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Friedrich Nietzsche
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Fral!mentos Póstumos 1887-1889 Volume VII
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Fraementos Póstumos 1887-1889 Volume VII
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O GEN I Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, Roca, AC Farmac~utka, Forense, Método. LTC, E.P.U. e Forense Unlvcrslt~ria, que publicam nas
tn:u clcnufica, tknlca e profissional. Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualávcis, com obras que tim sido decisivas na formaç!o acadimlca e no aperfeiçoamento de vtrias gerações de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, Enfermagem, Engenharia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Educação Flstca e multas outros d indas, tendo se tomado sinónimo de seriedade e n:spcito.
Nossa missão l prover o melhor contcudo cicntl6co e distribui-lo de maneira flexlvel e conveniente, a preços Justos, gerondo bene·frelos e sc.rvindo • auton:s, docentes, livreiros, fundon4rios, colaboradores e acioni,tais. Nosso componamonlo ilico Incondicional e nossa n:sponsabllldadc social e ambiental slo reforçados pela naturcu educacional de nossa atividade, sem comprometer o crc.sdmcnto continuo e• rentabilidade do grupo,
Friedrich Nietzsche
Fraementos Póstumos 1887-1889 Volume VII
Tradução Marco Antônio Casanova
Rio de Janeiro
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Com os agradecimenios à De Gruyther pela concc1slo dos direitos de tradução. Fragmcnlos Póstumos 1887-1889 (Volume Vil) ISBN 97g.g5.309.3539.9 Direitos cxclusi\•os para o BrasU n1 Ungu.a ponuguc:sa
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CIP- Brasil. Ca11logoçlo-na,rontc. Sindicato Nacional dos Editores de Livro.s, RJ. NS8I(
NiCW1Che, Friodrloh \Vllhclm, 1844-1900 F,.gmcntos pclSlumos: 1887-1889: volume VII / Frlodrlch Nie12schc: [traduçllo MarooAnt6n.io Cuanova]. - RJo de Janeiro: Forense Un(vcrsiui.ria, 2012. TraduçAo de: NIIOhgelassene Ffflgmcnte 1887-1889 ISBN 978-8S,309·3S39·9 1. filosofia alcml. 1. Titulo. 12-3043.
CDD: 193 CDU: 1(43)
Índice Sistemático
Texto estabelecido a panlr da edição crítica de estudo organliada por Glorglo Colll e Maulno Montlnari • .. . . . . • • • . • • .. .. . • . • • • . .
Vll
(11 • W 11 3. Novembro de 1887- Março de 1888) • • • . • • • • • . . • . • • • . .
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w 11 4. Inicio de 1888) . . . . . .. .. . . .. • . . . . • .. .. . .. • .. . . .. • . .
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(13 • Zll 3b. lnfclo de 1888 até a primavera de 1888)............ .. ..
194
(14 • W 115. Com-Outubro de 1888). • . . . . • • • . • • .. .. . . . • • • . • (2.3 • MP XVI 4d. MP XVll7. Wll 7b. Zlll.b. Wll 6c. Outubro de 1888) . . .
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(24 • W 11 9c. D 21. Outubro-Novembro de 1888) • . • . • • .. • . . . . • • • . • (2.S • W II lOb. W 119d. MP XVI S. Mp XV 118. O 2S. W 11 gc, Dezembro de 1888-lnlclo de Janeiro de 1889)..... .... ... . ...... ... ... ..
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(12 •
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Os fragmentos póstumos do outono de 1885 ao outono de 1887 (Grupos 1-8).. . . . .. • . . . . .. .. • .. .. • . . . • .. .. . • .. .. . . .. • . .
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Os fragmentos póstumos do outono/hwerno de 1887-1888 (Grupos 9-12) . ... ... .... ... . • . .. • . . . . • .. . . . .. .. • . . .. • . .
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Os fragmentos póstumos do Inicio de 1888 até Janeiro de 1889 (Grupos 13-25).............. • .. .. . . . . • .. .. . .. .. • . . .. • . .
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Texto estabelecido a partir da edição critica de estudo organizada por Giorgio Colli e Mazzlno Montinari
Observação preliminar O volume 7 da edição crí:tica de estudo (KSA) contém a segunda parte dos fragmentos póstumos oriundos do período que vai do outono de 1885 ao início do ano 1889. Ele corresponde aos seguintes volumes e páginas da edição critica conjunta (KGW): Vlll/2, p. 249-455 (Berlim, 1970); VTW3, p. 3-461 (Berlim/Nova Iorque, 1972) e contém, com isso, os fragmentos de novembro de 1887 até o início de janeiro de 1889. A observação preliminar ao volume 12 comenta a significação da obra póstuma de Nietzsche. Ao final deste volume, os posfácios que Giorgio Colli escreveu para a edição italiana dos fragmentos póstumos de Nietzsche do outono de 1885 até o início de janeiro de 1889 (publicados cm 1971 , 1974 e 1975 pela edi,tora Adelphi, em Milão) foram traduzidos, Mazzino Montinarí
(11 = W li 3. Novembro de 1887- Março de 1888)
Nice, 24 de novembro de 1887. 11 (1) (301) Não devemos querer nada de nós que não possamos realizar. Costumamos nos perguntar: tu queres ir à frente? Ou tu queres ir por ti? No primeiro caso, nós nos tomamos, na melhor das hipóteses, pastores, ou seja., uma necessidade causada pela indigência do rebanho. No outro caso, precisamos poder fazer outra coisa - poder-andar-por-si a partir de si - precisamos poder-andar-de-outro-modo e para-um-outro-lugar. Nos dois casos, é preciso podê-lo e, se podemos fazer uma coisa, não temos o direito de querer a outra. 11 (2) Contentar-se com um homem e manter a casa aberta com o seu coração: é liberal, mas não nobre. Reconhecemos os corações, que são capazes de uma hospitalidade nobre, nas muitas janelas cobertas e persianas fechadas: eles mantêm ao menos os seus melhores espaços vazios, ,eles esperam hóspedes, com os quais não nos contentamos... 11 (3) (303) O preço que se paga por ser artista é sentir aquilo que todos os não artistas denominam "forma" como conteúdo, como "a coisa mesma". Com isso, pertence-se naturalmente a um mundo às avessas: pois desde então o conteúdo se toma algo meramente formal - inclusive a nossa vida. 11 (4) Uma carta lembra-me dos jovens alemães, dos Siegfriedes chifrudos e de outros wagnerianos. Com todo respeito pela sobriedade alemã! Há inteligênc.ias modestas no norte da Alemanha, para as quais é suficiente até mesmo a inteligência das pa-
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lavras cruzadas. Alguém que se encontrasse de fora poderia por vezes suspeitar se o jovem império, em seu apetite por colônias e por tudo de africano que a terra ·possui, não teria engolido inopinadamente as duas célebres ilhas mestiças, Homeo e Borneo... 11 (5)
Se se é filósofo como sempre se foi filósofo, então não se têm olhos para aquilo que foi e que será: - só se vê o ente. No entanto, eomo não há nenhum ente, só resta ao filósofo o imaginãrio eomo o seu "mundo". li (6) Vai-se ao fundo (perece-se), quando não se vai aos fundamentos. 11 (7)
Uma lagarta entre duas primaveras, para a qual já cresce uma pequena asa: - - 11 (8)
"Um ímpeto para o melhor' - Fórmula para "bater em retirada" 11 (9)
(304) Saime-Beuve: Nada de um homem; cheio de um ódio mcndaz contra todos os espíritos másculos: vagueia por ai, covarde, curioso, entediado, caluniador - no fundo uma personalidade feminina, com uma vingança feminina e uma sensibilidade feminina (essa sensibilidade o retém na prox.imidade dos mosteiros e de outros foeos da mística, temporariamente mesmo na proitimidade de saintsimonistas). Aliá.~ um real gênio da médisance, inesgotavelmente rico cm meios para tanto, capaz, por CJ(Cmplo, de elogiar de uma maneira fatal; não sem a prontidão gentil de um virtuoso para expor a sua arte, onde quer que haja um lugar para tanto: a saber, diante de toda espécie de audiência, na qual se tem de temer algo. Naturalmente, ele também se vinga em seguida de seus espectadores, de
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maneira secreta, pequena, impura; cm particular, todas as naturezas imperiosamente nobres precisam pagar por terem veneração por si mesmas - uma tal veneração ele não possui! Já o elemento más• culo, orgulhoso, total, seguro de si o irrita, o abala até a revolta. Isso significa, então, o psicélogo comme il faut: a saber, segundo a medida e a necessidade do esprit/rançais atual, que é tão tardio, tão doente, tão curioso, tão envolto em questiúnculas, tão cobiçoso quanto ele; farejando mistérios oomo ele; buscando instintivamente travar conhecimento com os homens de baixo e de trás, não muito diverso do que fàzem os cães entre si (que ao seu modo também são certamente psicólogos). No fundo, plebeu e aparentado com os instintos de Rousseau: consequen.temente romântico - pois sob todo romantismo a plebe grunhe e baba avidamente por "nobreza"; revolucionário, mas por medo mantido nas rédeas. Sem liberdade diante de tudo o que possui força (opinião pública, academia, corte, mesmo Port-Royal). Enfastiado consigo mesmo até o último fundamento, por vezes já sem crença cm seu direito de existir; um espirita que se dissipou desde a juventude, que se sente dissipado, que se toma cada vez mais tlbio e velho para si mesmo. Alguém assim continua a viver, por fim, de um dia para o outro, apenas por covardia; alguém assim se irrita com tudo o que há de grande no homem e nas coisas, contra tudo o que acredita em si, uma vez que é infelizmente poeta e meio efeminado, para continuar sentindo o que é grande como poder; alguém assim se curva constantemente, como aquele célebre verme, porque se sente constantemente pisado por alguma coisa grande. Como critico sem critério, espinha dorsal e postura, com a língua do libertin cosmopolita para muitas coisas, mas sem a coragem para a libertinage autônoma, consequentemente se submetendo a um classicismo indetenninado. Como historiador sem filosofia e sem o poder da visão, recusando instintivamente a tarefa do julgamento em todas as coisas principais e mantendo a máscara da objetividade (- com isso, um dos piores exemplos que a última França possui): abstraindo-se, como de costume, das coisas pequenas, para as quais um gosto sutil e gasto se mostra como a instância suprema e nas quais ele possui realmente a coragem para si mesmo, o prazer consigo mesmo (- neste ponto, ele possui um parentesco com os
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pamasianos, que representam como ele a forma mais refinada e mais vã do desprezo por si e da alienação de si). "Sainte-Beuve a vu une fois /e premier Empereur. C'était à Boulogne: il était en train de pisser. N'est-ce pas un peu dans ceife posh,re-/à, qu 'i/ a vu e/ jugé depuis tous les grands hommes?"1 (Journal des Goncourts, 2. p. 239) - assim contam os seus inimigos mais maldosos, os Goncourts. 11 (1 O)
Tipos da décadance. Os românticos. Os "espíritos livres" Sainte-Beuve. Os atores. Os niilistas. Os artistas. Os brutalistas. Os delicados. 11 (1 1)
En amour. la seu/e victoine est /afuite. 2 - Napoleão. 11 (12)
canis reversus ad vomitum suum 11 (13)
Les philosophes ne sont pas faits pour s 'aimer. Les aigles ne volent poi11t en compagnie. lifaut laisser cela aux perdrix, aux étourneaux... Planer audessus et avoIrdes grijfes, voi/à /e /ot des grands génies. 1 - Galiani. 1
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N,T.: Em francês no original: Salnte-Beuve viu um dia o primeiro Impero• dor. Ele estava em Bolonha, a ponto de mijar. Não foi um pouco com essa postura que ele viu e Julgou todoi os grandes homens? N.T.: Em francês no original: No amor, a única vitória é a fuga. N.T.: Em francês no original: Os filósofos não são feitos para se amar. As águias nunca voam acompanhadas. preciso deixar um tal voo para as perdizes, para os (estornlnhos) ... Planar acima e ter garras, els o (destino) dos grandes g~nlos.
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11 ( 14) Le hasard, pere de la fortune et souvent beau-pere de la vertu.• - Galiani. 11 ( 15) (Ni / 'amour ni les dieux; ce double mal nous tue.5 Sully
Prud-homme.) 11(16)
Por delrás de toda a escrivi.nhação dessa moçoila campestre que se chama G. Eliot, sempre escuto a voz excitada de todas as debutantes literárias: 'Ye me ver:rai, je me lirrai, je m 'extasierai etje dirai: Possible, quej'ai eu ranr d 'esprir?...'"'
11(17) vomitus matutinus dos jornais 11 ( 18) si horrum cum bibliotheca habes. nihil deeril. Cícero. 11 (19) notum quidfoeminafurens. Virgílio. Eneida. V. 6. 11 (20) "un mo,istre gai vaut miewc 'qu 'un sentimental ennuyeux"'1
11(21) come l 'uom s 'éterna (lnf. XV, 85) 4 5 6 7
N.T.: Em francês no original: O acaso, pai da sorte e com frequência avõ da virtude. N.T.: Em francês no original: Nem o amor nem os deuses; esse duplo mal nos mata. N.T.: Em francês no original: Eu me veria, eu me lirla, eu me extasiaria e diria: é posslvel que eu tenha tanto espírito? N.T.: Em francês no original: Um monstro alegre vale mais do que um sentimental entediado.
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················•······························ ·········································.. ····· 11 (22) "Yo me sucedo a mi mesmo", digo eu como aquele velho homem em Lope de Vega, rindo, como ele: pois não sei mais simplesmente o quão velho já sou e o quão jovem ainda serei... 11 (23) - mesmo então ainda se têm razões suficientes para se estar satisfeito e mesmo agradecido, ainda que apenas como aquele velho brincalhão que tamquam re bene gesta voltou para casa de uma entrevista apaixonada. Ut desins vires, disse ele para si mesmo com a mansidão de um santo, tame11 est laudan• da voluptas. 11 (24) (305) Georg Sand. Li as primeiras /e/Ires d 'un voyageur:• como tudo aquilo que provém de Rousseau, falso, desde o seu ín-
timo, moralmente mcndaz, tal como ela mesma, a "artista". Não suporto esse estilo colorido de tapeçaria, assim como essa ambição excitada da plebe por paixões ''nobres", atitudes heroicas e ideias que atuam como atitudes. O quão fria ela precisa ter sido aí - fria como Victor Hugo, como Balzac, como todos os românticos propriamente ditos - : e o quão vaidosamente ela deve ter se esparramado al, essa larga vaca frullfera, que tinha algo alemão em si, como o próprio Rousseau, e que, em todo caso, tomou possível por fim pela primeira vez todo o gosto e esprit francês ... Mas Emest Renan a venerava... 11 (25) (306) Homens, que silo destinos e que, na medida em que suportam a si mesmos, suportam destinos, todo o tipo dos carregadores heroicos: 6, com que pr.azer eles gostariam de descansar um dia de si mesmos! O quanto eles não têm sede de corações e de costas fortes, para se verem livres ao menos por algumas horas da-
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N.T.: Em francês no original: cartas de um viajante.
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quilo que os oprime! E como é vã essa sede! ... Eles esperam; eles olham para tudo o que passa ao largo: ojoguém vem ao seu encontro, nem mesmo apenas com um milésimo de dores e paixões, ninguém desvenda em que medida eles esperam... Finalmente, finalmente eles aprendem a sua primeira esperteza na vida - não esperar mais; e, então, logo em seguida a sua segunda esperteza: ser afável, ser modesto, a partir deste instante suportar qualquer um, suportar todos os tipos de gente - em suma, carregar ainda um pouco mais do que eles já tinham carregado até então. 11 (26) (307) - e quem contabilizar sem preconceito as condições segundo as quais qualquer perfeição é alcançada na terra não deixará de perceber quantas coisas estranhas e ridículas estão entre essas condições. Parece que são necessários lixo e estrume de todo o tipo para todo grande crescimento. Para tomarmos um caso paradoxal, uma autoridade que talvez não devêssemos subestimar neste ponto espinhoso, o duque de Momy, o mais experiente e "vivido" conhecedor de mulheres da última França, afirma com vistas ao aperfeiçoamento da mulher moderna que mesmo um vicio poderia servir ·para tanto, a saber, a tribaderie: "qui raffine lafemme, la parfait, /'accomp/if'. - 9
Nice, 25 de novembro de 1887. 11 (27) (308) A senhora Cosima Wagner é a única mulher de um estilo maior que conheci: mas imputo a ela o fato de ter estragado Wagner. Como isso aconteceu? Ele não "merecia" tal mulher: em agradecimento por tê-la, decaiu até ela. O Parsival de Wagner foi, antes de mais nada e desde o seu despontar mais inicial, uma condescendência do gosto de Wagner ante os instintos católicos de sua
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N.T.: Em francês no original: quem refina a mulher, a aperfeiçoa, a completa.
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mulher, a filha de Liszt, uma espécie de agradecimento e humildade por parte de uma criatura mais: fraca, mais multifacetada e mais sofredora em relação a uma criatura que sabia proteger e encorajar, ou seja, em relação a uma criatura mais forte, mais limitada: por fim, mesmo um ato daquela covardia eterna do homem ante todo o "eterno feminino". - Não é possivel que todos os grandes artistas até aqui tenham sido estragados por mulheres veneradoras? Quando esses macacos absurdamente vaidosos e sensiveis - pois é isso que quase todos eles são - vivenciam pela primeira vez e na mais imediata proximidade a idolatria, que a mulher sabe realizar cm tais casos com todos os seus anseios mais baixos e mais elevados, então tudo se aproxima bem rápido do fim. O último resto de critica, o desprezo por si, a modéstia e a vergonha diante do que é maior: tudo isso se perde: - a partir de então, eles são capazes de qualquer degeneração. Esses artistas que, oo periodo mais seco e mais fone de seu desenvolvimento, teriam razões suficientes par.i desprezar completamente os seus seguidores, esses artistas que se tomaram taciturnos tomam-se inevitavelmente as vítimas de todo primeiro amor inteligente (- ou muito mais de toda mulher que é suficientemente inteligente prura se fazer passar por inteligente no que diz respeito ao que há de mais pessoal do artista, para "compreendê"-lo como sofredor, para "amá"-lo ...). 11 (28) O homem sucumbe à mulher que ele não merece. Como idólatra nata, a mulher estraga os ídolos - o marido. 11 (29) Não se pode encontrar a causa para o fato de haver efetiva• mente desenvolvimento uma vez mais sobre o caminho da pesquisa sobre desenvolvimento; niio se deve querer compreender essa causa como "vindo a ser", nem tampouco como já tendo vindo a ser... a "vontade de poder"'º não pode ter vindo a ser 10 N.T.: Existe Já certo Mbito sedimentado nos trabalhos sobre Nietzsche no Brasil de traduzir a expressão niet.zschlana W/1/e zur Mocht por "vontade
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11 (30) (309) Conquistar uma altura e uma visão de pássaro, onde se concebe como tudo acontece realmente tal como deveria acontecer. assim como todo tipo de "imperfeição" e como o padecimento com ela pertence conjuntamente :à mais elevada desejabilidade ... 11 (31) (3 1O) Visão conjunta do europeu futuro: temos aqui o mais inteligente animal escravo, muito trabalhador, no fundo muito modesto, curioso até as raias do excesso, múltiplo, mimado, volitivamente fraco - um caos de afetos e de inteligências cosmode potência•, seguindo o modo como os franceses normalmente traduz.em essa expressão. No entanto, essa tradução não me parece adequada por algumas razões. Em primeiro lugar, o termo ut ilizado por Nietzsche simplesmente não é o termo potência. Em alemão há pelo menos duas
palavras que podem ser usadas para designar potênfla: flotenz e Le/stung. Todavia, a palavra utilizada por Nietzsche é Mocht, que significa, literal• mente, poder. Susca--se normalmente justificar essa alternativa de tradu• çilo pela nec,essldade de escapar dos sentidos Indesejáveis da noção de poder, sentidos que nada têm a ver com o conceito nletzschlano proprla• mente dito. No entanto, se esse fosse efetivamente o Intuito de Nietzsche, o próprio fllósofo deveria ter tentado evitar esse efeito também no original, porque o mesmo problema se apresenta em alemão. Em segundo, a argumentação propriamente filosófica também nilo me parece multo convincente. Multas vezes, apela-se para a proximidade entre o conceito de poder em Nietzsche e a noçilo de potência (dynomls) em Arl.stóteles. Vontade de poder teria, assim, algo em comum com posslbllldade, e não com a Instauração tática de relações de poder. Se nos aproximamos mais cuidadosamente dos textos de Nietzsche, contudo, vemos que o que está em questão para ele não é nunca uma estruturo de possibilidade, mas justamente o poder que certas perspectivas exercem sobre outras pers• pectlvas no Interior das configurações vitais em geral. E é nesse ponto que encontramos, então, um derradeiro argumento. Nietzsche substitui em muitos aforismos publicados e em Inúmeros fragmentos póstumos poder (Mocht) por domínio ou domlnaçfo (Herrschoft ou Beherrschung), o que significa o seguinte: quem opta por traduzir Mocht por potência se vê diante de um problema em melo àquelas passagens que lnequlvo• camente envolvem dimensões de domlnlo, ou seja, se vê forç~do o uma Incoerência com sua própria opção. Por tudo Isso, traduzo aqui, contra certa corrente, Wi//e zur Mocht por vontade de poder.
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polita. Como é que um tipo mais forte poderia vir à tona a partir dele? Um tipo dotado de um gosto clássico? O gosto clãssico: trata-se da vontade de simplificação, intensificação, da vontade de visibilidade da felicidade, de âutificabilidade, da coragem para a nudez psicológica (- a simplificação é uma consequência da vontade de intensificação, o deixar que a felicidade se torne visível, assim como a nudez é uma consequência da vontade de âutificabilidade...). Para arrancar em combate um caminho ascensional a partir desse caos até essa configuração - para tanto carece-se de uma imposição: é preciso que se tenha a escolha de ou bem perecer ou bem se impor. Uma raça dominante só pode surgir de inícios âutíferos e violentos. Problema: onde estão os bárbaros do século XX? Evidentemente, eles só se tomarão visíveis e se consolidarão depois de crises socialistas descomunais - eles serão os elementos capazes da maior rigidez em relação a si mesmos e que poderão garantir a mais longa vontade... 11 (32) (3 11) Sobre a psicologia dos "pastores". Os grandes medianos
Podemos esconder de nós o fato de um espírito e de um gosto precisarem ser médios, para que possam deixar para trãs efeitos populares profundos e extensos, e de, por exemplo, ainda não se poder usar como algo que desonra a Voltaire o fato de o Abade Troblct o ter designado com a melhor das razões "la perfecJion de la médiocrité"?" (- se ele não o tivesse sido, ele teria sido uma exceção, tal como o foi, por exemplo, o napolitano Galiani, o mais profundo e mais meditabundo palhaço produzido por aquele sereno século. De onde provém, então, a sua força para condrizir? De onde a sua preponderância sobre o seu tempo?) Poder-se-ia, aliás, afirmar o mesmo com vistas a um caso ainda muito mais popular: também o fundador do cristianismo precisa ter sido algo similar a essa "perfection de la médiocrité". Se concretizarmos, p0rém, em uma pessoa os princlpios daquele 11 N.T.: Em francês no orl.glnal: perfeição da mediocridade.
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célebre evangelho do sermão d!a montanha, então não teremos mais depois disso nenhuma dúvida quanto à razão pela qual precisamente um tal pastor e pregador da montanha produziu um efeito tão sedutor sobre todos os tipos de animais de rebanho. 11 (33) (312) - "une croyance presque instinctive chez moi e 'est que tout homme puissant ment quand i/ parle, e/ à plus fort raison quand il écrif' 12 - $tendal. 11 (34) (313) Flaubert não suportava nem Mérimée nem $tendal; para deixá-lo irado, bastava citar o nome do "Senhor Beyle" em sua presença. A diferença reside no fato de Beyle provir de Voltaire; Flauben, de Victor Hugo. Os "homens de 1830" (- Homens? ... ) produziram urna insana divinização com o amor: Alfred de Musset, Richard Wagner; também com o excesso e o ·vício ... "Je suis de 1830. moi! J'ai appris à líre dans Hemani, et j'aurai ,;ou/u êlre Lara! J'execre toutes les láchetés contemporaines, l'ordinaire de l'existence et l'ig11omi11ie des bonheurs faciles." 13 Flauben.
11 (35) (314) A sexualidade, a busca de domínio, o prazer com a aparência e com o engodo, a grande gratidão alegre pela vida e por seus estados típicos - tudo isso é essencial ao culto pagão e tem a boa consciência ao seu lado. - A antinatureza (já na Antiguidade grega) luta contra o elemento pagão, como moral, como dialética.
12 N,T.: Em francês no original: uma crença quase Intuitiva em mim é a de que todo homem POtente mente quando fala, e, com maior r.iião, quan• do escreve. 13 N.T.: Em francês no original: Sou de 18301 Aprendi a ler com Emanl egostaria de ter sido Laral Acho execrável todas as lassldOes contemporâneas, o elemento ordinário da existência e a lgnonlmla das fellcldades fáceis.
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Nice, 15 de dezembro de 1887. 11 (36) O que decide a tua posição é o quantum poder que tu és; o
resto é covardia. 11 (37) Aquele que busca instintivamente uma posição hierárquica odeia as construções intermediárias e os produtores de construções intermediárias: tudo aquilo que é médio é o seu inimigo. 11 (38) (3 15) Da pressão da abundância, da tensão das forças que crescem constantemente em nós ,e que ainda não sabem se descarregar emerge wn estado similar .ao estado que precede wna tempestade: a natureza que somos escurece. Isso também é pessimismo... Uma doutrina que põe fim a tal estado, na medida em que ordena algo, uma transvaloraçã.o dos valores, graça.~ aos quais se indica um caminho às forças acumuladas, um "para onde", de modo que elas explodem em raios e em ações - não precisa de modo algum ser uma doutrina da felicidade: na medida em que desencadeia a força que estava comprimida e represada até um ponto torturante, ela traz felicidade. 11 (39) - com estes tenho pouca compaixão. Para mim, eles estão entre os caranguejos. Em primeiro lugar: quando nos vemos às voltas com eles, eles beliscam; e, então, andam para trás. 11 (40)
- corações quentes como o leite que acaba de sair da vaca. 11 (41) - um viandante cansado, que percebe o latido forte de um cão.
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- um desgarrado, que passou um longo tempo na prisão, com medo do bastão de um carcereiro: agora segue temeroso o seu caminho, a sombra de um cajado jâ o faz tropeçar. 11 (43)
- virtude no sentido do renascimento, virtu, virtude livre de toda moral. 11 (44)
O fato de se colocar em jogo sua vida, sua saúde, sua honra, é a consequência do excesso de coragem" e de uma vontade dissipadora transbordante: não por amor ao homem, mas porque todo grande perigo desafia a nossa curiosidade em relação à medida de nossa força, de nossa coragem.
11 (45) (3 17) Emerson, muito mais esclarecido, múltiplo, refinado, feliz, um homem que se alimenta instintivamente de ambrósia e deixa para trâs o indigesto nas coisas. Carlyle, que o amava muito, diz dele apesar disso que "ele não nos dá o suficiente para 14 N.T.: O termo alemão utilizado po< Nietzsche no fragmento acima é o ter•
mo Obermut, Em seu sentido corrente, Übermut significa petulâncla, arro• gãncla. No contexto acima, porém, não é difícil perceber como Nietzsche reavalia o sentido mesmo do termo. Em verdade, a gênese da slgnlflcaç3o de Ob1trmut cm alem:lo aponta p.1ra D compreensão de que um excesso de coragem só pode provir de uma falta de consideração adequada de si mesmo e de sua situação e de que equivaleria, assim, ao que normal• mente temos em vista com a palavra arrogãncio. No entanto, o excesso de coragem também pode ser pensado a partir de uma entrega total de si mesmo à sua própria configuração e participação plena na lóglca do acontecimento. Há aqui um claro paralelo, que se verlflca, aliás, em quase todas as construções em que Nietzsche emprega o prefixo /Jber•, com o termo Obl!rmensch (além-do-hom cm) e ,om o concepçfo do além do ho• mem como o homem que superou a alienação produzida pela lnstauraçfo do suprasscnsfvel e Integrou plenamente a totalidade em seu horizonte exlstenclal. Exatamente por Isso, decidimos troduzlr etlmologkamente o termo Übermut por excesso de co ragcm.
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morder": o que talvez tenha sido dito com razão, mas que não foi dito de maneira alguma em favor de Emerson. Carlyle, um homem das palavras fortes e das atitudes excêntricas, um retórico por necessidade, alguém que irrita constantemente pela e,cigência por uma crença forte e pelo sentimento da incapacidade para tanto (- justamente com isso um típico romântico). A exigência por uma crença forte não é a prova de uma crença forte, mas muito mais o contrário: se temos uma tal crença, então essa posse se revela justamente pelo fato de podermos nos permitir o luxo da postura cética e da descrença frívola - se é rico o bastante para tanto. Carlyle anestesia algo em si por meio da rigidez de sua veneração por homens de crença forte e por meio de sua fúria contra todos aqueles que são menos unilaterais: essa constante falta de probidade apaixonada em relação a si mesmo, para falar mo:ralmente, me enjoa. O fato de os ingleses admirarem nele precisamente a sua probidade é caracteristicamente inglês; e, levando em conta que eles são o povo do tiple perfeito, até mesmo barato e não apenas compreensível. No fundo, Carlyle é um ateu que não o quer ser. 11 (46)
Nesses ensaios polêmicos, nos quais dei prosseguimento à minha batalha contra o mais fatídico julzo de valor até aqui, contra a superestimaçào da moral -
Uma tal palavra de paz encontra-se como de costume ao final dos ensaios belicosos, com os quais abri minha batalha contra um de nossos mais fatídicos juízos de valor, contra a nossa avaliação até aqui e contra a nossa super-estimação da moral. 11 (47)
- ideais úmidos e outros ventos degelantes 11 (48) (318) Um espirito que quer algo grande e que também quer os meios para tanto é necessariamente cético: com o que não se está dizendo que ele também precisaria parecer cético. A liber-
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dade diante de todo tipo de convicção pertence à sua força, o poder olhar livremente. A grande paixão, o fundamento e o poder de seu ser ainda são mais esclarecidos e despóticos do que ele mesmo o é - ela toma todo o seu intelecto a seu serviço (e não apenas sob sua posse); ela elimina toda hesitação; ela lhe dota da coragem para lançar mão de meios profanos (até mesmo de meios sagrados), ela alimenta convicções, ela mesma usa e consome convicções, mas não se submete a elas. Isso faz com que ela apenas se saiba como soberana. Inversamente: a carência por crença, por qualquer sim e não incondicionados, é uma carência da fraqueza; toda fraqueza é fraqueza da vontade; toda fraqueza da vontade provém do fato de nenhuma paixão, nenhum imperativo categórico comandar. O !homem da crença, o "crente" de todo tipo, é necessariamente um tipo dependente de homem, ou seja, um tipo que não se estabelece a partir de fins, nem pode estabelecer de modo algum fins a partir de si mesmo - um tipo que precisa deixar que o consumam como meio ... Esse tipo de homem entrega instintivamente a honra suprema a uma moral da dissolução do si próprio; tudo o cativa para uma tal dissolução, a sua perspicácia, a sua experiência, a sua vaidade. E mesmo a crença é ainda uma forma de dissolução do si próprio. 11 (49) (319) A partir do âmbito descomunal da arte, um âmbito que é antialemão e do qual jovens alemães, Siegfrieds comudos e outros wagnerianos, estão excluídos de uma vez por todas: - a obra de gênio de Bizet, uma obra que fez ressoar uma nova sensibilidade- ah, uma tão antiga - que ainda oão tinha tido até aqui nenhuma linguagem na música erudita da Europa, uma sensibilidade mais meridional, mais bronzeada, mais queimada, que não pode ser naturalmente compreendida a partir do idealismo úmido do norte. A felicidade africana, a serenidade fatalista, com um olhar que mira de maneira sedutora, profunda e terrivel: a melancolia lasciva da dança mourisca; a paixão reluzindo, aguda e repentina como uma adaga; e aromas que flutuam até nós vindos da tarde amarela do mar, aromas junto aos quais o coração salta
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como se se lembrasse de ilhas esquecidas, onde ele outrora se demorava, onde ele deveria ter se demorado eternamente... Antialemão: o bujão, a dança mourisca As outras delicias antialemães do gozo estético 11 (50) O "mundo verdadeiro", como quer que ele tenha sido concebido até aqui - foi sempre o mundo aparente uma vez mais. 11 (51) É preciso ter coragem no corpo, para se permitir uma perfídia: a maioria é covarde demais para tanto. 11 (52) "César entre piratas" 11 (53) e dentre esses poetas encontra-se Hengste, que relincha de uma maneira casta 11 (54)
(320) Do domínio da virtude. Como se ajuda a virtude a dominar. Um tractatiJs politicus. De Friedrich Nietzsche. Prefácio
Este tractatus politicus não é para o ouvido de qualquer um: trata-se da política da virtude, de seus meios e caminhos para o poder. O fato de a virtude aspirar ao dominio, quem poderia negar-lhe tal aspiração? Mas como ela o alcança - ! nilo se acredita... Por isso, este tractatus não é para o ouvido de qualquer um. Nós
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o definimos para o auxilio daqueles que estão interessados em aprender não como alguém se toma virtuoso, mas como alguém torna virtuoso - como se leva a virtude ao domínio. Quero até mesmo demonstrar que, para querer essa única coisa, o domínio da virtude, não se tem fundamentalmente o direito de querer a outra; justamente com isso abdica-se de se tomar virtuoso. Esse sacrifício é grande: mas uma tal meta talvez valha o sacrifício. E mesmo sacrifícios ainda maiores!. .. E alguns dos grandes moralistas arriscaram tanto. A verdade já foi reconhecida e antecipada por eles, a verdade que deve ser ensinada pela primeira vez com este tratado: o fato de só se poder simplesmente atingir o domínio da virtude através dos mesmos meios, com os quais se atinge qualquer domínio, em todo caso não por meio da virtude ... Como dissemos, este tratado gira em tomo da política da virtude: ele estabelece um ideal dessa politica, ele a descreve tal como ela precisaria ser, caso pudesse existir algo perfeito sobre a Terra. Pois bem, nenhum lilôsofo terá duvidas quanto ao que significa o tipo da perfeição na política; a saber, o maquiavelismo. O maquiavelismo, porém, pur, sans mélange, cm, vert, dans toute sa force, dans toute son âpreté, 15 é algo próprio ao além-do-homem, algo divino, transcendente, ele nunca é alcançado pelos homens, ele é no máximo tocado tangencialmente por eles... Mesmo nesse tipo mais restrito de política, na política da virtude, o ideal parece nunca ter sido alcançado. Mesmo Platão não tocou nesse ideal senão tangencialmente. Contanto que se tenham olhos para coisas escondidas, descobrem-se mesmo ainda nos moralistas mais livres e mais conscientes (e esse é o nome para tais pol!ticos da moral, para todo tipo de fundador de novas forças morais) rastos do fato de eles também terem pago um tributo alto à fraqueza humana. Todos eles aspiravam, ao menos cm seu cansaço, à virtude também para si mesmos: o prinleiro erro capital de um moralista - que tem de ser como tal imoralista da ação. O fato de ele não poder deixar isso transparecer é outra coisa. Ou talvez não seja outra coisa: uma 15 N.T.: Em francês no original: puro, sem mistura, cru, verde, em toda a sua força, em toda a sua afetação.
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tal autonegação fundamental (expresso cm tennos morais, uma tal dissimulação) também faz parte de um cânone do moralista e de sua mais própria doutrina dos deveres: sem ela, ele nunca alcançará o seu tipo de perfeição. Liberdade em relação à moral, mesmo em relação à verdade, em função daquela meta que compensa todo sacrificio: domínio da moral - assim se chama esse cânone. Os moralistas necessitam da atitude da virtude, mesmo a atitude da verdade; seu erro só começa onde eles cedem à virtude, onde eles perdem o domínio sobre a virtude, onde eles mesmos se tornam morais, se tomam verdadeiros. Um grande moralista também é, entre outras coisas, um grande ator; o seu risco está em manter afastados o seu esse e o seu operari de uma maneira divina; tudo o que ele faz, ele precisa fazer sub specie boni- o seu ideal elevado, distante, exigente! Um ideal divino!. .. E de fato vale o discurso de que o moralista não imita com isso nenhum modelo menos imponente do que o próprio Deus: Deus, o maior imoralista da ação que já houve, mas que também sabia permanecer o que é, o bom Deus ... 11 (55) (321) Não se deve perdoar jamais o cristianismo por ter anuinado um homem como Pascal. Não se deve deixar jamais de combater no cri.stianismo o fato de ele ter tido a vontade de destroçar justamente as almas mais fortes e mais nobres. Nunca poderemos ter paz enquanto este elemento não for absolutamente destruldo: o ideal de homem que foi inventado pelo cristianismo. Todo o resto absurdo que se compõe a partir de uma fábula cristã, de uma produção infinda de teias de aranha conceituais e de teologia não nos diz respeito; ele ainda poderia ser mil vezes mais absurdo que não levantariamos um dedo contra ele. Mas combatemos aquele ideal que, com sua beleza doentia, com sua sedução feminina e com sua eloquência secretamente caluniadora, procura persuadir almas que se cansaram de todas as covardias e vaidades - como se tudo aquilo que pode parecer em tais circunstâncias o mais útil e desejável, a confiança, a ingenuidade, a despretensão, a paciência, o amor para com seu igual, a submissão, a entrega a Deus, uma espécie de desatrelamento e de abdicação de todo o seu
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eu, fosse mesmo em si o mais útil e desejável. Como se a pequena e modesta disformidade da alma., o animal mediano e virtuoso e a ovelha de rebanho não tivessem apenas o primado ante o homem mais forte, mais malévolo, mais cobiçoso, mais obstinado, mais dissipador e mesmo por isso 100 vezes mais exposto ao perigo, mas fornecesse o ideal, a meta, o critério, a mais elevada desejabilidade precisamente para o homem em geral. Esse estabelecimento de um ideal foi até hoje a mais :sinistra tentação à qual o homem se viu exposto: pois com ele as exceções e os acasos felizes mais intensamente recomendáveis dentre os homens, as exceções e os acasos nos quais a vontade de poder e de crescimento de todo o tipo homem deu um passo adiante, passaram a se ver ameaçados pelo declinio; com seus valores, o crescimento daqueles mais-homens deveria ser fomentado nas raízes daqueles homens que, em virtude de suas requisições e tarefas mais elevadas, também aquiescem voluntariamente a uma vida mais perigosa (expresso em termos econômicos: elevação dos custos de empreendimento, assim como da improbabilidade do sucesso). O que combatemos no cristianismo? O fato de ele querer destroçar os fortes, o fato de ele querer desestimular sua coragem, explorar suas piores horas e seus piores cansaços, de ele querer inverter sua segurança Oll,'llihosa e tr.insformá-la em inquietação e em conflito de consciência, de ele saber envenenar os instintos nobres e tomá-los doentes, até que sua força, sua vontade, sua vontade de poder se voltam para trás, contra si mesmo - até que os fortes perecem ante as desmedidas do desprezo por si e da autoviolentação: aquele tipo horrível de perecimento, cujo exemplo mais célebre é dado por Pascal. 11 (56)
(322) Zola: - certa compe'tição com Taine, um aprendizado de seus meios de produzir uma espécie de ditadura em um mi/ieu16 cético. Pertence a esse aprendizado o recrudescimento dos princípios, para que eles atuem como comando.
16 N,T,: Em francês no original : melo.
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Conceber - será que isso significa avalizar? 11 (58)
(323) Não conhecer a si mesmo: a esperteza do idealista. O idealista: wn ser, que tem razões para permanecer no escuro no que diz respeito a si mesmo e que é esperto o suficiente para também permanecer no escuro no que diz respeito a essas razões. 11 (59)
(32,4) A fêmea literária, insatisfeita, excitada, seca no coração e nas vísceras, obedecendo todo o tempo com uma curiosidade dolorosa ao imperativo de ser categórica do fundo de sua organização: a femea literária, suficientemente culta para compreender a voz da natureza, mesmo quando a natureza fala latim; e, por outrO lado, ambiciosa o suficiente para ainda falar secretamente francês consigo mesma: "je me verrai, je me /irai, je m 'extasierai etje dirai: possible quej'ai eu tant d 'esprir?"" ... A mulher perfeita comete literatura como se comete wn pequeno pecado, por experiência, en passam, olhando à sua volta para ver se alguém nota e para que alguém note: ela sabe como
cai bem na mulher perfeita uma pequenina mancha de podridão e de uma degeneração marrom - ela sabe ainda melhor como todo fazer literário produz um efeito na mulher, como um ponto de interrogação com relação a todos os outros pudeurs 11 femininos ... 11 (60)
(325) A obscuridade moderna. Não sei o que se quer fazer com o trabalhador europeu. Ele se acha bem demais, para não exigir mais agora passo a passo, para não exigir de maneira cada vez mais imodesta: ele tem em última instância o número a seu favor. Não há mais absolutamente nenhu17 N,T.: Em francês no original: eu me veria, me leria, me extasiaria e diria: ser, possfvel que eu tenha tanto esplrllo? 18 N.T.: Em francês no original: pudor.
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ma esperança de que se fonne aqui wn tipo modesto e acomodado em sua parca situação, uma escravidão no sentido mais atenuado da palavra, em resumo, uma classe, algo que possua imutabilidade. As pessoas tomaram o trabalhador apto para o serviço militar: deram-lhe o direito de voz, o direito de coalizão: fez-se tudo para estragar os instintos, nos quais poderia se fundar um dinastia chinesa de trabalhadores: de modo que o trabalhador hoje jâ sente e deixa que sintam a sua existência como wn estado de emergência (expresso cm termos morais: como uma injustiça ...)... Mas peri,>untcmos wna vez mais: o que se quer? Se se quer uma meta, é preciso que se queiram também os meios: se se quer escravos - e precisa-se deles - , então não se podem educá-los para serem senhores. 11 (61) (326) "A soma do desprazer é preponderante em relação à soma do prazer: consequentemente, o não ser do mundo seria melhor do que o ser", um falatório desse gênero é chamado hoje de pessimismo. "O mundo é algo que de maneira racional não seria, porque ele causa ao sujeito sensientc mais desprazer do que prazer." Prazer e desprazer são coisas secundârias, não são coisas originárias (causas); 19 eles são juízos de valor de um segundo nível, de um nlvel que se deriva primeiramente de um valor que governa; um valor que fala sob a forma do sentimento "útil", "nocivo", e, consequentemente, que é absolutamente fugaz e dependente. Pois sempre precisamos perguntar junto a todo "útil" e "nocivo" 100 "para quês" diversos. Desprezo esse pessimismo da sensibilidade: ele mesmo é um sinal do profundo empobrecimento de vida. Nunca pennitirei
19 N.T.: Há, aqui, um Jogo de palavras presente no original. Em verdade, o termo alemão para causa (Ursoche) slgn!Oca literalmente coisa (•soche) originária (Ur•). Assim, às causas como coisas originárias correspondem elementos secundários que se der'lvam dessas coisas originárias. Para que essa relação não se perdesse, resolvemos traduzir ao pé da letra o termo Ursocht e Inserir entre parênteses o seu sentido vernacular.
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que um macaco tão magro quanto Hartmann fale de seu "pessimismo filosófico". 11 (62)
(327) Talma disse: Oui, norLY devons étre sensib/es, nous devons éprouver / 'émotion, mais pour mieux /'imiter, pour mieux en saisir te caractere par /'étude et la réjlexion. Notre ar/ e11 exige de profondes. Point d'improvisation possib/e sur la scéne, sous pei11e d'échec. Tout est calcu/é, tout doit étre prévtt, et /'émotion, qui semb/e soudaine, et /e trouble, qui paraft involontaire. - l 'intonation, /e geste, /e rega,rJ qui semblent inspirés, ont été répé.tés centfois. le poete rêveur cherche un beau vers, /e musicien une mélodie, /e géometre une démonstration: auctm d'eux n '.Y attache pltlS d'intérêt que nous à trouver /e geste e/ / 'accent, qui rend /e mieux /e sens d 'un seu/ hémistiche. Cette étude suit en tous lieux / 'acteur épris de son art. - Faut 'i/ vous dire p/us? Nous nous sommes à nous-mêmes, \.tlyes vous, quand nous aimons notre art, des sujets d 'observation. J'ai fait despertes bien crue//es; j 'ai souvent ressenti des chagrins profo11ds; hé bie11, apres ces premiers moments ou la douleur se fait jour par des cris et par des /armes, je sentais qu 'involontaireme/1/ je faisais un retour sur mes souffeances eJ qu 'en moi, à mon insu. /'acteur étudiait / 'homme et prenait la nature sur Je fail Vaiei de que/te façon nous devons éprouver /'émotion pour être un jour en état de la remire; mais non à /'improvise et sur la scime, quand tous /es yeux so111fixés sur nous; rien n 'exposerait plus notre situation. Récemme/1/ encore, je jouais dans Misanthropie et repentir avec 1me admirab/e actrice; son jeu si réjléchi et pourtant si naturel et si vrai, m 'entraínait. Elle s 'en aperçut. Que/ triomphe/ E pourtant e//e me dit tout bas: "Prenez ga,rJe, Ta/ma, vous êtes émuJ" C'est qu 'en effet de l'émotion naíl /e trouble; la voix résiste, la mémoire manque, les gestes sont faux, l 'ejfet est détn1it! Ah! Nous ne sommes pas la naturo, nous ne sommes que / 'art, quine peut tendre qu 'à imiter. 20 20 N.T.: Em francês no original: Sim, nós deVt?mos ser senslVt?ls, nós deVt?mos experimentar a emoção, mas para, melhor Imitá-la, para melhor dominar
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11 (63) Lessing colocava Moliêre abaixo de Destouches Minna von Barnhelm - "un marivaudage raisonné". 11 (64) Chinês: "como meu amado está alojado em meu coração, tomo cuidado para não comer coisas quentes: este calor não deve ser chato para ele". "Se tu mesmo vires tua mãe morrer de fome, não faça nada que seja contra a virtude." "Se tu, como a tartaruga que recolhe os seus cinco membros no casco, recolheres os teus cinco sentidos em ti mesmo, então esse ato ainda virá a teu favor depois da morte: tu obterás a bem-aventurança celeste." o tar.lter da emoção por melo do estudo e da reflexllo. Nossa arte o exi-
ge profundamente. Nenhuma Improvisação é passivei em cena, sob pena de fracasso. Tudo é calculado, tudo deve ser previsto, a emoç3o, que parece repentlna, tanto quanto o tul!'Vamento, que parece Involuntário. - A entonação, o gesto, o olhar, que parecem Inspirados, foram repetidos mil vezes. O poeta sonhador buscil um verso bonito, o músico, uma melodia,
o geômetra, uma demonstração: nenhum deles coloca aí mais Interesse do que nós ao buscar o sesto e o aeento, que torna melhor o sentido de um hemlstfqulo. Este estudo sesue por toda parte o ator apabconado por sua arte. - t preciso dizer-vos mais? Vede, quando amamos nossa arte, somos para nós mesmos sujeitos da observação. Tive perdas bem cruéis; com frequência, senil aflições profundas; e, apesar disso, depois desses primeiros momentos em que a dor vem à tona por melo de srltos e de lásrlmas, eu sentia que estava me voltando Involuntariamente sobre os meus sofrimentos e que em mim, com o meu conhecimento, o ator estudava o homem e tomava a natureza pelo fato. Els de que modo nós dc,vemos experimentar a emoção para um dia estarmos em condições de produzl-la; mas não de Improviso e em cena, quando todos os olhos estiverem rixados sobre nós; nada exporia mais a nossa situação. Multo recentemente, cu estovti cnce• nando Mlsanrhraple et repentlr com uma atriz admirável; sua atuaçao tfo refletida e, no entanto, tão natural e tão verdadeiro funcionou para mim como um aprendizado. Ela o percebeu. Que trlunfol E, contudo, me disse bem baixinho: "Tomai cuidado, Talma, vós estais emocionado!• que, oom efulto, da cmoçllo nasec o turvan>ento; a voz resiste, a memória falta, os gestos são fal.sos, o efeito é dcstruí:dol Ahl Nós nllo somos a natureza, nós não somos senão a arte, que n3o pode buscar outra coisa além de Imitar.
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11 (65) "As pessoas ficam espantadas com as muitas hesitações e vacilações na argumentação de Montaigne. Colocado no índex do Vaticano, porém, há muito tempo suspeito para todos os partidos, ele talvez coloque voluntariamente sobre sua perigosa tolerância, sobre sua caluniada isenção, a surdina de uma espécie de questão. Isso já era muito em sua época: humanidade que duvida ..." 11 (66) Mérimée, supérieur comme joaillier en vices et comme ciseleur en difformítés, pertence ao movimento de 1830, não por meio dapassion (ela lhe falta-), mas por meio da novidade do procédé calculado, a escolha ousada das matérias-primas. 11 (67)
"bains inrérieurs", para me expressar de modo cultivado como a Madame Valmore 11 (68) "rien ne porte ma/heur comme une bonne action"2'
11 (69) (328) Saintc-Bcuve: "lajeunesse est trop ardent po11ravoir degoút. Pour avoir du goüt, il ne suffit pas d'avoir en soi lafaculté de goúter les bel/es et douces choses de /'esprit, il faut encore du loisir, une áme libre et vacante, redevenue comme innocente, 11011 livrée aux passions, 110n affairée, 110n bourrelée d'ápres soins et d'inquiétudes positives; une áme désintéressée et méme exemple du feu trop arde111 de la composition, non en proie à propre verve insolente; ilfaut du repos, de l 'oubli, du silence, d 'espace autour de sol. Que de condilions, méme
21 N.T.: Em franoês no original: nada faz tanto mal quanto uma boa aç3o.
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quand on a en soi lafaculté de les trouver. pour jouir des choses délicates !"22 11 (70)
Na apresentação da Cristine (de A. Dumas): Joanny tem um passaporte assinado pela rainha. No instante de se servir dele, ele muda de opinião e coloca o papel em seu bolso, dizendo: réservons en l'effet pour de plus grands besoins." 11(71)
(329) Desprazer e prazer são os meios mais estúpidos de expressão de juí.zos que podemos pensar: com o que não se está dizendo que os juizos que ganham voz desse modo precisariam ser estúpidos. O abandono de toda fundamentação e logicidade, um sim ou não na redução a um querer-ter ou repelir apaixonados, uma abreviação imperativista, cuja utilidade é inconfundível: é isso que é o prazer e o desprazer. Sua origem estâ na esfera central do intelecto; sua pressuposição é uma percepção, uma ordenação, uma verificação, uma dedução infinitamente aceleradas: prazer e desprazer são sempre fenômenos conclusivos, nunca ºcausasº... A decisão quanto àquilo que deve provocar desprdzer e prazer depende do grau de poder: o mesmo que, em vista de um quantum de poder pequeno, se mostra como perigo e intimação à defesa mais ràpida posslvel pode ter como consequência junto 22 N.T.: Em franc~s no original: a juventude é ardente demais para ter gosto. Para ter go$1o, não é suficiente ter em si a faculdade de gowr das belas e doces coisas do espírito, mas também é necessário ócio, uma alma li• vre e desocupada, resurglda como Inocente, sem estar entregue às pai• xões, sem estar atribulada, sem estar atormentada por preocupações e lnquletudes positivas; uma alma desinteressada e mesmo Isenta do fogo ardente demais da composição, não aflita por sua própria vela Insolente; é preciso repouso, esquecimento, sll~nclo e espaço à sua volta. Mesmo quando se possui em sl a faculdade de encontrar coisas delicadas, essas são condições para que se possa gozar dessas coisas! 23 N.T.: Em francês no original: deixemos o efeito para momentos de maior necessidade.
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a uma maior consciência de plenitude de poder um estímulo voluptuoso, um sentimento de prazer. Todos os sentimentos de prazer e desprazer já pressupõem uma medição segundo a utilidade conjunta, a nocividade conjunta; ou seja, uma esfera, na qual tem lugar o querer uma meta ( um estado) e a escolha dos meios para tanto. Prazer e desprazer nunca são "fatos originários". Sentimentos de prazer e desprazer são reações volitivas (afetos), nas quais o centro intelectual fixa o valor de certas transformações acontecidas em relação ao valor conjunto, ao mesmo tempo como introdução de ações contrárias. 11 (72) (330) Se o movimento do mundo tivesse um estado final, então esse estado jã precisaria ter sido alcançado. O único fato fundamental, porém, é o de que o mundo não possui nenhum estado final: e toda filosofia ou hipótese cientifica (por exemplo, o mecanicismo), nas quais tal estado final se toma necessário, são refutadas pelo fato único ... Busco uma concepção do mundo que faça jus a este fato: o devir deve ser explicado, sem que nos refugiemos em tais intenções finais: o devir precisa aparecer justificado a cada instante (ou impassível de ser avaliado: o que dâ no mesmo); o presente não pode ser absolutamente justi fi. cado por causa de algo futuro ou o passado em virtude do presente. A "necessidade" não se mostra sob a forma de uma força conjunta sobrepujante, dominadora, ou de um primeito motor; ainda menos como necessária, para condicionar algo valoroso. Para tanto é necessário negar uma consciência conjunta do devir, um "Deus", a fim de não inserir o acontecimento no ponto de vista de um ser que tudo sente e conhece concomitantemente e que não quer nada: "Deus" é inútil, se ele não quer algo, e, por outro lado, cstabele-se com ele uma soma de desprazer e ilogicidade que reduziria o valor conjunto do "devir": felizmente falta precisamente tal poder somador (- um deus sofredor e vigilante, um "sensório conjunto" e um "esplrito do todo" - seria a maior objeção contra o ser).
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Dito de maneira mais rigorosa: não se tem o direito de admitir nada que seja - porque nesse caso o devir perde seu valor e se mostra precisamente como sem sentido e supérfluo. Consequentemente, precisamos perguntar como a ilusão do ente pode (precisa) ter surgido. Do mesmo modo: como todos os juízos de valor, que repousam nessa hipótese de que haveria algo que é, são desvalorizados. Com isso, porém, reconhece-se que essa hipótese do ente é a fonte de toda difamação do mr:mdo "o mundo melhor, o mundo verdadeiro, o mundo do 'além', a coisa em si" 1) o devir não possui nenhum estado final, ele não desemboca em um "ser". 2) o devir não é nenhum estado aparente; talvez o mundo essente seja uma aparência. 3) o devir possui o mesmo valor a cada instante: a soma de seu valor permanece igual a si mesma: expresso de outro modo: ele não possui nenhum valor, pois falta algo a partir do que ele poderia ser medido e em relação ao que a palavra "valor" teria um sentido. O valor conjunto do mundo é inavaliável; consequentemente, o pessimismo filosófico está entre as coisas cósmicas. 11 (73) (331) O ponto de vista do "valor" é o ponto de vista das condições de conservação-elevação no que diz respeito a configurações complexas de duração relativa de vida no interior do devir: - : não há nenhuma unidade derradeira duradoura, nenhum átomo, nenhuma mônada: aqui também "o ente" é primeiro introduzido por nós (por razões práticas, úteis, perspectivísticas) - : "construções de domlnio"; a esfera daquilo que é dominante constantemente crescendo ou periodicamente encolhendo, aumentando; ou, sob o favor ou desfavor das circunstãncias (da alimentação-)
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-: "valor" é essencialmente o ponto de vista para a ampliação ou o encolhimento desses centros dominantes ("pluralidades" em todo caso, mas a "unidade" não está de maneira alguma presente na natureza do devir) -: um quantllm poder, um devir, na medida cm que nada possui a! o caráter do "ser"; desse modo -: os meios expressivos da língua são inúteis para expressar o devir: pertence à nossa carência indissolúvel por conservação posicionar constantemente um mundo mais tosco de algo permanente, de "coisas" etc. Relativamente, podemos falar de átomos e mõnadas: e, com certeza, o menor mimdo em termos de duração é o mais duradouro... Não há nenhuma vontade: há pontuações volitivas, que constantemente ampliam ou pemem seu poder. 11 (74)
(322)-que no "processo do todo" o trabalho da humanidade não interessa, porque não há de maneira alguma um processo conjunto (esse processo pensado como sistema - ): - que não há nenhum "todo", que toda depreciação da existência humana e das metas humanas não pode ser feita com vistas a algo que de modo algum existe... - que a necessidade, a causalidade, a conformidade a fins são aparências - que a meta não é a ampliação da consciência, mas a elevação do poder, uma ellevação na qual é concomitantemente computada a util idade da consciência, tanto com o prazer quanto com o desprazer - que não se tomam os meios para o supremo critério de medida (ou seja, não estados da consciência, tal como prazer e dor, se a própria consciência é um meio - ) - que o mundo não é de maneira alguma um organismo, mas o caos: que o desenvolvimento da "espiritualidade" é um meio para a duração relativa da organização... - que toda "desejabilidade" não possui nenhum sentido em relação ao caráter conjunto do ser.
