Fonética e fonologia do Jaminawa do Brasil (Pano)

Este trabalho tem como objeto de estudo a língua Jaminawa do Brasil, filiada à família linguística Pano. Os falantes des

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INTRODUÇÃO............................................................................................................... 01
1. METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................................. 03
1.1 Os Povos das Línguas Pano............................................................................................ 05
1.2 A Etnia Jaminawa do Brasil ......................................................................................... 12
1.3 Um Mito acerca da origem do Povo Jaminawa do Brasil........................................... 15
2. DESCRIÇÃO FONÉTICA E FONÊMICA DO JAMINAWA DO BRASIS.......... 18
2.1 Descrição Fonética......................................................................................................... 18
2.1.1 Inventário dos Fones consonantais............................................................................... 18
2.1.2 Distribuição dos Contoides........................................................................................... 19
2.1.3 Inventário dos Fones Vocálicos.................................................................................... 24
2.1.4 Distribuição dos Vocoides............................................................................................. 25
2.2 Fundamentação Teórica para a Análise Fonêmica.................................................... 29
2.2.1 Segmentos Consonantais em Contraste no Jaminawa............................................... 32
2.2.2 Segmentos Consonantais em Variação Livre no Jaminawa...................................... 36
2.2.3 Quadro de Fonemas Consonantais do Jaminawa....................................................... 38
2.3 Segmentos Vocálicos do Jaminawa.............................................................................. 40
2.3.1 Segmentos Vocálicos em Variação Livre no Jaminawa............................................. 41
2.3.2 Quadro de Fonemas Vocálicos do Jaminawa ............................................................. 42
3. NEUTRALIZAÇÃO DOS FONEMAS //, /a/ e /ts/, /t/ ......................................... 42
4. ANÁLISE FONOLÓGICA SOB A LUZ DA TEORIA NÃO LINEAR.................... 43
4.1 Fundamentação Teórica para a Análise Estrutura Silábica........................................ 43
4.1.1 Inventário Silábico da Língua Jaminawa..................................................................... 48
4.2.1 Fundamentação Teórica para a Análise das Vogais Adjacentes................................ 50
4.2.1 As Vogais Adjacentes no Jaminawa do Brasil: ocorrências dos glides [w] e [j]....... 52
4.3 Fundamentação Teórica para a Análise do Acento..................................................... 53
4.3.1 O Acento em Palavras simples....................................................................................... 53
4.3.2 O acento em Palavras Compostas................................................................................. 56
CONCLUSÃO 56
59
BIBLIOGRAFIA 62
APÊNDICE 67
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Fonética e fonologia do Jaminawa do Brasil (Pano)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS

AGMAR ALVES CRUVINEL

FONÉTICA E FONOLOGIA DO JAMINAWA DO BRASIL (PANO)

GOIÂNIA 2013

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico:

[ x ] Dissertação

[ ] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação Autor (a): Agmar Alves Cruvinel E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ x ]Sim [ ] Não Vínculo empregatício do autor Agência de fomento: País: Brasil Título: FONÉTICA E

Professora efetiva da rede pública de ensino do Estado de Goiás (ensino médio). Sigla: UF:GO CNPJ:

FONOLOGIA DO JAMINAWA DO BRASIL (PANO)

Palavras-chave:

Indígenas, fonologia, Língua Jaminawa do Brasil. Título em outra língua: Phonetics and phonology Yaminahua of the BRAZIL (Panoan) Palavras-chave em outra língua:

Indigenous Languages, Phonology, Yaminahua Language of Brazil.

Estudos Linguísticos Área de concentração: Data defesa: (05/09/2014) Letras e Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Programa de Pós-Graduação: Federal de Goiás Orientador (a): Dra. Maria Suelí de Aguiar E-mail: Co-orientador (a):* E-mail:

[email protected] ;

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM

[

] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação. O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. ________________________________________ Assinatura do (a) autor (a) 1

Data: ____ / ____ / _____

Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo.

i

AGMAR ALVES CRUVINEL

FONÉTICA E FONOLOGIA DO JAMINAWA DO BRASIL (PANO)

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, em cumprimento parcial das exigências para obtenção do título de Mestre em Linguística.

Área de Concentração: Estudos Linguísticos. Linha de pesquisa: Descrição de Línguas Indígenas e demais Línguas Naturais. Orientadora: Dra. Maria Suelí de Aguiar

GOIÂNIA 2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP) GPT/BC/UFG

C957f

Cruvinel, Agmar Alves. Fonética e Fonologia do Jaminawa do Brasil (Pano) [manuscrito] / Agmar Alves Cruvinel. - 2013. 82 f. Orientadora: Profª. Drª. Maria Suelí de Aguiar. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Letras, 2013. Bibliografia. Apêndices. 1. Linguas indígenas - Fonologia 2. Lingua Jaminawa do Brasil 3. Fonética 4. Fonologia I. Título. CDU: 81’344

ii

Agmar Alves Cruvinel

FONÉTICA E FONOLOGIA DO JAMINAWA DO BRASIL (PANO)

Dissertação de conclusão de curso para obtenção do título de Mestre em Letras e Linguística

pela

Universidade

Federal

de

Goiás,

defendida

e

aprovada

em

__________________________________, pela banca examinadora constituída pelos professores:

________________________________________________________ Professora Dra. Maria Suelí de Aguiar – UFG (Orientadora e presidente)

________________________________________________________ Professora Dra. Gláucia Vieira Cândido – UEG

_________________________________________________________ Professora Dra. Elza Kioko Makayma do Couto – UFG

__________________________________________________________ Professor Dr. Hildo do Honório Couto – UNB (Suplente)

iii

Dedico ao povo Jaminawa do Brasil

iv

AGRADECIMENTOS Agradeço:

- À minha mãe, Maria Rita Cruvinel, que torceu por mim e ficou muito feliz quando soube do meu ingresso ao curso de mestrado;

- Aos índios Jaminawa do Brasil que aceitaram meu convite para participar da pesquisa como informantes de sua língua nativa, pela confiança depositada, pelas conversas descontraídas, além da oportunidade de ter contato com uma cultura diferente da minha e também por manifestar interesse em conhecer o resultado do estudo apresentado.

- À minha orientadora Dra. Maria Suelí de Aguiar, por aceitar orientar-me e pela experiência adquirida durante.

- À professora Dra. Gláucia Vieira Cândido pela a experiência adquirida durante pesquisa de iniciação científica como bolsista do CNPq no curso de graduação e pelas sugestões recebidas no processo de qualificação;

- Ao professor Dr. Sóstenes Cezar de Lima pelo incentivo e sugestões recebidas na elaboração do pré-projeto de mestrado;

- À professora Dra. Elza Kioko Nakayma do Couto pelas sugestões recebidas durante o processo de qualificação;

- À professora Dra. Mônica Veloso Borges por participar do meu processo de formação de mestrado com diversas sugestões para o desenvolvimento da minha pesquisa mestrado;

- À professora Dra. Aline da Cruz pelas sugestões dadas durante a minha pesquisa de mestrado;

v

RESUMO

Este trabalho tem como objeto de estudo a língua Jaminawa do Brasil, filiada à família linguística Pano. Os falantes dessa língua vivem no estado do Acre e se distribuem da seguinte forma: grande parte da etnia vive em aldeias próximas à zona urbana, enquanto pequenas comunidades vivem em cidades. Nosso objetivo principal no trabalho em questão é apresentar uma descrição preliminar da fonética e fonologia com base na teoria fonêmica e, além disso, a partir na fonologia não linear, apresentar também estudos sobre a estrutura silábica e a forma como ocorre a distribuição do acento no nível da palavra. Ademais, apresentamos considerações acerca da família linguística Pano, incluindo algumas das principais classificações linguísticas dessa família. Fazemos ainda observações sobre a etnia Jaminawa em geral, além de considerações específicas acerca do povo Jaminawa do Brasil. O corpus da pesquisa é constituído por dados coletados em pesquisas de campo desenvolvidas em outubro de 2011 e julho de 2012 em aldeias e cidades Acreanas, com a colaboração voluntária de oito falantes nativos da língua estudada, que também falam português.

PALAVRAS-CHAVE: Línguas Indígenas, fonologia, Língua Jaminawa do Brasil.

vi

ABSTRACT This work aims to study the Yaminahua language of Brazil, affiliated to the linguistics family Panoan. The people Yaminahua of Brazil live in the state of Acre and are distributed as follows: most of ethnicity living in native village near the urban area, while small communities living in the cities. Our main goal in the current in this study is to present a preliminary description of the phonetics and phonology based on phonemic theory and, moreover, presents studies on the syllabic structure and how the distribution of stress occurs at the word level based on nonlinear phonology. Furthermore, we present considerations about the linguistics family Panoan, including some of the major classifications of this language family. We also make observations about Yaminahua ethnicity in general, beyond special considerations about the people Yaminahua of Brazil. The research corpus consists of data collected from field surveys undertaken in October 2011 and July 2012 in native villages and cities in Acre, with voluntary collaboration of eight native speakers of the target language who speak Portuguese.

Keywords: Indigenous Languages, Phonology, Yaminahua Language of Brazil.

vii

SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................... 01 03

1.

METODOLOGIA DE PESQUISA .............................................................................

1.1

Os Povos das Línguas Pano............................................................................................ 05

1.2

A Etnia Jaminawa do Brasil .........................................................................................

12

1.3

Um Mito acerca da origem do Povo Jaminawa do Brasil...........................................

15

2.

DESCRIÇÃO FONÉTICA E FONÊMICA DO JAMINAWA DO BRASIS..........

18

2.1

Descrição Fonética.........................................................................................................

18

2.1.1

Inventário dos Fones consonantais............................................................................... 18

2.1.2

Distribuição dos Contoides...........................................................................................

19

2.1.3

Inventário dos Fones Vocálicos....................................................................................

24

2.1.4

Distribuição dos Vocoides.............................................................................................

25

2.2

Fundamentação Teórica para a Análise Fonêmica....................................................

29

2.2.1

Segmentos Consonantais em Contraste no Jaminawa...............................................

32

2.2.2

Segmentos Consonantais em Variação Livre no Jaminawa......................................

36

2.2.3

Quadro de Fonemas Consonantais do Jaminawa....................................................... 38

2.3

Segmentos Vocálicos do Jaminawa..............................................................................

40

2.3.1

Segmentos Vocálicos em Variação Livre no Jaminawa.............................................

41

2.3.2

Quadro de Fonemas Vocálicos do Jaminawa ............................................................. 42

3.

NEUTRALIZAÇÃO DOS FONEMAS //, /a/ e /ts/, /t/ .........................................

42

4.

ANÁLISE FONOLÓGICA SOB A LUZ DA TEORIA NÃO LINEAR....................

43

4.1

Fundamentação Teórica para a Análise Estrutura Silábica........................................ 43

4.1.1 Inventário Silábico da Língua Jaminawa..................................................................... 48 4.2.1 Fundamentação Teórica para a Análise das Vogais Adjacentes................................

50

4.2.1 As Vogais Adjacentes no Jaminawa do Brasil: ocorrências dos glides [w] e [j].......

52

4.3

53

Fundamentação Teórica para a Análise do Acento.....................................................

4.3.1 O Acento em Palavras simples....................................................................................... 53 4.3.2 O acento em Palavras Compostas.................................................................................

56

CONCLUSÃO

56 59

BIBLIOGRAFIA

62

APÊNDICE

67

viii

1. GLOSSÁRIO BÁSICO DO JAMINAWA DO BRASIL 1.1 Jaminawa do Brasil/Português

67

1.2 Português/Jaminawa do Brasil

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1

INTRODUÇÃO

Apesar de não haver dados precisos, estudiosos estão em acordo no que se refere à estimativa de que atualmente no Brasil são faladas cerca de 180 línguas indígenas. Essas línguas estão distribuídas em cinco grandes grupos, nove famílias menores e dez isoladas linguisticamente. As famílias dos cinco maiores grupos são: Tronco Tupi, Tronco Macro-Jê, Família karib, Família Aruak e a Família Pano1, que ainda é pouco estudada no Brasil (SEKI, 1999) e da qual faz parte o Jaminawa2 do Brasil. Conforme algumas informações da literatura especializada, o povo Jaminawa ocupa o território da Bolívia, Peru e Brasil. Contudo, pesquisadores, como Gonçalves (1991), Townsley (1988) e Sáez (2006), os grupos denominados Jaminawa do Brasil e Peru são grupos distintos. Ademais, Graham Townsley ressalta que o termo “Jaminawa” não designa um grupo étnico particular. Tal entendimento é compartilhado por Erikson (1994), pois, segundo esse autor, a denominação em discussão não é atribuída a um único povo, e sim a grupos étnicos com características culturais semelhantes. Em termos de documentações descritivas científicas, a língua Jaminawa é ainda pouco conhecida e as pesquisas desenvolvidas acerca de tal língua sempre partiram do ponto de vista de que os Jaminawa são um grupo étnico distribuído entre Bolívia, Brasil e Peru. Assim, as pesquisas linguísticas desenvolvidas com grupos conhecidos por Jaminawa dos territórios da Bolívia e do Peru, normalmente, são assumidas como relacionadas à etnia Jaminawa do território brasileiro. Todavia, segundo o próprio povo Jaminawa do Brasil, existem certas diferenças relacionadas ao vocábulo e à pronúncia entre a língua Jaminawa falada no Brasil em relação a que é falada tanto no Peru como na Bolívia. No que diz respeito ao uso de sua língua, os membros mais velhos da etnia Jaminawa do território brasileiro reclamam que os seus jovens estão bastante distantes de seus costumes e poucos conhecem bem sua língua devido à influência do contado de não índios, que, no atual contexto do Brasil, tem sua cultura em situação de maior prestígio. Tal fato é bastante preocupante, pois deixa a língua em questão sob ameaça de extinção. Em decorrência do que foi exposto, entendemos ser imprescindível realizar pesquisas sobre a língua Jaminawa do Brasil. Por essa razão, apresentamos essa dissertação com estudos 1

2

De acordo com Tessman (1999), é provável que Pano signifique “tatu gigante”.

É importante ressaltar que Yamináwa é uma das versões de escrita para Jaminawa, a qual estamos utilizando para a realização da presente pesquisa. Além dessas versões há ainda Yaminawá e Yaminahua.

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preliminares referentes à fonética e fonologia dessa língua. Uma pesquisa como essa encontra relevância no fato de possivelmente subsidiar, no futuro, o desenvolvimento de projetos de revitalização da língua em questão, pois podem, por exemplo, auxiliar os falantes na produção de materiais didático-pedagógicos (dicionários, cartilhas etc.), que contribuem para uma educação intercultural bilíngue, além de oferecer contribuição para o fortalecimento da cultura nativa, uma vez que a língua é o maior expoente de uma cultura. Ademais, do ponto de vista teórico, ressaltamos que, com a realização da pesquisa em questão, estamos consequentemente testando predições teóricas, como as que serviram de base para essa pesquisa, por meio do confronto com dados reais da língua Jaminawa do Brasil. Aliás, nesse sentido, Lyons (1981) ressalta o fato de a linguística descritiva, por meio dos resultados de seus estudos, fornecer dados que podem confirmar ou refutar as proposições e teorias colocadas pela linguística geral ou teórica. Por meio de nossos estudos, poderemos ainda oferecer subsídios à Gramática Universal que tem como principal meta determinar o que as gramáticas das línguas naturais possuem em comum e o que há de variedade entre elas (HALE, 1998). Outro ramo da linguística para o qual essa pesquisa traz contribuições é a Linguística Histórico-Comparativa, pois os trabalhos de descrições de línguas possibilitam agrupá-las em troncos, famílias etc. Ressaltamos ainda que o presente estudo pode oferecer também contribuições às pesquisas das áreas de História e Antropologia que buscam desvendar a origem do povo ameríndio. Aliás, Diégenes Júnior (1980), ao citar recursos utilizados para desvendar a origem do homem americano, aponta os estudos linguísticos sendo utilizados como suporte para esse fim. Ressaltamos que nossa pesquisa tem como objetivo principal estudar a fonologia Jaminawa do Brasil e, como objetivos específicos, descrever o quadro fonológico de tal língua, analisar sua estrutura silábica e a distribuição do acento no nível da palavra. Nosso trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro, fazemos as seguintes apresentações: a) metodologia de pesquisa, b) considerações acerca da família linguística Pano, incluindo algumas das principais classificações linguísticas dessa família, c) menção sobre a etnia Jaminawa em geral e maiores considerações acerca do povo Jaminawa do Brasil. No segundo capítulo, o qual subdividimos em duas partes, expomos a descrição fonética e análise fonológica da língua em estudo. Em seguida, apresentamos a questão da neutralização dos fonemas //, /a/ e /ts/, /t/. Depois, no terceiro capítulo, damos continuidade à apresentação de nossos estudos com base em teorias fonológicas mais recentes. Isso devido

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ao fato de a análise fonêmica (análise fonológica) ter grande importância na identificação de fonemas de uma língua ágrafa e no processo de conversão inicial da mesma em código escrito Pike (1947), mas não dar conta de certos fenômenos relacionados, por exemplo, à sílaba e ao acento. Assim, no quarto capítulo do nosso trabalho, apresentamos análises a partir da fonologia não linear. Com base nessa teoria, apresentamos estudos relacionados à estrutura silábica (incluindo a ocorrência dos glides [w] e [j]) e o acento em palavras simples e compostas. Seguem esse último capítulo a conclusão, a bibliografia e um anexo, no qual consta um vocabulário básico do Jaminawa do Brasil.

1. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para descrever aspectos fonológicos de uma língua, é necessário, em primeiro lugar, realizar uma descrição fonética. Por isso, devemos primeiramente realizar um estudo de sons relacionados a uma determinada língua (perspectiva fonética) e, só depois, procurar verificar diferenças de fones correlacionadas às suas possíveis funções dentro de um dado sistema linguístico e o modo como esses sons se organizam para formar sílabas (perspectiva fonológica). Portanto, é imprescindível descrever os sons da fala, sem levar em consideração a função que eles desempenham na língua, ou seja, antes de nos preocuparmos em interpretar ou compreender, preocupamo-nos apenas em descrever aspectos físicos concretos. O corpus de nossa pesquisa é constituído por dados coletados por nós em pesquisas de campo realizadas em outubro de 2011 e julho de 2012 em aldeias e cidades do estado do Acre. Participaram de nossas pesquisas, como voluntários, sete índios Jaminawa do Brasil, os quais terão suas identidades mantidas em sigilo, conforme rezam documentos assinados por eles e também por nós. Vale observar que tais documentos, na prática, são constituídos basicamente pelo “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” redigido de acordo com as sugestões do comitê de ética da UFG. Durante a primeira viagem realizada por nós, coletamos dados de duas índias na cidade de Brasiléia. A primeira, com 53 anos de idade na época, vivia no município mencionado há dez anos e era originária da aldeia Três Cachoeiras (jurisdição do município de Assis Brasil), à qual visitava periodicamente, a fim de manter contato com seus parentes e reviver certos costumes de sua antiga aldeia. A segunda índia, que era nora da primeira, tinha 15 anos e, embora aldeiada (habitava a aldeia Igarapé Preto, localizada próxima ao município de Sena Madureira), já não tinha muito conhecimento de sua língua nativa. Em seguida, nos

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deslocamos para a cidade de Assis Brasil, onde conseguimos mais três auxiliares de pesquisa: duas índias, uma de 50 anos de idade e outra de 25, ambas da aldeia Betel, e um índio de 27 anos (morador da zona urbana de Assis Brasil). Esses e a nossa informante de15 anos já citada, assim como a maioria dos jovens Jaminawas estabelecidos em território brasileiro, também falam muito pouco sua língua nativa. Como dois dos nossos primeiros informantes da língua Jaminawa do Brasil demonstraram ter pouco conhecimento do vocabulário de sua língua nativa e acabaram por gerar dados com certas divergências relacionadas a determinados fones, algumas dúvidas acabaram surgindo. Diante disso, a fim de sanar tais dúvidas, decidimos partir para uma segunda viagem ao Acre. Quando chegamos ao estado do Acre (cidade de Rio Branco), em virtude de a literatura especializada vincular notícia sobre a existência de índios Jaminawa na Terra Indígena (T.I.) Jaminawa do Igarapé preto, próxima ao município de Cruzeiro do Sul, viajamos para essa cidade. Contudo, ao chegarmos ao nosso destino, descobrimos que, na verdade, a T.I. em questão é habitada pelo povo Sayanawa que tem um ou outro membro casado com índio da etnia Jaminawa do Brasil. Dessa forma, seguimos viagem para Sena Madureira, cidade próxima ao município de Cruzeiro do Sul, a fim de contatar índios da etnia em estudo na região. Com nossa viagem à cidade de Sena Madureira e a uma aldeia próxima a essa cidade (Sete Estrelas), pudemos sanar nossas dúvidas por meio do auxílio de mais dois informantes: um índio de 57 anos, antigo cacique que hoje vive na zona urbana e outro de 25 anos, morador da aldeia Sete Estrelas. Durante nosso trabalho de campo, as palavras gravadas da língua Jaminawa do Brasil foram baseadas nos itens lexicais da lista de Swadesh (1950), no questionário do Museu Nacional, em um questionário elaborado por nós mesmos, além de levarmos em consideração vocábulos emitidos na fala espontânea dos índios. Para apoiarmos em áudio e em imagem de movimentos bucais de nossos informantes, além de gravarmos nossos dados utilizando um microcassete Sony e um gravador digital Sony, utilizamos também uma câmera digital Sony DCR-SX20. Assim, gravamos quase todos os nossos dados utilizando, simultaneamente, câmara digital, gravador digital e microcassete, enquanto uma quantidade ínfima dos dados de nosso corpus foi gravada apenas com gravador digital e/ou microcassete. Vale observar ainda que, para a análise de nossos dados, utilizamos também o auxílio do programa Audacity especialmente em razão da presença de sons

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vocálicos longos. Quanto à transcrição fonética e fonológica, adotamos os símbolos do IPA (International Phonetic Alphabet).

1.1 OS POVOS E AS LÍNGUAS PANO

Os falantes da família linguística Pano ocupam uma região geográfica, da floresta Amazônica, contínua que abarca o nordeste da Bolívia, o oeste do Peru e, conforme afirmação de Rodrigues (1994), no Brasil, ocupam continuamente o sul e o oeste do Estado do Acre, a parte ocidental de Rondônia e o norte do Amazonas, entre os Rios Juruá e Javari. É importante observar que, além da referida localidade, há índios dessa família linguística vivendo em cidades próximas às suas aldeias. Pesquisas mais antigas relacionaram os grupos Pano aos Omagua, considerando-os membros do tronco Tupi. Contudo, Raoul de La Grasserie (1888) constatou que os Pano possuíam uma posição independente (SHELL,1975). Outras relações genéticas também foram estabelecidas, tais como aquelas que relacionam os Pano com os Takana, entre outras. No que diz respeito à denominação Pano, o primeiro a adotá-la foi Raoul de La Grasserie que, ao estudar um grupo de seis línguas, percebeu semelhança entre elas e acabou por adotar o nome de uma delas, para designar todo o grupo linguístico (PAULA, 2004). De acordo com tradições orais dos povos Pano, esse grupo indígena teria vindo do norte do Peru e, então, se fixou na “desembocadura do rio Huallaga”. Nessa localidade, encontrou-se com índios denominados Yevera que o obrigaram a se mudar para o sul, em uma região localizada entre os rios Huallaga, Ucayali e Pachietea, cuja denominação é Pampas do Sacramento (AGUIAR, 1994). Já, conforme Briton (1891), os Pano foram vistos pela primeira vez, quando missionários cruzavam a cordilheira dos Andes, a fim de chegar ao Alto Ucayali. Com relação estritamente à classificação das línguas Pano, a primeira foi realizada no final do século XIX por Grasserie (1888) e assim está estabelecida: Conibo, Pacavara, Caripuna, Culino, Maxuruna e Mayoruna. A esse número de línguas, Briton (1891) acrescentou mais onze línguas e denominou o grupo de Sul-Americanas do Atlântico, que abarca um total de dezoito línguas: Barbudo, Calliseca, Conawari, Caripuna, Cashibo, Chamicuro, Cochivuina, Conibo, Culino, Jaunave, Mayoruna, Maxoruna, Pano, Pacoguara, Remo, Sensi, Setibo e Sipibo (RIBEIRO, 2006). Desde então, várias outras classificações foram feitas.

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Primeiramente, surgiram aquelas classificações que se basearam no conhecimento de línguas Pano bolivianas e peruanas. Após a década de 1980, com o desenvolvimento de mais pesquisas relacionadas às línguas Pano brasileiras, começaram a surgir classificações linguísticas baseadas na família Pano da Bolívia, do Peru e também do Brasil. A seguir, mencionaremos algumas das principais propostas de classificação da família linguística Pano realizadas até o momento. Dentre tais propostas, podemos citar primeiramente a de Rivet e Tastevin (1924), a qual apresenta uma divisão da família Pano em três grupos geográficos. O primeiro grupo é composto por aproximadamente 29 línguas faladas nos rios Amazonas e Ucayali; o segundo é constituído por quatro línguas faladas na região do Rio Inambari; e o terceiro possui seis línguas e dialetos das zonas dos rios Beni, Madre de Dios, Mamoré e Madeira (RIBEIRO, 2006). Entre os autores que propuseram uma classificação geográfica das línguas Pano estão também Schmidt (1926), Loukotka (1944) Rivet e Loukotka (1952), McQuown (1955), a qual é uma síntese do trabaho de Mason (1950) e, por isso, ambas são bastante semelhantes. A seguir apresentamos a classificação de Mason (1950). I – PANO CENTRAL A. Chama (Ucayali) 1. Conibo a. Conibo b. Shipibo a. Caliseca, Sinabo (?) b. Manamabobo, Manava c. Setebo a. Sensi: Casca, Runubu, Ynubu, Barbudo, Tente, Mananawa (?) b. Panobo: Pano, Pelado, Manoa, Cashiboyano. 2. Cahibo (Combo) a. Cacataibo b. Cashiño c. Ruño d. Buninawa e. Carapacho (?) f. Puchanawa g. Shirinó B. Curina (Kulino) C. Capanawa 1. Capanwa a. Buskipani

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2. Remo a. Sacuya 3. Maspo a. Epetineri (Impenitari) 4. Nucuini a. Cuyanawa 5. Niarawa 6. Puyanawa (?) D. Amawaca (amenguaca ?) 1. Amawa a. Cashinawa b. Sheminawa c. Inuvakeu d. Viwivakeu 2. Pichobo a. Pichobo (Pisobo) b. Soboibo a. Ruanawa c. Machobo a. Comobo E. Catukina 1. Arara a. Shawanawa 2. Ararapina 3. Ararawa 4. Santinawa a. Saninawacana F. Juruá-Purús 1. Poynawa 2. Shipinawa 3. Ararawa 4. Yauavo 5. Yaminawa 6. Runinawa 7. Contonawa 8. Yawanawa 9. Pacanawa 10. Yumbanawa 11. Yura 12. Tushinawa 13. Marinawa 14. Espinó 15. Manawa 16. Canamari II – PANO SUL-OCIDENTAL

8

A. Arasaire B. Aisawaca 1. Aisawaca 2. Yamiaca C. Arauaá (?) III – PANO SUL-ORIENTAL A. Pacawará 1. Chacobo 2. Caripuná (Jau-navo) a. Jacariá b. Pamá (Pamaná) 3. Capuibo 4. Sinabo B. Zurina (?) Greenberg (1956), ao apresentar uma classificação sintética das línguas da América do Sul, reuniu, excetuando os grupos Na-dene e Eskimo, em apenas uma unidade de estudo, todas as línguas ameríndias. O trabalho desse pesquisador resultou em oito agrupamentos linguísticos para a América Latina. Entre tais agrupamentos, três foram constituídos somente para a América do Sul: 1. Macro-Chibchan, 2. Andino-Equatorial, 3. Ge-Pano-Caribe. Esse último grupo seria composto pelos blocos Macro-Jê, Macro-Pano, Nambikuara, Huarpe, Macro-Karib e Taruma (d’Ans, 1970.) d’Ans (1973) contesta a classificação das línguas Pano de Mason (1950), alegando se tratar de interpretações equivocadas de fontes antigas e, também, de ser essa classificação baseada em critérios meramente geográficos. Ademais, a partir do método glotocronológico, propõe uma reclassificação na qual a família linguística Pano é dividida em cinco grupos: Pano Ucayalino, Pré-Andino, das Cabeceiras, Benino e do Norte conforme é detalhado a seguir.

I.

PANO UCAYALINO A. UCAYALINO A 1. Shipibo-Conibo a. Shipibo b. Conibo 2. Capanahua a. Capanahua B. UCAYALINO B a. Panavarro

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b. Shetebo c. Wariapano II. PANO PREANDINO a. Cashibo b. Cacataibo III. PANO DE LAS CABECERAS A. ISCONAHUANO a. Isconahua B. AMAHUACANO a. Amahuaca C. CASHINAHUANO a. Cashinahua D. PANO-PURUS a. Yaminahua b. Sharanahua c. Marinahua d. Chaninahua e. Mastanahua f. Yahuanahua IV. PANO BENIANO a. Chacobo b. Pacaguara V. PANO DEL NORTE a. Mayoruna Na segunda metade da década de oitenta, Greenberg (1987) mantém a hipótese de um tronco Macro-Pano, apresentada em Greenberg (1956). Tal tronco seria formado com a seguinte constituição:

MACRO-PANO 1. Chama 2. Lengua 3. Lule Vilela 4. Mataco-Guaicuru a. Guaicuru b. Mataco 5. Moseten 6. Pano-Tacana a. Pano b. Tacana

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Em Loos (1999), é apresentada uma classificação das línguas Pano em quatro subgrupos (subgrupo Yaminawa, o Chacobo, o Capanawa e o de línguas não agrupadas), a qual é apresentada mais detalhadamente a seguir. The Yaminawa subgroup 1. Yaminawa 2 .Amawaca 3. Kashinawa / Honikoin 4. Sharanawa / Shanindawa / Chandinawa / Inonawa / Marinawa 5. Yawanawa 6. Chitonawa 7. Yoranawa / Nawa / Parquenawa 8. Moronawa 9. Mastanawa The Chakobo subgroup 10. Chakobo 11. +Arazaire 12. +Atsawaka 13. +Yamiaka 14. Katukina / Kamannawa / Waninnawa 15. Pakawara The Kapanawa subgroup 16. Kapanawa/Pahenbakebo 17. Shipibo/Konibo/Xetebo 18. +Remo 19. Marubo 20. +Wariapano/Panobo/Pano 21. Iskonawa 22. +Kanamari./Taverí/Matoinahã Ungrouped languages 23. Kashibo/Kacataibo/Komabo 24. +Kulino 25. Karipuná 26. Kaxarari 27. Matses / Mayoruna 28. +Nokamán 29. +Poyanáwa 30. +Tuxinawa Ribeiro (2006), antes de apresentar sua proposta de classificação das línguas Pano, realizou análises de muitas classificações acerca da família linguística Pano, a partir das quais constatou haver entre elas alguns problemas como: nomes diferentes que designam um mesmo grupo, mas são entendidos como relacionados a grupos diferentes; confusão ou até

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mesmo inclusão de nomes de povos que não são falantes de línguas Pano na classificação dessa família; confusão entre língua e etnia dos falantes, o que resultou uma classificação étnica em vez de linguística e, também, problemas relacionados ao fato de a maioria das classificações, na falta de avaliação linguística, basear-se exclusivamente na situação geográfica dos povos. Já, em relação especificamente ao estudo de Loos (1999), Ribeiro (2006) o considerou como uma proposta de classificação que apresenta diversos pontos positivos e é a que se aproxima mais de um critério puramente linguístico. A classificação proposta por Ribeiro (2006), a última da qual se tem notícia até o momento, procurou pautar-se em critérios estritamente linguísticos e apresentou a família linguística Pano constituída por um total de 34 línguas divididas em quatro grupos (I, II, III, IV) e 12 subgrupos (II-1, II-2, III-1, III-2-1, III-2-2, III2-2-1, III-2-2-2, III-2-3, IV-1, IV-2, IV-3) de acordo com o que pode ser constatado a seguir. Grupo I Amawaka Grupo II Subgrupo II-1 Kashibo Nokaman Subgrupo II-2 Shipibo Kapanawa Panobo Grupo III Subgrupo III-1 Iskonawa Kaxinawa Subgrupo III-2 Subgrupo III-2-1 Nukini Remo Subgrupo III-2-2 Subgrupo III-2-2-1 Kanamari Katukina Marubo Subgrupo III-2-2-2 Mastanawa Tuxinawa Yoranawa Sharanawa Shanenawa Arara Yawanawa

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Xitonawa Yaminawa Subgrupo III-2-3 Kaxarari Poyanawa Grupo IV Subgrupo IV-1 Kapishto Matsés Kulina Matis Subgrupo IV-2 Atsawaka Arazaire Yamiaka Subgrupo IV-3 Karipuna Chacobo Pakawara. Vale ressaltar ainda a classificação que Rodrigues (1986) realizou exclusivamente para as línguas Pano do Brasil. Nessa classificação, a familia Pano é apontada como isolada, devido ao fato de não figurar em tronco e está constituída pelas seguintes línguas: Amawáka (Amazonas), Karipuna (Rondônia), Katukina (Acre), Kaxarari (Rondônia), Kaxinawá (Acre e Rondônia), Marubo (Amazonas), Matis (Amazonas), Mayá (Amazonas), Mayorúna (Amazonas), Nakuini (Amazonas), Poyanáwa (Acre), Yamináwa (Acre) e Yawanáwa (Acre).

