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Portuguese Pages 1308 Year 2017
O autor, os tradutores e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Não é responsabilidade da editora nem do autor a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso desta publicação. Apesar dos melhores esforços dos autores, dos tradutores, do editor e dos revisores, é inevitável que surjam erros no texto. Assim, são bem-vindas as comunicações de usuários sobre correções ou sugestões referentes ao conteúdo ou ao nível pedagógico que auxiliem o aprimoramento de edições futuras. Os comentários dos leitores podem ser encaminhados à LTC — Livros Técnicos e Científicos Editora pelo e-mail [email protected]. QUANTITATIVE CHEMICAL ANALYSIS, NINTH EDITION First published in the United States by W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2016 by W. H. Freeman and Company All Rights Reserved. ISBN: 978-1-4641-3538-5 Publicado originalmente nos Estados Unidos por W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2016 by W. H. Freeman and Company Todos os Direitos Reservados. Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2017 by LTC — Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da editora. Travessa do Ouvidor, 11 Rio de Janeiro, RJ – CEP 20040-040 Tels.: 21-3543-0770 / 11-5080-0770 Fax: 21-3543-0896 [email protected] www.grupogen.com.br Designer de capa: Vicki Tomaselli Imagens de capa: (capa) © The Natural History Museum/The Image Works Produção digital: Geethik (quarta capa) © Pascal Goetgheluck/Science Source CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L26a 9. ed. Harris, Daniel C. Análise química quantitativa / Daniel C. Harris, Colaborador: Charles A. Lucy ; tradução Júlio Carlos Afonso, Oswaldo Esteves Barcia. – 9. ed. – Rio de Janeiro : LTC, 2017. 28 cm. Tradução de: Quantitative chemical analysis Apêndice Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-216-3451-5
1. Química analítica. I. Lucy, Charles A. II. Afonso, Júlio Carlos. III. Barcia, Oswaldo Esteves. IV. Título. 17-43290
CDD: 543 CDU: 543
0 O Processo Analítico 1 Medidas Químicas 2 Ferramentas do Ofício 3 Erro Experimental 4 Estatística 5 Certificação de Qualidade e Métodos de Calibração 6 Equilíbrio Químico 7 Vamos Começar as Titulações 8 Atividade e o Tratamento Sistemático do Equilíbrio 9 Equilíbrios Ácido-Base Monopróticos 10 Equilíbrio Ácido-Base Poliprótico 11 Titulações Ácido-Base 12 Titulações com EDTA 13 Tópicos Avançados em Equilíbrio 14 Fundamentos de Eletroquímica 15 Eletrodos e Potenciometria 16 Titulações Redox 17 Técnicas Eletroanalíticas 18 Fundamentos de Espectrofotometria 19 Aplicações da Espectrofotometria 20 Espectrofotômetros 21 Espectroscopia Atômica 22 Espectrometria de Massa 23 Introdução às Separações Analíticas 24 Cromatografia a Gás 25 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência 26 Métodos Cromatográficos e Eletroforese Capilar 27 Análise Gravimétrica e Análise por Combustão 28 Preparo de Amostras Notas e Referências Glossário Apêndices Soluções dos Exercícios
Respostas dos Problemas Índice
CONEXÕES: Maria Goeppert Mayer Prefácio
0
O Processo Analítico
Como um Teste de Gravidez Caseiro Funciona?
0-1 0-2
O Trabalho dos Químicos Analíticos Etapas Gerais em uma Análise Química
BOXE 0-1 Construindo uma Amostra Representativa
1
Medidas Químicas
Medidas Bioquímicas com um Nanoeletrodo
2
1-1
Unidades do SI
1-2 1-3
Unidades de Concentração Preparo de Soluções
1-4
Cálculos Estequiométricos para Análise Gravimétrica
Ferramentas do Ofício
Microbalança de Cristal de Quartzo Mede uma Base Adicionada ao DNA
2-1
Segurança, Ética no Manuseio de Produtos Químicos e de Resíduos
2-2 2-3
O Caderno de Laboratório A Balança Analítica
2-4 2-5
Buretas Balões Volumétricos
2-6 2-7
Pipetas e Seringas Filtração
2-8 Secagem 2-9 Calibração de Vidraria Volumétrica 2-10 Introdução ao Excel® da Microsoft 2-11 Fazendo Gráficos com o Excel PROCEDIMENTO-PADRÃO Calibração de uma Bureta de 50 mL
3
Erro Experimental
Erro Experimental
3-1 3-2
Algarismos Significativos Algarismos Significativos na Aritmética
3-3
Tipos de Erro
BOXE 3-1 Estudo de Caso em Ética: Erro Sistemático na Determinação do Ozônio BOXE 3-2 Materiais de Referência Certificados
3-4 3-5
Propagação da Incerteza a Partir do Erro Aleatório Propagação da Incerteza a Partir do Erro Sistemático
BOXE 3-3 Massas Atômicas dos Elementos
4
Estatística
A Contagem das Minhas Hemácias Está Alta Hoje?
4-1 4-2
A Distribuição Gaussiana Comparação dos Desvios-Padrão com o Teste F
BOXE 4-1 Escolhendo a Hipótese Nula em Epidemiologia
4-3 4-4
Intervalos de Confiança Comparação entre Médias Utilizando o Teste t de Student
4-5 4-6
Testes t com uma Planilha Eletrônica Teste de Grubbs para Valores Dispersos
4-7 4-8
O Método dos Mínimos Quadrados Curvas de Calibração
BOXE 4-2 Uso de uma Curva de Calibração Não Linear
4-9 5
Uma Planilha para o Método dos Mínimos Quadrados
Certificação de Qualidade e Métodos de Calibração
A Necessidade da Certificação de Qualidade
5-1
Fundamentos da Certificação da Qualidade
BOXE 5-1 Implicações Médicas de Resultados Falsos-Positivos
5-2
Validação de um Procedimento Analítico
BOXE 5-2 Gráficos de Controle BOXE 5-3 A Trombeta de Horwitz: Variação na Precisão Interlaboratorial
6
5-3
Adição-Padrão
5-4
Padrões Internos
Equilíbrio Químico
Equilíbrio Químico no Meio Ambiente
6-1 6-2 6-3
A Constante de Equilíbrio Equilíbrio e Termodinâmica Produto de Solubilidade
BOXE 6-1 A Solubilidade Não Depende Só do Produto de Solubilidade DEMONSTRAÇÃO 6-1
6-4
Efeito do Íon Comum
Formação de Complexos
BOXE 6-2 Notação para Constantes de Formação
6-5 6-6 6-7
Ácidos e Bases Próticos pH Força dos Ácidos e Bases
DEMONSTRAÇÃO 6-2
O Chafariz de HCl
BOXE 6-3 O Comportamento Estranho do Ácido Fluorídrico BOXE 6-4 Ácido Carbônico
7
Vamos Começar as Titulações
Titulação em Marte
7-1
Titulações
BOXE 7-1 Reagentes Químicos e Padrões Primários
7-2 7-3
Cálculos em Titulações Curvas de Titulação por Precipitação
7-4 7-5
Titulação de uma Mistura Cálculo das Curvas de Titulação Usando uma Planilha Eletrônica
7-6
Detecção do Ponto Final
DEMONSTRAÇÃO 7-1
8
Titulação de Fajans
Atividade e o Tratamento Sistemático do Equilíbrio
Íons Hidratados
8-1
O Efeito da Força Iônica na Solubilidade dos Sais
DEMONSTRAÇÃO 8-1
8-2
Efeito da Força Iônica na Dissociação Iônica
Coeficientes de Atividade
BOXE 8-1 Sais com Íons de Carga $ |2| Não se Dissociam Totalmente em Íons
8-3 8-4
O pH em Termos da Atividade Tratamento Sistemático do Equilíbrio
BOXE 8-2 Balanço de Massa para o Carbonato de Cálcio em Rios
8-5 9
Aplicação do Tratamento Sistemático do Equilíbrio
Equilíbrios Ácido-Base Monopróticos
Medindo o pH Dentro de Compartimentos Celulares
9-1
Ácidos e Bases Fortes
BOXE 9-1 O HNO3 Concentrado Está Apenas Ligeiramente Dissociado
9-2 9-3
Ácidos e Bases Fracos Equilíbrios em Ácidos Fracos
BOXE 9-2 Tingimento de Tecidos e o Grau de Dissociação
9-4 9-5
Equilíbrios em Bases Fracas Tampões
BOXE 9-3 Forte Mais Fraco Reagem Completamente DEMONSTRAÇÃO 9-1
Como Funciona um Tampão
10 Equilíbrio Ácido-Base Poliprótico Dióxido de Carbono no Ar
10-1 Ácidos e Bases Dipróticos BOXE 10-1 Dióxido de Carbono no Oceano BOXE 10-2 Aproximações Sucessivas
10-2 Tampões Dipróticos 10-3 Ácidos e Bases Polipróticos 10-4 Qual É a Espécie Principal? 10-5 Equações de Composição Fracionária BOXE 10-3 Constantes de Microequilíbrio
10-6 pH Isoelétrico e Isoiônico BOXE 10-4 Focalização Isoelétrica
11 Titulações Ácido-Base Titulação Ácido-Base do RNA
11-1 Titulação de uma Base Forte com um Ácido Forte 11-2 Titulação de Ácido Fraco com Base Forte 11-3 Titulação de Base Fraca com Ácido Forte 11-4 Titulações em Sistemas Dipróticos 11-5 Determinação do Ponto Final com um Eletrodo de pH BOXE 11-1 Alcalinidade e Acidez
11-6 Determinação do Ponto Final por Meio de Indicadores DEMONSTRAÇÃO 11-1 Indicadores e a Acidez do CO2
11-7 Notas Práticas BOXE 11-2 Qual É o Significado de um pH Negativo?
11-8 Análise de Nitrogênio pelo Método de Kjeldahl BOXE 11-3 Análise de Nitrogênio pelo Método de Kjeldahl: A Química por Trás da Manchete
11-9 O Efeito Nivelador 11-10 Cálculo de Curvas de Titulação por Meio de Planilhas Eletrônicas PROCEDIMENTO-PADRÃO Preparação de Padrões de Ácido e de Base
12 Titulações com EDTA Terapia de Quelação e Talassemia
12-1 Complexos Metal-Quelato 12-2 EDTA 12-3 Curvas de Titulação com EDTA 12-4 Fazendo os Cálculos com uma Planilha Eletrônica 12-5 Agentes de Complexação Auxiliares BOXE 12-1 A Hidrólise de Íons Metálicos Diminui o Valor da Constante de Formação Efetiva de Complexos com EDTA
12-6 Indicadores para Íons Metálicos DEMONSTRAÇÃO 12-1 Mudanças de Cor em Indicadores para Íons Metálicos
12-7 Técnicas de Titulação com EDTA BOXE 12-2 A Dureza da Água
13 Tópicos Avançados em Equilíbrio Chuva Ácida
13-1 Abordagem Geral para Sistemas Ácido-Base 13-2 Coeficientes de Atividade 13-3 Dependência da Solubilidade em Relação ao pH 13-4 Analisando as Titulações Ácido-Base com Gráficos de Diferença 14 Fundamentos de Eletroquímica Bateria de Íon Lítio
14-1 Conceitos Básicos BOXE 14-1 Lei de Ohm, Condutância e Fio Condutor Molecular
14-2 Células Galvânicas DEMONSTRAÇÃO 14-1 A Ponte Salina Humana
BOXE 14-2 Célula de Combustível Hidrogênio-Oxigênio BOXE 14-3 A Bateria de Chumbo Ácida
14-3 Potenciais-Padrão 14-4 A Equação de Nernst BOXE 14-4 O Valor de E° e da Diferença de Potencial da Célula Eletroquímica Não Dependem da Maneira como Escrevemos a Reação da Célula BOXE 14-5 Diagramas de Latimer: Como Determinar o Valor de E° para uma Nova Meia-Reação
14-5 A Constante de Equilíbrio e o Valor de E° BOXE 14-6 Concentrações na Célula Eletroquímica em Operação
14-6 Células Eletroquímicas como Sondas Químicas 14-7 Os Bioquímicos Utilizam E°′ 15 Eletrodos e Potenciometria Sequenciamento do DNA por Contagem de Prótons
15-1 Eletrodos de Referência 15-2 Eletrodos Indicadores 15-3 O que É um Potencial de Junção? DEMONSTRAÇÃO 15-1 Potenciometria com uma Reação Oscilante
15-4 Como Funcionam os Eletrodos Íon-Seletivos 15-5 Medida do pH com um Eletrodo de Vidro BOXE 15-1 Erros Sistemáticos na Medida do pH da Água de Chuva: O Efeito do Potencial de Junção
15-6 Eletrodos Íon-Seletivos BOXE 15-2 Medida do Coeficiente de Seletividade para um Eletrodo Íon-Seletivo BOXE 15-3 Como o Perclorato Foi Descoberto em Marte? BOXE 15-4 Eletrodo Íon-Seletivo Contendo Polímero Eletricamente Condutor para um Imunoensaio Tipo “Sanduíche”
15-7 Usando Eletrodos Íon-Seletivos 15-8 Sensores Químicos de Estado Sólido 16 Titulações Redox Análise Química de Supercondutores de Alta Temperatura
16-1 A Forma de uma Curva de Titulação Redox BOXE 16-1 Muitas Reações Redox São Reações de Transferência de Átomos
16-2 Determinação do Ponto Final DEMONSTRAÇÃO 16-1 Titulação Potenciométrica do Fe2+ com MnO4–
16-3 Ajuste do Estado de Oxidação do Analito 16-4 Oxidação com o Permanganato de Potássio 16-5 Oxidação com Ce4+ 16-6 Oxidação com Dicromato de Potássio 16-7 Métodos Envolvendo Iodo BOXE 16-2 Análise de Carbono Presente no Meio Ambiente e da Demanda de Oxigênio BOXE 16-3 Análise Iodométrica de Supercondutores de Alta Temperatura
17 Técnicas Eletroanalíticas Quão Doce Ele É!
17-1 Fundamentos da Eletrólise DEMONSTRAÇÃO 17-1 Escrita Eletroquímica BOXE 17-1 Reações de Metais em Degraus Atômicos
17-2 Análises Eletrogravimétricas 17-3 Coulometria 17-4 Amperometria BOXE 17-2 Eletrodo de Clark para o Oxigênio BOXE 17-3 O que É um “Nariz Eletrônico”?
17-5 Voltametria BOXE 17-4 A Dupla Camada Elétrica BOXE 17-5 Biossensor Baseado em Aptâmero para Uso Clínico
17-6 Titulação de H2O pelo Método de Karl Fischer 18 Fundamentos de Espectrofotometria O Buraco na Camada de Ozônio
18-1 Propriedades da Luz 18-2 Absorção de Luz BOXE 18-1 Por que Existe uma Relação Logarítmica entre a Transmitância e a Concentração? DEMONSTRAÇÃO 18-1 Espectros de Absorção
18-3 Medindo a Absorbância 18-4 A Lei de Beer na Análise Química 18-5 Titulações Espectrofotométricas 18-6 O que Acontece Quando uma Molécula Absorve Luz? 18-7 Luminescência BOXE 18-2 A Fluorescência ao Nosso Redor BOXE 18-3 Espalhamentos de Rayleigh e de Raman BOXE 18-4 Concepção de uma Molécula para Detecção por Fluorescência
19 Aplicações da Espectrofotometria Biossensores de Transferência de Energia de Ressonância de Fluorescência
19-1 Análise de uma Mistura 19-2 Determinação do Valor de uma Constante de Equilíbrio 19-3 O Método da Variação Contínua 19-4 Análise por Injeção de Fluxo e Injeção Sequencial 19-5 Imunoensaios 19-6 Sensores Baseados no Desaparecimento da Luminescência BOXE 19-1 Conversão de Luz em Eletricidade BOXE 19-2 Interconversão de Energia
20 Espectrofotômetros Espectroscopia de Decaimento em Cavidade
20-1 Lâmpadas e Lasers: Fontes de Radiação BOXE 20-1 Radiação de Corpo Negro e o Efeito Estufa
20-2 Monocromadores 20-3 Detectores BOXE 20-2 O Fotorreceptor Mais Importante BOXE 20-3 Medida de CO2 em Mauna Loa por Absorção Não Dispersiva de Infravermelho
20-4 Sensores Ópticos 20-5 Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier 20-6 Lidando com o Ruído 21 Espectroscopia Atômica Um Quebra-Cabeça em Antropologia
21-1 Uma Visão Geral BOXE 21-1 Análise de Mercúrio por Fluorescência Atômica em Amostras Vaporizadas a Frio
21-2 Atomização: Chamas, Fornos e Plasmas BOXE 21-2 Determinação de Sódio Usando um Fotômetro com um Bico de Bunsen
21-3 Como a Temperatura Afeta a Espectroscopia Atômica 21-4 Instrumentação 21-5 Interferência 21-6 Amostragem por Ablação a Laser 21-7 Plasma Acoplado Indutivamente-Espectrometria de Massa (ICP-MS) BOXE 21-3 Espectrometria de Emissão Atômica em Marte
21-8 Fluorescência de Raios X (FRX) 22 Espectrometria de Massa Electrospray de Gotículas
22-1 O que é Espectrometria de Massa? BOXE 22-1 Massa Molecular e Massa Nominal BOXE 22-2 Como Íons de Massas Diferentes São Separados por um Campo Magnético
22-2 Oh, Espectro de Massa, Fale Comigo! BOXE 22-3 Espectrometria de Massa por Razão Isotópica e Temperatura Corporal dos Dinossauros
22-3 Tipos de Espectrômetros de Massa 22-4 Cromatografia-Espectrometria de Massa 22-5 Técnicas de Cromatografia-Espectrometria de Massa BOXE 22-4 Ionização por Dessorção a Laser com Auxílio de Matriz BOXE 22-5 Fazendo Elefantes Voarem (Mecanismos de Electrospray de Proteínas)
22-6 Amostragem ao Ar Livre para Espectrometria de Massa 22-7 Espectrometria de Mobilidade Iônica 23 Introdução às Separações Analíticas O Leite Faz um Bebê Saudável
23-1 Extração por Solvente
DEMONSTRAÇÃO 23-1 Extração com Ditizona
23-2 O que É Cromatografia? BOXE 23-1 Éteres de Coroa e Agentes de Transferência de Fase
23-3 A Cromatografia sob o Ponto de Vista de um Bombeiro Hidráulico 23-4 Eficiência de Separação 23-5 Por que as Bandas Alargam BOXE 23-2 Descrição Microscópica da Cromatografia
24 Cromatografia a Gás Doping nos Esportes
24-1 O Processo de Separação na Cromatografia a Gás BOXE 24-1 Fases Quirais para Separação de Isômeros Ópticos
24-2 Injeção da Amostra 24-3 Detectores BOXE 24-2 Coluna Cromatográfica em um Chip
24-4 Preparo da Amostra 24-5 Desenvolvimento de Métodos em Cromatografia a Gás BOXE 24-3 Cromatografia a Gás Bidimensional
25 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Paleotermometria: como Determinar a Série Histórica das Temperaturas do Oceano
25-1 O Processo Cromatográfico BOXE 25-1 Colunas de Cristais Coloidais de Um Milhão de Pratos Operando em Regime de Escorregamento (“Slip-Flow”) BOXE 25-2 Estrutura da Interface Solvente-Fase Estacionária BOXE 25-3 Tecnologia “Verde”: Cromatografia de Fluido Supercrítico
25-2 A Injeção e a Detecção na CLAE 25-3 Desenvolvimento de Métodos para Separações em Fase Reversa 25-4 Separações com Gradiente 25-5 Use um Computador! BOXE 25-4 Escolhendo as Condições do Gradiente e a Escala do Gradiente
26 Métodos Cromatográficos e Eletroforese Capilar Perfil de DNA
26-1 Cromatografia de Troca Iônica 26-2 Cromatografia Iônica BOXE 26-1 Surfactantes e Micelas
26-3 Cromatografia de Exclusão Molecular 26-4 Cromatografia de Afinidade BOXE 26-2 Impressão de Moléculas
26-5 Cromatografia de Interação Hidrofóbica 26-6 Fundamentos da Eletroforese Capilar 26-7 Uso da Eletroforese Capilar 26-8 Laboratório em um Chip: Perfil de DNA
27 Análise Gravimétrica e Análise por Combustão A Escala de Tempo Geológica e a Análise Gravimétrica
27-1 Um Exemplo de Análise Gravimétrica 27-2 Precipitação DEMONSTRAÇÃO 27-1 Coloides, Diálise e Microdiálise BOXE 27-1 Atração de van der Waals
27-3 Exemplos de Cálculos Gravimétricos 27-4 Análise por Combustão 28 Preparo de Amostras Consumo de Cocaína? Pergunte ao Rio
28-1 Estatísticas de Amostragem 28-2 Dissolvendo Amostras para Análise 28-3 Técnicas de Preparação da Amostra Notas e Referências NR1 Glossário GL1 Apêndices AP1
A Logaritmos, Expoentes e Gráficos de Retas B Propagação da Incerteza C Análise da Variância e Eficiência no Planejamento Experimental D Números de Oxidação e Balanceamento de Equações Redox E Normalidade F Produtos de Solubilidade G Constantes de Dissociação Ácidas H Potenciais-Padrão de Redução I
Constantes de Formação
J
Logaritmo da Constante de Formação para a Reação M(aq) + L(aq) ⇌ 1 ML(aq)
K Padrões Analíticos L DNA e RNA Soluções dos Exercícios Respostas dos Problemas
Domínio público / Nobel Foundation.
Maria Goeppert Mayer (1906-1972) foi a segunda e, até agora, a última mulher (depois de Marie Curie, 1867-1934) a receber o Prêmio Nobel de Física. Ela compartilhou o prêmio de 1963 com Hans Jensen por suas teorias independentes sobre a estrutura em camadas do núcleo atômico, publicadas em 1949. O que ela tem a ver com este livro? A quarta capa mostra evidência que a temperatura corporal de certos dinossauros era semelhante àquela de animais de sangue quente. Em 1947, ela e Jacob Bigeleisen publicaram o artigo “Calculations of Equilibrium Constants for Isotopic Exchange Reactions”.* Esse artigo foi um dos estudos que levaram à criação da paleotermometria – o emprego de isótopos para deduzir a temperatura na qual objetos como os dentes de um dinossauro foram formados. Da Física Matemática à Química Analítica e aos dinossauros existe uma linha de conexão. Maria nasceu de uma sexta geração de professores da Universidade de Göttingen, Alemanha. † Desde a sua primeira infância, ela sabia que teria uma educação universitária, mas havia poucas perspectivas para a educação de mulheres. Ela frequentou uma pequena escola particular para meninas, que fechou antes que seus estudos terminassem. Contrariando todos os conselhos, ela fez e foi aprovada no exame de seleção para a Universidade de Göttingen, também na Alemanha, em 1924. Sua primeira apresentação à mecânica quântica por Max Born a atraiu fortemente. Ela recebeu seu título de doutorado em 1930, com três laureados com Prêmio Nobel em sua banca examinadora. Maria se casou com Joe Mayer, um físico-químico formado no Caltech e em Berkeley, Estados Unidos (EUA), que fazia seu pós-doutorado e estava alojado na residência da família Goeppert. Eles se mudaram para os EUA, onde Joe iniciou uma brilhante carreira nas universidades Johns Hopkins, de Columbia e de Chicago. Em 1940, eles foram coautores da obra Statistical Mechanics, livro-texto que foi utilizado por mais de 40 anos. Maria era considerada igualmente talentosa, mas não lhe foi oferecido um emprego em universidades apesar de ter ministrado cursos, orientado alunos de pós-graduação, atuado em comitês e preparado exames de pós-graduação – tudo isso como voluntária! Seu primeiro trabalho pago como professora, na Universidade da Califórnia, em San Diego, veio em 1960, quatro anos após sua eleição para a Academia Nacional de Ciências.
____________ *J. Bigeleisen e M. G. Mayer. J. Chem. Phys. 1947, 15, 261. †
S. B. McGrayne. Nobel Prize Women in Science (Washington, DC: Joseph Henry Press, 1998).
Objetivos Deste Livro Meus objetivos são fornecer um sólido entendimento físico dos princípios da Química Analítica e mostrar como esses princípios são aplicados na Química e em disciplinas relacionadas – especialmente em Ciências da Vida e Ciência Ambiental. Tentei apresentar os assuntos de uma forma rigorosa, compreensível e interessante, lúcida o suficiente para profissionais não químicos, mas contendo a profundidade necessária para estudantes de graduação em estágio avançado. Este livro cresceu a partir de um curso introdutório de Química Analítica que eu ministrava principalmente para não químicos na Universidade da Califórnia, em Davis, e de um curso para alunos do terceiro ano de Química no Franklin and Marshall College em Lancaster, Pensilvânia (ambas as instituições nos EUA). O que Há de Novo? Começando pela temperatura corporal dos dinossauros na quarta capa deste livro, a Química Analítica propõe questões interessantes em um mundo mais amplo. O desenho que antecede a página de apresentação deste livro representa uma conexão entre essa capa e as realizações humanas no campo da Física que nos permitem deduzir a temperatura corporal a partir da composição isotópica dos dentes. A história de Maria Goeppert Mayer é uma lição para nós de como as mulheres na Ciência eram tão maltratadas até há pouco tempo. Nesta edição, a introdução às titulações foi consolidada no Capítulo 7. As titulações ácido-base, com EDTA, redox e espectrofotométricas ainda são tratadas em outros capítulos. O poder de uma planilha eletrônica é revelado no Capítulo 8 para atingir soluções numéricas de problemas de equilíbrio e no Capítulo 19 para calcular constantes de equilíbrio a partir de dados espectrofotométricos. O Capítulo 21, dedicado à espectroscopia atômica, possui uma nova seção sobre fluorescência de raios X como uma ferramenta analítica de rotina. O Capítulo 22, sobre espectrometria de massa, foi expandido para aumentar o nível de detalhamento e ajudar a se manter atualizado com os novos desenvolvimentos. O Capítulo 27 apresenta uma extraordinária sequência de microfotografias mostrando o início da cristalização de um precipitado, enquanto três novos métodos de preparação de amostras foram incluídos no Capítulo 18. Já o Apêndice B oferece um olhar mais profundo sobre a propagação de incerteza e o Apêndice C trata da análise de variância.
BOXE 15-3 Medindo sulfato em Marte por meio da titulação com bário [Mars Lander: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/Max Planck Institute.]
FIGURA DO PROBLEMA 7-21 Tufts University.]
Titulação de precipitação de sulfato de bário na Phoenix Mars Lander [Cortesia de S. Kounaves,
Pela primeira vez desde quando comecei a trabalhar com este livro em 1978 admiti um autor colaborador para parte desta revisão. O Professor Chuck Lucy, da Universidade de Alberta, compartilhou a sua experiência profissional e em ensino conosco nos Capítulos 23 a 26 sobre cromatografia e eletroforese capilar. Ele aprimorou a discussão acerca da eficiência da separação e dos mecanismos de espalhamento das bandas. A ênfase é direcionada aos tipos de interação entre os solutos e a fase estacionária. Os tipos de polaridade do solvente são distinguidos na cromatografia líquida. São dados exemplos a respeito da seleção da fase estacionária e do pH para separações por cromatografia líquida. A eletroforese tem uma maior ênfase nos efeitos do tamanho do íon e do pH sobre a mobilidade. Chuck contribuiu nesses capítulos com as visões de um especialista na ciência da separação.
BOXE 17-1 Dissolução anódica de degraus atômicos de ouro [R. Wen, A. Lahiri, M. Azhagurajan, S. Kobayashi and K. Itaya, “A New in situ Optical Microscope with Single Atomic Layer Resolution for Observation of Electrochemical Dissolution of Au(111)”, J Am Chem Soc 2010, 132, 13657, Figura 2. Reproduzida sob permissão © 2010 American Chemical Society.]
Novas aplicações apresentadas em boxes incluem um teste doméstico para gravidez (abertura do Capítulo 0), observação da adição de uma base ao DNA por meio de uma microbalança de cristal de quartzo (abertura do Capítulo 2), implicações médicas de resultados falso-positivos (Boxe 5-1), uma titulação em Marte (abertura do Capítulo 7), microconstantes de equilíbrio (Boxe 10-3), titulação ácido-base de RNA para fornecer evidências para o mecanismo de catálise por RNA (abertura do Capítulo 11), a célula de combustível hidrogênio-oxigênio e o acidente com a missão Apollo 13 (Boxe 14-2), a bateria de chumbo ácida (Boxe 14-3), o sequenciamento de alto rendimento do DNA por contagem de prótons (abertura do Capítulo 15), como o perclorato foi descoberto em Marte (Boxe 15-3), um eletrodo seletivo a íons com um polímero condutor para um imunoensaio “sanduíche” (Boxe 15-4), reação de metal em degraus atômicos (Boxe 17-1), um aptâmero biossensor para uso clínico (Boxe 17-5), fotometria de chama com bico de Bunsen (Boxe 21-2), espectroscopia de emissão atômica em Marte (Boxe 21-3), fazendo elefantes voarem (mecanismo de electrospray de proteínas, Boxe 22-5), análise cromatográfica de leite materno (abertura do Capítulo 23), doping em esportes (abertura do Capítulo 24), cromatografia a gás bidimensional (Boxe 24-3), separação com milhões de pratos por cromatografia de fluxo deslizante (Boxe 25-1), perfil forense de DNA (abertura do Capítulo 26 e Seção 26-8) e determinação da
atração de van der Waals (Boxe 27-1). Novos encartes em cores ilustram o efeito da força iônica na dissociação de íons (Prancha 4), o mecanismo de cromatografia por partição do analito entre fases (Prancha 30) e a separação de corantes por extração em fase sólida (Prancha 36).
CAPÍTULO 24 IMAGEM DE ABERTURA Separação, por cromatografia a gás bidimensional-espectrometria de massa de razão isotópica por combustão, para detectar doping de um atleta. [Informação de H. J. Tobias, Y. Zhang, R. J. Auchus, J. T. Brenna, “Detection of Synthetic Testosterone Use by Novel Comprehensive Two-Dimensional Gas Chromatography Combustion Isotope Ratio Mass Spectrometry,” Anal Chem 2011, 83, 7158, Figure 4A. Reproduzida sob permissão © 2011, American Chemical Society.]
As alterações pedagógicas nesta edição incluem uma maior discussão da diluição em série para preparar padrões nos Capítulos 2, 3 e 18, a distinção entre incerteza-padrão e desvio-padrão em Estatística, uma maior discussão do teste de hipótese em Estatística, o emprego do teste F antes do teste t para comparação de médias, o emprego de um tratamento gráfico para padrões internos, ênfase no fluxo de elétrons na direção do eletrodo mais positivo em células eletroquímicas, emprego de observações em nanoescala para examinar fenômenos como forças de van der Waals e a estrutura amorfa do vidro em um eletrodo de pH, suavização polinomial de dados ruidosos, discussão estendida da espectrometria de massa de tempo de voo e separações por mobilidade iônica, discussão melhorada do desenvolvimento de métodos em cromatografia líquida, emprego de um simulador online gratuito de cromatografia líquida, introdução a duas questões de pesquisa na literatura em cromatografia, e obtenção de um maior proveito do poder do Excel para análise numérica. O Boxe 3-3 explica como eu escolhi lidar com intervalos de massa atômica na última versão da tabela periódica dos elementos.
CAPÍTULO 9 EXEMPLO DA SEÇÃO 9-3
Características Os tópicos são introduzidos e ilustrados com exemplos concretos e interessantes. Além do seu valor pedagógico, as aberturas dos capítulos, boxes, demonstrações e pranchas em cores têm a intenção de aliviar o peso de um assunto muito complexo. As aberturas dos capítulos mostram a relevância da Química Analítica para o mundo real e para outras áreas da Ciência. Não posso
ir até a sua sala de aula para apresentar as demonstrações químicas, mas posso lhe dizer algumas das minhas demonstrações favoritas e mostrar como elas são por meio das pranchas em cores localizadas próximo à metade deste livro. Os boxes discutem tópicos interessantes relacionados com o que você está estudando ou ampliar pontos mostrados no texto.
FIGURA 8-9 Planilha para a solubilidade da azida de tálio sem o uso de coeficientes de atividade. As estimativas iniciais, pN3– = 2 e pOH2 = 4, aparecem nas células B6 e B7. A partir desses dois números, a planilha calcula as concentrações nas células C6:C10. A rotina Solver então varia pN3– e pOH– nas células B6 e B7 até que os balanços de carga e massa na célula F8 sejam satisfeitos.
Resolução de Problemas Ninguém pode fazer seu aprendizado por você. Os dois meios mais importantes para dominar este curso são trabalhar os problemas e ganhar experiência em um laboratório. Os exemplos resolvidos são a principal ferramenta pedagógica para ensinar a resolução de problemas e ilustrar como aplicá-los ao que você acabou de ler. Cada exemplo resolvido termina com um Teste a você mesmo, ao qual você é encorajado a responder aplicando o que você aprendeu no exemplo. Existem Exercícios e Problemas ao final de cada capítulo. Exercícios são um conjunto mínimo de problemas que aplicam a maior parte dos conceitos principais de cada capítulo. Por favor, se dedique intensamente a cada exercício antes de consultar a solução na parte final do livro. Os problemas ao final de cada capítulo cobrem o conteúdo completo do livro. Respostas curtas se encontram ao final do livro. As planilhas eletrônicas são indispensáveis para a Ciência e a Engenharia e os seus empregos estão muito além deste curso. Você pode trabalhar com este livro sem usar planilhas, mas você nunca se arrependerá de ter dispendido tempo para aprender a usá-las. Algumas das poderosas características do Microsoft Excel são descritas conforme a necessidade, incluindo gráficos nos Capítulos 2 e 4, funções estatísticas e regressão no Capítulo 4, resolução de equações com Atingir Meta, Solver e referências circulares nos Capítulos 7, 8, 13 e 19, e algumas operações matriciais no Capítulo 19. O texto ensina a você como construir planilhas eletrônicas para simular muitos tipos de titulações, para resolver problemas de equilíbrio químico e para simular separações cromatográficas. Outras Características Deste Livro Termos Importantes Vocabulário essencial, destacado em negrito no texto, é agrupado ao final do capítulo. Outros termos não familiares ou novos estão assinalados em itálico no texto. Glossário As palavras destacadas em negrito e muitas das que estão em itálico são definidas no glossário. Apêndices Tabelas de produtos de solubilidade, constantes de dissociação ácida, potenciais redox e constantes de formação aparecem ao final do livro. Você também encontrará discussões sobre logaritmos e expoentes, propagação de erro, análise de variância, balanceamento de equações redox, normalidade, padrões analíticos e um pouco mais sobre o DNA. Notas e Referências As citações nos capítulos aparecem ao final do livro. Capa Interna Eis aqui a sua tabela periódica de confiança, bem como tabelas de constantes físicas e outras informações. Material Suplementar Este livro conta com materiais suplementares cujo acesso é feito no site da LTC Editora. As Pessoas Minha esposa Sally trabalhou em cada aspecto deste livro. Ela foi uma das principais responsáveis por toda clareza e exatidão que conseguimos.
As soluções para os problemas e exercícios foram meticulosamente verificadas por Heather Audesirk, estudante de pósgraduação na Caltech, e por Julia Lee, uma sênior no Harvey Mudd College. Um livro deste tamanho e complexidade é o trabalho de muitas pessoas. Brittany Murphy, Anna Bristow e Lauren Schultz forneceram orientação editorial e de mercado. Jennifer Carey foi o Editor de Projeto responsável por se certificar de que todas as partes deste livro estavam em seus lugares devidos. Marjorie Anderson cuidou dos detalhes desafiadores de edição. A pesquisa de imagens e as permissões foram bem gerenciadas por Cecilia Varas e Richard Fox. Matthew McAdams, Janice Donnola e Tracey Kuehn coordenaram o programa de ilustração. Anna Skiba-Crafts foi a leitora corajosa das provas. Encerrando Este livro é dedicado aos estudantes que o usam, que ocasionalmente sorriem quando o leem, ganham uma nova visão e se sentem recompensados após batalhar para resolver um problema. Eu serei bemsucedido se este livro ajudar você a desenvolver um raciocínio crítico e independente, que você pode aplicar a novos problemas dentro e fora da Química. Aprecio sinceramente seus comentários, críticas, sugestões e correções. Por favor, envie-me sua correspondência para Chemistry Division (Mail Stop 6303), Research Department, Michelson Laboratory, China Lake, CA 93555. Dan Harris Março de 2015
Agradecimentos Eu sou grato a muitas pessoas que forneceram novas informações para este livro, fizeram questionamentos aprofundados e enviaram boas sugestões. Pete Palmer, da San Francisco State University, compartilhou voluntariamente seu material de ensino para a fluorescência de raios X e forneceu uma crítica detalhada de meu rascunho, bem como sugestões, para a espectrometria de massa. Karyn Usher, da Metropolitan State University, Saint Paul, Minnesota, fotografou seu experimento de extração em fase sólida que aparece na Prancha 36 do Encarte em Cores. Martin Mirenda, da Universidade de Buenos Aires, Argentina, forneceu a Prancha 4 do Encarte em Cores, mostrando o efeito instrutivo da força iônica sobre a cor do verde de bromocresol. Jim De Yoreo e Mike Nielsen, da Battelle Pacific Northwest National Laboratory, forneceram as extraordinárias imagens da nucleação do carbonato de cálcio por microscopia eletrônica de transmissão na Figura 27-2. Barbara Belmont, da California State Univeristy, e Dominguez Hills fizeram um questionamento aparentemente simples em 2011 a respeito da propagação da incerteza, mas que exigia o conhecimento de meu colega estatístico Dr. Ding Huang para respondê-lo. Esse questionamento levou à expansão do Apêndice B. D. Brynn Hibbert, da University of New South Wales, Austrália, foi também um recurso para a Estatística. Jürgen Gross, da Heidelberg University, e David Sparkman, da University of the Pacific in California, foram fontes para a espectrometria de massa. Dale Lecaptain, do Central Michigan University, sugeriu uma maior ênfase nas diluições em série, o que foi feito. Brian K. Niece, do Assumption College, Worcester, Massachusetts, corrigiu meu procedimento para o emprego de azul de hidroxinaftol para titulações com EDTA. Micha Enevoldsen, de Frederiksberg, Dinamarca, me mostrou que Kjeldahl foi um químico dinamarquês e não um químico alemão. Ele também me mostrou que Kjeldahl foi um dos “três grandes mentores do pH”, que também inclui S. P. L. Sørensen e K. U. Linderstrøm-Lang. Chan Kang, da Chonbuk National University, Coreia do Sul, assinalou que eu usava a letra n para indicar mais de uma coisa em eletroquímica, o que tentei corrigir nesta edição. Alena Kubatova, da University of North Dakota, forneceu parte de seu material de ensino de espectrometria de massa. Outras correções úteis e sugestões provieram de Richard Gregor (Rollins College, Flórida), Franco Basile (University of Wyoming), Jeffrey Smith (Carleton University, Ottawa), Kris Varazo (Francis Marion University, Florence, South Carolina), Doo Soo Chung (Seoul National University), Ron Cooke (California State University, Chico), David D. Weiss (Kansas University), Steven Brown (University of Delaware), Athula Attygalle (Stevens Institute of Technology, Hoboken, New Jersey), e Peter Liddel (Glass Expansion, West Melbourne, Austrália). As pessoas que revisaram e partes do manuscrito da nona edição, ou que revisaram a oitava edição, incluem Truis SmithPalmer (St. Francis Xavier University), William Lammela (Nazareth College), Nelly Mateeva (Florida A&M University), Alena Kubatova (University of North Dakota), Barry Ryan (Emory University), Neil Jespersen (St. John’s University), David Kreller (Georgia Southern University), Darcey Wayment (Nicholls State University), Karla McCain (Austin College), Grant Wangila (University of Arkansas), James Rybarczyk (Ball State University), Frederick Northrup (Northwestern University), Mark Even (Kent State University), Jill Robinson (Indiana University), Pete Palmer (San Francisco State University), Cindy Burkhardt (Radford University), Nathanael Fackler (Nebraska Weslyan University), Stuart Chalk (University of North Florida), Reynaldo Barreto (Purdue University North Central), Susan Varnum (Temple University), Wendy Cory (College of Charleston), Eric D. Dodds (University of Nebraska, Lincoln), Troy D. Wood (University of Buffalo), Roy Cohen (Xavier University), Christopher Easley (Auburn University), Leslie Sombers (North Carolina State University), Victor Hugo Vilchiz (Virginia State University), Yehia Mechref (Texas Tech University), Lenuta Cires Gonzales (California State University, San Marcos), Wendell Griffith (University of Toledo), Anahita Izadyar (Arkansas State University), Leslie Hiatt (Austin Peay State University), David Carter (Angelo State University), Andre Venter (Western Michigan University), Rosemarie Chinni (Alvernia University), Mary Sohn (Florida Technical College), Christopher Babayco (Columbia College), Razi Hassan (Alabama A&M University), Chris
Milojevich (University of Tampa), Steven Brown (University of Delaware), Anne Falke (Worcester State University), Julio Alvarez (Virginia Commonwealth University), Keith Kuwata (Macalaster College), Levi Mielke (University of Indianapolis), Simon Mwongela (Georgia Gwinnett College), Omowunmi Sadik (State University of New York at Binghamton), Jingdong Mao (Old Dominion University), Jani Ingram (Northern Arizona University), Matthew Mongelli (Kean University), Vince Cammarata (Auburn University), Ed Segstro (University of Winnipeg), Tiffany Mathews (Villanova University), Andrea Matti (Wayne State University), Rebecca Barlag (Ohio University), Barbara Munk (Wayne State University), John Berry (Florida International University), Patricia Cleary (University of Wisconsin, Eau Claire) e Sandra Barnes (Alcorn State University).
COMO UM TESTE DE GRAVIDEZ CASEIRO FUNCIONA?
Um teste comum de gravidez detecta um hormônio chamado hcG na urina. Esse hormônio começa a ser secretado logo após a concepção. Um anticorpo é uma proteína secretada pelas células brancas do sangue para se ligar a uma molécula estranha chamada antígeno. A ligação anticorpo-antígeno é a primeira etapa na resposta imunológica que, ao nal, remove uma substância estranha ou uma célula invasora de seu corpo. Anticorpos para proteínas humanas, como o hcG, podem ser cultivados em animais. Observe a vista lateral do dispositivo de imunoensaio de gravidez caseiro, mostrado no diagrama. A urina é aplicada no bloco de amostra, na extremidade esquerda de uma tira de teste horizontal feita de nitrocelulose, que serve como absorvente. O líquido ui da esquerda para a direita por ação capilar. Inicialmente, o líquido chega ao reagente de detecção no bloco conjugado. O reagente é chamado conjugado porque consiste de anticorpos hcG ligados a nanopartículas vermelhas de ouro (Au). O anticorpo se liga a um sítio no hcG. À medida que o líquido ui para a direita, o hcG ligado ao conjugado é aprisionado na linha de teste, que contém um anticorpo que se liga a um outro sítio no hcG. As nanopartículas de ouro aprisionadas com o hcG na linha de teste criam uma linha vermelha visível. Ao continuar a se mover para a direita, o líquido encontra a linha de controle com anticorpos que se ligam ao reagente conjugado. Forma-se uma segunda linha vermelha na linha de controle. Na extremidade direita, encontra-se um bloco absorvente que retém líquido contendo qualquer coisa que não foi retida nas linhas de teste ou de controle. Em um teste positivo de gravidez, ambas as linhas se tornam vermelhas. O teste é negativo se apenas a linha de controle car vermelha. Se a linha de controle não car vermelha, o teste é inválido.
A
A
análise química quantitativa é a medição de quanto de uma substância química está presente. De modo geral, a finalidade da análise quantitativa é responder a uma pergunta como: “Este mineral contém cobre em quantidade suficiente para ser uma fonte economicamente viável de cobre?”. O teste de gravidez caseiro anterior é uma análise química qualitativa que busca a presença de um hormônio produzido durante a gravidez. Esse teste responde a uma questão ainda mais importante: “Estou grávida?”. A análise qualitativa nos diz o que está presente, e a análise quantitativa nos informa quanto está presente. Na análise quantitativa, a medição química é apenas uma parte de um processo que inclui a formulação de uma pergunta pertinente, a coleta de uma amostra representativa, o tratamento dessa amostra de modo a que a substância química de interesse possa ser medida, a realização da medição, a interpretação dos resultados e a elaboração de um relatório. Os termos em negrito devem ser olhados com atenção. As palavras em itálico são menos importantes. Ao fim do livro, encontra-se um glossário de termos. Análise quantitativa: Quanto está presente? Análise qualitativa: O que está presente?
0-1
O Trabalho dos Químicos Analíticos
Meu chocolate em barra preferido1, feito com 33% de gordura e 47% de açúcar, impulsiona para o topo das montanhas de Sierra Nevada, na Califórnia, Estados Unidos. Além de seu alto conteúdo energético, o chocolate contém uma energia extra devido ao efeito estimulante da cafeína e de seu precursor bioquímico, a teobromina. As notas e as referências aparecem após o último capítulo do livro.
Um diurético estimula o urinar. Um vasodilatador alarga as veias sanguíneas.
O excesso de cafeína é prejudicial para muitas pessoas, e mesmo pequenas quantidades não são bem toleradas por alguns indivíduos. Uma barra de chocolate possui quanta cafeína? Como esse valor se compara com a quantidade presente no café e nos refrigerantes? Na Bates College, no Maine, Estados Unidos, o professor Tom Wenzel ensina seus alunos a resolver problemas de química por meio de questões como essas.2 No entanto, como podemos medir a quantidade de cafeína presente em uma barra de chocolate? Dois estudantes, Denby e Scott, começaram pesquisando no Chemical Abstracts por métodos analíticos. Procurando por meio das palavras-chave “cafeína” e “chocolate”, eles descobriram numerosos artigos em jornais de química. Dois trabalhos, intitulados “High-Pressure Liquid
Chromatographic Determination of Theobromine and Caffeine in Cocoa and Chocolate Products”3 descreviam um procedimento analítico adequado ao equipamento disponível em seu laboratório.4 O Chemical Abstracts é a fonte mais completa para a localização de artigos publicados em jornais de química. O SciFinder é um programa que acessa o Chemical Abstracts.
Amostragem Em uma análise química, a primeira etapa é procurar uma amostra representativa para que se façam as medições – esse processo é chamado de amostragem. Todos os chocolates são iguais? É claro que não. Denby e Scott compraram uma barra de chocolate em uma loja das vizinhanças e analisaram alguns pedaços do chocolate. Se desejarmos enunciar alguma afirmação genérica do tipo “cafeína no chocolate”, é necessário analisar chocolates provenientes de diferentes fabricantes. Também será necessário empregar várias amostras de cada produto para determinar o intervalo de concentração de cafeína em cada uma das amostras de chocolate. Uma barra de chocolate puro é razoavelmente homogênea, o que significa que sua composição é a mesma em toda a barra. Ou seja, podemos considerar que o teor de cafeína em uma ponta da barra é o mesmo que na outra ponta. O chocolate com nozes é um típico exemplo de material heterogêneo. Nesse caso, a composição do material varia de ponto para ponto, porque as nozes são diferentes do chocolate. Para fazer a amostragem de um material heterogêneo, utilizamos uma estratégia diferente daquela usada para um material homogêneo. Agora, é necessário que se conheçam os valores médios da massa de chocolate e da massa de nozes presentes em várias barras. Necessitamos conhecer o conteúdo médio de cafeína no chocolate e nas nozes (se é que elas contêm alguma cafeína). Só então, poderemos fazer uma afirmativa sobre o conteúdo médio de cafeína presente no chocolate com nozes. Homogêneo: é o mesmo em todo lugar Heterogêneo: é diferente de região para região
Preparo da Amostra A primeira etapa do procedimento envolve a pesagem de certa quantidade de chocolate e a remoção da gordura presente por dissolução em um solvente (um hidrocarboneto). A gordura necessita ser removida, porque vai interferir mais tarde na etapa cromatográfica da análise. Infelizmente, se apenas agitarmos um pedaço de chocolate com o solvente, a extração não será muito eficaz, pois o solvente não tem acesso ao interior do chocolate. Então, nossos habilidosos estudantes cortaram o chocolate em pedaços pequenos e os colocaram em um gral (Figura 0-1), acreditando que seriam capazes de triturar o sólido em pequenas partículas. Imagine-se tentando moer chocolate! O sólido é muito macio para ser moído. Então, Denby e Scott congelaram o gral e o pistilo juntamente com os pedaços de chocolate. Ao resfriar, o chocolate se torna suficientemente quebradiço para ser moído. Após a moagem, alguns pequenos pedaços de chocolate foram, então, colocados em um tubo de centrífuga de 15 mililitros (mL), previamente pesado, e a sua massa foi registrada.
FIGURA 0-1
Gral de cerâmica com pistilo, usado para triturar sólidos, convertendo-os em um pó fino.
A Figura 0-2 ilustra a próxima etapa do procedimento, que é a remoção da gordura que interferiria na cromatografia subsequente. Uma porção de 10 mL de solvente orgânico, éter de petróleo, foi adicionada ao tubo, o qual foi fechado com uma rolha. O tubo foi agitado vigorosamente para dissolver a gordura do chocolate no solvente. A cafeína e a teobromina são insolúveis nesse solvente. A mistura de líquido e de pequenas partículas foi, então, centrifugada de modo a compactar o chocolate no fundo do tubo. O líquido claro, contendo a gordura dissolvida, pôde ser decantado (vertido) e descartado. A extração foi repetida mais duas vezes com novas porções de solvente a fim de assegurar a remoção completa da gordura do chocolate. O solvente residual no chocolate foi finalmente removido, aquecendo-se o tubo de centrífuga em um béquer com água fervente. A massa de resíduo de chocolate foi calculada, pesando-se o tubo que continha o chocolate desengordurado e subtraindo-se a massa conhecida do tubo vazio.
FIGURA 0-2
Extração da gordura do chocolate, obtendo-se um resíduo sólido livre de gordura para análise.
As substâncias a serem determinadas – cafeína e teobromina, neste caso – são denominadas analitos. A etapa seguinte, no procedimento do preparo da amostra, foi fazer uma transferência quantitativa (uma transferência completa) do resíduo de chocolate livre da gordura para um Erlenmeyer, de modo a dissolver os analitos em água para a análise química. Se qualquer porção do resíduo não for transferida do tubo da centrífuga para o Erlenmeyer, a análise final incorrerá em erro, pois nem todo o analito estará presente. Para fazer a transferência quantitativa, Denby e Scott adicionaram alguns mililitros de água pura ao tubo de centrífuga, e usaram agitação e aquecimento para dissolver ou provocar a suspensão da maior quantidade possível de chocolate. A pasta (suspensão de um sólido em um líquido) foi então transferida do tubo de centrífuga para um Erlenmeyer de 50 mL. Eles repetiram o procedimento várias vezes com novas porções de água para garantir que todo o chocolate fosse transferido do tubo de centrífuga para o Erlenmeyer. Para completar a dissolução dos analitos, Denby e Scott adicionaram água pura de modo a levar o volume até cerca de 30 mL. Eles aqueceram o Erlenmeyer (e seu conteúdo) em água fervente (banho-maria) para extrair toda a cafeína e a teobromina do chocolate para a água. Para calcular a quantidade de analito, mais tarde a massa total do solvente (água) deve ser exatamente conhecida. Denby e Scott conheciam a massa do resíduo de chocolate no tubo de centrífuga e conheciam a massa do Erlenmeyer vazio. Então, eles colocaram o Erlenmeyer em uma balança e adicionaram água pura, gota a gota, até que a massa de água chegasse a 33,3 g no Erlenmeyer. Mais tarde, eles deverão comparar soluções conhecidas dos analitos puros em água com a solução desconhecida contendo 33,3 g de água. Uma solução de qualquer coisa em água é chamada de solução aquosa.
Antes de injetar a solução desconhecida em um cromatógrafo para a análise química, Denby e Scott tiveram de fazer uma limpeza final da amostra (Figura 0-3). O resíduo de chocolate na água contém minúsculas partículas sólidas que, certamente, iriam entupir as colunas cromatográficas, que custam caro, danificando-as. Assim, eles transferiram uma porção da pasta para um tubo de centrífuga e centrifugaram a mistura para compactar o máximo de sólido possível no fundo do tubo. O líquido sobrenadante (o líquido acima do sólido compactado), turvo e escuro, foi então filtrado, em uma tentativa adicional para remover as minúsculas partículas de sólido do líquido.
FIGURA 0-3
Centrifugação e filtragem são usadas para separar resíduos sólidos indesejáveis da solução aquosa dos analitos.
É muito importante evitar injetar sólidos dentro da coluna cromatográfica. No entanto, o líquido escuro ainda tinha aspecto turvo. Desse modo, Denby e Scott aproveitaram os intervalos entre suas aulas para repetir, por cinco vezes, as etapas de centrifugação e filtragem. Após cada ciclo, o líquido sobrenadante, que era filtrado e centrifugado, ficava um pouco mais claro, mas nunca completamente límpido. Depois de decorrido tempo suficiente, sempre havia a precipitação de mais sólido a partir da solução filtrada. As amostras encontradas na vida real raramente facilitam a sua vida!
O tedioso procedimento descrito até agora é denominado preparo da amostra – a transformação da amostra em uma forma que seja apropriada para análise. Neste caso, a gordura foi removida do chocolate, os analitos foram extraídos em água e o sólido residual foi separado da água. A Análise Química (Finalmente!) Denby e Scott finalmente decidiram que a solução aquosa que continha os analitos estava o mais límpida que eles conseguiriam considerando-se o tempo disponível. A etapa seguinte foi injetar a solução em uma coluna cromatográfica, que irá separar os analitos da mistura e determinar a quantidade de cada um. A coluna na Figura 0-4a está empacotada com minúsculas partículas de sílica (SiO2), cujas superfícies estão recobertas com moléculas de hidrocarbonetos de cadeia longa. Vinte microlitros (20,0 × 10–6 litros) de extrato de chocolate foram injetados na coluna e eluídos através dela com um solvente constituído por uma mistura de 79 mL de água pura, 20 mL de metanol e 1 mL de ácido acético. A cafeína tem maior afinidade pelo hidrocarboneto que se encontra presente na superfície da sílica do que a teobromina. Portanto, a cafeína “fixa-se” mais fortemente do que a teobromina nas partículas de sílica da coluna. Quando os analitos percolam a coluna devido ao fluxo do solvente, a teobromina alcança a saída da coluna antes da cafeína (Figura 0-4b). O solvente usado em determinada análise cromatográfica é selecionado por um processo sistemático de tentativa e erro descrito no Capítulo 25. A função do ácido acético é reagir com os átomos de oxigênio carregados negativamente que existem na superfície da sílica e que, se não forem neutralizados, ligam-se firmemente a uma pequena fração de cafeína e teobromina.
Apenas as substâncias que absorvem a radiação ultravioleta em um comprimento de onda de 254 nanômetros são observadas na Figura 0-5. Os componentes principais no extrato aquoso são açúcares, não detectados nesse experimento.
Os analitos são detectados na saída da coluna por sua capacidade de absorver a radiação ultravioleta proveniente da lâmpada na Figura 0-4a. O gráfico da resposta do detector contra o tempo, na Figura 0-5, é chamado de cromatograma. A teobromina e a cafeína são os picos maiores no cromatograma. Os picos menores são decorrentes de outras substâncias extraídas do chocolate. O cromatograma sozinho não nos diz quais componentes estão presentes na amostra desconhecida. Uma maneira de identificar os picos individualmente é determinar as características espectrais de cada um dos componentes assim que emergem
da coluna. Outra maneira é adicionar uma amostra-padrão de cafeína ou teobromina à amostra desconhecida e ver se um dos picos aumenta de tamanho. Na Figura 0-5, a área de cada pico é proporcional à quantidade de cada componente que passa através do detector. A melhor maneira de medir a área é com um computador, que recebe os dados do detector do cromatógrafo durante o experimento. Denby e Scott não possuíam um computador conectado ao seu cromatógrafo. Com isso, tiveram de medir a altura de cada pico.
FIGURA 0-4 Princípio da cromatografia líquida. (a) Dispositivo cromatográfico contendo um detector por absorção de ultravioleta para detectar os analitos na saída da coluna. (b) Separação entre a cafeína e a teobromina por cromatografia. A cafeína apresenta maior afinidade pela camada de hidrocarboneto sobre as partículas na coluna do que a teobromina. Portanto, a cafeína é retida mais fortemente e move-se por meio da coluna mais lentamente do que a teobromina.
Curvas de Calibração Em geral, analitos diferentes em concentrações iguais fornecem diferentes respostas no detector de um cromatógrafo. Portanto, a resposta do detector deve ser medida para concentrações conhecidas de cada analito. O gráfico que mostra a resposta do detector como uma função da concentração do analito é chamado de curva de calibração ou curva-padrão. Para a construção dessa curva de calibração, soluções-padrão, contendo concentrações conhecidas de teobromina ou de cafeína, foram preparadas e injetadas na coluna, e as alturas dos picos resultantes foram medidas. A Figura 0-6 é um cromatograma de uma das soluções-padrão, e a Figura 0-7 mostra as curvas de calibração obtidas injetando-se soluções que contêm 10,0, 25,0, 50,0 e 100,0 microgramas de cada analito por grama de solução.
FIGURA 0-5 Cromatograma de 20,0 microlitros de extrato de chocolate preto. A coluna com 4,6 mm de diâmetro e 150 mm de comprimento, empacotada com partículas de Hypersil ODS de 5 micrômetros, foi eluída (lavada) com uma mistura de água, metanol e ácido acético (79:20:1 em volume) com um fluxo de 1,0 mL por minuto.
FIGURA 0-6 Cromatograma de 20,0 microlitros de uma solução-padrão contendo 50,0 microgramas de teobromina e 50,0 microgramas de cafeína por grama de solução.
FIGURA 0-7 Curvas de calibração mostrando as alturas dos picos observados para concentrações conhecidas dos compostos puros. Uma parte por milhão representa um micrograma de analito por grama de solução. As equações das retas traçadas pelos pontos experimentais foram determinadas pelo método dos mínimos quadrados descrito no Capítulo 4.
As linhas retas que passam pelos pontos de calibração podem então ser usadas para determinar as concentrações de teobromina e cafeína em uma amostra desconhecida. A partir da equação da curva de calibração da teobromina na Figura 0-7, podemos dizer que, se a altura do pico de teobromina observado em uma solução desconhecida é de 15,0 cm, então a concentração dessa substância é de 76,9 microgramas por grama de solução. Interpretando os Resultados Sabendo as quantidades de analitos presentes no extrato aquoso do chocolate, Denby e Scott calcularam as quantidades de teobromina e de cafeína existentes no chocolate original. Os resultados obtidos para os chocolates preto e branco são mostrados na Tabela 0-1. As quantidades encontradas no chocolate branco são apenas cerca de 2% das quantidades presentes no chocolate preto. A Tabela 0-1 também informa o desvio-padrão de três medidas de cada amostra. O desvio-padrão, que é discutido no Capítulo 4, é uma medida da reprodutibilidade dos resultados. Caso as três amostras apresentassem resultados idênticos, o desvio-padrão seria nulo. Se os resultados não são muito reprodutivos, o desvio-padrão será muito grande. Para a teobromina no chocolate preto, o desvio-padrão (0,002) é menor do que l% da média (0,392), o que indica que as medidas são reprodutíveis. Para a teobromina no chocolate branco, o desvio-padrão (0,007) é quase tão grande quanto a média (0,010), portanto as medidas são pouco reprodutíveis. O objetivo de uma análise é chegar a alguma conclusão. As questões apresentadas no início desta seção foram: “Quanta cafeína existe em uma barra de chocolate?” e “Qual é a sua comparação com a quantidade existente no café e em refrigerantes?” Após todo o trabalho, Denby e Scott descobriram quanta cafeína existe em uma barra de chocolate analisada por eles. Seria muito mais trabalhoso se eles tivessem analisado mais barras de chocolate do mesmo tipo e de muitos tipos diferentes de chocolate para obter uma visão mais abrangente do conteúdo de cafeína no chocolate em geral. A Tabela 0-2 compara os resultados de várias análises de diferentes fontes de cafeína. Uma lata de refrigerante ou uma xícara de chá contém menos da metade da quantidade de cafeína presente em uma xícara pequena de café. O chocolate contém ainda menos cafeína, mas uma pessoa faminta, ao comer muito chocolate, pode ter uma bela surpresa! Simpli cação do Preparo da Amostra por Meio de Extração em Fase Sólida
O procedimento seguido por Denby e Scott em meados da década de 1990 foi desenvolvido antes que a extração em fase sólida (Seção 28-3) entrasse em uso. Hoje em dia, a extração em fase sólida simplifica o preparo da amostra por meio da separação de alguns componentes interferentes principais da mistura dos analitos desejados.5 O procedimento mostrado na Figura 0-8 descreve uma pequena coluna descartável contendo uma fase sólida cromatográfica que pode limpar a amostra o bastante antes da realização da cromatografia em uma coluna analítica dispendiosa.
ANÁLISE DOS CHOCOLATES PRETO E BRANCO
TABELA 0-1
Gramas de analito por 100 gramas de chocolate Analito
Chocolate preto
Chocolate branco
Teobromina
0,392 ± 0,002
0,010 ± 0,007
Cafeína
0,050 ± 0,003
0,000 9 ± 0,001 4
Média ± desvio-padrão de três injeções de cada extrato.
Quantidade de cafeína presente em bebidas e alimentos
TABELA 0-2
Cafeína (miligramas por porção)
Tamanho da porçãoa (onças)
106–164
5
2–5
5
21–50
5
Bebida à base de cacau
2–8
6
Chocolate industrial
35
1
Chocolate
20
1
Chocolate ao leite
6
1
36–57
12
80
8,2
Fonte Café comum Café descafeinado Chá
Refrigerantes cafeinados Red Bull
a. 1 onça = 28,35 gramas. FONTES: http://www.holymtn.com/tea/caffeine_content.htm. Red Bull a partir de http://wilstar.com/caffeine.htm.
FIGURA 0-8 A extração em fase sólida separa a cafeína e a teobromina dos açúcares e das gorduras encontradas no chocolate. Os açúcares são prontamente removidos da coluna já que eles não se acham ligados ao hidrocarboneto que está ligado covalentemente às partículas na coluna. As gorduras são tão solúveis no hidrocarboneto que não são removidas da coluna pelo metanol. A cafeína e a teobromina são solúveis no hidrocarboneto, mas são removidas da coluna com metanol.
Denby e Scott extraíram a gordura com solvente orgânico. Depois, eles extraíram a cafeína e a teobromina com água quente e removeram, em um trabalho exaustivo, partículas finas por centrifugação e filtração repetidas. A extração em fase sólida mostrada na Figura 0-8 remove açúcares, gorduras e partículas finas da amostra aquosa, substituindo a extração com solvente orgânico, a centrifugação e a filtração. A amostra inteira de chocolate moído (0,5 g) é suspensa em 20 mL de água a 80 ºC durante 15 minutos para extrair a cafeína, a teobromina e outros componente solúveis em água. Uma coluna de extração em fase sólida com 0,5 g de partículas de sílica contendo hidrocarbonetos covalentemente ligados (como as partículas na coluna na Figura 0-4) é limpa com 1 mL de metanol seguido de 1 mL de água. Quando 0,5 mL de extrato aquoso é depositado na coluna, a teobromina e a cafeína aderem-se ao hidrocarboneto sobre a partícula de sílica na coluna. Muitos componentes solúveis em água, como os açúcares, são removidos com 1 mL de água. A cafeína e a teobromina são, então, removidas da coluna com 2,5 mL de metanol. As gorduras permanecem na coluna. Após evaporar o extrato em metanol à secura, o resíduo é dissolvido em 1 mL de água, estando pronto para a cromatografia. Veja a Prancha em Cores 36, no início deste livro, para um exemplo de extração em fase sólida.
0-2
Etapas Gerais em uma Análise Química
Muitos problemas analíticos começam com uma pergunta que não envolve aspectos relativos à análise química, como “Esta água é própria para o consumo?” ou “O teste de emissões em automóveis diminui a poluição do ar?” Um cientista traduz essas questões em termos de determinadas medições. Um químico analítico deve, então, escolher, ou mesmo desenvolver, um procedimento capaz de realizar tais medições. Quando a análise está completa, o químico analítico deve traduzir os resultados em termos que possam ser compreendidos por outras pessoas – preferencialmente, o público em geral. O aspecto mais importante de qualquer resultado está em suas limitações. Qual é a incerteza estatística dos resultados apresentados? Se as amostragens forem feitas de maneiras diferentes, os resultados serão os mesmos? Uma pequena quantidade (um traço) de um analito está realmente presente na amostra ou é apenas uma contaminação? Somente após a interpretação dos resultados e de suas limitações é que podemos tirar conclusões. Podemos, agora, resumir as etapas gerais de um processo analítico: Formulando a questão
Traduzir questões gerais em questões específicas para serem respondidas por meio de medidas químicas.
Selecionando os procedimentos analíticos
Encontrar, na literatura química, procedimentos apropriados ou, se necessário, desenvolver novos procedimentos para fazer as medições necessárias.
Amostragem
A amostragem é o processo de seleção do material representativo para ser analisado. O Boxe 0-1 apresenta algumas ideias de como isso pode ser feito. Se começamos com uma amostra mal constituída ou se ocorrem modificações na
amostra durante o intervalo de tempo entre a coleta e a análise, os resultados não terão significado algum. “Porcaria gera porcaria.” Preparo da amostra
O preparo da amostra é o processo em que uma amostra representativa é convertida em uma forma apropriada para análise química. Em geral, isso significa dissolver a amostra. Para uma amostra com baixa concentração de analito, pode ser necessário concentrá-la antes de ser analisada. Talvez seja necessária a remoção ou o mascaramento das espécies que interferem na análise química. No caso da barra de chocolate, o preparo da amostra consistiu na remoção de gordura e na dissolução dos analitos desejados. A remoção da gordura foi necessária porque ela interfere na análise cromatográfica.
Análise
Medir a concentração do analito em várias alíquotas (porções) idênticas. O objetivo das medidas repetidas (medidas em replicata) é avaliar a variabilidade (incerteza) na análise e se precaver contra algum erro grosseiro na análise de uma única alíquota. A incerteza de uma medida é tão importante quanto a medida em si, pois ela nos diz o quanto a medida é confiável. Se necessário, usam-se diferentes métodos analíticos em amostras semelhantes para ter certeza de que todos os métodos conduzem ao mesmo resultado e que a escolha de determinado método não influencia o resultado. Pode-se também ter interesse em preparar e analisar várias amostras brutas diferentes para verificar que variações surgem no procedimento de amostragem.
Relatório e interpretação
Produzir um relatório completo e claramente escrito dos resultados, realçando quaisquer limitações associadas a eles. O relatório poderá ser escrito para ser lido apenas por um especialista (como o professor), ou ele poderá ser escrito para um público geral (como um legislador ou repórter de jornal). É necessário ter certeza de que o relatório é apropriado para o público a que se destina.
Tirando conclusões
Uma vez escrito o relatório, o analista poderá ou não se envolver no que é feito com a informação, como modificar o fornecimento de matéria-prima para uma fábrica ou criar novas leis para regular os aditivos de alimentos. Quanto mais clara for a redação de um relatório, menor a probabilidade de que ele venha a ser malinterpretado por aqueles que o usam.
Em química, o termo espécie indica qualquer substância de interesse. A interferência ocorre quando uma espécie diferente do analito aumenta ou diminui a resposta do método analítico, fazendo parecer que existe mais ou menos analito do que aquele realmente presente. O mascaramento é a transformação de uma espécie interferente em uma forma que não seja detectada. Por exemplo, o Ca2+ na água de um lago pode ser determinado com um reagente chamado EDTA. O Al3+ interfere nessa análise, porque ele também reage com o EDTA. Portanto, o Al3+ deve ser mascarado tratando-se a amostra com excesso de F– para formar AIF63–, que não reage com o EDTA.
A maior parte deste livro trata da determinação das concentrações de espécies químicas presentes em alíquotas homogêneas de uma amostra desconhecida. A análise não terá valor algum se a amostra não for coletada adequadamente, se não forem tomadas medidas para assegurar a confiabilidade do método analítico e se os resultados não forem apresentados de forma clara e completa. A análise química é apenas a parte central de um processo que se inicia com uma pergunta e termina com uma conclusão.
BOXE 0-1
Construindo uma Amostra Representativa
Em um material aleatoriamente heterogêneo, as diferenças de composição ocorrem aleatoriamente e em uma escala estreita. Quando coletamos uma porção de material para análise, devemos ter certeza de que a amostra contenha as diversas composições. Para construir uma amostra representativa a partir de um material heterogêneo, devemos, inicialmente, dividir visualmente o material em frações. Uma amostra aleatória é coletada tirando-se porções de um número desejado de frações escolhidas ao acaso. Por exemplo, se você deseja medir o conteúdo de magnésio no gramado do campo de 10 × 20 metros na ilustração a, pode dividir o campo em 20.000 pedaços pequenos com 10 cm de lado. Após numerar cada pedaço, devemos usar um programa de computador para escolher aleatoriamente 100 números, entre 1 e 20.000. Depois, colhemos e combinamos a grama de cada um dos 100 pedaços para construir uma amostra bruta representativa para análise.
Em um material heterogêneo segregado (no qual grandes regiões obviamente possuem composições diferentes), devemos constituir uma amostra complexa (compósito). Por exemplo, o campo na ilustração b possui três tipos diferentes de grama segregados nas regiões A, B e C. Podemos desenhar um mapa do campo em um papel milimetrado e medir a área de cada região. Nesse caso, 66% da área carão na região A, 14% carão na região B e 20% carão na região C. Para construir uma amostra bruta representativa desse material segregado, pegamos 66 pedaços pequenos da região A, 14 da região B e 20 da região C. Podemos fazer isso retirando números aleatórios entre 1 e 20.000 para selecionar os pedaços, até que tenhamos o número desejado para cada região.
Termos Importantes Termos introduzidos em negrito neste capítulo e também definidos no Glossário.
alíquota amostra aleatória amostra complexa (compósito) amostragem análise química qualitativa análise química quantitativa analito aquoso curva de calibração decantar espécie heterogêneo homogêneo interferência líquido sobrenadante mascaramento material aleatoriamente heterogêneo material heterogêneo segregado pasta preparo da amostra solução-padrão transferência quantitativa
Problemas Respostas curtas dos problemas numéricos estão no final do livro.
0-1. Qual a diferença entre análise qualitativa e quantitativa? 0-2. Apresente as etapas de uma análise química. 0-3. O que significa mascarar uma espécie interferente? 0-4. Qual a finalidade de uma curva de calibração?
0-5. (a) Qual a diferença entre um material homogêneo e um material heterogêneo? (b) Após ler o Boxe 0-1, estabeleça a diferença entre um material heterogêneo segregado e um material aleatoriamente heterogêneo. (c) Como se pode construir uma amostra representativa de cada um destes materiais? 0-6. O conteúdo de iodeto (I–) em uma água mineral comercial foi medido por dois métodos que forneceram resultados completamente diferentes.6 De acordo com o método A, existem 0,23 miligrama de I– por litro (mg/L), e segundo o método B, 0,009 mg/L. Quando íons Mn21 foram adicionados à água, o conteúdo de I–, determinado pelo método A, aumentava a cada adição de Mn21, enquanto os resultados obtidos pelo método B não se modificavam. Qual entre os Termos Importantes descreve o que está ocorrendo nestas medidas? Explique sua resposta. Qual dos resultados é o mais confiável?
MEDIDAS BIOQUíMICAS COM UM NANOELETRODO
(a) Eletrodo de fibra de carbono com ponta de 100 nanômetros de diâmetro (100 × 10–9 metros) estendida a partir de um capilar de vidro. A barra de marcação possui 200 micrômetros (200 × 10–6 metros). [De W.-H. Huang, D.-W. Pang, H. Tong, Z. -L. Wang e J.-K. Cheng, “A Method for the Fabrication of Low-Noise Carbon Fiber Nanoelectrodes”, Anal. Chem. 2001, 73, 1048. Reproduzido sob permissão © 2001 American Chemical Society.] (b) O eletrodo em posição adjacente a uma célula detecta o neurotransmissor dopamina liberado pela célula. Um contraeletrodo de maior dimensão posicionado próximo à célula não é mostrado na figura. [De W.-Z. Wu, W.-H. Huang, W. Wang, Z. -L. Wang, J.-K. Cheng, T. Xu, R.-Y. Zhang, Y. Chen e J. Liu, “Monitoring Dopamine Release from Single Living Vesicles with Nanoelectrodes”, J. Am. Chem. Soc. 2005, 127, 8914, Figura 1. Reproduzido sob permissão © 2005 American Chemical Society.] (c) Pequenos pulsos de corrente elétrica detectados a
cada vez que a dopamina é liberada. Ampliações dos pulsos de corrente elétrica detectados são mostradas separadamente. [Dados de W-Z Wu, ibid.] Um eletrodo cuja ponta é menor do que uma única célula nos permite medir moléculas neurotransmissoras liberadas por uma célula nervosa em resposta a um estímulo químico. Chamamos o eletrodo de nanoeletrodo em virtude de sua região ativa ter dimensões da ordem de nanômetros (10– 9 metros). Moléculas neurotransmissoras liberadas de uma vesícula (um pequeno compartimento) de uma célula nervosa difundem-se para o eletrodo, onde doam ou recebem elétrons, gerando uma corrente elétrica medida em picoampères (10–12 ampères) por um período de milissegundos (10–3 segundos). Este capítulo discute as unidades que descrevem as medidas químicas e físicas de objetos cujas dimensões variam desde as de átomos até as de galáxias.
M
edidas com neurotransmissores ilustram a necessidade de unidades de medida que cubram várias ordens de grandeza (potências de 10) em escala. Este capítulo introduz tais unidades e fornece uma revisão sobre concentrações químicas, preparo de soluções e estequiometria de reações químicas. Por motivos de leitura, inserimos um espaço a cada conjunto de três dígitos em ambos os lados da vírgula decimal. Pontos não são empregados porque em várias partes do mundo o ponto tem o mesmo significado da vírgula decimal. Exemplos: Velocidade da luz: 299 792 458 m/s Número de Avogadro: 6,022 141 29 × 10–3 mol–1
1-1
Unidades do SI
As unidades do SI (Sistema Internacional de Unidades), usadas pelos cientistas em todo o mundo, têm seus nomes oriundos do francês Système International d’Unités. As unidades fundamentais (unidades-base), a partir das quais todas as outras podem ser obtidas, são definidas na Tabela 1-1. Os padrões de comprimento, massa e tempo são o metro (m), o quilograma (kg) e o segundo (s), respectivamente. A temperatura é medida em kelvins (K), a quantidade de substância, em mols (mol), e a corrente elétrica, em ampères (A). Pressão é força por unidade de área: 1 pascal (Pa) = 1 N/m2. A pressão exercida pela atmosfera é de aproximadamente 100 000 Pa.
A Tabela 1-2 apresenta outras grandezas que são definidas a partir das grandezas fundamentais. Por exemplo, a força é medida em newtons (N), a pressão, em pascais (Pa), e a energia, em joules (J); cada uma pode ser expressa em termos de comprimento, tempo e massa.
TABELA 1-1
Unidades fundamentais do SI
Grandeza
Unidade (símbolo)
Definição
Comprimento
metro (m)
Um metro é a distância percorrida pela luz no vácuo durante do segundo.
Massa
quilograma (kg)
Um quilograma é a massa do protótipo quilograma feito da liga de Pt-Ir em 1885 e guardado sob atmosfera inerte em Sèvres, França. Esse objeto foi removido de sua campânula protetora somente em 1890, 1948 e 1992 para ser pesado contra cópias para serem utilizadas como padrões secundários, sendo conservados em diversos países. Infelizmente, a massa do quilograma-padrão pode mudar lentamente com o tempo devido à reação química com a atmosfera ou ao seu uso. Existem pesquisas no sentido de substituir o protótipo do quilograma por um padrão baseado em propriedades imutáveis da natureza que podem ser medidas com elevada precisão.a
Tempo
segundo (s)
Um segundo é a duração de 9 192 631 770 períodos
da radiação correspondente a uma certa transição atômica do 133Cs. Corrente elétrica
ampère (A)
Um ampère de corrente produz uma força de 2 × 10–7 newtons por metro de comprimento, quando mantida entre dois condutores paralelos de comprimento infinito e seção reta desprezível, separados por 1 metro no vácuo.
Temperatura
kelvin (K)
A temperatura é definida de modo que o ponto triplo da água (no qual as fases sólida, líquida e gasosa da água estão em equilíbrio) seja 273,16 K, e a temperatura do zero absoluto seja 0 K.
Intensidade Luminosa
candela (cd)
Candela é a medida de intensidade luminosa, visível ao olho humano.
Quantidade de substância
mol (mol)
Um mol é o número de partículas igual ao número de átomos em exatamente 0,012 kg de 12C (aproximadamente 6,022 × 10–3).
Ângulo plano
radiano (rad)
Um círculo possui 2π radianos.
Ângulo sólido
estereorradiano (sr)
Uma esfera possui 4π estereorradianos.
a. P.F. Rusch, “Redefining the Kilogram and Mole”, Chem. Eng. News, 30 de maio de 2011, p. 58. Usando Prefixos como Multiplicadores Em vez de usarmos a notação exponencial, usamos frequentemente os prefixos da Tabela 1-3 para expressar grandes ou pequenas quantidades. Como exemplo, considere a pressão do ozônio (O3) na atmosfera superior (Figura 1-1). O ozônio nas camadas superiores da atmosfera absorve a radiação ultravioleta do sol, que prejudica vários organismos e causa câncer de pele. A cada primavera, uma grande quantidade de ozônio desaparece da estratosfera antártica, criando, desse modo, o que é chamado de “buraco” na camada de ozônio. O início do Capítulo 18 discute a química por trás desse processo. Por outro lado, o ozônio nas camadas baixas da atmosfera é nocivo a animais e plantas porque oxida células sensíveis. Em uma altitude de 1,7 × 104 metros acima da superfície da Terra, a pressão de ozônio sobre a Antártica atinge um máximo de 0,019 Pa. Vamos expressar esses dois números com os prefixos da Tabela 1-3. Usamos habitualmente os prefixos para toda terceira potência de dez (10–9, 10–6, 10–3, 103, 106, 109, e assim por diante). O número 1,7 × 104 m é maior que 103 m e menor que 106 m, usamos então um múltiplo de 103 m (= quilômetros, km):
TABELA 1-2
Unidades derivadas do sistema SI com nomes especiais
Expressão em termos de outras unidades
Expressão em termos das unidades fundamentais do SI
Grandeza
Unidade
Símbolo
Frequência
hertz
Hz
1/s
Força
newton
N
m · kg/s2
Pressão
pascal
Pa
N/M2
kg/(m · s2)
Energia, trabalho, quantidade de calor
joule
J
N·m
m2 · kg/s2
Potência, fluxo radiante
watt
W
J/s
m2 · kg/s3
Quantidade de eletricidade, carga elétrica
coulomb
C
Potencial elétrico, diferença de potencial, força
volt
V
s·A W/A
m2 · kg/(s3 · A)
eletromotriz Resistência elétrica
ohm
Ω
V/A
m2 · kg/(s3 · A2)
Capacitância elétrica
farad
F
C/A
s4 · A2/(m2 · kg)
Frequência é o número de ciclos por unidade de tempo para um evento repetitivo. Força é o produto massa × aceleração. Pressão é força por unidade de área. Energia ou trabalho é força × distância = massa × aceleração × distância. Potência é energia por unidade de tempo. A diferença de potencial elétrico entre dois pontos é o trabalho necessário para mover uma unidade de carga positiva entre os dois pontos. Resistência elétrica é a diferença de potencial necessária para mover uma unidade de carga por unidade de tempo entre dois pontos. A capacitância elétrica de duas superfícies paralelas é a quantidade de carga elétrica em cada superfície quando existe uma unidade de diferença de potencial elétrico entre as duas superfícies.
FIGURA 1-1 A cada ano forma-se um “buraco” na camada de ozônio na estratosfera sobre o Polo Sul no início da primavera, em outubro. O gráfico compara a pressão do ozônio em agosto, quando não há buraco, com a pressão em outubro, quando o buraco se torna mais profundo. Uma perda menos grave de ozônio é observada no Polo Norte. [Dados da National Oceanic and Atmospheric Administration.]
TABELA 1-3
Prefixos
Prefixo
Símbolo
Fator
Prefixo
Símbolo
Fator
yotta (iota)
Y
1024
deci
d
10–1
zeta
Z
1021
centi
c
10–2
exa
E
1018
mili
m
10–3
peta
P
1015
micro
μ
10–6
tera
T
1012
nano
n
10–9
giga
G
109
pico
p
10–12
mega
M
106
femto
f
10–15
quilo
K
103
atto (ato)
a
10–18
hecto
h
102
zepto
z
10–21
deca
101
da
yocto (iocto)
y
10–24
O número 0,019 Pa é maior do que 10–3 Pa e menor do que 100 Pa, então usamos um múltiplo de 10–3 Pa (= milipascal, mPa):
Naturalmente, você lembra que 10° = 1.
A legenda da Figura 1-1 está em km no eixo dos y e mPa no eixo dos x. O eixo dos y, seja qual for o gráfico, é chamado de ordenada, e o eixo dos x, de abscissa. É uma boa ideia escrever as unidades ao lado de cada número no decorrer de um cálculo e cancelar as unidades que se repetem no numerador e no denominador. Essa prática garante que as unidades da resposta sejam conhecidas. Se pretendermos calcular a pressão e a resposta aparece com outra unidade diferente de pascal (N/m2 ou kg/[m · s2] ou de alguma outra unidade de força/área), então sabemos que foi cometido um erro. Conversão entre Unidades Embora o SI seja o sistema de medida internacionalmente aceito em ciência, outras unidades são encontradas. A Tabela 1-4 apresenta alguns fatores de conversão úteis. Por exemplo, a caloria (cal) e a Caloria (com C maiúsculo, significando 1000 calorias ou 1 kcal) são unidades de energia normalmente utilizadas e não pertencem ao SI. De acordo com a Tabela 1-4, 1 cal é exatamente igual a 4,184 J (joules).
Opa! Em 1999, a espaçonave Mars Climate Orbiter, orçada em 125 milhões de dólares, foi perdida quando entrou na atmosfera marciana, 100 km mais baixo do que o planejado. Esse erro de navegação poderia ter sido evitado se as unidades de medida tivessem sido corretamente identificadas. Os engenheiros que construíram a espaçonave calcularam o impulso em unidades inglesas, libra-força. Os engenheiros do Jet Propulsion Laboratory acreditaram que estavam recebendo essa informação em unidades métricas, newtons. Ninguém percebeu o erro. [JPL/NASA image]
TABELA 1-4
Fatores de conversão
Grandeza
Unidade
Símbolo
Equivalente no SIa
Volume
litro mililitro
L mL
*10–3 m3 *10–6 m3
Comprimento
angstrom
Å
*10–10 m
polegada
in
*0,025 4 m
Massa
libra tonelada métrica (ou tonelada)
lb
*0,453 592 37 kg *1 000 kg
Força
dina
dyn
*10–5 N
Pressão
bar atmosfera atmosfera atmosfera torr (= 1 mm Hg) libra/in2
bar atm atm atm Torr psi
*105 Pa *101 325 Pa *1,013 25 bar 760 mm Hg = 760 torr 133,322 Pa 6 894,76 Pa
Energia
erg elétron-volt caloria, termoquímica Caloria (com C maiúsculo) unidade térmica britânica
erg eV cal Cal Btu
*10–7 J 1,602 176 655 × 10– 19 J *4,184 J *1 000 cal = 4,184 kJ 1 055,06 J
Potência
cavalo-vapor
Temperatura
grau centígrado (= Celsius) grau Fahrenheit
745,700 W °C °F
*K – 273,15 *1,8 (K – 273,15) + 32
a. Um asterisco (*) indica que a conversão é exata (por definição). Nosso metabolismo basal requer, aproximadamente, 46 Calorias por hora (h) por 100 libras (lb) de massa corpórea para manter as funções básicas necessárias para a vida, independentemente da realização de qualquer tipo de exercício. Uma pessoa que caminha com uma velocidade de 2 milhas por hora, em um trajeto regular, requer aproximadamente 45 Calorias por hora por 100 libras de massa corpórea, além do metabolismo basal. A mesma pessoa nadando a 2 milhas por hora consome 360 Calorias por hora por 100 libras, além do metabolismo basal. Uma caloria é a energia necessária para aquecer 1 grama de água de 14,5°C até 15,5°C. Um joule é a energia dispendida quando uma força de 1 newton atua sobre uma distância de 1 metro. Essa grande quantidade de energia pode elevar uma massa de 102 g (cerca de de libra) até a altura de 1 metro. 1 cal = 4,184 J 1 libra (massa) ≈ 0,453 6 kg 1 milha ≈ 1,609 km O símbolo ≈ deve ser lido como “é aproximadamente igual a”.
EXEMPLO
Conversões de Unidade
Expresse a taxa de energia usada por uma pessoa caminhando a 2 milhas por hora (46 + 45 = 91 Calorias por hora por 100 libras de massa corpórea) em quilojoules por hora por quilograma de massa corpórea. Solução Vamos converter cada unidade não pertencente ao SI separadamente. Inicialmente, observamos que 91 Calorias equivalem a 91 kcal. A Tabela 1-4 estabelece que 1 cal = 4,184 J, ou seja, 1 kcal = 4,184 kJ. Desse modo,
A Tabela 1-4 também mostra que 1 lb corresponde a 0,453 6 kg; assim, 100 lb = 45,36 kg. A taxa de consumo de energia é, consequentemente,
Poderíamos obter esse mesmo resultado fazendo um único cálculo:
TESTE A VOCÊ MESMO Uma pessoa nadando a 2 milhas por hora consome 360 + 46 Calorias por hora por 100 libras de massa corpórea. Expresse a energia consumida em kJ/h por kg de massa corpórea. (Resposta: 37 kJ/h por kg) 1-2
Unidades de Concentração
Uma solução é uma mistura homogênea de duas ou mais substâncias. A espécie em menor quantidade em uma solução é chamada de soluto, e a espécie em maior quantidade é chamada de solvente. Neste livro, a maioria das discussões refere-se a soluções aquosas, em que o solvente é a água. A concentração informa a quantidade de soluto contida em um determinado volume, ou em uma determinada massa, de solução ou de solvente. Uma substância homogênea apresenta a mesma composição em qualquer região. Quando o açúcar é dissolvido em água, a mistura é homogênea. Quando uma mistura apresenta diferenças de região para região (como o suco de laranja, no qual existem sólidos em suspensão), a mistura é dita heterogênea.
Molaridade e Molalidade Um mol é a quantidade que contém o número de Avogadro de partículas (átomos, moléculas, íons ou qualquer outra coisa). Molaridade (M) é o número de mols de uma substância por litro de solução. Um litro (L) é o volume de um cubo com 10 cm de aresta. Como 10 cm = 0,1 m, 1 L = (0,1 m)3 = 10–3 m3. As concentrações das substâncias químicas, indicadas entre colchetes, são geralmente expressas em mols por litro (M). Assim, “[H+]” significa “a concentração de H+”. Número de Avogadro = número de átomos em 12 g de 12C
As massas atômicas são apresentadas na tabela periódica no início deste livro. Veja o Boxe 3-3 para saber mais sobre massas atômicas. Os valores de algumas constantes físicas, como o número de Avogadro, também são apresentados no início do livro.
A massa atômica de um elemento é a massa, em gramas, contida em um número de Avogadro de átomos. A massa molecular de um composto é a soma das massas atômicas dos átomos da molécula. É a massa, em gramas, que contém o número de Avogadro de moléculas. Um eletrólito é uma substância que se dissocia em íons quando em solução. Em geral, os eletrólitos estão mais dissociados quando estão em água do que em outros solventes. Um composto que está quase totalmente dissociado em íons é chamado de eletrólito forte. Um composto que está parcialmente dissociado é chamado de eletrólito fraco. Eletrólito forte: quase que totalmente dissociado em íons em solução. Eletrólito fraco: parcialmente dissociado em íons em solução.
O cloreto de magnésio é um exemplo de um eletrólito forte. Em uma solução de MgCl2 0,44 M, 70% do magnésio está na forma de Mg2+ livre e 30% está na forma de MgCl+. A concentração de moléculas de MgCl2 é próxima de 0. Às vezes, a molaridade de um eletrólito forte é chamada de concentração formal (F), que é uma descrição de como a solução foi preparada pela dissolução de F mols por litro, mesmo se a substância é convertida em outras espécies em solução. Quando dizemos que a “concentração” de MgCl2 é 0,054 M na água do mar, estamos nos referindo, na verdade, à sua concentração formal (0,054 F). A “massa molecular” de um eletrólito forte é chamada de massa fórmula (MF), porque ela é a soma das massas atômicas dos átomos em uma fórmula, mesmo que haja poucas moléculas com essa fórmula. Neste livro, usa-se a abreviatura MF para representar tanto a massa fórmula quanto a massa molecular. MgCl+ é chamado par iônico. Ver Boxe 8-1.
EXEMPLO
Molaridade de Sais na Água do Mar
(a) A água do mar contém, normalmente, 2,7 g de sal (cloreto de sódio, NaCl) por 100 mL (= 100 × 10–3 L). Qual a molaridade do NaCl no oceano? (b) O oceano possui uma concentração de MgCl2 igual a 0,054 M. Quantos gramas de MgCl2 estão presentes em 25 mL de água do mar? Solução (a) A massa molecular do NaCl é 22,99 g/mol (Na) + 35,45 g/mol (Cl) = 58,44 g/mol. O número de mols de sal em 2,7 g é (2,7 g)/(58,44 g/mol) = 0,046 mol, assim a molaridade é
(b) A massa molecular do MgCl2 é 24,30 g/mol (Mg) + 2 × 35,45 g/mol (Cl) = 95,20 g/mol. A massa em 25 mL é
TESTE A VOCÊ MESMO Calcule a massa fórmula do CaSO4. Qual é a molaridade do CaSO4 em uma solução contendo 1,2 g de CaSO4 em um volume de 50 mL? Quantos gramas de CaSO4 estão presentes em 50 mL de uma solução 0,086 M? (Resposta: 136,14 g/mol, 0,18 M, 0,59 g) Para um eletrólito fraco, como o ácido acético, CH3CO2H, parte de suas moléculas se dissociam em íons em solução:
Molalidade (m) é a concentração expressa em número de mols de um soluto por quilograma de solvente (não é da solução total). A molalidade não muda quando ocorre variação da temperatura. Já a molaridade varia com a temperatura porque o volume de uma solução normalmente aumenta quando ela é aquecida. Abreviaturas que causam confusão: mol = mols
Composição Percentual A porcentagem de um componente em uma mistura ou em uma solução é usualmente expressa como uma porcentagem ponderal (porcentagem em massa, % m/m)
O etanol (CH3CH2OH) é normalmente comercializado na forma de uma solução 95% m/m; essa expressão significa que a solução tem 95 g de etanol por 100 g de solução total. O restante é a água. A porcentagem em volume (% v/v) é definida como:
Embora as unidades de massa ou volume devam sempre ser escritas para evitar ambiguidade, a massa está geralmente implícita quando encontramos apenas o símbolo “%” sem unidades.
Uma grandeza adimensional intimamente relacionada é
EXEMPLO
Convertendo Porcentagem Ponderal em Molaridade
Determine a molaridade e a molalidade do HCl 37,0% m/m. A massa específica de uma substância é a massa por unidade de volume. A tabela na contracapa deste livro nos informa que a massa específica desse reagente é 1,19 g/mL. Solução Para a encontrarmos a molaridade, precisamos determinar o número de mols de HCl por litro de solução. A massa de um litro de solução é (1,19 g/mL)(1 000 mL) = 1,19 × 103 g. A massa de HCl em 1 L é
A massa específica da água a 4°C é próxima de 1 g/mL, de modo que a densidade é aproximadamente igual à massa específica..
A massa molecular do HCl é 36,46 g/mol, de modo que a molaridade é
No caso da molalidade, precisamos encontrar o número de mols de HCl por quilograma de solvente (que é a água). A solução é 37,0% m/m de HCl, assim sabemos que 100,0 g de solução contêm 37,0 g de HCl e 100,0 – 37,0 = 63,0 g de H2O (= 0,063 0 kg). Contudo, 37,0g de HCl contêm 37,0 g/(36,46 g/mol) = 1,01 mol. Portanto, a molalidade é
TESTE A VOCÊ MESMO Calcule a molaridade e a molalidade de uma solução de HF a 49,0% m/m, usando a massa específica fornecida na contracapa deste livro. (Resposta: 28,4 M, 48,0 m) Quando 1,01 é dividido por 0,063 0, obtém-se 16,0. Entretanto, quando todos os cálculos são feitos com uma calculadora, obtém-se ao final 16,1, pois ao longo de todas as etapas do cálculo todos os algarismos são mantidos na calculadora, e somente no fim são arredondados. O número 1,01 era, na realidade, 1,014 8 e (1,014 8)/(0,063 0) = 16,1.
A Figura 1-2 ilustra uma medida em porcentagem ponderal na aplicação da química analítica em arqueologia.1 O ouro e a prata são encontrados juntos na natureza. Os pontos na Figura 1-2 mostram a porcentagem ponderal de ouro em mais de 1300 moedas de prata, cunhadas durante um período de 500 anos. Antes do ano 500 d.C., era raro que o teor de ouro fosse menor que 0,3% m/m. Por volta do ano 600 d.C. foram desenvolvidas técnicas para remover mais ouro da prata e, assim, algumas moedas passaram a ter menos que 0,02% m/m de ouro. Os quadrados na Figura 1-2 mostram as porcentagens para modernas falsificações conhecidas de peças fabricadas a partir de prata cujo teor de ouro é sempre menor do que aquele que era obtido nos anos de 200 a 500 d.C. A análise química torna fácil detectar essas falsificações.
FIGURA 1-2 Porcentagem ponderal do ouro como impureza em moedas de prata da Pérsia. Os quadrados coloridos representam falsificações modernas identificadas. Observe que a escala na ordenada é logarítmica. [A. A. Gordus e J. P. Gordus, Archaeological Chemistry, Adv. Chem. No. 138, American Chemical Society, Washington, DC, 1974, pp. 124-147.]
Partes por Milhão e Partes por Bilhão Às vezes a composição pode ser expressa em partes por milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb), termos que significam gramas de substância por milhão ou bilhão de gramas de solução total ou de mistura total, respectivamente.
Pergunta O que significa uma parte por milhão?
Uma solução de concentração 1 ppm corresponde a 1 μg de soluto por g de solução. Como a massa específica de uma solução aquosa diluída é próxima de 1,00 g/mL, frequentemente fazemos a equivalência 1 g de água com 1 mL de água. Portanto, 1 ppm em uma solução aquosa diluída corresponde aproximadamente a 1 μg/mL (= 1 mg/L), e 1 ppb = 1 ng/mL (= 1 μg/L).
EXEMPLO
Conversão de Partes por Bilhão em Molaridade
Os alcanos normais são hidrocarbonetos com a fórmula CnH2n+2. Os vegetais sintetizam seletivamente alcanos com número ímpar de átomos de carbono. A concentração de C29H60 na água da chuva no verão coletada em Hannover, Alemanha, é de 34 ppb. Encontre a molaridade do C29H60 e expresse a resposta com um prefixo da Tabela 1-3.
Solução Uma concentração de 34 ppb significa que existem 34 ng de C29H60 por grama de água da chuva, o que é praticamente o mesmo que 34 ng/mL porque a massa específica da água da chuva é praticamente 1,00 g/mL. Para encontrar a molaridade, precisamos saber quantos gramas de C29H60 estão contidos em um litro. Multiplicando nanogramas e mililitros por 1000, obtém-se 34 μg de C29H60 por litro de água de chuva:
A massa molar do C29H60 é 29 × 12,011 + 60 × 1,008 = 408,8 g/mol. Assim, a molaridade é
Um prefixo apropriado na Tabela 1-3 é o nano (n), que é um múltiplo de 10–9:
nM = nanomols por litro
TESTE A VOCÊ MESMO Quantos ppm de C29H60 estão presentes em uma solução de 23 μM C29H60? (Reposta: 9,4 ppm) Para gases, ppm está mais comumente relacionado com o volume do que a massa. A concentração de ozônio atmosférico (O3) na superfície da Terra medida na Espanha é mostrada na Figura 1-3. O valor do pico em 39 ppb significa 39 nL de O3 por litro de ar. É melhor indicar as unidades como “nL de O3/L” para evitar confusão. Uma concentração de 39 nL de O3 por litro de ar equivale ao mesmo que dizer que a pressão parcial do O3 é 39 nPa para cada Pa de pressão de ar. Se a concentração de O3 é 39 ppm e a pressão da atmosfera for 1,3 × 104 Pa em uma dada altitude, então a pressão parcial de O3 será (39 nPa de O3/Pa de ar) (1,3 × 104 Pa de ar) = (39 × 10–9 Pa de O3/Pa de ar)(1,3 × 104 Pa de ar) = 5,1 × 10–4 Pa de O3.
1-3
Preparo de Soluções
Para preparar uma solução com uma molaridade desejada, pesamos a massa correta do reagente puro, dissolvemos esta massa no solvente em um balão volumétrico (Figura 1-4). Em uma destilação, a água é fervida para separá-la das impurezas menos voláteis, e o vapor é condensado em líquido, o qual é coletado em um recipiente limpo. Na deionização (Seção 26-1) a água é passada através de uma coluna que remove impurezas iônicas. As impurezas não iônicas permanecem na água. Os termos água destilada e água deionizada são usados praticamente como sendo a mesma coisa.
FIGURA 1-3 Concentração de ozônio (ppb em volume, nL/L) e radiação solar (W/m2) medidos por estudantes em Argamasilla de Calatrava, Espanha, em 6 de fevereiro de 2008. O ozônio na superfície da Terra provém largamente da reação NO2 + luz solar → NO + O, seguido de O + O2 → O3. Os dados mostram que a concentração de O3 atinge o máximo após o pico máximo da radiação solar. [Dados de Y.T. Díaz-de-Mera, A. Notario, A. Aranda, J.A. Adame, A. Parra, E. Romero, J. Parra e F. Muñoz, “Research Study of Tropospheric Ozone and Meteorological Parameters to Introduce High School Students to Scientific Procedures”, J. Chem. Ed. 2011, 88, 392.]
FIGURA 1-4 Um balão volumétrico contém um volume exato quando o nível do líquido é ajustado até o meio da marca existente no colo fino do balão. O uso deste balão está descrito na Seção 2-5.
EXEMPLO
Preparo de uma Solução com uma Molaridade Desejada
O sulfato de cobre(II) pentaidratado, CuSO4 · 5H2O, tem 5 mols de H2O para cada mol de CuSO4 no sólido cristalino. A massa formal do CuSO4 · 5H2O (= CuSO9H10) é 249,68 g/mol. (O sulfato de cobre(II)
cristalino sem água de hidratação tem fórmula CuSO4 e é chamado sal anidro.) Quantos gramas de CuSO4 · 5H2O devem ser dissolvidos em um balão volumétrico de 500 mL para preparar uma solução 8,00 mM de Cu2+? Solução Uma solução 8,00 mM contém 8,00 × 10–3 mol/L. Precisamos de
A massa necessária de reagente é
.
Usando um balão volumétrico: O procedimento consiste em transferir 0,999 g de CuSO4 · 5H2O sólido para um balão volumétrico de 500 mL, adicionar cerca de 400 mL de água destilada e agitar até a total dissolução do sólido. Diluir então com água destilada até atingir a marca de 500 mL e inverter o balão várias vezes para garantir a homogeneização completa. TESTE A VOCÊ MESMO Calcule a massa formal do CuSO4 anidro. Quantos gramas devem ser dissolvidos em 250,0 mL para preparar uma solução 16,0 mM? (Resposta: 159,60 g/mol, 0,638 g). Diluição Você pode preparar uma solução diluída a partir de uma solução mais concentrada. Transfira um volume calculado da solução concentrada para um balão volumétrico e dilua até o volume final. O número de mols de reagente em V litros contendo M mols por litro de reagente é o produto M × V = mol/L × L. Igualando o número de mols existentes na solução concentrada (conc.) com o número de mols presentes na solução diluída (dil.), obtemos a fórmula de diluição: Fórmula de diluição:
Você pode usar quaisquer unidades de concentração por volume (como mmol/L ou g/mL) e quaisquer unidades de volume (como mL ou µL), desde que você empregue as mesmas unidades em ambos os lados da equação. Normalmente emprega-se mL para volume.
EXEMPLO
Preparo de uma Solução de HCl 0,100 M
A molaridade do HCl “concentrado” que é vendido para uso em laboratório é aproximadamente 12,1 M. Quantos mililitros deste reagente devem ser diluídos para se preparar 1,00 L de HCl 0,100 M? Solução A fórmula de diluição nos indica quantos mL devem ser retirados da solução concentrada para obter HCl 0,100 M: O símbolo ⇒ deve ser lido como “implica que”.
Para preparar a solução de HCl 0,100 M, colocamos cerca de 900 mL de água em um balão volumétrico de 1 L, adicionamos 8,26 mL de HCl concentrado e agitamos para misturar bem. Então diluímos até 1,000 L com água e invertemos o balão várias vezes para homogeneizar bem. A concentração não será exatamente 0,100 M porque o reagente não é exatamente 12,1 M. A tabela na contracapa deste livro fornece volumes de reagentes comuns necessários para preparar soluções de concentração 1,0 M. Adicione o reagente à água e não a água ao reagente no caso em que ocorre muita liberação de calor quando a água e o reagente se misturam. O ácido sulfúrico concentrado é o reagente mais comum que pode causar respingos e levar a água à ebulição caso a
água seja adicionada ao ácido. Nunca adicione água ao H2SO4 concentrado; sempre adicione H2SO4 concentrado à água.
TESTE A VOCÊ MESMO Quantos mL de ácido nítrico 15,8 M devem ser diluídos a 0,250 L para preparar uma solução de HNO3 3,00 M? (Resposta: 47,5 mL) EXEMPLO
Um Cálculo Mais Complicado de Diluição
Uma solução de amônia em água é chamada de “hidróxido de amônio” devido ao equilíbrio
Em uma reação química, as espécies que aparecem no lado esquerdo da equação são chamadas reagentes, e as espécies que aparecem no lado direito são chamadas de produtos. Na Reação 1-4, o NH3 é um reagente e o NH4+ é um produto.
A massa específica do hidróxido de amônio concentrado, que contém 28,0% m/m de NH3, é 0,899 g/mL. Que volume desse reagente deve ser diluído para preparar 500,0 mL de uma solução de NH3 0,250 M? Solução Para usar a Equação 1-5, precisamos saber a molaridade do reagente concentrado. A solução contém 0,899 g por mililitro e possui 0,280 g de NH3 por grama de solução (28,0% m/m), de modo que podemos escrever
Agora, podemos determinar o volume necessário da solução de NH3 14,8 M para preparar 500 mL de NH3 0,250 M:
O procedimento correto é adicionar cerca de 400 mL de água em um balão volumétrico de 500 mL, depois colocar 8,46 mL do reagente concentrado, e agitar para misturar. Em seguida, diluir com água exatamente até a marca de 500 mL e inverter o balão fechado várias vezes para homogeneizar bem. TESTE A VOCÊ MESMO A partir da massa específica do HNO3 70,4% m/m, encontrada na contracapa deste livro, calcule a molaridade do HNO3. (Resposta: 15,8 M) 1-4
Cálculos Estequiométricos para Análise Gravimétrica
A análise química baseada na pesagem de um produto final é denominada análise gravimétrica. A análise gravimétrica e as titulações (análise volumétrica) são praticadas desde muito antes do surgimento dos instrumentos eletrônicos que fazem medições químicas. Chamamos as análises gravimétrica e volumétrica de métodos “clássicos” ou “via úmida” para distingui-las dos métodos instrumentais de análise que foram adicionados ao arsenal da química analítica no último século. Os métodos clássicos ainda têm espaço na química analítica moderna. Eles podem ser mais exatos que os métodos instrumentais e podem ser usados para preparar padrões para os métodos instrumentais de análise. Estequiometria é o cálculo das quantidades de substâncias que participam de uma reação química. É uma palavra oriunda dos vocábulos gregos stoicheion (componentes mais simples) e metiri (medir). O Capítulo 27 é dedicado à análise gravimétrica, e o Capítulo 7 introduz as titulações. Ambos os capítulos podem ser abordados em qualquer momento desejado de seu curso.
O ferro existente em um comprimido de suplemento alimentar pode ser medido gravimetricamente a partir da dissolução deste último e na conversão do ferro em Fe2O3 sólido. A partir da massa do Fe2O3, podemos calcular a massa de ferro no comprimido original. Apresentamos a seguir as etapas deste procedimento: Etapa 1 Comprimidos contendo fumarato de ferro(II) (Fe2+ + C4H2O42–) e um aglutinante inerte são misturados com 150 mL de HCl 0,100 M para dissolver o Fe2+. A solução é filtrada para remover o aglutinante insolúvel. Etapa 2 O ferro(II), presente no líquido límpido, é oxidado a ferro(III) com excesso de peróxido de hidrogênio:
A unidade de massa fórmula (MF) é g/mol.
Etapa 3 Adiciona-se hidróxido de amônio para precipitar o óxido de ferro(III) hidratado, que é um gel. O gel é filtrado e aquecido em um forno para convertê-lo no sólido puro Fe2O3.
Fe2O3(s) significa que o Fe2O3 é um sólido. Outras abreviações para fases são (l) para líquido, (g) para gás, e (aq) para aquoso (significando “dissolvido em água”).
Faremos agora alguns cálculos práticos de laboratório para essa análise.
EXEMPLO
Quantos Comprimidos Devemos Analisar?
Em uma análise gravimétrica, precisamos obter produto suficiente para realizar com exatidão uma pesagem. Cada comprimido de um suplemento alimentar contém ~15 mg de ferro. Quantos comprimidos devem ser analisados para fornecer 0,25 g do produto Fe2O3? O símbolo ~ deve ser lido como “aproximadamente”.
Solução Podemos responder a essa pergunta se conhecermos quantos gramas de ferro estão contidos em 0,25 g de Fe2O3. A massa fórmula do Fe2O3 é 159,69 g/mol, então 0,25 g é igual a
Cada mol de Fe2O3 possui 2 mol de Fe, logo 0,25 g de Fe2O3 contém
A massa de Fe é
Na tabela periódica no início deste livro, encontra-se que a massa atômica do Fe é 55,845 g/mol.
Se cada comprimido contém 15 mg de Fe, o número de comprimidos necessário é
TESTE A VOCÊ MESMO Se cada comprimido fornece ~20 mg de ferro, quantos comprimidos devem ser analisados para se obter ~0,50 g de Fe2O3? (Resposta: 18) EXEMPLO
Quanto de H2O2 É Necessário?
Qual a massa de uma solução de H2O2 a 3,0% m/m é necessária para fornecer um excesso de reagente de 50% para a Reação 1-7 com 12 comprimidos de um suplemento alimentar contendo ferro? 3,0% m/m significa 3,0 g de H2O2 por 100 g de solução ou 0,030 g de H2O2 por g de solução.
Essa relação nunca deve ser esquecida.
Solução Doze comprimidos fornecem 12 comprimidos × (0,015 g Fe2+/comprimido) = 0,18 g de Fe2+, ou (0,18 g de Fe2+)/(55,845 g de Fe2+/mol de Fe2+) = 3,2 × 10–3 mol de Fe2+. A Reação 1-7 requer 1 mol de H2O2 para cada 2 mol de Fe2+. Portanto, 3,2 × 10–3 mol de Fe2+ necessitam de (3,2 × 10–3 mol de Fe2+)(1 mol de H2O2/2 mol de Fe2+) = 1,6 × 10–3 mol de H2O2. Um excesso de 50% significa que queremos usar 1,50 vez a quantidade estequiométrica: (1,50)(1,6 × 10–3 mol de H2O2) = 2,4 × 10–3 mol de H2O2. A massa fórmula do H2O2 é 34,01 g/mol, então a massa necessária de H2O2 puro é (2,4 × 10– 3 mol)(34,01 g/mol) = 0,082 g. Mas o peróxido de hidrogênio está disponível como uma solução a 3,0% m/m, de modo que a massa necessária da solução é
TESTE A VOCÊ MESMO Qual é a massa de solução de H2O2 a 3,0% m/m necessária para fornecer um excesso de reagente de 25% para a Reação 1-7 com 12 comprimidos de suplemento alimentar contendo ferro? (Resposta: 2,3 g) EXEMPLO
O Cálculo Gravimétrico
A massa final de Fe2O3 isolado no fim do experimento, descrito no exemplo anterior, foi de 0,277 g. Qual é a massa média de ferro por comprimido de suplemento alimentar? Guarde todos os algarismos disponíveis em sua calculadora durante os cálculos intermediários. O resultado do produto 1,73 × 2 não é 3,47. Entretanto, com os algarismos extras existentes na calculadora, a resposta é 3,47.
Solução O número de mols de Fe2O3 é (0,277 g)/(159,69 g/mol) = 1,73 × 10–3 mol. Existem 2 mol de Fe por fórmula unitária, assim o número de mols de Fe no produto é
A massa de Fe é (3,47 × 10–3 mol de Fe)(55,845 g de Fe/mol de Fe) = 0,194 g de Fe. Então, cada um dos 12 comprimidos contém uma massa média de (0,194 g de Fe)/12 = 0,016 1 g = 16,1 mg. TESTE A VOCÊ MESMO Se a massa isolada de Fe2O3 fosse 0,300 g, qual seria a massa média de ferro por comprimido? (Resposta: 17,5 mg)
Reagente Limitante O reagente limitante em uma reação química é aquele que é consumido primeiro. Uma vez esgotado o reagente limitante, a reação cessa. Para determinar qual reagente é o limitante, encontre o número de mols de cada reagente disponível. Compare o número de mols encontrado com o número de mols necessário para a reação completa.
EXEMPLO
Reagente Limitante
A Reação 1-9 exige um mol de oxalato para cada mol de cálcio.
Se você mistura 1,00 g de CaCl2 (MF 110,98) com 1,15 g de Na2C2O4 (MF 134,00) em água, quem é o reagente limitante? Qual é a fração do reagente não limitante que resta? Solução O número de mols disponível de cada reagente é
A reação exige 1 mol de Ca2+ para cada 1 mol de C2O42–. Assim, o oxalato acabará primeiro. O Ca2+ remanescente é 9,01 – 8,58 = 0,43 mmol. A fração de Ca2+ não reagido é (0,43 mmol/9,01 mmol) = 4,8%. TESTE A VOCÊ MESMO A reação 5H2C2O4 + 2MnO4– + 6 H+ → 10CO2 + 2Mn2+ + 8H2O exige 5 mols de H2C2O4 para 2 mol de MnO4–. Se você mistura 1,15 g de Na2C2O4 (MF 134,00) com 0,60 g de KMnO4 (MF 158,03) e um excesso de solução aquosa ácida, qual dos reagentes é limitante? Quanto de CO2 é produzido? (Resposta: 8,58 mmol de C2O42– (8,58 mmol de C2O42– = 3,43 mmol de MnO4–. A quantidade disponível de KMnO4 é 0,60 g/(158,03 g/mol) = 3,80 mmol, que é mais do que o necessário. Portanto, Na2C2O4 é o reagente limitante. A reação de 8,58 mmol de C2O42– produz (10 mol CO2/5 mol C2O42–) (8,58 mmol C2O42–) = 17,16 mmol CO2.) Termos Importantes Termos introduzidos em negrito neste capítulo e também definidos no Glossário.
abscissa análise gravimétrica anidro concentração concentração formal eletrólito estequiometria indicador litro massa atômica massa específica massa fórmula massa molecular mol molalidade molaridade ordenada porcentagem em volume
porcentagem ponderal ppb (partes por bilhão) ppm (partes por milhão) produto reagente reagente limitante soluto solvente unidades do SI
Resumo As unidades básicas do sistema SI incluem: metro (m), quilograma (kg), segundo (s), ampère (A), kelvin (K) e mol (mol). As grandezas derivadas, como a força (newton, N), a pressão (pascal, Pa) e a energia (joule, J), podem ser expressas em termos das unidades básicas. Nos cálculos, as unidades devem ser manipuladas juntamente com os números. Prefixos, como quilo e mili são usados para designar múltiplos de unidades. Normalmente, a concentração é expressa como molaridade (número de mols de soluto por litro de solução), molalidade (número de mols de soluto por quilograma de solvente), concentração formal (unidades de fórmula por litro), composição percentual e partes por milhão. Para calcular as quantidades de reagentes necessárias para preparar soluções, a relação Mconc · Vconc = Mdil · Vdil é útil, pois ela iguala o número de mols do reagente, retirado de uma solução estoque, ao número de mols transferidos para uma nova solução. Devemos ser capazes de usar as relações estequiométricas para calcular as massas ou volumes necessários de reagentes para as reações químicas. A partir da massa do produto de uma reação, devemos ser capazes de calcular quanto de reagente foi consumido. O reagente limitante em uma reação química é aquele que é consumido primeiro. Uma vez esgotado o reagente limitante, a reação cessa.
Exercícios As soluções completas dos Exercícios são fornecidas no fim do livro, enquanto, para os Problemas, somente são dadas as respostas numéricas. Os Exercícios cobrem muitas das principais ideias de cada capítulo.
1-A. Uma solução com um volume final de 500,0 mL foi preparada pela dissolução de 25,00 mL de metanol (CH3OH, massa específica 5 0,791 4 g/mL) em clorofórmio. (a) Calcule a molaridade do metanol na solução. (b) Se a massa específica da solução é 1,454 g/mL, calcule a molalidade do metanol. 1-B. Uma solução de 48,0% m/m de HBr em água possui massa específica de 1,50 g/mL. (a) Calcule a concentração formal de HBr. (b) Que massa de solução contém 36,0 g de HBr? (c) Que volume de solução contém 233 mmols de HBr? (d) Qual o volume necessário dessa solução para preparar 0,250 L de HBr 0,160 M? 1-C (a). Uma solução contém 12,6 ppm de Ca(NO3)2 dissolvido (que se dissocia em Ca2+ + 2NO3–). Calcule a concentração de NO3– em partes por milhão. (b) Quantos ppm de Ca(NO3)2 existem em uma solução de Ca(NO3)2 0,144 mM? (c) Quantos ppm de nitrato, (NO3–), estão presentes em uma solução de Ca(NO3)2 0,144 mM? 1-D. A amônia reage com o íon hipobromito, OBr–, de acordo com a reação 2NH3 + 3OBr– → N2 + 3Br– + 3H2O. Qual é o reagente limitante se 5,00 mL de solução de NaOBr 0,623 M são adicionados a 183 mL de NH3 28% m/m (NH3 14,8 M, na contracapa deste livro)? Quanto sobra do reagente em excesso?
Problemas Unidades e Conversões 1-1. (a) Escreva as unidades do SI de comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, temperatura e quantidade de substância; escreva as abreviaturas para cada uma delas. (b) Escreva as unidades e símbolos para frequência, força, pressão, energia e potência. 1-2. Escreva os nomes e as abreviaturas para cada prefixo de 10–24 até 1024. Que abreviaturas são escritas com letras maiúsculas?
1-3. Escreva o nome e o número representado por cada símbolo visto a seguir. Por exemplo, para kW você deverá escrever kW 5 quilowatt 5 103 watts. (a) mW (b) pm (c) kΩ (d) μF (e) TJ (f) ns (g) fg (h) dPa 1-4. Expresse as quantidades a seguir com as abreviaturas para as unidades e prefixos das Tabelas 1-1 até 1-3. (a) 10–13 joules (b) 4,317 28 × 10–8 farads (c) 2,997 9 × 1014 hertz (d) 10–10 metros (e) 2,1 × 1013 watts (f) 48,3 × 10–20 mols 1-5. A queima de combustíveis fósseis pela humanidade em 2012 introduziu aproximadamente 8 petagramas (Pg) de carbono por ano na atmosfera na forma de CO2. (a) Quantos kg de C foram lançados na atmosfera a cada ano? (b) Quantos kg de CO2 foram lançados na atmosfera a cada ano? (c) Uma tonelada métrica é igual a 1000 kg. Quantas toneladas métricas de CO2 foram lançadas na atmosfera por ano? Existem 7 bilhões de habitantes na Terra. Encontre a produção per capita de CO2 (toneladas de CO2 por pessoa por ano). 1-6. Eu sempre gostei de comer atum. Infelizmente um estudo do teor de mercúrio em atum enlatado feito em 2010 encontrou que pedaços de atum branco continham 0,6 ppm de Hg e pedaços de atum light continham 0,14 ppm.2 A Agência NorteAmericana de Proteção ao Meio Ambiente recomenda não mais do que 0,1 mg Hg/kg de peso corporal por dia. Eu peso 68 kg. Com que frequência posso consumir uma lata contendo 6 onças (1 lb = 16 oz) de pedaços de atum branco a fim de que, na média, não tenha mais do que 0,1 mg Hg/kg de peso corporal por dia? Caso eu mude para pedaços de atum light, com que frequência posso ingerir o conteúdo de uma lata? 1-7. Quantos joules por segundo e quantas calorias por hora são produzidos por uma máquina de 100,0 cavalos-vapor? 1-8. Uma mulher com 120 libras que trabalha em um escritório consome cerca de 2,2 × 103 kcal/dia, enquanto a mesma mulher escalando uma montanha necessita de 3,4 × 103 kcal/dia. (a) Expresse esses números em termos de joules por segundo por quilograma de massa corpórea (= watts por quilograma). (b) Quem consome mais potência (watts), a funcionária que trabalha no escritório ou uma lâmpada de 100 W? 1-9. Quantos joules por segundo (J/s) são gastos por uma máquina que consome 5,00 × 103 unidades térmicas britânicas por hora (Btu/h)? Quantos watts (W) essa máquina consome? 1-10. A tabela a seguir mostra a eficiência dos motores de diversos automóveis. Consumo de combustível (L/100 km)
Emissão de CO2 (g CO2/km)
Peugeot 107
4,6
109
Audi Cabriolet
11,1
266
Chevrolet Tahoe
14,6
346
Modelo de carro Motores a gasolina
Motores a diesel
Peugeot 107
4,1
109
Audi Cabriolet
8,4
223
Fonte: M. T. Oliver-Hoyo e G. Pinto “Using the Relationship Between Vehicle Fuel Consumption and CO2 Emissions to Illustrate Chemical Principles”, J. Chem. Ed. 2008, 85, 218. (a) Uma milha corresponde a 5280 pés e um pé equivale a 12 polegadas. Use a Tabela 1-4 para determinar quantas milhas existem em 1 km. (b) O motor a gasolina do modelo Peugeot 107 consome 4,6 L de combustível para cada 100 km. Expresse a eficiência da combustão em milhas por galão. Um galão líquido americano contém 3,785 4 L. (c) O motor a diesel do Cabriolet é mais eficiente do que o motor a gasolina do mesmo automóvel. Quantas toneladas métricas de CO2 são produzidas pelos motores a gasolina e a diesel do Cabriolet após rodarem 15 000 milhas? Uma tonelada métrica equivale a 1000 kg. 1-11. A lei de Newton estabelece que força = massa × aceleração. Também sabemos que energia = força × distância e que pressão = força/área. A partir dessas relações, deduza as dimensões de newtons, joules e pascais em termos das unidades fundamentais do SI na Tabela 1-1. Confira sua resposta na Tabela 1-2. 1-12. A precipitação de poeira em Chicago ocorre a uma taxa de 65 mg m–2 dia–1. Os principais elementos metálicos presentes nessa poeira são Al, Mg, Cu, Zn, Mn e Pb.3 O Pb se acumula em uma taxa de 0,03 mg m–2 dia–1. Quantas toneladas métricas (1 tonelada métrica 5 1000 kg) de Pb se depositam em uma região de Chicago com 535 km2 durante 1 ano? Unidades de Concentração 1-13. Defina os termos seguintes: (a) molaridade (b) molalidade (c) massa específica (d) porcentagem ponderal (e) porcentagem volumétrica (f) partes por milhão (g) partes por bilhão (h) concentração formal 1-14. Por que é mais exato dizer que a concentração de uma solução de ácido acético é 0,01 F em vez de 0,01 M? (Apesar dessa distinção, usualmente escrevemos 0,01 M.) 1-15. Qual a concentração formal (expressa em mol/L = M) de NaCl quando dissolvemos 32,0 g do sal em água e diluímos a 0,500 L? 1-16. Quantos gramas de metanol (CH3OH, MF 32,04) estão contidos em 0,100 L de uma solução aquosa a 1,71 M de metanol (isto é, 1,71 mol de CH3OH/L de solução)? 1-17. (a) A Figura 1-1 mostra um pico de concentração de O3 de 19 mPa na estratosfera. A Figura 1-3 mostra um pico de concentração de O3 de 39 ppb ao nível do solo em uma dada localidade. Para comparar essas concentrações, converta 39 ppb para pressão em mPa. Qual das concentrações é a maior? Para converter ppb em mPa, admita que a pressão atmosférica na superfície da Terra é 1 bar = 105 Pa. Se a pressão atmosférica é 1 bar, então a concentração de 1 ppb é 10–9 bar. (b) A pressão da atmosfera a 16 km de altitude na estratosfera é 9,6 kPa. O pico de pressão de O3 nessa altitude na estratosfera na Figura 1-1 é 19 mPa. Converta a pressão de 19 mPa em ppb quando a pressão atmosférica é 9,6 kPa. 1-18. A concentração de um gás está relacionada com a sua pressão pela lei do gás ideal:
em que n é o número de mols, V é o volume (L), P é a pressão (bar) e T é a temperatura (K). (a) A pressão máxima de ozônio na atmosfera da Antártica na Figura 1-1 é 19 mPa. Converta essa pressão para bar. (b) Encontre a concentração molar do ozônio no item (a) se a temperatura for –70°C.
1-19. Os gases nobres (Grupo 18 na tabela periódica) têm as seguintes concentrações em volume no ar seco: He, 5,24 ppm; Ne, 18,2 ppm; Ar, 0,934%; Kr, 1,14 ppm; Xe, 87 ppb. (a) A concentração de 5,24 ppm de He significa 5,24 μL de He por litro de ar. Usando a lei do gás ideal, dada no Problema 1-16, calcule quantos mols de He estão contidos em 5,24 μL de He, a 25,00°C (298,15 K) e 1,000 bar. Esse número é a molaridade do He no ar. (b) Determine as concentrações molares de Ar, Kr e Xe no ar, a 25°C e 1 bar. 1-20. Qualquer solução aquosa diluída tem massa específica próxima a 1,00 g/mL. Suponha que a solução contém 1 ppm de soluto. Expresse a concentração do soluto em g/L, μg/L, μg/mL e mg/L. 1-21. A concentração do alcano C20H42 (MF 282,55) em uma dada amostra de água da chuva é 0,2 ppb. Assumindo-se que a massa específica da água da chuva é próxima de 1,00 g/mL, encontre a concentração molar de C20H42. 1-22. Quantos gramas de ácido perclórico, HClO4, estão contidos em 37,6 g de uma solução aquosa de HClO4 a 70,5% m/m? Quantos gramas de água estão presentes nessa mesma solução? 1-23. A massa específica de uma solução aquosa de ácido perclórico a 70,5% m/m é 1,67 g/mL. Lembre-se de que a massa refere-se à massa de solução (= g de HClO4 + g de H2O). (a) Quantos gramas de solução existem em 1,000 L de solução? (b) Quantos gramas de HClO4 existem em 1,000 L de solução? (c) Quantos mols de HClO4 existem em 1,000 L de solução? 1-24. Uma solução aquosa contendo 20,0% m/m de KI tem massa específica de 1,168 g/mL. Calcule a molalidade (m, não M) da solução de KI. 1-25. Uma célula da glândula adrenal possui cerca de 2,5 × l04 minúsculos compartimentos chamados vesículas que contêm o hormônio epinefrina (também chamado de adrenalina). (a) Uma célula inteira possui em torno de 150 fmol de epinefrina. Quantos attomols (amol) de adrenalina possui cada vesícula? (b) Quantas moléculas de epinefrina existem em cada vesícula? (c) O volume de uma esfera de raio r é πr3. Determine o volume de uma vesícula esférica com 200 nm de raio. Expresse sua resposta em metros cúbicos (m3) e litros, lembrando que 1 L = 10–3 m3. (d) Calcule a concentração molar de epinefrina na vesícula considerando que ela contenha 10 amol desse hormônio. 1-26. A concentração de açúcar (glicose, C6H12O6) no sangue humano varia de 80 mg/dL antes das refeições até 120 mg/dL, após as refeições. A abreviatura dL corresponde a decilitro = 0,1 L. Calcule a molaridade da glicose no sangue antes e após as refeições. 1-27. Uma solução aquosa de um anticongelante contém etilenoglicol (HOCH2CH2OH, MF 62,07) em uma concentração de 6,067 M e possui massa específica de 1,046 g/mL. (a) Determine a massa de 1,000 L dessa solução e a massa em gramas de etilenoglicol por litro. (b) Calcule a molalidade do etilenoglicol nessa solução. 1-28. Proteínas e carboidratos fornecem 4,0 Cal/g, enquanto as gorduras fornecem 9,0 Cal/g. (Lembre que 1 Cal, com C maiúsculo, na realidade é 1 kcal.) As porcentagens ponderais desses componentes em alguns alimentos são as seguintes:
% m/m de proteína
% m/m de carboidrato
% m/m de gordura
Farelo de trigo
9,9
79,9
–
Rosquinha
4,6
51,4
18,6
24,2
–
20,3
–
12,0
Alimento
Hambúrguer (cozido) Maçã
Calcule o número de calorias por grama e calorias por onça em cada um desses alimentos. (Use a Tabela 1-4 para converter gramas em onças e lembre que existem 16 onças em 1 libra.) 1-29. É recomendado que a água potável contenha 1,6 ppm de fluoreto (F–) para prevenir a cárie dentária. Considere um reservatório com um diâmetro de 4,50 × 102 m e 10,0 m de profundidade. (O volume é pr2h em que r é o raio e h é a altura.)
Quantos gramas de F– devem ser adicionados para se obter 1,6 ppm? O fluoreto provém do hexafluorossilicato de hidrogênio, H2SiF6. Quantos gramas de H2SiF6 contêm essa quantidade de fluoreto? Preparo de Soluções 1-30. Quantos gramas de ácido bórico B(OH)3 (MF 61,83) devem ser usados para preparar 2,00 L de uma solução 0,050 0 M? Que tipo de frasco deve ser usado para o preparo dessa solução? 1-31. Descreva como se deve preparar aproximadamente 2 L de uma solução de ácido bórico 0,050 0 m, B(OH)3. 1-32. Qual o volume máximo de uma solução 0,25 M de hipoclorito de sódio (NaOCl, água sanitária) que se pode preparar pela diluição de 1,00 L de uma solução de NaOCl 0,80 M? 1-33. Quantos gramas de uma solução 50% m/m de NaOH (MF 40,00) devem ser diluídos para preparar 1,00 L de uma solução de NaOH 0,10 M? (Resposta com dois algarismos significativos.) 1-34. Um frasco de ácido sulfúrico concentrado, rotulado como 98,0% m/m em H2SO4, possui a concentração de 18,0 M. (a) Quantos mililitros de reagente devem ser diluídos para preparar 1,000 L de uma solução de H2SO4 1,00 M? (b) Calcule a massa específica do ácido sulfúrico a 98,0% m/m. 1-35. Qual a massa específica de uma solução aquosa a 53,4% m/m de NaOH (MF 40,00), se 16,7 mL dessa solução diluída a 2,00 L resultam em uma solução de NaOH 0,169 M? Cálculos Estequiométricos 1-36. Quantos mililitros de uma solução de H2SO4 3,00 M são necessários para reagir com 4,35 g de um sólido contendo 23,2% m/m de Ba(NO3)2 se a reação é Ba2+ + SO42 → BaSO4(s)? 1-37. Quantos gramas de uma solução aquosa de HF 0,491% m/m são necessários para prover um excesso de 50% para reagir com 25,0 mL de uma solução de Th4+ 0,023 6 M pela reação Th4+ + 4F– → ThF4(s)? 1-38. Para entreter crianças de 2 a 90 anos, gosto de estourar rolhas de garrafas contendo vinagre e bicarbonato de sódio. Coloco cerca de 50 mL de vinagre em um frasco plástico de 500 mL. Então, envolvo cerca de 5 g de bicarbonato de sódio (NaHCO3) em um pedaço de pano e introduzo o pano dentro da garrafa. Coloco uma rolha que se ajuste firmemente na boca da garrafa e me afasto para trás. A reação química produz CO2(g) que pressuriza a garrafa até que, ao final, a rolha explode ao ar. Todos sorriem.
(a) Determine a massa fórmula do ácido acético e do bicarbonato de sódio. (b) Quantos gramas de ácido acético são necessários para reagir com 5 g de NaHCO3? (c) O vinagre contém ~5% m/m de ácido acético. Quantos gramas de vinagre são necessários para reagir com 5 g de NaHCO3? A massa específica do vinagre é próxima a 1,0 g/mL. Quantos mL de vinagre são necessários para reagir com 5 g de NaHCO3? (d) Qual é o reagente limitante quando você mistura 50 mL de vinagre com 5 g de NaHCO3? (e) Use a lei dos gases ideais (Problema 1-18) para calcular quantos L de CO2(g) são produzidos se P = 1 bar e T = 300 K. Se existe 0,5 L de ar interno na garrafa, que pressão pode ser gerada para estourar a rolha?
MICROBALANÇA DE CRISTAL DE QUARTZO MEDE UMA BASE ADICIONADA AO DNA
(a) Lâmina de quartzo utilizada para construir uma (b) microbalança. [Cortesia de LapTech Precision Inc.] (c) Resposta do cristal de quartzo piezoelétrico à adição de nucleotídeos a um padrão de DNA que pode acomodar apenas uma citosina (C) no nal de um lamento em crescimento. A cobertura do DNA sobre o ouro é 20 ng/cm2 5 1,2 pmol/cm2. A estabilização da temperatura do cristal e das soluções dos reagentes a 6 0,001ºC produz um ruído de 6 0,05 Hz. [Dados de H. Yoshimine, T. Kojima, H. Furusawa e Y. Okahata, “Small Mass-Change Detectable Quartz Crystal Microbalance and Its Application to Enzymatic One-Base Elongation on DNA”, Anal. Chem. 2011, 83, 8741.] Um cristal de quartzo que vibra em sua frequência de ressonância por meio de um campo elétrico oscilante mantém a exatidão do tempo em seu relógio de pulso. Uma microbalança de cristal de quartzo, capaz de pesar nanogramas, consiste em uma lâmina de quartzo inserida entre dois eletrodos nos de Au.1,2 Quando uma massa adicional se liga à superfície dos eletrodos de ouro, a frequência de oscilação diminui proporcionalmente à massa que se ligou.3 A ligação de 0,62 ng (nanograma = 10–9 g) em uma área de 1 cm2 de um eletrodo de ouro reduz a frequência de ressonância de 27 MHz do cristal para uma frequência observável de 1 Hz.
Uma substância, como o quartzo, cujas dimensões mudam quando um campo elétrico é aplicado é denominada piezoelétrica.
O ácido desoxirribonucleico (DNA), cuja estrutura está descrita no Apêndice L, conduz informação genética codi cada numa sequência de quatro bases nucleotídicas denominadas A, T, C e G. Na estrutura em hélice dupla do DNA, A e T estão sempre ligadas uma a outra por ligações de hidrogênio, e C e G estão sempre ligadas entre si por meio de ligações de hidrogênio. Para replicar o DNA, a enzima DNA polimerase emprega um único padrão de lamento de DNA e os blocos de construção dATP, dTTP, dCTP e dGTP para produzir um novo lamento complementar de DNA. T no padrão especi ca que A será usada na posição correspondente do novo lamento. De modo análogo, A especi ca T, C especi ca G e G especi ca C. Com uma microbalança de cristal de quartzo, é possível medir a adição de um nucleotídeo à cadeia de DNA em crescimento. O DNA está quimicamente ancorado a um eletrodo de ouro do cristal piezoelétrico. Quando o nucleotídeo correto é adicionado, a massa de DNA aumenta e a frequência de oscilação do cristal de quartzo diminui. No painel c, o lamento duplo de DNA está com falta de uma C na extremidade direita da cadeia superior. O grá co mostra as variações na frequência de oscilação do cristal quando os blocos de construção dos nucleotídeos são adicionados na presença da DNA polimerase. Observam-se apenas pequenas alterações quando da adição de dTTP, dGTP e dATP. Essas alterações são eliminadas quando os reagentes são removidos. Entretanto, a adição de dCTP após quase 50 minutos levou a uma grande e irreversível alteração quando C se liga covalentemente à posição terminal. A adição de mais dCTP em torno de 85 minutos não teve efeito adicional. A alteração de frequência observada de – 4,4 Hz é consistente com a massa adicional de um único nucleotídeo ao DNA.
N
este capítulo, descrevem-se alguns dos equipamentos básicos de laboratório e as manipulações associadas às medidas químicas gravimétricas e volumétricas (“via úmida”).4 Introduz-se, também, a utilização de planilhas, que se tornaram essenciais para qualquer um que manipule dados quantitativos.
FIGURA 2-1 Óculos de proteção ou óculos de segurança com proteções laterais são necessários durante toda a permanência em um laboratório. [stayorgo / iStockphoto.]
2-1
Segurança, Ética no Manuseio de Produtos Químicos e de Resíduos
Os experimentos químicos, do mesmo modo que dirigir um carro ou utilizar um aparelho doméstico, envolvem riscos. A regra básica de segurança é familiarizar-se com os perigos e, então, não fazer algo que você (ou seu professor) considere perigoso. Se você acredita que uma operação é perigosa, discuta-a primeiro e não a execute até estar seguro de quais são os procedimentos corretos e as precauções necessárias. Antes de começar a trabalhar em um determinado laboratório, é importante que você se familiarize com suas normas de segurança.5 Devemos usar óculos de segurança, com proteções laterais (Figura 2-1), todo o tempo que estivermos em um laboratório, visando proteger os olhos de projeções de líquidos e fragmentos de vidro. Essas projeções ocorrem quando menos se espera. Lentes de contato não são recomendadas no laboratório porque vapores podem ficar retidos entre as lentes e os olhos. Podemos proteger a pele de respingos e do fogo usando um guarda-pó resistente a chamas. Luvas de borracha devem ser usadas quando se manipulam ácidos concentrados. Não se deve comer ou beber no interior de um laboratório. Os solventes orgânicos, os ácidos concentrados e a amônia concentrada devem ser manipulados em capela. O fluxo de ar que percorre a capela mantém os vapores fora do laboratório e os dilui antes de serem expelidos pela chaminé localizada na parte externa do prédio. Nunca se deve gerar uma grande quantidade de vapores tóxicos que possam escapar pela capela. É aconselhável o uso de uma máscara respiratória quando se manipula pós muito finos, devido ao risco de se produzir uma nuvem de poeira que pode ser inalada. Porque usamos guarda-pós
Em 2008, a assistente de pesquisa Sheharbano Sangji, 23 anos, da Universidade da Califórnia, estava retirando t-butil-lítio de um frasco com uma seringa. O êmbolo projetou-se para fora da seringa e o líquido pirofórico entrou em combustão; as chamas queimaram seu casaco e suas luvas. As queimaduras em 40% de seu corpo levaram-na à morte. Um guarda-pó resistente a chamas a teria protegido. Em 2014, uma delação premiada foi
obtida no processo criminal instaurado contra o professor em cujo laboratório o acidente ocorreu por “voluntariamente violar normas de saúde e de segurança”. Os derramamentos devem ser limpos imediatamente, para prevenir o contato acidental de qualquer pessoa que venha a usar o laboratório. O contato de produtos químicos com a pele deve ser tratado, inicialmente, lavando-se a área afetada com água abundante. Antes de ocorrer uma situação de emergência envolvendo projeções de produtos químicos no corpo ou nos olhos, deve-se conhecer a localização do chuveiro de emergência e do lavador de olhos no laboratório e também saber como usá-los. Se a pia estiver mais próxima do que o lavador de olhos, deve ser utilizada primeiro. É importante também que se saiba como operar o extintor de incêndio do laboratório e como usar o cobertor de emergência para extinguir o fogo de roupas em chamas. Um kit de primeiros socorros deve estar disponível, e devemos saber como e onde procurar assistência médica de emergência. Todos os frascos devem estar rotulados indicando o que contêm. Um frasco sem rótulo esquecido em um refrigerador ou em um armário representa um grande desperdício de tempo e dinheiro, pois seu conteúdo terá que ser analisado antes de ser descartado. Uma Ficha de Dados de Segurança de Materiais acompanha cada produto químico vendido nos Estados Unidos e identifica os perigos e as precauções de segurança para aquele produto químico. Ela fornece os procedimentos de primeiros socorros e instruções para o manuseio em caso de vazamento. Se quisermos que nossos netos herdem um planeta habitável, precisamos minimizar a geração de resíduos e descartar os resíduos químicos de maneira responsável. Quando for economicamente viável, a reciclagem de produtos químicos é preferível à eliminação de resíduos.6 O resíduo de dicromato (Cr2O72–), uma substância cancerígena, fornece um exemplo de uma estratégia aceitável de eliminação de um resíduo. O Cr(VI) proveniente do dicromato deve ser reduzido a Cr(III), menos tóxico, com hidrogenossulfito de sódio (NaHSO3) e precipitado com hidróxido como Cr(OH)3, uma substância insolúvel. A solução é, então, evaporada à secura, e o sólido é descartado em um aterro licenciado contendo uma manta de proteção para impedir o escape dos produtos químicos. Resíduos contendo prata ou ouro, que podem ser economicamente reciclados, devem ser tratados quimicamente para recuperar o metal.7 Limitações das luvas
Em 1997, a professora de química Karen Wetterhahn, 48 anos, da faculdade de Dartmouth, morreu quando absorveu uma gota de dimetilmercúrio que atravessou as luvas de borracha que estava utilizando. Muitos compostos orgânicos permeiam facilmente a borracha. A professora Wetterhahn era especialista em bioquímica dos metais, foi a primeira mulher professora de química em Dartmouth. Ela era mãe de dois lhos e desempenhava um importante papel em trazer mais mulheres para a ciência e engenharia. Química verde é um conjunto de princípios destinados a mudar nosso comportamento de forma a contribuir para manter a Terra como um planeta habitável.8 Alguns exemplos de comportamentos insustentáveis são o consumo de um recurso limitado e o descarte sem cuidado de resíduos. A química verde visa à concepção de produtos e processos químicos que reduzam a utilização de recursos e energia, e a geração de resíduos perigosos. É melhor conceber um processo para evitar a geração de resíduos do que ter que descartá-los. Por exemplo, NH3 pode ser determinado com um eletrodo íon-seletivo ao invés do emprego da determinação espectrofotométrica de Nessler, que gera um resíduo de HgI2. Experimentos de aulas de laboratório em “microescala” são incentivados para reduzir os custos dos reagentes e a geração de resíduos. Produtos eletroeletrônicos devem ser destinados a um centro de coleta para reciclagem, e não destinados a aterros sanitários. Os bulbos de lâmpadas fluorescentes não devem ser descartados no lixo comum porque elas contêm mercúrio. Diodos emissores de luz (LEDs, do inglês light-emitting diodes) são ainda mais eficientes do que as lâmpadas fluorescentes, não contêm mercúrio e logo substituirão as luzes fluorescentes.
2-2
O Caderno de Laboratório
As funções críticas do caderno de laboratório são os registros do que se fez e do que se observou, e esses registros deverão ser compreensíveis a qualquer pessoa. O principal erro, cometido até por cientistas experientes, é escrever cadernos incompletos ou ininteligíveis. Usar sentenças completas é uma excelente maneira de evitar descrições incompletas. O caderno de laboratório tem que 1. Descrever o que foi feito 2. Descrever o que foi observado 3. Ser compreensível a qualquer outra pessoa
Estudantes iniciantes frequentemente descobrem o quanto é proveitoso registrar as descrições completas de um experimento, com seções descrevendo propósitos, métodos, resultados e conclusões. Organizar o caderno de laboratório para receber os dados numéricos antes de ir para o laboratório é uma excelente maneira de se preparar para um experimento. É uma boa prática escrever uma equação química balanceada para cada reação que é usada. Esse procedimento, além de ajudar a entender o que está sendo feito, também pode indicar o que não foi devidamente compreendido acerca do que está sendo feito.
A medição de uma “verdade” científica é a capacidade de que diferentes pessoas possam reproduzir um experimento. Um bom caderno de laboratório deverá conter tudo o que foi feito e observado e permitirá que você ou qualquer outra pessoa possa repetir o experimento. Os nomes dos arquivos de programas e de dados armazenados em um computador devem ser registrados no caderno de laboratório. Cópias impressas de dados importantes devem ser anexadas ao caderno de laboratório. O tempo de vida de uma página impressa é 10 a 100 vezes maior do que o tempo de vida de um arquivo de computador.
FIGURA 2-2
2-3
Balanças analíticas eletrônicas medem massas abaixo de 0,1 mg. [Cortesia de Thermo Fisher Scientific, Inc.]
A Balança Analítica
Uma balança eletrônica emprega uma força de compensação eletromagnética para contrabalançar uma carga presente no prato da balança. A Figura 2-2 mostra uma balança analítica típica com capacidade entre 100 e 200 g e sensibilidade entre 0,01 e 0,1 mg. A sensibilidade indica o menor incremento de massa que pode ser medido. Uma microbalança pode pesar quantidades da ordem do miligrama com uma sensibilidade de 1 μg. Para pesarmos um produto químico, devemos inicialmente colocar um recipiente limpo no prato da balança. A massa do recipiente vazio é chamada de tara. Na maioria das balanças, existe um botão que desconta a tara, zerando a balança. Após esse procedimento, adicionamos ao recipiente a substância a ser pesada e lemos a nova massa. Se a balança não puder descontar automaticamente a tara, anotamos a massa do recipiente vazio e subtraímos esse valor da massa do recipiente cheio. Substâncias químicas nunca devem ser colocadas diretamente sobre o prato da balança a fim de protegê-la da corrosão. Além disso, deve-se tomar cuidado para não permitir que produtos químicos contaminem o mecanismo abaixo do prato da balança. Um procedimento alternativo, denominado pesagem por diferença, é necessário para a pesagem de reagentes higroscópicos, ou seja, que absorvem rapidamente umidade do ar. Inicialmente, pesa-se um frasco fechado contendo o reagente seco. Então, rapidamente retira-se certa quantidade de reagente desse frasco, transferindo-o para outro recipiente. Fecha-se o frasco e pesa-se novamente. A diferença será igual à massa do reagente retirado desse frasco. Se utilizarmos uma balança eletrônica, podemos descontar a massa inicial do frasco de pesagem por meio do acionamento do botão de tara, zerando-se, assim, a leitura do visor da balança. Então, transfere-se o reagente do frasco para outro recipiente e pesa-se novamente o frasco. O valor negativo lido no visor da balança é a massa de reagente retirado do frasco.9 A balança mecânica clássica na Figura 2-3 possui dois pratos suspensos nas extremidades opostas de um travessão de braços iguais equilibrado em seu centro sobre um cutelo. Uma massa desconhecida é colocada em um dos pratos enquanto massaspadrão são colocadas no outro prato. Quando a balança restabelece seu equilíbrio original, a massa dos padrões é igual à massa desconhecida. A balança mecânica deve permanecer na posição travada (quando ela não pode se mover) quando você coloca um objeto ou o retira do prato, e na posição de meia-trava quando você está movendo os pesos. Este procedimento minimiza o desgaste do cutelo que suporta o travessão da balança.
FIGURA 2-3 Balança de braços longos e iguais do século XIX. [Reproduzida de Fresenius’ Quantitative Chemical Analysis, 2a ed. norte-americana, 1881.]
Como Funciona uma Balança Eletrônica Um objeto colocado sobre o prato da balança na Figura 2-2 empurra o prato da balança para baixo com uma força igual a m × g, em que m é a massa do objeto e g é a aceleração da gravidade. A balança produz uma corrente elétrica para compensar exatamente o movimento do prato. A intensidade da corrente nos diz a quantidade de massa colocada sobre o prato.
FIGURA 2-4 Diagrama esquemático de uma balança eletrônica. [Adaptado de C. Berg, The Fundamentals of Weighing Technology (Göttingen, Germany: Sartorius AG, 1996).]
A Figura 2-4 mostra como a balança funciona. O prato desce sobre um receptor de carga ligado a guias paralelas. A força da amostra empurra o lado esquerdo da alavanca de transmissão de força para baixo enquanto move o lado direito dessa alavanca para cima. O detector de posição nula à direita da alavanca detecta o menor movimento do braço da alavanca fora de sua posição de equilíbrio (posição nula). Quando o sensor de posição nula detecta um deslocamento do braço da alavanca, o servo amplificador envia uma corrente elétrica por meio do fio da bobina de compensação de força inserida no campo de um magneto permanente. A ampliação na parte inferior esquerda da figura mostra parte da bobina e do magneto. A corrente elétrica na bobina interage com o campo magnético produzindo uma força descendente. O servo amplificador fornece uma corrente que compensa exatamente a força ascendente no braço da alavanca para a manutenção da posição nula. A corrente que flui pela bobina cria uma diferença de potencial por meio do resistor de precisão, a qual é convertida em um sinal digital e, finalmente, em uma leitura em gramas. A conversão entre a corrente e a massa é realizada medindo-se a corrente necessária para equilibrar uma massa interna de calibração. A Figura 2-5 mostra a disposição dos componentes no interior de uma balança.
Erros de Pesagem As balanças analíticas devem ser colocadas em uma mesa suficientemente pesada, como um tampo de mármore, para minimizar os efeitos de vibração. A balança possui pés ajustáveis e um indicador de nível de bolha, o que permite que seu nível seja mantido. Caso a balança não esteja nivelada, a força não é diretamente transmitida para o receptor de carga na Figura 2-5, resultando em erro. A balança deve ser recalibrada após o ajuste de nível. Deve-se manter o objeto a ser pesado o mais perto possível do centro do prato. As amostras devem estar na temperatura ambiente (temperatura das vizinhanças), de modo a evitar erros causados pela convecção do ar. Uma amostra que tenha sido seca em uma estufa leva, normalmente, cerca de 30 minutos para esfriar até a temperatura ambiente. Durante esse processo de resfriamento, a amostra deverá ficar em um dessecador para evitar o acúmulo de umidade. As portas de vidro das balanças na Figura 2-2 devem estar fechadas durante a pesagem, para prevenir que as correntes de ar afetem a leitura. Em balanças de prato externo, sem portas de vidro, normalmente, utiliza-se uma cúpula de plástico para cobrir o prato da balança e protegê-la das correntes de ar. Suas impressões digitais afetam a massa aparente de um objeto; por isso, recomenda-se o emprego de toalhas de papel ou de um pano ao se colocar um objeto na balança. Os erros na pesagem de objetos magnéticos se tornam evidentes a partir da variação da massa indicada quando o objeto é movido pelo prato de pesagem.10 É melhor pesar objetos magnéticos dentro de um recipiente isolante como um béquer de cabeça para baixo para minimizar a atração para as partes em aço inoxidável da balança. A carga eletrostática de um objeto que está sendo pesado interfere na medida e se torna aparente a partir de uma oscilação aleatória da massa que é indicada à medida que o objeto se descarrega aos poucos. As balanças analíticas dispõem de um sistema de calibração interno. Um motor coloca suavemente uma massa no receptor de carga abaixo do prato da balança (veja a Figura 2-5b). A corrente elétrica necessária para equilibrar essa massa é medida. Para uma calibração externa, deve-se pesar periodicamente massas-padrão e verificar se a leitura se situa dentro de limites. As tolerâncias (desvios permissíveis) para as massas-padrão estão listadas na Tabela 2-1. Outro teste de uma balança é pesar uma massa-padrão seis vezes e calcular o desvio-padrão (Seção 4-1). As variações são, em parte, devidas à balança, mas também refletem fatores como correntes de ar e vibrações.
FIGURA 2-5 (a) Arranjo mecânico de uma balança eletrônica. A dimensão da alavanca é tal que a força eletromagnética é apenas cerca de 10% da carga sobre o prato. [Adaptado de C. Berg, The Fundamentals of Weighing Technology (Göttingen, Alemanha: Sartorius AG, 1996).] (b) Componentes internos de uma balança analítica Sartorius com capacidade para 300 g e sensibilidade de 0,1 mg. O sistema de pesagem de metal monolítico (peça única) é suavemente montado sobre o receptor de carga por meio de um motor ativado por um microprocessador. A calibração é automaticamente ativada por mudanças de temperatura. [Cortesia de J. Barankewitz, Sartorius AG, Göttingen, Alemanha.]
O erro de linearidade (ou a linearidade) de uma balança é o erro máximo que pode ocorrer como resultado de uma resposta não linear do sistema à massa adicionada após a calibração da balança (Figura 2-6). Uma balança com capacidade para 220 g e sensibilidade de 0,1 mg pode ter uma linearidade de ±0,2 mg. Embora a escala possa ser lida a 0,1 mg, o erro na massa pode ser de até ±0,2 mg em alguns segmentos da faixa permitida. Após a calibração da balança, a leitura deve variar caso a temperatura ambiente se modifique. Se uma balança apresenta um coeficiente de sensibilidade à temperatura de 2 ppm/°C, e a temperatura muda de 4°C, a massa aparente mudará de (4°C)(2 ppm/ °C) = 8 ppm. Para uma massa de 100 g, 8 ppm correspondem a (100 g)(8 × 10–6) = 0,8 mg. Pode-se recalibrar a balança na sua temperatura atual apertando o botão de calibração. Para manter a estabilidade da temperatura, o melhor procedimento é deixar a balança no modo de espera quando não estiver em uso.
Empuxo Você pode flutuar na água porque seu peso, quando está nadando, é próximo de zero. O empuxo é a força para cima exercida sobre um objeto imerso em um fluido líquido ou gasoso.11 Um objeto pesado no ar parece mais leve do que a sua massa real de uma quantidade igual à massa de ar que ele desloca. A massa real é a massa medida no vácuo. A massa-padrão em uma balança também é afetada pelo empuxo, de modo que pesa menos no ar do que no vácuo. O erro devido ao empuxo ocorre sempre que a massa específica do objeto a ser pesado não é igual à massa específica da massa-padrão.
TABELA 2-1
Tolerâncias para pesos de balanças de laboratórioa
Denominação Gramas
Tolerância (mg)
Denominação
Tolerância (mg)
Classe 1
Classe 2
Miligramas
Classe 1
Classe 2
500
1,2
2,5
500
0,010
0,025
200
0,50
1,0
200
0,010
0,025
100
0,25
0,50
100
0,010
0,025
50
0,12
0,25
50
0,010
0,014
20
0,074
0,10
20
0,010
0,014
10
0,050
0,074
10
0,010
0,014
5
0,034
0,054
5
0,010
0,014
2
0,034
0,054
2
0,010
0,014
1
0,034
0,054
1
0,010
0,014
a. As tolerâncias estão de nidas na Norma E 617 da ASTM (American Society for Testing and Materials). As Classes 1 e 2 são as mais exatas. Existem tolerâncias maiores para as Classes 3-6, que não são apresentadas nesta tabela.
FIGURA 2-6 Erro de linearidade. A linha tracejada é a resposta ideal proporcional à massa na balança, a qual foi calibrada em 0 e 200 g. As respostas reais desviam-se da linha reta. O erro de linearidade é o desvio máximo, que é mostrado de forma exagerada nesta figura.
Se a massa m′ é lida em uma balança, a massa verdadeira m do objeto pesado no vácuo é dada por12 Equação do empuxo:
A Equação 2.1 se aplica a balanças mecânicas e eletrônicas.
em que da é a massa específica do ar (0,001 2 g/mL próximo a 1 bar e 25°C),13 dw é a massa específica dos pesos de calibração (8,0 g/mL) e d é a massa específica do objeto a ser pesado.
EXEMPLO
Correção do Empuxo
Um composto puro chamado “tris” é usado no laboratório como um padrão primário para medir a concentração de ácidos. O volume de ácido necessário para reagir com uma massa conhecida de tris permite calcular a concentração do ácido. Determine a massa real de tris (massa especí ca = 1,33 g/mL) se a massa aparente pesada no ar é 100,00 g. Solução Se a massa especí ca do ar é 0,001 2 g/mL, pode-se encontrar a massa verdadeira por meio da Equação 2-1:
A menos que o empuxo seja corrigido, a massa de tris será 0,08% menor que a sua massa verdadeira, e a molaridade do ácido que reage com o tris será 0,08% menor que a molaridade real. A Figura 2-7 mostra a correção do empuxo para várias substâncias. Quando se pesa água com uma massa específica de 1,00 g/mL, a massa real é 1,001 1 g, quando a balança lê 1,000 0 g. O erro é de 0,11%. Para o NaCl com uma massa específica de 2,16 g/mL, o erro é de 0,04%; e para o AgNO3 com uma massa específica de 4,45 g/mL, o erro é de apenas 0,01%.
FIGURA 2-7 Correção do empuxo, admitindo da = 0,001 2 g/mL e dw = 8,0 g/mL. A massa aparente medida no ar (1,000 0 g) é multiplicada pela correção do empuxo para se determinar a massa real.
2-4
Buretas
A bureta da Figura 2-8 é um tubo de vidro fabricado de forma precisa, no qual existe uma escala gravada no vidro, que possibilita a medida do volume de líquido que escoa através de uma torneira (a válvula) situada na parte inferior. Na parte de cima da bureta existe uma marca que indica 0 mL. Se o nível inicial do líquido é 0,83 mL e o nível final 27,16 mL, então o volume de líquido que escoou da bureta foi de 27,16 – 0,83 = 26,33 mL. As buretas de Classe A (a classe mais exata) são certificadas de modo a satisfazer as tolerâncias encontradas na Tabela 2-2. Desse modo, se a leitura de uma bureta de 50 mL é
27,16 mL, o volume real pode ter um valor qualquer situado no intervalo entre 27,21 e 27,11 mL, e ele ainda estará dentro da tolerância de ±0,05 mL.
FIGURA 2-8 Bureta de vidro com torneira de Teflon®. A ampliação da figura mostra o menisco em 9,68 mL. Deve-se sempre estimar a leitura de qualquer escala para a décima parte da menor divisão. Nessa bureta a menor divisão é de 0,1 mL, então, estimamos a leitura para 0,01 mL.
Ainda que a tolerância da bureta possa ser de ±0,05 mL, você deve interpolar leituras para 0,01 mL. Nunca despreze a precisão na leitura de um instrumento. A incerteza relativa é a incerteza em uma grandeza dividida pelo valor da grandeza. Normalmente a incerteza relativa é expressa na forma de uma porcentagem:
Se você libera 20 mL de uma bureta de 50 mL, a incerteza relativa é (0,05 mL/20 mL) × 100 = 0,25%. Caso você libere 40 mL da mesma bureta, a incerteza relativa é (0,05 mL/40 mL) × 100 = 0,12%. Reduzimos a incerteza relativa quando liberamos um volume maior da bureta. Você pode reduzir a incerteza relativa de uma dada bureta calibrando-a como descrito ao final deste capítulo. Quando se lê o nível de um líquido na bureta, é importante que os olhos estejam na mesma altura do topo do líquido. Se os olhos estiverem acima desse nível, o líquido parecerá estar mais alto do que de fato está. Se os olhos estiverem abaixo, o líquido aparentará menos quantidade do que realmente existe na bureta. O erro que ocorre quando os olhos não estão na mesma altura que o líquido é denominado erro de paralaxe. A superfície da maioria dos líquidos forma um menisco côncavo, como mostrado no lado direito da Figura 2-8.14 É útil empregar um pedaço de fita preta presa em um cartão branco como fundo para localizar a posição precisa do menisco. A fita preta é deslocada da parte de cima da bureta até próximo ao menisco. A parte inferior do menisco torna-se escura quando a faixa preta se aproxima, fazendo, assim, com que o menisco fique mais facilmente legível. Soluções fortemente coloridas podem aparentar ter dois meniscos; qualquer um deles pode ser usado. Como os volumes são determinados pela subtração de uma leitura de outra, o ponto importante é ler a posição do menisco de forma reprodutível. A leitura deve ser sempre estimada próxima a um décimo de uma divisão (como 0,01 mL) entre as marcas. Operação de uma bureta: • Lave a bureta com a nova solução • Elimine bolhas de ar antes do uso • Drene o líquido lentamente • Transfira uma fração de gota nas proximidades do ponto final • Faça a leitura a partir da parte de baixo do menisco côncavo • Estime a leitura a 1/10 de uma divisão • Evite a paralaxe • Leve em consideração a espessura da graduação nas leituras
A espessura das marcações de uma bureta de 50 mL corresponde a aproximadamente 0,02 mL. Para uma melhor exatidão, deve-se escolher uma determinada posição na marcação existente na bureta para ser considerada como o zero. Por exemplo, pode-se admitir que o nível do líquido está na marca quando a base do menisco toca exatamente o topo da marca existente no vidro. Quando a base do menisco está na parte de baixo desta marca, a leitura é 0,02 mL maior. A solução na bureta é chamada de titulante. Próximo ao ponto final da titulação, de modo a ter uma leitura precisa, é desejável que se faça escoar da bureta menos de uma gota de cada vez. (O volume de uma gota é de cerca de 0,05 mL para uma bureta de 50 mL.) Para fazer escoar uma fração de gota, abre-se a torneira cuidadosamente até que parte da gota fique pendurada na ponta da bureta. (Algumas pessoas preferem que uma fração exata de gota caia da bureta mediante um rápido giro da torneira através da posição de abertura.) Encosta-se então a ponta da bureta na parede interna do frasco receptor de modo a transferir o líquido para a parede do frasco. Cuidadosamente, lava-se a parede do frasco e mistura-se o conteúdo. Próximo ao fim da titulação, o frasco é inclinado e girado com frequência para garantir que as gotículas nas paredes, contendo o analito que não reagiu, entrem em contato com o restante da solução. Em uma titulação, porções do reagente na bureta são adicionadas ao analito até que a reação esteja completa. A partir do volume adicionado, pode-se calcular a quantidade do analito.
O líquido deverá escorrer livremente pelas paredes da bureta. A tendência do líquido em aderir ao vidro é reduzida drenandose a bureta lentamente (< 20 mL/min). Se muitas gotas aderirem à parede, a bureta deverá ser limpa com detergente e uma escova apropriada. Se essa limpeza for insuficiente, a bureta deverá ser deixada de molho em uma solução de limpeza de perssulfatoácido sulfúrico.15 Deve-se tomar cuidado com as soluções de limpeza, pois da mesma forma que elas dissolvem a gordura existente na bureta, elas atacam as roupas e a pele das pessoas. A vidraria de uso volumétrico nunca deve ficar de molho em soluções de limpeza alcalinas, pois o vidro é lentamente atacado pela base. Uma solução de NaOH a 5% m/m, a 95°C, dissolve o vidro Pyrex a uma taxa de 9 μm/h. O erro pode ser provocado pela não eliminação da bolha de ar frequentemente formada logo abaixo da torneira (Figura 2-9). Se a bolha de ar é preenchida com líquido durante a titulação, então parte do volume transferido para fora da parte graduada da bureta não alcançará o frasco de titulação. A bolha pode ser eliminada pela drenagem da bureta, por um ou dois segundos, com a torneira totalmente aberta. Algumas vezes as bolhas persistentes podem ser expelidas por agitação cuidadosa da bureta enquanto se drena o líquido em uma pia. Antes de encher uma bureta com uma nova solução, é uma ideia maravilhosa lavar a bureta várias vezes com pequenas quantidades dessa nova solução, descartando cada lavagem. Não é necessário encher totalmente a bureta com a solução de lavagem. Apenas inclinamos a bureta para permitir que toda a sua superfície interna entre em contato com o líquido de lavagem. Essa mesma técnica de lavagem deve ser aplicada a qualquer recipiente (como a cubeta de um espectrofotômetro ou uma pipeta), que é reutilizado sem que esteja seco.
TABELA 2-2
Tolerâncias de buretas da Classe A Volume da bureta (mL)
Menor graduação (mL)
Tolerância (mL)
5
0,01
±0,01
10
0,05 ou 0,02
±0,02
25
0,1
±0,03
50
0,1
±0,05
100
0,2
±0,10
FIGURA 2-9
Uma bolha de ar presa abaixo da torneira deve ser expelida antes de se usar a bureta.
FIGURA 2-10 O autotitulador libera reagente de um frasco à esquerda para o béquer contendo o analito. O eletrodo imerso no béquer monitora o pH ou a concentração de íons específicos. As leituras de volume e de pH podem ser diretamente inseridas em uma planilha. [Cortesia de Hanna Instruments.]
O trabalho de realizar uma titulação é grandemente reduzido pelo uso de um autotitulador (Figura 2-10) no lugar de uma bureta. Esse equipamento transfere o reagente de um reservatório e registra o volume de reagente e a resposta de um eletrodo imerso na solução que está sendo titulada. A saída pode ser diretamente enviada para um computador para manipulação em uma planilha. Titulações de Massa e Titulações em Microescala Para uma melhor precisão, mede-se a massa de reagente em vez do volume liberado por uma bureta ou uma seringa.16 A massa pode ser medida com maior precisão do que o volume. O Exercício 7-B fornece um exemplo. Precisão se refere à reprodutibilidade.
Em procedimentos que podem tolerar uma precisão menor, a adoção da “microescala” em experimentos de graduação reduz o consumo de reagentes e a geração de resíduos. Uma bureta de baixo custo para estudantes pode ser construída a partir de uma pipeta de 2 mL graduada em intervalos de 0,01 mL.17 O volume pode ser lido até 0,001 mL, e as titulações podem ser feitas com uma precisão de 1%.
Um balão volumétrico feito de Pyrex, Kimax ou outro vidro de baixo coeficiente de expansão térmica pode ser seco com segurança em uma estufa até pelo menos 320°C sem causar dano,18 embora raramente haja razões para secar um vidro acima de 150°C.
2-5
Balões Volumétricos
Um balão volumétrico é calibrado de modo a conter um determinado volume de solução a 20°C, quando a parte inferior do menisco é ajustada no centro do traço de aferição existente no colo do balão (Figura 2-11, Tabela 2-3). A maioria dos balões volumétricos traz gravado, no próprio balão, a identificação “TC 20°C”. Isso significa que o balão foi calibrado para conter o volume que é indicado, quando a temperatura é de 20°C. (Pipetas e buretas podem ser calibradas para transferir, “TD”, os volumes que estão indicados.) A temperatura do recipiente é importante, porque o líquido e o vidro se expandem quando aquecidos.
FIGURA 2-11 (a) Balão volumétrico de vidro Classe A mostrando a posição correta do menisco – no centro da elipse formada pelas partes frontal e posterior da marca de aferição quando observado acima ou abaixo dessa marca. Os balões volumétricos e as pipetas aferidas são calibradas para essa posição. (b) Balão volumétrico plástico Classe A de copolímero perfluoroalcóxi (PFA) VITLAB® para análise de traços. O PFA é estável de –200 a 1260ºC, resiste aos ácidos comuns e apresenta baixos níveis de metais lixiviáveis. [Cortesia de BrandTech® Scientific, Essex, CT.]
TABELA 2-3
Tolerâncias de balões volumétricos da Classe Aa Capacidade do balão (mL)
Tolerância (mL)
1
±0,02
2
±0,02
5
±0,02
10
±0,02
25
±0,03
50
±0,05
100
±0,08
200
±0,10
250
±0,12
500
±0,20
1000
±0,30
2000
±0,50
a. As tolerâncias para as vidrarias da Classe B são duas vezes maiores do que para a Classe A. Para usar um balão volumétrico, primeiro dissolvemos por agitação a massa desejada de reagente com uma quantidade de líquido tal que o volume da solução obtida seja menor do que o volume do balão volumétrico. Então, adicionamos mais líquido e agitamos a solução novamente. O volume final deve ser ajustado com o maior volume possível de líquido homogeneizado dentro do balão. (Quando dois líquidos diferentes são misturados, há geralmente uma pequena variação de volume. O volume total não é a soma dos dois volumes que foram misturados. Agitando a solução no balão quase cheio, antes de atingir o seu colo, minimizamos a variação de volume quando o ajuste final for feito pela adição de líquido.) Para um melhor controle, adicionamos as gotas finais de líquido com uma pipeta, e não com um frasco-lavador. Após ajustar o líquido para o volume correto, colocamos a tampa com firmeza no lugar e invertemos o balão cerca de dez vezes para garantir a completa homogeneização. Antes de o líquido se tornar homogêneo, podemos observar estrias ou schlieren, que são pequenas inomogeneidades no índice de refração (surgem de regiões que refratam a luz diferentemente). Depois que as estrias desaparecerem, inverta o balão mais algumas vezes para assegurar a completa homogeneização. A Figura 2-11 mostra como o líquido aparece no centro da marca de um balão volumétrico ou de uma pipeta. O nível do líquido deve ser ajustado observando-se ligeiramente acima ou abaixo da marca de aferição. A parte da frente e a parte de trás da marca de aferição descrevem uma elipse com o menisco no centro. As tolerâncias do fabricante na Tabela 2-3 são a incerteza admitida no volume contido quando o menisco está no centro da marca. Para um balão volumétrico de 100 mL, o volume é 100 6 0,08 mL. A incerteza relativa no volume é (0,08/100) × 100 5 0,08%. Quanto maior for o balão, menor será a incerteza relativa. Um balão de 10 mL tem uma incerteza relativa de 0,2%, mas um balão de 1000 mL tem uma de 0,03%. Você pode reduzir a incerteza relativa por meio de calibração, como descrito na Seção 2-9, para medir o que está efetivamente contido em um determinado balão. O vidro é notório por adsorver traços de substâncias químicas – especialmente cátions. A adsorção é o processo em que uma substância adere à superfície. (Ao contrário, a absorção é o processo em que uma substância é retida dentro de outra, como a água é retida por uma esponja.) Para trabalhos criteriosos, devemos fazer uma lavagem ácida da vidraria para substituir as pequenas concentrações de cátions na superfície por H+. Para fazer isso, deixamos a vidraria, previamente limpa, de molho em uma solução de HCl ou de HNO3 3-6 M (em uma capela) por mais de 1 h. Então, lavamos bem com água destilada e finalmente deixamos de molho, também em água destilada. O ácido pode ser reutilizado, desde que só seja usado para a limpeza de vidraria. A lavagem ácida é especialmente apropriada para vidraria nova, que sempre se considera como não estando limpa. O balão volumétrico plástico de polietileno de alta densidade, ou perfluoroalcóxi (Figura 2.11b) é o preferido para a análise de traços (concentrações de partes por bilhão), na qual cátions podem ser perdidos por adsorção nas paredes de um frasco de vidro. Exemplo de lavagem ácida: HNO3 de alta pureza transferido de uma pipeta de vidro lavada com ácido não apresentava quantidades detectáveis de Ti, Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu e Zn (, 0,01 ppb). O mesmo ácido transferido por meio de uma pipeta limpa, mas não lavada com ácido, continha cada um dos metais supracitados em uma faixa de concentração de 0,5 a 9 ppb.19
Ao coletar e armazenar amostras como águas naturais para análise de traços, são recomendados recipientes feitos de plástico, como polietileno de alta densidade para analitos iônicos, de modo que traços do analito não sejam perdidos por adsorção nas superfícies de vidro ou contaminados por metais lixiviados das superfícies de vidro. Por outro lado, amostras aquosas que serão analisadas para traços de matéria orgânica em partes por trilhão (pg/g), como medicamentos, produtos de higiene pessoal e esteroides, são melhor coletadas e armazenadas em recipientes de vidro âmbar (escuros), e não em recipientes plásticos.20 Não sopre para fora a última gota de uma pipeta aferida (volumétrica).
2-6
Pipetas e Seringas
Pipetas são usadas para transferir volumes conhecidos de líquidos. A pipeta aferida, na Figura 2-12a, é calibrada para transferir um volume fixo. A última gota de líquido não é drenada da pipeta e não deve ser soprada. A pipeta graduada, na Figura 2-12b, é calibrada como uma bureta. Ela é usada para transferir um volume variável, como, por exemplo, 5,6 mL. Nesse caso, pode-se iniciar a transferência na marca de 1,0 mL e terminar na marca de 6,6 mL. A pipeta aferida é mais exata, com tolerâncias que podem ser vistas na Tabela 2-4. Quanto maior for a pipeta aferida, menor é a sua incerteza relativa. A incerteza relativa de uma pipeta de 1 mL é (0,006/1) × 100 = 0,6%. A incerteza relativa de uma pipeta de 25 mL é (0,03/25) × 100 = 0,12%. A incerteza para uma determinada pipeta pode ser reduzida por meio da calibração descrita na Seção 2-9.
TABELA 2-4
Tolerâncias das pipetas aferidas (volumétricas) Classe A
FIGURA 2-12
Volume (mL)
Tolerância (mL)
0,5
±0,006
1
±0,006
2
±0,006
3
±0,01
4
±0,01
5
±0,01
10
±0,02
15
±0,03
20
±0,03
25
±0,03
50
±0,05
100
±0,08
(a) Pipeta aferida (volumétrica) e (b) pipeta graduada (Mohr). [Cortesia de A. H. Thomas Co., Philadelphia, PA.]
Utilização de uma Pipeta Aferida (Volumétrica) Com uma pera de borracha ou um outro dispositivo de sucção para pipetas, e não a boca, sugamos o líquido até um pouco acima da marca de calibração. (Mas não para dentro do bulbo! Se o líquido entrar no bulbo, comece tudo de novo com uma nova solução e um novo bulbo.) Descartamos então o líquido existente dentro da pipeta e repetimos essa operação uma ou duas vezes para remover traços de reagentes que foram usados anteriormente na pipeta. Após enchermos a pipeta pela terceira vez, ultrapassando a marca de calibração, rapidamente retiramos a pera e colocamos o dedo indicador sobre a ponta da pipeta. Pressionamos cuidadosamente a pipeta contra o fundo do recipiente ao remover a pera de borracha, o que ajuda a evitar que o líquido escorra para baixo da marca enquanto colocamos o dedo no lugar da pera de borracha. (Uma alternativa melhor é usar um dispositivo automático de sucção, como o apresentado na Figura 2.13, que permanece conectado à pipeta.) Limpamos o excesso de líquido na parte externa da pipeta com um pano limpo. Tocamos a ponta da pipeta na parte interna lateral de um béquer e escoamos o líquido até que a base do menisco atinja o centro da marca de aferição, como mostrado na Figura 2-11. A pipeta deverá encostar no béquer durante o escoamento do líquido. Desse modo, evita-se que fique alguma gota de líquido suspensa na ponta da pipeta quando o menisco atingir a marca de aferição. Transferimos então a pipeta para o recipiente desejado e, com a ponta da pipeta mantida encostada na parede do recipiente, deixamos o líquido escoar por gravidade. Depois que o líquido terminar de escoar, mantemos a pipeta encostada na parede do recipiente por alguns segundos para garantir que todo o líquido escoou. Não se deve soprar a última gota. A pipeta deve ser mantida relativamente na vertical no fim da transferência. Quando terminarmos de usar a pipeta, ela deverá ser lavada com água destilada ou colocada de molho até ser lavada. As soluções não devem secar dentro da pipeta, pois a remoção de resíduos internos é muito difícil.
FIGURA 2-13 A pipeta eletrônica Pipet-Aid® permite encher a pipeta pressionado o botão superior, e drená-la pressionando o botão inferior. Para proteger o dispositivo e evitar a contaminação de soluções, um filtro na região imediatamente acima da pipeta de vidro interrompe a passagem de ar em qualquer direção caso ele fique molhado. [Cortesia de Drummond Scientific Co., Broomall, PA.]
Diluições em Série Diluição em série é o processo de realizar diluições sucessivas para obter uma concentração desejada de um reagente. A finalidade é transferir com exatidão pequenas quantidades de material que são demasiado pequenas para serem pesadas com exatidão. Eis um exemplo de um processo que você pode empregar para preparar padrões para análise instrumental.
EXEMPLO
Diluições em Série
Você deseja preparar uma solução contendo 2,00 μg de Cs/mL (na verdade, Cs+) como padrão para emissão atômica. Você dispõe de balões volumétricos de 250, 500 e 1000 mL, e pipetas aferidas de 5, 10 e 25 mL. Para obter uma precisão na pesagem com 4 casas decimais, você deseja pesar ao menos 1 g de CsCl puro por meio de uma balança precisa ao décimo de miligrama. Projete um procedimento para usar CsCl puro para preparar uma solução-estoque concentrada a partir da qual você pode fazer uma série de diluições para obter 2,00 μg de Cs/mL. Solução Uma estratégia possível é pesar uma quantidade su ciente de CsCl que contenha um múltiplo de 2,00 μg de Cs e dissolvê-la em um balão volumétrico. A partir daí se realiza uma série de diluições para reduzir a concentração até 2,00 μg de Cs/mL. Por exemplo, você pode preparar uma solução-estoque contendo 1000 μg de Cs/mL. Essa solução é 500 vezes mais concentrada do que a que precisamos. Se você zer duas diluições sucessivas por fatores de 50 e 10, você obterá a diluição desejada de 500 vezes. 1 μg = 1 micrograma = 10–6 g
Para preparar um litro de solução-estoque, você precisa de (1000 μg de Cs/mL)(1000 mL) = 1,000 g de Cs. A massa atômica do Cs é 132,91 e a fórmula massa do CsCl é 168,36. Portanto, a massa de CsCl que contém 1,000 g de Cs é
Para preparar a solução-estoque contendo 1000 μg de Cs/mL, pese 1,267 g de CsCl (corrigido quando ao empuxo) e dissolva em um balão volumétrico de 1000 L. Em geral, é mais fácil chegar próximo à massa desejada e medir a massa real, como 1,284 g em vez de 1,267 g. Com 1,284 g, a concentração será 1014 μg de Cs/mL em vez de 1000 μg de Cs/mL. Para uma diluição de 50 vezes, você pode transferir 10,00 mL da solução-estoque com uma pipeta aferida de 10 mL para um balão volumétrico de 500 mL e diluir ao volume. Chame essa solução de B. Sua concentração é (1000 μg de Cs/mL)/50 = 20 μg de Cs/mL. Para uma dilução da solução B em 10 vezes, você pode transferir 25,00 mL com uma pipeta aferida de 25 mL para um balão volumétrico de 250 mL, diluindo até o volume. Essa solução nal contém a concentração desejada de 2,00 μg de Cs/mL. No Capítulo 3 veremos como usar incertezas em cada medida para encontrar o número de algarismos signi cativos na concentração nal. Você pode chegar à mesma diluição de várias outras formas. Por exemplo, você pode fazer uma diluição em 50 vezes transferindo 5,00 mL de solução para um balão volumétrico de 250 mL. TESTE A VOCÊ MESMO Como você pode diluir a solução B contendo 20 μg de Cs/mL para obter três novas soluções contendo 4, 3 e 1 μg de Cs/mL? (Resposta: para 1 mg/mL, você pode diluir 25 mL da solução B até 500 mL. Para 3 μg/mL, dilua (25 + 25 + 25) mL da solução B até 500 mL. Para 4 μg/mL, dilua (25 + 25) mL da solução B até 250 mL.) A incerteza relativa em uma diluição em série é melhorada usando pipetas maiores e balões volumétricos maiores. Se você tem a opção de transferir 1 mL para um balão volumétrico de 100 mL ou 10 mL para um balão volumétrico de 1 L, o resultado será mais exato se você utilizar a vidraria maior. A exatidão é melhorada se cada item da vidraria tiver sido calibrada individualmente. Vidrarias maiores produzem mais resíduos que podem ser mais perigosos ou caros para serem descartados. Você deve escolher entre o quanto de exatidão você precisa e o quanto de resíduo que gerará. Micropipetas As micropipetas (Figura 2-14) transferem volumes entre 1 e 1000 μL (1 μL = 10–6 L). O líquido fica contido em uma ponteira descartável de polipropileno, que é inerte para a maioria das soluções aquosas e para muitos solventes orgânicos, exceto o clorofórmio (CHCl3). A ponteira também não é resistente aos ácidos nítrico e sulfúrico concentrados. Para evitar que aerossóis entrem no tubo da pipeta, as ponteiras podem ser dotadas de filtros de polipropileno. Os aerossóis podem corroer as partes mecânicas da pipeta ou contaminar experimentos biológicos. Um aerossol é uma suspensão de gotículas de um líquido ou partículas de um sólido na fase gasosa.
Para usar uma micropipeta, colocamos uma ponteira nova ajustando-a firmemente contra o tubo da pipeta. As ponteiras devem ser mantidas em suas embalagens originais de tal forma que elas não sejam contaminadas pelos dedos. Ajustamos o volume desejado por meio do seletor no topo da pipeta. Apertamos o êmbolo até a primeira trava, que corresponde ao volume que foi selecionado. Mantemos a pipeta na vertical, mergulhamos a pipeta na solução do reagente, em uma profundidade de 3-5 mm, e lentamente soltamos o êmbolo para aspirar o líquido. Deixamos a ponteira no líquido por alguns segundos, para permitir a aspiração completa do líquido para o interior da ponteira. Retiramos a ponteira do líquido verticalmente, sem que ela encoste na parede do frasco. O volume de líquido aspirado para dentro da ponteira depende do ângulo e da profundidade, com relação à superfície da solução, em que se mantém a ponteira durante seu enchimento. Para transferir o líquido existente dentro da micropipeta, encostamos a ponteira na parede do frasco receptor e, suavemente, apertamos o êmbolo até a primeira trava. Após esperar alguns segundos para permitir que o líquido escorra das paredes internas da ponteira, apertamos o êmbolo para além da trava, de modo a transferir o líquido residual da ponteira. Uma boa maneira para se limpar uma ponteira nova é encher a pipeta com o reagente que será utilizado três vezes, descartando-se o líquido a cada vez. A ponteira usada deve ser descartada ou, caso venha a ser usada novamente, deve ser cuidadosamente lavada com água destilada, utilizando-se um frasco-lavador. A ponteira dotada de filtro não pode ser lavada para reutilização (Figura 2-14b). Fontes de erro para as micropipetas:21 • Use a ponteira recomendada pelo fabricante. Outras ponteiras podem levar a uma vedação inadequada. • Faça a sucção e o descarte do líquido três vezes antes da transferência do volume de amostra para molhar a pipeta e equilibrar seu interior com o vapor. • A secagem desnecessária da ponteira pode levar a perda de amostra. • O líquido e a ponteira devem estar à mesma temperatura. O volume de líquido frio transferido é menor do que o indicado, enquanto o volume de líquido quente é maior. Os erros são maiores para menores volumes. • As micropipetas são calibradas à pressão ao nível do mar. Elas não estão calibradas para altitudes elevadas. Erros são maiores para volumes menores. Calibre sua pipeta pesando a água que ela transfere.
O procedimento que acabamos de descrever para a aspiração e a transferência de líquidos é denominado “modo direto”. O êmbolo é apertado até a primeira trava, e o líquido é então aspirado. Para expelir o líquido, o êmbolo é apertado além da primeira trava. No “modo reverso”, o êmbolo é apertado para além da primeira trava, de modo que um excesso de líquido também é
introduzido. Para transferir o volume correto, aperta-se o êmbolo até a primeira trava, e não além dela. O modo reverso é bom para líquidos espumosos (soluções de proteínas ou de surfatantes) e viscosos (xaroposos).22 A pipetagem reversa é também boa para líquidos voláteis como metanol e hexano. No caso de líquidos voláteis, pipete rapidamente para minimizar evaporações. A Tabela 2-5 lista as tolerâncias para as micropipetas de um determinado fabricante. Com o desgaste das partes internas, a precisão e a exatidão de uma micropipeta podem diminuir de uma ordem de grandeza. Em um estudo23 feito com 54 micropipetas usadas em um laboratório biomédico, chegou-se a conclusão de que 12 delas tinham uma precisão e exatidão ≤1%. Cinco das 54 micropipetas tinham erros ≥10%. Quando 54 técnicos de controle de qualidade, em quatro companhias farmacêuticas, usaram cada um uma micropipeta que funcionava adequadamente, dez técnicos tiveram uma exatidão e uma precisão ≤1%. A inexatidão de seis técnicos foi ≥10%. As micropipetas precisam sofrer calibração e manutenção periódicas (limpeza, troca de selo e lubrificação), e os operadores (pessoas) necessitam de certificação. Se o tempo médio até que as micropipetas fiquem fora da faixa de tolerância é de 2 anos, é necessária uma calibração a cada 2 meses para se certificar que 95% das micropipetas em um laboratório trabalhem dentro das especificações.24 Você pode calibrar uma micropipeta medindo a massa de água que ela transfere, conforme descrito na Seção 2-9, ou por meio de um kit colorimétrico comercial.25 A exatidão se refere à proximidade do valor verdadeiro. A precisão se refere à reprodutibilidade.
Seringas Seringas de microlitro, como a da Figura 2-15, apresentam volumes de 1 a 500 μL e possuem exatidão e precisão próximas de 1%. Antes de usar uma seringa, deve-se encher e descartar seu volume várias vezes com o líquido que será utilizado. Essa operação é feita de modo a lavar as paredes do vidro e remover as bolhas de ar. A agulha metálica é atacada por ácidos fortes, por isso poderá contaminar de forma acentuada soluções ácidas com ferro. Uma seringa é mais confiável do que uma micropipeta, mas requer mais cuidados quanto ao manuseio e à limpeza. A Figura 2-16 é um exemplo de um diluidor programável contendo duas seringas que transfere automaticamente volumes em microlitros e pode criar misturas reprodutíveis de duas soluções a partir das duas seringas.
TABELA 2-5
Tolerâncias de micropipetas segundo o fabricante A 10% do volume da pipeta
Volume da pipeta (μL)
A 100% do volume da pipeta
Exatidão (%)
Precisão (%)
Exatidão (%)
Precisão (%)
0,2-2
±8
±4
±1,2
±0,6
1-10
±2,5
±1,2
±0,8
±0,4
2,5-25
±4,5
±1,5
±0,8
±0,2
10–100
±1,8
±0,7
±0,6
±0,15
30-300
±1,2
±0,4
±0,4
±0,15
100-1000
±1,6
±0,5
±0,3
±0,12
10
±0,8
±0,4
25
±0,8
±0,3
100
±0,5
±0,2
500
±0,4
±0,18
1000
±0,3
±0,12
Volume Variável
Volume Fixo
FONTE: Dados de Hamilton Co., Reno, NV.
FIGURA 2-14 (a) Micropipeta com ponteira descartável de plástico. (b) Vista em detalhe da ponteira descartável dotada de filtro de polietileno. Esse filtro visa prevenir a contaminação do tubo da pipeta por aerossóis. (c) Seletor de volume de uma micropipeta indicando uma seleção de 150 mL. [Cortesia de Rainin Instrument, LLC, Oakland, CA.]
FIGURA 2-15 Reno, NV.]
Seringa Hamilton com um volume de 1 mL e divisões de 0,02 mL no corpo de vidro. [Cortesia de Hamilton Co.,
FIGURA 2-16 Microlab 600 Dual Syringe Diluter é um distribuidor programável de quantidades em microlitros a partir de duas seringas mostradas na parte frontal do equipamento. Ele transfere com reprodutibilidade um líquido único ou misturas de dois líquidos. [Cortesia de Hamilton Co., Reno, NV.]
FIGURA 2-17 Filtração com um cadinho de Gooch que possui um disco de vidro poroso (sinterizado) através do qual o líquido pode passar. A armadilha (em inglês trap) evita que o líquido seja acidentalmente aspirado para dentro do sistema de vácuo.
FIGURA 2-18 Dobra de papel de filtro para um funil cônico. (a) Dobre o papel ao meio. (b) Então, dobre-o ao meio novamente. (c) Separe um canto, para acomodar melhor o papel no funil. (d) Abra o lado que não foi separado quando for ajustar o papel ao funil.
2-7
Filtração
Na análise gravimétrica, a massa do produto de uma reação é medida para determinar quanto de um constituinte está presente. Os precipitados provenientes de análises gravimétricas são coletados por filtração, depois são lavados e, por último, secados. A maioria dos precipitados é coletada em um funil de vidro sinterizado (também chamado de cadinho filtrante de Gooch) com sucção para acelerar a filtração (Figura 2-17). A placa porosa de vidro no funil permite que o líquido passe, mas retém os sólidos. O funil vazio é, primeiramente, seco a 110°C em um forno de micro-ondas e pesado. Após coletar o sólido e ser seco novamente, o funil e seu conteúdo são pesados uma segunda vez, para determinar a massa de sólido coletada. O líquido no qual a substância precipita ou cristaliza é chamado de água-mãe. O líquido que passa pelo filtro é chamado filtrado. Em alguns procedimentos gravimétricos, a calcinação (aquecimento a alta temperatura por meio um bico de Bunsen ou de um forno) é usada para converter um precipitado em um composto de composição constante conhecida. Por exemplo, o Fe31 precipita como óxido de ferro hidratado, FeOOH · xH2O, com composição variável. A calcinação converte-o em Fe2O3 puro antes de ser pesado. Quando um precipitado vai ser calcinado, ele é coletado em um papel de filtro sem cinzas, que deixa uma pequena quantidade de resíduo quando queimado. Para usar o papel de filtro em um funil cônico de vidro, dobramos o papel em quartos, isolamos um dos cantos (para permitir uma firme adaptação ao funil) e colocamos o papel no funil (Figura 2-18). O papel de filtro deve ajustar-se perfeitamente e ser molhado com uma pequena quantidade de água destilada. Quando o líquido é despejado no funil, uma coluna de líquido contínua deverá encher a haste do funil (Figura 2-19). O peso do líquido na haste do funil ajuda a acelerar a filtração. Para filtrar, vertemos a lama de um precipitado com o auxílio de um bastão de vidro para dentro do funil, evitando, assim, que a lama escorra pelo lado de fora do béquer (Figura 2-19). (Uma lama é uma suspensão de um sólido em um líquido.) As partículas aderidas ao béquer ou ao bastão podem ser desprendidas com um policial, que é um bastão de vidro com um pedaço de borracha chato preso a uma de suas extremidades. Usamos um jato do líquido apropriado de lavagem, contido em um frascolavador, para transferir as partículas que estão na borracha e no vidro para o filtro. Caso o precipitado venha a ser calcinado, as partículas que permanecem no béquer podem ser retiradas esfregando-se um pequeno pedaço de papel de filtro umedecido sobre elas e colocando este dentro do funil, para ser calcinado junto com o restante do precipitado.
FIGURA 2-19 Filtração de um precipitado. O funil cônico está apoiado em um aro de metal, que está preso a um suporte. Esses detalhes não estão mostrados na figura.
2-8
Secagem
Reagentes, precipitados e vidraria são convenientemente secos em uma estufa a 110°C. (Alguns produtos químicos necessitam de outras temperaturas.) Qualquer coisa que se coloque na estufa deve ser rotulada. Usamos um béquer coberto com um vidro de relógio (Figura 2-20) para diminuir a contaminação por poeira durante a secagem. É uma boa prática cobrir todos os recipientes que estão sobre a bancada, para prevenir contaminação por poeira. A poeira é uma fonte de contaminação em todos os experimentos, por isso …
Cubra todos os recipientes sempre que for possível. A massa de um precipitado gravimétrico é medida pela pesagem de um cadinho filtrante vazio e seco, antes do procedimento analítico, e pela pesagem do mesmo cadinho com o produto seco, após o procedimento analítico. Para pesar o cadinho vazio, ele deve ser levado a uma “massa constante”. Inicialmente, ele é seco em uma estufa por 1 h ou mais e, então, resfriado por 30 minutos em um dessecador. O cadinho é então pesado e aquecido por 30 minutos. Novamente, ele é resfriado e pesado. Quando as pesagens sucessivas variarem de 60,3 mg, o cadinho atingiu a “massa constante”. Se o cadinho está quente enquanto ele é pesado, ele cria correntes convectivas que fornecem um peso falso. Não toque o cadinho com seus dedos porque as impressões digitais podem alterar a massa. Um forno de micro-ondas pode ser usado no lugar de uma estufa elétrica para secar reagentes e cadinhos. Como sugestão, o aquecimento inicial pode ser feito por um período de 4 minutos, com aquecimentos subsequentes de 2 minutos. O tempo de resfriamento, antes de ele ser pesado, pode ser de 15 minutos. Um dessecador (Figura 2-21) é um recipiente fechado que contém um agente de secagem chamado dessecante (Tabela 2-6). A tampa é engraxada para que feche de forma hermética. O dessecante é colocado abaixo do disco perfurado na parte de baixo do dessecador. Um dessecante, que não está na tabela mas que também é usado, é o ácido sulfúrico a 98% m/m. Após colocar um objeto quente no dessecador, deixamos a tampa entreaberta por alguns minutos, até que o objeto tenha resfriado um pouco. Essa prática evita que a tampa salte quando o ar interno se aquece. Para abrir um dessecador, deslizamos a tampa lateralmente antes de tentar puxá-la para cima.
FIGURA 2-20
Uso do vidro de relógio como cobertura, para proteger da poeira, enquanto o reagente ou cadinho seca em estufa.
FIGURA 2-21 (a) Dessecador usual. (b) Dessecador a vácuo, que pode ser evacuado pela saída lateral na tampa e então selado pela rotação da junta que contém a saída. A secagem é mais eficiente a baixa pressão. [Cortesia de A. H. Thomas Co., Philadelphia, PA.]
TABELA 2-6
E ciência de agentes dessecantes
Agente
Fórmula
Água residual na atmosfera (μg de H2O/L)a
Perclorato de magnésio anidro
Mg(ClO4)2
0,2
“Anidrona”
Mg(ClO4)2 · 1-1,5H2O
1,5
Óxido de bário
BaO
2,8
Alumina
Al2O3
2,9
Pentóxido de fósforo
P4O10
3,6
Sulfato de cálcio (Drierita)b
CaSO3
67
Sílica gel
SiO2
70
a. Uma corrente de nitrogênio úmido passou sobre cada um dos dessecantes, e a água remanescente no gás foi condensada e pesada. [A. I. Vogel, A Textbook of Quantitative Inorganic Analysis. 3 ed. (New York: Wiley, 1961.) p. 178.] Para a secagem de gases, o gás deve passar através de um tubo de Na on com 60 cm de comprimento. A 25°C, a umidade residual é de 10 μg/L. Se o sistema de secagem é mantido a 0°C, a umidade residual é de 0,8 μg/L. [K. J. Leckrone and J. M. Hayes, “Efficiency and Temperature Dependence of Water Removal by Membrane Dryes”, Anal. Chem. 1997, 69, 911.] b. A drierita usada pode ser recuperada irradiando-se porções de 1,5 kg em um cristalizador Pirex de 100 × 190 mm em um forno de micro-ondas por 15 minutos. Misture o sólido, aqueça-o por 15 minutos, novamente, e ponha o material seco e quente de volta ao seu recipiente original. Use espaçadores de vidro pequenos entre o cristalizador e o prato de vidro do forno de micro-ondas, para proteger o prato. [J. A. Green and R. W. Goetz, “Recycling Drierite”, J. Chem. Ed. 1991, 68, 429.]
2-9
Calibração de Vidraria Volumétrica
Todos os instrumentos que usamos têm algum tipo de escala para medir quantidades como massa, volume, força ou corrente elétrica. Os fabricantes, normalmente, certificam que a quantidade medida se encontra dentro de certa tolerância com relação à quantidade real. Por exemplo, uma pipeta aferida (volumétrica) Classe A, de 10 mL, tem um certificado atestando que, quando usada de forma adequada, o volume que ela transfere é de 10,00 ± 0,02 mL. Entretanto, quando se usa a pipeta várias vezes, pode-se transferir 10,016 ± 0,004 mL. Ou seja, a pipeta transfere, quando utilizada diversas vezes, em média 0,016 mL a mais do que o volume que é indicado. A calibração é o processo para medir a quantidade real de massa, de volume, de força, de corrente elétrica etc., que corresponde à quantidade indicada na escala de um instrumento. Um procedimento detalhado para calibração de uma bureta é dado ao fim deste capítulo.
Para maior exatidão, calibramos a vidraria volumétrica de modo a medir o volume real que está contido ou que é transferido por um determinado instrumento. Isso é feito medindo-se a massa de água transferida ou contida no instrumento e usando a massa específica da água para converter massa em volume. Em trabalhos mais cuidadosos, é necessário levar em conta a expansão térmica das soluções e da vidraria em função da variação de temperatura. Para esse propósito, devemos conhecer a temperatura do laboratório no momento em que as soluções são preparadas e também no momento em que são usadas. A Tabela 2-7 mostra que a água pura, próximo de 20°C, se expande em torno de 0,02% por grau. Como a concentração de uma solução é proporcional à sua massa específica, podemos escrever A concentração de uma solução diminui quando a temperatura aumenta.
Correção para a expansão térmica:
em que c′ e d′ são a concentração e a massa específica na temperatura T′, e c e d são aplicadas na temperatura T.
Efeito da Temperatura na Concentração de uma Solução
EXEMPLO
Uma solução aquosa com uma concentração de 0,031 46 M foi preparada no inverno, quando a temperatura do laboratório era de 17°C. Qual a molaridade dessa solução em um dia em que a temperatura é de 25°C? Solução Admita que a expansão térmica da solução diluída é igual à expansão térmica da água pura. Então, usando a Equação 2-3 e as massas especí cas da Tabela 2-7, podemos escrever
A concentração diminuiu de 0,16% no dia mais quente.
Massa especí ca da água
TABELA 2-7
Volume de 1 g de água (mL)
Temperatura (°C)
Massa especí ca (g/mL)
Na temperatura observadaa
Corrigida para 20°Cb
10 11 12 13 14 15
0,999 702 6 0,999 608 4 0,999 500 4 0,999 380 1 0,999 247 4 0,999 102 6
1,001 4 1,001 5 1,001 6 1,001 7 1,001 8 1,002 0
1,001 5 1,001 6 1,001 7 1,001 8 1,001 9 1,002 0
16 17 18 19 20
0,998 946 6 0,998 777 9 0,998 598 6 0,998 408 2 0,998 207 1
1,002 1 1,002 3 1,002 5 1,002 7 1,002 9
1,002 1 1,002 3 1,002 5 1,002 7 1,002 9
21 22 23 24 25
0,997 995 5 0,997 773 5 0,997 541 5 0,997 299 5 0,997 047 9
1,003 1 1,003 3 1,003 5 1,003 8 1,003 0
1,003 1 1,003 3 1,003 5 1,003 8 1,004 0
26 27 28 29 30
0,996 786 7 0,996 516 2 0,996 236 5 0,996 947 8 0,996 650 2
1,004 3 1,004 6 1,004 8 1,005 1 1,005 4
1,004 2 1,004 5 1,004 7 1,005 0 1,005 3
a. Corrigida para o empuxo por meio da Equação 2-1. b. Corrigida para o empuxo e expansão do vidro borossilicato (0,001 0% K–1). O Pirex e outros vidros borossilicatos expandem-se cerca de 0,001 0% por grau próximo da temperatura ambiente. Portanto, se a temperatura de um recipiente aumenta 10°C, o seu volume aumentará em torno de (10)(0,001 0%) = 0,010%. Para a maioria dos trabalhos, essa expansão é insignificante. Recipientes de tamanho pequeno, ou com formato fora do usual, devem ser calibrados com Hg, que é mais fácil de ser adicionado à vidraria do que a água. O Hg é 13,6 vezes mais denso do que a água. Esse é um procedimento para pesquisadores, não para estudantes. Derramamentos de mercúrio são um perigo à saúde.
Para calibrar uma pipeta volumétrica de 25 mL, deve-se inicialmente pesar um pesa-filtro vazio, como mostrado na Figura 220. Então, enchemos a pipeta com água destilada até a marca, transferimos a água para o pesa-filtro, que é fechado com a tampa
para evitar a evaporação. Pesamos o pesa-filtro novamente para determinar a massa de água transferida pela pipeta. Finalmente, convertemos a massa em volume.
EXEMPLO
Calibração de uma Pipeta
Um pesa- ltro vazio tem uma massa de 10,313 g. Após adicionar a água proveniente de uma pipeta de 25 mL, a massa passou a ser de 35,225 g. Se a temperatura do laboratório é de 27°C, determine o volume de água transferido pela pipeta. A pipeta transfere menos volume a 20°C do que a 27°C, pois o vidro se contrai ligeiramente quando a temperatura diminui. A vidraria volumétrica é normalmente calibrada a 20°C.
Solução A massa de água é 35,225 – 10,313 = 24,912 g. Utilizando a Equação 2-4 e a penúltima coluna da Tabela 2-7, o volume de água é (24,912 g) (1,004 6 mL/g) = 25,027 mL, a 27°C. A última coluna na Tabela 2-7 informa qual seria o volume se a pipeta estivesse a 20°C. Essa pipeta transferiria (24,912 g)(1,004 5 mL/g) = 25,024 mL, a 20°C. A importância da calibração é ilustrada por um manual de um fabricante de seringas de vidro de microlitos digitalmente controladas operadas eletronicamente. A tolerância do fabricante para a exatidão de uma seringa não calibrada que pode liberar volumes variáveis de 2 a 50 μL é ±1,0% (±0,5 μL) quando transfere 50 μL. Quando a seringa é calibrada pesando a água que ela transfere, a exatidão chega a ±0,2% (+0,1 μL).
2-10
Introdução ao Excel® da Microsoft
Caso você já saiba usar uma planilha eletrônica, pode pular esta seção. Uma planilha eletrônica é uma ferramenta essencial para manipulação de dados quantitativos. Na química analítica, as planilhas eletrônicas podem nos ajudar com as curvas de calibração, as análises estatísticas, as curvas de titulação e os problemas de equilíbrio. Elas nos permitem realizar, com rapidez, experimentos de simulação nos quais investigamos os efeitos de um ácido mais forte, ou de uma força iônica diferente, sobre uma curva de titulação. Neste livro, usamos a planilha eletrônica Excel® da Microsoft como uma ferramenta para a resolução de problemas em química analítica.26 Embora você possa pular esta seção sem perda de continuidade, as planilhas eletrônicas enriquecerão a sua compreensão da química analítica e proporcionarão uma valiosa ferramenta para ser usada além deste curso. Começando: Cálculo da Massa Especí ca da Água Vamos preparar uma planilha eletrônica para calcular a massa específica da água a partir da equação
Esta equação é exata até cinco casas decimais na faixa de 4°C a 40°C.
em que T é a temperatura (°C), a0 = 0,999 89, a1 = 5,332 2 × 10–5, a2 = –7,589 9 × 10–6 e a3 = 3,671 9 × 10–8. A planilha eletrônica em branco na Figura 2-22a possui as colunas assinaladas por A, B, C e as linhas numeradas 1, 2, 3, …, 12. A posição que corresponde à coluna B e à linha 4 é chamada célula B4. Comece a preencher uma planilha eletrônica com um título que facilite a identificação do seu conteúdo. Na Figura 2-22b, clique com o botão esquerdo do mouse na célula A1 e escreva “Cálculo da Massa Específica da H2O com a Equação 2-5”. A seguir, clique na célula A2 e escreva “(usando o prazeroso livro de Dan Harris)”, sem aspas. O computador automaticamente expande o texto para as células vizinhas. Para salvar a planilha digitada, clique no botão Office no canto superior esquerdo no Excel 2010 e selecione Salvar como. No Excel 2007, clique no botão Office no canto superior esquerdo para encontrar o comando Salvar como. Dê à planilha um nome que descreverá para você o que ela contém bem depois de já ter esquecido dela. Salve o arquivo em um local que você possa encontrar no futuro. A informação armazenada no seu computador é tão boa quanto a sua capacidade de recuperá-la. Nas versões anteriores do Excel, selecione o menu Arquivo para encontrar o comando Salvar como. Adotamos neste livro uma convenção em que as constantes são colocadas na coluna A. Selecione a célula A4 e escreva “Constantes:”, como cabeçalho da coluna. Selecione a célula A5 e escreva “a0 =”. Depois, selecione a célula A6 e escreva o número 0,99989 (sem espaços). Nas células A7 a A12, escreva as constantes restantes. Observe que as potências de dez são escritas, por exemplo, no formato E-5 para 10–5. Após digitar “5,3322E-5” na célula A8, a planilha provavelmente exibirá “5,33E-5”, embora algarismos adicionais sejam mantidos na memória. Para mostrar o número desejado de algarismos em notação científica, clique na célula A8 e selecione a guia Início no topo da planilha. Vá para o grupo Número e clique na pequena seta na parte inferior direita. Deve aparecer a janela
Formatar Células. Selecione “Científico” e 4 casas decimais. Quando clicar em OK, a entrada na célula A8 será “5,3322E-5”. Caso precise de mais espaço para o número de algarismos, posicione o mouse na linha vertical do topo da coluna e redimensione a mesma. Podemos formatar todos os números na coluna A clicando no topo da coluna antes de introduzir o formato. A planilha eletrônica deverá agora ficar parecida com a que é mostrada na Figura 2-22b.
FIGURA 2-22
Evolução de uma planilha eletrônica durante o cálculo da massa específica da água.
Na célula B4, escreva o cabeçalho “Temp (°C)”. Podemos encontrar o símbolo para grau na guia Inserir clicando em Símbolo. Agora, escreva as temperaturas de 5 até 40 nas células B5 até B12. Essa é a nossa entrada para a planilha eletrônica. A saída será constituída pelos valores calculados de massa específica na coluna C. Na célula C4, escrevemos o cabeçalho “Massa específica (g/mL)”. A célula C5 é a mais importante da tabela. Nela será escrita a seguinte fórmula: = $A$6 + $A$8*B5 + $A$10*B5^2 + $A$12*B5^3 As fórmulas começam com o sinal de igual. Os operadores aritméticos em uma planilha eletrônica são + adição – subtração * multiplicação / divisão ^ exponenciação
Tanto faz se você usa ou não espaços entre os operadores aritméticos. Quando você aperta ENTER, o número 0,99997 aparece na célula C5. A fórmula anterior é a tradução da Equação 2-5 em termos de planilha eletrônica. $A$6 refere-se à constante na célula A6. Vamos explicar o sinal de cifrão logo adiante. B5 refere-se ao valor da temperatura na célula B5. O sinal de multiplicação é
*, e o sinal de exponenciação é ^. Por exemplo, o termo “$A$12*B5^3” significa “(conteúdo da célula A12) × (conteúdo da célula B5)3”. Veremos agora a principal propriedade “mágica” de uma planilha eletrônica. Marcamos a célula C5, que contém a fórmula que você deseja copiar para dentro das células C6 até C12. Arrastamos o pequeno quadrado escuro no canto inferior direito da célula C5 para as células abaixo dela, de C6 até C12. O Excel copia a fórmula de C5 para dentro das células abaixo dela e calcula, em cada uma das células selecionadas, os resultados. A massa específica da água em cada temperatura aparece então na coluna C, na Figura 2-22d. Podemos fazer com que os números apareçam no formato decimal, e não em notação científica clicando na seta na parte inferior direita em Número na guia Início. Em Formatar Células, selecione Número e cinco casas decimais. Nesse exemplo, fizemos três tipos de entradas. Rótulos, tal como “a0 =”, foram escritos como texto. Uma entrada que não começa com um dígito ou um sinal de igual é tratada como texto. Números, como 25, foram digitados em algumas células. A planilha eletrônica trata um número de maneira diferente de um texto. Na célula C5, entramos com uma fórmula, que necessariamente começa com um sinal de igual. Os três tipos de entrada no exemplo foram: rótulo a3= número 4,4E-05 fórmula = $A$8*B5
Operações Aritméticas e Funções Adição, subtração, multiplicação, divisão e exponenciação têm os símbolos +, –, *, / e ^, respectivamente. Funções como Exp(·) podem ser digitadas ou selecionadas a partir da guia Fórmula no Excel 2007. Nas versões anteriores do Excel, selecionamos o menu Inserir. Nesse menu, seleciona-se a opção Função. A função Exp(·) eleva o número “e” à potência contida entre parênteses. Outras funções como Ln(·), Log(·), Sen (·) e Cos(·) também estão disponíveis. A ordem das operações aritméticas em uma fórmula é o sinal de negativo primeiro, seguido por ^, seguido por * ou / (calculadas na ordem do seu aparecimento, da esquerda para a direita), seguidas finalmente por + ou – (também calculadas da esquerda para a direita). Utilizamos parênteses para garantir a ordem correta nas operações aritméticas. O conteúdo dos parênteses é calculado primeiro, antes de serem realizadas as operações fora dos parênteses. Eis alguns exemplos: Ordem de operações: 1. Sinal de negativo (sinal de menos antes de um termo) 2. Exponenciação 3. Multiplicação ou divisão (calculada da esquerda para a direita) 4. Adição ou subtração (calculada da esquerda para a direita)
As operações entre parênteses são feitas a partir do mais interno.
Quando estamos em dúvida sobre como uma expressão será calculada, utilizamos parênteses para forçar que se faça o cálculo na ordem desejada. Documentação e Facilidade de Leitura A primeira documentação importante em uma planilha eletrônica é o nome do arquivo. Um nome como “Exp 10 Gráfico Gran” é muito mais expressivo do que “Laboratório Químico”. O próximo aspecto importante é o título no topo da planilha eletrônica, que nos diz o seu propósito. Para lembrar quais as fórmulas usadas na planilha eletrônica, adicionam-se linhas de texto (rótulos) no fim da planilha eletrônica. Na célula A14, escrevemos “Fórmula”, e na célula A15 escrevemos “C5 = $A$6+$A$8*B5+$A$10*B5^2+$A$12*B5^3”. A maneira mais certa de documentar a fórmula é copiar o texto da barra de fórmula na célula C5. Vamos à célula A15, digitamos “C5” e então colamos o texto que copiamos. Documentação significa disponibilizar a informação. Se uma determinada planilha eletrônica só pode ser lida pela pessoa que a fez, isso indica que a sua documentação não é boa e necessita ser melhorada. (O mesmo acontece com os cadernos de laboratório!)
Nós melhoramos a leitura dos dados de nossa planilha selecionando o número (decimal) ou o formato de notação científica e especificando quantas casas decimais devem ser mostradas. A planilha retém mais dígitos em sua memória, mesmo que apenas 5 sejam mostrados. Referências Absolutas e Relativas
A fórmula “=A$8*B5” faz referência às células A8 e B5 de maneira diferente. $A$8 é uma referência absoluta para o conteúdo da célula A8. Não importa onde a célula $A$8 é chamada na planilha eletrônica, o computador vai até a célula A8 para procurar um número. “B5” é uma referência relativa na fórmula na célula C5. Quando chamado a partir da célula C5, o computador vai na célula B5 para procurar um número. Quando chamado a partir da célula C6, o computador vai na célula B6 para procurar um número. Se chamado a partir da célula C19, o computador irá olhar a célula B19. Por isso, a célula escrita sem o sinal de cifrão é chamada referência relativa. Se quisermos que o computador só olhe na célula B5, então devemos escrever “$B$5”. Referência absoluta: $A$8 Referência relativa: B5
Salve seus arquivos frequentemente durante uma sessão de trabalho e faça uma cópia de segurança de tudo que você não quer perder. 2-11
Fazendo Grá cos com o Excel
Gráficos são muito importantes para a compreensão das relações quantitativas. Para fazer um gráfico no Excel 2010 ou 2007 a partir da planilha eletrônica da Figura 2-22d, vá até a guia Inserir e selecione Gráfico. Clique em Dispersão e selecione a opção de dispersão com linhas suaves e marcadores. O outro gráfico mais comum que se faz é Dispersão somente com marcadores. Arraste o gráfico em branco com o mouse até a direita dos dados. Em Ferramentas de Gráfico, selecione Design e clique em Selecionar dados. Clique em Adicionar. Para nomear a série, escreva “Massa específica”, sem as aspas. Para os valores de X, selecione células de B5 a B12. Para os valores de Y, apague o que estava na caixa e selecione as células de C5 a C12. Clique OK duas vezes. Clique no interior da área do gráfico e selecione em Ferramentas de Gráfico a opção Formatar. A Área do Gráfico Formatar Seleção fornece opções para as cores de borda de preenchimento do gráfico. Para Preenchimento, selecione Preenchimento sólido e Cor branca. Para Cor da Borda, selecione Linha sólida e cor preta. Agora temos um gráfico branco circundado por uma margem preta. Para adicionar um título ao eixo X, selecione Layout em Ferramentas de Gráfico. Clique em Títulos dos Eixos e Título do Eixo Horizontal Principal. Clique em Título Abaixo do Eixo. Uma expressão genérica de título aparecerá no gráfico. Selecione e digite “Temperatura (°C)” sobre o título. O símbolo de grau é obtido clicando na guia Inserir e depois Símbolo. Para colocar um título no eixo Y, selecione novamente Layout em Ferramentas de Gráfico. Clique em Títulos de Eixos e depois em Título do Eixo Vertical Principal. Clique em Título Girado e então digite “Massa Específica (g/mL)” para o título. Selecione o título que aparece acima do gráfico e o remova por meio da tecla delete. Nosso gráfico provavelmente se parecerá agora com aquele da Figura 2-23.
FIGURA 2-23
Primeiro gráfico de massa específica feito por meio do Excel.
Vamos agora mudar o gráfico de modo que se pareça com o da Figura 2-24. Clique na curva do gráfico para selecionar todos os pontos. Caso apenas um ponto seja selecionado, clique em outro lugar sobre a curva. Selecione Ferramentas de Gráfico e depois em Formatar. Em Seleção Atual, escolha Formatar Seleção. Aparecerá uma caixa de diálogo de Formatar Série de Dados. Na opção Opções de Marcador, selecione Interno. Escolha o formato círculo e o tamanho 6. Para Preenchimento do Marcador, selecione Preenchimento sólido e uma cor de sua preferência. Selecione Cor da Linha do Marcador, depois Linha sólida e então a
mesma cor do marcador. Para mudar o aspecto da curva do gráfico, use as opções Cor da Linha e Estilo da Linha. Defina uma linha preta sólida de espessura 1,5 ponto. Para mudar a aparência do eixo Y, clique sobre qualquer número desse eixo e então todos os números serão destacados. Selecione Ferramentas de Gráfico e Formato e Formatar Seleção. Aparece a caixa de diálogo Formatar Eixo. Para Opções de Eixo, Mínimo, clique em Fixo e coloque o valor 0,992. Para Opções de Eixo, Máximo, clique em Fixo e introduza o valor 1,000. Para Unidade principal, clique em Fixo e escolha o valor 0,002. Para Unidade secundária, clique em Fixo e estabeleça o valor 0,0004. Em Tipo de marca de escala secundária escolha Externo. Na caixa de diálogo Formatar Eixo, selecione Número e fixe três casas decimais para os números. Feche a caixa Formatar Eixo para concluir o eixo vertical. Da mesma maneira, selecione um número no eixo X e mude a aparência de modo que esse eixo se pareça com o da Figura 224 com um Mínimo de 0, um Máximo de 40, uma Unidade principal 10 e uma Unidade secundária 5. Coloque o Tipo de marca de escala secundária em Externa. Para adicionar linhas de grade verticais, vá para Ferramentas de Gráfico e selecione Layout e, a seguir, Linhas de Grade. Selecione Linhas de Grade Verticais Principais e, a seguir, Linhas de Grade. Vamos adicionar um título ao gráfico. Em Layout, em Ferramentas de Gráfico, selecione Título do Gráfico e assinale Acima do Gráfico. Digite “Massa Específica da Água”. Na guia Início, selecione um tamanho de fonte de 10 pontos. Agora, o gráfico deve se parecer bastante com o da Figura 2-24. Podemos redimensionar o gráfico a partir do canto inferior direito. Para desenhar sobre um documento do Excel, selecione Inserir e depois Formas. Para escrever no gráfico, vá a guia Inserir e selecione Caixa de Texto. Clique no gráfico e comece a digitar. Arraste a caixa de texto aonde achar que deve ficar. Para formatar a caixa, clique na sua borda. Vá para a opção Formatar e selecione Preenchimento da forma e Contorno da forma. Para adicionar setas ou linhas, vá para a guia Inserir e selecione Formas. Para mudar o símbolo dos pontos dos dados clique em um ponto. Na guia Formatar, clique em Formatar Seleção. A caixa que aparece permite mudar a aparência dos pontos e da linha.
FIGURA 2-24
Gráfico de massa específica depois da mudança de formato.
Termos Importantes Termos introduzidos em negrito neste capítulo e também definidos no Glossário.
absorção adsorção água-mãe balão volumétrico bureta calibração dessecador dessecante diluição em série empuxo filtrado higroscópico ignição incerteza relativa lama
lavagem ácida menisco papel de filtro sem cinzas paralaxe pipeta química verde tara titulante
Resumo Segurança exige que se pense antes no que se vai fazer e que se leve em consideração os perigos de cada operação antes de executá-la. Não conduza um procedimento até que medidas de segurança adequadas sejam tomadas. Saiba como utilizar os equipamentos de segurança, como óculos de proteção, capela, guarda-pó, luvas, chuveiro de emergência, lavador de olhos e extintores de incêndio. Os produtos químicos devem ser estocados e usados de maneira a minimizar o contato dos sólidos, dos líquidos e dos vapores com as pessoas. Procedimentos de descarte que sejam ambientalmente aceitáveis deverão ser estabelecidos antes de se utilizar qualquer produto químico. Seu caderno de laboratório registra o que você fez e o que observou; ele deve ser compreensível para outras pessoas. Ele também deve permitir que você repita um experimento da mesma maneira no futuro. Você deverá entender os princípios de operação de uma balança eletrônica e tratá-la como um equipamento delicado. A correção do empuxo é necessária para trabalhos exatos. As buretas deverão ser lidas de forma reprodutível e esvaziadas lentamente para melhores resultados. Sempre interpole entre as marcas de leitura para ter a exatidão de mais uma casa decimal além das graduações. Balões volumétricos são usados para preparar soluções com volume conhecido. Pipetas aferidas (volumétricas) transferem volumes fixos. As pipetas graduadas, menos exatas, transferem volumes variáveis. Quanto maior a vidraria volumétrica, menor é a sua incerteza relativa. Você deve compreender como projetar uma série de diluições para preparar uma solução menos concentrada a partir de uma mais concentrada por meio de pipetas aferidas e balões volumétricos. Não se deixe iludir com os resultados de um lindo visor digital em uma micropipeta. A não ser que a sua micropipeta tenha sido calibrada recentemente, e que a sua técnica de manipulação seja confiável, as micropipetas podem apresentar erros grosseiros. Filtração e coleta de precipitados necessitam de uma técnica cuidadosa, bem como a secagem de reagentes, precipitados e vidraria em estufas e dessecadores. A vidraria volumétrica deve ser calibrada pesando-se a água contida ou transferida pelo instrumento. Em trabalhos mais cuidadosos, a concentração das soluções e os volumes dos recipientes deverão ser corrigidos para variações de temperatura. Se você planeja usar planilhas eletrônicas ao longo deste livro, você deve saber como entrar com as fórmulas em uma planilha e como desenhar um gráfico com os dados da planilha.
Exercícios 2-A. Qual é a massa real da água se a massa medida na atmosfera é 5,397 4 g? Quando você procurar a massa específica da água, admita que a temperatura é (a) 15°C e (b) 25°C. Considere a massa específica do ar como 0,001 2 g/mL e a massa específica dos pesos da balança como 8,0 g/mL. 2-B. Uma amostra de óxido férrico (Fe2O3, massa específica = 5,24 g/mL), obtida da calcinação de um precipitado gravimétrico, pesou 0,296 1 g na atmosfera. Qual a sua massa real no vácuo? 2-C. Uma solução de permanganato de potássio (KMnO4) foi determinada por titulação como 0,051 38 M, a 24°C. Qual a molaridade da solução quando a temperatura do laboratório cair para 16°C? 2-D. Uma solução-estoque contém 51,38 mmol de KMnO4/L. Como você pode usar as pipetas na Tabela 2-4 e balões volumétricos de 100 e 250 mL para obter, aproximadamente, 1, 2, 3 e 4 mmol de KMnO4/L? Quais serão as concentrações exatas dessas soluções? 2-E. Água foi transferida de uma bureta entre as marcas de 0,12 e 15,78 mL. O volume aparente transferido foi 15,78 2 0,12 5 15,66 mL. Medindo-se no ar, à temperatura de 22°C, a massa da água transferida foi de 15,569 g. Qual o verdadeiro volume da água transferida? 2-F.
Reproduza a planilha da Figura 2-23 e o gráfico da Figura 2-24.
Problemas Segurança e Anotações de Laboratório 2-1. (a) Qual é a regra básica de segurança e qual é a sua responsabilidade em aplicá-la no seu trabalho?
(b) Após ter sido instruído acerca das regras e dos procedimentos de segurança em seu laboratório, faça uma listagem de todos eles. 2-2. Que classe de líquidos pode penetrar facilmente através de luvas de borracha e entrar em contato com sua pele? Por que luvas de borracha protegem você do ácido clorídrico concentrado? 2-3. Para o procedimento de descarte de substâncias químicas, por que o dicromato é convertido em Cr(OH)3(s)? 2-4. O que significa o termo “química verde”? 2-5. Dê três atributos essenciais de um caderno de laboratório. Balança Analítica 2-6. Explique os princípios de operação de uma balança eletrônica. 2.7. Explique por que a correção do empuxo é igual a 1 na Figura 2-7 quando a massa específica do objeto pesado é de 8,0 g/mL. 2-8. O pentano (C5H12) é um líquido com massa específica 0,626 g/mL, p róximo de 25°C. Determine a massa real do pentano quando a massa pesada ao ar é de 14,82 g. Admita que a massa específica do ar é de 0,001 2 g/mL. 2-9. Apresentam-se a seguir as massas específicas (em g/mL) de várias substâncias: ácido acético, 1,05; CCl4, 1,59; enxofre, 2,07; lítio, 0,53; mercúrio, 13,5; PbO2, 9,4; chumbo, 11,4; irídio, 22,5. Utilizando a Figura 2-8, faça a previsão de qual substância terá a menor porcentagem de correção de empuxo e qual terá a maior. 2-10. O hidrogenoftalato de potássio é um padrão primário usado para medir a concentração de soluções de NaOH. Determine a massa real de hidrogenoftalato de potássio (massa específica = 1,636 g/mL) se a massa aparente pesada ao ar é 4,236 6 g. Se você não corrigir a massa para o empuxo, a molaridade calculada para o NaOH será maior ou menor? De que porcentagem? 2-11. Levando em consideração o empuxo, que massa aparente de CsCl (massa específica 3,988 g/mL) no ar deve ser pesada para obter uma massa real de 1,267 g? 2-12. (a) Use a lei do gás ideal (Problema 1-18) para calcular a massa específica (g/mL) do hélio, a 20°C e 1,00 bar. (b) Determine a massa real de sódio metálico (massa específica = 0,97 g/mL) pesado em uma câmara seca com atmosfera de hélio se a massa aparente foi de 0,823 g. 2-13. (a) A pressão de vapor da água a 20°C em equilíbrio é de 2330 Pa. Qual é a pressão de vapor da água no ar, a 20°C, se a umidade relativa é de 42%? (Umidade relativa é a porcentagem da pressão de vapor da água, em equilíbrio, presente no ar.) (b) Use a nota 13 do Capítulo 2, existente no fim deste livro, para determinar a massa específica do ar (g/mL, não g/L) sob as mesmas condições descritas no item (a) quando a pressão barométrica for 94,0 kPa. (c) Qual é a massa real de água no item (b) se a massa no ar é 1,000 0 g? 2-14. (a) Efeito da altitude na balança eletrônica. Se um objeto pesa ma gramas a uma distância ra do centro da Terra, ele pesará mb = ma(ra2/rb2) quando atingir a distância rb. Um objeto pesa 100,000 0 gno primeiro andar de um edifício com ra = 6370 km. Quanto pesará no décimo andar, que é 30 m mais alto? (b) Se você apertar o botão “calibrar” da balança eletrônica no 10o andar antes de pesar o objeto, a massa observada será 100,000 0 g. Por quê? 2-15. Microbalança de cristal de quartzo. A área dos eletrodos de ouro na microbalança de cristal de quartzo apresentada na abertura do Capítulo 2 é de 3,3 mm2. Um eletrodo de ouro é recoberto com DNA com uma densidade superficial de 1,2 pmol/cm2. (a) Que massa do nucleotídeo citosina (C) se liga à superfície do eletrodo quando cada DNA ligado é alongado de uma unidade de C? A fórmula massa do nucleotídeo ligado é citosina + desoxirribose + fosfato = C9H10N3O6P = 287,2 g/mol. (b) O deslocamento medido da frequência de oscilação no cristal de quartzo para a ligação do DNA ao eletrodo de ouro foi de – 10 Hz para cada ng/cm2 ligado ao eletrodo. Calcule quantos ng de citosina por centímetro quadrado de área do eletrodo são ligados quando a variação de frequência observada é de –4,4 Hz. Essa variação de frequência é consistente com o prolongamento do DNA de uma unidade de C? Vidraria e Expansão Térmica 2-16. O que os símbolos “TD” e “TC” significam em vidraria volumétrica? 2-17. Descreva o procedimento para preparar 250,0 mL de K2SO4 0,150 0 M com um balão volumétrico. 2-18. Quando é preferível usar um balão volumétrico de plástico em vez de um balão volumétrico de vidro? 2-19. (a) Descreva o procedimento para transferir 5,00 mL de um líquido usando uma pipeta aferida.
(b) Qual é mais exata, uma pipeta aferida ou uma pipeta graduada? 2-20. (a) Descreva o procedimento para transferir 50,0 mL de um líquido por meio de uma micropipeta ajustável? (b) O que você faria de diferente com relação ao item (a) caso aparecesse espuma no líquido? 2-21. Qual é o propósito da armadilha na Figura 2-17? E do vidro de relógio na Figura 2-20? 2-22. Qual o agente dessecante mais eficiente, Drierita ou pentóxido de fósforo? 2-23. (a) Qual é a massa do padrão primário ácido benzoico (MF 122,12, massa específica = 1,27 g/mL) que deve ser pesada para obter uma solução aquosa 100,0 mM em um volume de 250 mL? (b) Qual é a massa aparente no ar que fornecerá a massa verdadeira em (a)? (c) Diluições em série. Você dispõe de pipetas aferidas de 5 e 10 mL e balões volumétricos de 100, 250, 500 e 1000 mL. Proponha uma série de diluições que produzirá uma solução de ácido benzoico 50,0 μM. 2-24. Um balão volumétrico de 10 mL vazio pesou 10,263 4 g. Quando está cheio com água destilada, até a marca de aferição, e é pesado novamente no ar a 20°C, a massa é 20,214 4 g. Qual é o volume real do balão a 20°C? 2-25. Qual a porcentagem da expansão de uma solução aquosa quando aquecida de 15°C até 25°C? Se uma solução 0,500 0 M é preparada a 15°C, qual será a sua molaridade a 25°C? 2-26. O volume real de um balão volumétrico de 50 mL é 50,037 mL, a 20°C. Que massa medida poderá estar contida no balão, a 20°C, (a) no vácuo e (b) no ar? 2-27. Você precisa preparar 500,0 mL de KNO3 1,000 M, a 20°C. Porém, a temperatura do laboratório (e da água) é de 24°C no momento do preparo da solução. Quantos gramas do KNO3 sólido (massa específica 5 2,109 g/mL) devem ser dissolvidas no volume de 500,0 mL, a 24°C, para que a concentração seja de 1,000 M, a 20°C? Que massa aparente de KNO3 pesada no ar é necessária? 2-28. Precisão de uma série de diluições. Para realizar uma diluição 1/100 de uma solução, qual dos procedimentos a seguir fornece a maior precisão: (i) transferir 1 mL com uma pipeta para balão volumétrico de 100 mL ou (ii) transferir 10 mL com uma pipeta para balão volumétrico de 1 L? Como você pode melhorar a exatidão de cada um desses procedimentos? 2-29. Um modelo simples para a fração de micropipetas que funcionam dentro das especificações após o tempo t é Fração dentro das especificações = e–t(ln 2)/tm em que tm é o tempo médio entre as falhas (o tempo em que a fração das pipetas que está dentro das especificações é reduzida a 50%). Suponha que tm = 2,0 anos. (a) Mostre que a equação prevê que o tempo em que 50% das micropipetas ainda permanecem dentro das especificações é de 2 anos se tm = 2,00 anos. (b) Encontre o tempo t em que as pipetas devem ser recalibradas (e reparadas, se necessário) de modo que 95% das pipetas operem dentro das especificações. 2-30. O vidro é uma notória fonte de contaminação de metais. Três recipientes de vidro foram triturados e peneirados até o tamanho de grão de 1 mm.27 Para descobrir quanto Al3+ poderia ser extraído, agitou-se 200 mL de uma solução 0,05 M do agente complexante de metais EDTA com 0,50 g de partículas de vidro de aproximadamente 1 mm em um frasco de polietileno. Após 2 meses, o teor de Al na solução era de 5,2 μM. O teor total de Al do vidro foi medido pela dissolução completa de uma amostra do vidro em HF 48% m/m e aquecimento em forno de micro-ondas. O teor medido foi de 0,80% m/m. Que fração de Al foi extraída do vidro pelo EDTA? 2-31.
A eficiência de uma coluna de cromatografia a gás é medida por um parâmetro chamado altura do prato (H, mm), que
está relacionada com a vazão de gás (u, mL/min) pela equação de van Deemter: H = A + B/u + Cu, na qual A, B e C são constantes. Construa uma planilha eletrônica, e o seu respectivo gráfico, mostrando os valores de H em função de u, para u (mL/min) = 4, 6, 8, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100. Use os seguintes valores para as constantes: A = 1,65 mm, B = 25,8 mm · mL/min e C = 0,023 6 mm · min/mL. Procedimento-padrão: Calibração de uma Bureta de 50 mL
Este procedimento explica como se pode construir um grá co, como o da Figura 3-3, para converter o volume transferido por uma bureta para o volume real, a 20°C. 0. Determine a temperatura no laboratório. A água destilada para este experimento deve estar à temperatura do laboratório.
1. Encha a bureta com água destilada e retire todas as bolhas de ar. Verifique se a água escoa pela bureta sem deixar gotas aderidas sobre as paredes. Caso isso não ocorra, limpe a bureta com água e detergente ou deixe-a mergulhada em uma solução de limpeza.15 Ajuste o menisco em 0,00 mL, ou ligeiramente abaixo. Encoste a ponta da bureta na lateral de um béquer para remover a gota de água, que fica suspensa na ponta da bureta. Deixe a bureta descansar por 5 min, enquanto se pesa um frasco de 125 mL, que tenha uma rolha de borracha. (Deve-se segurar esse frasco com papel, e não com as mãos para evitar variações de massa devido a resíduos que ficam no vidro a partir de impressões digitais.) Se o nível do líquido na bureta variou, aperte a torneira, e repita o procedimento anterior. Anote o nível do líquido. 2. Transfira, aproximadamente, 10 mL de água, com uma velocidade < 20 mL/min para um frasco de 125 mL, que foi previamente pesado, e feche-o bem para evitar evaporação. Depois de transferir a água, espere cerca de 30 s para fazer a leitura da bureta, de modo a permitir que o filme de líquido nas paredes escoe. Estime todas as leituras ao centésimo de mL. Pese o frasco novamente para determinar a massa de água transferida pela bureta. 3. Agora, transfira o volume de água entre as marcas de 10 a 20 mL e meça a massa de água transferida. Repita esse procedimento para os níveis de 30, 40 e 50 mL. Repita, então, todo o procedimento (10, 20, 30, 40 e 50 mL). 4. Use a Tabela 2-7 para converter a massa de água em volume transferido. Compare os dois conjuntos de medida. Quando a diferença for maior que 0,04 mL, é necessário que se repita todo o procedimento. Prepare uma curva de calibração como a da Figura 3-3, mostrando o fator de correção a cada intervalo de 10 mL.
EXEMPLO
Calibração de Bureta
Quando se transfere líquido de uma bureta, a 24°C, observam-se os seguintes valores: Leitura nal
10,01
10,08 mL
Leitura inicial
0,03
0,04
Diferença
9,98
10,04 mL
Massa
9,984
10,056 g
Volume real transferido
10,02
10,09 mL
Correção
+0,04
+0,05 mL
Concentração média
+0,045 mL
Para calcular o volume real transferido quando 9,984 g de água são transferidas, a 24°C, observe a coluna da Tabela 2-7 intitulada “Corrigida a 20°C.” Na linha para 24°C, você encontrará que 1,000 0 g de água ocupa 1,003 8 mL. Portanto, 9,984 g ocupam (9,984 g)(1,003 8 mL/g) = 10,02 mL. A correção média para os dois conjuntos de dados é de 10,045 mL. Para obter fatores de correção para volumes maiores que 10 mL, adicione as massas sucessivas de água que são coletadas no frasco. Admita que as seguintes massas foram medidas: Intervalo de volume (mL) 0,03-10,01 10,01-19,90 19,90-30,06 Soma 30,03 mL
Massa transferida (g) 19,984 19,835 10,071 29,890 g
O volume total de água transferida é (29,890 g)(1,003 8 mL/g) = 30,00 mL. Como o volume indicado pela bureta é de 30,03 mL, a correção da bureta em 30 mL é –0,03 mL. Qual o significado dessa correção? Admita que os resultados da Figura 3-3 se aplicam a sua bureta. Se a titulação começa em 0,04 mL e termina em 29,00 mL, foram transferidos 28,96 mL se a bureta estiver perfeita. A Figura 3-3 indica que a bureta transfere 0,03 mL a menos do que é indicado; logo somente 28,93 mL foram realmente transferidos. Para utilizar a curva de
calibração, todas as titulações devem começar o mais próximo possível de 0,00 mL ou as leituras, inicial e final, devem ser corrigidas. Sempre que essa bureta for utilizada, as leituras devem ser corrigidas pela curva de calibração da bureta.
ERRO EXPERIMENTAL
[JodiJacobson / iStockphoto (adaptada).] Alguns erros de laboratório são mais óbvios do que outros, mas existe erro associado a todas as medidas. Não é possível medir-se o valor “real” do que quer que seja. O melhor que se pode fazer em uma análise química é aplicar cuidadosamente a técnica que a experiência nos indica como a mais con ável. A repetição de um método de medida várias vezes nos indica a reprodutibilidade (precisão) da medida. Quando uma mesma grandeza é medida através de métodos diferentes e os resultados obtidos concordam entre si, temos con ança de que esses resultados são exatos, o que signi ca que estamos próximos do valor “real”.
V
amos admitir que a massa específica de um mineral tenha sido determinada, medindo-se a sua massa (4,635 ± 0,002 g) e o seu volume (1,13 ± 0,05 mL). Massa específica é massa por unidade de volume: 4,635 g/1,13 mL = 4,101 8 g/mL. As incertezas nas medidas da massa e do volume são ±0,002 g e ±0,05 mL, mas qual é a incerteza na massa específica calculada? E quantos
algarismos significativos devem ser usados para a massa específica? Este capítulo discute a propagação da incerteza em cálculos de laboratório.
3-1
Algarismos Signi cativos
O número de algarismos significativos é o número mínimo de algarismos necessários para escrever um determinado valor em notação científica sem a perda de precisão. O número 142,7 tem quatro algarismos significativos, pois pode ser escrito como 1,427 0 × 102. Se escrevermos 1,427 0 × 102, subentende-se que é conhecido o valor do dígito após o 7, o que não é o caso para o número 142,7. O número 1,427 0 × 102, tem, portanto, cinco algarismos significativos. Algarismos significativos: número mínimo de algarismos necessários para expressar o valor em notação científica sem perda de precisão.
O número 6,302 × 10–6 possui quatro algarismos significativos, pois todos eles são necessários. Podemos escrever o mesmo número como 0,000 006 302, que também possui quatro algarismos significativos. Os zeros à esquerda do algarismo 6 são utilizados somente para mostrar o número correto de casas decimais. O número 92 500 é ambíguo em relação ao número de algarismos significativos. Ele pode ser representado por uma das seguintes formas:
FIGURA 3-1 Escala analógica de um espectrofotômetro Bausch & Lomb, modelo Spectronic 20. A transmitância percentual é uma escala linear e a absorbância é uma escala logarítmica.
9,25 × 104 9,250 × 104 9,250 0 × 104
3 algarismos significativos 4 algarismos significativos 5 algarismos significativos
É preferível escrever qualquer um dos três números anteriores, em vez de 92 500, para indicar quantos algarismos são realmente conhecidos. O algarismo zero é significativo quando se encontra (1) no meio de um número ou (2) no final de um número, do lado direito da vírgula decimal. Os zeros significativos estão representados em negrito: 106 0,010 6 0,106 0,106 0
O último algarismo significativo (o mais afastado à direita), em um número que foi determinado experimentalmente, terá sempre uma incerteza associada. A incerteza mínima deve ser de ±1 no último algarismo. A escala de um espectrofotômetro Spectronic 20 está desenhada na Figura 3-1. O ponteiro na figura indica um valor de absorbância de 0,234. Dizemos que existem três algarismos significativos, pois os números 2 e 3 são completamente certos e o número 4 é uma estimativa. O valor pode ser lido, por pessoas diferentes, como 0,233 ou 0,235. A transmitância percentual está próxima de 58,3. A escala de transmitância é menor do que a escala de absorbância nesse ponto, portanto há maior incerteza no último algarismo da transmitância. Uma estimativa razoável da incerteza pode ser 58,3 ± 0,2. Existem três algarismos significativos no número 58,3. Ao ler a escala de qualquer instrumento, tente interpolar entre as marcas. Tente estimar o décimo mais próximo da distância entre as duas marcas. Assim, em uma bureta de 50 mL, que está graduada a cada 0,1 mL, lemos a posição do nível do líquido o mais próximo possível de 0,01 mL. Ao utilizar uma régua graduada em milímetros, estime a distância o mais próximo possível de 0,1 mm. Interpolação: Estime todas as leituras o mais próximo possível do décimo da distância entre as divisões da escala.
Em qualquer quantidade medida existe uma incerteza, mesmo que o instrumento de medida tenha um mostrador digital que não flutua. Quando um medidor de pH digital indica um pH de 3,51, há incerteza no algarismo 1 (e possivelmente também no algarismo 5). Entretanto, alguns números são exatos. Para calcular a altura média de 4 pessoas, devemos dividir a soma das alturas (que é uma quantidade medida com alguma incerteza) pelo número inteiro 4. São exatamente quatro pessoas e não 4,000 ± 0,002 pessoas!
3-2
Algarismos Signi cativos na Aritmética
Vamos considerar agora quantos algarismos devem existir em uma resposta após serem executadas operações aritméticas com seus dados. O arredondamento deve ser feito somente na resposta final (não nos resultados parciais), a fim de se evitar o acúmulo de erros de arredondamento. Mantenha todos os algarismos dos resultados parciais em sua calculadora ou planilha. Adição e Subtração Se os números a serem somados ou subtraídos têm o mesmo número de algarismos, a resposta deve ter o mesmo número de casas decimais que os números envolvidos na operação:
O número de algarismos significativos na resposta pode ser maior ou menor do que o existente nos dados originais.
Se os números a serem somados não possuírem o mesmo número de algarismos significativos, a resposta estará limitada pelo número que tem o menor número de algarismos significativos. Por exemplo, no cálculo da massa molecular do KrF2, a resposta é conhecida somente até a terceira casa decimal, pois a massa atômica do Kr conhecida contém apenas três casas decimais: A tabela periódica no início deste livro fornece a incerteza do último algarismo da massa atômica: F: 18,998 403 2 ± 0,000 000 5 Kr: 83,798 ± 0,002
O número 121,794 806 4 deve ser arredondado para 121,795 na resposta final. Regras para o arredondamento de números.
Quando se arredonda um número, deve-se observar todos os algarismos além da última casa decimal desejada. No exemplo anterior, os algarismos 806 4 se situam além da última casa decimal significativa. Em razão desse número ser maior do que a metade do intervalo até o último algarismo significativo, deve-se arredondar o algarismo 4 para 5 (isto é, arredondamos para cima e obtemos o número 121,795 em vez de arredondarmos para baixo e obtermos o número 121,794). Se os algarismos não significativos forem menores do que a metade do intervalo, devemos arredondar para baixo. Por exemplo, o número 121,794 3 é arredondado para 121,794. Existe uma situação especial, que é quando os algarismos não significativos são exatamente iguais à metade do intervalo. Neste caso, arredondamos para o algarismo par mais próximo. Assim, o número 43,55 é arredondado para 43,6, se considerarmos apenas três algarismos significativos. Se mantivermos apenas três algarismos significativos no número 1,425 × 10–9, ele fica 1,42 × 10–9. O número 1,425 01 × 10–9 é arredondado para 1,43 × 10–9, pois 501 é maior do que o intervalo para o próximo algarismo. A razão pela qual arredondamos para um algarismo par é evitar o aumento ou a diminuição sistemática dos resultados devido a erros sucessivos de arredondamento. A metade dos arredondamentos será para cima e a outra metade para baixo. Em adições ou subtrações de números expressos em notação científica, todos os números devem primeiro ser convertidos ao mesmo expoente: Adição e subtração: Expresse todos os números com o mesmo expoente e alinhe todos os números em relação à vírgula decimal. A resposta deve ser arredondada de acordo com o número que tenha o menor número de casas decimais.
A soma 11,513 07 × 105 é arredondada para 11,51 × 105 porque o número 9,84 × 105 está limitado a duas casas decimais quando todos os números estão expressos em múltiplos de 105. Multiplicação e Divisão Na multiplicação e divisão, estamos limitados normalmente ao número de algarismos contidos no número com menos algarismos significativos: Multiplicação e divisão: A resposta é limitada ao número de algarismos contidos no número com menos algarismos significativos.
A potência de 10 não influencia no número de algarismos significativos que devem ser mantidos. A seção que trata da regra real para algarismos significativos, mostrada adiante, explica por que é razoável manter um algarismo extra quando o primeiro algarismo da resposta é 1. O produto da operação central anterior pode ser expresso como 1,55 × 10–6 em vez de 1,6 × 10–6 para evitar a perda de parte da precisão do fator 3,6 na multiplicação. Logaritmos e Antilogaritmos Se n = 10a, então dizemos que a é o logaritmo na base 10 de n: Logaritmo de n:
Por exemplo, 2 é o logaritmo de 100 porque 100 = 102. O logaritmo de 0,001 é –3 porque 0,001 = 10–3. A maioria das calculadoras contém a tecla log para encontrar o logaritmo de um número. Na Equação 3-1, o número n é o antilogaritmo de a. Isto é, o antilogaritmo de 2 é 100 porque 102 = 100, e o antilogaritmo de –3 é 0,001 porque 10–3 = 0,001. Sua calculadora provavelmente possui uma tecla 10x ou uma tecla antilog para determinar o antilogaritmo de um número. Um logaritmo é composto de uma característica e uma mantissa. A característica é a parte inteira e a mantissa é a parte decimal:
O número 339 pode ser escrito como 3,39 × 102. O número de algarismos na mantissa do log 339 deve ser igual ao número de algarismos significativos existentes em 339. O logaritmo de 339 é corretamente expresso como 2,530. A característica 2 corresponde ao expoente em 3,39 × 102. O número de algarismos na mantissa do log x = número de algarismos significativos em x:
Para verificar que a terceira casa decimal é a última casa significativa, considere os seguintes resultados:
102,531 = 340(339,6) 102,530 = 339(338,8) 102,529 = 338(338,1)
Os números entre parênteses são os resultados antes do arredondamento para três algarismos significativos. Mudando o expoente na terceira casa decimal em um algarismo na última (terceira) casa decimal a resposta muda para 339. Na conversão de um logaritmo em seu antilogaritmo, o número de algarismos significativos no antilogaritmo deve ser igual ao número de algarismos existentes na mantissa. Assim,
O número de algarismos no antilog x (= 10x) = número de algarismos significativos na mantissa de x:
Os exemplos seguintes mostram o uso apropriado de algarismos significativos:
Algarismos Signi cativos e Grá cos Quando um gráfico é feito em um computador, deve-se levar em conta se o gráfico mostra somente o comportamento qualitativo dos dados (Figura 3-2) ou valores precisos que devem ser lidos com diversos algarismos significativos. Se o gráfico for utilizado para que os pontos possam ser lidos (como o da Figura 3-3), as escalas em ambos os eixos, horizontal e vertical, devem ter marcas de divisão. A leitura será ainda melhor se existir uma grade superposta no gráfico.
3-3
Tipos de Erro
Toda medida possui alguma incerteza, que é chamada de erro experimental. As conclusões científicas podem ser expressas com um alto ou baixo grau de confiança, mas nunca com completa certeza. O erro experimental é classificado como sistemático ou aleatório.
FIGURA 3-2 Exemplo de um gráfico com o objetivo de mostrar o comportamento qualitativo da função y = e–x/6 cos x. Este gráfico não é adequado para a leitura de coordenadas exatas.
Erro Sistemático Um erro sistemático, também chamado de erro determinado, advém de uma falha em um equipamento ou na concepção de um experimento. Se você realiza o mesmo experimento da mesma maneira todas as vezes, o erro é reprodutível. A princípio, os erros sistemáticos podem ser descobertos e corrigidos, embora isso nem sempre seja fácil. Por exemplo, um medidor de pH que foi padronizado incorretamente produz um erro sistemático. Suponha que o pH do tampão utilizado para padronizar o medidor seja 7,00, mas que na realidade ele seja 7,08. Se o medidor está funcionando de maneira correta, todas as medidas de pH serão 0,08 unidade de pH menores. Quando se lê um pH de 5,60, o pH real da amostra é 5,68. Esse erro sistemático pode ser descoberto pelo uso de um segundo tampão de pH conhecido para testar o medidor. O erro sistemático é um erro reprodutível que pode ser detectado e corrigido. O Boxe 3-1 descreve um exemplo para uma análise ambiental.
FIGURA 3-3 Curva de calibração para uma bureta de 50 mL. O volume transferido pode ser lido ao décimo de mL. Se a leitura da bureta for 29,43 mL, um fator de correção suficientemente exato pode ser determinado localizando-se 29,4 mL no gráfico. O fator de correção na ordenada (eixo dos valores de y) para 29,4 mL na abscissa (eixo dos valores de x) é –0,03 mL (a estimativa é feita ao centésimo de mL). O Problema 3-8 mostra como você pode controlar as linhas de grade em um gráfico no Excel.
BOXE 3-1
Estudo de Caso em Ética: Erro Sistemático na Determinação do Ozônio1
O ozônio (O3) é um gás oxidante e corrosivo que dani ca seus pulmões e todas as formas de vida. É formado próximo da superfície da Terra pela ação da luz solar sobre o NO2, oriundo principalmente da descarga de automóveis (Figura 1-3). A Agência de Proteção do Meio Ambiente dos EUA de ne um limite médio de O3 em 8 horas de 75 ppb (75 nL/L em volume) no ar. As regiões que não cumprem esta norma podem ser obrigadas a reduzir as fontes de poluição que contribuem para a formação de O3. O erro sistemático na medição de O3 pode ter sérias consequências para a saúde e para a economia de uma região. Para monitorar o cumprimento à norma empregam-se vários equipamentos. O instrumento mostrado no diagrama bombeia ar ambiente através de uma célula com caminho ótico de 15 cm. A radiação ultravioleta produzida por uma lâmpada de mercúrio é parcialmente absorvida pelo O3. Quanto maior a quantidade de ozônio no ar, menos radiação chega ao detector. A partir da absorbância medida, o instrumento calcula a concentração de O3. Na utilização de rotina, o operador somente ajusta o controle de zero, que calibra o medidor para leitura zero, quando ar isento de O3 é passado através do instrumento. Periodicamente, o instrumento é recalibrado com uma fonte de O3. Um estudo com monitores comerciais de O3 concluiu que mudanças controladas de umidade levavam a erros sistemáticos na concentração aparente de O3 de dezenas de milhares de ppb (erros várias vezes maiores do que a quantidade de O3 que estava sendo medida). O aumento da umidade produzia erros sistemáticos positivos em alguns tipos de instrumentos e erros sistemáticos negativos em outros. A água não absorve no comprimento de onda na região do ultravioleta medida pelo detector, de modo que a umidade não interfere no processo de absorção de radiação. Uma análise meticulosa do problema levou à hipótese de que a adsorção da umidade na superfície interna da célula de medida mudava a re etividade daquela superfície. Dependendo do tipo de instrumento, a água adsorvida poderia levar a uma redução ou a um aumento da quantidade de luz que chegava ao detector, criando assim uma falsa leitura elevada ou baixa de O3. O problema foi resolvido em duas etapas. A primeira etapa consistiu na instalação de um tubo de Na on®, permeável à água antes da célula de absorção para equalizar a unidade no ar que está sendo medido em relação ao ar usado quando se ajusta o zero do instrumento. A segunda etapa foi eliminar a adsorção de água nas superfícies de alumínio no caminho óptico revestindo-o com quartzo fundido (vidro de SiO2). Um monitor de ozônio miniaturizado funcionando a bateria tem um limite de detecção de 4,5 ppb e uma precisão de 1,5 ppb, sem alterações causadas pela variação da umidade. Antes da compreensão do efeito da umidade na determinação do O3, sabia-se que os equipamentos de monitoração de O3 frequentemente exibiam comportamento errático em dias quentes e úmidos. Especulou-se que metade das regiões consideradas fora de conformidade com o padrão de O3 poderia estar na realidade abaixo do limite legal. Este erro poderia forçar medidas de reparação dispendiosas quando não eram necessárias. Por outro lado, houve rumores que alguns operadores inescrupulosos dos equipamentos de monitoração de O3 sabiam que zerando o seu instrumento à noite, quando a umidade é alta, produziriam leituras mais baixas de O3 no dia seguinte, reduzindo assim o número de dias que a região era considerada fora de conformidade.
Diagrama esquemático do monitor Pessoal de Ozônio da 2B Technologies. O solenoide admite alternadamente ar ambiente que é puri cado para car isento de O3. A absorbância da radiação ultravioleta proveniente da lâmpada de Hg é proporcional à concentração de O3. [Diagrama retirado de P. C. Andersen, C. J. Williford e J. W. Birks, “Miniature Personal Ozone Monitor Based on UV Absorbance,” Anal. Chem. 2010, 82, 7924.]
Outro exemplo de erro sistemático envolve a utilização de uma bureta não calibrada. A tolerância do fabricante para uma bureta de 50 mL Classe A é de ±0,05 mL. Quando você pensa que o volume transferido é de 29,43 mL, o volume real pode ser de qualquer valor entre 29,38 e 29,48 mL e ainda assim situar-se dentro do limite de tolerância. Uma maneira de corrigir um erro desse tipo é construir uma curva de calibração como a apresentada na Figura 3-3, por meio do procedimento mostrado ao final do Capítulo 2 (Procedimento-padrão: Calibração de uma bureta de 50 mL). Para fazer isso, transfira água destilada da bureta para um frasco e faça sua pesagem. Determina-se o volume da água a partir de sua massa por meio da Tabela 2-7. A Figura 3-3 nos indica a aplicação de um fator de correção de –0,03 mL para o valor medido de 29,43 mL. O volume real transferido é 29,43 – 0,03 = 29,40 mL.
BOXE 3-2
Materiais de Referência Certi cados
Medidas inexatas de um laboratório podem levar a erros médicos de diagnóstico e de tratamento, perda de tempo de produção, desperdício de energia e matérias-primas, produção fora das especi cações devido a produtos defeituosos. Laboratórios nacionais de padrões em todo o mundo distribuem materiais de referência certi cados, como metais, substâncias químicas, borrachas, plásticos, materiais de engenharia, substâncias radioativas e padrões ambientais e clínicos, que podem ser usados para testar a exatidão de procedimentos analíticos.2 O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos denomina seus materiais certi cados como Materiais Padrões de Referência. A quantidade de analito em um material de referência é certi cada – com um cuidado meticuloso – para se situar em uma determinada faixa. Por exemplo, no tratamento de pacientes com epilepsia, os médicos dependem de testes de laboratório para medir concentrações de medicamentos anticonvulsivos no soro sanguíneo. Níveis muito baixos desses medicamentos levam a convulsões, enquanto níveis altos são tóxicos. Como testes de amostras idênticas de soro em diferentes laboratórios nos Estados Unidos estavam produzindo uma inaceitável larga faixa de resultados, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos desenvolveu um material de referência padrão contendo níveis conhecidos de medicamentos anticonvulsivos no soro. O material de referência permite agora que diferentes laboratórios detectem e corrijam erros em seus procedimentos de ensaio.
Antes da introdução desse material de referência, cinco laboratórios que analisaram amostras idênticas relataram uma série de resultados com erros relativos de 40 e 110% em relação ao valor esperado. Após a distribuição do material de referência, o erro foi reduzido a um valor entre 20 e 40%.
Uma característica fundamental do erro sistemático é que ele é reprodutível. No caso da bureta que acabamos de discutir, quando a leitura da mesma é 29,43 mL, o erro é sempre 20,03 mL. O erro sistemático pode ser sempre positivo em algumas regiões e sempre negativo em outras. Com cuidado e habilidade, você pode detectá-lo e corrigi-lo. As maneiras para detectar um erro sistemático são: 1. Analise uma amostra conhecida, tal como um material padrão de referência (Boxe 3-2). Seu método deve reproduzir a resposta conhecida. 2. Analise amostras em “branco” que não contêm o analito. Se você observar um resultado diferente de zero, o método responde a mais do que o pretendido por você. A Seção 5-1 discute os diferentes tipos de brancos. 3. Utilize diferentes métodos analíticos para determinar a mesma quantidade. Se os resultados não concordarem, existe um erro (ou mais) em seus métodos. 4. Arredondamento a partir de uma série de experimentos: Análise de amostras idênticas, em diferentes laboratórios, manipuladas por diferentes pessoas utilizando os mesmos ou diferentes métodos. As discordâncias além do erro aleatório esperado é um erro sistemático (veja o Boxe 15-1).
Erro Aleatório O erro aleatório, também chamado de erro indeterminado, surge dos efeitos de variáveis que não estão controladas (e que talvez não possam ser controladas) nas medidas. A probabilidade de o erro aleatório ser positivo ou negativo é a mesma. Ele está sempre presente e não pode ser corrigido. Existe um erro aleatório associado à leitura de uma escala. Pessoas diferentes lendo a absorbância ou transmitância na escala da Figura 3-1 descreveriam um intervalo de valores que refletiriam as suas interpolações subjetivas entre as marcações da escala. Uma pessoa lendo o mesmo instrumento diversas vezes pode obter diversas leituras diferentes. Outro tipo de erro aleatório é aquele decorrente do ruído elétrico em um instrumento. Flutuações positivas e negativas ocorrem com frequências praticamente iguais e não podem ser completamente eliminadas. O erro aleatório não pode ser eliminado, mas pode ser diminuído em um experimento realizado de forma mais cuidadosa.
Precisão e Exatidão A precisão é uma medida da reprodutibilidade de um resultado. Se uma grandeza é medida várias vezes e os valores foram muito próximos uns dos outros, a medida é precisa. Se os valores variaram muito, a medida não é precisa. A exatidão se refere a quão próximo um valor de uma medida está do valor “real”. Caso se disponha de um padrão conhecido, a exatidão descreve o quão próximo o valor determinado está do valor do padrão. Precisão: reprodutibilidade Exatidão: proximidade do “real”
O resultado de um experimento pode ser reprodutível, porém errado. Por exemplo, se um erro for cometido na preparação de uma solução visando uma titulação, você pode fazer uma série de titulações reprodutíveis onde os resultados serão incorretos, pois a concentração da solução titulante não era o que se planejara. Neste caso, a precisão será boa, mas a exatidão será ruim. Ao contrário, é possível realizar uma série de medidas pouco reprodutíveis em torno de um valor correto. Nesse caso, a precisão é ruim, mas a exatidão é boa. Um procedimento ideal é ao mesmo tempo preciso e exato.
A exatidão é definida como a proximidade ao valor “real”. A palavra real está entre aspas porque alguém mediu o valor “real” e existe um erro associado a qualquer medida. O valor “real” é certamente obtido por um operador experiente utilizando um procedimento muito bem testado. É aconselhável testar o resultado utilizando procedimentos diferentes, pois, mesmo que cada método seja preciso, erros sistemáticos podem levar a uma má concordância entre os métodos. Uma boa concordância entre os vários métodos nos proporciona alguma confiança, porém nunca uma comprovação de que os resultados são exatos. Incertezas Absoluta e Relativa A incerteza absoluta expressa a margem de incerteza associada a uma medida. Se a incerteza estimada na leitura de uma bureta calibrada for 60,02 mL, chamamos a grandeza 60,02 mL de incerteza absoluta associada à leitura. Uma incerteza de ±0,02 mL significa que, quando a leitura é 13,33 mL, o valor real pode estar em um valor qualquer de 13,31 a 13,35 mL.
A incerteza relativa é uma expressão que compara o tamanho da incerteza absoluta com o tamanho de suas medidas associadas. A incerteza relativa da leitura 12,35 6 0,02 mL de uma bureta é um quociente adimensional: Incerteza relativa:
Se uma bureta de 50 mL é usada, a titulação deve ser projetada de modo a ser usado um volume de titulante entre 20 e 40 mL. Com esse procedimento, obtém-se uma pequena incerteza relativa no intervalo, entre 0,1 e 0,05%.
A incerteza relativa percentual é simplesmente Incerteza relativa
Em uma análise gravimétrica, o precipitado a ser obtido deve ser suficientemente grande para que a incerteza relativa seja pequena. Se a precisão na pesagem é 60,3 mg, um precipitado de 100 mg tem um erro relativo na pesagem de 0,3%, e um precipitado de 300 mg tem uma incerteza de 0,1%.
Se a incerteza absoluta na leitura de uma bureta é constante em ±0,02 mL, a incerteza relativa percentual é 0,2% para um volume de 10 mL e 0,1% para um volume de 20 mL.
3-4
Propagação da Incerteza a Partir do Erro Aleatório3
Geralmente é possível estimar ou medir o erro aleatório associado a uma medida, como o comprimento de um objeto ou a temperatura de uma solução. A incerteza pode estar baseada na estimativa de com quanta certeza um instrumento pode ser lido ou na experiência pessoal do operador com um determinado método. Quando é possível, a incerteza deve ser expressa como o desvio-padrão, desvio-padrão da média, ou como um intervalo de confiança, que é discutido no Capítulo 4. A discussão que se segue aplica-se apenas ao erro aleatório. Admitimos que os erros sistemáticos foram detectados e corrigidos. A maior parte dos cálculos de propagação de incerteza que encontramos se relaciona com o erro aleatório, e não com o erro sistemático. O nosso objetivo é sempre eliminar o erro sistemático.
Na maioria dos experimentos é necessário realizar operações aritméticas envolvendo diversos números, cada um associado a um erro aleatório. A incerteza mais provável no resultado não é simplesmente a soma dos erros individuais, pois muitos dos erros são provavelmente positivos e outros, negativos. É provável que alguns erros se cancelem entre si. Adição e Subtração Admita que se deseje realizar a seguinte operação aritmética, na qual as incertezas experimentais, simbolizadas por e1, e2 e e3, estão entre parênteses:
A resposta aritmética é 3,06; mas qual é a incerteza associada a esse resultado? Para adição e subtração, a incerteza na resposta é obtida a partir das incertezas absolutas das parcelas individuais, como é visto a seguir: Incerteza na adição e na subtração:
Para adição e subtração usamos as incertezas absolutas.
