEL IX. 10-20. Batatais: Faculdade de Filosofia, CiEncias e Letras Jose Olympio. Historico da fundagiio do GEL em 1969; elenco e comentarios sobre o temario dos 26 seminarios entiio realizados (do I Seminario Araraquara 1969 ao XXVI Seminario Piracicaba 1983). - v. Castilho 1978 e 1989 - v. Magalhaes 1991 - v. Magalhiies 1993 1984. de Aragiio, Maria do Socorro Silva: "Atlas Lingiiistico da Paraiba." Cadernos de Estudos Lingiiisticos 6. 235-239. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Historico do projeto e estado atual dos trabalhos de coleta de dados e de descri~iiodo Atlas. 1984. Gomes de Matos, Francisco: "Perspectivas europeias e interamericanas da Linguistica Aplicada 1." Produtividade da Lingiiistica Aplicada nas AmCricas. Levantamento preliminar. Cadernos de Estudos Lingiiisticos 6. 131-138. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Elenco das atividades promovidas e das principais publicagaes em linguistics aplicada na Argentina, Brasil, Chile, Canada, Estados Unidos, Peru, MCxico, Uruguai e Venezuela. Referencias da decada de 70. 1984. "Noticiario: Quinze anos da ABRALIN." ABRALIN 6. 2 14-225. Boletim da Associagiio Brasileira de Linguistica. 0 noticiario publica a ata redigida por ocasiiio da primeira reuniiio para o estudo da ABRALIN (Associaqc?~Brasileira de Lingiiistica), presidida por Mattoso C2mara, realizada no Recife, a 24 de julho de 1968, durante o IV Seminario Brasileiro de Orientagiio Linguistica para Professores. 1984. Orlandi, Eni: "Depoimento sobre o inicio da Pos-Graduagiio em Linguistica, da USP." ABRALIN 6. 21 1-213. Boletim da Associagiio Brasileira de Linguistica. Depoimento pessoal sobre a criaqiio do Curso de Pos-Graduagiio em Linguistica Geral na USP. 1984. Passos, Claiz: "Reflexaes sobre a profiss5o do lingiiista." ABRALIN 6. 1726. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. Proposta de normas gerais de conduta que regulem o trabalho do lingiiista.
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1984. Rodrigues, Aryon Dall'Igna: "A obra cientifica de Mattoso Clmara Jr." Cadernos de Estudos Lingiiisticos 6. 83-94. Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Depoimento sobre aspectos da carreira acadCmica e de parte da obra de Mattoso Clmara relativa a anilise do portuguCs e das linguas indigenas. Contem bibliografia. 1985. Cunha, Celso Ferreira da: "0Projeto NURC e a quest20 da norma culta brasileira." Actas do Congresso sobre a situap7o actual da Lingua Portuguesa no Mundo. Lisboa, 1983. Lisboa: Instituto de Cultura e Lingua Portuguesa, p. 140-166, seguido de Debate, p. 167- 173. Historic0 do projeto NURC. Discuss20 sobre a quest20 da variaq2o lingiiistica e do padr2o brasileiro. 1985. Leite, Yonne de Freitas: "Situag2o actual e perspectivas da lingua portuguesa no Brasil." Actas do Congresso sobre a SituagCo actual da Lingua Portuguesa no Mundo. Lisboa, 1983. Lisboa: Instituto de Cultura e Lingua Portuguesa, p. 174-188, seguido de Debate, p. 189- 195. 0 texto compara resultados de trabalhos em fonologia do portugu&s, especialmente os que versaram sobre a variedade carioca. 1985. Rodrigues, Aryon Dall'Igna: "The present state of the study of Brazilian Indian Languages." Harriet E. Manelis Klein e Louisa R. Stark. South American Indian Languages. Retrospect and Prospect. Austin: University of Texas Press, p. 405-439. 0 texto apresenta um rapido exame da pesquisa sobre lingiiistica indigena brasileira. Elenco dos pesquisadores brasileiros e estrangeiros; relag20 das linguas estudadas no Brasil e no exterior; inclui vasta bibliografia atualizada. 1986. Basilio, Margarida: "A presenga de Mattoso Clmara na Linguistica Brasileira: estudos descritivos em morfologia." ABRALIN 7. 25-28. Boletim da Associagiio Brasileira de Linguistica. Homenagem subjetiva a pessoa e ao trabalho de Mattoso Clmara. N2o ha dados ou analise sobre sua Morfologia, como o titulo pode sugerir. 1986. Bisol, Leda: "A Lingiiistica contemporlnea e o conhecimento da lingua portuguesa." CiBncia e Cultura 38.12. 2035-2047. Revista da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciencia). A partir do exame de cinco volumes do Banco de Teses organizados pela CAPES (1976, 1977, 1978, 1989 e 1982) a autora examina a produg20 acadCmica sobre a lingua portuguesa de 1972, quando foram regulamentados os cursos de pos-graduaqiio no pais, ate 1980.
1986. Castilho, Ataliba Teixeira de. Apresentaqiio. Castilho, Ataliba Teixeira de e Dino Preti (orgs.): A linguagem falada culta nu cidade de Siio Paulo. Materiais para seu estudo. Vol. I Elocugdes formais. Siio Paulo: T.A. Queiroz, p. 1- 14. 0 texto discorre sobre a concepqiio que motivou a criaqiio do projeto NURC (Projeto Norma Urbana Culta), principais caracteristicas, e atuaqiio em S5o Paulo. - v. Preti 1987 - v. Cardoso 1990 1986. Hoyos-Andrade, Rafael: "Breve Historico do GEL 11." Estudos Linguisticos Anais de Semindrios do GEL XII. 7-17. Lins: FFCL Auxilium. Historico do XIX Seminario (Mogi das Cruzes 1978) ao XXIX Seminario (Bauru 1985). 1986. Leite, Yonne de Freitas: "0pensamento fonologico de J. Mattoso Clmara Jr." ABRALIN 7. 17-24. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. Revisgo dos estudos fonologicos de Mattoso sob a perspectiva das proposiqties gerativistas. 1986. Mercer, Jose Luiz: "Dialetologia e sociolinguistics: o caso brasileiro." ABRALIN 8. 119-123. Boletim da AssociaqHo Brasileira de Lingiiistica. 0 autor discute criticamente as tarefas da Dialetologia brasileira face as propostas da 'moderna' Sociolingiiistica. 1986. Rodrigues, Aryon Dall'Igna: "0pioneirismo linguistic0 de Mansur Guerios." ABRALIN 8. 125-129. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. Rodrigues, ex-aluno do hornenageado, comenta sobre a vida e a obra de Rosario Farani Mansur Guerios (1907-1 987). 1986. Salum, Isaac Nicolau: "A obra linguistics do Prof. Dr. Rosario Farani Mansur Guerios." ABRALIN 8. 131-143. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. Bio-bibliografia de Rosario Farani Mansur Guerios (1907-1987). Contem lista exaustiva de suas publicaqties. 1986. UchBa, Carlos Eduardo Falcgo: "Mattoso Clmara e os estudos lingiiisticos no Brasil." ABRALIN 7. 9-15. Boletim da AssociaqTio Brasileira de Lingiiistica. 0 autor discute aspectos da obra de Mattoso no context0 dos estudos linguisticos brasileiros, principalmente das decadas de 40, 50 e 60.
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Castilho 1978, 1984 e 1989
- v. Magalhiies 1991 - v. Magalhiies 1993
198611987. Fiorin, JosC Luiz: "Curso de Letras: um balanqo no 10" aniversario da UNESP." ALFA 3013 1. 1-10. Siio Paulo, Revista de Lingiiistica da UNESP. Avaliaqiio da politica desenvolvida pelos cursos de Letras das Universidades Estaduais Paulistas (UNESP) face as mudangas socio-econ8micas dos anos setenta e ao context0 educacional mais amplo do pais. 1987. Preti, Dino. Apresentaqiio. Castilho, Ataliba Teixeira de e Dino Preti (orgs.): A linguagemfalada culta nu cidade de Sfio Paulo. Materiais para seu estudo vol. 11. Dialogos entre dois informantes. Siio Paulo: T.A. Queiroz, p. 1- 18. AlCm de consideraqdes de carater sociolingiiistico sobre a(s) variante(s) brasileira(s) do portuguEs, o autor descreve as adaptaqdes e transformaqdes por que passou o Projeto NURCISiio Paulo. - v. Castilho 1986 - v. Cardoso 1990 1988. "Breve Histbico do GEL 111." Estudos Lingiiisticos Anais de Semincirios do GEL XVI. 9-13. TaubatC: Unitau. Historic0 do XXXI Seminario (Lins 1986) ao XXXIV Seminario (Santos 1988). - v. tambem Castilho 1978, 1984 e 1989 - v. Magalhiies 1991 - v. Magalhiies 1993 1988. Magalhiies, Erasmo d'Almeida e Maria Resende San-Martin: sld. "Selegiio bibliografica e comenthrios sobre o portuguCs falado no Brasil." III Encontro de Professores de Lingua Portuguesa. Grupo de Pesquisa em Lingua e Lingiiistica, p. 43-105. Universidade de Taubate. Bibliografia comentada sobre trabalhos monograficos mais recentes que trataram do portuguCs brasileiro elou suas variaqdes. (Foram excluidos glossarios e dicionarios de regionalismos). 1988. Magalhiies, Erasmo d'Almeida: sld. "Notas aos estudos sobre o portugues falado no Brasil." [Ref. e corrigido do original. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros 4. 53-63. Siio Paulo: Universidade de Siio Paulo, 19681 111 Encontro de Professores de Lingua Portuguesa. Grupo de Pesquisa em Lingua e Lingiiistica, p. 5-42. Universidade de Taubate.
Texto critic0 sobre a produqiio dialetologica brasileira. Contern indicaq6es bibliograficas e informaq6es sobre as atividades em dialetologia em varias instituiqdes do pais. 1988. Baranow, Ulf Gregor: Brazil. In Arnmon, V. et al. (orgs.). Sociolinguistics. An international handbook of the science of language and society vol. 11. Berlin: Mouton/De Gruyter, p. 1263-1274. 0 autor comenta os trabalhos mais recentes sobre a modalidade oral do portuguCs; sobre os estudos das linguas minoritariamente faladas no pais (indigenas e africanas); sobre as linguas das populaqaes imigrantes e situaqaes de contato e fronteira lingiiistica. 1988. Magro, Maria Cristina: "0Ensino de Lingiiistica nos cursos de graduaqiio em Letras." ABRALIN 9. 46-49. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. 0 rapido diagnostic0 pretendido pela autora a partir da sua experiencia nos cursos de Graduaqiio da Universidade Federal de Minas Gerais, acaba por informar a posiqiio que neles ocupa a disciplina Lingiiistica, 25 anos depois de tornada materia obrigatoria dos curriculos de Letras. 1988. Mattos e Silva, Rosa Virginia: "Fluxo e refluxo: uma retrospectiva da Lingiiistica Historica no Brasil." DELTA 4.1. 85- 113. Revista de Documentaqiio em Lingiiistica Teorica e Aplicada. Siio Paulo: Pontificia Universidade Catolica/ABRALIN. 0 texto revi? criticamente os estudos sobre a historia da lingua no Brasil da decada de 30 a decada de 80. 1988. Monserrat, Ruth Maria Fonini: "Politics do idioma: as linguas indigenas." ABRALIN 9. 50-56. Boletim da Associa~iioBrasileira de Lingiiistica 1988. Rodrigues, Aryon (DalllIgna): "A Lingiiistica na Universidade de Brasilia antes de 1964." ABRALIN 9. 57-61. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. Depoimento pessoal sobre o primeiro curso de pos-graduaqiio em Lingiiistica organizado no pais. - v. tamb6m Pontes 1990 1988. Scliar-Cabral, Leonor: Retrospecto. Cadernos de Estudos Lingiiisticos 14. 1-1 1. IEL, Universidade de Campinas: IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). 0 depoimento pessoal da experi6ncia da autora como estudante de pos-grad u a q b e depois, como pesquisadora da area, traz informa#ies sobre o context0 academic0 brasileiro das decadas de 60 e 70.
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1988. Tarallo, Fernando: "0 Ensino de Lingiiistica a nivel de Pos-Graduaqiio ou de como Jose da Silva, o incrivel milagreiro, niio caiu e nem cai facilmente do cavalo." ABRALIN 9. 34-42. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica. A critica pessoal do autor a orientaqiio dos cursos de pos-graduaqiio em Lingiiistica, regulamentados no pais em 1970, traz informes sobre as expectativas e frustraqdes da comunidade academica em relaqiio aos resultados neles e por eles obtidos. 1989. Castilho, Ataliba Teixeira de: "0 Papel do Grupo de Estudos Lingiiisticos do Estado de Siio Paulo: de 1969 a 1971." Estudos Lingiiisticos Anais de Semindrios do GEL XVIII. 14-20. Lorena: Prefeitura Municipal de Lorena. 0 autor rev& o impacto do GEL no desenvolvimento da pesquisa lingiiistica no Estado de Siio Paulo. - v. Castilho 1978 e 1984 - v. Magalhiies 1991 - v. Magalhiies 1993 1989. Marcuschi, Luiz Antbnio: Lingiiistica. Avaliapi70 e Perspectivas. Relatorio encomendado p e l ~ CNPq. Versiio preliminar. 52 pp. Descriqiio abrangente da disciplina Lingiiistica no context0 dos cursos de Letras no pais. Descreve as principais linhas de pesquisa academica; os programas de Mestrado e Doutorado; contCm dados estatisticos sobre o corpo docente e discente; sobre as areas de concentraqgo e linhas de pesquisa mais fieqiientes; sobre a produqiio acadtmico-cientifica, dissertaqdes, teses e publicaqdes; movimento editorial, agtncias de foment0 a pesquisa e intercgmbio nacional e international. 1989. Scliar-Cabral, Leonor: "Pesquisas sobre aquisiqgo da linguagem no Brasil nos ~ l t i m o squinze anos." Anais do I Encontro Nacional sobre Aquisiq60 da Linguagem. CEAAL (Centro de Estudos sobre Aquisiqiio e Aprendizagem da Linguagem. Universidade Catolica do Rio Grande do Sul), 10- 13 de outubro de 1989, p. 13-44. A reflex20 da autora cobre o periodo de 1974-1978 - que denomina periodo 'prC-lingiiistico' - e 1978-1989 - que denomina 'para-lingiiistico' - em que procura descrever os principais interesses dos pesquisadores do campo no Brasil. Contem refersncias principalmente a dissertaq6es de mestrado e doutorado elaboradas nas universidades brasileiras: Siio Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia. 1990. Callou, Dinah Maria Insensee e Yonne de Freitas Leite: "0 estado atual das pesquisas em Fonetica e Fonologia no Brasil." Iniciap7o a Fonktica e a Fonologia. Rio de Janeiro: Zahar, p. 99-1 13.
Pequeno historic0 da pesquisa em fonitica e em fonologia no Brasil. 1990. Cardoso, Suzana Alice Marcelino: 1990. "Perspectivas do projeto, hoje." ABRALIN 10. 67-7 1. Boletim da AssociaqBo Brasileira de Lingiiistica. Revis20 das propostas iniciais do projeto NURC e balanqo das ultimas atividades. - v. Castilho 1986 - v. Preti 1987 1990. Castilho, Ataliba Teixeira de: "ApresentaqBo do Projeto da Gramatica do Portugues Falado." Gramatica do PortuguZs Falado. Vol. I. A Ordem org. por Ataliba T. de Castilho. Campinas: UnicamplFapesp, p. 7-27. AvaliaqBo critica dos estudos descritivos do portugu&s do Brasil. Contern extensa indicaqiio bibliografica dos trabalhos mais recentes em teoria gramatical. 1990. Mattos e Silva, Rosa Virginia: "Lingiiistica HistQica: o estado da quest20 e reflexos sobre estudos historicos do portugues." Testo apresentado no IX Congresso Internacional da ALFAL (AssociaqBo de Lingiiistica e Filologia da America Latina). Campinas, 6- 10 de agosto de 1990, 18 pp. VisBo retrospectiva das diferentes abordagens em Lingiiistica Historica, inclusive no Brasil. - v. Mattos e Silva 1988 1990. Pontes, Eunice de Souza Lima: "A Lingiiistica na UnB pre-1964". ABRALIN 10. 159- 163. Boletim da Associaq20 Brasileira de Lingiiistica. Depoimento pessoal sobre a experiencia do primeiro curso de pos-graduaqiio em lingiiistica na Universidade de Brasilia entre 1962 e 1964. - v. tambem Rodrigues 1988 1990. Rodrigues, Aryon DalllIgna (coord.): "Programa de pesquisa cientifica das linguas indigenas brasileiras." CNPq-FINEP, julho, 1987. ABRALIN 10. 187-199. Boletim da Associaq20 Brasileira de Lingiiistica. DescriqBo do projeto de descriqgo das linguas indigenas brasileiras a ser efetuado por lingiiistas brasileiros, nBo missionaries. 1990. Seki, Lucy (org.): "Estudos em Linguas Indigenas. Homenagem a Aryon DalllIgna Rodrigues." Cadernos de Estudos Linguisticos 18. Universidade de Campinas, IELIInstituto de Estudos da Linguagem. Ver especialmente pp. 5-14 que contern elementos biograficos e bibliografia exaustiva do homenageado. 1990. Soares, Marilia Faco: "Posiqdes na pesquisa lingiiistica em area indigena." ABRALIN 10. 165-173. Boletim da AssociaqBo Brasileira de Lingiiistica.
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Texto critico sobre as diversas orientaqbes do estudo em lingiiistica indigena no pais. 1991. Baranow, Ulf Gregor: "Selected bibliography on Brazilian sociolinguistics and dialectology." International Journals in the Socioloay of Language 89. 125-147. Extensa bibliografia, niio comentada, de trabalhos sobre variaqiio lingiiistica. Inclui artigos em periodicos, trabalhos monograficos publicados, dissertaqbes e teses ineditas principalmente da decada de oitenta. 1991. Brandiio, Silvia Figueiredo: A Geografia Lingiiistica no Brasil. Siio Paulo, ~ t i c a . Revd a historia dos estudos dialetologicos no Brasil, especialmente no capitulo "A dialetologia no Brasil" (42-52). Inclui vocabulario critico (78-83) e bibliografia comentada (84-88). 1991. Castilho, Ataliba Teixeira de: "0Linguists Theodoro Henrique Maurer Jr." ABRALIN 10. 53-63. Boletim da Associaqiio Brasileira de Lingiiistica Bio-bibliografia critica do homenageado. 1991. Gomes de Matos, Francisco & Stella Maris Bortoni: "Introduction." International Journals in the Sociology of Language 89. 5-8 Sociolinguistics in Brazil. 1991. Gomes de Matos, Francisco: "22 anos de sociolingiiistica no Brasil: 19691991." Vozes 85.2. 243-248. [Publicagiio traduzida e atualizada de: Gomes de Matos. 1990. 20 years of sociolinguistics in Brazil: 1969-1989. Sociolinguistics Newsletter 3. 27-3 I]. Retrospectivas da sociolingiiistica no context0 acadimico brasileiro desde 1969. gnfase nos aspectos institucionais da disciplina. 1991. Magalhiies, Erasmo d'Almeida, Beth Brait e Jose Luiz Fiorin: indice de autores. Volumes I a XY Anais de Seminhrios do GEL. Siio Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciincias e Letras Humanas da Universidade de Siio Paulo. Contem elenco dos Anais publicados de 1978 (vol. I) a 1991 (vol. XX). 0 indice dos vol. I a XIV foi elaborado por Magalhiies. 0 indice dos volumes restantes foi organizado pelos outros dois autores. - v. Magalhiies 1993 1991. Mattos e Silva, Rosa Virginia: Nos territories da lingua. (Lingiiistica Historica e Filologia hoje: redefinindo fronteiras). InCdito. (xerog.).