1.2 A ETNIA JAMINAWA DO BRASIL

A população Jaminawa do Brasil habita os seguintes municípios do Acre: Assis Brasil, na Terra Indígena (T.I.) da cabeceira do Rio Acre (aldeias Três Cachoeiras, Ananaya e São Lorenço); T.I. Mamoadade, a qual compartilha com os índios Machinele (aldeias Betel, Salão, Kujubim e Boca do Momoadade); T.I. Guajara (aldeia de mesmo nome); Sena Madureira, na T.I São Paulino (aldeia de mesmo nome), na T.I rio Caiaté (aldeias Boca do Kanamari, Extrema Buenos Aires e Igarapé Preto (de Sena Madureira), na T.I. Kayapucá (aldeias Kayapucá e Sete Estrelas); Santa Rosa do Purus, na T.I Extirão (aldeia de mesmo nome).3

3

É imprescindível ressaltar que a Terra Indígena Jaminawa do Igarapé Preto localizada no município de Cruzeiro do Sul no Acre, a despeito de sua denominação e de informações disponíveis na literatura especializada, não é ocupada pela etnia Jaminawa do Brasil, mas pelo povo Saynawa. Obtivemos tal informação, ao viajarmos para o local em questão, a fim de estabelecermos contado com os Jaminawa do Brasil.

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Segundo a literatura especializada, há índios Jaminawa no Brasil, na Bolívia e no Peru. Contudo, de acordo com Gonçalves (1991) e Townsley (1993) os dois grupos tidos como Jaminawa (um da cabeceira do rio Juruá e outro das cabeceiras do rio Purus) são grupos distintos, pois a língua do Jaminawa do Juruá tem maior proximidade com o Mastanahua e do Parquenahua, enquanto a língua do Jaminawa do Purus é quase idêntica à dos Sharanahua. Além disso, Sáez (2006), observa o fato de Graham Townsley entender que o termo “Jaminawa” (Yaminawa, Yaminahua, Yamináwa ou Yaminawá) não designa um grupo étnico particular. Tal entendimento é compartilhado por Erikson (1994), haja vista que, em seu entendimento, a denominação em discussão não é atribuída a um único povo, e sim a grupos étnicos com características culturais semelhantes. Sáez (2006), que realiza pesquisa com os Jaminawa da T.I. cabeceira do rio Acre, em Assis Brasil, entende ser justificáveis preocupações como aquelas apresentadas por Townsley (1993) acerca do nome “Jaminawa” (Yaminawa, Yaminahua, Yamináwa ou Yaminawá) e, diante disso, observa o fato de os Jaminawa, por ele pesquisados, serem diferentes daqueles estudados por Graham Twonsley, embora apresentem tênue elos geneológicos com os Jaminawa do Purus e outros grupos Pano. Dessa forma, fica a hipótese de povos diferentes do Brasil, Peru e até mesmo Bolívia terem sido nomeados com o mesmo etinônimo. Por outro lado, é válido ressaltar que os Jaminawa do Brasil acreditam que há também Jaminawa no Peru e na Bolívia. Contudo, a etnia do território brasileiro observa que, embora seja possível a eles compreender a língua dos Jaminawa do Peru e da Bolívia, há certas diferenças em relação ao vocábulo e a pronúncia. Nesse sentido, um membro da etnia que vive em território brasileiro (na cidade de Sena Madureira) observou que um Jaminawa do Peru que havia se casado com uma Jaminawa do Brasil costumava, por exemplo, ao utilizar a palavra caldo (d) para designar ‘água’, vocábulo que, entre a etnia Jaminawa brasileira, equivale a upa. Quanto ao etinômino Jaminawa, tradicionalmente, é traduzido pela literatura especializada da seguinte forma: Jami (machado) e nawa (povo), isto é, “povo do machado”. Todavia, os Jaminawa do Brasil afirmam que tal tradução é equivocada e não se reconhecem/autodenomiam “povo do machado”. Segundo os membros dessa população, Jaminawa simplesmente designa a sua etnia. Em algumas ocasiões, dois indivíduos que gozam de bastante influência entre os Jaminawa em questão, chegaram, de forma descontraída, mas irônica, a brincar dizendo: “Povo do machado?” Ah! A gente nem tem machado! Você viu algum machado por aqui? Ademais, outros três membros dessa etnia

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disseram que o homem branco costuma pronunciar “Jamináwa” ou “Yamináwa”, mas que os Jaminawa do Brasil, quando estão conversando entre eles, “pronunciam bem o nome de seu povo bem pronunciado” e, então, dizem: “Jamidawá” (que seria “o mais bem pronunciado”) ou “Jaminawá”4. Com relação à população Jaminawa do Brasil, segundo informações de membros dessa etnia, um deles antigo Cacique e, atualmente, funcionário da Funai (senhor de 67 anos), é formada por cerca de 1.360 a 1.380 índios. Tais informantes ressaltam ainda que não é tarefa fácil realizar o censo da população em questão, porque os Jaminawa do Brasil estão sempre indo de uma aldeia à outra e, além disso, de tempos em tempos, alguns elementos da etnia costumam passar dias nas casas de parentes que vivem em ambiente urbano, assim como aqueles que vivem nas cidades têm o hábito de passar temporada na casa de familiares que vivem em aldeias. No que diz respeito às suas habitações, os Jaminawa do Brasil que vivem mais afastados das cidades em aldeias às margens de rios moram em casas do tipo palafitas cobertas de palhas de palmeiras como paxiuba, caranaí ou babaçu. Essas casas, normalmente não possuem divisórias. Contudo, em certos casos, podem ser constituídas por divisórias compostas por mosquiteiros. Já as residências das aldeias mais próximas às cidades são também de palafitas, mas cobertas com folhas de alumínio e frequentemente possuem divisórias. Para dormir, os moradores de aldeias mais afastadas das cidades, assim como aqueles em habitações mais próximas, utilizam tanto redes como colchões estendidos no chão. Outro fator importante a ser ressaltado é o fato de em vez de moradias em casas comunais, atualmente, ser cada vez mais comum o surgimento de casas individuais, algo que acorre, principalmente, entre os jovens do sexo masculino. Na organização política do povo Jaminawa do Brasil, o cacique constitui uma autoridade, cuja função é representar seu grupo e solucionar problemas internos. Contudo, o fato de o Cacique ser uma autoridade máxima não o torna o sujeito que toma decisões pautado, exclusivamente, em sua capacidade de julgamento. Antes de tomar uma decisão acerca de um assunto relativo à vida do grupo ao qual representa, o cacique convoca reunião, a fim de promover discussão e adotar decisões em consenso com todo o grupo. Os casamentos, em sua grande maioria, acontecem desvinculados de antigos rituais. Ás pessoas do sexo masculino, assim como em outras etnias da família Pano, é permitida a poligamia. É interessante observar que os casamentos podem acontecer não só entre membros 4

Tal afirmação é coerente com o fato de o acento na língua Jaminawa do Brasil recair sempre na última sílaba, algo que será discutido em 4.3.1 e em 4.3.2

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da família Jaminawa como também entre esses e indivíduos de outras etnias indígenas, além de não indígenas. Segundo informações do povo Jaminawa do Brasil, o casamento entre índios dessa etnia e não índios é amplamente mais comum entre índias e homens não indígenas. Para sua subsistência, os Jaminawa em estudo tradicionalmente praticam a pesca e caça de pequenos animais, além de desenvolver o cultivo principalmente de macaxeira, banana e milho em roças comunitárias. Todavia, há membros da etnia que vivem de salários conseguidos por meio da função de professor, funcionário da FUNAI, aposentadorias ou de pequenos serviços prestados a não índios. No que diz respeito à preservação de suas tradições, os membros mais velhos do povo Jaminawa do Brasil reclamam que os seus jovens estão bastante distantes de seus costumes e poucos conhecem bem sua língua devido à influência do contado de não índios, que, no atual contexto do Brasil, tem sua cultura em situação de maior prestígio. Todavia, há um movimento entre lideranças da etnia em busca de fortalecer suas tradições culturais, especialmente, o uso de sua língua.

1.3 UM MITO ACERCA DA ORIGEM DO POVO JAMINAWA DO BRASIL

No que diz respeito a sua origem, a etnia Jaminawa do Brasil, segundo membros de seu povo, existem diferentes mitos relacionados à sua gênese, isto é, ao modo que essa etnia surgiu na terra. Em um desses mitos, consta que, em certa comunidade, uma mulher esperava um filho, cuja paternidade não era conhecida. Durante o seu período de gestação, tal mulher decidiu ir para a aldeia onde viviam seus irmãos e, então, iniciou viagem em busca de seu objetivo. Ao completar um mês de viagem, a criança, embora ainda estivesse no ventre, começou a conversar com sua mãe. Primeiramente, o filho explicou a sua genitora que, em certo ponto do percurso da viagem, ela iria encontrar dois caminhos: um a sua direita, outro à esquerda. O caminho da direita, que levava ao pessoal da maldade que comia gente, estava coberto por penas de jacamim, enquanto no caminho da esquerda, o qual conduzia à aldeia de seus irmãos, havia penas de arara. Mais tarde, o menino pediu para sua genitora pegar folhas de árvores. A mãe, tendo em vista atender ao pedido da criança, passou a recolher folhas e colocar em seu ventre. Contudo, num determinado momento, ao tentar pegar mais folhas, a mãe acabou por tocar em maribondos, o que a fez ficar furiosa e começar a dar bofetadas no seu próprio ventre e, dessa

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forma, acabar provocando temor e revolta no filho que levava dentro de si, mas continuou com a viagem. Ao finalmente chegar ao ponto onde havia o caminho coberto por penas de jacamim e o caminho no qual havia penas de arara, a mulher hesitou, pois já não recordava qual era o caminho que a guiaria para a comunidade de seus irmãos. Assim, a mãe pediu para a criança, que ainda estava em seu ventre, falar novamente qual era o caminho que ela deveria seguir. Todavia, como o menino se sentia revoltado devido ao episódio no qual sua genitora deu bofetadas em seu próprio ventre, não atendeu ao pedido de sua mãe. Diante disso, a mulher opta por pegar o caminho da pena de jacamim e segue percurso em direção à comunidade do povo mau que comia gente. Ao estar bem próxima da aldeia das pessoas que comiam gente, a mulher ouve seu filho dizer que aquele era o caminho errado, mas responde: “Ah, meu filho agora não tem mais jeito. Vou seguir nesse caminho dê o que der”. Assim, tal caminho acabou levando a mãe, que ainda carrega seu filho no ventre, para a aldeia do povo que comia gente. Ao chegar a essa aldeia, a mulher se tornou alvo da desconfiança dos seus habitantes, os quais decidiram planejar algo, a fim de levá-la a se colocar em situação que pudesse ser interpretada como atitude de desrespeito à população que acabara de acolhê-la. O objetivo desse plano era oferecer ao povo da maldade um pretexto para que ele pudesse matar e se alimentar da carne da mulher, pois isso era o castigo dado às pessoas que o desrespeitava. Assim, o povo que comia gente, durante uma refeição, ofereceu besouro para mulher comer. Ela aceitou o banquete oferecido, mas, num dado momento, começou a ter dificuldade de continuar a se alimentar do coleóptero que lhe era oferecido. Assim, os indivíduos da comunidade da maldade que gostava de comer gente logo alegou que aquela senhora não estava aceitando a comida que lhe era oferecida e, portanto, estava provocando-os. Dessa forma, puderam decidir matá-la e se alimentarem de sua carne. Então, o povo da maldade matou a mãe, tirou seu filho de seu ventre, esquartejou-a e comeu sua carne. Em seguida, colou a criança órfã em cima de um toco. Nesse momento, um dos casais da tribo da maldade disse que não tinha filho e que gostaria de pegar a criança para criá-la, algo aceito por todos os elementos daquele povo. Dessa forma, o menino teve sua vida preservada e foi crescendo sob os cuidados dos pais adotivos. O vínculo de amizade do garoto com seus pais era muito grande. Ainda pequenininha, a criança ia para as margens de rios e fazia “isibirica”5 de casca de macaxeira, fazia-as se

5

Isibirica designa aqui tiras feitas de casca de mandioca ou macaxeira

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transformarem em peixes bons, os quais, em demonstração de amizade, levava para servir de alimento para seus pais adotivos. Nessa relação de afeto, o menino cresceu rapidamente e começou a perguntar para sua mãe e seu pai quem era seus verdadeiros pais. Diante disso, os pais adotivos do garoto decidiram contar a seu filho o que havia se passado em sua comunidade há alguns anos e disseram: “Esse povo que está aí foi quem comeu sua mãe. Só não comeram você, porque nós pedimos para te criar”. O menino pensou: “Vou acabar com esse povo”. Decidido a vingar a morte de sua mãe biológica, o garoto arquitetou um plano. Fingindo caçar macaco preto, propositalmente, em vez de acertar os macacos, atira com flecha os galhos mais altos de árvores para despertar a curiosidade dos homens da maldade. Esses homens, um a um, ao passar e ver o garoto em cima de uma árvore, perguntava-lhe o que estava fazendo ali. O menino explicava que estava caçando macaco preto. Quando ouvia isso, os indivíduos do povo da maldade subiam na árvore para retirar a flecha do garoto que estava espetada em seu galho. Então, o menino aproveitava a ocasião de estar a só com cada um daqueles homens (que sempre subia na árvore individualmente) para matá-los. Então, as pessoas daquela aldeia iam “acabando”. Todavia, em certo dia, o menino, em uma conversa com seus pais, estava contando que havia matado “fulano”, “ciclano”, mencionou qual seria a outra pessoa que ele mataria no dia seguinte e alguém acabou ouvindo. Essa pessoa, após ouvir tal narrativa, imediatamente, procurou os demais membros de sua tribo e colocou-os a par do plano do garoto. Diante de tal situação, o pai adotivo do menino disse: “meu filho, agora tu foge, porque agora eles vão te matar do mesmo jeito que matou sua mãe”. Mas, seu filho se recusou a ir embora. Conforme foi previsto pelo pai adotivo do garoto, o povo que comia gente decidiu matar o menino e começou a produzir flechas e lanças, as quais foram expostas no chão da aldeia. Ao ver as flechas e lanças dispostas no chão, o garoto pegou a lança mais pesada e saiu carregando e, por causa dessa atitude, seus inimigos ficaram ainda mais furiosos. Preocupado com essa situação, seu pai disse: “Meu filho, para que você foi fazer isso? Agora vai ser pior para você! Não sei como vou te ajudar! Eles vão te matar!”. Diante disso, o menino, a fim de tranquilizar seu pai, respondeu que esse não deveria se preocupar, pois resolveria aquela questão. Subitamente, a etnia da maldade foi para cima do garoto, a fim de matá-lo. Contudo, o menino começou a bater nas paredes das casas com a lança pesada como se essa fosse um trovão e, dessa forma, destruiu todos os membros do povo mau que gostava de comer gente.

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Em seguida, quis saber dos seus “pais de criação” onde estavam os ossos da “sua mãe de sangue”. Ao obter a informação desejada, o garoto foi atrás dos ossos de sua genitora. Após chegar ao local que lhe foi indicado, o menino encontrou alguns ossos, juntou-os e percebeu se tratar de um tamanduá bandeira que, devido à ação do garoto, voltou à vida. Assim, o filho, que estava em busca dos ossos de sua mãe, a fim de devolver para ela a vida disse ansioso aos seus pais adotivos que aqueles não eram os ossos de sua genitora. Seus pais adotivos responderam: “Mas os ossos da sua mãe foram jogados aí mesmo!”. Então, o menino voltou a sua busca e acabou encontrando os ossos que procurava por ali mesmo, montou-os e devolveu a vida a sua mãe. Após vingar a da sua genitora e trazê-la de volta à vida, o menino tornou-se um homem, se casou e deu origem ao povo Jaminawa.

2. DESCRIÇÃO FONÉTICA E FONÊMICA DO JAMINAWA DO BRASIL 2.1 A descrição fonética

Para a descrição fonética da língua Jaminawa do Brasil, utilizamos os símbolos do International Phonetic Alphabet (IPA). Tais símbolos, quando não estiverem dispostos no quadro fonético, estarão, de acordo com convenção da linguística, entre colchetes [ ].