Para a soma na Equação 3-4, podemos escrever
A incerteza absoluta e4 é ±0,04, e podemos escrever a resposta como 3,06 ± 0,04. Embora exista apenas um algarismo significativo na incerteza, podemos escrevê-la inicialmente como 0,041, com o primeiro algarismo não significativo sendo o subscrito. A razão para manter um ou mais algarismos não significativos é evitar a introdução de erros de arredondamento nos cálculos intermediários subsequentes que utilizem o número 0,041. O algarismo não significativo está como um subscrito para que ele seja um lembrete de onde o último algarismo significativo deve estar no final dos cálculos. Para encontrar a incerteza relativa percentual na soma da Equação 3-4, escrevemos
Quando o primeiro algarismo da incerteza for 1, mantenha um algarismo a mais para evitar perda de informação.
A incerteza, 0,041, é 1,3% do resultado, 3,06. Quando o primeiro algarismo da incerteza é 1, é razoável manter um algarismo adicional para evitar que se perca informação. Expressamos o resultado final como 3,06 (±0,04) 3,06 (±1%)
(incerteza absoluta) (incerteza relativa)
Para a adição e a subtração use a incerteza absoluta. A incerteza relativa pode ser determinada ao final do cálculo.
EXEMPLO
Incerteza na Leitura de uma Bureta
O volume transferido por uma bureta é a diferença entre a leitura nal e a leitura inicial. Se a incerteza em cada leitura é ±0,02 mL, qual é a incerteza no volume transferido? Solução Admita que a leitura inicial seja 0,05 (±0,02) mL e que a leitura nal seja 17,88 (±0,02) mL. O volume transferido é a diferença:
Independentemente das leituras inicial e nal, se a incerteza de cada uma é ±0,02 mL, a incerteza no volume transferido é ±0,03 mL. TESTE A VOCÊ MESMO Qual seria a incerteza no volume transferido se a incerteza em cada leitura fosse 0,03 mL? (Resposta: ±0,04 mL.) Multiplicação e Divisão Para a multiplicação e divisão, convertemos inicialmente todas as incertezas em incertezas relativas percentuais. Então, calculamos o erro no produto ou no quociente, da seguinte maneira:
Incerteza na multiplicação
Para a multiplicação e a divisão utilizamos a incerteza relativa percentual.
Por exemplo, consideremos a seguinte operação:
Inicialmente, convertemos todas as incertezas absolutas em incertezas relativas percentuais.
Recomendação: Mantenha um ou mais algarismos significativos extras até terminar todo o cálculo. Somente no final é que o arredondamento deve ser feito para o número correto de algarismos. Quando o cálculo estiver sendo feito em uma calculadora, em que os resultados intermediários são armazenados, todos os algarismos devem ser mantidos sem arredondamento.
Em seguida, calculamos a incerteza relativa percentual da resposta utilizando a Equação 3-6.
A resposta é 5,64 (±4,0%). Para converter a incerteza relativa em incerteza absoluta, calculamos 4,0% da resposta. 4,0% × 5,64 = 0,040 × 5,64 = 0,22 A resposta é 5,64 (±0,23). Finalmente, eliminamos os algarismos não significativos. 5,6 (±0,2) (incerteza absoluta) 5,6 (±4%) (incerteza relativa) Para a multiplicação e a divisão, utilize a incerteza relativa percentual. A incerteza absoluta pode ser determinada ao final do cálculo.
O denominador do problema original, 0,59, limita a resposta a dois algarismos. Cálculos Contendo Mais de um Tipo de Operação Aritmética Agora consideramos um cálculo contendo subtração e divisão:
Inicialmente calculamos a subtração existente no numerador, utilizando incertezas absolutas. Assim, 1,76 (±0,03) – 0,59 (±0,02) = 1,17 (±0,036) pois
.
Então, fazemos a conversão para incertezas relativas percentuais. Assim,
pois
.
A incerteza relativa percentual é 3,3%, portanto, a incerteza absoluta é 0,033 × 0,6190 = 0,020. A resposta final pode ser escrita como 0,619 (±0,020) (incerteza absoluta) 0,619 (±3,3%) (incerteza relativa) Como a incerteza inicia na casa decimal do centésimo (0,01), é razoável arredondar o resultado para o centésimo (0,01): O resultado de um cálculo deve ser escrito de maneira consistente com a sua incerteza.
0,62 (±0,02) (incerteza absoluta) 0,62 (±3%) (incerteza relativa) A Regra Real para Algarismos Signi cativos O primeiro algarismo da incerteza absoluta é o último algarismo significativo na resposta. Por exemplo, no quociente Regra real: O primeiro algarismo incerto é o último algarismo significativo.
a incerteza (±0,000 2) ocorre na quarta casa decimal. Então a resposta é melhor representada com três algarismos significativos, embora os dados originais tenham quatro algarismos. O primeiro algarismo incerto da resposta é o último algarismo significativo. O quociente
é expresso com quatro algarismos significativos, pois a incerteza ocorre na quarta casa. O quociente
é expresso com quatro algarismos, embora o dividendo e o divisor tenham, cada um, três algarismos. Na multiplicação e na divisão, mantenha um algarismo a mais quando a resposta se encontrar entre 1 e 2.
Agora, podemos avaliar porque é correto manter um algarismo extra quando a resposta está entre 1 e 2. O quociente 82/80 é mais bem representado como 1,02 do que por 1,0. Se as incertezas nos valores 82 e 80 estão na casa das unidades, a incerteza é da ordem de 1%, a qual se encontra na segunda casa decimal de 1,02. Se utilizarmos o valor 1,0, podemos supor que a incerteza é de, pelo menos, 1,0 ± 0,1 = ±10%, que é muito maior que a incerteza verdadeira.
EXEMPLO
Algarismos Signi cativos no Trabalho de Laboratório
Você preparou uma solução de NH3 0,250 M diluindo 8,46 (±0,04) mL de uma solução de NH3 28,0 (±0,5) % m/m [massa especí ca = 0,899 (±0,003) g/mL] até 500,0 (±0,2) mL. Encontre a incerteza da concentração 0,250 M. Considere que a massa molecular do NH3, 17,031 g/mol, tem uma incerteza relativa desprezível frente às demais incertezas deste problema. Solução Para encontrar a incerteza na molaridade, você precisa encontrar a incerteza na quantidade de mols transferida para o balão de 500 mL. O reagente concentrado contém 0,899 (±0,003) g de solução por mililitro. A massa percentual nos indica que o reagente contém 0,280 (±0,005) g de NH3 por grama de solução. Nos cálculos seguintes, você deve manter algarismos não signi cativos extras e arredondar somente no m.
Para a multiplicação converta a incerteza absoluta em incerteza relativa percentual.
pois
.
Em seguida, encontre a quantidade de mols de amônia em 8,46 (±0,04) mL do reagente concentrado. A incerteza relativa no volume é ±0,04/8,46 = ±0,473%.
pois
.
Essa quantidade de amônia foi diluída a 0,500 0 (±0,000 2) L. A incerteza relativa no volume nal é 0,000 2/0,500 0 = 0,04%. A molaridade é
pois . A incerteza absoluta é 1,88% de 0,250 1 M = 0,004 7 M. A incerteza na molaridade está na terceira casa decimal, de modo que a resposta nal arredondada é [NH3] = 0,250 (±0,005) M TESTE A VOCÊ MESMO Suponha que você utilizou vidrarias volumétricas menores para preparar a solução de NH3 0,250 M diluindo 84,6 (±0,8) µL da solução que contém 28,0% (±0,5%) m/m de NH3 para 5,00 (±0,02) mL. Encontre a incerteza na solução 0,250 M. (Resposta: 0,250 (±0,005) M. A incerteza na massa especí ca do NH3 concentrado prevalece sobre todas as demais pequenas incertezas nesse procedimento.) EXEMPLO
Diluição Volumétrica versus Diluição Gravimétrica
Vamos comparar a incerteza resultante de uma diluição volumétrica de 10 vezes com uma diluição gravimétrica de 10 vezes. (a) Para a diluição volumétrica, suponha que você dispõe de um reagente-padrão com uma concentração de 0,046 80 M. Para os propósitos deste exemplo, supomos que a incerteza na concentração inicial é desprezível. Para diluir por um fator de 10, você usa uma micropipeta para transferir 1 000 μL (=1,000 mL) para um balão volumétrico de 10 mL, diluindo até a marca. (b) Para a diluição gravimétrica, suponha que você dispõe de um reagente-padrão cuja concentração é 0,046 80 mols de reagente/kg de solução. Para diluí-lo por um fator próximo de 10, você pesa 983,2 mg (=0,983 2 g) de solução (≈ 1 mL) e adiciona 9,026 6 g de água (≈ 9 mL). Para cada procedimento, encontre a concentração nal e sua incerteza relativa. mol de reagente/kg de solução é uma unidade conveniente que não é molalidade, que é mol de reagente/kg de solvente. O fator Vdil/Vconc vem da Equação 1-5:
em que M é a concentração, V é o volume, “dil” significa diluído e “conc” indica concentrado.
Solução (a) Usaremos a tolerância para o balão volumétrico com base na Tabela 2-3 (10,00 ± 0,02 mL = 10,00 mL ± 0,2%), e para a micropipeta por meio da Tabela 2-5 (1 000 μL ± 0,3%). O fator de diluição é
porque
. A concentração da solução diluída é
(b) No procedimento gravimétrico, diluímos 0,983 2 g da solução concentrada até (0,983 2 g + 9,026 6 g) = 10,009 8 g. O fator de diluição é (10,009 8 g)/(0,983 2 g) = 10,180 8. Suponha que a incerteza em cada massa seja ±0,3 mg. A incerteza na massa da solução concentrada é 0,983 2 ± 0,000 3 g = 0,983 2 (±0,0305%) g. A incerteza absoluta na soma (0,983 2 g + 9,026 6 g) é = 0,000 42 g, que corresponde a 0,0042%. A incerteza no fator de diluição é
pois
. A concentração na solução diluída é
Neste exemplo, a diluição gravimétrica é 10 vezes mais precisa do que a diluição volumétrica (0,03% versus 0,4%). Sua maior precisão é a razão pela qual as titulações gravimétricas são recomendadas em vez das titulações volumétricas, embora estas últimas sejam menos tediosas. TESTE A VOCÊ MESMO Descreva um procedimento de diluição volumétrica que seja mais preciso do que empregando uma micropipeta de 1 000 μL e um balão volumétrico de 10 mL. Qual será a incerteza relativa na diluição? (Resposta: O emprego de uma pipeta volumétrica de 10 mL e um balão volumétrico de 100 mL produz uma incerteza de . Uma pipeta volumétrica de 100 mL e um balão volumétrico de 1 L levam a uma incerteza de
Expoentes e Logaritmos Para a função y = xa, a incerteza relativa percentual em y (%ey) é igual a a vezes a incerteza relativa percentual em x (%ex): Para elevar um número a uma determinada potência, ou para obter a raiz de um número, usando uma calculadora, usamos a função yx. Por exemplo, para determinar uma raiz cúbica (y1/3) eleva-se y à potência 0,333 333 333… através da função yx. No Excel, yx é y^x. A raiz cúbica é y^(1/3).
Incerteza para potências e raízes:
Por exemplo, se y = = x1/2, uma incerteza de 2% em x produzirá ( )(2%) = 1% de incerteza em y. Se y = x2, uma incerteza de 3% em x conduz a (2)(3%) = 6% de incerteza em y.
EXEMPLO
Propagação da Incerteza no Produto x · x
Se um objeto cai durante t segundos, a distância que ele percorre é gt2, em que g é a aceleração da gravidade (9,8 m/s2) na superfície da Terra. (Essa equação ignora o efeito da resistência do ar, que retarda a queda do objeto.) Se o objeto cai por 2,34 s, a distância percorrida é (9,8 m/s2)(2,34 s)2 = 26,8 m. Se a incerteza relativa do tempo é ± 1,0%, qual é a incerteza relativa para a distância? Solução A Equação 3-7 nos informa que para y = xa a incerteza relativa em y é a vezes a incerteza relativa em x:
Se você escreve a distância como gt · t, você pode ser tentado a dizer que a incerteza relativa na distância será . Essa 2 resposta está errada porque o erro em uma única medida de t é sempre positivo ou sempre negativo. Se t é 1,0% maior, então t é 2% maior porque estamos multiplicando um valor maior por um valor maior: (1,01)2 = 1,02. A Equação 3-6 presume que a incerteza em cada fator do produto x · z é aleatória e independente uma da outra. No produto x · z o valor medido de x pode ser às vezes maior e, o valor medido de z pode ser menor de vez em quando. Na maioria dos casos, a incerteza no produto x · z não é tão grande como a incerteza em x2.
TESTE A VOCÊ MESMO Você pode calcular o tempo para que um objeto caia do topo de um edifício até o solo caso saiba a altura do prédio. Se essa altura tem uma incerteza de 1,0%, qual é a incerteza no tempo? (Resposta: 0,5%.) Se y é o logaritmo na base 10 de x, então a incerteza absoluta em y (ey) é proporcional à incerteza relativa em x, que é ex/x: Incerteza para logaritmos:
Não se deve trabalhar com a incerteza relativa percentual [100 × (ex/x)] em cálculos com logs e antilogs, pois um lado da Equação 3-8 tem uma incerteza relativa e o outro uma incerteza absoluta. Usamos a incerteza relativa (ex/x), e não a incerteza relativa percentual, [100 × (ex/x)], nos cálculos que envolvem log x, ln x, 10x e ex.
O logaritmo natural (ln) de x é o número y, cujo valor é tal que x = ey, em que e (= 2,718 28…) é denominado a base do logaritmo natural. A incerteza absoluta em y é igual à incerteza relativa em x. No Excel o logaritmo na base 10 é log(x). O logaritmo natural é ln(x). A expressão 10x é 10^x, e a expressão ex é exp(x).
Incerteza para logaritmos naturais:
Consideremos agora y = antilog x, o que equivale a dizer que y = 10x. Neste caso, a incerteza relativa em y é proporcional à incerteza absoluta em x. Incerteza para 10x:
TABELA 3-1
Resumo das regras para propagação da incerteza
a. x representa uma variável e a representa uma constante que não apresenta incerteza. b. ex/x é o erro relativo em x, e %ex é 100 × ex/x. Se y = ex, a incerteza relativa em y se iguala à incerteza absoluta em x. Incerteza para ex:
A Tabela 3-1 resume as regras para a propagação da incerteza. Não é necessário memorizar as regras para expoentes, logs e antilogs, porém, deve-se saber como utilizá-las. O Apêndice B dá uma regra geral para a propagação da incerteza do erro aleatório para qualquer função.
EXEMPLO
Incerteza na Concentração de H+
Considere a função pH = –log [H+], onde [H+] é a molaridade de H+. Para pH = 5,21 ± 0,03, calcule [H+] e sua incerteza. Solução Deve-se, inicialmente, resolver a equação pH = –log [H+] para [H+]. Se a = b, então 10a = 10b. Logo, se pH = –log [H+], então log [H+] = – + + pH e 10log[H ] = 10–pH. Entretanto, 10log[H ] = [H+]. Precisamos encontrar, portanto, a incerteza na equação [H+] = 10–pH = 10–(5,21 ± 0,03)
Na Tabela 3-1, a função correspondente é y = 10x, em que y = [H+] e x = –(5,21 ± 0,03). Para y = 10x a tabela mostra que
A incerteza relativa em [H+] é 0,069 1. Para [H+] = 10–pH = 10–5,21 = 6,17 × 10–6 M, encontramos
A concentração de H+ é 6,17(± 0,426) × 10–6 = 6,2(±0,4) × 10–6 M. Uma incerteza de 0,03 no pH resulta em uma incerteza de 7% em [H+]. Certi que-se de que os algarismos extras sejam mantidos nos resultados intermediários e de que não haja arredondamento até a resposta nal. TESTE A VOCÊ MESMO Se a incerteza no pH é duplicada para ±0,06, qual é a incerteza relativa na [H+]? (Resposta: 14%.) 3-5
Propagação da Incerteza a Partir do Erro Sistemático
O erro sistemático ocorre em algumas situações comuns e é tratado de forma diferente do erro aleatório em operações aritméticas. Examinaremos alguns exemplos de erros sistemáticos na massa molecular e na vidraria volumétrica. Incerteza na Massa Atômica Na tabela periódica, no início deste livro, observamos que a massa atômica do oxigênio é 15,999 4 ± 0,000 4 g/mol. Nessa tabela informa-se que, se nenhuma incerteza é especificada, a incerteza é ±1 na última casa decimal. Para a maioria dos elementos, que têm mais de um isótopo, a incerteza não é principalmente derivada do erro aleatório na medida da massa atômica, mas sim predominantemente derivada da variação isotópica em diferentes materiais (Boxe 3-3).4 A massa atômica do oxigênio em uma substância em particular tem uma incerteza sistemática. Ela pode ser, digamos, 15,999 7, com uma pequena variação aleatória em torno desse valor médio. Incerteza na Massa Molecular Qual é a incerteza na massa molecular do O2? Se a massa de cada átomo de oxigênio estivesse no limite superior da faixa de incerteza-padrão na Tabela periódica (15,999 8), então a massa de O2 será 2 × 15,999 8 = 31,999 6 g/mol. Entretanto, se a massa de cada átomo de oxigênio estiver no limite inferior da faixa de incerteza-padrão (15,999 0), então a massa de O2 será 2 × 15,999 0= 31,998 0 g/mol. A massa de O2 está situada no intervalo 31,998 8 ± 0,000 8. A incerteza da massa de n átomos é n × (incerteza de um átomo) = 2 × (±0,000 8) = ±0,000 16. A incerteza não é ± = ±0,001. Para a incerteza sistemática, adicionamos as incertezas de cada parcela de uma adição ou subtração.
BOXE 3-3
Massas Atômicas dos Elementos
A cada quatro anos uma comissão da União Internacional de Química Pura e Aplicada emprega as melhores medidas disponíveis para reavaliar as massas atômicas. (A comissão as denomina pesos atômicos.) A massa atômica de um elemento é uma média em massa das massas de seus isótopos encontradas em fontes terrestres. Caso um elemento possua apenas um isótopo estável, sua massa pode ser medida com precisão por meio da espectrometria de massa. Para mais de 80% dos elementos que possuem vários isótopos, a massa atômica média depende da fração molar de cada isótopo no material. Materiais diferentes apresentam frações isotópicas distintas, de modo que a massa atômica média de um elemento varia de uma amostra para outra. A massa atômica do sódio, que possui apenas um isótopo estável, é 22,989 769 28 ± 0,000 000 02. A massa atômica do chumbo, que apresenta proporções variadas de seus isótopos, é listada como 207,2 ± 0,1 devido a essa variação. Em 2009, uma alteração signi cativa foi feita na forma como as massas atômicas são listadas. Para elementos com múltiplos isótopos estáveis, a massa atômica é agora expressa na forma de um intervalo cobrindo a faixa encontrada na natureza. Em 2005, a massa atômica do oxigênio era listada como 15,999 4 ± 0,000 3. Desde 2009, a massa atômica é mostrada como um intervalo [15,999 03; 15,999 77] que, como você pode ver na gura adiante, cobre a faixa de massas atômicas de oxigênio de diversas fontes. Não obstante, você e eu necessitamos de “uma massa atômica” para usá-la em nossos cálculos diários. Para essa nalidade, escolheu-se o ponto médio do intervalo de massa atômica adicionando-se uma incerteza que cobre toda a faixa do intervalo. Assim, por exemplo, o intervalo da massa atômica do H é [1,007 84; 1,008 11]. O ponto médio é 1,007 98 e a incerteza ±0,000 14 cobre todo o intervalo. A massa atômica listada na tabela periódica na capa deste livro é 1,007 98 ± 14, em que 14 é a incerteza nas duas últimas casas decimais. As massas atômicas para H, Li, B, C, N, O, Si, S, Cl e Tl mostradas na tabela periódica deste livro são, da mesma forma, obtidas a partir de seus intervalos de massa atômica.
Massa atômica do oxigênio de múltiplas fontes. [Dados de M. E. Wieser e T. B. Coplen, “Atomic Weights of the Elements 2009”, Pure Appl. Chem. 2011, 83, 359.]
Vamos aplicar esse raciocínio no cálculo da massa molecular do C2H4. Massa atômica C = 12,010 6 ± 0,001 0 Massa atômica H = 1,007 98 ± 0,000 14 As incertezas nas massas dos átomos no C2H4 são obtidas multiplicando as incertezas-padrão pelo número de átomos de cada tipo.
Propagação da incerteza sistemática: A incerteza na massa de n átomos idênticos = n × (incerteza-padrão na massa atômica).
Para encontrar a incerteza na soma das massas de 2C + 4H, usamos a Equação 3-5, que se aplica para o erro aleatório, pois as incertezas nas massas de C e H são independentes entre si. Uma pode ser positiva, enquanto a outra, negativa. Assim, a massa molecular do C2H4 é
Usamos a regra de propagação das incertezas aleatórias para a soma de massas atômicas de diferentes átomos porque as incertezas para os diferentes elementos são independentes.
A incerteza relativa é 100 × (0,0021/28,0531) = 0,0074%. Transferências Múltiplas a Partir de uma Pipeta: A Virtude da Calibração Uma pipeta volumétrica Classe A de 25 mL é certificada pelo fabricante para transferir 25,00 ± 0,03 mL. O volume transferido por uma dada pipeta é reprodutível, mas pode estar no intervalo entre 24,97 e 25,03 mL. Se utilizarmos uma pipeta volumétrica Classe A de 25,00 mL, não calibrada, quatro vezes para transferir um volume total de 100 mL, qual será a incerteza nesse volume de 100 mL? A incerteza é um erro sistemático, portanto a incerteza nos quatro volumes transferidos pela pipeta equivale à
incerteza
da
massa
de
4
mol
de oxigênio. = ±0,06 mL.
A
incerteza-padrão
é
±4
×
0,03
=
±0,12
mL,
não
±
A diferença entre 25,00 mL e o volume real transferido é um erro sistemático. Este erro é sempre o mesmo e está embutido em um pequeno erro aleatório. Podemos calibrar uma pipeta pela pesagem da água transferida, como descrito na Seção 2-9. A calibração elimina o erro sistemático, porque poderíamos saber que esta pipeta sempre transfere, por exemplo, 24,991 ± 0,006 mL. A incerteza remanescente (±0,006 mL) é um erro aleatório. 0,006 mL é o desvio-padrão (definido no Capítulo 4) medido para transferências múltiplas de água.
A calibração melhora a exatidão devido à eliminação do erro sistemático. Vamos supor que uma pipeta calibrada transfere um volume médio de 24,991 mL com uma incerteza de ±0,006 mL. Se esta pipeta for usada para transferir 4 alíquotas, o volume transferido é 4 × 24,991 = 99,964 mL e a incerteza é ± = ±0,012 mL. Para uma pipeta não calibrada, a incerteza é ±4 × 0,03 = ±0,12 mL. Volume da pipeta calibrada = 99,964 ± 0,012 mL Volume da pipeta não calibrada = 100,00 ± 0,12 mL
Termos Importantes algarismo significativo antilogaritmo característica erro aleatório erro determinado erro indeterminado erro sistemático exatidão incerteza absoluta incerteza relativa logaritmo logaritmo natural mantissa massa atômica material de referência certificado precisão
Resumo O número de algarismos significativos em um número é o número mínimo de algarismos necessários para escrever o número em notação científica. O primeiro algarismo incerto é o último algarismo significativo. Na adição e na subtração, o último algarismo significativo é determinado pelo número com a menor quantidade de casas decimais (quando todos os expoentes são iguais). Na multiplicação e na divisão, o número de algarismos geralmente é limitado pela parcela com o menor número de algarismos. O número de algarismos existentes na mantissa do logaritmo de uma grandeza deve ser igual ao número de algarismos significativos dessa grandeza. O erro aleatório (indeterminado) afeta a precisão (reprodutibilidade) de um resultado, enquanto o erro sistemático (determinado) afeta a exatidão (proximidade do valor “real”). O erro sistemático pode ser descoberto e eliminado por uma pessoa perspicaz, porém alguns erros aleatórios estarão sempre presentes. Em relação aos erros aleatórios, a propagação da incerteza na adição e na subtração requer incertezas absolutas , enquanto a multiplicação e a divisão utilizam incertezas relativas
. Outras regras para a propagação de erros são encontradas na Tabela 3-
1. Um exemplo de aplicação é o cálculo da concentração do íon hidrogênio a partir do pH. Como [H+] = 10–pH, a incerteza na [H+] é e[H1]/[H+] = 2,302 6 epH. Sempre mantenha mais algarismos do que o necessário durante um cálculo e só arredonde para o número apropriado de algarismos no final. O erro sistemático na massa de n átomos de um elemento é n vezes a incerteza-padrão na massa do elemento. A incerteza na massa de uma molécula contendo diversos elementos é calculada a partir da soma dos quadrados das incertezas sistemáticas de cada elemento.
Exercícios 3-A. Um cadinho vazio pesa 12,437 2 g, e o mesmo cadinho contendo um precipitado obtido a partir de uma análise gravimétrica pesa 12,529 6 g.
(a) Cada massa apresenta seis algarismos significativos. Qual é a massa do precipitado contido no cadinho, e quantos algarismos significativos existem nesse valor de massa? (b) O fabricante afirma que a balança tem uma incerteza de ±0,3 mg. Encontre as incertezas absoluta e relativa da massa do precipitado e escreva essa massa com um número razoável de algarismos. 3-B. Escreva cada resposta com um número razoável de algarismos. Encontre a incerteza absoluta e a incerteza relativa percentual de cada resposta. (a) [12,41 (±0,09) ÷ 4,16 (±0,01)] × 7,068 2 (±0,000 4) = ? (b) [3,26 (±0,10) × 8,47 (±0,05)] – 0,18 (±0,06) = ? (c) 6,843 (±0,008) × 104 ÷ [2,09 (±0,04) – 1,63 (±0,01)] = ? (d) (e) (3,24 ± 0,08)4 = ? (f) log (3,24 ± 0,08) = ? (g) 103,24 ± 0,08 = ? 3-C. (a) Quantos mililitros de uma solução aquosa de NaOH 53,4% (±0,4)% m/m, com massa específica = 1,52 (±0,01) g/mL são necessários para o preparo de 2,000 L de NaOH 0,169 M? (b) Se a incerteza na transferência do NaOH for ±0,01 mL, calcule a incerteza absoluta da concentração molar (0,169 M). Considere desprezíveis as incertezas na massa fórmula do NaOH e no volume final (2,000 L). 3-D. O pH de uma solução é 4,44 ± 0,04. Encontre [H+] e sua incerteza absoluta. 3-E. Considere uma solução aquosa com 37,0% (±0,5)% m/m de HCl e com uma massa específica de 1,18 (±0,01) g/mL. Para se transferir 0,050 0 mol de HCl necessitam-se de 4,18 mL de solução. Se a incerteza que pode ser tolerada em 0,050 0 mol é ±2%, de quanto pode ser a incerteza absoluta em 4,18 mL? (Cuidado: Neste problema você tem de trabalhar ao contrário. Deverá calcular normalmente a incerteza em um mol de HCl a partir da incerteza no volume:
Mas, neste caso, conhecemos a incerteza no número de mols do HCl (2%), e precisamos encontrar qual a incerteza no volume da solução que conduz à incerteza de 2%. O cálculo aritmético tem a forma a = b × c × d, para a qual %ea2 = %eb2 + %ec2 + %ed2. Se conhecemos %ea, %ec e %ed, podemos encontrar %eb pela subtração: %eb2 = %ea2 – %ec2 – %ed2.) 3-F. Calcule a massa molecular, e a sua respectiva incerteza-padrão, do NH3. Qual é a incerteza relativa percentual na massa molecular?
Problemas Algarismos Signi cativos 3-1. Quantos algarismos significativos existem em cada um dos seguintes números? (a) 1,903 0 (b) 0,039 10 (c) 1,40 × 104 3-2. Arredonde cada número como se indica: (a) 1,236 7 para 4 algarismos significativos (b) 1,238 4 para 4 algarismos significativos (c) 1,135 2 para 3 algarismos significativos (d) 2,051 para 2 algarismos significativos (e) 2,005 0 para 3 algarismos significativos 3-3. Arredonde cada número para três algarismos significativos:
(a) 0,216 74 (b) 0,216 5 (c) 0,216 500 3 3-4. Escala Vernier. A figura adiante mostra a escala encontrada em alguns instrumentos, como um micrômetro calibrado, que é utilizado para medições precisas das dimensões de objetos. A escala inferior se move ao longo da escala superior, sendo usada para a interpolação de valores entre as marcações na escala superior. Em (a), a leitura (no zero à esquerda da escala inferior) está entre 1,4 e 1,5 na escala superior. Para se encontrar a leitura exata, observamos qual a marca da escala inferior que está alinhada com a marca da escala superior. Uma vez que o 6 da escala inferior está alinhado com a escala superior, a leitura correta é 1,46. Escreva as leituras corretas em (b) e em (c), e indique quantos algarismos significativos existem em cada leitura. 3-5. Escreva cada resposta com o número correto de algarismos. (a) 1,021 + 2,69 = 3,711 (b) 12,3 – 1,63 = 10,67 (c) 4,34 + 9,2 = 39,928 (d) 0,060 2 ÷ (2,113 × 104) = 2,849 03 × 10–6 (e) log(4,218 × 1012) = ? (f) antilog (–3,22) =? (g) 102,384 =? 3-6. Utilizando o número correto de algarismos significativos, calcule a massa fórmula de (a) BaF2 e (b) C6H4O4. Use a tabela periódica no início deste livro para encontrar as massas atômicas. 3-7. Escreva cada resposta com o número correto de algarismos significativos. (a) 1,0 + 2,1 + 3,4 + 5,8 = 12,300 0 (b) 106,9 – 31,4 = 75,500 0 (c) 107,868 – (2,113 × 102) + (5,623 × 103) = 5 519,568 (d) (26,14/37,62) × 4,38 = 3,043 413 (e) (26,14/(37,62 × 108)) × (4,38 × 10–2) = 3,043 413 × 10–10 (f) (26,14/3,38) + 4,2 = 11,933 7 (g) log(3,98 × 104) = 4,599 9 (h) 10–6,31 = 4,897 79 × 10–7 3-8.
Controlando a aparência de um gráfico em Excel. A Figura 3-3 requer linhas de grade para a leitura do gráfico das
correções para a bureta. A proposta deste exercício é dar forma a um gráfico para este ficar parecido com o da Figura 3-3. Siga o procedimento da Seção 2-11 para fazer um gráfico dos dados listados na tabela vista adiante. No Excel 2007ou 2010, insira um Gráfico do tipo Dispersão com os pontos referentes aos dados conectados por linhas retas. Remova a legenda e o título. Por meio da guia Ferramentas de Gráfico, clique em Layout, depois em Títulos dos Eixos; digite títulos para ambos os eixos. Dê um clique sobre um número qualquer na abscissa (eixo x) e vá para Ferramentas de Gráfico, selecionando Formatar. Na opção Formatar Seleção, em Opções de Eixo, escolha Mínimo = 0, Máximo = 50, Unidade Principal = 10 e Unidade Secundária = 1. Para Tipo de marca de escala principal, selecione Externo. Em Formatar Seleção, Número, escolha Número e faça Casas decimais = 0. Da mesma maneira, coloque o eixo da ordenada (eixo y) variando de –0,04 a +0,05, tendo Unidade principal 0,02 e Unidade secundária 0,01, e com tipo de marca de escala principal marque Externo. Para exibir as linhas de grade, vá para Ferramentas de Gráfico, depois Layout e selecione Linhas de Grade. Em Linhas de Grade Horizontais Principais, selecione Linhas de Grade Principais e Secundárias. Em Linhas de Grade Verticais Principais, selecione Linhas de Grade Principais e Secundárias. Para mover os nomes do eixo x do meio do gráfico para baixo, clique sobre um número no eixo y (e não no eixo x) e selecione Ferramentas de Gráfico, Layout e Formatar Seleção. Em Opções de Eixo, escolha Eixo Horizontal Cruza com valor do eixo e tipo em –0,04. Feche a janela Formatar Eixo, e seu gráfico deve ser semelhante ao da Figura 3-3.
Figura utilizada no Problema 3-4.
Volume (mL)
Correção (mL)
0,03 10,04 20,03 29,98 40,00 49,97
0,00 0,04 0,02 –0,03 0,00 0,03
Tipos de Erro 3-9. Por que utilizamos aspas na palavra real na sentença de que a exatidão se refere a quão próximo um valor medido está do valor “real”? 3-10. Explique a diferença entre erro sistemático e erro aleatório. 3-11. Suponha que em uma análise gravimétrica você tenha esquecido de secar o cadinho filtrante antes de coletar o precipitado. Após filtrar, você secou o produto e o cadinho juntos antes de pesá-los. A massa do produto é sempre mais alta ou sempre mais baixa? O erro na massa é um erro sistemático ou um erro aleatório? 3-12. Diga se os erros em (a)-(d) são aleatórios ou sistemáticos: (a) Quando se usa uma pipeta de 25 mL que transfere de forma contínua 25,031 ± 0,009 mL. (b) Quando se usa uma bureta de 10 mL e esta transfere habitualmente 1,98 ± 0,01 mL quando usada para transferir um volume de exatamente da marca 0 até 2 mL. Quando se usa esta mesma bureta e esta transfere habitualmente 2,03 ± 0,02 mL quando usada para transferir um volume de exatamente da marca 2 até 4 mL. (c) Quando se transferiu um volume de água de exatamente 0,00 até 2,00 mL, através de uma bureta de 10 mL, e a massa transferida foi de 1,983 9 g. Ao se repetir esta mesma operação, a massa transferida foi de 1,990 0 g. (d) Um volume de 20,0 μL, de uma determinada solução, foi injetado quatro vezes consecutivas em um cromatógrafo. A área do pico correspondente à solução, em unidades arbitrárias, foi: 4 383, 4 410, 4 401 e 4 390. 3-13. Cheryl, Cynthia, Carmen e Chastity praticaram tiro ao alvo em um camping das bandeirantes. A figura adiante mostra os alvos com os respectivos resultados que elas obtiveram. Relacione cada alvo com a descrição apropriada. (a) exato e preciso (b) exato, porém não preciso (c) preciso, porém não exato (d) nem preciso e nem exato 3-14. Reescreva o número 3,123 56 (±0,167 89%), com o número apropriado de algarismos, nas formas de (a) número (± incerteza absoluta) e (b) número (± incerteza relativa percentual).
Figura utilizada no Problema 3-13.
Propagação da Incerteza 3-15. Calcule as incertezas absoluta e relativa percentual e escreva cada resposta com um número apropriado de algarismos significativos. (a) 6,2 (±0,2) – 4,1 (±0,1) = ? (b) 9,43 (±0,05) × 0,016 (±0,001) = ? (c)[6,2 (±0,2) – 4,1 (±0,1) ÷ 9,43 (±0,05) = ? (d) 9,43 (±0,05) × {[6,2 (±0,2) × 10–3] + [4,1(±0,1) × 10–3]} =? 3-16. Calcule as incertezas absoluta e relativa percentual e escreva cada resposta com um número apropriado de algarismos significativos. (a) 9,23 (±0,03) + 4,21 (±0,02) – 3,26 (±0,06) = ? (b) 91,3 (±1,0) × 40,3 (±0,2)/21,1 (±0,2) = ? (c) [4,97 (±0,05) – 1,86 (±0,01)]/21,1 (±0,2) = ? (d) 2,016 4 (±0,000 8) + 1,233 (±0,002) + 4,61 (±0,01) 5? (e) 2,016 4 (±0,000 8) × 103 + 1,233 (±0,002) × 102 + 4,61 (±0,01) × 101 =? (f) [3,14 (±0,05)1/3 = ? (g) log[3,14 (±0,05)] = ? 3-17. Verifique os seguintes cálculos: (a) (b) log [3,141 5(±0,001 1) = 0,497 14 (±0,000 15) (c) antilog [3,141 5(±0,001 1) = 1,3852 (±0,0035) × 103 (d) ln [3,141 5(±0,001 1) = 1,144 70 (±0,000 35) (e) 3-18. (a) Demonstre que a massa fórmula do NaCl é 58,442 ± 0,006 g/mol. (b) Para preparar uma solução de NaCl, precisamos pesar 2,634 (±0,002) g e dissolver a massa em um balão volumétrico cujo volume é 100,00 (± 0,08) mL. Calcule a molaridade da solução resultante, juntamente com a sua incerteza, com o número apropriado de algarismos. 3-19. Qual a massa real de água no vácuo se a massa aparente pesada ao ar, a 24°C, é 1,034 6 ± 0,000 2 g? A massa específica do ar é 0,001 2 ± 0,000 1 g/mL e a massa específica dos pesos da balança é 8,0 ± 0,5 g/mL. A incerteza da massa específica da água, de acordo com a Tabela 2-7, é desprezível em comparação com a incerteza da massa específica do ar. 3-20. Podemos medir a concentração de uma solução de HCl pela reação com carbonato de sódio puro: 2H+ + Na2CO3 → 2Na+ + H2O + CO2. Um volume de 27,35 ± 0,04 mL da solução de HCl foi necessário para reagir completamente com 0,967 4 ± 0,000 2 g de Na2CO3 (MF 105,988 4 ± 0,000 7). (a) Determine a massa fórmula (e a sua incerteza) para o Na2CO3. (b) Determine a molaridade da solução do HCl e sua incerteza absoluta. (c) A pureza estabelecida para o padrão primário Na2CO3 é 99,95 a 100,05% m/m, o que significa que ele pode reagir com (100,00 ± 0,05)% da quantidade teórica de H+. Recalcule sua resposta para o item (b) com essa incerteza adicional.
3-21. Escreva a massa molecular (± incerteza) do C9H9O6N3 com o número correto de algarismos significativos. 3-22. Você dispõe de uma solução-estoque certificada por um fabricante como contendo 150,0 ± 0,3 μg de SO2–4 /mL. Você deseja diluí-la por um fator de 100 a fim de obter uma solução contendo 1,500 μg/mL. Existem dois métodos possíveis de diluição que são apresentados a seguir. Para cada método, calcule a incerteza resultante na concentração. Use as tolerâncias do fabricante nas Tabelas 2-3 e 2-4 para as incertezas. Explique por que um método é mais preciso que o outro. (a) Diluir 10,00 mL até 100 mL com uma pipeta volumétrica e um balão volumétrico. Então, tomar 10,00 mL da solução diluída, diluindo-a novamente a 100 mL. (b) Diluir 1,000 mL a 100 mL com uma pipeta volumétrica e um balão volumétrico. 3-23. O número de Avogadro pode ser calculado a partir das seguintes propriedades medidas para o silício cristalino puro:5 (1) a massa atômica do elemento (obtida a partir da massa e da abundância de cada isótopo), (2) a massa específica do cristal, (3) o tamanho da célula unitária (a menor unidade estrutural que se repete em um cristal), e (4) o número de átomos na célula unitária. A massa atômica do silício é mSi = 28,085 384 2 (35) g/mol, onde 35 é a incerteza (desvio-padrão) nos dois últimos algarismos. A massa específica é ρ = 2,329 031 9 (18) g/cm3, o tamanho da célula unitária cúbica, com 8 átomos por célula unitária, é c0 = 5,431 020 36 (33) × 10–8 cm. O número de Avogadro é calculado a partir da seguinte equação:
A partir das propriedades medidas e das suas incertezas (desvios-padrão), calcule o número de Avogadro e a sua incerteza. Para calcular a incerteza de c03, use a função y = xa da Tabela 3-1.
A CONTAGEM DAS MINHAS HEMÁCIAS ESTÁ ALTA HOJE?
Células vermelhas do sangue, também chamadas eritrócitos. [Altayb / iStockphoto.] Todas as medidas possuem um erro experimental – portanto é impossível se ter certeza absoluta de um resultado. Apesar disso, estamos sempre procurando respostas para questões como “A contagem das minhas hemácias está mais alta hoje do que o normal?” Se a contagem feita hoje for duas vezes maior do que a habitual, provavelmente ela está maior do que o normal. Mas e se a contagem “maior” não estiver excessivamente acima da contagem “normal”?
O número 5,6 é maior do que os cinco valores normais, mas a variação aleatória nos valores normais pode nos levar a esperar que 5,6 seja observado em vários dias “normais”.
Você aprenderá na Seção 4.5 que existe apenas uma possibilidade aleatória de 1,3% de se observar um valor afastado da média como 5,6 em um dia “normal”. É você quem deve ainda decidir o que fazer com essa informação.
M
edidas experimentais sempre trazem consigo alguma variação, de modo que nenhuma conclusão pode ser tirada com certeza absoluta. A estatística fornece ferramentas que possibilitam chegar a conclusões que possuam uma grande probabilidade de estarem corretas, assim como de rejeitar conclusões que sejam improváveis.1 Neste capítulo iremos usar ferramentas estatísticas com a finalidade de acatar, ou de rejeitar, conclusões baseadas na probabilidade de que estejam corretas. Aprenderemos o método dos mínimos quadrados para ajustar os dados experimentais a uma linha reta, e estimar as incertezas associadas a essa reta. Após estudar este capítulo, você irá dispor das ferramentas para avaliar um tratamento mais geral de propagação de incertezas no Apêndice B, o qual atribui um nível de confiança à incerteza calculada a partir de dados experimentais.
4-1
A Distribuição Gaussiana
Se um experimento é repetido um grande número de vezes e se os erros são puramente aleatórios, então os resultados tendem a se agrupar simetricamente em torno de um valor médio (Figura 4-1). Quanto mais vezes o experimento for repetido, mais os resultados se aproximam de uma curva suave ideal, chamada distribuição gaussiana. Em geral, não podemos fazer muitas medidas em um experimento de laboratório. O mais provável é que um experimento seja repetido de 3 a 5 vezes, em vez de 2 000 vezes. A partir de um pequeno conjunto de resultados, podemos estimar as propriedades de um conjunto hipotético maior. Dizemos que a variação dos dados experimentais está distribuída normalmente quando a repetição das medidas exibe uma distribuição em forma de sino, mostrada na Figura 4-1. Neste caso, a probabilidade de que o valor de uma medida esteja acima ou abaixo da média é a mesma. A probabilidade de se observar qualquer valor diminui quando a distância desse valor aumenta em relação à média.
FIGURA 4-1 Gráfico de barras e curva gaussiana descrevendo o tempo de vida de um conjunto hipotético de lâmpadas incandescentes. A curva suave possui a mesma média aritmética, o mesmo desvio-padrão e a mesma área que o gráfico de barras. Entretanto, qualquer grupo finito de dados será diferente da curva em forma de sino. Quanto mais medidas forem feitas, mais os resultados estarão próximos da curva suave.
FIGURA 4-2 Curvas gaussianas para dois grupos de lâmpadas, uma tendo a metade do desvio-padrão da outra. O número de lâmpadas descrito por curva é o mesmo.
Valor Médio e Desvio-Padrão No caso hipotético da Figura 4-1, uma fábrica testou o tempo de vida de 4 768 lâmpadas elétricas. O gráfico de barras mostra o número de lâmpadas com um tempo de vida em cada intervalo de 20 horas. Os tempos de vida se aproximam de uma distribuição gaussiana porque as variações nos componentes das lâmpadas, como, por exemplo, a espessura dos filamentos ou a qualidade das conexões, são aleatórias. A curva suave é a distribuição gaussiana que melhor se ajusta aos dados. Qualquer conjunto finito de dados será ligeiramente diferente da curva gaussiana. O tempo de vida das lâmpadas e a curva gaussiana correspondente são caracterizados por dois parâmetros. A média aritmética, x – também chamada simplesmente de média –, é a soma dos valores medidos dividida por n, o número de medidas: Média:
em que xi é o tempo de vida de uma lâmpada individual. A letra grega maiúscula sigma, Σ, significa o somatório: Σixi = x1 + x2 + x3 + ... + xn. Na Figura 4-1, o valor médio é 845,2 h. A média se localiza no centro da distribuição. O desvio-padrão indica a largura da distribuição.
O desvio-padrão, s, mede como os dados estão agrupados em torno da média. Quanto menor for o desvio-padrão, mais próximo os dados estão agrupados em torno da média (Figura 4-2). Desvio-padrão:
Um experimento que produz um pequeno desvio-padrão é mais preciso do que um que produz um grande desvio-padrão. Maior precisão não implica necessariamente maior exatidão, que indica a proximidade em relação ao valor “real”.
Na Figura 4-1, s = 94,2 h. Um conjunto de lâmpadas elétricas tendo um pequeno desvio-padrão no tempo de vida é fabricado mais uniformemente do que um conjunto que tem um grande desvio-padrão. Para um conjunto infinito de dados, a média é indicada pela letra grega minúscula mi, μ (a média de população), e o desviopadrão é escrito com a letra grega minúscula sigma, σ (o desvio-padrão da população). Nunca podemos medir μ e σ, porém os valores de x e s aproximam-se de μ e σ com o aumento do número de medidas. Quando o número de medidas aumenta, x aproxima-se de μ, se não houver erro sistemático.
Os graus de liberdade do sistema são dados por n – 1 na Equação 4-2. O quadrado do desvio-padrão é chamado de variância. O desvio-padrão é expresso como uma porcentagem do valor médio (= 100 × s/x), sendo chamado de desvio-padrão relativo ou coeficiente de variação.
EXEMPLO
Média e Desvio-Padrão
Suponha que são efetuadas quatro medidas: 821, 783, 834 e 855. Calcule a média aritmética, o desvio-padrão e o coe ciente de variação. Solução A média aritmética é
Para evitar o acúmulo de erros de arredondamento, conserve mais um algarismo do que os que estavam presentes nos dados originais. O desviopadrão é
Aprenda a usar a função desvio-padrão na sua calculadora e observe que o resultado neste caso é s = 30,269 6…
A média e o desvio-padrão devem terminar, ambos, na mesma casa decimal. Para x = 823,2 escrevemos s = 30,3. O coe ciente de variação é a incerteza percentual relativa:
TESTE A VOCÊ MESMO Se cada um dos quatro números, 821, 783, 834 e 855 no exemplo fosse dividido por 2, como a média, o desvio-padrão e o coe ciente de variação seriam afetados? (Resposta: x e s serão divididos por 2, mas o coe ciente de variação permanecerá o mesmo.)
As planilhas têm funções pré-programadas para o cálculo da média e do desvio-padrão. Na planilha ao lado, os dados experimentais são introduzidos nas células B1 até B4. A média aritmética na célula B5 é calculada com a declaração “= MÉDIA(B1:B4)”. B1:B4 significa as células B1, B2, B3 e B4. O desvio-padrão na célula B6 é calculado por meio de “= DESVPAD(B1:B4)”. Para facilitar a leitura, as células B5 e B6 foram programadas para mostrar duas casas decimais. Uma linha em negrito foi colocada abaixo da célula B4 no Excel 2007 ou 2010 marcando a célula, depois indo para Início, Fonte e selecionando o ícone Borda. Algarismos Signi cativos na Média e no Desvio-Padrão Normalmente expressamos resultados experimentais na forma x ± s(n = _), onde n é o número de dados experimentais. É razoável escrever os resultados do exemplo anterior como 823 ± 30 (n = 4) ou ainda 8,2 (±0,3) × 102 (n = 4) para indicar que a média tem apenas dois algarismos significativos. As expressões 823 ± 30 e 8,2 (±0,3) × 102 não são adequadas para cálculos que continuam prosseguindo, onde x e s são resultados intermediários. Nos cálculos seguintes, retemos um ou mais algarismos não
significativos para evitar erros de arredondamento em trabalhos posteriores. Não se assuste quando encontrar respostas do tipo 823,2 ± 30,3 nos problemas existentes neste livro. Expresse a média e o desvio-padrão na forma x ± s (n = _) Não faça arredondamentos durante um cálculo. Mantenha todos os algarismos extras em sua calculadora.
Desvio-padrão e Probabilidade A fórmula para uma curva gaussiana é Curva gaussiana:
em que e (= 2,718 28…) é a base do logaritmo natural. Para um número finito de dados, aproximamos m por x e σ por s. Um gráfico da Equação 4-3 pode ser visto na Figura 4-3, onde os valores σ = 1 e μ = 0 são usados para simplificar. O valor máximo de y é em x = μ e a curva é simétrica em torno de x = μ. É vantajoso expressar os desvios do valor médio em múltiplos, z, do desvio-padrão. Ou seja, transformamos x em z, de acordo com
A probabilidade de se medir z em um certo intervalo é igual à área deste intervalo. Por exemplo, a probabilidade de se observar z entre –2 e –1 é 0,136. Esta probabilidade corresponde à área sombreada na Figura 4-3. A área sob cada parte da curva gaussiana é dada na Tabela 4-1. Como a soma das probabilidades de todas as medidas tem que ser igual a 1, a área sob toda a curva de z = –∞ a z = +∞ tem que ser unitária. O número 1/(σ ) na Equação 4-3 é denominado fator de normalização. Ele garante que a área sob a curva inteira seja unitária. Uma curva gaussiana com área unitária é denominada curva normal de erro.
FIGURA 4-3 Uma curva gaussiana na qual μ = 0 e σ = 1. Uma curva gaussiana cuja área é unitária é denominada curva normal de erro. Nesse caso, a abcissa z = (x – μ)/σ é a distância em relação à média, medida em unidades de desvio-padrão. Quando z = 2, estamos dois desvios-padrão afastados da média.
TABELA 4-1
Ordenada e área para a curva normal de erro (gaussiana),
|z|a
y
Áreab
|z|
y
Área
|z|
y
Área
0,0
0,398 9
0,000 0
1,4
0,149 7
0,419 2
2,8
0,007 9
0,497 4
0,1
0,397 0
0,037 8
1,5
0,129 5
0,433 2
2,9
0,006 0
0,498 1
0,2
0,391 0
0,079 3
1,6
0,110 9
0,445 2
3,0
0,004 4
0,498 650
0,3
0,381 4
0,117 9
1,7
0,094 1
0,455 4
3,1
0,003 3
0,499 032
0,4
0,368 3
0,155 4
1,8
0,079 0
0,464 1
3,2
0,002 4
0,499 313
0,5
0,352 1
0,191 5
1,9
0,065 6
0,471 3
3,3
0,001 7
0,499 517
0,6
0,333 2
0,225 8
2,0
0,054 0
0,477 3
3,4
0,001 2
0,499 663
0,7
0,312 3
0,25 8 0
2,1
0,044 0
0,482 1
3,5
0,000 9
0,499 767
0,8
0,289 7
0,288 1
2,2
0,035 5
0,486 1
3,6
0,000 6
0,499 841
0,9
0,266 1
0,315 9
2,3
0,028 3
0,489 3
3,7
0,000 4
0,499 904
1,0
0,242 0
0,341 3
2,4
0,022 4
0,491 8
3,8
0,000 3
0,499 928
1,1
0,217 9
0,364 3
2,5
0,017 5
0,493 8
3,9
0,000 2
0,499 952
1,2
0,194 2
0,384 9
2,6
0,013 6
0,495 3
4,0
0,000 1
0,499 968
1,3
0,171 4
0,403 2
2,7
0,010 4
0,496 5
∞
0
0,5
a. z = (x – μ)/σ. b. A área se refere à região entre z = 0 e z = o valor na tabela. Assim, a área de z = 0 a z = 1,4 é 0,419 2. A área de z = –0,7 a z = 0 é a mesma que de z = 0 a z = 0,7. A área de z = –0,5 a z = +0,3 é (0,191 5 + 0,117 9) = 0,309 4. A área total entre z = –∞ e z = +∞ é unitária.
EXEMPLO
Área sob uma Curva Gaussiana
Admita que o fabricante das lâmpadas na Figura 4-1 ofereça a troca grátis de qualquer lâmpada que tenha queimado em menos de 600 h. Se ele planeja vender um milhão de lâmpadas, quantas lâmpadas extras devem estar disponíveis para troca? Solução Precisamos expressar o intervalo desejado em múltiplos do desvio-padrão e então encontrar a área do intervalo na Tabela 4-1. Como x = 845,2 e s = 94,2, então z = (600 – 845,2)/94,2 = –2,60. A área sob a curva entre o valor médio e z = –2,60 é, de acordo com a Tabela 4-1, 0,495 3. A área total de –∞ até o valor médio é 0,500 0, de modo que a área de –∞ a –2,60 tem que ser 0,500 0 – 0,495 3 = 0,004 7. A área à esquerda de 600 horas na Figura 4-1 é somente 0,47% da área total sob a curva. Prevê-se que somente 0,47% das lâmpadas falharão em menos de 600 horas. Se o fabricante vende 1 milhão de lâmpadas por ano, ele deve fabricar 4 700 lâmpadas a mais para atender aos pedidos de troca. Quando z = +1, x está um desvio-padrão acima da média. Quando z = –2, x está dois desvios-padrão abaixo da média.
TESTE A VOCÊ MESMO Se o fabricante substituísse as lâmpadas que queimassem em menos de 620 h, quantas lâmpadas a mais ele deveria fabricar (Resposta: z ≈ –2,4, área ≈ 0,008 2 = 8 200 lâmpadas)
FIGURA 4-4 Utilização da curva gaussiana para determinar a fração de lâmpadas com tempo de vida entre 900 e 1 000 h. Determinamos a área entre –∞ e 1 000 h e subtraímos da área entre –∞ e 900 h.
EXEMPLO
Usando uma Planilha Eletrônica para Determinar a Área sob uma Curva Gaussiana
Que fração de lâmpadas é esperada ter uma vida útil entre 900 e 1 000 h? Solução Devemos encontrar a fração da área da curva gaussiana compreendida entre x = 900 e x = 1 000 h. A função DIST.NORM no Excel dá a área de uma curva de –∞ a um determinado ponto x. Descrevemos a seguir a estratégia a ser usada: Encontramos a área de –∞ a 900 h, que é a área sombreada à esquerda de 900 h na Figura 4-4. Então, determinamos a área de –∞ a 1 000 h, que é a área sombreada à esquerda de 1 000 h na Figura 4-4. A diferença entre as duas áreas é a área de 900 até 1 000 h: Área de 900 a 1 000 = (área de –∞ a 1 000) – (área de –∞ a 900) Em uma planilha eletrônica, entre com a média na célula A2 e com o desvio-padrão na célula B2. Para determinar a área sob uma curva gaussiana de –∞ a 900 h na célula C4, marque a célula C4 e, no Excel 2007 ou 2010, vá para Fórmulas, Inserir Função. Na janela que aparece, selecione funções estatísticas e localize DIST.NORM na lista (o Excel 2010 possui tanto DISTNORM como DIST.NORM. Ambos fornecem o mesmo resultado). Dê um clique duplo em DIST.NORM e vai aparecer outra janela perguntando pelos quatro valores que serão usados por DIST.NORM. (Se você clicar em Ajuda, encontrará uma explicação resumida de como usar DIST.NORM.) Os valores que são dados para a função DIST.NORM(x, média, desvio-padrão, cumulativo) são denominados argumentos da função. O primeiro argumento é x, que é 900. O segundo argumento é a média, 845,2. Você pode entrar com 845,2 para a média ou entrar A2, que é a célula que contém o valor 845,2. Digitaremos $A$2 para movermos a entrada para outras células mantendo ainda a referência para a célula A2. O terceiro argumento é o desvio-padrão, para o qual digitamos $B$2. O último argumento é chamado “cumulativo”. Quando o seu valor é VERDADEIRO, DIST.NORM fornece a área sob a curva gaussiana. Quando cumulativo é FALSO, DIST.NORM fornece a ordenada (o valor de y) da curva gaussiana. Como desejamos a área, entramos com VERDADEIRO. A fórmula “= DIST.NORM(900,$A$2,$B$2,VERDADEIRO)” na célula C4, retorna 0,719 6. Esta é a área sob a curva gaussiana de –∞ a 900 h. Para obter a área de –∞ a 1 000 h, escrevemos “= DIST.NORM(1000,$A$2,$B$2,VERDADEIRO)” na célula C5. O valor fornecido pelo computador é 0,949 8. Então, subtraímos as áreas (C5 – C4) obtendo 0,230 2, a área de 900 a 1 000. Isto é, 23,02% da área ca na região entre 900 e 1 000 h. Consequentemente, esperamos que 23,0% das lâmpadas tenham um tempo de vida entre 900 e 1 000 h.
TESTE A VOCÊ MESMO Encontre a área entre 800 e 1 000 h. (Resposta: 0,634 2) O desvio-padrão mede a largura da curva gaussiana. Quanto maior for o valor de s, mais larga será a curva. Em qualquer curva gaussiana, 68,3% da área estão no intervalo de μ – 1σ a μ + 1σ, ou seja, prevê-se que mais de dois terços das medidas estejam situadas dentro de um desvio-padrão da média. Também, 95,5% da área situam-se entre μ ± 2σ, e 99,7% da área estão dentro de μ ± 3σ. Vamos considerar que duas técnicas diferentes são usadas para determinar a porcentagem de enxofre em uma amostra de carvão: o método A apresenta um desvio-padrão de 0,4% e o método B possui um desvio-padrão de 1,1%. Esses resultados indicam que aproximadamente dois terços das medidas feitas pelo método A devem estar dentro de 0,4% da média. Para o método B, dois terços estarão dentro de 1,1% da média. Intervalo
Percentagem de medidas
μ ± 1σ μ ± 2σ μ ± 3σ
68,3 95,5 99,7
Desvio-Padrão da Média Para determinar a vida média de um grande número de lâmpadas, poderíamos escolher uma delas de cada vez e determinar sua vida útil. Como alternativa, poderíamos escolher, digamos, quatro lâmpadas de cada vez, determinar a vida de cada uma delas e calcular a média das quatro. Repetimos esse mesmo processo várias vezes e calculamos uma média μ e um desvio-padrão que denominamos σ4 porque ele é baseado em conjuntos de quatro lâmpadas. A média de muitos conjuntos de quatro lâmpadas e igual à média da população. Entretanto, o desvio-padrão da média de conjuntos de quatro lâmpadas é menor do que o desviopadrão da população, σ. A relação é σ4 = σ . Chamamos σ4 de desvio-padrão da média dos conjuntos de quatro amostras. Em geral, o desvio-padrão da média de um conjunto de n amostras é • σ mede a incerteza em x, σ tende para um valor constante quando n tende para ∞. • σn mede a incerteza na média, x, σn tende para 0 quando n tende para ∞.
Desvio-padrão da média de conjuntos de n valores:
Quanto mais vezes medimos uma determinada quantidade, mais confiança teremos de que o valor médio das medidas está próximo da média da população. De fato, a incerteza decresce na proporção de 1/, onde n é o número de medidas. Podemos diminuir a incerteza da média por um fator de 2 (= ) fazendo 4 vezes mais medidas e por um fator de 10 (= ) fazendo 100 vezes mais medidas. Os instrumentos com aquisição rápida de dados permitem fazer, em média, mais experimentos em um curto intervalo de tempo para melhorar a precisão.
4-2
Comparação dos Desvios-padrão com o Teste F
Uma pergunta importante em estatística é: “os valores médios de dois conjuntos de experimentos são ‘estatisticamente diferentes’ um do outro quando se leva em conta a incerteza experimental?” Para que se possa comparar valores médios na próxima seção,
deveremos primeiramente decidir se os desvios-padrão dos dois conjuntos são “estatisticamente diferentes”. Considere as determinações de bicarbonato (HCO3–) no sangue de cavalos de corrida. Alguns treinadores injetam NaHCO3 em um cavalo antes de uma corrida, a fim de neutralizar o ácido lático que se acumula durante uma atividade extenuante. Para coibir o uso dessa prática, determina-se o HCO3– presente no sangue do animal após uma corrida. Quando o fabricante de um instrumento certificado para tais determinações deixa de produzi-lo, as autoridades precisam certificar um novo instrumento.
Determinações de HCO3– em sangue de cavalos
TABELA 4-2
Instrumento original
Instrumento substituto
Média (x, mM)
36,14
36,20
Desvio-padrão (s, mM)
0,28
0,47
Número de medidas (n)
10
4
Dados de M. Jarret, D. B. Hibbert, R. Osborne e E. B. Young, Anal. Bioanal. Chem. 2010, 397, 717. A Tabela 4-2 mostra os resultados obtidos com dois instrumentos. As médias 36,14 e 36,20 mM são comparáveis, mas o desvio-padrão (s) do instrumento substituto é quase o dobro do instrumento original (0,47 versus 0,28 mM). O valor de s para o instrumento substituto é “significativamente” maior do que o valor de s para o instrumento original? Para responder a essa questão, usamos o teste F, no qual o quociente F é definido como O quadrao do desvio-padrão é denominado variância.
Colocamos o desvio-padrão maior no numerador, de modo que F ≥ 1. Testamos se a diferença entre s1 e s2 é significativa por meio do teste F na Tabela 4-3. Se Fcalculado > Ftabelado, então a diferença é significativa. Na Tabela 4-3, os graus de liberdade para n medidas são expressos como n – 1. Caso existam cinco medidas em um conjunto de dados, então existem quatro graus de liberdade.
EXEMPLO
O desvio-padrão do instrumento substituto é signi cativamente maior do que aquele do instrumento original?
Na Tabela 4-2, o desvio-padrão para o instrumento substituto é s1 = 0,47 (n = 4 medidas), e o desvio-padrão para o equipamento original é s2 = 0,28 (n = 10). Solução Para responder à pergunta, encontremos F por meio da Equação 4-6:
Na Tabela 4-3 encontramos Ftabelado = 3,96 na coluna com três graus de liberdade para s1 (graus de liberdade = n – 1) e na coluna com nove graus de liberdade para s2. Como Fcalculado (= 2,82) < Ftabelado (= 3,86), rejeitamos a hipótese de que s1 é signi cativamente maior que s2. Você verá na próxima seção, que trata do teste de hipóteses, que existe uma probabilidade maior que 5% de que os dois conjuntos de dados sejam obtidos de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. TESTE A VOCÊ MESMO Se houvessem n = 13 medidas nos dois conjuntos de dados, a diferença nos desvios-padrão seria signi cativa? (Resposta: Sim. Fcalculado = 2,82 > Ftabelado = 2,69) Teste de Hipótese O teste F é um exemplo de teste de hipótese. A hipótese nula para o teste F diz que dois conjuntos de medidas são obtidos a partir de populações com o mesmo desvio-padrão populacional (s); as diferenças observadas devem-se apenas à variação aleatória nas medidas. Testamos essa hipótese nula avaliando a probabilidade de observar o quociente F = s21/s22 se dois
conjuntos de dados forem selecionados ao acaso, de populações com o mesmo desvio-padrão. Caso haja uma probabilidade inferior a 5% de encontrar o valor observado de F, rejeitamos a hipótese nula e concluímos que os dois conjuntos de dados provavelmente não provieram de populações com o mesmo desvio-padrão. Se houver uma probabilidade superior a 5% de encontrarmos o valor observado de F, aceitaremos a hipótese nula. A seleção de um nível de confiança de 5% é uma convenção. Você pode selecionar níveis maiores ou menores para atender às suas necessidades. Teste de hipótese: Toma-se uma decisão a respeito de dados medidos, com base na probabilidade de observarmos tais dados desde que uma hipótese seja estabelecida como verdadeira. Hipótese nula: A afirmação de que dois conjuntos de dados são obtidos a partir de populações com as mesmas propriedades, tais como o desvio-padrão s (teste F) ou a média m (teste t na Seção 4-4).
Os valores de F na Tabela 4-3 são escolhidos de forma que exista uma probabilidade (p) de 5% de observar o quociente s21/s22 se todas as medidas provêm de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. Quando Fcalculado > Ftabelado, existe menos de p = 5% de probabilidade que os dois conjuntos de medidas provenham de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. Escolhemos rejeitar a hipótese nula se existir menos de 5% de chance de que ela seja verdadeira. Agora, leia o Boxe 4-1 para realmente perceber o que queremos dizer com hipótese nula.
TABELA 4-3 Graus de liberdade para s2
Valores críticos de F = s21/s22 para um nível de con ança de 95% Graus de liberdade para s1 2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
15
20
30
∞
2 3 4 5
19,0 9,55 6,94 5,79
19,2 9,28 6,59 5,41
19,2 9,12 6,39 5,19
19,3 9,01 6,26 5,05
19,3 8,94 6,16 4,95
19,4 8,89 6,09 4,88
19,4 8,84 6,04 4,82
19,4 8,81 6,00 4,77
19,4 8,79 5,96 4,74
19,4 8,74 5,91 4,68
19,4 8,70 5,86 4,62
19,4 8,66 5,80 4,56
19,5 8,62 5,75 4,50
19,5 8,53 5,63 4,36
6 7 8 9 10
5,14 4,74 4,46 4,26 4,10
4,76 4,35 4,07 3,86 3,71
4,53 4,12 3,84 3,63 3,48
4,39 3,97 3,69 3,48 3,33
4,28 3,87 3,58 3,37 3,22
4,21 3,79 3,50 3,29 3,14
4,15 3,73 3,44 3,23 3,07
4,10 2,68 3,39 3,18 3,02
4,06 3,64 3,35 3,14 2,98
4,00 2,58 3,28 3,07 2,91
3,94 3,51 3,22 3,01 2,84
3,87 3,44 3,15 2,94 2,77
3,81 3,38 3,08 2,86 2,70
3,67 3,23 2,93 2,71 2,54
11 12 13 14 15
3,98 3,88 3,81 3,74 3,68
3,59 3,49 3,41 3,34 3,29
3,36 3,26 3,18 3,11 3,06
3,20 3,11 3,02 2,96 2,90
3,10 3,00 2,92 2,85 2,79
3,01 2,91 2,83 2,76 2,71
2,95 2,85 2,77 2,70 2,64
2,90 2,80 2,71 2,65 2,59
2,85 2,75 2,67 2,60 2,54
2,79 2,69 2,60 2,53 2,48
2,72 2,62 2,53 2,46 2,40
2,65 2,54 2,46 2,39 2,33
2,57 2,47 2,38 2,31 2,25
2,40 2,30 2,21 2,13 2,07
16 17 18 19 20
3,63 3,59 3,56 3,52 3,49
3,24 3,20 3,16 3,13 3,10
3,01 2,96 2,93 2,90 2,87
2,85 2,81 2,77 2,74 2,71
2,74 2,70 2,66 2,63 2,60
2,66 2,61 2,58 2,54 2,51
2,59 2,55 2,51 2,48 2,45
2,54 2,49 2,46 2,42 2,39
2,49 2,45 2,41 2,38 2,35
2,42 2,38 2,34 2,31 2,28
2,35 2,31 2,27 2,23 2,20
2,28 2,23 2,19 2,16 2,12
2,19 2,15 2,11 2,07 2,04
2,01 1,96 1,92 1,88 1,84
30 ∞
3,32 3,00
2,92 2,60
2,69 2,37
2,53 2,21
2,42 2,10
2,33 2,01
2,27 1,94
2,21 1,88
2,16 1,83
2,09 1,75
2,01 1,67
1,93 1,57
1,84 1,46
1,62 1,00
Valores críticos de F para um teste unicaudal da hipótese que s1 > s2. Existe uma probabilidade de 5% de se observar F acima do valor tabulado se os dois conjuntos de dados vêm de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. Você pode calcular F para um determinado nível de con ança por meio da função do Excel FINV(probabilidade;graus_liberdade1;grau_liberdade2). A declaração “= FINV(0,05,7,6)” reproduz o valor F = 4,21 nesta tabela. A declaração “= FINV(0,1,7,6)” dá F = 3,01 para 90% de con ança.
BOXE 4-1
Escolhendo a Hipótese Nula em Epidemiologia
Numa bela manhã eu estava sentado em um voo transnacional próximo a Malcolm Pike, um epidemiologista da Universidade da Carolina do Sul. Os epidemiologistas empregam métodos estatísticos que norteiam as práticas médicas. Pike estava estudando a relação entre a terapia da menopausa com o hormônio estrogênio-progesterona, e o câncer de mama nas mulheres. Seu estudo concluiu que havia um aumento do risco de câncer de mama de 7,6% a cada ano de terapia com estrogênio-progesterona.2 Como uma terapia dessas foi aprovada? Pike explicou que os testes exigidos pela Administração Norte-Americana de Alimentos e Medicamentos (U.S. Food and Drug Administration) são concebidos para testar a hipótese nula de que “o tratamento não faz mal”. Ao invés disso, ele disse que a hipótese nula deveria ser “o tratamento aumenta a probabilidade de causar câncer da mama”. O que ele queria dizer com isso? No campo da estatística, admite-se que a hipótese nula é verdadeira. A menos que encontre uma forte evidência de que ela não é verdadeira, você continuará a acreditar que ela é verdadeira. No sistema legal dos Estados Unidos, a hipótese nula corresponde à premissa de que a pessoa acusada é inocente. É tarefa da promotoria encontrar evidência incontestável de que o réu não é inocente; caso isso não ocorra, o júri deve absolver o acusado. No exemplo da terapia com hormônio, a hipótese nula é a de que ela não causa câncer. A prova de fogo da terapia é obter evidência incontestável de que o tratamento causa câncer. Pike a rma que se você acredita que um tratamento causa câncer, a hipótese nula deve ser que tal tratamento causa câncer. Cabe ao proponente do tratamento demonstrar de forma incontestável que ele não leva ao câncer. Nas palavras de Pike, devemos testar a hipótese de que “o óbvio provavelmente é verdade!”
Os tecidos das regiões brancas da mamogra a são mais densos do que os das regiões escuras. [GemaIbarra / iStockphoto.]
4-3
Intervalos de Con ança
O teste t de Student é uma ferramenta estatística utilizada frequentemente para expressar intervalos de confiança e para a comparação de resultados de experimentos diferentes. É uma ferramenta que pode ser utilizada para calcular a probabilidade de que sua contagem de hemácias será encontrada em um certo intervalo nos dias “normais”. “Student” foi o pseudônimo de W.S. Gosset, cujo empregador, a Cervejaria Guinness da Irlanda, restringiu as publicações por uma questão de direito de propriedade intelectual. Devido à importância do trabalho de Gosset, ele teve permissão para publicá-lo mas sob um nome fictício (Biometrika 1908, 6, 1).
Cálculo de Intervalos de Con ança A partir de um número limitado de medidas (n), não podemos encontrar a média real de uma população, μ, ou o desvio-padrão verdadeiro, σ. O que podemos determinar são x e s, a média e o desvio-padrão das amostras. O intervalo de confiança é calculado pela equação
em que t é o valor do teste t de Student, obtido da Tabela 4-4 para um nível de confiança desejado, por exemplo de 95%. A expressão à direita substitui o desvio-padrão da média, s/ com a grandeza equivalente ux, chamada incerteza padrão (ux = s/
). Incerteza-padrão = desvio-padrão da media Ux = s/
O significado do intervalo de confiança é o seguinte: se repetirmos as n medidas muitas vezes para calcular a média e o desvio-padrão, o intervalo de confiança de 95% incluirá a média real da população (cujo valor desconhecemos) em 95% dos conjuntos de n medidas. Dizemos (de modo um tanto impreciso) que “nós temos 95% de confiança de que o valor real está dentro do intervalo de confiança.”
EXEMPLO
Cálculo de Intervalos de Con ança
O teor de carboidratos de uma glicoproteína (uma proteína com açúcares xados nela) foi determinado como igual a 12,6; 11,9; 13,0; 12,7 e 12,5 g de carboidratos por 100 g de proteína. Calcule os intervalos de con ança de 50% e 90% para o teor de carboidrato. Solução Primeiro calculamos x (= 12,54) e s (= 0,40) para as cinco medidas. Para encontrarmos o intervalo de con ança de 50%, obtemos o valor de t na Tabela 4-2 na coluna encabeçada por 50 e na linha correspondente a quatro graus de liberdade (graus de liberdade = n – 1). O valor de t é 0,74l, logo, o intervalo de con ança de 50% é Intervalo de con ança de 50% = O intervalo de con ança de 90% é Intervalo de con ança de 90% = Se repetirmos o conjunto de cinco experimentos várias vezes, metade de 50% dos intervalos de con ança deve incluir a média verdadeira, μ. Nove décimos de 90% dos intervalos de con ança devem incluir a média verdadeira, μ. TESTE A VOCÊ MESMO O teor de carboidrato determinado em mais de uma amostra foi 12,3% m/m. Usando seis resultados, encontre o intervalo de con ança de 90%. (Resposta: 12,50 ± (2,015)(0,37)/ = 12,50 ± 0,31 % m/m)
TABELA 4-4
Valores do teste t de Student
Graus de liberdade
Nível de con ança (%) 50
90
95
98
99
99,5
99,9
1
1,000
6,314
12,706
31,821
63,656
127,321
636,578
2
0,816
2,920
4,303
6,965
9,925
14,089
31,598
3
0,765
2,353
3,182
4,541
5,841
7,453
12,924
4
0,741
2,132
2,776
3,747
4,604
5,598
8,610
5
0,727
2,015
2,571
3,365
4,032
4,773
6,869
6
0,718
1,943
2,447
3,143
3,707
4,317
5,959
7
0,711
1,895
2,365
2,998
3,500
4,029
5,408
8
0,706
1,860
2,306
2,896
3,355
3,832
5,041
9
0,703
1,833
2,262
2,821
3,250
3,690
4,781
10
0,700
1,812
2,228
2,764
3,169
3,581
4,587
15
0,691
1,753
2,131
2,602
2,947
3,252
4,073
20
0,687
1,725
2,086
2,528
2,845
3,153
3,850
25
0,684
1,708
2,060
2,485
2,787
3,078
3,725
30
0,683
1,697
2,042
2,457
2,750
3,030
3,646
40
0,681
1,684
2,021
2,423
2,704
2,971
3,551
60
0,679
1,671
2,000
2,390
2,660
2,915
3,460
120
0,677
1,658
1,980
2,358
2,617
2,860
3,373
0,674
1,645
1,960
2,326
2,576
2,807
3,291
Nos cálculos dos intervalos de con ança, σ pode ser substituído por s na Equação 4-7 se tivermos bastante experiência com um método em particular, ou seja, se já tivermos determinado seu desvio-padrão populacional “real”. Se σ for usado em vez de s, o valor de t a ser utilizado na Equação 4-7 é o da linha de baixo desta tabela. Os valores de t nesta tabela se aplicam aos testes bicaudais apresentados na Figura 4-9a. O intervalo de con ança de 95% especi ca as regiões contendo 2,5% da área em cada lado da curva. No caso de um teste unicaudal, usamos os valores de t listados para 90% de con ança. Cada região fora do valor de t para 90% de con ança contém 5% da área da curva. O Signi cado de um Intervalo de Con ança A Figura 4-5 ilustra o significado dos intervalos de confiança. Um computador escolhe aleatoriamente números de uma população gaussiana com uma média populacional (μ) de 10 000 e um desvio-padrão populacional (σ) de 1 000 na Equação 4-3. No experimento 1, quatro números foram escolhidos e sua média e desvio-padrão foram calculados por meio das Equações 4-1 e 4-2. O intervalo de confiança de 50% foi então calculado com a Equação 4-7, utilizando-se t = 0,765 a partir da Tabela 4-4 (confiança de 50%, 3 graus de liberdade). Esse experimento está representado graficamente como o primeiro ponto à esquerda na Figura 4-5a; o quadrado está centrado no valor médio de 9 526, e a barra de erro se prolonga do limite inferior até o limite superior do intervalo de confiança de 50% (± 290). O experimento foi repetido 100 vezes para produzir todos os pontos na Figura 4-5a. O intervalo de confiança de 50% é definido de tal forma que, se repetirmos esse experimento um número infinito de vezes, 50% das barras de erro na Figura 4-5a incluirão a média populacional real de 10 000. Na verdade, eu mesmo fiz o experimento 100 vezes, e 45 das barras de erro na Figura 4-5a passaram pela linha horizontal em 10 000. A Figura 4-5b mostra o mesmo experimento com o mesmo grupo de números aleatórios; dessa vez, porém, calculou-se o intervalo de confiança de 90%. Para um número infinito de experimentos, podemos esperar que 90% dos intervalos de confiança incluam a média populacional de 10 000. Na verdade, 89 das 100 barras de erro na Figura 4-5b cruzam a linha horizontal em 10 000.
Intervalo de Con ança como Estimativa da Incerteza Experimental Suponha que você mediu o volume de um recipiente cinco vezes, tendo observado os seguintes valores: 6,375, 6,372, 6,374, 6,377 e 6,375 mL. A média aritmética é x = 6,3746 mL, e o desvio-padrão é s = 0,0018 mL. Podemos registrar um volume de 6,3746 ± 0,0018 mL (n = 5), em que n é o número de medidas. Alternativamente, você pode registrar o desvio-padrão da média na forma de uma incerteza: x ± s/ = 6,3746 ± 0,0008 mL (n = 5). Lembre-se de que o desvio-padrão da média é também conhecido como a incerteza-padrão, ux. “Químicos analíticos têm sempre que enfatizar para o público que a característica crucial mais importante de qualquer resultado obtido a partir de uma ou mais medidas analíticas é o estabelecimento adequado de seu intervalo de incerteza.”3
Alternativamente, você pode escolher um intervalo de confiança (por exemplo, 95%) para a estimativa da incerteza. Utilizando a Equação 4-7 com quatro graus de liberdade, observa-se que o intervalo de confiança de 95% corresponde a ±ts/ = ±(2,776)(0,0018)/ = ±0,002. Por este critério, a incerteza no volume é ±0,0023 mL. É essencial especificar que tipo de incerteza você está informando como o desvio-padrão para n medidas, o desvio-padrão da média para n medidas ou o intervalo de confiança de 95% para n medidas. Sempre especifique que tipo de incerteza você está informando.
FIGURA 4-5 Intervalos de confiança de 50% e 90% para o mesmo conjunto de dados aleatórios. Os quadrados cheios (escuros) são os pontos de dados cujo intervalo de confiança não inclui a média populacional real de 10 000.
Verifique se o valor t de Student na célula C11 é o mesmo valor que aparece na Tabela 4-4.
Podemos reduzir a incerteza fazendo mais medidas. Se fizermos 21 medidas e tivermos a mesma média e o mesmo desviopadrão, o intervalo de confiança de 95% é reduzido de ±0,0025 para ±(2,086)(0,0018)/ = ±0,000 8 mL. Determinação de Intervalos de Con ança por Meio do Excel O Excel tem uma função interna que calcula o valor de t do teste de Student. Na Figura 4-6, entramos com os dados no grupo de células A4:A13. Reservamos 10 células para dados, mas podemos modificar a planilha para incluir mais dados. Para os cinco pontos experimentais inseridos na Figura 4-6, a média é calculada na célula C3 com a declaração “=MÉDIA(A4:A13)”, mesmo que algumas das células no intervalo A4:A13 estejam vazias. O Excel ignora as células vazias e não as considera como 0, o que levaria ao cálculo de uma média incorreta. O desvio-padrão é calculado na célula C4. Encontramos o número de dados experimentais, n, com a declaração na célula C5 “=CONT.VALORES(A4:A13)”. Os graus de liberdade são calculados como n – 1 na célula C7. A célula 9 mostra o intervalo de confiança (0,95) desejado, a única entrada além dos dados experimentais. A função para encontrar o valor de t de Student na célula C11 é “=INVT (probabilidade,graus_liberdade).” A probabilidade nesta função é 1 – intervalo de confiança = 1 – 0,95 = 0,05. Portanto, a declaração na célula C11 é “INVT(1-C9,C7)”, a qual retorna o valor t de Student para 95% de confiança e 4 graus de liberdade. A célula C13 fornece o intervalo de confiança calculado com a Equação 4-7.
4-4
Comparação entre Médias Utilizando o Teste t de Student
Se você fizer dois conjuntos de medidas da mesma grandeza, o valor da média de um conjunto normalmente será diferente do valor da média do outro conjunto devido a pequenas variações aleatórias nas medidas. Usamos o teste t de Student para decidir se existe uma diferença com significado estatístico entre os dois valores médios. A hipótese nula para o teste t estabelece que dois conjuntos de medidas provêm de populações com a mesma média populacional. Rejeitamos a hipótese nula se existe uma chance menor do que p = 5% de que os dois conjuntos de medidas provenham de populações com a mesma média populacional. A estatística nos fornece uma probabilidade de que a diferença observada entre duas médias provenha da incerteza aleatória das medidas. Os limites de confiança e o teste t (e mais tarde, neste capítulo, o teste de Grubbs) admitem que os dados seguem uma distribuição gaussiana. Hipótese nula para o teste t: Os dados são provenientes de conjuntos com a mesma média populacional. Rejeitamos a hipótese nula se há menos do que uma probabilidade de 5% de que ela seja verdadeira.
Apresentamos a seguir, três casos em que trabalhamos de maneiras ligeiramente diferentes: Caso 1. Medimos uma grandeza várias vezes, obtendo um valor médio e um desvio-padrão. Precisamos agora comparar o nosso resultado com um determinado valor que é conhecido e aceito. A média que obtivemos não concorda exatamente com o valor que é aceito. Será que esta diferença é aceitável levando-se em conta o “erro experimental”? Caso 2. Medimos uma grandeza diversas vezes utilizando dois métodos distintos, que fornecem duas respostas diferentes, cada uma com seu desvio-padrão. Os dois resultados concordam entre si “dentro do erro experimental”? Caso 3. A amostra A é medida uma vez pelo método 1 e uma vez pelo método 2, que não fornecem exatamente o mesmo resultado. A seguir, uma amostra diferente, denominada B, é também medida uma vez pelo método 1 e uma vez pelo método 2. Novamente, os resultados não são exatamente iguais entre si. O procedimento é repetido para n amostras diferentes. Os dois métodos concordam entre si “dentro do erro experimental”? Caso 1. Comparação de um Resultado Medido com um Valor “Conhecido” Uma amostra de carvão foi adquirida como um Material de Referência Padrão, certificado pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) dos EUA, contendo 3,19% m/m de enxofre. Você está testando um novo método analítico para verificar se o valor conhecido pode ser reproduzido. Os valores medidos são 3,29, 3,22, 3,30 e 3,23% m/m de enxofre, dando uma média de x = 3,260 e um desvio-padrão de s = 0,041. Sua resposta concorda com o valor conhecido? Para verificar isso, calcule o intervalo de confiança de 95% para a sua resposta e veja se esta faixa inclui a resposta conhecida. Se a resposta conhecida não está dentro do seu intervalo de confiança de 95%, então os dois resultados são considerados diferentes. Se a resposta “conhecida” não está dentro do intervalo de confiança de 95%, então os dois métodos fornecem resultados “diferentes”.
FIGURA 4-6
Planilha para cálculo do intervalo de confiança.
Então, vamos lá. Para 4 medidas existem 3 graus de liberdade e t95% = 3,182 na Tabela 4-4. O intervalo de confiança de 95% é
Todos os algarismos devem ser mantidos no decorrer desse cálculo.
O valor conhecido (3,19% m/m) está pouco fora do intervalo de confiança de 95%. Portanto, concluímos que existe uma chance inferior a 5% de que o nosso método concorde com o valor conhecido. Concluímos que o nosso método fornece um resultado “diferente” do valor conhecido. Entretanto, neste caso, o intervalo de confiança de 95% está tão próximo de incluir o valor conhecido que seria prudente fazer mais medidas antes de concluir que o novo método não é exato. Caso 2. Comparação entre Medidas Repetidas Os resultados dos dois diferentes conjuntos de medidas concordam “no erro experimental”?4 Para responder a essa pergunta, primeiramente comparamos os desvios-padrão por meio do teste F (Equação 4-6). Se os desvios-padrão não são significativamente diferentes, realizamos um teste t utilizando as Equações 4-9a e 4-10a para verificar se os dois valores médios são significativamente diferentes. Caso os desvios-padrão sejam significativamente diferentes, usamos as Equações 4-9b e 4-10b para inferir se as médias diferem significativamente. Caso 2a: Os Desvios-Padrão Não São Significativamente Diferentes
Vejamos novamente a Tabela 4-2 e perguntemos se os dois valores médios de 36,14 e 26,20 mM são significativamente diferentes um do outro. Respondemos a essa questão por meio do teste t. Se o teste F nos informa que os dois desvios-padrão não são significativamente diferentes, então para dois conjuntos de dados consistindo em n1 e n2 medidas (com médias de x1 e x2), calculamos um valor de t utilizando a fórmula teste t para comparação de médias:
teste t quando os desvios-padrão não são significativamente diferentes.
em que:
Aqui, sagrupado é um desvio-padrão agrupado que faz uso de ambos os conjuntos de dados. O valor absoluto de x1 – x2 é usado na Equação 4-9a de modo que t é sempre positivo. O valor de t calculado a partir da Equação 4-9a é comparado com o valor de t obtido da Tabela 4-4, para n1 + n2 – 2 graus de liberdade. Se t calculado for maior que o t tabelado, no nível de confiança de 95%, os dois resultados são considerados significativamente diferentes. Se tcalculado > ttabelado (95%), a diferença é significativa.
Na Tabela 4-2, as médias são x1 = 36,14 e x2 = 36,20 mM, em que n1 = 10 e n2 = 4 medidas. Os desvios-padrão são s1 = 0,28 e s2 = 0,47 mM, os quais foram encontrados por meio do teste F na Equação 4-6, não diferem significativamente um do outro. Desse modo, usamos as Equações 4-9a e 4-10a para comparar as médias. O desvio-padrão agrupado é
Mantenha ao menos um algarismo extra nesse ponto, a fim de evitar a introdução de erros de arredondamento nos cálculos subsequentes. Para comparar as médias, calculamos o valor de t com o auxílio da Equação 4-9a:
O valor calculado de t é 0,300. O valor crítico de t na Tabela 4-4 para (n1 + n2 – 2) = 12 graus de liberdade se situa entre 2,228 e 2,231, listados para 10 e 15 graus de liberdade na coluna para 95% de confiança. Como tcalculado < ttabelado, a diferença nos valores das médias não é significativa. Você poderia esperar essa conclusão porque a diferença é menor que o desvio-padrão de qualquer medida. tcalculado < ttabelado (95%), portanto, a diferença não é significativa.
TABELA 4-5
Massas do gás isolado por Lorde Rayleigh
Do ar (g)
Da decomposição química (g)
2,310 17
2,301 43
2,309 86
2,298 90
2,310 10
2,298 16
2,310 01
2,301 82
2,310 24
2,298 69
2,310 10
2,299 40
2,310 28
2,298 49
—
2,298 89
Média
2,310 11
2,299 47
Desvio-padrão
0,000 143
0,001 38
FONTE: R. D. Larsen, J. Chem. Ed. 1990, 67, 925; veja também C. J. Giunta, J. Chem. Ed. 1998, 75, 1322.
FIGURA 4-7 Medidas de Lorde Rayleigh da massa de volumes constantes do gás (temperatura e pressão constantes) isolado pela remoção do oxigênio do ar ou gerado pela decomposição de compostos de nitrogênio. Rayleigh reconheceu que a diferença entre os dois grupos de resultados estava fora de seu erro experimental e deduziu que um componente mais pesado, que veio a ser o argônio, estava presente no gás isolado do ar.
Caso 2b: Os Desvios-Padrão São Significativamente Diferentes
Um exemplo é dado pelo trabalho de Lorde Rayleigh (John W. Strutt), que atualmente é lembrado por seus estudos sobre o espalhamento de luz, sobre a radiação do corpo negro e sobre as ondas elásticas em sólidos. Ele ganhou o Prêmio Nobel em 1904 pela descoberta do gás inerte argônio. Essa descoberta ocorreu quando ele observou uma pequena discrepância entre dois conjuntos de medidas da massa específica do gás nitrogênio. Na época de Rayleigh, sabia-se que o ar seco era constituído de aproximadamente um quinto de oxigênio e quatro quintos de nitrogênio. Rayleigh removeu todo o oxigênio do ar misturando a amostra de ar com cobre aquecido ao rubro (obtendo CuO sólido). Ele então mediu a massa específica do gás remanescente coletando um determinado volume fixo do gás, a temperatura e pressão constantes. Ele preparou também o mesmo volume de nitrogênio puro, por meio da decomposição química do óxido nitroso (N2O), do óxido nítrico (NO) ou do nitrito de amônio (NH4+NO2–). A Tabela 4-5 e a Figura 4-7 mostram a massa do gás coletado em cada experiência. A massa média do gás coletado do ar (2,310 11 g) é 0,46% maior do que a massa média do mesmo volume de gás obtido de fontes químicas (2,299 47 g). Remoção de O2 do ar: Cu(s) + 1/2O2(g) → CuO(s)
Se as medidas de Rayleigh não tivessem sido efetuadas com cuidado, essa diferença poderia ter sido atribuída ao erro experimental. No entanto, Rayleigh compreendeu que a discrepância ultrapassava sua margem de erro, e postulou que o gás coletado do ar era uma mistura de nitrogênio com uma pequena quantidade de um gás mais pesado, que veio a ser o argônio. Na Figura 4-7, os dois conjuntos de dados estão agrupados em regiões distintas. A faixa de resultados para o nitrogênio gerado quimicamente é maior do que a faixa para o nitrogênio proveniente do ar. Os dois desvios-padrão na Tabela 4-5 são estatisticamente diferentes um do outro? Responderemos a essa questão por meio do teste F (Equação 4-6):
Se as duas variâncias fossem s12 = (0,002 00)2 (7 graus de liberdade) e s22 = (0,001 00)2 (6 graus de liberdade), a diferença seria significativa? (Resposta: Não. Fcalculado = 4,00 < Ftabelado = 4,21).
O valor crítico de F na Tabela 4-3 para n – 1 = 7 graus de liberdade para o numerador (s1) e 6 graus de liberdade para o denominador (s2) é 4,21. Como Fcalculado > Ftabelado, a diferença entre os desvios-padrão é significativa. Quando os desvios-padrão dos dois conjuntos de medidas são significativamente diferentes, as equações para o teste t são:
Se Fcalculado < Ftabelado, os desvios-padrão não diferem significativamente entre si, e usamos as Equações 4-9a e 4-10a para comparar as médias por meio do teste t. Se Fcalculado > Ftabelado, os desvios-padrão diferem significativamente entre si, e usamos as Equações 4-9b e 4-10b para comparar as médias por meio do teste t.
em que a incerteza-padrão (ui) de cada variável é o desvio-padrão da média (ui = s/ liberdade da Equação 4-10b para o inteiro mais próximo.
). Arredonde o número de graus de
EXEMPLO
O N2 Obtido do Ar por Lorde Rayleigh É Mais Denso do que o N2 Obtido Quimicamente?
A massa média do nitrogênio obtido do ar na Tabela 4-3 é x1 = 2,310 11 g, com um desvio-padrão de s1 = 0,000 143 (para n1 = 7 medidas). A massa de gás obtido de fontes químicas é x2 = 2,299 47 g, com um desvio-padrão de s2 = 0,001 379 (para n2 = 8 medidas). Essas duas massas são signi cativamente diferentes? Solução O teste t nos disse que os desvios-padrão são signi cativamente diferentes, por isso empregamos as Equações 4-9b e 4-10b:
A Equação 4-10b nos fornece 7,17 graus de liberdade, que arredondamos para 7. Para 7 graus de liberdade, o valor crítico de t na Tabela 4-4 para 95% de con ança é 2,365. O valor observado, tcalculado = 21,7, excede em muito o ttabelado. A diferença óbvia entre os dois conjuntos de dados na Figura 4-7 é altamente signi cativa. TESTE A VOCÊ MESMO Se a diferença entre os dois valores médios fosse a metade do valor encontrado por Rayleigh, mas os desvios-padrão permanecessem inalterados, a diferença ainda seria signi cativa? (Resposta: tcalculado = 10,8 > ttabelado = 2,365 – a diferença ainda é altamente signi cativa) Caso 3. Teste t Emparelhado para Comparação de Diferenças Individuais Neste caso, usamos dois métodos diferentes para fazer medidas individuais em várias amostras diferentes. Nenhuma medida foi duplicada. Os dois métodos fornecem a mesma resposta “dentro do erro experimental”? A Figura 4-8 mostra medidas de nitrato em 8 extratos de plantas diferentes. Os resultados obtidos a partir de um método espectrofotométrico estão na coluna B e os resultados usando um biossensor eletroquímico na coluna C são similares, mas não são idênticos. Biossensor: um dispositivo que utiliza componentes biológicos como enzimas, anticorpos ou DNA, em combinação com sinais elétricos, ópticos ou outros, para obter uma resposta seletiva para um analito.
Para verificar se existe uma diferença significativa entre os dois métodos usamos o teste t emparelhado. Primeiro, a coluna D calcula a diferença (di) entre os dois resultados para cada amostra. A média das 8 diferenças (d = –0,114) é calculada na célula D14 e o desvio-padrão das 8 diferenças (sd) é calculado na célula D15.
Uma vez que você tenha a média e o desvio-padrão, calcule o valor de tcalculado na célula D16:
em que |d| é o valor absoluto da diferença média, de modo que tcalculado é sempre positivo. Inserindo os valores da média e do desvio-padrão na Equação 4-12, temos
A Figura 4-8 usa a fórmula do Excel = INVT(0,05,A13-1) para calcular ttabelado = 2,365 na célula D17 para (1 – 0,05) = 95% de confiança e 8 – 1 = 7 graus de liberdade. FIGURA 4-8 Medidas de amostras de nitrato em plantas utilizando dois métodos. [Dados de N. Plumeré, J. Henig e W. H. Campbell, “Enzyme-Catalyzed O2 Removal System for Electrochemical Analysis Under Ambient Air: Application in an Amperometric Nitrate Biosensor”, Anal. Chem., 2012, 84, 2141.]
Encontramos que tcalculado (0,803) é menor que ttabelado (2,365) listado na Tabela 4-4 para uma confiança de 95% e 7 graus de liberdade. Há mais que 5% de chance de que os dois conjuntos de resultados provenham de populações com a mesma média, de modo que concluímos que os resultados não são significativamente diferentes. (O teste t emparelhado presume que os dois conjuntos de medidas têm desvios-padrão similares. Não temos como testar essa suposição sem resultados repetidos de cada um dos métodos.) Testes de Signi cância Uni e Bicaudal Na Equação 4-8, desejamos comparar a média de quatro medidas repetidas com um valor certificado. A curva na Figura 4-9a é a distribuição t para 3 graus de liberdade. Se o valor certificado estiver na região correspondente aos 5% da parte externa da área sob a curva, a hipótese nula deve ser rejeitada e concluímos com 95% de confiança que a média das medidas não é equivalente ao valor certificado. O valor crítico de t para rejeição da hipótese nula é 3,182 para 3 graus de liberdade na Tabela 4-4. Na Figura 49a, 2,5% da área abaixo da curva está acima do valor t = 3,182, e 2,5% da área esta abaixo do valor t = –3,182. Esse teste é denominado teste bicaudal porque rejeitamos a hipótese nula caso o valor certificado se encontre na região de baixa probabilidade em ambos os lados da média. Se temos uma razão prévia para acreditar que nosso método produz sistematicamente valores baixos, podemos usar o teste t unicaudal na Figura 4-9b. Neste caso, rejeitamos a hipótese nula (que afirma que não há diferença significativa entre os valores medido e certificado) se tcalculado for maior que 2,353. A Figura 4-9b mostra que 5% da área abaixo da curva se situa acima de t = 2,353. A área à esquerda da curva não foi levada em consideração porque tínhamos uma razão para acreditar que nosso método produzia resultados baixos, e não altos. Como você pode encontrar o valor de t que ultrapassa os 5% finais da área da curva? Como a distribuição t é simétrica, o valor das duas caudas t = 2,353 para confiança de 90% na Tabela 4-4 deve ser o valor que procuramos, pois 5% da área está acima de t = 2,353 e 5% da área se situa abaixo de t = –2,353.
A finalidade dessa discussão e mostrar a distinção entre os testes uni e bicaudal. Todos os testes t neste livro serão bicaudais. A Contagem de Minhas Hemácias Está Alta Hoje? Na abertura deste capítulo, a contagem das hemácias em cinco dias “normais” foi 5,1, 5,3, 4,8, 5,4 e 5,2 × 106 células/μL. A pergunta foi se a contagem de hoje, 5,6 × 106 células/μL, é “significativamente” maior que o normal. Sem levar em conta o fator 106, a média dos valores normais é x = 5,16 e o desvio-padrão s é 0,23. Para o valor de hoje, 5,6,
Qual é a probabilidade de encontrar t = 4,28 para 4 graus de liberdade?
FIGURA 4-9 Distribuição t de Student para 3 graus de liberdade. Na figura a, cada cauda sombreada contém 2,5% da área sob a curva. Na figura b, a única cauda sombreada contém 5% da área. Quanto menor o número de graus de liberdade, mais extensa é a distribuição. À medida que o número de graus de liberdade aumenta, a forma da curva se aproxima de uma curva gaussiana.
Na Tabela 4-4, olhando ao longo da coluna de 4 graus de liberdade, observamos que 4,28 se situa entre os níveis de confiança de 98% (t = 3,747) e 99% (t = 4,604). A contagem das hemácias hoje está na parte superior da cauda contendo menos de 2% da área da curva. Existe uma probabilidade menor que 2% de observar uma contagem de 5,6 × 106 células/μL em dias “normais”. É razoável concluir que a contagem de hoje está elevada. A Tabela 4-4 mostra a probabilidade da contagem das hemácias hoje situar-se entre 1 e 2%. O Excel fornece a probabilidade por meio da função DISTT (x,graus_liberdade,caudas), em que x é tcalculado, graus_liberdade = 4 e caudas = 2. A função DISTT(4,28,4,2) fornece o valor 0,013. A contagem das hemácias hoje está na região 1,3% superior da área da distribuição t. Para encontrar a probabilidade por meio do Excel: DISTT(x,graus_liberdade,caudas)
4-5
Testes t com uma Planilha Eletrônica
Para comparar os dois conjuntos de dados obtidos por Rayleigh, na Tabela 4-5, entramos com estes dados nas colunas B e C de uma planilha eletrônica (Figura 4-10). Nas linhas 13 e 14 calculamos as médias e os desvios-padrão, mas não precisamos fazer isso. No Excel 2007, na guia Dados, você deve encontrar Análise de Dados como uma das opções. Caso contrário, você deve dar um clique na aba menu no Excel 2010. Selecione Opções do Excel e Suplementos. Selecione Ferramentas de Análise, clique em OK para carregar Ferramentas de Análise. Em um uso futuro, siga as mesmas etapas para carregar o Suplemento Solver. Retornando à Figura 4-10, desejamos testar a hipótese nula de que os dois conjuntos de dados são obtidos a partir de populações com o mesmo desvio-padrão populacional, m. O Excel nos fornece a escolha de comparar as médias por meio das Equações 4-9a e 4-10a quando os desvios-padrão não são significativamente diferentes, ou com as Equações 4-9b e 4-10b caso os desvios-padrão sejam significativamente diferentes. Ilustramos ambos os casos na Figura 4-10. Na guia Dados, selecione Análise de Dados. Na janela que aparece, selecione Teste-t: duas amostras presumindo variâncias equivalentes. Clique OK. A próxima janela pede que você indique as células onde estão localizados os dois conjuntos de dados. Escreva B5:B12 para a Variável 1 e C5:C12 para a Variável 2. A rotina ignora o fato de a célula B12 estar vazia. Para a Hipótese Diferença de Média entre com o valor 0 e para Alfa entre com o valor 0,05. Alfa é o nível de probabilidade no qual estamos testando a diferença entre as médias. Com Alfa = 0,05, estamos no nível de confiança de 95%. Para o Intervalo de Saída, selecione a célula E1 e clique OK. O Excel faz então o cálculo e imprime os resultados nas células E1 até G13 da Figura 4-10. Os valores médios estão nas células F3 e G3. A variância aparece nas células F4 e G4, lembrando que a variância é o quadrado do desvio-padrão. Na célula F6 encontramos a variância agrupada que é o quadrado de sagrupada calculada pela Equação 4-10a. É difícil trabalhar com esta equação sem o auxílio de um computador. Os graus de liberdade (gl = 13) aparecem na célula F8 e tcalculado (Est t) = 20,2, obtido a partir da Equação 4-9a, aparece na célula F9.
FIGURA 4-10
Planilha para comparar os valores médios das medidas de Rayleigh na Tabela 4-5.
Neste ponto na Seção 4-4, consultamos a Tabela 4-4 para encontrar que ttabelado está localizado entre 2,228 e 2,131 para um intervalo de confiança de 95% e 13 graus de liberdade. O Excel fornece o valor crítico de t = 2,160 na célula F13 da Figura 4-10. Como tcalculado (= 20,2) > ttabelado (= 2,160), concluímos que as duas médias são significativamente diferentes. A célula F12 mostra que a probabilidade de se observar aleatoriamente estes dois valores médios se os dados provêm de conjuntos com a mesma média populacional (μ) é p = 3 × 10–11. A diferença é altamente significativa. Para qualquer valor de p < 0,05 na célula F12, devemos rejeitar a hipótese nula e concluir que as médias são diferentes. O teste F mostrou que os desvios-padrão dos dois experimentos de Rayleigh são diferentes. Portanto, podemos selecionar o outro teste t encontrado no menu Ferramentas na opção Análise de Dados. Selecione Teste-t: Duas Amostras Assumindo
Variâncias Diferentes, e repetimos o procedimento anterior. Os resultados, baseados nas Equações 4-9b e 4-10b, são dados nas células E15 até G26 da Figura 4-10. Da mesma forma que na Seção 4-4, os graus de liberdade são 7 (célula F21) e tcalculado = 21,7 (célula F22). Como tcalculado é maior do que o valor crítico de t (2,36 na célula F26), rejeitamos a hipótese nula e concluímos que as duas médias são significativamente diferentes. A célula F25 indica que a probabilidade de observar aleatoriamente estes dois valores médios se os dados provêm de conjuntos com a mesma média populacional (μ) é p = 1 × 10–7. Os biólogos frequentemente enunciam conclusões em termos de valores de p. Quanto menor o valor de p, com mais confiança podemos rejeitar a hipótese nula de que os dois conjuntos de dados vêm de populações com a mesma média populacional.
4-6
Teste de Grubbs para Valores Dispersos
Estudantes dissolveram zinco a partir de um prego galvanizado e mediram a perda de massa desse prego para calcular qual é o seu conteúdo de zinco. A seguir apresentam-se 12 resultados obtidos. Perda de massa (%): 10,2, 10,8, 11,6, 9,9, 9,4, 7,8, 10,0, 9,2, 11,3, 9,5, 10,6, 11,6 O valor de 7,8 parece ser discrepante dos outros valores encontrados. Um dado que se apresenta afastado dos demais valores obtidos é chamado de valor disperso ou discrepante. O valor de 7,8 deve ser rejeitado antes de se calcular a média dos demais dados ou 7,8 deve ser mantido?
O teste de Grubbs é recomendado pela International Standards Organization e pela American Society for Testing and Materials em lugar do teste Q, que foi anteriormente utilizado neste livro.
Respondemos a essa pergunta com o Teste de Grubbs. Primeiro calculamos a média (x = 10,16) e o desvio-padrão (s = 1,11) do conjunto completo dos dados (todos os 12 pontos deste exemplo). Então, calculamos a estatística de Grubbs G, definida como Teste de Grubbs:
onde o numerador é o valor absoluto da diferença entre o valor disperso suspeito e o valor médio. Se Gcalculado for maior do que G obtido da Tabela 4-6, o dado questionável deve ser descartado. No nosso exemplo, Gcalculado = |7,8 – 10,16|/1,11 = 2,13. Na Tabela 4-6, Gtabelado = 2,285 para 12 observações. Como Gcalculado < Gtabelado, o ponto questionável deve ser mantido. Existe mais do que 5% de chance de que o valor 7,8 seja um membro da mesma população a que pertencem as outras medições. O bom senso tem que prevalecer sempre. Se você está consciente de que uma medida foi mais baixa porque houve perda de parte da solução de análise, então a probabilidade de o resultado estar errado é de 100% e o dado deve ser descartado. Qualquer dado obtido por um procedimento errôneo deve ser descartado, não importando como ele se ajusta ao resto dos dados obtidos.
4-7
O Método dos Mínimos Quadrados
Na maioria das análises químicas, o resultado de um procedimento tem que ser avaliado a partir de quantidades conhecidas do analito (chamadas padrões), de modo que o resultado com uma quantidade desconhecida possa ser interpretado. Para essa finalidade, normalmente preparamos uma curva de calibração como a da cafeína na Figura 0-7. Na maioria das vezes, trabalhamos em uma região onde a curva de calibração é uma linha reta. Usamos o método dos mínimos quadrados para encontrar a “melhor” reta que passa através de um conjunto de pontos de dados experimentais que apresentam uma certa dispersão e não se enquadram perfeitamente sobre uma linha reta.5 A melhor reta é aquela em que alguns pontos se situam acima dela enquanto outros se localizam abaixo da mesma. Aprenderemos a estimar a incerteza de uma análise química com base nas incertezas da curva de calibração e na resposta da medida repetida de amostras desconhecidas.
TABELA 4-6
Valores críticos de G para rejeição de valores dispersos
Número de observações
G (95% de con ança)
4
1,463
5
1,674
6
1,822
7
1,938
8
2,032
9
2,110
10
2,176
11
2,234
12
2,285
15
2,409
20
2,557
Gcalculado = |valor questionável – média|/s. Se Gcalculado > Gtabelado, o valor em questão pode ser rejeitado com uma con ança de 95%. Os valores nesta tabela são para um teste unicaudal, como recomendado pela ASTM. FONTE: ASTM E 178-02 Standard Practice for Dealing with Outlying Observations, HTTP://webstore.ansi.org; F. E. Grubbs and G. Beck, Technometrics, 1972, 14, 847. Encontrando a Equação da Reta O procedimento que usaremos pressupõe que os erros nos valores de y são substancialmente maiores do que os erros nos valores de x.6 Essa condição é frequentemente verdadeira em uma curva de calibração na qual a resposta experimental (valores de y) é menos certa do que a quantidade de analito (valores de x). Uma segunda suposição é que as incertezas (desvios-padrão) em todos os valores de y são semelhantes.
FIGURA 4-11 Ajuste da curva usando mínimos quadrados. A curva gaussiana traçada sobre o ponto (3,3) é uma indicação esquemática da distribuição dos valores de y medidos em torno da linha reta. O valor mais provável de y se localiza sobre a reta, porém existe uma probabilidade finita de se medir y a uma certa distância da reta.
Suponhamos que desejamos traçar a melhor reta que passa pelos pontos da Figura 4-11 minimizando os desvios verticais entre os pontos e a reta. Minimizamos apenas os desvios verticais porque admitimos que as incertezas nos valores de y são muito maiores que as incertezas nos valores de x.
A equação de uma reta pode ser escrita como Equação da reta: y = mx + b
Se as incertezas em x e y são comparáveis, é apropriado minimizar uma combinação dos desvios vertical e horizontal dos pontos em relação à reta, em vez da distância vertical mostrada na Figura 4-11. As referências 7 e 8 fornecem equações para manipular incertezas em x e em y.
Equação de uma reta: y = mx + b
em que m é o coeficiente angular (a inclinação) e b é o coeficiente linear (a interseção). O desvio vertical para o ponto (xi, yi) na Figura 4-11 é yi – y, em que y é a ordenada da reta quando x = xi.
Alguns dos desvios são positivos enquanto outros são negativos. Como desejamos minimizar a magnitude dos desvios independentemente dos seus sinais, elevamos ao quadrado o valor dos desvios para obtermos, desse modo, números positivos:
Como minimizamos o quadrado dos desvios, este procedimento é chamado de métodos dos mínimos quadrados. Pode ser demonstrado que a minimização dos quadrados dos desvios (mais do que simplesmente suas magnitudes) corresponde à premissa de que o conjunto dos valores de y é o conjunto mais provável. Encontrar os valores de m e b que minimizam a soma dos quadrados dos desvios verticais exige alguns cálculos, que serão omitidos. Expressamos a solução final para os coeficientes angular e linear por meio de determinantes, que resumem certas operações aritméticas. O determinante
representa o valor eh – fg. Assim, por exemplo,
coeficiente linear (b) = ponto no eixo y interceptado pela reta.
Para calcular o determinante, multiplicamos os elementos da diagonal e × h e então subtraímos do resultado o produto dos elementos da outra diagonal, f × g.
O coeficiente angular e o coeficiente linear da “melhor” reta são dados por
onde o denominador, D, é dado por:
As equações finais do método dos mínimos quadrados são:
e n é o número de pontos. Vamos usar essas equações para encontrar o coeficiente angular e o coeficiente linear da melhor reta que passa através dos quatro pontos na Figura 4-11. O detalhamento do cálculo é visto na Tabela 4-7. Observa-se que para n = 4, e colocando as várias somas dentro dos determinantes nas Equações 4-16, 4-17 e 4-18, temos
TABELA 4-7
Cálculos para análise de mínimos quadrados
xi 1 3 4 6 Σxi = 14
yi 2 3 4 5 Σyi = 14
xi2
xi yi 2 9 16 30 Σ(xi yi) = 57
1 0 16 36 Σ(xi2) = 62
di (= yi – mxi – b) 0,038 46 –0,192 31 0,192 31 –0,038 46
di2 0,001 479 3 0,036 982 0,036 982 0,001 479 3 Σ(di2)= 0,076 923
A equação da melhor reta que passa pelos pontos da Figura 4-11 é, portanto, y = 0,615 38x + 1,346 15 Discutiremos a questão dos algarismos significativos para m e b na próxima seção.
EXEMPLO
Determinação dos Coe cientes Angular e Linear por Meio de uma Planilha Eletrônica
O Excel dispõe das funções chamadas INCLINAÇÃO e INTERSEÇÃO, cujo uso é ilustrado a seguir:
O coe ciente angular na célula D3 é calculado com a fórmula “=INCLINAÇÃO(B2:B5,A2:A5)”, onde B2:B5 é o intervalo contendo os valores de y e A2:A5 é o intervalo contendo os valores de x. TESTE A VOCÊ MESMO Mude o segundo valor de x de 3 para 3,5, e encontre os coe cientes angular e linear. (Resposta: 0,610 84; 1,285 71)
Qual o Grau de Con abilidade dos Parâmetros do Método dos Mínimos Quadrados? Para estimar as incertezas (expressas como desvios-padrão) nos coeficientes angular e linear, devemos fazer uma análise da incerteza nas Equações 4-16 e 4-17. Como as incertezas em m e b estão relacionadas às incertezas nas medidas de cada valor de y, primeiro estimamos o desvio-padrão que descreve a população dos valores de y. Este desvio-padrão, σy, caracteriza a pequena curva gaussiana registrada na Figura 4-11. Estimamos σy, o desvio-padrão populacional de todos os valores de y, calculando σy, o desvio-padrão para os quatro valores medidos de y. O desvio de cada valor de yi a partir do centro de sua curva gaussiana é exatamente di = yi – y = yi – (mxi + b). O desvio-padrão desses desvios verticais é
A Equação 4-19 é análoga à Equação 4-2.
Entretanto, o desvio médio, d, é 0 para a melhor reta, assim o numerador da Equação 4-19 se reduz a Σ(di2). Os graus de liberdade é o número de partes independentes da informação disponível. Para n pontos, existem n graus de liberdade. Se estivermos calculando o desvio-padrão de n pontos, deveremos primeiro encontrar a média para usar na Equação 42. Isso permite n – 1 graus de liberdade na Equação 4-2, pois, além da média, apenas n – l partes da informação estão disponíveis. Se conhecermos n – 1 valores e também conhecermos sua média, então o n-ésimo valor é fixo e podemos calculá-lo. Começamos com n pontos na Equação 4-19. Dois graus de liberdade foram perdidos na determinação do coeficiente angular e do coeficiente linear da melhor reta. Deste modo, restam n – 2 graus de liberdade. A Equação 4-19 torna-se Desvio-padrão de y:
em que di é dado pela Equação 4-15. A análise da incerteza para as Equações 4-16 e 4-17 conduz aos seguintes resultados:
em que um é uma estimativa do desvio-padrão do coeficiente angular, ub é uma estimativa do desvio-padrão do coeficiente linear, sy é dado pela Equação 4-20 e D é dado pela Equação 4-18. A incerteza relativa (um e ub) é o desvio-padrão da média. Se você dobra o número de pontos de calibração, um e ub diminuem de ~1/ . O desvio-padrão sy é uma característica da população de medidas, e é independente do número de pontos de calibração. Se você dobrar o número de pontos, sy é praticamente constante. Incerteza padrão (u) = desvio-padrão da média • u diminui quando você mede mais pontos • O desvio-padrão (s) é aproximadamente constante quando você mede mais pontos
Por fim, podemos determinar os algarismos significativos para o coeficiente angular e para o coeficiente linear na Figura 4-11. Na Tabela 4-7, vemos que Σ(di2) = 0,076 923. Substituindo esse número na Equação 4-20, temos
Agora, podemos inserir valores numéricos nas Equações 4-21 e 4-22, encontrando
Combinando os resultados para m, sm, b e sb, escrevemos
O primeiro algarismo da incerteza é o último algarismo significativo. Normalmente, retemos algarismos não significativos adicionais para evitar erros de arredondamento em cálculos posteriores.
onde as incertezas são um e ub. A primeira casa decimal do desvio-padrão é o último algarismo significativo do coeficiente angular e do coeficiente linear. Muitos cientistas escrevem resultados como 1,35 ± 0,21, de modo a evitar erros de arredondamento excessivos. O intervalo de confiança de 95% para o coeficiente angular é ± tum = ± (4,303)(0,054) = ± 0,23 com base no número em n – 2 = 2 graus de liberdade.
Para expressar a incerteza como um intervalo de confiança, a Equação 4-7 nos diz para multiplicar as incertezas nas Equações 4-23 e 4-24 pelo valor apropriado do teste t de Student, obtido a partir da Tabela 4-4 para n – 2 graus de liberdade.
EXEMPLO
Determinação de sy, um e ub através de uma Planilha Eletrônica
A função do Excel PROJ.LIN escreve o coe ciente angular, o coe ciente linear e as respectivas incertezas em uma tabela (uma matriz). Como um exemplo, entramos com os valores x e y nas colunas A e B, de acordo com a planilha vista a seguir. Então marcamos, com o auxílio do mouse, a região E3:F5, formada por 3 linhas × 2 colunas. Essa região é selecionada para conter a saída da função PROJ.LIN. Na guia Fórmulas, vá para Inserir Função. Na janela que aparece, vamos para Estatística e damos um clique duplo em PROJ.LIN. A nova janela pergunta sobre as quatro entradas da função. Para os valores de y, entramos com B2:B5. Depois entramos com A2:A5 para os valores de x. As duas próximas entradas são ambas “VERDADEIRO”. O primeiro VERDADEIRO diz para o Excel que queremos calcular o coe ciente linear da reta, obtido pelo método dos mínimos quadrados, e não forçar que a interseção (o coe ciente linear) seja 0. O segundo VERDADEIRO diz para o Excel escrever os desvios-padrão, bem como os coe cientes angular e linear. A fórmula que deve ser dada para o Excel é “=PROJ.LIN(B2:B5,A2:A5,VERDADEIRO,VERDADEIRO)”. Agora, pressionamos CONTROL1SHIFT1ENTER, em um PC ou COMMAND( )+RETURN em um Mac. O Excel escreve a matriz de saída nas células E3:F5. Escrevemos os títulos em torno da região de saída para indicar o que existe em cada célula. Os coe cientes angular e linear estão na linha de cima. A segunda linha contém um e ub. A célula F5 contém sy e a célula E5 contém uma grandeza denominada R2, de nida na Equação 5-2, que é uma medida da qualidade do ajuste dos dados pela reta. Quanto mais próximo R2 estiver de 1, melhor o ajuste.
TESTE A VOCÊ MESMO Mude o segundo valor de x de 3 para 3,5 e utilize a função PROJ.LIN. Qual é o valor de sy por meio da função PROJ.LIN? (Resposta: 0,364 70) 4-8
Curvas de Calibração
Uma curva de calibração mostra a resposta de um método analítico para quantidades conhecidas de analito.9 A Tabela 4-8 mostra dados reais da análise de uma proteína que produz um produto colorido. Um instrumento chamado espectrofotômetro mede a absorbância da luz, que é proporcional à quantidade de proteína que está sendo analisada. Soluções contendo concentrações conhecidas de analito são chamadas de soluções-padrão. Soluções contendo todos os reagentes e solventes usados na análise, mas nenhum analito, são chamadas de soluções em branco. O branco mede a resposta do método analítico para impurezas ou espécies interferentes nos reagentes. As Seções 18-1 e 18-2 discutem a absorção da luz e definem o termo absorbância. Conceitos definidos nestas duas seções serão utilizados no decorrer deste livro. É interessante que você leia agora estas seções de modo a ter uma boa fundamentação.
Observando os três valores de absorbância em cada linha da Tabela 4-8, vemos que o número 0,392 parece estranho: ele é inconsistente com os outros valores para 15,0 μg, e o intervalo dos valores para as amostras de 15,0 μg é muito maior do que o intervalo para as outras amostras. A relação linear entre os valores médios de absorbância acima da amostra de 20,0 μg também indica que o valor 0,392 está errado (Figura 4-12). Escolhemos, portanto, omitir o valor 0,392 de todos os cálculos subsequentes. É razoável perguntar se todas as três absorbâncias para as amostras de 25,0 mg são baixas por alguma razão desconhecida, pois esse ponto cai abaixo da reta na Figura 4-12. Várias repetições dessa análise mostram que o ponto que corresponde a 25,0 mg está constantemente abaixo da reta e não há nada “errado” com os dados na Tabela 4-8.
FIGURA 4-12 Valores médios de absorbância da Tabela 4-8 versus microgramas de proteína analisada. As médias de 0 a 20 mg de proteína se localizam sobre uma reta caso o dado questionável 0,392 em 15 mg seja omitido.
Construção de uma Curva de Calibração Adotamos o procedimento descrito a seguir para construir uma curva de calibração: Etapa 1 Preparamos amostras conhecidas do analito, cobrindo um intervalo conveniente de concentração e medimos a resposta do método analítico para esses padrões. Este procedimento gera os dados na metade esquerda da Tabela 4-8. Etapa 2 Subtraímos a média das absorbâncias das amostras em branco (0,0993) de cada absorbância medida, de modo a obter a absorbância corrigida. O branco mede a resposta do método analítico, quando não há proteína presente. Etapa 3 Fazemos um gráfico da absorbância corrigida versus a quantidade de proteína analisada (Figura 4-13). Usamos o método dos mínimos quadrados para encontrar a melhor reta que passa através da região linear dos dados até 20 mg de proteína, incluindo este valor. (São 14 pontos, incluindo os 3 brancos corrigidos. Estes pontos estão na região sombreada da Tabela 4-8.) Determinamos o coeficiente angular, o coeficiente linear e as incertezas com as Equações 416, 4-17, 4-20, 4-21 e 4-22. Os resultados são m = 0,016 30 um = 0,000 22 uy = 0,0059 b = 0,0047 sb = 0,0026 A absorbância do branco pode ser devido à cor dos reagentes iniciais, a reações de impurezas e a reações de espécies interferentes. Os valores do branco podem variar de um conjunto de reagentes para outro, mas os valores da absorbância corrigida não devem variar.
TABELA 4-8 Quantidade de proteína (μg)
Dados espectrofotométricos utilizados para a construção da curva de calibração
Absorbância de amostras independentes
Intervalo
Absorbância corrigida
0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
0,099 0,185 0,282 0,345 0,425 0,483
0,099 0,187 0,272 0,347 0,425 0,488
0,100 0,188 0,272 (0,392) 0,430 0,496
0,001 0,003 0,010 0,047 0,005 0,013
–0,0003 0,0857 0,1827 0,2457 0,3257 0,3837
–0,0003 0,0877 0,1727 0,2477 0,3257 0,3887
–0,0003 0,0887 0,1727 – 0,3307 0,3967
FIGURA 4-13 Curva de calibração para análise da proteína da Tabela 4-8. A equação da reta que ajusta os 14 pontos (círculos abertos) de 0 a 20 mg, calculada pelo método dos mínimos quadrados, é y = 0,016 30 (±0,000 22)x + 0,0047 (±0,0026). O desviopadrão de y é sy = 0,0059. A equação da curva tracejada, uma equação quadrática, que ajusta todos os 17 pontos de 0 até 25 mg, obtida por um método de mínimos quadrados não linear5, é y = –1,17 (±0,21) × 10–4 x2 + 0,018 58 (±0,000 46) x – 0,000 7 (±0,001 0), com sy = 0,0046.
A equação da reta de calibração é
A equação da reta de calibração é y(± sy) = [m(± um)] x + [b(± ub)]
em que y é a absorbância corrigida (= absorbância observada – absorbância do branco). Etapa 4 Se, no futuro, você analisar uma solução desconhecida, aplique o método analítico para um branco ao mesmo tempo em que aplique o método para a solução. Subtraia a absorbância do novo branco da absorbância da amostra desconhecida para obter a absorbância corrigida.
EXEMPLO
Uso de uma Curva de Calibração Linear
Uma amostra desconhecida de uma proteína fornece uma absorbância de 0,406, e um branco possui uma absorbância de 0,104. Quantos microgramas de proteína estão presentes na amostra desconhecida? Solução A absorbância corrigida é 0,406 – 0,104 = 0,302, que se localiza na região linear da curva de calibração da Figura 4-13. A Equação 4-25, portanto, torna-se
TESTE A VOCÊ MESMO Que massa de proteína produz uma absorbância corrigida de 0,250? (Resposta: 15,05 μg) Preferimos procedimentos de calibração com uma resposta linear, em que o sinal analítico corrigido (= sinal da amostra – sinal do branco) é proporcional à quantidade de analito. Embora tentemos trabalhar na faixa linear, podemos obter resultados válidos além da região linear (> 20 μg) na Figura 4-13. A curva tracejada que passa por 25 μg de proteína vem de um ajuste por mínimos quadrados da equação y = ax2 + bx + c aos dados experimentais (Boxe 4-2).
BOXE 4-2
Uso de uma Curva de Calibração Não Linear
Considere uma amostra desconhecida cuja absorbância corrigida de 0,375 está além da região linear na Figura 4-13. Podemos ajustar todos os pontos com a equação quadrática5
Para encontrar a quantidade de proteína, substitua a absorbância corrigida na Equação A: 0,375 = –1,17 × 10–4x2 + 0,018 58x – 0,000 7 Esta equação pode ser rearranjada para 1,17 × 10–4x2 + 0,018 58x + 0,375 7 = 0 que é uma equação quadrática da forma ax2 + bx + c = 0 cujas duas possibilidades de solução são
Substituindo a = 1,17 × 10–4, b = –0,018 58 e c = 0,375 7 nestas equações temos x = 135 μg x = 23,8 μg A Figura 4-13 nos diz que a escolha correta é 23,8 μg e não 135 μg. O intervalo linear de um método analítico é o intervalo de concentração do analito em que a resposta é proporcional à concentração. Uma grandeza relacionada, definida na Figura 4-14, é o intervalo dinâmico – o intervalo de concentração em que existe uma resposta mensurável do analito, mesmo se essa resposta não for linear.
FIGURA 4-14
Curva de calibração ilustrando os intervalos linear e dinâmico.
Dicas para uma Boa Experiência Sempre faça um gráfico dos seus dados. O gráfico dá a oportunidade de se rejeitarem os dados ruins, de repetir uma medida ou de decidir que uma reta não é a função apropriada. Não é confiável extrapolar nenhuma curva de calibração, linear ou não linear, além do intervalo de medidas dos padrões. Consequentemente, devemos medir padrões em todo o intervalo de concentração de interesse. Recomendam-se pelo menos medidas de seis concentrações de calibração e duas medidas repetidas da amostra desconhecida. O procedimento mais rigoroso é fazer cada solução de calibração independente a partir de um material certificado. Evite diluições em série a partir de uma única solução de estoque. A diluição em série propaga qualquer erro sistemático presente na solução estoque. Meça experimentalmente as concentrações em ordem aleatória e não de forma consecutiva por aumento da concentração. Propagação da Incerteza com uma Curva de Calibração Examine seus dados quanto à sensibilidade.
No exemplo anterior, uma amostra desconhecida com uma absorbância corrigida de y = 0,302 possui um teor de proteína de x = 18,24 μg. Qual é a incerteza no número 18,24? A propagação da incerteza para ajustar a equação y = mx + b (mas não y = mx) dá o seguinte resultado:1,10 Incerteza-padrão em x = desvio-padrão da média =
ux = incerteza-padrão para x y = absorbância da amostra desconhecida = 0,302 xi = μg de proteína nos padrões da Tabela 4-8 = (0, 0, 0, 5,0, 5,0, 5,0, 10,0, 10,0, 10,0, 15,0, 15,0, 20,0, 20,0, 20,0, 20,0) y = média de 14 valores de y = 0,1618 μg x = média de 14 valores de x = 9,643 μg
em que, sy é o desvio-padrão de y (Equação 4-20,) |m| é o valor absoluto do coeficiente angular (5ABS(m) no Excel), k é o número de vezes que a amostra desconhecida é medida, n é o número de pontos (14 na Tabela 4-8), y é valor médio de y para os pontos na curva de calibração, xi são os valores individuais de x para os pontos na curva de calibração e x é o valor médio de x para os pontos na curva de calibração. Para uma única medida da amostra desconhecida, k = 1 e a Equação 4-27 dá ux = ±0,39 μg. Para quatro medidas da amostra desconhecida (k = 4) com uma absorbância média corrigida de 0,302, a incerteza é reduzida para ±0,23 μg. O intervalo de confiança para x é ±tux, em que t é o teste de Student (Tabela 4-4) para n – 2 graus de liberdade. Se ux = 0,23 μg e n = 14 pontos (12 graus de liberdade), o intervalo de confiança de 95% para x é ±tux = ±(2,179)(0,23) = ±0,50 μg. O termo 1/ não aparece na expressão para o intervalo de confiança porque ux é o desvio-padrão da média. Para encontrar os valores de t que não estão na Tabela 4-4, use a função INVT do Excel. Para 12 graus de liberdade e 95% de confiança, a função INVT(0,05,12) retorna t = 2,179.
Propagação da Incerteza Você agora dispõe de todas as ferramentas necessárias para uma discussão mais rigorosa da propagação da incerteza em relação ao que vimos no Capítulo 3. Se estiver muito interessado, você encontrará tal discussão no Apêndice B.
4-9
Uma Planilha para o Método dos Mínimos Quadrados
A Figura 4-15 implementa a análise com o método dos mínimos quadrados incluindo a propagação do erro com a Equação 4-27. Entre com os valores de x e y nas colunas B e C. Selecione as células B10:C12. Entre com a fórmula “=PROJ.LIN(C4:C7,B4:B7,VERDADEIRO,VERDADEIRO)” e pressione CTRL+SHIFT+ENTER em um PC ou COMMAND( )+RETURN em um Mac. PROJ.LIN retorna m, b, um, ub, R2 e sy nas células B10:C12. Escreva as identificações das grandezas nas células A10:A12 e D10:D12, de modo que se saiba o que significam os números nas células B10:C12. A célula B14 fornece o número de pontos com a fórmula “= CONT.NÚM(B4:B7)”. A célula B15 calcula o valor médio de y. A célula B16 calcula a soma Σ(xi – x)2 que necessitamos para a Equação 4-27. Essa soma é tão comum que já existe no Excel na função chamada DESVQ, que pode ser encontrada no menu de Estatística da janela Inserir Função. Entre com o valor médio medido de y para medidas repetidas da amostra desconhecida na célula B18. Na célula B19, entre com o número de medidas repetidas da amostra. A célula B20 calcula o valor de x correspondente ao valor médio medido de y. A célula B21 usa a Equação 4-27 para encontrar a incerteza ux (desvio-padrão da média) no valor de x para a amostra desconhecida. Se você quiser saber qual o intervalo de confiança para x, multiplique ux vezes o valor da distribuição t de Student da Tabela 4-4 para n – 2 graus de liberdade e o nível de confiança desejado.
Com um intervalo de confiança de 95% para x na Figura 4-15: x ± tux = 2,232 = ± (4,303)(0,373 5) = 2,2 ± 1,6 (graus de liberdade = n – 2 = 2)
Sempre desejamos um gráfico para ver se os pontos da curva de calibração estão sobre uma reta. Siga as instruções da Seção 2-11 para representar graficamente os dados de calibração como um gráfico de dispersão com somente os pontos marcados (ainda não existe a reta). Para adicionar uma linha reta no Excel 2007 ou 2010, clique no gráfico para exibir as Ferramentas de Gráfico. Selecione a guia Layout, a seguir Linha de Tendência e Mais Opções de Linha de Tendência. Selecione Linear e Exibir Equação no Gráfico. A reta obtida pelo método dos mínimos quadrados e a sua equação aparecem no gráfico. Use a caixa Previsão na janela Formatar Linha de Tendência para estender a reta para cima ou para baixo além do intervalo dos dados. A janela Formatar Linha de Tendência também permite que você selecione a cor e o estilo da reta.
FIGURA 4-15
Planilha eletrônica para uma interpolação linear usando o método dos mínimos quadrados.
Adicionando Barras de Erro a um Grá co As barras de erro em um gráfico nos auxiliam no julgamento da qualidade dos dados e do ajuste da curva aos dados. Considere os dados da Tabela 4-8. Vamos fazer o gráfico da absorbância média corrigida das colunas 2 a 4 contra a massa da amostra na coluna 1. Vamos, então, adicionar barras de erro correspondentes ao intervalo de confiança de 95% para cada ponto. A Figura 4-16 lista as massas na coluna A e a absorbância média na coluna B. O desvio-padrão da absorbância é dado na coluna C. O intervalo de confiança de 95% para a absorbância é calculado na coluna D com a fórmula dada na margem. O valor do t de Student = 4,303 pode ser encontrado para 95% de confiança e 3 – 1 = 2 graus de liberdade na Tabela 4-4. Alternativamente, podemos calcular o valor do t de Student com a função do Excel “= INVT(0,05, 2)” na célula B11. Os parâmetros para a função INVT são 0,05 para 95% de confiança e 2 para o número de graus de liberdade. O intervalo de confiança de 95% na célula D4 é calculado com a fórmula “=$B$11*C4/RAIZ(3)”. Agora você deve fazer o gráfico da absorbância média (y) na coluna B contra a massa de proteína (x) na coluna A. Intervalo de confiança = ± ts/ t = t de Student para 95% de confiança e n – 1 = 2 graus de liberdade s = desvio-padrão n = número de valores no cálculo da média = 3
FIGURA 4-16
Adicionando barra de erro a um gráfico para um nível de confiança de 95%.
Para adicionar barras de erro no Excel 2007 ou 2010, clicamos em um dos pontos para selecionar todos os pontos do gráfico. Em Ferramentas de Gráfico, Layout, selecione Barras de Erro e escolha Mais Opções de Barras de Erro. Na janela Formatar Barras de Erro, selecione Personalizar e clique em Especificar Valor. Para ambos Valor de Erro Positivo e Valor de Erro Negativo entre com as células D4:D9. Você apenas disse à planilha para usar os intervalos de confiança de 95% para as barras de erro. Quando você clica em OK, o gráfico apresenta barras de erro x e y. Clique em qualquer barra de erro x e pressione Delete para remover todas as barras de erro x. Para adicionar barras de erro nas versões anteriores do Excel, clique em um dos pontos para que todos os pontos do gráfico sejam selecionados. No menu Formatar, escolha Série de Dados Selecionada. Selecione Barra de Erro Y e aparecerá uma janela. Clique em Personalizar. Clique na caixa de barra de erro com sinal positivo e selecione as células D4:D9. Clique agora na caixa de barra de erro com sinal negativo e selecione as células D4:D9. Com isto estamos informando ao Excel para usar os valores das células D4:D9 para o comprimento das barras de erro. Clique em OK e as barras de erro aparecerão no gráfico.
Termos Importantes branco coeficiente angular coeficiente linear curva de calibração desvio-padrão desvio-padrão da média determinante distribuição gaussiana graus de liberdade hipótese nula incerteza-padrão intervalo de confiança intervalo dinâmico
intervalo linear média média aritmética método dos mínimos quadrados resposta linear solução-padrão teste de Grubbs teste de hipótese teste F teste t valor disperso valor t de Student variância
Resumo Os resultados de várias medidas de uma grandeza experimental seguem uma distribuição gaussiana. A média das medidas, x, aproxima-se da média real, μ, à medida que o número de medidas se torna muito grande. Quanto mais ampla for a distribuição, maior será o desvio-padrão, σ. Para um número limitado, n, de medidas, uma estimativa do desvio-padrão é dada por . Cerca de dois terços de todas as medidas se situam entre ±1σ, e 95% se situam entre 2σ. A probabilidade de se observar um valor dentro de um certo intervalo é proporcional à área desse intervalo. O desvio-padrão, s, é uma medida da incerteza de medidas individuais. O desvio-padrão da média, s/ (também chamada de incerteza-padrão, u), é uma medida da incerteza da média de n medidas. O teste F é usado para decidir se dois desvios-padrão são significativamente diferentes um do outro. Se F (= s21/s22) é maior do que o valor tabelado, então os dois conjuntos de dados têm menos de 5% de chance de terem vindo de distribuições com o mesmo desvio-padrão populacional. O teste t de Student é utilizado para encontrar os intervalos de confiança (μ = x ± ts / ) e comparar os valores médios obtidos por métodos diferentes. Caso os desvios-padrão não sejam significativamente diferentes (conforme determinado pelo teste F), encontramos o desvio-padrão agrupado por meio da Equação 4-10a, e calculamos t por meio da Equação 4-9a. Se t for maior do que o valor tabelado para n1 + n2 – 2 graus de liberdade, então os dois conjuntos de dados têm menos de 5% de chance de terem vindo de distribuições com a mesma média populacional. Se os desvios-padrão forem significativamente diferentes, calculamos os graus de liberdade por meio da Equação 4-10b, e calculamos t usando a Equação 4-9b. Outras aplicações do teste t são: (1) comparar valores medidos com um valor “conhecido”, e (2) comparar resultados de dois métodos analíticos aplicados a amostras idênticas sem repetições (teste t emparelhado). O teste de Grubbs ajuda a decidir se um dado questionável deve ser ou não descartado. É melhor repetir uma medida diversas vezes para aumentar a probabilidade de que a decisão em aceitar ou rejeitar um dado está correta. Uma curva de calibração mostra a resposta de uma análise química para quantidades conhecidas (soluções-padrão) do analito. Quando existe uma resposta linear, o sinal analítico corrigido (= sinal da amostra – sinal do branco) é proporcional à quantidade do analito. Soluções do branco são preparadas a partir dos mesmos reagentes e solventes usados para preparar os padrões e as amostras desconhecidas, mas o branco não possui uma adição deliberada de analito. O branco nos diz a resposta do método para impurezas ou espécies interferentes presentes nos reagentes. O valor do branco é subtraído dos valores medidos para os padrões antes de construir a curva de calibração. O valor do branco é subtraído da resposta de uma amostra desconhecida antes de se calcular a quantidade do analito nessa amostra. O método dos mínimos quadrados é usado para determinar a equação da “melhor” reta que passa através dos pontos experimentais. As Equações 4-16 a 4-18 e 4-20 a 4-22 permitem, através do método dos mínimos quadrados, a obtenção do coeficiente angular, do coeficiente linear e dos seus respectivos desvios-padrão. A Equação 4-27 estima a incerteza-padrão em x a partir de um valor medido de y com uma curva de calibração. Uma planilha eletrônica simplifica muito os cálculos utilizados no método dos mínimos quadrados.
Exercícios 4-A. Para os números 116,0; 97,9; 114,2; 106,8 e 108,3, calcule a média aritmética, o desvio-padrão, a incerteza-padrão (= desvio-padrão da média), a variação e o intervalo de confiança de 90% para a média. Utilizando o teste de Grubbs, decida se o número 97,9 deve ser descartado.
4-B.
Planilha eletrônica para obtenção do desvio-padrão. Vamos criar uma planilha eletrônica para calcular a média e o
desvio-padrão de uma coluna de números de duas maneiras diferentes. A planilha eletrônica acima é um modelo para esse problema. (a) Reproduza o modelo na sua planilha eletrônica. As células B4 a B8 contêm os dados (valores de x) cuja média e desviopadrão vamos calcular. (b) Escreva uma fórmula na célula B9 para calcular a soma dos números de B4 a B8. (c) Escreva uma fórmula na célula B10 para calcular o valor médio. (d) Escreva uma fórmula na célula C4 para calcular (x – média), onde x está na célula B4 e a média está na célula B10. Use o comando Preencher Para Baixo para calcular os valores nas células C5 a C8. (e) Escreva uma fórmula na célula D4 para calcular o quadrado do valor da célula C4. Use o comando Preencher Para Baixo para calcular os valores nas células D5 a D8. (f) Escreva uma fórmula na célula D9 para calcular a soma dos números nas células D4 a D8. (g) Escreva uma fórmula na célula B11 para calcular o desvio-padrão. (h) Use as células B13 a B18 para documentar as suas fórmulas. (i) Agora vamos simplificar a nossa vida usando as fórmulas existentes na planilha eletrônica. Na célula B21, escreva “=Soma(B4:B8)”, que significa encontre a soma dos números nas células B4 a B8. A célula B21 deverá mostrar o mesmo número que a célula B9. Em geral, não sabemos que funções estão disponíveis nem como escrevê-las. No Excel 2010, use a guia Fórmulas e Inserir Função para encontrar SOMA. (j) Selecione a célula B22. Vá para o menu Inserir, selecione Função e encontre a função Média. Quando você escreve “=Média(B4:B8)” na célula B22, este valor deverá ser o mesmo que em B10. (k) Para a célula B23, encontre a função desvio-padrão (“=DESVPAD(B4:B8)”) e veja se o valor concorda com o da célula B11. 4-C. Use a Tabela 4-1 para este exercício. Suponha que 10.000 conjuntos de freios de automóveis tenham tido 80% de sua milhagem utilizados. A média foi de 62 700 e o desvio-padrão de 10.400 milhas.
(a) Qual é a fração de freios prevista como tendo sido 80% utilizada em menos de 40 860 milhas? (b) Qual é a fração de freios prevista como tendo sido 80% utilizada numa milhagem entre 57 500 e 71 020 milhas? 4-D.
Use a função DIST.NORM para responder as questões sobre os freios descritos no Exercício 4-C:
(a) Qual é a fração de freios prevista como tendo sido 80% utilizada em menos de 45 860 milhas? (b) Qual a fração de freios prevista como tendo sido 80% utilizada em uma milhagem entre 60 000 e 70 000 milhas? 4-E. O bicarbonato em amostras repetidas de sangue de cavalo foi medido quatro vezes por cada um dos dois métodos, fornecendo os seguintes resultados: Método 1: 31,40, 31,24, 31,18, 31,43 mM Método 2: 30,70, 29,49, 30,01, 30,15 mM (a) Encontre a média, desvio-padrão e a incerteza-padrão (= desvio-padrão da média) para cada análise. (b) Os desvios-padrão são significativamente diferentes no intervalo de confiança de 95%? 4-F. Um ensaio confiável mostra que o conteúdo de ATP (trifosfato de adenosina) em um certo tipo de célula é de 111 mmol/100 mL. Admita que um novo ensaio foi desenvolvido, e que forneceu os seguintes valores para análises repetidas: 117, 119, 111, 115 e 120 mmol/100 mL (média = 116,4). Pode-se ter uma confiança de 95% de que o resultado através do novo ensaio é diferente do valor “conhecido”? 4-G. Traços de hexacloro-hexanos tóxicos artificiais foram extraídos de sedimentos do Mar do Norte através de três metodologias diferentes. Uma já era conhecida e as outras duas eram novas. Após as extrações, os hexacloro-hexanos foram determinados por cromatografia.
Método
Concentração encontrada (pg/g)
Desvio-padrão (pg/g)
Número de repetições
34,4 42,9 51,1
3,6 1,2 4,6
6 6 6
Convencional Procedimento A Procedimento B FONTE: D. Sterzenbach, B. W. Wenclawiak e V. Weigelt, Anal. Chem. 1997, 69, 831.
(a) As concentrações estão expressas em partes por milhão, em partes por bilhão ou em outra unidade? (b) O desvio-padrão na metodologia B é significativamente diferente do que é obtido na metodologia convencional? (c) A concentração média determinada pela metodologia B é significativamente diferente daquela determinada pela metodologia convencional? (d) Responda as questões (b) e (c) fazendo a comparação com a metodologia A. 4-H.
Curva de calibração. (Você pode fazer este exercício com sua calculadora, porém é mais fácil utilizar a planilha
eletrônica na Figura 4-15.) No método de determinação de proteínas de Bradford, a cor de um corante varia de marrom para azul quando ele se liga a proteína. A absorbância da luz é medida. Proteína (μg): 0,00 9,36 18,72 28,08 37,44 Absorbância em 595 nm: 0,466 0,676 0,883 1,086 1,280 (a) Determine a equação da melhor reta ajustada pelo método dos mínimos quadrados nestes pontos na forma y = [m(±um)]x + [b(+ub)] com um número razoável de algarismos significativos. (b) Construa um gráfico mostrando os dados experimentais e a reta calculada. (c) Uma amostra de proteína desconhecida tem uma absorbância de 0,973. Calcule a quantidade de proteína na amostra em microgramas e estime a sua incerteza.
Problemas Distribuição Gaussiana 4-1. Qual é a relação entre o desvio-padrão e a precisão de um procedimento? Qual é a relação entre desvio-padrão e exatidão? 4-2. Utilize a Tabela 4-1 para determinar que fração da população gaussiana está dentro dos seguintes intervalos: (a) μ ± σ
(b) μ ± 2σ (c) μ a + σ (d) μ a + 0,5σ (e) –σ a –0,5σ 4-3. A razão entre o número de átomos dos isótopos 69Ga e 71Ga, em oito amostras de fontes diferentes, foi medida no sentido de se entenderem as diferenças nos valores determinados da massa atômica do gálio: Amostra 1 2 3 4
69
Ga/71Ga
Amostra
1,526 60 1,529 74 1,525 92 1,527 31
5 6 7 8
69
Ga/71Ga
1,528 94 1,528 04 1,526 85 1,527 93
FONTE: J. W. Gramlich e L. A. Machlan, Anal. Chem. 1985, 57, 1788. Determine: (a) a média aritmética, (b) o desvio-padrão e (c) a variância. (d) Escreva a média aritmética e o desvio-padrão com um número apropriado de algarismos significativos. 4-4. Estudantes da Universidade Francis Marion mediram a massa de cada doce de M&M em 16 conjuntos de 4 doces, e em 16 conjuntos de 16 doces.
(a) Encontre a média dos 16 valores no lado esquerdo da tabela e a média dos 16 valores no lado direito da tabela. (b) Encontre o desvio-padrão dos 16 valores no lado esquerdo da tabela e o desvio-padrão dos 16 valores no lado direito da tabela. (c) Com base no desvio-padrão dos valores médios para os conjuntos com quatro doces, preveja qual será o desvio-padrão esperado para os conjuntos de 16 doces. Compare a sua previsão com o desvio-padrão medido em (b). 4-5. (a) Calcule a fração das lâmpadas na Figura 4-1 previstas para terem um tempo de vida maior que 1 005,3 h. (b) Qual a fração das lâmpadas previstas para ter um tempo de vida entre 798,1 e 901,7 h? (c)
Use a função DIST.NORM do Excel para encontrar a fração de lâmpadas que deve ter um tempo de vida entre 800 e
900 h. 4-6.
Proteínas do plasma sanguíneo de pacientes com tumores malignos nos seios diferem de proteínas de pessoas
saudáveis em sua solubilidade na presença de vários polímeros. Quando os polímeros dextran e polietilenoglicol são dissolvidos em água, forma-se uma mistura de duas fases. Quando proteínas do plasma de pacientes com tumores são adicionadas, elas se distribuem de modo diferente entre as duas fases em relação as proteínas do plasma de pessoas saudáveis. O coeficiente de partição (ou distribuição) (K) para uma dada substância é dado por K = [concentração da substância na fase A]/[concentração da substância na fase B]. Proteínas de pessoas saudáveis têm um coeficiente de partição médio de 0,75 com um desvio-padrão de 0,07. Para as proteínas de pessoas vítimas de câncer o valor médio é 0,92 com desvio-padrão de 0,11.
(a) Suponha que o coeficiente de partição seja usado como uma ferramenta de diagnóstico e um indicador positivo de câncer quando K ≥ 0,92. Qual a fração de pessoas com tumores que teria uma indicação negativa, porém falsa, de câncer porque K < 0,92? (b) Qual a fração de pessoas saudáveis que teria uma indicação positiva, porém falsa, de câncer? Esta é a fração de pessoas saudáveis com K ≥ 0,92, representada pela área marcada no gráfico abaixo. Estime uma resposta com a Tabela 4-1 e obtenha um resultado mais exato usando a função DIST.NORM no Excel. (c) Varie o primeiro argumento da função DIST.NORM para selecionar um coeficiente de partição que identificaria 75% das pessoas com tumor. Em outras palavras, 75% dos pacientes com tumores teriam K acima do coeficiente de distribuição selecionado. Com este valor de K, qual a fração de pessoas saudáveis teria um resultado positivo, porém falso, indicando que elas possuem um tumor?
Coeficientes de distribuição de proteínas de plasma de pessoas saudáveis e de pessoas com tumores malignos de mama. [Dados extraídos de B. Y. Zaslavsky, “Bioanalytical Applications of Partitioning in Aqueous Polymer Two-Phase Systems,” Anal. Chem., 1992, 54, 765A.]
4-7.
A equação para a curva gaussiana na Figura 4-1 é
em que x é o valor médio (845,2 h), s é o desvio-padrão (94,2 h), total de lâmpadas = 4 768 e horas por barra (= 20) é a largura de cada barra no gráfico de barras na Figura 4-1. Construa uma planilha eletrônica, igual à que vem a seguir, para calcular as coordenadas da curva gaussiana da Figura 4-1 de 500 a 1 200 h em intervalos de 25 h. Observe o uso constante de parênteses na fórmula ao final da planilha eletrônica. Isto é feito para forçar o computador a fazer as operações aritméticas na ordem desejada. Use o Excel para fazer o gráfico de seus resultados. 4-8.
Repita o problema anterior, mas utilize os valores de 50, 100 e 150 para o desvio-padrão. Superponha as três curvas
em apenas um gráfico. Teste F, Intervalos de Con ança, Teste t e Teste de Grubbs 4-9. Qual o significado de um intervalo de confiança? 4-10. Que fração de barras verticais na Figura 4-5a está prevista para incluir a população média (10 000) se vários experimentos forem realizados? Por que as barras do intervalo de confiança de 90% são mais compridas que as barras de 50% na Figura 4-5?
4-11. Liste os três diferentes casos que estudamos para a comparação das médias e escreva as equações utilizadas em cada caso. 4-12. A porcentagem de um aditivo na gasolina foi medida seis vezes com os seguintes resultados: 0,13; 0,12; 0,16; 0,17; 0,20 e 0,11%. Determine os intervalos de confiança de 90% e 99% para a porcentagem do aditivo. 4-13. A amostra 8 do Problema 4-3 foi analisada sete vezes, com x = 1,527 93 e s = 0,000 07. Encontre o intervalo de confiança de 99% para a amostra 8. 4-14. Um estagiário de um laboratório médico será considerado apto a trabalhar sozinho quando seus resultados concordarem com os de um analista experiente, com um nível de confiança de 95%. Os resultados para uma análise de nitrogênio na ureia do sangue são mostrados a seguir. Estagiário: x = 14,57 mg/dL s = 0,53 mg/dL n = 6 amostras Técnico experiente: x = 13,95 mg/dL s = 0,42 mg/dL n = 5 amostras (a) O que significa a abreviatura dL? (b) O estagiário está apto para trabalhar sozinho? 4-15. O teor de CdSe (g/L) em nanocristais foi medido por dois métodos para seis amostras diferentes. Os dois métodos dão resultados significativamente diferentes no nível de confiança de 95%?
Amostra
Método 1 Redissolução anódica
Método 2 Absorção atômica
A B C D E F
0,88 1,15 1,22 0,93 1,17 1,51
0,83 1,04 1,39 0,91 1,08 1,31
FONTE: Dados de E. Kuçur, F. M. Boldt, S. Cavaliere-Jaricont, J. Ziegler e T. Nann, Anal. Chem. 2007, 79, 8987. 4-16.
Este problema usa uma rotina construída no Excel usando o teste t emparelhado para ver se os dois métodos
utilizados no Problema 4-15 produzem resultados significativamente diferentes. Entre com os dados dos métodos 1 e 2 em duas colunas da planilha. No Excel 2007 e 2010, encontre Análise de Dados na guia Dados. Nas versões anteriores do Excel, encontre
a opção Análise de Dados no menu Ferramentas. Se a opção Análise de Dados não aparecer, siga as instruções dadas no início da Seção 4-5 para carregar este programa. Na opção Análise de Dados selecione Teste-t: Duas Amostras. Siga as instruções da Seção 4-5 e a rotina vai imprimir várias informações, incluindo tcalculado, simbolizado por “Est t”, e ttabelado, simbolizado por t crítico bicaudal. Você deve reproduzir os resultados do Problema 4-15. 4-17. Dois métodos foram empregados para medir o tempo de vida de fluorescência de um corante. Os desvios-padrão são significativamente diferentes? As médias são significativamente diferentes? Quantidade Tempo de vida médio (ns) Desvio-padrão (ns) Número de medidas
Método 1
Método 2
1,382 0,025 4
1,346 0,039 4
FONTE: Dados de N. Boens et al., Anal. Chem. 2007, 79, 2137. 4-18.
Os dois conjuntos de medidas do quociente 6Li/7Li em um material de Referência Padrão, apresentados a seguir, são
estatisticamente equivalentes? Método 1
Método 2 0,081 83 0,082 86 0,082 05 0,082 06 0,082 15 0,082 08
0,082 601 0,082 621 0,082 589 0,082 617 0,082 598
FONTE: Dados de S. Ahmed, N. Jabeen e E. ur Rehman, Anal. Chem. 2002, 74, 4133; L. W. Green, J. J. Leppinen e N. L. Elliot, Anal. Chem. 1988, 60, 34. 4-19. Se uma certa quantidade foi medida quatro vezes e o desvio-padrão é de 1,0% da média, o valor real está dentro de 1,2% da média medida em um nível de confiança de 90%? 4-20. Estudantes mediram a concentração de HCl em uma solução através de diversas titulações utilizando indicadores diferentes para encontrar o ponto final da titulação.
Indicador Azul de bromotimol Vermelho de metila Verde de bromocresol
Concentração média de HCl (M) (± desvio-padrão)
Número de medidas
0,095 65 ± 0,002 25 0,086 86 ± 0,000 98 0,086 41 ± 0,001 13
28 18 29
FONTE: Dados de D. T. Harvey, J. Chem. Ed. 1991, 68, 329. A diferença entre os indicadores 1 e 2 é significativa no nível de confiança de 95%? Responda a mesma questão para os indicadores 2 e 3. 4-21. Os hidrocarbonetos no interior de um automóvel foram medidos durante viagens na autoestrada de Nova Jersey e viagens através do túnel Lincoln, que liga Nova York a Nova Jersey.11 As concentrações totais (± desvios-padrão) de m-xileno e p-xileno foram Autoestrada: 31,4 ± 30,0 μg/m3 (32 medidas) Túnel: 52,94 ± 29,8 μg/m3 (32 medidas) Esses resultados diferem no nível de confiança de 95%? E no nível de confiança de 99%?
4-22. Um Material de Referência Padrão é certificado como contendo 94,6 ppm de um contaminante orgânico do solo. Suas análises deram valores de 98,6; 98,4; 97,2; 94,6 e 96,2 ppm. Estes resultados diferem do valor esperado no nível de confiança de 95%? Se for feita mais uma medida cujo resultado é 94,5, sua conclusão irá mudar? 4-23. O nitrito (NO2–) foi medido por dois métodos em água de chuva e em água potável não clorada. Os resultados ± desviopadrão (número de amostras) são Origem da amostra
Cromatogra a gasosa
Água da chuva Água potável
Espectrofotometria
0,069 ± 0,005 mg/L (n = 7) 0,078 ± 0,007 mg/L (n = 5)
0,063 ± 0,008 mg/L (n = 5) 0,087 ± 0,008 mg/L (n = 5)
FONTE: Dados de I. Sarudi e I. Nagy, Talanta 1995, 42, 1099. (a) Os dois métodos concordam entre si no nível de confiança de 95% tanto para a água de chuva quanto para a água potável? (b) Para cada método, a água potável contém significativamente mais nitrito que a água de chuva (no nível de confiança de 95%)? 4-24. O valor 216 deve ser rejeitado do grupo de resultados 192, 216, 202, 195 e 204? 4-25. Qual das afirmações a respeito do teste F é verdadeira? Explique sua resposta. (a) Se Fcalculado < Ftabelado, existe mais de 5% de chance de que os dois conjuntos de dados provêm de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. (b) Se Fcalculado < Ftabelado, existe ao menos 95% de chance de que os dois conjuntos de dados provêm de populações com o mesmo desvio-padrão populacional. Mínimos Quadrados Linear 4-26. Uma reta é traçada através dos pontos (3,0, –3,87 × 104), (10,0, –12,99 × 104), (20,0, –25,93 × 104), (30,0, –38,89 × 104) e (40,0, –51,96 × 104), usando o método dos mínimos quadrados. Os resultados são m = –1,298 72 × 104, b = 256,695, um = 13,190, ub = 323,57 e sy = 392,9. Expresse o coeficiente angular, o coeficiente linear e as suas incertezas com um número razoável de algarismos significativos. 4-27. Este é um problema de mínimos quadrados que pode ser feito a mão com o auxílio de uma calculadora. Encontre o coeficiente angular e o coeficiente linear bem como seus desvios-padrão para uma reta que passa pelos pontos (x,y) = (0, 1), (2, 2) e (3, 3). Faça um gráfico mostrando os três pontos e a reta. Coloque barras de erros (±sy) nos pontos. 4-28.
Monte uma planilha eletrônica para reproduzir os resultados da Figura 4-15. Adicione barras de erro: siga o
procedimento descrito na Seção 4-9. Use sy para o erro + e também para o erro –. 4-29.
Função PROJ.LIN do Excel. Construa uma planilha eletrônica com os dados fornecidos a seguir e use a função
PROJ.LIN para determinar o coeficiente angular, o coeficiente linear e seus respectivos desvios-padrão. Use o Excel para construir um gráfico mostrando os pontos e adicione uma linha de tendência. Desenhe barras de erro para ±sy nos pontos. x:
3,0
10,0
20,0
30,0
40,0
y:
–0,074
–1,411
–2,584
–3,750
–5,407
Curvas de Calibração 4-30. Explique a sentença “A validade de uma análise química depende fundamentalmente da medida da resposta do método analítico para padrões conhecidos”. 4-31. Suponha que um método analítico foi feito gerando uma curva de calibração linear como a mostrada na Figura 4-13. Considere ainda que a análise de uma amostra desconhecida forneceu uma absorbância que implicava em uma concentração negativa para o analito. Qual o significado desse resultado? 4-32. Uma curva de calibração baseada em n = 10 pontos conhecidos foi usada para medir a concentração de proteína em uma amostra. Os resultados obtidos foram proteína = 15,22 (± 0,46) μg, em que a incerteza-padrão é ux = 0,46 μg. Determine os intervalos de confiança de 90% e de 99% para esta concentração de proteína na amostra. 4-33. Considere o problema de mínimos quadrados ilustrado na Figura 4-11.
(a) Suponha que uma única nova medida produza um valor de y igual a 2,58. Determine o valor correspondente de x e a sua incerteza-padrão, ux. (b) Suponha que y foi medido quatro vezes e o valor médio é 2,58. Calcule ux baseado em quatro medidas e não apenas em uma. (c) Encontre o intervalo de confiança de 95% para (a) e (b). 4-34. (a) A curva de calibração linear na Figura 4-13 é y = 0,0016 30 (±0,000 22) x + 0,0047 (±0,0026) com sy = 0,0059. Encontre a quantidade desconhecida de proteína que forneça uma absorbância medida de 0,264, enquanto um branco produz uma absorbância de 0,095. (b)
A Figura 4-13 apresenta n = 14 pontos de calibração na região linear. Você mede k = 4 amostras repetidas de uma
amostra desconhecida, encontrando uma absorbância média corrigida de 0,169. Encontre a incerteza-padrão e o intervalo de confiança de 95% para a proteína na amostra desconhecida. 4-35.
Os sinais de espectrometria de massa para o metano em H2 são dados a seguir:
CH4 (vol%):
0
0,062
0,122
0,245
0,486
0,971
1,921
Sinal(mV):
9,1
47,5
95,6
193,8
387,5
812,5
1
671,9
(a) Subtraia o valor do branco (9,1) dos outros valores. Então use o método dos mínimos quadrados para determinar o coeficiente angular e o coeficiente linear bem como suas incertezas. Construa a curva de calibração. (b) Medidas repetidas de uma amostra desconhecida forneceram os seguintes sinais: 152,1; 154,9; 153,9 e 155,1 mV, e as medidas de um branco forneceram: 8,2; 9,4; 10,6 e 7,8 mV. Subtraia o valor médio das medidas do branco do valor médio da amostra desconhecida, de modo a determinar o sinal médio corrigido para a amostra desconhecida. (c) Determine a concentração da amostra desconhecida, sua incerteza-padrão (ux) e o intervalo de confiança de 95%. 4-36. Curva de calibração não linear. Seguindo o procedimento do Boxe 4-2, determine quantos microgramas (mg) de proteína estão contidos em uma amostra com uma absorbância corrigida de 0,350 na Figura 4-13. 4-37. Curva de calibração logarítmica. Os dados de calibração, que giram em torno de cinco ordens de grandeza para uma determinação eletroquímica do p-nitrofenol, são dados na tabela a seguir. (O branco já foi subtraído da corrente medida.) Se tentamos representar graficamente esses dados em um gráfico linear estendendo-se de 0 a 310 μg/mL e de 0 a 5.260 nA, muitos dos pontos estarão agrupados próximo à origem. Para manipular dados que se distribuem em um intervalo muito grande, usa-se um gráfico logarítmico. p-Nitrofenol (μg/mL) 0,010 0 0,029 9 0,117 0,311 1,02
Corrente (nA)
p-Nitrofenol (μg/mL)
Corrente (nA)
0,215 0,846 2,65 7,41 20,8
3,00 10,4 31,2 107 310
66,7 224 621 2 020 5 260
FONTE: Dados da Figura 4 de L. R. Taylor, Am. Lab., February 1993, p. 44. (a) Faça um gráfico do log (corrente) contra log (concentração). Qual a faixa em que esse gráfico de calibração (log-log) é linear? (b) Determine a equação da reta na forma log (corrente) = m × log (concentração) + b. (c) Determine a concentração de p-nitrofenol que corresponde ao sinal de 99,9 nA. (d)Propagação da incerteza com logaritmo. Para um sinal de 99,9 nA, o log (concentração) e sua incerteza-padrão passam a valer 0,683 15 ± 0,045 22. Com base nas regras para propagação de incerteza vistas no Capítulo 3, encontre a incerteza na concentração.
A NECESSIDADE DA CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE
(a) Determinação do teor de Pb na água de um rio feita em diferentes laboratórios. Todos os laboratórios representados neste grá co usaram um sistema de gestão de qualidade reconhecido. (b) Resultados reprodutíveis dos institutos de medidas nacionais. [Proveniente de P. De Bièvre e P. D. P. Taylor, “Demonstration’ vs. ‘Designation” of Measurement Competence: The Need to Link Accreditation to Metrology”, Fresenius J. Anal. Chem. 2000, 368, 567.] O Instituto de Materiais de Referência e Medidas, na Bélgica, mantém um Programa Internacional de Avaliação de Qualidade de Medidas que permite aos laboratórios participantes do projeto terem acesso à con abilidade de suas análises. A Figura a mostra os resultados para chumbo em água de rio. Dos 181 laboratórios participantes, 18 relataram resultados 50% acima e 4 relataram resultados mais do que 50% abaixo do nível certi cado de 62,3 ± 1,3 nM. Ainda que a maioria dos laboratórios tenha utilizado em seus estudos procedimentos de gestão de qualidade reconhecidos, um grande percentual dos resultados não incluiu a faixa certi cada. A Figura b mostra que, quando a mesma água de rio foi analisada por nove diferentes institutos de medida nacionais, onde mais cuidados são tomados, todos os resultados estavam próximos da faixa certi cada. Este exemplo mostra que não existem garantias de que resultados sejam con áveis, mesmo quando obtidos por laboratórios “credenciados” usando procedimentos aceitos. Uma boa maneira de constatar a con abilidade de um laboratório é fornecer a ele amostras “cegas” – semelhantes às amostras desconhecidas – para as quais você conhece a resposta “certa”, mas o analista não. Caso o laboratório não encontre o resultado conhecido, existe algum problema. É necessária uma veri cação periódica com amostras “cegas” para constatar se a con abilidade está mantida.
A
certificação de qualidade indica o que fazemos para obter a resposta certa para os nossos objetivos. A resposta deve ter precisão e exatidão suficientes para subsidiar decisões futuras. É inútil gastar mais dinheiro para se obter uma resposta mais exata
ou mais precisa se isso não for necessário. Este capítulo descreve informações e procedimentos básicos na certificação de qualidade2 e introduz mais dois métodos de calibração. No Capítulo 4 discutimos a curva de calibração, como a da Figura 4-13, feita a partir do preparo de uma série de soluções conhecidas do analito e construindo um gráfico da resposta do instrumento em relação à concentração do analito. As soluções conhecidas do analito que não envolvem a solução desconhecida são chamadas padrões externos. No Capítulo 5 iremos descrever os métodos da adição-padrão e dos padrões internos, ambos feitos a partir da solução desconhecida. Padrões de qualidade de dados: • Empregue os dados obtidos • Tome os dados corretos • Conserve os dados corretos Nancy W. Wentworth U.S. Environmental Protection Agency.1]
5-1
Fundamentos da Certi cação da Qualidade
Citação de Ed Urbansky. A Seção 5-1 é adaptada a partir de uma descrição escrita por Ed Urbansky.
“Suponhamos que você esteja cozinhando para alguns amigos. Enquanto prepara o molho de espaguete, você o experimenta, tempera-o e prova-o mais uma vez. Cada prova é um evento de amostragem por meio de um teste de controle de qualidade. Você pode provar todo o molho porque há apenas uma única porção de molho. Agora, suponha que você opera uma unidade industrial de molho de espaguete que faz mais de 1000 potes por dia. Você não pode testar cada um deles, de modo que você decide provar três deles por dia, às 11, 14 e 17 h. Se os três potes passarem pelo teste, você concluirá que todos os 1000 potes estão próprios para o consumo. Infelizmente, isso pode não ser verdadeiro, mas o risco relativo – de que um pote tenha tempero demais ou de menos – não é muito importante, porque você concorda em devolver o dinheiro de qualquer consumidor que não esteja satisfeito. Se o número de reembolsos for pequeno, digamos, 100 por ano, não há aparentemente vantagem em provar 4 potes por dia”. Haveria mais 365 testes adicionais por ano para evitar reembolsos sobre 100 potes, dando uma perda líquida de 265 potes comercializáveis. Dados brutos: medidas individuais
Na química analítica, o produto não é molho de espaguete, mas sim dados brutos, dados tratados e resultados. Dados brutos são os valores individuais de uma quantidade medida, como as áreas dos picos de um cromatograma ou os volumes de uma bureta. Dados tratados são concentrações ou quantidades encontradas a partir da utilização de um procedimento de calibração para os dados brutos. Resultados são os efetivamente divulgados, como a média, o desvio-padrão e o intervalo de confiança, após a aplicação de métodos estatísticos aos dados tratados. Dados tratados: concentrações obtidas a partir dos dados brutos pelo uso de métodos de calibração Resultados: valores registrados após análise estatística dos dados tratados
Metas Um importante objetivo da certificação da qualidade é assegurar que os resultados satisfaçam às necessidades do consumidor. Se você fabrica um fármaco cuja dose terapêutica é apenas levemente inferior à dose letal, seria muito mais cuidadoso do que se fizesse molho de espaguete. Os tipos de dados que você coleta e a forma como eles são coletados dependem de como você planeja usar tais dados. Uma balança de banheiro não precisa ter uma escala para medir massas até a faixa de miligramas, mas um comprimido de um medicamento que deve conter 2 mg do princípio ativo provavelmente não poderá conter 2 ± 1 mg. Em termos claros, o estabelecimento de metas concisas para os dados e para os resultados é uma etapa crucial na certificação de qualidade e ajuda a evitar o uso incorreto desses dados e resultados. Meta: estabelece um propósito para o qual serão usados os resultados
Aqui está um exemplo de uma meta. Água potável é normalmente desinfetada por cloro, que mata micro-organismos. Infelizmente, o cloro também reage com matéria orgânica presente na água para produzir “subprodutos da desinfecção” – compostos que podem causar danos aos seres humanos. Uma instalação para desinfecção planeja introduzir um novo processo de cloração e escreveu a seguinte meta analítica: Os dados analíticos e os resultados devem ser usados para determinar se o processo modificado de cloração reduz em pelo menos 10% a formação de subprodutos de desinfecção selecionados. Era esperado que esse novo processo reduzisse os subprodutos de desinfecção. A meta diz que a incerteza na análise tem que ser pequena o bastante para que um decréscimo de 10% nos subprodutos de desinfecção selecionados seja claramente distinguível do erro experimental. Em outras palavras, uma redução observada de 10% é real? Especi cações
Uma vez estabelecidas as metas você está apto a escrever as especificações indicando quão bons devem ser os números e que precauções são necessárias no procedimento analítico. Como as amostras devem ser obtidas e quantas serão necessárias? São necessárias precauções especiais para proteger as amostras e assegurar-se de que elas não se degradem? Entre as restrições práticas, tais como custo, tempo e quantidades limitadas de material disponível para análise, que níveis de exatidão e precisão satisfazem as metas? Que fração de falsos-positivos ou falsos-negativos é aceitável? Estas questões precisam ser respondidas por meio de especificações detalhadas. As especificações podem incluir: • requisitos de amostragem • • • • • • • •
exatidão e precisão taxa de falsos resultados seletividade sensibilidade valores do branco aceitáveis recuperação do contaminante intencional (fortificação) verificação de calibração amostras de controle de qualidade
A certificação de qualidade começa com a amostragem. Nós precisamos coletar amostras representativas, e o analito tem que ser preservado após a coleta da amostra. Se a nossa amostra não for representativa ou o analito for perdido após a coleta, então mesmo a análise mais exata não terá qualquer sentido. As amostras para análise de metais traço são normalmente coletadas em recipientes de plástico ou de teflon – e não de vidro – porque os íons metálicos encontrados nas superfícies do vidro passam para a amostra ao longo do tempo. As amostras para análise de matéria orgânica são coletadas em recipientes de vidro – e não de plástico – porque os plastificantes orgânicos lixiviados dos recipientes plásticos podem contaminar a amostra. As amostras são frequentemente conservadas no escuro e refrigeradas a fim de minimizar a degradação da matéria orgânica. O que queremos dizer com falsos-positivos e falsos-negativos? Suponhamos que você tenha de certificar que um contaminante na água potável está abaixo de um limite legal. Um falso-positivo indica que a concentração excede o limite legal quando, na verdade, ela se situa abaixo do limite. Um falso-negativo diz que a concentração está abaixo do limite quando, na realidade, ela se encontra acima do limite. Mesmo procedimentos bem executados podem produzir algumas conclusões falsas devido à incerteza estatística da amostragem e da medida. Para a água potável, é mais importante ter uma menor taxa de falsos-negativos do que de falsos-positivos. Seria pior certificar que a água contaminada é segura do que certificar que a água pura está contaminada. O teste de drogas ilícitas em atletas é feito de modo a minimizar os falsos-positivos para que um atleta inocente não seja injustamente acusado de doping. Na Seção 5-2, veremos que existe um compromisso entre falsos-positivos, falsos-negativos e o limite de detecção de um método analítico. O Boxe 5-1 discute as implicações dos testes de falso-positivo na medicina.
BOXE 5-1
Implicações Médicas de Resultados Falsos-Positivos3
Uma taxa aparentemente baixa de resultados falsos-positivos pode ter consequências surpreendentes na medicina. Suponha que 0,2% das pessoas tenha um tipo particular de câncer, e suponha que um teste para detecção desse tipo de câncer tenha uma probabilidade de 99% de detectá-lo quando está presente. Suponha agora que o mesmo teste apresente uma taxa de falsos-positivos de 1%. Ou seja, esse teste indica que 1% das pessoas saudáveis tem aquele tipo de câncer. Em uma população de um milhão de pessoas, 0,2% ou 2000 pessoas provavelmente terão aquele tipo de câncer. Se um milhão de pessoas são rastreadas para esse câncer, o teste indicará que 99% dessas 2000 pessoas (1980) terão câncer, e 1% (20 pessoas) está livre da doença, apesar de não estar. Das 998.000 pessoas restantes, que estão livres do câncer, 1% de falsos-positivos identi ca câncer em 9980 dessas pessoas. Dentre os 1980 + 9980 = 11.960 testes positivos, apenas 1980/11.960 = 17% são positivos-verdadeiros. Os 83% restantes de testes positivos indicam falsamente câncer em pessoas saudáveis. Se 9980 pessoas saudáveis fossem submetidas a tratamentos perigosos como radiação, quimioterapia ou cirurgia, o teste para câncer poderia fazer mais mal do que bem a elas. Esta aritmética explica por que o resultado positivo de um teste tem de ser con rmado por meio de uma biópsia antes de se iniciar um tratamento.
Na escolha de um método, nós também consideramos a seletividade e a sensibilidade. Seletividade (também chamada especificidade) significa a capacidade de distinguir o analito de outras espécies na amostra (evitando interferência). Sensibilidade é a capacidade de responder de forma confiável e mensurável às variações de concentração do analito. O limite de detecção de um método analítico deve ser menor do que as concentrações a serem medidas. Sensibilidade
As especificações podem incluir a exatidão e a precisão requeridas, a pureza dos reagentes, as tolerâncias para a aparelhagem, o uso de materiais-padrão de referência e valores aceitáveis para os brancos. Os materiais-padrão de referência contêm quantidades certificadas do analito em materiais que podemos vir a analisar, como sangue, carvão ou ligas metálicas. O método analítico deve produzir uma resposta aceitável próxima do nível certificado, ou algo está errado com a exatidão do método. Os brancos indicam a interferência de outras espécies na amostra e os traços de analito encontrados nos reagentes usados na preservação, preparação e análise. Medidas frequentes de brancos também permitem detectar se analitos provenientes de amostras previamente analisadas estão contaminando as novas análises, por estarem aderidos aos recipientes ou aos instrumentos. Um branco de método é uma amostra contendo todos os constituintes exceto o analito, e ele deve ser usado durante todas as etapas do procedimento analítico. Subtraímos a resposta do branco de método da reposta de uma amostra real antes de calcularmos a quantidade de analito na amostra. Um branco para reagente é semelhante a um branco de método, mas ele não foi submetido a todos os procedimentos de preparo da amostra. O branco de método é a estimativa mais completa da contribuição do branco para a resposta analítica. Um branco de campo é semelhante a um branco de método, mas ele foi exposto ao local de amostragem. Por exemplo, para analisar partículas presentes no ar, um certo volume de ar pode ser aspirado através de um filtro, que é então digerido e analisado. Um branco de campo seria um filtro transportado para o local de coleta, na mesma embalagem do filtro utilizado na análise. O filtro a ser utilizado como branco seria retirado da embalagem no campo e colocado no mesmo tipo de recipiente selado usado para o filtro de coleta. A diferença entre os filtros é que o ar não seria aspirado através do filtro correspondente ao branco. O analito encontrado no branco de campo pode ser proveniente do ambiente do local de coleta, do ambiente encontrado durante o transporte entre o laboratório e o campo ou proveniente da maneira como foi manipulado. Compostos orgânicos voláteis encontrados durante o transporte ou no campo são possíveis contaminantes para um branco de campo. Adicione um pequeno volume de um padrão concentrado para evitar mudança significativa no volume da amostra. Por exemplo, ao adicionar 50,5 μL de um padrão em uma concentração de 500 μg/L a 5,00 mL da amostra, a concentração do analito aumentará de 5,00 μg/L. Concentração final = Concentração inicial × fator de diluição =
Outro requisito de desempenho frequentemente especificado é a recuperação do contaminante. Às vezes a resposta do analito pode ser aumentada ou reduzida por algo presente na amostra. Empregamos o termo matriz para nos referirmos a qualquer componente da amostra, exceto o analito. Uma contaminação intencional, também chamada fortificação, consiste na adição de uma quantidade conhecida de analito à amostra para testar se a resposta da amostra corresponde ao esperado a partir da curva de
calibração. As amostras fortificadas são analisadas da mesma forma que as desconhecidas. Por exemplo, se na água potável estiver presente nitrato na concentração de 10,0 μg/L, pode ser feita uma adição de 5,0 μg/L. Em tese, a concentração na amostra fortificada é de 15,0 μg/L. Caso um valor diferente de 15,0 μg/L seja encontrado a matriz pode estar interferindo na análise.
EXEMPLO
Recuperação de um Contaminante Intencional
Na equação seguinte, C representa a concentração. Uma de nição para a recuperação da substância intencionalmente adicionada é:
Sabe-se que em uma amostra desconhecida existem 10,0 μg de um analito por litro. Uma contaminação intencional de 5,0 μg/L foi feita em uma porção idêntica da amostra desconhecida. A análise da amostra modi cada forneceu uma concentração de 14,6 μg/L. Determine o percentual de recuperação da substância intencionalmente adicionada. Solução O percentual da substância adicionada encontrada na análise é
Matriz é qualquer coisa na amostra desconhecida além do analito. A matriz pode reduzir (Figura 5-4 e Problema 5-25) ou aumentar (Problema 5-33) a resposta ao analito.
Se a recuperação aceitável for especi cada na faixa de 96 a 104%, então o valor de 92% é inaceitável. Algo em seu método ou nas técnicas precisa ser melhorado. TESTE A VOCÊ MESMO Determine o percentual de recuperação se a amostra forti cada apresentou uma concentração de 15,3 μg/L. (Resposta: 106%) Ao lidar com um grande número de amostras e replicatas, devemos realizar verificações periódicas de calibração a fim de certificar que nossos instrumentos estão funcionando corretamente e que a curva de calibração permanece válida. Em uma verificação de calibração, analisamos soluções formuladas para conter concentrações conhecidas de analito. A especificação pode ser, por exemplo, realizar uma verificação de calibração a cada 10 amostras. As soluções para as verificações de calibração devem ser diferentes daquelas usadas para preparar a curva de calibração original. Esta prática ajuda a verificar se os padrões para a calibração inicial foram preparados corretamente. Para padronizar a exatidão: • testes de calibração • recuperação da substância intencionalmente adicionada (fortificante) • amostras de controle de qualidade • brancos Para padronizar a precisão: • amostras repetidas • porções repetidas da mesma amostra
As amostras para testes de desempenho (também denominadas amostras para controle de qualidade ou amostras cegas) são uma medida do controle de qualidade que ajuda a eliminar vícios introduzidos pelo analista que conhece a concentração das amostras de verificação de calibração. Essas amostras de composição conhecida são fornecidas ao analista como se fossem desconhecidas. Os resultados então são comparados aos valores conhecidos, geralmente por meio de um gerente de certificação de qualidade. Por exemplo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mantém um banco de amostras de alimentos homogeneizados para controle de qualidade, distribuindo-as como amostras desconhecidas aos laboratórios que determinam nutrientes em alimentos.4 Em conjunto, os dados brutos e os resultados dos testes de calibração, recuperação de substâncias intencionalmente adicionadas, controle de qualidade das amostras e brancos são empregados para estabelecer um padrão de exatidão. O desempenho analítico em amostras repetidas e porções repetidas de uma mesma amostra medem a precisão. A contaminação intencional (fortificação) também permite assegurar que a identificação qualitativa do analito está correta. Se você contamina intencionalmente a amostra desconhecida na Figura 0-5 com cafeína adicional e a área do pico cromatográfico não atribuído à cafeína aumentar, então você se equivocou na identificação do pico da cafeína.
Os procedimentos de operação-padrão, que indicam quais as etapas a serem seguidas e como elas serão efetuadas, são o alicerce da avaliação da qualidade. Por exemplo, se um reagente se tornou “imprestável” por algum motivo, os experimentos de controle executados em sua rotina normal de procedimento devem detectar que algo está errado e seus resultados não devem ser divulgados. Está implícito que todos sigam os procedimentos de operação-padrão. A adesão a esses procedimentos previne a tendência natural das pessoas a seguirem por atalhos baseados em suposições que nem sempre são verdadeiras. Uma análise significativa exige uma amostra significativa que é representativa do material a ser analisado. A amostra tem de ser guardada em recipientes e em condições que não mudem as suas características químicas relevantes. Pode ser necessária uma proteção para evitar oxidação, fotodecomposição ou o crescimento de organismos. A cadeia de custódia é o caminho seguido por uma amostra a partir do momento em que é coletada até a hora de sua análise e, possivelmente, arquivamento. Documentos são assinados toda vez que o material muda de mãos para indicar quem é responsável pela amostra. Cada pessoa na cadeia de custódia segue um procedimento de operação-padrão que está escrito, dizendo como a amostra deve ser manipulada e armazenada. Ao receber a amostra, cada novo responsável deve inspecioná-la, verificando se está dentro das condições esperadas em um recipiente adequado. Se a amostra original era um líquido homogêneo, mas contém um precipitado quando recebida, o procedimento de operação-padrão pode indicar que você deve rejeitar a amostra. No teste de drogas ilícitas em atletas, a cadeia de custódia implica necessariamente em que a pessoa que coleta a amostra não é a mesma que a analisa. A pessoa que coleta a amostra sabe a identidade do atleta, mas o analista, não. Isso visa impedir que este último adultere deliberadamente um resultado para favorecer ou incriminar um atleta em particular ou uma equipe.
Os procedimentos de operação-padrão especificam como os instrumentos devem ser mantidos e calibrados a fim de assegurar a confiabilidade dos mesmos. Muitos laboratórios possuem suas próprias práticas-padrão, como o registro das temperaturas de refrigeradores, calibração de balanças, rotina de manutenção de instrumentos ou substituição de reagentes. Essas práticas são parte integrante do plano geral de gestão de qualidade. A razão por trás das práticas-padrão é que um dado equipamento é utilizado por muitas pessoas para diferentes análises. Nós economizamos dinheiro ao ter um programa que assegure que as necessidades mais rigorosas são atendidas. Avaliação A avaliação é o processo de (1) coletar dados para mostrar que os procedimentos analíticos estão funcionando dentro de limites especificados e (2) verificar se os resultados obtidos satisfazem as metas. Documentação é crucial para a avaliação. Os protocolos?padrão fornecem instruções sobre o que tem que ser documentado e como isso deve ser feito, incluindo como gravar as informações em computadores portáteis. Para os laboratórios que dependem de manuais de práticas-padrão, é imperioso que as tarefas realizadas para cumprir os manuais sejam monitoradas e registradas. Os gráficos de controle (Boxe 5-2) podem ser usados para monitorar o desempenho de brancos, verificações de calibração e amostras fortificadas para inferir se os resultados se mantêm estáveis ao longo do tempo ou para comparar o trabalho de diferentes empregados. Os gráficos de controle podem também monitorar a sensibilidade ou a seletividade, especialmente se um laboratório lida com uma grande variedade de matrizes. Orgãos governamentais, como a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, estabelecem requisitos para a certificação da qualidade de seus próprios laboratórios e para a certificação de laboratórios externos. Os métodos-padrão publicados especificam precisão, exatidão, número de brancos, repetição de análises e testes de calibração. Para monitorar a água potável, as portarias indicam qual a frequência e quantas amostras devem ser obtidas. É necessário registro documentado para demonstrar que todos os requisitos foram atendidos. A Tabela 5-1 resume o processo de certificação de qualidade.
5-2
Validação de um Procedimento Analítico
A validação de método é o processo que demonstra que um método analítico é aceitável para a finalidade a que se destina.5 Na química farmacêutica os requisitos para a validação de método incluem estudos da especificidade do método, linearidade, exatidão, precisão, faixa, limite de detecção, limite de quantificação e robustez.
BOXE 5-2
Grá cos de Controle
Um grá co de controle é uma representação visual dos intervalos de con ança para uma distribuição gaussiana. Um grá co de controle rapidamente nos adverte quando uma propriedade que está sendo monitorada se afasta perigosamente para longe de um valor alvo desejado. Consideremos um laboratório que determina perclorato (ClO4–) em urina humana. Para garantia de qualidade, n = 5 amostras de controle de qualidade repetidas, produzidas a partir de urina sintética forti cada com perclorato, são analisadas diariamente. O grá co de controle mostra o valor médio das cinco amostras observado diariamente em uma sequência de dias. A amostra forti cada contém μ = 4,92 ng/mL, e o desvio-padrão da população para muitas análises durante um longo período de tempo é σ = 0,40 ng/mL.
Para uma distribuição gaussiana, 95,5% de todas as observações estão contidas dentro de ±2σ/ , e 99,7% estão compreendidas dentro de ±3σ/ , em que n é o número de medições repetidas (= 5) que são promediados a cada dia. Os limites ±2σ/ são as linhas de advertência, e os limites ±3σ/ correspondem a linhas de intervenção. Esperamos que ~4,5% das medidas se localizem sobre as linhas de advertência, e que somente ~0,3% se encontrem sobre as linhas de intervenção. É muito pouco provável que observemos duas medidas consecutivas na linha de advertência (probabilidade = 0,045 × 0,045 = 0,002 0). As condições descritas a seguir são consideradas tão improváveis que, se por acaso ocorrerem, devemos interromper o processo e submetê-lo a uma manutenção: • • •
uma única observação fora das linhas de intervenção duas entre três medidas consecutivas se localizam entre a linha de advertência e a linha de intervenção sete medidas consecutivas encontram-se acima ou abaixo da linha central
Grá co de controle para ClO4– em urina. [Dados de L. Valentin-Blasini, J. P. Mauldin, D. Maple e B. C. Blount, “Analysis of Perchlorate in Human Urine Using Ion Chromatography and Electrospray Tandem Mass Spectrometry,” Anal. Chem. 2005, 77, 2475.] • •
seis medidas consecutivas apresentam uma tendência crescente ou uma tendência decrescente 14 pontos consecutivos alternam-se em posições localizadas acima e abaixo, independentemente de sua localização
•
uma sequência de pontos que obviamente não é aleatória
Para a avaliação da qualidade de um processo analítico um grá co de controle pode mostrar os valores médios das amostras de controle de qualidade ou a precisão de análises repetidas de amostras desconhecidas ou de padrões em função do tempo.
TABELA 5-1
Processo de certi cação de qualidade
Questão
Ações
Metas
Por que você deseja os dados e os resultados e como você utilizará os resultados?
• Escreva as metas
Especi cações
Quão bons os números têm de ser?
• Escreva as especi cações • Selecione métodos para satisfazer as especi cações • Considere amostragem, precisão, exatidão, seletividade, sensibilidade, limite de detecção, robustez, taxa de falsos resultados
• Utilize brancos, contaminação intencional, veri cações de calibração, amostras de controle de qualidade e grá cos de controle para monitorar o desempenho • Escreva e siga os procedimentos de operação-padrão Avaliação
As especi cações foram atingidas?
• Compare os dados e os resultados com as especi cações • Registre os procedimentos e mantenha os registros adequados para satisfazer as metas • Veri que se as metas foram atingidas
Especi cidade Especificidade é a capacidade de um método analítico em distinguir o analito de todo o resto que possa estar presente na amostra. A eletroforese é um método analítico no qual substâncias são separadas entre si pelas diferentes velocidades de migração quando submetidas a um forte campo elétrico. Um eletroferograma é o registro gráfico da resposta do detector contra o tempo em uma separação eletroforética. A Figura 5-1 mostra um eletroferograma da droga cefotaxima (pico 4) contaminada intencionalmente com 0,2% em massa de impurezas conhecidas normalmente presentes a partir da síntese. Uma exigência razoável para a especificidade pode ser que haja separação da linha de base do analito (a cefotaxima) de todas as impurezas que possam estar presentes. A separação da linha de base significa que o sinal do detector retorna à linha de base antes do próximo composto alcançar o detector. Na Figura 5-1 o pico da impureza 3 não se encontra completamente separado do pico da cefotaxima. Neste caso, outro critério razoável para a especificidade podia ser que as impurezas não resolvidas em suas concentrações máximas esperadas não afetarão em mais de 0,5% a determinação da cefotaxima. Se estivéssemos tentando determinar as impurezas, em oposição à determinação da cefotaxima, um critério razoável para a especificidade é que todos os picos correspondentes às impurezas que tenham >0,1% da área no eletroferograma são separados da linha de base da cefotaxima. A Figura 5-1 não satisfaz esse critério. Quando desenvolvemos um método analítico, temos de decidir que impurezas devem ser deliberadamente adicionadas para testar a especificidade. Na análise da formulação de um fármaco, desejamos comparar o fármaco puro com uma outra amostra contendo adições de todos os possíveis subprodutos de síntese, intermediários, produtos de degradação e excipientes. (Excipientes são substâncias adicionadas de modo que o produto tenha a consistência ou a forma desejada.) Os produtos de degradação podem ser introduzidos por meio da sujeição do material puro ao calor, luz, umidade, ácidos, bases e oxidantes, de modo a decompor cerca de ~20% do material original.
FIGURA 5-1 Eletroferograma da droga cefotaxima (pico 4) contaminada intencionalmente com impurezas conhecidas (picos 2, 3, 5–9) provenientes da síntese do fármaco. O pico 1 é um marcador para o fluxo eletro-osmótico. Observam-se também pequenos picos referentes a impurezas desconhecidas. A separação foi feita por cromatografia micelar eletroforética (Seção 26-7). [Dados de H. Fabre e K. D. Altria, “Key Points for Validating CE Methods, Particularly in Pharmaceutical Analysis”, LCGC North Am. 2001, 19, 498.]
Linearidade
A linearidade mede o quanto uma curva de calibração segue uma linha reta, mostrando que a resposta é proporcional à quantidade de analito. Se conhecermos o valor da concentração desejada do analito na formulação de uma droga, podemos, por exemplo, verificar a linearidade da curva de calibração com cinco soluções-padrão, varrendo a faixa de 0,5 a 1,5 vez a concentração esperada do analito. Cada padrão deve ser preparado e analisado três vezes para esse objetivo. (Esse procedimento exige 3 × 5 = 15 amostras mais três brancos.) Para a preparação de uma curva de calibração para uma impureza, que pode estar presente, digamos, entre 0,1% e 1% em massa, temos de preparar uma curva de calibração com cinco padrões abrangendo a faixa de 0,05 a 2% em massa. Uma medida superficial, mas de uso muito comum, da linearidade é o quadrado do coeficiente de correlação, R2: Quadrado do coeficiente de correlação:
em que x2 é a média de todos os valores de x e y2 é a média de todos os valores de y. Uma maneira simples para determinar o valor de R2 é por meio da função PROJ.LIN do Excel. No exemplo descrito na Seção 4-7, os valores de x e y encontram-se nas colunas A e B. A função PROJ.LIN produz uma tabela nas células E3:F5, que contém o valor de R2 na célula E5. R2 é a fração da variância observada que pode ser atribuída ao modelo matemático que foi escolhido (como, por exemplo, uma linha reta). Se R2 não está muito próximo de 1, o modelo matemático não leva em conta todas as fontes de variância. Para o principal constituinte presente em uma amostra desconhecida, um valor de R2 acima de 0,995, ou talvez, 0,999, corresponde a um bom ajuste para a maioria das propósitos.6 Para os dados da Figura 4-11, que não se enquadram muito bem em uma reta, R2 = 0,985. R2 pode ser usado como um teste de diagnóstico. Se o seu valor diminuir após um método ter sido estabelecido, existe algo de errado com o procedimento.
Outro critério para testar a linearidade, é que a interseção com o eixo y da curva de calibração (após subtrair a resposta do branco para cada padrão) deve estar próxima de 0. Um grau aceitável da “proximidade do 0” pode ser 2% do valor do sinal esperado para o analito. Na determinação de impurezas que se encontram presentes em concentrações bem menores que a do constituinte principal da amostra, um valor aceitável de R2 pode ser ≥0,98 para a faixa de padrões entre 0,1 e 2% em massa e a interseção com o eixo y deve ser ≤10% da resposta para o padrão com 2% em massa. Exatidão A exatidão define a “proximidade do valor verdadeiro”. As maneiras para verificar a exatidão incluem 1. Analisar um material de referência certificado em uma matriz similar àquela da amostra desconhecida. O método usado na
análise deve fornecer o valor certificado do analito no material de referência, dentro da precisão (incerteza aleatória) do método usado. 2. Comparar resultados provenientes de dois ou mais métodos analíticos diferentes. Eles devem concordar dentro da precisão
esperada para cada método. 3. Analisar um branco que foi propositadamente contaminado por uma quantidade conhecida de analito. A matriz tem de ser a mesma da amostra desconhecida. Nas determinações do constituinte principal da amostra, normalmente são empregadas três amostras repetidas, cujos três níveis de concentração varrem a faixa de 0,5 a 1,5 vez o valor esperado da concentração da amostra. Nas determinações de impurezas, as adições propositais devem cobrir três níveis varrendo uma faixa de concentrações esperada de, por exemplo, 0,1 e 2% em massa. 4. Se não for possível preparar um branco com a mesma matriz da amostra desconhecida, então é apropriado que sejam feitas adições-padrão de analito (Seção 5-3) à amostra desconhecida. Uma análise exata determinará o valor conhecido do analito que foi adicionado. A contaminação proposital é o método mais comum na avaliação da exatidão, pois nem sempre materiais de referência encontram-se disponíveis e um segundo método analítico pode não estar prontamente acessível. A contaminação proposital assegura que a matriz permaneça essencialmente a mesma. Um exemplo de uma especificação para a exatidão é que a análise identificará 100 ± 2% do valor da contaminação proposital do constituinte principal. Para uma impureza, a especificação pode ser que a identificação se situe dentro de 0,1% em massa do valor absoluto ou ±10% do valor relativo. Precisão A precisão é a reprodutibilidade de um resultado, normalmente expressa por meio de um desvio-padrão ou incerteza-padrão (desvio-padrão da média), ou intervalo de confiança. Quando um analista experiente repete suas medidas por meio do mesmo
procedimento usando o mesmo instrumento, os resultados podem ser altamente repetíveis. O intervalo de confiança a 95% pode ser estreito. Quando pessoas diferentes, em laboratórios diferentes, com instrumentos diferentes, realizam a análise, cada intervalo de confiança pessoal pode ser estreito, mas ele pode não se sobrepor aos intervalos de confiança das demais pessoas que realizaram a mesma análise. Quais são as fontes de erro? Pode haver diferenças nas amostras, diferenças no preparo das amostras, diferenças nas técnicas entre os analistas, mudanças não controladas que ocorrem em cada laboratório de um dia para outro, diferenças não controladas entre os laboratórios e diferenças entre os instrumentos. Duas grandes categorias de precisão são a repetibilidade e a reprodutibilidade. A repetibilidade descreve a dispersão dos resultados quando uma pessoa utiliza um procedimento para analisar a mesma amostra pelo mesmo método muitas vezes. A reprodutibilidade descreve a dispersão dos resultados quando pessoas diferentes em laboratórios distintos usando instrumentos diferentes tentam seguir o mesmo procedimento. Procedimentos estatísticos como a análise de variância, descritos no Apêndice C, nos ajudam a encontrar que fatores respondem pela variabilidade. Repetibilidade: descreve quão bem uma pessoa pode obter os mesmos resultados quando analisa a mesma amostra por meio do mesmo procedimento com o mesmo equipamento no mesmo laboratório.
Alguns tipos de precisão são definidos a seguir: A precisão do instrumento, também conhecida como precisão de injeção, é a reprodutibilidade observada quando a mesma quantidade de uma mesma amostra é repetidamente introduzida em um instrumento (≥10 vezes). As variações na precisão de injeção podem resultar da variação na quantidade injetada e na variação na resposta do instrumento. Reprodutibilidade: descreve como pessoas diferentes em laboratórios distintos usando equipamentos diferentes podem obter os mesmos resultados quando analisam amostras semelhantes pelo mesmo procedimento.
A precisão intrínseca do ensaio é avaliada fazendo-se com que uma mesma pessoa, em um determinado dia de trabalho, analise várias vezes alíquotas de um material homogêneo com um mesmo equipamento. Cada análise é independente, de modo que a precisão intrínseca do ensaio nos diz o quão reprodutível o método analítico pode ser. Espera-se que a possibilidade de variação dentro do próprio ensaio seja maior do que no instrumento, pois existem mais etapas envolvidas. Exemplos de especificações que podem ser feitas é que a precisão do instrumento seja ≤1% e que a precisão intrínseca do ensaio seja ≤2%. Os amostradores automáticos usados na cromatografia e na espectroscopia atômica de forno de grafite têm, por exemplo, uma precisão de injeção 3 a 10 vezes melhor quando comparados com a que é atingida pelos seres humanos.
A precisão intermediária, antigamente denominada robustez, é a variação observada quando um ensaio é feito por pessoas diferentes, em instrumentos diferentes, em dias diferentes, mas em um mesmo laboratório. Cada análise pode incorporar reagentes recentemente preparados e diferentes colunas cromatográficas. A precisão interlaboratorial, também chamada reprodutibilidade, é a medida mais geral da reprodutibilidade quando alíquotas da mesma amostra são analisadas por pessoas diferentes, em laboratórios diferentes. A precisão interlaboratorial pode ser significativamente pior do que a precisão intermediária. Por exemplo, um estudo com 13 laboratórios foi conduzido para validar um novo método para determinação de bisfenol A e compostos fenólicos relacionados na água. A precisão intermediária (em cada laboratório) foi de 1,9 a 5,5% para vários compostos. A precisão interlaboratorial em que todos os laboratórios seguiram as mesmas instruções foi de 10,8 a 22,5%.7 A precisão interlaboratorial torna-se pior quando o teor de analito na amostra diminui (Boxe 5-3). Faixa Faixa é o intervalo de concentrações no qual a linearidade, a exatidão e a precisão são aceitáveis. Um exemplo para uma especificação da faixa de um componente principal de uma mistura é o intervalo de concentração em que o coeficiente de correlação R2 é ≥ 0,995 (uma medida de linearidade), a identificação da contaminação proposital é 100 ± 2% (uma medida da exatidão), e a precisão interlaboratorial é de 63%. Para uma impureza, uma faixa aceitável pode ser aquela em que o coeficiente de correlação R2 é ≥ 0,98, a identificação da contaminação proposital é 100 ± 10% e a precisão interlaboratorial é de 615%. Termos que geram confusão: Faixa linear: faixa de concentração na qual a curva de calibração é linear (Figura 4-14) Faixa dinâmica: faixa de concentração na qual existe uma resposta mensurável Faixa: intervalo de concentração na qual a linearidade, a exatidão e a precisão atendem às especificações para o método analítico
Limites de Detecção e Quanti cação O limite de detecção (também chamado de limite inferior de detecção) é a menor quantidade de analito “significativamente diferente” de um branco.8 Descreve-se a seguir um procedimento que produz um limite de detecção que tem aproximadamente ~99% de probabilidade de ser maior que o branco, ou seja, apenas ~1% das amostras desprovidas do analito fornecerão um sinal maior que o limite de detecção (Figura 5-2). Dizemos que existe uma taxa de ~1% de falsos-positivos na Figura 5-2. Essa mesma definição de limite de detecção fornece apenas 50% de confiança de que podemos identificar uma amostra que efetivamente contenha o analito caso sua concentração esteja no limite de detecção. Ou seja, metade das amostras cujas concentrações do analito se situam no limite de detecção produz resultados falsos-negativos abaixo do limite de detecção na Figura 5-2. No
procedimento a seguir, supomos que o desvio-padrão do sinal proveniente das amostras com concentrações próximas ao limite de detecção seja comparável ao desvio-padrão proveniente dos brancos. Uma boa definição para você: O limite de detecção na Equação 5-5 é a concentração de analito que fornece um sinal igual a três vezes o desvio-padrão do sinal de um branco.
1. Após estimarmos o limite de detecção a partir da experiência prévia com o método, preparamos uma amostra cuja
concentração seja ~1 a = vezes maior que o limite de detecção. 2. Medimos o sinal de n amostras repetidas (n ≥ 7). 3. Calculamos o desvio-padrão (s) das n medidas. 4. Medimos o sinal de n amostras em branco (sem analito) e determinamos o valor médio, que chamaremos de ybranco. 5. O sinal mínimo detectável, que chamaremos de limite de detecção, yld, é definido como:
Limite de detecção do sinal:
6. O sinal corrigido, yamostra – ybranco, é proporcional à concentração da amostra:
Linha de calibração:
em que yamostra é o sinal observado para a amostra e m é o coeficiente angular da curva de calibração. A concentração mínima detectável, também chamada de limite de detecção, é obtida substituindo-se yld da Equação 5-3 por yamostra na Equação 5-4: Limite de detecção:
BOXE 5-3
A Trombeta de Horwitz: Variação na Precisão Interlaboratorial
Testes interlaboratoriais são rotineiramente empregados na validação de novos procedimentos analíticos – especialmente aqueles desenvolvidos para aplicação de normas e leis. Normalmente, de 5 a 10 laboratórios recebem amostras idênticas e o mesmo procedimento impresso. Se todos os resultados forem “semelhantes” e não existirem erros sistemáticos sérios, então o método é considerado “con ável”. O coe ciente de variação é o desvio-padrão dividido pela média, normalmente expresso como uma porcentagem da média: CV(%) = 100 × s/x . Quanto menor for o coe ciente de variação, mais preciso será o conjunto de medidas. 2
Na revisão de 150 estudos interlaboratoriais, onde analitos diferentes foram medidos com diferentes técnicas, foi observado que o coe ciente de variação dos valores médios relatados pelos diferentes laboratórios aumentava sempre quando a concentração do analito diminuía. Melhor, o coe ciente de variação nunca parecia ser melhor do que9 Curva de Horwitz: CV(%) ≈ 2(1 – 0,5 log C) em que C é a fração de analito na amostra (C = g de analito/g de amostra). O coe ciente de variação dentro de um laboratório corresponde a metade a dois terços das variações entre os laboratórios. Resultados experimentais variaram, em relação à curva ideal, de um fator de 2 na direção vertical e de um fator de 10 na direção horizontal. De 5a 15% de todos os resultados interlaboratoriais estavam “localizados fora” – nitidamente separados do conjunto formado pelos outros resultados. Essa incidência de localizados fora está acima da previsão estatística. A curva de Horwitz prevê que quando a concentração de analito é de 1 ppm, o coe ciente de variação entre os laboratórios é ~16%. Quando a concentração é 1 ppb, o coe ciente de variação é próximo de ~45%. Se você, leitor, por acaso, algum dia se tornar um redator de leis, procure considerar os teores aceitáveis de analito como aqueles que compensam as variações existentes entre os laboratórios. A distribuição gaussiana nos diz que ~5% das medidas encontram-se acima de x + 1,65s (Seção 4-1). Se o nível desejável, para um determinado analito, for de 1,0 ppb, o valor passível de observação deve ser 1 + 1,65 × 0,45 ppb, ou seja, cerca de 1,7 ppb. Este nível dá origem a uma taxa de 5% de valores falsos-positivos que excedem o valor permitido, mesmo quando o valor verdadeiro encontra-se abaixo de 1,0 ppb.
Coe ciente de variação de resultados interlaboratoriais em função da concentração da amostra (expressa em g de analito/g de amostra). A região sombreada é chamada de “trombeta de Horwitz” devido à forma da sua abertura. [De W. Horwitz, “Evaluation of Analytical Methods Used for Regulation in Foods and Drugs,” Anal. Chem. 1982, 54, 67A.]
FIGURA 5-2 Limite de detecção. As curvas mostram a distribuição de medidas esperadas para um branco e uma amostra cuja concentração se situa no limite de detecção. A área de uma região qualquer é proporcional ao número de medidas naquela região. Apenas ~1% das medidas para um branco deve exceder o limite de detecção. Entretanto, 50% das medidas para uma amostra contendo um analito em seu limite de detecção estarão abaixo desse limite. Existe uma probabilidade de 1% de concluir que um branco tem analito acima do limite de detecção (falso-positivo). Caso uma amostra contenha o analito em seu limite de detecção, existe uma probabilidade de 50% de concluir que o analito está ausente porque seu sinal está abaixo do limite de detecção (falso-
negativo). As curvas nesta figura correspondem à distribuição t de Student para seis graus de liberdade, que é mais larga do que a distribuição gaussiana correspondente.
EXEMPLO
Limite de detecção
A partir de medições prévias de baixas concentrações de analito, estimou-se que o limite de detecção do sinal está na faixa de nanoamperes. Os sinais, provenientes de sete amostras idênticas com uma concentração cerca de três vezes a do limite de detecção, foram: 5,0; 5,0; 5,2; 4,2; 4,6; 6,0 e 4,9 nA. Os brancos produziram valores de 1,4; 2,2; 1,7; 0,9; 0,4; 1,5 e 0,7 nA. O coe ciente angular da curva de calibração, para as concentrações mais altas é m = 0,229 nA/μM. (a) Determine os limites de detecção do sinal e a concentração mínima detectável. (b) Qual é a concentração do analito em uma amostra que deu um sinal de 7,0 nA? Solução (a) Primeiramente calculamos o valor médio para os brancos e o desvio-padrão das amostras. Os algarismos que não são signi cativos devem ser retidos de modo a reduzir erros de arredondamento. Branco: Média = ybranco = 1,26 nA Amostra: Desvio-padrão = s = 0,56 nA O limite de detecção do sinal é obtido da Equação 5-3: yld = ybranco + 3s = 1,26 nA + (3)(0,56 nA) = 2,94 nA A concentração mínima detectável é obtida da Equação 5-5:
(b) Para determinar a concentração de uma amostra cujo sinal é 7,0 nA, utiliza-se a Equação 5-4:
TESTE A VOCÊ MESMO Determine a concentração mínima detectável quando o valor médio dos brancos é 1,05 nA e s = 0,63 nA. (Resposta: 8,3 mM) Outra maneira comum de definir limite de detecção se baseia na equação obtida pelo método dos mínimos quadrados para a curva de calibração: limite inferior de detecção = b + 3sy, em que b é o coeficiente linear e sy é calculado por meio da Equação 420. Descreve-se um procedimento mais rigoroso nas notas deste Capítulo.8
O menor limite de detecção dado na Equação 5-5 é 3s/m, em que s é o desvio-padrão de uma amostra com baixa concentração e m é o coeficiente angular da curva de calibração. O desvio-padrão é uma medida do ruído (variação aleatória) em um branco ou sinal pequeno. Quando o sinal é 3 vezes maior que o ruído ele é prontamente detectável, mas ainda é pequeno demais para uma medida exata. Um sinal dez vezes maior que o ruído é definido como o limite inferior de quantificação, ou a menor quantidade que pode ser medida com exatidão razoável.
O limite de detecção do instrumento é obtido com medidas repetidas (n ≥ 7) de alíquotas de uma amostra. O limite de detecção do método, que é maior do que o limite de detecção do instrumento, é obtido preparando-se pelo menos sete amostras individuais, seguido de análise de cada uma delas.
O símbolo ≡ significa “é definido como”.
O limite de registro é a concentração abaixo da qual as legislações consideram que um determinado analito seja relatado como “não detectado”. “Não detectado” não significa que o analito não foi observado, mas sim que ele se encontra abaixo de um nível previamente estabelecido. Os limites de registro são, pelo menos, 5 a 10 vezes maiores que os limites de detecção, de modo que a detecção do analito no limite de registro não gera ambiguidade. Os rótulos dos alimentos embalados nos Estados Unidos devem indicar quanto de gordura trans está presente. Este tipo de gordura provém principalmente da hidrogenação parcial de óleo vegetal, sendo o principal componente da margarina e da gordura vegetal hidrogenada. O consumo de gordura trans aumenta o risco de doenças do coração, ataques cardíacos e alguns tipos de câncer. O limite de registro para a gordura trans é 0,5 g por porção. Contudo, se a concentração for 1. A constante de equilíbrio é expressa de maneira mais correta como uma razão entre atividades e não entre concentrações. O conceito de atividade é apresentado no Capítulo 8.
Na dedução termodinâmica da constante de equilíbrio, cada grandeza na Equação 6-2 é expressa como a razão entre a concentração de uma espécie e a sua concentração no estado-padrão. Para solutos, o estado-padrão é 1 M. Para gases, o estadopadrão é 1 bar (≡ 105 Pa; 1 atm ≡ 1,013 25 bar) e, para sólidos e líquidos, os estados-padrão são o sólido ou o líquido puro. Subentende-se que o termo [A] na Equação 6-2 realmente significa [A]/(1 M), se A for um soluto. Se D for um gás, [D] realmente significa (pressão de D em bar)/(1 bar). Para enfatizar que [D] significa a pressão de D, geralmente escrevemos PD no lugar de [D]. Os termos da Equação 6-2 são, na realidade, adimensionais. Portanto, todas as constantes de equilíbrio são adimensionais. Para que as razões [A]/(1 M) e [D]/(1 bar) sejam adimensionais, [A] deve ser expressa em número de mols por litro (M), e [D] deve ser expressa em bar. Se C fosse um líquido ou sólido puro, a razão [C]/(concentração de C no seu estado-padrão) seria igual a unidade (1), pois o estado-padrão é o sólido ou o líquido puro. Se [C] é um solvente, a concentração é tão próxima à do líquido C puro, que o valor de [C] é essencialmente 1. Constantes de equilíbrio são grandezas adimensionais.
Uma lição a ser aprendida é: Quando você calcular uma constante de equilíbrio: 1. As concentrações dos solutos devem ser expressas em número de mols por litro. 2. As concentrações dos gases devem ser expressas em bar. 3. As concentrações dos sólidos puros, dos líquidos puros e dos solventes são omitidas porque elas são iguais a um.
Essas convenções são arbitrárias, mas devem ser respeitadas caso se usem, em cálculos, valores tabelados de constantes de equilíbrio, potenciais-padrão de redução e energias livres. As constantes de equilíbrio são adimensionais. Entretanto, quando especificamos concentrações, devemos expressá-las em molaridade (M) para os solutos e em bar para gases.
Cálculo de Constantes de Equilíbrio Considere a reação Neste livro, a menos que exista uma especificação contrária, consideramos que todas as espécies presentes em equações químicas estão em solução aquosa.
Se o sentido da reação for invertido, o novo valor de K é simplesmente o inverso do valor original de K. Constante de equilíbrio para a reação inversa:
Se duas reações são adicionadas, o novo valor de K é igual ao produto dos dois valores individuais:
Constante de equilíbrio para a soma de reações:
Se a reação ocorrer no sentido inverso, K′ = 1/K. Se duas reações são adicionadas, então K3 = K1K2.
Se n reações são adicionadas, a constante de equilíbrio global é o produto das n constantes de equilíbrio individuais.
EXEMPLO
Combinando Constantes de Equilíbrio
A constante de equilíbrio para a reação H2O ⇌ H+ + OH– é denominada Kw (= [H+][OH–]) e possui o valor de 1,0 × 10–14, a 25°C. Dado que KNH3 = 1,8 × 10–5 para a reação NH3(aq) + H2O ⇌ NH4+ + OH–, determine a constante de equilíbrio para a reação NH4+ ⇌ NH3(aq) + H+ Solução A terceira reação pode ser obtida invertendo-se o sentido da segunda reação e adicionando-se esta reação invertida à primeira reação:
TESTE A VOCÊ MESMO Para a reação Li+ + H2O ⇌ Li(OH)(aq) + H+, KLi = 2,3 × 10–14. Combine essa equação com a reação de Kw para determinar a constante de equilíbrio para a reação Li1 + OH2 ⇌ Li(OH)(aq). (Resposta: 2,3) 6-2
Equilíbrio e Termodinâmica
O equilíbrio é controlado pela termodinâmica de uma reação química. O calor absorvido ou desprendido pela reação (entalpia) e a dispersão de energia por meio dos movimentos moleculares (entropia) contribuem independentemente para o grau de favorecimento ou desfavorecimento da reação. Entalpia A variação de entalpia, ΔH, para uma reação é o calor absorvido ou desprendido quando a reação se passa a uma pressão constante.5 A variação de entalpia-padrão, ΔH°, refere-se ao calor absorvido ou desprendido quando todos os reagentes e produtos estão em seus estados-padrão:*
ΔH = (+) Absorção de calor Processo endotérmico ΔH = (–) Desprendimento de calor Processo exotérmico
O sinal negativo de ΔH° indica que calor é desprendido pela Reação 6-3 – a solução torna-se mais quente. Em algumas reações, o valor de ΔH é positivo indicando que o calor é absorvido pela reação. Consequentemente, a solução se torna mais fria durante a reação. Uma reação em que o valor de ΔH é positivo é denominada endotérmica. Quando o valor de ΔH é negativo, a reação é denominada exotérmica. Entropia Quando uma transformação química ou física ocorre de forma reversível † a uma temperatura constante, a variação de entropia, ΔS, é igual ao calor absorvido (qrev) dividido pela temperatura (T):
Um valor de q positivo indica que calor é absorvido pelo sistema Um valor de q negativo indica que calor é removido do sistema
Considere um recipiente fechado em equilíbrio, contendo água líquida, gelo e vapor d’água a 237,16 K. Se um pouco de calor entra no recipiente a partir do fluido mais quente que circunda o recipiente, um pouco de gelo funde e a temperatura permanece em 273,16 K. O calor absorvido quebra algumas ligações de hidrogênio entre moléculas adjacentes de água no cristal e aumenta a translação e a energia cinética vibracional das moléculas que passam de sólido para líquido. (Translação significa o movimento da molécula inteira no espaço.) A variação de entropia dos componentes do recipiente, dada pela Equação 6.4, é igual ao calor absorvido dividido pela temperatura. Se o calor absorvido é 0,10 J, a variação de entropia é ΔS = qrev/T = (0,10 J)/(273,16 K) = 0,000 37 J/K. A variação de entropia é a quantidade de energia a uma dada temperatura, que é dispersa nos movimentos das moléculas no sistema.** Para uma transformação irreversível, ΔS pode ser encontrada a partir de um caminho reversível entre os mesmos estados inicial e final. As entropias inicial e final dependem do estado do sistema, e não como ele passa de um estado para o outro. Em princípio, a entropia-padrão, S°, de um mol de uma substância pode ser determinada aquecendo-a suavemente a partir do zero absoluto (na qual não há entropia). Para cada pequena adição de calor, qrev, à temperatura T, ocorre uma pequena variação de temperatura, ΔT. Para cada pequena etapa no processo, a variação de entropia qrev/T é calculada. A soma dessas pequenas variações de entropia necessárias para aquecer a substância de 0 a 298,15 K a uma pressão de 1 bar é chamada entropia-padrão, S°, da substância. Observe que 298,15 K = 25,00ºC.
Um líquido possui uma entropia maior do que o mesmo material no estado sólido porque é necessário calor para separar as moléculas que são atraídas entre si no sólido e para aumentar a energia cinética de translação, rotação e vibração das moléculas no líquido. Um gás possui uma entropia maior do que um líquido porque é necessário calor para separar as moléculas que são atraídas entre si no líquido e para elevar a energia cinética de translação, rotação e vibração das moléculas no gás. Os íons em solução aquosa normalmente apresentam uma entropia maior do que no seu sal sólido:
ΔS° é a variação de entropia (entropia dos produtos menos a entropia dos reagentes) quando todas as espécies estão em seus respectivos estados-padrão. O valor positivo de ΔS° indica que um mol de K+(aq) mais um mol de Cl–(aq) tem mais dispersão de energia na translação, rotação e vibração das espécies em solução do que na translação, rotação e vibração dos íons em um cristal de KCl(s). Para a Reação 6-3, KCl(g) ⇌ H+ (aq) + Cl–(aq), ΔS° é negativo [–130,4 J/K × mol] a 25ºC. Os íons em solução aquosa têm menos dispersão de energia nas translações, rotações e vibrações do que o HCl gasoso. ΔS = (+) Os produtos têm maior entropia que os reagentes ΔS = (–) Os produtos têm menor entropia que os reagentes
Energia Livre Sistemas a temperatura e pressão constantes, condições comuns em laboratório, tendem a um estado com menor entalpia e maior entropia. Uma reação química é favorecida no sentido da formação dos produtos por um valor negativo de ΔH (desprendimento de calor), ou por um valor positivo de ΔS (maior desordem), ou por ambos. Quando ΔH é negativa e ΔS é positiva, a reação é claramente favorecida. Quando ΔH é positiva e ΔS é negativa, é claramente desfavorecida. Quando ΔH e ΔS são ambas positivas, ou ambas negativas, o que decide se a reação será favorecida? A variação de energia livre de Gibbs, ΔG, é o que decide entre as tendências opostas de ΔH e ΔS. A uma temperatura constante, T, Energia livre:
Uma reação é favorecida se ΔG for negativa. Para a dissociação do HCl em seus íons (Reação 6-3), quando todas as espécies estão em seus estados-padrão, ΔH° favorece a reação e ΔS° a desfavorece. Para determinarmos o resultado efetivo, temos de calcular o valor de ΔG°:
O valor de ΔG° é negativo, de modo que, a reação é favorecida quando todas as espécies estão em seus respectivos estadospadrão. Nesse caso, a influência favorável de ΔH° é maior que a influência desfavorável de ΔS°. Para atingir o equilíbrio, a reação começa se movendo a partir da sua condição inicial na direção de DG negativo até que ela atinge a energia livre mínima do sistema, quando então a posição de equilíbrio foi alcançada.6 O conceito de energia livre permite relacionar a constante de equilíbrio com o balanço energético (ΔH° e ΔS°) de uma reação. A constante de equilíbrio para uma reação depende de ΔG° da seguinte maneira: Energia livre e equilíbrio:
Desa o Procure se convencer de que K > 1 se ΔG° for negativa. em que R é a constante dos gases [= 8,314 = J/(K·mol)] e T é a temperatura (em Kelvin). Quanto mais negativo for o valor de ΔG°, maior será o valor da constante de equilíbrio. Para a Reação 6-3, 3
K = e–(–35,97 × 10
J/mol)/[8,314 472 J/(K · mol)](298,15 K)
= 2,00 × 106
Como a constante de equilíbrio é grande, o HCl(g) é muito solúvel em água e se dissocia quase completamente em H+ e Cl– quando se dissolve. Resumindo, uma reação química é favorecida pelo desprendimento de calor (ΔH negativa) e pelo aumento da entropia (ΔS positiva). O valor de ΔG leva em conta esses dois efeitos para determinar se uma reação é ou não favorecida. Dizemos que uma reação é espontânea em condições-padrão se ΔG° é negativa ou, de forma equivalente, se K > 1. A reação não é espontânea se ΔG° for positiva (K < 1). Devemos ser capazes de calcular K a partir de ΔG° e vice-versa. ΔG = (+) K < 1 A reação é desfavorecida ΔG = (–)
K>1
A reação é favorecida
O Princípio de Le Châtelier Suponha que um sistema em equilíbrio seja submetido a um processo que o perturba. O princípio de Le Châtelier estabelece que o sentido que o sistema avança de volta para o equilíbrio é aquele que permite que a perturbação seja parcialmente compensada. Para compreendermos melhor o significado dessa afirmação, vejamos o que acontece quando variamos a concentração de uma das espécies presentes na seguinte reação:
Observe que a presença de H2O foi omitida nas expressões de K, pois ela é o solvente.
Em um estado particular de equilíbrio desse sistema, os constituintes estão presentes nas seguintes concentrações: [H+] = 5,0 M, [Cr2O72–] = 0,10 M, [Cr3+] = 0,003 M, [Br–] = 1,0 M, e [BrO3–] = 0,043 M. Suponha que o equilíbrio seja perturbado pela adição de dicromato à solução para aumentar [Cr2O72–] de 0,10 para 0,20 M. Em que sentido a reação avançará para restabelecer o equilíbrio? De acordo com o princípio de Le Châtelier, a reação deverá se deslocar para a esquerda a fim de compensar o aumento da concentração de dicromato, que aparece no lado direito da Reação 6-8. Podemos verificar esse comportamento algebricamente estabelecendo o quociente de reação, Q, que tem a mesma forma da constante de equilíbrio. A única diferença é que Q é calculado para qualquer concentração presente, mesmo que a solução não esteja em equilíbrio. Quando o sistema atingir o equilíbrio, Q = K. Para a Reação 6-8, podemos escrever: O quociente de reação é expresso da mesma maneira que a constante de equilíbrio, mas as concentrações presentes não são normalmente iguais às concentrações de equilíbrio.
Como Q > K, a reação deve se deslocar para a esquerda, para diminuir o numerador e aumentar o denominador, até que Q = K. Se Q < K, a reação se desloca para a direita para atingir o equilíbrio. Se Q > K, a reação se desloca para a esquerda para atingir o equilíbrio.
1. Se a reação está em equilíbrio e são adicionados produtos (ou são removidos reagentes), a reação se desloca para a esquerda. 2. Se a reação está em equilíbrio e são adicionados reagentes (ou são removidos produtos), a reação se desloca para a direita.
Quando se varia a temperatura de um sistema, o valor da constante de equilíbrio também muda. As Equações 6-6 e 6-7 podem ser combinadas de modo a prever o efeito da temperatura em K: e(a + b) = ea · eb
O termo eΔS°/R é independente de T (pelo menos no intervalo limitado de temperatura no qual ΔSº é constante). O termo e–ΔH°/RT aumenta com o aumento da temperatura se ΔH° for positiva e diminui se ΔH° for negativa. Portanto, 1. A constante de equilíbrio de uma reação endotérmica (ΔH° = +) aumenta se a temperatura se eleva. 2. A constante de equilíbrio de uma reação exotérmica (ΔH° = –) diminui se a temperatura se eleva.
Essas afirmações podem ser compreendidas em termos do princípio de Le Châtelier, conforme vemos a seguir. Consideremos a seguinte reação endotérmica: Calor + reagentes ⇌ produtos Em uma reação endotérmica, o calor pode ser tratado como um reagente e no caso de uma reação exotérmica, como um produto.
Se a temperatura é aumentada, significa que está sendo adicionado calor ao sistema. Consequentemente, a reação se desloca para a direita de modo a compensar parcialmente a variação de temperatura.7 Ao considerarmos problemas de equilíbrio, estamos fazendo previsões termodinâmicas e não cinéticas. Ou seja, calculamos o que tem de acontecer para um sistema alcançar o equilíbrio, mas não quanto tempo ele levará para isso. Algumas reações podem ser consideradas como instantâneas, enquanto outras não atingem o equilíbrio em milhões de anos. Por exemplo, a dinamite permanece inalterada indefinidamente até que uma faísca desencadeie a sua decomposição espontânea e explosiva. O valor de uma constante de equilíbrio não diz nada a respeito da velocidade (da cinética) da reação. Uma constante de equilíbrio grande não significa que a reação correspondente seja rápida.
6-3
Produto de Solubilidade
Na análise química a questão da solubilidade é encontrada em titulações por precipitação, células eletroquímicas de referência e análise gravimétrica. O efeito de ácidos na solubilidade de minerais e o efeito do CO2 atmosférico na solubilidade (e morte) de recifes de corais e no plâncton são importantes para as ciências ambientais. O produto de solubilidade é a constante de equilíbrio para a reação no qual um sal sólido se dissolve, liberando os seus íons constituintes em solução. Nesta constante de equilíbrio a concentração do sólido é omitida, pois este está em seu estado-padrão. O Apêndice F deste livro apresenta o valor de alguns produtos de solubilidade. Como exemplo, consideremos a dissolução do cloreto de mercúrio(I) (Hg2Cl2, também chamado de cloreto mercuroso) em água. A reação é:
para qual o produto de solubilidade Kps é
Quando uma solução contém excesso de sólido não dissolvido, dizemos ela está saturada por esse sólido. A solução contém todo o sólido que consegue se dissolver nas condições presentes.
O íon mercuroso, Hg22+, é um dímero, o que signi ca que ele é formado por duas unidades idênticas ligadas entre si:
Ânions como OH–, S2– e CN– estabilizam o íon Hg(II), convertendo o Hg(I) em Hg(0) e Hg(II):
Desproporcionamento é o processo em que um elemento em um número de oxidação intermediário dá origem a produtos que têm um número de oxidação maior e um número de oxidação menor. O significado físico do produto de solubilidade é o seguinte: se uma solução aquosa é deixada em contato com excesso de Hg2Cl2 sólido, o sólido se dissolverá até que a condição [Hg22+][Cl–]2 = Kps seja satisfeita. A partir desse momento, a quantidade de sólido não dissolvido permanece constante. A menos que o excesso de sólido permaneça em contato com a solução, não há garantia de que [Hg22+][Cl–]2 = Kps. Se Hg22+ e Cl– são misturados (com contraíons apropriados), de modo que o produto [Hg22+] [Cl–]2 exceda o valor de Kps, teremos então a precipitação de Hg2Cl2. Normalmente, usamos o produto de solubilidade para determinar a concentração de um íon quando a concentração do outro é conhecida ou fixada de alguma maneira. Por exemplo, qual é a concentração de Hg22+ em equilíbrio com Cl– 0,10 M em uma solução de KCl contendo excesso de Hg2Cl2(s) não dissolvido? Para responder a essa pergunta, rearranjamos a Equação 6-11 para encontrar:
Como o Hg2Cl2 é muito pouco solúvel, a quantidade adicional de Cl– obtida do Hg2Cl2 é desprezível comparada com a concentração de 0,10 M de Cl–. O produto de solubilidade não nos dá informações completas sobre a solubilidade dos sais. Além das complicações descritas no Boxe 6-1, a maioria dos sais forma pares iônicos solúveis em quantidades consideráveis. Ou seja, o sal MX(s), pode produzir MX(aq) assim como M+(aq) e X– (aq). Em uma solução saturada de CaSO4, por exemplo, dois terços do cálcio dissolvido são formados por Ca2+ e um terço é CaSO4(aq).8 O par iônico CaSO4(aq) é um par de íons com associação considerável, que se comporta como uma espécie única em solução. O Apêndice J e o Boxe 8-1 apresentam informações sobre os pares iônicos.9 Um sal é qualquer sólido iônico, como o Hg2Cl2 ou o CaSO4.
O Efeito do Íon Comum Para a reação de solubilização iônica
o produto [Ca2+][ SO42–] é constante no equilíbrio na presença de excesso de CaSO4 sólido. Se a concentração de Ca2+ for aumentada pela adição de outra fonte de Ca2+, tal como CaCl2, a concentração de SO42– deve diminuir para que o produto [Ca2+] [SO42–] permaneça constante. Em outras palavras, uma quantidade menor de CaSO4(s) se dissolverá caso Ca2+ ou SO42– já estejam presentes na solução, oriundos de outra fonte. A Figura 6-1 mostra como a solubilidade de CaSO4 diminui na presença de CaCl2 dissolvido.
BOXE 6-1
A Solubilidade Não Depende Só do Produto de Solubilidade
Se queremos saber quanto Hg22+ é dissolvido em uma solução saturada de Hg2Cl2, somos levados a olhar a Reação 6-10 e observar que dois íons Cl– são produzidos para cada íon Hg22+. Se a concentração de Hg22+ dissolvido for x, a concentração de Cl– dissolvido deverá ser 2x. Substituindo esses valores na expressão do produto de solubilidade, Equação 6-11, poderíamos escrever Kps = [Hg22+][Cl–]2 = (x)(2x)2 e encontraríamos [Hg22+] = x = 6,7 × 10–7 M. Entretanto, essa resposta é incorreta porque deixamos de considerar outras reações relevantes, tais como
Essas reações levam à dissolução de mais Hg2Cl2 do que o previsto apenas com base no Kps. Necessitamos, portanto, conhecer todas as reações químicas relevantes para calcular a solubilidade de um composto químico. DEMONSTRAÇÃO 6-1
Efeito do Íon Comum10,11
Inicialmente, enchemos dois tubos de ensaio grandes, até um terço de sua capacidade, com uma solução saturada de KCl, tendo o cuidado de que não exista sólido em excesso dentro dos tubos. A solubilidade do KCl, à temperatura ambiente, é de aproximadamente 3,7 M. Portanto, o produto de solubilidade (ignorando-se os efeitos da atividade, que serão apresentados mais tarde) é Kps ≈ [K+][Cl–1] = (3,7)(3,7) = 13,7 A seguir, adicionamos um terço de um tubo de ensaio de HCl 6 M a um dos tubos e o mesmo volume de HCl 12 M ao outro. Embora o mesmo íon comum, Cl–, tenha sido adicionado em ambos os casos, o KCl precipitará em apenas um dos tubos. Para compreender essa observação, calcule as concentrações de K+ e Cl– em cada tubo após a adição de HCl. A seguir, determine o quociente de reação, Q = [K+][Cl–], para cada tubo. Explique suas observações.
FIGURA 6-1 Solubilidade do CaSO4 em soluções contendo CaCl2 dissolvido. A solubilidade é expressa como sulfato total dissolvido, o que significa os íons SO42– livres e o par iônico CaSO4(aq). [Dados obtidos de W.B. Guenther, Unified Equilibrium Calculations (Nova Iorque: Wiley, 1991).]
FIGURA 6-2 O sólido amarelo, iodeto de chumbo(II) (PbI2), precipita quando uma solução incolor de nitrato de chumbo (Pb(NO3)2) é adicionada a uma solução incolor de iodeto de potássio (KI). [© 1989 Chip Clark – Fundamental Photographs]
Essa aplicação do princípio de Le Châtelier é conhecida como efeito do íon comum. A solubilidade de um sal diminui se um de seus íons constituintes já estiver presente na solução. Efeito do íon comum: Um sal se torna menos solúvel em um meio se um dos íons provenientes de sua dissociação já estiver presente em solução. A Demonstração 6-1 ilustra o efeito de íon comum.
Separação por Precipitação Às vezes podemos separar um determinado íon de outros por meio de reações de precipitação.12 Por exemplo, considere uma solução contendo íons chumbo(II) (Pb2+) e íons mercúrio(I) (Hg22+), cada um deles na concentração de 0,010 M. Esses íons
formam iodetos insolúveis (Figura 6-2), mas o iodeto de mercúrio(I) é consideravelmente menos solúvel, como indicado pelo seu menor valor de Kps:
O menor valor de Kps implica uma menor solubilidade do Hg2I2 porque as estequiometrias das duas reações são as mesmas. Se as estequiometrias fossem diferentes, não poderíamos dizer que um Kps menor implicaria em solubilidade.
É possível diminuir a concentração de Hg22+ em 99,990% por precipitação seletiva com I– sem precipitar Pb2+? Estamos perguntando se é possível diminuir a concentração do Hg22+ a 0,010% de 0,010 M = 1,0 × 10–6 M sem precipitar Pb2+. Fazemos o seguinte experimento: Adicionamos I– em quantidade suficiente para precipitar 99,990% do Hg22+, considerando que todo o I– adicionado reage com o Hg22+ e nenhum I– reage com o Pb2+. Para sabermos se algum Pb2+ precipitaria, precisamos saber a concentração de I– que permanece em solução em equilíbrio com o Hg2I2(s) precipitado mais o Hg22+ que não reagiu (1,0 × 10–6 M).
Essa concentração de I– provocará a precipitação do Pb2+ 0,010 M? Isto é, o produto de solubilidade do PbI2 é excedido?
O quociente de reação, Q = 4,6 × 10–25, é menor que o Kps para o PbI2 = 7,9 × 10–9. Portanto, o Pb2+ não precipitará e a separação entre o Pb2+ e o Hg22+ é factível. Dessa forma, é previsto que a adição de I– à solução de Pb2+ e Hg22+ irá precipitar praticamente todo o Hg22+ antes que algum Pb2+ precipite. Infelizmente, nem tudo é tão simples assim! Fizemos apenas uma previsão de natureza termodinâmica. Se o sistema atinge o equilíbrio, podemos conseguir a separação desejada. Entretanto, ocasionalmente, pode ocorrer a coprecipitação de uma substância com a outra. Na coprecipitação, uma substância cuja solubilidade ainda não ultrapassou sua solubilidade precipita conjuntamente com outra que, por sua vez, ultrapassou sua solubilidade. Por exemplo, algum Pb2+ poderá adsorver-se na superfície do cristal de Hg2I2 ou poderá ocupar espaços dentro do cristal. Nosso cálculo diz que vale a pena tentarmos a separação. Entretanto, somente um experimento pode mostrar se a separação irá realmente ocorrer.
Pergunta Caso queiramos saber se uma pequena quantidade de Pb2+ coprecipita com Hg2I2, devemos medir a concentração do Pb2+ na água-mãe (a solução) ou no precipitado? Qual dessas medidas é mais sensível? “Sensível”, nesse caso, signi ca ser capaz de identi car uma coprecipitação em pequena escala. (Resposta: Devemos medir a concentração de Pb2+ no precipitado.) 6-4
Formação de Complexos
Se o ânion X2 precipita o metal M1, observa-se muitas vezes que altas concentrações de X2 fazem com que o sólido MX volte a se dissolver. O aumento da solubilidade advém da formação de íons complexos, tal como MX22, que consiste na ligação de dois ou mais íons simples entre si. Ácidos e Bases de Lewis Em íons complexos, como PbI+, Pb3– e Pb42–, o íon iodeto, I–, é denominado um ligante do íon Pb2+. Um ligante é um átomo, ou um grupo de átomos, ligados à espécie de interesse. Dizemos que o Pb2+ age como um ácido de Lewis e o I– age como uma base de Lewis nesses complexos. Um ácido de Lewis aceita um par de elétrons proveniente de uma base de Lewis quando os dois formam uma ligação:
O produto da reação entre um ácido de Lewis e uma base de Lewis chama-se um aduto. A ligação formada entre um ácido de Lewis e uma base de Lewis é uma ligação dativa ou uma ligação covalente coordenada. Efeito da Formação de Íons Complexos na Solubilidade13 Se os íons Pb2+ e I– somente reagissem entre si apenas para formar PbI2 sólido, então a solubilidade do Pb2+ seria sempre muito baixa na presença de excesso de I–:
No entanto, observa-se que altas concentrações de I– causam a dissolução do PbI2 sólido. Podemos explicar esse fato pela formação de uma série de íons complexos:
A notação para tais constantes de equilíbrio é discutida no Boxe 6-2.
A espécie PbI2(aq) na Reação 6-14 é o PbI2 dissolvido, com dois átomos de iodo ligados a um átomo de chumbo. A Reação 6-14 não é o inverso da Reação 6-12, que se refere ao PbI2 sólido.
BOXE 6-2
Notação para Constantes de Formação
Constantes de formação são constantes de equilíbrio para a formação de íons complexos. As constantes de formação das etapas, representadas por Ki, são de nidas como se segue:
As constantes de formação globais, ou cumulativas, são representadas por βi:
Uma relação útil entre essas constantes é que βn = K1K2 … Kn. Algumas constantes de formação podem ser encontradas no Apêndice I.
FIGURA 6-3 A solubilidade total do chumbo(II) (curva em que os pontos estão representados por círculos) e a solubilidade de cada espécie individualmente (linhas retas) em função da concentração de iodeto livre. À esquerda do mínimo, [Pb]total é controlada pelo produto de solubilidade do PbI2(s). Quando [I–] aumenta, a [Pb]total diminui em razão de ao efeito do íon comum. Em valores altos de [I–], o PbI2(s) se redissolve por causa de sua reação com I–, formando íons complexos solúveis, tais como PbI42–. Observe as escalas logarítmicas. A solução é levemente acidulada de modo que a [PbOH+] é desprezível.
Em baixas concentrações de I–, a solubilidade do chumbo depende da precipitação do PbI2(s). No entanto, em altas concentrações de I–, as Reações 6-13 a 6-16 se deslocam para a direita (princípio de Le Châtelier), e a concentração total do chumbo dissolvido é consideravelmente maior do que a concentração de Pb2+ livre (Figura 6-3). A característica mais útil do equilíbrio químico é que todos os equilíbrios são satisfeitos simultaneamente. Se conhecermos a concentração de I–, podemos calcular a concentração de Pb2+ substituindo o valor de [I–] na expressão da constante de equilíbrio para a Reação 6-12, independentemente de haver ou não outras reações envolvendo o íon Pb2+. A concentração de Pb2+ que satisfaz qualquer um dos equilíbrios deve satisfazer todos os equilíbrios do sistema. Só pode existir uma única concentração de Pb2+ na solução.
EXEMPLO
Efeito do I– na Solubilidade do Pb2+
Determine as concentrações das espécies PbI+, PbI2(aq), PbI3– e PbI42– em uma solução saturada com PbI2(s), contendo I– na concentração de (a) 0,001 0 M e (b) 1,0 M. Solução (a) A partir da expressão de Kps para a Reação 6-12, calculamos [Pb2+] = Kps[I–]2 = (7,9 × 10–9)/(0,001 0)2 = 7,9 × 10–3 M A partir das Reações 6-13 a 6-16, podemos calcular as concentrações das outras espécies que contêm chumbo:
(b) Se usarmos [I–] = 1,0 M, então cálculos análogos mostram que
Pb2+ é a espécie dominante quando [I–] = 0,001 0 M. PbI42– é a espécie dominante quando [I–] = 1,0 M.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine [Pb2+], [PbI2(aq)] e [PbI32] em uma solução saturada de PbI2(s) com [I–] = 0,10 M. (Resposta: 7,9 × 10–7, 1,1 × 10– 5 , 6,6 × 10–6 M) A concentração total de chumbo dissolvido no exemplo anterior é
Quando [I–] = 10–3 M, [Pb]total = 8,7 × 10–3 M, dos quais 91% são Pb2+. Quando [I–] aumenta, [Pb]total diminui por efeito do íon comum na Reação 6-12. Porém, uma concentração de I– suficientemente alta faz com que se inicie a formação de complexos e o [Pb]total aumenta na Figura 6-3. Quando [I–] = 1,0 M, [Pb]total = 3,2 × 10–4 M, dos quais 76% é PbI42–. As Constantes de Equilíbrio Tabeladas Não São Geralmente “Constantes” Se procurarmos em dois livros diferentes o valor da constante de equilíbrio de uma reação química, há uma grande chance que os valores encontrados sejam diferentes (algumas vezes por um fator de 10 ou mais).14 Essa discrepância acontece porque o valor da constante pode ter sido determinado em condições diferentes e, talvez, usando técnicas diferentes. O efeito de íons presentes em solução nos equilíbrios químicos é o assunto do Capítulo 8.
Uma fonte comum de variação nos valores publicados de K é a composição iônica da solução. Observe se o valor de K é publicado para uma determinada composição iônica (por exemplo, NaClO4 1 M) ou se o valor de K foi obtido pela extrapolação para uma concentração iônica zero. Se precisarmos usar uma constante de equilíbrio em determinado trabalho, escolheremos um valor de K que tenha sido medido nas condições mais próximas daquelas que iremos usar.
6-5
Ácidos e Bases Próticos
A compreensão do comportamento dos ácidos e das bases é essencial para todas as áreas da ciência que tenham algo a ver com a química. Em química analítica, devemos quase sempre levar em conta o efeito do pH em reações analíticas envolvendo formação de complexos ou reações de oxirredução. O pH pode afetar a conformação e as cargas das moléculas – fatores que ajudam na determinação de quais moléculas podem ser separadas de outras em cromatografia e eletroforese e quais moléculas serão detectadas em alguns tipos de espectrometria de massa. Na química em meio aquoso um ácido é definido como uma substância que, quando adicionada à água, aumenta a concentração de H3O+ (íon hidrônio). Ao contrário, uma base diminui a concentração de H3O+. Veremos que uma diminuição da concentração de H3O+ requer, necessariamente, um aumento na concentração de OH–. Consequentemente, a presença de uma base aumenta a concentração de OH– em solução aquosa. A palavra prótico refere-se à transferência química de H+ de uma molécula para outra. A espécie H+ é também chamada de próton, pois é a espécie que resulta quando um átomo de hidrogênio perde seu elétron. O íon hidrônio, H3O+, é a combinação do H+ com H2O. Embora H3O+ seja uma representação mais precisa do que H+ para o íon hidrogênio em solução aquosa, iremos usar neste livro, sem distinção, as representações H3O+ e H+. Vamos escrever H+ quando quisermos realmente escrever H3O+. Ácido de Brønsted-Lowry: doador de prótons Base de Brønsted-Lowry: receptor de prótons
J. N. Brønsted (1879-1947), da Universidade de Copenhague, e T. M. Lowry (1874-1936), da Universidade de Cambridge, publicaram de forma independente, em 1923, as suas definições de ácidos e bases.
Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry Brønsted e Lowry classificaram os ácidos como doadores de prótons e as bases como receptores de prótons. O HCl é um ácido (doador de próton) e, por isso, aumenta a concentração de H3O+ na água: HCl + H2O ⇌ H3O+ + Cl– A definição de Brønsted-Lowry não requer que o H3O+ seja formado. Essa definição pode, portanto, ser estendida a solventes não aquosos e igualmente para a fase gasosa:
Ao longo deste livro, quando falarmos em ácidos e bases estaremos falando de ácidos e bases de Brønsted-Lowry. Sais Qualquer sólido iônico, como o cloreto de amônio, é chamado de sal. Em um sentido formal, um sal pode ser pensado como o produto de uma reação ácido-base. Quando um ácido e uma base reagem, dizemos que eles se neutralizam. A maioria dos sais, que contêm cátions e ânions, que têm a carga positiva +1 ou negativa –1, são eletrólitos fortes, ou seja, em soluções aquosas diluídas, eles se dissociam em íons de forma praticamente completa. Desse modo, o cloreto de amônio em solução aquosa produz NH4+ e Cl–:
Ácidos e Bases Conjugados Os produtos de uma reação entre um ácido e uma base também são classificados como ácidos e bases:
Ácidos e bases conjugados estão relacionados pelo ganho ou pela perda de um próton. Nessas estruturas, a cunha sólida representa uma ligação vinda de cima do plano do papel e a cunha tracejada uma ligação vinda de baixo do plano do papel.
O íon acetato é uma base, pois pode aceitar um próton formando o ácido acético. O íon metilamônio é um ácido, pois pode doar um próton formando a metilamina, uma base. Dizemos que o ácido acético e o íon acetato são um par ácido-base conjugado. A metilamina e o íon metilamônio são também um par conjugado. Ácidos e bases conjugados estão relacionados entre si pelo ganho ou pela perda de um H+. A Natureza do H+ e do OH– É certo que o próton não existe sozinho em água. A fórmula mais simples encontrada em alguns sais cristalinos é H3O+. Por exemplo, cristais de ácido perclórico monoidratados contêm íons hidrônio piramidal (também chamadas de hidroxônio):
A fórmula HClO4 · H2O é uma maneira de especificar a composição de uma substância, quando não conhecemos a sua estrutura. Uma fórmula mais exata seria H3O+ClO4–. As dimensões médias do cátion H3O+ em vários cristais são mostradas na Figura 6-4. Em solução aquosa, o H3O+ está firmemente associado a três moléculas de água por ligações de hidrogênio excepcionalmente fortes (Figura 6-5). O cátion H5O2+ é outra espécie simples na qual o íon hidrogênio é compartilhado por duas moléculas de água.17,18
FIGURA 6-4 Estrutura típica do íon hidrônio, H3O+, proposta por M. Eigen, e encontrada em vários cristais.15 A entalpia de ligação (calor necessário para romper a ligação) da ligação O—H do H3O+ é 544 kJ/mol, cerca de 84 kJ/mol maior que a entalpia da ligação O—H na H2O.
Em fase gasosa, o íon H3O+ pode estar envolvido por 20 moléculas de H2O juntas por 30 ligações de hidrogênio formando um dodecaedro regular.19 Em um sal contendo o cátion discreto (C6H6)3H3O+, e em solução de benzeno, cada um dos átomos de hidrogênio do íon H3O+ piramidal é atraído na direção do centro da nuvem de elétrons pi de um anel benzênico (Figura 6-6).
FIGURA 6-5 Ambiente do H3O+ aquoso.15 Três moléculas de água estão ligadas ao H3O+ por fortes ligações de hidrogênio (linhas pontilhadas), e uma H2O (no alto) é mantida por atrações íon-dipolo fracas (linha tracejada). A distância da ligação de hidrogênio O —H···O é 252 pm (picômetros, 10–12 m) é comparável com a distância O—H···O, 283 pm, entre as ligações de hidrogênio em moléculas de água. O cátion (H2O)3H3O+, encontrado em alguns cristais, tem uma estrutura semelhante a do (H2O)4H3O+, com a remoção da H2O fracamente ligada no topo.16
FIGURA 6-6 O cátion H3O+ × 3C6H6 encontrado na estrutura cristalina do [(C6H6)3H3O+][CHB11Cl11–]. [Dados de E. S. Stoyanov, K.-C. Kim e C. A. Reed, “The Nature of the H3O+ Hydronium Ion in Benzene and Chlorinated Hydrocarbon Solvents”, J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 1948.]
O íon H3O22 (OH– · H2O) foi analisado por cristalografia de raios X.–0 A ligação central O···H···O contém a menor ligação de hidrogênio envolvendo H2O que já foi observada.
Em solução aquosa de HCl, o emparelhamento iônico entre H3O+ e Cl– é detectável em uma concentração de ~6 m (molal). Em HCl 16,1 m, todos os íons H3O+ estão emparelhados com íons Cl– (Figura 6.7). Existe uma combinação de aproximadamente seis estruturas de Eigen (H3O+) e de Zundel (H5O2+) mais um H2O em torno de cada íon Cl–. O comprimento da ligação de hidrogênio entre Cl–···H+ é reduzido de 223 pm no Cl–···H2O para 160 pm no Cl–···H3O+. Uma solução de HCl 16,1 m contém 16,1 moles de HCl por kg de H2O. Qual é a razão molar entre HCl e H2O? (Resposta: 16,1:55,5 = 1:3,45)
Geralmente vamos escrever H+ na maioria das equações químicas, embora na verdade queiramos representar o H3O+. Para enfatizar a química da água, iremos escrever H3O+. Por exemplo, a água pode ser tanto um ácido quanto uma base. A água é um ácido em relação ao íon metóxido:
Porém, em relação ao brometo de hidrogênio, a água é uma base:
FIGURA 6-7 Estruturas dos pares iônicos Cl–···H3O+ e Cl– ··· H5O2+ em solução aquosa concentrada de HCl. Cada íon Cl– é circundado por aproximadamente seis moléculas (H2O + H3O+ + H5O2+), sendo apenas algumas delas mostradas na figura. [Dados de: J.L. Fulton and M. Balasubramanian, “Structure of Hydronium (H3O+)/Chloride (Cl–) Contact Ion Pairs in Aqueous Hydrochloric Acid Solution”, J. Am. Chem. Soc. 2010, 132, 12597.]
Autoprotólise A água sofre autoionização, conhecida como autoprotólise, na qual ela age tanto como um ácido, quanto uma base:
ou
As Reações 6-17a e 6-17b têm o mesmo significado. Os solventes próticos possuem um íon H+ reativo e todo solvente prótico sofre autoprotólise. Um exemplo é o ácido acético: Exemplos de solventes próticos (o próton ácido está em negrito):
Exemplos de solventes apróticos (sem prótons ácidos):
A extensão dessas reações é muito pequena. As constantes de autoprotólise (constante de equilíbrio) para as Reações 6-17 e 6-18 são, respectivamente, 1,0 × 10–14 e 3,5 × 10–15, a 25°C.
6-6
pH
A constante de autoprotólise para a água tem o símbolo especial Kw, na qual o subscrito w significa água (do inglês “water”). Lembre-se de que H2O (o solvente) é omitido da constante de equilíbrio. O valor de Kw = 1,0 × 10–14 a 25°C é suficientemente exato para os objetivos deste livro.
Autoprotólise da água:
A Tabela 6-1 mostra como Kw varia com a temperatura. Seu valor a 25,0°C é 1,01 × 10–14.
EXEMPLO
Concentração de H+ e OH– em Água Pura, a 25°C
Calcule a concentração de H+ e OH– em água pura, a 25°C. Solução A estequiometria da Reação 6-19 nos diz que H+ e OH– são produzidos na razão molar de 1:1. Suas concentrações devem ser iguais. Representando cada uma das concentrações por x, podemos escrever Kw = 1,0 × 10–14 = [H+][OH–] = [x][x] ⇒ 1,0 × 10–7 M As concentrações de H+ e OH– são iguais a 1,0 × 10–7 M em água pura. TESTE A VOCÊ MESMO Use a Tabela 6-1 para determinar a [H+] em água a 100°C e a 0°C. (Resposta: 7,4 × 10–7 e 3,4 × 10–8 M)
TABELA 6-1
Variação de Kw com a temperaturaa
Temperatura (°C)
KW
PKW = –log KW
Temperatura (°C)
KW
PKW = –log KW
0
1,15 × 10–15
14,938
140
2,88 × 10–14
13,541
5
1,88 × 10–15
14,726
145
3,94 × 10–14
13,405
10
2,97 × 10–15
14,527
150
5,31 × 10–14
13,275
15
4,57 × 10–15
14,340
100
5,43 × 10–13
12,265
20
6,88 × 10–15
14,163
150
2,30 × 10–12
11,638
25
1,01 × 10–14
13,995
200
5,14 × 10–12
11,289
30
1,46 × 10–14
13,836
250
6,44 × 10–12
11,191
35
2,07 × 10–14
13,685
300
3,93 × 10–12
11,406
a. As concentrações no produto [H+][OH2] nesta tabela são expressas em molalidade em vez de em molaridade. A exatidão do log Kw é ±0,01. Para converter molalidade (mol/kg) em molaridade (mol/L), multiplica-se pela massa especí ca da água em cada temperatura. A 25°C, Kw = 10–13,995 (mol/kg)2(0,997 05 kg/L)2 = 10–13,998 (mol/L)2. FONTE: W. L. Marshall and E. U. Franck, “Ion Product of Water Substance, 0-1000°C, 1-10.000 Bars,” J. Phys. Chem. Ref. Data 1981, 10, 295. Para valores de Kw além da faixa de temperatura de 0°C a 800°C e um intervalo de massa especí ca de 0-1,2 g/cm3, ver A. V. Bandura and S. N. Lvov, “The Ionization Constant of Water over Wide Ranges of Temperature and Pressure”, J. Phys. Chem. Ref. Data 2006, 35, 15.
EXEMPLO
Concentração de OH– Quando a [H+] É Conhecida
Qual é a concentração de OH– se [H+] = 1,0 × 10–3 M? (A partir deste momento, a menos que seja dito outra coisa, iremos assumir o valor da temperatura como 25°C.) Solução Substituindo [H+] = 1,0 × 10–3 M na expressão de Kw, temos Kw = 1,0 × 10–14 = (1,0 × 10–3)[OH–] ⇒ [OH–] = 1,0 × 10–11 M A concentração de [H+] = 1,0 × 10–3 M resulta em [OH–] = 1,0 × 10–11 M. Quando a concentração de H+ aumenta, a concentração de OH– necessariamente diminui e vice-versa. A concentração de [OH–] = 1,0 × 10–3 M resulta em [H+] = 1,0 × 10–11 M.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine [OH–] se [H+] = 1,0 × 10–4 M. (Resposta: 1,0 × 10–10 M) Uma definição aproximada de pH é o logaritmo negativo da concentração de H+. Definição aproximada de pH:
pH < –log[H+]. O termo “pH” foi introduzido em 1909 pelo bioquímico dinamarquês S. P. L. Sørensen, que o chamou de “expoente do íon hidrogênio”.21 Tome o log de ambos os lados da expressão de Kw para deduzir a Equação 6-21: Kw = [H+][OH –] log Kw = log[H+] + log[OH –] –log Kw = –log[H+] – log[OH –] 14.00 = pH + pOH (a 25 °C)
O Capítulo 8 define o pH de forma mais exata em termos de atividades, mas, para muitas aplicações, a Equação 6-20 é uma boa definição. As medidas de pH com eletrodos de vidro e tampões usadas pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA para definir a escala de pH, são descritas no Capítulo 15. Em água pura, a 25°C, com [H+] = 1,0 × 10–7 M, o pH é –log(1,0 × 10–7) = 7,00. Se a concentração de OH– é 1,0 × 10–3 M, então [H+] = 1,0 × 10–11 M e o pH é 11,00. Uma relação muito útil entre as concentrações de H+ e OH– é
em que pOH = –log[OH–], da mesma forma que pH = –log[H+]. Esta é uma maneira prática de expressar que, se o pH = 3,58, então pOH = 14,00 – 3,58 = 10,42, ou seja, [OH–] = 10–10,42 = 3,8 × 10–11 M. Uma solução é ácida se [H+] > [OH–]. Uma solução é básica se [H+] < [OH–]. A 25°C, uma solução ácida possui um pH abaixo de 7 e uma solução básica possui pH acima de 7.
Os valores de pH são normalmente medidos com um eletrodo de vidro. Seu funcionamento é descrito no Capítulo 15. A superfície da água ou do gelo tem um pH ~2 unidades mais ácido do que o pH do seio porque o H3O+ é mais estável na superfície. A acidez da superfície pode ser importante para o estudo da química das nuvens atmosféricas.22
A Figura 6-8 mostra os valores de pH de diversas substâncias comuns. Embora o pH geralmente se situe no intervalo entre 0 e 14, esses não são os limites de pH. Um pH de –1, por exemplo, significa –log[H+] = –1; ou [H+] = 10 M. Esta concentração é atingida em uma solução concentrada de um ácido forte, como, por exemplo, o HCl. Água Pura Existe? Na maioria dos laboratórios, a resposta é “Não”. A água pura, a 25°C, deve ter um pH de 7,00. A água destilada, armazenada na maioria dos laboratórios, é ácida porque contém CO2 dissolvido, proveniente da atmosfera. O CO2, em meio aquoso, é um ácido por causa da reação
FIGURA 6-8 O pH de várias substâncias. [De Chem. Eng. News, 14 September 1981.] A chuva mais ácida já registrada nos Estados Unidos (Boxe 15-1) é mais ácida do que o suco de limão. As águas naturais mais ácidas conhecidas são aquelas provenientes de minas, com concentrações totais de metais dissolvidos de 200g/L e de sulfato de 760g/L.23 O pH dessas águas, – 3,6, não significa que [H+] = 103,6 M = 4 000 M! Ele significa que a atividade do H+ (discutida no Capítulo 8) é 103,6.
TABELA 6-2
Ácidos e bases fortes comuns
Fórmula
Nome
Ácidos
HCL
Ácido clorídrico (cloreto de hidrogênio)
HBr
Brometo de hidrogênio
HI
Iodeto de hidrogênio
H2SO4a
Ácido sulfúrico
HNO3
Ácido nítrico
HClO4
Ácido perclórico
Bases
LiOH
Hidróxido de lítio
NaOH
Hidróxido de sódio
KOH
Hidróxido de potássio
RbOH
Hidróxido de rubídio
CsOH
Hidróxido de césio
R4NOHb
Hidróxido quaternário de amônio
a. Para o H2SO4, apenas a ionização do primeiro próton é completa. A dissociação do segundo próton possui uma constante de equilíbrio de 1,0 × 10–2. b. Essa é a fórmula geral para qualquer hidróxido de sais do cátion amônio contendo quatro grupamentos orgânicos. Um exemplo é o hidróxido de tetrabutilamônio:
(CH3CH2CH2CH2)4N+OH–. O CO2 pode ser quase totalmente eliminado, fervendo-se a água e depois a protegendo do contato com a atmosfera. Há mais de um século, medidas cuidadosas da condutividade da água foram feitas por Friedrich Kohlrausch e seus alunos. Para eliminar as impurezas, eles verificaram que era necessário destilar a água 42 vezes consecutivas sob vácuo, de modo a reduzir o valor da condutividade até um valor limite.
6-7
Força dos Ácidos e Bases
Ácidos e bases são normalmente classificados como fortes ou fracos, dependendo se eles reagem quase “completamente” ou apenas “parcialmente” para produzir H+ ou OH–. Embora não exista uma distinção nítida entre fraco e forte, alguns ácidos ou bases reagem tão completamente, que são facilmente classificados como ácidos ou bases fortes e, por convenção, todos os outros compostos são chamados de fracos. Ácidos e Bases Fortes A Tabela 6-2, que é importante ser memorizada, apresenta alguns ácidos e bases fortes comuns. Por definição, um ácido ou base forte está completamente dissociado em solução aquosa. Isto é, as constantes de equilíbrio para as reações que se seguem, são grandes.
O HCl e o KOH não dissociados praticamente não existem em solução aquosa. A Demonstração 6-2 mostra uma consequência do comportamento do HCl como ácido forte. Embora os haletos de hidrogênio HCl, HBr e HI sejam ácidos fortes, o HF não é um ácido forte, como é explicado no Boxe 63. Para a maioria das finalidades, os hidróxidos de metais alcalinoterrosos (Mg2+, Ca2+, Sr2+ e Ba2+) podem ser considerados bases fortes, embora sejam bem menos solúveis que os hidróxidos de metais alcalinos e possuam certa tendência para a formação de complexos do tipo MOH+ (Tabela 6-3). A base mais forte conhecida é a molécula LiO2 em fase gasosa.27
DEMONSTRAÇÃO 6-2
O Chafariz de HCl
A dissociação completa do HCl em H+ e Cl– torna o HCl(g) extremamente solúvel em água.
Como o equilíbrio na Reação B está muito deslocado para a direita, a Reação A também está deslocada para a direita. Desa o A variação da energia livre-padrão (ΔG°) para a Reação C é –36,0 kJ/mol. Mostre que a constante de equilíbrio é 2,0 × 106. A enorme solubilidade do HCl(g) em água é a base do chafariz de HCl,–4 cuja montagem é vista a seguir. Na Figura a, um balão de fundo redondo de 250 mL, contendo ar, está presente na montagem de forma invertida. O tubo de entrada desse balão está conectado a uma fonte de HCl(g) e o seu tubo de saída conectado a um frasco invertido contendo água. Como o HCl entra no balão, o ar é deslocado do seu interior para o frasco. Quando o frasco estiver cheio de ar, o balão estará praticamente cheio com HCl(g). As mangueiras são desconectadas e substituídas por um bécher, contendo uma solução de indicador, e um bulbo de borracha, do tipo usado em conta-gotas (Figura b). Como indicador, usamos o púrpura de metila levemente alcalino, verde acima de pH 5,4 e púrpura abaixo de pH 4,8. Quando ~1 mL de água é esguichada do bulbo de borracha para dentro do balão, cria-se um vácuo e a solução de indicador é sugada para dentro do balão, produzindo um fascinante chafariz (veja a Prancha 1 no encarte em cores). Pergunta Por que se cria um vácuo quando a água é esguichada para dentro do balão e por que o indicador muda de cor ao entrar no balão?
BOXE 6-3
O Comportamento Estranho do Ácido Fluorídrico15
Os haletos de hidrogênio HCl, HBr e HI são todos ácidos fortes, o que signi ca que as reações HX(aq) + H2O → H3O+ + X– (X = Cl, Br, I) são completas. Por que então o HF se comporta como um ácido fraco? A resposta é curiosa. Inicialmente, o HF doa completamente seu próton para a H2O:
No entanto, o uoreto forma uma ligação de hidrogênio mais forte do que qualquer outro íon. O íon hidrônio permanece rmemente associado ao F– por meio de uma ligação de hidrogênio, mesmo em uma solução diluída. Chamamos as associações desse tipo de par iônico.