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11 (75) (333) a causa do prazer não é a satisfação da vontade: quero lutar particularmente contra essa teoria maximamente superficial. A absurda falsificação psicológica das coisas imediatas... mas antes o fato de a vo·ntade querer seguir adiante, assenhorear-se sempre uma vez mais daquilo que se encontra em seu caminho: o sentimento de prazer reside precisamente na insatisfação da vontade, no fato de ela não estar suficientemente satisfeita sem os limites e as resistências ... "O homem feliz": o ideal de rebanho. 11 (76) (334) A normal insatisfação de nossos impulsos, por exemplo, da fome, do impulso sexual, do impu.lso motor, ainda não contém em si de modo algum algo desanimador; ela age muito mais de forma instigante sobre o sentimento de vida, assim como todo ritmo de pequenos estímulos dolorosos o fortalece: o que mesmo os pess podem ratificar: essa insatisfação, ao invés de nos fazer perder o gosto pela vida, é o grande estimulante da vida. Poder-se-ia, talvez, designar o prazer em geral como um ritmo de pequenos estímulos de desprazer... 11 (77) (335) De acordo com as resistências que uma força busca para delas se assenhorear, precisa sempre crescer a medida de insucesso e de fatalidade que são provocados: e uma vez que toda força só se manifesta junto àquilo que lhe oferece resistência, há em toda ação um ingrediente de desprazer. Só que esse desprazer atua como um estímulo à vida: e fortalece a vontade de poder! 11 (78) (336) Os homens mais e.s,piritua/izados, supondo que sejam os mais corajosos, também vivenciam de longe as tragédias mais dolorosas: por isso, porém., eles honram a vida, porque ela lhes confronta com o maior amagonismo ...
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··············································· ················································ 11 (79) (337) Os meios, com os quais Júlio César se defendeu do adoecimento e da dor de cabeça: marchas descomllllélis, um modo de vida simples, permanência ininterrupta ao ar livre e fainas cons1antes: por alto, essas são as condições de conservação do gênio em geral. 11 (80) (338) Cautela diante da moral: ela nos desvaloriza para nós mesmos Cautela diante da compaixão: ela nos sobrecarrega com a penúria de outros Cautela diante da "espiritualidade": ela estraga o caráter, na medida cm que deixa extremamente solitário: solitário, isto é, solto, desatrelado ... 11 (81) - somente o devir é sentido, mas não a morte (?) 11 (82) O sentido do devir precisa ser preenchido, alcançado, consumado a cada ins1ante. 11 (83) (339) Aquilo que é denomiinado uma boa ação não passa de uma incompreensão; tais ações não são absolutamente possíveis. O "egoísmo" tanto quanto o "altruísmo" não passam de uma ficção popular; assim como o individuo, a alma. Em meio à pluralidade descomunal do acontecimento no interior de um organismo, a parte de que temos consciência é um mero cantinho: e o pouco de "virtude", "altruísmo" e ficções similares são punidos de uma maneira radical como mentiras pelo conjunto do acontecimento restante. Nós fazemos bem cm estudar nosso organismo em sua perfeita imoralidade... As funções animais são por principio infinitamente mais importantes do que todos os estados belos e do que todas as alturas da consciência: esses estados e essas alturas não são senão
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um excesso, enquanto eles não precisam se mostrar como instrumentos para aquelas funções animais. Toda a vida consciente, o espírito juntamente com a alma, juntamente com o corpo,juntamente com a bondade,juntamente com a virtude: a serviço de que afinal ela trabalha? A serviço do maior aperfeiçoamento possível dos meios (meios de conservação, meios de elevação) das funções animais fundamentais: antes de tudo da elevação da vida. Há, portanto, indizivelmente mais naquilo que se chamou "corpo", "carne": o resto é um pequeno acessório. A tarefa de tramar toda a cadeia da vida de tal modo que o fio fique cada vez mais poderoso - essa é a tarefa. Mas vê-se agora como o coração, a alma, a virtude, o espírito conspiram formalmente para inverter essa tarefa principiai: como se eles fossem a meta ... A degeneração da vida é essencia.lmente condicionada pela extraordinâria capacidade de errar da consciência: ela é a que menos se deixa frear pelos instintos e que, por isso, se engana por mais tempo e de maneira mais fundamental. Julgar pelos sentimentos agradáveis ou desagradáveis dessa consciência se a existência possui um valor: é possível pensar em um excesso mais absurdo da vaidade? A consciência é apenas um meio: e sentimentos agradáveis ou desagradáveis são também apenas meios! - A partir do que se mede objetivamente o valor? Apenas a partir do quantum de poder elevado e organizado, segundo o qual aquilo que em todo acontecimento acontece é uma vontade de mais ... 11 (84)
O "espírito" estabelecido como essência do mundo: a logicidade como essencial 11 (85)
(340) Por meio do álcool e do haxixe, nós retomamos a estágios da cultura que tinham sido superados (aos quais se tinha ao menos sobrevivido). Todas as comidas fornecem uma revelação qualquer sobre o passado, do qual surgimos.
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11 (86)
Mesmo o sábio faz com frequência o mesmo que aquelas mulheres estúpidas que não consideram o leite um alimento, mas, sim, os nabos: 11 (87)
(341) Quero exigir de volta como propriedade e produto do homem toda a beleza e toda a sublimidade que emprestamos ás coisas reais e imaginárias: como a sua mais bela apologia. O homem como poeta, como pensador, como Deus, como amor, como poder - : ó, sobre a sua generosidade imperial, com a qual ele presenteou as coisas, a fim de se empobrecer e se sentir miserável! Esse foi até aqui o seu maior altruísmo, o fato de ele ter admirado e louvado e ter sabido se esconder, o fato de ter sido ele quem criou o que ele admirava. -
li (88) (342) O quanto a mistura sentimental da música alemã não é devedora da satisfação inconfessa e mesmo inconsciente de antigas necessidades religiosas! O quanto de oração, de virtude, de unguento, de virgindade, de incenso, de caprichos e de "cubiculos" não continua ganhando voz ai! O fato de a própria música se ab~'l:rair da palavra, do conceito, da imagem: ó, como ele sabe se aproveitar disso, o "eterno-feminino" malicioso e feminino! A mais proba consciência não precisa se envergonhar, quando esse instinto se satisfazela permanece de fora. Isso é saudável, inteligente e, na medida em que mostra vergonha ante a mesquinhez de todo juízo religioso, um bom sinal... Apesar de tudo isso, ela permanece urna hipocrisia ... Em contrapartida, se se coloca de lado o simbolismo religioso, tal como Wagner o fez em seus últimos dias com uma perigosa mendacidade, tal como acontece no Parsifal, em que ele alude e não apenas alude ao disparate supersticioso da última ceia: então tal música provoca indignação... 11 (89)
(343) Os homens sempre entenderam mal o amor: eles acreditam que sejam af altruístas, porque querem o proveito de
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··············································· ·······················•························ outro ser, com frequência contra o seu próprio proveito: mas para tanto eles querem possuir esse outro ser... Em outros casos, o amor é um parasitismo mais fino, o perigoso aninhar-se de uma alma em outra alma - às vezes também na carne... Ah! O quanto isso não se dã às custas "do dono da casa"! Quanta vantagem o homem sacrifica, o quão pouco ele é "egoísta"! Todos os seus afetos e paixões querem ter sua razão - e o quão distante da astuta utilidade não se encontra o afeto! Não se quer sua "felicidade"; é preciso ser inglês para poder acreditar que o homem sempre busca seu proveito; nossos desejos querem se apropriar das coisas em uma longa paixão sua força acumulada busca as resistências. 11 (90) O primeiro a fazer o melhor uso possível de R
W nos dirá o quanto ele vale. Por vezes tenta-se acreditar em um valor de W, no qual ele mesmo poderia ter gostado muito de acreditar. 11 (91) (344) Enobrecimento da prostituição, não extinção... O casamento teve durante muitíssimo tempo a mã consciência contra si: devemos acreditar nisso? Sim, nós devemos acreditar. Para a honra das mulheres velhas 11 (92) Tomo a liberdade de me esquecer. Depois de amanhã quero estar de novo cm casa. 11 (93) (345) tudo aquilo com o que o homem até aqui não soube lidar, tudo aquilo que nenhum homem até aqui digeriu, os "excrementos da existência" - para a sabedoria, ao menos, ela continua sendo o melhor esterco...
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11 (94) (346) Aquele imperador mantinha diante de si constante• mente a perecibilidade de todas as coisas, a fim de não considerá-las tão importantes e de permanecer tranquilo junto a elas. Para mim, ao contrário, tudo parece ser valioso demais, para que pudesse ser assim tão fugidio: busco uma eternidade para tudo: temos o direito de jogar os unguentos e os vinhos mais deliciosos ao mar? - e meu consolo é que tudo aquilo que foi é eterno: - o mar o lança de volta à superficie 11 (95) (347) Como se sabe, as pessoas continuaram amolando Voltaire em seus últimos instantes: "Vós acreditais na divindade de Cristo?", perguntou-lhe seu cura; e, não satisfeito com o fato de Voltaire ter dado a entender que queria ser deixado em paz, ele repetiu sua pergunta. Furioso, Voltaire repeliu o impertinente questionador: "au nom du dieu! - ele gritou em sua face - ne me parlez pas de cet-homme là!"" - últimas palavras imortais, nas quais está resumido tudo aquilo contra o que esse espírito de todos o mais corajoso tinha lutado. Voltaire emitiu o juizo: ''Não hã nada divino nesse judeu de Nazaré": foi assim que o gosto clássico julgou a partir dele. O gosto clássico e o gosto cristão empregam o conceito do "divino" de maneiras fundamentalmente diversas; e quem tem o primeiro no corpo não pode sentir outra coisa em relação ao cristianismo senão que ele é foeda e, cm relação ao ideal cristão, que ele é uma caricatura e urna degradação do divino. 11 (96) (348) O fato de se colocar o agente uma vez mais na ação, depois de tê-lo extraído da ação conceitualmente e, com isso, esvaziado a ação;
24 N.T.: Em francês no original: em no me de deus! Não me fale nesse homem!
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O fato de se retirar o fazer-algo, a "meta", a "intenção", o "fim", colocando-os uma vez mais na ação, depois de tê-los extraído artificialmente da ação e, com isso, esvaziado a ação; O fato de todo "fim", toda "meta", todo "sentido" não serem outra coisa senão expressão de uma vontade, que é inerente a todo acontecimento, a vontade de poder; o fato de fins, metas, ter intenções, querer em geral significarem o mesmo que querer-vir-a-ser-mais-forte, e também querer os meios para tanto; O fato de o instinto mais universal e mais inferior em toda ação e em todo querer ter permanecido justamente por isso o menos conhecido e o mais velado, porque nós sempre seguimos em verdade seu comando, porque somos esse comando... Todos os juízos de valor são apenas consequências e perspectivas mais estreitas a serviço dessa vontade una: o próprio avaliar é apenas essa vontade de poder; uma critica do ser a partir de algum desses valores é algo absurdo e urna i·ncompreensão; mesmo supondo que se introduza ai um processo de decllnio, esse processo continua a serviço dessa vontade... Avaliar o pr6prio ser: mas o próprio avaliar ainda é esse ser- : e, na medida em que dizemos não, continuamos sempre fa. zendo o que somos ... É preciso que percebamos o absurdo desse gesto condenador da existência; busquemos ainda desvendar o que se dâ propriamente com ele. Ele é sintomático. 11 (97) (349) O niilismo filosófico é a convicção de que todo acontecimento é sem sentido e em vão; e que não deveria haver mais nenhum ser sem sentido e vão. Mas de onde provém esse: não deveria? Mas de onde se retira esse "sentido"? Essa medida?- 0 niilista pensa no fundo que a visão de ta.1ser ârido e inútil age sobre um filósofo de maneira insatisfatl>ria, árida, desesperada; uma tal compreensão contradiz nossa sensibilidade mais sutil como filósofos. Esse fato conflui para a avaliação absurda: o caráter da existência precisaria agradar ao filósofo, se é que ela deve subsistir com razão ... Agora, é fácil compreender que o agrado e o desprazer no interior do acontecimento só podem ter o sentido de meios: res-
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taria perguntar, se nós poderíamos efetivamente ver o "sentido" e a "meta", se a questão da ausência de sentido ou de seu contrário não é insolúvel para nós. 11 (98)
(350) Valor da perecibilidade: algo que não possui nenhuma duração, que se contradiz, possui pouco valor. Mas as coisas, nas quais acreditamos como duradouras, são como tais puras ficções. Se tudo flui, então a perecibilidade é uma qualidade (a "verdade"), e a duração e a perecibilidade, apenas uma aparência. 11 (99)
(35 J) Crítica do niilismo. 1.
O niilismo como estado psicológico precisará entrar em cena em primeiro lugar, quando tivermos buscado um "sentido"
em todo acontecimento, que não está aí: de modo que aquele que busca perde finalmente o ânimo. Niilismo é a conscientização da longa dissipação de força, a agonia do "em vão", a insegurança, a falta de oportunidade de descansar, de ainda se aquietar quanto a alguma coisa - a vergonha diante de si mesmo, como se tivéssemos nos enganado por um tempo longo demais... Esse sentido poderia ter sido: a "realização" de um cânone ético supremo em todo acontecimento, a ordem ética do mundo; ou o acréscimo do amor e da harmonia no trânsito entre os seres; ou a aproximação de um estado de felicidade geral; ou mesmo o arremetimento direto para um estado de nada - uma meta é sempre ainda um sentido. O que há de comum em todos esses tipos de representação é o fato de algo dever ser alcançado por meio do próprio processo: - e, então, compreende-se que com o devir nada é obtido, nada é alcançado ... Ou seja, a desilusão quanto a uma suposta meta do devir como causa do niilismo: seja com vistas a uma meta totalmente determinada, seja, em termos genéricos, a compreensão do caráter insuficiente de todas as hipóteses ligadas até aqui a metas que dizem respeito a todo o "desenvolvimento" (- o homem não é mais colaborador, para não falar de o ponto central do devir).
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O niilismo como estado psicológico entra em segundo lugar em cena, quando se estabelece uma totalidade, uma sistematização, mesmo uma organização em todo acontecimento e sob todo acontecimento: de modo que a alma sedenta de admiração e veneração regala-se com a representação conjunta de uma forma de domínio e de administração supremas (- caso se trate da alma de um lógico, a absoluta consequência e dialética real já são suficientes para que ele se reconcilie com tudo...). Uma espécie de unidade, uma forma qualquer de "monismo": e, em consequência dessa crença, o homem em um profundo sentimento de conexão e de dependência cm relação a um todo infinitamente superior, um modo da divindade ... "O bem-estar do universal exige a entrega do singular"... mas, veja, não há nenhum universal como tal! No fiundo, o homem perdeu a crença em seu valor, caso não atue através dele uma totalidade infinitamente valorosa: ou seja, ele concebeu uma tal totalidade a fi.m de poder acreditar em seu valor. O niilismo como estado psicológico tem ainda uma terceira e de"adeira forma. Dadas essas duas intelecções, a de que com o devir nada é obtido e a de que não vigora por debaixo de todo devir nenhuma grande unidade, na qual o singular pudesse submergir completamente como em um elemento de um valor supremo: então ainda resta como refúgio condenar todo o mundo do devir como uma ilusão e inventar um mundo que se encontra para além desse mundo do devir, um mundo verdadeiro. Contudo, logo que o homem descobre como esse mundo só ganhou espaço por necessidades psicológicas e como ele não tinha razão alguma para tanto, surge a última forma do niilismo, que encerra em si a descrença em um mundo metafisico - que se proíbe a crença em um mundo verdadeiro. Sob esse ponto de vista, admite-se a realidade do devir como a única realidade, prolbe-se todo tipo de atalhos para trasmundos e falsas d.ivindades - mas não se suporta esse mundo que íá não se quer negar. .. - O que aconteceu, no fundo? O sentimento da ausência de valor foi alcançado, quando se compreendeu que o caráter conjunto da existência não pode ser interpretado nem com o con-
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ceito de "meta", nem com o conceito de "unidade", nem com o conceito de "verdade". Nada é obtido e alcançado; falta a unidade abrangente na pluralidade do acontecimento: o caráter do acontecimento não é "verdadeiro", é falso ..., não se tem mais simplesmente nenhuma razão para tentar se convencer de um mundo verdadeiro ... Em suma: as categorias "meta", "unidade", "ser", com as quais tínhamos inserido um valor no mundo, foram retiradas uma vez mais por nós - e agora o mundo parece sem valor...
2. Supondo que nós reconhecemos em que medida o mundo não pode ser interpretado com essas três categorias e que, segundo essa compreensão, o mundo começa a se tornar sem valor para nós: precisamos nos pe.rguntar de onde provém a nossa crença nessas três categorias - tentemos ver se não é possível reiirar-lhes a crença. Se desvalorizarmos essas três categorias, então a prova de sua inaplicabilidade não é mais nenhuma razão para desvalorizarmos o todo. Resultado: a crença nas categorias da razão é a causa do niilismo - nós medimos o valor do mundo a partir de categorias que se ligam a um mundo puramente fictício .
....
Resultado final: todos os valores com os quais procuramos tornar primeiramente o mundo apreciável para nós até agora e que por fim desvalorizamos justamente por isso, quando se revelaram como impassíveis de serem estabelecidos - todos esses valores são, computados psicologicamente, resultados de determinadas perspectivas de utilidade voltadas para a manutenção e a elevação de construções humanas de domínio: e falsamente apenas projetadas para o interior da essência das coisas. Trata-se sempre ainda da ingenuidade hiperbólica do homem a si mesmo como o sentido e a medida das coisas...
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11 (100) (352) Os valores supremos, em cujo serviço o homem deveria viver, sobretudo se eles dispusessem do homem de maneira por demais pesada e dispendiosa: esses valores sociais foram construídos sobre o homem com a finalidade de fortalecer o tom, como se eles fossem comandos de Deus, como "realidade", como mundo "verdadeiro", como esperança e como um mundo faturo. Agora, no momento em que fica clara a proveniência mesquinha desses valores, o todo nos parece desvalorizado, ele parece ter se tomado "desprovido de valor"... mas esse é apenas uni estado intennediário. 11 (101) Não gostaria de maneira alguma de tomar parte na comédia desprezível, que continua sendo chamada hoje, sobretudo na Prússia, de pessimismo filosófioo; não vejo nem mesmo a necessidade de tàlar sobre ele. Nós já deveríamos ter nos afastado há muito tempo com nojo desse espetáculo teatral que nos é oferecido pelo macaco magro que é o senhor von Hartmann: a meu ver, não se pode levar em consideração ninguém que coloque ao mesmo tempo na boca o nome de Hartmann e de Schopenhauer. 11 (102) (353) Que não cometamos nenhunia covardia contra suas ações. Que não as abandonemos na mão cm seguida... O remorso é indecente. 11 (103) (354) Que recoloquemos, finalmente, os valores humanos uma vez mais bem comportados em seus cantos, nos únicos espaços em que eles têm razão: como valores marginais." Muitas espécies animais já desapareceram; supondo que o homem também venha a desaparecer, não faltaria nada oo mundo. É preciso ser suficientemente filósofo para poder admirar também esse nada (- Nil admirari - ). 25 N,T.: O t ermo alemão eckensteher significa, literalmente, aquilo que se encontra no canto,
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11 (104) (355) Se não temos probl,ema algum com o "por quê?" de
nossas vidas, então levamos na flauta o seu "como?". Quando o valor do prazer e o do desprazer ganham o primeiro plano e damos ouvidos a doutrinas hedonistas e pessimistas, isso já é por si só um sinal de descrença no "por quê?", na meta e no sentido, uma falta de vontade; e renúncia, resignação, virtude, "objetividade" já podem se mostrar no mínimo como um sinal de que começa a faltar o principal. Que saibamos nos dar uma meta - - 11 (105)
N.B. Um homem-plebe, um homem do rancor, um Rankunke/... 11 (106)
Não se pode confundir. - a descrença como incapacidade de chegar efetivamente a acreditar e, por outro lado, como incapacidade de ainda acreditar cm algo: no último caso simplesmente como sintoma de uma nova crença É próprio da descrença como incapacidade a inaptidão para negar - ela não sabe se defender nem de um sim nem de um não ... 11 (107)
O ócio está no começo de toda filosofia. - Por conseh>uinte - a filosofia é um vício?... 11(108)
Um filósofo descansa de modo diverso e com coisas diversas. A crença em que não há, nenhuma verdade, a crença dos niilistas, é um grande espregu.içar-se para alguém que, como guerreiro do conhecimento, está incessantemente em luta com verdades extremamente feias. Pois a verdade é feia. 11(109)
Se deduzimos da música a música dramática: ainda resta muita coisa da boa música.
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li (110) Nós também acreditamos na virtude: mas na virtude no estilo da renaissance, virtu, virtude livre de toda moral. li (Ili) Como é possível que o artigo de fé fundamental de toda psicologia sejam as mais graves dctUipações e falsificações? "O homem aspira à felicidade", por exemplo - o que há de verdade ai! Para compreender o que é a vida, que tipo de aspiração e de tensão a vida é, a fórmula precisaria ser igualmente válida para ãJvores, plantas e animais. "Ao que aspira a planta?" - mas jã erigimos aqui uma falsa unidade, uma unidade que não há: o fato de um crescimento milionésimo com iniciativas próprias e semipróprias ser escondido e negado, quando antepomos a unidade maciça "planta". O fato de os menores "individuos" derradeiros não serem compreensíveis no se·ntido de um "indivíduo metafisi-
co" e de um átomo, o fato de suas esferas de poder se deslocarem continuamente - é isso que é antes de tudo visível: mas será que cada um deles, se eles se transformam dessa maneira, aspira à ''felicidade"? - Mas todo expandir-se, incorporar, crescer é uma aspiração contra algo que resiste, o movi é essencialmente algo ligado a estados de desprazer: em todo caso, aquilo que impulsiona aqui precisa querer algo diverso, se é que ele quer c busca incessantemente desse modo o desprazer. - Pelo que as ãJvores de uma floresta virgem lutam umas com as outras? Por "felicidade"? - Por poder... O homem, que se tomou senhor sobre as forças naturais, sobre a sua selvageria e desenfreamento: os desejos possuem consequências, aprenderam a ser úteis. O homem, cm comparação com um pré-homem, representa um quantum de poder descomunal - não um plus de "felicidade": como é que se pode afirmar que ele aspirava à felicidade? li (112) (357) O homem mais elevado distingue-se do homem iliferior com vistas ao destemor e à exigência da infelicidade: trata-se
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de um sinal de retrocesso, quando critérios de valor eudaimonistas começam a ser considerados como critérios supremos (- cansaço fisiológico, empobrecimento da vontade -). O cristianismo com sua perspectiva de "venturança" é um modo de pensar típico de um gênero humano sofredor e empobrecido: uma força plena quer cri.ar, sofrer, sucumbir sofrendo: para ela, a ladainha cristã da salvação é música ruim c os gestos hieráticos um enfado 11(113) (358) Para a psicologia e a doutrina do conhecimento.
Fixo também a fenomenalidade do mundo interior: tudo aquilo de que temos consciência é primeiro inteiramente retificado, simplificado, esquematizado, interpretado - o processo real da "percepção" interna, a unificação causal entre pensamentos, ideias, desejos, assim como entre sujeito e objeto, nos é absolutamente velada - e talve-z uma pura fantasia. Esse "mundo interior aparente" é tratado com as mesmas formas e procedimentos que o mundo "exterior". Nós nunca deparamos com "fatos": prazer e desprazer são fenômenos intelectuais tardios e derivados ... A "causalidade" nos escapa; supor um laço causal imediato entre pensamentos, tal como a lógica o faz - essa suposição é a consequência da observação mais tosca e grosseira de todas. Entre dois pensamentos, todos os afetos possíveis jogam o seu jogo: mas os movimentos são rápidos demais, por isso não os compreendemos, por isso os negamos ... O "pensar", tal como estabelecem os epistemólogos, é algo que não se dá absolutamente: trata-se de uma ficção totalmente arbitrária, alcançada pelo destaque de um elemento do processo e pela subtração de todos os outros, uma retificação anificial com a finalidade de tomar comprecn:slvcl. .. O "espírito", algo que pe11sa: possivelmente quiçá "o espírito absoluto, puro" - essa concepção é uma segunda consequência derivada da auto-observação falsa que acredita no "pensar": "o pensar" e, cm segundo lugar, um sujeito-substrato imaginado no qual cada ato desse pensar e: nada além disso possui sua origem: ou seja, tanto a ação quanto o agente são fictícios.
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li (114)
"querer" não é "desejar", aspirar, exigir; ele se distingue dessas noções por meio do afeto de comando não há nenhum "querer", mas apenas um querer-algo: não é necessârio destacar a meta do estado: tal como o fazem os epistemólogos. Como o "pensar", o "querer", tal como eles o compreendem, também não se dá: ele é uma pura ficção. o fato de algo ser comandado penence ao querer (: com isso não está dito naturalmente que a vontade é "efetuada"...) Aquele estado geral de tensão, em vinude do qual uma força busca ser desencadeada - não é "vontade" 11(115)
(359) Em um mundo que é essencialmente falso, a veracidade precisaria se mostrar como uma tendência antil1fltural: tal tendência só teria sentido como meio para WJJa potência panicular mais elevada de falsidade; para que um mundo do verdadeiro, do ente, tenha podido ser imaginado, o homem veraz precisou ser primeiro criado (incluindo aí o fato de tal homem vcraz se acreditar "veraz") Simples, transparente, sem estar em contradição consigo mesmo, duradouro, permanecendo igual a si mesmo, sem dobras, voltas, cortinado, forma: um homem desse tipo concebe um mundo do ser como "Deus" segundo sua imagem. Para que a veracidade seja passivei, toda a esfera do homem precisa estar bem limpa, pequena e respeitável: a vantagem precisa estar em todos os sentidos do lado do veraz. - Mentira, perfídia, fingimento precisam causar espanto... O ódio à mentira e ao fingimento par orgulho, por um conceito de honra irritável; mas também há tal ódio oriundo da covardia: porque a mentira é proibida. - Em outro tipo de homem, toda moralização própria ao "t\l não deves mentir" não ajuda nada contra o instinto, que necessita constantemente da mentira: testemunho o novo testamento. li (1 16) (360) Há aqueles que buscam lugares onde há algo imoral: quando eles julgam: "isto é injusto", acred.itam que se precisa
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acabar com isto e transformá-lo . Inversamente, ao tratar de uma coisa, não tenho paz em parte alguma enquanto não tenho clareza quanto à sua imoralidade. Se trago essa imoralidade à tona, então se produz uma vez mais meu equilíbrio. 11 (117)
Um espírito relaxado, par.a o qual a dança é o movimento mais natural, um espírito que adora tocar toda realidade com a ponta dos pés, odeia se entregar a coisas tristes. 11 (118)
(361) nós hiperbóreos Minha conclusão é: que ,o homem real possui um valor muito mais elevado do que o homem "desejável" de algum ideal qualquer até aqui; que todas as "coisas desejáveis" em relação ao homem foram digressões absurdas e perigosas, com as quais um tipo particular de homem quis pendurar como lei suas condições de conservação e de crescimento sobre a humanidade; que todas as "coisas desejáveis" oriundas de tal origem que se tomaram até agora dominantes reduziram o valor do homem, sua força, sua certeza de futuro; que a mesquinhez e a intelectualidade angulosa do homem se expõem na maioria das vezes, quando ele deseja; que a capacidade do homem de instaurar valores foi muito pouco desenvolvida até aqui, para fazer jus ao valor fático, não apenas desejável, do homem; que o ideal até agora foi a força realmente amaldiçoadora do homem e do mundo, a fumaça tóxica sobre a realidade, a grande sedução para o nada ... 11(119)
(362) Prefácio Eu descrevo o que virá: a ascensão do niilismo. Posso descrevê-la aqui, porque algo necessário está se dando aqui - os sinais desse acontecimento estão por toda parte, só continuam faltando os olhos para esses sinais. Não elogio, nem repreendo aqui o fato de que ele vi.rã: creio que há uma grande crise, um instante da mais profunda automedjtação do homem: é uma questão
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de sua força saber se ele se restabelecerá dal, se ele se tomará senhor dessa crise: é possível... O homem moderno acredita experimentalmente ora nesse, ora naquele valor e o deixa, em seguida, cair: a esfera dos valores que sobreviveram e que tombaram fica cada vez mais cheia; o vazio e a pobreza em termos va/orativos silo cada vez mais sentidos; o movimento é impassível de ser detido - apesar de se buscar o adiamento em grande estilo Finalmente, ele ousa uma crítica dos valores em geral; ele reconhece a sua proveniência; ele reconhece o suficiente para não acreditar mais em valor algum; o pathos se faz presente, o novo horror... O que narro é a história dos próximos 200 anos ... 11 (120) (363) Que tenha lugar entre o sujeito e o objeto uma espécie de relação adequada; que o objeto seja algo que se mostraria como o sujeito visto de dentro: essa é uma invenção benevolente que, como penso, teve o seu tempo. A medida daquilo que nos é consciente é totalmente dependente da tosca utilidade da conscientização: como é que essa perspectiva angulosa da consciência pode nos permitir construir de algum modo enunciados sobre "sujeito" e "objeto" enunciados com os quais a realidade seria tocada! 11(121) (364) Não se pode deduzi.r a mais baixa e mais originária atividade no protoplasma de uma vontade de autoconservação: pois ele recolhe em si de uma maneira insana muito mais do que a conservação condicionaria: e, antes de tudo, justamente com isso ele não "se conserva", mas se decompõe ... O impulso que aqui vigora precisa explicar precisamente o não-querer-se-conservar: a "fome" é já uma nova interpretação, segundo organismos que não possuem o mesmo grau de complicação (- a fome é uma forma especializada e tardia do impulso, uma expressão da divisão do trabalho, a serviço de um impulso mais elevado que vigora sobre esse último impulso).
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11 (122) (365) - não é isso o que ncs separa: o fato de não reencontronnos nenhum Deus, nem na história, nem na natureza, nem por detrás da natureza - mas o fato de aquilo que foi venerado como um deus se mostrar para o nosso sentimento não como "divino", mas como uma deformidade sagrada, como movimento de manada, como uma ninharia absurda e deplorável, como princípio de difamação do mundo e do homem: em suma, o fato de negarmos Deus enquanto Deus. O ãpice da mendacidade psicológica do homem estã em extrair pelo cálculo a existência de um ser como início e como o "em-si", segundo o critério anguloso daquilo que se lhe apresenta como bom, sábio, poderoso, valoroso - e alijar aí toda a causalidade, em virtude da qual efetivamente subsiste uma bondade qualquer, uma sabedoria qualquer, um poder qualquer. Em suma, estabelecer elementos da mais tardia e mais condicionada proveniência não como tendo surgido, mas como sendo "em si", se possível até mesmo como causa de todo surgimento em geral. Se partirmos da experiência, de todo caso no qual um homem se elevou significativamente acima da medida do humano, então veremos que todo grau elevado de poder encerra cm si a liberdade em relação ao "bem" e ao "mal", assim como em relação ao ''verdadeiro" e ao "falso", não podendo levar em conta nada que queira a bondade: nós concebemos o mesmo uma vez mais para todo grau elevado de sabedoria - a bondade é suprimida nessa sabedoria tanto quanto a veracidade, a justiça, a virtude e outras veleidades populares da avaliação. Por fim, cm relação a todo grau elevado da própria bondade: não é evidente que ele já pressupõe uma miopia e um.a falta de refinamento intelectuais? Assim como distinguir a uma grande distância verdadeiro e falso, útil e nocivo? Para não falar do fato de que um grau mais elevado de poder nas mãos da bondade suprema implicaria as mais funestas consequências ("a supressão do mal")? - De fato, é preciso considerar atentamente que tendências o "Deus do amor" inspira em seus crentes: eles arruinam a humanidade em favor do "bem" - Na prática, em face da constituição real do mundo, o mesmo Deus se mostrou como o Deus da mais extrema miopia, do mais
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extremo diabolismo e da mais extrema impotência: de onde se segue quanto valor a sua concepção possui. O saber e a sabedoria não possuem em si nenhum valor; tampouco a bondade: ainda é preciso ter primeiro a meta a partir da qual essas propriedades obtêm valor ou se mostram como desprovidas de valor - poderia haver um valor a partir do qual um saber extremo representaria uma elevada falta de valor (por exemplo, se a ilusão extrema fosse uma das pressuposições para a elevação da vida; do mesmo modo, se a bondade, por exemplo, conseguisse paralisar e desencorajar as molas do grande desejo ... Dada nossa vida humana, tal como ela é, então toda "verdade", toda "bondade", toda "sacralidade", toda "divindade" no estilo cristão até agora se mostram como o grande perigo - a humanidade ainda continua correndo perigo de perecer por conta de uma idealidade hostil à vida.
11 (123) (366) A ascensão do niilismo O niilismo não é apenas uma consideração sobre o "em vão"!, nem apenas a crença em que tudo merece perecer: partici• pa-se ativamente, leva-se a pique ... Se quisermos, isso é ilógico: mas o niilista não acredita na necessidade de ser lógico ... Trata• -se do estado de espíritos e vontades fortes: e para tais espíritos e vontades não é possível ficar parado junto ao não do "juizo" - o não da ação emerge de sua natureza. A a-niquilação por meio do juizo auxilia a a-niquilação por meio da mão. li (124) (367) Se estamos "desiludidos", não o estamos em relação à vida: mas estamos porque abrimos os olhos para todos os tipos de "desejabilidades". Nós consideramos com uma ira trocista aquilo que significa um "ideal": nós nos desprezamos por não podermos reprimir a q,ualquer momento essa emoção absurda, que se chama " idealismo". O mimo é mais forte do que a ira do desiludido ...
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11 (125) (368) A completa minoridade dos moralistas, que exigem de nosso si próprio de muitas peles e velado que ele seja simples; alguns dizem "mostra-te como tu és": como se não se precisasse para tanto ser primeiro algo que é ... 11 (126) (369) IV. N.B. A escolha dos iguais, o extrato, o isolamento 11 (127) (370) N.B. Contra ajustiça... Contra J. Stuart Mil!: eu me distancio de sua baixeza ao dize:r que "o que é direito para um é bom para o outro; não faça a ninguém aquilo que tu não queres que façam oontigo etc."; querer fundamentar todas as relações humanas na reciprocidade da realização, de modo que toda ação se mostra como uma espécie de pagamento per algo que nos cabe. Aqui, o pressuposw é vil no sentido mais baixo possível: pressupõe-se aqui a equivalência dos valores das ações em mim e em ti; aqui, o valor pessoal de um.a ação é simplesmente anulado (aquilo que não pode ser oompensado e pago por nada - ). A "reciprocidade" é uma grande baixeza; o fato de aquilo que eu faço não ter o direito de ser feito e não poder ser feito per outro, o fato de não poder haver nenhuma equiparação - a não ser na esfera maximamente seleta dos "meus iguais", interpares -; o fato de, em um sentido mais profundo, nunca restituirmos nada,porqueseéalgo único es6 sefazalgo único-essa convicção fundamental contém a causa da separação aristocrática em relação à multidão, porque a multidão acredita em "i&rualdade" e, oonsequentemente, em compensação e "reciprocidade". 11 (128) (371) É o sentimento de parentesco que une as crianças entre si: esse parentesco é mil vezes mais forte em tennos psicológicos do que nonnalmente se supõe. Llngua, hâbitos, comunhão de interesses e destinos - tudo isso é pouco comparado com aquele poder-se-compreender com base no mesmo procedimento.
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o declfnio do espírito alemão, que está à altura do ufanismo e do nacionalismo 11 (130)
Não se fala sobre veracidade com uma mulher: quando dizemos a uma mulher "mostra-te como tu és", essa expressão significa quase o contrário daquilo que ela significa enquanto uma requisição ao homem 11(131)
- ele não foi queimado por sua crença, com pequenas varetas verdes: mas pelo fato de não possuir mais coragem alguma para a sua crença. 11 (132)
- um homem, como ele deve ser: isso nos soa tão insípido como "uma árvore tal como ela deve ser" 11 (133)
N.8. Reconhece-se a superioridade do homem grego, do homem do renascimento - mas gostar-se-ia de tê-los sem suas causas e condições: falta até hoje uma compreensão mais profunda dos gregos 11 (134)
"Coisas que possuem em si uma constituição" - uma representação dogmática, com a qual se precisa absolutamente quebrar 11 (135)
Para uma critica das grandes palavras. Estou cheio de suspeita e maldade em relação àquilo que se denomina um "ideal": é aqui que se acha o meu pessimismo, cm ter reconhecido como os "sentimentos mais elevados" são uma fonte de desgraça, isto é, de amesquinhamento e de degradação valorativa do homem.
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- as pessoas sempre se eoganam quando esperam o "progresso" de um ideal: a vitória do ideal sempre foi até aqui um movimento retrógrado. - cristianismo, revolução, suspensão da escravidão, direitos iguais, filantropia, amor à paz, justiça, verdade: todas essas grandes palavras só possuem valor na luta, como estandar• tes: não como realidades, mas como palavras pomposas para designar algo completamente diferente (sim, oposto!) 11 (136)
Crítica às grandes palavras "Liberdade" para a vontade de poder "Justiça" "lgualdade de direitos" "Fraternidade" "Verdade" (cm sectos etc.)
11 (137) A "crescente autonomia do indivíduo": esses filósofos parisienses falam sobre isso, filósofos como Fouillé: mas eles só deveriam considerar a race moutonniere,26 que eles mesmos são! ... Abri os olhos, senhores sociólogos do futuro! O "indivíduo" tomou-se forte sob condições inversas: vós descreveis o enfraquecimento e o estiolamento extremos do homem, vós os quereis e precisais para tanto de todo o aparato mendaz do antigo ideal! Vós sois do tipo que sente realmente as vossas necessidades de animal de rebanho como um ideal! A falta completa de honradez psicológica! 11 (138) (372) A proveniência do ideal. Investigação do solo, sobre o qual ele cresce. A. Partir dos estados "estéticos", nos quais o mundo é visto de maneira mais plena, mais esférica, mais perfeita 26 N.T.: Em francês no original: raça d'e Imitadores.
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o ideal pagão: aí a autoafumação predominante desde Buffo - o tipo supremo: o ideal clássico - como expressão da boa constituição de todos os instintos principais - aí uma vez mais o estilo supremo: o grande estilo como expressão da própria "vontade de poder" (o instinto mais temido ousa se declarar) - renuncia-se -
B. Partir de estados nos quais o mundo é visto como mais vazio, mais esvaecido, mais diluído, nos quais a "espiritualização" e o caráter não sensível assumem a posição daquilo que é perfeito; nos quais o brutal, o diretamente animal, o imediato são maximamente evitados: o "sábio", "o anjo" (sacerdotal = virgem = ignorante) - caracterização psicológica de tais "idealistas"... - subtrai-se, escolhe-se
C. Partir de estados nos quais sentimos o mundo como mais absurdo, como pior, como mais pobre e mais ilusório do que
seria permjtigo pi1rn que supusé:.semos 01,1 desej~sernos que ele contivesse o ideal: a projeção do ideal para o interior do elemento antinatural, antifactual, alógico. O estado daquele que julga assim (- o "empobrecimento" do mundo como consequência do sofrimento: toma-se, não se dá mais - ) : o ideal antinatural - nega-se, aniquila-se ( O ideal cristão é um conslruto intermediário entre o se-
gundo e o terceiro, ora preponderantemente com esta, ora com aquela figura) os três ideais A. Ou uma intensificação
(pagã) B. ou uma diluição da vida (anêmica) C. ou uma renegação a "divinização" sentida na mais elevada plenitude na mais delicada escolha na destruição e desprezo pela vida.
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O grau de tensão, de resistência, de perigo, de desconfiança legítima; o grau no qual vidas humanas são sacrificadas, no qual a probabilidade do insucesso é grande e, apesar d.isso, ousamos correr o risco: 11 (140)
Os ideais do onimal de rebanho - culminando agora como a s11prema avaliação da "sociedade": tentativa de lhe dar um valor cósmico, sim, metafisico defendo contra ela o aristocratismo. Uma sociedade que preserva cm si aquela consideração e aquela delicadeza em relação à verdade precisa se sentir como exceção e ter em relação a si mesma um poder contra o qual ela se levanta, contra o qual ela é hostil e para o qual ela olha de cima - quanto mais direitos eu concedo e quanto mais eu me equiparo, tanto mais recaio sob o domínio do mediano, por fim, sob o domínio dos mais numerosos - o pressuposto que uma sociedade aristocrática possui em si, para manter o mais elevado grau de liberdade entre os seus membros, é a tensão extrema que emerge da presença do impulso oposto j unto a todos esses membros: da presença da vontade de domínio ... 11 (141)
se vós quereis eliminar as fortes oposições e a diversidade de stahlS, então suprimi o amor forte, a atitude elevada, o sentimento do ser-por-si. 11 (142)
Para a psicologia real da sociedade da liberdade e da igualdade: O que está diminuindo? A vontade da responsabilidade por si - sinais do dccllnio da autonomia
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a capacidade de se defender e de se armar, mesmo no que hã de mais espiritual - a força de comandar o sentido da veneração, da subordinação, do poder-silenciar.
a grande paixão, a grande tarefa, a tragédia, a serenidade 11 (143) Capítulo:
Critica das grandes palavras. Da proveniência dos ideais. o ideal do animal de rebanho
o ideal ascético o ideal dos senhores
Como se faz com que a virtude domine A circe dos filósofos O ideal religioso. Fisiologia do ideal 1. Il. III O ideal político. "ciência,.
o ideal da espiritualidade 111 III I Il I III ll
o ideal do animal de rebanho o ideal dos senhores o ideal da antinatureza o ideal da espiritualidade o ideal pagão o ideal do eremita (estoa etc.) o ideal da scnsorialização Tábua: Da proveniência do ideal
A. o ideal do an.imal de rebanho o ideal do animal senhorial o ideal do animal eremita
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B. o ide a1pagão o ideal da antinatureza C. o ideal da sensorialização o ideal da espiritualização o ideal do afeto dominante Critica das grandes palavras Verdade Justiça Amor Paz
Virtude Liberdade Bondade Honradez Gênio Sabedoria 11 (1 44) Pascal: le pire mal est celui, qu 'onfait par bonne intention.2' 11 (145)
Papel da "consciência" É importante que não nos confundamos quanto ao papel
da "consciência": foi a nossa relação com o "mundo exterior" que a desenvolveu. Em contrapartida, a direção ou a proteção e o cuidado em relação à composição das funções corporais não nos são conscientes; assim como o armazenamelllo espiritual: não se deve duvidar de que hâ Wlla instância suprema para tanto: uma espécie de comitê diretor no qual os clivcrsos desejos principais fazem valer sua voz e seu poder. "Prazer" e "desprazer" são acenos vindos dessa esfera:... assim como o ato volitivo. Assim como as ideias 27 N.T.: em francês no original: o pior mal é aquele que cometemos por boa Intenção.
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ss
Em suma: aquilo que se torna consciente encontra-se sob relações causais que nos são totalmente veladas - a sequência de pensamentos, sentimentos, id.eias na consciência não expressa nada sobre o fato de essa sequência ser uma sequência causal: mas as coisas são aparentemente assim, em um grau maximamente elevado. Nessa aparência fundamos toda a nossa representação de espírito, razão, lógica etc. (nada disso existe: trata-se de sínteses e unidades fictícias)... e essas sínteses e unidades são uma vez mais projetadas nas coisas, por derrás das coisas! Habitualmente se c-onsidera a própria consciência como um sensório conjunto e uma instância suprema: apesar de ela ser apenas um meio da comunicabilidade: ela é desenvolvida no trânsito e com vistas aos interesses do trânsito ... "Trânsito" tam• bém compreendido aqui a partir dos efeitos do mundo exterior e das nossas reações necessárias; assim como a partir de nossos efeitos sobre o que se encontra fora. A consciência não é a direção, mas um órgão da direção 11 (1 46)
Os meios, em virtude dos quais um tipo mais forte se conserva. Conceder-se um direito a ações de exceção; como tentativa de autossuperaçào e de liberdade Dirigir-se para situações nas quais não é permitido não ser bárbaro Criar para si um excesso de poder e uma certeza por meio de todo tipo de ascese com vistas à sua força de vontade Não se comunicar; o silêncio; a cautela diante da gentileza. Aprender a obedecer, de tal modo que se coloque automanutenção à prova. Casuistica do ponto de honra refinada ao extremo. Nunca concluir que "o que é direito para um é bom para o outro" - mas o inverso! Tratar a desforra, o poder restituir como um privilégio, adirniti-lo como distinção Não ambicionar a virtude dos outros.
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11 (147) Teoria do impulso sexual: "os 'homúnculos• que desejam entrar na existência unificam sua exigência de vida em uma exigência por um coletivo que a consciência nota e toma como a sua própria necessidade" Palavras de Renan Hartley Fouillée, p. 217. 11 (1 48)
Estã chegando o momento em que teremos de pagar por termos sido cristãos por 2.soo, anos: nós estamos perdendo o fiel da balança (o peso pesado)'u que nos permitia viver - não sabemos há algum tempo de omde saímos, nem aonde estamos entrando. Nós caímos de repente em avaliações opostas, com a mesma medida de energia, com a qual fomos cristãos - como a qual vivemos o excesso absurdo da ...... cristã - - 1) a "alma imortal"; o valor etemo da "pessoa" 2) a solução, a direção, a valoração no "além" 3) o valor moral como valor supremo, a "salvação da alma'' como interesse cardinal 4) ''pecado", "terreno", "carne'\ ''desejos" - estigmatizados como "mundo" Agora, tudo se mostra como inteiramente falso, como "palavra", como confuso, fraco ou exagerado
28 N.T.: Essa é uma passagem de dlfí(II traduç3o. Em verdade, Nietzsche va• le-se aqui de um t ermo que funciona como t itulo de um aforismo centrol de A gafa cilncla: o termo Schwergewfchr. Traduzido ao pé da letra, o ter• mo slgntnca o peso pesado. No aforismo 341 de A gafa ciência, Intitulado das grllssre Schwergewlcht, ele se refere ao peso esmagador do pensa,. mento do eterno retorno do mesmo e ao papel transformador que esse peso pode desempenhar. No que concerne a esse papel transformador, um sentido básico da palavra alemã é decisivo. Schwergewlcht é o fiel da balança, o peso que funciona como medida para a pesagem de todos os outros pc-sos. Na passagem atlmo, esse sentido é nitidamente visado por Nietzsche. No entanto, para não perder a ligação com o aforismo 341 de A gala cl~ncla, Inseri entre par~ntes,es uma trodução literal do termo.
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............................................... ................................................ a) tenta-se uma espécie de solução terrena, mas no mesmo sentido do triunfo final da verdade, do amor, da justiça: o socialismo: "igualdade entre as pessoas" b) tenta-se do mesmo modo fixar o ideal moral (com o primado do não egoísmo, da autonegação, da negação da vontade) c) tenta-se fixar mesmo o "além": ainda que apenas como um x antilógico: mas e'le é imediatamente revestido de tal forma que é possível retirar dele um consolo metafisico de estilo antigo d) tenta-se extrair do acontecimento a direção divina de estilo antigo, a ordem das coisas que se mostra como gratificante, punitiva, educativa e que conduz ao que é melhor e) continua-se acreditando como antes em bem e mal: de modo que se sente como tarefa a vitória do bem e a aniquilação do mal (- isto é inglês, um caso tipico da falta da cabeça chata de John Stuart Mill) 1) o desprezo da "naturalidade", dos desejos, do ego: a tentativa de compreender a espiritualidade suprema e a arte como consequências de uma despersonalização e como désintéressement g) permite-se à Igreja continuar se imiscuindo em todas as vivências essenciais e em todos os pontos principais da vida particular, a fim de dar-lhes consagração, um sentido mais elevado: nós também temos um "estado cristão", o "casamento" cristão 11 (1 49)
O niilismo perfeito seus sintomas: o grande desprezo a grande compaixão a grande destruição seu ponto de culminação: uma doutrina que mobiliza precisamente a vida, o nojo, a compaixão e o prazer nadestruição, que os ensina como absolutos e eternos
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Para a história do níilismo europeu O período da/alta de clareza, das tentativas de todos os tipos de conservar o antigo e não deixar seguir o novo. O período da clareza: compreende-se que o antigo e o novo constituem oposições fundamentais: os antigos valores nasceram da vida declinante, os novos da vida ascendente - o conhecimento da natureza e a história não nos permitem mais tais "esperanças" - que todos os antigos ideais são ideais hostis à vida (nascidos da décadence e determinantes para a décadence, por mais que no suntuoso adorno de domingo da moral) - nós compreendemos o antigo, mas e.stamos longe de sermos fortes o suficiente para algo novo. O período dos três grandes afetos do desprezo da compaixão da destruição O período da catástrofe a ascensão de uma doutrina que seleciona os homens ... que impele os fracos a resoluções, assim como os fortes 11 (151)
lntelecção que/alta aos "cspiritos livres": a mesma disciplina, que fortalece mesmo uma natureza forte e a capacita para grandes empreendimentos, destroça e estiola os medianos. : a dúvida : la la,geur : o experimento : a interdependência. 11 (152)
meu ufuturo"
a formação robusta de um politécnico serviço militar: de modo que medianamente todo homem das classes mais elevadas é oficial, não importa o que ele faça além disso
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11 (153) Os perversos e os libertinos: sua influência depressiva sobre o valor dos desejos. É a horrível barbárie dos hábitos que, principalmente na Idade Média, impele a um verdadeiro "laço da virtude" - ao lado de excessos ib'llalmcnte horríveis quanto ao que constitui o valor do homem. A "civilização" combativa (domesticação) necessita de todo tipo de ferro e tortura, para se manter contra a fertilidade e a natureza de animal de rapina. Há aqui uma confusão completamente natural, apesar de essa confusão trazer consigo a mais terrível consequência: aquilo que homens do poder e da vontade podem exigir de si também confere uma medida para aquilo qu.e eles podem conceder a si mesmos. Tais naturezas são o oposto dos perversos e libertinos: apesar de, em certas circunstâncias, eles fazerem coisas em função das quais um homem inferior teria comprovada a culpalidade por seu vício e por sua desmedida. Aqui, o conceito de "equivalência dos homens perante Deus" é extremamente nocivo: interditam-se ações e atitudes que, em si, pertencem às prerrog.ativas dos que se mostram como fortes - como se elas fossem em si indignas do bomem. Difamou-se toda a tendência do homem forte, na medida em que se apresentaram os meios de proteção dos mais fracos (dos mais fracos mesmo em relação a si mesmos) como norma valorativa. A confusão chega a tal ponto que se estigmatizaram precisamente as grandes virtuoses da vida (cuja autocracia representa a mais aguda oposição em relação aos perversos e "libertinos") com os nomes mais ignominiosos. Ainda hoje se acredita que é preciso censurar um César B6rgia: isso é ridículo. A Igreja baniu imperadores alemães com base em seus vicios: como se um monje ou um padre pudessem ter voz na discussão daquilo que um Frederico II tem o direito de exigir de si. Um Don Juan é mandado para o inferno: isso é muito ingênuo. Já se notou que não há no céu nenhum homem interessante?... Apenas um aceno para a mocinha no melhor lugar para eles encontrarem a salvação... Se pensarmos o que é um "grande homem" de maneira um pouco consequente e, além disso, com um entendimento mais profundo,
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então não restará a menor dúvida de que a Igreja precisa mandar para o inferno todos os "grandes homens" - ela Juta contra todos os "grandes homens" ... 11 (154) O "conceito de honra": repousando na crença na "boa sociedade", nas principais qualidades cavalheirescas, no compromisso de se representar constantemente. Em essência: o fato de não se levar a sério sua vida; o rato de se obedecer incondicionadamente às maneiras mais respeitosas, por parte de todos aqueles com os quais se entra em contato (ao menos até o ponto em que eles não "nos" pertencem); o fato de não se ser nem familiar, nem benevolente, nem engraçado, nem modesto, a não ser interpares; o fato de sempre se representar .a si mesmo ... 11 (155)
N T A guerra contra os nobres e os poderosos, tal como ela é conduzida no Novo Testamento, é uma guerra como aquela da raposa e com os mesmos meios: só que com a unção sacerdotal e com a recusa decidida, a fim de saber de sua própria esperteza.
li (156) Fala-se da "profunda injustiça" do pacto social: como se o fato de uns terem nascido em padrões favoráveis e outros em padrões desfavoráveis fosse uma injustiça; ou mesmo o fato de uns terem nascido com estas propriedades e outros com aquelas... Precisamos combater isso incondicionadamente. O falso conceito de "individuo" conduz a esse absurdo. Isolar de um homem as circunstâncias a partir das quais ele cresce, inserindo-o meramente ai ou deix.ando-o tombar por assim dizer como uma "mônada anímica", 6 uma consequência da míse:ra metafisica das almas. Ninguém lhe deu propriedades, nem Deus nem seus pais; ninguém é responsável pelo fato de que ele é, de que ele é de tal e tal modo, de que ele se encontra sob tais circunstâncias... O fio da vida, que ele agora representa, não pode ser destacado de tudo aquilo que foi e precisa
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ser: na medida cm que ele não é o resultado de uma longa intenção, de absolutamente nenhuma vontade de um "ideal de homem", de um "ideal de felicidade" ou de um "ideal de moralidade", é absurdo querer se "insurgir" e se "lançar" em direção a algum lugar: como se houvesse em algum lugar uma responsabilidade. A revolta dos "sofredores" contra Deus Sociedade Natureza Antepassados Educação etc. imagina responsabilidades e formas da vontade que simplesmente não hã. Não se deve falar de wna injustiça em casos nos quais não estão de maneira alguma presentes as condições prévias para ajustiça e a injustiça. O fato de uma alma ser- ou dever ser- em si igual a todas as almas é o pior tipa possível de exaltação otimista. O inverso é o desejável, a máxima dissemelhança possível e, consequentemente, atrito, luta, contradição: e o desejável é, felizmente, o real! 11 (157) A intenção de estabelecer direitos iguais e, finalmente, necessidades iguais, uma consequência quase inevitável de nosso tipo de civilização da ação e da equivalência politicados votos, traz consigo a exclusão e a lenta extinção dos homens superiores, dos homens mais perigosos, mais estranhos e, em suma, mais novos: interrompe-se por assim dizer a experimentação e se alcança certo estado de inércia. li (158)
O pessimismo da revolta (ao invés do pessimismo da indignação) 11 (159) Do "grande nojo": em parte sofrendo dele, em parte gerando-o por si mesmo.
