226 84 12MB
Portuguese Pages 296 [300] Year 2004
PRAXIS
Robert Kurz
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Com todo vapor ao colapso
UNIVERSIDADE FEDERAI. DE AJIZ OE FORA R..toro
Marie, Morgr,i,do Mortins Solomi'io Vice-Reitor
Pculo Feireoro Piolo P,6- Reitora de Pesquiso Cláudia Mono Ribe,ro VIICOldl
Oiretoro do Editoro
Heleno do Mola Sales Co,uelho Editorial JoNGuw,,o F,onc,sAbdalo Júlio Maria Fonsecu Chcb5
FábioP,.>do ~AoNlnlo ~ Furlodo
Mon:os '&ício Chein Fen11 Neuso Soliin r-Atclnda M6niC.a ltibc,,o de Oli..eim Paulo Mon.-o V,.;,o llnos,a Borane
Robert Kurz
Com todo vapor ao colapso
11 Reimpressão
EDIJOAA UFJf · PAZUllN 2004
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PAZULIN
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FICHA CATALOGRÍ>FICA El"""'-10 pelo llõbli04eco C.ntwol do UfJf l(ur:r, Robtrt Com iodo .opor oo colopso / Rober1 Kurz.
Jui1 de Foro, MG: Ed,!ORI UFJF - l'AZULIN, 2004.
296 p.
ISSN 85-85252-93-6
l . Sociedode • Anõllse. 1. Título COU:
IMPRESSO NO BRASIL • 2004
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Sumáriol
Apresentação
i Parte 1 1. Com todo o vapor ao colapso 1/ 2. As luzes do mercado se apagam
43 3. Existe vida após a economia de mercado?
93 4. A estética da modernização Ili
Parte li Sobre o Livro Negro do Capitalismo
/33
Parte Ili 1. Marx depois do marxismo
145 2. O fim da teoria
155 3. Cultura degradada
165 4. Totalitarismo econômico
173 5. Capitalismo nas estrelas
183
r,
f Sumário 6. Implosão da moeda 193 7. O homem flexível
2()3 8. A expropriação do tempo
213 9. Fome em abundância
223 to. Natureza em ruínas 231
11. Virtudes femininas
239 12. A comercialização da alma
249 13. A síndrome neofascisca da Fortaleza Europa 259 14. Economia totalitária e paranóia do terror
269 15. A Argentina como modelo de país perdedor Z79
Notas 289
Bibliografia 291
Apresentaçãol
A NOR.\Ul,IDADECAPrli\LISTA está profundamente abalada nesta virada
de século. Reviravoltas, explosões, decadências, esgotamen• tos: nunca se viu tantos fins, tantas crises, tantas mudanças incontroláveis, por todos os lados, em todos os âmhicos. Robert Kurz e seus amigos, que na Alemanha há cerca de 15 anos editam a Revista Krisis, se dedicam a pensar estes fenômenos sob o signo da negatividade. Por isso sua crítica da sociedade da mercadoria está longe da hoje tão comum simulação da crítica, remetendo a boa e velha crítica marxiana da economia política
ao núcleo dJJro das formas sociais fetichistas determinantes da socialização moderna: o valor, o trabalho, a mercadoria, o dinheiro, o capital, o Estado. Ao mesmo tempo perseguem orastro negativo de transformações e abalos que cais formas funda-
mentais deixam nos diversos momentos e níveis concretos da vida social. O resultado é uma crítica social radical, auto-refle-
xiva e historizadora, que permite ir além de rodo cipo de naturalização ou ontologização positiva, seja aberta, seja camuflada, e assim pensar as hases para um movimento prático de supera-
ção desta sociedade. Robert Kurz já é relativamente bem conhecido no Brasil através de alguns de seus livros como O Colapso da Modernizafão, O Retomo de Poumki111 (Ed. Paz e Terra), Os Últimos Combates (Ed.
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1Apmenlaçio
Vozes) e pelos artigos mensais na Folha df. São Paulo. Aqui procurou-se coletar alguns textos importantes ainda inéditos em livro e alguns de seus artigos saídos na Folha. Nestes últimos. procurou-se restabelecer, quando necessário, os títulos ou subtítulos originais a fim de melhor aproximá-los de seus temas específicos. As indicações das fonces e dos títulos originais de publicação aparecem ao fim de cada texto. Grosso modo. o fio condutor que perpassa as 3 seções do livro vai do geral ao panicular, das determinações essenciais à realidade concreta. Assim, no percurso destas análises o leitor não encontrará nenhum tipo de economicismo, politicismo ou culturalismo, mas uma reflexão crítica sobre a totalidade negativa da socialização pelo valor e sua crise fundamental. Da mesma forma, não confundirá tais análises com nenhum tipo de fé escatológica de superação automática do capitalismo: se vamos com rodo o vapor ao
colapso, enrão é hora de pular fora, não simplesmente o constatar ou levar mais lenha às caldeiras ferventes. É todo um movimento prático consciente de superação que o autor cem cm mira, mas sem garantias. Talvez. a única certeza sustentada nestas linhas é que para tal superação não teremos qualquer amparo num sujeito dado a priori ou num confortável fundamento metafísico tal como o trabalho. Tudo está por se conscruir a partir dos potenciais imanentes aflorados com a crise. Neste senrido, os movimentos sociais, dentre eles os derivados do movimento operário e seu marxismo tradicional, agora totalmente desarmado e até irreconhecível, encontrar-se-ão no dilema de engajar-se na administração pragmática da crise e da miséria, lutando ainda por dentro das formas fetichistas do merca-
Apresantaçiol 9
do e do Estado, ou na perspectiva da autocrítica, no sentido de uma autosuperação social. Se a emancipação social é uma possibilidade concreta, de resto, como depreende-se do conjunto das análises de Kurz, também um espectro bem real ronda o mundo - o espectro da barbárie.