Assim, o HF não se comporta como um ácido forte porque os íons F– e H3O+ permanecem associados entre si. Por outro lado, o par iônico (H3O+) (Cl ) formado pelo HCl (Figura 6-7) é apenas signi cativo em soluções concentradas, como 6 m. Pares iônicos são comuns em soluções aquosas de qualquer íon com uma carga maior que 1. Os pares iônicos são a regra para solventes não aquosos, que não podem promover a dissociação dos íons tão bem como a água. –
O HF não é o único com a tendência de formar pares iônicos. Suspeita-se de que vários ácidos moderadamente fortes, tais como os mostrados a seguir, existem predominantemente como pares iônicos em solução aquosa (HA + H2O ⇌ A–···H3O+).25
Muitos ácidos fortes ou fracos monopróticos formam sais com ligações de hidrogênio na proporção 1:1 no estado sólido. Dois exemplos são mostrados a seguir:26
Ácidos e Bases Fracos Todos os ácidos fracos, representados por HA, reagem com a água doando um próton para a H2O: Dissociação de ácido fraco:
o que significa exatamente o mesmo que Dissociação de ácido fraco:
TABELA 6-3
Equilíbrios de hidróxidos de metais alcalinoterrosos M(OH)2(s) ⇌ M2+ + 2OH– Kps = [M2+][OH–]2 M2+ + OH– ⇌ MOH+ K1 = [MOH+]/[M2+][OH–]
Metal
log Kps
log K1
Mg2+
–11,15
2,58
Ca2+
–5,19
1,30
Sr2+
—
0,82
Ba2+
—
0,64
NOTA: 25°C e força iônica = 0. A constante de equilíbrio é representada por Ka, e é denominada de constante de dissociação do ácido. Por definição, um ácido fraco é aquele que se dissocia apenas parcialmente em água que Ka é “pequeno” para um ácido fraco. Bases fracas, B, reagem com água, retirando um próton da H2O: Hidrólise de uma base:
A constante de equilíbrio Kb é chamada de constante de dissociação da base, “pequena” para uma base fraca.
Constante de dissociação ácida:
Constante de dissociação da base: Hidrólise se refere a qualquer reação com água.
Classes Comuns de Ácidos e Bases Fracos O ácido acético é um ácido fraco típico.
O ácido acético é um representante dos ácidos carboxílicos, que têm a fórmula geral RCO2H, em que R é um grupamento orgânico. Os ácidos carboxílicos em sua maioria são ácidos fracos, e a maioria dos ânions carboxilatos são bases fracas.
A metilamina é uma base fraca. Os ácidos carboxílicos (RCO2H) e os íons amônio (R3NH+) são ácidos fracos. Os ânions carboxilato (RCO22) e as aminas (R3N) são bases fracas.
As aminas são compostos que contêm nitrogênio:
As aminas são bases fracas e os íons amônio são ácidos fracos. A “mãe” de todas as aminas é a amônia, NH3. Quando uma base como a metilamina reage com água, o produto é um ácido conjugado. Ou seja, o íon metilamônio, produzido na Reação 6-27, é um ácido fraco: Embora normalmente representemos uma base por B e um ácido por HA, é importante ter em mente que BH+ também é um ácido e A– tambémé uma base.
O cloreto de metilamônio é um ácido fraco porque 1. Ele se dissocia em CH3NH3+ e Cl–. 2. O CH3NH3+ é um ácido fraco, sendo conjugado do CH3NH2, uma base fraca.
3. O Cl– não tem propriedades básicas. Ele é conjugado do HCl, um ácido forte. Isto é, o HCl se dissocia completamente.
O íon metilamônio é o ácido conjugado da metilamina. Devemos aprender a reconhecer se um composto tem propriedades ácidas ou básicas. O sal cloreto de metilamônio, por exemplo, dissocia-se completamente em solução aquosa formando o cátion metilamônio e o ânion cloreto:
O íon metilamônio, sendo o ácido conjugado da metilamina, é um ácido fraco (Reação 6-28). O íon cloreto é a base conjugada do HCl, um ácido forte. Em outras palavras, o Cl– não possui uma tendência real de se associar ao H+, pois, caso contrário, o HCl não seria um ácido forte. A solução de cloreto de metilamônio será ácida, porque o íon metilamônio é um ácido e o Cl– não é uma base.
Desa o O fenol (C6H5OH) é um ácido fraco. Explique por que uma solução de fenolato de potássio (C6H5O–K+), um composto iônico, é alcalina. Íons de metais em meio aquoso estão associados a (hidratados por) muitas moléculas de H2O, de modo que a reação de dissociação do ácido é escrita mais corretamente como
Cátions metálicos Mn+ agem como ácidos fracos por meio da hidrólise ácida para formar M(OH)(n–1)+ apresenta as constantes de dissociação dos ácidos para a reação
28
A Figura 6-9
Íons metálicos monovalentes são ácidos muitos fracos (Na+, Ka = 10–13,9). Íons bivalentes tendem a ser mais fortes (Fe2+, Ka = 10– 9,4 ) e os íons trivalentes são ácidos ainda mais fortes (Fe3+, Ka = 10–2,19). Ácidos e Bases Polipróticos Ácidos e bases polipróticos são compostos que podem doar ou receber mais de um próton. O ácido oxálico, por exemplo, é diprótico, e o íon fosfato é tribásico: Notação para constantes de dissociação ácidas e básicas: Ka1 refere-se às espécies ácidas com a maioria dos prótons e Kb1 refere-se às espécies básicas com o menor número de prótons. O subscrito “a”, relativo às constantes de dissociação ácidas, é normalmente omitido.
FIGURA
6-9
Constantes
de dissociação ácidas (–log Ka) para íons metálicos em meio aquoso: . Por exemplo, para o Li+, Ka = 10–13,64. No Capítulo 9, iremos aprender que os números dessa
tabela são chamados de pKa. Os metais sombreados mais escuros são os ácidos mais fortes. [Dados retirados de R. M. Smith, A. E. Martell, e R. J. Motekaitis, NIST Critical Stability Constants of Metal Complexes Database 46 (Gaithersburg, MD: National Institute of Standards and Technology, 2001).]
A notação-padrão para constantes de dissociação sucessivas de um ácido poliprótico é K1, K2, K3, e assim por diante, com o subscrito “a” normalmente omitido. Conservamos ou omitimos o subscrito conforme seja necessário para o entendimento. Para sucessivas constantes de dissociação da base, conservamos o subscrito “b”. Os exemplos anteriores ilustram que Ka1 (ou K1) refere-se às espécies ácidas com a maioria dos prótons e Kb1 refere-se às espécies básicas com o menor número de prótons. O ácido carbônico, um ácido carboxílico diprótico muito importante, derivado do CO2, está descrito no Boxe 6-4. Relação entre Ka e Kb Existe uma relação muito importante entre Ka e Kb para um par ácido-base conjugado em solução aquosa. Podemos obter esse resultado com o ácido HA e sua base conjugada A–.
Quando essas reações são somadas, as suas constantes de equilíbrio se multiplicam, de modo que, Relação entre Ka e Kb parao par conjugado:
Para um par ácido-base conjugado, em solução aquosa, temos Ka · Kb = Kw.
A Equação 6-35 aplica-se a qualquer ácido e sua base conjugada em solução aquosa.
BOXE 6-4
Ácido Carbônico29
O ácido carbônico (H2CO3) é formado pela reação do dióxido de carbono com água:
Seu comportamento como um ácido diprótico a princípio parece anômalo, porque o valor de Ka1 é cerca de 102 a 104 vezes menor do que o Ka para outros ácidos carboxílicos.
A razão para essa anomalia não é que o H2CO3 se comporte de maneira anormal, mas sim, porque que o valor comumente dado para Ka1 aplica-se à equação
Apenas cerca de 0,2% do CO2 dissolvido está na forma H2CO3. Quando o valor verdadeiro de [H2CO3] é usado no lugar do valor [H2CO3 + CO2(aq)], o valor da constante de equilíbrio torna-se
A hidratação do CO2 (reação do CO2 com H2O) e a desidratação do H2CO3 são reações lentas, que podem ser demonstradas com facilidade em sala de aula.–9 Células vivas utilizam a enzima anidrase carbônica para acelerar a velocidade com que o H2CO3 e o CO2 atingem o equilíbrio, de modo a processar esse metabólito importante. A enzima produz um ambiente propício para a reação do CO2 com OH–, abaixando a energia de ativação (a barreira de energia para a reação) de 50 para 26 kJ/mol, aumentando a velocidade da reação por um fator maior do que 106. Uma molécula de anidrase carbônica pode catalisar a conversão de 600.000 moléculas de CO2 a cada segundo. Estima-se que o ácido carbônico tenha uma meia-vida de 200.000 anos em fase gasosa a 300 K na ausência de água.30 Calcula-se que a presença de apenas duas moléculas de água por H2CO3 reduz a meia-vida para 2 min. O dímero (H2CO3)2 ou oligômeros (H2CO3)n31 e uma forma cristalina de H2CO332 são conhecidas no estado sólido em baixíssimas temperaturas (criogênicas). EXEMPLO
Determinação do Kb para a Base Conjugada
Sabendo que o Ka para o ácido acético é 1,75 × 10–5 (Reação 6-26), determine o Kb para o íon acetato. Solução Isso é algo trivial:*
TESTE A VOCÊ MESMO O Ka para o ácido cloroacético é 1,36 × 10–3. Determine o Kb para o íon cloroacetato. (Resposta: 7,4 × 10–12) EXEMPLO
Determinação do Ka para o Ácido Conjugado
O Kb para a metilamina é 4,47 × 10–4 (Reação 6-27), determine o Ka para o íon metilamônio. Solução Do mesmo modo que no exemplo anterior escrevemos:
TESTE A VOCÊ MESMO O Kb para a dimetilamina é 5,9 × 10–4. Determine o Kb para o íon dimetilamônio. (Resposta: 1,7 × 10–11) Para um ácido diprótico, podemos obter relações entre cada um dos dois ácidos e suas bases conjugadas:
Os resultados finais são Relação geral entre Ka e Kb
Desafio Deduza os resultados que se seguem para um ácido triprótico:
Maneiras Simpli cadas de Representar Estruturas Orgânicas Começamos a encontrar neste livro muitos compostos orgânicos (compostos que contêm carbono). Químicos e bioquímicos usam convenções simples para representar moléculas, sem ter de escrever todos os átomos. Cada vértice de uma estrutura deve ser visto como um átomo de carbono, a menos que seja explicitado de outra forma. Nas fórmulas simplificadas, normalmente omitimos as ligações entre o carbono e o hidrogênio. O carbono forma quatro ligações químicas. Se observarmos a representação de um átomo de carbono na qual existem menos de quatro ligações, devemos considerar as ligações que não estão representadas como ligações do átomo de carbono com átomos de hidrogênio, que não estão representados. A seguir temos um exemplo:
O benzeno, C6H6, possui duas estruturas ressonantes equivalentes e, por isso, todas as ligações C—C são equivalentes. Frequentemente desenhamos anéis benzênicos com um círculo em lugar de três ligações duplas.
A representação simplificada da molécula de epinefrina mostra que o átomo de carbono, na parte superior direita do anel benzênico de seis membros, forma três ligações com outros átomos de carbono (uma ligação simples e uma ligação dupla), consequentemente, deverá existir um átomo de hidrogênio ligado a esse átomo de carbono. O átomo de carbono do lado esquerdo do anel benzênico, forma três ligações com outros átomos de carbono e uma ligação com um átomo de oxigênio. Como já existem quatro ligações, não há átomo de hidrogênio oculto ligado a esse carbono. No grupo CH2, adjacente ao nitrogênio, ambos os átomos de hidrogênio são omitidos na estrutura simplificada.
Termos Importantes
ácido ácido carboxílico ácido de Brønsted-Lowry ácido de Lewis ácidos polipróticos amina ânion carboxilato autoprotólise base base de Brønsted-Lowry base de Lewis bases polipróticas constante cumulativa de formação constante de dissociação do ácido (Ka) constante de equilíbrio constante de formação em etapas constante de formação global constante de hidrólise da base (Kb) coprecipitação desproporcionamento efeito do íon comum endotérmico energia livre de Gibbs entropia estado-padrão exotérmico íon amônio íon complexo íon hidrônio ligante neutralização par ácido-base conjugado par iônico pH princípio de Le Châtelier produto de solubilidade quociente de reação sal solução ácida solução básica (alcalina) solução saturada solvente aprótico solvente prótico variação de entalpia variação de entropia
Resumo Para a reação aA + bB ⇌ cC + dD, a constante de equilíbrio é K = [C]c[D]d/[A]a[B]b. As concentrações dos solutos devem ser expressas em moles por litro, as concentrações dos gases devem ser expressas em bar, e as concentrações de sólidos e líquidos puros e dos solventes são omitidas. Se o sentido da reação é invertido, K′ = 1/K. Se duas reações são adicionadas, K3 = K1K2. O valor da constante de equilíbrio pode ser calculado a partir da variação da energia livre para uma reação química: K = e–ΔG°/RT. A
equação ΔG = ΔH – TΔS, resume as seguintes observações: uma reação é favorecida se ela libera calor (exotérmica, ΔH negativo) ou se aumenta a entropia (ΔS positivo). A variação de entropia é a quantidade de energia, a uma dada temperatura, que é dispersa em movimentos de moléculas no sistema. O princípio de Le Châtelier prevê o efeito em uma reação química quando reagentes ou produtos são adicionados, ou quando a temperatura é alterada. O quociente de reação, Q, expressa como o sistema deve mudar para atingir o equilíbrio. O produto de solubilidade é a constante de equilíbrio para a dissolução de um sal sólido em seus íons constituintes em soluções aquosas. O efeito do íon comum é a observação de que, se um dos íons de um sal já está presente na solução, a solubilidade desse sal diminui. Algumas vezes, é possível precipitar seletivamente um íon presente em uma solução que contenha outros íons por meio da adição de um contraíon adequado. Em altas concentrações de ligantes, o íon metálico precipitado pode voltar a se dissolver em razão da formação de íons complexos solúveis. Em um complexo de íon metálico, o metal é um ácido de Lewis (receptor de um par de elétrons) e o ligante é uma base de Lewis (doador de um par de elétrons). Ácidos de Brønsted-Lowry são doadores de prótons e bases de Brønsted-Lowry são receptores de prótons. Um ácido aumenta a concentração de H3O+, em solução aquosa, e a base aumenta a concentração de OH–. Um par ácido-base, que se relaciona por meio do ganho ou perda de um único próton, é descrito como um par conjugado. Quando um próton é transferido de uma molécula para outra molécula de um solvente prótico, a reação é denominada autoprotólise. A definição pH = –log[H+] será modificada posteriormente com base no conceito de atividade. Ka é a constante de equilíbrio para a dissociação de um ácido: HA + H2O ⇌ H3O+ + A–. Kb é a constante de dissociação da base para a reação B + H2O ⇌ BH+ + OH–. Quando Ka ou Kb são grandes, diz-se que o ácido ou a base é forte, caso contrário, o ácido ou a base é fraca. Os ácidos e bases fortes mais comuns estão listados na Tabela 6-2, que deve ser memorizada. Os ácidos fracos mais comuns são os ácidos carboxílicos (RCO2H), e as bases fracas mais comuns são as aminas (R3N:). Os ânions carboxilato (RCO2–) são bases fracas, e os íons amônio (R3NH+) são ácidos fracos. Cátions metálicos são também ácidos fracos. Para um par ácido-base conjugado em água, Ka · Kb = Kw. Para os ácidos polipróticos, representamos as constantes de dissociação ácidas sucessivas como Ka1, Ka2, Ka3, …, ou apenas K1, K2, K3,…. Para espécies polibásicas, representamos as constantes de hidrólise sucessivas como Kb1, Kb2, Kb3,... Para um sistema diprótico, as relações entre as constantes de dissociação ácidas e básicas sucessivas são Ka1 · Kb2 = Kw e Ka2 · Kb1 = Kw. Para um sistema triprótico, as relações são Ka1 · Kb3 = Kw, Ka2 · Kb2 = Kw e Ka3 · Kb1 = Kw. Na representação simplificada de estruturas orgânicas, cada vértice é um átomo de carbono. Se forem mostradas menos de quatro ligações para o carbono, fica subentendido que átomos de H estão ligados ao carbono, formando efetivamente quatro ligações.
Exercícios 6-A. Considere os equilíbrios a seguir, nos quais todos os íons são aquosos: (1) Ag+ + Cl– ⇌ AgCl(aq) K = 2,0 × 103 (2) AgCl(aq) + Cl– ⇌ AgCl–2 K = 9,3 × 101 (3) AgCl(s) ⇌ Ag+ + Cl– K = 1,8 × 10–10 (a) Calcule o valor numérico da constante de equilíbrio para a reação AgCl(s) ⇌ AgCl(aq). (b) Calcule a concentração de AgCl(aq) em equilíbrio com AgCl sólido em excesso (não dissolvido). (c) Encontre o valor numérico de K para a reação AgCl2– ⇌ AgCl(s) 1 Cl–. 6-B. A Reação 6-8 atinge o equilíbrio em uma solução contendo inicialmente BrO3– 0,010 0 M, Cr3+ 0,010 0 M e H+ 1,00 M. Para determinar as concentrações no equilíbrio podemos construir uma tabela mostrando as concentrações iniciais e finais. Utilizando os coeficientes estequiométricos da reação, dizemos que, se x mol de Br– são formados, então x mol de Cr2O72– e 8x mol de H+ também são formados. Para a formação de x mol de Br– terão de ser consumidos x mol de BrO3– e 2x mol de Cr3+. (a) Escreva a expressão da constante de equilíbrio, que deverá ser resolvida em função do valor de x, para o cálculo das concentrações finais das espécies em equilíbrio. Não tente resolver a equação. (b) Sendo K = 1 × 1011, é razoável supor que a reação será aproximadamente “completa”. Isto é, esperamos que tanto a concentração de Br– quanto a de Cr2O72– estejam próximas de 0,005 00 M no equilíbrio. (Por quê?) Isso significa que x = 0,005 00 M. Para esse valor de x, [H+] = 1,00 + 8x = 1,04 M e [BrO3–] = 0,010 0 – x = 0,0050 M. Entretanto, não podemos dizer que [Cr3+] = 0,010 0 – 2x = 0, porque deve haver uma pequena concentração de Cr3+ no equilíbrio. Resolva a equação para [Cr3+], a concentração de Cr3+. O Cr3+ é o reagente limitante neste problema. A reação utiliza completamente o Cr3+ antes de consumir o BrO32. 6-C. Determine a [La3+] em uma solução quando excesso de iodato de lantânio sólido, La(IO3)3, é agitado com solução de LiIO3 0,050 M, até que o sistema entre em equilíbrio. Assuma que o IO32 proveniente do La(IO3)3 é desprezível comparado com aquele oriundo do LiIO3.
6-D. O que será mais solúvel (em número de mols de metal dissolvido por litro de solução), Ba(IO3)2 (Kps = 1,5 × 10–9) ou Ca(IO3)2 (Kps = 7,1 × 10–7)? Dê um exemplo de uma reação química que poderia ocorrer e que inverteria as solubilidades previstas. 6-E. O Fe(III) precipita a partir de uma solução ácida pela adição de OH– para formar Fe(OH)3(s). Em que concentração de OH– a concentração de Fe(III) será reduzida a 1,0 × 10–10 M? Se o Fe(II) for usado no lugar do Fe(III), que concentração de OH– será necessária para reduzir a concentração de Fe(II) a 1,0 × 10–10 M? 6-F. É possível precipitar 99,0% de Ce3+ 0,010 M por adição de oxalato (C2O42–) sem precipitar Ca2+ 0,010 M? CaC2O4 Kps = 1,3 × 10–8 Ce2(C2O4)3 Kps = 5,9 × 10–30 BrO3–
+
2Cr3+
+
4H2O
⇌
Br–
+
Cr2O72–
+
8H+
0,010 0 0,010 0 –x
0,010 0 0,010 0 –2x
x
x
1,00 1,00 + 8x
Concentração inicial Concentração nal
6-G. Para uma solução de Ni2+ e etilenodiamina, aplicam-se as seguintes constantes de equilíbrio a 20°C:
Calcule a concentração de Ni2+ livre em uma solução preparada pela mistura de 0,100 mol de en e 1,00 mL de solução de Ni2+ 0,010 0 M e diluída a 1,00 ⇌ com solução de base diluída (a qual mantém toda a en na sua forma não protonada). Suponha que aproximadamente todo o Ni está na forma Ni(en)32+, de modo que [Ni(en)32+] = 1,00 × 10–5 M. Calcule as concentrações do Ni(en)2+ e Ni(en)22+ e verifique que elas são desprezíveis em comparação com a [Ni(en)32+]. 6-H. Se cada uma das substâncias seguintes for dissolvida em água, a solução obtida será ácida, básica ou neutra? (a) Na+Br– (b) Na+CH3CO2– (c) NH4+Cl– (d) K3PO4 (e) (CH3)4N+Cl– (f) (g) Fe(NO3)3 6-I. O ácido succínico se dissocia em duas etapas:
Calcule Kb1 e Kb2 para as seguintes reações:
6-J. A histidina é um aminoácido triprótico:
Qual é o valor da constante de equilíbrio para a reação a seguir?
6-K. (a) Usando os valores de Kw, da Tabela 6-1, calcule o pH da água pura a 0°C, 20°C e 40°C. (b) Para a reação D2O ⇌ D+ + OD–, K = [D+][OD–] = 1,35 × 10–15 a 25°C. Nesta equação, D significa deutério, que é o isótopo 2 H. Qual o valor de pD (= –log[D+]) para D2O neutra?
Problemas Equilíbrio e Termodinâmica 6-1. Para calcular a constante de equilíbrio na Equação 6-2, precisamos expressar as concentrações dos solutos em mol/L, a pressão de gases em bar e omitir sólidos, líquidos e solventes. Explique por quê. 6-2. Por que dizemos que a constante de equilíbrio para a reação H2O ⇌ H+ + OH– (ou qualquer outra reação) é adimensional? 6-3. Predições sobre a direção de uma reação baseadas na energia livre de Gibbs, ou no princípio de Le Châtelier, são consideradas termodinâmicas e não cinéticas. Explique o que isso significa. 6-4. Escreva a expressão da constante de equilíbrio para cada uma das reações que se seguem. Escreva a pressão de uma molécula, X, no estado gasoso, como PX.
6-5. Para a reação 2A(g) + B(aq) + 3C(l) ⇌ D(s) + 3E(g), as concentrações em equilíbrio são A: 2,8 × 103 Pa B: 1,2 × 102– M C: 12,8 M
D: 16,5 M E: 3,6 × 104 Torr Determine o valor numérico da constante de equilíbrio que deve aparecer em uma tabela convencional de constantes de equilíbrio. 6-6. A partir das equações
determine o valor de K para a reação HOBr ⇌ H+ + OBr–. 6-7. (a) Uma variação favorável de entropia ocorre quando ΔS é positivo. A ordem do sistema aumenta ou diminui quando ΔS é positivo? (b) Uma variação favorável de entalpia ocorre quando ΔH é negativo. O sistema absorve ou libera calor quando ΔH é negativo? (c) Escreva a relação entre ΔG, ΔH e ΔS. Use os resultados de (a) e (b) para dizer se ΔG será positivo ou negativo para mudanças espontâneas. 6-8. Para a reação HCO3– ⇌ H+ + CO32–, ΔG° = +59,0 kJ/mol, a 298,15 K. Determine o valor de K para essa reação. 6-9. A formação do tetrafluoretileno a partir de seus elementos é altamente exotérmica:
(a) Se uma mistura de F2, grafite e C2F4 está em equilíbrio em um recipiente fechado, a reação se deslocará para a direita ou para a esquerda quando F2 é adicionado? (b) Uma rara bactéria do planeta Teflon se alimenta de C2F4 e produz Teflon para as suas paredes celulares. A reação se deslocará para a direita ou para a esquerda quando essas bactérias forem adicionadas?
(c) A reação se deslocará para a direita ou para a esquerda se adicionamos grafita sólida? (Despreze qualquer efeito de aumento de pressão produzido pelo decréscimo de volume no recipiente quando adicionado o sólido.) (d) A reação se deslocará para a direita ou para a esquerda, se o recipiente for comprimido a um oitavo do seu volume original? (e) A constante de equilíbrio se tornará maior ou menor se o recipiente for aquecido? 6-10. BaCl2 × H2O(s) perde água quando ele é aquecido em um forno: BaCl2 · H2O(s) ⇌ BaCl2(s) + H2O(g) ΔH° = 63,11 kJ/mol a 25°C ΔS° = +148 J/(K·mol) a 25°C (a) Escreva a constante de equilíbrio para essa reação. Calcule a pressão de vapor da H2O gasosa PH2O sobre o BaCl2·H2O, a 298 K. (b) Supondo que ΔH° e ΔS° não dependam da temperatura (uma suposição aproximada), estime a temperatura em que a pressão de vapor da H2O(g) sobre o BaCl2·H2O(s) será de 1 bar. 6-11. A constante de equilíbrio para a reação NH3(aq) + H2O ⇌ NH4+ + OH– é Kb = 1,479 × 10–5 a 5°C e Kb = 1,479 × 10–5 a 10°C. (a) Supondo que ΔH° e ΔS° são constantes no intervalo de 5–10°C (provavelmente uma boa suposição para um ΔT pequeno), use a Equação 6-9 para determinar o valor de ΔH° para a reação nessa faixa de temperatura. (b) Descreva como a Equação 6-9 pode ser usada para fazer um gráfico linear para determinar ΔH°, se ΔH° e ΔS° são constantes em certa faixa de temperatura.
6-12. Para a reação H2(g) + Br2(g) ⇌ 2HBr(g), K = 7,2 × 10–4, a 1 362 K, e ΔH° é positivo. Um recipiente é carregado com 48,0 Pa de HBr, 1 370 Pa de H2 e 3 310 Pa de Br2, a 1 362 K. (a) A reação avançará para a direita ou para a esquerda para atingir o equilíbrio? (b) Calcule a pressão (Pa) de cada espécie no recipiente no equilíbrio. (c) Se a mistura no equilíbrio é comprimida à metade de seu volume original, a reação irá para a direita ou para a esquerda para restabelecer o equilíbrio? (d) Se a mistura no equilíbrio é aquecida de 1 362 até 1 407 K, o HBr será formado ou consumido de forma a restabelecer o equilíbrio? 6-13. A Lei de Henry estabelece que a concentração de um gás dissolvido em um líquido é proporcional à pressão do gás. Esta lei é uma consequência do equilíbrio
em que Kh é a constante da Lei de Henry. (A mesma lei se aplica a outros solventes, que não sejam a água, mas o valor de Kh é diferente para cada solvente.) Para o aditivo de gasolina MTBE, Kh = 1,71 M/bar. Suponha que tenhamos um recipiente fechado, contendo uma solução aquosa e ar em equilíbrio. Se a concentração de MTBE no líquido é determinada como 1,00 × 102 ppm (= 100 μg MTBE/g solução ≈ 100 μg/mL), qual a pressão de MTBE no ar? CH3—O—C(CH3)3
Metil-t-butil-éter (MTBE, MF 88,15)
Produto de Solubilidade 6-14. Determine a concentração de Cu2+ em equilíbrio com CuBr(s) e Br– 0,10 M. 6-15. Qual a concentração de Fe(CN)64– (ferrocianeto) em equilíbrio com Ag+ 1,0 μM e Ag4Fe(CN)6(s). Expresse sua resposta com um prefixo da Tabela 1-3. 6-16. Determine a concentração de Cu2+ em uma solução saturada com Cu4(OH)6(SO4), se a [OH–] é de alguma maneira fixada em 1,0 × 10–6 M. Observe que cada mol de Cu4(OH)6(SO4) fornece 1 mol de SO42– e 4 mol de Cu2+.
6-17. (a) A partir do produto de solubilidade do ferrocianeto de zinco Zn2Fe(CN)6, calcule a concentração de Fe(CN)64– em uma solução de ZnSO4 0,10 mM saturada com Zn2Fe(CN)6. Suponha que o Zn2Fe(CN)6 praticamente não produza Zn2+. (b) Que concentração de K4Fe(CN)6 deve estar em uma suspensão de Zn2Fe(CN)6 sólido em água para que a [Zn2+] = 5,0 × 10–7 M? 6-18. O produto de solubilidade prediz que o cátion A3+ pode ser 99,999% separado do cátion B2+ por precipitação com o ânion X–. Quando a separação é executada, encontra-se 0,2% de contaminação de AX3(s) com o cátion B2+. Explique o que pode ter acontecido. 6-19. Uma solução contém 0,050 0 M de Ca2+ e 0,030 0 M de Ag+. É possível precipitar 99% do Ca2+ com sulfato sem que haja precipitação de Ag+? Qual será a concentração de Ca2+ quando o Ag2SO4 começar a precipitar? 6-20. Uma solução contém 0,010 M de Ba2+ e 0,010 M de Ag+. Pode ocorrer precipitação de 99,90% de cada um dos íons com cromato (CrO42–), sem que haja precipitação do outro íon metálico? 6-21. Se uma solução 0,10 M de Cl–, Br–, I– e CrO42– é tratada com Ag+, em que ordem precipitarão os ânions? Formação de Complexos 6-22. Explique por que a solubilidade total das espécies de chumbo na Figura 6-3 inicialmente diminui e então cresce com o aumento da concentração de I–. Dê um exemplo da química que ocorre em cada um dos dois domínios. 6-23. Identifique os ácidos de Lewis nas reações seguintes:
6-24. A constante de formação cumulativa para o SnCl2(aq) em solução de NaNO3 1,0 M é β2 = 12. Determine a concentração de SnCl2(aq) para uma solução em que as concentrações de Sn2+ e Cl– são, ambas, de algum modo fixadas em 0,20 M. 6-25. Dados os equilíbrios a seguir, calcule as concentrações de cada uma das espécies contendo zinco, em uma solução saturada com Zn(OH)2(s) contendo uma [OH–] constante de 3,2 × 10–7 M. Zn(OH)2(s) Zn(OH)+ Zn(OH)2(aq) Zn(OH)3– Zn(OH)2–4
Kps = 3 × 10–16 β1 = 1 × 104 β2 = 2 × 1010 β3 = 8 × 1013 β4 = 3 × 1015
6-26. Apesar de KOH, RbOH e CsOH apresentarem baixa associação entre o metal e o hidróxido, em solução aquosa, o Li1 e o Na+ formam complexos com OH–:
Prepare uma tabela como a do Exercício 6-B mostrando as concentrações iniciais e finais de Na+, OH– e NaOH(aq) em uma solução de NaOH 1 F. Calcule a fração de sódio na forma NaOH(aq) no equilíbrio. 6-27. Na Figura 6-3 a concentração de PbI2(aq) é independente da concentração de I–. Use alguma das constantes de equilíbrio das Reações 6-12 a 6-16 e encontre a constante de equilíbrio para a reação PbI2(s) ⇌ PbI2(aq), igual à concentração de PbI2(aq). Ácidos e Bases 6-28. Faça a distinção entre ácidos e bases de Lewis e ácidos e bases de Brønsted-Lowry. Dê um exemplo de cada um. 6-29. Complete as lacunas: (a) O produto de reação entre um ácido e uma base de Lewis é chamado ______________. (b) A ligação entre um ácido e uma base de Lewis é chamada __________ ou ____________. (c) Ácidos e bases de Brønsted-Lowry relacionados pelo ganho ou perda de um próton são considerados ________________. (d) Uma solução é ácida quando ______________. Uma solução é básica quando _________________. 6-30. Por que o pH da água destilada é geralmente Ve, a concentração [Ag+] é determinada pelo excesso de Ag+ adicionado a partir da bureta.
Podemos justificar três algarismos significativos para a mantissa do pAg+, porque há agora três algarismos significativos no valor da concentração [Ag+]. Porém, para ser coerente com nossos resultados anteriores, iremos conservar apenas dois algarismos. Para um cálculo rápido, levamos em conta que a concentração de Ag+ na bureta é 0,050 00 M e que 2,00 mL dessa solução foram diluídos a (25,00 + 52,00) = 77,00 mL. Consequentemente, a [Ag+] é
A Forma da Curva de Titulação As curvas de titulação na Figura 7-2 ilustram o efeito das concentrações dos reagentes. O ponto de equivalência é o ponto da mudança abrupta da inclinação da curva. É o ponto em que o coeficiente angular (a inclinação) é máximo (nesse caso, o coeficiente angular é negativo) e é, portanto, o ponto de inflexão (no qual a derivada segunda é zero):
Em titulações que envolvem estequiometria 1:1 nos reagentes, o ponto de equivalência é o ponto da mudança abrupta da curva de titulação. Para outras estequiometrias diferentes de 1:1, como 2Ag+ + CrO42– → Ag2CrO4(s), a curva não é simétrica. O ponto de equivalência não está no centro da região de mudança abrupta da curva, e ele não é um ponto de inflexão. Na prática, as condições são escolhidas de modo que as curvas de titulação sejam abruptas o suficiente para que o ponto de mudança abrupta seja uma boa estimativa do ponto de equivalência, independentemente da estequiometria. A Figura 7-3 ilustra como o Kps afeta a titulação dos íons halogenetos. O menor produto de solubilidade, AgI, fornece a mudança mais abrupta no ponto de equivalência. Porém, mesmo para o AgCl a mudança da curva é abrupta o suficiente para se localizar o ponto de equivalência com pequena incerteza. Quanto maior for a constante de equilíbrio para uma reação de titulação, mais pronunciada será a mudança na concentração próxima ao ponto de equivalência. No ponto de equivalência, a mudança na curva de titulação é mais abrupta para o precipitado menos solúvel.
FIGURA 7-2
Curvas de titulação mostrando o efeito da diluição dos reagentes.
Curva externa: 25,00 mL da solução de I– 0,100 0 M titulada com solução 0,050 00 M de Ag+. Curva do meio: 25,00 mL da solução de I– 0,010 00 M titulada com solução 0,005 000 M de Ag+. Curva interna: 25,00 mL da solução de I– 0,001 000 M titulada com solução 0,000 5000 M de Ag+.
FIGURA 7-3 Curvas de titulação mostrando o efeito do Kps. Cada curva é calculada para 25,00 mL de uma solução de halogeneto 0,100 0 M titulado com solução 0,050 00 M de Ag+. Os pontos de equivalência estão marcados por setas.
EXEMPLO
Cálculo das Concentrações Durante uma Titulação por Precipitação
Um volume de 25,00 mL de uma solução de Hg2(NO3)2 0,041 32 M foi titulado com uma solução de KIO3 0,057 89 M.
Para o Hg2(IO3)2, Kps = 1,3 × 10–18. Calcule a [Hg22+] na solução após a adição de (a) 34,00 mL de KIO3; (b) 36,00 mL de KIO3; e (c) no ponto de equivalência. Solução O volume de iodato necessário para atingir o ponto de equivalência é determinado da seguinte maneira:
(a) Quando V = 34,00 mL, a precipitação de Hg22+ ainda não está completa.
(b) Quando V = 36,00 mL, a precipitação está completa. Passamos (36,00 – 35,69) = 0,31 mL além do ponto de equivalência. A concentração do excesso de IO3– é
A concentração de Hg22+ no equilíbrio com o Hg2(IO3)2 sólido mais esse excesso de IO3– é
(c) No ponto de equivalência temos IO3– su ciente para reagir com todo o Hg22+. Podemos imaginar que todos os íons precipitam e, então, uma pequena parte do Hg2(IO3)2(s) torna a se dissolver, dando dois mols de iodato para cada mol de íon mercuroso:
TESTE A VOCÊ MESMO Determine [Hg22+] em 34,50 e 36,5 mL. (Resposta: 5,79 × 10–4 M, 2,2 × 10–12 M) Para a realização dos cálculos precedentes foi admitido que o único processo químico que ocorre é a reação do ânion com o cátion para precipitar o sal sólido. Se outras reações ocorrem, tais como a formação de complexos ou a formação de par iônico, temos de modificar os cálculos.
7-4
Titulação de uma Mistura
Se uma mistura de dois íons é titulada, o precipitado menos solúvel é formado primeiro. Se os dois produtos de solubilidade são suficientemente diferentes, a primeira precipitação estará quase completa antes de a segunda precipitação começar.
Um líquido contendo partículas suspensas é dito turvo por causa do espalhamento da luz pelas partículas. Quando uma mistura é titulada, o produto com o menor Kps precipita primeiro se a estequiometria dos diferentes possíveis precipitados é a mesma. A precipitação de I– e Cl– com Ag+ produz duas inflexões diferentes na curva de titulação. A primeira corresponde à reação do I– e a segunda à reação do Cl–.
Considere a titulação com AgNO3 de uma solução contendo KI e KCl. Como Kps(AgI) K+ > Rb1, mesmo considerando que os raios cristalográficos são Li+ < Na+ < K+ < Rb+. Efeito da Força Iônica, da Carga e do Tamanho do Íon sobre o Coe ciente de Atividade Ao longo da faixa de forças iônicas de 0 a 0,1 M, o efeito de cada variável nos coeficientes de atividade é dado a seguir: 1. Com o aumento da força iônica, o coeficiente de atividade diminui (Figura 8-4). O coeficiente de atividade (γ) tende a um
quando a força iônica (μ) se aproxima de 0. 2. Quando o módulo da carga do íon aumenta, o seu coeficiente de atividade se afasta de 1. As correções na atividade são mais
importantes para um íon com carga ±3 do que para um íon com carga ±1 (Figura 8-4). 3. Quanto menor o tamanho do íon (α), mais importantes se tornam os efeitos da atividade.
FIGURA 8-4 Coeficientes de atividade para íons com cargas diferentes e com um tamanho iônico (a) constante de 500 pm. Em força iônica igual a 0, γ = 1. Quanto maior a carga do íon, mais rapidamente g diminui com o aumento da força iônica. Observe que a abscissa é logarítmica.
EXEMPLO
Utilização da Tabela 8-1
Calcule o coe ciente de atividade do Ca2+ em uma solução de CaCl2 3,3 mM. Solução A força iônica é
Na Tabela 8-1, o Ca2+ está listado no grupo dos íons que têm carga ±2 e possui um tamanho de 600 pm. Assim, γ = 0,675 quando μ = 0,010 M. TESTE A VOCÊ MESMO Encontre γ para o íon Cl– em uma solução de CaCl2 0,33 mM. (Resposta: 0,964) Como Interpolar Quando precisamos determinar um coeficiente de atividade para uma força iônica que está entre os valores da Tabela 8-1, podemos usar a Equação 8-6. Entretanto, na ausência de uma planilha eletrônica, é normalmente mais fácil fazer-se uma interpolação com os dados da Tabela 8-1. Em uma interpolação linear, supomos que os valores entre dois dados da tabela se localizam sobre uma reta. Por exemplo, vamos considerar uma tabela em que y = 0,67 quando x = 10 e y = 0,83 quando x = 20. Qual será o valor de y quando x = 16? A interpolação é a estimativa de um número que fica entre dois valores presentes em uma tabela. Chama-se extrapolação a estimativa de um número que fica além dos limites de valores apresentados em uma tabela.
TABELA 8-1
Coe cientes de atividade para soluções aquosas a 25°C
Íon
Tamanho do íon (α, pm)
Força iônica (μ, M) 0,001
0,005
0,01
0,05
0,1
Carga = ±1 H+
900
0,967
0,933
0,914
0,86
0,83
(C6H5)2CHCO2–, (C3H7)4N+
800
0,966
0,931
0,912
0,85
0,82
(O2N)3C6H2O–, (C3H7)3NH+, CH3OC6H4CO2–
700
0,965
0,930
0,909
0,845
0,81
Li+, C6H5CO–2, HOC6H4CO–2, ClC6H4CO2–, C6H5CH2CO2–, CH2=CHCH2CO2–, (CH3)2CHCH2CO2–,(CH3CH2)4N+, (C3H7)2NH2+
600
0,965
0,929
0,907
0,835
0,80
Cl2CHCO2–, Cl3CCO2–, (CH3CH2)3NH+, (C3H7)NH+3
500
0,964
0,928
0,904
0,83
0,79
Na+, CdCl+, ClO2–, IO3–, HCO2–, H2PO4–, HSO3–, H2AsO4–, Co(NH3)4(NO2)+2, CH3CO–2, ClCH2CO–2, (CH3)4N+, (CH3CH2)2NH+2, H2NCH2CO2–
450
0,964
0,928
0,902
0,82
0,775
+
400
0,964
0,927
0,901
0,815
0,77
OH–, F–, SCN–, OCN–, HS–, ClO–3, ClO–4, BrO–3 IO–4, MnO–4, HCO2–, H2citrato–, CH3NH+3, (CH3)2NH+2
350
0,964
0,926
0,900
0,81
0,76
K+, Cl–, Br–, I–, CN–, NO–2, NO–3
300
0,964
0,925
0,899
0,805
0,755
Rb+, Cs+, NH+4, Tl+, Ag+
250
0,964
0,924
0,898
0,80
0,75
H3NCH2CO2H, (CH3)3NH+, CH3CH2NH3+
Carga = ±2 Mg2+, Be2+
800
0,872
0,755
0,69
0,52
0,45
CH2(CH2CH2CO–2)2, (CH2CH2CH2CO–2)2
700
0,872
0,755
0,685
0,50
0,425
Ca2+, Cu2+, Zn2+, Sn2+, Mn2+, Fe2+, Ni2+, CO2+, C6H4(CO–2)2, H2C(CH2CO–2)2, (CH2CH2CO–2)2
600
0,870
0,749
0,675
0,485
0,405
Sr2+, Ba2+, Cd2+, Hg2+, S2–, S2O2–4, H2C(CO–2)2, (CH2CO–2)2, (CHOHCO–2)2
500
0,868
0,744
0,67
0,465
0,38
450
0,867
0,742
0,665
0,455
0,37
400
0,867
0,740
0,660
0,445
0,355
Carga = ±3 Al3+, Fe3+, Cr3+, Sc3+, Y3+, In3+, lantanídeosa
900
0,738
0,54
0,445
0,245
0,18
Citrato3–
500
0,728
0,51
0,405
0,18
0,115
400
0,725
0,505
0,395
0,16
0,095
Carga = ±4 Th4+, Zr4+, Ce4+, Sn4+
1 100
0,588
0,35
0,255
0,10
0,065
500
0,57
0,31
0,20
0,048
0,021
a. Lantanídeos são os elementos 57-71 na tabela periódica. FONTE: J. Kielland, J. Am. Chem. Soc. 1937, 59, 1675.
Valor de x
Valor de y
10 16 20
0,67 ? 0,83
Para interpolarmos um valor de y, podemos estabelecer uma proporção: Este cálculo equivale a dizer:
Interpolação:
“16 é 60% da distância de 10 a 20. Portanto, o valor de y será 60% da distância entre 0,67 e 0,83”. Para x = 16, nossa estimativa de y é 0,766.
EXEMPLO
Interpolação de Coe cientes de Atividade
Calcule o coe ciente de atividade do H+ quando μ = 0,025 M. Solução O H+ está na primeira linha da Tabela 8-1. μ
γ para H+
0,01 0,025 0,05
0,914 ? 0,86
A interpolação linear é construída da seguinte forma:
Outra Solução Um cálculo mais correto e um pouco mais tedioso utiliza a Equação 8-6 com o tamanho de íon α = 900 pm, listado para o H+ na Tabela 8-1:
TESTE A VOCÊ MESMO Encontre por interpolação o γ para o H+ quando μ = 0,06 M. (Resposta: 0,854)
FIGURA 8-5 Coeficiente de atividade do H+ em soluções contendo HClO4 0,010 0 M e quantidades variáveis de NaClO4. [Dados extraídos de L. Pezza, M. Molina, M. de Moraes, C. B. Melios e J. O. Tognolli, Talanta 1996, 43, 1689.] Uma referência mais completa, para soluções eletrolíticas, é H. S. Harned e B. B. Owen, The Physical Chemistry of Electrolyte Solutions (New York: Reinhold. ed. 1958).
Coe cientes de Atividade de Compostos Não iônicos Moléculas neutras, como o benzeno e o ácido acético, não possuem atmosfera iônica, pois não possuem carga. Como uma boa aproximação, os seus coeficientes de atividade são considerados unitários para uma força iônica menor do que 0,1 M. Neste livro, admitimos γ = 1 para todas as moléculas neutras. Ou seja, a atividade de uma molécula neutra será considerada igual à sua concentração. Para espécies neutras, AC ≈ [C]. Uma relação mais exata é log γ = kμ, em que k ≈ 0 para pares iônicos, k ≈ 0,11 para o NH3 e para o CO2, e k ≈ 0,2 para moléculas orgânicas. Para uma força iônica μ = 0,1 M, γ ≈ 1,00 para pares iônicos, γ ≈ 1,03 para o NH3, e γ ≈ 1,05 para moléculas orgânicas.
Para gases, tais como o H2, a atividade é dada por AH2 = PH2γH2 em que PH2 é a pressão em bar. A atividade de um gás é chamada de fugacidade e o coeficiente de atividade é chamado de coeficiente de fugacidade. O desvio do comportamento de um gás em relação à lei dos gases ideais resulta no afastamento do coeficiente de fugacidade de 1. Para a maioria dos gases em 1 bar, ou abaixo dessa pressão, γ ≈ 1. Portanto, para todos os gases consideramos A = P (bar). Para os gases, A ≈ P (bar).
Forças Iônicas Elevadas Para valores elevados de força iônica, γ aumenta para valores crescentes de μ.
Acima de uma força iônica de aproximadamente ~1 M, a maioria dos coeficientes de atividade aumenta, como pode ser visto para o H+ em soluções de NaClO4 na Figura 8-5. Olhando essa figura, não devemos nos surpreender pelo fato de os coeficientes de atividade em soluções concentradas não serem os mesmos que os de uma solução diluída. O “solvente” não é mais apenas H2O, mas sim uma mistura de H2O e NaClO4. Daqui em diante, limitaremos nossa atenção a soluções aquosas diluídas.
EXEMPLO
Uso dos Coe cientes de Atividade
Determine a concentração de Ca2+ em equilíbrio com uma solução de NaF 0,050 M saturada com CaF2. A solubilidade do CaF2 é pequena, de modo que a concentração do íon F– é 0,050 M, originária do NaF. Solução Encontramos [Ca2+] a partir da expressão do produto de solubilidade, incluindo os coe cientes de atividade. A força iônica do NaF 0,050 M é 0,050 M. Quando μ = 0,050 0 M na Tabela 8-1, encontramos γCa2+ = 0,485 e γF– = 0,81.
Kps provém do Apêndice F. Observe que o γF– está elevado ao quadrado.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine [Hg22+] em equilíbrio com KCl 0,010 M saturado com Hg2Cl2. (Resposta: 2,2 × 10–14 M) 8-3
O pH em Termos da Atividade
Para uma discussão sobre o que o pH realmente significa, e como o pH de soluções-padrão primário é medido, B. Lunelli e F. Scagnolari, “pH Basics”, J. Chem. Ed. 2009, 86, 246.
A definição de pH dada no Capítulo 6, pH ≈ –log[H+], não é exata. A definição correta é
Quando medimos o pH com um medidor de pH, estamos medindo o logaritmo negativo da atividade do íon hidrogênio, e não sua concentração.
EXEMPLO
pH da Água Pura a 25°C
Vamos calcular o pH da água pura, usando os coe cientes de atividade. Solução O equilíbrio pertinente é
H+ e OH– são produzidos em uma razão molar 1:1, de modo que suas concentrações têm que ser iguais. Representando cada uma das concentrações por x, podemos escrever Kw = 1,0 × 10–14 = (x)γH+ (x)γOH– A força iônica da água pura, porém, é tão pequena que é razoável supor que γH+ = γOH– = 1. Substituindo esses valores nas equações anteriores temos 1,0 × 10–14 = (x)(1)(x)(1) = x2 ⇒ x = 1,0 × 10–7 M As concentrações do H+ e OH– são ambas iguais a 1,0 × 10–7 M. A força iônica é 1,0 × 10–7 M, de modo que os coe cientes de atividade são muito próximos de 1,00. O pH é pH = –log [H+]γH+ = –log (1,0 × 10–7)(1,00) = 7,00
EXEMPLO
pH da Água Contendo um Sal Dissolvido
Vamos agora calcular o pH da água contendo KCl 0,10 M a 25°C. Solução A Reação 8-9 mostra que [H+] = [OH–]. A força iônica de uma solução de KCl 0,10 M é 0,10 M. Os coe cientes de atividade do H+ e do OH– na Tabela 8-1 são, respectivamente, 0,83 e 0,76 quando μ = 0,10 M. Substituindo esses valores na Equação 8-10 temos
As concentrações do H+ e OH– são iguais e ambas são maiores que 1,0 × 10–7 M. As atividades do H+ e do OH– não são iguais nessa solução:
Finalmente, calculamos pH = –log AH+ = –log(1,05 × 10–7) = 6,98. TESTE A VOCÊ MESMO Encontre [H+] e o pH de uma solução de LiNO3 0,05 M. (Resposta: 1,20 × 10–7 M, 6,99) O pH da água muda de 7,00 para 6,98 quando adicionamos KCl 0,10 M. O KCl não é um ácido e nem uma base. A pequena mudança no pH ocorre porque a presença de KCl afeta as atividades do H+ e do OH–. O pH varia de 0,02 unidade, dentro do limite de exatidão das medidas de pH, e isso raramente é importante. Entretanto, a concentração de H+ na solução de KCl 0,10 M (1,26 × 10–7 M) é 26% maior do que a concentração de H+ na água pura (1,00 × 10–7 M).
8-4
Tratamento Sistemático do Equilíbrio
O tratamento sistemático do equilíbrio é um método que pode ser aplicado a todos os tipos de equilíbrio químico, independentemente de sua complexidade. Ao escrevermos equações químicas frequentemente introduzimos condições específicas ou aproximações apropriadas, que nos permitem simplificar muito os cálculos. Mesmo cálculos simplificados são geralmente muito tediosos, de modo que fazemos uso frequente de planilhas eletrônicas para obter soluções numéricas. Com o domínio da técnica de tratamento sistemático do equilíbrio, devemos ser capazes de explorar o comportamento de sistemas complexos. O procedimento sistemático para resolver o problema é escrever tantas equações algébricas independentes quantas incógnitas existirem no problema. As equações são escritas tendo em vista todos os possíveis equilíbrios químicos, que vimos anteriormente, mais duas equações obtidas pelos balanços de carga e de massa. Existe apenas um único balanço de carga, mas podem existir vários balanços de massa. Balanço de Carga O balanço de carga é uma formulação algébrica da eletroneutralidade: na solução, a soma das cargas positivas é igual à soma das cargas negativas. As soluções têm sempre carga total zero.
Vamos admitir que determinada solução contenha as seguintes espécies iônicas: H+, OH–, K+, H2PO4–, HPO42–, e PO43–. O balanço de carga é:
Em um balanço de carga, o coeficiente de cada termo é igual ao módulo da carga do respectivo íon.
Esse balanço expressa que a carga total devido ao H+ e ao K+ é igual, em módulo, à carga de todos os ânions presentes no lado direito da equação. O coeficiente na frente de cada uma das espécies sempre é igual ao módulo da carga do íon. Esse enunciado é verdadeiro porque um mol de, por exemplo, PO43–, contribui com três mols de carga negativa. Se [PO43–] = 0,01 M, então a carga negativa correspondente é 3[PO43–] = 3(0,01) = 0,03 M. A princípio podemos pensar que a Equação 8-11 não está balanceada corretamente, achando que “o lado direito da equação tem muito mais carga que o lado esquerdo”. Entretanto, conforme veremos, ela está absolutamente correta. Por exemplo, considere uma solução que foi preparada pesando-se 0,025 0 mol de KH2PO4 mais 0,030 0 mol de KOH e diluindo-se a 1 L. As concentrações das espécies no equilíbrio são
Esse cálculo, que você deve ser capaz de fazer quando tiver terminado o estudo dos ácidos e bases, leva em conta a reação do OH– com o H2PO4– para produzir HPO42– e PO43–. As cargas estão balanceadas? Sim, realmente. Substituindo os valores na Equação 8-11, encontramos
A carga total positiva é 0,055 0 M e a carga total negativa também é 0,055 0 M (Figura 8-6). As cargas devem estar balanceadas em qualquer solução. Caso contrário, um béquer com excesso de carga positiva deslizaria, cruzando a bancada do laboratório, até se chocar com outro béquer que tivesse excesso de carga negativa.
FIGURA 8-6 Contribuição de carga por cada íon em 1,00 L de solução contendo 0,025 0 mol de KH2PO4 mais 0,030 0 mol de KOH. A carga positiva total é igual à carga negativa total.
A forma geral do balanço de carga para qualquer solução é Balanço de carga:
Σ[cargas positivas] = Σ S[cargas negativas] Os coeficientes de atividade não aparecem no balanço de carga. A contribuição de carga do H+ 0,1 M é exatamente 0,1 M. Pense nisso.
em que [C] é a concentração de um cátion, n é a carga do cátion, [A] é a concentração de um ânion e m é o módulo da carga do ânion.
EXEMPLO
Escrevendo o Balanço de Carga
Escreva o balanço de carga para uma solução contendo H2O, H+, OH–, ClO4–, Fe(CN)63–, CN–, Fe3+, Mg2+, CH3OH, HCN, NH3 e NH4+. Solução As espécies neutras (H2O, CH3OH, HCN e NH3) não contribuem com carga, assim o balanço de carga é [H+] + 3[Fe3+] + 2[Mg2+] + [NH4+] = [OH–]+ [ClO4–] + 3[Fe(CN)63–] + [CN–]) TESTE A VOCÊ MESMO Qual será o balanço de massa se você adicionar MgCl2, que se dissocia em Mg2+ + 2 Cl–, à solução? (Resposta: [H+] + 3[Fe3+] + 2[Mg2+] + [NH4+] = [OH–]+ [ClO4–] + 3[Fe(CN)63–] + [CN–] + [Cl–]) Balanço de Massa O balanço de massa, também chamado de balanço material, é uma consequência da lei da conservação da matéria. O balanço de massa estabelece que a quantidade de todas as espécies em uma solução contendo determinado átomo (ou grupo de átomos) deve ser igual à quantidade desse átomo (ou grupo de átomos) introduzida na solução. É mais prático ver essa relação por meio de exemplos do que por uma expressão geral. O balanço de massa é uma formulação da conservação da matéria. Ele realmente se refere à conservação dos átomos, e não da massa deles.
Suponha que foi preparada uma solução dissolvendo 0,050 mol de ácido acético em água, diluindo-se posteriormente até que o volume total fosse de 1,00 L. O ácido acético se dissocia parcialmente em acetato:
O balanço de massa indica que a quantidade de ácido acético dissociado e não dissociado na solução deve ser igual à quantidade de ácido acético introduzida na solução. Balanço de massa para o ácido acético em água:
Quando um composto se dissocia em vários estágios, o balanço de massa deve incluir todos os produtos formados. Por exemplo, o ácido fosfórico (H3PO4) se dissocia em H2PO4–, HPO42– e PO43–. O balanço de massa para uma solução preparada dissolvendo 0,025 0 mols de H3PO4 em 1,00 L é Em um balanço de massa não aparecem coeficientes de atividade. A concentração de cada espécie presente leva em conta exatamente o número de átomos correspondentes a cada espécie.
0,025 0 M = [H3PO4] + [H2PO4–] + [HPO42–] + [PO43–]
EXEMPLO
Balanço de Massa Quando a Concentração Total É Conhecida
Escreva o balanço de massa para o K+ e o fosfato em uma solução preparada pela mistura de 0,025 0 mol de KH2PO4 com 0,030 0 mol de KOH e diluída a 1,00 L. Solução A concentração total de K+ é 0,025 0 M + 0,030 0 M, logo o balanço de massa é [K+] = 0,055 0 M A concentração total de todas as espécies de fosfato é 0,025 0 M; assim, o balanço de massa para o fosfato é [H3PO4] + [H2PO4–] + [HPO42–] + [PO43–] = 0,025 0 M TESTE A VOCÊ MESMO Escreva dois balanços de massa para uma solução de volume 1,00 L contendo 0,100 mol de acetato de sódio. (Resposta: [Na+] = 0,100 M; [CH3CO2H] + [CH3CO2–] = 0,100 M) Vamos considerar uma solução preparada pela dissolução de La(IO3)3 em água.
Não sabemos quanto La3+ ou IO3– está dissolvido, mas sabemos que devem existir três íons iodato para cada íon lantânio dissolvido. Isto é, a concentração de iodato deve ser três vezes a concentração do lantânio. Se La3+ e IO3– são as únicas espécies derivadas do La(IO3)3 o balanço de massa, neste caso, é [IO3–] = 3[La3+] Se a solução também contém o par iônico LaIO32+ e o produto da hidrólise LaOH2+, o balanço de massa passa a ser
EXEMPLO
Balanço de Massa Quando a Concentração Total É Desconhecida
Escreva o balanço de massa para uma solução saturada do sal pouco solúvel Ag3PO4, que produz íons PO43– e 3Ag+ quando se dissolve. Solução Se o fosfato em solução permanecer como PO43–, podemos escrever [Ag+] = 3[PO43–]
pois são produzidos três íons prata para cada íon fosfato. No entanto, o fosfato reage com a água formando HPO42–, H2PO4– e H3PO4; assim o balanço de massa é [Ag+] = 3{[PO43–] + [HPO42–] + [H2PO4–] + [H3PO4]} Átomos de Ag = 3(átomos de P) O Boxe 8-2 ilustra como se faz um balanço de massa em águas naturais.
Isto é, o número de átomos de Ag+ tem que ser igual a três vezes o número total de átomos de fósforo, independentemente de quantas espécies contêm fósforo. TESTE A VOCÊ MESMO Escreva o balanço de massa para uma solução saturada de Ba(HSO4)2 se as espécies presentes em solução são Ba2+, BaSO4(aq), HSO42, SO42–e BaOH+. (Resposta: 2 × bário total = sulfato total, ou 2{[Ba2+] + [BaSO4(aq)] + [BaOH+]} = [SO42–] + [HSO42] + [BaSO4(aq)]) BOXE 8-2
Balanço de Massa para o Carbonato de Cálcio em Rios
O Ca2+ é o cátion mais comum em rios e lagos. Ele vem da dissolução do mineral calcita pela ação do CO2 formando-se 2 mols de HCO3– para cada mol de Ca2+:
Próximo ao pH neutro, a maior parte do produto formado é bicarbonato, e não CO32– ou H2CO3. O balanço de massa para a dissolução da calcita é, portanto, [HCO3–] ≈ 2[Ca2+]. Realmente, as determinações de Ca2+ e HCO3– em vários rios obedecem a esse balanço de massa, pois os valores correspondentes se aproximam da reta observada no grá co da gura presente neste boxe. Os rios, tais como o Danúbio, o Mississippi e o Congo, que se localizam praticamente sobre a reta [HCO3–] = 2[Ca2+], parecem estar saturados com carbonato de cálcio. Se a água do rio estivesse em equilíbrio com o CO2 atmosférico (PCO2 = 10–3,4 bar), a concentração do Ca2+ deveria ser 21 mg/L (veja o Problema 8-34). Rios com mais de 21 mg de Ca2+ por litro possuem uma concentração de CO2 dissolvido maior, produzido pela atividade biológica ou pelo in uxo de lençóis de água com um alto teor de CO2. Rios como o Nilo, o Níger e o Amazonas, para os quais 2[Ca2+] < [HCO3–], não estão saturados com CaCO3. No período entre 1960 e 2013, o CO2 atmosférico aumentou em 27%, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis. Este aumento desloca a reação A para a direita, prejudicando a existência de recifes de coral,10 estruturas vivas gigantescas formadas principalmente por CaCO3. Os recifes de coral constituem o habitat de diversas espécies aquáticas. O aumento contínuo do CO2 atmosférico ameaça o plâncton contendo paredes de CaCO3,11 perda que, por sua vez, ameaça membros superiores da cadeia alimentar.
As concentrações de bicarbonato e de cálcio em muitos rios de acordo com o balanço de massa para a reação [HCO3–] ≈ 2[Ca2+]. [Dados de W. Stumm e J. J. Morgan, Aquatic Chemistry, 3rd ed. (New York: Wiley-Interscience, 1996), p. 189, e H. D. Holland, The Chemistry of the Atmosphere and Oceans (New York: Wiley-Interscience, 1978.)]
Tratamento Sistemático do Equilíbrio A partir do que vimos sobre os balanços de carga e de massa, estamos prontos para estudar o tratamento sistemático do equilíbrio.12 O procedimento geral é mostrado a seguir: Etapa 1 Escrevemos todas as reações apropriadas. Etapa 2 Escrevemos a equação de balanço de carga. Etapa 3 Escrevemos as equações de balanço de massa. Pode haver mais de uma. Etapa 4 Escrevemos a expressão da constante de equilíbrio para cada reação química. Essa etapa é a única em que entram os coeficientes de atividade. Etapa 5 Contamos as equações e as incógnitas. Devem existir tantas equações quantas forem as incógnitas (espécies químicas). Caso isso não ocorra, devemos procurar mais reações ou fixar algumas concentrações em valores conhecidos. Etapa 6 Resolvemos o conjunto de equações para todas as incógnitas. As Etapas 1 e 6 constituem os pontos cruciais do problema. Supor quais os equilíbrios químicos que existem, em uma dada solução, requer um alto grau de intuição química. Neste texto, geralmente, você terá ajuda na Etapa 1. A menos que se saibam todos os equilíbrios relevantes, não é possível calcular corretamente a composição da solução. Como não conhecemos todas as reações químicas, intuitivamente simplificamos muitos problemas de equilíbrio. A Etapa 6 (resolução das equações) é provavelmente o maior desafio. Como existem n equações envolvendo n incógnitas, o problema sempre pode ser resolvido, pelo menos a princípio. Nos casos mais simples, a resolução pode ser feita manualmente de modo direto, mas para a maioria dos problemas fazem-se aproximações ou utiliza-se uma planilha eletrônica.
8-5
Aplicação do Tratamento Sistemático do Equilíbrio
Vamos examinar agora alguns problemas para aprendermos a empregar o tratamento sistemático do equilíbrio, e para ilustrar o que podemos fazer à mão e quando uma planilha é efetivamente útil. Uma Solução de Amônia
Vamos determinar as concentrações das espécies presentes em uma solução aquosa contendo 0,010 0 mol de NH3 em 1,000 L. O equilíbrio primário é
Um segundo equilíbrio presente em qualquer solução aquosa é
Nosso objetivo é determinar [NH3], [NH41], [H+] e [OH–]. Etapa 1 Reações apropriadas. São as Reações 8-13 e 8-14. Etapa 2 Balanço de carga. A soma das cargas positivas tem de ser igual à soma das cargas negativas.
Etapa 3 Balanço de massa. Toda a amônia introduzida na solução está na forma de NH3 ou de NH4+. Somadas, essas duas concentrações devem ser iguais a 0,010 0 M.
em que F significa concentração formal. Etapa 4 Expressões das constantes de equilíbrio. O símbolo = significa “é definido como”.
Esta é a única etapa em que os coeficientes de atividade são usados no problema. Usamos pK na planilha 8-7. pK é o negativo do logaritmo de uma constante de equilíbrio. Para Kb = 10–4,755, pKb = 4,755.
Etapa 5 Contamos as equações e as incógnitas. Temos quatro equações, 8-15 a 8-18, e quatro incógnitas ([NH3], [NH4+], [H+] e [OH–]). Dispomos de informações suficientes para resolver o problema. Etapa 6 Resolução. Este “simples” problema é complicado. Vamos começar ignorando os coeficientes de atividade; nós retornaremos a eles mais tarde no exemplo do Mg (OH2). Nossa abordagem é eliminar uma variável por vez até que reste apenas uma incógnita. Para um problema do tipo ácido-base, a escolha é expressar cada concentração como função de [H+]. Uma substituição que sempre podemos fazer é [OH–] = Kw/[H+]. Colocando essa expressão no lugar de [OH–] no balanço de carga da Equação 8-15, obtém-se São necessárias n equações para resolvermos um sistema que tenha n incógnitas.
que pode ser resolvida para [NH4+]:
O balanço de massa informa que [NH3] = F – [NH4+]. Podemos substituir a expressão para [NH4+], obtida a partir da Equação 8-19, no balanço de massa para expressar [NH3] em termos de [H+].
A Equação 8-19 fornece [NH4+] em termos de [H+]. A Equação 8-20 fornece [NH3] em termos de [H+]. Podemos gerar uma equação na qual a única incógnita é [H+], substituindo nossas expressões para [NH4+], [NH3] e [OH–] na expressão da constante de equilíbrio Kb (sempre ignorando os coeficientes de atividade):
A Equação 8-21 é horrível, mas a única incógnita é [H+]. O Excel dispõe de um procedimento denominado Atingir Meta, que resolve equações contendo apenas uma incógnita. Vamos montar a planilha na Figura 8-7, que utiliza as Equações 8-19 e 8-20 para [NH4+] e [NH3], e ainda [OH–] = Kb /[H+] nas células B9, B11 e B10. A célula B5 contém a concentração formal de amônia, F = 0,01 M. A célula B7 contém uma estimativa (um “chute”, neste caso) para o pH, a partir do qual a [H+] é calculada na célula B8. A amônia é uma base, por isso “chutamos” um pH básico = 9. A célula B12 avalia o quociente de reação, Q = [NH4+] [OH–]/[NH3], com as concentrações que foram “chutadas” (incorretas) e que estão nas células B9:B11. A célula B13 mostra a diferença Kb – [NH4+][OH–]/[NH3]. Se as concentrações nas células B9:B11 estiverem corretas, então Kb – [NH4+][OH–]/[NH3] será zero. Antes de acessar o recurso Atingir Meta no Excel 2010, na Guia Arquivo, clique em Opções e selecione Fórmulas. Em Opções de Cálculo, fixe Número Máximo de Alterações em 1E-14 e clique em OK. Você apenas fixou a precisão para o cálculo. De volta à planilha, selecione a guia Dados e clique em Teste de Hipóteses do grupo Ferramentas de Dados. Selecione Atingir Meta. Na janela Atingir Meta, mostrada na Figura 8-8a, digite B13 em Definir célula:, digite 0 em Para valor:, e B7 em Alternando célula. Clique em OK e o Excel variará o valor em B7 até que o valor em B13 seja próximo a zero. O pH final aparece na célula B7 na Figura 8-8b. As concentrações de todas as espécies aparecem nas células B8:B11. Isso foi muito fácil uma vez que montamos a planilha!
FIGURA 8-7 Planilha para encontrar as concentrações das espécies em NH3 aquoso usando o recurso Atingir Meta do Excel. A célula B3 contém pKb = – log Kb. Se pKb = 4,755, Kb = 10–4,755.
FIGURA 8-8
(a) Janela Atingir Meta e (b) concentrações após executar Atingir Meta.
As concentrações [NH4+] e [NH3] nas células B9 e B11, após a execução de Atingir Meta, na Figura 8-8b, confirmam que a amônia é uma base fraca. A fração que reagiu com a água é apenas 4,1%.
Você deve perceber agora que mesmo a aplicação do tratamento sistemático do equilíbrio ao mais simples dos problemas não é trivial. Na maioria dos problemas de equilíbrio, faremos aproximações simplificadoras para obter uma resposta razoável sem grande esforço. Após resolver um problema, devemos sempre verificar que nossas aproximações sejam válidas. Eis uma aproximação para simplificar o problema da amônia. A amônia é uma base, de modo que esperamos que [OH–] >> [H+]. Por exemplo, suponha que o pH atinja 9. Então, [H+] = 10–9 M, e [OH–] (= Kw/[H+]) = 10–14/10–9 = 10–5 M. Ou seja, [OH–] >> [H+]. No primeiro termo do numerador da Equação 8-21, podemos desprezar [H+] frente a Kw/[H+]. No denominador, podemos igualmente desprezar [H+] frente a Kw/[H+]. Com essas aproximações, a Equação 8-21 se torna
A solução para a equação quadrática 8-22 é [OH–] = 4,11 × 10–4, o que dá [H+] = Kw/[OH–] = 2,44 × 10–11 M, confirmando que [OH–] >> [H+].
A Equação 8-22 é quadrática com uma variável ([OH–]). Podemos resolvê-la para [OH–] por métodos algébricos. Nós trabalharemos extensivamente com equações desse tipo no próximo capítulo sobre (ácidos e bases). Vamos agora introduzir uma abordagem mais geral envolvendo planilhas, o que não exige a redução do problema do equilíbrio a uma equação e uma incógnita. Solubilidade e Hidrólise da Azida de Tálio Considere a dissociação da azida de tálio(I), seguida pela hidrólise da azida: A azida é um íon linear com duas ligações N5N equivalentes:
Nosso objetivo é determinar [Tl+], [N3–], [HN3], [H+] e [OH–]. Etapa 1 Reações apropriadas. As três reações são 8-23 a 8-25. Etapa 2 Balanço de carga. A soma das cargas positivas tem de ser igual à soma das cargas negativas.
Etapa 3 Balanço de massa. A dissolução de TlN3 fornece uma quantidade igual de íons Tl+ e N3–. Parte da azida se torna ácido hidrazoico. A concentração de Tl1 é igual à soma das concentrações de N3– e de HN3.
Etapa 4 Expressões das constantes de equilíbrio.
Etapa 5 Contamos as equações e as incógnitas. Temos cinco equações, de 8-26 a 8-30, e cinco incógnitas ([T]+], [N3–], [HN3], [H+] e [OH–]). Dispomos de informações suficientes para resolver o problema. Etapa 6 Resolução. Introduzimos agora um método usando planilhas com amplas aplicações em equilíbrios químicos.13 Por ora, iremos ignorar os coeficientes de atividade, mas eventualmente iremos lidar com eles. Com cinco incógnitas e três equações de equilíbrio, 8-28 a 8-30, o método da planilha começa com uma estimativa para duas das cinco concentrações desconhecidas.
Agora escrevemos expressões para as três concentrações restantes em função das duas concentrações estimadas. É útil estimar concentrações de espécies que aparecem em dois ou mais equilíbrios. Nas Equações 8-28 a 8-30, cada uma das espécies NH3– e OH– aparece duas vezes, de modo que estimamos suas concentrações. A partir dessas estimativas, determinamos as concentrações restantes a partir das expressões de equilíbrio. Continuamos a ignorar os coeficientes de atividade até o próximo exemplo.
A Figura 8-9 mostra o trabalho de determinar cinco concentrações desconhecidas nas células C6:C10. Digite essa planilha, insira as constantes necessárias nas células B12:B14 e as fórmulas nas células C6:C10, F6:F8 e D12:D14. Agora precisamos estimar as concentrações para N3– e OH–. As concentrações de diferentes espécies em equilíbrio podem variar de várias ordens de grandeza, o que cria dificuldades no cálculo aritmético computacional. Portanto, exprimimos as
concentrações de N3– e OH– por meio do negativo dos seus logaritmos nas células B6 e B7. Para estimar [N3–] = 102– M, entre 2 na célula B6. Tal como pH = –log[H+], definimos pC como o negativo do logaritmo da concentração: A função p é o negativo do logaritmo de uma grandeza: pC ≡ –log C
pK = –log K
–3,66
Se K = 10
, pK = 3,66.
em que C é uma concentração. De maneira análoga, pK é o negativo do logaritmo de uma constante de equilíbrio. Por exemplo, pKw = –log Kw. Se Kw = 1,00 × 10–14, pKw = 14,00. Como estimar [N3–]e [OH–]? O valor de Kps para TlN3 é 10–3,66. Se não houvesse reação do N3– com a água, as concentrações seriam [Tl+] = [N3–] =
= 10–3,66/2 = 10–1,83 M. Precisamos apenas de uma estimativa para [N3–], por isso, pN3– ≈ 2 é bom o
bastante para ser inserido na célula B6, dando [N3–] = 10–2 M na célula C6. Contudo, o N3– reage com H2O produzindo [OH–] por meio da Reação 8.24. Sem nenhum cálculo, podemos estimar que [OH–] seria ~ 10–4 M em uma solução fracamente básica. Portanto, entre pOH– = 4 na célula B7. A partir de [N3–] e [OH–] nas células C6 e C7, a planilha calcula [T]+], [HN3] e [H+] nas células C8:C10 por meio das Equações 8-32 a 8-34. Nenhum desses valores está correto. Eles são apenas estimativas iniciais, a partir das quais o Excel pode calcular valores melhores. O balanço de carga (8-26) pode ser reescrito na forma
e o balanço de massa (8-27) pode ser reescrito na forma
As somas representadas como b1 e b2 nas Equações 8-26a e 8-27 serão ambas iguais a zero quando as concentrações estiverem corretas. Essas somas, calculadas nas células F6 e F7, não são iguais a zero porque as concentrações [N3–] e [OH–] não estão corretas. Para encontrar as concentrações corretas, escolhemos minimizar a soma Σbi2 = b12 + b22 na célula F8. Nosso critério para as concentrações corretas é que elas satisfazem os balanços de carga e de massa (bem como as expressões de equilíbrio). A soma Σbi2 = b12 + b22 é sempre positiva. Minimizamos essa soma por meio da rotina Solver do Excel.
FIGURA 8-9 Planilha para a solubilidade da azida de tálio sem o uso de coeficientes de atividade. As estimativas iniciais, pN3– = 2 e pOH– = 4, aparecem nas células B6 e B7. A partir desses dois números, a planilha calcula as concentrações nas células C6:C10. A rotina Solver então varia pN3– e pOH– nas células B6 e B7 até que os balanços de carga e massa na célula F8 sejam satisfeitos.
FIGURA 8-10
Janelas Parâmetros e Opções do Solver.
No Excel 2010, na guia Dados em um PC, você deve encontrar Solver como uma opção. Se isso não acontecer, carregue o Solver por meio do seguinte procedimento: clique na guia Arquivo; clique em Opções do Excel e, em seguida, clique na categoria Suplementos do Excel; na caixa de diálogo Suplementos, selecione Solver, clique em Ir e, em seguida, em OK. No Excel 2011 para Mac, Solver está localizado no menu Ferramentas. Na guia Dados, selecione Análise e clique em Solver. Na janela Parâmetros do Solver (Figura 8-10a), clique em Opções. Na janela Opções, nós só vamos nos preocupar com a aba Todos os Métodos. Fixe Precisão de Restrição = 1e-15. Selecione Usar Escala Automática, fixe Tempo Máx. = 100 s e Iterações = 200. Não selecione Ignorar Restrições de Números Inteiros e deixe Nível de Número Inteiro Ideal (%) em seu valor-padrão. Sua janela deve se parecer com a que aparece na Figura 8-10b. Clique OK. Uma verificação importante: Em uma célula vazia na Figura 8-11, calcule o quociente Kb = [HN3][OH–]/[N3–] = C9*C7/C6. Não importam os valores nas células C9, C7 e C6, o quociente tem de ser Kb = 4,467E–10. Se ele não for, verifique as fórmulas para cada concentração.
Clique em Solver. Na janela Parâmetros do Solver na Figura 8-10a, digite F8 em Definir Objetivo, selecione Mín e digite B6:B7 em Alterando Células Variáveis (Figura 8-10a). Selecionar um Método de Solução deve estar em seu valor-padrão de GRG Não Linear. Você apenas instruiu a rotina Solver a variar pN3– e pOH– nas células B6:B7 até que o balanço combinado de carga e massa na célula F8 seja o mais próximo possível de zero. Clique em Resolver e a rotina Solver calcula pN3– = 1,830 038 e pOH– = 5,589 69 nas células B6:B7, o que dá Σbi2 ≈ 10–30 na célula F8 na Figura 8-11. As concentrações que satisfazem as condições de equilíbrio e os balanços de carga e massa aparecem nas células C6:C10. Crie a planilha na Figura 8-9 e tente esse procedimento. Você vai realmente gostar dele. Estimamos que [N3–] = 102– M e [OH–] = 10–4 M. A rotina Solver nos mostra que [N3–] = 0,0014 8 M e [OH–] = 2,57 × 10–6 M. Quando usamos a rotina Solver, é uma boa ideia tentar alguns valores de iniciais diferentes para pN3– e pOH– para verificar se o Solver dá a mesma resposta a cada vez. Quanto mais seu “chute” inicial estiver próximo da solução correta, mais provavelmente o Solver encontrará a resposta correta. A Figura 8-11 nos diz também que [HN3] = 2,57 × 10–6 M, que é aproximadamente igual à [OH–], e isso não é um acidente. A hidrólise 8-24 produz um HN3 para cada OH–. A fração da azida que sofre hidrólise é [HN3]/([ N3–] + [HN3]) = 0,017%. Essa fração é razoável porque o N3– é uma base fraca, cujo Kb = 10–9,35. Vamos revisar o processo complexo que acabamos de exercitar: 1. Listamos três reações químicas que imaginamos ocorrer quando TlN3(s) se dissolve em água e escrevemos as suas expressões
de constante de equilíbrio. 2. Escrevemos os balanços de carga e de massa.
3. Certificamo-nos de que dispomos de tantas equações quanto de incógnitas.
FIGURA 8-11
Planilha para a solubilidade da azida de tálio após a rotina Solver ter encerrado seus cálculos.
4. Estimamos [(número de incógnitas) – (número de equilíbrios) = 5 – 3 = 2] duas das concentrações. Escolhemos [N3–] e [OH–]
porque essas espécies aparecem em mais de um equilíbrio. Expressamos as concentrações estimadas como pC = –logC para auxiliar os cálculos aritméticos. 5. A partir de [N3–] e [OH–] e das expressões dos equilíbrios, calculamos [Tl1], [HN3] e [H+]. 6. Escrevemos então o balanço de massa na forma b1 ≡ [Tl+] – [N3–] – [HN3] = 0 e o balanço de carga na forma b2 ≡ [Tl1] + [H+]
– [N3–] – [OH–] = 0. 7. Finalmente, pedimos a rotina Solver para variar [N3–] e [OH–] até que a soma b12 + b22 seja a menor possível. Nesse ponto, as
concentrações devem estar corretas. 8. Como verificação, é uma boa ideia variar os valores iniciais de [N3–] e [OH–] para ver se a rotina Solver gera a mesma
resposta. Observe que K1 é a mesma constante de equilíbrio indicada como β1 no Boxe 6-2 e no Apêndice I.
Solubilidade do Hidróxido de Magnésio e Coe cientes de Atividade Vamos determinar as concentrações das espécies em uma solução saturada de Mg(OH)2, a partir do conhecimento da química envolvida. Dessa vez, iremos incluir os coeficientes de atividade.14
Etapa 1 As reações pertinentes foram apresentadas anteriormente. Etapa 2 Balanço de carga:
Etapa 3 Balanço de massa. Há um pequeno truque. Da Reação 8-36 podemos dizer que a concentração de todas as espécies contendo OH– é igual a duas vezes a concentração de todas as espécies envolvendo o magnésio. Contudo, a Reação 838 também gera 1 OH– para cada H+. O balanço de massa permite avaliar ambas as fontes de OH–:
Depois de todo esse trabalho vemos que a Equação 8-40 é equivalente à Equação 8-39. Etapa 4 As expressões das constantes de equilíbrio estão nas Equações 8-36 a 8-38. Etapa 5 Contagem do número de equações e de incógnitas. Existem quatro equações (de 8-36 a 8-39) e quatro incógnitas: [Mg2+], [MgOH+], [H+] e [OH–]. Etapa 6 Resolução. Iremos usar a planilha introduzida no problema envolvendo o TlN3, mas agora incluindo os coeficientes de atividade. Tendo quatro incógnitas e três equilíbrios, iremos estimar uma concentração: Número de concentrações a serem estimadas = (número de incógnitas) – (número e equilíbrios) = 4 – 3 = 1 A estratégia é estimar uma concentração, e então deixar que a rotina Solver otimize aquela concentração para nós. A força iônica correta é um resultado secundário da otimização. O Mg2+ aparece em dois equilíbrios e o OH– aparece nos três. Seria adequado estimar qualquer uma dessas concentrações. A escolha recaiu sobre o Mg2+. Com a finalidade de estimar [Mg2+], consideramos o equilíbrio de solubilidade 8-36 e desprezamos os coeficientes de atividade. A Reação 8-36 produz 2 OH– para cada Mg2+. Se x = [Mg2+], então [OH–] = 2x. A expressão de Kps dá
A solução é x = [Mg2+] = 1,2 × 10–4 M ou pMg2+ = –log(1,2 × 10–4) = 3,9. Consideramos pMg2+ = 4 como estimativa para o valor inicial. Digite a planilha na Figura 8-12 com o valor 0 na célula B5 e pMg2+ = 4 na célula B8. A célula C8 contém [Mg2+], calculada a partir de [Mg2+] = 10^-B8. As fórmulas estão listadas na parte inferior direita da planilha. As células C9:C11 têm os valores calculados de [OH–], [MgOH+] e [H+] a partir das expressões de equilíbrio 8-36 a 8-38, incluindo os coeficientes de atividade. Agora desejamos calcular a força iônica na célula B5 a partir das concentrações nas células C8:C11. Entretanto, as concentrações dependem da força iônica. Dizemos que ocorre uma referência circular porque as concentrações dependem da força iônica, e a força iônica depende das concentrações. Você deve habilitar o Excel para lidar com a referência circular. No Excel 2010, selecione a guia Arquivo e selecione Opções. Na janela Opções, selecione Fórmulas. Em Opções de cálculo ative a caixa de seleção “Habilitar cálculo iterativo” e fixe Alteração Máxima em 1e-15. Clique OK e sua planilha estará pronta para manipular referências circulares. Agora, mude o valor 0 na célula B5 para a fórmula “=0,5* (E8^2*C8+E9^2*C9+E10^2*C10+E11^2*C11)” mostrada no final da planilha. Os tamanhos dos íons Mg2+, [OH–] e [H+] estão na Tabela 8.1. Não conhecemos o tamanho do íon MgOH+. Provavelmente, o Mg2+ é mais bem representado como Mg(OH2)62+ e o MgOH+ seria Mg(OH2)5(OH)+. O Mg(OH2)5(OH)+ deve ser semelhante em tamanho ao Mg(OH2)62+, exceto que o Mg(OH2)5(OH)+ possui carga +1 enquanto o Mg(OH2)62+ tem carga 12. Lembre-se de que quanto maior a carga de um íon, mais fortemente ele atrai moléculas do solvente e maior o raio do seu íon hidratado. O tamanho do íon Mg2+ = Mg(OH2)62+ na Tabela 8-1 é 800 pm. Imagina-se que o tamanho do íon Mg(OH2)5(OH)1 seja 500 pm. Ao final do problema de equilíbrio, você pode mudar o tamanho do íon Mg(OH2)5(OH)1 a fim de verificar se ele interfere muito na resposta (não há efeito). A Coluna F na Figura 8-12 calcula log g a partir da equação de Debye-Hückel estendida (8-6), cuja fórmula está na célula H22. A Coluna G calcula os coeficientes de atividade g = 10^(log g). Esses coeficientes de atividade aparecem nas expressões de equilíbrio usadas para encontrar as concentrações nas células C9:C11 com as fórmulas nas células H18:H20.
FIGURA 8-12 Solver.
Planilha para a solubilidade do hidróxido de magnésio, com coeficientes de atividade, após executar a rotina
O balanço de carga na célula H14 é b1 = 2[Mg2+] + [MgOH+] + [H+] – [OH–]. Nesse problema em particular, o balanço de massa é idêntico ao balanço de carga; por isso, não iremos usar o balanço de massa. A função que minimizamos na célula H15 é Função a minimizar: Σbi2 = b12 + b22 Neste problema em especial, não há balanço de massa; por isso, Σbi2 = b12. Enfim, lá vamos nós. Construímos a planilha apresentada na Figura 8-12. Usamos como estimativa inicial pMg2+ = 4 na célula B8. Na guia Dados, selecione Solver e então Opções. Fixe as configurações na janela de Opções como na Figura 8-10 e clique OK. Na janela Parâmetros do Solver, fixe em Definir Objetivo a célula H15, Igual Para Mín. e Alterando Células Variáveis B8. Clique em Solver. O Solver varia pMg2+em B8 até que o quadrado do balanço de carga na célula H15 seja um mínimo. O Solver cálcula μ = 0,000 379 M e pMg2+ = 3,911 5 nas células B5 e B8, com Σbi2 ≈ 10–27 na célula H15. Os resultados finais mostrados na Figura 8-12 são
Aproximadamente 10% do Mg2+ sofre hidrólise a MgOH+. O pH da solução é pH = –log[H1]γH+ = –log(4,07 × 10–11)(0,979) = 10,40 A planilha na Figura 8-12 fornece uma ferramenta que permite a você lidar com uma variedade de problemas de equilíbrio “modestos” incluindo os coeficientes de atividade.
A rotina Solver funciona melhor quando suas estimativas iniciais estão próximas dos valores reais, e quando você não pede a ele para encontrar muitas variáveis de uma vez. Sempre tente algumas estimativas iniciais distintas para ver se o Solver chega à mesma conclusão. Tente executar a rotina Solver sucessivamente com os valores obtidos após um cálculo como entrada para um próximo cálculo para ver se a solução melhora com base na redução no valor de Σbi2. Se o Solver não for capaz de determinar duas ou mais variáveis em um problema complexo, resolva para uma ou duas variáveis de cada vez mantendo as outras constantes. Uma boa solução é assinalada quando Σbi2 se torna muito pequeno e cessa de mudar após ciclos sucessivos. Solubilidade do Sulfato de Cálcio com Coe cientes de Atividade Nosso objetivo é determinar as concentrações das principais espécies em uma solução saturada de CaSO4. Etapa 1 Reações apropriadas. Mesmo em um sistema simples como este que estamos considerando, existem várias reações:
Uma boa sugestão prática! Em todos os problemas envolvendo equilíbrio estamos limitados pelo conhecimento do verdadeiro processo químico envolvido. Se não conhecemos todos os processos de equilíbrio, os valores de composição calculados podem estar errados, ou espécies podem estar ausentes.
Nessa etapa você receberá um pouco de ajuda, pois é muito difícil que você consiga interpretar ao mesmo tempo todas as reações presentes. Etapa 2 Balanço de carga. Igualando as cargas positivas e negativas, temos Multiplicamos [Ca2+] e [SO42–] por 2, pois 1 mol de cada um desses íons tem 2 mol de carga.
Etapa 3 Balanço de massa. A Reação 8-41 produz 1 mol de sulfato para cada mol de cálcio. Não importa o que ocorra a esses íons, a concentração total de todas as espécies que contêm sulfato tem que ser igual à concentração total de todas as espécies que contêm cálcio:
Etapa 4 Expressões das constantes de equilíbrio. Existe uma constante para cada reação química: O coeficiente de atividade da espécie neutra CaSO4(aq) é 1.
Levamos em conta os coeficientes de atividade somente na Etapa 4. Etapa 5 Contagem do número de equações e de incógnitas. Existem sete equações (de 8-46 a 8-52) e sete incógnitas: [Ca2+], [SO42–], [CaSO4(aq)], [CaOH+], [HSO42], [H+] e [OH–].
Etapa 6 Resolução. Iremos criar o mesmo tipo de planilha usada para o Mg(OH)2 na Figura 8-12. O número de concentrações que precisamos estimar é (número de incógnitas) – (número e equilíbrios) = 7 – 5 = 2. Digite a planilha da Figura 8-13 com o valor inicial de força iônica 0 na célula B5. Conforme descrito na Figura 8-12, habilite referências circulares. A seguir, mude a célula B5 para a fórmula “=0,5* (E8^2*C8+E9^2*C9+E10^2*C10+E11^2*C11+E12^2*C12+E13^2*C13+E14^2*C14)” mostrada no final da planilha. Precisamos estimar duas concentrações de partida, sendo as escolhas pCa2+ e pH nas células B8 e B9. Não tomamos pSO42– para estimativa porque o valor da [Ca2+] fixa o valor da [SO42–] por meio do equilíbrio Kps. As células C10:C14 contêm as concentrações das demais espécies calculadas a partir das constantes de equilíbrio, incluindo os coeficientes de atividade. Os tamanhos dos íons aparecem na coluna D, com 500 pm sendo uma estimativa para o tamanho do íon CaOH+. As cargas aparecem na coluna E. Os coeficientes de atividade estão calculados nas colunas F e G. Agora, olhemos para os valores das constantes de equilíbrio, Kbase e Kácido: elas são 8 ordens de grandeza menores que Kps. Para uma boa aproximação, as reações base e ácido 8-43 e 8-44 terão pouco efeito na composição da solução. Como uma primeira tentativa, estimamos [Ca2+] ≈
= 10–2,3 (ou pCa2+ = 2,3). Como as reações ácido-base são desprezíveis, o pH será
aproximadamente 7. Essas são as estimativas iniciais nas células B8 e B9. Os balanços de massa e carga nas células J17 e J18 serão próximos de zero quando as concentrações estiverem corretas. Usamos a rotina Solver para minimizar Σbi2 = b12 + b22 na célula J19 variando pCa2+ e pH nas células B8 e B9. Antes de usar o Solver, fixamos as Opções do Solver como mostrado na Figura 8-10b. A primeira vez que rodei o programa (o Solver), ele forneceu pCa2+ = 2,013 35 e pH = 7,000 05. Sua planilha pode fornecer resultados diferentes, dependendo das condições que você fixou. Os valores de p utilizados são suficientemente bons, mas você pode tentar posteriores otimizações. Tente variar apenas pCa2+ mantendo pH constante e então variar o pH, fixando pCa2+. A rotina Solver raramente modifica Σbi2 na célula J19, mas podemos ver que a variação do pH produz um pequeno efeito. Nesse exemplo em particular, verificou-se que a alteração do pH na terceira casa decimal afetava Σbi2 na célula J19 e rapidamente encontrou-se que o mínimo na célula J19 era obtido com pH = 6,995. Os valores nas células B8, B9 e J19 na Figura 8-13 foram obtidos quando pH = 6,995 e permitindo que o Solver otimizasse pCa2+. É improvável que você obtenha os mesmos resultados exatos em sua planilha. Entretanto, as concentrações devem estar de acordo com aquelas na Figura 8-13 em duas ou mais casas decimais.
FIGURA 8-13
Planilha para a solubilidade do sulfato de cálcio com coeficientes de atividade após rodar a rotina Solver.
Os resultados mostrados na Figura 8-13 são
Concentração total de sulfato dissolvido: = [SO42–] + [CaSO4(aq)] + [HSO4–] = 0,009 7 + 0,005 5 + 5 × 10–8 = 0,015 2 M Parabéns! Seus cálculos concordam com os resultados experimentais na Figura 6-1!
Essas concentrações confirmam que a química principal é a dissolução do CaSO4(s) produzindo Ca2+(aq) e SO42–(aq) e o par iônico CaSO4(aq). As hidrólises do Ca2+ e do SO42– em CaOH+ e HSO42 são secundárias. Os Coe cientes de Atividade São Geralmente Omitidos Embora seja adequado escrever todas as constantes de equilíbrio em termos de atividades, a complexidade em manipular os coeficientes de atividade é uma amolação. Na maioria das vezes, ao longo deste livro omitiremos os coeficientes de atividade a menos que haja necessidade de utilizá-los. O conceito de atividade não será esquecido, pois iremos, ocasionalmente, aplicá-lo em alguns problemas.
Termos Importantes atividade atmosfera iônica balanço de carga balanço de massa coeficiente de atividade equação de Debye-Hückel estendida força iônica pH PK
Resumo A constante de equilíbrio termodinâmica para a reação aA + bB ⇌ cC + dD é , em que Ai é a atividade da iésima espécie. A atividade é o produto da concentração (c) pelo coeficiente de atividade (γ): Ai = ciγi. Para compostos não iônicos e gases, γi ≈ 1. Para espécies iônicas, o coeficiente de atividade depende da força iônica, definida como , em que zi é a carga de um íon. O coeficiente de atividade diminui com o aumento da força iônica, pelo menos para forças iônicas pequenas (≤ 0,1 M). O grau de dissociação de compostos iônicos aumenta com a força iônica, pois a atmosfera iônica de cada íon diminui a atração entre os íons. Você deve ser capaz de calcular coeficientes de atividade por interpolação na Tabela 8-1. O pH é definido em termos da atividade do H+: pH = –log AH+ = –log [H+]γH+. Analogamente, pK é o negativo do logaritmo de uma constante de equilíbrio. No tratamento sistemático do equilíbrio, escrevemos todas as expressões de equilíbrio apropriadas, assim como os balanços de carga e de massa. O balanço de carga estabelece que a soma de todas as cargas positivas em solução é igual à soma de todas as cargas negativas. O balanço de massa estabelece que a soma do número de mols de todas as formas de um elemento em solução tem que ser igual ao número de mols daquele elemento adicionado à solução. É necessário que o número de equações seja igual ao número de incógnitas (variáveis). Estando certos disso, tentamos então determinar a concentração de cada espécie através de uma resolução algébrica usando aproximações ou planilhas com a rotina Solver. Para usar o Solver, estimamos (número de incógnitas) – (número de equações de equilíbrio) valores iniciais de pC, e então deixamos o Solver encontrar os valores de pC (e a força iônica) que minimizam a soma dos quadrados dos balanços de carga e massa. O valor da força iônica é um resultado secundário da otimização.
Exercícios
8-A. Admitindo a dissociação completa dos sais, calcule a força iônica de (a) KNO3 0,2 mM; (b) Cs2CrO4 0,2 mM; (c) MgCl2 0,2 mM mais AlCl3 0,3 mM. 8-B. Determine a atividade (não o coeficiente de atividade) do íon (C3H7)4N+ (tetrapropilamônio) em uma solução contendo (C3H7)4N+Br– 0,005 0 M mais (CH3)4N+Cl– 0,005 0 M. 8-C. Usando atividades, determine a [Ag+] em uma solução de KSCN 0,060 M saturada com AgSCN(s). 8-D. Usando atividades, calcule o pH e a concentração de H+ em uma solução de LiBr 0,050 M a 25°C. 8-E. 40,0 mL de uma solução de Hg2(NO3)2 0,040 0 M foram titulados com 60,0 mL de KI 0,100 M, precipitando Hg2I2 (Kps = 4,6 × 10–29). (a) Mostre que são necessários 32,0 mL de solução de KI para alcançar o ponto de equivalência. (b) Quando 60,0 mL de KI foram adicionados, virtualmente todo o íon Hg22+ precipitou, juntamente com 3,20 mmol de I–. Levando-se em conta todos os íons remanescentes em solução, calcule a força iônica da solução quando 60,0 mL de KI foram adicionados. (c) Usando atividades, calcule pHg22+(= –logAHg22+) para o item (b). 8-F. (a) Escreva o balanço de massa para a solução de CaCl2 em água se as espécies aquosas são Ca2+ e Cl–. (b) Escreva o balanço de massa se as espécies forem Ca2+, Cl–, CaCl+ e CaOH+. (c) Escreva o balanço de carga para o item (b). 8-G. Escreva o balanço de carga e o balanço de massa para a solução de CaF2 em água, se as reações são
8-H. Escreva o balanço de carga e o balanço de massa para uma solução aquosa de Ca3(PO4)2 se as espécies aquosas são Ca2+, CaOH+, CaPO4–, PO43–, HPO42–, H2PO4– e H3PO4. 8-I.
(a) Usando atividades, determine as concentrações das principais espécies em uma solução de NaClO4 0,10 M
saturada com Mn(OH)2. Modifique a planilha na Figura 8-12, fixando m = 0,1 na célula B5 e mudando as constantes de equilíbrio e os tamanhos dos íons. Suponha que o tamanho do íon MnOH+ é 400 pm, e a química envolvida é:
(b) Resolva o mesmo problema quando não há NaClO4 em solução. (c) Por que a solubilidade do Mn(OH)2 é maior quando o NaClO4 está presente? Determine o quociente ([Mn2+] em NaClO4 0,1 M)/([Mn2+] na ausência de NaClO4).
Problemas Coe cientes de Atividade 8-1. Explique por que a solubilidade de um composto iônico aumenta com o aumento da força iônica da solução (pelo menos até aproximadamente 0,5 M). 8-2. Que afirmações são verdadeiras? Na faixa de força iônica de 0 a 0,1 M, os coeficientes de atividade diminuem com (a) o aumento da força iônica; (b) o aumento da carga iônica; (c) a diminuição do raio de hidratação.
8-3. A Prancha 4 do Encarte em Cores mostra como a cor do indicador ácido-base verde de bromocresol (H2BG) muda quando se adiciona NaCl a uma solução aquosa de (H+)(HBG–). Explique por que a cor muda de verde-claro para azul-claro à medida que se adiciona NaCl.
8-4. Calcule a força iônica das soluções de (a) KOH 0,008 7 M e (b) La(IO3)3 0,000 2 M (considerando uma dissociação completa nessas baixas concentrações e que não há a formação de LaOH2+ por hidrólise). 8-5. Determine o coeficiente de atividade de cada íon na força iônica indicada: (a) SO42– 3+
(μ = 0,01 M)
(b) Sc
(μ = 0,005 M)
(c) Eu3+
(μ = 0,1 M)
(d) (CH3CH2)3NH+
(μ = 0,05 M)
8-6. Faça a interpolação adequada na Tabela 8-1 para encontrar o coeficiente de atividade do H+ quando μ = 0,030 M. 8-7. Calcule o coeficiente de atividade do Zn2+ quando μ = 0,083 M usando (a) a Equação 8-6; (b) a interpolação linear na Tabela 8-1. 8-8. Calcule o coeficiente de atividade do Al3+ quando μ = 0,083 M por interpolação linear na Tabela 8-1. 8-9. A constante de equilíbrio para a dissolução em água de um composto não iônico, como o éter dietílico (CH3CH2OCH2CH3), pode ser escrita éter(l) ⇌ éter(aq)
K = [éter(aq)]γéter
Em baixa força iônica, γ ≈ 1 para todos os compostos não iônicos. Em força iônica elevada, o éter e a maioria das outras moléculas neutras podem ser retirados da solução aquosa. Ou seja, quando uma concentração alta (geralmente > 1 M) de um sal como o NaCl é adicionada a uma solução aquosa, as moléculas neutras geralmente tornam-se menos solúveis. O coeficiente de atividade γéter aumenta ou diminui em força iônica elevada? 8-10. Usando coeficientes de atividade, determine [Hg22+] em uma solução de KBr 0,001 00 M saturada com Hg2Br2. 8-11. Usando coeficientes de atividade, determine a concentração de Ba2+ em uma solução de (CH3)4NIO3 0,100 M saturada com Ba(IO3)2. 8-12. Determine o coeficiente de atividade do H+ em uma solução contendo HCl 0,010 M mais KClO4 0,040 M. Qual é o pH da solução? 8-13. Usando atividades, calcule o pH de uma solução contendo NaOH 0,010 M mais LiNO3 0,012 0 M. Qual será o pH se desprezarmos as atividades? 8-14. A equação de Debye-Hückel estendida, Equação 8-6, em função da temperatura é:
em que e é a constante dielétrica* (adimensional) da água, T é a temperatura (K), z é a carga do íon de interesse, μ é a força iônica da solução (número de moles/L) e α é o tamanho do íon em picômetros. A dependência de e em relação à temperatura é dada por –3
ε = 79,755e(–4,6 × 10
)(T–293,15)
Calcule o coeficiente de atividade do SO42– a 50,00°C, quando μ = 0,100 M. Compare o valor calculado com o da Tabela 8-1. 8-15. Coeficiente de Atividade de uma Molécula Neutra. Empregamos a aproximação de que o coeficiente de atividade (γ) de moléculas neutras é 1,00. Uma relação mais exata é representada pela expressão log γ = kμ, onde μ é a força iônica e k ≈ 0,11
para NH3 e CO2, e k ≈ 0,2 para moléculas orgânicas. Considerando os coeficientes de atividade para HA, A– e H+, preveja o valor do quociente visto a seguir para o ácido benzoico (HA ≡ C6H5CO2H). O quociente observado é 0,63 ± 0,03.15
Tratamento Sistemático do Equilíbrio 8-16. Estabeleça o significado das equações de balanço de carga e de balanço de massa. 8-17. Por que os coeficientes de atividade são excluídos dos balanços de massa e de carga? 8-18. Escreva o balanço de carga para uma solução contendo H+, OH–, Ca2+, HCO3–, CO32–, Ca(HCO3)+, Ca(OH)+, K+ e ClO4–. 8-19. Escreva o balanço de carga para uma solução de H2SO4 em água, se o H2SO4 se ioniza em HSO4– e SO42–. 8-20. Escreva o balanço de carga para uma solução aquosa de ácido arsênico, H3AsO4, na qual o ácido pode se dissociar em H2AsO4–, HAsO42– e AsO43–. Veja a estrutura do ácido arsênico no Apêndice G e escreva a estrutura do íon H2AsO42–. 8-21. (a) Escreva o balanço de carga e o balanço de massa para uma solução obtida dissolvendo-se MgBr2 para dar Mg2+, Br–, MgBr+ e MgOH+. (b) Modifique o balanço de massa considerando que a solução foi feita por dissolução de 0,2 mol de MgBr2 em 1 L. 8-22. O que poderia ocorrer se o balanço de carga não existisse em solução. A força entre duas cargas q1 e q2 foi dada no rodapé do Problema 8-14. Qual é a força entre dois béqueres separados por 1,5 m, se um béquer contém 250 mL de uma solução com 1,0 × 10–6 M de carga negativa em excesso e o outro possui 250 mL de uma solução com 1,0 × 10–6 M de carga positiva em excesso? Existem 9,648 × 104 coulombs por mol de carga. Converta a força de N para libra com o fator 0,224 8 libra/N. Será que dois elefantes conseguem manter os béqueres separados? 8-23. Para uma solução aquosa de acetato de sódio 0,1 M, Na+CH3CO2–, um balanço de massa é simplesmente [Na+] = 0,1 M. Escreva o balanço de massa envolvendo o íon acetato. 8-24. Considere a dissolução do composto X2Y3, que produz X2Y22+, X2Y4+, X2Y3(aq) e Y2–. Use o balanço de massa para determinar a expressão para [Y2–] em termos das outras concentrações. Simplifique a sua resposta o máximo possível. 8-25. Escreva o balanço de massa para uma solução de Fe2(SO4)3 se as espécies presentes são Fe3+, Fe(OH)2+, Fe(OH)2+, Fe2(OH)42+, FeSO4+, SO42– e HSO4–. 8-26.
Problema do equilíbrio da amônia resolvido com Atingir Meta. Modifique a Figura 8-7 para determinar as
concentrações presentes em uma solução de NH3 0,05 M. A única mudança necessária é o valor de F. Como o pH e a fração da amônia que sofre hidrólise (= [NH4+]/([NH4+] + [NH3]) variam quando a concentração formal de NH3 aumenta de 0,01 para 0,05 M? 8-27.
Problema do equilíbrio da amônia tratado pela rotina Solver. Agora usamos a planilha da rotina Solver, introduzida
na Figura 8-9 no problema da solubilidade do TlN3, para determinar as concentrações das espécies presentes na solução de amônia 0,01 M, desprezando os coeficientes de atividade. No tratamento sistemático do equilíbrio para a hidrólise do NH3, existem quatro incógnitas ([NH3], [NH4+], [H+] e [OH–]) e dois equilíbrios (8-13 e 8-14). Portanto, iremos estimar as concentrações de (4 incógnitas) – (2 equilíbrios) = 2 espécies, sendo as escolhidas NH4+ e OH–. Construa a planilha mostrada a seguir, em que as estimativas pNH4+ = 3 e pOH– = 3 aparecem nas células B6 e B7. (As estimativas provêm do equilíbrio Kb 8-17 com [NH4+ ] = [OH–] . As estimativas não precisam ser muito boas para que o Solver funcione.) A fórmula na célula C8 é [NH3] = [NH4+] · [OH–]/Kb e a fórmula na célula C9 é [H+] = Kw/[OH–]. O balanço de massa b1 aparece na célula F6 e o balanço de carga b2 aparece na célula F7. A célula F8 contém a soma b12 + b22. Como descrito para o TlN3 na Seção 7.5, abra a janela do Solver e fixe a célula-alvo F8 (Definir Objetivo:). Igual Para Mín e B6:B7 para Alterando Células Variáveis. Quais são as concentrações das espécies? Que fração da amônia (= [NH4+]/([NH4+] + [NH3]) é hidrolisada? Suas respostas devem concordar com aquelas obtidas por meio do Atingir Meta na Figura 8-8. 8-28.
Hidrólise do acetato de sódio tratada pela rotina Solver incluindo coeficientes de atividade.
(a) Seguindo o exemplo da amônia na Seção 8-5, escreva as equações necessárias para encontrar a solubilidade do acetato de sódio (NA+A–) 0,01 M. Inclua os coeficientes de atividade quando for apropriado. As duas reações são a hidrólise (pKb = 9,244) e a ionização da H2O. (b) Incluindo os coeficientes de atividade, construa uma planilha semelhante à da Figura 8-12 para determinar as concentrações de todas as espécies. Atribua um valor inicial de força iônica = 0,01. Após fixar o restante da planilha, mude a força iônica do
valor numérico 0,01 para a fórmula correta da força iônica. Esse processo em duas etapas, de começar com um valor numérico para depois substituí-lo pela fórmula, é necessário em razão das referências circulares entre a força iônica e das concentrações que dependem da força iônica. Existem quatro incógnitas e dois equilíbrios, de modo que usamos o Solver para determinar 4 – 2 = 2 concentrações (valores de pC). A rotina Solver não encontra bons valores ao mesmo tempo para ambos os pC neste problema. Execute uma etapa para determinar ambos os valores de pC variando pA e pOH para minimizar Σbi2. A seguir, varie apenas pA para minimizar Σbi2. Então, varie apenas pOH para minimizar Σbi2. Continue alternando, de modo a resolver para um valor de cada vez enquanto Σbi2 continua a diminuir. Determine [A–], [OH–], [HA] e [H+]. Encontre também a força iônica, pH = – log([H+]γH+) e a fração de hidrólise = [HA]/F. 8-29. (a) Seguindo o exemplo do Mg(OH)2 na Seção 8-5, escreva as equações necessárias para encontrar a solubilidade do Ca(OH)2. Inclua os coeficientes de atividade quando for apropriado. Constantes de equilíbrio são encontradas nos Apêndices F e I.
Planilha para o Problema 8-27.
(b)
Suponha que o tamanho da espécie CaOH+ = Ca(H2O)5(OH)+ seja 500 pm. Incluindo os coeficientes de espécies de
atividade calcule as concentrações de todas as espécies, a fração de hidrólise (= [CaOH+]/([Ca2+] + [CaOH+]), e a solubilidade do Ca(OH)2 em g/L. O Manual de Química e Física Handbook of Chemistry and Physics lista a solubilidade do Ca(OH)2 como 1,85 g/L a 0ºC e 0,77 g/L a 100ºC. 8-30.
Tratamento sistemático do equilíbrio para emparelhamento de íons. Vamos obter a fração de emparelhamento de
íons para os sais no Boxe 8-1, que são NaCl, Na2SO4, MgCl2 e MgSO4, todos na concentração de 0,025 F. Cada caso é algo diferente dos demais. Todas as soluções terão pH aproximadamente neutro porque as reações de hidrólise do Mg2+, SO42–, Na+ e Cl– têm pequenas constantes de equilíbrio. Portanto, iremos admitir que [H+] = [OH–] e vamos omitir essas espécies nos cálculos. Consideramos o MgCl2 como um exemplo para depois pedir que você considere os outros sais. A constante de equilíbrio do par iônico, Kpar iônico, provém do Apêndice J. Reações pertinentes:
Balanço de cargas (omitindo H+ e OH–, cujas concentrações são ambas pequenas em comparação com [Mg2+], [MgCl+] e [Cl–]):
Balanços de massa:
Apenas duas das três equações, (B), (C) e (D), são independentes. Se você dobrar (C) e subtrair de (D), você obterá (B). Escolhemos (C) e (D) como equações independentes. Expressão da constante de equilíbrio; Equação (A) Contagem: 3 equações (A, C e D) e três incógnitas ([Mg2+], [MgCl+] e [Cl–]) Resolução: Iremos usar a rotina Solver para determinar (número de incógnitas) – (número de equilíbrios) = 3 – 1 = 2 concentrações desconhecidas. A planilha mostra o trabalho que será feito. A concentração formal, F = 0,025 F, aparece na célula G2. Estimamos pMg2+ e pCl– nas células B8 e B9. A força iônica na célula B5 é dada pela fórmula na célula H24. O Excel deve estar configurado para permitir definições circulares como descrito na Seção 8.5. Os tamanhos dos íons Mg2+ e Cl– provêm da Tabela 8-1, e o tamanho do íon MgCl+ é um “chute”. Os coeficientes de atividade são calculados nas colunas E e F. Os balanços de massa b1 = F – [Mg2+] – [MgCl+] e b2 = 2F – [Cl–] – [MgCl+] aparecem nas células H14 e H15, e a soma dos quadrados b12 + b22 aparece na célula H16. O balanço de carga não é usado porque não é independente dos dois balanços de massa. A rotina Solver é executada para minimizar b12 + b22 na célula H16 variando pMg2+ e pCl– nas células B8 e B9. A partir das concentrações otimizadas, a fração de pares iônicos = [MgCl+]/F = 0,0815 é calculada na célula D15. Essa fração é mostrada na tabela do Boxe 8-1. Como uma verificação, Mg e Cl totais são corretamente encontrados como sendo 0,025 e 0,05 M nas células B24 e B25, e o valor de Kpar iônico está correto na célula B26.
Planilha para o Problema 8-30.
O Problema: Crie uma planilha como a do MgCl2 para determinar as concentrações, força iônica e a fração de pares iônicos no NaCl 0,025 F. A constante de formação do par iônico no Apêndice J é log Kip = 10–0,5 para a reação Na+ + Cl– ⇌ NaCl(aq). Os
dois balanços de massa são [Na+] + [NaCl(aq)] = F e [Na+] = [Cl–] (que é também o balanço de carga). Estime pNa+ e pCl– para inserção na planilha, e então minimize a soma dos quadrados dos dois balanços de massa. 8-31.
Emparelhamento de íons. Como no Problema 8-30, determine as concentrações, força iônica e a fração de pares
iônicos em uma solução de Na2SO4 0,025 F. Admita que o tamanho do NaSO42 é 500 pm. 8-32. (a)
Emparelhamento de íons. Como no Problema 8-30, determine as concentrações, força iônica e a fração de pares
iônicos em uma solução de MgSO4 0,025 F. (b) Duas reações importantes que não foram consideradas são a hidrólise ácida do Mg2+ (Mg2+ + H2O ⇌ MgOH+ + H+) e a hidrólise básica do SO42–. Escreva essas duas reações e encontre suas constantes de equilíbrio nos Apêndices I e G. Admitindo-se que o pH é próximo de 7,0, e desprezando os coeficientes de atividade, mostre que ambas as reações são desprezíveis. 8-33.
Solubilidade e Atividade. Determine as concentrações das principais espécies em uma solução aquosa saturada de
LiF. Considere as seguintes reações:
(a) Encontre as constantes de equilíbrio nos apêndices e escreva seus valores de pK. A reação de par iônico é a soma de LiF(s) ⇌ Li+ + F– do Apêndice F, e Li+ + F– ⇌ LiF(aq) do Apêndice J. Escreva as expressões da constante de equilíbrio e os balanços de carga e massa. (b) Crie uma planilha que empregue essas atividades para determinar as concentrações de todas as espécies, e a força iônica. Use pF e pOH como variáveis independentes para fins de estimativa. Não funciona escolher pF e pLi porque uma dessas concentrações fixa a outra por meio da relação Kps = [Li+]γLi+ [F–] γF–. 7-34. Equilíbrio heterogêneo e solubilidade da calcita. Se a água de rio no Boxe 8-2 é saturada com calcita (CaCO3), a [Ca2+] é governada pelo seguinte equilíbrio:
(a) A partir destas reações, encontre a constante de equilíbrio para a reação
(b) O balanço de massa para a reação A é [HCO3–] = 2[Ca2+]. Determine [Ca2+] (em mol/L e em mg/L) em equilíbrio com o CO2 atmosférico se PCO2 = 4,0 × 10–4 bar = 10–3,4 bar. Localize este ponto na reta do Boxe 8-2. (c) A concentração de Ca2+ no rio Don é de 80 mg/L. Qual o valor efetivo de PCO2 que se encontra em equilíbrio com esta concentração do íon Ca2+? Como pode este rio apresentar uma concentração tão alta de CO2?
______________ *A reação
é a soma das reações
do Apêndice F e do Apêndice I.
*A constante dielétrica adimensional e mede a facilidade com que um solvente pode separar íons de cargas opostas. A força de atração (newtons) entre íons de carga q1 e q2 (coulombs) separadas pela distância r (metros) é
Quanto maior o valor de e, menor a atração entre os íons. A água, com ε ≈ 80, separa muito bem os íons. Apresentamos a seguir alguns valores de ε: metanol, 33; etanol, 24; benzeno, 2; vácuo e ar, 1. Compostos iônicos dissolvidos em solventes menos polares do que a água podem existir predominantemente como pares iônicos, não como íons separados.
MEDINDO O pH DENTRO DE COMPARTIMENTOS CELULARES
(a) Um macrófago ingere uma célula cancerígena redonda no momento do início da fagocitose. [© Microworks/Phototake.] (b) Macrófagos contendo membranas uorescentes de 1,6 μm de diâmetro. (c) Imagem da uorescência da gura b. [b e c de K. P. McNamara, T. Nguyen, G. Dumitrascu, J. Ji, N. Rosenzweig e Z. Rosenzweig, “Synthesis, Characterization, and Application of Fluorescence Sensing Lipobeads for Intracellular pH Measurements”, Anal. Chem. 2001, 73, 3240. Reproduzido sob permissão © 2001 American Chemical Society.] Macrógafos ( gura a) são células sanguíneas brancas que combatem infecções pela ingestão e digestão de células estranhas – um processo denominado fagocitose. O compartimento contendo a célula estranha ingerida se une a organelas chamadas lisossomas, que contêm enzimas digestivas, mais ativas em meio ácido. A baixa atividade enzimática em pH acima de 7 protege a célula das enzimas que escapam para o meio intracelular. Uma maneira de medir o pH no interior do compartimento contendo a partícula ingerida e as enzimas digestivas é a associação de macrófagos com pequenas esferas de poliestireno ( guras b e c) recobertas com um membrana lipídica na qual corantes uorescentes (emissores de luz) estão covalentemente ligados. A gura d mostra que a intensidade de uorescência do corante uoresceína depende do pH, mas a uorescência da tetrametilrodamina, não. A razão de emissão dos corantes é uma medida de pH. A gura e mostra que a razão da intensidade de uorescência muda em 3 s, a partir do momento da ingestão da esfera, e o pH no entorno da esfera cai de 7,3 para 5,7, permitindo o início da digestão.
(d) Espectros de uorescência de membranas lipídicas em soluções com pH entre 5 e 8. (e) O pH muda durante a fagocitose de uma única esfera por um macrófago. [De McNamara et al, ibid.]
Á
cidos e bases são substâncias essenciais em praticamente todas as aplicações da química, inclusive para o uso adequado dos métodos analíticos, como a cromatografia e a eletroforese. Sem uma compreensão detalhada do comportamento dos ácidos e das bases, seria difícil caracterizar, por exemplo, a purificação de proteínas ou a erosão das rochas. Neste capítulo, abordaremos os equilíbrios ácido-base e os sistemas tampão. O Capítulo 10 trata de sistemas polipróticos envolvendo dois ou mais prótons ácidos. Praticamente todas as macromoléculas de interesse biológico são polipróticas. O Capítulo 11 descreve as titulações ácidobase. Agora é o momento para rever os conceitos fundamentais sobre ácidos e bases, que foram discutidos nas Seções 6-5 a 6-7.
Ácidos e Bases Fortes
9-1
A Tabela 6-2 apresenta uma lista de ácidos e bases fortes, que devem ser memorizados.
O que pode ser mais simples do que calcular o pH de uma solução de HBr 0,10 M? O HBr é um ácido forte, de modo que a reação HBr + H2O → H3O+ + Br– ocorre de forma completa, e a concentração de H3O+ é 0,10 M. Normalmente, vamos escrever H+ ao invés de H3O+. Dessa maneira, pH = –log[H+] = –log(0,10) = 1,00 Constantes de equilíbrio para a reação1 HX(aq) + H2O ⇌ H3O+ + X– HCl
Ka = 103,9
HBr
Ka = 105,8
Hl
Ka = 1010,4
HNO3
Ka = 101,4
A dissociação do HNO3 é discutida no Boxe 9-1.
EXEMPLO
Coe ciente de Atividade em um Cálculo de Ácido Forte
Calcule o pH de uma solução de HBr 0,10 M, utilizando os coe cientes de atividade.
Solução A força iônica do HBr 0,10 M é μ = 0,10 M, sendo o coe ciente de atividade do H+ igual a 0,83 (Tabela 9-1). Lembre-se de que o pH é –log AH+, e não –log[H+]: pH = –log[H+]γH+ = –log(0,10)(0,83) = 1,08 TESTE A VOCÊ MESMO Calcule o pH de uma solução de HBr 0,010 M em KBr 0,090 M. (Resposta: 2,08) BOXE 9-1
O HNO3 Concentrado Está Apenas Ligeiramente Dissociado2
Os ácidos fortes em soluções diluídas estão quase que totalmente dissociados. Com o aumento da concentração do ácido, diminui o grau de dissociação. A gura a seguir mostra um espectro Raman de soluções de ácido nítrico em ordem crescente de concentração. O espectro mede o espalhamento da luz cuja energia corresponde às energias vibracionais das moléculas. O pico em 1 049 cm–1 no espectro da solução de NaNO3 5,1 M é característico do íon NO3– livre.
Espectro Raman de soluções aquosas de HNO3 a 25°C. Os sinais em 1 360, 1 049 e 720 cm–1 são devidos ao ânion NO3–. Os sinais assinalados com asteriscos correspondem ao HNO3 não dissociado. A unidade do número de onda, cm–1, equivale a 1/comprimento de onda. Uma solução de HNO3 10,0 M apresenta um forte sinal em 1 049 cm–1, decorrente do ânion livre NO3– proveniente do ácido dissociado. As bandas assinaladas com asterisco correspondem ao HNO3 não dissociado. Com o aumento da concentração, o sinal em 1 049 cm–1 tende a desaparecer e os sinais atribuídos ao HNO3 não dissociado aumentam de intensidade. O grá co visto a seguir mostra o grau de dissociação do HNO3 obtido a partir de medidas espectroscópicas. É importante ter em mente que na solução de HNO3 20 M existem bem menos moléculas de H2O que moléculas de HNO3. A dissociação diminui porque não há moléculas de solvente su cientes para estabilizar os íons livres. Estudos teóricos indicam que o HNO3 diluído em uma interface água-ar também é um ácido fraco porque não existem moléculas de H2O su cientes para solvatar os íons livres.3 Esta descoberta tem implicações para a química atmosférica na superfície das gotículas microscópicas nas nuvens.
Temperatura (°C)
Constante de dissociação do ácido (Ka)
0 25 50
46,8 26,8 14,9
Agora, que foi lembrado dos coeficientes de atividade, você pode respirar aliviado porque iremos desprezar os coeficientes de atividade a não ser que haja algo específico a ser feito com eles. Como calcularemos o pH de uma solução de KOH 0,10 M? O KOH é uma base forte (ele está completamente dissociado), logo [OH–] = 0,10 M. Utilizando Kw = [H+][OH–], escrevemos
A partir da [OH–], você sempre pode determinar a [H+]:
Determinar o pH em outras concentrações de KOH é também um problema bastante simples: [OH–] (M)
[H+] (M)
pH
10–3,00 10–4,00 10–5,00
10–11,00 10–10,00 10–9,00
11,00 10,00 9,00
Uma relação muito útil é Relação entre pH e pOH:
A Tabela 6-1 apresenta os valores de Kw em diferentes temperaturas.
O Dilema Até agora, tudo parece bem simples. Entretanto, podemos perguntar: “Qual é o pH de uma solução de KOH 1,0 × 10–8 M?” Aplicando o nosso raciocínio usual, calculamos [H+] = Kw/(1,0 × 10–8)= 1,0 × 10–6 M ⇒ pH = 6,00 Quando adicionamos uma base à água, não podemos diminuir o pH. (Valores menores de pH são mais ácidos.) Algo deve estar errado.
Como a base KOH pode produzir uma solução ácida (pH < 7)? Isso é impossível. A Solução do Problema Obviamente, existe alguma coisa errada com o nosso cálculo. Na realidade, não consideramos a contribuição dos íons OH– provenientes da dissociação da água. Na água pura, [OH–] = 1,0 × 10–7 M, que é maior que a quantidade de KOH adicionada à solução. Para resolver esse problema, recorremos ao tratamento sistemático do equilíbrio. Etapa 1 Reações pertinentes. A única existente é Etapa 2 Balanço de carga. As espécies presentes em solução são K+, OH– e H+, de modo que
Etapa 3 Balanço de massa. Todo o íon K+ provém do KOH, de modo que [K+] = 1,0 × 10–8 M. Etapa 4 Expressão da constante de equilíbrio. Kw = [H+][OH–] = 1,0 × 10–14. Etapa 5 Contagem. Existem três equações e três incógnitas ([H+], [OH–], [K+]); assim, temos informação suficiente para resolver o problema. Se estivéssemos empregando atividades, a etapa 4 seria o único ponto em que os coeficientes de atividade apareceriam.
Etapa 6 Solução. Como desejamos saber o pH, consideramos [H+] = x. Substituindo [K+] = 1,0 × 10–8 M na Eq. 9-2, obtemos [OH–] = [K+] + [H+] = 1,0 × 10–8 + x A substituição de [OH–] = 1,0 × 10–8 + x na expressão da constante de equilíbrio Kw possibilita a resolução do problema:
Solução de uma equação do segundo grau:
Conserve todos os algarismos na calculadora, porque, às vezes, o valor de b2 é praticamente igual ao de 4ac. Se você arredondar antes de calcular b2 – 4ac, sua resposta pode estar completamente errada.
Desprezando-se a concentração negativa, concluímos que [H+] = 9,6 × 10–8 M ⇒ pH = –log[H+] = 7,02 Esse valor de pH é bastante razoável, pois uma solução de KOH 10–8 M deve ser ligeiramente básica. A Figura 9-1 mostra os valores de pH, calculados para concentrações diferentes de uma base forte ou de um ácido forte, dissolvidos em água. Existem três regiões distintas: 1. Quando a concentração é “alta” (≥ 10–6 M), o pH é calculado considerando-se apenas o H+ ou OH– adicionado. Isto é, o pH de
uma solução de KOH 10–5,00 M é 9,00. 2. Quando a concentração é “baixa” (≤ 10–8 M), o pH é 7,00. Não adicionamos ácido ou base suficiente para afetar
significativamente o pH da própria água. 3. Em concentrações intermediárias de 10–6 a 10–8 M, os efeitos da dissociação da água e do ácido, ou da base, adicionado são
equivalentes. Somente nesta região é necessário fazer um cálculo de equilíbrio sistemático. A região 1 é o único caso prático. A menos que você consiga proteger uma solução de KOH 10–7 M do contato com o ar, o pH da solução será controlado pelo CO2 dissolvido, e não pelo KOH.
FIGURA 9-1
pH calculado como função da concentração de um ácido forte ou de uma base forte dissolvido em água.
A Água Quase Nunca Produz H+ 10–7 M e OH– 10–7 M Um erro comum é considerar que a dissociação da água sempre produz concentrações de H+ 10–7 M e de OH– 10–7 M. Este critério é verdadeiro apenas para a água pura, sem a adição de ácido ou base. Em uma solução de HBr 10–4 M, por exemplo, o pH é 4. A concentração de OH– é [OH–] = Kw/[H+] = 10–10 M. Mas a única fonte de [OH–] é a dissociação da água. Se a água produz somente OH– 10–10 M, ela também tem que produzir apenas H+ 10–10 M, pois existe uma relação de um H+ para cada OH– produzido. Em uma solução de HBr 10–4 M, a dissociação da água produz somente OH– 10–10 M e H+ 10–10 M. Qualquer ácido ou base dificulta a ionização da água conforme previsto pelo princípio de Le Châtelier.
Questão Quais concentrações de H+ e OH– são produzidas pela dissociação da água em uma solução de NaOH 0,01 M? 9-2
Ácidos e Bases Fracos
Inicialmente, vamos rever o conceito de constante de dissociação do ácido, Ka, para o ácido HA: Equilíbrio de ácido fraco:
Naturalmente, você sabe que o valor de Ka deve ser expresso realmente em termos de atividades e não de concentrações: Ka = AH+AA–/AHA
Um ácido fraco é aquele que não se encontra completamente dissociado, ou seja, a Reação 9-3 não se completa. Para uma base, B, a constante de hidrólise da base, Kb, é definida pela reação Equilíbrio de base fraca:
Hidrólise refere-se a uma reação com a água.
Uma base fraca é aquela para a qual a Reação 9-4 não se completa. O pK é o negativo do logaritmo de uma constante de equilíbrio: pKw = –log Kw pKa = –log Ka pKb = –log Kb
Quando o valor de K aumenta o pK decresce, e vice-versa. Comparando os ácidos fórmico e benzoico vemos que o ácido fórmico é mais forte, com uma Ka maior e um pKa menor do que o ácido benzoico.
Quando o Ka aumenta, o pKa diminui. Quanto menor for o pKa, mais forte será o ácido.
O ácido HA e sua base correspondente, A2, são denominados par conjugado ácido-base porque estão relacionados entre si pelo ganho ou pela perda de um próton. De maneira semelhante, B e BH+ são um par conjugado. Uma relação importante entre Ka e Kb para um par conjugado ácido-base é Se HA e A– formam um par conjugado ácido-base, B e BH+ também serão conjugados.
Relação entre Ka e Kb para um par conjugado:
O Fraco É Conjugado com um Fraco A base conjugada de um ácido fraco é uma base fraca. O ácido conjugado de uma base fraca é um ácido fraco. Considere um ácido fraco, HA, com Ka = 10–4. A base conjugada, A–, possui Kb = Kw/Ka = 10–10, ou seja, se HA é um ácido fraco, A– é uma base fraca. Se o valor de Ka for 10–5, o valor de Kb deve ser 10–9. Quando HA se torna um ácido mais fraco, A– torna-se uma base mais forte (mas nunca uma base forte). Inversamente, quanto maior for a força ácida de HA, menor será a força básica de A–. Entretanto, se A– ou HA é fraco, então o seu conjugado também será. Se o ácido HA é forte (como o HCl), sua base conjugada (Cl–) é tão fraca que não consegue manifestar nenhum comportamento básico em água. A base conjugada de um ácido fraco é uma base fraca. O ácido conjugado de uma base fraca é um ácido fraco. Fraco é conjugado com um fraco.
Usando o Apêndice G O Apêndice G apresenta várias constantes de dissociação de ácidos. Cada composto é apresentado em sua forma totalmente protonada. Por exemplo, a dietilamina, é apresentada como (CH3CH2)2NH2+, que é, na realidade, o íon dietilamônio. O valor de Ka (1,0 × 10–11), dado para a dietilamina, é, na realidade, o Ka para o íon dietilamônio. Para determinarmos o valor de Kb, para a dietilamina, escrevemos Kb = Kw/Ka = 1,0 × 10–14/1,0 × 10–11 = 1,0 × 10–3. Para bases e ácidos polipróticos existem tabelados vários valores de Ka. O fosfato de piridoxila é tabelado em sua forma totalmente protonada, como vemos a seguir:4
O valor de pK1 (1,4) é para a dissociação de um dos prótons do fosfato e o pK2 (3,51) é para o próton da hidroxila. O terceiro próton mais ácido é o outro próton do fosfato, para o qual pK3 = 6,04 e o grupo NH+ é o menos ácido de todos (pK4 = 8,25). As espécies apresentadas no Apêndice G estão totalmente protonadas. Se a estrutura de um composto do Apêndice G tiver carga diferente de 0, esta estrutura não corresponde ao nome citado no apêndice. Todos os nomes citados referem-se a moléculas neutras. A molécula neutra, fosfato de piridoxila, não é a espécie representada anteriormente, que possui uma carga +1. A molécula neutra do fosfato de piridoxila é
Como outro exemplo, consideremos a molécula piperazina.
O apêndice G fornece o pKa para forças iônicas iguais a 0 e 0,1 M, quando for possível. Usaremos o pKa para μ = 0 a menos que não exista o valor listado ou quando necessitamos μ = 0,1 M para um propósito específico. Para o fosfato de piridoxila, utilizamos valores para μ = 0,1 M porque não haviam valores para μ = 0. Ka em μ = 0 é a constante de dissociação do ácido termodinâmica. Esta constante é válida para qualquer força iônica desde que sejam utilizados os coeficientes de atividade correspondentes à força iônica em questão:
Ka em μ = 0,1 M é o quociente entre concentrações quando a força iônica é 0,1 M:
9-3
Equilíbrios em Ácidos Fracos
Comparemos a ionização dos ácidos orto e para-hidroxibenzoicos:
Por que o isômero orto é 30 vezes mais ácido que o isômero para? Qualquer efeito que aumente a estabilidade do produto de uma reação faz com que esta avance. No isômero orto, o produto da reação de dissociação ácida pode formar uma forte ligação de hidrogênio intramolecular.
O isômero para não pode formar tal ligação, pois os grupos —OH e —CO2– estão muito afastados. Espera-se, pela estabilidade do produto, que a ligação de hidrogênio intramolecular torne o ácido o-hidroxibenzoico mais ácido que o ácido phidroxibenzoico. Um Problema Típico de Ácido Fraco O problema é encontrar o pH de uma solução do ácido fraco HA, dados a concentração formal de HA e o valor de Ka.5 Vamos denominar a concentração formal de F e utilizar o tratamento sistemático do equilíbrio:
A concentração formal é o número total de mols de um composto dissolvido em um litro. A concentração formal de um ácido fraco refere-se à quantidade total de HA colocada em solução, independentemente do fato de algumas moléculas terem sido transformadas em A–.
Existem quatro equações e quatro incógnitas ([A–], [HA], [H+], [OH–]), de modo que o problema pode ser solucionado fazendo-se o tratamento algébrico necessário. No entanto, não é muito fácil resolver essas equações simultâneas. Se elas forem combinadas obtemos uma equação cúbica. Neste momento, um químico entra e grita: “Espere! Não há razão para se resolver uma equação cúbica. Podemos fazer uma excelente aproximação que simplifica muito o problema. (Geralmente, as pessoas têm dificuldades em resolver equações cúbicas.)” Para que se verifique o comportamento peculiar de um ácido fraco, a concentração de H+ resultante da dissociação de H2O tem que ser muito maior do que a concentração de H+ resultante da dissociação da água. Quando HA se dissocia ocorre a produção de A–. Quando H2O se dissocia ocorre a produção de OH–. Se a dissociação do ácido HA for muito maior do que a dissociação de H2O, podemos dizer que [A–] >> [OH–], e a Equação 9-6 se reduz a
Para resolver o problema, primeiro consideramos que [H+] = x. De acordo com a Equação 9-9, [A2] também é igual a x. A Equação 9-7 mostra que [HA] = F – [A–] = F – x. Substituindo essas expressões na Equação 9-8 temos x = [H+] em problemas envolvendo ácidos fracos.
Considerando F = 0,050 0 M e Ka = 1,07 × 10–3 para o ácido o-hidroxibenzoico, a equação é resolvida facilmente, pois é apenas uma equação do segundo grau.
Por uma questão de coerência, expressaremos os valores de pH com duas casas decimais depois da vírgula, independentemente do número de casas decimais fixadas pelos algarismos significativos. As medidas rotineiras de pH não têm exatidão maior que ±0,02 unidade de pH.
A aproximação [H+] ≈ [A–] é justificável? O pH calculado é 2,17, o que significa que [OH–] = Kw/[H+] = 1,5 × 10–12 M.
Em uma solução de um ácido fraco, o H+ presente é quase que totalmente proveniente da dissociação do ácido fraco, e não da dissociação da água.
A suposição de que o valor da concentração de H+ é devido principalmente ao HA presente está correta. Grau de Dissociação O grau de dissociação, α, é definido como a fração do ácido que se encontra na forma A–: α é a fração de HA que dissociou:
Grau de dissociação de um ácido:
Para o ácido o-hidroxibenzoico 0,050 0 M, determinamos
Isto é, o ácido está 14% dissociado em uma concentração formal de 0,050 0 M. A variação de a com a concentração formal é vista na Figura 9-2. Eletrólitos fracos (compostos que estão apenas parcialmente dissociados) se dissociam cada vez mais quanto mais forem diluídos. O ácido o-hidroxibenzoico é mais dissociado do que o ácido p-hidroxibenzoico na mesma concentração formal porque o isômero orto é um ácido mais forte que o isômero para. O Boxe 9-2 ilustra uma aplicação corriqueira do grau de dissociação de um ácido fraco. A Essência de um Problema de Ácido Fraco Diante de um problema do cálculo de pH de um ácido fraco, você deve imediatamente considerar que [H+] = [A–] = x para depois resolver a equação Equação para ácidos fracos:
em que F é a concentração formal de HA. A aproximação [H+] = [A–] pode não ser válida se o ácido estiver muito diluído ou for muito fraco, o que, na realidade, não constitui um problema prático.
FIGURA 9-2 O grau de dissociação de um eletrólito fraco aumenta com a diluição do eletrólito. O ácido mais forte está mais dissociado do que o ácido mais fraco em todas as concentrações.
EXEMPLO
Um Problema de Ácido Fraco
Determine o pH de uma solução de cloreto de trimetilamônio 0,050 M.
Solução Inicialmente admitimos que sais de haletos de amônio estão completamente dissociados produzindo os íons (CH3)3NH+ e Cl–. † A seguir, veri camos que o íon trimetilamônio é um ácido fraco e conjugado da trimetilamina, (CH3)3N, uma base fraca. O Cl– não possui propriedades básicas e nem ácidas e deve ser ignorado. No Apêndice G, encontramos o íon trimetilamônio listado com o nome trimetilamina, mas representado como o íon trimetilamônio. O valor de pKa é 9,799 para uma força iônica μ = 0. Assim, Ka = 10–pKa = 10–9,799 = 1,59 × 10–10 A partir de agora, o problema pode ser resolvido por meio de cálculos simples. O íon Cl– não apresenta propriedades ácidas nem básicas. Ele é a base conjugada do HCl, um ácido forte. Se o íon Cl– apresentasse uma basicidade apreciável, o HCl não estaria completamente dissociado em solução.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH de uma solução de brometo de trietilamônio 0,050 M, (Resposta: 6,01)
R4N1
X–
Kpar iônico (μ = 0)
Me4N+
Cl–
1,1
Bu4N+
Cl–
2,5
Me4N+
Br–
1,4
Et4N+
Br–
2,4
Pr4N+
Br–
3,1
Me4N+
I–
2,0
Et4N+
I–
2,9
Pr4N+
I–
4,6
Bu4N+
I–
6,0
Me = CH3—, Et = CH3CH2—, Pr = CH3CH2CH2—, Bu = CH3CH2CH2CH2—
BOXE 9-2
Tingimento de Tecidos e o Grau de Dissociação6
Tecidos de algodão são constituídos principalmente de celulose, um polímero formado a partir de unidades repetidas do açúcar glicose:
Estrutura da celulose. As ligações de hidrogênio entre as unidades de glicose ajudam a tornar a estrutura rígida. Corantes são moléculas coloridas que podem formar ligações covalentes com tecidos. Por exemplo, o azul-brilhante Procion M-R é um corante com um cromóforo (a parte colorida) azul, ligado a um anel de diclorotriazina reativo:
Os átomos de oxigênio dos grupos –CH2OH na celulose podem substituir os átomos de Cl do corante para formar ligações covalentes que xam permanentemente o corante ao tecido:
Após o tingimento a frio, o excesso de corante é removido por lavagem com água quente. Durante a lavagem a quente, o segundo grupo Cl do corante é substituído por uma segunda molécula de celulose ou por uma molécula de água (formando a espécie corante—OH). A forma quimicamente reativa da celulose é a sua base conjugada:
Para promover a dissociação do próton da celulose—CH2OH, o tingimento é feito em solução de carbonato de sódio com um pH em torno de 10,6. A fração de espécies de celulose reativas, é dada pelo grau de dissociação do ácido fraco em pH 10,6:
Como o grau de dissociação de um ácido muito fraco é muito pequeno, [ROH] >> [RO–] no denominador da equação, de modo que o denominador é aproximadamente igual a [ROH]. O quociente [RO–]/[ROH] pode ser calculado a partir do Ka e do pH:
Apenas, aproximadamente, um grupo celulose—CH2OH em 104 está na forma reativa em pH 10,6.
Uma sugestão útil: A Equação 9-11 pode sempre ser resolvida utilizando-se a solução geral de um equação do segundo grau. Entretanto, um método mais simples, que vale a pena ser tentado primeiro, é o de desprezar x no denominador. Se o valor calculado de x for ≤ 1% de F, então esta aproximação será razoável e você não precisa resolver uma equação do segundo grau. Para a Equação 9-12 a forma aproximada de cálculo é:
A solução aproximada (x ≈ 2,8 × 10–6) é muito menor que o termo 0,500 no denominador da Equação 9-12. Portanto, a solução aproximada é válida.
Aproximação Despreze x no denominador. Se x vem a ser menor que 1% do valor de F, a solução aproximada é válida. 9-4
Equilíbrios em Bases Fracas
O tratamento dado às bases fracas é praticamente o mesmo que foi feito com os ácidos fracos. Quando Kb aumenta, pKb diminui e a base se torna mais forte.
Admitimos que quase todo o OH– é proveniente da reação B + H2O e poucos íons OH– são resultantes da dissociação da H2O. Considerando [OH–] = x, podemos também fazer [BH+] = x, pois um BH+ é produzido para cada OH–. Chamando de F a concentração formal da base (= [B] + [BH+]), escrevemos [B] = F – [BH+] = F – x Substituindo esses valores na expressão de equilíbrio Kb, temos Equação para base fraca:
Um problema envolvendo uma base fraca possui o mesmo cálculo algébrico que um problema de um ácido fraco, exceto que K = Kb e x = [OH–].
que se assemelha bastante a um problema de ácido fraco, com a exceção de que agora x = [OH–]. Um Problema Típico de Base Fraca Vamos considerar a cocaína como exemplo para o estudo do problema envolvendo uma base fraca.
Se a concentração formal é 0,037 2 M, o problema pode ser equacionado da seguinte maneira:
Como x = [OH–], podemos escrever [H+] = Kw/[OH–] = 1,0 × 10–14/3,1 × 10–4 = 3,2 × 10–11 M pH = –log[H+] = 10,49
Questão Qual é a concentração de OH– produzida pela dissociação de H2O nessa solução? É justi cável desprezarmos a dissociação da água como uma fonte de OH–? Esse é um pH aceitável para uma base fraca. Qual a fração de cocaína que reagiu com a água? Podemos escrever a para uma base, chamado de grau de associação: Grau de associação de uma base:
Para uma base, o valor de α corresponde à fração de base que reagiu com a água.
Somente 0,83% da base reagiu. Ácidos e Bases Conjugados – Revisão Observamos, anteriormente, que a base conjugada de um ácido fraco é uma base fraca e o ácido conjugado de uma base fraca é um ácido fraco. Também deduzimos uma relação extremamente importante entre as constantes de equilíbrio para um par conjugado ácido-base: Ka · Kb = Kw. Na Seção 9-3, consideramos os ácidos o- e p-hidroxibenzoicos, simbolizados por HA. Consideraremos agora as suas bases conjugadas. O sal o-hidroxibenzoato de sódio, por exemplo, se dissolve em água para dar Na+ (que não possui química ácido-
base) e o-hidroxibenzoato, que é uma base fraca. Se HA e A– são um par conjugado ácido-base, então BH+ e B também o são.
A química ácido-base é a reação do íon o-hidroxibenzoato com a água: Em solução aquosa,
produz
o-Hidroxibenzoato
A partir do valor de Ka, de cada isômero, podemos calcular Kb para a base conjugada. Isômero do ácido hidroxibenzoico
Ka
Kb = Kw/Ka
orto para
1,07 × 10–3 2,9 × 10–5
9,3 × 10–12 3,5 × 10–10
Utilizando cada valor de Kb, e substituindo F = 0,050 0 M, encontramos pH do o-hidroxibenzoato 0,050 0 M = 7,83 pH do p-hidroxibenzoato 0,050 0 M = 8,62 Estes são valores de pH aceitáveis para as soluções de bases fracas. Além disso, como se esperava, a base conjugada do ácido mais forte é a base mais fraca.
EXEMPLO
Um Problema de Base Fraca
Determine o pH de uma solução de amônia 0,10 M. Solução Quando a amônia é dissolvida em água, sua reação é
No Apêndice G encontramos o íon amônio, NH4+, listado após a amônia. O pKa para o íon amônio é 9,245. Portanto, o Kb para a NH3 é
Para determinar o pH da NH3 0,10 M, escrevemos e resolvemos a equação
TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH de uma solução de metilamina 0,10 M. (Resposta: 11,80) 9-5
Tampões
Uma solução tamponada resiste a uma mudança de pH quando ácidos ou bases são adicionados ou quando ocorre uma diluição. Um tampão é uma mistura de um ácido e sua base conjugada. É necessário que existam quantidades comparáveis de ácido e base conjugados (dentro de um fator de ~10) para que haja uma ação de tamponamento significativa. A importância dos tampões em todas as áreas da ciência é imensa. No início deste capítulo, mostramos que as enzimas digestivas nos lisossomas funcionam melhor em meio ácido, o que permite à célula se proteger de suas próprias enzimas. Se as enzimas passarem para o citoplasma, tamponado, elas terão menor reatividade e causarão menos danos à célula do que se estivessem em seu pH ótimo. A Figura 9-3 mostra a dependência com o pH de uma determinada reação catalisada por uma enzima cuja velocidade é máxima em um pH próximo a 8,0 e que seria lenta se a enzima estivesse em um lisossoma ácido. Para que um organismo sobreviva, ele deve controlar o pH de cada compartimento subcelular, de tal forma que cada uma de suas reações catalisadas por enzimas ocorra a uma velocidade apropriada.
FIGURA 9-3 Dependência em relação ao pH da velocidade de clivagem da ligação amida por meio da enzima quimotripisina. A quimotripisina ajuda a digestão de proteínas no intestino. [Dados de M. L. Bender, G. E. Clement, F. J. Kézdy e H. A. Heck, “The Correlation of the pH (pD) Dependence and the Stepwise Mechanism of a-Chymotrypsin-Catalyzed Reactions”, J. Am. Chem. Soc. 1964, 86, 3680.]
Mistura de um Ácido Fraco com Sua Base Conjugada Se misturarmos A mols de um ácido fraco com B mols de sua base conjugada, o número de mols de ácido fica próximo a A e o número de mols da base permanece próximo a B. Muito pouca reação ocorre para mudar uma ou outra concentração. Para compreender a razão disso, veja as reações de Ka e de Kb em termos do princípio de Le Châtelier. Considere um ácido com pKa = 4,00 e sua base conjugada com pKb = 10,00. Vamos calcular a fração do ácido que se dissocia em uma solução de HA 0,10 M.
O ácido está somente 3,1% dissociado nessas condições. Em uma solução contendo 0,10 mol de A– dissolvidos em 1,00 L, a extensão da reação de A– com a água é ainda menor:
Quando misturamos um ácido fraco com sua base conjugada, obtemos aquilo que nós misturamos!
HA se dissocia muito pouco, e a adição de A– extra à solução torna a dissociação de HA ainda menor. Do mesmo modo, A– não reage muito com a água, e a adição de HA extra torna A– ainda menos reativo. Se 0,050 mol de A– mais 0,036 mol de HA são adicionados à água, teremos perto de 0,050 mol de A– e perto de 0,036 mol de HA na solução no equilíbrio. Equação de Henderson-Hasselbalch A equação fundamental para os tampões é a equação de Henderson-Hasselbalch, que nada mais é do que uma outra forma da expressão de equilíbrio de Ka. A aproximação de que as concentrações de HA e A– permanecem constantes não é válida para soluções diluídas ou em valores extremos de pH. Vamos testar a validade da aproximação no final deste capítulo. log xy = log x + log y
L. J. Henderson foi um médico que, em 1908, escreveu a fórmula [H+] = Ka[ácido]/[sal] em um artigo sobre fisiologia, um ano antes que a palavra “tampão” e o conceito de pH fossem propostos pelo bioquímico S. P. L. Sørensen. A contribuição de Henderson foi aproximar a concentração do ácido como igual à concentração de HA presente na solução, e a concentração do sal igual à de A– dissolvida na solução. Em 1916, K. A. Hasselbalch escreveu em um jornal de bioquímica a equação que conhecemos como equação de Henderson-Hasselbalch.7
A equação de Henderson-Hasselbalch permite a determinação do pH de uma solução desde que saibamos a razão entre as concentrações do ácido e da base conjugados, bem como o pKa do ácido. Se uma solução é preparada a partir da base fraca B e de seu ácido conjugado, a equação análoga é
em que pKa é a constante de dissociação ácida do ácido fraco BH+. As características importantes das Equações 9-16 e 9-17 são que a base (A– ou B) aparece no numerador de ambas as equações e que a constante de equilíbrio é o Ka do ácido que aparece no denominador. As Equações 9-16 e 9-17 são válidas apenas quando a base (A– ou B) aparece no numerador. Quando a concentração da base aumenta, o termo logarítmico aumenta e o pH aumenta.
Desafio Mostre que, quando as atividades são levadas em conta, a equação de Henderson-Hasselbalch é
A equação de Henderson-Hasselbalch não é uma aproximação. Ela é apenas uma forma rearranjada de se escrever a expressão de equilíbrio. As aproximações que fazemos são os valores de [A–] e de [HA]. Na maioria dos casos, é válido admitir que aquilo que misturamos é o que obtemos na solução. No final deste capítulo, veremos o caso em que aquilo que misturamos não é o que obtemos porque a solução é muito diluída ou o ácido é muito forte. Propriedades da Equação de Henderson-Hasselbalch Na Equação 9-16 podemos ver que se [A–] = [HA], então pH = pKa:
Quando [A–] = [HA], pH = pKa. Naturalmente, você se lembra que log 1 = 0.
Independentemente da complexidade que uma solução possa ter, sempre que pH = pKa para um determinado ácido, [A–] tem de ser igual a [HA] para aquele ácido. Todos os equilíbrios têm de ser satisfeitos simultaneamente em qualquer solução em equilíbrio. Se existem 10 ácidos e bases diferentes em uma solução, as 10 formas da Equação 9-16 terão 10 quocientes [A–]/[HA] diferentes, mas todas as 10 equações devem dar o mesmo pH, pois só pode existir uma única concentração de H+ em uma solução.
TABELA 9-1
Efeito de [A–]/[HA] no pH
[A–]/[HA]
pH
100:1 10:1 1:1 1:10 1:100
pKa + 2 pKa + 1 pKa pKa – 1 pKa – 2
Outro aspecto da equação de Henderson-Hasselbalch é que, para cada mudança de potência de 10 na razão [A–]/[HA], o pH muda em uma unidade (Tabela 9-1). Quando a base (A–) aumenta, o pH aumenta. Com o aumento do ácido (HA), o pH diminui. Para qualquer par conjugado ácido-base, pode-se dizer, por exemplo, que se pH = pKa – 1 tem que haver 10 vezes mais HA do que A–. Portanto, dez onze avos estão na forma de HA e um onze avos estão na forma de A–.
EXEMPLO
Usando a Equação de Henderson-Hasselbalch
Hipoclorito de sódio (NaOCl, o ingrediente ativo de quase todos os alvejantes) foi dissolvido em uma solução tamponada em pH 6,20. Determine a razão [OCl–]/[HOCl] nesta solução. Solução No Apêndice G encontramos que pKa = 7,53 para o ácido hipocloroso, HOCl. Como o pH é conhecido, a razão [OCl–]/[HOCl] pode ser calculada a partir da equação de Henderson-Hasselbalch.
A razão [OCl–]/[HOCl] é xada apenas pelo pH e pelo pKa. Não precisamos saber quanto NaOCl foi adicionado nem o volume. TESTE A VOCÊ MESMO Determine [OCl–]/[HOCl] em pH 7,20, que foi atingido após o pH do exemplo ser aumentado de uma unidade. (Resposta: 0,47) 10log z = z
Um Tampão em Ação Para fins de ilustração, escolhemos um tampão bastante utilizado chamado “tris”, abreviação de tris(hidroximetil)aminometano.
No Apêndice G, encontramos o pKa de 8,072 para o ácido conjugado do tris. Um exemplo de um sal que contém o cátion BH+ é o tris cloridrato, que é BH+Cl–. Quando BH+Cl– é dissolvido em água, ele se dissocia em BH+ e Cl–.
EXEMPLO
Uma Solução-Tampão
Determine o pH de uma solução preparada pela dissolução de 12,43 g de tris (MF 121,135) mais 4,67 g de tris cloridrato (MF 157,596) em 1,00 L de água. Solução As concentrações de B e BH+ adicionadas à solução são
Admitindo que o que adicionamos permanece na mesma forma, podemos simplesmente substituir essas concentrações na equação de HendersonHasselbalch para determinar o pH:
TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH se adicionamos mais 1,00 g de tris cloridrato. (Resposta: 8,53) BOXE 9-3
Forte Mais Fraco Reagem Completamente
Um ácido forte reage com uma base fraca essencialmente “por completo”, pois a constante de equilíbrio é grande.
Se B é o tris(hidroximetil)aminometano, então a constante de equilíbrio para a reação com o HCl é
Uma base forte reage “completamente” com um ácido fraco, pois, novamente, a constante de equilíbrio é muito grande.
Se HA é o ácido acético, então a constante de equilíbrio para a reação com o NaOH é
A reação de um ácido forte com uma base forte é ainda mais completa do que a reação forte mais fraco:
Se misturarmos um ácido forte, uma base forte, um ácido fraco e uma base fraca, o ácido e a base forte se neutralizarão entre si até que um deles seja consumido. O ácido ou a base forte restante reagirá então com a base ou com o ácido fraco. Observe que o volume da solução é irrelevante, pois o volume é cancelado no numerador e no denominador do termo logarítmico: O pH de um tampão é aproximadamente independente do volume.
EXEMPLO
Efeito da Adição de um Ácido a uma Solução Tamponada
Se adicionarmos 12,0 mL de HCl 1,00 M à solução utilizada no exemplo anterior, qual será o novo pH? Solução A chave para a resolução deste problema é perceber que, quando um ácido forte é adicionado a uma base fraca, ambos reagem completamente para produzir BH+ (ver o Boxe 9-3). Estamos adicionando 12,0 mL de HCl 1,00 M, que contém (0,012 0 L)(1,00 mol/L) = 0,012 0 mol de H+. Essa grande quantidade de H+ consumirá 0,012 0 mol de B para formar 0,012 0 mol de BH+:
A informação na tabela nos permite calcular o pH:
Questão O valor do pH muda na direção certa quando o HCl é adicionado? O volume da solução é irrelevante. TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH se somente 6,0 em vez de 12,0 mL de HCl foram adicionados. (Resposta: 8,51)
Um tampão resiste às mudanças no pH …
O exemplo anterior mostra que o pH de um tampão não se modifica muito quando é adicionada uma quantidade limitada de um ácido ou de uma base forte. A adição de 12,0 mL de HCl 1,00 M modificou o pH de 8,61 para 8,41. A adição de 12,0 mL de HCl 1,00 M a 1,00 L de solução não tamponada diminuiria o pH para 1,93. … porque o tampão consome o ácido ou a base que tenha sido adicionado.
Mas por que um tampão resiste a mudanças de pH? Isso ocorre porque o ácido ou a base forte é consumido por B ou BH+. Se adicionamos HCl ao tris, B é convertido em BH+. Se adicionamos NaOH, BH+ é convertido em B. Enquanto B, ou BH+, não for consumido pela adição de HCl, ou NaOH, suficiente, o termo logarítmico da equação de Henderson-Hasselbalch não mudará muito e o pH também não sofrerá uma mudança significativa. A Demonstração 9-1 ilustra o que acontece quando o tampão é consumido. O tampão possui o seu máximo de capacidade para resistir a mudanças no pH quando pH = pKa. Retornaremos a este ponto mais adiante.
Questão: Por que adicionamos uma base (NaOH) ao tris cloridrato para preparar um tampão? Resposta: O tris cloridrato é um ácido fraco, BH+. Precisamos converter parte do BH+ em B para preparar um tampão, que é uma mistura de BH+ e B. Questão: HEPES é um tampão comum em bioquímica, cujo pKa mostrado na Tabela 9-2 é 7,56. HEPES é um composto neutro. Desenhe sua estrutura. Quem você adicionaria ao HEPES, NaOH ou HCl, para preparar um tampão? Resposta: A forma desenhada na Tabela 9.2 e o acido neutro HA. Precisamos adicionar NaOH para remover H+, produzindo assim uma mistura de HA e A–. EXEMPLO
Cálculo para o Preparo de uma Solução-Tampão
Quantos mililitros de NaOH 0,500 M devem ser adicionados a 10,0 g de tris cloridrato para se alcançar um pH de 7,60 em um volume nal de 250 mL? Solução O número de mols de tris cloridrato em 10,0 g é (10,0 g)/(157,596 g/mol) = 0,063 5. Podemos fazer uma tabela para ajudar na resolução do problema: Reação com OH–:
BH+
+
OH–
→
B
Número de mols inicial
0,063 5
x
—
Número de mols nal
0,063 5 – x
—
x
A equação de Henderson-Hasselbalch nos permite encontrar x, pois sabemos o pH e o pKa:
Esse número de mols de NaOH está contido em
TESTE A VOCÊ MESMO Quantos mL de NaOH 0,500 M devem ser adicionados a 10,0 g de tris cloridrato para dar um pH de 7,40 em um volume nal de 500 mL? (Resposta: 22,3 mL) Preparando um Tampão na Prática! Razões por que um cálculo estaria errado: 1. Os coeficientes de atividade não foram considerados. 2. A temperatura poderia não ser 25°C, a temperatura em que o pKa está tabelado. 3. As aproximações de que [HA] = FHA e [A–] = FA– podem estar erradas. 4. O valor de pKa para o tris presente na Tabela consultada regularmente provavelmente não corresponde exatamente ao que se mede no laboratório.
5. Outros íons além da espécie ácida e da espécie básica afetam o pH através de reações de pares de íons com as espécies ácida e básica.
Na prática, um tampão tris de pH 7,60 não é preparado fazendo-se o cálculo de quanto se deve misturar. Vamos supor que desejamos preparar 1,00 L de tampão contendo tris 0,100 M em um pH de 7,60. Admite-se que o tris cloridrato sólido está disponível, assim como uma solução de NaOH, aproximadamente, 1 M. O tampão é preparado do seguinte modo: 1. Pesamos 0,100 mol de tris cloridrato e dissolvemos em um béquer contendo cerca de 800 mL de água. 2. Colocamos um eletrodo de pH, previamente calibrado, na solução e monitoramos o pH. 3. Adicionamos a solução de NaOH até que o pH seja exatamente 7,60. 4. Transferimos a solução para um balão volumétrico e lavamos o béquer várias vezes. Adicionamos as águas de lavagem ao
balão volumétrico. 5. Diluímos até a marca e homogeneizamos. Não se deve adicionar diretamente a quantidade calculada de NaOH quando se prepara a solução-tampão. Esse procedimento não permite ajustar exatamente o pH desejado. A razão para o uso de 800 mL de água na primeira etapa é que o volume estará razoavelmente próximo do volume final durante o ajuste do pH. Caso contrário, o pH mudará ligeiramente quando a amostra for diluída ao seu volume final e a força iônica do meio mudar. Capacidade de Tamponamento12 A capacidade de tamponamento (capacidade-tampão), β, é a medida de quanto uma solução resiste a mudanças no pH quando um ácido ou uma base forte é adicionado. A capacidade de tamponamento é definida como Capacidade de tamponamento:
em que Ca e Cb são os números de mols de ácido forte e de base forte por litro necessários para produzir uma mudança de uma unidade no pH. Quanto maior for o valor de β, mais resistente à variação de pH será a solução.
DEMONSTRAÇÃO 9-1
Como Funciona um Tampão
Um tampão resiste a mudanças de pH porque o ácido ou a base que são adicionados são consumidos pelo tampão. À medida que o tampão é consumido, ele se torna menos resistente a mudanças de pH. Nesta demonstração,8 prepara-se uma mistura contendo aproximadamente uma razão molar 10:1 de HSO3–:SO32–. Como pKa para o HSO3– é 7,2, o pH deve ser aproximadamente
Quando formaldeído é adicionado, a reação líquida é o consumo de HSO3–, e não o de SO3–.
(Na etapa A, o bissul to é consumido diretamente. Na etapa B, a reação líquida é o consumo do HSO3–, sem nenhuma mudança na concentração de SO32–.) Podemos preparar uma tabela mostrando como o pH deve mudar à medida que o HSO3– reage.
Porcentagem da reação que é completada
[SO32–] : [HSO3–]
pH calculado
0 90 99 99,9 99,99
1 : 10 1:1 1 : 0,1 1 : 0,01 1 : 0,001
6,2 7,2 8,2 9,2 10,2
Podemos ver que, completados 90%, o pH aumenta apenas de 1 unidade. Nos próximos 9% de reação, o pH subirá mais uma unidade. Ao nal da reação, a mudança no pH deve ser muito abrupta. Na reação-relógio do formaldeído,9 adiciona-se formaldeído a uma solução contendo HSO3–, SO3– e fenolftaleína como indicador. A fenolftaleína é incolor em pH abaixo de 8,0 e vermelha acima desse pH. A solução permanece incolor por mais de um minuto. De repente, o pH sobe e o líquido se torna rosa. O acompanhamento do pH com um eletrodo de vidro apresenta os resultados que são mostrados no grá co visto na gura acima.
Grá co de pH contra tempo na reação-relógio do formaldeído. Procedimento: Todas as soluções têm que ser recém-preparadas. Prepare uma solução de formaldeído diluindo 9 mL de formaldeído 37% em massa (massa especí ca 1,08 g/mL) a 100 mL (para dar CH2O 1,20M). Dissolva 1,4 g de Na2S2O5 (metabissul to de sódio, 7,4 mmol)10 e 0,18 g de Na2SO3 (1,4 mmol) em 400 mL de água, e adicione ~1 mL de solução de fenolftaleína à solução (Tabela 11-3). Adicione 23 mL (28 mmol) da solução de formaldeído à solução de tampão bem agitada para iniciar a reação. O tempo de reação pode ser ajustado pela mudança da temperatura, das concentrações ou do volume. Uma variante menos tóxica desta demonstração utiliza glioxal em lugar do formaldeído.11 Um dia antes da demonstração, dilua 2,9 g de glioxal 40% em massa de glioxal (20,0 mmol) até 25 mL. Dissolva 0,90 g de Na2S2O5 (4,7 mmol), 0,15 g de Na2 SO3 (1,2 mmol) e 0,18 g de Na2EDTA·2H2O (0,48 mmol, para proteger o sul to da oxidação pelo ar catalisada por metal) em 50 mL. Um mol de Na2S2O5 produz 2 mols de HSO3– pela reação com H2O. Para a demonstração, adicione 0,5 mL de indicador vermelho de fenol (Tabela 11-3) a 400 mL de H2O mais 5,0 mL de solução de sul to. Adicione 2,5 mL de solução de glioxal (2,0 mmol) à solução de sul to bem agitada para iniciar a reação-relógio. A Figura 9-4a mostra o gráfico de Cb contra pH para uma solução contendo HA 0,100 F com pKa = 5,00. A ordenada (Cb) é a concentração formal de base forte necessária para ser misturada com HA 0,100 F de modo a fornecer o pH indicado. Por exemplo, uma solução contendo OH– 0,050 F mais HA 0,100 F deve ter um pH de 5,00 (desprezando-se as atividades). Escolha um tampão com pKa o mais próximo possível do pH desejado.
A curva na Figura 9-4b, derivada da curva superior, mostra a capacidade de tamponamento para o mesmo sistema. A característica mais notável da capacidade é que ela alcança um máximo quando pH = pKa, ou seja, um tampão é mais eficaz em resistir à mudança de pH quando pH = pKa (isto é, quando [HA] = [A–]). Na escolha de um tampão, deve-se escolher um tampão cujo pKa seja o mais próximo possível do pH desejado. A faixa útil de pH de um tampão geralmente é considerada como pKa ± 1 unidade de pH. Fora desse intervalo, não existe quantidade suficiente, nem de ácido fraco nem de base fraca, para reagir com a base ou com o ácido que foi adicionado. Evidentemente, a capacidade de tamponamento pode ser aumentada pelo aumento da concentração do tampão. A curva da capacidade de tamponamento na Figura 9-4b continua ascendente em valores altos de pH (e em pH baixo, que não é mostrado) simplesmente porque existe uma alta concentração de OH– em pH alto (ou H+ em pH baixo). A adição de uma pequena quantidade de ácido ou de base a uma grande quantidade de OH– (ou H+) não tem um efeito muito grande no valor do pH. Uma solução de pH alto é tamponada pelo par ácido conjugado-base conjugada H2O/OH–. Uma solução com pH baixo é tamponada pelo par ácido conjugado-base conjugada H3O+/H2O.
FIGURA 9-4 (a) Cb contra pH para uma solução contendo HA 0,100 F com pKa = 5,00. (b) A capacidade de tamponamento contra pH, para o mesmo sistema, alcança um máximo quando pH = pKa. A curva de baixo é a derivada da curva de cima.
Quanto de Tampão Deve Ser Usado? Você não precisa fazer um cálculo complexo para decidir quanto de tampão deve ser usado. Se o número de mols de tampão for maior do que o número de mols de ácido ou de base que venham a ser introduzidos na solução por meio de uma reação química ou adição de outros reagentes, o pH não mudará muito.
EXEMPLO
De Quanto o pH Variará?
Suponha que uma solução tamponada contenha 50 mmol do componente HA e 50 mmol do componente A–. O pH será igual ao pKa para o tampão. Qual será a variação do pH se 20 mmol de outro ácido forem produzidos por meio de uma reação química?
Solução No pior caso, o ácido produzido pela reação é forte o bastante para converter uma quantidade equivalente de A– em HA. O número de mols de HA passaria a ser 50 + 20 = 70 mmol. O número de mols de A– seria 50 – 20 = 30 mmol. O pH passaria a ser
O pH diminuiria de 0,37 unidade. Se essa variação for aceitável, você dispõe de tampão o su ciente. TESTE A VOCÊ MESMO Se, por outro lado, fossem produzidos 15 mmol de base forte, de quanto o pH do tampão original aumentaria? (Resposta: 0,27 unidade de pH). O pH do Tampão Depende da Força Iônica e da Temperatura A equação de Henderson-Hasselbalch, escrita corretamente (Equação 9-18), inclui os coeficientes de atividade. O principal motivo por que o pH de um tampão não é igual ao pH observado é pelo fato de a força iônica não ser nula (0), de modo que os coeficientes de atividade não são iguais a 1. A Tabela 9-2 lista os valores de pKa para tampões comuns, que são amplamente utilizados em bioquímica. Os valores são listados para forças iônicas 0 e 0,1 M. Se uma solução-tampão tem uma força iônica mais próxima de 0,1 M do que de 0, o cálculo mais exato do pH tem que ser realizado utilizando-se um valor de pKa correspondente a μ = 0,1. Se misturarmos 0,200 mol de ácido bórico com 0,100 mol de NaOH em 1,00 L, obtemos uma mistura 1:1 de ácido bórico e sua base conjugada com uma força iônica de 0,10 M:
Encontramos para o ácido bórico na Tabela 9-2 que pKa = 9,24 em μ = 0 e pKa = 8,98 em μ = 0,1 M. Prevemos que o pH de uma mistura 1:1 de ácido bórico e borato terá pH próximo de 9,24 em força iônica baixa e próximo de 8,98 em μ = 0,1 M. Como outro exemplo do efeito da força iônica consideramos uma solução estoque 0,5 M de tampão fosfato. Essa solução tem um pH = 6,6 e quando é diluída para 0,05 M o pH aumenta para 6,9 – um efeito bem significativo. A mudança da temperatura provoca uma mudança no valor do pH.
Para quase todos os problemas neste livro usamos os valores de pKa em μ = 0. Somente quando não há nenhum valor de pKa listado em μ = 0, usamos o pKa para m = 0,1 M. A mudança da força iônica altera o valor do pH.
O pKa dos tampões varia com a temperatura, conforme indicado na última coluna da Tabela 9-2. O tris possui uma dependência excepcionalmente grande, cerca de –0,028 unidades de pKa por grau, próximo da temperatura ambiente. Uma solução de tris feita para um pH 8,07 a 25°C, terá um pH ≈ 8,7 a 4°C e um pH ≈ 7,7 a 37°C. Quando o que Misturamos Não É o que Obtemos O que misturamos não é o que obtemos em uma solução diluída ou em valores extremos de pH.
Em uma solução diluída, ou em valores extremos de pH, as concentrações de HA e A– em solução não são iguais às suas concentrações formais. Suponha que misturemos FHA mols de HA e FA– mols do sal Na+A–. Os balanços de carga e de massa são Balanço de massa:
FHA + FA– = [HA] + [A–]
Balanço de carga:
[Na+] + [H+] = [OH–] + [A–]
Substituindo [Na+] = FA– e resolvendo algebricamente, temos as equações
TABELA 9-2
Estruturas e valores de pKa para tampões comunsa,b,c,d pKae μ=0
μ = 0,1 M
Massa fórmula
Ácido N-2-acetamidoiminodiacético(ADA)
— (CO2H)
1,59
190,15
—
N-tris(hidroximetil)metilglicina (TRICINA)
2,02 (CO2H)
—
179,17
–0,003
2,15 (pK1)
1,92
98,00
0,005
Nome
Ácido fosfórico
Estrutura
H3PO4
Δ(pKa)/ΔT (K–1)
N,N-Bis(2-hidroxietil)glicina (BICINA)
2,23 (CO2H)
—
163,17
—
2,48 (CO2H)
2,31
190,15
—
Ácido piperazino-N,N′-bis (2-etanossulfônico) (PIPES)
— (pK1)
2,67
302,37
—
Ácido cítrico
3,13 (pK1)
2,90
192,12
–0,002
Glicilglicina
3,14 (CO2H)
3,11
132,12
0,000
Ácido piperazino-N,N′-bis (3propanossulfônico) (PIPPS)
— (pK1)
3,79
330,42
—
Ácido piperazino-N,N′-bis(4-butanossulfônico) (PIPBS)
— (pK1)
4,29
358,47
—
Dicloridrato de N,N′-dietilpiperazina (DEPP2HCl)
— (pK1)
4,48
215,16
—
4,76 (pK2)
4,35
192,12
–0,001
4,76
4,62
60,05
0,000
Ácido N,N′-dietiletilenodiamino-N,N′-bis(3propanossulfônico) (DESPEN)
— (pK1)
5,62
360,49
—
Ácido 2-(N-morfolino) etanossulfônico (MES)
6,27
6,06
195,24
–0,009
6,40 (pK3)
5,70
192,12
0,002
Dicloridrato de N,N,N′,N′tetraetiletilenodiamina (TEEN·2HCl)
— (pK1)
6,58
245,23
—
Cloridrato de 1,3-bis[tris(hidroximetil)metilamino]propano-(BIS-TRIS propano-2HCl)
6,65 (pK1)
—
355,26
—
6,84 (NH)
6,67
190,15
–0,007
Ácido N-2-acetamido-2-aminoetanossulfônico (ACES)
6,85
6,75
182,20
–0,018
Ácido 3-(N-morfolino)-2hidroxipropanossulfônico (MOPSO)
6,90
—
225,26
–0,015
Cloridrato de imidazol
6,99
7,00
104,54
–0,022
7,14 (pK2)
6,93
302,37
–0,007
7,18
7,08
209,26
–0,012
7,20 (pK2)
6,71
98,00
–0,002
Ácido 4-(N-morfolino)butanossulfônico (MOBS)
—
7,48
223,29
—
Ácido N-tris(hidroximetil)metil-2aminoetanossulfônico (TES)
7,55
7,60
229,25
–0,019
Ácido N-2-hidroxietilpiperazino-N′-2etanossulfônico (HEPES)
7,56
7,49
238,30
–0,012
— (pK2)
7,97
330,42
—
ADA
(ver acima)
Ácido cítrico
(ver acima)
Ácido acético
CH3CO2H
Ácido cítrico
ADA
PIPES
(ver acima)
(ver acima)
(ver acima)
Ácido 3-(N-morfolino)propanossulfônico (MOPS) Ácido fosfórico
PIPPS
H3PO4
(ver acima)
Ácido N-2-hidroxietilpiperazino-N′-3propanossulfônico (HEPPS)
7,96
7,87
252,33
–0,013
Cloridrato de glicilamida
—
8,04
110,54
—
Cloridrato de tris(hidroximetil)aminometano (TRIS-HCl)
8,07
8,10
157,60
–0,028
TRICINA
(ver acima)
8,14 (NH)
—
179,17
–0,018
Glicilglicina
(ver acima)
8,26 (NH)
8,09
132,12
–0,026
BICINA
(ver acima)
8,33 (NH)
8,22
163,17
–0,015
PIPBS
(ver acima)
— (pK2)
8,55
358,47
—
DEPP-2HCl
(ver acima)
— (pK2)
8,58
207,10
—
DESPEN
(ver acima)
— (pK2)
9,06
360,49
—
BIS-TRIS propano · 2HCl
(ver acima)
9,10 (pK2)
—
355,26
—
Amônia
NH4+
9,24
—
17,03
–0,031
Ácido bórico
B(OH)3
9,24 (pK1)
8,98
61,83
–0,008
9,39
—
207,29
–0,023
— (pK2)
9,88
245,23
—
10,50
10,39
221,32
–0,028
— (pK2)
11,01
231,21
—
Ácido cicloexilaminoetanossulfônico (CHES) TEEN · 2HCl
(ver acima)
Ácido 3-(cicloexilamino) propanossulfônico (CAPS) Dicloridrato de N,N,N′,N′tetraetilmetilenodiamina (TEMN · 2HCl) Ácido fosfórico
H3PO4
12,38 (pK3)
11,52
98,00
–0,009
Ácido bórico
B(OH)3
12,74 (pK2)
—
61,83
—
a. A forma de cada molécula vista nesta tabela é a forma protonada. Os átomos de hidrogênio ácidos são mostrados em negrito. Os valores de pKa referem-se à temperatura de 25ºC. b. Diversos tampões nesta tabela são amplamente utilizados em pesquisas biomédicas devido às suas ligações relativamente fracas com íons metálicos e à sua inércia siológica. (C. L. Bering, J. Chem. Ed. 1987, 64, 803). Em um estudo, em que os tampões MES e MOPS não têm a nidade detectável pelo íon Cu2+, uma impureza presente em quantidades mínimas nos tampões HEPES e HEPPS apresentou forte a nidade por esse íon, e o tampão MOPSO ligou-se estequiometricamente ao Cu2+ (H. E. Marsh, Y.-P. Chin, L. Sigg, R. Hari e H. Xu, Anal.Chem. 2003, 75, 671). Os tampões ADA, BICINA, ACES e TES têm certa capacidade de ligação com metais (R. Nakon e C. R. Krishnamoorthy, Science 1983, 221, 749). Tampões de lutidina para a faixa de pH entre 3 e 8, com possibilidade de ligação limitada com o metal, foram descritos por U. Bips, H. Elias, M. Hauröder, G. Kleinhans, S. Pfeifer e K. J. Wannowius, Inorg. Chem. 1983, 22, 3862. c. Alguns dados foram obtidos de R. N. Goldberg, N. Kishore e R. M. Lennen, J. Phys. Chem. Ref. Data 2002, 31, 231. Este artigo fornece a dependência do pKa com a temperatura. d. A dependência dos valores de pKa em relação à temperatura e à força iônica do meio pode ser encontrada para os seguintes tampões nas seguintes referências: HEPES – D. Feng, W. F. Koch e Y. C. Wu, Anal. Chem. 1989, 61, 1400; MOPSO – Y. C. Wu, P. A. Berezansky, D. Feng e W. F. Koch, Anal. Chem. 1993, 65, 1084; ACES e CHES – R. N. Roy, J. Bice, J. Greer, J. A. Carlsten, J. Smithson, W. S. Good, C. P. Moore, L. N. Roy e K. M. Kuhler, J. Chem. Eng. Data 1997, 42, 41; TEMN, TEEN, DEPP, DESPEN, PIPES, PIPPS, PIPBS, MES, MOPS e MOBS – A. Kandegedara e D. B. Rorabacher, Anal Chem. 1999, 71, 3140. Este último conjunto de tampões foi especi camente desenvolvido para apresentar uma pequena capacidade de combinação com metais (Q. Yu, A. Kandegedara, Y. Xu e D. B. Rorabacher, Anal Biochem. 1997, 253, 50). e. A nota na margem no nal da Seção 9-2 se refere à distinção entre valores de pKa em μ = 0 e μ = 0,1 M. Até agora, admitimos que [HA] ≈ FHA e [A–] ≈ FA–, e utilizamos esses valores na equação de Henderson-Hasselbalch. Um procedimento mais rigoroso é utilizar as Equações 9-20 e 9-21. Veremos, que se FHA ou FA– for pequeno, ou se [H+] ou [OH–] for grande, as aproximações [HA] ≈ FHA e [A–] ≈ FA– não são boas. Em soluções ácidas, [H+] >> [OH–], logo [OH–] pode ser ignorada nas Equações 9-20 e 9-21. Em soluções básicas, [H+] pode ser desprezada.
EXEMPLO
Um Tampão Diluído Preparado a Partir de um Ácido Moderadamente Forte
Qual será o pH se 0,0100 mol de HA (com pKa = 2,00) e 0,0100 mol de A– são dissolvidos em água, completando-se o volume até 1,00 L de solução? Solução Como a solução será ácida (pH ≈ pKa = 2,00), podemos desprezar [OH–] nas Equações 9-20 e 9-21. Substituindo-se [H+] = x nas Equações 920 e 9-21, usamos a equação de Ka para determinarmos [H+]:
O pH é 2,38 em vez de 2,00. As concentrações de HA e de A– não são as que misturamos: O HA nessa solução está mais que 40% dissociado. O ácido é muito forte para que a aproximação [HA] < FHA seja válida.
[HA] = FHA – [H+] = 0,005 86 M [A–] = FA– + [H+] = 0,014 1 M Neste exemplo, HA é muito forte e as concentrações de HA e A– são muito baixas para que sejam iguais às suas concentrações formais. TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH se pKa = 3,00 em vez de 2,00. A resposta fez sentido? (Resposta: 3,07) A equação de Henderson-Hasselbalch (com os coeficientes de atividade) sempre é válida, porque é apenas uma outra forma de se escrever a expressão de equilíbrio de Ka. As aproximações [HA] ≈ FHA e [A–] ≈ FA– é que nem sempre são válidas. Em resumo, um tampão consiste em uma mistura de um ácido fraco e sua base conjugada. O tampão é mais útil quando pH ≈ pKa. Em uma faixa razoável de concentração, o pH de um tampão é praticamente independente da concentração. Um tampão resiste a mudanças no pH porque reage com os ácidos ou bases adicionados. Se muito ácido ou base for adicionado, o tampão será totalmente consumido e não resistirá mais às mudanças de pH.
EXEMPLO
Usando a Ferramenta do Excel Atingir Meta e Como Dar Nome às Células
A função Atingir meta permite determinar soluções para equações de quase qualquer complexidade. Ao resolvermos a Equação 9-22, zemos a conveniente aproximação de que [H+] >> [OH–] e desprezamos [OH–]. Com a função Atingir Meta é fácil usar as Equações 9-20 e 9-21, sem termos que recorrer a aproximações.
A planilha eletrônica vista a seguir ilustra o uso da função Atingir Meta e mostra como é possível nomear-se as células, o que facilita a identi cação das fórmulas que são usadas. Na coluna A entramos com os dísticos que identi cam Ka, Kw, FHA, FA (= FA–), H (=[H+]) e OH (=[OH–]). Escreva os valores numéricos de Ka, Kw, FHA e FA– nas células B1:B4. Na célula B5, entraremos com o valor estimado para [H+].
Desejamos agora dar nomes às células de B1 a B6. No Excel 2007 ou 2010, selecionamos a célula B1, vamos para a guia Fórmula e clicamos em De nir Nome. Abre-se uma janela que perguntará se você quer usar o nome “Ka” que aparece na célula A1. Se gostar desse nome clique OK. Agora, quando você selecionar a célula B1, o nome na parte superior esquerda da planilha mostra Ka em vez de B1. Nas versões anteriores do Excel, selecionamos a célula B1, vamos para o menu Inserir, selecionamos Nome e então De nir. Por meio desse procedimento, nomeamos as outras células na coluna B: “Kw”, “FHA”, ”FA”, ”H” e ”OH”. Agora, quando você quiser escrever uma fórmula correspondente à célula B2, pode escrever Kw em vez de B2. Kw passa a ser uma referência absoluta para a célula $B$2. Na célula B6, entre com a fórmula “=Kw/H” e o Excel retorna o valor 1E–11 para [OH–]. A utilidade em nomear as células é que é bem mais fácil entender “=Kw/H” do que “=$B$2/$B$5”. Na célula B7, entre com a fórmula “= –log(H)” para o valor do pH. Na célula D4 escreva “=H*(FA+H-OH)/(FHA-H+OH)”, que é o quociente na Equação 9-23. O Excel retorna o valor 0,001 222, baseado na suposição [H ] = 0,001 que foi escrita na célula B5. +
Agora usamos a função Atingir Meta para variar o valor de [H+] na célula B5 até que o quociente reacional na célula D4 seja igual a 0,01, que é o valor de Ka. Antes de usar a função Atingir Meta no Excel 2010, clique na guia Arquivo e selecione Opções. Na janela Opções, selecione Fórmulas. Fixe Número máximo de alterações em 1e-15, para obter uma resposta com grande precisão. Para executar Atingir Meta, vá para a guia Dados, clique em
Análise de Hipótese e então selecione Atingir Meta. Na janela que se abre, especi que D4 em De nir célula, digite 0 em Para valor e B7 em Alternando célula. Clique OK e o Excel varia a célula B5 até que o valor [H+] = 4,142 × 10–3 dê um quociente de reação de 0,01 na célula D4. Valores da estimativa inicial para H diferentes daquele que foi proposto podem gerar soluções negativas ou fazer com que não haja convergência para a solução nal do problema. Existe apenas um único valor positivo de H que satisfaz a Equação 9-23. TESTE A VOCÊ MESMO Determine H se Ka = 0,001. (Resposta: H = 8,44 × 10–4, pH = 3,07) Termos Importantes ácido forte ácido fraco base forte base fraca capacidade de tamponamento constante de dissociação ácida, Ka constante de hidrólise da base, Kb eletrólito fraco equação de Henderson-Hasselbalch grau de associação, α (de uma base) grau de dissociação, α (de um ácido) par conjugado ácido-base pK tampão
Resumo Ácidos ou bases fortes. Para concentrações razoáveis (≳ 10–6 M), os valores de pH ou pOH podem ser obtidos diretamente da concentração formal do ácido ou da base. Quando a concentração está próxima de 10–7 M, usamos o tratamento sistemático do equilíbrio para calcular o pH. Em concentrações ainda mais baixas, o pH é 7,00, valor controlado pela autoprotólise do solvente. Ácidos fracos. Para a reação HA ⇌ H+ + A–, escrevemos e resolvemos a equação Ka = x2/(F – x), em que [H+] = [A–] = x e [HA] = F – x. O grau de dissociação é dado por α = [A–]/([HA] + [A–]) = x/F. O termo pKa é definido como pKa = –log Ka. Bases fracas. Para a reação B + H2O ⇌ BH+ + OH–, escrevemos e resolvemos a equação Kb = x2/(F – x), em que [OH–] = [BH+] = x e [B] = F – x. O ácido conjugado da base fraca é um ácido fraco, e a base conjugada de um ácido fraco é uma base fraca. Para um par conjugado ácido-base, Ka·Kb = Kw. Tampões. Um tampão é uma mistura de um ácido fraco e sua base conjugada. Ele é capaz de resistir a mudanças no pH, pois reage com o ácido ou a base que foi adicionada. O pH é dado pela equação de Henderson-Hasselbalch.
em que pKa se aplica às espécies no denominador. As concentrações de HA e A– são praticamente as mesmas que foram usadas para preparar a solução. O pH de um tampão tende a ser independente da diluição, mas a capacidade de tamponamento aumenta com o aumento da concentração do tampão. A capacidade máxima de um tampão é em pH = pKa, e a faixa útil é pH = pKa ± 1. A base conjugada de um ácido fraco é uma base fraca. Quanto mais fraco for o ácido, mais forte será a base. No entanto, se um membro de um par conjugado for fraco, o seu conjugado também o será. A relação entre Ka de um ácido e Kb de sua base conjugada em solução aquosa é Ka·Kb = Kw. Quando um ácido (ou base) forte é adicionado a uma base (ou ácido) fraca, eles tendem a reagir entre si completamente.
Exercícios 9-A. Utilizando os coeficientes de atividade de maneira correta, determine o pH de uma solução de NaOH 1,0 × 10–2 M. 9-B. Sem usar atividades, calcule o pH de (a) HBr 1,0 × 10–8 M (b) H2SO4 1,0 × 10–8 M (o H2SO4 se dissocia completamente em 2H+ mais SO42– nesta concentração baixa). 9-C. Qual é o pH de uma solução preparada pela dissolução de 1,23 g de 2-nitrofenol (MF 139,11) em 0,250 L? 9-D. O pH de uma solução de o-cresol 0,010 M é 6,16. Determine o pKa para este ácido fraco.
9-E. Calcule o valor limite do grau de dissociação (a) de um ácido fraco (pKa = 5,00), quando a concentração de HA se aproxima de zero. Repita o mesmo cálculo para pKa = 9,00. 9-F. Encontre o pH de uma solução de butanoato de sódio 0,050 M (o sal de sódio do ácido butanoico, também chamado de ácido butírico). 9-G. O pH de uma solução de etilamina 0,10 M é 11,82. (a) Sem consultar o Apêndice G, determine Kb para a etilamina. (b) Utilizando os resultados de (a), calcule o pH de uma solução de cloreto de etilamônio 0,10 M. 9-H. Qual das seguintes bases é mais adequada para se preparar um tampão de pH 9,00? (i) NH3 (amônia, Kb = 1,76 × 10–5); (ii) C6H5NH2 (anilina, Kb = 3,99 × 10–10); (iii) H2NNH2 (hidrazina, Kb = 1,05 × 10–6); (iv) C5H5N (piridina, Kb = 1,58 × 10–9). 9-I. Uma solução contém 63 pares conjugados ácido-base diferentes. Entre eles estão o ácido acrílico e o íon acrilato, com a razão em equilíbrio [acrilato]/[ácido acrílico] = 0,75. Qual é o pH da solução?
9-J. (a) Determine o pH de uma solução preparada pela dissolução de 1,00 g de cloridrato de glicinamida (Tabela 9-2) mais 1,00 g de glicinamida em 0,100 L.
(b) Quantos gramas de glicinamida devem ser adicionadas a 1,00 g de cloridrato de glicinamida para se obter 100 mL de solução com pH 8,00? (c) Qual deve ser o pH se à solução em (a) forem misturados 5,00 mL de HCl 0,100 M? (d) Qual deve ser o pH se à solução em (c) forem misturados 10,00 mL de NaOH 0,100 M? (e) Qual deve ser o pH se à solução em (a) forem misturados 90,46 mL de NaOH 0,100 M? (Esta é a quantidade exata de NaOH necessária para neutralizar o cloridrato de glicinamida.) 9-K. Selecione um composto da Tabela 9-2 que você possa usar para preparar 250 mL de um tampão 0,2 M, cujo pH é 6. Explique como você prepararia esse tampão. 9-L. Uma solução com uma força iônica de 0,10 M, contendo fenilidrazina 0,010 0 M, tem um pH de 8,13. Utilizando os coeficientes de atividade corretamente, determine o pKa para o íon fenilidrazínio encontrado no cloridrato de fenilidrazina. Suponha que γBH+ = 0,80.
9-M. Prepare uma planilha eletrônica semelhante àquela mostrada no final deste capítulo usando a função Atingir Meta para determinar o pH de 1,00 L de uma solução contendo 0,030 mol de HA (pKa = 2,50) e 0,015 mol de NaA. Qual seria o valor do pH calculado se fizermos as aproximações [HA] = 0,030 e [A–] = 0,015?
Problemas Ácidos e Bases Fortes 9-1. Por que a água não se dissocia para produzir H+ 10–7 M e OH– 10–7 M, se adiciona HBr? 9-2. Calcule o pH de (a) uma solução de HBr 1,0 × 10–3 M; (b) uma solução de KOH 1,0 × 102– M. Despreze os coeficientes de atividade. 9-3. Calcule o pH de uma solução de HClO4 5,0 × 10–8 M. Que fração do total de H+ nessa solução é proveniente da dissociação da água? Despreze os coeficientes de atividade. 9-4. (a) O pH medido para uma solução de HCl 0,100 M, a 25°C, é 1,092. A partir desta informação, calcule o coeficiente de atividade do H+ e compare sua resposta com a que aparece na Tabela 8-1. (b) O pH medido de uma solução de HCl 0,010 0 M + KCl 0,090 0 M, a 25°C, é 2,102. A partir dessa informação, calcule o coeficiente de atividade do H+ nessa solução. (c) As forças iônicas das soluções em (a) e (b) são as mesmas. O que você pode concluir sobre a dependência dos coeficientes de atividade em relação aos íons em uma solução?
Equilíbrios em Ácidos Fracos 9-5. Escreva a reação química cuja constante de equilíbrio é (a) Ka para o ácido benzoico, C6H5CO2H (b) Kb para o íon benzoato, C6H5CO22 (c) Kb para a anilina, C6H5NH2 (d) Ka para o íon anilínio, C6H5NH3+ 9-6. Determine o pH e o grau de dissociação (a) de uma solução 0,100 M do ácido fraco HA com Ka = 1,00 × 10–5. 9-7. BH+ClO4– é um sal formado a partir da base B (Kb = 1,00 × 10–4) e do ácido perclórico. Ele se dissocia em BH+, um ácido fraco, e em ClO4–, que não é um ácido nem uma base. Determine o pH de uma solução de BH+ClO4– 0,100 M. 9-8. Determine o pH e as concentrações de (CH3)3N e (CH3)3NH+ em uma solução de cloreto de trimetilamônio 0,060 M. 9-9. Utilize o quociente de reação, Q, para explicar por que o grau de dissociação de um ácido fraco, HA, aumenta quando a solução é diluída por um fator de 2. 9-10. Quando um ácido fraco é fraco e quando um ácido fraco é forte? Mostre que o ácido fraco HA está 92% dissociado quando dissolvido em água se a concentração formal for um décimo de Ka(F = Ka/10). Mostre que a fração de dissociação é de 27% quando F = 10Ka. Em que concentração formal o ácido estará 99% dissociado? Compare sua resposta com a curva da esquerda na Figura 9-2. 9-11. Uma solução de ácido benzoico 0,045 0 M tem um pH de 2,78. Calcule o pKa para este ácido. 9-12. Uma solução de HA 0,045 0 M está 0,60% dissociada. Calcule o pKa para esse ácido. 9-13. O ácido barbitúrico se dissocia da seguinte maneira:
(a) Calcule o pH e o grau de dissociação de uma solução de ácido barbitúrico 10–2,00 M. (b) Calcule o pH e o grau de dissociação de uma solução de ácido barbitúrico 10–10,00 M. 9-14. Utilizando os coeficientes de atividade, calcule o pH e o grau de dissociação de uma solução de hidroxibenzeno (fenol) 50,0 mM em LiBr 0,050 M. Considere que o tamanho do C6H5O– é de 600 pm. 9-15. O íon Cr3+ é ácido devido à reação de hidrólise
[Outras reações que se passam nesse sistema produzem Cr(OH)2+, Cr(OH)3 e Cr(OH)4+.] Determine o valor de Ka1 na Figura 6-9. Considerando somente a reação de Ka1, calcule o pH do Cr(ClO4)3 0,010 M. Que fração de cromo está presente na forma de Cr(OH)2+? 9-16. A partir da constante de dissociação do HNO3, a 25°C, no Boxe 9-1, determine as porcentagens de dissociação nas soluções de HNO3 0,100 M e 1,00 M. 9-17. Atingir Meta do Excel. Resolva a equação x2/(F – x) = K por meio da função Atingir Meta. Fixe um valor de x na célula A4 e calcule x2/(F – x) na célula B4. Use a função Atingir Meta para variar o valor de x até que x2/(F – x) seja igual a K. Use sua planilha para verificar sua resposta para o Problema 9-6.
Equilíbrios em Bases Fracas 9-18. Compostos covalentes geralmente possuem pressão de vapor maior que os compostos iônicos. O odor “desagradável” de peixe resulta das aminas presentes no peixe. Explique por que espremer limão (que é ácido) sobre o peixe reduz o odor desagradável (e o gosto). 9-19. Determine o pH e o grau de associação (a) de uma solução 0,100 M de uma base fraca B com Kb = 1,00 × 10–5. 9-20. Determine o pH e as concentrações de (CH3)3N e (CH3)3NH+ em uma solução de trimetilamina 0,060 M. 9-21. Calcule o pH de uma solução de NaCN 0,050 M. 9-22. Calcule o grau de associação (a) para as soluções de acetato de sódio 1,00 × 10–1, 1,00 × 10–2 e 1,00 × 10–12 M. O valor de a aumenta ou diminui com a diluição?
9-23. Uma solução 0,10 M de uma base apresenta pH = 9,28. Determine o Kb para essa base. 9-24. Uma solução de uma base 0,10 M está 2,0% hidrolisada (α = 0,020). Calcule o valor de Kb. 9-25. Mostre que o limite do grau de associação de uma base fraca em água quando a concentração da base se aproxima de 0 é α = 107 Kb/(1 + 107 Kb). Determine o valor limite de a quando Kb = 10–4 e Kb = 10–10. Tampões 9-26. Descreva como preparar 100 mL de um tampão acetato 0,200 M, de pH 5,00, a partir do ácido acético puro e de soluções contendo HCl ~3 M e NaOH ~3 M. 9-27. Descreva como preparar 250 mL de um tampão de amônia 1,00 M, pH 9,00, a partir de NH3 28% em massa (“hidróxido de amônio concentrado”, apresentado na contracapa deste livro) e HCl “concentrado” (37,2% m/m) ou NaOH “concentrado” (50,5% m/m). 9-28. Considere uma mistura reacional contendo 100,0 mL de um tampão borato 0,100 M em pH = pKa = 9,24. Quando pH = pKa, sabemos que [H3BO3] = [H2BO3–] = 0,050 0 M. Suponha que uma reação química, cujo pH desejamos controlar, produzirá um ácido. Para evitar que o pH varie muito, não desejamos produzir mais ácido do que a quantidade que consumirá metade do [H2BO3–]. Quantos mols de ácido podem ser produzidos sem que se consuma mais da metade do [H2BO3–]? Qual será o pH? 9-29. Por que o pH de um tampão é praticamente independente da concentração? 9-30. Por que a capacidade de tamponamento aumenta com o aumento da concentração do tampão? 9-31. Por que a capacidade de tamponamento aumenta quando uma solução se torna muito ácida (pH ≈ 1) ou muito básica (pH ≈ 13)? 9-32. Por que a capacidade de tamponamento é máxima quando pH = pKa? 9-33. Explique o seguinte enunciado: a equação de Henderson-Hasselbalch (com os coeficientes de atividade) é sempre verdadeira; o que pode não estar correto são os valores de [A–] e [HA] que usamos na equação. 9-34. Qual dos seguintes ácidos é mais adequado para preparar um tampão de pH 3,10? (i) peróxido de hidrogênio; (ii) ácido propanoico; (iii) ácido cianoacético; (iv) ácido 4-aminobenzenossulfônico. 9-35. Um tampão foi preparado pela dissolução de 0,100 mol do ácido fraco HA (Ka = 1,00 × 10–5) mais 0,050 mol de sua base conjugada Na+A– em 1,00 L. Determine o pH. 9-36. Escreva a equação de Henderson-Hasselbalch para uma solução de ácido fórmico. Calcule o quociente [HCO2–]/[HCO2H] em (a) pH = 3,000; (b) pH = 3,744; (c) pH = 4,000. 9-37. Calcule o quociente [HCO2–]/[HCO2H] em pH = 3,744 se a força iônica é 0,1 M utilizando a constante de equilíbrio efetiva listada para μ = 0,1 no Apêndice G. 9-38. Sabendo que o pKb para o íon nitrito (NO2–) é 10,85, calcule o quociente [HNO2]/[NO2–] em uma solução de nitrito de sódio em (a) pH 2,00; (b) pH 10,00. 9-39. (a) Você precisaria de NaOH ou de HCl para trazer o pH de uma solução de HEPES 0,050 0 M (Tabela 9-2) para 7,45? (b) Descreva o procedimento para a preparação de 0,250 L de uma solução de HEPES 0,050 0 M, pH 7,45. 9-40. Quantos mililitros de HNO3 0,246 M devem ser adicionados a 213 mL de uma solução de 2,2′-bipiridina 0,00666 M para se alcançar um pH de 4,19? 9-41. (a) Escreva as reações químicas cujas constantes de equilíbrio são Kb e Ka para o imidazol e o cloridrato de imidazol, respectivamente. (b) Calcule o pH de uma solução preparada pela mistura de 1,00 g de imidazol com 1,00 g de cloridrato de imidazol e diluindo a 100,0 mL. (c) Calcule o pH da solução se 2,30 mL de uma solução de HClO4 1,07 M são adicionados. (d) Quantos mililitros de uma solução de HClO4 1,07 M devem ser adicionados a 1,00 g de imidazol para se obter um pH de 6,993? 9-42. Calcule o pH de uma solução preparada pela mistura de 0,080 0 mol de ácido cloroacético mais 0,040 0 mol de cloroacetato de sódio em 1,00 L de água. (a) Inicialmente faça os cálculos admitindo que as concentrações de HA e de A– são iguais às suas concentrações formais. (b) A seguir faça o cálculo utilizando os valores reais de [HA] e [A–] na solução. (c) Utilizando primeiro o seu raciocínio e depois a equação de Henderson-Hasselbalch, determine o pH de uma solução preparada pela dissolução de todas as espécies seguintes em um béquer contendo um volume total de 1,00 L: 0,180 mol de ClCH2CO2H,
0,020 mol de ClCH2CO2Na, 0,080 mol de HNO3 e 0,080 mol de Ca(OH)2. Admita que o Ca(OH)2 se dissocia completamente. 9-43. Calcule quantos mililitros de uma solução de KOH 0,626 M devem ser adicionados a 5,00 g de MOBS (Tabela 9-2) para se ter uma solução de pH 7,40. 9-44. (a) Use as Equações 9-20 e 9-21 para encontrar as concentrações de HA e A– em uma solução preparada com a mistura de 0,002 00 mol de ácido acético mais 0,004 00 mol de acetato de sódio em 1,00 L de água. (b) Após os cálculos que foram feitos à mão no item (a), utilize a função Atingir Meta para determinar as mesmas respostas. 9-45. (a) Calcule o pH de uma solução preparada com a mistura de 0,010 0 mol da base B (Kb = 10–2,00) com 0,0200 mol de BH+Br– e diluindo a 1,00 L. Primeiro, calcule o pH admitindo que [B] = 0,010 0 M e [BH+] = 0,020 0 M. Compare a resposta com o pH calculado sem essa suposição. (b) Após os cálculos no item (a), que foram feitos à mão, utilize a função Atingir Meta a fim de determinar as mesmas respostas. 9-46. Efeito da força iônica sobre o pKa. O Ka para o tampão H2PO4–/HPO42– é
Se você misturar H2PO4– e HPO42– em uma razão molar 1:1 e força iônica 0, o pH é 7,20. Usando os coeficientes de atividade da Tabela 8-1, determine o pH da mistura 1:1 de HPO4– e H2PO42– em uma força iônica 0,10. Lembre que pH = –logAH+ = – log[H+]γH+. 9-47. Interpretação de dados espectrais. O gráfico visto a seguir mostra os deslocamentos químicos da ressonância magnética nuclear de 1H do próton H4 da piridina como uma função do pH. O deslocamento químico está relacionado com o ambiente de um próton em uma molécula. Se o meio se altera, o deslocamento químico muda. Sugira uma explicação sobre por que o deslocamento químico varia entre pH baixo e pH elevado. Estime o valor de pKa para o íon piridínio (C5H5NH+).
Deslocamento químico de RMN do H4 da piridina como função do pH. [Dados de A. D. Gift, S. M. Stewart e P. K. Bokashanga, “Experimental Determination of pKa Values by Use of NMR Chemical Shifts,” J. Chem. Ed. 2012, 89, 1458.]
9-48. (a) Tratamento sistemático do equilíbrio. A acidez do íon Al3+ é determinada pelas reações vistas a seguir. Escreva todas as equações necessárias para determinar o pH de uma solução de Al(ClO4)3 na concentração formal F.
(b) Explique como você pode usar uma planilha como a Figura 8-9 para encontrar o pH e as concentrações de todas as espécies desde que conheça os valores das constantes de equilíbrio e a concentração formal F.
______________ † Os sais R4N+X– não estão completamente dissociados, porque existem alguns pares iônicos R4N+X–(aq) (Boxe 8-1). As constantes de equilíbrio para R4N1 + X– ⇌ R4N+X–(aq) são dadas a seguir. Para soluções 0,050 F a fração de pares iônicos é 4% para (CH3)4N+Br–, 7% para (CH3CH2)4N+Br– e 9% para (CH3CH2CH2)4N+Br–.
DIÓXIDO DE CARBONO NO AR
Curva superior: CO2 atmosférico inferido a partir de ar aprisionado no gelo da Antártida e de medidas diretas na atmosfera. Curva inferior: Temperatura atmosférica no nível no qual a chuva se forma, deduzida a partir da composição isotópica do gelo. [Dados obtidos de J. M. Barnola, D. Raynaud, C. Lorius e N. I. Barkov, http://cdiac.esd.ornl.gov/ftp/trends/co2/vostok.icecore.co2.] Talvez o maior experimento químico e físico que já foi realizado é a nossa injeção de dióxido de carbono na atmosfera em quantidade su ciente para alterar o ciclo da concentração de CO2 que persistiu por, pelo menos, 800.000 anos. O CO2 é produzido pela queima de combustíveis fósseis (carvão, óleo, madeira, gás natural), que são a nossa fonte predominante de energia. Em 2011 a humanidade liberou 3,16 × 1013 kg de CO2 proveniente de combustíveis fósseis.1 A concentração média de CO2 na atmosfera aumentou 2,1 ppm (mL/L), de 390,6 para 392,7 ppm. Se todo o CO2 produzido em 2011 permanecesse na atmosfera, a concentração de CO2 teria aumentado de 4,0 ppm.2 Em vez disso, cerca da metade do CO2 se dissolveu nos oceanos ou foi incorporada às plantas. O CO2 atua como um gás do efeito estufa, afetando a temperatura da superfície da Terra. A Terra absorve a luz solar e emite radiação infravermelha. O balanço entre a radiação solar absorvida e a radiação mandada de volta ao espaço determina a temperatura da superfície. Um gás de efeito estufa absorve radiação infravermelha e emite parte dessa radiação de volta à Terra. Ao interceptar parte da radiação emitida pela Terra, o CO2 mantém nosso planeta mais quente do que ele seria na realidade. O grá co mostra picos na temperatura atmosférica e de CO2, indicados por setas, em intervalos de aproximadamente 100.000 anos. A variação da temperatura é atribuída principalmente a mudanças cíclicas na órbita e inclinação da Terra. Pequenos aumentos da temperatura deslocam o CO2 do oceano para a atmosfera. Posteriormente, o aumento do CO2 atmosférico aumenta o aquecimento em razão do efeito estufa. O resfriamento decorrente das mudanças orbitais redissolve o CO2 no oceano, levando a um resfriamento posterior. A temperatura e o CO2 estiveram relacionados há até 200 anos. Estamos começando a experimentar os efeitos da adição de CO2 à atmosfera. Cada uma das três últimas décadas foi mais quente do que
a década que lhe precedeu.3 Os efeitos climáticos incluem elevação do nível do mar, períodos mais longos de crescimento das plantas, alterações no uxo dos rios, aumento da ocorrência de tempestades, derretimento precoce da neve e períodos maiores sem gelo nos oceanos, lagos e rios.
Á
cidos e bases polipróticos são aqueles que podem doar ou receber mais de um próton. Após o estudo de sistemas dipróticos (com dois grupos ácidos ou básicos), a extensão para três ou mais sítios ácidos é simples de se entender. Para isso, fazemos uma análise qualitativa do sistema como um todo e refletimos sobre quais espécies serão dominantes em um determinado valor de pH.
10-1
Ácidos e Bases Dipróticos
Os aminoácidos são os constituintes estruturais das proteínas. Eles apresentam um grupo ácido carboxílico, um grupo amino básico e um grupo substituinte variável, denominado R. O grupo carboxila é um ácido mais forte que o grupo amônio. Portanto, a forma não ionizada sofre um rearranjo espontâneo para formar o zwitterion, o qual apresenta tanto sítios positivos quanto negativos: Um zwitterion é uma molécula com cargas positivas e negativas.
Os valores de pKa dos aminoácidos em células vivas podem ser um pouco diferentes dos que estão na Tabela 10-1, pois a temperatura fisiológica não é 25°C e a força iônica não é 0.
Em pH baixo, tanto o grupo amônio quanto o grupo carboxila estão protonados. Em pH elevado, nenhum dos dois está protonado. Os valores das constantes de dissociação ácida dos aminoácidos podem ser vistos na Tabela 10-1, na qual cada composto está apresentado em sua forma totalmente protonada. Zwitterions são estabilizados em solução aquosa pela interação do —NH3+ e do —CO2– com a água. O zwitterion é também a forma estável do aminoácido no estado sólido, em que ligações de hidrogênio ocorrem entre —NH3+ e —CO2– de moléculas vizinhas. Em fase gasosa, não há moléculas nas vizinhanças para estabilizar as cargas, predominando, então, a estrutura não ionizada da Figura 10-1, com ligações de hidrogênio intramoleculares entre o –NH2 e o oxigênio da carboxila. Na nossa discussão vamos considerar como exemplo específico o aminoácido leucina, simbolizado por HL. O grupo R no aminoácido leucina é o grupo isobutila: (CH3)2CHCH2–.
As constantes de equilíbrio referem-se às seguintes reações: Normalmente omitimos o subscrito “a” em Ka1 e Ka2. Entretanto, sempre escrevemos o subscrito “b” em Kb1 e Kb2.
É importante lembrar que as relações entre as constantes de equilíbrio ácida e básica são
Vamos agora calcular o pH e a composição das soluções individuais de H2L+ 0,050 0 M, de HL 0,050 0 M e de L1 0,050 0 M. Os métodos são gerais; eles não dependem do tipo de carga dos ácidos e das bases. Isto é, podemos utilizar o mesmo procedimento para encontrar o pH do ácido diprótico H2A, em que A pode ser uma espécie química qualquer, ou então do H2L+, em que HL é a leucina.
FIGURA 10-1 Estrutura em fase gasosa da alanina determinada por espectroscopia de micro-ondas. [De S. Blanco, A. Lesarri, J. C. López e J. L. Alonso, “The Gas-Phase Structure of Alanine”, J. Am. Chem. Soc. 2004, 126, 11675.]
A Forma Ácida, H2L+ O cloridrato de leucina contém a espécie protonada, H2L+, que pode se dissociar duas vezes (Reações 10-1 e 10-2). Como K1 = 4,70 × 10–3, H2L+ é um ácido fraco. HL é um ácido ainda mais fraco, pois K2 = 1,80 × 10210. Parece que a espécie H2L+ se dissocia parcialmente e o HL resultante dificilmente se dissociará. Por esse motivo, admitimos que uma solução de H2L+ comporta-se como um ácido monoprótico, com Ka = K1 (uma aproximação altamente conveniente). Com essa aproximação, o cálculo do pH de uma solução 0,050 0 M de H2L+ se torna fácil.
O H2L+ pode ser considerado como um ácido monoprótico, com Ka = Ka1. Resolva para x por meio da equação quadrática.
TABELA 10-1
Constantes de dissociação ácida de aminoácidos
Aminoácidoa
Substituintea
Ácido carboxílicob pKa
Amôniob pKa
Substituinteb pKa
Massa fórmula
Alanina (A)
—CH3
2,344
9,868
89,09
Arginina (R)
1,823
8,991
(12,1c)
174,20
Aspargina (N)
2,16c
8,73c
132,12
Ácido aspártico (D)
—CH2CO3H
1,990
10,002
3,900
133,10
Cisteína (C)
—CH2SH
(1,7)
10,74
8,36
121,16
Ácido glutâmico (E)
—CH2CH2CO2H
2,16
9,96
4,30
147,13
2,19c
9,00c
146,15
2,350
9,778
75,07
(1,6)
9,28
5,97
155,16
Glutamina (Q)
Glicina (G)
—H
Histidina (H)
Isoleucina (I)
—CH(CH3)(CH2 CH3)
2,318
9,758
131,17
Leucina (L)
—CH2CH(CH3)2
2,328
9,744
131,17
Lisina (K)
—CH2CH2CH2CH2NH3+
(1,77)
9,07
10,82
146,19
Metionina (M)
—CH2CH2SCH3
2,18c
9,08c
149,21
Fenilalanina (F)
2,20
9,31
165,19
Prolina (P)
1,952
10,640
115,13
Serina (S)
—CH2OH
2,187
9,209
105,09
Treonina (T)
—CH(CH3)(OH)
2,088
9,100
119,12
Triptofano (W)
2,37c
9,33c
204,23
Tirosina (Y)
2,41c
8,67c
11,01c
181,19
2,286
9,719
117,15
Valina (V)
—CH(CH3)2
a. Os prótons ácidos são mostrados em negrito nas moléculas. Cada aminoácido é escrito em sua forma totalmente protonada. Abreviações-padrão são mostradas entre parênteses. b. Os valores de pKa referem-se à temperatura de 25°C e força iônica zero, a menos que estejam assinalados pelo índice c. Valores considerados incertos estão entre parênteses. O Apêndice G fornece valores de pKa para μ = 0,1 M. c. A presença do índice c indica uma força iônica de 0,1 M e, nesse caso, a constante refere-se a um produto de concentrações em vez de atividades. FONTE: A. E. Martell e R. J. Motekaitis, NIST Database 46 (Gaithersburg, MD: National Institute of Standards and Technology, 2001). Qual é a concentração de L– na solução? Já supomos que ela é muito pequena, porém não pode ser 0. Podemos calcular [L–] a partir da equação de K2, com as concentrações de HL e H+ que acabamos de determinar.
A aproximação [H+] ≈ [HL] simplifica a Equação 10-7 a [L–] = K2. A aproximação que fizemos é confirmada por esse último resultado. A concentração de L– é cerca de oito ordens de grandeza menor do que a de HL. A dissociação do HL é realmente desprezível em relação à dissociação do H2L+. Para a maioria dos ácidos dipróticos, K1 é suficientemente maior que K2, para que essa aproximação seja válida. Mesmo que K2 fosse somente 10 vezes
menor que K1, a [H+] calculada, ignorando-se a segunda ionização, acarretaria um erro de somente 4%. O erro no pH seria de somente 0,01 unidade de pH. Em resumo, uma solução de um ácido diprótico comporta-se como uma solução de um ácido monoprótico, com Ka = K1. O dióxido de carbono dissolvido é um dos mais importantes ácidos dipróticos no ecossistema da Terra. O Boxe 10-1 descreve o perigo iminente para toda a cadeia alimentar do oceano em consequência da elevação do CO2 atmosférico dissolvido nos oceanos. A Reação A no Boxe 10-1 reduz a concentração do CO32– nos oceanos. Como consequência, as conchas de CaCO3 e os esqueletos de criaturas dos elos iniciais da cadeia alimentar se dissolverão por meio da Reação B do Boxe 10-1. A Forma Básica, L– A espécie L–, encontrada em sais, como o leucinato de sódio, pode ser preparada tratando-se a leucina (HL) com uma quantidade equimolar de NaOH. A dissolução do leucinato de sódio em água forma a solução de L–, a espécie totalmente básica. Os valores de Kb para esse ânion dibásico são
Kb1 mostra que L– não sofre muita hidrólise para formar HL. Além disso, Kb2 mostra que o HL resultante é uma base tão fraca que dificilmente uma reação posterior para formar H2L+ irá ocorrer. Hidrólise é a reação de qualquer espécie com a água. Especificamente, a reação L– + H2O ⇌ HL + OH– é chamada de hidrólise.
Vamos considerar, portanto, L– como uma espécie monobásica, com Kb = Kb1. Os resultados dessa aproximação (muito prática) são desenvolvidos a seguir: A espécie L– pode ser considerada como monobásica, com Kb = Kb1.
A concentração de H2L+ pode ser encontrada a partir da expressão de equilíbrio para Kb2 (ou Ka1).
Concluímos que [H2L+] = Kb2 = 2,13 × 10–12 M, e a aproximação de que [H2L+] é desprezível em relação a [HL] se justifica. Em resumo, se existir uma diferença razoável entre Ka1 e Ka2 (e, portanto, entre Kb1 e Kb2), a forma totalmente básica de um ácido diprótico pode ser considerada como uma forma monobásica, com Kb = Kb1. Um problema difícil.
A Forma Intermediária, HL Uma solução preparada a partir da leucina, HL, é mais complicada do que uma preparada a partir de H2L+ ou de L–, porque o HL é tanto um ácido quanto uma base. HL se comporta tanto como um ácido quanto uma base.
Uma molécula que pode doar e receber um próton é chamada de anfiprótica. A reação de dissociação do ácido (10-8) possui uma constante de equilíbrio maior do que a reação de hidrólise da base (10-9); esperamos, então, que uma solução de leucina seja ácida. Contudo, não podemos simplesmente ignorar a Reação 10-9, mesmo se Ka e Kb diferirem de muitas ordens de grandeza. Ambas as reações progridem quase na mesma extensão, pois o H+ produzido na Reação 10-8 reage com o OH– da Reação 10-9, deslocando desse modo a Reação 10-9 para a direita. Para trabalhar nesse caso corretamente, recorremos ao tratamento sistemático do equilíbrio. O procedimento é aplicado para a leucina, cuja forma intermediária (HL) não possui carga líquida. Entretanto, os resultados se aplicam à forma intermediária de qualquer ácido diprótico, independentemente de sua carga. Para as Reações 10-8 e 10-9, o balanço de carga é
Usando os equilíbrios de dissociação do ácido, substituímos [H2L+] por [HL][H+]/K1 e [L–] por [HL]K2/[H+]. Além disso, podemos sempre escrever [OH–] = Kw/[H+]. Substituindo essas expressões no balanço de carga, temos
que pode ser resolvida para [H+]. Inicialmente, vamos multiplicar todos os termos por [H+]:
BOXE 10-1
Dióxido de Carbono no Oceano
O grá co na abertura deste capítulo mostra que a concentração do CO2 atmosférico oscilou entre 180 e 280 ppm em volume (mL/L) por 800.000 anos. A queima de combustíveis fósseis e a destruição das orestas da Terra desde 1800, levaram a um aumento exponencial na concentração de CO2, que ameaça alterar o clima da Terra neste século. O aumento do CO2 atmosférico eleva a concentração do CO2 dissolvido nos oceanos, o que consome carbonato e abaixa o pH:4
O pH do oceano já diminuiu, conforme mostra a gura vista a seguir, de seu valor de 8,16 da época pré-industrial para 8,04 hoje em dia.5 Se não houver mudanças em nossas atividades, o pH poderá ser 7,7 por volta 2100.6
pH da superfície do Oceano Pací co Equatorial deduzido a partir da razão 11B/10B em fósseis de conchas. [Dados de P. N. Pearson e M. R. Palmer, “Atmospheric Carbon Dioxide Concentrations Over the Past 60 Million Years”, Nature 2000, 406, 695.] A baixa concentração de carbonato promove a dissolução do carbonato de cálcio sólido:
Se a [CO32–] diminuir o su ciente, organismos como plânctons e corais com conchas ou esqueletos de CaCO3 não sobreviverão.7 O carbonato de cálcio possui duas formas cristalinas chamadas calcita e aragonita. A aragonita é mais solúvel do que a calcita. Os organismos aquáticos possuem calcita ou aragonita em suas conchas ou esqueletos. Os pterópodes são um tipo de plâncton também conhecido como caracóis alados (Figura b). Quando pterópodes coletados no Oceano Pací co subártico são mantidos em água que não é saturada com aragonita, suas conchas começam a se dissolver nas primeiras 48 h. Animais como os pterópodes se encontram na base na cadeia alimentar. Sua destruição se re etiria através de todo o ecossistema oceânico. Hoje, a água super cial dos oceanos contém CO32– mais do que su ciente para sustentar a aragonita e a calcita. Como o CO2 atmosférico aumentará inexoravelmente ao longo do século XXI, as águas super ciais dos oceanos se tornarão subsaturadas em relação à aragonita – matando os organismos que dependem deste mineral para as suas estruturas. As regiões polares sofrerão esse destino primeiro porque o CO2 é mais solúvel em água fria do que em água quente e também porque as constantes de dissociação ácida Ka1 e Ka2 a baixas temperaturas favorecem as espécies CO3– e CO2(aq) frente ao CO32– (Problema 10-11). A Figura c mostra a concentração prevista de CO32– na água super cial do oceano polar em função do CO2 atmosférico. A linha horizontal superior é a concentração de CO32– abaixo da qual a aragonita se dissolve. O CO2 atmosférico está atualmente próximo de 400 ppm, e a [CO32–] está próxima de 100 mmol/kg de água do mar – mais do que o su ciente para precipitar a aragonita ou a calcita. Quando o CO2 atmosférico alcançar 600 ppm por volta da metade deste século, a [CO32–] diminuirá para 60 mmol/kg e as criaturas com estruturas de aragonita começarão a desaparecer das águas polares. Se essas altas concentrações de CO2 atmosférico permanecerem, as extinções se moverão para latitudes mais baixas e atingirão organismos com estruturas de calcita, assim como de aragonita.
Pterópodes. A concha de um pterópode vivo começa a se dissolver após 48 h em água que esteja subsaturada em aragonita. [Nature Picture Library / Alamy Stock Photo.] A natureza neutraliza algumas mudanças para mitigar seus efeitos. Por exemplo, os toplânctons denominados coco toforos são organismos marinhos com um esqueleto de CaCO3 de vários micrômetros de diâmetro. Esses organismos produzem cerca de um terço de todo o CaCO3 do oceano. Nos últimos 220 anos, face à elevação da concentração de CO2 atmosférico, a massa média das espécies de coco toforos Emiliania Huxleyi aumentou em 40%, removendo com isso parte do CO2 do oceano.9 Os coco toforos podem mitigar o aumento do CO2 até certo ponto. Não é provável que algum organismo marinho calci cante (produtor de CaCO3) possa sobreviver se o CO2 aumentar até um nível em que o CaCO3 não seja mais termodinamicamente estável.
[CO32–] calculada nas águas super ciais do oceano polar em função do CO2 atmosférico. Quando a [CO32–] car abaixo da linha horizontal a aragonita se dissolverá. [Informação de J. C. Orr et al. “Anthropogenic Ocean Acidi cation over the Twenty- rst Century and Its Impact on Calcifying Organisms”, Nature 2005, 437, 681.] A referência 4 fornece equações que permitem calcular a curva nesta gura.
A seguir, rearranjamos a equação e explicitamos [H+]2:
Multiplicando o numerador e o denominador por K1 e extraindo a raiz quadrada em ambos os lados, temos
Até este momento, não fizemos nenhuma aproximação exceto desprezar os coeficientes de atividade. Obtivemos [H+] em termos de constantes conhecidas e da única concentração desconhecida, [HL]. O que faremos agora? Esta era a informação que faltava!
A resposta a essa questão é dada pela química: a espécie principal será a HL, pois ela é constituída por um ácido fraco e uma base fraca. Nem a Reação 10-8 nem a Reação 10-9 são inteiramente válidas nesse caso. Para a concentração de HL na Equação 10-10, podemos simplesmente substituir o valor da concentração formal, 0,050 0 M. A partir dessa informação, escrevemos a Equação 10-10 em uma forma mais prática.
K1 e K2, nesta equação, são ambas constantes de dissociação ácidas (Ka1 e Ka2).
em que F é a concentração formal de HL (5 0,050 0 M neste caso). Finalmente podemos calcular o pH da solução de leucina 0,050 0 M:
As concentrações de H2L+ e de L– podem ser determinadas a partir das equações de equilíbrio para K1 e K2, utilizando [H+] = 8,80 × 10–7 M e [HL] = 0,050 0 M.
Se [H2L+] + [L–] não for muito menor do que [HL] e se desejarmos melhorar os valores de [H2L+] e [L–], podemos utilizar o método apresentado no Boxe 10-2.
A aproximação [HL] ≈ 0,050 0 M foi boa? Certamente que sim, pois [H2L+] (= 9,36 × 1026 M) e [L–] (= 1,02 × 1025 M) são pequenas em comparação com [HL] (≈ 0,050 0 M). Quase toda a leucina permanece na forma HL. Observe também que [H2L+] é quase igual a [L–]. Esse resultado confirma que as Reações 10-8 e 10-9 avançam da mesma extensão, embora Ka seja 84 vezes maior que Kb para a leucina.
BOXE 10-2
Aproximações Sucessivas
O método de aproximações sucessivas é uma maneira e caz para se lidar com equações difíceis que não têm soluções simples. Por exemplo, a Equação 10-11 não é uma boa aproximação quando a concentração à espécie intermediária de um ácido diprótico não é próxima de F, a concentração formal. Essa situação aparece quando K1 e K2 são quase iguais e F é pequeno. Vamos considerar uma solução 1,00 × 10–3 M de HM–, a forma intermediária do ácido málico.
Em uma primeira aproximação, vamos supor que [HM–] ≈ 1,00 × 10–3 M. Substituindo esse valor na Equação 10-10, calculamos as primeiras aproximações para [H+], [H2M] e [M2–].
Claramente, [H2M] e [M2–] não são desprezíveis em relação a F = 1,00 × 1022 M; logo precisamos rever nossa estimativa da [HM–]. O balanço de massa nos dá uma segunda aproximação.
Inserindo o valor [HM–]2 = 0,000 696 na Equação 10-10, temos
Os valores de [H2M]2 e [M2–]2 podem ser utilizados para calcular uma terceira aproximação para [HM–]: [HM–]3 = F – [H2M]2 – [M2–]2 = 0,000 786 M Substituindo [HM2]3 na Equação 10-10, temos
[H+]3 = 4,37 × 10–5 M e o procedimento pode ser repetido para obtermos [H+]4 = 4,35 × 10–5 M Estamos voltando ao ponto de partida em nossa estimativa da [H+], na qual a incerteza já é menor que 1%. A quarta aproximação resulta em pH = 4,36, comparável com o pH de 4,34 da primeira aproximação e com o pH = 4,28 da fórmula pH ≈ (pK1 + pK2). Considerando a incerteza nas medidas de pH, todos esses cálculos não compensam o esforço que foi feito. No entanto, a concentração de [HM–]5 é 0,000 768 M, que é 23% menor do que a estimativa original de 0,001 00 M. Aproximações sucessivas podem ser feitas manualmente, mas é mais fácil e seguro utilizar uma planilha eletrônica. O Problema 10-9 mostra como executar todas as interações automaticamente em uma etapa usando o Excel. Um resumo dos resultados para a leucina é dado a seguir. Observe as concentrações relativas de H2L+, HL e L– e o valor do pH em cada solução. Solução
pH
[H1] (M)
[H2L+] (M)
[HL] (M)
[L–] (M)
0,050 0 M H2A
1,88
1,32 × 10–2
3,68 × 10–2
1,32 × 10–2
1,80 × 10–10
0,050 0 M HA–
16,06
8,80 × 10–7
9,36 × 10–6
5,00 × 10–2
1,02 × 10–5
0,050 0 M HA2–
11,21
6,11 × 10–12
2,13 × 10–12
1,64 × 10–3
4,84 × 10–2
Cálculo Simpli cado para a Forma Intermediária Geralmente a Equação 10-11 é uma aproximação muito boa. Uma forma ainda mais simples resulta de duas condições que normalmente existem. Primeiramente, se K2F >> Kw, o segundo termo no numerador da Equação 10-11 pode ser descartado.
A segunda condição é que, se K1 ≪ F, o primeiro termo no denominador da Equação 10-11 também pode ser desprezado.
Lembremos que
Cancelando F no numerador e no denominador, temos
ou
O pH da forma intermediária de um ácido diprótico é próximo da metade da soma dos dois valores de pKa, e seu valor é praticamente independente da concentração.
É importante memorizar a Equação 10-12. Ela fornece um valor de pH de 6,04 para a leucina, comparado com o valor de pH de 6,06 encontrado pela Equação 10-11. A Equação 10-12 diz que o pH da forma intermediária de um ácido diprótico está perto da metade entre o pK1 e o pK2, independentemente da concentração formal.
pH da Forma Intermediária de um Ácido Diprótico
EXEMPLO
O hidrogenoftalato de potássio, KHP, é um sal formado pela neutralização parcial do ácido ftálico. Calcule o pH das soluções 0,10 M e 0,010 M de KHP.
Solução Usando a Equação 10-12, estima-se o pH do hidrogenoftalato de potássio em (pK1 + pK2) = 4,18, independentemente da concentração. Com a Equação 10-11, calculamos pH = 4,18 para a solução de K+HP– 0,10 M e pH = 4,20 para a solução de K+HP– 0,010 M. TESTE A VOCÊ MESMO Encontre o pH de uma solução 0,002 M de K+HP– por meio da Equação 10-11. (Resposta: 4,28) Dica Quando se deparar com a forma parcialmente neutralizada de um ácido diprótico, utilize a Equação 10-11 para calcular o pH. A resposta deve estar próxima a (pK1 + pK2). Resumo dos Cálculos com Ácidos Dipróticos A forma de se calcular o pH e a composição das soluções preparadas a partir de formas diferentes de um ácido diprótico (H2A, HA– ou A2–) é descrita a seguir. Solução de H2A 1. Considere H2A como um ácido monoprótico, com Ka = K1, para calcular [H+], [HA–] e [H2A].
2. Utilize a constante de equilíbrio K2 para resolver o problema em relação a [A2–].
Solução de HA– 1. Utilize a aproximação [HA–] ≈ F e determine o pH por meio da Equação 10-11.
O pH deve ser próximo a
(pK1 + pK2).
+
2. Utilizando [H ] da Etapa 1 e [HA–] < F, resolva para [H2A] e [A2–], utilizando as constantes de equilíbrio K1 e K2.
Os cálculos que fizemos até agora são muito úteis e devem ser bem compreendidos. No entanto, devemos considerar as suas limitações, pois desprezamos vários equilíbrios que podem ser importantes. Por exemplo, os íons Na+ e K1 em soluções de HA– e A2– formam pares iônicos fracos, que foram desprezados:10
Solução de A2– 1. Considere A2– como uma monobase, com Kb = Kb1 = Kw/Ka2, para determinar [A2–], [HA–] e [H+].
2. Utilize a constante de equilíbrio K1 para resolver o problema para [H2A]
10-2
Tampões Dipróticos
Um tampão feito a partir de um ácido diprótico (ou poliprótico) é tratado da mesma forma que um tampão preparado a partir de um ácido monoprótico. Para o ácido H2A podemos escrever duas equações de Henderson-Hasselbalch, ambas sempre verdadeiras. Se [H2A] e [HA–] já são conhecidas, devemos utilizar a equação de pK1. Se conhecermos [HA–] e [A2–], devemos utilizar a equação de pK2.
Todas as equações de Henderson-Hasselbalch (com os coeficientes de atividade) são sempre verdadeiras para uma solução em equilíbrio.
EXEMPLO
Um Tampão Diprótico
Calcule o pH de uma solução preparada pela dissolução de 1,00 g de hidrogenoftalato de potássio e 1,20 g de ftalato dissódico em 50,0 mL de água. Solução O hidrogenoftalato e o ftalato foram mostrados no exemplo anterior. As massas formais são KHP = C8H5O4K = 204,221 e Na2P = C8H4O4Na2 = 210,094. Conhecemos [HP–] e [P2–], então usamos a equação de Henderson-Hasselbalch para o pK2 de modo a determinarmos o pH:
K2 é a constante de dissociação ácida de HP–, que aparece no denominador do termo logarítmico. Observe que o volume da solução não foi necessário para calcular a resposta do problema. TESTE A VOCÊ MESMO Encontre o pH caso se empregue 1,50 g de Na2P em vez de 1,20 g. (Resposta: 5,57) EXEMPLO
Preparação de um Tampão Diprótico
Quantos mililitros de uma solução de KOH 0,800 M devem ser adicionados a 3,38 g de ácido oxálico para se obter um pH de 4,40 quando a solução é diluída a 500 mL?
Solução O pH desejado é maior que pK2. Sabemos que uma razão molar 1:1 de HOx–: Ox2– deve ter pH = pK2 = 4,266. Se o pH é 4,40, deve estar presente mais Ox2– que HOx–. Devemos adicionar base su ciente para converter todo o H2Ox em HOx–, e então adicionamos base su ciente para converter a quantidade certa de HOx– em Ox2–.
Em 3,38 g de H2Ox, existem 0,037 54 mol. O volume da solução de KOH 0,800 M necessário para reagir com essa quantidade de H2Ox formando HOx– é (0,037 54 mol)/(0,800 M) = 46,92 mL. Para obter um pH de 4,40 é necessário adicionar mais OH–:
HOx–
+
OH–
→
Ox–2
Número de mols inicial
0,037 54
x
—
Número de mols nal
0,037 54 – x
—
x
O volume de KOH necessário para transferir 0,021 66 mol é (0,021 64 mol)/(0,800 M) = 27,05 mL. O vo-lume total de KOH necessário para levar o pH até 4,40 é 46,93 + 27,05 = 73,98 mL. TESTE A VOCÊ MESMO Qual é o volume de solução de KOH necessário para se obter um pH de 4,50? (Resposta: 76,56 mL) 10-3
Ácidos e Bases Polipróticos
O procedimento que foi usado para os ácidos e bases dipróticos, pode ser estendido aos sistemas polipróticos. Fazendo uma revisão conceitual, escrevemos o equilíbrio pertinente a um sistema triprótico.
Tratamos os sistemas tripróticos da seguinte maneira: 1. H3A é considerado como um ácido monoprótico fraco, com Ka = K1. 2. H2A– é considerado como a forma intermediária de um ácido diprótico. Os valores de K, nas Equações 10-13 e 10-14, são os valores de Ka para o ácido triprótico.
3. HA2– também é considerado como a forma intermediária de um ácido diprótico. Entretanto, HA2– está “envolvido” por H2A–
e A32. Logo, as constantes de equilíbrio a serem utilizadas são K2 e K3 ao invés de K1 e K2.
4. A32 é considerado como uma espécie monobásica, com Kb = Kb1 = Kw/Ka3.
EXEMPLO
Um Sistema Triprótico
Calcule o pH de uma solução de H3His2+ 0,10 M, H2His+ 0,10 M, HHis 0,10 M e His– 0,10 M, em que His simboliza o aminoácido histidina.
Solução Solução de H3His2+ 0,10 M: Considerando H3His2+ como um ácido monoprótico, temos
Solução de H2His+ 0,10 M: Usando a Equação 10-13, encontramos
próximo de (pK1 + pK2) = 3,78. Solução de HHis 0,10 M: Através da Equação 10-14, temos
o mesmo valor que (pK2 + pK3) = 7,62. Solução de His– 0,10 M: Considerando His– como uma monobase, temos
TESTE A VOCÊ MESMO Calcule o pH de uma solução 0,010 M de HHis. (Resposta: 7,62)
As três formas de ácidos e bases: • ácida • básica • intermediária (anfiprótica)
Restringimos os problemas ácido-base a apenas três tipos. Quando encontramos um ácido ou uma base, devemos decidir se estamos tratando com uma forma ácida, básica ou intermediária. A seguir, fazemos os cálculos aritméticos apropriados para resolver o problema.
10-4
Qual É a Espécie Principal?
Frequentemente, deparamos com o problema de identificar qual espécie, ácido, base ou intermediário predomina em determinadas condições. Um exemplo simples é “Qual é a forma principal do ácido benzoico em pH 8?”.
Um exemplo em que precisamos conhecer quais espécies principais estão presentes é quando propomos uma separação cromatográfica ou eletroforética. Devemos usar estratégias diferentes para separarmos cátions, ânions e compostos neutros.
O pKa para o ácido benzoico é 4,20. Isso significa que, em pH 4,20, existe uma mistura 1:1 de ácido benzoico (HA) e íon benzoato (A–). Em pH = pKa + 1 (= 5,20), a razão [A–]/[HA] é de 10:1. Em pH = pKa + 2 (= 6,20), a razão [A–]/[HA] é 100:1. Com o aumento do pH, a razão [A–]/[HA] aumenta ainda mais. Para um sistema monoprótico, a espécie básica, A–, é a forma predominante quando pH > pKa. A espécie ácida, HA, é a forma predominante quando pH , pKa. A forma predominante do ácido benzoico em pH 8 é o ânion benzoato, C6H5CO2–.
EXEMPLO
pH
Espécie principal
pKa
A–
Espécies Principais – Quais e Quantas São?
Qual é a forma predominante da amônia em uma solução de pH 7,0? Qual a fração de amônia que, aproximadamente, está nessa forma? Solução No Apêndice G, concluímos que pKa = 9,24 para o íon amônio (NH4+, o ácido conjugado da amônia, NH3). No pH = 9,24, [NH4+] = [NH3]. Abaixo de pH 9,24, NH4+ será a forma predominante. Como o pH = 7,0 é cerca de 2 unidades de pH abaixo do pKa, a razão [NH4+]/[NH3] será cerca de 100:1. Mais de 99% da amônia está presente sob a forma de NH4+. TESTE A VOCÊ MESMO Qual é a fração aproximada de amônia que se encontra na forma de NH3 em pH = 11? (Resposta: algo menos que 99% porque o pH está quase duas unidades acima de pKa) Para sistemas polipróticos, o raciocínio é o mesmo, mas existem vários valores de pKa. Considere o ácido oxálico, H2Ox, com pK1 = 1,27 e pK2 = 4,27. Em pH = pK1, [H2Ox] = [HOx–]. Em pH = pK2, [HOx–] = [Ox2–]. O gráfico na margem mostra as espécies principais em cada região de pH. pH
Espécie principal
EXEMPLO
pH < pK1
H2A
pK1 < pH < pK2
HA–
pH > pK2
A2–
Espécies Principais em um Sistema Poliprótico
O aminoácido arginina tem as seguintes formas:
O Apêndice G mostra que o grupo α-amônio (à esquerda) é mais ácido que o substituinte (à direita). Qual é a forma principal da arginina em pH 10,0? Qual a fração presente, aproximadamente, nessa forma? Qual a segunda forma mais abundante nesse pH? Solução Sabemos que, em pH = pK2 = 8,99, [H2Arg+] = [HArg]. Em pH = pK3 = 12,1, [HArg] = [Arg–]. Em pH = 10,0, a espécie principal é HArg. Como o pH 10,0 é cerca de uma unidade de pH maior do que pK2, podemos concluir que [HArg]/[H2Arg+] ≈ 10:1. Cerca de 90% de arginina está na forma de HArg. A segunda espécie mais abundante é H2Arg+, que constitui cerca de 10% da arginina. TESTE A VOCÊ MESMO Qual é a forma predominante da arginina em pH 11? Qual é a segunda forma mais abundante? (Resposta: HArg, Arg–) EXEMPLO
Ainda sobre Sistemas Polipróticos
Na faixa de pH de 1,82 a 8,99, H2Arg+ é a forma principal da arginina. Qual é a segunda espécie mais abundante em pH 6,0? E em pH 5,0? Solução Sabemos que o pH de uma espécie intermediária pura (an prótica), H2Arg+, é
Acima de pH 5,40 (e abaixo de pH = pK2), esperamos que HArg, a base conjugada de H2Arg+, seja a segunda espécie mais importante. Abaixo de pH 5,40 (e acima de pH = pK1), H3Arg2+ será a segunda espécie mais importante. TESTE A VOCÊ MESMO Qual é o pH em que [H2Arg+] = [Arg–]? (Resposta: 10,54) Faça uma revisão, na Seção 10-2, do exemplo relativo à preparação de um tampão diprótico. Veja como agora tudo faz mais sentido.
A Figura 10-2 resume como interpretar um sistema triprótico. Determinamos as espécies principais comparando o pH da solução com os valores de pKa.
FIGURA 10-2
Forma molecular predominante de um sistema triprótico (H3A) em diversos intervalos de pH.
Especiaçãoé a descrição da distribuição das possíveis formas que uma espécie química pode assumir. Para o caso de um ácido ou uma base, a especiação descreve quanto de cada forma protonada está presente. Quando água contaminada com arsênio inorgânico (AsO(OH)3 e As(OH)3) é ingerida, ocorre a formação de espécies tais como CH3AsO(OH)2, (CH3)As(OH)2, (CH3)2AsO(OH), (CH3)2As(OH), (CH3)3AsO e (CH3)3As por meio de reações de metilação. A especiação descreve quais são as formas e respectivas quantidades presentes.
10-5
Equações de Composição Fracionária
Iremos agora deduzir as equações que permitem obter a fração de cada espécie de um ácido, ou de uma base, em determinado pH. Essas equações são úteis para uma melhor compreensão das titulações ácido-base, das titulações com EDTA e dos equilíbrios eletroquímicos. Elas serão de grande importância no Capítulo 13.
BOXE 10-3
Constantes de Microequilíbrio
Qualquer ácido poliprótico que tenha sítios ácidos distinguíveis apresenta uma constante de equilíbrio para a dissociação ácida em cada sítio. Considere a 9-metiladenina apresentada no grá co mostrado a seguir. A adenina é um dos blocos de construção do DNA e do RNA (Apêndice L). A adenina se liga à estrutura do DNA ou do RNA por meio do nitrogênio da posição 9 (N9), o qual é ligado a um grupo metila neste exemplo.
Fração de protonação em N7 e em N1 na 9-metiladenina baseada em constantes de microequilíbrio. [Informação de H. Sigel, “Acid-Base Properties of Purine residues and the Effect of Metal Ions: Quanti cation of Rare Nucleobase Tautomers”, Pure Appl. Chem. 2004, 76, 1869.]
Simbolizando a adenina por A, a espécie mostrada na gura é H2A+. Como para qualquer ácido diprótico, a 9-metiladenina apresenta duas constantes de dissociação ácida sequenciais:
N7 é mais ácido (menos básico) que N1; assim, como de costume, associamos Ka1 à dissociação do H+ do N7 e Ka2 à dissociação do H+ do N1. De fato, existe uma constante de microequilíbrio, k, para a perda de H+ de cada posição (N7 e N1). “HA+” é uma mistura de duas formas com o H+ em N7 ou em N1:
A constante de microequilíbrio para a perda de H+ de N7 é k7; k1 é a constante de microequilíbrio para a perda de H+ de N1. A constante de microequilíbrio k71 é a constante de dissociação ácida para a perda de H+ de N1 após a perda de H+ de N7. N7 é o sítio mais ácido (k7 > k1), mas existe um equilíbrio com algum H+ em cada sítio no HA+. Em pH 1,9, que está a meio caminho entre pKa1 e pKa2, a gura vista neste boxe mostra que N7 está 93% desprotonado e N1 está 8% desprotonado. O Boxe 11-2 discute o signi cado de valores de pH negativo que aparecem na gura. Sistemas Monopróticos Nosso objetivo é obter uma expressão para a fração de um ácido em cada forma (HA e A–) em função do pH. Para isso, combinamos a constante de equilíbrio com o balanço de massa. Consideremos um ácido com concentração formal F:
Manipulando a expressão do balanço de massa, temos [A–] = F 2 [HA], que pode ser substituída na expressão do equilíbrio Ka, dando
ou, após um pouco de manipulação algébrica,
A fração de moléculas na forma HA é chamada aHA
Dividindo a Equação 10-15 por F temos
De uma forma semelhante, a fração na forma A–, simbolizada por aA2, pode ser obtida:
A Figura 10-3 mostra aHA e aA2 para um sistema com pKa = 5,00. Em pH baixo, quase todo o ácido está na forma HA. Em um valor elevado de pH, a forma A– é a predominante.
FIGURA 10-3 Diagrama da composição fracionária de um sistema monoprótico com pKa = 5,00. Abaixo de pH 5, HA é a forma dominante, enquanto acima de pH 5, A2 é a dominante. αHA = fração das espécies na forma HA αA– = fração das espécies na forma A– αHA + αA– = 1 A fração simbolizada por αA– significa o mesmo que o grau de dissociação (a), que foi definido anteriormente.
Sistemas Dipróticos A dedução das equações de composição fracionária para um sistema diprótico segue o mesmo raciocínio utilizado para o sistema monoprótico.
αH2A = fração de espécies na forma H2A αHA– = fração de espécies na forma HA– αA2– = fração de espécies na forma A2– αH2A + αHA– + αA2– = 1
Para um sistema diprótico, simbolizamos a fração na forma H2A como αH2A, a fração na forma HA– como αHA– e a fração na forma A2– como αA2–. A partir da definição de αH2A, podemos escrever
Da mesma forma, podemos deduzir as seguintes equações:
FIGURA 10-4 Diagrama da composição fracionária para o ácido fumárico (ácido trans-butenodioico). Em pH baixo, H2A é a forma dominante. Em pH intermediário, HA– é a dominante e, em valor de pH elevado, A2– domina. Como pK1 e pK2 não diferem muito entre si, a fração de HA– nunca chega muito perto da unidade. A forma geral de a para um ácido poliprótico HnA é
em que D = [H+]n + K1[H+]n – 1 + K1K2[H1]n – 2 + ··· + K1K2K3 ··· Kn.
A Figura 10-4 mostra as frações para αH2A, αHA– e αA2– o ácido fumárico, cujos dois valores de pKa estão afastados por apenas 1,46 unidade. O valor de αHA– cresce somente até 0,73, pois os dois valores de pK estão muito próximos. Existe uma quantidade significativa tanto de H2A quanto de A2– na região de pK1 < pH < pK2. As Equações 10-19 até 10-21 se aplicam igualmente bem para B, BH+ e BH22+ obtidas pela dissolução da base B em água. A fração αH2A se aplica à forma ácida BH22+. Da mesma forma, αHA– se aplica a BH+, e αA2– se aplica a B. As constantes K1 e K2 são as constantes de dissociação ácida de BH22+ (K1 = Kw/Kb2 e K2 = Kw/Kb1).
10-6
pH Isoelétrico e Isoiônico
Os bioquímicos frequentemente se referem ao pH isoelétrico ou isoiônico de moléculas polipróticas, como as proteínas. Esses termos podem ser entendidos em função de um sistema diprótico, por exemplo, o aminoácido alanina.
Como se usam as equações de composição fracionária em bases
O ponto isoiônico (ou pH isoiônico) é o pH obtido quando o ácido poliprótico neutro puro HA (o zwitterion neutro) é dissolvido em água. Os únicos íons são H2A+, A–, H+ e OH–. A maior parte da alanina está sob a forma HA, e as concentrações de H2A+ e de A– não são iguais entre si. O pH isoiônico é o pH do ácido poliprótico neutro e puro.
O ponto isoelétrico (ou pH isoelétrico) é o pH no qual a carga média do ácido poliprótico é zero. A maioria das moléculas está na forma não carregada HA, e as concentrações de H2A+ e de A– são iguais entre si. Existe sempre algum H2A+ e algum A– em equilíbrio com HA. O pH isoelétrico é o pH no qual a carga média do ácido poliprótico é 0.
Quando a alanina é dissolvida em água, o pH da solução, por definição, é o pH isoiônico. Como a alanina (HA) é a forma intermediária de um ácido diprótico (H2A+), [H+] é dada por A alanina é a forma intermediária de um ácido diprótico; por isso devemos utilizar a Equação 10-11 para determinar o pH.
em que F é a concentração formal de alanina. Para uma solução 0,10 M de alanina, o pH isoiônico é calculado a partir de
A partir da [H+] de K1 e de K2, podemos calcular, para a alanina pura em água (a solução isoiônica), [H2A+] = 1,68 × 10–5 M e [A ] = 1,76 × 10–5 M. Existe um ligeiro excesso de A–, pois o HA tem caráter ligeiramente mais ácido do que básico. Ele se dissocia para formar A– um pouco mais do que ele reage com a água para formar H2A+. O ponto isoelétrico é o pH em que as concentrações de H2A+ e de A– são iguais, e, portanto, a carga média de alanina é zero. Para passarmos de uma solução isoiônica (HA puro em água) para uma solução isoelétrica, teríamos apenas que adicionar ácido forte o suficiente para reduzir a concentração [A–] e aumentar a concentração [H2A+] até que elas sejam iguais. A adição de um ácido necessariamente diminui o pH. Para a alanina, o pH isoelétrico deve ser menor que o pH isoiônico. –
Calculamos o pH isoelétrico escrevendo primeiro as expressões para as concentrações [H2A+] e [A–]:
Admitindo que [H2A+] = [A–], encontramos:
que resulta em
O ponto isoelétrico é equidistante entre os dois valores de pKa, com um valor “próximo” das espécies intermediárias neutras.
Para um aminoácido diprótico, o pH isoelétrico é equidistante entre os dois valores de pKa. O ponto isoelétrico da alanina é (2,34 1 9,87) = 6,10. Os pontos isoelétricos e isoiônicos para um ácido poliprótico possuem valores semelhantes. No pH isoelétrico, a carga média da molécula é zero; assim [H2A+] = [A–] e pH = (pK1 + pK2). No ponto isoiônico, o pH é dado pela Equação 10-22, e [H2A+] não é exatamente igual a [A–]. Proteínas São Ácidos e Bases Polipróticos As proteínas desempenham diferentes funções biológicas, como suporte estrutural, catálise de reações químicas, resposta imunológica a substâncias estranhas, transporte de moléculas através de membranas e controle da expressão genética. A estrutura tridimensional e a função de uma proteína são determinadas pela sequência dos aminoácidos, a partir dos quais, a proteína é formada. O diagrama a seguir mostra como os aminoácidos estão ligados entre si para formar um polipeptídeo.
Dos 20 aminoácidos comuns na Tabela 10-1, três possuem substituintes básicos e quatro apresentam substituintes ácidos. A proteína mioglobina, apresentada na Figura 10-5, se enovela em diversas regiões helicoidais (espirais) que controlam o acesso de oxigênio e outras moléculas pequenas ao grupo heme, cuja função é armazenar O2 nas células musculares. Dentre os 153 aminoácidos da mioglobina da baleia cachalote, 35 possuem substituintes de caráter básico e 23 de caráter ácido.
FIGURA 10-5 (a) O esqueleto polipeptídico da proteína mioglobina, que armazena oxigênio no tecido muscular. Para maior clareza, os grupos substituintes (grupos R da Tabela 10-1) não estão apresentados na figura. O grupo heme, plano, localizado no lado direito da proteína, contém um átomo de ferro, que pode se ligar ao O2, ao CO e a outras moléculas pequenas. [De M. F. Perutz, “The Hemoglobin Molecule”. Copyright © 1964 by Scientific American, Inc.] (b) Estrutura da heme. (c) Modelo espaço preenchido da mioglobina, no qual os aminoácidos carregados contendo substituintes ácidos ou básicos estão assinalados em cor escura. Os aminoácidos em cor clara são hidrofílicos (polares, têm afinidade pela água), mas não estão carregados. Os aminoácidos hidrofóbicos (não polares, têm aversão à água) estão marcados em branco. A superfície dessa proteína solúvel em água é dominada por grupos carregados e hidrofílicos. [De J. M. Berg, J. L. Tymoczko and L. Stryer, Biochemistry, 5th ed. (New York: Freeman, 2002).]
BOXE 10-4
Focalização Isoelétrica
No ponto isoelétrico, a carga média de todas as formas de uma proteína é igual a zero. Portanto, ela não migra em um campo elétrico quando está em seu pH isoelétrico. Esse efeito é o fundamento de uma técnica de separação de proteínas, denominada focalização isoelétrica. Uma mistura de
proteínas é submetida a um campo elétrico em um meio especi camente desenvolvido para produzir um gradiente de pH. As moléculas carregadas positivamente movem-se em direção ao polo negativo, e as moléculas carregadas negativamente movem-se em direção ao polo positivo. Cada proteína migra até alcançar o ponto onde o pH é igual ao seu pH isoelétrico. Nesse ponto, a proteína não possui carga líquida e não se move mais. Assim, cada proteína presente na mistura é focalizada em uma pequena região que corresponde ao seu pH isoelétrico.11 A focalização isoelétrica em um capilar de 6 mm de comprimento e largura de 100 mm gravada em um vidro de sílica é mostrada na parte inferior esquerda deste boxe. A prancha (i) mostra os marcadores uorescentes com pontos isoelétricos (chamados pI) conhecidos em uma corrida como padrões. As pranchas (ii) e (iii) mostram as separações de proteínas contendo marcadores uorescentes. As proteínas migram até que atinjam seus pH isoelétricos e então param de se mover. Se uma molécula se desloca para fora de sua região isoelétrica, ela torna-se carregada e imediatamente migra de volta à sua zona isoelétrica. O grá co mostra o pH medido contra a distância percorrida no capilar. As separações ou reações conduzidas em capilares em chips de vidro ou de polímero são exemplos de práticas de laboratório em um chip (Seção 26-8).
Focalização isolétrica em um “laboratório em um chip” (lab-on-a-chip). (i) Marcadores uorescentes de pI. (ii) e (iii) Separação de proteínas contendo marcadores uorescentes: (OVA) albumina de ovo; (GFP) proteína verde uorescente; (BSA) albumina de sangue bovino; (Tfer) transferrina; (CA) anidrase carbônica; (PhB) fosforilase B; e (Hb) hemoglobina. [Informação de G. J. Sommer, A. K. Singh e A. V. Hatch, “On-Chip Isoelectric Focusing Using Photopolymerized Immobilized pH Gradients”, Anal. Chem. 2008, 80, 3327.] A gura a seguir mostra a separação de um conjunto de células de levedura em três estágios diferentes de crescimento (início da fase exponencial, meio da fase exponencial e fase estacionária) por focalização isoelétrica dentro de um tubo capilar de sílica. A superfície das células sofre modi cações de suas propriedades ácido-base (e, consequentemente, muda o valor de pI) durante o crescimento da colônia.
Focalização isoelétrica capilar de células de levedura retiradas de três estágios de crescimento. Após focalizarem-se as células em seus pH isoelétricos, a entrada de líquido no capilar foi conectada em uma altura mais elevada e o conteúdo do capilar foi drenado para um detector de ultravioleta, dando origem aos três picos observados na gura. A abcissa do grá co é o tempo necessário para as três bandas atingirem o detector. [Informação de R. Shen, S. J. Berger and R. D. Smith, “Capillary Isoelectric Focusing of Yeast Cells,” Anal.Chem. 2000, 72, 4603.]
Para uma proteína, o pH isoiônico é o pH de uma solução contendo a proteína pura sem nenhum outro íon, exceto H+ e OH–. As proteínas geralmente são isoladas em uma forma carregada junto com contraíons, tais como Na+, NH4+ ou CL–. Quando a proteína é submetida a uma diálise intensiva (Demonstração 27-1) contra água pura, o pH do compartimento da proteína se aproxima do ponto isoiônico se os contraíons estiverem livres para passar através da membrana de diálise semipermeável que retém a proteína. O ponto isoelétrico é o pH no qual a proteína não apresenta nenhuma carga líquida. O Boxe 10-4 descreve como as proteínas podem ser isoladas em função dos seus diferentes pontos isoelétricos. Propriedades relacionadas com a acidez e a basicidade são a acidez superficial de sólidos7 e o pH do ponto de carga zero.13 As superfícies de alguns minerais, argilas ou mesmo de substâncias orgânicas se comportam como ácidos e bases. A superfície da sílica (SiO2) da areia ou do vidro pode ser representada, de maneira simplificada, como um ácido diprótico:
A notação ;Si representa um átomo de silício da superfície. Os grupos silanóis (≡Si–OH) podem doar ou aceitar prótons e, com isso, conferir carga negativa ou positiva à superfície do sólido. No cálculo das constantes de equilíbrio, as concentrações das espécies da superfície {SiOH2+}, {SiOH} e {SiO–} são medidas em número de moles por grama do sólido. O pH do ponto de carga zero é o valor do pH no qual {SiOH–+} = {SiO–}, o que significa que a superfície não possui carga. Como no caso do ponto isoelétrico de um ácido diprótico, o pH do ponto de carga zero é igual a (pK1 + pK2). As partículas coloidais (cujos diâmetros situam-se na faixa de 1 a 500 nm) tendem a permanecer dispersas quando possuem carga. Entretanto, elas tendem a flocular (se agregam e precipitam) próximas ao pH do ponto de carga zero. Em eletroforese capilar (Capítulo 26), a carga da superfície do capilar de sílica determina a taxa com que o solvente se move através do capilar.
Termos Importantes ácidos e bases dipróticas ácidos e bases polipróticas aminoácido anfiprótico especiação
focalização isoelétrica gás de efeito estufa hidrólise ponto isoelétrico ponto isoiônico zwitterion (íon duplo)
Resumo Os ácidos e bases dipróticos se dividem em três categorias: 1. A forma completamente ácida, H2A, comporta-se como um ácido monoprótico, H2A ⇌ H+ 1 HA–, para o qual resolvemos a equação Ka1 = x2/(F – x), em que[H+] = [HA–] = x e [H2A] = F – x. A partir de [HA–] e [H+], [A2–] pode ser calculada a partir da constante de equilíbrio Ka2. 2. A forma completamente básica, A2–, comporta-se como uma base, A2– 1 H2O ⇌ HA– 1 OH– HA– 1 OH–, para a qual
resolvemos a equação Kb1 = x–/(F – x), em que [OH–] = [HA–] = x e [A2–] = F – x. A partir dessas concentrações, [H2A] pode ser calculada a partir das constantes de equilíbrio Kb1 ou Kb2. 3. A forma intermediária (anfiprótica), HA–, é simultaneamente um ácido e uma base. Seu pH é dado por
em que K1 e K2 são as constantes de dissociação ácida para H2A e F é a concentração formal do intermediário. Na maioria dos casos, essa equação se reduz à forma pH ≈ (pK1 + pK2), em que o pH é independente da concentração. Em sistemas tripróticos, existem duas formas intermediárias. O pH de cada uma é determinado com uma equação análoga à da forma intermediária de um sistema diprótico. Os sistemas tripróticos também possuem uma forma totalmente ácida e uma forma totalmente básica; estas podem ser tratadas como monopróticas para o cálculo do pH. Para tampões polipróticos escrevemos a equação apropriada de Henderson-Hasselbalch juntando as duas espécies principais do sistema. O pK nessa equação é o que se aplica ao ácido no denominador do termo logarítmico. Se os sítios ácidos de uma molécula são quimicamente distintos, existe uma constante de microequilíbrio para a dissociação do H+ a partir de cada sítio. As espécies intermediárias são efetivamente uma mistura de espécies com H+ em equilíbrio entre os sítios ácidos. A espécie principal de um sistema monoprótico ou poliprótico é encontrada pela comparação do pH com os diversos valores de pKa. Para pH , pK1, a espécie completamente protonada, HnA, é a forma predominante. Para pK1 < pH < pK2, a forma Hn–1A– é favorecida, e em cada valor de pK sucessivo a próxima espécie desprotonada torna-se a espécie principal. Finalmente, em valores de pH maiores do que o maior pK, a forma completamente básica (An–) é a dominante. A composição fracionária de uma solução é expressa por a, que é calculada pelas Equações 10-17 e 10-18 para um sistema monoprótico e pelas Equações 10-19 a 10-21 para um sistema diprótico. O pH isoelétrico de um composto poliprótico é o pH em que a carga média de todas as espécies é zero. Para um aminoácido diprótico cuja forma anfiprótica é neutra, o pH isoelétrico é dado por pH = (pK1 + pK2). O pH isoiônico de uma espécie poliprótica é o pH que deve existir em uma solução contendo somente os íons derivados da espécie poliprótica neutra e da H2O. Para um aminoácido diprótico cuja forma anfiprótica é neutra, o pH isoiônico é determinado a partir de , em que F é a concentração formal do aminoácido.
Exercícios 10-A. Determine o pH e as concentrações de H2SO3, HSO3– e SO32– em cada uma das seguintes soluções: (a) 0,050 M de H2SO3 (b) 0,050 M de NaHSO3 (c) 0,050 M de Na2SO3. 10-B. (a) Quantos gramas de NaHCO3 (MF 84,01) devem ser adicionados a 4,00 g de K2CO3 (MF 138,21) em 500 mL de água, para termos um pH igual a 10,80? (b) Qual é o pH, se 100 mL de solução de HCl 0,100 M forem adicionados à solução em (a)? (c) Quantos mililitros de HNO3 0,320 M devem ser adicionados a 4,00 g de K2CO3 para se ter um pH igual a 10,00 em 250 mL de solução? 10-C. Quantos mililitros de KOH 0,800 M devem ser adicionados a 5,02 g de ácido 1,5-pentanodioico (C5H8O4, MF 132,11) para se ter uma solução com pH igual a 4,40, quando diluída a 250 mL? 10-D. Calcule o pH de uma solução 0,010 M de cada aminoácido na forma apresentada a seguir.
10-E. (a) Represente a estrutura da forma predominante (espécie principal) do 1,3-di-hidroxibenzeno, em pH igual a 9,00 e em pH igual a 11,00. (b) Qual é a segunda espécie mais abundante em cada pH? (c) Calcule a porcentagem na forma principal em cada pH. 10-F. Represente as estruturas das formas predominantes do ácido glutâmico e da tirosina em pH 9,0 e em pH 10,0. Qual é a segunda espécie mais abundante em cada pH? 10-G. Calcule o pH isoiônico de uma solução de lisina 0,010 M. 10-H. A lisina neutra pode ser escrita como HL. As outras formas da lisina são H3L2+, H2L+ e L–. O ponto isoelétrico é o pH no qual a carga média da lisina é zero. Portanto, no ponto isoelétrico, 2[H3L2+] + [H2L+] = [L–]. Use essa condição para calcular o pH isoelétrico da lisina.