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A literatura erótica católica e nervosa A literatura do pessimismo da França / Flaubert. Zola. Goncourt. Baudelaire. Os diners chez Magny. 29 Da "grande compaixão" Tolstoi, Dostoiévski Parsifal 11 (160)
A verdadeira civilização consiste, segundo Baudelaire, dans la dimin11ition du péché or:iginet. 30 B 11(161) Le français est un animal de basse-cour si bien domestiqué, q11 'il 11 'osefra11chir aucu11e palissade. B-3 1 C'est 11n animal de race /atine: l'ord11re ne /ui déplaít pas, dans son domicile, et, en liltéraiure, il est scatophage. li ra}J'ole des excréme11ts... B-3 2
11 (162)
Tartufo. Não uma comédia, mas um panfleto. Um ateu, se ele for por acaso um homem de boa educação, pensará, em relação a essa peça, que não se devem oferecer certas questões dificeis à canalha. B
29 N.T.: Em francês no original: os Jamares no restaurante de Magny. Trota-se de um restaurante parlense famoso por abrigar vários literatos no final do século XIX. 30 N,T.: Em fran9ês no original: a diminuição do pecado original. 31 N.T.: Em francês no original: O francês é um animal adestrado tão bem domesticado que não ousa pular nenhuma cerca. 32 N.T.: Em francês no original: Tratasse de um animal de raça latina: a sujeira n3o o desagrado, cm suo coso, e, em termos de llteraturo, ele é cscotófo• go. Ele adora excrementos.
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Em relação a Petrõnio, Baudelaire fala de ses terrifiantes impuretés, ses boujfoneries attristantes3l Absurdo: mas sintomático... 11 (164)
genus irritabile vatum 3' 11 (165)
Como Trimalquion, que l.impa suas mãos nos cabelos de seus escravos... 11(166)
Livres vécus, poemes vécus.l' 11 (167)
Byron: falastrão. Mais en revanche, ces sublimes défauts, q11i font /e grand poete: la mélancholie, toujours inséparable du sentiment du beau, et une personnalité ardente, diabo/ique, un esprit salamandrin.36 11 (168)
"... il n 'y a de grand parmi les hommes que /e poete, /e prêtre et /e soldar: l'homme q11i chante, l'homme q11i bénit, l'homme q11i sacrifie et se sacrifie. Le reste n 'est /ait que pour/ouet..."31
33 N.T.: Em franch no original: suas terrivels Impurezas, suos bufonadas en• trlstecedoras. 34 N.T.: Em latim no original: o gênero Irritável dos poetas. 35 N.T.: Em francês no original: Livros vividos, poemas vividos. 36 N.T.: Em franoês no original: Mas, em contrapartida, temos esses defeitos sublimes que fazem o grande poeta: a melancolia, sempre Inseparável do sentimento do belo, e uma personalidade ardente, diabólica, um espírito salamandrino. 37 N.T.: Em francês no original: não há, nado de grande entre os homens senão o poeta, o padre e o soldado: o homem que canta, o homem que abençoa e o homem que sacrifica e se saalflca. O resto não serve scnfto para o chicote ...
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11 (169) "li
II
y a de gouverneme111 raisonnable et assuré que
l'aristocratique. Monarchie ou république, basées sur la démocratie, sonl égalemenl absurdes etfaibles. "38 11(170)
"avant tout être un gran.d homme et un saint pour soi méme."39
11 (171)
"Dieu est le seu/ être qui, po11r régner, n 'a même pas besoin d 'exister. """ 11 (172)
Para a teoria da "entrega"... L 'amour, e 'est /e go11t de la prostit11tion. /1 n 'est même pas de plaisir noble, quine puisse êlre ramené à la pros/ilulion. L'étre /e plus prostihlé, c'est /'étre par excellence, c'est Dieu. Dans un spectacle, dans un bal chacun Jouit de tous. Qu 'est-ce q11e l'art ? Prostitution L 'amour peut dériver d'1111 sentime111 généreux: le goút de la pros1i111tion. Mais il est bientôt corromp11 par le goíit de la propriété."
38 N.T.: Em francês no original: Nilo há nenhum governo racional e seguro senão o governo aristocrático. Monarquia ou república, baseadas na dl!mocracla, são Igualmente absurda$ e fracas. 39 N.T.: Em francês no original: antes de tudo ser um grande homem e um santo para .sl mesmo. 40 N,T.: Em francês no original: Deus é o único ser que, para reinar, não há nem mesmo necessidade de exls!l'r. 41 N.T.: Em francês no original: O amor é o gosto da prostituição. Não há nem mesmo prazer nobre que nfo possa ser reduzido /J prostituição. O ser mai s prostltuldo é o ser por excelência : Deus. Em um espeMculo, cm um baile, cada um goza de todos. O que é a arte? Prostltulçllo / O amor pode se derivar de um sentimento generoso: o gosto pela prostituição. Mas ele é cedo corrompido pelo gosto da IP"OPrledade.
FRAGMENTOS PÓSTUMOS, 18$7-1889 (Vol. VII)
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11 (173) De lafeminéité de /'église comme raison de son omnipuissance.'2
11 (174) O fato de o amor equivaler ã tortura ou a uma operação cirúrgica. O fato de um dos dois ser sempre o carrasco ou o operador. Perguntou-se na presença de Baudelaire: em que consiste o maior prazer do amor? Um respondeu: no receber; outro: no dar-se. O segundo disse: volúpia do orgulho, o primeiro: volúpia da humildade (vo/11pté d'humilité). Todos esses homens sórdidos falavam como a imiratio Cristi. Por fim, apareceu um utopista descarado, que afinnou que o grande prazer do amor consistiria em formar cidadãos para a terra pátria. Moi, )edis: la volupté unique et suprême de /'amour git dans la certitude de faire /e mal. Et I 'homme et la femme savent,
de naissance, que dans /e mal se trouve toute volupté.' 3 11 (175) Nós amamos as mulheres pelo fato de elas nos serem estranhas. A imer les femmes intelligentes est 1111 plaisir de pédéraste." 11 (176) A magreza é mais crua, mais indecente do que a gordura. 11 (177) L 'enthou.riasme quis 'applique à autre chose que les abstractions est un signe defaib/asse et de ma/adie.•• 42 N,T.: Em francês no orlglnol: Da femlnllldade da Igreja tomo rat3o de sua onipotência. 43 N.T.: Em francês no original: Eu digo: a única e suprema volúpia do amor reside na cer1eu de later o mal. E o homem e a mulher sabem, de nascença, que no mal se encontra toda volúpia. 44 N.T.: Em francês no original: Amar mulheros Inteligentes é um prazer de pederasta. 45 N.T.: Em francês no original: O entusiasmo que se aplico o outro coisa que n3o as abstrações é um sinal de lraqucu e de doença.
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11 (178)
A oração. Connais donc les jouissances d'une vie âpre e/ prie, prie sans cesse. La priere est réservoir deforce.46 11 (179)
Os povos fazem tudo para não terem nenhum grande homem. Para existir, portanto, o grande homem precisa ter em mãos uma força que é maior do que a força de resistência que é desenvolvida por milhões de indivíduos. 11(180)
No que diz respeito ao so·no, aventure sinistre de tous les soirs," pode-se dizer: os homens adormecem com uma ousadia que seria incompreensível, se não soubéssemos que ela provém da ignorância do perigo. 11(181)
Esses navios grandes e belos, oscilando sem serem notados sobre a água calma, esses fortes meios de transporte, com um gesto enfadado e falando de saudade, não nos dizem em uma linguagem muda: "quando partimos pour /e bonheur?".48 li (182) En politique, /e vrai sain t est ce/ui, qui fouette et tue /e peuple, pour /e bien du peuple.' 9 li (183)
O belo, tal como Baudelaire o compreende (e Richard Wagner-). Algo ardente e triste, um pouco inseguro, dando espaço para a suposição. 46 N,T.: Em francês no original: Conhece, então, as alegrias de uma vida rude e reza, reza Incessantemente. A or~ção é um reservatório de força. 47 N.T.: Em francês no original: avenhua sinistra de todas as noites, 48 N.T.: Em franoês no original: para a felicidade. 49 N.T.: Em franoês no original: Em política, o verdadeiro santo é aquele que flagela e mata o povo, para o bem do povo.
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li (184) une tête séduisa111e et bel/e, une tête de femme, e 'est une tête quifait rêver à /a/ois, mais d'une maniere confuse, de volupté et de tristesse; qui comporte une idée ccntraire, e 'est-à-dire une ardeur, un désir de vivre, associés avec une amertume rejluante, comme venant de privation ou de désespérance. Le mystere. /e regrei sont aussi des caracteres du Beau.$1) 11 (185) Uma bela cabeça de homem não precisa (a não ser talvez aos olhos de uma mulher) conter essa ideia da volúpia que, em um rosto de mulher, se mostra como uma provocação tanto mais atraente quanto mais melancólico é esse rosto. Mas mesmo essa cabeça terá algo ardente e triste, oriundo de necessidades espirituais, de ambições, que são mantidas obscuras, a ideia de um poder que no fundo gronde" e não possui nenhuma aplicação, por vezes a ideia d'une insensibi/iié vengeresse, 52 por vezes - no caso mais interessante - o segredo e, por fim, /e malheur.jJ 11 (186) Auto-ido/âtrie. Harmonia poética do caráter. Euritmia do caráter e das capacidades. Conservar todas as capacidades. Faz.er crescer todas as capacidades. Um culto. 11 (187) O que encanta na mulher e constitui a beleza. 50 N.T.: Em francês no original: um rosto sedutor e belo, um rosto de mulher, é um rosto que nos fut ao mesmo tempo sonhar, mas de uma manelra confusa, por volúpia e por trlste:a; que comporta uma Ideia de melanco• lia, de lassidão, mesmo de sociedade - ou uma Ideia contr4rla, ou seja, um ardor, um desejo de viver, associados com um amargor refluente, como vindo da prlvaç3o ou do desespero. O mistério, o arrependimento tam• bém são características do belo. 51 N.T.: Em franoes no original: cresce. 52 N.T.: Em fronoês no original: uma lnsenslbllldodc vingativa. 53 N.T.: Em francês no original: a lnfellcldado.
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L 'air blasé. /'air ennuyé. l'air évaporé, I 'air impudent, l 'air froid, l'air de regarder en deda11s, l 'air de domi11ation, /'air de volonté, /'air méchant, /'air ma/ade, /'air chat, enfantillage, non-chalance et malice mê/ées.s-.
11 (188) Nos países protestantes làltam duas coisas que são indispensáveis para a felicidade de um homem bem educado, la galanterie et la dévotion. 55
11 (189) O elemento embriagante mo mau gosto: desagradar o prazer aristocrático. 11(190)
O estoicismo, que s6 possui um sacramento: o suicídio... 11(191) Lafemme est naturel/e, e 'est-à-dire abominab/e. Aussi est-el/e toujours vulgaire, e 'est-à-dire /e contraire d11 dandy. 56
11 (192) li y a da11s rout cha11gement que/que chose d 'i11f{ime er d 'agréable à la fois, quelq11e chose, qui tient de /'infidélité et d11 déménagement. 51
54 N.T.: Em franoês no original: O ar blasé, o ar entediado, o ar evaporado, o ar Impudente, o arfrfo, o arde olhar para dentro, o ar de dominação, o ar de votade, o ar cruel, o ar doente, o ar de gato, lnfantlllsmo, mistura de Indolência e mallcla. 55 N.T.: Em francês no original: a galanteria e a devoção. 56 N,T.: Em francês no original: A mul her é natural, ou seja, abominável. Ela também é sempre vulgar, ou seja, o contrário do dãndl. 57 N.T.: Em francês no original: Hd cm toda mudança algo de lnf3ml.l ede ogra• dável ao mC$mo tempo, algo que wbc à lnfidelldodc e ao deslocamento.
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11 (193) li y a de gens, qui ne peuvent s 'amuser qu 'en troupe. Le vrai héros s 'amuse tout seu/. ss 11 (194)
Precisa-se uabalhar, se não por gosto, ao menos por desespero, uma vez que, tudo bem pesado, trabalhar é menos entcdiante do que se divertir. 11 (195)
Quando ainda era bem criança, experimentei dois sentimentos contraditórios em meu coração: l 'horreur de la vie et l 'extase de la vie. C'est bien lefait d'un paresseux nerveux. 59 11 (196)
Baudelaire diz de si mesmo: "De Maistrc e Edgar Poe me
ensinaram a raciocionar." 11(197)
A pena de morte, resultado de uma ideia mística, que é hoje totalmente inconcebivel. A pena de morte não tem por meta sauverm a sociedade, matériellement:61 ela quer sauver espirituel/ement62 a sociedade e o culpado. Para que a vitima seja perfeita, é preciso que haja concordância e alegria por sua parte. Dar cloroforme a um condenado à morte seria uma heresia: pois isso subtrairia sa grandeur comme victime"1 e as chances de conquistar o paraíso.
58 N.T.: Em francês no original: Há pessoas que nllo se divertem senllo em bando. O verdadeiro herói se diverte completamente sozinho. 59 N.T.: Em francês no original : O horror da vida e o êxtase da vida. Trata-se efetivamente de uma preguiça nervosa. 60 N.T.: Em francês no original: salvar. 61 N.T.: Em franoês no original: materialmente. 62 N.T.: Em francês no original: salvar esplrltualmente. 63 N.T.: Em francês no original: sua grandeza como vitima.
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No que diz respeito à tortura, ela provém da partie infãme du coeur de/ 'homme,"' que tem sede de volúpia. Cruauté er vo/upté,6s sensações idênticas, como o calor extremo e o frio extremo. 11 (198) Ce qu 'il y a de vil dans une fo11ction quelconque. Un dandy ne fait rie11. Vous figurez-vous un dandy parlanl au peuple, excepté par /e bafouer?"' Só há três seres respeitáveis: padres, guerreiros, poetas. Savoir, tuer et créer.61 Os outros homens são taillables ou corvéables, faits pour l 'écurie, e 'est-à-dire pour exercer ce qu 'on appelle des professions.68 11 (199) Lafemme Sand foi uma moralista. - el/e a lefameux style coulanL cher a,ix bourgeois. - elle est la bête, elle est lourde, elle est bavarde.69 Nas coisas relativas à moral a mesma profundidade do juizo, a mesma delicadeza do sentimento, que os concierges et les filies entretenues. 'º - uma velha ingênua que não quer largar o osso - ela se convenceu a se fier à son bon coeur et à son bon sens71 e convenceu outras grandes bêtes a fazer o mesmo. 64 N.T.: Em francês no original: da parte Infame do coração do homem. 65 N.T.: Em francês no original: Crueldade e volúpia. 66 N.T.: Em francês no original: O que h,I de vil em uma função qualquer. / Um dândl não faz nada. Vós sois capazes de Imaginar um dãndl falando ao povo, exposto ao rldlculo? 67 N,T.: Em franoês no original: Saber.. matar e criar. 68 N.T.: Em francês no original: que podem se ver obrigados a pagar a tlllha e a realliar a corvela, feitos para o curral, ou seJa, paro exercer aqulto que denominamos profissões. 69 N.T.: Em francês no original: ela possui o famoso esr/lo corrente, caro aos burgueses, / ela é estulta, pesada, tagarela. 70 N.T.: Em franoês no original: os po rtelros e as moças entretidas. 71 N.T.: Em francês no original: seu bom coração o seu bom-senso.
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- não posso pensar nessa s rupide créaturen sem um frêmito de horror. 11 (200)
Entedio-me na França, porque todo mundo quer ser ai igual a Voltaire. Voltaire ou Antipoéte (esqueci-me de Emerson), le roi de badauds, le principe des superficiels, l 'antiartiste, le prédicateur des concierges.13 11(201)
O escárnio de Voltaire sobrc a alma imortal que, durante nove meses, reside entre excrementos e urina. Baudelaire desc-obrc nessa localização "une malice ou une satire de la Providence contre l'amour et, dans le mode de la génération, un signe du péché originei. Defait. nous ne pouvonsfaire l'amour qu'avec des organes excrémentiels".14 11 (202)
Desinfecção do amor por meio da Igreja: o casamento. 11 (203)
Dandismo. Que é o homem superior? Ele não é nenhum especialista. C'est /'homme de loisir et d'éducation générale. Être riche et aimer le travai/. ,s 11 (204)
Isso é entediante no amor'. ele é um crime, no qual não se pode evitar ter um cúmplice. 72 N.T.: Em francês no original: estúpida erlatura. 73 N.T.: Em francês no original: Voltaire ou antlpoet.a, o rei dos basbaques, o prlnclpe dos superficiais, o antiartista, o pregador dos porteiros. 74 N.T.: Em francês no original: uma mallcla ou uma sátira da providência contra o amor e, sob o modo da geraç3o, um signo do pecado original. De fato, nós não podemos fazer amor senão com os órgãos excremenclals. 75 N.T.: Em francês no original: homem do ócio e da educação geral. Ser rico e amor o trabalho.
to
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11 (205)
Sí tu étais jesuite et révo/utionnaire, comme tout vrai politique doit l'être ou l'estfata/ement...16 11 (206)
Os ditadores são les domestiques du peuple, 77 nada mais; e a fama é o resultado da adaptação -1 'adaptation d 'un esprit à la sottise naliona/e78 11 (207)
Que é o amor? Uma necessidade de sair de si. O homem é un animal adorateur. Adorer e 'est se sacrifier et se prostituer. Aussi tout amour est-il prostitution. L 'indestructible, éternelle, universe/1 et ingénieuse férocité humaine. 79 Amor ao sangue, l'ivresse du sang. /'ivresse des foules.,;, 11 (208) N.B. Défions-nous du peuple, du bon sens. du caiu,; de
/ 'inspiration et de l'évidence.11
Como se pode deixar as mulheres entrarem na igreja? Que tipo de conversa elas pOderiam ter com Deus? l 'éternel/e Vénus (caprice, hystérie,fa111aisie) est une des formes séduisantes du diable.82
76 N.T.: Em francês no original: Se tu fosses jesulta e revoluclonórlo como todo verdadeiro polltlco deve ser e é fatalmente..• 77 N.T.: Em franoês no original: os criados do povo. 78 N.T.: Em francês no original: a adaptação de um espírito /J tolice nacional. 79 N.T.: Em francês no original: um animal adorador. Adorar é se sacrlflcar e se prostituir. Todo amor também é prostituição. / A ferocidade humana Indestrutível, eterna, universal e engenhosa. 80 N.T.: Em francês no original: febre do sangue, febre dos loucos. 81 N.T.: Em francês no original: Desconfiemos do povo, do bom-senso, do coração, da Inspiração e da evidência. 82 N.T.: Em francês no original: A Vênus eterna (capricho, histeria, fontaslo) é uma das formas sedutoras do diabo.
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11 (209)
No amor, l 'entente cordiale83 é o resultado de uma incompreensão. Ce malentendue c'est /e plaisir. 84 O fosso pennanece sem ser ultrapassado. 11(210) "Soyons médiocres!85" Sa'int-Marc Girardin, por um ódio apaixonado contra /e sublime. 11(211)
Não se devem atribuir aos príncipes regentes os méritos e os vícios do povo, que se encontra sob seu domínio. Esses méritos e esses vícios pertencem quase sempre à a1mosfera do governo precedente. Luís XIV herda o povo de Luís XIII: gloire.86 Napoleão herda o povo da república: gloire.
Napoleão herda o povo de Luís Filipe: déshonneur. 81 11 (212)
Gosto inesgotável de la prostilution no coração do homem: daí seu horreui& diante da solidão. -II veut être deux.'9 O gênio (l'homme de génle) veut être un, donc so/itaire. La gloire, c'est rester un, et se prostituer d'ime maniere particuliêre.90
83 84 85 86 87 88 89 90
N,T.: Em franoês no original: o entendimento cordial. N.T.: Em francês no original: Esse mal-entendido é o pro1er. N.T.: Em francês no original: Sejamos medíocres. N.T.: Em francês no original: glória. N.T.: Em franoês no original: desonra. N.T.: Em francês no original: da prostituição/ horror. N.T.: Em francês no original: Ele quer ser dois. N.T.: Em francês no original: (o homem de gênio) quer ser um, portanto soll• tArlo. / Aglória é permanecer um e se prostituir de uma maneiro particular.
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11(213) C 'est ceue horreur de la so/itude, le besoin d 'oublier son moi dans la chair extérieure, que I 'homme appelle noblement besoin d 'aimer.9' 11 (214) De la nécessité de battre lesfemmes. 92 11 (215)
O comércio é, segundo sua essência, satânico. le commerce, c'est le prêté-rendu, c'est /e prêt avec /e sous-entendu: Remis-mo/ plus queje ne te donne,93 - O espírito de todo comerciante é completamente vicié.9". - Le commerce est naturel, donc il est infãme.9• - O menos infame dentre todos os comerciantes é aquele que diz: sejamos vinuosos, a fim de ganharmos muito mais dinheiro do que os tolos que são viciosos. Para o comerciante, a própria honestidade é uma especulação com vistas ao lucro. - le commerce est sata11ique, parce qu 'il est une des formes de l 'égoisme96 -
11(216)
Não é senão por meio de incompreensões que o mundo todo se encontra em ressonância. Se as pessoas, infelizmente, se entendessem, então elas nunca se compreenderiam. 91 N.T.: Em francês no original:~ esse horror pela solidão, a necessidade de se esquecer de seu si pr6prfo na carne exterior, que o homem denomina de maneira nobre a neC11ssldode de amar. 92 N,T.: Em francês no original: Sobre a necessidade de bater nas mulheres. 93 N.T.: Em francês no original: O comércio é a Justa represália, é o empréstl• mo com o subentendido: devolva-me mais do que eu te dou. 94 N.T.: Em francês no original: viciado. 9S N.T.: Em francês no original: O comércio é natural, logo ele é Infame. 96 N.T.: Em francês no original: O comércio é sat~nlco, porque ele é uma das formas do egoísmo.
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Um homem de espírito, ou seja, aquele que nunca se entenderá com alguém, precisa fazer um esforço para gostar de conversar com homens tolos e de ler livros ruins. Ele retirará dai um prazer amargo, que o compensará amplamente pelas fadigas. 11 (217)
Um funcionário, um ministro- podem ser pessoas apreciáveis: mais ils ne sont jamais divins. 91 Pessoas sem personalidade, seres sem originalidade, nascidos para a função, ou seja, pour la domesticité publique. 98 11 (218)
Todo jornal fornece os sinais da mais tcrrivel perversidade humana: 1m tissu d'horreurs.99 Com este dégoutant apéritif, 100 o homem civilizado toma o café da manhã. Tout, en ce monde, sue te cri• me: te joumal, la muraille et te visage de l'homme. 'º' Como é que
uma mão pura pode tocar um jomal sem uma convulsão de nojo? 11 (219)
Sons la charité, je ne suis qu 'une cymbale retentissante."n 11 (220)
Mes humiliations ont été des grâces de Dieu. 103 11(221)
Je 11 'ai pas e11core connu Je plaisir d'un plan réalisé.'04 97 98 99 100 101
N.T.: Em franoês no original: mas eles nunca são divinos. N.T.: Em franoês no original: para., domesticidade pública. N.T.: Em francês no original: um tecido de horrores. N.T.: Em fraMês no original: aperitivo enojante. N.T.: Em francês no original: Tudo neste mundo tem o sabor do crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem. 102 N.T.: Em francês no original: Sem a caridade, eu nllo sou senão um dmba• lo retumbante. 103 N.T.: Em francês no original: Minhas humllhaçl!cs foram as graças de Deus. 104 N.T.: Em franQês no Ol - para reconquistar uma vez mais algumas das condições prévias para ler o livro como livro (e não como verdade), para não reconhecer essa história como "história sagrada", mas como uma diabolia de fábula, preparação, falsificação, palimpsesto, confusão, em suma, como realidade ... Não se prestam contas suficientemente quanto a em que barbarismo dos conceitos nós europeus ainda vivemos. N.B.: Que se tenha podido acreditar que a "salvação da alma" dependia de um livro!. .. E as pessoas me d.izem que se continua acreditando ainda hoje. De que nos ajuda toda a educação científica, toda a critica e toda a he.rrnenêutica, se um tal 8... 11 (380)
A suposrajuventude As pessoas se iludem quando sonham com uma existência popular ingênua e jovem, que se distinguiria de uma cultura antiga; temos, aqui, a superstição de achar que, nessas camadas de todas as mais baixas do povo, camadas nas quais o cristianismo cresceu e fincou suas raizes, a fonte mais profunda da vida seria impelida uma vez mais para cima: não se entende nada da psicologia da cristandade, quando se considera que ela seria expressão de uma juventude popular emergente de maneira nova e de um fortalecimento da raça. Ao contrário: trata-se de uma fonna tipica de décadence; o enternecimento da moral e a histeria de uma po-
pulação mestiça e doentia que perdeu suas metas. Essa sociedade espantosa, que se reúne aqui em tomo desse mestre da sedução do povo, pertence propriamente e de resto a um romance russo: todas as doenças nervosas têm nela um rendez-vous ... a ausência de tarefas, o instinto de que tudo estaria propriamente no fim, de que nada mais valeria a pena, a satisfação em um dolcefar niente : o poder e a certeza do futuro do instinto judeu, o descomunal de sua tenra vontade de existência e de seu poder reside em sua classe dominante; as camadas que o jovem cristianismo eleva não são marcadas por nada mais intensamente do que pelo cansaço dos instintos. As pessoas estão fartas: isso é uma coisa - e as pessoas estão satisfeitaS, ,consigo mesmas, em si, por si essa é outra. 11(381)
Incapacidade de expressar ideais políticos de outra forma senão como fónnulas religiosas
208 N.T.: Em francês no original: um apetite voraz.
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Renan No Oriente, o louco é um ser privilegiado; ele se apresenta diante dos mais elevados conselhos, sem que alguém ouse pará•lo; as pessoas o ouvem, elas o interrogam. Trata-se de um ser que se crê estar próximo de Deus, uma vez que se pressupõe que, porquanto sua razão individual se dissipou, ele toma parte na razão divina. Falta na Ásia o espírito que descarta por meio de um fino cscãmio cada erro do raisonnement. Deu-se menos valor a esses escritos do que à tradição oral: e isso ainda na primeira metade do século II. Por isso, a menor quantidade de autoridade desses escritos: as pessoas os corrigiram, os completaram, uns pelos outros No evangelho de João faltam as parábolas, os exorcismos... 11 (383)
Ego: "Tive fome e vós não me alimentastes - afastai-vos de mim, malditos etc." Mateus 25, -41 etc. essa linguagem revoltante "o que vós não fizestes a um desses mais ínfimos de meus irmãos, vó:s também não o fizestes a mim" "o espírito da propaganda", que se apresenta como o espirito de Cristo... "o esplrito da sede de vin.gança", que pulula cm palavras, maldições e predições diante das cenas dos tribunais ... "o esplrito do ascetismo" ("a obediência aos mandamentos" como meio de cultivo, como caminho para a recompensa no além, tal como no judaísmo), ao invés daquela indiferença cristã, que afasta de si todos esses bens, por "bem-aventurança"... os cssêoios, João etc. "O espírito do sentimento do pecado e a necessidade da redenção" Com a morte de Cristo e .a coação psicológica de não ver aí nenhuma conclusão, tendências populares conjuntas foram reproduzidas: todas as cruezas que aqueles típicos espiritualistas tomaram como tarefa transformar em espírito -
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: o messianismo, a vinda do "reino de Deus", o espírito da inímizade e a sede de vingança, a expectativa da "recompensa" e da "punição", a soberba dos "escolhidos" (eles julgam, amaldiçoam, condenam a ideia de sacriflcio do judaísmo... as tendências socialistas em favor dos pobres, dos "desonestos", dos desprezados) Jesus que viveu como o preenchimento de todas as eltpectativas populares, que não fez outra coisa senão dizer: "aqui é o reino dos céus", que transfonnou em espírito a crueza dessas expectativas: - mas, com a morte, tudo se esqueceu (dito de maneira clara: tudo se refalou), mão se tinha nenhuma escolha, ou bem retraduzir o tipo na representação popular do "messias", do "juiz" vindouro, do profeta na luta - - Como consequência dessa situação, para a qual esse bando incerto e entusiástico não estava preparado, entrou em cena imediatamente a completa degeneração: tudo foi em vão...
uma trivialização absurda de todos os valores e fórmulas espirituais os instintos anarquistas contra a classe dominante ganham desavergonhadamente o primeiro plano. : o ódio contra os ricos, os poderosos, os eruditos - chegou-se ao fim com a ideia do ''reino de Deus", da "paz na terra": de uma realidade psicológica surge uma crença, uma expectativa de uma realidade que chegará algum dia, "um retomo": uma vida na imaginação é a forma eterna da "redenção" - ó, o quão diversamente Jesus compreendeu tudo isso! 11 (384) A primeira degeneração do cristianismo é a tomada do elemento judaico - uma rearticulação com formas superadas ... 11 (385) "Meu reino não é desse mundo" "Destruirei o templo de Deus e o reconstruirei em três dias" O processo contra o "sedutor" ( o instigador), que coloca a religião em questão: o apedrejamento era previsto em lei
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todo profeta, todo milagreiro, que afastava o povo da antiga crença "ce grand maitre en ironie"209 Renan acha trivial que el.e tenha pagado por esse triunfo com a vida.
11 (386) "ele s6 é um disputer,21 º quando argumenta contra os fariseus: o adversário o obriga, como quase sempre acontece, a aceitar seu próprio tom" -
11 (387) Renan 1,346 Ses exquises moqueries, ses malignes provocations frappaient toujours au coeur. Stigmates éternelles, elles sont restées figées dons la plaie. Celle tunique de Nessus du ridicule, que /e juif. fils de pharislens, trafoe en /ambeaux apres /ui depuis dix-huit siécles, c'est Jé.sus, qui' /'a tissée avec un artifice divin. Chefs-d'oeuvre de haute raillerie, ses traits se sont inscrits en lignes de/eu sur la chair de l 'hypocrile et dufaux dévot. Traits incomparables, traits dignes d'unflls de Dieu! Un dieu Seul sair tuer de la sorte. Socrate et Moliére ne font qu 'ejJleurer la peau. Celui-ci portejusqu 'aufond des os /e/eu et la rage.211 E isso é o mesmo que pôde ser dito em Isaías 42, 2-311
209 N.T.: Em francês no original: esse grande mestre em Ironia. 210 N.T.: Em francês no original: querelante. 211 N.T.: Em francês no original: Suas requintadas brincadeiras, suas provocações malignas sempre aterrorizavam o coração. Estigmas eternos, elas permanecem crlslall,adas na ferida. Essa tônica de Nesso do rldlculo, que o Judeu, filho dos fariseus, arrasta consigo aos farrapos depois de 18 sé• culos, foi tecida par Jesus com um artificio divino. Obras,prlmas de alta zombaria, seus traços se Inscrevem em linhas de fogo sobre a carne do hl• pócrlta e do falso devo10. Traços lncomparilvels, traços dignos de um fllho de Deusl Somente um deus sabe matar dessa maneiro. Sócrates e Moliêrc não conseguem fazer outra coisa senão arranhar o pele. Jesus traz o fogo e a raiva até o fundo dos ossos.
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11 (388) Ele nunca teve um conceito de "pessoa", de "individuo": somos um quando amamos a nós mesmos, quando vivemos apenas do outro. Seus disclpulos e ele eram um. 11 (389) O fato de ele ser Deus, de ele ser igual a Deus, foi exposto como difamação dos judeus (cf. João V, 18; X, 33). Ele é menos do que o Pai: o Pai não lhe revelou tudo. Ele resiste a ser chamado de igual a Deus. Ele é o filho de Deus: todos podem se tomar fi. lhos de Deus (- assim são as coisas em termosJudaicos: o caráter de filho é atribuído no Antigo Testamento a muitas pessoas, em relação às quais não se ergue de maneira alguma a pretensão de que elas seriam iguais a Deus); "filho" nas línguas semitas é um conceito extremamente vago, livre.
11 (390) Todo o movimento úmbrico do século xm, de todos o mais aparentado com o movimento da Galileia, aconteceu em nome da pobreza: Francisco de Assis: exquise bonté, sa communion délicate fine et tendre avec la vie universelle. 212 11(391) na llngua dos rabinos desse tempo, "céu" significa o mesmo que "Deus": cujo nome se evita dizer. 11 (392) "O reino de Deus está entre nós." Lucas 17, 20 11 (393) "Bem-aventurados são aqueles que ouvem as palavras de Deus e agem de acordo com elas." Lucas 11, 27 etc. 212 N.T.: Em francês no original: bondade requintada, sua comunhão delicada fina e tenra com a vida universal.
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11 (394) falta totalmente o conceito de "na!UJ"eza", de "lei na!UJ"al": tudo acontece moralmente, ''milagres" não são nada de "antinatural" (porque não há nenhuma na!UJ"eza) 11 (395) "A lei é aniquilada: ele é que a aniquilará": divisão entre seus discípulos, dos quais uma parte considerável permaneceu judia... O processo contra ele nã.o deixa nenhuma dúvida... 11 (396) "o próximo" em sentido judaico é o companheiro de fé 11 (397) não há nenhum tipo menos evangélico do que o tipo do erudito da Igreja grega, que impeliu o cristianismo a partir do sé-
culo IV para o caminho de uma metafisica absurda; e, do mesmo modo, os escolásticos da Idade Média latina. 11 (398) ...le senliment que Jésus a introduit dans le monde est bien le n6tre. Son parfait idéalisme est la plu haute regle de la vie détachée et vertueitSe. II a créé /e ciel des âmes pures, 011 se trouve ce qu 'on demande e11 vain à la /erre, la pa,faite noblesse des enfants de Dieu, la sainte!é accomplie, la tola/e abstraction des souillures du monde, la liberté enfin, que la société réelle exclut comme une impossibilité et qui 11 'a toute sa amplitude que da11s /e domaine de la pe1isée. le grand maitre de ceux qui se réfagient dans ce paradis idéal est encore Jé.sus. le premie,; il a proclamé la royauté de /'esprit : le premier. il a dit, au moi11s par ses acles: "mon royaume n 'est pas de ce monde". La fo11dalio11 de la vrai religion est bien son at,vrn... m 213 N.T.: Em francês no original: ...o sentimento que Jesus Introduziu no mundo é certamente o nosso. Seu perfeito Idealismo é a mais elevada regra da vida dlSUnclada e virtuosa. Ele criou o céu das almas puras, no qual se encontra aquilo que demandamos em vão à terra, a perfeita nobreza das
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11 (399) "Cristianismo" tomou-se sinônimo de "religião": tudo aquilo que se faz fora da grande e boa tradição cristã será infrutífero. 11 (400) Nossa civili2ação, regida por uma policia minuciosa, não oferece nenhum conceito referente àquilo que o homem faz em épocas nas quais a originalidad,e possui um campo de jogo livre para qualquer um. Nos petites tracasseries préventives, bien plus meurtrieres que /es supplices pour /es choses de /'esprit, n 'existaienr pas. 21 ' Jesus pôde levar uma vida durante três anos que o teria levado 20 vezes para a frente do tribunal em nossas sociedades... Dégagées de nos conventions palies, exemptes de 1'éducation uniforme, qui nous raffine, mais qui diminue si for/ notre individualité, ces âmes entieres portaint dans 1'actüm une énergie surprenanle... Le soujJle de Dieu éiail /ibre chez eux; chez no11s, il est enchaíné par les liens de fer d 'une société mesq11ine et condamnée à une irrémédiab/e médiocríté. Plaçons donc au plus haut sommet de la grandeur humaine la personne de Jésus:215 é isso que exige de nós o senhor Renan. crianças de Deus, a santidade comumado, a total abstração das máculas do mundo, a liberdade, enfim, que a sociedade real exclui como uma lm• posslbllldade e que não possui toda a sua amplitude senão no domlnlo do pensamento. O grande mestre daqueles que se refugiam no paralso Ideal ainda Jesus. O primeiro a ter proclamado a realeza do esplrlto: o primeiro, ele dl.s.se, ao menos por seus atos: '"meu reino nOo é deste mundo"'. A fundação da verdadeira relig/60 ó, sem duvida, alguma sua obra ... 214 N,T.: Em francês no oliglnal: Nossos pequenas Inquietações preventivas, multo mais mortais do que os supllclos pelas coisas do esplrlto, não existem. 21S N.T.: Em francês no original: Apartados de nossas convenções polidas, Isentos da educação uniforme que nos refina, mas que diminui de ma• nelra tão Intensa nossa lndlvldual'ldade, essas almas Inteiras portavam no ação uma energia surpreendente ... O sopro de Deus era livre neles; em nós, ele é encadeado pelos laços de ferro de uma sociedade mesquinha e condenada a uma mediocridade Irremediável./ Coloquemos, ent3o, no mai s alto patamar da grandeza humana a pessoa de Jesus.
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............................................................................................... 11 (401)
A medicina, que vê em certa delicadeza moral o inicio d 'étisie...216 ( de phtisie?) 11 (402) la philosophie ne suffit pas au grand nombre. II /ui faut la
sainteté.211 - Uma gentil crueldade de Renan. 11 (403)
Qui 11 'amerait mieux étre .ma/ade comme Pascal que bien portant comme /e vulgaire?218 Rcnan 11 (404)
Qu'on se figure Jésus, reduit à porter jusqu 'à soixante ou soixante-dix ans /e fardeau desa divinté, perdant sa jlamme cé/este, s 'usant peu à peu sous les nécessités d'w1 role inoui'f2'9 Renan Voué sans ré.serve à son idée, il y a subottfom1é toute chose à un te/ degré que l 'univers n'exista plus pour /ui. C 'est par cet accés de vo/011/é héroi'que, qu 'il a conquis /e ciel. II 11 'y a pas eu d 'homme, Çakia-Mouni put--étre excepté, qui ait à ce point /ou/é aia pieds la familie, /es joies de ce monde, 10111 soin temporei... Pour nous, éternels enfants, condamnés à I'impuissance, i11clino11-11ous devant ces demi-dieux!no Renan 216 N.T.: Em francês no original: Emagr-c clâssico. Reagir pesadamente: uma grande consciência: nenhum sentimento de luta: A embriaguez da natureza: 14 (47) Contramovimento da arte. Pessimismo na arte? O artista ama paulatinamente os meios em virtude deles mesmos, os meios nos quais se dá a conhecer o estado de embriaguez: a extrema fineza e fausto das cores, a clareza da linha, a nuança do tom: o distinto, onde mais, no normal, falta toda distinção - : todas as coisas distintas, todas as nuanças, na medida em que elas lembram as elevações extremas de força, as quais geram a embriaguez, despertam retroativamente esse sentimento da embriaguez. - : o efeito da obra de arte é a excitação do estado artístico" criador, da embriaguez. .. -: o essencial n.a arte permanece sua consumação da existência, sua produção da perfeição e da profusão Arte é essencialmente afirmação, benção, divinização da existência... -: O que significa uma arte pessimista?... Isso não é uma contradictio? - Sim. Schopenhauer se engana quando coloca certas obras de arte a serviço do pessimismo. A tragédia não ensina a "resignação" ...
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-Apresentar as coisas terríveis e questionáveis já é um instinto de poder e de maravilhamento no artista: ele não as teme... Não hã nenhuma arte pessimisla... A arte afirma. Hiob afirma. Mas e Zola? Mas e de Goncourt? - são feias as coisas que eles mostram: mas o fato de eles as mostrarem se dá por prazer com esse feio ... - Não ajudai! Vós vos en.ganais quando afirmais algo diverso. O quão redentor é Dostoiévski! 14 (48)
Títulos sobre um manicômio moderno. Necessidades de pensamento são necessidades morais. Herbet Spencer. A última pedra de toque para a verdade de uma sentença é a impossibilidade de conceber sua negação. Herbert Spencer. 14 (49)
Modernidade. O embrutecimento da música. O domínio do abstrato: "o que significa": indiferença em relação ao pântano, para o qual os sentidos não devem dizer de maneira algum sim... A música deve significar inteiramente algo que não é música: nesse caso, surgem a partir dela o ritmo a melodia a cor a estrutura a falsa profundidade como calma dos pensamentos; a fúria, o remorso, o espasmo, o êxtase - todas as coisas fáceis, brincadeiras, que sempre podem ser ainda misturadas até sua consumação 14 (50)
5. Os meios com os quais o ator ascende 6. O perigo do teatro como lugar de degradação de todas as artes.
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7. O supérfluo de todas as inovações wagnerianas, mesmo na ópera 8. Carmem: e o efeito depressivo de Wagner: objeção fisiológica a Wagner 9. A grande ambiguidade da tendência trágica em Wagner: meu realismus in aestheticis ... 1O. Reprodução do conceito "trágico" 11. O significado desse fenômeno psicológico-estético para a história da "alma moderna". 12. : essencialmente não germânico - nisso reside sua distinção ... 13. : critica ao "romantismo". 14 (51)
Wagner como problema. Uma palavra sobre o Esclarecimento por Friedrich Nietzsche 14 (52)
- - - sua astúcia estabeleceu a paz no tempo certo com a essência germânica, a paz que a marcha imperial criou e que as posições dos condutores gerais ambicionavam aquele que tinha uma posição condescendente em relação a toda sujeira, com o qual o espírito alemão, esse tão corrupto espírito alemão, se manchou aquele que, com o seu Parsival, animou todas as covardias da alma modema. Essa personagem que se tomou tão ambígua, em cujo tÚ· mulo uma Sociedade Wagner - a de Munique - não deixou de colocar uma coroa de flores com a inscrição: Redenção para o redentor!... Vê-se que o problema é grande; a incompreensão, descomunal. Se Wagner pôde se tomar um redentor, Quem é que nos redime dessa redenção? Quem nos redime desse redentor?...
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14 (53)
Há instrumentos com os quais convencemos nossas vísceras, outros têm seu sucesso na medula espinhal... As pessoas me confessaram que o mais forte efeito da música de Wagner acontece depois de um tratamento na estação de águas de Cartsbad... 14 (54)
Mas Wagner não é, aqui, apenas um modelo ... E as pessoas o compreenderam em todo o mundo... Faz-se a partir de Wagner uma nova música; as pessoas fazem essa nova música na Rússia, em Paris, na América do SU:I, as pessoas a fazem mesmo na Alemanha... Eu mesmo saberia dizer como é que se precisa fazer essa música. Será que vocês querem uma pequena lição?... 14 (55)
Entre músicos Nós somos músicos iardios. Um passado descomunal nos foi legado. Nossa memória cita constantemente. Nós podemos aludir entre nós de uma maneira quase erudita: já nos compreendemos. Mesmo nossos ouvintes adoram que façamos alusões: isso os envaidece, eles se sentem, com isso, instruidos. 14 (56)
Primeira sentença de toda ótica teatral: o que deve atuar como verdadeiro não pode ser verdadeiro. O ator não tem o sentimento que ele apresenta; ele estaria perdido, se ele o tivesse. Conhecem-se, espero, as célebres exp0sições de Talmas. 14 (57)
Convicção Sobre a psicologia de Paulo. O fato é a morte de Jesus. É isso que continua precisando ser interpretado... O fato de haver uma verdade e um erro na interpretação não veio de maneira alguma à cabeça de tais pessoas: um dia,
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uma sublime possibilidade lhes subiu à cabeça, "essa morte poderia significar isso e isso". E imediatamente ela se mostra assim! Uma hipótese se demonstra por meio do impulso sublime que ela dá ao seu autor... "A demonstração da força": isto é, uma ideia é demonstrada por meio de seu efeito - ("por seus frutos", como a Bíblia diz ingenuamente) o que entusiasma precisa ser verdadeiro aquilo pelo que damos nosso sangue precisa ser verdadeiro -
••• Aqui, o repentino sentimento de poder, que deSperta um pensamento em seu autor, é atribuído a esse pensamento como valor: e como não se sabe honrar um ptmSamento de outro modo que não o designando como verdadeiro, então o primeiro predicado que ele recebe em sua honra é ser verdadeiro ... Como é que ele poderia atuar senão desse modo? Ele é imaginado por wn poder: se supuséssemos que ele não seria real, então ele não poderia produzir um efeito... Ele é concebido como inspirado: o efeito que ele exerce possui algo da ultraviolência de uma influência demoníaca. Uma ideia, à qual u:m tal decadente não consegue resistir, na qual ele decai completamente, é demonstrada como verdadeira! 11 Todos esses epiléticos e videntes de fac.es não possuíam um milésimo daquela retidão da autocrítica com a qual um filólogo lê hoje um texto ou coloca ã prova um evento histórico eom vistas à sua verdade... Em comparação conosco, não passam de cretinos morais ... 14 (58) Carlyle. A origem da ciência: atenção. Ela não surge junto aos sacerdotes e aos filósofos, seus adversários naturais. Ela surge junto aos filhos de artesãos e comerciantes de todo tipo, junto aos advogados etc.: junto a tais pessoas, para as quais a habilidade do artesão e seu pressuposto foram transportados também para tais questões e suas respostas.
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14 (59)
Convicção e mentira. O "aprimoramento". Como se faz com que a virtude chegue ao poder. Compaixão. "Altruísmoº.
Rejeição. Dessensualização. 14 (60)
Uma crença que afirma tomar "venturoso", depois que torna doente. Uma crença que se reporta a livros - uma crença que requisita para si uma revelação -, uma crença que considera a dúvida em si como "pecado", uma crença que se demonstra por meio da morte de mârtires - - Outro traço distintivo do teólogo é a sua incapacidade para afilologia. Compreendo, aqui, a palavra filologia em um sentido bastante genérico: poder deduzir fatos, sem falsificâ-los por meio de interpretações, sem - - 14 (61)
Vontade de poder como arte "Mrísica" - e o grande estilo A grandeza de um artista não é medida pelos "belos sentimentos" que ele desperta: as pequenas senhoras podem acreditar nisso. Ao contrârio, ela é medida pelo grau com o qual ele se aproxima do grande estilo, com o qual ele é capaz do grande estilo. Esse estilo tem em comum com a grande paixão o fato de desprezar agradar; o fato de esquecer de convencer; de comandar; de querer... Tomar-se senhor sobre o caos que se é; obrigar seu caos a se tomar forma; tomar-se necessidade em forma: lógico, simples, inequívoco, matemático; tomar-se lei - : essa é aqui a grande ambição. Com ela, repele-se; nada estimula mais o amor a tais homens violentos - um deserto se estabelece cm tomo deles, um silêncio, um temor como se estivéssemos diante de um grande sacrilégio...
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Todas as artes conhecem tais ambiciosos do grande estilo: por que é que eles não se fazem :presentes na música? Jamais um músico constru.iu algo como aquele mestre de obras que criou o Pallazzo Pitti?... Aqui se acha um. problema. Será que a música faz parte talvez daquela cultura, na qual o reino de todo tipo de homens violentos chegou já ao fim? Será que o conceito de grande estilo já contradiria a alma da música - à "mulher" em nossa música?... Toco aqui em urna questão,cardinal: qual o espaço a que pertence toda a nossa música? As era:s do gosto clássico não conhecem nada que lhe seja comparável: a música floresceu quando o mundo do Renascimento estendeu sua noite, quando a "liberdade" surgiu dos hábitos e mesmo dos desejos de liberdade: será que faz parte de seu caráter ser contrarrenascimento? E, expresso de outra fonna, será que faz parte de seu caráter ser urna arte da decadência? Por exemplo, como o estilo barroco é IUJl1ll arte da decadência? Será que ela é a irmã do esti.lo barroco, uma vez que ela é em todo caso sua contemporânea? Música, música moderna, já não é decadência? ... A música é contrarrenascirnento na arte: ela é também decadência como expressão social. Já coloquei outrora o dedo nessa questão de saber se nossa música não seria uma parcela de contrarrenascimento na arte, se ela não seria a arte mais imediatamente aparentada com o estilo barroco, se ela não teria crescido em contradição a todo gosto clássico, de tal modo que nela toda ambição à classicidade seria interdita por si mesma ... A essa questão valorativa de primeira ordem a resposta não poderia ser amblgua, caso tenha sido avaliado corretamente o fato de que a música alcança como romantismo a sua maturidade e plenitude supremas - uma vez mais como movimento de reação à classicidade... Mozart - uma alma tema e apaixonada, mas totalmente condizente com o século XVW, mesmo em sua seriedade... Beethoven, o primeiro grande romântico, no sentido do conceito francês de romantismo, assim como Wagmer é o último grande romântico... os dois adversários instintivos do gosto clássico, do estilo rigoroso - para não falar aqui do "grande" estilo... os dois - - -
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14 (62} Modernidade a música romântica alemã, sua ausência de espírito, seu ódio ao "Esclarecimento" e à "razão"
atrofia da melodia, assim como atrofia da "ideia", da dialética, da liberdade do movimento mais espiritual posslvel - quanta luta contra Voltaire não há na música alemã! ... quanta 1,rrosseria, quanta constipação, o que se desenvolve e se transfonna em novos conceitos e mesmo em princlpios contra a tragédia mais elevada e a espiritualidade trocista, contra o bufão Vi os bebedores de cerveja e os médicos militares que "compreenderam" Wagner... A ambição de Wagner era obrigar mesmo os idiotas a compreender Wagner 14 (63) O herói, tal como Wagner o concebe, c-0mo é moderno! Como é audaz! De que maneira ,complexa e engenhosa ele não o concebeu! Como é que Wagner conseguiu ir ao encontro das três necessidades fundamentais da alma moderna com os seus heróis - ela quer o brutal, o doentio e o inocente... Essa monstruosidade luxuosa, com corpos de tempos imemoriais e nervos de depois de ama.nhã; esses loiros sagrados, cuja sensibilidade pouqulssimo preexistente inspira nas mulheres tanta curiosidade e ternura e permite tanto o encontro... Beuamarchais presenteou às belas mulheres querubim, Wagner, Parsival. E, no que diz respeito aos seres histéricos e heroicos, que Wagner concebeu, divinizou como mulheres, o tipo Senta, Elsa, Isolda, Brunilda, Kundry: assim, elas são no teatro por demais interessantes - mas quem gostaria de ficar com elas?... o fato de esse tipo não ter sido acolhido mesmo na Alemanha como totalmente de mau gosto tem sua razão de ser (ainda que não o seu direito) no fato de um poeta incomparavelmente maior do que Wagner, o nobre Heinrich von Kleist, já ter intercedido aí mesmo em favor de seu gênio.
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............................................................ ,................................. . 14 (64)
Questão: acontece a despersonalização por meio de uma verdade quando se mergulha em um pensamento? ... Herzen afirma isso: ele acha que é algo muito comum que as pessoas esqueçam seu moí e deixem-no seguir Questão: será que isso também não seria mera aparência? Será que aquilo que uma questão acha interessante não é o nosso eu totalmente simples?... 14 (65)
decadência O que se herda não é a doença, mas o caráter doentio: a impotência de resistir ao perigo dle perambulações nocivas etc.; a força de resistência partida - ex:presso moralmente: a resignação e a humildade diante do inimigo. Perguntei-me se não se podiam comparar todos esses valores supremos da filosofia, da moral e da religião até aqui com os valores dos enfraquecidos, dos doentes mentais e dos neurastênicos: eles representam, em uma forma mais tênue, o mesmo mal ... O valor de todos os estad.os mórbidos é que eles mostram em uma lente de aumento certos estados que são normais, mas que são dificeis de ver como no:nnais ... Saúde e doença não são nada essencialmente diverso, tal como acreditam os antigos médicos e ainda hoje alguns homens práticos. Não se precisa construir a partir dai princípios distintos ou entidades, que entram em contenda por conta do organismo vivo e fazem dele o seu campo de batalha. Isso é coisa antiga e falatório, que não serve para nada. De fato, hâ entre esses dois tipos de existência apenas diferenças de grau: o exagero, adesproporção, a não harmonia dos fenômenos normais constituem o estado doentio. Claude Bernard. Assim como o mal pode muito bem ser considerado como exagero, desarmonia, despropo~ção, o bem também pode ser considerado como uma dieta de proteção contra o perigo do exagero, da desarmonia e da desproporção.
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A fraqueza considerável, como sentimento dominante:
causa dos valores supremos. N.B. Quer-se fraqueza: por quê? ... na maioria das vezes, porque se é necessariamente fraco ... O enfraquecimento como tarefa: enfraquecimento dos desejos, dos sentimentos de prazer e desprazer, da vontade de poder, do sentimento de orgulho, do querer ter e do querer ter mais; o enfraquecimento como humildade; o enfraquecimento como crença; o enfraquecimento como repugnância e como vergonha de tudo o que é natural, como negação da vida, como doença e como fraqueza habitual... O enfraquecimento como a realização de uma recusa à vingança, à resistência, à hostilidade e à fúria. O erro no tratamento: não se quer combater a fraqueza por meio de um sistema fortifiam, 22' mas por meio de uma espécie de justificação e de moralização: isto é, por meio de uma interpretação ... A confusão entre dois estados totalmente diversos: por exemplo, a tranquilidade da força, que é essencialmente absten-
ção da reação, o tipo dos deuses, que não movimenta nada ... E a lranquilidadc do esgotamento, a rigidez, até a anestesia. : todos os procedimentos filosófico-ascéticos aspiram à segunda tranquilidade, mas têm em vista, de fato, a primeira... Pois eles atribuem ao estado alcançado os predicados, como se um estado divino fosse alcançado. 14 (66)
Moral como decadência Por que a fraque?.a não é combatida, mas apenas 'justificada"? A diminuição do instinto curador junto aos enfraquecidos: de tal modo que eles desejam como remédio aquilo que acelera seu declínio. Por exemplo, a maioria dos vegetarianos teria a necessidade de um alimento ratificante, a fim de dar uma vez
224 N.T.: Em francês no original: fortiflocante.
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mais energia às fibras adonnecidas: mas consideram sua tendência para o suave e brando como um aceno da natureza: - e se enfraquecem ainda \m€p µópo" ... m 14 (67)
A mulher reage mais lentamente do que o homem; o chinês, mais lentamente que o europeu. 14 (68)
Religião como decadência A mais perigosa incompreensão. Há um conceito que não admite aparentemente nenhuma confusão, nenhuma ambiguidade: trata-se do conceito de esgotamento. Esse esgotamento pode ser adquirido; ele pode ser herdado - em todo caso, ele transforma o aspecto das coisas, o valor das coisas ... Em oposição àquele que, pela profusão a qual apresenta e
sente, involuntariamente se éíilrngã às coisas, as vê mais plenas, mais poderosas, mais ricas em futuro - que pode em todo caso presentear - , o esgotado apequena e estropia tudo o que vê - ele empobrece o valor: ele é nocivo ... Quanto a isso não parece ser possível nenhum erro: apesar disso, a história contém o horri'vel fato de os esgotados sempre terem sido confundidos com os homens mais plenos - e os mais plenos com os mais nocivos. O que há de pobre na vida dos fracos empobrece ainda a vida: o que há de rico na vida dos fortes a enriquece... O primeiro é seu parasita; o segundo, um presenteador... Como é que uma confusão é possível? Quando o esgotado entrou em cena com os gestos da mais elevada atividade e energia: quando a degradação condicionou um excesso da descarga espiritual ou nervosa, então se o confundiu com o rico... Ele despertou temor... O culto ao louco é sempre ainda o culto aos ricos em vida do poderoso. 225 N.T.: Em grego no original: além d:a medida.