Grupo de eJtudos Krisis / lubur Contato: [email protected]
Parte 1
Com todo vapor ao colapso
v1v1;:'vlo:, HOJl-:l'MA situação muito estranha. Nunca na história da modernização - nos últimos duzentos, trezentos anos-deu-se a situação de uma crise social mundial que erigisse um tal poten-
cial de devastação ecológica e alcançasse canta destruição e abandono cultural até a tendência em direção a uma nova barbárie. E o estranho e paradoxal é que ao mesmo tempo, nestes últimos trezentos anos, a crítica social nunca esteve tão fortemente desarmada como hoje. Este paradoxo precisa ser explicado, já que o mundo nunca foi tão digno de crítica como hoje. É fácil obter a razão superficial desta contradição: pode-se colocá-la no contexto do colapso do socialismo de Estado do Leste Europeu. Nas últimas décadas aquela teoria que formava o centro da crítica social do mundo ocidental. a saber, o marxismo, foi fortemente maculada por aquele socialismo de Estado. Mesmo aqueles pensadores que no Ocidente mancinham uma relação crítica com a União Soviética ou a China ainda ligavam-se, em
suas argurnencações básicas, embora de modo subcerrãneo, com este socialismo de Escado. A conseqüência é que codos nós. de certo modo, perdemos a fala. O problema aqui contido só pode ser compreendido com a
ampliação do quadro referencial, enfocando períodos anteriores
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1Com 1,~o ~,pauo colapso
ao assim chamado conflito de sistemas, estabelecido depois da 2ª Guerra Mundial. O Ocidente foi o vencedor no conflito dos sistemas, mas se ampliarmos o período em perspectiva e levarmos em consideração os últimos duzentos ou trezentos anos, podemos ironicamente constatar que o socialismo de Estado entrou em colapso quase no momento das comemorações de duzentos anos da Revolução Francesa. No curto período pós-z:i Guerra, parecia enrreranto óbvio que com o fim do socialismo de Estado do Oeste qualquer alternativa pós-capitalista teria chegado ao fim. E isso deveria ser para
rodo o futuro, caso nós quisermos dar crédito ao belo discurso do fim da história do Sr. Fukuyama e outros. Nesta perspectiva, tudo o que está sendo formulado como crítica só pode colocarse dentro do quadro referencial da ordem ocidental democrática e de economia de mercado.
Um quadro referencial ampliado, porém, leva-nos a uma reflexão totalmente diferente: foram atingidas pela crise as bases comuns de uma história de modernização de duzentos anos ou mais. Aqui trata-se de uma crise comum ao Ocidente e ao Les-
te Europeu, que não surge simplesmente do conflito de sistemas e seus crirérios, mas que vem de muiro mais fundo. Por um lado, pode ser consolador para alguns críticos da sociedade e do capitalismo que, apesar de o capitalismo ter sobrevivido, ele será a próxima vítima. Por outro, é igualmente doloroso, pois significa que a crítica social feita até agora, o marxismo - pelo menos como ele foi entendido até este momento, tal como existia na consciencia comum e teórica - e as formaçõt:s sociais
Con tolo vapor aocolapsol 13
ligadas a ele, era parte da história da modernização e, por conseguinte, parte daquilo que agora entra conjuntamente em crise. Gostaria de tentar redefinir este problema. Em geral, associava-se o problema do socialismo de Estado ao conceito de
indtlStrialiMfÕO retardatária. Mas essa redução implica em procurar o problema só no nível quase técnico da industrialização e seus custos, sem partir das determinações das formas sociais. Oo ponto de vista capitalista moderno, a industrialização retardatária só poderia ser um problema das regiões relativamente atrasadas - Rússia, China, o assim chamado Terceiro Mundo, as regiões pós-coloniais. Em nenhum desces lugares existia o problema da superação da sociedade capitalista - pois o que não existe logicamente não pode ser superado -. ao contrário: eram repetidas, de um modo específico, formas que nós já conhecía• mos no ocidente há cento e cinqüenta, duzentos anos acrás. Refiro-me aos sistemas econômicos estatais do mercantilismo dos séculos 17 e 18. Encontramos ali muitas coisas que existiam também no socialismo de Estado: monopólio do comércio exterior, fixação estatal de preços, propriedade estatal dos meios de produção mais avançados (que na época eram as manufaturas). Não é nada totalmente novo, o fato é que apenas acon-
teceu no Ocidente muito antes e já foi esquecido. Nesse sentido repeciu-se o desenvolvimento ocidencal, inclusive suas formas revolucionárias.