Problemas Ácidos e Bases Dipróticos 10-1. Considere HA– a forma intermediária de um ácido diprótico. O Ka para essa espécie é 10–4 e o Kb é 10–8. Todavia, as reações de Ka e de Kb ocorrem quase na mesma extensão quando NaHA é dissolvido em água. Explique. 10-2. Represente a estrutura geral de um aminoácido. Por que alguns aminoácidos na Tabela 10-1 possuem dois valores de pK e outros possuem três? 10-3. Escreva as reações químicas para o aminoácido prolina cujas constantes de equilíbrio são Kb1 e Kb2. Determine os valores de Kb1 e de Kb2. 10-4. Considere o ácido diprótico H2A com K1 = 1,00 × 10–4 e K2 = 1,00 × 10–8. Determine o pH e as concentrações de H2A, HA– e A2– em cada uma das soluções seguintes: (a) H2A 0,100 M; (b) NaHA 0,100 M; (c) Na2A 0,100 M. 10-5. Simbolizamos o ácido malônico, CH2(CO2H)2, por H2M. Determine o pH e as concentrações de H2M, HM– e M2– em cada uma das seguintes soluções: (a) H2M 0,100 M; (b) NaHM 0,100 M; (c) Na2M 0,100 M. 10-6. Calcule o pH de uma solução de piperazina 0,300 M. Calcule a concentração de cada forma de piperazina nesta solução. 10-7. Utilize o método do Boxe 10-2 para calcular as concentrações de H+, H2A, HA– e A2– em uma solução de oxalato monossódico, NaHA, 0,001 00 M. 10-8. Atividade. Neste problema calculamos, levando em consideração as atividades, o pH da forma intermediária de um ácido diprótico. (a) Deduza a Equação 10-11 para uma solução de hidrogenoftalato de potássio (K+HP– no exemplo após a Equação 10-12). Não despreze os coeficientes de atividades nessa dedução. (b) Calcule o pH de uma solução de KHP 0,050 M, utilizando os resultados obtidos em (a). Considere que os tamanhos de HP– e de P2– são iguais a 600 pm. Para fins de comparação, a Equação 10-11 fornece pH = 4,18. 10-9.
Forma intermediária de um ácido diprótico por iteração com o Excel. Prepare uma nova planilha para lidar com
referências circulares. No Excel 2010, selecione a guia Arquivo e vá para Opções. Na janela de Opções, selecione Fórmulas. Nas Opções de Cálculo, marque “Permitir cálculo iterativo” e fixe Número Máximo de Alterações em 1e 212. Clique em OK. Crie a planilha apresentada a seguir com todas as fórmulas mostradas, exceto “5B8” para [HA–] na célula B11. Nesse ponto, os valores
para todas as concentrações devem ser os mesmos obtidos na primeira aproximação para o ácido málico no Boxe 10-2. Tenha certeza de que elas são as mesmas. Agora, mude a fórmula para [HA–] na célula B11 para “= B8 – B10 – B12”. O Excel realiza iterações até que as variáveis definidas circularmente estejam dentro da variação máxima permitida. As respostas na planilha apresentada a seguir, serão mostradas. Certifique-se de que isso ocorra. (a) Copie a coluna B de sua planilha e cole-a na coluna G. Mude K1 para 10–4 na célula G5 e mude K2 para 10–8 na célula G6. Mude F para 0,01 na célula G8. A coluna G contém agora as concentrações para o sal anfiprótico Na+HA–, com K1 = 10–4, K2 = 10–8 e F = 0,01 M. Verifique as respostas obtidas à mão começando por pH ≈ (pK1 + pK2). Fazendo [HA–] ≈ F, calcule [H2A] e [A2–]. Por fim, encontre [HA–] ≈ F – [H2A] – [A2–]. (b) Copie a coluna G de sua planilha e cole-a na coluna H. Mude K2 para 10–5 na célula G6. A coluna G contém agora as concentrações para a forma intermediária de um ácido diprótico, com K1 = 10–4, K2 = 10–5 e F = 0,01 M. Você deve obter [HA–] = 6,13 × 10–3 M e pH = 4,50.
10-10. Equilíbrio heterogêneo. O CO2 se dissolve em água para dar “ácido carbônico” (que é principalmente CO2 dissolvido como descrito no Boxe 6-4).
(A constante de equilíbrio é chamada de constante da lei de Henry para o dióxido de carbono, pois a lei de Henry estabelece que a solubilidade de um gás em um líquido é proporcional à pressão do gás.) As constantes de dissociação ácida tabeladas para o “ácido carbônico” no Apêndice G se aplicam para o CO2(aq). Dado que PCO2 na atmosfera é 10–3,4 atm, determine o pH da água em equilíbrio com a atmosfera. 10-11. Efeito da temperatura na acidez do ácido carbônico e na solubilidade do CaCO3.14 O Boxe 10-1 estabelece que a vida marinha com conchas e esqueletos de CaCO3 está ameaçada de extinção nas águas frias polares antes que aconteça o aquecimento das águas tropicais. As seguintes constantes de equilíbrio se aplicam à água do mar a 0°C e 30°C, quando as concentrações são medidas em número de mols por kg de água do mar e a pressão em bars:
A primeira constante de equilíbrio é chamada de KH para a Lei de Henry (Problema 10-10). As unidades são dadas para lembrá-lo das unidades que você precisa utilizar. (a) Combine as expressões para KH, Ka1 e Ka2 para encontrar uma expressão para [CO32–] em termos de PCO2 e [H+]. (b) A partir do resultado em (a), calcule [CO32–] (mol kg–1) em PCO2 = 800 mbar e pH = 7,8 na temperatura de 0°C (oceano polar) e 30°C (oceano tropical). Essas são as condições que podem ser atingidas em torno do ano 2100 se continuarmos a liberar CO2 na velocidade atual. (c) A concentração de Ca2+ no oceano é 0010 M. Faça uma previsão se a aragonita e a calcita se dissolverem nas condições de (b). Tampões Dipróticos 10-12. Quantos gramas de Na2CO3 (MF 105,99) devem ser misturados com 5,00 g de NaHCO3 (MF 84,01) para produzir 100 mL de tampão com pH 10,00? 10-13. Quantos mililitros de NaOH 0,202 M devem ser adicionados a 25,0 mL de ácido salicílico (ácido 2-hidroxibenzoico) 0,023 3 M para ajustar o pH em 3,50? 10-14. Descreva como você pode preparar exatamente 100 mL do tampão picolinato 0,100 M, pH 5,50. Os materiais de partida possíveis, são o ácido picolínico puro (ácido piridino-2-carboxílico, MF 123,11), solução de HCl 1,0 M e solução de NaOH 1,0 M. Aproximadamente quantos mililitros de HCl ou de NaOH serão necessários? 10-15. Quantos gramas de Na2SO4 (MF 142,04) devem ser adicionados a quantos gramas de ácido sulfúrico (MF 98,08) para se ter 1,00 L de tampão com pH 2,80 e uma concentração total de enxofre (= SO42– + HSO4– + H2SO4) de 0,200 M? Ácidos e Bases Polipróticos 10-16. O fosfato presente em uma concentração de 0,01 M é um dos principais tampões no plasma sanguíneo, cujo pH é 7,45. O fosfato seria útil se o pH do plasma fosse de 8,5? 10-17. Começando com as espécies totalmente protonadas, escreva cada etapa das reações de dissociação ácida dos aminoácidos ácidos glutâmico e tirosina. Certifique-se de retirar os prótons na ordem correta. Que espécies são as moléculas neutras que chamamos de ácido glutâmico e tirosina?
10-18. (a) Calcule a razão [H3PO4]/[H2PO4–] em uma solução 0,050 0 M de KH2PO4. (b) Determine a mesma razão para uma solução de K2HPO4 0,050 0 M. 10-19. (a) Qual dos dois compostos seguintes você misturaria para fazer um tampão com pH 7,45: H3PO4 (MF 98,00), NaH2PO4 (MF 119,98), Na2HPO4 (MF 141,96) e Na3PO4 (MF 163,94)? (b) Se você quisesse preparar 1,00 L do tampão com uma concentração total de fosfato de 0,050 0 M, quantos gramas de cada um dos dois compostos selecionados você misturaria? (c) Se você fizer o que calculou em (b), não terá um pH de exatamente 7,45. Explique como você realmente prepararia esse tampão no laboratório. 10-20. Determine o pH e a concentração de cada espécie de lisina em uma solução de lisina · HCl, monocloridrato de lisina, 0,010 0 M. A representação “lisina · HCl” se refere a uma molécula neutra de lisina que incorporou um próton adicional por meio da adição de um mol de HCl. Uma representação mais adequada explicita o sal, (lisinaH+)(Cl–), formado na reação. 10-21. Quantos mililitros de uma solução de KOH 1,00 M devem ser adicionados a 100 mL de uma solução contendo 10,0 g de cloridrato de histidina [His · HCl = (HisH+)(CL–), MF 191,62) para obter um pH de 9,30? 10-22. (a) Usando os coeficientes de atividade, calcule o pH de uma solução contendo uma razão molar 2,00:1,00 de HC2–:C3–, em que H3C é o ácido cítrico. Admita que a força iônica seja de 0,010 M. (b) Qual será o pH se a força iônica se elevar a 0,10 M e a razão molar HC2–:C3– for mantida constante? Qual É a Espécie Principal? 10-23. O ácido HA possui pKa = 7,00. (a) Qual é a espécie principal, HA ou A–, em pH 6,00? (b) Qual é a espécie principal em pH 8,00? (c) Qual é a razão [A–]/[HA] em pH 7,00? E em pH 6,00? 10-24. O ácido diprótico H2A possui pK1 = 4,00 e pK2 = 8,00. (a) Em que pH [H2A] = [HA–]? (b) Em que pH [HA–] = [A2–]? (c) Qual é a espécie principal em pH 2,00: H2A, HA– ou A2–? (d) Qual é a espécie principal em pH 6,00? (e) Qual é a espécie principal em pH 10,00? 10-25. A base B possui pKb = 5,00. (a) Qual é o valor de pKa para o ácido BH+? (b) Em que pH [BH+] = [B]? (c) Qual é a espécie principal em pH 7,00: B ou BH+? (d) Qual é a razão [B]/[BH+] em pH 12,00? 10-26. Represente a estrutura da forma predominante do piridoxal-5-fosfato em pH 7,00. Equações de Composição Fracionária 10-27. O ácido HA possui pKa = 4,00. Use as Equações 10-17 e 10-18 para determinar a fração na forma de HA e a fração na forma de A– em pH = 5,00. Sua resposta está de acordo com o que você espera para a razão [A–]/[HA] em pH 5,00? 10-28. Um composto dibásico, B, possui pKb1 = 4,00 e pKb2 = 6,00. Determine a fração na forma de BH22+ em pH 7,00 usando a Equação 10-19. Observe que K1 e K2 na Equação 10-19 são as constantes de dissociação ácida para o BH22+ (K1 = Kw/Kb2 e K2 = Kw/Kb1). 10-29. Que fração de etano-1,2-ditiol está em cada uma das formas (H2A, HA–, A2–) em pH 8,00? E em pH 10,00? 10-30. Calcule αH2A, αHA– e αA2– para o ácido cis-butenodioico em pH 1,00; 1,92; 6,00; 6,27 e 10,00. 10-31. (a) Deduza as equações para αH3A, αH2A2, αHA–2 e αA32 para um sistema triprótico. (b) Calcule os valores dessas frações para o ácido fosfórico em pH 7,00. 10-32. Uma solução contendo ácido acético, ácido oxálico, amônia e piridina possui um pH de 9,00. Qual a fração de amônia não protonada?
10-33. Uma solução foi preparada a partir de 10,0 mL de uma solução de ácido cacodílico 0,100 M e 10,0 mL de uma solução de NaOH 0,080 0 M. A essa mistura foi adicionado 1,00 mL de solução de morfina 1,27 × 1026 M. Chamando a morfina de B, calcule a fração de morfina presente na forma BH+.
10-34.
Composição fracionária em um sistema diprótico. Faça uma planilha eletrônica que utilize as Equações 10-19 a 10-
21 para calcular as três curvas na Figura 10-4. Faça a representação gráfica dessas três curvas em uma figura bem documentada. 10-35.
Composição fracionária em um sistema triprótico. Para um sistema triprótico, as equações de composição
fracionária são
em que D = [H+]3 + K1[H+]2 + K1K2[H+] + K1K2K3. Use essas equações para fazer um diagrama de composição fracionária para o aminoácido tirosina, análogo ao da Figura 10-4. Qual é a fração de cada espécie em pH 10,00? 10-36.
Composição fracionária de um sistema tetraprótico. Prepare um diagrama de composição fracionária análogo ao da
Figura 10-4 para o sistema tetraprótico deduzido a partir da hidrólise do Cr31:
(Sim, os valores de Ka2 e de Ka3 são iguais.) (a) Use essas constantes de equilíbrio para fazer o diagrama da composição fracionária para esse sistema tetraprótico. (b) Você deve fazer a próxima etapa usando o raciocínio e a calculadora, e não a planilha eletrônica. A solubilidade do Cr(OH)3 é dada por Cr(OH)3(s) ⇌ Cr(OH)3(aq) K = 10–6,84 Que concentração de Cr(OH)3(aq) está em equilíbrio com o Cr(OH)3(s)? (c) Qual é a concentração de Cr(OH)21 em equilíbrio com Cr(OH)3(s) se o pH da solução está ajustado para 4,00? pH Isoelétrico e Isoiônico 10-37. Quais são os quatro aminoácidos na Tabela 10-1 que possuem substituintes ácidos (que doam um próton), e quais são os três aminoácidos que apresentam substituintes básicos (que aceitam um próton)? 10-38. Qual é a diferença entre o pH isoelétrico e o pH isoiônico de uma proteína com vários substituintes ácidos e básicos diferentes? 10-39. O que está errado com o seguinte enunciado: Em seu ponto isoelétrico, a carga em todas as moléculas de uma determinada proteína é zero? 10-40. Calcule o pH isoelétrico e o pH isoiônico de uma solução de treonina 0,010 M.
10-41. Explique como funciona a focalização isoelétrica.
TITULAÇÃO ÁCIDO-BASE DO RNA
(Esquerda) Mecanismo proposto de clivagem da cadeia do RNA com a adenosina-38 atuando como um catalisador ácido para protonar um oxigênio de grupo fosfato. (Direita) As titulações de adenosina-38 ou N1-deaza-adenosina-38 no RNA, e a titulaçõo do monofosfato de adenosina livre em soluçõo. [Dados de M. Guo, R. C. Spitale, R. Volpini, J. Krucinska, G. Cristalli, P. R. Carey e J. E. Wedekind, “Direct Raman Measurement of an Elevated Base pKa in the Active Site of a Small Ribozyme in a Precatalytic Conformation”, J. Am. Chem. Soc. 2009, 131, 12908.] Além do papel de transcrever a informação genética do DNA (Apêndice L) em estruturas de proteínas, o ácido ribonucleico (RNA) atua como um catalisador para reações químicas. O RNA que desempenha o papel de catalisador é denominado ribozima, por analogia com a palavra enzima, que é uma proteína catalítica. A estrutura química apresentada na gura neste boxe mostra o mecanismo proposto no qual uma “ribozima grampo de cabelo” quebra lamentos concatenados de RNA em segmentos funcionais menores.1 Uma etapa-chave envolve a transferência de um próton da adenosina-38 da ribozima para um grupo fosfato de modo a auxiliar a quebra da ligação fosfato-ribose (um açúcar). Ao mesmo tempo, uma base guanina (B) recebe um próton da ribose adjacente, permitindo que o oxigênio da ribose ataque o grupo fosfato. A ribozima atua em pH próximo da neutralidade em uma célula. Porém, o pKa para o H+ da adenosina em solução é próximo de 4,0. Em pH próximo de 7, haverá muito pouca adenosina protonada para que a ribozima funcione. O ambiente local em enzimas e ribozimas pode alterar as propriedades ácido-base de aminoácidos e nucleotídeos. Foi proposto que o pKa da adenosina-38 é elevado para que seu grupo NH+ esteja disponível para catálise em pH próximo da neutralidade. O grá co mostra as titulações de monofosfato de adenosina em solução (círculos pretos), adenosina-38 da ribozima (círculos coloridos) e de um nucleosídio sintético no qual o grupo NH+ é substituído por uma ligação C—H inerte na posição 38 da adenosina. Em cada caso, o espectro vibracional Raman foi medido em diferentes valores de pH por meio de tampões. Quando a adenosina se torna protonada, algumas frequências moleculares de vibração mudam. O grá co mostra a intensidade do espectro da forma protonada em função do pH. Em pH baixo, a adenosina em solução ou o RNA está totalmente protonado. Quando pH = pKa, a adenosina está 50% protonada. Em pH elevado, a adenosina não está protonada. Com base na forma da curva de titulação, deduzimos que pKa = 3,68 para o monofosfato de adenosina livre, e pKa = 5,46 para a adenosina-38 na ribozima. Como esse pKa
é quase duas unidades maior, existe NH+ em quantidade su ciente em pH próximo a neutralidade para que a ribozima funcione. Para con rmar que a adenosina-38 está sendo observada na titulação, RNA sintético, no qual o grupo NH+ foi substituído por uma ligação C—H na adenosina-38, também foi titulado. Como indicado pelos quadrados mostrados no grá co, a ligação C—H, inerte, não responde à variação de pH. Esse experimento con rma que o sinal no grá co advém da A-38 e não de outras unidades adenosina na ribozima. As titulações ácido-base têm inúmeras aplicações em pesquisa cientí ca.
P
ela análise de uma curva de titulação, podemos determinar as quantidades dos componentes ácidos e básicos em uma mistura e seus valores de pKa. Na química medicinal, o pKa e a lipofilicidade de uma substância com possíveis propriedades medicamentosas predizem o quão facilmente ela pode atravessar membranas celulares. A partir do pH e do pKa podemos calcular a carga de uma ácido poliprótico. Normalmente, quanto maior for a carga em uma molécula que tenha atividade biológica, mais dificilmente ela atravessará a membrana celular. Neste capítulo, vamos aprender como prever as formas das curvas de titulação e como o ponto final pode ser determinado com o uso de eletrodos e indicadores. Lipofilicidadeé um parâmetro que caracteriza a solubilidade de certas substâncias com atividade biológica em solventes apolares. É determinada a partir da medida da distribuição em equilíbrio de um fármaco entre a água e o octanol.
Em geral, quanto mais lipofílico for um fármaco, mais facilmente ele passará por uma membrana celular.
11-1
Titulação de uma Base Forte com um Ácido Forte
Para cada tipo de titulação estudada neste capítulo, nosso objetivo é construir um gráfico que mostre como o pH varia com a adição do titulante. Se isso for possível, podemos entender o que está ocorrendo durante a titulação e seremos capazes de interpretar uma curva de titulação experimental. O pH é normalmente determinado com um eletrodo de vidro, cuja operação é descrita na Seção 15-5. Inicialmente, escrevemos a reação entre o titulante e o analito.
A primeira etapa, em cada caso, consiste em escrever a reação química entre o titulante e o analito. A partir dessa reação, podemos calcular a composição e o pH do meio após cada adição de titulante. Como um exemplo simples, vamos observar a titulação de 50,00 mL de uma solução de KOH 0,020 00 M com uma solução de HBr 0,100 0 M. A reação química entre o titulante e o analito é simplesmente A reação de titulação.
Como a constante de equilíbrio para essa reação é 1014, é prudente dizer que ela “ocorre completamente”. Qualquer quantidade de H1 adicionada irá consumir uma quantidade estequiométrica de OH–. É útil conhecer o volume de HBr (Ve) necessário para atingir o ponto de equivalência, que determinamos igualando o número de mols de KOH que estão sendo titulados ao número de mols de HBr que foram adicionados:
Em vez de multiplicarmos L 3 (mol/L) para obtermos mol, frequentemente multiplicamos mL 3 (mol/L), que equivale a fazer mL 3 (mmol/mL) = mmol:
É importante ter em mente que, quando 10,00 mL de HBr forem adicionados, a titulação estará completa. Antes desse ponto, haverá OH– presente em excesso sem reagir. Após Ve, haverá um excesso de H+ na solução.
Na titulação de qualquer base forte com qualquer ácido forte, teremos três regiões na curva de titulação. Cada uma dessas regiões requer um tipo de cálculo diferente: 1. Antes de se atingir o ponto de equivalência, o pH é definido pelo excesso de OH– na solução. 2. No ponto de equivalência, a quantidade de H+ é suficiente para reagir com todo o OH–, formando H2O. O pH é definido pela
dissociação da água. 3. Após o ponto de equivalência, o pH é definido pelo excesso de H+ na solução. Mostramos a seguir o cálculo que deve ser feito para cada uma das regiões. Os resultados completos podem ser vistos na Tabela 10-1 e na Figura 10-1. Vale lembrar que o ponto de equivalência ocorre quando a quantidade de titulante adicionado é exatamente aquela suficiente para a reação estequiométrica com o analito. O ponto de equivalência é o resultado ideal que buscamos em uma titulação. O que realmente medimos é o ponto final, o qual é marcado por uma variação física brusca tal como a variação da cor do indicador ou do potencial de um eletrodo. Região 1: Antes do Ponto de Equivalência Antes do ponto de equivalência, existe um excesso de OH–.
Inicialmente, o cálculo será feito com o método que você deve ter aprendido em química geral; em seguida, será feita uma sistematização a partir desse método. Quando 3,00 mL de HBr forem adicionados, o volume total será de 53,00 mL. O HBr é consumido pelo KOH, deixando um excesso de KOH. O número de mols de HBr adicionado é (0,100 0 M)(0,003 00 L) = 0,300 × 10–3 mol de HBr = 0,300 mmol de HBr. O número inicial de mols de KOH é (0,020 00 M)(0,050 00 L) = 1,000 × 10–3 mol de KOH = 1,000 mmol de KOH. O OH– que não reagiu é calculado pela diferença 1,000 mmol – 0,300 mmol = 0,700 mmol. A concentração de OH– que não reagiu é (0,700 mmol)(53,00 mL) = 0,013 2 M. Portanto, [H+] = Kw/[OH–] = 7,57 × 10–13 M, e pH = –log[H+] = 12,12. Lembre-se em qualquer oportunidade, que
Agora, eis o cálculo sistemático: quando são adicionados 3,00 mL da solução de HBr, a reação está três décimos completa porque Ve = 10,00 mL. A fração de OH– que fica sem reagir é de sete décimos. A concentração de OH– restante é o produto da fração remanescente pela concentração inicial e por um fator de diluição:
TABELA 11-1
Cálculo da curva de titulação para 50,00 mL de uma solução de KOH 0,020 00 M titulados com uma solução de HBr 0,100 0 M
FIGURA 11-1 Curva de titulação calculada mostrando como o pH varia quando uma solução de HBr 0,100 0 M é adicionada a 50,00 mL de uma solução de KOH 0,020 00 M. O ponto de equivalência é um ponto de inflexão no qual a segunda derivada é igual a zero.
De acordo com a Equação 11-1, a concentração de OH– é igual a uma certa fração da concentração inicial, com uma correção para a diluição. O fator de diluição é igual ao volume inicial do analito dividido pelo volume total da solução. Na Tabela 11-1, o volume de ácido adicionado é simbolizado por Va. O pH é expresso com duas casas decimais, independentemente da quantidade de algarismos significativos envolvidos. Fazemos isso por motivos de coerência e também porque 0,01 é um valor próximo do limite de exatidão em medidas de pH.
Desa o Usando um procedimento semelhante à Equação 11-1, calcule a [OH–] quando tiverem sido adicionados 6,00 mL de HBr. Compare o pH obtido com o valor da Tabela 11-1. Região 2: No Ponto de Equivalência A Região 2 é o ponto de equivalência, onde foi adicionada uma quantidade de H+ suficiente para reagir com todo o OH–. Podemos preparar a mesma solução dissolvendo KBr em água. O pH é estabelecido pela dissociação da água:
No ponto de equivalência, o pH é igual a 7,00 somente para uma reação ácido-forte base-forte.
O pH no ponto de equivalência na titulação de qualquer base (ou ácido) forte com ácido (ou base) forte é 7,00, a 25°C. Como veremos ainda neste capítulo, o pH não é 7,00 no ponto de equivalência na titulação de ácidos ou bases fracos. O pH é 7,00 apenas se tanto o titulante quanto o analito forem fortes. Região 3: Após o Ponto de Equivalência Além do ponto de equivalência, o HBr adicionado à solução fica em excesso. A concentração do excesso de H+ após a adição de 10,50 mL de HBr é dada por Após o ponto de equivalência, existe um excesso de H+.
Em Va = 10,50 mL, há um excesso de exatamente Va – Ve = 10,50 – 10,00 = 0,50 mL de HBr. Este é o motivo de 0,50 aparecer no fator de diluição. A Curva de Titulação
A curva de titulação completa na Figura 11-1, próximo ao ponto de equivalência, mostra uma acentuada variação de pH. O ponto de equivalência é onde o coeficiente angular (dpH/dVa) atinge o valor máximo (é também onde a segunda derivada é zero, o que faz com que esse ponto seja um ponto de inflexão). Relembrando uma afirmação importante, o pH no ponto de equivalência é 7,00 apenas em titulações ácido forte-base forte. Se um ou ambos os reagentes são fracos, o pH do ponto de equivalência não é 7,00.
11-2
Titulação de Ácido Fraco com Base Forte
A titulação de um ácido fraco com uma base forte nos permite utilizar todo o conhecimento que temos sobre a química ácidobase. O exemplo que vamos considerar é a titulação de 50,00 mL de uma solução de MES 0,020 00 M com solução de NaOH 0,100 0 M. MES é a abreviatura para o ácido 2-(N-morfolino)etanossulfônico, um ácido fraco, tendo pKa = 6,27. A reação de titulação é Iniciamos sempre escrevendo a reação de titulação.
A Reação 11-2 é o inverso da reação de Kb para a base A–. Portanto, a constante de equilíbrio para a Reação 11-2 é K = 1/Kb = 1/(Kw/Ka(para HA)) = 5,4 × 107. A constante de equilíbrio é tão grande que podemos dizer que a reação é “completa” após cada adição de OH–. Como vimos no Boxe 8-3, forte mais fraco reagem completamente. Forte + fraco → reação completa
Vamos calcular inicialmente o volume de base, Vb, necessário para atingir o ponto de equivalência:
Os cálculos envolvidos na titulação para esse problema envolvem quatro procedimentos algébricos diferentes: 1. Antes da adição de qualquer quantidade de base, a solução contém apenas HA em água. Este é um ácido fraco cujo pH é
estabelecido pelo equilíbrio
2. A partir da primeira adição de NaOH até imediatamente antes do ponto de equivalência, há uma mistura de HA que não
reagiu com o A– produzido pela Reação 11-2. Ah! Ah! Um sistema tampão! Podemos usar a equação de HendersonHasselbalch para determinar o pH. 3. No ponto de equivalência, “todo” o HA foi convertido em A–. A mesma solução pode ser feita simplesmente dissolvendo-se A– em água. Temos uma base fraca cujo pH é estabelecido pela reação
4. Além do ponto de equivalência, o NaOH em excesso é adicionado a uma solução de A–. Uma boa aproximação é determinar
o pH considerando-se apenas a base forte. Calculamos o pH como se tivéssemos simplesmente adicionado um excesso de NaOH à água. Estamos desprezando o pequeno efeito da presença de A–. Região 1: Antes da Adição da Base A solução inicial contém apenas o ácido fraco HA.
Antes de adicionar qualquer base, temos uma solução de HA 0,020 00 M com um pKa = 6,27. Isso é simplesmente um problema de ácido fraco.
Região 2: Antes do Ponto de Equivalência Antes do ponto de equivalência, existe uma mistura de HA mais A–, que forma um sistema tampão.
Após ter começado a adição de OH–, uma mistura de HA mais A– é formada. Essa mistura é um tampão cujo pH pode ser calculado por meio da equação de Henderson-Hasselbalch (9-16) a partir do quociente [A–]/[HA]. Precisamos apenas das concentrações relativas, pois o pH de um tampão depende somente do quociente [A–]/[HA].
Vamos admitir que desejamos calcular o quociente [A–]/[HA] após a adição de 3,00 mL de OH–. Como Ve = 10,00 mL, a base adicionada foi suficiente para reagir apenas com três décimos de HA. Podemos fazer uma tabela mostrando as concentrações relativas antes e depois da reação: Reação de titulação:
HA
+
Quantidades iniciais relativas (HA ≡ 1)
1
Quantidades nais relativas
OH–
—
→
A–
+
H2O
—
—
—
Uma vez que o quociente [A–]/[HA] seja conhecido para uma determinada solução, sabemos como calcular o pH dessa solução:
O ponto em que o volume de titulante é Ve é um ponto especial em qualquer titulação. Reação de titulação:
HA
+
Quantidades iniciais relativas
1
Quantidades nais relativas
OH–
—
→
A–
+
H2O
—
—
—
Quando Vb = Ve, pH = pKa. Esta é uma relação fundamental para qualquer tipo de titulação.
Quando o volume de titulante é Ve, o pH = pKa do ácido HA (desprezando os coeficientes de atividade). Se temos uma curva de titulação experimental, o valor aproximado de pKa pode ser obtido pela leitura do pH quando Vb = Ve, em que Vb é o volume de base adicionada. (Para calcular o valor verdadeiro de pKa são necessários os coeficientes de atividade.) Recomendação Logo que se verifica a existência de uma mistura de HA mais A– em uma solução qualquer, consideramos a presença de um sistema tampão. Assim, podemos calcular o pH a partir do valor do quociente [A–]/[HA].
É importante que se saiba reconhecer os sistemas-tampão! Eles estão presentes em todos os aspectos da química ácido-base. Região 3: No Ponto de Equivalência No ponto de equivalência, a quantidade de NaOH é exatamente a suficiente para consumir todo o HA. No ponto de equivalência, o HA foi convertido totalmente em A–, uma base fraca.
Reação de titulação:
HA
+
OH–
→
A–
+
H2O
Quantidades iniciais relativas
1
1
—
—
Quantidades nais relativas
—
—
1
—
A solução resultante contém “apenas” A–. Podemos preparar essa mesma solução dissolvendo o sal Na+A– em água destilada. Uma solução de Na+A– é meramente uma solução de uma base fraca. Para calcular o pH de uma base fraca, escrevemos a reação da base fraca com a água:
O único ponto mais complicado é que a concentração formal de A– deixou de ser 0,020 00 M, que era a concentração inicial de HA. O A– é diluído pelo NaOH proveniente da bureta:
Com esse valor de F′, podemos resolver o problema:
O pH será sempre maior que 7 no ponto de equivalência para uma titulação de um ácido fraco por uma base forte.
O pH no ponto de equivalência nessa titulação é 9,25. Ele não é 7,00. O pH do ponto de equivalência será sempre maior que 7 para uma titulação de um ácido fraco, pois o ácido é convertido em sua base conjugada no ponto de equivalência. Região 4: Após o Ponto de Equivalência A partir de agora vamos admitir que o valor do pH é estabelecido pelo excesso de OH–.
Agora estamos adicionando NaOH à solução de A–. A base NaOH é muito mais forte que a base A–, de modo que é uma aproximação razoável dizer que o pH é estabelecido pelo excesso de OH–. Vamos calcular o pH quando Vb = 10,10 mL. Isso corresponde apenas a 0,10 mL além de Ve. A concentração do excesso de OH– é
Desa o Compare a concentração de OH– a partir do excesso de titulante em Vb = 10,10 mL com a concentração de OH– devido à hidrólise de A–. Veri que que a aproximação de desprezarmos a contribuição de A– para o pH, após o ponto de equivalência, está correta. A Curva de Titulação Pontos importantes em uma titulação: Na região Vb = Ve, a curva apresenta a maior inclinação. Na região Vb =
Ve, pH = pKa e a curva apresenta uma inclinação mínima.
Um resumo dos cálculos para a titulação do MES com NaOH é mostrado na Tabela 11-2. A titulação calculada na Figura 11-2 tem dois pontos facilmente identificáveis. Um é o ponto de equivalência, que corresponde à parte mais inclinada da curva. O
outro é o ponto onde Vb = Ve e o pH = pKa. Este último ponto é também chamado de ponto de inflexão, tendo um coeficiente angular mínimo. Se olharmos novamente a Figura 9-4b, notamos que a capacidade de tamponamento máxima ocorre quando o pH = pKa, isto é, a solução resiste mais a variações do pH quando pH = pKa (e Vb = Ve). Portanto, o coeficiente angular (dpH/dVb) é mínimo. A capacidade de tamponamento mede a capacidade que uma solução apresenta em resistir a variações de pH.
A Figura 11-3 mostra como a curva de titulação depende da constante de dissociação ácida do HA e das concentrações dos reagentes. Quando HA se torna um ácido mais fraco, ou quando as concentrações do analito e do titulante diminuem, a inflexão próxima ao ponto de equivalência diminui, até que o ponto de equivalência fique muito tênue para ser detectado. Não é fácil titular um ácido, ou uma base, quando sua força é muito fraca ou sua concentração é muito pequena.
11-3
Titulação de Base Fraca com Ácido Forte
A titulação de uma base fraca com um ácido forte é exatamente o inverso da titulação de um ácido fraco com uma base forte. A reação da titulação é
Como os reagentes são uma base fraca e um ácido forte, a reação está essencialmente completa após cada adição de ácido. Existem quatro regiões distintas na curva de titulação: 1. Antes de se adicionar o ácido, a solução contém apenas a base fraca, B, em água. O pH fica estabelecido pela reação de Kb: Quando Va (= volume do ácido adicionado) = 0, temos um problema de base fraca.
2. Entre o ponto inicial e o ponto de equivalência, há uma mistura de B e BH+ – Ah! Ah! Um tampão! O pH é calculado usando-
se a equação Quando 0 , Va , Ve, temos um tampão.
TABELA 11-2
Cálculo da curva de titulação para 50,00 mL de uma solução de MES 0,020 00 M titulada com uma solução de NaOH 0,100 0 M
FIGURA 11-2 Curva de titulação calculada para a reação de 50,00 mL de uma solução de MES 0,020 00 M com uma solução de NaOH 0,100 0 M. Os pontos de destaque ocorrem na metade do volume de equivalência (pH = pKa) e no ponto de equivalência, que é a parte mais inclinada da curva.
FIGURA 11-3 (a) Curvas calculadas mostrando a titulação de 50,0 mL de uma solução de HA 0,020 0 M com uma solução de NaOH 0,100 M. (b) Curvas calculadas mostrando a titulação de 50,0 mL de HA (pKa = 5) com NaOH cuja concentração é cinco vezes maior que a do HA. À medida que o ácido se torna mais fraco, ou mais diluído, o ponto final se torna menos distinto.
Adicionando ácido (aumentando Va), atingimos um ponto especial da titulação em que Va = Ve e o pH = pKa (para BH+). Como antes, o pKa pode ser determinado facilmente a partir da curva de titulação. 3. No ponto de equivalência, B foi convertido em BH+, um ácido fraco. O pH é calculado considerando-se a reação de dissociação ácida do BH+. Quando Va = Ve, a solução contém o ácido fraco BH+.
A concentração formal de BH+, F′, não é a concentração formal de B, pois ocorreu alguma diluição. Como a solução contém BH+ no ponto de equivalência ela é ácida. O pH no ponto de equivalência estará abaixo de 7. Quando Va > Ve existe um excesso de ácido forte.
4. Após o ponto de equivalência, o ácido forte em excesso é responsável pelo valor do pH. Desprezamos a contribuição do ácido
fraco, BH+.
EXEMPLO
Titulação de Piridina com HCl
Considere a titulação de 25,00 mL de uma solução de piridina 0,083 64 M com uma solução de HCl 0,106 7 M.
A reação da titulação é
e o ponto de equivalência ocorre em 19,60 mL:
Determine o pH quando Va = 4,63 mL. Solução Parte da piridina foi neutralizada; há, portanto, uma mistura de piridina e de íon piridínio — Ah!Ah! Um tampão! A fração de piridina que foi titulada é igual a 4,63/19,60 = 0,236, pois são necessários 19,60 mL de ácido para titular a amostra toda. A fração de piridina que resta é 1 – 0,236 = 0,764. O pH é
TESTE A VOCÊ MESMO Determine o pH quando Va = 14,63 mL. (Resposta: 4,73) 11-4
Titulações em Sistemas Dipróticos
Os princípios desenvolvidos para as titulações de ácidos e bases monopróticas são imediatamente estendidos para titulações de ácidos e bases polipróticas. Vamos ver dois casos. Um Caso Típico A curva superior na Figura 11-4 é calculada para a titulação de 10,00 mL de uma solução 0,100 M de uma base (B) com uma solução de HCl 0,100 M. A base é dibásica, com pKb1 = 4,00 e pKb2 = 9,00. A curva de titulação possui inflexões razoavelmente acentuadas em ambos os pontos de equivalência, correspondendo às reações
FIGURA 11-4 (a) Titulação de 10,0 mL de uma solução 0,100 M de uma base (pKb1 = 4,00, pKb2 = 9,00) com uma solução de HCl 0,100 M. Os dois pontos de equivalência são C e E. B e D são os pontos de meia neutralização, cujos valores de pH são iguais a pKa2 e pKa1, respectivamente. (b) Titulação de 10,0 mL de uma solução de nicotina 0,100 M (pKb1 = 6,15, pKb2 = 10,85) com uma solução de HCl 0,100 M. Não há inflexão no segundo ponto de equivalência, J, porque o pH é muito pequeno.
O volume de ácido no primeiro ponto de equivalência é 10,00 mL porque
Ve2 = 2Ve1, sempre.
O volume no segundo ponto de equivalência é 2Ve, pois a segunda reação requer exatamente o mesmo número de mols de HCl que a primeira reação. Os cálculos de pH, nesse caso, são semelhantes aos que foram feitos para os pontos correspondentes na titulação de um composto monobásico. Vamos considerar do ponto A ao ponto E na Figura 11-4. Ponto A
Antes de qualquer ácido ser adicionado, a solução contém apenas B, uma base fraca, cujo pH é estabelecido pela reação A forma totalmente básica de um composto dibásico pode ser considerada como se fosse um composto monobásico. (A reação correspondente a Kb2 pode ser desprezada.)
Ponto B
Em qualquer ponto entre A (o ponto inicial) e C (o primeiro ponto de equivalência), existe um tampão contendo B e BH+. O ponto B se localiza na metade do caminho para o ponto de equivalência; logo [B] = [BH+]. O pH é calculado a partir da equação de Henderson-Hasselbalch para o ácido fraco, BH+, cuja constante de dissociação ácida é Ka2 (para BH22+). O valor de Ka2 é Kw/Kb1 = 10–10,00. Obviamente, você lembra que
Assim, o pH no ponto B é exatamente igual a pKa2. Para calcularmos o quociente [B]/[BH+] em qualquer ponto na região de tamponamento, basta determinar que fração do caminho do ponto A até o ponto C a titulação avançou. Por exemplo, se Va = 1,5 mL, então
pois são necessários 10,0 mL para atingir o ponto de equivalência e adicionamos apenas 1,5 mL. O pH em Va = 1,5 mL é dado por
Ponto C A forma intermediária de um ácido diprótico é BH+.
No primeiro ponto de equivalência, B foi convertido em BH+, a forma intermediária do ácido diprótico, BH22+. BH+ é ao mesmo tempo um ácido e uma base. De acordo com a Equação 10-11, sabemos que
em que K1 e K2 são as constantes de dissociação ácida do BH22+. A concentração formal de BH+ é calculada considerando-se a diluição da solução original de B.
Substituindo-se todos os valores na Equação 11-3, temos
A forma intermediária de um ácido poliprótico é a pior escolha possível para um tampão.
Observe que, nesse exemplo, pH =
(pKa1 + pKa2)
O ponto C na Figura 11-4 mostra onde a forma intermediária do ácido diprótico se situa na curva de titulação. Esse é o ponto menos tamponado na curva toda, pois o pH varia muito rapidamente quando pequenas quantidades de ácido ou base são adicionadas. Existe um conceito errado de que a forma intermediária do ácido diprótico se comporta como um tampão, quando, na verdade, ela é a pior escolha para um tampão. Ponto D
Em qualquer ponto entre C e E, existe um tampão contendo BH+ (a base) e BH22+ (o ácido). Quando Va = 15,0 mL, [BH+] = [BH22+] e
Desa o Mostre que, se Va for 17,2 mL, a razão no termo logarítmico será
Ponto E
O ponto E é o segundo ponto de equivalência, no qual a solução é exatamente a mesma que uma preparada dissolvendo-se BH2Cl2 em água. A concentração formal de BH22+ é
O pH é determinado a partir da reação de dissociação ácida do BH22+.
No segundo ponto de equivalência temos BH22+, que pode ser tratado como um ácido monoprótico fraco.
Além do segundo ponto de equivalência (Va > 20,0 mL), o pH da solução pode ser calculado a partir do volume de ácido forte adicionado à solução. Por exemplo, em Va = 25,00 mL, há um excesso de 5,00 mL de solução de HCl 0,100 M em um volume total de 10,00 + 25,00 = 35,00 mL. O pH é determinado da seguinte maneira:
Pontos Finais Mal De nidos Quando o pH é muito baixo ou muito alto, ou quando os valores de pKa são muito próximos, os pontos finais não ficam muito bem definidos.
As titulações de vários ácidos ou bases dipróticas mostram dois pontos finais distintos, como os que se observam na curva a da Figura 11-4. Algumas titulações, no entanto, não apresentam os dois pontos finais. Como exemplo vemos a curva b da Figura 114, calculada para a titulação de 10,0 mL de uma solução de nicotina 0,100 M (pKb1 = 6,15, pKb2 = 10,85) com solução de HCl 0,100 M. As duas reações são
O segundo ponto de equivalência (J) não é virtualmente perceptível, pois o BH22+ também é um ácido muito forte (ou, equivalentemente, BH+ é uma base muito fraca). Quando a acidez final da titulação se aproxima de um valor pequeno de pH (≲3), a aproximação de que todo HCl tenha reagido completamente com BH+ para dar BH22+ não é verdadeira. O cálculo do pH entre os pontos I e J requer o tratamento sistemático de equilíbrio. O cálculo da curva completa com o uso de uma planilha eletrônica será feito ainda neste capítulo.
11-5
Determinação do Ponto Final com um Eletrodo de pH
O Boxe 11-1 ilustra uma importante aplicação de titulações ácido-base em análises ambientais.
Normalmente, fazemos uma titulação para determinar a quantidade de analito presente ou para medir as constantes de equilíbrio presentes no sistema. Podemos obter a informação necessária, em ambos os casos, acompanhando o valor do pH da solução, enquanto a titulação está sendo feita. A Figura 2-10 mostra um titulador automático, que realiza toda a operação automaticamente.4 O instrumento aguarda a estabilização do pH após cada adição de titulante, antes da adição da próxima alíquota. O ponto final é calculado automaticamente através da determinação do coeficiente angular máximo na curva de titulação. A Figura 11-5a mostra os resultados experimentais para uma titulação manual do ácido fraco hexaprótico, H6A, com NaOH. Como esse ácido é difícil de ser purificado, apenas uma pequena quantidade estava disponível para titulação. Apenas 1,430 mg foram dissolvidos em 1,00 mL de solução aquosa e titulados através da adição de microlitros, por meio de uma seringa Hamilton, de uma solução de NaOH 0,065 92 M.
FIGURA 11-5 (a) Pontos experimentais na titulação de 1,430 mg de alaranjado de xilenol, um ácido hexaprótico, dissolvido em 1,000 mL de solução aquosa de NaNO3 0,10 M. O titulante foi uma solução de NaOH 0,065 92 M. (b) A derivada primeira, DpH/ΔV, da curva de titulação. (c) A derivada segunda, D(DpH/ΔV)DV, que é a derivada da curva em (b). Os valores das derivadas para o primeiro ponto final podem ser vistos na Figura 11-6. Os pontos finais são considerados como os pontos de máximo na curva da primeira derivada e aqueles que correspondem à passagem pelo zero na curva da derivada segunda.
BOXE 11-1
Alcalinidade e Acidez
A alcalinidade de uma amostra de água natural é de nida como o número de mols de HCl equivalentes ao excesso do número de mols de espécies básicas oriundas de ácidos fracos com pKa > 4,5, a 25°C, e força iônica zero. A alcalinidade é aproximadamente igual ao número de mols de HCl necessários para levar 1 kg de água até o pH 4,5, que é o segundo ponto de equivalência na titulação do CO32–. Em uma boa aproximação,
Quando água é titulada com HCl até atingir o valor de pH 4,5, todos os íons OH–, CO32– e HCO3– terão reagido. Outras espécies presentes em pequenas concentrações que podem contribuir para a alcalinidade em águas naturais compreendem fosfato, borato, silicato, uoreto, amônia, sulfeto e compostos orgânicos. Em oceanogra a, a alcalinidade é empregada para estimar a penetração do CO2 de origem antropogênica (devido ao homem) no oceano e na determinação do balanço do CaCO3 marinho (fontes e sorvedouros de CaCO3.)3 Os oceanógrafos devem levar em conta a salinidade (força iônica) e a temperatura nas determinações da alcalinidade.2 Alcalinidade e dureza (teor de Ca2+ e Mg2+ dissolvidos, Boxe 12-2) são características importantes da água de irrigação. A alcalinidade contendo Ca + Mg2+ em excesso é chamada de “carbonato de sódio residual”. Água contendo carbonato de sódio residual, equivalente a $2,5 mmol de H+/kg, não é apropriada para irrigação. Carbonato de sódio residual entre 1,25 e 2,5 mmol de H+/kg é considerado marginal, enquanto um contendo ≤l,25 mmol de H+/kg é apropriado para irrigação. 2+
A acidez de águas naturais refere-se ao conteúdo total de ácido que pode ser titulado até pH 8,3 com NaOH. Esse pH é o do segundo ponto de equivalência para a titulação do ácido carbônico (H2CO3) com OH–. Todo ácido fraco que possa estar presente na água também será titulado nesse procedimento. A acidez é expressa como mmols de OH– necessários para fazer com que 1 kg de água atinja o pH 8,3.
Titulação da alcalinidade de uma amostra de 165,4 mL de água salgada a 20,05°C por titulação com solução de HCl 0,209 5 M em uma célula fechada para evitar o escape de CO2. O HCl contém NaCl, de modo que a força iônica se mantém constante. [Dados de A. G. Dickson, Oak Ridge National Laboratory.]
A curva na Figura 11-5a mostra duas descontinuidades nítidas, próximas a 90 e 120 mL, que correspondem à titulação do terceiro e quarto prótons do H6A.
Os dois primeiros e os dois últimos pontos de equivalência apresentam pontos finais irreconhecíveis, pois ocorrem em valores de pH que são ou muito baixos ou muito altos. Usando Derivadas para Encontrar o Ponto Final Ponto final: • coeficiente angular máximo • derivada segunda = 0
O ponto final é considerado como o ponto onde o coeficiente angular (dpH/dV) da curva de titulação é máximo. A inclinação (a derivada primeira) vista na Figura 11-5b foi calculada por meio da planilha apresentada na Figura 11-6. As duas primeiras colunas contêm os volumes experimentais e as medidas de pH. (O medidor de pH é preciso até a terceira casa decimal, embora a exatidão termine na segunda casa decimal.) Para calcular a derivada primeira, é feita a média para cada par de volumes e o valor ΔpH/ΔV é calculado. Neste caso, ΔpH é a variação de pH entre leituras consecutivas e ΔV é a variação de volume entre adições consecutivas. A Figura 11-5c e as duas últimas colunas da planilha fornecem a derivada segunda, calculada de maneira análoga. O ponto final corresponde ao volume em que a derivada segunda é 0. A Figura 11-7 nos permite fazer uma boa estimativa dos volumes dos pontos finais.
FIGURA 11-6 Planilha para a determinação das derivadas primeira e segunda nas proximidades do volume adicionado = 90 mL na Figura 11-5.
FIGURA 11-7
EXEMPLO
Visão ampliada das regiões de ponto final na curva da derivada segunda vista na Figura 11-5c.
Cálculo das Derivadas em uma Curva de Titulação
Vamos ver como a derivada primeira e a derivada segunda na Figura 11-6 são calculadas. Solução O primeiro número na terceira coluna, 85,5, é a média dos dois primeiros volumes (85,0 e 86,0) na primeira coluna. A derivada ΔpH/ΔV é calculada a partir dos dois primeiros valores de pH e dos dois primeiros volumes:
As coordenadas (x = 85,5; y = 0,155) são um ponto no grá co da derivada primeira na Figura 11-5b. A derivada segunda é calculada a partir da derivada primeira. A primeira entrada na quinta coluna da Figura 11-6 é 86,0, que é a média entre 85,5 e 86,5. A derivada segunda é
As coordenadas (x = 86,0; y = 0,071) são assinaladas no gráfico da derivada segunda na Figura 11-6c.
TESTE A VOCÊ MESMO Veri que a derivada na célula D7 da Figura 11-6. Uso de um Grá co de Gran para Encontrar o Ponto Final5,6 Um método semelhante utiliza os dados do meio da curva de titulação (distantes do ponto de equivalência) para obter Ve e Ka.7
Um problema com o uso de derivadas para encontrar o ponto final é que os dados da titulação são menos exatos perto do ponto final, pois o tamponamento é mínimo e a resposta do eletrodo é lenta. O gráfico de Gran é um método gráfico que nos permite usar dados anteriores ao ponto final (geralmente de 0,8 Ve ou 0,9 Ve até Ve) para localizar o ponto final. Considere a titulação de um ácido fraco, HA:
É necessário incluir os coeficientes de atividade nessa discussão, pois um eletrodo de pH responde à atividade do íon hidrogênio e não à sua concentração. As espécies fortes reagem completamente com as espécies fracas.
Antes do ponto de equivalência, é uma boa aproximação considerar que cada mol de NaOH converte 1 mol de HA em 1 mol de A–. Se titulamos Va mL de HA (cuja concentração formal é Fa) com Vb mL de NaOH (cuja concentração formal é Fb), podemos escrever
Substituindo esses valores de [A–] e [HA] na constante de equilíbrio, temos
que pode ser escrita na forma
O termo na esquerda é Vb · 10–pH, pois [H+]γH+ = 10–pH. O termo entre parênteses na direita é
A Equação 11-4 pode, portanto, ser escrita na forma
Um gráfico de Vb · 10–pH contra Vb é chamado de gráfico de Gran. Se γHA/ γA– é constante, o gráfico mostra uma reta com um coeficiente angular igual a –KaγHA/γA– e uma interseção com o eixo das abscissas (o eixo x) igual a Ve. Na Figura 11-8 vemos o gráfico de Gran para a titulação da Figura 11-5. Pode-se usar qualquer unidade para Vb, mas as mesmas unidades devem ser usadas em ambos os eixos. Na Figura 11-8, Vb foi expresso em microlitros em ambos os eixos. Gráfico de Gran: • Faça um gráfico de Vb · 10–pH contra Vb • A inserção com o eixo x = Ve • Coeficiente angular = 2 KaγHA/γA–
A vantagem de um gráfico de Gran reside na possibilidade de usarmos, para localizarmos o ponto final, dados obtidos antes do ponto final. O coeficiente angular no gráfico de Gran possibilita determinar o valor de Ka. Embora tenhamos deduzido a função de Gran para um ácido monoprótico, o mesmo gráfico (Vb·10–pH contra Vb) pode ser usado para ácidos polipróticos (como o H6A na Figura 11-5). A função de Gran, Vb · 10–pH, na verdade, não atinge o valor 0, pois 10–pH nunca é 0. A curva deve ser extrapolada para encontrar Ve. O valor da função não atinge 0 por termos usado a aproximação de que todo mol de OH– produz 1 mol de A–, o que não é verdadeiro quando Vb se aproxima de Ve. Apenas a região linear do gráfico de Gran é usada. Outra fonte de não linearidade (curvatura) no gráfico de Gran é a mudança da força iônica do meio, o que provoca variações na razão γHA/ γA–. Na Figura 11-8, essa variação foi evitada mantendo-se a força iônica praticamente constante através da adição de NaNO3. Mesmo sem a adição de sal, os últimos 10 a 20% dos dados antes de Ve têm um comportamento razoavelmente linear, pois o valor de γHA/ γA– não varia muito nessa região.
FIGURA 11-8 Gráfico de Gran para o primeiro ponto de equivalência da Figura 11-5. Esse gráfico fornece um valor de Ve que difere daquele da Figura 11-7 por apenas 0,2 mL (88,4 contra 88,2 μL). Os últimos 10 a 20% do volume anterior a Ve são usados normalmente para o gráfico de Gran.
Desafio Mostre que, quando uma base fraca, B, é titulada com um ácido forte, a função de Gran apropriada é
em que Va é o volume do ácido forte adicionado e Ka é a constante de dissociação ácida do BH+. Um gráfico de Va · 101pH contra Va deve ser uma reta com um coeficiente angular igual a –γB/(γBH+ Ka) e uma interseção com o eixo dos x em Ve.
11-6
Determinação do Ponto Final por Meio de Indicadores
Um indicador ácido-base é por si só um ácido ou uma base cujas diferentes espécies protonadas têm cores diferentes. Um exemplo é o azul de timol. Um indicador é um ácido ou uma base cujas diferentes formas protonadas apresentam cores diferentes.
Um dos indicadores mais comuns é a fenolftaleína, normalmente usada na sua transição incolor-rosa em pH 8,0-9,6.
Em um ácido forte, a forma incolor da fenolftaleína torna-se vermelho-alaranjada. Em uma base forte a espécie vermelha perde a sua cor.8
Abaixo de pH 1,7, a espécie predominante é vermelha; entre pH 1,7 e pH 8,9 a espécie predominante é amarela; e acima de pH 8,9 a espécie predominante é azul (veja Prancha 5 do Encarte em Cores). Para simplificar, simbolizamos as três espécies por R, Y– e B22. O equilíbrio entre R e Y– pode ser escrito como
pH
[Y–]:[R]
0,7
1 : 10
vermelho
1,7
1:1
laranja
2,7
10 : 1
amarelo
Cor
Em pH 1,7 (= pK1), temos uma mistura 1:1 entre espécies vermelha e amarela, que parece ser laranja. Como uma regra bastante simples, podemos dizer que a solução fica vermelha quando [Y–]/[R] ≲ 1/10 e amarela quando [Y–]/[R] ≳ 10/1. Na Equação 117, podemos ver que a solução será vermelha quando pH ≈ pK1 – 1 e amarela quando pH ≈ pK1 + 1. Nas tabelas de cores de indicadores, o azul de timol é apresentado como vermelho abaixo de pH 1,2 e amarelo acima de pH 2,8. Por comparação, os valores de pH previstos pela nossa regra são 0,7 e 2,7. Entre pH 1,2 e pH 2,8, o indicador exibe várias tonalidades de laranja. A faixa de pH (1,2 a 2,8) na qual a cor muda é chamada de faixa de transição. Enquanto a maioria dos indicadores tem uma única mudança de cor, o azul de timol sofre outra transição, entre o pH 8,0 e o pH 9,6, do amarelo para o azul. Nessa faixa, são observadas várias tonalidades de verde.
As mudanças de cor de indicadores são apresentadas na Demonstração 11-1. O Boxe 11-2 mostra como valores de pH podem ser determinados pela absorção óptica de indicadores. Escolha de um Indicador Uma curva de titulação para a qual o ponto de equivalência tem pH = 5,54 é mostrada na Figura 11-9. Um indicador com uma mudança de cor próximo a esse valor de pH pode ser usado na determinação do ponto final da titulação. Podemos ver na Figura 11-9 que o pH cai acentuadamente (de 7 para 4) para um pequeno intervalo de volume. Portanto, qualquer indicador com uma mudança de cor nesse intervalo de pH possibilita uma determinação razoavelmente boa do ponto de equivalência. Quanto mais perto do pH 5,54 a mudança de cor ocorrer, mais exata será a determinação do ponto final. A diferença entre o ponto final observado (pela mudança de cor) e o ponto de equivalência verdadeiro é chamada de erro do indicador.
FIGURA 11-9 Curva de titulação calculada para a reação de 100 mL de uma solução 0,010 0 M de uma base (pKb = 5,00) com uma solução de HCl 0,050 0 M.
DEMONSTRAÇÃO 11-1
Indicadores e a Acidez do CO2
Esta demonstração é apenas pura diversão.9 Adicione 900 mL de água a duas provetas graduadas de 1 L, providas, cada uma, de uma barra magnética de agitação. Em seguida, adicione a cada uma das provetas 10 mL de uma solução de NH3 + M. Adicione, então, 2 mL de solução do indicador fenolftaleína a uma das provetas e 2 mL do indicador azul de bromotimol à outra. Ambos os indicadores irão adquirir a cor correspondente às suas espécies básicas. Adicione agora alguns pedaços de gelo seco (CO2 sólido) a cada proveta. Conforme o CO2 vai borbulhando em cada proveta, o líquido vai se tornando mais ácido. Inicialmente, desaparece a cor vermelha da fenolftaleína. Pouco tempo depois, o pH diminui o su ciente para mudar a cor do azul de bromotimol de azul para verde, mas não o su ciente para mudar a cor para amarelo. Através de um tubo de Tygon, adicione ao fundo de cada proveta 20 mL de HCl 6 M. Agita-se então cada solução por alguns segundos por meio da agitação magnética. Explique o que se observa. A sequência de eventos pode ser vista na Prancha 6 no Encarte em Cores. Ao esvaziarmos metade de um frasco de indicador em uma reação introduzimos outro tipo de erro relativo ao indicador. Como os indicadores são ácidos ou bases, eles reagem tanto com o analito como com o titulante. O número de mols adicionado do indicador deve ser desprezível em relação ao número de mols do analito. Nunca, em uma titulação, usamos mais do que algumas gotas de solução diluída de indicador. Muitos dos indicadores apresentados na Tabela 11-3 podem ser úteis para a titulação da Figura 11-9. Por exemplo, se for usado o púrpura de bromocresol, usaremos a mudança de cor de púrpura para amarelo como ponto final. O último traço de cor púrpura desaparecerá próximo ao pH 5,2, que é muito próximo do ponto de equivalência real na Figura 11-9. Se o verde de bromocresol for escolhido como indicador, uma mudança de cor do azul para o verde (= amarelo 1 azul) indicará o ponto final Para uma determinada titulação, devemos escolher um indicador cuja faixa de viragem se sobreponha ao intervalo onde se verifica a região de maior inflexão em uma curva de titulação.
Em geral, escolhemos um indicador cuja faixa de transição se sobreponha, o mais próximo possível, ao intervalo onde se verifica a região de maior inflexão da curva de titulação. A inflexão da curva de titulação próximo ao ponto de equivalência na Figura 11-9 assegura que o erro do indicador causado pela não coincidência do ponto final com o ponto de equivalência seja pequeno. Por exemplo, se o ponto final do indicador for em pH 6,4 (em vez de 5,54), o erro em Ve será apenas de 0,25% nesse caso. Podemos estimar o erro do indicador calculando o volume de titulante que é necessário para atingir o pH 6,4 em vez do pH 5,54.
11-7
Notas Práticas
No final deste capítulo, encontram-se os procedimentos para a preparação de soluções-padrão de ácidos e de bases.
Os ácidos e bases listados na Tabela 11-4 podem ser obtidos suficientemente puros para serem usados como padrões primários.16 Observe que o NaOH e o KOH não são padrões primários, porque mesmo os de melhor qualidade contêm carbonato (da reação com o CO2 atmosférico) e água adsorvida. Soluções de NaOH e KOH devem ser padronizadas em relação a um padrão primário, como o hidrogenoftalato de potássio. Soluções diluídas de NaOH usadas em titulações são preparadas pela diluição de uma solução-estoque de NaOH 50% m/m em água. O carbonato de sódio é relativamente insolúvel nessa solução-estoque e precipita no fundo do frasco.
BOXE 11-2
Qual É o Signi cado de um pH Negativo?
Na década de 1930, Louis Hammett e seus alunos mediram as forças de muitos ácidos e bases fracos, utilizando uma base fraca como referência (B), como a p-nitroanilina (pKa = 0,99), cuja força básica pode ser medida em solução aquosa.
Admita que alguma p-nitroanilina e uma segunda base, C, são dissolvidas em um ácido forte, como uma solução de HCl 2 M. O pKa do CH+ pode ser medido em relação ao BH+ escrevendo-se, inicialmente, uma equação de Henderson-Hasselbalch para cada ácido:
Igualando as duas equações (pois há apenas um pH) temos
A razão entre os coe cientes de atividade é próxima da unidade, de modo que o segundo termo na direita é próximo de 0. Desprezando este último termo, temos um resultado operacionalmente útil:
Isto é, se temos uma maneira para determinar as concentrações de B, BH+, C e CH+ e se conhecemos o pKa para o BH+, podemos determinar o pKa para o CH+. As concentrações podem ser medidas espectrofotometricamente10 ou por ressonância magnética nuclear,11 e assim o pKa para o CH+ pode ser determinado. Então, utilizando o CH+ como referência, o pKa para outro composto, DH+, pode ser medido. Esse procedimento pode ser estendido para medir sucessivamente as forças de bases cada vez mais fracas (por exemplo, o nitrobenzeno, pKa = 211,38), fracas demais para que possam ser protonadas em água. A acidez de um solvente fortemente ácido que protona uma base fraca, B, é chamada de função de acidez de Hammett:
Para soluções aquosas diluídas, H0 aproxima-se do pH. Para ácidos concentrados, H0 é uma medida da força do ácido. Quanto mais fraca for a base B, mais forte deve ser a acidez do solvente para poder protonar a base. A acidez de solventes fortemente ácidos é, hoje, mais convenientemente medida por métodos eletroquímicos.12 Quando nos referimos a valores negativos de pH, geralmente estamos falando de valores de H0. Por exemplo, quando se fazem medidas da capacidade de uma solução de HClO4 8 M em protonar bases muito fracas, ela tem “pH” próximo de 24. O grá co mostrado anteriormente indica que o HClO4 é um ácido mais forte que outros ácidos minerais. Valores de H0 para vários solventes fortemente ácidos são vistos na tabela a seguir. O ácido mais forte conhecido é o [CHB11Cl11]–H+, o qual contém uma gaiola icosaédrica do carborano O H+ está muito fracamente ligado ao Cl nas fases sólida e gasosa.13
Função de acidez de Hammett, H0, para soluções aquosas de ácidos. [Dados de R. A. Cox e K. Yates, “Acidity Functions,” Can. J. Chem. 1983, 61, 2225.]
Ânion carborano icosaédrico do [CHB11Cl11]–H+, o ácido mais forte conhecido.13 O ácido icosaédrico H2[B12Cl12] é o ácido diprótico mais forte conhecido. Ácido
Nome
H0
H2SO4 (100%)
ácido sulfúrico
–11,93
H2SO4 · SO3
ácido sulfúrico fumegante (oleum)
–14,14
HSO3F
ácido uorossulfúrico
–15,07
HSO3F + 10% SbF5
“superácido”
–18,94
HSO3F + 7% SbF5 · 3SO3
—
–19,35
TABELA 11-3
Indicador
Indicadores mais comuns Faixa de viragem (pH)
Cor em meio ácido
Cor em meio básico
Preparação
Violeta de metila
0,0–1,6
Amarelo
Violeta
0,05% m/m em H2O.
Vermelho de cresol
0,2–1,8
Vermelho
Amarelo
0,1 g em 26,2 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Azul de timol
1,2–2,8
Vermelho
Amarelo
0,1 g em 21,5 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Púrpura de cresol
1,2–2,8
Vermelho
Amarelo
0,1 g em 26,2 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Eritrosina, sal dissódico
2,2–3,6
Laranja
Vermelho
0,1% m/m em H2O
Alaranjado de metila
3,1–4,4
Vermelho
Amarelo
0,01% m/m em H2O
Vermelho do congo
3,0–5,0
Violeta
Vermelho
0,1% m/m em H2O
Azul de bromofenol
3,0–4,6
Amarelo
Azul
Alaranjado de etila
3,4–4,8
Vermelho
Amarelo
Verde de bromocresol
3,8–5,4
Amarelo
Azul
Vermelho de metila
4,8–6,0
Vermelho
Amarelo
0,02 g em 60 mL de etanol. Então adicione 40 mL de H2O.
Vermelho de clorofenol
4,8–6,4
Amarelo
Vermelho
0,1 g em 23,6 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Púrpura de bromocresol
5,2–6,8
Amarelo
Púrpura
0,1 g em 18,5 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
p-Nitrofenol
5,6–7,6
Incolor
Amarelo
0,1% m/m em H2O
Tornassol (Litmus)
5,0–8,0
Vermelho
Azul
0,1% m/m em H2O
Azul de bromotimol
6,0–7,6
Amarelo
Azul
0,1 g em 16,0 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Vermelho de fenol
6,4–8,0
Amarelo
Vermelho
0,1 g em 28,2 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
Vermelho neutro
6,8–8,0
Vermelho
Amarelo
0,01 g em 50 mL de etanol. Então adicione 50 mL de H2O.
Vermelho de cresol
7,2–8,8
Amarelo
Vermelho
Veja acima.
a-Naftolftaleína
7,3–8,7
Rosa
Verde
Púrpura de cresol
7,6–9,2
Amarelo
Púrpura
Veja acima.
Azul de timol
8,0–9,6
Amarelo
Azul
Veja acima.
Fenolftaleína
8,0–9,6
Incolor
Rosa
0,05 g em 50 mL de etanol. Então adicione 50 mL de H2O.
Timolftaleína
8,3–10,5
Incolor
Azul
0,04 g em 50 mL de etanol. Então adicione 50 mL de
0,1 g em 14,9 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O. 0,1% m/m em H2O 0,1 g em 14,3 mL de NaOH 0,01 M. Então adicione ~225 mL de H2O.
0,1 g em 50 mL de etanol. Então adicione 50 mL de H2O.
H2O. Amarelo de alizarina
10,1–12,0
Amarelo
Vermelho-alaranjado
0,01% m/m em H2O
Nitramina
10,8–13,0
Incolor
Marrom-alaranjado
0,1 g em 70 mL de etanol. Então adicione 30 mL de H2O.
Tropaeolina O
11,1–12,7
Amarelo
Laranja
0,1% m/m em H2O
Soluções alcalinas (por exemplo, solução de NaOH 0,1 M) devem ser protegidas da atmosfera; caso contrário, absorvem CO2:
O CO2, agindo por um certo tempo, muda a concentração de uma base forte e diminui o avanço da reação próximo ao ponto final, durante a titulação de ácidos fracos. Se as soluções são mantidas em frascos de polietileno bem fechados, elas podem ser usadas por cerca de uma semana sofrendo apenas pequenas variações. Soluções-padrão são normalmente armazenadas em frascos de polietileno de alta densidade contendo tampas rosqueadas. A evaporação do frasco muda lentamente a concentração do reagente. O fabricante de produtos químicos Sigma-Aldrich registra que uma solução aquosa estocada em um frasco bem tampado tem sua concentração elevada em 0,2% após 2 anos a 23oC e em 0,5% após 2 anos a 30oC. A inserção do frasco em um recipiente selado aluminizado reduziu a evaporação por um fator de 10. A lição a se tirar de tudo isso é que uma solução-padrão na bancada possui um tempo de vida finito.
TABELA 11-4
Padrões primários
Compostos
Massa especí ca (g/mL) para correções de empuxo
Observações
ÁCIDOS
1,64
O material comercial puro é seco a 105°C e usado para padronizar bases. A observação do ponto nal, utilizando-se fenolftaleína como indicador, é satisfatória.
Hidrogenoftalato de potássio MF 204,221
HCl
—
O HCl e a água destilam como um azeótropo (uma mistura) cuja composição (,6 M) depende da pressão. A composição é tabelada como uma função da pressão durante a destilação. Veja o Problema 10-56 para mais detalhes.
—
Esse é um ácido forte, então qualquer indicador com um ponto nal entre ~5 e ~9 é adequado.
1,27
Padrão primário para titulações em meios não aquosos em solventes como o etanol. Emprega-se um eletrodo de vidro para determinar o ponto nal.
—
1 mol do ácido sulfossalicílico, comercial, é misturado com 0,75 mol de KHCO3 grau analítico, recristalizado várias vezes em água e seco a 110°C para produzir o sal duplo com 3 íons K1 e um
Ácido clorídrico MF 36,461 KH(IO3)2 Hidrogenoiodato de potássio MF 389,912
Ácido benzoico MF 122,121
H1 tituláveis.14 A fenolftaleína é usada como indicador para a titulação com NaOH.
Ácido sulfossalicílico, sal duplo MF 550,639 2,15
O ácido sulfâmico é um ácido forte com um próton ácido, portanto, qualquer indicador com um ponto nal entre ~5 e ~9 é satisfatório.
BASES
H2NC(CH2OH)3
1,33
O material comercial puro é seco a 100-103°C e titulado com um ácido forte. O ponto nal se situa na faixa de pH 4,5-5.
11,1
HgO puro é dissolvido em um grande excesso de I– ou Br–, em consequência 2 OH– são liberados:
H3N1SO3– Ácido sulfâmico MF 97,094
Tris(hidroximetil)aminometano (também chamado de tris ou tham) MF 121,135 HgO Óxido mercúrico MF 216,59
A base é titulada, usando um indicador para determinar o ponto nal. Na2CO3
2,53
O Na2CO3, com pureza su ciente para ser considerado um padrão primário, é encontrado comercialmente. Uma outra possibilidade para se produzir Na2CO3 puro é através do aquecimento, por 1 h a 260°–270°C, do NaHCO3 recristalizado. O carbonato de sódio é titulado com ácido até um ponto nal em pH 4-5. Bem próximo ao ponto nal, a solução é aquecida à ebulição para expelir o CO2.
1,73
O material recristalizado é seco em um dessecador contendo uma solução aquosa saturada com NaCl e sacarose. Esse procedimento permite obter a forma decaidratada pura.15 O padrão é titulado com um ácido, utilizando-se vermelho de metila como indicador.
Carbonato de sódio MF 105,988 Na2B4O7 · 10H2O Bórax MF 381,372
Soluções fortemente básicas atacam o vidro e são mais bem conservadas em frascos plásticos. Tais soluções não devem ficar em uma bureta mais do que o tempo necessário. Ao fervermos uma solução de NaOH 0,01 M em um erlenmeyer durante 1 h, diminuímos sua molaridade em 10% devido à reação do OH– com o vidro.17
11-8
Análise de Nitrogênio pelo Método de Kjeldahl
Desenvolvida em 1883, a análise de nitrogênio de Kjeldahl é um dos métodos mais amplamente utilizados para a determinação de nitrogênio em substâncias orgânicas.18 As proteínas são os principais constituintes contendo nitrogênio na alimentação. A maioria das proteínas contém em torno de 16% m/m de nitrogênio, de sorte que a determinação de nitrogênio é um método substitutivo para a determinação de proteínas (Boxe 11-3). O outro método comum para determinar nitrogênio em alimentos é a análise por combustão (Seção 27-4). No método de Kjeldahl, a amostra é inicialmente digerida (decomposta e dissolvida) em ácido sulfúrico em ebulição para converter o nitrogênio amínico e amídico em íon amônio, NH4+, e oxidar outros elementos presentes:24 Cada átomo de nitrogênio no material desconhecido é convertido em um íon NH4+.
Os compostos de mercúrio, cobre e selênio catalisam o processo de digestão. Para acelerar a reação, eleva-se o ponto de ebulição do ácido sulfúrico (338°C) concentrado (98% m/m) pela adição de K2SO4. A digestão é feita em um balão de colo longo, o balão de Kjeldahl (Figura 11-10), que evita a perda de amostra devido a projeções durante a ebulição. Um procedimento de digestão alternativo emprega H2SO4 e H2O2 ou K2S2O8 e NaOH25 em uma bomba de digestão de micro-ondas (recipiente pressurizado, mostrado na Figura 28-7). Depois que a digestão é completa, alcaliniza-se a solução contendo NH+4 e o NH3 liberado é destilado (com um grande excesso de vapor) para um recipiente coletor contendo uma quantidade conhecida de HCl (Figura 11-11). (ou B(OH)3 em um procedimento diferente, mostrado no Problema 11-59).26 O excesso de HCl que não reagiu é titulado com NaOH padronizado para determinar o quanto de HCl foi consumido pelo NH3.
BOXE 11-3
Análise de Nitrogênio pelo Método de Kjeldahl: A Química por Trás da Manchete
Em 2007, cães e gatos de estimação na América do Norte começaram subitamente a morrer, aparentemente de insu ciência renal. Em poucas semanas a misteriosa doença foi rastreada levando aos alimentos para animais contendo ingredientes importados da China. Foi constatado que a melamina, utilizada na fabricação de plásticos, foi deliberadamente adicionada aos ingredientes dos alimentos, “em uma tentativa de cumprir exigências contratuais sobre o teor de proteína nos produtos”.19 O ácido cianúrico, usado para desinfecção de piscinas, também foi encontrado nos alimentos. A melamina sozinha não causa insu ciência renal, mas a combinação de melamina e ácido cianúrico promove a formação de um produto que leva à falência renal. Micro-organismos presentes no intestino podem transformar a melamina em ácido cianúrico.20
O que esses compostos têm a ver com proteínas? Nada – exceto que eles são ricos em nitrogênio. As proteínas, que contém ~16% m/m de nitrogênio, são a principal fonte de nitrogênio nos alimentos. A análise de nitrogênio pelo método de Kjeldahl é utilizada como uma medição substitutiva de proteínas em alimentos. Por exemplo, se o alimento contém 10% m/m de proteína, ele conterá ~16% de 10% = 1,6% m/m de nitrogênio. Se você mede 1,6% m/m de nitrogênio no alimento, poderia concluir que o alimento contém ~10, % m/m de proteína. A melamina contém 66,6% m/m de nitrogênio, quatro vezes mais do que em proteína. Adicionar 1% m/m de melamina ao alimento faz parecer que ele contém um adicional de 4% m/m de proteína. Fonte de proteína
% em massa de nitrogênio
carne
16,0
plasma sanguíneo
15,3
leite
15,6
farinha
17,5
ovo
14,9
Fonte: D. J. Holme e H. Peck, Analytical Biochemistry, 3rd ed. (New York: Addison Wesley Longman, 1998), p. 388.
Inacreditavelmente, no verão de 2008, cerca de 300.000 bebês chineses adoeceram e alguns apresentaram falência renal.21 Muitas empresas chinesas haviam diluído o leite com água e adicionado melamina para que o conteúdo de proteína parecesse normal. Os produtos feitos com o leite envenenado foram vendidos tanto no mercado interno quanto exportados. Em 2009, duas pessoas foram executadas por causa da participação na produção do leite adulterado. Em 2010, autoridades chinesas encontraram 40 t de leite em pó contendo melamina. Como resposta ao aparecimento da melamina em alimentos, pelo menos uma empresa desenvolveu um ensaio colorimétrico que distingue nitrogênio proteico de nitrogênio não proteico,22 e surgiram muitos métodos para a determinação de melamina em alimentos.23
Outro meio para determinação de nitrogênio em alimentos é o método de Dumas. Matéria orgânica misturada com CuO é aquecida sob CO2 a 650 a 700°C, produzindo CO2, H2O, N2 e óxidos de nitrogênio. Os produtos são carreados sob uxo de CO2 através de Cu aquecido para converter os óxidos de nitrogênio em N2. Os gases são borbulhados através de uma solução aquosa de KOH concentrado para capturar o CO2. O volume de N2 é determinado em uma bureta de gás. Esse método não distingue proteína de melamina.
FIGURA 11-10 (a) Balão de digestão de Kjeldahl com colo longo para minimizar as perdas devido a projeções durante a ebulição. (b) Digestor de seis lugares para múltiplas amostras provido de exaustão para vapores. [Cortesia da Labconco Corporation.]
Uma alternativa para a titulação ácido-base é neutralizar o ácido e aumentar o pH com um tampão, seguido por adição de reagentes que formem um produto colorido com o NH3.27 A absorbância do produto colorido fornece a concentração do NH3 formado na digestão.
FIGURA 11-11 Aparelhagem original usada pelo químico alemão J. Kjeldahl (1849-1900). [Veja em D. T. Burns, “Kjeldahl, the Man, the Method and the Carlsberg Laboratory”, Anal. Proc. (Royal Society of Chemistry) 1984, 21, 210. Johan Frederik Rosenstand, artista dinamarquês (1820-1887).]
EXEMPLO
Análise de Kjeldahl
Uma proteína típica contém 16,2% m/m de nitrogênio. Uma alíquota de 0,500 mL de uma solução de proteína foi digerida, e o NH3 liberado foi destilado para um frasco contendo 10,00 mL de uma solução de HCl 0,021 40 M. O HCl que não reagiu consumiu 3,26 mL de uma solução de NaOH 0,019 8 M para a sua titulação completa. Determine a concentração de proteína (mg de proteína/mL) na amostra original. Solução A quantidade inicial de HCl no frasco coletor era de (10,00 mL)·(0,021 40 mmol/mL) = 0,214 0 mmol. O NaOH necessário para a titulação do HCl que não reagiu na Reação 11-11 foi de (3,26 mL)(0,019 8 mmol/mL) = 0,064 5 mmol. A diferença, 0,214 0 – 0,064 5 5 0,149 = mmol, será igual à quantidade de NH3 produzida na Reação 11-9 e destilada para o HCl. Como 1 mmol de nitrogênio na proteína forma 1 mmol de NH3, deve haver 0,149 = mmol de nitrogênio na proteína, correspondendo a
Se a proteína contém 16,2% m/m de N, tem que existir
TESTE A VOCÊ MESMO Determine a concentração de proteína, em mg/mL, se fossem consumidos 3,00 mL da solução de NaOH. (Resposta: 26,7 mg/mL) 11-9
O Efeito Nivelador
O ácido mais forte que pode existir em água é o H3O+, e a base mais forte é OH–. Se um ácido mais forte que H3O+ é dissolvido em água, ele protona a H2O para produzir H3O+. Se uma base mais forte que o OH– é dissolvida em água, ela desprotona a H2O para produzir OH–. Devido a esse efeito nivelador, o HClO4 e o HCl comportam-se como se tivessem a mesma força ácida; ambos são nivelados ao H3O+:
As constantes de equilíbrio para essas duas reações são grandes. O HClO4 e o HCl são ambos convertidos em H3O+.
FIGURA 11-12 Titulação de uma mistura de ácidos com hidróxido de tetrabutilamônio usando-se metilisobutilcetona como solvente. Conforme se vê, a ordem da força ácida é HClO4 > HCl > ácido 2-hidroxibenzoico > ácido acético > hidroxibenzeno. As medidas foram feitas com um eletrodo de vidro e um eletrodo de platina como referência. Os valores na ordenada são proporcionais ao pH, e o potencial se torna mais positivo à medida que o pH aumenta. [Dados de D. B. Bruss e G. E. A. Wyld, “Methyl Isobutyl Ketone as a Wide-Range Solvent for Titration of Acid Mixtures and Nitrogen Bases”, Anal. Chem. 1957, 29, 232.]
Questão Onde você acha que aparecerá na Figura 11-12 o ponto nal para o ácido H3O+ClO4–? Resposta: H3O+ ClO4– provavelmente se situará entre o HCl e o ácido 2-hidroxibenzoico porque o ácido é H3O+.
Utilizando ácido acético como solvente, que é menos básico que a H2O, o HClO4 e o HCl não são nivelados à mesma força: Em solução de ácido acético, o HClO4 se comporta como um ácido mais forte que o HCl; mas, em solução aquosa, esses dois ácidos têm a sua acidez nivelada à força do H3O+.
As constantes de equilíbrio para as duas reações são pequenas. Entretanto, a constante de equilíbrio para o HClO4 reagindo com o CH3CO2H é 104 vezes maior do que a constante de equilíbrio para o HCl reagindo com o CH3CO2H. Esses equilíbrios indicam que o HClO4 é um ácido mais forte que o HCl em ácido acético como solvente. A Figura 11-12 mostra uma curva de titulação para uma mistura de cinco ácidos titulados com solução de hidróxido de tetrabutilamônio 0,2 M usando-se metilisobutilcetona como solvente. Esse solvente não é protonado em grande extensão por nenhum dos ácidos. Vemos que o ácido perclórico é um ácido mais forte que o HCl nesse solvente. Considere agora uma base, como a ureia, (H2N)2C=O (Kb = 1,3 × 10214), que seja muito fraca para apresentar um ponto final de titulação bem definido quando titulada com um ácido forte em água.
A razão pela qual o ponto final não pode ser reconhecido é que a constante de equilíbrio para a reação de titulação não é suficientemente grande. Se for utilizado um ácido mais forte que H3O+, a reação de titulação pode ter uma constante de equilíbrio suficientemente grande, de modo a obter-se um ponto final bem definido. Se a mesma base for dissolvida em ácido acético e titulada com solução de HClO4 em ácido acético, pode ser observado um ponto final bastante nítido. A reação
Uma base que seja muito fraca para ser titulada por H3O+ pode ser titulada por HClO4, utilizando-se o ácido acético como solvente. A constante dielétrica é discutida no Problema 8-14.
poderá ter uma constante de equilíbrio grande, porque o HClO4 é um ácido muito mais forte que o H3O+. (O produto nessa reação é descrito como um par iônico, pois, como a constante dielétrica do ácido acético é muito pequena, a separação entre os íons não é suficientemente grande para que eles possam ser considerados como íons livres.) Muitas titulações que não podem ser feitas em água são perfeitamente factíveis em outros solventes.28 Compostos que podem ser protonados em acetonitrila pelo ácido perclórico mais ácido acético, CH3C(OH)21ClO4–:
Na eletroforese (Capítulo 26), os íons são separados por suas diferentes mobilidades em um campo elétrico. Os compostos mostrados na margem ao lado são bases tão fracas que não podem ser protonadas em solução aquosa e, portanto, não podem ser convertidas em espécies carregadas para eletroforese em meio aquoso. Entretanto, em acetonitrila anidra como solvente, elas são protonadas pelo HClO4 em anidrido acético e podem ser separadas na forma de cátions.29
11-10
Cálculo de Curvas de Titulação por Meio de Planilhas Eletrônicas
O experimento 10, “Ajustando uma Curva de Titulação com Excel”, no GEN-IO, Ambiente de Aprendizagem do Grupo GEN, utiliza equações desenvolvidas nesta seção.
O estudo deste capítulo é essencial para compreendermos os fenômenos químicos presentes nas titulações. Entretanto, as aproximações que usamos até agora têm valor limitado quando as concentrações são muito diluídas, ou as constantes de equilíbrio não são muito grandes, ou os valores de Ka são muito próximos entre si, como os de uma proteína. Nesta seção desenvolvemos equações para lidar com titulações de uma maneira geral, mediante o uso de planilhas eletrônicas.30 Titulação de um Ácido Fraco com uma Base Forte Considere a titulação de um volume Va do ácido HA (concentração inicial Ca) com um volume Vb de NaOH de concentração Cb. O balanço de carga para essa solução é Balanço de carga: e a concentração de Na+ é exatamente
porque diluímos CbVb moles de NaOH a um volume total de Va + Vb. Da mesma maneira, a concentração formal do ácido fraco é
porque diluímos CaVa moles de HA para um volume total de Va + Vb. Agora vamos usar as equações de composição fracionária da Seção 10-5. A concentração de A– pode ser escrita em termos de aA–, definida na Equação 10-18:
αA– = fração do ácido na forma A–:
em que αA– = Ka/([H+] + Ka), sendo Ka a constante de dissociação ácida do HA. Substituindo [Na+] e [A–] no balanço de carga, temos
que pode ser reescrita na forma
ϕ = CbVb/CaVa é a fração da titulação em relação ao ponto de equivalência:
ϕ
Volume de base
0,5
Vb = Ve
1
Vb = Ve
2
Vb = 2Ve
Finalmente, obtemos a Equação 11-13. Esta equação é muito útil, pois relaciona o volume de titulante (Vb) ao pH e a um grupo de constantes. A grandeza f, que é o quociente CbVb/CaVa, é a fração da titulação em relação ao ponto de equivalência, Ve. Quando ϕ = 1, o volume da base adicionado, Vb, é igual a Ve. A Equação 11-13 funciona de maneira inversa ao procedimento que
estamos acostumados a adotar, pois é necessário substituir o valor do pH na equação (à direita) para obter o volume (à esquerda). Repetindo: Substituímos um valor de concentração de H+ e obtemos o volume de titulante que produz essa concentração. Vamos montar uma planilha eletrônica para usar a Equação 11-13 e calcular a curva de titulação de 50,00 mL de uma solução do ácido fraco MES 0,020 00 M com uma solução de NaOH 0,100 0 M, mostrada na Figura 11-2 e na Tabela 11-2. O volume de equivalência é Ve = 10,00 mL. Usamos as grandezas na Equação 11-13 da seguinte maneira:
Ácido 2-(N-morfolino)etanossulfônico MES, pKa = 6,27
A entrada para a planilha eletrônica na Figura 11-13 é o pH na coluna B e o resultado é Vb na coluna G. A partir do pH, os valores de [H+], [OH–] e αA– são calculados nas colunas C, D e E. A Equação 11-13 é usada na coluna F para determinar a fração da titulação, ϕ. A partir desse valor, calculamos o volume de titulante, Vb, na coluna G. Como sabemos qual o valor de pH que devemos entrar? O método da tentativa e erro nos permite encontrar o pH inicial. Entramos com um valor de pH e observamos se Vb é positivo ou negativo. Após algumas tentativas, chegamos facilmente ao pH em que Vb = 0. Na Figura 11-13, vemos que um pH igual a 3,90 é muito baixo, pois ϕ e V são negativos. Procuramos trabalhar com valores de pH de entrada tão próximos quanto forem necessários para termos uma curva de titulação suave. Devido às limitações de espaço, mostramos apenas alguns pontos na Figura 11-13, incluindo o ponto médio (pH 6,27 ⇒ Vb = 5,00 mL) e o ponto final (pH 9,25 ⇒ Vb = 10,00 mL). Essa planilha eletrônica reproduz a Tabela 11-2 sem aproximações, a não ser a de desprezar os coeficientes de atividade. Ela fornece resultados corretos mesmo quando as aproximações usadas na Tabela 11-2 não são satisfatórias. Na Figura 11-13, podemos usar a função ATINGIR META do Excel, descrita na Seção 8-5, para variar o valor do pH na célula B5 até que o valor de Vb, na célula G5, seja zero.
FIGURA 11-13 Planilha eletrônica utilizando a Equação 11-13 para calcular a curva de titulação de 50 mL do ácido fraco MES 0,02 M (pKa = 6,27), titulado com NaOH 0,1 M. Fornecemos um valor de pH como entrada na coluna B, e a planilha nos diz qual o volume de base necessário para produzir esse valor de pH.
Titulação de um Ácido Fraco com uma Base Fraca Consideremos agora a titulação de Va mL do ácido HA (concentração inicial Ca) com Vb mL de uma base B cuja concentração é Cb. Considere que a constante de dissociação ácida de HA seja Ka e a constante de dissociação ácida do BH+ seja KBH+ O balanço de carga é Balanço de carga: Como antes, podemos dizer que [A–] = αA · FHA, em que αA = Ka/([H+] + Ka) e FHA = CaVa/(Va + Vb). Podemos escrever uma expressão análoga para [BH+], um ácido fraco monoprótico. Se o ácido for HA, usaremos a Equação 10-17 para obter
em que Ka se aplica ao ácido HA. Para o ácido fraco BH+, escrevemos
αHA = fração do ácido na forma HA:
onde a concentração formal da base é FB = CbVb(Va + Vb). Substituindo [BH+] e [A–] no balanço de carga, temos
αBH+ = fração do ácido na forma BH+:
que pode ser reescrita para obtermos o seguinte resultado útil
A Equação 11-14 para uma base fraca se assemelha à Equação 11-13 para uma base forte, com a exceção de que αBH+ substitui o valor 1 do denominador. A Tabela 11-5 apresenta uma série de equações deduzidas escrevendo-se um balanço de carga para a reação da titulação e substituindo-se as composições fracionárias para várias concentrações. Para a titulação do ácido diprótico, H2A, ϕ é a fração da titulação em relação ao primeiro ponto de equivalência. Quando ϕ = 2, estamos no segundo ponto de equivalência. Não devemos nos surpreender quando ϕ = 0,5, pH ≈ pK1, e quando ϕ = 1,5, pH ≈ pK2. Quando ϕ = 1, temos a forma intermediária HA– e pH ≈ (pK1 + pK2).
TABELA 11-5
Equações de titulação para planilhas eletrônicas
CÁLCULO DE ϕ
Titulação de um ácido forte com uma base forte
Titulação de ácido fraco (HA) com uma base forte
Titulação de uma base forte com um ácido forte
Titulação de uma base fraca (B) com um ácido forte
Titulação de um ácido fraco (HA) com uma base fraca (B)
Titulação de uma base fraca (B) com um ácido fraco (HA)
Titulação de H2A com uma base forte (→ → A2–)
Titulação de H3A com uma base forte (→ → → A3–)
Titulação de uma dibase B com um ácido forte (→ → BH22+)
Titulação de uma tribase B com um ácido forte (→ → → BH33+)
SíMBOLOS
ϕ = fração da titulação em relação ao primeiro ponto de equivalência
α = grau de dissociação do ácido ou grau de associação da base
Ca = concentração inicial de ácido
Va = volume de ácido
Cb = concentração inicial de base
Vb = volume de base
CÁLCULO DE α
Sistemas monopróticos
SíMBOLOS Ka = constante de dissociação ácida de HA KBH+ = constante de dissociação ácida de BH+ (= Kw/Kb)
Sistemas dipróticos
Símbolos K1 e K2 para o ácido são as constantes de dissociação ácida do H2A e do HA–, respectivamente. K1 e K2 para a base referem-se às constantes de dissociação ácida do BH22+ e do BH+, respectivamente. K1 = Kw/Kb2; K2 = Kw/Kb1. SISTEMAS TRIPRóTICOS
Termos Importantes análise de nitrogênio de Kjeldahl efeito nivelador erro do indicador faixa de transição função de acidez de Hammett gráfico de Gran indicador
Resumo Equações fundamentais usadas para calcular curvas de titulação: Titulação de ácido forte/base forte H+ + OH– → H2O O pH é determinado pela concentração do excesso de H+ ou OH– que não reagiu Ácido fraco titulado com OH–
HA + OH– → A– + H2O (Ve = volume de equivalência) (Vb = volume de base adicionado) Vb = 0: pH determinado por 0 < Vb < Ve: pH = pKa + log([A–]/[HA]) pH = pKa quando Vb = Ve (desprezando-se as atividades) Em Vc: o pH é encontrado por Após Ve: o pH é determinado pelo excesso de OH2 Base fraca titulada com H+ B + H+ ⇌ BH+ (Ve = volume de equivalência) (Va = volume de base adicionado) Va = 0: o pH é determinado por 0 < Va < Ve: pH = pKBH+ + log([B]/[BH+]) pH = pKBH+ quando Va =
Ve
Em Vc: o pH é encontrado por KBH+ Após Ve: o pH é determinado pelo excesso de H+ H2A titulado com OH– Volumes equivalentes: Ve2 = 2Ve1 Vb = 0: o pH é determinado por pH = pK1 quando Vb =
Ve1
Ve1
Após Ve2: pH é determinado pelo excesso de OH2 Comportamento das derivadas nos pontos de equivalência Primeira derivada: ΔpH/ΔV tem a maior magnitude Segunda derivada: Δ(ΔpH/ΔV)/ΔV = 0 Gráfico de Gran Representa-se graficamente Vb · 10–pH contra Vb Interseção com o eixo x em x = Ve; coeficiente angular = 2KaγHA/γA2 Ka = constante de dissociação do ácido γ = coeficiente de atividade Escolhendo um indicador: A faixa de transição de cor deverá ter o pH compatível com Ve. Preferencialmente, a mudança de cor deverá ocorrer inteiramente dentro da região onde se observa a inflexão da curva de titulação. Análise de nitrogênio de Kjeldahl: Um composto orgânico contendo nitrogênio é digerido em H2SO4 fervente na presença de um catalisador. O nitrogênio é convertido em NH4+, que por sua vez é convertido em NH3 na presença de uma base, sendo destilado para uma solução de HCl padronizada. O excesso de HCl que não reagiu nos informa quanto de nitrogênio estava presente no analito original.
Exercícios 11-A. Calcule o pH, em cada um dos pontos, na titulação de 50,00 mL de uma solução de NaOH 0,010 0 M com uma solução de HCl 0,100 M. Volumes de ácido adicionados: 0,00; 1,00; 2,00; 3,00; 4,00; 4,50; 4,90; 4,99; 5,00; 5,01; 5,10; 5,50; 6,00; 8,00 e 10,00 mL. Faça um gráfico do pH contra o volume de HCl adicionado.
11-B. Calcule o pH para a titulação de 50,0 mL de uma solução de ácido fórmico 0,050 0 M com uma solução de KOH 0,050 0 M. Os pontos para o cálculo são Vb = 0,0; 10,0; 20,0; 25,0; 30,0; 40,0; 45,0; 48,0; 49,0; 49,5; 50,0; 50,5; 51,0; 52,0; 55,0 e 60,0 mL. Faça um gráfico do pH contra Vb. 11-C. Calcule o pH para a titulação de 100,0 mL de uma solução de cocaína 0,100 M (Seção 9-4, Kb = 2,6 × 10–6) com uma solução de HNO3 0,200 M. Os pontos para o cálculo são Va = 0,0; 10,0; 20,0; 25,0; 30,0; 40,0; 49,0; 49,9; 50,0; 50,1; 51,0 e 60,0 mL. Faça um gráfico do pH contra Va. 11-D. Considere a titulação de 50,0 mL de uma solução de ácido malônico 0,050 0 M com uma solução de NaOH 0,100 M. Calcule o pH em cada ponto dado a seguir e esboce a curva de titulação: Vb = 0,0; 8,0; 12,5; 19,3; 25,0; 37,5; 50,0 e 56,3 mL. 11-E. Escreva as reações químicas (incluindo as estruturas dos reagentes e produtos) que ocorrem quando o aminoácido histidina é titulado com ácido perclórico. (A histidina é uma molécula sem carga líquida.) Uma solução contendo 25,0 mL de uma solução de histidina 0,050 0 M foi titulada com uma solução de HClO4 0,050 0 M. Calcule o pH nos seguintes valores de Va: 0; 4,0; 12,5; 25,0; 26,0 e 50,0 mL. 11-F. Selecione a partir da Tabela 11-3 alguns indicadores que poderão ser utilizados para as titulações nas Figuras 11-1 e 11-2 e para a curva na Figura 11-3 com pKa = 8. Selecione um indicador diferente para cada titulação e estabeleça que mudança de cor você usará como ponto final. 11-G. Quando 100,0 mL de uma solução de um ácido fraco foram titulados com uma solução de NaOH 0,093 81 M, foram necessários 27,63 mL dessa solução de NaOH para atingir o ponto de equivalência. O pH no ponto de equivalência foi de 10,99. Qual era o pH quando tinham sido adicionados apenas 19,47 mL da solução de NaOH? 11-H. Uma solução 0,100 M de um ácido fraco HA foi titulada com uma solução de NaOH 0,100 M. O pH medido quando Vb = Ve foi de 4,62. Usando coeficientes de atividade, calcule o pKa. O tamanho do ânion A– é de 450 pm. 11-I.
Determinação do ponto final a partir de medidas de pH. Os pontos nas vizinhanças do segundo ponto final aparente
na Figura 11-5 estão listados na tabela a seguir. Vb (μL)
pH
Vb (μL)
pH
107,0
6,921
117,0
7,878
110,0
7,117
118,0
8,090
113,0
7,359
119,0
8,343
114,0
7,457
120,0
8,591
115,0
7,569
121,0
8,794
116,0
7,705
122,0
8,952
(a) Construa uma planilha ou uma tabela análoga à Figura 11-6 mostrando as derivadas primeira e segunda. Plote ambas as derivadas em relação a Vb e localize o ponto final em cada gráfico. (b) Prepare um gráfico de Gran análogo ao da Figura 11-8. Utilize o método de mínimos quadrados para encontrar a melhor reta e determine o ponto final. Você terá que utilizar seu senso crítico para escolher quais os pontos que pertencem à “reta”. 11-J. Erro do indicador. Considere a titulação na Figura 11-2, na qual o pH no ponto de equivalência na Tabela 11-2 é 9,25 em um volume de 10,00 mL. (a) Suponha que você utilize a transição de amarelo para azul do indicador azul de timol para encontrar o ponto final. De acordo com a Tabela 11-3, o último vestígio de verde desaparece próximo ao pH 9,6. Que volume de base é necessário para atingir o pH 9,6? A diferença entre esse volume e 10 mL é o erro do indicador. (b) Se você utilizar o vermelho de cresol, com uma mudança de cor em pH 8,8, qual será o erro do indicador? 11-K. Espectrofotometria com indicadores.* Indicadores ácido-base são por si só ácidos ou bases. Considere um indicador, HIn, que se dissocia de acordo com a equação
A absorbância molar, ∊, é 2 080 M21 cm21 para HIn e 14 200 M21 cm21 para In–, no comprimento de onda de 440 nm.
(a) Escreva uma expressão para a absorbância de uma solução contendo HIn na concentração de [HIn] e In– na concentração de [In–]. Admita que o comprimento da célula (o caminho óptico) é de 1,00 cm. A absorbância total é a soma das absorbâncias de todos os componentes. (b) Uma solução contendo o indicador na concentração formal de 1,84 × 10–4 M teve o seu pH ajustado em 6,23, e exibe uma absorbância de 0,868 a 440 nm. Calcule o pKa para esse indicador.
Problemas Titulação de um Ácido Forte com uma Base Forte 11-1. Estabeleça a distinção entre os termos ponto final e ponto de equivalência. 11-2. Considere a titulação de 100,0 mL de uma solução de NaOH 0,100 M com uma solução de HBr 1,00 M. Determine o pH nos volumes de ácido adicionados que são dados a seguir, e faça um gráfico do pH contra Va: Va = 0; 1; 5; 9; 9,9; 10; 10,1 e 12 mL. 11-3. Por que uma curva de titulação ácido-base (pH contra mililitros de titulante) possui uma mudança abrupta no ponto de equivalência? Titulação de Ácido Fraco com Base Forte 11-4. Esboce a aparência geral da curva da titulação de um ácido fraco com uma base forte. Explique (em palavras) qual o mecanismo químico que controla a variação do pH em cada uma das quatro regiões distintas da curva. 11-5. Por que não é prático titular um ácido, ou uma base, que seja muito fraco ou muito diluído? 11-6. Um ácido fraco HA (pKa = 5,00) foi titulado com uma solução de KOH 1,00 M. A solução do ácido tinha um volume de 100,0 mL e uma molaridade de 0,100 M. Determine o pH para os volumes adicionados de base que são dados a seguir e faça um gráfico de pH contra Vb: Vb = 0; 1; 5; 9; 9,9; 10; 10,1 e 12 mL. 11-7. Considere a titulação do ácido fraco HA com NaOH. Em que fração do Ve teremos pH = pKa – 1? Em que fração do Ve teremos pH = pKa + 1? Utilize esses dois pontos, mais Vb = 0, Ve, Ve e 1,2Ve, para esboçar a curva de titulação para a reação de 100 mL de uma solução de brometo de anilínio 0,100 M (“aminobenzeno·HBr”) com uma solução de NaOH 0,100 M. 11-8. Qual é o pH no ponto de equivalência quando uma solução de ácido hidroxiacético 0,100 M é titulada com uma solução de KOH 0,050 0 M? 11-9. Encontre a constante de equilíbrio para a reação do MES (Tabela 8-2) com NaOH. 11-10. Quando 22,63 mL de uma solução aquosa de NaOH são adicionados a 41,37 mL de água contendo 1,214 g de ácido cicloexilaminoetanossulfônico (MF 207,29, estrutura na Tabela 8-2), o pH resultante é de 9,24. Calcule a molaridade da solução de NaOH. 11-11.
Use coeficientes de atividade para calcular o pH após a titulação de 10,0 mL de uma solução de brometo de
trimetilamônio 0,100 M com 4,0 mL de uma solução de NaOH 0,100 M. Titulação de Base Fraca com Ácido Forte 11-12. Esboce o aspecto geral da curva para a titulação de uma base fraca com um ácido forte. Explique (em palavras) quais os aspectos químicos que controlam a variação de pH em cada uma das quatro regiões distintas da curva. 11-13. Por que o pH do ponto de equivalência é necessariamente abaixo de 7 quando uma base fraca é titulada com um ácido forte? 11-14. Uma alíquota de 100,0 mL de uma solução 0,100 M de uma base fraca B (pKb = 5,00) foi titulada com uma solução de HClO4 1,00 M. Determine o pH nos volumes de ácido adicionados que são vistos a seguir e faça um gráfico do pH contra Va: Va = 0; 1; 5; 9; 9,9; 10; 10,1 e 12 mL. 11-15. Em que ponto na titulação de uma base fraca com um ácido forte a capacidade máxima de tamponamento é atingida? Esse é o ponto em que uma dada pequena adição de ácido causa uma variação mínima no pH. 11-16. Qual é a constante de equilíbrio para a reação entre benzilamina e HCl? 11-17. Uma solução contendo 50,0 mL de benzilamina 0,031 9 M foi titulada com uma solução de HCl 0,050 0 M. Calcule o pH nos seguintes volumes de ácido adicionado: Va = 0; 12,0; Ve; 30,0; Ve e 35,0 mL. 11-18. Calcule o pH de uma solução preparada pela mistura de 50,00 mL de uma solução de NaCN 0,100 M com: (a) 4,20 mL de uma solução de HClO4 0,438 M (b) 11,82 mL de uma solução de HClO4 0,438 M
(c) Qual é o pH no ponto de equivalência com uma solução de HClO4 0,438 M? Titulações em Sistemas Dipróticos 11-19. Esboce o aspecto geral da curva para a titulação de um ácido diprótico fraco com NaOH. Explique (com palavras) quais os aspectos químicos que controlam a variação do pH em cada região distinta da curva. 11-20. O gráfico visto a seguir mostra a curva de titulação para uma proteína contendo 124 aminoácidos com 16 substituintes básicos e 20 substituintes ácidos. A curva é suave sem mudanças abruptas perceptíveis porque 29 grupos são titulados no intervalo de pH indicado no gráfico. Os 29 pontos finais estão tão próximos uns dos outros que praticamente o que se vê é uma subida uniforme. O ponto isoiônico é o pH da proteína pura desprovida de íons, exceto H+ e OH–. O ponto isoelétrico é o pH no qual a carga média da proteína é zero. A molécula está carregada positivamente, negativamente ou está neutra em seu ponto isoiônico? Explique como se pode obter essa informação.
Titulacao acido.base da enzima ribonuclease. [Dados de C. T. Tanford e J. D. Hauenstein, “Hydrogen Ion Equilibria of Ribonuclease”, J.Am.Chem. Soc. 1956, 78, 5287.]
11-21. A base Na+A–, cujo ânion é dibásico, foi titulada com HCl, obtendo-se a curva b na Figura 11-4. O ponto H, o primeiro ponto de equivalência, é o ponto isoelétrico ou o ponto isoiônico? 11-22. A figura a seguir faz uma comparação entre a titulação de um ácido fraco monoprótico com uma base fraca monoprótica e a titulação de um ácido diprótico com uma base forte.
(a) Titulação de 100 mL de uma solução de H2A 0,050 M (pK1 = 2,86, pK2 = 10,64) com uma solução de NaOH 0,050 M. (b) Titulação de 100 mL de uma solução do ácido fraco HA (0,050 M, pKa = 2,86) com uma solução da base fraca B (0,050 M, pKb = 3,36).
(a) Escreva a reação entre o ácido fraco e a base fraca e mostre que a constante de equilíbrio é 107,78. Esse valor grande significa que a reação está “completa” após cada adição de reagente. (b) Por que o pK2 intercepta a curva superior em Ve e a curva inferior em 2Ve? Na curva inferior, “pK2” é pKa para o ácido BH+. 11-23. O composto dibásico B (pKb1 = 4,00, pKb2 = 8,00) foi titulado com uma solução de HCl 1,00 M. A solução inicial de B tinha a concentração igual a 0,100 M e um volume de 100,0 mL. Determine o pH nos volumes de ácido adicionado que são dados a seguir e faça um gráfico do pH contra Va: Va = 0; 1; 5; 9; 10; 11; 15; 19; 20 e 22 mL. 11-24. Uma alíquota de 100,0 mL de uma solução do ácido diprótico H2A 0,100 M (pK1 = 4,00, pK2 = 8,00) foi titulada com uma solução de NaOH 1,00 M. Determine o pH nos volumes de base adicionados que são vistos a seguir e faça um gráfico do pH contra Vb: Vb = 0; 1; 5; 9; 10; 11; 15; 19; 20 e 22 mL. 11-25. Calcule o pH em intervalos de 10,0 mL (de 0 a 100 mL) na titulação de 40,0 mL de uma solução de piperazina 0,100 M com uma solução de HCl 0,100 M. Faça um gráfico do pH contra Va. 11-26. Calcule o pH quando 25,0 mL de uma solução de 2-aminofenol 0,020 0 M são titulados com 10,9 mL de uma solução de HClO4 0,015 0 M. 11-27. Considere a titulação de 50,0 mL de uma solução de glicinato de sódio 0,100 M (H2NCH2CO2Na) com uma solução de HCl 0,100 M. (a) Calcule o pH no segundo ponto de equivalência. (b) Mostre que nosso método aproximado de cálculo fornece valores incorretos (fisicamente não razoáveis) de pH em Va = 90,0 e Va = 101,0 mL. 11-28. Uma solução contendo ácido glutâmico 0,100 M (uma molécula sem carga líquida) foi titulada com uma solução de RbOH 0,025 0 M. (a) Trace as estruturas dos reagentes e dos produtos. (b) Calcule o pH no primeiro ponto de equivalência. 11-29. Determine o pH da solução quando uma solução de tirosina 0,010 0 M é titulada até o ponto de equivalência com uma solução de HClO4 0,004 00 M. 11-30. Esse problema envolve o aminoácido cisteína, que abreviaremos como H2C. (a) Uma solução 0,030 0 M foi preparada pela dissolução de cisteína dipotássica, K2C, em água. Então 40,0 mL dessa solução foram titulados com uma solução de HClO4 0,060 0 M. Calcule o pH no primeiro ponto de equivalência. (b) Calcule o quociente [C2–]/[HC–] em uma solução de brometo de cisteínio 0,050 0 M (o sal é H3C+Br–).
11-31. Quantos gramas de oxalato dipotássico (MF 166,22) devem ser adicionadas a 20,0 mL de uma solução de HClO4 0,800 M para dar um pH de 4,40 quando a solução é diluída a 500 mL? 11-32. Quando 5,00 mL de uma solução de NaOH 0,103 2 M são adicionados a 0,112 3 g de alanina (MF 89,093), em 100,0 mL de uma solução de KNO3 0,10 M, o pH medido foi de 9,57. Usando coeficientes de atividade, calcule o pK2 para a alanina. Considere a força iônica da solução como de 0,10 M e cada forma iônica da alanina como possuindo um coeficiente de atividade de 0,77. Determinação do Ponto Final com um Eletrodo de pH 11-33. Para que se usa um gráfico de Gran? 11-34. Os dados da titulação de 100,00 mL de uma solução de um ácido fraco por uma solução de NaOH são dados a seguir. Determine o ponto final preparando um gráfico de Gran, usando os últimos 10% do volume anterior ao Ve. mL de NaOH
pH
mL de NaOH
pH
mL de NaOH
pH
0,00
4,14
20,75
6,09
22,70
6,70
1,31
4,30
21,01
6,14
22,76
6,74
2,34
4,44
21,10
6,15
22,80
6,78
3,91
4,61
21,13
6,16
22,85
6,82
5,93
4,79
21,20
6,17
22,91
6,86
7,90
4,95
21,41
6,22
23,01
6,98
13,46
5,35
21,51
6,25
23,11
7,11
15,50
5,50
21,61
6,27
23,17
7,20
16,92
5,63
21,77
6,32
23,21
7,30
18,00
5,71
21,93
6,37
23,30
7,49
18,35
5,77
22,10
6,42
23,32
7,74
18,95
5,82
22,27
6,48
23,40
8,30
19,43
5,89
22,37
6,53
22,46
9,21
19,93
5,95
22,48
6,58
23,55
9,86
20,48
6,04
22,57
6,63
11-35. Prepare um gráfico de derivada segunda para determinar o ponto final a partir dos dados de titulação que são vistos a seguir. mL de NaOH
pH
mL de NaOH
pH
mL de NaOH
pH
10,679
7,643
10,725
6,222
10,750
4,444
10,696
7,447
10,729
5,402
10,765
4,227
10,713
7,091
10,733
4,993
10,721
6,700
10,738
4,761
Determinação do Ponto Final por Meio de Indicadores 11-36. Explique a origem da regra prática que diz que a mudança de cor de um indicador ocorre em pKHIn ± 1. 11-37. Por que em uma titulação considera-se que a escolha correta de um indicador é feita quando ele muda de cor próximo ao ponto de equivalência?
11-38. O pH de vesículas microscópicas, compartimentos existentes dentro de células vivas, pode ser estimado pela infusão de um indicador (HIn) dentro dos compartimentos e pela medida espectrofotométrica do quociente [In–]/[HIn] correspondente. Explique como esse procedimento permite determinar o pH. 11-39. Escreva a fórmula de um composto com um pKa negativo. 11-40. Considere a titulação na Figura 11-2, para a qual o pH no ponto de equivalência é calculado como 9,25. Se o azul de timol é usado como indicador, que cor será observada durante a maior parte da titulação antes do ponto de equivalência? E no ponto de equivalência? E após o ponto de equivalência? 11-41. Que cor você espera observar para o indicador púrpura de cresol (Tabela 11-3) nos seguintes valores de pH? (a) 1,0; (b) 2,0; (c) 3,0. 11-42. O vermelho de cresol possui duas faixas de transição, que podem ser vistas na Tabela 11-3. Que cor você espera que ele tenha nos seguintes valores de pH? (a) 0; (b) 1; (c) 6; (d) 9. 11-43. O indicador verde de bromocresol, com uma faixa de viragem entre pH 3,8 e 5,4, sempre pode ser usado na titulação de um ácido fraco com uma base forte? 11-44. (a) Qual é o pH no ponto de equivalência quando uma solução de NaF 0,030 0 M é titulada com uma solução de HClO4 0,060 0 M? (b) Por que provavelmente não podemos utilizar um indicador para indicar o ponto final dessa titulação? 11-45. Uma curva de titulação para uma solução de NaCO3 titulado com uma solução de HCl é mostrada a seguir. Suponha que tanto a fenolftaleína quanto o verde de bromocresol estejam presentes na solução da titulação. Estabeleça que cores você espera observar após os seguintes volumes adicionados de HCl: (a) 2 mL; (b) 10 mL; (c) 19 mL.
11-46. Na determinação de nitrogênio pelo método de Kjeldahl, o produto final é uma solução do íon NH4+ em HCl. É necessário titular o HCl sem titular o íon NH4+? (a) Calcule o pH de uma solução de NH4Cl 0,010 M. (b) Selecione um indicador que permita titular o HCl, sem titular o NH4+. 11-47. Uma amostra de 10,231 g de um produto de limpeza para vidros contendo amônia foi diluída com 39,466 g de água. Então, 4,373 g dessa solução foram titulados com 14,22 mL de uma solução de HCl 0,106 3 M para atingir o ponto final, usandose o verde de bromocresol como indicador. Determine a porcentagem em massa de NH3 (MF 17,031) no produto de limpeza. 11-48. Um procedimento para determinar a alcalinidade (Boxe 10-1) da água de piscina consiste em titular um certo volume dessa água com um certo número de gotas de solução de H2SO4 padrão para atingir o ponto final utilizando verde de bromocresol como indicador.31 Explique o que é determinado nessa titulação e porque o verde de bromocresol foi o indicador escolhido. Notas Práticas, Análise de Kjeldahl e o Efeito de Nivelamento 11-49. Dê a fórmula e o nome de um padrão primário usado para padronizar (a) HCl e (b) NaOH.
11-50. O que é mais exato: usar um padrão primário com um equivalente-massa alto (a massa necessária para fornecer ou consumir 1 mol de H+) ou um com um equivalente-massa baixo? 11-51. Explique por que se usa o hidrogenoftalato de potássio para padronizar uma solução de NaOH. 11-52. Uma solução foi preparada a partir de 1,023 g do padrão primário tris (Tabela 11-4) mais 99,367 g de água. 4,963 g dessa solução foram titulados com 5,262 g de uma solução aquosa de HNO3 para atingir o ponto final, utilizando-se o vermelho de metila como indicador. Calcule a concentração da solução de HNO3 (expressa em mol de HNO3/kg de solução). 11-53. A balança diz que você pesou 1,023 g de tris para padronizar uma solução de HCl. Usando a correção de empuxo da Seção 2-3 e a massa específica da Tabela 11-4, quantos gramas foram realmente pesados? O volume de HCl necessário para reagir com o tris foi 28,37 mL. A correção de empuxo introduz um erro aleatório ou sistemático na molaridade calculada do HCl? Qual é a magnitude do erro expressa como porcentagem? A molaridade calculada do HCl é maior ou menor que a molaridade real? 11-54. Uma solução foi preparada dissolvendo-se 0,194 7 g de HgO (Tabela 11-4) em 20 mL de água contendo 4 g de KBr. Sua titulação com HCl necessitou de 17,98 mL para atingir o ponto final, utilizando-se fenolftaleína como indicador. Calcule a molaridade da solução de HCl. 11-55. Quantos gramas de hidrogenoftalato de potássio devem ser pesados em um frasco para padronizar uma solução de NaOH ~0,05 M se você quer usar ~30 mL da base para a titulação? 11-56. Uma solução aquosa de HCl de ponto de ebulição constante pode ser usada como um padrão primário para titulações ácido-base. Quando uma solução de HCl ~20% m/m (MF 36,461) é destilada, a composição do destilado varia de maneira regular com a pressão barométrica, conforme a tabela a seguir: P (Torr)
HCla (g/100 g de solução)
770
20,196
760
20,220
750
20,244
740
20,268
730
20,292
a. A composição do destilado é de C. W. Foulk e M. Hollingsworth, J. Am. Chem. Soc. 1923, 45, 1223, com valores corrigidos para os valores atuais de massas atômicas. (a) Faça um gráfico dos dados da tabela para determinar a porcentagem em massa do HCl coletado a 746 torr. (b) Que massa de destilado (pesado ao ar, usando-se pesos cuja massa específica é igual a 8,0 g/mL) deve ser dissolvida em 1,000 0 L para obter uma solução de HCl 0,100 00 M? A massa específica do destilado em toda a faixa da tabela é próxima a 1,096 g/mL. Você precisa dessa massa específica para transformar a massa medida no vácuo na massa medida ao ar. Veja a Seção 2-3 para as correções de empuxo. 11-57. (a)Incerteza na massa formal. Em uma titulação gravimétrica de extrema precisão, a incerteza na massa formal do padrão primário pode contribuir para a incerteza do resultado. Leia sobre a incerteza na massa molar no apêndice B. Expresse a massa fórmula do hidrogenoftalato de potássio, C8H5O4K, com seu intervalo de confiança a 95%, baseado em uma distribuição retangular de incertezas das massas atômicas com um fator de coberturas K=2. (b) Incerteza sistemática na pureza de um reagente. O fabricante de hidrogenoftalato de potássio diz que a pureza é 1,000 00 6 0,000 05. Na ausência de mais informações, admitimos que a distribuição da incerteza é retangular. Que incerteza-padrão você utilizaria para a pureza desse reagente? 11-58. O procedimento de Kjeldahl foi utilizado para analisar 256 mL de uma solução contendo 37,9 mg proteína/mL. O NH3 liberado foi coletado em 5,00 mL de uma solução 0,033 6 M de HCl e o ácido remanecente consumiu 6,34 mL de solução 0,010 M de NaOH para titulação completa. Qual a porcentagem em massa de nitrogênio na proteína? 11-59. No método de Kjeldahl, uma alternativa para o aprisionamento do NH3 em HCl é recolhê-lo em solução aquosa de ácido bórico, B(OH)3, a ~4% em massa. Isso permite obter uma mistura em equilíbrio de NH4+, NH3, B(OH)3, BO(OH)2– (borato) e poliboratos, incluindo triborato (B3O3(OH)4–), tetraborato (B4O5(OH)42–) e pentaborato (B5O6(OH)4–).26 Essa mistura é então tratada com HCl-padrão até um ponto final em pH ~3,8, medido com um eletrodo de pH. Uma vantagem do uso de ácido bórico é que apenas um reagente-padrão (HCl) é necessário em vez de dois (HCl e NaOH). O procedimento com ácido bórico consome menos tempo e é menos dispendioso do que o método descrito no texto.
Destilação do NH3 em B(OH)3:
Titulação com HCl-padrão:
(a) O procedimento de Kjeldahl foi utilizado para analisar 256 μL de uma solução contendo 37,9 mg de proteína/mL. O NH3 liberado foi coletado em ~5 mL de B(OH)3 a ~4% em massa, e a solução resultante consumiu 8,28 mL de HCl 0,050 M para titulação. A reação C consumiu 1 H+ para cada NH3 nas reações A e B. Qual é a porcentagem em massa de nitrogênio na proteína? (b) Admita que 5,00 mL de B(OH)3 a 4% em massa (massa específica 1,00 g/mL, MF 61,84) foram tratados com 0,414 mmol de NH3 sem variação no volume. Se a reação A ao completar produz 0,414 mmol de B(OH)4– mais o B(OH)3 restante que não reagiu, qual será o pH? Não leve em consideração a reação B para essa questão. (c) No pH do item (b), que fração da amônia não é protonada? O NH3 pode evaporar a partir da solução de aprisionamento porque parte dele não se encontra protonado. (d) Determine a constante de equilíbrio para a reação A. 11-60. O que se quer dizer com efeito nivelador? 11-61. Considerando os valores de pKa, apresentados a seguir,32 explique por que soluções diluídas de metóxido de sódio (NaOCH3) e etóxido de sódio (NaOCH2CH3) são niveladas à mesma força básica em solução aquosa. Escreva as reações químicas que ocorrem quando essas bases são adicionadas à água.
11-62. A base B é muito fraca para ser titulada em solução aquosa. (a) Que solvente, piridina ou ácido acético, deve ser mais apropriado para a titulação de B com HClO4? Por quê? (b) Que solvente deve ser mais apropriado para a titulação de um ácido muito fraco com hidróxido de tetrabutilamônio? Por quê? 11-63. Explique por que o amideto de sódio (NaNH2) e o fenil lítio (C6H5Li) são nivelados à mesma força básica em solução aquosa. Escreva as reações químicas que ocorrem quando eles são adicionados à água. 11-64. A piridina se protona apenas pela metade em solução aquosa com um tampão fosfato de pH 5,2. Se misturamos 45 mL de tampão fosfato com 55 mL de metanol, o tampão deve ter um pH igual a 3,2 para protonar pela metade a piridina. Explique por quê. Cálculo de Curvas de Titulação por Meio de Planilhas Eletrônicas 11-65. Deduza a equação seguinte para a titulação de uma solução de hidrogenoftalato de potássio (K+HP–) com uma solução de NaOH:
11-66.
Efeito do pKa na titulação de um ácido fraco com uma base forte. Utilize a Equação 11-13 para calcular e plotar a
família de curvas do lado esquerdo da Figura 11-3. Para um ácido forte, escolha um Ka grande, como Ka = 102 ou pKa = –2. 11-67.
Efeito da concentração na titulação de um ácido fraco com uma base forte. Use a planilha eletrônica do Problema
10-66 para obter uma família de curvas de titulação para pKa = 6 com as seguintes combinações de concentrações: (a) Ca = 20 mM, Cb = 100 mM; (b) Ca = 2 mM, Cb = 10 mM; (c) Ca = 0,2 mM, Cb = 1 mM.
11-68.
Efeito do pKb na titulação de uma base fraca com um ácido forte. Utilizando a equação apropriada na Tabela 11-5,
prepare uma planilha eletrônica para calcular e plotar uma família de curvas análogas à da parte esquerda da Figura 11-3 para a titulação de 50,0 mL de uma solução de B 0,020 0 M (pKb = –2,00; 2,00; 4,00, 6,00, 8,00 e 10,00) com uma solução de HCl 0,100 M. (O valor de pKb = –2,00 representa uma base forte.) Na expressão para aBH+, KBH+ = Kw/Kb. 11-69.
Titulação de um ácido fraco com uma base fraca.
(a) Utilize uma planilha eletrônica para preparar uma família de gráficos para a titulação de 50,0 mL de uma solução de HA 0,020 0 M (pKa = 4,00) com uma solução de B 0,100 M (pKb = 3,00; 6,00 e 9,00). (b) Escreva as reações ácido-base que ocorrem quando ácido acético e benzoato de sódio (o sal do ácido benzoico) são misturados e determine a constante de equilíbrio para a reação. Determine o pH de uma solução preparada pela mistura de 212 mL de uma solução de ácido acético 0,200 M com 325 mL de uma solução de benzoato de sódio 0,050 0 M. 11-70.
Titulação de um ácido diprótico com uma base forte. Use uma planilha eletrônica para preparar uma família de
gráficos para a titulação de 50,0 mL de uma solução de H2A 0,020 0 M com uma solução de NaOH 0,100 M. Considere os seguintes casos: (a) pK1 = 4,00, pK2 = 8,00; (b) pK1 = 4,00, pK2 = 6,00; (c) pK1 = 4,00, pK2 = 5,00. 11-71.
Titulação da nicotina com um ácido forte. Prepare uma planilha eletrônica para reproduzir a curva inferior na Figura
11-4. 11-72.
Titulação de um ácido triprótico com uma base forte. Prepare uma planilha eletrônica para fazer um gráfico da
titulação de 50,0 mL de uma solução de histidina · 2HCl 0,020 0 M com uma solução de NaOH 0,100 M. Trate a histidina·2HCl com a equação de ácido triprótico na Tabela 11-5. 11-73.
Um sistema tetraprótico. Escreva uma equação para a titulação de uma base tetrabásica com um ácido forte (B + H+
→ → → → BH44+. Você pode fazer isso examinando a Tabela 11-5 ou pode deduzi-la a partir do balanço de carga para a reação da titulação. Utilize uma planilha eletrônica para fazer um gráfico da titulação de 50,0 mL de uma solução de pirofosfato de sódio 0,020 0 M (Na4P2O7) com uma solução de HClO4 0,100 M. O pirofosfato é o ânion do ácido pirofosfórico. Usando a Lei de Beer com Indicadores* 11-74. As propriedades espectrofotométricas de um determinado indicador são dadas a seguir:
Uma solução com um volume de 20,0 mL contendo o indicador em uma concentração 1,40 × 10–5 M mais o ácido benzeno-1,2,3tricarboxílico 0,050 0 M foi tratada com 20,0 mL de uma solução aquosa de KOH. A solução resultante tem uma absorbância, a 604 nm, de 0,118 em uma célula com 1,00 cm de caminho óptico. Calcule a molaridade da solução de KOH. 11-75. Um certo indicador ácido-base existe em três formas coloridas:
As absorbâncias molares, ∊, estão expressas em M–1 cm–1. Uma solução contendo 10,0 mL do indicador em uma concentração 5,00 × 10–4 M foi misturada com 90,0 mL de uma solução de tampão fosfato 0,1 M (pH 7,50). Calcule a absorbância dessa solução a 435 nm em uma célula com 1,00 cm de caminho óptico.
Procedimento-padrão: Preparação de Padrões de Ácido e de Base Solução-Padrão de NaOH 0,1 M 1. Com a antecedência de 1 dia, prepare uma solução aquosa de NaOH 50% m/m, de modo que algum Na2CO3 que se forme possa precipitar durante a noite. (O Na2CO3, que se forma nessas condições, permanece insolúvel em solução.) A solução deve
ser armazenada em um frasco de polietileno bem fechado e retirada com cuidado para não perturbar o material precipitado. A massa específica da solução é próxima de 1,50 g/mL. 2. Seque o hidrogenoftalato de potássio (padrão primário) em estufa a 110°C por 1 h e armazene em um dessecador.
3. Ferva 1 L de água por 5 min para expelir o CO2. A água deve ser vertida em um frasco de polietileno, que deve ser mantido bem fechado sempre que for possível. Calcule o volume de NaOH 50% m/m (,5,3 mL) necessário para produzir 1 L de NaOH ~0,1 M. Faça a transferência da solução de NaOH para o frasco de polietileno por meio de uma proveta graduada. Misture bem a solução e espere que essa alcance a temperatura ambiente (de preferência durante a noite). 4. Pese quatro porções de ~0,51 g de hidrogenoftalato de potássio e dissolva cada uma em ~25 mL de água destilada, em um erlenmeyer (ou béquer) de 125 mL. Cada amostra vai consumir ~25 mL de NaOH 0,1 M. Adicione 3 gotas de solução do indicador fenolftaleína (Tabela 11-3) e titule uma das soluções rapidamente para encontrar o ponto final aproximado. A entrada de ar da bureta deve ser fechada com uma tampa ajustada suavemente de modo a minimizar a absorção de CO2. 5. Calcule o volume de NaOH necessário para titular cada uma das outras três amostras e titule-as cuidadosamente. Durante cada titulação, incline e gire periodicamente o erlenmeyer, de modo a transferir o líquido das paredes para a solução. Próximo ao ponto final, libere menos de 1 gota de titulante de cada vez. Para isso, mantenha suspensa, na ponta da bureta, parte de uma gota e encoste a gota na parede do frasco. O líquido adicionado deve ser transferido para o seio da solução inclinando e girando o erlenmeyer. O ponto final corresponde ao primeiro aparecimento de uma coloração rosa, que permanece por 15 s. A cor acaba evanescendo devido ao CO2 proveniente do ar que entra na solução. 6. Calcule o valor da molaridade média (x–), seu respectivo desvio-padrão (s) e o desvio-padrão relativo (s/x–). Se todo o procedimento foi feito com os devidos cuidados, o desvio-padrão relativo deve ser , 0,2%. Solução-Padrão de HCl 0,1 M 1. A tabela nas guardas ao final deste livro nos informa que 8,2 mL de HCl ~37% m/m devem ser adicionados a 1 L de água para produzir uma solução de HCl ~0,1 M. Prepare essa solução em um frasco de polietileno que possa ser bem fechado, adicionando o HCl concentrado por meio de uma proveta graduada. 2. Seque por 1 h em estufa a 110°C Na2CO3 com grau de padrão primário; após o aquecimento, o material deve ser esfriado em um dessecador. 3. Pese quatro amostras contendo Na2CO3 suficiente para reagir com ~25 mL de HCl 0,1 M que são transferidos a partir de uma bureta, colocando as amostras em erlenmeyers de 125 mL. Antes de titular cada amostra, dissolva-a em ~25 mL de água destilada.
Adicione 3 gotas de solução do indicador verde de bromocresol (Tabela 11-3) e titule uma das amostras rapidamente até a cor verde, determinando-se assim, aproximadamente, o ponto final da titulação. 4. Titule, cuidadosamente, cada uma das outras três amostras, até o ponto em que ocorre a viragem de azul para verde. Ferva a solução de modo a expelir o CO2. A solução deve tornar-se novamente azul. Adicione, cuidadosamente, HCl, a partir da bureta, de modo a restabelecer a cor verde na solução. 5. Titule um branco preparado a partir de 3 gotas do indicador e 50 mL de NaCl 0,05 M. Subtraia o valor do volume obtido para o branco dos valores usados para titular o Na2CO3. 6. Calcule para o ácido HCl o valor de sua molaridade, o desvio-padrão e o desvio-padrão relativo.
______________ *Este problema é baseado na lei de Beer, Seção 18-2. *Estes problemas sao baseados na lei de Beer, Secao 18-2.
TERAPIA DE QUELAÇÃO E TALASSEMIA
As estruturas mostram o complexo de ferro-ferrioxamina B e a estrutura cristalina do composto relacionado, a ferrioxamina E, no qual o quelato apresenta uma estrutura cíclica. O grá co mostra o sucesso de transfusões e transfusões mais terapia de quelação. [Estruturas cristalinas gentilmente cedidas por M. Neu, Los Alamos National Laboratory, baseadas em informações de D. Van der Helm e M. Poling, J. Am. Chem. Soc. 1976, 98, 82. Grá co de P. S. Dobbin e R. C. Hider, “Iron Chelation Therapy”, Chem. Br. 1990, 26, 565.] O oxigênio (O2) no sistema circulatório humano está ligado ao ferro na proteína hemoglobina, que consiste em dois pares de subunidades, designadas α e β. A β-talassemia aguda é uma doença genética na qual as subunidades b da hemoglobina não são sintetizadas em quantidades adequadas. Crianças acometidas por essa doença conseguem sobreviver somente por meio de frequentes transfusões de células sanguíneas vermelhas normais. Entretanto, as crianças acumulam de 4 a 8 g de ferro por ano, provenientes das células das transfusões. O organismo humano não dispõe de um mecanismo para eliminar essas grandes quantidades de ferro, e a maioria dos pacientes que recebem transfusões morre por volta dos 20 anos por causa dos efeitos tóxicos dessa sobrecarga de ferro. Um ligante que se conecta a um íon metálico por meio de múltiplos átomos ligantes é denominado quelato. A terapia de quelação aumenta a excreção do ferro de pacientes com talassemia. O medicamento com maior sucesso é a desferrioxamina B, produzido pelo micro-organismo Streptomyces pilosus.1 Seu complexo com o Fe31, chamado ferrioxamina B, tem uma constante de formação de 1030,6. Usada conjuntamente com o ácido ascórbico (vitamina C), que reduz o Fe31 à forma mais solúvel Fe2+, a desferrioxamina consegue retirar vários gramas de ferro por ano de um paciente em estado de sobrecarga. O complexo de Fe31 é eliminado na urina. Nos pacientes para os quais a desferrioxamina é efetiva, há uma proporção de 91% de pacientes que conseguem sobreviver sem complicações cardíacas após 15 anos de terapia.2 Altas doses desse medicamento caro podem causar distúrbios de crescimento em crianças. A desferrioxamina é um medicamento caro e deve ser administrado continuamente por infusão subcutânea de cinco a sete noites por semana. Ela não é absorvida pelo intestino. Vários quelantes de ferro potentes foram testados na tentativa de se encontrar um composto efetivo que pudesse ser administrado por via oral, mas poucos entraram na prática clínica.3 O agente quelante deferiprona, introduzido em 1987, e administrado oralmente, é utilizado em mais de 50 países (mas não está licenciado nos EUA nem no Canadá), com efeitos positivos relatados. O uso combinado da desferrioxamina e da deferiprona aumenta a sobrevida e reduz a incidência de doenças cardíacas em comparação com o tratamento apenas com a
desferrioxamina. Outro agente quelante, administrado oralmente, chamado deferasirox foi aprovado para uso nos EUA em 2005. A busca contínua por novos quelantes indica que não se dispõe ainda de um tratamento inteiramente efetivo. A longo prazo, os transplantes de medula óssea ou a terapia genética podem curar essa doença.
FIGURA 12-1 O EDTA forma fortes complexos na proporção de 1:1, com a maioria dos íons metálicos. A complexação se faz por meio dos quatro átomos de oxigênio e dos dois átomos de nitrogênio. A geometria hexacoordenada do Mn31-EDTA, encontrada no composto KMnEDTA · 2H2O, foi determinada por cristalografia de raios X. [Dados de J. Stein, J. P. Fackler, Jr., G. J. McClune, J. A. Fee e L. T. Chan, “Reactions of Mn-EDTA and MnCyDTA Complexes with O2–: X-Ray Structure of KMnEDTA · 2H2O”, Inorg. Chem. 1979, 18, 3511.]
A
denominação EDTA é uma abreviatura prática para o ácido etilenodiaminotetra-acético, um composto muito usado em análise quantitativa, que forma complexos estáveis com a maioria dos íons metálicos na proporção de 1:1 (metal:EDTA) (Figura 12-1). A principal aplicação prática do EDTA é como agente complexante capaz de se ligar fortemente a íons metálicos, sendo usado em diferentes processos industriais e em vários produtos de uso diário, como detergentes, produtos de limpeza e aditivos que impedem a oxidação de alimentos catalisada por íons metálicos. Os complexos metal-EDTA também estão se tornando importantes para o ambiente. Por exemplo, a maior parte do níquel descartado na Baía de San Francisco, EUA, e uma fração significativa do ferro, do chumbo, do cobre e do zinco, são complexos com EDTA que passam livremente pelas estações de tratamento de águas residuárias.
12-1
Complexos Metal-Quelato
Os íons metálicos são ácidos de Lewis, ou seja, substâncias capazes de receber pares de elétrons provenientes das bases de Lewis, que são ligantes doadores de elétrons. O íon cianeto (CN–) é denominado ligante monodentado, pois se liga a um íon metálico por meio de apenas um átomo (o átomo de carbono). A grande maioria dos íons de metais de transição se liga a seis átomos ligantes. Um ligante multidentado (“com muitos dentes”), ou ligante quelante,4 é aquele que se liga a um íon metálico por meio de mais de um átomo ligante. Um ligante quelante com uma estrutura simples é o 1,2-diaminoetano, H2 CH2CH2 H2 (também chamado etilenodiamina). Na margem ao lado, vemos como esse ligante pode se ligar com um íon metálico. Dizemos que a etilenodiamina é um ligante bidentado, pois ela se liga ao metal por meio de dois átomos ligantes.
O efeito quelato é a capacidade de ligantes multidentados formarem complexos metálicos mais estáveis que os formados por ligantes monodentados5,6 que tenham estrutura semelhante. Por exemplo, a reação do Cd(H2O)61 com duas moléculas de etilenodiamina é mais favorecida que a sua reação com quatro moléculas de metilamina:
A nomenclatura referente às constantes de formação (K e b) foi discutida no Boxe 6-2. Embora tenhamos representado isômeros trans dos complexos octaédricos (com ligantes H2O em oposição), podemos ter também a formação de isômeros cis (com ligantes H2O adjacentes entre si).
FIGURA 12-2 (a) Estrutura do trifosfato de adenosina (ATP), com os átomos ligantes coloridos. (b) Possível estrutura de um complexo metal-ATP; o metal M possui quatro ligações com o ATP e duas ligações com ligantes H2O.
Em pH 12, na presença de etilenodiamina 2 M e de metilamina 4 M, o quociente [Cd(etilenodiamina)22+]/[Cd(etilodiamina]421] é igual a 30. Um importante ligante tetradentado é o trifosfato de adenosina (sigla inglesa, ATP), que se liga a íons metálicos divalentes (como o Mg2+, Mn21, Co21 e Ni21) por quatro dos seus seis pontos de coordenação (Figura 12-2). A quinta e sexta posições são ocupadas por moléculas de água. A forma biologicamente ativa do ATP é, normalmente, o complexo de Mg2+. Os complexos metal-quelante são ubíquos em biologia. Bactérias, como Escherichia coli e Salmonella enterica, presentes em seu intestino excretam um poderoso quelante de ferro chamado enterobactina (Figura 12-3) para capturar o ferro essencial para o crescimento bacteriano. O complexo ferro-enterobactina é reconhecido em sítios específicos da superfície celular da bactéria e transportado para seu interior. O ferro é então liberado dentro da bactéria pela decomposição enzimática do quelato. Para combater a infecção bacteriana, seu sistema imunológico produz uma proteína, chamada siderocalina, para capturar e desativar a enterobactina.7 A abertura deste capítulo descreve uma importante aplicação médica dos quelatos. Os ácidos aminocarboxílicos da Figura 12-4 são agentes quelantes sintéticos. Os átomos de nitrogênio (N) da amina e os átomos de oxigênio (O) da carboxila são os átomos ligantes em potencial nessas moléculas (Figuras 12-5 e 12-6). Quando essas moléculas se ligam a um íon metálico, os átomos ligantes perdem seus prótons. Uma aplicação médica do ligante DPTA na Figura 12-4 é ilustrada pelo complexo com fortes ligações Gd3+-DPTA, injetado no corpo humano em uma concentração de –0,5 mM para produzir um contraste nas imagens de ressonância magnética.8 Agentes de contraste contendo gadolínio são usados em diagnósticos médicos em quantidades suficientemente elevadas para os complexos de gadolínio serem observados intactos em rios e na flora a jusante de estações de tratamento de esgoto.9
FIGURA 12-3 Complexo Fe(III)-enterobactina. Certas bactérias secretam enterobactina para capturar o ferro e trazê-lo para o interior da célula. A enterobactina é um dos muitos quelantes conhecidos – denominados sideróforos – liberados por microorganismos para capturar o ferro. [Dados de R. J. Abergel, J. A. Warner, D. K. Shuh and K. N. Raymond, “Enterobactin Protonation e Iron Release”, J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 8920.]
FIGURA 12-4 Estruturas de vários agentes quelantes usados em química analítica. O ácido nitrilotriacético (sigla inglesa: NTA) tende a formar complexos 2:1 com íons metálicos (ligante:metal), enquanto os outros quelantes formam complexos 1:1.
FIGURA 12-5 Estrutura do íon Fe(NTA)32– no sal Na3[Fe(NTA)2] · 5H2O. O ligante da direita liga-se ao Fe por meio de três átomos de O e um átomo de N. O outro ligante se liga por dois átomos de O e um átomo de N. O terceiro grupo carboxila presente não se encontra coordenado. O átomo de Fe é heptacoordenado. [Dados de W. Clegg, A. K. Powell e M. J. Ware, “Structure of Na3[Fe(NTA)2] · 5H2O”, Acta Crystallogr. 1984, C40, 1822.]
FIGURA 12-6 Estrutura do Fe(DTPA)22, encontrado no sal Na2[Fe(DTPA)] · 2H2O. A geometria de coordenação bipirâmide pentagonal heptacoordenada do átomo de ferro envolve três átomos de N e dois átomos de O ligantes no plano equatorial (linhas tracejadas) e dois átomos de O ligantes axiais. Os comprimentos da ligação axial Fe—O são de 11 a 19 pm menores que os comprimenos das ligações equatoriais Fe—O, localizadas em um ambiente de coordenação mais agregado. Um dos grupos carboxílicos do ligante não se encontra coordenado. [Dados de D. C. Finnen, A. A. Pinkerton, W. R. Dunham, R. H. Sands e M. O. Funk, Jr., “Structures and Spectroscopic Characterization of Fe(III)-DTPA Complexes”, Inorg. Chem. 1991, 30, 3960.] Um mol de EDTA reage com um mol de íon metálico.
12-2
EDTA
Uma titulação complexométrica é uma titulação que se fundamenta na formação de complexos. Além do NTA, os outros ligantes na Figura 12-4 formam complexos 1:1 estáveis com praticamente todos os íons metálicos, exceto com íons monovalentes, como o Li1, o Na+ e o K1. A estequiometria é 1:1, independentemente da carga no íon. O EDTA é, sem sombra de dúvida, o agente de complexação mais usado em química analítica. Em geral todos os elementos da tabela periódica podem ser determinados quantitativamente pelo EDTA pela titulação direta ou por uma sequência de reações indiretas. Propriedades Ácido-Base O EDTA é um sistema hexaprótico, simbolizado por H6Y2+. Na figura a seguir, os átomos de hidrogênio em destaque são ácidos e são removidos para a formação de complexos metálicos.
Os primeiros quatro valores de pK correspondem aos prótons da carboxila e os dois últimos aos prótons dos grupos amônio. O ácido neutro é tetraprótico, com a fórmula H4Y. H4Y pode ser seco a 140°C por 2 h e usado como um padrão primário. Ele pode ser dissolvido adicionando-se solução de NaOH proveniente de um recipiente plástico. Não se deve empregar solução de NaOH oriunda de um frasco de vidro porque ela contém metais alcalino terrosos lixiviados do vidro. O reagente de uso geral, o sal dissódico Na2H2Y · 2H2O, contém cerca de ~0,3% de excesso de água. Ele pode ser usado nessa forma com uma correção apropriada para a massa de excesso de água ou então seco até a composição Na2H2Y · 2H2O a 80°C.10 O material de referência certificado CaCO3 pode ser usado para padronizar o EDTA ou então verificar a composição do EDTA padronizado. A Figura 12-7 apresenta a fração de EDTA em cada uma de suas formas protonadas. Da mesma forma que na Seção 10-5, podemos definir um valor de a para cada espécie como a fração de EDTA que se encontra na forma correspondente. Por exemplo, αY4– é definido como
FIGURA 12-7
Diagrama de composição fracionária para o EDTA.
em que [EDTA] é a concentração total de todas as espécies de EDTA livres em solução. Como “livre” nos referimos ao EDTA que não se encontra complexado por íons metálicos. Seguindo a mesma metodologia da Seção 12-5, podemos deduzir que αY4– é dado por
em que D = [H+]6 + [H+]5K1 + [H+]4K1K21 [H+]3K1K2K3 + [H+]–K1K2K3K4 + [H+]K1K2K3K4K5 + K1K2K3K4K5K6. A Tabela 12-1 apresenta os valores de αY4– como função do pH.
TABELA 12-1
Valores de αY4– para o EDTA, a 25°C e μ = 0,10 M
pH
αY4–
0
1,3 × 10–23
1
1,4 × 10–18
2
2,6 × 10–14
3
2,1 × 10–11
4
3,0 × 10–9
5
2,9 × 10–7
6
1,8 × 10–5
7
3,8 × 10–4
8
4,2 × 10–3
9
0,041
10
0,30
11
0,81
12
0,98
13
1,00
14
1,00
EXEMPLO
Qual o Signi cado de aγ4–?
A fração de todo EDTA livre na forma Y4– é denominada αY4–. Em pH 6,00, em uma concentração formal de 0,10 M, a composição de uma solução de EDTA é
Determine o valor de αY4–. Solução αY4– é a fração na forma Y4–:
TESTE A VOCÊ MESMO: Em que pH αY4– é 0,50? (Resposta: pH = pK6 = 10,37)
Questão A partir da Figura 12-7, qual espécie apresenta a maior concentração em pH 6? E em pH 7? E em pH 11? Complexos com EDTA A constante de equilíbrio para a reação de um metal com um ligante é chamada constante de formação, Kf, ou constante de estabilidade:
Observe que o valor de Kf para um complexo com EDTA é definido em termos da espécie Y4– reagindo com o íon metálico. A constante de equilíbrio poderia ser definida em termos de quaisquer das outras seis formas de EDTA, presentes em solução. A
Equação 12-5 não pode ser interpretada considerando-se que apenas a espécie Y4– reage com os íons metálicos. A Tabela 12-2 mostra que os valores das constantes de formação para a maioria dos complexos de EDTA são muito grandes e tendem a ser ainda maiores quanto maiores forem as cargas positivas dos cátions.
TABELA 12-2
Constantes de formação de complexos metal-EDTA
Íon
log Kr
Íon
log Kr
Íon
log Kr
Li+
2,95
V3+
25,9a
Tl3+
35,3
Na+
1,86
Cr3+
23,4a
Bi3+
27,8a
K+
0,8
Mn3+
25,2
Ce3+
15,93
Be3+
9,7
Fe3+
25,+
Pr3+
16,30
Mg3+
8,79
CO31
41,4
Nd3+
16,3+
Ca3+
10,65
Zr3+
29,3
Pm3+
16,9
Sr3+
8,72
Hf3+
29,5
Sm3+
17,06
Ba3+
7,88
VO3+
18,7
Eu3+
17,25
Ra3+
7,4
VO3+
15,5
Gd3+
17,35
Se3+
23,1a
Ag
7,20
Tb3+
17,87
Y3+
18,08
Tl+
6,3+
Dy3+
18,30
La3+
15,36
Pd3+
25,6a
Ho3+
18,56
V3+
12,7a
Zn3+
16,5
Er3+
18,89
Cr3+
13,6a
Cd3+
16,5
Tm3+
19,32
Mn3+
13,89
Hg3+
21,5
Yb3+
19,49
Fe3+
14,30
Sn3+
18,3b
Lu3+
19,74
CO21
16,45
Pb3+
18,0
Th3+
23,2
Ni3+
18,4
Al3+
16,4
U3+
25,7
Cu3+
18,78
Ga3+
21,7
Ti3+
21,3
In3+
24,9
NOTA: A constante de estabilidade é a constante de equilíbrio para a reação Mn+ Y4– ⇌ MYn – 4. Os valores na tabela são válidos a 25 °C e para uma força iônica de 0,1 M, a menos que algo seja dito em contrário. a. 20°C, força iônica = 0,1 M. b. 20°C, força iônica = 1 M. FONTE: A. E. Martell, R. M. Smith e R. J. Motekaitis, NIST Critically Selected Stability Constants of Metal Complexes, NIST Standard Reference Database 46, Gaithersburg, MD, 2001.
FIGURA 12-8 Geometria do Fe(EDTA)(H2O)– heptacoordenado. Entre outros íons metálicos que formam complexos heptacoordenados com EDTA incluem-se os íons Fe2+, Mg2+, Cd2+, Co2+, Mn2+, Ru3+, Cr3+, Co3+, V3+, Ti3+, In3+, Sn4+, Os4+ e Ti4+. Alguns desses mesmos íons também formam complexos hexacoordenados com o EDTA. Complexos octacoordenados são formados pelos íons Ca2+, Er3+, Yb3+ e Zr4+. [Dados de T. Mizuta, J. Wang e K. Miyoshi, “A 7-Coordinate Structure of Fe(III)-EDTA”, Bull. Chem. Soc. Japan 1993, 66, 2547.]
Em muitos complexos de metais de transição, como se vê na Figura 12-1, o EDTA envolve completamente o íon metálico, formando uma espécie hexacoordenada. Ao tentarmos construir um modelo molecular de um complexo metal-EDTA hexacoordenado, observamos que existe uma tensão considerável sobre os anéis do quelato. Essa tensão é aliviada quando os oxigênios ligantes são orientados para trás, em direção aos átomos de nitrogênio. Tal distorção torna acessível uma sétima posição de coordenação, que pode ser ocupada por uma molécula de água, como pode ser visto na Figura 12-8. Em alguns complexos, tais como Ca(EDTA) (H2O)22+, o íon metálico é tão grande que acomoda oito átomos ligantes.11 Íons metálicos maiores requerem mais átomos ligantes. A constante de formação para complexos onde a espécie H2O funciona como ligante pode ainda ser expressa pela Equação 12-5. A relação permanece válida, pois o solvente (H2O) não participa do quociente reacional. Os lantanídios e actinídios apresentam normalmente um número de coordenação 9, com a forma de um prisma trigonal triencapuzado (Figura 12-9).12 O Eu(III) forma complexos mistos do tipo Eu(EDTA)(NTA) no qual o EDTA provê seis átomos ligantes e o NTA fornece três átomos ligantes (Figura 12-4).13
FIGURA 12-9 Estrutura prismática trigonal triencapuzada de muitos complexos de Ln(III) e An(III), onde Ln é um elemento lantanídio e An é um elemento actinídio. No M(H2O)93+, as ligações entre o metal e seis átomos de oxigênio nos vértices do prisma são mais curtas do que as ligações do metal com os três átomos de oxigênio que se projetam para além das faces retangulares.
Constante de Formação Condicional
A constante de formação Kf = [MYn – 4]/[Mn+][Y4–] descreve a reação entre o Y4– e um íon metálico. Como se pode ver na Figura 12-7, a maior parte do EDTA em pH menor que 10,37 não está na forma Y4–. As espécies HY3–, H2Y2– e assim sucessivamente predominam em valores de pH mais baixos. A partir da definição αY4– = [Y4–]/[EDTA], podemos expressar a concentração de Y4– como [Y4–] = αY4–[EDTA] em que [EDTA] refere-se à concentração total de todas as espécies de EDTA não ligadas a um íon metálico. A constante de formação pode ser agora reescrita como
Apenas uma pequena parte do EDTA livre está na forma Y4–.
Se o pH for fixado em determinado valor por meio de um tampão, então αY4– é uma constante que pode ser combinada com Kf:
A expressão Kf′ = αY4–Kf recebe o nome de constante de formação condicional, ou constante de formação efetiva. Seu valor expressa a formação de espécies do tipo MYn24 em qualquer valor de pH. A constante de formação condicional permite verificarmos a formação de complexos de EDTA, como se todo o EDTA não complexado estivesse apenas em uma única forma: Por meio da constante de formação condicional, podemos estudar a formação de complexos de EDTA como se todo o EDTA livre estivesse em uma única forma.
Podemos então determinar o valor de αY4– e calcular Kf′ em qualquer valor de pH desejado.
EXEMPLO
Usando a Constante de Formação Condicional
A constante de formação para o CaY2–, na Tabela 12-2, é 1010,65. Calcule a concentração de Ca2+ livre em uma solução de CaY2– 0,10 M em pH 10,00 e em pH 6,00. Solução As reações de formação do complexo são
em que EDTA, no lado esquerdo da equação, se refere a todas as formas de EDTA não ligadas (Y4–, HY32, H2Y2–, H3Y– etc.). Usando αY4– da Tabela 12-1, encontramos
Como a dissociação do CaY2– produz quantidades iguais de Ca2+ e de EDTA, podemos escrever Ca2+
+
EDTA
⇌
CaY2–
Concentração inicial (M)
0
0
0,10
Concentração nal (M)
0
x
x
0,10 – x
Resolvendo para x (= [Ca2+] = [EDTA]), encontramos [Ca2+] = 2,7 × 10–6 M em pH 10,00 e 3,5 × 10–4 M em pH 6,00. Usando a constante de formação condicional, em um determinado valor constante de pH, tratamos o EDTA dissociado como se fosse uma única espécie. TESTE A VOCÊ MESMO Determine [Ca2+] em uma solução de CaY2– 0,10 M em pH 8,00. (Resposta: 2,3 × 10–5 M)
FIGURA 12-10 Titulação do Ca2+ com EDTA em função do pH. Quando o pH diminui, o ponto final se torna menos visível. O potencial foi medido com eletrodos de mercúrio e calomelano, como descrito no Exercício 15-B. [Dados de C. N. Reilley e R. W. Schmid, “Chelometric Titration with Potentiometric End Point Detection: Mercury as a pM Indicator Electrode”, Anal. Chem. 1958, 30, 947.]
Podemos observar, a partir do exemplo anterior, que um complexo metal-EDTA se torna menos estável quanto menor for o pH. Para que uma reação de titulação seja eficiente ela deve praticamente se “completar” (digamos, 99,9%), o que significa que a constante de equilíbrio é grande – o analito e o titulante têm que reagir de maneira praticamente completa no ponto de equivalência. A Figura 12-10 mostra como o pH influencia a titulação do Ca2+ com EDTA. Abaixo de pH ≈ 8, a inflexão no ponto final não é acentuada o suficiente para permitir uma determinação exata. A constante de formação condicional para CaY2– é muito pequena para a reação “completa” em baixos valores de pH. O valor do pH do meio pode ser usado para selecionar que metais serão titulados e que metais não serão titulados pelo EDTA. Os metais com constantes de formação mais elevadas podem ser titulados em valores de pH mais baixos. Se uma solução contendo Fe3+ e Ca2+ é titulada em pH 4, o Fe3+ é titulado sem a interferência do Ca2+.
12-3
Curvas de Titulação com EDTA
Nesta seção, vamos calcular a concentração do Mn+ livre durante a sua titulação com EDTA.14 A reação de titulação é Kf′ é a constante de formação efetiva no pH estabelecido da solução.
Se Kf′ é grande, podemos considerar a reação como completa em cada ponto na titulação. A curva de titulação, em nosso caso, é um gráfico de pM (= –log[Mn+]) contra o volume de EDTA adicionado. A curva é semelhante àquela do valor de pH contra o volume de titulante em uma titulação ácido-base. Existem três regiões distintas na curva de titulação da Figura 12-11.
FIGURA 12-11 As três regiões em uma curva de titulação com EDTA. A figura exemplifica a reação de 50,0 mL de uma solução de Mn+ 0,050 0 M com uma solução de EDTA 0,050 0 M, supondo que Kf′ = 1,15 × 1016. A concentração de Mn+ livre decresce à medida que a titulação avança.
Região 1: Antes do Ponto de Equivalência
Nessa região, há um excesso de Mn+ em solução após o EDTA ter sido consumido. A concentração do íon metálico livre é igual à concentração do Mn+ em excesso, que não reagiu. A dissociação do MYn24, neste caso, é desprezível. Região 2: No Ponto de Equivalência
Temos exatamente a mesma quantidade de EDTA e de metal em solução. Podemos tratar a solução como se tivesse sido preparada pela dissolução de MYn24 puro. Algum Mn+ livre é produzido pela fraca dissociação do MYn24:
Nesta reação, EDTA refere-se à concentração total do EDTA livre em todas as suas formas. No ponto de equivalência, [Mn+] = [EDTA]. Região 3: Após o Ponto de Equivalência
Agora, temos um excesso de EDTA e praticamente todo o íon metálico está na forma MYn24. A concentração de EDTA livre pode ser igualada à concentração do excesso de EDTA adicionado após o ponto de equivalência. Cálculos Envolvidos na Titulação Vamos calcular a forma da curva de titulação para a reação de 50,0 mL de uma solução de Ca2+ 0,040 0 M (tamponada em pH 10,00) com uma solução de EDTA 0,080 0 M:
Os valores de αY4– provêm da Tabela 12-1.
Como Kf′ é grande, é razoável dizer que a reação será completa após cada adição de titulante. Fazemos um gráfico no qual pCa2+ (= –log[Ca2+]) é representado graficamente contra o volume em mililitros de EDTA adicionado. O volume de equivalência é de 25,00 mL. Região 1: Antes do Ponto de Equivalência Antes do ponto de equivalência, existe um excesso de Ca2+ que não reagiu.
Consideremos a adição de 5,0 mL da solução de EDTA. Como o ponto de equivalência requer 25,0 mL de EDTA, um quinto do Ca2+ será consumido e sobrarão quatro quintos.
Da mesma maneira, podemos calcular pCa2+ para qualquer volume de EDTA menor que 25,0 mL. Região 2: No Ponto de Equivalência
Praticamente todo o metal está na forma CaY2–. Admitindo que a dissociação é desprezível, a concentração de CaY2– é igual à concentração original do Ca2+, com uma correção para a diluição. No ponto de equivalência, a espécie principal é CaY2– em equilíbrio com quantidades iguais e pequenas de Ca2+ livre e de EDTA.
A concentração de Ca2+ livre é pequena e desconhecida. Podemos escrever
Ca2+
+
EDTA
⇌
CaY2–
Concentração inicial (M)
—
—
0,026 7
Concentração nal (M)
—
x
0,026 7 – x
[EDTA] se refere à concentração total de todas as formas de EDTA não ligadas ao metal.
Região 3: Após o Ponto de Equivalência Após o ponto de equivalência, praticamente todo o metal está presente na forma CaY2–. Temos também um excesso conhecido de EDTA. Uma pequena quantidade de Ca2+ existe em equilíbrio com o CaY2– e o EDTA.
Nesta região, praticamente todo o metal está na forma do íon CaY2– e há um excesso de EDTA que não reagiu. As concentrações de CaY2– e o excesso de EDTA podem ser facilmente calculadas. Por exemplo, após a adição de 26,0 mL há 1,0 mL de EDTA em excesso.
A concentração de Ca2+ é dada por
Este mesmo tipo de cálculo pode ser usado para qualquer volume após o ponto de equivalência.
FIGURA 12-12 Curvas de titulação teóricas para a reação de 50,0 mL de uma solução 0,040 0 M do íon metálico com uma solução de EDTA 0,080 0 M em pH 10,00.
A Curva de Titulação As curvas de titulação calculadas na Figura 12-12 para Ca2+ e Sr2+ mostram um ponto de inflexão visível no ponto de equivalência, no qual a inclinação da curva é máxima. O ponto final para o íon Ca2+ é mais nítido que para o Sr2+, pois o valor da constante de formação condicional, αY4– Kf, é maior para o CaY2– do que para o SrY2–. Se o pH diminui, a constante de formação condicional também diminui (pois αY4– diminui), e o ponto de final se torna menos definido, como observamos na Figura 12-10. O valor de pH não pode ser arbitrariamente aumentado, pois podemos ter a precipitação de hidróxidos metálicos.
12-4
Fazendo os Cálculos com uma Planilha Eletrônica
Vamos ver como é possível reproduzir as curvas de titulação com EDTA, vistas na Figura 12-12, usando uma única equação, que se aplica a toda titulação. Como todas as reações se passam em valores de pH previamente fixados, os equilíbrios e os balanços de massa correspondentes permitem calcular todas as incógnitas. Consideremos a titulação do íon metálico M (concentração = CM, volume inicial = VM) com uma solução do ligante L (concentração = CL, volume adicionado = VL) para formar um complexo 1:1:
Os balanços de massa para o metal e o ligante são
Substituindo Kf[M][L] (da Equação 12-8) por [ML] nos balanços de massa, temos
FIGURA 12-13 Planilha eletrônica para a titulação de 50,0 mL de uma solução de Ca2+ 0,040 0 M com EDTA 0,080 0 M em pH 10,00. Essa planilha reproduz os mesmos cálculos da Seção 12-3. A variação do valor de pM foi feita pelo método de tentativa e erro para determinar os volumes de 5,00, 25,00 e 26,00 mL, usados na seção anterior. Uma metodologia mais adequada para este problema faz uso da função Atingir Meta (descrita na Seção 8-5), para variar o valor de pM na célula B9 até que o volume na célula E9 seja igual a 25,00 mL.
Substituímos agora a expressão para [L], da Equação 12-10, de volta na Equação 12-9
e com mais algumas transformações algébricas, podemos calcular a fração de titulação, f: Devemos substituir Kf por Kf’ se L = EDTA.
Assim como nas titulações ácido-base na Tabela 11-5, ϕ é definido como a fração do caminho necessário para atingir o ponto de equivalência. Quando ϕ = 1, VL = Ve; quando ϕ = , VL = Ve e assim por diante. Para uma titulação com EDTA, podemos fazer os cálculos até o final, descobrindo que a constante de formação, Kf, deve ser substituída na Equação 12-11 pela constante de formação condicional, Kf′, correspondente ao valor de pH que foi fixado durante a titulação. A Figura 12-13 mostra uma planilha eletrônica em que a Equação 12-11 é usada para calcular a curva de titulação de Ca2+ vista na Figura 12-12. Assim como nas titulações ácido-base, os valores de entrada da coluna B são os valores de pM = – log[Ca2+] e os resultados, na coluna E, são volumes de titulante correspondentes. Para determinarmos o ponto inicial da titulação, variamos o valor de pM até que o valor de Vl fique o mais próximo possível de 0. Se invertermos o processo e titularmos o ligante com o íon metálico, o valor da fração do caminho para atingir o ponto de equivalência será o inverso da fração na Equação 12-11: Devemos substituir Kf por Kf′ se L = EDTA.
12-5
Agentes de Complexação Auxiliares
As condições de titulação com EDTA vistas neste capítulo foram selecionadas de modo a evitar a precipitação de hidróxidos metálicos no pH escolhido. Para podermos titular muitos metais com EDTA em soluções alcalinas, devemos usar um agente de complexação auxiliar. Este reagente vem a ser um ligante, tal como a amônia, o tartarato, o citrato ou a trietanolamina, que se liga ao metal de maneira suficientemente forte para evitar a precipitação do hidróxido correspondente, mas suficientemente fraca de modo a liberar o metal quando a solução titulante de EDTA é adicionada ao meio. Por exemplo, o íon Zn2+ é normalmente titulado em presença de um tampão amoniacal, que não apenas fixa o pH do meio, mas serve também para complexar o íon metálico e mantê-lo em solução durante toda a titulação. Veremos agora como isso acontece.
Equilíbrio Metal-Ligante15 Consideremos um íon metálico que forme dois complexos com o ligante auxiliar de complexação, L:
As constantes de equilíbrio, βi, são conhecidas como constantes globais ou constantes de formação cumulativas. A fração do íon metálico no estado não complexado, M, pode ser expressa como
em que Mtot refere-se à concentração total de todas as formas de M (= M, ML e ML2, neste caso). Vamos agora determinar uma expressão conveniente para o cálculo de αM. O balanço de massa para o metal é
As Equações 12-13 e 12-14 nos permitem concluir que [ML] = β1[M][L] e [ML2] = β2[M][L]–. Portanto,
Substituindo este último resultado na Equação 12-15, temos o resultado que desejamos:
Se o metal forma mais de dois complexos, a Equação 12-16 adquire a forma
EXEMPLO
Complexos de Zinco com Amônia
Zn2+ e NH3 formam os complexos Zn(NH3)2+, Zn(NH3)22+, Zn(NH3)32+ e Zn(NH3)42+. Se a concentração de NH3 livre não protonada é 0,10 M, determine a fração de zinco que se encontra sob a forma de Zn2+. (Em qualquer valor de pH sempre existirá também algum NH4+ em equilíbrio com o NH3.) Solução O Apêndice I fornece os valores de constantes de formação para os complexos Zn(NH3)2+ (b1 = 102,18), Zn(NH3)22+ (b2 = 104,43), Zn(NH3)32+ (b3 = 106,74) e Zn(NH3)42+ (b4 = 108,70). A forma apropriada da Equação 12-16 para este caso é dada por
A Equação 12-17 permite calcular qual a fração de zinco que se encontra sob a forma de Zn2+. Substituindo-se nesta equação o valor da concentração [L] = 0,10 M e os quatro valores de bi, podemos calcular que αZn2+ = 1,8 × 10–5. Este resultado significa que na presença de uma solução de NH3 0,10 M existe muito pouco Zn2+ livre.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine αZn2+ se a concentração de NH3 livre, não protonada, é 0,02 M. (Resposta: 0,007 2) Titulações com EDTA Feitas com um Agente Complexante Auxiliar Consideremos uma titulação de Zn2+ por EDTA em presença de NH3. Neste caso, a extensão da Equação 12-6 requer uma nova constante de formação condicional para levar em conta o fato de que somente parte do EDTA está na forma de Y4– e somente parte do zinco, não ligado ao EDTA, está na forma do íon Zn2+:
Kf′ é a constante de formação efetiva para determinado valor de pH e para determinada concentração do agente de complexação auxiliar. O Boxe 12-1 descreve a influência da hidrólise do íon metálico no valor da constante de formação efetiva.
Nessa expressão, o valor de αZn2+ é dado pela Equação 12-17, e o valor de αY4–, pela Equação 12-4. Para valores definidos de pH e de [NH3], podemos calcular Kf″ e continuar com os cálculos de titulação como foi feito na Seção 12-3, substituindo Kf″ por Kf′. Uma hipótese a ser considerada para esse procedimento é que o EDTA é um agente complexante muito mais forte que a amônia. Dessa maneira, todo o EDTA adicionado liga-se ao íon Zn2+, de modo que esse íon metálico seja consumido.
BOXE 12-1
A Hidrólise de Íons Metálicos Diminui o Valor da Constante de Formação Efetiva de Complexos com EDTA
A Equação 12-18 de ne o valor da constante de formação efetiva (condicional) de um complexo com EDTA como o produto da constante de formação, Kf, vezes o valor da fração do metal que se encontra na forma Mm+, vezes o valor da fração do EDTA que se encontra na forma Y4–: Kf″ = αMm+ αY4– Kf. A Tabela 12-1 nos mostra como o valor de αY4– aumenta com a elevação do pH, atingindo um valor praticamente igual a 1 em torno de pH 11. Na Seção 12-3, não usamos um agente de complexação auxiliar e, por isso, presumimos que αMm1 = 1. Na realidade, os íons metálicos reagem com a água formando espécies M(OH)n. Combinações de pH e íon metálico foram selecionadas, na Seção 12-3, de maneira que a hidrólise a M(OH)n fosse desprezível. Essas condições são fáceis de encontrar para a maioria dos íons M2+, mas não para íons M3+ ou íons M4+. Mesmo em soluções ácidas, o íon
Fe3+ sofre hidrólise, produzindo as espécies Fe(OH)2+ e Fe(OH)21.16 (No Apêndice I encontramos os valores das constantes de formação para complexos com a espécie hidróxido.) O grá co a seguir mostra que αFe31 se aproxima de 1 na faixa de pH entre 1 e 2 (log αFe31 < 0), mas diminui quando ocorre a hidrólise. Em pH 5, a fração de Fe(III) na forma do íon Fe3+ é de ~10–5. O valor da constante de formação efetiva do FeY–, no grá co, é uma consequência de três contribuições:
Com o aumento do pH, o valor de αY4–, aumenta, o que causa o aumento de Kf′″. Quando o pH aumenta, ocorre a hidrólise do íon metálico, de modo que αFe31 diminui. O aumento de αY4–, por sua vez, é cancelado pela diminuição do αFe31 e, por isso, o valor de Kf′″ é praticamente constante em valores de pH acima de 3. A terceira contribuição para o valor de Kf′″ é αFeY2, que vem a ser a fração do complexo de EDTA na forma FeY–. Em pH baixo, parte do complexo recebe um próton, formando FeHY, o que diminui o valor de αFeY2 em valores de pH próximos a 1. Na faixa de pH entre 2 e 5, αFeY2 é praticamente constante com um valor igual a 1. Em soluções neutras e básicas, formam-se espécies complexas como Fe(OH)Y2– e [Fe(OH)Y]242, e o valor de αFeY2 diminui. Informação importante a ser lembrada: Neste livro, vamos nos restringir às situações em que não há hidrólise e o valor de αMm1 é deliberadamente controlado pela adição de um ligante auxiliar. Em termos práticos, a hidrólise das espécies Mm+ e MY in uencia a maioria das titulações com EDTA e torna a análise teórica do problema mais difícil que os propósitos deste capítulo.
Contribuições dos valores de αγ4–, αFe3+ e αFeγ– para o valor da constante de formação efetiva da espécie FeY–. As curvas foram calculadas, considerandose as espécies H6Y2+, H5Y+, H4Y, H3Y–, H2Y2–, HY3–, Y4–, Fe3+, Fe(OH)2+, Fe(OH)+2, FeY– e FeHY.
EXEMPLO
Titulação com EDTA na Presença de Amônia
Consideremos a titulação de 50,0 mL de uma solução de Zn2+ 1,00 × 10–3 M com uma solução de EDTA 1,00 × 10–3 M, em pH 10,00, na presença de NH3 0,10 M. (Esta é a concentração de NH3. A espécie NH4+ também está presente em solução.) O ponto de equivalência é em 50,0 mL. Calcule o valor de pZn2+ após a adição de 20,0; 50,0 e 60,0 mL de EDTA. Solução Na Equação 12-17, constatamos que αZn2+ = 1,8 × 10–5. A Tabela 12-1 nos diz que αY4– = 0,30. Utilizando o valor de Kf dado pela Tabela 12-2, temos que a constante de formação condicional é
(a) Antes do ponto de equivalência – 20,0 mL: Como o ponto de equivalência é 50,0 mL, a fração de Zn2+ restante é 30,0/50,0. O fator de diluição é 50,0/70,0. Assim, a concentração de zinco não ligada ao EDTA é
Entretanto, quase todo o zinco não ligado ao EDTA está ligado ao NH3. A concentração de Zn2+ livre é
É importante, após este cálculo, fazermos uma veri cação. O produto [Zn2+][OH–]– é [1028,11] [10–4,00]2 = 10–16,11, não excede o valor do produto de solubilidade do Zn(OH)2 (Kps = 10–15,52) no Apêndice F. A partir da Equação 12-15 temos a relação [Zn2+] = αZn2+CZn2+.
(b) No ponto de equivalência – 50,0 mL: No ponto de equivalência, o fator de diluição é 50,0/100,0, então [ZnY2–] = (50,0/100,0)(1,00 × 10–3 M) = 5,00 × 10–4 M. Podemos então construir uma tabela de concentrações: CZn3+
+
EDTA
⇌
ZnY2–
Concentração inicial (M)
0
0
5,00 × 10–4
Concentração nal (M)
x
x
5,00 × 10–4 – x
(c) Após o ponto de equivalência – 60,0 mL: Praticamente todo o zinco presente encontra-se na forma de ZnY2–. Com um fator de diluição de 50,0 mL/110,0 mL, para o zinco, temos
Conhecemos também a concentração do excesso de EDTA, cujo fator de diluição é 10,0 mL/110,0 mL:
Uma vez que conhecemos os valores de [ZnY2–] e de [EDTA], podemos usar a expressão da constante de equilíbrio para calcularmos o valor de [Zn2+]:
Observe que após o ponto de equivalência, o problema deixa de depender da presença de NH3, pois conhecemos as concentrações do ZnY2– e do EDTA.
TESTE A VOCÊ MESMO Determine pZn2+ após adicionar 30,0 mL e 51,0 mL de EDTA. (Resposta: 8,35, 14,28)
FIGURA 12-14 Curvas de titulação para a reação de 50,0 mL de uma solução de Zn2+ 1,00 × 10–3 M com uma solução de EDTA 1,00 × 10–3 M em pH 10,00 na presença de duas concentrações diferentes de NH3.
A Figura 12-14 compara as curvas de titulação calculadas para o Zn2+ na presença de diferentes concentrações de agente de complexação auxiliar. Quanto maior a concentração de NH3, menor a variação do valor de pZn2+ próximo ao ponto de equivalência. A quantidade de ligante auxiliar tem de ser mantida abaixo do nível que altera a visualização do ponto final da titulação. A Prancha 7 do Encarte em Cores mostra o aspecto de uma solução de Cu2+-amônia, durante uma titulação com EDTA.
12-6
Indicadores para Íons Metálicos
A técnica mais comum para detectar o ponto final em titulações com EDTA é usar um indicador para íons metálicos. Outras possibilidades incluem um eletrodo de mercúrio (Figura 12-10 e Exercício 15-B) e um eletrodo íon-seletivo (Seção 15-6). Um eletrodo de pH também pode ser utilizado para acompanhar o andamento de uma titulação feita em solução não tamponada, pois a espécie H2Y2– libera 2 íons H+ quando forma um complexo metálico. Métodos para a determinação do ponto final: 1. O uso de indicadores para íons metálicos 2. Através de um eletrodo de mercúrio 3. Com um eletrodo íon-seletivo 4. Com um eletrodo de vidro (pH)
Os indicadores para íons metálicos (Tabela 12-3) são compostos cuja cor varia quando se ligam a um íon metálico. Para que um indicador funcione de maneira eficaz, ele deve se ligar ao metal mais fracamente que o EDTA. Um exemplo típico de análise quantitativa é a titulação de Mg2+ com EDTA, em pH 10, usando-se como indicador a calmagita. Um indicador deve liberar o íon metálico para o EDTA.
No início do experimento, uma pequena quantidade de indicador (In) é adicionada à solução incolor de Mg2+ para formar um complexo vermelho. Quando o EDTA é adicionado, ele reage primeiro com o Mg2+ livre, incolor. Quando todo o Mg2+ livre for consumido, o último EDTA adicionado antes do ponto de equivalência desloca o indicador do complexo vermelho, MgIn. A mudança do vermelho do MgIn para o azul do In não ligado sinaliza o ponto final da titulação (Demonstração 12-1).
TABELA 12-3
Nome Calmagita
Indicadores mais comuns para íons metálicos
Estrutura
pKa
Cor do indicador livre
Cor do complexocom o íon metálico
pK2 = 8,1
H2In– vermelho
Vermelho-vinho
Negro de eriocromo-T
pK3 = 12,4
HIn2– azul In3– laranja
pK2 = 6,3 pK3 = 11,6
H2In– vermelho
Vermelho-vinho
HIn2– azul In3– laranja
Murexida
pK2 = 9,2 pK3 = 10,9
H4In– vermelho-violeta H3In2– violeta
H2In3– azul
Alaranjado de xilenol
pK2 = 2,32 pK3 = 2,85 pK4 = 6,70 pK5 = 10,47 pK6 = 12,23
H5In– amarelo
Vermelho
Amarelo (com CO21, Ni21, Cu21); vermelho com Ca21
H4In2– amarelo H3In3– amarelo H2In4– violeta HIn5– violeta In6– violeta
Violeta de pirocatecol
pK1 = 0,2 pK2 = 7,8 pK3 = 9,8 pK4 = 11,7
H4In vermelho H3In– amarelo H2In2– violeta HIn3– vermelho-roxo
Azul
PREPARAÇÃO E ESTABILIDADE: Calmagita: 0,05 g/100 mL de H2O. A solução é estável, no escuro, por um ano. Negro de eriocromo-T: Dissolva 0,1 g do sólido em 7,5 mL de trietanolamina mais 2,5 mL de etanol absoluto. A solução é estável por meses e é melhor ser utilizada em titulações com pH acima de 6,5. Murexida: pulverize 10 mg de murexida com 5 g de NaCl em um gral limpo. Use 0,2-0,4 g da mistura para cada titulação. Alaranjado de xilenol: 0,5 g/100 mL de H2O. A solução é estável inde nidamente. Violeta de pirocatecol: 0,1 g/100 mL. A solução é estável por várias semanas. A maioria dos indicadores de íons metálicos é também um indicador ácido-base, com os seus valores de pKa listados na Tabela 12-3. Como a cor do indicador livre é dependente do pH, a maioria dos indicadores pode ser usada apenas em certas faixas definidas de pH. Por exemplo, o alaranjado de xilenol varia do amarelo ao vermelho quando se liga a um íon metálico em pH 5,5. Esta é uma variação de cor fácil de se observar. Em pH 7,5, a mudança de cor é do violeta para o vermelho, sendo mais difícil de ser visualizada a olho nu. Um espectrofotômetro pode ser utilizado para medir as variações de cor no ponto final da titulação. Entretanto, é mais conveniente que o processo possa ser acompanhado visualmente. A Figura 12-15 mostra as faixas de pH em que diferentes íons metálicos podem ser titulados e quais os indicadores adequados para cada caso. Para que um indicador possa ser usado em uma titulação de um metal com EDTA, ele deverá ser capaz de liberar o seu íon metálico para ser complexado pelo EDTA. Se um metal não se dissocia livremente de um indicador, dizemos que o metal bloqueia o indicador. O negro de eriocromo-T é bloqueado pelos íons Cu2+, Ni2+, Co2+, Cr3+, Fe3+ e Al3+ e, por isso, não pode ser usado para a titulação direta desses metais. Nesse caso, podemos utilizar uma titulação de retorno. Por exemplo, um excesso de
EDTA padrão é adicionado a uma amostra contendo Cu2+. Adiciona-se então o indicador e o excesso de EDTA é titulado com uma solução de Mg2+.
Questão Qual será a mudança de cor quando fazemos uma titulação de retorno com pH 10? (Resposta: azul : vermelho vinho) DEMONSTRAÇÃO 12-1
Mudanças de Cor em Indicadores para Íons Metálicos
Esta demonstração exempli ca a mudança de cor associada à Reação 12-19. SOLUÇÕES-ESTOQUE Tampão (pH 10,0): Adicione 142 mL de uma solução aquosa concentrada de amônia (14,5 M) a 17,5 g de cloreto de amônio e dilua com água a 250 mL. MgCl2: 0,05 M EDTA: Na2H2EDTA · 2H2O 0,05 M Prepare uma solução contendo 25 mL da solução de MgCl2, = mL de tampão e 300 mL de água. Adicione seis gotas do indicador negro de eriocromo-T ou calmagita (Tabela 12-3) e titule com a solução de EDTA. Observe a mudança de cor da solução de vermelho-vinho para um azul pálido no ponto nal da titulação (Prancha 8 do Encarte em Cores). A variação espectroscópica, acompanhando a mudança de cor quando o indicador é a calmagita mostrada na gura vista a seguir.
Espectro visível de Mg2+-calmagita e calmagita livre em tampão amoniacal, em pH 10. [Dados de C. E. Dahm, J. W. Hall e B. E. Mattioni, “A Laser Pointer-Based Spectrometer for Endpoint Detection of EDTA Titrations”, J. Chem. Ed. 2004, 81, 1787.]
12-7
Técnicas de Titulação com EDTA
Como muitos elementos podem ser analisados pela titulação com EDTA, há uma extensa literatura com procedimentos que apresentam muitas variações do procedimento básico.14,17 Titulação Direta Em uma titulação direta, o analito é titulado com uma solução-padrão de EDTA. O analito é tamponado em um pH apropriado, no qual a constante de formação condicional para o complexo metal-EDTA é grande e a cor do indicador livre é bem diferente da cor do complexo metal-indicador. Agentes de complexação auxiliar, tais como amônia, tartarato, citrato ou trietanolamina, podem ser empregados para evitar que o íon metálico precipite na ausência de EDTA. Por exemplo, a titulação direta do Pb2+ é feita em tampão amoniacal, em pH 10, na presença de tartarato, que complexa o íon metálico e não permite que ele precipite como Pb(OH)2. O complexo chumbotartarato deve ser menos estável que o complexo chumbo-EDTA ou a titulação não será possível.
Fitoremediação.18,19 Um enfoque para remover metais tóxicos de solos contaminados é cultivar plantas que acumulam de 1 a 15 g de metal/g de massa seca de planta. A planta é colhida para remover metais como Pb, Cd e Ni. A fitorremediação é fortemente favorecida pela adição de EDTA, que solubiliza metais normalmente insolúveis. Infelizmente, a chuva espalha os complexos solúveis de metal-EDTA através do solo, de modo que a fitorremediação é limitada aos locais onde o contato com a água de chuva é bloqueado ou onde a lixiviação não é importante. O quelato natural EDDS dissolve os metais e é biodegradado antes de ser espalhado para muito longe.
Titulação de Retorno Em uma titulação de retorno, um excesso conhecido de uma solução de EDTA é adicionado ao analito. O excesso de EDTA é então titulado com uma solução-padrão de um segundo íon metálico. Uma titulação de retorno é necessária caso o analito precipita na ausência do EDTA, se ele reage muito lentamente com o EDTA sob as condições de titulação ou se ele bloqueia o indicador. O íon metálico usado na titulação de retorno não deve deslocar o complexo formado pelo íon metálico que está sendo analisado com EDTA.
EXEMPLO
Uma Titulação de Retorno
O Ni2+ pode ser analisado por uma titulação de retorno usando-se uma solução-padrão de Zn2+, em pH 5,5, com o indicador alaranjado de xilenol. Uma solução contendo 25,00 mL de uma solução de Ni2+ em HCl diluído é tratada com 25,00 mL de uma solução de Na2EDTA 0,052 83 M. A solução é neutralizada com NaOH, e o pH é ajustado para 5,5 com o tampão de acetato. A solução torna-se amarela quando algumas gotas do indicador são adicionadas. A titulação com uma solução de Zn2+ 0,022 99 M consumiu 17,61 mL da solução de EDTA para atingir a cor vermelha no ponto nal. Qual é a molaridade do Ni2+ na solução desconhecida? Solução A solução desconhecida foi tratada com 25,00 mL de uma solução de EDTA 0,052 83 M, que contém (25,00 mL)(0,052 83 M) = 1,320 8 mmol de EDTA. A titulação de retorno consumiu (17,61 mL)(0,022 99 M) = 0,404 9 mmol de Zn2+. Como 1 mol de EDTA reage com 1 mol de qualquer íon metálico, temos 0,404 9 mmol de Zn2+ + x mmol de Ni2+ = 1,320 8 mmol de EDTA x = 0,915 9 mmol de Ni2+ A concentração de Ni2+ é 0,915 9 mmol/25,00 mL = 0,036 64 M. TESTE A VOCÊ MESMO Se a titulação de retorno consumiu 13,00 mL de Zn2+, qual era a concentração original de Ni2+? (Resposta: 0,040 88 M)
FIGURA 12-15 Um guia para a titulação de íons metálicos comuns com EDTA. No gráfico, as regiões claras mostram em que faixa de pH a reação com EDTA é quantitativa. As regiões escuras indicam a faixa de pH na qual é necessário adicionar-se um agente de complexação auxiliar para evitar que o íon metálico precipite. A calmagita é mais estável do que o negro de eriocromo-T (EB) e pode ser substituída pelo EB. [Dados de K. Ueno, “Guide for Selecting Conditions of EDTA Titrations”, J. Chem. Ed. 1965, 42, 432.] Abreviaturas para os indicadores: BG, Leucobase verde de Bindschedler
BP, Vermelho de bromopirogalol EB, Negro de eriocromo-T GC, Vermelho de glicinocresol GT, Azul de glicinotimol MT, Azul de metiltimol MX, Murexida NN, Corante de Patton & Reeder PAN, Piridilazonaftol Cu-PAN, PAN mais Cu-EDTA PC, Complexona da o-Cresolftaleína PR, Vermelho de pirogalol PV, Violeta de pirocatecol TP, Complexona da timolftaleína VB, Base da varianina azul B XO, Alaranjado de xilenol
O Tiron é um indicador para a titulação de Fe(II) com EDTA em pH 2-3 a 40°C. A cor muda do azul para o amarelo pálido.
Uma titulação de retorno com EDTA evita a precipitação do analito. Por exemplo, o Al3+ precipita como Al(OH)3, em pH 7, na ausência de EDTA. Uma solução ácida de Al3+ pode ser tratada com um excesso de EDTA, ajustado o pH para 7–8 com acetato de sódio, e aquecida à ebulição para garantir a complexação total do íon, na forma estável e solúvel Al(EDTA) 2. A solução é então esfriada, adiciona-se o indicador calmagita e se faz a titulação de retorno, com uma solução-padrão de Zn2+. Titulação por Deslocamento Para íons metálicos, como o Hg2+, que não têm um indicador satisfatório, uma titulação por deslocamento pode ser exequível. Nesse caso, o Hg2+ é tratado com um excesso de Mg(EDTA)22 para deslocar o Mg2+, posteriormente titulado com uma soluçãopadrão de EDTA.
Neste caso, para que o deslocamento de Mg2+ a partir do Mg(EDTA)22 seja possível, a constante de formação condicional do Hg(EDTA)22 deve ser maior do que do o Kf′ para o Mg(EDTA)22, do contrário o Mg2+ não será deslocado do Mg(EDTA)22. Não existe um indicador apropriado para o íon Ag+. Entretanto, o Ag+ irá deslocar o Ni2+ do íon complexo tetracianoniquelato(II):
O Ni2+ liberado pode ser então titulado com EDTA para determinar a concentração do íon Ag+ adicionado à amostra. Titulação Indireta Ânions que precipitam com certos íons metálicos podem ser analisados por EDTA através de titulação indireta. Por exemplo, o sulfato pode ser analisado pela precipitação com excesso de Ba2+ em pH 1. O BaSO4(s) é lavado e então fervido com um excesso de EDTA em pH 10 para solubilizar o Ba2+ como Ba(EDTA)22. O excesso de EDTA é titulado por retorno com uma soluçãopadrão de Mg2+. Outra possibilidade é a de precipitarmos um ânion com um excesso de íon metálico. O precipitado formado é filtrado, lavado e o excesso de íon metálico, presente no filtrado, é titulado com EDTA. Ânions como CO32–, Cr42–, S22 e SO42– podem ser determinados desse modo, por titulação indireta com EDTA.20 Mascaramento
Um agente de mascaramento é um reagente que evita que algum componente do analito reaja com o EDTA. Por exemplo, o Al3+, em uma mistura de Mg2+ e Al3+, pode ser titulado mascarando-se primeiramente o Al3+ com F–, restando então apenas o íon simples, Mg2+ livre, para reagir com o EDTA. O mascaramento é usado para evitar que a presença de uma espécie interfira na análise de outra espécie. O mascaramento não é restrito apenas às titulações com EDTA. O Boxe 12-2 descreve uma importante aplicação de uma reação de mascaramento.
O cianeto mascara os íons Cd2+, Zn2+, Hg2+, Co2+, Cu1, Ag+, Ni2+, Pd2+, Pt2+, Fe2+ e Fe3+, mas não os íons Mg2+, Ca2+, Mn2+ ou Pb2+. Quando se adiciona cianeto a uma solução contendo Cd2+ e Pb2+, apenas o Pb2+ reage com o EDTA. (CUIDADO: O cianeto libera o gás tóxico HCN quando se encontra em valores de pH inferiores a 11. Por isso, as soluções de cianeto devem ser sempre fortemente básicas e nunca devem ser manipuladas fora de uma capela.) O fluoreto mascara Al3+, Fe3+, Ti4+ e Be2+. (CUIDADO: O HF, formado pelo íon F– em soluções ácidas, é extremamente perigoso e nunca deve entrar em contato com a pele nem com os olhos. O HF pode não provocar dores imediatas, mas as áreas contaminadas devem ser imediatamente lavadas com água corrente em abundância e tratadas com um gel de gluconato de cálcio, que deve estar disponível no laboratório antes de qualquer emergência deste tipo. No caso de acidentes com HF, as pessoas que forem prestar ajuda devem usar luvas de borracha para a sua proteção individual.) A trietanolamina mascara Al3+, Fe3+ e Mn2+; e o 2,3-dimercapto-1-propanol mascara Bi3+, Cd2+, Cu2+, Hg2+ e Pb2+.
Uma reação de desmascaramento libera o íon metálico que se encontra complexado pela ação de um agente de mascaramento. Os complexos de cianeto podem ser desmascarados com formaldeído:
A tioureia mascara o Cu2+, reduzindo-o a Cu1 e complexando o Cu1 formado. O cobre pode ser liberado do complexo com a tioureia por oxidação com H2O2. A seletividade produzida pelo mascaramento, pelo desmascaramento e pelo controle de pH permite que os componentes individuais de misturas complexas de íons metálicos possam ser analisados, separadamente, por titulação com EDTA.
BOXE 12-2
A Dureza da Água
A dureza é a concentração total de íons alcalinoterrosos (Grupo 2) na água, que são principalmente Ca2+ e Mg2+, presentes na água. A dureza é normalmente expressa como o número de miligramas de CaCO3 por litro. Assim, se [Ca2+] + [Mg2+] = 1 mM, queremos dizer que a dureza é 100 mg de CaCO3 por litro porque 100 mg de CaCO3 = 1 mmol de CaCO3. Uma água cuja dureza é menor que 60 mg de CaCO3 por litro é considerada “mole”. Se a dureza estiver acima de 270 mgL, a água é considerada “dura”. A água dura reage com o sabão para formar coágulos insolúveis:
Quando a água é dura, o sabão tem de consumir todo o Ca2+ e Mg2+ antes que ela possa ser útil para limpeza. A água dura, quando evapora, deixa depósitos sólidos em tubulações conhecidos como crostas. Entretanto, não se acredita que a água dura seja insalubre. A dureza é bené ca na água para irrigação, pois os íons alcalinoterrosos tendem a ocular (causar a agregação) partículas coloidais no solo, provocando assim um aumento da permeabilidade do solo à água. A água mole é adequada para prepararmos materiais como concreto, gesso e cimento.
Para medir a dureza, a água é tratada com ácido ascórbico para reduzir o Fe3+ presente a Fe2+ e o íon Cu2+ a Cu1, e então com cianeto para mascarar Fe2+, Cu1 e vários outros íons metálicos presentes em pequenas quantidades. A titulação com EDTA em pH 10, utilizando-se tampão NH3, permite determinar a concentração total de Ca2+ e Mg2+ presentes na água. A concentração de Ca2+ pode ser determinada separadamente se a titulação for feita em pH 13, sem a presença de amônia. Neste pH, o Mg(OH)2 precipita e se torna inacessível ao EDTA. As interferências causadas por muitos íons metálicos podem ser reduzidas pela escolha correta dos indicadores.2+ Os carbonatos insolúveis são convertidos em bicarbonatos solúveis, pelo excesso de dióxido de carbono:
O aquecimento converte bicarbonato em carbonato (pela eliminação de CO2) e leva a precipitação de uma crosta sólida de CaCO3 que bloqueia tubulações de caldeiras. A fração de dureza causada pelo Ca(HCO3)2(aq) é chamada de dureza temporária, pois essa presença de cálcio é eliminada por aquecimento (precipitando na forma de CaCO3). A dureza resultante de outros sais (principalmente CaSO4 dissolvido) é chamada de dureza permanente, pois não é removida por aquecimento. Termos Importantes ácido de Lewis agente de complexação auxiliar agente de mascaramento base de Lewis bloqueio constante de estabilidade constante de formação constante de formação condicional constante de formação cumulativa desmascaramento efeito quelato indicador para íons metálicos ligante quelante monodentado multidentado titulação complexométrica titulação de retorno titulação direta titulação indireta titulação por deslocamento
Resumo Em uma titulação complexométrica, o analito e o titulante reagem entre si formando um íon complexo. A constante de equilíbrio para esta reação é chamada de constante de formação, Kf. Os ligantes quelantes (multidentados) formam complexos mais estáveis que os ligantes monodentados, pois a entropia de formação do complexo favorece mais a ligação de um ligante grande do que a de vários ligantes pequenos. Ácidos aminocarboxílicos sintéticos, como o EDTA, possuem um valor elevado para as constantes de ligação e formam complexos 1:1 com a maioria dos metais cuja carga é >> 2. As constantes de formação para o EDTA são expressas em termos de [Y4–], embora existam seis formas protonadas de EDTA. Como a fração (αY4–) de EDTA livre na forma Y4– depende do pH, definimos, convenientemente, uma constante de formação condicional (ou efetiva) como Kf′ = αY4–Kf = [MYn24]/[Mn+][EDTA]. Esta constante descreve a reação hipotética Mn+ EDTA ⇌ MYn–4, na qual EDTA se refere a todas as formas do EDTA não ligadas a um íon metálico. Os cálculos de titulação complexométrica se dividem em três categorias. Quando um excesso de Mn+, sem reagir, está presente, o valor de pM é diretamente calculado pela equação pM = –log[Mn+]. Quando um excesso de EDTA está presente, sabemos tanto o valor de [MYn–4] quanto de [EDTA] e, então, [Mn+] pode ser calculada a partir da constante de formação condicional. No ponto de equivalência, a condição [Mn+] = [EDTA] nos permite calcular o valor da [Mn+]. Uma simples equação, desenvolvida para planilhas eletrônicas, pode ser aplicada a todas as três regiões da curva de titulação. Quanto maior a constante de formação efetiva, mais acentuada é a da curva de titulação com EDTA. A adição de agentes de complexação auxiliares, que competem com o EDTA pelo íon metálico e que, portanto, diminuem a acentuação da curva de
titulação, é frequentemente necessária para manter o íon metálico em solução. Os cálculos para uma solução contendo EDTA e para um agente de complexação auxiliar utilizam a constante de formação condicional Kf′ = αMαY4–Kf′, em que αM é a fração de íon metálico livre não complexado pelo ligante auxiliar. Para a determinação do ponto final de uma titulação complexométrica, usamos, normalmente, um indicador colorido para íons metálicos, ou um eletrodo de vidro, ou um eletrodo íon-seletivo ou um eletrodo de mercúrio. Em alguns casos, uma titulação direta pode não ser conveniente, pois o analito é instável, ou reage lentamente com o EDTA, ou não possui um indicador colorido que seja apropriado. Neste caso, uma titulação de retorno, com um excesso de EDTA, ou uma titulação de deslocamento do Mg(EDTA)22, pode resolver o problema. Reações de mascaramento evitam interferências de espécies indesejáveis. Os procedimentos de titulação indireta com EDTA também são muito úteis para a determinação de vários ânions ou de outras espécies químicas que não reajam diretamente com o EDTA.
Exercícios 12-A. O íon potássio, em uma amostra de 250,0 (±0,1) mL de água, foi precipitado com tetrafenilborato de sódio:
O precipitado foi filtrado, lavado, dissolvido em um solvente orgânico e tratado com excesso de Hg(EDTA)22:
O EDTA liberado foi titulado com 28,73 (±0,03) mL de uma solução 0,043 7 (±0,000 1) M de Zn2+. Determine a concentração (e a incerteza absoluta) [K+] na amostra original. 12-B. Uma amostra desconhecida, com 25,00 mL, contendo os íons Fe3+ e Cu2+, foi titulada, até o ponto final, com 16,06 mL de uma solução de EDTA 0,050 83 M. Uma alíquota de 50,00 mL, dessa mesma amostra, foi tratada com NH4F para complexar o Fe3+. O Cu2+ presente foi então reduzido e mascarado pela adição de tioureia. Após a adição de 25,00 mL de solução de EDTA 0,050 83 M, o Fe3+ foi liberado de seu complexo com o fluoreto e formou-se um complexo com EDTA. O excesso de EDTA consumiu 19,77 mL de uma solução de Pb2+ 0,018 83 M para atingir o ponto final, usando-se alaranjado de xilenol como indicador. Determine a concentração [Cu2+] na amostra desconhecida. 12-C. Calcule o pCu2+ (até a segunda casa decimal) em cada um dos seguintes pontos de uma titulação de 50,0 mL de solução de EDTA 0,040 0 M com uma solução de Cu(NO3)2 0,080 0 M, em pH 5,00: 0,1; 5,0; 10,0; 15,0; 20,0; 24,0; 25,0; 26,0 e 30,0 mL. Construa, a partir desses dados, um gráfico de pCu2+ contra o volume de titulante. 12-D. Calcule a concentração de H2Y2– no ponto de equivalência no Exercício 12-C. 12-E. Suponha que uma solução de Mn2+ 0,010 0 M é titulada com uma solução de EDTA 0,005 00 M em pH 7,00. (a) Qual é a concentração de Mn2+ livre no ponto de equivalência? (b) Qual é o valor do quociente [H3Y–]/[H2Y2–] na solução quando a titulação se encontra, exatamente, a 63,7% do caminho até o ponto de equivalência? 12-F. Uma amostra contendo 20,0 mL de uma solução de Co2+ 1,00 × 10–3 M, na presença de C2O42– 0,10 M, em pH 9,00, foi titulada com uma solução de EDTA 1,00 × 1022 M. Usando as constantes de formação do Apêndice I para Co(C2O4) e Co C2O42–, calcule o valor de pCo2+ para os seguintes volumes adicionados de EDTA: 0; 1,00; 2,00 e 3,00 mL. Consideraremos a concentração de C2O42– como constante em 0,10 M. Construa um gráfico de pCo2+ contra o volume, em mililitros, de EDTA adicionado. 12-G. O ácido iminodiacético forma complexos 2:l com vários íons metálicos:
Uma solução, com o volume de 25,0 mL, contendo ácido iminodiacético 0,120 M, tamponado em pH 7,00, foi titulada com 25,0 mL de uma solução de Cu2+ 0,050 0 M. Sabendo-se que αX22 = 4,6 × 10–3, em pH 7,00, calcule a concentração de Cu2+ na solução resultante.
Problemas EDTA 12-1. O que é efeito quelato? 12-2. Explique (em palavras) o que significa αY4–. Calcule αY4– para o EDTA em (a) pH 3,50 e (b) pH 10,50. 12-3. (a) Calcule o valor da constante de formação condicional para o Mg(EDTA)22, em pH 9,00. (b) Determine a concentração de Mg2+ livre, em uma solução de Na2[Mg(EDTA)] 0,050 M, em pH 9,00. 12-4. Tampões para íons metálicos. Por analogia com um tampão de íon hidrogênio, um tampão de íon metálico tende a manter constante o valor da concentração de um determinado íon metálico em solução. Uma mistura do ácido HA e sua base conjugada A– forma um tampão de íon hidrogênio, que mantém um valor de pH em solução definido pela equação Ka = [A–][H+]/[HA]. Uma mistura de CaY2– e Y4– funciona como um tampão de Ca2+, tendo um comportamento definido pela equação 1/Kf’ = [EDTA] [Ca2+]/[CaY2–]. Quantos gramas de Na2EDTA · 2H2O (MF 372,23) devem ser misturados a 1,95 g de Ca(NO3)2 · 2H2O (MF 200,12), em um balão volumétrico de 500 mL, para obtermos um tampão com valor de pCa2+ = 9,00, em pH 9,00? 12-5. Purificação por reprecipitação e espécies predominantes de ácidos polipróticos. Para uma análise isotópica de oxigênio em SO42–para estudos geológicos, o SO42– foi precipitado com excesso de Ba2+.22 Na presença de HNO3, o precipitado de BaSO4 é contaminado por NO3–. O sólido pode ser purificado por lavagem, redissolução na ausência de HNO3 e reprecipitação. Para purificação, 30 mg de cristais de BaSO4 foram dissolvidos em 15 mL de DTPA 0,05 M (Figura 12-4) em NaOH 1 M, sob vigorosa agitação a 70°C. BaSO4 foi reprecipitado pela adição de HCl 10 M gota a gota até obter pH 3-4 e a mistura foi deixada em repouso por 1 h. O sólido foi isolado por centrifugação, remoção da sua água-mãe e ressuspendido em água deionizada. A razão molar NO3–/SO42– foi reduzida de 0,25 no precipitado original para 0,001 no material purificado após dois ciclos de dissolução e reprecipitação. Qual é a espécie predominante de sulfato e DTPA em pH 14 e pH 3? Explique por que BaSO4 se dissolve em DTPA em NaOH 1 M e então reprecipita quando o pH é abaixado para 3-4. Curvas de Titulação com EDTA 12-6. O íon Mn+ (100,0 mL de uma solução 0,050 0 M do íon metálico, tamponado a pH 9,00) foi titulado com uma solução de EDTA 0,050 0 M. (a) Qual é o volume equivalente, Ve, em mililitros? (b) Calcule a concentração de Mn+ quando V = Ve. (c) Que fração de EDTA livre está na forma Y4–, em pH 9,00? (d) A constante de formação (Kf) é 1012,00. Calcule o valor da constante de formação condicional Kf′ (= αY4–Kf). (e) Calcule a concentração de Mn+ quando V = Ve. (f) Qual a concentração de Mn+ quando V = 1,100 Ve? 12-7. Calcule o valor de pCo2+ para cada um dos seguintes pontos da titulação de 25,00 mL de uma solução de Co2+ 0,020 26 M por uma solução de EDTA 0,038 55 M, em pH 6,00: (a) 12,00 mL (b) Ve (c) 14,00 mL. 12-8. Para a titulação de 25,0 mL de uma solução de MnSO4 0,02 0 M, com uma solução de EDTA 0,010 0 M, tamponado em pH 8,00, calcule o valor de pMn2+, nos volumes de EDTA adicionados que são vistos a seguir, e represente a curva de titulação: (a) 0 mL (b) 20,0 mL (c) 40,0 mL (d) 49,0 mL (e) 49,9 mL (f) 50,0 mL (g) 50,1 mL (h) 55,0 mL
(i) 60,0 mL 12-9. Usando os mesmos volumes do Problema 12-8, calcule o valor de pCa2+ para a titulação, em pH 10,00, de 25,00 mL de uma solução de EDTA 0,020 00 M por uma solução de CaSO4 0,010 00 M. 12-10. Calcule a molaridade do HY32 em uma solução preparada pela mistura de 10,00 mL de uma solução de VOSO4 0,010 0 M, 9,90 mL de uma solução de EDTA 0,010 0 M, e 10,0 mL de uma solução-tampão para pH 4,00. 12-11.
Titulação de um íon metálico com EDTA. Use a Equação 12-11 para calcular as curvas de pM contra mL de EDTA
adicionado, para a titulação de 10,00 mL de uma solução de M2+ 1,00 mM (= Cd2+ ou Cu2+) com uma solução 10,0 mM de EDTA, em pH 5,00. Represente ambas as curvas em um único gráfico. 12-12.
Efeito do pH na titulação por EDTA. Use a Equação 12-11 para calcular as curvas de pCa2+ contra o volume, em
mL, de EDTA adicionado, para a titulação de 10,00 mL de uma solução de Ca2+ 1,00 mM por uma solução de EDTA 1,00 mM, em pH 5,00; 6,00; 7,00; 8,00 e 9,00. Represente todas as curvas em um único gráfico e compare seus resultados com os da Figura 12-10. 12-13.
Titulação de EDTA com um íon metálico. Use a Equação 12-12 para reproduzir os resultados do Exercício 12-C.
Agentes de Complexação Auxiliares 12-14. Explique a finalidade de usar-se um agente de complexação auxiliar, exemplificando com um caso típico. 12-15. De acordo com o Apêndice I, o íon Cu2+ forma dois complexos com o íon acetato:
(a) Encontre o valor de K2 para a reação a seguir a partir dos dados do Boxe 6-2.
(b) Consideremos 1,00 L de uma solução preparada pela mistura de 1,00 × 10–4 mol de Cu(ClO4)2 e 0,100 mol de CH3CO2Na. Use a Equação 12-16 para determinar qual a fração do cobre que se encontra na forma de Cu2+. 12-16. Calcule o valor de pCu2+ para cada um dos seguintes pontos da titulação de 50,00 mL de uma solução de Cu2+ 0,001 00 M com uma solução de EDTA 0,001 00 M, em pH 11,00, em uma solução cuja concentração de NH3 é fixada em 1,0 M: (a) 0 mL (b) 1,0 mL (c) 45,00 mL (d) 50,00 mL (e) 55,00 mL 12-17. Levando em consideração a dedução matemática do valor da fração αM da Equação 12-16: (a) Deduza as seguintes expressões para as frações αML e αML2:
(b) Calcule os valores de αML e αML2 para as condições do Problema 12-15. 12-18.
Constantes de microequilíbrio para ligação de metal a uma proteína. A proteína de transporte de ferro, transferrina,
possui dois sítios de ligação metálica diferentes, que nós simbolizamos como a e b. Os valores das constantes de microequilíbrio de formação, para cada sítio, são definidos como:
Por exemplo, a constante de formação k1a se refere à reação Fe3+ + transferrina ⇌ Featransferrina, em que o íon metálico se liga ao sítio a:
(a) Escreva as reações químicas correspondentes às constantes de formação macroscópicas convencionais, K1 e K2. (b) Mostre que K1 = k1a + k1b e K2–1 = k2a–1 + k2b–1. (c) Mostre que k1ak2b = k1bk2a. Essa expressão nos diz que, se conhecemos três constantes de microequilíbrio quaisquer, conhecemos também a quarta constante. (d) Um desafio ligado à saúde: Com base nas constantes de equilíbrio apresentadas a seguir, determine o valor da fração de equilíbrio de cada uma das quatro espécies (mostradas no diagrama) em uma corrente sanguínea, que se encontra 40% saturada com ferro (ou seja, Fe/transferrina = 0,80, pois cada proteína pode se ligar a 2Fe). Constantes de formação efetivas para o plasma sanguíneo em pH 7,4 k1a = 6,0 × 1022
k2a = 2,4 × 1022
k1b = 1,0 × 1022
k2b = 4,2 × 1021
K1 = 7,0 × 1022
K2 = 3,6 × 1021
Os valores das constantes de ligação são tão grandes que podemos supor que a quantidade de Fe3+ livre é desprezível. Para iniciarmos, vamos definir as seguintes abreviaturas: [T] = [transferrina], [FeT] = [FeaT] + [FebT] e [Fe2T] = [Fe2transferrina]. Podemos então escrever:
Temos agora um sistema de três equações com três incógnitas, problema que já sabemos resolver. 12-19. Equação usada em planilhas eletrônicas para um agente de complexação auxiliar. Consideremos a titulação de uma solução do metal M (concentração = CM, volume inicial = VM) com uma solução de EDTA (concentração = CEDTA, volume adicionado = VEDTA) na presença de um ligante de complexação auxiliar (por exemplo, a amônia). Seguimos o procedimento geral de dedução, descrito na Seção 12-4, para mostrar que a equação geral para todas as regiões da titulação é
em que Kf″ é a constante de formação condicional na presença do agente de complexação auxiliar, no pH fixo da titulação (Equação 12-18) e [M]livre é a concentração total do metal não ligado ao EDTA. [M]livre é o mesmo que Mtot na Equação 12-15. O resultado é equivalente à Equação 12-11, sendo [M] substituído por [M]livre e Kf substituído por Kf″. 12-20.
Agente de complexação auxiliar. Para fazermos este exercício devemos usar a equação que foi deduzida no
Problema 12-19. (a) Prepare uma planilha eletrônica para reproduzir os três pontos (20, 50 e 60 mL), na titulação de Zn2+ com EDTA em presença de amônia da Seção 12-5. (b) Use sua planilha eletrônica para construir a curva de titulação de 50,00 mL de uma solução de Ni2+ 0,050 0 M por uma solução de EDTA 0,100 M, em pH 11,00, na presença de oxalato 0,100 M.
12.21. Uma planilha eletrônica para a formação dos complexos ML e ML2. Consideremos a titulação de uma solução do metal M (concentração = CM, volume inicial = VM) com uma solução do ligante L (concentração = CL volume inicial = VL), capaz de formar complexos dos tipos 1:1 e 2:1:
Sejam αM a fração do metal na forma M, αML a fração na forma ML e αML2 a fração na forma ML2. Trabalhando da mesma maneira como foi feito na Seção 12-5, podemos demonstrar que as equações para essas frações são dadas por:
As concentrações de ML e ML2 são
pois CMVM/(VM + VL) é a concentração total de todo o metal em solução. O balanço de massa para o ligante é
Substituindo as expressões para [ML] e [ML2] no balanço de massa, mostre que a equação completa para a titulação do metal pelo ligante é
12-22.
Titulação de M com L para formar ML e ML2. Use a equação que foi deduzida no Problema 12-21, em que M é o 2+
íon Cu e L é o íon acetato. Consideremos a adição de uma solução de acetato 0,500 M a 10,00 mL de uma solução de Cu2+ 0,050 0 M, em pH 7,00 (de modo que todo o ligante está presente como CH3CO2– e não como CH3CO2H). As constantes de formação para o Cu(CH3CO2)1 e o Cu(CH3CO2)2 são dadas no Apêndice I. Construa uma planilha eletrônica, na qual a entrada de dados é um valor de pL e o resultado é [L], VL, [M], [ML], [ML2]. Construa um gráfico mostrando como as concentrações de L, M, ML e ML2, variam com o valor de VL, na faixa de 0 a 3 mL. Indicadores para Íons Metálicos 12-23. Explique por que a mudança do vermelho para o azul da Reação 12-19 ocorre subitamente no ponto de equivalência em vez de acontecer gradualmente, durante toda a titulação. 12-24. Apresente quatro métodos para detectar-se o ponto final de uma titulação com EDTA. 12-25. O íon cálcio foi titulado com EDTA em pH 11, usando calmagita como indicador (Tabela 12-3). Qual é a principal espécie da calmagita presente em pH 11? Que cor foi observada antes do ponto de equivalência? E após o ponto de equivalência? 12-26. O violeta de pirocatecol (Tabela 12-3) pode ser usado em uma titulação com EDTA como um indicador para íons metálicos. O procedimento é o seguinte: 1. Adicione um excesso conhecido de solução de EDTA à amostra desconhecida do íon metálico. 2. Ajuste o pH com um tampão apropriado. 3. Titule o excesso de quelato com uma solução-padrão de Al3+.
Entre os tampões a seguir, selecione o melhor e estabeleça que mudança de cor deverá ser observada no ponto final. Justifique sua resposta. (i) pH 6-7 (ii) pH 7-8
(iii) pH 8-9 (iv) pH 9-10 Técnicas de Titulação com EDTA 12-27. Cite três circunstâncias em que uma titulação de retorno com EDTA pode se tornar necessária. 12-28. Descreva como é feita uma titulação por deslocamento e dê um exemplo. 12-29. Dê um exemplo do uso de um agente de mascaramento. 12-30. O que vem a ser dureza da água? Explique a diferença entre dureza temporária e dureza permanente. 12-31. Quantos mililitros de uma solução de EDTA 0,050 0 M são necessários para reagir com 50,0 mL de uma solução de Ca2+ 0,010 0 M? E com 50,0 mL de uma solução de Al3+ 0,010 0 M? 12-32. Uma amostra de 50,0 mL contendo Ni2+ foi tratada com 25,0 mL de uma solução de EDTA 0,050 0 M para complexar todo o Ni2+ e manter um excesso de EDTA em solução. Este excesso de EDTA foi então titulado e consumiu 5,00 mL de uma solução de Zn2+ 0,050 0 M. Qual é a concentração de Ni2+ na amostra original? 12-33. Uma alíquota de 50,0 mL de uma solução contendo 0,450 g de MgSO4 (MF 120,37) em 0,500 L consumiu, para uma titulação completa, 37,6 mL de uma solução de EDTA. Quantos miligramas de CaCO3 (MF 100,09) irão reagir com 1,00 mL desta solução de EDTA? 12-34. 12,73 mL de uma solução de cianeto foram tratados com 25,00 mL de solução-padrão contendo excesso de Ni2+ para formar o íon compelxo tetracianoniquelato(II):
O excesso de Ni2+ foi então titulado com 10,15 mL de EDTA 0,013 07 M. O Ni(CN)42– não reage. Se 39,35 mL da solução de EDTA foram necessários para reagir com 30,10 mL da solução original de Ni2+, calcule a molaridade do CN– nos 12,73 mL da amostra desconhecida. 12-35. Uma amostra desconhecida de volume 1,000 mL contendo os íons Co2+ e Ni2+ foi tratada com 25,00 mL de uma solução de EDTA 0,038 72 M. Uma titulação de retorno, com uma solução de Zn2+0,021 27 M, em pH 5, consumiu 23,54 mL para atingir o ponto final, utilizando-se alaranjado de xilenol como indicador. Um volume de 2,000 mL dessa amostra desconhecida passou por uma coluna de troca iônica, que retém o íon Co2+ mais facilmente que o íon Ni2+. O Ni2+ que passou através da coluna de troca iônica foi tratado com 25,00 mL de uma solução de EDTA 0,038 72 M e consumiu 25,63 mL de uma solução de Zn2+ 0,021 27 M, em uma titulação de retorno. O Co2+ que saiu da coluna após o Ni2+ também foi tratado com 25,00 mL de uma solução de EDTA 0,038 72 M. Quantos mililitros de uma solução de Zn2+ 0,021 27 M serão necessários para a titulação de retorno do íon Co2+? 12-36. Um volume de solução de 50,0 mL contendo os íons Ni2+ e Zn2+ foi tratado com 25,0 mL de uma solução de EDTA 0,045 2 M, para complexar todo o metal presente. O excesso de EDTA que não reagiu consumiu 12,4 mL de uma solução de Mg2+ 0,012 3 M para a reação completa. Um excesso do reagente 2,3-dimercapto-1-propanol foi então adicionado para remover o EDTA do zinco. Outros 29,2 mL da solução de Mg2+ foram necessários para reagir com o EDTA liberado. Calcule a molaridade do Ni2+ e do Zn2+ presentes na solução original. 12-37. O íon sulfeto foi determinado por titulação indireta com EDTA. Em uma solução contendo uma mistura de 25,00 mL de uma solução de Cu(ClO4)2 0,043 32 M e 15 mL de um tampão acetato 1 M (pH 4,5), foram adicionados 25,00 mL de uma amostra desconhecida de sulfeto, agitando-se a mistura vigorosamente. O precipitado de CuS foi filtrado e lavado com água quente. Adicionou-se então uma solução de amônia ao filtrado (que continha excesso de Cu2+) até que se observasse a cor azul do íon complexo Cu (NH3)42+ A titulação com uma solução de EDTA 0,039 27 M consumiu 12,11 mL para atingir o ponto final, utilizando-se murexida como indicador. Calcule a concentração molar do sulfeto na amostra desconhecida. 12-38. Determinação indireta de césio com EDTA. O íon césio não forma um complexo estável com EDTA, mas pode ser titulado pela adição de um excesso conhecido de NaBiI4, em ácido acético concentrado frio, contendo também um excesso de NaI. O sólido Cs3Bi2I9 precipita e é removido por filtração. O excesso de BiI4–, de cor amarela, é então titulado com solução de EDTA. O ponto final é detectado quando a cor amarela desaparece. (Tiossulfato de sódio é adicionado à reação para evitar que o I– liberado seja oxidado pelo O2 do ar produzindo uma solução aquosa amarela de I2.) A precipitação é seletiva para o íon Cs1. Os íons Li1, Na+, K+ e baixas concentrações de Rb1 não interferem no processo, embora a presença do íon TL+ cause interferência. Suponha que 25,00 mL de uma amostra desconhecida contendo Cs1 foram tratados com 25,00 mL de uma solução de NaBiI4 0,086 40 M e o BiI4– que não reagiu, consumiu, para uma titulação completa, 14,24 mL de uma solução de EDTA 0,043 7 M. Determine a concentração de Cs1 na amostra original de concentração desconhecida. 12-39. O teor de enxofre em sulfetos metálicos, que não se dissolvem facilmente em ácidos, pode ser determinado pela oxidação do sulfeto com Br2 a SO42–.23 Os íons metálicos, liberados no processo, sofrem troca iônica em uma coluna por uma quantidade
equivalente de íons H+. O íon livre em solução é então totalmente precipitado por um excesso conhecido de BaCl2. O excesso de Ba2+ é finalmente titulado com EDTA para determinar quanto estava presente. (Para facilitar a visualização do ponto final da titulação, uma pequena quantidade conhecida de Zn2+ é adicionada. O EDTA titula os dois íons, Ba2+ e Zn2+.) Conhecendo-se o valor do excesso de Ba2+, pode-se calcular o teor de enxofre presente na amostra original. Em uma análise de uma amostra do mineral esfarelita (ZnS, MF 97,46), 5,89 mg do mineral pulverizado foram suspensos em uma mistura de CCl4 e H2O contendo 1,5 mmol de Br2. Após o tratamento por 1 h a 20°C e por 2 h a 50°C, o sólido dissolveu-se completamente e, então, o solvente e o excesso de Br2 foram removidos por aquecimento. O resíduo foi dissolvido em 3 mL de água e a solução passou através de uma coluna de troca iônica, na qual o íon Zn2+ foi substituído pelo íon H+. Adicionou-se à solução 5,000 mL de uma solução de BaCl2 0,014 63 M para precipitar todo o sulfato como BaSO4. Depois de uma adição de 1,000 mL de solução de ZnCl2 0,010 00 M, seguida da adição de 3 mL de tampão de amônia, pH 10, foram necessários 2,39 mL de solução de EDTA 0,009 63 M para titular o excesso dos íons Ba2+ e Zn2+, usando-se o indicador calmagita para a visualização do ponto final. Calcule o teor percentual de enxofre na amostra de esfarelita. Qual seria o valor teórico?
CHUVA ÁCIDA
Catedral de Saint Paul, Londres. [Starcevic / iStockphoto.]
Emissões estimadas sobre a Europa. [Dados de R. F. Wright, T. Larssen, I. Camarero, B. J. Crosby, R. C. Ferrier, R. Helliwell, M. Forsius, A. Jenkins, J. Kopácˇek, V. Majer, F. Moldan, M. Posch, M. Rogora e W. Schöpp, “Recovery of Acidi ed European Surface Waters”, Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 64A.]
O calcário e o mármore são materiais de construção cujo principal constituinte é a calcita, uma forma cristalina comum de carbonato de cálcio. Esse mineral não é muito solúvel em soluções neutras ou básicas (Kps = 4,5 × 1029), mas se dissolve em soluções ácidas devido a dois equilíbrios associados, nos quais as reações têm uma espécie em comum — o carbonato, neste caso:
O carbonato produzido na primeira reação é protonado para formar bicarbonato na segunda reação. O princípio de Le Châtelier nos diz que, se removermos o produto da primeira reação, deslocaremos a reação para a direita, tornando a calcita mais solúvel. Este capítulo aborda equilíbrios associados em sistemas químicos. Entre 1980 e 1990, as paredes externas feitas em pedra da Catedral de Saint Paul em Londres diminuíram mm de espessura devido à chuva ácida. A dissolução em uma das esquinas do prédio em frente a uma central elétrica foi 10 vezes mais rápida do que no resto do prédio até que a central foi fechada. A central elétrica e outras indústrias que queimam carvão emitem SO2, que é a maior fonte de chuva ácida (descrita no Boxe 15-1). O fechamento da indústria pesada e as leis limitando as emissões diminuíram o SO2 atmosférico de 100 ppb, na década de 1970, para 10 ppb em 2000. As pedras na parte externa da Catedral de Saint Paul sofreram uma diminuição de espessura de somente mm entre 1990 e 2000.1
E
ste capítulo opcional apresenta ferramentas para o cálculo de concentrações de espécies em sistemas com muitos equilíbrios simultâneos.2 A ferramenta mais importante é o tratamento sistemático de equilíbrio apresentado no Capítulo 8, incluindo soluções numéricas por meio do Excel. Os capítulos posteriores deste livro não dependem deste presente capítulo.
13-1
Abordagem Geral para Sistemas Ácido-Base
Parte da abordagem para os problemas de equilíbrio neste capítulo é adaptada de Julian Roberts, Universidade de Redlands.
Em primeiro lugar, vamos apresentar uma visão geral de como calcular as concentrações de espécies em misturas de ácidos e bases. Consideramos uma solução feita pela dissolução de 20,0 mmol de hidrogenotartarato de sódio (Na+HT–), 15,0 mmol de cloreto de piridínio (PyH+C1–) e 10,0 mmol de KOH em um volume de 1,00 L. O problema é calcular o pH e as concentrações de todas as espécies em solução. Neste exemplo, representamos as duas constantes de dissociação ácida do H2T como K1 e K2. Representamos a constante de dissociação ácida do PyH+ como Ka.
As reações químicas e as constantes de equilíbrio em força iônica 0 são
O balanço de carga é Existe um fator 2 na frente de [T2–] porque o íon tem uma carga –2. O íon T2– + M contribui com uma carga de 2 M.
e existem vários balanços de massas:
Equações “independentes” não podem ser obtidas uma da outra. Como um exemplo trivial, as equações a = b + c e 2a = 2b + 2c não são independentes. As três expressões para as constantes de equilíbrio, Ka, Kb e Kw para um ácido fraco e suas bases conjugadas fornecem somente duas equações independentes, pois podemos obter Kb a partir de Ka e Kw: Kb = Kw/Ka. Existem 10 equações independentes e 10 espécies. Então, teremos informação suficiente para resolver o sistema para todas as concentrações. Há uma forma sistemática de lidar com esse problema sem malabarismos algébricos. Etapa 1 Escreva uma equação de composição fracionária, como na Seção 10-5, para cada ácido ou base que apareça no balanço de carga. Etapa 2 Substitua as expressões de composição fracionária dentro do balanço de carga e entre com os valores conhecidos de [Na+], [K+] e [Cl–]. Escreva também [OH–] = Kw/[H+]. Neste ponto, teremos uma equação complicada na qual a única incógnita é [H+]. Etapa 3 Utilize sua planilha eletrônica “de sempre” para resolver o sistema obtendo o valor de [H+]. Vamos agora recapitular as equações de composição fracionária, vistas na Seção 10-5, para qualquer ácido monoprótico HA e para qualquer ácido diprótico H2A. FHA = [HA] + [A–]
FH2A = [H2A] + [HA–] + [A2–] A Tabela 11-5 fornece as equações de composição fracionária para o H3A.
Em cada equação, αi é a fração de cada forma. Por exemplo, aA2– é a fração do ácido diprótico na forma A2–. Quando multiplicamos αA2– vezes FH2A (a concentração total ou formal de H2A), o produto é a concentração da espécie A2–. Aplicação do Procedimento Geral Agora, vamos aplicar o procedimento geral para a mistura contendo hidrogenotartarato de sódio (Na+HT–) 0,020 0 M, cloreto de piridínio (PyH+CL–) 0,015 0 M e KOH 0,010 0 M. Vamos definir as concentrações formais como FH2T = 0,020 0 M e FPyH1 = 0,015 0 M. Etapa 1 Escreveremos uma equação de composição fracionária para cada ácido ou base que aparece no balanço de carga.
Todas as grandezas do lado direito destas expressões são conhecidas, com exceção de [H+]. Etapa 2 Substituímos as expressões de composição fracionária dentro do balanço de carga 13-5. Entramos com os valores de [Na+], [K+] e [Cl–] e escrevemos [OH–] = Kw/[H+].
Ka, K1, K2 e [H+] estão contidas dentro das expressões de a. A única variável na Equação 13-11 é [H+].
Etapa 3 A planilha eletrônica da Figura 13-1 resolve a Equação 13-11 para [H+]. Na Figura 13-1, as células em destaque contêm os dados de entrada. Todo o resto é calculado pela planilha eletrônica. Os valores para FH2T, pK1, pK2, FPyH1, pKa e [K+] são dados do problema. O valor inicial do pH na célula H13 é uma estimativa. Usaremos a rotina Solver do Excel para variar o valor do pH até que a soma das cargas na célula E15 seja 0. As espécies no balanço de carga estão nas células B10:E13. O valor da [H+] na célula B10 é calculado a partir do pH que foi estimado na célula H13. O valor da [PyH+] na célula B11 é calculado por meio da Equação 13-8. Valores conhecidos são inseridos para [Na+], [K+] e [CL–]. O valor de [OH–] é calculado por meio de Kw/[H+]. Os valores de [HT–] e [T22] nas células E11 e E12 são calculados através das Equações 13-9 e 13-10. Etapa importante: Estime um valor para [H+] e utilize a rotina Solver do Excel para variar [H+] até que seja satisfeito o balanço de carga.
A soma de cargas, [H+] + [PyH+] + [Na+] + [K+] – [OH–] – [HT–] – 2[T22] – [Cl–], é calculada na célula E15. Se tivéssemos estimado o valor correto de pH na célula H13, a soma das cargas seria 0. Em vez disto, a soma é –2,25 × 1022 M. Usaremos a rotina Solver do Excel para variar o valor do pH na célula H13 até que a soma das cargas na célula E15 seja 0. Nos problemas de equilíbrio na Seção 8.5, minimizamos tanto o balanço de carga como o balanço de massa. Na Seção 13-1, já usamos o balanço de massa para obter as equações de composição fracionária 13-8 a 13-10. Portanto, só minimizamos o banco de carga com a planilha eletrônica.
FIGURA 13-1 A planilha eletrônica para a mistura de ácidos e bases utiliza a rotina Solver para encontrar o valor do pH, na célula H13, que satisfaz o balanço de carga na célula E15. As somas [PyH+] + [Py], na célula D17, e [H2T] + [HT–] + [T2–], na célula D18, são calculadas para verificar se as fórmulas para cada espécie não apresentam erros. Essas somas são independentes do pH.
Usando a Rotina Solver do Excel Para o Excel 2010 em um PC, na guia Dados de sua planilha selecione Análise e clique em Solver. (O Excel se encontra no menu Ferramentas em um Mac.) Na janela Parâmetros do Solver (Figura 8-10a), clique em Opções. Em Opções (Figura 8-10b) selecione a aba Todos os Métodos. Fixe Precisão de Restrição = 1E-15. Selecione Usar Escala Automática, fixe Tempo Max. = 100 s e Iterações = 200. Clique em OK. Na janela Parâmetros do Solver (Figura 8-10a), digite E15 em Definir Objetivo, Para Valor de: 0, e Alterando Células Variáveis H13. A seguir, clique em Solver. O Solver irá variar o valor do pH na célula H13 de maneira a fazer com que a carga líquida na célula E15 seja igual a 0. Os valores das concentrações após a execução do Solver são
A Ignorância É uma Bênção: Uma Complicação Devido à Formação de Pares Iônicos Não devemos ficar presunçosos com o recém-descoberto poder de manipular problemas complexos, pois simplificamos a situação real. Para citar uma das simplificações, não incluímos os coeficientes de atividade, que normalmente afetam o valor da
resposta em alguns décimos de unidade de pH. Na Seção 13-2, vamos mostrar como incorporar os coeficientes de atividade. Mesmo com os coeficientes de atividade, estaremos sempre limitados pelo comportamento químico que não conhecemos. Na mistura de hidrogenotartarato de sódio (Na+HT–), cloreto de piridínio (PyH+CL–) e KOH, os vários equilíbrios possíveis de pares iônicos são
Constantes de equilíbrio provenientes de A. E. Martell, R. M. Smith e R. L. Motekaitis, NIST Standard Reference Database 46, Version 6.0, 2001.
Alguns valores de constantes de equilíbrio, em força iônica 0, são listados anteriormente. Os valores para as outras reações não estão disponíveis, mas não existe razão para acreditar que essas reações não ocorram. Como podemos adicionar a formação de pares iônicos em nossa planilha eletrônica? Por uma questão de simplicidade, mostraremos apenas como adicionar as Reações 13-12 e 13-13. Com estas reações, o balanço de massa para o sódio é
A partir dos equilíbrios dos pares iônicos, podemos escrever [NaT–] = KNaT–[Na+][T2–] e [NaHT] = KNaHT[Na+][HT–]. Com estas substituições de [NaT–] e [NaHT] no balanço de massa para o sódio, podemos encontrar uma expressão para [Na+]:
Um incômodo maior, quando consideramos os pares iônicos, é que as equações de composição fracionária para [H2T], [HT–] e [T ] também são alteradas, pois o balanço de massa para o H2T possui agora cinco espécies em vez de três: 22
Precisamos encontrar novas equações análogas às Equações 13-9 e 13-10 a partir do balanço de massa 13-17. As novas equações de composição fracionária são um pouco confusas; então, vamos reservar este caso para o Problema 13-17. O resultado final da inclusão dos equilíbrios de pares iônicos das Equações 13-12 e 13-13 é a alteração do valor calculado do pH de 4,30 para 4,26. Esta alteração não é muito grande. Logo, se desprezarmos os pares iônicos que têm pequenos valores de constantes de equilíbrio, isto não acarretará em grandes erros. Encontramos que 7% do sódio está envolvido em pares iônicos. Nossa capacidade de calcular a distribuição de espécies em uma solução é limitada pelo nosso conhecimento dos equilíbrios relevantes.
FIGURA 13-2 Coeficientes de atividade a partir das equações de Debye-Hückel estendida e de Davies. As áreas sombreadas indicam os coeficientes de atividade de Debye-Hückel para o intervalo de tamanho de íons da Tabela 8-1.
13-2
Coe cientes de Atividade
Mesmo quando conhecemos todas as reações e as respectivas constantes de equilíbrio para um dado sistema, não podemos calcular as concentrações de forma exata sem os coeficientes de atividade. O Capítulo 8 fornece a equação de Debye-Hückel estendida para os coeficientes de atividade (Equação 8-6) utilizando parâmetros associados ao tamanho dos íons. Esses parâmetros foram apresentados na Tabela 8-1. Entretanto, muitos íons de interesse não estão listados na Tabela 8-1 e não conhecemos os parâmetros associados aos seus tamanhos. Na Seção 8-5 estimamos os tamanhos dos íons que não estavam na tabela. Agora, introduzimos neste capítulo a equação de Davies, que não necessita de parâmetros associados ao tamanho dos íons (e é mais exata do que a estimativa de tamanhos):
em que g é o coeficiente de atividade para o íon de carga z na força iônica m. A Equação 13-18 pode ser usada para valores até μ ≈ 0,5 M (Figura 13-2), mas é mais exata para valores menores de força iônica. Para melhor exatidão, são usadas as equações de Pitzer (Capítulo 8, referência 8). Consideramos, agora, o tampão-padrão primário de KH2PO4 0,025 0 m e Na2HPO4 0,025 0 m. O valor do pH deste tampão, a 25°C, é 6,865 ± 0,006.3 A unidade de concentração, m, é a molalidade, que significa número de mols de soluto por quilograma de solvente. Para medidas químicas precisas, geralmente as concentrações são expressas em molalidade em vez de molaridade, pois a molalidade é independente da temperatura. Constantes de equilíbrio tabeladas geralmente usam molalidade e não molaridade. As incertezas nos valores das constantes de equilíbrio são usualmente suficientemente grandes para que a diferença de ~0,3% entre a molalidade e a molaridade em soluções diluídas não seja importante. Uma solução de K2HPO4 0,5% em massa tem uma molaridade igual a 0,028 13 mol/L e uma molalidade igual a 0,028 20 mol/kg. A diferença é de 0,25%.
As constantes de equilíbrio ácido-base para o H3PO4, em μ = 0 e a 25°C, são
As constantes de equilíbrio podem ser determinadas por meio da medição dos quocientes de concentrações em diversos valores pequenos de força iônica e, então, extrapolados para força iônica 0. Para μ ≠ 0, podemos rearranjar as constantes de equilíbrio de forma a incorporar os coeficientes de atividade dentro de uma constante de equilíbrio efetiva, K9, para uma dada força iônica.
K2′ fornece o quociente de concentração
em uma força iônica específica.
Para espécies iônicas, podemos calcular os coeficientes de atividade por meio da equação de Davies, Equação 13-18. Para espécies neutras, como o H3PO4, presumimos que g < 1,00. Vamos agora relembrar as equações de ionização da água: Valores de Kw são encontrados na Tabela 6-1.
Vamos agora calcular o valor do pH da solução de KH2PO4 0,025 0 m mais Na2HPO4 0,025 0 m, incluindo os coeficientes de atividade. As reações químicas são as reações de 13-19 até 13-21, mais a da ionização da água. Os balanços de massas são [K+] = 0,025 0 m, [Na+] = 0,50 0 m e fosfato total · FH3P = 0,050 0 m. O balanço de carga é
Nossa estratégia é substituir as expressões no balanço de carga para obter uma equação na qual a única incógnita seja [H+]. Para este propósito, usaremos as equações de composição fracionária para o ácido triprótico, H3PO4, que vamos abreviar como H3P:
Truques necessários para lidar com a força iônica e os coe cientes de atividade no Excel A Figura 13-3 coloca todos os cálculos juntos em uma planilha eletrônica. Precisamos da força iônica para calcular as concentrações, e precisamos das concentrações para calcular a força iônica. Dizemos que há uma referência circular porque a concentração depende da força iônica e a força iônica depende da concentração. Para lidar com a referência circular no Excel 2010, selecione a guia Arquivo e selecione Opções. Em Opções de cálculo, ative a caixa de seleção “Habilitar cálculo iterativo” e fixe Alteração Máxima em 1e-15. Clique OK e sua planilha está pronta para manipular referências circulares. Em planilhas com coeficientes de atividade, você pode observar a mensagem de erro ≤NUM! em vários locais quando configura a planilha pela primeira vez. Nesse caso, insira um número (por exemplo, 0) em vez de uma fórmula para a força iônica. Após inserir todas as fórmulas, volte para a força iônica e substitua o número 0 pela fórmula para a força iônica. Os dados de entrada para FKH2PO4, FNa2HPO4, pK1, pK2, pK3 e pKw estão nas células sombreadas na Figura 13-3. Na célula H15 estimamos um valor de pH. A força iônica é calculada na célula C19. O pH inicial é apenas uma estimativa, de modo que as concentrações e a força iônica ainda não estão corretas. Nas células A9:H10 são calculadas as atividades por meio da equação de Davies. Em μ = 0, todas os coeficientes de atividades têm valor 1. Nas células A13:H16 são calculadas as concentrações. O valor de [H+] da célula B13 é (10–pH)/γH1 = (10^-H15)/B9. Na célula E18 é calculada a soma das cargas. Uma estimativa inicial do pH = 7 na célula H15 fornece na célula E18 uma carga líquida de 20,003 7 m e uma força iônica de 0,105 5 m na célula H19. Estes valores não estão mostrados na Figura 13-3. O Solver do Excel foi então utilizado para variar o valor do pH na célula H15 para produzir uma carga líquida próxima de zero na célula E18. As Opções do Solver devem ser fixadas como descrito em “Usando a Rotina Solver do Excel” na Seção 13-1. A Figura 13-3 mostra que a execução do Solver fornece pH = 6,876 na célula H15 e uma carga líquida de –1 × 10217 m na célula E18. A força iônica calculada na célula C19 é 0,100 m. O trabalho está concluído. O valor calculado de 6,876 para o pH difere do valor certificado 6,865 em 0,011 unidade. Esta diferença é pequena o suficiente para atestar uma concordância entre o valor medido do pH e o valor calculado encontrado. Se tivéssemos utilizado os coeficientes de atividade de Debye-Hückel estendido para μ = 0,1 m da Tabela 8-1, o valor calculado seria 6,859, o que difere do valor correto do pH apenas 0,006 unidade. Às vezes a rotina Solver não consegue encontrar uma solução se a Precisão fixada na janela Opções for um valor muito pequeno. Devemos, então, aumentar o valor da Precisão e observar se o Solver encontra uma solução. Podemos, também, tentar uma estimativa inicial diferente para o pH. De Volta ao Básico Uma planilha eletrônica operando sobre o balanço de carga para reduzir a carga líquida a zero é um excelente método geral para solucionar problemas envolvendo equilíbrios complexos. Entretanto, aprendemos como achar o pH de uma mistura de KH2PO4 e Na2HPO4 no Capítulo 9 por meio de um método simples e menos rigoroso. Lembremos que, quando misturamos um ácido fraco (H2PO4–) e sua base conjugada (HPO42–), o que misturamos é o que temos. O pH pode ser estimado a partir da equação de Henderson-Hasselbalch, Equação 9-18, com coeficientes de atividade:
FIGURA 13-3 Planilha eletrônica resolvida para o sistema KH2PO4 0,025 0 m e Na2HPO4 0,025 0 m. A planilha foi configurada para lidar com referências circulares entre coeficientes de atividade e força iônica. Solver foi utilizado para variar o pH na célula H15 até que o balanço de carga na célula H18 fosse satisfeito.
Para a solução KH2PO4 0,025 m mais Na2HPO4 0,025 m, a força iônica é
Na Tabela 8-1, os coeficientes de atividade em μ = 0,1 m são 0,775 para H2PO4– e 0,355 para HPO42–. Substituindo estes valores na Equação 8-18 temos
pKa = pK2 na Equação 9-18 é válido em μ = 0.
A resposta é a mesma que obtivemos com a planilha eletrônica porque a aproximação que diz que o que misturamos é o que temos é excelente neste caso. Então, já sabíamos como calcular o pH deste tampão por meio de um cálculo simples. A importância do método geral com o balanço de carga na planilha eletrônica se deve ao fato de ser aplicável em situações mais complexas, onde o que misturamos não é o que temos, ou quando os valores das concentrações são muito baixos, ou quando o valor de K2 não é muito pequeno, ou quando existem equilíbrios adicionais. A Ignorância Continua Sendo uma Bênção Mesmo em uma solução simples como KH2PO4 mais Na2HPO4, para a qual estamos orgulhosos do cálculo exato do pH, ignoramos inúmeros equilíbrios de pares iônicos: Existe um conjunto análogo de reações para o K+, cujas constantes de equilíbrio são semelhantes àquelas para o Na+.
A confiança nos valores calculados para as concentrações depende do conhecimento de todos os equilíbrios relevantes e de termos a coragem de incluí-los nos cálculos, o que não é trivial. O pK2 efetivo para o H3PO4 listado na referência NIST Critically Selected Stability Constants Database 46 (2001) para uma força iônica de 0,1 M tem os seguintes valores: 6,71 para o contraíon Na+, 6,75 para o contraíon K+, e 6,92 para contraíons tetraalquilamônio não especificados. A dependência do pK efetivo em relação à natureza do contraíon sugere fortemente que as reações de pares iônicos têm um papel real na química de soluções.
13-3
Dependência da Solubilidade em Relação ao pH
Um exemplo importante do efeito do pH sobre a solubilidade é a degradação dos dentes. O esmalte dentário contém o mineral hidroxiapatita, que é insolúvel em valores de pH próximos da neutralidade, mas que se dissolve em ácido porque o fosfato e o hidróxido na hidroxiapatita reagem com o H+:
As bactérias na superfície dos dentes metabolizam açúcares e produzem ácido lático, que diminui suficientemente o pH para dissolver lentamente o esmalte dos dentes. O flúor inibe a degradação dos dentes porque forma fluorapatita, Ca10(PO4)6F2, que é mais resistente a ácidos do que a hidroxiapatita.
Solubilidade do CaF2 O mineral fluorita, (CaF2), também chamado espatoflúor, tem uma estrutura cristalina cúbica e mostrada na Figura 13-4, e sua clivagem forma frequentemente octaedros (sólido regular com oito lados, sendo cada face constituída de um triângulo equilátero) quase perfeitos. Dependendo das impurezas presentes, esse mineral assume variadas cores e pode fluorescer quando irradiado por uma lâmpada ultravioleta. O espatoflúor é convertido em ácido fluorídrico (HF) para a síntese de fluidos de refrigeração e de fluoropolímeros. Uma grande fração do suprimento mundial de espatoflúor provém da China. A solubilidade do CaF2 é governada pelo Kps do sal, pelas hidrólises do F– e do Ca2+ e pela formação de pares iônicos entre 2+ Ca e F–: Os produtos de solubilidade estão no Apêndice F. A constante de dissociação ácida do HF é obtida no Apêndice G. A constante de hidrólise para o Ca é o inverso da constante de formação do CaOH+ no Apêndice I mais a equação de Kw. A constante de formação do par iônico para o CaF1 está listada no Apêndice J.
FIGURA 13-4 (a) Cristais do mineral fluorita, CaF2. (b) No cristal, cada íon Ca2+ está envolvido por oito íons F–, localizados no vértice de um cubo. Cada íon F– está envolvido por quatro íons Ca2+ situados no vértice de um tetraedro. Levando-se em conta a célula unitária vizinha, superior a esta, pode-se observar que o íon Ca2+, situado no centro da face da célula unitária representada nesta figura, possui quatro íons F– adjacentes nessa célula e mais quatro íons F– adjacentes na célula superior. [Foto superior, © Mark A. Schneider/Science Source; foto inferior, © Joyce Photographics/Science Source.]
O balanço de carga é
Para calcular o balanço de massa, devemos levar em consideração que todas as espécies de cálcio e flúor são provenientes do CaF2. Consequentemente, o flúor total é igual a duas vezes o cálcio total:
Existem sete equações independentes e sete incógnitas. Então, temos informação suficiente. E… você já sabe como resolver esse problema porque estudou bem o Capítulo 8! A dissolução do CaF2 é muito parecida com a do CaSO4, que estudamos na Seção 8-5. Existem sete incógnitas e cinco equilíbrios, de modo que vamos deixar o Solver encontrar (número de incógnitas – número de equilíbrios) = duas concentrações, como fizemos na Figura 8-13. A planilha para o CaF2 é mostrada na Figura 13-5. Começamos com as estimativas pCa2+ = 4 e pH = 7 nas células B8 e B9, respectivamente. As células D17:D21 calculam as constantes de equilíbrio efetivas, K9, que incorporam
os coeficientes de atividade nas Equações 13-39 a 13-43. As células C10:C14 calculam as concentrações a partir das seguintes expressões das constantes de equilíbrio:
As Equações 13-39 a 13-43 são rearranjos das expressões das constantes de equilíbrio 13-32 a 13-36. As formas rearranjadas incorporam os coeficientes de atividade na constante de equilíbrio efetiva K9. As expressões para as concentrações, como [HF] = [H+][F–]/KH′F, estão assim livres dos coeficientes de atividade, que estão implícitos em K9. Os coeficientes de atividade são calculados nas células E8:F14 a partir da equação de Davies, Equação 13-18, usando a força iônica calculada na célula B5 a partir das concentrações. A planilha é configurada para lidar com definições circulares (seguindo as instruções da Seção 13-2) em que a força iônica depende das concentrações, e as concentrações dependem da força iônica. O balanço de massa b1 aparece na célula J17, e o balanço de carga b2 está na célula J18. Usamos a rotina Solver do Excel para variar pCa2+ e o pH nas células B8 e B9 para minimizar b12 + b22 na célula J19. Os resultados mostrados na Figura 13-5 são pCa2+ = 3,676 e pH = 7,087 nas células B8 e B9. O Solver não é bom para encontrar ambas as incógnitas ao mesmo tempo neste problema em particular. Tentou-se primeiro resolver para as duas incógnitas simultaneamente. A seguir, manteve-se pCa2+ constante enquanto se resolvia para o pH, e então fixou-se o pH para encontrar a solução para pCa2+. Este ciclo foi repetido várias vezes, enquanto Σbi– na célula J19 continuou a diminuir. Quando o Solver foi até onde podia ir, Σbi– foi em seguida reduzido, variando à mão o pH na terceira e na quarta casa decimal, obtendo-se os resultados na Figura 13-5. A Figura 13-6 mostra a variação das concentrações em função do pH. Em valores baixos de pH, H+ reage com F– para produzir HF e aumenta a solubilidade do CaF2. As espécies CaF1 e CaOH+ são minoritárias na maioria dos valores de pH, porém o CaOH+ se torna a espécie majoritária de cálcio em valores de pH acima de 12,7, que é o pKa para a Reação 13-34. Uma reação que não consideramos foi a precipitação de Ca(OH)2(s). A comparação do produto [Ca2+][OH–]– com o Kps para o Ca(OH)2 indica que o Ca(OH)2 deveria precipitar em valores de pH entre 13 e 14. Você poderia fazer a Figura 13-6 a partir da planilha na Figura 13-5 fixando µ = 0 na célula B5 e fixando o pH em valores sucessivos de 0 até 14 na célula B9. Para cada valor de pH fixado, execute o Solver para encontrar o valor de pCa2+ na célula B8, que reduza o balanço de massa na célula J17 a quase zero. A planilha fornece então as concentrações de todas as espécies em um determinado pH. O procedimento deve ser repetido para cada valor de pH, a fim de obter os dados na Figura 13-6. Observe que, quando fixamos o pH, adicionamos novas espécies como um tampão, que alteram o balanço de carga e a força iônica, mas não o balanço de massa relacionando cálcio e fluoreto. Desse modo, empregamos o balanço de massa, mas não o balanço de carga, para cada valor de pH fixado. Também, desprezamos os coeficientes de atividade ao produzir a Figura 13-6 porque a força iônica depende de reagentes não especificados que foram adicionados para se obter cada pH.
FIGURA 13-5
Planilha eletrônica utilizando o Solver e atividades para a solução saturada de CaF2 em água.
FIGURA 13-6 Dependência em relação ao pH das espécies em uma solução saturada de CaF2. À medida que o valor do pH diminui, o H+ reage com F– produzindo HF, e a [Ca2+] aumenta. Observe que o eixo das ordenadas está em escala logarítmica.
A Chuva Ácida Dissolve Minerais e Cria Riscos Ambientais Em geral, sais de íons básicos, tais como F–, OH–, S22, CO32–, C2O42– e PO432, têm a solubilidade aumentada em valores baixos de pH, pois esses ânions reagem com o H+. A Figura 13-7 mostra que o mármore, que é predominantemente CaCO3, dissolve mais facilmente quando a acidez da chuva aumenta. Muitos dos ácidos presentes na chuva vêm das emissões de SO2, provenientes da
combustão de combustíveis contendo enxofre, e dos óxidos de nitrogênio, produzidos por todos os tipos de combustão. O SO2, por exemplo, reage no ar para produzir o ácido sulfúrico
, que retorna
para o solo na chuva ácida. O alumínio é o terceiro elemento mais abundante na Terra (depois do oxigênio e do silício), mas está firmemente preso em minerais insolúveis, tais como a caulinita (Al2(OH)4Si2O5) e a bauxita (AlOOH). A chuva ácida provocada pelas atividades humanas é uma mudança recente para o nosso planeta, que está introduzindo formas solúveis de alumínio (de chumbo e mercúrio) no meio ambiente.4 A Figura 13-8 mostra que, abaixo de pH 5, o alumínio é solubilizado a partir dos seus minerais e que a sua concentração nas águas dos lagos aumenta rapidamente. Em uma concentração de 130 mg/L, o alumínio mata os peixes. No ser humano, altas concentrações de alumínio causam demência, amolecimento de ossos e anemia. Suspeita-se que o alumínio seja um possível causador do mal de Alzheimer. Embora os elementos metálicos dos minerais sejam liberados pelo ácido, a concentração e a disponibilidade dos íons metálicos no meio ambiente tendem a ser reguladas pela matéria orgânica que se liga aos íons metálicos.
FIGURA 13-7 O cálcio medido na chuva ácida, liberado a partir do mármore (principalmente CaCO3) devido à chuva ácida aumenta bruscamente quando a [H+] na água da chuva aumenta. [Dados de P. A. Baedecker e M. M. Reddy, “The Erosion of Carbonate Stone by Acid Rain”, J. Chem. Ed. 1993, 70, 104.]
FIGURA 13-8 Relação entre o alumínio total (incluindo espécies dissolvidas e espécies em suspensão) em 1 000 lagos noruegueses em função do pH da água do lago. Quanto mais ácida a água, maior é a concentração de alumínio. [Dados de G. Howells, Acid Rain and Acid Waters, 2nd ed. (Hertfordshire: Ellis Horwood, 1995).]
Solubilidade do Oxalato de Bário Consideramos agora a dissolução de Ba(C2O4), cujo ânion é dibásico e cujo cátion é um ácido fraco.5 Desprezamos os coeficientes de atividade neste exemplo. A química nesse sistema é
O valor do Kps é estimado em μ = 0 e 20°C. O Kpi é para μ = 0 e 18°C. K1, K2 e Ka são usadas em μ = 0 e 25°C. O balanço de carga é
O balanço de massa estabelece que o número total de mols de bário é igual ao número total de mols de oxalato:
Estamos definindo FBa e FH2Ox para eliminar o par iônico Ba(C2O4)(aq).
Existem oito incógnitas e oito equações independentes (incluindo [OH–] = Kw/[H+]), o que significa que temos informação suficiente para calcular a concentração de todas as espécies. Vamos considerar a formação de pares iônicos adicionando as Reações 13-44 e 13-48 para calcular
O par iônico Ba(C2O4)(aq) tem uma concentração constante neste sistema.
Portanto, [BaC2O4(aq)] = 1024,54 M enquanto o BaC2O4(s) não dissolvido estiver presente. Agora, nossas velhas conhecidas, as equações de composição fracionária. Abreviando o ácido oxálico como H2Ox, podemos escrever
Os íons Ba2+ e BaOH+ também são um par conjugado ácido-base. O Ba2+ comporta-se como um ácido monoprótico, HA, e o BaOH+ é a sua base conjugada, A–. FBa = [Ba2+] + [BaOH+]
Vamos supor que o pH é fixado pela adição de um tampão (e que, portanto, o balanço de carga 13-49 não é mais válido). A partir do Kps, podemos escrever
Mas o balanço de massa 13-50 nos indica que FBa = FH2Ox. Portanto,
FIGURA 13-9 Planilha eletrônica para a solução saturada de BaC2O4. O Solver foi utilizado para encontrar o valor do pH, na célula A11, necessário para fazer a carga líquida igual a 0 na célula H23.
Na planilha eletrônica da Figura 13-9, o pH é especificado na coluna A. Deste pH, mais K1 e K2, podemos calcular as frações αH2Ox, αHOx– e αOx2– com as Equações 13-52 até 13-54, nas colunas C, D e E. A partir do pH e do Ka, calculam-se as frações usando-se as Equações 13-55 e 13-56, nas colunas F e G. As concentrações totais de bário e oxalato, FBa e FH2Ox, são iguais e calculadas por meio da Equação 13-57 na coluna H. Em uma planilha eletrônica real, poderíamos continuar a inclusão de colunas para a direita com a coluna I. Para ajustar nesta página, a planilha eletrônica foi continuada na linha 18. Nesta seção mais abaixo, as concentrações de [Ba2+] e [BaOH+] são calculadas a partir das Equações 13-55 e 13-56. [H2C2O4], [HC2O4–] e [C2O42–] são determinadas a partir das Equações 13-52 até 13-54. A carga líquida (= [H+] + 2[Ba2+] + [BaOH+] – [OH–] – [HC2O4–] – 2[C2O42–] é calculada inicialmente na célula H19. Se não adicionarmos um tampão para fixar o pH, a carga líquida será 0. A carga líquida varia de um valor positivo até um valor negativo para os valores de pH entre 6 e 8. Utilizando o Solver, podemos encontrar o valor do pH na célula A11, que torna o valor da carga
líquida igual a 0 na célula H23 (com a Precisão de Restrição Solver = 1e-15 nas Opções do Solver). Esse valor de pH, 7,45, é o valor do pH da solução não tamponada. A Figura 13-10 mostra que a solubilidade do oxalato de bário é constante e próxima a 1023,4 M no meio do intervalo de variação do pH. A solubilidade aumenta para valores de pH abaixo de 5 porque o C2O42– reage com o H+ para formar HC2O4–. Como observação final vemos se a solubilidade do Ba(OH)2(s) é ultrapassada. O cálculo do produto [Ba2+][OH–]– mostra que o valor de Kps = 1026,85 não é ultrapassado em pH acima de 12,3. Podemos predizer que o Ba(OH)2(s) começará a precipitar no valor de pH 12,3. Essa precipitação não foi incluída em nossos cálculos ou no gráfico. Niels Bjerrum (1879-1958) foi um físico-químico dinamarquês que fez contribuições fundamentais para a química inorgânica de coordenação e é responsável por muito do nosso conhecimento sobre ácidos, bases e curvas de titulação.9
13-4
Analisando as Titulações Ácido-Base com Grá cos de Diferença8
Um gráfico de diferença, também chamado de gráfico de Bjerrum, é um excelente meio de extrair constantes de formação metalligante ou constantes de dissociação ácida a partir de dados de titulações obtidos por meio de eletrodos. Vamos aplicar o gráfico de diferença em uma curva de titulação ácido-base. Deduziremos a equação fundamental para um ácido diprótico, H2A, e estenderemos sua utilização para um ácido genérico, HnA. A fração média de prótons ligada a H2A varia de 0 a 2 e é definida como
Podemos medir –nH por meio de uma titulação iniciada com uma mistura de A mmol de H2A e C mmol de HCl em V0 mL. Adicionamos HCl de modo a aumentar o grau de protonação de H2A, que está parcialmente dissociado na ausência de HCl. Titulamos a solução com NaOH padrão cuja concentração é Cb mol/L. Após a adição de v mL de NaOH, o número de mmol de Na1 em solução é Cbv. Para manter a força iônica aproximadamente constante, a solução de H2A e HCl contém KCl 0,10 M, sendo as concentrações de H2A e HCl muito menores do que 0,10 M. A solução de NaOH é suficientemente concentrada, de maneira que o volume adicionado é pequeno comparado a V0. O balanço de carga para a solução titulante é
em que [CL–]HCl é proveniente do HCl e [CL–]KCl proveniente do KCl. Mas, [K+] = [CL–]KCl; logo podemos cancelar esses termos. O balanço de cargas líquido é
O denominador da Equação 13-58 é FH2A = [H2A] + [HA–] + [A2–]. O numerador pode ser escrito como 2FH2A – [HA–] – 2[A2–]. Desse modo
A partir da Equação 13-59, podemos escrever: – [HA–] – 2[A2–] = [OH–] + [CL–]HCl – [H+] – [Na+]. Substituindo esta expressão no numerador da Equação 13-60, obtemos
Para o ácido poliprótico genérico HnA, a fração média de prótons ligados se torna
Cada termo do lado direito da Equação 13-61 é conhecido durante a titulação. Para os reagentes misturados, podemos dizer
FIGURA 13-10 Dependência em relação ao pH das concentrações das espécies na solução saturada de BaC2O4. Quando o valor do pH diminui, o H+ reage com C2O42– para produzir HC2O4– e H2C2O4, e a concentração de Ba2+ aumenta.
Os valores de [H+] e [OH–] são medidos por meio de um eletrodo de pH e calculados como é visto a seguir: consideramos que o valor efetivo de Kw, aplicado para μ = 0,10 M seja Kw′ = Kw/(γH1γOH–) = [H+][OH–] (Equação 13-25). Lembrando que pH = – log([H+]γH1), podemos escrever
A substituição deste resultado na Equação 13-61 fornece a fração medida de prótons ligados: Fração experimental de prótons ligados a um ácido poliprótico.
Nas titulações ácido-base, um gráfico de diferença, ou gráfico de Bjerrum, é o gráfico da fração média de prótons ligados de um ácido contra o valor do pH. A fração média é o valor de –nH calculado por meio da Equação 13-62. Para a formação de complexos, o gráfico de diferença fornece o número médio de ligantes ligados em um metal contra pL (= –log[ligante]). A Equação 13-62 fornece o valor medido de –nH. Qual é o valor teórico? Para um ácido diprótico, a fração média teórica de prótons ligados é
em que αH2A é a fração do ácido na forma H2A e αHA– é a fração na forma HA–. Neste momento, estamos aptos a escrever as expressões para αH2A e αHA– mesmo dormindo.
A Equação 13-63 provém da Equação 13-58:
Podemos extrair os valores de K1 e K2, a partir do gráfico de uma titulação experimental, construindo um gráfico de diferença com a Equação 13-62. Este gráfico é o valor de n̅H contra o valor do pH. Ajustamos, então, a curva teórica (Equação 13-63) à curva experimental, pelo método dos mínimos quadrados, para encontrar os valores de K1 e K2 que minimizam a soma dos quadrados dos resíduos: Os melhores valores de K1 e K2 minimizam a soma dos quadrados dos resíduos.
Os dados experimentais para uma titulação do aminoácido glicina são mostrados na Figura 13-11. O volume inicial de 40,0 mL de solução contém 0,190 mmol de glicina e 0,232 mmol de HCl para aumentar a fração da espécie +H3NCH2CO2H, completamente protonada. Foram adicionadas alíquotas de NaOH 0,490 = M e medidos os valores de pH após cada adição. Os volumes e os valores de pH estão listados nas colunas A e B a partir da linha 16. A precisão do valor do pH foi até a terceira casa decimal (0,001), mas a exatidão da medida do pH, na melhor das hipóteses, é de 60,02. Os valores de entrada para a concentração, o volume e o número de mols estão nas células B3:B6 da Figura 13-11. A célula B7 tem o valor 2 para indicar que a glicina é um ácido diprótico. A célula B8 tem o coeficiente de atividade do H+ calculado por meio da equação de Davies, Equação 13-18. A célula B9 começa com o valor efetivo de pKw′ = 13,797 (KCl 0,1 M).10 Deixamos que pKw′ varie de modo a obter-se o melhor ajuste dos dados experimentais. Temos então o valor de 13,807 na célula B9. As células B10 e B11 começaram com valores estimados para pK1 e pK2 da glicina. Utilizamos os valores 2,35 e 9,78, para μ = 0, da Tabela 10-1. Como é explicado na próxima subseção, usaremos o Solver para variar os valores de pK1, pK2 e pKw′ de modo a obtermos o melhor ajuste dos dados experimentais, fornecendo os valores 2,312 e 9,625 nas células B10 e B11. A planilha eletrônica da Figura 13-11 calcula [H+] e [OH–] nas colunas C e D a partir da linha 16. A fração média de protonação, nH(medido) obtida da Equação 13-62, está na coluna E. O gráfico de diferença Bjerrum na Figura 13-12 mostra nH(medido) contra o valor do pH. Os valores de αH2A e αHA– são calculados nas colunas F e G a partir da Equação 13-64, e nH(teórico) é calculado a partir da Equação 13-63 na coluna H. A coluna I contém os quadrados dos resíduos, [nH(calculado) – nH(teórico)]–. A soma dos quadrados dos resíduos está na célula B12. Utilizando o Solver do Excel para Otimizar Mais de Um Parâmetro Queremos os valores de pKw′, pK1 e pK2 que minimizam a soma dos quadrados dos resíduos na célula B12. Para isso, selecionamos o Solver. Na janela do Solver, fixamos a célula B12 em Definir Objetivo, selecionamos Mín e em Alterando Células Variáveis fixamos B9, B10, B11. Então, clicamos em Resolver e o Solver calcula os melhores valores nas células B9, B10 e B11 para minimizar a soma dos quadrados dos resíduos na célula B12. Começando com os valores 13,797, 2,35 e 9,78 nas células B9, B10 e B11 obtemos uma soma dos quadrados dos resíduos igual a 0,110 na célula B12. Após a execução do Solver, os valores das células B9, B10 e B11 mudam para 13,807, 2,312 e 9,625. A soma na célula B12 é reduzida para 0,004 8. Quando utilizamos o Solver para otimizar vários parâmetros de uma só vez, é uma boa ideia tentar valores iniciais diferentes para vermos se a mesma solução é alcançada. Algumas vezes, um mínimo local é alcançado e pode não ser o menor valor atingível a partir de outros pontos no espaço dos parâmetros.
FIGURA 13-11 Planilha eletrônica para o gráfico de diferença da titulação de 0,190 mmol de glicina e 0,232 mmol de HCl em 40,0 mL através de uma solução de NaOH 0,490 5 M. As células A16:B27 fornecem somente uma fração dos dados experimentais. [Os dados completos estão listados no Problema 13-15 e foram cedidos por A. Kraft, da Universidade de Heriot-Watt.]