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O fanático, o possuído, o epilético religioso, todos os excêntricos foram experimentados como tipos maximamente elevados do poder : como divinos esse tipo de força, que desperta temor, era considerado sobrerudo como divino: a partir daqui, a autoridade tomou o seu ponto de partida, aqui se interpretou, se ouviu, se buscou sabedoria ... A partir daqui se desenvolveu, quase por toda parte, uma vontade de "divinização", isto é:, de degradação tipica do espirito, do corpo e dos nervos: uma tentativa de encontrar o caminho para esse tipo mais elevado de ser. Tomar-se doente, tomar-se louco: provocar o aparecimento dos sintomas da perturbação - isso significa tomar-se mais forte, mais super-humano, mais temível, mais sábio: - acreditava-se, com isso,, se tomar tão rico em poder que se pudesse doar: por toda parte onde se louvou, buscou-se alguém que pudesse doar. o fato de se tomar o louco como algo super-humano o fato de se ter acreditado que poderes terríveis estavam ativos nos doentes nervosos e nos epiléticos indU2iu em erro aqui a experiência da embriaguez ... a embriaguez amplia no mais elevado grau o sentimento do poder consequentemente, julgando de maneira ingênua, o poder no nlvel mais elevado do poder precisava se encontrar o que havia de mais embriagante, o extático. há dois pontos de partida da embriaguez: a descomunal profusão da vida e um estado de alimentação doentia do cérebro Nada se pagou mais caro do que a confusão no plano fi. siológico 14 (69) As incompreensões fisiol6gicas 1. A doença malcompreenclida como forma superior da vida 2. A embriaguez 3. A impassibilidade
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O prazer entra em cena onde se dã o sentimento de poder A felicidade n.a consciência de poder e de vitória que se tomou dominante O progresso: a intensificação do tipo, a capacidade do grande querer: todo o resto é incompreensão, perigo, - - 14 (71)
Vontade de poder como "lei da natureza". Vontade de poder como vida. Vontade de poder como arte. Vontade de poder como moral. Vontade de poder como ciência. Vontade de poder como religião. 14 (72)
Vontade de poder Morfologia Vontade de poder como "natureza" como vida como sociedade como vontade de verdade como religião como arte como moral como humanidade O contramovimento Vontade, de nada Os superados. Os detritos, os degenerados 14 (73)
Co11sequéncias da decadência O vicio, a viciosidade A doença, o ca.ráter doentiio O crime, a criminal idade
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O celibato, a esterilidade O histerismo, a fraqueza da vontade, o alcoolismo O pessimismo O anarquismo 14 (74)
A degenerescência Primeiro princípio: aquilo que se viu até aqui como causas da degeneração são as suas consequências. : o vício: como consequência : a doença : o crime os caluniadores ceticismo insidiosos ascetismo incrédulos niilismo destruidores o além-mundo : a libertinagem (mesmo a; espiritual) - celibato. : a fraqueza da vontade: o pessimismo; o anarquismo; - - Mas mesmo o que se considera como meio contra a degeneração não passa de paliativo contra certos efeitos da degeneração: os "curados" são apenas um tipo dos degenerados. 14 (75)
Conceito "decadência" O detrito, a decadência, o refugo não é nada que precisaria ser condenado em si: ele é uma consequência necessária da vida, do crescimento na vida. O fenômeno da decadência é t.ão necessário quanto qualquer despontar e avançar da vida: não se tem o direito de revogá-la. A razão quer inversamente que o direito da decadência se torne o direito dela ... É uma vergonha para todos os sistemáticos socialistas o fato de eles acharem que poderi.a haver circunst.ãncias nas quais combinações sociais como o vicio, a doença, o crime, a prostituição, a penúria não mais medrariam ... Mas isso significa condenar a vida ... Não cabe a uma sociedade a liberdade de permanecer jovem. E, mesmo de posse de sua melhor força, ela precisa
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forjar imundície e detrito. Quanto mais enérgica e ousadamente ela procede, tanto mais rica ela se toma em malfadados, em malformados, tanto mais próxima e.Ja se encontra do declínio ... Não hã como revogar a idade por meio de instituições. A doença, também não. O vício, também não. 14 (76)
Outrora se dizia de toda moral: "vós deveis conhecê-las por seus frutos"; eu digo de toda moral: ela é um fruto no qual reconheço o solo, a partir do qual ela cresceu. 14 (77)
Nós hiperbóreos Um prefácio. A vontade de poder. Primeira parte. Psicologia da decadência. Teoria da decadência. Segunda parte. Crítica ao espírito do tempo. Terceira parte. O grande meio-dia Quarta parte. Os fortes. Os fracos. A que lugar pertencemos? A grande escolha. 14 (78)
A vontade de poder Tentativa de uma transvaloração de todos os valores. Primeira parte. O que provém da força. Segunda parte. O que provém da fraque7.a. Terceira parte.
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E de onde nós proviemos? Quarta parte.
A grande escolha. 14 (79)
Vontade de poder
Filosofia
Quanta de poder. Critica ao mecanicismo Afàstemos aqui os dois conceitos populares, "necessidade" e "lei": o primeiro estabelece no mundo uma falsa coerção; o segundo, uma falsa liberdade. "As coisas" não se comportam regularmente, não se comportam segundo uma regra: não hã coisa alguma (- isso é uma ficção), elas também não se comportam de maneira alguma sob uma coerção da necessidade. Não se obedece aqui: pois o fato de algo ser tal como é, tão forte, tão fraco, não é a consequência de uma obediência ou de uma regra ou de uma coerção...
O grau de resistência e o grau de superpoder - é disso que se trata em todo acontecimento: se nós, para o nosso uso doméstico do cálculo, sabemos expressar isso em fórmulas "legais", tanto melhor para nós! Mas não estabelecemos nenhuma moralidade no mundo com o fato de fingirmos que elas são obedientes Não há nenhuma lei: cada poder retira a cada instante a sua derradeira consequência. A calculabilidade baseia-se precisamente no fato de que não há nenhum mezzo termine. Um quantum de poder é designado pelo efeito que exerce e ao qual ele resiste. Falta a adiaforia: que seria em si pensável. É essencial uma vontade de violentação, assim como se proteger contra as violentações. Não autoconservação; cada átomo atua em direção ao ser como um todo - o ser todo é alijado pelo pensamento, quando se elimina essa irradiação das vontades de poder. Por isso, eu o denomino um quantum "vontade de poder": com isso, expressa-se o caráter que não pode ser eliminado da ordem mecânica, sem eliminar a si mesmo. Uma tradução desse mundo de efeitos em um mundo visível - um mundo para os olhos - é o conceito de "movimento". Aqui está sempre subentendido que algo é movido - sempre se
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pensa nesse contexto, seja na ficção de um conglomerado de átomos, seja mesmo em sua abstração, no átomo dinâmico, em algo que atua. Isto é, não escapamos ainda do hábito para o qual nos desencaminham os sentidos e a linguagem. Isoladamente, sujeito, objeto, um agente em relação ao ato, o fazer e aquilo que ele faz: não esqueçamos que isso designa uma mera semiótica e nada real. A mecânica como uma doutrina do movimento é já uma tradução na linguagem sensorial do homem. Nós necessitamos de unidades para podermos calcular: por isso, não se deve supor que haja tais unidades. Nós retiramos o conceito de unidade de nosso conceito de "eu" - nosso mais antigo artigo de fé. Se nós não nos considerássemos unidades, nós nunca teríamos cunhado o conceito "coisa". Agora, relativamente mais tarde, estamos amplamente convencidos de que nossa concepção do conceito de eu não é em nada responsável por uma unidade real. Para conservarmos o mecanismo
do mundo teoricamente funcionando, portanto, temos sempre de inserir a cláusula que determina até que ponto conduzimos o mundo com duas ficções: com o conceito do movimento (retirado de nossa linguagem sensorial) e com o conceito do átomo = unidade (proveniente de nossa "experiência" psíquica): ele tem por pressuposto um preconceito sensorial e um preconceito psicológico. O mundo mecanicista é imaginado tal como o olho e o tato apenas imaginam um mundo (como "movido"). de tal modo que ele pode ser calculado - que unidades surgem de maneira fictícia de tal modo que unidades ,causais surgem de maneira fictícia, "coisas" (átomos), cujo efeito permanece constante (- transposição do conceito falso de sujeito para o conceito de átomo) Conceito de número Conceito de coisa (conceito de sujeito) Conceito de atividade (eis.ão entre ser causa e efeitos) Movimento (olho e tato) : que todo efeito é movimento : que, onde hã movimento., algo é movido
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Portanto, fenomênico é: a imiscuição do conceito de número, do conceito de sujeito, do conceito de movimento: temos nossos olhos, nossa psicologia sempre ainda aí. Se eliminarmos esses ingredientes: então não resta nenhuma coisa, mas quanta dinâmicos, em uma relação de tensão com todos os outros quanta dinâmicos: cuja essência consiste em sua relação com todos os outros quanta, em sua "atuação" sobre eles-a vontade de poder, não um ser, não um devir, mas um páthos, é o fato mais elementar, a partir do qual apenas se obtém um devir, um atuar... a mecânica ainda formula além disso os fenômenos paralelos scmioticamente em meios expressivos sensoriais e psicológicos, ela não toca a força causal... 14 (80)
Se a essência mais íntima do ser é vontade de poder, se prazer é sempre crescimento do poder, desprazer sempre o sentimento de nã.o resistir e de não poder se tomar senhor: não podemos estabelecer, então, prazer e desprazer como fatos cardinais? A vontade é possível sem essas duas oscilações do sim e do não? Mas quem sente prazer?... Mas quem quer poder?... Perguntas absurdas: se a essência mesma é vontade poderosa e, consequentemente, sentimento de prazer e desprazer. Apesar disso: carece-se dos opostos, das resistências, ou seja, relativamente, das unidades abrangentes ... Localizadas - - Se A exerce um efeito sobre 8, então A só conquista a sua localização na cisão em relação a 8. 14 (81)
Crítica do conceito de "causa"
Se computarmos psicologicamente: o conceito de "causa" é o nosso sentimento de poder do assim chamado querer - nosso conceito de "efeito", a superstição de que o sentimento de poder é o poder mesmo, que mobiliza ... um estado, que acompanha um acontecimento e já é um efeito do acontecimento, é projetado como "razão suficiente" do acontecimento
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a relação de tensão de nosso sentimento de poder: o prazer como sentimento do poder: da resistência superada - trata-se de ilusões? se retraduzirmos o conceito de "causa" na única esfera que nos é conhecida da qual o retiramos: então não nos é imaginável nenhuma transformação na qual não haja uma vontade de poder. Não saberíamos deduzir uma transformação, se não ocorresse uma sobreposição de um poder sobre outro poder. A mecânica mostra-nos apenas consequências e, além disso, em imagem (movimento é um discurso imagético) A gravitação mesma não possui nenhuma causa mecânica, uma vez que ela é primeiramente o fundamento para consequências mecânicas A vontade de acumulação de força como especifica para o fenômeno da vida, para a alimentação, a geração, a herança, para sociedade, Estado, hábito, autoridade não deveríamos poder supor essa vontade como causa motriz mesmo na quimica? e na ordem cósmica? não meramente constância da energia: mas economia maximal do gasto: de tal modo que o querer-vir-a-ser-mais-forte a partir de cada centro de força é a única realidade - não autopreservação, mas apropriação, tomar-se-senhor, vir-a-ser-mais, querer-vir-a-ser-mais-forte. O fato de a ciência ser possivel deve demonstrar para nós um principio de causalidade? "a partir das mesmas causas, mesmos efeitos": "uma lei perm.anente das coisas" "uma ordem invariável" porque algo é calculâvel, ele já é por isso necessário? se algo acontece de tal modo e não de outro, não há aí nenhum "principio", nenhuma "lei", nenhuma "ordem" Quanta de força, cuja essência consiste em exercer poder sobre todos os outros quanta de força Na crença na causa e no efeito esquece-se sempre o principal: o próprio acontecimento. estabeleceu-se um agente, hipos'lasiou-se uma vez mais o feito
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Podemos supor uma aspiração ao poder, sem uma sensação de prazer e desprazer, isto é, sem um sentimento de elevação e de decréscimo de poder? o mecanismo é apenas uma linguagem de sinais para o mundo interno de fatos de quanta de vontade combativos e superadores? todos os pressupostos do mecanicismo, matéria-prima, átomo, pressão e impulso, assim como peso não são "fatos em si", mas interpretações com o auxilio de ficções psíquicas. a vida como a forma que nos é mais conhecida do ser é especificamente uma vontade de acumulação de força : todos os processos da vida têm aqui seu apoio : nada quer se conservar, tudo deve ser somado e acumulado A vida, como um caso particular: hipótese - a partir daí passar para o caráter conjunto da existência. : aspira a um sentimento maximal de poder : é essencial uma aspiração a um mais de poder : aspiração não é outra coisa senão aspiração ao poder : o que hâ de mais baixo e mais interior continua sendo essa vontade: a mecânica é uma mera semiótica dessas consequências. 14 (83)
Problema do filósofo e· do homem de ciência. Tipo injcial Força na tranquilidade. Na indiferença relativa e na clificuldade para reagir. Os grandes afetos, todos., e vindo auxiliar maravilhosamente uns aos outros... Influência da idade Hábitos depressivos (Ficar sentado cm casa à moda de Kant) Superelaboração Alimentação insuficiente do cérebro Ler
Mais essencial: saber se wn sintoma de decadência já não estâ dado no direcionamento para tal universalidade: objetividade como desagregação da vontade (poder permanecer tão distante ...
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isso pressupõe uma gl'!lllde adiaforia contra os impulsos fortes: uma espécie de isolamento Posição de exceção contra os impulsos nonnais Resistência Tipo: a libertação da terra natal, em círculos cada vez mais amplos, o exotismo crescente, o emudecimento dos antigos imperativos - - até mesmo essa questão constante "para onde?" ("felicidade'i é um sinal de uma separação das formas de organização, irrupção para fora de. Problema: saber se o homem de ciência é um sintoma maior de decadência do que o filósofo ele não é destacado como um todo, apenas uma parte dele é devotada absolutamente ao conhecimento, adestrada para um ângulo e uma ótica - ele necessita aqui de todas as virtudes de uma raça forte, assim como de toda saúde
- grande rigor, masculinidade, astúcia - poder-se-ia falar de uma divisão do trabalho e de um adestramento, que é de grande utilidade para o todo e que só é possível em meio a um b'l'BU bastante elevado de cultura. Ele é mais um sintoma de uma elevada pluralidade da cultura do que de seu cansaço. O erudito da decadência é um erudito roim. Enquanto o filósofo da decadência até aqui era considerado ao menos como o tlpico filósofo. 14 (84)
Comparado com o artista, a aparição do homem de ciência é de fato um sinal de certa repressão e de certo rebaixamento do nível da vida. Mas também um fortalecimento, um rigor, uma/orça vital. : em que medida a falsidade, a indiferença do artista em relação ao verdadeiro e ao útil pode ser um sinal de juventude, de "crianclce"... : seu tipo habitual, sua irracionalidade, sua ignorância em relação a si, sua indiferença em relação a todos os valores eter-
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nos, seriedade no "jogo"... sua falta de virtude; palhaço e Deus em próxima vizinhança; o santo e o ca11aille... : a imitação como instinto, comandando Os artistas afirmadores, os artistas do declínio. Artistas do despontar - artistas do ocaso: será que eles 11ão perte11cem a todas as fases... sim. 14 (85)
Pirro, um budista grego Platão, talvez tenha ido à escola com os judeus 14 (86)
Para o conceito de "decadência" 1) o ceticismo é uma consequência da decadência: assim como a libertinagem do espírito. 2) a corrupção dos hábitos é uma consequência da decadência: fraqueza da vontade, necessidade de estimulan• tes mais fortes ... 3) os métodos de tratamento, os métodos psicológicos, mo• rais, não alteram o curso da decadência, eles não a interrompem, eles são fisiologicamente 11u/os : intelecção da gra11de 11u/idade dessas "reações" presumidas : trata-se de formas de narcotização contra certos fenômenos paralelos fatais, elas não produzem o elemento mórbido : elas são com frequência tentativas heroicas de anular o homem da decadência, de impor um mínimo à sua 11ocividade. 4) o niilismo não é nenhuma causa, mas apenas a lógica da decadência 5) o "bom" e o "ruim" são apenas dois tipos da decadência: eles se mantêm unidos cm todos os fenômenos fundamentais. 6) a questão social é uma consequência da decadência 7) as doenças, sobretudo as doenças nervosas e as doenças cerebrais, são indicios de que falta a força defe11siva das naturezas fortes; a írritabilidade fala justamente a favor disso, de tal modo que prazer e desprazer se tomam os problemas de primeiro plano.
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14 (87) o filósofo antigo a partir d.e Sócrates tem o estigma da decadência: moralismo e felicidade. Ápice de Pirro. Alcançou o nível do budismo Epicurismo no cristianismo Caminhos para a felicidade: sinais de que todas as forças principais da vida são esgotadas 14 (88) Os tempos e os particulares acumulativos os dissipadores: os geniais, os vitoriosos, os descobridores, os aventureiros depois dos aventureiros se segue necessariamente o decadente 14 (89) Contramovimento: religião Os dois tipos: Dioniso e o crucificado. É preciso insistir: o homem religioso típico - será que ele é uma forma da decadência? Os grandes inovadores são em seu todo e particularmente doentios e epilépticos : mas não deixamos de fora nesse caso um tipo do homem religioso, o pagão? A cultura pagã não é uma forma de agradecimento e de afirmação da vida? Seu mais elevado representante não precisou ser uma apologia e uma divinização da vida? Tipo de um espírito plenamente constituído e encantadoramente transbordante... Tipo de alguém que acolhe em si as contradições e as questionabilidades da existência e tipo redentor? - Nesse contexto, apresento o Dioniso dos gregos: a afirmação religiosa da vida, do todo, não uma vida renegada e seccionada típico: o fato de o ato sexual despertar profundidade, mistério, veneração
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Dioniso contra o "crucificado": eis aqui a oposição. Não se trata de uma diferença com vistas ao martírio - o martírio tem apenas outro sentido. A vida mesma, sua eterna fertilidade e retomo, condiciona a dor, a destruição, a vontade de aniquilação ... no outro caso, o soliimcnto, o "crucificado como o inocente", como objeção contra essa vida, como fórmula de sua condenação. Decifra-se: o problema é o problema do sentido do sofrimento: ora um sentido cristão, ora um sentido trágico ... No primeiro caso, esse sentido deve ser o caminho para um ser venturoso; no outro, o ser é considerado como suficientemente venturoso, para justificar mesmo urna quantidade descomunal de sofrimento O homem trágico afirma, ainda, o sofrimento mais amargo: ele é forte, pleno, divinizador o suficiente em relação a isso O cristão nega, ainda, o destino mais feliz sobre a terra: ele é fraco, pobre, suficientemente deserdado, para sofrer ainda da vida cm toda e qualquer forma..• "o Deus na cruz" é uma maldição para a vida, um aceno para nos livrarmos dele Dioniso cortado em pedaços é uma promessa de vida: a vida sempre retomará eternamente e voltará para casa depois da destruição 14 (90)
Afalsidade fisiológica nos quadros de Rafael.
Uma mulher com secreções normais não tem nenhuma necessidade de redenção. O fato de todas as naturezas bem-constituídas e primorosas se preocuparem eternamente com aquele anêmico santo de Nazaré está cm contradição com a história natural. Jesus pertencia a outra espécie: uma tal como a conhece Dostoiévski - monstruosidades comoventes, degradadas e deturpadas com um idiotismo e fanatismo, com amor... 14 (91)
A religião como decadência Buda contra o "crucificado"
No interior do movimento niilista sempre é possível continuar mantendo separados agudamente o movimento niilista cristão e o budista
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: o movimento budista expressa uma bela noite, uma doçura e uma suavidade consumadas - trata-se da gratidão em relação a tudo o que se encontra por detrás, a tudo o que é concomitantemente computado, falta a amargura, a desilusão, o rancor : por fim, o amor espiritual elevado, o refinamento da contradição fisiológica estão por detrás dele, ele se tranquiliza até mesmo com isso: mas ele ainda tem de tudo isso a sua glória espiritual e o seu ardor crepuscular (- proveniência das castas mais elevadas. : o movimento cristão é um movimento de degenerescência composto a partir de elementos de detrito e de refugo de todo tipo: ele não expressa o declínio de uma raça, ele é desde o inicio uma formação agregada a partir de construtos doentios que se reúnem e se buscam... ele não é, por isso, nacional, nem é condicionado por raças: ele se dirige aos deserdados de toda parte ele tem o rancor como base contra todos os bem-constituídos e todos os seres dominantes, ele precisa de um símbolo que represente a maldição aos bem-constituidos e aos dominantes ... ele se encontra cm oposição a todo movimento espiritual, a toda filosofia: ele toma o partido dos idiotas e amaldiçoa o espirito. Rancor aos bem-dota.dos, eruditos, independentes em termos espirituais: ele decifra neles o elemento bem-constituído, o elemento dominante 14 (92)
O problema de Sócrates. As duas oposições: a postura trágica medida a partir da lei a postura socrática lei da vida : em que medida a postura socrática é um fenômeno da decadência : cm que medida, porém, se mostram uma saúde e uma força intensas no hábito como um todo, na dialética e na habilidade, na rigidez do homem cientifico (- a saúde do plebeu, sua
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maldade, seu esprit frondeur,v.6 sua perspicácia, sua canaille au fond"' mantida presa por meio da inteligência: "feio" Embrutecimento: o autoescârnio a aridez dialética a astúcia como tirano contra "os tiranos" (contra o iostinto) Tudo é exagerado, excêntrico, caricatural em Sócrates, um bufão, com os instintos de Voltaire no corpo; - ele descobre um novo tipo de Agon - ele é o primeiro mestre de armas nos circulos nobres de Atenas - ele não defende outra co,isa senão a inteligência extrema: ele a denomina virtude (- ele a desvenda como salvação: não se achava livre para ele ser inteligente, ele o era de rigueur118 - ter-se sob o domínio da violência, a fim de entrar em combate com razões, não com afetos - a artimanha de Espinoza - o desvendar dos equívocos dos afetos ... descobrir como se aprisionam todos aqueles em que se produz um afeto, que o afeto procede de maneira alógica... Exercício no autoescámio, a fim de ferir o sentimento de rancune119 na raiz Procurei compreender a partir de que estados parciais e idiossincráticos é preciso deduzir o problema socrátic-0: sua equiparação entre razão = virtude = felicidade. Ele encantou a todos com esse absurdo de doutrina de identidade: a filosofia antiga não se livrou disso jamais... Problema de Sócrates. Astúcia, claridade, dureza e logicidade como armas contra a selvageria dos impulsos. Esses impulsos precisam ser perigosos e trazer consigo a ameaça do ocaso: senão, não faria sentido al&rum forjar a intelígência até essa tirania. Fazer 226 N,T,: Em francês no original: espfrl to rebelde. 227 N.T.: Em francês no original: sua canalha no fundo. 228 N.T.: Em francês no original: por rlJl!Or. 229 N.T.: Em francês no original: ranco,.
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da astúcia um tirano: para tanto, porém, os impulsos precisam ser tiranos. Esse é o problema. - Esse problema foi outrora bastante condizente com o tempo. Razão tomou-se= virtude = felicidade. Falta absoluta de interesses objetivos: ódio contra a ciência: idiossincrasia de sentir a si mesmo como problema. Alucinações acústicas em Sócrates: elemento mórbido Lá onde o espírito é rico e independente, é ai que repugna mais ocupar-se com a moral. Como é que acontece de Sócrates ser um monômano morar? Em situações de penúria. toda filosofia "prática" ganha imediatamente o primeiro plano. Moral e religião como interesses principais são sinais de um estado de emergência. Solução: os filósofos gregos encontram-se no mesmo fato fundamental de seus estados interiores que Sócrates: cinco passos além do excesso, da anarquia, da desordem, de todo homem da decadência. Eles o experimentam como médico: Lógica como vontade de ])Oder, de autodominação, de "fo. licidade" Crítica. A decadência revela-se nessa preocupação da "fe. licidade" (ou seja, "da salvação da alma", isto é, experimenta-se seu estado como perigo) Seu fanatismo do interesse pela "felicidade" mostra a patologia do subsolo: tratava-se de um interesse vital. Ser racional ou perecer era a alternativa diante da qual todos eles se achavam O moralismo da filosofia grega mostra que eles se sentiam em perigo ... 14 (93)
Vontade de poder como conhecimento Crítica ao conceito "mundo verdadeiro e mundo aparente" Desses, o primeiro é uma mera ficção, forjada a partir de coisas puramente imaginadas a "aparência" pertence ela mesma à realidade: ela é uma forma de seu ser, isto é, em um mundo no qual não há nenhum ser, precisa ser criado primeiro por meio da aparência certo mundo calculâvel de
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casos idênticos: um ritmo, no qual são possiveis observação e comparação etc. "Aparência" é um mundo retificado e simplificado, no qual trabalharam nossos instintos práticos: ele é para nós perfeitamente correto: a saber, nós vivemos, nós podemos viver nele: prova de sua verdade para nós ... : o mundo, abstraindo-se de nossa condição de viver nele, o mundo que não reduzimos a nosso ser, nossa lógica e nossos preconceitos psicológicos não existe como mundo "em si" ele é essencialmente mundo relacional: ele possui, sob certas circunstâncias, a partir de cada ponto, a sua face diversa: seu ser é essencialmente diverso em cada ponto: ele pressiona cm cada ponto, resiste-se a ele em cada ponto - e essas somas são em cada caso completamente incongn,entes. A medida de poder determfoa que essência tem a outia medida de poder: sob que forma, com que violênéia, coação, essa essência atua ou resiste Nosso caso particular é bastante interessante: nós construímos uma concepção, para podermos viver em um mundo, a fim de percebermos de maneira claramente suficiente que ainda o suportamos ... 14 (94)
Filosofia como decadência Para a crítica do filósofo Trata-se de um autoengano do filósofo e moralista dizer que, para sair da decadência, eles a combateriam. Isso se encontra fora de sua vontade: e, por menos que eles o reconheçam, mais tarde se descobriu o quanto eles estavam entre os mais vigorosos fomentadores da decadência. Os filósofos da Grécia, por exemplo: Platão, o homem do bem - mas ele destacou os instintos da Pólis, do combate, dos mistérios, da crença na tradição e nos ancestrais... - ele foi o sedutor dos nobres: ele mesmo seduzido pelo plebeu Sócrates...
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- ele negou todos os pressupostos da verdadeira "Grécia nobre", introduziu a dialética na práxis cotidiana, conspirou com os tiranos, impulsionou a política do futuro e deu o exemplo da dissolução ma.is perfeita dos instintos em relação ao que era antigo. Ele é profundo, apaixonado em tudo o que é anti-helênico... Segundo a ordem das coisas, eles representam as formas típicas da decadência, esses grandes filósofos: a idiossincrasia moral-religiosa o niilismo a) dia/fora o cinismo o enrijecimento o hedonismo o reacionismo a questão acerca da "felicidade, acerca da "virtude", acerca da "salvação da alma" é a expressão da contraditoriedadefisiológica nessas naturezas do declínio: falta nos instintos o fiel da
balança, o para onde? : por que ninguém ousa negar a liberdade da vontade? Eles estão todos preocupados com sua "salvação da alma" - o que lhes interessa a verdade? 14 (95)
Dois estados que se seguem um ao outro: o de uma causa, o do outro efeito. : é falso. O primeiro estado não tem nada a efetuar o segundo não efetuou nada. : trata-se de uma luta de dois elementos desiguais em termos de poder: é alcançado um :rearranjo das forças, sempre segundo a medida de poder de cada um. O segundo estado é algo fundamentalmente diverso do primeiro (não seu "efeito''): o essencial é o fato de os fatores que se encontram cm luta virem à tona com outros quanta de poder. 14 (96) (+++) Eles desprezam o corpo: eles o deixaram fora do
cômputo: mais ainda, eles o trataram como um inimigo. Seu des-
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vario foi acreditar que se poderia levar por ai uma "bela alma" em um mostro de cadáver... Para tomar isso crivei mesmo aos outros, eles tiveram a necessidade de estipular de outro modo o conceito de "alma bela", transvalorar o valor natural, até que finalmente wn ser exangue, doentio, fanático e idiota fosse experimentado como uma perfeição, como "inglês", como transfiguração, como um homem superio,r. 14 (97)
''Vontade de poder" Em épocas democráticas, a vontade de poder é a tal ponto odiada que toda a sua psicologia parece dirigida para o seu apequenamento e para a sua condenação... O tipo do grande cobiçoso: esse deve ser Napoleão! E César! E Alexandre! ... Como se estes não fossem precisamente os maiores desprqadores ela honrai E Helvécio revela para nós que se aspira ao poder para ter os prazeres que se acham disponíveis ao poderoso...: ele compreende essa aspiração ao poder como vontade de gozo, como hedonismo ... Stuart Mill: - - 14 (98)
Vontade de poder de maneira principiai Crítica ao conceito "causa" Preciso do ponto de partida "vontade de poder" como origem do movimento. Consequentemente, o movimento não precisa ser condicionado de fora - não precisa ser car,sado ... Preciso de pontos de partida e centros do movimento, a partir dos quais a vontade se agarra em volta de si ... Não temos absolutamente nenhuma experiência sobre uma causa : contabilizado psicologicamente, todo o conceito provém da convicção subjetiva de que nós somos causas, a saber, que o braço se movimenta ... Mas isso é um erro
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: nós, os agentes, nos distinguimos do fazer e lançamos mão por toda parte desse esquema - nós buscamos um agente em todo acontecimento... : o que fizemos? Nós compreendemos mal um sentimento de força, uma tensão, uma resistência, um sentimento muscular, que já é o começo da ação, como causa : ou compreendemos a vontade de fazer isso e aquilo, porque segue a essa vontade a ação, como causa - causa, isto é - - "Causa" não ocorre de maneira alguma: cm relação a alguns casos, nos quais ela parecia nos ser dada e nos quais nós a projetamos para a compreensão do acontecimento, a autoilusão é comprovada. Nossa "compreensão de um acontecimento" consistia no fato de termos inventado um sujeito que se tomou responsâvel pelo fato de algo ter acontecido e pelo modo como ele aconteceu. Temos nosso sentimento da vontade, nosso "sentimento de liberdade", nosso sentimento de responsabilidade e nossa intenção de um fazer resumidos no conceito "causa": : causas efficiens efina/is são uma e a mesma na concepção fundamental Achávamos que um efeito estaria explicado, quando um estado fosse indicado, no qual esse efeito jâ se mostrasse inerente. De fato, inventamos todas as causas segundo o esquema do efeito: este último nos é conhecido... Inversamente, não estamos em condições de dizer de antemão de uma coisa qualquer o que ela "efetua". A coisa, o sujeito, a vontade, a intenção - tudo é inerente à concepção "causa". Nós buscamos as coisas, a fim de explicar a razão pela qual algo se alterou. Mesmo o átomo é uma tal "coisa" e um tal "sujeito originârio" acrescentados por meio do pensamento. Finalmente, compreendemos que coisas, e, por conseguinte, também âtomos, não efetuam nada: porque eles não existem de maneira alguma ... o fato de o conceito causalidade ser completamente inútil - a part.ir de uma sequência necessâria de estados não se segue a sua relação causall (- isso significaria fazer saltar a sua capacidade atuante de l para 2, para 3, para 4, para 5)
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A interpretação da causalidade é uma ilusão ... o movimento é uma palavra, o movimento não é nenhuma
causa uma "coisa" é a soma de seus efeitos, sinteticamente ligados por meio de um conceito, uma imagem... Não
fiá
nem causas nem efeitos.
Em termos linguísticos, não sabemos como nos livrar disso. Mas isso não importa nada. Se penso o músculo separado de seus "efeitos", então o nego ... Em suma: um acontecimento não é nem efetuado nem efetuante
Causa é uma capacidade de produzir efeito, inventada como acréscimo ao acontecimento. Não há o que Kant tem em vista, não há nenhum sentido de causalidade. As pessoas se espantam, elas ficam inquietas, elas querem algo conhecido, no qual elas possam se manter... Logo que no novo algo antigo nos é indicado, ficamos tranquilos. O suposto instinto de causalidade é apenas o temor diante do inabitual e a tentativa de descobrir nele algo conhecido uma busca não por causas, mas por algo conhecido... O homem fica imediatamente tranquilo, quando ele - - em relação a algo novo - - - ele não se empenha por compreender em que medida o fósforo causa fogo. De fato, a ciência esvaziou o conceito de causalidade de seu conteúdo e o manteve, transformando-o cm uma fórmula alegórica, na qual se tornou no fundo indiferente de que lado se tinha a causa e de que lado, o efeito. Afirma-se que em dois complexos de estados (constelações de força) os quanta de força permaneceriam iguais. A ca/cu/abilidade de um acontecimento não reside no fato de se ter seguido uma regra ou de se ter obedecido a uma necessidade ou de ter sido projetada por nós uma lei causal em todo acontecimento: ela reside no retorno de casos idênticos
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Filosofia como decadência O cansaço sábio. Pirro. O budista Comparação com Epicuro. Pirro. Viver entre os humildes, humildemente. Nenhum orgulho. Viver da maneira comum; honrar e acreditar naquilo cm que todos acreditam. Proteger-se contra a ciência e o espirito, também contra tudo o que pavoneia ... Simples: indescritivelmente paciente, despreocupado, suave. àná~€ta, µata oo. vóa npa&cr,;;w Um budista para a Grécia, crescido entre o tumulto das escolas; tendo chegado tarde; esfalfado; o protesto dos cansados contra o afã dos dialéticos; a descrença do homem cansado na importância de todas as coisas. Ele viu Alexandre, ele viu os penitentes indianos. Tudo o que é humilde, tudo o que é pobre, tudo o que é idiota mesmo age sobre tais seres epigonais e refinados de maneira sedutora. Tudo isso narcoti.za: tudo isso dá vontade de
se espreguiçar: Pascal. Eles experimentam, por outro lado, em meio ao rebuliço e confundidos com qualquer um, um pouco de calor: eles precisam de calor, esses homens cansados... Superar a contradição; não um combate; nenhuma vontade de se distinguir: negar os instintos gregos. - Pirro viveu junto com sua irmã, que era parteira. Travestir a sabedoria, de tal modo que ela não se distinga mais; dar a ela um manto de pobreza e de mendicância; realizar as funções mais baixas: ir ao mercado e vender leite de porca... Doçura; claridade; indi fcrença; nenhuma virtude que precise de gestos. Equipar-se mesmo na virtude: derradeira autossuperação, derradeira indiferença. Pirro, assim como Epicuro, duas formas da decadência grega: aparentados no ódio à dialética e a todas as virtudes teatrais - as duas juntas, a dialética e as virtudes teatrais - eram justamente o que significava outrora a filosofia - ; intencionalmente, aquilo que eles amavam era baixo; escolhendo, para tanto, os
230 N.T.: Em grego no original: apático, mas ainda manso.
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nomes habituais, mesmo desprezados; representando um estado, no qual não se está nem doente, nem saudãvel, nem vivo, nem morto... Epicuro, mais ingênuo, mais idílico, mais brrato; Pirro, mais viajado, mais vivido, mais niilista ... Sua vida foi um protesto contra a grande doutrina da ide11tidade (sorte = virtude = conhecimento). A vida correta não é passivei de ser encontrada por meio da ciência: sabedoria não toma "sábio"... A vida correta não quer felicidade, ela se abstrai da felicidade ... 14 (100)
Os filósofos propriamente ditos dos gregos são os filósofos pré-socráticos: algo se transforma com Sócrates todos eles são personagens nobres, que se colocam à parte do povo e dos costumes, viajados, sérios até a beira do caráter sombrio, com olbos lentos, não albcios aos negócios estatais é à diplomacia. Eles anteciparam para os sábios todas as grandes concepções das coisas: eles apresentam essas coisas mesmas, elas se colocam em um sistema. Não há nada que ofereça wn conceito mais elevado do espírito grego do que essa repentina fertilidade de tipos, do que essa completude involuntária na exposição das grandes possibilidades do ideal filosófico. No porvir, só consigo ver uma única figura original: um cpígono, mas necessariamente o último ... o niilista Pirro, ... ele possui o instinto contra tudo aquilo que entrementes se acha em cima, contra os socráticos, contra Platão Passando por Protágoras, Pirro recorre a Demócrito... O otimismo d.e artista de Heráclito - - 14 (101)
a decadência em geral Se prazer e desprazer fazem referência ao sentimento de poder, então a vida precisaria apresentar um acréscimo de p0der, de tal modo que a diferença do "mais" ganhasse a consciência ...
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Fixar um nível de poder: o prazer só poderia vir a ser medido a partir da diminuição do nível, a partir de estados de desprazer não a partir de estados de prazer:. .. A vontade de mais encontra-se na essência do prazer: o fato de o poder crescer, o fato de a diferença ganhar a consciência... A partir de certo ponto, ganha a consciência na decadência a diferença inversa, a diminu.ição: a memória dos instantes fortes de outrora reprime os sentimentos de prazer atuais - a comparação enfraquece agora o prazer... 14 (102)
Para a higiene dos "fraco•s " - tudo o que é feito na fraqueza falha. Moral: não se deve fazer nada. O terrível é apenas o fato de precisamente a força para suspender o fazer, para não reagir, é a que mais intensamente adoece sob a influência da fraqueza: o fato de nunca se reagir de maneira tão rápida e cega quanto
quando não se deveria reagir de maneira alguma ... A força de uma natureza se mostra na espera e no adiamento da reação: é própria dessa natureza certa &liloopop(a, assim como é própria da fraqueza a falta de liiberdade dos movimentos contrários, o caráter repentino, a ausência de inibições à "ação"... a vontade é fraca: e a receita para se proteger de coisas estúpidas seria ter uma vontade forte e não fazer nada ... Contradictio ... Uma espécie de autodestruição, o instinto de conservação é comprometido... Ofraco faz mal a si mesmo ... esse 6 o tipo da decadência ... De fato, encontramos uma reflexão descomunal sobre práticas para provocar a impassibílidade. O instinto, portanto, está na pista certa ao considerar que não fazer nada é mais útil do que fazer alguma coisa... Todas as práticas das ordens, dos filósofos soliuírios, do faquir são inspiradas pelo critério de medida correto de que certo tipo de homem se nutre ainda ao máximo, quando se impede tanto quanto possível de agir Meios de facilitação: a at,,soluta obediência
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a atividade maquinal a separação de homens e coisas, que fomentaria uma resolução e uma ação imed.iatas 14 (103) L.
Vejo com espanto que a ciência se resigna hoje a ser dependente do mundo aparente: um mundo verdadeiro - como quer que ele possa ser, nós não temos nenhum órgão do conhecimento para ele. Jâ se deveria perguntar aqui: com que órgão do conhecimento apenas se estabeleceria também essa oposição?... Com o fato de que um mundo, que é acessível aos nossos órgãos, seja compreendido também como independe desses órgãos, com o fato de que um mundo seja condicionadarnente como subjetivo, não estâ expresso o fato de que um mundo objetivo em geral é possível. Quem nos impede de pensar que a subjetividade é real, essencial? o "em si" é até mesmo 'Ullla concepção contrassensual: uma "constituição em si" é um disparate: nunca temos o conceito "ser", "coisa" senão como conceito relacional... O terrível é- o fato de que, com a antiga oposição entre "aparente" e "verdadeiro", também se propagou o juizo de valor correlativo: menor cm termos valorativos e absolutamente "valioso" o mundo aparente não é considerado por nós como um mundo "valioso"; a aparência deve ser urna instância contra a verdade suprema. Valioso em si só pode ser um mundo "verdadeiro"... Em primeiro lugar: afirma-se que ele existe em segundo: tem-se uma representação valorativa dele totalmente determinada Preconceito dos preconceitos! Em primeiro lugar, seria em si possível que a constituição verdadeira das coisas fosse de tal modo nociva para os pressupostos da vida, estivesse a tal ponto contraposta a esses pressupostos, que justamente a aparência fosse necessâria, para se poder viver... Esse é efetivamente o caso em tantas situações: por exemplo, no casamento
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Nosso mundo empírico seria condicionado pelos instintos da autoconservação mesmo em seus limites cognitivos: nós tomamos por verdadeiro, por bom, por valioso, aquilo que favorece a conservação da espécie... a) não possuímos nenhum.a categoria segundo a qual seria possivel cindir um mundo verdadeiro e um mundo aparente. Poderia haver mesmo apenas um mundo aparente, mas não somente o nosso mundo aparente ... b) supondo a existência do mundo verdadeiro, ele poderia muito bem continuar sendo sempre o mundo de menor valor para nós: precisamente o quantum de ilusão poderia possuir um nível mais elevado para nós em seu valor para a conservação. Ou será que a aparência poderia fundamentar em si um j uízo de condenação? c) o fato de existir uma correlação entre os graus dos valores e os graus da realidade, de tal modo que os valores supremos também teriam a realidade suprema: é um postulado metafisico que parte do pressuposto de que conhecemos a ordem hierárquica dos valores: a saber, que essa ordem hierárquica é uma ordem moral... É somente a partir desse pressuposto que a verdade é necessária para a definição de tudo o que é extremamente valoroso a "aparência" seria urna objeção a um valor em geral
2. É de uma importância cardinal o fato de se eliminar o mimdo verdadeiro. Ele é o grande veiculo de dúvida e de diminuição valorativa do mundo que nós somos: ele foi até aqui o nosso mais perigoso atentado à vida Guerra a todos os pressu·postos, com vistas aos quais se imaginou um mundo verdadeiro. Entre esses pressupostos se encontra o pressuposto de que os valores morais são os valores supremos A avaliação moral como suprema seria refutada, se ela pudesse ser demonstrada como a consequência de uma avaliação imoral : como um caso especial da imoralidade real
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: ela mesma se reduz, com isso, a uma aparência e, como aparência, ela não teria mais por si mesma nenhum direito a condenar a aparência 3,,
"A vontade de verdade" precisaria, então, ser investigada psicologicamente: ela não é ncnlluma violência moral, mas uma forma da vontade de poder. Seria preciso demonstrar isso por meio do fato de que ela se serve de todos os meios imorais: antes de tudo a metafisica : a metodologia da investigação só é alcançada, quando todos os preconceitos morais são superados.., ela representa uma vitória sobre a moral... N.B. Nós estamos hoje colocados diante da prova da afümação de que os valores morais são os valores supremos, 14 (104) Os valores morais como valores aparentes, comparados com os valores fisiológicos 14 (105) Nosso conhecimento tomou-se científico, uma vez ele pôde aplicar número e medida, .. Seria preciso fazer a tentativa de saber se uma ordem cientifica dos valores não poderia ser construída simplesmente com vistas a uma escala numérica e a uma escala de medidas da força ... tod.os os outros "valores" são preconceitos, ingenuidades, incompreensões... eles são sempre redutíveis àquela escala numérica e àquela escala de medida da força o em frente nessa escala significa cada crescimento no valor. o para trás nessa escala significa a diminuição do valor Têm-se, aqui, a aparência e o preconceito contra si. Uma moral, um modo de vida demonstrado, testado por meio da longa experiência e de longas provas, chega por último como lei à consciência, como dominante...
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e, com isso, todo o grupo de valores e estados aparentados entra nesse modo de vida: ele se toma venerável, inatacável, sagrado, verdadeiro faz parte de seu desenvolvimento o fato de sua origem ser esquecida ... trata-se de um sinal de que ele se assenhoreou ...
••• Exatamente a mesma coisa poderia ter acontecido com as categorias da razão: elas poderiam, depois de muito tatear e muito se valer do que se encontrava à sua volta, ter se comprovado por meio de sua relativa u·tilidade ... Chegou um ponto, no qual elas foram sintetizadas, no qual elas ganharam a consciência como um todo - e no qual elas passaram a comandar, no qual elas passaram a atuar como comandantes... A partir desse momento, elas foram consideradas como a priori ... como se achando para além da experiência e como irrecusáveis ... E, contudo, elas talvez não expressem outra coisa senão determinada conformidade a fins de raças e gêneros - sua "verdade" é meramente sua utilidade Da origem da razão A.
Os valores supremos foram até aqui os valores morais. B. Critica desses valores.
e. 14 (106)
Prescrição para o jovem teólogo: 1) Que ele se abstenha de mulheres e de todas as substâncias fermentadas; que ele não use nem bota nem sombrinha; que ele se abstenha. de todo e qualquer estímulo aos sentidos (canto, dança e música) 2) Se o candidato tiver involuntariamente uma pulação durante o sono, então ele deve mergulhar três vezes ao nascer
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do sol no brejo sagrado, dizendo as palavras: "que aquilo que saiu de mim contra a minha vontade retome a mim!" 3) Se o seu mestre o interromper, então ele não deve responder-lhe nem em pé, nem sentado, nem comendo, nem andando, nem de longe, nem com um olhar de esguelha: 4) Ele deve vir antes até ele e, empertigado, respeitoso, considera-lo e responder-lhe. Se ele estiver na carruagem e notar a presença de seu mestre, deve saltar imediatamente e prestar-lhe suas honras. O aluno não deve ajudar a mulher de seu mestre no banho, nem a se perfumar, nem massageá-la, nem arranjar o seu coque, nem ungi-la. Ele também não pode se prostrar diante da jovem mulher de seu mestre e respeitosamente tocar seus pés, supondo naturalmente que ele já tenha, por conta de sua idade, um saber acerca do bem e do mal.
Reside na natureza da mulher o fato de agradar aos homens e de tentar seduzi-los. Os sábios, porém, nunca se deixam levar até o ponto de ceder à sua força de atração. Não se deve perdurar em lugares ermos sozinho com sua mãe, sua irmã, sua filha e outras familiares: os sentidos estimulados pela solidão são tão poderosos que eles por vezes se apoderam até mesmo dos mais sábios. Esse foi o caso do sãbio Vasta, que, para fugir da maldade das pessoas de Gotha, se recolheu em uma caverna com suas duas filhas: lã onde ele enb>ravidou as duas. 14 (107) Teoria e práxis Crítica do valor da moral Distinção perigosa entre "teórico" e "prático", por exem-
plo, em Kant, mas também nos Antigos - eles agem como se a pura espiritualidade se apresentasse para eles antes do problema do conhecimento e da metafisica - eles agem como se, um.a vez que mesmo a resposta da teoria é alijada, fosse preciso julgar a prâxis segundo o seu próprio critério de medida.
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Contra o primeiro caso dirijo minha psicologia dos filósofos: seu cálculo e sua "espiritualidade" de todas as mais alienadas permanece sempre apenas a derradeira e mais esmaecida impressão de um fato fisiológico; falta absolutamente a liberdade da vontade ai, tudo é instinto, tudo é dirigido desde o princípio para detenninadas vias... - Contra o segundo ponto, pergunto-me se conhecemos outro método para agir bem além de sempre pensar bem: pensar bem é um agir, e agir bem pressupõe pensamento. Temos uma capacidade de julgar de outra forma o valor de um modo de vida para além da medição do valor de uma teoria por meio de indução?... Os ingênuos acreditam que aqt.ú estaríamos melhor, que aqui saberíamos melhor o que é "bom" - os filósofos os repetem. Concluímos que aquí está presente uma crença, nada além disso .. "É preciso agir; consequememente, carece-se de um prumo" - dizem mesmo os céticos antigos. a urgência de uma decisão como argumento para considerar qualquer coisa como verdadeira!... Não é preciso agir: - diziam seus irmãos mais consequentes, os budistas, ideando um prumo para saber como seria possível se livrar da ação ... Enquadrar-se, viver como vive o "homem comum", manter de maneira boa e justa o que ele retifica: isso significa submeter-se ao instinto de rebanho. É preciso levar a tal ponto sua coragem e seu rigor, que se possa experimentar tal submissão como uma vergonha Não viver com duas medidas!. .. Não cindir teoria e práxis! 14 (108)
Vontade de poder como moral O predomínio dos valores morais. Consequências desse predomínio, a degeneração da psicologia etc. A fatalidade por toda parte, .a fatalidade que se acha presa a ela O que significa esse predomínio? Para onde ele aponta? - certa urgência maior de ôetcnninado sim e não nesse campo
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- aplicaram-se todos os tipos de imperativo para deixar os valores morais aparecerem como fixos: eles foram os que há mais tempo se impuseram por meio de um comando - eles parecem instintivos como um comando interior... - expressam-se condições .de conservação da sociedade no fato de os valores morais serem experimentados como indiscutíveis - a práxis: ou seja, a utilidade de se colocar mutuamente de acordo quanto aos valores supremos, alcançou aqui uma espécie de sanção - vemos todos os meios empregados, por intermédio dos quais a reflexão e a critica nesse âmbito são paralisadas: - que atitude assume mesmo Kant ao não falar sobre aqueles meios recusados como imorais de "investigar" aqui Como se levou a moral a assumir o domínio 14 (109)
Ciência e filosofia Todos esses valores são empíricos e condicionados. Mas aquele que acredita neles, que os venera, não quer reconhecer justamente esse caráter... os filósofos acreditam todos juntos nesses valores, e uma forma de sua veneração foi o empenho por fazer deles uma verdade a priori caráter falsificador da veneração ... a veneração é a prova elevada da honradez intelectual: mas não há cm toda a história da filosofia nenhuma honradez intelectual mas o "amor ao bem"... : a absoluta/alta de método para colocar à prova a medida dos valores em segundo lugar: a aversão a colocar à prova esses valores e considerá-los efetivamente condicionados Em meio aos valores morais, todos os instintos anticientíficos são levados conjuntamente em conta, a fim de excluir aqui a ciência... Como explicar o escândalo incrível que é representado pela moral na história da ciência...
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Fórmula da superstição do "progresso" própria a um fisiólogo célebre das atividades cerebrais "L 'animal nefaitjamais de progres comme espece; l'homme seulfait de progres comme espece."m
14(111)
Filosofia como decadência A grande razão cm toda educação para a moral sempre foi o fato de se ter buscado alcançar a segurança de um instinto: de tal modo que nem a boa intenção nem os bons meios como tais ganharam primeiramente a consciência. Assim como o soldado se exercita, o homem também deveria aprender a agir. De fato, essa inconsciência faz parte de todo tipo de perfeição: mesmo o matemático manipula suas combinações inconscientemente... O que significa, então, a reação de Sócrates, que recomendava a dialética como caminho para a virtude e que ria quando a moral não conseguia se justificar logicamente?... Mesmo esse último ponto, contudo, faz parte de sua constituição... sem essa justificação, a moral não vale nadai. .. Despertar a vergonha era um atributo necessário do perfeito! ... Quando se antepôs a demonstrabilidade como pressuposto da capacidade pessoal na virtude, esse passo significou a dissolução dos instintos gregos. Trata-se mesmo de tipos da dissolução, todos esses grandes "virtuosos" e inventores de palavras de ordem. Na prática, isso significa que os julzos morais foram arrancados de sua condicionalidade, condicionalidade essa da qual eles surgiram e na qual apenas eles têm seu sentido, que eles foram arrancados de seu solo e de seu fundamento grego e grecopolítico, sendo desnaturalizados sob a aparência de sublimação. Os grandes conceitos de "bom" e de "justo" são destacados dos pressupostos aos quais eles pertencem: e, como "ideias" que se 231 N.T.: Em francês no original: O animal nunca progride como espécie; só o homem progride como espéole.
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tomaram livres, transfonnam-se em objetos da dialética. Busca-se atrás deles uma verdade, se os considera como entidades ou como sinais de entidades: inventa-se um mundo no qual eles estão em casa, no qual eles provêm... Em suma: o disparate jâ chega ao seu âpice cm Platão... E agora se tem a necessidade de inventar adicionalmente o homem abstrato-perfeito
bom, justo, sâbio, dialético - em resumo, o espantalho do filósofo antigo, uma planta, retirada de todo e qualquer solo; uma humanidade sem todos os instintos reguladores detenninados; uma virtude que se "demonstra" com razões. o indivíduo cm si completamente absurdo! a não natureza do mais elevado nível hierârquico... Em síntese, a desnaturalização dos valores morais teve por consequência a criação de um tipo degenerado do homem - "o bom" ' 110 feliz"' "o sábio" Sócrates é um momento da mais profanda perversidade na história dos homens .
14 (112) Nós duvidariamos de um homem se o ouvissemos dizer que ele precisava de razões para permanecer decente: certo é que evitamos seu convívio. A palavrinha "pois" compromete em certos casos; a pessoa se autorrefuta de mais a mais até mesmo por meio de um único "pois". Ora, mas se ouvirmos agora, além disso, que um tal aspir.111te à virtude teria a necessidade de razões ruins para pennanecer respeitâvel, então esse fato não nos oferecerá nenhuma razão para que elevemos o nosso respeito perante ele. Mas ele prossegue, ele vem até nós, ele nos diz na cara: "O senhor perturba a minha moralidade com a sua descrença, meu caro descrente; enquanto o senhor não acreditar em minhas péssimas razões, ou seja, em Deus, em um além punitivo, cm uma liberdade da vontade, o senhor impedirá minha virtude ... Moral: é preciso eliminar os descrentes, eles impedem a moralização
das massas."
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Moral como decadência Hoje, quando uma pequena ironia se encontra na boca de todo "o homem deve ser de tal e tal modo", quando insistimos completamente no fato de, apesar de tudo, só se vir a ser aquilo que se é (apesar de tudo: quer dizer, apesar de educação, aula, meio, acasos e acidentes), aprendemos de uma maneira curiosa a inverter nas coisas da moral a relação entre causa e efeito - nada talvez nos distinga mais fundamentalmente dos antigos crentes da moral. Não dizemos mais, por exemplo, que "o vicio é a causa de que um homem também pereça fisiologicamente"; tampouco dizemos que "um homem prospera por meio da virtude", que "a virtude traz uma vida longa e felicidade". Nossa opinião é muito mais a de que vicio e virtude não são causas, mas apenas consequências. As pessoas tomam-se homens decentes porque são homens decentes; ou seja, porque nasceram como capitalistas de bons instintos e de relações prósperas... Quando :se chega pobre ao mundo, vindo de pais que em tudo só dissiparam e nada reuniram, então se é "inaprimorável", isto é, então se, está pronto para a penitenciária ou para o hospício ... Não sabemos mais pensar hoje a degenerescência moral separada da degenerescência fisiológica: a primeira é apenas um mero complexo de sintomas da segunda; é necessariamente ruim, assim como se é necessariamente doente ... Ruim: a palavra expressa aqui certas incapacidades, que estão ligadas fi. siologicameote ao tipo da degenerescência: por exemplo, a fraqueza da vontade, a insegurança e mesmo a pluralidade da "pessoa", a impotência de estabelecer a reação a um estimulo qualquer e de se "dominar", a falta de liberdade diante de toda espécie de sugestão de uma vontade alheia. Vicio não é nenhuma causa; vicio é uma consequência ... vicio é uma demarcação conceituai bastante arbitrária, para sintetizar certas consequências da degradação fisiológica. Uma sentença genérica, tal como a ensinada pelo cristianismo, a sentença "o homem é ruim", seria justificada se fosse justificado tomar o tipo do degenerado como o tipo normal. Mas isso talvez seja um exagero. Com certeza, a sentença tem uma razão de ser lá onde precisamente o cristianismo cresce e se acha em cima: pois
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com isso se comprova a presença de um solo mórbido, um campo para a degenerescência. 14 (11 4)
Crescimento ou esgotamento Critica dos valores cristãos. Crítica dafilcsojia antiga. Para a história do niilismo europeu.