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Texto critic0 em que a autora prop6e a Lingiiistica Historica como o ponto de convergtncia entre as tradiq6es da Filologia e da Lingiiistica. - v. Mattos e Silva 1988 e 1990 1991. Rodrigues, Aryon DalllIgna (coord.): "Programa de pesquisa cientifica das linguas indigenas brasileiras." CNPq-FINEP, julho, 1987. ABRALIN 12. 20 1-2 12. Boletim da Associaqgo Brasileira de Lingiiistica. - v. Rodrigues 1990. 1991. Silva, Giselle Machline de Oliveira e & Sebastigo JosuC Votre: "Estudos sociolingiiisticos no Rio de Janeiro." DELTA 7.1. 357-376. Revista de Documentaqzo em Lingiiistica Teorica e Aplicada. SBo Paulo: Pontificia Universidade Catolica/ABRALIN. Retrospectiva das atividades do grupo de estudos sobre variaqiio lingiiistica, criado em 1979, em destaque os resultados obtidos pel0 Projeto CENSO (corpora do portuguts oral do Rio de Janeiro). 1991. Tarallo, Fernando: "Major sociolinguistic patterns in Brazilian Portuguese." International Journals in the Sociology of Language 89. 9-24. Retrospectiva da produqBo em sociolingiiistica brasileira no topico 'variaqiio lingiiistica'. 0 autor examina desde os primeiros estudos sobre a variaqBo fonologica ate os desenvolvimentos mais recentes, sobre a variaqgo sintatica. 1991. Tarallo, Fernando: "Estudos sociolingiiisticos no Brasil: seus rarnos e seus rumos." InCdito (xerog.). 0 autor apresenta as principais tend&ncias contemporgneas no estudo da varia@, e da mudanqa lingiiistica no Brasil, principalmente no que diz respeito as diferentes posturas teoricas no campo. 1992. Celani, Maria Antonieta Alba: "Afinal, o que C lingiiistica aplicada?" Lingiiistica Aplicada - da aplicaqZo da lingiiistica a lingiiistica transdisciplinar org. por Mara Sofia Zanotto Paschoal & Maria Antonieta Alba Celani. SBo Paulo: Educ, p. 15-23. Historico do desenvolvimento da area da Lingiiistica Aplicada no pais, com tnfase na atuaqzo da Pontificia Universidade Catolica de Sgo Paulo. 1992. Gomes de Matos, Francisco: "Lingiiistica Aplicada no Brasil: o papel da PUC-SP." Vozes 2.239-243. Historic0 do LAEL - Programa de Lingiiistica Aplicada e Ensino de Linguas da Universidade Catolica de S2o Paulo. 1992. Gomes de Matos, Francisco: "Lingiiistica no Brasil: o papel da UFPE." Investigaqdes 2: 167-175.
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Maria Cristina Altman
Crdnica dos eventos e das publicaq8es promovidos pela Universidade Federal de Pernambuco, desde a decada de 60. 1992. Kleiman, Angela Bustos: " 0 ensino de linguas no Brasil." Lingiiistica Aplicada - da aplicaqiio da lingiiistica c i lingiiistica transdisciplinar org. por Mara Sofia Zanotto Paschoal & Maria Antonieta Alba Celani. Siio Paulo: Educ, p. 25-36. Historico do desenvolvimento da area da Lingiiistica Aplicada no pais, com snfase nos processos que resultaram na autonomia teorica e metodologica e institucional da area. 1992. Marcuschi, Luiz Antdnio (org.) e Kazue S.M. de Barros (colab.): Quem 6 quem nu pesquisa em Letras e Lingiiistica no Brasil. Recife: ANPOLL Associaqiio Nacional de Pos-Graduaqiio e Pesquisa em Letras e Lingiiistica. Elenco de todos os pesquisadores das grandes areas de Letras e de Lingiiistica do pais. Contem dados pessoais, titulaqgo, linha de pesquisa principal e projetos em andamento. 1993. Rodrigues, Aryon DallqIgna:"Linguas Indigenas: 500 anos de descobertas e perdas." DELTA 9.1. 83-103. Revista de Documentaqiio em Lingiiistica Teorica e Aplicada. SBo Paulo: Pontificia Universidade Catolica de Siio PauloIABRALIN. Historia 'external das linguas indigenas do Brasil do seculo XVI ao seculo XX. Contem referzncias e comentarios sobre trabalhos sobre as linguas indigenas dos seculos XVI, XVII e XVIII. 1994. Altman, Maria Cristina: "Trinta anos de lingiiistica brasileira. Movimentos de afirma~iioe auto-afirmaqiio profissional." DELTA 10.2. 389-408. Revista de DocumentaqBo em Lingiiistica Teorica e Aplicada. Siio Paulo: Pontificia Universidade Catolica de SBo Paul01 ABRALIN. 0 texto esboqa os principais centros de interesse a partir dos quais se desenvolveu a disciplina Lingiiistica no Brasil (1968-1998), do ponto de vista dos diferentes grupos de especialidade que aqui se formaram, desde a decada de sessenta. 1994. Rodrigues, Aryon DalllIgna: "A Lingiiistica Historica das Linguas Indigenas Brasileiras". Texto apresentado no I Congresso Internacional da ABRALIN, Salvador. Versiio preliminar, com indicaq8es bibliograficas comentadas. 12 pp. Historico dos estudos comparativos classificatorios das linguas indigenas da America do Sul desde o final do sCculo XVIII ate o seculo XX feitos na Europa, America do Norte e America do Sul. Informa$bes tanto sobre trabalhos monograficos, periodicos e teses acadsmicas.
Maria do Socorro Silva de Aragiio Universidade Federal da Paraiba
A SITUACAO DA GEOGRAFIA LINGU~STICANO BRASIL 1. Antecedentes 0 s estudos dialetol6gicos em sentido amplo, e a geografia linguistica em particular, niio t&mainda tradigiio muito firmada no Brasil. Apesar do esforgo de um grupo de pioneiros como os professores Serafim da Silva Neto, Antenor Nascentes e Chdido Juca Filho inicialmente e, posteriormente, dos professores Silvio Elia, Celso Ferreira da Cunha, Nelson Rossi e Heinrich Bunse, poucos siio os cursos de Dialetologia e Geografia Linguistica em nossas universidades e menos ainda os Atlas Lingiiisticos existentes ou em elaboragiio.
0 professor Serafim da Silva Neto, um desses pioneiros, iniciou seus cursos de Dialectologia em 1951, na Universidade de Minas Gerais. Em 1953, fundou, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, o Centro de Estudos de Dialetologia Brasileira e em 1954, ministrou curso de Dialetologia na Universidade do Rio Grande do Sul. Ainda em 1954, no 2' Colloquium de Estudos Luso-Brasileiros, em Siio Paulo, prop8s uma serie de passos a serem dados para a concretizagiio do estudo dos nossos falares. Em 1955, ministrou na Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro um curso sobre a tCcnica das monografias dialetais. Em 1958, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz6nia publicou a 2" edigiio melhorada e ampliada de sua obra "Guia para Estudos Dialectol6gicos", resultad0 de uma sirie de cursos e conferCncias proferidas na Faculdade Catarinense de Filosofia. Como resultado desses cursos e da pregaglo do prof. Silva Neto o Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa, atraves de sua Comissiio de Filologia, prop6s como um de seus objetivos a elaboraqiio do Atlas Linguistic0 do Brasil. Para a consecugiio desse objetivo, e a convite da Casa de Rui Barbosa, esteve no Rio, em 1954, o professor Sever Pop que ministrou um curso, a partir do qua1 se esperava que surgissem pessoas interessadas em desenvolver pesquisas dialetol6gicas, o que n5o ocorreu. 0 professor Antenor Nascentes, outro dos precursores da Geografia Linguistica no Brasil, publicou as "Bases para Elaboragiio do Atlas Lingiiistico do Brasil", em duas partes. A primeira, em 1958, dedicada ao questionario geral e sugestiio de pontos para o inquerito e a segunda, em 1961, com o questionario especifico e vocabulario piloto.
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Maria do Socorro Silva de AragZo
Em 1957, os professores Serafim da Silva Neto e Celso Ferreira da Cunha, no I11 Coloquio Intemacional de Estudos Luso-Brasileiros, em Lisboa, apresentaram a ideia de um Atlas Linguistico-EtnogrBfico do Brasil, por regiBes, tarefa que niio pode ate hoje ser realizada face As dificuldades inerentes a esse tipo de pesquisa, A dimensiio continental do Brasil e a falta de uma coordenaqiio nacional com o objetivo de uniformizar os objetivos, os mCtodos e o questionhio para a realizaqiio de tiio importante e necessario trabalho.
2 . 0 s problemas existentes Numa primeira analise da problematica da Dialetologia e da Geografia Lingiiistica no Brasil e possivel listar uma sirie de fatores que tern entravado ou desestimulado os estudos dos nossos falares regionais e seu registro em atlas linguisticos. Entre eles, destacam-se: 2.1
poucos cursos de Dialetologia e Geografia Lingiiistica nas universidades;
2.2
poucos especialistas na area;
2.3
falta de uma metodologia coerente com as nossas necessidades;
2.4
pouco interesse de alunos e professores pel0 assunto;
2.5
falta de incentivo para a pesquisa nessa area, pelos orgiios diretamente re lacionados com o financiamento da pesquisa no Brasil.
lo) A quase inexistencia dos cursos de Dialetologia nas universidades se constitui, talvez, no maior dos problemas para o desenvolvimento dos estudos dialetologicos. Tal fato forma um verdadeiro circulo vicioso. NBo temos a disciplina porque niio ha especialistas. Consequentemente, niio formamos especialistas, e assim sucessivamente. 2") A existencia de poucos especialistas na area C problema que decorre do anterior, sendo, por sua vez, causa do mesmo. Siio rarissimos os professores que se interessam pela Dialetologia no Brasil. Criou-se a mentalidade ou o preconceito de que estudar dialetos e falares regionais 6 ser arcaico, ultrapassado e, portanto, se se quer ser "atual", se se quer ser "avanqado" em termos de estudos linguisticos, niio se deve estudar este tipo de "coisa". Infelizmente, esta mentalidade esta atrasando cada vez mais o estudo e o conhecimento da lingua portuguesa em termos regionais e como um todo.
A SituaqBo da Geografia Lingiiistica no Brasil
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3") A falta de uma metodologia coerente com as nossas necessidades tambem 6 fator impeditivo de uma abordagem mais abrangente dos falares regionais. Ao se falar em dialetos ou falares, pensa-se imediatamente e somente em atlas linguistic~,isto e, em aspectos puramente geograficos dos falares, quando, na realidade, a geografia linguistica e apenas um dos ingulos a serem considerados nos falares. 0 estudo atual da dialetologia inclui niio apenas o aspect0 geografico, como tambem o temporal e o social, este ultimo compreendendo o socio-econ6mico-cultural. Deve-se, portanto, incluir nos estudos dialetologicos alem da Geografia Lingiiistica, a Sociolinguistics e a Etnolingiiistica. Em termos de Brasil, torna-se da maior urgencia o estabelecimento de uma metodologia uniforme, com normas de levantamento de corpus, analise quantitativa e qualitativa desse corpus, alfabeto fonetico unico, apenas adaptado a sons especificos de cada regiiio e formas homogeneas de apresentaqiio das cartas, tudo para que possamos fazer um trabalho conjunto, de levantamento das realidades lingiiisticas regionais de maneira sistematica, possibilitando a total utiliza@o do material colhido e analisado no estudo em profundidade da lingua portuguesa nacional, com seu atlas linguistic0 geral, seu vocabulario fundamental e o estabelecimento de seus sistema, norma e diassistema. Se assim niio for efetuado, ficaremos a trabalhar isoladamente, sem metodologia apropriada e sem visiio de conjunto. Esses trabalhos se perderiio nos arquivos dos proprios autores e nenhum ou quase nenhum proveito resultara para um real conhecimento do portugues falado e escrito em nosso pais. 4") Pelos motivos acima, niio ha da parte de nossos alunos ou professores de Letras nenhum interesse pelos estudos dialetologicos. 0 levantamento das monografias, dissertaqBes e teses sobre o Nordeste, principalmente aquelas realizadas no proprio Nordeste, por exemplo, mostrou ser infimo o seu numero. Ora, se os professores niio estiio motivados ou se nZo acham importante este tipo de trabalho, logicamente niio iriio, por sua vez, motivar ou incentivar esses trabalhos em salas de aula, ou em pequenos trabalhos de pesquisa. Existe um verdadeiro circulo vicioso que se faz necessario romper.
5") Finalmente, um outro fator da maior importdncia C a falta de incentives, quer morais, pessoais ou financeiros, por parte das autoridades, para este tipo de trabalho. Fala-se na falencia do ensino do portugues no Brasil, em todos os niveis, do 1" ao 4" graus. Escrevem-se tratados e mais tratados pondo A mostra os problemas do ensino da lingua em nosso pais, aventam-se todos os tipos de hipoteses sobre os fatores causadores desses problemas. Mas niio ha, em termos concretos, nada feito para uma analise sistematica e sobretudo sistemica das causas dessa falencia.
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No entanto, a semente plantada por Serafim da Silva Neto e Antenor Nascentes deu frutos na medida em que professores e pesquisadores nas suas universidades v&m se dedicando aos estudos dialetologicos com a elaboraqgo e publicaqgo de atlas lingiiisticos regionais, passo decisivo para a futura realizaqgo do atlas linguistic0 do Brasil. 3. SituaqHo atual 3.1
Atlas publicados
3.1.1 Atlas previo dos falares bahianos
0 Atlas previo dos falares bahianos se constitui em um marco nos estudos da Geografia Lingiiistica no Brasil n5o so por ter sido o primeiro trabalho a ser publicado mas, por sua fundamental importincia para o conhecimento do falar regional da Bahia e, por extensgo, de grande parte do falar nordestino. Publicado em 1963, o Atlas previo dos falares bahianos 6 resultado do trabalho desenvolvido a partir de cursos de Dialetologia ministrados pel0 professor Nelson Rossi a estudantes de Letras da entgo Universidade da Bahia, especialmente a turma de 1959, que realizou pesquisa "Aspectos do Lexico Regional da Bahia", bem como das comunicaq6es apresentadas no IV Coloquio International de Estudos Luso-Brasileiros, ocorrido naquele estado, no mesmo ano. 0 Atlas constitui-se de dois volumes: o primeiro, compreendendo as cartas, em folhas soltas e o segundo, encadernado, com a introduqgo, questionario comentad0 e elenco das respostas transcritas. Ficha ticnica e estrutura formal 1) Endereqamento: a) ROSSI, Nelson et al. (1963): Atlas prtvio dos falares bahianos. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro. b) ROSSI, Nelson et al. (1965): Atlas prtvio dos falares bahianos. Introdugiio. Questionario comentado. Elenco das respostas transcritas. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro.
2) Localidades: 50 localidades, cobrindo todo o Estado da Bahia.
3) Informantes: a) Numero de informantes: 99. b) Faixa ethria: 25 a 80 anos. c ) Nivel de instruqiio: analfabeto a curso primario completo. d) Sexo: rnasculino e feminino.
A Situa~Boda Geografia Lingiiistica no Brasil
4) Questionario: a) Numero de questbes: 164. b) Campos semdnticos: agricultura, pecuaria, anatomia e fisiologia humana, culinaria e alimentaqiio, geografia e astronomia. c) Aplicaqiio do questionario: 0 questionario foi aplicado em pesquisa direta, in loco. 5) Apresentaqiio das cartas: As cartas, em numero de 209, compreendem 11 de identificaqiio, 154 foneticas e lexicas e 44 cartas resumo. 0 s termos v&m transcritos no interior da propria carta ou com legendas e simbolos, em preto e branco e coloridos. Algumas cartas apresentam dados etnograficos, inclusive com ilustraqbes. Na parte inferior esquerda das cartas ha comentarios informativos sobre a aplicaqiio do questionario.
0 volume referente a introduqiio, questionario comentado e elenco das respostas transcritas complernenta as informaqbes e analises feitas no Atlas. 0 Atlas niio apresenta glossario nem bibliografia geral. 3.1.2 Esboqo de um atlas lingiiistico de Minas Gerais
0 segundo atlas lingiiistico publicado no Brasil e o de Minas Gerais, resultado do trabalho de um grupo de professores do Departamento de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais: Jose Ribeiro, Mario Roberto Lobuglio Zagari, Jose Passini e Antonio Pereira Gaio. A obra devera ser publicada em quatro volumes, dos quais o primeiro, unico publicado ate o momento, compreende a metodologia, as localidades, as cartas de dois dos campos semdnticos - tempo e folguedos infantis de rua - e um glossario de ambos os campos. 0 volume I1 vira com uma breve amostragem das localidades subseqiientes, ficha dos informantes dessas localidades e cartas dos campos semdnticos. 0 111, trara uma breve amostragem sobre as localidades restantes, ficha dos informantes dessas localidades, cartas dos campos semdnticos - a agua e a terra - aspectos sociolingiiisticos de agrupamentos negros e indigenas e glossirio dos campos semgnticos estudados. 0 volume IV trari a sistematizaqiio e tentativa de interpretaqiio das formas, segmentos e construqbes obtidos.
0 questionirio utilizado foi publicado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Ficha tecnica e estrutura formal
1) Endereqamento: a) ZAGARI, Mario Roberto L. et al. (1977): E s b o ~ ode urn atlas lingiiistico de Minas Gerais. Rio de Janeiro: Fundaqgo Casa de Rui Barbosa.
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Maria do Socorro Silva de AragBo
b) ZAGARI, Mario Roberto L. et al. Esboqo de urn atlas lingiiistico de Minus Gerais. Questionario s.n.t. 2) Localidades: 1 16 municipios mineiros, cobrindo todo o Estado. 3) Informantes: a) No de informantes: 83. b) Faixa etaria: 30 a 50 anos. c) Nivel de instruggo: analfabeto a primario complete. d) Sexo: masculino e feminino.