2.1.1 Inventário dos fones consonantais

A língua Jaminawa do Brasil é composta por 20 fones consonantais (19 supra-glotais, enquanto apenas [h] é glotal), conforme pode ser verificado, no quadro 01 e na distribuição dos referidos sons, a seguir.

19

2.1.2 Distribuição dos contoides6

1. O contoide [p] oclusivo, bilabial, surdo ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [pja]

‘pássaro’

b. [vajtapia]

‘caminho’

c. [bapu]

‘cabeça’/ ‘cinza’(pó)

2. O contoide [b] oclusivo, bilabial, sonoro ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoide:

a. [badip]

‘folha’

b. [itapabata]

‘pouco’

c. [dabi]

‘carne’

3. O contoide [t] oclusivo, alveolar, surdo ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [tui]

‘vermelho’

b. [vajtapia]

‘caminho’

c. [bto]

‘seco’

4. O contoide [d] oclusivo, alveolar, sonoro ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

6

Em conformidade com estudos fonéticos clássicos, como os de Weiss (1980), adotaremos os termos contoide e vocoide, para mencionarmos as realizações fonéticas sem referência à sua função na língua em estudo. Já na análise fonêmica, adotaremos os termos consoante e vogal para os sons classificados como fonema, isto é, para os sons cuja estrutura e função no sistema linguístico Jaminawa do Brasil já tenham sido classificadas e definidas respectivamente.

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a. [duqud]

‘homem’

b. [bividite]

‘três’

c. [wda]

‘nome’

5. O contoide [k] oclusivo, velar, surdo ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo o vocoide anterior [i] e o vocoide central [a]. Já antes dos vocoides [] e [] ocorre em sílaba inicial e dos vocoides [o] e [u] figura em posição inicial medial e final de palavra, antecedendo vocoides posteriores arredondados:

a. [kaika]

‘brincar’

c. [ãtanakai]

‘brigar de flecha’

d. [bak]

‘criança’

e. [kii]

‘coxa’

f. [tokiipi]

‘umbigo’

g. [iki]

‘milho’

h. [kjoki] ~ [kjuki]

‘morder’

i. [qui]

‘correnteza’

j.[aqute]

‘coberta’

l. [atoqo]

‘joelho’

6. O [m] nasal, bilabial, sonoro (que é pouco produtivo na língua em estudo) ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [mau]

‘chifre’

b. [hmada]

‘testa’

c. [numa]

‘ano’

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7. O contoide [n] nasal, bilabial, sonoro (que pouco produtivo na língua em estudo) ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [nuqud]

‘homem’

b. [mania]

‘banana’

c. [ina]

‘dar’

8. O contoide [] tepe, alveolar, sonoro ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [odo]

‘cobra’

b. [taki]

‘limpar’

c. [t]

‘periquito’

9. O contoide [] fricativo, bilabial sonoro (que figurou em apenas nas três transcrições apresentadas abaixo) ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [da]

‘novo’

b. [biwi]

‘mão esquerda’

c. [ii]

‘árvore’

10. O contoide [f] fricativo, lábio-dental, surdo (que figurou apenas na transcrição apresentada a seguir) ocorre em posição inicial de palavra, antecedendo vocoides:

a. [fai]

‘sol’

11. O contoide [v] fricativo, lábio-dental, sonoro ocorre em posição inicial e medial de palavra, antecedendo vocoides:

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a. [vd]

‘marido’

b. [mivkapa]

‘cunhada’

12. O contoide [s] fricativo, alveolar, surdo (que é pouco produtivo na língua em questão), ocorre nas posições inicial, medial e final de palavras. Na posição inicial (antecede ou segue vocoides), na medial (precede vocoides) e, na final, (precede ou segue vocoides):

a. [sto]

‘bater’

b. [wisti]

‘um’

c. [bakisapa]

‘macaco preto’

d. [isa]

‘patoá’

e. [utis]

‘unha’ (do dedo do pé)

13. O contoide [] fricativo, álveo-palatal, surdo ocorre nas posições inicial, medial e final de palavra antecedendo ou seguindo vocoides:

a. [idi]

‘banha’

b. [pata]

‘cachorro’

c. [kaika]

‘brincar’

d. [tokiipi]

‘umbigo’

e. [kii]

‘coxa’

f. [wita]

‘perna’ (apenas a parte inferior)

14. O contoide [] fricativo, álveo-palatal, sonoro ocorre em posição inicial antecedendo vocoide. Tal ocorrência figurou apenas no dado transcrito a seguir:

a. [uaki]

‘soprar’

23

15. O contoide [h] fricativo, glotal, surdo (que apresenta baixa produtividade na língua em estudo [figurou em apenas três palavras de nosso corpus]) ocorre em posição inicial e medial de palavra, antecedendo vocoides:

a. [hmana]

‘testa’

b. [bahuawa]

‘montanha’

16. O contoide [ts] africado, alveolar (que apresenta baixa produtividade no Jaminawa em estudo [figurou em apenas cinco dados do nosso corpus) surdo ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [tsua]

‘quem’

b. [tsaa]

‘sentar’

c. [batsi]

‘frio/gelo’

17. O contoide [t] africado, álveo-palatal, surdo ocorre em posição inicial, medial e final de palavra, antecedendo vocoides:

a. [titi]

‘avó’

b. [itapa]

‘muito’

c. [pato]

‘orelha’

18. O [d] (que tem baixa produtividade no Jaminawa do Brasil) ocorre posição inicial e final de palavra, antecedendo vocoides: a. [dabi]

‘machado’

b. [adaj]

‘trabalhar’

19. O contoide [j] glide, palatal, sonoro ocorre nas posições inicial e final de palavra antecedendo ou seguindo vocoides. Já na posição medial, ocorre precedendo vocoides.

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a. [jujaj]

‘voar’

b. [vajtapia]

‘caminho’

c. [ajaj]

‘beber’

d. [dikaj]

‘caçar’

e. [kjuki]

‘morder’

20. O contoide [w] glide, lábio-velar, sonoro ocorre nas posições inicial precedendo vocoides e nas posições medial e final de palavra ocorre antecedendo ou seguindo vocoides:

a. [wita]

‘perna’ (parte inferior)

b. [diwak]

‘grama’

c. [bivwi]

‘mão direita’

d. [awa]

‘anta’

e. [ptaw]

‘asa’

2.1.3 Inventário dos fones segmentais vocálicos

A língua Jaminawa do Brasil é composta por 12 fones vocálicos, conforme pode ser observado, no quadro 02 e na distribuição dos referidos sons, a seguir.

25

Em relação ao quadro de fones vocálicos, é importante observar ainda que, na penúltima sílaba das palavras compostas por duas sílabas, os vocoides da língua em estudo (excetuando o []) tendem a passar por um processo de alongamento. Isso é observado também nas posições silábicas iniciais das palavras constituídas por mais de três sílabas. Como, no Jaminawa do Brasil, o acento recai sempre sobre a última sílaba, concluímos que há uma tendência de alongamento de vocoides em sílabas pré-tônicas em palavras compostas por duas sílabas, enquanto acontece um alongamento de vogais na primeira sílaba de palavras compostas por mais de três sílabas. Contudo, por exiguidade de tempo, desenvolvemos apenas estudos preliminares (e somente com o programa Audacity), a fim de verificar se o alongamento dos fones em questão alcança sistematicamente uma duração significativa a ponto de permitir interpretá-los como vogais longas. Dessa forma, decidimos não inserir vogais longas no quadro de fones vocálicos e, assim, deixamos para, a partir do ponto de vista da fonética acústica, desenvolver futuramente estudos sobre tal questão em pesquisas mais desenvolvidas em laboratório com o auxílio de outros programas além do Audacity .

2.1.4 Distribuição dos vocoides

21. O vocoide [i] (anterior, alto, oral, fechado, não arredondado) ocorre em posição inicial (formando sílaba sozinho ou precedido de contoides), medial e final de palavra:

a. [idu]

‘onça’

b. [titi]

‘avó’

c. [tociipi]

‘umbigo’

d. [pitaki]

‘cozinhar’

22. O vocoide [ i] (anterior, alto, nasal, fechado e não arredondado) ocorre em posição inicial (formando sílaba sozinho ou precedido de condoides) e final de palavra: a. [ isi]

‘doente’

b. [p itaki]

‘cozinhar’

c. [qu i]

‘nuvem’ / ‘fumaça’

26

d. [nu i]

‘verme’

23. O vocoide [u] (posterior, alto, oral, fechado, arredondado) ocorre em posição inicial de palavra (precedido de contoide ou ainda antecedido e seguido por contoide). Além disso, ocorre em posição medial e final de palavra seguindo contoide:

a. [duqud]

‘homem’

b. [puki]

‘órgão sexual feminino’

c. [tuqu]

‘nariz’

d. [patu]

‘orelha’

24. O vocoide [u] (posterior, alto, nasal, fechado, arredondado) ocorre em posição inicial de sílaba (formando sílaba sozinho ou seguido de contoide), em posição medial antecedido de contoide e final. Tais fenômenos figuram em apenas nos dados transcritos abaixo: a. [uite]

‘coração’

b. [uaki]

‘soprar’

c. [mahuawa]

‘montanha’

d. [avi u]

‘mulher'

25. O vocoide [e] anterior, médio, oral, fechado não arredondado ocorre em sílaba inicial de palavra (precedido de contoide [figurou em apenas um dado de nosso corpus]), medial (antecedido de contoide [ocorreu em apenas um dado de nosso corpus]) e final (formando sílaba sozinho ou antecedido de contoide [fenômenos pouco produtivos]):

a. [dee]

‘corda’

b. [badep]

‘folha’

c. [ue]

‘chuva’

d. [jabe]

‘machado’

27

26. O vocoide [o] posterior, médio, oral, fechado, arredondado ocorre em sílaba inicial de palavra (formando sílaba sozinho ou precedido de contoide), além de ocorrer em posição medial e final de palavras precedido de contoide:

a. [opa]

‘água’

b. [oti]

‘peito’

c. [dodoa]

‘boiar’

d. [to]

‘pescoço’

27. O vocoide [o] posterior, médio, nasal, fechado, arredondado ocorre em posição inicial de palavra (fenômeno ocorrido em apenas um dos dados de nosso corpus):

a. [tõi]

‘vermelho’

28. O vocoide [] anterior, médio, oral, aberto, não arredondado ocorre em sílaba medial, precedido de contoide (fenômeno ocorrido em apenas dois dados de nosso corpus):

a. [tupitki]

‘nadar’

b. [bivwi]

‘mão direita’

29. O vocoide [] central, médio, oral, aberto, não arredondado ocorre em sílaba inicial de palavras (formando sílaba sozinho ou precedido de contoide), além de ocorrer em posição medial e final de palavras precedido de contoide:

a. [wapa]

‘grande’

b. [pdaw]

‘asa’

c. [kakki]

‘rachar’

d. [aw]

‘dois’

28

30. O vocoide [a] anterior, baixo, oral, aberto, não arredondado ocorre em sílaba inicial de palavra (formando sílaba sozinho, precedido de contoide ou ainda antecedido e seguido de contoide). Além disso, ocorre em posição medial (precedido de contoide) e final de palavra (antecedido de contoide ou precedido e seguido de contoide):

a. [awa]

‘anta’

b. [dabi]

‘carne’

c. [pata]

‘cachorro’

d. [ptaki]

‘cozinhar’

e. [itapa]

‘muitos

f. [dikaj]

‘beber’

31. O vocoide [ã] anterior, baixo, oral, aberto, não arredondado ocorre em sílaba inicial e final de palavras, precedido e seguido de contoide:

a. [ãtanakai] b. [adãj] ~ [ajãj] ~ [ajai]

‘brigar de flecha’ ‘trabalhar’

32. O vocoide []7 central, baixo, nasal, aberto, não arredondado ocorre em sílaba inicial de palavra (formando sílaba sozinho ou precedido e seguido de contoide) e em posição medial (precedido de contoide):

7

a. [wa]

‘mãe’

b. [kjoki]

‘morder’

c. [mivkapa]

‘cunhada’

É interessante ressaltar que o fone [] nunca ocorre em sílaba acentuada, isto é, em sílaba final. A questão do acento do Jaminawa do Brasil, como já foi dito acima, será discutida em 4.3.1 e 4.3.2

29

2.2 Fundamentação Teórica para a Análise Fonêmica

Nesta seção, realizamos uma análise da língua Jaminawa do Brasil, a fim de identificar os fonemas que fazem parte do seu quadro fonológico. Vale ressaltar que fonema é um conjunto mínimo de efeitos acústicos com uma função na comunicação linguística ou, dito de outra forma, é constituído por alguns traços articulatórios precisos, que determinam um efeito acústico característico, em contraste com os demais fonemas de uma determinada língua (CAMARA JR., 1970). Para investigar quais são os fonemas da língua em estudo, nossa pesquisa tem como referência, principalmente, as teorias de base fonêmica, que é um dos modelos estruturalistas. Assim, considerando os aspectos fonéticos pesquisados no capítulo anterior, a partir do ponto de vista da fonologia linear, analisamos os fones do Jaminawa do Brasil segundo sua função no sistema linguístico em questão. Para tanto, nortearam nossa pesquisa pressupostos teóricos de Pike (1947), como os seguintes critérios: a) contraste, b) distribuição complementar e c) variação livre. Segundo o critério de contraste, a identificação de fonemas pode ser realizada por meio de contraste em ambiente idêntico (CAI) ou através de contraste em ambiente análogo (CAA), ao qual se deve recorrer no caso de não encontrar CAI. Com relação ao critério de CAI, muitos manuais de linguística conceituam que se trata de um processo no qual dois segmentos ocorrem em ambiente idêntico, provocando mudança de significado, ou seja, postulam que CAI é uma questão de identidade e significado. Todavia, para Lyons (1981), trata-se de identidade e diferença de forma, e não de identidade e diferença de significado. Como embasamento para essa afirmação, o autor menciona o fato de uma diferença de forma não resultar, necessariamente, em diferença de significado, algo que pode ser notado no fenômeno da sinonímia. Ademais, Lyons ressalta ainda que a diferença de significado não constitui o único critério ao qual se pode basear, a fim de estabelecer as diferenças de forma. Como exemplo do critério de CAI, em português, podemos citar o seguinte par de palavras: (33) a. “faca” b.“vaca”

30

Nessas palavras ocorrem, respectivamente, os fonemas /f/ e /v/. A substituição de [f] por [v], no caso de “faca”, acarreta diferença que implica, segundo muitos manuais linguísticos, uma função distintiva. Isto é, tais fones têm função distintiva na língua portuguesa, o que os leva ao status de fonemas. Quanto ao critério de CAA, consiste na formação de pares de palavras que figuram em ambientes similares. Isto é, nesse caso, forma-se um par de palavras que apresenta diferença segmental que abarca mais de um segmento. Ainda em relação a tal critério, é importante observar que, conforme Mori (2007), dois itens que figuram em ambientes similares, podem caracterizar oposição em ambiente análogo, desde que as diferenças entre os sons não sejam atribuídos aos sons vizinhos (devido, por exemplo, a processos de assimilação). Para ilustrar o critério de CAA, podemos citar o seguinte par de palavras do Shanenawa (língua também da família Pano) retirado dos estudos de Cândido (1998): (34) a. /ta/ “sim” b. /nai/ “céu”

Como pode ser notado, além da diferença segmental entre [t] e [n], há a diferença entre [] e [i], que ocorrem em final de sílaba. Contudo, não há possibilidade de essas vogais altas influenciarem a ocorrência de [t] e [z] (em um processo de assimilação, por exemplo). Destarte, o par de palavras do Shanenawa /ta/ e /nai/ demonstra existir contrate entre [t] e [n], o que torna possível afirmar que tais fones são unidades distintas do Shanenawa e, portanto, têm status de fonemas dessa língua. Ainda em relação aos critérios de CAI e CAA, é importante observar que, dentro dos pressupostos teóricos da Fonêmica, deve-se encontrar, para cada um desses critérios, par mínimo apenas no caso de Sons Foneticamente Semelhantes (SFS), pois somente esses constituem um par suspeito (possivelmente podem ser alofones de um mesmo fonema). A semelhança fonética é exercida, principalmente, pelo ponto de articulação. Assim, se dois sons possuem pontos de articulação próximos, devem ser reconhecido como par suspeito ou segmentos suspeitos. Todavia, é interessante observar que, como afirma Mori (2007), o efeito acústico das articulações pode também, em certos casos, determinar a semelhança fonética. Um exemplo desse fato é o japonês, que possui três segmentos fricativos com pontos articulatórios diferentes, mas são analisados como alofones de um mesmo fonema, por terem efeitos acústicos semelhantes: [], [h] e []. Diante disso, consideramos importante levar em

31

consideração a homogeneidade fonética e acústica no momento de identificar os fonemas de uma determinada língua. No que diz respeito ao critério de distribuição complementar, trata-se de uma metodologia através da qual é possível reconhecer que dois sons podem sofrer influência por determinados contextos fonológicos nos quais se realizam. Além disso, estabelece que, se dois sons são realizados em ambientes exclusivos, eles, possivelmente, podem ser alofones de um mesmo fonema. Dessa forma, caso não seja possível caracterizar dois segmentos foneticamente semelhantes (segmentos suspeitos) como fonemas distintivos, deve-se recorrer ao método de distribuição complementar, a fim caracterizá-lo como alofones de um mesmo fonema. Podemos ilustrar o trabalho de identificação de alofones por meio desse procedimento recorrendo à distribuição dos segmentos [t] e [t] (para os quais não é possível formar par mínimo ou análogo) na pronúncia do português de Goiânia (GO) a seguir.