Deste ponto de vista, a famosa Revolução de Ourubro foi a retomada da Revolução Francesa no Leste Europeu. E tamhém os movimentos de libertação nacional posteriores, a revolução na China e revoluções semelhantes foram, por assim dizer, a
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1Co11 tdo ~~r aull1pso
imitação ou o resgate retardatário daquilo que no Ocidente foi a Revolução Francesa, inclusive as bandeiras, as barricadas, a lura armada e cudo que soa à mitologia. Obviamente isto significa para a esquerda ocidental o reconhecimento amargo de que ela sofria, de certa forma, de uma ilusão de ótica. Não que os fatos não tivessem sentido - é uma abordagem questionável querer julgar processos e desenvolvimentos históricos como cercos ou errados ou acé como bons ou maus - são formações de época nas quais apareceram atores sob condições determinadas. Eles não podiam saltar sobre suas próprias sombras, assim como nós hoje também não poderemos salcar sobre as nossas. Porém, as nossas sombras são outras, pois passaram-se oitenta ou cem anos e podemos olhar a história passada como se fosse uma gigantesca paisagem de ruínas. Assim, trata-se no fundo de uma história de modernização conjunta que produziu os assim chamados conflitos de sistema. determinados muito mais pela não-simultaneidade histórica das diversas regiões mundiais do que por conteúdos pós-capitalistas diferentes. Isso não é uma condenação da história, ao contrário, eu gostaria de demonstrar o caráter da crise acuai como uma crise conjunta do siscema mundial concemporâneo unificado.
Jã se falava antes do colapso do socialismo de Escado que também o Ocidente estaria em crise. Desde o início dos anos 80 surgiu também no Ocidence a palavra-chave cmedo socitdode
do trobollto. Lembro-me mui to bem como foi preocupante quando na Alemanha, no início da década de 80, o desemprego ultrapassou pela primeira vez o limite de um milhão de pessoas. Hoje esta cifra seria uma nocfcia de sucesso; na época temia-se,
C•m todnaper atcolapso
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e até se fabva que o Leste Europeu poderia ser a melhor alternativa de sistema. Esta perspectiva ainda era admitida naquela época. E então aconteceu o grande colapso. Todo o sistema do Leste Europeu se desfez em pó como uma múmia, e na seqüência a própria crise ocidental foi reprimida e esquecida. apesar dos processos sociais ligados ao desemprego em massa e nova pobreza ainda cxiscences. Dez anos antes, em grande parte do
Terceiro Mundo, economias nacionais inteiras entraram em colapso. Na época iniciou-se a miséria africana e na América Latina começaram as hipcrintlações e a desindustrialização. No final dos anos 80 falava-se da década perdida. Assim, primeiro a
crise foi reprimida e o colapso do pretenso sistema opositor foi utilizado na ocasião para sustentar o amo-engano. A isto ligava-se a expectativa de que com a abertura do Leste Europeu poderiam se estabelecer novos e maravilhosos mercados e um novo impulso de acumulação de capital como após o fim da 2ª Guerra, ou seja, esperava-se poder resolver a crise do Ocidente justamente com o colapso do Leste Europeu. Hoje, meia década depois, esrns ilusões revelam-se cada vez mais claramente como miragens e podem ser descartadas. Ao concrário: não só a crise volta ao Ocidente (de onde na verdade nunca saiu), mas sua dimensão é cada vez mais clara. Os processos
retardatários dos colapsos no Leste Europeu alcançam o Ocidente pouco a pouco, isto é, chegam à ordem ocidental problemas oriundos das regiões de colapso. Isso pode ser abordado em várias direções. Um aspecto da crise no Leste Europeu é cenamcnce ela ter gerado fluxos de reft1giodos, imigrações de trabalho, novas for-
mas de criminalidade em massa - até encão rínhamos máfia só no sul. agora também a temos na Europa de Leste - o que, entre outras coisas, é ocasião para reações racistas na população ocidental, em especial na população alemã. São manifestações desta crise que continuarão a persistir. Para isso, é essencial que a esperança nos novos mercados não tenha se cumprido, e que, quão paradoxal isto possa soar do ponto de vista da velha crítica do capicalismo, o capical ocidental não tenha sido capaz de explorar as massas gigantescas do Leste Europeu. De qualquer maneira, não se realizaram acé agora os grandes fluxos de investimentos no Leste Europeu. Também não existem tendências reconhecíveis ou intenções reais de anexar de outra maneira estas regiões enormes e, por assim dizer, indefesas. Elas representam uma espécie de terra arrasada da economia de mercado ou da modernização, e no fundo o Ocidente não sabe o que deve fazer com isco. De novo o Leste provoca medo, calvez ainda mais do que nos tempos da antiga União Soviética, pois trata-se de uma região gigantesca, altamente armada, equipada com bombas atômicas, que cria figuras totalmente incontroláveis e muito menos previsíveis que o hom e velho Brejnev.