O cristian.ismo niilista O trabalho prévio para tanto: a filosofia antiga 14(115)
Ciência e filosofia Até que ponto a degradação dos psicólogos atravessa a idiossincrasia moral: Ninguém teve a coragem de definir o tlpico do prazer, todo tipo de prazer ("felicidade") co:mo sentimento do poder: pois o prazer no poder era considerado como imoral Ninguém teve a coragem ,de conceber a virtude como uma consequência da imoralidade (de uma vontade de poder) a serviço da espécie (ou da raça ou da pólis) (pois a vontade de poder era considerada uma imoralidade, pois se teria reconhecido, com isso, aquilo que a verdade - - - o fato de a virtude ser apenas forma da imoralidade} Em todo o desenvolvimento da moral, não ocorre nenhuma verdade: todos os elementos conceituais, com os quais se trabalha, são ficções, todos os elementos psicológicos nos quais as pessoas se atêm são falsificações; todas as formas da lógica, que se arrastam consigo para o interior desse reino da mentira, são sofismas. O que distingue a própria moral dos filósofos: a completa ausência de todo asseamento, de todo autocultivo do intelecto: eles consideram "belos sentimentos" argumentos: seus "seios intumescidos" lhes parecem o fole da divindade ... A filosofia moral é a parte escabrosa na história do espirito. O primeiro grande exemplo: sob o nome da moral, como patronado da moral, é imposto um disparate inaudito, de fato uma decadência em todos os aspectos.
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14 (116) Filosofia como decadência
Não se pode insistir de maneira suficientemente rigorosa no fato de os grandes filósofos gregos representarem a decadência de toda e qualquer habilidade grega, assim como no fato de eles tomarem contagioso ... Essa virtude que se tomou completamente abstrata foi a grande sedução para tomar a si mesmo abstrato: ou seja, para se destacar... O instante é bastante estranho: os sofistas tocam tangencialmente na primeira crítica da moral, na primeira intelecção da moral... - eles colocam a maioria (a condicionalidade local) dos juízos de valor morais uns ao lado dos outros - eles dão a compreender que toda moral poderia ser justificada dialeticamente - que não faz nenhuma diferença: ou seja, eles desvendam como é que toda fundamentação de uma moral precisá ser necessariamente sofistica. - uma sentença que foi comprovada, além disso, no maior estilo de todos os sofisltas e que atravessou os filósofos antigos de Platão a (até Kant). - eles expõem a primeira verdade de que "uma moral em si", um "bem em si" não existe, de que é um engodo falar de "verdade" nesse campo Onde estava, então, a probidade intelectual outrora? A cultura grega dos sofistas tinha crescido de todos os instintos gregos: ela faz parte da cultura do tempo de Périclcs, de maneira tão necessária quanto Platão não pertence a esse tempo: ela teve seus precursores em Heráclito, em Demócrito, nos tipos científicos da filosofia antiga; ela tem sua expressão na cultura elevada de um Tucidides, por exemplo. - e ela passou, por fim, a ter razão: todo o progresso do conhecimento epistemológico e moralista restiJuiu os sofistas... nosso modo de pensar, hoje, é heraclltico, democritiano e protagórico em um grau elevado... bastaria dizer que ele seria protag6rico, porque Protágoras acolheu e reuniu em si as duas partes, Heráclito e Demócrito.
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······· .. ·······"···················································· ....... ,................ . Platão: wn grande Cagliostro - pensemos como é que Epicuro o condenou; como é que Timon, o amigo de Pirro, o condenou Será que o caráter probo de Platão talvez esteja fora de dúvida? ... Mas sabemos ao menos que ele quis ver ensinado como verdade absoluta aquilo que não era nem mesmo considerado por ele condicionalmente como verdade: a saber, a existência particular e a imortalidade individua] das "almas" 14 (117) O contramovimento: a arte O sentimento de embriaguez, correspondendo de fato a um mais de força: da maneira mais intensa possível na época de acasalamento dos sexos: novos órgãos, novas aptidões, cores, formas... o "embelezamento" é uma consequência da força elevada
embelezamento como consequência necessária da elevação de força embelezamento como expressão de uma vontade vitoriosa, de uma coordenação intensificada, de wna harmonização de todos os desejos fortes, de wn fiel da balança infalivelmente perpendicular a simplificação lógica e geométrica é uma consequência da elevação de força : inversamente, o perceber de tal simplificação eleva uma vez mais o sentimento de força... ápice do desenvolvimento: o grande estilo a feiura significa decadência de um tipo, contradição e falta de coordenação dos desejos internos significa um declínio de uma força organizadora, dito fi. siologicamente um decllnio da "vontade" o estado de prazer, que se denomina embriaguez, é exatamente um sentimento elevado de poder... as sensações de espaço e de tempo são transformadas: distâncias descomunais são abrangidas e se tomam, por assim dizer, pela primeira vez perceptíveis a extensão do olhar por sobre grandes quantidades e amplitudes
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o refinamento do órgão para a percepção do que hâ de mais intimo e fugidio a divinização, a força da compreensão com vistas ao mais silencioso auxilio, como vistas a toda e qualquer sugestão, a sensibilidade "inteligente"... a/orça como sentimento de domínio nos músculos, como flexibilidade e prazer no movimento, como dança, leveza e agilidade a forç.a como prazer na demonstração da força, como parcela de bravura, aventura, destemor, como um ser indiferente... Todos esses momentos elevados da vida se estimulam reciproc.amente; o mundo de imagens e representações de um deles é suficiente, como sugestão, para os outros... Desse modo, os estados se acham, por fim, fund.idos uns nos outros, estados que talvez tivessem razões para permanecer alheios. Por exemplo o sentimento de embriaguez religiosa e a excitação sexual (dois sentimentos profundos, pouco a pouco coordenados de maneira espantosa. O que agrada a todas as mulheres castas, velhas e jovens? Resposta: um santo c-om pernas bonitas, ainda jovem, ainda idiota... ) a crueldade na tragédia e a compaixão (- cm todo caso normalmente coordenadas... Primavera, dança, música, toda competição dos sexos - e ainda aquele elemento fáustico, "infinitude no peito"... os artistas, quando servem para alguma coisa, são dotados de uma disposição forte (mesmo corporalmente), são excedentes, animais de força, sensuais; sem certo superaquecimento do sistema sexual, não há como pensar nenhum Rafael... Fazer música ainda é um modo de fazer filhos; castidade é meramente a economia de um artista: - e, em todo ,caso, a fertilidade também cessa nos artistas com a interrupção da capacidade de procriação... os artistas não devem ver nada tal como é, mas de maneira mais simples, mas de maneira mais forte: para tanto, é preciso se fazer presente neles corporalmente uma espécie de eterna juventude e primavera, uma espécie de embriaguez habitual. Beyle e Flaubert, dois homens sem hesitação quanto a tais questões, recomendaram de fato castidade aos artistas no intc-
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resse de suas obras: também poderia nomear Renan, que dá o mesmo conselho, Renan é padre... 14(118)
as epidemias
funções normais: exercitando-se
, as alucinações, , as danças e os sinais gestuais , a canção (resíduo da dança
'o sonho (um estado embriagado o introduz) : as imagens óticas : imagens auditivas : imagens do tato
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Contramovimento
A arte Toda arte atua como sugestão sobre os músculos e sentidos que estão originariamente junto aos homens artísticos ingênuos: ela fala sempre apenas para artistas - ela fala para esse tipo de fina excitabilidade do corpo. O conceito de "leigo" é um conceito equivocado. O surdo não é nenhuma espécie de boa escuta. Toda arte atua to11icamente, amplia a força, atiça o prazer (isto é, o sentimento da força), estimula todas as lembranças mais finas da embriaguez - há uma memória própria, que desce até tais estados: um mundo distante e fugidio de sensações retoma aí... O feio, isto é, a contradiç.ão em relação à arte, seu não toda vez, quando o declínio, o empobrecimento de vida, a impotência, a dissolução, a degenerescência são estimulados apenas de longe, o homem estético reage com o seu 11ão. O feio atua de maneira depressiva, ele é a expressão de uma depressão. Ele toma força, ele empobrece, ele oprime... O feio sugere algo feio; é possível colocar à prova em seus estados de saúde o quão diversamente o encontrar-se cm uma situação ruim também eleva a capacidade da fantasia do feio. A escolha toma-se diferente, de coisas, interesses, questões: há um
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estado maximamente próximo do feio também no âmbito lógico - peso, embrutecimento... Falta aí mecanicamente o fiel da balança: o feio coxeia, o feio tropeça: - oposição a uma leveza divina dos dançarinos... O estado estético possui uma super-riqueza de meios de comu11icaçào, ao mesmo tempo com uma extrema receptividade para estímulos e sinais. Ele é o ápice da comunicabi.lidade e da transmissibilidade entre seres vivos - ele é a fonte das línguas. as línguas têm aqui o forno de seu surgimento: as linguas tonais, assim como as línguas de sinais e as línguas visuais. O fenômeno mais pleno é sempre o início: nossa capacidade como homens culturais é subtraída de capacidades mais plenas. Mas mesmo hoje se ouve ainda com os músculos, lê-se por si mesmo ainda com os múscu.los. Toda arte madura tem um:a profusão de convenções como base: na medida em que ela é lin,guagem. A convenção é a condição da grande arte, 11ão seu impedimento... Toda elevação da vida intensifica a força de comunicação, assim como a força de entendimento do homem. O imiscuir-se na vida de outras almas não é originariamente nada moral, mas uma excitabilidade fisiológica oriunda da sugestão: a "simpatia" ou o que se denomina "altruísmo" são meras configurações daquela relação psicomotora computada como dizendo respeito à espiritualidade (Ch. Féré fala em uma induction psychomotrice). Nunca se compartilham ideias, compartilham-se movimentos, sinais miméticos, que podem ser lidos por nós a partir de um recurso a ideias...
••• Exponho aqui uma série de estados psicológicos como sinais de uma vida plena e florescente, que se está hoje acostumado a avaliar como doente. Pois bem, entrementes desaprendemos a falar de uma oposição entre saudável e doente: trata-se de graus - minha afirmação nesse caso é a de que aquilo que é denominado hoje "saudável" ·representa um nível mais baixo daquilo que seria saudável em situações favoráveis ... a de que
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somos relativamente doentes ... O artista pertence a uma raça ainda mais fone. O que para nõs seria nocivo, o que para nós seria doentio, é nele natureza... o excesso de sucos e de forças pode trazer consigo tanto sintomas da falta parcial de liberdade, de alucinações sensoriais, de um refinamento da sugestão, quanto um empobrecimento da vida... o estimulo é condicionado de maneira diversa, o efeito permanece igual a si mesmo... Sobretudo, o efeito posterior não é o mesmo; o adormecimento extremo de todas as naturezas mórbidas depois de suas excentricidades nervosas não tem nada em comum com os estados do artista: que não tem de expiar seus bons temp0s... Ele é rico o bastante para tanto: ele pode desperdiçar sem se tomar pobre... Assim como se poderia denominar boje o "gênio" uma forma da neurose, talvez também se pudesse chamar assim a força de sugestão arlistica - e nossos artistas são de fato demasiado aparentados com a mulherzinha histérica!!! Isso, contudo, fala contra o ''hoje", e não contra os "artistas"... Mas se objeta que precisamente o empobrecimento da máquina possibilitaria a força compreensiva extravagante em relação a todo e qualquer tipo de sugestão: prova disso é a nossa mulheninha histérica, "nossos pesquisadores do além" Inspiração: descrição .
.... ....
Os estados não artísticos: o estado da objetividade, o estado do espelhamento, da vontade exposta... a incompreensão escandalosa de Schopenhauer, que considera a arte como ponte para a negação da vida ...
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Os estados não anísticos: os estados empobrecedores, diminuidores, atenuadores sob cuja visão a vida sofre... o Cristo ...
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Problema da arte trágica Os românticos: uma ques.tão ambígua, como tudo o que é moderno o a/CJr 14 (120)
Amor Será que se quer uma prova espantosa de até que ponto vai a força transfiguradora da embriaguez? O "amor" é essa prova, aquilo que o amor significa em todas as línguas e mutismos do mundo. A embriaguez lida com a realidade de tal modo que, na consciência do amante, a causa parece eliminada e algo diverso parece se encontrar em seu lugar - um tremor e uma reluzência de todos os espelhos mágicos da Circe... Aqui, homem e animal não fazem diferença; ainda menos o fazem o espírito, a bondade, a sinceridade... É-se sutilmente enganado, quando se é sutil; é-se toscamente enganado, quando se é tosco: mas o amor, e mesmo o amor a Deus, o amor dos santos, das "almas redimidas", permanece na raiz urna e mesma coisa: como uma febre, que tem razões para se transfigurar, uma embriaguez que faz bem em mentir sobre si... E, em todo caso, se mente bem quando se ama, diante de si e sobre si: aparece-se para si transfigurado, mais forte, mais rico, mais perfeito, se é mais perfeito... Encontramos aqui a arte como função orgânica: nós a encontramos inserida no instinto angelical da vida: nós a encontramos como o maior estimulante da vida - arte, com isso, sublimcmente conforme a fins mesmo ainda no fato de mentir... Mas nos equivocaríamos se permanecêssemos junto ao seu poder de mentir: ela faz mais do que meramente imaginar, ela transpõe mesmo os valores. E a questão não é apenas o fato de que ela transpõe o sentimento dos va.lores ... O
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amante é mais valoroso, ele é mais forte. Nos animais, esse estado impele novos materiais, novos pigmentos, cores e formas a virem à tona: sobretudo novos movimentos, novos ritmos, novos sons de chamado e seduções. No homem, as coisas não se mostram diversas. Toda a sua postura doméstica se toma mais rica do que nunca, mais poderosa, mais: total do que no que não ama. O amante toma-se pródigo: ele é rico o bastante para tanto. Ele ousa agora, se toma aventureiro, se toma um asno em termos de generosidade e inocência; ele acredita uma vez mais em Deus, ele acredita na virtude, porque acredita no amor: e, por outro lado, crescem asas e novas capacidades para esse idiota da felicidade, e as portas se abrem para ele mesmo em relação à arte. Deduzamos da lírica em termos de som e palavra a sugestão daquela febre intestinal: o que resta da lírica e da música?... L 'art pour l 'art talvez: o grasnar virtuoso de sapos friamente dispostos, que se desesperam em seu pântano... Todo o resto é criado pelo amor... 14 ( 121)
Vontade de poder psicologicamente Concepção uno da psicologia Nós estamos acostumados a manter compatível a configuração de uma profusão descomunal de formas com uma origem a partir da unidade. O fato de a vontade de poder ser a fom1a primitiva do afeto, de outros afetos não passarem de reconfigurações: O fato de haver um esclarecimento significativo cm posicionar o poder no lugar da "felicidade" individual à qual todo vivente deve aspirar: "ele aspira ao poder, ao mais no poder" prazer é apenas um sintoma do sentimento do poder alcançado, uma consciência da diferença - ele não aspira ao prazer, mas prazer entra em cena, quando ele alcança aquilo ao que aspira: prazer acompanha, prazer não movimenta ... O fato de toda força impulsionadora ser vontade de poder, o fato de não haver nenhuma força física, dinâmica ou psíquica além disso ...
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- em nossa ciência, na qual o conceito de causa e efeito é reduzido à relação de equação, com a ambição de demonstrar que há cm cada lado o mesmo quantum de poder,/a/ta a/orça impulsionadora: nós consideramos apena.s resultados, nós os posicionamos como iguais com vistas ao conteúdo de força, nós nos dispensamos da pergunta acerca da causa de uma transformação ... trata-se de uma mera questão de experiência o fato de que a transformação não cessa: não temos cm si a mais mínima razão para compreendermos que a uma transformação deveria seguir outra. Ao contrário: um estado alcançado pareceria precisar se conservar, se não houvesse nele uma capacidade de justamente não querer se conservar... A sentença de Espinoza acerca da autoconservação precisaria estabelecer propriamente um apoio para a transformação: mas a sentença é falsa, o contrário é que é verdadeiro. É possível mostrar precisamente em todo vivente da maneira mais clara possível que ele faz tudo para não se conservar, mas para vir a ser mais... A"vontade de poder" é wn tipo de "vontade" ou ela é idêntica ao conceito de "vontade"? Ela significa o mesmo que cobiçar? Ou comandar? Ela é a "vontade", em relação à qual Schopenhauer acha que ela seria o "em si das coisas"? : minha sentença é: que .a vontade é uma generalização injustificada da psicologia até aqui, que não há de maneira alguma essa vontade, que, ao invés de se conceber a configuração de determinada vontade em muitas formas, se eliminou o caráter da vontade, na medida em que se subtraiu o conteúdo, o "para onde?". : esse é, no grau mais elevado possível, o caso em Schopenhauer: aquilo que c.le denomina "vontade" é apenas uma palavra vazia. Trata-se ainda menos de uma "vontade de viver": pois a vida é meramente um caso pa.rticular da vontade de poder - é totalmente arbitrário afirmar qu.e tudo aspira a passar para essa forma da vontade de poder
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Para a teoria do conhecimento: meramente empírica: Não há nem "espírito", nem razão, nem pensamento, nem consciência, nem alma, nem vomtade, nem verdade: tudo ficções, que são inúteis. Não se trata de "sujeito e objeto", mas de determinado tipo de animal, que só prospera sob certa correção relativa, sobretudo sob a regularidade de suas percepções (de tal modo que ele possa capitalizar experiências)... O conhecimento trabalha como instrumento do poder. Assim, é natural que ele cresça com cada mais do poder... Sentido do "conhecimento": aqui, tal como acontece com "bom" e "belo", o conceito precisa ser tomado de maneira rigorosa e estreitamente antropocêntrica e biológica. Para que determinada espécie se conserve - e cresça em seu poder- , ela precisa apreender em sua concepção da realidade tantas coisas calculáveis e constantes em sua identidade, que possa ser construído em seguida um esquema de seu comportamento. A utilidade da conservação, não uma necessidade qualquer teórico-abstrata de não ser enganado, encontra-se como motivação por detrás do desenvolvimento dos órgãos do conhecimento... eles se desenvolvem de tal modo que sua observação seja suficiente para conservar-nos. De maneira diversa: a medida do querer conhecer depende da medida do crescimento da vontade de poder da espécie: uma espécie se apodera de tanta realidade, afim de se tornar senhora sobre ela, afim de colocá-la a seu serviço. o conceito mecanicista do movimento já é uma tradução do processo original na linguagem .de sinais dos olhos e do tato. o conceito de "átomo", a diferenciação entre uma "sede da força impulsionadora e ela mesma", é uma linguagem de sinais constituída a partir de nosso mundo lágico-psíquico. Não se encontra sob o nosso arbítrio transfonnar nossos meios de expressão: é possível conceber em que medida isso é mera semiótica. A exigência de um modo de expressão adequado é um disparate: reside na essência de uma língua, de um meio de expressão, exprimir uma mera relação... O conceito "verdade" é um
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contrassenso ... todo o reino de "verdadeiro" e "falso" refere-se apenas a relações entre essências, não ao "em si"... Absurdo: não há nenhuma "essência em si", as relações constituem pela primeira vez a essência, assim como não pode haver nenhum "conhecimento em si"... 14 (123)
Contramovimento Anti-Darwin O que mais me espantou em meio à visão panorâmica dos grandes destinos do homem sempre foi ver o contrário diante dos olhos daquilo que Darwin vê ou quer ver com sua escola: a seleção em favor dos mais fortes, dos que se saem melhor, o progresso da espécie. Precisamente, o contrário é palpável: a eliminação dos casos felizes, a inutilidade dos tipos que alcançaram um ponto mais elevado, o inevitável movimento, dos tipos medianos, mesmo dos tipos abaixo da média, vindo a se tornar senhores. Posto que não se mostra para nós a razão pela q uai o homem seria a exceção entre as criaturas, tendo a assumir o julzo prévio e dizer que a escola de Darwin se enganou inteiramente. Aquela vontade de poder, na qual reconheço uma vez mais o fundamento e o caráter derradeiros de toda transfonnação, fornece-nos o meio para respondermos por que justamente a seleção não ocorro em favor das exceções e dos casos felizes: os mais fortes e mais felizes são fracos quando têm contra si instintos de rebanho organizados, quando têm contra si a pusilanimidade dos fracos, a superioridade numérica. Meu aspecto conjunto do mundo dos valores mostra que, nos valores supremos, pendurados hoje acima da humanidade, não são os casos felizes, os tipos da seleção, que se sobrepõem: mas muito mais os tipos da decadência - talvez não haja nada mais interessante no mundo do que esse espetáculo in·desejado,.. Por mais estranho que possa soar: é preciso sempre armar os fortes contra os fracos; os felizes contra os infelizes; os saudáveis contra os decadentes e hereditariamente sobrecarregados. Se quisennos formular a realidade em tennos morais, então essa moral seria: os medianos valem mais do que as exceções; os pro-
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dutos da decadência, mais do que os medianos; a vontade de nada se sobrepõe à vontade de vida - e a meta conjunta é agora, expresso em termos cristãos, budistas, schopenhauerianos: é melhor não ser do que ser Sinto indignação em relação à fonnulação da realidade em termos morais: por isso, anatematizo o cristianismo com um ódio mortal, porque ele criou palavras e gestos sublimes, a fim de dar a uma realidade terrível o manto do direito, da virtude, da divindade ... Vejo todos os filósofos, vejo a ciência curvada diante da realidade da luta pela existência que se mostra como a inversa daquela que ensina a escola de Darwin - a saber, por toda parte estão em cima, por toda parte restam aqueles que comprometem a vida, o valor da vida. - O erro da escola de Darwin tomou-se, para mim, o problema: como é que se pode ser cego a ponto de ver precisamente aqui de maneira falsa?... O fato de as espécies representarem um progresso é a afirmação irracional do mundo: elas representam expressamente um nível o fato de os organismos superiores terem se desenvolvido a partir dos inferiores não foi comprovado por nenhum caso até aqui vejo que os inferiores preponderam por meio da quantidade, por meio da inteligência, por meio da astúcia - não vejo como uma transformação casual ofereceria uma vantagem, ao menos não por um longo tempo, esse seria uma vez mais um novo motivo a explicar: por que uma transformação casual teria se tomado de tal forma forte - encontro a "crueldade da natureza", da qual tanto se fala, em outro lugar: ela é cruel em relação aos seus felizardos, ela poupa, protege e ama les humbles2l2 - totalmente como - - -
••• Em suma: o crescimento do poder de uma espécie é muito menos garantida pela preponderância de seus felizardos do que 232 N.T.: Em francês no original: os humildes.
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pela preponderância dos tipos medianos e inferiores... Nesta última está a grande fertilidade, a duração; com a primeira cresce o perigo, a rápida desertificação, a diminuição numérica veloz .
....
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Contramovimento Sobre a origem da religião Da mesma maneira com a qual agora o homem inculto ainda acredita que a fúria seria a causa do que ocorre quando ele se enfurece; o espírito, a causa do fato de que ele pensa; a alma, do fato de que ele sente; em resumo, assim como ainda é estabelecido hoje sem hesitar em uma gama de entidades psicológicas quais devem ser as causas: o homem explicava em um estágio ainda mais ingênuo os mesmos fenômenos com o auxilio de entidades pessoais psicológicas. Os estados, que lhe pareciam estranhos,
aJTebatadores, imponentes, eram justificados para si como obsessão e encantamento sob o poder de uma pessoa. Assim, o cristão, o tipo de homem atual mais ingênuo e atrasado em termos de formação, reconduziu a esperança, a calma, o sentimento da "redenção" a urna inspiração psicológica de Deus: nele, como um tipo essencialmente sofredor e il!lquictante, os sentimentos de felicidade, de elevação e de calma :se mostram como o alheio, como aquilo que é carente de explicação. Entre raças inteligentes, fortes e cheias de vida, o epiplético foi quem mais despertou a convicção de que aqui estaria em jogo um poder es1ra11ho; mas também toda e qualquer falta de liberdade similar, por exemplo, a falta de liberdade do entusiasmado, do poeta, do grande criminoso, das paixões como o amor e a vingança também serve à invenção de poderes extra-humanos. Concretiza-se um estado cm uma pessoa: e se afinna que esse estado, quando ele aparece em nós, seria o efeito daquela pessoa: na fonnaç:ão psicológica divina, um estado é personificado como causa, a fim de se mostrar como efeito. A lógica psicológica é a seguinte: o sentimento do poder, quando ele se abate de maneira repentina e imponente sobre os homens - e esse é o caso em todos os grandes afetos - desperta
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nele uma dúvida cm relação à sua pessoa: ele não ousa se pensar como causa desse sentimento espantoso - e, assim, ele estabelece uma pessoa mais forte, uma divindade para esse caso. Em suma: a origem da rel.igião reside nos sentimentos extremos do poder, que surpreendem o homem como estranhos: e como o doente, que sente um membro pesado demais e estranho e chega à conclusão de que outro homem estaria acima dele, o homo religiosus ingênuo se explicita em muitas pessoas. A religião é um caso da "altération de la personnalité".2 )3 Uma espécie de sentimento de medo e de horror diante de si mesmo ... Mas do mesmo modo um sentimento de felicidade e de altivez extraordinàrio. Entre doentes, o sentimento de saúde é suficiente para acreditar em Deus, na proximidade de Deus. 14 (125) Psicologia rudimentar do homem religioso
Todas as transfonnaçõcs são efeitos. Todos os efeitos são efeitos volitivos. Falta o conceito "natureza", "lei da natureza". A todos os efeitos pertence um agente Psicologia rudimentar: só se é por si mesmo causa onde se sabe que se quis. Consequência: os estados do poder imputam ao homem o sentimento de não ser a causa, de não ser responsável por isso : eles chegam sem serem queridos: consequentemente, nós não somos os autores : a vontade desprovida de liberdade (isto é, a consciência de uma transfonnação conosco, sem que nós a tenhamos querido) carece de uma vontade alheia Consequência: o homem não ousou atribuir a si todos os seus momentos fortes e espantosos - ele os concebeu como "passivos", como "sofridos", como coisas que se impõem : a religião é uma excrescência de uma dúvida na unidade da pessoa, uma alteração da personalidade 233 N.T.: Em franeês no original: "Alteração da personalidade".
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: na medida em que tudo o que há de grande e forte do homem foi concebido como sobre-humano, como alheio, o homem se apequena - ele dissocia os dois lados, um lado bastante deplorável e fraco e um forte e espantoso em duas esferas; a primeira se chamava "homem"; a segunda, "Deus". Ele sempre prosseguiu esse movimento, ele não interpretou, no período da idiossincrasia moral, seus estados morais elevados e sublimes como "queridos", como "obra" da pessoa. Mesmo o cristão dissocia sua pessoa em uma ficção mesquinha e fraca, que ele denomina homem, e em outra, que ele chama de Deus (redentor, salvador) A religião rebaixou o conceito "homem"; sua extrema consequência é o fato de que tudo o ,que é bom, grande, verdadeiro é sobre-humano e foi presenteado apenas por uma graça ... 14 (126)
Contramovirnento; re!igiiio Moral como tentativa de produzir o orgulho humano
A teoria da "vontade livre" é antirreligiosa. Ela quer criar para o homem o direito de poder pensar a si mesmo como causa de seus estados e ações elevadas,; ela é uma forma do sentimento crescente de orgulho O homem sente seu poder, sua "felicidade", como se diz: ele precisa ser "vontade" diante desse estado - senão, ele não lhe pertence A virtude é a tentativa de estabelecer um fato do querer e do ter querido como um antecedente necessário antes de todo sentimento de felicidade elevado e forte Se a vontade de certas ações está regularmente presente na consciência, então wn sentimento de poder pode ser interpretado como seu efeito Essa é uma mera ótica da psicologia: sempre sob o falso pressuposto de que nada nos pertence que não tenhamos como querido na consciência Toda a doutrina da responsabilidade está baseada nessa psicologia ingênua, segundo a qual só a vontade é causa e se precisa saber t.er querido, a fim de poder acreditar em si como causa
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O homem só tem o direito de ter estima por si na medida em que ele é virtuoso. O movimento contrário: o movimento dos füósofos morais se encontra sob o domínio do mesmo preconceito de que só se é responsável por aquilo que se quis O valor do homem estipulado como valor moral: consequentemente, sua moralidade precisa ser uma causa prima Consequentemente, precisa haver um princípio no homem, uma "vontade livre" como causa prima Há aqui sempre o pensamento velado: se o homem não for causa prima como vontade, então ele é irresponsável - consequentemente, ele não pertenceria de modo algum ao fórum moral - a virtude ou o vicio seriam automãticos ou maquinais ... Em suma: para que o homem possa ter estima diante de si, ele precisa ser capaz de se tomar mau também
14 (127) Uma forma da religião, para produzir o orgulho popular Outro caminho para retirar o homem de sua humilhação trazida consigo pela perda dos estados elevados e fortes, assim como dos estados alheios, foi a teoria do parentesco : esses estados elevados e fortes podiam ao menos ser interpretados como efeitos de nossos antepassados, nós pertencemos uns aos outros, solidariamente, nós crescemos aos nossos próprios olhos, na medida em que agimos segundo regras conhecidas por nós. Tentativa de familias nobres de equiparar a religião à sua dignidade própria. A transfiguração, a metamorfose temporária - O mesmo é feito pelos poetas e videntes, eles se sentem orgulhosos, dignificados e escolhidos para tal contato - eles dão valor a não serem considerados de maneira alguma como indivíduos, de serem meros bocais (Homero) Ainda uma forma de religião. O Deus escolhe, o Deus se toma homem, ou Deus mora junto com os homens, legando grandes feitos benéficos, as lendas do lugar, apresentadas eternamente como "drama"
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Apossar-se gradualmente de seus estados elevados e orgulhosos, apossar-se de suas ações e obras - outrora, as pessoas acreditavam estar prestando honras a si, quando não se sabiam responsáveis pelas coisas supremas que elas faziam, mas - Deus A não liberdade da vontade era considerada como aquilo que emprestava a uma ação um valor mais elevado: outrora, um deus ti.nha sido transformado em seu autor... 14 (128)
Vontade de poder - moral A encenaçÕI) como consequência da moral da "vontade livre" Trata-se de um passo no desenvolvimento do sentimento de poder mesmo ter causado por si mesmo os seus estados elevados (sua perfeição) - consequentemente, concluiu-se imed.iatamente que se tinha querido ... Critica: toda ação perfeita é claramente inconsciente e não mais que.rida, a consciência expressa um estado pessoal imperfeito e com frequência doentio. A perfeição pessoal como con• dicionada pela vontade, como estar consciente, como ra1..ão com dialética, é uma caricatura, uma espécie de autocontradição ... O grau de consciência toma, sim, a perfeição impossível ... Forma da teatralidade. 14 (129)
Filosofia como decadência Por que tudo conflui para a teatralidade? A psicologia rudimentar, que só é calculada pelos momentos conscientes do homem, como causas que o "ser consciente" tomou como atributos da alma, a qual buscou uma vontade (isto é, uma intenção) por detrás de todo fazer : ela só tinha a necessidade de responder: cm primeiro lugar, o que quer o homem? Resposta: a felicidade (- não se podia dizer "poder": isso teria sido imoral) - consequentemente, há em todo agir do homem uma intenção de alcançar com a ação a felicidade -
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em segundo lugar, se o homem não alcança de fato a felicidade, por que isso acontece? Por conta dos enganos em relação aos meios. Qual é infalivelmente o meio para a felicidade? Resposta: a virtude. Por que a virtude? Porque ela a racionalidade suprema e porque racionalidade toma impossivel o erro de se equivocar com os meios como razão, a virtude é o caminho para a felicidade ... a dialética é o artesanato ,constante da virtude, porque ela exclui todo turvamento do intelecto, todos os afetos De fato, o homem não quer a "felicidade"... Prazer é um sentimento de poder: quando se excluem os afetos, também se excluem os estados que propiciam da maneira mais elevada possível o sentimento do poder e, consequentemente, o prazer. a racionalidade suprema l: um estado frio, claro, que está distante de promover aquele sentimento de felicidade que a embriaguez traz consigo... os filósofos antigos combatem tudo aquilo que embriaga - o que prejudica a frieza e a neutralidade absolutas da consciência... eles eram consequentes, com base em seu pressuposto falso: com base no pressuposto de que a consciência seria o estado elevado, o estado supremo, o pressuposto da perfeição, enquanto o contrário é que é verdadeiro ... Enquanto queremos, enquanto sabemos, não há nenhuma perfeição no fazer de um tipo qualquer. Os filósofos antigos foram os maiores ignorantes da·práxis, porque eles se condenaram teoricamente à ignorância ... Na práxis, tudo contlu!a para a teatralidade: - e quem vislumbrou isso criticwnente, como Pirro, por exemplo, julgou como qualquer um, a saber, que na bondade e na justiça as "pessoas pequenas" estavam muito acima dos filósofos Todas as naturezas mais profundas da Antiguidade tiveram nojo pelo filósofo da virtude: viram-se bodes de briga sem chifres e atores neles.
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Juízo sobre Platão: por parte de Epicuro por parte de Pirro Resultado: na práxis da vida, na tolermcia, na bondade e no fomento mútuo, as pessoas pequenas se acham acima deles: mais ou menos o juízo que Dostoiévski ou Tolstoi requisitaram para os seus mujiques: eles são mais filosóficos na prática, eles possuem um modo de ser mais corajoso de se haver com as necessidades. 14 (130)
Contramovimento: religião Moral como decadência Reação das pessoas pequenas: O supremo sentimento de poder é dado pelo amor É preciso compreender em que medida não fala aqui o homem em geral, mas um tipo de homem. É preciso desenterrar e ver mais detidamente esse tipo "nós somos divinos no amor, nós nos tomamos 'filhos de Deus', Deus nos ama e não quer outra coisa de nós senão amor" ou seja: nenhuma moral, :nenhuma obediência e ação trazem à tona aquele sentimento de poder e liberdade como o traz à tona o amor - não se füz nada terrível por amor, se faz muito mais do que se faria por obediência e virtude - aqui a felicidade de rebanho, o sentimento de comunidade no grande e no pequeno, o sentimento uno vivente é experimentado como soma do sentimento de vida - o ajudar, o cuidar e o usar despertam continuamente o sentimento do poder, o sucesso visível, a expressão da alegria sublinha o sentimento do poder - o orgulho não falta, como comunidade, como local de moradia de Deus, como "escolhido". De fato, o homem vivenciou uma vez mais uma alteração da personalidade: dessa vez, ele denominou seu sentimento amor Deus Precisa-se pensar um despert.ar de tal sentimento, uma espécie de encantamento, um discurso alheio, um "evangelho" -
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Foi essa novidade que não lhe pennitiu acrescentar a si o amor - : ele achava que Deus perambulava diante dele, e nele teria se tomado vivo "Deus vem aos homens", o "mais próximo" é transfigurado em um deus (nessa medida se desencadeia nele o sentimento do amor). Jesus é o mais próximo, assim como esse mais próximo foi repensado como divindade, como causa que desperta um sentimento de poder 14 (131)
Ciência e filosofia Científicidade: como roupagem ou como instinto. Nos filósofos gregos, vejo um declínio dos instintos: senão, eles não teriam podido se equivocar de tal forma a ponto de estabelecer o estado consciente como o estado mais plenamente valoroso A intensidade da consciência encontra-se na relação inversa com a levet.a e a rapidez da transmissão cerebral. Lá imperava a opinião inversa acerca do instinto: o que é sempre o sinal de instintos enfraquecidos. Precisamos buscar de fato a vida plena lá onde se é o menos possível mais consciente (isto é, lã onde se apresenta sua lógica, seus fundamentos, seus meios e intenções, sua utilidade) O retomo ao fato do bon sens, do bon homme, das "pessoas pequenas" de todos os tipos Justiça e astúcia inseridas em magazines há gerações, que nunca se conscientizam de seus princípios e que têm mesmo um pequeno estremecimento diante de princípios A exigência por uma virtude raciocinante não é razoável... Um filósofo está comprometido com tal exigência. 14 (132)
Quando se acumulam por meio de exercício em uma longa cadeia de gerações suficientemente fineza, coragem, cautela e moderação, a força instintiva dessa virtude incorporada também se irradia ainda para o interior do elemento espiritual - e aquele fenômeno raro se toma visível, ajustiça intelectual. Esse fenômeno mesmo é muito raro: ele falta nos filósofos.
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Pode-se colocar em uma balança de ouro a cientificidade ou, expressa em termos morais, ajustiça intelectual de um pensador, sua fineza, coragem, cautela e moderação, que se tomaram instintivas e que se traduzem ainda no elemento maximamente espiritual: fazem-nas falar de modo moral... E os mais célebres fil6so fos mostram, então, que s6 sua cientificidade se mostra pela primeira vez como uma coisa consciente, um ponto de partida, uma "boa vontade", um suplício - e que justamente no instante em que seu instinto começa a falar, em que eles moralizam, chega-se ao fim do cultivo e da fineza de sua consciência moral. A cientificidade, quer mera roupagem e lado exterior, quer o resultado final de um longo cultivo e de um exercício da moral: No outro caso, ela se toma imediatamente caduca, quando o instinto fala (por exemplo, o instinto religioso ou o instinto inerente ao conceito de dever)
No outl'o caso, ela se eneonll'a no lugar desses instintos e não os admite mais, ela os experimenta como falta de asseio e como seduções ... 14 (133) Anti-Darwin A domesticação do homem: que valor definitivo ela pode
ter? Ou será que uma domesticação tem efetivamente um valor definitivo? - Têm-se razões de negar esta última questão. A escola de Darwin realiza, em verdade, um grande trabalho para nos convencer do contrário: ela quer que o efeito da domesticação possa se tomar profundo, sim, fundamental. No entanto, mantemo-nos junto ao antigo: não se demonstrou nada até aqui senão um efeito totalmente superficial por meio da domesticação - ou, porém, a degenerescência. E tudo aquilo que escapa da mão e do cultivo humanos retoma quase que imediatamente uma vez mais para o seu estado natural. O tipo permanece constante: não se pode "dénaturer la nature''.214 234 N.T.: Em francês no original: desnaturar a natureza.
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Na luta pela exi.stência, conta•se com a morte dos seres fracos e com a sobrevivência dos mais robustos e dotados melhor; consequentemente, imagina-se um constante crescimento da perfeição para a essência. Nós nos asseguramos inversamente de que, na luta pela vida, o :acaso serve tão bem aos fracos, quanto aos fortes, que a astúcia provê a força com frequência com mérito, que a fertilidade dos gêneros se encontra cm uma relação estranha com as possibilidades da destruição ... Atribuem-se à seleção natural ao mesmo tempo metamorfoses lentas e infinitas: quer-se acreditar que toda vantagem se lega e se expressa cada vez mais intensamente em gerações subsequentes (enquanto a hereditariedade é tão caprichosa... ); consideram-se as adaptações felizes de certos seres às condições de vida muito particulares e se explica que elas são alcançadas por meio da influência do mili.eux. Não se encontram, porém, exemplos da seleção inconsciente em parte alguma (não de modo algum). Os indivíduos mais disparatados se unem, os extremos se misturam na massa. Tudo concorre para manter o tipo; seres, que possuem sinais exteriores, que os protegem contra certos perigos, não perdem esses sinais quando eles se encontram sob circunstâncias nas quais vivem sem perigo... Quando eles habitam lugares nos quais o vestido cessa de cobri-los, eles não se aproximam de maneira alguma do meio. Exagerou-se a seleção dos mais belos de uma maneira tal que ela se lança muito para além do impulso à beleza de nossa própria raça! De fato, o mais belo acasala-se com criaturas bastante deserdadas, o que há de maior com o que há de menor. Quase sempre vemos homenzinhos e mulherzinhas tirarem proveito de todo e qualquer encontro e não se mostrarem de maneira alguma seletivos. Não há nenhuma forma de transição ... Diversos tipos reconduzidos a uma e mesma coisa. A experiência diz que a união condena à esterilidade e que um tipo se toma uma vez mais senhor. Afirma-se o desenvolvimento crescente dos seres. Falta todo fundamento. Cada tipo tem seu limite: para além desse
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limite não há nenhum desenv,olvimento. Até aí há absoluta regularidade. Os seres primitivos devem ser os antecessores dos atuais. Mas uma visão da fauna e da flora do período Terciário só permite pensar nelas como uma terra ainda insondada, na qual há tipos que em outros lugares não existem e que são aparentados entre si e aqueles que existem em outro lugar. Minhas consequências Meu pomo de vista como um todo. - Primeira sentença: o
homem como gênero não está em progresso. Tipos mais elevados são com certeza alcançados, mas não se mantêm. O nível da espécie não é elevado. Segunda sentença: o homem como gênero não representa nenhum progresso em comparação com algum outro animal qualquer. O mundo de animais e plaotas como um todo não se desenvolve do mais inferior ao superior... Mas tudo ao mesmo tempo, e um sobre o outro, um através do outro e um contra o outro. As formas mais ricas e complexas - pois a expressão "tipo superior" não significa mais do que isso - perecem facilmente: somente as mais baixas mantêm uma imperecibilidade aparente. As primeiras só são alcançadas raramente e só se mantêm com dificuldade em cima: as outras têm por si uma fertilidade promissora. - Mesmo na humanidade, a partir de um ser a favor ou contra alternante, os tipos mais elevados, os casos fortuitos do desenvolvimento, são os que mais facilmente perecem. Eles são expostos a todo tipo de decadência: eles são extremos e, com isso, eles mesmos já são quase decadentes ... A curta duração da beleza, do gênio, do César, é sui generis: algo desse gênero não se lega. O tipo pode ser legado; um tipo não é nada extremo, nenhum "caso fortuito" ... Isso não tem sua razão de ser em nenhuma fatalidade particular e em uma "má vontade" da natureza, mas simplesmente no conceito de "tipo superior": o tipo superior representa uma complexidade incomparavelmente maior - uma grande soma de elementos coordenados: com isso, mesmo a desagregação se torna mais provável.
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O "gênio" é a máquina mais sublime que existe - consequentemente, a mais quebradiça. Terceira sentença: a domesticação ("a cultura") do homem não vai fundo ... Aonde ela vai fundo, ela é imediatamente a degenerescência (tipo: o Cristo). O homem "selvagem" (ou, expresso moralmente: o homem mau) é seu retomo à natureza - e, em certo sentido - sua reprodução, sua cura da "cultura". 14 (134)
Filosofia como decadência Por que os filósofos são caluniadores? A hostilidade pérfida e cega contra os sentidos Não são os sentidos que enganam! - nosso nariz do qual, até onde sei, nenhum filósofo falou ainda com respeito é por vezes o instrumento fisico mais delicado que hâ: ele consegue constatar vibrações, onde mesmo o espcctrosc6pio é impotente. O quanto de plebe e de burguesia há em todo esse ódio! O povo sempre considera um abuso, do qual ele sente a presença de consequências ruins, como objeção contra aquilo que foi abusado: todos os movimentos revoltosos contra principios, seja no âmbito da política, seja no âmbito da ciência, sempre argumentam de modo a apresentar, juntamente com os pensamentos reservados, um abuso como necessário e inerente ao princípio. Trata-se de uma história cheia de lamentos: o homem busca um principio a partir do qual ele possa desprezar o homem - ele inventa um mundo, a fim de poder caluniar e macular esse mundo: de fato, ele se atém todas as vezes ao nada e constrói o nada, transformando-o em "D.cus", em "verdade" e, em todo caso, cm juiz e condenado desse ser... Caso se queira uma prova de o quão profunda e fundamentalmente as necessidades propriamente bárbaras do homem também buscam satisfação ainda em sua domesticação e "civilização": basta considerar as "motivações" diretrizes de todo o desenvolvimento da filosofia. Uma espêcie de vingança ante a realidade efetiva, um WTuinar insidioso da valoração na qual o
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homem vive, uma alma insatisfeita, que experimenta os estados da domesticação como tortura e tem sua volúpia em um desatar de todos os liames que com ela estabelecem associações. Ahistória da filosofia é um enfarecer-se secretamente contra os pressupostos da vida, contra os sentimentos de valor da vida, contra o tomar partido em favor da vida. Os filósofos nunca hesitaram cm afirmar um mundo, contanto que ele contradissesse esse mundo, contanto que ele fornecesse um pretexto para se falar mal desse mundo. Essa foi até aqui a maior escola da caluniação: e ela se impôs a tal ponto que noss:a ciência, fazendo-se passar pela defensora da vida, aceitou ainda boje a posição fundamental da calúnia e manipulou esse mundo como aparente, essa cadeia causal como meramente fenomenal. O que odeia ai propriamente?... Temo que seja sempre ainda a Circe dos filósofos, a moral, que fez por eles essa jogada, forçando-os em todos os tempos a serem caluniadores... Eles acreditavam nas "verdades" morais, eles encontravam ai os valores supremos - o que lhes restava senão dizer cada vez mais não à existência, quanto mais eles a compreendiam?... pois essa existência é imoral... E essa vida baseia-se em pressupostos imorais: e toda moral nega a vida - Eliminemos o mundo verdadeiro: e, para podermos fazer isso, temos de eliminar os valores supremos até aqui, a moral ... É suficiente comprovar que mesmo a moral é imoral, no sentido em que o imoral foi condenado até aqui. Se a tirania dos valores até aqui é rompida dessa maneira, se eliminarmos o "mundo verdadeiro", então precisará se seguir a isso uma nova ordem dos valores. N.B. O mundo aparente e o mundo mendaz: essa é a oposição: este último se chamou até aqui o "mundo verdadeiro", a "verdade", "Deus". Foram eles que eliminamos. 14 (135) Lógica de minha concepção 1) Moral como valor supr.emo (senhora sobre todas as fa. ses da filosofia, mesmo sobre os céticos): resultado: esse mundo não serve para nada, ele não é o "mundo verdadeiro"
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2) O que determina aqui o valor supremo? O que é propriamente a moral? O instinto da decadência são os esgotados e deserdados, que se vingam dessa maneira Comprovação histórica: os filósofos são sempre decadentes ... a serviço das religiões niilistas. 3) O instinto da decadência, que entra em cena como vontade de poder. Prova: a imoralidade absoluta dos meios em toda a história da moral. II. Reconhecemos em tod.o o movimento apenas um caso especiol da vontade de poder. 14 (136)
A vontade de poder Tentativa
De uma transvaloração de todos os valores.
r.
Critica dos valores até aqui
n.
O novo principio do valor. Morfologia da "vontade de poder"
Ili. Questão acerca do valor de nosso mundo moderno : medido segundo esse princípio IV. A grande guerra
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Primeiro livro Que valores estiveram em cima até aqui. 1) Moral como valor supremo, em todas as fases da filosofia (mesmo junto aos céticos) Resultado: esse mundo não serve para nada, precisa haver um "mundo verdadeiro" 2) O que determina aqui, propriamente, o valor supremo? O que é propriamente a moral? O instinto da decadência são os
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esgotados e deserdados, que se vingam dessa maneira e que fa. zem os senhores... Comprovação histórica: os filósofos sempre decadentes, sempre a serviço das religiões niilistas. 3) O instinto da decadência, que entra cm cena como vontade de poder. Apresentação de seu sistema dos meios: absoluta imoralidade dos meios. Visão conjunta: os valores supremos até aqui são um caso especial da vontade de poder; a moral mesma é um caso especial da imoralidade. Segundo livro Por que os valores contrários sempre se encontraram abaixo. 1) Como é que isso foi propriamente possíven Questão: por que a vida se encontrava embaixo, a boa constituição fisiológica cm geral? Por que não havia nenhuma filosofia do sim, nenhuma religião do sim?... Os indícios históricos de tais movimentos: A religião pagã Dioniso contra o ''crucificado" O renascimento A arte 2) Os fortes e os fracos: os saudáveis e os doentes; a exceção e a regra. Não há nenhuma dúvida acerca de quem é o mais forte ... Aspecto conjunto da história. O homem é, com isso, uma exceção na história da vida? - Protesto contra o danvinismo. Os meios dos fracos, para se manterem em cima, se tomaram instintos, se transfonnaram na "humanidade", se tornaram "instituições"... 3) Comprovação desse domlnio em nossos instintos pol!ticos, em nossos juízos de valor sociais, em nossas artes, em nossa ciência. Nós vimos duas "vontades de poder" em luta; no caso especial: temos um princípio, dar o direito a algo que até aqui esteve por baixo e negar o direi.to ao que até aqui venceu: reconhecemos o "mundo verdadeiro" como um "mundo mendaz", e a moral, como umaforma da imoralidade. Não dizemos: "o mais forte não tem razão" ... Terceiro livro O que são a causa de todos os valores e a diversidade entre os valores. 1) os valores niilistas estilo cm cima
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2) o contramovimento está sempre inferiorizado - logo, degenerado ... 3) O contramovimento até aqui só foi conhecido em formas parciais e degradadas. Purificação e reprodução de seu tipo. Expressão mais precisa do sistema: Psicologia História Arte
Política 14 (138)
3) Purificação dos valores até aqui inferiores Nós compreendemos o que determinou até aqui o valor supremo e por que ele se assenhoreou da valoração contrária Purifiquemos agora a val compreende, o que passa a dominar é a inteligência ou a verdade? A demonstração da força (isto é, das vantagens que urna crença traz consigo), ou das--Eoque faz os mánires é o instinto da verdade ou, inversamente, uma falta de organização interior, a falta de tal instinto? Nós consideramos os mártires uma espécie inferior: não faz sentido algum demonstrar uma convicção; mas o que importa é demonstrar que se tem o direito de ter uma convicção... A convicção é uma desculpa, um ponto de interrogação, um défi,236 tem-se de demonstrar que não se está apenas convencido - de que não se é apenas louco... A morte na cruz não demonstra nenhuma verdade, apenas uma convicção, apenas uma idiossincrasia (- um erro bastante popular: ter a coragem para a sua convicção - ? Mas ter a coragem para atacar a sua convicção!!! 14 (160) Religião como decadência - a convicção Critica à mo:rtc sacrificial Nós morrerlamos hoje po:r algumas coisas, sem fazer esse sacrifício de maneira muito festiva, nos é estranho realizar um culto idolátrico com tais coisas, simplesmente porque elas ex i236 N.T.: Em franeês no original: um desafio.
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gem homens... A famosa "terra pátria" é paga bem caro: a ainda mais famosa "ciência" que, como pressuponho, ainda poderia se mostrar algum dia até mesmo como mais dispendiosa do que o conceito "terra pátria" Uma morte por um - - É necessário ter razão para continuar com a razão? Ao contrãrio! E abstraindo-se daí, isso se chama ser imodesto. Não se precisa querer honras demais ... Mas todos esses grandes sábios eram modestos: - eles simplesmente continuavam com a razão... Vós achais que uma coisa se torna honrosa pelo fato de sua honra ser paga com vossa vida? ... Um erro que se torna honroso é um erro que possui mais uma arte da sedução! Vós acreditais que desejaremos vos encorajar a uma morte sacrificial por vossa "verdade"?... Exatamente essa foi a burrice histórica de todos os pcrsecutores: eles obrigaram seus adversários a se tornarem heróis ... eles transformaram toda burrice em fetiche para a humanidade ... A mulher ainda se encontra hoje de joelhos diante de uma doutrina cujo mestre morreu na cruz... A cruz é uma prova? Certo grau de crença nos é suficiente hoje como desculpa contra aquilo em que se acredita, ainda mais como ponto de interrogação cm relação à saúde espiritual do crente: "as convicções firmes como a rocha" pertencem quase sempre ao manicômio. 14 (161)
Não pretendo de maneira alguma, como alguém que estâ em condições de uma vez mais colocar as coisas cm ordem que ele um dia deixou passar, ir no tempo certo para uma boa escola. Alguém assim não conhece a si mesmo; ele passa pela vida sem ter aprendido a andar; o músculo dormente revela-se ainda em todo passo. Ao mesmo tempo, a vida é tão misericordiosa para resgatar essa dura escola: anos a fio de uma enfermidade talvez, que desafia a mais extrema força de vontade e autossuficiência; sem uma situação de emergência que repentinamente irrompe, ao mesmo tempo para a mulher e para a criança, uma situação que impõe uma atividade, que dá uma vez mais energia para as veias adormecidas e reccnquista para a vontade de vida a lena-
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cidade ... Sob todas as circunstâncias, o mais desejável continua sendo uma disciplina rígida no tempo certo, ou seja, em uma idade ainda na qual dâ orgulho ver muitas coisas serem exigidas de si. Pois isso distingue a escol.a rígida como uma boa escola de todas as outras: o fato de se exigir muito; o fato de se exigir rigorosamente; o fato de o bom, o distinto mesmo ser exigido como normal; o fato de o elogio ser rato, de faltar a indulgência; o fato de a repreensão ganhar voz de maneira aguda, objetiva, sem levar em conta talento e origem. Tem-se necessidade de tal escola em todos os aspectos: isso é válido tanto para o elemento corporal quanto para o espiritual: seria fatídico querer fazer aqui cisões! A mesma disciplina toma apto o militar e o erudito: e, visto mais de perto, não há nenhum erudito hábil, que não tenha no corpo os instintos de um habilidoso militar... manter-se na fila e na ordem, mas ser capaz de avançar a qualquer momento; o perigo de privilegiar o conforto; não pesar o pen:nitido e proibido em uma balança de comerciante; ser mais inimigo do mesquinho, esperto, parasita do que do mal. .. - O que se aprende em tal escola dura? Obedecer e comandar - - 14 (162)
Fi/6sofo Pirro, o homem mais suave e mais paciente que jamais viveu entre os gregos, um budista. apesar de grego, um Buda mesmo, só foi tirado do sério uma única vez; por quem? - por sua irmã, eorn a qual ele vivia: ela era parteira. Desde então, o que os filósofos mais temem passou a ser a irmã - a irmã! bmã I Soa tão tenivel! - e a parteira!... (origem do celibato). 14 (163)
(Sobre o capitulo: religião como decadência) A moral religiosa O afeto, o grande desejo, as paixões do poder, do amor, da vingança, da posse - : os moralistas querem extingui-los, purificar a alma deles
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A lógica é: esses desejos promovem com frequência uma grande desgraça - consequentemente, eles são maus, reprováveis. O homem precisa se livrar deles: antes disso, ele não pode ser um bom homem ... Essa é a mesma lógica que: "se um membro te irrita, arranca-o fora". No caso particular, tal como acontece com aquela perigosa "menininha pura e ingênua do interior", o fundador do cristianismo aconselhava seus discípulos à práxis. No caso da irritação sexual, porém, não se segue a isso infelizmente apenas a falta de um membro, mas também o fato de o caráter do homem ser castrado... E o mesmo vale para a loucura dos moralistas, que, ao invés da domesticação, exige a extirpação das paixões. Sua conclusão é sempre: só o homem castrado é o bom homem. Ao invés de tomar a seu serviço o seu poder, esse modo de pensar maximamente míope e degenerado, o modo de pensar da moral, procura esgotar as grandes fontes de força, aquelas corre-
deiras com frequência tão perigosas e imponentes da alma. 14 (164)
Os curandeiros cristãos da moral Compaixão e desprezo seguem-se em uma alternãncia rápida, vez por outra me sinto indignado, como se estivesse diante da visão de um belo crime. Aqui, o erro se transformou em dever - cm virtude-, o engano se transformou em jeito, o instinto de destruição foi sistematizado como "redenção"; aqui, a partir de cada operação surgiu um ferimento, uma extirpação mesmo de órgãos, cuja energia é o pressuposto de todo retomo da saúde. E, na melhor das hipóteses, não há salvação, mas uma série de sintomas do mal é apenas trocada por outra... E esse disparate perigoso, o sistema da profanação e da mutilação da vida, é considerado sagrado, intocável; viver a seu serviço, ser instrumento dessa medicina, ser sacerdote distingue, torna honnível, torna sagrado e por si mesmo intocável. Apenas a diivindade pode ser a autora dessa medicina suprema: a redenção só é concebível como revelação, como uma espécie de graça, como presente imerecido, que é feito para a criatura.
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Primeira proposição: a saúde da alma é vista como doença, com desconfiança ... Segunda proposição: os pressupostos para uma vida forte e florescente, para os desejos e paixões fortes, são considerados como objeções a uma vida forte e florescente Terceira proposição: tudo aquilo a partir do que um perigo ameaça o homem, tudo aquilo que pode se assenhorear dele e pode levá-lo a perecer, é mau, é reprovável - precisa ser arrancado de sua alma com a raiz. Quarta proposição: o homem, tornado inofensivo, derrubado e forçado à humildade e à modéstia, consciente de suas fraquezas, o "pecador" - é o tipo mais desejável, aquele que também se pode produzir com alguma cirurgia da alma ... 14 (165)
A coragem. [.