(35) a. [tatu]

d. [tt]

g. é[t]ca

b. [te]ze

e. pá[ti]o

h. [ti]gela

c. [ti]gre

f. [ti]nha

i. a[tl]s

Diante desses dados, podemos levantar a seguinte hipótese. A oclusiva desvozeada [t] e a africada desvozeada [t] ocorrem em ambientes exclusivos, ou seja, onde o som [t] ocorre o [t] não ocorre. Enquanto [t] ocorre seguido dos sons vocálicos [u, , , e, , a] e também dos sons consonantais [, l], a africada [t] ocorre seguido de [i, i, ]8. Já o critério de variação livre é um tipo de alofonia que não é condicionada pelo contexto. Nesse caso, dois ou mais segmentos podem figurar em um mesmo contexto, ou seja, em ambientes idênticos, sem provocar alteração de identidade dos itens lexicais de uma dada língua. Como ilustração de tal fenômeno, podemos mencionar os casos dos fones [] e [d] na língua Shanenawa em dados de retirados de Cândido (1998) elencados a seguir.

(36) a. /unu/ 8

[uno] ~ [duno]

‘cobra’

Devemos ressaltar que essa hipótese tem simplesmente o objetivo de explicar o critério de distribuição complementar e não esgotar a discussão dos fones em questão. Ressaltamos ainda que não discutimos a variação [t] e [ t ], por não ser necessária ao nosso propósito.

32

b. /w/

[w]

~ [dw]

c. /wkin/ [wci] ~ [dwci]

‘machado’ ‘nariz’

Como pode ser observado, tais itens lexicais podem ser pronunciados ora com o fone [], ora com o fone [d] em contextos idênticos, sem que ocorra contrate. Assim, esses fones estão em variação livre. Ainda com relação à fonêmica, é interessante observar que um dos seus objetivos é possibilitar a conversão de uma dada língua oral em língua escrita. Dessa forma, a análise fonêmica de uma língua ágrafa constitui um passo inicial para converter a mesma em código escrito. Aliás, o título da obra de Pike (1947) é Phonemics: a techinique for reducing language to writing.

2.2.1 Segmentos consonantais em contraste no Jaminawa

Dentre os 21 fones consonantais da língua Jaminawa do Brasil, confirmamos o status fonológico de 12 segmentos. Tal confirmação foi feita a partir de análises pautadas nos critérios de contraste em ambiente idêntico (CAI), contraste em ambiente análogo (CAA), critério de distribuição complementar e variação livre. Nessa seção, apresentamos as análises realizadas a partir dos critérios CAI e CAA. Em seguida, nas duas primeiras seções subsequentes, apresentamos, respectivamente, os estudos realizados a partir dos critérios de distribuição complementar e variação livre. Antes de apresentar as referidas análises, achamos conveniente fazer algumas observações. Ao estudar uma determinada língua, certos pesquisadores, após formar par mínimo entre dois sons foneticamente semelhantes, dão o status de fonema a cada um dos sons e optam por não compará-los aos demais sons foneticamente semelhantes da língua. Porém, há estudiosos que preferem verificar a possibilidade de pares mínimos entre todos os sons considerados pares suspeitos. Por exemplo, se os primeiros pesquisadores mencionados verificar par mínimo para [t] e [d] darão o status de fonema para ambos e descartarão a possibilidade de tentar identificar par mínimo entre [t] e qualquer outro som que seja foneticamente semelhante a ele, como poderia ser o caso de [t] ou [ts], ao que os segundos pesquisadores não descartariam. Em nosso estudo, decidimos adotar o comportamento dos segundos pesquisadores, pois esgotar todas as possibilidades de formação de pares mínimos

33

pode ampliar nosso embasamento para elevar um som encontrado ao status de fonema, algo que entendemos ser interessante.

1. Segmentos que ocorrem em CAI.

(37) /t/ e /d/ a. /taj/

[taj]

‘pé’

b. /daj/ 9

[daj]

‘céu’

a. /taj/

[taj]

‘pé’

b. /taj/

[taj]

‘longe’

a. /ada/

[ada]

‘quente’

b. /aa/

[aa]

‘bom’

a. /ibi/

[ibi]

‘sangue’

b. /iwi/

[iwi]

‘árvore’

a. /pda/

[pda]

‘dia’

a. /wda/

[wda] ~ [da] ~ [vda] ‘novo’

(38) /t/ e /t/

(39) /d/ e //

(40) /b/ e /w/

(41) /p/ e /w/

(42) /h/ e // a. /hu/

9

[hu] ~ [ho]

‘cabelo’

Conforme já dissemos na nota 7, a ocorrência do acento na Língua Jaminawa do Brasil é previsível, logo não causa distinção de significado. Dessa forma, não o representaremos no nível fonêmico.

34

b. /u/

[u] ~ [o]

‘verde’ (termo relativo à não maturação de

frutos) É importante observar, em relação ao descrito em (42), que verificamos a possibilidade de ocorrência de pares mínimos ou análogos entre [h] e [] por reconhecermos o fato de o efeito acústico também poder determinar a semelhança fonética, algo ressaltado por Mori (2007) e, somado a isso, levamos em consideração estudos de Ribeiro e Cândido (2007), que apontam a seguinte possibilidade de evolução entre línguas Pano: // > /h/. Além disso, observamos a possibilidade de ocorrer pares mínimos ou análogos também entre o [h] e a alveolar [s], não só por reconhecermos a capacidade de o efeito acústico determinar a semelhança fonética, mas também devido ao fato de, entre algumas línguas naturais, existir uma relação entre esta fricativa alveolar, e aquela fricativa glotal, no final de sílaba. Nessa relação, é comum a ocorrência da seguinte transformação /s/ > [h]. Aliás, a esse respeito, Campbell (1999) afirma que, se na comparação de duas línguas irmãs, encontrarmos /s/, na primeira língua, então devemos reconstruir *s e postularmos que, na segunda língua, tenha ocorrido a seguinte transformação s* > h. Devemos observar ainda que Ribeiro e Cândido (2007) apresentam a ocorrência da evolução /s/ > /h/ > /ø/ em línguas Pano. Em tal processo, a transformação /h/ > /ø/, conforme Ribeiro e Cândido (2007), tem ocorrido preferencialmente na posição de coda. Embora não tenhamos encontrado os sons [h] e [s] em CAA ou CAI e nem em variação livre ou complementar, ao compararmos alguns dados do corpus por nós levantado e dados de pesquisas realizadas por estudiosos que descreveram a língua Jaminawa do Peru, constatamos a evolução /h/ > /ø/ em posição de onset. Ilustra tal fenômeno o vocábulo do Jaminawa do Brasil /uspia/ ‘cheio’ e /hospia/ ‘cheio’ do Jaminawa do Peru. Ademais, apoiados na baixa ocorrência de /h/ em nosso corpus (figurou em apenas três palavras) e ao exposto até aqui em relação aos fones /h/ e /s/, postulamos que, possivelmente, na língua Jaminawa do Brasil, tal como ocorre entre outras línguas Pano, está em curso o fenômeno /h/ > /ø/. 2. Segmentos consonantais que ocorrem em CAA: (43) /t/ e // a. /tui/

[tui] ~ [tui] ~ [toi] ~ [toi] ‘vermelho’

b. /uti/

[uti] ~ [oti]

‘peito’

35

(44) /t/ e // a. /taka/

[taka]

‘fígado’

b. /aa/

[aa]

‘bom’

(45) /t/ e /ts/ a. /taka/

[taka]

‘mau’ / ruim

b. /tsawa/

[tsawa]

‘sentar’

a. /p/

[p]

‘casa’

b. /pata/

[pata]

‘dente’

(46) /t/ e //

(47) // e /s/ a. /dii/

[dii]

‘corda’

b. /pisi/

[pisi]

‘podre’

a. /aw/

[aw]

‘jabuti’

b. /tsawa/

[tsawa]

‘sentar’

a. /pisi/

[pisi]

‘podre’

b. /piti/

[piti]

‘costas’

a. /isa/

[isa]

‘patoá’

b. /atsa/

[atsa]

‘mandioca’

(48) // e /ts/

(49) /s/ e /t/

(50) /s/ e /ts/

36

(51) /t/ e /j/ a. /tuta/

[tuta]

‘sujo’

b. /jua/

[jua]

‘mandioca’

c. /tata/

[tata]

‘avô’

d. /jawa/

[jawa]

‘sentar’

a. /p/

[p]

‘casa’

b. /pda/

[pda]

‘dia’

a. /bati/

[bati]

‘frio’

b. /patu/

[patu]

‘orelha’

c. /juba/

[juba]

‘peixe’

d. /upa/

[upa]

‘mamão’

/upa/

[upa]

‘mamão’

/aa/

[aa]

‘bom’

/hu/

[hu]

‘cabelo’

/kui/

[kui]

‘nuvem’

(52) // e /d/

(53) /b/ e /p/

(54) /p/ e //

(55) /h/ e /k/

2.2.2 Segmentos consonantais em variação livre no Jaminawa

A seguir, relacionamos os pares de segmentos consonantais que ocorrem em variação livre em ambientes idênticos. 1. Os fones foneticamente semelhantes [b] e [m]:

37

(56) a. /bapu/

[bapu] ~ [bapo] ~ [mapo] 10 ‘cabeça’ / ’cinza’ (pó)

Portanto, os fones [b] e [m] são alofones de /b/, pois o fone [b] é mais produtivo.

2. Os fones foneticamente semelhantes [d] e [n]:

‘homem’

(57) a. /dukud/ [nuqud] ~ [duqud] b. /badia/

[mania] ~ [mania]

‘banana’

c. /idaj/

[idaj]

‘pensar’

~ [inaj]

Logo, os fones [d] e [n] são alofones de /d/, pois o fone [d] é mais recorrente.

3. Os fones [w], [v] e [] são foneticamente semelhantes e ocorrem em variação livre:

(58) a. /wda/ b. /awi/

[wda] ~ [vda] ~ [da]

‘novo’

[awi]

‘mulher’

~ [avi]

~ [ai]

Por isso, os fones [w], [v] e [] são alofones de /w/, pois o fone [w] é mais recorrente.

4. Os fones foneticamente semelhantes [w], [f] e [v]:

(59) a. /wai/

[wai] ~ [fai] ~ [vai]

‘sol’

Assim, além de os fones [w], [v] e [] serem alofones do fonema /w/, o fone [f] (que ocorreu em apenas um dos nossos dados) também apresenta-se como alofone de /w/.

5. Os fones foneticamente semelhantes (do ponto de vista do efeito acústico) [h] e [f] ocorrem em variação livre diante do fone vocálico [u] unicamente no monossílabo apresentado em (60-a): (60) a. /hu/

[hu]

~ [ho] ~ [fu]

‘cabelo’

6. Os fones [] e [] são foneticamente semelhantes e ocorrem variação livre: 10

As ocorrências de do [u] e [o], nas transcrições fonéticas de /bapu/, indicam que esses sons estão também em variação livre. Tal fenômeno será discutido em 2.2.2.

38

(61) a. /uaki/ [uaki] ~ [uaki] ~ [uaki]

‘soprar’

7. O fones [ts] e [t] são foneticamente semelhantes e ocorrem em variação livre: (62) a. /bati/ [bati] ~ [batsi]

‘frio’ / ‘gelo’

6. Os fones [j] e [d] são foneticamente semelhantes e ocorrem em variação livre: (63) a. /juba/ [juba] ~ [duba] b. /jabi/ [jabi] ~ [dabi] ~ [dabe] c. /ajaj/ [ajaj] ~ [adãj] ~ [ajaj]

‘peixe’ ‘machado’ ‘trabalhar’

2.2.3 Quadro de fonemas consonantais do Jaminawa A língua Jaminawa do Brasil é composta por 13 fonemas consonantais, conforme pode ser observado, no quadro 03 e na distribuição dos referidos sons, a seguir.

É interessante observar que há certa inclinação entre as línguas pela simetria em seus sistemas fonológicos, o que não implica o fato de os inventários fonológicos serem necessariamente simétricos. Por exemplo, muitas línguas indígenas se caracterizam por serem assimétricos (MORI, 2007).

39

De acordo com o princípio da simetria, deve-se esperar que seja encontrado um som correspondente para cada som de uma língua. Logo, se no inventário fonético de uma língua figurarem os segmentos oclusivos vozeados [p, t, k] e seus correspondentes desvozeados [b, d, g] e, na análise fonológica for comprovado que tanto estes como aqueles são fonemas, poder-se-ia supor que, os demais sons dessa mesma língua, tenham seus respectivos correspondentes confirmados como fonemas. Por exemplo, se há o fone desvozeado [] e seu correspondente vozeado [], e o som desvozeado [t] e seu correspondente desvozeado [d] também sejam fonemas, espera-se que todos esses sons também sejam confirmados como fonemas. Todavia, como pode ser verificado nos quadros 01 e 03, os fones []/[] e [t]/[d] ocorrem no quadro fonético, mas apenas [] e [t] foram comprovados como fonema. Portanto, podemos concluir que o Jaminawa do Brasil está entre as várias línguas indígenas que possui um quadro fonológico assimétrico. Vale ressaltar ainda que, no quadro fonológico (01), ocorre o som desvozeado [s], mas não seu correspondente vozeado [z], o som desvozeado [k], mas não seu correspondente vozeado [], o som vozeado [h], mas não o seu correspondente vozeado //, o que, aliás, acontece também em outras línguas Pano, como a Shanenawa a Yawanawa e a Saynawa. Além disso, no quadro 02 (fonético fonológico) o som posterior [o] não tem sua correspondente anterior [e], assim como o som [] não apresenta sua contra parte posterior []. Quanto às ausências dos sons consonantais [m] e [n], embora não tenha sido comprovado, por meio dos dados de nossos corpus, um fonema nasal, consideramos que a nasalidade da língua Jaminawa do Brasil precisa de um estudo mais aprofundado, uma vez que tal fenômeno costuma ser bastante relevante à ergatividade das línguas da família Pano. Não é demais ressaltar ainda que estudos do Jaminawa realizados com grupos do Peru e/ou Bolívia mostram divergências em relação a fones nasais. A pesquisa de d’Ans (1972), por exemplo, não estabeleceu distinção fonológica entre [b]/[m] e [d]/[n], enquanto Eakin (1991) define esses quatro sons como fonemas. Já Faut e Loos (2002), González (2005), Loos (2006) entendem que /m/ pode ocorrer como [m] ou [b] e /n/ pode ocorrer como [n] ou [d]. Aliás, também estão entre as principais divergências de dados desses pesquisadores, fonemas como /k/, //e /h/. Quanto aos fonemas /k/ e //, esses não são reconhecidos em d’Ans (1972), mas são apresentados em Eakin (1991), Faust e Loos (2002), Loos (2006) e González (2005). Essa

40

última pesquisadora, ao salientar que muitos aspectos da língua Jaminawa precisam ser pesquisados, afirma ser importante investigar a “intrigante” alternância entre [k] e []. Já o fonema fricativo glotal /h/ é reconhecido pelos seguintes pesquisadores: d’Ans (1972), Faust e Loos (2002), e Loos (2006). Contudo, não é reconhecido como fonema em Eakin (1991) e Gonzalez (2005). Com relação aos [] e [] dentro da família linguística Pano, é interessante fazer algumas observações. O primeiro, além de não ocorrer no Jaminawa do Brasil, segundo estudos de Couto (2010) em relação ao Saynawa, também não faz parte dos quadros fonológico e fonético dessa língua e, conforme quadro fonológico disponível em Costa (2000), não é fonema da língua Marubo. Já o segundo som, a exemplo do que acontece no Jaminawa do Brasil, de acordo com pesquisa de Paula (2004), não figura no quadro fonológico e nem no quadro fonético do Yawanawa.