Agora, no que diz respeito à crise em comum, chega-nos através de uma bela manchete dos jornais em relação à reunificação alemã: em vez de prosperidade no Lc::sce Europeu, recessão no Ocidente. Este resultado está relacionado à conjuntura recessiva dos últimos dois anos. Agora cria-se de novo esperança na revitalização da conjuntura, mas mesmo os comentaristas oficiais deixam transparecer que essa recuperação
Co111 todo vapor ao colapso
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pode ainda demorar - ao menos não é previsível um boom secular
que pudesse reverter a crise atual. Isso tem algo a ver com o fato de não tratar-se de um puro movimcnro cíclico. O ciclo normal, por assim dizer, do movimento capicalista, é recoberto por um outro problema, muitas vezes chamado de crise estrucural. Por isso, fala-se hoje já em desemprego estrutural em massa e não apenas em desemprego cíclico. Isto quer dizer que as cifras do desemprego não se reduzem na fase de recuperação cíclica da conjuntura, mas ao contrário, elas ainda se ampliam. Nunca houve na história da modernização algo assim. O desemprego em massa (se é que existiu na grande crise mundial de 1929) era um fenômeno cíclico que também foi reduzido com a recuperação conjuntural cíclica. Marx chamava isso de "exército induscrial de reserva". Os desempregados foram considerados apenas como exército de reserva para a próxima recu~raçâo conjuntural e assim ficavam à disposição para a reabsorção como
força de trabalho no movimento de valorização do capital. Isso parece que acabou. De ciclo para ciclo, e totalmente independente de seus altos e baixos, aumentou o desemprego na curai. Já mencionei que na República Federal da Alemanha falar de um desemprego de apmas um milhão de pessoas seria um ótimo resultado, hoje já são quatro milhões. O desemprego em massa seria muito maior se nós considerarmos as diversas medidas amortecedoras - aposentadorias prévias, medidas de política social do Ministério do Trabalho• e os truques estatísticos. Essa maquiagem do desemprego em massa com ajuda de truques es-
tatísticos é comum em todos os países que ainda se utilizam de
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1Com tllda vapor II colapso
estatísticas de desemprego. Na República Federal da Alemanha esta maquiagem pode ser vista pela mudança na apresencação do índice que, acé alguns anos atrás, ainda era feita em relação ao número total de empregados, isto é, de assalariados. Entrementes, já se faz a relação com o número total da população
economicamente ativa, incluindo todos os autônomos, os empresários e a força de trabalho de família integrada para embelezar a escatíscica. Esces são apenas exemplos; os truques mudam de Estado para Estado, de país para país, mas são aplicados. O crescence desemprego de base é, assim, independente de ciclo, não é só um fenômeno alemão ou da Europa Central,
mas um fenômeno global. Na primavera de 94 a Organização Internacional do Trabalho cm Genebra publicou uma análise indicando que 30% da população apta para o trabalho está de fato sem emprego. Nessa análise crítica, alguns dos truques mencionados foram revelados; este número se aproxima mais da verdade que as estatísticas oficiais e sobrepuja o desemprego da crise mundial de 1929/33. Antes de tudo, deve-se lembrar que aquela crise mundial, apesar de seu nome, não teve
conseqüêndas globais como o acuai desemprego estrutural em massa. Pode-se de fato falar em uma verdadeira crise da sociedade do rrabalho. Nisco. existem duas coisas estranhas: a primeira, é que todas as ideologias de modernização, inclusive o marxismo e o liberalismo, compreendem o trabalho como um fundamento ontológico ou antropológico. Assume-se que o homem, desde que existe, tem troballlado, e o trabalho aparece como algo fora da história. Se se fala agora em uma crise da sociedade do trabalho, contradiz-se a própria ideologia de base segundo a
qual o trabalho é algo que diferencia o homem do animal. E então, naturalmente, o trabalho nunca poderia entrar em crise. A contradição se revela no farn de que a relação que entra
em crise até agora não foi analisada como histórica, isco é, como algo que possui um vir-a-ser e desaparecimento, mas como fundamento humano por excelência. Não se trata daquilo que Marx denominou de metabolismo com a nacureza, que é insuperável, enquanto os homens existirem. Hoje parece, ao contrário, que entra em crise o processo de transformação do trabalho em dinheiro, o que Marx chamava de trabalho abscraco, isto é, o dispêndio de cérebro, neivos, músculos na forma social de dinheiro, e assim, a reprodução do homem no contexto de trabalhodinheiro-consumo de mercadorias-essa conexão do trabalho com
o dinheiro é histórica e de forma alguma supra-histórica. O segundo fato que parece paradoxal é que quando se falava antigamente de uma crise potencial ou de uma crise futura do capitalismo, falava-se da crise de valorização do dinheiro. Isto está rotalmenre fora de cogitação, parece que o capital não está
em crise, apenas o trabalho. lst0 é um paradoxo porque os dois são pólos de uma só e mesma relação. É cão impossível ao trabalho, o obs1roct11111 da modernidade, emancipar-se do capital e poder continuar sozinho a trabalhar pa..-a si, tal como era representado na religião de Estado no Leste Europeu ou também na visão fundamental do marxismo, quanto é impossível que o trabalho por si entre sozinho em crise e o capital continue a acumular. Acreditaria antes no dogma católico da transubstanciação ou em Virgem Maria que na possibilidade de valorii.ação do capital sem o uso da força de trabalho abstrato, puramente como
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1Ce111 tolovapor 10 CMapso
multiplicação de dinheiro. Aqui alguma coisa está errada. E quero agora ver isso mais de perto. Gostaria de delinear a análise desta crise em comum a partir de quatro palavras-chave: 1. Racionalização; 2. Globalização; 3. Terciarização; 4. Ficcionalização.