4) Questionirio: a) No de quest6es: 4 15. b) Campos semlnticos do l o volume: a terra, folguedos infantis. c) Aplicaqgo do questionario: direta, in loco e indireta, por correspondCncia enviada a 672 municipios. 5) Apresentaqiio das cartas: As cartas, em numero de 78, silo 05 de identificaqgo, 21 lexicas, 24 fonCticas, 03 is6fonas e 25 cartas isolexicas. 0 s termos vCm corn simbolos e legendas; na parte extrema esquerda das cartas constam os vocabulos de frequincia minima e na direita, os vocibulos de alta frequencia, ficando no interior do mapa apenas os simbolos, circulos e triPngulos cheios e vazios. As cartas n5o trazem comentarios informativos nem qualquer tipo de analise do material coletado. No final do volume ha um glossario com 139 verbetes dicionarizados com acepqiio diferente ou ngo dicionarizados. A obra traz ainda uma bibliografia geral. 0 segundo volume esta em fase de publicaqgo. 3.1.3 Atlas linguistico da Paraiba
0 terceiro atlas linguistico publicado no Brasil e o da Paraiba, resultado do trabalho de uma equipa de professores do Departamento de Letras Classicas e Vern6culas da Universidade Federal da Paraiba, sob a coordenaqgo das professoras Maria do Socorro Silva de Araggo e Cleusa Palmeira Bezerra de Menezes. 0 atlas compreende trCs volumes, dos quais dois ja publicados. 0 questionario utilizado foi publicado pela Universidade Federal da Paraiba.
A Situa~Boda Geografia Lingiiistica no Brasil
Ficha tecnica e estrutura formal ) Endereqamento:
a) ARAGAO, Maria do Socorro Silva de e MENEZESICleusa P.B. (1984): Atlas linguistico da Paraiba. Cartas lexicas e foneticas. Brasilia: UFPBI CNPq. b) ARAGAO, M. do Socorro Silva de e MENEZESICleusa P.B. (1984): Atlas linguistic0 da Paraiba. Analise das formas e estruturas lingiiisticas encontradas. Brasilia: UFPBICNPq. c) ARAGAO, M. do Socorro Silva de et al. (1980): Atlas linguistico da Paraiba: questionhio. Joiio Pessoa: Ed. UniversitariaIUFPB. 2) Localidades: 25 municipios base e 75 municipios satelite, cobrindo todo o Estado. 3) Informantes: a) No de informantes: 107. b) Faixa etaria: 30 a 75 anos. c) Nivel de instruqiio: analfabeto a primirio completo. d) Sexo: masculino e feminino. 4) Questionario: a) No de questdes: 877. b) Campos seminticos: QuestionLio geral: a terra, o homem, a familia, habitaqiio e utensilios domesticos, aves e animais, plantaqiio e atividades sociais. Questionhio especifico: mandioca, cana-de-aqhcar, agave, algodiio e abacaxi. c) Aplicaqiio do questionario: direta, in loco. 5) Apresentaqiio das cartas: 0 primeiro volume e iniciado corn o mapa da Paraiba e sua localizaqiio no Brasil, as microregides homogeneas, a divisiio municipal, as localidades, os gentilicos dos habitantes das localidades, os inquiridores e os informantes. Para a confecqiio das cartas foram usados mapas em escala de 112.000.000 e, apenas na divisiio municipal, mapa em escala de 1/1.500.000. A seguir, vem as cartas propriamente ditas. Para a elaborag20 das cartas utilizaram-se as 68 questdes que apresentaram alta freqiiencia de ocorr&nciae maior numero de variantes lexicas e foneticas. A numeraqgo das localidades nas cartas foi feita na ordem leste-oeste e norte-sul.
0 atlas e composto de cartas llxicas e cartas fonkticas, intercaladas. Assim, por exemplo, a carta lexica no 030 da pergunta 29, arco-iris, e seguida pelas car-
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tas foneticas nos 03 1, 032 e 033, correspondentes as variantes foneticas de arco-iris, arco-celeste e olho-de-boi. As cartas siio compostas do seguinte modo: Parte superior: titulo Da esquerda para a direita: - numero da carta - vocabulo - nas cartas lexicas, numero da pergunta no questionario - As cartas foneticas niio trazem o numero da pergunta por ser esse, o mesmo da carta lexica correspondente. - Na parte extrema direita, ao lado do mapa, as convenq8es utilizadas: circulos, quadrados e tri2ngulos vazios, cheios e parcialmente cheios. As cartas estiio divididas por campos sem2nticos do seguinte modo: a terra: cartas 00 1 a 043. o homem: cartas 044 a 090. a familia: cartas 09 1 a 107. habita~iioe utensilios domesticos: cartas 108 a 113. aves e animais: cartas 1 14 a 129. plantaqiio: cartas 130 a 137. atividades sociais: cartas 138 a 149. A ordem das cartas segue a ordem das perguntas no questionario. As cartas niio trazem comentarios informativos.
0 segundo volume traz uma descriqiio detalhada da metodologia utilizada, os dados historico-geograficos, geo-econ6micos e socio-culturais das localidades, a ficha dos informantes, os informantes por localidade, a anilise das formas e estruturas linguisticas encontradas sob os aspectos fonitico-fonologicos e morfo-sintaticos. 0 atlas apresenta, ainda, um glossario, com 363 verbetes dicionarizados em sentido diferente do uso geral ou ngo dicionarizados. Cada verbete vem com a transcriqiio fonetica da realizaggo mais frequente na regiiio e a indicaqiio, entre parenteses, do numero da carta onde se encontra. No final do segundo volume ha uma bibliografia geral, uma dos questionarios e uma outra dos atlas linguisticos consultados.
0 terceiro volume devera trazer o ICxico especifico dos cinco principais produtos agricolas da Paraiba, com cartas lexicas e foneticas, um glossario e uma bibliografia.
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3.1.4 Atlas lingiiistico de Sergipe
0 atlas linguistico de Sergipe foi elaborado por pesquisadores que fizeram parte da equipe responsive1 pel0 atlas prtvio dos falares bahianos: Carlota Ferreira, Jacyra Mota, Judith Freitas, Nadja Andrade, Nelson Rossi, Suzana Cardoso e Vera Rollemberg. 0 material, pronto desde 1973, por uma serie de problemas, inclusive financeiros, somente foi publicado em 1987. Ficha ticnica e estrutura formal 1) Endereqamento: FERREIRA, Carlota da S. et al. (1987): Atlas linguistico de Sergipe. Salvador: UFBA. Instituto de Letras/Fundaq%oEstadual de Cultura de Sergipe.
2) Localidades: 15 localidades. cobrindo todo o Estado. 3) Informantes: a) No de informantes: 30. b) Faixa etaria: 25 a 65 anos. c) Nivel de instruq50: analfabetos e semi-analfabetos. d) Sexo: masculino e feminino.
4) Questionario: a) No de questbes: 700. b) Campos seminticos: terra, homem, animais, vegetais. c) Aplicaq5o do questionario: direta, in loco.
5) Apresentaq50 das cartas: Foram elaboradas 180 cartas, sendo 11 introdutorias e 169 cartas lkxicas com transcriq50 pormenorizada e numerosos dados etnogrificos, tendo em vista a quantidade de notas que acompanham as cartas. Em cada carta ha a remiss50 a carta correspondente no atlas previo dos falares bahianos. Ha no ALS, ainda, uma serie de cartas conjuntas Bahia-Sergipe, com dados da Bahia, nzo apresentados no APFB.
0 Atlas linguistico de Sergipe n5o apresenta glossario. 3.1.5 Atlas linguistico do Parana
0 Atlas lingiiistico do Parana e um trabalho da professora Vanderci de Andrade Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina, Parana, apresentado inicial-
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Maria do Socorro Silva de Araggo
mente como Tese de Doutorado e posteriormente publicado pel0 Governo do Parana e Universidade Estadual de Londrina. Compreende dois volumes: um com a Apresentaqgo e o outro com as Cartas. Ficha tecnica e estrutura formal 1) Endereqamento: a) AGUILERA, Vanderci de A. (199411995): Atlas linguistic0 do Parand. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado do Paranaondrina: Universidade Estadual de Londrina. b) AGUILERA, Vanderci de A. (199411995): Atlas linguistico do Parand. ApresentaqBo. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado do Paranaondrina: Universidade Estadual de Londrina.
2) Localidades: 65 localidades, cobrindo todo o Estado. 3) Informantes: a) No de informantes: 130. b) Faixa etaria: 25 a 65 anos. c) Nivel de instruqgo: analfabeto e primario completo. d) Sexo: masculino e feminino. 4) Questionario: a) No de questdes: 325. b) Campos sembnticos: I - Terra - a) natureza, fenemenos atmosfericos, astros, tempo; b) flora: amores, frutos; c) plantas medicinais; d) fauna. I1 Homem - a) partes do corpo, funqdes, doenqas; b) vestuario e calqados; c) agricultura, instrumentos agricolas; d) brinquedos e jogos infantis; e) lendas e superstiqdes. c) Aplicaqiio do questionario: direta, in loco.
5) Apresentaqgo das cartas: 0 atlas contem os seguintes tipos de cartas: cartas de identificaqgo - 06; cartas lexicas - 92; cartas foneticas - 70; cartas isolexicas - 19; cartas isofonas - 10; cartas anexas com a distribuiqiio geografica do povoamento do Parana, do seculo XVII a XX - 06. 0 s termos nas cartas lexicas v6m com simbolos coloridos, no interior da carta, com as legendas do lado direito superior, fora da carta, e corn as transcriq6es foneticas no interior da carta, no caso das cartas fonkticas.
No verso de cada carta ha notas explicativas e de analise do material coletado.
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0 volume referente a Apresentagiio contim uma introdugiio; Esbogo historic0 da colonizagiio paranaense; Pontos lingiiisticos investigados; Caracteristicas dos informantes por localidade; Questionario lingiiistico; Notag6es fonkticas; Apresentag80 das cartas e notas.
0 atlas niio apresenta glossario nem bibliografia.
3.2
Atlas em realizagiio
3.2.1 Atlas linguistico do Estado do Ceara 0 Atlas lingiiistico do Estado do Ceara, em fase de publicagiio, e o resultado do trabalho de um grupo de professores do Departamento de Letras Vernaculas da Universidade Federal do Ceara, coordenados pel0 professor JosC Rogerio Fontenele Bessa, assessorado por professores visitantes.
Ficha tecnica e estrutura formal 1) Enderegamento: BESSA, JosC Rogerio F. (1982): Atlas linguistico do Estado do Ceard - questionario. Fortaleza, Universidade Federal do Ceara.
2) Localidades: 69 municipios selecionados dentro das microregibes homogeneas, corn caracteristicas fisicas, sociais e econ6micas semelhantes. 3) Informantes:
a) b) c) d)
No de informantes: 268. Faixa etaria: 30 a 60 anos. Nivel de instruggo: analfabeto a primario completo. Sexo: masculine e feminino.
4) Questionario: a) No de questbes: 306, compreendendo 583 itens. b) Campos seminticos: natureza: tempo, o homem, parentesco, partes do corpo, fungbes do corpo, doengas; o homem: caracteristicas fisicas, tipos sociais, jogos, objetos de uso pessoal, atividades e utensilios domCsticos, comida, religigo, animais, outros. c) Aplicagiio do questionario: direta, in loco.
5) Apresentaqiio das cartas: Foram elaboradas 223 cartas, das quais 75 lexicais e 148 foneticas, constando, entre elas, as cartas de ocorrCncia unica e de variaqiio zero. 0 ALECE devera
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constar de tr&svolumes: no primeiro, havera uma introduqiio com os antecedentes, a orientaqiio teorica, os objetivos, a metodologia do trabalho e uma bibliografia dialetal cearense. 0 segundo volume trara as cartas lkxicas e fondticas e o terceiro, um glossario e um aptndice com o registro das formas ou expressdes encontradas e que niio se enquadram em itens lexicais predeterminados pela pesquisa. Todas as cartas possuem legenda das convenqdes utilizadas, tendo sido feita uma combinagiio de cores: azul, vermelho, preto e verde e de simbolos do tipo bolas cheias, bolas vazias e triingulos, entre outros.
0 atlas linguistico do Estado do Ceara trara um glossario com formas especificas do universo vocabular cearense ou que tenham qualquer caracteristica que as diferencie do lexico geral da lingua comum. 0 s verbetes viriio com a transcriqiio fonktica de sua realizaqiio, a classe e categoria gramatical, o conc e i t ~ indicaqiio , do numero da pergunta e caracterizaqiio do informante e da localidade. As analises do material coletado seriio feitas posteriormente. 3.2.2 Atlas lingiiistico do Estado de Siio Paulo
0 projeto de realizaqiio do Atlas linguistico de Siio Paulo surgiu em 1980 durante o curso de Introdugiio a Dialetologia, ministrado pel0 Prof. Dr. Pedro Caruso, no Curso de P6s-Graduaqiio em Letras do Departamento de Linguistics do Instituto de Letras, Historia e Psicologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Assis, Siio Paulo. 0 s trabalhos foram iniciados com a aplicaqiio, pelos alunos, de entrevistas diretas com informantes das varias regides onde os inquiridores residiam ou trabalhavam. Posteriormente, outro tip0 de questionario foi aplicado, desta vez por correspondtncia. A pesquisa, em pleno desenvolvimento, 6 financiada pela Fundagiio de Ampar0 a Pesquisa do Estado de Siio Paulo e conta, atualmente, com os pesquisadores Pedro Caruso, coordenador, e Brian Head. Ficha tecnica e estrutura formal
1) Enderegamento: CARUSO, Pedro. (1983): Atlas lingiiistico do Estado de S6o Paulo: questionario. Assis, Instituto de Letras, HistQia e Psicologia/UNESP; Prefeitura Municipal de Assis.
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2) Localidades: 120 localidades selecionadas pelos criterios de antigiiidade, distiincia geografica, importiincia regional e isolamento, cobrindo todo o Estado de S5o Paulo.
3) Informantes: a) No de informantes: 240. b) Faixa etaria: mais de 21 anos. c) Nivel de instruqgo: analfabeto a curso primario complete. d) Sexo: masculine e feminino. 4) Questionkio: a) No de questdes: 309. b) Campo semgntico: terra, natureza, fen6menos atmosfkricos, astros, tempo; flora: arvores, frutos; plantas medicinais; fauna: aves, passaros, animais, com 141 questdes; Homem: partes do corpo, funqdes, doenqas; vestuario, calqados; agricultura: instrumentos agricolas; brinquedos e jogos infantis, com 161 questdes. Ha, ainda, questdes sobre cultura popular: lendas, mitos, superstiqdes, como o boitata, caipora, lobisomem, saci-pererg, mula sem cabeqa e curupira; ha, tambim uma quest50 sobre experiincias pessoais. c) Aplicaqgo do questionario: direta, in loco e por correspondincia. 5) Apresentaqgo das cartas: Por se encontrar ainda na fase de organizaqiio e preparaqiio do material coletado niio ha uma definiqiio de como seriio apresentadas as cartas e qua1 a estrutura formal a ser utilizada no Atlas lingiiistico do Estado de Siio Paulo. Foram feitas algumas cartas em carater experimental. 3.2.3 Atlas etnolingiiistico dos pescadores do Estado do Rio de Janeiro
0 projeto do Atlas etnolingiiistico dos pescadores do Estado do Rio de Janeiro APERJ, foi iniciado em 1985, sob a coordenaq50 do professor Celso Cunha, atualmente e coordenado pel0 professor Laerte Carpena de Amorim e conta com os seguintes pesquisadores: Silvia Figueiredo Brandiio, Cilene da Cunha Pereira, Maria Emilia Barcellos da Silva e Edila Vianna da Silva. Ficha tecnica e estrutura formal 1) Endereqamento: AMORIM, Laerte Carpena et al.: Atlas etnolingiiistico dos pescadores do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ.
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2) Localidades: 45 pontos localizados em tr&s regi6es geograficas, com tres localidades-piloto. E nessas localidades onde se encontram as coldnias de pescadores do Estado do Rio de Janeiro, base da busca dos informantes.
3) Informantes: a) Faixas etarias: 18 a 30; 3 1 a 50 e mais de 5 1 anos. b) Nivel de instruqiio: analfabetos e alfabetizados. C) Sexo: masculine. 4) Questionario: a) No de quest6es: 650. b) Campo semintico: meio fisico, atividade, o homem. c) Aplicaqiio do questionario: direta, in loco. 5) Apresentaqiio das cartas: Niio ha ainda, que saibamos, modelos de como as cartas seriio apresentadas. Seriio analisados, alem do lexico, aspectos foneticos, morfologicos e sintaticos, com abordagem s6cio e etnolingiiistica. Por ser um atlas etnolingiiistico o APERJ tem a preocupaqiio de estudar niio so a linguagem mas a sociedade e cultura onde essa linguagem se manifesta. 0 s estudos feitos a partir da anilise do material ja coletado estiio consolidados em quatro teses de doutorado defendidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1988 e 1989. 3.2.4 Atlas lingiiistico-etnogr6fico da regiiio Sul 0 Atlas lingiiistico-etnografico da regiiio Sul e projeto coordenado pel0 professor Walter Koch, com equipes locais em cada Estado: no Rio Grande do Sul e coordenado por Mario Silfredo Klassmann, em Santa Catarina por Oswaldo Antonio Furlan e no Parana por Jose Luiz da Veiga Mercer. Ficha tecnica e estrutura formal 1) Endereqamento: KOCH, Walter et al.: Atlas linguistico-etnografico da regiiio Sul. Porto Alegre: UFRS.
2) Localidades: Zonas urbana e rural dos Estados do Parana, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A Situaqlo da Geografia Lingiiistica no Brasil
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3) Informantes: a) No de informantes: dois por cada ponto das zonas rurais e seis por cada ponto das zonas urbanas. b) Sexo: rnasculino e feminino.
4) Questionhrio: a) No de questbes: 500 de carater geral, complementadas por questionario especifico em cada Estado. b) Campos seminticos: os mesmos propostos por Antenor Nascentes e Serafim da Silva Neto, para as questbes gerais e para as questbes especificas as areas semiinticas referentes as atividades principais das regibes pesquisadas, cobrindo as areas de agricultura, pecuaria e extrativismo. c) Aplicagiio do questionario: direta, in loco.
5) Apresentag20 das cartas: N2o temos conhecimento dos tipos de cartas que sera0 apresentadas. 0 s niveis de analise seriio o lexical, com divisgo de carater geral e especifico; o fonetico-fonol6gic0, com divisiio em elementos segmentais e supra-segmentais e o morfossintatico, incluindo as formas de tratamento, pronomes pessoais, concordincia nominal, verbal e flex20 nominal e verbal. Sera feito, tambem, um estudo sociolingiiistico da linguagem de informantes das zonas urbanas das grandes cidades desses Estados. 3.2.5. Atlas lingiiistico-etnogrsco do Acre Projeto de professores da Universidade Federal do Acre, coordenado pela professora Luiza Galviio Lessa, encontra-se em pleno desenvolvimento. Ficha tecnica e estrutura formal 1 ) Enderegamento: LESSA, Luiza G. et al.: Atlas lingiiistico-etnografico do Acre. Rio Branco: UFAC.
2) Localidades: Tr&spontos em cada um dos tr6s vales que compbem o Estado do Acre.