FIGURA 13-12 Gráfico de Bjerrum para a titulação da glicina. Muitos pontos experimentais foram omitidos da figura por uma questão de clareza. Estritamente falando, pK1 e pK2 deveriam ser escritas com (′) para indicar que seus valores são aplicáveis em KCl 0,10 M. Retiramos os ″′″ para evitar complicações nos símbolos. Porém, distinguimos Kw, que é aplicável em μ = 0, de Kw′, que é aplicável em μ = 0,10
M.
A curva teórica nH = 2 αH2A + αHA– utilizando os resultados obtidos por meio do Solver contidos nas colunas F, G e H da Figura 13-11 é mostrada em uma curva sólida na Figura 13-12. A curva se ajusta muito bem aos dados experimentais, sugerindo que obtivemos valores confiáveis para pK1 e pK2. Pode parecer inapropriado permitir a variação de pKw′, pois pensamos conhecer o valor de pKw′ desde o início. A mudança do valor de pKw′ de 13,797 para 13,807 melhorou significativamente o ajuste. O valor 13,797 fornece valores de nH calculado que se aproximam de 0,04 no final da titulação da Figura 13-12. Esse comportamento é qualitativamente incorreto, pois nH precisa se aproximar de 0 em valores altos de pH. Uma pequena mudança no valor de pKw′ melhora muito o ajuste quando nH se aproxima de 0.
Termos Importantes equilíbrios associados gráfico de diferença
Resumo Equilíbrios acoplados são reações reversíveis que apresentam uma espécie em comum. Em função disso, cada reação tem influência sobre a outra. O tratamento geral para sistemas ácido-base começa com os balanços de carga e de massa e as expressões de equilíbrio. Devemos ter tantas equações independentes quanto o número de espécies químicas. Substituímos uma equação de composição fracionária de cada ácido ou base dentro do balanço de carga. Depois de entrarmos com as concentrações conhecidas das espécies, tais como Na+ e Cl–, e substituirmos [OH–] por KW/[H+], a única incógnita restante deve ser [H+]. Utilizamos a rotina Solver do Excel para calcular [H+] e então resolvemos todas as outras concentrações a partir de [H+]. Se existirem equilíbrios adicionais às reações ácido-base, tais como a formação de pares iônicos, então precisaremos do tratamento sistemático completo de equilíbrio. Fazemos o maior uso possível de equações de composição fracionária para simplificar o problema. Para fazer uso dos coeficientes de atividade, calculamos a constante de equilíbrio efetiva K9 para cada reação química com atividades obtidas a partir da equação de Davies. K9 é o quociente das concentrações de equilíbrio em uma determinada força iônica. As planilhas nas Figuras 13-3 e 13-5 determinam as concentrações que minimizam o balanço de carga, ou os balanços de carga e massa, e encontram a força iônica de uma forma automática e interativa com definições circulares. Consideramos problemas de solubilidade nos quais os cátions e os ânions podem participar de uma ou mais reações ácidobase, e em que pode ocorrer a formação de pares iônicos. Substituímos as expressões de composição fracionária de todas as espécies ácido-base dentro do balanço de massa. Em alguns sistemas, como o do oxalato de bário, as equações resultantes contêm as concentrações formais do ânion e do cátion e [H+]. O produto de solubilidade fornece uma relação entre as concentrações formais do ânion e do cátion, possibilitando então eliminar uma destas concentrações do balanço de massa. Admitindo um valor para [H+], podemos obter a concentração formal restante e, por conseguinte, todas as concentrações. Dessa forma, determinamos a composição em função do pH. O valor do pH da solução não tamponada é o pH no qual o balanço de carga é satisfeito. Para obter constantes de dissociação ácida a partir de uma curva de titulação, podemos construir um gráfico de diferença, ou gráfico de Bjerrum, que é o gráfico da fração média de prótons ligados, nH, contra o pH. Essa fração média pode ser medida por meio das quantidades de reagentes que foram misturados e do pH medido. A forma teórica do gráfico de diferença é expressa em função das composições fracionárias. Utilizamos o Solver do Excel para variar os valores das constantes de equilíbrio de forma a obter o melhor ajuste entre a curva teórica e os pontos medidos. Este processo minimiza a soma dos quadrados [nH (determinado) – nH (teórico)]2.
Exercícios Professores: Muitos destes exercícios são longos. Por favor, seja criterioso ao passá-los aos seus alunos. 13-A.
Desprezando os coeficientes de atividade e a formação de pares iônicos, calcule o pH e as concentrações das
espécies em 1,00 L de solução contendo 0,010 mol de hidroxibenzeno (HA), 0,030 mol de dimetilamina (B) e 0,015 mol de HCl. 13-B.
Repita o Exercício 13-A levando em consideração os coeficientes de atividade calculados a partir da equação de
Davies. 13-C.
(a) Desprezando os coeficientes de atividade e a formação de pares iônicos, calcule o pH e as concentrações das
espécies em 1,00 L de solução contendo 0,040 mol de ácido 2-aminobenzoico (uma molécula neutra, HA), 0,020 mol de dimetilamina (B) e 0,015 mol de HCl. (b) Qual é a fração de HA em cada uma das suas três formas? Qual é a fração de B em cada uma de suas duas formas? Compare suas respostas com as que você encontraria se o HCl reagisse com B e então o excesso de B reagisse com HA. Qual o pH previsto
a partir dessa simples estimativa? 13-D.
Inclua os coeficientes de atividade, calculados a partir da equação de Davies, para calcular o pH e as concentrações
das espécies na mistura de hidrogenotartarato de sódio, cloreto de piridínio e KOH da Seção 13-1. Considere somente as Reações 13-1 até 13-4. 13-E.
Considere uma solução saturada de AgCN, que apresenta a química mostrada a seguir sem considerar os coeficientes
de atividade:
Se o pH for fixado por meio de adição de um reagente não especificado (como um tampão), não poderemos escrever um balanço de carga para a solução. O balanço de massa é número de mols de prata dissolvidos = número de mols de cianeto dissolvidos Expresse a concentração de cada espécie em termos de [Ag+] e [H+]. Coloque a expressão para cada espécie no balanço de massa, que agora contém [Ag+] e [H+] como as únicas concentrações. Resolva a equação para [Ag+]. Prepare uma planilha com as seguintes colunas, e calcule todas as concentrações: pH
[H+] [Ag+] [CN–] [HCN] [AgOH] [OH–] Cargalíquida
0
1
1
0,1
.
.
.
14
10–14
Sem tampão
?
Para a solução não tamponada, o pH é o valor que fornece carga líquida zero. Use a rotina Solver para encontrar o pH em que a carga líquida é nula. Prepare um gráfico como o da Figura 13-6 mostrando log[concentração] contra pH para cada espécie. Considerando o equilíbrio Ag2O(s) + H2O ⇒ 2 Ag+ + 2 OH–, em que pKAg2O = 15,42, o Aγ2O(s) precipitará a partir da solução não tamponada? 13-F.
Gráfico de diferença. Uma solução contendo 3,96 mmol de ácido acético e 0,484 mmol de HCl em 200 mL de KCl
0,10 M foi titulada com NaOH 0,490 5 M para determinar o Ka do ácido acético. (a) Escreva as expressões para a fração média medida de protonação, nH(experimental) e para a fração média teórica de protonação, nH(teórico). (b) A partir dos dados a seguir, prepare um gráfico de nH(exprimental) contra o pH. Determine os melhores valores para pKa e pKw′ por meio da minimização da soma dos quadrados dos resíduos, S[nH(medido) – nH (teórico)]2. V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
0,00
2,79
2,70
4,25
5,40
4,92
8,10
5,76
0,30
2,89
3,00
4,35
5,70
4,98
8,40
5,97
0,60
3,06
3,30
4,42
6,00
5,05
8,70
6,28
0,90
3,26
3,60
4,50
6,30
5,12
9,00
7,23
1,20
3,48
3,90
4,58
6,60
5,21
9,30
10,14
1,50
3,72
4,20
4,67
6,90
5,29
9,60
10,85
1,80
3,87
4,50
2,72
7,20
5,38
10,90
11,39
2,40
4,15
5,10
4,85
7,80
5,61
10,50
11,54
Dados de A. Kraft, J. Chem. Ed. 2003, 80, 554.
Problemas Professores: Muitos destes problemas são longos. Por favor, seja criterioso ao passá-los aos seus alunos. 13-1. Por que a solubilidade de um sal de ânion básico aumenta com a diminuição do pH? Escreva as reações químicas envolvendo os minerais galena (PbS) e cerusita (PbCO3) para explicar como a chuva ácida insere traços de metal, dessas formas relativamente inertes, no meio ambiente, onde o metal pode ser absorvido por plantas e animais. 13-2.
(a) Considerando apenas a química ácido-base, e desprezando a formação de pares iônicos e os coeficientes de
atividade, utilize o tratamento sistemático do equilíbrio para encontrar o valor do pH em 1,00 L de solução contendo 0,010 0 mol de hidroxibenzeno (HA) e 0,005 0 mol de KOH. (b) Que valor de pH seria previsto a partir do conhecimento adquirido no Capítulo 8? (c) Determine o valor do pH se [HA] e [KOH] forem ambas reduzidas por um fator de 100. 13-3.
Repita a parte (a) do Problema 13-2 usando os coeficientes de atividade de Davies. Lembre-se de que pH = –
log([H1]γH1). 13-4.
A partir dos valores de pK1 e pK2 da glicina em μ = 0, provenientes da Tabela 9-1, calcule pK1′ e pK2′ em μ = 0,1 M.
Utilize a equação de Davies para determinar os coeficientes de atividade. Compare a resposta com os valores experimentais das células B10 e B11 da Figura 13-13. 13-5.
Considerando apenas a química ácido-base e desprezando a formação de pares iônicos e os coeficientes de atividade,
utilize o tratamento sistemático do equilíbrio para encontrar os valores de pH e das concentrações das espécies em 1,00 L de solução contendo 0,100 mol de etilenodiamina e 0,035 mol de HBr. Compare o valor do pH com o encontrado pelos métodos do Capítulo 10. 13-6.
Considerando apenas a química ácido-base e desprezando a formação de pares iônicos e os coeficientes de atividade,
encontre os valores de pH e das concentrações das espécies em 1,00 L de solução contendo 0,040 mol de ácido benzeno-1,2,3tricarboxílico (H3A), 0,030 mol de imidazol (uma molécula neutra, HB) e 0,035 mol de NaOH. 13-7.
Considerando apenas a química ácido-base e desprezando a formação de pares iônicos e os coeficientes de atividade,
determine os valores de pH e as concentrações das espécies em 1,00 L de solução contendo 0,020 mol de arginina, 0,030 mol de ácido glutâmico e 0,005 mol de KOH. 13-8.
Resolva o Problema 13-7 utilizando os coeficientes de atividade de Davies.
13-9.
Uma solução contendo KH2PO4 0,008 695 m e Na2HPO4 0,030 43 m é um tampão-padrão primário com um valor
nominal de pH de 7,413 a 25°C. Calcule o valor do pH desta solução utilizando o tratamento sistemático de equilíbrio com os coeficientes de atividade calculados a partir da (a) equação de Davies e (b) equação estendida de Debye-Hückel. 13-10.
Considerando apenas a química ácido-base e desprezando a formação de pares iônicos e os coeficientes de
atividade, determine os valores de pH e as concentrações das espécies em 1,00 L de solução contendo 0,040 mol de H4EDTA (EDTA = ácido etilenodinitrilotetra-acético ≡ H4A), 0,030 mol de lisina (molécula neutra ≡ HL) e 0,050 mol de NaOH. 13-11.
A solução sem a adição de KNO3 da Figura 7-1 contém Fe(NO3)3 5,0 mM, NaSCN 5,0 mM e HNO3 15 mM. Vamos
usar os coeficientes de atividade de Davies para determinar os valores das concentrações de todas as espécies, utilizando as seguintes reações:
(a) Escreva as quatro expressões de equilíbrio (incluindo Kw). Expresse as constantes de equilíbrio efetivas em termos das constantes de equilíbrio e dos coeficientes de atividade. Por exemplo, Kw′ = Kw/γH1γOH–. Escreva as expressões para [Fe(SCN)2+], [Fe(SNC)21], [FeOH2+] e [OH–] em termos de [Fe3+], [SCN–] e [H+]. (b) Escreva o balanço de carga. (c) Escreva o balanço de massa para o ferro, tiocianato, Na+ e NO3–. (d) Com sete incógnitas ([Fe3+], [SCN–], [H+], [Fe(SCN)2+], [Fe(SNC)21], [FeOH2+] e [OH–]) e quatro expressões de equilíbrio, gostaríamos de usar o Solver para encontrar 7 – 4 = 3 incógnitas. É lógico selecionar [Fe3+], [SCN–] e [H+] com incógnitas e usar as equações de (a) na planilha. Infelizmente, às vezes o Solver não funciona bem para encontrar três incógnitas. Esse problema é um desses casos. Podemos reduzir o problema para encontrar duas incógnitas se pudermos expressar uma das incógnitas escolhidas como uma função das demais. Substitua as expressões do item (a) no balanço de massa para o tiociananto a fim de obter a equação mostrada a seguir, que fornece [Fe3+] em função de [SCN–].
(e) Crie uma planilha eletrônica como a da Figura 13-5 para encontrar todas as concentrações na solução constituída por Fe(NO3)3 5,0 mM, NaSCN 5,0 mM e HNO3 15 mM. Fixe pSCN e pH como as duas incógnitas que serão encontradas por meio do Solver. Use os coeficientes de atividade de Davies. Como uma verificação importante, mostre que a soma das espécies contendo Fe é 5,000 mM, e que a soma das espécies contendo tiocianato (SCN–) é igual 5,000 µM. (f) A solução contém H+ 0,015 8 M. O ácido nítrico fornece H+ 0,0015 0 M. De onde vêm os restantes H+ 0,000 8 M? (g) Determine o quociente [Fe(SCN)2+]/({[Fe3+] + [FeOH2+]}[SCN–]). Este é o ponto em que [KNO3] = 0 na Figura 8-1. Compare a resposta com a Figura 8-1. A ordenada da Figura 8-1 é simbolizada por [Fe(SCN)2+]/([Fe3+][SCN–]), mas [Fe3+] se refere realmente à concentração total de ferro não ligado ao tiocianato. (h) Ache o quociente da etapa (g) para quando a solução também contiver KNO3 0,20 M. Compare a resposta com a Figura 8-1. 13-12.
(a) Siga as etapas do Problema 13-11 para resolver este problema. A partir dos equilíbrios vistos a seguir, encontre
os valores das concentrações das espécies e do pH em uma solução de La2(SO4)3 1,0 mM. Utilize os coeficientes de atividade de Davies.
Escolha pSO42– e pH como as variáveis independentes e encontre uma expressão para [La3+] em termos de [SO42–] e [H+]. Ao fazer uso do Solver para minimizar a soma dos quadrados dos balanços de carga e massa com Precisão de Restrição 1E–15, o Solver não convergiu para uma solução. Assim, Precisão de Restrição foi fixada em 1E–10 e o Solver encontrou uma solução. Então, Precisão de Restrição foi fixada em 1E–15 para continuar alternadamente a refinar os valores de [SO42–] e [H+]. (b) Se La2(SO4)3 fosse um eletrólito forte, qual seria a força iônica da solução de La2(SO4)3 1,0 mM? Qual é a força iônica real desta solução? (c) Que fração do lantânio está sob a forma de La3+? (d) Por que não consideramos a hidrólise do SO42– dando HSO4–? (e) O La(OH)3(s) precipita nesta solução? 13-13.
Encontre a composição de uma solução saturada de AgCN contendo KCN 0,10 M e ajustada para pH = 12,00 com
NaOH. Determine quem é a espécie principal que contém prata. Considere os equilíbrios vistos a seguir e utilize os coeficientes de atividade de Davies.
Procedimento sugerido: Sabe-se que [K+] = 0,1 M e [H+] = (10–pH)/γH1. Considere pCN e pNa como as variáveis principais para ajustar com o Solver, de modo a minimizar os balanços de massa e carga. Podemos determinar [Ag+] = K′ps/[CN–]. Utilize as expressões de equilíbrio para encontrar [OH–], [HCN], [AgOH], [Ag(OH)(CN)–], [Ag(CN)2–] e [Ag(CN)32–]. O balanço de massa é {prata total} + [K+] = {cianeto total}. 13-14.
Considere as reações do Fe2+ com o aminoácido glicina:
Suponha que 0,050 mol de FeG2 é dissolvido em 1,00 L e que adiciona-se HCl suficiente para ajustar o valor do pH em 8,50. Utilize os coeficientes de atividade de Davies para encontrar a composição da solução. Que fração do ferro está em cada uma de suas formas e que fração da glicina está em cada uma de suas formas? A partir da distribuição das espécies, explique a principal razão química para adicionarmos HCl para obter um pH igual a 8,50. Procedimento sugerido: Existem seis constantes de equilíbrio listadas anteriormente, mais o equilíbrio para Kw, dando um total de sete equilíbrios. Existem 11 concentrações desconhecidas, incluindo [Cl–] do HCl adicionado para fixar o pH. Você pode escrever balanços de massa para o ferro e a glicina, e pode escrever um balanço de carga. Com onze incógnitas e sete equações, você precisa resolver para quatro incógnitas. Entretanto, [H+] é conhecido a partir da fixação do pH. Assim, você precisará resolver para três concentrações desconhecidas com a ajuda do Solver. Utilize as expressões de equilíbrio para escrever todas as concentrações em termos de [G–], [Fe2+] e [H+], dos quais [H+] é conhecida. Considere [Fe81], [G– ] e [Cl–] variáveis independentes. Use o Solver para encontrar os valores de pFe, pG e pCl, de forma a satisfazerem os balanços combinados de carga e de massa. 13-15.
Os dados para o gráfico de diferença da glicina da Figura 13-12 são dados na tabela vista a seguir.
V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,32
2,234 2,244 2,254 2,266 2,278 2,291 2,304 2,318 2,333 2,348 2,363 2,380 2,397 2,413 2,429 2,448 2,467
0,40 0,42 0,44 0,46 0,48 0,50 0,52 0,54 0,56 0,58 0,60 0,62 0,64 0,66 0,68 0,70 0,72
2,550 2,572 2,596 2,620 2,646 2,675 2,702 2,736 2,768 2,802 2,838 2,877 2,920 2,966 3,017 3,073 3,136
0,80 0,82 0,84 0,86 0,88 0,90 0,92 0,94 0,96 0,98 1,00 1,02 1,04 1,06 1,08 1,10 1,12
3,528 3,713 4,026 5,408 8,149 8,727 8,955 9,117 9,250 9,365 9,467 9,565 9,660 9,745 9,830 9,913 10,000
1,20 1,22 1,24 1,26 1,28 1,30 1,32 1,34 1,36 1,38 1,40 1,42 1,44 1,46 1,48 1,50 1,52
10,383 10,488 10,595 10,697 10,795 10,884 10,966 11,037 11,101 11,158 11,209 11,255 11,296 11,335 11,371 11,405 11,436
0,34 0,36 0,38
2,487 2,506 2,528
0,74 0,76 0,78
3,207 3,291 3,396
1,14 1,16 1,18
10,090 1,183 10,280
1,54 1,56 1,58 1,60
11,466 11,492 11,519 11,541
Dados de A. Kraft, J. Chem. Ed. 2003, 80, 554. (a) Reproduza a planilha eletrônica da Figura 13-11 e mostre que conseguimos o mesmo valor de pK1 e pK2 nas células B10 e B11 após a execução do Solver. Comece com diferentes valores de pK1 e pK2 e veja se o Solver encontra as mesmas soluções. (b) Utilize o Solver para encontrar os melhores valores para pK1 e pK2, enquanto pKw′ é fixado em seu valor esperado de 13,797. Descreva como nH (medido) se comporta quando pKw′ é fixo. 13-16.
Gráfico de diferença. Uma solução contendo 0,139 mmol do ácido triprótico tris(2-aminoetil)amina · 3HCl e 0,115
mmol de HCl em 40 mL de KCl 0,10 M foi titulado com uma solução de NaOH 0,490 5 M para medir as constantes de dissociação ácidas.
(a) Escreva as expressões para as frações médias experimentais de protonação, nH (experimental), e as frações médias teóricas de protonação, nH (teórico). (b) A partir dos dados da tabela vista a seguir, prepare um gráfico de nH (experimental) contra o pH. Encontre os melhores valores para pK1, pK2, pK3 e pKw′ que minimizem a soma dos quadrados dos resíduos, S[nH (experimental) – nH (teórico)]2. (c) Faça um gráfico de composição fracionária mostrando as frações H3A3+, H2A2+, HA+ e A em função do pH. V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
V(mL)
pH
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,32 0,34
2,709 2,743 2,781 2,826 2,877 2,937 3,007 3,097 3,211 3,366 3,608 4,146 5,807 6,953 7,523 7,809 8,003 8,158
0,36 0,38 0,40 0,42 0,44 0,46 0,48 0,50 0,52 0,54 0,56 0,58 0,60 0,62 0,64 0,66 0,68 0,70
8,283 8,393 8,497 8,592 8,681 8,768 8,851 8,932 9,011 9,087 9,158 9,231 9,299 9,367 9,436 9,502 9,564 9,626
0,72 0,74 0,76 0,78 0,80 0,82 0,84 0,86 0,88 0,90 0,92 0,94 0,96 0,98 1,00 1,02 1,04 1,06
9,687 9,748 9,806 9,864 9,926 9,984 10,042 10,106 10,167 10,230 10,293 10,358 10,414 10,476 10,545 10,615 10,686 10,756
1,08 1,10 1,12 1,14 1,16 1,18 1,20 1,22 1,24 1,26 1,28 1,30 1,32 1,34 1,36 1,38 1,40
10,826 10,892 10,955 11,019 11,075 11,128 11,179 11,224 11,268 11,306 11,344 11,378 11,410 11,439 11,468 11,496 11,521
Dados de A. Kraft, J. Chem. Ed. 2003, 80, 554. 13-17.
Formação de pares iônicos em sistemas ácido-base. Este problema incorpora os equilíbrios de pares iônicos,
Equações 13-12 e 13-13, na química ácido-base da Seção 13-1. (a) A partir do balanço de massa 13-15, obtenha a Equação 13-16. (b) Substitua as expressões de equilíbrio dentro do balanço de massa 13-17 para encontrar uma expressão para [T22] em termos de [H+], [Na+] e das várias constantes de equilíbrio. (c) Com o mesmo procedimento da etapa (b), obtenha as expressões para [HT–] e [H2T].
(d) Adicione as espécies [NaT–] e [NaHT] na planilha eletrônica da Figura 13-1 e calcule a composição e o pH da solução. Calcule [Na+] por meio da Equação 13-16. Calcule [H2T], [HT–] e [T22] a partir das expressões obtidas nas etapas (b) e (c). O Excel indica um problema de referência circular porque, por exemplo, a fórmula para [Na+] depende da [T22] e a fórmula para [T22] depende de [Na+]. Habilite o Excel a lidar com referências circulares (Seção 13-2). Então, use o Solver para encontrar o pH na célula H13 que reduz a carga líquida na célula E15 a (quase) zero.
BATERIA DE ÍON LÍTIO
Baterias de íon lítio recarregáveis de alta capacidade, como as usadas em telefones celulares e microcomputadores, são brilhantes exemplos dos resultados da pesquisa em química de materiais. As reações químicas simpli cadas para essas baterias são vistas a seguir,
No C6Li, os átomos de lítio se situam entre camadas de carbono na forma de gra ta. Átomos ou moléculas localizados entre camadas de uma estrutura são chamados de intercalados. Durante o funcionamento da bateria, os íons lítio migram da gra ta para o óxido de cobalto. Os átomos de lítio deixam elétrons na gra ta, e os íons Li1 resultantes cam intercalados entre camadas de CoO2. Para ir da gra ta para o óxido de cobalto, o Li1 passa através de um eletrólito consistindo em um sal de lítio dissolvido em um solvente orgânico de alto ponto de ebulição. Um polímero poroso usado para separar a gra ta do óxido de cobalto é um isolante elétrico que permite que os íons Li1 passem de um lado para o outro. Os elétrons se deslocam através do circuito externo para alcançar o óxido de cobalto e manter a eletroneutralidade. Durante a recarga, os íons Li1 uem do LiCoO2 para a gra ta sob a in uência de um campo elétrico aplicado externamente.
Baterias são células galvânicas, assunto que será abordado neste capítulo. Uma célula galvânica faz uso de uma reação química espontânea para produzir eletricidade. Uma bateria de íon lítio com uma única célula produz ~3,7 volts. Essas baterias armazenam duas vezes mais energia por unidade de massa do que as baterias de níquel-hidreto metálico que elas substituíram. A investigação que está sendo feita atualmente procura materiais melhores e microestruturas com grandes áreas que possam ser usados como eletrodos e camadas de separação. Os objetivos incluem maior densidade de energia, maior tempo de vida (duração) e funcionamento mais seguro. Em 2013, dois princípios de incêndio em baterias de lítio mantiveram a frota de aviões Boeing 787 no chão por quatro meses. Embora tenham se tratado de incidentes raros, a operação segura em um avião é um critério essencial.
Direção do uxo de elétrons da bateria de lítio para o microcomputador.
A
eletroquímica é a principal área da química analítica que utiliza medidas elétricas de sistemas químicos com objetivos analíticos.1 Por exemplo, na abertura do Capítulo 1 mostramos um eletrodo sendo usado para detectar moléculas de um neurotransmissor liberadas por uma célula nervosa. A eletroquímica também se refere à utilização da eletricidade para realizar uma reação química ou à utilização de uma reação química para produzir eletricidade.
14-1
Conceitos Básicos
Uma reação redox envolve a transferência de elétrons de uma espécie para outra. Considera-se que uma espécie é oxidada quando ela perde elétrons. Quando ganha elétrons, ela é reduzida. Um agente oxidante, também chamado simplesmente de um oxidante, recebe elétrons de uma outra substância e torna-se reduzido. Um agente redutor, ou simplesmente um redutor, cede elétrons para uma outra substância, sendo oxidado no processo. Na reação Oxidação: perda de elétrons Redução: ganho de elétrons Agente oxidante: recebe elétrons Agente redutor: cede elétrons
o Fe3+ é o agente oxidante porque recebe um elétron do V2+, que é o agente redutor porque cede um elétron para o Fe3+. O Fe3+ é reduzido e o V2+ é oxidado enquanto a reação avança da esquerda para a direita. No Apêndice D temos uma revisão sobre números de oxidação e o balanceamento de equações redox. Química e Eletricidade
Quando os elétrons provenientes de uma reação redox fluem através de um circuito elétrico, podemos entender alguns aspectos dessa reação fazendo medidas de corrente elétrica e de diferença de potencial elétrico. A corrente elétrica é proporcional à velocidade da reação, e a diferença de potencial elétrico é proporcional à variação de energia livre da reação eletroquímica. Carga Elétrica A carga elétrica, (q), é medida em coulombs (C). O valor em módulo da carga elétrica de um único elétron ou próton é 1,602 × 10×19 C, de modo que 1 mol de elétrons ou prótons possui uma carga de (1,602 × 10×19 C) × (6,022 × 1023 mol–1) = 9,649 × 104 C, chamada de constante de Faraday, F. Para N mols de uma espécie com n cargas por molécula, o número de mols de carga é nN. Por exemplo, para o íon Fe3+, n = 3 porque cada íon contém três unidades de carga. A carga elétrica em coulombs é
As unidades são consistentes porque o número de unidades de carga por molécula, n, é adimensional. A carga em um mol de Fe3+ é dada por q = nNF = (3)(1 mol)(9,649 × 104 C/mol) = 2,89 × 105 C.
Michael Faraday (1791-1867) foi um “ lósofo natural” (a antiga denominação para “cientista”) autodidata inglês que descobriu que a extensão de uma reação eletroquímica é proporcional à carga elétrica que passa através de uma célula eletroquímica. Faraday descobriu muitas leis fundamentais do eletromagnetismo. Ele nos propiciou o motor elétrico, o gerador elétrico e o transformador elétrico, bem como os termos íon, cátion, ânion, eletrodo, catodo, anodo e eletrólito. Seu dom para palestras é lembrado principalmente por suas demonstrações para crianças na época do Natal na Royal Institution em Londres. Faraday “tinha um grande prazer em falar às crianças, e ganhava facilmente a con ança delas…. Elas se sentiam como se ele pertencesse a elas; na verdade, ele, às vezes, em seu entusiasmo alegre, parecia uma criança inspirada”.2 [wynnter / iStockphoto.] EXEMPLO
Relacionando o Número de Coulombs com a Quantidade das Espécies Produzidas ou Consumidas em uma Reação
Se 5,585 g de Fe3+ forem reduzidos conforme a Reação 14-1, quantos coulombs de carga devem ter sido transferidos do V2+ para o Fe3+? Solução O número de mols de ferro reduzido é igual a (5,585 g)/(55,845 g/mol) = 0,100 0 mol de Fe3+. Cada íon Fe3+ requer n = 1 elétron na Reação 14-1. Utilizando a constante de Faraday, determinamos que 0,100 0 mol de elétrons correspondem a
TESTE A VOCÊ MESMO Quantos mols de Sn41 são reduzidos a Sn2+ por 1,00 C de carga elétrica? (Resposta: 5,18 mmol) Corrente Elétrica A quantidade de carga fluindo a cada segundo através de um circuito é chamada de corrente elétrica. A unidade de corrente elétrica é o ampère, abreviado como A. Uma corrente de um ampère representa uma carga de 1 coulomb por segundo passando por determinado ponto de um circuito elétrico. 1 A = 1 C/s
FIGURA 14-1 Elétrons circulando por um fio de Pt, na forma espiral, imerso em uma solução em que íons Sn41 são reduzidos a íons Sn2+. Esse processo não pode ocorrer espontaneamente, pois não existe um circuito elétrico completo. Se o Sn41 for reduzido na superfície desse eletrodo de Pt, outra espécie deve ser oxidada em outro lugar.
EXEMPLO
Relacionando Corrente Elétrica com Velocidade de Reação
Suponha que elétrons são forçados para dentro de um o de platina imerso em uma solução contendo Sn41 (Figura 14-1), que é reduzido a Sn2+ com uma velocidade de reação constante de 4,24 mmol/h. Qual quantidade de corrente elétrica passa através da solução? Solução São necessários dois elétrons para reduzir um íon Sn41: Sn4+ + 2e– → Sn2+
Os elétrons circulam com uma velocidade de (2 mmol de e–/mmol de Sn4+)(4,24 mmol de Sn4+/h) = 8,48 mmol de e–/h, o que corresponde a
Para determinarmos o valor da corrente elétrica, convertemos o número de mols de elétrons por segundo em coulombs por segundo:
TESTE A VOCÊ MESMO Qual o valor da corrente que reduz o Sn4+ com uma velocidade de 1,00 mmol/h? (Resposta: 53,6 mA) Na Figura 14-1, vemos um eletrodo de Pt, que transfere ou retira elétrons de uma espécie química envolvida na reação redox. A platina é muito utilizada como um eletrodo inerte, porque ela não participa da reação redox, funcionando apenas como condutora de elétrons. Potencial Elétrico, Trabalho e Energia Livre É necessário fazer trabalho para aproximar cargas elétricas de mesmo sinal. Por outro lado, pode ser feito quando cargas elétricas de sinais opostos se aproximam uma da outra.
FIGURA 14-2
Analogia entre o escoamento de água através de uma mangueira e a circulação de eletricidade através de um fio.
Cargas positivas e negativas se atraem. Cargas positivas repelem outras cargas positivas; cargas negativas repelem outras cargas negativas. A presença de cargas elétricas cria um potencial elétrico que atrai ou repele partículas carregadas. A diferença de potencial elétrico, E, entre dois pontos é o trabalho por unidade de carga que é necessário (ou que pode ser realizado) para que uma carga elétrica se movimente de um ponto ao outro. A diferença de potencial é medida em volts (V). Quanto maior a diferença de potencial elétrico entre dois pontos, maior será o trabalho necessário ou que pode ser realizado quando uma partícula carregada passa entre esses pontos. Uma boa analogia para entender os conceitos de corrente e potencial elétrico é imaginar a água fluindo por uma mangueira de jardim (Figura 14-2). Corrente é a carga elétrica que atravessa um ponto em um fio a cada segundo. A corrente elétrica é análoga ao volume de água que atravessa um ponto da mangueira a cada segundo. A diferença de potencial é análoga à pressão da água na mangueira. Quanto maior a pressão, mais rapidamente fluirá a água. Quando uma carga, q, se move através de uma diferença de potencial, E, o trabalho realizado é
O trabalho tem dimensões de energia, e a sua unidade é o joule (J). Um joule de energia é liberado ou absorvido quando 1 coulomb de carga se move entre pontos cujos potenciais elétricos diferem entre si de 1 volt. A Equação 14-3 nos mostra que as dimensões de volt são joule por coulomb.
EXEMPLO
Trabalho Elétrico
Qual o trabalho que pode ser realizado se 2,4 mmol de elétrons uem através de uma diferença de potencial de 0,27 V? Solução Para usarmos a Equação 14-3, devemos converter o número de mols de elétrons em carga elétrica expressa em coulombs. Cada elétron tem uma unidade de carga (n = 1), de modo que q = nNF = (1)(2,4 × 10–3 mol)(9,649 × 104 C/mol) = 2,3 × 102 C
O trabalho que pode ser realizado é Trabalho = E · q = (0,27 V)(2,3 × 102 C) = 62 J
TESTE A VOCÊ MESMO Qual deve ser a queda de potencial (em V) para que 1,00 mmol de e– façam 1,00 J de trabalho? (Resposta: 10,4 V) 1 V = 1 J/C
Na analogia com a mangueira de jardim, suponha que uma das extremidades da mangueira seja elevada 1 m acima da outra e que 1 L de água passe pela mangueira. Imagine que a água flui através de um dispositivo mecânico que realiza uma certa quantidade de trabalho. Se a extremidade da mangueira for elevada 2 m acima da outra, a quantidade de trabalho que pode ser realizada pela queda da água será duas vezes maior do que no caso anterior. A diferença de elevação entre as extremidades da mangueira nos dois casos é equivalente à diferença de potencial elétrico e o volume de água é análogo a carga elétrica. Quanto maior for a diferença de potencial elétrico entre dois pontos de um circuito, maior é o trabalho que pode ser realizado pela carga passando entre esses dois pontos. A Seção 6-2 apresentou uma breve discussão sobre a variação de energia livre, ΔG.
A variação de energia livre, ΔG, para uma reação química que ocorre reversivelmente, a temperatura e pressão constantes, é igual ao trabalho elétrico máximo possível que pode ser realizado pela reação sobre as suas vizinhanças:
O sinal negativo na Equação 14-4 indica que a energia livre de um sistema diminui quando o trabalho é realizado sobre as suas vizinhanças. Combinando-se as Equações 14-2, 14-3 e 14-4, obtemos uma das equações de maior importância para a química: ΔG = –trabalho = – E · q q = nNF
A Equação 14-5 relaciona a variação de energia livre de uma reação química com a diferença de potencial elétrico (isto é, a voltagem) que pode ser produzida pela reação. Lembre-se de que n é o número adimensional de cargas por molécula, e N é o número de mols, de modo que nN é o número de mols de carga transferidos na reação. Lei de Ohm A lei de Ohm estabelece que a corrente, I, que passa através de um circuito elétrico, é diretamente proporcional à diferença de potencial (voltagem) no circuito e inversamente proporcional à resistência, R, do circuito. Quanto maior for a diferença de potencial, mais corrente circulará. Quanto maior for a resistência, menos corrente circulará.
O Boxe 14-1 mostra medidas da resistência de uma única molécula através de medições de corrente elétrica e diferença de potencial e da aplicação da lei de Ohm.
A unidade de resistência elétrica é o ohm, simbolizado pela letra grega V (ômega). Uma corrente de 1 ampère circulará por um circuito no qual existe uma diferença de potencial de 1 volt se a resistência nesse circuito for de 1 ohm. Pela Equação 14-6, a unidade ampère (A) é equivalente a V/V. Potência A potência, P, é o trabalho realizado por unidade de tempo. A unidade SI de potência é J/s, mais conhecida como watt (W).
Como q/s é a corrente, I, podemos escrever
Potência (watts) = trabalho por segundo P = E · I = (IR) · I = I2R
Uma célula eletroquímica, capaz de gerar uma corrente de 1 ampère com uma diferença de potencial de 1 volt, tem uma potência de 1 watt.
EXEMPLO
Utilizando a Lei de Ohm
No circuito da Figura 14-3 a bateria produz uma diferença de potencial de 3,0 V e o resistor tem uma resistência de 100 Ω. Admitimos que a resistência do o que conecta a bateria e o resistor é desprezível. Qual a corrente e a potência que a bateria libera através desse circuito? Solução A corrente que circula no circuito é
A potência produzida pela bateria é P = E · I = (3,0 V)(0,030 A) = 90 mW
TESTE A VOCÊ MESMO Qual é diferença de potencial necessária para produzir 180 mW de potência? (Resposta: 4,24 V) BOXE 14-1
Lei de Ohm, Condutância e Fio Condutor Molecular3
A condutância elétrica de uma única molécula suspensa entre dois eletrodos de ouro é conhecida por meio da medida da diferença de potencial e da corrente elétrica aplicando-se a lei de Ohm. A condutância é 1/resistência, de modo que ela possui a unidade 1/ohm ≡ siemens (S). Para fazer as junções moleculares, a ponta de ouro de um microscópio de varredura por tunelamento foi deslocada de forma a fazer e desfazer o contato com um substrato de ouro em presença de uma solução contendo uma molécula teste terminada por grupos tiol (—SH). Tióis ligam-se espontaneamente ao ouro, formando pontes, como as que são mostradas a seguir. Correntes de nanoampères foram observadas com uma diferença de potencial de 0,1 V aplicada entre as superfícies de ouro.
O grá co a seguir apresenta quatro medidas de condutância quando a ponta do microscópio de varredura por tunelamento era afastada do substrato de Au. Regiões de condutância constante foram observadas nos múltiplos de 19 nS. Uma interpretação para o fato é que uma única molécula conectando as duas superfícies de Au tem condutância de 19 nS (ou uma resistência de 50 MV). Se duas moléculas formam pontes paralelas a condutância aumenta para 38 nS. Três moléculas fornecem uma condutância de 57 nS. Se existem três pontes e os eletrodos são afastados, uma das pontes é quebrada e a condutância cai para 38 nS. Quando a segunda ponte é desfeita, a condutância cai para 19 nS. A variação em torno do valor exato esperado para a condutância se deve ao fato de os ambientes de cada molécula na superfície do ouro não serem idênticos. Um histograma de mais de 500 observações do experimento apresenta picos em 19, 38 e 57 nS.
Variação da condutância quando a ponta de Au de um microscópio de varredura por tunelamento imersa em uma solução de ditiol é afastada de um substrato de Au. [Dados de X. Xiao, B. Xu e N. Tao, “Conductance Titration of Single-Peptide Molecules”, J. Am. Chem. Soc., 2004, 126, 5370.] Hidrocarbonetos (alcanos) podem ser considerados protótipos de isolantes elétricos. A condutância de alcanos ditióis diminui exponencialmente quando o comprimento da cadeia aumenta:4
A condutância de bipiridinas aromáticas conjugadas mostrada a seguir é várias ordens de magnitude maior do que a de hidrocarbonetos saturados de comprimento semelhante. De fato, a condutância de 2,9 nS para o composto com seis unidades repetidas e comprimento de 11 nm é quase três ordens de magnitude maior do que a registrada para os moleculares aromáticos de comprimento comparável contendo apenas átomos de carbono.
Dependência da condutividade com o comprimento da cadeia entre átomos de enxofre. [Dados de V. Kolivoška et al., “Single-Molecule Conductance in a Series of Extended Viologen Molecules”, J. Phys. Chem. Lett., 2013, 4, 589.]
O que acontece com a potência gerada pelo circuito? A energia aparece como calor no resistor. A potência (90 mW) é igual à taxa com que o calor é produzido no resistor. Apresentamos a seguir um resumo dos símbolos, unidades e equações que foram vistos nas últimas páginas:
FIGURA 14-3 Um circuito elétrico com uma bateria e um resistor. Benjamin Franklin pesquisou a eletricidade estática na década de 1740.5 Ele pensava que a eletricidade fosse um fluido que escoasse de um tecido de seda para um bastão de vidro quando o bastão era esfregado com o tecido. Hoje sabemos que os elétrons passam do vidro para a seda. Entretanto, a convenção de Franklin para o sentido da corrente elétrica foi mantida e, por isso, dizemos que a corrente se desloca do potencial positivo para o negativo – ao contrário do sentido do fluxo de elétrons.
14-2
Células Galvânicas
Uma célula galvânica, ou pilha galvânica, (também chamada célula voltaica, ou pilha voltaica) usa uma reação química espontânea para gerar eletricidade. Para isso, um dos reagentes deve ser oxidado enquanto o outro deve ser reduzido. Os dois reagentes, não podem estar em contato entre si, senão os elétrons iriam se transferir diretamente do agente redutor para o agente oxidante. Os agentes oxidante e redutor são fisicamente separados e os elétrons são forçados a fluir através de um circuito externo para passarem de um reagente para o outro.
A bateria inventada por Alessandro Volta (1745-1827) em 1799, consistia em camadas de Zn e Ag separadas por papelão embebido em salmoura. A “pilha voltaica” em exibição na Royal Institution em Londres foi dada por Volta a Humphry Davy e Michael Faraday quando eles visitaram a Itália em 1814. Por meio de eletrólise, Davy foi o primeiro a isolar Na, K, Mg, Ca, Sr e Ba. Faraday usou pilhas para descobrir leis da eletricidade e do magnetismo. [Cortesia de Daniel Harris.] Uma Célula Galvânica em Ação A Figura 14-4 mostra uma célula galvânica contendo dois eletrodos parcialmente imersos em uma solução de CdCl2. Um dos eletrodos é uma lâmina de cádmio metálico e o outro uma lâmina de prata metálica revestida com AgCl sólido. As reações ocorrendo nessa célula são
A reação da célula é constituída de uma reação de redução e de uma reação de oxidação, cada uma chamada de meia-reação. As duas meias-reações são escritas com o mesmo número de elétrons, de modo que, a sua soma, a reação da célula, não tem elétrons livres. O potenciômetro no circuito mede a diferença de potencial elétrico (a voltagem) entre os dois eletrodos metálicos. A diferença de potencial medida é a diferença Emedida = E+ – E–, em que E+ é o potencial do eletrodo ligado ao terminal positivo do potenciômetro, e2 é o potencial do eletrodo conectado ao terminal negativo. Se os elétrons fluem na direção do terminal negativo, como é visto na figura, a voltagem é positiva. O potenciômetro tem uma elevada resistência elétrica, de modo que apenas uma pequena corrente passa através do instrumento. Idealmente, nenhuma corrente deveria fluir através do medidor, e nós diríamos que a diferença de potencial medida é o potencial de circuito aberto, que é a diferença de potencial hipotética que seria observada se os eletrodos não estivessem conectados entre si. A oxidação do Cd metálico produzindo Cd2+(aq) fornece elétrons que circulam através do circuito para o eletrodo de Ag na Figura 14-4. Na superfície do eletrodo de Ag, o íon Ag+ (proveniente do AgCl) é reduzido a Ag(s). O íon cloreto, proveniente do AgCl, passa para a solução. A variação de energia livre para a reação líquida, –150 kJ por mol de Cd, fornece a força motriz responsável pelo movimento dos elétrons através do circuito. Lembre-se de que o valor de ΔG é negativo para uma reação espontânea.
FIGURA 14-4
EXEMPLO
Uma célula galvânica simples.
Diferença de Potencial Elétrico Produzido por uma Reação Química
Calcule a diferença de potencial elétrico que seria medida pelo potenciômetro da Figura 14-4. Solução Como ΔG = –150 kJ/mol de Cd, podemos utilizar a Equação 14-5 (em que n é o número de mols de elétrons transferidos na reação líquida balanceada) para escrevermos
Uma reação química espontânea (ΔG negativo) produz uma diferença de potencial elétrico positiva. TESTE A VOCÊ MESMO Determine E se ΔG = +150 kJ e n = 1 mol. (Resposta: 21,55 V) Lembre-se: 1 J/C = 1 volt n = e–/ átomo é adimensional
Os químicos definem o catodo como o eletrodo onde ocorre a redução e o anodo como o eletrodo onde ocorre a oxidação. Na Figura 14-4, a Ag é o catodo, pois a redução ocorre na sua superfície (2AgCl + 2e– → 2Ag + 2Cl–), e o Cd é o anodo, pois ele é oxidado (Cd → Cd2+ + 2e–). Catodo: onde ocorre a redução Anodo: onde ocorre a oxidação Michael Faraday desejava descrever suas descobertas por meio de termos que “avançariam na causa geral da ciência” e não “retardariam seu progresso”. Ele procurou a ajuda de William Whewell em Cambridge, que cunhou termos como “anodo” e “catodo”, significando, respectivamente, “um caminho para cima” e “um caminho para baixo” (Figura 14-4).
Os Elétrons se Movem na Direção do Potencial Elétrico Mais Positivo
Sendo negativamente carregados, os elétrons se movem na direção do potencial elétrico mais positivo. Na Figura 14-4, o eletrodo de Ag é positivo em relação ao eletrodo de Cd. Portanto, os elétrons se moverão do Cd para a Ag através do circuito. Quando estudarmos a equação de Nernst, você aprenderá como determinar os potenciais de eletrodo e, portanto, prever a direção do fluxo de elétrons. Os elétrons não são prontamente transportados através de uma solução. Eles precisam se mover através do fio. Os íons não são transportados através de um fio. Eles têm de se mover através da solução. A eletroneutralidade é mantida por meio de um balanço entre o fluxo de elétrons e o fluxo de íons, de modo que não haja nenhum acúmulo significativo de carga em qualquer região. Ponte Salina Considere a célula eletroquímica na Figura 14-5, na qual as reações esperadas são
FIGURA 14-5
Uma célula eletroquímica que não irá funcionar. A solução contém uma mistura de Cd(NO3)2 e AgNO3.
A célula eletroquímica na Figura 14-5 encontra-se em curto-circuito.
A reação líquida é espontânea. Porém, somente uma corrente muito pequena passa pelo circuito, pois os íons Ag+ não são forçados a se reduzirem no eletrodo de Ag. Os íons Ag+, presentes em solução, podem reagir diretamente na superfície do Cd(s), produzindo a mesma reação global sem que um fluxo de elétrons passe através do circuito externo. Podemos separar os reagentes, formando duas meias-células8 se conectarmos as duas partes por meio de uma ponte salina, como mostra a Figura 14-6. A ponte salina consiste em um tubo em formato de U preenchido com um gel contendo uma alta concentração de KNO3 (ou outro eletrólito que não afete a reação da célula eletroquímica). As extremidades da ponte são cobertas com placas de vidro poroso, que permitem a difusão dos íons, mas que minimizam a mistura da solução de dentro com a solução de fora da ponte. Quando a célula galvânica está operando, o K1 da ponte migra para dentro do compartimento do catodo e uma pequena quantidade de NO3– migra do catodo para o interior da ponte. A migração dos íons compensa a formação de excesso de cargas elétricas que, de outra maneira, ocorreria quando os elétrons fluíssem para o eletrodo de prata. Na ausência de uma ponte salina, nenhuma reação perceptível ocorreria em razão do acúmulo de carga. A migração de íons para fora da ponte é maior que a migração de íons para dentro, porque a concentração de sal na ponte é muito maior que a concentração nas meias-
células. No lado esquerdo da ponte salina, o NO3– migra para o compartimento do anodo e uma pequena quantidade de Cd2+ migra para dentro da ponte, de modo a evitar a ocorrência de excesso de carga positiva. O objetivo de uma ponte salina é manter a eletroneutralidade (fazer com que não exista nenhum excesso de carga elétrica de um determinado sinal) em qualquer região da célula eletroquímica. Veja a Demonstração 14-1.
Para reações que não envolvem o Ag+ ou outras espécies que reajam com o íon Cl–, a ponte salina, geralmente, contém KCl como eletrólito. Uma ponte salina, típica para uso genérico em laboratório, é preparada aquecendo-se 3 g de ágar com 30 g de KCl em 100 mL de água até que se obtenha uma solução límpida. A solução é vertida em um tubo em U esperando-se o tempo necessário para que se forme um gel homogêneo. A ponte, quando fora de uso, deve ser armazenada com as suas extremidades mergulhadas em uma solução aquosa saturada de KCl.
FIGURA 14-6
Uma célula eletroquímica que funciona – graças à ponte salina!
DEMONSTRAÇÃO 14-1
A Ponte Salina Humana
Uma ponte salina é um meio iônico com uma barreira semipermeável em cada uma de suas extremidades. Pequenas moléculas e íons conseguem atravessar essa barreira semipermeável, mas moléculas grandes não. Podemos preparar nossa “própria” ponte salina preenchendo um tubo em U com ágar e KCl, como descrito no texto anterior, e construindo a célula eletroquímica mostrada a seguir.
O medidor de pH é um potenciômetro cujo terminal negativo é a conexão para o eletrodo de referência. Escrevemos as duas meias-reações para essa célula eletroquímica e usamos a equação de Nernst para calcular a diferença de potencial elétrico teórica. Inicialmente, medimos a diferença de potencial com uma ponte salina convencional. Então, substituímos a ponte salina por uma feita de
papel- ltro, recentemente embebido em solução de NaCl, e voltamos a medir a diferença de potencial. Finalmente, trocamos a ponte salina de papelltro pelos dois dedos de uma mesma mão e repetimos a medida. O corpo humano funciona como um depósito de sal contido dentro de uma membrana semipermeável. As pequenas diferenças de voltagem, observadas quando a ponte salina é substituída, podem ser atribuídas ao potencial de junção, discutido na Seção 15-3. Para provarmos que é difícil distinguir a diferença entre um professor de química e uma salsicha de cachorroquente, podemos usar uma salsicha como ponte salina6 e novamente medir a diferença de potencial elétrico. Desa o Cento e oitenta estudantes do Virginia Polytechnic Institute, nos EUA, formaram uma ponte salina cando de mãos dadas.7 Com as mãos molhadas, a resistência elétrica por estudante diminuiu de 106 V para 104 V. Será que a sua turma consegue bater esse recorde? Notação de Barras As células eletroquímicas são descritas por meio de uma notação que emprega apenas dois símbolos: O símbolo para ponte salina, ZZ, representa duas fronteiras entre fases, uma de cada lado da ponte.
|fronteira entre fases diferentes ||ponte salina A célula eletroquímica na Figura 14-4 é representada pelo seguinte diagrama de barras: Cd(s) ZCdCl2(aq) ZAgCl(s)ZAg(s) Cada fronteira entre duas fases é indicada por meio de uma barra vertical. Os eletrodos estão presentes nas extremidades esquerda e direita do diagrama. A célula eletroquímica na Figura 14-6 é Cd(s)ZCd(NO3)2(aq)ZZAgNO3(aq)ZAg(s) Ocorre uma variação no potencial elétrico na maioria das fronteiras entre fases em uma célula eletroquímica. O aumento do potencial do Cd para a Ag ocorre principalmente nas fronteiras entre as fases Cd(s) Z Cd(NO3)2(aq) e AgNO3(aq) Z Ag(s), como mostrado na Figura 14-7 para o caso de um fluxo de corrente desprezível. Existe também uma pequena variação no potencial, chamado potencial de junção líquida, em cada extremidade da ponte salina. Soluções saturadas de KCl ou de KNO3 são frequentemente usadas em uma ponte salina para reduzir o potencial de junção líquida a alguns poucos milivolts ou menos, conforme discutido na Seção 15-3. Baterias9,10 e células de combustivel11-13 são células galvânicas que consomem seus reagentes para produzir eletricidade. Uma bateria apresenta compartimentos estáticos preenchidos com reagentes. Em uma célula de combustível, os reagentes fluem passando pelos eletrodos e os produtos são continuamente removidos da célula. Os Boxes 14-2 e 14-3 descrevem importantes células de combustível e baterias.
FIGURA 14-7 Ilustração esquemática das variações do potencial elétrico em cada fronteira entre fases da célula na Figura 14-6, caso o fluxo de corrente seja desprezível. A medida de potencial na fronteira entre as fases Cd(s) Z Cd(NO3)2(aq) é dada pela equação de Nernst (Seção 14-4) para a meia-célula Cd Z Cd2+. A medida de potencial na fronteira entre as fases Ag(s) Z AgNO3(aq) é dada pela equação de Nernst para a meia-célula Ag Z Ag+. Os potenciais de junção líquida em cada extremidade da ponte salina são explicados na Seção 15-3.
BOXE 14-2
Célula de Combustível Hidrogênio-Oxigênio
Célula de combustível de 1,5 kW da Missão Apollo. A Apollo utilizou duas dessas unidades. [©DaffodilPhotography/Alamy.]
O módulo de serviço da Apollo 13, observado pela tripulação após separar-se do módulo de comando antes da reentrada na atmosfera terrestre. [NASA.] “Houston, nós temos um problema”. Com essas palavras, o Comandante Jim Lovell informava ao Controle da Missão que a Apollo 13 estava em apuros no segundo dia de sua viagem à Lua em 1970. Um tanque de oxigênio líquido para as células de combustível da espaçonave tinha explodido. Essas células de combustível foram desenvolvidas nos anos 1960 como o meio mais e ciente de fornecer energia no espaço. Como resultado da explosão, três astronautas foram obrigados a usarem seu módulo lunar como um “bote salva-vidas”, quase sem energia ou água, por quase quatro dias, visto que eles voaram até a Lua e voltaram até amerissar no Oceano Pací co. Um dos muitos destaques técnicos da jornada foi a adaptação de um recipiente metálico de LiOH do módulo de comando para remover o CO2 da atmosfera do módulo lunar de modo que os astronautas pudessem sobreviver (2LiOH(s) 1 CO2(g) → Li2CO3(s) 1 H2O(g)). Um bilhão de pessoas na Terra, paralisadas pelo destino daquelas três pessoas, explodiram em aplausos quando a tripulação foi resgatada com segurança.
Uma moderna célula de combustível de eletrólito polimérico H2–O2 obtém sua energia a partir da combinação líquida do H2 com o O2 para produzir H2O. O combustível, H2(g), ui para a célula na esquerda através de uma folha de carbono porosa, eletricamente condutora, de espessura de 10 mm para o anodo, que contém partículas catalíticas de 2 nm de Pt (,0,5 mg/cm–). O H– se dissocia produzindo átomos de H ligados a Pt, os quais produzem H+ e elétrons. Estes últimos são conduzidos através do carbono poroso para um circuito no qual podem realizar trabalho útil. O H+ é conduzido através de uma membrana eletrolítica polimérica de Na on®. Os grupos ácido sulfônico hidratados do polímero transportam H+ de um grupo ácido sulfônico para o outro. Quando o H+ chega ao catodo, ele se combina sobre as partículas do catalisador de Pt com o O2 e elétrons produzindo H2O. O O2 é fornecido pelo ar bombeado à direita. A H2O(g) produzida deixa a célula de combustível na corrente de ar. A característica principal que permite que a célula de combustível produza eletricidade é que a membrana eletrolítica polimérica conduz H+, mas não elétrons.
Corte transversal esquemático de uma célula de combustível hidrogênio-oxigênio contendo uma membrana polimérica eletrolítica. [Informação de S. Thomas e M. Zalbowitz, Fuel Cells: Green Power (Los Alamos National Laboratory, New Mexico, 1999), http://www.lanl.gov/orgs/mpa/mpa11/Green%20Power.pdf.] Uma célula ideal produziria 1,16 V a 80 ºC se não houvesse corrente uindo. A voltagem operacional é normalmente ~0,7 V quando a corrente ui e a célula faz trabalho útil. A célula tem uma e ciência de 60% (5 0,7 V/1,16 V) na conversão de energia química em energia elétrica. Os outros 40% de energia são convertidos em calor, que é removido pelo ar, uindo através do catodo para manter a temperatura em 80ºC. A célula produz uma impressionante corrente de ~0,5 A por centímetro quadrado de área. Voltagens maiores podem ser produzidas empilhando células em série. Outras células de combustível H2–O2 com diferentes eletrólitos operam em temperaturas mais elevadas. Algumas células são capazes de gerar megawatts de energia com uma e ciência de 85%. A título de comparação, os automóveis com motores de combustão interna convertem ~20% da energia contida na gasolina em movimento do veículo. Algumas células de combustível extraem hidrogênio do gás natural (metano) e usam óxidos cerâmicos catalíticos no lugar dos dispendiosos metais nobres. BOXE 14-3
A Bateria de Chumbo Ácida
Uma bateria de chumbo ácida de 12 V consiste em seis células, com cada uma fornecendo 2 V.10 Inventada em 1859 pelo físico francês Gaston Planté aos 25 anos de idade, ela foi a primeira bateria recarregável. Seus eletrodos são grades de chumbo metálico com uma grande área super cial. PbO2 sólido é prensado no catodo. A célula é preenchida com H2SO4 aquoso, que é uma solução ~35% m/m de H2SO4 ≈ 5,5 m (molal) ou ~4,4 M quando a célula está totalmente carregada. Durante a descarga (quando a bateria produz eletricidade), o Pb é oxidado a PbSO4(s) no anodo. No catodo, PbO2 é
reduzido a PbSO4(s). À medida que a célula sofre descarga, ambos os eletrodos cam recobertos por PbSO4(s). Ambas as reações consomem H2SO4, cuja concentração diminui para ~22% m/m ≈ 2,9 m durante a descarga.
Baterias e células de combustível são exemplos de células galvânicas, que produzem eletricidade a partir de uma reação química. Uma bateria possui um compartimento preenchido com reagentes que são consumidos à medida que a bateria descarrega. Em uma célula de combustível, reagentes uem passando pelos eletrodos, e os produtos são continuamente removidos da célula. As baterias recarregáveis mais comuns que você usa são as baterias de lítio em computadores e telefones celulares, e a bateria de chumbo ácida em um carro. Uma razão que explica por que usamos baterias de chumbo ácida, é que ela pode liberar várias centenas de ampères de corrente por um curto período para dar partida em um motor. As baterias alcalinas usadas em lanternas e brinquedos não são recarregáveis. As baterias alcalinas e de lítio devem ser descartadas como resíduo perigoso quando não funcionam mais. As baterias de chumbo ácidas são recicladas pelos seus fornecedores.
14-3
Potenciais-Padrão
O potencial elétrico, medido na experiência da Figura 14-6, é a diferença de potencial elétrico entre o eletrodo de Ag, à direita, e o eletrodo de Cd, à esquerda. A diferença de potencial medida indica quanto trabalho pode ser feito pelos elétrons ao se deslocarem de um lado para o outro (Equação 14-3). O potenciômetro (voltímetro) indica uma diferença de potencial positiva quando os elétrons fluem para o terminal negativo, como mostra a Figura 14-6. Se os elétrons fluem para o outro terminal, a diferença de potencial é negativa. Às vezes o terminal negativo de um voltímetro é chamado de “terra”. Ele costuma ser de cor preta e o terminal positivo de cor vermelha. Quando um medidor de pH com uma conexão do tipo BNC é usado como potenciômetro, o fio no centro da parte interna do conector é o polo positivo e a conexão externa (a blindagem) o polo negativo. Em medidores de pH mais antigos, o terminal negativo é a entrada estreita na qual o eletrodo de referência é conectado.
Em Geral, Iremos Escrever Todas as Meias-Reações como Reduções De agora em diante, geralmente vamos escrever todas as meias-reações como reduções. A equação de Nernst que será apresentada na próxima seção nos permite encontrar os potenciais de eletrodo para cada meia-reação e, portanto, prever a direção do fluxo de elétrons. Os elétrons fluem através do circuito a partir do eletrodo mais negativo para o eletrodo mais positivo. Medindo o Potencial-Padrão de Redução
Para cada meia-reação é atribuído um potencial-padrão de redução, E°, medido por meio de um experimento como o que é mostrado de forma idealizada na Figura 14-8. A meia-reação de interesse nesse experimento é
que ocorre na meia-célula da direita, conectada ao terminal positivo do potenciômetro. O termo padrão significa que as atividades, de todas as espécies presentes, são unitárias. Para a Reação 14-11, sob condições padrão, AAg1 5 1 e, por definição, a atividade da Ag(s) também é unitária. A meia-célula da esquerda, conectada ao terminal negativo do potenciômetro, é chamada de eletrodo-padrão de hidrogênio (E.P.H.). Este eletrodo consiste em uma superfície de Pt, com atividade catalítica, imersa em uma solução ácida, em que AH1 5 1. Uma corrente de H2(g), borbulhada diretamente na superfície do eletrodo, satura a solução com H2(aq). A atividade do H2(g) é unitária se a pressão do H2(g) for mantida com o valor de 1 bar. A reação, que atinge o equilíbrio, na superfície do eletrodo de platina, é
Questão Qual é o pH de eletrodo-padrão de hidrogênio?
H2(g) dissolvido para resultar em H2(aq), o qual está em equilíbro com H+(aq) na superfície de Pt.
FIGURA 14-8 Célula eletroquímica utilizada para medir o potencial padrão da reação Ag+ + e– L Ag(s). Essa célula é, na realidade, uma construção hipotética, pois normalmente não é possível ajustar-se a atividade de uma determinada espécie ao valor 1. O potenciômetro mede a diferença de potencial do eletrodo ligado ao terminal positivo do medidor menos o potencial do eletrodo ligado ao terminal negativo do medidor: E = E+ – E– Por convenção, Eº = 0 para o E.P.E. Walther Nernst parece ter sido o primeiro a atribuir o valor 0 ao potencial do eletrodo de hidrogênio em 1897.15
Arbitrariamente, consideramos, por convenção, que o potencial do eletrodo-padrão de hidrogênio, a 25°C, é igual a zero. A diferença de potencial, medida pelo instrumento na Figura 14-8, pode ser então atribuída à Reação 14-11, que ocorre na meiacélula da direita. O valor medido de E° 5 10,799 V é o potencial-padrão de redução para a Reação 14-11. O sinal positivo nos informa que os elétrons fluem, através do instrumento de medida, da platina para a prata.
Podemos arbitrariamente atribuir um valor de potencial para a Reação 14-12, pois ela serve como ponto de referência a partir do qual outros potenciais de meia-célula podem ser medidos. Esse procedimento é análogo à atribuição arbitrária de 0°C para o ponto de fusão da água, e 100ºC para o ponto de ebulição da água a pressão de 1 atm. Nessa escala, o hexano entra em ebulição a 69°C e o benzeno a 80°C. A diferença entre os pontos de ebulição é igual a 80° 2 69° 5 11°C. Se tivéssemos atribuído o valor de 200°C para o ponto de fusão da água e 300°C para o seu ponto de ebulição, o hexano entraria em ebulição a 269°C e o benzeno a 280°C. A diferença entre os pontos de ebulição, entretanto, continuaria sendo igual a 11°C. Independentemente do ponto ao qual é atribuído o valor do zero, a diferença entre dois pontos na escala permanece inalterada. A notação de barras para a célula eletroquímica na Figura 14-8 é
O potencial-padrão de redução é a diferença de potencial entre o potencial-padrão da reação de interesse à direita e o potencial do E.P.H. à esquerda, que consideramos, arbitrariamente, como igual a 0. Para medir o potencial-padrão da meia-reação
devemos construir a célula eletroquímica E.P.H. || Cd2+ (aq, A = 1) | Cd(s) com a meia-célula de cádmio conectada ao terminal positivo do potenciômetro. Neste caso, observamos, para a célula eletroquímica, uma diferença de potencial negativa de 20,402 V. O sinal negativo significa que os elétrons se transferem do Cd para a Pt, uma direção oposta à da célula eletroquímica na Figura 14-8. O Apêndice H contém os potenciais-padrão de redução para diversas meias-reações, em ordem alfabética por elemento. Se as meias-reações fossem ordenadas de acordo com o valor decrescente de E° (como na Tabela 14-1), encontraríamos os agentes oxidantes mais fortes na parte superior à esquerda e os agentes redutores mais fortes na parte inferior à direita. Se conectássemos as duas meias-células representadas pelas Reações 14-11 e 14-13, o Ag+ deveria ser reduzido a Ag(s) e o Cd(s) oxidado a Cd2+.
14-4
A Equação de Nernst
Uma reação é espontânea se ΔG é negativa e E é positivo. ΔG° e E° referem-se à variação de energia livre e a diferença de potencial quando as atividades dos reagentes e produtos são unitárias. ΔG° 5 2nFE°.
O princípio de Le Châtelier indica que, aumentando as concentrações dos reagentes deslocamos a reação para a direita e, aumentando as concentrações dos produtos, deslocamos a reação para a esquerda. A força motriz resultante para uma reação é expressa pela equação de Nernst, cujos dois termos incluem a força motriz sob as condições-padrão (E°, que se aplica quando todas as atividades são unitárias) e um termo mostrando a dependência em relação às concentrações dos reagentes.
Questão O potencial para a reação K1 + e– ⇋ K(s) é – 2,936 V. Isso signi ca que o K1 é um agente oxidante muito fraco (ele não recebe prontamente elétrons). Isso implica que o íon K1 é, portanto, um bom agente redutor? Resposta: Não! Para ser um bom agente redutor, o K1 deveria ceder elétrons com facilidade (formando K2+), coisa que ele não pode fazer. (Todavia, o enorme valor negativo do potencial de redução implica com certeza que K(s) é um bom agente redutor.)
TABELA 14-1
Potenciais redox em ordem decrescente de E°
A Equação de Nernst para uma Meia-Reação Para a meia-reação aA + ne– ⇋ bB o potencial da meia-célula, E, dado pela equação de Nernst, é
Desa o Mostre que o princípio de Le Châtelier requer, na equação de Nernst, um sinal negativo antes do termo correspondente ao quociente reacional. Sugestão: Quanto mais favorável for uma reação, mais positivo será o valor de E.
em que E° = potencial-padrão de redução (AA = AB = 1) R = constante dos gases (8,314 J/(K · mol) = 8,314 (V · C)/(K · mol)) T = temperatura (K) n = número de elétrons na meia-reação F = constante de Faraday (9,649 × 104 C/mol) Ai = atividade da espécie i O termo logarítmico na equação de Nernst é o quociente reacional, Q.
Q possui a mesma forma de uma constante de equilíbrio, mas as atividades não precisam corresponder aos valores de equilíbrio. Sólidos puros, líquidos puros e solventes são omitidos em Q, pois suas atividades são unitárias (ou próximas da unidade). As concentrações dos solutos são expressas em número de mols por litro e as concentrações dos gases são expressas como pressões em bar. Quando todas as atividades são unitárias, Q = 1 e ln Q = 0, resultando, assim, em E = E°. Convertendo o logaritmo natural na Equação 14-14 em logaritmo na base 10 e inserindo T = 298,15 K (25,00°C), temos uma forma da equação de Nernst que é mais utilizada na prática: O Apêndice A mostra que log x = (ln x)/(ln 10) = (ln x)/2,303. O número 0,059 16 na equação de Nernst é (RT ln 10)/F, que varia com a temperatura.
O potencial varia de 59,16/n mV para cada variação de 10 vezes de Q.
EXEMPLO
Escrevendo a Equação de Nernst para uma Meia-Reação
Vamos escrever a equação de Nernst para a redução do fósforo branco a fos na gasosa:
Solução Omitimos os sólidos do quociente reacional e exprimimos as concentrações dos gases pelas suas respectivas pressões. Portanto, a equação de Nernst é
TESTE A VOCÊ MESMO Utilizando o valor de E° dado no Apêndice H, escreva a equação de Nernst para a reação ZnS(s) + 2e– ⇋ Zn(s) + S22. (Resposta:
A fosfina é um gás extremamente venenoso, com odor de peixe em decomposição. O fósforo branco sólido brilha fracamente no escuro por causa da oxidação espontânea pelo O2 do ar.
EXEMPLO
A Multiplicação de uma Meia-Reação Não Muda o Valor de E°
Se multiplicarmos uma meia-reação por qualquer número, o valor de E° não se modi ca. Entretanto, o valor de n antes do termo logarítmico e a forma do quociente reacional, Q, sofrerão mudanças. Vamos escrever a equação de Nernst, para a reação do exemplo anterior, multiplicada por 2:
Solução
Ainda que essa equação de Nernst não se assemelhe à do exemplo anterior, o Boxe 14-4 mostra que o valor numérico de E não se modi ca. O termo elevado ao quadrado, no quociente reacional, cancela o valor em dobro de n na frente do termo logarítmico. TESTE A VOCÊ MESMO Escreva a equação de Nernst para a reação P4 + 12H+ + 12e– ⇌ 4PH3. A partir do Boxe 14-4, mostre que E não se modi ca quando a reação é escrita com P4 ou P4.
A Equação de Nernst para uma Reação Completa Na Figura 14-6, a diferença de potencial elétrico é a diferença entre os potenciais dos dois eletrodos:
em que E1 é o potencial do eletrodo que está ligado ao terminal positivo do potenciômetro e E2 é o potencial do eletrodo ligado ao terminal negativo. O potencial de cada meia-reação (escritas como uma redução) é definido por uma equação de Nernst e a diferença de potencial elétrico para a reação completa é a diferença entre os potenciais das duas meias-células.
BOXE 14-4
O Valor de E° e da Diferença de Potencial da Célula Eletroquímica Não Dependem da Maneira como Escrevemos a Reação da Célula
A multiplicação de uma meia-reação por qualquer número não modi ca o valor do potencial-padrão de redução, E°. A diferença de potencial entre dois pontos é o trabalho realizado por coulomb de carga elétrica através dessa diferença de potencial (E = trabalho/q). O trabalho por coulomb é o mesmo se 0, 1, 2, 3 ou 104 coulombs tiverem sido transferidos. O trabalho total é diferente em cada caso, mas o trabalho por coulomb é constante. Logo, não duplicamos E° se multiplicamos uma meia-reação por 2. Multiplicar uma meia-reação por qualquer número não muda o valor do potencial da meia-célula, E. Para veri carmos essa a rmação, consideramos a reação de uma meia-célula de prata, representada de duas maneiras, com um e dois elétrons:
Essas duas expressões são iguais, pois log ab = b log a:
O expoente dentro do termo logarítmico é sempre cancelado pelo fator 1/n, que precede o termo logarítmico. O potencial de uma célula eletroquímica não pode depender da maneira como escrevemos a reação a ela associada. Apresentamos a seguir um procedimento para escrever uma reação líquida da célula eletroquímica e determinar a sua diferença de potencial elétrico: Etapa 1 Escrevemos as meias-reações de redução para as duas meias-células e determinamos, por meio do Apêndice H, o valor de E° para cada uma delas. Multiplicamos as meias-reações, quando necessário, de modo que as meias-reações tenham o mesmo número de elétrons. Ao multiplicarmos uma reação, não multiplicamos o valor do E° correspondente. Etapa 2 Escrevemos a equação de Nernst para a meia-célula da direita, que está conectada ao terminal positivo do potenciômetro. O potencial é E1. Etapa 3 Escrevemos a equação de Nernst para a meia-célula da esquerda, que está conectada ao terminal negativo do potenciômetro. O potencial é E2. Etapa 4 Determinamos a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica pela subtração: E = E+ – E–. Etapa 5 Para escrever a reação da célula eletroquímica, subtraímos a meia-reação da esquerda da meia-reação da direita. (Isso é equivalente a inverter o sentido da meia-reação da esquerda e somar com a da direita.) Os elétrons fluem através do circuito do eletrodo mais negativo para o eletrodo mais positivo.
Os elétrons fluem espontaneamente através do circuito a partir do eletrodo mais negativo para o eletrodo mais positivo. Se a diferença de potencial da célula eletroquímica, E (= E+ – E–), é positiva, então os elétrons fluem através do circuito do eletrodo da
esquerda para o eletrodo da direita. Se a diferença de potencial da célula eletroquímica for negativa, então o fluxo de elétrons será no sentido inverso.
EXEMPLO
A Equação de Nernst para uma Reação Completa
Determine a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica na Figura 14-6 se a meia-célula da direita contiver uma solução de AgNO3(aq) 0,50 M e a meia-célula da esquerda contiver uma solução de Cd(NO3)2(aq) 0,010 M. Escreva a reação líquida da célula eletroquímica e estabeleça em qual direção se dá o uxo de elétrons. Solução Etapa 1
Eletrodo da direita: 2Ag+ + 2e– ⇌ 2Ag(s) E+° = 0,799 V Eletrodo da esquerda: Cd2+ + 2e– ⇌ Cd(s) E–° = 0,402 V
Etapa 2
Equação de Nernst para o eletrodo da direita:
Etapa 3
Equação de Nernst para o eletrodo da esquerda:
O potencial do eletrodo de prata é mais positivo, portanto, os elétrons uem do Cd para a Ag através do circuito (Figura 14-9). Etapa 4
Diferença de potencial da célula eletroquímica: E = E1 – E2 = 0,781 2 (20,461) = + 1,242 V
Etapa 5
Reação líquida da célula eletroquímica:
TESTE A VOCÊ MESMO A reação é espontânea se as células contiverem AgNO3 5,0 mM e Cd(NO3)2 1,0 M? (Resposta: Sim: E+ = 0,485 V, E– = –0,402 V, E = +0,887 V) Sólidos puros, líquidos puros e solventes são omitidos de Q. Subtrair uma reação equivale a inverter o seu sentido e então somá-la.
FIGURA 14-9 Elétrons sempre circulam do eletrodo mais negativo para o eletrodo mais positivo. Isto é, eles sempre se deslocam para a direita neste diagrama.16
BOXE 14-5
Diagramas de Latimer: Como Determinar o Valor de E° para uma Nova Meia-Reação
Um diagrama de Latimer exibe os potenciais-padrões de redução (E°) ligando diferentes estados de oxidação de um elemento.17 Por exemplo, em uma solução ácida, são observados os seguintes potenciais-padrões de redução:
A notação
indica a equação balanceada IO3– + 5H+ + 4e– ⇌ HOI + 2H2O E° = + 1,154 V
Podemos obter os potenciais de redução para os sentidos de reação que ainda não estejam assinalados pelas setas no diagrama utilizando ΔG°. Por exemplo, a reação representada pela linha tracejada no diagrama de Latimer é IO3– + 6H+ + 6e– ⇌ I– + 3H2O
Podemos determinar E° para essa reação expressando-a como a soma das reações cujos potenciais são conhecidos. A variação de energia livre padrão, ΔG°, para uma reação, é dada pela Equação 14-5: ΔG° = –nNFE° Nessa equação, n = 1 unidade de carga por elétron (um número adimensional), e N é o número de mols de elétrons na meia-reação. O produto nN é numericamente igual ao número de elétrons na meia-reação e tem as dimensões de mol. Quando duas reações são somadas, ΔG° é a soma dos valores de ΔG° para cada uma das reações. Para aplicarmos o conceito de energia livre neste problema, escrevemos duas reações cuja soma vem a ser a reação desejada:
Mas, como ΔG1° + ΔG2° = ΔG3°, podemos calcular E3°:
E se tivéssemos escrito a equação de Nernst para a meia-célula da direita com apenas um elétron, em vez de dois? Ag+ + e– ⇌ Ag(s) A diferença de potencial da célula eletroquímica seria diferente daquela que calculamos? É melhor que não seja, pois a química envolvida ainda é a mesma. O Boxe 14-4 mostra que, nem E° nem E dependem da maneira como escrevemos a reação. O Boxe 14-5 mostra como obter os potenciais-padrões de redução para as meias-reações que são a soma de outras meias-reações. Descrições Diferentes para uma Mesma Reação Na Figura 14-4, a meia-reação da direita pode ser escrita como
A concentração de Cl–, na meia-reação da prata, foi obtida a partir de uma solução de CdCl2(aq) 0,016 7 M. Suponha um outro autor, menos elegante, tenha escrito este livro e optado por uma outra descrição da meia-reação:
Esta descrição é tão válida quanto a anterior. Em ambos os casos, o Ag(I) é reduzido a Ag(0). Se as duas descrições são igualmente válidas, então devem fornecer o mesmo valor do potencial elétrico. A equação de Nernst para a Reação 14-20 é
Para encontrarmos a concentração de Ag+, consideramos o produto de solubilidade do AgCl. Como a célula eletroquímica contém 0,033 4 M de Cl– e AgCl sólido, podemos dizer que Kps = [Ag+||CL–]
Substituindo esse valor de [Ag+] na equação de Nernst, temos
que difere ligeiramente do valor calculado na Equação 14-19 em razão da exatidão do valor de Kps e à omissão dos coeficientes de atividade. As Equações 14-18 e 14-20 fornecem o mesmo valor de potencial elétrico, pois descrevem a mesma meia-célula. A diferença de potencial de uma célula eletroquímica não pode depender da maneira como escrevemos a reação!
Sugestões para a Determinação de Meias-Reações Relevantes Como descrever as meias-reações
Quando observamos o desenho esquemático de uma célula eletroquímica ou o seu diagrama de barras, devemos inicialmente escrever as reações de redução para cada uma das meias-células. Para fazer isso, devemos observar o elemento em estudo, na célula eletroquímica, em dois estados diferentes de oxidação. Para a célula eletroquímica Pb(s)|PbF2(s)|F–(aq)||Cu2+ (aq)|Cu(s) vemos o Pb em dois estados de oxidação, como Pb(s) e PbF2(s), e o Cu em dois estados de oxidação, como Cu2+ e Cu(s). Assim, as meias-reações são
Poderíamos ter optado por escrever a meia-reação do Pb como
pois sabemos que se o PbF2(s) está presente, deve haver algum Pb2+ livre em solução. As reações 14-21 e 14-22 são descrições igualmente válidas da célula eletroquímica e devem permitir fazer a previsão de um mesmo valor da diferença de potencial elétrico para a célula eletroquímica. A escolha das reações depende de qual concentração podemos determinar mais facilmente se a concentração do F– ou a de Pb2+. Nunca devemos inventar espécies que não estejam presentes em uma célula eletroquímica. Devemos utilizar as informações contidas no diagrama de barras para definir as meias-reações.
Fizemos a descrição da meia-célula da esquerda em termos de uma reação redox envolvendo o Pb porque o Pb é o elemento que aparece em dois estados de oxidação. Não escreveríamos uma reação como F2(g) 1 2e– ⇌ 2F–, porque o F2(g) não está presente no diagrama de barras da célula eletroquímica.
Uso da Equação de Nernst para Medir os Potenciais-Padrão de Redução O potencial-padrão de redução seria observado se a meia-célula de interesse (com atividades unitárias) fosse conectada a um eletrodo-padrão de hidrogênio, como vemos na Figura 14-8. É praticamente impossível construirmos uma célula eletroquímica como essa, pois não temos uma maneira de ajustarmos as concentrações e a força iônica do meio que permita atingir valores unitários de atividade. Na realidade, usamos, em cada meia-célula, valores de atividade menores que a unidade e a equação de Nernst é utilizada para obter o valor de E° a partir da diferença de potencial da célula eletroquímica.18 No eletrodo de hidrogênio, tampões-padrão com valores de pH conhecidos (Tabela 15-3), são usados para se obter valores conhecidos das atividades do íon H+. O Problema 14-22 mostra um exemplo do uso da equação de Nernst para calcular o valor de E°.
14-5
A Constante de Equilíbrio e o Valor de E°
Uma célula galvânica produz eletricidade porque a reação da célula não está em equilíbrio. Um potenciômetro permite que passe através dele apenas uma corrente desprezível (Boxe 14-6), e, assim, as concentrações em cada uma das meias-células, permanecem inalteradas. Se substituíssemos o potenciômetro por um fio, muito mais corrente circularia e as concentrações se modificariam até que a célula atingisse o equilíbrio. Neste ponto, a reação da célula atingiria o seu término e o valor de E seria igual a 0. Quando a diferença de potencial elétrico (a voltagem) de uma bateria (que é uma célula galvânica) cai para 0 V, as substâncias químicas dentro dela atingiram o estado de equilíbrio e é comum dizermos que a bateria está “morta”. No equilíbrio, o valor de E (e não o de E°) = 0.
BOXE 14-6
Concentrações na Célula Eletroquímica em Operação
Por que a medida da diferença de potencial elétrico de uma célula eletroquímica não modi ca as concentrações na célula? A diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica é medida em condições de uxo de corrente desprezível. A resistência interna de um medidor de pH de alta qualidade é 1013 V. Se utilizamos esse instrumento para medir uma diferença de potencial de 1 V, a corrente que circula no circuito é
O uxo de elétrons é
o que produz oxidação e redução desprezíveis dos reagentes na célula eletroquímica. O medidor mede a diferença de potencial elétrico de uma célula eletroquímica sem afetar as concentrações das espécies que estão presentes dentro dela. Se uma ponte salina fosse mantida por muito tempo em uma célula eletroquímica, as concentrações e a força iônica do meio mudariam por causa da à difusão entre cada um dos compartimentos e a ponte salina. As células eletroquímicas devem ser montadas por um tempo su cientemente curto para que essas variações não ocorram. Vamos agora relacionar o valor de E para uma célula eletroquímica completa com o quociente reacional, Q, para a reação líquida da célula. Para as duas meias-reações Reação líquida da célula: αA + bb ⇌ cC + dD
a equação de Nernst tem a seguinte forma:
log a + log b = log ab
A Equação 14-23 é verdadeira em quaisquer circunstâncias. No caso especial em que a célula eletroquímica está em equilíbrio, E = 0 e Q = K, a constante de equilíbrio. Consequentemente, a Equação 14-23 é reescrita em suas formas mais importantes, válidas para o equilíbrio: Para transformarmos a Equação 14-24 na Equação 14-25, devemos considerar as seguintes relações:
Com a Equação 14-25, podemos calcular o valor da constante de equilíbrio a partir de E°. Alternativamente, com a Equação 1424, podemos calcular o valor de E° a partir de K.
EXEMPLO
Utilizando o Valor de E° para Determinar a Constante de Equilíbrio
Determine a constante de equilíbrio para a reação Cu(s) + 2Fe3+ ⇌ 2Fe2+ + Cu2+
Solução A reação é dividida em duas meias-reações, que se encontram no Apêndice H:
Determinamos então o valor E° para a reação líquida E° = E+° – E–° = 0,771 – 0,339 = 0,432 V e calculamos a constante de equilíbrio utilizando a Equação 14-25: K = 10(2)(0,432)/(0,059 16) = 4 × 1014 Um valor pequeno de E° leva a uma constante de equilíbrio muito grande. O valor de K está expresso corretamente com apenas um algarismo signi cativo, pois E° tem três algarismos depois da vírgula. Dois são usados para o expoente (14), e resta apenas um algarismo para o multiplicador (4). TESTE A VOCÊ MESMO Determine a constante de equilíbrio K para a reação Cu(s) + 2Ag+ ⇌ 2Ag(s) + Cu2+. (Resposta: E° = 0,460 V, K = 4 × 1015) Associamos o valor de E2° com a meia-reação que deve ser invertida para obtermos a reação líquida desejada. A Seção 3-2 descreve o uso de algarismos significativos em expoentes e logaritmos.
Determinação do Valor de K para Reações Líquidas que Não São Reações Redox Considere as seguintes meias-reações cuja diferença é a reação que descreve a solubilidade do carbonato de ferro(II) (que não é uma reação redox): O valor de E° para a dissolução do carbonato de ferro(II) é negativo, o que significa que a reação “não é espontânea”. “Não espontânea” significa simplesmente que K , 1.
K = Kps = 10(2)(20,316)/(0,059 16) = 10–11 A partir do valor de E° para a reação líquida, podemos calcular o Kps para o carbonato de ferro(II). Medidas potenciométricas permitem determinar constantes de equilíbrio que são muito pequenas, ou muito grandes, para que a determinação seja feita pela medida direta das concentrações dos reagentes e produtos. Surge então uma dúvida! “Como é possível existir um potencial redox para uma reação que não é redox?” O Boxe 14-5 mostra que um potencial redox é apenas uma outra maneira de expressar o valor da energia livre de uma reação. Quanto mais favorável, em termos de energia, for uma reação (quanto mais negativo for ΔG°), mais positivo será o valor de E°. A forma geral de um problema envolvendo a relação entre os valores de E° para as meias-reações e o valor de K para uma reação líquida, é
Se conhecermos os valores de E–° e E+°, poderemos determinar E° e K para a reação líquida da célula eletroquímica. Por sua vez, se conhecermos E° e também E–° ou E+°, poderemos calcular o valor do potencial-padrão desconhecido. Conhecendo-se K, podemos calcular E° e a partir de E° determinamos E–° ou E+°, desde que conheçamos um deles.
EXEMPLO
Relacionando E° e K
A partir da constante de formação da Ni(glicina)2 e do valor de E° para o par Ni2+|Ni(s), Ni2+ + – glicina– ⇌ Ni(glicina)2 K ; β2 = 1,2 × 1011 Ni2+ + 2e– ⇌ Ni(s) E° = 0,236 V
calcule o valor de E° para a reação
Solução Precisamos veri car qual a relação entre as três reações:
Sabemos que o valor de E+° – E–° deve ser igual a E°, de modo que podemos calcular o valor de E–° se soubermos E°. Mas E° pode ser determinado por meio da constante de equilíbrio da reação líquida:
Logo, o potencial-padrão de redução para a meia-reação 14-26 é E2° = E+° – E° = –0,236 – 0,328 = –0,564 V
TESTE A VOCÊ MESMO Selecione meias-reações no Apêndice H para determinar a constante de formação b2 para Cu1 + 2 etilenodiamina L Cu(etilenodiamina)2+. (Resposta: E° = 0,637 V, b2 = 6 × 1010) O potencial mais negativo para a redução da Ni(glicina)2 (20,564 V) do que para a redução do Ni2+ (20,236 V) nos diz que é mais difícil reduzir Ni(glicina)2 do que reduzir Ni2+. A complexação com a glicina torna mais difícil reduzir o íon Ni2+.
14-6
Células Eletroquímicas como Sondas Químicas19
É essencial fazermos a distinção entre duas classes de equilíbrio associadas às células galvânicas: 1. O equilíbrio entre as duas meias-células 2. O equilíbrio dentro de cada meia-célula
Se uma célula galvânica tem uma diferença de potencial elétrico diferente de zero, então a reação líquida da célula não está em equilíbrio. Dizemos que o equilíbrio entre as duas meias-células não foi estabelecido. Uma reação química que pode ocorrer dentro de uma meia-célula alcançará o equilíbrio e admite-se que ela permaneça em equilíbrio. Entretanto, essa reação não é a reação líquida da célula eletroquímica.
Entretanto, podemos deixar as meias-células em repouso durante um tempo suficiente para que o equilíbrio químico dentro de cada meia-célula seja atingido. Por exemplo, na meia-célula da direita na Figura 14-10, a reação
está em equilíbrio. Ela não é parte da reação líquida da célula eletroquímica. Ela é simplesmente uma reação química que ocorre quando o AgCl(s) está em contato com uma solução aquosa. Na meia-célula da esquerda, a reação
FIGURA 14-10
Esta célula galvânica pode ser usada para medir o pH da meia-célula da esquerda.
também tende ao equilíbrio. Nenhuma dessas duas reações é parte da reação redox líquida da célula eletroquímica. A reação da meia-célula da direita da Figura 14-10 é
Mas qual é a reação na meia-célula da esquerda? O único elemento que encontramos em dois estados de oxidação é o hidrogênio. Vemos que o H2(g) borbulha dentro de um dos compartimentos da célula eletroquímica e também sabemos que todas as soluções aquosas contêm H+. Portanto, o hidrogênio está presente em dois estados de oxidação diferentes, e a meia-reação pode ser escrita como
A reação líquida da célula eletroquímica não está em equilíbrio, pois a diferença de potencial medida é 0,503 V, e não 0 V. A equação de Nernst para a reação líquida da célula eletroquímica é
Quando substituímos os valores de todas grandezas conhecidas, descobrimos que a única incógnita é a [H+]. Portanto, a diferença de potencial medida nos permite determinar a concentração de H1 na meia-célula da esquerda:
Em consequência, podemos determinar a constante de equilíbrio da reação ácido-base, que tende ao equilíbrio na meia-célula da esquerda:
A célula eletroquímica descrita na Figura 14-10 pode ser considerada como uma sonda para a medida da concentração desconhecida de H+, na meia-célula da esquerda. Utilizando-se esse tipo de célula, podemos determinar a constante de equilíbrio para a dissociação de qualquer ácido ou a hidrólise de qualquer base na meia-célula da esquerda.
Questão Por que podemos admitir que as concentrações de ácido acético e de íon acetato são iguais às suas concentrações (formais) iniciais? Sugestões Úteis Os problemas que iremos encontrar neste capítulo incluem alguns quebra-cabeças, que foram idealizados para abranger os conhecimentos de eletroquímica, equilíbrio químico, solubilidade, formação de complexos e química ácido-base. Eles requerem que você determine a constante de equilíbrio para uma reação que ocorre em apenas uma das meias-células. A reação de interesse não é a reação líquida da célula eletroquímica e nem é uma reação redox. Apresentamos agora uma abordagem adequada: As meias-reações, a serem escritas, devem conter espécies que aparecem em dois estados de oxidação diferentes na célula eletroquímica.
Etapa 1 Escrevemos as duas meias-reações e seus potenciais-padrão. Se escolhermos uma meia-reação para a qual não podemos determinar E°, devemos procurar outra forma para escrevermos esta reação. Etapa 2 Escrevemos uma equação de Nernst para a reação líquida, substituindo todas as grandezas conhecidas. Se tudo estiver correto, teremos apenas uma incógnita na equação. Etapa 3 Determinamos a concentração desconhecida e utilizamos esse valor para fazer os cálculos do equilíbrio químico originalmente proposto.
EXEMPLO
Analisando uma Célula Eletroquímica Muito Complexa
A célula eletroquímica, na Figura 14-11, mede a constante de formação (Kf) do Hg(EDTA)22. A solução no compartimento à direita contém 0,500 mmol de Hg2+ e 2,00 mmol de EDTA em um volume de 0,100 L, tamponado em pH 6,00. Se a diferença de potencial elétrico medida é 10,342 V, determine o valor de Kf para o Hg(EDTA)22. Solução Etapa 1
A meia-célula da esquerda é o eletrodo-padrão de hidrogênio, para o qual temos E– = 0. Na meia-célula da direita, o mercúrio é o elemento que tem dois estados de oxidação. Podemos então escrever a meia-reação
FIGURA 14-11
Uma célula galvânica, que pode ser utilizada para medir a constante de formação do Hg(EDTA)2–.
Na meia-célula da direita, a reação entre o Hg2+ e o EDTA é
Como esperamos que Kf seja muito grande, supomos que praticamente todo Hg2+ reagiu para formar HgY22. Logo, a concentração de HgY22 é de 0,500 mmol/100 mL = 0,005 00 M. O EDTA restante, que não reagiu, tem uma concentração total de (2,00 – 0,50) mmol/100 mL = 0,015 0 M. Portanto, o compartimento da direita contém HgY2– 0,005 00 M, EDTA 0,015 0 M e uma concentração pequena e desconhecida de Hg2+. A constante de formação para o HgY2– pode ser escrita como Lembre-se de que [Y4–] = αY4–[EDTA].
em que [EDTA] é a concentração formal de EDTA não ligado ao metal. Nessa célula eletroquímica, [EDTA] = 0,015 0 M. A fração de EDTA na forma de Y4– é αY4– (Seção 12-2). Como sabemos que [HgY2–] = 0,005 00 M, tudo o que precisamos é determinar o valor de [Hg2+] para podermos calcular Kf. Etapa 2
A equação de Nernst para a reação líquida da célula eletroquímica é
em que a única concentração desconhecida é [Hg2+]. Etapa 3
Podemos agora resolver a equação de Nernst determinando o valor de [Hg2+] = 5,7 × 10218 M. Com esse valor de [Hg2+] podemos calcular a constante de formação para o HgY2–:
A mistura de EDTA mais Hg(EDTA)22 no catodo serve como um “tampão” de íons mercúrico, que xa a concentração de Hg2+ no meio. Esta concentração, por sua vez, estabelece a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica. TESTE A VOCÊ MESMO Determine Kf se a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica tivesse sido 0,300 V. (Resposta: 8 × 1022) O valor de αY4– é extraído da Tabela 12-1.
14-7
Os Bioquímicos Utilizam E°′
Na respiração, as moléculas dos alimentos são oxidadas pelo O2 para gerarem energia ou para produzirem metabólitos, que funcionam como intermediários químicos. Os potenciais-padrão de redução que temos utilizado até agora se aplicam a sistemas em que todas as atividades dos reagentes e produtos são unitárias. Se o H+ está presente em uma reação, o valor de E° é valido quando o pH = 0 (AH+ = 1). Sempre que a espécie H1 aparece em uma reação redox, ou sempre quando os reagentes ou produtos são ácidos ou bases, os potenciais de redução dependem do valor do pH. Como o pH dentro de uma célula de origem vegetal ou animal está próximo de 7, os potenciais de redução válidos em pH 0 não são apropriados. Por exemplo, em pH 0, o ácido ascórbico (vitamina C) é um agente redutor mais poderoso que o ácido succínico. Entretanto, em pH 7, temos o contrário. O caráter redutor, importante para uma célula viva, é em pH 7 e não em pH 0. O potencial-padrão para uma reação redox é definido para uma célula galvânica, na qual todas as atividades são unitárias. O potencial formal é o potencial de redução que se aplica para um determinado conjunto específico de condições (incluindo pH, força iônica e concentração dos agentes complexantes). Os bioquímicos chamam o potencial formal, em pH 7, de E°′ (leia-se “E zero linha”). A Tabela 14-2 apresenta os valores de E°9 para diversos pares redox de interesse biológico. O potencial formal em pH = 7 é representado por E°′.
Relação entre E° eE°′ Considere a meia-reação
na qual A é uma espécie oxidada e B é uma espécie reduzida. Tanto A quanto B podem ser ácidos ou bases. A equação de Nernst para essa meia-reação é
Para determinarmos E°′, devemos reescrever a equação de Nernst de modo que o termo logarítmico contenha somente as concentrações formais de A e B elevadas às potências a e b, respectivamente.
Se tivéssemos incluído os coeficientes de atividade eles também apareceriam na expressão de E°′.
Todos os termos contidos dentro da chave correspondem a E°′ e são determinados em pH = 7.
Para convertermos [A] ou [B] em FA ou FB, utilizamos as equações de composição fracionária (Seção 10-5), que relacionam a concentração formal (ou seja, total) de todas as formas de um ácido, ou de uma base, com a sua concentração em determinada forma:
Para um ácido monoprótico: F = [HA] + [A–] Para um ácido diprótico: F = [H2A] + [HA–] + [A2–]
TABELA 14-2
Potenciais de redução de interesse biológico
em que F é a concentração formal de HA ou de H2A, Ka é a constante de dissociação do ácido HA, e K+ e K– são as constantes de dissociação para o ácido H2A. Uma maneira de medir E°9 é fazer uma meia-célula em que as concentrações formais das espécies oxidada e reduzida sejam iguais e o pH é ajustado para 7. Assim, o termo logarítmico na Equação 14-27 é zero e o potencial medido (contra o E.P.H.) é E°′.
EXEMPLO
Cálculo do Potencial Formal
Determine E°′ para a reação
Solução Representando o ácido deidroascórbico20 como D e o ácido ascórbico como H2A, podemos reescrever a redução como
para a qual a equação de Nernst é
D não é um ácido ou uma base, logo a sua concentração formal é igual à sua concentração molar: FD = [D]. Para o ácido diprótico H2A, usamos a Equação 14-30 para expressar [H2A] em termos de FH2A:
Substituindo esses valores na Equação 14-34 temos
que pode ser reescrita como
Substituindo os valores de E°, K+ e K2 na Equação 14-35 e considerando [H+] = 1027,00, encontramos E°′ = 10,062 V.
TESTE A VOCÊ MESMO Calcule E°′ para a reação O2 + 4H+ + 4e– ⇌ 2H2O. (Resposta: 0,815 V) A curva a na Figura 14-12 mostra como o potencial formal, calculado para a Reação 14-33, depende do pH. O potencial diminui com o aumento do pH, até pH < pK2 = 11,79. Acima de pK2, A2– é a forma predominante do ácido ascórbico, e não há prótons envolvidos na reação redox líquida. Portanto, o potencial torna-se independente do valor de pH.
FIGURA 14-12 Potencial formal de redução do ácido ascórbico, mostrando sua dependência em relação ao valor do pH. (a) Gráfico da função que representa o potencial formal, de acordo com a Equação 14-35. (b) Potencial de redução experimental da meia-onda polarográfica do ácido ascórbico em um meio com força iônica = 0,2 M. O potencial de meia-onda, discutido no Capítulo 17, é quase o mesmo que o potencial formal. Em pH alto (.12), o potencial de meia-onda não tende para um coeficiente angular 0, como prevê a Equação 14-35. Nestas condições ocorre uma reação de hidrólise do ácido ascórbico e o comportamento químico é mais complexo que o da Reação 14-33. [J. J. Ruiz, A. Aldaz e M. Dominguez, Can. J. Chem. 1977, 55, 2799; ibid. 1978, 56, 1533.]
FIGURA 14-13 Medida espectroscópica do log{[Fe(III)TrfC]/[Fe(II)TrfC]} contra potencial elétrico em pH 5,8. [Dados de S. Dhungana, C. H. Taboy, O. Zak, M. Larvie, A. L Crumbliss e P. Aisen, “Redox Properties of Human Transferrin Bound to its Receptor”, Biochemistry, 2004, 43, 205.]
Um exemplo biológico de E°′ é a redução do Fe(III) na proteína transferrina. Esta proteína possui dois sítios de ligação para Fe(III), um em cada metade da molécula representadas por C e N, em referência aos grupos terminais carboxil e amino da cadeia peptídica. A transferrina transporta Fe(III) através do sangue para as células que necessitam de ferro. As membranas dessas células possuem um receptor que se liga ao complexo Fe(III)-transferrina e o leva a um compartimento chamado endossoma, no qual ocorre bombeamento de H+ para reduzir o pH até aproximadamente 5,8. O ferro é liberado da transferrina no endossoma e continua no interior da célula como Fe(II) preso a uma proteína intracelular transportadora de metais. O ciclo completo de absorção do complexo ferro-transferrina, liberação do metal e transferência de volta da transferrina para a corrente sanguínea dura de 1 a 2 minutos. O tempo necessário para a dissociação do Fe(III) da transferrina em pH 5,8 é de aproximadamente 6
minutos, que é excessivamente longo, comparado com a liberação que ocorre no endossoma. O potencial de redução do complexo Fe(III)-transferrina em pH 5,8 é E°′ = –0,52 V, que é muito baixo para ser alcançado por redutores fisiológicos. O mistério de como o Fe(III) é liberado da trasnferrina no endossoma foi solucionado pela medição do E°′ do complexo receptor-Fe(III)-transferrina em pH 5,8. Para simplificar a química envolvida, a transferrina foi clivada e somente a metade Cterminal da proteína (designada TrfC) foi utilizada. A Figura 14-13 mostra as medidas de log{[Fe(III)TrfC]/[Fe(II)TrfC]} para a proteína livre e para o complexo receptor-proteína. Na Equação 14-27, E = E°′ quando o termo logarítimico é zero (isto é, quando [Fe(III)TrfC] = [Fe(II)TrfC]). A Figura 14-13 mostra que E°′ para o Fe(III)TrfC é cerca de –0,50 V, mas para o complexo receptorFe(III)TrfC é igual a –0,29 V. Os agentes redutores NADH e NADPH na Tabela 14-2 são fortes o suficiente para reduzir o Fe(III)TrfC ligado ao seu receptor em pH 5,8, mas não são fortes o suficiente para reduzir o complexo Fe(III)?transferrina livre.
Termos Importantes agente oxidante agente redutor ampère anodo catodo célula galvânica constante de Faraday corrente coulomb diagrama de Latimer E°′ eletrodo eletrodo-padrão de hidrogênio eletroquímica equação de Nernst joule lei de Ohm meia-reação ohm oxidação oxidante ponte salina potência potencial elétrico potencial formal potencial-padrão de redução potenciômetro quociente reacional reação redox redução redutor resistência volt watt
Resumo A corrente elétrica é o número de coulombs de carga por segundo que passa por um ponto. A diferença de potencial elétrico, E (volts), entre dois pontos é o trabalho (joules) por unidade de carga necessário, ou que pode ser realizado quando a carga se desloca de um ponto para outro. Para N mols de uma espécie com n cargas por molécula, a carga elétrica em coulombs é q = nNF, em que F é a constante de Faraday (C/mol). O trabalho realizado quando uma carga de q coulombs se desloca através de uma diferença de potencial de E volts é dado por trabalho = E · q. O trabalho máximo que pode ser realizado sobre as vizinhanças por uma reação química espontânea está relacionado com a variação de energia livre da reação: trabalho = –ΔG. Se a reação química produz uma diferença de potencial elétrico E, a relação entre a energia livre e a diferença de potencial é ΔG = –nFE. A lei de
Ohm (I = E/R) descreve, em um circuito elétrico, a relação entre corrente, potencial elétrico e resistência. Ela pode ser combinada com as definições de trabalho e potência (P = trabalho/segundo), resultando em P = E · I = I2R. Uma célula galvânica utiliza uma reação redox espontânea para gerar eletricidade. O eletrodo no qual ocorre oxidação é o anodo e o eletrodo onde ocorre redução é o catodo. As duas meias-células são geralmente separadas por uma ponte salina que permite a migração dos íons de um lado para o outro mantendo a neutralidade de cargas, mas evitando também a mistura dos reagentes de cada uma das meias-células. O potencial-padrão de redução de uma meia-reação é medido em relação a meia-reação do eletrodo-padrão de hidrogênio. O termo “padrão” significa que as atividades dos reagentes e produtos são unitárias. Se diversas meias-reações são adicionadas, resultando em outra meia-reação, o potencial-padrão da meia-reação resultante pode ser determinado escrevendo-se a energia livre da meia-reação resultante como a soma das energias livres das meias-reações que foram adicionadas. Em uma célula galvânica os elétrons se movem através de um circuito a partir do eletrodo com o potencial menos positivo para o eletrodo com o potencial mais positivo. O potencial elétrico de uma célula é a diferença entre os potenciais das duas meias-reações: E = E+ – E–, em que E+ é o potencial da meia-célula conectada ao terminal positivo do potenciômetro e E– é o potencial da meia-célula conectada ao terminal negativo. O potencial de cada meia-reação é dado pela equação de Nernst E = E° – (0,059 16/n)log Q (a 25°C), na qual cada meia-reação é escrita como uma redução e Q é o quociente reacional. O quociente reacional possui a mesma forma de uma constante de equilíbrio, mas é calculado com as concentrações existentes no momento de interesse. O equilíbrio de sistemas complexos pode ser estudado fazendo-se com que esses sistemas sejam parte de uma célula eletroquímica. Se medirmos o potencial e soubermos os valores das concentrações (atividades) de todos os reagentes e produtos, com exceção de uma das concentrações, podemos por meio da equação de Nernst calcular o valor da concentração desconhecida. A célula eletroquímica funciona como uma sonda para a espécie cuja concentração é desconhecida. Os bioquímicos utilizam o potencial formal de uma meia-reação em pH 7 (E°′), no lugar do potencial-padrão (E°) válido apenas em pH 0. E°′ é determinado escrevendo-se a equação de Nernst para a meia-reação desejada agrupando-se todos os termos, exceto o logaritmo que contém as concentrações formais dos reagentes e produtos. O cálculo dos valores dos termos agrupados, em pH 7, corresponde ao valor de E°′.
Exercícios 14-A. No passado, baterias de mercúrio, possuindo a reação vista a seguir, foram utilizadas como fonte de energia em marcapassos cardíacos:
(As células de mercúrio foram descontinuadas porque elas representam um perigo ambiental quando descartadas.) Qual a diferença de potencial da célula? Se a potência necessária para operar o marcapasso é de 0,010 0 W, quantos quilogramas de HgO (MF 216,59) serão consumidos em 365 dias? Quantas libras de HgO isso representa? (1 libra = 453,6 g) 14-B. Calcule E° e K para cada uma das seguintes reações:
14-C. Calcule a diferença de potencial elétrico de cada uma das células eletroquímicas vistas a seguir. Baseado no conceito do diagrama da Figura 13-8, indique o sentido do fluxo dos elétrons. (a) Fe(s) Z FeBr2(0,010 M) || NaBr(0,050 M) Z Br2(l) Z Pt(s) (b) Cu(s) Z Cu(NO3)2(0,020 M) || Fe(NO3)2(0,050 M) Z Fe(s) (c) Hg(l) Z Hg2Cl2(s)ZKCl(0,060 M) || KCl(0,040 M) Z Cl2(g, 0,50 bar)ZPt(s) 14-D. A meia-reação da esquerda na célula eletroquímica mostrada a seguir, pode ser escrita de duas maneiras diferentes:
A reação da meia-célula à direita é
(a) Utilizando as Reações 2 e 3, calcule E° e escreva a equação de Nernst para a célula. (b) Utilize o valor de Kps do AgI para calcular [Ag+] e determine a diferença de potencial elétrico da célula. Baseado no conceito do diagrama da Figura 14-8, qual será o sentido do fluxo dos elétrons? (c) Suponha agora que você queira descrever a célula com as Reações 1 e 3. Sabemos que a diferença de potencial elétrico da célula (E, e não E°) deve ser a mesma, independentemente da descrição que utilizamos. Escreva a equação de Nernst para as Reações 1 e 3 e utilize-a para encontrar E° na Reação 1. Compare sua resposta com o valor dado no Apêndice H. 14-E. Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica
considerando as seguintes reações:
Qual é o sentido do fluxo dos elétrons? 14-F. (a) Escreva a equação balanceada para a reação PuO2+ → Pu4+ e calcule E° para a reação.
(b) Faça a previsão se uma mistura equimolar de PuO22+ e PuO21 é capaz de oxidar H2O a O2, em pH = 2,00 e PO2 = 0,20 bar. O O2 será liberado em pH 7,00? 14-G. Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica vista a seguir, onde KHP é o hidrogenoftalato de potássio, o sal monopotássico do ácido ftálico. Qual é o sentido do fluxo dos elétrons?
14-H. A célula eletroquímica vista a seguir apresenta uma diferença de potencial de 0,083 V: Hg(l)ZHg(NO3)2(0,001 0 M), KI(0,500 M)||E.P.H. A partir desse valor de diferença de potencial elétrico, calcule a constante de equilíbrio para a reação
Em KI 0,5 M, praticamente todo o mercúrio presente em solução está sob a forma de HgI42–. 14-I. A constante de formação do Cu(EDTA)22 é 6,3 × 1018, e o valor de E° é 10,339 V para a reação Cu2+ + 2e– ⇌ Cu(s). A partir dessa informação, calcule E° para a reação
14-J. Com base na reação vista seguir, estabeleça que composto, H2(g) ou glicose, é o agente redutor mais forte em pH = 0,00.
14-K. As células vivas convertem a energia proveniente da luz solar, ou da combustão de alimentos, em moléculas de ATP (trifosfato de adenosina), ricas em energia. Para a síntese de ATP, ΔG = 134,5 kJ/mol. Essa energia está disponível para a célula quando o ATP é hidrolisado à ADP (difosfato de adenosina). Nos animais, o ATP é sintetizado quando prótons passam através de uma enzima complexa presente na membrana mitocondrial.21 Dois fatores são importantes para o movimento dos prótons, através dessa enzima, para dentro da mitocôndria (veja a figura a seguir). (1) A concentração de H+ é maior fora da mitocôndria que dentro dela, pois os prótons são bombeados para fora da mitocôndria pelas enzimas envolvidas na oxidação das moléculas de alimentos. (2) O interior da mitocôndria é carregado negativamente em relação ao exterior. (a) A síntese de uma molécula de ATP requer que dois prótons passem através da enzima de fosforilação. A variação de energia livre quando uma molécula passa de uma região de alta atividade para uma região de baixa atividade é dada por
De quanto deve ser a diferença de pH (a 298 K) se a passagem dos dois prótons pela membrana fornece energia suficiente para sintetizar uma molécula de ATP? (b) Diferenças de pH dessa ordem não foram observadas em mitocôndrias. Qual é a diferença de potencial elétrico entre o interior e o exterior necessária para o movimento de dois prótons, de modo a fornecer a energia necessária para a síntese do ATP? Ao responder a essa pergunta, despreze qualquer contribuição da diferença de pH. (c) Supõe-se que a energia para a síntese do ATP é fornecida pela diferença tanto de pH quanto pelo potencial elétrico. Se a diferença de pH é de 1,00 unidade, qual é o valor da diferença de potencial elétrico?
Problemas Conceitos Básicos 14-1. Explique a diferença entre carga elétrica (q, coulombs), corrente elétrica (I, ampères) e potencial elétrico (E, Volts). 14-2. (a) Quantos elétrons existem em um coulomb? (b) Quantos coulombs existem em um mol de carga? 14-3. A taxa basal de consumo de O2, para uma pessoa de 70 kg, é de cerca de 16 mol de O2 por dia. Esse O2 oxida o alimento e é reduzido a H2O, fornecendo energia para o organismo: O2 + 4H+ + 4e– ⇌ 2H2O (a) Essa velocidade de respiração corresponde a que corrente (em ampères = C/s)? (A corrente elétrica, nesse caso, é definida pelo fluxo de elétrons do alimento para o O2.) (b) Compare sua resposta na parte (a) com a corrente consumida por um refrigerador, utilizando 5,00 × 10– W a 115 V. Lembrese de que potência (em watts) = trabalho/s = E · I. (c) Se os elétrons, ao migrarem da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH) para o O2, experimentam uma queda de potencial de 1,1 V, qual é a potência de saída (em watts) produzida pelo ser humano? 14-4. Uma bateria de 6,00 V é conectada a um resistor de 2,00 kV. (a) Qual é a corrente (A) e quantos elétrons por segundo circulam através do circuito? (b) Quantos joules de calor são produzidos por elétron? (c) Se o circuito opera por 30,0 min, qual o número de mols de elétrons que terão circulado através do resistor? (d) Que potencial elétrico a bateria precisaria ter para a potência produzida ser de 1,00 × 10– W? 14-5. Para a seguinte reação redox
(a) Identifique o agente oxidante no lado esquerdo da reação e escreva a meia-reação de oxidação correspondente, balanceada. (b) Identifique o agente redutor do lado esquerdo da reação e escreva a meia-reação de redução balanceada. (c) Quantos coulombs de carga passam do agente redutor para o oxidante quando 1,00 g de tiossulfato reage?
(d) Se a velocidade da reação é de 1,00 g de tiossulfato consumido por minuto, que corrente (em ampères) flui do agente redutor para o oxidante? 14-6. Os motores de propulsão dos ônibus espaciais obtêm sua potência a partir de reagentes sólidos:
(a) Determine os números de oxidação dos elementos N, Cl e Al nos reagentes e nos produtos. Que reagentes se comportam como agentes redutores e quais atuam como oxidantes? (b) O calor de reação é 2 9 334 kJ para cada 10 mol de Al consumido. Represente esse valor como o calor liberado por grama do total de reagentes. Células Galvânicas 14-7. Explique como uma célula galvânica utiliza uma reação química espontânea para gerar eletricidade. 14-8. Descreva cada célula eletroquímica na figura a seguir, usando a notação de barras e escreva duas meias-reações de redução para cada célula da figura. 14-9. Faça um esquema da célula eletroquímica vista a seguir e escreva as meias-reações de redução para cada eletrodo. Pt(s)|Fe3+ (aq), Fe2+ (aq)||Cr2O72– (aq), Cr3+ (aq), HA(aq)|Pt(s) 14-10. Considere a seguinte bateria recarregável: Zn(s)|ZnCl2 (aq)||Cl– (aq)|Cl2(l)|C(s) (a) Escreva as meias-reações de redução para cada eletrodo. A partir de qual eletrodo os elétrons circularão para o circuito se os potenciais dos eletrodos não forem muito diferentes dos seus respectivos valores de E°? (b) Se a bateria fornece uma corrente constante de 1,00 × 103 A por 1,00 h, quantos quilogramas de Cl2 serão consumidos? 14-11. Bateria de íon lítio. (a) Escreva uma meia-reação para cada eletrodo da bateria de íon lítio mostrada na abertura deste capítulo. Qual é o anodo e qual é o catodo? Qual é a massa-fórmula total dos reagentes (2Li0,5CoO2 + LiC6)? (b) A capacidade de carga de uma bateria é expressa como A · h/kg, que é o número de ampères de 100 liberados por 1 kg de material por + hora. Quantos coulombs correspondem a 1 A · h? (c) Mostre que a capacidade teórica da bateria é de 100 A · h/kg de reagentes. (d) A energia específica armazenada por uma bateria por unidade de massa dos reagentes pode ser expressa como W · h/kg. Uma bateria de íon Li1 libera 100 A · h/kg de reagentes em 3,7 V. Expresse a energia específica como W · h/kg de LiCoO2. Potenciais-Padrões
14-12. Qual será o agente oxidante mais forte nas condições-padrão (isto é, todas as atividades = 1): HNO2, Se, UO22+, Cl2, H2SO3 ou MnO2? 14-13. (a) Em presença do íon cianeto, o E° do Fe(III) diminui:
Qual íon, Fe(III) ou Fe(II), é mais estabilizado pela complexação com CN–? (b) Utilizando dados do Apêndice H, responda a mesma pergunta anterior se o ligante for a fenantrolina, em vez de cianeto.
Equação de Nernst 14-14. Qual é a diferença entre E e E° para uma reação redox? Qual deles se torna 0 quando a célula eletroquímica atinge o equilíbrio? 14-15. (a) Escreva as equações de Nernst para as meias-reações da Demonstração 14-1. Em que direção os elétrons se movem pelo circuito? (b) Se você utilizar seus dedos como uma ponte salina na Demonstração 14-1, seu corpo absorverá Cu2+ ou Zn2+? 14-16. Escreva a equação de Nernst para a meia-reação vista a seguir e determine E quando o pH é igual a 3,00 e PAsH3 = 1,0 mbar.
14-17. (a) Escreva a seguinte célula eletroquímica usando a notação de barras:
(b) Calcule o potencial de cada meia-célula e a diferença de potencial da célula eletroquímica, E. Em qual sentido os elétrons circularão pelo circuito? Escreva a reação espontânea líquida da célula eletroquímica. (c) A meia-célula da esquerda foi carregada com 14,3 mL de Br2(l) (massa específica = 3,12 g/mL). O eletrodo de alumínio contém 12,0 g de Al. Qual elemento, Br2 ou Al, é o reagente limitante? (Ou seja, qual reagente será totalmente consumido primeiro?)
(d) Se a célula eletroquímica de algum modo opera em condições sob as quais produz uma diferença de potencial elétrico constante de 1,50 V, quanto trabalho elétrico terá sido realizado quando 0,231 mL de Br2(l) forem consumidos? (e) Se o potenciômetro é trocado por um resistor de 1,20 kV, e se o calor dissipado pelo resistor é 1,00 × 1024 J/s, com que velocidade (gramas por segundo) o Al(s) se dissolve? (Nesta questão a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica não é 1,50 V.) 14-18. Uma bateria recarregável, de níquel-hidreto metálico, para computadores pessoais portáteis, tem seu funcionamento baseado nas seguintes reações: Catodo:
Anodo:
O material usado no anodo, MH, é um hidreto metálico cujo metal pode ser um elemento de transição ou uma liga metálica contendo terras raras. Explique porque a diferença de potencial elétrico nessa célula eletroquímica permanece praticamente constante durante todo o seu ciclo de descarga. 14-19. (a) Escreva as meias-reações para uma célula de combustível H2–O2. Determine a diferença de potencial elétrico, teórica a 25ºC se PH25 1,0 bar, PO2 = 0,2 bar e [H+] = 0,5 M em ambos os eletrodos. (As células de combustível reais trabalham em temperaturas entre 60 2 1.000ºC e produzem ~0,7 V.) (b) Se a célula tem uma eficiência de 70% na conversão de energia química em energia elétrica, e um empilhamento em série de células produz 20 kW a 220 V, quantos gramas de hidrogênio são consumidos em uma hora? (c) Os motores norte-americanos são frequentemente classificados por “cavalos-vapor”. Use a Tabela 1-4 para converter 20 kW em cavalos-vapor. 14-20. Bateria alcalina. Use a Internet para procurar como é construída e qual é a química envolvida em uma bateria alcalina, por exemplo, uma bateria AA. (a) Desenhe um diagrama da bateria e nomeie seus componentes. (b) Escreva as meias-reações no anodo e no catodo e a reação líquida da célula. (c) A partir de sua leitura, sugira o que é o produto branco que às vezes vaza de uma bateria velha. (d) Crédito adicional: A meia-reação do zinco é apresentada no Apêndice H. A meia-reação do óxido de manganês pode ser deduzida a partir de quatro meias-reações encontradas no apêndice:
Use o método do Boxe 14-5 para determinar o potencial-padrão para a meia-reação do óxido de manganês. Determine o potencial-padrão para a reação líquida da célula. A meia-reação do óxido de manganês é a soma (1) – (2) + (3) – (4). Para cada meia-reação, ΔG° = 2nFE°, em que nN é o número de mols de elétrons na respectiva meia-reação. O valor de ΔG° para a reação líquida é ΔG1° 2 ΔG2° + ΔG3° 2 ΔG4°. Quando multiplica uma meia-reação do Apêndice H você não multiplica E° porque o trabalho realizado por elétron é independente da quantidade de elétrons que são transferidos. 14-21. Suponha que as concentrações de NaF e de KCl sejam cada uma de 0,10 M na célula eletroquímica Pb(s) | PbF2(s) | F– (aq) || Cl– (aq) | AgCl(s) | Ag(s) (a) Utilizando as meias-reações 2AgCl(s) + 2e– ⇌ 2Ag(s) + 2Cl– e PbF2(s) + 2e– ⇌ Pb(s) + 2F– calcule a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica. (b) Qual é a direção do fluxo de elétrons? (c) Calcule novamente a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica utilizando as reações 2Ag+ + 2e– ⇌ 2Ag(s) e Pb2+ + 2e– ⇌ Pb(s). Para essa parte do problema você necessitará conhecer os produtos de solubilidade do PbF2 e do AgCl.
14-22. A seguinte célula eletroquímica foi construída para medir o potencial-padrão de redução do par Ag+ | Ag. Pt(s)ZHCl(0,010 00 M), H2(g)ZAgNO3(0,010 00 M)ZAg(s) A temperatura era de 25°C (a condição-padrão) e a pressão atmosférica era de 751,0 Torr. Como a pressão de vapor da água é de 23,8 Torr a 25°C, PH2 na célula eletroquímica era de 751,0 2 23,8 = 727,2 Torr. A equação de Nernst para a célula eletroquímica, incluindo os coeficientes de atividade, é obtida da seguinte maneira.
Sabendo que a diferença de potencial elétrico medida na célula eletroquímica foi de 10,7983 V e utilizando os coeficientes de atividades da Tabela 8-1, calcule E°Ag+|Ag. Certifique-se de que o valor de PH2 está expresso, no quociente reacional, em bar. 14-23. Escreva uma equação química balanceada (em solução ácida) para a reação representada pelo ponto de interrogação na seta inferior do diagrama visto a seguir.22 Como no Boxe 14-5, calcule E° para a reação.
14-24. Qual deve ser a relação entre E1° e E2° se a espécie X1 se desproporciona espontaneamente, nas condições-padrões, em X31 e X(s)? Escreva uma equação balanceada para o desproporcionamento.
13-25. Incluindo as atividades, calcule a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica Ni(s) | NiSO4(0,002 0 M) || CuCl2(0,003 0 M) | Cu(s). Admita que os sais estejam completamente dissociados (ou seja, a formação de pares iônicos pode ser desprezada). Baseado no conceito do diagrama da Figura 14-9, indique o sentido do fluxo dos elétrons. 14-26. Bateria de chumbo ácida utilizando-se atividades.10 Veja o Boxe 14-3. (a) Escreva as meias-reações de redução com base no Apêndice H para o anodo e o catodo durante a descarga da bateria. Escreva a reação líquida e determine o valor de E° para essa reação. (b) Faça um diagrama de barras para a bateria, incluindo o PbSO4 em cada eletrodo. (c) Escreva as reações que ocorrem quando a bateria está sendo recarregada no momento em que o motor está em funcionamento. Escreva uma reação de redução e uma de oxidação. (d) Escreva a equação de Nernst para cada meia-reação para uma bateria de chumbo ácida totalmente carregada, incluindo os coeficientes de atividade. Expresse as concentrações dos solutos na equação de Nernst em molalidade, m. Em uma bateria totalmente carregada, a concentração do eletrólito H2SO4 é 5,5 m (molal) (35% em massa de H2SO4). As atividades dos sólidos são unitárias. Porém, a atividade da H2O em H2SO4 a 35% m/m não é unitária porque o ácido está muito concentrado. Escreva AH2O = mH2OγH2O para a água, ASO42– = mSO42–γSO42– para o sulfato, e AH+ = mH+γH+ para o H+. Combine as equações do catodo e do anodo em uma única equação de Nernst contendo um único termo. (e) A atividade da H2O em H2SO4 a 35% m/m, medida por meio do abaixamento da pressão de vapor da H2O, é AH2O = mH2OγH2O = 0,66 a 25ºC.23 As atividades dos íons SO42– e H+ não podem ser medidas separadamente, mas a atividade média pode ser determinada. Para um sal CmAn, constituído de um cátion Cn1 e de um ânion Am2, o coeficiente de atividade médio é definido como γ± = (γmγn)1/(m+n), em que γ+ e γ2 são os coeficientes de atividade individuais. O coeficiente de atividade médio é uma
grandeza termodinamicamente definida e mensurável. Para H2SO4 5,5 m, γ± = (γH2+γSO42–)1/3 = 0,22 a 25°C23 (conforme medidas a partir de células galvânicas contendo H2SO4). Use a AH2O e γ± na equação de Nernst para calcular a diferença de potencial elétrico da bateria de chumbo ácida. 14-27. O ar na cabine da espaçonave Apollo circulou através de um recipiente metálico contendo LiOH sólido a fim de remover o CO2 e evitar o envenenamento dos astronautas em razão do excesso de CO2. Escreva a reação química entre LiOH(s) e CO2(g). Por que LiOH foi empregado no lugar das bases menos dispendiosas NaOH ou KOH? Relação entre E° e a Constante de Equilíbrio 14-28. A variação de energia livre para a reação CO + constante de equilíbrio para a reação.
O2 ⇌ CO2, é ΔG° = 2257 kJ por mol de CO, a 298 K. Determine E° e a
14-29. Calcule E°, ΔG° e K para cada uma das seguintes reações.
14-30. Uma solução contém 0,100 M de Ce31; 1,00 × 1024 M de Ce4+; 1,00 × 1024 M de Mn2+; 0,100 M de MnO4– e 1,00 M de HClO4. (a) Escreva uma reação líquida, balanceada, que pode ocorrer entre as espécies nessa solução. (b) Calcule ΔG° e K para essa reação. (c) Calcule E para as condições descritas. (d) Calcule ΔG para as condições descritas. (e) Em que valor de pH as concentrações de Ce4+, Ce31, Mn2+ e MnO4– estarão em equilíbrio, a 298 K? 14-31. Para a célula eletroquímica Pt(s)|VO2+(0,116 M), V3+(0,116 M), H+(1,57 M) ||Sn2+(0,031 8M), Sn4+(0,031 8 M) |Pt(s), E (e não E°) = 20,289 V. Escreva a reação líquida da célula eletroquímica e calcule a sua constante de equilíbrio. Não use os valores de E° do Apêndice H para responder a esta questão. 14-32. Calcule o potencial-padrão para a meia-reação Pd(OH)2(s) + 2e– ⇌ Pd(s) + 2OH– sabendo que o valor de Kps para o Pd(OH)2 é 3 × 10228 e que E° = 0,915 V para a reação Pd2+ + 2e– ⇌ Pd(s). 14-33. A partir dos potenciais-padrões de redução do Br2(aq) e Br2(l) no Apêndice H, calcule a solubilidade do Br2 em água a 25°C. Expresse a sua resposta em g/L. 14-34. (a) A Lei de Henry diz que a concentração de um gás dissolvido é proporcional à pressão parcial desse gás acima da solução. Para a dissolução do Cl2, a Lei de Henry é escrita como [Cl2(aq)] KbPCl2. Usando as meias-reações do Apêndice H, encontre a concentração de Cl2(aq) em equilíbrio com Cl2(g, 1 bar) a 298,15 K. (b) Para variações moderadas de temperatura em torno de 298,15 K (25°C), o potencial-padrão de redução para uma meia-reação, pode ser escrito como
em que E° é o potencial-padrão de redução a 298,15 K. E°(T) é o potencial-padrão de redução na temperatura T(K) e ΔT é (T 2 298,15). Usando dE°/dT no Apêndice H, determine Kh para o Cl2 a 323,15 K. A solubilidade do Cl2 aumenta ou diminui quando a temperatura sobe a partir de 298,15 K? 14-35. Dadas as informações vistas a seguir, calcule o potencial-padrão para a reação FeY– + e– ⇌ FeY22, em que Y é EDTA.
14-36. Determine Eo para a meia-reação Al31 + 3e– ⇌ Al(s) a 50°C. Veja o Problema 14-34(b) para outras informações. 14-37. Este problema é ligeiramente mais complicado. Calcule E°, ΔG° e K para a reação
que é a soma de três meias-reações apresentadas no Apêndice H. Utilize ΔG° (5 2nFE°), para cada uma das meias-reações, de modo a determinar o ΔG° para a reação líquida. Observe, que se você inverter o sentido de uma reação, inverterá o sinal de ΔG°. 14-38. Termodinâmica de uma reação em estado sólido. A seguinte célula eletroquímica é reversível a 1000 K em uma atmosfera com fluxo de O2(g):24
(a) Escreva uma equação de Nernst para cada meia-célula. Escreva a reação líquida e a equação de Nernst correspondente. A atividade do O2(g) é a mesma em ambos os lados e a atividade dos íons F– também é a mesma em ambos os lados, governada pelos íons F– difundindo-se pelo CaF2(s). Mostre que a diferença de potencial observada é E° para a reação líquida. (b) A partir da relação ΔG° = 2nFE°, calcule ΔG° para a reação líquida. Lembre-se de que + V = + J/C. (c) A diferença de potencial da célula eletroquímica na faixa de temperatura de T = 900 até 1250 K é dada pela expressão E(V) = 0,1223 + 3,06 × 1025 T. Supondo que ΔH° e ΔS° permaneçam constantes, calcule seus valores usando a relação ΔG° = ΔH° 2 TΔS°. Utilizando Células Eletroquímicas como Sondas Químicas 14-39. Utilizando a célula eletroquímica da Figura 14-11 como exemplo, explique o que queremos dizer quando afirmamos que existe um equilíbrio dentro de cada meia-célula, mas não necessariamente entre as duas meias-células. 14-40. A célula eletroquímica Pt(s) | H2(g, 1,00 bar) | H2(aq, pH = 3,60) || CL–(aq, x M) | AgCl(s) | Ag(s) pode ser usada como uma sonda para determinarmos a concentração de Cl– no compartimento da direita. (a) Escreva as reações para cada meia-célula, a reação líquida balanceada e a equação de Nernst para a reação líquida da célula eletroquímica. (b) Sabendo que a diferença de potencial medida na célula eletroquímica é de 0,485 V, determine [CL–] no compartimento da direita. 14-41. O eletrodo de quinidrona foi apresentado, em 1921, como uma opção para se medir o pH.25 Pt(s) | razão 1:1 entre o número de mols de quinona(aq) e de hidroquinona pH desconhecido || Cl– (aq, 0,50 M) | Hg2Cl2(s) | Hg(l) | Pt(s) A solução, cujo pH queremos determinar, é colocada na meia-célula da esquerda, que também contém uma mistura com razão molar de 1:1 entre quinona e hidroquinona. A reação da meia-célula é
(a) Escreva as meias-reações e as equações de Nernst para cada uma das meias-células. (b) Ignorando as atividades, reescreva a equação de Nernst para a reação líquida na forma E(célula) = A + (B · pH), em que A e B são constantes. Determine os valores numéricos de A e B, a 25°C. (c) Se o pH for igual a 4,50, em que sentido os elétrons circulam através do potenciômetro? 14-42. A diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica vista a seguir é de 0,490 V. Determine Kb para a base orgânica RNH2. Pt(s) | H2(1,00 bar) | RNH2(aq, 0,10 M), RN3+Cl– (aq, 0,050 M) || E.P.H. 14-43. A diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica vista na figura a seguir é de 20,246 V. A meia-célula da direita contém o íon metálico M2+, cujo potencial-padrão de redução é 20,266 V.
Calcule Kf para o complexo metal-EDTA.
14-44. A célula eletroquímica, vista a seguir, foi construída para determinar a diferença no Kps entre duas formas naturais de CaCO3(s), a calcita e a aragonita.26 Pb(s) | PbCO3 | CaCO3(s, calcita) | tampão(pH 7,00)|| tampão(pH 7,00) | CaCO3(s, aragonita) | PbCO3(s) | Pb(s) Cada compartimento da célula eletroquímica contém uma mistura de PbCO3 sólido (Kps = 7,4 × 10214) e calcita ou aragonita, que possuem ambas Kps < = × 1029. Cada solução foi tamponada em pH 7,00 com um tampão inerte, e a célula eletroquímica foi completamente isolada do CO2 atmosférico. O potencial medido na célula eletroquímica foi de 21,8 mV. Determine a razão entre os produtos de solubilidade da calcita e da aragonita. 14-45.
Não ignore os coeficientes de atividade neste problema. Se a diferença de potencial elétrico da célula
eletroquímica, vista a seguir, é 0,512 V, determine o valor de Kps para o Cu(IO3)2. Ignore a formação de pares iônicos. Ni(s) | NiSO4(0,002 = M) || KIO3(0,10 M) | Cu(IO3)2(s) | Cu(s) Os Bioquímicos Usam E°′ 14-46. Explique o que é E°′ e por que ele é preferido em bioquímica, no lugar de E°. 14-47. Neste problema iremos determinar o valor de E°′ para a reação
(a) Escreva a equação de Nernst para a meia-reação, utilizando valores de E° do Apêndice H. (b) Reescreva a equação de Nernst na forma
(c) Se a grandeza (E° + outros termos) é E°′, determine o valor de E°′ para pH = 7,00. 14-48. Determine E°′ para a meia-reação
14-49. Calcule E°′ para a reação
14-50. Considere que HOx é um ácido monoprótico com Ka = 1,4 × 10–5 e H2Red– é um ácido diprótico com K+ = 3,6 × 1024 e K2 = 8,1 × 1028. Determine E° para a reação
14-51. A partir da informação dada a seguir, calcule o valor de Ka para o ácido nitroso, HNO2.
14-52. Usando a reação
e as constantes de dissociação ácida do Apêndice G, calcule E° para a reação
14-53. Este problema requer conhecimentos sobre a lei de Beer, descrita no Capítulo 18. A forma oxidada (Ox) de uma flavoproteína, que funciona como um agente redutor unieletrônico, apresenta uma absortividade molar (e) de 1,12 × 104 M–+ cm–1 a 457 nm em pH = 7,00. Para a forma reduzida (Red), e = 3,82 × 103 M–1 · cm–1 a 457 nm em pH 7,00.
O substrato (S) é a molécula que foi reduzida pela proteína.
Tanto S quanto S– são incolores. Uma solução, em pH 7,00, foi preparada misturando-se uma quantidade suficiente de proteína e substrato (Red + S), de modo que as concentrações iniciais de Red e de S sejam ambas iguais a 5,70 × 1025 M. A absorbância, a 457 nm, foi de 0,500 em uma célula de caminho óptico de 1,00 cm. (a) Calcule as concentrações de Ox e de Red, a partir dos dados de absorbância. (b) Calcule as concentrações de S e de S–. (c) Calcule o valor de E°′ para a reação S + e– ⇌ S–.
SEQUENCIAMENTO DO DNA POR CONTAGEM DE PRÓTONS
O sequenciador Ion Torrent© mede o íon H+ liberado cada vez que uma base (A, T, C ou G) se liga a uma cadeia de DNA em crescimento xada a uma microesfera contida em um micropoço. Veja o Apêndice I para a química da replicação do DNA. [Informação de J. M. Rothberg et al., “An Integrated Semiconductor Device Enabling Non-Optical Genome Sequencing”, Nature 2011, 475, 348.]
Cada poço hexagonal de 1,3 mm de diâmetro neste chip possui no fundo uma camada de óxido de tântalo sensível ao pH. [Reproduzido sob permissão de Macmillan Publishers Ltd: De J. M. Rothberg et al., “An Integrated Semiconductor Device Enabling Non-Optical Genome Sequencing”, Nature 2011, 475, p. 348, Figure S7.]
Esquerda: Sinal observado de um poço quando uma base nucleotídica é adicionada ao DNA. A linha suave é o modelo físico que se ajusta aos dados. Direita: Sinal integrado a partir de adições sucessivas de bases a um poço. A sequência de bases lida no registrador é GTGACGGGTTAAGTTGT. [Dados de J. M. Rothberg et al., “An Integrated Semiconductor Device Enabling Non-Optical Genome Sequencing”, Nature 2011, 475, 348.] Nos anos 1990, o Projeto Genoma Humano investiu US$ 3 bilhões ao longo de uma década para decifrar a sequência de bases nucleotídicas (A, T, C e G) no DNA humano pela primeira vez. Instrumentos comerciais hoje têm como objetivo o sequenciamento do DNA de uma pessoa em um dia, a um custo de US$ 1000. Um desses instrumentos emprega o transistor de efeito de campo descrito na Seção 15-8 para medir H+ liberado quando cada base é adicionada a um lamento de DNA. O coração do instrumento é um chip com dimensões 2 3 2 cm contendo ~109 poços gravados na superfície. O DNA a ser sequenciado é partido aleatoriamente em fragmentos, com um comprimento de ~150 pares de bases. Microesferas de poliacrilamida são recobertas com 105–106 cópias de uma ta de um fragmento. Esferas diferentes são recobertas com fragmentos diferentes. A enzima DNA polimerase e os iniciadores de DNA necessários à replicação do DNA são adicionados aos fragmentos nas esferas. Cada esfera é posicionada em cada um dos poços. Poços diferentes contêm fragmentos de DNA diferentes. Para o sequenciamento, uma solução contendo uma base é passada sobre o chip, e a base se difunde em cada poço. Se a base é aquela necessária para a posição seguinte do DNA naquele poço, a base é adicionada ao DNA, H+ é liberado e o pH naquele poço sofre redução de ~0,02 unidade. Se a base não era a seguinte na sequência, nenhuma reação acontece naquele poço. O transistor de efeito de campo registra uma variação de potencial por poucos segundos antes de o H+ se difundir para fora do poço. A seguir, os reagentes são removidos e uma nova solução contendo uma base diferente é adicionada. O sequenciador registra a resposta de cada poço a cada adição de base nucleotídica para determinar a sequência do DNA naquele poço. Um computador constrói um mapa de ~3 × 109 bases no DNA humano a partir das sequências de fragmentos curtos sobrepostos.
O
s químicos desenvolveram eletrodos que respondem seletivamente a analitos específicos presentes em solução ou em fase gasosa. Os eletrodos íon-seletivos de uso comum em laboratório, são praticamente do tamanho da sua caneta. Os transistores de efeito de campo sensíveis a íons, que têm apenas 1 mm de dimensão e são usados no sequenciamento do DNA, são mostrados na abertura deste capítulo. O uso de eletrodos para medir potenciais elétricos que fornecem informações químicas é chamado de potenciometria. No caso mais simples, o analito é uma espécie eletroativa que é parte de uma célula galvânica. Uma espécie eletroativa pode doar ou receber elétrons de um eletrodo. Podemos fazer com que uma amostra a ser analisada seja parte de uma meia-célula, inserindo, dentro da solução, um eletrodo inerte, por exemplo, um fio de Pt, que pode transferir elétrons para o analito ou receber elétrons do analito. Como esse eletrodo responde ao analito, ele é chamado de eletrodo indicador ou eletrodo de trabalho. Podemos então conectar esta meia-célula a outra meia-célula por meio de uma ponte salina. A segunda meia-célula tem uma composição fixa, de modo que o seu potencial é constante. Devido a esse potencial constante, a segunda meia-célula é denominada eletrodo de referência. A diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica em questão é a diferença entre o potencial variável da meia-célula que contém o analito e o potencial constante do eletrodo de referência. Eletrodo indicador de trabalho: responde à atividade do analito Eletrodo de referência: mantém um potencial fixo (a referência)
15-1
Eletrodos de Referência1
Suponha que você deseja saber as quantidades relativas de Fe2+ e Fe3+ presentes em uma determinada solução. Você pode fazer com que essa solução faça parte de uma célula eletroquímica, inserindo na solução um fio de Pt e ligando, através de uma ponte salina, essa meia-célula a uma outra meia-célula de potencial constante, como pode ser visto na Figura 15-1. O potencial da meia-
célula conectada ao terminal negativo do potenciômetro será escrito como E2. Essa simbologia não nos informa se o potencial da meia-célula é positivo ou negativo. Ela simplesmente nos indica como as células estão conectadas ao potenciômetro. As duas meias-reações (representadas como reações de redução) são vistas a seguir:
em que E° para cada meia-célula é o potencial-padrão quando as atividades dos reagentes e dos produtos são unitárias. Os potenciais de eletrodo são E+ é o potencial do eletrodo ligado à entrada positiva do potenciômetro. E2 é o potencial do eletrodo ligado à entrada negativa do potenciômetro.
e a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica é a diferença E+ – E2:
FIGURA 15-1 Uma célula galvânica que pode ser usada para medir a razão [Fe2+]/[Fe3+] presente na meia-célula da direita. O fio de platina é o eletrodo indicador e a meia-célula da esquerda mais a ponte salina (envolvidos pela linha tracejada) pode ser considerada como um eletrodo de referência.
Mas a concentração de Cl– na meia-célula da esquerda é constante, fixada pela solubilidade do KCl, com o qual a solução está saturada. Portanto, o valor da diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica muda somente quando a razão [Fe2+]/[Fe3+] se altera. Na realidade, a diferença de potencial corresponde a razão entre as atividades, AFe21 /AFe31. Entretanto, vamos desprezar os coeficientes de atividade e escrever a equação de Nernst com as concentrações ao invés das atividades.
A meia-célula à esquerda na Figura 15-1 pode ser considerada como um eletrodo de referência. Podemos desenhar a meiacélula e a ponte salina, envolvidas na Figura 15-1 por uma linha tracejada, como uma única unidade parcialmente imersa na solução do analito, como vemos na Figura 15-2. O fio de Pt é o eletrodo indicador, cujo potencial responde à razão [Fe2+]/[Fe3+]. O eletrodo de referência completa a reação redox e estabelece um potencial constante no lado esquerdo do potenciômetro. As variações na diferença de potencial da célula eletroquímica resultam de alterações na razão [Fe2+]/[Fe3+].
Eletrodo de Referência de Prata-Cloreto de Prata– O eletrodo de referência envolvido pela linha tracejada na Figura 15-1 é conhecido como eletrodo de prata-cloreto de prata. A Figura 15-3 mostra como o eletrodo é reconstruído sob a forma de um tubo fino, que pode ser imerso na solução de analito. A Figura 15-4 mostra um eletrodo de junção dupla que minimiza o contato entre a solução do analito e a solução de KCl do eletrodo de referência. Os eletrodos de referência de prata-cloreto de prata e de calomelano (descrito a seguir) são os mais usados por suas vantagens. Um eletrodo-padrão de hidrogênio (E.P.H.) é difícil de ser utilizado, pois requer H2 gasoso e uma superfície catalítica de Pt recentemente preparada, facilmente envenenada em muitas soluções. O potencial-padrão de redução para o par AgCl-Ag é 10,222 V, a 25°C. Este seria o potencial de um eletrodo de prata-cloreto de prata se a ACl2 fosse unitária. Entretanto, a atividade do íon Cl– em uma solução saturada de KCl, a 25°C, não é unitária e o potencial de eletrodo na Figura 15-3 é 10,197 V em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio, a 25°C.
Um problema comum com os eletrodos de referência é que os poros da ponta porosa podem entupir, tornando a resposta elétrica do eletrodo lenta e instável. Uma das maneiras para contornar esse problema é a substituição da ponta porosa por um capilar que não apresente restrições à vazão de líquido. Outra possibilidade é forçar um fluxo de solução sempre renovada proveniente do eletrodo, através da junção eletrodo-analito, antes de realizarmos uma medida.
FIGURA 15-2 Outra visão da Figura 15-1. O conteúdo envolvido pela linha tracejada na Figura 15-1 é considerado agora como um eletrodo de referência, imerso na solução que contém o analito.
Eletrodo de Calomelano O eletrodo de calomelano descrito na Figura 15-5 é baseado na reação
O potencial-padrão para esta reação é 10,268 V. Se a célula eletroquímica está saturada com KCl, a 25°C, o potencial é 10,241 V. Um eletrodo de calomelano saturado com KCl é conhecido como eletrodo de calomelano saturado, abreviado como E.C.S. A vantagem do uso de uma solução saturada de KCl é que a concentração de cloreto não muda se parte do líquido evapora.
FIGURA 15-3
Eletrodo de referência de prata-cloreto de prata.
FIGURA 15-4 Eletrodo de referência de prata-cloreto de prata com junção dupla. O eletrodo interno é o mesmo que o da Figura 15-3. A solução no compartimento externo é compatível com a solução do analito. Por exemplo, se você não quer que íons Cl– entrem em contato com o analito, uma possibilidade é preencher o compartimento externo com uma solução de KNO3. Como as soluções eletrolíticas interna e externa se misturam lentamente, é necessário trocar periodicamente a solução de KNO3.
FIGURA 15-5
Um eletrodo de calomelano saturado (E.C.S.).
FIGURA 15-6
Um diagrama que ajuda a converter um potencial de eletrodo entre várias escalas de referência.
Conversões de Potencial entre Diferentes Escalas de Referência Se um eletrodo tem um potencial de 20,461 V em relação a um eletrodo de calomelano, qual é o seu potencial em relação a um eletrodo de prata-cloreto de prata? Qual seria o potencial em relação a um eletrodo-padrão de hidrogênio? Para responder a essas questões, a Figura 15-6 mostra as posições dos potenciais dos eletrodos de calomelano e de pratacloreto de prata em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio: podemos observar que o ponto A, distante 20,461 V do E.C.S., está afastado 20,417 V do eletrodo prata-cloreto de prata e 20,220 V em relação ao E.P.H. O ponto B, cujo potencial é de 10,033 V, em relação ao eletrodo de prata-cloreto de prata, está distante 20,011 V em relação ao potencial do E.C.S. e de 10,230 V do E.P.H. Com esse diagrama em mente, podemos converter potenciais de uma escala para outra.
15-2
Eletrodos Indicadores
Neste capítulo, estudaremos duas grandes classes de eletrodos indicadores. Os eletrodos metálicos, descritos nesta seção, desenvolvem um potencial elétrico em resposta a uma reação redox que se passa na superfície do metal. Os eletrodos íonseletivos, que descreveremos adiante, não se fundamentam em reações redox. Em vez disso, o potencial elétrico é gerado devido a ligação seletiva de um determinado íon com uma membrana. O eletrodo indicador metálico mais comum é o de platina, um metal relativamente inerte, que não participa da maioria das reações químicas. Sua função é simplesmente permitir a passagem de elétrons para uma espécie em solução ou, então, a passagem de elétrons provenientes da espécie em solução. Os eletrodos de ouro são ainda mais inertes que os de platina. Vários tipos de carbono são usados como eletrodos indicadores, pois muitas reações redox são mais rápidas na superfície do carbono. Um eletrodo metálico funciona melhor quando a sua superfície é grande e está bem limpa. Para limparmos a superfície desses eletrodos, basta um mergulho rápido em uma solução quente de HNO3 8 M em uma capela, seguido por uma lavagem intensa com água destilada.
FIGURA 15-7 Uso de eletrodos de prata e de calomelano para medir a concentração de Ag+ em solução. O eletrodo de calomelano possui uma junção dupla, semelhante à da Fig 15-4. O compartimento externo do eletrodo é preenchido com solução de KNO3, de modo que não há contato direto entre a solução de KCl do compartimento interno e a solução de Ag+ no béquer.
A Figura 15-7 mostra como um eletrodo de prata pode ser usado em conjunto com um eletrodo de referência, para medirmos a concentração de Ag+.3 A reação no eletrodo indicador de prata é
A reação no eletrodo de referência de calomelano é
O potencial de referência da meia-célula (E2, não E2°) é fixado em 0,241 V, pois a célula de referência está saturada com KCl. A equação de Nernst para a célula eletroquímica inteira é então
Isto é, a diferença de potencial da célula eletroquímica na Figura 15-7 fornece uma medida direta da [Ag+]. Em termos teóricos, o potencial varia de 59,16 mV (a 25°C) para cada variação de 10 vezes na [Ag+].
EXEMPLO
Titulação Potenciométrica por Precipitação
Cerca de 100,0 mL de uma solução de NaCl 0,100 0 M foram titulados com uma solução de AgNO3 0,100 0 M, e a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica mostrada na Figura 15-7 foi medida durante a titulação. O volume de equivalência é Ve = 100,0 mL. Calcule a diferença de potencial elétrico após a adição de (a) 65,0 mL e (b) 135,0 mL de solução de AgNO3. Solução A reação da titulação é Ag+ + Cl– → AgCl(s)
(a) Com a adição de 65,0 mL de AgNO3, 65,0% do cloreto foram precipitados e 35,0% permaneceram em solução:
Para determinarmos a diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica, pela Equação 15-1, precisamos conhecer [Ag+]:
A diferença de potencial elétrico da célula eletroquímica é, então, E = 0,558 + 0,059 16 log(8,5 × 10–9) = 0,081 V
(b) Em 135,0 mL, existe um excesso de 35,0 mL de AgNO3 = 3,50 mmol de Ag+ em um volume total de 235,0 mL. Portanto, [Ag+] = (3,50 mmol)/(235,0 mL) = 0,014 9 M. A diferença de potencial elétrico da célula é E = 0,558 + 0,059 16 log(0,014 9) = 0,450 V
TESTE A VOCÊ MESMO Determine a diferença de potencial elétrico depois da adição de 99,0 mL de AgNO3. (Resposta: 0,177 V)
FIGURA 15-8 Curva de titulação calculada para a adição de solução de Ag+ 0,100 0 M a 100 mL de solução de Cl– 0,100 0 M com os eletrodos mostrados na Figura 15-7. Os pontos calculados em 65,0 e 135,0 mL são mostrados na figura. A linha colorida corresponde a pAg = –log[Ag+].
A Figura 15-8 mostra a curva de titulação para o exemplo anterior. Há uma analogia grande em relação às titulações ácidobase, com o Ag+ substituindo o H+, e o Cl– agindo como uma base que está sendo titulada. À medida que a titulação ácido-base avança, a concentração de H+ aumenta e o pH diminui. Do mesmo modo, quando a concentração de Ag+ aumenta, o pAg (≡ – log[Ag+]) diminui. O eletrodo de prata mede o pAg, que você pode ver substituindo pAg = –log[Ag+] na Equação 15-1:
A célula responde a variações na concentração do íon Cl–, que modificam necessariamente a concentração de Ag+, uma vez que [Ag+][Cl–] = Kps.
Um eletrodo de prata também é um eletrodo de halogeneto, se halogeneto de prata sólido estiver presente.4 Se a solução contém AgCl(s), substituímos [Ag+] = Kps/[Cl–] na Equação 15-1 para encontrarmos uma expressão que relaciona a diferença de
potencial da célula eletroquímica com [Cl–]:
A Demonstração 15-1 é um bom exemplo do uso de eletrodos de referência e indicador.
Alguns metais, como Ag, Cu, Zn, Cd e Hg, podem ser usados como eletrodos indicadores para seus íons aquosos. Entretanto, a maioria dos metais é inadequada para essa finalidade, pois o equilíbrio Mn1 + ne– ⇌ M não é prontamente estabelecido na superfície do metal.
15-3
O que É um Potencial de Junção?
Sempre que duas soluções eletrolíticas diferentes estão em contato, surge uma diferença de potencial elétrico (chamada de potencial de junção) em suas interfaces. Essa pequena diferença de potencial elétrico (normalmente da ordem de poucos milivolts) se desenvolve em cada uma das pontas de uma ponte salina, que conecta duas meias-células. O potencial de junção impõe uma limitação fundamental na exatidão das medidas potenciométricas que são feitas diretamente, pois, em geral, não sabemos a contribuição do potencial de junção para a medida da diferença de potencial. Eobservado = Ecélula + Ejunção Como o potencial de junção é normalmente desconhecido, Ecélula é incerto.
Para entendermos por que surge um potencial de junção, vamos considerar uma solução de NaCl em contato com água destilada (Figura 15-9). Os íons Na+ e Cl– começam a se difundir da solução de NaCl para a água. Entretanto, o íon Cl– possui uma mobilidade maior do que a do Na+. Isto é, o Cl– se difunde mais rapidamente que o Na+. Em consequência, se desenvolve na fronteira, entre a solução e a água, uma região rica em íons Cl–, com excesso de carga negativa. Atrás dessa região, temos uma região carregada positivamente, empobrecida em íons Cl–. O resultado desta distribuição é o aparecimento de uma diferença de potencial elétrico na junção entre as fases NaCl e H2O. O potencial de junção se opõe ao movimento dos íons Cl– e acelera o movimento dos íons Na+. O potencial de junção no estado estacionário representa um balanceamento entre as mobilidades iônicas diferentes, que fazem com que as cargas não estejam balanceadas, e essas cargas não balanceadas tendem a retardar o movimento do Cl–.
DEMONSTRAÇÃO 15-1
Potenciometria com uma Reação Oscilante5
A reação de Belousov-Zhabotinskii é uma oxidação do ácido malônico pelo bromato, catalisada pelo cério, na qual a razão [Ce31]/[Ce4+] oscila de 10 a 100 vezes.6
Quando a concentração do Ce4+ é alta, a solução é amarela. Quando o Ce31 predomina, a solução é incolor. Com indicadores redox (Seção 15-2), essa reação oscila através de uma sequência de cores.7 Uma oscilação entre amarelo e incolor é obtida em um béquer de 300 mL com as seguintes soluções: 160 mL de H2SO4 1,5 M 40 mL de ácido malônico 2 M 30 mL de NaBrO3 0,5 M (ou solução saturada de KBrO3) 4 mL de solução saturada de sulfato cérico amoniacal, (Ce(SO4)2 · 2(NH4)2SO4 · 2H2O) Após um período de indução de 5 a 10 min com agitação magnética, as oscilações podem ser iniciadas pela adição de 1 mL da solução de sulfato cérico amoniacal. A reação pode precisar de mais Ce4+, e mais um período de 5 min, para dar início às oscilações.
Uma célula galvânica, envolvendo o sistema reacional, é montada como mostra a gura vista a seguir. O valor da razão [Ce31]/[Ce4+] é monitorado pelos eletrodos de platina e calomelano. Você deve ser capaz de escrever as reações da célula e uma equação de Nernst para este experimento.
Dispositivo usado para monitorar a razão [Ce31]/[Ce41] em uma reação oscilante. [A ideia para essa demonstração veio de George Rossman, California Institute of Technology.] No lugar de um potenciômetro (um medidor de pH), usamos um registrador potenciométrico para visualizarmos as oscilações. Como o potencial oscila em uma faixa de ~100 mV, mas é centrado próximo a ~1,2 V, o potencial da célula deve ser compensado por uma fonte externa de ~1,2 V.8 Na gura vista a seguir, a curva a mostra o que é normalmente observado. O potencial varia rapidamente durante a mudança abrupta de incolor para amarelo, e gradualmente durante a mudança suave do amarelo para o incolor. A curva b mostra dois ciclos diferentes superpostos na mesma solução. Este evento raro ocorreu em uma reação que oscilou normalmente por cerca de 30 min.9
FIGURA 15-9
Aparecimento de um potencial de junção criado pela diferença entre as mobilidades dos íons Na+ e Cl–.
As mobilidades de vários íons são mostradas na Tabela 15-1, e alguns potenciais de junção líquida estão listados na Tabela 152. Usa-se uma solução saturada de KCl em uma ponte salina porque os íons K1 e o Cl– têm mobilidades muito parecidas. Os potenciais de junção, nas duas interfaces de uma ponte salina de KCl, são muito pequenos. No entanto, o potencial da junção 0,1 M de HCl | 3,5 M de KCl é 3,1 mV. Um eletrodo de pH tem uma resposta de 59 mV por unidade de pH. Um eletrodo de pH mergulhado em uma solução de HCl 0,1 M terá um potencial de junção de ~3 mV, o que corresponde a um erro de 0,05 unidade de pH (equivalente a um erro de 12% na concentração de H+).
TABELA 15-1
Mobilidades de íons em água, a 25°C
a. A mobilidade de um íon é a velocidade nal que uma partícula alcança em um campo elétrico de 1 V/m. Mobilidade = velocidade/campo. As unidades de mobilidade são, portanto, (m/s)/(V/m) = m–/(s · V).
EXEMPLO
Potencial de Junção
Uma solução de NaCl 0,1 M foi colocada em contato com uma solução de NaNO3 0,1 M. Que lado da junção será positivo? Solução Como [Na+] é igual em ambos os lados, não haverá difusão líquida de Na+ através da junção. Entretanto, o Cl– se difundirá na solução de NaNO3 e o NO3– se difundirá na solução de NaCl. A mobilidade do Cl– é maior do que a do NO3–; assim o Cl– desaparecerá mais rapidamente da região do NaCl do que o NO3– desaparecerá da região de NaNO3. Consequentemente, o lado do NaNO3 se tornará negativo e o lado do NaCl se tornará positivo. TESTE A VOCÊ MESMO Que lado da junção NaCl 0,05 M | LiCl 0,05 M será positivo? (Resposta: LiCl) O potencial de junção pode ser reduzido a ~0,1 mV por meio de uma escolha criteriosa de um líquido iônico no lugar do KCl aquoso na ponte salina.10 Um líquido iônico contém um cátion e um ânion que não cristalizam de imediato. O líquido iônico funde abaixo da temperatura ambiente e possui uma ampla faixa líquida com baixa volatilidade. A Figura 15-1 mostra uma ponte
salina clássica, consistindo em um tubo em U invertido conectando duas células eletroquímicas a partir do fundo. O tubo em U contém apenas líquido iônico, cuja solubilidade em água é inferior a 1 mM. As mobilidades do cátion e do ânion concordam dentro da margem de 3% e são um terço maiores do que as dos íons K1 e Cl–. Erros de ~102100 mV podem ocorrer se um eletrodo de referência possui uma ponta de vidro nanoporosa em vez de uma ponta de vidro microporosa para separar a solução interna do eletrodo da solução da amostra.11 Um exemplo de ponta de vidro é mostrado na parte inferior do eletrodo na Figura 15-3. Pontas nanoporosas possuem nomes comerciais como Vycor© e CoralPor©. Vidros microporosos têm aberturas da ordem de ~0,1–3 μm de diâmetro por meio das quais o líquido flui lentamente e se difunde. Os canais nos vidros nanoporosos têm ~4220 nm de diâmetro. Grupos silanol (Si—OH) no vidro são desprotonados em pH acima de 3 produzindo uma superfície negativamente carregada contendo grupos Si—O–. Na proximidade de um nanoporo os ânions não passam livremente pela superfície negativa, mas os cátions passam facilmente por ela (Figura 15-11). Essa blindagem eletrostática pode produzir potenciais de eletrodo dependentes da solução, os quais não são observados quando um eletrodo possui uma ponta microporosa.
TABELA 15-2
Potenciais de junção líquida, a 25°C
Junção
Potencial(mV)
0,1 M de NaCl | 0,1 M de KCl
–6,4
0,1 M de NaCl | 3,5 M de KCl
–0,2
1 M de NaCl | 3,5 M de KCl
–1,9
0,1 M de HCl | 0,1 M de KCl
+27
0,1 M de HCl | 3,5 M de KCl
+3,1
0,1 M de NaOH | KCl (saturado)
–0,4
0,1 M de NaOH | 0,1 M de KCl
–19
NOTA: Um sinal positivo signi ca que o lado direito da junção torna-se positivo em relação ao lado esquerdo.
FIGURA 15-10
Uma ponte salina preenchida com um líquido iônico pode reduzir o potencial de junção a ~0,1 mV.
FIGURA 15-11 Carga negativa na parede de vidro de um canal estreito bloqueia a passagem de ânions, mas permite que os cátions passem. A separação de cargas cria diferenças de potencial ao longo de um tampão de vidro nanoporoso.
15-4
Como Funcionam os Eletrodos Íon- Seletivos12
Os eletrodos íon-seletivos, que estudaremos no restante deste capítulo, respondem seletivamente a um determinado tipo de íon. Esses eletrodos são fundamentalmente diferentes dos eletrodos metálicos, pois os eletrodos íon-seletivos não envolvem um processo redox. A principal característica de um eletrodo íon-seletivo ideal é a presença de uma fina membrana que, idealmente, se liga apenas ao íon de interesse. Hidrofóbico: significa “que odeia a água” (que não se mistura com a água)
Considere o eletrodo íon-seletivo de base líquida representado esquematicamente na Figura 15-12a. Este eletrodo é denominado “de base líquida”, porque sua membrana íon-seletiva é uma membrana feita de um polímero orgânico hidrofóbico impregnado com uma solução orgânica viscosa, contendo um trocador de íons e, às vezes, um ligante capaz de se ligar seletivamente ao cátion C1, que é o analito. A parte interna do eletrodo encontra-se cheia com uma solução contendo os íons C1(aq) e B–(aq). A parte externa do eletrodo é mergulhada na solução de analito, contendo C1(aq) e A– (aq) e, talvez, outros íons. Em termos ideais, não interessa saber se A–, B–, ou outros íons estão presentes. A diferença de potencial elétrico entre os dois lados da membrana seletiva é medida por meio de dois eletrodos de referência, que podem ser de Ag Z AgCl. Se a concentração (na realidade, a atividade) de C1, na solução de analito, se altera, a diferença de potencial entre os dois eletrodos de referência também se modificará. Por meio de uma curva de calibração, a diferença de potencial pode ser convertida no valor da concentração de C1 presente na solução de analito. A Figura 15-12b mostra o funcionamento detalhado do eletrodo. A substância-chave, nesse exemplo, é um ligante L (denominado ionóforo), solúvel dentro da membrana e pode ligar-se, seletivamente, ao íon que constitui o analito. Em um eletrodo íon-seletivo para potássio, L pode ser a valinomicina, um antibiótico natural excretado por certos micro-organismos com a finalidade de transportar o íon K1 através de membranas celulares (Figura 15-13). O critério usado na escolha do ligante, L, é que essa substância tenha uma alta afinidade pelo analito C1 e uma baixa afinidade pelos outros íons. Em um eletrodo ideal, L se liga somente com C1. Nos eletrodos reais, L sempre tem alguma afinidade por outros cátions, por isso esses cátions interferem em um certo grau nas medidas de C1. Para garantir a eletroneutralidade da carga, a membrana também contém o ânion hidrofóbico R–, como o íon tetrafenilborato (C6H5)4B–, solúvel na membrana, mas praticamente insolúvel em água.
FIGURA 15-12 (a) Eletrodo íon-seletivo imerso em uma solução aquosa que contém o cátion analito C1. Normalmente, a membrana é feita de poli(cloreto de vinila) (PVC), impregnada com o plastificante sebaçato de dioctila, um líquido apolar que amolece a membrana e é também capaz de dissolver o ionóforo íon-seletivo (L), o complexo (LC1) e o ânion hidrofóbico (R–). (b) Vista expandida da membrana. As elipses que envolvem pares de íons facilitam o observador a contar a carga elétrica em cada fase. Os íons coloridos, ressaltados em negrito, representam o excesso de carga em cada fase. A diferença de potencial elétrico entre cada um dos lados da membrana depende da atividade do íon analito na solução aquosa que entra em contato com a membrana.
Praticamente todo o íon analito dentro da membrana, na Figura 15-12b, está ligado no complexo LC1, que está em equilíbrio com uma pequena quantidade de C1 livre na membrana. A membrana também contém um excesso de L livre. C1 pode se difundir através da interface. Em um eletrodo ideal, R– não pode sair da membrana porque é insolúvel em água, e o ânion A– presente na solução aquosa não consegue penetrar na membrana, pois não é solúvel na fase orgânica. Tão logo uma pequena quantidade de íons C1 se difunda da membrana para dentro da fase aquosa, surge um excesso de cargas positivas na fase aquosa. Este desbalanceamento entre as cargas positivas e as cargas negativas cria uma diferença de potencial elétrico que se opõe a uma maior difusão de C1 para dentro da fase aquosa. A região de desbalanceamento de carga se estende apenas de alguns nanômetros para dentro da membrana e para dentro da solução adjacente. Quando C1 se difunde de uma região da membrana com atividade Am para uma região com a atividade Ao na solução externa, a variação de energia livre é dada por
FIGURA 15-13 O complexo valinomicina-K1 tem seis átomos de oxigênio (de grupos carbonila) fazendo a coordenação octaédrica em torno do K1. [De L. Stryer, Biochemistry, 4th ed (New York: W. H. Freeman, 1995), p. 273.]
em que R é a constante dos gases e T a temperatura (K). ΔGsolvatação é a variação na energia de solvatação quando o ambiente em torno de C1 muda do líquido orgânico, na membrana, para a solução aquosa, fora da membrana. O termo –RTln(Am/Ao) dá a variação de energia livre quando uma espécie se difunde entre regiões com atividades (concentrações) diferentes. Na ausência de uma fronteira de fase, ΔG será sempre negativa quando uma espécie se difunde de uma região de alta atividade para uma região com atividade menor. O ligante L sempre apresenta alguma capacidade de se ligar a outros íons além de C1, de modo que a presença desses outros íons interfere de alguma forma na determinação de C1. Um eletrodo íon-seletivo usa um ligante com uma forte preferência (seletividade) de se ligar ao íon desejado.
A solvatação favorável do íon C1 pela água é responsável pela força motriz que provoca a difusão de C1 da membrana para a solução aquosa. Quando C1 se difunde da membrana para a água, temos o acúmulo de carga positiva na água imediatamente adjacente à membrana. A separação entre cargas cria uma diferença de potencial elétrico (Eexterno) através da membrana. A diferença de energia livre para o íon C1 nas duas fases, é ΔG = 2nFEexterno, no qual F é a constante de Faraday e n é a carga do íon. No equilíbrio, a variação líquida de energia livre para a difusão de C1 através da fronteira da membrana tem que ser nula:
Exemplo de um ânion hidrofóbico, R–:
Explicitando-se Eexterno, obtemos que a diferença de potencial elétrico através da fronteira, entre a membrana e a solução aquosa externa, na Figura 15-12b, é dada por
Na fronteira entre a solução interna do eletrodo e a membrana, há também uma diferença de potencial, Einterno, definida de maneira semelhante àquela da Equação 15-4. A diferença de potencial entre a solução contendo o analito externa ao eletrodo e a solução interna do eletrodo é a diferença E = Eexterno – Einterno. Na Equação 15-4, Eexterno depende das atividades de C1 na solução contendo o analito e na região da membrana próxima a sua superfície externa. O valor de Einterno é constante, pois a atividade de C1, na solução interna do eletrodo, é constante. Contudo, a atividade de C1 na membrana (Am) é praticamente constante pela seguinte razão: a elevada concentração de LC1 na membrana está em equilíbrio com L livre e uma pequena quantidade de C1 na membrana. O íon hidrofóbico R– é muito pouco solúvel em água e, por isso, não consegue sair da membrana. Muito pouco C1 consegue se difundir para fora da membrana, pois cada íon C1 que entra na fase aquosa deixa um íon R– na membrana. (Essa separação de cargas é a responsável pelo aparecimento da diferença de potencial na fronteira entre as fases.) Tão logo uma pequena fração de C1 se difunda da membrana para a solução, ocorre o bloqueio de qualquer difusão adicional de C1 devido ao excesso de carga positiva na solução próxima à membrana. Assim, a diferença de potencial entre as soluções externa e interna é
Combinando-se os termos que são constantes, vemos que a diferença de potencial através da membrana depende apenas da atividade do analito na solução externa:
Do Apêndice A, ln x = (ln 10)(log x) = 2,303 logx
Convertendo ln em log e substituindo os valores numéricos de R, T e F, obtemos uma expressão bastante útil para a diferença de potencial através da membrana:
O número 0,059 16 V é o resultado de
a 25°C.
no qual n é a carga do íon, que é o analito, e Ao é a sua atividade na solução externa (cujo valor não é conhecido). A Equação 155 é aplicada a qualquer eletrodo íon-seletivo, incluindo o eletrodo de vidro para medida de pH. Se o analito for um ânion, o sinal de n deve ser negativo. Mais tarde, modificaremos a Equação15-5 para levar em conta a presença de íons interferentes. Em um eletrodo de vidro para medida de pH, uma diferença de 59,16 mV (a 25°C) corresponde a uma variação de 10 vezes na atividade do H+ na solução contendo o analito. Como uma diferença de 10 vezes na atividade do H+ corresponde a uma unidade de pH, uma diferença de 4,00 unidades de pH corresponde a uma diferença de potencial de 4,00 3 59,16 = 237 mV. A carga de um íon cálcio é n = 2, de modo que a diferença de potencial de 59,16/2 = 29,58 mV é esperada, medida com um eletrodo seletivo ao íon cálcio, para cada variação de 10 vezes na atividade do íon Ca2+ no analito.
Em 1906, M. Cremer, do Instituto de Fisiologia de Munique, descobriu que uma diferença de potencial de 0,2 V se manifestava através de uma membrana de vidro com ácido em um lado e uma solução salina neutra do outro lado. Em 1908, o estudante Klemensiewicz, trabalhando com F. Haber em Karlsruhe, aperfeiçoou o eletrodo de vidro e fez a primeira titulação ácido-base, utilizando este tipo de eletrodo.13
15-5
Medida do pH com um Eletrodo de Vidro
O eletrodo de vidro, usado para medir pH, é o exemplo mais comum de um eletrodo íon-seletivo. Um típico eletrodo combinado de pH incorpora, em um mesmo corpo, os eletrodos de vidro e de referência, como vemos na Figura 15-14. O diagrama de barras para este eletrodo pode ser escrito da seguinte maneira:
FIGURA 15-14 Diagrama de um eletrodo de vidro combinado tendo um eletrodo de referência de prata-cloreto de prata. O eletrodo de vidro é imerso em uma solução de pH desconhecido, em uma profundidade tal que o tampão poroso na parte inferior direita fique abaixo da superfície do líquido. Os dois eletrodos de Ag | AgCl medem a diferença de potencial através da membrana de vidro.
A parte do eletrodo sensível ao pH é um bulbo, ou um cone, de vidro de paredes finas, localizado na ponta dos eletrodos que são vistos nas Figuras 15-14 e 15-15. O eletrodo de referência, no lado esquerdo do diagrama de barras visto anteriormente, é o
eletrodo de Ag | AgCl em forma espiral no eletrodo combinado da Figura 15-14. O eletrodo de referência, do lado direito desse mesmo diagrama, é um eletrodo reto de Ag | AgCl no centro do eletrodo na Figura 15-14. Os dois eletrodos de referência medem a diferença de potencial elétrico através da membrana de vidro. A ponte salina, representada por duas barras no diagrama, é o pequeno tampão poroso no lado inferior direito do eletrodo combinado da Figura 15-14. A Figura 15-16a mostra a estrutura irregular do retículo de silicato no vidro, que se acha presente no bulbo de um eletrodo de vidro para medida de pH. Átomos de oxigênio no vidro, carregados negativamente, podem se ligar a cátions que tenham um tamanho adequado. Cátions monovalentes, em especial o íon Na+, podem se mover lentamente através do retículo de silicato. A Figura 15-16b é uma microfotografia de resolução atômica que mostra regiões cristalinas e amorfas de vidro de sílica pura (SiO2 puro). A Figura 15-16c é uma microfotografia de uma região amorfa do vidro de sílica. As regiões cristalinas apresentam um arranjo repetido de anéis contendo seis unidades SiO4. As regiões amorfas contêm uma mistura de anéis de vários tamanhos de orientações irregulares. O vidro de sílica amorfo é uma aproximação da estrutura do retículo de silicato. Um esquema da seção transversal da membrana de vidro de um eletrodo de pH é mostrado na Figura 15-17. As duas superfícies externas se dilatam enquanto adsorvem água. Íons metálicos nessas regiões de gel hidratado na membrana se difundem para fora do vidro no sentido da solução. Concomitantemente, os íons H+ da solução podem se difundir para dentro da membrana substituindo os íons metálicos. A reação em que o H+ substitui os cátions no vidro é um equilíbrio de troca iônica (Figura 15-18). O eletrodo de pH responde seletivamente aos íons H+ porque o H+ é o único íon que se liga significativamente à camada de gel hidratado. Para fazermos uma medida elétrica, pelo menos alguma corrente elétrica tem que circular por todo o circuito — inclusive através da membrana do eletrodo de vidro, usado para medir pH. Estudos com trítio (o isótopo radioativo 3H) mostram que o H+ não atravessa a membrana de vidro. Entretanto, o Na+ pode atravessar lentamente a membrana. Uma membrana sensível ao H+ pode ser definida como tendo duas superfícies conectadas eletricamente por meio do transporte de íons Na+. A resistência elétrica de uma membrana de vidro é geralmente da ordem de 108 Ω, de modo que muito pouca corrente consegue realmente fluir através dela. A diferença de potencial entre os eletrodos de prata-cloreto de prata, interno e externo, na Figura 15-14, depende da concentração do íon cloreto em cada compartimento do eletrodo e da diferença de potencial através da membrana de vidro. Como a [Cl–] é fixa em cada compartimento do eletrodo e como a concentração de H+ é fixa no interior da membrana de vidro, a única variável é o pH da solução de analito situada do lado de fora da membrana de vidro. A Equação 15-5 estabelece que o potencial de um eletrodo de pH ideal varia de 59,16 mV a cada variação da atividade do analito que corresponde, a 25°C, a uma unidade de pH.
FIGURA 15-15 (a) Eletrodo de vidro combinado, onde o bulbo de vidro sensível ao pH se situa em sua parte inferior. Um tampão de cerâmica porosa (a ponte salina) conecta a solução do analito com o eletrodo de referência. Dois fios de prata revestidos com AgCl são visíveis dentro do eletrodo. [Cortesia Fisher Scientific, Pittsburgh, PA.] (b) Um eletrodo de pH com um diafragma de platina (produzido a partir de uma fina tela de fios de Pt), considerado como menos suscetível a entupimentos do que um tampão cerâmico. [Informações de W. Knappek, Am. Lab. News. Ed. Julho 2003, p. 14.]
A resposta de eletrodos de vidro reais pode ser descrita por uma equação semelhante a de Nernst
O valor de b, a eficiência eletromotriz, é próximo de 1,00 (geralmente . 0,98). Medimos os valores da constante e de b quando calibramos o eletrodo com pelo menos duas soluções de pH conhecido. Cristalino: estrutura repetitiva Amorfo: estrutura irregular sem ordem de longo alcance
FIGURA 15-16 (a) Estrutura esquemática de vidro de silicato que consiste em um retículo irregular de moléculas de SiO4, tetraédricas, ligadas através de átomos de oxigênio. Cátions como Li1, Na+, K1 e Ca2+ são coordenados aos átomos de oxigênio. O retículo de silicato não é plano. Este diagrama é uma projeção de cada um dos tetraedros, no plano desta página. [Adaptado de G. A. Perley, “Glasses for Measurement of pH”, Anal. Chem. 1949, 21, 394.] (b) e (c) Imagens de microscopia eletrônica de transmissão de uma camada fina de SiO2 depositada sobre grafeno. Cada vértice de cada polígono está voltado para o eixo de um tetraedro de SiO4 conectado a tetraedros adjacentes de SiO4 por meio de átomos de oxigênio. [P. Y. Huang et al., “Direct Imaging of a Two-Dimensional Silica Glass on Graphene”, Nano Lett., 2012, 12, 1081. Veja também P. Y. Huang et al., “Imaging Atomic Rearrangements in Two-Dimensional Silica Glass: Watching Silica’s Dance”, Science 2013, 342, 224. Reproduzido sob permissão © 2012 American Chemical Society.] A corrente que passa através de um eletrodo de vidro é tão pequena que ele não teve utilização prática quando foi descoberto em 1906. Uma das primeiras pessoas a utilizar amplificadores a válvula para medidas de pH com um eletrodo de vidro foi um estudante de graduação na Universidade de Illinois em 1928. Este estudante, chamado W. H. Wright, tinha obtido seus conhecimentos de eletrônica através do radioamadorismo. Em 1935, Arnold Beckman, no Caltech, construiu o primeiro medidor de pH portátil a válvula, suficientemente resistente para o uso em campo. Este invento revolucionou todo o conceito de instrumentação química.14
FIGURA 15-17
Diagrama esquemático mostrando uma seção transversal da membrana de vidro de um eletrodo de pH.
FIGURA 15-18 Equilíbrios de troca iônica nas superfícies interna e externa da membrana de vidro: o H+ substitui os cátions metálicos ligados aos átomos de oxigênio negativamente carregados. O pH da solução interna é fixo. À medida que o pH da solução externa (a amostra) varia, a diferença de potencial elétrico através da membrana de vidro também se modifica.
Medidor de pH de Beckman. [Canada Science and Technology Museum; 1978.0006.]
Calibração do Eletrodo de Vidro Um eletrodo de pH deve ser calibrado com duas (ou mais) soluções-tampão-padrões, selecionadas de tal forma que o pH da amostra desconhecida fique dentro da faixa dos padrões. Os padrões descritos na Tabela 15-3 são exatos a 60,01 unidade de pH.15 O Problema 15-30 mostra como o pH de soluções-tampão-padrão é medido. Quando calibramos um eletrodo com tampões-padrão diferentes, medimos a diferença de potencial elétrico para o eletrodo em cada um desses tampões (Figura 15-19). O pH do tampão S1 é pHS1 e a diferença de potencial medida neste eletrodo é ES1. Para o tampão S2 o pH será pHS2 e a diferença de potencial medida ES2. A equação da reta que passa pelos dois pontos obtidos com os padrões é
O coeficiente angular da reta é ΔE/ΔpH = (ES2 – ES1)/(pHS2 – pHS1), cujo valor é 59,16 mV por unidade de pH, a 25°C, para um eletrodo ideal e b(59,16) mV/unidade de pH para um eletrodo real, onde b é o fator de correção na Equação 15-6. O eletrodo de pH mede a atividade do íon H+, e não a concentração de H+.
Para medirmos o pH de uma amostra desconhecida, medimos a diferença de potencial para essa amostra com o eletrodo calibrado e encontramos o valor de pH por substituição na Equação 15-7.
Um eletrodo de pH deve ser calibrado na mesma temperatura da amostra antes de ser usado. Ele precisa ser calibrado aproximadamente, a cada 2 h de uso contínuo.
Os medidores modernos de pH funcionam como “caixas pretas” realizando esses cálculos automaticamente através da aplicação das Equações 15-7 e 15-8 e mostrando diretamente o pH. Ao medir o pH com um eletrodo de vidro, o potencial de junção na
abertura da ponte salina na lateral do eletrodo (Figura 15-15) pode mudar em diferentes soluções. Tal mudança introduz um erro na medida de pH obtida. A Equação 15-8 é uma definição “operacional” que prescreve como medir o pH. A definição pH = –logAH+ não é rigorosa porque a atividade de um íon isolado, como o H+, não é termodinamicamente definida.16 Apenas a atividade média de pares de íons (como H+ e Cl–) é definida termodinamicamente e pode ser medida. O procedimento por trás da Equação 15-8 usando soluções-tampão-padrão da Tabela 15-3 tem o objetivo de aproximar a medida o máximo possível da idealização pH = –logAH+. Os limites de validade da Equação 15-8 são aproximadamente 2 # pH # 12 com força iônica # 0,1 mol/kg. (Os físico-químicos normalmente expressam concentrações em molalidade, que é uma grandeza independente da temperatura. A molaridade varia com a temperatura porque as soluções normalmente se expandem quando aquecidas.) As medidas de pH fora da faixa 2–12 ou com força iônica superior a 0,1 mol/kg podem apresentar erros grandes.
Antes de usarmos um eletrodo de pH devemos verificar se a entrada de ar próxima à parte superior do eletrodo visto na Figura 15-14 não está fechada. (Esse orifício deve ser fechado quando o eletrodo é guardado para evitar a evaporação da solução interna do eletrodo de referência.) Lavamos o eletrodo com água destilada e depois secamos, cuidadosamente, com um lenço de papel que não solte fibras. Não se deve esfregar o eletrodo, pois isso pode fazer com que o vidro fique carregado eletrostaticamente. Para calibrar o eletrodo, mergulhamos o eletrodo em uma solução-tampão-padrão, cujo pH é próximo de 7, e deixamos que o eletrodo entre em equilíbrio, com agitação, por pelo menos um minuto. Seguindo as instruções do fabricante, devemos acionar uma tecla, normalmente assinalada como “calibração” ou “leitura” no caso de um instrumento controlado por microprocessador, ou ajustar a leitura de um medidor analógico, de modo que o instrumento indique o valor de pH do tampão-padrão que está sendo usado. O eletrodo deve ser então lavado com água, seco com papel adequado, e mergulhado em um segundo padrão, cujo pH difere de, pelo menos, 7 unidades de pH do primeiro padrão. Entramos com o valor do segundo tampão no medidor. Finalmente, mergulhamos o eletrodo na solução, cujo pH queremos determinar, agitamos o líquido, esperamos a estabilização da leitura, e lemos no instrumento o valor do pH. O eletrodo de vidro não deve permanecer fora d’água (ou em um solvente não aquoso) além do tempo estritamente necessário.
TABELA 15-3
Valores de pH de tampões do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA (NIST)
Temperatura (°C)
Tetraoxalato de potássio 0,05 m (1)
Hidrogenotartarato de potássio saturado (25°C) (2)
Di-hidrogenocitrato de potássio 0,05 m (3)
Hidrogenoftalato de potássio 0,05 m (4)
MOPSO 0,08 m NaMOPSO 0,08 m NaCl 0,08 m (5)
0
1,667
—
3,863
4,003
7,268
5
1,666
—
3,840
3,999
7,182
10
1,665
—
3,820
3,998
7,098
15
1,669
—
3,802
3,999
7,018
20
1,672
—
3,788
4,002
6,940
25
1,677
3,557
3,776
4,008
6,865
30
1,681
3,552
3,766
4,015
6,792
35
1,688
3,549
3,759
4,024
6,722
37
—
3,548
3,756
4,028
6,695
40
1,694
3,547
3,753
4,035
6,654
45
1,699
3,547
3,750
4,047
6,588
50
1,706
3,549
3,749
4,060
6,524
55
1,713
3,554
—
4,075
—
60
1,722
3,560
—
4,091
—
70
—
3,580
—
4,126
—
80
—
3,609
—
4,164
—
90
—
3,650
—
4,205
—
95
—
3,674
—
4,227
—
6,984
7,853
7,534
9,464
10,317
13,42
6,951
7,782
7,500
9,395
10,245
13,21
6,923
7,713
7,472
9,332
10,179
13,00
6,900
7,645
7,448
9,276
10,118
12,81
6,881
7,580
7,429
9,225
10,062
12,63
6,865
7,516
7,413
9,180
10,012
12,45
6,853
7,454
7,400
9,139
?9,966
12,29
6,844
7,393
7,389
9,102
?9,925
12,07
6,840
7,370
7,385
9,088
?9,910
11,98
6,838
7,335
7,380
9,068
?9,889
11,71
6,834
7,278
7,373
9,038
?9,856
—
6,833
7,223
7,367
9,011
?9,828
—
6,834
—
—
8,985
—
—
6,836
—
—
8,962
—
—
6,845
—
—
8,921
—
—
6,859
—
—
8,885
—
—
6,877
—
—
8,850
—
—
6,886
—
—
8,833
—
—
NOTA: m signi ca molalidade. As massas utilizadas nas preparações dos tampões descritas a seguir são massas aparentes, medidas ao ar. No preparo de soluções-tampão é essencial o uso de reagentes de alta pureza e de água recém-destilada, ou deionizada, com resistividade superior a 2 000 ohm · m. Soluções tendo pH 6, ou acima, devem ser armazenadas em frascos plásticos, preferencialmente com um tubo secador contendo NaOH para prevenir a entrada de dióxido de carbono atmosférico. Elas conservam a sua integridade por 2-3 semanas, ou um pouco mais, quando guardadas em um refrigerador. Os reagentes, para preparação dos tampões nessa tabela, estão disponíveis como Reagentes de Referência Padrão do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA (NIST) http://ts.nist.gov/srm. Padrões de pH para D2O e soluções orgânicas aquosas podem ser encontrados em P. R. Mussini, T. Mussini e S. Rondinini, Pure Appl. Chem. 1997, 69, 1007. 1. Tetraoxalato de potássio (KHC2O4 · H2C2O4) 0,05 m. Dissolver 12,71 g de tetraoxalato de potássio desidratado (Material de Referência Padrão usado sem secagem) em 1 kg de água. Valores de pH em P. M. Juusola, J. I. Partanen, K. P. Vahteristo, P. O. Minkkinen e A. K. Covington, J. Chem. Eng. Data 2007, 52, 973. 2. Hidrogenotartarato de potássio saturado (25°C), KHC4H4O6. Um excesso do sal é agitado com água e a solução pode ser armazenada sem outras manipulações. Antes do uso, a solução deve ser ltrada ou decantada a uma temperatura entre 22°C e 28°C. 3. Di-hidrogenocitrato de potássio 0,05 m, KH2C6H5O7. Dissolver 11,41 g do sal em 1 L de solução, a 25°C. 4. Hidrogenoftalato de potássio 0,05 m. Embora normalmente não seja necessário, os cristais deste sal podem ser aquecidos a 100°C por 1 h e, então, esfriados em um dessecador. A 25°C, 10,12 g de C6H4(CO2H)(CO2K) são dissolvidos em água, e a solução é diluída até 1 L. 5. MOPSO (ácido (3-N-morfolino)-2-hidroxipropanossulfônico, Tabela 9-2) 0,08 m, sal de sódio de MOPSO 0,08 m e NaCl 0,08 m. Tampões com valores 5 e 7 são recomendados para padronização de dois pontos de eletrodos de medidas de pH em uidos siológicos. O MOPSO é recristalizado duas vezes em etanol a 70% em massa e seco a 50°C, sob vácuo, por 24 h. O NaCl é aquecido a 110°C por 4 h. O Na1MOPSO– pode ser preparado por neutralização do MOPSO com solução de NaOH padrão. O sal de sódio também está disponível como um Reagente de Referência Padrão. Dissolver 18,00 g de MOPSO, 19,76 g de Na+MOPSO– e 4,674 g de NaCl em 1,000 kg de H2O. 6. Hidrogenofosfato dissódico 0,025 m e di-hidrogenofosfato de potássio 0,025 m. É melhor que os sais sejam usados quando estão anidros. Para isso, cada um dos sais deve ser aquecido por 2 h, a 120°C, e esfriado em um dessecador, pois eles são ligeiramente higroscópicos. Deve-se evitar o uso de altas temperaturas no processo de secagem, de modo a prevenir a formação de polifosfatos. Dissolver 3,53 g de Na2HPO4 e 3,39 g de KH2PO4 em água para preparar 1 L de solução, a 25°C. 7. HEPES (ácido N-2-hidroxietilpiperazino-N’-2-etanossulfônico, Tabela 9-2) 0,08 m, sal de sódio do HEPES 0,08 m e NaCl 0,08 m. Tampões 5 e 7 são recomendados para
padronização de dois pontos de eletrodos para a medida de pH de uidos siológicos. O HEPES é recristalizado duas vezes em etanol 80% em massa e aquecido a 50°C, sob vácuo, por 24 h. O NaCl é aquecido a 110°C por 4 h. Na1HEPES– pode ser preparado pela neutralização do HEPES com NaOH padrão. O sal de sódio também está disponível como Reagente Padrão de Referência. Dissolver 19,04 g de HEPES, 20,80 g de Na1HEPES– e 4,674 g de NaCl em 1,000 kg de H2O. 8. Di-hidrogenofosfato de potássio 0,008 695 m, hidrogenofosfato dissódico 0,030 43 m. Preparação semelhante ao Tampão 6; dissolver 1,179 g de KH2PO4 e 4,30 g de Na2HPO4 em água para obter 1 L de solução, a 25°C. 9. Tetraborato de sódio deca-hidratado 0,01 m. Dissolver 3,80 g de Na2B4O7 · 10H2O em água para obter 1 L de solução. Essa solução de bórax é particularmente sensível a variações de pH devido à absorção de dióxido de carbono e, por isso, deve ser protegida, adequadamente, do contato com o ar. 10. Bicarbonato de sódio 0,025 m e carbonato de sódio 0,025 m. O Na2CO3, com grau padrão primário, é aquecido a 250°C por 90 min e armazenado sobre CaCl2 e Drierita. O NaHCO3, grau padrão primário, é seco à temperatura ambiente por 2 dias sobre peneira molecular e Drierita. O NaHCO3 não deve ser aquecido, pois se decompõe formando Na2CO3. Dissolver 2,092 g de NaHCO3 e 2,640 g de Na2CO3 em 1 L de solução, a 25°C. 11. O Ca(OH)2 é um padrão secundário, cujo pH não é tão exato como o de padrões primários. Lave bem o CaCO3 de baixo teor de metais alcalinos com água para removê-los. Aqueça o pó a 1000°C em um cadinho de Pt por 45 min e resfrie em um dessecador. Adicione o CaO obtido lentamente à H2O sob agitação. Ferva a suspensão, resfrie-a e ltre-a por meio de um funil de vidro sinterizado de porosidade média. Seque o sólido a 110°C e triture-o até obter um pó namente dividido. Se a [OH–] da solução-padrão a 25°C for superior a 0,020 6 M (medida por titulação com ácido forte), haverá provavelmente metais alcalinos solúveis no CaCO3. De R. G. Bates, V. E. Bower e E. R. Smith, J. Res. Natl. Bureau Std. 1956, 56, 305; http://www.nist.gov/nvl/jrespastpapers.cfm. FONTES: R. P. Buck, S. Rondinini, A. K. Covington, F. G. K. Baucke, C. M. A. Brett, M. F. Camoes, M. J. T. Milton, T. Mussini, R. Naumann, K. W. Pratt, P. Spitzer e G. S. Wilson, “Measurements of pH. De nitions, Standards and Procedures”, Pure Appl. Chem. 2002, 74, 2169. R. G. Bates, J. Res. Natl. Bureau Stds. 1962, 66A, 179; B. R. Staples e R. G. Bates, J. Res. Natl. Bureau Stds, 1969, 73A, 37. Dados sobre HEPES e MOPSO de Y. C. Wu, P. A. Berezansky, D. Feng e W. F. Koch, Anal. Chem. 1993, 65, 1084 e D. Feng, W. F. Koch, Y. C. Wu, Anal. Chem. 1989, 61, 1400. Instruções para preparar algumas destas soluções são de G. Mattock em C. N. Reilley, ed., Advances in Analytical Chemistry and Instrumentation (New York: Wiley, 1963) Vol. 2, p. 45. Veja também R. G. Bates, Determination of pH: Theory and Practice, 2nd. Ed. (New York: Wiley, 1973), Chap. 4. Os eletrodos de vidro devem ser estocados em solução aquosa para evitar a desidratação da membrana de vidro. Idealmente, a solução deve ser semelhante àquela existente no compartimento de referência do eletrodo. Caso o eletrodo seque, ele pode ser recondicionado ficando de molho em solução ácida diluída por várias horas. Se o eletrodo vai ser usado em pH superior a 9, ele deve ser previamente “molhado” com um tampão de pH alto. (O eletrodo de pH com transistor de efeito de campo, descrito na Seção 15-8, deve ser estocado seco. Antes de ser usado, ele deve ser esfregado suavemente com uma escova de pelos macios e mergulhado em um tampão de pH 7 por 10 min.) Se a resposta do eletrodo de vidro se tornar lenta ou se o eletrodo não puder ser calibrado adequadamente, tentamos recuperálo mergulhando-o em uma solução de HCl 6 M, seguido por uma lavagem com água. Como último recurso, mergulhamos o eletrodo, por 1 min, em uma solução aquosa de bifluoreto de amônio, NH4HF2, a 20% em massa, contida em um béquer de plástico. Essa solução dissolve o vidro e faz com que surja uma nova superfície. Lavamos o eletrodo com água e tentamos calibrá-lo novamente. Evite o contato com o bifluoreto de amônio, que produz queimaduras tão dolorosas quanto o HF.
FIGURA 15-19
Calibração através de dois pontos de um eletrodo de pH.
Erros na Medida do pH 1. Padrões. Uma medida de pH não pode ser mais exata que os padrões disponíveis, geralmente exatos dentro de 60,01 unidade
de pH. 2. Potencial de junção. Existe um potencial de junção na membrana, próxima à parte inferior do eletrodo na Figura 15-14. Se a
composição iônica da solução contendo o analito é diferente da composição do tampão-padrão, o potencial de junção vai variar, mesmo que o pH das duas soluções seja igual (Boxe 15-1). Esse efeito produz uma incerteza de pelo menos ~0,01 unidade de pH.
3. Deslocamento no potencial de junção. A maioria dos eletrodos combinados tem um eletrodo de referência de Ag | AgCl
contendo solução saturada de KCl. Mais de 350 mg de prata por litro se dissolvem na solução de KCl (principalmente como AgCl432 e AgCl32–). Na membrana porosa, que separa as soluções interna e externa, o KCl está diluído e o AgCl pode precipitar. Se a solução do analito contém um agente redutor, Ag(s) pode precipitar também na membrana. Esses dois efeitos modificam o potencial de junção provocando um deslocamento lento no valor de pH no visor do instrumento, durante um período grande de tempo (círculos cheios coloridos na Figura 15-20). Este erro pode ser corrigido recalibrando-se o eletrodo a cada 2 h.
BOXE 15-1
Erros Sistemáticos na Medida do pH da Água de Chuva: O Efeito do Potencial de Junção
(a) pH da chuva nos Estados Unidos em 2011. Quanto menor o pH, mais ácida a água. [Dados de National Atmospheric Deposition Program (NRSP3)/National Trends Network (2007). NADP Program Office, Illinois State Water Survey, 2204 Griffith Dr. Champaign, IL 61820, http://nadp.sws.uiuc.edu.] (b) pH da chuva na Europa. Valores para Itália e Grécia não são relatados. [Dados de H. Rodhe, F. Dentener e M. Schultz, Environ. Sci. Technol. 2002, 36, 4382.] Os produtos de combustão, liberados por automóveis e pelas indústrias, incluem óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre, que podem reagir com a água na atmosfera produzindo ácidos.17
A chuva ácida na América do Norte é mais acentuada na região leste, onde sopram ventos provenientes de regiões com muitas usinas termoelétricas a carvão. No período de três anos, entre 1995 e 1997, depois que as emissões de SO2 foram limitadas por uma nova legislação, houve uma redução de 10 a 25% no teor de SO42– e H+ nas precipitações no leste dos Estados Unidos.18 Em todo o mundo, a chuva ácida é uma ameaça a lagos e orestas. O monitoramento de pH na água da chuva é um dos componentes importantes nos programas para medida e redução da produção de chuva ácida. Para identi car e corrigir os erros sistemáticos nas medidas de pH da água de chuva, foi feito um estudo cuidadoso em 17 laboratórios.19 Oito amostras foram distribuídas para cada um dos laboratórios, juntamente com instruções sobre a maneira de realizar as medidas de pH. Cada laboratório usou dois tampões para padronizar os medidores de pH. Dezesseis laboratórios mediram com sucesso o pH da Amostra A (dentro de 60,02 unidade de pH) como 4,008 a 25°C. Em um dos laboratórios, em que o valor desta medida foi 0,04 unidade de pH mais baixa, constatou-se a existência de um tampão comercial para padronização fora de suas características normais. A gura (c) mostra resultados típicos para o pH da água de chuva. A média das 17 medidas é dada pela linha horizontal em pH 4,14, e as letras s, t, u, v, w, x, y, z identi cam os tipos de eletrodos de pH usados nas medidas. Os tipos s e w tiveram erros sistemáticos relativamente grandes. O eletrodo
do tipo s era um eletrodo combinado (Figura 15-14), cujo eletrodo de referência tinha uma junção líquida com área excepcionalmente grande. O eletrodo tipo w tinha um eletrodo de referência preenchido com um gel. Uma hipótese foi que as variações no potencial de junção líquida (Seção 15-3), causavam variações entre as medidas de pH. Os tampões-padrões possuem forças iônicas geralmente de 0,05 M a 0,1 M, enquanto as amostras de água de chuva têm forças iônicas duas ou mais ordens de grandeza menores. Para testar a hipótese de que o potencial de junção causava erros sistemáticos, usou-se uma solução de HCl 2 × 1024 M como um padrão de pH no lugar de tampões com força iônica alta. A gura (d), vista a seguir, apresenta os bons resultados que foram obtidos em todos os laboratórios, com exceção do primeiro laboratório. O desvio-padrão das 17 medidas foi reduzido de 0,077 unidade de pH (com o tampão-padrão) para 0,029 unidade de pH (com o padrão de HCl). Concluiu-se que o potencial de junção causava a maioria das diferenças entre as medidas feitas em laboratórios diferentes, e que um padrão com força iônica baixa é apropriado para medidas de pH de água de chuva.20,21
(c) pH da água de chuva de amostras idênticas medido em 17 laboratórios diferentes usando tampões-padrões para calibração. As letras representam os diferentes tipos de eletrodos de pH.
(d) pH da água de chuva medido usando-se uma solução de HCl, com força iônica baixa, para calibração.
FIGURA 15-20 Os círculos cheios coloridos mostram o deslocamento no pH aparente de um fornecimento de uma água industrial, de baixa condutividade elétrica, monitorada continuamente por meio de um único eletrodo. Medidas individuais feitas com um eletrodo recém-calibrado (círculos negros) demonstram que o pH não está se deslocando. O deslocamento é atribuído a uma pequena retenção nos poros da membrana do eletrodo com AgCl(s). Quando uma resina trocadora de cátions era colocada dentro do eletrodo de referência, próxima à membrana porosa, o Ag(I) era retido pela resina e não precipitava. Esse eletrodo fornecia a leitura livre de deslocamento, representada pelos losangos vazios. [Dados de S. Ito, H. Hachiya, K. Baba, Y. Asano e H. Wada, “Improvement of the Ag | AgCl Reference Electrode and Its Application to pH Measurement”, Talanta 1995, 42, 1685.]
FIGURA 15-21 Erros ácido e alcalino de alguns eletrodos de vidro. A: Corning 015, H2SO4. B: Corning 015, HCl. C: Corning 015, Na+ + M. D: Beckman-GP, Na+ + M. E: L&N Black Dot, Na+ + M. F: Beckman Tipo E, Na+ + M. G: eletrodo Ross.22 [Dados de R. G. Bates, Determination of pH: Theory and Practice, 2nd ed. (New York: Wiley, 1973). Os dados do eletrodo Ross são do manual de instruções da Orion, Ross pH Electrode Instruction Manual.]
4. Erro do sódio. Quando a concentração de H+ é muito baixa e a concentração de Na+ é alta, o eletrodo responde ao Na+ e o pH
medido é menor que o pH verdadeiro. Esta fonte de erro é conhecida como erro do sódio, ou erro alcalino (Figura 15-21). 5. Erro ácido. Em meio ácido forte, o pH medido é maior que o pH verdadeiro (Figura 15-21), talvez porque a superfície do
vidro está saturada com H+ e não pode ser protonada em mais nenhum sítio. 6. Tempo para atingir o equilíbrio. Decorre algum tempo para que um eletrodo entre em equilíbrio com uma solução. Uma
solução bem tamponada, com agitação adequada, precisa de ~30 s para atingir o equilíbrio. Uma solução mal tamponada (por exemplo, próximo ao ponto de equivalência de uma titulação) precisa de muitos minutos. 7. Hidratação do vidro. Um eletrodo seco deve ser imerso por várias horas antes que ele responda corretamente ao H+. 8. Temperatura. Um medidor de pH deve ser calibrado na mesma temperatura em que a medida será feita. 9. Limpeza. Se um eletrodo tiver sido exposto a um líquido de natureza hidrofóbica, tal como um óleo, deve ser lavado com um
solvente que dissolva este líquido e depois bem acondicionado em solução aquosa. Uma leitura de um eletrodo inadequadamente lavado pode demorar horas até que o eletrodo volte a se equilibrar com a solução aquosa. Os erros 1 e 2 limitam a exatidão da medida do pH com o eletrodo de vidro para, no máximo, 60,02 unidade de pH. As medidas de diferenças de valor de pH entre soluções podem ser exatas em torno de 60,002 unidade de pH. Entretanto, o conhecimento do verdadeiro valor do pH continuará sendo, no mínimo, uma ordem de grandeza mais incerto. Uma incerteza de 60,02 unidade de pH corresponde a uma incerteza de 65 na AH+ Existem Outros Eletrodos de pH Além do Eletrodo de Vidro Eletrodos de vidro são os mais comuns, mas não são os únicos para medidas de pH. Eletrodos de pH de estado sólido baseados no transistor de efeito de campo são descritos no final deste capítulo. O sequenciador de DNA mostrado no início deste capítulo emprega um transistor de efeito de campo com uma camada23 de Ta2O5 para detecção de H+ liberado quando uma base nucleotídica é incorporada ao DNA. Eletrodos íon-seletivos de base líquida para medidas de H+ são descritos na Seção 15-6. Uma camada de IrO2 anidro, formada pela oxidação de um fio de irídio, responde ao pH através de uma meia-reação que pode ser descrita como24
Desa o Use a Equação 15-6 para mostrar que o potencial do eletrodo de vidro muda de 1,3 mV quando AH+ muda de 5,0%. Mostre que 1,3 mV = 0,02 unidade de pH. Moral: Uma pequena incerteza na diferença de potencial (1,3 mV) ou no pH (0,02 unidade) corresponde a uma grande incerteza (5%) na concentração do analito. Incertezas semelhantes surgem em outras medidas potenciométricas.
Outros eletrodos de óxidos metálicos foram usados em condições extremas. Por exemplo, um eletrodo de ZrO2 pode medir pH acima de 300°C.25 A sonda espacial Phoenix Mars Lander descrita adiante no Boxe 15-3 tinha dois eletrodos íon-seletivos de base líquida em cada Laboratório de Química Úmida para medida de pH do solo de Marte em suspensão aquosa. Não se tinha certeza se esses eletrodos iriam sobreviver às temperaturas e pressões encontradas durante a missão, de modo que um robusto eletrodo de pH de IrO2 também estava presente. O eletrodo de IrO2 permanece exato em pH . 9, uma condição em que eletrodos íon-seletivos não davam resposta.
15-6
Eletrodos Íon-Seletivos26,27
Um paciente em estado de saúde crítico é transportado para o setor de emergência, e o médico responsável precisa rapidamente obter informações químicas sobre o sangue do paciente para chegar a um diagnóstico. Os analitos na Tabela 15-4 fazem parte do perfil químico do sangue de quem se encontra em estado de saúde crítico. Todos os analitos da tabela podem ser determinados por métodos eletroquímicos. Eletrodos íon-seletivos são os escolhidos para fazerem-se as determinações de Na+, K1, Cl–, pH e PCO2. O teste conhecido nos EUA como “Chem 7” é responsável por mais de 70% dos testes realizados em laboratório nos hospitais americanos. Esse teste mede Na+, K1, Cl–, CO2 total, glicose, ureia e creatinina, e quatro dessas determinações são feitas através de eletrodos íon-seletivos. Outros eletrodos íon-seletivos estão sendo desenvolvidos para propósitos como o monitoramento da concentração do fármaco anticoagulante heparina, administrado durante cirurgias.28 Nos EUA são feitas mais de 200 milhões de análises clínicas do íon K1 por ano com eletrodos íon-seletivos.
A maioria dos eletrodos íon-seletivos se enquadra em uma das seguintes categorias: 1. Membranas de vidro para H+ e certos cátions monovalentes 2. Eletrodos de estado sólido baseados em cristais de sais inorgânicos ou em polímeros condutores 3. Eletrodos de base líquida com uma membrana de polímero hidrofóbico saturada com um líquido de troca iônica hidrofóbico 4. Eletrodos compostos com um eletrodo seletivo a uma determinada espécie recoberto por uma membrana capaz de separar
essa espécie de outras, ou de produzir a espécie através de uma reação química. Lembrete: Como Funcionam os Eletrodos Íon-Seletivos Os íons do analito estabelecem um equilíbrio de troca iônica na superfície da membrana íon-seletiva. Outros íons, capazes de se ligar ao mesmo sítio, interferem na medida.
Na Figura 15-12, os íons, correspondentes ao analito, entram em equilíbrio com o ligante de troca iônica em uma membrana íonseletiva. A difusão dos íons, correspondentes ao analito, para fora da membrana, causa um ligeiro desbalanceamento de carga (uma diferença de potencial elétrico) através da interface entre a membrana e a solução do analito. Variações na concentração do íon, que corresponde ao analito na solução, modificam a diferença de potencial elétrico na fronteira externa da membrana íonseletiva. Por meio de uma curva de calibração, podemos relacionar a diferença de potencial medida com a concentração do analito em solução. O eletrodo íon-seletivo responde ao Pb2+ e com uma resposta menor às espécies Pb(OH)1 ou Pb(CO3)(aq).
Um eletrodo íon-seletivo responde à atividade do analito livre, ou seja, aquele que não se encontra sob forma complexada. Por exemplo, quando a concentração de Pb2+ em água de torneira em pH 8 foi determinada com um eletrodo íon-seletivo suficientemente sensível, o resultado foi [Pb2+] = 2 × 10–10 M.–9 Quando o teor de chumbo na mesma água de torneira foi determinado por espectrometria de massa acoplado indutivamente com plasma (Seção 21-7), o resultado foi mais do que 10 vezes maior: 3 × 10–9 M. A discrepância ocorreu porque o plasma indutivamente acoplado mede todo o chumbo presente, enquanto o eletrodo íon-seletivo mede apenas o Pb2+ livre. Em água de torneira com pH 8, a maior parte do chumbo está complexada com CO32–, OH– e outros ânions. Quando o pH da água foi ajustado para 4, o Pb2+ dissociou-se de seus complexos e a concentração indicada pelo eletrodo íon-seletivo foi de 3 × 10–9 M — o mesmo valor determinado por plasma indutivamente acoplado.
TABELA 15-4
INFORMAÇÕES PARA CUIDADOS DE PACIENTES EM ESTADO CRÍTICO
FUNÇÃO
ANALITO
ConduÇÃo
K+, Ca2+
ContraÇÃo
Ca2+, Mg2+
NÍvel de energia
Glicose, PO2, lactato, hematÓcrito
VentilaÇÃo
PO2, Pco2,
PerfusÃo
Lactato, SO2%, hematÓcrito
Ácido-base
pH, Pco2, HCO3–
Osmolalidade
Na+, glicose
BalanÇo de
Na+, K+, Ca2+
eletrÓlitos
Mg2+
FunÇÃo renal
Ureia do sangue, nitrogÊnio, creatinina
FONTE: C. C. Young, “Evolution of Blood Chemistry Analyzers Based on Ion Selective Eletrodes,” J. Chem. Ed. 1997, 74, 177. Coe ciente de Seletividade Nenhum eletrodo consegue responder exclusivamente a um único tipo de íon, mas o eletrodo de pH de vidro está entre os mais seletivos. O íon sódio é a principal espécie interferente, e seu efeito na leitura do pH é apenas significativo quando [H+] ≳ 10–12 M e [Na+] ≳ 10–2 M (Figura 15-21). Um eletrodo usado para a medição de um íon A também pode responder para o íon X. O coeficiente de seletividade fornece a resposta relativa do eletrodo para diferentes espécies com a mesma carga:
O sobrescrito “Pot” para “potenciométrica” é habitual na literatura química. Quanto menor o coeficiente de seletividade, menor a interferência da espécie X. Um eletrodo íon-seletivo para o K1, que utiliza o quelante valinomicina, como um líquido trocador de íons, possui coeficientes de seletividade KPotK+,Na+ = 1 × 10–5, KPotK+,Cs+ = 0,44 e KPotK+,Rb+ = 2,8. Esses coeficientes informam que o Na+ quase não interfere na determinação de K1, mas o Cs1 e o Rb1 são fortes interferentes. Na realidade, o eletrodo responde melhor para o Rb1 que para o K1. Se a resposta para cada íon é nernstiana, então a resposta de um eletrodo íon-seletivo para seu íon primário (A) e para os íons interferentes de mesma carga (X) é12,30
BOXE 15-2
Medida do Coe ciente de Seletividade para um Eletrodo Íon? Seletivo
Quando estiver medindo coe cientes de seletividade, você tem que demonstrar que a resposta do eletrodo a cada íon interferente segue a equação de Nernst.31,33 Isso não é tão simples quanto parece. Uma membrana íon-seletiva que está em equilíbrio com seu íon primário pode tornar-se cineticamente insensível a íons interferentes fracamente ligados. O grá co visto a seguir mostra o método das soluções separadas para medida dos coe cientes de seletividade. Nesse método, uma curva de calibração é construída para cada um dos tipos de íons. Outros procedimentos comuns são o método do interferente xo e o método do potencial equivalente.31
Medida dos coe cientes de seletividade do eletrodo íon-seletivo ao Na+. As atividades na abscissa foram calculadas a partir de coe cientes de atividade e de concentrações. [Dados de E. Bakker, “Determination of Unbiased Selectivity Coefficients of Neutral Carrier-Based Cation-Selective Electrodes”, Anal. Chem. 1997, 69, 1061.] O grá co mostra a resposta de um eletrodo íon-seletivo ao sódio para os íons interferentes K1, Ca2+ e Mg2+. Para obter uma resposta nernstiana aos íons interferentes, o eletrodo foi preparado na ausência de Na+. O eletrodo foi preenchido com KCl 0,01 M e deixado em contato com uma solução de KCl 0,01 M durante a noite para condicionar a membrana íon-seletiva antes das medidas. Depois das medidas do K1, Ca2+ e Mg2+, o Na+ foi determinado. Para uso subsequente para medir Na+, a solução interna é substituída pela solução de NaCl 0,01 M. Os dados demonstram uma resposta aproximadamente nernstiana para cada íon. Na temperatura do laboratório de 21,5°C, a resposta nernstiana seria (RT ln 10)/zF = 58,5/z mV para uma variação de 10 vezes de atividade iônica, em que z é a carga do íon. Os coe cientes angulares medidos são de 61,3 6 1,5 mV para o Na+, 56,3 6 0,6 mV para o K1, 26,0 6 1,0 mV para o Mg2+ e 31,2 6 0,7 mV para o Ca2+. O desvio do Ca2+ em relação à linha reta acima da atividade de 1022,5 é atribuído a impurezas de Na+ no CaCl2 de alta pureza. A resposta do eletrodo ao Na+ é muito maior que a do Ca2+, de modo que uma pequena quantidade de Na+ tem um grande efeito. Para determinar o coe ciente de seletividade, medimos a diferença entre a reta de calibração do Na+ e a reta para o íon interferente e uma atividade qualquer de interesse e usamos a equação
em que A = Na+ com carga zA = + e X é um íon interferente de carga zX. Em uma atividade de 10–3, a linha tracejada mostra uma diferença de ECa2+ – ENa+ = 2363 mV. O coe ciente de seletividade é
Poderíamos ter escolhido uma atividade diferente para medir ECa2+ – ENa+, mas o resultado, KPotNa+,Ca2+, seria o mesmo. As outras retas no grá co indicam que log KPotNa+,Mg2+ = –8,0 e log KPotNa+,K+ = –4,9.
em que zA é a magnitude da carga de A, AA e AX são atividades e KPotA,X é o coeficiente de seletividade para cada íon interferente. Se o eletrodo íon-seletivo é conectado ao terminal positivo do potenciômetro, o sinal antes do termo logarítmico é positivo se A for um cátion e negativo se A for um ânion. O Boxe 15-2 descreve como os coeficientes de seletividade são medidos. O Problema 15-46 fornece uma fórmula para a estimativa do erro na medida do íon primário A causada pela interferência do íon X, que não tem necessariamente a mesma carga do íon A.
EXEMPLO
Usando o Coe ciente de Seletividade
Um eletrodo íon-seletivo para uoreto possui um coe ciente de seletividade KPotF2,OH– = 0,1. Qual deverá ser a variação no potencial do eletrodo quando uma solução de F– 1,0 × 1024 M, em pH 5,5, tem o valor de seu pH aumentado para 10,5? Solução Usando a Equação 15-10, determinamos o potencial, desprezando-se o OH– em pH 5,5: E = constante – 0,059 16 log[1,0 × 10–4] = constante + 236,6 mV Em pH 10,50, [OH–] = 3,2 × 1024 M, de modo que o potencial do eletrodo é E = constante 2 0,059 16 log[1,0 × 1024 + (0,1)(3,2 × 1024)] = constante + 229,5 mV A diferença entre os potenciais é 229,5 2 236,6 = 27,1 mV, um valor bem signi cativo. Se não soubéssemos sobre a variação do pH, pensaríamos que a concentração de F– teve um aumento de 32%. TESTE A VOCÊ MESMO Determine a variação do potencial quando uma solução de F– 1,0 × 1024 M, em pH 5,5, tem o valor de seu pH aumentado para 9,5? (Resposta: 20,8 mV) Eletrodos de Estado Sólido A Figura 15-22 mostra um eletrodo íon-seletivo de estado sólido, cujo funcionamento é baseado em um cristal inorgânico. Um eletrodo deste tipo, bastante conhecido, é o eletrodo de fluoreto, que usa um cristal de LaF3 dopado com Eu2+. Dopar significa adicionar uma pequena quantidade de Eu2+, capaz de ocupar um lugar que poderia ser ocupado pelo La31. A solução interna do eletrodo contém NaF 0,1 M e NaCl 0,1 M. O eletrodo de fluoreto é usado para monitorar e controlar o processo de fluoretação da água fornecida para as cidades. O íon F– migra através do cristal de LaF3 conduzindo uma pequena corrente elétrica, como vemos na Figura 15-23. Dopandose o LaF3 com EuF2, são criadas lacunas aniônicas dentro do cristal. Um íon fluoreto adjacente pode saltar para dentro da lacuna, criando assim uma nova lacuna no lugar que ocupava antes do salto. Dessa maneira, o F– se difunde de um lado para o outro. Por analogia com o eletrodo de pH, a resposta do eletrodo de F– é
em que b é próximo de 1,00. A Equação 15-12 tem um sinal negativo antes do termo logarítmico porque o fluoreto é um ânion. O eletrodo de F– fornece uma resposta praticamente Nernstiana em uma faixa de concentração de F– de, aproximadamente, 10–6 M a 1 M (Figura 15-24). O eletrodo responde mais ao F– do que a outros íons por mais de 1000 vezes. A única espécie interferente é o íon OH–, para a qual o coeficiente de seletividade é KPFo2t,OH– = 0,1. Em pH baixo, o íon F– se converte em HF (pKa = 3,17), para o qual o eletrodo não é sensível. Um procedimento rotineiro para medirmos F– consiste em diluir a amostra desconhecida em um tampão com força iônica alta contendo ácido acético, citrato de sódio, NaCl e NaOH, para ajustar o pH em 5,5. O tampão mantém todos os padrões e a amostra desconhecida em uma força iônica constante. Dessa maneira, o coeficiente de atividade do íon fluoreto, em todas as soluções, é constante (e pode, portanto, ser ignorado).
FIGURA 15-22 seletiva.
Diagrama esquemático de um eletrodo íon-seletivo usando um cristal de sal inorgânico como membrana íon-
Em pH 5,5 não há interferência devido ao íon OH– e há uma pequena conversão de F– em HF. O citrato serve para complexar os íons Fe3+ e o Al31, que, caso contrário, poderiam se ligar ao F–, interferindo na análise.
FIGURA 15-23 Migração de íons F– através de LaF3 dopado com EuF2. Como o Eu2+ possui carga menor que o La31, existe uma lacuna aniônica para cada Eu2+. Um íon F– vizinho pode pular para dentro dessa lacuna, fazendo, desse modo, com que a lacuna se mova para o lugar ocupado anteriormente pelo íon F–. A repetição desse processo move o F– através do retículo cristalino.
FIGURA 15-24 Curva de calibração para o eletrodo seletivo ao íon fluoreto. [Dados de M. S. Frant e J. W. Ross, Jr., “Electrode for Sensing Fluoride Ion Activity in Solution”, Science 1966, 154, 1553.]
EXEMPLO
Resposta de um Eletrodo Íon-Seletivo
Quando um eletrodo de uoreto é imerso em soluções-padrão (mantidas em uma força iônica constante de 0,1 M com NaNO3), os seguintes potenciais (contra o E.C.S.) são observados: [F–] (M)
E(mV)
1,00 × 10–5
100,0
1,00 × 10–4
41,5
1,00 × 10–3
–17,0
Como a força iônica é constante, a resposta do eletrodo deve depender do logaritmo da concentração de F–. Determine a concentração de F– em uma amostra desconhecida que apresentou um potencial de 0,0 mV. Solução Primeiramente ajustamos os dados de calibração com a Equação 15-12:
Fazendo um grá co de E contra log[F–] obtém-se uma reta com um coe ciente angular m = 258,5 mV e uma interseção em y de b = 2192,5 mV. Fazendo E = 0,0 mV, calculamos [F–]: 0,0 mV = (–58,5 mV)log [F–] 2 192,5 mV Q [F–] = 5,1 × 1024 M
TESTE A VOCÊ MESMO Determine [F–] se E = 81,2 mV. A curva de calibração é válida para E = 110,7 mV? (Resposta: 2,1 × 1024 M; não, porque os pontos de calibração não vão acima de 100 mV)
Outro eletrodo comum usa um cristal inorgânico de Ag2S como membrana. Esse eletrodo responde para Ag+ e para S22. Dopando-se o cristal com CuS, CdS ou PbS, é possível preparar-se eletrodos sensíveis a Cu2+, Cd2+ ou Pb2+, respectivamente (Tabela 15-5). A Figura 15-25 ilustra o mecanismo pelo qual um cristal de CdS responde seletivamente a certos íons. O cristal de CdS pode ser clivado, de modo a expor os planos correspondentes aos átomos de Cd ou aos átomos de S. O plano que contém os átomos de Cd, na Figura 15-25a, adsorve seletivamente íons HS–, enquanto o plano de átomos de S não interage fortemente com o HS–. A Figura 15-25b mostra uma resposta intensa da face exposta do Cd para o HS–, mas apenas uma resposta fraca quando a face do S é exposta. O comportamento oposto é observado na resposta em relação aos íons Cd2+. A resposta parcial da face contendo átomos de S para os íons HS–, na curva superior na figura, é atribuída ao fato de que somente cerca de 10% dos átomos expostos são realmente de Cd em vez de S.
TABELA 15-5
Propriedades dos eletrodos íon-seletivos de estado sólido
Íon
Faixa de concentração (M)
Material da membrana
Faixade pH
Espécies interferentes
F–
10–6–1
LaF3
5–8
OH–(0.1 M)
Cl–
10–4–1
AgCl
2–11
CN–, S2–, I–, S2O3–2, Br–
Br–
10–5–1
AgBr
2–12
CN–, S2–, I–
I–
10–6–1
AgI
3–12
S2–
SCN–
10–5–1
AgSCN
2–12
S2–, I–, CN–, Br–, S2O32–
CN–
10–6–10–2
AgI
11–13
S2–, I–
S2–
10–5–1
Ag2S
13-14
FIGURA 15-25 (a) Estrutura cristalina do CdS hexagonal mostrando os planos alternados de Cd e S ao longo do eixo vertical na figura (eixo c do cristal). O íon HS– é mostrado adsorvido no plano superior de Cd. (b) Resposta potenciométrica das faces do cristal expostas ao HS–. [Dados de K. Uosaki, Y. Shigematsu, H. Kita, Y. Umezawa e R. Souda, “Crystal-Face-Specific Response of a Single Crystal Cadmium Sulfide Based Ion-Selective Electrode”, Anal. Chem. 1989, 61, 1980.]
Eletrodos Íon-Seletivos de Base Líquida Um eletrodo íon-seletivo de base líquida é semelhante ao eletrodo de estado sólido na Figura 15-22, com a exceção de que o cristal sólido é substituído por uma membrana impregnada com um trocador de íons hidrofóbico (chamado um ionóforo) que é seletivo para o íon do analito (Figura 15-26). A resposta de um eletrodo íon-seletivo ao Ca2+ é dada por
em que b é próximo a 1,00. As Equações 15-13 e 15-12 têm sinais diferentes antes do termo logarítmico, pois uma das equações envolve um ânion e a outra um cátion. Notamos também, que a carga do íon Ca2+ requer um fator 2 no denominador, antes do logaritmo. A membrana na base do eletrodo da Figura 15-26 é feita de poli(cloreto de vinila) impregnada com um trocador de íons. Um determinado líquido iônico com capacidade de troca iônica para Ca2+ é formado por um ligante hidrofóbico neutro (L) e um sal do ânion hidrofóbico (Na+R–) dissolvido em um líquido hidrofóbico (Figura 15-17) na membrana de poli(cloreto de vinila). As maiores interferências para esse tipo de eletrodo de Ca2+ são provenientes do Sr2+. O coeficiente de seletividade na Equação 15-9 é KPotCa2+, Sr2+ = 0,13, o que significa que a resposta ao Sr2+ é 13% maior que a resposta para a mesma concentração de Ca2+. Para a maioria dos cátions, KPotCa2+,X π 10–3. A sonda espacial Phoenix Mars Lander, descrita na abertura do Capítulo 7, tinha eletrodos íon-seletivos para estudar a química do solo de Marte. Os eletrodos íon-seletivos de base líquida para H+ usavam um ionóforo denominado ETH 2418 (Figura 15-28). Esse ionóforo responde na faixa de pH entre 1 e 9 e tem coeficientes de seletividade KPotH+,Na+ = 10–8,6, KPotH+,K+ = 10–9,7 e KPotH+,Ca2+ = 10–7,8. O Boxe 15-3 mostra como a interferência de eletrodo levou à descoberta de perclorato em Marte.
FIGURA 15-26
Eletrodo seletivo para o íon cálcio baseado em um trocador de íons líquido.
Melhorando os Limites de Detecção de Eletrodos Íon-Seletivos29 A U.S. Environmental Protection Agency exige que os fornecedores de água eliminem o chumbo se mais de 10% das amostras de água de torneira contiverem mais de 15 ppb (7 × 1028 M) de chumbo.
FIGURA 15-27 Componentes da membrana de um eletrodo íon-seletivo para o Ca2+. O ligante L é um ionóforo que se liga seletivamente ao Ca2+.
FIGURA 15-28 Ionóforo ETH 2418 para eletrodos íon-seletivos de H+ de base líquida. ETH representa o Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (Eidgenössische Technische Hochschule Zürich), onde muitos ionóforos foram sintetizados.
BOXE 15-3
Como o Perclorato Foi Descoberto em Marte?34
Ninguém esperava que o perclorato (ClO4–) fosse abundante em Marte, de modo que o Laboratório de Química Úmida da sonda espacial Phoenix Mars Lander não foi projetado para procurar CIO4–. Entretanto, o eletrodo íon-seletivo para nitrato mandado para Marte era 1 000 vezes mais sensível ao ClO4– do que ao NO3–. Isto é, KPotNO3–,ClO4– = 103. O líquido usado para retirar íons do solo tinha uma quantidade residual de NO3– próxima de 1 mM. O nitrato somente seria detectado se estivesse presente em concentrações acima de + mM. Imagine a surpresa nos olhos do professor Sam Kounaves e de seus estudantes na Tufts University quando os eletrodos íon-seletivos que eles ajudaram a conceber e a construir apresentaram uma enorme e inesperada resposta. Quando os sais foram removidos de 1g do solo de Marte por água no Laboratório de Química Úmida, o potencial do eletrodo de NO3– variou de 200 mV, correspondendo a uma concentração aparente de NO3– acima de 1 M. Entretanto, essa concentração correspondia a uma massa de NO3– maior do que a massa de solo que estava sendo analisada. Por sua vez, 4 a 6 mg de ClO4– em 1 g de solo produziriam a resposta observada. O perclorato ocorre em teores semelhantes na Terra em regiões áridas, incluindo o deserto de Atacama e os vales secos da Antártida. Na Terra, acredita-se que ClO4– surgiu a partir de reações fotoquímicas do ozônio (O3) com o cloro na atmosfera. Em Marte, o íon CIO4– pode ser produzido via foto-oxidação por ultravioleta de cloretos sólidos na presença de catalisadores minerais.36,37 Os resultados da Curiosity Rover obtidos em 2012 são consistentes com a presença de perclorato de cálcio hidratado em Marte.37 Uma evidência independente para a presença de CIO4– provém da observação de que o solo marciano libera um produto cuja massa molecular é 32 sob decomposição térmica a 450°C. O perclorato libera O2 (massa 32) nessa temperatura.
Esquerda: Uma das quatro células do Laboratório de Química Úmida, para análise do solo, da sonda espacial Phoenix Mars Lander, em 2008, cujo braço robótico é mostrado na abertura do Capítulo 7. Os sensores estão xados nas paredes de um “béquer” de plástico epóxi de 40 mL. Quinze eletrodos íonseletivos mediram Ca2+, Mg2+, K+, NO3–, NH4+, SO42–, Cl–, Br–, I– e H+. Outros eletrodos mediam condutividade, potencial de redução, pares redox e metais redutores, incluindo Cu2+, Cd2+, Pb2+, Fe2+, Fe3+ e Hg2+. [NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/Max Planck Institute.] Direita: Eletrodos íonseletivos de base líquida da sonda espacial Phoenix Mars Lander. O eletrólito era um hidrogel (um gel de poli(2-hidroxietilmetacrilato)) que retinha a fase aquosa contendo M1Cl– 1 mM, em que M1 era o cátion sendo determinado. [Republicado sob permissão de John Wiley & Sons Inc., de S. P. Kounaves et al., “The MECA Wet Chemistry Laboratory on the 2007 Phoenix Mars Scout Lander”, J. Geophys. Res. 2009, 114, E00A19, Figura 11. Permissão concedida por meio do Copyright Clearance Center, Inc.]
FIGURA 15-29 Resposta de um eletrodo íon-seletivo de base líquida para o íon Pb2+, com uma solução interna do eletrodo constituída por Pb2+ 0,5 mM (curva escura), ou uma solução interna constituída por um tampão de íon metálico, que fixa a [Pb2+] em 10212 M (curva de cor clara). [Dados de T. Sokalski, A. Ceresa, T. Zwickl e E. Pretsch, “Large Improvement of the Lower Detection Limit of Ion-Selective Polymer Membrane Electrodes”, J. Am. Chem. Soc 1997, 119, 11347.]
A curva de cor clara na Figura 15-29 foi obtida com o mesmo eletrodo, mas sua solução interna foi substituída por um tampão de íon metálico (Seção 15-7), que fixa o valor de [Pb2+] em 10212 M. Agora o eletrodo responde a variações na concentração do analito para concentrações de Pb2+ abaixo de ~10211 M, podendo ser útil para a determinação de chumbo em água potável. Os limites detecção dos eletrodos íon-seletivos de base líquida são limitados pela passagem gradual do íon primário (Pb2+ neste caso) da solução interna do eletrodo para a solução externa, através da membrana de troca iônica. Este deslocamento fornece uma concentração significativa do íon primário na superfície externa da membrana. Se a concentração do analito for inferior a 1026 M, o deslocamento, proveniente da parte interna do eletrodo, mantém uma concentração efetiva próxima de 1026 M na superfície externa do eletrodo. Com a diminuição da concentração do íon primário na parte interna do eletrodo, a concentração do íon que escapa pela membrana é reduzida em muitas ordens de grandeza e o limite de detecção do eletrodo torna-se menor. A resposta do eletrodo com Pb2+ 10212 M na solução interna é limitada pela interferência provocada pelo Na+ na solução interna do eletrodo que contém Na2EDTA 0,05 M, um dos reagentes que forma o tampão de íon metálico. Entretanto, não apenas o limite de detecção de Pb2+ melhora de um fator 105, mas a seletividade observada para o Pb2+ em relação a outros cátions melhora de várias ordens de grandeza. A Tabela 15-6 mostra os limites de detecção e os coeficientes de seletividade para eletrodos íon-seletivos em que precauções são tomadas para evitar a perda do íon primário. Outra maneira de abaixar o limite de detecção de um eletrodo íon-seletivo é diminuindo a mobilidade do íon primário através da membrana íon-seletiva, de modo que o íon primário não possa difundir-se prontamente da solução interna do eletrodo para a parte externa da membrana. A Figura 15-30a mostra uma membrana vinílica polimérica contendo nanopartículas de polianilina eletricamente condutora, que se ligam seletivamente ao Pb2+. A membrana vinílica não contém plastificante, de modo que a difusão do Pb2+ através da membrana é 106 vezes mais lenta do que em membranas plastificadas comerciais. Um eletrodo, como aquele mostrado na Figura 15-26, foi construído usando a membrana da Figura 15-30a. A Figura 15-30b mostra a resposta desse eletrodo ao íon Pb2+. Mesmo quando a solução interna do eletrodo contém Pb(NO3)2 1025 M, a difusão do Pb2+ através da membrana é tão pequena que o limite de detecção do eletrodo íon-seletivo é 2 × 10211 M. Uma vantagem adicional do formato desse eletrodo é que o eletrodo íon-seletivo trabalha por pelo menos 6 meses com mínima degradação. As membranas dos eletrodos cuja resposta é mostrada na Figura 15-29 têm uma duração média de ~1 semana.
TABELA 15-6
Limites de detecção e coe cientes de seletividade para eletrodos íon-seletivos de base líquida operando sem perda de íon primário.
Íon primário (A)
Limite de detecção para A (mM)
Coe ciente de seletividade para alguns íons interferentes (X) log KAP,oxt (Equação 15-9)
Na+
30
H+, –4,8; K+, –2,7; Ca2+, –6,0
K+
5
Na+, –4,2; Mg2+, –7,6; Ca2+, –6,9
NH3
20
Cs+
8
Na+, –4,7; Mg2+, –8,7; Ca2+, –8,5
Ca2+
0,1
H+, –4,9; Na+, –4,8; Mg2+, –5,3
Ag+
0,03
H+, –10,2; Na+, –10,3; Ca2+, –11,3
Pb2+
0,06
H+, –5,6; Na+, –5,6; Mg2+, –13,8
Cd2+
0,1
H+, –6,7; Na+, –8,4; Mg2+, –13,4
Cu2+
2
H+, –0,7; Na+, < –5,7; Mg2+, < –6,9
ClO–4
20
OH–, –5,0; Cl–, –4,9; NO–3, –3,1
I–
2
OH–, –1,7
FONTE: E. Bakker e E. Pretsch, “Modern Potentiometry”, Angew. Chem. Int. Ed. 2007, 46, 5660.
FIGURA 15-30 (a) Membrana polimérica vinílica contendo tetrafenilborato de sódio e nanopartículas de polianilina eletricamente condutoras que se ligam seletivamente a íons Pb2+. A estrutura do polímero é parcialmente apresentada. (b) Resposta do eletrodo íon-seletivo feito com a membrana polimérica vinílica. [Dados de X.?G. Li, H. Feng, M.?R. Huang, G.?L. Gu e M. G. Moloney, “Ultrasensitive Pb(II) Potentiometric Sensor Based on Copolyaniline Nanoparticles in a Plasticizer-Free Membrane with Long Lifetime”, Anal. Chem. 2012, 84, 134.] Meios demonstrados para reduzir o limite de detecção de eletrodos íon-seletivos • reduzir a concentração do íon primário (analito) na solução interna do eletrodo por meio de um tampão de íon metálico • reduzir a mobilidade do íon primário na membrana íon-seletiva de modo que o íon primário não possa sair da solução interna • substituir a solução interna por um polímero eletricamente condutor
Outro método para reduzir o fluxo do íon primário para fora de um eletrodo íon-seletivo é eliminar a solução interna. O Boxe 15-4 descreve um eletrodo íon-seletivo cuja solução interna é substituída por um polímero eletricamente condutor. Os métodos empregados para abaixar o limite de detecção de eletrodos íon-seletivos de base líquida não funcionam em eletrodos de estado sólido, pois a concentração do analito adjacente ao eletrodo é controlada pela solubilidade do cristal do sal inorgânico na membrana sensível ao íon. Eletrodos Compostos Os eletrodos compostos contêm um eletrodo convencional envolvido por uma membrana que isola (ou produz) o analito ao qual o eletrodo responde. O eletrodo sensível a CO2 gasoso (eletrodo de Severinghaus) mostrado na Figura 15-31 consiste em um eletrodo comum de vidro para pH, envolvido por uma solução eletrolítica dentro de uma membrana semipermeável feita de borracha, Teflon ou polietileno.38 Um eletrodo de referência de Ag-AgCl está imerso na solução eletrolítica. Quando o CO2 se difunde através da membrana semipermeável, ele abaixa o pH no compartimento do eletrólito. A resposta do eletrodo de vidro à mudança do pH é uma medida da concentração de CO2 do lado de fora do eletrodo. Outros gases ácidos ou básicos, incluindo NH3, SO2, H2S, NOx (óxidos de nitrogênio) e HN3 (ácido hidrazoico), podem ser detectados da mesma maneira. Esses eletrodos podem ser usados para medir gases em solução ou na fase gasosa.
BOXE 15-4
Eletrodo Íon? Seletivo Contendo Polímero Eletricamente Condutor para um Imunoensaio Tipo “Sanduíche”
É possível reduzir a interferência de íons presentes em uma solução interna de um eletrodo íon-seletivo de base líquida substituindo a solução interna na Figura 15-26 por um polímero eletricamente condutor. A solução interna, ou o polímero condutor, transmite a diferença de potencial na membrana de troca iônica para o eletrodo interno. O eletrodo mostrado a seguir contém um o de ouro recoberto com uma camada na de poli(3-octiltiofeno) eletricamente condutor. Quando o polímero é oxidado, os elétrons podem se mover ao longo da estrutura conjugada da molécula (conjugada signi ca que a molécula contém ligações simples e duplas alternadas). A condutividade da molécula oxidada pode chegar a ~0,1% daquela do cobre metálico. O o recoberto está no interior de uma pipeta plástica de 10 μL, cuja abertura é fechada por uma membrana de troca iônica contendo um ligante (L na Figura 15-12) que é seletivo ao Ag+. Quando condicionado em solução de AgNO3 + nM, esse eletrodo apresenta uma resposta linear até Ag+ 10 nM com um limite de detecção ~2 nM. A análise sensível à prata pode ser transformada em uma análise sensível à proteína por meio de um imunoensaio tipo “sanduíche” empregando anticorpos. Um anticorpo é uma proteína produzida pelo sistema imunológico de um animal em resposta a uma molécula estranha, que é chamada antígeno. Um anticorpo reconhece e se liga especi camente ao antígeno que estimulou sua síntese. No imunoensaio tipo “sanduíche” o antígeno é a proteína, ou seja, o analito. Um anticorpo para essa proteína é xado a uma superfície de ouro. Quando o analito é introduzido, ele se liga ao anticorpo. Então, é introduzido um segundo anticorpo que se liga a outro sítio no analito. O segundo anticorpo contém partículas de ouro, covalentemente ligadas, com um diâmetro de ~13 nm e contendo ~105 átomos de ouro. Após remoção do anticorpo não ligado, deposita-se cataliticamente prata metálica na superfície das nanopartículas de ouro. Cerca de 100 átomos de prata são depositados para cada átomo de ouro na partícula original. Assim, existem ~107 átomos de prata em cada molécula de anticorpo. Para completar a análise, a prata metálica é oxidada a Ag+ com peróxido de hidrogênio (H2O2), e os íons Ag+ liberados são medidos pelo eletrodo íon-seletivo. Para cada molécula de proteína (o analito), são produzidos aproximadamente 107 íons Ag+. Dizemos que o ensaio ampli ca o sinal do analito por um fator 107. O ensaio detecta ~12 pmol (12 × 10–12 mol) de proteína em 50 μL de amostra. Um ensaio análogo de ácido ribonucleico (RNA) com o eletrodo íon-seletivo para Ag+ detecta 0,2 amol (0,2 × 10218 mol, 120 000 moléculas) em 4 μL de amostra.
Imunoensaio tipo “sanduíche” com deposição de prata metálica sobre nanopartículas de ouro. [Informação de K. Y. Chumbimuni-Torres, Z. Dai, N. Rubinova, Y. Xiang, E. Prëtsch, J. Wang e E. Bakker, “Potentiometric Biosensing of Proteins with Ultrasensitive Ion-Selective Microelectrodes and Nanoparticle Labels”, J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 13676. Veja também Anal. Chem. 2006, 78, 1318 e Sensors and Actuators B 2007, 121, 135.]
FIGURA 15-31 Eletrodo sensível a CO2 gasoso (eletrodo de Severinghaus).38 A membrana é estirada, e há uma fina camada de eletrólito entre a membrana e o bulbo de vidro.
O eletrodo composto de Severinghaus para CO2 mostrado na Figura 15-31 é extremamente útil no monitoramento médico de pacientes. Entretanto, sua resposta é lenta porque o CO2 precisa se difundir através da membrana externa, e ele não é sensível a baixas concentrações de CO2. Felizmente, sua sensibilidade é bem-adaptada aos níveis fisiológicos de CO2. Outra Maneira de Medir CO2 Dissolvido Um eletrodo íon-seletivo para carbonato (CO32–)39 mais um eletrodo para pH fornecem uma medida rápida do CO2 dissolvido em uma ampla faixa de concentrações, maior do que aquela que pode ser medida com um eletrodo de Severinghaus. O potencial medido por esse par de eletrodos na Figura 15-32a é
em que S é o coeficiente angular, dependente da temperatura (idealmente, 0,059 16 V a 25°C), e c+ e c2 são constantes.
FIGURA 15-32 (a) Eletrodos íon-seletivos de CO32– e H+ usados em conjunto para medir CO2. O eletrodo de H+ pode ser um eletrodo de vidro empregado sem seu eletrodo de referência. (b) Resposta do par de eletrodos íon-seletivos e de um eletrodo composto (Figura 15-31) ao CO2. [Dados de X. Xie e E. Bakker, “Non-Severinghaus Potentiometric Dissolved CO2 Sensor with Improved Characteristics”, Anal. Chem. 2013, 85, 1322.]
O Problema 10-11 mostrou os equilíbrios para a sequência CO2(g) CO2(aq) HCO3– CO32–, em que KH é a constante da Lei de Henry para a solubilidade do CO2(g) em solução aquosa e Ka1 e Ka2 são as constantes de dissociação ácida do “ácido carbônico” (que é principalmente CO2(aq)). Combinando as expressões de equilíbrio obtém-se Lei de Henry: ACO2(aq) = KH PCO2
em que PCO2 é a pressão de CO2(g) em equilíbrio com ACO2(aq). Os eletrodos na Figura 15-32 medem o produto ACO322 AH21 (Equação 15-14), a partir do qual PCO2 e ACO2(aq) podem ser determinadas com o auxílio da Equação 15-15. Os eletrodos podem ser calibrados em soluções equilibradas com PCO2 conhecidas, conforme mostrado na Figura 15-32b.
Vemos que o par de eletrodos íon-seletivos fornece uma resposta linear para PCO2 acima de três ordens de magnitude, indo até ~1024,5 ou até menos. Em contraste, o eletrodo composto da Figura 15-31 tem uma resposta linear apenas na faixa aproximada de 10–1–10–2 bar, e a sensibilidade diminui em baixos teores de CO2.
Figura 15-33 Separação de espécies contendo Ca2+ no plasma de sangue humano. O pico maior corresponde ao íon Ca2+ livre. Os outros picos se referem a proteínas ou moléculas pequenas ligadas ao Ca2+. O detector mede cálcio. [Dados de B. Deng, P. Zhu, Y. Wang, J. Feng, X. Li, X. Xu, H. Lu e Q. Xu, “Determination of Free Calcium and Calcium-Containing Species in Human Plasma by Capillary Electrophoresis-Inductively Coupled Plasma Optical Emission Spectrometry”, Anal. Chem. 2008, 80, 5721.]
15-7
Usando Eletrodos Íon-Seletivos
Os eletrodos íon-seletivos respondem linearmente ao logaritmo da atividade do analito em mais de quatro a seis ordens de grandeza. Os eletrodos não degradam as amostras desconhecidas e introduzem contaminações desprezíveis. O tempo de resposta pode variar entre segundos e minutos, de modo que são usados para monitorar fluxos em aplicações industriais. A cor e a turbidez do meio não prejudicam o funcionamento dos eletrodos. Microeletrodos podem ser usados no interior de células vivas. A precisão obtida em medidas com eletrodos seletivos, raramente é melhor do que 1%, e normalmente é pior que isso. Os eletrodos podem ser obstruídos por proteínas ou por outros solutos orgânicos, induzindo uma resposta lenta e flutuante. Certos íons interferem ou envenenam determinados eletrodos. Alguns eletrodos são frágeis e não podem ser guardados por muito tempo. Os eletrodos respondem à atividade de íons do analito que não estejam complexados. Portanto, ligantes devem estar ausentes ou mascarados. Como normalmente desejamos conhecer concentrações, e não atividades, é comum o uso de um sal inerte para fazer com que todos os padrões e as amostras tenham uma força iônica alta e constante. Se os coeficientes de atividade permanecem constantes, o potencial do eletrodo fornece diretamente as concentrações. Plasma de sangue humano contém oito espécies principais contendo cálcio que podem ser separadas por eletroforese capilar e medidas por espectrometria de emissão atômica de plasma acoplado indutivamente (Figura 15-33). Você estudará essas técnicas neste livro mais adiante. Das oito espécies, uma com a concentração de 1,05 mM foi identificada como Ca2+ livre. Nas outras sete espécies, com uma concentração total de 1,21 mM, o Ca2+ está ligado a proteínas ou outros ligantes. Quando o Ca2+ no sangue é medido com um eletrodo íon-seletivo, somente Ca2+ livre é observado. O cálcio ligado a ligantes é invisível a um eletrodo íonseletivo. Vantagens dos eletrodos íon-seletivos: • menos dispendiosos do que técnicas concorrentes, como espectroscopia atômica e cromatografia iônica • grande intervalo de resposta linear para o log A • não é destrutivo • não causa contaminações • tempo de resposta curto • não é afetado pela cor ou pela turbidez Um erro de + mV no potencial corresponde a um erro de 4% na atividade de um íon monovalente. Um erro de = mV corresponde a um erro de 22%. O erro relativo dobra de valor para íons divalentes e triplica para íons trivalentes.
Adição-Padrão com Eletrodos Íon-Seletivos Quando usamos eletrodos íon-seletivos, é importante que a composição da solução-padrão seja bem próxima da composição da amostra desconhecida. O meio em que o analito existe, é denominado matriz. Nos casos em que a matriz é complexa ou desconhecida, podemos usar o método da adição-padrão (Seção 5-3). Nessa técnica, o eletrodo é imerso na amostra desconhecida e o potencial é registrado. Adiciona-se então um pequeno volume de solução-padrão, de maneira a não perturbar a força iônica da amostra desconhecida. A variação no potencial revela como o eletrodo responde ao analito e, portanto, qual a quantidade de analito presente na solução desconhecida. É melhor adicionarmos várias alíquotas sucessivas e usarmos um
procedimento gráfico para fazer a extrapolação de modo a obter a concentração da amostra desconhecida. A adição-padrão é melhor se a adição aumenta a concentração original do analito em 1,5 a 3 vezes a sua concentração original. Eletrodos respondem à atividade de íons não complexados. Se a força iônica for constante, a concentração é proporcional à atividade e o eletrodo pode ser calibrado de acordo com a concentração.
O procedimento gráfico a ser utilizado se fundamenta na equação que fornece a resposta de um eletrodo íon-seletivo, que podemos escrever sob a forma R = constante dos gases T = temperatura (K) n = carga do íon a ser detectado F = constante de Faraday
em que E é a leitura, em volts, e [X] é a concentração do analito. Essa leitura é a diferença entre o potencial do eletrodo íonseletivo e o eletrodo de referência. As constantes k e b dependem especificamente do eletrodo íon-seletivo. O fator (RT/F)ln 10 tem o valor de 0,059 16 V, a 298,15K. Se b = 1, então a resposta do eletrodo é nernstiana. Para facilitar, abreviaremos o termo (bRT/nF) como S para o coeficiente angular. Suponhamos que o volume inicial da amostra desconhecida seja V0 e que a concentração inicial do analito seja cX. O volume do padrão adicionado é VS e a concentração do padrão é cS. Então, a concentração total do analito após a adição do padrão é (V0cX + VScS)/(V0 + VS). Substituindo [X] por essa expressão na Equação 15-16 e fazendo algumas manipulações algébricas, temos
Um gráfico de (V0 + Vs)10E/S, no eixo y, contra VS, no eixo x, tem um coeficiente angular igual a m = 10K/ScS e uma interseção com o eixo y igual a 10K/SV0cX (Figura 15-34). A interseção com o eixo dos x pode ser obtida fazendo-se y = 0:
A Equação15-18 permite obter a concentração da amostra desconhecida cX a partir de V0, cS e da interseção com o eixo x. Um dos pontos fracos do método de adição-padrão com eletrodos íon-seletivos é que não podemos determinar o valor de b com a Equação 15-16 aplicada à matriz desconhecida. Podemos determinar b em uma série de soluções-padrão (sem a amostra desconhecida) e usar esse valor para calcular S na função (V0 + VS)10E/S na Equação 15-17. Outro procedimento é adicionar uma matriz conhecida concentrada à amostra desconhecida e a todos os padrões, de tal modo que a matriz seja essencialmente a mesma em todas as soluções.
FIGURA 15-34 Gráfico de adição-padrão para um eletrodo íon-seletivo, de acordo com a Equação15-17. Veja o Exercício 15-F. [Dados obtidos de G. Li, B. J. Polk, L. A. Meazell e D. W. Hatchett, “ISE Analysis of Hydrogen Sulfide in Cigarette Smoke”, J. Chem. Ed. 2000, 77, 1049.]
Tampões de Íons Metálicos Não há sentido em diluirmos CaCl2 até 1026 M para padronizarmos um eletrodo íon-seletivo. Nessa baixa concentração, o íon Ca2+ será perdido pela adsorção no vidro ou por reação com impurezas. Uma alternativa é preparar um tampão de íon metálico a partir do metal e um ligante adequado. Por exemplo, consideramos a reação do Ca2+ com EDTA, em pH 6,00, em que a fração de EDTA na forma Y4– é αY4– = 1,8 × 1025 (Tabela 12-1): Recipientes de plástico são melhores do que os de vidro para soluções muito diluídas de sais de íons metálicos, pois os íons são adsorvidos na superfície do vidro. [EDTA] = concentração total de todas as formas de EDTA não ligadas ao íon metálico. αY4– = fração de EDTA não ligado na forma Y4–.
Se concentrações iguais de CaY22 e EDTA estão presentes em uma solução:
Cálculos mais exatos usariam coeficientes de atividades.
EXEMPLO
Preparando um Tampão de Íon Metálico
Que concentração de EDTA deve ser adicionada a uma solução 0,010 M de CaY22 em pH 6,00 para produzir [Ca2+] = 1,0 × 1026 M? Solução Usando a Equação 15-19, escrevemos
Essas são as concentrações de CaY22 e EDTA que podem ser usadas na prática. TESTE A VOCÊ MESMO Que concentração de EDTA deve ser adicionada a uma solução 0,010 M de CaY22 em pH 6,00 para produzir [Ca2+] = 1,0 × 1027 M? (Resposta: 0,124 M) Um tampão de íon metálico é a única maneira de obter [Pb2+] = 10212 M em uma solução, usada na parte interna do eletrodo na Figura 15-29.
15-8
Sensores Químicos de Estado Sólido
Sensores químicos de estado sólido são fabricados com a mesma tecnologia usada em microeletrônica para produzir circuitos integrados. O transistor de efeito de campo (sigla inglesa FET) é o principal elemento dos sensores comercialmente disponíveis, como por exemplo o eletrodo de pH na Figura 15-35. A abertura deste capítulo descreve um chip contendo 109 transistores de efeito de campo sensíveis ao pH em uma área de 2 3 2 cm para o sequenciamento de DNA via medição do H+ liberado cada vez que uma base nucleotídica é adicionada ao DNA.
FIGURA 15-35 (a) Eletrodo de pH combinado baseado no transistor de efeito de campo. O termistor é sensível às variações térmicas e usado para a compensação automática de temperatura. [Cortesia SENTRON, Europe BV.]
Semicondutores e Diodos Semicondutores como o Si (Figura 15-36), o Ge e o GaAs são materiais cuja resistividade elétrica41 tem um valor intermediário entre os materiais condutores e os isolantes. Os quatro elétrons de valência presentes nesses materiais, quando puros, estão todos envolvidos em ligações entre os átomos (Figura 15-37a). Uma impureza de fósforo com cinco elétrons de valência produz um elétron de condução eletrônica adicional, que está livre para se mover através do cristal (Figura 15-37b). Uma impureza de alumínio possui um elétron de valência a menos que o necessário, criando um vazio na estrutura, denominado lacuna, que se comporta como um transportador de carga positiva. Quando um elétron vizinho preenche uma lacuna, temos o surgimento de uma nova lacuna em uma posição adjacente (Figura 15-37c). Um semicondutor com excesso de elétrons de condução é chamado de tipo n. Um semicondutor com um excesso de lacunas é chamado de tipo p. Um diodo é uma junção pn (Figura 15-38a). Se o silício n se torna negativo em relação ao silício p, elétrons fluem de um circuito elétrico externo para o silício n. Em uma junção pn, os elétrons e lacunas se combinam. À medida que os elétrons se movem do silício p para o circuito, um novo suprimento de lacunas é criado no silício p. O resultado líquido dessas transferências é que uma corrente elétrica flui quando o silício n é polarizado negativamente em relação ao silício p. Diz-se, neste caso, que o diodo está polarizado no sentido direto.
FIGURA 15-36 Estrutura cristalina cúbica de face centrada do diamante e do silício. Cada átomo encontra-se tetraedricamente ligado a outros quatro vizinhos. O comprimento da ligação C—C no diamante é igual a 154 pm, e o comprimento da ligação Si—Si é igual a 235 pm.
FIGURA 15-37 (a) Os elétrons de valência do silício puro formam uma estrutura onde todas as ligações são do tipo sigma. (b) Um átomo de impureza, neste caso o fósforo, acrescenta mais um elétron extra (•), que é relativamente livre para mover-se dentro do cristal. (c) Um átomo de alumínio como impureza provoca a falta de um elétron necessário para formar uma ligação sigma na estrutura. A lacuna (∘), introduzida pelo átomo de alumínio, pode ser ocupada por um elétron de uma ligação vizinha, fazendo com que a lacuna efetivamente se mova para a ligação vizinha. É necessária uma energia de ativação para que um transportador de carga seja capaz de se mover através de um diodo. Para o Si, é necessário ~0,6 V de polarização direta para termos passagem de corrente elétrica. No caso do Ge, é necessário ~0,2 V. No caso de uma polarização inversa moderada, não existe passagem de corrente elétrica. Se a diferença de potencial elétrico, aplicada na junção, for suficientemente negativa, ocorre uma ruptura e temos um fluxo de corrente na direção inversa.
FIGURA 15-38 Comportamento de uma junção pn, mostrando que (a) a corrente pode fluir em condições de polarização direta, mas (b) é impedida de fluir no caso de uma polarização inversa.
Se uma polarização inversa é aplicada (Figura 15-38b), os elétrons são retirados do silício n e as lacunas retiradas do silício p, deixando uma fina região de depleção, desprovida de transportadores de carga, próxima à junção pn. O diodo encontra-se polarizado no sentido inverso e não conduz corrente elétrica. Transistores de Efeito de Campo Quimiossensíveis O substrato do transistor de efeito de campo na Figura 15-39 é constituído de silício p com duas regiões tipo n, conhecidas como fonte e dreno. Entre a fonte e o dreno deposita-se uma camada isolante de SiO2, revestida por um metal condutor formando uma porta. A fonte e o substrato são mantidos em um mesmo potencial elétrico. Quando um potencial é aplicado entre a fonte e o dreno (Figura l5-39a), circula muito pouca corrente, porque a interface dreno-substrato é uma junção pn em polarização inversa. Quanto mais positiva a porta, mais corrente pode fluir entre a fonte e o dreno.
Se a porta do transistor se tornar positiva em relação ao substrato, os elétrons do substrato serão atraídos na direção da porta formando um canal condutor entre a fonte e o dreno (Figura l5-39b). A corrente fonte-dreno aumenta quando a porta se torna mais positiva. O potencial na porta controla a passagem de corrente entre a fonte e o dreno. A principal característica do transistor de efeito de campo na Figura 15-40 que funciona como um sensor de espécies químicas é a existência de uma camada quimiossensível sobre a porta. Um exemplo, é uma camada de AgBr. Quando exposto a uma solução de nitrato de prata, o íon Ag+ se adsorve sobre o AgBr (Figura 27-3). Nesse processo de adsorção, a superfície adquire uma carga positiva, levando a um aumento na corrente entre a fonte e o dreno. A diferença de potencial que deve ser aplicada, por meio de um circuito externo, para fazer com que a corrente fonte-dreno retorne ao seu valor inicial é a resposta do dispositivo para o Ag1. Na Figura 15-41 vemos que o Ag+ torna a porta mais positiva, enquanto o Br– faz a porta mais negativa. A resposta é próxima de 59 mV para cada variação de 10 vezes na concentração de analito. O transistor de efeito de campo é menor (Figura 15-35) e mais robusto do que os outros eletrodos íon-seletivos. A superfície quimiossensível tem, normalmente, uma área de apenas 1 mm–.
FIGURA 15-39 Operação de um transistor de efeito de campo. (a) Distribuição praticamente aleatória de lacunas e elétrons no substrato, na ausência de um potencial na porta. (b) Um potencial positivo na porta atrai elétrons que então formam um canal condutor na região da porta. Corrente pode fluir através deste canal entre a fonte e o dreno.
FIGURA 15-40 Funcionamento de um transistor de efeito de campo químiossensível. A região correspondente à porta do transistor é formada por uma camada isolante de SiO2 e uma segunda camada de Si3N4 (nitreto de silício), impermeável a íons e com melhor estabilidade elétrica. O circuito externo na parte inferior esquerda ajusta a diferença de potencial entre o eletrodo de referência e a fonte do transistor, em resposta às variações na solução que contém o analito, de tal forma que a corrente fontedreno é mantida constante.
FIGURA 15-41 Resposta de um transistor de efeito de campo com a porta revestida de brometo de prata. Os intervalos de confiança nas barras de erro da figura são de 95% para dados obtidos em 195 sensores, montados a partir de pastilhas de circuito integrado (em inglês, chip) diferentes. [Dados de R. P. Buck e D. E. Hackleman, “Field Effect Potentiometric Sensors”, Anal. Chem. 1977, 49, 2315.]
A superfície quimicamente sensível sobre a porta de um transistor de efeito de campo pode ser feita de uma variedade de materiais quimicamente modificados, incluindo silício,42 grafeno (camadas monoatômicas de grafite),43,44 nanotubos de carbono,45 nanofios semicondutores#46-48 e ouro.49 A superfície quimicamente sensível pode estar afastada do transistor e conectada à porta por um fio.48,49 Os transistores de efeito de campo de detecção química foram projetados para medir pequenas moléculas e íons, bem como proteínas,#44,48,49 DNA,47 fármacos, como o anticoagulante heparina,42 bactérias inteiras45 e o interior de células vivas.46 Foram reportados baixos limites de detecção, tais como 2 fM (2 × 10215 M), para a proteína lecitina.
Termos Importantes adição-padrão anticorpo antígeno coeficiente de seletividade condução de elétrons diodo eletrodo combinado eletrodo composto eletrodo de calomelano eletrodo de calomelano saturado (E.C.S.) eletrodo de prata-cloreto de prata eletrodo de referência eletrodo de trabalho eletrodo de vidro eletrodo indicador eletrodo íon-seletivo eletrodo íon-seletivo de base líquida eletrodo íon-seletivo de estado sólido equilíbrio de troca iônica erro de sódio espécies eletroativas lacuna matriz mobilidade potencial de junção potenciometria semicondutor tampão de íon metálico
transistor de efeito de campo
Resumo Nas medidas potenciométricas, o eletrodo indicador responde às variações na atividade do analito e o eletrodo de referência é uma meia-célula, que produz um potencial de referência constante. Os eletrodos de referência mais comuns são os de calomelano e prata-cloreto de prata. Os eletrodos indicadores mais usados incluem (1) o eletrodo inerte de Pt, (2) um eletrodo de prata, sensível ao íon Ag+, halogenetos e outros íons que reagem com Ag+ e (3) eletrodos íon-seletivos. Pequenos potenciais de junção desconhecidos, em interfaces líquido-líquido, limitam a exatidão da maioria das medidas potenciométricas. Eletrodos íon-seletivos, incluindo o eletrodo de vidro para pH, respondem, preferencialmente, a um íon que está seletivamente ligado à membrana de troca iônica do eletrodo. A diferença de potencial (E) através da membrana depende da atividade, (Ao), do íon ao qual ele é sensível, na solução externa do analito. A 25°C, a equação ideal é E(V) = constante + (0,059 16/n) log Ao, em que n é a carga do íon em estudo. Para íons interferentes (X) com a mesma carga que o íon primário (A), a resposta dos eletrodos íon-seletivos é E(V) = constante + (0,059 16/n) log [AA + SKPotA,X AX] , no qual SKPotA,X é o coeficiente de seletividade para cada espécie. A maioria dos eletrodos íon-seletivos pode ser classificada como de estado sólido, de base líquida e composto. As determinações quantitativas com eletrodos íon-seletivos são feitas usando-se curvas de calibração ou pelo método da adiçãopadrão. Tampões de íons metálicos são apropriados quando precisamos estabelecer e manter baixas as concentrações de íons. Um transistor de efeito de campo quimiossensível é um dispositivo de estado sólido, com uma camada quimicamente sensível, capaz de alterar as propriedades elétricas de um semicondutor em resposta a mudanças no ambiente químico.
Exercícios 15-A. O dispositivo na Figura 15-7 foi usado para monitorar a titulação de 50,0 mL de AgNO3 0,100 M com NaBr 0,200 M. Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica para cada um dos seguintes volumes adicionados de NaBr: 1,0; 12,5; 24,0; 24,9; 25,1; 26,0; e 35,0 mL. 15-B. O dispositivo mostrado na figura vista a seguir pode ser usado para acompanhar o andamento de uma titulação com EDTA, que deu origem às curvas da Figura 12-10. O elemento principal da célula eletroquímica é um reservatório de Hg líquido em contato com a solução e com um fio de Pt. Uma pequena quantidade de HgY2–, adicionada ao analito, entra em equilíbrio com quantidades muito pequenas de Hg2+:
O equilíbrio redox Hg2+ 12e– ⇌ Hg(l) é estabelecido rapidamente na superfície do eletrodo de Hg, de tal modo que a equação de Nernst para a célula eletroquímica pode ser escrita na forma
no qual E– é o potencial constante do eletrodo de referência. A partir da Equação A, podemos escrever [Hg2+] = [HgY2–]/Kf[Y4–], e esta expressão pode ser substituída na Equação B, obtendo-se
em que Kf é a constante de formação para HgY2–. Esse dispositivo responde desse modo à mudança de concentração do EDTA durante a titulação.