1. Raçionalização O que parece ser o cerne da crise é, no mais amplo sentido, a racionaliz.ação. Dela faz parte a automatização de processos de
produção, redução de linhas organizacionais, portanrn, aquela racionalização organizacional pela qual se racionaliza e elimina cão fortemente a força de trabalho em todo o território; isto causa um aumenco de produtividade em tal medida que ultrapassa
a capacidade de absorção de trabalho vivo pelo capital cm sua valorização, nos processos de produção empresariais. Esta constatação enfrenta a crítica de economistas de todas as orientações. Aumento da produtividade, diz.em eles, significa tamb~m ampliação dos mercados e, assim, mais cedo ou mais tarde, a superação da crise, porcanto, nova prosperidade e em algum momento a redução do desemprego em massa. Bem, penso que também essa argumentação se baseia em uma ilusão de ótica. Ela apenas considera a racionalização até o início da revolução microeletrônica, pressupondo que tudo continua da mesma velha maneira. Para a ~poca chamada fordisca, isto é, mais ou menos entre a lª Guerra Mundial e o final da década de 70, a racionalização - que somente nesta época se tor-
nou uma palavra-chave - realmente levava à ampliação do mercado e à absorção de pessoas pelos mercados de trabalho, pelo
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Com todo 'lll)OflO colapso 21
menos a médio e longo prazo. Por quê? Podemos apresentar isso facilmente na pessoa do próprio mister Henry Ford. Ford, como sabemos, aplicou os métodos de racionalização da nova ciência do uabalho, inventado neste período pelo engenheiro Frederick Taylor. Esses mécodos foram cada vez mais sofiscicados. Por exemplo, na Alemanha, desde a década de 20, existe uma "Curadoria de Racionalização da Economia Alemã", que cuida desses processos. Ford utilizou, como primeiro empresário, os métodos de racionalização de Taylor e iniciou, assim, um método de trabalho ao qual os executivos capitalistas até emão não haviam prestado a devida atenção. Os empresários descobriram que nas suas fábricas existiam espaços livres para a racionalização com métodos científicos, podendo assim evitar desperdícios de tempo e dinheiro - tir,v is mo11,y. Em vez de deixar a organização do processo de trabalho na mão dos mesues e encarregados, como havia sido feito acé este momento, começaram a utílizar os famosos cronômetros, analisando ciencificamence cada seqüencia de eventos nos mínimos detalhes. Essa foi a primeira inovação. A outra, como sabemos, foi a esteira. Esta invenção não veio contudo de Ford, mas foi. de modo característico, copiada dos matadouros de Chicago. Depois do abate, os pedaços dos bois e dos porcos eram distribuídos em esteiras, e esse processo (a esteira, não o abate) foi aplicado à força de crabalho humana, tal como Charlie Chaplin caricaturou maravilhosamente em seu filme Tempos ModPrnos. O que Henry Ford conseguiu com isso? Isso pode ser expresso por uma simples cifra. Até pouco antes da 1u Guerra
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1Com lado rapor ao colapso
Mundial uma fábrica automobilística produzía entre 6 a 10 mil auromóveis por ano. Isso já era feiro em grandes galpões de fábrica, mas de uma maneira artesanal e não racionalizada. Qual
foi então o ganho de racionalização de Ford com esses seus novos mét0dos? O número é cercamente impressionante. Foi impressionante na época e continua a ser hoje. No ano comercial de 1914 - os EUA ainda não tinham entrado na guerra - foram produzidos 248 mil automóveis. Isso teve o efeito de uma bomba, o mundo todo tomou um susto, a figura de Henry Ford tornou-se famosíssima em todos os cantos do mundo, os mais diversos teóricos e analistas logo falaram em /ordismo. Era uma nova onda, não apenas uma nova moda, mas o futuro do capitalismo, da economia de mercado e da produção industrial em geral. Ninguém menos do que Lênin interessava-se ardentemente pelos métodos fordistas e dizia: nós precisamos adotar esre último grito da ciência, da tecnologia e da racionalização ocidentais. Porque agora essa racionalização como tal não levava à crise, mas, a longo prazo (incluindo o boom. da .2ª Guerra Mundial), ao seu oposro? Para a produção de cada automóvel a racionalização significava a economia massiva de tempo. Mas a força de trabalho humano, dessa maneira, não foi racionalizada para desaparecer, mas antes a sua própria execução foi por assim dizer racionalizada. Charlie Chaplin utilizava-se dos movimentos manuais robocizados dos crabalhadorcs da esteira para criar um conceito imagético. E esse enorme salto que a racionalização permitiu em nome da produtividade levou a uma ampliação da produção tão forte que se necessitava não de menos, mas de mais craba-