3) Informantes: a) Faixa etaria: 16 a 50 anos. b) Nivel de instruggo: analfabetos. C) Sexo: rnasculino e feminino.
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4) Questionario: a) Campos semiinticos: latex, madeira, pesca, agricultura e pecuaria, atividades basicas do Estado. b) Aplicaqiio do questionario: direta, in loco.
5) Apresentaqilo das cartas: Niio ha, ainda, ao que saibamos, uma definiqiio de como seriio apresentadas as cartas e qua1 a estrutura formal a ser utilizada no atlas lingiiistico-etnografico do Acre.
0 projeto encontra-se na fase final de levantamento dos dados, ja tendo sido pesquisados dois dos tr6s vales previstos. 3.3 Atlas projetados
AtravCs de contatos com professores e pesquisadores em congresses, seminaries e encontros de Lingiiistica temos conhecimento de alguns projetos de atlas lingiiisticos, em fase bastante embrionaria. Entre eles podemos destacar: 3.3.1 Atlas linguistico do Rio Grande do Norte
Projeto de um grupo de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientaqiio do professor Dr. Ataliba Teixeira de Castilho, da Universidade de Campinas, Silo Paulo. Ao que se sabe o projeto esta desativado por falta de equipe especializada. 3.3.2 Atlas linguistico do Mato Grosso do Sul
Projeto dos professores Albana Xavier Nogueira e Valdomiro Vallezi, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, orientado pelo professor Pedro Caruso, encontra-se em fase embrionaria de preparaqiio.
Pelo que se pode observar a partir da rapida analise acima realizada, num pais como o Brasil, com 26 Estados e o Distrito Federal e muito pouco o que foi realizado ou esta em elaboraqiio no que concerne a Geografia Linguistica. Tal fato tem se refletido negativamente no ensino da Lingua Portuguesa em nosso pais, por n2o haver, em termos das variantes diatopicas e diastraticas, um conhecimento da realidade lingiiistica regional e nacional.
0 professor Serafim da Silva Neto, no seu Guia para os estudos dialetoldgicos no Brasil, prop6s uma sCrie de sugestbes para um increment0 maior
A Situa~goda Geografia Lingiiistica no Brasil
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dos estudos de Dialetologia e Geografia Linguistica entre nos, as quais acrescentariamos outras que, certamente, fariam com que esses estudos se desenvolvessem mais segura e rapidamente. Assim, entre outras providencias, sugerimos a obrigatoriedade da disciplina Dialetologia/Geografia Lingiiistica nos cursos de Graduaqiio em Letras; a exigencia de pequenos trabalhos de pesquisa dos falares regionais, nos aspectos diacr6nic0, diatopico e diastratico; a instituiqiio da disciplina Dialetologia da Lingua Portuguesa nos Mestrados em Lingiiistica e Lingua Portuguesa; a criaqiio de linhas de pesquisa nos Mestrados, visando o estudo dos falares regionais; a formaqiio de urn grupo de trabalho, de lmbito nacional, para proposi~iio de uma metodologia uniforme para a elaboraqiio de atlas linguisticos regionais. Como um principio de soluqiio, no Simposio Sobre a Diversidade Lingiiistica no Brasil, realizado na Universidade Federal da Bahia, em outubro de 1986, foi aprovada a proposta de criaqiio de um grupo de trabalho para a uniformizaqiio de uma metodologia, inclusive de um questionario basico, para a elaboraqiio de atlas lingiiisticos regionais, visando a uma futura realizaqiio do atlas linguistico do Brasil, o que n2o foi feito, ate a presente data. No I Congresso Intemacional de Lingiiistica, promovido pela Associaqiio Brasileira de Lingiiistica - ABRALIN, realizado em Salvador, Bahia, em 1994, um grupo de pesquisadores prop6s a criaq2o de um grupo de trabalho de dialetologia, no lmbito da Associaqiio Nacional de P6s-Graduaqiio e Pesquisa em Letras e Linguistica - ANPOLL, fato que devera se concretizar no XI Encontro Nacional da ANPOLL que ocorrera em junho de 1996, em Joiio Pessoa, Paraiba. Como conseqiiEncia dessas preocupaqaes dos estudiosos na problematica dos estudos dialetais e, especialmente, da Geografia Lingiiistica em nosso pais, atraves de gestdes e mesmo pressdes junto aos orgiios governamentais de foment0 e apoio a pesquisa, como o CNPq, Finep e Secretarias Estaduais de Cicncia e Tecnologia, por exemplo, as portas comeqam aos poucos a se abrir, sendo aprovados alguns dos projetos nessa area, possibilitando, assim, as condiqdes minimas necessarias para a realizaqiio desse tip0 de trabalho. Em termos de Brasil, torna-se da maior urgencia o estabelecimento de uma metodologia uniforme, com normas de levantamento de dados, analise quantitativa e qualitativa do corpus, alfabeto fonetico unico, apenas adaptado a sons especificos de cada regiiio e formas homogeneas de apresentaqiio das cartas, tudo para que possamos fazer um trabalho conjunto, de levantamento das realidades linguisticas regionais de maneira sistematica, possibilitando a total utilizaqiio do material colhido e analisado no estudo, em profundidade, da lingua portuguesa do Brasil, com seu atlas lingiiistico nacional, seu vocabulario funda-
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mental e o estabelecimento de seu sistema, norma e diassistema. Se assim n5o for efetuado, ficaremos a trabalhar isoladamente, sem metodologia apropriada e sem visa0 de conjunto. Apesar de todos os problemas ate aqui surgidos e de se esperar que os estudos de Geografia Lingiiistica no Brasil venham em futuro proximo a assumir o papel de relevlncia que lhes cabe no Pmbito dos estudos da lingua portuguesa.
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Hildo Honorio do Couto Universidade de Brasilia
OS ESTUDOS CRIOULOS NO BRASIL 1. Preliminares: a quest50 da crioulizaqlo no Brasil
Certa feita o crioulista caribenho-franc& recem-falecido Guy Hazael-Massieux, do Institut &Etudes Creoles, Aix-en-Provence, me perguntou por que ngo havia crioulos no Brasil. A seguir, ele ajuntou que esse pais tinha (e tem) tudo para que eles surgissem, ou seja, sua populaqgo foi formada da mistura de europeus com africanos e povos indigenas. As tr&sraqas conviviam intensamente, inclusive mesclando-se biologicamente, dando um largo contingente de mestiqos. E o que e mais, nem os africanos nem os indigenas falavam originalmente a mesma lingua entre si. Pelo contrario, da Africa vieram povos de linguas bPntu, ewe, mande e outras (cf. Rodrigues 1945 e Rodrigues 1983). 0 s indios, por seu tumo, falavam linguas tupi, timbira, maxakali, botocudo, pataxo, kaingang, etc. (cf. Rodrigues 1986!). Foi uma situaggo de multilingiiismo semelhante a essas que deu nos diversos crioulos do Caribe (incluindo El Palenque de San Basilio na ColBmbia), das Guianas, das ilhas do oceano indico e do Pacifico, allm dos fortes da costa africana e da asiatica. Eu n5o vou nem tentar dar uma resposta a essa questgo. Com os dados de que dispomos atualmente, ela 6 irrespondivel. Se houve algum crioulo no Brasil na epoca colonial, so o saberemos no dia em que descobrirmos documentos comprobatorios, apesar da afirmaqiio de Silva Neto (1963: 73) de que houve "o crioulo de negros e indios" ao lado do portugu&se da lingua geral. Diante da situaggo sociolingiiistica brevemente esboqada acima, e bem provavel que tenha havido ate mais de um crioulo. Por exemplo, houve condiqdes sociais para que houvesse um na Bahia, outro na regiiio do Rio e de Sgo Paulo, outro mais ao sul, outro em Pemambuco e arredores, outro no Maranhgo e assim por diante. Ngo precisa ser necessariarnente o mesmo crioulo. 0 mesmo Serafim da Silva Neto fala em semi-crioulo, ou seja, urn crioulo que "vai sendo, pouco a pouco, penetrado de palavras e giros do falar europeu" (SILVA NET0 1963: 108). Com o advent0 dos estudos crioulos, varios autores t&mretomado a questgo. Dentre eles podemos citar Jeroslow (1974), Holm (1987), Guy (1989), Baxter (1992), Baxter & Lucchesi (1993), Mello & Lorenzino (1992), Gilbert (1992), Naro & Scherre (1993) e Tarallo (1989). Alguns acham que o portugu6s brasileiro ter-se-ia crioulizado no passado e agora estaria em um process0 de
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descrioulizaqiio. 0 s diversos fenbmenos crioulizantes encontraveis na linguagem corrente dos brasileiros seriam um testemunho desse fato. John Holm, por exemplo, defende a tese da semi-criouliza~iio(cf. tambem Holm (1991, 1992)). 2. As linguas gerais
Como ja vimos acima com Silva Neto, a realidade incontestavel do BrasilColbnia que mais se aproximava de um crioulo era a lingua geral, de base tupi. Sobre ela ha farta documentaqiio, podendo-se comeqar por Rodrigues (1986) ver tambem abaixo! Dado o multilingiiismo reinante na colbnia, era premente a necessidade de um meio de intercomunicaqiio. Ate mesmo os povos indigenas viviam em um grande multilingiiismo. Como os povos tupis eram majoritarios, sua lingua foi se impondo paulatinamente. Niio que ela fosse aprendida com perfeigiio. Pelo contrario, ela foi adquirida pelos aloglotas nas condiqdes precarias de entiio, portanto, tratava-se de um aprendizado imperfeito. Foi ai que surgiu a lingua que mais tarde foi chamada de lingua geral pelos portugueses. Ela era conhecida tambem pel0 nome de lingua brasilica e ate por outros nomes. Essa lingua geral era basicamente a lingua tupi, regramaticalizada na direqiio da lingua portuguesa. Quando niio era esse o caso, tratava-se de urna simplificaqiio da gramatica tupi original (cf. Rodrigues 1992). Segundo Rodrigues (1983) "o predominio da lingua geral firmou-se com os bandeirantes, todos ou quase todos falando apenas esta lingua e sem saberem o portugu@s".A lingua geral era, portanto, urna lingua franca, para usar urna expressiio mais conhecida. Por falar em lingua geral, segundo esse ultimo autor, houve tambtm linguas gerais africanas. Para ele, a diferenqa entre elas consistia em "que a lingua geral indigena foi criada pelos jesuitas, e a lingua geral negra foi por eles mesmos [os africanos] criada". Assim, teria havido pel0 menos urna de base nag6 ou ioruba na Bahia e outra de base quimbundo no norte e no sul (Rodrigues 1983: 30). Esse autor defende essa tese com base em Rodrigues (1945: 125-166). Neste contexto, temos a quest50 dos quilombos. Em muitos deles houve condiqdes at6 mais propicias ao surgimento de urna lingua geral (= lingua franca) e ate mesmo para seu desenvolvimento ulterior em crioulo. 0 mais famoso de todos eles foi o quilombo de Palmares, no Estado de Alagoas. A composiqiio demografica desse quilombo era a mais variada possivel. Ela se constituia basicamente de escravos fugidos do cativeiro, muitos de origem bgntu, outros da costa da Guine. Havia tambem mulatos ou "crioulos". E possivel que houvesse ate mesmo brancos, pois os palmarinos aprisionavam gente para construir o quilombo, sobretudo esposas. 0 fato e que constituiram urna comunidade que
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pode ter chegado a 16 ou 20 mil pessoas. Ele existiu de 1630 a 1697, tempo mais que suficiente para urna pidginizaggo e uma crioulizag50. Em Couto ( 1 9 9 2 ~ )eu tentei argumentar no sentido de que o crioulo palmarino deve ter existido. No entanto, os cronistas da epoca s5o inteiramente silentes sobre a quest50 da lingua. Um resultado dos ex-quilombos que ainda sobrevive no Brasil de hoje 6 o que chamei de anti-crioulo (1992a, 1992b). Entendo por "anti-crioulo" uma lingua mista que em vez de adotar o vocabulario de outra lingua (relexificaq50), mantem pelo menos parte de seu vocabulario original mas adota a gramatica da lingua dominante (regramaticalizagiio) parcial ou totalmente (cf. tambem Couto 1995, cap. I.4.c). Mais abaixo voltarei a quest50 da linguagem das comunidades de ex-quilombolas.
3. A crioulistica brasileira Contrariamente ao que se deu em Portugal, onde j a no final do seculo passado tivemos um dos grandes pioneiros dos estudos crioulosl, antecipador ate mesmo da famosa hipotese do bioprograma defendida por D. Bickerton, isto e, Adolfo Coelho (cf. Coelho 1880, 1882, 1886)2, no Brasil so se produziu algo de nota nesse sentido nas dicadas de 40 e 50 do presente seculo. Trata-se dos ensaios do incansavel Serafim da Silva Neto. Ele pode, com toda seguranqa, ser considerado o iniciador (praticamente sem seguidores imediatos) desse tip0 de estudos entre nos. Em 1949 ele publicava "0 dialeto crioulo do Suriname" (Separata de Cultura 2), republicado no livro Lingua, cultura e civiliza@o, Rio, Livraria Acadtmica, s.d., p. 127-153), em que apenas comentava o vocabulario que essa lingua tomou de emprestimo ao portugui2s. Ele partiu dos dados contidos no famoso ensaio de Schuchardt, Die Sprache der Saramakkaneger von Suriname ( 1 9 14). Mais importante e o ensaio de Silva Neto (1950), cujo conteudo esta reproduzido quase ipsis litteris em Silva Neto (1970: 433-442). Se o anterior apenas dava possiveis evoluqdes foneticas do portuguts ate o crioulo, no presente estudo ele teoriza sobre as linguas crioulas. Muito atualizado com o que ia pela Europa, o autor define crioulo como sendo "urn conjunto de representagbes individuais que depois se coletivizam, tornando-se, por encontrarem ambiente fa-
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Na verdade, ainda no final do seculo passado, Portugal produziu pelo menos mais duas obras sobre crioulos (cf. Jorge Morais-Barbosa, Estudos linguisticos crioulos. Lisboa: Academia Internacional da Cultura Portuguesa, que reproduz tambem os trCs ensaios de Coelho. 1967!). Coelho foi pioneiro ate mesmo no conspecto que deu dos crioulos do mundo, antecipando-se de alguns anos a seu contemporineo e arnigo Hugo Schuchardt.
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voravel e corresponderem a uma necessidade, o meio de express50 comum a um grupo inteiro". Admite alguma influencia do substrato, mas 6 basicamente um substratofobo. Alias, para ele "0s crioulos s5o bastardos, irremissivelmente identificados com a misera situaq5o dos falantes. Existirao enquanto se prolongar a triste ignorincia e baixo padr5o de povos infelizes" (p. 434-435). A parte essa substratofobia, trata-se do primeiro ensaio teorico sobre crioulistica publicad0 no Brasil. Em outras obras ele retoma a quest20 dos crioulos. E o caso de Silva Neto (1963), como ja vimos acima. Em Silva Neto (1957) ele faz urn apanhado critic0 bio-bibliografico de Adolfo Coelho, em que a quest20 dos crioulos tem urn lugar privilegiado. Contrapde a concepq50 de Adolfo Coelho a de Lucien Adam e de outros crioulistas europeus, considerando a de Coelho muito superior (p. 6-7). Directamente influenciados por Silva Neto, os filologos Silvio Elia e Celso Cunha tambim deram uma certa contribuiq50 para os estudos crioulos. 0 primeiro n5o escreveu nada especificamente sobre crioulos. No entanto, em varios ensaios ele tangencia a questgo, ajudando a manter acesa a chama (cf. Elia 1989). Celso Cunha, por seu turno, alem de ser conhecido como um grande gramatico, escreveu alguns artigos sobre crioulos e crioulizaq50, amplamente citados, sobretudo por estrangeiros que se debruqam sobre a quest50 no Bmbito do portugues (cf. Cunha 1981, 1990). Enfim, em que pese a concepqgo altamente eurocentrica e elitista de Silva Neto, n5o se pode ignorar seu pioneirismo na introduq50 dos estudos crioulos no Brasil. De resto, essa era a opini5o da maioria dos crioulistas da epoca. Depois desse esforqo pioneiro de Silva Neto, houve um interregno de cerca de 20 anos sem que se falasse em crioulos, exceto os recem-mencionados Silvio Elia e Celso Cunha da dkcada de 60 em diante. Raras exceqdes da de 50, como Castro (1956), antes confirmam a regra. Com a vinda de Anthony Julius Naro para a Universidade Federal do Rio de Janeiro a crioulistica parece ter retomado o alento de mod0 definitivo. Com efeito, ele C conhecido no mundo inteiro por sua hipotese da "linguagem de reconhecimento" (reconaissance language), segundo a qua1 o pidgin portugues que serviu de base para os crioulos da costa africana e, talvez, outros, ter-se-ia formado em Portugal. Ele documenta sua teoria com ampla documentaq50 literaria da Cpoca, embora varios autores achem que essa hipotese n5o foi confirmada (cf. Naro 1978). Pelo contrario, ha varios argumentos e dados historicos em contrario. 0 fato C que, validada ou invalidada, ate hoje essa proposta tem sido discutida. Naro produziu diversos outros ensaios crioulisticos, tais como Naro (1973a; cf. tambem 1973b). Mas, creio que sua maior contribuiq50 A crioulistica brasileira foi sua atividade como professor. Ele criou todo um ambiente propicio a
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area, tendo orientado algumas dissertaq6es de mestrado e de doutorado. Uma delas e Carvalho (1977). Esse autor defende uma ideia pel0 menos curiosa. Segundo ele, "nHo existe falar crioulo no Brasil. Provavelmente, nunca existiu". 0 que existiu "foram varios falares de emergencia, instrumentos precarios de comunicaqiio, mais propriamente 'pidgins' " (cf. Carvalho 1979: 90!). Essa tese niio e absolutamente aceitavel. Se niio temos comprovaqiio da existencia ou nHo de crioulos tampouco a temos sobre a existencia de pidgins. A probabilidade de ter havido pidgins C muito alta, mas a de eles terem se desenvolvido em crioulos 6 igualmente alta. De qualquer modo, esse autor teve um contributo importante para a crioulistica brasileira. Uma outra discipula de Naro que elaborou uma dissertaqio de mestrado e outra de doutorado sobre temas crioulisticos foi Denise de Aragiio Costa Martins (cf. Martins (1977, 1990)). Alias, essa autora e justamente uma das que constitui o grupo de Brasilia (ver abaixo!). Embora niio diretamente discipulo de Naro, Pierre F. G. Guisan escreveu o primeiro ensaio sobre um crioulo especifico no Brasil, ou seja, o kristang da Malaca (Guisan 1992). Atualmente ele esta elaborando uma tese de doutorado, sobre o mesmo assunto. Uma ultima contribuiqiio de Naro foi ter despertado o interesse de outros professores do Rio para os crioulos. Assim, hoje em dia p e l ~menos umas 5 pessoas3 lidam, direta ou indiretamente, com esse tip0 de linguas, sobretudo ministrando cursos ou em pesquisa. NHo propriamente no Rio, mas na proxima Niteroi, esta surgindo um grupo que se dedica ao estudo das literaturas africanas de lingua portuguesa. Nesse contexto, as literaturas orais crioulas t&mtido um lugar de certo destaque. E o caso de Simone Caputo Gomes, entre outros (cf. Gomes 1994). Tambem em Niteroi se encontra hoje o ibero-crioulista John Ladhams, embora niio esteja ligad0 a nenhuma universidade. Nos anos 80 comeqou a surgir um pequeno grupo em Brasilia, em parte devido a minha vinda para ca. Mais quatro professoras, alem de mim proprio, fazem pesquisas tambim sobre crioulos, alem de outras especialidades. Uma delas e a j i mencionada Denise A.C. Martins. As outras trCs siio JosCnia Vieira da
Trata-se do proprio Naro, Maria Cecilia Mollica, Sebastigo J. Votre, Maria Carlota A.P. Rosa e Pierre F.G. Guisan, embora nem todos tenharn sido alunos dele. Maria Luiza Braga pertencia a Universidade Federal Fluminense, mas ja esta aposentada (cf. Braga 1982) (ver abaixo!).