(a) Dispositivo para o Exercício 15-B. (b) Vista ampliada do eletrodo de mercúrio.
Suponha que 50,0 mL de uma solução de MgSO4 0,010 0 M são titulados com uma solução de EDTA 0,020 0 M, em pH 10,0, através do dispositivo mostrado na figura anterior, tendo o E.C.S. como eletrodo de referência. Suponha que o analito contenha Hg(EDTA)2– 1,0 × 1024 M, adicionado no início da titulação. Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica, nos volumes adicionados de EDTA de 0; 10,0; 20,0; 24,9; 25,0 e 26,0 mL. 15-C. Um eletrodo íon-seletivo de estado sólido para de fluoreto responde ao íon F–, mas não ao HF. Esse eletrodo também responde ao íon hidróxido em concentrações altas, quando [OH–] ≡ [F–]/10. Suponha que esse eletrodo fornece um potencial de 1100 mV (contra o E.C.S.) em uma solução de NaF 1025 M e 141 mV em uma solução de NaF 1024 M. Esboce, qualitativamente, como o potencial irá variar se o eletrodo for imerso em uma solução de NaF 1025 M e o pH variar de 1 a 13. 15-D. Um eletrodo comercial de membrana de vidro seletivo para o íon sódio possui um coeficiente de seletividade KPotNa+,H+ = 36. Quando esse eletrodo foi imerso em uma solução de NaCl 1,00 mM, em pH 8,00, um potencial de –38 mV (contra o E.C.S.) foi registrado. (a) Desprezando os coeficientes de atividade, calcule o potencial com a Equação 15-10 se o eletrodo for imerso em uma solução de NaCl 5,00 mM, em pH 8,00. (b) Qual será o potencial para uma solução de NaCl 1,00 mM em pH 3,87? Podemos observar que o pH é uma variável crítica para o funcionamento do eletrodo de sódio. 15-E. Um eletrodo sensível ao gás amônia forneceu os seguintes pontos de calibração, quando todas as soluções continham NaOH 1 M: NH3(M)
E(mV)
NH3(M)
E(mV)
1,00 × 10–5
268,0
5,00 × 10–4
368,0
5,00 × 10–5
310,0
1,00 × 10–3
386,4
1,00 × 10–4
326,8
5,00 × 10–3
427,6
Uma amostra de alimento seco pesando 312,4 mg foi digerida pelo procedimento de Kjeldahl (Seção 11-8) para converter todo o nitrogênio em NH41. A solução da digestão foi diluída a 1,00 L, e 20,0 mL foram transferidos para um balão volumétrico de 100
mL. Uma alíquota de 20,0 mL foi tratada com 10,0 mL de uma solução contendo NaOH 10,0 M e NaI suficiente para complexar todo o Hg, que funciona como catalisador na digestão, e diluída a 100,0 mL. Quando analisada com um eletrodo seletivo para amônia, essa solução forneceu um potencial de 339,3 mV. Calcule a porcentagem, em massa, de nitrogênio na amostra de alimento. 15-F. O H2S proveniente da fumaça de cigarro foi coletado borbulhando-se fumaça em uma solução aquosa de NaOH e analisado com um eletrodo seletivo para o íon sulfeto. Adições-padrão com um volume VS, contendo Na2S na concentração cS = 1,78 mM, foram feitas a V0 = 25,0 mL de amostra desconhecida e a resposta do eletrodo (E) foi medida. VS(mL)
E(V)
VS(mL)
E(V)
0
0,046 5
3,00
0,030 0
1,00
0,040 7
4,00
0,026 5
2,00
0,034 4
A partir de uma curva de calibração separada, determinou-se pela Equação 15-16 que β = 0,985. Com T = 298,15 e n = 22 (a carga do íon S22), construa um gráfico de adição-padrão, por meio da Equação 15-17, para determinar a concentração do íon sulfeto na amostra desconhecida.
Problemas Eletrodos de Referência 15-1. (a) Escreva as meias-reações para os eletrodos de referência de prata-cloreto de prata e calomelano. (b) Faça a previsão do potencial da seguinte célula eletroquímica:
15-2. Desenhe um diagrama como mostrado na Figura 15-6 para converter os potenciais apresetados a seguir. Os eletrodos de referência de Ag-AgCl e calomelano estão saturados com KCl. (a) 0,523 V contra E.P.H. = ? contra Ag-AgCl (b) –0,111 V contra Ag-AgCl = ? contra E.P.H. (c) –0,222 V contra E.C.S. = ? contra E.P.H. (d) 0,023 V contra Ag-AgCl = ? contra E.C.S. (e) –0,023 V contra E.C.S. = ? contra Ag-AgCl 15-3. Suponha que o eletrodo prata-cloreto de prata na Figura 15-2 é substituído por um eletrodo de calomelano saturado. Calcule o potencial da célula eletroquímica se [Fe2+]/[Fe3+] = 2,5 × 10–3. 15-4. A partir dos potenciais apresentados a seguir, calcule a atividade do Cl– em KCl 1M. E°(eletrodo de calomelano) = 0,268 V E(eletrodo de calomelano, 1 M KCl) = 0,280 V 15-5. Para um eletrodo de prata-cloreto de prata foram observados os seguintes potenciais: E° = 0,222 V E(KCl saturado) = 0,197 V A partir desses potenciais calcule a atividade do Cl– em KCl saturado. Calcule o valor de E para um eletrodo de calomelano saturado com KCl, dado que E° para o eletrodo de calomelano é 0,268 V. (Sua resposta não será exatamente o valor de 0,241 V usado neste livro.) Eletrodos Indicadores
15-6. Uma célula eletroquímica foi preparada pela imersão de um fio de cobre e de um eletrodo de calomelano saturado em uma solução de CuSO4 0,10 M. O fio de Cu foi ligado ao terminal positivo de um potenciômetro, e o eletrodo de calomelano foi ligado ao terminal negativo. (a) Escreva a meia-reação para o eletrodo de Cu. (b) Escreva a equação de Nernst para o eletrodo de Cu. (c) Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica. 15-7. Explique por que um eletrodo de prata pode ser um eletrodo indicador para Ag+ e para halogenetos. 15-8. 10,00 mL de uma solução de AgNO3 0,050 0 M foram titulados com uma solução de NaBr 0,025 0 M na seguinte célula eletroquímica: E.C.S. || solução de titulação | A(s) Determine o potencial da célula eletroquímica para os volumes adicionados de titulante de 0,1 e 30,0 mL. 15-9. Uma amostra contendo 50,0 mL de EDTA 0,100 M, tamponada em pH 10,00, foi titulada com 50,0 mL de uma solução de Hg(ClO4)2 0,020 0 M, na célula eletroquímica mostrada no Exercício 15-B: E.C.S. || solução de titulação | H(l) A partir do potencial da célula eletroquímica E = 20,027 V, calcule a constante de formação do Hg(EDTA)22. 15-10. Considere a célula eletroquímica E.C.S. || solução da célula | Pt(s), cujo potencial é 20,126 V. A solução da célula contém 2,00 mmol de Fe(NH4)2(SO4)2, 1,00 mmol de FeCl3, 4,00 mmol de Na2EDTA e grande quantidade de tampão, pH 6,78, em um volume de 1,00 L. (a) Escreva a reação para a meia-célula da direita. (b) Encontre o valor de [Fe2+]/[Fe3+] na solução da célula. (Esse valor é a razão dos íons não complexados.) (c) Encontre a razão das constantes de formação: (Kf para FeEDTA–)/(Kf para FeEDTA2–). 15-11.
Um desafio envolvendo equilíbrio: Eis aqui uma célula eletroquímica que certamente vai lhe agradar:
Ag(s) | ACl(s) | KCl(aq, saturado) || solução da célula eletroquímica | Cu(s) A solução da célula foi feita misturando-se 25,0 mL de KCN 4,00 mM 25,0 mL de KCu(CN)2 4,00 mM 25,0 mL de ácido HA 0,400 M, com pKa = 9,50 25,0 mL de solução de KOH O potencial medido foi 20,440 V. Calcule a molaridade da solução de KOH. Suponha que praticamente todo o cobre(I) está na forma de Cu(CN)2–. Um pouco de HCN provém da reação de KCN com HA. Despreze a pequena quantidade de HA consumida pela reação com o KCN. Para a meia-célula da direita, a reação é Cu(CN)2– + e– ⇌ Cu(s) + 2CN–. Procedimento sugerido: A partir de E, determine [CN–]. A partir de [CN–], determine o pH. A partir do pH, calcule quanto OH– foi adicionado. Potencial de Junção 15-12. O que causa o potencial de junção? O que faz com que a existência desse potencial limite a exatidão das análises potenciométricas? Identifique uma célula eletroquímica, nas ilustrações na Seção 14-2, que não possui potencial de junção. 15-13. Porque o potencial de junção da célula eletroquímica HCl 0,1 M-KCl 0,1 M tem, na Tabela 15-2, sinal oposto e maior magnitude que o potencial do NaCl 0,1 M | KCl 0,1 M? 15-14. Que lado da junção líquida KNO3 0,1 M | NaCl 0,1 M será negativo? 15-15. Por que os potenciais de junção líquida HCl 0,1M | KCl 0,1 M e NaOH 0,1 M | KCl 0,1 M têm sinais opostos na Tabela 15-2? Por que o potencial de junção para NaOH 0,1 M | KCl 0,1 M é muito mais negativo do que para NaOH 0,1 M | KCl (saturado)? 15-16. No Problema 15-1, desprezamos a inclusão do potencial de junção em cada lado da ponte salina que conecta os eletrodos de Ag(s)?AgCl saturado e calomelano saturado. Qual seria a ponte salina mais sensível a ser usada na célula para que os potenciais de junção sejam desprezíveis? Por quê? 15-17. Veja a nota de rodapé da Tabela 15-1. Quantos segundos levarão para (a) H+ e (b) NO3– migrarem uma distância de 12,0 cm em um campo de 7,80 × 103 V/m?
15-18. Suponha que uma célula eletroquímica ideal hipotética como a da Figura 14-8 foi montada para medir E° para a meiareação Ag+ + e– ⇌ Ag(s). (a) Calcule a constante de equilíbrio para a reação líquida da célula eletroquímica. (b) Se tivéssemos um potencial de junção de 12 mV (aumentando o valor de E de 0,799 para 0,801 V), qual seria a porcentagem de aumento do valor da constante de equilíbrio calculada? (c) Responda os itens (a) e (b) usando, para a reação da prata, o valor de E° igual a 0,100 V, ao invés de 0,799 V. 15-19. Explique como a célula eletroquímica Ag(s)?AgCl(s) | HCl 0,1M | KCl 0,1 M | AgCl(s) | Ag(s) pode ser usada para determinar o potencial de junção HCl 0,1M | KCl 0,1 M. 15-20.
Equação de Henderson. O potencial de junção, Ej, entre as soluções a e b pode ser estimado por meio da equação de
Henderson:
em que zi é a carga da espécie i, ui é a mobilidade da espécie i (Tabela 15-1), Ci(a) é a concentração da espécie i na fase a e Ci(b) é a concentração na fase b. (Em nosso caso, faremos uma aproximação ao omitirmos os coeficientes de atividade nessa equação.) (a) Usando a sua calculadora, mostre que o potencial de junção de HCl 0,1 M | KCl 0,1 M é, a 25°C, 26,9 mV. (Lembre-se de que (RT/F)ln x = 0,059 16 log x.) (b) Prepare uma planilha eletrônica para reproduzir o resultado em (a). Com essa planilha eletrônica, calcule e construa um gráfico do potencial de junção para o sistema HCl 0,1 M | KCl x M, onde x varia de 1 mM a 4 M. (c) Use a sua planilha eletrônica para verificar o comportamento do potencial de junção do sistema HCl y M | KCl x M, no qual y = 10–4, 10–3, 10–2 e 10–1 M e x = 1 mM ou 4 M. Medidas de pH com o Eletrodo de Vidro 15-21. Descreva como é possível calibrarmos um eletrodo de pH e medirmos o pH do sangue (que é ~7,5) a 37°C. Use os tampões-padrão da Tabela 15-3. 15-22. Quais são as fontes de erro associadas às medidas de pH usando o eletrodo de vidro? 15-23. Se o eletrodo 3, na Figura 15-21, é colocado em uma solução de pH 11,0, qual será o pH lido? 15-24. Qual(ais) tampão(ões) do National Institute of Standards and Technology podem ser usados para calibrar um eletrodo para medidas de pH na faixa de 324? 15-25. Por que os eletrodos de vidro tendem a indicar um valor de pH menor do que o pH real em soluções fortemente básicas? 15-26. Suponha que o eletrodo externo Ag-AgCl na Figura 15-14 contenha uma solução de NaCl 0,1M em vez de uma solução saturada de KCl. Suponha que o eletrodo é calibrado a 25°C, em pH 6,54, com um tampão diluído contendo KCl 0,1 M. O eletrodo é então mergulhado em um segundo tampão, com o mesmo valor de pH e à mesma temperatura, mas com uma concentração de KCl 3,5 M. Use a Tabela 15-2 para estimar qual será a variação de pH, quando substituímos os tampões. 15-27. (a) Quando a diferença no pH através da membrana de um eletrodo de vidro, a 25°C, é 4,63 unidades, qual é a diferença de potencial elétrico produzida por esse gradiente de pH? (b) Qual será o valor desse potencial para a mesma diferença de pH a 37°C? 15-28. Na calibração de um eletrodo de vidro, um tampão de di-hidrogenofosfato de potássio 0,025 m/hidrogenofosfato de sódio 0,025 m (Tabela 15-3) forneceu uma leitura de 218,3 mV, a 20°C, e um tampão de hidrogenoftalato de potássio 0,05 m deu a leitura de 1146,3 mV. Qual é o pH de uma amostra que fornece uma leitura de 150,0 mV? Qual é o coeficiente angular da curva de calibração (mV/unidades de pH) e qual é o coeficiente angular teórico a 20°C? Encontre o valor de b na Equação 15-6.
15-29.
Problema de atividade. O tampão KH2PO4 0,0250 m/Na2HPO4 0,0250 m, tampão (6) na Tabela 15-3, tem um pH de
6,865, a 25°C. (a) Mostre que a força iônica do tampão, m, é 0,100 m. (b) A partir dos valores de pH e K2, para o ácido fosfórico, determine a razão entre os coeficientes de atividade, γHPO42–/γH2PO4–, quando μ = 0,100 m. (c) Precisamos, urgentemente, preparar um tampão pH 7,000 para calibrarmos um instrumento.50 Usando-se a razão entre os coeficientes de atividade definida no item (b), podemos preparar este tampão com um valor exato se a força iônica do meio for mantida em 0,100 m. Que molalidades de KH2PO4 e Na2HPO4 devem estar presentes na solução do tampão para termos um pH 7,000 e μ = 0,100 m? 15-30.
Como se mede o pH de padrões primários.15,51 Duas células eletroquímicas reprodutíveis desprovidas de junção
líquida são usadas para as medidas. Nas equações apresentadas a seguir, m indica molalidade e g é o coeficiente de atividade em uma escala molal. Em soluções diluídas, molalidade e molaridade são praticamente idênticas. Célula 1: Pt(s) | H2(g) | tampão-padrão primário(aq), NaCl(aq) | AgCl(s) | Ag(s)
Célula 2:
Ambas as células dispõem de eletrodos Pt-H2?H+ e Ag-AgCl, e ambas empregam a mesma pressão PH2 na mesma temperatura T. A célula + contém o tampão, cujo pH (≡ –log AH = –log mH γH) deve ser medido, e também contém NaCl com uma molalidade mCl. A célula 2 contém HCl 0,01 m no lugar do tampão. A diferença de potencial entre as células 1 e 2 na Equação A depende apenas das atividades dos íons H+ e Cl– nas duas células. O coeficiente de atividade médio do HCl 0,01 m, γ6 ≡ (gH γCl)1/2 = 0,905, é uma grandeza bem definida medida com uma célula galvânica.52 A molalidade mCl é a concentração conhecida de NaCl na célula 1. Tudo na Equação A é conhecido, exceto o produto mHγHγCl = AHγCl na célula 1. A atividade AH é o que estamos tentando medir. Rearranjamos a Equação A para isolar as incógnitas à esquerda:
O lado esquerdo pode também ser escrito como 2 logAHγCl ; p(AHγCl). Considere o tampão 6 na Tabela 15-3 preparado com KH2PO4 0,025 m mais Na2HPO4 0,025 m, cuja força iônica é igual a 0,1 m. Nossa meta é medir seu pH (5 –log AH). Três soluções são preparadas por adição de NaCl 0,005, 0,01 e 0,02 m ao tampão. A quantidade p(AHγCl) = –logAHγCl medida a partir da Equação B é mostrada na figura vista a seguir, e foi extrapolada para p(AHγCl)o = 6,972 para 0 de NaCl adicionado. Quando não há adição de NaCl, γCl é o coeficiente de atividade do íon Cl, caso ele esteja presente no tampão.
(a) Faça um desenho das células 1 e 2. (b) Não existe uma maneira rigorosamente correta de encontrar o pH do tampão porque o coeficiente de atividade para um único íon (γCl) não pode ser medido, visto que os íons somente existem em pares com seus contraíons. Entretanto, a equação estendida de Debye-Hückel, Equação 8-6, nos permite estimar os coeficientes de atividade de íons isolados.
em que μ é a força iônica (5 0,1 mol/kg) do tampão, A e B são constantes dependentes da temperatura da teoria de Debye-Hückel, z é a carga do íon (21 para o Cl–) e a é o parâmetro associado ao tamanho do íon na Tabela 8-1. O valor de A a 25°C é 0,511. A convenção de Bates-Guggenhein, escolhida para estimar γCl para medir o pH de tampões-padrão, é Bα = 1,5 (mol/kg)–1/2. Este valor de Ba é equivalente a escolher um tamanho de 458 pm para o íon Cl–. (Na Tabela 8-1, o tamanho do íon Cl– listado é 300 pm.) Usando Bα = 1,5 (mol/kg)–1/2, calcule o pH do tampão-padrão a 25°C, e compare a sua resposta com o valor dado na Tabela 15-3. Eletrodos Íon-Seletivos 15-31. (a) Explique, com suas palavras, o princípio de funcionamento dos eletrodos íon-seletivos. (b) Qual é a diferença entre um eletrodo íon-seletivo composto e um eletrodo íon-seletivo simples? 15-32. Qual é a informação do coeficiente de seletividade? É melhor termos um coeficiente de seletividade grande ou pequeno? 15-33. O que faz um eletrodo íon-seletivo de base líquida ser específico para um determinado analito? 15-34. Por que é preferível usarmos um tampão de íon metálico para termos um valor de pM = 8, se é bem mais simples dissolvermos uma quantidade suficiente de mols de um sal deste íon para obtermos uma solução 10–8 M? 15-35. Por que usamos padrões com uma concentração constante e alta de um sal inerte para determinar, com um eletrodo íonseletivo, a concentração de uma solução diluída contendo um determinado analito? 15-36. Um eletrodo seletivo para o íon cianeto obedece à equação E = constante – 0,059 16 log [CN–] O potencial medido foi 20,230 V quando o eletrodo foi imerso em uma solução de NaCN 1,00 mM. (a) Com o potencial medido, calcule o valor da constante na equação anterior. (b) Usando o resultado de (a), determine a concentração de CN– se E = 20,300 V. (c) Sem usar a constante calculada em (a), determine a concentração de CN– se E = 20,300 V.
15-37. Qual será a variação (em volts) do potencial de um eletrodo íon-seletivo de Mg2+ se o eletrodo é retirado de uma solução de MgCl2 1,00 × 1024 M e colocado em uma solução de MgCl2 1,00 × 10–3 M, a 25°C? 15-38. O potencial elétrico devido à presença do íon F– na água não fluoretada em Foxboro, Massachusetts, EUA, foi 40,0 mV mais positivo que o potencial da água de torneira em Providence, Rhode Island, EUA, quando medido por um eletrodo seletivo para o íon F–, com uma resposta que segue, a 25°C, a equação de Nernst. A cidade de Providence mantém sua água fluoretada no nível recomendado de 1,00 6 0,05 mg de F–/L. Qual é a concentração de F– em mg/L na água da cidade de Foxboro? (Despreze, em seus cálculos, a incerteza.) 15-39. As seletividades para um eletrodo seletivo ao íon Li1 são indicadas no diagrama visto a seguir. Qual é o íon de metal alcalino (Grupo I) que causa a maior interferência? Qual é o íon de metal alcalino-terroso (Grupo 2) que causa a maior interferência? Quantas vezes a concentração de K1 deve ser maior que a do Li1 para que ambos os íons tenham a mesma resposta?
15-40. Um tampão de íon metálico foi preparado a partir de uma solução de ML 0,030 M e uma solução de L 0,020 M, no qual ML é um complexo metal-ligante e L é o ligante livre.
Calcule a concentração de íon metálico livre, M, nesse tampão. 15-41.
Curva de calibração e propagação de incerteza para expoentes. Os dados a seguir foram obtidos quando um
eletrodo seletivo para o íon Ca2+ foi imerso em uma série de soluções-padrão cuja força iônica foi mantida constante em 2,0 M. Ca2+(M)
E(mV)
3,38 × 10–5
–74,8
3,38 × 10–4
–46,4
3,38 × 10–3
–18,7
3,38 × 10––
+10,0
3,38 × 10–1
+37,7
(a) Construa uma curva de calibração e calcule, pelo método dos mínimos quadrados, o coeficiente angular e a interseção com o eixo y e seus respectivos desvios-padrão. (b) Calcule o valor de b na Equação 15-13. 2+
(c) Para um potencial medido, a curva de calibração fornece o valor de log[Ca2+]. Podemos calcular [Ca2+] = 10log[Ca ]. Utilizando as regras para propagação de incerteza da Tabela 3-1, calcule [Ca2+] (e sua incerteza associada) de uma amostra que teve uma leitura de 222,5 (60,3) mV em quatro medidas repetidas. 15-42. O coeficiente de seletividade, KPotLi+,H+, para um eletrodo seletivo ao íon Li1 é 4 × 1024. Quando esse eletrodo é imerso em uma solução de Li1 3,44 × 1024 M, em pH 7,2, o potencial medido é 20,333 V, contra o E.C.S. Qual será o potencial se o pH diminuir para 1,1 mantendo-se a força iônica constante?
15-43.
Adição-padrão. Um determinado eletrodo seletivo composto, para CO2, semelhante ao mostrado na Figura 15-31,
tem seu funcionamento descrito pela equação E = constante – [bRT(ln 10)/2F] log[CO2], em que R é a constante dos gases, T a temperatura absoluta (303,15K), F a constante de Faraday e β = 0,933 (obtido a partir de uma curva de calibração à parte). [CO2] corresponde à concentração de todas as formas de dióxido de carbono dissolvido no valor de pH do experimento, que foi 5,0. Adições-padrão, cada uma com um volume VS contendo uma concentração-padrão cS = 0,020 0 M de NaHCO3, foram feitas a uma amostra de concentração desconhecida, cujo volume inicial era V0 = 55,0 mL. Vs(mL)
E(V)
Vs(mL)
E(V)
0
0,079 0
0,300
0,058 8
0,100
0,072 4
0,800
0,050 0
0,200
0,065 3
Construa um gráfico com a Equação 15-17 e determine o valor da [CO2] na amostra desconhecida. 15-44. Adição-padrão com intervalo de confiança. Utilizando-se um eletrodo seletivo para amônia, mediu-se amônia em água do mar. Uma alíquota de 100 mL de água do mar foi tratada com 1,00 mL de NaOH 10 M para converter NH41 em NH3. Portanto, V0 = 101,0 mL. Foi feita então uma leitura com o eletrodo. Em seguida uma série de alíquotas de 10,00 mL do padrão NH4+Cl– foram adicionadas e os resultados são vistos a seguir. Vs(mL)
E(V)
Vs(mL)
E(V)
0
–0,084 4
30,00
–0,039 4
10,00
–0,058 1
40,00
–0,034 7
20,00
–0,046 9
Dados provenientes de H. Van Ryswyk, E. W. Hall, S. J. Petesch, e A. E. Wiedeman, “Extending the Marine Microcosm Laboratory,” J. Chem. Ed. 2007, 84, 306. O padrão contém 100,0 ppm (mg/L) de nitrogênio na forma de NH41Cl–. Um experimento separado determinou que o coeficiente angular do eletrodo bRT (ln 10)/F é 0,056 6 V. (a) Prepare um gráfico de adição-padrão. Determine a concentração e o intervalo de confiança de 95% para o nitrogênio da amônia (ppm) nos 100 mL de água do mar. (b) Adição-padrão funciona melhor se as adições aumentam a concentração inicial de analito de 1,5 a 3 vezes. Este experimento cai em tal faixa? Uma crítica a este experimento é que a adição de muito padrão gera um erro devido aos padrões contribuírem em demasia para o resultado calculado e o peso introduzido na leitura da solução inicial não ser suficiente. 15-45. Os dados vistos a seguir foram obtidos do gráfico no Boxe 15-2, em que o método das soluções separadas foi usado para medir coeficientes de seletividade para um eletrodo íon-seletivo de sódio a 21,5°C. Use a Equação 15-11 para calcular log KPot para cada reta vista a seguir.
15-46. O eletrodo íon-seletivo para H+ na sonda espacial Mars Phoenix Lander tem coeficientes de seletividade KPotH+,Na+ = 10–8,6 e KPotH+,Ca2+ = 10–7,8. Seja A o íon primário a que o eletrodo é sensível e seja zA a sua carga. Suponha que X seja um íon interferente com carga zX. O erro relativo na atividade do íon primário devido ao íon interferente é53
Esta expressão é usada para erros menores do que ~10%. Se o pH é 8,0 (AH+ = 1028,0) e ANa+ = 1022,0, qual é o erro relativo na medida da AH+? Se o pH é 8,0 e ACa2+ = 1022,0, qual é o erro relativo na medida da AH+? 15-47. Um eletrodo seletivo ao íon Ca2+ foi calibrado em um tampão de íon metálico com força iônica fixada em 0,50 M. Usando as leituras do eletrodo apresentadas a seguir escreva uma equação da resposta do eletrodo para os íons Ca2+ e Mg2+. [Ca2+](M)
[Mg21](M)
mV
1,00 × 10–6
0
–52,6
2,43 × 10–4
0
+16,1
1,00 × 10–6
3,68 × 10–3
–38,0
15-48. Um tampão de íon Pb2+ usado na parte interna de um eletrodo cuja resposta é vista na curva colorida da Figura 15-29 foi preparado pela mistura de + mL de Pb(NO3)2 0,10 M e 100,0 mL de Na2EDTA 0,050 M. No valor medido de pH, 4,34, αY4– = 1,46 × 1028 (Equação 12-4). Mostre que para esse tampão [Pb2+] = 1,4 × 10212 M. 15-49. Soluções tendo um grande intervalo de concentrações de Hg2+ foram preparadas para calibrar um eletrodo seletivo ao Hg2+. Para a faixa de concentrações 1025 < [Hg2+] < 102+ M, foi usado diretamente Hg(NO3)2. A faixa 10211 < [Hg2+] , 1026 M foi coberta por um sistema-tampão HgCl2(s) + KCl(aq) (controlado pelo pKps do HgCl2 = 13,16) e a faixa 10215 , [Hg2+] , 10211 M foi obtida com o sistema HgBr2(s) + KBr(aq) (controlado pelo pKps do HgBr2 = l7,43). A curva de calibração resultante é mostrada na figura vista a seguir. Os pontos de calibração para o tampão HgCl2/KCl não se alinham com os outros dados. Sugira uma possível explicação.
Curvas de calibração de um eletrodo seletivo ao íon Hg2+. [Dados de J. A. Shatkin, H. S. Brown, e S. Licht, ”Composite Graphite Ion Selective Electrode Array Potentiometry for the Detection of Mercury and Other Relevant Ions in Aquatic Systems”, Anal. Chem. 1995, 67, 1147. 15-50. Problema de atividade. O ácido cítrico é um ácido triprótico (H3A) cujo ânion (A32) forma complexos estáveis com vários íons metálicos.
Quando um eletrodo íon-seletivo para o Ca2+ com um coeficiente angular de 29,58 mV foi imerso em uma solução tendo ACa2+ = 1,00 × 10–3, a leitura foi de 12,06 mV. Uma solução de citrato de cálcio foi preparada misturando-se volumes iguais das soluções 1 e 2, descritas a seguir: Solução 1: [Ca2+] = 1,00 × 10–3 M, pH = 8,00, μ = 0,10 M Solução 2: [Citrato]total = 1,00 × 10–3 M, pH = 8,00, μ = 0,10 M Quando o eletrodo foi imerso em uma solução de citrato de cálcio a leitura foi de 225,90 mV.
(a) Veja a discussão da Figura A-2 no Apêndice A. Calcule a atividade do Ca2+ na solução de citrato de cálcio. (b) Calcule a constante de formação, Kf, para o CaA–. Considere o tamanho do íon CaA– como 500 pm. Em pH 8,00 e μ = 0,10 M, a fração de citrato livre na forma A32 é 0,998. Sensores Químicos de Estado Sólido 15-51. Como um analito interage com um transistor de efeito de campo quimiossensível para produzir um sinal elétrico correspondente à sua atividade em solução? 15-52. Explique como o dispositivo apresentado na abertura deste capítulo mede a sequência de bases nucleotídicas no DNA. Qual a finalidade do transistor de efeito de campo quimiossensível nesse dispositivo? ______________ *Molaridade da solução saturada de KCl a 25°C ≡ 4,2 M (∼26,5% m/m).
ANÁLISE QUÍMICA DE SUPERCONDUTORES DE ALTA TEMPERATURA
Um ímã permanente levita em cima de um disco supercondutor resfriado em um recipiente de nitrogênio líquido. As titulações redox são cruciais para a determinação da composição química de um supercondutor. [Foto: Cortesia de D. Cornelius, governo norte-americano, com materiais de T. Vanderah.] Supercondutores são materiais que perdem toda a sua resistência elétrica quando resfriados abaixo de uma temperatura crítica. Antes de 1987, todos os supercondutores conhecidos necessitavam que o resfriamento fosse feito em temperaturas próximas à do hélio líquido (4 K), um processo muito caro e impraticável para a maioria das aplicações. Em 1987, um passo gigantesco foi dado quando foram descobertos os supercondutores de “alta temperatura”, materiais que conservam sua supercondutividade acima do ponto de ebulição do nitrogênio líquido (77 K). A característica mais surpreendente de um supercondutor é a levitação magnética, mostrada na gura na abertura deste capítulo. Quando um campo magnético é aplicado a um material supercondutor, uma corrente elétrica ui na superfície externa do material, de tal forma que o campo magnético aplicado é cancelado exatamente pelo campo magnético induzido no supercondutor, e o campo líquido dentro do material é zero. A corrente que ui na superfície do supercondutor repele o ímã, fazendo com que ele utue acima do supercondutor. A eliminação do campo magnético de um supercondutor é chamado de efeito Meissner. Um protótipo de supercondutor de alta temperatura é o óxido de ítrio-bário-cobre, YBa2Cu3O7, no qual dois terços do cobre estão no estado de oxidação +2 e um terço se encontra no estado pouco usual +3. O outro exemplo é o Bi2Sr2(Ca0,8Y0,2)Cu2O8,295, no qual o estado de oxidação médio do cobre é +2,105 e o estado de oxidação médio do bismuto é +3,090 (que corresponde formalmente a uma mistura de Bi3+ e Bi5+). O método mais seguro de determinarmos essas composições complexas é por meio das titulações de oxirredução, ou redox, por via úmida, que serão o assunto deste capítulo.
U
U
ma titulação redox se baseia em uma reação de oxirredução entre o analito e o titulante. Além de diversos analitos comuns em química, biologia, ciências do meio ambiente e de materiais que podem ter as suas composições determinadas por meio de titulações redox, estados de oxidação pouco comuns de elementos em materiais especiais, como supercondutores e materiais para a construção de lasers, também são facilmente caracterizados por meio de titulações redox. Por exemplo, o cromo que é adicionado a cristais de laser para aumentar sua eficiência normalmente é encontrado nos estados de oxidação +3 e +6, e também com o número de oxidação menos comum, +4. Uma titulação redox é uma boa maneira de desvendar a natureza dessa mistura complexa de íons cromo.2 O ferro e seus compostos são agentes redox ambientalmente aceitáveis. Essas substâncias vêm tendo emprego cada vez maior na remediação de águas subterrâneas contaminadas por resíduos tóxicos:1
Este capítulo apresenta a teoria das titulações redox e discute alguns de seus reagentes mais comuns. Dos oxidantes e redutores que são vistos na Tabela 16-1, somente alguns poucos podem ser usados como titulantes.3 A maioria dos agentes redutores empregados como titulantes reage com o oxigênio e, por isso, devem ser protegidos do contato com o ar.
TABELA 16-1
16-1
Agentes oxidantes e redutores
A Forma de uma Curva de Titulação Redox
Considere a titulação de ferro(II) com uma solução-padrão de cério(IV), que pode ser monitorada potenciometricamente conforme mostrado na Figura 16-1. A reação da titulação é
A reação de titulação avança para o término após cada adição de titulante. A constante de equilíbrio é K = 10nE°/0,059 16, a 25°C. Ácidos fortes evitam reações de hidrólise como Fe3+ + H2O ⇋ Fe (OH)2+ + H+.
para a qual K ≈ 1016 em HClO4 1 M. Cada mol de íon cérico oxida 1 mol de íon ferroso de forma rápida e quantitativa. A reação da titulação forma uma mistura de Ce4+, Ce3+, Fe2+ e Fe3+ no béquer na Figura 16-1. O Boxe 16-1 descreve o mecanismo provável da Reação 16-1. Os equilíbrios 16-2 e 16-3 são ambos estabelecidos no eletrodo de Pt.
No eletrodo indicador de Pt, existem duas reações que avançam para o equilíbrio:
FIGURA 16-1
BOXE 16-1
Montagem para a titulação potenciométrica de Fe2+ com Ce4+.
Muitas Reações Redox São Reações de Transferência de Átomos
A Reação 16-1 mostra que um elétron se move do Fe2+ para Ce4+, dando Fe3+ e Ce3+. Na verdade, supõe-se que essa reação e muitas outras ocorram por meio da transferência de átomos, e não de elétrons.6 Nesse caso, um átomo de hidrogênio (próton mais elétron) pode ser transferido dos íons Fe2+ aquosos para as espécies Ce4+ aquosas:
Outras reações comuns entre espécies metálicas podem se processar por meio da transferência de átomos de oxigênio ou de halogênios para efetivar a transferência de elétrons de um metal para o outro. Os potenciais citados aqui são potenciais formais que são válidos em HClO4 1 M. O eletrodo indicador de Pt responde às concentrações relativas (na verdade, atividades) dos íons Ce4+ e Ce3+ ou Fe3+ e Fe2+. Vamos calcular agora como o potencial (a diferença de potencial) da célula eletroquímica varia quando o Fe2+ é titulado com o 4+ Ce . A curva de titulação tem três regiões distintas. Região 1: Antes do Ponto de Equivalência Podemos usar tanto a Reação 16-2 quanto a Reação 16-3 para descrever a diferença de potencial da célula eletroquímica a qualquer momento. Entretanto, como conhecemos as concentrações de [Fe2+] e [Fe3+], é mais conveniente usarmos agora a Reação 16-2.
E+ é o potencial do eletrodo de Pt conectado ao terminal positivo do potenciômetro na Figura 16-1. E– refere-se ao potencial do eletrodo de calomelano conectado ao terminal negativo.
Assim que cada alíquota de Ce4+ é adicionada, a reação de titulação 16-1 consome o Ce4+ e cria um número igual de mols de Ce3+ e de Fe3+. Antes do ponto de equivalência, o excesso de Fe2+ que não reagiu permanece em solução. Portanto, podemos determinar as concentrações de Fe2+ e Fe3+ sem nenhuma dificuldade. Por outro lado, não podemos determinar a concentração de Ce4+ sem resolver um pequeno problema de equilíbrio. Como as quantidades de Fe2+ e Fe3+ são conhecidas, é conveniente calcular a diferença de potencial da célula eletroquímica utilizando a Reação 16-2 em vez da Reação 16-3.
Para a Reação 16-2, E+ = E°(Fe3+ | Fe2+) quando
.
Um ponto especial é alcançado antes do ponto de equivalência. Quando o volume de titulante é metade da quantidade necessária para se atingir o ponto de equivalência
, as concentrações de [Fe3+] e [Fe2+] são iguais. Nesse caso, o
termo logarítmico é 0 e E+ = E° para o par Fe3+|Fe2+. O ponto no qual base, no qual pH = pKa quando
é semelhante ao ponto, em uma titulação ácido-
.
A diferença de potencial da célula eletroquímica não pode ser calculada quando nenhum titulante foi adicionado, pois não sabemos a quantidade de Fe3+ presente. Se [Fe3+] = 0, a diferença de potencial calculada com a Equação 16-6 seria –∞. Na realidade, sempre existe algum Fe3+ em qualquer reagente, ou como impureza ou como produto de oxidação do Fe2+ pelo oxigênio do ar. Em qualquer caso, a diferença de potencial nunca pode ser menor que a necessária para reduzir o solvente
Região 2: No Ponto de Equivalência Neste ponto, a quantidade de Ce4+ adicionada foi exatamente suficiente para reagir com todo o Fe2+ presente. Praticamente todo o cério se encontra na forma de Ce3+ e praticamente todo o ferro se encontra na forma de Fe3+. Quantidades mínimas de Ce4+ e de Fe2+ também estão presentes no equilíbrio. A partir da estequiometria da Reação 16-1, podemos dizer que
Para compreendermos porque as Equações 16-7 e 16-8 são verdadeiras, imaginemos que todo o cério e o ferro estão sob a forma de Ce3+ e Fe3+. Como estamos no ponto de equivalência, [Ce3+] = [Fe3+]. Logo, a Reação 16-1 caminha para o equilíbrio:
Se uma pequena quantidade do Fe3+ volta para Fe2+, um número de mols igual de Ce4+ deve ser também produzido. Então [Ce4+] = [Fe2+]. Em qualquer instante, as Reações 16-2 e 16-3 estão, ambas, em equilíbrio no eletrodo de Pt. No ponto de equivalência, é conveniente usar ambas as reações para descrever a diferença de potencial da célula eletroquímica. Para essas reações, a partir da equação de Nernst, obtemos
No ponto de equivalência, usamos ambas as Reações, 16-2 e 16-3, para calcular a diferença de potencial da célula eletroquímica. Trata-se, a rigor, apenas de uma conveniência algébrica.
As Equações 16-9 e 16-10 que obtivemos constituem, cada uma delas, uma relação algébrica válida. Entretanto, nenhuma isoladamente nos permite encontrar E+, pois não sabemos exatamente quais as pequenas concentração de Fe2+ e de Ce4+ que estão presentes. É possível resolver as quatro equações (de 16-7 a 16-10) simultaneamente. Inicialmente somamos as Equações 16-9 e 16-10: log a + log b = log ab −log a − log b = −log ab
Porém, como no ponto de equivalência [Ce3+] = [Fe3+] e [Ce4+] = [Fe2+], a razão entre as concentrações no termo logarítmico é unitária. Portanto, o logaritmo é 0 e 2E+ = 2,467 V ⇒ E+ = 1,23 V A diferença de potencial da célula eletroquímica é
Nessa titulação em particular, a diferença de potencial no ponto de equivalência é independente das concentrações e dos volumes dos reagentes. Região 3: Após o Ponto de Equivalência Após o ponto de equivalência, é conveniente usarmos a Reação 16-3, pois podemos facilmente calcular as concentrações de [Ce3+] e [Ce4+]. Não é conveniente usarmos a Reação 16-2, pois não conhecemos a concentração do Fe2+ que foi “consumido”.
Agora praticamente todos os átomos de ferro estão na forma de Fe3+. O número de mols de Ce3+ é igual ao número de mols de Fe3+, e existe um excesso conhecido de Ce4+ que não reagiu. Como conhecemos [Ce3+] e também [Ce4+], é conveniente utilizar a Reação 16-3 para descrever a química no eletrodo de Pt:
No ponto especial em que V = 2Ve, [Ce3+] = [Ce4+] e E+ = E°(Ce4+ | Ce3+) = 1,70 V. Antes do ponto de equivalência, a diferença de potencial no eletrodo indicador se estabiliza próximo ao valor de E°(Fe3+ | Fe2+) = 0,77 V.7 Após o ponto de equivalência, os valores da diferença de potencial se tornam mais próximos de E ≈ E°(Ce4+ | Ce3+) = 1,70 V. No ponto de equivalência, há um rápido aumento na diferença de potencial. Caso realmente seja necessário calcular curvas de titulação redox, o modo de fazer isso é através de planilhas eletrônicas com um conjunto mais geral de equações do que usamos nesta seção.8 O material suplementar no site da LTC Editora explica como usar planilhas eletrônicas para calcular curvas de titulação redox.
EXEMPLO
Titulação Redox Potenciométrica
Suponha que desejamos titular 100,0 mL de uma solução de Fe2+ 0,050 0 M com uma solução de Ce4+ 0,100 M, usando a célula eletroquímica da Figura 16-1. O ponto de equivalência é atingido quando VCe4+ = 50,0 mL. Calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica quando 36,0, 50,0 e 63,0 mL foram adicionados. Solução Em 36,0 mL: O valor de 36,0/50,0 corresponde à fração do caminho percorrido até o ponto de equivalência. Portanto, 36,0/50,0 do ferro estão na forma de Fe3+, e 14,0/50,0 estão na forma de Fe2+. Substituindo o valor [Fe2+]/[Fe3+] = 14,0/36,0 na Equação 16-6, temos E = 0,550 V.
Em 50,0 mL: A Equação 16-11 nos diz que a diferença de potencial da célula eltroquímica no ponto de equivalência é 0,99 V, independentemente das concentrações dos reagentes para essa titulação. Em 63,0 mL: Os primeiros 50,0 mL de cério foram transformados em Ce3+. Como foram adicionados 13,0 mL de Ce4+ em excesso, teremos, na Equação 16-12, [Ce3+]/[Ce4+] = 50,0/13,0, o que corresponde a um valor de E = 1,424 V. TESTE A VOCÊ MESMO Determine a diferença de potencial E quando VCe4+ = 20,0 mL e 51,0 mL. (Resposta: 0,516 V; 1,358 V)
FIGURA 16-2 Curva teórica para a titulação de 100,0 mL de solução de Fe2+ 0,050 0 M com solução de Ce4+ 0,100 M em HClO4 1 M. Não podemos calcular o potencial para uma adição zero de titulante, mas podemos começar os cálculos com um pequeno volume, tal como VCe4+ = 0,1 mL.
A Forma das Curvas de Titulação Redox Os cálculos descritos anteriormente permitem a construção da curva de titulação na Figura 16-2, que mostra o potencial (a diferença de potencial) como uma função do volume de titulante adicionado. O ponto de equivalência é indicado por um crescimento acentuado do potencial. O valor calculado de E+ em
é o potencial formal do par Fe3+ | Fe2+, pois o quociente
[Fe2+]/[Fe3+] é unitário nesse ponto. O potencial calculado em qualquer ponto dessa titulação depende apenas da razão entre os reagentes; suas concentrações não aparecem em nenhum dos cálculos nesse exemplo. Isso nos leva a esperar, portanto, que a curva na Figura 16-2 seja independente da diluição. Devemos observar a mesma curva se ambos os reagentes forem diluídos por um fator de 10. Para a Reação 16-1, a curva de titulação na Figura 16-2 é simétrica próximo ao ponto de equivalência, pois a estequiometria da reação é 1:1. A Figura 16-3 mostra a curva calculada para a titulação do Tl+ pelo IO−3 em HCl 1,00 M.
A curva não é simétrica em torno do ponto de equivalência, pois a relação estequiométrica entre os reagentes é 2:1, e não 1:1. Além disso, a curva apresenta uma subida tão acentuada na região próxima ao ponto de equivalência que o erro é desprezível se o centro da região de subida acentuada for considerado como o ponto final. A Demonstração 16-1 nos mostra um exemplo de uma curva de titulação assimétrica, cuja forma depende também do pH do meio reacional. A variação de potencial próximo ao ponto de equivalência aumenta quando a diferença entre os E° dos dois pares redox envolvidos na titulação também aumenta. Quanto maior for a diferença em E°, maior a constante de equilíbrio para a reação de titulação. Para a Figura 16-2, as meias-reações 16-2 e 16-3 diferem de 0,93 V e existe uma grande inflexão no ponto de equivalência na curva de titulação. Na Figura 16-3, as meias-reações diferem de 0,47 V, de modo que há uma inflexão menor no ponto de equivalência.
Resultados mais nítidos são obtidos com agentes oxidantes e redutores mais fortes. A mesma regra se aplica a titulações ácidobase, nas quais titulações com ácidos fortes ou bases fortes têm inflexões mais acentuadas no ponto de equivalência.
16-2
Determinação do Ponto Final
Da mesma maneira como nas titulações ácido-base, indicadores e eletrodos são normalmente usados para a determinação do ponto final de uma titulação redox. Indicadores Redox Um indicador redox é uma substância que muda de cor quando passa de seu estado oxidado para seu estado reduzido. Por exemplo, o indicador ferroína muda de azul-pálido (quase incolor) para vermelho.
FIGURA 16-3 Curva teórica para a titulação de 100,0 mL de Tl+ 0,0100 M com IO3− 0,0100 M em HCl 1,00 M. O ponto de equivalência em 0,842 V não se situa no centro da subida acentuada da curva. Quando a estequiometria da reação não é 1:1, a curva não é simétrica.
DEMONSTRAÇÃO 16-1
Titulação Potenciométrica do Fe2+ com MnO4−
Esta reação ilustra muitos dos princípios das titulações potenciométricas.
Dissolvemos 0,60 g de Fe(NH4)2(SO4)2 · 6H2O (MF 392,13; 1,5 mmol) em 400 mL de solução de H2SO4 1 M. Titulamos a solução, bem agitada, com uma solução de KMnO4 0,02 M (Ve ≈ 15 mL), utilizando eletrodos de platina e de calomelano, com um medidor de pH como potenciômetro. Antes de começar a titulação calibramos o medidor ligando com um o os dois terminais de entrada e ajustamos o zero da escala de milivolts do medidor de pH.
Calculamos alguns pontos da curva de titulação teórica antes de realizar o experimento. Podemos então comparar o resultado teórico com o experimental. É importante observar a coincidência dos pontos nais potenciométrico e visual. Questão O permanganato de potássio é púrpura, e todas as outras espécies nessa titulação são incolores (ou muito pouco coloridas). Que mudança de cor é esperada no ponto de equivalência? Para calcularmos os pontos na curva de titulação teórica, usamos as seguintes meias-reações:
Antes do ponto de equivalência, os cálculos são semelhantes aos da Seção 16-1 para a titulação do Fe2+ pelo Ce4+, só que usando E° = 0,68 V. Após o ponto de equivalência, podemos encontrar o potencial usando a Reação C. Por exemplo, suponha que estamos titulando 0,400 L de uma solução de Fe2+ 3,75 mM com uma solução de KMnO4 0,0200 M. Pela estequiometria da Reação A, o ponto de equivalência é Ve = 15,0 mL. Quando adicionamos 17,0 mL de KMnO4, as concentrações das espécies na Reação C são [Mn2+] = 0,719 mM, [MnO4−] = 0,095 9 mM e [H+] = 0,959 M (desprezando a pequena quantidade de H+ consumida na titulação). O potencial da célula eletroquímica é
Para calcularmos o potencial no ponto de equivalência, somamos as equações de Nernst para as Reações B e C, como zemos na Seção 16-1 para as reações do cério e do ferro. Entretanto, antes de fazermos isso, multiplicamos a equação do permanganato por 5, o que permite somarmos os termos logarítmicos:
Podemos agora somar as duas equações, obtendo
Entretanto, a estequiométrica da reação de titulação A nos diz que no ponto de equivalência [Fe3+] = 5[Mn2+] e [Fe2+] = 5[MnO4−]. Substituindo esses valores na Equação D temos
Substituindo a concentração de [H+], que é (400/415)(1,00 M) = 0,964 M, encontramos
O potencial previsto em Ve é E = E+ – E(calomelano) = 1,368 – 0,241 = 1,127 V. Para fazermos a previsão da faixa de potencial em que a cor do indicador mudará, escrevemos a equação de Nernst para o indicador.
Assim como em indicadores ácido-base, a cor do In(reduzido) será observada quando
e a cor do In(oxidado) será observada quando
Substituindo essas razões na Equação 16-14, verificamos que a mudança de cor ocorrerá na faixa
Um indicador redox muda de cor em uma faixa de ±(59/n) mV, cujo centro se localiza no valor de E° para o indicador. n é o número de elétrons na meia-reação do indicador.
Para a ferroína, com E° = 1,147 V (Tabela 16-2), esperamos que a mudança de cor ocorra na faixa aproximada de 1,088 V a 1,206 V em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio. Se no lugar desse eletrodo-padrão for usado como referência um eletrodo de calomelano saturado, a faixa de transição do indicador será Veja a Figura 15-6 para uma melhor compreensão da Equação 16-15. A faixa de viragem (de mudança de cor) de um indicador deve se sobrepor à região de subida acentuada da curva de titulação.
A ferroína seria, portanto, um indicador útil para as titulações das Figuras 16-2 e 16-3. Quanto maior for a diferença entre os valores do potencial-padrão do titulante e o potencial-padrão do analito, maior será a inflexão no ponto de equivalência de uma curva de titulação. Normalmente, é possível realizar uma titulação redox se a diferença entre o analito e o titulante for ≳0,2 V. Entretanto, o ponto final das titulações redox não costuma ser muito acentuado, sendo bem mais facilmente detectado potenciometricamente. Se a diferença nos potenciais formais é ≳0,4 V, então um indicador redox geralmente apresenta um ponto final satisfatório. Grá co de Gran Com a montagem mostrada na Figura 16-1, podemos medir um potencial de eletrodo, E, contra o volume de titulante, durante uma titulação redox. O ponto final é o valor máximo da derivada primeira da curva de titulação, ΔE/ΔV, ou o cruzamento de zero da derivada segunda, Δ(ΔE/ΔV)/ΔV (Figura 11-5). Um método mais exato para usar os dados potenciométricos é construir um gráfico de Gran9,10 como fizemos para as titulações ácido-base na Seção 11-5. O gráfico de Gran permite localizar Ve a partir de dados obtidos bem antes do ponto de equivalência. Os dados potenciométricos obtidos próximo a Ve são menos exatos, pois os eletrodos demoram muito tempo para atingir o equilíbrio com as espécies em solução quando um dos reagentes redox foi praticamente consumido. Para a oxidação do Fe2+ a Fe3+, o potencial antes de Ve é dado por
A constante 0,059 16 V e (RT ln 10)/nF, na qual R e a constante dos gases, T é 298,15 K, F é a constante de Faraday e n é o nümero de eletrons na meia-reaçĕo Fe3+ | Fe2+ (n = 1). O valor da constante 0,059 16 V mudará se a temperatura for diferente de 298,15 K ou n ≠ 1.
em que E°’ é o potencial formal para Fe3+|Fe2+ e Eref é o potencial do eletrodo de referência (que chamamos de E–). Se o volume do analito é V0 e o do titulante é V, e se a reação a cada adição de titulante é “completa”, temos que [Fe2+]/[Fe3+] = (Ve – V)/V. Substituindo essa expressão na Equação 16-16 e separando os coeficientes, chegaremos à equação de uma reta na forma y = mx + b:
em que n é o número de elétrons na meia-reação no eletrodo indicador. O gráfico de V · 10−nE/0,059 16 contra V é uma reta em que a interseção com o eixo x ocorre no valor de Ve (Figura 16-4). Se a força iônica durante a reação é mantida constante, os coeficientes de atividade também são constantes, e a Equação 16-7 dá uma reta para uma faixa bem ampla de volume de titulante adicionado. Se a força iônica varia quando o titulante é adicionado, usamos somente os últimos 10-20% dos dados obtidos antes de Ve.
FIGURA 16-4 Gráfico de Gran para a titulação de Fe3+ por Ce4+ no Exercício 16-D.9 A reta foi ajustada pelos quatro pontos marcados com círculos. Para a função correspondente à ordenada do gráfico, n = 1. Para facilitar a marcação, os valores das ordenadas foram multiplicados por 1010. Essa multiplicação não altera a interseção com o eixo das abcissas (V).
TABELA 16-2
Indicadores redox
Cor
Indicador
Forma oxidada
Forma reduzida
E°
Fenossafranina
Vermelho
Incolor
0,28
Índigo tetrassulfonato
Azul
Incolor
0,36
Azul de metileno
Azul
Incolor
0,53
Difenilamina
Violeta
Incolor
0,75
4’-Etóxi-2,4-diaminoazobenzeno
Amarelo
Vermelho
0,76
Ácido difenilaminossulfônico
Vermelho-violeta
Incolor
0,85
Ácido difenilbenzidinossulfônico
Violeta
Incolor
0,87
Tris(2,2’-bipiridina)ferro
Azul-pálido
Vermelho
0,120
Tris(1,10-fenantrolina)ferro (ferroína)
Azul-pálido
Vermelho
1,147
Tris(5-nitro-1,10-fenantrolina)ferro
Azul-pálido
Vermelho-violeta
1,25
Tris(2,2’-bipiridina)rutênio
Azul-pálido
Amarelo
1,29
FIGURA 16-5 (a) Estrutura da unidade monomérica da amilose. (b) Estrutura esquemática do complexo goma de amido-iodo. A cadeia da amilose forma uma hélice em torno das unidades I6. [informação de A.T. Calabrese e A. Khan, “Amylose-Iodine Complex Formation with KI: Evidence for Absence of Iodide Ions Within the Complex”, J. Polymer Sci., 1999, A37, 2711.] (c) Vista ao longo da hélice do amido, mostrando o iodo dentro da estrutura helicoidal.11 [Dados de R. D. Hancock, Power Engineering, Salt Lake City.]
O Complexo Goma de Amido-Iodo Muitos procedimentos analíticos são baseados nas titulações redox envolvendo iodo. A goma de amido11 é o melhor indicador que pode ser escolhido para essas titulações, pois forma um complexo de cor azul intensa com o iodo. A goma de amido não é um indicador redox, pois responde especificamente à presença de I2, e não a uma variação do potencial redox. A porção ativa da goma de amido é a amilose, um polímero do açúcar α-D-glicose, cuja unidade monomérica é vista na Figura 16-5. A estrutura do amido é um polímero helicoidal e pequenas moléculas podem se acomodar no seu centro. Na presença de goma de amido, as moléculas de iodo formam cadeias de I6 dentro da hélice da amilose produzindo a cor azul intensa. I··I··I··I··I··I A goma de amido é facilmente biodegradável, devendo ser recentemente preparada ou sua solução deve conter um preservativo, como o HgI2(~1 mg/100 mL de solução) ou o timol. O produto de hidrólise da goma de amido é a glicose, um agente redutor. Por isso uma solução de goma de amido, parcialmente hidrolisada, pode ser uma fonte de erro em uma titulação redox.
16-3
Ajuste do Estado de Oxidação do Analito
Às vezes, antes de uma titulação, temos que fazer um ajuste do estado de oxidação de um analito. Por exemplo, o íon Mn2+ pode ser previamente oxidado a MnO4− e então titulado com um padrão de Fe2+. Esse ajuste prévio do estado de oxidação tem de ser quantitativo e precisamos eliminar o excesso do reagente usado nesse ajuste prévio, de modo que ele não interfira com a titulação subsequente. Pré-oxidação Vários oxidantes poderosos podem ser facilmente removidos depois da pré-oxidação. O peroxidissulfato (S2O82−, também chamado de persulfato) é um oxidante forte que necessita da presença do íon Ag+ como um catalisador.
O excesso desse reagente é destruído pela ebulição da solução depois que a oxidação do analito está completa.
A mistura de S2O82− e de Ag+ é capaz de oxidar o Mn2+ a MnO4−, o Ce3+ a Ce4+, o Cr3+ a Cr2O72− e o VO2+ a VO2+. O óxido de prata (I,III) (AgIAgIIIO2, normalmente escrito como AgO), dissolvido em ácidos minerais concentrados, apresenta um poder oxidante semelhante à combinação de S2O82− e Ag+. O excesso de Ag3+ pode ser também removido por ebulição:
O bismutato de sódio sólido (NaBiO3) tem um poder oxidante comparável ao da combinação Ag+ + S2O82−. O excesso desse oxidante sólido é removido por filtração. O peróxido de hidrogênio é um bom oxidante em solução alcalina. Ele pode transformar o Co2+ em Co3+, o Fe2+ em Fe3+, e o Mn2+ em MnO2. Em solução ácida, ele pode reduzir o Cr2O72− a Cr3+ e o MnO4− a Mn2+. O excesso de H2O2 se desproporciona espontaneamente em água fervente.
Em uma reação de desproporcionamento, um reagente é convertido em produtos em estados de oxidação mais alto e mais baixo. O composto (o reagente) se oxida e se reduz a si mesmo.
A decomposição lenta do peróxido de hidrogênio à temperatura ambiente limita o prazo de validade do H2O2, usado como antisséptico para limpar ferimentos. Redução prévia O cloreto estanoso (SnCl2) reduz o Fe3+ a Fe2+ em HCl a quente. O excesso do redutor é destruído pela adição de um excesso de HgCl2: Sn2+ + 2HgCl2 → Sn4+ + Hg2Cl2 + 2Cl− O Fe2+ obtido é então titulado com um oxidante. O cloreto cromoso é um poderoso redutor às vezes utilizado para pré-reduzir um analito a um estado de oxidação mais baixo. O excesso de Cr2+ é oxidado pelo oxigênio atmosférico. O dióxido de enxofre e o sulfeto de hidrogênio são agentes redutores moderados, que podem ser removidos fervendo-se uma solução ácida depois que a redução é completa. Uma importante técnica de redução prévia utiliza uma coluna empacotada com um agente redutor sólido. A Figura 16-6 mostra o redutor de Jones, que contém zinco metálico recoberto com zinco amalgamado. Um amálgama é uma solução de qualquer coisa em mercúrio. O amálgama do redutor de Jones é preparado misturando-se, por 10 min, zinco granulado com uma solução aquosa de HgCl2 a 2% m/m, seguida de uma lavagem do produto com água. Podemos reduzir o Fe3+ a Fe2+ pela passagem por meio de uma coluna do redutor de Jones, usando H2SO4 M como solvente. A coluna deve ser bem lavada com água e as águas de lavagem devem ser combinadas com a solução que contém a amostra. A mistura obtida é então titulada com uma solução-padrão de MnO4−, Ce4+ ou Cr2O72−. É necessário fazer uma determinação em branco, com uma solução contendo apenas a matriz, que passou pelo redutor da mesma maneira que a amostra desconhecida.
FIGURA 16-6 redutor.
Uma coluna preenchida com um reagente sólido usado para a redução prévia de analitos é conhecida como
A maioria dos analitos que foram reduzidos é reoxidada pela ação do oxigênio do ar. Para evitarmos essa oxidação, o analito reduzido pode ser coletado em uma solução ácida de Fe3+. O íon férrico é reduzido a Fe2+, que é estável em meio ácido. O Fe2+ é titulado então com um oxidante. Dessa maneira, elementos como Cr, Ti, V e Mo podem ser analisados indiretamente. O zinco é um agente redutor enérgico, com E° = –0,764 para a reação Zn2+ + 2e− ⇋ Zn(s), de modo que o redutor de Jones não é muito seletivo. O redutor de Walden, um recheio contendo Ag sólida e HCl 1 M, é mais seletivo. O potencial de redução para a meia-célula Ag | AgCl (0,222 V) é suficientemente alto para evitar que espécies como os íons Cr3+ e TiO2+ não sejam reduzidas e, portanto, não causem interferência na análise de um íon como o Fe3+. O mercúrio presente no redutor de Jones ou em qualquer outro produz um resíduo tóxico e perigoso, de sorte que o seu emprego deve ser minimizado, ou então métodos alternativos devem ser utilizados. Os parágrafos seguintes mostram como um método alternativo à redução com cádmio, tóxico, foi desenvolvido. As portarias ambientais nos EUA estabelecem um máximo de 10 ppm de NO3− na água potável. O Cd metálico foi o agente redutor mais frequentemente usado na determinação de NO3− em água. A passagem do nitrato por uma coluna empacotada com cádmio, reduz o NO3− a NO2− e este pode ser convenientemente analisado por espectrofotometria. Entretanto, o Cd é tóxico e produz um resíduo perigoso ao meio ambiente. Portanto, um teste de campo comercial para NO3− foi desenvolvido com o agente redutor biológico β–nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH) no lugar do Cd. A enzima nitrato redutase contida em levedura geneticamente modificada catalisa a redução:
O excesso de NADH é então oxidado a NAD+ para eliminar a interferência com o desenvolvimento da cor quando o NO2− é determinado por uma reação química que forma um produto colorido. A intensidade da cor é medida no campo na faixa 0,05-10 ppm de nitrogênio como nitrato por meio de um espectrofotômetro movido a bateria. Uma adaptação para sala de aula do teste de campo determina o NO3− em um aquário.13
16-4
Oxidação com o Permanganato de Potássio
O permanganato de potássio (KMnO4) é um oxidante forte de cor violeta intensa. Em soluções fortemente ácidas (pH ≲ 1), ele é reduzido a Mn2+ incolor.
Em solução alcalina ou neutra, o produto de redução é um sólido marrom, o MnO2.
Em solução fortemente alcalina (NaOH 2 M) forma-se o íon manganato de cor verde.
O KMnO4 se comporta como seu próprio indicador em solução ácida.
Na Tabela 16-3, podemos ver algumas titulações importantes que usam permanganato como titulante. Para titulações em solução fortemente ácida, o KMnO4 serve como seu próprio indicador, pois o produto Mn2+ é incolor (veja a Prancha 9 do Encarte em Cores). O ponto final é considerado a primeira aparição persistente da cor rosa-pálida do MnO4−. Se o titulante estiver muito diluído, podemos utilizar um indicador como a ferroína.
TABELA 16-3 Espécies analisadas
Aplicações analíticas das titulações com permanganato Reação de oxidação
Observações O Fe3+ é reduzido a Fe2+ com Sn2+ ou com um redutor de Jones. A titulação é feita em H2SO4 1 M ou em HCl 1 M, contendo Mn2+, H3PO4 e H2SO4. O Mn2+ inibe a oxidação do Cl– pelo MnO4. O H3PO4 complexa o Fe3+ para evitar a formação dos complexos cloreto-Fe3+ amarelos. Adicionamos 95% do titulante a 25°C, e então terminamos a titulação a 55°–60°C. Titulamos em H2SO4 2 M, fervente, para remover o Br2(g). Titulamos em H2SO4 1 M.
Adicionamos excesso de KMnO4 padrão e, após 15 minutos a 40°C, titulamos por retorno com Fe2+.
Titulamos em HCl 1 M, com KI ou ICl como catalisador. Titulamos em HCl 2 M. Reduzimos o Mo com um redutor de Jones, e reagimos o Mo3+ formado com excesso de Fe3+ em H2SO4 1 M. Titulamos o Fe2+ produzido. Reduzimos o W com Pb(Hg), a 50°C, e titulamos com HCl 1 M. Reduzimos o U a U3+ com um redutor de Jones. Expomos ao ar para formar o U4+, que é então titulado em H2SO4 1 M. Reduzimos o Ti a Ti3+ com um redutor de Jones, e reagimos o Ti3+ obtido com excesso de Fe3+ em H2SO4 1 M. Titulamos o Fe2+ que se forma. Precipitamos o oxalato do metal. Ele é dissolvido em ácido e titulamos o H2C2O4. O peroxidissulfato é adicionado a um excesso de Fe2+ padrão contendo H3PO4. O Fe2+ que não reagiu é titulado com MnO4–. (NH4)3PO4 · 12MoO3 é precipitado e dissolvido em H2SO4. O Mo(VI) é reduzido (como foi explicado acima) e titulado.
Preparação e Padronização O KMnO4 não é um padrão primário.
O permanganato de potássio não é um padrão primário, pois traços de MnO2 estão invariavelmente presentes. Além disso, a água destilada geralmente contém quantidades suficientes de impurezas orgânicas para reduzir algum MnO4− recentemente dissolvido a MnO2. Para prepararmos uma solução estoque 0,02 M, dissolvemos o KMnO4 em água destilada e aquecemos à ebulição por uma hora para acelerar a reação entre o MnO4− e as impurezas orgânicas. Filtra-se a mistura resultante, em um filtro de vidro sinterizado limpo, para remover o MnO2 que precipitou. Não se deve utilizar para a filtração papel de filtro (matéria orgânica!). O reagente é guardado em um frasco de vidro escuro. O KMnO4 aquoso é instável em virtude da reação 4MnO4− + 2H2O → 4MnO2(s) + 3O2 + 4OH− que é lenta na ausência de MnO2, Mn2+, calor, luz, ácidos e bases. Para trabalhos mais precisos, o permanganato deve ser padronizado frequentemente. Prepare e padronize soluções que tenham sido recentemente diluídas a partir da solução estoque 0,02 M, utilizando água destilada a partir de uma solução de KMnO4 alcalina. O permanganato de potássio pode ser padronizado pela titulação com oxalato de sódio (Na2C2O4), conforme Reação 7-1, ou com um fio de ferro eletroliticamente puro. Dissolva oxalato de sódio seco (disponível em forma de pureza 99,9-99,95%) previamente seco (105°C, 2 h) em solução de H2SO4 1 M e trate a solução, à temperatura ambiente, com 90-95% da solução de KMnO4 necessária para atingir o ponto final da titulação. Aqueça então a solução a 55-60°C e termine a titulação com uma
adição lenta de KMnO4. Um valor, correspondente a uma titulação em branco, é subtraído para calcular a quantidade de titulante (em geral, uma gota) necessária para dar à solução uma tonalidade rósea. Se um fio de Fe puro for utilizado como um padrão, ele é dissolvido a quente, em atmosfera de nitrogênio, em uma solução de H2SO4 1,5 M. O produto formado é o Fe2+, e a solução resfriada pode ser utilizada para padronizar o KMnO4 (ou outros oxidantes) sem nenhum cuidado especial. A adição de 5 mL de ácido fosfórico a 86% pp por 100 mL de solução mascara a cor amarela do Fe3+ e torna o ponto final mais fácil de ser observado. O sulfato ferroso amoniacal, Fe(NH4)2(SO4)2 · 6H2O, e o sulfato etilenodiamino ferroso, Fe(H3NCH2CH2NH3)(SO4)2 · 2H2O, são suficientemente puros para serem utilizados como padrão na maioria dos casos.
16-5
Oxidação com Ce4+
A redução do Ce4+ a Ce3+ se passa de maneira completa em soluções ácidas. O íon aquoso, Ce(H2O)n4+, provavelmente não existe em nenhuma dessas soluções, pois o íon cério(IV) se liga fortemente a ânions (ClO4−, SO42−, NO3−, Cl−). A variação do potencial formal do par Ce4+ | Ce3+ com o meio é um indicativo dessas interações:
A variação do potencial formal indica que existem diferentes espécies de cério presentes em cada uma das soluções.
O Ce4+ é amarelo e o Ce3+ é incolor. Porém, essa mudança de cor não é suficientemente visível para que o cério seja o seu próprio indicador. A ferroína e outros indicadores redox do tipo fenantrolinas substituídas (Tabela 16-2) são mais apropriados para as titulações com o Ce4+. O Ce4+ pode ser usado no lugar de KMnO4, na maioria dos procedimentos. Na reação oscilante da Demonstração 15-1, o Ce4+ oxida o ácido malônico a CO2 e ácido fórmico:
Esta reação pode ser usada para uma análise quantitativa do ácido malônico aquecendo-se uma amostra em HClO4 4 M com excesso de Ce4+ padrão, e titulando-se por retorno o Ce4+ que não reagiu com Fe2+. Procedimentos semelhantes são encontrados na literatura para muitos álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos. Preparação e Padronização O padrão primário hexanitratocerato(IV) de amônio, (NH4)2Ce(NO3)6, pode ser dissolvido em H2SO4 1 M e utilizado diretamente. Embora o poder oxidante do Ce4+ seja maior em HClO4 ou em HNO3, essas soluções sofrem uma decomposição fotoquímica lenta, ao mesmo tempo em que a água é oxidada. O Ce4+ em H2SO4 é indefinidamente estável, apesar do fato de o potencial de redução de 1,44 V ser suficientemente grande para oxidar H2O a O2. A reação com a água é muito lenta, ainda que seja termodinamicamente favorável. As soluções em HCl são instáveis porque o Cl− é rapidamente oxidado a Cl2 quando a solução está quente. As soluções de Ce4+ em ácido sulfúrico podem ser utilizadas para as titulações de amostras desconhecidas em HCl, pois a reação com o analito é rápida, enquanto a reação com o Cl− é lenta. Sais com custo menor, incluindo o Ce(HSO4)4, o (NH4)4Ce(SO4)4 · 2H2O e o CeO2 · xH2O (também conhecido como Ce(OH)4), são adequados para a preparação de titulantes que são padronizados com Na2C2O4 ou Fe, conforme descrito para o MnO4−.
16-6
Oxidação com Dicromato de Potássio
Os rejeitos contendo Cr(VI) são cancerígenos e não devem ser jogados diretamente na pia. Veja o Boxe 2-1 para o método de descarte.
Em solução ácida, o íon dicromato, de cor laranja, é um oxidante forte, que é reduzido ao íon Cr3+:
Em HCl 1 M, o potencial formal é 1,00 V e em H2SO4 2 M é 1,11 V. Portanto, o dicromato é um agente oxidante menos forte que o MnO4− ou o Ce4+. Em solução básica, o Cr2O72− é convertido ao íon cromato (Cr2O42), amarelo, que não apresenta poder oxidante:
O dicromato de potássio, K2Cr2O7, é um padrão primário de baixo custo e as suas soluções são estáveis. Como o Cr2O72− é laranja e os complexos de Cr3+ se situam na faixa entre o verde e o violeta, temos que recorrer a indicadores com mudanças de cor bem marcantes, como o ácido difenilaminosulfônico ou o ácido difenilbenzidinossulfônico, para determinar o ponto final das titulações com dicromato. As reações também podem ser monitoradas por meio de eletrodos de Pt e de calomelano. O K2Cr2O7 não é um oxidante tão forte quanto o KMnO4 ou o Ce4+. Ele é usado principalmente para a determinação de Fe2+ e, indiretamente, para determinar diferentes espécies capazes de oxidar o Fe2+ a Fe3+. Em análises indiretas, o analito é tratado com um excesso conhecido de Fe2+. A seguir, o Fe2+ que não reagiu é titulado com K2Cr2O7. Por exemplo, ClO3−, NO3−, MnO4− e peróxidos orgânicos podem ser analisados dessa maneira. O Boxe 16-2 descreve o uso de dicromato em análises para verificar a poluição de águas.
16-7
Métodos Envolvendo Iodo
Quando um analito, com comportamento redutor, é titulado diretamente com o iodo (para produzir I−), o método é conhecido como iodimetria. Na iodometria, um analito oxidante é adicionado a um excesso de I− para produzir iodo, que é então titulado com uma solução-padrão de tiossulfato. Iodimetria: titulação com o iodo Iodometria: titulação do iodo produzido por uma reação química.
O iodo elementar é pouco solúvel em água (1,3 × 10−3 M, a 20°C), mas sua solubilidade aumenta pela complexação com o íon iodeto.
Uma solução aquosa preparada a partir de I2 1,5 mM e KI 1,5 mM contém23
Uma solução de I3− 0,05 M, típica para uso em titulações, é preparada pela dissolução de 0,12 mol de KI e 0,05 mol de I2 em 1 L de água. Quando nos referimos ao uso do iodo como titulante, queremos dizer, de maneira genérica, que estamos usando uma solução de I2 mais um excesso de I−. O Uso da Goma de Amido como Indicador Como descrito na Seção 16-5, a goma de amido é usada como indicador para o iodo. Em uma solução sem outra espécie colorida, é possível identificar a cor do I3− em uma concentração de ~5 μM de I3−. Com a adição de goma de amido, o limite de detecção é ampliado de mais ou menos 10 vezes. Uma alternativa ao uso da goma de amido é a adição, ao frasco de titulação, de uns poucos mililitros de p-xileno. Em seguida, agitase a mistura vigorosamente. Após cada adição de titulante, próximo do ponto final, devemos interromper a agitação por um tempo suficiente para podermos examinar a cor da fase orgânica. O I2 é 400 vezes mais solúvel em p-xileno do que em água, e sua cor, na fase orgânica, é facilmente visualizada.24
Em iodimetria (titulação com o I3−), podemos adicionar a goma de amido no início da titulação. A primeira gota de excesso de após o ponto de equivalência, faz a cor da solução mudar para azul-escuro.
I3−,
Em iodometria (titulação do I3−), o I3− está presente em toda a reação até o ponto de equivalência. A goma de amido não deve ser adicionada à reação até imediatamente antes do ponto de equivalência (que se observa visualmente, pelo desvanecimento
gradual do I3− [Prancha 11, Encarte em Cores]). Se não usarmos esse procedimento, algum iodo sempre tende a ficar retido nas partículas de goma de amido após atingirmos o ponto de equivalência. A complexação do iodo pelo amido é dependente da temperatura. A 50°C, a cor é somente um décimo da intensidade a 25°C. Se for necessária uma sensibilidade máxima, recomenda-se que o frasco de titulação seja resfriado em água gelada.25 A presença de solventes orgânicos diminui a afinidade do iodo pela goma de amido, reduzindo significativamente a utilidade do indicador. Preparação e Padronização de Soluções de Há uma razoável pressão de vapor de I2, que é tóxico, acima do I2 sólido e do I3− aquoso. Todos os frascos contendo I2 ou I3− devem ser bem fechados e mantidos dentro da capela. Soluções contendo rejeitos de I3− não devem ser descartadas na pia do laboratório.
O tri-iodeto (I3−) é preparado dissolvendo-se o I2 sólido em excesso de KI. O I2 sublimado é suficientemente puro para ser usado como um padrão primário, mas é raramente usado para essa finalidade, pois evapora facilmente durante a pesagem. Em virtude disso, pesamos rapidamente uma quantidade aproximada de I2 e a solução de I3− é padronizada com uma amostra pura do analito com concentração conhecida, ou com Na2S2O3. Soluções ácidas de I3− são instáveis, pois o excesso de I− é lentamente oxidado pelo ar: 6I− + O2 + 4H+ → 2I3− + 2H2O HOI: ácido hipoiodoso IO3−: iodato
Em soluções neutras, a oxidação é desprezível na ausência de calor, luz e íons metálicos. Em pH ≳ 11, o tri-iodeto desproporciona em ácido hipoiodoso, iodato e iodeto.
BOXE 16-2
Análise de Carbono Presente no Meio Ambiente e da Demanda de Oxigênio
A água potável e os e uentes residuais industriais são em parte caracterizados e controlados por meio de seus teores de carbono e pela demanda de oxigênio.14 O teor de carbono inorgânico (CI) é de nido pela quantidade de CO2(g) liberado quando uma amostra de água é acidulada a pH < 2, com H3PO4, e purgada com Ar ou N2. O CI corresponde à presença de CO32− e HCO3− na amostra. Após a remoção do carbono inorgânico pelo ácido, o carbono orgânico total (COT) é igual ao CO2 produzido pela oxidação total da matéria orgânica presente na água:
O carbono total (CT) é de nido como a soma TC = COT + CI. Instrumentos usando técnicas de oxidação diferentes produzem valores diferentes de COT, pois nem toda a matéria orgânica é oxidada por cada uma das técnicas. O “estado da arte” é tal que o COT é realmente de nido pelo resultado obtido por um determinado tipo de instrumento. Instrumentos comerciais que medem o COT por oxidação térmica têm limites de detecção na faixa de 4-50 ppb (4-50 μg de C/L). Uma amostra típica de 20 μL de água é analisada em 3 minutos, usando-se a absorção na região do infravermelho para determinar a quantidade de CO2. Outros instrumentos oxidam a matéria orgânica irradiando, com luz ultravioleta, uma suspensão do catalisador sólido de TiO2 (0,2 g/L) em água, em um pH 3,5.15 A luz cria no TiO2 pares elétron-lacuna (Seção 15-8). As lacunas oxidam H2O a radical hidroxila (HO·), um oxidante enérgico que converte o carbono orgânico em CO2, que é medido pela condutividade elétrica do ácido carbônico. (O TiO2 puro praticamente não absorve radiação na região do visível, razão pela qual a luz solar não é e ciente. Ao dopar o TiO2 com ∼1% em massa de carbono, a e ciência da radiação na região do visível é notavelmente aumentada.16) A Prancha 10, no Encarte em Cores, mostra um instrumento em que K2S2O8 (persulfato de potássio) em meio ácido é exposto à radiação ultravioleta para produzir o radical sulfato (SO42−), que oxida a matéria orgânica a CO2. Outros instrumentos produzem radicais sulfato simplesmente aquecendo uma solução de K2S2O8 a 100ºC.
A radiação ultravioleta absorvida pelo TiO2 cria um par elétron-lacuna. A lacuna promove a oxidação da H2O formando o radical OH?, que é um oxidante enérgico. O elétron reduz o O2 dissolvido a H2O, por meio de uma sequência de reações. O TiO2 é um catalisador e o O2 é consumido na reação: C orgânico 1 O2 → CO2. O COT é largamente utilizado para determinar a obediência aos limites de expressos em legislações para e uentes. Águas residuais urbanas e industriais têm, tipicamente, um COT > 1 mg de C/mL. A água de abastecimento apresenta 50-500 ng de C/mL. A água de alta pureza para a indústria eletrônica tem um COT < 1 ng de C/mL. A demanda total de oxigênio (DTO) nos indica qual a quantidade de O2 necessária para a combustão completa dos poluentes presentes em um e uente residual.18 Um volume de N2 contendo uma quantidade conhecida de O2 é misturado com a amostra e é feita a combustão completa por passagem em um catalisador a 900°C. O O2 que não reagiu é medido por um sensor eletrônico. Espécies diferentes presentes no e uente consomem quantidades diferentes de O2. Por exemplo, a ureia consome cinco vezes mais O2 que o ácido fórmico. Espécies como NH3 e H2S também contribuem para a DTO. Os poluentes podem ser oxidados por re uxo com dicromato (Cr2O72−). A demanda química de oxigênio (DQO) é de nida como o O2 que é quimicamente equivalente ao Cr2O72− consumido nesse processo. Cada Cr2O72− recebe 6e− (para formar 2Cr3+), e cada molécula de O2 recebe 4e− (para formar duas moléculas de H2O). Portanto, para esse cálculo, 1 mol de Cr2O72− é quimicamente equivalente a 1,5 mol de O2. A análise de DQO é feita por meio do re uxo da amostra de água poluída, por 2 h, com um excesso de solução-padrão de Cr2O72− em solução de H2SO4, contendo Ag+ como catalisador. O Cr2O72− que não reagiu é determinado pela titulação com solução padrão de Fe2+ ou por espectrofotometria. Diversas autorizações para o funcionamento de atividades industriais podem incluir limites de DQO em seus e uentes. As especi cações europeias de nem o parâmetro “capacidade de oxidação”, análogo à DQO. As medidas de capacidade de oxidação são feitas pelo re uxo da amostra, por 10 min, com permanganato em meio ácido, a 100°C. Cada íon MnO4− recebe cinco elétrons e é quimicamente equivalente a 1,25 mol de O2. Os métodos eletroquímicos baseados na foto-oxidação com TiO2 podem substituir o tedioso re uxo com Cr2O72− ou MnO4−. O Problema 17-24 descreve uma metodologia testada. A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é de nida como o O2 necessário para a degradação bioquímica de matéria orgânica por meio de microrganismos. 19,20 Uma água natural limpa pode ter uma DBO de 2-3 mg O2/L. Uma água poluída pode apresentar 10-30 mg O2/L e uma amostra de esgoto pode ter uma DBO acima de 1.000 mg O2/L. O ensaio é feito incubando-se, em um recipiente fechado, sem espaços ocupados pelo ar, uma certa quantidade da amostra de e uente por 5 dias, a 20°C, no escuro, enquanto os microrganismos metabolizam os compostos orgânicos presentes no rejeito. O teor de O2 dissolvido na solução é medido antes e depois da incubação por meio de um eletrodo de Clark (Boxe 17-2). A diferença é a DBO.17 A DBO também mede espécies como HS− e Fe2+ que podem estar presentes na água. Inibidores são adicionados para prevenir a oxidação de espécies de nitrogênio como a NH3. Existe um grande interesse em desenvolver uma análise rápida que forneça uma informação equivalente à DBO. Por exemplo, esse objetivo pode ser atingido substituindo o O2 por ferricianeto (Fe[(CN)6]3−) como receptor de elétrons na degradação bacteriana de matéria orgânica. O íon ferricianeto requer apenas 3 h e os resultados são comparáveis àqueles do procedimento-padrão de 5 dias.21 O nitrogênio ligado inclui todos os compostos nitrogenados, exceto N2, dissolvidos em água. A análise de nitrogênio pelo método de Kjeldahl, descrito na Seção 11-8, é excelente para aminas e amidas, mas falha com muitas outras formas de nitrogênio. Um analisador por combustão automatizado converte quase todas as formas de nitrogênio em soluções aquosas em NO, que é determinado por quimiluminescência após reação com ozônio:22
Azida (N3−) e hidrazinas (RNHNH2) não são quantitativamente convertidas em NO por combustão. As medidas de nitrogênio ligado são exigidas para veri cação do cumprimento das legislações acerca da descarga de e uentes.
Uma ideia “ecologicamente correta”: Durante a fabricação do plástico poli(cloreto de vinila) (PVC), podemos adicionar TiO2 de modo que o plástico venha a ser passível de decomposição pela luz solar.17 O PVC comum, ao ser descartado, demora muitos anos para se degradar em aterros sanitários. O PVC misturado com TiO2 degrada-se bem mais rapidamente. [Cortesia de H. Hidaka e S. Horikoshi, Universidade Meisei, Tóquio, Japão.]
Uma excelente maneira de prepararmos uma solução-padrão de I3−, é adicionarmos uma quantidade previamente pesada de iodato de potássio a um pequeno excesso de KI.26 A seguir, adicionamos um ácido forte em excesso (alcançando pH ≈ 1) para produzir I3− por meio de uma reação de desproporcionamento inversa quantitativa:
Uma solução recentemente acidificada de iodato mais iodeto pode ser utilizada para padronizar soluções de tiossulfato. O I3− deve ser usado imediatamente, ou será facilmente oxidado pelo ar. A desvantagem do KIO3 é a sua baixa massa molecular em relação ao número de elétrons que ele aceita. Essa propriedade causa um erro relativo de pesagem maior que o desejável durante o preparo de soluções. A Utilização do Tiossulfato de Sódio O tiossulfato de sódio é o titulante praticamente universal do tri-iodeto. Em solução ácida ou neutra, o tri-iodeto oxida o tiossulfato a tetrationato:
Na2S2O3 anidro, que é um padrão primário, pode ser preparado a partir do Na2S2O3 pentaidratado.27
Um mol de I3− na Reação 16-19 é equivalente a 1 mol de I2. I2 e I3− se relacionam por meio do equilíbrio I2 + I− ⇋ I3−. Em soluções básicas, o I3− se desproporciona em I− e HOI, e este último pode oxidar o S2O32− a SO42−. A Reação 16-19 necessita ser realizada abaixo de pH 9. Soluções ácidas de I3− podem ser tituladas, mas devem ser protegidas da oxidação pelo oxigênio do ar por meio de purga com N2. A forma mais comum de cristalização do tiossulfato, Na2S2O3 · 5H2O, não é suficientemente pura para ser um padrão primário. Para superarmos esse problema, padronizamos o tiossulfato pela reação com uma solução de I3−, recentemente preparada a partir de KIO3 mais KI. Uma solução estável de Na2S2O3 pode ser preparada dissolvendo-se o reagente em água destilada de alta pureza, que tenha sido recentemente fervida. O CO2 dissolvido torna a solução ácida e promove o desproporcionamento do S2O32−:
e os íons metálicos catalisam a oxidação atmosférica do tiossulfato:
As soluções de tiossulfato devem ser armazenadas no escuro. A adição de 0,1 g de carbonato de sódio por litro de solução mantém o pH em uma faixa ótima para garantir a estabilidade da solução. Três gotas de clorofórmio devem ser adicionadas a cada garrafa de solução de tiossulfato para evitar o crescimento bacteriano. Uma solução ácida de tiossulfato é instável, mas o reagente pode ser usado para titular o I3− em solução ácida, pois a reação com o tri-iodeto é mais rápida que a Reação 16-20. Aplicações Analíticas do Iodo Agente redutor + I3− → 3I−
Os agentes redutores podem ser titulados diretamente com solução-padrão de I3−, na presença de goma de amido, até alcançarem o ponto final, caracterizado pela intensa coloração azul do complexo formado entre o iodo e o amido (Tabela 16-4). Um exemplo é a determinação iodimétrica da vitamina C:
Agente oxidante + 3I− → I3−
Os agentes oxidantes podem ser tratados com um excesso de I− para produzir I3− (Tabela 16-5, Boxe 16-3). A análise iodométrica é completada titulando-se o I3− liberado com uma solução-padrão de tiossulfato. A goma de amido só deve ser adicionada um pouco antes de se atingir o ponto final da titulação.
TABELA 16-4 Espécies analisadas
Titulações com tri-iodeto-padrão (titulações iodimétricas) Reação de oxidação
Observações Titular diretamente em solução de NaHCO3 com I3–. O Sn(IV) é reduzido a Sn(II) com Pb granulado ou Ni em HCl 1 M e titulado na ausência de oxigênio. Titular em solução de NaHCO3. Adicionar SO2 (ou H2SO3 ou HSO3– ou SO32–) ao I3– padrão em excesso, presente em ácido diluído, e titular por retorno o I3– que não reagiu com uma solução-padrão de tiossulfato. Adicionar H2S a I3– em excesso, em HCl 1 M, e titular por retorno com tiossulfato. Precipitar e lavar o sulfeto metálico. Dissolver em HCl 3 M com excesso de solução-padrão de I3– e titular por retorno com tiossulfato. Titular o composto sul drila em pH entre 4 e 5 com I3–.
Titular em tampão carbonato-bicarbonato, utilizando p-xileno como um indicador de extração. Adicionar à amostra desconhecida excesso de I3– mais NaOH. Após 5 minutos, adicionar HCl e titular por retorno com tiossulfato. Adicionar à amostra desconhecida excesso de I3– mais NaOH. Após 5 minutos, adicionar HCl e titular por retorno com tiossulfato. Titular diretamente com I3–. Titular em solução de NaHCO3.
TABELA 16-5 Espécies analisadas
Titulação do I3– produzido pelo analito (titulações iodométricas) Reação
Observações Reação em ácido diluído. Reação em H2SO4 0,5 M. Reação em ácido diluído. Reação em H2SO4 0,5 M. Reação em HCl 0,5 M. Reação em HCl 0,5 M. A amostra é tratada com Mn2+, NaOH e KI. Após 1 minuto, ela é acidi cada com H2SO4 e o I3− é então titulado. Reação em H2SO4 1 M com NH4MoO3 como catalisador. Passar o O3 por uma solução neutra de KI a 2% em massa. Adicionar H2SO4 e titular. O óxido nítrico é removido (por borbulhamento de CO2 gerado in situ) antes da titulação do I–3. Reação em HCl 5 M. Reação em solução neutra. A seguir, acidi car e titular. NH4HF2 é utilizado como tampão. Reação em HCl 1 M. Reação em HCl 0,1 M. Reação em H3PO4 0,5 M ou HCl. A reação em HCl 0,4 M precisa de 5 minutos para se completar e é especialmente sensível à oxidação pelo ar. Reação em H2SO4 1 M.
a. O pH deve ser ≳ 7 quando o O3 é adicionado ao I–. Em solução ácida, cada O3 produz 1,25 I3– e não 1 I3–. [N. V. Klassen, D. Marchington e H. C. E. McGowan, Anal. Chem. 1994, 66, 2921.]
BOXE 16-3
Análise Iodométrica de Supercondutores de Alta Temperatura
Uma aplicação importante dos supercondutores são os poderosos eletroimãs, necessários para os equipamentos de ressonância magnética de imagem para uso médico. Os condutores comuns, quando utilizados nesses imãs, necessitam de uma enorme quantidade de energia elétrica para produzir um campo magnético adequado. Como a eletricidade circula através de um supercondutor sem nenhuma resistência, o potencial de partida do eletroimã pode ser retirado da bobina eletromagnética, tão logo a corrente normal de funcionamento seja estabelecida. A corrente continuará a uir sem nenhum consumo de energia elétrica. Um avanço na tecnologia de supercondutores foi a descoberta29 de um óxido de ítrio-bário-cobre, YBa2Cu3O7, cuja estrutura cristalina é mostrada a seguir. Quando aquecido, esse material perde rapidamente átomos de oxigênio das cadeias Cu—O, e, a partir deste ponto, qualquer composição entre YBa2Cu3O7 e YBa2Cu3O6 é possível de ser observada. Quando os supercondutores de alta temperatura foram descobertos, o teor de oxigênio na fórmula YBa2Cu3Ox era desconhecido. O YBa2Cu3O7 representa um conjunto pouco comum de estados de oxidação, pois os estados comuns do ítrio e do bário são Y3+ e Ba2+ e os estados comuns do cobre são Cu2+ e Cu+. Se todo o cobre for Cu2+, a fórmula do supercondutor seria (Y3+)(Ba2+)2(Cu2+)3(O2−)6,5, com uma carga catiônica de +13 e uma carga aniônica de −13. A composição YBa2Cu3O7 exige a presença de Cu3+, um estado de oxidação muito raro para o cobre. Em termos de composição formal, a estrutura do YBa2Cu3O7 pode ser descrita como (Y3+)(Ba2+)2(Cu2+)2(Cu3+)(O2−)7, correspondente a uma carga catiônica de +14 e a uma carga aniônica de −14.
Estrutura do YBa2Cu3O7. As cadeias unidimensionais Cu—O (coloridas) se localizam na mesma direção do eixo cristalográ co b, e cadeias bidimensionais planas de Cu—O, localizam-se no plano a-b do cristal. A perda dos átomos de oxigênio coloridos das cadeias, em altas temperaturas, dá origem ao composto YBa2Cu3O6. [informação de G. F. Holland e A. M. Stacy, “Physical Properties of the Quaternary Oxide Superconductor, YBa2Cu3Ox”, Acc. Chem. Res. 1988, 21, 8.] Titulações redox provaram ser o método mais con ável para a determinação do estado de oxidação do cobre e assim para o cálculo do teor de oxigênio no YBa2Cu3Ox.30 Um método iodométrico envolve dois experimentos.
No Experimento A, YBa2Cu3Ox é dissolvido em ácido diluído, no qual o Cu3+ é convertido em Cu2+. Por questão de simplicidade, escrevemos as equações em relação à fórmula YBa2Cu3O7. Entretanto, pode-se facilmente balancear essas equações para valores de x ≠ 7.31
O teor total de cobre é determinado pelo tratamento com iodeto
e a titulação do tri-iodeto formado é feita com solução-padrão de tiossulfato (Reação 16-19). Cada mol de Cu no YBa2Cu3O7 é equivalente, no experimento A, a 1 mol de S2O32−. No Experimento B, o YBa2Cu3Ox é dissolvido em ácido diluído contendo I−. Cada mol de Cu2+ produz 0,5 mol de I3− por meio da reação e cada mol de Cu3+ produz 1 mol de I3−.
O número de mols de S2O32− necessários no Experimento A é igual ao número total de mols de Cu no supercondutor. A diferença na quantidade necessária de S2O32−, para os Experimentos B e A, corresponde ao teor de Cu3+ presente. A partir dessa diferença, podemos calcular o valor de x na fórmula YBa2Cu3Ox.32 Embora possamos equilibrar as cargas de cátions e de ânions na fórmula YBa2Cu3O7, incluindo-se o Cu3+ na fórmula, não existe nenhuma evidência que prove a existência dos íons Cu3+ no cristal. Também não há nenhuma evidência de que parte do oxigênio presente na estrutura cristalina esteja na forma de peróxido, O22−, que também permite equilibrar as cargas de cátions e ânions. A melhor descrição para o estado de valência, no sólido cristalino, envolve os elétrons e as lacunas correspondentes, deslocalizados nos planos e cadeias Cu-O. Entretanto, a composição correspondente a Cu3+, e as Equações 1 a 3 descrevem precisamente os aspectos químicos redox do YBa2Cu3O7. O Problema 16-37, descreve as titulações que determinam, separadamente, os números de oxidação do Cu e do Bi no supercondutor como Bi2Sr2(Ca0,8Y0,2)Cu2O8,295. Termos Importantes amálgama desproporcionamento indicador redox oxidação prévia redução prévia titulação redox
Resumo As titulações redox são fundamentadas em reações de oxirredução entre o analito e o titulante. Algumas vezes, uma oxidação prévia quantitativa por via química (com reagentes como S2O82−, AgIAgIIIO2, NaBiO3 ou H2O2) ou uma redução prévia (com reagentes como o SnCl2, CrCl2, SO2, H2S ou uma coluna metálica redutora) é necessária para ajustar o estado de oxidação definido do analito, antes de efetuarmos uma titulação redox. O ponto final de uma titulação redox é normalmente detectado por potenciometria ou por meio de um indicador redox. O indicador adequado para uma determinada titulação deve possuir uma faixa de transição (= E°(indicador) ± 0,059 16/n V) capaz de se sobrepor à variação brusca de potencial na região de uma curva de titulação, onde se encontra o ponto final. Quanto maior a diferença no potencial de redução entre o analito e o titulante, mais acentuada será a visualização do ponto final. Patamares antes e depois do ponto de equivalência estão centrados próximos do E° do analito e do E° do titulante. Antes do ponto de equivalência, utilizamos a meia-reação correspondente ao analito para calcularmos o valor do potencial, pois as concentrações das formas oxidada e reduzida do analito são conhecidas. Após o ponto de equivalência, utilizamos a meia-reação correspondente ao titulante. No ponto de equivalência, ambas as meias-reações devem ser utilizadas simultaneamente, para determinarmos o valor do potencial correspondente.
Os agentes oxidantes mais usados incluem o KMnO4, o Ce4+ e o K2Cr2O7. Muitos procedimentos analíticos se fundamentam na oxidação com o I3− ou na titulação do I3− liberado em uma reação química.
Exercícios 16-A. 20,0 mL de uma solução de Sn2+ 0,005 00 M, em HCl 1 M, foram titulados com solução de Ce4+ 0,020 0 M formando Sn4+ e Ce3+. Calcule o potencial (contra o E.C.S.) para os seguintes volumes adicionados de Ce4+: 0,100; 1,00; 5,00; 9,50; 10,00; 10,10; e 12,00 mL. Faça um esboço da curva de titulação correspondente. 16-B. O corante tetrassulfonato de índigo pode ser usado como indicador redox apropriado para a titulação do Fe(CN)64− com Tl3+ em HCl 1 M? (Sugestão: O potencial no ponto de equivalência deve estar entre os potenciais para cada um dos pares redox.) 16-C. Construa a curva de titulação para a Demonstração 15-1, na qual 400,0 mL de uma solução de Fe2+ 3,75 mM são titulados com solução de MnO4− 20,0 mM em H2SO4 1 M, com um pH fixo de 0,00. Calcule o potencial contra o E.C.S., para os seguintes volumes adicionados de titulante: 1,0; 7,5; 14,0; 15,0; 16,0; e 30,0 mL, e faça um esboço da curva de titulação correspondente. 16-D. A titulação com Ce4+ 0,100 M, a 25°C, de 50,0 mL de uma amostra desconhecida, contendo Fe2+, foi monitorada com eletrodos de Pt e calomelano. A tabela a seguir mostra os resultados obtidos.9 Construa um gráfico de Gran e decida quais os pontos experimentais que deverão ser escolhidos para se traçar uma reta. Determine a interseção dessa reta com o eixo x. Esta interseção é o volume de equivalência. Calcule a concentração de Fe2+ presente na amostra. Volume de titulante, V(mL)
E(volts)
16,50
0,635
18,50
0,651
10,50
0,669
11,50
0,680
12,50
0,696
16-E. Uma mistura sólida pesando 0,054 85 g continha somente sulfato ferroso amoniacal e cloreto ferroso. A amostra foi dissolvida em H2SO4 1 M e o Fe2+ necessitou de 13,39 mL de Ce4+ 0,012 34 M para oxidação completa a Fe3+. Calcule a porcentagem em massa de Cl na amostra original. Caso precise, acesse a Seção 7.2 para ver um exemplo de titulação de uma mistura.
Problemas A Forma de uma Curva de Titulação Redox 16-1. Considere a titulação na Figura 16-2. (a) Escreva a reação balanceada da titulação. (b) Escreva duas meias-reações diferentes para o eletrodo indicador. (c) Escreva duas equações de Nernst diferentes para a reação global da célula eletroquímica. (d) Calcule E para os seguintes volumes de Ce4+ adicionados: 10,0; 25,0; 49,0; 50,0; 51,0; 60,0; e 100,0 mL. Compare os seus resultados com os da Figura 16-2. 16-2. Considere a titulação de 100,0 mL de solução de Ce4+ 0,010 0 M em HClO4 1 M, por uma solução de Cu+ 0,040 0 M, formando Ce3+ e Cu2+. Foram usados eletrodos de Pt e de Ag | AgCl saturado para determinar o ponto final. (a) Escreva a reação balanceada da titulação. (b) Escreva duas meias-reações diferentes para o eletrodo indicador. (c) Escreva duas equações de Nernst diferentes para a reação da célula eletroquímica. (d) Calcule E para os seguintes volumes de Cu+ adicionados: 1,00; 12,5; 24,5; 25,0; 25,5; 30,0; e 50,0 mL. Faça um esboço da curva de titulação correspondente.
16-3. Considere a titulação de 25,0 mL de uma solução de Sn2+ 0,010 0 M por uma solução de Tl3+ 0,050 0 M, em HCl 1 M, utilizando eletrodos de Pt e de calomelano saturado para determinar o ponto final. (a) Escreva a reação balanceada da titulação. (b) Escreva duas meias-reações diferentes para o eletrodo indicador. (c) Escreva duas equações de Nernst diferentes para a reação da célula eletroquímica. (d) Calcule E nos seguintes volumes de Tl3+ adicionados: 1,00; 2,50; 4,90; 5,00; 5,10; e 10,0 mL. Faça um esboço da curva de titulação correspondente. 16-4. Ácido ascórbico (0,010 0 M) foi adicionado a 10,0 mL de uma solução de Fe3+ 0,020 0 M, tamponada em pH 0,30, e o potencial foi monitorado com eletrodos de Pt e de Ag | AgCl saturado. Ácido deidroascórbico + 2H+ + 2e− ⇋ ácido ascórbico + H2O E° = 0,390 V (a) Escreva a equação balanceada para a reação de titulação. (b) Utilizando E° = 0,767 V para o par Fe3+ | Fe2+, calcule a diferença de potencial da célula eletroquímica quando são adicionados 5,0; 10,0 e 15,0 mL de ácido ascórbico. (Sugestão: Veja os cálculos que foram feitos na Demonstração 16-1.) 16-5. Considere a titulação de 25,0 mL de uma solução de Sn2+ 0,050 0 M por uma solução de Fe3+ 0,100 M, em HCl 1 M, formando Fe2+ e Sn4+, utilizando eletrodos de Pt e de calomelano saturado para determinar o ponto final. (a) Escreva a reação balanceada da titulação. (b) Escreva duas meias-reações diferentes para o eletrodo indicador. (c) Escreva duas equações de Nernst diferentes para a reação da célula eletroquímica. (d) Calcule E nos seguintes volumes de Fe3+ adicionados: 1,00; 12,5; 24,0; 25,0; 26,0; e 30,0 mL. Faça um esboço da curva de titulação correspondente.
Determinação do Ponto Final 16-6. Selecione entre os indicadores da Tabela 16-2 quais os que são adequados para determinar o ponto final na titulação da Figura 16-3. Que mudanças de cores deverão ser observadas? 16-7. O indicador, tris(2,2’-bipiridina)ferro pode ser utilizado na titulação do Sn2+ pelo Mn(EDTA)−? (Sugestão: O potencial no ponto de equivalência deve estar entre os potenciais correspondentes a cada par redox.)
Ajuste do Estado de Oxidação do Analito 16-8. Explique os termos oxidação prévia e redução prévia. Por que é importante eliminarmos o excesso de reagente que é usado nesses processos? 16-9. Escreva as reações balanceadas para a eliminação do S2O82−, Ag3+ e H2O2 por ebulição. 16-10. O que é um redutor de Jones e para que ele é usado? 16-11. Por que Cr3+ e TiO2+ não interferem na análise do Fe3+ quando um redutor de Walden, em vez de um redutor de Jones, é utilizado na etapa de redução prévia?
Reações Redox do KMnO4, Ce(IV) e K2Cr2O7 16-12. A partir das informações da Tabela 16-3, explique como podemos usar o KMnO4 para determinar a quantidade de (NH4)2S2O8 presente em uma mistura sólida com (NH4)2SO4. Qual é a finalidade do ácido fosfórico neste procedimento? 16-13. Escreva as meias-reações balanceadas, nas quais o íon MnO4− atua como um oxidante em (a) pH = 0; (b) pH = 10; (c) pH = 15. 16-14. Depois que 25,00 mL de uma amostra desconhecida passaram através de uma coluna com redutor de Jones, o íon molibdato (MoO42−) foi convertido a Mo3+. O filtrado necessitou de 16,43 mL de solução de KMnO4 0,010 33 M para atingir um ponto final rosa-claro. MnO4− + Mo3+ → Mn2+ + MoO22+ Uma amostra em branco consumiu 0,04 mL. Balanceie a equação e determine a concentração molar do íon molibdato na amostra desconhecida.
16-15. 25,00 mL de uma solução de peróxido de hidrogênio comercial foram diluídos a 250,0 mL em um balão volumétrico. Uma alíquota contendo 25,00 mL dessa solução diluída foi misturada com 200 mL de água e 20 mL de uma solução de H2SO4 3 M e, então, titulada com uma solução de KMnO4 0,021 23 M. A primeira cor rosa-pálido persistente foi observada com a adição de 27,66 mL de titulante. Uma titulação em branco, preparada com água destilada no lugar de H2O2, necessitou de 0,04 mL para produzir uma cor rosa visível. Usando a reação da H2O2 na Tabela 16-3, determine a molaridade da H2O2 no produto comercial. 16-16. O íon MnO4− pode reagir com H2O2 por meio de dois esquemas reacionais diferentes para formar O2 e Mn2+:
(a) Complete as meias-reações para cada um dos esquemas reacionais, introduzindo e−, H2O e H+. Escreva a equação global balanceada para cada esquema reacional. (b) O perborato de sódio tetraidratado, NaBO3 · 4H2O (MF 153,86), produz H2O2 quando dissolvido em ácido: BO3− + 2H2O → H2O2 + H2BO3−. Para decidir se a reação seguia o Esquema 1 ou o Esquema 2, estudantes da Academia Naval dos EUA33 pesaram 1,023g de NaBO3 · 4H2O, que foram transferidos para um balão volumétrico de 100 mL, adicionaram 20 mL de H2SO4 1 M e completaram o volume do balão com H2O. A seguir, eles titularam 10,00 mL dessa solução com KMnO4 0,010 46 M até o aparecimento da primeira coloração rosa-pálido persistente. Qual o volume de KMnO4 necessário no Esquema 1 e no Esquema 2? (A estequiometria do Esquema 1 foi observada.) 16-17. 50,00 mL de uma amostra contendo La3+ foram tratados com oxalato de sódio para precipitar o La2(C2O4)3, que foi lavado, dissolvido em ácido e titulado com 18,04 mL de KMnO4 0,006 363 M. Calcule a molaridade do La3+ na amostra desconhecida. 16-18. Uma solução aquosa de glicerol, pesando 100,0 mg, foi tratada com 50,0 mL de uma solução de Ce4+ 0,083 7 M, por 15 minutos a 60°C, em HClO4 4 M, para oxidar o glicerol a ácido fórmico:
O excesso de Ce4+ consumiu 12,11 mL de solução de Fe2+ 0,044 8 M para atingir o ponto final da titulação, usando-se ferroína como indicador. Qual é a porcentagem em peso de glicerol na amostra desconhecida? 16-19. O íon nitrito (NO2−) pode ser determinado pela oxidação com excesso de Ce4+, seguida de uma titulação de retorno do Ce4+ que não reagiu. Uma amostra de 4,030 g de um sólido contendo somente NaNO2 (MF 68,995) e NaNO3, foi dissolvida em 500,0 mL de água. Uma alíquota de 25,00 mL dessa solução foi tratada com 50,0 mL de solução de Ce4+ 0,118 6 M em ácido forte por 5 minutos, e o excesso de Ce4+ foi determinado por uma titulação de retorno com 31,13 mL de sulfato ferroso amoniacal 0,042 89 M. 2Ce4+ + NO2− + H2O → 2Ce3+ + NO3− + 2H+ Ce4+ + Fe2+ → Ce3+ + Fe3+ Qual é a fórmula do sulfato ferroso amoniacal? Calcule a porcentagem em massa de NaNO2 presente na amostra sólida original. 16-20. Um cristal de fluoroapatita de cálcio (Ca10(PO4)6F2, MF 1 008,6) foi dopado com íons cromo para melhorar sua eficiência como cristal para laser. Suspeita-se que o cromo possa estar presente na estrutura do cristal em seu estado de oxidação +4. 1.
Para determinarmos o poder oxidante total de cromo no material, um cristal foi dissolvido em HClO4 2,9 M, a 100°C, e a solução foi resfriada a 20°C e titulada com uma solução-padrão de Fe2+, utilizando-se eletrodos de Pt e de Ag | AgCl para determinar o ponto final. O cromo, no estado de oxidação superior a +3, deve oxidar, nessa etapa, uma quantidade equivalente de Fe2+. Isto é, cada íon Cr4+ consome um íon Fe2+, e cada átomo de Cr6+, presente no Cr2O72− consome três íons Fe2+:
2.
Em uma segunda etapa, o teor total de cromo foi determinado dissolvendo-se um cristal em HClO4 2,9 M, a 100°C, e resfriando a solução obtida a 20°C. Um excesso de S2O82− e Ag+ foi então adicionado para oxidar todo o cromo presente a Cr2O72− O S2O82− que não reagiu, foi destruído fervendo-se a solução, e a solução resultante foi titulada com solução-padrão de Fe2+. Nesta etapa, cada Cr, presente na amostra desconhecida original, reage com três íons Fe2+.
Na etapa 1, um cristal para laser, pesando 0,437 5 g, consumiu 0,498 mL de uma solução de Fe2+ 2,786 mM (preparada dissolvendo-se Fe(NH4)2(SO4)2 · 6H2O em HClO4 2 M). Na etapa 2, outro cristal, pesando 0,156 6 g, consumiu 0,703 mL da mesma solução-padrão de Fe2+. Determine qual o número de oxidação médio do Cr no cristal e o número total de microgramas de Cr por grama de cristal. 16-21. O óxido de arsênico (As4O6), grau padrão primário, é um reagente útil (mas, cancerígeno) para a padronização de oxidantes, incluindo o MnO4− e I3−. Para padronizar o MnO4−, As4O6 é dissolvido em meio básico e então titulado com MnO4− em meio ácido. Uma pequena quantidade de iodeto (I−) ou iodato (I3−) catalisa a reação entre H3AsO3 e MnO4−. As4O6 + 8OH− ⇋ 4HAsO32− + 2H2O HAsO32− + 2H+ ⇋ H3AsO3 5H3AsO3 + 2MnO4− + 6H+ → 5H3AsO4 + 2Mn2+ + 3H2O (a) Uma alíquota de 3,214 g de KMnO4 (MF 158,034) foi dissolvida em 1,000 L de água, aquecida para provocar reações com impurezas presentes, resfriada e filtrada. Qual é a molaridade teórica dessa solução se nenhum MnO4− foi consumido pelas impurezas? (b) Que massa mínima de As4O6 (MF 395,68) seria suficiente para reagir com 25,00 mL da solução de KMnO4 na parte (a)? (c) Encontrou-se que 0,146 8 g de As4O6 necessitou de 29,98 mL de solução de KMnO4 para a cor suave do MnO4− que não reagiu aparecer. Na titulação do branco, foi necessário 0,03 mL de MnO4− para produzir uma cor suficientemente intensa para ser vista. Calcule a molaridade da solução de permanganato.
Métodos Envolvendo o Iodo 16-22. Por que o iodo é quase sempre usado como uma solução que contém I− em excesso? 16-23. Descreva duas formas diferentes para padronizar uma solução de tri-iodeto. 16-24. Em qual técnica, iodimetria ou iodometria, o indicador goma de amido só deve ser adicionado um pouco antes do ponto final? Por quê? 16-25. A bactéria patogênica Salmonella entérica utiliza o tetrationato encontrado no intestino humano como um oxidante – tal como empregamos O2 para metabolizar nosso alimento.34 Escreva a meia-reação na qual o tetrationato atua como agente oxidante. O tetrationato é um agente oxidante tão poderoso como o O2? 16-26. (a) Uma solução de iodato de potássio foi preparada dissolvendo 1,022 g de KIO3 (MF 214,00) em balão volumétrico de 500 mL. 50,00 dessa solução foram pipetados para um frasco e tratados com excesso de KI (2 g) e de ácido (10 mL de H2SO4 0,5 M). Qual o número de mols de I3− que foram gerados pela reação? (b) O tri-iodeto produzido em (a) reagiu com 37,66 mL de solução de Na2S2O3. Qual a concentração dessa solução de Na2S2O3? (c) Uma amostra sólida contendo ácido ascórbico e ingredientes inertes pesando 1,223 g foi dissolvida em H2SO4 diluído e tratado com 2 g de KI e 50,00 mL de KIO3 obtida no item (a). O excesso de tri-iodeto consumiu 14,22 mL da solução de Na2S2O3 empregada na parte (b). Encontrar a percentagem e a massa de ácido ascórbico (MF 176,13) na amostra desconhecida. (d) Existe alguma diferença em se adicionar o indicador goma de amido no início ou próximo ao ponto final da titulação do item (c)? 16-27. Uma amostra de 3,026 g de um sal de cobre(II) foi dissolvida em um balão volumétrico de 250 mL. Uma alíquota de 50,0 mL foi analisada pela adição de 1 g de KI e titulação do iodo liberado com 23,33 mL de Na2S2O3 0,046 68 M. Determine a porcentagem em massa de Cu no sal. A goma de amido, utilizada como indicador, pode ser adicionada no início dessa titulação ou imediatamente antes do ponto final? 16-28. Titulação de Winkler para o O2 dissolvido. O O2 dissolvido é o principal indicador da capacidade de um corpo d’água natural de sustentar vida aquática. Se um excesso de nutrientes, a partir de fertilizantes ou de esgoto, se acha presente em um lago, ocorre uma explosão populacional de algas e fitoplânctons. Quando as algas morrem e vão para o fundo do lago, sua
matéria orgânica é decomposta por bactérias que consomem O2 da água. Ao final, a água pode ficar desprovida de O2, de modo que os peixes não conseguem viver. O processo pelo qual um corpo d’água se torna enriquecido em nutrientes, apresenta uma explosão populacional de algumas formas de vida, e ao final fica empobrecida em O2 é chamado eutrofização. Uma maneira de determinar o O2 dissolvido é pelo método de Winkler, o qual envolve uma titulação iodométrica:35
1.
Colete uma amostra de água em um frasco de ∼300 mL provido de uma rolha de vidro esmerilhada que se ajusta exatamente ao frasco. O fabricante indica o volume do frasco (±0,1 mL) com a rolha inserida nele. Submergir o frasco tampado na profundidade desejada na água a ser amostrada. Remova a rolha e encha o frasco com água. Expulse quaisquer bolhas de ar antes de inserir a rolha enquanto o frasco ainda está submerso.
2.
Pipete, de imediato, 2,0 mL de MnSO4 2,15 M e 2,0 mL de uma solução alcalina contendo 500 g de NaOH/L, 135 g de NaI/L e 10 g NaN3/L (azida de sódio). A pipeta deve estar abaixo da superfície do líquido durante a adição para evitar a introdução de bolhas de ar. A solução, densa, vai para o fundo e desloca perto de 4,0 mL da água natural do frasco.
3.
Tampe o frasco suavemente, remova o líquido deslocado da região em torno da rolha e misture por inversão. O2 é consumido e Mn(OH)3 precipita: 4Mn2+ + O2 + 8OH− + 2H2O → 4Mn(O)3 (s) A azida reage com qualquer nitrito (NO2−) presente na água, de modo que não interfira posteriormente na titulação iodométrica: 2NO2− + 6N3− + 4H2O → 10N2 + 8OH−
4.
De volta ao laboratório, adicione lentamente 2,0 mL de H2SO4 18 M abaixo da superfície do líquido, tampe firmemente o frasco, remova o líquido deslocado da região em torno da rolha e misture por inversão. O ácido dissolve o Mn(OH)3, que reage quantitativamente com o I-: 2Mn( OH)3(s) + 3H2SO4 + 3I− → 2Mn2+ + I3− + 3SO42− + 6H2O
5.
Introduza 200,0 mL do líquido em um Erlenmeyer e titule com tiossulfato padrão. Adicione 3 mL de solução de amido pouco antes do ponto final e complete a titulação.
Um frasco contendo 297,6 mL de água coletada de uma enseada a 0oC no inverno consumiu 14,05 mL de tiossulfato 10,22 mM. (a) Que fração da amostra de 297,6 mL permanece após tratamento com MnSO4 e a solução alcalina? (b) Que fração permanece após tratamento com H2SO4? Admita que o H2SO4 vá para o fundo e desloque 2,0 mL de solução antes da mistura. (c) Quantos mL da amostra original estão contidos nos 200,0 mL que são titulados? (d) Quantos mols de I3− são produzidos por mol de O2 na água? (e) Expresse a quantidade de O2 dissolvido em mg O2/L. (f) A água pura saturada com O2 contém 14,6 mg de O2/L a 0ºC. Qual é a fração de saturação da água da enseada com O2? (g) Escreva a reação de NO2− com I– que interferiria na titulação se o N3− não fosse introduzido? Veja a Tabela 16-5. 16-29. O teor de H2S de uma solução foi determinado pela adição lenta de 25,00 mL dessa solução a 25,00 mL de uma soluçãopadrão acidificada de I3− 0,010 44 M, para precipitar enxofre elementar. (Se a concentração de H2S é > 0,01 M, o enxofre
precipitado retém alguma solução de I3−, que não é posteriormente titulada.) O I3− remanescente foi titulado com 14,44 mL de uma solução de Na2S2O3 0,009 336 M. Determine a molaridade da solução de H2S. A goma de amido, utilizada como indicador, pode ser adicionada no início dessa titulação ou imediatamente antes do ponto final? 16-30. A partir dos seguintes potenciais de redução I2(s) + 2e− ⇋ 2I− I2(aq) + 2e− ⇋ 2I− I3− + 2e− ⇋ 3I−
E° = 0,535 V E° = 0,620 V E° = 0,535 V
(a) Calcule a constante de equilíbrio para a reação I2(aq) + I− ⇋ I3−. (b) Calcule a constante de equilíbrio para a reação I2(s) + I− ⇋ I3−. (c) Calcule a solubilidade (g/L) do I2(s) em água. 16-31. A análise de Kjeldahl na Seção 11-8 é utilizada para determinar o teor de nitrogênio de compostos orgânicos, que são digeridos em ácido sulfúrico fervente, formando amônia, que, por sua vez, são destiladas para um recipiente que contém um ácido-padrão. O ácido que não reagiu é então titulado com uma base. O próprio Kjeldahl, em 1880, teve dificuldade em distinguir com luz artificial o ponto final da titulação de retorno, usando o indicador vermelho de metila. Ele podia ter desistido do trabalho noturno, mas acabou optando por concluir a análise de uma maneira diferente. Após destilar a amônia em solução-padrão de ácido sulfúrico, ele adicionou uma mistura de KIO3 e de KI ao ácido. O iodo liberado foi então titulado com solução de tiossulfato, usando goma de amido para facilitar a detecção do ponto final. Esse procedimento funcionou perfeitamente, mesmo em luz artificial.36 Explique como a titulação com tiossulfato permite determinar o teor de nitrogênio na amostra original. Obtenha uma relação entre o número de mols de NH3 liberados na digestão e o número de mols de tiossulfato necessários para a titulação do iodo. 16-32. Algumas pessoas desenvolvem reações alérgicas ao íon sulfito (SO32−), que é empregado como conservante alimentar. O sulfito em vinho foi determinado por meio do seguinte procedimento: adicionou-se 5,00 mL de uma solução contendo (0,804 3 g de KIO3 + 6,0 g de KI)/100 mL a 50,0 mL de vinho. A acidificação com 1,0 mL de H2SO4 6,0 M converteu quantitativamente IO3− a I3−. O I3− reagiu com SO32−, formando SO42−, permanecendo o excesso de I3− em solução. Esse excesso consumiu 12,86 mL de Na2S2O3 0,048 18 M para atingir o ponto final com goma de amido. (a) Escreva a reação que ocorre quando o H2SO4 é adicionado à mistura KIO3 + KI, e explique porque 5 g de KI foram adicionados à solução estoque. É necessário medir com muita exatidão essa massa de 6,0 g? É necessário medir com muita exatidão 1,0 mL de H2SO4? (b) Escreva a reação balanceada entre I3− e sulfito. (c) Encontre a concentração de sulfito no vinho. Expresse sua resposta em número de mols por litro e em mg de SO32− por litro. (d) Teste t. Outra amostra de vinho contém 277,7 mg de SO32− por litro com um desvio-padrão de ±2,2 mg/L para três determinações. Esses resultados são significativamente diferentes dentro do intervalo de confiança de 95%? 16-33. O bromato de potássio, KBrO3, é um padrão primário usado para a produção de Br2 em meio ácido: BrO3− + 5Br− + 6H+ ⇋ 3Br2(aq) + 3H2O O Br2 é muito utilizado para analisar vários compostos orgânicos insaturados. Uma amostra contendo Al3+ foi analisada da seguinte maneira: a amostra desconhecida foi tratada com 8-hidroxiquinolina (oxina), em pH 5, para precipitar oxinato de alumínio, Al(C9H6ON)3. O precipitado foi lavado, dissolvido em HCl a quente contendo excesso de KBr e tratado com 25,00 mL de solução de KBrO3 0,020 00 M.
O excesso de Br2 foi reduzido com KI, formando I3−. O I3− consumiu 8,83 mL de solução de Na2S2O3 0,051 13 M para atingir o ponto final, usando-se como indicador goma de amido. Quantos miligramas de Al existem na amostra desconhecida?
16-34. Análise iodométrica de um supercondutor de alta temperatura. O procedimento no Boxe 16-3 foi executado com a finalidade de se determinar o estado de oxidação efetivo do cobre, e, consequentemente, o número de átomos de oxigênio presentes na fórmula YBa2Cu3O7–z, em que z se situa na faixa entre 0 e 0,5. (a) No Experimento A do Boxe 16-2, 1,00 g de supercondutor consumiu 4,55 milimol de S2O32−. No Experimento B, 1,00 g de supercondutor consumiu 5,68 milimol de S2O32−. Calcule o valor de z na fórmula YBa2Cu3O7–z (MF 666,246 – 15,999 4z). (b) Propagação da incerteza. Em diversas repetições do Experimento A, o tiossulfato consumido foi de 4,55 (±0,10) milimol de S2O32− por grama de YBa2Cu3O7–z. No Experimento B, o tiossulfato consumido foi 5,68 (±0,05) milimol de S2O32− por grama de supercondutor. Calcule a incerteza no valor de x na fórmula YBa2Cu3Ox. 16-35. Vamos descrever um procedimento analítico para caracterizar supercondutores que contenham Cu(I), Cu(II), Cu(III) e íons peróxido (O32):38 “O possível cobre trivalente e/ou oxigênio na forma de peróxido são reduzidos por Cu(I) dissolvendo-se a amostra, aproximadamente 50 mg, em uma solução de HCl 1 M, previamente saturada com um gás inerte para eliminar o O2. A solução de HCl contém um excesso conhecido de íons cobre monovalente (aproximadamente 25 mg de CuCl). Por outro lado, se a amostra original também contém cobre monovalente, a quantidade de Cu(I) na solução aumenta após a dissolução da amostra. O excesso de Cu(I) foi então determinado por uma titulação coulométrica por retorno … em uma atmosfera de argônio”. A coulometria é um método eletroquímico em que o número de elétrons liberados na reação Cu+ → Cu2+ + e− é determinado a partir da carga elétrica que circula através de um eletrodo. Descreva com suas palavras e equações como esta análise funciona. 16-36. O Li1 + yCoO2 é usado como anodo de baterias de lítio de alta densidade de energia. O cobalto se acha presente como uma mistura de Co(III) e Co(II). A maior parte das preparações também contém sais de lítio inertes e umidade. A fim de determinar a estequiometria do composto, o Co foi medido por absorção atômica e seu estado de oxidação médio por uma titulação potenciométrica.39 Para a titulação, 25,00 mg do sólido foram dissolvidos em 5,00 mL de uma solução de H2SO4 6,0 M contendo 0,100 M de Fe2+ (sob N2) e H3PO4 6 M, para obter uma solução rosa-claro: Co3+ + Fe2+ → Co2+ + Fe3+ O Fe2+ não reagido consumiu 3,228 mL de K2Cr2O7 0,015 93 M para a titulação completa. (a) Quantos mmol de Co3+ estão presentes em 25,00 mg do material? (b) Os resultados de absorção atômica forneceram um teor de 56,4% em massa de Co no sólido. Qual é o estado de oxidação médio do Co? (c) Encontre y na fórmula Li1 + yCoO2. (d) Qual é o quociente teórico (% em massa de Li)/(% em massa de Co) no sólido? O coeficiente observado, após lavagem para remoção dos sais de lítio inertes, é 0,138 8 ±0,000 6. Este valor do coeficiente é consistente com o estado de oxidação médio do cobalto? 16-37. Cuidado! Este problema é prejudicial à sua saúde. Os números de oxidação do Cu e do Bi, em supercondutores de alta temperatura do tipo Bi2Sr2(Ca0,8Y0,2)Cu2Ox (que pode conter Cu2+, Cu3+, Bi3+ e Bi5+), podem ser determinados pelos seguintes procedimentos.40 No Experimento A, o supercondutor é dissolvido em HCl 1 M, contendo um excesso de solução de CuCl 2 mM. O Bi5+ (representado como BiO3−) e o Cu3+ consomem o Cu+ formando Cu2+:
O Cu+, que está em excesso e não reagiu, é então titulado por um método denominado coulometria, descrito no Capítulo 17. No Experimento B, o supercondutor é dissolvido em HCl 1 M, contendo excesso de FeCl2 · 4H2O 1 mM. O Bi5+ reage com o Fe2+, mas o Cu3+ não reage com o Fe2+.41
O Fe2+, que está em excesso e não reagiu, é também titulado por coulometria. O número de oxidação total do Cu + Bi é determinado pelo experimento A, e o número de oxidação do Bi é determinado pelo experimento B. A diferença entre os valores obtidos nos dois experimentos fornece o número de oxidação do Cu. (a) No Experimento A, uma amostra de Bi2Sr2CaCu2Ox (MF 760,37 + 15,999 4x, um material sem ítrio), pesando 102,3 mg, foi dissolvida em 100,0 mL de HCl 1 M, contendo CuCl 2,000 mM. Após a reação com o supercondutor, detectou-se na solução, por coulometria, 0,108 5 milimol de Cu+, que não tinham reagido. No Experimento B, 94,6 mg do supercondutor foram dissolvidos em 100,0 mL de HCl 1 M, contendo FeCl2 · 4H2O 1,000 mM. Após a reação com o supercondutor, detectou-se por coulometria
que 0,057 7 milimol de Fe2+ não tinham reagido. Determine os números de oxidação médios do Bi e do Cu no supercondutor e o coeficiente estequiométrico do oxigênio, x. (b) Determine as incertezas, nos números de oxidação e no valor de x, se os resultados numéricos do experimento A são: 102,3 (±0,2) mg e 0,108 5 (±0,000 7) milimol e os resultados numéricos do experimento B são: 94,6 (±0,2) mg e 0,0577 (±0,000 7) milimol. Suponha que as incertezas são desprezíveis para os outros valores que são utilizados no cálculo.
QUÃO DOCE ELE É!
(a) Detector eletroquímico usado para medir os açúcares que saem de uma coluna cromatográ ca. Os açúcares são oxidados no eletrodo de Cu, cujo potencial é controlado em relação a um eletrodo de referência de Ag | AgCl. A redução da água (H2O + e− → H2 + OH−) ocorre no tubo de aço inoxidável, presente na saída do sistema. A corrente elétrica é medida entre o cobre e o aço. [Informação de Bioanalytical Systems, West Lafayette, IN.] (b) Separação de açúcares, em NaOH 0,1 M, por meio de troca aniônica com uma coluna CarboPac PA1. O cromatograma superior mostra uma misturapadrão de (1) fucose, (2) metilglicose, (3) arabinose, (4) glicose, (5) frutose, (6) lactose, (7) sacarose e (8) celobiose. O cromatograma inferior foi obtido a partir de uma amostra da cerveja americana “Bud Dry”, diluída 100 vezes em água e ltrada por uma membrana de 0,45 μm de porosidade, para a remoção de partículas. [Dados de P. Luo, M. Z. Luo e R. P. Baldwin, “Determination of Sugars in Food Products”, J. Chem. Educ. 1993, 70, 679.] Podemos determinar o teor de açúcares nas nossas bebidas preferidas separando-os por cromatogra a de troca iônica (Capítulo 26) em uma solução fortemente alcalina e detectando-os por meio de um eletrodo quando eles saem da coluna.1 Os grupos —OH dos açúcares, como a frutose, cuja
estrutura é vista no cromatograma, dissociam-se parcialmente, em uma solução de NaOH 0,1 M, formando ânions —O−. Os ânions são separados uns dos outros quando passam por uma coluna que tem cargas positivas xas. À medida que os açúcares saem da coluna, eles são detectados pela oxidação em um eletrodo de Cu, que é polarizado em um potencial de +0,55 V contra um eletrodo de referência de Ag | AgCl. O cromatograma obtido é um grá co da corrente do detector contra o tempo. Cada um dos açúcares que é detectado dá um pico cuja área é proporcional ao número de mols do açúcar que saem da coluna.
Concentração de açúcar (g/L)
Marca
Glicose
Frutose
Lactose
Maltose
Budweiser
0,54
0,26
0,84
2,05
Bud Dry
0,14
0,29
0,46
—
Coca-Cola
45,1
68,4
—
1,04
Pepsi
44,0
42,9
—
1,06
Pepsi diet
0,03
0,01
—
—
N
a potenciometria, técnica que vimos em capítulos anteriores, realizamos uma medida de diferença de potencial elétrico na ausência de uma corrente elétrica significativa. Neste capítulo, vamos estudar os métodos eletroanalíticos, em que a corrente, necessariamente, tem de ser medida.4 As técnicas descritas neste capítulo são exemplos de eletrólise — processo em que determinada reação química é forçada a ocorrer em um eletrodo por causa da imposição de uma diferença de potencial elétrico (Demonstração 17-1). O monitor portátil de glicose, descrito neste capítulo, com vendas superiores a US$ 2,5 bilhões em 2009 nos EUA, e vendas projetadas em todo o mundo de US$ 14 bilhões em 2014, é hoje a principal aplicação de uma técnica eletroanalítica. A produção eletrolítica de alumínio pelo processo Hall-Heroult consome ∼3,5% de toda a energia elétrica gerada no mundo.2 O Al3+, em uma solução fundida de Al2O3 e criolita (Na3AlF6), é reduzido a alumínio metálico no catodo de uma célula que, normalmente, trabalha com uma corrente de 250 kA. Este processo foi inventado por Charles Hall, em 1886, quando ele tinha 22 anos, logo após se formar no Oberlin College.3
17-1
Fundamentos da Eletrólise
Suponhamos que eletrodos de Cu e de Pt sejam mergulhados em uma solução de Cu2+ e que a corrente elétrica que passa através dos eletrodos provoque a deposição de cobre metálico no catodo e desprendimento de O2 no anodo.
A Figura 17-1 mostra como esse experimento pode ser feito. O potenciômetro (voltímetro) mede a diferença de potencial elétrico (a voltagem) que é aplicada pela fonte de alimentação entre os dois eletrodos. O amperímetro mede a corrente que passa pelo circuito. O eletrodo em que se passa a reação de interesse é chamado de eletrodo de trabalho. Na Figura 17-1 estamos interessados na redução do Cu2+, de modo que o Cu é o eletrodo de trabalho. O outro eletrodo é chamado de contraeletrodo. A convenção da International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) assinala que o valor da corrente é negativo para a redução e positivo para a oxidação.
Conversão: a corrente catódica é considerada negativa. DEMONSTRAÇÃO 17-1
Escrita eletroquímica5
Aproximadamente 7% da energia elétrica gerada nos EUA é usada na produção eletrolítica de substâncias químicas. A aparelhagem de eletrólise apresentada neste boxe consiste em uma folha de alumínio presa por uma ta adesiva, ou colada sobre uma superfície de madeira. A experiência irá funcionar satisfatoriamente qualquer que seja o tamanho da folha, mas, para uma demonstração em sala de aula, é conveniente que suas dimensões estejam em torno de 15 cm de lado. Na folha de alumínio prende-se com uma ta adesiva (em apenas uma das extremidades) um “sanduíche” formado por uma folha de papel- ltro, uma folha de papel de caderno e outra folha de papel- ltro. Uma “caneta” é construída com um o de cobre (18 AWG ou maior) passando através de um tubo de vidro e dobrado na ponta com a forma de uma alça.
Preparamos uma solução de amido a 1% em massa a partir de uma pasta feita com 5 g de amido solúvel e 5 mg de HgI2 (um conservante6) em 50 mL de H2O. Vertemos a pasta em 500 mL de água fervente, mantendo a fervura até que a solução esteja clara. (Uma alternativa ao HgI2 é adicionar algumas gotas de clorofórmio à solução clara de amido após resfriamento. Outra possibilidade é usar uma solução recém-preparada, sem conservante.) Prepara-se uma solução a partir de 1,6 g de KI, 20 mL de água, 5 mL de uma solução de amido e 5 mL de solução de fenolftaleína (indicador). (Se após alguns dias ela escurecer, podemos descorá-la adicionando algumas gotas de uma solução diluída de Na2S2O3.) Para iniciarmos a demonstração, molhamos as três camadas de papel com a solução de fenolftaleína-amido-KI. Conectamos a caneta e a folha de alumínio a uma fonte de 12 V de corrente contínua e escrevemos no papel com a caneta. Quando a caneta é o catodo, a água é reduzida a H2 e OH−, surgindo uma cor rosa decorrente da reação do OH− com a fenolftaleína.
Quando a polaridade é invertida (a caneta é o anodo), o íon I− é oxidado a I2 e aparece uma cor preta (um azul muito escuro) decorrente da reação do I2 com o amido.
Levantando-se a folha de papel- ltro superior e a folha de papel de caderno, podemos ver que o texto aparece escrito na cor oposta na folha de papel- ltro inferior (veja Prancha 12 do Encarte em Cores).
FIGURA 17-1
Experimento de eletrólise. O símbolo
representa uma fonte de alimentação que fornece uma diferença
de potencial elétrico variável. O potenciômetro (voltímetro) mede a diferença de potencial (voltagem) e o amperímetro mede a corrente.
Medida da Velocidade de Reação por Meio da Corrente Se uma corrente I flui por um tempo t, a carga q que passa em qualquer ponto no circuito é
Um ampère é uma corrente elétrica de 1 coulomb por segundo. Um coulomb corresponde a 6,241 5 × 1018 elétrons. Constante de Faraday: F = 9,648 5 × 104 C/mol número de mols de elétrons
O número de mols de elétrons é
Se uma reação necessita de n elétrons por molécula, a quantidade de substância que reage no tempo t é
EXEMPLO
Relação entre Corrente, Tempo e Quantidade de Substância Formada
Se uma corrente de 0,17 A uir por l6 min através da célula eletrolítica na Figura 17-1, quantos gramas de Cu(s) serão depositados? Solução Inicialmente calculamos o número de mols de e− que uem pela célula:
A meia-reação no catodo requer 2e− para cada átomo de Cu depositado. Portanto,
A massa de Cu(s) depositada é (8,45 × 10−4 mol)(63,546 g/mol) = 0,054 g. TESTE A VOCÊ MESMO Uma monocamada (uma única camada de átomos) de Cu na face do cristal mostrada na gura adiante apresenta 1,53 × 1015 átomos/cm2 = 2,54 × 10−9 mols/cm2. Que corrente pode depositar uma camada de átomos de Cu sobre 1 cm2 em 1 s? (Resposta: 0,490 mA) A Diferença de Potencial Elétrico Varia Quando a Corrente Flui A Figura 17-1 foi feita com as mesmas convenções da Figura 14-4. O catodo — onde ocorre a reação de redução — está no lado direito da figura. O terminal positivo do potenciômetro (voltímetro) está no lado direito. Se a corrente elétrica é desprezível, o potencial da célula é
No Capítulo 14, escrevemos E = E+ −E−, em que E+ é o potencial do eletrodo ligado ao terminal positivo do potenciômetro e E− é o potencial do eletrodo ligado ao terminal negativo. A Equação 17-4 é equivalente a E = E+ − E−. A polaridade do potenciômetro (voltímetro) na Figura 17-1 é a mesma da Figura 14-4. Em uma eletrólise, os elétrons fluem do terminal negativo da fonte de alimentação para o catodo da célula de eletrólise. E(catodo) é o potencial do eletrodo ligado ao terminal negativo da fonte de alimentação, e E(anodo) é o potencial do eletrodo ligado ao terminal positivo. Se a Reação 17-1 contém 0,2 M de Cu2+ e 1,0 M de H+, e desprende O2 numa pressão de 1,0 bar, temos
Para usarmos a expressão E = E(catodo) − E(anodo), devemos escrever ambas as reações como reações de redução. E(catodo) − E(anodo) é a diferença de potencial de circuito aberto. Ela é a diferença de potencial que é medida com uma corrente desprezível circulando entre o catodo e o anodo. A equação de Nernst deve ser efetivamente escrita com atividades e não concentrações.
Variaíão da energia livre para a Reaíão 17-1:
Essa é a diferença de potencial que seria lida no potenciômetro (voltímetro) na Figura 17-1 se a corrente fosse desprezível. A diferença de potencial é negativa porque o terminal positivo do potenciômetro está conectado ao polo negativo da fonte de alimentação. A variação da energia livre calculada na margem ao lado é positiva porque a reação não é espontânea. A fonte de alimentação é necessária para forçar a ocorrência da reação. Se a corrente não for desprezível, a diferença de potencial necessária para que a reação ocorra terá outro valor em razão da sobretensão, do potencial de queda ôhmica e da polarização de concentração. Sobretensão é a diferença de potencial necessária para superar a energia de ativação de uma reação em um eletrodo (Figura 17-2).7 Quanto mais rápido desejamos que uma reação ocorra, maior será a sobretensão que deve ser aplicada. A corrente elétrica é uma medida da velocidade de transferência dos elétrons. Quanto mais elevada for a sobretensão aplicada, maior a densidade de corrente (corrente por unidade de área da superfície do eletrodo, A/m2). A Tabela 17-1 mostra que a sobretensão para o desprendimento de H2 em uma superfície de Cu deve aumentar de 0,479 para 1,254 V de modo que a densidade de corrente aumente de 10 A/m2 para 10.000 A/m2. A energia de ativação depende da natureza da superfície. Em uma superfície de Pt, o desprendimento de H2 ocorre com uma pequena sobretensão, enquanto em uma superfície de Hg é necessário ∼1 V para que a reação ocorra. Potencial de queda ôhmica(ou simplesmente potencial ôhmico) é a diferença de potencial elétrico necessária para superar a resistência elétrica, R, da solução na célula eletroquímica, quando uma corrente elétrica, I, está fluindo:
A resistência é medida em ohms, cujo símbolo é a letra maiúscula grega ômega, Ω.
Se a célula tem uma resistência de 2 ohms e uma corrente de 20 mA está fluindo, a diferença de potencial elétrico necessária para superar a resistência é E = (2 Ω)(20 mA) = 0,040 V.
FIGURA 17-2 (a) Perfil esquemático de energia para a transferência de elétrons de um metal para o H3O+, fazendo com que ocorra o desprendimento de H2. (b) A aplicação de um potencial ao metal aumenta a energia do elétron no metal e diminui a energia de ativação para a transferência do elétron.
TABELA 17-1
Sobretensão (V) para o desprendimento de gás em várias densidades de corrente (A/m2) a 25°c
10 A/m2
100 A/m2
O2
H2
0,015 4
0,398
0,030 0
Pt polida
0,024
0,721
Cu
0,479
0,422
Ag
0,475 1
Au
0,241
Gra ta
0,599 5
Pb
1 000 A/m2
H2
0,521
0,040 5
0,068
0,85
0,584
0,580
0,580
0,761 8
0,673
0,52
Zn Hg
10 000 A/m2
H2
0,638
0,048 3
0,766
0,288
1,28
0,676
1,49
0,801
0,660
1,254
0,793
0,729
0,874 9
0,984
1,089 0
1,131
0,390
0,963
0,588
1,244
0,798
1,63
0,778 8
0,977 4
1,220 0
1,090
1,179
1,262
0,716
0,746
1,064
1,229
0,9
1,0
1,1
1,1
Eletrodo
H2
Pt platinizada
O2
O2
O2
FONTE: International Critical Tables, 1929, 6, 339. Esta referência também fornece as sobretensões para o Cl2, o Br2 e o I2. A polarização de concentração ocorre quando as concentrações dos reagentes ou dos produtos na superfície do eletrodo são diferentes das respectivas concentrações no seio da solução. Para a Reação 17-1, a equação de Nernst deve ser escrita como
Os eletrodos respondem às concentrações (atividades) dos reagentes e dos produtos que se encontram nas suas vizinhanças e não às concentrações no seio da solução. Se a [Cu2+]s fosse reduzida de 0,2 M para 2 μM, o E(catodo) variaria de 0,318 para 0,170 V.
em que [Cu2+]s é a concentração na solução adjacente à superfície do eletrodo. Se a redução do Cu2+ ocorrer rapidamente, a [Cu2+]s pode se tornar muito pequena porque os íons Cu2+ não conseguem se difundir para o eletrodo tão rapidamente quanto eles
são consumidos. Quando a [Cu2+]s diminui, o E(catodo) torna-se mais negativo. A sobretensão, o potencial de queda ôhmica e a polarização de concentração dificultam o processo de eletrólise. Eles tornam a diferença de potencial na célula mais negativa, fazendo com que seja necessário que a fonte de alimentação da Figura 17-1 forneça uma diferença de potencial elétrico maior para que a reação prossiga.
A sobretensão e a polarização de concentração podem ocorrer, ao mesmo tempo, no catodo e no anodo.
EXEMPLO
Efeitos do Potencial de Queda Ôhmica, da Sobretensão e da Polarização de Concentração
Suponhamos que desejamos eletrolisar I–, produzindo I3– em uma solução de KI 0,10 M contendo 3,0 × 10–5 M de I3– em pH 10,00, com PH2 xada em 1,00 bar. 3I– + 2H2O → I–3 + H2(g) + 2OH– (a) Determine a diferença de potencial da célula quando nenhuma corrente está uindo. (b) Suponha então que a eletrólise aumenta a [I3–]s para 3,0 × 10–4 M, mas que as outras concentrações permanecem inalteradas. Admita, ainda, que a resistência da célula é 2,0 Ω, a corrente é 63 mA, a sobretensão do catodo é 0,382 V e a sobretensão do anodo é 0,025 V. Qual a diferença de potencial necessária para que a reação ocorra? Solução (a) O potencial do circuito aberto é E(catodo) – E(anodo):
Teríamos que aplicar –1,081 V para forçar a ocorrência da reação. (b) Agora, o E(catodo) é constante, mas E(anodo) varia porque [I3–]s é diferente da concentração de [I3–] no seio da solução.
Em vez de –1,081 V, teremos que aplicar –1,644 V para que a reação ocorra no sentido desejado. Observe que ambas as sobretensões contribuem para aumentar a magnitude da diferença de potencial necessária. TESTE A VOCÊ MESMO Determine a diferença de potencial na parte (b) se [I–]s = 0,01 M. (Resposta: –1,732 V)
Eletrólise com Potencial Controlado Usando uma Célula de Três Eletrodos Define-se uma espécie eletroativa como aquela que pode ser oxidada ou reduzida em um eletrodo. Podemos ajustar o potencial do eletrodo de trabalho para determinar qual espécie eletroativa vai reagir e qual não reagirá. Eletrodos metálicos são chamados de polarizáveis, o que significa que os seus potenciais variam facilmente quando correntes pequenas fluem. Um eletrodo de referência, tal como o eletrodo de calomelano ou o eletrodo de Ag | AgCl, é considerado como não polarizável, pois seu potencial quase não varia, a menos que uma corrente significativa esteja fluindo. O ideal é medirmos o potencial de um eletrodo de trabalho polarizável em relação a um eletrodo de referência não polarizável. Como isso é possível, se temos uma corrente significativa no eletrodo de trabalho e uma corrente desprezível no eletrodo de referência? Eletrodo de trabalho: onde ocorre a reação de interesse analítico Contraeletrodo: o eletrodo auxiliar necessário para a corrente fluir Eletrodo de referência: usado para medir o potencial do eletrodo de trabalho O detector cromatográfico no início deste capítulo tem um eletrodo de trabalho de Cu, um contraeletrodo de aço inoxidável e um eletrodo de referência de Ag | AgCl.
A resposta a essa questão é a introdução de um terceiro eletrodo (Figura 17-3). O eletrodo de trabalho é aquele em que a reação de interesse ocorre. O eletrodo de calomelano, ou um outro eletrodo de referência, é usado para medir o potencial do eletrodo de trabalho. O contraeletrodo (também chamado eletrodo auxiliar) é o parceiro do eletrodo de trabalho que sustenta a passagem de corrente. A corrente flui entre o eletrodo de trabalho e o contraeletrodo. A corrente que passa pelo eletrodo de trabalho é medida por um amperímetro (A) localizado próximo ao eletrodo de trabalho. A corrente que flui através do eletrodo de referência é desprezível, de modo que o seu potencial não é afetado pelo potencial de queda ôhmica, pela polarização de concentração e pela sobretensão. Ele realmente mantém um potencial de referência constante. Em uma eletrólise com potencial controlado, a diferença de potencial entre os eletrodos de trabalho e de referência em uma célula de três eletrodos é medida pelo potenciômetro (V) e controlada por um instrumento eletrônico chamado potenciostato. A Figura 17-4 ilustra a medida da sobretensão e do potencial ôhmico em um experimento para alunos. Uma diferença de potencial de 1,000 V foi imposta por um potenciostato conectado a dois eletrodos de cobre imersos em CuSO4(aq) 1,0 M. A reação no anodo é Cu(s) ⇌ Cu2+ + 2e– e a reação no catodo é Cu2+ + 2e– ⇌ Cu(s). Um potenciômetro mede a diferença de potencial entre o eletrodo de Cu à esquerda na Figura 17-4 e um eletrodo de referência de Ag | AgCl imerso em solução de CuSO4 1,0 M e conectado ao seio da solução por meio de um capilar de Luggin. Há uma corrente desprezível entre a extremidade do capilar e o eletrodo de referência porque existe uma corrente desprezível no eletrodo de referência. Ocorre uma queda ôhmica ao longo da distância d entre o eletrodo de trabalho e a extremidade do capilar. Mesmo quando não há corrente no eletrodo de referência, existe certo potencial de junção, desconhecido, no tampão poroso na parte inferior do eletrodo de referência, local em que a solução interna do eletrodo (por exemplo, de KCl) entra em contato com a solução de CuSO4 1,0 M. A queda ôhmica é a diferença de potencial entre dois pontos em uma solução em razão da resistência elétrica entre esses pontos. Se a resistência é R e a corrente é I, a queda ôhmica é IR. A resistência é proporcional à distância entre os pontos. A diferença de potencial entre o anodo e a saída do capilar de Luggin na Figura 17-4 é de 64,7 mV/cm na Figura 17-5. A variação entre o catodo e o eletrodo de referência é –65,0 mV/cm. A diferença entre a magnitude dos coeficientes angulares é devida a erros experimentais.
FIGURA 17-3
Circuito usado para uma eletrólise com potencial controlado com uma célula de três eletrodos.
Quando não há diferença de potencial aplicada entre os eletrodos de Cu, o potencial medido em cada eletrodo de Cu era +109 mV quando o capilar de Luggin era posicionado contra a superfície do Cu. Essa diferença de potencial é o potencial de equilíbrio (corrente nula) do Cu imerso em CuSO4 1,0 M medido contra Ag | AgCl | KCl 3 M. Quando uma diferença de potencial de 1,000 V é imposta entre o anodo de Cu e o catodo de Cu, uma corrente flui através da solução. Graças a esse fluxo, o potencial no anodo na Figura 17-5 extrapola para +122 mV quando d = 0 cm, e o potencial do catodo extrapola para +85 mV em d = 0 cm. Caso a corrente seja pequena o bastante para que não haja polarização de concentração, a diferença 122 – 109 = +13 mV é a sobretensão anódica, enquanto a diferença 85 – 109 = –22 mV é a sobretensão catódica.
FIGURA 17-4 Medida do potencial de um eletrodo de cobre contra um eletrodo de referência de Ag | AgCl empregando um capilar de Luggin posicionado a uma distância d do eletrodo de cobre. O eletrodo de referência está inserido no êmbolo de uma seringa selada com Parafilm® a fim de evitar que o líquido saia da seringa. O Parafilm não é mostrado no desenho. O tubo capilar de plástico é conectado à saída da seringa. [Informação de F. J. Vidal-Iglesias, J. Solla-Gullón, A. Rodes, E. Herrero e A. Aldaz, “Understanding the Nernst Equation and Other Electrochemical Concepts”, J. Chem. Ed. 2012, 89, 936.]
FIGURA 17-5 Dados obtidos por estudantes para o experimento descrito na Figura 17-4. As áreas catódica e anódica imersas em solução são iguais a 16,5 cm2. [Informação de F. J. Vidal-Iglesias, J. Solla-Gullón, A. Rodes, E. Herrero e A. Aldaz, “Understanding the Nernst Equation and Other Electrochemical Concepts”, J. Chem. Ed. 2012, 89, 936.]
A dissolução ou deposição de átomos em uma superfície metálica, como a oxidação ou redução do cobre nos eletrodos da Figura 17-4, não é normalmente um processo aleatório em uma superfície plana. O Boxe 17-1 descreve a dissolução anódica de ouro a partir de bordas de degraus atômicos.
BOXE 17-1
Reações de Metais em Degraus Atômicos
Um átomo na superfície de um cristal está ligado a outros átomos em torno dele na superfície e a átomos abaixo dele. O sítio mais reativo para a deposição ou dissolução de átomos de uma superfície metálica está frequentemente em um degrau atômico, onde cada átomo faz menos ligações químicas com seus vizinhos mais próximos. A microfotogra a vista a seguir mostra diversos terraços sobre a superfície de um cristal de ouro. Cada terraço que intercepta a linha SS’ tem apenas um átomo de altura (0,25 nm). Uma superfície de um cristal com uma qualidade como essa é normalmente descrita como “atomicamente plana”. O diagrama mostra o mecanismo de dissolução anódica do ouro em um potencial menor do que 0,1 V mais positivo do que o necessário para iniciar a dissolução em uma solução contendo HClO4 0,1 M + HCl 3 mM. O cloreto ataca os átomos de ouro nas bordas de um terraço, formando AuCl4– (aq). Os terraços recuam com uma velocidade de 400-600 átomos/minuto sob as condições do experimento.
Terraços na superfície (111) de um cristal de ouro e mecanismo de dissolução anódica assistida por Cl2. A localização do plano (111) do cristal é apresentada na Seção 17-1. [R. Wen, A. Lahiri, M. Azhagurajan, S. Kobayashi e K. Itaya, “A New in Situ Optical Microscope with Single Atomic Layer Resolution for Observation of Electrochemical Dissolution of Au(111)”, J. Am. Chem. Soc. 2010, 132, 13657, Figura 2. Reproduzida sob permissão © 2010 American Chemical Society.]
17-2
Análises Eletrogravimétricas
Em uma análise eletrogravimétrica, o analito é quantitativamente depositado sobre um eletrodo por meio de uma eletrólise. O eletrodo é pesado antes e depois do processo de deposição. O aumento na massa do eletrodo nos diz qual a quantidade de analito depositada. Podemos medir Cu2+ em uma solução reduzindo-o a Cu(s) em um catodo constituído por uma tela de platina, cuidadosamente limpa, com grande área superficial (Figura 17-6). No contraeletrodo ocorre o desprendimento de O2. Testes para verificar se a eletrodeposição foi completa: •
desaparecimento de cor
• •
deposição em uma superfície do eletrodo recém-exposta ao analito teste qualitativo da presença do analito em solução
Como podemos saber quando a eletrólise terminou? Uma maneira é observarmos o desaparecimento da cor em uma solução em que uma espécie colorida, como Cu2+ ou Co2+, é removida do meio. Outra maneira é expormos a maior parte da superfície do catodo (mas não toda) à solução durante a eletrólise. Para testarmos se a reação terminou ou não, levantamos o béquer, ou adicionamos água, de modo que existe uma nova superfície do catodo que entra em contato com a solução. Após um período adicional de eletrólise (por exemplo, 15 min), observamos se essa nova superfície exposta do eletrodo tem um depósito. Se isso ocorrer, repetimos o procedimento. Caso contrário, a eletrólise terminou. Um terceiro método é remover uma pequena amostra da solução para realizar um teste qualitativo para o analito. Na seção anterior, calculamos que deveríamos aplicar um potencial de –0,911 V entre os eletrodos para depositarmos Cu(s) no catodo. O comportamento real da eletrólise na Figura 17-7 mostra que nada de especial acontece quando aplicamos esse potencial de –0,911 V. A reação começa realmente a ocorrer quando aplicamos um potencial em torno de –2 V. Em baixos valores de potencial, uma pequena corrente residual é observada a partir da redução no catodo, e uma mesma quantidade de oxidação no anodo. A redução pode envolver traços de O2 dissolvido, impurezas, como, por exemplo, Fe3+, ou óxidos na superfície do eletrodo. A Tabela 17-1 mostra que é necessária uma sobretensão de 1 V para formação de O2 no anodo de Pt. A sobretensão é a principal responsável por não ocorrer nada em especial na Figura 17-7 antes que –2 V sejam aplicados. Além de –2 V, a velocidade da reação (a corrente) aumenta continuamente. Em torno de –4,6 V, a corrente aumenta mais rapidamente com o início da redução do H3O+ gerando H2. A formação de bolhas de gás no eletrodo interfere com a deposição metálica. A diferença de potencial entre os dois eletrodos é
Suponhamos que o potencial aplicado seja mantido constante em E = –2,0 V. Quando o Cu2+ em solução se esgotar, a corrente diminui e tanto a queda ôhmica quanto as sobretensões diminuem em magnitude. O E(anodo) é razoavelmente constante por causa da elevada concentração do solvente que está sendo oxidado no anodo
. Se o E e o
E(anodo) são constantes, e se IR e as sobretensões diminuem em magnitude, então o E(catodo) torna-se mais negativo para manter a igualdade algébrica na Equação 17-6. Na Figura 17-8, o E(catodo) cai para –0,4 V, quando então o H3O+ é reduzido a
H2. Quando o E(catodo) cai de +0,3 V para –0,4 V, outros íons, como Co2+, Sn2+ e Ni2+, podem ser reduzidos. Em geral, quando o potencial aplicado é constante, o potencial no catodo desloca-se para valores mais negativos e outros solutos podem ser reduzidos.
FIGURA 17-6 (a) Análise eletrogravimétrica. O analito é depositado em um eletrodo, que é uma tela de Pt grande. Se o analito tiver que ser oxidado em vez de ser reduzido, a polaridade da fonte de alimentação é invertida de modo que a deposição ainda ocorre no eletrodo grande. (b) Eletrodo externo formado por uma tela de Pt. (c) Eletrodo interno, opcional, também formado por uma tela de Pt, projetado para girar por meio de um motor, em substituição ao agitador magnético.
FIGURA 17-7 Relação observada entre a corrente e a diferença de potencial na eletrólise de uma solução de CuSO4 0,2 M em HClO4 1 M, sob N2, por meio da aparelhagem mostrada na Figura 17-6. Por convenção, a corrente é negativa para a redução no eletrodo de trabalho.
FIGURA 17-8 O valor de E(catodo) se torna mais negativo com o tempo, quando a eletrólise é feita em uma célula de dois eletrodos, com uma diferença de potencial constante entre os dois eletrodos. Um despolarizador catódico é reduzido preferencialmente ao solvente. Para reações de oxidação, despolarizadores anódicos incluem N2H4 (hidrazina) e NH2OH (hidroxilamina).
Para evitar que o potencial do catodo se torne tão negativo a ponto de íons indesejáveis serem reduzidos, podemos adicionar à solução um despolarizador catódico, como, por exemplo, o NO3–. Um despolarizador catódico é reduzido mais facilmente do que o H3O+:
Como outra opção, podemos usar uma célula de três eletrodos (Figura 17-3) com um potenciostato para controlar o potencial do catodo e prevenir reações secundárias indesejáveis.
EXEMPLO
Eletrólise em Potencial Controlado
Qual o potencial do catodo que é necessário para reduzir 99,99% de Cu2+ 0,10 M para Cu(s)? É possível remover o Cu2+ sem reduzir o Sn2+ 0,10 M também presente na mesma solução?
Solução Se 99,99% de Cu2+ forem reduzidos, a concentração do Cu2+ restante será 1,0 × 10–5 M, e o potencial do catodo necessário será
O potencial do catodo necessário para reduzir o Sn2+ é
Não esperamos que o Sn2+ seja reduzido em um potencial do catodo mais positivo que –0,17 V. Aparentemente, é possível a redução de 99,99% do Cu2+ sem que ocorra a redução do Sn2+. TESTE A VOCÊ MESMO Se E(catodo) = 0,19 V, é possível a redução de SbO+ em uma solução 0,10 M em pH 2 por meio da reação SbO+ + 2H+ + 3e– ⇌ Sb(s) + H2O, E° = 0,208 V? (Resposta: E(catodo) para SbO+ = 0,11 V, de modo que a reação não deve ocorrer em 0,19 V) Deposição em Subpotencial Quando Sn2+ em HCl 1 M é submetido à eletrólise em um eletrodo de trabalho de ouro, observa-se a redução em E(catodo) = – 0,18 V por meio da técnica denominada voltametria cíclica, que veremos mais tarde neste capítulo. Com base em tudo o que vimos até agora, esperamos que potenciais mais positivos que –0,18 V não reduzam Sn2+. Todavia, observa-se uma pequena corrente quando E(catodo) = +0,12V. O número de coulombs necessário em –0,18 V aumenta proporcionalmente com [Sn2+]. O número de coulombs necessário em +0,12 V é o bastante para produzir 8,7 × 10–10 mol de Sn(s) por centímetro quadrado da superfície do eletrodo de ouro.8 Em seguida, não há mais nenhuma corrente fluindo em E(catodo)= +0,12V. A redução em +0,12 V é denominada deposição em subpotencial. Ela ocorre em um potencial não previsto para a redução do Sn2+ a Sn(s). Ele é explicado pela reação
na qual o produto é uma camada monoatômica de estanho sobre o ouro. Aparentemente, é mais fácil depositar uma camada de átomos de estanho sobre ouro do que formar um depósito de estanho sobre um suporte do próprio metal. Por isso, o potencial para a Reação 17-9 é mais positivo do que o potencial para a Reação 17-8.
17-3
Coulometria
Métodos coulométricos se fundamentam na medida do número de elétrons que participam de uma reação química.
A coulometria é uma técnica de análise química que se fundamenta na medida do número de elétrons que são transferidos em uma determinada reação. Por exemplo, o ciclo-hexeno pode ser titulado com Br2 produzido pela oxidação eletrolítica do Br2:
A solução inicial contém uma quantidade desconhecida de ciclo-hexeno e um grande excesso de Br–. Quando a Reação 17-10 houver produzido uma quantidade de Br2 suficiente para reagir com todo o ciclo-hexeno, o número de mols de elétrons liberados na Reação 17-10 é igual ao dobro do número de mols de Br2, e, consequentemente, o dobro do número de mols de ciclo-hexeno. A reação é realizada, mantendo-se a corrente constante, com o arranjo experimental visto na Figura 17-8. O Br2, produzido no anodo de Pt à esquerda, reage com o ciclo-hexeno. Quando todo o ciclo-hexeno tiver sido consumido, a concentração de Br2 na solução aumentará repentinamente, o que assinala o término da reação. O aumento na concentração de Br2 é detectado medindo-se a corrente entre os dois eletrodos, à direita da Figura 17-9, que funcionam como um detector. Um potencial de 0,25 V aplicado entre esses dois eletrodos não é suficiente para eletrolisar soluto algum, deste modo apenas uma pequena corrente < 1 μA flui através do microamperímetro. No ponto de equivalência, o ciclohexeno é consumido, a [Br2] aumenta bruscamente e a corrente do detector flui em virtude das reações: Anodo do detector: Catodo do detector:
2Br2 → Br2 + 2e– Br2 + 2e2 → 2Br–
Tanto o Br2 quanto o Br– têm que estar presentes para que as duas meias-reações (nos dois eletrodos) no detector ocorram. Antes do ponto de equivalência existe Br–, mas praticamente não há Br2.
Na prática, inicialmente na ausência de ciclo-hexeno gera-se Br2 suficiente para fornecer uma corrente no detector de 20,0 μA. Quando o ciclo-hexeno é adicionado, a corrente no detector diminui para um valor muito pequeno, pois o Br2 é consumido. O Br2 é produzido então pelo circuito coulométrico, e o ponto final é considerado quando o detector atinge novamente 20,0 μA. Como a reação é iniciada na presença de Br2, impurezas que podem reagir com Br2 antes da adição do analito são eliminadas.
A corrente de eletrólise (que não deve ser confundida com a corrente no detector) para os eletrodos geradores de Br2 pode ser controlada por um interruptor operado manualmente. Quando a corrente no detector se aproxima de 20,0 μA, ligamos o interruptor por intervalos cada vez menores. Esse procedimento é análogo a uma adição de titulante gota a gota, a partir de uma bureta, quando nos aproximamos do ponto final de uma titulação. O interruptor no circuito coulométrico funciona como uma “torneira” para adição de Br2 à reação. Os instrumentos modernos automatizam inteiramente esse procedimento.
EXEMPLO
Titulação Coulométrica
Um volume de 2,000 mL de uma solução contendo 0,611 3 mg de ciclo-hexeno/mL é titulado como na Figura 17-9. Com uma corrente constante de 4,825 mA, quanto tempo é necessário para completarmos a titulação? Solução A quantidade de ciclo-hexeno é
Nas Reações 17-10 e 17-11, cada mol de ciclo-hexeno reage com 1 mol de Br2, que por sua vez requer 2 mols de elétrons. A Equação 17-3 estabelece uma relação entre o tempo de reação e o número de mols da reação:
Serão necessários praticamente 10 min para completar a reação. TESTE A VOCÊ MESMO Qual o tempo necessário para titular 1,000 mg de ciclo-hexeno em 4,000 mA? (Resposta: 587,3 s)
FIGURA 17-9 Montagem experimental para titulação coulométrica do ciclo-hexeno com Br2. A solução contém ciclo-hexeno, solução de KBr 0,15 M, e acetato mercúrico 3 mM em uma mistura de solventes contendo ácido acético, metanol e água. O acetato mercúrico catalisa a adição de Br2 à olefina. [Informação de D. H. Evans, “Coulometric Titration of Cyclohexene with Bromine”, J. Chem. Ed. 1968, 45, 88.]
FIGURA 17-10 Célula onde o contraeletrodo está isolado do analito. Os íons fluem através dos poros do disco de vidro sinterizado. O nível do líquido no compartimento do contraeletrodo deve ser maior que o do líquido no restante da célula. Essa diferença de nível deve existir para que a solução do analito não flua para dentro do compartimento do contraeletrodo.
Coulômetros comerciais estabelecem um controle de fluxo de elétrons com uma exatidão de ∼0,1%. Com extremo cuidado, o valor da constante de Faraday foi determinado por coulometria, com uma exatidão de algumas partes por milhão.9 Coulômetros totalmente automáticos produzem, normalmente, H+, OH–, Ag+ e I2 para titular diferentes analitos, incluindo CO2, sulfitos em alimentos e sulfetos em águas residuais e Fe2+ em suplementos dietéticos.10 Reagentes instáveis, tais como Ag2+, Cu+, Mn3+ e Ti3+, podem ser utilizados in situ, ou seja, no mesmo recipiente em que foram produzidos. Na Figura 17-9, a espécie reativa (Br2) é produzida no anodo. Os produtos do catodo (H2 a partir do solvente e Hg a partir do catalisador) não interferem na reação entre o Br2 e o ciclo-hexeno. Em alguns casos, no entanto, o H2 ou o Hg pode reagir com o analito. Portanto, é aconselhável a separação entre o contraeletrodo e o analito usando-se a célula da Figura 17-10. O H2 gasoso borbulha fora da câmara do catodo de forma inócua sem se misturar com o seio da solução. Vantagens da coulometria: • • •
precisão sensibilidade geração de reagentes instáveis in situ (no próprio meio reacional em que serão consumidos) A expressão latina in situ significa “no local”. O reagente é imediatamente usado uma vez que foi gerado.
Tipos de Coulometria Na coulometria usa-se uma corrente constante ou um potencial controlado. Os métodos de corrente constante, como o do exemplo anterior do Br2/ciclo-hexeno, são chamados de titulações coulométricas. Se conhecemos a corrente e o tempo de reação, sabemos quantos coulombs passaram a partir da Equação 17-2: q = I × t. A coulometria com potencial controlado em uma célula de três eletrodos é mais seletiva que a coulometria de corrente constante. Como o potencial do eletrodo de trabalho é constante, a corrente diminui exponencialmente à medida que a concentração do analito diminui. O valor da carga elétrica é medido pela integração da corrente durante o tempo de reação:
Na Figura 17-11, o açúcar D-frutose é oxidado em um eletrodo por meio de coulometria com potencial controlado, catalisado pela enzima D-frutose desidrogenase adsorvida em um eletrodo de carbono poroso mantido a +500 mV contra Ag | AgCl. Os elétrons da D-frutose fluem através da enzima e pelo eletrodo. A adição de D-frutose no momento indicado pela seta produz um pulso de corrente seguido de um decaimento exponencial. A carga total transferida da D-frutose para o eletrodo é a área sob a curva da corrente contra o tempo, dada pela integral na Equação 17-12.
FIGURA 17-11 Oxidação por coulometria com potencial controlado do açúcar D-frutose em uma célula de três eletrodos pela enzima D-frutose desidrogenase adsorvida sobre partículas de carbono em um eletrodo de carbono a +500 mV contra Ag | AgCl. Não se observa corrente na ausência da enzima. Um contraeletrodo de Pt em outro compartimento, conectado por meio de uma ponte salina, completa o circuito e reduz o tamanho do compartimento da solução tampão. [Dados de S. Tsujimura, A. Nishina, Y. Kamitaka e K. Kano, “Coulometric D-Fructose Biosensor Based on Direct Electron Transfer Using D-Fructose Dehydrogenase”, Anal. Chem. 2009, 81. 9383.] Amperometria: a corrente elétrica é proporcional à concentração do analito. Coulometria: o número total de elétrons usados em uma reação nos informa a quantidade de analito presente. Enzima: Uma proteína que catalisa uma reação bioquímica. A enzima aumenta a velocidade da reação em várias ordens de grandeza. Anticorpo: Uma proteína que se liga a uma molécula-alvo específica chamada de antígeno. Os anticorpos se ligam a células estranhas a um organismo a fim de iniciar o processo de destruição delas, ou então identificam-nas para possibilitar o ataque de células do sistema imunológico.
Em razão da queda exponencial da corrente, é preciso decidir quando parar a integração da área abaixo da curva da corrente contra o tempo. Uma escolha é permitir que a corrente decaia a um valor preestabelecido. Por exemplo, a corrente (acima da corrente residual) será idealmente 0,1% do seu valor inicial quando 99,9% do analito tiver sido consumido. Alternativamente, a curva da corrente contra o tempo pode ser ajustada a uma curva matemática teórica que permite a integração.
17-4
Amperometria
Na amperometria, medimos a corrente elétrica entre um par de eletrodos que participam da reação de eletrólise. Um dos reagentes é o analito e a corrente medida é proporcional à sua concentração. A medida de O2 dissolvido com o eletrodo de Clark, no Boxe 17-2, se fundamenta na amperometria. Uma espécie de sensor diferente – o “nariz eletrônico” – é descrito no Boxe 17-3. Os biossensores17 empregam componentes biológicos, como por exemplo enzimas, anticorpos, ou DNA, de modo a obter respostas altamente seletivas a um determinado analito. Os biossensores que geram sinais ópticos ou elétricos são os mais comuns. Exemplos de biossensores amperométricos são aqueles que determinam lactato na transpiração ou em tecido lesionado,18 H2O2 liberado de células hepáticas danificadas,19 biomarcadores para câncer de mama20 e proteínas, ácidos nucleicos e pequenas
moléculas específicas.21,22 Iremos descrever em seguida os monitores de glicose no sangue, que são, de longe, os biossensores mais utilizados. Monitor de Glicose no Sangue O diabetes afeta cerca de 9% da população dos EUA. Pessoas diabéticas precisam, frequentemente, monitorar o nível de açúcar (glicose) no sangue várias vezes ao dia, de modo a controlar a doença por meio de uma dieta apropriada ou por meio de injeções de insulina. A Figura 17-12 mostra um monitor portátil de glicose, que utiliza uma fita de teste descartável e onde existem dois eletrodos de trabalho de carbono e um eletrodo de referência de Ag | AgCl. Uma pequena quantidade de sangue, cerca de 4 μL, colocada na abertura circular vista à direita na Figura 17-12, umedece, por difusão, através de uma fina tela hidrofílica (“com afinidade pela água”), a superfície de todos os três eletrodos. A medida é feita 20 segundos depois que o líquido alcança o eletrodo de referência. O eletrodo de trabalho 1 é recoberto com a enzima glicose oxidase23 e um mediador, que será descrito adiante. A enzima catalisa a reação da glicose com o O2:
BOXE 17-2
Eletrodo de Clark para o Oxigênio
O eletrodo de Clark para oxigênio11 é amplamente utilizado em medicina e biologia para determinação do oxigênio dissolvido por amperometria. Leland Clark, que inventou o eletrodo de oxigênio, também desenvolveu o monitor de glicose e o coração-pulmão arti cial. Na gura ao lado, o corpo de vidro do microeletrodo termina em uma ponta na com uma abertura de 5 μm na base. Na parte interna dessa abertura encontra-se um plugue de borracha de silicone, que é permeável ao O2, de comprimento entre 10 e 40 μm. O oxigênio difunde-se no eletrodo através da borracha, e é reduzido na extremidade de um o de Pt recoberto com Au, o qual é mantido em uma diferença de potencial de –0,75 V em relação ao eletrodo de referência Ag | AgCl: Pt | catodo de Au:
O2 + 4H+ + 4e– → 2H2O
Ag | anodo de AgCl:
4Ag + 4Cl– → 4AgCl + 4e–
O eletrodo de Clark é calibrado com soluções com concentrações conhecidas de O2. Constrói-se um grá co de corrente versus [O2]. O eletrodo também contém um eletrodo de guarda em prata que se estende ao longo de quase todo o eletrodo até a parte na. O eletrodo de guarda é mantido em um potencial negativo de modo que qualquer O2 proveniente do topo do eletrodo é reduzido, não interferindo na determinação do O2 que se difunde através da membrana de silicone na ponta na. Eletrodos semelhantes foram desenvolvidos para a detecção de NO, CO12 e NO2–.13
Microeletrodo de oxigênio de Clark usado para determinação de O2 dissolvido em pequenos volumes. A ponta do catodo é recoberta com ouro, que é menos suscetível a recobrimento por adsorção de espécies da solução-teste do que a platina. [Informação de N. P. Revsbech, “An Oxygen Microsensor with a Guard Column”, Limnol. Oceanogr. 1989, 34, 474.]
BOXE 17-3
O que É um “Nariz Eletrônico”?
Antigamente, os químicos se orgulhavam de sua capacidade de identi car substâncias pelo olfato. Hoje, sabemos que substâncias desconhecidas de nitivamente não devem ser identi cadas por seus odores, pois muitas delas emitem vapores tóxicos. Recentemente, os químicos têm desenvolvido “narizes eletrônicos”, os quais reconhecem odores que permitem veri car se alimentos como carnes estão frescos, se as frutas não estão estragadas por dentro, e para detectar adulterações em produtos alimentícios.14 Uma maneira de reconhecer a presença de substâncias voláteis é recobrir um conjunto de pequenos eletrodos intercalados com um polímero condutor elétrico, como os derivados do polipirrol.
Quando moléculas gasosas que são responsáveis pelos odores são absorvidas pelo polímero, a condutividade elétrica do polímero varia. Gases diferentes afetam a condutividade de maneira diferente. Outros sensores semelhantes incluem polímeros modi cados pela adição de partículas de prata metálica ou de gra ta. Quando o polímero absorve moléculas pequenas, ele se expande e a condutividade elétrica diminui. Um sensor “olfativo” comercial possui 32 conjuntos de microeletrodos, cada um deles revestido com um polímero diferente. O sensor apresenta então 32 per s diferentes de variação de condutividade elétrica, quando exposto a um determinado tipo de vapor. Essas 32 variações de sinal representam uma verdadeira “impressão digital” do vapor presente. Um nariz eletrônico precisa ser “treinado” de modo a reconhecer diferentes odores por meio de suas impressões digitais características, representadas pela condutividade elétrica. Algoritmos de padrão de reconhecimento são usados para esse propósito. Outro sensor de condutividade detecta uma proteína marcadora de câncer no sangue.15 Outros tipos de nariz eletrônico são baseados nas variações da absorção de luz por polímeros depositados na ponta de bras óticas e nas variações dos transistores de efeito de campo (Seção 15-8). As mudanças de cor em um arranjo de 36 pigmentos detectam produtos industriais tóxicos em níveis de concentração de partes por bilhão.16
Eletrodos colocados em posições alternadas e recobertos com um polímero condutor funcionam como um nariz eletrônico. A condutividade elétrica do polímero se modi ca quando ele absorve moléculas responsáveis pelo odor. O espaçamento entre cada par de eletrodos é de ∼0,25 mm.
FIGURA 17-12 (a) Monitor pessoal de glicose usado por pessoas diabéticas para determinar o nível de glicose no sangue. [Abidika / iStockphoto] (b) Detalhes da fita de teste descartável na qual se coloca uma gota de sangue a analisar.
Reação que se passa no revestimento do eletrodo de trabalho 1:
Na ausência da enzima, a oxidação da glicose é desprezível. Os primeiros sensores de glicose mediam o H2O2 a partir da Reação 17-13 pela oxidação em um único eletrodo de trabalho, que era mantido em +0,6 V em relação ao eletrodo de Ag | AgCl: Reação no eletrodo de trabalho 1:
A corrente é proporcional à concentração de H2O2, que por sua vez é proporcional à concentração de glicose no sangue (Figura 17-13). Um problema com os primeiros medidores de glicose era que suas respostas dependiam da concentração de O2 na camada enzimática, pois o O2 participa da Reação 17-13. Se a concentração de O2 fosse baixa, o instrumento respondia como se a concentração de glicose na amostra, independentemente de seu valor, fosse baixa. Uma maneira adequada de reduzir a dependência em relação à concentração de O2 consiste em incorporar na camada enzimática uma espécie que substitui o O2 na Reação 17-13. A substância que transporta elétrons entre o analito (neste caso, glicose) e o eletrodo é conhecida como mediador.
FIGURA 17-13 Resposta de um eletrodo amperométrico para glicose com uma concentração de O2 dissolvido correspondente a uma pressão de oxigênio de 0,027 bar, valor 20% menor que uma concentração típica de O2 em um tecido subcutâneo. [Dados de S.-K. Jung e G. W. Wilson, “Polymeric Mercaptosilane-Modified Platinum Electrodes for Elimination of Interferants in Glucose Biosensors”, Anal. Chem. 1996, 68, 591.]
Reação que se passa no revestimento do eletrodo de trabalho 1:
Um mediador transporta elétrons entre o analito e o eletrodo de trabalho. O mediador não participa da reação global.
O mediador consumido na Reação 17-15 é então regenerado no eletrodo de trabalho: Reação no eletrodo de trabalho 1:
O ferroceno tem em sua estrutura dois anéis de cinco membros planos, semelhantes ao benzeno. Cada anel apresenta uma carga formal negativa; portanto, o Fe, localizado entre os dois anéis, encontra-se no estado de oxidação +2. O ferroceno é considerado como sendo um complexo sanduíche. O mediador diminui o valor do potencial necessário para o funcionamento do eletrodo de trabalho, em relação ao eletrodo de Ag | AgCl, de 0,6 V para 0,2 V, melhorando assim a estabilidade do sensor e eliminando interferências de outras espécies presentes no sangue. Um sensor modificado mede a glicose em uma concentração 2 fM em um volume de 30 μL, contendo apenas 36 000 moléculas de glicose.24
A corrente no eletrodo de trabalho é proporcional à concentração de ferroceno, que, por sua vez, é proporcional à concentração de glicose no sangue. Um problema com os medidores de glicose é que outras substâncias presentes no sangue, como o ácido ascórbico (vitamina C), o ácido úrico e o medicamento acetaminofeno (Tylenol), podem ser oxidadas no mesmo potencial necessário para oxidar o mediador na Reação 17-16. Para eliminar esse tipo de interferência, a tira de teste da Figura 17-12 tem um segundo eletrodo indicador recoberto com o mediador, mas não com a glicose oxidase. As espécies interferentes que são reduzidas no eletrodo 1 também são reduzidas no eletrodo 2. A corrente que corresponde à presença de glicose é a corrente no eletrodo 1 menos a corrente no eletrodo 2 (ambas as correntes medidas em relação ao mesmo eletrodo de referência). Podemos agora entender por que a tira de teste tem dois eletrodos de trabalho. Um desafio é a fabricação de sensores de glicose de tal maneira reprodutíveis que não necessitem de calibração. Nesse caso, o usuário colocaria uma gota de sangue na tira de teste e obteria de imediato um resultado sem primeiro construir uma curva de calibração a partir de concentrações conhecidas de glicose no sangue. Atualmente, cada lote de tiras de teste possui alta reprodutibilidade e é calibrado na fábrica. Um método engenhoso usa um monitor de glicose para medir uma variedade de analitos, incluindo fármacos, pequenas moléculas biológicas, proteínas marcadoras de doenças e íons metálicos tóxicos.25 O analito-alvo libera uma forma ligada da enzima invertase, que converte o açúcar de mesa (sacarose) em glicose, que é medida pelo monitor de glicose. Por meio dessa abordagem, os monitores de glicose podem ser amplamente empregados em medicina diagnóstica e no monitoramento ambiental. “Instalação Elétrica” de Enzimas e Mediadores para o Monitor de Glicose no Sangue A demanda por monitores de glicose fornece um estímulo econômico para a realização de pesquisas que permitam o aumento do desempenho dos monitores pessoais de glicose.26 Vale notar que esses avanços incluem: (1) o monitoramento da reação por coulometria em vez de amperometria; (2) o emprego de diferentes enzimas para catalisar a oxidação da glicose; (3) uma “instalação elétrica” para aumentar a velocidade de reação e evitar que os reagentes se difundam para longe do eletrodo de trabalho. Na amperometria, determina-se a corrente que flui durante a oxidação da glicose. Na coulometria, conta-se o número de elétrons necessários para oxidar a glicose em uma amostra de sangue. A amperometria mede a velocidade de oxidação, enquanto a coulometria determina o número de moléculas que foram oxidadas. A velocidade de reação e, consequentemente, a corrente, depende da temperatura, mas a carga total transferida durante a oxidação independe da temperatura. Desse modo, a medida coulométrica independe da temperatura. A carga total transferida também não sofre influência da atividade da enzima (quão rapidamente ela trabalha) e da mobilidade do mediador, sendo que ambas afetam a corrente. A corrente também é afetada pelo esgotamento da glicose durante a determinação. Na coulometria, a meta é consumir toda a glicose. Um cofator é uma pequena molécula não proteica que se liga a uma enzima, sendo necessário para a atividade dessa enzima.
A substituição da enzima glicose oxidase pela glicose desidrogenase elimina o O2 como reagente. Um cofator denominado PQQ, o qual se liga à glicose desidrogenase, recebe 2H+ + 2e– durante a oxidação.
Ao contrário da Reação 17-13, o O2 não participa da Reação 17-17. Assim, não existe dependência da resposta ao O2 dissolvido. Em um polímero em gel em uma “instalação elétrica” na superfície de um eletrodo de carbono (Figura 17-14), a enzima e um mediador de ósmio são ligados a um esqueleto polimérico. O produto PQQH2 da Reação 17-17 é oxidado de volta a PQQ + 2H+ por um íon Os3+ próximo. O íon Os3+ é reduzido a Os2+ no processo. O íon Os2+ pode trocar um elétron com um outro íon Os3+. Os elétrons são rapidamente transportados do Os ao Os até que eles cheguem ao eletrodo de carbono. Nesse momento, os elétrons fluem através do circuito para o contraletrodo de Ag | AgCl, em que o AgCl é reduzido a Ag + Cl–. A “instalação elétrica” da enzima e dos mediadores de ósmio aumenta a corrente por um fator de 10 a 100 em comparação com uma camada de enzima/mediador depositada sobre um eletrodo. A elevação da corrente produz um sinal maior e uma medida mais rápida. A ligação covalente ente o ósmio e o polímero evita que o mediador se difunda na direção do contraeletrodo, onde poderia reagir e criar uma grande corrente de fundo (background). Os ligantes para o ósmio são escolhidos de modo que se aplique a corrente mais suave possível (+0,1 V versus Ag | AgCl) ao eletrodo para oxidar a glicose. Nesse potencial, os interferentes oxidáveis usuais produzem pequenos erros aceitáveis na determinação da glicose.
FIGURA 17-14 “Instalação elétrica” da glicose desidrogenase. A enzima catalisa a oxidação da glicose, reduzindo PQQ a PQQH2. PQQH2 é oxidado de volta a PQQ + 2H+ pelo íon Os3+. Os elétrons se movem através de sucessivos átomos de ósmio até que cheguem ao anodo de carbono. Todos os membros da cadeia redox estão ligados a um esqueleto polimérico.
As tiras de teste mais recentes de monitores de glicose necessitam apenas de 0,3 μL de sangue para uma determinação, o que reduz significativamente a dor que muitas pessoas sentem quando precisam determinar a glicose diversas vezes ao dia. A glicose
contida no volume amostrado é oxidada em cerca de 1 min, e a corrente é medida em função do tempo. A integração da corrente contra o tempo (Equação 17-12) fornece a carga total necessária para oxidar a glicose. Eletrodo de Disco Rotatório Três maneiras diferentes para que um analito alcance a superfície de um eletrodo: • •
difusão convecção
•
migração
Uma molécula pode atingir a superfície de um eletrodo de três maneiras diferentes: (1) difusão através de um gradiente de concentração; (2) convecção, que é o movimento no seio do líquido por causa de um processo físico como a agitação ou a ebulição; e (3) migração, que é a atração ou repulsão de um íon provocada por uma superfície eletricamente carregada. Um eletrodo de trabalho muito usado em amperometria é o eletrodo de disco rotatório, no qual a convecção e a difusão controlam o fluxo de analito em direção ao eletrodo.27,28 Quando o eletrodo na Figura 17-15a gira a ∼1000 rotações por minuto, forma-se um vórtice que traz muito rapidamente, por meio da convecção, o analito para perto da superfície do eletrodo. Se o potencial elétrico aplicado no eletrodo for suficientemente grande, o analito reagirá rapidamente, diminuindo o valor de sua concentração na superfície do eletrodo a praticamente zero. O gradiente de concentração do analito resultante é apresentado de maneira esquemática na Figura 17-15b. O analito deve atravessar uma distância final curta (∼10-100 μm) somente por difusão. O símbolo ∞ significa “proporcional a”.
A velocidade com que o analito se difunde do seio da solução em direção à superfície do eletrodo é proporcional à diferença de concentração entre as duas regiões:
em que [C]0 é a concentração de analito no seio da solução e [C]s é a concentração na superfície do eletrodo. Em um potencial elétrico suficientemente grande, a velocidade de reação no eletrodo é tão grande que [C]s ≪ [C]0 e a Equação 17-18 se reduz a
A corrente-limite também é chamada de corrente de difusão, pois seu valor depende da velocidade com que o analito se difunde em direção ao eletrodo. A proporcionalidade entre a corrente de difusão e a concentração de analito, no seio da solução, fundamenta toda a análise quantitativa por amperometria e também por voltametria, técnica que será vista na próxima seção. Quanto maior for a rotação de um eletrodo de disco rotatório, mais fina será a espessura da camada de difusão na Figura 1715b, e maior será a corrente de difusão. Um eletrodo de Pt rodando rapidamente pode medir H2O2 em concentrações tão baixas quanto 20 nM na água da chuva.29 O H2O2 é oxidado a O2 na superfície da Pt, em um potencial de +0,4 V (contra o E.C.S.), e a corrente medida é proporcional a [H2O2] presente na água da chuva.
FIGURA 17-15 (a) Eletrodo de disco rotatório. Apenas a superfície polida inferior do eletrodo, com um diâmetro típico de 5 mm, entra em contato com a solução. (b) Diagrama esquemático do perfil de concentração do analito próximo à superfície de um eletrodo de disco rotatório quando o potencial aplicado ao eletrodo é suficientemente grande de modo a reduzir o valor da concentração do analito na superfície do eletrodo a 0.
17-5
Voltametria
Voltametria é um conjunto de técnicas em que, durante um processo eletroquímico, se observa uma relação entre o potencial e a corrente.30 O voltamograma na Figura 17-16a é um gráfico da corrente contra o potencial do eletrodo de trabalho para uma mistura dos íons ferricianeto e ferrocianeto, que estão sendo oxidados ou reduzidos em um eletrodo de disco rotatório. Por convenção, o valor da corrente é positivo quando o analito é reduzido no eletrodo de trabalho. A corrente-limite (de difusão) para a oxidação do Fe(CN)64– é observada em potenciais superiores a +0,5 V (contra o E.C.S.).
Nessa região, a corrente depende da velocidade com que o íon Fe(CN)64– se difunde para o eletrodo. A Figura 17-16b mostra que esta corrente é proporcional à concentração de Fe(CN)64– no seio da solução, tal como no caso do eletrodo de disco rotatório na Equação 17-19. Abaixo de 0 V, existe outro platô na curva correspondendo à corrente de difusão para a redução do Fe(CN)63– cuja concentração é constante em todas as soluções. O diamante é um isolante elétrico. A substituição de um entre 500 átomos de C por B torna o diamante um semicondutor, cuja condutividade é 10–5 a 10–4 dos metais.
Questão: O diamante dopado com boro é um semicondutor do tipo p ou do tipo n? Consulte a Figura 15-37. Resposta: Semicondutor do tipo p
Os eletrodos metálicos relativamente inertes, platina e ouro, são usados principalmente em oxidações. Suas faixas úteis de diferença de potencial são mostradas na Tabela 17-2. Em potenciais negativos, a água é reduzida a H2 sobre Pt e Au, o que limita a utilidade desses eletrodos. Os eletrodos de carbono vítreo são adequados para oxidação e redução. O diamante dopado com boro quimicamente depositado por vapor (Figura 17-17) é um eletrodo de carbono comercialmente disponível excepcionalmente inerte em uma grande faixa de potencial e que apresenta baixa corrente de fundo,31 resistência à oxidação superficial,32 elevada sobretensão para produção de O232 e transparência no infravermelho e na região do visível. Camadas monoatômicas de grafita são denominadas grafeno.
TABELA 17-2
Faixas aproximadas de potencial para diversos eletrodos de trabalho em solução de H2SO4 1 M
Eletrodo
Faixa de potencial (V contra E.C.S.)
Pt
–0,2 a +0,9 V
Au
–0,3 a +1,4 V
Hg
–1,3 a +0,1 V
Carbono vítreo
–0,8 a +1,1 V
Diamante dopado com boroa
–1,5 a +1,7 V
Diamante dopado com boro uoradob
–2,5 a +2,5 V
a. A. E. Fischer, Y. Show e G. M. Swain, “Electrochemical Performance of Diamond Thin-Film Electrodes from Different Commercial Sources”, Anal. Chem. 2004, 76, 2553; Y. Dai, G. M. Swain, M. D. Porter e J. Zak, “Optically Transparent Carbon Electrodes”, Anal. Chem. 2008, 80, 14; J. Stotter, Y. Show, S. Wang e G. Swain, “Comparison of Electrical, Optical, and Electrochemical Properties of Diamond and Indium Tin Oxide Thin-Film Electrodes”, Chem. Mater. 2005, 17, 4880. b. S. Ferro e A. De Battisti, “The 5-V Window of Polarizability of Fluorinated Diamond Electrodes in Aqueous Solutions”, Anal. Chem. 2003, 75, 7040.
FIGURA 17-16 (a) Voltamogramas para uma mistura de K3Fe(CN)6 10mM e K4Fe(CN)6 20-60 mM, em Na2SO4 0,1 M, em um eletrodo rotatório de carbono vítreo. Velocidade de rotação = 2 000 rotações por minuto e velocidade de varredura do potencial elétrico = 5 mV/s. (b) Dependência da corrente-limite em relação à concentração de K4Fe(CN)6. [Dados de J. Nikolic, E. Expósito, J. Iniesta, J. González-Garcia e V. Montiel, “Theoretical Concepts and Applications of a Rotating Disk Electrode”, J. Chem. Ed. 2000, 77, 1191.]
FIGURA 17-17 Microscopia eletrônica de varredura de uma superfície policristalina de um eletrodo de diamante dopado com boro. [Y. Song e G. M. Swain, “Development of a Method for Total Inorganic Arsenic Analysis Using Anodic Stripping Voltammetry and a Au-coated, Diamond Thin-Film Electode”, Anal. Chem. 2007, 79, 2412. Reproduzido sob permissão © 2007, American Chemical Society.]
A oxidação eletroquímica (chamada “anodização”) do grafeno a 2,0 V contra Ag | AgCl em tampão de fosfato produz um eletrodo com uma faixa de potencial eletroquímico comparável àquela do diamante dopado com boro.33
O grafeno é um plano isolado de carbono hexagonal. O Prêmio Nobel de Física de 2010 foi concedido a A. Geim e K. Novoselov pelo isolamento do grafeno.
Polarogra a A polarografia vem sendo largamente substituída pela voltametria, com materiais de eletrodo que não apresentam a toxicidade do mercúrio. Os princípios descritos para o eletrodo de mercúrio aplicam-se a outros eletrodos. O mercúrio ainda é o eletrodo de escolha para as análises por esgotamento (remoção), que é a técnica voltamétrica mais sensível. Para a limpeza de respingos de mercúrio, veja a nota 34.
Quando a voltametria é feita usando-se um eletrodo de mercúrio gotejante, ela é chamada de polarografia (Figura 17-18). O dosador mantém suspensa uma gota de mercúrio na ponta de um capilar de vidro. Após uma medida da corrente e do potencial elétrico, a gota é removida mecanicamente de sua posição. Uma nova gota é então formada, e uma nova medida é feita. As gotas de mercúrio recentemente expostas à solução fornecem um comportamento potencial contra corrente reprodutível. A corrente em outros eletrodos, como o de Pt, depende muito das condições da superfície do eletrodo, e não são tão reprodutíveis quanto a gota de mercúrio recém-produzida. A maioria das reações estudadas com o eletrodo de Hg é de redução. Na superfície da Pt, a redução do H+ compete com a redução de muitos analitos: 2H+ + 2e– → H2(g)
E° = 0
Um amálgama é qualquer coisa dissolvida em Hg.
A Tabela 17-1 mostrou que existe uma sobretensão elevada para a redução do H+ na superfície do Hg. Logo, reações que são termodinamicamente menos favorecidas do que a redução do H+ podem ocorrer sem a redução competitiva do H+. Em soluções neutras ou alcalinas, até mesmo os cátions dos metais alcalinos (Grupo 1) são mais facilmente reduzidos que o H+. Além disso, a redução de um metal formando amálgama com o mercúrio é mais favorecida que a redução ao estado sólido: K+ + e– → K(s) E° = –2,936 V K+ + e– + Hg → K(em Hg) E° = –1,975 V Os polarogramas na literatura antiga mostram oscilações de grande amplitude superpostas à onda polarográfica da Figura 17-20a. Durante os primeiros 50 anos da polarografia, as medidas de corrente eram feitas continuamente, enquanto o Hg escoava por um tubo capilar. Cada gota crescia até cair e era substituída por uma nova gota. Em consequência, a corrente oscilava de um valor pequeno quando a gota era pequena até um valor alto quando a gota era grande.
O mercúrio não é muito útil para estudarmos reações de oxidação, pois ele é oxidado em um meio não complexante em um potencial próximo a +0,25 V (contra o E.C.S.). Se a concentração de Cl– é 1 M, o Hg é oxidado próximo de 0 V, pois o Hg(II) é estabilizado pelo Cl–: Hg(l) + 4Cl– ⇌ HgCl42– + 2e– Uma maneira prática para fazer medidas em polarografia é por meio da polarografia por amostragem de corrente, em que se aplica um potencial elétrico definido por uma função rampa em degrau, como a da Figura 17-19. Após cada queda de uma gota de mercúrio, o potencial se torna 4 mV mais negativo. Após uma espera de quase 1 s, a corrente é medida durante os últimos 17 ms do tempo de vida de cada gota de Hg. A onda polarográfica na Figura 17-20a resulta da redução do analito Cd2+ para formar um amálgama: Cd2+ + 2e– → Cd(em Hg)
FIGURA 17-18 Célula polarográfica com um eletrodo gotejante de mercúrio como eletrodo de trabalho. A técnica de polarografia foi inventada em 1922 por J. Heyrovsky´, que recebeu o Prêmio Nobel por este invento em 1959.
FIGURA 17-19 Perfil do potencial elétrico correspondente a uma função rampa em degrau, usada em polarografia por amostragem de corrente. A corrente é medida somente nas regiões assinaladas por uma linha mais grossa. A varredura do potencial é feita na direção de valores mais negativos, enquanto o experimento prossegue. O gráfico na parte de baixo da figura mostra que, a cada degrau de potencial, a corrente capacitiva decai mais rapidamente que a corrente faradaica.
FIGURA 17-20
Polarogramas por amostragem de corrente de (a) Cd2+ 5mM em HCl 1 M e (b) somente HCl 1 M.
FIGURA 17-21 Polarograma por amostragem de corrente de uma solução de KCl 0,1 M saturada com ar e depois de um borbulhamento com N2 para remover o O2 dissolvido em solução.
O potencial em que se alcança a metade do valor da corrente máxima na Figura 17-20a, denominado potencial de meia-onda (E1/2), é característico de um determinado analito em um determinado meio. Por isso, o potencial de meia-onda pode ser usado na análise qualitativa do analito. Para reações de eletrodo, em que tanto os reagentes quanto os produtos estão presentes em solução, como por exemplo Fe3+ + e– ⇌ Fe2+, E1/2 (expresso em relação ao E.C.S.) é praticamente igual a E° para a meia-reação. Na análise quantitativa, a corrente de difusão na região correspondente ao platô da curva é proporcional à concentração do analito. O valor da corrente de difusão é determinado a partir da linha-base registrada sem a presença do analito na Figura 1720b. A corrente residual, na ausência de analito, é decorrente da redução de impurezas presentes em solução e na superfície dos eletrodos. Na Figura 17-20, próximo ao potencial de –1,2 V, o valor da corrente aumenta rapidamente quando começa a redução de H+ a H2. Para análise quantitativa, a corrente-limite deve ser controlada pela velocidade com que o analito se difunde para o eletrodo. Para isso, minimizamos a convecção usando uma solução sem agitação. A migração (atração eletrostática do analito) é minimizada usando-se uma concentração elevada de eletrólito suporte, como o HCl 1 M na Figura 17-20. A presença de oxigênio em solução é indesejável, pois o O2 produz duas ondas polarográficas quando é reduzido inicialmente a H2O2 e finalmente a H2O (Figura 17-21). Normalmente, para removermos o O2 borbulhamos N2 por 10 min na solução do analito antes de fazermos medidas.35 Após isso, um fluxo de N2 é então mantido sobre a superfície do líquido para evitar a presença de O2. O líquido não deve ser purgado com N2 durante uma medida, de forma a minimizar a convecção do analito para o eletrodo. Correntes Faradaicas e Capacitivas Corrente faradaica: deve-se à reação redox que ocorre no eletrodo
Corrente capacitiva: deve-se à atração ou à repulsão eletrostática entre os íons em solução e os elétrons no eletrodo
A corrente faradaica é o sinal de interesse. A corrente capacitiva interfere no valor desse sinal e, por isso, procuramos minimizá-la.
A corrente de interesse analítico na voltametria é a corrente faradaica, que surge em razão da oxidação ou da redução do analito no eletrodo de trabalho. Na Figura 17-20a, a corrente faradaica se deve à redução do íon Cd2+ no eletrodo de Hg. Uma outra corrente, chamada corrente capacitiva (ou corrente de carregamento), interfere em cada medida que é feita. Ao forçar a transferência de elétrons do potenciostato para o eletrodo de trabalho, fazemos com que o potencial deste eletrodo fique mais negativo. Em resposta, os cátions presentes na solução se deslocam na direção do eletrodo e os ânions se afastam do eletrodo (Boxe 17-4). Esse fluxo de íons e elétrons, chamado corrente capacitiva, não é proveniente de reações redox. Esta corrente deve ser minimizada, pois ela modifica o valor da leitura da corrente faradaica. A corrente capacitiva normalmente controla o limite de detecção na voltametria. O gráfico menor, na parte inferior da Figura 17-19, mostra o comportamento das correntes faradaica e capacitiva, após cada degrau de potencial. O valor da corrente faradaica diminui, pois o analito não consegue se difundir para o eletrodo de uma maneira suficientemente rápida para manter elevada a velocidade de reação. A corrente capacitiva diminui ainda mais rapidamente, pois os íons próximos ao eletrodo se redistribuem rapidamente. Após um tempo de espera de 1 s, depois de cada degrau de potencial, o valor da corrente faradaica continua sendo representativo, mas a corrente capacitiva torna-se muito pequena. Voltametria de Onda Quadrada O perfil da variação de potencial, com a forma de onda apresentada na Figura 17-22, corresponde à técnica de voltametria de onda quadrada, e é o perfil que apresenta a maior eficiência para as determinações analíticas feitas por voltametria. Este perfil consiste na superposição de uma onda quadrada a uma função rampa escalonada em degraus.36 Durante a duração de cada pulso catódico, as espécies correspondentes ao analito são reduzidas na superfície do eletrodo. Durante o pulso anódico, o analito que acabara de ser reduzido volta a ser oxidado. O polarograma de onda quadrada, da Figura 17-23, representa a diferença de corrente entre os intervalos 1 e 2 da Figura 17-22. No ponto 1, os elétrons fluem do eletrodo para o analito, e no ponto 2 na direção inversa. Como as duas correntes têm sinais opostos, sua diferença é maior que qualquer uma das correntes em separado. Considerando-se a diferença, a forma do polarograma de onda quadrada, na Figura 17-23, é essencialmente a derivada do polarograma obtido pela amostragem de corrente.
BOXE 17-4
A Dupla Camada Elétrica
Quando uma fonte externa de energia elétrica faz com que elétrons entrem ou saiam de um eletrodo, a superfície carregada do eletrodo passa a atrair íons de cargas opostas. O eletrodo carregado e os íons com cargas opostas próximos a ele constituem a dupla camada elétrica.
Interface eletrodo-solução. A camada interna fortemente adsorvida (também chamada de camada compacta, camada de Helmholtz ou camada de Stern) pode incluir moléculas do solvente e do soluto. Os cátions na camada interna não conseguem balancear completamente a carga do eletrodo. Por isso, são necessários cátions em excesso na parte difusa da dupla camada para que exista a eletroneutralidade. Uma determinada solução tem um potencial de carga zero quando não existe excesso de carga no eletrodo. Este potencial é –0,58 V (contra um eletrodo de calomelano contendo KCl 1 M) para um eletrodo de mercúrio imerso em solução de KBr 0,1 M. Este potencial se desloca para –0,72 V quando o mesmo eletrodo está imerso em solução de KI 0,1 M. A primeira camada de moléculas na superfície do eletrodo está adsorvida especi camente por forças de van der Waals e eletrostática. O soluto adsorvido pode ser moléculas neutras, ânions ou cátions. O iodeto é mais fortemente adsorvido que o brometo, então o potencial da carga zero para o KI é mais negativo que para o KBr. É necessário um potencial mais negativo para expulsar o iodeto adsorvido da superfície do eletrodo. A camada seguinte, depois da camada adsorvida especi camente, é rica em cátions que são atraídos pelo eletrodo negativo. O excesso de cátions diminui com o aumento da distância em relação ao eletrodo. Essa região, cuja composição é diferente da composição do seio da solução, é chamada de parte difusa da dupla camada e, normalmente, tem a espessura de 0,3-10 nm. Essa espessura resulta do balanço entre a atração na direção do eletrodo e o movimento aleatório devido à energia térmica. Quando uma espécie é criada ou destruída por uma reação eletroquímica, sua concentração próxima ao eletrodo é diferente da sua concentração no seio da solução (Figura 17-15b e Prancha 13 do Encarte em Cores). A região contendo excesso de produto ou falta de reagente é chamada de camada de difusão (camada que não deve ser confundida com a parte difusa da dupla camada).
FIGURA 17-22 Forma de onda do potencial aplicado em voltametria de onda quadrada. Os parâmetros típicos são: altura do pulso (Ep) = 25 mV, altura do degrau (Es) = 10 mV, e período do pulso (τ) = 5 ms. A corrente é medida nas regiões 1 e 2. Os melhores valores são Ep = 50/n mV e Es = 10/n mV, em que n é o número de elétrons transferidos na meia-reação.
Na voltametria de onda quadrada obtemos um sinal mais intenso do que na voltametria por amostragem de corrente, e a onda tem a forma de um pico acentuado. A intensidade de sinal aumenta, pois cada espécie reduzida, obtida a partir de cada pulso catódico, se localiza exatamente na superfície do eletrodo esperando ser oxidada pelo pulso anódico seguinte. Cada pulso anódico fornece uma alta concentração de reagente na superfície do eletrodo para o pulso catódico seguinte. O limite de detecção diminui de ∼10–5 M, na voltametria por amostragem de corrente, para ∼10–7 M, na voltametria de onda quadrada. Como é mais fácil separarmos picos vizinhos do que ondas vizinhas, a voltametria de onda quadrada consegue separar espécies cujos potenciais de meia-onda diferem entre si de ∼0,05 V, enquanto os potenciais devem diferir entre si de ∼0,2 V para serem separados na voltametria por amostragem de corrente. A Figura 17-24 mostra a resolução completa de quatro bases nucleotídicas em um DNA de hélice dupla por voltametria em um eletrodo de grafeno anodizado. Vantagens da voltametria de onda quadrada: •
maior intensidade de sinal
•
a forma da derivada (pico) permite uma melhor resolução de sinais vizinhos
•
medidas mais rápidas
FIGURA 17-23 Comparação entre os polarogramas de uma solução de Cd2+ 5 mM em HCl 1 M. As formas de onda são mostradas nas Figuras 17-19 e 17-22. Polarograma de corrente amostrada: duração da gota = 1 s, altura do degrau = 4 mV, tempo
de amostragem de corrente, 17 ms. Polarograma de onda quadrada: duração da gota = 1 s, altura do degrau, 4 mV, duração do pulso = 67 ms, altura do pulso = 25 mV, tempo de amostragem de corrente = 17 ms.
A voltametria de onda quadrada é muito mais rápida do que as demais técnicas voltamétricas. O polarograma de onda quadrada da Figura 17-23 foi registrado em um quinze avos do tempo necessário para registrar o polarograma por amostragem de corrente correspondente. Em princípio, quanto menor for o período do pulso, τ, na Figura 17-22, maior o valor da corrente que poderemos observar. Com τ = 5 ms (um limite mínimo prático) e Es = 10 mV, podemos obter um polarograma de onda quadrada completo, equivalente a uma varredura de potencial de 1 V, em um tempo de 0,5 s. Tais velocidades rápidas de varredura permitem registrar voltamogramas de cada um dos componentes que saem de uma coluna cromatográfica. O Boxe 17-5 descreve uma análise clínica poderosa que emprega a voltametria de onda quadrada para a detecção. Análise por Esgotamento ou Remoção (Stripping) Análises por esgotamento (remoção): 1. Concentra-se inicialmente o analito sobre o eletrodo por redução. 2. O analito é reoxidado aplicando-se um potencial elétrico mais positivo. 3. O sinal polarográfico (pico) durante a oxidação é proporcional à concentração do analito.
Na análise por esgotamento, ou por remoção (em inglês stripping analysis), o analito presente em uma solução diluída é concentrado dentro de um filme fino de Hg, ou de outro material que constitui o eletrodo, por meio de uma redução eletrolítica. A espécie eletroativa é então removida do eletrodo pela inversão na direção da varredura do potencial. O potencial se torna mais positivo, oxidando as espécies que voltam à solução. A corrente medida durante a oxidação é proporcional à quantidade de analito que foi depositada. A Figura 17-25 mostra um voltamograma de esgotamento anódico de Cd, Pb e Cu, presentes em uma amostra de mel.
FIGURA 17-24 Voltametria de uma cadeia dupla de DNA (30 mg/L em solução de KCl 10 mM, mais uma solução salina tamponada com fosfato 10 mM, pH 7) com um eletrodo de grafeno anodizado. Cada pico corresponde a uma das quatro bases nitrogenadas: guanina, adenina, timina ou citosina. Os quatro picos não podem ser observados com o grafeno que não tenha sido anodizado, nem com os eletrodos de diamante dopado com boro e de carbono vítreo. [Informação de C. X. Lim, H. Y. Hoh, P. K. Ang e K. P. Loh, “Direct Voltammetric Detection of DNA and pH Sensing on Epitaxial Graphene”, Anal. Chem. 2010, 82, 7387.]
FIGURA 17-25 (a) Voltamograma de esgotamento (remoção) anódico do mel dissolvido em água e acidificado a pH 1,2 com HCl. Cd, Pb e Cu foram reduzidos, a partir da solução, em um filme fino de Hg por 5 min a –1,4 V (contra E.C.S.), antes de se registrar o voltamograma. (b) Voltamograma obtido sem a etapa de redução de 5 min. As concentrações de Cd e Pb no mel são 7 e 27 ng/g
(ppb), respectivamente. A precisão da análise foi de 2-4%. [Dados de Y. Li, F. Wahdat e R. Neeb, “Digestion-Free Determination of Heavy Metals in Honey”, Fresenius J. Anal. Chem. 1995, 351, 678.]
BOXE 17-5
Biossensor Baseado em Aptâmero para Uso Clínico
Aptâmeros são pedaços de DNA (ácido desoxirribonucleico, Apêndice L) ou RNA (ácido ribonucleico) de um tamanho de ∼15-40 bases que podem se ligar forte e seletivamente a uma molécula especí ca37 ou à superfície de um tipo especí co de célula viva. Um aptâmero, com atividade especí ca em relação a uma determinada molécula-alvo, é escolhido a partir de uma matriz que contenha ∼1015 sequências aleatórias de DNA ou RNA, por meio de sucessivos ciclos de ligação com o alvo, seguidos da remoção do material não ligado e, nalmente, replicando o ácido nucleico ligado à estrutura. Uma vez conhecida a sequência de ácidos nucleicos em um aptâmero para um alvo especí co, esse aptâmero pode ser sintetizado em grandes quantidades. Um aptâmero pode ser considerado como um “anticorpo” sintético, feito sob medida para uma determinada nalidade. Aptâmeros podem se ligar a pequenas regiões de macromoléculas, tais como proteínas, ou mesmo envolver completamente uma molécula pequena, como vemos na gura a. Ao contrário dos anticorpos, que são proteínas frágeis normalmente armazenadas refrigeradas, os aptâmeros são moléculas orgânicas estáveis, capazes de existir durante um longo período em temperatura ambiente. Portanto, os aptâmeros têm um enorme potencial como sensores químicos altamente especí cos.38 A gura b mostra o princípio de funcionamento de um biossensor capaz de medir a concentração no sangue de um agente quimioterápico para câncer, a doxorrubicina, de modo contínuo e em tempo real. O coração do sensor é um aptâmero de DNA ligado a um eletrodo de ouro por meio de um átomo de enxofre em uma extremidade. Uma molécula ativa em reações redox, azul de metileno, é ligada à outra extremidade. Na ausência da doxorrubicina, o aptâmero se alonga e o azul de metileno ca distante do eletrodo. Quando a doxorrubicina se liga ao aptâmero, a conformação deste é modi cada, trazendo o azul de metileno para mais perto do eletrodo. A velocidade de transferência de elétrons do eletrodo para o azul de metileno é monitorada por voltametria de onda quadrada. A corrente aumenta na presença da doxorrubicina na faixa de interesse terapêutico, 0,2 a 8 μM. Analitos diferentes podem ser medidos pela mesma técnica, bastando para isso mudar o aptâmero. Duas características técnicas foram fundamentais para o desenvolvimento de um sensor prático: (1) O recobrimento do eletrodo por componentes macromoleculares do sangue foi eliminado por meio de um uxo lento de uma camada de tampão com espessura de 125 μm entre a superfície do eletrodo e o sangue. As pequenas moléculas de doxorrubicina difundem-se através da camada de tampão, mas as macromoléculas não. (2) O deslocamento lento da resposta elétrica foi reduzido de um fator 15 e a relação sinal-ruído foi elevada de um fator 3 mediante manipulação dos parâmetros voltamétricos, a m de realçar a resposta distinta das duas conformações do aptâmero. Fármacos são metabolizados em diferentes velocidades em pacientes distintos. Um objetivo é medir fármacos no sangue de um paciente durante o tratamento para personalizar a dose para aquela pessoa.
(a) Aptâmero de RNA contendo 26 bases se liga ao antibiótico neomicina B. As bases nucleotídicas U, G, A e T são mostradas no Apêndice L. [Informação de L. Jiang, A. Majumdar, W. Hu, T. J. Jaishree, W. Xu e D. J. Patel, “Saccharide-RNA Recognition in a Complex Formed Between Neomycin B and an RNA Aptamer”, Structure 1999, 7, 817.]
(b) Princípio de funcionamento de um biossensor. Quando a doxorrubicina se liga ao aptâmero, o azul de metileno, ativo em reações redox, vem para mais perto do eletrodo, e com isso a corrente aumenta. [Informação de B. S. Ferguson, D. A. Hoggarth, D. Maliniak, K. Ploense, R. J. White, N. Woodward, K. Hsieh, A. J. Bonham, M. Eisenstein, T. E. Kippin, K. W. Plaxco e H. T. Soh, “Real-Time Aptamer-Based Tracking of Circulating Therapeutic Agents in Living Animals”, Sci. Transl. Med. 2013, 5, 213ra 165.]
TABELA 17-3
Limites de detecção para a análise por esgotamento (remoção)
Analito
Modo de esgotamento (remoção)
Limite de detecção
Ag+
Anódico
2 × 10–12 Ma
Testosterona
Anódico
2 × 10–10 Mb
As(III)
Anódico
1 × 10–11 Mc
I–
Catódico
1 × 10–10 Md
DNA ou RNA
Catódico
2–5 pg/mLe
Fe3+
Catódico
1 × 10–11 Mf
a. S. Dong e Y. Wang, Anal. Chim. Acta 1988, 212, 341. b. J. Wang, “Adsorptive Stripping Voltammetry”, EG&G Princeton Applied Research Application Note A-7 (1985). c. C. Gao, X. Y. Yu, S. Q. Xiong, J. H. Liu e X. J. Huang, Anal. Chem. 2013, 85, 2673. d. G. W. Luther III, C. Branson Swartz, e W. J. Ullman, Anal. Chem. 1988, 60, 1721. I– é depositado dentro da gota de mercúrio por oxidação anódica: Hg(l) + I– ⇌ Hg2I2(adsorvido sobre Hg) + e– e. S. Reher, Y. Lepka, and G. Schwedt, Fresenius J. Anal. Chem. 2000, 368, 720; J. Wang, Anal. Chem. Acta 2003, 500, 247. f. L. M. Laglera, J. Santos-Echeandia, S. Caprara, e D. Monticelli, Anal. Chem. 2013, 85, 2486. A análise por esgotamento é a técnica de voltametria mais sensível (Tabela 17-3), pois o analito é concentrado a partir de uma solução diluída. Quanto maior for o tempo de concentração, mais sensível será a análise. Apenas uma fração do analito, a partir da solução, é depositada, de modo que o processo de deposição pode ser feito em um tempo reprodutível (por exemplo, 5 min) com uma agitação feita também de maneira reprodutível. Existe uma iniciativa para substituir o mercúrio como eletrodo porque esse elemento é tóxico e seu descarte é oneroso. Filmes de bismuto39, 40 ou estanho41 imitam em parte as propriedades desejáveis do mercúrio em produzir uma superfície razoavelmente reprodutível e atingir potenciais fortemente redutores antes da redução da H2O a H2. O limite de detecção para Fe(III) em água do mar pode se reduzido a 5 × 10–12 M por meio de um processo de esgotamento catalítico.42 A água do mar é acidificada para pH 2,0 com HCl na presença de 2,3-di-hidroxinaftaleno (L) 30 μM, e o sistema é deixado entrar em equilíbrio por 24 h. Uma amostra é então retirada e o pH é ajustado para 8,7 na presença de bromato (BrO3–)
20 mM e purgada com N2 para remover o O2. O di-hidroxinaftaleno forma um complexo, LnFe(III), que se adsorve sobre uma gota do eletrodo de mercúrio cujo potencial é de 0 V contra Ag | AgCl, durante 60 s, sob agitação vigorosa. Após cessar a agitação e a solução estar em repouso, o potencial é deslocado de –0,1 para –1,15 V. Próximo a –0,6 V o Fe(III) é reduzido a Fe(II), que começa a se difundir para longe do eletrodo. Antes que o Fe(II) se difunda muito, o BrO3– oxida o Fe(II) de volta a Fe(III), que volta a ser adsorvido, tornando-se disponível para uma nova redução. A corrente de esgotamento catódico é ∼300 vezes maior na presença de BrO3– 20 mM do que em sua ausência. O Fe(II) atua como catalisador para a reação global de redução do BrO3–.
Presumivelmente, a nuvem de elétrons pi polarizável do naftaleno está ligada ao Hg, polarizável, por forças de van der Waals.
Devem ser tomadas precauções rigorosas para que o ferro seja removido de reagentes e de equipamentos quando se determinam concentrações desse elemento da ordem de nano a pico molar. Por exemplo, a solução de KCl 3 M, presente na ponte salina, deve ser purificada, e a própria ponte é feita de Teflon em vez de vidro. Uma forma diferente de esgotamento em que o analito de interesse não é nem oxidado nem reduzido é exemplificada pela determinação de perclorato (ClO4–) na água potável. O limite máximo permitido para o perclorato em água potável na Califórnia foi fixado em 6 μg/L (6 ppb) em 2007, após ser determinado que o ClO4– interfere com a absorção de I– pela glândula tireoide, o que pode levar à redução da produção dos hormônios tireoidianos. A Figura 17-26 mostra o eletrodo para determinação de concentrações de ClO4–em partes por bilhão por esgotamento catódico. Um eletrodo de ouro é recoberto com um filme de poli(3-octiltiofeno). Quando esse polímero é oxidado, alguns átomos de enxofre tornam-se positivamente carregados e o polímero torna-se condutor. Esse polímero é recoberto com uma camada de espessura ∼0,7 μm de poli(cloreto de vinila) (PVC), cuja estrutura é mostrada na parte inferior da Figura 15-27. O eletrodo recoberto é imerso em uma amostra de água potável contendo Li2SO4 1 mM como eletrólito de fundo e girado a 4 000 rpm para transportar o líquido por convecção na direção do eletrodo (Figura 17-15). A determinação de ClO4– começa com a oxidação do poli(3-ocitiltiofeno) no eletrodo rotatório a 0,83 V contra Ag | AgCl por 10 min. Dentre os ânions inorgânicos comuns em água potável, apenas o ClO4– é solúvel na membrana hidrofóbica de PVC. Durante a etapa de oxidação, ClO4– migra para a membrana de PVC para neutralizar a carga positiva do poli(3-ocitltiofeno) oxidado. O lado direito da Figura 17-26 apresenta o eletrodo após o ClO4– ter sido concentrado na membrana de PVC. Para determinar o ClO4– por esgotamento catódico, o potencial do eletrodo é então variado de 0,83 até 0,3 V a 0,1 V/s para reduzir o poli(3-octiltiofeno) de volta à sua forma neutra e assim expulsar o ClO4– da membrana de PVC. O pico da corrente (acima de uma corrente de fundo substancial) observado durante o esgotamento é uma função linear da concentração de ClO4– na água potável. O limite de detecção de 0,2 nM (0,2 ppb) é adequado para o monitoramento da qualidade da água.
FIGURA 17-26 Princípio do esgotamento catódico de perclorato em um eletrodo rotatório de ouro com duas camadas finas de polímeros. Quando o polímero no eletrodo é oxidado, ele se torna positivo. Os ânions perclorato são atraídos para dentro da membrana de PVC pelo polímero oxidado. [Informação de Y. Kim e S. Amemiya, “Stripping Analysis of Nanomolar Perchlorate in Drinking Water with a Voltammetric Ion-Selective Electrode Based on Thin-Layer Liquid Membranes”, Anal. Chem. 2008, 80, 6056; A. Izadyar, U. Kim, M. M. Ward e S. Amemiya, “Double-Polymer-Modified Pencil Lead for Stripping Voltammetry of Perchlorate in Drinking Water”, J. Chem. Ed. 2012, 89, 1323.]
FIGURA 17-27
Forma de onda para a voltametria cíclica. Os tempos correspondentes estão indicados na Figura 17-28.
Voltametria Cíclica Na voltametria cíclica, o potencial elétrico aplicado no eletrodo de trabalho corresponde a uma onda triangular como a da Figura 17-27. Após aplicarmos uma rampa de potencial linear entre os tempos t0 e t1 (normalmente por uns poucos segundos), a rampa é então invertida para trazer o potencial, no tempo t2, novamente ao seu valor inicial. O ciclo pode ser repetido diversas vezes. A parte superior do voltamograma cíclico, na Figura 17-28a, começando em t0, exibe uma onda catódica. Em vez de estabilizar-se no topo da onda, a corrente diminui à medida que o potencial diminuiu porque o analito fica em menor quantidade nas proximidades da superfície de eletrodo, e a difusão da solução original é muito lenta para repor o analito próximo do eletrodo. No instante do pico de potencial (t1), na Figura 17-28, a corrente catódica diminui para um valor abaixo do valor de pico. Após t1, o potencial é invertido e, por fim, o produto de redução próximo do eletrodo é oxidado, dando origem a uma onda anódica entre os tempos t1 e t2. Assim que o produto da redução se esgota, a corrente anódica se aproxima do seu valor inicial em t2. A Figura 17-28a ilustra o comportamento de uma reação reversível, que é suficientemente rápida para manter as concentrações de equilíbrio dos reagentes e dos produtos na superfície do eletrodo. As correntes dos picos anódico e catódico possuem as mesmas magnitudes em um processo reversível, e são separadas por
em que Epa e Epc são os potenciais nos quais as correntes dos picos anódicos e catódicos são observadas, e n é o número de elétrons envolvidos na meia-reação. O potencial de meia-onda, E1/2, situa-se no meio entre os dois picos de potencial. A Figura 17-28b representa um voltamograma cíclico de uma reação irreversível, que é lenta demais para que as concentrações de
equilíbrio dos reagentes e produtos na superfície do eletrodo sejam mantidas. Os picos catódico e anódico são alongados e mais separados. Quando a oxidação é muito lenta, não se observa pico anódico. Para uma reação reversível, a corrente do pico (Ipc, em ampères), para a varredura no sentido direto do primeiro ciclo, é proporcional à concentração do analito e à raiz quadrada da velocidade de varredura:
FIGURA 17-28 Voltamogramas cíclicos de (a) O2 1 mM em acetonitrila, com o eletrólito (C2H5)4N+ClO4– 0,10 M e (b) 2nitropropano 0,060 mM em acetonitrila com o eletrólito (n-C7H15)4N+ClO4– 0,10 M. A reação na curva (a) é
Eletrodo de trabalho, Hg; eletrodo de referência, Ag | AgNO3(aq) 0,001 M | (n-C7H15)4N+ClO4– 0,10 M em acetonitrila; velocidade de varredura, 100 V/s. Ipa é a corrente do pico anódico, e Ipc é a corrente do pico catódico. Epa e Epc são os potenciais nos quais essas correntes são observadas. [Informação de D. H. Evans, K. M. O´Connell, R. A. Petersen e M. J. Kelly, “Cyclic Voltammetry”, J. Chem. Ed. 1983, 60, 290.]
FIGURA 17-29 (a) Estrutura do C60 (fulereno ou buckminsterfulereno). (b) Voltametria cíclica e (c) polarograma de uma solução de C60 0,8 mM mostrando as seis ondas para a redução a C6–0, C6–02, …, C660–. A solução de acetonitrila/tolueno estava a 210°C juntamente com o eletrólito suporte (n-C4H9)4N+PF6–. O eletrodo de referência contém o par redox ferroceno | ferricínio+. O ferroceno é o (C5H5)2Fe e o cátion ferricínio é o (C5H5)2Fe+. A estrutura do ferroceno foi mostrada na Reação 17-15. [Dados de Q. Xie, E. Pérez-Cordero e L. Echegoyen, “Electrochemical Detection of C660– and C706–0, J. Am. Chem. Soc. 1992, 114, 3978.]
FIGURA 17-30 Eletrodo de platina com diâmetro de ∼110 nm selado em um capilar de vidro. [N. Nioradze, R. Chen, J. Kim, M. Shen, P. Santhosh e S. Amemiya, “Origins of Nanoscale Damage to Glass-Sealed Platinum Electrodes with Submicrometer and Nanometer Size”, Anal. Chem. 2013, 85, 6198, Figura 3a. Reproduzido sob permissão © 2013 American Chemical Society.]
em que n é o número de elétrons envolvidos na meia-reação, A é a área do eletrodo (m2), C é a concentração (M), D é o coeficiente de difusão das espécies eletroativas (m2/s) e v é a velocidade de varredura (V/s). Quanto maior for a velocidade de varredura, maior será o pico da corrente, enquanto a reação permanecer reversível. Se a espécie eletroativa estiver adsorvida no eletrodo, o pico de corrente é proporcional a v, em vez de ser proporcional a . A voltametria cíclica é utilizada para caracterizar o comportamento redox de compostos, tais como o C60 na Figura 17-29, e para elucidar a cinética de reações de eletrodo.43 Microeletrodos Os microeletrodos possuem dimensões que variam de alguns décimos de micrômetro a nanômetros (Figura 17-30).44 A área superficial do eletrodo é pequena e a corrente é mínima. Com um pequeno valor de corrente, a queda ôhmica (= IR) em um meio altamente resistivo é pequena, permitindo a utilização de microeletrodos em soluções não aquosas pobremente condutoras (Figura 17-31). A capacitância elétrica da dupla camada (Boxe 17-4) de um microeletrodo também é muito pequena devido à pequena área superficial. Essa baixa capacitância produz um baixo valor de corrente capacitiva em relação à corrente faradaica de uma reação redox, diminuindo o limite de detecção em até três ordens de grandeza em relação aos eletrodos convencionais. Essa
baixa capacitância também permite que o potencial do eletrodo varie com velocidades de até 106 V/s, permitindo, assim, que espécies com tempos de vida menores do que 1 μs possam ser estudadas. Eletrodos de tamanho suficientemente pequeno podem ser alojados no interior de uma célula viva.46 Vantagens dos microeletrodos: •
Cabem em lugares pequenos.
• •
São úteis em meios resistivos, meios não aquosos (devido às pequenas quedas ôhmicas) Permitem velocidades rápidas de varredura do potencial (certamente devido à pequena capacitância da dupla camada), o que permite estudar espécies com curto período de vida
•
Sensibilidade ampliada em várias ordens de grandeza, devido à baixa corrente capacitiva
FIGURA 17-31 Voltamograma de nanopartículas de ouro45 (Au–147, cobertas com ∼50 moléculas de hexanotiol) em solução de 1,2-dicloroetano, obtido com um eletrodo de trabalho de Pt com 25 μm de diâmetro. As nanopartículas apresentam estados de oxidação de –7 a +8 sobre a faixa de potencial dessa varredura. O eletrólito suporte é uma solução de [(C6H5)3P=N=P(C6H5)3]+ [(C6H5)4B]–. O potencial foi medido contra um eletrodo de “quase referência” de fio de prata, cujo potencial é ∼0,1 V contra Ag | AgCl. [Dados de B. M. Quinn, P. Liljeroth, V. Ruiz, T. Laaksonen e K. Kontturi, “Electrochemical Resolution of 15 Oxidation States for Monolayer Protected Gold Nanoparticles”, J. Am. Chem. Soc. 2003, 125, 6644.]
É comum na voltametria cíclica com microeletrodos o emprego de condições nas quais o pico na Figura 17-28a não seja observado. Em vez disso, observa-se a curva sigmoidal na Figura 17-32a, na qual a corrente atinge um patamar. A corrente na Figura 17-28a diminui após o pico porque a difusão do analito na direção do eletrodo não consegue competir com a velocidade de eletrólise. Em baixas velocidades de varredura, a corrente atinge um patamar porque a velocidade de eletrólise não excede a velocidade de difusão. Para microeletrodos, a difusão é alimentada a partir de um volume semiesférico, cuja área superficial
aumenta com o aumento da distância do eletrodo (Figura 17-32b). É frequente ver a forma da curva na Figura 17-32a com microeletrodos porque a velocidade de eletrólise não supera a velocidade de difusão para o eletrodo. A Figura 17-33 mostra um microeletrodo de fibra de carbono revestido com uma membrana trocadora de cátions, chamada Nafion. Esta membrana possui cargas negativas fixas. Os cátions difundem-se rapidamente através da membrana, porém os ânions são excluídos. Este eletrodo pode ser usado para medir a concentração do neurotransmissor catiônico dopamina em um cérebro de rato.47 O íon ascorbato, negativamente carregado, que normalmente interfere na análise da dopamina, é excluído pelo Nafion. A resposta à dopamina é 1 000 vezes maior do que ao ascorbato na mesma concentração. A Figura 17-34 mostra uma aplicação de um arranjo de microeletrodos em biologia. Células de uma cepa denominada feocromocitoma PC 12, derivadas de um tumor da glândula adrenal, liberam dopamina quando estimuladas pelo cátion K+. Existem neurotransmissores localizados em pequenos compartimentos intracelulares denominados vesículas. Para liberar seu conteúdo para fora da célula, as vesículas unem-se com a membrana celular e abrem-se. Esse processo é chamado exocitose. O arranjo de microeletrodos consiste em sete fibras paralelas de carbono de diâmetro 5 μm inseridos em um capilar de vidro próximos a uma ponta fina. Cada fibra de carbono na Figura 17-34a é um eletrodo de trabalho independente que pode mostrar uma região de diâmetro aproximado de 5 μm. A Figura 17-34b mostra o eletrodo pressionado contra uma célula isolada, distorcendo-a na forma de um foice. No momento em que, a partir da micropipeta à esquerda da Figura 17-34b, uma solução de KCl 0,1 M é injetada no meio, a célula libera a dopamina em eventos exocitóticos discretos. A Figura 17-34c mostra os traços dos eletrodos A a G ao longo de 16 min durante o qual a solução de KCl foi injetada a cada 45 s. Todos os traços são diferentes, indicando que diferentes partes da superfície celular respondem de forma diferente. Por exemplo, as áreas próximas aos eletrodos F e G são inativas nos primeiros 8 min – com pouca liberação de dopamina. Algo muda após 8 min, e essas duas áreas se tornam mais ativas.
FIGURA 17-32 (a) Forma sigmoidal de um voltamograma cíclico, frequentemente observada com microeletrodos. Voltamograma de ferrocianeto 10 mM em solução aquosa de NaF 1 M com uma velocidade de varredura de 5 mV/s em um microeletrodo de disco circular de Pt. [Dados de U. K. Sur, A. Dhason e V. Lakshminarayanan, “A Simple and Low-Cost Ultramicroelectrode Fabrication and Characterization Method for Undergraduate Students”, J. Chem. Ed. 2012, 89, 168.] (b) A difusão do analito para um eletrodo grande e plano é feita a partir de uma área plana e constante. A difusão do analito para um microeletrodo se dá a partir de uma região hemisférica de solução cuja área aumenta com o aumento da distância do eletrodo.
FIGURA 17-33 Imagem de microscopia eletrônica da ponta de um eletrodo de fibra de carbono recoberto com Nafion. O carbono dentro do eletrodo tem um diâmetro de 10 μm. O Nafion permite a passagem de cátions, mas impede a passagem de ânions. [Foto: Cortesia de R. M. Wightman. De R. M. Wightman, L. J. May e A. C. Michael, “Detection of Dopamine Dynamics in the Brain”, Anal. Chem. 1988, 60, 769A. Reproduzida sob permissão © 1988, American Chemical Society.]
FIGURA 17-34 (a) Arranjo de microeletrodos de fibra de carbono com sete eletrodos. (b) Arranjo de microeletrodo (direita) pressionado contra uma célula PC 12, distorcendo-a na forma de uma foice. A micropipeta à esquerda é usada para liberar solução de KCl 0,1 M para estimular a liberação da dopamina pela célula. A figura não mostra a presença de um eletrodo de referência/auxiliar Ag | AgCl. (c) Traços amperométricos provenientes de todos os sete eletrodos durante a liberação exocitótica do neurotransmissor. [De: B. Zhang, K. L. Adams, S. J. Luber, D. J. Eves, M. L. Heien e A. G. Ewing, “Spatially and Temporally Resolved Single-Cell Exocytosis Utilizing Individually Addressable Carbon Microelectrode Arrays”, Anal. Chem. 2008, 80, 1394. Figura 2A. Reproduzido sob permissão © 2008, American Chemical Society.]
17-6
Titulação de H2O pelo Método de Karl Fischer
A titulação de Karl Fischer,48 que permite determinar o teor de água residual em óleos de transformadores, solventes puros, alimentos, polímeros e muitas outras substâncias, é um procedimento realizado cerca de 500 000 vezes ao dia.49 A titulação é geralmente conduzida pela liberação do titulante a partir de uma bureta automática ou por geração coulométrica desse titulante. O procedimento por volumetria tende a ser mais apropriado para quantidades maiores de água (embora possa detectar valores tão baixos como ∼1 mg de H2O), e o procedimento coulométrico é adequado para baixos teores de água. O procedimento coulométrico se acha ilustrado na Figura 17-35, onde o compartimento principal da célula de titulação contém uma solução anódica mais a amostra desconhecida. O compartilhamento menor à esquerda possui um eletrodo interno de Pt imerso em uma solução catódica e um eletrodo externo de Pt imerso na solução anódica do compartimento principal. Os dois compartimentos estão separados por uma membrana permeável a íons. Um par de eletrodos de Pt é utilizado para detecção do ponto final da titulação. A solução do anodo contém um álcool, uma base, SO2, I– e, possivelmente, outros solventes orgânicos. O metanol e o dietilenoglicolmonometiléter (CH3OCH2CH2OCH2CH2OH) são exemplos típicos de álcoois usados no passado. Bases comuns são o imidazol e a dietanolamina. A mistura de solventes orgânicos frequentemente podia conter clorofórmio, diclorometano, tetracloreto de carbono ou formamida. É desejável evitar o uso de solventes clorados, por causa de seus riscos ambientais. Em um solvente comercial, com menor impacto ambiental, o metanol foi substituído pelo etanol, que é menos tóxico, mas possui uma constante dielétrica mais baixa, o que acarreta em uma menor condutividade elétrica e em reações mais lentas. Aditivos apropriados aumentam a condutividade e as velocidades de reação. Os novos solventes eliminam a necessidade de solventes clorados em algumas aplicações. Formamida, clorofórmio ou xileno podem ser adicionados ao solvente comercial para aumentar a solubilidade de algumas amostras, ou a temperatura pode ser elevada a 50ºC para aumentar a solubilidade. Substâncias apolares, como óleo de transformador, exigem uma quantidade suficiente de solvente, por exemplo, clorofórmio, para tornar a reação homogênea. Se o meio não estiver homogêneo, a umidade retida em emulsões oleosas se torna inacessível. (Uma emulsão é uma fina suspensão das gotículas de uma fase líquida em outro líquido.)
O anodo na parte inferior à esquerda da Figura 17-35 gera I2 pela oxidação de I–. Na presença de H2O ocorrem reações entre o álcool (ROH), a base (B), SO2 e I2.
FIGURA 17-35
Aparelhagem para a titulação coulométrica de Karl Fischer.
O pH é mantido na faixa de 4 a 7. Acima de pH 8 ocorrem reações paralelas que são não estequiométricas. Abaixo de pH 3 a reação se torna muito lenta.
A reação global é a oxidação do SO2 pelo I2, com a formação de ROSO3–. Um mol de I2 é consumido para cada mol de H2O quando o solvente é o metanol. Em outros solventes, a estequiometria pode ser mais complexa.49 Em um procedimento usual, o compartimento principal na Figura 17-35 é preenchido com a solução anódica e o gerador coulométrico é preenchido com a solução catódica, que pode conter os reagentes destinados a serem reduzidos no catodo. A corrente circula até que toda a umidade do compartimento principal seja consumida, como indicado pelo sistema de detecção do ponto final descrito adiante. Uma amostra desconhecida é injetada através do septo e o coulômetro funciona de novo até que a umidade injetada tenha sido consumida. Dois mols de elétrons correspondem a 1 mol de H2O caso a estequiometria entre I2 e H2O seja 1:1.
EXEMPLO
Padronização e Correção do Branco na Titulação de Karl Fischer
É rotina padronizar os reagentes de Karl Fischer, ou mesmo um coulômetro, com um padrão como o cloridrato de lincomicina monoidratado, que contém 3,91% em massa de H2O. O coulômetro funciona até que o ponto nal seja atingido, indicando que o reagente de Karl Fischer está seco. Abre-se uma entrada pelo tempo necessário à adição de lincomicina sólida, que é então titulada até o mesmo ponto nal. Então uma amostra desconhecida é adicionada e titulada da mesma maneira. Encontre a porcentagem em massa da H2O na amostra desconhecida. Miligramas de lincomicina
μg de H2O observado
μg de H2O teórico
Diferença (μg) = correção do branco
3,89
172,4
152,1
172,4 – 152,1 = 20,3
13,64
556,3
533,3
556,3 – 533,3 = 23,0
19,25
771,4
752,7
771,4 – 752,7 = 18,7 Média corrigida = 20,7
Miligramas de amostra desconhecida
μg de H2O observado
μg de H2O corrigido (= observado – 20,7)
% em massa de H2O na amostra desconhecida
24,17
540,8
520,1
520,1 μg/24,17 mg = 2,15%
17,08
387,6
366,9
366,9 μg/17,08 mg = 2,15%
FONTE: Dados de W. C. Schinzer, Pfizer Co., Michigan Pharmaceutical Sciences, Portage, MI.
Solução Para a lincomicina, observamos ∼20,7 μg a mais de H2O do que o esperado, independente do tamanho da amostra. O excesso de H2O provém da atmosfera quando se abre o coulômetro para adicionar o sólido. Para determinar a umidade em amostras desconhecidas, subtrai-se este branco da umidade total titulada. Este procedimento pode gerar resultados bastante con áveis. TESTE A VOCÊ MESMO A quantidade observada de H2O em 20,33 mg de uma amostra desconhecida foi de 888,8 μg. Faça a correção e determine a porcentagem e a massa de H2O na amostra desconhecida. (Resposta: 4,27%) Uma medida bipotenciométricaé a forma mais comum de detectarmos o ponto final de uma titulação de Karl Fischer. O circuito detector mantém uma corrente constante (geralmente de 5 ou 10 μA), entre os dois eletrodos de detecção à direita na Figura 17-35, enquanto mede o potencial necessário para sustentar a corrente. Antes do ponto de equivalência, a solução contém I–, mas pouco I2 (consumido na Reação 17-23 com a mesma rapidez com que é gerado pelo coulômetro). Para manter uma corrente de 10 μA, o potencial do catodo deve ser suficientemente negativo para reduzir algum componente presente no solvente. No ponto de equivalência, o excesso de I2 aparece subitamente, e a corrente pode ser transportada em um potencial muito baixo pelas Reações 17-24 e 17-25. A queda abrupta de potencial determina o ponto final.
A tendência na instrumentação coulométrica para a titulação de Karl Fischer é a eliminação do compartimento isolado do catodo na Figura 17-35, a fim de reduzir o tempo de condicionamento necessário antes da análise das amostras, e para eliminar entupimentos da membrana.50 O desafio é minimizar a interferência por produtos da reação catódica. Os pontos finais nas titulações de Karl Fischer tendem a se deslocar devido a reações químicas lentas e à lenta admissão da água, a partir do ar, para dentro da célula. Alguns instrumentos medem a velocidade com a qual o I2 deve ser gerado, de modo a manter o ponto final, e comparam essa velocidade com aquela que foi medida antes da amostra ter sido adicionada. Outros instrumentos permitem que se estabeleça um tempo de “permanência do ponto final”, normalmente de 5 a 60 s, durante o qual o potencial do detector deve permanecer estável de modo a definir claramente o ponto final. Um estudo de comparação interlaboratorial de exatidão e precisão do procedimento coulométrico identificou fontes de erro sistemático.51 Em alguns laboratórios, tanto os instrumentos estavam inexatos como os analistas não mediram a quantidade de padrões com exatidão. Em outros casos, o solvente não era apropriado. Existem reagentes comerciais destinados à análise por Karl Fischer. Os reagentes recomendados pelo fabricante do instrumento devem ser utilizados para aquele instrumento. Alternativas à titulação de Karl Fischer têm características desejáveis para algumas aplicações. A água em solventes pode ser determinada por cromatografia gasosa usando um líquido iônico como fase estacionária (Seção 24-1), com detecção por condutividade térmica.52 Esse método funciona para amostras com teores elevados e baixos de H2O e apresenta um limite de detecção mais baixo, de 2 ng de H2O. Ele não é afetado pelas interferências comuns e reações paralelas da titulação de Karl Fischer. Outro método emprega voltametria de esgotamento catódico do óxido de ouro formado em um eletrodo de ouro na presença de H2O. Ele não exige adição de reagentes para a determinação de H2O em líquidos iônicos.53
Termos Importantes amálgama ampère
amperometria análise eletrogravimétrica análise por esgotamento (por remoção) aptâmero biossensor contraeletrodo corrente capacitiva corrente de difusão corrente faradaica corrente residual coulomb coulometria deposição em subpotencial despolarizador dupla camada elétrica eletrodo de Clark eletrodo de disco rotatório eletrodo de referência eletrodo de trabalho eletrodo gotejante de mercúrio eletrodo não polarizável eletrodo polarizável eletrólise eletrólise com potencial controlado espécie eletroativa mediador onda polarográfica polarização de concentração polarografia polarografia por amostragem de corrente potencial de meia-onda potencial de queda ôhmica potenciostato sobretensão titulação bipotenciométrica titulação coulométrica titulação de Karl Fischer voltametria voltametria cíclica voltametria de onda quadrada voltamograma
Resumo Na eletrólise, uma reação química é forçada a ocorrer por meio da passagem de uma corrente elétrica através da célula eletrolítica. O número de mols de elétrons que fluem através da célula é dado por It/F, em que I é a corrente, t é o tempo e F é a constante de Faraday. O valor do potencial que deve ser aplicado a uma célula eletrolítica é E = E(catodo) − E(anodo) − IR − sobretensões. 1. 2.
A sobretensão é o potencial necessário para vencer a energia de ativação de uma reação de eletrodo. Uma sobretensão mais elevada é necessária para que uma reação ocorra com uma velocidade maior. O potencial de queda ôhmica (= IR) é o potencial necessário para vencer a resistência interna da célula eletrolítica. Um capilar de Luggin permite determinar um potencial de eletrodo com queda ôhmica mínima.
3.
A polarização de concentração ocorre quando a concentração da espécie eletroativa próxima a um eletrodo não é a mesma que no seio da solução. A polarização de concentração está incluída nos termos E(catodo) e E(anodo).
Sobretensão, potencial de queda ôhmica e polarização de concentração sempre se opõem à reação desejada e fazem com que seja necessária a aplicação de um potencial maior para que a eletrólise ocorra. Uma eletrólise com potencial controlado é feita em uma célula com três eletrodos, em que o potencial do eletrodo de trabalho é medido contra um eletrodo de referência, pelo qual flui uma corrente desprezível. A corrente flui entre o eletrodo de trabalho e o contraeletrodo (eletrodo auxiliar). Em uma análise eletrogravimétrica, o analito é depositado sobre um eletrodo, cujo aumento de massa é então determinado. Com um potencial constante em uma célula com dois eletrodos, a eletrólise não é muito seletiva porque o potencial do eletrodo de trabalho varia durante o decorrer da reação. Na coulometria, medimos o número de mols de elétrons necessários para que uma reação química ocorra. Nas titulações coulométricas (corrente constante), o tempo necessário para completar a reação é uma medida do número de elétrons consumidos. A coulometria com potencial controlado é mais seletiva do que a coulometria de corrente constante, porém é mais lenta. A determinação do número de elétrons consumidos na reação é feita pela integração da curva de corrente contra o tempo. Na amperometria, a corrente elétrica no eletrodo de trabalho é proporcional à concentração do analito. O eletrodo de Clark determina o O2 dissolvido por amperometria. Um biossensor para glicose produz H2O2 pela oxidação enzimática da glicose, e o H2O2 é então medido pela oxidação amperométrica em um eletrodo. Um mediador pode ser usado para facilitar a transferência de elétrons entre o eletrodo e o analito. Um monitor coulométrico de glicose mede o número de elétrons liberados pela oxidação de toda a glicose contida em uma pequena amostra de sangue. A “instalação elétrica” de uma enzima e de um mediador em um monitor de glicose aumenta o sinal oriundo da reação desejada e reduz a corrente de fundo (background) decorrente da difusão do mediador para o contraeletrodo. Aptâmeros são pequenas moléculas de DNA ou RNA que se ligam forte e seletivamente a uma molécula-alvo e podem ser usados para se produzir biossensores para essas moléculas. Espécies eletroativas podem chegar à superfície de um eletrodo por difusão, convecção e migração (atração eletrostática). Um eletrodo de disco rotatório promove uma transferência convectiva das espécies na direção do eletrodo. As moléculas têm que atravessar os últimos décimos de mícron para o eletrodo por difusão. A corrente-limite controlada pela velocidade de difusão é denominada corrente de difusão. A voltametria é um conjunto de métodos em que observamos a dependência da corrente em relação ao potencial aplicado no eletrodo de trabalho. A polarografia é um conjunto de técnicas de voltametria que utilizam o eletrodo gotejante de mercúrio. Este eletrodo produz resultados reprodutíveis porque a sua superfície exposta é sempre renovada. O eletrodo de Hg é especialmente útil para reduções, pois a elevada sobretensão para a redução do H+ sobre o Hg impede a interferência proveniente da redução do H+. Os processos de oxidação são normalmente estudados com outros tipos de eletrodo porque o Hg é facilmente oxidado. As oxidações podem ser conduzidas com eletrodos de Pt ou Au. Eletrodos de carbono (incluindo diamante e grafeno) são úteis para uma variedade de oxidações e reduções. Em análises quantitativas por voltametria a corrente de difusão é proporcional à concentração do analito, caso exista uma concentração suficiente de um eletrólito suporte. O potencial de meia-onda é característico de um determinado analito em um determinado meio. A voltametria por amostragem de corrente utiliza um potencial elétrico definido por uma função escalonada a fim de reduzir a contribuição da corrente capacitiva relativa à medida desejada da corrente faradaica. Esperando-se 1 segundo depois de cada incremento escalonado de potencial, a corrente capacitiva é praticamente nula e temos ainda uma substancial quantidade de corrente faradaica oriunda da reação redox. A voltametria de onda quadrada apresenta maior sensibilidade em razão do formato de seus picos, correspondentes a uma primeira derivada. Para tal, o potencial aplicado na célula vem a ser definido como uma onda quadrada superposta a uma rampa de potencial escalonada. A cada pulso catódico se intensifica a redução de analito na superfície do eletrodo. Durante o pulso anódico, o analito reduzido volta a ser oxidado. O voltamograma é a diferença entre as correntes catódicas e as correntes anódicas. A voltametria por onda quadrada permite a realização de medidas rápidas em tempo real, o que não é possível com outros métodos eletroquímicos. Técnicas de esgotamento (de remoção) são a forma mais sensível de voltametria. Na polarografia por esgotamento (remoção) anódico, o analito é concentrado dentro de uma única gota ou um fino filme de mercúrio ou outros eletrodos por redução em um potencial fixo, em um tempo fixo. O potencial é então deslocado para um valor mais positivo e a corrente é medida quando o analito é novamente oxidado. No eletrodo de , o analito é concentrado em uma membrana hidrofóbica para neutralizar a carga de um polímero condutor durante a oxidação. A redução do polímero libera íons da membrana. Na voltametria cíclica, é aplicado um potencial com forma de onda triangular, e os processos catódicos e anódicos são observados em sequência. As correntes de redução ou de oxidação passam por um pico e então diminuem, caso a difusão seja lenta demais para manter as concentrações de equilíbrio dos reagentes e dos produtos na superfície do eletrodo. O aumento da separação e o alargamento dos picos catódicos e anódicos ocorrem em reações irreversíveis que não são rápidas o bastante para manter as concentrações de equilíbrio no eletrodo.
Os microeletrodos cabem em pequenos ambientes e suas pequenas correntes permitem que eles sejam utilizados em meios resistivos, não aquosos. Sua baixa capacitância aumenta a sensibilidade das medidas, diminuindo a corrente capacitiva, o que permite varreduras de potencial muito rápidas, compatíveis com o estudo de espécies com tempo de vida muito curto. Os voltamogramas de microeletrodos em velocidades de varredura de potencial modestas atingem uma corrente de difusão constante sem passar por um pico porque a difusão radial do analito, a partir de um volume semiesférico, se mantém em relação à velocidade de reação do eletrodo. A titulação de água pelo método de Karl Fischer utiliza uma bureta para liberar o reagente ou a coulometria para produzi-lo. Na detecção do ponto final, por meio de bipotenciometria, medimos o potencial necessário para manter uma corrente constante entre dois eletrodos de Pt. No ponto de equivalência ocorre uma mudança abrupta de potencial, quando um dos constituintes de um par redox é formado ou destruído.
Exercícios 17-A. Uma solução diluída de Na2SO4 é eletrolisada com um par de eletrodos planos de Pt em uma densidade de corrente de 100 A/m2, sendo a corrente de 0,100 A. Os produtos da eletrólise são H2(g) e O2(g) a 1,00 bar. Calcule o potencial necessário, se a resistência da célula é 2,00 Ω e não existe polarização de concentração. Qual seria o potencial necessário caso os eletrodos de Pt fossem substituídos por eletrodos de Au? 17-B. (a) Em que potencial do catodo se iniciará a deposição de Sb(s), em pH 0,00, a partir de uma solução de SbO+ 0,010 M? Expresse o valor do potencial contra o E.P.H. e contra o eletrodo de Ag | AgCl. SbO+ + 2H+ +3e− ⇌ Sb(s) + H2O
E° = 0,208 V
(b) Qual a porcentagem de Cu2+ 0,10 M que pode ser reduzida eletroliticamente a Cu(s) antes que o sob+ 0,010 M, na mesma solução, comece a ser reduzido em pH 0,00? 17-C. Calcule o potencial do catodo (contra o E.C.S.) necessário para reduzir a concentração de cobalto(II) a 1,0 μM em cada uma das soluções a seguir. Em cada caso, o Co(s) é o produto da reação. (a) HClO4 0,10 M (b)
0,10 M (Nesta questão, desejamos saber em que potencial a concentração de [Co(C2O4)2−] será 1,0 μM.)
(c) EDTA 0,10 M em pH 7,00 (Nesta questão, desejamos saber em que potencial a concentração de [CoEDTA]2− será 1,0 μM.) 17-D. Íons capazes de reagir com o Ag+ podem ser determinados eletrogravimetricamente pela deposição em um anodo de trabalho de prata: Ag(s) + X− → AgX(s) + e− (a) Qual será a massa final de um anodo de prata usado para eletrolisar 75,00 mL de uma solução de KSCN 0,023 80 M, se a massa inicial do anodo é de 12,463 8 g? (b) Qual o potencial de eletrólise (contra o E.C.S.) em que o AgBr(s) será depositado a partir de uma solução de Br− 0,10 M? (Considere desprezível o fluxo de corrente, de modo que não existe potencial de queda ôhmica, polarização de concentração ou sobretensão.) (c) É teoricamente possível separarmos, por eletrólise com potencial controlado, 99,99% de KI 0,10 M de KBr 0,10 M? 17-E. Há muitas décadas que o cloro tem sido usado na esterilização de água potável. Um efeito colateral desse tratamento é a reação do cloro com impurezas orgânicas formando compostos organoclorados, muitos dos quais são tóxicos. O monitoramento de halogeneto orgânico total (sigla em inglês TOX) tornou-se rotineiro para muitas empresas distribuidoras de água. Um procedimento-padrão para a determinação do TOX consiste em passar a água por um leito de carvão ativado, que retém os compostos orgânicos. O carvão é então queimado, formando halogenetos de hidrogênio:
O HX é então absorvido em água e determinado por meio de uma titulação coulométrica automática com um anodo de prata: X−(aq) + Ag(s) → AgX(s) + e− Quando 1,00 L de água potável foi analisado, foi necessário aplicar uma corrente de 4,23 mA durante 387 s. Um branco, preparado oxidando carvão, necessitou de uma corrente de 4,23 mA por 6 s. Expresse o TOX da água potável em número de μmol de halogênio/L. Se todo halogênio for o cloro, expresse o valor de TOX em μg de Cl/L.
17-F. O Cd2+ foi usado como padrão interno na análise de Pb2+ por polarografia de onda quadrada. O Cd2+ produz uma onda de redução em −0,60 (±0,02) V e o Pb2+ produz uma onda de redução em −0,40 (±0,02) V. Inicialmente, verificou-se que a razão entre as alturas dos picos é proporcional à razão entre as concentrações dos íons em toda faixa utilizada no experimento. A seguir podemos ver os resultados obtidos para misturas de composição conhecida e de composição desconhecida: Analito
Concentração (M)
Corrente (μA)
Cd2+
3,23 (±0,01) × 10−5
1,64 (±0,03)
Pb2+
4,18 (±0,01) × 10−5
1,58 (±0,03)
Cd2+
?
2,00 (±0,03)
Pb2+
?
3,00 (±0,03)
Conhecida
Desconhecida + Padrão interno
A mistura desconhecida foi preparada misturando-se 25,00 (±0,05) mL de solução desconhecida (contendo apenas Pb2+) e 10,00 (±0,05) mL de uma solução de Cd2+ 3,23 (±0,01) × 10−4 M, diluindo-se a mistura a 50,00 (±0,05) mL. (a) Determine a concentração de Pb2+ na mistura desconhecida não diluída, sem considerar as incertezas. (b) Determine a incerteza absoluta para a resposta (a). 17-G. Considere o voltamograma cíclico do um composto do Co3+, . Sugira uma reação química que seja a responsável por cada onda que aparece na figura a seguir. As reações são reversíveis? Quantos elétrons estão envolvidos em cada etapa? Esboce os polarogramas por amostragem de corrente e de onda quadrada que são esperados para este composto. E (V contra o E.C.S.)
Ipa/Ipc
Epa − Epc (mV)
−1,38
1,01
60
−2,38
1,00
60
17-H. Em uma análise de teor de umidade, pelo método coulométrico de Karl Fischer, 25,00 mL de metanol puro “seco” necessitaram 4,23 C para gerar I2 suficiente para reagir com a água residual existente no metanol. Uma suspensão de 0,847 6 g de um material polimérico, finamente dividido, em 25,00 mL do mesmo metanol “seco”, necessitou 63,16 C. Determine a porcentagem em massa de H2O no polímero.
Voltamograma cíclico do . [Dados de W. E. Geiger, Jr., W. L. Bowden e N. El Murr, “An Electrochemical Study of the Protonation Site of the Cobaltocene Anion and of Cyclopentadienylcobalt(I) Dicarbollides”, Inorg. Chem. 1979, 18, 2358.]
Problemas Fundamentos da Eletrólise
17-1. Na figura a seguir vemos o comportamento dos catodos de Pt e Ag onde ocorre a redução de H3O+ a H2(g). Explique por que as duas curvas não se superpõem.
Gráfico de corrente contra potencial elétrico para eletrodos de Pt e Ag em solução aquosa de H2SO4, livre de O2, cujo pH foi ajustado para 3,2. [Dados de D. Marín, F. Mendicuti e C. Teijeiro, “An Electrochemistry Experiment: Hydrogen Evolution Reaction on Different Electrodes”, J. Chem. Ed. 1994, 71, A277.]
17-2. Quantas horas são necessárias para que 0,100 mol de elétrons passem por um circuito, se o valor da corrente é 1,00 A? 17-3. A energia livre-padrão para a formação de H2(g) + O2(g) a partir de H2O(l) é ΔG° = +237,13 kJ. As reações são: Catodo:
2H2O + 2e− ⇌ H2(g) + 2OH−
Anodo:
H2O ⇌ O2(g) + 2H+ + 2e−
Calcule o valor do potencial-padrão (E°) necessário para decompor a água em seus elementos por eletrólise. Qual o significado da palavra padrão nesta pergunta? 17-4. Considere as seguintes reações de eletrólise. Catodo:
H2O(l) + e− ⇌ H2(g, 1,0 bar) + OH− (aq, 0,10 M)
Anodo:
Br− (aq, 0,10 M) ⇌ Br2(l) + e−
(a) Calcule o potencial que deve ser aplicado para que a reação global ocorra se a corrente é desprezível. (b) Suponha que a célula tenha uma resistência de 2,0 Ω e que passe por ela uma corrente constante de 100 mA. Que potencial será necessário para superar a resistência da célula? Este é o potencial de queda ôhmica. (c) Suponha que a reação anódica tenha uma sobretensão de 0,20 V e que a sobretensão do catodo seja de 0,40 V. Qual o potencial necessário para superar esses efeitos conjuntamente com os potenciais previstos em (a) e (b)? (d) Suponha que exista polarização de concentração. A concentração de OH−, na superfície do catodo, aumenta para 1,0 M e a concentração de Br−, na superfície do anodo, diminui para 0,010 M. Qual o potencial necessário para superar esses efeitos conjuntamente com os potenciais previstos em (b) e (c). 17-5. (a) Qual o potencial, V1 ou V2, no esquema a seguir, que é constante durante uma eletrólise com potencial controlado? Quais são os eletrodos de trabalho, contraeletrodo (eletrodo auxiliar) e de referência no esquema?
(b) Explique como o capilar de Luggin, na Figura 17-4, mede o potencial elétrico na abertura do capilar. 17-6. (a) A célula na Figura 17-4 é:
Cu(s) | 1,0 M CuSO4(aq) | KCl (aq, 3 M) | AgCl(s) | Ag(s) Escreva semirreações para essa célula. Desprezando os coeficientes de atividade e o potencial de junção líquida entre CuSO4(aq) e KCl(aq), preveja o potencial de equilíbrio (corrente nula) esperada quando o capilar de Luggin entra em contato com o eletrodo de Cu. Para esse propósito, suponha que o potencial do eletrodo de referência seja 0,197 V contra E.C.S. Por que se observa o potencial de equilíbrio em +109 mV, e não no valor que você calculou? (b) De que forma as sobretensões variarão caso o potenciostato imponha uma diferença de potencial superior a 1,000 V? 17-7. A pilha de Weston mostrada a seguir é um padrão de potencial elétrico muito estável, que era usada antigamente em potenciômetros. (O potenciômetro compara um valor de um potencial desconhecido com o do padrão. Ao contrário das condições deste problema, muito pouca corrente deve ser retirada da pilha caso ela venha a ser um padrão exato de potencial.)
(a) Quanto trabalho (J) pode ser realizado pela pilha de Weston, quando o seu potencial é de 1,02 V e 1,00 mL de Hg (massa específica = 13,53 g/mL) é depositado? (b) Se a pilha fornece corrente para um resistor de 100 Ω, que dissipa o calor com uma velocidade de 0,209 J/min, quantos gramas de Cd serão oxidados a cada hora? (Esta parte do problema não precisa ser consistente com o item (a). Neste caso o potencial deixa de ser 1,02 V.) 17-8. O processo cloro-álcali,54 em que a água do mar é eletrolisada para produzir Cl2 e NaOH, vem a ser, depois da produção de alumínio, o segundo processo eletrolítico comercial mais importante. Anodo:
Cl− → Cl2 + e−
Catodo de Hg:
Na+ + H2O + e− → NaOH + H2
Uma membrana semipermeável de Nafion (Seção 17.5), resistente ao ataque químico, separa os compartimentos anódico e catódico da célula eletrolítica. O lado aniônico da membrana é permeável a íons Na+, mas não a ânions. O compartimento catódico é inicialmente cheio com água pura e o compartimento anódico contém água do mar tratada para eliminar os íons Ca2+ e Mg2+. Explique como a membrana permite obter NaOH isento de NaCl. 17-9. A bateria de chumbo ácida dos automóveis é composta por seis células em série, cada uma delas fornecendo um potencial próximo a 2,0 V, e um total de 12 V quando a bateria está descarregando. A recarga da bateria necessita de ∼2,4 V por célula, ou ∼14 V para toda a bateria.55 Explique essas observações com base na Equação 17-6.