1
Coa to4owapor ao cdapso 23
lhadores. Isso não teria sido possível se o automóvel, ao mesmo tempo, não tivesse dessa maneira ficado muito mais barato. Este foi o trunfo mais forte de Henry Ford: possibilitar a seus traba-
lhadores serem proprietários de um carro; isso naquela época parecia revolucionário, porque até então o automóvel era um objeto quase de luxo para os pla,boys. Com o método de produção de Henry Ford o aucomóvel se tornou excremamente mais barato e um artigo de consumo de massas. Isco na época era sensacional. Sabemos, hoje que o princípio do trabalho abstrato na economia de mercado em sua forma
fordisca também levou a acontecimentos catastróficos, com conseqüências destrutivas, cais como as do turismo e do consumo de massas. Esse impulso gigantesco causado pela racionalização da força de trabalho humano cm sua execução, ao lado da ampliação monstruosa da produção e do barateamento dos produtos, se realizou
em diversas ondas, mas não conseguiu evitar a crise econômica mundial; a maioria dos países não estava preparada para isso. Todavia tratava-se do início de uma nova era que nos EUA se iniciou antes da 2ª Guerra Mundial. Falava-se de um novo modo de vida, que Ford denominou - e isso hoje soa cínico - modo de vida racionalizado. Este processo não dá respeito somente à indústria aucomobilistica, logo outras indústrias se apropriaram dos novos métodos, a indústria de eletrodomésticos e de encrerenimentos eletrônicos, a indústria de alimentos, a distribuição de alimentos e de utilidades domésticas, o que hoje tem como conseqüência a eliminação das pequenas mercearias pelos grandes supermerca-
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JCom todo vapor II colapso
dos. Também a mecanização e industrialização da agricultura
foi fortemente impulsionada: não só os carros ficaram mais baracos mas também os tratores~ aliás Henry Ford desenvolveu um crator baraco e robusco que fazia quase tanto sucesso quan-
co seus automóveis. Tudo isso trouxe consigo uma mudança profunda. Não era apenas o modo de vida fordista que passava por um processo de difusão geral, mas pela primeira vez massas gigantescas de força de trabalho humana entravam no cálculo de rentabilidade desse processo de valorização da economia de mercado. Muitas vezes se esquece que acé meados do século 20 o sistema capitalista foi permeado por inúmeros setores de economia domtscica e agrícola pequenos produtores não-capitalistas de mercadorias. Só com a racionalização essa lógica de economia empresarial, com a utilização abstrata do homem e da natureza, pôde cobrir todo o território com sua enorme capacidade de absorção. Um sociólogo de Munique, Burkarc Lucz, fez o cálculo que esta racionalização ,cria significado, somente para a velha República Federal da Alemanha, de 8 a JO milhões de novos poscos de trabalho. Assim, foram integrados nos processos de trabalho, sem grandes com-
plicações, os fluxos de refugiados do Leste Europeu cm seguida à 2ª Guerra Mundial. Depois da década de 60, este mesmo processo de trabalho exigiu a participação dos assim chamados trabalhadores hóspedes do mediterrâneo, migrantes do sul. Por que a racionalização de hoje é exatamente o oposto disso ? Isto pode ser facilmente explicado. Com a ajuda da nova tecnologia microcletrônica a lacuna que o crabalhador humano ainda ocupava no sistema altamente racionalizado do fordismo,
em que elct ou ela assumia por assim dizer a tarefa de um robô chapliniano, esta lacuna será preenchida com os novos porenci• ais de automatização e comando. E não só isso: sabemos que se galgou um novo degrau da racionalização organizacional sob o lema da /ean prod11ction (produção cnxma). Com a lean prod11,ctio1,. com a ajuda do computador e da microclecrônica, racionalizamse e desaparecem muitas etapas. Todo o processo é visco como um processo geral unitário - na construção já está incluída o pia• nejamenco e a distribuição, o que leva à eliminação de atritos até então inevitáveis. Entre outras coisas, isso significa que até parcelas dos próprios executivos foram racionalizados. Somente nos níveis intermediários da administração da indústria automobilística alemã foram desempregados 40 mil pessoas nos últimos
dois anos. Aqui chega-se a um limite absoluto. Pois este processo continua, e estamos hoje apenas em seu início. Depois de racionalizar eliminando S milhões de empregos, iniciam-se, de ano em ano, campanhas do tipo o sn- lmmo,w no cnJtro, criando-se 30 mil novos postos de trabalho, afirmando-os como altamente qualificados e especialmente humanizados. E logo depois aparece a nova onda de racionalização. Aliis, a próxima jã está batendo à porta, basta que se leia a imprensa econômica e suas análises. Já existem novos potenciais de miniaturização que implicam possibilidades de racionalização até então consideradas impossíveis. A cibernética e a informática chamam isso de a mão na