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Hildo Hondrio do Couto
Silva4,Ana Adelina L6po Ramos e Christina de Abreu Gomess. NBo inclui Denise Elena G. da Silva, que atualmente se encontra no Mexico (cf. Coutol MartinsISilva 1990!).
A partir de meados da decada de 80 t6m surgido diversos produtos crioulisticos na Universidade de Brasilia. 0 primeiro deles 15 a disciplina Linguas Crioulas, agora integrante da pos-graduaqBo em lingiiistica. Duas dissertaqdes de mestrado ja surgiram, ou seja, Pinto (1994) e Ramos (1994). AlCm disso, diversas pesquisas menores sobre varios crioulos t&m sido produzidas. Uma aluna de graduaqiio esta trabalhando em um projeto de elaboraqBo de um dicionirio crioulo-portugu&s(crioulo da GuinC-Bissau). Quanto a mim, tenho publicado diversos ensaios, tanto no Brasil quanto no exterior. Salientaria, em primeiro lugar, o ja mencionado Couto (1994a)6. Trata-se de um conspecto geral do crioulo da GuinC-Bissau, abrangendo uma visBo historica, a situaqiio lingiiistica, um esboqo grarnatical e textos. Salientaria ainda os ensaios Couto (1993), sobre a historia da formaqio do crioulo portuguss na costa ocidental africana e sua versBo portuguesa, revista e ampliada em Couto (1992d)'. Um dos produtos mais importantes da crioulistica em Brasilia e Papia Revista de crioulos de base ibe'rica. Com um Quadro de Consultores de alto nivel intemacional, a revista surgiu em 1990, tendo saido ate o presente momento (1995) seis nfimeros.
0 sexto contem as atas do Coloquio sobre Crioulos de Base Portuguesa e Espanhola, realizado na Universidade de Brasilia de 3 a 6 de setembro de 1994, tendo contado com especialistas do mundo inteiro, sobretudo da Alemanha. 0 I1 Coloquio sera realizado em Berlim, em 1996.
A partir do numero 6 a seqBo "Registros" de Papia foi substituida por BECBoletim de estudos crioulos, cujos dois primeiros numeros ja sairam. BEC e um suplemento de Papia, e e enviado gratuitamente a todo crioulista que manifestar desejo de recebs-lo.
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Fez seu doutorado sobre aquisiqzo da fonologia por crianqas, mas de certo tempo para ca esti investigando a q u e s m do ensino em Cabo Verde. Fez mestrado sobre varia~iiofonologica no portuguts brasileiro, e agora esta elaborando tese de doutorado, justamente no Rio de Janeiro, sobre processos de crioulizaqiio. Pela mesma editora saiu Couto (1994b). Virios outros ensaios foram produzidos, tanto por mim quanto pelas outras professoras. As obras citadas conttm mais refertncias bibliograficas.
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Ate agora nossa pos-graduaqiio so tem o nivel de mestrado. A partir do primeiro semestre de 1996 pretendemos implantar o doutorado. Nesse contexto, as linguas crioulas ter5o um lugar privilegiado, de mod0 que Brasilia 6 o lugar mais indicado para se estudar linguas crioulas no Brasil. AlCm dos crioulistas locais, contaremos com a colabora$io de colegas de outras universidades brasileiras e estrangeiras. Seria interessante registrar tambem que em 1985 foi realizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) o primeiro encontro sobre estudos crioulos no Brasil, nos dias 23 e 24 de maio, embora sob o nome de I" Encontro de Sociolingiiistica. Participaram George Huttar, Tbnia Alkmin, Maria Luiza Braga, Fernando Tarallo, Eleonora A. da Motta Maia e Jiirgen Meisel. 0 coloquio de Brasilia, reckm-mencionado e, portanto, o segundo encontro do genero realizado no Brasil. 3.1. Onde estudar crioulos no Brasil Alem de Brasilia, os outros lugares onde se pode estudar crioulos no Brasil s5o Rio de Janeiro (pelas razdes ja vistas acima), Belo Horizonte (onde atua o professor Marco AntBnio de Oliveira, entre outros)s, Campinas (e na UNICAMP que se encontra Tbnia M. Alkmin, e o falecido Fernando Tarallo; os dois s5o co-autores do primeiro livro sobre crioulos publicado no Brasil, cf. Tarallo & Alkmin 1987) e na Bahia (em Feira de Santana Norma Lucia Fernandes de Almeida esta elaborando uma dissertaqiio de mestrado sobre a fonologia do crioulo guineense; em Salvador Dante Lucchesi e outros desenvolvem pesquisas sobre as comunidades negras; ver abaixo!). 3.2. 0 "grupo da Pensilvbnia" H i um grupo que eu chamaria de "grupo da PensilvBnia" (EUA). Trata-se de professores que estudaram nessa universidade norte-americana e travaram contat0 com linguas crioulas atraves de William Labov e, sobretudo, de Gillian Sankoff, tendo depois disseminado ideias crioulisticas no Brasil. Quase todos eles ja foram mencionados acima. Trata-se de Fernando Tarallo (cf. Tarallo 1983)9, Marco Antbnio de Oliveira (cf. Oliveira 1983), Solange de Azambuja Lira (Lira 1982) e Maria Luiza Braga (cf. Braga 1982). Um bom exemplo do re-
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Uma outra professora e SBnia Queiroz, que escreveu a dissertaqSlo citada em Queiroz (1984) sobre a linguagem de uma comunidade negra de descendentes de escravos de Despacho (Minas Gerais) (ver abaixo!). A referCncia bibliografica e a tese que defenderam la. De Tarallo deve-se salientar tambem Tarallo (1987).
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flexo de membros desse grupo na crioulistica brasileira e Tarallo (1987) em que se discutiu pela primeira vez a quest50 do bioprograma de Bickerton. Um outro seria Tarallo & Alkmin (1987). Apesar de n5o ser brasileiro, Gregory Riordan Guy tambem defendeu tese na mesma universidade sobre o portugues brasileiro. Alem disso, actuou durante certo tempo no Rio de Janeiro, tendo sido ponto de partida para muita discuss50 sobre a quest50 da crioulizagiio ou n5o-crioulizag50 previa no Brasil (Guy 1981). Embora n5o pertenga ao "grupo da Pensilvlnia", devo mencionar tambem Tlnia M. Alkmin, que defendeu uma tese de "3eme cycle" na Universite Rene Descartes, Paris, sob a orientag50 de Louis-Jean Calvet (cf. Alkmin 1983!). Ela e co-autora, com Fernando Tarallo, do primeiro livro sobre crioulistica escrito no Brasil (Tarallo & Alkmin 1987). 3.3. Estudos sobre as comunidades negras Uma situag50 muito interessante, e que tem despertado o interesse de muitos linguistas do Brasil e do estrangeiro C a linguagem das comunidades negras, em geral remanescentes de quilombos. A primeira a ser trazida a discuss50 e a de Cafundo (S5o Paulo), que foi estudada por Carlos Vogt, Maurizzio Gnerre e Peter Frylo. Quando existe alguma coisa de africano nessas comunidades trata-se quase sempre apenas de itens lexicais; a gramatica C basicamente a do portugu&s circundante. Com isso sua linguagem seria o contrkio dos crioulos. De fato, uma das primeiras definiq6es que se deu a eles foi a de que seriam uma lingua de vocabulkio europeu e gramatica africana. Por essa raz50, chamei esse tipo de linguagem de anti-crioulo (cf. Couto 1992a, 1992b). Andrade Filho (1993) retorna a linguagem da comunidade negra do Cafundo do ponto de vista sociologico, historic0 e linguistico. A nivel lingiiistico, contem uma descriggo completa de todos os niveis, ou seja, fonitico, morfologico, sintatico, semhtico, textual e, sobretudo, lexical. Sobre o Gltimo, inclui um glossario "cup6pia"-portugues e outro portugues-"cupopia" (um dos nomes por que a linguagem t designada pelos proprios falantes). Uma outra comunidade desse tip0 foi descrita por Queiroz (1984; cf, tambCm Queiroz 1993!). No entanto, a que tem despertado mais ateng5o nos ultimos anos 6 a de HelvCcia (Estado da Bahia). Ela foi descoberta por Ferreira (1969). Ultimamente o crioulista australiano Alan Baxter tem-se dedicado a ela tambCm (cf. Baxter 1992 e Baxter & Lucchesi 1993). Castro (1990) da um conspecto '0
Maria Cindida D.M. Barros defendeu a seguinte dissertagZo de mestrado: Politica de lenguaje en Brasil colonial. Escuela Nacional de Antropologia e Historia, Mexico, 1982.
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historico sobre essa situaqgo. 0 seu trabalho e muito util tambem em termos de referincias bibliograficas, uma vez que ela estudou a contribuiqiio africana para o portuguis na propria Africa. Ela defendeu a tese de doutorado De Irintkgration des apports africains duns les parlers de Bahia au Brksil (Universidade Nacional do Zaire, 2 tomos, 1976) (cf. Castro 1990). Hoje em dia, as comunidades de descendentes de africanos no Brasil vim sendo estudadas, alkm dos pesquisadores jB mencionados, tambem pela antropologa Mari Nasare Baiocchi de Goiinia (comunidade calunga, norte de Goias), por Margarida Maria Taddoni Petter e Mary Francisca do Careno (cf. Careno & Petter 1994) e muitos outros. 3.4. 0 estudo das linguas gerais Talvez devido ao quadro historico esboqado na seqiio 2 acima, no context0 dos estudos crioulos no Brasil niio podemos esquecer as linguas gerais. Frequentemente s5o oriundos do estudo das linguas indigenas. 0 primeiro que poderiamos salientar e o ja mencionado Aryon Dall'Igna Rodrigues. Na parte final de Rodrigues (1986) ele traqa um otimo perfil desse tip0 de lingua. Modernamente, tim surgido alguns jovens pesquisadores que estudam o assunto. Dentre eles eu salientaria Maria Cindida D.M. Barros, Luiz C. Borges, Marcio Meira e Maria Carlota A.P. Rosa. 0 s tris primeiros tim se preocupado com a politica linguistica existente em torno da lingua geral, traqando inclusive um perfil hist o r i c ~da quest50 (cf. Barros/Borges/Meira 1994)". Quanto a ultima, fez um estudo sobre as gramaticas do tupi colonial, que iniciou a mais importante lingua geral do Brasil (cf. Rosa 1992). Em Couto ( 1 9 9 4 ~ )temos uma primeira abordagem a lingua geral paraguaia de base guarani, chamada jopara. Embora n5o se trate de lingua geral, no sentido estrito, o estudo de Charlotte Emmerich sobre o portuguis de contato dos indios do Xingu tambim merece ser trazido a baila. Sua tese de doutorado e A lingua de contato no Alto Xingu (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1984), mas h6 ensaios menores publicados avulsamente (cf. Emmerich 1992)12. 0 portuguis de contato do Xingu e o portugu&spidginizado usado por falantes de diversas linguas indigenas que convivem no Parque Indigena do Xingu. Na historia de sua formaqiio pode-se ver ate mesmo especimes de "foreigner talk" usado pelos sertanistas para com os indigenas que desconheciam o portuguis (cf. Couto 1995, cap. I.4.i).
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Em Couto (1992a, 1992b) temos muitas referencias sobre essas linguagens, inclusive as desses tr@sautores. Gomes (1994) trata de um aspect0 gramatical desse portugues de contato, ou seja, do uso da preposi@o.
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3.5. Crioulo franc& no Brasil Falando de estudos crioulos no Brasil, n5o poderia deixar de citar Tobler (1983) e Tobler (1987). 0 primeiro e uma gramatica relativamente completa do crioulo dos indios karipuna do Amapa, extremo norte do Brasil. Esse grupo indigena tupi habitava a ilha de Marajo at6 1830, quando emigrou para as margens do rio Ouanari (Guiana Francesa), adquirindo o crioulo francis local e perdendo sua lingua originaria. Em seguida, retomaram para o Brasil, continuando a falar o crioulo francis. 0 segundo livro e um dicionario karipuna-portugu&s/portugu&skaripuna. Nesse contexto eu gostaria de mencionar o trabalho isolado de Julieta Andrade, dedicado tambem ao crioulo fianc&s,mas desta feita ao crioulo dos imigrantes da Guiana Francesa e do Caribe em Macapa, Estado do Amapa (cf Andrade 1984). Ela n5o e linguists, portanto, seu trabalho e bastante impressionistico. No entanto, tem o merito de ter registrado o crioulo desses imigrantes.
4. Alguns estrangeiros no Brasil Virios crioulistas estrangeiros t&mvisitado o pais e, consequentemente, aumentad0 o cabedal de conhecimento crioulistico. Um dos mais importantes e Derek Bickerton. Nas suas diversas visitas ao pais, ele ja deu cursos em Campinas (UNICAMP), em S5o Paulo e no Rio de Janeiro. Ademais, ja publicou dois artigos na mais importante revista brasileira de linguistics, isto 6, Delta (cf. Bickerton 1989, 1993). Tudo isso contribui para o cenario crioulistico nacional. Outros crioulistas que ja deram cursos e conferCncias e que, portanto, t&m contribuido para a difus5o dos estudos crioulos s5o Alan Baxter, Pieter Muysken, Jurgen Meisel, etc. 0 primeiro deles deixou pel0 menos dois seguidores, ou seja, Dante Lucchesi (Salvador) e Maria Carlota A.P. Rosa (Rio de Janeiro), ambos ja mencionados. Como se v&, a crioulistica no Brasil n5o e quantitativamente muito rica. No entanto, para o contexto latino-americano creio que nenhum pais esta em melhores condi~6es.Nem mesmo Portugal e Espanha, que deslancharam todo o process0 que deu lugar a uma grande quantidade de crioulos, t&m um movimento crioulistico mais importante do que o brasileiro. A tend&nciae aumentar. BIBLIOGRAFIA ALKMIN, TBnia (1983): Les 'Portugais' de Ziguinchor (Se'nkgal). Approche sociolinguistique d'une comrnunaut&cre'olophone. Paris: These 3e. cycle, Universitk Rent Descartes.
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Francisco da Silva Borba Universidade Estadual Paulista Conselho Nacional de Pesquisa Tecnologica
DICIONARIO DE USOS DO PORTUGU~SC O N T E M P O ~ N E O 1 . 0 Centro de Estudos Lexicograjicos (CEL) instalado no campus de Araraquara (UNESP - Universidade Estadual Paulista) tem como objetivo principal proceder a investigagbes sobre as propriedades sintatico-sembnticas do lexico corrente do portugu2s contemporbneo do Brasil. Para isso utiliza um corpus de 15 000 000 de ocorrencias de palavras na lingua escrita a partir de 1950 e compreendendo literatura romanesca, jornalistica, dramatica, tCcnica e oratoria. 0 resultado destas pesquisas sera express0 em forma de dicionario(s), sendo o primeiro o Dieionbrio de usos do portugub contemporcineo do Brasil (DUP). AlCm deste, ainda estiio em andamento o Dicionario de freqiiencias do portuguEs, coordenado por Maria Teresa Biderman e o Dicionario prhtico grego-portugu&s,coordenado por Maria Celeste Dezotti.
2. 0 DUP, cujo projeto foi encampado pela Editora ~ t i c a(SP), esta, no momento (dez-95), com aproximadamente 15 000 verbetes prontos. 0 fato de pretender contribuir para a agilizaqiio do uso efetivo da lingua, Ihe confere uma caracteristica basica: 12 o primeiro dicionario em lingua portuguesa que resulta de uma analise previa e exaustiva de uma modalidade de lingua bem determinada no tempo e no espago. Isso niio quer dizer que o DUP so contenha o que est6 nos textos escritos. E um ponto crucial, mas o que pode ocorrer tambem esta previsto num esquema especial de notaqgo, os colchetes. 0 fato de ser um dicionario de abonagbes fornece um primeiro critCrio (objetivo) para a selegiio de entradas e, principalmente, selegiiolordenagiio de acepgbes, o que niio acontece com os dicionarios de registros de possibilidades. Por exemplo, caniqo tem, no AurClio, (2" edigiio revista e aumentada, 1986) 5 possibilidades significativas: 1. cana delgada; 2. cana comprida e flexivel da qua1 pende um anzol, para pescar; 3. magricela, magrelo; 4. perna fina, canicula; 5. trangado de canigos ou canas delgadas com que se fecha a parte traseira dos carros de boi, com que se fixam nos carros a carga leve e miuda etc. 0 Novo Dicioncirio Basico da Lingua Portuguesa Folha/Aurilio, que esta sendo publicado em fasciculos pela Folha de S. Paulo, eliminou a acepgiio n. 5. JB o DUP vai registrar 3 dessas acepgbes: n. 1, n. 2, e n. 4 e mais, para perna fina ocorre caniqo, sim, e cambito, mas niio canicula, so usada para designar calor muito forte.