Distingo a coragem diante de pessoas, a coragem diante de coisas e a coragem diante do papel. Este último tipo de coragem foi, por exemplo, a coragem de David Strauss. Distingo, uma vez mais, a coragem diante de testemunhas e a coragem sem testemunhas: a coragem de um cristão, de um crente cm Deus em geral, nunca pode prescindir de testemunhas - já por meio dal, ela se mostra como degradada. Distingo, finalmente, a coragem por temperamento e a coragem :por temor ante o temor: um caso particular desta última espécie de coragem é a coragem moral. Além disso, há ainda a coragem por desespero. Wagner como sedutor. 2.
Wagner tinha essa coragem. Sua situação diante da música era, no fundo, desesperada. Faltavam-lhe as duas coisas capazes de tomar alguém um bom músico: natureza e cultura, a determinação prévia para a música e o cultivo e a educação para a música. Ele tinha coragem: ele fez dessa falha um princípio - ele inventou para si um gênero musical. A "música dramática", tal
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como ele a inventou, é a música ,que ele podia fazer... seu conceito são os limites de Wagner. E as pessoas o compreenderam mal - as pessoas o compreenderam mal? ... Cinco sextos dos artistas modernos cairam em sua annad.ilba. Wagner é seu salvador: aliás, cinco sextos representam o "número mínimo". Sempre que a natureza se mostrou inexorável e sempre que, por outro lado, a cultura permaneceu um acaso, uma tentativa, um diletantismo, o artista se voltou com instinto, o que e·stou dizendo?, com entusiasmo para Wagner: "em parte, ele o atraiu; em parte, ele aí caiu", como diz o poeta. 2.
O sucesso de Wagner é um grande sedutor. Se pensarmos no caso em que esse sedutor aprende a falar, em que ele se coloca na figura de um amigo inteligente e de um conselheiro moral de jovens músicos, que portam uma pequena fatalidade na profundidade de seu cu - e já o ouvimos falar, cm termos familiares, pequeno-burgueses, de uma tolerância angelical para todas as "pequenas fatalidades" ... 14 (166)
Motivo para um quadro. Um motorista. Paisagem de inverno. O motorista derruba com uma expressão do mais irreverente cinismo a sua água sobre o seu próprio cavalo. A pobre criatura violentada movimenta a cabeça por isso e olha - agradecida, muito agradecida ... 14 (167)
Wagner como problema. Wagner o ator. Isso se tomou popular Wagner como modelo. Wagner como sedução. Música como mimica. Todo pensamento - - -
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14 (168) O mundo verdadeiro e o mundo aparente Esboço de um primeiro capítulo
A. As seduções que partem desse conceito são de três tipos: um mundo desconhecido: - somos aventureiros, curiosos- o que é conhecido parece nos deixar cansados (- o perigo do conceito reside no fato de "este" mundo se nos insinuar como conhecido ... um outro mundo, onde as coisas são diversas: - verifica-se por meio de um novo cálculo a.lgo em nós, nossa entrega silenciosa, nosso silêncio perde nesse cálculo seu valor - talvez tudo fique bem, talvez não tenbamo:s alimentado esperanças vãs... o mundo, onde as coisas são diversas, onde nós mesmos - quem sabe? - somos diversos... um mundo verdadeiro: temos aqui o golpe e o ataque mais estranhos, que podem ser feitos a nós; há tanta coisa incrustada na palavra "verdadeiro" que involuntariamente também presen, teamos ao "mundo verdadeiro": o mundo verdadeiro também precisa ser um mundo veraz, um mundo tal, que não nos engane, que não nos faça de tolos: acreditar nele é quase precisar acreditar nele (- por decoro, como acontece entre seres confiáveis - ) o conceito do ''mundo desconhecido" nos insinua este mundo como "conhecido" (- como entediante - ) o conceito do "outro mundo" se insinua, como se o mundo pudesse ser diverso - suspende :a necessidade e o fato (- inútil se entregar, se adaptar - ) o conceito do "mundo verdadeiro" insinua este mundo como um mundo inverídico, enganador, fraudulento, inautêntico, inessencial - e, consequentemente, também como um mundo não afeiçoado à nossa utilidade (- desaconselhável se adaptar a ele, melhor: contrariar a ele) nós nos subtraiamos, portanto, de três formas a este mundo: com nossa curiosidade, como se a parte mais interessante estivesse em outro lugar : com nossa rendição, como se não fosse necessário se render - como se este mundo não fosse nenhuma necessidade de último grau
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: com nossa simpatia e atenção: como se este mundo não o merecesse, como impuro, como improbo em relação a nós ... Em suma: somos revoltados de uma maneira tripla: fizemos um x para a crítica do "mundo conbecido"
Primeiro passo da circunspecçào: conceber em que medida somos seduzidos a saber. as coisas poderiam ser em si exatamente inversas. a) o mundo desconheciá,o poderia ser constitu.ido de tal forma a nos dar prazer com este mundo - como uma forma talvez estúpida e menor da existência b) o outro mundo, para não falar que ele levaria em conta nossos desejos, os quais não encontrariam aqui nenhuma satisfação, poderia estar concomitantemente sob a massa que toma possivel para nós este mundo: tomar contato çom ç!e sçria wn meio (!ç nos S!ltisfazer c) o mundo verdadeiro: mas quem nos diz propriamente que o mundo aparente precisaria ser menos valoroso do que o verdadeiro? Nosso instinto não contradiz esse juízo? O homem não cria eternamente para si um mundo ficcional, porque ele quer ter um mundo melhor do que a realidade? ... Sobretudo: como é que chegamos ao ponto de conceber que o mundo verdadeiro não é o nosso mundo? ... de início, o outro mundo poderia ser muito bem o "aparente"... de fato, os gregos, por exemplo, imaginaram um reino das sombras, uma existência aparente ao lado da existência verdadeira - E, finalmente: o que nos dá um direito de estabelecer por assim dizer graus da realidade? Isso é algo diverso de um mundo desconhecido, isso jâ é querer-saber-algo acerca do desconhecido. N.B. O "outrO" mundo, o mundo desconhecido - muito bem! Mas dizer "mundo verdadeiro", ou seja, "saber algo sobre ele" - isso é o contrârio da suposição de um mundo x... Em suma: o mundo x poderia ser mais entediante, mais inum.ano e indigno em todos os sentidos do que este mundo.
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As coisas seriam diversas, se af111llássemos que haveria mundos x, isto é, todo e qualquer mundo possivel ainda afora este. Mas isto nunca/oi afirmado... O mundo "verdadeiro" = o mundo veraz, que não nos engana, que é sincero = o mundo correto, que é o único em questão = o mundo autêntico, em oposição a algo imitado e falsificado
e. Problema: por que a representação do outro mundo sempre surgiu para demérito, respectivamente para uma crítica deste mundo - para onde é que isso aponta? A saber: um povo, orgulhoso de si, que está no despontar da vida, pensa o ser de maneira diversa sempre como ser inferior, sem valor; ele considera o muado alheio, desconhecido, como seu inimigo, como seu oposto, ele se sente sem curiosidades, em plena recusa do estrangeiro... um povo não admitiria que outro povo fosse o "povo verdadeiro" ... já o fato de tal distinção ser possível - o fato de se tomar esse mundo por "aparente" e aquele por verdadeiro é sintomático O rebanho responsável pelo surgimento da representação: "outro mundo"; o filósofo, que inventa um mundo racional, no qual a razão e as funções lógica.s são adequadas: - daqui provém o mundo "verdadeiro" o homem religioso, que um "mundo divino" daqui provém o mundo "desnaturalizado, contranatural". o homem moral, que imagina um "mundo livre" - daqui provém o mundo "bom, perfeito, justo, sagrado". O que há de comum entre os três rebanhos responsáveis pelo surgimento... o equívoco psicológico ... :as confusões fisiológicas "o outro mundo", tal como ele de fato aparece na história, com que predicados - marcado com estigmas
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......................................................................•........................ filosófico do preconceito religioso moral o outro mundo, tal corno ele se ilumina a partir desses fatos, como um sinônimo do não ser, da não vida, do não-querer-viver... Intelecção conjunta: o instinto do cansaço vila/ e não o instinto da vida foi que criou o outro mundo Co11sequéncia: filosofia, religião e moral são si11tomas da decadência. 2• capítulo Comprovação h.istórica de que a religião, a moral e a filosofia são formas da decadência da humanidade. 3º capítulo 1) as razões, segundo as quais "este" mundo foi designado como "aparente" fundamentam muito mais a sua realidade: - outro tipo de realidade é absolutamente indemonstrável. 2) as caracterlsticas, que se entregaram ao "ser verdadeiro" das coisas, são as características do não ser - construiu-se o "mundo verdadeiro" a partir da contradição em relação ao "mundo efetivamente real": um "mundo aparente" é de fato um mundo tal que envolve urna ilusão de ótica moral 3) Em suma: contar histórias fabulosas sobre outro mundo que não este não faz sentido algum - supondo que um instinto da calúnia, do apequenamento, da suspeição da vida nílo tenha poder sobre nós: no último caso, vingamo-nos da vida com o auxílio da fantasmagoria de uma "vida melhor" ... 4) Dividir o mundo em um mundo "verdadeiro" e um "aparente" é urna sugestão da decadência: - avaliar a aparência como mais elevada do que a realidade, tal como o faz o artista, não é nenhuma objeção contra ela. Pois a aparência significa, aqui, apenas essa realidade urna vez mais na seleção, no fortalecimento, na correção... Ou será que há arti.stas pessimistas? - O artista trágico é pessimista? ... 14 (169)
1) O mundo verdadeiro e o mundo aparente. 2) O filósofo corno tipo da decadência.
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3) O homem religioso como tipo da decadência. 4) O homem bom como tipo da decadência 5) O contramovimento: a arre. 6) O elemento pagão na religião. 7) A ciência contra a filosofia. 8) Política. 9) Crítica do presente. 1O) O niilismo e sua imagem oposta: os que retomam. 11) A vontade de poder. 1) Supondo que ele fosse mais valoroso, por que ele deveria ser mais real do que este mundo? ...a realidade é uma qualidade da perfeição? - Mas essa é justamente aprova ontológica da existência de Deus ... 2) Supondo, porém, que ele seja verdadeiro, então ele poderia ser menos valoroso do que o nosso mundo ... 14 (! 70)
Os contramovimentos: a arte. São os estados excepcionais que condicionam o artista: todos aqueles estados que possuem um parentesco profundo com fenômenos doentios e cicatrizar.am: de tal modo que não parece possivel ser artista e não ser doente. Os estados fisiológicos, que são cultivados no artista e transfonnados por assim dizer em "pessoa", estados que se arraigam em si com um grau qualquer no homem em geral: 1) a embriaguez: o sentimento elevado de poder; a obrigação interna de fazer das coisas um reflexo da própria plenitude e perfeição 2) a agudeza extrema de certos sentidos: de tal modo que eles compreendem - e criam... - uma linguagem de sinais totalmente diversa - a mesma que aparece ligada a algumas doenças nervosas - a mobilidade extrema, a partir da qual surge uma comun.icabilidade extrema; o querer falar de tudo aquilo que sabe dar sinais... uma necessidade de, por assim dizer, se libertar por meio de sinais e gestos; uma capacidade de falar de si por meio de
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centenas de meios linguísticos .... um estado explosivo - é preciso pensar inicialmente esse estado como compulsão e impeto para líberar por meio de todo tipo de trabalho muscular e mobilidade a exuberância da tensão interna: em seguida, como coordenação involuntária desse movimento em relação aos processos internos (inlagens, pensamentos, desejos) - como uma espécie de automatismo de todo o sistema museu.lar sob o impulso de estímulos fortes que atuam vindo de dentro - incapacidade de impedir a reação; o aparato de inibição, por assim dizer, suspenso. Todo e qualquer movimento interno (sentimento, pensamento, afeto) é acompanhado por transformações vasculares e, consequentemente, por transformações de cor, de temperatura, de secreção; a força sugestiva da música, sua "sugestão mental"; 3) o precisar-imitar: uma extrema irritabilidade, junto à qual se comunica um modelo dado - um estado jã é desvendado e apresentado a partir de sinais... Uma imagem, emergindo internamente, já atua como movimento dos membros ... certa suspensão da vo.ntadc... (Schopenhauer!!!) Uma espécie de surdez, ser cego para fora - o reino dos estímulos admitidos é agudamente demarcado -
....
Isso distingue o artista do leigo (o artisticamente receptivo): este tem no acolhimento o ápice de sua excitabilidade; o primeiro, na doação - de tal forma que um antagonismo desses dois dons não é apenas natural, mas também desejável. Cada um desses e~-tados tem uma ótica invertida - exigir do artista que ele exercite a ótica do que ouve (do critico -) significa e,dgir que ele se empobreça e empobreça, também, as suas forças especificas... Acontece aqui o mesmo que na diferença entre os sexos: não se deve exigir do artista, que dá, que ele se tome mulher - que ele "receba"... Nessa medida, nossa estética foi até aqui uma estética feminina, uma vez que só os que fruem a arte formularam as suas experiências cm relação a "o que é belo?". Em toda a filosofia até aqui faltou o artista ... Este foi, como insinuou o que foi dito anteriormente, um erro necessário; pois o artista, que começasse
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a conceber, se compreenderia mal com isso - ele não deve retornar ao ver, ele não tem, de maneira alguma, de ver, ele tem de dar - honra um artista ser incapaz da crítica... de outro modo, ele se mostra de maneira parcial, ele se mostra como "moderno"... 14(171)
Religião como decadência O sono como consequênci:a de todo esgotamento, o esgotamento como consequência de toda excitação exagerada... A necessidade de sono, a divinização e a adoração do conceito "sono" em todas as religiões e filosofias pessimistas O esgotamento é, nesse caso, um esgotamento da raça: o sono, considerado fisiologicamente, é apenas uma alegoria de um precisar repousar de um tipo muito mais profundo e longo ... Na prática, trata-se da morte, que atua aqui de maneira tão sedutora sob a imagem de seu irmão, o sono... 14 (172)
A monoma11ia religiosa aparece habitualmente sob a forma da folie circulaire, m com dois estados contraditórios, o estado da depressão e o estado da tonicidade. Féré, p. 123. 14 (173)
A vontade de poder como vida Psicologia da vontade de poder Prazer e despra7..Cr A dor é algo diverso do prazer - quero dizer, ela nao é o seu contrário. Se a essência do prazer tiver sido designada de maneira pertinente como um sentimento de mais poder (com isso, como um sentimento de diferença, que pressupõe a comparação), então a essência do prazer ainda não estâ definida com isso. As falsas oposições, nas quais o povo e, consequentemente, a llngua acreditam, foram sempre amarras perigosas presas em nossos 237 N.T.: Em francês no original: loucura circular.
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pés, amarras que interrompem o curso da verdade. Hã até mesmo casos nos quais uma espécie de prazer é condicionada por certa sequência rítmica de pequenos estímulos de desprazer: com isso, alcança-se um rápido crescime:nto do sentimento de poder, do sentimento de prazer. Esse é o caso, por exemplo, nas cócegas, mesmo nas cócegas sexuais no ato do coito: vemos, desse modo, o desprazer ativo como ingrediente do prazer. Parece que um pequeno obstáculo é superado e que se segue imediatamente uma vez mais um pequeno obstáculo, que é uma vez mais superado - esse jogo de resistência e vitória estimula maximamente aquele sentimento conjunto de poder excessivo e supérfluo, que constitui a essência do prazer. - Falta a inversão, uma ampliação da sensação de dor por meio de pequenos estímulos prazerosos introduzidos: prazer e desprazer não são justamente nada ao inverso. - A dor é um processo intelectual, no qual um juizo ganba voz decididamente - o juízo "nocivo", no qual uma longa experiência se acumulou. Em si, não há nenhuma dor. Não é a ferida que dói; é a experiência de quais são as consequências terríveis que podem ter uma ferida para o organismo como um todo, que fala sob a figura daquele profundo abalo, que se chama desprazer (em meio a influências nocivas que permaneceram desconhecidas para a humanidade mais antiga, por exemplo, por parte de componentes químicos combinados de maneira nova, também falta o enunciado da dor - e nós estamos perdidos...). Na dor, o propriamente especifico é sempre o longo abalo, o estremecimento: - não se sofre por causa da dor (de um ferimento qualquer, por exemplo), mas pela longa perturbação do equilíbrio, que entra em cena em consequência daquele choque. A dor é um adoecimento do centro nervoso cerebral - o prazer não é de maneira alguma uma doença ... - O fato de a dor ser a causa de movimentos contrãrios tem, em verdade, a seu favor a aparência visual e até mesmo o preconceito dos filósofos; em casos repentinos, porém, quando se observa mais exatamente, o movimento contrário ocorre evidentemente antes da sensação de dor. As coisas seriam terriveis para mim se, em meio a um passo em falso, eu tivesse de esperar até que o fato batesse no sino da consciência e um aceno fosse
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retomado por telégrafo, indicando o que precisaria ser feito ... Ao contrário, distingo de maneira tão clara quanto possível o fato de que só o movimento contrário do pé se segue para evitar a queda, e, em seguida, a uma distância temporal passível de ser medida, toma-se repentinamente sensivel uma espécie de onda dolorosa na parte frontal da cabeça. Portanto, não se reage à dor. A dor é projetada posteriormente no ponto ferido: - mas a essência dessa dor local não permanece, apesar disso, a expressão do tipo do ferimento local, trata-se de um mero sinal locativo, cuja força e tonalidade são consonantes com. o ferimento, trata-se de um sinal locativo que os centros nervosos receberam. O fato de a força muscular do organismo diminuiir em consequência daquele choque ainda não oferece de maneira alguma nenhum ponto de apoio para se buscar a essência da dor em uma atenuação do sentimento de poder... Reage-se, dito uma vez mais, não à dor: o desprazer não é nenhuma "causa" de ações, a dor mesma é uma reação, o movimento oposto é outra reação, anterior- os dois tomam o seu ponto de partida de posições diversas. 14 (174)
A vontade de poder como vida O homem não procura o prazer e não evita o desprazer: é fácil compreender que célebre preconceito estou contradizendo com isso. Prazer e desprazer são meras consequências, meros fenômenos paralelos - o que o homem quer, o que cada parte mínima de um organismo vivo quer, é um ma.is de poder. Na aspiração a isso se segue tanto prazer quanto desprazer; a partir daquela vontade, ele busca resistência, ele precisa de algo que se contraponha. O desprazer, como obstáculo à sua ·vontade de poder, é, portanto, um fato normal, o ingrediente normal daquele acontecimento orgânico; o homem não se afasta desse ingrediente, ele necessita dele muito mais incessantemente: toda vitória, todo sentimento de prazer, todo acontecimento pressupõe uma resistência superada. Tomemos o caso mais simples, o caso da alimentação primitiva: o protoplasma estende os seus pseudópodes, a fim de buscar algo que resista a ele - não por fome, mas por vontade de
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poder. Em seguida, ele faz a tentativa de superar isso que resiste, de se apropriar dele, de incorpo.râ-lo: - aquilo que se denomina "alimentação" é meramente um fenômeno secundário, uma aplicação útil daquela vontade originária de se tomar mais forte. Não é possível considerar a fome como primum mobile: do mesmo modo que não se pode considerar a autoconservação: a fome concebida como consequência da subalimentação, ou seja: a fome como consequência de uma vontade de poder que não se assenhoreia mais. A duplicidade como consequência de wna unidade fraca não se trata de maneira alguma de uma reprodução de uma perda - somente mais tarde, em consequência da divisão do trabalho, depois de a vontade de poder ter aprendido a tomar caminhos completamente diversos para a sua satisfàção, a necessidade de apropriação do organismo é reduzida à fome, à necessidade de reposição do que se perdeu. Portanto, o desprazer não tem de maneira alguma necessariamente como consequência uma atenuação de nosso sentimento de poder, de tal modo que, em casos medianos, ele age precisamente como estímulo desse sentimento de poder- o obstáculo é o estimulo dessa vontade de poder. Confundiu-se o desprazer com uma espécie do desprazer, com o desprazer oriundo do esgotamento: este último desprazer representa, de fato, uma diminuição e uma redução profundas da vontade de poder, uma perda mensurável de força. Isso quer dizer o seguinte: há o desprazer como estimulante para o fortalecimento do poder e o desprazer depois de uma dissipação de poder. No primeiro caso, um estímulo; no segundo, a consequência de uma irritação exagerada... A incapacidade para a resistência é própria do segundo desprazer: o desafio àquele que resiste diz respeito ao primeiro tipo ... O prazer que só continua sendo experimentado no estado do esgotamento é o adormecimento; o prazer no outro caso é a vitória. .. A grande confusão dos psi.oólogos consistia no fato de eles não manterem separados esses dois tipos de prazer, o prazer do adormecimento e o prazer da vitéria
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os esgotados querem tranquilidade, querem se espreguiçar, querem paz, silêncio trata-se da felicidade das religiões e filosofias niilistas os ricos e vivos querem vitória, adversários superados, transbordamento do sentimento de poder sobre âmbitos mais amplos do que até aqui: todas as funções saudáveis do organismo têm essa necessidade - e todo organismo, até a idade da puberdade, é um tal complexo de sistemas que luta pelo crescimento dos sentimentos de poder--14 (175)
Platão: --mas o Mam, diz: o ato, por meio do qual a alma aspira ao desconhecido é uma lembrança da Swarga, da qual ela reteve um rastro; tal como acontece quando se vê de maneira turva as imagens ao acordar, que nos encontraram nos sonhos 14 (! 76)
Alcoolismo O brâmane que se embriaga, cm esquecimento da substância divina, da qual sua pessoa é formada, decai para o nível do Sudra impuro. O dwidja que se entrega a bebidas fermentadas é queimado internamente pelo fogo dessas bebidas. Ele se purifica, na medida em que bebe urina cozida da.s vaca.s 14 (177)
É possível que ele salve uma vaca: essa ação de todas a mais meritosa expia a morte de um brâm.ane. 14 (178)
Sacerdote - O brâmane é uma autoridade neste mundo e no outro; o brâmane é um objeto de veneração para os deuses. O assassino de uma vaca deve permanecer três meses coberto com o couro dessa vaca e, então, passar três meses a ser-
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viço de um pastor de vacas. Em seguida, ele deve presentear o brâmane com IOvaeas e um touro, ou, melhor ainda, com tudo o que ele possui: assim, seu erro é expiado. Quem mata um circunciáado se purifica por meio de uma simples oferenda (enquanto matar em geral um animal requer seis meses de penitência na floiresta, deixando o cabelo e a barba crescerem). 14 (179)
Sobre a práxis cristã O homem não se conhecia fisiologicamente, durante toda a cadeia dos milênios: ele também não se conhece ainda hoje. Saber, por exemplo, que se tem um sistema nervoso (- mas não uma "alma") continua sendo sempre o privilégio dos mais instruídos. Mas o homem não suspeita de que ele pode não saber aqui; - é preciso ser muito humano para dizer "eu não sei", para se permitir ignorâncias... supondo que ele sofra óu que ele esteja de bom humor, então ele não duvida de que encontrará o fundamento disso, contanto que procure. Portanto, ele o procura... Em verdade, ele não pode encontrar o fundamento, porque ele nem mesmo suspeita onde é que ele teria de procurar... O que acontece? ... Ele toma uma consequência de seu estado como a sua causa por exemplo, uma obra empreendida com bom humor (empreendida no fundo, porque o bom humor já tinha dado coragem) funciona: ecco,238, a obra é ofandamento, do bom humor... De fato, o sucesso tinha sido, por sua ve·z, condicionado pela mesma coisa que condicionara o bom humor - por meio da coordenação feliz das forças e dos sistemas fisiológicos Ele se sente mal: e, consequentemente, não consegue se haver com uma preocupação, com um escrúpulo, com uma autocritica ... Em verdade, o homem acredita que o seu estado ruim seria a consequência de seu escrúpulo, de seu "pecado", de sua "autocritica"...
238 N.T.: Em italiano no original: logo.
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Mas o estado da reprodução, frequente depois de um esgotamento e de uma prostração profundos, retoma. "Como é possível que eu seja tão livre, tão desprendido? Trata-se de um milagre, só Deus pode ter feito isso comigo". Conclusão: "ele perdoou meu pecado"... Daí se obtém uma prática: para estimular sentimentos ligados ao pecado, para preparar contrições, colocou-se o corpo em um estado doentio e nervoso. A metodologia para tanto é conhecida. Normalmente não se suspeita de que a lógica causal dos fatos - tem-se uma interpretação religiosa para a mortificação da carne, ela se mostra como fim em si, enquanto s6 vem à tona como meio, a fim de tornar possí.vel aquela indigestão doentia do remorso (a "ideia fixa" do pecad!o, a hipnotização da galinha por meio da linha "pecado'') O abuso do corpo gera o solo para a série de "sentimentos de culpa"... isto é, um sofrimento geral, que será explicado... Por outro lado, obtém-se do mesmo modo a metodologia da "redenção": exigiu-se toda e qualquer cligressão do sentimento por meio de orações, movimentos, gestos, conjurações - o esgotamento se segue, com frequ.ência de maneira abrupta, com frequência de forma epiléptica. E, por detrás do estado de uma profunda sonolência, surge a aparência da convalescença - dito em termos religiosos: "redenção" 14 (180)
o maometismo, como uma religião para homens, possui um desprezo profundo pela sentimentalidade e pela mendacidade do cristian.ismo... de uma religião feminina, que é corno ele o sente 14 (181)
O homem religioso como tipo da decadência os estados religiosos em seu parentesco com o desvario, com a neurastenia o momento em que a cri.se:religiosa se abate sobre um povo - historicamente -
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a fantasia do homem religioso como a fantasia do exasperado e superexcirado o "nervosismo moraf' do cristão temos agora a tarefa de apresentar o fenômeno diflcil e ambíguo, não apenas para nós, do cristianismo. Todo o treinamento cristão da penitência e da redenção concebido com uma folie circulaire239 efetivamente gerada; normalmente só produtível em indivíduos já predestinados (asaber, morbidamente constituídos). 14 (182)
Por que os fracos vencem. Em suma: os doentes e fracos têm mais compaixão, são mais "hwnanos" : os doentes e fracos têm mais espírito, são mais alternantes, múltiplos, interessantes - cruéis: os doentes sozinhos é que inventaram a maldade. (um caráter prematuro do.entio é frequente em raquíticos, escrofulosos e tuberculosos. - ) esprit: propriedade de raças tardias (judeus, franceses, chineses) Os antissemitas não perdoam os judeus pelo fato de eles terem "espírito'' - e dinheiro: o antissemitismo, um nome para os "desvalidos") : o louco e o santo - os dois tipos mais interessantes de homem ... em um parentesco íntimo, o gênio e os grandes "aventureiros e criminosos" : os doentes e fracos conquistaram a fascinação para si, eles são mais interessantes do que os saudáveis E todos os homens, os mais saudáveis antes de tudo, são doentes em certas épocas de sua vida: - os grandes movimentos do ânimo, a paixão do poder, o amor, a vingança são acompanhados por profundas perturbações.•.
239 N.T.: Em francês no original: loucura circular.
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E no que diz respeito à decadência: ela representa quase todos os homens que não morrem cedo, em todo e qualquer sentido: - portanto, ele também con!bece por experiência os instintos que pertencem a ela : durante a metade de quase toda vida humana, o homem é decadente. Finalmente: a mulher! Metade da humanidade é fraca, tipicamente doente, alternante, inconstante - a mulher necessita da força para se deixar envolver por ela - e uma religião da fraqueza, que glorifica como divino o ser fraco, amar, ser humilde... ou melhor, isso faz com que os fracos se tomem fracos impera, quando se tem êxito, se impor aos fortes ... a mulher sempre conspirou juntamente com os tipos da decadência, com os padres conrtra os "poderosos", os "fortes", os homens a mulher coloca as crianças de lado para o culto da piedade, da compaixão, do amor - a mãe representa o altruísmo de maneira convincente... Finalmente: a civilização crescente, que traz consigo ao mesmo tempo necessariamente também o crescimento do elemento mórbido, do elemento neurótico-psiquiátrico e do criminalístico... Uma espécie híbrida surge, o artista, cindido da criminalidade da ação por meio da fraqueza da vontade e da pusilanimidade social, do mesmo modo sem estar maduro ainda para o manicômio, mas se imiscuindo com as suas antenas nas duas esferas curiosamente: essa planta cultural especifica, o artista moderno, pintor, músico, sobretudo romancista, que utiliza para o seu modo de ser a palavra bastante imprópria "11all1ralisme" ... Os loucos, os cri.minosos e os "naturalistas" crescem: sinal de uma cultura que se incrementa e que se apressa abruptamente para seguir em frente - ou seja, o refugo, o dejeto, o lixo ganha importância - o movimento para baixo mantém o ritmo ... Finalmente: a mistura social, consequência da revolução, da produção de direitos iguais, da superstição de que há "homens iguais". Nesse caso, misturam-se os portadores dos instintos do declínio (do ressentimento, da insatisfação, do impulso à destrui-
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ção, do anarquismo e do niilismo), inclusive dos instintos dos escravos, dos instintos da covardia, da astúcia e da canalha, instintos esses próprios às camadas que se mantiveram durante muito tempo embaixo, com todo o sangue de todas as estiIJ)eS: duas, três gerações depois, não hâ mais como reconhecer a raça - tudo se torna plebe. Dai resulta um instinto conjunto contra a seleção, contra o privilégio de todo tipo, com um poder e uma segurança, com uma rigidez e crueldade da prâtica tais, que os privilegiados logo se submetem eles mesmos de fato: - aquilo que ainda quer reter poder é bajulado pela plebe, a plebe precisa ter a seu lado os "gênios" antes de tudo; eles transfonnam-se em arautos dos sentimentos, com os quais as massas se entusiasmam - a necessidade da compaix.ão, da veneração mesma diante de tudo o que viveu sofrendo, baixo, desprezado, perseguido, ressoa para além de todas as outras necessidades (tipos: Victor Hugo e Richard Wagner). a ascensão da plebe significa ainda uma vez a ascensão dos antigos valores... Em tal movimento extremo com vistas ao ritmo e aos meios, tal como o representado por nossa civilização, o fiel da balança dos homens se transpõe: dos homens, que são aqueles que na maioria das vezes estão em questão, que têm por assim dizer de compensar todo o gTa111de perigo de tal movimento doentio; - eles se tomam os retardatários par excel/ence, os que acolhem lentamente, os que dificilmente largam algo, os relativamente duradouros em meio a essa mudança e mistura descomunal de elementos. O fiel da balança cabe sob tais circunstâncias necessariamente aos medíocres.: contra a dominação da plebe e dos excêntricos (os dois na maioria das vezes interligados) consolida-se a mediocridade, como a localidade e a portadora do futuro. Dai surge para os homens de exceção um novo adversário ou, porém, uma nova sedução. Supondo que eles não se adaptem à plebe e não gostem de entoar canções para agradar os instintos
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dos "deserdados", eles terão a necessidade de ser "medianos" e "sólidos". Eles sabem: a mediocritas também é áurea - é ela apenas que dispõe até mesmo de dinheiro e ouro (- que dispõe de tudo aquilo que brilha ...) ... E, wna vez mais, a antiga virtude e, em geral, todo o mundo desvanecido do ideal conquistam uma porta-voz talentosa ... Resultado: a mediocridade ganha um espírito, graça, gênio - ela torna-se divertida, ela seduz...
....
Resultado. Digo ainda uma palavra sobre a terceira força. O artesanato, o comércio, a agricultura, a ciência, uma grande parte da arte - tudo isso só pode subsistir em um solo amplo, em uma mediocridade consolidada de maneira forte e saudável. É a seu serviço e servido por ela que a ciência - e mesmo a arte - trabalha. A ciência não pode desejar algo melhor para si: ela pertence como tal a um tipo mais mediano de homem - ela fica deslocada entre exceções - ela não possui nada de aristocrático e ainda menos algo anarquista em seus instintos. - O poder do meio é mantido em seguida pelo comércio, sobretudo pelo mercado financeiro: o instinto do grande financista se remete contra todos os extremos - por isso, os judeus foram outrora o poder mais conservador em nossa Europa tão ameaçada e tão insegura. Eles não podem se valer nem de revolução, nem de socialismo, nem de militarismo: se eles querem e precisam ter poder mesmo sobre o partido revolucionário, isso é apenas uma consequência do que foi dito anteriormente e não se acha em contradição com ele. Eles necessitam despertar vez por outra medo contra outra s direções extremas - por meio do fato de eles mostrarem tudo aquilo que se encontra em suas mãos. Mas seu instinto mesmo é imutavelmente conservador - e "mediano" ... Por toda parte onde há poder, eles sabem ser poderosos: mas a exploração de seu poder segue sempre cm uma direção. A palavra de honra para mediano é conhecidamente a palavra "liberar'. .. algo que não é engraçado e nem mesmo se mostra como verdadeiro ...
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Meditação. - Não faz scO'lido nenhum pressupor que toda essa vitória dos valores seria antibiológica: as pessoas precisam procurar explicá-la a partir de um interesse da vida a manutenção do tipo "homem" mesmo através dessa metodologia da superdominação dos fracos e dos desvalidos : no outro caso não existiria mais o homem? A elevação do tipo é fatídica para a conservação da espécie? por quê? as experiências da história: as raças fortes dizimam-se reciprocamente: guerra, avidez por poder, aventura; sua existência é custosa, breve - elas se entrechocam mut11amente os afetos fortes: a dissipação - a força não é mais capitalizada... a perturbação espiritual, por meio da tensão exagerada acontecem períodos de um profundo cansaço e adormecimento. Todos os grandes tempos são pagos ... os fortes se mostram em seguida como mais fracos, mais abúlicos, mais absurdos do que os medianamente fracos Trata-se de raças dissipadoras. A "duração" em si não teria efetivamente nenhum valor: preferir-se-ia com certeza uma existência da espécie mais breve, mas mais rica em termos valora·tivos. Restaria demonstrar que mesmo tal produto valorativo tão rico seria visado, como no caso ,da existência mais breve. isto é, o homem como somatório de forças conquista um quantum muito mais elevado de domínio sobre as coisas, quando as coisas se dão como se dão ... Encontramo-nos diante de um problema de economia - - 14 (183)
Apresento minha argumentação cm todos os passos essenciais, ponto por ponto. Com algo de lógica no corpo e com uma energia aparentada com a minha, com uma coragem para aquilo que se sabe propriamente... já se poderia ter deduzido essa argumentação de meus escritos iniciais. Fez-se o contrário e se rccla-
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mou de que lhes faltava consequência: essa plebe misturada de hoje ousa colocar em sua boca a. palavra consequência! 14 (184)
a "aparência"= atividade específica de ação e reação o mundo aparente, isto é, um mundo considerado segundo valores, escolhido segundo valores, isto é, nesse caso, segundo o ponto de vista da utilidade com vistas à conservação e à elevação de poder de determinada espécie de animal. o elemento perspectivístico, portanto, renuncia ao caráter da "aparência"! Como se um mundo ainda restasse, se deduzíssemos dele o elemento perspectivistico! Com isso, ter-se-ia deduzido efetivamente a relatividade, o todo centro de força possui sua perspectiva para todo o resto, isto é, sua avaliação totalmente determinada, seu tipo de ação, seu tipo de resistência O "mundo aparente" reduz-se, portanto, a um tipo específico de ação sobre o mundo, partindo de um centro Pois bem, não há nenhum outro tipo de ação: e o "mundo" é apenas uma palavra para o jogo conjunto dessas ações A realidade consiste exatamente nessa ação particular e nessa reação de todo particular ao todo... Não resta nenhuma sombra de direito mais para se falar de aparência ... O modo especifico de reagir é o único modo de reagir: nós
não sabemos quantos tipos e que tipos há efetivamente. Mas não hã nenhum ser "diverso", nenhum ser "verdadeiro", nenhum ser essencial - com tal mundo seria expresso um mundo sem ação e reação ... A oposição entre o mundo aparente e o mundo verdadeiro reduz-se à oposição entre "mundo" e "nada" 14 (185)
Moral
O fato de o valor de uma ação dever depender daquilo que lhe precedeu na consciência - o quão falsa é essa afirma-
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ção ! - E se mediu a moralidade de acordo com isso, mesmo a criminalidade... Achou-se que se precisaria saber suas consequências: e os psicólogos ingênuos de outrora disseram - - O valor de uma ação precis.a ser medido por suas consequências - dizem os utilitaristas: - medi-la segundo sua origem inlplica saber de uma impossibilidade, isto é, dessa impossibilidade. Mas conhecem-se as consequências? Cinco passos além talvez. Quem pode dizer se uma ação estimula, excita, provoca contra si? Como estimulante? Como fagulha tal vez para um material explosivo?... Os utilitaristas são ingênuos ... E, por fim, precisamos primeiro saber o que é útil: aqui, também, seu olhar só se lança cinco passos à frente ... Eles não têm nenhum conceito acerca da grande economia, que não sabe dispensar o mal - . Não se conhece a origem e tampouco se sabem as consequências: - uma ação tem conscquen.temente de fato um valor?... Resta a própria ação: seus fenômenos paralelos na consciência, o sim e o não, que se segue à sua execução: o valor de uma ação reside nos fenômenos paralelos subjetivos - ? Com certeza, ela é acompanhada por sentimentos de valor, por um sentimento de poder, um sentimento de coerção e de impotência, por exemplo, a liberdade, a leveza; questionado de outra fonna: seria possivel reduzir o valor de uma ação aos valores fisiológicos? Serã que ela é uma expressão da vida plena e da vida inibida? O valor biológico de uma ação? é permitido medir seu valor por fenômenos paralelos, por prazer e desprazer, pelo jogo dos afetos, pelo sentimento da descarga, da explosão, da liberdade ... pode ser que seu valor biológico se expresse ai... isso significaria medir o valor da música pela prazer ou desprazer que ela nos propicia... que ela propicia ao seu compositor ... Portanto, se a ação não é mensurável nem segundo sua origem, nem segundo suas consequências, nem segundo seus fenômenos paralelos, então seu valor x é desconhecido ... Portanto, uma ação não tem nenhum valor.
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Em suma, na linguagem da eanção infantil: "Engatinhar, voar e se arrastar pelos caminho,s de Deus." 14 (186)
Filosofia Os fisicos acreditam em um "mundo verdadeiro" à sua moda: uma sistematização de átomos firme e idêntica para todos os seres em meio a movimentos necessários - de tal modo que, para eles, o "mundo aparente" se reduz ao lado acessivel a todo e qualquer ser à sua maneira do ser universal e universalmente necessário (acessível e também ainda retificado - transformado em algo "subjetivo"). Com isso, porém, eles se enganam: o átomo que eles estabelecem é descoberto segundo a lógica daquele pcrspectivismo da consciência - ele mesmo também é, com isso, uma ficção subjetiva. Essa imagem d.e mundo, que eles projetam, não é de modo algum essencialmente diversa da imagem de mundo subjetiva: ela é apenas construida com sentidos mais amplamente pensados, mas de qualquer forma inteiramente com os nossos sentidos... E, por fim, eles deixaram algo de fora na constelação sem o saber: justamente o perspectivismo necessário, cm virtude do qual cada centro de força - e não apenas o homem - constrói a partir de si o resto do mundo, isto é, mede-o, toca-o e configura-o a partir de sua força ... Eles ,esqueceram de inserir essa força posicionadora de perspectivas no cálculo do "ser verdadeiro" ... Dito na linguagem escolar: o ser sujeito. Eles acham que esse ser sujeito seria "desenvolvido", se acrescentaria Mas mesmo o químico necessita disso: esse é o ser específico, o agir e reagir de tal e tal modo, sempre de acordo com O perspecJivismo é apenas uma forma complexa da especificidade Minha representação é a de que cada corpo específico aspira a se tomar senhor de todo o espaço e a expandir a sua força (- sua vontade de poder:) e a repelir tudo aquilo que resiste à sua expansão. Mas ele depara constantemente com aspirações idênticas de outros corpos e acaba por entrar em um arranjo com aqueles ("se unir") que lbe são suficientemente aparenta-
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······· .. ·······"···················································· ....... ,................ . dos: - assim, eles conspiram, então, conjuntamente por poder. E o processo prossegue... 14 (187)
Filosofia Não há nada imutável na química, isso é apenas aparência, um mero preconceito escolar. Nós arrastamos conosco o imutável, sempre ainda a partir da metafísica, meus senhores fisicos. É totalmente ingênuo afirmar a partir de uma dedução da superfície que o diamante, o grafite e o carvão são idênticos. Por quê? Meramente porque não se pode constatar nenhuma perda de substância por meio da balança! Pois bem, com isso eles têm ainda algo cm comum, mas o trabalho molecular da transformação que não vemos, nem podemos pesar., faz de uma matéria justamente algo diverso - com propriedades especificamente diversas 14 (188)
A nova concepçàQ de mundQ
1) O mundo subsiste; ele não é nada que vem a ser, nada que perece. Ou, ao contrário: ele vem a ser, ele perece, mas nunca começou a vir a ser e nunca cessou de perecer - ele se mantém nos dois casos... ele vive por si mesmo: seus excrementos são seu alimento ... 2) A hipótese de um mundo criado não deve nos ocupar um único instante. O conceito "criar" é hoje completamente indefinivel, irrealizável; só permanece como uma mera palavra, rudimentar e oriunda de épocas marcadas pela superstição; não se explica nada com urna palavra. A última tentativa de conceber um mundo que começa foi empreendida muitas vezes recentemente com o auxilio de um procedimento lógico - na maioria das vezes, como é fácil descobrir, a partir de urna intenção teológica de fundo. O eterno retorno do mesmo.
Filosofia
3) Recentemente, as pessoas viram muitas vezes uma contradição no conceito de infinitude temporal do mundo para trás: elas encontraram por si mesmas a contradição, ao preço naturalmente de confundir nesse caso cabeça com o rabo. Nada
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pode me impedir de, calcu.land.o retroativamente a partir desse instante, dizer: "nunca chegarei a um fim": assim como posso, partindo do mesmo instante para frente, contar rumo ao infinito. Apenas se quisesse cometer o erro - tomarei cuidado para não fazê-lo - de equiparar esse conceito correto de um regressus in infinitum com um conceito que não pode ser de maneira alguma realizado de um progressus infinito até agora, somente se tivesse estabelecido a direção (para frente ou para trás) como logicamente indiferente, tomaria a cabeça, esse instante, como se ela fosse o rabo: deixo isso para o senhor, caro Dühring!... 4) Deparei com essa ideia cm pensadores mais antigos: a cada vez, ela se achava determinada por outras ideias de fundo (- na maioria das vezes ideias teológicas, a favor do eretor spiritus). Se o mundo pudesse efetivamente se solidificar, se enrijecer, chegar ao fim, se ele pudesse se transformar em nada, ou se um estado de equilíbrio pudesse ser alcançado, ou se ele tivesse uma meta qualquer, que encerrasse cm si a duração, a inalterabilidade, o de-uma-vez-por-todas (em suma, dito em termos metafísicos: se o devir pudesse desaguar no ser ou no nada), então esse estado já precisaria te:r sido alcançado. Mas ele não foi alcançado: de onde se segue... Essa é a nossa única certeza, uma certeza que mantemos cm nossas mãos, a fim de servi.r corno corretivo contra uma grande quantidade de hipóteses de mundo em si possíveis. Se, por exemplo, o mecanismo não pode escapar da consequência de um estado final, consequência essa retirada por Thompson, então o mecanismo é, com isso, refutado. Filosofia 5) Se o mundo pode ser pensado como determinada grandeza de força e corno determinado número de centros de força - e toda e qualquer outra reprcscn1tação permanece indeterminada e consequentemente inútil - , então se segue dai que ele tem de percorrer um número ca.lculável de combinações no grande jogo de dados de sua existência. Em um tempo infinito, cada possi vel combinação seria algum d.ia alcançada; mais ainda, ela seria alcançada infinitas vezes. E como todas as combinações ainda efetivamente possíveis precisariam ter sido percorridas entre cada
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"combinação" e seu próximo "retomo" e como cada uma dessas combinações condiciona toda a sequência de combinações na mesma série, então estaria demonstrado, com isso, um circuito de séries absolutamente idênticas: o mundo como circuito que jâ se repetiu de maneira infinitamente frequente e que joga o seu jogo ao infinitum. Essa concepção não é simplesmente uma concepção mecanicista: pois, se ela o fosse, então não teria como condição um retomo infinito de casos idênticos, mas um estado final. Como o mundo não o atingiu, o mecanismo precisa ser considerado por nós uma hipótese incompleta e apenas provisória. 14 (189) O filósofo como um desenvolvimento ulterior do tipo sacerdotal - tem sua herança no corpo - mesmo como rival, é obrigado a lutar pelo mesmo com os mesmos meios que o sacerdote de seu tempo. - ele aspira à autoridade suprema o que dâ autoridade, quando não se tem o poder tisico nas mãos (nenhum exército, nenhuma arma em geral...)? como é que se conquista especialmente a autoridade sobre aqueles que possuem a violência flsica e a autoridade? eles concorrem com a veneração diante dos príncipes, diante dos conquistadores vitoriosos, diante do político sâbio.
....
Somente na medida em que eles despertam a crença na posse de uma força mais elevada, mais intensa em suas mãos, - Deus Nada é forte o suficiente: precisa-se da mediação e do serviço do sacerdote. Eles se colocam como imprescindíveis nesse espaço intermediário: - como condição da existência, eles necessitam 1) que se acredite na superioridade absoluta de seu Deus, que se acredite em seu Deus 2) que não haja nenhum outro acesso direto a Deus
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Só a segunda exigência cria o conceito da "heterodoxia"; a primeira, o conceito do "incrédulo" (isto é, daquele que acredita em outro deus - )
....
O que é, afinal, atrasado no filósofo? O fato de ele ensinar suas qualidades como qualidades únicas e necessárias, a fim de atingir o "bem supremo" (por exemplo, a dialética, como em Platão O fato de ele deixar ascenderem todos os tipos de homem gradativamente até o seu tipo como o mais elevado O fato de eles desprezarem o que é normalmente apreciado - o fato de abrirem violentamente um fosso os valores sacerdotais supremos e os valores mundanos O fato de ele saber o que é verdadeiro, o que é Deus, o que é a meta, o que é o caminho... o filósofo tlpico é aqui absolutamente dogmático; - se ele tem a necessidade do ceticismo, então isso acontece para poder falar dogmaticamente de sua questão principal 14 (190)
O problema dos oprimidos Não consigo vislumbrar se os semitas estiveram já em tempos muito antigos sob a terrivel escravidão dos hindus: como Tschandalas, de tal modo que algumas peculiaridades já tinham se enra.izado e fixado outrora, peculiaridades que pertencem ao tipo do escravizado e do desprezado (- tal como mais tarde nos egípcios). Mais tarde, eles se enobrecem, até o ponto em que se tornaram guerreiros... E conquistaram para si alguns países, alguns deuses. Aformação dos deu.ses semitaS coincidiu historicamente com sua entrada na história ... O "espirito", a tenaz pacil.!ncia, o oficio desprezado O conceito oficial da Tschandala é exatamente o conceito de um dejeto e de um excremento das classes nobres ...
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14 (191)
Platão encontra-se totalmente no espirito do Manu: ele foi iniciado no Egito. A moral das castas, o deus dos bons, a "alma única e eternan
- Platão, o bramanista - Pirro, o budista copiado: o tipo do filósofo. as castas a cisão da doutrina em esotérica e exotérica a "grande alma" a transmigração como darwinismo invertido (- não é grega) 14 (192) O conceito "egoísmo " É constitutivo do conceito do vivente o fato de que ele
precisa crescer - de que ele precisa ampliar o seu p0dcr e, con-
sequentemente, acolher em si forças alheias. Fala-se, sob o ofuscamento provocado pela narcose da moral, de um direito do individuo de se defender: no mesmo sentido, poder-se-ia falar de seu direito de ataca.r. p0is as duas coisas - e a segunda ainda mais do que a primeira - são necessidades para todo e qualquer vivente o egoísmo agressivo e defensivo não são questão de escolha ou mesmo de "vontade livre", mas a fatalidade da própria vida. O que se diz aqui é válido, quer se tenha em vista um individuo ou um corpo vivo, uma "sociedade" que aspira à ascensão. O direito à punição (ou a autodefesa social) só chegou no fundo à palavra "direito" por meio de um abuso: um direito é conquistado por meio de contratos - mas o resistir e o defender-se não repousam na base de um contrato. Um povo deveria poder designar como direito, com um sentido igualmente bom., a sua necessidade de conquista, o seu apetite de poder, seja com rumas, seja por meio do comércio, do tráfego e da colonização - direito ao crescimento, por exemplo. Uma sociedade que rejeita definitivamente e segundo o seu instinto a guerra e a cooquib1a já se encontra em declinio: ela está madura para a democracia e para o regimento dos merceeiros... Na maior parte dos casos, as garantias de paz são meros meios narcóticos
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14 (193)
No antigo direito penal, um conceito religioso era poderoso: o conceito da força expiatória da punição. O castigo purifica: no mundo moderno, ele macula. O castigo é wn pagamento: é-se realmente entregue à responsabilidade por aquilo que se quis fa. zer tanto sofrer. Posto que se acredite nessa força do castigo, então hâ em seguida um alívio e uma respiração, que efetivamente se aproximam de uma nova saúde, de urna reprodução. Não se alcançou apenas uma vez mais a sua paz com a sociedade, tomou-se possível também uma vez mais que o criminoso se tomasse digno de respeito perante si mesmo - "puro"... Hoje, o castigo isola ainda mais do que o crime; afatalidade por detrás de um crime cresceu a tal ponto que ela se tomou incurável. Sai-se da pena como inimigo da sociedade... A partir de agora, há wn inimigo a mais. O jus talionis pode ser ditado pelo espírito da desforra (ou seja, por meio de uma espécie de moderação do instinto de vingança); mas no Manu, por exemplo, trata-se da necessidade dé ter um equivalente, a fim de expiar, a fim de ser religiosamente "livre" uma vez mais. 14 (194)
O filósofo contra os rivais, por exemplo, contra a ciência : nesse caso, ele se toma cético : nesse caso, ele se reserva uma forma do conhecimento, que ele contesta ao homem cientifico. : nesse caso, ele segue lado a lado com o sacerdote, a fim de despertar a suspeita de ateísmo, de materialismo : ele considera um ataque a si como um ataque à moral, à virtude, à religião, à ordem - ele sabe difamar o seu adversário como "sedutor" e "minado" - nesse caso, ele segue lado a lado com o poder O filósofo na luta contra outros filósofos: : ele procura obrigá-los a se mostrarem como anarquistas, incrédulos, adversários da autori.dade Em suma: até o ponto em que ele lwa, ele luta totalmente como um sacerdote, como um sacerdócio
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14 (195)
Como se parece uma religião ariana que diz sim, o aborto das classes dominantes: O código de Manu. Como se parece uma religião semita que diz sim, o aborto das classes dominantes: O código de Maomé. O Antigo Testamento, em suas partes mais antigas Como se parece uma religião semita que diz não, como aborto das classes oprimidas: Segundo conceitos indo-arianos: o Novo Testamento uma religião da Tschandala. Como se parece uma religião ariana que diz não, uma religião que cresceu entre as estirpes dominantes : o budismo. É completamente nonnal que não tenhamos nenhuma re-
ligião de raças arianas oprimidas: pois isso é uma contradição: uma raça de senhores está em cima ou perece. 14 (J 96)
Egoísmo Princípio: só indivíduos singulares sentem-se responsáveis. As pluralidades são inventadas a fim de fazer coisas para as quais os indivíduos singulares não têm a coragem. Justamente por isso, todas as coletividades e sociedades são cem vezes mais sinceras e instn1tivas no que concerne à essência do homem do que o indivíduo, que é fraco demais para ter a coragem em relação a seus desejos ... Todo o "altrulsmo" resulta como astúcia do homem privado: as sociedades não são "altruístas" umas em relação às outras... O mandamento do amor ao próximo nunca foi ampliado até aqui e transformado em um mandamento do amor ao vizinho. Ao contrário, continua valendo o que se encontra no Manu ... A "tolerância" O estudo da sociedade é tão inestimável, porque o homem é muito mais ingênuo como sociedade do que como "unidade".
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A "sociedade" nunca considerou a virtude senão como meio da força, do poder, da ordem. O quão simplória e dignamente o diz Manu: - - 14 (197)
"Recompensa e castigo"..,. Essas duas coisas vivem uma com a outra, uma decai na outra. Hoje, não se quer ser recompensado, não se quer reconhecer ninguém que pune... Produziu-se o pé de guerra: quer-se algo, têm-se, nesse caso, adversârios, talvez se alcance isso da maneira mais racional possível, quando as pessoas entram em acordo - quando se faz um contrato Uma sociedade moderna, na qual todo singular firmou o seu "contrato": o criminoso é alguém que quebra o contrato... Esse seria um conceito claro. Assim, porém, não se poderiam tolerar anarquistas e, por princípio, adversârios de uma forma de sociedade no interior da sociedade... 14 (198)
O cristão pensa que, "em Deus, não há coisa alguma que seja impossível". Mas o hindu diz: junto à castidade e a ciência do Veda, não há coisa alguma que seja impossivel: os deuses estão subjugados e se mostram obedientes a elas. Onde está o deus, que poderia resisti.r à seriedade e à oração casta de um Yati recolhido na floresta? Como uma pedra que se joga no mar e no mesmo instante desaparece, os pecados também submergem e desaparecem na ciência do Veda. 14 (199)
Origem da moral O sacerdote quer impor o fato de ele vigorar como tipo supremo do homem o fato de ele dominar - mesmo sobre aqueles que têm o poder nas mãos o fato de ele ser impassível de ser ferido, inatacável...
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o fato de ele ser o mais forte poder na comunidade, absolutamente impossível de ser substituído e subestimado. Ponto médio. Ele apenas é aquele que sabe Ele apenas é o virtuoso Ele apenas tem o domínio, supremo sobre si Ele apenas é em certo sentido Deus e retoma à divindade Ele apenas é a pessoa intermediária entre Deus e os outros A divindade pune toda desvantagem, todo pensamento dirigido contra um sacerdote Ponto médio A verdade existe Só hã uma forma de alcançá-la: tomar-se sacerdote Tudo o que é bom, na ord.enação, na natureza, na proveniência, remonta à sabedoria dos sacerdotes O livro sagrado é sua obra. Toda a natureza é apenas uma execução dos estatutos ai Não há nenhuma outra fonte do bem senão o sacerdote Todos os outros tipos de excelência são hierarquicamente diversos da excelência dos sacerdotes, por exemplo, a excelência dos guerreiros Consequéncia: se o sacerdote deve ser o tipo supremo: então a gradação em relação às suas virtudes precisa constituir a gradação valorativa dos homens. O estudo, a dessensibiliza.ção, o nao ativo, o impassível, o desprovido de afeto, ofestivo. - Oposiçao (o gênero mais profundo de homem: - - -
O amedrontar os gestos, as maneiras bie.ráticas o excesso de desprezo do corpo e dos sentidos - a contranatureza como indício da supematureza
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O sacerdote ensinou um tipo de moral: a fim de ser ele mesmo experimentado como tipo supremo Ele concebe um tipo oposto: o Tschandala. Tomá-lo desprezível por todos os meios promove uma louca alegria para a ordem de castas seu extremo temor diante da sensibilidade é ao mesmo tempo condicionado pela intelecção de que aqui a ordem de castas (isto é, a ordem em geral) é ameaçada da maneira mais terrível possível... toda "tendência mais livre" in puncto punc11-i40 lança a legislação matrimonial pela borda afora 14 (200) Há algumas coisas admiráveis nessa concepção: por
exemplo, o absoluto alijamento dos dejetos materiais da sociedade, com a tendência de dizimá-los. Eles compreenderam de que necessita um corpo vivo - seccionar os membros doentes...