Análises Eletrogravimétricas 17-10. Uma amostra desconhecida, pesando 0,326 8 g, contendo lactato de chumbo, Pb(CH3CHOHCO2)2 (MF 385,3), além de material inerte, foi eletrolisada produzindo 0,111 1 g de PbO2 (MF 239,2). O PbO2 depositou-se no anodo ou no catodo? Determine a porcentagem em massa do lactato de chumbo presente na amostra. 17-11. Uma solução contendo Sn2+ foi eletrolisada de modo a reduzi-lo a Sn(s). Admitindo que não existe polarização de concentração, calcule o potencial do catodo (contra o E.C.S.) necessário para reduzir a concentração do Sn2+ a 1,0 × 10−8 M. Qual
seria o potencial se fizéssemos o cálculo contra o E.P.H. em vez do E.C.S.? Se existisse polarização de concentração, o potencial tornar-se-ia mais positivo ou mais negativo? 17-12. Admitindo fluxo de corrente desprezível, qual o potencial do catodo (contra o E.C.S.) necessário para reduzir 99,99% do Cd(II) presente em uma solução de Cd(II) 0,10 M em amônia 1,0 M? Considere as reações a seguir e suponha que praticamente todo o Cd(II) se encontra na forma de Cd(NH3)42+. Cd2+ + 4NH3 ⇌ Cd(NH3)42+
β4 = 3,6 × 106
Cd2+ + 2e− ⇌ Cd(s)
E° = −0,402 V
17-13. Eficiência de eletrodeposição.56 Níquel foi depositado eletroliticamente sobre um eletrodo de carbono a partir de um banho contendo 290 g/L de NiSO4· 6H2O, 30 g de B(OH)3 e 8 g/L de NaCl, sob um potencial de −1,2 V contra Ag | AgCl. A mais importante reação paralela é a redução do H+ a H2. Em um experimento, um eletrodo de carbono de massa 0,477 5 g antes da deposição passou a ter uma massa de 0,479 8 g após a passagem de 8,082 C através do circuito. Qual a porcentagem da corrente destinada à reação Ni2+ + 2e− → Ni(s)?
Coulometria 17-14. Explique como funciona o detector amperométrico de ponto final da Figura 17-9? 17-15. Qual a função de um mediador? 17-16. A sensibilidade de um coulômetro depende de sua capacidade de fornecer o seu menor valor de corrente em um mínimo de tempo. Suponhamos que 5 mA podem ser fornecidos em 0,1 s. (a) Quantos mols de elétrons são fornecidos por 5 mA durante 0,1 s? (b) Quantos mililitros de uma solução 0,01 M de um agente redutor que transfere dois elétrons são necessários para suprir o mesmo número de elétrons? 17-17. No experimento da Figura 17-9 foram necessários 5,32 mA durante 964 s para a reação completa de uma alíquota de 5,00 mL de uma amostra desconhecida contendo ciclo-hexeno. (a) Quantos mols de elétrons passaram através da célula? (b) Quantos mols de ciclo-hexeno reagiram? (c) Qual a molaridade do ciclo-hexeno na amostra desconhecida? 17-18. O H2S(aq) pode ser analisado pela titulação com I2 produzido por coulometria. H2S + I2 → S(s) + 2H+ + 2I− A 50,00 mL de uma amostra foram adicionados 4 g de KI. A eletrólise, com uma corrente de 52,6 mA, demorou 812 s para se completar. Calcule, em mg/mL, a concentração de H2S na amostra. 17-19. Na Figura 17-11, foram introduzidos 2,00 mol de frutose. Quantos elétrons são perdidos na oxidação de uma molécula de frutose? Compare o número teórico de coulombs com o número observado experimentalmente para a oxidação completa da amostra. 17-20. O diamante consiste em átomos de carbono em um cristal cúbico de face centrada (Figura 15-36). Grupos amino (—NH2) foram adicionados sobre a superfície de um eletrodo de diamante dopado com boro a partir de um plasma produzido por uma descarga de radiofrequência em NH3(g). Grupos ferroceno foram então quimicamente acoplados aos átomos de nitrogênio. O ferroceno foi oxidado reversivelmente quando um potencial positivo foi aplicado ao eletrodo.57
(a) Com base na Seção 15-8, descreva como a dopagem com boro transforma o diamante de um isolante para um semicondutor. Ele é do tipo p ou do tipo n? Explique sua resposta.
(b) A densidade superficial dos átomos de carbono no diamante é aproximadamente 1,7 × 1015 átomos/cm2. (Diferentes planos cristalográficos apresentam densidades um pouco diferentes. O eletrodo na Figura 17-17 apresenta uma variedade de planos cristalográficos expostos.) A oxidação dos grupos ferroceno ligados em 0,38 cm2 de superfície de um eletrodo de diamante consumiram 23 μC de carga. Encontre a densidade superficial do ferroceno (moléculas/cm2) no diamante. Caso existam dois grupos ferroceno ligados a cada átomo de N, quantos átomos de N existem em cada centímetro quadrado? Que fração aproximada dos átomos de C na superfície foi substituída por átomos de N? 17-21. O íon Ti3+ é gerado em uma solução de HClO4 0,10 M para ser usado na redução coulométrica do azobenzeno.
No contraeletrodo, a água é oxidada e o O2 é liberado numa pressão de 0,20 bar. Os dois eletrodos da célula são de Pt polida e cada um deles possui uma área superficial total de 1,00 cm2. A velocidade de redução do azobenzeno é de 25,9 nmol/s, e a resistência da solução, entre os eletrodos geradores, é de 52,4 Ω. (a) Calcule a densidade da corrente (A/m2) na superfície do eletrodo. Use a Tabela 17-1 para estimar a sobretensão para a liberação de O2. (b) Calcule o potencial do catodo (contra o E.P.H.) admitindo que a [TiO2+]superfície = [TiO2+]solução = 0,050 M e que a [Ti3+]superfície = 0,10 M. (c) Calcule o potencial do anodo (contra o E.P.H.). (d) Que potencial total deve ser aplicado? 17-22. Propagação de incerteza. Em uma determinação muito precisa do valor da constante de Faraday, um anodo de prata pura foi oxidado a Ag+ por meio de uma corrente constante de 0,203 639 0 (±0,000 000 4) A durante 18.000,075 (±0,010) s, ocorrendo uma perda de massa de 4,097 900 (±0,000 003) g no anodo. Sabendo-se que o valor da massa atômica da Ag é 107,868 2 (±0,000 2), determine o valor da constante de Faraday e a sua incerteza. 17-23. Titulação coulométrica de sulfito em vinho.58 O dióxido de enxofre é adicionado como conservante a muitos alimentos. Em solução aquosa existem as seguintes espécies em equilíbrio:
O bissulfito reage com aldeídos nos alimentos em pH próximo à neutralidade:
O sulfito é liberado do aduto em NaOH 2 M, e pode ser analisado por meio de sua reação com I3−, produzindo I− e sulfato. É necessário um excesso de I3− para que a reação seja quantitativa. A seguir descreve-se um procedimento coulométrico para análise de sulfito total em vinho branco. O sulfito total compreende todas as espécies na Reação (A) e o aduto na Reação (B). O uso de vinho branco permite que vejamos a coloração do complexo goma de amido-iodo no ponto final. 1. 2.
3. 4. 5. 6.
Misture 9,00 mL de vinho e 0,8 g de NaOH, diluindo a 100 mL. O NaOH libera o sulfito de seus adutos orgânicos. Gere no eletrodo de trabalho (o anodo), passando uma corrente conhecida por um tempo determinado, através da célula na Figura 17-10. A célula contém 30 mL de tampão acetato (pH 3,7) e KI 0,1 M. A reação no compartimento catódico é a redução da H2O a H2 + OH−. O vidro sinterizado retarda a difusão do OH− para o compartimento principal, onde reagiria com o I3− produzindo IO−. Gere no anodo com uma corrente de 10,00 mA por 4,00 min. Injete 2,000 mL da solução contendo vinho/NaOH na célula. O sulfito reage com I3− deixando um excesso deste último. Adicione 0,500 mL de solução de tiossulfato 0,050 7 M para consumir o segundo a Reação 16-19, deixando um excesso de tiossulfato. Adicione o indicador goma de amido na célula e gere nova quantidade de com uma corrente constante de 10,00 mA. Foram necessários 131 s para o consumo do excesso de tiossulfato e atingir o ponto final com o indicador.
(a) Qual a faixa de pH em que cada forma do ácido sulfuroso predomina? (b) Escreva semirreações balanceadas para o anodo e o catodo. (c) Em pH 3,7 a forma predominante do ácido sulfuroso é a espécie , e a forma dominante do ácido sulfúrico é a espécie . Escreva reações balanceadas entre e , e entre e tiossulfato. (d) Determine a concentração de sulfito total no vinho não diluído. 17-24. Demanda química de oxigênio por coulometria. Um dispositivo eletroquímico, incluindo uma superfície de TiO2 para foto-oxidação, pode substituir o refluxo com para medir a demanda química de oxigênio (Boxe 16-2). O diagrama mostra um eletrodo de trabalho, recoberto com nanopartículas de TiO2, mantido a +0,30 V contra um eletrodo de Ag | AgCl. Sob irradiação com ultravioleta, elétrons e lacunas são gerados no TiO2. As lacunas oxidam a matéria orgânica na superfície. Os elétrons reduzem a H2O no contraeletrodo em um compartimento conectado ao do eletrodo de trabalho por meio de uma ponte salina. A espessura do compartimento da amostra é de apenas 0,18 mm, com um volume de 13,5 μL. É necessário ∼1 min para toda a matéria orgânica se difundir para a superfície do TiO2 e ser completamente oxidada.
Esquerda: Eletrodo de trabalho. Direita: Resposta da fotocorrente para a amostra e o branco. Ambas as soluções contêm NaNO3 2 M. [Dados de H. Zhao, D. Jiang, S. Zhang, K. Catterall e R. John, “Development of a Direct Photoelectrochemical Method for Determination of Chemical Oxygen Demand”, Anal. Chem. 2004, 76, 155.]
A curva do branco mostrada no gráfico assinala a resposta quando o compartimento da amostra contém apenas o eletrólito. Antes da irradiação, nenhuma corrente é observada. A radiação ultravioleta provoca um salto na corrente, seguido de um rápido decréscimo até um nível estacionário próximo a 40 μA. Esta corrente provém da oxidação da água na superfície do TiO2 exposto à radiação ultravioleta. A curva superior mostra o mesmo experimento, mas com um efluente residual no compartimento da amostra. O aumento da corrente é decorrente da oxidação da matéria orgânica. Quando esta é consumida, a corrente decresce até o patamar do ensaio em branco. A área entre as duas curvas nos informa quantos elétrons foram produzidos na oxidação da matéria orgânica presente na amostra. (a) Balanceie a meia-reação de oxidação que ocorre nesta célula: CcHhOoNnXx + AH2O → BCO2 + CX− + DNH3 + EH+ + Fe− em que X é um halogênio qualquer. Expresse os coeficientes estequiométricos A, B, C, D, E e F em função de c, h, o, n e x. (b) Quantas moléculas de O2 são necessárias para balancear a meia-reação na parte (a) pela redução do oxigênio (O2 + 4H+ + 4e− → 2H2O)? (c) A área entre as duas curvas no gráfico (Iamostra − Ibranco)dt = 9,43 mC. Este é o número de elétrons liberados na oxidação completa da amostra. Quantos mols de O2 seriam necessários para a mesma oxidação? (d) A demanda química de oxigênio (DQO) é expressa em mg de O2 necessários para oxidar 1 L de amostra. Encontre a DQO para esta amostra. (e) Se a única substância oxidável na amostra fosse C9H6NO2ClBr2, qual seria a sua concentração em mol/L?
Amperometria 17-25. Qual a finalidade de um eletrodo de Clark e como ele funciona? 17-26. (a) Como funciona o monitor amperométrico de glicose mostrado na Figura 17-12? (b) Por que o uso de um mediador é vantajoso em um medidor de glicose?
(c) Como funciona o monitor coulométrico de glicose na Figura 17-14? (d) Por que o sinal na medida amperométrica depende da temperatura da amostra de sangue, enquanto o sinal na coulometria independe da temperatura? Você espera que o sinal aumente ou diminua com o aumento da temperatura na amperometria? (e) A glicose (C6H12O6, MF 180,16) está normalmente presente no sangue humano em uma concentração próxima de 1g/L. Quantos microcoulombs são necessários para a oxidação completa da glicose numa amostra de 0,300 μL de sangue em um monitor portátil de glicose, se a concentração é 1,00 g/L? 17-27. Explique por que cada voltamograma de um eletrodo de disco rotatório na Figura 17-16 atinge um patamar em valores baixos e elevados de potencial. Que química ocorre em cada patamar? Por que todas as curvas se sobrepõem em potencial baixo? Como a densidade de corrente em cada patamar mudaria se a velocidade de rotação fosse diminuída? 17-28. Para um eletrodo de disco rotatório, operando em um potencial suficientemente grande, a velocidade de uma reação redox depende da velocidade com que o analito consegue se difundir em direção ao eletrodo através da camada de difusão (Figura 1715b). A espessura da camada de difusão é dada por: δ = 1,61D1/3 v1/6 ω−1/2 em que D é o coeficiente de difusão do reagente (m2/s), v é a viscosidade cinemática do líquido (= viscosidade/massa específica = m2/s), e ω é a velocidade de rotação do eletrodo (radianos/s). Em um círculo existem 2π radianos. A densidade de corrente (A/m2) é Densidade da corrente = 0,62nFD2/3 v−1/6 ω1/2C0 em que n é o número de elétrons na meia-reação, F é a constante de Faraday e C0 é a concentração da espécie eletroativa no seio da solução (mol/m3 e não mol/L). Considere a oxidação do íon em uma solução de K3Fe(CN)6 10,0 mM + K4Fe(CN)6 50,0 mM a +0,90 V (contra o E.C.S.), com uma rotação do eletrodo de 2,00 × 103 rotações por minuto.27 O coeficiente de difusão do é 2,5 × 10−9 m2/s e a viscosidade cinemática é 1,1 × 10−6 m2/s. Calcule a espessura da camada de difusão e o valor da densidade de corrente correspondente. O valor da densidade de corrente deve ser próximo ao da Figura 17-16b.
Voltametria 17-29. Em uma solução de NH3 1 M/NH4Cl 1 M o íon Cu2+ foi reduzido a Cu+ em um potencial próximo a −0,3 V (contra o E.C.S.), e o Cu+ foi reduzido a Cu (em Hg) próximo a −0,6 V. (a) Trace, de forma qualitativa, um polarograma por amostragem de corrente para a solução de Cu+. (b) Trace o mesmo tipo de polarograma do item anterior para a solução de Cu2+. (c) Admita que a Pt, em vez do Hg, foi usada como eletrodo de trabalho. Que potenciais de redução devem mudar de valor em consequência desta substituição? 17-30. (a) Qual a diferença entre uma corrente capacitiva e uma corrente faradaica? (b) Qual a finalidade de esperar 1 s após o pulso de potencial antes de medirmos o valor da corrente na voltametria por amostragem de corrente? (c) Por que a voltametria de onda quadrada é mais sensível do que a voltametria por amostragem de corrente? 17-31. Suponha que a corrente de difusão em um polarograma para a redução de Cd2+, em um catodo de mercúrio, seja de 14 μA. Se a solução contém 25 mL de Cd2+ 0,50 mM, qual a porcentagem de Cd2+ que será reduzida durante os 3,4 min necessários para varrer o potencial de −0,6 a −1,2 V? 17-32. O medicamento Librium, em H2SO4 0,05 M, tem uma onda polarográfica com E1/2 = −0,265 V (contra o E.C.S.). Uma amostra com 50 mL de volume contendo Librium deu uma onda com uma altura de 0,37 μA. Quando foram adicionados 2,00 mL de Librium 3,00 mM, em H2SO4 0,05 M, a altura da onda aumentou para 0,80 μA. Determine a concentração molar de Librium na amostra de concentração desconhecida. 17-33. Explique como funciona uma voltametria por esgotamento (remoção) anódico. Por que esta técnica é a mais sensível das técnicas polarográficas? 17-34. A figura a seguir mostra medidas de voltametria por esgotamento (remoção) anódico, em um eletrodo de irídio sólido, para uma série de adições-padrão de Cu2+ a uma água de torneira acidificada. A amostra desconhecida e todas as soluções obtidas pelas adições-padrão foram diluídas a um mesmo volume final. (a) Qual é a reação química que ocorre durante o estágio de concentração da análise? (b) Qual é a reação química que ocorre durante o estágio de esgotamento (remoção) da análise? (c) Determine a concentração de Cu2+ na água da torneira.
Voltamogramas de esgotamento (remoção) anódico de água de torneira e de cinco adições de 100 ppb de Cu2+. [Dados de M. A. Nolan e S. P. Kounaves, “Microfabricated Array of Ir Microdisks for Determination of Cu2+ ou Hg2+ Using Square Wave Stripping Voltammetry”, Anal. Chem. 1999, 71, 3567.]
17-35. A partir de duas adições-padrão de 50 pM de Fe(III) na figura mostrada a seguir, determine a concentração de Fe(III) na água do mar. Estime onde se deve situar a linha de base para cada sinal, e meça a altura do pico a partir dessa linha de base. Considere que o volume é constante para todas as três soluções.
Voltamograma de esgotamento por amostragem de corrente catódica de Fe(III) em água do mar mais duas adições de padrão de Fe(III) 50 pM. [Dados de H. Obata e C. M. G. van der Berg, “Determination of Picomolar Levels of Iron in Seawater Using Catalytic Cathodic Stripping Voltammetry”, Anal. Chem. 2001, 73, 2522. Veja também C. M. G. van der Berg, “Chemical Speciation of Iron in Seawater by Cathodic Stripping Voltammetry with Dihydroxynaphthalene”, Anal. Chem. 2006, 78, 156.]
17-36. O esgotamento catódico do medida é obtida.
, na Figura 17-26, não envolve oxidação ou redução do
. Explique como essa
17-37. O voltamograma cíclico do antibiótico cloranfenicol (abreviado como RNO2) é visto a seguir. A varredura de potencial se iniciou em 0 V e prosseguiu em direção −1,0 V. A primeira onda catódica, A, é proveniente da reação RNO2 + 4e− + 4H+ → RNHOH + H2O. O pico B na varredura anódica reversa pode ser atribuído à equação RNHOH → RNO + 2H+ + 2e−. Na segunda varredura catódica, de +0,9 V até −0,4 V, um novo pico C apareceu. Escreva uma reação para o pico C e explique por que o pico C não foi visto durante a varredura inicial.
Voltamograma cíclico de uma solução de cloranfenicol 3,7 × 10−4 M em tampão acetato 0,1 M, pH 4,62. O potencial do eletrodo de trabalho de pasta de carbono foi varrido com uma velocidade de 350 mV/s. [Dados de P. T. Kissinger e W. R. Heineman, “Cyclic Voltammetry”, J. Chem. Ed. 1983, 60, 702.]
17-38. A tabela vista a seguir apresenta os valores de velocidade de varredura (v) e de corrente de pico (Ip) para a voltametria cíclica (Fe(II) → Fe(III)), em NaCl 0,1 M, de um derivado do ferroceno solúvel em água.59 Velocidade de varredura (V/s)
Pico da corrente anódica (μA)
0,019 2
2,18
0,048 9
3,46
0,075 1
4,17
0,125
5,66
0,175
6,54
0,251
7,55
Se um gráfico de Ip contra dá uma reta, então a reação tem seu mecanismo controlado por difusão. Construa um gráfico desse tipo e utilize-o para determinar o coeficiente de difusão do reagente por meio da Equação 17-21 nesta oxidação de um único elétron. A área do eletrodo de trabalho é de 0,020 1 cm2 e a concentração do reagente é 1,00 mM. 17-39. Quais as vantagens da utilização de um microeletrodo para medidas voltamétricas? 17-40. Qual a finalidade da membrana de Nafion na Figura 17-33? 17-41. Determinação do tamanho de um microeletrodo por voltametria cíclica. (a) A química redox para o ferrocianeto na Figura 17-32 foi apresentada no início da Seção 17-5. Escreva a semirreação do analito que ocorre no patamar superior próximo de 0,4 V, e no patamar inferior próximo a 0 V (contra E.C.S.). (b) A corrente-limite, Ilimite, que é a diferença entre os patamares superior e inferior, está relacionada com o raio do eletrodo em forma de disco (r), ao coeficiente de difusão (D) e à concentração do analito (C) no seio da solução: Ilimite = 4nFDCr em que n é o número de elétrons na semirreação e F é a constante de Faraday. Nessa equação as unidades de concentração devem ser expressas em mol/m3, para que seja consistente com as outras grandezas no Sistema SI. O coeficiente de difusão do ferrocianeto citado na referência para a Figura 17-32 é 9,2 × 19−10 m²/s em água a 25ºC. Calcule o raio do microeletrodo.
Titulação de Karl Fischer
17-42. Escreva as reações químicas que mostram que 1 mol de I2 é necessário por 1 mol de H2O em uma titulação de Karl Fischer. 17-43. Explique como o ponto final pode ser detectado na titulação de Karl Fischer da Figura 17-35.
O BURACO NA CAMADA DE OZÔNIO1
Espectro do ozônio, mostrando um máximo de absorção da radiação ultravioleta num comprimento de onda próximo a 260 nm. Nesse comprimento de onda, uma camada de ozônio é mais opaca do que uma camada de ouro de mesma massa. [Dados de R. P. Wayne, Chemistry of Atmospheres (Oxford: Clarendon Press, 1991).]
Concentrações de O3 e ClO (expressas em ppb = nL/L) medidas por métodos espectroscópicos, em 1987, na estratosfera próxima ao Polo Sul. A perda de O3 em latitudes onde o ClO tem alta concentração é compatível com o mecanismo das reações químicas associadas à destruição catalítica do O3 nas etapas de 2 a 4 mostrados a seguir. [Dados de J. G. Anderson, W. H. Brune e M. H. Proffitt, J. Geophys. Res. 1989, 94D, 11465.]
Valor médio da concentração de O3 atmosférico em Halley na Antártida em outubro. As unidades Dobson são de nidas no Problema 18-16. [Dados de J. D. Shanklin, British Antarctic Survey. http://www.antarctica.ac.uk/met/jds/ozone/.] O ozônio, formado pela ação da radiação solar ultravioleta (hv) sobre o O2 existente em altitudes entre 20 e 40 km, absorve a radiação ultravioleta responsável por queimaduras solares e câncer de pele.
Em 1985, um mapeamento feito pela Missão Britânica na Antártida veri cou que o ozônio total existente na estratosfera da Antártida tinha diminuído 50% no início da primavera (outubro) em relação aos níveis observados nos 20 anos anteriores. Observações a partir da superfície, por meio de aviões e de satélites, mostraram que esse “buraco de ozônio” aparece apenas durante o princípio da primavera (Figura 1-1) e se tornou gradativamente maior até o ano 2000. Uma explicação para esse fenômeno está relacionada com os cloro uorocarbonos (CFCs), como o Freon-12 (CCl2F2), outrora utilizados como uido de refrigeração e propelente em latas de spray. Esses compostos muito estáveis, que não são encontrados na natureza,2 se difundem para a estratosfera, onde catalisam a decomposição do ozônio.
O Cl produzido na etapa 4 volta a reagir novamente na etapa 2, de forma que um único átomo de Cl• pode destruir >105 moléculas de O3. A sequência termina quando o Cl• ou o •ClO reage com hidrocarbonetos ou com o NO2 para formar HCl ou ClONO2. As nuvens estratosféricas3 formadas durante o inverno na Antártida, catalisam a reação do HCl com o ClONO2 formando Cl2, que por sua vez é dissociado pela luz solar em átomos de Cl?. São esses átomos que então iniciam o processo de destruição do O3:
As nuvens polares estratosféricas precisam do frio do inverno para se formar. As condições adequadas para a destruição do ozônio começam a ocorrer somente quando o Sol aparece em setembro e outubro e as nuvens do inverno ainda estão presentes. Para proteger os seres vivos da radiação ultravioleta, o Tratado de Montreal, rmado em 1987, eliminou o uso de cloro uorocarbonos. Hoje são empregados substitutos mais seguros.
Q
Q
ualquer técnica que utilize luz para medir concentrações de espécies químicas é chamada de espectrofotometria. Um procedimento baseado na absorção da luz visível é chamado de colorimetria. O Capítulo 18 apresenta uma visão geral da espectrofotometria, adequada para fins de introdução. O Capítulo 19 descreve as aplicações, e o Capítulo 20 discute a instrumentação pertinente.
[C. Calvin/UCAR/NOAA] Após a descoberta, em 1985, do “buraco” da camada de ozônio na Antártida, a especialista em química atmosférica, Susan Solomon, liderou a primeira expedição, em 1986, que tinha a nalidade especí ca de obter dados químicos da atmosfera da Antártida por meio de balões e equipamentos espectroscópicos situados na superfície. A expedição descobriu que a diminuição do ozônio ocorria após o nascer do Sol polar e que a concentração de cloro quimicamente ativo na estratosfera era ∼100 vezes maior do que o valor que tinha sido previsto pela química em fase gasosa associada a esse elemento. O grupo de pesquisas de Solomon identi cou o cloro como o responsável pela destruição do ozônio e as nuvens polares estratosféricas como a superfície catalítica responsável pela liberação de tanto cloro. 18-1
Propriedades da Luz
A luz pode ser descrita convenientemente tanto em termos de partículas quanto de ondas. As ondas luminosas consistem em campos magnéticos e elétricos oscilantes, perpendicularmente orientados. Para simplificarmos, a Figura 18-1 mostra uma onda plano-polarizada. Nessa figura, o campo elétrico está no plano xy e o campo magnético está no plano xz. O comprimento de onda, λ, é a distância entre dois máximos vizinhos. A frequência, v, é o número de oscilações completas que a onda faz a cada segundo. A unidade de frequência é o segundo recíproco, 1/segundo ou s−1. Uma oscilação por segundo também é chamada de um hertz (Hz). Portanto, uma frequência de 106 s−1 corresponde a 106 Hz, ou um mega-hertz (MHz). A relação entre a frequência e o comprimento de onda é
em que c é a velocidade da luz (2,998 × 108 m/s no vácuo). Em um meio que não seja o vácuo, a velocidade da luz é c/n, onde n é o índice de refração do meio. Para comprimentos de onda na região do visível, para maioria das substâncias n > 1. Portanto, a luz visível se propaga mais lentamente pela matéria do que pelo vácuo. Quando a luz se move entre dois meios com índices de refração diferentes, a frequência da radiação permanece constante, mas o comprimento de onda muda. Com relação à energia, é mais conveniente pensarmos que a luz é constituída por partículas denominadas fótons. Cada fóton transporta uma quantidade de energia E, que é dada por
em que h é a constante de Planck (= 6,626 × 10−34 J · s). A Equação 18-2 estabelece que a energia é proporcional à frequência. Combinando as Equações 18-1 e 18-2, podemos escrever
em que (= 1/λ) é chamado de número de onda. A energia é inversamente proporcional ao comprimento de onda e diretamente proporcional ao número de onda. A luz vermelha, com um comprimento de onda maior do que a luz azul, é menos energética do
que a luz azul. A unidade mais comum para o número de onda presente na literatura é o cm−1, lido como “centímetro a menos um” ou “número de onda”. As regiões do espectro eletromagnético estão assinaladas na Figura 18-2. Os nomes das regiões possuem uma natureza histórica. Não existem mudanças abruptas nas características da radiação eletromagnética quando passamos de uma região para outra, por exemplo, do visível para o infravermelho. A luz visível – o tipo de radiação eletromagnética que podemos enxergar – representa apenas uma parte muito pequena do espectro eletromagnético.
FIGURA 18-1 Radiação eletromagnética plano-polarizada de comprimento de onda λ, propagando-se ao longo do eixo x. O campo elétrico da luz plano-polarizada é confinado a um único plano. Normalmente, a luz não polarizada tem componentes do campo elétrico em todos os planos.
FIGURA 18-2 Espectro eletromagnético mostrando os processos moleculares representativos que ocorrem quando a luz é absorvida em cada região. O espectro visível ocupa a faixa de comprimentos de onda de 380-780 nanômetros (1 nm = 10−9 m).
18-2
Absorção de Luz
Quando uma molécula absorve um fóton, a energia da molécula aumenta. Dizemos que a molécula é promovida a um estado excitado (Figura 18-3). Se uma molécula emite um fóton, a energia da molécula diminui. O estado de menor energia de uma molécula é chamado de estado fundamental. A Figura 18-2 indica que a radiação na região de micro-ondas estimula o movimento de rotação das moléculas quando é absorvida. A radiação infravermelha estimula as vibrações das moléculas. A luz visível e a radiação ultravioleta causam a transferência de elétrons para orbitais de maior energia.
FIGURA 18-3
A absorção de luz aumenta a energia da molécula. A emissão de luz diminui sua energia.
Os raios X e a radiação ultravioleta de comprimento de onda curto são prejudiciais porque provocam o rompimento de ligações químicas e ionizam as moléculas. Essa é a razão pela qual os raios X usados em medicina são utilizados em doses mínimas. Uma surpreendente fonte de raios X é um rolo de fita adesiva inserido em um vácuo de 10−5−10−6 bar.4 A Figura 18-4 mostra emissões na região do visível, acompanhadas por pulsos de 105 fótons de raios X em nanossegundos. A radiação apresenta intensidade suficiente para produzir uma imagem dos ossos de um dedo em um filme dental no espaço de um segundo. O descolamento da fita do rolo provoca uma separação da carga elétrica entre a face adesiva e a base de polietileno. De tempos em tempos, o campo elétrico se torna forte o suficiente para que haja uma descarga elétrica no gás a baixa pressão entre a face adesiva e a base. Elétrons altamente acelerados liberam pulsos de raios X (chamados radiação de frenagem ou bremsstrahlung) quando atingem a face adesiva carregada positivamente, sendo subitamente desacelerados. Não há emissão de raios X quando o rolo está fechado no ar a pressão atmosférica.
EXEMPLO
A Energia dos Fótons
Qual é o aumento da energia do O2, em quilojoules por mol, quando ele absorve radiação ultravioleta com um comprimento de onda de 147 nm? Qual é o aumento da energia do CO2 quando ele absorve radiação infravermelha com um número de onda de 2300 cm−1? Solução? Para a radiação ultravioleta, o aumento de energia é
Esta energia é su ciente para romper a ligação O═O no oxigênio. Para o CO2, o aumento de energia é
A absorção da radiação infravermelha aumenta a amplitude de vibração das ligações do CO2. TESTE A VOCÊ MESMO Qual é o comprimento de onda, o número de onda e o nome da radiação que possui uma energia de 100 kJ/mol? (Resposta: 1,20 μm, 8,36 × 103 cm−1, infravermelho)
FIGURA 18-4 Emissão de radiação visível (azul) de uma lâmina de rolo de fita adesiva em uma pressão de 1,3 μbar de ar. A luz visível é acompanhada por pulsos de raios X. [Cortesia de C. Camara, Tribogenics e S. Putterman, Universidade da Califórnia, Los Angeles.] A energia radiante é a quantidade de energia por unidade de tempo e por unidade de área do feixe de luz (watts por metro quadrado, W/m2). Os termos intensidade e potência radiante se referem à mesma grandeza. A luz monocromática consiste em “uma única cor” (um único comprimento de onda). Quanto melhor for a resolução do monocromador, mais estreita será a faixa de comprimentos de onda presentes no feixe emergente.
Quando a luz é absorvida por uma amostra, a energia radiante do feixe de luz diminui. A energia radiante, P, é a energia por segundo por unidade de área do feixe de luz. Uma experiência rudimentar de espectrofotometria é vista na Figura 18-5. A luz passa por um monocromador (um prisma, ou uma rede de difração, ou mesmo um filtro) para selecionarmos um determinado comprimento de onda (veja Prancha 14 do Encarte em Cores). A luz com um único comprimento de onda é denominada monocromática, que significa “de uma só cor”. A luz monocromática, com uma energia radiante P0, atinge uma amostra de espessura b. A energia radiante do feixe que sai do outro lado da amostra é P. Parte da luz pode ser absorvida pela amostra, de modo que P ≤ P0. A transmitância, T, é definida como a fração da luz original que passa pela amostra.
Portanto, o valor de T está entre 0 e 1. A transmitância percentual é simplesmente 100T e se situa entre 0 e 100%. A absorbância é definida como
Quando nenhuma luz é absorvida, P = P0 e A = 0. Se 90% da luz é absorvida, 10% é transmitida e P = P0/10. Essa razão corresponde a A = 1. Se apenas 1% da luz é transmitida, A = 2. A absorbância é chamada algumas vezes de densidade óptica. A absorbância é muito importante porque ela é diretamente proporcional à concentração, c, da espécie que absorve luz na amostra (veja Prancha 15 do Encarte em Cores).
Relação entre transmitância e absorbância:
P/P0
%T
A
1
100
0
0,1
10
1
0,01
1
2
O Boxe 18-1 explica por que a absorbância, e não a transmitância, é diretamente proporcional à concentração.
A Equação 18-6, que expressa a essência da espectrofotometria quando aplicada à química analítica, é denominada lei de BeerLambert,6 ou simplesmente lei de Beer. A absorbância é uma grandeza adimensional, mas algumas pessoas escrevem “unidades de absorbância” depois do valor da absorbância. A concentração da amostra, c, é geralmente expressa em número de moles por litro (M). O caminho óptico, b, é geralmente expresso em centímetros. A grandeza e (epsílon) é conhecida como absortividade molar (ou, na literatura mais antiga, coeficiente de extinção) e é expressa nas unidades M−1 cm−1, o que torna o produto ebc adimensional. A absortividade molar é característica de uma substância e indica qual a quantidade de luz absorvida em determinado comprimento de onda.
FIGURA 18-5 Diagrama esquemático de um experimento espectrofotométrico de feixe simples. P0 é a energia radiante que atinge uma amostra com a espessura b. P é a energia radiante do feixe que sai do outro lado da amostra.
BOXE 18-1
Por que Existe uma Relação Logarítmica entre a Transmitância e a Concentração?5
A lei de Beer, Equação 18-6, estabelece que a absorbância é diretamente proporcional à concentração da espécie absorvente. A fração de luz que passa por uma amostra (a transmitância) está relacionada logaritmicamente, e não linearmente, com a concentração da amostra. Por que deve ser assim? Imagine a luz de energia radiante P passando por uma camada de espessura in nitesimal de uma solução cuja espessura é dx. Um modelo físico do processo de absorção considera que, dentro da camada in nitesimalmente na, a diminuição na energia (dP) é proporcional à energia incidente (P), à concentração das espécies absorventes (c) e à espessura da seção (dx):
em que β é uma constante de proporcionalidade e o sinal negativo indica uma diminuição em P quando x aumenta. A razão para dizermos que a diminuição na energia é proporcional à energia incidente pode ser compreendida a partir de um exemplo numérico. Se 1 fóton de 1000 fótons incidentes é absorvido em uma pequena camada da solução, espera-se que 2 de 2000 fótons incidentes sejam absorvidos. A diminuição em fótons (energia) é proporcional ao uxo incidente de fótons (energia). A Equação A pode ser reescrita e integrada para se encontrar uma expressão para P:
Os limites de integração são P = P0 em x = 0 e P = P em x = b. A integral no lado esquerdo é ∫ dP/P = ln P, portanto,
Finalmente, convertendo ln em log, usando a relação ln z = (ln 10)(log z), tem-se a lei de Beer:
A relação logarítmica de P0/P com a concentração aparece porque, em cada porção in nitesimal do volume total, a diminuição na energia é proporcional à energia incidente naquela seção. Quando a luz passa pela amostra, a perda de energia em cada camada sucessiva diminui, pois a magnitude da energia incidente que alcança cada camada está diminuindo. A faixa da absortividade molar ca entre 0 (se a probabilidade para a absorção do fóton for 0) a aproximadamente 105 M−1 cm−1 (quando a probabilidade para a absorção do fóton se aproxima da unidade).
EXEMPLO
Absorbância, Transmitância e a Lei de Beer
Encontre a absorbância e a transmitância de uma solução 0,002 40 M de uma substância com coe ciente de absortividade molar de 313 M−1 cm−1 em uma célula com 2,00 cm de caminho óptico. Solução A Equação 18-6 nos dá a absorbância. A = ɛbc = (313 M−1 cm−1)(2,00 cm)(0,002 40 M) = 1,50 A transmitância é obtida elevando-se 10 à potência igual a cada lado da Equação 18-5: log T = −A T = 10log T = 10−A = 10−1,50 = 0,031 6 Apenas 3,16% da luz incidente emerge dessa solução. TESTE A VOCÊ MESMO A transmitância de uma solução 0,010 M de um composto em uma célula com 0,100 cm de caminho óptico é T = 8,23%. Determine a absorbância (A) e o coe ciente de absortividade molar (ɛ). (Resposta: 1,08, 1,08 × 103 M−1 cm−1) Se x = y, 10x = 10y.
A Equação 18-6 pode ser escrita como Aλ = ɛλbc porque A e e dependem do comprimento de onda da luz. A grandeza e é simplesmente um coeficiente de proporcionalidade entre a absorbância e o produto bc. Quanto maior a absortividade molar, maior a absorbância. Um espectro de absorção (Demonstração 18-1) é um gráfico mostrando como A (ou ɛ) varia com o comprimento de onda.
DEMONSTRAÇÃO 18-1
Espectros de Absorção7
O espectro da luz visível pode ser projetado em uma tela em um quarto escuro da seguinte maneira: Monte quatro camadas de uma rede de difração de plástico † sobre uma cartolina com um orifício quadrado su cientemente largo para cobrir as lentes de projeção de um retroprojetor. Fixe, com ta adesiva, a montagem sobre a tela do projetor. Coloque a superfície opaca da cartolina, com duas fendas de 1 × 3 cm, sobre a tela de projeção do retroprojetor. Quando a lâmpada é acesa, a imagem branca de cada fenda é projetada no centro da tela. Aparece um espectro visível ao lado de cada imagem. Colocando um béquer de uma solução colorida sobre a fenda, podemos ver sua cor projetada na tela no lugar onde a imagem branca aparecia anteriormente. O espectro ao lado da imagem colorida perde sua intensidade nos comprimentos de onda absorvidos pelas espécies coloridas.
A Prancha 16a do Encarte em Cores mostra o espectro da luz branca e o espectro de três soluções coloridas diferentes. Podemos ver que o dicromato de potássio, que parece ser laranja ou amarelo, absorve comprimentos de onda que correspondem ao azul. O azul de bromofenol absorve comprimentos de onda que correspondem ao laranja e aparenta ser azul aos nossos olhos. A fenolftaleína absorve uma parte central do espectro visível. Para efeito de comparação, na Prancha 16b do Encarte em Cores são mostrados os espectros dessas três soluções registrados por um espectrofotômetro. Essa mesma montagem pode ser usada para se demonstrarem a uorescência e as propriedades das cores.7 Existem também descrições de outras demonstrações de espectros de absorção e de emissão,8 e de decomposição de espectros em suas coordenadas cromáticas.9 †
Edmund Scienti c Co., www.edmundoptics.com, catalog no. NT40-267.
(a) Retroprojetor. (b) Rede de difração montada em uma moldura de cartolina. (c) Máscara de cartolina produzindo a superfície de trabalho.
A cor de uma solução é o complemento da cor da luz que ela absorve. A cor que percebemos visualmente depende não apenas do comprimento de onda da luz, mas também da energia luminosa (da intensidade).
A parte de uma molécula responsável pela absorção de luz é chamada de cromóforo. Qualquer substância que absorva luz visível parece colorida quando a luz branca é transmitida através dela ou é refletida a partir dela. (A luz branca contém todas as cores presentes no espectro visível.) A substância absorve determinados comprimentos de onda da luz branca, e nossos olhos detectam os comprimentos de onda que não são absorvidos. A Tabela 18-1 apresenta um guia simples para as cores.10 A cor observada é conhecida como a cor complementar da cor absorvida. Por exemplo, o azul de bromofenol tem absorbância máxima em 591 nm e sua cor observada é azul. As Pranchas 16 e 17 do Encarte em Cores apresentam diversos espectros de absorção e as cores que são observadas. Quando a Lei de Beer Falha A lei de Beer estabelece que a absorbância é proporcional à concentração da espécie absorvente. Ela se aplica para a maioria das substâncias quando a radiação é monocromática11 e as soluções a serem estudadas estão suficientemente diluídas (≲ 0,01 M). “Monocromática” significa que a largura da banda da luz deve ser significativamente menor que a largura da banda de absorção do cromóforo.11
TABELA 18-1
Cores da luz visível
Comprimento de onda correspondente à absorção máxima (nm)
Cor absorvida
Cor observada
380-420
Violeta
Verde-amarelo
420-440
Violeta-azul
Amarelo
440-470
Azul
Laranja
470-500
Azul-verde
Vermelho
500-520
Verde
Púrpura-vermelho
520-550
Amarelo-verde
Violeta
550-580
Amarelo
Violeta-azul
580-620
Laranja
Azul
620-680
Vermelho
Azul-verde
680-780
Vermelho
Verde
Em soluções concentradas, as moléculas do soluto influenciam umas às outras devido à sua proximidade. Quando as moléculas do soluto ficam muito perto umas das outras, suas propriedades (incluindo a absortividade molar) sofrem ligeiras modificações. Em concentrações muito altas, o soluto torna-se o solvente. As propriedades de uma molécula não são exatamente as mesmas quando dissolvidas em solventes diferentes. Solutos não absorventes em uma solução também podem interagir com as espécies absorventes, alterando a absortividade. A lei de Beer é válida para radiação monocromática passando através de uma solução diluída, onde a espécie absorvente não está participando de um equilíbrio que seja dependente da concentração.
Se a molécula absorvente participa de um equilíbrio químico dependente da concentração, a absortividade muda de acordo com a concentração. Por exemplo, um ácido fraco, HA, em uma solução concentrada se encontra principalmente não dissociado. Quando a solução é diluída, a dissociação do ácido aumenta. Se a absortividade de A− não for a mesma do ácido HA, a solução parece não obedecer à lei de Beer quando ela é diluída.
18-3
Medindo a Absorbância
Os requisitos essenciais para um espectrofotômetro (um instrumento para medir a absorbância da luz) foram apresentados na Figura 18-5. A luz proveniente de uma fonte com emissão espectral contínua passa por um monocromador, que seleciona uma estreita faixa de comprimentos de onda do feixe incidente. Essa luz “monocromática” passa pela amostra de caminho ótico b, e a energia radiante da luz emergente é então medida. Para a espectroscopia na região do ultravioleta e do visível, uma amostra líquida é geralmente colocada em uma célula conhecida como cubeta que possui faces planas paralelas de sílica (SiO2) fundida (Figura 18-6). O vidro é apropriado para a espectroscopia no visível, mas não para a região do ultravioleta porque ele absorve radiação nessa faixa. As cubetas mais comuns possuem um caminho ótico de 1,000 cm e são vendidas em pares: um para o feixe luminoso que passa na amostra e o outro para o feixe luminoso de referência. Limite aproximado de baixa energia para diferentes janelas usadas comumente na região do infravermelho: safira (Al2O3) NaCl KBr AgCl CsBr CsI
1500 cm−1 650 cm−1 350 cm−1 350 cm−1 250 cm−1 200 cm−1
Para medidas na região do infravermelho, as células são normalmente construídas com janelas de NaCl ou KBr. Para a região do infravermelho distante, entre 400 e 50 cm−1, as janelas transparentes são de polietileno. As amostras sólidas normalmente são moídas formando um pó fino, que pode ser adicionado ao óleo mineral (um hidrocarboneto viscoso também conhecido como Nujol) para formar uma dispersão que é então prensada entre duas janelas finas de KBr. Somente nas poucas regiões na qual o óleo mineral absorve radiação infravermelha é que o espectro do analito não pode ser medido. Alternativamente, uma mistura a 1% em massa da amostra sólida com KBr cristalino pode ser finamente moída e prensada a uma pressão de ∼60 MPa (600 bar),
formando uma pastilha translúcida. Materiais sólidos, ou sob a forma de pó, podem também ser analisados pela técnica de refletância difusa, onde a intensidade da radiação infravermelha refletida, em vez da radiação infravermelha transmitida, é medida. Os comprimentos de onda absorvidos pela amostra também não são refletidos. Essa técnica é sensível apenas para a superfície da amostra. As amostras gasosas são mais diluídas do que as líquidas, requerendo por isso células com caminhos ópticos mais longos, tipicamente de 10 cm até vários metros. Obtém-se um caminho óptico de vários metros refletindo a luz de modo que ela atravessa a amostra diversas vezes antes de alcançar o detector. A Figura 18-5 descreve um instrumento de feixe simples, ou seja, aquele que possui apenas um feixe de luz. Não medimos diretamente a energia radiante incidente, P0. Em vez disso, medimos a intensidade da energia de luz radiante que passa através de uma cubeta de referência contendo o solvente puro ou um reagente em branco. Essa energia é então definida como P0. A cubeta é então retirada do aparelho e substituída por uma outra cubeta idêntica, que contém a amostra. A energia radiante de luz que atinge o detector após a passagem pela amostra é a grandeza P. Sabendo-se os valores de P e P0, podemos determinar os valores de T ou de A. A cubeta de referência compensa os efeitos decorrentes da reflexão, dispersão e da absorção provenientes apenas da cubeta em si e do solvente. A cubeta de referência, contendo apenas o solvente puro, desempenha o papel de um branco na medida da transmitância. Em um instrumento de feixe duplo, descrito no Capítulo 20, o feixe de luz incidente é deslocado de tal forma que a luz passa alternadamente pelas cubetas da amostra e de referência.
FIGURA 18-6 Cubetas comuns para a espectroscopia na região do visível e do ultravioleta. As células de fluxo permitem um escoamento contínuo de solução através da célula. Nas células termostáticas, um líquido, proveniente de um banho de temperatura constante, circula pela camisa da célula a fim de mantê-la na temperatura desejada. [Informação de A. H. Thomas Co., Philadelphia, PA.]
Na obtenção de um espectro de absorbância, registramos inicialmente o espectro da linha-base, usando-se, em ambas as cubetas, uma mesma referência constituída pelo solvente puro ou por uma solução de um reagente em branco. As cubetas são vendidas em pares, que são marcados para indicar as cubetas mais idênticas possíveis entre si. Se as cubetas e o instrumento fossem perfeitos, uma linha-base correspondente à absorbância 0 deveria ser obtida em toda a região espectral. Como os instrumentos não são perfeitos, a linha-base normalmente exibe pequena absorbância positiva ou negativa. A absorbância da linha-base é subtraída da absorbância medida para a amostra, de modo a obter-se o valor verdadeiro da absorbância da amostra em cada comprimento de onda. Para uma análise espectrofotométrica, normalmente escolhemos o comprimento de onda onde ocorre a absorbância máxima por dois motivos: (1) A sensibilidade da análise é maior na região correspondente à absorbância máxima (ou seja, conseguimos um máximo de resposta para uma dada concentração de analito); (2) A curva na região correspondente ao máximo tem sua forma relativamente achatada, o que leva a uma variação pequena na absorbância se o monocromador estiver ligeiramente deslocado ou se a largura da faixa de comprimento da onda transmitida sofrer uma ligeira alteração. A lei de Beer é obedecida quando a absorbância é constante dentro da faixa de comprimento de onda selecionada. Os espectrofotômetros atuais são na sua maioria mais exatos (reprodutíveis) nos níveis intermediários de absorbância (A ≈ 0,3 a 2). Se muito pouca luz atravessa a amostra (alta absorbância), a intensidade é difícil de ser medida. Se muita luz atravessa a
amostra (baixa absorbância), é difícil distinguir a diferença entre as transmitâncias da amostra e da referência. Portanto, é desejável que a concentração da amostra seja ajustada de modo que sua absorbância se localize em uma faixa intermediária. Os compartimentos correspondentes ao caminho óptico dos feixes de referência e da amostra devem estar perfeitamente fechados para evitar a luz externa, que provoca medidas falsas. A Figura 18-7 apresenta o desvio-padrão relativo de medidas repetidas feitas a 350 nm com um espectrômetro contendo um arranjo de diodos. Os círculos cheios se referem a medidas repetidas nas quais a amostra não foi removida do suporte da cubeta entre as medidas. Os círculos vazios provêm das medidas nas quais a cubeta foi removida e depois recolocada no suporte entre cada medida. O desvio-padrão relativo situa-se abaixo de 0,1% em ambos os casos, na faixa de absorbância entre 0,3 e 2. Os dados experimentais na forma de quadrados vazios foram obtidos quando se empregou um suporte de cubeta com 10 anos de uso, e a amostra foi removida e recolocada no suporte entre cada medida. A variabilidade na posição da cubeta mais do que dobrou o desvio-padrão relativo. A conclusão a que se chega é que os espectrofotômetros modernos com os novos suportes de cubeta fornecem uma excelente reprodutibilidade. A precisão foi comprometida quando se utilizou um suporte antigo de cubeta e a amostra foi removida e recolocada entre as medidas. Devemos manter sempre fechado o compartimento das cubetas para impedir a entrada de poeira. O pó causa dispersão de luz, que se manifesta no espectrofotômetro como um aumento nos valores medidos de absorbância. Em trabalhos mais críticos, pode ser necessário filtrar a solução contendo o analito em filtros de baixa porosidade (por exemplo, 0,5 μm). O manuseio das cubetas deve ser feito com um papel próprio para limpar lentes, de modo a evitar impressões digitais nas superfícies correspondentes ao caminho óptico. As cubetas devem ser sempre mantidas bem limpas. Uma pequena diferença no ajuste entre a cubeta contendo a amostra e a cubeta de referência pode levar a erros sistemáticos nas medidas espectrofotométricas. Para leituras precisas, é importante que posicionemos as cubetas no espectrofotômetro da maneira mais reprodutível possível. Uma variação aleatória na absorbância surge em consequência de pequenas diferenças na posição da cubeta em seu suporte, e ainda, ao inverter em 180° a posição de uma cubeta plana ou ao girar uma cubeta circular.
FIGURA 18-7 Precisão de medidas repetidas de absorbância de uma solução de dicromato em 350 nm com um espectrômetro contendo um arranjo de diodos. Os círculos cheios correspondem a medidas repetidas nas quais a amostra não foi removida do suporte da cubeta entre cada medida. Os círculos vazios se referem às medidas nas quais a amostra foi removida e, em seguida, recolocada no suporte da cubeta entre cada medida. A melhor reprodutibilidade foi obtida na faixa de absorbância intermediária (A ≈ 0,3 a 2). Observe que a ordenada está em escala logarítmica. As curvas correspondem a ajustes dos dados às equações teóricas pelo método dos mínimos quadrados. [Dados de J. Galbán, S. de Marcos, I. Sanz, C. Ubide and J. Zuriarrain, “Uncertainty in Modern Spectrophotometers”, Anal. Chem. 2007, 79, 4763.]
18-4
A Lei de Beer na Análise Química
Para que um composto seja analisado por espectrofotometria, ele deve absorver luz e essa absorção deve ser distinguível daquela decorrente da presença de outras substâncias na amostra. Como a maioria dos compostos absorve radiação ultravioleta, as medidas nesta região do espectro tendem a ser não conclusivas, e as análises geralmente ficam restritas à região do espectro visível. No entanto, se não existirem espécies interferentes, a absorbância no ultravioleta é satisfatória. Por exemplo, as proteínas são analisadas normalmente na região do ultravioleta em 280 nm, pois os aminoácidos aromáticos tirosina e triptofano (Tabela 10-1), presentes em praticamente todas as proteínas apresentam absorbância máxima próxima a 280 nm (veja o Problema 18-21). Este exemplo ilustra a medida de absortividade molar feita a partir de uma única solução. Para obtermos um valor mais confiável de absortividade molar, verificando-se ao mesmo tempo se a lei de Beer é obedecida, é melhor medir soluções com concentrações diferentes.
EXEMPLO
Determinação da Quantidade de Benzeno Presente no Hexano
(a) O hexano puro possui uma absorbância no ultravioleta desprezível acima de um comprimento de onda de 200 nm. Uma solução preparada dissolvendo-se 25,8 mg de benzeno (C6H6, MF 78,11) em hexano e diluindo-se a 250,0 mL tem um pico de absorção em 256 nm e uma absorbância de 0,266 em uma célula de 1,000 cm de caminho óptico. Determine a absortividade molar do benzeno neste comprimento de onda. Solução A concentração de benzeno é
Podemos determinar, por meio da lei de Beer, a absortividade molar:
(b) Uma amostra de hexano, contaminada com benzeno, tem uma absorbância de 0,070 em 256 nm em uma célula com 5,000 cm de caminho óptico. Determine a concentração de benzeno em mg/L. Solução Usando a absortividade molar calculada na parte (a) na lei de Beer, encontramos:
TESTE A VOCÊ MESMO Uma solução de KMnO4 0,10 mM apresenta uma absorbância máxima de 0,26 próximo a 525 nm em uma célula de caminho óptico 1,000 cm. Calcule o coe ciente de asbortividade molar e a concentração de uma solução cuja absorbância é 0,52 a 525 nm na mesma célula. (Resposta: 2600 M−1 cm−1, 0,20 mM) Determinação de Ferro no Soro Sanguíneo O ferro para biossíntese é transportado através da corrente sanguínea pela proteína transferrina, cujos sítios que se ligam ao Fe3+ estão mostrados na Figura 18-8. O procedimento a seguir permite medir o teor de ferro presente na transferrina.12 Essa análise necessita apenas cerca de 1 μg de Fe para uma exatidão entre 2-5%. O sangue humano contém geralmente cerca de 45% em volume de células e 55% em volume de plasma sanguíneo (líquido). Se o sangue for retirado sem um anticoagulante, ele coagula e o líquido que permanece é chamado de soro. O soro contém normalmente cerca de 1 μg de Fe/mL ligado à transferrina.
FIGURA 18-8 Cada dois sítios de ligação do ferro na transferrina estão localizados em uma fenda da proteína. O íon Fe3− liga-se a um átomo de nitrogênio do aminoácido histidina e a três átomos de oxigênio da tirosina e do ácido aspártico. O quinto e sexto sítios ligantes do metal são ocupados pelos átomos de oxigênio de um ânion carbonato , que está ancorado na posição pela interação eletrostática com a carga positiva do aminoácido arginina e pela ligação de hidrogênio com a hélice da proteína. Quando a transferrina é absorvida por uma célula, ela é levada a um compartimento cujo pH é menor do que 5,5. O H+ então reage com o ligante carbonato para produzir H2CO3, liberando desse modo o Fe3+ da proteína. [Informação de E. N. Baker, B. F. Anderson, H. M. Baker, M. Haridas, G. E. Norris, S. V. Rumball e C. A. Smith, “Metal and Anion Binding Sites in Lactoferrin and Related Proteins”, Pure Appl. Chem. 1990, 62, 1067.]
A determinação do teor de ferro no soro tem três etapas: Etapa 1
Reduzimos o Fe3+ presente na transferrina a Fe2+, que é liberado pela proteína. Os agentes redutores normalmente usados são o cloridrato de hidroxilamina (NH3OH+Cl−), o ácido tioglicólico ou o ácido ascórbico.
Etapa 2
Adicionamos ácido tricloroacético (Cl3CCO2H) para precipitar as proteínas, deixando o Fe2+ em solução. Centrifugamos a mistura para separar o precipitado. Se a proteína fosse mantida em solução, ela precipitaria parcialmente na solução final. A dispersão da luz pelas partículas do precipitado pode causar uma leitura errônea da absorbância.
Etapa 3
Transferimos um volume medido do líquido sobrenadante da Etapa 2 para um novo frasco e adicionamos uma solução-tampão mais ferrozina em excesso, para formar um complexo púrpura. Medimos a absorbância no pico em 562 nm (Figura 18-9). O tampão fornece um valor de pH no qual a formação do complexo é completa.
Sobrenadante: é a camada de líquido que fica acima do sólido compactado no fundo de um tubo por centrifugação.
Na maioria das análises espectrofotométricas, é importante prepararmos um reagente em branco que contém todos os reagentes que estão presentes durante as análises, exceto o analito a ser determinado, que é substituído por água destilada. Qualquer absorbância do branco é resultante da cor da ferrozina não complexada, mais a cor decorrente de impurezas de ferro presentes nos reagentes e na vidraria utilizada. Antes de fazermos quaisquer cálculos devemos subtrair o valor da absorbância do branco do valor da absorbância medida para a amostra em questão. Usamos uma série de padrões com diferentes concentrações de ferro para obtermos uma curva de calibração (Figura 18-10), verificando ao mesmo tempo a validade da lei de Beer. Os padrões devem ser preparados da mesma maneira como foram preparadas as amostras desconhecidas. A absorbância da amostra desconhecida deve ter seu valor compreendido dentro da região coberta pelos padrões. Um fio de ferro puro (com uma superfície brilhante, sem ferrugem), dissolvido em ácido, é usado para
preparar os padrões de ferro mais exatos (veja o Apêndice K). O sulfato ferroso amoniacal (Fe(NH4)2(SO4)2 · 6H2O) e o sulfato de etilenodiamônio ferroso (Fe(H3NCH2CH2NH3)(SO4)2 · 4H2O) são padrões adequados em trabalhos menos precisos. Se as amostras desconhecidas e os padrões forem preparados da mesma maneira, e com volumes idênticos, então a quantidade de ferro na amostra desconhecida pode ser calculada a partir da equação de mínimos quadrados para a reta de calibração. Por exemplo, na Figura 18-10, se a amostra desconhecida tiver uma absorbância de 0,357 (após a subtração da absorbância do branco), esta amostra então conterá 3,59 μg de ferro.
FIGURA 18-9
Espectro de absorção no visível do complexo (ferrozina)3 Fe(II) usado na análise colorimétrica do ferro.
FIGURA 18-10 Curva de calibração, mostrando a validade da lei de Beer, para o complexo (ferrozina)3Fe(II) usado na determinação de ferro no soro sanguíneo. Cada amostra foi diluída a um volume final de 5,00 mL. Desse modo, 1,00 μg de ferro é
equivalente a uma concentração de 3,58 × 10−6 M.
Na determinação de ferro que acabamos de descrever, os resultados devem ser cerca de 10% maiores, pois o cobre, também presente no soro, forma um complexo colorido com a ferrozina. Esta interferência é eliminada se adicionarmos neocuproína ou tioureia. Esses reagentes mascaram o Cu+, pois eles formam complexos fortes com ele, impedindo que o Cu+ reaja com a ferrozina.
EXEMPLO
Análise de Ferro no Soro Sanguíneo
O ferro presente no soro e as soluções-padrão de ferro foram analisadas da seguinte maneira: Etapa 1
Para 1,00 mL de amostra são adicionados 2,00 mL de agente redutor e 2,00 mL de ácido para reduzir e liberar o Fe da transferrina.
Etapa 2
As proteínas do soro são precipitadas com 1,00 mL de ácido tricloroacético a 30% m/m. A mistura é então centrifugada para remover a proteína.
Etapa 3
Uma alíquota de 4,00 mL de líquido é transferida para um tubo de ensaio limpo e tratada com 1,00 mL de solução contendo 2 μmol de ferrozina e 3 mmol de acetato de sódio. O ânion acetato reage com o ácido produzindo um tampão com pH ≈ 5. A absorbância dessa solução é medida após 10 minutos de espera.
Etapa 4
Para construir a curva de calibração da Figura 18-10, emprega-se um volume de 1,00 mL de solução-padrão contendo de 2 a 9 μg de Fe, no lugar do soro sanguíneo.
A absorbância do branco foi 0,038 em 562 nm numa cubeta de 1,000 cm de caminho óptico. A absorbância medida na amostra de soro foi 0,129. Os pontos mostrados na Figura 18-10 foram obtidos subtraindo-se o valor do branco do valor de cada absorbância medida para as soluções-padrão. A equação da reta, ajustada a esses pontos pelo método dos mínimos quadrados, é Absorbância = 0,0670 × (μg de Fe na amostra inicial) − 0,0015 Pela lei de Beer o coe ciente linear deve ser 0 e não 0,0015. Entretanto, usaremos em nossa análise o valor 0,0015. A partir dos resultados obtidos, calcule a concentração de Fe presente na amostra de soro. Solução Reescrevendo-se a equação da reta obtida pelo método dos mínimos quadrados e inserindo-se o valor da absorbância corrigida da amostra desconhecida (valor observado de absorbância – branco = 0,129 − 0,038 = 0,091) temos
A concentração de Fe no soro é
TESTE A VOCÊ MESMO Se a absorbância observada é 0,200 e a absorbância do branco é 0,049, qual é a concentração de Fe (μg/mL) no soro sanguíneo? (Resposta: 2,23 μg/mL) Para encontrar a incerteza em μg de Fe usamos a Equação 4-27.
EXEMPLO
Preparação de Soluções-Padrão
Os pontos para a curva de calibração apresentada na Figura 18-10 foram obtidos usando 1,00 mL de padrão contendo ∼2, 3, 4, 6, 8 e 9 μg de Fe no lugar do soro sanguíneo. Uma solução estoque foi preparada dissolvendo 1,086 g de um o de ferro puro e limpo (Apêndice K) em 40 mL de HCl 12 M, seguido de diluição a 1,000 L com H2O. Essa solução contém 1,086 g de Fe por litro em HCl 0,48 M. Como podemos preparar padrões de Fe em HCl ∼0,1 M para a curva de calibração a partir dessa solução estoque? (O HCl evita a precipitação do Fe(OH)3.)
Solução A solução estoque contém 1,086 g de Fe/L = 1,086 mg de Fe/mL = 1086 μg de Fe/mL. Podemos preparar um padrão contendo ∼2 μg de Fe/mL por meio de uma diluição 2:1000, o que fornece
(1086 μg de Fe/mL) = 2,172 μg de Fe/mL. Transferem-se 2,000 mL da solução
estoque por meio de uma pipeta Classe A para um balão volumétrico de 1 L, e dilui-se até a marca com HCl 0,1 M. Em procedimentos similares, empregam-se pipetas volumétricas Classe A para diluir os volumes apresentados na tabela vista a seguir até 1 L com HCl 0,1 M: Volume da solução estoque (mL)
Pipeta volumétrica Classe A
Fe transferido (μg)
3,000
3 mL
3 × 1,086 = 3,258
4,000
4 mL
4,344
6,000
2 × 3 mL
6,516
8,000
2 × 4 mL
8,688
9,000
(5 mL + 4 mL) ou (3 × 3 mL)
9,774
As vidrarias (incluindo as pipetas) usadas nesse procedimento devem ser lavadas com ácido (Seção 2-5) para remoção de traços de íons das superfícies de vidro. TESTE A VOCÊ MESMO A diluição por massa é mais exata do que a diluição por volume. Uma solução estoque contém 1,044 g de Fe/kg de solução em HCl 0,48 M. Quantos μg de Fe/g de solução estão presentes em uma solução preparada pela mistura de 2,145 g da solução estoque com 243,27 g de HCl 0,1 M? (Resposta: 9,125 μg de Fe/g) A diluição em série é uma sequência de diluições sucessivas.
A diluição em série – uma sequência de diluições consecutivas – é um meio importante para redução da geração de grandes volumes de resíduos químicos pelo emprego de volumes menores para a diluição.
EXEMPLO
Diluição em Série com Pouca Vidraria Disponível
A partir de uma solução estoque contendo 1000 μg de Fe/mL em HCl 0,5 M, como é possível preparar uma solução padrão contendo 3 μg de Fe/mL em HCl 0,1 M? Você dispõe somente de balões volumétricos de 100 mL e pipetas volumétricas de 1, 5 e 10 mL. Solução Uma maneira de resolver esse problema é seguindo as duas etapas vistas a seguir: 1.
Pipetar três alíquotas de 10,00 mL da solução estoque para um balão volumétrico de 100 mL, diluindo até a marca com HCl 0,1 M. [Fe] =
(1000 μg de Fe/mL) = 300 μg de Fe/mL.
2.
Transferir 1,00 mL de solução da etapa 1 para outro balão volumétrico de 100 mL, diluindo até a marca com HCl 0,1 M. [Fe] =
(300 μg de Fe/mL) = 3 μg de Fe/mL.
TESTE A VOCÊ MESMO Proponha um esquema diferente de diluições para se obter 3 μg de Fe/mL a partir de 1000 μg de Fe/mL. (Resposta: Diluir 10 mL da solução estoque a 100 mL, obtendo-se [Fe] = 100 μg de Fe/mL. Dilua três alíquotas de 1,00 mL da nova solução a 100 mL, obtendo-se ao nal 3 μg de Fe/mL.) 18-5
Titulações Espectrofotométricas
Em uma titulação espectrofotométrica, acompanhamos as mudanças de absorbância durante uma titulação para observarmos quando o ponto de equivalência foi atingido. Uma solução da proteína responsável pelo transporte de ferro, a transferrina (Figura 18-8), pode ser titulada com ferro para medir a quantidade de transferrina. A transferrina sem ferro, chamada apotransferrina, é incolor. Cada molécula de proteína, com massa molecular de 80 000, liga-se a dois íons Fe3+. Quando o Fe3+ se liga à proteína, aparece uma cor vermelha com absorbância máxima em um comprimento de onda de 465 nm. A absorbância é proporcional à concentração de ferro ligado à proteína. Portanto, a absorbância pode ser usada para seguir o curso da titulação de uma quantidade desconhecida de apotransferrina com uma solução-padrão de Fe3+. Apotransferrina + 2Fe3+ → (Fe3+)2transferrina (incolor)
(vermelho)
Esta titulação funciona muito bem para uma solução purificada de transferrina, mas não é muito apropriada para o soro sanguíneo devido à cor de fundo neste caso. O nitrilotriacetato férrico é solúvel em pH neutro. Na ausência do nitrilotriacetato, o Fe3− precipita como Fe(OH)3 em solução neutra. O nitrilotriacetato liga-se ao Fe3− através dos quatro átomos mostrados em verde:
A Figura 18-11 mostra a titulação de 2,000 mL de uma solução de apotransferrina com solução de nitrilotriacetato férrico 1,79 mM. Quando o ferro é adicionado à proteína, a cor vermelha começa a aparecer e a absorbância aumenta. Quando a proteína está saturada, o ferro não se liga mais a ela, e a curva muda de inclinação. A interseção, em 203 μL, obtida pela extrapolação das duas retas na curva de titulação da Figura 18-11, é considerada como o ponto final. A absorbância continua aumentando lentamente após o ponto de equivalência, pois o complexo nitrilotriacetato férrico possui uma certa absorbância em 465 nm. A quantidade de Fe3+ necessária para a reação completa na Figura 18-11 é (203 × 10−6 L) × (1,79 × 10−3 mol/L) = 0,363 μmol. Cada molécula de proteína se liga a 2 íons Fe3+, de modo que o número de mols de proteína na amostra deve ser (0,363 μmol) = 0,182 μmol. Para fazer o gráfico da Figura 18-11 deve-se considerar o efeito da diluição, pois o volume é diferente a cada ponto. Cada ponto marcado no gráfico representa a absorbância que deveria ser observada se a solução não fosse diluída de seu volume original de 2,000 mL.
FIGURA 18-11 Titulação espectrofotométrica da transferrina com nitrilotriacetato férrico. A absorbância é corrigida como se não tivesse havido diluição. A absorbância inicial da solução, antes de se adicionar o ferro deve-se a uma impureza colorida.
Correção da Absorbância para o Efeito da Diluição
EXEMPLO
A absorbância medida após a adição de 125 μL (= 0,125 mL) de nitrilotriacetato férrico a 2,000 mL de apotransferrina foi de 0,260. Calcule a absorbância correta que deverá ser marcada na Figura 18-11. Solução O volume total foi de 2,000 − 0,125 = 2,125 mL. Se o volume fosse de 2,000 mL, a absorbância seria maior do que 0,260 por um fator de 2,125/2,000.
A absorbância marcada na Figura 18-11 é 0,276. TESTE A VOCÊ MESMO Em uma outra titulação, a absorbância após a adição de 75 μL de nitrilotriacetato férrico a 1,500 mL de apotransferrina foi de 0,222. Calcule a absorbância corrigida. (Resposta: 0,233) 18-6
O que Acontece Quando uma Molécula Absorve Luz?
Quando uma molécula absorve um fóton, ela é promovida para um estado excitado mais energético (Figura 18-3). Por outro lado, quando uma molécula emite um fóton, sua energia diminui de uma quantidade igual à energia do fóton. Para termos um exemplo concreto, vamos considerar o formaldeído na Figura 18-12. Em seu estado fundamental, a molécula é plana com uma ligação dupla entre os átomos de carbono e oxigênio. A partir da representação dos elétrons do formaldeído, esperamos que dois pares de elétrons não ligantes estejam localizados no átomo de oxigênio. A ligação dupla é formada por uma ligação sigma entre o carbono e o oxigênio e uma ligação pi proveniente dos orbitais atômicos 2py (fora do plano) do carbono e do oxigênio.
FIGURA 18-12 energia, S1.
Geometria da molécula de formaldeído em seu estado fundamental, S0, e no estado simpleto excitado de menor
Estados Eletrônicos do Formaldeído Os orbitais moleculares descrevem a distribuição de elétrons em uma molécula, assim como os orbitais atômicos descrevem a distribuição dos elétrons em um átomo. No diagrama de orbital molecular para a molécula do formaldeído, na Figura 18-13, um dos orbitais não ligantes do oxigênio está misturado com os três orbitais sigma ligantes. Esses quatro orbitais, representados de σ1 a σ4, são cada um deles ocupados por um par de elétrons com spins opostos (número quântico de spin = + e − ). Em um estado de maior energia está o orbital pi ligante (π) ocupado, proveniente dos orbitais atômicos py dos átomos de carbono e de oxigênio. O orbital ocupado de maior energia é o orbital não ligante (n), formado principalmente pelo orbital atômico 2px do oxigênio. O orbital não ocupado de menor energia é o orbital pi antiligante (π*). Um elétron nesse orbital produz uma repulsão, em vez de uma atração, entre os átomos de carbono e oxigênio. O estado tripleto se divide em três níveis de energia ligeiramente diferentes em um campo magnético, mas o estado simpleto não se divide. Quanto menor for o comprimento de onda da radiação eletromagnética, maior será a sua energia.
Em uma transição eletrônica, um elétron de um orbital molecular se move para outro orbital, causando um aumento ou uma diminuição simultânea na energia associada à molécula. A transição eletrônica de menor energia do formaldeído promove um elétron não ligante (n) para um orbital pi antiligante (π*).13 Existem de fato duas transições possíveis, dependendo dos números quânticos de spin no estado excitado (Figura 18-14). O estado onde os spins estão em posição oposta é chamado de estado simpleto. Se os spins estiverem paralelos, tem-se o chamado estado tripleto.
FIGURA 18-13 Diagrama de orbital molecular da molécula de formaldeído, mostrando os níveis de energia e as formas dos orbitais. O sistema de coordenadas da molécula foi definido na Figura 18-12. [Informação de W. L. Jorgensen e L. Salem, The Organic Chemist’s Book of Orbitals (New York: Academic Press, 1973).]
FIGURA 18-14 Diagrama mostrando os dois estados eletrônicos possíveis que surgem a partir de uma transição n → π*. Os termos simpleto e tripleto são usados porque um estado tripleto se divide em três níveis de energia ligeiramente diferentes em um campo magnético, enquanto um estado simpleto não se divide.
Os estados simpleto e tripleto de menor energia são chamados de S1 e T1, respectivamente. Em geral, T1 possui energia menor que S1. No formaldeído, a transição n → π*(T1) precisa absorver luz visível com um comprimento de onda de 397 nm. A transição n → π*(S1) ocorre quando radiação ultravioleta com um comprimento de onda de 355 nm é absorvida. Com uma transição eletrônica próxima de 397 nm, esperaríamos com base na Tabela 18-1 que as soluções de formaldeído fossem verde-amareladas. Na realidade, o formaldeído é incolor, pois a probabilidade dele sofrer qualquer transição entre os estados simpleto e tripleto (tal como n(S0) → π*(T1)) é extremamente pequena. A solução absorve tão pouca luz em 397 nm, que os nossos olhos não conseguem perceber nenhuma absorbância. As transições simpleto-simpleto, como n(S0) → π*(S1), são muito mais prováveis e a absorção na região do ultravioleta é mais intensa. Embora o formaldeído seja uma molécula plana em seu estado fundamental, ele apresenta uma estrutura piramidal tanto nos estados excitados S1 (Figura 18-12) quanto T1. A promoção de um elétron não ligante para o orbital antiligante C—O aumenta o tamanho da ligação C—O e modifica a geometria molecular. Estados Vibracional e Rotacional do Formaldeído A absorção de radiação visível e ultravioleta promove os elétrons do formaldeído para orbitais de maior energia. As radiações infravermelha e de micro-ondas não são suficientemente energéticas para induzirem transições eletrônicas, mas elas podem modificar o movimento vibracional ou rotacional de uma molécula. Uma molécula não linear com n átomos possui 3n − 6 modos de vibração e três modos possíveis de rotação. Uma molécula linear pode rodar apenas em dois eixos, consequentemente, ela apresenta 3n − 5 modos de vibração e dois modos de rotação.
Cada um dos quatro átomos na molécula do formaldeído pode se mover no espaço ao longo dos três eixos, de modo que a molécula inteira pode se mover de 4 × 3 = 12 maneiras diferentes. Três desses movimentos correspondem à translação da molécula inteira nas direções x, y e z. Outros três movimentos correspondem à rotação sobre os eixos x, y e z da molécula. Os seis movimentos restantes representam as vibrações da molécula mostradas na Figura 18-15. A vibração de estiramento C—O do formaldeído é reduzida de 1746 cm−1, no estado S0, para 1183 cm−1, no estado S1. Isso ocorre porque a força da ligação C—O diminui quando o orbital antiligante π* está ocupado.
Quando o formaldeído absorve um fóton infravermelho com um número de onda de 1251 cm−1 (= 14,97 kJ/mol), a vibração de deformação assimétrica na Figura 18-15 é estimulada: as oscilações dos átomos aumentam de amplitude, e a energia da molécula aumenta. Em um forno de micro-ondas os alimentos são aquecidos pela transferência de energia rotacional para as moléculas de água nos alimentos.
Os espaços (as diferenças) entre os níveis de energia rotacional de uma molécula são menores que os espaços entre os níveis de energia vibracional. Uma molécula no estado rotacional fundamental pode absorver fótons de micro-ondas com energias de 0,029 07 ou 0,087 16 kJ/mol (comprimentos de onda de 4,115 ou 1,372 mm) para ser promovida aos dois estados excitados de menor energia. A absorção de radiação de micro-ondas faz a molécula girar mais rápido do que ela normalmente giraria em seu estado fundamental. Transições Eletrônicas, Vibracionais e Rotacionais Combinadas
As transições vibracionais normalmente envolvem transições rotacionais simultâneas. As transições eletrônicas normalmente envolvem transições vibracionais e rotacionais simultâneas.
Em geral, quando uma molécula absorve luz tendo energia suficiente para provocar uma transição eletrônica, ocorrem também as transições rotacional e vibracional – isto é, mudanças nos estados rotacional e vibracional. O formaldeído pode absorver um fóton com a energia certa para promover as seguintes mudanças simultâneas: (1) uma transição do estado eletrônico S0 para o estado eletrônico S1; (2) uma mudança na energia vibracional de um estado vibracional fundamental S0 para um estado vibracional S1; e (3) uma transição de um estado rotacional S0 para um estado rotacional S1 diferente. As bandas de absorção eletrônica geralmente são muito largas (Figura 18-9) porque vários níveis rotacionais e vibracionais diferentes estão disponíveis em energias ligeiramente diferentes. Uma molécula pode absorver fótons com uma grande faixa de energias e ainda ser promovida de um estado eletrônico fundamental para um determinado estado eletrônico excitado. O que Acontece com a Energia Absorvida? Suponha que a absorção de energia promova uma molécula de um estado eletrônico fundamental, S0, para um nível excitado rotacional e vibracionalmente de um estado eletrônico excitado S1 (Figura 18-16). Geralmente o primeiro processo após a absorção é uma relaxação vibracional para o nível vibracional mais baixo de S1. Nessa transição não radiativa, chamada de R1 na Figura 18-16, a energia vibracional é transferida para outras moléculas (solvente, por exemplo) através de colisões e não através da emissão de um fóton. O efeito global vem a ser a conversão de parte da energia do fóton absorvido em calor, que se distribui por todo o meio. No nível S1, podem ocorrer vários eventos. A molécula pode entrar em um nível vibracional altamente excitado de S0 tendo a mesma energia de S1. Este fenômeno é conhecido como conversão interna (CI). Desse estado excitado, a molécula pode passar por um processo de relaxação, retornando ao estado vibracional fundamental, e então transferir sua energia para as moléculas vizinhas através de colisões. Esse processo não radiativo é chamado de R2. Se uma molécula segue a sequência A–R1–CI–R2 na Figura 18-16, toda a energia do fóton será convertida em calor. Por outro lado, a molécula pode passar de S1 para um nível vibracional excitado de T1. Tal evento é conhecido como cruzamento intersistemas (CIS). Seguindo o processo de relaxação vibracional não radiativo R3, a molécula se encontra no menor nível vibracional de energia de T1. A partir daqui, a molécula pode sofrer um segundo cruzamento intersistemas para S0, seguido pela relaxação não radiativa R4. Todos os processos que citamos até agora simplesmente convertem luz em calor. Conversão interna: é uma transição não radiativa entre estados com os mesmos números quânticos de spin (por exemplo, S1 → S0). Cruzamento intersistemas: é uma transição não radiativa entre estados com números quânticos de spin diferentes (por exemplo, T1 → S0).
FIGURA 18-15 Os seis tipos de vibrações da molécula do formaldeído. O número de onda da radiação infravermelha necessário para estimular cada tipo de movimento é definido em unidades de centímetro recíproco, cm−1. A molécula gira em torno dos eixos x, y e z localizados no centro de massa, próximo ao meio da ligação C═O.
FIGURA 18-16 Processos físicos que podem ocorrer após cada molécula absorver um fóton ultravioleta ou visível. S0 é o estado eletrônico fundamental da molécula. S1 e T1 são os estados excitados simpleto e tripleto de mais baixa energia, respectivamente. As setas retas representam os processos envolvendo fótons, e as setas onduladas são as transições não radiativas. R representa relaxação vibracional. A absorção pode terminar em qualquer um dos níveis vibracionais de S1, e não apenas no nível que é mostrado. A fluorescência e a fosforescência podem terminar em qualquer um dos níveis vibracionais de S0.
FIGURA 18-17 Exemplo mostrando que, para uma mesma molécula, a fosforescência vem de um nível de energia mais baixo que a fluorescência. O sinal proveniente da fosforescência é ∼10 vezes menos intenso que o sinal correspondente da fluorescência e só é observável quando a amostra é resfriada. [Dados de J. C. Fister, III, J. M. Harris, D. Rank e W. Wacholtz, “Molecular Photophysics of Acridine Yellow Studied by Phosphorescence and Delayed Fluorescence”, J. Chem. Ed. 1997, 74, 1208.] Fluorescência: é a emissão de um fóton durante uma transição entre estados com o mesmo número quântico de spin (isto é, S1 → S0). Fosforescência: é a emissão de um fóton durante uma transição entre estados com números quânticos de spin diferentes (por exemplo, T1 → S0).
Uma molécula pode também relaxar de S1 ou T1 para S0 emitindo um fóton. A transição radiativa S1 → S0 é conhecida como fluorescência (Boxe 18-2), e a transição T1 → S0 é chamada fosforescência. As velocidades relativas de conversão interna, cruzamento intersistemas, fluorescência e fosforescência dependem da molécula, do solvente e de condições, como a temperatura e a pressão. A energia da fosforescência é menor que a energia da fluorescência, de modo que a fosforescência ocorre em comprimentos de onda maiores do que a fluorescência (Figura 18-17). O tempo de vida de um estado é o tempo necessário para que a população desse estado decaia a um valor igual a 1/e vezes o seu valor inicial, no qual e é a base do logaritmo natural.
A fluorescência e a fosforescência são fenômenos relativamente raros. As moléculas geralmente decaem do estado excitado por meio de transições não radiativas. O tempo de vida da fluorescência é sempre muito curto (10−8 a 10−4 s). O tempo de vida da fosforescência é muito longo (10−4 a 102 s) porque a fosforescência envolve uma mudança nos números quânticos de spin (de dois elétrons não emparelhados para nenhum elétron não emparelhado), o que é um evento improvável. Poucos materiais, como o aluminato de estrôncio dopado com európio e disprósio (SrAl2O4:Eu:Dy), exibem fosforescência durante horas após exposição à luz.16 Uma aplicação desse material é na iluminação das saídas de emergência quando a energia acaba.
18-7
Luminescência
A fluorescência e a fosforescência são exemplos de luminescência, que é a emissão de luz a partir de qualquer estado excitado de uma molécula. As medidas de luminescência são inerentemente mais sensíveis do que as medidas de absorção. Imagine que você esteja em um estádio esportivo à noite; as luzes estão apagadas, mas cada um dos 50 000 espectadores está segurando uma vela acesa. Se 500 pessoas apagarem suas velas, você dificilmente notará alguma diferença. Imagine agora que o estádio esteja completamente às escuras e, então, 500 pessoas acendem repentinamente suas velas. Nesse caso, o efeito visual será muito mais intenso. O primeiro exemplo é semelhante à mudança de transmitância de 100% para 99%, que é equivalente a uma absorbância de −log 0,99 = 0,004 4. É muito difícil medirmos esta absorbância tão pequena, pois a luz de fundo é muito brilhante. O segundo exemplo é análogo à observação da fluorescência de 1% das moléculas em uma amostra. Contra um fundo escuro, a fluorescência é considerável. O fenômeno da luminescência é suficientemente sensível para identificar uma única molécula.17 A Figura 18-18 mostra os rastros observados, em intervalos de 0,78 s, de duas moléculas de Rodamina 6G, um composto altamente fluorescente, adsorvidas em uma fina camada de sílica-gel. Estas observações diretas confirmam o modelo proposto em 1905 por Albert Einstein para a difusão aleatória das moléculas.
Relação entre Espectros de Absorção e de Emissão A Figura 18-16 mostra que a fluorescência e a fosforescência têm uma energia menor do que a radiação absorvida (a energia de excitação), ou seja, as moléculas emitem radiação em maiores comprimentos de onda do que os comprimentos de onda da radiação que elas absorvem. Exemplos podem ser vistos na Figura 18-19 e na Prancha 18 do Encarte em Cores. A Figura 18-20 explica por que a emissão surge em um nível de energia mais baixo do que a absorção e também porque o espectro de emissão é, aproximadamente, a imagem especular do espectro de absorção. No espectro de absorção, o comprimento de onda λ0 corresponde à transição do nível vibracional fundamental de S0 para o nível vibracional mais baixo de S1. A absorção máxima em maior energia (comprimento de onda mais curto) corresponde à transição S0 para S1 acompanhada pela absorção de um ou mais quanta de energia vibracional. Em solventes polares, a estrutura vibracional é frequentemente expandida além de um limite de identificação, e apenas uma forma alargada da região de absorção é observada. Em solventes menos polares ou apolares a estrutura vibracional é observada. Após a absorção, as moléculas S1 excitadas vibracionalmente relaxam de volta para o nível vibracional mais baixo de S1 antes de emitirem qualquer radiação. A emissão de S1 na Figura 18-20 pode ir para qualquer nível vibracional de S0. A transição de maior energia surge no comprimento de onda λ0, com uma série de picos seguidos em uma região de maior comprimento de onda. Os espectros de absorção e emissão terão uma relação aproximada de uma imagem especular se os espaços entre os níveis vibracionais forem aproximadamente iguais e se as probabilidades de transição forem semelhantes.
BOXE 18-2
A Fluorescência ao Nosso Redor
A maioria dos tecidos brancos também apresenta uorescência. Apenas para diversão, ligue uma lâmpada ultravioleta em um quarto escuro, onde estejam várias pessoas (mas não olhe diretamente para a lâmpada). Você irá descobrir uma quantidade surpreendente de emissões pelos tecidos brancos (roupas, cadarços de sapatos e inúmeros outros objetos) contendo compostos uorescentes para aumentar a brancura. Você também se surpreenderá de ver a uorescência dos dentes e de áreas recém-contundidas da pele que não mostram a superfície machucada. Outras excelentes demonstrações de uorescência e fosforescência foram descritas na literatura.14
Exemplo de um branqueador uorescente adicionado ao sabão de lavar roupas Uma lâmpada uorescente é um tubo de vidro contendo vapor de mercúrio. As paredes internas são revestidas com uma combinação de fósforos vermelho e verde (substâncias luminescentes). O fósforo vermelho consiste em Eu3+ dopado em Y2O3. O fósforo verde em Tb3+ dopado em CeMgAl11O19. O vapor de mercúrio é excitante por uma corrente elétrica, emitindo radiação ultravioleta em 185 e 254 nm, e uma série de linhas na região do visível, como se vê na gura (a). A emissão do Hg por si só parece azul a nossos olhos. Quando a radiação é absorvida pelo fósforo, Eu3+ emite luz vermelha em 612 nm, e Tb3+ emite luz verde em 542 nm. A combinação das radiações azul, vermelha e verde parece branca aos nossos olhos. Lâmpadas uorescentes são mais e cientes que os modelos incandescentes para a conversão de energia elétrica em luz. A substituição de uma lâmpada incandescente de 75 W por uma lâmpada compacta uorescente de 18 W economiza 57 W. Ao longo da vida útil de uma lâmpada uorescente tubular, você reduz as emissões de CO2 de ∼600 kg, e introduz 10 kg a menos de SO2 na atmosfera (Problema 18-30). Infelizmente, as lâmpadas uorescentes contêm mercúrio –elemento tóxico – e devem ser recicladas em um centro de coleta, em que o metal é isolado. Lâmpadas uorescentes não devem ser descartadas como lixo comum. A queima de uma tonelada métrica (1000 kg) de carvão para produzir eletricidade libera ∼0,18 g de mercúrio para a atmosfera. Um estudo efetuado em 2008 estimou que os EUA reduziriam a emissão anual de mercúrio
de 25 mil toneladas métricas pela troca de todas as lâmpadas incandescentes por modelos uorescentes, mesmo se apenas 25% das lâmpadas uorescentes fossem recicladas.15 A redução das emissões de mercúrio resulta da diminuição do uso da eletricidade. Os diodos emissores de luz são ainda mais e cientes do que as lâmpadas uorescentes, têm uma vida útil maior, e não contêm mercúrio. Os diodos de luz branca, como aqueles encontrados em lanternas, contêm um diodo emissor de luz azul feito de semicondutores, como nitreto de gálio e nitreto de gálio e índio. A capa transparente do diodo contém um fósforo cuja emissão no amarelo se combina com a luz azul do diodo, produzindo a luz branca. Lâmpada
E ciência aproximada (lúmens por watt)a,b
Lanterna (incandescente)
P0, o que não é possível. [PX] é calculado nas células E16:E26 a partir de K e εPX nas células B10:B11.
Como podemos estimar K e εPX para iniciar os cálculos? Normalmente não precisamos de estimativas muito exatas para que o Solver refine os cálculos. Basta supor que a solução final preparada com 100 μL de P contém 90% de X ligado a P. Na linha 26 da planilha, as concentrações formais conhecidas são X0 = 7,64 μM e P0 = 28,18 μM. Se 90% de X estiver na forma de PX, então [PX] = 6,89 μM e [X] = 0,75 μM, o que faz com que [P] = P0 − [PX] = 21,29 μM. Nossa estimativa para K = [PX]/([P][X]) é [6,89 μM]/([21,29 μM][0,75 μM]) = 4,3 × 105. A partir das estimativas, [X] = 0,75 μM e [P] = 21,29 μM, podemos estimar εPX a partir da lei de Beer:
Na Figura 19-8, introduzimos os valores estimados K = 4,3 × 105 e εPX = 1,5 × 104 M−1 cm−1 nas células B10:B11. Com esses valores, a planilha calcula todas as quantidades nas células E16:E26 e a soma dos mínimos quadrados, S(Aobs − Acalc)2 na célula I27. No Excel 2010, vá para a guia Dados, selecione Análise, e clique em Solver. Fixe em Definir Objetivo na célula I27, Igual Para Mín. e Alterando Células Variáveis B10:B11. Método de Solução é o padrão GRG não linear. Em Opções, fixe Precisão de Restrição = 1E-14 e verifique Usar Escala Automática. Clique OK em Opções e a seguir clique Resolver. Em um instante, o Solver encontra os valores K = 1,91 × 105 e εPX = 1,63 × 104 M−1 cm−1 nas células B10:B11. A Figura 19-9 mostra que esses valores de K e de εPX fornecem um bom ajuste para as absorbâncias observadas em 545 nm. A célula J26 nos indica que a fração de X que reagiu com 100 μL de P foi 0,808. Havíamos proposto que essa fração era 0,9 para fazer as estimativas iniciais de K e εPX. O Solver permitiu que encontrássemos a absortividade molar do produto PX e a constante de equilíbrio. Não poderíamos ter usado o diagrama de Scatchard sem o conhecimento do valor de εPX. O Solver oferece um método versátil para encontrar uma constante de equilíbrio a partir de dados experimentais. A coluna J da planilha nos informa que os dados experimentais se estendem ao longo da fração de reação entre 0,2 e 0,8, o que é altamente desejável.
FIGURA 19-9 Figura 19-8.
19-3
Variações observadas e calculadas na absorbância a 454 nm usando a rotina Solver para determinar K e ɛPX na
O Método da Variação Contínua
Vamos supor que vários complexos podem ser formados entre as espécies P e X: P + X ⇌ PX P + 2X ⇌ PX2 P + 3X ⇌ PX3 Se um complexo predomina (por exemplo, PX2), o método da variação contínua (também chamado de método de Job)9 nos permite identificar a estequiometria do complexo predominante.
O procedimento clássico é a mistura de alíquotas de soluções-estoque de P e de X seguida pela diluição a um volume constante, de modo a preparar soluções com a concentração total [P] + [X] constante. Por exemplo, as soluções-estoque de P e X, ambas 2,50 mM, podem ser misturadas como vemos na Tabela 19-1, para produzir soluções com várias proporções X:P, mas com uma concentração total constante. A absorbância de cada solução é medida, normalmente no λmáx do complexo, e é construído um gráfico mostrando a absorbância corrigida (definida na Equação 19-22) contra a fração molar de X. A absorbância máxima é alcançada na composição correspondente à estequiometria do complexo predominante. Para a reação P + nX ⇌ PXn, podemos mostrar que [PXn] atinge um máximo quando as concentrações iniciais têm entre si a razão [X]0 = n[P]0. Para tal, escrevemos
e fazemos com que as derivadas parciais ∂[PXn]/∂[P]0 e ∂[PXn]/∂[X]0 sejam iguais a 0.
A absorbância corrigida é definida como a absorbância medida menos a absorbância que deveria ser produzida por P livre e por X livre quando isolados:
em que εP e εX são as absortividades molares de P puro e de X puro, b é o caminho óptico da amostra e PT e XT são as concentrações totais de P e de X na solução. Para a primeira solução na Tabela 19-1, PT = (1,00/25,0)(2,50 mM) = 0,100 mM e XT = (9,00/25,0)(2,50 mM) = 0,900 mM. Se P e X não absorvem no comprimento de onda de interesse, não é necessária uma correção na absorbância. A absorbância máxima ocorre na fração molar de X correspondente à estequiometria do complexo (Figura 19-10). Se o complexo predominante for PX2, o máximo ocorre na fração molar de X = 2/(2 + 1) = 0,667.
Método da variação contínua: P + nX ⇌ PXn O máximo de absorbância ocorre quando (fração molar de X) = n/(n + 1).
Se o complexo predominante for P3X, ocorrerá o máximo na fração molar de X = 1/(1 + 3) = 0,250.
Soluções para o método da variação contínua
TABELA 19-1
mL da solução de P 2,50 mM
mL da solução de X 2,50 mM
1,00 2,00 2,50 3,33 4,00 5,00 6,00 6,67 7,50 8,00 9,00
9,00 8,00 7,50 6,67 6,00 5,00 4,00 3,33 2,50 2,00 1,00
NOTA: Todas as soluções são diluídas com um tampão a um volume total de 25,0 mL.
Razão molar (X:P) 9,00:1 4,00:1 3,00:1 2,00:1 1,50:1 1,00:1 1:1,50 1:2,00 1:3,00 1:4,00 1:9,00
Fração molar de X número de mols de X número de mols de X+ número de mols de P 0,900 0,800 0,750 0,667 0,600 0,500 0,400 0,333 0,250 0,200 0,100
FIGURA 19-10
Comportamento ideal dos diagramas de Job para a formação dos complexos P3X, PX e PX2.
FIGURA 19-11 (a) Titulação espectrofotométrica de 30,0 mL de EDTA em tampão acetato com CuSO4 no mesmo tampão. Curva superior: [EDTA] = [Cu2+] = 5,00 mM. Curva inferior: [EDTA] = [Cu2+] = 2,50 mM. A absorbância não foi “corrigida” de nenhuma maneira nas duas curvas. (b) Transformação dos dados para a forma de fração molar. A absorbância do CuSO4 livre na mesma concentração formal foi subtraída de cada ponto em a. O EDTA é transparente nesse comprimento de onda. [Dados de Z. D. Hill e P. MacCarthy, “Novel Approach to Job’s Method”, J. Chem. Ed. 1986, 63, 162.]
Apresentamos a seguir alguns cuidados quanto ao uso do método da variação contínua: 1.
Verifique se o complexo segue a lei de Beer.
2.
Utilize, se for possível, uma força iônica e um pH constantes.
3.
Faça leituras em mais de um comprimento de onda; o máximo deve ocorrer na mesma fração molar para cada um dos comprimentos de onda.
4.
Faça experimentos com concentrações totais de P + X diferentes. Se um segundo grupo de soluções for preparado nas proporções dadas na Tabela 19-1, porém a partir de soluções estoque com a concentração de 5,00 mM, o máximo deve continuar a ocorrer na mesma fração molar.
Embora o método da variação contínua possa ser aplicado utilizando-se várias soluções separadas, como as da Tabela 19-1, uma titulação é um processo bem mais sensível. A Figura 19-11a mostra os resultados para a titulação do EDTA com Cu2+. Na Figura 19-11b, a abscissa foi transformada em fração molar de Cu2+ (= [número de mols de Cu2+]/[número de mols de Cu2+ + número de mols de EDTA]) em vez do volume de Cu2+. O valor máximo, bem definido na fração molar 0,5, indica a formação de um complexo 1:1. Se a constante de equilíbrio não for muito grande, o máximo é mais curvo que o visto na Figura 19-11b. A curvatura pode ser usada para estimarmos o valor da constante de equilíbrio.10
19-4
Análise por Injeção de Fluxo e Injeção Sequencial
No método de análise por injeção de fluxo, uma amostra líquida é injetada dentro de um líquido carreador em fluxo contínuo no qual uma substância reage com a amostra.11-15 Outros reagentes podem ser adicionados posteriormente ao fluxo. À medida que a amostra escoa do injetor para o detector, a zona contendo a amostra se alarga e reage com uma substância, formando um produto sensível ao detector. As vantagens da injeção de fluxo sobre o “processo em batelada”, no qual amostras individuais são analisadas separadamente, incluem velocidade, automação da manipulação da amostra e baixo custo. É comum na análise por injeção de fluxo ocorrer a análise de 100 amostras por hora. Os autoamostradores capazes de manipular centenas de amostras são essenciais na análise automatizada. A injeção de fluxo é uma ferramenta básica em muitas análises de solos e águas em laboratórios que manipulam um grande número de amostras. A Figura 19-12 mostra uma análise representativa para traços do herbicida acetochlor em alimentos.16 A amostra é preparada homogeneizando um determinado alimento, como cereais ou farinha, seguido de extração do herbicida com um solvente orgânico e hidrólise do extrato. O produto da hidrólise aquosa é então injetado no sistema carreador para a análise por injeção de fluxo na Figura 19-12.
O fluxo de carreador contém um sal de diazônio (o reagente) que reage com a amostra com formação de um produto colorido, que pode ser medido por sua absorbância no visível em 400 nm.
FIGURA 19-12 Diagrama esquemático da análise por injeção de fluxo no qual a amostra é injetada em um fluxo carreador contendo reagentes que formam um produto colorido com o analito. A bomba peristáltica empurra o líquido através de tubos flexíveis pela ação de oito rolamentos ao longo do sistema de tubos. A fotografia e o gráfico mostram a dispersão de um corante injetado no carreador. [Informação do tutorial de J. Ruzicka, Flow Injection Analysis, 4th ed., 2009, disponível gratuitamente no endereço www.flowinjection.com/freecd.aspx.]
A Figura 19-13 mostra a dispersão e a reação da amostra após injeção no sistema carrreador. Se não houvesse reagente, a amostra simplesmente começaria a se dispersar à medida que caminha pelo fluxo de carreador. Quando o líquido flui de maneira relativamente lenta em um tubo cilíndrico, o fluxo é laminar. O atrito com as paredes do tubo reduz a vazão a zero nas paredes. O fluxo no centro é o dobro da vazão média. Existe um perfil parabólico de velocidade entre o centro e as paredes do tubo. O esquema na parte superior da Figura 19-13 mostra a frente da curva e os efeitos de borda da zona contendo a amostra. O líquido próximo às paredes se mistura com o líquido no seio do fluxo por difusão radial. Quanto mais estreito for o tubo, mais rápida é a mistura radial. Consderando-se um diâmetro de tubo típico de 0,5 a 0,75 mm, a difusão para longe das paredes é significativa em poucos segundos. Na Figura 19-12, o seio da trajetória entre a injeção e a detecção é uma espiral onde se dá a mistura. A curvatura e a forma da curva na trajetória do fluxo criam turbulência, que promove a mistura. À medida que a amostra é transportada pela espiral onde se dá a mistura, a reação com o reagente no fluxo carreador ocorre a partir da frente da curva e das bordas junto às paredes da zona contendo a amostra. A turbulência é necessária para uma boa mistura do reagente com a amostra porque o comprimento da zona contendo a amostra é muito maior do que o diâmetro do tubo. A formação do produto depende da velocidade da reação química, bem como da velocidade de mistura das zonas. Os intervalos de tempo típicos entre a injeção e a detecção são apenas da ordem de dezenas de segundos. Ao contrário da maioria dos métodos de análise química, a mistura do analito com os reagentes é incompleta; por isso, o equilíbrio químico em uma análise por injeção de fluxo não é atingido. A chave para a precisão analítica é a reprodutibilidade da injeção de fluxo. O perfil de concentração do produto que passa pelo detector depende de muitas variáveis, incluindo volume da amostra, velocidade de fluxo, velocidade de reação e temperatura. As condições reprodutíveis fornecem uma resposta reprodutível. Em injeções de amostras repetidas do herbicida acetochlor, o desvio-padrão foi de 1,6% ao nível de determinação de 1 ppm do herbicida em alimentos. A injeção de fluxo é um método dinâmico no qual o equilíbrio não é atingido. A reprodutibilidade é obtida repetindo-se as mesmas condições em cada análise.
A célula de fluxo do detector na Figura 19-12 tem a trajetória de líquido na forma de um Z. Luz monocromática incide por meio de uma fibra óptica. A luz que passou pela célula de fluxo chega ao detector por meio de outra fibra óptica. As células de fluxo comuns contêm um caminho de 10 mm e um volume de 60 μL. Os volumes típicos de amostras que são injetadas são de dezenas de microlitros. A altura do pico, e não a área, é normalmente considerada como o sinal analítico da injeção de fluxo. Os termos “espiral de mistura” e “espiral de reação” são usados indistintamente.
A Figura 19-14 mostra um esquema ligeiramente mais complicado de injeção de fluxo projetado para a análise contínua a bordo de uma embarcação, de concentrações nanomolares de amônia em água do mar. A bomba peristáltica alimenta três líquidos na espiral de reação a uma vazão de 160 μL/min. Um dos líquidos é a água do mar coletada 1 m abaixo da superfície do oceano. O reagente 1 (solução de o-ftaldialdeído 25 mM) e o reagente 2 (solução de sulfito de sódio 10 mM + formaldeído 5 mM) são mistutados à água do mar antes de o fluxo entrar na espiral de reação (1,0 mm de diâmetro × 2 m de comprimento), que é mantida a 65°C para acelerar a reação, a qual produz uma substância fluorescente. No detector, a solução é irradiada com luz ultravioleta (365 nm) proveniente de uma fibra óptica. A fluorescência em 423 nm é coletada por uma segunda fibra óptica em ângulo reto com o feixe de excitação. A calibração na Figura 19-15 é conduzida periodicamente substituindo a água do mar por volumes de 0,958 mL de soluções-padrão de NH4Cl através da válvula de injeção. O desvio-padrão das injeções repetidas foi de 2,2% para NH4Cl 200 nM e 6,7% para NH4Cl 1,0 nM.
FIGURA 19-13 Dispersão e reação de uma amostra à medida que caminha após injeção no fluxo carreador. [Informação do tutorial de J. Ruzicka, Flow Injection Analysis, 4th ed., 2009, disponível gratuitamente no endereço www.flowinjection.com.]
FIGURA 19-14 Análise por injeção de fluxo com duas linhas de reagentes para análise contínua de concentrações nanomolares de NH3 em água do mar. [Informações de N. Amomthammarong e J.-Z. Zhang, “Shipboard Fluorometric Flow Analyzer for HighResolution Underway Measurement of Ammonium in Seawater”, Anal. Chem. 2008, 80, 1019.]
O tempo de análise na Figura 19-15 é anormalmente longo. Soluções de padrões de grandes volumes, que passam sob vazão baixa para aumentar a sensibilidade e reduzir o consumo de reagente, foram medidas em uma velocidade de 8 soluções por hora. Por outro lado, a determinação contínua da água do mar produz 3600 leituras por hora. A injeção de fluxo mede normalmente 100 amostras por hora.
FIGURA 19-15 Resposta de injeções repetidas de padrões de NH4Cl. [Dados de N. Amomthammarong and J.-Z. Zhang,”Shipboard Fluorometric Flow Analyzer for High-Resolution Underway Measurement of Ammonium in Seawater,” Anal. Chem. 2008, 80, 1019.]
Injeção Sequencial11,17 A injeção sequencial se distingue da injeção de fluxo pela programação de fluxo e pela inversão de fluxo, comandados por um sistema computacional. O fluxo não é contínuo. Comparada à injeção de fluxo, a injeção sequencial consome menos reagentes e gera menos resíduos. A injeção sequencial foi miniaturizada de tal modo que ela também é chamada de “laboratório em uma válvula”. A miniaturização e a descontinuidade do fluxo reduzem o consumo de reagentes caros, como enzimas e antibióticos nos ensaios bioquímicos. A injeção sequencial é empregada no monitoramento contínuo de processos ambientais e industriais, mesmo em localizações remotas. A característica marcante do equipamento de injeção sequencial da Figura 19-16 é a válvula de seis vias. Neste exemplo, as portas 2, 3, 4 e 5 são empregadas. A figura mostra uma conexão entre a porta 5 e a porta central C. As amostras líquidas são levadas para a porta 5 por uma bomba peristáltica auxiliar. A rotação da válvula, por controle computacional, pode conectar quaisquer das outras portas a C. No lado esquerdo da Figura 19-16 encontra-se uma bomba injetora motorizada, que, sob controle
de um computador, desloca volumes precisos de líquido para frente ou para trás. A válvula no topo da bomba injetora pode conectar a seringa a um reservatório de um tampão carreador ou à bobina de retenção.
FIGURA 19-16 Diagrama esquemático de um equipamento de injeção sequencial. A rotação da válvula pode conectar a porta central C a qualquer uma das saídas de 1 até 6. [Informações do tutorial de J. Ruzicka, Flow Injection Analysis, 4th ed., 2009, www.flowinjection.com.]
A Figura 19-17 mostra como uma reação entre a amostra e um reagente pode ser conduzida. A amostra da porta 5 da Figura 19-16 é inicialmente introduzida na bobina de retenção. Em seguida, a válvula de seis vias é movida para introduzir o reagente 1 da porta 3 na bobina de retenção. O fluxo é então interrompido para permitir que a amostra e o reagente se misturem e reajam dentro da bobina de retenção. Após um tempo predeterminado, o fluxo é invertido e o líquido é enviado pela porta 2 através da célula de fluxo, onde a absorbância é monitorada em um comprimento de onda selecionado. Os volumes de cada reagente e o tempo na espiral de mistura são controlados por computador. Na Figura 19-16, dois reagentes diferentes podem ser misturados à amostra. Uma variante poderosa desse procedimento é parar o fluxo quando a zona do produto atinge o detector, e medir a mudança de absorbância contra o tempo à medida que mais produto é formado no detector. A Figura 19-18 mostra o equipamento de injeção sequencial, que pode ser menor do que um computador portátil. A Figura 20-24 mostra outro exemplo de injeção sequencial.
FIGURA 19-17 Misturação e reação de uma amostra com um reagente em uma bobina de retenção em uma injeção sequencal. Após introduzir a amostra (A) e o reagente (B), o fluxo é interrompido (C) para permitir a formação do produto. O fluxo é então invertido (D) para que o produto passe pelo detector (E). [Informação do tutorial de J. Ruzicka, Flow Injection Analysis, 4th ed., 2009, www.flowinjection.com.]
FIGURA 19-18 Equipamento de injeção sequencial com detecção espectrofotométrica. A característica marcante desse equipamento é a válvula de seis vias, de modo que a injeção sequencial é às vezes chamada “laboratório em uma válvula”. [Informações do tutorial de J. Ruzicka, Flow Injection Analysis, 4th ed., 2009, www.flowinjection.com]
19-5
Imunoensaios
Uma aplicação importante do fenômeno de absorção e emissão de luz é em imunoensaios, que empregam anticorpos para detectar o analito. Um anticorpo é uma proteína produzida pelo sistema imunológico de um ser vivo em resposta a uma molécula estranha ao organismo, chamada de antígeno. O anticorpo reconhece o antígeno que estimulou a síntese do anticorpo. A constante de formação do complexo anticorpo-antígeno é muito grande, enquanto a ligação do anticorpo com outras moléculas é fraca. Rosalyn Yalow recebeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1977 por ter desenvolvido, durante os anos 1950, as técnicas de imunoensaios usando proteínas marcadas com o isótopo radioativo 131I, que permitia a identificação do processo.18 Yalow, uma física, trabalhou com Solomon Berson, um médico, neste esforço pioneiro.
FIGURA 19-19 Teste de enzima-ligada a um imunoabsorvente. O anticorpo 1, específico para o analito de interesse, está ligado a um suporte polimérico, que entra em contato com a amostra desconhecida. Após a lavagem para a retirada de todo o excesso, ou seja, das moléculas que não se fixaram, o analito permanece ligado ao anticorpo 1. O analito ligado é então tratado com o anticorpo 2, que reconhece um sítio diferente no analito no qual uma enzima é covalentemente ligada. Após a lavagem para a retirada de qualquer material não ligado, cada molécula de analito é acoplada a uma enzima que será então usada como descrito na Figura 19-20.
A Figura 19-19 ilustra o princípio de um teste de enzima-ligada-a-imunoabsorvente, abreviado ELISA (da sigla inglesa de enzime-linked immunosorbent assay) na literatura bioquímica. O anticorpo 1, específico para o analito de interesse (o antígeno), está ligado a um suporte polimérico. Nas etapas 1 e 2, o analito é incubado com o polímero ligado ao anticorpo para formar um complexo. A fração de sítios do anticorpo que se ligam ao analito é proporcional à concentração de analito na amostra desconhecida. A superfície do polímero é então lavada para remover as substâncias que não aderiram à sua superfície. Nas etapas 3 e 4, o complexo anticorpo-antígeno é tratado com o anticorpo 2, que reconhece uma região diferente no analito. O anticorpo 2 foi preparado especialmente para o teste imunológico pela ligação covalente de uma enzima que será usada mais tarde no processo. De novo, o excesso de substâncias que não aderiram à superfície é removido por lavagem. A enzima ligada ao anticorpo 2 é vital para a análise quantitativa. A Figura 19-20 mostra duas maneiras diferentes de utilizarmos a enzima. A enzima pode transformar um reagente incolor em um produto colorido. Como uma molécula de enzima catalisa a mesma reação diversas vezes, são produzidas várias moléculas do produto colorido para cada molécula de analito. Dessa forma, uma enzima amplifica o sinal na análise química. Quanto maior for a concentração do analito na amostra desconhecida original, mais enzima estará ligada e maior será a extensão da reação catalisada pela enzima. Em uma outra maneira, a enzima converte um reagente não fluorescente em um produto fluorescente. Os testes imunoenzimáticos colorimétricos e fluorométricos são sensíveis a concentrações menores que um nanograma de analito. O teste de gravidez descrito na abertura do Capítulo 0 é um imunoensaio de uma proteína placentária presente na urina. Aptâmeros (Boxe 17-5) podem ser usados da mesma maneira que os anticorpos em análise química.19 Imunoensaios em Análises Ambientais Kits comerciais de imunoensaios estão disponíveis para o rastreamento e a análise de pesticidas, de produtos químicos industriais, de explosivos e de toxinas microbianas, presentes em concentrações entre partes por trilhão e partes por milhão em lençóis d’água, no solo e em alimentos.20 Uma vantagem do rastreamento feito em campo é que regiões não contaminadas, e que não precisam de tanta atenção, podem ser localizadas prontamente. Um imunoensaio pode ser 20 a 40 vezes mais barato que uma análise cromatográfica e pode ser completado em campo em 0,3-3 h, usando amostras de 1 mL. As análises cromatográficas geralmente têm de ser feitas em um laboratório especializado e podem demorar vários dias, pois o analito deve ser primeiro extraído ou concentrado a partir de amostras na ordem do litro para obtermos uma concentração suficiente para as análises.
FIGURA 19-20 A enzima ligada ao anticorpo 2 pode catalisar reações que formam produtos coloridos ou fluorescentes. Cada molécula de analito que se liga, durante o teste imunológico, produz várias moléculas de produto colorido ou fluorescente, que são facilmente identificáveis.
FIGURA 19-21 Imunoensaio para Hg2+ em águas naturais. [Informação de Y. Date, A. Aota, S. Terakado, S. Sasaki, N. Matsumoto, Y. Watanabe, T. Matsue e N. Ohmura, “Trace-Level Mercury In (Hg2+) in Aqueous Sample Based on Solid-Phase Extraction Followed by Microfluidic Immunoassay”, Anal. Chem. 2013, 85, 434.]
A Figura 19-21 mostra um imunoensaio para determinar Hg2+ em níveis de traço em águas ambientais. Antes da realização do procedimento descrito nessa figura, o íon Hg2+ na amostra é convertido em HgCl42− pela adição de HCl até uma concentração 0,1 M. Uma alíquota de amostra de 5 mL é então passada através de uma coluna extratora em fase sólida (Seção 28-3) contendo 0,1 mL de uma resina trocadora de ânions (Capítulo 26), que se liga ao íon HgCl42−, separando-o dos íons de metais de transição e de espécies potencialmente interferentes, Cd2+ e Mn2+. O HgCl42− é convertido no complexo Hg2+−EDTA (Capítulo 12), que é removido da coluna por solução de EDTA em pH 7,5. A amostra é então tratada com um anticorpo de rato que reconhece o Hg2+ −EDTA. A solução contém agora um anticorpo ligado ao Hg2+−EDTA e um excesso desse anticorpo, mostrado na curva oval tracejada no canto superior esquerdo da Figura 19-21. Quanto maior a quantidade de Hg2+ presente na amostra de água, mais anticorpo se liga ao Hg2+−EDTA, e menos anticorpo livre se acha presente. Essa solução é então passada sobre uma parede de 1 mm2 contendo esferas de 100 μm de diâmetro de poli(meta-acrilato de metila) (PMMA) ao qual o Hg2+-EDTA está ligado covalentemente. Parte do anticorpo livre na amostra se liga ao Hg2+-EDTA na superfície das esferas. Quanto maior a quantidade de Hg2+ na amostra de água, menos anticorpo livre se acha disponível para ligar-se as esferas. Na etapa final na Figura 19-21, um segundo anticorpo é passado sobre as esferas. Esse segundo anticorpo reconhece o primeiro anticorpo de rato. Uma nanopartícula de ouro de 40 nm de diâmetro está ligada a cada molécula do segundo anticorpo. A nanopartícula apresenta uma cor vermelha intensa, que é medida por um diodo emissor de luz de 520 nm com detector de fotodiodo. Quanto maior a quantidade de Hg2+ presente na água natural, menos anticorpo se liga às esferas, e menos nanopartículas de ouro acabam ligadas às esferas. A cor vermelha enfraquece com o aumento da concentração de Hg2+ na água natural, conforme mostrado pela curva-padrão na Figura 19-22. O limite inferior de detecção é 0,8 μg de Hg/L (0,8 ppb), que satisfaz as diretrizes de capacidade analítica para água potável. O ensaio completo é conduzido em um dispositivo microfluídico − um “laboratório em um chip” (Seção 26-8) − que pode ser usado no campo.
FIGURA 19-22 Curva-padrão para o imunoensaio do Hg2+ em água natural. [Dados de Y. Date, A. Aota, S. Terakado, S. Sasaki, N. Matsumoto, Y. Watanabe, T. Matsue e N. Ohmura, “Trace-Level Mercury In (Hg2+) in Aqueous Sample Based on SolidPhase Extraction Followed by Microfluidic Immunoassay”, Anal. Chem. 2013, 85, 434.]
Imunoensaios Utilizando Fluorescência Resolvida no Tempo21 A sensibilidade dos imunoensaios fluorescentes pode ser aumentada de um fator de 100 (para detectarmos 10−13 M de analito) por meio de medidas de luminescência resolvidas no tempo utilizando-se o íon lantanídeo Eu3+. Os cromóforos orgânicos, como a fluoresceína, são afetados por uma fluorescência de fundo, na faixa de 350-600 nm, proveniente do solvente, dos solutos e das partículas. Esta fluorescência de fundo decai a um nível desprezível 100 ms após a excitação. Entretanto, a luminescência em uma faixa estreita, em torno de 615 nm, proveniente do Eu3+ tem uma vida média muito maior, decaindo para o valor 1/e (= 37%) de sua intensidade inicial em aproximadamente 700 ms. Em um experimento de fluorescência resolvida no tempo (Figura 19-23), a luminescência é medida entre 200 e 600 ms após um curto pulso de laser em 340 nm. O pulso seguinte é disparado 1000 ms após o anterior e o ciclo é repetido cerca de 1000 vezes por segundo. Ao rejeitarmos as emissões até 200 ms após o pulso de excitação eliminamos a maior parte da fluorescência de fundo. A Figura 19-24 mostra como o Eu3+ pode ser incorporado a um imunoensaio. Um grupo quelante, que se liga a íons lantanídeos, é ligado ao anticorpo 2 como vemos na Figura 19-19. Enquanto ligado ao anticorpo, o íon Eu3+ apresenta uma luminescência fraca. Após completar todas as etapas da Figura 19-19, o pH da solução é diminuído na presença de um quelante solúvel que extrai o Eu3+ para a solução. Então, uma forte luminescência, a partir do íon metálico solúvel, é facilmente detectada pela técnica de medida de fluorescência resolvida no tempo.
FIGURA 19-23
Intensidade de emissão em um experimento de fluorescência resolvido no tempo.
FIGURA 19-24 O anticorpo 2 presente no teste imunoabsorvente da Figura 19-19 pode ser marcado com um íon Eu3+, que não é fortemente luminescente quando está imobilizado no anticorpo. Para completarmos a análise, o pH da solução é diminuído, de modo a liberar o íon Eu3+, que é então fortemente luminescente.
19-6
Sensores Baseados no Desaparecimento da Luminescência
Quando uma molécula absorve um fóton, ela é promovida a um estado excitado, a partir do qual ela pode perder a energia absorvida sob a forma de calor ou emitir um fóton de menor energia (Figura 18-16). O Boxe 19-1 descreve como a luz absorvida pode ser convertida em eletricidade. Nesta seção, veremos como moléculas excitadas podem ser usadas como sensores químicos (Figura 19-25). Supressão da Luminescência Suponha que a molécula M absorva luz e é promovida para o estado excitado M*:
FIGURA 19-25 O sensor de fibra óptica mede a concentração de O2 pela sua capacidade de extinção da luminescência do Ru(II) presente em uma das pontas da fibra. Um diodo emissor de luz na região do azul é o responsável pela energia de excitação. [© Cortesia de Ocean Optics, Dunedin, FL, Ocean Opyics, Inc.]
A velocidade com que M* é produzido, d[M*]/dt, é proporcional à concentração de M. A constante de velocidade, ka, depende da intensidade de iluminação e da absortividade de M. Quanto mais intensa a luz e mais eficientemente ela for absorvida, mais rapidamente será produzida a espécie M*. Após a absorção, M* pode emitir um fóton e retornar ao estado fundamental:
A velocidade com que M* desaparece é proporcional à concentração de M*. Por outro lado, a molécula excitada pode também perder energia sob a forma de calor:
Ainda há outra possibilidade, em que a molécula excitada pode transferir energia para uma outra molécula, chamada supressor (Q), fazendo com que o supressor alcance um estado excitado (Q*):
Supressão é o processo pelo qual a emissão de uma molécula excitada é diminuída devido à transferência de energia para uma outra molécula (o supressor).
O supressor excitado pode perder sua energia por meio de vários processos. Sob iluminação constante, o sistema logo alcança um estado estacionário, em que as concentrações de M* e M permanecem constantes. No estado estacionário, a velocidade de aparecimento de M* é igual à velocidade de desaparecimento de M*. A velocidade de aparecimento é
A velocidade de desaparecimento é a soma das velocidades de emissão, de desativação e de supressão: Velocidade de aparecimento de M* = ke[M*} + kd[M*] + kq[M*][Q]
Igualando as velocidades de aparecimento e de desaparecimento, temos
O rendimento quântico de um processo fotoquímico é a fração de fótons absorvidos que produz um resultado desejado. Se o processo ocorre toda vez que um fóton é absorvido, então o rendimento quântico é unitário. O rendimento quântico é um número que varia entre 0 e 1. O rendimento quântico para a emissão de M* é a velocidade de emissão dividida pela velocidade de absorção. Na ausência de supressor, definimos esse rendimento quântico, Φ0, como:
Substituindo o valor de ka[M] pela expressão dada na Equação 19-23 e fazendo com que [Q] = 0, obtemos uma expressão para o rendimento quântico da emissão no estado estacionário:
Rendimento quântico para emissão na ausência de supressor (Φ0).
Se [Q] ≠ 0, então o rendimento quântico para a emissão (ΦQ) é
A supressão reduz o rendimentro quântico de emissão (ΦQ < Φ0).
Nas experiências de supressão de luminescência, medimos a emissão na ausência e na presença de um supressor. As Equações 19-24 e 19-25 nos indicam que os rendimentos relativos são Gráfico da equação de Stern-Volmer:
A equação de Stern-Volmer mostra que, se medirmos a emissão relativa (Φ0/ΦQ) em função da concentração do supressor e traçarmos o gráfico dessa grandeza contra [Q], devemos obter uma reta. A grandeza Φ0/ΦQ, no lado esquerdo da Equação 19-26, é equivalente a I0/IQ, em que I0 é a intensidade de emissão na ausência do supressor e IQ é a intensidade de emissão na presença do supressor. Um Sensor Luminescente de O2 Intracelular Vamos restringir nossa discussão aos complexos de Ru(II), que absorvem fortemente a luz na região do visível e emitem eficientemente a luz com comprimentos de onda significativamente maiores do que eles absorvem, são estáveis por longos períodos de tempo e possuem um estado excitado de vida relativamente longa, cuja emissão é suprimida pelo O2 (veja a Prancha 19 do Encarte em Cores).28 Um complexo luminescente de rutênio largamente usado é o Ru(dpp)32+ × 2Cl−.
BOXE 19-1
Conversão de Luz em Eletricidade
Os desertos da Terra recebem 250-300 W/m2 de energia radiante proveniente do sol. Se a energia solar pudesse ser usada com 10% de e ciência, 5% da luz solar que cai nos desertos proporcionaria toda a energia que foi usada no mundo inteiro durante o ano de 2010. A célula solar de cristal de silício tem uma e ciência de conversão de energia solar em elétrica de ~25%, mas os altos custos limitam seu emprego. Fotocélulas de silício policristalino, menos dispendiosas, usadas em telhados, apresentam uma e ciência de ~15%. Células solares fotossensibilizadas por corantes, disponíveis comercialmente, apresentam e ciências de 15% ou mais.22 Células fotossensibilizadas por corantes podem constituir-se em um meio acessível de usar a luz de ambientes internos para substituir baterias em alguns equipamentos eletrônicos.
Célula solar fotossensibilizada por corante com eletrólito líquido. O novo tipo de célula solar fotossensibilizada por corante,23,24 mostrado na imagem a acima, apresenta uma e ciência de conversão de ~12%. A luz solar entra na célula (vista na gura a seguir), a partir da esquerda, por uma camada transparente eletricamente condutora, feita de óxido de estanho dopado com úor. O eletrodo é revestido com uma camada de ~5-10 μm de espessura de partículas de TiO2 de tamanho da ordem de nanômetros, formando uma camada de 10 μm de espessura, sendo que cada partícula encontra-se recoberta por um fotossensibilizador, apresentado na imagem b, que absorve a luz visível. As nanopartículas têm uma área super cial tão grande que a camada de fotossensibilizadores absorve a maior parte da luz visível que incide na célula.
Um fotossensibilizador de por rina contendo zinco na superfície de nanopartículas de TiO2 absorve luz solar. Quando o fotossensibilizador de Ru(II) absorve luz, ele é promovido a um estado excitado, a partir do qual consegue injetar um elétron dentro da banda de condução (Seção 15-8) do semicondutor de TiO2, em 107
Captura de elétrons
Tão baixo como 5 fg/s
104
Fotométrico de chama
104
103
Nitrogênio-fósforo
100 fg/s
105
Quimioluminescência de enxofre
100 fg/s (enxofre)
105
Fotoionização
25 pg a 50 pg (aromáticos)
>105
Absorbância no ultravioleta de vácuo
15–250 pg
103
Espectrometria de massa
25 fg a 100 pg
105
FONTE: A maioria dos dados provém de D. G. Westmoreland e G. R. Rhodes, “Detectors for Gas Chromatography”, Pure Appl. Chem. 1989, 61, 1147. Detector de Condutividade Térmica No passado, os detectores de condutividade térmica eram muito utilizados em cromatografia gasosa, pois são simples e universais. Eles respondem a todos os analitos. A condutividade térmica é útil para colunas empacotadas, mas ela é menos sensível do que outros detectores para colunas capilares (Tabela 24-3). O detector de condutividade térmica não altera a amostra, de modo que esse detector pode ser usado em conexão com outros detectores. Detector de condutividade térmica • faixa de resposta linear de 105 • H2 e He propiciam o menor limite de detecção • a sensibilidade aumenta com o aumento da corrente no filamento a diminuição da vazão a diminuição da temperatura no bloco do detector • não é destrutivo
A condutividade térmica mede a capacidade de uma substância em transportar calor de uma região quente para uma região fria (Tabela 24-4). Na detecção por condutividade térmica, o gás de arraste deve apresentar uma condutividade térmica muito diferente daquela dos analitos. O hélio é o gás de arraste mais usado no caso de um detector de condutividade térmica. Ele tem a segunda maior condutividade térmica entre os gases conhecidos (depois do H2), de modo que qualquer analito que se misture com o hélio diminui a condutividade térmica do fluxo gasoso. No detector da Figura 24-19, o eluato de uma coluna cromatográfica passa por um filamento de tungstênio-rênio aquecido. Quando o analito emerge da coluna, a condutividade do fluxo gasoso diminui, o filamento torna-se mais quente, sua resistência elétrica aumenta e a diferença de potencial elétrico presente nos terminais do filamento se modifica. O detector mede a variação da diferença de potencial. A condutividade térmica do eluato é medida em relação à condutividade do gás de arraste puro. Cada fluxo passa por um filamento diferente, ou alternadamente por um único filamento. A resistência do filamento da amostra é medida em relação à do filamento da referência. A coluna de referência diminui as diferenças de fluxo quando a temperatura varia. A sensibilidade aumenta com o quadrado da corrente do filamento. No entanto, a corrente máxima recomendada não deve ser ultrapassada a fim de evitar a queima do filamento. O filamento nunca deve permanecer ligado quando o gás de arraste não estiver passando.
Detector de ionização de chama • N2 produz o melhor limite de detecção • sinal é proporcional ao número de carbonos que são suscetíveis • limite de detecção 100 vezes melhor do que um detector de condutividade térmica • faixa de resposta linear de 107
A sensibilidade de um detector de condutividade térmica (mas não a do detector de ionização de chama, que iremos descrever a seguir) é inversamente proporcional à vazão: ele é mais sensível em uma vazão menor. A sensibilidade também aumenta com o aumento das diferenças de temperatura entre o filamento e o bloco vizinho na Figura 24-l9. O bloco deve, portanto, ser mantido na menor temperatura possível, que garanta a permanência de todos os solutos no estado gasoso.
FIGURA 24-19 Detectores de condutividade térmica. [Informação de J. V. Hinshaw, “The Thermal Conductivity Detector”, LCGC North Am. 2006, 24, 38.]
FIGURA 24-20
Detector de ionização de chama. [Informação de Varian Associates, Palo Alto, CA.]
FIGURA 24-21 Cromatogramas de extratos de tequila: (a) resposta de um detector de ionização de chama, e (b) resposta olfatométrica em uma coluna capilar de poli(etilenoglicol) (30 m × 0,53 mm, espessura de filme 1 μm, temperatura: 50-230°C a 3°C/min). Os picos numerados estão entre 175 constituintes identificados por espectrometria de massa e índice de retenção de Kovats. Muitos dos odores mais intensos da tequila, como o aroma enfumaçado do guaiacol em 34,5 min, são eluídos em tempos de retenção em que há pouca ou nenhuma resposta do detector de ionização de chama. Os índices de retenção baseados em ésteres etílicos de cadeia linear, mostrados no cromatograma b, permitem uma correlação dos picos com aqueles obtidos em outras colunas com outros detectores. [Dados de S. M. Benn e T. L. Peppard, “Characterization of Tequila Flavor by Instrumental and Sensory Analysis,” J. Agric. Food Chem. 1996, 44, 557.]
TABELA 24-4
Condutividade térmica a 273 K e 1 atm
Gás
Condutividade térmica J/(K · m · s)
H2
0,170
He
0,141
NH3
0,021 5
N2
0,024 3
C2H4
0,017 0
O2
0,024 6
CO
0,023 0
Ar
0,016 2
C3H8
0,015 1
CO2
0,014 4
Cl2
0,007 6
A energia, por unidade de área e por unidade de tempo, fluindo de uma região quente para uma região fria é dada por Fluxo de energia (J/m2 · s) = –κ (dT/dx) em que κ é a condutividade térmica [unidades = J/(K · m · s)] e dT/dx é o gradiente de temperatura (K/m). A condutividade térmica está para o fluxo de energia assim como o coeficiente de difusão está para o fluxo de massa. Detector de Ionização de chama No detector de ionização de chama na Figura 24-20, o eluato é queimado em uma mistura de H2 e ar.27 Os átomos de carbono (exceto aqueles provenientes de carbonilas ou carboxilas) produzem radicais CH; supõe-se que eles formam íons CHO+ e elétrons na chama: CH + O → CHO+ + e– Apenas 1 em cerca de 105 átomos de carbono produz um íon, mas a produção de íons é proporcional ao número de átomos de carbono suscetíveis que entram na chama. Na ausência de analitos, uma corrente de, aproximadamente, 10–14 A flui entre a extremidade do queimador e o coletor, que é mantido de +200 a 300 V em relação à extremidade do queimador. Os analitos eluídos produzem uma corrente de aproximadamente 10–12 A, que é convertida em diferença de potencial, amplificada, filtrada para remoção de ruídos de alta frequência e, finalmente, convertida em sinal digital. A resposta aos compostos orgânicos é diretamente proporcional à massa de soluto em cerca de sete ordens de grandeza. O limite de detecção é ~100 vezes menor que o do detector de condutividade térmica, e é reduzido em 50% quando se emprega N2 em vez de He como gás de arraste. Nas colunas capilares, o gás complementar N2 é adicionado ao eluato com H2 ou He, antes de entrar no detector. O detector de ionização de chama é suficientemente sensível para o uso em colunas capilares de cromatografia a gás com um pequeno diâmetro interno. Ele é sensível à maioria dos hidrocarbonetos e não apresenta sensibilidade a substâncias que não sejam hidrocarbonetos, como, por exemplo, H2, He, N2, O2, CO, CO2, H2O, NH3, NO, H2S e SiF4. A Figura 24-21 mostra um cromatograma de um extrato de tequila, em que o efluente proveniente da coluna foi dividido e enviado a dois detectores. O cromatograma mostrado na parte superior foi obtido com um detector de ionização de chama; o cromatograma inferior empregou uma detecção olfatométrica, na qual uma pessoa treinada cheira o efluente e classifica a intensidade e a característica do odor.29
FIGURA 24-22
Detector de captura de elétrons.
Detector de Captura de Elétrons A maioria dos outros detectores conhecidos, diferentes dos de ionização de chama e condutividade térmica, respondem somente a certas classes de analitos. O detector de captura de elétrons (Figura 24-22) é sensível a moléculas que contenham halogênios (como no Boxe 24-1), carbonilas conjugadas, nitrilas, nitrocompostos (Boxe 24-2) e compostos organometálicos, mas é relativamente insensível a hidrocarbonetos, álcoois e cetonas. Esse detector é particularmente útil para pesticidas clorados e fluorocarbonetos em amostras ambientais. O gás de arraste ou o gás complementar deve ser o N2 ou uma mistura de 5% de metano em argônio. A umidade diminui a sensibilidade. O gás que entra no detector é ionizado por elétrons de alta energia
(“partículas β”) emitidos de uma lâmina que contém o isótopo radioativo 63Ni. Os elétrons no plasma assim formado são atraídos para um anodo, produzindo uma pequena corrente, que é mantida estável por meio de pulsos de frequência variável aplicados entre o catodo e o anodo. Quando as moléculas do analito, com uma alta afinidade por elétrons, entram no detector, elas capturam alguns dos elétrons, reduzindo com isso a condutividade do plasma. O detector responde variando a frequência dos pulsos de potencial elétrico para manter a corrente constante. A frequência dos pulsos é o sinal do detector. O detector de captura de elétrons é extremamente sensível (Tabela 24-3), com um limite de detecção comparável com os detectores por espectrometria de massa com monitoramento seletivo de íons.
BOXE 24-2
Coluna Cromatográ ca em um Chip
Instrumentos de pequeno tamanho vêm sendo desenvolvidos para monitoramento ambiental, segurança doméstica, diagnóstico médico e ciência forense. A imagem a seguir mostra um canal em forma de espiral quadrada de 3 m de comprimento que foi inserido em um chip de silício, cujo lado mede 3,2 cm. Na gura a, o gás ui dentro da espiral branca e sai pela espiral colorida. A conexão entre os dois circuitos é feita no centro da estrutura, mostrada na gura b. Uma placa de vidro colado ao topo do chip de silício cria um canal selado para o gás, o qual é recoberto com uma camada de ∼0,15 μm de espessura de poli(dimetilsiloxano) com ligações cruzadas (Tabela 24-1). O gás de arraste para um chip concebido para pesquisa de campo é o ar, que foi previamente ltrado para remoção de água e de vapores orgânicos. Uma aplicação da cromatogra a a gás em um chip é o monitoramento de explosivos. 2,4,6-Trinitrotolueno (TNT) não pode ser detectado diretamente por causa da sua baixa volatilidade. Impurezas mais voláteis, como o 2,4- e o 2,6-dinitrotolueno (2,4-DNT e 2,6-DNT) são usados para triagem. Da mesma forma, o 2,3-dimetil-2,3-dinitrobutano (DMNB) é um traçador volátil adicionado a todos os explosivos não militares para permitir a sua detecção. Cromatógrafos a gás de pequeno tamanho oferecem portabilidade e velocidade ( CH3OH > tetraidrofurano
Ao separar ácidos ou bases, o componente aquoso da fase móvel deve conter um tampão. A retenção de compostos neutros praticamente não é afetada pela presença de tampões. Um tampão para CLAE deve apresentar uma capacidade tamponante adequada no pH desejado, ser solúvel na fase móvel, e ser compatível com o detector e o instrumento. A Tabela 25-8 apresenta tampões comuns para CLAE. Nas separações com detecção por ultravioleta e pH ≤8, os tampões usuais são fosfato, trifluoroacetato, formiato e acetato. A volatilidade dos tampões é importante com detectores como os de espectrometria de massa por electrospray ou evaporativo por espalhamento de luz. Os tampões contendo íons amônio são mais solúveis do que os tampões com íons potássio, que por sua vez são mais solúveis do que os tampões de íons sódio. Os tampões são mais solúveis em metanol, seguido por acetonitrila, e menos solúveis em tetraidrofurano. Para assegurar uma capacidade tamponante adequada, devemos considerar tanto o pKa como a concentração do tampão (a faixa 5-25 mM é típica).
FIGURA 25-30 Efeito do pH na retenção de fase reversa de (a) ácidos fracos e (b) bases fracas. Tampões diferentes são usados para cobrir a faixa de pH: ∘ pH 2,48, fosfato; + 5,01, acetato; □ 5,01, piperazina; ⋄ 7,90, fosfato; Δ 7,91, tris; × 10,76, aminobutano. O efeito do pH é muito maior do que o efeito do tipo de tampão. As separações foram conduzidas em uma coluna X-Terra MS-C18 de 15 cm de comprimento e 0,46 cm de diâmetro, a 25°C. As fases comuns de sílica estão limitadas à faixa de pH 2-8. [Dados de L. G. Gagliardi, C. B. Castells, C. Ràfols, M. Rosés e E. Bosch, “Modeling Retention and Selectivity as a Function of pH and Column Temperature in Liquid Chromatography,” Anal. Chem. 2006, 78, 5858.] Sintomas de um mau tamponamento • má reprodutibilidade do tempo de retenção • picos assimétricos em formato de barbatana de tubarão
Otimização de Separações Isocráticas de Ácidos e Bases As etapas na otimização da separação de ácidos e bases por cromatografia de fase reversa são semelhantes àquelas para compostos neutros, com algumas poucas diferenças importantes. Podemos usar tampões de pH distintos para controlar o grau de protonação dos analitos. A retenção muda drasticamente quando o pH está próximo ao valor do pKa de ácidos carboxílicos ou aminas (Figura 25-30). Para assegurar uma retenção forte e um método robusto, o pH deve se situar bem abaixo do valor do pKa de ácidos carboxílicos (4–5) ou bem acima do pKa das aminas (5–10). O pH elevado (>8) necessário para desprotonar a maioria das aminas exige colunas especiais para evitar a dissolução das partículas de sílica. O desenvolvimento do método geralmente começa com uma fase móvel de pH 2,5–3,0 usando tampão fosfato para detecção por ultravioleta ou formiato de amônio para detecção por espectrometria de massa. Começamos com um percentual elevado de B para assegurar que todos os compostos sejam eluídos em um tempo razoável, para em seguida ajustarmos a % de B para valores menores até que haja uma retenção razoável de todos os compostos. Caso haja picos que não se enquadram na faixa 0,5 ≤ k ≤ 20, faz-se necessário um gradiente de eluição. A retenção relativa pode ser muito bem ajustada por meio do pH, mas o ideal é que o pH do tampão esteja uma unidade de pH acima do pKa dos componentes críticos. Se o pH otimizado estiver próximo ao valor de pKa, alcança-se uma melhor reprodutibilidade de retenção por meio da preparação de tampões por massa ou volume, e não pelo ajuste do pH por meio de um peagâmetro.
TABELA 25-8 Tampão
Tampões Comuns em CLAE pKa fase aquosa
Faixa de pH de
Corte no ultravioleta
Comentários
tamponamento Ácido tri uoroacético (TFA)
0,3
Fosfato pKa1
2,1
(nm)* 210 (0,1%)
Par iônico, volátil
1,1–3,1
0,40 Use eluição isocrática se Δt/tG < 0,25 Se todos os picos são eluídos em uma pequena faixa de variação nas concentrações do solvente, então a eluição isocrática é recomendável. Se for necessária uma ampla faixa de concentrações do solvente, a eluição com gradiente é mais prática. Na Figura 25-31a, Δt/tG = 21,5/40 = 0,54 > 0,40. Portanto, a eluição com gradiente é recomendada. A eluição isocrática é possível, mas o tempo necessário na Figura 25-12 é longo demais em termos práticos. Se a eluição isocrática é indicada em função de Δt/tG < 0,25, então um bom solvente inicial é aquele com a composição necessária para o ponto na metade do intervalo de tempo Δt. Ou seja, se o primeiro pico é eluído em 10 min e o último pico em 20 min, um solvente isocrático razoável tem a composição definida como a do gradiente no instante de 15 min. Caso 0,25 ≤ Δt/tG ≤ 0,40, tanto a eluição isocrática como a eluição com gradiente podem ser apropriados. Outros fatores como o equipamento disponível e a complexidade da amostra influenciarão na escolha do tipo de eluição. Desenvolvimento de uma Separação com Gradiente Etapas no desenvolvimento de um método com gradiente: 1. Corremos um gradiente amplo (por exemplo, de B a 5% até 95%) em 40-60 min. A partir desta corrida cromatográfica, decidimos se a eluição com gradiente ou a eluição isocrática é melhor. 2. Se a eluição com gradiente for escolhida, suprimimos a sua ação antes do primeiro pico e então prosseguimos aplicando o gradiente até o último pico. O tempo de gradiente a ser utilizado é o mesmo que na etapa 1. 3. Se a separação na etapa 2 é aceitável, tentamos reduzir o tempo de gradiente para tornarmos a corrida cromatográfica mais rápida.
A primeira corrida cromatográfica deve examinar uma ampla faixa de força eluente, como a de B entre 10 e 90% em 40 min na Figura 25-31a. Por sorte, a primeira corrida na Figura 25-31 produziu uma separação satisfatória de todos os oitos picos. Podemos parar neste ponto se estivermos satisfeitos com um tempo de corrida cromatográfica de 36 min. Ao desenvolvermos um método com gradiente, a etapa seguinte é a de procurarmos espalhar mais os picos por meio de um gradiente menos pronunciado. Para um tempo de residência de 5 min, o perfil do gradiente da Figura 25-31a se assemelha ao da Figura 25-32. O pico 1 foi eluído em 14,0 min, quando o solvente continha 28% de B. O pico 8 foi eluído próximo de 35,5 min, em um valor de B de 71%. As regiões do gradiente de B entre 10 e 28% e de B entre 71 e 90% não são realmente necessárias. Logo, a segunda corrida podia ter sido feita com um gradiente entre 28 e 71% de B no mesmo tempo tG (40 min). As condições escolhidas para a corrida cromatográfica na Figura 25-31b foram entre 30 e 82% de B em 40 min. Este gradiente espalhou mais os picos e reduziu um pouco o tempo de corrida, de 40 para 32 min. Na Figura 25-31c, queremos ver se um gradiente mais pronunciado permite reduzir o tempo de corrida cromatográfica. Os limites do gradiente foram os mesmos do cromatograma b, mas tG foi reduzido para 20 min. Os picos 6 e 7 não estão completamente resolvidos com o tempo de gradiente menor. O cromatograma b representa um conjunto de condições razoáveis para a separação com gradiente. Se a separação na Figura 25-31b não fosse aceitável, podíamos tentar melhorá-la, reduzindo a vazão ou aplicando um gradiente segmentado, como o da Figura 25-14. O gradiente segmentado fornece uma composição de solvente apropriada para cada região do cromatograma. É facil realizarmos experimentos envolvendo a vazão e os perfis de gradiente. As maiores dificuldades para melhorar uma separação envolvem as trocas de solvente, o uso de colunas maiores, o emprego de tamanho de partícula menor na fase estacionária, ou a troca da fase estacionária. O Boxe 25-4 mostra como selecionar o tempo de gradiente (tG) e a escala de gradientes55 de um tamanho de coluna para outro. A ordem de eluição pode mudar quando as condições de gradiente são modificadas. Os gráficos de log k contra Φ, como da Figura 25-13, mostram se alterações na ordem de eluição podem ocorrer. Na amostra da Figura 25-13, todos os componentes respondem de forma semelhante às mudanças na fase móvel, como evidenciado pelas linhas praticamente paralelas. Não há mudanças na ordem de eluição na Figura 25-31. Por outro lado, a Figura 25-33 mostra um exemplo em que as retas do gráfico de log k contra Φ não são paralelas e se cruzam entre si, de modo que se observam mudanças na ordem de eluição quando as condições do gradiente são alteradas. O rastreamento da identidade dos picos por meio de suas áreas ou com um detector seletivo como a espectrometria de massa, ajuda no desenvolvimento de métodos com gradiente.
FIGURA 25-32 Gráfico mostrando o gradiente de solvente da Figura 25-31a. O gradiente começou no tempo de injeção (t = 0), mas o tempo de residência era de 5 min. Logo, o solvente foi B a 10% durante os primeiros 5 min. A seguir, a composição aumentou linearmente para 90% de B em 40 min. Após t = 45 min, a composição passou a ser mantida constante em 90% de B.
FIGURA 25-33 Efeito da vazão sobre a separação por gradiente de peptídeos de massas moleculares diferentes. A ordem de eluição dos peptídeos mais longos E e F muda em relação aos peptídeos mais curtos A e B quando as condições do gradiente do solvente são alteradas. [Dados de M. Gilar, H. W. Xie e J. Jaworkski, “Utility of Retention Prediction Model for Investigation of Peptide Separation Selectivity in Reversed-Phase Liquid Chromatography: Impact of Concentration of Trifluoroacetic Acid, Column Temperature, Gradient Slope and Type of Stationary Phase,” Anal. Chem. 2010, 82, 265.]
Nas separações de fase reversa, devem ser passados 10 a 20 volumes (Vm) do solvente inicial através da coluna após uma corrida para equilibrar a fase estacionária com o solvente para a próxima corrida. O equilíbrio pode demorar tanto quanto a separação. Sob certas circunstâncias, a coluna não precisa chegar ao equilíbrio com o solvente inicial para que se tenha uma repetibilidade de corrida a corrida.56 Volume de Residência e Tempo de Residência O volume entre o ponto em que os solventes são misturados e o início da coluna é chamado de volume de residência. O tempo de residência, tD, é o tempo necessário para o gradiente atingir a coluna. Em diferentes sistemas, os volumes de residência variam entre 0,5 e 10 mL. Para a Figura 25-32, o volume de residência é de 5 mL e a vazão é 1,0 mL/min. Portanto, o tempo de residência é igual a 5 min. Uma variação no solvente iniciada em 8 min não alcança a coluna antes de 13 min. As diferenças nos volumes de residência entre diferentes sistemas é uma importante razão para que as condições de separações com gradiente em um cromatógrafo não sejam necessariamente transferidas para outro. É muito útil citar o volume de residência de um sistema quando fazemos um relatório sobre uma separação com gradiente. Uma maneira para compensar o volume de residência é injetar a amostra no tempo tD, em vez de injetá-la no tempo t = 0. Para o gradiente na Figura 25-32, teria sido melhor injetar a amostra em t = 5 min, mas isso não foi feito. Podemos medir o volume de residência desconectando inicialmente a coluna e conectando o tubo de entrada diretamente ao tubo de saída. Colocamos água nos reservatórios A e B do sistema de distribuição de solvente. Adicionamos acetona a 0,1% v/v ao reservatório B. Programamos o gradiente para ir de 0 a 100% de B em 20 min e começamos o gradiente em t = 0. Com o
detector ajustado em 260 nm, a resposta ficará idealmente parecida à da Figura 25-34. O intervalo de tempo entre o início do gradiente e a primeira resposta no detector é o tempo de residência, tD.
FIGURA 25-34 Medida do tempo de residência usando um solvente que não absorve no reservatório A e um solvente com pouca absorção no reservatório B. O gradiente, de 0% a 100% de B, começa no tempo t = 0, mas não alcança o detector antes do tempo tD. A coluna é removida do sistema para essa medida. A resposta real será arredondada, ao invés das interseções agudas vistas nesta ilustração.
25-5
Use um Computador!
O desenvolvimento de um método analítico pode ser muito simplificado por simulações em computador usando programas disponíveis comercialmente,3,58 ou sua própria planilha eletrônica. Com os dados de um pequeno número de experimentos, podemos prever os efeitos da composição do solvente e da temperatura nas separações isocráticas ou com gradiente. Usando um computador, podemos estimar as condições ótimas em questão de horas, em vez de dias de trabalho. O Problema 25-46 apresenta um simulador de CLAE instrutivo, gratuito e disponível online.7
A base para a maioria das simulações de separações de fase reversa é o modelo empírico linear de força do solvente (Equação 25-4), o qual supõe uma relação logarítmica entre o fator de retenção, k, de um dado soluto e a composição da fase móvel, Φ A Figura 25-35 mostra as medidas para nove compostos na faixa de Φ entre 0,65 e 0,8 em metanol + água como eluente, em uma coluna de C18. Os parâmetros S e log kw na Equação 25-4 são, respectivamente, os coeficientes angulares e as interseções com o eixo y das retas da Figura 25-35. A Equação 25-4 não é exata para uma ampla faixa de composição de solvente (Φ). Na Figura 25-35, os autores variaram apenas Φ de 0,65 até 0,8. Quando extrapolamos além da faixa medida de Φ, estamos em uma região obscura. Os dados da Figura 25-35 foram obtidos em valores elevados de Φ, a fim de manter o tempo de corrida curto. Na faixa medida de Φ, o p-nitrofenol elui antes e o fenol é eluído em seguida. A extrapolação das retas indica que elas se cruzam em Φ = 0,61. Então, para Φ < 0,61, poderíamos prever que o fenol eluirá antes do p-nitrofenol. Para simular um cromatograma para uma composição isocrática de solvente, como no caso de Φ = 0,6 para CH3CN 60% em volume + H2O 40% em volume, para determinada coluna de CLAE, começamos com o tempo para que o solvente passe pela coluna (tm) = 1,85 min e o número de pratos (N) = 7 000. Então, para um dado valor de força do solvente Φ, o fator de retenção, k, para cada componente, é calculado a partir da expressão
O tempo de retenção, tr, é determinado rearranjando a Equação 23-16 para a forma:
FIGURA 25-35 Modelo linear de força do solvente. Gráfico de log k contra Φ para nove compostos orgânicos eluídos em uma coluna de C18 com metanol:água. [Dados de R. A. Shalliker, S. Kayillo e G. R. Dennis, “Optimizing Chromatographic Separation: An Experiment Using an HPLC Simulator”, J. Chem. Ed. 2008, 85, 1265.]
Assumindo que os picos têm uma forma gaussiana, o desvio-padrão da banda na Figura 23-9 é encontrado por meio de um rearranjo da Equação 23-30:
A planilha eletrônica na Figura 25-36 simula uma separação isocrática. As células em destaque necessitam de dados. O tempo na célula C7 fornece o intervalo entre os pontos calculados no cromatograma. As áreas relativas nas células E14:E22 são arbitrárias. Podemos fixar todas elas em 1 ou então tentar variá-las para chegar às alturas dos picos em um cromatograma experimental. Os parâmetros lineares de força do solvente, log kw e S nas células C14:D22 provêm de medidas experimentais na Figura 25-35. A planilha calcula k nas células F14:F22 por meio da Equação 25-8. Ela calcula tr nas células G14:G22 com a Equação 25-9 e o desvio-padrão de cada pico gaussiano por meio da Equação 25-10.
FIGURA 25-36
Planilha eletrônica para a simulação de uma separação cromatográfica isocrática.
A forma de cada pico cromatográfico gaussiano é dada pela expressão
em que as áreas relativas são os números que especificamos nas células E14:E22, t é o tempo, tr é o tempo de retenção nas células G14:G22, e σ é o desvio-padrão nas células H14:H22. O sinal do detector, começando na célula E30, é a soma dos nove termos obtidos com a Equação 25-11 – um termo para cada composto presente na mistura. Cada composto tem seu próprio s, tr e área relativa. A planilha calcula o sinal do detector para tempos a partir de t = 0 até após a eluição do último pico. A Figura 25-37 mostra as simulações feitas com a planilha eletrônica. Em uma força de solvente Φ = 0,75, todos os nove compostos eluem em 6 min, mas a resolução dos picos 5, 6 e 7 é ruim. Em Φ = 0,60, os picos 1 e 2 se sobrepõem, e os picos 5 e 6 mudaram sua ordem de eluição. Em Φ = 0,56, todos os picos são resolvidos e o último pico elui em 22 min. A composição do solvente Φ = 0,56 (56% em volume de metanol/44% em volume de tampão aquoso) não é suficiente o bastante para tornar o método cromatográfico robusto. Uma separação robusta é aquela que mantém uma resolução adequada a despeito de pequenas mudanças nas condições, como F, pH e temperatura. A resolução entre picos próximos é 1,5 para os picos 1 e 2, 1,8 para os picos 6 e 5, e 1,3 para os picos 5 e 7. Para uma separação robusta, desejamos que a resolução mínima seja 2,0, mas esse valor nem sempre pode ser atingido. Na composição do solvente Φ = 0,54, a resolução dos picos 2 e 3 e dos picos 6 e 5 é superior a 2,0, mas a resolução dos picos 5 e 7 foi reduzida a 1,2. O pico 9, que não aparece no cromatograma, tem um tempo de retenção de 26 min. A composição Φ = 0,56 parece ser mais ou menos o que se pode fazer com a mistura metanol + água na coluna empregada. Para se atingir uma melhor resolução, podemos reduzir a vazão, usar partículas de tamanhos menores, aumentar o comprimento da coluna ou mudar a temperatura, o solvente ou a fase estacionária. Resolução
(Equação 22-23)
Δtr = diferença entre tempos de retenção wméd = largura média na base do pico = 4σ
Com base em poucos experimentos para determinar S e log kw, podemos usar a planilha eletrônica para estimar que Φ = 0,56 é a condição ótima a ser tentada no laboratório. A composição do solvente Φ = 0,56 está fora da faixa medida na Figura 25-35. A única maneira de saber se as curvas da Figura 25-36 permanecem lineares até chegarem em Φ = 0,56, é fazer o experimento. Com apenas um pouco mais de complexidade, o modelo linear de força do solvente nos permite simular e otimizar separações com gradiente.3 Com as ferramentas apresentadas neste capítulo, podemos em geral encontrar um meio de separar os componentes de uma mistura caso ela não tenha um número não muito grande de compostos. Se a cromatografia de fase reversa falhar, a cromatografia de fase normal ou um dos métodos descritos no Capítulo 26 podem ser apropriados. O desenvolvimento de um método é em parte ciência, em parte arte e em parte sorte.
FIGURA 25-37 Cromatogramas simulados com o auxílio da planilha eletrônica da Figura 25-36. Os picos correspondem a: (1), pnitrofenol; (2), fenol; (3), p-cresol; (4), 2,5-xilenol; (5), benzeno; (6), benzoato de metila; (7), anisol; (7), fenetol; (9), tolueno.
BOXE 25-4
Escolhendo as Condições do Gradiente e a Escala do Gradiente
Agora, vamos apresentar as equações que nos permitem selecionar condições de gradiente linear sensíveis, e a escala dos gradientes de uma coluna para outra. Para a eluição com gradiente, o fator de retenção médio, k*, para cada soluto, é o valor de k quando o soluto se situa no meio da coluna:
em que tG é o tempo de gradiente (min), F é a vazão (mL/min), ΔΦ é a mudança da composição do solvente durante o gradiente, Vm é o volume da fase móvel na coluna (mL), e S é o coe ciente angular no modelo linear de força do solvente (Equação 25-4). Iremos usar o valor de S = 4 como representativo para a discussão que se segue.
Em uma eluição isocrática, um fator de retenção k ≈ 5 proporciona uma separação da frente de solvente e não requer um tempo excessivo. Para uma eluição com gradiente, k* ≈ 5 é uma condição de partida razoável. Vamos calcular um tempo de gradiente sensível para o experimento na Figura 25-31a, no qual escolhemos um gradiente entre 10% e 90% de B (ΔΦ = 0,8), em uma coluna de 0,46 × 25 cm, eluída com uma vazão de 1,0 mL/min. A partir da Equação 25-5, Vm ≈ = (25 cm) (0,46 cm)2/2 = 2,65 mL. Calculamos o tempo de gradiente requerido rearranjando a Equação 25-12:
Um tempo de gradiente razoável poderia ser 42 min. Na Figura 25-31a, tG é 40 min, dando k* = 4,7. Na Figura 25-31b, mudamos o gradiente para ΔΦ = 0,52, fornecendo uma melhor separação:
A separação é pior na Figura 25-31c, na qual k* = 3,6. Se obtivermos sucesso na separação com gradiente e quisermos transferi-la de uma coluna 1 para uma coluna 2, onde as dimensões são diferentes, as relações de escala são:
em que F é a vazão volumétrica (mL/min), m é a massa da amostra, tD é o tempo de residência antes de o gradiente atingir a coluna, e V o volume total da coluna. O tempo de gradiente, tG, não pode ser mudado. Na Figura 25-32, o tempo de residência tD = 5 min é devido ao volume de residência entre o misturador e a coluna. A Equação 25-14 nos diz para trocar a vazão volumétrica, a massa de amostra e o tempo de residência em proporção ao volume da coluna. Se o volume de residência é pequeno em comparação com o volume de solvente na coluna Vm, o tempo de residência tD pode não ter importância. Contudo, se o volume de residência é grande, ele se torna um importante fator sobre o qual precisamos ter um pequeno controle. Suponha que temos um gradiente otimizado em uma coluna de 0,46 × 25 cm e queremos transferi-lo para uma coluna de 0,21 × 10 cm. O quociente V2/V1 é (πr2L)2/(πr2L)1, onde r é o raio da coluna e L é o comprimento da coluna. Para estas colunas, V2/V1 = 0,083. A Equação 25-14 nos sugere diminuir a vazão volumétrica, a massa de amostra e o tempo de residência por 0,083 vez os valores utilizados para a coluna grande. O tempo de gradiente não pode ser mudado. Quando fazemos estas mudanças, descobrimos que k* é o mesmo para ambas as colunas. Se mudarmos uma condição que afeta k*, precisamos fazer uma mudança compensatória para restaurar k*. Por exemplo, a Equação 25-12 nos indica que se escolhermos dobrar tG, precisamos diminuir a vazão pela metade, de maneira que o produto tGF seja constante e k* permaneça constante. Termos Importantes cromatografia de fase normal cromatografia de fase reversa cromatografia de interação hidrofílica cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) cromatografia líquida de ultraeficiência derivatização detector de índice de refração detector de ultravioleta detector eletroquímico detector evaporativo por espalhamento de luz detector por aerossol carregado eluição com gradiente eluição isocrática fase estacionária quimicamente ligada fluido supercrítico força eluente
índice de polaridade partícula superficialmente porosa partículas microporosas pré-coluna substância hidrofílica volume de residência volume morto
Resumo Na cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), o solvente é bombeado a uma alta pressão através de uma coluna que contém partículas da fase estacionária com diâmetros de 1,5 a 5 μm. Quanto menor for o tamanho da partícula, mais eficiente será a coluna, porém maior será a resistência à vazão. Partículas de sílica microporosa com uma fase líquida ligada covalentemente, como os grupos octadecil (—C18H37), são as mais comuns. O índice de polaridade mede a capacidade de um solvente em dissolver moléculas polares. A força eluente mede a capacidade de determinado solvente de eluir solutos em uma coluna. Na cromatografia de fase normal e na cromatografia de interação hidrofíbica a fase estacionária é polar e usamos um solvente menos polar. A força eluente aumenta com o aumento da polaridade do solvente. A cromatografia de fase reversa é feita com uma fase estacionária apolar e um solvente polar. A força eluente aumenta com a diminuição da polaridade do solvente. A maioria das separações de compostos orgânicos pode ser feita em colunas de fase reversa. Os compostos polares que não são retidos em colunas de fase reversa, podem ser separados por cromatografia de interação hidrofílica. Os compostos polares que apenas se dissolvem em solventes orgânicos podem ser separados por cromatografia de fase normal. A cromatografia de fase normal ou a de carbono grafítico poroso é eficiente na separação de isômeros. Podemos usar fases quirais para separar isômeros ópticos. Se uma solução contendo um solvente orgânico e água for usada em cromatografia de fase reversa, a força eluente aumenta com o aumento da porcentagem de solvente orgânico. Se o solvente tiver uma composição fixa durante todo o tempo de eluição, o processo é chamado eluição isocrática. Na eluição com gradiente, a força eluente aumenta durante a cromatografia com o aumento da porcentagem do solvente forte (menos polar). Uma pequena pré-coluna contendo a mesma fase estacionária da coluna analítica é colocada antes desta última de modo a evitar que ela seja contaminada por partículas ou por solutos que se adsorvem irreversivelmente. Uma bomba de alta qualidade fornece um fluxo homogêneo de solvente. A válvula de injeção permite a introdução rápida e precisa da amostra. A melhor instalação para a coluna é dentro de um forno, de modo a manter uma temperatura reprodutível. A eficiência da coluna aumenta em temperatura elevada, pois aumenta a velocidade de transferência de massa entre as fases. A detecção por espectrometria de massa fornece informação qualitativa e quantitativa para cada substância eluída a partir da coluna. A detecção por ultravioleta é mais comum e pode fornecer informação qualitativa caso um conjunto de fotodiodos seja usado para registrar um espectro inteiro de cada analito eluído. A detecção por índice de refração tem resposta universal, porém não é muito sensível. A detecção evaporativa por espalhamento de luz dá respostas em função das massas de cada soluto não volátil. Os detectores eletroquímicos e de fluorescência são de grande sensibilidade, mas são seletivos. Na cromatografia de fluido supercrítico, os solutos não voláteis são separados por um processo cuja eficiência, velocidade e detectores se assemelham muito mais à cromatografia gasosa do que a cromatografia líquida. As etapas no desenvolvimento de um método são: (1) determinar quais os objetivos da análise, (2) selecionar um método de preparação da amostra, (3) escolher um detector e (4) usar um procedimento sistemático para selecionarmos o solvente para a eluição isocrática ou com gradiente. A acetonitrila, o metanol e o tetraidrofurano aquosos são normalmente os solventes para as separações de fase reversa. A retenção é otimizada variando-se a quantidade de solvente orgânico na fase móvel. A retenção relativa é regulada por um ajuste cuidadoso da concentração do solvente orgânico, variação da temperatura e pela escolha de um novo solvente orgânico ou uma nova coluna. O comprimento da coluna e o tamanho de partícula podem ser modificados para aumentar a eficiência ou a velocidade da análise. Os critérios para uma separação bem-sucedida são 0,5 ≤ k ≤ 20, resolução ≥ 2,0, pressão operacional ≤ 15 MPa (para instrumentos convencionais) e fator de assimetria na faixa de 0,9 a 1,5. A retenção de ácidos ou bases fracos é controlada pelos seus estados de ionização, os quais são controlados pelo pH da fase móvel. Na seleção de uma fase móvel tamponada, devemos considerar o pH desejado, a capacidade tamponante, a solubilidade e a compatibilidade com a detecção. Um gradiente amplo é uma boa escolha inicial para determinarmos se usamos eluição isocrática ou eluição com gradiente. Se não for possível a separação de todos os componentes na faixa 0,5 ≤ k ≤ 20, é necessário uma eluição com gradiente. Os fatores de retenção medidos em algumas composições de solvente podem ser ajustados pelo modelo linear de força do solvente, para que seja possível a otimização de uma separação com o auxílio de um computador.
Exercícios
25-A. Uma mistura conhecida de compostos A e B produziu os seguintes resultados de CLAE: Composto
Concentração (mg/mL na mistura)
Área do pico (unidades arbitrárias)
A
1,03
10,86
B
1,16
4,37
Uma solução foi preparada por meio da mistura de 12,49 mg de B com 10,00 mL de uma amostra desconhecida, contendo apenas A, e diluindo a mistura formada a 25,00 mL. Foram observadas áreas de picos de 5,97 e 6,38 para A e B, respectivamente. Determine a concentração de A (mg/mL) na amostra desconhecida. 25-B. Uma fase estacionária quimicamente ligada usada para a separação de isômeros ópticos possui a estrutura
Para resolvermos os enantiômeros de aminas, álcoois ou tióis, os compostos são inicialmente derivatizados com um grupo nitroaromático, que aumenta suas interações com a fase quimicamente ligada e faz com que eles sejam observáveis com um detector espectrofotométrico.
Quando a mistura é eluída com 2-propanol a 20% em volume de hexano, o enantiômero R é eluído antes do enantiômero S, com os seguintes parâmetros cromatográficos: Resolução
= 7,7 Retenção relativa (α) = 4,53
k para o isômero (R) = 1,35 tm 1,00 min em que wméd é a largura média dos dois picos gaussianos nas suas bases.
(a) Determine t1, t2 e wméd, em unidades de minutos.
(b) A largura de um pico a meia altura é w1/2 (Figura 23-9). Se o número de pratos teóricos para cada pico é o mesmo, determine w1/2 para cada pico. (c) A área de um pico gaussiano é 1,064 × altura do pico × w1/2. Admitindo que as áreas sobre as duas bandas devem ser iguais, determine as alturas relativas dos picos (alturaR/alturaS). 25-C. Dois picos emergem de uma coluna cromatográfica como esboçado na ilustração vista a seguir.
De acordo com a Equação 23-33, a resolução é dada por
em que N é o número de pratos teóricos e a é a retenção relativa não ajustada (Equação 23-20), e k2 é o fator de retenção para o componente mais retido (Equação 23-16). (a) Se você diminui a quantidade de solvente orgânico na fase móvel, você aumentará a retenção. Esboce o cromatograma se os fatores de retenção aumentam, mas N e α permanecem constantes. (b) Se você muda o tipo de solvente ou a fase estacionária, você mudará a retenção relativa. Esboce o cromatograma se α aumenta, mas N e k1 permanecem constantes. (c) Se você diminui o tamanho da partícula ou aumenta o comprimento da coluna, você pode aumentar o número de pratos. Esboce o cromatograma se N aumenta (i) por meio da redução do tamanho de partícula, e (ii) pelo aumento do comprimento a coluna. Admita que α e k2 permanecem constantes. 25-D. Após a descoberta, em 2008, da presença de melamina e de ácido cianúrico, compostos venenosos, em amostras de leite na China (Boxe 11-3), houve uma intensa atividade no sentido de desenvolver métodos analíticos para determinar essas substâncias. Um método analítico para leite envolve o tratamento de um volume de leite com nove volumes de H2O:CH3CN (20:80 v/v) para a precipitação das proteínas. A mistura é centrifugada por 5 min para remover o precipitado. O líquido sobrenadante é filtrado através de um filtro de 0,5 μm, e injetado em uma coluna de um cromatógrafo de interação hidrofílica (fase estacionária: TSKgel Amide-80). Os produtos são identificados via espectrometria de massa por monitoramento seletivo de reações (Seção 22-5). A melamina é determinada no modo íon positivo por meio da transição m/z 127 → 85. O ácido cianúrico é determinado no modo íon negativo por meio da transição m/z 128 → 42. (a) Escreva as fórmulas para os quatro íons e proponha estruturas para todos eles. (b) Apesar de o leite corresponder a uma mistura complexa, apenas um único pico definido é observado para a melamina e para o ácido cianúrico intencionalmente adicionados ao leite. Explique por quê. 25-E. O gráfico mostrado a seguir apresenta dados de retenção para uma coluna de C8-sílica, tendo uma mistura acetonitrila/água como fase móvel.
Gráfico de retenção pelo modelo linear de força do solvente em uma coluna de C8-sílica (15 × 0,46 cm, partículas de 5 μm, 1,0 mL/min, pressão = 7-8 Mpa). [Dados de J. H. Zhao e P. W. Carr, “An Approach to the Concept of Resolution Optimization through Changes in the Effective Chromatographic Selectivity,” Anal. Chem. 1999, 71, 2623.]
(a) Qual é a composição da fase móvel que fornece a maior retenção (k) para os componentes? A menor retenção? Coeluição (k igual) de dois componentes? (b) Preveja o tempo de retenção de cada pico em duas fases móveis, uma contendo 40% e a outra 60% de acetonitrila. Desenhe um cromatograma (um “diagrama de traço”, representando cada pico como uma linha vertical) da separação em cada composição da fase móvel. (c) A fase móvel contendo acetonitrila a 60% fornecerá uma separação adequada? (d) Admitindo que os picos sejam gaussianos, a separação por meio de uma fase móvel contendo 60% de acetonitrila possui os atributos de uma boa separação?
Problemas Cromatografia Líquida de Alta Eficiência 25-1. (a) Por que a força eluente aumenta quando o solvente se torna menos polar na cromatografia de fase reversa, enquanto a força eluente aumenta quando o solvente se torna mais polar na cromatografia de fase normal? (b) Qual é o tipo de gradiente usado na cromatografia de fluido supercrítico? 25-2. Por que as forças eluentes relativas dos solventes dependem pouco da natureza do soluto na cromatografia de adsorção? 25-3. Na cromatografia de interação hidrofílica (CIH), por que a força eluente aumenta com a elevação da fração (volumétrica) de água no solvente? 25-4. (a) Por que é necessária alta pressão aproximada na CLAE? (b) Para um determinado comprimento de coluna, por que as menores partículas dão números de pratos maiores? (c) O que é uma fase ligada quimicamente na cromatografia líquida? 25-5. (a) Use a Equação 25-1 para estimar o comprimento da coluna necessário para alcançar 1,0 × 104 pratos se o tamanho das partículas da fase estacionária for 10,0 μm, 5,0 μm, 3,0 μm e 1,5 μm. (b) Se o tempo de retenção foi de 20 min na coluna cujo tamanho das partículas é 10 μm, qual seria o tempo de retenção nas colunas com partículas de tamanho 5,0 μm, 3,0 μm e 1,5 μm de acordo com (a)? Admita que a vazão é constante para todas as colunas. (c) Use a Equação 25-2 para estimar a pressão das colunas mostradas em (a) sabendo-se que a pressão na coluna contendo partículas de tamanho 10 μm era 4,4 Mpa. (d) Se a vazão é 2,0 mL/min, qual é a largura da linha de base (em tempo e volume) para os picos nas colunas contendo partículas de tamanho 10,0 μm, 5,0 μm, 3,0 μm e 1,5 μm, listadas em (a)? (e) Qual dessas configurações de coluna exigirá um equipamento de CLUE? 25-6. (a) Por que as partículas para CLAE são porosas? (b) Por que as partículas com poros na faixa 60–120 Å são usadas para moléculas pequenas, enquanto fases estacionárias com poros grandes de 300 Å são usadas para separar polipeptídeos e proteínas?
25-7. Se uma coluna de 15 cm de comprimento tem uma altura do prato de 5,0 μm, qual será a meia largura (em segundos) de um pico eluído em 10,0 min? Se a altura do prato = 25 μm, qual será a w1/2? 25-8. (a) A CLUE pode propiciar uma resolução extraordinária quando a corrida é lenta em colunas longas, ou separações rápidas com resolução aceitável em corridas rápidas em colunas curtas. A corrida cromatográfica do fármaco acetaminofeno em uma coluna de CLUE C18 com 50 mm de comprimento e 2,1 mm de diâmetro, apresentou um tempo de retenção de 0,63 min e uma largura à meia-altura de 2,3 s. Determine o número de pratos e a altura do prato. Quantas partículas de diâmetro 1,7 μm, acomodadas lado a lado, são iguais a um prato teórico? (b) Com base na Figura 25-3, esperamos uma altura de prato ótima de 4 μm. Quantas partículas, acomodadas lado a lado, são iguais a um prato teórico? Você acha que a coluna em (a) está sendo empregada para resolução máxima ou para velocidade máxima? 25-9. Por que as fases estacionárias de sílica geralmente estão limitadas a operar na faixa de pH entre 2 e 8? Por que a sílica na Figura 25-8 tem a estabilidade aumentada em pH baixo? 25-10. Como aditivos tais como a trietilamina reduzem a formação de cauda de certos solutos? 25-11. Os picos da CLAE geralmente não têm um fator de assimetria A/B, como na Figura 23-14, fora da faixa entre 0,9 e 1,5. (a) Esboce a forma de um pico com uma assimetria de 1,8. (b) O que você pode fazer para corrigir a assimetria? 25-12. (a) Esboce um gráfico da equação de van Deemter (altura do prato versus vazão). Como seria a curva se o termo correspondente aos caminhos múltiplos fosse igual a 0? E se o termo de difusão longitudinal fosse 0? E se o termo do tempo de equilíbrio finito fosse 0? (b) Explique por que a curva de van Deemter para partículas de 1,8 μm, na Figura 25-3, quase não varia em vazões elevadas. O que você pode dizer a respeito de cada um dos termos na equação de van Deemter para as partículas com 1,8 μm? (c) Explique por que as partículas superficialmente porosas de 2,7 μm permitem separações similares àquelas obtidas com partículas totalmente porosas de 1,8 μm, mas as partículas superficialmente porosas exigem uma pressão menor. 25-13. A figura a seguir mostra a separação de dois enantiômeros em uma fase estacionária quiral.
Separação de enantiômeros da Ritalina por CLAE com uma fase estacionária quiral. [Dados de R. Bakhtiar, L. Ramos e F. L. S. Tse, “Quantification of Methylphenidate in Plasma Using Chiral Liquid. Chromatography/Tandem Mass Spectrometry: Application to Toxicokinetic Studies”, Anal. Chem. Acta 2002, 469, 261.]
(a) A partir de tr e w1/2, determine N para cada pico. (b) A partir de tr e w1/2, determine a resolução. (c) Dado que tm = 1,62 min, utilize a Equação 22-30 com o N médio para prever a resolução. 25-14. (a) De acordo com a Equação 25-2, se todas as condições são mantidas constantes, exceto o tamanho de partícula, que é reduzido de 3 μm para 0,7 μm, por qual fator a pressão deve ser aumentada para manter constante a vazão linear? (b) Se todas as condições são constantes, exceto a pressão, por qual fator a vazão linear será aumentada se a pressão na coluna for aumentada por um fator de 10?
(c) Se utilizarmos partículas de 0,7 μm em uma coluna com 50 μm de diâmetro × 9 cm de comprimento, o aumento da pressão de 70 Mpa para 700 Mpa diminui, aproximadamente, o tempo de análise por um fator de 10, enquanto aumenta o número de pratos teóricos de 12.000 para 45.000.59 Explique por que pequenas partículas permitem uma vazão 10 vezes mais rápida sem perda de eficiência, ou, como neste caso, com aumento de eficiência. 25-15. Usando a Figura 25-17, sugira qual tipo de cromatografia líquida você usaria para separar os compostos em cada uma das seguintes categorias: (a) Massa molecular 99,9% dos metais alcalinos e alcalinoterrosos são removidos. O eluato é analisado por um espectrômetro de massa-plasma acoplado indutivamente. Pré-concentração: processo que consiste em concentrar componentes-traço de uma amostra antes de sua análise.
FIGURA 26-3 A resina Nobias Chelate PA1 usada para pré-concentrar metais-traço da água do mar contém grupos de ácido etilenodiaminotriacético e iminodiacético ligados covalentemente à resina polimérica de metacrilato hidrofílico. Os gráficos mostram a fração dos íons de metal retidos pela resina em função do pH. O Mn2+ e o Al3+ são bem retidos em pH 6. O Na+ e o Ca2+ são fracamente retidos em pH 6. [Dados de Y. Sohrin, S. Urushihara, S. Nakatsuka, T. Kono, E. Higo, T. Minami, K. Norisuye e S. Umetani, “Multielemental Determination of GEOTRACES Key Trace Metals in Seawater by ICPMS after Preconcentration Using an Ethylenediaminetriacetic Acid Chelating Resin”, Anal. Chem. 2008, 80, 6267.]
A troca iônica é muito usada na purificação de água. A água deionizada é preparada passando-se a água por uma resina de troca aniônica na sua forma OH– e por uma resina de troca catiônica na sua forma H+. Suponha, por exemplo, que Cu(NO3)2 esteja presente na solução. A resina de troca catiônica se liga ao Cu2+, trocando-o por 2H+. A resina de troca aniônica se liga ao , trocando-o por OH–. O eluato obtido é então uma água pura: Os produtos que retiram a dureza de águas usam trocadores de íons para remover os íons Ca2+ e Mg2+ da água “dura” (Boxe 122). No Antigo Testamento (Êxodo 15:25), Moisés usou madeira apodrecida para obter uma água salobra potável. A celulose carboxilada é um trocador de cátions efetivo que pode remover cátions amargos da água.
Em muitos prédios onde existem laboratórios, a água encanada é inicialmente purificada por um filtro de carvão ativado, que adsorve material orgânico, e posteriormente por osmose reversa. Nesse processo, a água é forçada por pressão a passar por uma membrana com poros através dos quais apenas moléculas um pouco maiores que a H2O conseguem passar. A maioria dos íons não consegue passar através dos poros, pois seus raios hidratados são maiores que o tamanho dos poros. A osmose reversa remove cerca de 95 a 99% dos íons, moléculas orgânicas, bactérias e partículas da água. A água ultrapura deve ser usada imediatamente. Contaminação a partir dos recipientes de armazenamento e o equilíbrio com o CO2 atmosférico rapidamente degradam a resistividade para ~ 1 Mohm · cm.
Muitos laboratórios dispõem de equipamentos para obtenção de água ultrapura, preparada por processos que purificam ainda mais a água depois da osmose reversa. Neste caso, a água volta a passar por outro filtro de carvão ativado e então através de vários cartuchos contendo resinas trocadoras de íons, que convertem os íons para H+ e OH–. A água ultrapura resultante tem uma resistividade (Capítulo 15, nota 41) de 180.000 ohm · m (18 Mohm · cm) com concentrações de íons, individualmente, inferiores a 1 ng/mL (1 ppb).6 A cromatografia de troca catiônica pode ser usada para separar íons enantioméricos (isômeros que são a imagem especular um do outro) de complexos de metais catiônicos por eluição com um enantiômero do íon tartarato.7 O tartarato tem uma constante de formação de par iônico diferente com cada cátion enantiômero. Portanto, ele elui da coluna um cátion enantiômero antes do outro. Na indústria farmacêutica as resinas trocadoras iônicas são usadas para estabilização de fármacos para ajudar na desintegração de comprimidos. Trocadores iônicos são utilizados também para mascarar paladares, para liberação controlada de produtos, como produtos tópicos para aplicação na pele e na aplicação de produtos nasais e oftálmicos.8 Separação Simultânea de Ânions e Cátions em Uma Coluna A Seção 25-1 descreveu a cromatografia por interação hidrofílica (CIH) com uma fase estacionária polar e uma fase móvel orgânico-aquosa mista. A fase estacionária zwiteriônica ligada na Figura 25-16 tem cargas fixas positivas e negativas e é útil para a separação simultânea de cátions e ânions. A CIH usa um eluente misto orgânico-aquoso. O gradiente na Figura 26-4 vai de 78% em volume a 60,5% em volume de solvente orgânico. A força do eluente aumenta à medida que a fração de acetonitrila diminui. O detector de aerossol carregado (Figura 25-24) responde a praticamente a todos analitos e é compatível com uma eluição por gradiente.
FIGURA 26-4 Separação de cátions e ânions em uma fase estacionária zwiteriônica de 5 μm ZIC-HILIC (Figura 25-16, Tabela 253) usando um detector de aerossol carregado. A coluna (150 × 4,6 mm) contendo a fase estacionária com diâmetro de 5 μm foi eluída com um gradiente de 20-70% de B em 26 min com uma vazão de 0,5 mL/min a 30°C. Solvente A: 15% vol de acetato de amônio 100 mM (pH = 4,68) em água, 5% de metanol, 20% de 2-propanol, 60% de acetonitrila. Solvente B: 50% vol de acetato de amônio (pH = 4,68) em água, 5% de metanol, 20% de 2-propanol, 25% de acetonitrila. [Dados de M. Swartz, “Ion Chromatrography: An Overview and Recent Developments” LCGC North Am. 2010, 28, 530.]
26-2
Cromatogra a Iônica
A cromatografia iônica, uma versão de alto desempenho da cromatografia por troca iônica, tornou-se o método ideal para a análise de ânions.9 Ela é usada na indústria de semicondutores para monitorar a presença de ânions e cátions em níveis de 0,1 ppb na água deionizada. Cromatogra a Aniônica e Catiônica com Supressão Iônica Na cromatografia aniônica com supressão iônica (Figura 26-5a), uma mistura de ânions é separada por troca iônica e detectada por condutividade elétrica. A principal característica da cromatografia com supressão iônica é a remoção do eletrólito indesejado antes da medida da condutividade. A título de ilustração, consideremos uma amostra contendo NaNO3 e CaSO4 injetada em uma coluna de separação — uma coluna de troca aniônica na forma de hidróxido — seguida pela eluição com K+OH–. O eo entram em equilíbrio com a resina e são deslocados lentamente pelo eluente OH–. Os cátions Na+ e Ca2+ não ficam retidos e simplesmente são eliminados por lavagem. Após determinado período de tempo, o K+ e o 2K+ são eluídos da coluna de separação, como vemos no gráfico superior da Figura 26-5a. Essas espécies não são facilmente detectáveis, pois o solvente contém uma alta concentração de K+OH–, cuja alta condutividade obscurece as condutividades das espécies do analito. Para superar esse problema, passamos a solução por um supressor, um sistema em que os cátions são trocados pelo H+. Neste exemplo, o H+ troca com o K+ através de uma membrana de troca catiônica no supressor. O H+ se difunde a partir da alta concentração fora da membrana para a baixa concentração dentro da membrana. O íon K+ se difunde a partir da alta concentração dentro para a baixa concentração fora. O K+ fora da membrana é levado embora, de modo que sua concentração é sempre baixa fora da membrana. O resultado final é que o eluente K+OH–, que possui alta condutividade, é convertido em H2O, que tem baixa condutividade. Quando o analito está presente, são produzidos H+ ou (H+)2 , que possuem alta condutividade e são, portanto, detectados. A cromatografia catiônica com supressão iônica é conduzida de forma semelhante, mas o supressor substitui o Cl– proveniente do eluente com OH– através de uma membrana de troca aniônica. A Figura 26-5b ilustra a separação do Na+ e do Ca2+ . Com H+Cl– como eluente, o Na+Cl– e Ca2+2Cl– emergem da coluna de separação de troca catiônica, e o Na+OH– e o Ca2+(OH–)2 emergem da coluna de supressão. O eluato H+Cl– é convertido em H2O na coluna de supressão. Quais são os íons presentes na neve pura? A neve da Antártida fornece uma medida da química atmosférica global porque não há fontes locais de poluição. Um estudo revelou as seguintes espécies por cromatografia iônica:
Concentrações observadas (μg/L = ppb)
Íon
MÏnimo
Máximo
F–
0,10
6,20
Cl–
25
40.100
Br–
0,8
49,4
8,6
354
10,6
4020
1,8
49,0
1,1
45,7
5,0
182
1,1
281
2,4
46,5
Na2+
15
17.050
K2+
3,1
740
Mg2+
2,7
1450
Ca2+
12,6
1010
FONTE: R. Udisti, S. Bellandi, e G. Piccardi, “Analysis of Snow from Antarctica,” Fresenius J. Anal. Chem. 1994, 349, 289. A coluna de separação separa os analitos, e o supressor substitui o eluente iônico por uma espécie não iônica.
FIGURA 26-5 Ilustrações esquemáticas de (a) cromatografia aniônica com supressão iônica e (b) cromatografia catiônica com supressão iônica.
FIGURA 26-6 Cromatografia iônica de traços de ânions e cátions em amostras de gelo do Polo Sul. O transporte do gelo para um laboratório contaminaria as amostras e os brancos. A conexão direta de um cromatógrafo de íons à máquina de fundir gelo reduz a manipulação das amostras, permitindo a detecção de concentrações em níveis de alguns ppb. Análise de ânions: coluna IonPac AS11 usando NaOH 8,0 mM como eluente e supressão de íons. Análise de cátions: IonPAc CS12A usando H2SO4 11 mM como eluente e supressão de íons. [Dados de J. J. Cole-Dai, D. M. Budner e D. G. Ferris, “High Speed High Resolution, and Continuous Chemical Analysis of Ice Cores Using a Melter and Ion Chromatography,” Environ. Sci. Technol. 2006, 40, 6764. Os alunos de graduação S. Klein e C. Duval colaboraram na realização dos testes do equipamento em laboratório.] Uma impressão digital contém 80-520 ng de Cl– e10 750–2800 ng de lactato 30–150 ng fosfato 30–440 ng de oxalato
70–220 ng de nitrato
60–100 ng de sulfato
50–60 ng de nitrito
A Figura 26-6 ilustra a análise de traços de ânions e cátions nos núcleos de gelo do Polo Sul. Utilizou-se como eluente OH– para a separação aniônica e H+ para a separação catiônica. Após passarem pelo supressor, ambos os eluentes foram convertidos em H2O, que apresenta uma condutividade baixa. A depressão da água nos cromatogramas indica o tempo tm para a água não retida passar por cada coluna. São necessários uma água de alta pureza e um manuseio cuidadoso quando se realiza análises em níveis de partes por bilhão. Para um eluente monovalente, como H+ e OH–, a retenção na cromatografia iônica é controlada por
em que a constante está relacionada com a capacidade da coluna e à seletividade de troca iônica, n é a magnitude da carga do íon do analito e E é o íon eluente. A seletividade de troca iônica é controlada pela natureza do sítio de troca iônica e pelo grau de ligações cruzadas do suporte.11 Programas disponíveis podem ser usados para simular e otimizar as separações por cromatografia iônica.12 Misturas de / preparadas manualmente são um eluente comum para a cromatografia aniônica. Após a supressão, forma-se ácido carbônico neutro:
Em sistemas automatizados, os eluentes e supressores contendo H+ ou OH– são produzidos por eletrólise de H2O. A Figura 267 mostra um sistema que produz K+OH– para mais de 1000 horas de eluição isocrática ou por gradiente, antes que seja necessária a reposição dos reagentes. A água no reservatório de K2HPO4 é decomposta no anodo metálico gerando H+ e O2(g). O H+ reage com o para formar . Para cada íon H+ gerado, um íon K+ migra através da membrana de barreira de troca catiônica, que transporta K+ mas não transporta ânions e permite passagem desprezível de líquido. A membrana de barreira deve resistir à alta pressão do líquido na câmara de geração de K+OH–, destinado à alimentação da coluna cromatográfica. Para cada H+ gerado no anodo, um íon K+ flui através da barreira de troca catiônica e um íon OH– é produzido no catodo. O líquido que sai da câmara de geração de K+OH– contém K+OH–e H2. O fluxo deste líquido passa por uma armadilha de ânions para remoção de traços de ânions, como carbonato e produtos de degradação da resina de troca iônica. A armadilha é continuamente reabastecida com OH– gerado eletroliticamente, que não é mostrado no diagrama da figura. Após a armadilha de ânions, o líquido passa por um capilar polimérico que é permeável ao H2. O H2 se difunde para um fluxo externo de líquido e é removido da corrente de alimentação da coluna. A concentração de K+OH– produzida pelo dispositivo mostrado na Figura 26-7 é governada pela
velocidade do líquido e pela corrente elétrica. Por meio do controle computadorizado da potência de alimentação pode ser obtido um gradiente preciso de concentração.
FIGURA 26-7 Gerador de eluente eletrolítico de KOH para a cromatografia de íons. [Informação de Y. Liu, K. Srinivasan, C. Phol e N. Avdalovic, “Recent Developments in Electrolytic Devices for Ion Chromatography”, J. Biochem. Biophys. Methods 2004, 60, 205.]
No passado, o K+OH– utilizado como eluente estava normalmente contaminado com . Quando o passa pelo supressor após a coluna de cromatografia de íons, ele é convertido em H2CO3, que possui certa condutividade elétrica que interfere na detecção dos analitos. Em eluição por gradiente, com o aumento do K+OH–, a concentração de H2CO3 também aumenta, o que causa a elevação da condutividade de fundo. A alimentação do gerador eletrolítico é água pura e o produto é K+OH– aquoso contendo muito pouco . A Figura 26-8 mostra uma separação impressionante de 44 ânions com um gradiente de hidróxido. Os supressores na Figura 26-5 também foram substituídos por unidades eletrolíticas como as da Figura 26-9, que geram H+ ou OH– necessários para neutralizar o eluato e requerem somente água como alimentação. Com o uso de geração eletrolítica de eluente e supressão eletrolítica a cromatografia de íons foi simplificada e altamente automatizada. Na cromatografia iônica os limites de detecção estão na faixa de parte por bilhão, mas níveis de partes por trilhão em água ultrapura são monitorados nas indústrias de energia e de semicondutores por meio de pré-concentração e cromatografia de íons em linha.13 As curvas de calibração são geralmente lineares, embora não linearidade possa ser observada em concentrações de analito baixas ou quando eluentes à base de / são usados.14 As medidas de incertezas são normalmente superiores a 1%, mas podem ser tão baixas quanto 0,2%.15
FIGURA 26-8 Separação de ânions por cromatografia com um gradiente de K+OH– gerado eletroliticamente e detecção por condutividade, após supressão. Coluna: Thermo IonPac AS11-HC, 25 cm de comprimento e diâmetro = 0,4 cm; partículas de 4 µm; vazão = 15 μL/min. Eluente: OH– de 1 a 14 mM a partir de 0 min até 16 min; OH– de 14 a 55 mM a partir de 16 até 40 min; injeção = 0,4 μL de padrões em concentração de 0,6 a 4,0 ppm. Picos: (1) quinato, (2) F–, (3) acetato, (4) lactato, (5) 2-hidroxibutirato, (6) propanoato, (7) formiato, (8) buritato, (9) 2-hidroxivalerato, (10) piruvato, (11) isovalerato, (12) , (13) valerato, (14) , (15) Cl–, (16) 2-oxovalerato, (17) , (18) etilfosfonato, (19) trifluoroacetato, (20) azida, (21) Br–, (22) , (23) citramalato, (24) malato, (25) , (26) malonato, (27) citraconitato, (28) maleato, (29) , (30) α-cetoglutarato, (31) , (32) fumarato, (33) oxaloacetato, (34) , (35) , (36) , (37) ftalato, (38) , (39) citrato, (40) , (41) isocitrato, (42) cisaconitato, (43) trans- aconitato, (44) I–. [Dados de Thermo Scientific Sunnyvale, CA]
FIGURA 26-9 A supressão eletrolítica para a cromatografia aniônica substitui o eluente K+OH– por H2O. O H+ gerado no anodo passa através da membrana trocadora de cátions e substitui o K+ no eluente. Ânions, tais como o X–, não passam através da membrana de troca de cátions devido à exclusão de Donnan.
Cromatogra a Iônica sem Supressão Se a capacidade de troca iônica da coluna de separação for suficientemente baixa e se for usado um eluente diluído, a supressão iônica é desnecessária. Além disso, ânions provenientes de ácidos fracos, como os íons borato, silicato sulfeto e cianeto, não podem ser determinados com supressão iônica, pois esses ânions são convertidos em espécies com ondutividade muito baixa (por exemplo, H2S).
Para a cromatografia aniônica sem supressão, usamos uma resina com uma capacidade de troca próxima a 5 μmol/g e como eluente sais de Na+ ou K+ dos ácidos benzoico, p-hidroxibenzoico ou ftálico, na concentração de 10–4 M. Esses eluentes propiciam uma pequena condutividade de fundo, e os ânions de interesse são detectados por uma pequena variação na condutividade quando eles emergem da coluna. Por meio de uma escolha sensata do valor do pH, podemos obter uma carga média no eluente entre 0 e 22, o que permite controlar a força do eluente. Mesmo ácidos carboxílicos diluídos (que são pouco ionizados) são eluentes adequados para algumas separações. Na cromatografia catiônica sem supressão, fazemos a eluição com HNO3 diluído para íons monovalentes e sais de etilenodiamônio ( ) para íons divalentes. Detectores16 Os detectores de condutividade respondem a todos os íons. Na cromatografia com supressão iônica, é fácil medir o analito, pois a condutividade do eluente diminui praticamente a 0 pela supressão. A supressão também nos permite usar gradientes de concentração do eluente. Na cromatografia aniônica sem supressão, a condutividade do ânion de interesse é maior do que a do eluente, de forma que a condutividade aumenta quando o analito emerge da coluna. Os limites de detecção estão normalmente na faixa de médio ppb a baixo ppm, mas podem ser diminuídos de 10 vezes usando-se eluentes contendo ácidos carboxílicos em vez de sais carboxilato. A maioria dos detectores de CLAE, discutidos na seção 25-2, podem também ser usados em cromatografia de íons. Por exemplo, alguns ânions inorgânicos e ácidos carboxílicos podem ser detectados com base em suas absorções na região do ultravioleta. Para fins de análise quantitativa com um detector de condutividade, o fator de resposta para cada íon deve ser medido porque íons diferentes apresentam condutividades diferentes. Um detector recentemente desenvolvido permite a quantificação tanto de íons conhecidos como desconhecidos.17 A utilização de eluentes contendo os íons benzoato e ftalato proporciona uma detecção indireta de ânions muito sensível (0,05 M) para eliminar a adsorção eletrostática do soluto em sítios ocasionalmente carregados no gel.
TABELA 26-4
Meios de exclusão molecular representativos
Filtração em gel em colunas capilares
Sílica TSK SW para CLAE
Faixa de fracionamento para as proteínas globulares (Da)
Nome
Tamanho de poro (nm)
Sephadex G-10
até 700
G2000SW
12,5
5000–150.000
SEPHADEX G-25
1000–5000
G3000SW
25
10.000–500.000
SEPHADEX G-50
1500–30.000
G4000SW
45
20.000–7.000.000
SEPHADEX G-75
3000–80.000
SEPHADEX G-100
4000–150.000
SEPHADEX G-200
5000–600.000
Nome
Faixa de fracionamento para as proteínas globulares (Da)
NOTA: Sephadex é fabricada por GE Amersham Biosciences. Sílica TSK SW é fabricada por Tosoh Corp.
As colunas de CLAE para exclusão molecular são maiores do que as outras coluna de CLAE de modo a aumentar a separação de volume entre Vo e Vm.
Amostras de polímeros devem ser preparadas e separadas usando um solvente que os dissolvem. A fase estacionária deve ser compatível com o solvente e apresentar uma faixa de calibração de massa que abranja a faixa de massa prevista para a amostra. Polímeros sintéticos apresentam uma distribuição de comprimentos de cadeias de poliméricas. O volume de eluição reflete a massa molecular média do polímero, e a largura do pico reflete a distribuição dos comprimentos de cadeia. Os polímeros maiores espalham a luz visível, de modo que um detector de espalhamento da luz é comum em cromatografia de permeação em gel.
FIGURA 26-14 Separação de proteínas por cromatografia de exclusão molecular em duas colunas (60 cm de comprimento × 0,75 cm de diâmetro) de TSKgel G3000SW em série, eluídas a 1,0 mL/min com BaCl 0,2 M em tampão fosfato 0,05 M, pH 7. [Dados de Tosoh Bioscience, Stuttgart, Alemanha.]
FIGURA 26-15 Gráfico de calibração de massa molecular para colunas de exclusão molecular de sílica hidrofílica (30 × 0,78 cm) de tamanhos de poro diferentes. A calibração é baseada em biomoléculas indo desde a tiroglobina (660.000 Da) até o tetrâmetro da glicina (246 Da). [Dados de Tosoh Bioscience, Stuttgart, Alemanha.]
26-4
Cromatogra a de A nidade
A cromatografia de afinidade é usada para isolar um único composto a partir de uma mistura complexa. A técnica se fundamenta na ligação específica entre um composto e a fase estacionária (Figura 23-6). Quando a amostra passa pela coluna, somente um soluto se liga à fase estacionária. Após uma lavagem da coluna, retirando todas as outras substâncias presentes, o soluto ligado é eluído mudando-se uma condição, como o pH ou a força iônica do meio, de modo a enfraquecer sua ligação com a fase estacionária. A cromatografia de afinidade é especialmente útil em bioquímica e é baseada nas interações específicas entre enzimas e substratos, anticorpos e antígenos ou receptores e hormônios. Estão disponíveis comercialmente meios de afinidade e protocolos para muitas aplicações bioquímicas.24
A água não molha uma superfície hidrofóbica feita de nanotubos de carbono, de modo que uma gota permanece praticamente esférica. A gota seria achatada sobre uma superfície hidrofílica, tal como o vidro. [Dados de K. S. Lau, J. Bico, K. B. K. Teo, M. Chhowalla, G. A. J. Amaratunga, W. I. Milne, G. H. Mckinley e K. K. Gleason, “Superhydrophobic Carbon Nanotube Forests,” Nano Lett. 2003, 3, 1701. Reproduzido sob permissão ©2003, American Chemical Society.]
A Figura 26-16 mostra o isolamento da proteína imunoglobulina G (IgG) por cromatografia de afinidade em uma coluna contendo a proteína A covalentemente ligada. A proteína A se liga a uma região específica da IgG em pH ≳ 7,2. Quando uma mistura bruta, contendo IgG e outras proteínas, passou através da coluna em pH 7,6, todos os constituintes da mistura, exceto a IgG, foram eluídos durante 0,3 min. Após l min, o pH do eluente foi diminuído para 2,6 e a IgG foi eluída, em forma purificada e concentrada, em 1,3 min. A purificação pode ser da ordem de milhares de vezes com recuperações elevadas de material ativo. A cromatografia de afinidade pode também ser usada para remover seletivamente um contaminante específico ou múltiplos componentes de uma matriz. Por exemplo, proteínas em níveis de traço no soro de sangue humano ou plasma que podem ser biomarcadores de uma doença, são difíceis de serem descobertas na presença de outras proteínas cujas concentrações podem ser até 10 ordens de grandeza maiores. As colunas de afinidade com anticorpos que capturam e retêm as dez proteínas mais abundantes removem 90% da matriz proteica do plasma eluído. A captura das 22 proteínas mais abundantes remove 99% da matriz.25 Isômeros ópticos de determinado medicamento podem ter efeitos terapêuticos completamente diferentes. A cromatografia de afinidade pode ser usada para isolar isômeros ópticos individuais para testes de fármacos.26 O possível fármaco mostrado na margem possui dois átomos de carbono quirais, indicados na figura pelos pontos azuis. Com as duas possíveis geometrias em cada ponto, existem quatro estereoisômeros. A mistura dos isômeros foi covalentemente anexada a uma proteína e injetada em ratos, com o objetivo de gerar uma mistura de anticorpos para todos os estereoisômeros. Os anticorpos são produzidos nas células B no baço. Uma célula B produz somente um tipo de anticorpo. Por meio do isolamento de células B individuais é possível isolar o gene do anticorpo para cada estereoisômero. O gene pode ser transplantado para células de E. coli para a produção em massa de um único tipo de anticorpo, chamado de anticorpo monoclonal. Quando a mistura de esteroisômeros é passada em uma coluna na qual apenas um tipo de anticorpo foi anexado, somente um dos quatro estereoisômeros será retido. Abaixando-se o pH, o isômero retido é eluído em sua forma pura. O Boxe 26-2 mostra como polímeros impressos molecularmente podem ser utilizados como meio de afinidade. Os aptâmeros (Boxe 17-5) são outra classe de compostos úteis cromatograficamente com alta afinidade por um alvo selecionado.28
BOXE 26-2
Impressão de Moléculas27
Um polímero impresso molecularmente é um polímero polimerizado na presença de uma molécula modelo, para a qual os componentes do polímero têm alguma a nidade. Quando o modelo é removido, o polímero está “impresso” com a forma do modelo, tendo grupos funcionais complementares que podem se ligar ao modelo. O modelo pode ser o analito de interesse, mas é melhor usar uma molécula relacionada estruturalmente de modo que o modelo residual no polímero não dê resultados falso-positivos quando o polímero é utilizado. O polímero impresso pode ser usado como uma fase estacionária na cromatogra a de a nidade ou como um elemento de reconhecimento em um sensor químico. Um polímero impresso molecularmente pode ser usado para coletar e pré-concentrar antibióticos à base de penicilina das águas de rios para análise. A gura neste boxe mostra a estrutura conceitual de uma bolsa de polímero formada quando monômeros são polimerizados com penicilina G como modelo. Após a remoção da penicilina G pela lavagem com metanol e ácido clorídrico, a bolsa retém sua forma e a disposição dos grupos funcionais para se ligarem a moléculas semelhantes, como a penicilina V, mostrada em cores. Quando a água de um rio contaminada com níveis de 30 ppb de oito diferentes variantes de penicilina passou através de uma coluna contendo um polímero impresso, 90-99% de seis das penicilinas forma retidas pela coluna. Duas variantes de penicilina não se ligaram tão bem. As penicilinas retidas pela coluna foram eluidas por um pequeno volume de hidrogenossulfato de tertabutilamônio 0,05 M em metanol e analisadas por CLAE.
Estrutura conceitual de uma bolsa em um polímero impresso para se ligar a derivativos da penicilina. [Informação de J. L. Urraca, M. C. Moreno-Bondi, A. J. Hall e B. Sellergren, “Direct Extraction of Penicillin G and Derivatives from Aqueous Samples Using a Stoichiometrically Imprinted Polymer”, Anal. Chem. 2007, 79, 695.]
FIGURA 26-16 Purificação do anticorpo monoclonal IgG por cromatografia de afinidade em uma coluna de 0,46 × 5 cm contendo a proteína A covalentemente ligada ao suporte polimérico. As outras proteínas na amostra são eluídas de 0 a 0,3 minuto em pH 7,6. Quando o pH do eluente é diminuído para 2,6, a IgG é liberada da proteína A e emerge da coluna. [Dados de B. J. Compton e L. Kreilgaard, “Chromatographic Analysis of Therapeutic Proteins”, Anal. Chem. 1994, 66, 1175A.]
26-5
Cromatogra a de Interação Hidrofóbica
Substâncias hidrofóbicas repelem a água, e suas superfícies não são molhadas pela água.29 Uma proteína pode ter regiões hidrofílicas que a fazem solúvel em água e regiões hidrofóbicas capazes de interagir com uma fase cromatográfica estacionária hidrofóbica. Concentrações elevadas de sulfato de amônio provocam a precipitação da proteína da solução. Sais de fosfato e sulfato de amônio, sódio e potássio diminuem a solubilidade das proteínas em água. Sais de tiocianato, iodato e perclorato têm o feito oposto de dissolver proteínas. A cromatografia de interação hidrofóbica é usada principalmente na purificação de proteínas.30 Uma fase estacionária comum mostrada na Figura 26-17 tem grupos hidrofóbicos fenila ou alquila ligados ao gel de agarose (um polissacarídeo) cujo tamanho dos poros é grande o suficiente para as proteínas entrarem. Quando a solução proteica com uma alta concentração de sulfato de amônio (como 1 M) é aplicada à coluna, o sal induz a proteína a se ligar à superfície hidrofóbica da fase estacionária. Então um gradiente de concentração decrescente de sal é aplicado para aumentar a solubilidade das proteínas na água e eluí-las da coluna.
FIGURA 26-17 A fase estacionária para a cromatografia de interação hidrofóbica tem ∼10-20% de grupos fenila ou alquila ligados por unidade de volume como uma fase estacionária de fase reversa.
26-6
Fundamentos da Eletroforese Capilar31,32
Em 2007, mais de 200 pessoas ao receber o anticoagulante heparina sofreram reações alérgicas agudas e morreram.33 A heparina é uma mistura complexa de polissacarídeos com grupos sulfato substituídos que têm massas moleculares de 2 a 50 kDa e são isoladas do intestino do porco. Tão logo o problema foi reconhecido em janeiro de 2008, os distribuidores americanos recolheram os produtos à base de heparina e a U.S. Food and Drug Administration iniciou uma investigação. A heparina é administrada milhares de vezes diariamente para controlar as condições ameaçadores à vida, logo era necessário um imediato entendimento e solução para o problema. Quando exposta à enzima heparinase, a heparina se quebra em unidades de dissacarídeo. A heparina corrompida contém 20 a 50% de componentes macromoleculares que não reagem com a heparinase. A eletroforese capilar mostrou ser a ferramenta de escolha para observar dois contaminantes (Figura 26-18).34 Um era o sulfato de dermatan, que se sabia não causar reações alérgicas. O outro foi identificado por ressonância magnética nuclear como o sulfato de condroitina superssulfatada. Um estudo com animais mostrou que o sulfato de condroitina superssulfatada causava a reação alérgica. Em março de 2008, as mortes pela heparina contaminada cessaram e regulamentos emergenciais foram criados para incorporar a eletroforese capilar e a ressonância magnética nuclear nos testes necessários à heparina importada pelos EUA. A heparina contaminada tinha sido preparada na China. O sulfato de condroitina superssulfatado pode ter sido adicionado porque tem atividade anticoagulante e custa menos que a heparina.
FIGURA 26-18 Eletroferograma da heparina (30 mg/mL) contaminada com sulfato de condroitina superssulfatada e sulfato de dermatan. A heparina contaminada tinha 200 vezes mais sulfato de condroitina superssulfatada que a mostrada na ilustração. Condições: −16 kV, 20°C, capilar de 25 μm × 30 cm, detetor a 21,5 cm. Um tampão de fundo foi produzido pela adição de H3PO4 0,60 M a Li3PO4 0,60 M para atingir o pH 2,8. [Dados de Robert Weinberger, CE Technologies e Todd Wielgos, Baxter Healthcare. Para detalhes, veja T. Wielgos, K. Havel, N. Ivanova e R. Weinberger, “Determination of Impurities in Heparin by Capillary Electrophoresis Using High Molarity Phosphate Buffers”, J. Pharma. Biomed. Anal. 2009, 49, 319.] J.W. Jorgenson foi quem descreveu pela primeira vez, em 1981, a eletroforese feita em capilares de vidro.35
FIGURA 26-19 Aparelhagem para eletroforese capilar. Uma forma de injetar a amostra é colocar o capilar em um frasco de amostra e aplicar pressão no frasco ou sucção na saída do capilar. O uso de um campo elétrico para a injeção de amostra é descrito no texto. Os cátions são atraídos para o terminal negativo (o catodo). Os ânions são atraídos para o terminal positivo (o anodo).
Eletroforese é a migração dos íons em solução sob a influência de um campo elétrico. A técnica foi estabelecida na década de 1930 pelo químico biofísico sueco A. Tiselius, que recebeu o prêmio Nobel em 1948 pelo seu trabalho em eletroforese e pelas “descobertas sobre a natureza complexa das proteínas do soro.” Diferença de potencial elétrico = 30 kV
Na eletroforese capilar, mostrada na Figura 26-19, uma diferença de potencial elétrico de ∼30 kV separa os componentes de uma solução dentro de um tubo capilar de sílica (SiO2) fundida, que tem 50 cm de comprimento e possui um diâmetro interno de 25-75 μm. Íons diferentes possuem mobilidades diferentes e, portanto, migram através do capilar com velocidades diferentes.36 Modificações deste experimento descritas mais adiante permitem que moléculas neutras, assim como íons, sejam separadas. Uma eletroforese rápida pode monitorar eventos transientes como a liberação de um neurotransmissor.37 O diâmetro pequeno de um capilar permite a análise de células isoladas, núcleos, vesículas ou mitocôndrias. $38 Novas condições de separação quase fisiológicas permitem a sondagem de interações biomoleculares, mesmo até ao nível de uma interação enzima-molécula.39 A eletroforese capilar fornece uma elevada resolução. Quando fazemos cromatografia em uma coluna empacotada, o alargamento dos picos é decorrente dos três mecanismos descritos pela equação de van Deemter (23-37): caminhos múltiplos de fluxo, difusão longitudinal e velocidade finita de transferência de massa. Com o uso de uma coluna capilar, eliminamos os caminhos múltiplos de fluxo e, assim, reduzimos a altura do prato e melhoramos a resolução. A eletroforese capilar reduz ainda mais a altura do prato eliminando a existência do termo de transferência de massa, proveniente do tempo finito necessário para o soluto atingir o equilíbrio entre as fases móvel e estacionária. Na eletroforese capilar não existe fase estacionária. A única fonte de alargamento em condições ideais é a difusão longitudinal:
FIGURA 26-20 Comparação das larguras dos picos do álcool benzílico (C6H5CH2OH) na eletroforese capilar e na CLAE. [Dados de S. Fazio, R. Vivilecchia, L. Lesueur e J. Sheridan, Am. Biotech. Lab. Janeiro 1990, p. 10.]
(Outras fontes de alargamento em sistemas reais são mencionadas adiante.) A eletroforese capilar corresponde, rotineiramente, a uma faixa entre 50.000 a 500.000 pratos teóricos (Figura 26-20), um desempenho que é uma ordem de grandeza melhor do que a cromatografia líquida. Eletroforese Quando um íon com carga q (medida em coulombs) é colocado em um campo elétrico E (V/m), a força que atua sobre o íon é qE (newtons). Em solução, a força de atrito retardadora é fuef, em que uef é a velocidade do íon e f é o coeficiente de atrito. O subscrito “ef” refere-se à “eletroforese”. O íon alcança rapidamente velocidade constante, quando a força de aceleração é igual à força de atrito:
O conceito de mobilidade foi anteriormente utilizado ao definirmos os potenciais de junção (Tabela 15-1).
A mobilidade eletroforética (μef) é a constante de proporcionalidade entre a velocidade do íon e a intensidade do campo elétrico. A mobilidade é diretamente proporcional à carga do íon e inversamente proporcional ao coeficiente de atrito. Para moléculas de tamanho semelhante, o módulo da mobilidade aumenta com a carga:
A viscosidade mede a resistência ao escoamento em um fluido. As unidades são kg m−1 s−1. Em relação à água, o xarope de bordo é muito viscoso e o hexano tem baixa viscosidade.
Para uma partícula esférica de raio r movendo-se através de um fluido de viscosidade η, o coeficiente de atrito (f) é dado por:
que foi introduzida na seção 23-4 quando da discussão da difusão. Como a mobilidade é μ q/f = q/6πηr, quanto maior o raio molecular, menor a mobilidade. Embora a maioria das moléculas não seja esférica, a Equação 26-7 define um raio hidrodinâmico efetivo de uma molécula, considerando-se a molécula como se fosse esférica, a partir da sua mobilidade observada. Eletrosmose A parede interna de um capilar de sílica fundida é revestida com grupos silanol (Si—OH) com uma carga negativa (Si—O−) acima de pH 3. A Figura 26-21a mostra a dupla camada elétrica (Boxe 17-4) na parede do capilar. A dupla camada elétrica é constituída de cargas negativas fixadas na parede e de excesso de cátions perto da parede. Uma camada imóvel de cátions, fortemente adsorvidos, adjacentes à superfície negativa, neutraliza parcialmente a carga negativa. A carga negativa restante é neutralizada pelo excesso de cátions móveis solvatados na parte difusa da dupla camada, localizada na solução próxima à parede. A espessura da parte difusa da dupla camada se situa na faixa próxima a ∼10 nm quando a força iônica do meio é 1 mM, e ∼0,3 nm quando a força iônica é 1 M.
FIGURA 26-21 (a) Dupla camada elétrica criada pela superfície de sílica carregada negativamente e pelos cátions que se encontram próximos. (b) A predominância de cátions na parte difusa da dupla camada produz um fluxo eletrosmótico resultante na direção do catodo quando aplicamos um campo elétrico externo.
FIGURA 26-22 (a) A eletrosmose proporciona um fluxo uniforme em mais de 99,9% da seção transversal do capilar. A velocidade diminui imediatamente na área adjacente à parede do capilar, (b) Perfil parabólico da velocidade do fluxo hidrodinâmico (também chamado de fluxo laminar), com a maior velocidade no centro do tubo e velocidade zero nas paredes. Os perfis de velocidade observados experimentalmente são mostrados na Prancha 33 do Encarte em Cores. Os íons na parte difusa da dupla camada, adjacente às paredes do capilar, são os responsáveis pelo “bombeamento” que produz o fluxo eletrosmótico.
Na presença de um campo elétrico, os cátions são atraídos para o catodo e os ânions são atraídos para o anodo (Figura 2621b). O excesso de cátions na parte difusa da dupla camada transfere o momento resultante na direção do catodo. Essa ação de bombeamento, chamada eletrosmose (ou eletroendosmose), é produzida pelos cátions solvatados na região de ∼10 nm em relação às paredes, e cria um fluxo eletrosmótico uniforme em toda extensão da seção reta do capilar e da solução inteira, na direção do catodo (Figura 26-22a). Este comportamento contrasta fortemente com o de um fluxo hidrodinâmico produzido por uma diferença de pressão entre as extremidades de um capilar. No fluxo hidrodinâmico, o perfil de velocidade ao longo de uma seção transversal do fluido é parabólico; é mais rápido no centro e cai praticamente a zero nas vizinhanças das paredes (Figura 26-22b e Prancha 33 do Encarte em Cores). A velocidade eletrosmótica é medida adicionando-se à amostra uma molécula neutra, para a qual o detector responde.
A constante de proporcionalidade entre a velocidade eletrosmótica (ueo) e o campo aplicado é chamada de mobilidade eletrosmótica (μeo).
A mobilidade eletrosmótica é diretamente proporcional à densidade de carga superficial na sílica e inversamente proporcional à raiz quadrada da força iônica do meio. A eletrosmose diminui em pH baixo (Si—O− → Si—OH diminui a densidade de carga superficial) e em força iônica alta. Em pH 9, em tampão borato 20 mM, o fluxo eletrosmótico é ∼2 mm/s. Em pH 3, o fluxo é reduzido de uma ordem de grandeza. O capilar tem de ser suficientemente fino para dissipar o calor rapidamente. Os gradientes de temperatura perturbam o fluxo e reduzem a resolução.
O fluxo eletrosmótico uniforme contribui para a alta resolução da eletroforese capilar. Qualquer efeito que diminua a uniformidade cria um alargamento da banda e diminui a resolução. O fluxo de íons no capilar gera calor (chamado aquecimento Joule) a uma velocidade de I2R joules por segundo, em que I é a corrente (A) e R a resistência da solução (ohms) (Seção 14-1). A
maior parte do capilar na Figura 26-19 está em um compartimento termostatizado necessário para o controle da temperatura dentro do capilar.40 Em condições normais, o canal central do capilar está 0,02 a 0,3 K mais quente do que a borda do canal. A viscosidade é menor na região mais quente, o que perturba o perfil eletrosmótico uniforme do fluido. O aquecimento Joule não é um problema sério em um tubo capilar com 50 μm de diâmetro, mas o gradiente de temperatura seria proibitivo se o diâmetro fosse ≥100 μm. Mobilidade A mobilidade aparente (ou observada), μap, de um íon é a soma da mobilidade eletroforética do íon mais a mobilidade eletrosmótica da solução.
Para um cátion do analito movendo-se na mesma direção do fluxo eletrosmótico, μef e μeo têm o mesmo sinal, de modo que μap é maior do que μef. A eletroforese transporta os ânions na direção oposta à da eletrosmose (Fig 26-21b), de tal modo que, para os ânions, os dois termos na Equação 26-9 têm sinais opostos. Em pH neutro ou alto, a eletrosmose intensa transporta os ânions para o catodo, pois a eletrosmose geralmente é mais rápida do que a eletroforese. Em pH baixo, a eletrosmose é fraca e talvez os ânions nunca alcancem o detector. Se queremos separar ânions em pH baixo, devemos inverter a polaridade da corrente no instrumento, de modo a tornar o lado da amostra negativo e o lado do detector positivo.
A mobilidade aparente, μap, de determinada espécie é a velocidade líquida, ulíq, da espécie dividida pelo valor do campo elétrico, E:
em que Ld é o comprimento da coluna do ponto de injeção até o detector, Lt é o comprimento total da coluna de uma extremidade a outra, V é o potencial elétrico aplicado entre as duas extremidades e t é o tempo necessário para o soluto migrar do final da injeção até o detector. O fluxo eletrosmótico normalmente é medido pela adição à amostra de um soluto neutro, que absorve radiação ultravioleta, e medindo-se seu tempo de migração (tneutro) até o detector. Para análises quantitativas usamos
Para se fazer análise quantitativa por eletroforese, necessita-se das áreas de pico normalizadas. A área de pico normalizada é a medida da área do pico dividida pelo tempo de migração. Na cromatografia, cada um dos analitos passa pelo detector com a mesma vazão, logo a área do pico é proporcional à quantidade do analito. Na eletroforese, analitos com mobilidades aparentes diferentes, passam pelo detector com velocidades diferentes. Quanto maior a mobilidade aparente, menor o tempo de migração e menos tempo o analito permanece no detector. Para corrigir o tempo que o analito permanece no detector, dividimos a área do pico correspondente a cada analito pelo respectivo tempo de migração. A mobilidade eletrosmótica é a velocidade das espécies neutras (uneutro) dividida pelo campo elétrico:
A mobilidade eletroforética de um analito é a diferença μap – μeo. Para uma precisão máxima, as mobilidades são medidas em relação a um padrão interno. A variação absoluta a cada corrida não deve afetar as mobilidades relativas, a menos que haja interações dependentes do tempo (fora do equilíbrio) do soluto com a parede do capilar.
Para moléculas com tamanhos semelhantes, o módulo da mobilidade eletroforética aumenta com a carga. Se uma molécula é um ácido ou uma base, sua carga depende do pH.41 A forma ionizada possui uma carga e, portanto, uma mobilidade eletroforética, mas sua forma neutra não possui carga e, por conseguinte, não apresenta mobilidade eletroforética. As cinéticas dos equilíbrios de dissociação ácida são extremamente rápidas em comparação com a escala de tempo das separações por eletroforese capilar. Desse modo, a mobilidade eletroforética é controlada pela carga média do ácido ou da base. Para um ácido fraco
Na Figura 26-23, o ácido benzoico (pKa = 4,20) tem uma carga média de –0,5, sendo separado do ácido 2-metilbenzoico (pKa = 3,90), cuja carga média é –0,67. O tempo de migração depende da mobilidade aparente (Equação 26-9).
Ordem normal de eluição na eletroforese capilar de zona: 1. cátions (primeiro os que têm maiores mobilidades) 2. todas as espécies neutras (não se separam) 3. ânions (por último os que tem maiores mobilidades)
FIGURA 26-23 Separação por eletroforese capilar de ácidos benzoicos substituídos preparados por um estudante por meio da reação de Grignard. A eletroforese foi conduzida em pH 4,20 (pKa do ácido benzoico) usando tampão de acetato 5 mM em 2,50 × 104 V em um capilar de 0,500 m de comprimento e uma distância ao detector de 0,400 m. A deflexão da linha base negativa a partir do metanol na amostra foi usada para medir o fluxo eletrosmótico. [Dados de N. S. Mills, J. D. Spence e M. M. Bushey, “Capillary Electrophoresis of Substituted Benzoic Acids,” J. Chem. Ed. 2005, 82, 1226.]
EXEMPLO
Cálculos de Mobilidade
Na Figura 26-23, a velocidade de migração dos ácidos benzoicos substituídos resulta da combinação dos efeitos do uxo eletrosmótico e da mobilidade eletroforética. O potencial aplicado ao capilar de 0,500 m de comprimento é 2,50 × 104 V. A molécula neutra marcadora transportada pelo uxo eletrosmótico levou 188 s para percorrer 0,400 m da entrada ao detector. Os tempos de migração do benzoato e do 2-metilbenzoato são 340 e 371 s, respectivamente. Encontre a velocidade eletrosmótica e a mobilidade eletroforética. Determine as mobilidades aparente e eletroforética do benzoato e do 2-metilbenzoato. Solução A velocidade eletrosmótica, ueo, é ser determinada a partir do tempo de migração do marcador neutro:
O campo elétrico é obtido dividindo-se o potencial pelo comprimento total (Lt) da coluna: E = 2,50 × 104 V/0,500 m = 5,00 × 104 V/m. A mobilidade é a constante de proporcionalidade entre a velocidade e o campo elétrico:
A mobilidade do marcador neutro, que acabamos de calcular, é a mobilidade eletrosmótica para a solução inteira. A mobilidade aparente do benzoato é obtida a partir de seu tempo de migração:
A mobilidade eletroforética representa a resposta do íon ao campo elétrico. Para determinarmos a mobilidade eletroforética subtraímos a mobilidade eletrosmótica da mobilidade aparente:
A mobilidade eletroforética é negativa porque o benzoato possui uma carga negativa e migra na direção oposta ao uxo eletrosmótico. O uxo eletrosmótico em pH 4,2 é mais rápido que a eletromigração, do modo que o benzoato é transportado para o detector. Cálculos semelhantes para o 2metilbenzoato fornecem μap = 2,16 × 10−8 m2/(V · s) e μef = −2,10 × 10−8 m2/(V · s). A mobilidade eletroforética do 2-metilbenzoato é mais negativa que a do benzoato porque ele apresenta uma carga negatica média maior. TESTE A VOCÊ MESMO Se a mobilidade eletrosmótica fosse 3,00 × 10−8 m2/(V · s), qual seriam os tempos de migração do marcador neutro e do benzoato? (Resposta: 267 s, 734 s) Pratos Teóricos e Resolução Consideremos um capilar de comprimento Ld, medido da entrada até o detector. Na Seção 22-4, definimos o número de pratos teóricos como , em que σ é o desvio-padrão da banda. Se o único mecanismo de alargamento da região é a difusão longitudinal, o desvio-padrão é dado pela Equação 23-38: em que D é o coeficiente de difusão e t é o tempo de migração (= Ld/ulíq = Ld/[μapE]). A combinação dessas equações com a definição de campo elétrico (E = V/Lt, em que V é o potencial aplicado) resulta em uma expressão para o número de pratos:
Número de pratos teóricos: Ld = distância até o detector σ = desvio-padrão da banda gaussiana Lt = comprimento total da coluna
Quantos pratos teóricos podemos esperar atingir? Usando um valor típico de μap = 2 × 10−8 m2/(V · s) (obtido para um tempo de migração de 10 min em um capilar com Lt = 60 cm, Ld = 50 cm e 25 kV) e usando os coeficientes de difusão da Tabela 23-1, temos
Em condições especiais, quando um fluxo hidrodinâmico invertido torna mais lenta a passagem dos analitos através do capilar, foram observados mais de 17 milhões de pratos teóricos na separação de moléculas pequenas!42
Para um íon pequeno e de rápida difusão, como o K+, esperamos 100.000 pratos teóricos. Para a albumina do soro, uma proteína de difusão mais lenta (MF 66.000 Da), esperamos mais de 3 milhões de pratos. Uma alta contagem de pratos significa que as bandas são muito finas e a resolução entre bandas adjacentes é excelente. Na realidade, fontes adicionais de alargamento de banda incluem a largura finita da banda injetada (Equação 23-35), um perfil parabólico do fluxo em função do aquecimento no interior do tubo capilar, a adsorção do soluto na parede do capilar (que atua como uma fase estacionária), o comprimento finito da região de detecção e o desencontro da mobilidade do soluto e dos íons do tampão, que leva a um comportamento eletroforético não ideal. Se todos esses fatores são controlados adequadamente, ∼105 pratos teóricos podem ser alcançados rotineiramente. A Equação 26-13 mostra que, para uma razão constante Ld/Lt, o valor do número de pratos é independente do comprimento do capilar. Ao contrário da cromatografia, capilares mais compridos na eletroforese não aumentam a resolução.
FIGURA 26-24 A pequena região do eletroferograma de uma mistura complexa mostra que, aumentando-se o potencial elétrico aplicado, aumenta-se a resolução. Em ambas as corridas todas as condições são as mesmas, exceto o potencial elétrico aplicado, que normalmente é limitado em ∼30 kV. Precauções especiais foram necessárias para evitar o surgimento de arco elétrico (descargas elétricas) e o superaquecimento quando operamos em 120 kV. [Dados de K. M. Hutterer e J. W. Jorgenson, “UltrahighVoltage Capillary Zone Electrophoresis”, Anal. Chem. 1999, 71, 1293.] O tampão de corrida (a solução que se encontra presente no capilar e nos reservatórios do eletrodo) controla o pH e a composição do eletrólito no capilar.
A Equação 26-13 também nos diz que, quanto maior o valor do potencial elétrico aplicado, maior será o número de pratos (Figura 26-24). Um fator limitante no aumento do potencial elétrico aplicado é o aquecimento do capilar, que causa um perfil de temperatura parabólico provocando o alargamento de banda. O potencial ótimo de trabalho pode ser determinado fazendo-se um gráfico da lei de Ohm da corrente contra o potencial no tampão de corrida (também conhecido como eletrólito suporte) no capilar. Na ausência de superaquecimento, este gráfico deve ser uma linha reta. O potencial máximo permitido é o valor no qual a curva se desvia da linearidade (digamos, por volta de 5%). A concentração e composição do tampão, a temperatura do termostato e o uso de um sistema ativo de refrigeração são parâmetros que influenciam a determinação do potencial elétrico máximo tolerável para a operação do capilar. Até um certo ponto, potenciais elétricos mais elevados propiciam melhor resolução e separações mais rápidas. A resolução entre picos adjacentes A e B em um eletroferograma é controlada por
em que N é o número de pratos, Δµap é a diferença da mobilidade aparente dos íons, e μap é a sua mobilidade aparente média. O aumento de Δµap aumenta a separação dos picos, e a elevação de N diminui sua largura. A redução da mobilidade aparente média permite que a separação do pico ocorra em um tempo maior.
26-7
Uso da Eletroforese Capilar
Variações inteligentes da eletroforese capilar permitem separar moléculas neutras tão bem como se separam íons, separar isômeros ópticos e abaixar os limites de detecção de até 106. Controlando o Meio Dentro do Capilar A parede interna do capilar controla a velocidade eletrosmótica e propicia sítios de adsorção indesejáveis para moléculas com cargas múltiplas, como proteínas. Um capilar de sílica fundida deve ser preparado antes de seu primeiro uso fazendo-se lavagens por 1 h a uma velocidade de fluxo de ∼ 4 volumes de coluna/min com NaOH 1 M seguida por 1 h com água, mais 1 h com HCl 6 M, seguida de uma lavagem com o tampão de corrida. $43 Acredita-se que o NaOH gera grupos Si—OH na superfície da sílica, e o HCl remove metais da superfície. Para uso subsequente em pH elevado, lavagem por 2 min com NaOH 0,1 M, seguida por uma lavagem com água deionizada por 30 s e, finalmente, uma lavagem, por pelo menos 5 minutos, com o tampão de corrida.44 Se o capilar está sendo usado em pH 2,5 com tampão fosfato, deve ser feita uma lavagem entre as diferentes corridas com ácido fosfórico 1 M, água deionizada e tampão de corrida.45 Quando fazemos troca de tampões, permitimos pelo menos 5 minutos de fluxo para atingir o equilíbrio. Para trabalharmos em uma faixa de pH entre 4 e 6, quando o equilíbrio entre a parede da coluna e o tampão é crítico e muito lento, o capilar necessita de frequente regeneração com NaOH 0,1 M, se os tempos de migração se tornam irregulares. O tampão em ambos os reservatórios deve ser substituído periodicamente, pois os íons acabam se esgotando e a eletrólise eleva o pH no catodo e diminui o pH no anodo. A entrada do capilar deve estar ∼2 mm afastada e abaixo do eletrodo, de modo a minimizar a entrada de ácido ou base gerados eletroliticamente na coluna.46 Ao armazenarmos um capilar, devemos sempre enchê-lo com água destilada.
FIGURA 26-25 Efeito do revestimento da parede na mobilidade eletrosmótica. A sílica pura tem pouca carga abaixo de pH 3 e uma carga negativa elevada acima de pH 8. O cátion polibreno imerso em silicato (estrutura inferior) dá uma carga positiva aproximadamente constante à parede. O sulfato de dextrana, aniônico, adsorvido em polibreno (estrutura superior) dá uma carga negativa constante à parede. [Dados de M. R. N. Monton, M. Tomita, T. Soga e Y. Ishihama, “Polymer Entrapment in Polymerized Silicate for Preparing Highly Stable Capilary Coatings for CE e CE-MS”, Anal. Chem. 2007, 79, 7838.] A 1,4-butanodiamina, também conhecida como putrescina, tem um odor desagradável.
Um revestimento aderido covalentemente ajuda a evitar a aderência de proteínas no capilar e permite obtermos tempos de migração reprodutíveis:
Separações diferentes necessitam de um fluxo eletrosmótico maior ou menor. Por exemplo, ânions pequenos de alta mobilidade e proteínas com elevada carga negativa necessitam de um fluxo eletrosmótico intenso, ou então não conseguirão migrar na direção do catodo. Em pH 3, há pouca carga nos grupos silanol e pouco fluxo eletrosmótico. Em pH 8, a parede do capilar está muito carregada e o fluxo eletrosmótico é intenso. O gráfico na Figura 26-25 mostra que a mobilidade eletrosmótica em um capilar de sílica é pequena e positiva abaixo de pH 3. A mobilidade aumenta e atinge um valor elevado e uniforme acima de pH 8. As proteínas com muitos substituintes carregados positivamente podem se ligar fortemente à sílica carregada negativamente. Para controlarmos isso, adicionamos 1,4-butanodiamina (que forma o íon +H3NCH2CH2CH2NH3+) ao tampão de corrida para neutralizar a carga na parede. Esta carga pode ser reduzida praticamente a 0 pela ligação covalente de silanos com substituintes hidrofílicos neutros. Entretanto, muitos desses revestimentos são instáveis em condições alcalinas. Podemos inverter a direção do fluxo eletrosmótico adicionando um surfactante catiônico, como o brometo de didodecildimetilamônio, ao tampão de corrida.47 Essa molécula tem uma carga positiva em uma de suas extremidades e duas longas caudas hidrocarbônicas. O surfactante reveste a sílica carregada negativamente com as caudas do surfactante apontando para fora da superfície (Figura 26-26). Uma segunda camada de surfactante se orienta na direção oposta, de modo que as caudas formam uma camada hidrocarbônica apolar. Esta bicamada adere muito fortemente à parede do capilar e inverte efetivamente a carga da parede de negativa para positiva. Os ânions do tampão criam um fluxo eletrosmótico do catodo para o anodo quando um potencial elétrico é aplicado. O fluxo eletrosmótico está na direção oposta àquela mostrada na Figura 26-21. Os melhores resultados são obtidos quando o capilar é regenerado, todas as vezes, antes de cada corrida. A Figura 26-25 mostra um revestimento mais estável formado pela incorporação do polímero catiônico polibreno em uma camada de silicato formada in situ na parede capilar. O gráfico mostra que o fluxo eletrosmótico é quase constante na faixa de pH 3-11 e oposto ao fluxo em sílica nua. Uma superfície negativa estável e independente do pH pode ser obtida pela absorção do polímero aniônico sulfato de dextran na superfície do polibreno catiônico.
FIGURA 26-26 Inversão de carga produzida por uma bicamada de surfactante catiônico revestindo a parede do capilar. A parte difusa da dupla camada contém excesso de ânions, e o fluxo eletrosmótico é na direção oposta àquela mostrada na Figura 26-21. O surfactante é o íon didodecildimetilamônio, (n-C12H25)N(CH3)2+, representado por .
Composição e Injeção de Amostras A injeção hidrodinâmica na Figura 26-19 usa uma diferença de pressão entre as duas extremidades para introduzir a amostra dentro do capilar. Na injeção hidrodinâmica, o volume injetado é
Para análise quantitativa por eletroforese é crítico usar um padrão interno, pois a quantidade de amostra injetada no capilar não é reprodutível.
em que ΔP é a diferença de pressão entre as extremidades do capilar, d é o diâmetro interno do capilar, t é o tempo de injeção, η é a viscosidade da amostra e Lt é o comprimento total do capilar.
EXEMPLO
Tempo de Injeção Hidrodinâmica
Quanto tempo é necessário para injetarmos uma amostra igual a 2,0% do comprimento de um capilar de 50 cm, se o diâmetro é de 50 μm e a diferença de pressão é de 2,0 × 104 Pa (0,20 bar)? Admita que a viscosidade seja 0,001 0 kg/(m · s), que é próxima da viscosidade da água. Solução A quantidade injetada tem um comprimento de 1,0 cm e ocupará um volume de πr2 × comprimento = π(25 × 10−6 m)2 × (1,0 × 10−2 m) = 1,96 × 10−11 m3. O tempo necessário é
As unidades se anulam ao percebermos que Pa = força/área = (kg · m/s2)/m2 = kg/(m · s2). TESTE A VOCÊ MESMO Quanto tempo seria necessário para injetar uma amostra de 1,0 cm de comprimento com duas vezes a viscosidade da água em uma coluna de 40 cm de comprimento com a mesma ΔP? (Resposta: 5,1 s) A injeção eletrocinética usa um campo elétrico para direcionar a amostra para dentro do capilar. O capilar é mergulhado na amostra e um potencial elétrico é aplicado entre as extremidades do capilar. O número de mols de cada íon introduzidos no capilar em t segundos é
em que μap é a mobilidade aparente do analito (= μef + μeo), E é o campo elétrico aplicado (V/m), r é o raio do capilar, C é a concentração da amostra (mol/m3) e κt/κa é a razão entre as condutividades do tampão e da amostra. Cada analito tem uma mobilidade diferente, logo a amostra injetada não tem a mesma composição da amostra original. A injeção eletrocinética é mais útil para a eletroforese capilar em gel (descrita a seguir), na qual o líquido no capilar é muito viscoso para permitir a injeção hidrodinâmica.
EXEMPLO
Tempo de Injeção Eletrocinética
Quanto tempo é necessário para injetarmos uma amostra igual a 2,0% do comprimento de um capilar de 50 cm, se o diâmetro for de 50 μm e o campo elétrico durante a injeção for de 10 kV/m? Admita que a amostra tenha 1/10 da condutividade do eletrólito secundário e que μap = 2,0 × 10−8 m2/(V · s). Solução O fator κt/κa na Equação 26-16 é igual a 10 neste caso. O comprimento correspondente à amostra injetada na coluna é (velocidade da amostra) × (tempo) = μapEeft. O segmento de amostra injetado será de 1,0 cm de comprimento. O tempo necessário é
A Equação 26-16 multiplica o comprimento do segmento de amostra injetado pela área transversal da coluna para determinar seu volume e, então, multiplica pela concentração para determinar o número de mols naquele volume.
TESTE A VOCÊ MESMO Qual é o efeito no tempo de injeção se você diminui a voltagem aplicada por um fator de 2? (Resposta: o tempo de injeção dobra) Efeitos da Condutividade Elétrica: Empilhamento e Bandas Deformadas Escolhemos as condições de modo a focar o analito em bandas estreitas no início do capilar por um processo chamado de empilhamento (em inglês stacking). Sem empilhamento, se injetarmos uma amostra que ocupa uma região com um comprimento de 10 mm, nenhuma banda do analito poderá ser mais estreita do que 10 mm quando alcançar o detector. O empilhamento depende da relação entre o campo elétrico na zona da amostra injetada e no tampão de corrida em ambos os lados da amostra. A concentração ótima do tampão, presente na solução da amostra é 1/10 da concentração do tampão de corrida, e a concentração da amostra deve ser κa), o campo elétrico é menor fora da banda do analito que dentro dela. A banda migra para a direita na Figura 2629. Uma molécula de analito, que se difunde para a direita, passa pela fronteira da banda da amostra e encontra repentinamente um campo elétrico mais fraco e diminui sua velocidade. Logo, a banda do analito alcança a molécula, e esta volta para a banda. Uma molécula que se difunde para fora da zona, à esquerda, encontra um campo elétrico mais fraco e também diminui sua velocidade. A zona do analito está se movendo mais rápido que a molécula com menos mobilidade e se afasta dela. Esta condição induz a uma banda que tem uma frente estreita e uma cauda larga, como mostrado na parte inferior à direita do eletroferograma na Figura 26-29. Quando κt < κa, observamos o eletroferograma oposto.
FIGURA 26-27 O empilhamento de ânions e cátions nas extremidades opostas da região ocupada pela amostra, que tem baixa condutividade, se deve ao fato de que a intensidade do campo elétrico na região ocupada pela amostra é muito maior que a intensidade do campo elétrico no eletrólito de suporte. O tempo aumenta de (a) para (d). A neutralidade elétrica é mantida pela migração dos íons do tampão de corrida, que não são mostrados.
FIGURA 26-28 Curva inferior: A amostra injetada eletrocineticamente por 2 s sem empilhamento é limitada em volume para evitar o alargamento de banda. Curva superior: Com empilhamento, podemos injetar um volume de amostra 15 vezes maior (por 30 s), de modo que o sinal é 15 vezes mais forte sem nenhum aumento na largura de banda. [Dados de Y. Zhao e C. E. Lunte, “pHMediated Field Amplification On-Column Preconcentration of Anions in Physiological Samples for Capillary Electrophoresis”, Anal. Chem. 1999, 71, 3985.]
FIGURA 26-29 Formas irregulares de picos surgem quando a condutividade da banda do analito, κa, não é igual a condutividade do tampão de corrida, κt. O eletroferograma mostra cátions extraídos da superfície de uma fatia de um semicondutor de silício. O tampão de corrida contém o íon imidazólio para detecção espectrométrica indireta, cujo princípio é mostrado na Figura 26-31. [Dados de T. Ehmann, L. Fabry, L. Kotz e S. Pahlke, “Monitoring of Ionic Contaminants on Silicon Wafer Surfaces Using Capillary Electrophoresis”, Am. Lab. Junho 2002, p. 18.] Coíon: o íon do tampão com a mesma carga do analito. Contraíon: íon do tampão com carga oposta à do analito.
Para minimizar a distorção de banda, a concentração da amostra deve ser bem menor do que a concentração do eletrólito secundário. Se isso não acontecer, é necessário escolher um tampão com um coíon que tenha a mesma mobilidade do íon do analito. Detectores Como a água é muito transparente à radiação ultravioleta, os detectores de ultravioleta podem trabalhar em comprimentos de onda relativamente curtos, na região de 185 nm, na qual a maioria dos solutos apresenta forte absorção. Para tirarmos vantagem da detecção do ultravioleta em comprimentos de onda curtos, o tampão de corrida deve, da mesma forma, ter absorção muito baixa na região escolhida. Os tampões de borato são utilizados normalmente na eletroforese por causa da sua transparência à radiação.49 A sensibilidade não é boa, pois o caminho óptico tem apenas a largura do capilar, ou seja, 25-75 µm.
FIGURA 26-30 (a) Detecção amperométrica com um eletrodo de trabalho macroscópico na saída do capilar. (b) Eletroferograma de açúcares separados em NaOH 0,1 M, onde os grupos OH estão parcialmente ionizados, transformando as moléculas em ânions. [Informação de J. Ye e R. P. Baldwin, “Amperometric Detection in Capillary Electrophoresis with Normal Size Electrodes”, Anal. Chem. 1993, 65, 3525.] Limites de detecção aproximados para a detecção direta (M) na eletroforese capilar: Absorção no ultravioleta Fluorescência Condutividade Amperometria Espectrometria de massa
10−5–10−7 10−9–10−12 10−6–10−7 10−10–10−11 10−8–10−9
Dados de H. H. Lauer e G. P. Rozing, “High Performance Capillary Electrophoresis, 2nd ed. (Agilent Technologies, 2010).
A detecção por fluorescência (mostrada adiante na Prancha 34 do Encarte em Cores) é sensível a analitos que sejam naturalmente fluorescentes, ou aos seus derivados fluorescentes50 com uma faixa dinâmica até 109.51 A detecção por condutividade sem contato (oscilométrica) emprega eletrodos posicionados no lado de fora do capilar para medir a diferença de condutividade entre a zona do analito e o tampão.52 A detecção amperométrica é sensível a analitos que possam ser oxidados ou reduzidos em um eletrodo (Figura 26-30).52 A espectrometria de massas por eletrospray (Figura 22-26) permite a detecção de concentrações muito pequenas conjuntamente com informações qualitativas sobre a estrutura dos analitos.53 Os limites de detecção para detecção indireta são geralmente 10-100 vezes maiores do que para a detecção direta.
A Figura 26-31 mostra o princípio da detecção indireta, que se aplica à fluorescência, à absorbância, à amperometria, à condutividade e outras formas de detecção. Uma substância, que produz um sinal de fundo estável, é adicionada ao tampão de corrida. Na banda do analito, as moléculas do analito deslocam a substância cromófora, de modo que o sinal do detector diminui quando o analito passa. A Figura 26-32 mostra uma separação marcante dos isótopos do íon Cl− com detecção indireta na presença de cromato, um ânion que absorve na região do ultravioleta. A neutralidade elétrica do meio faz com que uma banda de analito contendo Cl− tenha, obrigatoriamente, uma concentração menor de CrO42− do que aquela encontrada no tampão de corrida. Com menos CrO42− para absorver radiação ultravioleta, aparece um pico negativo quando o Cl− atinge o detector. O benzoato e o ftalato são outros ânions que também são úteis para esse propósito. Os limites de detecção na eletroforese capilar são, geralmente, cerca de uma ordem de grandeza maior que os limites de detecção na cromatografia iônica, mas são uma ou duas ordens de grandeza menor que os limites de detecção dos eletrodos íon seletivos. Cromatogra a Eletrocinética Micelar54 Ordem normal de eluição na eletroforese capilar de zona: 1. cátions (primeiro os que têm maiores mobilidades) 2. todas as espécies neutras (não se separam) 3. ânions (por último os que tem maiores mobilidades)
Até agora discutimos uma modalidade de eletroforese conhecida como eletroforese capilar de zona. Nesta técnica, a separação se fundamenta na mobilidade eletroforética. Se a parede do capilar for negativa, o fluxo eletrosmótico é na direção do catodo (Figura 26-21) e a ordem de eluição é os cátions antes das espécies neutras antes dos ânions. Se a carga da parede do capilar é invertida pelo revestimento com um surfactante catiônico (Figura 26-26) e a polaridade do instrumento é invertida, a ordem de eluição é ânions antes das espécies neutras antes dos cátions. Nenhum destes esquemas separa as moléculas neutras, umas das outras.
FIGURA 26-31
Princípio de detecção indireta. Quando o analito emerge do capilar, diminui o forte sinal de fundo.
FIGURA 26-32 Separação dos isótopos naturais em uma solução do íon Cl− 0,56 mM por eletroforese capilar com detecção espectrofotométrica indireta em 254 nm. O eletrólito de suporte contém 5 mM, que proporciona uma absorbância em 254 nm, e tampão borato 2 mM, pH 9,2. O capilar tem um diâmetro de 75 μm, um comprimento total de 47 cm (comprimento até o detector = 40 cm) e potencial elétrico aplicado de 20 kV. A diferença entre as mobilidades eletroforéticas do 35Cl− e do 37Cl− é de apenas 0,12%. As condições foram ajustadas de modo que o fluxo eletrosmótico do solvente fosse aproximadamente igual e oposto ao fluxo eletroforético. A velocidade líquida resultante próxima de zero fez com que decorresse um tempo suficiente para que os picos, correspondentes aos dois isótopos, se separassem em função das velocidades de eletroforese dos dois isótopos serem ligeiramente diferentes. [Dados de C. A. Lucy e T. L. McDonald, “Separation of Chloride Isotopes by Capillary Electrophoresis Based on the Isotope Effect on Ion Mobility”, Anal. Chem. 1995, 67, 1074.]
A cromatografia eletrocinética micelar separa moléculas neutras e íons. Apresentamos um caso em que o surfactante aniônico dodecilssulfato sulfato de sódio está presente acima da sua concentração micelar crítica (Boxe 26-1), de modo que são formadas micelas carregadas negativamente.56 Na Figura 26-33, o fluxo eletrosmótico é para a direita. A migração eletroforética das micelas carregadas negativamente é para a esquerda, mas o movimento resultante é para a direita, pois o fluxo eletrosmótico é dominante. Cromatografia eletrocinética micelar: Quanto maior for o tempo que uma molécula neutra permanece dentro da micela, maior será o seu tempo de migração. Esta técnica foi introduzida por S. Terabe em 1984.55
Na ausência de micelas, todas as moléculas neutras alcançam o detector no tempo t0. As micelas injetadas com a amostra alcançam o detector no tempo tmc, que é maior do que t0, pois elas migram contra a corrente. Se uma molécula neutra está em equilíbrio entre a solução livre e o interior das micelas, seu tempo de migração aumenta, pois parte do tempo ela migra com a
velocidade mais lenta da micela. A molécula neutra atinge o detector em um tempo entre t0 e tmc. Quanto maior for o tempo que uma molécula neutra permanece no interior de uma micela, maior será o seu tempo de migração. Os tempos de migração dos cátions e dos ânions também são afetados pelas micelas, pois os íons se distribuem entre a solução e as micelas, e interagem eletrostaticamente com as micelas. A cromatografia eletrocinética micelar é uma forma de cromatografia, pois as micelas se comportam como uma fase pseudoestacionária. A separação das moléculas neutras se fundamenta na partição entre a solução e a fase pseudoestacionária. O termo de transferência de massa Cux deixa de ser 0 na equação de van Deemter (Equação 26-5), mas a transferência de massa para dentro das micelas é razoavelmente rápida e o alargamento de banda não se torna significativo. Números de pratos típicos, N, são de algumas centenas de milhares. Podemos dar asas à nossa imaginação se pensarmos na extraordinária quantidade de variáveis capazes de influenciar a cromatografia eletrocinética micelar. Podemos adicionar surfactantes aniônicos, catiônicos, que formam íons duplos (zwitteríons) e surfactantes neutros para modificarmos os coeficientes de partição dos analitos. (Surfactantes catiônicos também mudam a carga na parede do capilar e a direção do fluxo eletrosmótico.) Podemos adicionar solventes como acetonitrila e Nmetilformamida para aumentar a solubilidade dos analitos orgânicos e para mudar o coeficiente de partição entre a solução e as micelas.57 Podemos adicionar ciclodextrinas (Boxe 24-1), para separar isômeros ópticos, que permanecem por tempos diferentes associados às ciclodextrinas.58 Na Figura 26-34, micelas quirais foram usadas para separar os enantiômeros de moléculas quirais usadas como medicamentos. Eletroforese Capilar em Gel A eletroforese capilar em gel, também conhecida como eletroforese capilar de peneiramento, é uma variante da eletroforese em gel, que é uma ferramenta básica para a bioquímica por quatro décadas. Os géis poliméricos, usados para separar as macromoléculas de acordo com o seu tamanho, são geralmente géis químicos, nos quais existem ligações químicas entre as cadeias que desmpenham o papel de ligações cruzadas (Figura 26-35a). Os géis químicos naõ podem ser retirados de um capilar e, por isso, os géis físicos (Figura 26-35b), onde os polímeros estão simplesmente embaraçados, são mais usados atualmente. Os géis físicos podem ser lixiviados e recarregados facilmente, tornando possível a preparação de um novo capilar para cada separação, o que torna a eletroforese capilar em gel mais fácil de ser automatizada do que a eletroforese em placa de gel clássica.
FIGURA 26-33 Micelas de dodecilssulfato de sódio negativamente carregadas migram contra a corrente do fluxo eletrosmótico. As moléculas neutras (cor escura) estão em equilíbrio dinâmico entre a solução livre e o interior da micela. Quanto maior for o tempo que uma molécula neutra permanece na micela, maior dificuldade ela terá em acompanhar o fluxo eletrosmótico.
FIGURA 26-34 Separação de enantiômeros de oito medicamentos β-bloqueadores por cromatografia eletrocinética micelar, em pH 8,0, em um capilar de 120 cm, a 30 kV. As micelas foram formadas por um surfactante polimérico contendo substituintes Lleucinato para o reconhecimento quiral. A estrutura de um dos compostos é mostrada na figura. [Dados de C. Akbay. S. A. A. Rizvi e S. A. Shamsi, “Simultaneous Enantioseparation and Tandem UV-MS Detection of Eight β-Blockers in Micellar Electrokinetic Chromatography Using a Chiral Molecular Micelle”, Anal. Chem. 2005, 77, 1672.]
As macromoléculas são separadas em um gel por peneiramento, no qual as moléculas menores migram mais rapidamente que as moléculas maiores através da rede polimérica emaranhada. A Prancha 34 do Encarte em Cores mostra parte da análise de uma sequência do ácido desoxirribonucleico (DNA) em que uma mistura de fragmentos marcados por fluorescência, com mais de 400 nucleotídeos, foi separada em 32 minutos em um capilar contendo como meio de peneiramento poliacrilamida linear a 38 g/L, e ureia 6 M para estabilizar as fitas simples de DNA. Cada fita, que termina em uma das quatro bases A, T, C ou G, foi marcada com um de quatro marcadores fluorescentes diferentes, que identificam as bases terminais à medida que elas passam por um detector de fluorescência. A eletroforese capilar foi uma tecnologia que tornou possível a determinação da sequência de ácidos nucleicos do genoma humano.59 A maior parte do sequenciamento e das análises forenses de DNA, tal como na abertura deste capítulo, são realizadas em instrumentos de eletroforese multicapilar automatizados, conhecidos como analisadores genéticos.60 Os bioquímicos medem a massa molecular de proteínas por eletroforese de gel-dodecilssulfato de sódio (DSS).61 As proteínas são primeiramente desnaturadas (desenoveladas em espirais aleatórias) por meio da redução das suas ligações dissulfeto (—S—S —) com excesso de 2-mercaptoetanol (HSCH2CH2OH) e adição de dodecilssulfato de sódio (C12H25OSO3−Na+). O ânion dodecilssulfato recobre as regiões hidrofóbicas e confere à proteína uma carga negativa muito grande, que é aproximadamente proporcional ao comprimento da proteína. As proteínas desnaturadas são então separadas por eletroforese por um gel de peneiramento. Moléculas maiores retardam mais que as moléculas menores, que é o oposto do comportamento observado em cromatografia de exclusão. Na Figura 26-36, o logaritmo da massa molecular da proteína recoberta com DSS é proporcional a 1/(tempo de migração). Como o tempo de migração absoluto varia de corrida para corrida, mede-se os tempos de migração relativos. O tempo de migração relativo é o tempo de migração de uma proteína dividido pelo tempo de migração de uma molécula pequena de corante, que se move rapidamente.
FIGURA 26-35 (a) Um gel químico contém ligações cruzadas covalentes entre as diferentes cadeias poliméricas. (b) Um gel físico não contém ligações cruzadas, mas suas propriedades têm origem no emaranhamento físico dos polímeros.
Desenvolvimento de Método A eletroforese capilar não é tão utilizada quanto a cromatografia líquida. As vantagens da eletroforese em relação à cromatografia incluem (1) maior resolução, (2) baixa produção de rejeitos da análise e (3) geralmente instrumentação mais simples. As desvantagens da eletroforese capilar são (1) maiores limites de detecção, (2) irreprodutibilidade dos tempos de migração entre
corridas, (3) insolubilidade de alguns analitos nas soluções eletrolíticas mais utilizadas e (4) incapacidade de escalonamento para execução de separações preparativas. A cromatografia líquida é duas décadas mais madura do que a eletroforese capilar, e por isso é, frequentemente, o primeiro método de análise a ser tentado. Entretanto, a eletroforese capilar está, aos poucos, se tornando mais amplamente utilizada na indústria farmacêutica, particularmente para produtos biofarmacêuticos.62 Por exemplo, a eletroforese capilar é o método presente na farmacopeia (isto é, um método oficial) para separar as isoformas da eritropoietina, um hormônio que aumenta o nível de células vermelhas, e por isso é às vezes empregada como doping em esportes de resistência. A eletroforese substituiu a cromatografia líquida como método preferido para análises forenses de alcaloides em ópio e heroína.63 A tecnologia que possibilitou essa aplicação foi o recobrimento dinâmico do capilar entre corridas para eliminar a adsorção de analitos na superfície de sílica e minimizar a variação nos tempos de migração para menos que 0,5%.
FIGURA 26-36 Curva de calibração para a determinação das massas moleculares de proteínas em eletroforese capilar em gel, em dodecilssulfato de sódio. A abcissa, trel, é o tempo de migração de cada proteína dividido pelo tempo de migração de uma pequena molécula de corante. [Dados de J. K. Grady, J. Zang, T. M. Laue, P. Arosio e N. D. Chasteen, “Characterization of the Hand L-Subunit Ratios in Ferritins by Sodium Dodecyl Sulfate-Capillary Gel Electrophoresis”, Anal. Biochem. 2002, 302, 263.]
No desenvolvimento de um método, é importante relembrar que a eletroforese é uma técnica fundamentalmente diferente da cromatografia. O desenvolvimento de métodos para eletroforese capilar objetiva os seguintes pontos:64 1.
Selecionar um método de detecção que possa fornecer o limite de detecção requerido pela análise. Para absorção no ultravioleta selecionar o comprimento de onda ótimo. Caso seja necessário, utilizar detecção indireta ou derivatização.
2.
Se for possível, separar os analitos na forma aniônica, que não se fixam nas paredes carregadas negativamente. No caso da separação de policátions, tais como proteínas em pH baixo, escolha aditivos para revestir as paredes ou para reverter a carga das paredes.
3.
Dissolver toda a amostra. Se a amostra não for solúvel no tampão aquoso diluído, tentar a adição de solução de ureia 6 M ou a adição de surfactantes. O tampão de acetato tende a dissolver mais solutos orgânicos do que o tampão de fosfato. (Caso seja necessário, solventes orgânicos podem ser utilizados.65 Entretanto, o solvente orgânico deve ser compatível com as partes plásticas do sistema. A acetonitrila e o metanol são recomendados, mas a corrente elétrica deve ser mantida baixa para evitar liberação de gases e evaporação. Micelas aquosas ou ciclodextrina resolvem alguns problemas de solubilidade que, de outra forma, iriam exigir um solvente orgânico.)
4.
Um capilar deve ser destinado a um único tipo de análise. O capilar novo deve ser cortado de modo que suas extremidades estejam sem pontas, e que esteja condicionado em NaOH e um tampão antes do primeiro uso.
5.
Determinar quantos picos estão presentes. Identificar cada pico utilizando amostras-padrão dos analitos e detecção no ultravioleta com conjunto de diodos ou espectrometria de massa.
6.
Para misturas complexas, utilizar técnicas computadorizadas de planejamento experimental para auxiliar a otimização das condições de separação.66
7.
Utilizar a terminação final do capilar da Figura 26-19 para realização de corridas exploratórias rápidas para determinar a direção da migração e a presença de picos largos. A observação de picos largos indica que efeitos de parede estão ocorrendo, o que poderá requerer um recobrimento para as paredes.
8.
Verificar se somente o pH propicia uma separação adequada. Para ácidos, começar com tampão de borato 50 mM, com pH 9,3. Para bases, tentar tampão de fosfato 50 mM, com pH 2,5. Caso a separação não seja adequada, tentar ajustar o pH do tampão para um valor próximo do pKa médio dos solutos.
9.
Se o pH não propicia uma separação adequada ou se os analitos forem neutros, utilizar surfactantes para a cromatografia eltrocinética micelar capilar. Para análise de solutos quirais, tentar a adição de ciclodextrinas.
10. Selecionar um procedimento para lavagem do capilar entre as corridas. Se os tempos de migração são reprodutíveis de corrida para corrida, sem que seja efetuada lavagem do capilar, significa que a lavagem do capilar não se faz necessária. Caso seja observado aumento nos tempos de migração, lavar o capilar por 5 a 10 s com solução 0,1 M de NaOH, seguida de lavagem por 5 min com tampão. Caso os tempos de migração continuem variando, tentar aumentar ou diminuir por poucos segundos o tempo de lavagem com NaOH. Se os tempos de migração diminuem, lavar com H3PO4 0,1 M. Caso proteínas ou outros cátions fiquem retidos nas paredes, tentar lavagem com dodecilssulfato de sódio 0,1 M ou utilize um recobrimento dinâmico comercial. 11. Caso necessário, escolher um método de purificação prévia da amostra. A purificação pode ser necessária se a resolução for muito ruim, se a concentração de sais é alta ou se a amostra for causar a contaminação do capilar. A purificação prévia da amostra pode envolver extração em fase sólida (Seção 28-3), precipitação de proteínas ou diálise (Demonstração 27-1). 12. Se o limite de detecção não é suficiente, selecionar um método de empilhamento ou varredura para concentrar o analito no capilar. 13. Para análise quantitativa, determinar a faixa linear necessária para medir o analito menos concentrado e o mais concentrado. Caso seja desejado, escolher um padrão interno. Se o tempo de migração ou a área do pico do padrão variarem, temos uma indicação de que alguma condição saiu de controle.
26-8
Laboratório em um Chip: Per l de DNA
A abertura deste capítulo apresentou um perfil de DNA forense que pode ser atribuído com alta probabilidade a uma pessoa, e que pode ser usado para excluir outras pessoas como fonte da amostra biológica. Um perfil de DNA pode incriminar ou inocentar uma pessoa acusada de um crime. O tempo de uma análise pode levar três dias, durante o qual um suspeito sob custódia tem uma boa chance de ser liberado. É altamente desejável a automação do processo de modo que possa ser conduzido em algumas horas, enquanto o suspeito continua sob custódia. A missão ExoMars da Agência Espacial Europeia vai procurar sinais de vida em Marte com um laboratório em um chip para determinar aminas, aminoácidos e enantiômeros de aminoácidos.67 Os limites de detecção abaixo de parte por trilhão são 1000 vezes menores do que os do cromatografo a gás/espectrômetro de massa da Viking, que não detectou compostos orgânicos em Marte em 1976.