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3. Por entender que o uso e regulado pela gramatica internalizada pel0 usuBrio, o DUP apoia-se num suporte gramatical bem definido que orienta niio so a seleqiio de informaqdes gramaticais no verbete, mas tambkm sua propria organizaqiio. Assim, o levantamento de propriedades gramaticais, ou melhor, de propriedades sintatico-sembnticas do lexico pretende ser exaustivo, mas so seriio apresentadas aquelas que forem pertinentes para orientar o uso. Por enquanto estamos descrevendo palavras lexicais - nomes, adjetivos e verbos, atravCs de dois esquemas combinados - um sintatico e um sembntico. 0 sintatico da conta da complementaqiio e o sembntico, do conjunto de acepqdes. A distribuiqiio ajuda a demonstrar como esses dois niveis se relacionam. 0 esquema sintatico apoia-se numa gramatica de valencias, ou seja, numa teoria gramatical que toma as classes maiores (nomes, adjetivo, verbos) funcionalmente como predicadores subjacentes e, portanto, vinculados a argumentos externos e internos, ou seja, argumentos que se realizam como sujeitos ou como complementos, ambos preenchidos por construqdes nominais. As construqdes nominais tCm o nome como nucleo, o que quer dizer que ele ocupa varios niveis funcionais, podendo constituir uma construqiio por si so ou associar-se com outros constituintes. A fun950 de sujeito para os nomes niio e anotada, evidentemente, a estrutura dos complementos sim, e e a valencia que determina quais nomes tern complemento(s) ou niio. A maioria dos nomes valenciais provem de radicais verbais e, portanto, conservam a mesma complementaqiio, sujeitas, e claro, a regras transformacionais: o complemento direto do verbo passa a forma de + nome como complemento dos nomes. Ex: (1) A prefeitura alargou as avenidas e canalizou os cdrregos > o alargamento das avenidas e a canalizaqgo dos cdrregos pela prefeitura). 0 complemento preposicionado conserva, em principio, a mesma preposiqiio na nominalizaqiio. Ex: (2) Obedecer 2 lei > obediCncia a lei; Devemos conjiar em Deus > Nossa confianqa em Deus). Por economia notacional, optamos por niio marcar a inexistencia de complemento, somente a presenqa (+) e a omissiio ou apagamento do complemento (-) [*Compl]. Por ai se v& como a adoqiio de um suporte gramatical que descreve o lexico tambem ajuda na organizaqiio interna dos verbetes, aspect0 que os dicionarios correntes da lingua niio adotam ou niio desenvolvem sistematicamente.
0 s nomes siio descritos, por um lado, a partir de um conjunto de traqos combinatorios suficientes para dar conta de sua distribuiqiio - concreto, abstrato, animado, humano, contavel, e, por outro, pelo levantamento das acepqdes contextuais. 0 ponto de partida, regulador e delimitador de acepqdes e a subclassificaqiio do nome como concreto ou como abstrato. Concebendo-se a gramatica como niio discreta, principalmente com relaqiio a sua taxionomia, estes conceitos so siio retidos se estiverem em oposiqiio no uso. Por exemplo, abrigo usado como concreto pode significar roupa para aquecer ou para esporte, casa de assist2ncia social, esconderijo, saguiio, enseada etc. e, usado como abstrato,
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proteggo, refigio, amparo. Comparem-se estas duas seqiiencias: (3) 0 aguilhiio feriu o focinho; ( 4 ) Cristo niio padecia naquele instante uma ansiedade vaga, estimulo de estetas e aguilhiio de fildsofos. E evidente a oposiqgo entre (3) concreto, portanto ferriio e (4) abstrato, igual a estimulo, incentive. Se o nome e usado como concreto, pode ser necessaria a retenqgo de outros tragos para contrastar as acepq6es. Assim, capanga como n5o animado 6 um certo tipo de bolsa pequena, como animado, significa jagunqo ou guarda-costas. A palavra gat0 e comumente usada como concreto animado, mas como animado n5o humano, se refere a felino domestico, aos felinos selvagens (onqa, pantera) ou a seus filhotes, ja como humano alude a pessoa sensual, a ladr50, a contratante de trabalhadores rurais volantes. Macaco op6e animado - o primata tambim chamado simio, mico ou mono - a n5o animado - maquinismo provido de manivela para levantar grandes pesos; como animado, pode ser n5o humano, o simio, e humano - soldado de policia. Rebanho 6 sempre concreto animado e coletivo; aplicando-se a n5o humanos significa (i) conjunto de animais que se cultiva principalmente para o corte, (ii) porqiio de animais (carneiros, cabras etc.) guardados por um pastor, e, aplicando-se a humanos significa (i) conjunto de Jie'is em relaqiio a seu pastor, (ii) grupo de pessoas que se deixam levar sem mangestar opiniiio e vontade prdprias, (iii) conjunto de pessoas com um objetivo comum. 0 trago contavel, quando em oposiq5o contavelln50 contavel, ajuda a descrever conjuntos especificos. Por exemplo, com os nomes dos animais domesticos, contavel se aplica a cada individuo da especie (um cabrito, dois carneiros, tres galinhas) e n5o contavel, a carne de (Cp: Comprei dois cabritos/comemos cabrito no jantar); nos nomes de planta, contavel comumente se aplica a planta, ao fruto, a semente (Cf. abacate, abacaxi, soja) e n5o contavel, d substiincia (cf. 0 abacaxi P diurdtico; a soja P mais nutritiva que o feijiio comum), a produq5olproduto (cf. o abacate deve gerar lucro de 3 milhdes; corporaqdes transnacionais planejaram a dijiusiio da soja), ao preqo (cf. a soja e milho sofrem queda nus cotaqdes), ao plantio (cf. o manejo e o preparo do solo sa"ofeitos tendo em vista a soja ou o pasto). Quando o nome e usado como abstrato, ha possibilidade de um contraste entre abstrato de aq50, de processo ou de estado. Como os nomes abstratos s5o comumente usados como nlicleo de predicado, associam-se a verbos suporte como fazer e dar para os de aq50, ter para os de processo e ter, estar em/com para os de estado. Nomes como simpatia ou sustentaqiio ocorrem tanto como abstrato de aq5o como de estado. Ex: (5) Fizeram simpatia para que o corpo desse na praia / Tenho uma certa simpatia por autores de comprovada incompet6ncia; (6) homens a quem cumpre dar sustentaqiio politica ao meu governo/ um bast60 Jibroso que funciona como eixo de sustentaqiio do corpo. Nomes como regougo ou soluqo funcionam como abstrato de aq5o ou de processo: (7) Ouviam-se guinchos, urros, regougos / u m regougo, uma sororoca, uma composip?~de vozes estranhas atropela-se na garganta defeituosa; (8) As pornbas cinzentas guaiando soluqos / acessos de tosse,
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acepqdes no maximo (cf. candincia = ardor, arrebatamento). 0 mais comum e ter-se (i) definiqdes que niio se ajustam, (ii) definiqdes vagas ou eclecticas, (iii) definiqdes que devem ser desmembradas ou que, ao contrario, devem ser reunidas, (iv) acepqbes que niio ocorrem, (v) acepqdes que ocorrem, mas niio siio registradas. Tomando-se as tr&sprimeiras acepqbes para carne, no Aurelio, temos: 1. tecido muscular animal ou humano; 2. a parte vermelha dos mtisculos; 3. a carne dos mamiferos encarada (sic) como alimento. Ora, a parte vermelha tanto se aplica a came animal ou humana; servir para alimentaqiio se aplica a qualquer ser vivo e niio simplesmente aos mamiferos e, as vezes, as aves. A falta de comparaqiio sistematica com o uso real leva a anotaqiio de diferenqas sutis que niio se realizam, como se v&,no mesmo AurClio, no verbete capital: 9. qualquer bem economico suscetivel de ser aplicado na produqrlo e 10. qualquer riqueza capaz de dar renda e que se emprega para obter nova produqcib. Entre as definiqdes vagas ou ecleticas estiio acelga e mexilhrlo. Este e apresentado como molusco bivalve da familia dos mitilideos, e aquela como erva da familia das quenopodiaceas. Desmembraveis siio todas as definiqdes de nomes abstratos derivados de radicais verbais, sistematicamente apresentados como ato ou efeito de v. (verbo). Na verdade, o verbo niio se nominaliza simplesmente como aqiio (cf. nascer, crescer > nascimento, crescimento [processo]; gostar, afligir > gosto, afliqiio [estado]). 0 resultado da aqiio tambCm pode ser um estado. Ex: (9) Tou aqui pra me acoitar da policia e pedir a proteqrlo de meu padrim mode uma vadiapTo que andei fazendo nu capital; (10) Ocupar a rede nu oJicina pra prosseguir nu vadiagem. Em (9) vadiaqGo e contraven~rlopenal, ato ilicito, uma aqiio, portanto, e em (lo), vida de vadio, vagabundagem, um estado. Por outro lado, poderiam ser reunidos numa acepqiio so administrador, 2. pessoa encarregada de uma ad minis trap?^, 3. aquele que administra. As acepq6es que nEo ocorrem ou que, ao contrario, ocorrem nos textos, mas niio siio registradas nos dicionarios, constituem o grosso da situaqiio. Por exemplo, para abutre, o Aurelio registra 6 acepqdes; para borboleta, 10; para canteiro, 4 e para caixeiro, 4. Dessas, so ocorrem 3 para abutre, 6 para borboleta, 3 para canteiro e 1 para caixeiro. Abrigo, abismo e acesso t&m,no DUP, 1 1 acepqdes cada. Dessas, o Aurelio registra 9 para abismo, 7 para abrigo e 6 para acesso. 0 s dicionarios em geral niio tbm condiqiio de registrar varios aspectos da dimensiio pragmatica da lingua, pois que estiio mais preocupados com a dimensiio semintica. 0 maximo que fazem C usar indicaqdes vagas comofig [figurado], por ext [por extensiio] ou tentar rotular registros [Popular, chulo, poitico etc] tambem imprecisamente. Dessa forma perde-se um expressivo volume de dados sobre o uso real.
0 esquema descritivo adotado para o DUP permitiu logo eliminar as indicaq6es de Jigurado e por extensrlo, mesmo porque niio se trata de alguma coisa topica e acidental, mas de expedientes comuns e sistematicos. Por que o Aurelio
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registra acepq6es figuradas em abismo, abutre, boneca e nada assinala em banana e vagalume quando, em todos os casos, ha metaforizaqiio? Por que em candango, o sentido n. 5 [qualquer dos primeiros habitantes de Brasilia ( D F ) marcado como extensivo e zunzum n. 2 [boato],n8o? E niio C por extens60 que muitos nomes concretos s5o usados adjetivamente para indicar cores? (cf. uma blusa abacate, sapatos areia, jaqueta cereja). E siio registrados diferentemente. Por ter compromisso direto com o texto, o DUP esta tendo possibilidade de registrar diversos aspectos relacionados com os mais diversos setores do uso, a comeqar pelo tom da conversaqiio. 0 que os dicionarios as vezes registram como literbrio ou podtico n8o se liga diretamente a palavras sen50 ao texto, a seqiiencia que, por sua vez, pode ter tom solene e ate pomposo, como tambem jocoso, resvalando para o ircnico, e assim por diante. Veja-se em (1 1) que e a frase toda que permite rotular o tip0 de uso das palavras em grifo: (1 1) a. um desses depdsitos, o maior da urbe. (irdnico) b. Tem mais e' quependurar essa vulva! Qocoso) Hala-se com uma prostituta] c. Tu ds um viajor sedentario. (solene) d. 0 gaucho contempla a imagem da querbncia bem amada em tempo de primavera, colorido vergel. (pomposo) -
Somente com relaqso ao discurso e que se pode falar em euforia e disforia uma vez que siio valores ligados niio s6 ao contexto, mas tambem a situaqiio de discurso, e ate ao estatuto dos interlocutores. Ex:
(12) a. As mulheres de Ipanema se transformam em musics, s6o cantadaspelo charme, veneno e aquele algo mais de cada uma b. houvemos muito pejo de assim andarem nossas vergonhas expostas, nuelos em pblo e aflor do ar C.Mestre Lindolfo defronte a tela, passinhos pra tras, ventas quase colocadas ao quadro tal a miopiaprecoce. d. A mulher era urna puta, daquelas rebolantes, peituda, tetas em riste.
A expressiio Que rabo! tera um valor euforico ou disforico conforme a situaq5o em que se der o discurso: euforico referindo-se a sorte de alguem num jog0 de cartas, por exemplo; mas disforico se for uma exclamaqiio grosseira de avaliaqiio do traseiro de uma mulher que passa. Ha palavras que ja carregam um traGo negativo. Essas, no discurso direto, facilmente passam a insultos (cf. Por dentro vocS esta contente com a minha desgraqa. Vibora! E o teu braqo, o teu braqo que falta? Sua vagabunda, eu devia dar uma surra de moer vocR) 0 s nomes de animais, principalmente domesticos, quando se referem a seres humanos, ti?m usos euforicos ou disforicos (cf. cavalo como pessoa muito forte ou como individuo estupido e grosseiro; gat0 como pessoa sensual ou como la-
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drgo), alguns, especialmente no feminino, s5o sempre disforicos [cf. vaca, galinha, kgua usados no discurso direto para insultar mulheres]. Todo emprego disforico pode resultar num texto em tom depreciativo [ex: Do Diretor escutara que o Doutor era uma zebra] ou, no discurso direto, em insulto, que pode ser fraco ou forte, pesado conforme a situaq5o ou o grau de aproximag50 existente entre os interlocutores: enquanto nuns casos e verdadeira ofensa, em outros pode ate traduzir intimidade [cf. os diversos empregos da express50 filho da puta]. Ainda o disforico pode chegar ao chulismo, o uso direto da palavra de significaq50 grosseira (cf. os diversos nomes das chamadas "partes pudendas", das "vergonhas" referidas em (12b)). 4. 0 s adjetivos s5o colocados primeiro em dois grandes grupos: qualificadores e classificadores. 0 s primeiros acrescentam algum traqo (atributo) ao nome sobre o qual incidem (cf. palmeira alta; rio comprido; terreno arenoso), e os segundos colocam numa nova subclasse semintica o nome sobre o qual incidem (cf. escola estadual; reforma agraria; queijo franc&). Costuma-se dar como principal diferenqa entre urn e outro, o fato de que o qualificador e graduavel (cf. palmeira muito alta, altissima; terreno um pouco arenoso) e o classificador, n5o (cf. *escola muito estadual; *reforma bastante agraria). Como a subclasse do nome regula, grosso modo, a distribuiqgo dos adjetivos, procurou-se marcar, quando pertinente, a subclasse do nome sobre o qual o adjetivo incide. Por exemplo, acossado [= acuado, perseguido] incide sobre nome animado (cf. um animal acossado; o homem contemporrineo acossado por toda espe'cie de pavores); acre, incidindo sobre nome concreto, significa irritante (cf. a fumaqa acre e enjoativa), incidindo sobre nome abstrato, pode significar de sabor dcido ou amargo (cf. a reserpina tem um sabor acre); rispido, desabrido ( o humor acre do carcere); violento (nrlo se fala do acre combate nas ruas). Essa decis5o ngo so torna evidente a distribuiqgo (cf. aziago so se aplica a nome abstrato; baio so se refere a animais) como contribui para uma organizaqiio mais racional do conjunto de acepq6es, principalmente para adjetivos de amplo alcance semintico como alto, por exemplo, que tem 7 acepq6es relacionadas a nome concreto n5o animado, 2 com nome humano, e 14 com nome abstrato. Como os nomes, os adjetivos tambem sgo valenciais ou avalentes. Sendo valenciais, ter5o obrigatoriamente marcada a estrutura complementar (cf. acomodado [Compl: a + nome]), acusado [compl: de + nome], confiante [compl: em + nome]).
5. 0 s verbos s5o subclassificados em 4 grupos: de aqiio, de processo, de aq5oprocesso e de estado. Um verbo de aqgo expressa uma atividade associada a um sujeito agente: o galo canta; o passaro voa. Um verbo de processo expressa urn evento ou sucess5o de eventos cujo suporte esta num sujeito objetivo ou experimentador: a chuva parou; Ana sente frio. Um verbo de aqiio-processo expressa uma mudanqa de estado ou condiq50 levada a efeito por um sujeito agente ou causativo e atingindo um complemento que e, entgo, afetado ou efetuado: Ana
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abriu a porta; o raio partiu a cirvore;faca elktrica corta presunto em fatias finus; Maria tricotou uma blusa. 0 verbo de estado expressa uma propriedade, urna condiqiio ou urna situaqiio localizadas num sujeito objetivo ou experimentador: Na regia"o de Araraquara abundam os canaviais; Paulo arna Dirce. Pode ser tambem que um verbo cumpra funqaes gramaticais como a atuciliariadade, a modalizaqEo e o suporte. E auxiliar o verbo que integra um cornplexo de valor unitario, onde o verbo principal 6 o nucleo do predicado e ao auxiliar compete expressar categorias de tempo, modo, aspect0 e voz: Teresa tinha saido; 0 trem vem chegando; 0 Papa foi saudado pelosfie'is. E modalizador o predicado que rege outro predicado para expressar urna modificaqiio da relaqiio entre o sujeito e o enunciado, traduzindo assim urna atitude subjetiva do falante em relaqiio ao que ele comunica. Cp: JoEo k bom > JoEo deve ser bom; 0 empresario nbo trapaceava, mas podia trapacear se quisesse. 0 verbo suporte participa de uma construqiio complexa como mero suporte de categorias verbais (tempo, modo, numero, pessoa) urna vez que o nucleo do predicado esta num nome (comumente abstrato): ter medo [= temer]; dar, causar medo [= amedrontar]; abrir falincia [= falir] . No DUP, niio se menciona o sujeito porque ele, por si so, niio 6 capaz de indicar nem mesmo a subclasse verbal. Se fosse assim, sujeito agente sempre indicaria verbo de aqgo urna vez que ele e automatico para essa subclasse. Mas tambem pode indicar aqiio-processo. Logo, a distinqiio esti na presenqa ou aus&ncia de complemento elou na estrutura deste. Assim, determinada a valencia do verbo, di-se urna atenqgo especial a sua complementaqiio. Outros expedientes gramaticais como forma pronominal, forma impessoal, forma unipessoal so seriio chamados quando pertinentes para o uso. A estruturaqiio de cada verbete dependera naturalmente do estatuto de cada palavra no uso. Para ilustraqiio apresentamos alguns verbetes:
ABISMO N [Usado como concreto] 1. lugar profundo; precipicio; voragem: ia debruqar-se no abismo do poqo de ventila@o (CF); os abismos que ladeavam o caminho (BU) 2. caos; imensidiio: o mundo retornando do abismo, se recompondo, reunindo seus pedaqos (DE); de que abismos nascemos, viemos? (AVE) 3. (PL) 3.1. cavidade cujo fundo e desconhecido; profundezas: um oceano em cujos abismos jaziam caravelas ibkricas (REP); a dgua que niio teme os abismos (AVE); 3.2. inferno: a ma"o tremendamente vingadora desce aos abismos (NE-0) [Usado como abstrato] [E. 11 [Vsup haver]. 4. [PL] dificuldades; problemas: apesar de sd estar de volta a esta casa hci dois dias, ja sinto abismos praticamente intransponiveis (A);sentimento capaz de criar abismos irremediciveis (ESS); as estradas da vida sa"o todas crivadas de abismos (CH) 5 . grande dist5ncia ou diferenqa: o abismo doutrinririo entre ele e o catolicismo (EV); Lula sente o abismo que agora os separa (N);abriu urn abismo entre o povo e o go-
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verno ( D ) 6 . iimago; fundo: No abismo de si mesmo, o gigantesco trabalho de colecionar sofrimentos ( 0 s ) 7. mistirio: o mundo fricil, sem abismos (ML); Europa labirintica de abismos e de enigmas (AM-0) 8. confuslo: o govern0 6 a anarquia, o caos, o abismo (TEG) 9. [E intensificador precedendo de + nome abstrato] o abismo do sofrimento (FA); os abismos do esquecimento (FE) 10. [E quantificador precedendo de + nome concreto] o abismo da bebida (A) 11. [Nucleo de construqlo adjetiva] [de a.] abismal; profundo; insondavel: uma separaqio de abismo (OE); afigura da sobrinha e seus olhos de abismo (CF). AMAR V 1. [El 1.l. [* Compl: nome]: ter afeiqiio a; sentir ternura ou paixgo por: Ame'lia amava Humberto (BH); comeqamos a amar tio Pedro (BH); Dorinha ama os bailarinos, os artistas de cinema (CE); Robe'rio ama o sertfio onde nasceu (VP); Quem n i o ama S i o Paulo n i o e' born brasileiro (Amado-0); Quem amafica cego, nada vH (2) I1 Sujeito e complemento em simetria podem coordenar-se e, entlo, condensarem-se ambos numa forma indicativa de plural: Nando ama Lucia > Nando e Lucia amam-se > E vocHs se amaram para o resto da vida (FA) 1.2. [Compl: nome nlo animadoloraqlo] gostar de; apreciar: Abilio amava a solidio (ML); seu filho jri n i o ama o jog0 (AE); Martim amava danqar (PN) 2. [A] [h Compl: nome humano] praticar o ato fisico do amor; copular: Naquela noite Nando amou pela primeira vez uma mulher no mais puro espirito de caridade (Q); gosto tanto de amar no verrib (SE) /I 0 compl. pode coordenar-se ao sujeito e, entlo condensarem-se ambos numa forma indicativa de plural: Geraldo e a mulher amaram-se sem muito prazer (DB); Rodrigo reviu Dulce seminua na cama onde se haviam amado durante trHs meses (TV).