2.3 Segmentos vocálicos em contraste no Jaminawa

Dentre os doze fones vocálicos da língua em estudo, confirmamos o status fonológico de apenas quatro segmentos. Essa confirmação foi feita a partir de análises pautadas no critério de Contraste em Ambiente Idêntico (CAI) e variação livre. Nesta seção, apresentaremos as análises realizadas a partir do critério CAI. Na seção subsequente, apresentaremos os estudos realizados a partir do critério de variação livre. Quanto ao critério CAA e distribuição complementar, não tivemos que adotá-los para a análise dos segmentos vocálicos.

1. Segmentos que ocorrem em CAI e, portanto, são fonemas:

(64) // e /i/ a. /jabi/

[jabi] ~ [jabe] ~ [dabe]

‘machado’

b. /jab/

[jab] ~ [dab]

‘noite’

[d]

‘caldo’

(65) // e /a/ a. /d/

41

b. /ad/

‘nome’

[ad]

2.3.1 Segmentos vocálicos em variação livre no Jaminawa

1. Os segmentos vocálicos [i] e [ i] estão em variação livre em sílaba final de palavra. Fenômeno esse que só ocorreu, em nosso corpus, apenas nos dados transcritos em (66).

(66) a. /kui/

[qui] ~ [ qu i]

‘nuvem’ / ‘fumaça’

b. /nui/

[nu i] ~ [nu i]

‘verme’

3. Os segmentos vocálicos [i] e [e]:

(67) a. /badip/ b. /ui/

[badip] ~ [badep]

‘folha’

[ui]

‘chuva’

~ [ue]

8. Os segmentos vocálicos [u] e [o]:

(68) a. /atuku/ b. /udu/

[atuku]

~

[atoko]

‘joelho’

[udu]

~

[odo]

‘cobra’

O par de fones [u] e [o] são variantes de /u/, pois o fone [u] é mais recorrente.

5. Os segmentos vocálicos [u] e [u]:

(69) a. /tua/

[tua]

~

[tua]

‘quem’

O par de fones [u] e [u] são alofones do fonema /u/, pois [u] é mais recorrente.

7. Os segmentos vocálicos [u], [o] e [o]:

(70) a. /tui/

[tui] ~ [toi] ~ [toi]

‘vermelho’

42

Os fones [u], [o] e [o] são alofones do fonema /u/, pois [u] é mais recorrente. 12. Os segmentos vocálicos [a] e [ã]:

(71) a. /ajaj/

[ajãj] ~ [ajaj] ~ [adãj]

‘trabalhar’

O par de fones [a] e [ã] são variantes de /a/, uma vez que o fone anterior [a] é mais produtivo que a vogal nasal [ã]. 2.3.2 Quadro de fonemas vocálicos11 do Jaminawa

A língua Jaminawa do Brasil é composta por 04 fonemas vocálicos, como pode ser observado, no quadro 04 e na distribuição dos referidos sons, a seguir.

3. NEUTRALIZAÇÃO DAS VOGAIS CENTRAIS //, /a/ e DAS CONSOANTES AFRICADAS /ts/, /t/

Em sílaba inicial, entre as oclusivas bilabial sonora /b/ e velar surda /k/, e depois da fricativa sonora //, em sílaba final, a distinção entre // e /a/ sofre um processo de neutralização. Isto é, tais segmentos vocálicos, que são fonemas, passam a ocorrer em uma 11

É interessante observar que, no quadro fonológico de outras línguas da família Pano, excetuando o Sayanawa que apresenta /C/, apresentam o fonema //. Além disso, chamamos a atenção para o fato de não termos incluído o fone // sob a justificativa de tal fonema ter figurado em apenas dois de nossos dados. Assim para a descrição fonológica de [tupitci] ‘nadar’ e [bivwi] ‘mão direita’, apresentamos, respectivamente, /tupitaki / e / bivawi/.

43

situação de alofonia, em circunstância que a real oposição entre eles é neutralizada. Tais fenômenos podem ser observados em (72) abaixo.

(72) a. [bk] ~ [bak]

‘mão’

b. [p] ~ [pa]

‘casa’

Já as africadas /ts/ e /t/ passam por processo de neutralização em sílaba final seguido por /i/ e antecedido por /a/ conforme é possível verificar em (73) a seguir. (73) a. [batsi] ~ [bati]

‘frio/gelo’

4. ANÁLISE FONOLÓGICA SOB A LUZ DA TEORIA NÃO LINEAR 4.1 Fundamentação Teórica para a Análise da Estrutura Silábica

Realizaremos estudos acerca da estrutura silábica do Jaminawa do Brasil sob a luz da teoria fonológica não linear. Há duas importantes teorias não lineares que reconhecem o fato de a sílaba ser constituída por estrutura interna: a teoria autossegmental e a teoria métrica. Essas teorias apresentam ponto de concordância e de discordância em relação à estrutura da sílaba. O ponto de concordância está na defesa de que a sílaba tem um papel central na hierarquia fonológica. Já o ponto de discordância refere-se aos elementos da sílaba. Como atesta Collischonn (2001), enquanto a teoria autossegmental prevê que há um relacionamento igual entre os elementos da sílaba, a teoria métrica entende que existe um relacionamento muito mais estreito entre a vogal do núcleo e a consoante da coda do que a vogal do núcleo e a consoante do ataque. É interessante observar que, segundo a literatura especializada, a sílaba começou a ser reconhecia como unidade fonológica e passou a ter um aumento rápido no número de pesquisas relacionadas à sua natureza e ao seu papel desempenhado na fonologia das línguas a partir de trabalhos como os de Hooper (1976) e Kahn (1976). Os modelos teóricos não lineares mencionados acima, entendem a sílaba como uma estrutura constituída pelos seguintes elementos: Onset (elemento opcional [O]) e Rima (elemento obrigatório [R]), que é formada pelo núcleo (N) e pela coda (C), esta opcional e aquele obrigatório. É interessante ressaltar ainda que, quando a rima é formada apenas pelo núcleo, a sílaba é aberta, mas quando é formada pelo núcleo e coda, a sílaba é fechada.

44

Segundo Kenstowicz (1994), a sílaba não tem qualquer relação uniforme ou fonética direta: não é um som, mas uma unidade abstrata da organização prosódica através da qual a linguagem expressa muito de sua fonologia. O autor ressalta ainda que o status da sílaba como elemento essencial para entender a estrutura fonológica é algo reconhecido por parte de pesquisadores da fonologia gerativa. Há três tipos de justificativas oferecidas para o estudo acerca da sílaba: 1º) A sílaba é um domínio natural que possibilita verificar restrições fonotáticas; 2º) Regras fonológicas são muitas vezes mais simples e perspicazmente expressas, quando se referem explicitamente a sílaba; 3º) Vários processos fonológicos são melhores interpretados como método para assegurar que a sequência de segmentos fonológicos é analisável em sílaba. Tais pontos podem ser verificados em estudos de restrição fonotática, que se refere a limitações na distribuição e sequências de sons em vários pontos (inicial, medial, final) na palavra ou frase (KENSTOWICZ, 1994). Em relação às concepções básicas da estrutura e silabificação, Kenstowicz (1994:252253) atesta que a sílaba, na sua estrutura interna, tem um núcleo obrigatório precedido por um onset consonantal e seguido por uma coda consonantal. O núcleo e a coda formam um elo mais forte do que o onset e o núcleo. Consequentemente, a gramática tradicional reconhece um adicional subconstituinte chamado rima que inclui o núcleo e a coda. Tais constituintes são retratados pelo autor da seguinte forma em (74a): (74)

a.

Kenstowicz (1994:253) assevera que os padrões silábicos {CV, VC, V e CVC} são um dos mais básicos inventários silábicos e, embora um número significante das línguas do mundo tire suas sílabas desse inventário, sistemas mais complexos, invariavelmente, surgem aumentando-o. De acordo com Kenstowicz (1994), o núcleo tem status como único constituinte obrigatório e essencial. Tal assertiva encontra respaldo no fato de a vogal nuclear {V} ser a única constante entre as sílabas do inventário básico mencionado acima e, também, no papel do núcleo como elemento-tom ou elemento de acento. Essa afirmação acerca do papel do núcleo apoia-se nos seguintes fenômenos: a exclusão ou apagamento do núcleo vocálico da sílaba, tipicamente, muda o tom ou acento, mas a perda de um onset consonantal ou coda

45

consonantal não causa distúrbio na contagem de sílaba e, assim, na localização do acento ou tom. Segundo Kenstowicz (1994), Levin (1985) desenvolveu uma teoria de representação silábica capaz de refletir o status essencial do núcleo na sílaba. De acordo com tal representação, a sílaba é uma projeção do núcleo conforme pode ser verificado no gráfico (74b) aseguir. (74)

b.

Nessa representação, como assevera Kenstowicz (1994), podemos definir a coda como o “complemento” (irmã direita) do núcleo, dominado pela primeira projeção N’. O onset pode ser definido como “especificador” da sílaba (irmã esquerda de N’) dominado pela projeção do segundo nível N’’. Em tal ponto de vista, o constituinte silábico “rima” nada mais é do que a primeira projeção N’’. Dessa forma, a vogal nuclear pode funcionar como uma sílaba na ausência de um onset ou coda e, portanto, é o elemento essencial da sílaba. Kenstowicz (1994) formula regras de construção silábica, cuja representação reforça a ideia de que o núcleo é a base da sílaba, pois a estrutura silábica é construída a partir dele. Essas regras seguem a sequência apresentada em (75) abaixo:

(75)

Conforme Kenstowicz (1994), a regra (75a), refere-se à formação do núcleo, enquanto a (75b) estabelece a formação do onset. Tais regras fazem parte da gramática de todas as línguas. Algumas línguas (como Senufo, Hawaiian) possuem somente essas duas regras de silabificação e, dessa forma, têm um inventário silábico limitado em (V, CV). Todavia, muitas línguas ampliam seu inventário silábico ao acrescentar os padrões VC e CVC e, assim,

46

acabam por ter um dos inventários silábicos mais básico mencionado anteriormente: {V, CV, VC, CVC}. Tal ampliação é adquirida por meio da incorporação da regra (75c) que apresenta uma regra para a formação da coda. Kenstowicz (1994) afirma ainda que as regras de silabificação apresentadas em (75) acontecem na ordem indicada. Isso implica que a sequência VCV silabificará da seguinte forma [V.CV], ou seja, a consoante intervocálica funciona como onset da segunda sílaba em vez de funcionar como coda da primeira sílaba que resultaria na silabificação [VC.V]. A silabificação [VC.V] é incomum e surge em línguas com regras particulares, o que corrobora para a asserção de que as línguas tendem a evitar sílabas sem onset. De acordo com Kenstowicz, um número significativo de línguas (como Somali, Tangale e Yawelimani) exploram apenas as regras de silabificação expostas em (75) e, assim, seu inventário silábico está restrito a [V, CV, VC, CVC]. Em relação a isso, Kenstowicz (1994, p. 254) afirma: Importante cosequences of this limitation are that no word can begin or end in a cluster of consonants and no word-medial consonant cluster can contain more than two elements. Em tradução livre: a consequência importante disso é a impossibilidade de palavras começarem ou terminarem com grupos consonantais, além de coibir encontro consonantal intervocálico (ou no “meio” da palavra) com mais de dois elementos. Assim, em um número significativo de línguas, sequências como #CC, CCC e CC# evocam regras de epêntese ou simplificação de grupos consonantais. Como exemplo de coibição de encontro consonantal mencionado por Kenstowicz, podemos citar a palavra advogado do português brasileiro, cujo encontro consonantal dv, na fala coloquial, é frequentemente quebrado pela epêntese de [i] ou [e] entre d e v: adivogado, adevogado. É importante observar ainda que há línguas, cujo inventario silábico é mais complexo do que foi apresentado até aqui. Segundo Kenstowicz (1994), existem línguas, como o inglês, polonês e o sânscrito que optam por incorporar som consonantal adicional no onset e na coda. Todavia, a construção de tais onsets e codas complexos está fortemente condicionada. Há mais de um século sabe-se que essa construção complexa é guiada por um Princípio de Sequência de Sonoridade (PSS). Esse princípio consiste em uma escala de sonoridade, na qual onsets sobem de sonoridade em direção ao núcleo e, por outro lado, codas apresentam queda de sonoridade a partir do núcleo. Quanto aos casos de violação das regras do PSS, esses ocorrem quase exclusivamente nas margens da palavra, pois os encontros consonantais internos têm regras mais rígidas. No que concerne à escala de sonoridade consonantal relevante para o PSS, Kenstowicz (1994), seguindo Clements (1990), adota o traço [aproximante] para agrupar líquidas e glides

47

como pode ser verificado em (76) abaixo, em que a hierarquia entre segmentos não nucleares é definida da seguinte forma: (G = glide, L = líquida, N = nasal e O = obstruinte) conforme função de valores positivos.

(76)

G L N O + - -

-

vocoide

+ + -

-

aproximante

+ + +

-

soante

3 2 1

0

De acordo com PSS, conforme explanação de Kenstowicz (1994), se uma sequência CwCxVCyCz silabificar por meio da incorporação de Cx ao onset e Cy à coda, então Cx pode ser acrescentado no onset somente se ele for menos sonoro do que Cx, e Cz pode ser adicionado à coda desde que seja menos sonoro do que Cy. Tais regras são apresentadas em (77) abaixo. Kenstowicz (1994), seguindo Steriade (1982), apresenta a figura (77a) para se referir ao aumento de onset, enquanto a figura em (77b) é adotada para fazer referência ao aumento de coda. Kenstowicz (1994) observa também que sílabas como as construídas a partir das regras (75 a, b, c), representadas acima, e (77a, b), apresentadas a seguir, são sílabas nucleares. (onde Cw é menos sonoro que Cx e Cz é menos sonoro que Cy).

(77)

a.

/

b.

Conforme as regras apresentadas, a sonoridade da sílaba chega ao seu pico no núcleo e descende nas margens, o que Kenstowicz (1994) atesta por meio do gráfico apresentado com a palavra inglesa foundry “fundição” em (77c).

(77)

c.

48

Segundo Kenstowicz (1994), as vogais são os elementos favoritos para ocupar o núcleo silábico, mas muitos sistemas permitem que consoantes sonoras e até mesmo algumas obstruintes preencham o núcleo. Quando isso acontece, tais segmentos nem sempre precisam produzir maior sonoridade do que os segmentos não nucleares adjacentes. Um exemplo desse fenômeno retirado de Clements (1990) é a palavra do inglês Yearn [yrn] “ansiar”. Em fenômenos como esse, a silabificação da consoante é previsível a partir da sua posição na palavra. Em relação às vogais adjacentes, Kenstowicz (1994) assevera que elas podem se combinar para formar uma única sílaba, compondo um ditongo ou podem fazer parte de sílabas diferentes, ou seja, podem constituir um hiato. Ademais, ressalta que, de acordo com fonologistas, glides [y, i] e [w, u] e as vogais cognatas [i] e [u] têm a mesma estrutura característica e diferem apenas em termos da posição nuclear e não nuclear, mas que existem casos em que as vogais altas e glides contrastam. Nesse caso, conforme Kenstowicz (1994), não está claro se o movimento apropriado é postular uma silabificação lexical ou distinguir o glide em termos de sua estrutura característica.

4.1.1 Inventário Silábico da Língua Jaminawa

A língua Jaminawa do Brasil possui o seguinte inventário silábico: {V, VC, CV, CVC}, o qual, conforme afirma Kenstowicz (1994), é um dos inventários silábicos mais simples. Vale observar também que, dentre esses padrões silábicos, o mais comum é o CV. Todos os padrões do inventário silábico da língua em questão podem ser observados nos exemplos apresentados em (78). (78) a. Padrão V

/isi/

‘doente’

V.CV

/ uu/

‘branco’

V.CV

/upa/

‘água’

V.CVC

/ dua/

‘aquele’

CV.V

/d/

‘caldo’

V.CV

/wapa/

‘grande’

V.CV.CV

49

b. Padrão CV

/dua/

‘aquele’

CV.V

/ bahuawa /

‘montanha’

CV.CV. V.CV

/stu/

‘bater’

CV.CV

/kii/

‘coxa’ (do corpo humano)

CV.CV

/jua/

‘gente’

CV.CV

/ukusawti/

‘roupa’

V.CV.CVC.CV

‘cheio’

VC. CV. V

c. Padrão VC

/uspia/

/biwiaskui/ ‘mão esquerda’

CV.CV.VC.CV.CV

d. Padrão CVC

/ pata/

‘cachorro’

CVC.CV

/ bitis/

‘unha (do dedo da mão)’

CV.CVC

/dikaj/

‘caçar’

CV.CVC

/bipu/

‘areia’

CVC.CV

/ptaw/

‘asa’

CV.CVC

/bajka/

‘já’

CVC.CV

Conforme já vimos, na língua em estudo, há sílabas compostas por Núcleo apenas, por Onset e Núcleo (CV), por Núcleo e Coda (VC) e por Onset, Núcleo e Coda (CVC). Além disso, podemos postular para essa língua as regras de construção de estrutura silábica apresentadas, em 75 a, b e c. Isso é confirmado, por exemplo, com as sequências /wa/ ‘mãe’ ou /awa/ ‘anta’ que silabificam da seguinte forma [V.CV]. Isso confirma também que essa língua possui tendência a evitar sílabas sem onset.