caixa. Não é mais necessário pôr em ordem todos os instrumentos de trabalho, o robô pode ser programado para recirar corretamente as peças de uma caixa que não necessita estar previa-
261 Co.. toêvaponecolapH mente organizada. Esse desenvolvimento não se restringe à indústria. mas se amplia tambtm a outros setores: por exemplo, ao setor de serviços. ao secor bancário e o de seguros. Entre outras, este processo cem como conseqüência que a clientela deve se servir ela mesma. As nossas "Caixas Econômicas" (Sparkass,), por exemplo, já não mandam mais os extratos para sua casa, o próprio cliente tira seu saldo no caixa automático - o que há alguns anos atrás era totalmente impossível, isso ainda demandava trabalho. Mas se esse desenvolvimento concinuar assim, o desemprego estrutural cm massa nunca mais poderá ser invertido com um boom a la fordismo. O desemprego em massa se ampliará sem parar. Em algum momento chegaremos ao limite crítico e as redes sociais se romperão. Como financiar as redes sociais, quando o Estado que hoje ainda tem possibilidades de arrecadação passar a não ter mais? A relação trabalho/ renda monetária/consumo de mercadorias será posta em questão com o rompimento das redes sociais, sem falar em outras razões como por exemplo as razões ecológicas, que põem rudo em questão. 2. Glabaliza~a
Esca palavra-chave representa a globalização dos mercados e a produção de um capital mundial imediato. Esse desenvolvimento também é novo e baseia-se nas novas forças produtivas da microeletrônica. Tal desenvolvimenco permice buscar os mercados do mundo inteiro através dos satélites, que revela os novos pocenciais de comunicação e de comando. Por isso, este pro-
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Cem todo v• r ao colapse 2 7
cesso não pode ser encarado como as tradicionais relações exteriores de importação e exportação entre economias nacionais coerentes. Esses novos potenciais permitem perpassar ao pro~ cesso capitalista as cradicionais economias nacionais; rompe-se a coerência da economia nacional tradicional. Gostaria de ilusrrar isto arravés de um simples exemplo que pode ser potencializado para os setores centrais da indústria e dos serviços. Um escritor de Berlin Oriental me contou que uma peque-
na revista de cultura e teatro que deveria ser extinta pela Tre11lta11da11stalt • porque as assinaturas de alguns milhares de pessoas não parecia ser rentável. Todavia, encontraram um editor inglês para o mesmo número de assinaturas. A sua receita de rentabilidade era a seguinte: mandou imprimir a revista em Cingapura, fez a distribuição a partir do Caribc, onde os gastos
postais são inferiores. Isto é, continua a ser uma revista cultural alemã para um pequeno grupo de assinantes da Alemanha Oriental, impressa em Cingapura por um editor ingles, distribuída pelo Caribe, e mesmo assim é rentável. Agora podemos imaginar como isso é remável para os forne-
cedores da indústria automobilística e eletrônica. Nos últimos 10 a 15 anos, o comércio mundial aumentou mais do que a produção. Isto é um fenômeno que pode ser estranho à primeira vista, mas que pode ser explicado pela globalização. Pois muitas coisas que por seu lado puramente formal aparecem como importação e exportação de algumas nações são há muito tempo, na realidade, parte de uma divisão internacional de trabalho na • ln5tituiçáo responsável pela transição das empresa! da Alemanha Oriental para a economia de mercado (N.d.T).
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1Cem lodo vapor ao colapso
própria produção. Isto significa que essa produção internacionalizada ultrapassa as fronteiras da economia nacional. Vê-se há tempos tamb~m no setor dos mercados financeiros que os bancos nacionais não possuem mais controle sobre seu próprio dinheiro, que está vagabundeando pelas zonas cxtraterritoriais do mundo. Assim, por exemplo, são oferecidos créditos em marcos alemães, francos, dólares e ienes sem qualquer concrole dos respectivos bancos centrais. representando assim processos de criação de dinheiro fora dos mecanismos de concrole tradicionais. Isco pode ser ilustrado ainda mais: no final de 1994, por exemplo, a empresa modelo das instituições financeiras alemãs. o Dcutsche Bank, transferiu ostensivamente o seu setor de investimentos para Londres. Este fato resultou em uma grande gritaria e até o Banco Central alemão falou de uma postura desleal. Precisamos perguntar em que se baseia este conceito de lealdade. Parece que ele ainda se baseia na antiga economia nacional.