1) De uma maneira adminível, ela está distante da degeneração branda dos instintos, que se denomina agora "humanidade"... Com isso, tambêm estâ dis1ante da degradação de uma casta na outra... Assim, temos a fonnulação do casamento: a posição do "casamento por amor" (o tipo dos "músicos celestes": - - 2) a luta contra o alcoolismo ... p. 332. 3) sua apreciação plena da idade avançada, da mulher, p. 127 4) eles panem da necessidade de tornar o homem venerá• vel ante si mesmo: eles precisam transfigurar mesmo o que há de mais natural; e isso por meio do fato de contraporem o dever, como observância sagrada, ao sentimento 14 (201)
As castas concebidas como uma divisão do trabalho, por outro lado, como uma forma única de tomar instintiva a realiza. çãoplena ...
240 N.T.: Em latim no original: no que conceme ao ponto mais Importante.
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o essencial é a tradição do trabalho, a mecânica, que se toma perfeita justamente com isso, através das gerações ... 14 (202)
Se a unificação de um homem jovem e de uma moça jovem é o fruto de uma escolha mútua, então essa unificação é chamada de uma unificação nascida, tal como ela é, a partir do amor e tendo o amor por finalidade: O tipo dos "músicos celestes" Os quatro últimos tipos de casamento só dão à luz dissipadores, comerciantes ávidos e mentirosos como crianças, que não conhecem o escrito sagrado e os deveres que ele prescreve De casamentos honestos e louváveis surgem crianças honestas e louváveis; mas os maus casamentos não veem senão uma descendência desprezível. O elogio da virgem: p. 225. 14 (203)
Crítica do Manu: Redução da natureza à moral: um estado de punição do homem: não há nenhum efeito natural - a causa é o brâmane. Redução das motivações humanas ao medo diante da punição e à esperança da retribuição: isto é, diante da lei, que tem as duas coisas na mão... Temos de viver de maneira absolutamente conforme com a lei: o racional é feito,porque ele é ordenado; o instinto mais consonante com a natureza é satisfe-ito, porque a lei o prescreveu. Essa é uma escola do emburrecimento: em tal incubadora de teólogos (na qual mesmo o jovem militar e o agricultor precisavam passar por um curso de nove anos em teologia, a fim de se tomar conStantes - o "serviço militar" durante nove anos das três castas superiores), os Tsclzandalas acabavam ficando com a inteligência e mesmo com o que havia de mais interessante. Eles eram os únicos que tinham acesso à verdadeira fonte do saber, à empiria ... Precisamos acrescentar nesse cômputo a endogamia das castas... Faltam a natureza, a técnica, a história, a arte, a ciência,- - -
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14 (204)
Fala-se muito hoje do espírito semita do Novo Testamento: mas o que se denomina assim é meramente sacerdotal -e no código ariano da raça mais pura, no Manu, esse tipo de "semitismo", isto é, de espírito sacerdotal, é pior do que cm qualquer outro lugar.
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O desenvolvimento do Estado sacerdotal judaico não é original: eles conheceram o esquema na Babilônia: o esquema é ariano. Se esse esquema dominou mais tarde uma vez mais na Europa, sob o predomínio do sangue germânico, então isso estava em consonância com o espírito da raça dominante: um grande atavismo. A Idade Média germânica tinha em vista a reprodução da ordem de castas ariana .
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O maometismo aprendeu, por sua vez, dos cristãos: a utilização do "além" como órgão de punição.
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O esquema da coletividade imutável, com os sacerdotes na ponta: o grande produto cultura] mais antigo da Ásia no âmbito da organização - precisa ter sido requisitado em todo e qualquer aspecto para a reflexão e a imitação. Ainda em Platão: mas, sobretudo, nos egípcios. 14 (205)
Uma coisa é a mais dificil de ser perdoada: o fato de se estimar a si mesmo. Um tal ser é simplesmente abominável: ele traz efetivamente à luz aquilo que está em jogo com a tolerância, a única virtude dos outros e de todos ... Queria que se começasse a estimar a si mesmo: todo o resto se segue daí. Naturalmente, deixa-se de existir justamente com isso para os outros: pois é isso exatamente que eles não conseguem de maneira alguma perdoar. Como? Um homem que estima a si mesmo?
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Isso é algo diverso do impulso cego de amar a si mesmo: nada é mais habitual, no amor entre os sexos, assim na duplicidade que é denominada "eu", do que o desprezo em relação àquilo que se ama, o fatalismo no amor 14 (206)
Contra o contágio da neurose Escolha dos lugares, coisas, livros, O alcoolismo e a música ... o ópio climático e meteorológico; assim como o culinârio Atenuação do nú.mero de impressões: Reservar tempos nos quais nenhum livro e nenhuma coisa nos fala - para não falar sobre um homem ... Tempos de restabelecimento, regime de Gênova; o homem mais saudável necessita boje de tais tempos: - tempos de jejum Contra o vegetarianismo: - - 14 (207)
Nós somos Tschandala: e nossos homens de arte e artistas na frente... 14 (208)
por que h1do se torna teatro? Falta ao homem moderno: O instinto se1,ruro (consequência de uma longa forma de atividade de um mesmo tipo de !homem) A incapacidade de realizar algo perfeito é meramente a consequência disso: - nunca se pode recuperar a escola como particular 14 (209)
Os tempos, nos quais se dirige o homem com recompensa e castigo, têm em vista um tipo ainda primitivo inferior de homem: dá-se aqui o mesmo que com as crianças ... Em meio à nossa cultura tardia, a fatalidade e a degenerescência se mostram como algo que suspende completamente o sentido de recompensa e castigo ...
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- pressupõem-se raças jovens, fortes, vigorosas, essa determinação real da ação por meio da perspectiva da recompensa e do castigo... não poder apresentar resistências lã onde um estímulo é dado, mas precisar seguir-lhe: essa irritabilidade extrema dos decadentes toma completamente sem sentido tais sistemas de punição e de aprimoramento... O conceito de "aprimoramento" no pressuposto de um homem forte e normal, cuja ação particular deve ser uma vez mais equilibrada de algum modo, para não perdê-lo, para não tê-lo como inimigo ... 14 (210)
As morais da decadência possuem a peculiaridade de que elas recomendam uma prâxis, um regime, que acelera a decadência... - tanto fisiológica quanto psicologicamente: o instinto da reparação e a plasticidade não atuam mais ... - eles acreditam cm cura, em redenção, mesmo daqueles com os quais o nada, o mais profundo esgotamento se choca - eles buscam o que possui o mesmo modo de ser conjuntamente a partir de todas as coisas, estados e épocas: exemplo, os irmãos Goncourt... 14(211) A energia da saúde revela-se junto aos doentes na resistên-
cia brusca em relação aos elementos adoecedores ... uma reação do instinto, por exemplo, contra a música cm mim14(212)
A determinação da mulher é dar prosseguimento à familia por meio dos filhos, a determinação do homem é gerar os filhos: esse duplo dever, para o qual homem e mulher são conjuntamente ativos, tem sua sacralizaçã.o por meio da escritura.
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Quais são aqueles que precisam ser considerados os mais culpados? O assassino de um brâmane, aquele que sorve bebidas alcoólicas e aquele que seduz a mulher de seu conselheiro espiritual De acordo com a expiação prescrita, ele deve condená-los à morte ou a outras penas corporais. Ele deve estigmatizar a fronte daquele que seduziu a mulher de seu conselheiro com a imagem da genitália feminina, daquele que sorve bebidas alcoólicas com o sinal do instrumento de destilação, do assassino de um brâmane com a imagem de um corpo sem cabeça. 14 (213)
Tal código resume a experiência, a astúcia e a moral experimental de longos séculos: ele conclu.i, ele tennina uma época, ele não cria nada mais Os meios de criar a autoridade para uma verdade pesada e custosamente conquistada são fundamentalmente diversos dos meios com os quais se os demonstraria. Um código nunca demonstra a utilidade e a desvantag.em de uma prescrição: ele mostra apenas as consequências terríveis para o ind.ivlduo, quando ele não respeita uma lei como lei - quando ele se mostra desobediente. Todas as consequências terríveis de uma violação da lei nunca são consideradas com vistas a um castigo sobrena/llral, pelo fato de não se seguir uma prescrição. O problema é este: em ceno momento da história do povo, a camada mais inteligente desse povo declara concluída a experiência segundo a qual é poss[vel ou não é possível viver. Sua meta dirige-se para a possibilidade de levar para casa a colheita da maneira mais rica e mais plena possível depois de longos períodos de experimento e depois da experiência terrível... O que se precisa evitar agora, antes de tudo, é o experimentar novamente, o querer prossegµir no teste e na seleção: contrapõe-se a isso um duplo muro, 1) a revelação e 2) a tradição. As duas são mentiras sagradas: a estirpe inteligente que as inventa as compreende tã.o bem quanto Platão as compreendeu. A revelação: trata-se da afinnação de que a razão não buscou e encontrou lentamente e com enganos a razão daquelas
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leis, mas que essa razão foi comu.nicada de uma vez só pela divindade ... A tradição: essa é a afirmação de que as coisas já teriam
se mostrado assim desde tempos imemoriais. Em suma, uma falsificação principiai de toda a história de um povo. (Exemplo, a reinterpretação judaica depois do exílio - o querer compreender mal o seu passado) é ateista criticar a lei é impiedoso - trata-se de ·um crime em relação aos ancestrais - as pessoas os atiçam contra si 14 (214)
A mulher que repele seu marido de si porque ele possui a paixão pelo jogo ou pelos licores em vez de cuidar dele como de alguém doente deve ser encarcerada por três meses, sem qualquer limpeza e ornamentação (avis241 junto George Eliotl) 14(215)
Transfiguração das consequências naturais de uma ação Não hã mais nenhuma consequência natural: mas a desobediência é punida, enquanto a virtude é recompensada. A felicidade, a vida longa, os descendentes- tudo isso são consequências da virtude, intcnncdiada pela ordem eterna das coisas A impureza, por exemplo, é proibida, não porque suas consequências façam mal à saúde: mas é porque ela é proibida que ela faz mal à saúde...
••• Ou seja, por princípio: a consequência natural de uma ação é representada, como recompensa ou castigo, sempre de acordo com o fato de algo ser pcnnitido ou proibido... para tanto, é necessário que a maior quantidade dos castigos não seja justamente natural, mas sobrenatural, que eles estejam para além de, que eles sejam meramente futuros ...
....
241 N.T.: Em latim no orlslnal: ponto de vista.
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Ou seja, por princípio: toda desvantagem, toda infelicidade é prova de culpa: mesmo cada forma de existência ínfima (os
animais, por exemplo) O mundo é perfeito: supondo que aconteça algo que seja suficiente para a lei. Toda a imperfeição advém da desobediência à lei.
••• A casta superior também tem de representar, como a casta suprema, a felicidade: por isso, nada é mais inadequado do que o pessimismo e a indignação ...
nenhuma fúria, nenhuma réplica no que há de terrível a ascese apenas como meio para a felicidade mais elevada, para a redenção de muitas coisas a classe suprema tem de manter uma felicidade, sob o preço de apresentar contra si a obediência incondicionada, todo tipo de dureza, autodominação e rigor - ela quer ser experimentada como o tipo mais venerável de homem - também como o mais admirável: consequentemente, ela não pode precisar de todo e qualquer tipo de felicidade 14 (216) Crítica da lei
A razão superior de tal procedimento é repelir a consciência passo a passo da vida reconhecida como correta: de tal modo que seja alcançado um automatismo mais pleno do instinto - isto é, o pressuposto de todo tipo de maestria É casto, é usual, é um sinall de homens bravos e altivos agir de tal e tal modo: - resta isso: A origem, a utilidade, a razão da prescrição é reprimida da consciência. O meio mais essencial para essa repressão é o fato de dois outros conceitos aparecerem com uma violência descomunal no primeiro plano: os dois excluindo a reflexão propriamente dita sobre a origem e a critica da lei... a recompensa o castigo
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"Todo homem que recebeu um castigo por um delito por ordem do rei vai para o céu livre de toda mácula, tão puro quanto aquele que sempre fez apenas o bem." Trata-se de uma questão ,da mais suprema autoconservação; "uma coisa é necessária": obedecer aqui absolutamente... Não obedecer aqui recebe a nova marca da mais elevada esh,pidez -
O egoísmo é colocado em jogo, de tal modo que obedecer e não obedecer se contrapõem como afe/icidade e o mais profundo prejuízo a si mesmo
Para esse fim, toda a vida é colocada em uma perspectiva transcendente, de tal forma que ela é concebida no sentido mais aterrorizante de todos como consequente ... - a imortalidade relativa é a grande lente de aumento, para elevar de maneira inaudita o conceito de castigo... recompensa. Esses s!\bios 11ão açrçditam 11isso; - senão e!es não o inventariam ... 14 (217)
Uma casta, que rejeitou todo trabalho de defesa e de ataque, mesmo no que concerne à sua atitude em relação a si - e que considera de maneira rigorosa o conceito "bom"... 14 (218)
O "homem bom", como uma imagem da decadência, que "vem à tona", que compreende a desvantagem de todo ser-inimigo, de todo enfurecimento e de toda vontade de vingança - que é fraco demais, que tem os nervos fracos demais... O "homem bom", por força, por plenitude de poder, como tipo dominante, que escolheu para si uma existência, que lhe dispensa da obrigação de ter afetos agressivos e defensivos...; que incumbiu uma casta própria com esses afetos ... Tal homem cria para si, então, um "Deus" à sua imagem - para ele, o mundo também está justificado: o mal tem uma finalidade pedagógica, isto é, uma finalidade punitiva ...
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Fraqueza da vontade: trata-se de uma imagem, que pode induzir em erro. Pois não há nenhuma vontade, e, consequentemente, nem uma vontade forte nem uma vontade fraca. A pluralidade e a desagregação dos impulsos, a falta de sistema entre eles resulta como "vontade fraca"; a coordenação dos impulsos sob o predomínio de um impulso em particular resulta como "vontade forte"; - no primeiro easo, temos a oscilação e a falta de um fiel da balança; no segundo caso, a precisão e a clareza da direção 14 (220)
A religião que diz sim
A mais elevada veneração diante do ato da geração e da família: Tem-se de pagar pelas culpas de ancestrais ... o instinto da tradição, o mais profundo desprezo em rela-
ção a tudo aquilo que abrigou a tradição ... O instinto contra a degenerescência ... Isto precisa ser estudado: tudo aquilo que foi contabilizado conjuntamente como degenerado. Os viciosos. Os doentes mentais. Os leprosos pesados. As putas. Os artistas. 14 (221) A ordem das castas repousa na observação de que há três
ou quatro tipos de homens, determinados para outra atividade e maximamente desenvolvidos, ta 1 como essa atividade lhes cabe a todos por meio da divisão do trabalho. um modo de ser como prerrogativa, uma espécie de atividade do mesmo modo a ordem das castas é apenas o sancionar de uma distlincia natural entre muitos tipos fisiológicos (caracteres, temperamentos etc.)
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- ela é apenas a sanção da experiência, ela não precede a experiência, nem tampouco a suspende... a) os homens mais intelectualizados (- os eruditos, os conselheiros, os juízes, os filósofos - ) - classe docente b) os homens musculares, a classe guerreira- classe de defesa c) o comércio, a agricultura e a criação de gado - a classe alimentlcia d) por fim, reconhece-se um tipo inferior (subjugado) de autóctones, como raça servil. Há aqui por toda parte o pressuposto de uma real separação natural: o conceito de casta sanciona apenas a separação natural. O caráter sagrado da fomília , a solidariedade entre os sexos é a pressuposição de toda a construção: - consequentemente, ele precisa ser completamente traduzido no além. Tem-se necessidade de um filho, porque só um filho redime... as pessoas se casam "a fim de pagar a dívida dos ancestrais" 14 (222) Os pessimistas modernos como decadentes: Schopenhauer Leopardi Baudelaire Manlãnder Goncourt Dostoiévski Fez-se a tentativa de mau gosto de subsumir Wagner e Schopenhauer entre os doentes mentais: o que correspondia completamente à verdade era acentuar a decadência fisiológica cm seu tipo... 14 (223) Os judeus fazem a tentativa de se impor, depois de terem perdido duas castas, a dos guerreiros e a dos agricultores eles silo, nesse sentido, os "circuncidados" - eles têm o sacerdote - e, então, imediatamente depois, a Tschandala ... Como de costume, eles e·xperimentam uma ruptura, uma rebelião da Tschandala: a origem do cristianismo.
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Com o fato de eles só terem conhecido o guerreiro como o seu senhor, eles inseriram em sua religião a hostilidade contra os nobres, contra os aristocratas, os orgulhosos, contra o poder, contra as classes dominantes - : eles são pessimistas da indignação... Com isso, criaram uma posição nova importante: o sacerdote na ponta da Tschandala contra as classes nobres... o cri.stianismo retirou a última consequência desse movimento: mesmo no sacerdócio j udaico, ele acolheu ainda a casta, o privilegiado, o nobre ele exclui o sacerdote Cristão é a Tschandala, que recusa o sacerdote... A Tschandala, que redime a si mesma ... Por isso, a Revo/11çào Francesa é a filha e a prosseguidora do cristianismo ... ela tem o instinto contra a Igreja, contra os nobres, contra os últimos privilegiados - - 14 (224)
É preciso não confundir isto: os sudras, urna classe de servos: provavelmente um tipo inferior de povo, que foi previamente encontrado no solo, onde esses arianos tomaram pé ... Mas o conceito Tschandala expressa os degenerados de todas as castas: os materiais para dejeto em permanência que, por sua vez, se reproduzem entre si contra eles fala o mais profundo instinto da saúde de uma raça. Ser duro nesse caso é sinônimo de ser "saudável": trata-se do nojo ante a degeneração, que encontra u.qui um grande número de fórmulas morais e religiosas ... Nada é mais instrutivo do que os componentes dessa ralé: - os antigos sábios finos e profundos sabiam o que não se sabia - até hoje!!!) : o fato de vicio doença perturbação menta.! são sintomas hipemervosismo de da decadência certas disposições fisiológica espirituais
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Eles contam os artistas ellitre os decadentes ... 14 (225) Supondo que desaparecem as razões para precisar partir daquelas hipóteses metafisicas, supondo que não se quer mais reagir, educar, manter seu tipo como o mais elevado e o primeiro: Supondo que se pense como Tschandala sobre as coisas, então talvez se encontre uma vez mais toda a cadeia de experiências e conclusões reunidas, que serviam de pressuposto para aqueles antigos construírem suas hipóteses: quero dizer, encontra-se a "verdade" - mas exatamente na dissolução de toda autoridade, de todo respeito ante toda tradição, ante todos os preconceitos morais - nós consumimos o nosso resto de moralidade herdada junto a esse trabalho ... aquilo que agora se mostra como ciência é um medidor de grau para o declínio da crença moral e religiosa: - nós somos dissolvidos, quando nos encontramos no fim de nossa sabedoria - nós consumimos todas as forças positivas, para o conhecimento... O saber em si é impotente: e, no que concerne ao "egoísmo", não estamos de maneira alguma seguros em uma época de decadência de querermos aq11ilo que é vantajoso para nós: os impulsos são poderosos demais para que a utilidade permanecesse o ponto de vista diretriz - o "altruísmo", a convivência e a simpatia de todo tipo de sentimentos e estados é nesse caso mais uma grande doença: trata-se da ,consciência moral da Tschandala, uma fraqueza que está associada ao prazer... 14 (226) aquilo que cria uma moral, um código, o instinto profundo em relação ao fato de que só o automatismo toma possível a perfeição na vida e na criação... Mas agora alcançamos o ponto oposto, nós quisemos alcançá-lo - a mais extrema consciência, o autodesvendamento do homem e da história ... - com isso, estamos praticamente no ponto mais distante da perfeição no ser, no fazer e no querer: nossos desejos, nossa
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vontade mesma de conheciment,o é um sintoma de uma decadência descomunal... Nós aspiramo,s ao contrário daquilo que raças fortes, naturezas fortes - querem - o conceber é um fim ... O fato de a ciência ser possível nesse sentido, tal como ela é hoje empreendida, é a prova de que todos os instintos elementares, todos os instintos de defesa e de proteção da vida não funcionam mais nós não reunimos mais, nós dissipamos os capitais dos ancestrais, mesmo sob o modo como conhecemos 14 (227)
Com uma palavra arbitrária e em todos os aspectos contingente, com a palavra "pessimismo", cometemos um abuso, que se tomou completamente contagioso: desconsiderou-se, com isso, o problema em que vivemos, o problema que somos não se trata de saber quem tem razão - o que é preciso perguntar é a que lugar penencemos, se aos condenados, às figuras do declí.nio... Nesse caso,julgamos de modo niilista. Colocaram-se dois modos: de pensamento um contra o outro, como se eles tivessem de brigar um contra o outro sobre a verdade: sendo os dois apenas sintomas de estados, e sua luta provando a presença de um problema cardinal da vida - e não de um problema de filósofos, A que lugar pertencemos? - somos - - -
(15 = Inverno li 6a. Início do ano 1888)
15 (!)
Crítica aos va /ores modernos As instituições liberais O altruísmo da moral A sociologia A prostituição O casamento O crime 15 (2)
A vida "ascendente" e a vida descendente: as duas formulam para si suas necessidades supremas e as transformam em tábuas de valores. Como é que se chega ao fato de os valores supremos nos quais se acredita, todos juntos - - 15 (3)
Em todos os casos nos quais dar à luz uma criança seria um crime, por exemplo, nos doentes crônicos e neurastênicos de terceiro grau; cm todos os casos nos quais, por outro lado, apresentar meramente um veto, ao impulso sexual acabaria em desejos castos (- com frequência, esse impulso tem em desvalidos desse tipo uma excitabilidade repulsiva), é preciso exigir que a procriação seja interrompida. A sociedade não conhece pouco tais exigências fundamentais e urgentes desse tipo. Aqui não é suficiente o desprezo, a declaração de desonra social como meio para refrear uma fraqueza infame de caráter: sem levar em consideração classe, nível hierárquico e cultura, ter-se-ia o direito de proceder com as mais duras punições patrimoniais, sob certas circunstâncias mesmo com a perda da "liberdade", com circunspecção ante tais crimes. Colocar uma criança no mundo, no qual não se tem por si mesmo o direito de estar, é pior do que roubar uma vida. O sifilitico que gera uma criança fornece a cau-
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sa para toda uma cadeia característica de uma vida equivocada, ele cria uma objeção contra a vida, ele se mostra um pessimista da ação: com certeza, por meio dele, o valor da vida é reduzido ao indeterminado. 15 (4)
Não se acaba com a prostituição; há mesmo razões para se desejar que ela não seja suprimida. Consequentemente - ela deveria ser enobrecida: espero que se compreenda esse "consequentemente"? Em que se sustenta, porém, o fato de algo se tornar desprezível? No fato de ele ter sido desprezado por muito tempo. Com isso, se as pessoas pararem de desprezar as prostitutas, elas não terão mais nenhuma razão para desprezar a si mesmas. Por fim, as coisas se encontram por toda parte melhores do que estão conosco: em todo o mundo, a prostituição é algo inocente e ingênuo. Há culturas na Ásia nas quais as prostitutas desfrutam até mesmo de grandes honrarias. A infâmia não reside de maneira alguma na coisa mesma, ela é amtes inserida por meio do caráter antinatural do cristianismo, daquela religião que tomou sujo até mesmo o ato sexual!. .. La filie canaillew é uma especialidade cristã: a Europa, porém, é o solo favorável ao seu crescimento, e as grandes cidades da Europa são os sítios nos quais prospera seu superlativo... - Problema: quais são as condições que fornecem à capital do império neogennânico uma superioridade na arte de tomar pérfidas as prostitutas?... Uma questão permitida: mas as pessoas se envergonham de lhe responder de maneira alemã... 15 (5)
Crítica à filosofia. Em que medida a filosofia é um fenômeno da decadência: Sócrates, Pirro. A idiossincrasia dos filósofos contra os sentidos: seu "mundo verdadeiro"
242 N.T.: Em francês no original: A menina pervertida.
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············ .. ····· .. ··················"······ ............................................... . O que é o medo diante dos sentidos e da paixão... Os filósofos como mora/is1as: eles minam o naturalismo da moral Crítica ao aprimoramento moral. O remorso da filosofia da compaixão O filósofo e a convicção. Como o mundo verdadeiro se transformou em fábula. Critica da arte. Crítica da religião. Religião. Sua origem a perigosa incompreensão Sobre a história do conceito de Deus. Paganismo. Cristianismo. O ideal cristão. O perigoso no cristianismo. 15 (6) 1.
A erupção da arte de Wagner: ela continua sendo nosso último acontecimento na arte. O quanto ela não desponta desde então por toda parte como um vulcão! Antes de tudo de maneira muito ruidosa: não se têm mais. boje, como outrora, os ouvidos para compreender!... As pessoas têm os ouvidos hoje quase para não compreender mais nada!... O próprio Wagner, sobretudo, permanece incompreendido. Ele continua sendo sempre uma terra incógnita. As pessoas por vezes o idolatram. Também se está disposto a compreendê-lo? O wagneriano típico, um ser quadrangular em todos os aspectos., acredita em Wagner: evidentemente, também em um Wagner quadrangular... mas Wagner era tudo menos quadrangular: Wagner era "wagnérico". Perguntei-me se já houve efetivamente alguém moderno, mórbido, múltiplo e tortuoso o suficiente para ser considerado preparado para o problema Wagner? No máximo na França: Charles Baudelaire, por exemplo. Talvez também os irmãos Goncourt. Os editores da "Faustine" desvendariam certamente algo em Wagner... mas lhes
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falta a música no corpo. - Será que as pessoas compreenderam o fato de os músicos como um todo não serem psicólogos? O não-querer-saber-aqui funciona entre eles como um instrumento, digamos, como o gênio de seu instrumento... eles não teriam mais confiança, se eles se compreendessem... Não se diz "vã com Deus" em vão aos conceitos e às palavras: acaba-se caindo por meio da vontade no inconsciente... Daí se segue algo aflitivo: ou bem alguém é músico e, então, não compreende os senhores músicos (incluindo ai a si mesmo) - mas, sim, a música. Ou bem, porém, ele é psicólogo: e, então, provavelmente não compreenda a música, de tal modo que, por conseguinte, também não compreende os senhores músicos... Essa é a anti11omia. E, por isso, só hã até aqui falatório tanto sobre Beethoven quanto sobre Wagner como músicos. 2. Felizmente, Wagner s6 :se tomou parcialmente músico: Wagner como um todo era algo diverso de um músico e até mesmo antes ainda o seu oposto. Nele, os alemães receberam de presente o mais extraordinãrio gênio do teatro e do espctãculo que já houve até aqui. Não entendemos nada de Wagner, se não o entendemos a partir desse lado. Serã que Wagner, precisamente com esses instintos, era alemão? ... Mas é o contrãrio que estã mais à mão. Os alemães acolhem seus grandes homens como exceções e oposição mesmo em relação às suas regras: Beethoven, Goethe, Bismarck, Wagner- nossos últimos quatro grandes homens - : é possível deduzir deles da maneira mais rigorosa poss[vel aquilo que fundamentalmente não é alemão, que é agermãnico, antigermânico ...
3. Wagner era tão pouco um. músico que chegou mesmo a fa. lar de maneira mais determinada sobre todas as leis musicais, que sacrificou o estilo em geral na música, a fim de fazer dela uma espécie de retórica, um meio de expressão, de intensificação da sugestão, do psicológico-pitoresco. A música de Wagner, quando não é avaliada pela ótica e pela solidez do teatro, mas, antes,
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como música em si, é simplesmente música ruim, uma não música: nunca conheci pessoa alguma que não soubesse disso. Os ingênuos acreditam estar lbe fazendo uma honra ao decretarem: Wagner criou o estilo dramático na música. Esse "estilo dramático" é, dito sem rodeios, a falta de estilo, a aversão ao estilo, a impotência para o estilo transformadas em princípio: música dramática, compreendida assim, é um sinônimo para "a pior de todas as músicas possíveis"... Não se faz justiça a Wagner quando se procura transformá-lo em um músico.
4. A música de Wagner como tal é insuportável: precisa-se do drama como uma forma de redenção em relação a essa música. E, então, compreende-se de um:a só vez a magia que ainda pode ser exercida com uma arte por assim dizer circuncidada e transformada em algo elementar! Wagner tem quase uma consciência sinistra de tudo o que é elementar no efeito da música: pode-se denominá-lo sem exagero o grande mestre da hipnose, mesmo ainda em uma época de bruxas e bruxos. Ele se movimenta, ele busca, ele corta, ele faz gestos: - ele é compreendido... as mocinhas já são frias ... Wagner numca calcula como músico a partir de uma consciência qualquer de músico: ele quer um efeito, ele calcula a partir da ótica do teatro ... Nada lhe é mais oposto do que a divindade secreta e monológica da música de Beethoven, do autorressoar da solidão, do pudor ainda no soar... Wagner é inofensivo, como Schiller era inofensivo, como todos os homens de teatro são inofensivos: sob certas circunstâncias, ele precisa da crença dos ouvintes para ouvirem justamente tal música diversa - ele a constrói. Parece-nos que ele a constrói: nós monstros mesmos somos enganados... Em seguida, compreendemos bem demais que somos enganados: mas o que importa a um artista de teatro o ''em seguida"!. .. Ele tem o instante para si: Wagner convence incondicionadamente. ''Não há em parte alguma contrapostos autênticos em Wagner" - assim fala o "em seguida". Mas, para quê, também! Nós estamos no teatro, e basta acreditar que há algo assim como um contraponto...
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5. O efeito da arre wagneriana é profundo, ele é antes de tudo pesado: de onde isso provém? Como insinuamos, isso não provém de início da música: nem mesmo toleraríamos a música, se não lõsscmos arrebatados jâ por algo diverso e se já não tivéssemos perdido nossa liberdade. O elemento diverso é o páthos wagneriano, ao qual ele apenas .adicionou a sua música. Trata-se do poder descomunal desse páthos, de sua capacidade de prender a nossa respiração, de um não querer mais nos deixar em paz que é próprio a um sentimento extremo, trata-se da extensão assustadora desse páthos, com a qual Wagner nos vence e sempre nos vencerá: - de tal modo que ele nos convence por fim até mesmo para a sua música ... Será que com tal páthos se é um gênio? Ou mesmo apenas se pode ser?... Compreendeu-se por vezes pelo gênio de um artista a sua mais elevada liberdade sob a lei, sua leveza divina, sua leviandade em meio ao que há de mais pesado.
Poder-se-ia dizer: "Wagner é pesado, muito pesado: consequentemente - ele não é nenhum gênio?" Mas talvez se esteja sendo injusto ao transformar os pés leves no caráter tipológico do deus. - Outra questão, para a qual temos em mãos uma resposta mais determinada, é a seguinte: será que Wagner, precisamente com um tal páthos, é alemão? É um homem alemão? Nunca! Talvez uma exceção dentre todas as exceções... ! 6.
A sensibilidade de Wagner não é alemã: tanto mais alemão é o seu tipo de espírito e de espiritualidade. Sei muito bem por
que os jovenzinhos alemães se sentiram bem com ele de uma maneira incomparável, em meio à profundidade, à pluralidade, à profusão, ao arbítrio, à incertcz.a no elemento espiritual wagnerianos: com isso, eles se sentiram em casa consigo mesmos! Eles ouvem com encanto, como é que os grandes símbolos e enigmas vindos de uma distância descomunal ressoam com um trovão suave. Eles não se zangam quando as coisas se mostram por vezes cinzentas, horríveis e frias: eles estão completamente familiariz.ados com esse mau tempo, com o tempo alemão! ... Eles não
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sentem falta daquilo que nós outros sentimos falta: chiste, fogo, graça; a grande lógica; a espiritualidade petulante; a felicidade alciônica; o céu brilhante com suas imagens de estrelas e seus tremores provados pela luz. 7. A sensibilidade de Wagner não pertence à Alemanha: é possível encontrá-la entre aqueles homens que se acham mais aparentados com Wagner, os românticos franceses. A paixão, ta.1 como Wagner a compreende, é cm todo caso a contraparte da "liberdade do espírito própria à paixão", para falar como Schiller, como a sensibilidade romântica alemã. Schiller 6 tão alemão quanto Wagner é francês. Seus heróis, seus Rienzi, Tannhiiuser, Lobengrin, Tristão, Parsival - e]es têm sangue nas veias, não há dúvida - mas certamente não um sangue alemão! E quando eles amam, esses heróis - eles amam mulheres alemãs?... Tenho dúvidas quanto a isso: mas duvido ainda mais de que eles viriam a amar precisamente heroínas wagnerianas: que povo pobre e que preparado construído a partir de todos os tipos de experimentos neurótico-hipnótico-eróticos de psicólogos parisienses! Será que as pessoas já notaram que nenhuma delas jamais gerou uma criança? - Elas não o conseguem!...
8. Hoje não se quer falar de modo algum sobre o quanto Wagner deve à França, o quanto ele mesmo pertence a Paris. A ambição do grande estilo em um artista - mesmo essa ambição é francesa em Wagner... E a grande ópera! E a competição com Meyerbeer! E até mesmo os meios meyerbeerianos! O que há nisso de alemão? ... Por fim, ponderemos de qualquer modo o decisivo: o que caracteriza a atividade artística wagneriana? O histrionismo, a encenação, a arte da étalage,243 da vontade do efeito pelo efeito, o gênio da apresentação, da representação, da imitação, da exposição, da significação, da aparência: trata-se, aqui, de um tipo qualquer alemão de talento? ... Atê aqui, sabe243 N,T,: Em francês no original: exposição de mercadorias à venda.
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mos muito bem disto, tivemos nesse ponto a nossa fraqueza - e não queremos fazer para nós dessa fraqueza nenhum motivo de u ' 'd /. ... orgulho1.... mas esse e· o genw ar " rança 15 (7)
O romântico O naturalismo 15 (8)
Progresso. VI Que nós não nos iludamos! O tempo caminha para frente nós gostaríamos de acreditar que, tudo aquilo que se encontra nele também caminha para frente... que o desenvolvimento é um desenvolvimento para frente... Essa é a aparência, pela qual os homens mais prudentes são seduzidos: mas o século XIX não representa nenhum progresso em relação ao XVI: e o espírito alemão de 1888 é um retr0cesso em relação ao esp!rito alemão de 1788... A"humanidade" não avança, ela nem mesmo ex.iste... O aspecto conjunto é o de uma descomunal caixa de ferramentas, na qual algo tem sucesso, disperso por todos os tempos, e algo indizível fracassa, na qual falta completamente toda ordem, lógica, ligação e obrigatoriedade... Como é que podemos desconhecer o fato de que o surgimento do cristianismo é um movimento de decadência? ... O fato de a reforma alemã ser um recrudescimento da barbárie cristã?... O fato de a revolução ter destruído o instinto para a grande organização, a possibilidade de uma sociedade?... O homem não é nenhum progresso cm relação ao anima.!: o último rebento da cultura é um aborto em comparação com o árabe e com o corso; o chinês é um tipo bem-educado, a saber, mais duradouro do que o europeu... 15 (9)
Jesus: Dostoiévski Só conheço um psicólogo que viveu no mundo onde o cristianismo é possível, onde um cristão pode surgir a cada instante... Esse psicólogo é Dostoiévski. Ele desvendou o Cristo: - e, instintivamente, ele se manteve, sobretudo, cauteloso ante a possibilidade de imaginar esse tipo com a vulgaridade de um Renan ...
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E, em Paris, acredita-se que Rcnan sofria em muitos aspectos de finesse!... Mas será que é possível incorrer em um erro mais terrível do que o de transfonnar o Cristo, que era um idiota, em um gênio? Do que se sair com mentiras e fazer do Cristo, que representava o oposto de um sentimento heroico, um herói? 15 (10)
O que é trágico. Coloquei reiteradas vezes o dedo na ferida da grande incompreensão de Aristóteles, no fato de ele ter acreditado poder reconhecer em dois afetos depressivos, no horror e na compaixão, os afetos trágicos. Se ele tivesse razão, então a tragédia seria uma arte perigosa para a vida: diante dela, seria preciso fazer advertências como diante de algo nocivo para a comunidade e suspeito. A arte, de resto o grande estimulante da vida, uma embriaguez de vida, uma vontade de vida, se mostraria aqui, a serviço de um
movimento descendente, por assim dizer como serva do pessimismo, como nociva à saúde. (Pois simplesmente não é verdade que as pessoas se "purguem" desses afetos por meio do estimulo ao seu aparecimento, tal como Aristóteles parece acreditar.) Algo que habitualmente desperta horror ou compaixão desorganiza, enfraquece e desencoraja: - e supondo que Schopenhauer tivesse razão no fato de termos de dedu.zir da tragédia a resignação, isto é, uma suave abdicação à felicidade, à esperança, à vontade de vida, então se estaria concebendo, com isso, uma arte, na qual a arte negaria a si mesma. Tragédia significaria, então, um processo de dissolução, com os instintos da vida se destruindo na própria arte. Cristianismo, niilismo, arte trágica, decadência fisiológica: isso se manteria de mãos dadas, se tomaria preponderante na mesma hora, isso se impeliria mutuamente para frente - para baixo!... a tragédia seria um sintoma da decadência. Pode-se refutar essa teoria da maneim mais fria possivel: a saber, na medida cm que se mede por intermédio do dinamômetro o efeito de uma emoção trágica. E alcança-se como resultado aquilo que, psicologicamente, só a absoluta mendacidade de um sistemático poderia em última instância negar - : o fato de a tragédia ser um tonicum. Se Schopenhauer não quis entender as coisas
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aqui, se ele estipulou a depressão conjunta como estado trágico, se ele deu a entenderem relação aos gregos (- que, para seu desgosto, não "se resignaram"...) que eles oão teriam alcançado o caráter elevado da visão de mundo: então isso é, partí pris, lógica do sistema, falsificação própria a wn sistemático: uma daquelas terrlveis falsificações que estragaram em Schopenhauer passo a passo a sua psicologia (: ele, que tinha se relacionado a partir de uma violenta e arbitrária incompreensão com o gênio, a arte mesma, a mora~ a religião pa1,>ã, a beleza, o conhecimento e com praticamente tudo Aristóteles Aristóteles queria ver considerada a tragédia como um purgativo de compaixão e horror - como uma útil descarga de dois afetos desmedidamente acumulados... Os outros afetos atuam tonicamente: mas apenas dois afetos depressivos - e, por conseguinte, esses são particularmente desvantajosos e ruins para a saú.de - a compaixão e o horror deveriam ser, segundo Aristóteles. eliminados do homem pela tragédia como por meio de um purgante: a tragédia, na medida em que desperta esses estados em excesso, redime o homem deles. A tragédia como um tratamento contra a compaixão. 15 (li)
O senhor é hoje o único músico, que faz música de acordo com o meu coração: de maneira parca, será que vos compete tudo aquilo que tenho no coração contra a música atual? O gosto pela música de Wagner compromete. Digo isso como alguém que se apresenta - eu me comprometi. 15 (12) Para a critica a Wagner A música de Wagner é antigoethiana.
De fato, falta Goethe na música alemã, assim como ele também não se apresenta na política alemã. Em contrapartida: o quanto de Schiller, ou, dito mais exatamente, o quanto de Tekla há em Beethoven! Muito de um estilo burguês, muita unção.
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Wagner não tem ideia alguma, exatamente como V. Hugo: mas ele sabe nos aterrorizar enormemente com um sinal ao invés de com uma ideia - Busco as causas para o extremo esgotamento que a arte de Wagner traz consigo a ótica mutãvel: a resistência fisiológica: respiração curso o exagero constante: a intenção sorrateira tirânica a excitação dos nervos mórbidos e dos centros por meios aterrorizantes seu sentido temporal 15 (13)
Um prefácio
Tenho a felicidade e ao mesmo tempo a honra também de ter reencontrado depois de milênios inteiros de confusão e confusão o caminho que conduz a um sim e a um não. Ensino o não a tudo o que enfraquece - o que esgota. Ensino o sim a tudo o que fortalece, o que acumula força, o que - - - o orgulho Não se ensinaram até aqui nem uma coisa nem outra: ensinaram-se a virtude, o desprendimento de si, a compaixão, ensinou-se mesmo a negação da vida... Todos esses são valores dos esgotados. Uma longa reflexão sobre a fisiologia do esgotamento impeliu-me à questão: o quão amplamente teriam penetrado os juízos dos esgotados no mundo dos valores? Meu resultado foi tão surpreendente quanto posslvel, mesmo para mim, que jâ me sentia em casa em alguns mundos estranhos: achei todos os juízos de valor supremos, todos aqueles que se assenhorearam da humanidade, ao menos da humanidade que se tomou inofensiva, redutíveis aos juizos dos esgotados. Sinto primeiramente a aoc.essidadc de ensinar que o crime, o celibato, a doença são consequências do esgotamento... Sob os nomes mais sagrados destaquei as tendências destrutivas; chamou-se de Deus aquilo que enfraquece, que ensina a
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fraqueza, que infecta com fraqueza ... achei que o "homem bom" é uma forma de autoafinnação da decadência. Aquela virtude, em relação à qual Schopenhauer ainda nos ensinou que ela seria a virtude suprema, a única virtude e o fundamento de todas as virtude:s: justamente aquela compaixão, reconheci como mais perigosa dlo que qualquer vicio. Riscar fundamentalmente a escolha no gênero, sua purificação de detritos - foi isso que se denominou até aqui a virtude par excel/ence. A raça é degradada - não por meio de seus vícios, mas por meio de sua ignorância: ela é es.tragada, porque não compreende o esgotamento como esgotamento: as confusões fisiológicas são as causas de todo mal, seu instinto foi desencaminhado pelos esgotados e levado a encobrir o que há neles de melhor e a perder o fiel da balança... Precipitar-se aí - negar a vida - , isso é que, para eles, deveria ser experimentado como ascensão, como transfiguração, como divinização. A virtude é nossa grande incompreensão. Problema: como é que os esgotados chegaram a construir as leis dos valores? Perguntado de outra forma: como é que aqueles que são os últimos chegaram ao poder?... Conhece a história! Como é que o instinto do animal homem é colocado de cabeça para baixo?... Gostaria de precisar o conceito de "progresso" e temo que, para tanto, teria de bater na cara das ideias modernas (meu consolo é o fato de que elas não possuem nenhum rosto, mas apenas larvas... Devem-se amputar membros doentes: primeira moral da sociedade. Uma correção dos instintos: sua libertação ante a ignorância... Desprezo aqueles que exi.gem da sociedade que ela se coloque contra os que lhe causam danos. Isso está longe de ser suficiente. A sociedade é um corpo no qual nenhum membro pode ficar doente, caso ela não queira cm geral correr perigo: um membro doente, que degrada, precisa ser amputado: denominarei expressamente os tipos amputáveis da sociedade... Deve-se honrar o destino fatídico: o destino fatídico que diz para os fracos: perecei ...
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Chamou-se de Deus o fato de se resistir ao destino fatídico - o fato de se ter degradado e apodrecido a humanidade... Não se deve citar o nome de Deus em vão... Nós anulamos quase todos os conceitos psicológicos, aos quais se encontrava atrelada a história da psicologia até aqui - o que significa da filosofia! nós negamos que haja vontade (para não falar de "vontade livre") nós negamos a consciência, como se ela fosse uma unidade e uma faculdade nós negamos que seja pensado (: pois nos falta aquilo que pensa e, do mesmo modo, aquilo que é pensado nós negamos que haja uma causalidade real entre as ideias, tal como acredita a lógica Meu escrito volta-se contra todos os tipos naturais da decadência: eu pensei da maneira mais abrangente e radical possível os f sofrimento, do rebanho e da maioria - procurei pelos pontos de partida dessa formação ideal inversa na história (os conceitos "pagão", "clássico", "·nobre" descobertos novamente e expostos - ) 16 (33)
Avaliado meramente com vistas ao seu valor para a Alemanha e para a cultura alemã, Richard Wagner permanece um grande ponto de interrogação, taJvcz uma infelicidade alemã, um destino em todo caso: mas o que interessa no caso Wat,'Iler? Ele não é muito mais - do que meramente um acontecimento alemão? ... Chega a me parecer até mesmo que ele não pertence a nenhum outro lugar menos do que à Alemanha; ai mesmo, nada está preparado para ele, todo o :seu tipo se mostra aí como simplesmente estranho entre alemães, esquisito, incompreendido, incompreensível. Mas as pessoas não querem admitir isso; para tanto, elas são benevolentes demais, quadradas demais, alemãs demais. "Credo quia absurdus esl": assim o quer e assim o quis também nesse caso um espírito alemão - e é assim que ele acredita por enquanto em tudo aquilo que Wagner gostaria que se acreditasse sobre ele mesmo. Sempre faltaram ao esplrito alemão cm todos os tempos a fineza e a adivinhação em termos psicológicos. Hoje, quando ele se encontra sob a alta pressão da bazófia nacionalista e da autoadrniração,, ele tem se tomado mais grosso
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e mais tosco a olhos vistos: como é que ele poderia estar à altura do problema Wagner! 16 (34)
No fundo, a música de Wagner continua sendo literatura, assim como o é todo o romantismo francês; a magia do exotismo, de tempos, costumes, paixões estranhos, exercida sobre os marginais sensíveis; o encanto c:om a entrada na terra estrangeira descomunal, distante e pré-histó:rica, a cujo acesso nos conduzem os livros, algo por meio do que todo o horizonte foi pintado com novas cores e novas possibilidades... O pressentimento de mundos ainda mais distantes e não descerrados; o desdém contra os bulevares... O nacionalismo justamente, não nos deixemos iludir, também é apenas urna forma de exotismo... Os músicos românticos contam o que os livros exóticos fizeram com eles: gostar-se-ia de vivenciar coisas exóticas, paixões com um gosto florentino ou veneziano: por fim, as pessoas se contentam em buscá-las em imagem ... O essencial é o tipo de novos desejos, o encobrimento da alma ... A arte romântica é a penas urna sai da de emergência para uma "reaHdade" falha ... Napoleão, a paixão de novas possibilidades da alma... A ampliação do espaço da alma... A tentativa de fazer algo novo: revolução, Napoleão ... Extenuação da vontade; urna digressão tanto maior nos desejos de sentir algo novo, de imaginar algo novo, de sonhar algo novo... Consequência das coisas excessivas que se tinham vivenciado: apetite irresistível por sentimentos excessivos... As literaturas estrangeiras ofereciam as mais fortes ralzes... 16 (35)
Sobre ofuturo do casamento: Uma maior sobrecarga de impostos em heranças etc., assim como uma maior sobrecarga de serviço militar sobre os solteiros a partir de determinada idade e de maneira cada vez mais intensa (no interior da comunidade)
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Jiintagens de todo tipo para pais, que colocam muitos garotos no mundo: sob certas circunstâncias, uma pluralidade de vozes Um protocolo médico, antecedendo a todo casamento e assinado pelos líderes da comunidade: nesse protocolo, muitas questões determinadas precisam ser respondidas por parte dos noivos e dos médicos ("história familiar" Como antídoto contra a p.rostituiçào (ou como o seu enobrecimento): casamentos com prazo, legalizados (por anos, por meses, por dias): com garantia para as crianças Todo casamento responsabilizado e recomendado por determinada quantidade de homens de confiança de uma comunidade: como questão de interesse da comunidade 16 (36)
Os românticos, tal como o seu mestre alemão Friedrich Schlegel (para falar com Goethe), estão todos c•orrcndo o risco de
se "sufocarem com a ruminação de absurdos religiosos e éticos" O elemento schilleriano er:n.Wagner: ele traz "uma eloquência apaixonada, luxo das palavras, como o lmpeto de posturas nobres" - liga com pouco metal "Se Schiller tivesse vivido mais tempo, ele teria se tomado o ídolo dos contemporâneos, mesmo daqueles que reencontraram cm Iffiand e Kotzebue, em Nicolau e Merkel seu sentimento e pensamento. Assim, mesmo riquezas e honras teriam confluído para ele em profusão." Victor Hehn, Gedanken iiber Goethe (Ideias sobre Goethe), p. 109. "a completa crueldade", "a iniquidade e a insignificância dos heróis" - pensemos em Niebuhr, que se permitia dizer com vistas ao Wilhelm Meister que "ele se irritava ao ter de lidar com vacas mansas" nos círculos mais nobres, as pessoas estavam de acordo quanto ao fato de que, para falar com Jacobi, "um espírito impuro imperava ai" Pelo que Goethe era grato a Schi Iler? Pelo fato de o Wilhelm Meister o ter "arrebatado e comovido profundamente, sim, o ter preenchido mesmo dolorosamente com o sentimento de sua
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própria insuficiência. Assim, cm meio a uma situação hostil, ele encontrou por fim um espírito que podia acompanhá-lo na subida até essas alturas". Para Kõrner, em 1796, "em comparação com Goethe, sou e continuo sendo justamente um canastrão poético" O ódio tlpico dos doentes ,em relação aos homens plenos por exemplo, de Novalis em relação ao Wilhelm Meister: Novatis achou o livro odioso. "O jardim da poesia é macaqueado com palha e trapos." "O entendimento ai é como um diabo ingênuo." "O espírito deste livro é o ateísmo artístico." - Isso em um tempo no qual ele se achava loucamente entusiasmado por Tícck, que naquela época parecia ser um discípulo de Jacob Bõhme 16 (37) O efeito da arte wagneriana é profundo, ele é, sobretudo, pesado, pesado como chumbo: o que faz com que esse efeito seja assim? De início, certam(lllte não a música wagneriana: só se chGga mesmo a suportar essa música quando já se está dominado por algo diverso e quando já se perdeu ai, por assim dizer, a liberdade. Esse elemento diverso é o páthos wagneriano, para o qual ele apenas inventou adicionalmente a sua arte; ele é a descomunal força de convencimento desse páthos,, seu poder de prender a respiração, não querendo mais soltar, que é próprio de um sentimento extremo; ele é a duração assustadora desse páthos, com a qual Wagner sempre vence e vencerá, de tal modo que ele nos convence por fim até mesmo de sua música ... Será que alguém se torna um "gênio" por meio deste páthos? Ou será mesmo que alguém pode ao menos ser um "gênio" por meio desse páthos? Caso se compreenda pelo gênio de um artista a mais elevada liberdade sob a lei, a leveza divina, leviandade compreendida no que há de ma.is pesado, então Offenbach (Edmond Audran) teria ainda mais direito ao nome de "gênio" do que Wagner. Wagner é difícil, pesado: nada lhe é mais estranho do que o instante da mais arrogante imperfeição, que esse palhaço Offenbach alcança cinco, seis vezes quase em cada uma de suas bufon.arias. - Mas talvez se possa compreender por gênio outra coisa. - Outra questão à qual pretendo
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do mesmo modo responder pela primeira vez é: se precisamente com tal páthos Wagner é alemão? Será que ele é um alemão? ... Ou será que ele não é muito mais a exceção das exceções? Wagner é pesado, pesado como chumbo, logo não um • • ? gemo .... 16 (38) Wagner, sobretudo, precisa ser muito riscado, de tal modo que três quartos restem: antes de mais nada é preciso riscar o seu elemento recitativo, que leva o mais paciente dos homens ao desespero ... Trata-se de uma mera ambição de Wagner ensinar sua obra como uma obra neces.sária até os mínimos detalhes ... o contrário é a verdade, hâ coisas demais supérfluas, arbitrárias, prescindíveis... Falta-lhe a própria capacidade da necessidade: como é, então, que ele conseguiria impô-la a nós? 16 (39) BuckJe oferece-nos o melhor exemplo de até que grau a incapacidade de um agitador ordinârio das massas pode ir, para esclarecer a si mesmo o conceito de uma "natureza mais elevada". A opinião pela qual ele combate de maneira tão apaixonada - a opinião de que "grandes homens", singulares, príncipes, politicos, gênios, generais seriam o m.otor e as causas dos grandes movimentos - é por ele instintivamente mal compreendida como se com ela se estivesse afirmando que o essencial e valoroso em tais "homens mais elevados" residisse justamente na capacidade de colocar massas em movimento, em suma, em seu efeito... Mas a "natureza mais elevada" do grande homem reside no ser d.iverso, na incomunicabilidade, na distância hierárquica - não em efeitos quaisquer: mesmo que ele abalasse o globo terrestre. 16 (40)
Estética Intelecção fundamental: o que é belo e o que é feio. Nada é mais condicionado, digamos, limitado do que o nosso sentimento do belo. Quem quisesse pensá-lo desprendido
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do prazer do homem com o homem perderia imediatamente base e solo sob os seus pés. No belo, o homem se admira como tipo: em casos extremos, ele venera a si mesmo. Pertence à essência do tipo o fato de ele só se tornar feliz em seu instante - o fato de ele se afinnar e de não afirmar senão a si mesmo. O homem, por mais que veja mesmo o mundo coberto com beleza, jamais viu o mundo coberto senão com a sua própria "beleza": ou seja, ele toma tudo por belo, que o lembre do sentimento da perfeição com a qual ele se encontra como homem entre todas as coisas. Será que ele realmente embelezou, com isso, o mundo? ... E será talvez que o homem não se mosttraria de modo algum como belo aos olhos de um juiz do gosto mais elevado? Não quero dizer, com isso, indib'IIO, mas um pouc,o ridículo? ...
.... 2.
- ó Oionisio, divino, por que tu me puxas pelas orelhas? Vejo um tipo de humor em tuas orelhas, Ariadne: por que elas não são ainda maiores?...
....
"Nada é belo: apenas o homem é belo." Toda a nossa estética baseia-se nesta ingenuidade: ela é a sua primeira "verdade". Acrescentemos imediatammte a "verdade" complementar, ela não é menos ingênua: o fato de nada ser feio senão o homem ruim. Onde o homem sofre do que é feio ele sofre do aborto de seu tipo; e onde ele é lembrado, ainda que de maneira maximamente distante de tal aborto, aí ele estabelece o predicado "feio". O homem cobriu o mundo com o feio: isso nunca quer dizer out.ra coisa senão que ele cobriu o mundo com a sua própria fciura. Será que ele enfeou, com isso, realmente o mundo?
....
Tudo o que é feio enfraquece e aflige o homem: lembra-o da decadência, do perigo, da impotência. Pode-se medir a im-
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pressão do feio com o dinamômetro. Onde ele é puxado para baixo, algo feio produz aí um efeito. O sentimento do poder, a vontade de poder - ela cresce com o belo, cai com o feio.
Um material descomunal se acumulou no instinto e na memória: temos mil tipos de sinais, junto aos quais se revela a degenerescência do tipo. Onde há ainda que apenas uma alusão ao esgotamento, ao cansaço, ao peso, à idade ou à falta de liberdade, à convulsão, à decomposição, à degradação fala aí imediatamente o nosso mais baixo juízo de valor: aí o homem odeia o que é/eio ...29) O que ele odeia, nesse c:aso, é sempre o declínio de seu tipo. Nesse ódio consiste toda a filosofia da arte.
Se meus leitores se acham iniciados suficientemente no fato de que mesmo "o bom" representa uma forma do esgotamento no grande teatro conjunto da vida: então eles honrarão a consequência do cristianismo que concebeu os bons como os feios. O cristianismo tinha razão nisso. É preciso apontar uma htiquidade em um filósofo: o bem e o belo são um e mesmo. Se ele ainda acrescenta aí "o verdadeiro", então devemos espancá-lo por isso. A verdade é feia: nós temos a arte, para que não pereçamos junto à verdade.