50

Ademais, como é possível observar nos exemplos em (78-a, e c), qualquer uma das vogais do sistema fonológico da língua Jaminawa do Brasil pode constituir a posição de núcleo N, qualquer consoante pode preencher a posição de onset O e os glides j e w figuram tanto na posição de onset quanto na posição de coda. Todavia, somente as seguintes consoantes podem ocupar a posição de coda C, tanto em sílaba final como em sílaba não final de palavra: as fricativas coronais //,/s/, /w/ e /j/12. Assim, a constituição interna dessa língua pode ser representada como em 79 abaixo.

(79)

4.2.1 Fundamentação Teórica para a Análise das Vogais Adjacentes

Na análise fonêmica do Jaminawa do Brasil, reconhecemos a ocorrência dos glides j (y) e w, a despeito de eles terem a mesma estrutura de traços das vogais altas i e u, como fonemas consonantais. Contudo, é necessário discutir, levando em consideração orientações das teorias fonológicas mais recentes, se [w] e [j] realmente figuram na estrutura da língua em estudo como fonemas consonantais ou se apenas aparecem na estrutura superficial como realizações fonéticas das vogais altas anteriores /i/ e posterior /u/. Conforme afirmamos em (4.1), Kenstowicz (1994) assevera que esses segmentos podem se combinar para formar uma única sílaba, comportando-se como um ditongo ou podem ainda fazer parte de sílabas diferentes. Ademais, o autor ressalta que, de acordo com fonólogos, glides [y, i] e [w, u] e as vogais cognatas [i] e [u] têm a mesma estrutura

12

Em (4.2.1) apresentaremos análise acerca da ocorrência dos glides w e j (y).

51

13

característica e diferem apenas em termos da posição nuclear e não nuclear, mas que

existem casos em que as vogais altas e os glides contrastam. Nesses casos, conforme Kenstowicz (1994), não está claro se o movimento apropriado é postular uma silabificação lexical ou distinguir o glide em termos de sua estrutura característica. Já segundo considerações feitas por Selkirk (1982), se esses segmentos ocuparem a posição de núcleo, deverão ser interpretados como vogais, mas se ocuparem as posições de onset ou coda deverão ser interpretados como glides.

4.2.1 As Vogais Adjacentes no Jaminawa do Brasil: ocorrências dos glides [w] e [j]

Considerando os pressupostos acima, especialmente os de Selkirk (1982), entendemos que, no Jaminawa do Brasil, não há ditongos do ponto de vista fonológico. A razão de tal assertiva apoia-se no fato de as sequências de vocoides dessa língua poderem constituir uma única sílaba ou duas sílabas separadas, o que depende, exclusivamente, de suas posições nuclear ou não nuclear (posição de onset ou coda por um lado, e posição de núcleo por outro). Em (80, 81, 82), elencamos exemplos das sequências de vocoides encontrados nessa língua.

(80) a. /ui/

‘chuva’

[V.V]

b. /ia/

‘piolho’

[V.V]

c. /u/

‘pedra’

[CV.V]

a. /wai/

‘sol’

[CV.CV]

b. /awi/

‘mulher’

[V.CV]

c. /aw/

‘osso’

[CVC]

(81)

13

Vale ressaltar que, de acordo com a fonologia não linear, as unidades mínimas que ocorrem em uma língua são determinadas propriedades denominadas traços distintivos (diferenciam um fonema do outro), que formam a estrutura interna dos sons de uma dada língua. Como explana Mori (2007), “para agrupar os sons em termos de classes naturais, deve-se procurar pela estrutura interna desses sons, ou seja, pelos seus traços”. No que diz respeito ao glide [y, i] e [i], eles tem traços como [+vozeado], [+alto], [recuado], [-arredondado], enquanto o glide [w, u] e a vogal [u] possuem traços como [+ vozeado], [+alto], [+recuado], [+arredondado].

52

(82)

a. /jabi/

‘machado’

[CV.CV]

b. /juba/

‘peixe’

[CV.CV]

c. /dikaj/

‘caçar’

[CV.CVC]

Cada uma das sequências de vocoides das palavras do grupo (80) representa um núcleo silábico (ocorre em sílabas distintas). Portanto, trata-se de sílabas do tipo V.V, as quais podem, com base nas regras de construção silábicas apresentadas por Kenstowicz (1994), ser representadas como em (83). (83)

a.

b.

c.

Essas sequências caracterizam hiatos, que são justificados pelo fato de os falantes nativos da língua em questão, ao produzirem itens como os que figuram em (80), interpretam os vocoides como núcleos silábicos. Já as sequências de vocoides em (81) e (82) são constituídas por ocorrências de segmentos em posição não nucleares. Tais sequências formam sílabas do tipo CV e VC, cujas representações, a partir das regras de construção silábicas apresentadas em Kenstowicz (1994), podem, respectivamente, ser como dispostas em (84).

(84)

a.

b.

c.

53

c.

d.

e.

Portanto, nos dados de (81) e (82), os vocoides j e w assumem status de glides consonantais ao ocuparem as posições de coda e onset. Aliás, outro argumento que pode reforçar o caráter consonantal desses glides é o fato de eles terem, respectivamente, como alofones [j], [d] e [w] [f], [v], [].

4.3 Fundamentação Teórica para a análise do Acento

Nosso estudo acerca do acento da língua Jaminawa falado no Brasil, parte da perspectiva da teoria métrica, a qual defende a natureza hierárquica do acento. Dessa forma, nossa pesquisa tem como base os estudos de Kenstowicz (1994), Hayes (1995) e Spencer (1997). Kenstowicz (1994) e Hayes (1995) atestam que apenas em línguas sensíveis à quantidade, as sílabas pesadas atraem o acento. De acordo com os estudos de Kenstowicz (1994) acerca da quantidade silábica, em muitas línguas, sílabas CVV, CVC e CVG (G = germinada) se comportam como pesadas. Um dos tratamentos gerativos mais populares sobre essa questão recupera a noção de mora da gramática tradicional, a fim de expressar a ideia de que uma sílaba leve canônica, isto é CV, consiste em uma unidade, enquanto a sílaba pesada contém duas unidades. Segundo Kenstowicz (1994), nos modelos de McCarthy e Prince (1986) e Hayes (1989) a sílaba CV (leve) e as sílabas CVV, CVC e CVG (pesadas) são representadas, respectivamente, como em (85a), (85b), (85c) e (85d) a seguir. ( = sílaba, = mora). (85) a.

b.

c.

d.

54

Em suas observações acerca das propriedades de tais representações, Kentowicz (1994) explana que: a) a mora não é uma espécie de som, mas uma unidade prosódica elementar que, como as sílabas, organiza os fonemas em uma maneira particular; b) a mora é um constituinte da sílaba que intervém entre a [] e a cadeia fonêmica, c) o que aproxima as sílabas pesadas é sua estrutura bimoraica, mas elas diferem quanto ao modo como a segunda mora se relaciona à cadeia fonêmica. Na sílaba CVV, cuja vogal é longa, uma única vogal abrange duas moras (85a). Na sílaba CVC a vogal preenche a primeira mora, enquanto a consoante na coda ocupa a segunda (85c). Já no caso de uma consoante geminada, uma única consoante preenche, simultaneamente, a segunda mora de uma sílaba e o onset da sílaba seguinte (85d). Ademais, Kenstowicz (1994) assevera que um onset não licencia mora e, portanto, não tem peso. Em relação ao estudo do peso silábico, Hayes (1995) atesta que uma sílaba CV, que tem sempre um elemento no núcleo, é sempre leve (ou monomoraica) e uma CVV, que sempre possui dois elementos no núcleo, é sempre pesada (ou bimoraica). Isso ocorre, porque o(s) elemento(s) do onset nunca licencia(m) uma mora e, por essa razão, regras de acento só levam em consideração os elementos da rima. Os referidos fenômenos ligados às sílabas CV e CVV, a partir das considerações de Kenstowicz (1994) e Hayes (1995) podem ser ilustrados, respectivamente, em (86a) e (86b).

(86)

a.

b.

Quanto à sílaba CVC, Hayes (1995) afirma que essa apresenta uma variação de peso entre as línguas (ou seja, ela pode ser monomoraica ou bimoraica). Tal variação acontece devido ao fado de, para definir o peso silábico, haver línguas que optam por contar os elementos da rima e línguas que preferem contar apenas os elementos do núcleo. Assim, a partir dos estudos de Hayes (1995), a sílaba CVC pode ser representada como em (86c), em que, em uma dada língua, conta os elementos da rima e, portanto, a sílaba é pesada, e como em (86d), em que, uma determinada língua, leva em consideração apenas os elementos do núcleo.

55

(86)

c.

d.

Hayes (1995, p. 52) traz duas representações referentes à sílaba CVC conforme é apresentado em (87a), em que tal sílaba é definida como pesada, conforme acontece no Latim e, também, de acordo com (87b), em que a sílaba em questão é definida como sílaba leve, em conformidade com aquilo que acontece na língua Yupik da ilha de São Lorenço.

(87)

a.

b.

No que diz respeito à Eurritmia, segundo Spencer (1997), desde que os primeiros fonólogos começaram a investigar acento e ritmo a partir da perspectiva métrica, percebeu-se que, em muitas línguas, existe um princípio de organização que serve para manter rigorosamente o ritmo. Entretanto, isso não significa que pronunciamos enunciados de uma prosa da mesma maneira que de um poema. O que se verifica é que há uma grande tendência em evitar sequências de acentos que se desviam muito de um padrão simples de ritmo. As línguas impõem um padrão alternativo de sílabas fortes e fracas em um ritmo duplo (...forte fraco forte fraco forte ...) ritmo triplo (... forte fraco fraco forte fraco fraco ....). Como resultado, tais línguas tendem a evitar sequências ininterruptas de sílabas completamente átonas, ou “lapses”, assim como as sequências de sílabas pesadas acentuadas, ou “stress clashes”. Tal tendência, entre outras línguas, é confirmada no português brasileiro e no inglês. Conforme atesta Bisol (2001), o português brasileiro demonstra rejeição às sequências de sílabas acentuadas (stress clashes), como acontece na formação de composto com as palavras redator (que tem acento na última sílaba) e chefe (cujo acento está na primeira sílaba). A fim de evitar o stress clashes, o acento da palavra mais à esquerda é deslocado como a seguir: redator chefe. Tal fenômeno também ocorre no inglês como pode ser observado quando, conforme Spencer (1997), as palavras unknown (que possui acento na última sílaba) e soldier (na qual o

56

acento incide na primeira sílaba) formam um composto. Nesse processo, a palavra unknown, que é o elemento mais a esquerda do composto tem o seu acento deslocado para a esquerda: unknown soldier. Para se referir a tal fenômeno, Spencer (1997) usa o termo Iambic Reversal. Tal termo é utilizado, como afirma o próprio Spencer (1997), porque um ritmo iâmbico w (sílaba fraca [ou átona]) + s (sílaba forte [ou tônica]) é invertido para um troqueu s + w. Quanto à representação de estrutura rítmica, de acordo com Spencer (1997), a grade métrica proposta por Liberman e Prince (1977), a qual calcula a hierarquia métrica, é vista como uma maneira simples e mais direta de representar toda a estrutura rítmica de uma frase sem fazer referência à constituição de sua estrutura. Tal grade métrica, que também pode ser utilizada na representação rítmica de palavras compostas sem a necessidade de se referir a sua estrutura, é apresentada em Spencer (1997) e Hayes (1995), consiste em uma série de linhas contendo marcas que permitem destacar acento primário e secundário. O acento secundário tem uma marca a mais em relação à(s) sílaba(s) fraca(s), enquanto o acento primário terá uma marca a mais em relação ao acento secundário. 4.3.1 O Acento em Palavras Simples14

As palavras simples da língua Jaminawa do Brasil podem ter uma o mais sílabas, coforme pode ser observado em (88).

(88)

14

a. /tu/

‘ovo’

[CV]

b. /ti/

‘fogo’

[CV]

c. /upa/

‘água’

[V.CVC]

d. /bitis/

‘unha’ (do dedo da mão)

[CV.CVC]

e. /pata/

‘cachorro’

[CVC.CV]

f. /dukud/

‘homem’

[CV.CV.CV]

g. /tukiipi/

‘umbigo’

[CV.CV.CVC.CV]

Quanto aos aspectos gramaticais, nesta pesquisa, adotamos a seguinte definição de “palavra”: “uma unidade autônoma constituída de um ou vários morfemas dotada de significado” (cf. AZEREDO, 2004, p. 69). A partir de tal definição, no presente estudo, entendemos que palavra composta é uma unidade autônoma formada, respectivamente, por duas ou mais bases significativas independentes de duas ou mais palavras simples (não compostas) que se comporta como uma única estrutura semanticamente autônoma.

57

Como pode ser verificado em (88), nessa língua o acento sempre recai na última sílaba conforme acontece em outras línguas Pano como a Yawanawa (PAULA, 2004) e a Shanenawa (CÂNDIDO,1998, 2004). Destarte, trata-se de uma manifestação previsível e, portanto, não precisa ser representado fonologicamente. Outro ponto a se ressaltar é o fato de a língua Jaminawa do Brasil possuir um sistema insensível ao peso silábico. Isto é, essa língua não leva em consideração a quantidade (peso silábicos [sílabas leve e pesada]) para a atribuição do acento, assim como pode ser observado na língua Yawanawa, por meio dos dados disponíveis em Paula (2004) e, também, na língua Marubo, conforme assevera Costa (2000)15. Tal afirmação pode ser feita, porque, de acordo com o que pode ser obsevado nos dados acima, tanto sílabas pesadas (88-c) [upa] , (88-d) [bitis] como sílabas leves (88-e) [pata] , (88-f) [dukud], (88-g) [tukiipi] podem atrair o acento. Por outro lado, há nessa língua tanto sílabas não acentuadas pesadas (91-e) [pata], (88-f) [dukud] como não acentuadas leves

(88-c) [upa], (88-d) [bitis], (88-f)

[dukud], (88-g) [tukiipi].

4.3.2 O Acento em Palavras Compostas

A língua Jaminawa do Brasil possui palavras resultantes do processo de composição, como pode ser observado em: (89) (a) /thaj/ + / bata /

‘perto’

=> /tajbata /

(Representação fonológica)

longe (ADV) + pia (NEG)

[thaj]

+ [bata] => [ tajbata]

(b) /itapa/ muito

fruta

/bata/

+

bata (NEG)

(Representação fonológica) (Representação fonética)

‘fruta madura’ (Representação fonológica)

+ /u/ => /wibiu/ +

fase anterior à maturação de frutos

[wibi] + [u] => [wi biu] (d) /upa/ + /u/ 15

‘pouco’

=> /itapabata/

+ [bata] => [ita pabata]

[itapa] (c) /wibi/

+

(Representação fonética)

=> /upau/

(Representação fonética) ‘mamão maduro’ (Representação fonológica)

Vale obsevar que tal fenômeno não está presente em todas as línguas Pano. Por exemplo, estudos apresentados em Cândido (2004), mostram que o Shanenawa possui um sistema sensível ao peso silábico.