Uma pane da esquerda, que ainda pensa nas amigas categorias do imperialismo partindo de uma coerência nacional em que os executivos do mercado mundial, a classe política ou pelo menos as equipes de liderança ainda possuem uma estratégia em comum, tal como na l ª Guerra Mundial, está num beco sem saída. Esta interpretação tornou-se um anacronismo, porém de um modo ruim: o próprio processo capitalista ultrapassa as fronteiras das economias nacionais, acentuando, assim, a crise da sociedade do trabalho com a internacionalização dos mercados de trabalho. Mas a imernacionalização é possível somente para o capital: ele pode ir onde a força de trabalho é mais barata, mas também pode retirar rapidamente sua tenda, como no caso da
indústria cêxtil alemã: todos os postos de trabalho produtivos foram removidos para o sudeste asiático ou para a Europa Meridional, e agora atingido o grau elevado de racionalização, compensa lucrativamente transferir de volta a produção. Só que agora não voltam os postos de trabalho, mas uma produção imensamente automatizada. Estes processos avançam cada vez mais e sem nenhuma segurança. A adminiscração tenta por meio de global 0111so11râng transferir todas as atividades para qualquer lugar do mundo onde existam mercados, créditos. força de trabalho, impostos ou qualquer coisa favorável à rencabilidadc. Assim, despedem-se da lealdade da economia nacional e também dos processos sociais.
Há pessoas que tentam explicar isso com o conceito de nivelamento, que superaria a divisão econômica nacional entre países ricos e pobres. Existe ainda uma espécie de silhueta do Primeiro. Segundo e Terceiro Mundos, mas em grandes traços essa divisão está aos poucos nivelando-se; o Primeiro e o Terceiro Mundo estão em todos os lugares. Em Gelsenkirchen encontramos o Primeiro Mundo ao lado do Terceiro Mundo; na Bulgária e na Índia encontramos produtores de softwares competitivos, o Brasil exporta com êxito aviões militares e produtos químicos - sem falar do sudeste asiático -. ma:; logo ao lado começa a favela. Este é um mundo que segue o princípio da a1110-seme/ho11fa. como poderíamos definir quase ironicamente,
conforme o princípio da Teoria do Caos. As microestrucuras correspondem à macroestrutura, existindo as assim chamadas
ilhas de produtividade em cada cidade, cada bairro, cada país, em breve, em cada região do mundo, que sempre ainda podem
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3O CDm 1tdo opor íla colepso
produzir para o mercado mundial - e ao lado a favelização. Isto é obviamente o retrato de um só momento, o processo da crise
ainda continuará.
3. Terciariz■çio Com este termo referimo-nos à esperança de que a crise estrutural só atinja o setor industrial e que a ocupação possa ser transferida para o setor terciário, que, então, também deveria ser suporte da acumulação de capital. Em relação às esperanças neste setor somente uma observação: não me parece oferecer nenhuma resposta ao problema, e isco devido ao caráter deste setor. Os serviços comerciais em parce não representam um secor autônomo da acumulação capitalista, mas são desde sempre,
apesar da independência formal, capiraliscicamentc improdutivos e precisam ser alimentados pela mais-valia industrial. Marx demonstrou isso para o setor de comércio e dos bancos. A indústria do tempo livre e do turismo, por sua vez, é puro luxo dos ainda-vencedores do mercado mundial. A maioria da população mundial, principalmencc dos países de salários baixos e das regiões já desconectadas, não faz turismo. Como fenômeno de massas, o turismo depende do salário em massa da indústria dos poucos países centrais. Se estas rendas reduzem-se rapidameme, o turismo cm massas entra cm colapso, assim como os processos de distribuição que nele se baseiam de norte a sul, t2nto na Europa quanco em nível global. Agora temos uma espécie de turismo de crise, não só pelos danos intensivos por ele provocados, mas também pelo faro de que as pessoas já rebai-
Ctm rodo vaper ao cola,10
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xam a sua qualidade de alimentação para poderem permitir-se um certo padrão durante as férias. Isco vai explodir nos próximos anos se não surgir um novo boom industrial, o que porém não é de se esperar. Parcicularmente mal vão grande parfe dos serviços estatais: a assim chamada infra-estrucura, da canalização dos esgotos às universidades. Tudo isso não é produçãu moWI'" ,
Tl~ · (24) 22J7-3 76?
Robert Kurz, sociólogo alemão, j6 é conhecido na Brasil através de alguns de seus lvros, como OColapsa da Madarniz1çia, ORatarna de Patemkim fEd. Paz a TenaJ, Os Oltim1s Camll1181 (Ed. Vozes). Neste volume oleitor encontra t&Jtos deinquestionâvelreluincia ainda não pm6cados an livros e alguns de seus artigos publicados no iomal Falha de Sla Paula. No p.-curso da suas ané1ises não encontramos nenhum tipo de economicismo. politicismo ou culturalismo. mas uma reflexão critica sobra a totafidade negativa da socialização paio valar e sua crisa fundamental.