BOM I. Adj 1. [Qualificando nome humano] 1.1. benevolo; bondoso: Tio Gino era muito bom (ANA); o meu bom amigo vai me desculpar (BH); Foi um homem simples e born (JL-0) 1.2. que alcanqou alto grau de proficihcia; competente; eficiente: 13 urn bom me'dico (BE); Rejane e' boa bailarina (BB); 6s born detetive (HP);pode se tornar um bom goleiro (FB) 1.3. rigoroso no cumprimento de suas obrigaqdes: Continuo sendo urn dtimo dentista, um bom marido, bom pai (ANB); e' tido como um bom chefe de familia (CRU) 1.4. (Pop) corajoso; valente: urn indio born nunca berra (C); o hominho aqui e' dos bons (CE); Totonho andava por Iri. Bicho bom. Apanhou, mas fez bem feito (CR) 1.5. estudioso; aplicado: um bom aluno (AE); VocH aprende ligeiro. E muito bom aluno (OE) 1.6. paciente; educado: 0 s bons ouvintes jri devem ter percebido o meu drama (BOC); julgam que e' um bom moCo (BH) 1.7. legitimo: um poeta, como todo born sertanejo (AM-0); Valdemar BulhGes, born mineiro (BH) 1.8. [Posiqb predicativa] [precedido de um] refinado; apurado: quem paga a casa e' urn born calhorda (GA); pelo menos juridicamente foi considerado um bom ladrio (AFA) 1.9. [Classificador: em + nome n5o animado] destro; habil: mulato acaboclado, de meia-idade, um gigante, born nos pince'is e nus tintas (ANA); Se os da casa eram bons nas apostas, as vizinhas nfio ficavam atras (ANA) 1.10.
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[Compl. corn + nome human01 afavel; tortes: Seja born corn as rnulheres (BU) 1.11. [Posigiio predicativa] [Vsup estar, ficar] bem de saude; siio: Mas eu ja estou born, protestei (AFA); Perguntou se todos nu casa dele estavarn bons ( A M ) ; Ora, Mauro, vocd ha deficar born (AV) /I Para 1.2, 1.3 e 1.6 a posigiio preferencial C antes do nome. 2. [Qualificando nome de entidade relacionada corn a religiiio] 2.1. misericordioso; clemente: Deus k born, mas justo (SUC); Meu born Deus! Tu que ks grande e onipotente (CRU) 2.2. protetor; guardiiio: era urn sorriso de anjo born (CA); eu tenho anjo born, santo born e reza brava (SA) 3. [Qualificando nome concreto] [Compl: para + nomeloraqiio] 3.1 . adequado; apropriado: urn cantador de rneia tigela, born para uns bofet6es (FO); Tome o rernkdio, vovd. E born para a press20 ( I ) ; mum20 k born para o intestino (FAV); urn vento born para se encher o pu1rna"o (B); o ponto k born para fazer urn barrac2o (CBC) 3.2. Gtil: o autorndvel k born para a sociedade? (FA); parece que palavreado dzficil k born apenas para esses fildsofos franceses (BU) 3.3. [Compl: de + nome] que se sai muito bem: seu carnelo k born de sela (BP); o gad0 baio n2o k born de leite (BS); Ele k novato aqui, mas k born de sewiqo (CAS); esse cabra k born de fala (IN) 4. [Qualificando nome niio animado] 4.1. que funciona bem: No rnais, era urn born carrinho (BP); N2o precisa de calqa quern tem bons suspensdrios (AVE); 0 s reldgios erarn bons (CNT); ele disse que a bateria estava boa (ANB) 4.2. saboroso; gostoso: a preferdncia de quern busca urn born jantar (CV); a comida k boa (A); convites para uma boa feijoada (BE) 4.3. de qualidade (acima da mtdia): destacava-se a fruteira de born cristal (AM); este furno e' born? (CAS); rnoquear a linda rnenina nurn born braseiro de pau-brasil (PH) 4.4. eficaz: dava-lhe urn bom verrn~ugo(ANA) 4.5. fertil; produtivo: Raiz robusta enseivada em boa terra (AM-0) 4.6. confortavel: rnoravarn nurna casa grande, boa (AU-ESP); Vote vai logo descansar nurna boa carna (PP); esses tdm o seu born carro e rnotorista particular (BP) 4.7. nutritivo: leite born, grosso, corn nata (R) 4.8. que denota bondade ou rnansidiio: urna tranqiiilidade arniga nos seus olhos bons (BH); n o ~ d e sde generosidade; born coraq2o (BE) 4.9. quantitativamente apreciavel ou razoavel: a garq2o recebeu urna boa gorjeta (B); lamentando n2o ter tirado urna boa bolada (AM); boa parte da conversaq20 processou-se no nivel rnetalingiiistico (AN); ainda lhes falta urn born pedaqo de carnpo (OES) 4.10. [Compl. para + nome (temporal)] marcado; acertado: rnandararn perguntar se tern enterro born para hoje! (ANA) 4.11. bem feito; caprichado: 0 visual encanta, mas se na"o vier acornpanhado de urn born roteiro, vai tudo por agua abaixo (AM); quero ver urn born filrne (BE) 5. [Qualificando nome abstrato] [Posigiio preferencial: preposto] 5.1. seguro; garantido: Gostou do sorn? Cornprei a prestaq20. Urn born investimento (CHU); Urn born casamento ainda k o anseio da rnaioria [das chacretes] (CRU); ganhar tempo para preparar urna boa defesa (A); cornprovou a boa produtividade das sementes (AGF) 5.2. lucrativo; proveitoso: ser chacrete passou a ser urn born negdcio (CRU); o produto nacional rnantkrn urn
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born mercado (BEB); visa exclusivamente a bons proventos (AM) 5.3. certeiro; bem aplicado: urn born tapa nu boca nos faria engolir palavrtio ou blasfkmia (ANA); Levei uma boapetelecada de mamtie (ANA); Urn born tiro aquele: trespassou o coraqtio (FR); Ataide tinha dado urn born beijo em sua mulher (AF) 5.4. agradavel: encontrar algue'm que tenha urn born pap0 ( A M ) ;fazendo da leitura urn born passatempo (BIB); o cheiro born do mato (BP); houve boas surpresas (BE) 5.5. benkfico; salutar: passar bons Jluidos (BEN); temos terras ,fkrteis abundantes, urn born clima (CPO) 5.6. equilibrado: mais permecivel ao born senso (A) 5.7. demorado; caprichado: precisava de urn born banho (ANA); gostava de uma boa cdcega nu barriga (GT) 5.8. propicio; favoravel: sa"o os bons auglirios de astros favorciveis (BS); bafejado pelos bons ventos (CAR-0); Nunca tinha visto Fontoura ttio calmo, o que lhe parecia de born agouro (Q); desejam a nossa clientela urn born 68! (DE) 5.9. sincero; verdadeiro: uma boa amizade deve ser preservada (AMI) 5.10. abundante: meio caminho andado para uma boa colheita (GU) 5.1 1. [nome] respeitavel; honrado: Na"o acredito no que dizem, mas Silvia na"o tern born nome (CC); evitar campanhas lesivas ao born nome do Brasil (JK-0) 5.12. promissor: jci k urn born comeqo (JL-0) 5.13. correto; certo: a regra do born viver (CL); eu deveria ter dito em born inglSs (FE); chamada ao born caminho, numa oportunidade dramcitica (BH) 5.14. amplo; grande: jci estava corn born apetite (GT); a conquista de uma boa cultura (AE) 5.15. que denota educaqiio ou afabilidade: mudou a arrogcincia em bons modos ( A M ) ;ela tinha born temperamento (ANB); palmas e boas palavras os que querem, apupos e palavrdes, os que ntio querem [o candidato] (AM); recordaqtio de seu riso born, de dentes claros (BH) 5.16. rigoroso: urn born regime alimentar (AE); 5.17. completo: alimentos que contenham o indispensavel & boa nutriqa"0 (AE) 6. [Qualificando oraqiio] [Posiqiio predicativa] 6.1. conveniente: E born que estejas lembrada (BN); k born pensarem duas vezes (C); Para mim foi born ele inventar essa cafajestada (AF) 6.2. agradavel: que born seria se eu visse Rosa (BOC); Seria ta"o born se fosse isso! (A); que born vS-lo de novo (EL) 6.3. interessante: e' born que se chore por quem morre (BP); seria trib born se elas todas virassem fadas (BR) 11. N [Usado como concreto] 1. homem honrado e virtuoso: 0 s bons ntio morrem nem envelhecem (AMI); 0 s bons vencendo os maus (ESP); 0 s bons seriam recompensados; os maus, punidos (HG) 11 Mais usado no plural. [Usado como abstrato] [E.0] grau de avaliaqio numa escala: Jica urn simples "born" para as novelas (REA) 111. Intensificador 1. [Precedendo nome abstrato]: EJicamos sds urn born tempo (AGF); Encomendara nu ve'spera urn born peso de coxtio-duro (ANA); embora custe urn born tanto a aprumar-se (CH) 2. [seguido de a e precedendo infinitivo]: Celita riu a born rir (G) 11 [Discurso direto] 1. [marcador de conversaqio]: Born, ele pode ser chato, mas na"ofez nada (AF); Born, gosto de jogar duma (ANB);Born, na"o sei se devo ir ti70 longe (CM); Born, deixemos de lado isso (CNT) 2. [marca de assentimento ou de alivio, diante do conteudo do discurso que se acabou de ou-
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vir]: - Urn dos rneus antepassados fez isso nus indias I -Ah, born ( C ) ; -N6o discuti o assunto corn o govern0 para dar declara~desa V. Exa I -Ah! born! (JL-0) 3. [Em final de seqiicncias e depois de uma pausa, expressa ameaqa] Guigui, n6o fala assirn, born! (BO); N6o me provoca. Olha que eu, born! (BO) I . as boas a calma; a situaqzo de entendimento: 0 major voltou as boas (CL); arnuado e sentido urn, envergonhado e rnagoado o outro, se esquecerarn, voltararn Lis boas (VIC) 2. essa e' foi) boa! [Usada para expressar espanto ou admiraggo]: Essa e' boa! A culpa e' do Duran (OM); Eu fada? Essa e' boa! (COR); Ra, ra, essa foi boa! Sacrist6o sern gosto. Foi dtirna! (AC) 3. nern e' born falar [Usada para avaliar uma situaqiio que dispensa comentarios]: E do girn, nern I2 born falar (A) 4. nurna boa (Pop) sem preocupaqiio: Hoje em dia essa rneninada transa nurna boa (BE); terrninar a noite nurna boa (CNT); ele e o te'cnico conversarn nurna boa (PLA) 5. o born (tudo) o que funciona; o que interessa ou convdm: Descobri que o born e' bater palrnas e n6o disputar aplausos (BP); 0 born I2 que esse transplante na"o tern perigo de rejeiq60 (CM) 6. 0 que e' born durapouco [Usada para lamentar algo positivo]: Faturar enquanto pode. 0 que e' born dura pouco. Dilrna vai falar isso (AB) 7. 'Ta born (Pop) 'ta certo [Usada para assentimento]: - E tudo rnentira? 1 - Ta born. Vai levando (AB); -Nern conhece o cara. 1 - Td born. Ta born. Vou arrurnar a rninha casa que e' rnelhor (CNT).
Leonor Scliar-Cabral Universidade Federal de Santa Catarina Conselho Nacional de Pesquisa
PROBLEMAS DE PROCESSAMENTO LEXICAL COM EXEMPLOS DO PORTUGU~S
Explicar como se opera o processamento lexical, tanto a nivel de recepqgo quanto de produqgo, coloca ao pesquisador problemas que ainda distam de uma soluqiio satisfatoria. Neste artigo, abordarei alguns deles, com exemplos do portuguis praticado no Brasil.
0 processamento lexical esbarra com uma dificuldade inicial, qua1 seja a de definir a propria unidade de que se ocupa, a palavra. A dificuldade para defini-la ficou patente no desconcerto de Vendryks, ao encerrar o VI Congresso International de Linguistas em Paris. As definiqdes de Togeby (1965) e de Trnka (1965) aprohndaram o debate, mas e Mattoso Cimara Jr. (1964: ps. 85 e segs.) quem mais se aproxima de uma fundamentaggo te6rica para as propostas da psicolingiiistica, quando assevera que o vocabulo fonetico e o voc6bulo significativo devem ser estudados separadamente. Ao fazi-lo, Mattoso Cimara Jr. ja assinalava que, no portuguis, o voc6bulo fonetico subordina os cliticos as silabas mais fortes dos itens que os sucedem (com exceq5o dos pronomes pessoais obliquos que tambem podem assumir a posiqgo enclitica), bem como amalgama vocabulos morficos em determinadas condiqdes, quando ocorre o sPndi. Com isto, prenunciava um dos dilemas que se colocam para explicar como se d6 o reconhecimento dos itens lexicais no continuum da cadeia da fala. Prenunciou, tambem, o linguists brasileiro, as tendincias predominantes em psicolinguistica quanto a estruturaqgo das unidades de processamento, que se organizam num ICxico mental (o subsistema dos significantes) e na memoria semintica (o susbsistema dos signficados basicos e virtuais). Desta introduqgo ja se infere a cautela em denominar as unidades de que se ocupa a psicolingiiistica no tocante ao processamento: prefere-se o termo item lexical a palavra, uma vez que, conforme asseveramos acima, restam muitas questdes pendentes, tanto no que concerne ao desmembramento das unidades como quanto a sua representaqgo no dicionario mental.
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Iniciarei a discusdo, separando o processamento a nivel de recepqiio do da produq8o. Conforme se verificara, no primeiro caso, o receptor se defrontara com a quest50 crucial de desmembrar no continuum da fala os itens lexicais para reonhec@-10se, posteriormente, completar o acesso lexical. No segundo, o produtor devera buscar na sua memoria semktica e no lexico mental os itens que revistam suas idCias, encaixando-os nos marcadores sinthticos simultaneamente acionados. 2. A delimitaqiio a nivel de recepqiio
Como a maioria das pesquisas vem tratando do reconhecimento da palavra na escrita (modelo logogen de Morton (1969); modelos de busca de Forster (1976, 1979)), a quest50 da delimitaqiio das unidades niio transparece, uma vez que no sistema escrito elas v@mseparadas, embora muitas vezes arbitrariamente, por espaqos em branco. Mesmo assim, a separaqgo por espaqos em branco coloca indagaqdes ainda que menores a delimitaqiio, como e o caso das locu~6es,das palavras compostas, dos port-manteaux e das expressdes congeladas. Exemplos destas dificuldades temos no portugues com locuqdes conjuncionais como cta fim de que)), ou verbais cctem que chover)); com palavras compostas como ctclara de o v o ~ com ; os port-manteaux como em ((a));ou em expressdes congeladas como tcva lamber sabiio)).
0 sistema escrito se atrasa em relaqiio ao oral, alem de niio poder refletir a diversidade sociolingiiistica nem as nuances entonacionais e apresentar diferenqas marcantes no que diz respeito ao processamento. Eis por que, conforme examinarei em maior detalhe, se torna necessario postular a existencia de um lixico mental ortografico para dar conta de tais discreplncias. A delimitaqiio das unidades lexicais na cadeia da fala ja vem constando de algumas propostas como as de Marslen-Wilson (1975) e as de Cutler e Norris (1988). No entanto, ainda est5o pendentes os problemas que a seguir discutiremos.
2.1 0 continuum da cadeia da fala: a coarticulaqiio e o slndi
0 exame dos espectrogramas e dos registros da cine-fluorografia demonstra que as pistas acusticas e outros sinais, a serem detectados pel0 sistema auditorial humano e sistemas paralelos de recepqgo (corno o proprioceptivo), n5o se configurarn em unidades discretas a exemplo do que ocorre na escrita. 0 fenbmeno da coarticulaqtio e atestado nos espectrogramas pela interpenetraqiio das pistas que assinalam as vogais e consoantes adjacentes e, nos registros da cine-fluorografia, pelos movimentos simultlneos de dois ou mais articuladores responsaveis pelos gestos que produzem sons contiguos.
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Tais efeitos siio particularmente importantes para o que estamos debatendo, no caso de junturas externas fechadas, em que o fen6meno do sindi ocasiona reanalises silabicas e apocopes da vogal final atona quando ocorrer antes da vogal inicial do vocabulo seguinte. Conforme se pode depreender, o que ficara mais evidente pelos exemplos a seguir, a fronteira entre os vocabulos morficos desaparece (a transcriqso fonetica corresponde a realizaqiio de minha variedade lingiiistica): 1) ['lus]
cvc
2)
+ [a'zul] v+cvc
-+
['lavi] + ['istu] -+ CV+CV
['luza'zul]
+ cv+cv+cvc ['la'vistu]
VC+CV -+ CV+CVC+CV
Numa pesquisa para dissertaqiio de mestrado realizada por Rodrigues (Scliar-Cabral e Rodrigues, 1994:63-77) sobre as discrepincias entre os fen6menos de pausas e hesitaq6es e a pontuaqiio, foi colhido o seguinte exemplo de conglomeraqiio: 3)
['dejli] (ctdai ele)))
Tais exemplos nos indicam que o processador humano devera dispor de estrategias que lhe possibilitem desentranhar o item lexical escondido no continuum da fala para efetuar seu reconhecimento. Uma tentativa de testar a hipotese de Mattoso CImara Jr. sobre a pauta acentual como demarcativa do vocabulo fonologico no portuguCs do Brasil foi levada a cab0 por Blasi Rodrigues (1994). Pesquisando sujeitos pre-alfabetizandos, niio alfabetizados e letrados, em cadeias simples em tr&s condiqces, numa das quais a demarcaqiio entre os vocabulos fonologicos era nitida, noutra em que ocorria o sindi e numa terceira em que utilizou cliticos, a conclusiio 6 a de que somente os sujeitos letrados conseguem demarcar conscientemente a fronteira quando ocorrem o sindi elou os cliticos.