58

mamão

+

fase anterior à maturação de frutos

[upa] + [u] => [u pau]

(Representação fonética)

Coforme pode ser observado em cada um dos dados expostos em (89), o acento primário da sílaba que está na palavra primitiva à direita do composto é preservado. Isso confirma que o acento primário ocorre sempre na última sílaba. Todavia, o acento da sílaba que está na palavra primitiva à esquerda do composto é mantido como acento secundário. Outra questão importante a ser ressaltada acerca do acento secundário é a sua insensibilidade ao peso silábico (a quantidade). Tal afirmação se apoia no fato de, tanto sílaba pesada (89-a) [tajbata], como sílabas leves (89b) [itapabata], (89c) [wi biu], (89d) [u pau] atraírem o acento. Ademais, o fato de os acentos primários das primeiras palavras primitivas dos compostos serem preservados como acentos secundários indica que este último acento apresenta pelo menos um tipo de determinação morfológica, fato que, segundo estudos de Cruvinel e Souza Filho (2012), ocorre também no Shanenawa. Todos os dados apresentados em (89) podem ser representados de forma simples pela grade métrica de Liberman e Prince (1977). A seguir, a fim de elucidar aspectos relevantes sobre a estrutura rítmica de compostos do Jaminawa do Brasil, representamos, respectivamente, os dados de (89b), (89c) e (89d) mencionados acima nos recorrendo a essa grade métrica, o que permitirá perceber a estrutura hierárquica das proeminências em questão:

(89) x x x x x x x i ta pa + bata

=>

x x x x x x x x i ta pa ba ta

No nível mais baixo da grade (primeiro nível), temos uma marca para cada uma das sílabas. No segundo nível, só recebe marca a sílaba mais proeminente de cada vocábulo transcrito fonologicamente, ou seja, as sílabas que atraem o acento. Após as bases independentes em questão se juntar, a fim de formar uma nova palavra, surge um novo nível (terceiro nível, o mais alto). Isso acontece, porque cada uma das palavras mantém sua acentuação primitiva. Todavia, o acento do elemento mais à direita (primeira palavra primitiva do composto) é enfraquecido. Assim, o acento do elemento mais à esquerda

59

do composto (segunda palavra primitiva do composto), que está na última sílaba, tem maior proeminência. Por essa razão, a última sílaba tem uma marca de grade extra. Dessa forma, a grade deixa em destaque as sílabas acentuadas de forma hierárquica. A sílaba que aparece com três marcas é a que tem maior proeminência e, portanto, atrai o acento primário que, por ser mais proeminente, é classificado como acento principal. Por outro lado, a sílaba que tem duas marcas possui uma proeminência menor e, por isso, atrai o acento classificado como acento secundário. Tais processos ocorrem também nos demais dados expostos em (89). Em relação aos itens apresentados em (89c) e (89d), especificamente, é possível observar ainda que o Jaminawa do Brasil não rejeita sequências ininterruptas de sílabas completamente acentuadas stress clashes (choque de acentos), algo que, segundo Spencer (1997), as línguas do mundo possuem tendência a evitar. O fenômeno apontado em (89c) e (89d) está representado também pela grade métrica de Liberman e Prince (1977) em (89a) e (89b) abaixo.

(89)

a. x x x x x x wi bi u

b. x x x x x x u pau

Nessa representação da estrutura rítmica verificamos que a língua em estudo não prioriza a rejeição do stress clashes, pois ocorrem sequências de duas sílabas acentuadas, algo que, segundo Cruvinel e Sinval Filho (2012), ocorre também no Shanenawa. Destarte, em 89 (a e c), a sílaba que atrai o acento secundário (possui duas marcas na grade métrica) é imediatamente seguida pela sílaba que carrega o acento primário (a qual está com três marcas na grade).

CONCLUSÃO

Na descrição e análise fonética da língua Jaminawa do Brasil, verificamos 20 contoides (19 supra-glotais, enquanto apenas [h] é glotal) e doze vocoides. Constatamos ainda que, excetuando [], há uma tendência de alongamento de vocoides em sílabas pré-tônicas em palavras compostas por duas sílabas, enquanto acontece um alongamento de vogais na primeira sílaba de palavras compostas por mais de três sílabas. Devido à exiguidade de tempo, não foi possível aprofundar os estudos sobre tal fenômeno. Todavia, pretendemos

60

desenvolver, futuramente, pesquisas obre essa questão a partir do ponto de vista da fonética acústica, pois isso contribuirá para um maior conhecimento da língua estuda. Com base na teoria fonêmica identificamos, entre os contoides e vocoides, quatro fonemas vocálicos e doze fonemas consonantais. Além disso, constatamos que o sistema fonológico do Jaminawa do Brasil é assimétrico. Verificamos ainda que os fonemas vocálicos // e /a/ passam por processo de neutralização, assim como ocorre com os fonemas consonantais /ts/ e /t/. O processo de neutralização de // e /a/, ocorre em sílaba inicial figurando entre os fonemas consonantais /b/ e /k/, e depois da fricativa // em sílaba final. Já a neutralização entre /ts/ e /t/ ocorre em sílaba final em um contexto no qual são antecedidos por /a/ e seguidos por /i/. A fim de analisar fenômenos fonológicos relativos à estrutura silábica, vogais adjacentes e o acento em palavras simples e compostas, recorremos a teorias mais recentes como a fonologia não linear. Assim, em relação à estrutura silábica, identificamos que o inventário silábico da língua estudada apresenta-se como do tipo básico: {V, VC, CV, CVC}, cujo padrão silábico mais comum é CV. Além disso, constatamos que a língua Jaminawa do Brasil possui tendência a evitar sílabas sem onset. Ainda no que diz respeito à estrutura silábica, constatamos que os glides [j] e [w] ocorrem na estrutura da língua como fonemas consonantais, que qualquer um dos fonemas vocálicos do sistema fonológico em questão pode constituir a posição de núcleo e qualquer fonema consonantal pode preencher a posição de onset. Contudo, apenas os fonemas fricativos //, /s/, /w/ e /j/ podem ocupar a posição de coda, tanto em sílaba final como em sílaba não final de palavras. Já no estudo acerca do acento, com o qual encerramos a presente pesquisa, verificamos que, em palavras simples, ele recai sempre na última sílaba e, portanto, não precisa ser representado fonologicamente. Além disso, constatamos que tanto o acento de palavras simples quanto o acento de palavras compostas apresenta insensibilidade à quantidade (peso silábico). A ocorrência do acento em compostos acontece da seguinte forma: o acento primário das palavras primitivas dos compostos é mantido. Todavia, o acento primário da primeira palavra dos compostos é preservado como acento secundário, logo apresenta pelo menos um tipo de determinação morfológica. Ademais, verificamos que o Jaminawa do Brasil é uma língua que não evita o stress clashes (choque de acentos). Isto é, não rejeita sequências ininterruptas de sílabas completamente acentuadas.

61

Com o resultado da pesquisa apresentada, esperamos contribuir para um maior conhecimento da língua Jaminawa do Brasil e, consequentemente, ampliar o conhecimento das línguas Pano e das línguas indígenas brasileiras que, surpreendentemente, ainda não são muito estudas. Ademais, esperamos, possivelmente, oferecer subsídio para o desenvolvimento de projetos que visem revitalização da língua Jaminawa do Brasil. Isso porque os estudos desenvolvidos aqui sobre o quadro podem, por exemplo, auxiliar seus falantes na produção de materiais didático-pedagógicos (dicionários, cartilhas etc), os quais possibilitam uma educação intercultural bilíngue. Aliás, em relação a essas questões, as lideranças da etnia falante do idioma em questão, afirmaram ter desejo em desenvolver projetos que possam estimular seus jovens a usarem mais sua língua e aproximá-los ainda mais de seus costumes, que, muitas vezes, fica em segundo plano diante da cultura dos não índios, a qual goza de maior prestígio social no Brasil, assim como acontece em outros países. Vale ressaltar ainda que, devido à complexidade de uma língua, toda análise inerente a ela, mesmo de forma aprofundada deixará questões a serem resolvidas. Assim, esperamos que os estudos preliminares desenvolvidos aqui sejam apenas o início de vários outros a serem realizados sobre a língua Jaminawa do Brasil, a qual, neste momento, está sob ameaça de extinção, por não ser muito falada entre seus jovens.

62

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67

APÊNDICE 1. GLOSSÁRIO BÁSICO DO JAMINAWA DO BRASIL - Notas Explicativas

A fim de oferecer uma contribuição para os trabalhos de outros pesquisadores de línguas indígenas, especialmente, da família linguística Pano, como pesquisas que desenvolvem estudos comparativos lexicais de línguas indígenas, apresentamos abaixo uma lista de 210 itens do Jaminawa do Brasil. Ademais, com tais itens, visamos ainda oferecer contribuições para a comunidade indígena jaminawa brasileira no sentido de oferecer-lhe subsídios para o desenvolvimento de materiais didáticos e consequente fortalecimento do uso da língua materna entre os seus jovens, algo que constatamos, durante nosso período de pesquisa de campo, ser objeto de desejo dessa comunidade. O glossário está apresentado em dois tipos de entrada bilíngue: Jaminawa do BrasilPortuguês e Português-Jaminawa do Brasil. Os itens lexicais estão expostos em transcrição fonológica. Para a entrada Jaminawa do Brasil-Português as palavras estão expostas na seguinte ordem alfabética: a, , b, d, h, i, j, k, p, , s, , t, u, ts, t, w, enquanto na entrada Português-Jaminawa do Brasil, estão dispostas conforme é convencionalmente organizada a ordem alfabética da língua portuguesa.

1.1 Jaminawa do Brasil / Português

ad

nome

ada

língua

adapakaj

Vomitar

adia

cunhado

aja

Arara

ajaj / ajaki

Beber

ajdia

viver

atsa

mandioca

atu/pustu

Barriga

awa

anta

awiu

mulher

68



eu



semente

d

caldo

pa

pai

wa

mãe

wapa

grande

badia

banana

badip

folha

bahuawa

montanha

baj

terra

bajka



bak

criança

bakisapa

macaco

bapu

cabeça

bapu

cinza

bau

chifre

bati / batsi

frio

bati / batsi

gelo

batikja

morro

bk /bak

mão

bsi

medo

bta

molhado

bta

úmido

btu

seco

btuti juapa

dedo polegar

btuti pitawak

dedo

bi

você

bipu

areia

bitis

unha (do dedo da mão)

69

biwkapa

cunhada

biwa

lama

biwawai

mão direita

biwiaskui

mão esquerda

biwidati

três

buduj

dançar

da

esta

da

este

dabi

carne

daj

céu

du

tartaruga

dw

vento

di

mato

dii

corda

dii

correr

didiki

puxar

dija

estar de pé

dikaj

caçar

diwak

grama

du

nós

dua

aquele

duba

ano

dudu

aqui

dui

verme

dukud

homem

dup

pesado

dutadawa

boiar

duti

canoa

hbada

testa

hu

cabelo

ia

piolho

70

ibi

sangue

ida

dar

ida

rabo

ididipa

cheirar (sentir o cheiro de algo)

idu

onça

ija

lago

isa

patoá

isi

doente

itapa

muito

itapa bata

pouco

itu

irmão mais novo

iwi

árvore

jab

noite

jabi

machado

jaja

tia

jua

gente

jua

pessoa

jua

mandioca

jub

irmã mais nova

juba

peixe

jujaj

voar

kaika

brincar

kakki

rachar

kata

tatu

kabu

jiboia

kaj

andar

kap

jacaré

ka

boca

kdaj

gritar

kjuki

morder

71

kii

coxa

kui

correnteza

kui / kuj

fumaça

kui / kuj

nuvem

padi

rede

paa

maduro (maturação de frutos)

pata

cachorro

pata

dente

patu

orelha

pawa

papagaio

p

pena

p

casa

pda

dia

pja

pássaro

ptaw

asa

pitadi

pequeno

pia

flecha

pisi

podre

pitaki

cozinhar

piti

costas

piti

comida

pudu

raiz

puja

braço

puku

tripa

puki

órgão sexual feminino

ajaj

trabalhar

akuti

coberta

atadakai

brigar de flecha

atuku

joelho

72

atuku

redondo

aw

dois

u

pedra

udu

cobra

ati

enxada

t

matar

tuku

nariz

stu

bater

ada

quente

adi

gato

aw

osso

aw

jabuti

aa

abelha

aa

bom

ti

urubu

idaj

pensar

idi

banha

idu

macaco preto

iki

milho

u

verde (relativo à não maturação de frutos)

uaki

soprar

upa

mamão

upu

algodão

uti

peito

taj



taka

fígado

tapipaj

saber

taaw

vinte

73

tai

sal

taki

limpar

tu

pescoço

tu

ovo

tukiipi

umbigo

tukuu

redondo

tupitaki

nadar

tui

vermelho

ui

chuva

uiti

coração

uka

tio

ukusawti

roupa

upa

água

uspia

cheio

uaj

dormir

uu

branco

u

lua

uti

irmão mais velho

utis

unha (do dedo do pé)

tsajki

falar

tsua

quem

tadi

abacaxi

taj

longe

taj bata

perto

taka

mau

taka

ruim

tati

furar

tata

avô

tawa

sentar

74

ti

fogo

tipi

irmã mais velha

tipi

órgão sexual masculino

titi

avó

tuta

sujo

tutu

seio

t

periquito

t

negro

t

preto

wajtapia

caminho

wakita

bebê

wasi

capim

waaika

inchar

wai

sol

wibi

fruta

wibi

fruto

wipaj

conhecer

wisti

um

wita

perna (parte inferior)

wipi

sobrancelha

wita

saliva

witi

pele

wd

marido

wda

novo

wta

outro

1.2 Português / Jaminawa do Brasil

abacaxi

tadi

75

abelha

aa

água

upa

algodão

upu

andar

kaj

ano

duba

anta

awa

aquele

dua

aqui

dudu

arara

aja

areia

bipu

árvore

iwi

asa

ptaw

avó

titi

avô

tata

banana

badia

banha

idi

barriga

atu/pustu

bater

stu

bebê

wakita

beber

ajaj / ajaki

boca

ka

boiar

dutadawa

bom

aa

braço

puja

branco

uu

brigar de flecha

atadakai

brincar

kaika

cabeça

bapu

cabelo

hu

caçar

dikaj

76

cachorro

pata

caldo

d

caminho

wajtapia

canoa

duti

capim

wasi

carne

dabi

casa

p/ pa

céu

daj

cheio

uspia

cheirar (sentir o cheiro de algo)

ididipa

chifre

bau

chuva

ui

cinza

bapu

coberta

akuti

cobra

udu

comida

piti

conhecer

wipaj

coração

uiti

corda

dii

correnteza

kui

correr

dii

costas

piti

coxa

kii

cozinhar

pitaki

criança

bak

cunhada

biwkapa

cunhado

adia

dançar

buduj

dar

ida

dedo

btuti pitawak

77

dedo polegar

btuti juapa

dente

pata

dia

pda/ pd

doente

isi

dois

aw

dormir

uaj

enxada

ati

esta

da

estar de pé

dija

este

da

eu



falar

tsajki

fígado

taka

flecha

pia

fogo

ti

folha

badip

frio

bati / batsi

fruta

wibi

fruto

wibi

fumaça

kui / kuj

furar

tati

gato

adi

gelo

bati / batsi

gente

jua

grama

diwak

grande

wapa

gritar

kdaj

homem

dukud

inchar

waaika

78

irmã mais nova

jub

irmã mais velha

tipi

irmão mais novo

itu

irmão mais velho

uti



bajka

jabuti

aw

jacaré

kap

jiboia

kabu

joelho

atuku

lago

ija

lama

biwa

limpar

taki

língua

ada

longe

taj

lua

u

macaco

bakisapa

macaco preto

idu

machado

jabi

maduro (maturação de frutos)

paa

mãe

wa

mamão

upa

mandioca

atsa

mandioca

jua

mão

bk /bak

mão direita

biwawai

mão esquerda

biwiaskui

marido

wd

matar

t

mato

di

79

mau

taka

medo

bsi

milho

iki

molhado

bta

montanha

bahuawa

morder

kjuki

morro

batikja

muito

itapa

mulher

awiu

nadar

tupitaki

nariz

tuku

negro

t

noite

jab

nome

ad

nós

du

novo

wda

nuvem

kui / kuj

onça

idu

orelha

patu

órgão sexual feminino

puki

órgão sexual masculino

tipi

osso

aw

outro

wta

ovo

tu

pai

pa

papagaio

pawa

pássaro

pja

patoá

isa



taj

80

pedra

u

peito

uti

peixe

juba

pele

witi

pena

p

pensar

idaj

pequeno

pitadi

periquito

t

perna (parte inferior)

wita

perto

taj bata

pesado

dup

pescoço

tu

pessoa

jua

piolho

ia

podre

pisi

pouco

itapa bata

prato

patu

preto

t

puxar

didiki

quem

tsua

quente

ada

rabo

ida

rachar

kakki

raiz

pudu

rede

padi

redondo

tukuu

roupa

ukusawti

ruim

taka

saber

tapipaj

81

sal

tai

saliva

wita

sangue

ibi

seco

btu

seio

tutu

semente



sentar

tawa

sobrancelha

wipi

sol

wai

soprar

uaki

sujo

tuta

tartaruga

du

tatu

kata

terra

baj

testa

hbada

tia

jaja

tio

uka

trabalhar

ajaj

três

biwidati

tripa

puku

um

wisti

umbigo

tukiipi

úmido

bta

unha (do dedo da mão)

bitis

unha (do dedo do pé)

utis

urubu

ti

vento

dw

verde (relativo à não maturação de frutos)

u

verme

dui

82

vermelho

tui

vinte

taaw

viver

ajdia

voar

jujaj

você

bi

vomitar

adapakaj