Muito cedo despertei para a seriedade da relação entre arte e verdade: e ainda hoje me encontro com um espanto sagrado diante dessa ambiguidade. Meu primeiro livro a ele dedicado; o Nas250 N.T.: Há um Jogo de linguagem q,ue se perde na tradução. Em verdade, o feio em alemão (das HOssllche) possui uma relação etimológica direta com o odioso (gehassr). Os dois termos têm uma relação direta com o verbo hassen: odiar.
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cimento da tragédia acredita na arte sob o pano de fundo de outra crença: a crença de que não é possível viver com a verdade; o fato de que a "vontade de verdade" já é um sintoma de degenerescência ... Apresento wna vez mais .aqui a concepção estranhamente sombria e desconfortável daquele livro. Ela tem o primado ante outras concepções pessimistas pelo fato de ser imoral: - ela não é inspirada como essas concepções pela Circe dos filósofos, pela virtude. A arte no Nascimento da tragédia 16 (41)
Wagner é um/ato capital na história do "espirito europeu" da "alma moderna": tal como Heinrich Heine foi um tal fato. Wagner e Heine: os dois maiores impostores com os quais a Alemanha e a Europa foram presenteadas. !6 (42)
Distanciei-me de Wagner quando ele empreendeu seu retomo ao Deus alemão, à Igreja alemã e ao Império alemão: ele atraiu outros para junto de si precisamente por meio daí. 16 (43)
N.8. Inicio do prefácio Aquele que fabrica ouro é o único benfeitor da bw:nanidade. O único tipo de benfeitor da humanidade: o fato de se transvalorar valores, o fato de se fazer de pouco muito, do que é vulgar ouro Esses são os únicos enriquecedores Os outros são meros alternadores Pensemos um caso extremo: que haveria algo maximamente odiado, condenado - e que precisamente isso se transformaria em ouro: este é o meu caso... 16 (44)
Fico por vezes quase curioso em ouvir como eu sou. Essa questão encontra-se distante de meus próprios hábitos de urna maneira absurda
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Minha vivência típica (- considerou-se algo desse gênero Em minha vida há efetivamente surpresas: isso se deve ao fato de que eu não gosto de me ocupar com aquilo que poderia ser possível: demonstração do quanto eu vivo em pensamentos... Um acaso me fez tomar consciência disto hâ alguns dias: falta•me o conceito de "futuro", olho para frente como por sobre uma superflcie lisa: nenhum desejo, nenhum desejinho mesmo, nenhum querer-algo-diverso. Ao contrário, meramente aquilo que nos foi proibido por aqueles epicuristas sagrados: o cuidado com o dia seguinte, com amanhã ... este é meu único artificio: sei boje o que deve acontecer amanhã. Naufragiu feci: bene navigavi1J' - - 16 (45)
A felicidade das cascavéis do grande mágico, para o qual os mais mgênuos correm nas vinganças ... 16 (46)
os cretinos da cultura, as "eternas mulherzinhas", - - 16 (47)
na Alemanha, onde o vampirismo do ideal não fundamenta uma objeção contra um artista, mas quase a sua justificação (ele contabilizará Schiller bem demais! ... e quando se diz Schiller e Goethe, acredita-se que o primeiro teria sido como idealista o mais elevado, o autêntico: esses heróis das atitudes! 16 (48)
No que diz respeito à mullher histérica, que Wagner inventou e transpôs para o interior de sua música, ela é uma formação híbrida do gosto mais dúbio possível:
251 N.T.: Em latim no oilglnal: Ex,perlmentel um naufrágio: outrora navegavo bem.
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O fato de esse tipo mesmo não ter sido completamente rejeitado tem sua razão de ser, ainda que não o seu direito, no fato de um poeta incomparavelmente maior do que Wagner, o nobre Heinrich von Kleist, jã ter lhe dado no mesmo contexto o papel de porta-voz do gênio. !Estou longe de pensar o próprio Wagner aqui como dependente de Kleist: Elsa, Senta, Isolda, Bruni Ida, Cundra são muito mais filhas do Romantismo francês e possuem um - - 16 (49) A grandeza de um músico não é medida pelos belos sentimentos que ele desperta: é nisso que acreditam as mulheres - ela
é medida segundo a força de tensão de sua vontade, segundo a certeza com a qual o caos obedece ao seu comando artlstico e se toma forma, segundo a necessidade que sua mão estabelece em uma sequência de formas. A grandeza de um músico - em UIDa palavra, é medida por sua capacidade para o grande estilo. 16 (50)
Procuro UID animal para mim, que dance de acordo comigo e que me ame UID pouquinho... 16(51)
Projeto. 1) O mundo verdadeiro e o mundo aparente. 2) O filósofo como tipo da decadência. 3) O homem religioso como tipo da decadência. 4) O homem bom como tipo da decadência. 5) O contramovimento: a arte! 6) O elemento pagão na religião. 7) A ciência contra a filosofia. 8) Os políticos contra os padres - contra a libertação em relação aos instintos, o tomar-se não autóctone. (Povo, pátria, mulher - todos os poderes concentradores contra o "ser não autóctone") 9) Critica ao presente: aorade ele pertence?
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10) O niilismo e sua contraparte: os jovens do "retorno". 11) A vontade de poder como vida: ápice da autoconsciência histórica (essa última consciência condiciona a forma doente do mundo moderno ... ). 12) A vontade de poder: como disciplina. 16 (52)
Os decadentes considerados como excrementos da sociedade Nada pode ser menos saudãvel do que os usar como alimentos 16 (53)
Teoria do esgotamento: o vício os doentes mentais (respectivamente os artistas ... os criminosos
os anarquistas estaS não são as raças reprimidas, mas a escória da sociedade até aqui de todas as classes ... Com a intelecção de que todas as nossas classes estão penetradas por esses elementos, nós compreendemos que a sociedade moderna não é nenhuma "sociedade", nenhum "corpo", mas um conglomerado doente de Tschandala - uma sociedade que não tem mais a força para alijar seus excrementos Em que medida o caráter doentio chega a um ponto muito mais profundo por meio da convivência há séculos: a virtude moderna a espiritualidade moderna como formas da doença nossa ciência 16 (54)
O erro é o luxo mais dispendioso a que o homem pode se permitir; e se o erro é mesmo um erro fisiológico, então ele traz consigo um perigo de vida. Pefo que a humanidade pagou até aqui, consequentemente, o preço mais caro, pelo que ela precisou
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expiar da pior forma possível? Por suas "verdades": pois essas verdades foram todas juntas erros em termos psicológicos... 16 (55)
Computado fisiologicamente, a Critica da razão pura já é a forma preexi.stente do cretinismo: e o sistema de Espinoza, uma fenomenologia da tuberculose 16 (56)
Meu princípio, comprimido em uma fórmula, que cheira a uma fórmula tradicional, ao cristianismo, à escolástica e a outro almíscar. no conceito de "Deus como espírito", Deus é negado corno perfeição... 16 (57)
Isto não tem nenhum filho; pouquíssimo sentido. 16 (58)
Para a aranha, a aranha é o ser mais perfeito; para o metafisico, Deus é um metafísico: ou seja, ele está louco ... 252 16 (59)
O povo acredita em "verdades" apócrifas 16 (60)
Mulheres, ouro, pedras preciosas, virtude, pureza, ciência, um bom conselho, em suma, tudo aquilo que é útil e belo deve ser acolhido, sem se importar de onde ele provém.
....
252 N,T,: Há um Jogo de linguagem que se perde na tradução. Na verdade, uma das formas de dizer que alguém enlouqueoou é dizer que ele "spfnnr. Overbo "spfnnen• possui, nesse caso, uma relação direta com o substantivo "spfnne" (aranha). Um louco é, de algum modo, alguém preso em redes finas tecidas exatamente pelo desvario, alguém Imerso em fios e em tesslturas diversos.
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O jovem perde pela primeira vez seu invólucro terreno por respeito diante de sua mãe: por seu respeito por seu pai, ele se livra daquela figura ainda mais sutil que o reveste no ar; por seu respeito por seu mestre, ele se toma ainda mais simples, ainda mais puro e ascende até a morada de Brama.
...
O fato de ele nunca se descuidar da oração no silêncio da floresta, ou à beira das fontes claras, ou na profunda, profunda meia-noite; da oração cujo conteúdo infinito está contido no monossilabo "Om". Depois de terem passado por seus estudos teológicos, os jovens brâmanes, os jovens xátrias e vaixias entram na categoria dos patriarcas. Aquele "que nasceu duas vezes" deve, então, tomar seu cajado e se colocar à procura de uma mulher de sua casta, que reluza por meio de suas qualidades e satisfaça às prescrições. Ele toma cuidado para não entrar em uma relação com uma mulher de sua familia que não cumpra seu compromisso religioso ou na qual o número de irmãs é maior do que o número de innãos, ou na qual membros particulares tenham defonnações, tuberculose, dispepsia, hemorroidas e coisas do gênero. Ele foge dessa famfüa, por maior que seja seu poder, seu nome, sua riqueza. Ele busca uma mulher bela em sua figura, cujo nome seja agradável de pronunciar, com o passo de um jovem elefante, com cabelos lisos como a seda, uma voz suave e dentes pequenos e regulares; uma mulher cujo corpo seja coberto como um leve duvet. Uma bela mulher constitui a alegria de uma casa, mantém o amor de seu marido e gera para ele filhos com belas figuras. Ele toma cuidado para não se casar com uma moça que não tenha irmão algum ou cujo pai mão seja conhecido. Para um brâmane que se casa com uma sudra (da raça dos servos) e tem com ela um filho, não há na terra nenhum tipo de expiação.
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Wilhelm von Humboldt, o, nobre cabeça chata 16 (62)
"Cada um e todos em uma eterna renovação e dispersão destroem a si mesmos". Goethe. 16 (63)
Será importante para os amigos do filósofo Friedrich Nietzsche ouvir que, no último inverno, o brilhante dinamarquês Dr. Georg Brandes deu um ciclo mais longo de preleções na Universidade de Copenhagen dedicadas a esse filósofo, O orador, cuja maestria na exposição de difíceis complexos de pensamento não tinha sido demonstrada ai pela primeira vez, soube interessar uma audiência de mais de 300 pessoas pelo novo e ousado modo de pensar do filósofo alemão: de tal modo que as preleções confluíram para uma extraordinária ovação em honra do orador e de seu tema. 16 (64)
Nós imoralistas Entre artistas Crítica à filosofia dos espíritos livres Fala o cético. 16 (65)
Os mestres cantores enaltecem o gênio da Alemanha, que não aprendeu nada: a não ser aquilo que ele aprendeu dos passarinhos o gênio concebido como "a nobre(- )", além de como "cavaleiro". 16 (66)
Para o prefácio. Qual é a única coisa que pode nos reproduzir? A visão do perfeito: deixo os olhos vaguearem bêbados: não ampliamos isso de maneira maravilhosa?
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16 (67) O estilo de Wagner também contaminou seus discípulos: o alemão dos wagnerianos é o disparate mais floreado que jâ foi escrito desde o alemão de Schelling. Wagner mesmo ainda pertence como estilista àquele movimento contra o qual Schopenhauer deu vazão à sua ira: - e o humor chega ao seu ápice quando ele se faz passar por"salvador da lingua alemã". - Para pintar o gosto desses d.iscípulos, pennito-me um único exemplo. O rei da Baviera, que era um conhecido pederasta, disse certa vez para Wagner: ou seja, o senhor também não gosta de mulheres? Elas são tão entediantes ... Nohl (o autor de uma "Vida de Wagner", traduzida em seis idiomas) acha que essa opinião é "concebida de maneira jovial" 16 (68) Um critico da alma moderna. 16 (69) Como é qu.e se chega, por fim, ao fato de Parsival ter um filho, o ramoso Lohengrin? Será que esse deveria ser o primeiro caso da immacolata - - 16 (70) Do que se trata? A incompreensão religiosa. A incompreensão moral. A incompreensão filosófica. A incompreensão estética. 16(71)
O mundo inventado li O mundo verdadeiro
A proveniência dos valores. O mundo inventado Filosofia como decadência Ideias sobre o cristianismo As realidades por detrás da moral. Para a fisiologia da arte Por que verdade?
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······· .. ·······"···················································· ....... ,................ . III
Critica da modernidade. O eterno retorno. A partir da sétima solidão.
16 (72)
1) Oposição dos valores: pessimismo, niilismo, ceticismo 2) Critica da filosofia 3) Crítica da religião 4) Critica da moral 5) O mundo inventado 6) Por que verdade? 7) Para a fisiologia da arte 8) Problema da modernidade 9) O eterno retomo 1O) A partir da sétima solidão
16 (73) Para a fisiologia da arte O problema de Sócrates Moral: Domesticação ou cultivo - As realidades por detrás da moral. A luta com as paixões e com a sua espiritualização. Natu-
ralismo da moral e desnaturalização. Tempo e contemporâneos. A partir da sétima solidão. "Por que verdade?" A vontade de verdade. Psicologia dos filósofos Da vontade de verdade. Civilização e cultura: um antagonismo. 16 (74) X - doloroso-pensativo
1) A música de Bizet - o filósofo 2) Sul, serenidade, dança moura, amor
irônica estranhointeressante,
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............................................................................................... 3) o "redentor'' - Schopenhauer 4) o "anel", Schopenhauer como redentor de Wagner
irônico estranho• interessante farioso!
5) o decadente - furioso! 6) comicamente "pressentir", "derrubar", "elevar" irônico 7) "Histerismo", estilo, as pequenas
delicias 8) "efeito subjugador", "o Victor Hugo da linguagem", "Talma" "Alia genovese"
estranho• interessante elogiativorápido
9) "açãon, "Edda", "conteúdo eternoº "Madame Bovary", "nenb.um filho" irônico 1O) "literatura", "ideia", "!Hegel", irônico"disclpulo alemão" - do que estranho sentimos falta? interessante 11) elogiativo, forte, factual, "o ator" homenageador 12) três fórmulas farioso sobre I O) Wagner é escuro, confuso, ele possui sete peles 8) isso permanece sério mesmo no "contraponto" de Wagner 16 (75)
Há aqui duas fórmulas das quais concebo o fenômeno de Wagner. A primeira é: Os princípios e as práticas de Wagner são, todas juntos, recondutiveis aos estados emergenciais fisiológicos: eles são sua expressão ("histerismo" como música) A outra é: O efeito nocivo da arte wagneriana demonstra sua profunda fragiJidade orgânica, sua corrupção. O perfeito torna saudá• vel; o doente deixa doente. Os estados emergenciais fisiológicos, para os quais Wagner transpõe seus ouvintes (respiração irregular, perturbação da circulação sanguínea, irritabilidade extrema com um coma repentino), contêm uma refutação de sua arte.
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Com essas duas fónnulas, então, reti.rou-se a consequência daquele princípio universal, que fornece para mim o fundamento de toda estética: o fato de os valores estéticos se basearem em valores biológicos, o fato de o bem-estar estético ser um bem•estar biológico. 16 (76)
Casos, nos quais não se ouve a paixão, mas se ouvem antes as batidas do chicote, que Wagner dissipa com uma crueldade irritante em seu pobre cavalo Pégaso As baridas do chicote, com as quais Wagner abusa do pobre Pégaso (2° ato do Tristão A pobreza: o quão econômico ele é em termos de insights - uma pobreza engenhosa: entediante ... Fa.ltam as ideias, exatamente como em Victor Hugo: tudo é atitude --16 (77)
1) o ator 2) a degradação da música -
a música vinda de/ora conduzida na fita - "isto significa" animação extrema do detalhe mudança da ótica o "grande estilo" - declínio, empobrecimento das/orças orgânicas - Falta da tonalidade - Falta da euritmia ("dança•, - Incapacidade da construção ("drama") - Meio para tiranizar a "ideia fixa" (ou o leitr:notiv) 3) a nocividade da música o milagre a idiossincrasia 4) Valor das matérias-primas Sua formação "estilo" "hegelianismo" 5) França - A.lemanha 6) a proveniência do llistriônico
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7) o decadente: irritabilidade extrema Falta de tonalidade Falta de euritmia Incapacidade para c-0nstruir Exagero do detalhe Inquietude da ótica Instabilidade de caráter: mudança da pessoa Falta de orgulho Fanatismo e esgotamento a pobreza, habilmente negada e-0mo música C-Omo "interpretação mítica" 8) ''C-Omo é que se pode perder seu gosto com esse decadente?" o ator tipo de efeito. História do efeito. Música como retórica teatral. V. Hugo o "dramático" 9) o nocivo; 1) fisiologicamente irracional 2) intelectualmente (os "discípulos" milagre 3) tendência da "compaiixão" simbolismo 1O) a arte niilista: a tendência schopenhaueriana do trágico 11) proveniência do ator 12) três exigências 16 (78)
Tristão e Isolda, efetivamente covivenciados, são quase uma digressão. Não se pode, em realidade, colocar de maneira suficientemente séria para jovens mulheres essa alternativa de consciência: aut Wagner aut liberi.253
253 N.T.: Em latim no original: ou Wagner, ou a liberdade.
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16 (79) Wagner nunca aprendeu a andar. Ele cai, ele tropeça, ele abusa do pobre Pégaso com chicotadas. Uma paixão puramente falsa, um contraponto puramente falso, Wagner é incapaz de todo e qualquer estilo. artificial, grudado, falso, obra malfeita, monstro, fantoche. 16 (80)
O caso Wagner Um problema para músicos De F. N. Sob esse título será lançado em minha editora um panfleto genial contra Wagner, o qual será discutido da maneira mais viva possível como amigo e inimigo. O senhor professor Nietzsche, que, todos concordarão, é o mais profundo conhecedor do movimento de Bayreuth, pega aqui pelos chifres o problema do valor, que encerra em si esse movimento; ele demonstra que esse problema tem chifres. A refutação de Wagner, que é empreendida por esse escrito, não é meramente uma refutação estética: ela é, sobretudo, uma refutação fisiológica. Nietzsche considera Wagner como uma doença, como um perigo público.
16 (81) Dei aos homens o livro mais profundo que eles possuem, o Zaratustra; um livro que distingue a tal ponto seus leitores que, quando alguém se vê em condições de dizer "eu compreendi seis frases deste livro, ou seja, eu vivenciei seis de suas frases", ele passa a pertencer imediatamente a uma ordem mais elevada de homens... Mas como é que se precisa pagar por isso! Pagar em dinheiro vivo! Isso quase estraga o caráter... O fosso se tomou grande demais ... 16 (82)
As ideias modernas como falsas. "Liberdade" "Direitos iguais"
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"Humanidade" "Compaixão" "O gênio" incompreensão democ.rãtica (como consequência do me.io, do espírito do tempo) incompreensão pessimista (como vida empobrecida, como libertação da "vontade") a incompreensão da decadência (neurose) "O povo" "A raça"
"A nação" ºDemocracia" "Tolerância" "O meio" "Utilitarismo" "Civilização"
"Em!l!!cip~ção feminínf' "Formação popular" "Progresso" "Sociologia" 16 (83)
A necessidade dos valores falsos Pode-se refutar um juízo, na medida em que se comprova sua condicionalidade: com isso, não se elimina a necessidade de tê-lo. É preciso conceber a necessidade de sua existência: os juizos são uma co11sequê11cia de causas que não têm nada em comum com fundamentos 16 (84)
Quando se elimina do mundo •~untamente com Cristo e Moisés" a causalidade natural, passa-se a carecer de urna causalidade anti-naJural: todo o resto dos caprichos se segue, então, a partir dai. 16 (85)
Psicologia do erro. 1) Confusão entre causa e efeito
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2) Confusão entre verdade e o efeito daquilo em que se acredita como verdadeiro 3) Confusão entre a consciência e a causalidade Moral como erro. Religião como erro. Metaf,sica como erro. As ideias modernas como erros. 16 (86) A vontade de poder. Tentativa de uma transvaloração de todos os valores. 1. Psicologia do erro. 1) Confusão entre causa e efeito 2) Confusão entre a verdade e aquilo em que se acredita como verdadeiro 3) Confusão da consciência com a causalidade 4) Confusão da lógica com o princípio do efetivamente real 11. Os valores falsos. 1) Moral como falsa 2) Religião como falsa tudo condicionado 3) Metafisica como falsa pelos quatro tipos de erro 4) As ideias modernas como falsas m. O critério da verdade. l) A vontade de poder 2) Sintomatologia do declínio 3) Para a fisiologia da arte 4) Para a fisiologia da politica IV. luta entre os valores falsos e os valores verdadeiros. 1) Necessidade de um duplo movimento 2) Utilidade de um duplo movimento 3) Os fracos 4) Os fortes 16 Capítulos: cada um com 37 páginas. - 16 capítulos: cada um com 35 páginas
O critério da verdade.
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················•······························ ·········································.. ····· A vontade de poder como vontade de viver - da vida ascendenre. Os grandes erros como consequência da decadência. Para a fisiologia da arte. Sintomatologia do declinio.
A luta dos valores Utilidade de um duplo movimento. Necessidade desse duplo movimento. Os fracos. Os fortes. 16 (87)
Não se deve confundir o cristianismo com aquela raiz una, da qual ele lembra com o seu nome: as outras raizes, das quais ele cresceu, foram muito mais poderosas, mais importantes do que o seu cerne; trata-se de lll!ll abuso sem igual, quando tais horríveis construtos decadentes e deformações, que se chamam a "Igreja cristã", a "crença cristã" e a "vida cristã", se distinguem com aquele nome sagrado. O que foi que Cristo negou? - Tudo aquilo que hoje se chama cristão. 16 (88)
O pior é o fato de tudo estar entalhado de maneira profunda demais no coração: quase todo ano me trouxe três, quatro coisas, em si insignificantes, junto às quais eu quase pereci. Não que eu esteja repreendendo alguém. Homens saudáveis não têm simplesmente nenhuma compreensão de em que caso eles ferem mortalmente alguém e o que é capaz de deixá-lo doente ali,runs meses. 16 (89)
O artista moderno, em sua fisiologia maximamente aparentado com o histerismo, também é marcado como personagem por essa determinação doentia. O histérico é falso: ele mente por prazer na mentira, ele é admirável em toda e qualquer arte da
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dissimulação - a não ser que sua vaidade doentia lhe pregue urna peça. Essa vaidade é como uma febre constante, que tem a necessidade de calmantes e não se atemoriza diante de nenhum autoengodo, diante de nenhuma farsa, que prometa um alívio instantâneo. Incapacidade de orgulho e necessidade de uma constante vingança por um autodesprezo profundamente aninhado - essa é quase a definição desse tipo de vaidade. A excitabilidade absurda de seu sistema, que cria crises a partir de todas as vivências e arrasta "o elemento dramático" para os mais ínfimos acasos da vida, retira dele tudo o que é calculável: ele não é nenhuma pessoa mai.s, na melhor das hipóteses um rendez-vous de pessoas, das quais ora essa, ora aquela atira eom uma segurança sem vergonha. Justamente por isso, ele é grande como ator: todos esses pobres abúlicos, que são estudados no detalhe pelos médicos, espantam por sua virtuosidade da mímica, ,da transfiguração, da entrada em quase todo personagem exigido.
(17 = MP XVII 4. MP XVI 4a W II Sa. W li 9a. Maio-Junho de 1888)
17 (!)
Primeiro capítulo
Segundo capítulo
Conceito do movimento niilista como expressão da decadência. - .a decadência por toda parte as formas típicas de expressão da decadência 1) Escolhe-se o que acelera o esgotamento 2) Não se sabe resistir 3) Confundem-se causa e efeito 4) Anseia-se por ausência de dor (72) Em que medida o
"hedonismo" também é um tipo Terceiro capítulo
degenerado 5) O "mundo verdadeiro": conceito da Realidade por meio de sofredores (46) primeiro caderno (72) a natureza oposta, os valores dionisiacos: (72) a era trágica 6) A falsificação niilista de todas as coisas boas (59) ( 108) ( 109) amor do "intelecto abúlico" o gênio arte do "sujeito livre cm termos volitivos" 7) A impotência para o poder, a impotência: suas artes insidiosas (98)
17 (2) A) Da degradação dos q11e comandam.
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B) O que significam os va·lores supremos até aqui, C) De onde provêm os valores supremos até aqui. D) Por que os valores opostos foram vencidos E) Modernidade como ambiguidade dos valores
F)- -17 (3)
(+ + +) Livros levados em conta apenas como formas diversas da mentira; com seu auxílio acredita-se na vida. "Deve fluir confiança para o interior da vida: a tarefa, colocada assim, é descomunal. Para resolvê-la, o homem jâ precisa ser mentiroso por natureza, ele precisa ser artista mais do que todo o resto. E ele também o é: metafisica, religião, moral, ciência - todas elas não passam de abortos de sua vontade de arte, de mentira, de fuga ante a ''verdade", de negação da "verdade". A capacidade mesma, graças à qual ele violenffl a realidade por meio da mentira, essa capacidade artística por excelência - ele a tem ainda cm comum com tudo aquilo que é. Ele mesmo é efetivamente uma parte da efetividade, da verdade, da natureza: como é que ele poderia não ser também uma parte do gênio da mentira! ... O fato de o carâter da existência ser desconhecido - essa é a intenção suprema velada por detrâs de tudo o que é virtude, ciência, castidade, empenho artisti co. Jamais ver muitas coisas, ver muitas coisas de maneira falsa, acrescentar muitas coisas p0r meio da visão: 6, o quanto não se é ainda astuto em meio às situações nas quais se estâ maxímamente distante de se achar que se é astuto! O amor, o entusiasmo, "Deus" - puras finezas do derradeiro autoengodo, puras seduções para a vida, pura crença na vida! Em instantes, nos quais o homem se transformou em enganado, nos quais ele se iludiu, nos quais ele acreditava na vida: 6, o quanto a vida jâ não se intumesceu aí nele! Que encanto! Que sentimento de pO· der! Quanto triunfo de artista no sentimento do p0der!... O homem tomou-se uma vez mais senhor s:obre a "matéria-prima" - senhor sobre a verdade!... E quando quer que o homem se alegre, ele é sempre o mesmo em sua alegria, ele se alegra como artista, ele desfruta de si como poder, ele goza da mentira como seu poder...
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2. A arte e nada além da arte! Ela é a grande possibilitadora da vida, a grande sedutora para a vida, o grande estimulante da vida. A arte como a única força contrâria superior em relação a toda vontade de negação da vida, como o elemento anticristão, antibudista, antiniilista par exceJlence. A arte como a redenção do cognoscente - daquele que não apenas vê e quer ver o caráter terrível e questionável da existência, mas que também vive, quer viver, o caráter do homem trágico e belicoso, do herói. A arte como a redenção do que sofre - como caminho para estados nos quais o sofrer é querido, transfigurado, divinizado, no qual o sofrimento é uma fomia do !,'l'll!lde êxtase. 3. Vê-se que neste livro o pessimismo, digamos de maneira mais clara, o niilismo, é considerado como a verdade. Mas a verdade não vige como o critério de medida supremo, nem tampouco como o poder supremo. A vontade de aparência, de ilusão, de engodo, de devir e de mudança (da ilusão objetiva) é considerada aqui como mais profunda e originariamente metafisica do que a vontade de verdade, de efetividade, de ser: - este último não é senão meramente uma fonna da vontade de ilusão. Do mesmo modo, o prazer também é considerado como sendo mais originário do que a dor: a dor só aparece como condicionada, como uma consequência da vontade de prazer (da von.tade de devir, de crescimento, de configuração, ou seja, de criação: na criação, porém, a destruição está contabilizada). Concebe-se um estado maximamente elevado de afirmação da existência a partir do qual mesmo a dor mais extrema não pode ser deduzida: o estado trágico dionisíaco. 4. Sob tal forma, este livro é até mesmo antipessimista: a sa-
ber, no sentido de que ele ensina algo que 6 mais forte do que o pessimismo, que é "mais divino" do que a verdade. Ao que parece, ninguém diria mais seriamente uma palavra sobre uma ne-
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gação radical da vida, sobre uma efetiva niilização da vida mais ainda do que sobre um dizer não â vida do que o autor deste livro. A questão apenas é que ele sabe - ele o vivenciou, talvez ele não tenha mesmo vivenciado outr.i coisa! - que a arte tem mais valor do que a verdade. No prefácio, com o qual Richard Wagner é convidado como para um diálogo, aparece essa confissão de fé, esse evangelho dos artistas, "a arte como a tarefa propriamente dita da vida, a arte como a sua atividade metafisica ..."
5. 17 (4)
Para
a história do conceito de Deus 1. Um povo que ainda acredita em si mesmo também tem ainda o seu Deus. Nesse Deus, ele venera as condições por meio das quais ele se encontra cm cima - ele projeta seu prazer cm si, seu sentimento de poder para o interior de uma essência, para a qual se pode agradecer por isso. Religião, no interior de tais pressupostos, é uma forma de gratidão. Tal Deus precisa poder usar e causar danos, precisa poder ser amigo e inimigo: a castração antinatural de um Deus e sua transformação em um Deus do Bem não vem à mente desses realistas fortes. O que interessa em um povo que não pode ser terrlvel? O que interessa em um Deus que não conhece ira, vingança, inveja, atos de violência e que talvez não conheça nem mesmo o ardor perigoso da destruição? - Quando um povo perece; quando ele sente dissipar-se a crença em seu futuro, em sua liberdade e em sua supremacia; quando ganha a sua consciência a submissão como primeira utilidade, as virtudes dos submissos como condições de conservação: então também se altera naturalmente o seu Deus. Ele toma-se palerma, temeroso, modesto, aconselha a «paz da alma", o não-mais-odiar, a tolerância, o amor mesmo cm relação ao amigo e ao inimigo.
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Ele engatinha de volta para a caverna da virtude privada, toma-se o Deus das pessoas pequenas- ele não representa a alma agressiva e sedenta de poder de um povo, sua vontade de poder...
2. Onde essa vontade, a vontade de poder, declina, hã em todas as vezes decadência. A divindade da decadência, reduzida em seus membros e virtudes majs viris, se transfonna a partir de agora em um Deus dos bons. Seu culto chama-se "virtude"; seus discípulos são os "bons e os justos". - Compreende-se em que instantes apenas a oposição dualista de um Deus bom e um Deus mau se torna possível. Pois, com o mesmo instinto com o qual os submissos degradam o seu Deus e o transfonnam em um "Bem em si", eles riscam do Deus daqueles que os superaram as boas propriedades. Eles vingam-se d.e seus senhores, na medida em que diabolizam o seu Deus. 3.
Como é que se pode, com a simploriedade do engenhoso Renan, denominar o desenvolvimento progressivo do Deus de Israel e sua transformação na q uintessência do Deus de tudo o que é bom um progresso! Como se Renan tivesse um direito à simploriedade!... O oposto é o evidente. Quando se eliminam os pressupostos de uma vida forte e florescente do conceito de Deus, quando esse conceito se toma passo a passo o símbolo do auxilio para tudo o que é cansado, esgotado, que só continua vegetando, quando ele se toma o Deus dos pecadores, o Deus dos doentes, salvador, redentor par excellence: o que isso tudo nos atesta? Sem dúvida alguma que seu reino se ampliou (- será que, com isso, porém, Ele mesmo jã teria se tornado maior? .. ). Outrora, ele não tinha senão o seu povo, os seus "escolhidos": todo povo considera-se escolhido em sua altura. Entrementes, ele passou a peregrinar e não parou mais quieto - até que se tomou por fim "cosmopolita" e conquistou para o seu lado o "grande número". Não obstante, o Deus do "grande número" permanece um Deus de um canto, o Deus de todos os recôncavos doentios, de todos
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os bairros nada saudáveis de todo o mundo ... Seu império mundano é um império do submundo, um subterrâneo de desgraças veladas ... E Ele mesmo é tão fraco, tão doente!. .. Prova: mesmo os mais fracos entre os fracos, os metafisicos e os escolásticos, ainda se assenhoreiam Dele - eles tecem sua teia ao redor Dele, para o interior Dele, até que Ele se toma sua imagem, uma aranha. A partir desse momento, Ele faz o mundo saltar para fora de si; a partir desse momento, Ele se toma o eterno metafisico; a partir desse momento, Ele se toma "espírito", "espirito puro"... o conceito cristão de Deus- Deus como Deus dos doentes, Deus como aranha, Deus como espirito - esse é o mais baixo conceito de Deus que foi alcançado sobre a Terra: ele representa o ápice da decadência no desenvolvimento descendente da ideia de Deus. Deus deformado e tranSforrnad.o na contradição em refação à vida, ao invés de significar a sua transfiguração e o seu eterno sim; em Deus está anunciada a hostilidade em relação à vida, à natureza, à vontade de vida; Õeus é a fórmula para todo e qualquer caluniamento da vida, para toda mentira relativa ao "além"; em Deus, o nada é divinizado, a vontade de nada é sacralizada!... Foi a esse ponto que chegamos. Será que as pessoas ainda não sabem? O cristianismo é urna religião niilista - em virtude de seu Deus...
4. O fato de as raças jovens e fortes da Europa do Norte não terem afastado de si o Deus cristão não faz verdadeiramente nenhuma honra ao seu talento religioso, para não falar de seu gosto. Eles precisariam ter feito frente, a tal aborto doentio e decrépito oriundo da decadência. Mas foram amaldiçoados pelo fato de não terem conseguido fazer frente a ele: - acolheram a doença, a contradição, a velhice em todos os seus instintos - não criaram mais, desde então, nenhum deus! Quase dois mil anos: e nem um único novo deus! Ao contrário sempre ainda e subsistindo como que com razão, com um ultimato e um máximo da força formadora de deuses, do creator spiritus no homem, temos esse Deus deplorável do monótono-teísmo europeu! Esse construto híbrido da de-
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cadência estabelecido a partir do zero, do conceito e do vovô, no qual todos os instintos da decadência alcançam a sua sanção!... 5. - E quantos novos deuses ainda são possíveis! ... Para mim mesmo, em quem o instinto religioso, ou seja,Jormador de deuses, por vezes procura se tomar vivo uma vez mais, o quão diversamente o divino se manifestou para mim a cada vez!... Tantas coisas estranhas jã passaram por mim, naqueles instantes atemporais, que surgem na vida como que vindos da lua, nos quais não se sabe mais simplesmente o quão velho jã se é e o quão jovem ainda se serã... Não duvidaria de que hâ muitos tipos de deuses ... Não faltam aqueles a partir dos quais não se poderia alijar por meio do pensamento mesmo um certo ancionismo e leviandade... Os pés leves talvez façam até mesmo parte do conceito de "Deus"... É necessârio expor o fato de que um Deus sabe Se manter em qualquer tempo para além de tudo o que é racional e burguês? Para além também, dito en passant, de Bem e Mal? Ele tem a vista livre - para falar com Goethe. - E para conclamar nesse caso a autoridade impassível de ser suficientemente avaliada de Zaratustra, é preciso lembrar que Zaratustra chega ao ponto de atestar de si o seguinte: "só acreditaria em um deus que soubesse dançar' ... Dito uma vez mais: quantos novos deuses não são ainda possíveis! - O próprio Zaratustra naturalmente é apenas um velho ateísta. Nós o compreendemos bem! Zaratustra diz, em verdade, que ele iria -; mas Zaratustra não virá ... 17 (5) Ah, tudo o que é capaz de realizar a embriaguez que se chama amor e que é ainda algo diverso do amor! - De qualquer modo, todos têm sua ciência quanto a isso. A força muscular de uma moça cresce logo que um homem aparece cm sua proximidade; há instrumentos para medir essa força. Em uma relação ainda mais próxima entre os sexos, tal como ela é trazida, por exemplo, pela dança e por outros costumes sociais, cresce essa força de tal modo, a fim de capacitar para jogos de poder efetivos: as pessoas
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......................................................................•........................ finalmente não confiam mais em seus olhos - e em seu relógio! É preciso contabilizar aqui com certeza o fato de que a dança já traz consigo em si, assim como cada um de seus movimentos rápidos, uma espécie de embriaguez para o sistema conjunto de vasos, nervos e músculos. Tem-se de contar nesse caso com os efeitos combinados de uma embriaguez dupla. - E o quão sábio não é por vezes ter uma pequena pontada!... Hâ realidades que nunca se podem admitir; para tanto, se é mulher, para tanto se tem o pudor feminino... Essas criaturas jovens que dançam Jâ estão, evidentemente, para além de toda realidade: elas s6 dançam com ideais puramente palpáveis, elas veem até mesmo o que é mais, assentar ainda ideais em tomo de si: as mães! ... Ocasião para citar o Fausto ... Elas possuem uma aparência incomparavelmente melhor, essas belas criaturas - 6, que bom que elas saibam disso! Elas se mostram até mesmo como adoráveis, porque sabem disso! - Por fim, elas também inspiram ainda o seu brilho; o seu brilho é a sua
terceira pequena embriaguez: elas acreditam em seu alfaiate, tal como acreditam em Deus: - e quem lhes desaconselha essa crença? Essa crença toma venturoso! E a autoadmiração é saudável! - Autoadmiração protege contra resfriado. Algum dia se resfriou uma bela moça que sabia se vestir bem? Nunca e jamais! Penso mesmo no e.aso em que ela não se achava quase vestida ... 17 (6)
Para a história do niilísmo. 'lipos maís genéricos da decadência: 1): escolhe-se, na crença de que se estão escolhendo remédios, aquilo que acelera o esgotamento - a isto pertence o cristianismo - : para denominar o maior caso do instinto enganador; - a isto pertence o "progresso" - : 2) : perde-se a força de resistência em relação aos estímulos: se é condicionado pelos acasos: embrutece-se e embrutecem-se as vivências de maneira descomunal... uma "despersonalização", uma desagregação da vontade - a isto pertence todo um tipo de moral, a moral altruísta, que conduz na ponta da lingua a
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compaixão: na qual o essencial é a fraqueza da personalidade, de tal modo que ela ressoa e treme constantemente como uma corda super-retesada... uma irritabilidade extrema... 3) confundem-se causa e efeito: compreende-se a decadência não como fisiológica e vê-se em suas consequências a causa propriamente dita do sentir-se mal - a isto pertence toda a moral religiosa 4) : não se compreende a decadência de um estado no qual não se sofre mais: a vida é de fato experimentada como fundamento de males - avaliam-se os estados inconscientes, insens(veis (sono, impotência) como incomparavelmente mais valiosos do que os conscientes: dai surge uma metodologia ... 17 (7)
Não se trata de maneira alguma do melhor ou do pior dos mundos: sim ou não, essa é aqui a questão. O instinto niilista diz não; sua mais branda afirmação é a de que o não ser é melhor do que o ser, que a vontade de nada tem mais valor do que a vontade de vida; sua afirmação mais rigorosa é a de que, se o nada é a desejabilidade suprema, essa vida, como oposição a isto, é absolutamente desprovida de valor - reprovável... Inspirado por tais juízos de valor, um pensador buscará involuntariam.ente introduzir todas as coisas, para as quais ele ainda atribui instintivamente valor, para a justificação de uma tendência niilista. Essa é a grande falsificação de Schopenhauer, que estava disposto com um interesse profundo em relação a coisas demais: mas o esp!rito do ni.i lismo proibiu que ele contabilizasse isso como fazendo parte da vontade de vida: assim, vemos, então, uma série de tentativas finas e corajosas de honrar a arte, a religião, a moral, o gênio por causa de sua aparente hostilidade à vida, como exigências do nada 17 (8)
Recentemente, abusou-se demais de uma palavra casual e em todos os aspectos inadequada: fala-se por toda parte de pessimismo, lum-sc regularmente, por vezes entre pessoas racionais,
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por uma questão para a qual precisaria haver respostas, a questão de saber quem tem razão, o pessimismo ou o otimismo. Não se compreendeu aquilo que estava ao alcance da mão: o fato de o pessimismo não ser nenhum problema, mas um sintoma - o fato de o nome precisar ser substituído por niilismo- o fato de a questão de saber se o não ser é melhor do que o ser jã ser ela mesma uma doença, um declínio, uma idiossincrasia... 17 (9)
Para a fisiologia do arte. 1) a embriaguez como pressuposto: causas da embriaguez 2) sintomas típicos da embriaguez 3) o sentimento de força e de plenitude na embriaguez: seu efeito idealizante 4) o mais factual de força: seu embelezamento factual. Ponderação: em que medida nosso valor "belo" é completamenie antropocêntricc:: baseado cm pressuposições de crescimento e progresso. O mais de força, por exemplo, na dança entre os sexos.. O elemento doentio na embriaguez; a perieulosidade 6sio16gica da arte 5) o apolíneo, o dionisiaco ... Tipos fundamentais: mais abrangentes, comparados com as nossas artes especiais 6) questão: aonde pertence a arquitetura 7) a colaboração da capacidade artística na vida nonnal, seu exercício é tõn.ico: ao contrário o feio 8) a questão da epidemia e do caráter contagioso 9) problema da "saúde" e da "histeria" - gênio = neurose 1O) a arte como sugestão, como meio de comunicação, como âmbito de invenção da indução psicomotor 11) os estados não artísticos: objetividade, ódio ao espelho, neutralidade. A vontade empobrecida; perda de capital. 12) os estados não artísticos: abstratividade. Os sentidos empobrecidos. 13) os estados não art.lsticos: consumação, empobrecimento, esvaziamento - vontade de nada. Cristão, budista, niilista. O ccrpo empobrecido.
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14) os estados não artísticos: idiossincrasia (- a dos fracos, dos medianos). O temor diante dos sentidos, diante do poder, diante da embriaguez (instinto dos inferiores da vida). 15) como é que a arte trágica é possível? 16) o típo do romântico: :ambíguo. Sua consequência é o "naturalismo"... 17) problema do ator - a "insinceridade", a típica força de transformação como falha de caráter... a falta de vergonha, o arlequim, o sátiro, o bufão, o Gil Blas, o ator, que desempenha o papel de artista... 18) a arte como embriaguez, medicamente: anestesia. Tônico, impotência total e parcial.
(18 = MP XVII 5. MP XVI 4b. Julho-Agosto de 1888)
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Da escola de guerra da alma. Dedicado aos corajosos, aos espíritos alegres, aos abstêmios. Não gostaria de subestimar as virtudes adoráveis; mas a grandeza da alma não é compatível com elas. Mesmo nas artes, o grande estilo exclui o agradável. Em tempos de tensão dolorosa e de vulnerabilidade, escolha a guerra: ela enrijece, ela tonifica os músculos. Já dura 10 anos: nenhum som mais me alcança - um país sem chuva. É preciso ter muita humanjdade sobrando para não abafá-la na aridez. Toda crença tem o instinto da mentira: ela se protege contra toda verdade a partir da qual surja uma ameaça para a sua vontade de possuir a "verdade" - ela fecha os olhos, ela calunia ... Tem-se uma crença porque ela "toma venturoso": não se considera verdadeiro aquilo que não nos "toma venturosos". Um pudendum. 25' 18 (2)
Teoria acerca do abuso da lógica como um critério de realidade. 18 (3)
A Tschanda/a está dominando; sobretudo os judeus. Os judeus são a raça mais forte em nossa Europa: pois eles são superiores ao resto por meio da duração de seu desenvolvimento. Sua organização pressupõe uma gênese mais rica, um percurso mais perigoso, um número maior de níveis do que qualquer outro povo pode apresentar. Mas isso é quase uma fórmula para a superioridade. - Uma raça, como de resto um construto orgânico qualquer, 254 N.T.: Em latim no original: algo ve,gonho10.
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só pode crescer ou perecer; não hâ nenhuma pausa possível. Uma raça, que não pereceu, é uma raça que continuou incessantemente crescendo. Crescer significa tomar-se perfeito. A duração na existência de uma raça decide com necessidade sobre a altura de seu desenvolvimento: o mais antigo precisa ser o mais elevado. Os judeus são tímidos em um sentido incondicionado; encontrar um judeu pode ser uma boa ação; têm-se facilmente com isso os outros contra si. Mas a grande vantagem continua sendo, porém, dos tímidos. - Sua timidez impede os judeus de se tomarem insanos do nosso modo; por exemplo, de maneira nacionalista. Parece que eles foram outrora muito bem vacinados, um pouco sangrentos mesmo, e isso entre todas as nações: eles não decaem mais facilmente sob o nosso rabies, o rabies nationalis. Eles mesmos são, hoje, um antídoto contra essa derradeira doença da razão europeia. - Só os judeus tocaram na moderna Europa na forma suprema da espiritualidade: trata-se da bufonaria genial. Com Olfenbach, com Hei.nrich Heinc, a potência da cultura europeia foi efetivamente excedida; dessa maneira, ainda não está livre para as outras raças ter espirito. Isso faz limite com Aristófanes, com Petrônio, com Hafis. - A mais antiga e a mais tardia cultura da Europa é representada agora sem sombra de dúvida por Paris; l 'esprit de Paris é a sua quintessência. Mas os mais mimados parisienses, pessoas tais como os Goncourts, não tiveram nenhum pudor de reconhecer em Heine um dos três ápices do espril parisiense: ele compartilha a honra com o Prince de Ligne e o napolitano Galiani. - Hcinc tinha gosto suficiente para não poder levar a sério os alemães; por isso, os alemães o levaram a sério e Schumann o musicou - na música schumannianal "Tu és como uma flor" cantam todas as virgens mais elevadas. - Hoje, o fato de Heine ter tido gosto - o fato de ele ter rido - vem sendo transformado em um crime na Alemanha: os próprios alemães, justamente, levam-se hoje desesperadamente a sério. 18 (4)
Eu desconfio de todos os sistemâticos e fujo do caminho deles. A vontade de sistema é, para nós pensadores, ao menos,
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algo que compromete, uma fonn.a de nossa imoralidade. - Talvez se desvende, em meio a um olhar por detrás deste livro, de que sistemático eu mesmo só me desviei com esforço... 18 (5)
Dei aos alemães o livro mais profundo que eles possuem, meu Zaratustra - lhes dou por meio daqui o livro mais independente. Como?, me diz quanto a isso minha má consciência, tu queres - jogar aos alemães - tuas pérolas?... 18 (6)
O preço que se paga por ser artista, na medida em que se experimenta aquilo que todos os artistas denominam forma, conteúdo, a coisa mesma. Com isso, pertence-se naturalmente a um mundo invertido.
18 (7) Não se deve querer nada de si que não se possa fazer. Pergunta-se: tu queres acompanhar'? Ou ir 11a fre11te? Ou ir por si? - No segundo caso, se quer ser pastor: pastor, ou seja, a urgência suprema de um rebanho. 18 (8)
- "Quando nós, a partir do instinto da comunidade, estabelecemos prescrições e impedimos certas ações", então não impedimos, como é racional, um modo de "ser", não uma "atitude", mas apenas certa direção e uma aplicação útil desse "ser", dessa "atitude". Nesse ponto, porém, chega o ideólogo da virtude, o moralista, e diz que "Deus considera o coração! O que nos importa o fato de vós vos absterdes de determinadas ações? Vós não sois por isso melhores!" - Resposta: nós tampouco queremos nos tomar melhores, meu senhor de orelhas compridas e virtuosas, nós estamos muito satisfeitos conosco - a única coisa que não queremos é causarmos uns aos outros dor; e, por isso, impedimos certas ações com vistas a certo aspecto, a saber, em relação a nós, enquanto não sabemos honrar as mesmas ações,
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supondo que elas se relacionam com nosso opositor - aos senhores, por exemplo. Nós educamos nossas crianças com vistas a elas, nós as criamos. Se estivéssemos marcados por esse radicalismo "muito agradável a Deus", que vosso desvario sagrado nos aconselha, se lõssemos suficientemente bezerros da lua, para proibirmos não apenas ações, mas também os pressupostos para as ações, ou seja, nossa "atitude", então nos restringiríamos às nossas virtudes, àquilo que constitui nossa honra, nosso orgulho. E não satisfeitos com isso. Na medida em que eliminamos nossa "atitude", não nos tornaríamos de modo algum melhores - nós não existiríamos mais de forma alguma, nós teríamos eliminado, com isso, a nós mesmos ... O senhor é apenas um niilista..." 18 (9)
Com uma simplicidade tocante, a música russa traz à luz a alma do camponês, das pessoas das camadas mais baixas. Nada fala mais ao coração do que os seus sábios serenos, que são, todos juntos, sábios tristes. Trocaria a felicidade de todo o Ocidente por esse modo russo de ser triste. - Mas como é que se chega ao fato de as classes dominantes na Rússia não serem representadas em sua música? Seria suficiente dizer "homens maus não têm canções"? 18 (10)
Onde está boje o nlvel mais baixo da cultura europeia, o seu pd11tano? - Junto aos salvacionistas, aos anarquistas, aos bayreuthianos. Ou seja, junto às cinco especialidades de canto europeu. Pois todos eles se arrogam agora, como se eles apenas fossem os "homens superiores"... 18 (li)
A doença é um estimulante poderoso. A questão é que é preciso ser saudável o suficiente para ela. 18 (12)
Coisas grandes exigem que se fale delas de maneira grande ou que se cale: grande, ou seja, com inocência - cinicamente.
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Para: a vontade de verdade 1) Princípio. O modo de pensar mais fácil vence sobre o mais difícil - como dogma: simplex sigillum veri.m Dico: o fato de a clareza dever comprovar algo cm relação ã verdade é uma completa infantilidade... 2) Principio. A doutrina do ser, da coisa, de puras unidades firmes é cem vezes mais fácil do que a doutrina do devir, do desenvolvimento 3) Princípio. A lógica foi visada como facilitação: como meio de expressão - não como verdade... Mais tarde, ela passa a exercer o efeito como verdade ... 18 (14)
O metafisico Falo sobre a maior infelicidade da füosofía modem.a - de Kant... Hegel: algo da confiança sabia em Deus, do otimismo até certo ponto audaz Kant: volta ao "antigo jogo": todos compreenderam isto 18 (15)
O grande meio-dia. Por que "Zaratustra"? A grande autossuperação da moral 18 (16)
Sobre: os metaflsicos Para a psicologia da metafisica. A influência da temerariedade. O que mais se temeu, a causa dos sofrimentos mais poderosos (ambição ao poder, volúpia etc.), foi tratado da maneira mais hostil possível pelos homens e eliminado do mundo ''vcrdadci255 N.T.: Em latim no original: o verdadeiro é o selo da verdade. Frase dileta do teólogo holandês Herman Boerhaave (1668· 1738).
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fRIEDRICH NIETZSCHE
ro". Assim, eles eliminaram passo a passo os afetos- Deus como oposição ao mal, isto é, a realidade estabelecida na negação dos desejos e afetos (o que significa precisamente no nada). Do mesmo modo, a irrazão, o arbitrário, o casual também foram odiados por eles (como causa de sofrimentos físicos inúmeros). Consequentemente, eles negam esse elemento no ente-em-si, concebendo-o como absoluta "racionalidade" e "consonância a fins". Do mesmo modo, a mudança e a perecibilidade são temidas: nisso se expressa uma alma oprimida, cheia de desconfiança e de uma tenível experiência (caso de Espinoza: uma espécie inversa de homem contabilizaria essa mudança como estímulo) Um tipo de ser carregado de força e jocoso aprovaria precisamente os afetos, a irrazão e a mudança em um sentido cudaimonista, juntamente com suas consequências, seu perigo, contraste, perecimento etc. 18(17)
Esboço do plano para: A vontade de poder. Tentativa de uma transvaloração de todos os valores. - SilsMaria no último domingo do mês de agosto de 1888 Nós, hiperbóreos. - Estabelecimento da pedra fondamental do problema. Primeiro livro: "o que é verdade?" Primeiro capírulo. Psicologia do erro. Segundo capítulo. Valor da verdade e do erro. Terceiro capítulo. A vontade de verdade (primeiro justificada no valor de sim da vida Segundo livro: Proveniência dos valores. Primeiro capírulo. Os metafisicos. Segundo capítulo. Os homines religiosi.
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Terceiro capítulo. Os bons e os aprimoradorcs. Terceiro livro: Luta entre os valores Primeiro capítulo. Ideias sobre o cristianismo. Segundo capítulo. Para a fisiologia da arte. Terceiro capítulo. Para a história do niilismo europeu. Passatempo para psicólogos Quarto livro: O grande meio-dia Primeiro capítulo. O princípio da "escala hlenuquica" da vída. Segundo capítulo. Os dois caminhos. Terceiro capítulo. O eterno retomo.
(19 = MP XVII 6. MP XVI 4c. W li 9b. WII 6b.
Setembro de 1888}
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As pessoas me perguntam com frequência por que eu escrevo meus livros propriamente em alemão? Minha resposta a essa pergunta é sempre a mesma: eu adoro os alemães - cada um tem a sua pequena irrazão. O que me importa se os alemães não me leem? Tanto mais me esforço por ser justo com eles. - E, quem sabe? Talvez eles venham a me ler depois de amanhã.
2. A nova Alemanha representa um grande quantum de capacidade herdada e aprendida: de tal modo que ela pode mesmo por um tempo gastar de maneira perdulãria o tesouro acumulado de força. Não se trata de uma cultura elevada, que se assenhoreou dela, nem tampouco de um gosto deticado, de uma "beleza" nobre dos instintos; mas trata-se de virtudes maís viris do que é costume na Europa se poder apresentar. Muito boa coragem e respeito perante si mesmo, muita segurança no comércio, na bilateralidade dos compromissos, muito esforço, muita duração - e uma moderação herdada que carece antes do aguilhão do que de uma trava. Acrescente nesse contexto o fato de que ainda se obedece aqui, sem que a obediência humilhe.... E ninguém despreza seu adversário... 3. Depois de ter feito jus aos alemães dessa maneira - pois eu os adoro, apesar de tudo -, não tenho mais nenhuma razão para privar-lhes de minha objeção. Eles foram outrora o "povo dos pensadores": será que hoje eles ainda pensam? - Eles não têm mais tempo algum para isso ... "Espírito" alemão - temo que esta expressão seja hoje uma contradictio in adjecto. - Eles vêm se tomando entediantes, eles talvez o sejam, a grande polltiea engole a s eriedade para todas as coisas efetivamente grandes -
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"Alemanha, Alemanha acima de tudo" -um principio dispendio• so, mas não um princípio filosófico. - "Há filósofos alemães? Há poetas alemães? Há bons livros alemães?" - é assim qu.e as pessoas me perguntam no estrangeiro. Fico vennelho, mas com a coragem que me é própria, mesmo em casos de desespero, respondo: "Sim! Bismarck!"... Deveria confessar que livros as pessoas leem agora? - Dahn? Ebers? Ferd.inand Mcyer? - Ouvi professores universitários louvarem esse modesto Bieder-Meyer (pequeno-burguês)256 às expensas de Gottfried Keller. Maldito instinto da mediocridade! 4.
Permito-me ainda uma d.istração. Conto o que um pequeno livro me contou, ao retomar para mim depois de uma viagem para a Alemanha. Esse livro chama-se: Para além do bem e do mal - dito cá entre nós, ele foi mesmo o prelúdio para a obra que se tem aqui nas mãos. O pequeno livro me disse: "sei muito bem qual é meu erro, sou novo demais, rico demais, apaixonado demais - perturbo a tranquilidade da noite. Hã palavras em mim que seriam capazes de destroçar mesmo o coração de um deus, sou um rcndez-vous de experiências, que se fazem 6.000 pés acima de toda atmosfera humana. - Razão suficiente para que os alemães me tenham compreendido..." Mas, respondo eu, meu pobre livro, como é que tu pudeste jogar tuas pérolas - aos alemães? Foi uma burrice! - E, então, o livro me contou o que lhe ocorreu.
5. De fato, desde 187 1, as pessoas estavam minuciosamente inteiradas a meu respeito: o caso comprovou isso. Não me espan• to de que as pessoas não tenham compreendido o meu Zaratustra, não vejo aí nenhuma repreensão;; um livro tão profundo, tão estranho como esse faz com que quem quer que tenha compreendido seis frases daí, ou seja, que tenha vivenciado seis frases, se veja 256 N.T.: Nietzsche brln