0 conhecimento metalingiiistico dos letrados, advindo do estudo sistematico da gramatica normativa, bem como o lexico ortografico, intemalizado atraves da leitura, intervsm na segmentaqiio consciente de cadeias simples. A pauta acentual, embora seja uma das pistas importantes para a demarcaqiio, n2o e suficiente: alCm de outras pistas acusticas positivas e negativas referentes as consoantes que podem e n2o podem figurar em fronteira final de silaba, assinalarei que somente a compensaqiio via conhecimento lingiiistico intemalizado
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(processos top-down) conjugada ao tratamento das pistas da cadeia da fala (processos bottom-up) C que dara conta de como C possivel segmentar os itens lexicais, apesar do ssndi.
2.2 0 fenbmeno das pausas e hesitaqces 0 fenbmeno das pausas e hesitaqdes vem sendo mais associado aos modelos que procuram dar conta de como o processador humano planeja e executa as cadeias da fala. 0 s primeiros a investigarem tais fenbmenos foram Lounsbury (1954), Trager (1958, 1961), Goldman-Eisler (1958a e b; 1968), Pittenger et alii (1960) e McQuown (1971). No portuguEs do Brasil, o trabalho pioneiro a levantar um paradigma das pausas preenchidas foi apresentado por Scliar-Cabral, Martim e Chiari (1 98 1). Sem embargo, o que nos interessa neste passo e discutir como o receptor consegue recuperar a informaqiio, exposto como esta a dados tiio disruptos. Do mesmo artigo de Scliar-Cabral e Rodrigues (1994), acima mencionado, pinqarei exemplos que dizem respeito A estratkgia do descarte para contornar o fenbmeno das pausas e hesitaqces. Ela e aplicavel toda a vez que o interlocutor aciona erroneamente um gesto vocal (as chamadas falsas partidas) e, ao retroalimentar-se, o abandona (exemplo 4), ou quando produz pausas de preenchimento (exemplo 5), necesskias para lhe dar tempo para planejar, levando o ouvinte a descartar tais produqdes. TambCm se aplica aos itens que antecedem as auto-correqdes (retracing) do interlocutor (exemplos 4 e 5). Neste ultimo caso, o ouvinte interrompe um processamento que se iniciara, apagando seus vestigios para se deter no item adequado. Nem sempre, porem, a retro-alimentaqiio do interlocutor funciona satisfatoriamente: ocorrem distorqces, intenupqces, mesmo a nivel subsilabico, que niio siio corrigidas: cabe ao receptor o bnus de fazE-lo, quando consegue. 4) ['dejli f 'eli '3a 'tave ma'jox] (auto-correglo em ['eli] e falsa partida em [fl
que iniciaria um item lexical abandonado pelo interlocutor). 5) [ew fuj pin Is h j pin'ta] (auto-correglo em [pin'ta] e pausa de preenchimento em [?Is]).
2.3 As variantes sociolingiiisticas Outro desafio para a segmentaqiio dos itens lexicais a partir unicamente das pistas acusticas resulta das variantes sociolingiiisticas. Se atentarmos para as quatro possibilidades de travamento consonantal em final de vocabulo no portuguEs do Brasil (/j/ /wl IS/ e m/), verificaremos que no caso de IS/, ele se
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m,
apresentara como [s], [z] ou [3], dependendo da variedade sociolinguistics geografica. 0 condicionamento do traqo [+voz] e determinado pel0 context0 fonCtico seguinte. Mas siio as realizaqaes do /R/ que nos interessam a presente discussiio: apresenta um espectro de realizaqbes tiio vasto que algumas delas so partilham o traqo[+ cons], como e o caso de [x] e [r]. Sendo assim, torna-se evidente que o receptor niio encontraria nenhum item em seu lCxico mental para emparelhar com saidas que contivessem a representaqiio de tais pistas acusticas, a niio ser que as transformasse. Como o processador humano e capaz de reconhecer itens lexicais niio so produzidos por falantes das mais diferentes variedades sociolinguisticas, como ate por falantes n5o nativos que os realizam com os automatismos adquiridos de seu proprio idioma, deve haver um modulo onde, antes de se dar o reconhecimento, tais pistas acusticas sofram uma acomodaqiio a variedade intemalizada pel0 ouvinte durante a aquisiqiio de sua lingua. E o que propomos no Modelo integrado, contextual, interativo, dincimico e criativo de recepqZo e produ~Zoda linguagem verbal (Scliar-Cabral, 199 1 ) . 2.4 Itens novos Em virtude da propriedade fundamental do processamento humano, a criatividade, amparada no correlato produtividade (que ocorre em todos os sistemas de linguagens), com a linguagem articulada, C possivel recortar a experizncia continuamente nova, rotulando-a. Tais recursos viio desde a atribuiqiio de sentidos novos a itens ja constantes do lexico mental, graqas a referida capacidade criativa e ao potencial poliss&micoe virtual dos signos, at6 a incorporaqiio de novos significantes via emprestimos linguisticos. Em adendo, a articulaqiio dos fonemas em combinatorias de acordo com as regras fonotiiticas da lingua permite sequsncias ainda niio constantes do inventario lexical. Tais processos niio seriio objeto de exame exaustivo neste artigo. Limitar-me-ei a chamar a atenqiio para o fato de que os itens novos deveriio estar contrabalanqados no discurso, aos que dele constam, ja arrolados no lexico mental, para que o processamento do novo significante e seu respectivo sentido se tome possivel: a segmentaqgo sera efetuada graqas A informaqiio contextual suficiente e ao conhecimento linguistic0 intemalizado.
E importante frisar, no entanto, que, por este item niio estar representado no lexico mental, o reconhecimento niio se da por emparelhamento.
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3. 0 s modelos interativos de processamento Somente modelos interativos, como e exemplo o acima mencionado de ScliarCabral(1991), poder5o explicar mais satisfatoriamente os processos desenvolvidos pel0 ser humano para dar conta n5o so do sindi, quanto dos outros desafios: as pausas e hesitaqbes e a quest50 da variaq5o. Sendo assim, a partir de esquemas acionados toda a vez que tem inicio um discurso, o receptor transforma as pistas que provEm da cadeia da fala graqas ao conhecimento lingiiistico internalizado (nos subcomponentes fonologico, morfologico, sintatico, do lexico mental e da memoria semintica e vai testando hipoteses provisorias sobre as saidas (outputs) resultantes de processamentos sucessivos ate se decidir por aquela que seja compativel com o contexto de uso, apagando, ent50, o item da fatia mantida temporariamente em sua memoria operacional. Cabe assinalar que, em linguas muito flexivas como o portuguts, onde a redundincia das unidades coesivas e elevada, para que se d$ o reconhecimento, n5o se faz mister a analise do item ate o final. Tais consideraqbes trazem a baila a quest50 do ponto de unidade (uniqueness point). Radeau, Mousty, Morais e Bertelson (versiio niio publicada) refutam a importincia atribuida ao efeito do ponto de unicidade, pois consideram que todas as informaqbes acustico-foneticas s5o relevantes para o reconhecimento. Bard, Shillcock e Altmann (1988), usando a tecnica do gating, demonstraram em seu experiment0 que 21% das palavras precisam do contexto subsequente para serem reconhecidas. A quest50 do ponto de unicidade suscita questionamentos se considerarmos que grande numero de palavras ttm menos que seis fonemas, que 6 o ponto critico para a unicidade. Ruidos e distorqbes no inicio de palavras testadas tambem n5o criam embaraqos ao reconhecimento (Nootebom e van der Vlugt, 1988). A proposta de que n5o e necessario chegar ate o final do item para processi-lo e, porem, perfeitamente coerente com o fato de que o processador humano tambim opera compelido por regras que aplicam automatica e compulsoriamente, como s5o as regras de concordincia da variedade sociolingiiistica que internalizou durante a aquisiqgo da linguagem. Na verdade, as desinencias enunciadas pel0 interlocutor s5o acomodadas pel0 receptor ao seu subsistema morfologico.
3.1 A representaq50 do lexico mental Propus de inicio a existencia de um lexico mental que arquiva de forma estruturada os significantes (apoiados em imagens achsticas e proprioceptivas nos individuos normais) e de uma memoria semintica que organiza os significados basicos e virtuais em campos seminticos entre-cruzados e vinculados ao conhecimento de mundo.
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Tal divisiio se torna necessaria para elucidar questBes como a sinonimia (inclusive a parafrastica), a homonimia e a polissemia. Explica, outrossim, as produqbes desviadas em varios disturbios da comunicaqiio como e o caso das afasias de Wernicke, em que o paciente pode apresentar um discurso jargonofisico, sem estruturaqiio semsntica, ou em retardos de linguagem onde o discurso perseverativo jorra sem preencher os requisitos da informagiio nova. Nos individuos letrados ha, concomitantemente, um lexico mental ortografico, ao qua1 ja nos temos referido algumas vezes neste artigo. Comentaremos neste particular alguns aspectos do lexico mental ortografico apenas do sistema alfabetico do portuguis do Brasil, no que respeita ao processamento. Embora os pesquisadores niio sejarn uniinimes em como ocorra o reconhecimento dos itens lexicais na escrita, dividindo-se entre os defensores da via direta e os da via dupla, na lecto-escritura do portugub, verificaremos que, para a leitura, em muitos casos basta aplicar as regras de correspond6ncia grafemico-fonologica (incluindo as regras de distribuiqiio dos grafemas e seus respectivos valores e as morfofonimicas que diio conta dos alofones) para que se d i o reconhecimento de um item lexical. Isto e particulannente transparente no caso das regras bi-univocas de correspondencia, como 6 o caso de ((pipa)), em que a letra ccp)) sempre correspondera ao fonema /p/ e vice-versa; a letra (ti)),ao fonema /i/ e este fonema em silaba de itensidade maior no vocabulo sempre sera representado pela letra (ti)); e a letra ((a)) sempre representara a variante alofbnica [.el do fonema /a/ em silaba atona final e vice-versa. No caso, porem, em que os valores dos grafemas niio siio prediziveis, pois foram fixados diacronicamente pela etimologia, a associaqiio ao significante acustico devera passar primeiro pel0 lexico ortografico, embora alguns pesquisadores dispensem esta restauraqiio para que o acesso lexical se complete. E o caso, por exemplo, de ((fixon e ctlixo)), ambos com correspondincias grafimico-fonologicas distintas. A atribuiqiio ao c t x ~de ctfixo)) do mesmo valor que em ctlixo)) redundaria em acionar a imagem acustica correspondente a ctficho)). Como defendemos um modelo integrado e contextual de processamento, a atribuiqiio da correspondincia grafimico-fonologica adequada niio se deve apenas a existencia do lexico mental ortografico, mas tambem a informaqgo morfossintatica e semintica advinda do proprio texto. Alem disto, esta informaggo e absolutamente necessaria para desmanchar possiveis ambiguidades no caso dos hom6nimos.
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Um dos problemas mais dificeis para deslindar na representaqiio do lexico mental e quanto ao estatuto dos itens que o constituem. Tal problema e crucial em linguas muito flexivas como o portugues, ou naquelas que se caracterizam pel0 uso de descontinuos que resultam em recomposiq6es como o alemiio, e remonta ao que aludimos no inicio deste artigo quando nos referimos ao conceit0 de palavra. Discutiremos tal problema corn exemplos do portugucs. A quest50 inicial 6 se o item lexical ja deve conter informaq6es como a categoria sintatica e outras como as subcategorizaq6es. Se a resposta for afirmativa, no caso do substantivo, o radical devera vir acompanhado de uma das tres vogais tematicas atonas, na eventualidade de niio ser uma forma atematica, conforme a proposta de Mattoso Clmara Jr. Neste 61timo caso, o item estaria arrolado com as respectivas vogais finais acentuadas ou com um dos quatro travamentos consonantais possiveis de ocorrer no portuguCs do Brasil. 0 genera, que e um traqo inerente do nome, tambem estaria contido na informaqgo. 0 verbo coloca desafios mais dificeis de resolver. Obviamente niio estiio arroladas no lexico mental todas as formas possiveis de serem conjugadas de cada verbo: isto niio so seria sumamente anti-econ6mic0, como niio daria conta da capacidade que os falantes t&m de apor as desinCncias adequadas a verbos que estiio sendo usados pela primeira vez, ja demonstrada pel0 teste Berko de morfologia (Berko-Gleason, 1971 [1958]) e pelas suas versBes ao portugues (ScliarCabral, Costabile-Massoti & Gimenez-Roldan, 1978). Por isto, propomos um modulo no dicionario mental que arrole os morfemas puramente gramaticais tanto presos quanto livres, com exceqiio das vogais tematicas, ja apostas ao item no lexico, conforme vimos acima. Como C consenso, tais morfemas siio em numero fechado e limitado. No processamento receptivo, caberia analisar a cadeia para efetuar o reconhecimento de seus componentes. Propostas semelhantes defendem Cole, Beauvillain e Segui (1989). Na produqiio, o process0 seria inverso, com a sintese destes componentes, que vem comprovado pelos slips of the tongue phenomena (Garrett, 1976, 1980; Fay, 1983 e Mackay, 1979).
Embora seja uma soluqiio econamica e que da conta da criatividade, ainda nio esta totalmente comprovada empiricamente e restam quest6es obscuras como as que dizem respeito aos prefixos e a(s) forma(s) verbal(is) que figuraria(m) como a(s) subjacente(s) no dicionario mental. Mesmo no caso dos verbos regulares, nada nos autoriza, no portugds, a optar pel0 infinitive, ou pel0 menos somente a ele. Em qualquer das hipoteses, contudo, o falante do portuguCs esta munido de um conjunto de regras morfo-
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fonemicas que lhe permitem dar conta da metafonia verbal, conjunto intemalizado muito cedo pela crianqa. Quanto aos verbos irregulares, principalmente os que apresentam temas supletivos como o verbo ir (i vai fu fo), tais temas deveriio estar arrolados.
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Quanto aos prefixes, ha debates acesos que dividem os que propbem o acesso global, sem desmembramento e os que o defendem (Taft e Forster, 1975). De qualquer modo, assim como no substantivo o gbnero e inerente, no verbo deveriio estar registradas as informaqbes relativas a subcategorizaqiio (regencia). Atribuir realidade psicologica a proposta de Jakendoff (1 972) pela qual o verbo ja vem acompanhado das respectivas preposiqbes e dos papeis atribuidos a seus argumentos, novamente, 6 algo que carece de comprovaqiio empirica e se choca com o principio da economia. No entanto, niio existe economia em termos absolutos: em processamento, toda a vez que ocorre uma economia paradigmatica e ao preqo de uma sobre-carga sintagmitica. Outra questiio intrigante e a que diz respeito a diversidade sociolingiiistica: ela afeta tambem a forma das gramaticas. Sendo assim, e de supor que os paradigmas dos morfemas puramente gramaticais niio sejam os mesmos nas diferentes variedades sociolinguisticas. Ha variedades em que ocorre uma neutralizaqiio entre a l a pessoa do singular e a 3" do plural no presente do indicativo; entre a la pessoa do plural do presente do indicativo e a do presente do subjuntivo. Sem embargo, isto niio impede que haja intercomunicaqiio. Do ponto-de-vista da psicolinguistica, a cornpetencia de recepqiio 6 sempre mais vasta que a de produqiio: o receptor pela vida afora estara apt0 a compreender textos que niio e capaz de produzir e isto tambem diz respeito ao lexico, tanto aos itens que se referem a experiencia extema, como aos morfemas puramente gramaticais. Cabe explicar por que isto e possivel. Alem das pistas contextuais, muitas delas redundantes, atraves de processamentos paralelos, e possivel acomodar as entradas do sinal acustico, depois de transduzido, a variedade praticada pel0 ouvinte. Denominamos este process0 de homogeneizaqgo. Somente assim poderiamos aceitar teorias frutiferas como a teoria motora revista (Liberman & Mattingly, 1983), segundo a qual ha um emparelhamento e limitaqiio reciproca entre as representaqbes do sinal acustico da fala e as correspondentes dos gestos vocais. Como seria injustificado supor que o processador humano tivesse esquemas dos gestos vocais que nunca os utilizasse, 6 de supor tambem que, antes deste emparelhamento, a entrada do sinal acustico da fala passe por uma acomodaqiio a variedade sociolingiiistica do ouvinte, inclusive ao nivel morfologico. As estrategias de acomodaqiio e restauraqiio siio ate agora a explicaqiio mais plausivel para dar conta da capacidade humana de processar a variaqiio.
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4. ConsideragBes finais
Ao abordarmos o processamento lexical e as quest6es relativas a representaqiio do ldxico mental, iniciamos este artigo nos referindo a dificuldade de conceituar a propria unidade palavra. As tentativas dos lingiiistas em defini-la e em formalizi-la podem preencher muitas vezes os requisitos de uma teoria, em termos de generalidade, previsibilidade e economia. Contudo, isto n8o significa que tais unidades tenham obrigatoriamente realidade psicologica. A propria ordem preferida pelos lexicografos, a alfabetica, niio corresponde a ordem do lCxico mental com base nas imagens acusticas. Conforme Beauvillain (1991), descrever a estrutura do ldxico de uma lingua C propor uma combinatoria que defina o conjunto dos elementos lexicais permitidos por esta lingua. A tarefa do psicolingiiista, porem, C distinta: ele devera dar conta de como o lexico mental esta estruturado, de acordo com propostas sobre representaqiio mental, sobre os limites que a mente humana imp6e a esta estruturaqiio. 0 s problemas cruciais, como vimos, s5o o da delimitaqiio deste lCxico e o da segmentaqiio na cadeia da fala: defrontar-se com a falta de transparencia causada pel0 sindi e pela presenqa dos cliticos alCm da questgo da variaqiio e, mesmo assim, chegar ao acesso lexical requer explicaqaes te6ricas ainda niio de todo validadas empiricamente. Uma das sendas mais promissoras para a construq50 destas teorias e a aquisiqiio da linguagem. Com efeito, a crianqa tem que construir o seu lCxico a partir das cadeias da fala as quais esta exposta na interaqiio lingiiistica e de seus proprios enunciados iniciais, aceitos pelos adultos nos mesmos contextos de uso. Como nos primeiros enunciados a crianqa ainda niio articula entre si dois ou mais itens na mesma cadeia, pode-se afirmar que estes primeiros enunciados revelam auscncia de classes sintaticas: cada item se relaciona ao referente por recorrer, ainda que sujeito a muita flutuaqiio fonetica, num mesmo context0 de uso. Mesmo a seguir, quando a crianqa ja comeqa a utilizar dois itens, ainda predominam os enunciados de um so. Descobrir as estratkgias desenvolvidas pela crianqa para segmentar da cadeia da fala o que tem saliencia perceptual e, portanto, um dos caminhos para desvendar tais misterios (vide Scliar-Cabral & Secco, 1995).
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