Os perfis de DNA e outras análises biológicas estão sendo cada vez mais gerenciados por dispositivos microfluidos. Um dispositivo desse tipo é chamado “laboratório em um chip”.68,69 Chips de vidro ou de plástico – frequentemente do tamanho de uma lâmina de microscópio, empregam eletrosmose ou pressão para mover o líquido com controle preciso através de microcanais de dimensões micrométricas para uma variedade de aplicações.70 As reações químicas podem ser efetuadas movendo-se volumes da ordem de microlitros ou picolitros provenientes de diferentes reservatórios, misturando-os e aquecendo-os, e sujeitando os produtos por eletroforese em um canal estreito gravado em vidro ou polímero. O dispositivo microfluido na Figura 26-37 é a versão original desenvolvida em 2010 para permitir a obtenção do perfil de DNA em 2h. O cartucho de 23 × 18 cm de policarbonato para preparação de amostra foi concebido para apenas uso único a fim de evitar contaminação de uma amostra por amostras anteriores. Na primeira etapa da criação de um perfil de DNA, células retiradas do interior da boca de uma pessoa são lisadas (quebradas) com 1 mL de líquido e centrifugadas; 150 µL do líquido do tubo da centrífugas são injetados na câmara C1 mostrada na Figura 26-37. A bomba P1 gera uma pressão por meio de eletrólise de solução aquosas de NaCl com eletrodos de Pt, produzindo H2(g) e O2(g), que impulsionam o líquido da bomba. Após a passagem através das câmaras B, M, C2 e C3, a amostra foi misturada com leitos magnéticos de troca iônica que se ligam ao DNA carregado negativamente. Na câmara C4, os leitos com o DNA são capturados por um ímã. O líquido contendo outros constituintes celulares é removido do DNA capturado para o compartimento de rejeito. A bomba P2 envia então tampão da câmara W para elevar o pH e mudar a carga dos leitos, de positivo para neutro. O DNA é liberado dos leitos, e 10 µL da solução de DNA são enviados para a câmara R por meio da bomba P3. Na câmara R é realizada a reação em cadeia da polimerase (PCR, do inglês polymerase chain reaction).71 Essa engenhosa reação, que rendeu um Prêmio Nobel a Kary Mullis, o inventor do processo, em 1984, amplifica (produz muitas cópias) das seções escolhidas do DNA. O sistema microfluídico conduz 27 ciclos de amplificação para produzir cerca de 107 cópias de cada uma das 16 seções de repetição curtas seguidas (short tandem repeat – STR) do DNA encontrado no genoma humano. Cada ciclo de amplificação do PCR leva 4 min e exige a mudança da temperatura da câmara R para 94, 59 e 72ºC. Cada repetição
dessa sequência de temperatura dobra a quantidade de DNA. Os iniciadores empregados para dar início a cada replicação do DNA são marcados com um dentre quatro diferentes corantes fluorescentes. Cada um dos 16 tipos de DNA que é replicado é inequivocamente caracterizado pela combinação da cor de sua fluorescência e de seu número de pares de bases. A câmara F contém o solvente formamida e um conjunto de DNA padrão, usados para calibrar a velocidade com a qual os diferentes comprimentos de DNA migram na eletroforese em gel. Esses padrões são marcados com um corante fluorescente que pode ser distinguido dos quatro corantes usados na amplificação do DNA desconhecido. A bomba P4 envia solução de formamida para a câmara F através da câmara R para conduzir o DNA replicado para a câmara D, onde é desnaturado a 95ºC. Desnaturação significa que as ligações de hidrogênio são quebradas e a hélice dupla se desdobra em duas cadeias separadas. O DNA desnaturado é bombeado da saída X, através de um tubo capilar de teflon, para o chip de eletroforese em vidro no canto superior direito da Figura 26-37. O chip de eletroforese possui um canal fino (25 µm de profundidade × 50 µm de largura) de 13 cm de comprimento, que é gravado no vidro. Durante a eletroforese em gel nesse chip, fitas curtas de DNA migram mais rapidamente que as fitas mais longas. O DNA que migra passa por um detector de fluorescência localizado a 11 cm do ponto de injeção, sendo identificado pelo comprimento de onda de sua fluorescência e pelo seu tempo de migração. A comparação com os tempos de migração de padrões internos nos indica o número de nucleotídeos em cada DNA desconhecido. O perfil de DNA resultante, como o que é visto na abertura deste capítulo, pode ser comparado com o perfil de DNA obtido de um suspeito ou confrontado com um banco de dados internacional (como o CODIS) para identificar o DNA desconhecido. Após quatro anos da introdução do dispositivo mostrado na Figura 26-37, suas funções foram posteriormente automatizadas e melhoradas, e o dispositivo tornou-se menor.72,73 O esfregaço bucal no interior da bochecha de uma pessoa é simplesmente inserido dentro do analisador, que faz o trabalho de extrair, amplificar e analisar o DNA sem intervenção humana. A dimensão do dispositivo ficou quatro vezes menor por meio de sua construção em seis camadas ao invés de uma. Um dispositivo do tamanho mostrado na Figura 26-37 pode processar quatro amostras em paralelo ao invés de uma única amostra.
FIGURA 26-37 Dispositivo microfluídico para análise forense automatizada de DNA, desenvolvido pela Universidade do Arizona e pelo British Forensic Science Service. As partes marcadas com V e O no diagrama do cartucho de preparação de amostra são válvulas. Outros itens são mencionados no texto. [Informação de F. Zenhausern, Universidade do Arizona. [Dados de A. J. Hopwood, C. Hurth, J. Yang, Z. Cai, N. Moran, J. G. Lee-Edghill, A. Nordquist, R. Lenigk, M. D. Estes, J. P. Haley, C. R. McAlister, X. Chen, C. Brooks, S. Smith, K. Elliott, P. Koumi, F. Zenhausern e G. Tully, “Integrated Microfluidic System for Rapid Forensic DNA Analysis: Sample Collection to DNA Profile,” Anal. Chem. 2010, 82, 6991. Reproduzido sob permissão ©2010, American Chemical Society.]
A comprovação do DNA é boa para excluir pessoas inocentes, mas um trabalho de laboratório desleixado pode incriminar a pessoa errada. A análise forense exige uma execução meticulosa sem preconceito acerca de quem é o culpado. O dispositivo microfluídico automatizado não apenas reduz o tempo para se chegar ao perfil de DNA, mas também elimina muitas fontes de erro humano nos resultados.
Termos Importantes água deionizada
capacidade de troca iônica coeficiente de seletividade cromatografia de afinidade cromatografia de exclusão molecular cromatografia de interação hidrofóbica cromatografia de par iônico cromatografia de supressão iônica cromatografia de troca iônica cromatografia eletrocinética micelar cromatografia iônica detecção indireta eletroforese eletroforese capilar eletroforese capilar de zona eletroforese capilar em gel eletrosmose eluição por gradiente empilhamento equivalente especiação exclusão de Donnan filtração em gel gel injeção eletrocinética injeção hidrodinâmica ligação cruzada micela mobilidade polímero impresso molecularmente pré-concentração resina substância hidrofóbica surfactante trocador aniônico trocador catiônico volume morto
Resumo A cromatografia de troca iônica emprega resinas e géis com grupos carregados covalentemente ligados que atraem os contraíons do soluto (e que excluem os íons que possuem a mesma carga da resina). A ligação por troca iônica aumenta com a elevação da carga do íon e da polarizabilidade, e depende inversamente do raio do íon hidratado. As resinas de poliestireno são úteis para a separação de íons pequenos. Quanto maior forem as ligações cruzadas em uma resina, maior a sua capacidade, a sua seletividade e o tempo necessário para atingir o equilíbrio. Os géis de troca iônica baseados em celulose e dextrano têm tamanhos de poro grandes e baixa densidade de carga, sendo apropriados para a separação de macromoléculas. Certos sólidos inorgânicos possuem propriedades de troca iônica e são úteis em casos extremos de temperatura e radiação. Os trocadores de íons operam pelo princípio da lei da ação das massas, executando normalmente uma separação por meio de um gradiente de força iônica crescente. A cromatografia de interação hidrofóbica zwiteriônica pode separar ânions e cátions na mesma coluna. Na cromatografia de supressão iônica, uma coluna de separação separa os íons de interesse, e uma membrana supressora converte o eluente em uma forma não iônica, de modo que os analitos podem ser detectados por suas condutividades elétricas. O eluente e o supressor podem ser gerados continuamente por eletrólise. Alternativamente, a cromatografia iônica sem supressão de íons usa uma única coluna de troca iônica e um eluente de baixa concentração. A cromatografia de par iônico utiliza um surfactante iônico no eluente para fazer uma coluna de fase reversa funcionar como uma coluna de troca iônica.
A cromatografia de exclusão molecular é usada nas separações baseadas no tamanho molecular e para determinações de massas moleculares de macromoléculas. A exclusão molecular é baseada na incapacidade relativa de moléculas grandes entrarem nos poros da fase estacionária. As moléculas pequenas entram nesses espaços e, portanto, apresentam tempos de eluição maiores do que as moléculas grandes. Na cromatografia de afinidade, a fase estacionária retém determinado soluto em uma mistura complexa. Após todos os outros componentes terem sido eluídos, a espécie desejada é liberada por uma mudança nas condições. Na cromatografia de interação hidrofóbica, concentrações elevadas de sulfato de amônio induzem as proteínas a aderir a uma fase estacionária hidrofóbica. Um gradiente de concentração de sal decrescente é aplicado para aumentar a solubilidade de proteínas na água e eluí-las da coluna. Na eletroforese capilar de zona, os íons são separados pelas diferenças de suas mobilidades em um campo elétrico intenso aplicado entre as extremidades de um tubo capilar de sílica. Quanto maior a carga e menor o raio hidrodinâmico, maior a mobilidade eletroforética. Normalmente, a parede de um capilar é negativa e a solução é transportada do anodo para o catodo pela eletrosmose dos cátions na dupla camada elétrica. Os cátions de soluto chegam primeiro ao detector, seguidos das espécies neutras, seguidas pelos ânions do soluto (se a eletrosmose for mais forte do que a eletroforese, o que é o caso frequente). A mobilidade aparente é a soma da mobilidade eletroforética mais a mobilidade eletrosmótica (que é a mesma para todas as espécies). A dispersão de zona (o alargamento de banda) surge principalmente a partir da difusão longitudinal e do comprimento finito da amostra injetada. O empilhamento dos íons do soluto no capilar ocorre quando a amostra tem uma condutividade baixa. O fluxo eletrosmótico é reduzido em pH baixo, pois os grupos Si—O− da superfície estão protonados. Os grupos Si—O− podem ser mascarados por cátions de poliamina, e a carga na parede pode ser invertida por um surfactante catiônico, que forma uma bicamada ao longo da parede. Revestimentos covalentes reduzem a eletrosmose e a adsorção na parede. A injeção hidrodinâmica da amostra é feita por pressão; a injeção eletrocinética usa um campo elétrico. A absorbância no ultravioleta é comumente usada para detecção. A cromatografia eletroforética micelar usa micelas como uma fase pseudoestacionária para separar moléculas neutras e íons. A eletroforese capilar em gel separa macromoléculas por peneiramento. Ao contrário da cromatografia de exclusão molecular, as moléculas pequenas se movem mais rápido na eletroforese em gel. Dispositivos microfluídicos (“laboratórios em um chip”) usam o fluxo eletrosmótico ou hidrodinâmico em canais fabricados por litografia, para fazer reações e análises químicas.
Exercícios 26-A. Experimento de sais totais. Cátions inorgânicos podem ser quantificados passando uma solução salina através de uma coluna trocadora de cátions na forma H+, seguido de titulação do H+ liberado com uma base forte. O número de mols de OH− do titulante é igual ao número de equivalentes de carga do cátion em solução. (a) Que volume de NaOH 0,023 1 M é necessário para titular o eluato quando 10,00 mL de KNO3 0,045 8 M foram introduzidos em um coluna trocadora de cátions na forma H+? (b) 0,269 2 g de uma amostra de um sal desconhecido são dissolvidos em água deionizada e introduzidos em uma coluna trocadora de cátions na forma H+. A coluna é rinsada com água deionizada, e a combinação da solução introduzida com a solução de rinsagem é titulada com KOH 0,139 6 M. Foi necessário um volume de 30,64 mL para se chegar ao ponto final. Quantos equivalentes de cátion estão presentes na amostra? Determine o número de miliequivalentes de cátion por g de amostra (meq/g). (c) A massa da substância contendo um equivalente é chamada massa equivalente. Se o cátion tem carga +1, a massa equivalente é igual à massa molar. Se o cátion apresenta uma carga +2, a massa equivalente é metade da massa molar. Qual é a massa equivalente da amostra em (b)? 26-B. O sulfato de vanadila (VOSO4, MF 163,00), disponível comercialmente, encontra-se contaminado por H2SO4 (MF 98,08) e H2O. Uma solução foi preparada pela dissolução de 0,244 7 g de VOSO4 impuro em 50,0 mL de água. Análises espectrofotométricas indicaram que a concentração do íon VO2+, azul, é 0,024 3 M. Uma amostra de 5,00 mL passou através de uma coluna de troca catiônica carregada com H+. Quando o VO2+ proveniente dos 5,00 mL de amostra se ligou à coluna, o H+ liberado consumiu 13,03 mL de NaOH 0,022 74 M para ser titulado. Determine a porcentagem ponderal de cada componente (VOSO4, H2SO4 e H2O) no sulfato de vanadila. 26-C. O produto comercial Blue Dextran 2000 foi eluído durante a filtração em gel em um volume de 36,4 mL a partir de uma coluna de 2,0 × 40 cm (diâmetro × comprimento) de Sephadex G-50, que fraciona moléculas na faixa de massa molecular entre 1500 e 30.000. (a) Em que volume de retenção a hemoglobina seria esperada (massa molecular 64.000)? (b) Suponha que 22NaCl radioativo, que não é adsorvido na coluna, seja eluído em um volume de 109,8 mL. Qual seria o volume de retenção de uma molécula com Kméd = 0,65? 26-D. Considere uma experiência de eletroforese capilar feita em pH próximo a 9, em que o fluxo eletrosmótico é mais forte que o fluxo eletroforético. (a) Desenhe uma figura do capilar, mostrando onde se situam o anodo, o catodo, o injetor e o detector. Mostre a direção do fluxo eletrosmótico e a direção do fluxo eletroforético de um cátion e de um ânion. Mostre a direção do fluxo resultante.
(b) Usando a Tabela 15-1, explique por que o Cl− tem um tempo de migração menor do que o I−. Faça a previsão se o Br− terá um tempo de migração menor que o do Cl− ou maior do que o do I−. (c) Por que a mobilidade do I− é maior que a mobilidade do Cl−?
Problemas Cromatografia de Troca Iônica e Cromatografia Iônica 26-1. Estabeleça os efeitos do aumento do número de ligações cruzadas em uma coluna de troca iônica. 26-2. A capacidade de troca de uma resina de troca iônica pode ser definida como o número de mols de sítios eletricamente carregados por grama de resina seca. Descreva como você mediria a capacidade de troca de uma resina de troca aniônica usando NaOH padrão, HCl padrão ou qualquer outro reagente que você queira. 26-3. O que significa a representação 200/400 mesh em um frasco de fase estacionária cromatográfica? Qual é a faixa de tamanho dessas partículas? (Veja a Tabela 28-2.) Que partículas são menores, as de 100/200 mesh ou 200/400 mesh? 26-4. Considere a separação de ânions inorgânicos e orgânicos na Figura 26-8. (a) Qual é a carga provável (Xn−) do ânion piruvato (pico 10), 2-oxovalerato (pico 16) e do maleato (pico 28)w (Sugestão: Observe os íons ao redor dos picos em questão.) (b) O iodeto (pico 44) tem uma carga –1. Explique a sua retenção forte. 26-5. Considere uma proteína com uma carga líquida negativa adsorvida em um gel de troca aniônica em pH 8. (a) Como um gradiente de pH (de pH 8 até um valor inferior de pH) será útil para eluir a proteína? Suponha que a força iônica do eluente é mantida constante. (b) Como um gradiente de força iônica (em pH constante) seria útil para a eluição da proteína? 26-6. Proponha um esquema para a separação da trimetilamina, dimetilamina, metilamina e amônia por meio de uma cromatografia de troca iônica. 26-7. O que é água deionizada? Que espécies de impurezas não são removidas por deionização? 26-8. Concentrações baixas de ferro (como 0,02 nM) no oceano aberto limitam o crescimento do fitoplâncton. Pré-concentração é necessária para determinar concentrações tão baixas. Os traços de Fe3+ presentes em uma enorme amostra de água do mar foram concentradas em 1,2 mL de uma coluna de resina quelante. A coluna é então rinsada com 30 mL de água de alta pureza e depois eluída com 10 mL de HNO3 1,5 M de alta pureza. (a) Para cada amostra, a água do mar é passada através de uma coluna por 17 h a 10 mL/min. De quanto a concentração de Fe3+ nos 10 mL de eluato de HNO3 aumenta devido a esse procedimento de pré-concentração? (b) Qual é a concentração de Fe3+ na água do mar quando Fe3+ 57 nM foi encontrado no eluato de ácido nítrico? (c) O reagente ácido nítrico concentrado grau analítico tem concentração 15,7 M e contém ≤0,2 ppm de ferro. Qual seria a concentração aparente de ferro (nM) em um branco de água do mar se o ácido de grau analítico fosse usado para preparar o eluente HNO3 1,5 M? 26-9. Balanço de material. Se você pretende medir todos os ânions e cátions em uma amostra desconhecida, pode verificar a qualidade dos seus resultados sabendo que o número total de cargas positivas deve ser igual ao número total de cargas negativas. A tabela apresentada a seguir mostra as concentrações de cátions e ânions na água de uma lagoa expressas em µg/L, determinadas em um experimento feito por alunos de graduação. Determine a concentração total de carga negativa e de carga positiva (mol/L) para avaliar a qualidade da análise. O que você conclui a respeito desta análise? Ânions
μg/mL
Cátions
μg/mL
F−
0,26
Na+
2,8
Cl−
43,6
0,2
5,5
K+
3,5
12,6
Mg2+
7,3
Ca2+
24,0
Dados de K. Sinniah e K. Piers, “Ion Chromatography: Analysis of Ions in Pond Water,” J. Chem. Ed. 2001, 78, 358. 26-10. Na cromatografia de exclusão de íons, os íons são separados de não eletrólitos por meio de uma coluna de troca iônica. Os não eletrólitos penetram na fase estacionária, enquanto os íons com a mesma carga de resina são repelidos. Como os coíons têm
acesso a um volume da coluna menor, os eletrólitos são eluídos antes dos não eletrólitos. O cromatograma visto a seguir mostra a separação entre o ácido tricloroacético (ATA, pKa = 0,5), o ácido dicloroacético (ADA, pKa = 1,1) e o ácido monocloroacético (AMA, pKa = 2,86) pela passagem através de uma resina de troca iônica eluída com HCl 0,01 M. Explique como os três ácidos são separados e por que a sua eluição se faz na ordem que é vista a seguir.
Separação de ácidos em uma coluna de troca catiônica. [Dados de V. T. Turkelson e M. Richards, “Separation of the Citric Acid Cycle Acids by liquid Chromatography”, Anal. Chem. 1978, 50, 1420.]
26-11. (a) Explique como ânions e cátions podem ser separados por cromatografia de interação hidrofílica na Figura 26-4 usando a fase estacionária zwiteriônica na Figura 25-16. Por que o gradiente vai de um valor alto para um baixo de CH3CN? (b) Explique como o detector por aerossol carregado usado na Figura 26-4 funciona. 26-12. Estabeleça o propósito das colunas de separação e de supressão na cromatografia de supressão iônica. Na cromatografia catiônica, por que o supressor é uma membrana de troca aniônica? 26-13. (a) Suponha que o reservatório da Figura 26-7 contenha 1,5 L de K2PO4 2,0 M. Por quantas horas o reservatório pode fornecer solução de KOH a um fluxo de 1,0 mL/min, considerando-se possível um consumo de 75% de K+ no reservatório? (b) Quais os valores inicial e final de corrente seriam requeridos para produzir um gradiente de KOH de 5,0 mM até 0,10 M, a um fluxo de 1,0 mL/min? 26-14. O sistema na Figura 26-7 pode ser adaptado para produzir o eluente ácido forte, ácido metanossulfônico. Para isto, a polaridade dos eletrodos é invertida e o reservatório pode conter . A membrana de barreira e o leito da resina na parte inferior da figura devem ser ambos trocadores aniônicos carregados com . Esquematize este sistema e escreva todas as reações que ocorrem em cada parte. 26-15. (a) O supressor na Figura 26-9 permite a detecção de condutividade em níveis de parte por bilhão para ânions como Cl− e Br−, mas limites de detecção muito ruins para ânions como CN− e borato. Explique o porquê dessa diferença. (b) Misturas de carbonato e bicarbonato de sódio podem ser usadas como eluente na cromatografia aniônica com supressão de íon. Os limites de detecção são piores do que no caso quando o eluente é o hidróxido devido a uma maior condutividade de fundo. Explique o porquê. 26-16. A decomposição do ditionito foi estudada por cromatografia em uma coluna de troca aniônica, eluída com 1,3,6naftalenossulfonato trissódico 20 mM em 90% H2O/10%CH3CN (v/v), com detecção ultravioleta em 280 nm. Uma solução de ditionito de sódio, armazenada por 34 dias com ausência de ar, deu cinco picos identificados como . Todos os picos tiveram absorvância negativa. Explique por que: 26-17.
A noradrenalina (norepinefrina) (NE), presente na urina humana, pode ser determinada por cromatografia de troca
iônica usando-se uma fase estacionária de octadecilsilano e octilsulfato de sódio como aditivo na fase móvel. Usa-se detecção eletroquímica (oxidação a 0,65 V contra Ag|AgCl) com 2,3-di-hidroxibenzilamina (DHBA) como padrão interno.
(a) Explique o mecanismo físico pelo qual ocorre a separação de pares de íons.
(b) Uma amostra de urina, contendo uma quantidade desconhecida de NE e uma concentração constante de DHBA adicionada, deu uma razão entre a altura dos picos no detector de NE/DHBA = 0,298. Foram feitas a seguir pequenas adições de NE padrão, chegando-se aos seguintes resultados: Concentração adicionadade NE (ng/mL)
Razão entre a altura dos picos de NE/DHBA
12
0,414
24
0,554
36
0,664
48
0,792
Usando o tratamento gráfico mostrado na Seção 5-3, determine a concentração de NE na amostra original de urina.
Cromatografia de Exclusão Molecular, Afinidade e de Interação Hidrofóbica 26-18. Qual destas técnicas, cromatografia de exclusão molecular, de afinidade ou de interação hidrofóbica, é a mais apropriada para cada uma das aplicações apresentadas a seguir? (a) Purificação e concentração de uma mistura bruta de um antibiótico. (b) Dessalinização de uma solução contendo uma proteína de 30 kDa. (c) Determinação da distribuição de massa molecular do poliestireno com massa molecular média de 15 kDa. (d) Separação do citocromo c (12.400 Da) e da ribonuclease A (12.600 Da). O citocromo c possui uma hidrofobicidade superficial menor do que a ribonuclease A. 26-19. (a) Como a cromatografia por exclusão molecular pode ser usada na determinação da massa molecular de uma proteína? (b) Qual o tamanho do poro na Figura 26-15 mais adequado para a cromatografia de moléculas com massa molecular próxima a 100 000? 26-20. Uma coluna de filtração em gel tem um raio (r) de 0,80 cm e um comprimento (l) de 20,0 cm. (a) Calcule o volume (Vt) da coluna, que é igual a πr2l. (b) Determinou-se que o volume morto (Vo) foi de 18,1 mL, e o volume total da fase móvel foi igual a 35,8 mL. Determine Kméd para um soluto eluído em 27,4 mL. 26-21. Os compostos ferritina (massa molecular 450.000), transferrina (massa molecular 80.000) e citrato férrico foram separados por cromatografia de exclusão molecular em Bio-Gel P-300. A coluna tinha um comprimento de 37 cm e um diâmetro de 1,5 cm. Foram coletadas frações do eluato com 0,65 mL. O máximo de cada um dos picos se originou nas seguintes frações: ferritina, 22; transferrina, 32; e citrato férrico, 84. (Isto é, o pico da ferritina apareceu em um volume de eluição igual a 22 × 0,65 = 14,3 mL.) Supondo que a ferritina seja eluída no volume morto e que o citrato férrico seja eluído em Vm, determine o valor de Kméd para a transferrina. 26-22. (a) O volume morto na Figura 26-15 é o volume no qual as curvas crescem, à esquerda, verticalmente. Determine Vo para uma coluna com tamanho de poro igual a 25 nm. Para a ordem de grandeza mais próxima, qual é a menor massa molecular das moléculas eluídas por essa coluna? (b) Qual é a massa molecular das moléculas eluídas em 9,7 mL, na coluna de 12,5 nm? (c) Vm é o volume no qual a curva cai verticalmente à direita. Determine a maior massa molecular que pode passar livremente pelos poros de 45 nm. 26-23. Uma coluna de CLAE com resina de exclusão molecular de poliestireno tem um diâmetro de 7,8 mm e um comprimento de 30 cm. As porções sólidas das partículas do gel ocupam 20% do volume, os poros ocupam 40% e o volume existente entre as partículas ocupa 40%. (a) Em que volume seria esperado emergir as moléculas que são totalmente excluídas? (b) Em que volume seria esperado as moléculas menores? (c) Uma mistura de polietilenoglicóis de várias massas moleculares é eluída entre 23 e 27 mL. Qual o significado desse resultado em relação ao mecanismo de retenção desses solutos na coluna? 26-24.
As substâncias na tabela a seguir foram cromatografadas por uma coluna de filtração em gel. Determine a massa
molecular da substância desconhecida. Composto
Vr(mL)
Massa molecular (Da)
Dextrana azul 2000
17,7
2 × 106
Aldolase
35,6
158.000
Catalase
32,3
210.000
Ferritina
28,6
440.000
Tiroglobulina
25,1
669.000
Substância desconhecida
30,3
?
26-25. Na separação de proteínas por cromatografia de interação hidrofóbica, por que a força do eluente aumenta com a diminuição da concentração do sal no eluente aquoso?
Eletroforese Capilar 26-26. A mobilidade eletroforética da forma aniônica A− do ácido fraco fenol (HA = C6H5OH) e seus derivados é apresentada na tabela a seguir. Analito HA
pKa
μA−(m2/(V · s))
Fenol
9,98
−2,99 × 10−8
4-Metilfenol
10,27
−2,59 × 10−8
4-Etilfenol
10,22
−2,39 × 10−8
2,4,5-Triclorofenol
6,83
−2,85 × 10−8
Dados de S. C. Smith and M. G. Khaledi, “Optimization of pH for the Separation of Organic Acids in Capillary Zone Electrophoresis,” Anal. Chem. 1993, 65, 193. (a) Explique a tendência da mobilidade eletroforética do fenol em relação ao 4-metilfenol e em relação ao 4-etilfenol. (b) Preveja a mobilidade eletroforética dos analitos em pH 10,00. Explique por que a mobilidade prevista é diferente de μA−. (c) A mobilidade eletrosmótica tem a direção do catodo, e é maior em magnitude do que as mobilidades eletroforéticas dos analitos. Qual será a ordem de aparecimento dos picos no eletroferograma em pH 10,00? 26-27. O que é eletrosmose? 26-28. Vemos, na tabela a seguir, as velocidades de eletrosmose de soluções tamponadas em um capilar de sílica nua e em outro capilar com grupos aminopropil (sílica-Si-CH2CH2CH2NH2) ligados covalentemente à parede. Um sinal positivo significa que o fluxo é na direção do catodo. Explique os sinais e os valores relativos do módulo das velocidades.
Velocidade eletrosmótica (mm/s) para E = 4,0 × 104 V/m
Parede do capilar
pH 10
pH 2,5
Sílica nua
+ 3,1
+ 0,2
Sílica modi cada por grupos aminopropil
+ 1,8
– 1,3
Dados de K. Emoto, J. M. Harris e M. van Alstine, “Grafting Poly(ethylene glycol) Epoxide to Amino-Derivatized Quartz: Effect of Temperature and pH on Grafting Density,” Anal. Chem. 1996, 68, 3751. 26-29. A Figura 26-23 apresenta a separação de benzoatos substituídos. Existe um pico não identificado em 86,0 s. (a) Esse composto desconhecido é um cátion, um composto neutro ou um ânion? (b) Encontre a mobilidade aparente e a mobilidade eletroforética do pico desconhecido. 26-30. Derivados fluorescentes de aminoácidos separados por eletroforese capilar de zona tiveram tempos de migração na seguinte ordem: arginina (a mais rápida de todas) < fenilalanina < aspargina < serina < glicina (a mais lenta de todas). Explique por que a arginina apresenta o menor tempo de migração
26-31. Em condições ideais, qual é a principal fonte de alargamento de banda na eletroforese capilar? 26-32. Considere a eletroforese da heparina na Figura 26-18. (a) A eletroforese foi conduzida em pH 2,8, no qual os grupos sulfato são negativos. Por que foi usada a polaridade reversa (extremidade do detector positiva)? (b) A força iônica de amostras com 30 mg/mL de heparina é maior que a de amostras típicas para eletroforese. Qual é a vantagem de uma concentração elevada de tampão (fosfato 0,6 M)? (c) Um capilar estreito (diâmetro de 25 μm) foi escolhido para ser compatível com o tampão de alta força iônica. Qual é a vantagem do capilar estreito? (d) O Li+ tem menor mobilidade que o Na+. Explique por que o fosfato de lítio pode ser usado em um campo elétrico mais alto em vez do fosfato de sódio para gerar a mesma corrente. Qual é a vantagem de um campo elétrico mais alto para essa separação? 26-33. Estabeleça três métodos diferentes para diminuir o fluxo eletrosmótico. Por que a direção do fluxo eletrosmótico muda quando um capilar de sílica é lavado com um surfactante catiônico? 26-34. Explique como as moléculas neutras podem ser separadas por cromatografia eletrocinética micelar. Por que este processo é uma forma de cromatografia? Por que as micelas são consideradas uma fase pseudoestacionária? 26-35. (a) Qual a diferença de pressão necessária para injetar uma amostra igual a 1,0% do comprimento de um capilar de 60,0 cm em 4,0 s se o diâmetro do capilar é de 50 μm? Admita que a viscosidade da solução seja 0,001 0 kg/(m · s). (b) A injeção em alguns instrumentos de eletroforese capilar caseiros é realizada elevando o frasco de amostra para criar um sifão. A pressão exercida por uma coluna de água de altura h é hrg, em que r é a massa específica da água e g a aceleração da gravidade (9,8 m/s2). A que altura seria necessário elevar o frasco de amostra para criar a pressão necessária para injetar a amostra em 4,0 s? É possível elevar a entrada da coluna para essa altura? Como você poderia obter a pressão desejada? 26-36. (a) Quantos mols de analito estão presentes em uma solução 10,0 μM, que ocupa 1,0% do comprimento de um capilar de 25 μm × 60,0 cm? (b) Qual a diferença de potencial elétrico necessária para injetar essa quantidade de mols dentro de um capilar em 4,0 s, se a amostra tem 1/10 da condutividade do eletrólito secundário, μap = 3,0 × 10−8 m2/(V · s) e a concentração da amostra é 10,0 μM? 26-37. Determine o número de pratos teóricos para o pico eletroforético da Figura 26-20. Use a Equação 23-32 para picos assimétricos para determinar o número de pratos para o pico cromatográfico. 26-38. (a) Uma molécula com uma cadeia longa e fina tem um coeficiente de atrito maior que uma molécula pequena e volumosa. Faça uma previsão, entre o fumarato e o maleato, de quem tem maior mobilidade eletroforética.
(b) A eletroforese foi feita com o polo positivo na área de injeção e o polo negativo na área de detecção. Em pH 8,5, ambos os ânions têm carga igual a −2. O fluxo eletrosmótico a partir do terminal positivo para o terminal negativo é maior do que o fluxo eletroforético, de modo que esses dois ânions têm uma migração resultante, no capilar da eletroforese, do polo positivo para o polo negativo. Com base na sua resposta para (a), faça uma previsão da ordem de eluição das duas espécies. (c) Em pH 4,0, ambos os ânions têm carga próximo a −1, e o fluxo eletrosmótico é fraco. Portanto, a eletroforese é feita com o terminal de injeção negativo e o terminal de detecção positivo. Os ânions migram do terminal negativo do capilar para o terminal positivo. Faça a previsão da ordem de eluição. 26-39. (a) Determinada solução em determinado capilar, tem uma mobilidade eletrosmótica de 1,3 × 10−8 m2/(V · s) em pH 2, e de 8,1 × 10−8 m2/(V · s) em pH 12. Quanto tempo um soluto neutro levará para percorrer 52 cm do injetor ao detector se são aplicados 27 kV ao longo do tubo capilar com 62 cm de comprimento em pH 2? E em pH 12?
(b) Um analito aniônico tem uma mobilidade eletroforética de −1,6 × 10−8 m2/(V · s). Quanto tempo ele levará para atingir o detector em pH 2? E em pH 12? 26-40. A Figura 26-24 mostra o efeito na resolução do aumento da diferença de potencial elétrica aplicada de 28 para 120 kV. (a) Qual é a razão esperada entre os tempos de migração (t120 kV/t28 kV) nos dois experimentos? Determine os tempos de migração para o pico 1 e determine a razão observada. (b) Qual a razão esperada entre o número de pratos (N120 kV/N28 kV) nos dois experimentos? (c) Qual a razão esperada entre as larguras de banda (σ120 kV/σ28 kV)? (d) Qual é a explicação física para o fato de que o aumento da diferença de potencial elétrico aplicada diminui a largura de banda e aumenta a resolução? 26-41. Na tabela a seguir, vemos o comportamento que foi observado em eletroforese capilar para o álcool benzílico (C6H5CH2OH). Faça um gráfico do número de pratos contra o valor do campo elétrico e explique o que acontece quando o campo elétrico aplicado aumenta. Campo elétrico (V/m)
Número de pratos teóricos
6400
38.000
12.700
78.000
19.000
96.000
25.500
124.000
31.700
124.000
38.000
96.000
26-42. Determine a largura a meia altura do pico do 35Cl− na Figura 26-32 e calcule o número de pratos teóricos. O capilar tinha 40,0 cm de comprimento. Determine a altura do prato. 26-43. O tempo de migração do Cl− em um experimento de eletroforese capilar de zona é de 17,12 min, e o tempo de migração do I− é de 17,78 minutos. Usando as mobilidades da Tabela 15-1, faça a previsão do tempo de migração do Br−. (O valor observado é de 19,6 minutos.) 26-44.
Determinação da massa molecular por elotrofrese em gel-dodecilssulfato de sódio. A ferritina é uma proteína oca
armazenadora de ferro74 que consiste em 24 subunidades que são uma mistura variável de cadeias pesadas (P) ou leves (L), arranjadas em simetria octaédrica. O centro oco da proteína, com um diâmetro de 8 nm, pode armazenar até 4500 átomos de ferro, na forma aproximada do mineral ferridrita (5Fe2O3 · 9H2O). O ferro(II) entra na proteína através de oito poros localizados nos eixos triplamente simétricos do octaedro. A oxidação a Fe(III) ocorre em sítios catalíticos nas cadeias P. Outros sítios no interior das cadeias L parecem nuclear a cristalização da ferridrita. Os tempos de migração de padrões da proteína e das subunidades da ferritina são apresentadas na tabela a seguir. Faça um gráfico do log(massa molecular) versus 1/(tempo de migração relativo), em que o tempo de migração relativo = (tempo de migração)/(tempo de migração de um corante marcador). Calcule a massa molecular das cadeias leve e pesada da ferritina. As massas das cadeias, calculadas por sequenciamento de aminoácidos, são 19.766 e 21.099 Da. Proteína
Massa molecular (Da)
Tempo de migração (min)
Corante marcador Alaranjado G
pequeno
13,17
α-Lactoalbumina
14.200
16,46
Anidrase carbônica
29.000
18,66
Ovoalbumina
45.000
20,16
Albumina de soro bovino
66.000
22,36
Fosforilase B
97.000
23,56
β-Galactosidase
116.000
24,97
Miosina
205.000
28,25
Ferritina de cadeia leve
17,07
Ferritina de cadeia pesada
17,97
FONTE: J. K. Grady, J. Zang, T. M. Laue, P. Arosio e N. D. Chasteen, “Characterization of the H- e L-Subunit Ratios in Ferritins by Sodium Dodecyl Sulfate-Capillary Gel Electrophoresis,” Anal. Biochem. 2002, 302, 263. 26-45. Resolução. Suponha que a mobilidade eletrosmótica de uma solução é +1,61 × 10−7 m2/(V · s). Quantos pratos teóricos são necessários para separar sulfato de brometo com resolução igual a 2,0? Use a Tabela 15-1 para obter as mobilidades e a Equação 26-14 para o cálculo da resolução. 26-46. As vitaminas solúveis em água, niacinamida (um composto neutro), riboflavina (um composto neutro), niacina (um ânion) e tiamina (um cátion), foram separadas por cromatografia eletrocinética micelar em tampão borato 15 mM (pH 8,0) com dodecil sulfato de sódio 50 mM. Os tempos de migração foram: niacinamida (8,1 min), riboflavina (13,0 min), niacina (14,3 min) e tiamina (21,9 min). Qual teria sido a ordem na ausência do dodecil sulfato de sódio? Que composto é mais solúvel nas micelas? 26-47. Quando os três compostos vistos a seguir são separados por cromatografia eletrocinética micelar em pH 9,6, três picos são observados. Quando α-ciclodextrina 10 mM é adicionada ao tampão de corrida, dois dos três picos são resolvidos em dois picos, fornecendo um total de cinco picos. Explique essa observação e faça uma previsão de qual composto não é resolvido em mais picos.
26-48. Um gráfico de van Deemter para a separação de corantes neutros por cromatografia eletrocinética micelar é apresentado a seguir.75
(a) Explique por que a altura do prato aumenta em velocidades baixas e altas. (b) O termo A na Equação de van Deemter, correspondente ao percurso irregular de fluxo, deve ser igual a 0 no caso ideal de uma cromatografia eletrocinética micelar. O valor observado de A é 2,32 μm, responsável por dois terços do alargamento de banda na velocidade ótima. Sugira algumas razões por que A não é igual a 0. 26-49.
Para obtermos a melhor separação entre dois ácidos fracos na eletroforese capilar, faz sentido usar o pH em que a
diferença de cargas é máxima. Prepare uma planilha para examinar as cargas do ácido malônico e do ácido ftálico em função do pH. Em que valor de pH a diferença é máxima? 26-50. (a) A espectrometria de mobilidade iônica (Seção 22-7) é eletroforese em fase gasosa. Descreva o princípio da espectrometria de mobilidade iônica e estabeleça as analogias entre esta técnica e a eletroforese capilar.
(b)
Como na eletroforese, a velocidade, u, de um íon em fase gasosa é u = μE, em que μ é a mobilidade do íon e E é o
campo elétrico (E = V/L, em que V é a diferença de potencial aplicada entre a distância L). Na espectrometria de mobilidade iônica, o tempo para ir da entrada até o detector (Figura 22-40a) é chamado de tempo de deslocamento, td. O tempo de deslocamento depende da diferença de potencial: td = L/u = L/(μE) = L/(μ(V/L)) = L2/μV. O número de pratos é N = 5,55(td/w1/2)2, em que w1/2 é a largura a meia altura do pico. No caso ideal, a largura do pico depende somente da largura do pulso de entrada que admite íons para o tubo de desvio e do alargamento difusivo de banda dos íons enquanto eles migram:64
em que te é o tempo em que a entrada de íons está aberta, k é a constante de Boltzmman, T é a temperatura, V é a diferença de potencial entre a entrada e o detector, e é carga elementar e z é a carga do íon. Faça um gráfico de N versus V (0 ≤ V ≤ 20.000) para um íon com μ = 8 × 10−5 m2 (V · s) e te = 0, 0,05 e 0,2 ms a 300 K. Considere o comprimento da região de deslocamento como L = 0,2 m. Explique a forma das curvas. Qual a desvantagem de utilizar te curto? (c) Por que ao diminuir T, N aumenta? (d) Em um espectrômetro de mobilidade iônica bem ajustado, o íon protonado da arginina (z = 1) tem um tempo de deslocamento de 24,925 ms e w1/2 = 0,154 ms a 300 K. Calcule N. Para V = 12.500 V e te = 0,05 ms, qual é o número de pratos teóricos? (e) Em um espectrômetro de mobilidade iônica bem ajustado, com um tubo de deslocamento de 10 cm e intensidade de campo 200 V/cm, a leucina protonada apresentou td = 22,5 ms e a isoleucina protonada apresentou td = 22,0 ms. Ambos possuem N ≈ 80.000. Qual é a resolução dos dois picos?
A ESCALA DE TEMPO GEOLÓGICA E A ANÁLISE GRAVIMÉTRICA
Camadas de rochas expostas no Grand Canyon pela ação erosiva do rio Colorado mostram uma janela histórica de bilhões de anos da Terra. [Esquerda: Extraído Informação de F. Press, R. Siever, J. Gratzinger e T. H. Jordan, Understanding Earth, 4th ed. (New York: W. H. Freeman and Company, 2004). Direita: Carol Polich.] No século XIX, os geólogos perceberam que, com o passar do tempo, novas camadas de rocha (estratos) se depositavam sobre as camadas mais antigas. Fósseis característicos de cada camada ajudaram os cientistas a identi car em todo o mundo a formação de estratos com uma mesma idade geológica. Entretanto, a idade real de cada camada permanecia desconhecida. Ernest Rutherford, Frederick Soddy, Bertram Boltwood e Robert Strutt mostraram no início do século XX que o urânio decaía em chumbo mais oito átomos de hélio, com uma meia-vida de vários bilhões de anos. Rutherford estimou a idade de uma rocha a partir de seus teores de U e de He. Boltwood obteve idades mais exatas de minerais determinando neles os teores de U e de Pb. Em 1910, com 20 anos, Arthur Holmes, um estudante de geologia do Imperial College em Londres, foi a primeira pessoa a determinar as idades atuais de minerais formados em tempos geológicos especí cos. Holmes supôs que, quando um mineral contendo U cristalizava, a partir do magma quente, ele deveria estar relativamente livre de impurezas como o Pb. Uma vez que o mineral se solidi cava, o Pb começaria a se acumular. A razão Pb/U funciona então como um “relógio” da idade do mineral, indicando há quanto tempo o mineral cristalizou. Holmes determinou o conteúdo de U através da velocidade de produção do gás radioativo Rn. Para determinar o teor de Pb, ele fundiu cada amostra de mineral em bórax, dissolveu a massa fundida em ácido e quantitativamente precipitou quantidades de PbSO4 da ordem de miligramas. A razão Pb/U = 0,045 g/g em 15 minerais era aproximadamente constante, e isso foi consistente com a hipótese de que o Pb é o produto nal do decaimento radioativo e que pouco Pb estava inicialmente presente quando o mineral cristalizou. A idade calculada dos minerais do “período Devoniano” era de 370 milhões de anos – quatro vezes mais do que a idade mais aceita para a Terra naquela ocasião. Idades geológicas deduzidas por Holmes em 1911 Período geológico Carbonífero
Pb/U (g/g)
Milhões de anos
Valor aceito hoje
0,041
340
330.362
Devoniano
0,045
370
362.380
Siluriano
0,053
430
418.443
0,125.0,20
1025.1640
900.2500
Pré-cambriano
FONTE: C. Lewis, The Dating Game (Cambridge University Press, 2000); A. Holmes, “The Association of Lead with Uranium in Rock. Minerals and Its Application to the Measurement of Geological Time”, Proc. R. Soc. London A 1911, 85, 248.
N
a análise gravimétrica, a massa de determinado produto é usada para calcular a quantidade do analito (da espécie que está sendo analisada) presente na amostra original. No início do século XX, por meio de uma análise gravimétrica muito meticulosa, T. W. Richards e colaboradores determinaram, com uma precisão de seis algarismos significativos, as massas atômicas do Ag, Cl e N.l Essa pesquisa, que mereceu um prêmio Nobel, permitiu a determinação precisa das massas atômicas de vários outros elementos. Na análise por combustão, uma amostra é queimada na presença de excesso de oxigênio e os produtos como CO2 e H2O são analisados. A combustão é usada rotineiramente na determinação de C, H, N, S e halogênios em compostos orgânicos. Para a determinação de outros elementos, a matéria orgânica é queimada em um sistema fechado. Os produtos da combustão e a cinza (material não queimado) são dissolvidos em ácido ou base e a composição da solução é determinada por plasma indutivamente acoplado com emissão atômica ou espectrometria de massa. Embora hoje possa ser considerado um método tedioso, nos séculos XVIII e XIX a gravimetria foi a principal forma de análise química utilizada. A gravimetria continua sendo, contudo, um dos métodos mais exatos entre os existentes. Os padrões utilizados para calibrar instrumentos analíticos são frequentemente oriundos de procedimentos gravimétricos ou titriméricos.
27-1
Um Exemplo de Análise Gravimétrica
O cloreto pode ser determinado mediante a precipitação do ânion com solução de Ag+, seguido de determinação da massa do AgCl:
EXEMPLO
Um Cálculo Gravimétrico
10,00 mL de uma solução contendo Cl− foram tratados com um excesso de AgNO3, precipitando 0,436 8 g de AgCl. Qual a molaridade do Cl− presente na amostra desconhecida? Solução A massa fórmula do AgCl é 143,321. Um precipitado pesando 0,436 8 g contém
Como 1 mol de AgCl contém 1 mol de Cl−, existirão, na amostra desconhecida, 3,048 × 10–3 mol de Cl−.
TESTE A VOCÊ MESMO Quantos gramas de Br− estão presentes em uma amostra que produziu 1,000 g de precipitado de AgBr (MF 187,77)? (Resposta: 0,425 5 g) Marie e Pierre Curie e Henri Becquerel dividiram o Prêmio Nobel de Física em 1903 pelas investigações pioneiras de radioatividade. O casal Curie precisou de 4 anos para isolar 100 mg de RaCl2 a partir de várias toneladas de minério. Marie Curie recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1911 por seu trabalho de isolamento de rádio metálico. Linus Pauling, John Bardeen e Frederick Sanger são os únicos outros que também receberam duas vezes o Prêmio Nobel.
EXEMPLO
Determinação da Massa Atômica do Rádio por Marie Curie
Como parte de seu trabalho de Doutoramento (Radioative Substances, 1903), Marie Curie determinou a massa atômica do rádio, um novo elemento que ela havia descoberto. Ela sabia que o rádio pertencia à mesma família do elemento bário e que, por isso, a fórmula do cloreto de rádio seria RaCl2. Em
um experimento 0,091 92 g de RaCl2 puro foram dissolvidos e tratados com excesso de AgNO3 para precipitar 0,088 90 g de AgCl. Quantos mols de Cl− estão presentes no RaCl2? A partir desta análise determine a massa atômica do Ra. Solução O precipitado de AgCl pesando 0,088 90 g contém
Como 1 mol de AgCl contém 1 mol of Cl−, temos 6,2029 × 10–4 mol de Cl− no RaCl2. Para cada 2 mols de Cl, tem de existir 1 mol of Ra, assim
Considerando que a massa fórmula do RaCl2 seja x. determinamos que 0,091 92 g RaCl2 contém 3,1014 × 10−4 mol de RaCl2. Portanto
A massa atômica do Cl é 35,453, consequentemente, a massa fórmula do RaCl2 é Massa fórmula do RaCl2 = massa atômica do Ra + 2(35,453 g/mol) = 296,38 g/mol ⇒ massa atômica do Ra = 225,5 g/mol TESTE A VOCÊ MESMO Quantos gramas de AgBr seriam produzidos a partir de 0,100 g de RaBr2? (Resposta: 0,097 g) A tabela na guarda deste livro apresenta o número atômico (um valor inteiro de massa) do isótopo de vida mais longa do Ra, que é 226.
A Tabela 27-1 apresenta algumas precipitações analíticas representativas e a Tabela 27-2 lista alguns agentes precipitantes (que causam a precipitação) orgânicos comuns. As condições do meio reacional têm de ser controladas para precipitarmos, seletivamente, apenas uma das espécies. Pode ser necessária, antes da análise, a remoção de substâncias que sejam potencialmente interferentes.
TABELA 27-1
Análises gravimétricas representativas
*A solubilidade do KB(C6H5)4 em água é 1,8 × 10−4 M a 25ºC e 1,3 × 10−4 M a 0ºC. [V. P. Kozitskii, “Solubility of Potassium Tetraphenylborate in Mixtures of Acetone with Water at 0-50ºC and Its Solubility in Water at 0-97,5ºC,” Bull. Acad. Sci. USSR, Div. Chem. Sci., 1972, 21, 6.] Para um procedimento gravimétrico de medida de K+ na presença de , veja R. M. Engelbrecht e F. A. McCoy, “Determination of Potassium by a Tetraphenylborate Method” Anal. Chem. 1956, 28, 1772. TABELA 27-2
Agentes precipitantes orgânicos comuns
Nome
Estrutura
Íons precipitados
Dimetilglioxima
Ni2+, Pd2+, Pt2+
Cupferron
Fe3+, Vo+2, Ti4+, Zr4+, Ce4+, Ga3+, Sn4+
8-Hidroxiquinolina (oxina)
Mg2+, Zn2+, Cu2+, Cd2+, Pd2+, A13+, Fe3+, Bi3+, Ga3+, Th4+, Zr4+, UO2+2, TiO2+
Salicilaldoxima
Cu2+, Pb2+, Bi3+, Zn2+, Ni2+, Pd2+
1-Nitroso-2-naftol
Co2+, Fe3+, Pd2+, Zr4+
Nitron
NO–3, CIO–4, BF–4, WO2–4
Tetrafenilborato de sódio Cloreto de tetrafenilarsônio
27-2
Na+B(C6H5)–4 (C6H5)4As+CI–
K+, Rb+, Cs+, NH+4, Ag+, íons amônio orgânicos Cr2O2–7, MnO–4, ReO–4, MoO2–4, WO2–4, C1O4, I–3
Precipitação
O produto ideal de uma análise gravimétrica deve ser puro, insolúvel e facilmente filtrável, muito puro e possuir uma composição conhecida. Embora poucas substâncias reúnam todos esses requisitos, técnicas apropriadas podem auxiliar na otimização das propriedades dos precipitados gravimétricos. As partículas do precipitado não devem ser tão pequenas a ponto de entupirem ou passarem através do filtro. Além disso, cristais maiores têm áreas superficiais menores, o que dificulta a agregação de espécies estranhas ao precipitado. O problema com partículas pequenas é maior ainda quando se forma uma suspensão coloidal de partículas com diâmetros na faixa de 1 a 500 nm. As partículas, nesta faixa de tamanho, passam pela maioria dos filtros (Figura 27-1 e Demonstração 27-1). O tamanho de uma partícula formada durante uma precipitação depende das condições como o processo foi conduzido.
FIGURA 27-1 (a) Distribuição do tamanho de partículas medidas de coloides formados quando FeSO4 foi oxidado a Fe3+ em OH– 10–4 M na presença de fosfato, (PO43–), silicato, (SiO44–), ou sem ânions adicionados. [Dados de M. L. Magnusos, D. A. Lytle, C. M. Frietch e C. A. Kelty, “Characterization of Submicron Aqueous Iron(III) Colloids by Sedimentation Field Flow Fractionation”, Anal. Chem. 2001, 73, 4815.] (b) Imagem de microscopia eletrônica de partículas coloidais de 7 nm de diâmetro de [Fe(OH)~2,5(NO3)~0,5]~1000 produzidas pelo tratamento de nitrato de ferro(III) com 2 HCO3– por Fe3+. [Dados de T. G. Spiro, S. E. Allerton, J. Renner, A. Terzis, R. Bils e P. Saltman, “The Hydrolytic Polymerization of Iron(III),” J. Am. Chem. Soc. 1966, 88, 2721. Reproduzido sob permissão ©1966, American Chemical Society.]
DEMONSTRAÇÃO 27-1
Coloides, Diálise e Microdiálise
Coloides são partículas com diâmetros na faixa de ~1 a 100 nm. Elas são maiores que a maioria das moléculas, mas são muito pequenas para precipitarem. Permanecem em solução inde nidamente em função do movimento browniano (movimento aleatório) das moléculas do solvente.3
Para prepararmos hidróxido de ferro(III) coloidal, aquecemos um béquer, contendo 200 mL de água destilada, entre 70° e 90°C, e preparamos outro béquer idêntico com a mesma quantidade de água à temperatura ambiente. Adicionamos 1 mL de solução de FeCl3 1 M a cada béquer e agitamos. A solução aquecida torna-se marrom-avermelhada em poucos segundos, enquanto a solução fria permanece amarela (Prancha 35 do Encarte em Cores). A cor amarela é característica de compostos de Fe3+ de baixa massa molecular. A cor vermelha resulta de agregados coloidais de íons Fe3+, que são mantidos juntos pela ação dos íons hidróxido, óxido e alguns íons cloreto. Essas partículas têm massa molecular de 105, um diâmetro médio de 10 nm e contêm, aproximadamente, 103 átomos de Fe. Podemos demonstrar o tamanho das partículas coloidais por meio de uma experiência de diálise, processo em que duas soluções são separadas por uma membrana semipermeável, que tem poros com diâmetros de 1–5 nm.4 As moléculas pequenas se difundem facilmente através desses poros, mas as moléculas grandes (como as proteínas ou os coloides) não conseguem se difundir. Colocamos certa quantidade da dispersão coloidal marrom-avermelhada dentro de um tubo de diálise, que tem uma de suas pontas amarrada. A seguir, amarramos a outra ponta, e colocamos o tubo dentro de um frasco de água destilada. Observamos que a cor permanece apenas dentro do tubo, mesmo após vários dias (Prancha 35 do Encarte em Cores). Para comparação, deixamos um tubo idêntico, contendo uma solução azul-escuro de CuSO4 × 5H2O 1 M, em um outro frasco com água. O Cu2+ se difunde para fora do tubo, e a solução no frasco passará a ter uma cor azul-clara uniforme em 24 h. No lugar do Cu2+ podemos usar a tartrazina, um corante amarelo usado em alimentos. Se a diálise for feita em água quente, o processo ocorre em um tempo su cientemente curto, de modo que pode ser realizado durante uma aula.5 A diálise é usada no tratamento de pacientes que sofrem de disfunção renal. O sangue passa por uma membrana através da qual as moléculas pequenas provenientes dos rejeitos metabólicos se difundem e são diluídas dentro de um grande volume de líquido, que é descartado. As moléculas de proteína, que são uma parte essencial do plasma sanguíneo, são muito grandes para atravessarem a membrana e permanecem retidas no sangue. Microdiálise
Uma sonda de microdiálise é usada em biologia para amostrar moléculas pequenas em uidos sem contaminação por moléculas maiores, como as proteínas. Por exemplo, uma sonda feita de um tubo semipermeável rígido e no pode ser inserida no cérebro de um rato sob anestesia para coletar moléculas neurotransmissoras. O uido bombeado através da sonda a uma velocidade de 3 µL/min transporta moléculas pequenas que se difundiram para a sonda. As moléculas pequenas no uido que sai da sonda (dialisado) são monitoradas por cromatogra a líquida (Capítulo 25) ou eletroforese capilar (Capítulo 26).
Moléculas grandes permanecem retidas no interior de um tubo de diálise, enquanto as moléculas pequenas se difundem, em ambas as direções, através da membrana.
Sonda de microdiálise. Moléculas pequenas passam através da membrana semipermeável, mas as moléculas maiores, não passam. [Cortesia de R. T. Kennedy e Z. D. Sandlin, Universidade de Michigan.]
É termodinamicamente favorável às partículas coloidais que elas cresçam formando partículas maiores porque a energia dos átomos na superfície de um cristal é maior do que a energia dos átomos dentro do cristal. À medida que a partícula cresce, a fração de átomos na superfície diminui. As partículas com tamanhos da ordem de nanômetros são mais solúveis do que partículas com tamanhos de micrômetros. O processo no qual partículas pequenas se dissolvem e partículas maiores crescem é denominado maturação de Ostwald. Crescimento de Cristais Por um período curto após a adição de um precipitante ao analito, a solução contém mais soluto dissolvido do que poderia estar presente no equilíbrio. Uma solução com essa característica é chamada solução supersaturada. A cristalização então ocorre em duas fases: a nucleação e o crescimento da partícula. Durante a nucleação, os solutos formam agregados de tamanho suficiente, que posteriormente se reorganizam em uma estrutura ordenada capaz de crescer, formando partículas maiores.6 A nucleação pode ocorrer sobre partículas de impurezas em suspensão ou em rugosidades de uma superfície de vidro. Quando Fe(III) reage com hidróxido de tetrametilamônio 0,1 M, a 25°C, formam-se núcleos de óxido de Fe(III) hidratado (ferridrita, ~5FeO(OH) · 2 H2O), de diâmetro de 4 nm contendo ~50 átomos de Fe.7 No crescimento da partícula, moléculas, íons, ou outros núcleos condensam-se sobre o núcleo formando um cristal de tamanho maior. A ferridrita se transforma em goetita, FeO(OH), e cresce formando placas cristalinas com dimensões laterais de ~30 3 7 nm após 15 min a 60°C. Amorfo partículas que não possuem ordenação cristalina. Aragonita: CaCO3 cristalino, que não é a forma mais estável a 25ºC. Calcita: a forma mais estável do CaCO3 a 25ºC.
Um estudo da cristalização do carbonato de cálcio revelou a existência de caminhos simultâneos de nucleação nos quais os cristais crescem a partir de partículas amorfas (não cristalinas) e diretamente da solução ou a partir de núcleos que são pequenos demais para que possam ser vistos.9 Na cristalização, um sólido com elevado grau de ordenação é formado.
A sequência de imagens de microscopia eletrônica apresentada na Figura 27-2 começa com uma partícula esférica amorfa de CaCO3 que cresceu até um diâmetro de 3 µm em 95 s após a mistura de soluções de CaCl2 e NaHCO3. A seguir, cristais de
aragonita (CaCO3) começam a crescer na superfície, consumindo a bola amorfa em ~20 s. Outras imagens do mesmo estudo mostram um cristal de calcita (CaCO3) mais estável nucleando na superfície da aragonita, menos estável. A calcita cresce enquanto a aragonita se dissolve. A supersaturação tende a diminuir o tamanho das partículas de um precipitado.
Na precipitação, a nucleação ocorre mais rapidamente do que o crescimento das partículas em uma solução altamente supersaturada produzindo partículas diminutas ou, pior ainda, uma dispersão coloidal. Em uma solução menos supersaturada, a nucleação é mais lenta e o núcleo formado tem chances maiores de crescer, obtendo-se partículas maiores, mais adequadas. As técnicas que promovem o crescimento das partículas incluem: 1. 2. 3.
Elevação da temperatura para aumentar a solubilidade e, consequentemente, diminuir a supersaturação. Adição lenta do agente precipitante, com agitação intensa da mistura, para evitar uma condição local de elevada supersaturação, em que o fluxo do agente precipitante entra primeiro que o analito. Manutenção de um volume de solução suficientemente grande, de modo que as concentrações de analito e de agente precipitante sejam baixas.
Precipitação Homogênea Até agora em nossa discussão, a precipitação foi conduzida misturando uma solução do precipitante com uma solução do analito. Na precipitação homogênea, o agente precipitante é gerado lentamente, em uma solução homogênea, por uma reação química (Tabela 27-3). Isso é benéfico porque, quando a precipitação é lenta, o crescimento das partículas prevalece sobre a nucleação, produzindo partículas maiores e mais puras, que são mais fáceis de serem filtradas. Quando a precipitação é rápida, a nucleação tende a prevalecer sobre a cristalização, e as partículas resultantes são pequenas e difíceis de serem filtradas.
FIGURA 27-2 Sequência de imagens de microscopia eletrônica de transmissão, começando com esferas de 3 μm de diâmetro de carbonato de cálcio amorfo, que cresceram a partir da mistura de soluções de CaCl2 e NaHCO3 por ~95 s. Um monocristal de CaCO3 na forma de aragonita nucleia na superfície da esfera 6 s após o registro da primeira imagem. O crescimento da aragonita prossegue no canto superior esquerdo após 9 s, e a nucleação de um novo cristal surge na parte de baixo da esfera. Os aglomerados de aragonita crescem às custas da esfera em ambos os pontos. A esfera despareceu 26 s após o início do registro da sequência. [Dados de M. H. Nielsen, S. Aloni e J. J. De Yoreo, “In Situ TEM Imaging of CaCO3 Nucleation Reveals Coexistence of Direct and Indirect pathways,” Science 2014, 345, 1158, Figura 2. Reproduzido sob permissão de AAAS, permissão transmitida por Copyright Clearance Center, Inc.]
TABELA 27-3
Reagentes comuns usados em precipitações homogêneas
a. O sulfeto de hidrogênio é volátil e tóxico; ele deve ser manuseado somente em uma capela bem-ventilada. A tioacetamida é uma substância cancerígena, que deve ser manuseada com luvas. Se a tioacetamida entrar em contato com a pele, lave-a imediatamente com bastante água. O excesso do reagente pode ser destruído, antes de ser descartado, pelo aquecimento a 50°C com 5 mols de NaOCl por mol de tioacetamida. [H. Elo, “Is Thioacetamide a Serious Health Hazard in Inorganic Chemistry Laboratories?” J. Chem. Ed. 1987, 64, A144.] Um exemplo de precipitação homogênea é a formação lenta de formiato de ferro(III) a partir de uma solução de Fe(III) mais ácido fórmico. A precipitação é iniciada pela decomposição da ureia em água fervente produzindo, lentamente, íons OH−:
A formação lenta de OH– acentua o tamanho de partícula em um precipitado de formiato de Fe(III):
O formiato de ferro(III) hidratado produzido não possui uma composição constante, bem definida. Por isso, ele é aquecido a 850ºC por 1 h para decompô-lo em Fe2O3, que pode ser pesado para se determinar quanto de Fe(III) estava presente. Precipitação na Presença de Eletrólito Compostos iônicos são normalmente precipitados na presença de um eletrólito. Para compreendermos o motivo desse procedimento, temos que discutir como minúsculos cristalitos, ainda na forma coloidal, coagulam (se agregam), formando cristais maiores. Vejamos o caso do AgCl, que é normalmente formado em HNO3 0,1 M. A Figura 27-3 mostra uma partícula coloidal de AgCl, crescendo em uma solução contendo excesso dos íons Ag+, H+ e NO–3. A superfície da partícula tem um excesso de carga positiva em função da adsorção preferencial de íons prata em relação aos íons cloreto. (Ser adsorvido significa estar preso à superfície. A absorção, por sua vez, envolve a passagem além da superfície, ou seja, para dentro do material.) A superfície carregada positivamente atrai ânions e repele cátions, formando uma atmosfera iônica (Figura 27-3) que envolve a
partícula. A partícula carregada positivamente e a atmosfera iônica carregada negativamente formam uma estrutura chamada de dupla camada elétrica. Um eletrólito é um composto que se dissocia em íons quando é dissolvido.
FIGURA 27-3 Partícula coloidal de AgCl crescendo em uma solução contendo excesso de Ag+, H+ e NO–3. A partícula tem carga global positiva em função dos íons Ag1 adsorvidos. A região da solução que envolve a partícula é chamada de atmosfera iônica. Ela tem uma carga líquida negativa, pois a partícula atrai ânions e repele cátions. Embora seja normal encontrarmos um excesso de íons comuns adsorvidos na superfície de um cristal, também é possível encontrarmos outros íons que se encontram seletivamente adsorvidos. Por exemplo, na presença dos íons citrato e sulfato, temos mais citrato do que sulfato adsorvido sobre uma partícula de BaSO4.
As partículas coloidais têm de colidir entre si para coalescer. Entretanto, as suas atmosferas iônicas carregadas negativamente repelem-se entre si. As partículas, portanto, têm de ter energia cinética suficiente para vencer a repulsão eletrostática, antes que possam coalescer. O aquecimento promove coalescência por meio do aumento da energia cinética das partículas. O aumento da concentração do eletrólito (HNO3 para o AgCl) diminui o volume da atmosfera iônica e permite que as partículas se aproximem mais, antes que a repulsão eletrostática se torne significativa. Por esse motivo, a maioria das precipitações gravimétricas é feita na presença de um eletrólito. A Figura 27-4 mostra a força medida entre uma partícula esférica de diâmetro 10 µm de Al2O3 cristalino e a superfície de um cristal plano de Al2O3 em LiCl 1 mM e em LiCl 1 M em pH 11 (LiOH). Nesse pH ambas as superfícies são carregadas negativamente, provavelmente por adsorção de íons OH–. A espessura da atmosfera iônica adjacente a cada superfície em LiCl 1 mM é ~10 nm. Quando a esfera se move na direção do cristal, as atmosferas iônicas carregadas positivamente começam a se repelir em uma separação de ~30 nm, atingindo a repulsão máxima próximo a 7 nm. À medida que a separação diminui, as forças atrativas de van der Waals passam a dominar (Boxe 27-1). A atração máxima ocorre em uma separação de ~0,5 nm. Quando se aproximam ainda mais, as nuvens eletrônicas começam a se sobrepor, produzindo uma repulsão forte. A Figura 27-4 também mostra o mesmo experimento conduzido em LiCl 1 M. Nessa elevada concentração de eletrólito, a espessura da atmosfera iônica é ~0,3 nm, de modo que a repulsão de longa distância não é observada. A atração de van der Waals predomina, atingindo um máximo em uma separação de ~0,7 nm.
Boxe 27-1
Atração de van der Waals
Existem forças de van der Waals entre todos os tipos de moléculas. Consideremos duas moléculas eletricamente neutras sem dipolo permanente (não há separação de carga permanente com as moléculas). Em um instante qualquer, o movimento de elétrons na molécula A dá origem a uma separação instantânea das cargas positivas e negativas dentro da molécula A. A região negativa repele elétrons da molécula B vizinha, produzindo uma separação instantânea de cargas em B. A atração eletrostática entre a região negativa de A e a região positiva de B é a atração de van der Waals. A atração é apenas signi cativa em um espaço de alguns nanômetros, e ela muda constantemente à medida que os elétrons se movem dentro de cada molécula.
FIGURA 27-4 Força medida entre uma partícula esférica de α–alumina (Al2O3), com 10 μm de diâmetro, e o plano c do cristal de safira (Al2O3) em LiCl 1 μm ou LiCl 1 M em pH 11 (obtido com LiOH). A força normalizada é força/(2pr), em que r é o raio da esfera. [Dados de H. Yilmaz, K. Sato e K. Watari, “Ion-Specific Interaction of Alumina Surfaces,” J. Am. Ceram. Soc. 2009, 92, 318.]
Remoção de NO3– ocluído em BaSO4 por reprecipitação
Precipitado inicial Primeira reprecipitação Segunda reprecipitação
[NO–3]/[SO–4] no precipitado 0,279 0,028 0,001
Dados de H. Bao, “Purifying Barite for Oxygen Isotope Measurement by Dissolution and Reprecipitation in a Chelating Solutions, Anal. Chem. 2006, 78, 304.
Digestão
O líquido a partir do qual uma substância precipita ou cristaliza é chamado de água-mãe. Depois da precipitação, a maioria dos procedimentos necessita de um período de espera na presença da água-mãe aquecida. Este tratamento, chamado digestão, promove uma lenta recristalização do precipitado. O tamanho de partícula aumenta e as impurezas tendem a ser removidas do cristal. Pureza As impurezas adsorvidas estão ligadas à superfície de um cristal. As impurezas absorvidas (que estão dentro do cristal) são classificadas como inclusões ou oclusões. Inclusões são impurezas iônicas que ocupam aleatoriamente sítios no retículo cristalino, ocupados normalmente pelos íons pertencentes ao cristal. As inclusões são mais prováveis quando o íon da impureza tem tamanho e carga semelhantes aos de um dos íons que pertencem ao produto. As oclusões são bolsões de impurezas que se encontram literalmente retidos no interior de um cristal em crescimento. As impurezas adsorvidas, oclusas e inclusas, são conhecidas como coprecipitado. Ou seja, a impureza é precipitada conjuntamente com o produto desejado, mesmo que o limite de solubilidade da impureza ainda não tenha sido ultrapassado (Figura 27-5). A coprecipitação tende a ser maior em precipitados coloidais (que têm uma área superficial grande), como o BaSO4, o Al(OH)3 e o Fe(OH)3. Diversos procedimentos envolvem a remoção da água-mãe, redissolvendo o precipitado e reprecipitando o produto. Durante a segunda precipitação, a concentração das impurezas na solução é menor do que durante a primeira precipitação, e o grau de coprecipitação, portanto, tende a ser menor. Um componente no nível de traço de uma solução pode ser isolado de maneira intencional por coprecipitação simultânea com um componente principal da solução ou mediante a adição de um componente.10 O precipitado usado para coletar o componente que se encontra no nível de traço é conhecido como agente de acumulação, e o processo é chamado de acumulação. O arsênio natural em água potável em Bangladesh é um risco significativo para a saúde. Uma maneira de remover arsênio da água potável é através da coprecipitação com Fe(OH)3.11 Fe(II) ou Fe(s) é adicionado à água e deixado oxidar ao ar durante várias horas para precipitar Fe(OH)3. Após filtração através de areia, para remoção de sólidos, a água pode ser bebida.
FIGURA 27-5 Coprecipitação de fosfato com carbonato de cálcio em um coral. O fosfato coprecipitado é proporcional à concentração de fosfato na água do mar. Através da determinação da razão P/Ca em corais antigos, podemos concluir que a concentração de fosfato no mar Mediterrâneo ocidental há 11 200 anos era duas vezes maior que os valores atuais. [Dados de P. Montagna, M. McCulloch, M. Taviani, C. Mazzoli e B. Vendrell, “Phosphorus in Cold-Water Corals as a Proxy for Seawater Nutrient Chemistry”, Science 2006, 312, 1788.]
Algumas impurezas podem ser tratadas com um agente de mascaramento, de modo a evitarmos a sua reação precipitante. Na análise gravimétrica do Be2+0, Mg2+, Ca2+ ou Ba2+, usando como reagente o clorofenilcinamoidroxâmico, impurezas como Ag+, Mn2+, Zn2+, Cd2+, Hg2+, Fe2+ e Ga3+ são mantidas na solução excesso. Os íons Pb2+, Pd2+, Sb3+, Sn2+, Bi3+, Zr4+, Ti4+, V5+ e Mo6+ são mascarados com uma mistura contendo oxalato.
com o agente ácido N-ppor KCN em íons citrato e
Mesmo quando temos a formação de um precipitado puro, impurezas podem ser coletadas sobre o produto enquanto ele permanece na água-mãe. Isso é chamado de pós-precipitação e envolve normalmente a presença de uma impureza supersaturada, que não cristaliza facilmente. Um exemplo é a cristalização de MgC2O4 sobre CaC2O4.
Ácido N-p-clorofenilcinamoidroxâmico (RH) (os átomos ligantes estão em verde)
A lavagem de um precipitado presente em um filtro ajuda a remover pequenas gotas de líquido contendo excesso de soluto. Alguns precipitados podem ser lavados com água, mas muitos precisam de um eletrólito para manter a sua coesão. Para esses precipitados, é necessária uma atmosfera iônica, de modo a neutralizar a carga na superfície das partículas pequenas. Se o eletrólito for retirado pela água, as partículas sólidas carregadas eletricamente se repelem entre si e o produto se fragmenta. Esta fragmentação, chamada de peptização, resulta na perda de produto através do filtro. O AgCl irá peptizar se for lavado com água, portanto, em vez disso, ele deve ser lavado com HNO3 diluído. O eletrólito usado para a lavagem tem de ser volátil, de modo que ele saia durante a secagem. Como exemplos de eletrólitos voláteis podemos citar HNO3, HCl, NH4NO3, NH4Cl e (NH4)2CO3. O cloreto de amônio quando aquecido se decompõe como vemos a seguir: NH4Cl(s) → NH3(g) + HCl(g)
Composição do Produto O produto final deve ter uma composição estável e conhecida. Uma substância higroscópica é aquela que retira água do ar e, portanto, é difícil de ser pesada com exatidão. Diversos precipitados contêm uma quantidade variável de água e têm de ser secos em condições que proporcionem uma estequiometria conhecida (possivelmente zero) de H2O. A ignição (aquecimento forte) é usada para mudar a composição química de vários precipitados. Por exemplo, a queima do Fe(HCO2)3 · nH2O, a 850°C, por 1 h, produz Fe2O3, e a queima do Mg(NH4)PO4 · 6H2O, 1100°C, dá como produto final Mg2P2O7. Na análise termogravimétrica, uma substância é aquecida e sua massa é medida em função da temperatura. A Figura 27-6 mostra como a composição do salicilato de cálcio se modifica em quatro etapas:
A composição do produto depende da temperatura e da duração do aquecimento.
FIGURA 27-6 Curva termogravimétrica do salicilato de cálcio. [Informação de G. Liptay, ed., Atlas of Thermoanalytical Curves (London: Heyden and Son, 1976).]
27-3
Exemplos de Cálculos Gravimétricos
Vejamos agora alguns exemplos que ilustram como podemos relacionar a massa de um precipitado gravimétrico com a quantidade de analito original. O método geral é relacionar o número de mols de produto com o número de mols de reagente. Se estivéssemos executando essa análise, seria importante verificarmos se as impurezas presentes na piperazina também não precipitam. Se isso acontecer, o resultado obtido será maior que o correspondente à piperazina pura.
EXEMPLO
Relacionando Massa de Produto com Massa de Reagente
O teor de piperazina em um material comercial impuro pode ser determinado pela precipitação e pesagem de seu diacetato:12
Em um experimento dissolvemos 0,312 6 g de amostra em 25 mL de acetona e adicionamos 1 mL de ácido acético. Após 5 minutos, o precipitado foi ltrado, lavado com acetona e seco a 110°C, obtendo-se uma massa de 0,712 1 g. Qual é a porcentagem em massa de piperazina no material comercial? Solução Para cada mol de piperazina, presente no material impuro, temos a formação de 1 mol de produto.
Este número de mols de piperazina corresponde a
que dá
Um modo alternativo (mas equivalente) de resolvermos este problema é percebermos que 206,240 g (1 mol) de produto serão formados para cada 86,136 g (1 mol) de piperazina analisada. Como se formaram 0,712 1 g de produto, a quantidade de reagente é dada por
A quantidade 86,136/206,240 é o fator gravimétrico, que relaciona a massa do material inicial com a massa de produto. TESTE A VOCÊ MESMO Uma amostra de massa 0,358 4 g forneceu 0,800 0 g de produto. Determine a porcentagem em massa de piperazina na amostra. (Resposta: 86,69%) Fator gravimétrico: relaciona a massa do produto com a massa de analito.
Para uma reação na qual a relação estequiométrica entre o analito e o produto não é 1:1, temos de usar a estequiometria correta na formulação do fator gravimétrico. Por exemplo, uma amostra desconhecida contendo Mg2+ (massa atômica = 24,305 0) pode ser analisada gravimetricamente pela produção de Mg2P2O7 (MF 222,553). O fator gravimétrico é
pois são necessários 2 mols de Mg2+ para produzir 1 mol de Mg2P2O7.
EXEMPLO
Cálculo da Quantidade de Agente Precipitante a Ser Usada
(a) Para determinarmos o teor de níquel presente em um aço, dissolvemos a liga em HCl 12 M e neutralizamos a mistura em presença de íons citrato, que mantêm o ferro em solução. A solução, ligeiramente básica, é aquecida e adicionamos dimetilglioxima (DMG) para precipitarmos quantitativamente o complexo vermelho de DMG-níquel. O produto é ltrado, lavado com água fria e seco a 110°C.
Sabendo-se que o teor de níquel na liga encontra-se próximo a 3% em massa e que desejamos analisar 1,0 g de aço, qual o volume de solução alcoólica de DMG a 1% em massa que devemos usar de modo a existir um excesso de 50% de DMG na análise? Suponha que a massa especí ca da solução alcoólica é 0,79 g/mL. Solução Como o teor de Ni está em torno de 3%, 1,0 g de aço conterá cerca de 0,03 g de Ni, o que corresponde a
Esta quantidade de metal requer
pois 1 mol de Ni2+ necessita de 2 mols de DMG. Um excesso de 50% de DMG seria (1,5)(0,119 g) = 0,178 g. Esta quantidade de DMG está contida em
que ocupa um volume de
(b) Se 1,163 4 g de aço deu origem a 0,179 5 g de precipitado, qual é a porcentagem de Ni existente no aço? Solução Para cada mol de Ni existente no aço, será formado 1 mol de precipitado. Portanto, 0,179 5 g de precipitado corresponde a
A massa de Ni no aço é presente no aço é
g, e a porcentagem em massa de Ni
Uma maneira ligeiramente mais simples para resolver este problema consiste em perceber, inicialmente, que 58,69 g de Ni (1 mol) dá origem a 288,91 g (1 mol) de produto. Chamando de x a massa de Ni na amostra, podemos escrever
TESTE A VOCÊ MESMO Uma liga contém ~2% em massa de níquel. Que volume de uma solução de DMG a 0,83% em massa deve ser empregado para fornecer um excesso de 50% de DMG para a análise de 1,8 g de aço? Qual é a massa de precipitado de Ni(DMG)2 que deve ser obtida? (Resposta: 33 mL, 0,18 g) EXEMPLO
Um Problema com Dois Componentes
Uma mistura dos complexos de 8-hidroxiquinolina de alumínio e de magnésio pesou 1,084 3 g. Quando queimada ao ar, em um forno aberto, a mistura se decompôs, deixando um resíduo de Al2O3 e de MgO pesando 0,134 4 g. Determine a porcentagem em massa de Al(C9H6NO)3 na mistura original.
Solução Abreviaremos o ânion 8-hidroxiquinolina como Q. Admitindo que a massa de AlQ3 seja x e que a massa de MgQ2 seja y, podemos escrever
O número de mols de Al é x/459,43, e o número de mols de Mg é y/312,61. O número de mols de Al2O3 é a metade do número de mols de Al, pois são necessários 2 mols de Al para formar 1 mol de Al2O3.
O número de mols de MgO é igual ao número de mols de Mg = y/312,61. Podemos escrever agora
Substituindo y = 1,084 3 – x na equação anterior, temos
da qual determinamos que x = 0,300 3 g, que corresponde a 27,70% da mistura original. TESTE A VOCÊ MESMO Se a reprodutibilidade é de ±0,5 mg, a massa de produto poderá estar compreendida entre 0,133 9 e 0,134 9 g. Determine o percentual em massa de Al(C9H6NO)3 se o produto pesou 0,133 9 g. (Resposta: 30,27%) Por favor, avalie esta grande incerteza: uma diferença de 0,5 mg na massa do produto produziu uma diferença de 9% na composição calculada da mistura.
27-4
Análise por Combustão
Uma forma historicamente importante de análise gravimétrica foi a análise por combustão, usada para determinar o teor de carbono e hidrogênio de compostos orgânicos queimados em excesso de O2. Em vez da pesagem dos produtos de combustão, os instrumentos modernos usam, para a determinação dos produtos formados, a condutividade térmica, a absorção no infravermelho, a fotometria de chama (para enxofre) e a coulometria (para halogênios). Análise Gravimétrica por Combustão Na análise gravimétrica por combustão apresentada na Figura 27-7, o produto, parcialmente queimado, passa através de um catalisador, que pode ser uma tela de Pt, CuO, PbO2 ou MnO2, em temperatura suficientemente elevada, de modo a ocorrer uma oxidação completa a CO2 e H2O. Os produtos de combustão passam por um recipiente contendo P4O10 (“pentóxido de fósforo”), que absorve água, e a seguir por um recipiente contendo Ascarita* (NaOH em amianto), que absorve CO2. O aumento de massa, em cada um dos recipientes, corresponde à quantidade de hidrogênio e de carbono, respectivamente, presentes na amostra inicial. Um tubo de proteção evita que a H2O e o CO2, provenientes do ar atmosférico, entrem nos recipientes.
FIGURA 27-7
EXEMPLO
Análise gravimétrica de carbono e hidrogênio por combustão.
Cálculos em uma Análise por Combustão
Um composto, pesando 5,714 mg, produziu por combustão 14,414 mg de CO2 e 2,529 mg de H2O. Determine a porcentagem em massa de C e de H na amostra. Solução Um mol de CO2 contém 1 mol de carbono. Logo, Número de mols de C na amostra = número de mols de CO2 produzidos
Massa de C na amostra = (3,275 × 1024 mol de C)(12,010 6 g/mol de C) = 3,934 mg
Um mol de H2O contém 2 mols de H. Portanto,
Massa de H na amostra 5 (2,808 × 10–4 mol de H)(1,008 9 g/mol de H) = 2,830 × 10–4 g
TESTE A VOCÊ MESMO Uma amostra pesando 6,234 mg produziu 12,123 mg de CO2 e 2,529 mg de H2O. Determine a porcentagem em massa de C e de H na amostra. (Resposta: 53,07%, 4,54%) Análise por Combustão na Atualidade13 A Figura 27-8 mostra um instrumento capaz de determinar, de uma só vez, os teores de C, H, N e S presentes em uma amostra. Inicialmente, pesa-se, com precisão, ~2 mg de amostra, que são selados dentro de uma cápsula de estanho ou prata. O analisador é varrido com gás He, previamente tratado para remover traços de O2, H2O e CO2. No início da corrida, um volume de O2 medido em excesso é adicionado ao fluxo de He. A seguir, a cápsula da amostra é colocada dentro de um cadinho de porcelana preaquecido, onde a cápsula funde e a amostra é rapidamente oxidada.
Um catalisador de oxidação completa a oxidação da amostra e um catalisador de redução realiza qualquer redução que seja necessária e para remover o excesso de O2.
Os produtos passam pelo catalisador de WO3, suficientemente quente para completar a combustão de todo o carbono a CO2. Na região seguinte, Cu metálico, a 850°C, reduz o SO3 a SO2 e remove o excesso de O2:
A mistura de CO2, H2O, N2 e SO2 é separada por cromatografia a gás, e a concentração de cada componente é determinada por um detector de condutividade térmica (Figura 24-19). Alternativamente, CO2, H2O e SO2 podem ser determinados por absorbância na região do infravermelho. O Sn da cápsula é oxidado a SnO2, que 1. Libera calor para vaporizar e decompor (craquear) a amostra 2. Usa o oxigênio disponível imediatamente 3. Garante que a oxidação da amostra ocorra em fase gasosa 4. Atua como um catalisador de oxidação
Um dos avanços mais importantes na analise elementar é a combustão instantânea (dynamic flash combustion), que produz uma curta explosão de produtos gasosos, em vez de uma lenta evolução dos produtos por vários minutos. A análise cromatográfica exige que a amostra inteira seja injetada de uma só vez. Se isso não for feito, a banda de injeção se torna tão ampla, que os produtos não podem ser separados.
Na combustão instantânea, a amostra encapsulada em estanho cai diretamente dentro de um forno preaquecido, logo após ter começado a passar um fluxo da mistura de O2 50% em volume/He 50% em volume (Figura 27-9). O Sn da cápsula funde a 235°C e é instantaneamente oxidado a SnO2, liberando assim 594 kJ/mol e aquecendo a amostra a 1700-1800°C. Colocando a amostra, antes que muito O2 seja admitido, a decomposição da amostra (craqueamento) ocorre antes da oxidação, o que minimiza a formação de óxidos de nitrogênio. (Para evitarmos explosões, amostras líquidas inflamáveis devem ser introduzidas antes da admssão de qualquer O2.) Os analisadores, que determinam C, H e N, mas não determinam S, usam catalisadores que são bem mais otimizados. O catalisador de oxidação é o Cr2O3. O gás então passa através do Co3O4 revestido com Ag, aquecido, para absorver os halogênios e o enxofre. Uma coluna de Cu quente retira o excesso de O2.
FIGURA 27-8 Diagrama esquemático de um analisador elementar de C, H, N e S que usa um cromatógrafo a gás com detector por condutividade térmica para a determinação dos produtos de combustão N2, CO2, H2O e SO2. [Informação de E. Pella, “Elemental Organic Analysis. 2. State of the Art”, Am. Lab., agosto 1990, p. 28.]
A análise de O2 exige uma estratégia diferente. A amostra é decomposta termicamente (por meio de uma pirólise), em ausência total de qualquer adição de oxigênio. Os produtos gasosos passam por carbono niquelado a 1075°C, de modo a converter o oxigênio proveniente da amostra em CO (e não em CO2). Outros produtos, resultantes da reação, incluem o N2, o H2, o CH4 e halogenetos de hidrogênio. Os produtos ácidos são absorvidos em NaOH, e os gases restantes são separados e determinados por cromatografia a gás com um detector de condutividade térmica. Para compostos halogenados, a combustão produz CO2, H2O, N2 e HX (X = halogênio). O HX é retido em solução aquosa e titulado com íons Ag+ em um coulômetro (Seção 17-3). Esse instrumento conta os elétrons produzidos (um elétron para cada Ag+) durante a reação completa com HX. A Tabela 27-4 mostra os resultados representativos de dois dos sete compostos enviados para mais de 35 laboratórios para comparar seus desempenhos na análise por combustão. A exatidão para todos os sete compostos é excelente: os valores médios de porcentagem em massa de C, H, N e S para ~150 determinações de cada composto estão quase sempre dentro de 0,1% em massa dos valores teóricos. A precisão para todos os sete compostos está resumida na nota no fim da tabela. O intervalo de confiança de 95% para o C é ±0,47% em massa. Para H, N e S os intervalos de confiança de 95% são, respectivamente, ±0,24, ±0,31 e ±0,76% em massa. Os químicos normalmente consideram um resultado dentro de ±0,3 da porcentagem teórica de um elemento, como uma boa evidência de que o composto tem a fórmula esperada. Esse critério pode não ser satisfeito para o C e o S com uma única análise porque os intervalos de confiança de 95% são maiores do que ±0,3% em massa.
FIGURA 27-9 Sequência de eventos na combustão instantânea. [Informação de E. Pella, “Elemental Organic Analysis, 1. Historical Developments”, Am. Lab., fevereiro 1990, p. 116.] O F2 é um elemento excepcionalmente reativo e por isso muito perigoso. O F2 deve ser manipulado apenas em sistemas que foram projetados especificamente para o seu uso.
Compostos de silício, como SiC, Si3N4 e silicatos (provenientes de rochas), podem ser analisados através da reação de combustão com flúor elementar (F2) em um recipiente de níquel, produzindo SiF4 e produtos fluorados de todos os elementos da tabela periódica, exceto O, N, He, Ne, Ar e Kr.14 Os produtos podem ser determinados por espectrometria de massa. O nitrogênio presente no Si3N4 e em outros nitretos metálicos pode ser analisado mediante aquecimento a 3000°C em uma atmosfera inerte, liberando o nitrogênio como N2, que pode ser determinado por condutividade térmica.
TABELA 27-4
Exatidão e precisão da análise por combustão de compostos purosa
Substância Percentual em massa teórico de C7H9NO2S 4-Toluenossulfonamida Percentual em massa teórico de C4H7NO2S Ácido 4-tiazolidiocarboxílico Incerteza na média (% em massa) para 7 compostos diferentes
C
H
N
S
49,10
5,30
8,18
18,73
49,1±0,63
5,3±0,31
8,2±0,38
18,7±0,89
36,07
5,30
10,52
24,08
36,0±0,33
5,3±0,16
10,5±0,16
24,0±0,53
±0,47
±0,24
±0,31
±0,76
a. Resultados para dois dos sete compostos que foram analisados por 33–45 laboratórios a cada ano durante seis anos. Cada laboratório analisou cada composto pelo menos cinco vezes durante ao menos dois dias. Para cada substância, a primeira linha fornece a porcentagem teórica em massa, e a segunda linha fornece a porcentagem em massa determinada experimentalmente. As incertezas são os intervalos de con ança de 95% calculados para todos os resultados após rejeitar dados anômalos em um nível de signi cância de 1%. FONTE: R. Companyó, R. Rubio, A. Sahuquillo, R. Boqué, A. Maroto e J. Riu “Uncertainty Estimation in Organic Elemental Analysis Using Information from Pro ciency Tests”, Anal. Bioanal. Chem. 2008, 392, 1497.
Termos Importantes absorção acumulação adsorção agente de mascaramento agente precipitante água-mãe
análise gravimétrica análise por combustão análise termogravimétrica coloide coprecipitação diálise digestão dupla camada elétrica ignição nucleação peptização pirólise precipitação homogênea solução supersaturada substância higroscópica
Resumo A análise gravimétrica se fundamenta na formação de um produto conhecido cuja massa pode ser relacionada com a massa do analito. Normalmente, o íon do analito é precipitado por um contraíon adequado. A precipitação se dá em dois estágios, denominados nucleação e crescimento (do cristal) da partícula. Medidas tomadas para reduzir a supersaturação e, assim, promover a formação de partículas grandes facilmente filtráveis (um comportamento oposto aos coloides) incluem (1) elevação da temperatura durante a precipitação, (2) adição lenta com uma mistura rápida dos reagentes, (3) manutenção de um grande volume onde se encontra a amostra e (4) uso de uma precipitação homogênea. Os precipitados geralmente são digeridos na águamãe quente para promover o crescimento das partículas e a recristalização. Todos os precipitados são então filtrados e lavados; alguns têm de ser lavados com um eletrólito volátil para evitar a peptização. O produto é aquecido à secura ou queimado, de modo a alcançar uma composição estável e reprodutível. Os cálculos gravimétricos relacionam o número de mols do produto com o número de mols do analito. Na análise por combustão para C, H, N, S e halogênios, um composto orgânico em uma cápsula de estanho é aquecido rapidamente na presença de um excesso de oxigênio, formando, principalmente, CO2, H2O, N2, SO2 e HX (halogenetos de hidrogênio). Um catalisador de oxidação quente completa o processo, e cobre metálico quente retira o oxigênio em excesso. Na análise de enxofre, o cobre quente também converte SO3 em SO2. Os produtos podem ser separados por cromatografia a gás e determinados com base em suas condutividades térmicas. Alguns instrumentos usam a absorção no infravermelho para a determinação de CO2, H2O e SO2. HX é retido em solução aquosa e determinado por titulação coulométrica (contagem de elétrons por meio de um circuito eletrônico) com íons Ag+ gerados eletroliticamente. A análise de oxigênio em compostos orgânicos é feita por pirólise em ausência de oxigênio adicionado, um processo que converte, no final, todo o oxigênio presente em um composto em CO.
Exercícios 27-A. Um composto orgânico, com uma massa fórmula de 417 g/mol, foi analisado em relação à presença de grupos etoxila (CH3CH2O—) pelas reações ROCH2CH3 + HI → ROH + CH3CH2I CH3CH2I + Ag+ + OH– → AgI(s) + CH3CH2OH 25,42 mg de amostra do composto produziram 29,03 mg de AgI. Quantos grupos etoxila existem em cada molécula? 27-B. 0,649 g de amostra contendo somente K2SO4 (MF 174,27) e (NH4)2SO4 (MF 132,14) foi dissolvido em água e tratado com Ba(NO3)2 para precipitar todo o SO42– como BaSO4 (MF 233,39). Determine a porcentagem em massa do K2SO4 na amostra se foi formado 0,977 g de precipitado. 27-C. Considere uma mistura de dois sólidos, BaCl2 · 2H2O (MF 244,26) e KCl (MF 74,551), em uma proporção desconhecida. (A notação BaCl2 · 2H2O significa que um cristal é formado com duas moléculas de água para cada BaCl2.) Quando a amostra desconhecida é aquecida a 160°C por 1 h, a água de cristalização é removida:
Uma amostra pesando originalmente 1,783 9 g pesou 1,562 3 g após o aquecimento. Calcule a porcentagem em massa de Ba, K e Cl na amostra original. 27-D. Uma mistura contendo somente tetrafluoroborato de alumínio, Al(BF4)3 (MF 287,39) e nitrato de magnésio, Mg(NO3)2 (MF 148,31), pesou 0,282 8 g. Ela foi dissolvida em solução aquosa de HF a 1% em massa e tratada com solução de nitron para precipitar uma mistura de tetrafluoroborato de nitron e nitrato de nitron pesando 1,322 g. Determine a porcentagem em massa de Mg na mistura sólida original.
27-E. LaCoO3±x apresenta uma estrutura do tipo perovskita (Boxe 19-1) com um teor de oxigênio variável. A figura mostrada a seguir apresenta a curva termogravimétrica registrada quando 41,872 4 mg foram aquecidos em H2 a 5% vol. em Ar. La(III) não reage, mas o cobalto é reduzido a CoO. (a) Qual é o estado de oxidação do cobalto na fórmula ideal LaCoO3? (b) Escreva a reação do LaCoO3 com H2, produzindo La2O3(s), Co(s) e H2O(g). (c) Se 41,872 4 mg de LaCoO3 reagiram completamente, qual será a massa de produto (La2O3 + Co)? (d) Escreva a reação balanceada do LaCoO3+x com H32O para produzir La2O3, Co e H2O. Se 42,872 4 mg de LaCoO3+x reagiram completamente, qual será a massa do produto sólido? Sua resposta será uma expressão contendo a incógnita x. (e) A partir da massa de produto obtida (37,763 7 mg) a 700ºC, determine x no LaCoO3+x. Escreva a fórmula do sólido de partida. (f) Na parte (c), a perda de massa a partir da fórmula ideal LaCoO3 foi de 4,087 7 mg. Qual é o produto formando em torno de 500ºC quando a massa era ~40,51 mg?
Análise termogravimétrica do LaCoO3+x em H2 a 5% vol. em Ar. [Dados de O. Haas, Chr. Ludwig e A. Wokaun, “Determination of the Bulk Cobalt Valence State of Co-Perovskites Containing Surface‐Adsorbed Impurities,” Anal. Chem. 2006, 78, 7273.] Problemas Análise Gravimétrica 27-1. (a) Qual é a diferença entre absorção e adsorção?
(b) Em que uma inclusão difere de uma oclusão? 27-2. Estabeleça quatro propriedades desejáveis de um precipitado gravimétrico. 27-3. Por que uma supersaturação relativa alta é indesejável em uma precipitação gravimétrica? 27-4. Que medidas podem ser tomadas para diminuir a supersaturação relativa durante uma precipitação? 27-5. Por que vários precipitados iônicos são lavados com solução eletrolítica, em vez de água pura? 27-6. Por que é melhor lavar o precipitado de AgCl com HNO3 aquoso do que com solução de NaNO3? 27-7. Por que uma reprecipitação seria usada em uma análise gravimétrica? 27-8. Explique o que é feito na análise termogravimétrica. 27-9. Explique como a microbalança de cristal de quartzo descrita no começo do Capítulo 2 consegue determinar valores extremamente pequenos de massa. 27-10. 50,00 mL de uma solução contendo NaBr foram tratados com excesso de AgNO3 para precipitar 0,214 6 g de AgBr (MF 187,772). Qual era a molaridade de NaBr na solução? 27-11. Para determinar o teor de Ce41 em um sólido, 4,37 g de amostra foram dissolvidas e tratadas com excesso de iodato para precipitar Ce(IO3)4. O precipitado foi coletado, bem lavado, seco e queimado para produzir 0,104 g de CeO2 (MF 172,114). Qual era a porcentagem em massa de Ce no sólido original? 27-12. Marie Curie dissolveu 0,091 92 g de RaCl2 e o tratou com excesso de AgNO3 para precipitar 0,088 90 g de AgCl. Naquela época (1900), a massa atômica do Ag era conhecida como 107,8 e a do Cl 35,4. A partir destes valores encontre a massa atômica do Ra que Marie Curie calculou. 27-13. 0,050 02 g de uma amostra de piperazina impura continha 71,29% em massa de piperazina (MF 86,136). Quantos gramas de produto (MF 206,240) serão formadas quando esta amostra for analisada pela Reação 27-6? 27-14. 1,000 g de uma amostra desconhecida produziu 2,500 g de bis(dimetilglioximato) de níquel(II) (MF 288,91) quando analisada pela Reação 27-7. Determine a porcentagem em massa de Ni na amostra desconhecida. 27-15. Em relação à Figura 27-6, diga o nome do produto obtido quando salicilato de cálcio monoidratado é aquecido a 550°C e a 1000°C. Usando as massas fórmula desses produtos, calcule qual a massa que deve restar quando 0,635 6 g de salicilato de cálcio monoidratado é aquecido a 550°C ou a 1000°C. 27-16. Um método para a determinação de carbono orgânico solúvel em água do mar, envolve a oxidação da matéria orgânica a CO2 com K2S2O8, seguida pela determinação gravimétrica do CO2 retido por uma coluna de ascarita. Uma amostra de água pesando 6,234 g produziu 2,378 mg de CO2 (MF 44,009). Calcule o teor de carbono em ppm na amostra de água do mar. 27-17. Quantos mililitros de uma solução alcoólica de dimetilglioxima a 2,15% devem ser usados para proporcionar um excesso de 50% para a Reação 27-7 com 0,998 4 g de aço contendo 2,07% em massa de Ni? Admita que a massa específica da solução de dimetilglioxima seja de 0,790 g/mL. 27-18. Vinte tabletes de ferro dietéticos com uma massa total de 22,131 g foram moídos e misturados por completo. A seguir, 2,998 g de pó foram dissolvidos em HNO3 e aquecidos para converter todo o ferro em Fe3+. A adição de NH3 levou a uma precipitação quantitativa de Fe2O3 · xH2O, que foi calcinado, formando 0,264 g de Fe2O3 (MF 159,69). Qual é a massa média de FeSO4 · 7H2O (MF 278,01) em cada tablete? 27-19. Um mineral em fino estado de divisão (0,632 4 g) foi dissolvido em 25 mL of HCl 4 M fervente e diluído com 175 mL de H2O contendo duas gotas do indicador vermelho de metila. A solução foi aquecida a 100°C e uma solução aquecida contendo 2,0 g de (NH4)2C2O4 foi adicionada lentamente para precipitar CaC2O4. A seguir, NH3 6 M foi adicionado até que o indicador mudasse de vermelho para amarelo, indicando que o líquido estava neutro ou levemente básico. Após resfriamento lento por 1 h, o líquido foi decantado, o sólido transferido para um cadinho e lavado com solução fria de (NH4)2C2O4 a 0,1% em massa até que nenhum Cl2 fosse mais detectado no filtrado com a adição de solução de AgNO3. O cadinho foi seco a 105°C durante 1 h e então levado a um forno a 500° + 25°C durante 2 h.
A massa do cadinho vazio foi de 18,231 1 g e a massa do cadinho com CaCO3(s) foi de 18,546 7 g. (a) Determine a porcentagem em massa de Ca no mineral. (b) Por que a solução desconhecida é aquecida à ebulição e a solução precipitante, (NH4)2C2O4, é também aquecida antes da mistura lenta das duas soluções?
(c) Qual é o propósito de se lavar o precipitado com (NH4)2C2O4 0,1% em massa? (d) Qual é propósito ao se testar o filtrado com solução de AgNO3? 27-20. O problema do homem no tanque.15 Há muito tempo, um trabalhador de uma fábrica de corantes caiu em um tanque contendo uma mistura concentrada e quente de ácidos sulfúrico e nítrico. Ele se dissolveu completamente! Como ninguém testemunhou o acidente, era necessário provar que ele havia caído dentro do tanque para que sua esposa recebesse o dinheiro do seguro. O homem pesava 70 kg, e um corpo humano contém cerca de 6,3 partes por mil (mg/g) de fósforo. O teor de fósforo foi analisado no ácido contido no tanque para verificar se seu valor correspondia ao da dissolução de um corpo humano. (a) O tanque continha 8,00 × 103 L de líquido, e foi analisada uma amostra de 100,0 mL. Se o homem tivesse caído no tanque, qual seria a quantidade esperada de fósforo presente em 100,0 mL? (b) 100,0 mL de amostra foram tratados com um reagente de molibdato, que provocou a precipitação do fosfomolibdato de amônio, (NH4)3[P(Mo12O40)] · 12H2O. Esta substância foi seca a 110°C para retirar a água de hidratação, e aquecida a 400°C até alcançar uma composição constante, correspondente à fórmula P2O5 · 24MoO3, que pesou 0,371 8 g. Quando uma nova mistura dos mesmos ácidos (não os do tanque) foi tratada da mesma maneira, foram produzidos 0,033 1 g de P2O5 · 24MoO3 (MF 3 596,46). Essa determinação do branco dá a quantidade de fósforo nos reagentes de partida. O P2O5 · 24MoO3 que poderia ser proveniente do homem dissolvido é, portanto, 0,371 8 – 0,033 1 = 0,338 7 g. Qual é a quantidade de fósforo presente em 100,0 mL da amostra? Essa quantidade é compatível com um homem dissolvido? 27-21. Uma amostra pesando 1,475 g e contendo NH4Cl (MF 53,492), K2CO3 (MF 138,21) e compostos inertes foi dissolvida produzindo 0,100 L de solução. Uma alíquota de 25,0 mL foi acidificada e tratada com excesso de tetrafenilborato de sódio, Na+B(C6H5)4–, para precipitar completamente os íons K+ e NH4+:
O precipitado resultante pesou 0,617 g. Uma nova alíquota de 50,0 mL da solução original foi alcalinizada e aquecida para remover todo o NH3: NH4+ + OH– → NH3(g) + H2O Em seguida, ela foi acidificada e tratada com tetrafenilborato de sódio, formando 0,554 g de precipitado. Determine a porcentagem em massa de NH4Cl e de K2CO3 no sólido original. 27-22. Uma mistura contendo apenas Al2O3 (MF 101,96) e Fe2O3 (MF 159,69) pesa 2,019 g. Quando aquecido em uma corrente de H2, o Al2O3 não se modifica, mas o Fe2O3 é convertido a Fe metálico e H2O(g). Se o resíduo pesa 1,774 g, qual é a porcentagem em massa de Fe2O3 na mistura original? 27-23. Uma mistura sólida pesando 0,548 5 g continha apenas sulfato ferroso amoniacal hexaidratado e cloreto ferroso hexaidratado. A amostra foi dissolvida em H2SO4 1 M, oxidada a Fe3+ com H2O2 e precipitada com cupferron. O complexo de cupferron férrico foi calcinado, formando 0,167 8 g de óxido férrico, Fe2O3 (MF 159,69). Calcule a porcentagem em massa de Cl na amostra original.
27-24. Propagação de erro. Uma mistura contendo apenas nitrato de prata e nitrato mercuroso foi dissolvida em água e tratada com excesso de hexacianocobaltato(III) de sódio, Na3[Co(CN)6], para precipitar os sais de prata e mercúrio: AgNO3
MF 169,873
Ag3[Co(CN)6]
MF 538,643
Hg2(NO3)2
MF 525,19
(Hg2)3[Co(CN)6]2
MF 1 633,62
(a) A amostra desconhecida pesou 0,432 1 g e o produto pesou 0,451 5 g. Determine a porcentagem em massa de nitrato de prata na amostra desconhecida. Cuidado: Neste tipo de cálculo, você deve manter todos os dígitos em sua calculadora, ou então podem ocorrer sérios erros de arredondamento. O arredondamento só deve ser feito ao final do cálculo. (b) Mesmo no caso de um analista habilidoso, não é provável que ele tenha menos de 0,3% de erro quando isola um precipitado. Suponha que haja um erro desprezível em todas as quantidades, exceto na massa do produto. Suponha também que a massa do produto tenha uma incerteza de 0,30%. Calcule a incerteza relativa na massa de AgNO3 na amostra desconhecida. 27-25. O gráfico termogravimétrico a seguir mostra a perda de massa do Y2(OH)5Cl · xH2O sob aquecimento. Na primeira etapa, a água de hidratação é perdida, dando ~8,1% de perda de massa. Após uma segunda etapa de decomposição, 19,2% da massa original é perdida. Finalmente, a composição se estabiliza em Y2O3 acima de 800°C.
Análise termogravimétrica do Y2(OH)5Cl · xH2O. [Dados de T. Hours, P. Bergez, J. Charpin, A. Larbot, C. Guizard e L. Cot, “Preparation and Characterization of Yttrium Oxide by a Sol‐Gel Process,” Ceramic Bull. 1992, 71, 200.] (a) Determine o valor de x na fórmula Y2(OH)5Cl · xH2O. Como a perda de massa de 8,1% não está definida precisamente na experiência, use a perda de massa total de 31,8% para o seu cálculo. (b) Sugira uma fórmula para o material restante no patamar de 19,2%. Certifique-se de que a soma das cargas de todos os íons em sua fórmula seja igual à zero. O cátion é Y3+. 27-26. Análise termogravimétrica e propagação de erro.16 Cristais de di-hidrogenofosfato de potássio deuterado, K(DxH1 – x)2PO4, são usados em óptica como uma válvula luminosa, como defletor de luz e como frequência dobrada em lasers. As propriedades ópticas são sensíveis à fração de deutério no material. Uma publicação afirma que o teor de deutério pode ser determinado medindo-se a massa perdida por desidratação do cristal após aquecimento lento até 450°C em um cadinho de Pt sob fluxo de N2.
(a) Seja α a massa de produto dividida pela massa de reagente:
Mostre que o coeficiente x na fórmula K(DxH1 – x)2PO4 está relacionado com o valor de α pela equação
Qual seria o valor de α se o material de partida estivesse 100% deuterado? (b) Um cristal analisado três vezes deu um valor médio de α = 0,856 77. Determine x no cristal. (c) A partir da Equação B.1 no Apêndice B, mostre que a incerteza em x (ex) está relacionada com a incerteza em α (eα) pela equação
(d) A incerteza na razão estequiométrica deutério:hidrogênio é ex. Os autores estimam que a incerteza deles em α é ea = 0,000 1. A partir de eα, calcule ex. Escreva a estequiometria na forma x ± ex. Se eα fosse 0,001 (que é perfeitamente razoável), qual seria o valor de ex? 27-27. Quando o supercondutor de alta temperatura óxido de ítrio-bário-cobre (veja o início do Capítulo 16 e o Boxe 16-3) é aquecido em uma corrente de H2, o sólido restante, a 1000°C, é uma mistura de Y2O3, BaO e Cu. O material de partida tem a fórmula YBa2Cu3O7–x, na qual a estequiometria do oxigênio varia entre 7 e 6,5 (x = 0 a 0,5).
(a) Análise termogravimétrica. Quando 34,397 mg do supercondutor YBa2Cu3O7–x foram submetidas a esta análise, 31,661 mg do sólido permaneceram após o aquecimento a 1000°C. Determine o valor de x em YBa2Cu3O7–x. (b) Propagação de erro. Suponha que a incerteza em cada massa em (a) seja ±0,002 mg. Determine a incerteza no valor de x.
Análise por Combustão 27-28. Qual é a diferença entre combustão e pirólise? 27-29. Qual é o objetivo do WO3 e do Cu na Figura 27-8? 27-30. Por que se usa estanho para encapsular uma amostra para a análise por combustão? 27-31. Por que a amostra foi introduzida dentro do forno preaquecido antes que a concentração de oxigênio atingisse o seu máximo na Figura 27-9? 27-32. Escreva uma equação balanceada para a combustão do ácido benzoico, C6H5CO2H, produzindo CO2 e H2O. Quantos miligramas de CO2 e de H2O serão produzidos pela combustão de 4,635 mg de ácido benzoico? 27-33. Escreva uma equação balanceada para a combustão do C8H7NO2SBrCl em uma análise elementar de C, H, N, S. 27-34. A análise por combustão de um composto, que sabidamente contém apenas C, H, N e O, demonstrou que ele continha os seguintes teores expressos em porcentagem ponderal: 46,21% de C, 9,02% de H, 13,74% de N e, por diferença, 100 – 46,21 – 9,02 – 13,74 = 31,03% de O. Isso significa que 100 g de amostra desconhecida contém 46,21 g de C, 9,02 g de H etc. Determine as razões atômicas C:H:N:O e exprima-as como as menores razões inteiras. 27-35. Uma mistura pesando 7,290 mg continha somente ciclo-hexano, C6Hl2 (MF 84,159), e oxirano, C2H4O (MF 44,053). Quando a mistura foi analisada pela análise por combustão, foram produzidos 21,999 mg de CO2 (MF 44,009). Determine a porcentagem em massa de oxirano na mistura. 27-36. A análise por combustão de um composto orgânico forneceu a seguinte composição: 71,17 ± 0,41% em massa de C, 6,76 ± 0,12% em massa de H, e 10,34 ± 0,12% em massa de N. Encontre os coeficientes estequiométricos h e n e as suas incertezas x e y na fórmula C8Hh±xNn±y. 27-37. Uma maneira de determinar enxofre é pela análise por combustão, que produz uma mistura de SO2 e SO3, que pode ser passada através de H2O2, de modo a converter ambos os óxidos em H2SO4, que é titulado com uma base padronizada. Quando
6,123 mg de uma substância foram queimados, o H2SO4 precisou de 3,01 mL de NaOH 0,015 76 M para a sua titulação. Qual é a porcentagem em massa de enxofre na amostra? 27-38. Estatísticas de coprecipitação.17 No experimento 1, 200,0 mL de solução, contendo 10,0 mg de SO42– (proveniente do Na2SO4), foram tratados com excesso de solução de BaCl2 para precipitar BaSO4 contendo algum Cl– coprecipitado. Para determinar a quantidade de Cl– coprecipitado presente, o precipitado foi dissolvido em 35 mL de H2SO4 a 98% em massa e fervido para liberar HCl, que foi removido pelo borbulhamento de N2 gasoso no H2SO4. O fluxo de HCl/N2 passou em uma solução reagente que reagiu com o Cl–, produzindo uma cor que foi medida. Dez ensaios repetidos deram valores de 7,8; 9,8; 7,8; 7,8; 7,8: 7,8; 13,7; 12,7; 13,7 e 12,7 μmol de Cl–. O experimento 2 foi idêntico ao primeiro, exceto que os 200,0 mL de solução também continham 6,0 g de Cl– (proveniente do NaCl). Dez ensaios repetidos deram 7,8; 10,8; 8,8; 7,8; 6,9; 8,8; 15,7; 12,7; 13,7 e 14,7 μmol de Cl–. (a) Determine a média, o desvio-padrão e o intervalo de confiança de 95% para o Cl– em cada experimento. (b) Existe uma diferença significativa entre os dois experimentos? O que significa a sua resposta? (c) Se não houvesse coprecipitado, qual seria a massa esperada de BaSO4 (MF 233,39)? (d) Se o coprecipitado é BaCl2 (MF 208,23), qual é a massa média do precipitado (BaSO4 + BaCl2) no experimento 1. Em que percentual a massa é maior do que em (c)?
______________ *A Ascarita original era amianto recoberto com NaOH. O amianto não é mais usado porque a inalação de partículas de amianto pode causar câncer pulmonar fatal. Na Ascarita II®, o amianto foi substituído por um suporte de sílica (SiO2) inerte.
Capítulo 0 1. S. P. Beckett, The Science of Chocolate, 2nd ed. (Cambridge: Royal Society of Chemistry, 2008); G. Tannenbaum, “Chocolate: A Marvelous Natural Product of Chemistry,” J. Chem. Ed. 2004, 81, 1131. Essa notação para uma referência de uma revista significa Journal of Chemical Education do ano 2004, volume 81, página 1131. 2. T. J. Wenzel, “A New Approach to Undergraduate Analytical Chemistry,” Anal. Chem. 1995, 67, 470A. Veja também T. J. Wenzel, “The Lecture as a Learning Device,” Anal. Chem. 1999, 71, 817A; T. J. Wenzel, “Cooperative Student Activities as Learning Devices,” Anal. Chem. 2000, 72, 293A; T. J. Wenzel, “Practical Tips for Cooperative Learning,” Anal. Chem. 2000, 72, 359A; T. J. Wenzel, “Undergraduate Research as a Capstone Learning Experience,” Anal. Chem. 2000, 72, 547A; T. J. Wenzel, “Active Learning Materials for Equilibrium Chemistry and Separation Science,” Anal. Bioanal. Chem. 2011, 400, 637. 3. W. R. Kreiser and R. A. Martin, Jr., “High-Pressure Liquid Chromatographic Determination of Theobromine and Caffeine in Cocoa and Chocolate Products,” J. Assoc. Off. Anal. Chem. 1978, 61, 1424; W. R. Kreiser and R. A. Martin, Jr., “High-Pressure Liquid Chromatographic Determination of Theobromine and Caffeine in Cocoa and Chocolate Products,” J. Assoc. Off. Anal. Chem. 1980, 63, 591. 4. Uma boa referência para muitos procedimentos analíticos bem testados é G. Latimer, Jr., ed., Official Methods of Analysis of AOAC International, 19th ed. (Gaithersburg, MD: AOAC International, 2012). 5. A. Carlin-Sinclair, I. Marc, L. Menguy, and D. Prim, “The Determination of Methylxanthines in Chocolate and Cocoa by Different Separation Techniques: HPLC, Instrumental TLC, and MECC,” J. Chem. Ed. 2009, 86, 1307; S. E. Stitzel and R. E. Sours, “High-Performance Liquid Chromatography Analysis of Single-Origin Chocolates for Methylxanthine Composition and Provenance Determination,” J. Chem. Ed. 2013, 90, 1227. 6. W. Fresenius, “The Position of the Analyst as Expert: Yesterday and Today,” Fresenius J. Anal. Chem. 2000, 368, 548. Capítulo 1 1. A. M. Pollard and C. Heron, Archaeological Chemistry, 2nd ed. (Cambridge: Royal Society of Chemistry, 2008). 2. S. L. Gerstenberger, A. Martinson, and J. L. Kramer, “An Evaluation of Mercury Concentrations in Three Brands of Canned Tuna,” Environ. Toxicol. Chem. 2010, 29, 237. 3. U. Shahin, S.-M. Yi, R. D. Paode, and T. M. Holsen, “Long-Term Elemental Dry Deposition Fluxes Measured Around Lake Michigan,” Environ. Sci. Tech. 2000, 34, 1887. Capítulo 2 1. V. Tsionsky, “The Quartz-Crystal Microbalance in an Undergraduate Laboratory Experiment,” J. Chem. Ed. 2007, 84, 1334, 1337, 1340; J. Janata, Principles of Chemical Sensors (Dordrecht: Springer, 2009). 2. Um cantilever vibratório é 107 vezes mais sensível do que uma microbalança com cristal de quartzo e pode medir quantidades de analito da ordem de femtograma (10–15 g). (W. Tan, Y. Huang, T. Nan, C. Xue, Z. Li, Q. Zhang, and B. Wang, “Development of Protein A Functionalized Microcantilever Immunosensors for the Analyses of Small Molecules at Parts per Trillion Levels,” Anal. Chem. 2010, 82, 615; H. Sone, S. Ichikawa, Y. Matsubara, M. Suzuki, H. Okano, T. Izumi, and S. Hosaka, “Prototype of Frame-Type Cantilever for Biosensor and Femtogram Detection,” Key Engineering Mater. 2011, 459, 134.) 3. Para variações pequenas ( 1, o pico apresenta cauda, e se B/A 1 h (seguida por uma boa lavagem com água destilada e imersão em água destilada) para remover traços de cátions adsorvidos na superfície do vidro através da sua troca pelo H+. lei da ação das massas Estabelece que para uma reação química aA + bB ⇌ cC 1 dD, a condição de equilíbrio é , em que Ai é a atividade da i-ésima espécie. A lei geralmente é usada na forma aproximada, em que as atividades são substituídas pelas concentrações. lei de Beer Relaciona a absorbância (A) de uma amostra com sua concentração (c), o caminho óptico (b) e a absortividade molar (ε): A = εbc. É chamada de maneira mais correta como lei de Beer-Lambert-Bouguer. lei de Henry A concentração de um gás dissolvido em uma solução é proporcional à pressão parcial (P) desse gás na fase gasosa: [gás dissolvido] = KhP, em que Kh é chamada constante da lei de Henry. Ela é uma função do gás, do líquido e da temperatura. lei de Ohm Lei que estabelece que a corrente (I) em um circuito é proporcional ao potencial (E) e é inversamente proporcional à resistência (R): I = E/R.
lei de Snell Lei que relaciona o ângulo de refração (θ2) com o ângulo de incidência (θ1) da luz que passa de um meio com índice de refração θ1 para um meio com índice de refração n2: n1 sen θ1 = n2 sen θ2. Os ângulos são medidos em relação à normal à superfície entre os dois meios. leis de Faraday Estas duas leis estabelecem que a extensão de uma reação eletroquímica é diretamente proporcional à quantidade de eletricidade que passou através da célula. A massa de substância que reage é proporcional à sua massa fórmula e inversamente proporcional ao número de elétrons necessários na sua meia-reação. ligação cruzada Ligações covalentes entre as diferentes cadeias de um polímero. ligante Átomo ou um grupo ligado a um átomo central em uma molécula. O termo é frequentemente usado para qualquer grupo ligado a qualquer coisa de interesse. ligante hexadentado Tipo de ligante que se liga ao átomo do metal através de seis átomos ligantes. ligante monodentado Tipo de ligante que se liga ao íon metálico por um único átomo. ligante multidentado Tipo de ligante que se liga a um íon metálico através de mais de um átomo. ligante quelante Ligante que se liga ao metal por mais de um átomo. limite a ser registrado Concentração abaixo da qual os regulamentos estabelecem que um analito seja registrado como “não detectado”. O limite a ser registrado é normalmente estabelecido como de 5 a 10 vezes maior do que o limite de detecção. limite de detecção A menor quantidade de analito que é “significativamente diferente” do branco. O limite de detecção é frequentemente considerado como a concentração do analito que produz um sinal igual a três vezes o desvio-padrão de um sinal de um branco. Também é chamado de limite inferior de detecção. limite de detecção inferior Veja limite de detecção. limite de quantificação Sinal mínimo que pode ser medido “exatamente”, frequentemente considerado como o sinal médio para os brancos mais 10 vezes o desvio-padrão de uma amostra de baixa concentração. limite de quantificação Veja limite inferior de quantificação limite inferior de quantificação Menor quantidade de analito que pode ser medido com exatidão razoável. Normalmente tomado como dez vezes o desvio-padrão de uma amostra de concentração baixa. Também chamado limite de quantificação. limpeza da amostra Remoção de partes da amostra que não contêm o analito e que podem interferir na análise. linearidade Medida de como os dados em um gráfico seguem uma linha reta, mostrando que a resposta é proporcional à quantidade de analito. linha base Em cromatografia, o sinal de fundo (background) na ausência de soluto é o sinal da linha base. As alturas dos picos e as áreas dos picos são medidas em relação à linha base projetada por baixo do pico. líquido iônico Sal que funde próximo ou abaixo da temperatura ambiente e apresenta uma larga faixa de temperatura na qual ele se mantém no estado líquido. líquido sobrenadante Líquido que permanece acima do sólido após uma precipitação. Também chamado de sobrenadante. líquidos imiscíveis Dois líquidos que não formam uma fase única quando são misturados. líquidos miscíveis Dois líquidos que formam uma única fase quando misturados em qualquer proporção. litro, L Unidade comum de volume igual a exatamente 1000 cm3. logaritmo O logaritmo de n na base 10 é a se 10a = n (que significa log n = a). O logaritmo natural de n é a se ea = n (que significa ln n = a). O número e (= 2,718 28….) é a base do logaritmo natural. logaritmo natural O logaritmo natural (ln) de a é b se eb = a, em que e = 2,718 28 . Veja também logaritmo. lote Material completo a ser analisado. Exemplos: uma garrafa de reagente, um lago ou um carregamento de pedras. luminescência Qualquer emissão de luz por uma molécula. luz branca Luz contendo todos os comprimentos de onda. luz colimada Luz na qual todos os raios se propagam em caminhos paralelos. luz monocromática Luz de um único comprimento de onda (“uma cor”). luz policromática Luz com vários comprimentos de onda (“muitas cores”). MALDI Veja ionização por dessorção a laser com auxílio de matriz. mantissa Parte de um logaritmo à direita da vírgula decimal. mascaramento Processo de adição de uma substância química (um agente de mascaramento) a uma amostra para evitar que um ou mais componentes interfiram em uma análise química. massa atômica Número de gramas de um elemento contendo o número de Avogadro de átomos. Para elementos com múltiplos isótopos estáveis, a massa atômica é uma média ponderada que reflete a abundância dos diferentes isótopos. massa constante Na análise gravimétrica, o produto é aquecido e resfriado a temperatura ambiente em um dessecador até que pesagens sucessivas mostrem um valor “constante”. Não há uma definição padrão para a “massa constante”, mas, para trabalhos
comuns, ela é geralmente considerada como ±0,3 mg. A constância é limitada geralmente pela recuperação irreprodutível da umidade durante o resfriamento e a pesagem. massa equivalente Massa de substância contendo um equivalente. massa específica Grandeza adimensional igual à massa de uma substância dividida pela massa de um volume igual de água a 4°C. De forma aproximada, a massa específica é idêntica à densidade em g/mL. massa específica Massa por unidade de volume. massa fórmula, MF Massa contendo um mol da fórmula química indicada de uma substância. Por exemplo, a massa fórmula do CuSO4 · 5H2O é a soma das massas de cobre, sulfato e cinco moléculas de água. massa molecular Número de gramas de uma substância que contém o número de Avogadro de moléculas. massa nominal Massa, expressa em números inteiros, da espécie com o isótopo mais abundante de cada um dos átomos constituintes. Para C, H e Br, os isótopos mais abundantes são 12C, 1H e 79Br. Portanto, a massa nominal do C2H5Br é (2 × 12) + (5 × 1) + (1 × 79) = 108. Materiais de Referência Padrão Amostras certificadas vendidas pelo U.S. National Institute of Standards and Technology (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA). material de referência certificado Amostras vendidas pelos institutos nacionais de medidas. Essas amostras contêm quantidades conhecidas de analitos para testar a exatidão de procedimentos analíticos. O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA denomina seus materiais de Materiais de Referência Padrão. material ferroelétrico Sólido com polarização elétrica permanente (dipolo) na ausência de um campo elétrico externo. A polarização resulta do alinhamento das moléculas dentro do sólido. material heterogêneo aleatório Material em que existem diferenças em pequena escala na composição sem um padrão ou previsibilidade. Quando coletamos uma porção do material para análise, obtemos alguma de cada das composições diferentes. material heterogêneo segregado Material em que as diferenças de composição ocorrem em grande escala. Regiões diferentes têm obviamente composições diferentes. matriz Meio contendo o analito. Para várias análises, é importante que os padrões sejam preparados na mesma matriz que a amostra desconhecida. maturação de Ostwald Processo favorável termodinamicamente no qual partículas pequenas (com tamanhos típicos na faixa de nanômetros) em uma suspensão se dissolvem e partículas maiores (tamanhos na faixa de mícrons) cristalizam. média Soma de de um conjunto de resultados dividida pelo número de valores nesse conjunto. Também chamada média aritmética. média da população Valor médio para uma população infinita de dados. O mesmo que média verdadeira. média do sinal Aumento de um sinal pela média de varreduras sucessivas. O sinal aumenta em proporção ao número de varreduras acumuladas. O ruído aumenta em proporção à raiz quadrada do número de varreduras. Portanto, a razão sinal/ruído aumenta em proporção à raiz quadrada do número de varreduras feitas. média geométrica Para uma série de n medidas com os valores xi, a média geométrica =
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mediador Em eletrólise, molécula que carrega elétrons entre o eletrodo e o analito. É empregado quando o analito não pode reagir diretamente no eletrodo ou quando a concentração de analito é tão baixa que outros reagentes reagem em vez dele. O mediador é reciclado indefinidamente por oxidação ou redução no contraeletrodo. mediana Para um grupo de dados, é o valor acima e abaixo do qual existem números iguais de dados. medidas repetidas Medidas repetidas da mesma quantidade. medidor de pH Potenciômetro que pode medir o potencial quando uma corrente extremamente pequena está passando. Ele é usado com um eletrodo de vidro para medir o pH. meia-altura Metade da amplitude máxima de um sinal. meia-largura Largura de um sinal na sua meia-altura. meia-pilha Parte de uma pilha eletroquímica em que ocorre metade de uma reação eletroquímica (ou uma reação de redução ou uma reação de oxidação). meia-reação Qualquer reação redox pode ser conceitualmente dividida em duas meias-reações, uma envolvendo somente a oxidação e outra envolvendo somente a redução. membrana de troca iônica Membrana contendo grupos carregados ligados covalentemente. Os íons de carga oposta em solução penetram na membrana livremente, mas os íons de carga semelhante tendem a ser excluídos da membrana pelas cargas ligadas à membrana. membrana semipermeável Camada fina de material que permite que algumas substâncias, mas outras não, passem através do material. Uma membrana de diálise permite a passagem de moléculas pequenas, mas não de moléculas grandes. menisco Superfície curva de um líquido.
mesh Número de espaços por polegada linear presente em uma peneira padrão usada para classificar partículas. Em uma peneira de 100/200 mesh, as partículas passam por uma abertura de 100 mesh, mas não através de uma abertura de 200 mesh. metas Na certificação de qualidade, metas são as orientações escritas de como os resultados serão usados. Metas são necessárias antes que as especificações possam ser escritas para o método. método da variação contínua Procedimento para determinar a estequiometria de um complexo por meio da preparação de uma série de soluções com diferentes razões metal-ligante. A razão em que ocorre a resposta extrema (como a absorbância espectrofotométrica) corresponde à estequiometria do complexo. Também chamado método de Job. método de Job Veja método da variação contínua. método dos mínimos quadrados Processo de ajuste de uma função matemática a um conjunto de pontos medidos. O ajuste é feito minimizando a soma dos quadrados das distâncias dos pontos até a curva. método dos mínimos quadrados Processo de ajuste de uma função matemática a um conjunto de pontos medidos através da minimização da soma dos quadrados das distâncias dos pontos até a curva. metro, m Unidade de comprimento no SI, definido como a distância que a luz viaja no vácuo durante
de um
segundo. micela Agregado de moléculas com cabeças iônicas e longas caudas apolares. O interior da micela parece um solvente formado por hidrocarbonetos, enquanto o exterior interage fortemente com a solução aquosa. microeletrodo Eletrodo com um diâmetro da ordem de 10 μm (ou menos). Os microeletrodos se ajustam dentro de lugares pequenos, tais como as células vivas. Sua pequena corrente dá origem a uma pequena queda ôhmica, de forma que eles podem ser usados em meios não aquosos resistivos. A pequena capacitância da dupla camada deixa que seu potencial mude rapidamente, permitindo que espécies de vida curta sejam estudadas. microextração em fase sólida Extração de compostos a partir de líquidos ou gases para dentro de um filamento revestido, colocado em uma agulha de seringa. Após a extração, o filamento é retirado de dentro da agulha e a agulha é injetada através do septo de um cromatógrafo. O filamento é esticado dentro da porta de injeção e os solutos adsorvidos são dessorvidos por aquecimento (para a cromatografia a gás) ou pelo solvente (para a cromatografia líquida). migração Movimento de íons induzido eletrostaticamente em uma solução sob a influência de um campo elétrico. mistura equimolar de compostos Aquela que contém um número de mols igual de cada composto. mobilidade Velocidade terminal que um íon alcança em um campo de 1 V/m. Velocidade = mobilidade × campo. Veja também mobilidade aparente e mobilidade eletroforética. mobilidade aparente Constante de proporcionalidade (μap) entre a velocidade global (uglobal) de um íon em solução e o campo elétrico aplicado, E: uglobal = μapE. A mobilidade aparente é a soma da mobilidade eletroforética mais a mobilidade eletrosmótica:. μap = μep + μeo. mobilidade eletroforética, μef Constante de proporcionalidade entre a velocidade eletroforética (uef) de um íon em solução e o campo elétrico aplicado (E): uef = μefE. Veja também mobilidade aparente. mobilidade eletrosmótica, μeo Constante de proporcionalidade entre a velocidade eletrosmótica (ueo) de um fluido em um capilar e o campo elétrico aplicado (E): ueo = μeoE. É também igual à velocidade de uma espécie neutra, uneutra, dividida pelo campo elétrico, E. Veja também mobilidade aparente. modelo linear de força do solvente Em cromatografia líquida, modelo no qual o fator de retenção, k, é relacionado com a composição da fase móvel, Φ, pela equação empírica log k ≈ log kw – SΦ, em que log kw e S são constantes. modificador de matriz Substância adicionada à amostra, na espectroscopia atômica, para fazer a matriz mais volátil ou o analito menos volátil, de modo que a matriz evapore antes do analito. modulação de feixe Técnica que usa um alternador de feixe para modular o sinal em um espectrofotômetro em uma frequência em que o ruído é reduzido. Na absorção atômica, o bloqueio alternado do feixe permite que seja feita a distinção entre a luz proveniente da fonte e a luz proveniente da chama. moinho de bolas Cilindro no qual a amostra sólida é moída em um pó fino por agitação com bolas de cerâmica maciça. mol Unidade para a quantidade de substância no SI que contém tantas moléculas quanto átomos em 12 g de 12C. Há aproximadamente 6,022 × 1023 moléculas por mol. molalidade, m Medida de concentração equivalente ao número de mols de soluto por quilograma de solvente. molaridade, M Medida da concentração igual ao número de mols de soluto por litro de solução. molécula anfiprótica Aquela que reage tanto com um doador quanto com aceptor de prótons. As espécies intermediárias de ácidos polipróticos são anfipróticas. molécula oticamente ativa O mesmo que molécula quiral. molécula protonada Na espectrometria de massa, é o íon MH+ que resulta da adição do H+ ao analito. molécula quiral Aquela que não é sobreposta à sua imagem especular em qualquer conformação acessível. Também chamada molécula ativa opticamente, uma molécula quiral gira o plano da luz polarizada.
monitoramento seletivo de íon Uso de um espectrômetro de massa para monitorar espécies com apenas uma ou umas poucas razões massa/carga (m/z). monitoramento seletivo de reação Técnica em que o íon precursor selecionado por um separador de massa passa através de uma célula de colisão onde ele se rompe em diversos fragmentos iônicos (íons produto). Um segundo separador de massa seleciona um (ou uns poucos) desses íons para detecção. O monitoramento seletivo de reação melhora a razão sinal cromatográfico/ruído, pois ele é insensível a quase todas as outras coisas além do analito desejado. Também chamado espectrometria de massa/ espectrometria de massa (MS–MS) ou espectrometria de massa tandem. monocromador Dispositivo (geralmente uma rede ou um prisma) que dispersa a luz nos comprimentos de onda que a formam, e seleciona uma banda estreita de comprimentos de onda para passar através da fenda de saída. movimento browniano Movimento aleatório de uma partícula pequena em um líquido causado por colisões com moléculas se movendo com velocidades aleatórias em direções ao acaso. MSn Ciclos sucessivos de monitoramento seletivo de reações. O íon produto de um ciclo se torna o precursor do ciclo seguinte. Esse experimento pode ser conduzido em um espectrômetro de massa quadrupolar tridimensional com aprisionamento de íons sob controle de um programa de computador. multiplicador de elétrons Detector de íons que trabalha semelhante a um tubo fotomultiplicador. Os cátions quando atingem um catodo, liberam elétrons. Uma série de dinodos multiplica o número de elétrons por ~ 105 antes que eles alcancem o anodo. multiplicador de elétrons de dinodo contínuo Detector de elétrons que funciona como um tubo fotomultiplicador. Um elétron atinge uma parede de vidro dopado com chumbo de um tubo com formato de trombeta, liberando vários elétrons que são acelerados para dentro da trombeta por um potencial cada vez mais positivo. Após várias reflexões, ~ 105 elétrons atingem a extremidade estreita da trombeta para cada elétron incidente. m/z Veja razão massa/carga. não eletrólito Substância que não se dissocia em íons quando é dissolvida. nebulização Processo de dispersão da amostra líquida em uma névoa de gotículas finas. nebulizador Em espectroscopia atômica, dispositivo que dispersa a amostra líquida em uma névoa de gotas finas. nefelometria Técnica em que a intensidade de luz espalhada a 90° por uma suspensão é medida para determinar a concentração de partículas suspensas. Em uma titulação de precipitação, o espalhamento aumenta até que o ponto de equivalência é alcançado, e então permanece constante.
neutralização Processo em que um equivalente estequiométrico de ácido é adicionado à base (ou vice-versa). newton, N Unidade de força no SI. Um newton acelera uma massa de 1 kg por 1 m/s2. normalidade É igual a n vezes a molaridade de um reagente redox, em que n é o número de elétrons doados ou recebidos pela espécie em determinada reação química. Para ácidos e bases, ela também é n vezes a molaridade, mas n é o número de prótons doados ou recebidos pela espécie. nucleação Processo pelo qual as moléculas em solução se agregam aleatoriamente para formar agregados pequenos que podem se unir formando cristais maiores. número de Avogadro O número de átomos em exatamente 0,012 kg de 12C, aproximadamente 6,022 × 1023. número de onda, ṽ o inverso do comprimento de onda, 1/λ, normalmente expressa em cm–1. número de oxidação Veja estado de oxidação. objetivos da qualidade dos dados São as exigências de exatidão, precisão e amostragem para um método analítico. oclusão Impureza que é capturada (algumas vezes com o solvente) em uma cavidade dentro de um cristal em crescimento. ohm, Ω Unidade de resistência elétrica no SI. Uma corrente de 1 A flui através de uma diferença de potencial de 1 V se a resistência do circuito for de 1 Ω.
onda anódica Na voltametria, um fluxo de corrente em função da oxidação no eletrodo de trabalho. onda catódica Na voltametria, um fluxo de corrente em função da redução no eletrodo de trabalho. onda evanescente Luz que penetra nas paredes de uma fibra óptica ou de uma guia de ondas em que a luz se propaga pela reflexão interna total. onda polarográfica Aumento da forma em S na corrente durante uma reação redox na polarografia. optodo Sensor baseado em uma fibra ótica. Também chamado de optrodo. orbital molecular Descreve a distribuição de um elétron dentro da molécula. ordem de magnitude Uma potência de 10. ordenada Eixo vertical (y) de um gráfico. osmolaridade Expressão da concentração que dá o número total de partículas (íons e moléculas) por litro de solução. Para não eletrólitos como a glicose, a osmolaridade é igual à molaridade. Para o eletrólito forte CaCl2, a osmolaridade é 3 vezes a molaridade, pois cada mol de CaCl2 fornece 3 mols de íons (Ca2+ + 2Cl–). oxidabilidade Em uma amostra de água natural ou em uma amostra de um efluente industrial, a quantidade de O2 equivalente a quantidade de KMnO4 consumida fazendo-se o refluxo da amostra com permanganato padrão. Cada KMnO4 consome cinco elétrons e é quimicamente equivalente a 1,25 mol de O2. Veja também demanda química de oxigênio. oxidação Perda de elétrons ou um aumento do estado de oxidação. oxidante Veja agente oxidante. padrão externo Solução conhecida do analito, distinta da solução desconhecida, usada para preparar uma curva de calibração mostrando a resposta analítica como função da concentração do analito. padrão interno Quantidade conhecida de um composto adicionada a uma solução contendo uma quantidade desconhecida de analito. A concentração do analito é medida em relação ao padrão interno. padrão primário Reagente que é suficientemente puro e estável para ser usado diretamente após a pesagem. A massa inteira é considerada um reagente puro. padronização Processo pelo qual a concentração de um reagente é determinada pela reação com uma quantidade conhecida de um segundo reagente. papel-filtro sem cinzas Papel especialmente tratado que deixa um resíduo desprezível após a queima. É usado para análise gravimétrica. O filtro é feito de polpa retirada e é lavado com ácido para remover impurezas. papel de pesagem Papel usado como uma base sobre o qual se coloca um reagente sólido em uma balança. O papel de pesagem tem uma superfície bem lisa, de onde os sólidos são facilmente transferidos para um frasco. par conjugado ácido-base Um ácido e uma base que diferem somente pelo ganho ou pela perda de um único próton. par iônico Um cátion e um ânion intimamente associados, mantidos juntos pela atração eletrostática. Em solventes menos polares que a água, os íons geralmente são encontrados como pares iônicos. par redox Par de reagentes relacionados pela transferência de elétrons; por exemplo,
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paralaxe Deslocamento aparente de um objeto quando o observador muda de posição. Ocorre quando a escala de um instrumento é vista de uma posição que não é perpendicular à escala. A leitura aparente não é a leitura verdadeira. parte difusa da dupla camada Região da solução próxima à superfície carregada em que existe excesso de contraíons atraídos pela carga. A espessura dessa camada é de 0,3 a 10 nm. partes por bilhão (ppb) Expressão de concentração que se refere a nanogramas (10–9 g) de soluto por grama de solução. partes por milhão (ppm) Expressão de concentração que se refere a microgramas (10–6 g) de soluto por grama de solução. partícula porosa superficialmente Partícula da fase estacionária para a cromatografia líquida contendo uma fina camada externa porosa e um núcleo denso não poroso. A transferência de massa é mais rápida na partícula porosa superficialmente do que em uma partícula totalmente porosa do mesmo diâmetro. Também chamada partícula de núcleo fundido. partículas de núcleo fundido Veja partículas porosas superficialmente. partículas microporosas Fase estacionária cromatográfica consistindo em partículas porosas de 1,5-10 μm de diâmetro, com alta eficiência e alta afinidade pelo soluto. partículas peliculares Tipo de fase estacionária usada na cromatografia líquida. Contém uma camada fina de líquido revestida sobre gotas esféricas. Possuem uma eficiência alta (pequena altura de pratos), mas capacidade baixa. pascal, Pa Unidade de pressão no SI, igual a 1 N/m2. Existem 105 Pa em 1 bar e 101.325 Pa em 1 atm. peneira molecular Partícula sólida com tamanhos de poros iguais a moléculas pequenas. As zeólitas (aluminossilicatos de sódio) são um tipo muito comum. peneiração Na eletroforese, separação de macromoléculas por migração através de um gel polimérico. As moléculas menores se movem mais rapidamente, e as maiores, mais lentamente.
peptização Ocorre quando a lavagem de alguns precipitados iônicos com água destilada produz íons que neutralizam as cargas das partículas individuais que estão sendo lavadas. As partículas então se repelem entre si e desintegram, passando através do filtro com o líquido de lavagem. pH Definido como pH = –log AH+, em que AH+ é a atividade do H+. Em aplicações mais aproximadas, o pH é dado como – log[H+]. pH de carga zero pH em que a carga líquida sobre a superfície de um sólido é zero. pico base O pico mais intenso em um espectro de massa. pico de sobrecarga Banda cromatográfica assimétrica, na qual se observa um aumento gradual na concentração seguido de um retorno brusco à linha base. O máximo do pico se desloca para tempos de retenção mais longos do que para um pico ideal. O pico de sobrecarga resulta da injeção de excesso de soluto, o que altera a polaridade da fase estacionária de forma que ela se torna cada vez mais retentora. pilha de Weston Fonte de potencial elétrico extremamente estável, é baseada na reação Cd(s) + HgSO4(aq) ⇋ CdSO4(aq) + Hg(l). É usada frequentemente para padronizar um potenciômetro. pilha galvânica Aquela que produz eletricidade por meio de uma reação química espontânea. Também chamada de pilha voltaica. pilha voltaica Veja pilha galvânica. pipeta Tubo de vidro calibrado para transferir um volume fixo ou variável de líquido. pirólise Decomposição térmica de uma substância. pK Logaritmo negativo (base 10) de uma constante de equilíbrio: pK = –log K. plano da luz polarizada Luz cujo campo elétrico oscila em um plano. plasma Gás que está suficientemente quente para conter íons e elétrons livres, assim como moléculas neutras. plasma acoplado indutivamente Plasma em alta temperatura que surge de um campo de alta frequência oscilante. É usado para atomizar uma amostra para a espectroscopia de emissão atômica. plasmon Oscilação coletiva dos elétrons livres em um metal. plataforma de L’vov Plataforma na qual a amostra é colocada em um forno tubular de grafite para a espectroscopia atômica, a fim de evitar a evaporação da amostra antes de as paredes alcançarem uma temperatura constante. poder de resolução Na espectrometria de massa, poder de resolução pode ser definido m/Δm, no qual Δm é a separação de dois picos quando a sobreposição na base do pico é 10% da altura do pico, e m é o menor dos dois valores de m/z. Alternativamente, o poder de resolução pode ser considerado como m/Δm1/2, no qual m1/2 é a largura de cada pico na metade da altura máxima. Nesse caso, o declive entre dois picos mal resolvidos está 8% abaixo das alturas dos picos. polarizabilidade Constante de proporcionalidade relacionando o dipolo induzido com a força do campo elétrico. Quando uma molécula é colocada em um campo elétrico, um dipolo é induzido na molécula pela atração dos elétrons para o polo positivo e a atração do núcleo para o polo negativo. polarização de concentração Ocorre quando uma reação de eletrodo é tão rápida que a concentração do soluto próxima à superfície do eletrodo não é igual à concentração no seio da solução. polarografia Experimento de voltametria usando um eletrodo de mercúrio gotejante. polarografia de corrente direta Forma clássica de polarografia, em que é aplicada uma rampa linear de potencial no eletrodo de trabalho. polarógrafo Instrumento usado para obter e registrar um polarograma. polarograma Gráfico mostrando a relação entre a corrente e o potencial durante um experimento de polarografia. policial Bastão de vidro com uma peça de borracha na ponta. A borracha é usada para raspar as partículas sólidas das superfícies de vidro na análise gravimétrica. policromador Dispositivo que decompõe a luz em seus comprimentos de onda e dirige cada pequena banda de comprimentos de onda para uma região diferente, onde é detectada por um conjunto de fotodiodos. polímero impresso molecularmente Polímero sintetizado na presença de uma molécula modelo. Depois que o modelo é removido, o polímero tem um espaço vazio com a forma certa para aprisionar o modelo e moléculas parecidas relacionadas. Os grupos funcionais do polímero estão corretamente posicionados para se ligarem aos grupos funcionais do modelo. ponte salina Meio iônico condutor em contato com duas soluções eletrolíticas. Ela permite que íons se desloquem sem permitir a difusão imediata de uma solução eletrolítica para dentro da outra. Ela normalmente contém um sal que minimiza o potencial de junção líquida em cada extremidade da ponte. ponto crítico Temperatura crítica e pressão crítica de uma substância. ponto de equivalência Ponto em uma titulação em que a quantidade de titulante é exatamente o suficiente para a reação estequiométrica com o analito.
ponto de inflexão Ponto em que a derivada do coeficiente angular é 0: d(dy/dx)/dx = d2y/dx2 = 0. Isto é, o coeficiente angular alcança um valor máximo ou mínimo. ponto final Ponto em uma titulação em que há uma mudança súbita em uma propriedade física, como a cor do indicador, o pH, a condutividade ou a absorbância. Usado como uma medida do ponto de equivalência. ponto isoelétrico pH em que a carga média de uma espécie poliprótica é igual a 0. O mesmo que pH isoelétrico. ponto isoiônico pH de uma solução pura de uma molécula neutra, poliprótica. Os únicos íons presentes são H+, OH– e aqueles originados das espécies polipróticas. O mesmo que pH isoiônico. ponto isosbéstico Comprimento de onda no qual o espectro de absorbância de duas espécies se cruzam. O aparecimento de pontos isosbésticos em uma solução em que está ocorrendo uma reação química é uma evidência de que existem presentes somente dois componentes, com uma concentração total constante. ponto triplo A única temperatura e pressão em que as formas sólida, líquida e gasosa de uma substância estão em equilíbrio entre si. porção de teste Parte da amostra de laboratório usada para uma análise. Também chamada alíquota. porcentagem em massa, % m/m Definida como (massa de soluto/massa de solução) × 100. porcentagem massa/volume Definida como [(massa de soluto, g)/(volume de solução, mL)] × 100. pós-precipitação Adsorção de impurezas também solúveis na superfície de um precipitado após a precipitação ter acabado. potência Quantidade de energia por unidade de tempo (J/s) que está sendo consumida. potência radiante Potência por unidade de área (W/m2) de um feixe de radiação eletromagnética. Também chamada irradiância, intensidade ou fluxo radiante. potencial Veja potencial elétrico. potencial assimétrico Quando a atividade do analito é a mesma no interior e no exterior de um eletrodo íon-seletivo, não deve existir nenhuma diferença de potencial através da membrana. Na realidade, as duas superfícies nunca são idênticas, e geralmente é observada alguma diferença de potencial (chamado de potencial de assimetria). potencial de decomposição Em uma eletrólise, o potencial pelo qual a reação rápida começa primeiro. potencial de junção Potencial elétrico que existe na junção entre duas soluções eletrolíticas diferentes ou duas substâncias diferentes. Ele surge nas soluções pelo fato de íons diferentes se difundirem com velocidades diferentes. potencial de meia-onda Potencial no ponto médio do aumento na corrente de uma onda polarográfica. potencial de um único eletrodo Potencial medido quando o eletrodo de interesse é conectado ao terminal positivo de um potenciômetro e o eletrodo-padrão de hidrogênio é conectado ao terminal negativo. potencial do cone de amostragem Veja cone de potencial. potencial elétrico, E O potencial elétrico (em volts) em um ponto é a energia (em joules) necessária para trazer um coulomb de carga positiva do infinito até aquele ponto. A diferença de potencial entre os dois pontos é a energia necessária para transportar um coulomb de carga positiva do ponto negativo para o ponto positivo. potencial formal Potencial de uma meia-reação (em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio) quando as concentrações formais dos reagentes e dos produtos são unitárias. Qualquer outra condição (como pH, força iônica e concentrações dos ligantes) tem de ser também especificada. potencial ôhmico Potencial necessário para vencer a resistência elétrica de uma pilha eletroquímica. potencial-padrão de redução, E° Potencial que seria medido quando uma pilha hipotética contendo a meia-reação desejada (com todas as espécies presentes em atividade unitária) está conectada a um eletrodo-padrão de hidrogênio, funcionando como anodo. potenciometria Método analítico em que se mede uma diferença de potencial elétrico (uma voltagem) de uma pilha. potenciômetro Dispositivo que mede o potencial elétrico pelo seu balanceamento com um potencial conhecido de sinal contrário. Um potenciômetro mede a mesma quantidade medida por um voltímetro, mas o potenciômetro é projetado para puxar muito menos corrente do circuito que está sendo medido. potenciostato Dispositivo eletrônico que mantém uma diferença de potencial elétrico constante entre um par de eletrodos. ppb Veja partes por bilhão. ppm Veja partes por milhão. prato teórico Construção imaginária em cromatografia representando um segmento de uma coluna no qual ocorre um equilíbrio do soluto entre as fases estacionária e móvel. O número de pratos teóricos em uma coluna com bandas gaussianas é definido como N = tr2/σ2, em que tr é o tempo de retenção de um pico e σ é o desvio-padrão da banda. Veja também altura do prato. precipitação Ocorre quando uma substância sai da solução rapidamente (para formar microcristais ou um sólido amorfo). precipitação homogênea Técnica na qual um agente precipitante é gerado lentamente por uma reação em solução homogênea, provocando uma cristalização lenta em vez de uma precipitação rápida do produto.
precipitante Substância que precipita uma espécie a partir da solução. precisão Uma medida da reprodutibilidade de uma medida experimental. precisão do instrumento Reprodutibilidade observada quando a mesma quantidade de uma amostra é repetidamente introduzida em um instrumento. precisão interlaboratorial Reprodutibilidade observada quando alíquotas da mesma amostra são analisadas por pessoas diferentes em laboratórios diferentes. precisão intermediária Precisão observada quando um ensaio é realizado por pessoas diferentes em instrumentos diferentes em dias diferentes no mesmo laboratório. Também chamada robustez. precisão intrínseca do ensaio Precisão observada quando alíquotas de um material homogêneo são analisadas várias vezes por uma pessoa em um dia com o mesmo equipamento. pré-coluna Veja coluna de proteção. pré-coluna Na CLAE, uma pequena coluna empacotada com o mesmo material que a coluna principal, colocada entre o injetor e a coluna principal. A pré-coluna remove as impurezas que podiam se ligar irreversivelmente e degradar a coluna principal. Também chamada de coluna de proteção. Na cromatografia a gás, a pré-coluna é uma porção de capilar silanizado vazio, à frente da coluna cromatográfica. Os resíduos não voláteis se acumulam na pré-coluna. pré-concentração Processo de concentração de componentes presentes em nível de traço em uma mistura antes da sua análise. pré-oxidação Em algumas titulações redox, o ajuste do estado de oxidação do analito para um valor maior, de forma que ele possa ser titulado com um agente redutor. preparação da amostra Transformação da amostra para um estado que seja apropriado para a análise. Este processo pode incluir a concentração de um analito diluído e a remoção ou o mascaramento de espécies interferentes. pré-redução Processo de redução de um analito para um estado de oxidação menor a fim de executar uma titulação com um agente oxidante. pressão Força por unidade de área, comumente medida em pascals (N/m2) ou bars. pressão crítica Pressão acima da qual um fluido não pode ser condensado, independente de quão baixa é a temperatura. Logo, acima da pressão crítica, não é possível observar-se o equilíbrio entre as fases líquida e vapor (gás). primeira lei de Fick da difusão Veja coeficiente de difusão. princípio da incerteza de Heisenberg Certos pares de grandezas físicas não podem ser conhecidos simultaneamente com uma exatidão arbitrária. Se δE é a incerteza na diferença de energia entre dois estados atômicos e δt é o tempo de vida do estado excitado, seu produto não pode ser conhecido mais exatamente do que δEδt ≥ h/(4π), em que h é a constante de Planck. Existe uma relação semelhante entre a posição e o momento de uma partícula. Se a posição é conhecida com muita exatidão, então a incerteza no momento é grande e vice-versa. princípio de Le Châtelier Se um sistema em equilíbrio é perturbado, a direção em que ele segue de volta ao equilíbrio é tal que a perturbação é parcialmente compensada. prisma Sólido triangular, transparente. Cada comprimento de onda da luz que passa pelo prisma é inclinado (refratado) em um ângulo diferente. problema geral de eluição Em cromatografia, a incapacidade de uma única condição isotérmica ou isocrática fornecer uma separação adequada em tempo razoável de solutos com uma ampla faixa de retenção. procedimento-padrão de operação Procedimento escrito que tem de ser rigorosamente seguido para assegurar a qualidade de uma análise química. processo de Hall-Héroult Produção eletrolítica de alumínio metálico a partir da solução fundida de Al2O3 e criolita (Na3AlF6). processo espontâneo Processo que é favorável energeticamente. Ele ocorrerá ao final, mas a termodinâmica não faz nenhuma previsão de quanto tempo levará para ocorrer. produto Espécie criada em uma reação química. Os produtos aparecem no lado direito da equação química. produto de solubilidade, Kps Constante de equilíbrio para a dissolução de um sal sólido que libera seus íons em solução. Para a reação MmNn(s) ⇋ mMn+ + nNm–, Kps = , em que A é a atividade de cada espécie. programação de temperatura Aumento da temperatura de uma coluna de cromatografia a gás durante uma separação para diminuir o tempo de retenção dos últimos componentes a serem eluídos. protocolo Na certificação de qualidade, é a orientação escrita estabelecendo o que deve ser documentado e como a documentação deve ser feita. próton O íon H+. purga Consiste em forçar um fluido (geralmente um gás) a fluir através de uma substância ou uma câmara, normalmente para extrair alguma coisa da substância que está sendo purgada ou para substituir o fluido na câmara com o fluido de purga. purga e coleta Método para a remoção de analitos voláteis a partir de líquidos e sólidos, concentrando os analitos e introduzindoos em um cromatógrafo a gás. O gás de arraste borbulhado através de um líquido ou sólido extrai os analitos voláteis, que são
então retidos em um tubo contendo adsorvente. Após a coleta do analito, o tubo adsorvente é aquecido e purgado para dessorver os analitos, que são retidos por uma armadilha fria no início da coluna cromatográfica. queimador de pré-mistura Na espectroscopia atômica, aquele em que a amostra é nebulizada e misturada simultaneamente com o combustível e o oxidante antes de ser colocada na chama. quilograma, kg Unidade de massa no SI. É igual a massa de determinado cilindro de Pt-Ir mantido no Escritório Internacional de Pesos e Medidas, Sèvres, França. química verde Princípios destinados a mudar o nosso comportamento de uma maneira que irá ajudar a manter a Terra habitável. A química verde busca desenvolve r produtos e processos químicos para reduzir o uso de recursos e energia, e a geração de resíduos perigosos. quimiluminescência Emissão de luz por um produto de uma reação química no estado excitado. quociente de reação, Q Expressão tendo a mesma forma da constante de equilíbrio para uma reação. Entretanto, o quociente de reação é avaliado para determinado grupo de atividades (concentrações), que geralmente não são os valores de equilíbrio. No equilíbrio, Q = K. radiação do corpo negro Radiação emitida por um corpo negro. A energia e a distribuição espectral da emissão dependem somente da temperatura do corpo negro. radiação parasita Na espectrofotometria, é a luz que alcança o detector e não é parte do conjunto estreito de comprimentos de onda que devem vir do monocromador. radiano, rad Unidade de ângulo planar no SI. Existem 2π radianos em um círculo completo. raio hidratado Tamanho efetivo de um íon, ou de uma molécula, mais as moléculas de água associadas ao íon, ou a molécula, em solução. raio hidrodinâmico Raio efetivo de uma molécula migrando através de um fluido. É definido pela equação de Stokes, na qual o coeficiente de atrito é 6πrη, em que η é a viscosidade do fluido e r é o raio hidrodinâmico da molécula. raio iônico Tamanho efetivo de um íon em um cristal. raiz do ruído quadrático médio (ruído rms) Desvio-padrão do ruído em uma região onde o sinal é monótono:
em que Ai é o sinal medido para o i-ésimo dado, Ā é o ruído médio e n é o número de dados. rampa de potencial linear Aumento linear do potencial que é aplicado ao eletrodo de trabalho na polarografia. razão de capacidade Veja fator de retenção. razão de fase, βm Em cromatografia, o volume relativo de fase móvel em relação à fase estacionária na coluna. Na literatura antiga, a razão de fase pode ser expressa por Φ, que é o recíproco de βm. razão de partição Veja fator de retenção. razão de retenção Na cromatografia, tempo necessário para o solvente passar através da coluna dividido pelo tempo necessário para o soluto passar através da coluna. razão massa/carga, m/z Massa de um íon, em daltons, dividida pela carga do íon medida em múltiplos da carga elementar. Por exemplo, para 23Na+, m/z = 23/1 = 23. razão sinal/ruído Altura de um sinal dividida pelo ruído na linha de base em torno do sinal. O ruído é normalmente expresso como ruído médio quadrático. Quanto mais alta a razão sinal/ruído, menor a incerteza no sinal. reação endotérmica Reação em que ΔH é positivo; calor tem de ser fornecido aos reagentes para que eles reajam. reação exotérmica Reação em que ΔH é negativo; o calor é liberado quando os produtos são formados. reação redox Reação química envolvendo a transferência de elétrons de um elemento para outro. reagente Espécie que é consumida em uma reação química. Aparece no lado esquerdo da equação química. reagente de grau analítico Substâncias químicas de alta pureza geralmente adequadas para o uso na análise quantitativa e que têm o grau de pureza exigido por organizações como a Sociedade Americana de Química (American Chemical Society). reagente gasoso Em uma fonte de ionização química para espectrometria de massa, o reagente gasoso (normalmente metano, isobutano ou amônia em ~1 mbar) é convertido em uma espécie fortemente doadora de prótons, como o , por um processo que inicia com a ionização eletrônica. O reagente gasoso protonado reage com o analito para produzir o analito protonado. reagente limitante Reagente que se esgota em primeiro lugar em uma reação química. Após o consumo de todo o reagente limitante, a reação não pode prosseguir.
recuperação do composto adicionado propositadamente Fração do composto adicionado encontrada ao final da análise química. rede de difração É uma superfície de reflexão ou de transmissão onde existem gravadas linhas com espaçamento entre elas muito pequeno. Ela é usada para dispersar a luz nos comprimentos de onda que a constituem. redução Ganho de elétrons ou diminuição do estado de oxidação. redutor Veja agente redutor. redutor de Jones Coluna empacotada com amálgama de zinco. Um analito oxidado passa através da coluna para reduzir o analito, que é titulado com um agente oxidante. redutor de Walden Coluna empacotada com prata e eluída com HCl. O analito é reduzido ao passar pela coluna. O produto reduzido é titulado com um agente oxidante. refletância Fração da energia radiante incidente refletida por um objeto. reflexão difusa Ocorre quando uma superfície áspera (rugosa) reflete a luz em todas as direções. reflexão especular Reflexão da luz em um ângulo igual ao ângulo de incidência. reflexão total atenuada Técnica analítica baseada na passagem de luz através de um guia de ondas, ou uma fibra óptica, por uma reflexão interna total. A absorção da camada de vidro poroso é sensível à presença do analito. Parte da onda evanescente é absorvida na camada de vidro poroso durante cada reflexão na presença do analito. Quanto mais analito, maior será a perda de sinal. refração Mudança na direção da luz quando ela passa entre meios com índices de refração diferentes. regeneração Processo no qual uma coluna cromatográfica ou capilar é reconduzida ao seu estado inicial. Em troca iônica, a regeneração envolve a substituição dos íons retidos no processo de troca pelo íon original. regra do nitrogênio Um composto com um número ímpar de átomos de nitrogênio, além de átomos de C, H, halogênios, O, S, Si e P, tem uma massa molecular ímpar. Um composto com um número par de átomos de nitrogênio (0, 2, 4 etc.) tem uma massa nominal par. rendimento quântico Em fotoquímica, a fração de fótons absorvidos que produz determinado resultado. Por exemplo, se uma molécula pode se isomerizar do isômero cis para o isômero trans quando absorve luz, o rendimento quântico para a isomerização é o número de moléculas que isomerizam dividido pelo número de fótons de absorção. O rendimento quântico está sempre na faixa de 0 a 1. repetibilidade Descreve o espalhamento dos resultados quando uma pessoa utiliza um procedimento para analisar a mesma amostra pelo mesmo método com o mesmo equipamento muitas vezes. reprecipitação Algumas vezes, um precipitado gravimétrico pode ser purificado somente por meio de sua redissolução e reprecipitação. As impurezas estão presentes em concentrações menores durante a segunda precipitação e a probabilidade delas coprecipitarem é menor. reprodutibilidade Descreve o espalhamento dos resultados quando pessoas diferentes, em laboratórios diferentes, usando equipamentos diferentes, tentam seguir o mesmo procedimento com o mesmo tipo de amostra. resina Trocador de íons, como o poliestireno, que existe como partículas duras e pequenas. resina macroporosa Resina de troca iônica com ligações cruzadas que apresenta microporos em escala molecular e também macroporos com ≥ 100 nm. Esses poros maiores permitem que moléculas grandes como proteínas cheguem à grande área superficial interna da partícula. Também chamada resina macrorreticular. resina macrorreticular Veja resina macroporosa. resistência, R Medida da força retardadora que se opõe ao fluxo da corrente elétrica. Sua unidade no sistema SI é o ohm, Ω. resistividade, ρ Medida da capacidade de um material impedir o fluxo da corrente elétrica. J = E/r, em que J é a densidade de corrente (A/m2) e é o campo elétrico (V/m). As unidades de resistividade são V · m/A = ohm · m = Ω · m. A resistência (R) de um condutor com um dado comprimento e área transversal é dada por R = ρ · comprimento/área. A resistividade é o recíproco da condutividade. resolução O quanto duas bandas em um espectro ou um cromatograma podem estar próximas uma da outra e ainda serem vistas como dois picos. Na cromatografia, ela é definida como a diferença nos tempos de retenção dos picos adjacentes dividido por suas larguras. Na espectrometria de massa, resolução é a menor diferença em termos de valores de m/z que pode ser detectada como picos separados. Registra-se o valor de m/z em que a resolução é medida. resolução da linha base Ocorre na cromatografia, quando dois picos adjacentes estão suficientemente resolvidos de modo que o sinal entre os picos retorna à linha base (resolução > 1,5). Permite a determinação das áreas dos picos com exatidão. resposta linear Caso em que o sinal analítico é diretamente proporcional à concentração do analito. ressonância de plasmons de superfície Um meio sensível para medir a ligação de moléculas a uma camada fina de ouro no lado de baixo de um prisma. A luz que passa através do prisma é refletida pela superfície de ouro. Existe uma faixa estreita de ângulos em que a reflexão é aproximadamente 0, pois o ouro absorve a luz construindo oscilações (chamadas plasmons) da nuvem
eletrônica no metal. Quando uma fina camada de material (como uma proteína ou DNA) se liga ao ouro, no lado contrário ao prisma, as propriedades elétricas do ouro mudam e a refletividade muda. resultados O que se registra por último após aplicar a estatística aos dados tratados. retardo, δ Diferença no caminho óptico entre luz incidindo em espelhos estacionário e móvel de um interferômetro. retenção relativa, α Em cromatografia, é a razão dos tempos de retenção ajustados para dois componentes. Se o componente 1 tem um tempo de retenção ajustado de e o componente 2 tem um tempo de retenção ajustado de (> ), a retenção relativa é α = / . Também chamada fator de separação. Veja também retenção relativa não ajustada, γ. retenção relativa não ajustada, γ Para componentes A e B separados por cromatografia ou eletroforese, a retenção relativa não ajustada, γ, é o quociente das velocidades lineares ou o quociente dos tempos de retenção não ajustados: γ = uA/uB = tB/tA, em que u é a velocidade linear e t é o tempo de retenção. revestimento Cobertura; invólucro. Camada que circunda o núcleo de uma fibra ótica. robustez Capacidade de um método analítico de não ser afetado por mudanças pequenas e deliberadas nos parâmetros de operação. robustez Veja precisão intermediária. ruído Sinais se originando de fontes diferentes daquela que está sendo medida. Veja, por exemplo, ruído de linha e ruído branco. ruído 1/f Veja deslocamento. ruído 1/f Veja deslocamento. ruído balístico Forma de ruído branco (ruído gaussiano) proveniente da natureza quantizada dos transportadores de carga e de fótons. Em níveis de sinais baixos, o ruído balístico provém da variação aleatória do número pequeno de fótons que atinge o detector ou do número pequeno de elétrons e lacunas gerados em um semicondutor. ruído branco Ruído aleatório, também chamado ruído gaussiano, em função do movimento aleatório dos transportadores de carga em um circuito elétrico (chamado ruído térmico, ruído de Johnson ou ruído de Nyquist) ou em razão da chegada aleatória de fótons ou transportadores de carga em um detector (chamado ruído balístico ou ruído Schottky). ruído da linha Ruído concentrado em frequências discretas que vem de fontes externas para um sistema de medida operante. Fontes comuns incluem a radiação oriunda da potência da linha de 60 Hz, motores das bombas de vácuo e dispositivos de radiofrequência. Também chamado interferência ou batimento. ruído de batimento Veja ruído de linha. ruído de Johnson Forma de ruído branco (ruído gaussiano) proveniente de variações aleatórias de elétrons em um dispositivo eletrônico. O abaixamento da temperatura reduz o ruído de Johnson. Também chamado ruído Nyquist. ruído de Nyquist Veja ruído de Johnson. ruído Flicker Veja ruído 1/f. ruído gaussiano Veja ruído branco. ruído Schottky Veja ruído branco. sal Sólido iônico. sangramento Na cromatografia a gás é a fase estacionária de baixa perda proveniente da evaporação, da decomposição térmica ou da oxidação. Schlieren Estrias observadas em uma mistura líquida antes das duas fases se misturarem. As estrias surgem a partir de regiões que refratam a luz de forma diferente. segundo, s Unidade de tempo no SI, é igual a duração de 9.192.631.770 períodos de radiação correspondendo à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do 133Cs. seio da solução Jargão químico que se refere à parte principal de uma solução. Em eletroquímica, distinguimos as propriedades do seio da solução das propriedades que podem ser diferentes na vizinhança imediata de um eletrodo. seletividade Veja especificidade. semicondutor Material cuja condutividade (10–7 a 104 Ω–1 · m–l) é intermediária entre a dos bons condutores (108 Ω–1 · m–l) e a dos isolantes (10–20 a 10–12 Ω–1 · m–l). sensibilidade Capacidade de responder de forma confiável e mensurável a mudanças na concentração do analito. Em termos quantitativos, sensibilidade é a resposta de um instrumento por unidade de mudança na concentração de analito. septo Disco, geralmente de borracha de silicone, que reveste a porta de injeção de um cromatógrafo a gás. A amostra é injetada pela seringa através do septo. série de Fourier Soma infinita de termos seno e cosseno, que se adicionam para dar determinada função em determinado intervalo. série eluotrópica Classificação dos solventes de acordo com as suas capacidades em deslocar solutos da fase estacionária na cromatografia de adsorção.
seringa Dispositivo que possui um cano calibrado dentro do qual um líquido é sugado por um êmbolo. O líquido é expelido através de uma agulha ao se apertar o êmbolo. SI (unidades) Sistema internacional de unidades baseado no metro, quilograma, segundo, ampère, kelvin, candela, mol, radiano e esterorradiano. silanização Tratamento de um suporte cromatográfico sólido ou uma coluna de vidro com compostos de silício hidrofóbicos que se ligam aos grupos Si—OH , mais reativos. Eles reduzem irreversivelmente a adsorção e a cauda de solutos polares. sobretensão Potencial necessário para superar a energia de ativação para uma reação em um eletrodo. O potencial de eletrodo está acima do que é esperado em relação ao potencial de equilíbrio, polarização de concentração e queda ôhmica necessária para provocar uma reação eletrolítica em uma dada velocidade. Ela é igual a 0 para uma reação reversível. solução Mistura homogênea de duas ou mais substâncias. solução ácida Aquela em que a atividade do H+ é maior do que a atividade do OH–. solução básica Aquela em que a atividade do OH– é maior do que a atividade do H+. solução saturada Solução que contém a quantidade máxima de um composto que pode ser dissolvido em equilíbrio. solução supersaturada Solução que contém mais soluto dissolvido do que poderia estar presente no equilíbrio. solução-padrão Solução cuja composição é conhecida em virtude da forma como ela foi feita a partir de um reagente de pureza conhecida, ou em virtude de sua reação com uma quantidade conhecida de um reagente-padrão. soluto Componente minoritário de uma solução. solvatação Interação das moléculas do solvente com o soluto. As próprias moléculas do solvente se orientam em torno do soluto para minimizar a energia através de forças de van der Waals e dipolares. solvente Componente majoritário de uma solução. solvente aprótico Tipo de solvente que não pode doar prótons (íons hidrogênio) em uma reação ácido-base. solvente prótico Solvente com um átomo de hidrogênio ácido. spray iônico Veja ionização por eletrospray. suavizador Uso de um procedimento matemático ou de um filtro elétrico para melhorar a qualidade de um sinal. substância deliquescente Substância higroscópica que capta espontaneamente água do ar de tal forma que ela se dissolve completamente. substância hidrofílica Substância que é solúvel em água ou atrai água para a sua superfície. substância hidrofóbica Substância que é insolúvel em água ou repele a água de sua superfície. substância higroscópica Aquela que apanha facilmente água da atmosfera. supercondutor Material que perde toda a resistência elétrica quando resfriado abaixo de uma temperatura crítica. supersaturação relativa Definida como (Q – S)/S, em que S é a concentração do soluto em uma solução saturada e Q é a concentração em determinada solução supersaturada. supressão Em cromatografia iônica, dispositivo que transforma o eluente iônico em uma forma não iônica. supressor de ionização Elemento usado na espectroscopia atômica para diminuir a extensão da ionizacão do analito. surfactante Molécula com uma cabeça polar ou iônica e uma longa cauda apolar. Os surfactantes podem se agregar em soluções aquosas para formar micelas. Os surfactantes têm o seu nome derivado do fato de se acumularem nas fronteiras entre as fases polar e apolar e modificarem a tensão superficial, que é a energia livre de formação da superfície. Os sabões são surfactantes. tampão Mistura de um ácido e sua base conjugada. Uma solução tamponada é aquela que resiste à mudança no pH quando são adicionados ácidos ou bases. tampão de corrida Veja tampão secundário. tampão iônico metálico Consiste em um complexo metal-ligante mais excesso de ligante livre. Os dois servem para fixar a concentração do íon metálico livre através da reação M + nL ⇋ MLn. tampão isoelétrico Um ácido poliprótico, neutro, ocasionalmente usado como um “tampão” de baixa condutividade para a eletroforese capilar de zona. Por exemplo, uma solução de ácido aspártico puro (pK1 = 1,99, pK2 = 3,90, pK3 = 10,00) tem pH = (pK1 + pK2) = 2,94. Chamar o ácido aspártico de “tampão” é um oxímoro, pois a capacidade de tamponamento é um mínimo em pH 2,94 e aumenta até um máximo em pH 1,99 e 3,90. Entretanto, quando o pH se desloca para longe de 2,94, a solução ganha significante capacidade de tamponamento. Ao realizar a eletroforese em um tampão de corrida de ácido aspártico, o pH fica próximo a 2,94 e a condutividade permanece muito baixa, permitindo que um alto campo elétrico seja usado, permitindo assim separações rápidas. tara Como substantivo, massa de um frasco vazio usado para pesar uma substância. Como verbo (tarar), é o ajuste da leitura da balança em 0 quando um frasco vazio ou um papel de pesagem é colocado sobre o prato. temperatura ambiente Temperatura das vizinhanças (como a temperatura do laboratório).
temperatura crítica Temperatura acima da qual um fluido não pode ser condensado, independente de quão alta é a pressão aplicada. Logo, acima da temperatura crítica, não é possível observar-se o equilíbrio entre as fases líquida e vapor (gás). tempo de migração Tempo necessário para que um soluto atinja o detector em eletroforese capilar. tempo de retenção, tr Tempo, medido a partir da injeção, necessário para um soluto ser eluído de uma coluna cromatográfica. tempo de retenção ajustado, Em cromatografia, este parâmetro é dado por = tr – tm, em que tr é o tempo de retenção de um soluto e tm é o tempo necessário para a fase móvel percorrer todo o comprimento da coluna. tempo de vida Em espectroscopia, o tempo de vida de um estado excitado é o tempo necessário para que a população decresça a 1/e vezes o seu valor inicial, em que e é a base do logaritmo natural. tempo extra Em cromatografia, é o tempo entre a mistura de solventes e quando eles chegam ao início da coluna. tensão superficial Trabalho necessário para aumentar a área superficial de uma substância (J/m2). termistor Dispositivo cuja resistência elétrica muda de forma acentuada com as variações de temperatura. termopar Junção elétrica na qual existe uma diferença de potencial dependente da temperatura. Os termopares são calibrados para medidas de temperatura e geralmente consistem em dois metais diferentes, um em contato com o outro. teste de Grubbs Teste estatístico usado para decidir se um dado aparentemente discrepante deve ou não ser descartado. teste de hipótese Teste estatístico baseado na probabilidade de que a hipótese nula é falsa. Normalmente rejeitamos a hipótese nula se a sua probabilidade de ser verdadeira é maior que 5%. teste F Para duas variâncias, e (com s1 escolhido como o maior dos dois), a estatística F é definida como F = / . Para decidir se s1 é significativamente maior do que s2, comparamos F com os valores críticos em uma tabela baseada em certo nível de confiança. Se o valor calculado de F for maior do que o valor na tabela, a diferença é significativa. teste Q Teste estatístico usado para decidir sobre o descarte de um dado que parece discrepante. teste t Teste estatístico usado para decidir se os resultados de dois experimentos estão dentro da incerteza experimental de um ao outro. A incerteza deve estar especificada dentro de certa probabilidade. teste t de Student Ferramenta estatística usada para expressar os intervalos de confiança e comparar os resultados de diferentes experimentos. titulação Procedimento em que uma substância (titulante) é cuidadosamente adicionada a outra (analito) até completar a reação. A quantidade de titulante necessária para completar a reação nos indica a quantidade de analito presente. titulação ácido-base Aquela em que a reação entre o analito e o titulante é uma reação ácido-base. titulação alcalinimétrica Com referência ao EDTA, esta técnica envolve a titulação de prótons liberados pelo EDTA ao se ligar a um metal. titulação amperométrica Aquela em que o ponto final é determinado pelo monitoramento da corrente que passa entre dois eletrodos imersos na solução da amostra e mantidos em uma diferença de potencial constante. titulação argentométrica Utiliza o íon Ag+. titulação biamperométrica Titulação amperométrica feita com dois eletrodos polarizáveis mantidos em uma diferença de potencial constante. titulação bipotenciométrica Titulação potenciométrica na qual uma corrente constante passa entre dois eletrodos polarizáveis imersos na solução da amostra. Uma mudança abrupta no potencial caracteriza o ponto final. titulação complexométrica Aquela na qual a reação entre o analito e o titulante envolve a formação de complexo. titulação coulométrica Aquela que é conduzida com uma corrente constante por um tempo medido. titulação de deslocamento Metodologia de titulação com EDTA, no qual o analito é tratado com excesso de MgEDTA2– para deslocar Mg2+ : Mn+ MEDTAn – 4 + Mg2+. O Mg2+ liberado é titulado com EDTA. Esse processo é útil se não houver um indicador disponível para a titulação direta do Mn+. titulação de Fajans Titulação de precipitação em que o ponto final é assinalado pela adsorção de um indicador colorido sobre o precipitado. titulação de Karl Fischer Técnica sensível para a determinação de água, baseada na reação de H2O com uma amina. I2, SO2 e um álcool. titulação de massa Titulação em que é medida a massa de titulante, em vez do volume. titulação de Mohr Titulação argentométrica conduzida na presença de cromato. O ponto final é assinalado pela formação de Ag2CrO4(s) vermelho. titulação de retorno Aquela em que é adicionado um excesso de reagente-padrão para reagir com o analito. Então, o reagente em excesso é titulado com um segundo reagente ou com uma solução-padrão do analito. titulação de Volhard Titulação de Ag+ com SCN– na presença de Fe3+. A formação de um complexo vermelho de Fe(SCN)2+ marca o ponto final. titulação direta É aquela em que o analito é tratado com o titulante, e o volume de titulante necessário para a reação completa é medido.
titulação do branco Aquela em que é titulada uma solução contendo todos os reagentes, exceto o analito. O volume necessário de titulante na titulação em branco deve ser subtraído do volume necessário para titular a amostra desconhecida. titulação espectrofotométrica Titulação em que é usada a absorção de luz para monitorar o progresso de uma reação química e para encontrar o ponto de equivalência. titulação gravimétrica Uma titulação em que a massa de titulante é medida, em vez do volume. A concentração do titulante é convenientemente expressa em mol de reagente/kg de solução titulante. Titulações gravimétricas podem ser mais precisas e reprodutíveis do que titulações volumétricas. titulação indireta Usada quando o analito não pode ser titulado diretamente. Por exemplo, o analito A pode ser precipitado com excesso do reagente R. O produto é filtrado, e o excesso de R é removido por lavagem. A seguir, AR é dissolvido em uma nova solução e R pode ser titulado. titulação por precipitação Aquela em que o analito forma um precipitado com o titulante. titulação redox Titulação em que a reação entre o analito e o titulante é uma reação de oxidação-redução. titulação termométrica Aquela em que a temperatura é medida para determinar o ponto final. A maioria das reações de titulação são exotérmicas, de forma que a temperatura aumenta durante a reação, e subitamente para de aumentar quando se atinge o ponto de equivalência. titulante Substância adicionada ao analito em uma titulação. título Medida de concentração, geralmente definida como quantos miligramas de reagente B reagirão com 1 mL do reagente A. Um mililitro de uma solução de AgNO3 com um título de 1,28 mg de NaCl/mL será consumido por 1,28 mg de NaCl na reação é Ag+ + Cl– → AgCl(s). A mesma solução de AgNO3 possui um título de 0,993 mg de KH2PO4/mL, porque 1 mL de solução de AgNO3 será consumido por 0,993 mg de KH2PO4 para precipitar Ag3PO4. tolerância Incerteza estabelecida pelo fabricante para a precisão de um dispositivo como uma bureta ou um balão volumétrico. Um frasco de 100 mL com uma tolerância de ±0,08 mL pode conter 99,92 mL a 100,08 mL. trabalho Energia necessária ou energia que é liberada quando um objeto é deslocado de um ponto a outro. A unidade de trabalho é o joule, J. traço Quantidade diminuta de uma substância. transferência de massa Movimento líquido de uma molécula de um lugar para outro por meio de mecanismos como difusão, convecção e mistura forçada. Em cromatografia, transferência de massa se refere ao movimento do soluto entre as fases móvel e estacionária. transferência quantitativa Transferência do conteúdo inteiro de um recipiente para outro. Este processo é geralmente acompanhado pela rinsagem do primeiro recipiente várias vezes com o líquido novo, vertendo-se cada rinsagem para dentro do segundo recipiente. transição eletrônica Aquela na qual um elétron é promovido de um nível de energia para outro. transição rotacional Ocorre quando uma molécula muda sua energia rotacional. transição vibracional Ocorre quando uma molécula muda sua energia vibracional. transistor de efeito de campo Dispositivo semicondutor no qual o campo elétrico entre a porta e a base controla a corrente entre a fonte e o dreno. transmitância, T Fração de radiação incidente que passa através de uma amostra. Definida como T = P/P0, em que P0 é a energia radiante de luz que incide na amostra e P é a energia radiante de luz que emerge do outro lado da amostra. tratamento sistemático do equilíbrio Método que usa o balanço de carga, o(s) balanço(s) de massa e o equilíbrio para especificar completamente a composição do sistema. trocador aniônico Trocador iônico com grupos carregados positivamente ligados covalentemente ao suporte. Ele pode se ligar a ânions de uma forma reversível. trocador catiônico Trocador iônico com grupos carregados negativamente ligados covalentemente ao suporte. Pode se ligar reversivelmente a cátions. tubo fotomultiplicador Dispositivo em que o catodo emite elétrons quando atingido pela luz. Os elétrons atingem então uma série de dinodos (placas que são positivas em relação ao catodo), e a cada vez que um dinodo é atingido são liberados mais elétrons. Como resultado disso, mais de 106 elétrons podem alcançar o anodo para cada fóton que atinge o catodo. turbidez Propriedade de espalhamento de luz associada com partículas suspensas em um líquido. Uma solução turva parece nublada. turbidimetria Técnica em que é medida a diminuição da intensidade da luz que se desloca através de uma solução turva (uma solução contendo partículas suspensas). Quanto maior a concentração de partículas suspensas, menos luz é transmitida. Veja o diagrama em nefelometria. validação de método Processo que demonstra que um método analítico é aceitável para os propósitos imaginados.
válvula de agulha Válvula com êmbolo cônico que se ajusta dentro de um pequeno orifício para contrair o fluxo. variação de entalpia, ΔH Calor absorvido ou liberado quando ocorre uma reação a pressão constante. variância, σ2 Quadrado do desvio-padrão. variância de amostragem Quadrado do desvio-padrão proveniente da heterogeneidade da amostra, e não do procedimento analítico. Para materiais não homogêneos, são necessárias grandes ou mais porções para diminuir a incerteza da composição em função da variação de uma região da amostra para outra. A variância total é a soma das variâncias da amostragem e da análise. varredura Na eletroforese capilar, é a migração de uma espécie coletora, tal como uma micela ou um quelante, para concentrar o analito em uma região estreita em frente à espécie coletora. vazão linear Em cromatografia é a distância por unidade de tempo percorrida pela fase móvel. O mesmo que velocidade linear. vazão volumétrica Em cromatografia, o volume da fase móvel por unidade de tempo eluído da coluna. velocidade eletrosmótica Velocidade com que o solvente flui através de uma coluna de eletroforese capilar. Ela é medida adicionando-se uma molécula neutra detectável à amostra. A velocidade eletrosmótica é a distância do injetor até o detector, dividida pelo tempo necessário para a molécula neutra alcançar o detector. velocidade linear, ux Em cromatografia, a distância por unidade de tempo percorrida pela fase móvel. Também chamada vazão linear, em contraposição à vazão volumétrica. verificação de calibração Em uma série de medidas analíticas, uma verificação de calibração é uma análise de uma solução formulada pelo analista para conter uma concentração conhecida do analito. Cabe ao próprio analista a verificação de que os procedimentos e os instrumentos estão funcionando corretamente. viscosidade Resistência ao fluxo em um fluido. volátil Que evapora facilmente. volatilização Remoção seletiva de um componente de uma mistura por meio da transformação do componente em uma espécie volátil (de baixo ponto de ebulição) e remoção desta por aquecimento, bombeamento ou aborbulhamento de um gás na mistura. volt, V Unidade de diferença potencial elétrico no SI. Se a diferença de potencial entre dois pontos for de um volt, é necessário um joule de energia para mover um coulomb de carga entre os dois pontos. voltametria Método analítico em que é observada a relação entre corrente e potencial durante uma reação eletroquímica. voltametria cíclica Técnica polarográfica com uma forma de onda triangular. Ambas as correntes, catódica e anódica, são observadas para as reações reversíveis. voltametria de onda quadrada Forma de voltametria (medida da corrente contra o potencial em uma célula eletroquímica) em que a forma de onda do potencial consiste em uma onda quadrada superposta sobre uma rampa de potencial escalonada em degraus. A técnica é mais rápida e mais sensível do que a voltametria com outras formas de onda. voltamograma Gráfico de corrente contra potencial de eletrodo em uma célula eletroquímica. voltímetro Dispositivo para medir a diferença de potencial elétrico. Veja também potenciômetro. volume de retenção, Vr Volume de solvente necessário para eluir um soluto de uma coluna cromatográfica. volume extra É o volume na cromatografia entre o ponto de mistura dos solventes e o início da coluna. volume extracoluna Volume de um sistema cromatográfico (não incluindo a coluna) entre o ponto de injeção e o ponto de detecção. volume intersticial, V0 Volume da fase móvel fora da fase estacionária em uma cromatografia de exclusão molecular. O volume total da fase móvel é o volume intersticial mais o volume de solvente no interior das partículas da fase estacionária. Antigamente, era chamado volume vazio. volume morto, V0 Veja volume intersticial. volume morto, Vm Volume da fase móvel dentro de uma coluna cromatográfica, igual ao espaço acessível ao solvente e solutos pequenos. Inclui os poros nas partículas e o volume entre as partículas. Se o tempo necessário para que o solvente ou o soluto não retido passe pela coluna é tm, o volume morto é Vm = tmF, em que F é a vazão volumétrica. volume percentual, vol% Definido como (volume de soluto/volume de solução) × 100. watt, W Unidade de potência no SI. É igual ao fluxo de energia de um joule por segundo. Quando uma corrente elétrica de um ampère flui por uma diferença de potencial de um volt, a potência é de um watt. zwitterion Molécula neutra com uma carga positiva localizada em uma posição e uma carga negativa localizada em outra posição.
Se a é o logaritmo de n na base 10 (a = log n), então n = 10a. Em uma calculadora, você determina o logaritmo de um número pressionando o botão “log”. Se você souber que a = log n e quiser determinar n, use o botão “antilog” ou eleve 10 à potência a: a = log n 10a = 10log n = n(⇒ n = antilog a) Os logaritmos naturais (ln) são baseados no número e (= 2,718 281…) em vez de 10: b = ln n eb = eln n = n Em uma calculadora, você determina o ln de n com o botão “ln”. Para determinar n quando você souber que b = ln n, use a tecla ex. Apresentamos a seguir algumas propriedades úteis para se conhecer:
Resolvendo uma equação logarítmica: Ao se trabalhar com as equações de Nernst e de Henderson-Hasselbalch, precisaremos resolver equações do tipo
para a variável, x. Primeiro, isolamos o termo logarítmico:
A seguir, elevamos 10 ao valor de cada lado da equação: 10log(d/gx) = 10(b–a)/c Porém, 10log(d/gx) é igual a d/gx, de modo que
Conversão entre ln x e log x: A relação entre eles é obtida escrevendo-se x = 10log x e aplicando ln em ambos os lados da igualdade: ln x ln(10log x) = (log x)(ln10) pois ln ab = b ln a. Problemas Teste o seu conhecimento simplificando cada uma das expressões a seguir tanto quanto possível: (a) eln a (b) 10log a (c) log 10a (d) 10–log a 3
(e) e–ln a
–3
(f) eln a 3 (g) log (101/a ) 2
(h) log (10–a ) 2 (i) log (10a –b) 2
(j) log (2a3 10b ) (k) e(a + ln b) (l) 10[(log 3) – (4 log 2)]) Respostas (a) a (b) a (c) a (d) 1/a (e) 1/a3 (f) 1/a3 (g) 1/a3 (h) –a2 (i) a2 – b (j) b2 + log(2a3) (k) bea (l) 3/16 A forma geral da equação de uma reta é y = mx + b
O significado do coeficiente angular e da interseção está ilustrado na Figura A-1.
FIGURA A-1
Parâmetros de uma reta.
Se você conhecer dois pontos [(x1, y1) e (x2, y2)] que se localizam sobre a reta, poderá obter a equação da reta observando que o coeficiente angular é o mesmo para qualquer par de pontos sobre a reta. Chamando um ponto qualquer sobre a reta de (x, y), podemos escrever
que pode ser rearranjada na forma
Quando você tem uma série de pontos experimentais que devem se localizar sobre uma reta, a melhor reta é obtida geralmente pelo método dos mínimos quadrados, descrito no Capítulo 4. Este método fornece diretamente o coeficiente angular e a interseção (o coeficiente linear). Se, ao contrário, você desejar traçar a “melhor” reta “no olho”, poderá obter a equação da reta selecionando dois pontos que se localizem sobre a reta e, em seguida, aplicando a Equação A-1.
FIGURA A-2
Um gráfico linear no qual um eixo é uma função logarítmica.
Às vezes você é presenteado com um gráfico linear em que x e/ou y são funções não lineares. Um exemplo é mostrado na Figura A-2, na qual o potencial de um eletrodo é expresso como uma função da atividade do analito. Sabendo que o coeficiente angular é 29,6 mV e que a reta passa pelo ponto (A = 10–4, E = –10,2), obtenha a equação da reta. Para fazer isso, observe inicialmente que o eixo y é linear, mas o eixo x é logarítmico. Ou seja, a função E contra A não é linear, mas E contra log A é linear. Portanto, a reta deve ser
Para determinar b, usamos na Equação A-1 as coordenadas de um ponto conhecido:
ou E + 10,2 = 29,6 log A + (29,6)(4) E (mV) = 29,6 (mV) log A + 108,2 (mV)
B-1
Regras Gerais para Propagação da Incerteza
Quando as Incertezas São Independentes umas das Outras As regras dadas para a propagação da incerteza na Tabela 3-1 são casos especiais de uma fórmula geral. Suponha que você deseje calcular a função F de várias grandezas experimentais, x, y, z, … Se os erros (ex, ey, ez, …) ao medir x, y, z, … são pequenos, aleatórios e independentes uns dos outros, então a incerteza (eF) na função F é aproximadamente:1
As grandezas entre parênteses são as derivadas parciais, que são calculadas da mesma maneira que as derivadas comuns, exceto que todas menos uma variável são tratadas como constantes. Por exemplo, se F = 3xy2, então ∂F/∂x = 3y2 e ∂F/∂y = (3x)(2y) = 6xy. Como um exemplo da utilidade da Equação B-1, vamos determinar a incerteza na função F = xy = (2,00 ± 0,02)3,00 ± 0,09 As derivadas parciais são
Levando esses resultados na Equação B-1, temos
Multiplicando e dividindo o segundo termo por y2, podemos rearranjar o resultado anterior para uma forma mais agradável:
Removendo
de ambos os termos, e cancelando y2 no numerador e denominador do primeiro dos termos dados,
temos:
Agora está fácil. Desconsiderando a incerteza por um momento, sabemos que F = 2,003,00 = 8,00 ±? A incerteza é obtida da equação anterior:
As respostas razoáveis são F = 8,00 ± 0,55 ou 8,0 ± 0,6. Exercícios B-1. Verifique os seguintes cálculos. (a) 2,364,39 ± 0,08 = 43,4 ± 3,0
(b) 2,36 ± 0,06)4,39 ± 1,08 = 43,4 ± 5,7 B-2. para F = sen(2πxy), mostre que
Covariância na Propagação da Incerteza A Equação B-1 presume que os erros em x, y e z são independentes uns dos outros. Um caso comum em que isso não é verdade é quando usamos o coeficiente e a interseção obtidos pelo método dos mínimos quadrados para calcular uma nova quantidade, tal como o valor de x a partir de um valor observado de y. Em geral, as incertezas no coeficiente angular e na interseção estão correlacionadas, de modo que os erros não são independentes. Vamos restringir nossa atenção a uma função, F, dos dois parâmetros experimentais, m e b, cujas incertezas são sm e sb. (Incerteza-padrão é o desvio-padrão da média e consiste em uma das várias possibilidades de medida de incerteza que podemos utilizar para o “erro” em quantidade.) Se as incertezas estão correlacionadas, a equação para propagação da incerteza é2
O último termo na Equação B-2 reflete o fato de que as incertezas em m e em b não são independentes entre si. A grandeza smb é a covariância e pode ser uma grandeza positiva ou negativa. Na análise de mínimos quadrados, vista no Capítulo 4, a variância e a covariância são3 Variância:
Covariância:
em que
EXEMPLO
é o quadrado da Equação 4-20, D é dado pela Equação 4-18 e n é o número de pontos.
Determinação da Interseção em x
Para a reta y = mx + b, a interseção em x ocorre quando y = 0 ou x = –b/m. Vamos representar a interseção em x como a função F = –b/m. Determine a interseção em x e a sua incerteza para a reta obtida por mínimos quadrados na Figura 4-11. Solução As seguintes grandezas são calculadas na Seção 4-7:
Portanto, a covariância na Equação B-3 é
A interseção com o eixo x é F = –b/m = –(1,346 15)/(0,615 38) = –2,187 5. Para determinar a incerteza em F, usamos a Equação B-2. As derivadas em B-2 são
Agora podemos avaliar a incerteza com a Equação B-2:
A resposta nal pode agora ser escrita com um número razoável de algarismos: F = –2,187 ± 0,527 36 = –2,19 ± 0,53 Se tivéssemos usado a Equação B-1 e ignorado o termo de covariância na Equação B-2, teríamos calculado uma incerteza de ±0,40. Para aprender como calcular a variância e a covariância e ver como incluir fatores de peso no ajuste da curva por mínimos quadrados, veja J. Tellinghuisen, “Understanding Least Squares Through Monte Carlo Calculations”, J. Chem. Ed. 2005, 82, 157.
B-2
Um Olhar Mais Profundo na Propagação da Incerteza4,5
O Capítulo 4 forneceu ferramentas para uma discussão mais profunda da propagação da incerteza. A incerteza em uma quantidade calculada a partir de medições experimentais é geralmente expressa na forma de um intervalo de confiança, sendo a confiança de 95% a mais frequentemente escolhida. Vamos aqui considerar exemplos de propagação da incerteza envolvendo adição, subtração, multiplicação e divisão. Os principais conceitos são a incerteza-padrão, o cálculo dos graus de liberdade e a combinação de incertezas medidas com incertezas estimadas. As distribuições de probabilidade quadrada e retangular fornecem estimativas de incertezas para massa atômica e vidraria volumétrica. Incerteza-padrão (ux) é o desvio-padrão estimado da média de x. As incertezas se enquadram em duas categorias: Tipo A: Se x pode ser medido, faça n medidas e calcule ux = s/
s é o desvio-padrão da amostra.
Tipo B: Às vezes precisamos usar informações que não são medidas diretas para estimar a incerteza. Por exemplo, podemos usar a especificação de um fabricante para a incerteza de uma vidraria volumétrica ou da pureza de um reagente, o certificado de calibração de um instrumento, uma publicação de intervalo de massa atômica de um elemento, ou uma experiência anterior com determinado procedimento. Intervalos de Con ança para Adição e Subtração Um químico necessita informar a quantidade de compostos orgânicos voláteis em um produto de consumo. Ele mediu a porcentagem total em massa de material volátil (v) que evapora quando o produto foi aquecido a 120oC até que se chegou a uma massa constante. Usou uma análise química para determinar H2O (w) no produto. O teor de matéria orgânica volátil (z) corresponde à diferença: z Matéria orgânica volátil
=
V
Matéria volátil total
–
w Àgua
O químico mediu w cinco vezes e calculou a média ( ) e o desvio-padrão (sw). Ele mediu v quatro vezes e calculou a média ( ) e o desvio-padrão (sV). O valor médio de z é o valor médio de v menos o valor médio de w:
Como o químico pode encontrar o intervalo de confiança de 95% para ? A Figura B-1 mostra os dados brutos e os cálculos. A média de nV = 4 valores da matéria volátil total é = 3,058% m/m na célula B9. A média de nw = 5 valores de água é = 1,004% m/m. O valor médio para o teor de matéria orgânica volátil é – = 3,058 – 1,004 = 2,054% m/m, na célula D13.
FIGURA B-1 Cálculo do intervalo de confiança de 95% da matéria orgânica volátil (z) em um produto de consumo baseado em quatro medidas de matéria volátil total (v) e cinco medidas de água (w).
As incertezas-padrão (u) das quantidades medidas são:
As células B10 e C10 na Figura B-1 fornecem os desvios-padrão sV e sw, e as células B12 e C12 fornecem as incertezas-padrão uV e uw. • O desvio-padrão s é uma medida da incerteza de medidas individuais. Quanto mais medidas você fizer, mais s se aproximará do desvio-padrão da população, σ. • A incerteza-padrão, u = s/ médio se aproximará de 0.
, é uma medida da incerteza da média. Quanto mais medidas você fizer, mais a incerteza do valor
O Capítulo 3 nos mostrou que a incerteza de uma soma ou de uma diferença é a raiz quadrada da soma dos quadrados das incertezas dos termos individuais. Para = – , a incerteza-padrão de é
A incerteza-padrão na célula D14 é A Equação 4-7 nos informa que o intervalo de confiança é
em que t se refere ao t de Student, e reescrevemos o desvio-padrão da média, sz/ , como sendo a incerteza-padrão, uz. Conhecemos uz a partir da Equação B-6. Devemos decidir quantos graus de liberdade estão associados com , de modo que possamos selecionar o valor de t de Student para encontrar o intervalo de confiança ± tuz. Existem três graus de liberdade para e quatro graus de liberdade para . O ponto crucial deste problema – e uma nova ideia importante desta seção – é chegar ao número de graus de liberdade para de modo que possamos determinar o intervalo de confiança para . O número de graus de liberdade (gl) para uma soma ou uma diferença é dado por
em que u é a incerteza-padrão de cada quantidade e gl é o grau de liberdade para cada quantidade. A Equação B-8 é uma média ponderada para os graus de liberdade. Já vimos essa equação para os graus de liberdade no teste t (Equação 4-10b). As Equações B-8 e B-9 (apresentadas a seguir) se aplicam quando uV e uw são independentes um do outro. A Equação B-8 é avaliada na célula D15 na Figura B-1:
em que limitamos o valor de glZ = 3 para encontrar o valor de t de Student = 3,182 na célula D18 para 95% de confiança. Os graus de liberdade para dependem das incertezas-padrão e dos graus de liberdade de e . Os graus de liberdade são truncados para o menor inteiro a fim de fornecer um intervalo de confiança mais conservador (mais amplo). A função do Excel INVT(0,05, D15) na célula D18 limita automaticamente os graus de liberdade na célula D15. Conhecendo os graus de liberdade e o valor de t de Student, podemos finalmente calcular o intervalo de confiança de 95% na célula D19:
que pode ser arredondado para 2,05 (±0,21)% m/m. Intervalos de Con ança para Multiplicação e Divisão Para a multiplicação e a divisão usamos as incertezas relativas em vez das incertezas absolutas. Para o produto quociente = / , os graus de liberdade são
EXEMPLO
Intervalo de Con ança de uma Divisão
Suponha que você determinou a massa especí ca de um mineral medindo sua massa (m) quatro vezes e o seu volume (V) seis vezes: massa média ( ) = 4,635 g
= 1,13 mL
desvio-padrão (sm) = 0,0022 g
sV = 0,047 mL
nm = 4 medidas
nV = 6 medidas
incerteza-padrão (um) = 0,0022/
= 0,0011 g
uV = (0,047)/
= 0,019 mL
A massa especí ca é o quociente massa/volume = 4,635 g/1,13 mL = 4,101 8 g/mL. Determine o intervalo de con ança de 95%.
=
ou o
Solução O cálculo aritmético é melhor realizado por meio de uma planilha para evitar erros. Usando as incertezas-padrão como estimativas de erro, convertemos incerteza absoluta em incerteza relativa para a divisão, e processamos conforme vimos no Capítulo 3.
porque g/mL.
. A incerteza-padrão da massa especí ca é 1,698% de 4,101 8 g/mL = ± 0,069 7
Os graus de liberdade para o quociente são obtidos por meio da Equação B-9:
Para 95% de con ança e cinco graus de liberdade, o valor de t de Student é 2,571 na Tabela 4-4. O intervalo de con ança de 95% para a massa especí ca é 4,101 8 ± (2,571)(0,069 7) = 4,101 8 ± 0,179 1 g/mL. Por m, arredondamos para um número razoável de algarismos signi cativos. Intervalo de con ança de 95% = 4,10 ± 0,18 g/mL TESTE A VOCÊ MESMO Suponha que o volume possa ser medido 100 vezes com maior precisão: V = 1,130 00 mL, com sV = 0,000 47 mL. Determine o número de graus de liberdade e o intervalo de con ança de 95% para a massa especí ca. (Resposta: gld = 5,93, que é truncado em 5 ⇒ t = 2,571 e d = 4,101 8 ± 0,003 1 g/mL.) As operações mistas podem ser escalonadas em sequências de adição e subtração ou multiplicação e divisão. Para uma função com mais de duas variáveis, adicione outro termo ao denominador das Equações B-8 e B-9 para cada variável. Apresentamos a seguir um resumo de como encontrar um intervalo de confiança para , calculado a partir de várias medições experimentais: • A incerteza-padrão (u) para cada quantidade experimental é o desvio-padrão da média. • Aplique as regras de propagação da incerteza do Capítulo 3 para as incertezas-padrão a fim de encontrar a incerteza-padrão uz. • Determine os graus de liberdade para z usando a Equação B-8 para somas e diferenças, ou a Equação B-9 para multiplicações e divisões. Adicione mais um termo aos denominadores de B-8 e B-9 para cada variável adicional. Trunque os graus de liberdade em um número inteiro. • A partir dos graus de liberdade, determine o valor de t de Student e o intervalo de confiança + tuz. Incerteza do Tipo B: Distribuições Retangulares e Triangulares Até agora lidamos apenas com a incerteza-padrão do Tipo A, que medimos. A incerteza na massa atômica na tabela periódica é uma incerteza do Tipo B. As pessoas que mediram a abundância dos isótopos de um elemento em uma variedade de substâncias (Boxe 3-3) concluíram que a massa atômica média de um elemento se situa em certa faixa. A massa atômica não segue uma distribuição normal e não está uniformemente distribuída nesse intervalo. Substâncias diferentes têm massas atômicas que se situam em diferentes partes da faixa listada na tabela periódica.
FIGURA B-2 A distribuição retangular tem uma mesma probabilidade de encontrar um valor em qualquer lugar no intervalo de – a até + a, e probabilidade zero de encontrar um valor fora desse intervalo. A incerteza-padrão (desvio-padrão) mostrada na área sombreada é ±a/ . Os números na abcissa se aplicam à massa atômica do oxigênio.
Quando necessitamos de uma massa atômica para cálculos químicos, não é prático medir os isótopos presentes em cada frasco de reagente. É frequente supor que a distribuição da massa atômica segue uma distribuição retangular (Figura B-2). Nessa distribuição ideal, é igualmente provável que a massa atômica esteja em qualquer lugar no intervalo de – a até + a, em que a é a incerteza na tabela periódica que está na contracapa deste livro. Para o oxigênio (Boxe 3-3), a massa atômica é 15,999 4 6 0,000 4 g/mol. Ou seja, = 15,999 4 g/mol e a = 0,000 4 g/mol. A incerteza-padrão6 para uma distribuição retangular é a/ .
Como exemplo, vamos determinar o intervalo de confiança de 95% para a massa molecular do C2H4. A incerteza na massa atômica do carbono na tabela periódica é 0,001 0, que é o número a na distribuição retangular para o carbono. Para o hidrogênio, a incerteza é a = 0,000 14. Inicialmente, convertemos a incerteza (a) em incerteza-padrão (ux = ±a/ ): Massa atômica do C = 12,010 6 ± (0,001 1)/
= 12,010 6 ± 0,000 577 ← ux
Massa atômica do H = 1,007 98 ± (0,001 14)/
= 1,007 98 ± (0,000 080 8) ← ux
Agora, multiplicamos a pelo número de átomos de cada elemento:
Em seguida, calculamos a incerteza-padrão para a massa molecular tomando a raiz quadrada da soma dos quadrados de ux:
Desejamos expressar a incerteza na forma de um intervalo de confiança de 95%. A distribuição retangular representa um grande conjunto de medidas. Na Tabela 4-4, o valor de t de Student para 95% de confiança se aproxima de 2 à medida que o número de graus de liberdade se torna grande. Iremos usar t = 2 para estimar o limite de confiança de 95% para a massa molecular. Na literatura de metrologia (a ciência das medidas), o produto tuz é denominado incerteza expandida e é escrito como kuz no lugar de tuz. O multiplicador k, chamado fator de cobertura, é frequentemente tomado como 2. Para estimar o intervalo de confiança de 95% para a massa molecular, multiplicamos ux = 0,001 19 para o C2H4 pelo fator de cobertura k = 2: kuz = 2(0,001 19 g/mol) = 0,002 38 Intervalo de confiança de 95%: massa molecular = 28,0531 ± 0,0024 g/mol No Capítulo 3, quando não conhecíamos nada sobre estatística, encontramos que a incerteza na massa molecular do C2H4 era ±0,0021 g/mol. O procedimento descrito no Capítulo 3 dá aproximadamente o intervalo de confiança de 95% para a massa molecular.
FIGURA B-3 Distribuição triangular para vidraria volumétrica, incluindo balões volumétricos e pipetas volumétricas. O intervalo da incerteza-padrão (desvio-padrão) mostrado na região assinalada é ±a/ .
A incerteza no volume contido em uma pipeta volumétrica ou em um balão volumétrico é uma incerteza do Tipo B, que é modelada convenientemente por uma distribuição triangular, mostrada na Figura B-3. A tolerância para um balão volumétrico de 10 mL da Classe A é ±0,02 mL. O fabricante se esforça para posicionar a linha de marcação o mais perto possível de 10,00 mL. Modelamos a incerteza como uma distribuição triangular com o valor mais provável de 10,00 mL e um decréscimo linear para 0 em 9,98 mL e 10,02 mL. O valor de a na Figura B-3 é 0,02 mL para este balão. A incerteza-padrão é
que é menor do que ux para a distribuição retangular porque a probabilidade na distribuição triangular é máxima no valor médio. Para um balão de 10 mL, a incerteza-padrão é ux = ±0,02/ = 0,00816 mL. Se você tiver disposição, poderá calibrar um balão volumétrico pesando a quantidade de água que ele contém quando está cheio até a sua marca. Se repetir a calibração diversas vezes, saberá qual é a quantidade que o frasco contém e o desvio-padrão da média. A calibração muda a incerteza do Tipo B para o Tipo A. O Tipo A é uma incerteza medida, e o Tipo B é uma incerteza estimada. Combinação das Incertezas dos Tipos A e B Suponha que você mede a massa específica do etanol pesando o líquido necessário para encher um balão volumétrico de 10 mL, não calibrado, até a marca, a 20°C. Você repete o procedimento cinco vezes e encontra uma massa média de = 7,8881 g, com um desvio-padrão de 0,0043 g e uma incerteza-padrão do Tipo A de umassa = (0,0043)/ = 0,00192 g. Você não calibrou o balão, portanto, sua incerteza é do Tipo B, ou seja, é uma distribuição triangular: uvolume = ±0,02/ = 0,00816 mL. As incertezas-padrão para massa e volume podem ser combinadas por meio das regras de propagação da incerteza vistas no Capítulo 3:
porque
. A incerteza-padrão da massa específica é 0,0851% de 0,788 81 g/mol =
±0,000 67 g/mL. Expresse a incerteza como um intervalo de confiança de ~95% multiplicando a incertezapadrão combinada pelo fator de cobertura k = 2. Essa incerteza expandida é (2)(0,000 67) = 0,00134 g/mol. A resposta final é Massa específica = 0,7888 ± 0,0013 g/mL que pode ser corroborada pela afirmação “a incerteza é uma estimativa do intervalo de confiança de 95% obtida pela multiplicação da incerteza-padrão pelo fator de cobertura 2.”
Exercícios
B-3. Propagação da incerteza. Crie uma planilha como a da Figura B-1 para este problema. Na espectrometria de massa de razão isotópica, detectores calibrados individualmente medem cada isótopo de interesse. Considere os dados apresentados na tabela vista a seguir, referentes à razão 13C/12C de uma amostra desconhecida e de um padrão.
x = 13C/12C na amostra desconhecida
y = 13C/12C no padrão
( ou ȳ) = média 13C/12C
0,010 853
0,011 197
s = desvio-padrão
0,000 017
0,000 010
n = número de observações
12
12
A diferença entre 13C/12C para um composto desconhecido e um compostopadrão, chamada δ13C, medida em partes por mil (‰), é
Com os dados da tabela, δ13C = [(0,010 853)/(0,011 197) – 1] × 1 000 = [0,969 28 – 1] × 1 000 = –30,7‰. (a) Determine as incertezas-padrão (desvio-padrão da média) de (b) Determine a incerteza-padrão do quociente relativa, uz/z.
= (13C/12C)amostra e ȳ = (13C/12C)padrão. . Expresse o resultado como uma incerteza
(c) Determine os graus de liberdade para . (d) Determine o intervalo de confiança de 95% para . (e) Determine o intervalo de confiança de 95% para δ13C. B-4. Propagação da incerteza. Em uma análise espectrofotométrica, seis replicatas de amostras apresentaram valores de absorbância 0,216, 0,214, 0,207, 0,220, 0,205 e 0,213. Seis replicatas de reagentes em branco apresentaram valores de absorbância 0,032, 0,030, 0,029, 0,034, 0,035 e 0,030. Determine o intervalo de confiança de 95% para a absorbância corrigida, que é a absorbância média menos a absorbância média do branco. B-5. Incertezas do Tipo A (medidas). Você preparou uma solução de amônia diluindo NH3 concentrado. A solução concentrada foi titulada cinco vezes para medir sua concentração, cujo resultado é [NH3] = 27,63 (±0,14) % m/m (n = 5), em que ±0,14 é o desvio-padrão e n = 5 é o número de determinações (replicatas). A massa específica da solução concentrada de NH3 foi medida quatro vezes, dando como resultado 0,9040 ±0,0023 g/mL (n = 4). Uma pipeta volumétrica de 1 mL foi calibrada, e o volume que ela libera é 1,0042 ± 0,0020 mL em n = 6 ensaios. A amônia concentrada foi transferida mediante a pipeta de 1 mL para um balão volumétrico calibrado de 500 mL, cujo volume é 499,86 ± 0,08 mL (n = 4). (a) Determine a incerteza-padrão (ux = sx/ relativa percentual = 100 ux/x.
) para cada quantidade x descrita no anteriormente e determine a incerteza-padrão
(b) Determine a massa molecular do NH3, sua incerteza-padrão e sua incertezapadrão relativa percentual. Dado que a incerteza relativa é significativamente menor que as demais incertezas, neste problema, iremos admitir que ela seja igual a zero. (c) Determine a molaridade do NH3 na solução de 500 mL. Quando tiver terminado, escreva todos os cálculos aritméticos em uma linha de multiplicação e divisão. O segundo exemplo na Seção 3-4 fornece um guia para você. (d) O cálculo aritmético em (c) tem a seguinte forma para a molaridade (M) = (a × b × c)/(d × e). A incerteza-padrão tem a forma Determine uM. (e) Os graus de liberdade para a molaridade (glM), calculados a partir das cinco variáveis combinadas em multiplicações e divisões, apresentam a forma mostrada a seguir. Determine glM.
(f) Determine o intervalo de confiança de 95% para a molaridade do NH3 no balão de 500 mL. Que percentual da molaridade é o intervalo de confiança de 95%?
B-6. Incertezas do Tipo A (medidas) e do Tipo B (estimadas). Volte ao problema anterior com as seguintes alterações: a pipeta de 1 mL e o balão volumétrico de 500 mL não estão calibrados. Use a distribuição triangular para as estimativas das incertezas. A incerteza na massa molecular do NH3 permanece desprezível. Determine a incerteza expandida (≈ intervalo de confiança de 95%) com um fator de cobertura k = 2.
Soluções dos Exercícios
Planilha para a solução do Exercício B-3. B-3.
(a)
As
incertezas-padrão
(b) A incerteza-padrão relativa para
(c) Os graus de liberdade para
são
calculadas
nas .
células
B7
e
C7.
O
cálculo
em
B7
é
= /ȳ é calculada na célula D9:
são calculados na célula D10:
(d) Para determinar o intervalo de confiança de 95% para , truncamos os graus de liberdade em 17 e determinamos que o valor t de Student para 17 graus de liberdade é 2,110, com a expressão INVT(0,05D10) na célula D13. O intervalo de confiança de 95% para na célula D14 é ± =tuz = ± t(uz/ )( ) = 0.969 28 ± (2,110)(0.000 52)(0,969 28) = 0,969 28 ± 0,001 06. (e) Estamos procurando pela incerteza absoluta por meio da expressão
O quociente entre parênteses é /ȳ = . Seu limite de confiança de 95% em (d) é 0,969 28 ± 0,001 06. A diferença entre parênteses é (0,969 28 ± 0,001 06 – 1) = – 0,030 72 ± 0,001 06 porque a incerteza na diferença é Multiplicando por 1 000 obtemos δ13C = – (30,72 ± 1,06) ‰ , que pode ser arredondado para – (30,7 ± 1,1)‰ ou – (31 ± 1)‰. B-4. As médias da absorbância (ā) e do branco ( ) são calculadas nas células B11 e C11. Os desvios-padrão sa e sb são encontrados nas células B12 e C12. A incerteza-padrão (= desvio-padrão da média, u = s/ ) é calculada nas células B14 e C14. Por meio da regra da propagação da incerteza de uma soma ou diferença, a incerteza-padrão para a absorbância corrigida ( ) é calculada como segue:
Os graus de liberdade para a absorbância corrigida são
que truncamos para 6 graus de liberdade, situação em que o valor de t de Student para 95% de confiança é 2,447 (célula D20). O intervalo de confiança é ± tuc = 0,180 83 ± (2,447)(0,002 50) = 0,180 83 ± 0,006 11 = 0,181 ± 0,006 B-5. (a) % m/m de NH3: uNH3 = 0,14/
= 0,062 wt%
incerteza relativa = (100) (0,062 6 wt%)/(27,63 wt%) = 0,226 6% massa específica = umassa específica 0,0023/
= 0,001 15 g/mL
incerteza relativa = (100) (0,001 15 g/mL)/(0,9040 g/mL) = 0,127 2% pipeta: upipeta 0,0020/
= 0,00082 mL incerteza relativa = (100) (0,000 82 mL)/(1,0042 mL) = 0,081 3%
balão: ubalão = 0,08/
= 0,04 mL incerteza relativa = (100) (0,04 mL)/(499,86 mL) = 0,008 0%
Planilha para a solução do Exercício B-4. (b) Massa molecular do NH3:
Multiplicando a massa e a incerteza pelo número de átomos de cada elemento:
A incerteza de 0,002 0% é desprezível em comparação com as incertezas em (a). (c)
(d)
em que
M = molaridade do NH3 a = % de NH3 em massa b = massa específica da solução de NH3 c = volume da pipeta d = massa molecular do NH3 (ud ≈ 0) e = volume do balão
Você pode expressar as incertezas relativas como números absolutos ou porcenta-gens. A escolha do modo porcentagem fornece uma resposta uM/M em porcentagem:
Agora, convertemos 0,272% para a forma decimal 0,002 72 para encontrar uM: uM = (0.002 72)(M) = (0.002 72)(0.029 46 M) = 0.000 0802M
(e) Escolhemos expressar as incertezas relativas como porcentagens nos cálculos aritméticos mostrados a seguir. Você pode usar números absolutos no lugar das porcentagens, mas a resposta será a mesma de qualquer forma.
(f) O valor de t de Student para 95% de confiança e 7 graus de liberdade = 2,365. O intervalo de confiança de 95% para M é M ± t · uM = 0,029 46 ± (2,365) (0,000 0802) = 0,029 46 ± 0,000 19 mol/L. O intervalo de confiança de 95% é 100 × (0,000 19)/(0,029 46) = 0,64% da molaridade. B-6. (a) Incerteza relativa do % em massa de NH3 = 0,226 6% (inalterado) incerteza da massa específica = 0,127 2% (inalterado) pipeta: tolerância = 0,006 mL = faixa a na distribuição triangular upipeta = a/
= 0,006/
= 0,002 45mL
incerteza relativa = (100) (0,002 45 mL)/(1,000 mL) = 0,245% balão: tolerância = 0,20 mL = faixa a na distribuição triangular ubalão = a/
= 0,20/
= 0,081 6 mL
incerteza relativa = (100) (0,081 6 mL)/(500 mL) = 0,016% (b) Massa molar do NH3 = 17,030 7 ± 0,002 0% (inalterada)
(c)
(d)
(e) Os graus de liberdade não são definidos para incertezas do Tipo B (f) Incerteza expandida = k · uM = 2(0,000 105) = 0,000 21 Resposta: 0,029 33 ± 0,000 21 M ou ± 0,72% O aumento da incerteza no volume da pipeta a leva tão somente a uma dimensão comparável às incertezas no % em massa de NH3 e na massa específica, portanto, a incerteza global não muda muito.
Referências 1. Uma fórmula numérica para a avaliação da Equação B-1 com uma planilha é dada por R. de Levie, “Spreadsheet Calculation of the Propagation of Experimental Imprecision”, J. Chem. Ed. 2000, 77, 534. 2. E. F. Meyer, “A Note on Covariance in Propagation of Uncertainty”,” J. Chem. Ed. 1997, 74, 1339. 3. C. Salter, “Error Analysis Using the Variance-Covariance Matrix”,” J. Chem. Ed. 2000, 77, 1239. 4. B. Wampfler, M. Rösslein e H. Felber, “The New Measurement Concept Explained by Using an Introductory Example,” J. Chem. Ed. 2006, 83, 1382; Evaluation of Measurement Data—Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement, JCGM 100:2008 disponível em http://www.bipm.org/utils/common/documents/jcgm/JCGM_100_2008.E.pdf; S. L. R. Ellison e A. Williams, eds., Eurachem/CITAC guide: Quantifying Uncertainty in Analytical Measurement, 3rd ed., (2012) disponível em http://eurachem.org/index.php/publications/guides/quam; NIST Uncertainty of Measurement Results, http://physics.nist.gov/cuu/uncertainty/index.html. 5. Uma abordagem diferente para a propagação da incerteza é o método de Monte Carlo, que simula um grande número de eventos com uma planilha. Cada variável introduzida para a simulação possui uma variação aleatória que segue a distribuição admitida de incerteza para aquela variável. Veja G. Chew e T. Walczyk, “A Monte Carlo Approach for Estimating Measurement Uncertainty Using Standard Spreadsheet Software”, Anal. Bioanal. Chem. 2012, 402, 2463. 6. A variância (s2) para uma função de probabilidade p(x) é definida como
em que m é a média populacional. Por exemplo, p(x) pode ser a função distribuição gaussiana 4-3. Uma definição equivalente de σ2 é (valor médio de x2) menos (valor médio de x)2. Para uma distribuição gaussiana, 68,3% da população está no intervalo μ ± σ. Para uma distribuição retangular cuja extensão vai de – a até + a, o desvio-padrão é σ = a/ , e 57,5% da população se situa no intervalo μ ± σ. Para uma distribuição triangular cuja extensão vai de –a até +a, o desvio-padrão é σ = a/ , e 65,0% da população se situa no intervalo μ ± σ.
C-1
Análise da Variância
Análise da variância (ANOVA) é uma ferramenta estatística amplamente utilizada para comparar médias (como no teste t) e para repartir a variância total de medidas experimentais pelas diferentes fontes de erro. Lembremos que variância é a raiz quadrada do desvio-padrão. A variância é aditiva, mas o desvio-padrão não é. Caso um procedimento consista em um procedimento de amostragem e em um procedimento de análise, a variância total é a soma
em que
é a variância devida à amostragem e
é a variância devida à análise.
Se uma fonte de variância é muito menor do que a outra, não vale a pena reduzir a menor fonte de erro porque isso terá pouco efeito na variância total. Por exemplo, se sanálise = 0,5 e samostragem = 1,0, então stotal = 1,12. Se reduzirmos o desvio-padrão da análise de 0,5 para 0,25, o desvio-padrão total é apenas ligeiramente reduzido de 1,12 para 1,03, o que não compensa o esforço realizado. Para melhorar a precisão de um procedimento, devemos atuar primeiramente sobre a maior fonte de variância. Se reduzirmos o desvio-padrão da amostragem de 1,0 para 0,5, o desvio-padrão total será reduzido de 1,12 para . Análise da Variância com um Único Fator Consideremos o experimento da Figura C-1, em que o teor de sal (expresso como porcentagem em massa de sódio) em batatas fritas é determinado. Quatro batatas são selecionadas aleatoriamente de uma embalagem. Cada uma delas é pesada e então triturada em pedaços pequenos; o sal contido nas batatas é extraído para um meio aquoso. A água é filtrada para um balão volumétrico. O resíduo sólido é lavado diversas vezes, e as águas de lavagem são filtradas para o balão volumétrico. Três alíquotas de cada balão são, então, analisadas, cujos resultados são apresentados na Figura C-2 e listados no topo da Tabela C-1. Existem ao menos duas fontes de erro aleatório na Figura C-1. O erro de amostragem surge porque cada batata tem, provavelmente, uma quantidade distinta de sal. Se tivéssemos selecionado batatas diferentes, teríamos obtido respostas diferentes. O erro analítico decorre do fato de que não podemos reproduzir com perfeição o processo analítico em cada análise repetida de uma batata. Que parcela da variação é atribuível ao erro de amostragem, e quanto cabe ao erro de medida?
FIGURA C-1 Etapas na determinação de sal em batatas fritas. A etapa 1 introduz a variância devida à amostragem, As etapas 2 a 4 introduzem a variância devida à análise, .
.
FIGURA C-2
Teor de sódio de quatro batatas fritas.
Nós demonstramos a análise de variância por meio de cálculos manuais tediosos que você pode entender. Uma vez que passamos por esse processo, nós passaremos a empregar procedimentos simples concebidos por meio do Excel. No jargão da análise de variância, a batata frita é chamada fator, que é a variável experimental em estudo. Na Figura C-1, existem três repetições da análise para cada batata frita. O erro analítico leva a resultados variáveis para cada batata frita individual, mostrados no topo da Tabela C-1. Se não existisse erro de medida, os valores das análises repetidas para cada batata seriam idênticos, o que não é o caso. Por exemplo, os três valores para a batata 1 são 0,324, 0,311 e 0,352% m/m de Na. Se todas as batatas fossem idênticas, e se os erros de medida fossem pequenos, o valor médio do teor de sódio em cada batata seria o mesmo. As médias para as quatro batatas na Tabela C-1 são 0,3290, 0,4567, 0,4357 e 0,4073 % m/m de Na. As variações são decorrentes de diferenças reais entre as batatas e erros de medida aleatórios para cada batata. Vamos chamar o teor verdadeiro de sódio na batata 1 de µ1. Se fizéssemos uma grande quantidade de medidas individuais de sódio na batata 1, os resultados estariam normalmente distribuídos em torno de µ1 com um desvio-padrão σanálise porque eles diferem da média verdadeira pelos erros aleatórios associados com o procedimento analítico. A partir de n = 3 medidas repetidas da batata 1, observamos um valor médio 1. Se repetíssemos as medidas das três análises da batata 1 muitas vezes, obteríamos diversos valores médios para a batata 1, os quais estariam distribuídos em torno da média verdadeira (µ1) para a batata 1, com um desvio-padrão da média igual a σanálise/ = σanaálise/ . Variância dentro das Amostras Para a batata 1 na Tabela C-1, o valor médio do teor sódio é 1 = 0,3290 %, com um desvio-padrão s1 = 0,02095 %, resultando em uma variância = 4,390 × 10–4 (% m/m)2. Por uma questão de simplicidade, passaremos a omitir a expressão % m/m. A variância média das quatro batatas é 10–4, calculado na Equação C-2 na Tabela C-1. Chamamos esse valor de variância média dentro das amostras, , porque se trata da média a partir de n = 3 valores repetidos para cada batata. é uma estimativa da variância devida à análise, , porque ela representa a variabilidade de resultados a partir de batatas individuais. O desvio-padrão de n medida possui n – 1 graus de liberdade porque um grau de liberdade é perdido ao se calcular a média. Se conhecemos a média e os n – 1 valores, temos condições de calcular o enésimo valor. Na Tabela C-1, temos n = 3 medidas repetidas para cada uma de h = 4 amostras. O número total de medidas é nh = 3 × 4 = 12. Como calculamos quatro médias para determinar a variância entre médias, o número de graus de liberdade para é 12 – 4 = 8. Variância entre Amostras Em seguida, calculamos a variância a partir da diferença entre as médias para quatro batatas fritas. Se não existisse variância devida à amostragem, a variância entre as médias seria decorrente apenas do erro aleatório na análise. Se todas as amostras representassem a mesma população, cuja única variância é , então o desvio-padrão da média de um conjunto de n = 3 medidas repetidas seria a sanálise/ = Sanálise/ . Se a variância entre as médias é significativamente maior do que nossa estimativa de a partir da variância dentro de cada amostra, podemos concluir que existe uma variância adicional decorrente do processo de amostragem que contribui para a variância total entre as médias.
TABELA C-1
Análise de sódio (% em massa) em batatas fritas
Amostra
Batata 1
Batata 2
Batata 3
Batata 4
0,324
0,455
0,420
0,447
0,311
0,467
0,463
0,377
0,352
0,448
0,424
Média dentro da amostra
0,3290
0,4567
0,4357
0,4073
0,02095 s1
0,00961 s2
0,02376 s3
0,03592 s4
0,398
Desvio-padrão dentro da amostra
h = número de amostras = 4
Determinação da variância dentro das amostras:
Determinação da variância entre das amostras:
Teste de hipótese com o teste F:
Atribuição de fontes de variância:
n = número de análises repetidas = 3
nh = total de medidas = 12
Dados de F. A. Settle e M. Pleva, “The Weakest Link Exercise”, Anal. Chem. 1999, 71, 538A. Duas entradas em cada coluna são valores reais e o terceiro é um valor ctício incluído para os propósitos deste exemplo. O artigo citado conduz a análise por uma etapa a mais e mostra como desdobrar o erro total nos componentes decorrentes da amostragem, da preparação da amostra e da análise. Veja também D. Harvey, “Two Experiments Illustrating the Importance of Sampling in Quantitative Chemical Analysis”, J. Chem. Ed. 2002, 79, 360. A média total de todas as nh = 12 medidas na Tabela C-1, calculada pela Equação C-3 na Tabela C-1 é 0,4072. Os quatro valores médios – um para cada batata frita – são = 0,3290, = 0,4567, = 0,4357, e = 0,4073. A variância entre esses h = 4 valores médios, que chamamos na Equação C-4 na Tabela C-1 é 3,124 × 10–3. Ela possui h – 1 = 3 graus de liberdade porque ela é calculada a partir de valores médios de h. Se não houvesse variância devida à amostragem, a variância entre as médias seria simplesmente outra medida de variância analítica. O desvio-padrão da média é igual ao desvio-padrão da população dividido por ; smédias = sentre/ . A Equação C-6 na Tabela C-1 fornece a variância =n = 3(3,124 × 10–3) = 9,373 × 10–3. Se não existisse erro em função da amostragem, entre seria equivalente a para a variância analítica. Testando a Hipótese Nula A hipótese nula é aquela em que as duas estimativas de variância, e não são significativamente diferentes. Caso encontremos que as duas variâncias são significativamente diferentes, devemos concluir que a amostragem e as diferenças entre as batatas se adicionam. A ferramenta para a comparação da variância é o teste F:
O valor calculado de F excede o valor crítico na Tabela 4-3, portanto, podemos concluir que as duas variâncias não são da mesma população. Atribuindo a Variância a Cada Fonte Para recapitular, nossa estimativa de variância a partir das diferenças entre os valores médios para quatro batatas fritas, ,é significativamente maior que a variância média para quatro valores repetidos a partir de uma única batata frita, . Inferimos que tanto a amostragem como o procedimento analítico contribuem para a variância total. A variância pode ser atribuída tanto à variância analítica ( = ) como à variância de amostragem, . A relação é
que nos permite obter
= (9,373 × 10–3 –5,965 × 10–4) = 2,926 × 10–3.
Os resultados finais calculados na parte de baixo da Tabela C-1 são
O processo de amostragem introduz aproximadamente o dobro do desvio-padrão produzido pelo procedimento analítico. A variância total apresenta componentes em função da amostragem e da análise
A inspeção da Figura C-2 mostra que o teor de Na da batata 1 é diferente daquele das batatas 2, 3 e 4. A diferença entre a batata 1 e as outras três batatas é a principal fonte de variância em razão da amostragem neste experimento. Por Que Fizemos Todo Esse Trabalho? A análise de variância mostra que a amostragem contribui com cerca do dobro da variância devida ao processo analítico para a incerteza total do resultado. Para melhorar a qualidade da análise, devemos dirigir nosso foco para a melhoria do procedimento de amostragem para se obter o efeito mais intenso. Um meio possível para melhorar a amostragem seria, para cada amostra, pegar diversas batatas fritas para em seguida combiná-las. Por exemplo, poderíamos selecionar aleatoriamente quatro batatas fritas, moê-las em conjunto, e então tomar um quarto do sólido cuidadosamente misturado para a extração e a análise. Podemos repetir esse procedimento mais três vezes e finalizar com o mesmo tipo de dados tal como visto na Tabela C-1. Entretanto, cada amostra seria uma composição de quatro batatas em vez de uma só. Previmos que o desvio-padrão da média será reduzida do valor na Tabela C-1 por um fator de ~ = 2. Esse procedimento reduz a incerteza em razão da amostragem a um nível aproximadamente igual à magnitude da incerteza analítica. Planilha para Análise de Variância O Excel possui um procedimento para a análise de variância. Na Figura C-3, entramos com os dados da Tabela C-1 nas células B4:E7. O Excel chama a quantidade na linha 4 de fator. Em nosso caso, o fator é a batata frita selecionada para análise. Em outros casos, o fator pode ser diferentes métodos de análise ou variáveis experimentais como solvente, pH, temperatura ou fluxo. Com base nesse ponto, no Excel 2010, vamos para Dados e selecionamos Análise de Dados. Na janela Análise de Dados, selecionamos ANOVA um fator. Aparece uma nova janela. Em Faixa de Entrada, entramos com B5:E7. Para Faixa de Saída, escrevemos B9. O Excel então exibe as linhas 9 a 24. O Excel fornece médias das amostras ( a ) nas células E13:E16 e variâncias ( a ) nas células F13:F16. A variância (0,000 597) aparece na célula E22 (na coluna MS) e seus graus de liberdade associados (8) aparecem na célula D22. A variância (0,009 37) aparece na célula E21 e seus graus de liberdade associados (3) estão na célula D21. O valor Fcalculado = 15,7 aparece na célula F21. Para comparação, o valor crítico F 5 4,07 para uma confiança de 95% é mostrado na célula H21. Como Fcalculado > Fcrítico, a diferença entre e é significativa no nível de confiança de 95%. A célula G21 nos informa que a possibilidade de observarmos Fcalculado = 15,7 por chance aleatória se os resultados provêm de populações com o mesmo desvio-padrão de população é 0,001 0. Ou seja, a diferença de variância é significativa ao nível de confiança de 100 × (1 – 0,001 0) = 99,90%. A linha 24 é a última entrada de dados da rotina ANOVA do Excel. Contudo, não é a última informação que desejamos. Digite nas palavras e fórmulas abaixo da linha 24 para encontrar sanálise, samostragem e stotal. Análise de Variância para Dois Fatores com Medidas Repetidas Até agora em nossa discussão sobre o ANOVA, consideramos apenas repetições de um único fator experimental. Nas Figuras C-1 e C-3, o único fator é a seleção das batatas fritas individuais, que é a amostragem. O Excel também nos permite conduzir uma análise de variância quando existem dois fatores experimentais. Em uma extensão do experimento com as batatas fritas, o sódio foi determinado por dois métodos distintos. O sal de quatro batatas fritas, denominadas A, B, C e D, foi extraído pela água como indicado na Figura C-1. Alíquotas de solução foram então analisadas por emissão atômica e por titulação. Os resultados aparecem nas células B4:D12 da Figura C-4. Por exemplo, após determinação em duplicata por titulação, as células D7 e D8 mostram que a batata B continha 0,455 e 0,467% em massa de sódio. O Fator 1 nesse experimento é o método analítico (emissão ou titulação), e o Fator 2 é a seleção da batata (amostragem). O Fator 2 foi repetido para se obter uma estimativa da repetibilidade. Para analisar a variância na Figura C-4 por meio do Excel 2010, vamos para Dados e lá selecionamos Análise de Dados. Em seguida, selecionamos ANOVA dois fatores com replicação. Na janela seguinte, entramos com B4:D12 para a faixa de entrada. Essa faixa inclui as denominações de colunas e linhas. Em Linhas por Amostra, digitamos 2 para indicar que cada amostra é analisada duas vezes. Em Faixa de Saída, entramos com F3. O Excel preenche a maior parte do restante da Figura C-4. (Rearrumamos a saída do Excel para que tudo pudesse caber em uma página.) As células F3:I28 resumem os resultados para cada batata e para o conjunto completo de dados. Os resultados importantes do ANOVA estão nas células C30:I36. A variância dentro de conjuntos de tratamentos idênticos é = 0,000 663 na célula F34 (na coluna MS). A variância para amostras diferentes analisadas pelo mesmo método é c = 0,010 018 na célula F31. A variância entre os dois métodos experimentais é s2colunas = 0,007 744 na célula F32. Iremos explicar a variância denominada “interação” na célula F33 mais adiante.
Desejamos saber se a variância de fatores diferentes é significativamente diferente da variância decorrente da repetibilidade das medidas, que é na célula F34. Três valores para a estatística F são calculados. A célula G31 fornece o quociente F = / = 0,010 018/0,000 663 = 15,1. Esse valor de F excede o valor crítico 4,07 para 95% de confiança na célula I31. Portanto, a diferença entre amostras (as batatas) é significativa. A probabilidade do valor observado de F é p = 0,001 17 na célula H31, o que significa que existe apenas uma chance de 0,1% de obtermos esse valor se as medidas provêm de conjuntos com a mesma população média e o mesmo desvio-padrão populacional.
FIGURA C-3
Análise de Variância (ANOVA) com um fator, que é a seleção das batatas fritas para análise.
A célula G32 fornece o quociente s2colunas/ = 0,007 744/0,000 663 = 11,7. Esse valor supera o valor crítico 5,32 na célula I32 (p = 0,009 1). Desse modo, a diferença entre colunas (os dois métodos de análise) é significativa ao nível de confiança de 1 – 0,009 = 99,1%. Ou seja, os dois métodos fornecem respostas diferentes para amostras idênticas. Essa conclusão é aparente porque cada resultado da titulação nas células D5:D12 é menor que os resultados de emissão nas células C5:C12. O teste t emparelhado na Seção 4-3, aplicado aos resultados dos dois métodos de análise, fornece a mesma conclusão. O que é uma “interação”? Suponha que você esteja otimizando uma separação por cromatografia líquida variando o componente orgânico do solvente (acetonitrila ou metanol, que chamaremos fator 1), e o pH do componente aquoso do solvente (que chamaremos fator 2). Suponha que o resultado que você está medindo é a resolução de dois picos próximos no cromatograma. A combinação ótima de solvente e pH fornecerá a maior resolução. Se tabelarmos a resolução como função do solvente e do pH em uma planilha como a da Figura C-4, poderemos testar separadamente se o solvente e o pH levam a diferenças significativas na resolução.
A “interação” na linha 33 da planilha nos informa se a mudança de um fator muda a resposta do outro fator. Por exemplo, talvez em pH baixo a resolução varie de acordo com a composição do solvente orgânico. Talvez em pH elevado a resolução se torne independente da composição do solvente orgânico. Em um caso como esse, dizemos que existe uma interação entre os dois fatores. A mudança do pH altera a resposta em relação ao solvente. Na Figura C-4 os dois fatores são o método de análise e a amostragem. Intuitivamente, não há razão para suspeitar que o desempenho do método analítico dependerá de que batata frita é retirada do saco. O valor F = s2interação/ = 1,21 na célula G33 está abaixo do valor crítico 4,07 na célula I33. Concluímos que não há interação entre os fatores nesse experimento.
C-2
E ciência no Planejamento de Experimentos1
Os parâmetros operacionais normalmente precisam ser otimizados quando desenvolvemos um método analítico. A maneira menos eficiente de fazer isso é variar um parâmetro por vez mantendo os demais constantes. Procedimentos mais eficientes são chamados planejamento experimental fatorial fracionário2 e otimização simplex.3 Iremos discutir um exemplo de planejamento experimental cuja intenção é fornecer o máximo de informação no menor número possível de ensaios. Suponha que tenhamos três soluções desconhecidas de ácido, denominadas A, B e C. Se titularmos cada uma delas de cada vez com uma base iremos encontrar sua concentração, mas não teremos uma estimativa da incerteza. Se titularmos cada solução três vezes, dando um total de nove experimentos, iremos encontrar o valor de cada concentração e seu desvio-padrão.
================== 1. P. de B. Harrington, E. Kolbrich e J. Cline “Experimental Design and Multiplexed Modeling Using Titrimetry and Spreadsheets” J. Chem. Ed. 2002, 79, 863. 2. G. Hanrahan, Environmental Chemometrics (Boca Raton, FL: CRC Press, 2009); R. G. Brereton, Applied Chemometrics for Scientists (Chichester: Wiley, 2007); M. Otto, Chemometrics (Wenheim: Wiley-VCH, 2007); D. Montgomery, Design and Analysis of Experiments, 5th ed., (Nova Iorque: Wiley, 2001); C. F. Wu and M. Hamada, Experiments: Planning Analysis and Parameter Design Optimization (Nova Iorque: Wiley, 2000); M. Anderson e P. Whitcomb, DoE Simplified: Practical Tools for Effective Experimentation (Portland, OR: Productivity Inc., 2000); G. E. P. Box, J. S. Hunter e W. G. Hunter, Statistics for Experimenters: Design, Innovation and Discovery, 2nd ed., (Hoboken, NJ: Wiley, 2005); R. S. Strange, “Introduction to Experimental Design for Chemists”, J. Chem. Ed. 1990, 67, 113; J. M. Gonzálvez e J. C. García-Díaz, “Mixture Design Experiments Applied to the Formulation of Colorant Solutions”, J. Chem. Ed. 2006, 83, 647. 3. S. N. Deming e S. L. Morgan, “Simplex Optimization of Variables in Analytical Chemistry”, Anal. Chem. 1973, 45, 278A; D. J. Leggett, “Instrumental Simplex Optimization”, J. Chem. Ed. 1983, 60. 707; S. Srijaranai, R. Burakham, T. Khammeng e R. L. Deming, “Use of the Simplex Method to Optimize the Mobile Phase for the Micellar Chromatographic Separation of Inorganic Anions”, Anal. Bioanal. Chem. 2002, 374, 145; D. Betteridge, A. P. Wade e A. G. Howard, “Reflections on the Modified Simplex”, Talanta 1985, 32, 709, 723.
FIGURA C-4 Análise de Variância (ANOVA) com dois fatores, que são a seleção das batatas fritas e o método de análise. [Dados de F. A. Settle e M. Pleva, “The Weakest Link Exercise”, Anal. Chem. 1999, 71, 538A.]
Um planejamento experimental mais eficiente fornece concentrações e desvios-padrão com menos de nove experimentos. Um dos muitos plane-jamentos eficientes é dado na planilha apresentada na Figura C-5. Em vez de titular cada ácido individualmente, titulamos misturas dos ácidos. Por exemplo, na linha 5 da planilha, uma mistura contendo 2 mL de A, 2 mL de B e 2 mL de C consumiu 23,29 mL de solução de NaOH 0,120 4 M, o que corresponde a 2,804 mmol de íons OH–. (Os ácidos podem ser transferidos por pipetas volumétricas cujas tolerâncias são dadas na Tabela 2-4. Desse modo, 2 mL significa 2,000 mL com a incerteza na terceira casa decimal.) Na linha 6, a mistura continha 2 mL de A, 3 mL de B e 1 mL de C. Outras permutações são tituladas nas linhas 7 e 8. Então, a linha 5 é repetida independentemente na linha 9. A coluna E fornece o número de mmol de base para cada corrida. Para cada experimento, o número de mmol de base consumidos é igual ao número de mmol de ácido na mistura:
em que [A] é a concentração do ácido A (mol/L) e VA é o volume de A em mL (mol/L × mL = mmol). As linhas de 5 a 9 da planilha nos informam que
Nosso problema é encontrar os melhores valores para as molaridades [A], [B] e [C]. Por sorte, o Excel encontrará esses valores para nós por meio do procedimento de mínimos quadrados PROJ.LIN. No Capítulo 4, usamos PROJ.LIN para encontrar o coeficiente angular e o coeficiente linear na equação y = mx + b. Na Figura C-5, usamos PROJ.LIN para encontrar os coeficientes angulares para y = mAxA + mBxB + mCxC + b (em que o coeficiente linear, b, é zero). Para executar PRPJ.LIN, assinale as células C12:E14 e digite “=PROJ.LIN(E5:E9,A5:C9,FALSO,VERDADEIRO)”. Em seguida, pressione CTRL+SHIFT+ENTER em um PC, ou COMMAND(⌘) + RETURN em um Mac. O primeiro argumento de PROJ.LIN, E5:E9, contém os valores de y (= mmol de OH–). O segundo argumento, A5:C9, contém os valores de x (= volumes de ácido). O terceiro argumento (FALSO) instrui o computador para ajustar o coeficiente linear (b) em zero, e o quarto argumento (VERDADEIRO) assinala que desejamos cálculos estatísticos.
FIGURA C-5 A planilha para planejamento experimental eficiente emprega a rotina PROJ.LIN do Excel para ajustar a função y = mAxA + mBxB + mCxC aos dados experimentais por meio de um procedimento de mínimos quadrados.
O Excel encontra os coeficientes angulares pelos mínimos quadrados na linha 12 e suas incertezas-padrão (uM = desvio-padrão da média) na linha 13. Esses coeficientes angulares são as molaridades [C], [B] e [A]. Por exemplo, a célula C12 nos informa que [C] = 0,809 9 M. Precisamos de, pelo menos, n equações para resolver n incógnitas. Nesse exemplo, dispomos de cinco equações (C-13), mas apenas três incógnitas ([A], [B] e [C]). As duas equações adicionais nos permitem estimar a incerteza nas incógnitas. Se você fizer mais experimentos, em geral, você reduzirá a incerteza na concentração. Um planejamento experimental eficiente com cinco experimentos nos deixa com mais incerteza do que se tivéssemos feito nove experimentos. Entretanto, reduzimos a quase metade o nosso esforço com o planejamento eficiente.
As incertezas-padrão nas células C13:E13 dependem da qualidade do ajuste dos mínimos quadrados às Equações C-13, as quais estão relacionadas com as incertezas nos volumes e à estimativa do ponto de equivalência das titulações. Para encontrar o intervalo de confiança de 95% para a concentração, multiplicamos a incerteza-padrão pelo valor de t de Student para 5 – 3 = 2 graus de liberdade (porque temos cinco equações e três incógnitas determinadas). Na Tabela 4-4, t = 4,303 para 95% de confiança e dois graus de liberdade. Portanto, para cada componente (A, B e C), a incerteza a 95% é tuM = (4,303)(0,006 2) = 0,027. Uma expressão razoável de concentração é [C] = 0,810 ± 0,027 M ou 0,81 ± 0,03 M.
Exercícios C-1. Análise de variância. As clorofilas a e b são pigmentos presentes em plantas que absorvem a luz solar e transferem energia para a fotossíntese de carboidratos a partir de CO2 e H2O, liberando O2 no processo. As clorofilas foram extraídas de grama picada, e medidas por espectrofotometria. A tabela apresentada a seguir mostra os resultados para a clorofila a em quatro análises separadas de cinco folhas de grama. Clorofila a (g/L) Sítio 1:
Folha 1
Folha 2
Folha 3
Folha 4
Folha 5
1,09
1,26
1,19
1,23
0,85
0,86
0,96
1,21
1,30
0,65
0,93
0,80
1,27
0,97
0,86
0,99
0,73
1,12
0,97
1,03
Dados de J. Marcos, A. Ríos e M. Valcárcel, “Practicing Quality Control in a Bioanalytical Experiment” J. Chem. Ed. 1995, 72, 947. Quatro análises repetidas de cada folha de grama nos informam a precisão do procedimento analítico. As diferenças entre os valores médios para cada uma das cinco folhas de grama são uma medida de variação devida à amostragem. (Ou seja, nem todas as folhas de grama têm a mesma composição.) Determine se a variância devida à amostragem é significativamente diferente da variância decorrente do método analítico. Determine os desvios-padrão atribuíveis à amostragem e à análise, bem como o desviopadrão total proveniente de ambas as fontes. C-2. Vamos aplicar a análise de variância aos dados de Rayleigh na Figura 4-10 para ver se as massas específicas do nitrogênio proveniente do ar e da decomposição química são significativamente diferentes. O único fator experimental é a escolha de como o nitrogênio foi preparado (do ar ou por decomposição química). Copie as células A1:C17 da Figura 4-10 para uma nova planilha. No Excel 2010, vá para a aba Dados e selecione Análise de Dados Anova: Um Fator. Para Faixa de Entrada, selecione B5:C12. (O Excel ignora a célula em branco B12.) A janela ANOVA deve mostrar que os dados estão agrupados por colunas, e alfa = 0,95 (95% de confiança). Para Faixa de Saída, digite E6 e clique em OK. Na saída do Excel, identifique a variância para cada método de preparação do nitrogênio. (a). Identifique a variância na massa de nitrogênio proveniente do ar e a variância decorrente da decomposição. Identifique a variância entre grupos (entre os métodos de preparação do nitrogênio) e a variância dentro dos grupos (as análises repetidas de cada método). (b). Identifique F = (variância entre os métodos)/(variância dentro do método). Qual é o valor crítico de F? A diferença entre os métodos de preparação de nitrogênio é significativa? C-3. (a). Utilize o test t emparelhado para as análises por emissão e por titulação nas células C5:C12 e D5:D12 da Figura C-4. Existe uma diferença significativa entre os resultados produzidos pelos dois métodos de análise? A rotina ANOVA na Figura C-4 chegou à mesma conclusão do teste t? (b). Você deve ter encontrado em (a) que a emissão atômica forneceu uma porcentagem em massa de sódio significativamente maior nas batatas fritas do que a titulação. Agora, perguntamos a você para sugerir uma razão do porquê de um método produzir resultados sistematicamente maiores. Na análise por emissão atômica, a amostra dissolvida é alimentada em uma chama ou plasma, que excita os átomos de Na na fase gasosa a um nível energético mais elevado, a partir do qual eles emitem luz. A intensidade de emissão é proporcional à concentração do sódio na solução. Na titulação, a amostra dissolvida é titulada com uma solução de AgNO3 de concentração conhecida. A reação é Ag+ + Cl– → AgCl(s). A titulação nos informa quanto de íons Cl– (e, portanto, AgCl) estava na solução. Por que os dois métodos podem produzir resultados sistematicamente diferentes para o teor em massa de sódio?
C-4. Uma mistura de nitrato de potássio e cloreto de sódio foi embarcada em um vagão de trem. Para determinar qual é a fração correspondente ao nitrato de potássio, amostras foram colhidas aleatoriamente de cinco pontos, e cada amostra foi submetida a quatro análises repetidas, sendo os resultados apresentados na tabela a seguir. Amostra
Porcentagem em massa de potássio
Média
Desvio-padrão
A
12,42, 12,28, 12,33, 12,36
12,3475
0,0585
B
12,27, 12,24, 12,19, 12,19
12,2225
0,0395
C
12,41, 12,48, 12,51, 12,39
12,4475
0,0568
D
12,42, 12,43, 12,47, 12,40
12,4300
0,0294
E
12,19, 12,28, 12,20, 12,32
12,2475
0,0629
Mostre que a variância entre os cinco valores médios é significativamente maior que a variância dentro das amostras. Que desviopadrão pode ser atribuído à variação da composição da amostra (samostragem), e que desvio-padrão pode ser atribuído à irreprodutibilidade (sanálise) na análise repetida de cada amostra? C-5. Titulações ácido-base semelhantes àquelas na Figura C-5 têm seus volumes e resultados mostrados na tabela vista a seguir.1 Use PROJ.LIN do Excel para encontrar as concentrações dos ácidos A, B e C, suas incertezas-padrão e intervalos de confiança de 95%.
Volume de ácido (mL) A
B
C
mmol de NaOH consumidos
2
2
2
3,015
0
2
2
1,385
2
0
2
2,180
2
2
0
2,548
2
2
2
3,140
Soluções dos Exercícios C-1. (a). Planilha para a análise de variância do sítio 1:
O valor calculado de F = (s2entre)/(s2dentro) = 3,26 na célula E22 é maior que o valor crítico 3,05 na célula G22, de modo que a diferença é significativa. p = 0,04 na célula F22, o que nos indica que a diferença é significativa ao nível de 96%. Atribuição das fontes de variância:
em que n = número de análises repetidas de cada folha de grama, e as variâncias são encontradas na coluna MS nas células D22 e D23. Desvios-padrão:
C-2. Análise de variância para a determinação da massa específica de nitrogênio por Rayleigh (ANOVA: Um Fator)
(a). Variância da massa de nitrogênio do ar: 2,035 × 10–8 (Célula I10) Variância da massa de nitrogênio da decomposição: 1,902 × 10–6 (Célula I11) Variância entre grupos = 0,0004 22 (Célula H15) Variância dentro dos grupos = 1,03 × 10–6 (célula H16) (b). F = H15/H16 = 408 (célula I15) Valor crítico de F = 4,67 (célula K15) Fobservado > Fcrítico, portanto, a diferença é significativa (altamente significativa com p = 3 × 10–11 na célula J15) C-3. (a) A planilha emprega o teste t emparelhado para determinar que tcalculado na célula F11 é maior que o valor crítico de t na célula F15, de modo que a diferença entre os métodos é significativa. A célula F14 nos informa que a diferença é significativa ao nível de (1 – 0,002 5) = 99,75%. (b) A emissão atômica mede diretamente o Na+ dissolvido. A titulação determina diretamente Cl–. Para encontrar Na+ a partir de Cl–, admitimos que todo o íon Cl– provém do NaCl extraído da batata frita. Se o Na+ na amostra provier também de outros sais além do NaCl, então haverá mais Na+ do que Cl– na solução. Se nem todo o cloreto estiver na forma de NaCl, então haverá mais Cl– do que Na+ na solução.
Planilha para o Exercício C-3.
Planilha para o Exercício C-4.
C-4. Na planilha, s2dentro = 0,002 61 na célula D23 com 20 – 5 = 15 graus de liberdade na célula C23. s2entre = 0,042 07 na célula D22 com 5 – 1 = 4 graus de liberdade na célula C22.
Atribuição das fontes de variância:
C-5. As molaridades calculadas pelo PROJ.LIN são fornecidas na linha 12 da planilha e as incertezas-padrão (uM) são dadas na linha 13. O valor de t do teste de Student para 95% de confiança e 5 – 3 = 2 graus de liberdade é calculado a partir de t = INVT(0,05,2) = 4,303 na célula C21. O intervalo de confiança de 95% para as concentrações é tuM = (4,303)(0,0267) = 0,12. O intervalo de confiança para cada um dos três componentes é ±0,12 M.
Planilha para o Exercício C-5.
O número de oxidação, ou estado de oxidação, é um sistema de contabilidade usado para rastrear o número de elétrons formalmente associados com um elemento em particular. O número de oxidação indica quantos elétrons foram dados ou recebidos por um átomo neutro quando ele forma um composto. Como os números de oxidação não possuem um significado físico real, eles são um tanto arbitrários, e nem todos os químicos assinalam o mesmo número de oxidação para determinado elemento em um composto pouco comum. Entretanto, existem algumas regras gerais que proporcionam um ponto de partida útil. 1. 2. 3.
4. 5.
O número de oxidação de um elemento por si só — por exemplo, Cu(s) ou Cl2(g) — é 0. O número de oxidação do H é quase sempre +1, exceto nos hidretos metálicos — por exemplo, NaH — em que o H é –1. O número de oxidação do oxigênio é quase sempre –2. As únicas exceções comuns são os peróxidos, em que dois átomos de oxigênio estão ligados e cada um possui um número de oxidação de –1. Dois exemplos são o peróxido de hidrogênio (H—O —O—H) e seu ânion (H—O—O–). O número de oxidação do oxigênio no gás O2 é, naturalmente, 0. Os metais alcalinos (Li, Na, K, Rb, Cs, Fr) quase sempre têm um número de oxidação +1. Os metais alcalino-terrosos (Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Ra) quase sempre estão no estado de oxidação +2. Os halogênios (F, Cl, Br, I) estão geralmente no estado de oxidação –1. As exceções ocorrem quando dois halogênios diferentes estão ligados um ao outro ou quando um halogênio está ligado a mais de um átomo. Quando halogênios diferentes estão ligados uns aos outros, assinalamos o número de oxidação –1 ao halogênio mais eletronegativo.
A soma dos números de oxidação de cada átomo em uma molécula tem de ser igual à carga da molécula. Na H2O, por exemplo, temos
No SO42—, o enxofre deve ter um número de oxidação de +6, de forma que a soma dos números de oxidação seja –2:
No benzeno (C6H6), o número de oxidação de cada carbono tem de ser –1 se o hidrogênio tiver o número +1. No ciclo-hexano (C6H12), o número de oxidação de cada carbono tem de ser –2, pela mesma razão. Os carbonos no benzeno estão em um estado de oxidação maior do que os do ciclo-hexano. O número de oxidação do iodo no ICI–2 é +1. Isso não é comum, pois os halogênios são geralmente –1. Contudo, como o cloro é mais eletronegativo do que o iodo, consideramos o Cl como –1, forçando desse modo o I a ser +1. O número de oxidação do As no As2S3 é +3, e o valor para S é –2. Isso é arbitrário, mas razoável. Como o S é mais eletronegativo do que o As, fazemos o S negativo e o As positivo; e, já que o S está na mesma família do oxigênio, que geralmente é –2, consideramos o S como –2, deixando dessa forma o As como +3. O número de oxidação do S no S4O62—(tetrationato) é +2,5. O estado de oxidação fracionário ocorre porque seis átomos de O contribuem com –12. Como a carga é –2, os quatro átomos de S têm de contribuir com +10. O número de oxidação médio do S tem de ser + 104 = 2,5. O número de oxidação do Fe no K3Fe(CN)6 é +3. Para fazer essa consideração, reconhecemos primeiro o cianeto (CN–) como um íon comum que possui uma carga –1. Seis íons cianeto dão –6, e três íons potássio (K+) dão +3. Portanto, o Fe deve ter um número de oxidação de +3 para que a fórmula global seja neutra. Nessa abordagem, não é necessário assinalar os números de oxidação do carbono e do nitrogênio individualmente, uma vez que reconhecemos que a carga do CN é –1.
Problemas As respostas são fornecidas no fim deste apêndice. D-1. Escreva o estado de oxidação do átomo em negrito em cada uma das seguintes espécies. (a) AgBr (b) (c) SeF6
(d) (e) HO2 (f) NO (g) Cr3+ (h) MnO2 (i) (j) Fe(OH)3 (k) CIO– (l) K4Fe(CN)6 (m) CIO2 (n) (o) (p) N2 (q) (r) (s) (t) Co2(CO)8 (o grupo CO é neutro) (u) (CH3)4Li4 (v) P4O10 (w) C2H6O (etanol, CH3CH2OH (x) VO(SO4) (y) FE3O4
D-2. Identifique o agente oxidante e o agente redutor no lado esquerdo de cada uma das seguintes reações.
Balanceamento de Reações Redox Para balancear uma reação envolvendo oxidação e redução, temos que inicialmente identificar que elemento é oxidado e que elemento é reduzido. Em seguida, dividimos a reação global em duas meias-reações imaginárias, uma envolvendo somente a oxidação e a outra envolvendo apenas a redução. Embora os elétrons livres nunca apareçam em uma reação global balanceada, eles aparecem nas meias-reações balanceadas. Se estivermos lidando com soluções aquosas, iremos balancear cada meia-reação,
usando H2O e H+ ou OH–, conforme necessário. Uma reação é balanceada quando o número de átomos de cada elemento é o mesmo em ambos os lados e a carga resultante é a mesma em ambos os lados.*
Soluções Ácidas Eis aqui as etapas que devemos seguir: 1. Assinale os números de oxidação dos elementos que são oxidados ou reduzidos. 2. Divida a reação em duas meias-reações, uma envolvendo oxidação e a outra redução. 3. Para cada meia-reação, faça o balanço do número de átomos que são oxidados e reduzidos. 4. Faça o balanço dos elétrons envolvidos na variação do número de oxidação adicionando elétrons a um lado de cada meiareação. 5. Faça o balanço dos átomos de oxigênio adicionando H2O a um lado de cada meia-reação. 6. Faça o balanço dos átomos de H adicionando H+ a um lado de cada meiareação. 7. Multiplique cada meia-reação pelo número de elétrons da outra meiareação, de forma que o número de elétrons de cada lado da reação global seja cancelado. A seguir, some as duas meias-reações e simplifique até os menores coeficientes inteiros.
EXEMPLO
Balanceamento de uma Equação Redox
Faça o balanço da seguinte equação usando H+, mas não OH–:
Solução 1.
Assinale os números de oxidação. Eles são assinalados para o Fe e o Mn em cada espécie na reação anterior
2.
Divida a reação em duas meias-reações.
3.
Faça o balanço dos átomos que são oxidados ou reduzidos. Como há apenas um Fe ou um Mn em cada espécie, em cada lado da equação, os átomos de Fe ou Mn já estão balanceados.
4.
Faça o balanço dos elétrons. Os elétrons são adicionados para levar em conta a variação em cada estado de oxidação.
No segundo caso, necessitamos de 5e– no lado esquerdo para o Mn mudar de +7 para+2. 5.
Faça o balanço dos átomos de oxigênio. Não existem átomos de oxigênio na meia-reação do Fe. Existem quatro átomos de oxigênio no lado esquerdo da reação do Mn, de modo que adicionamos quatro moléculas de H2O no lado direito:
6.
Faça o balanço dos átomos de hidrogênio. A equação do Fe já está balanceada. A equação do Mn precisa de 8H+ na esquerda
Neste ponto, cada meia-reação deve estar completamente balanceada (mesmo número de átomos e de carga em cada lado), ou você cometeu um erro. 7.
Multiplique e some as reações. Multiplicamos a equação do Fe por 5 e a equação do Mn por 1 e somamos:
A carga total em cada lado é +17, e encontramos o mesmo número de átomos de cada elemento em cada lado. A equação está balanceada. EXEMPLO
Desproporcionamento Invertido
Agora tentemos a próxima reação, que representa o inverso de uma desproporcionamento. (Em um desproporcionamento, um elemento em um estado de oxidação reage para dar o mesmo elemento em estados de oxidação maiores e menores.)
Soluções Básicas 1.
Os números de oxidação estão assinalados anteriormente. Observe que o cloro tem um número de oxidação –1 em ambos os lados da equação. Somente o iodo está envolvido na transferência de elétrons.
2.
3.
Precisamos balancear os átomos de I na primeira reação e adicionar Cl– a cada reação para balancear o Cl.
4.
Agora some os elétrons a cada uma.
A primeira reação precisa de 2e–, pois existem dois átomos de I, cada um dos quais muda de 0 para +1. 5.
A segunda reação necessita de 3H2O no lado direito para balancear os átomos de oxigênio.
6.
A primeira reação está balanceada, mas a segunda precisa de 6H+ no lado esquerdo.
Para uma veri cação, a carga em cada lado dessa meia-reação é –1, e todos os átomos estão balanceados. 7.
Multiplique e some.
Multiplicamos a primeira reação por 2, de modo que existe o mesmo número de elétrons em cada meia-reação. Você podia ter multiplicado a primeira reação por 4 e a segunda por 2, mas assim todos os coe cientes simplesmente dobrariam. Normalmente escrevemos os menores coe cientes. Soluções Básicas
O método que várias pessoas preferem para as soluções básicas é o de balancear a equação primeiro pelo H+. A resposta pode então ser convertida para uma em que seja usado o OH. Isso é feito pela adição de um número de íons hidróxido em cada lado da equação, igual ao número de íons H+ que aparecem na equação. Por exemplo, para balancear a Equação D-1 com OH– em vez de H+, procedemos da seguinte maneira:
Percebendo que 6H+ + 6OH– = 6H2O, e cancelando 3H2O em cada lado, temos o resultado final:
Problemas D-3. Faça o balanço das seguintes reações usando H+, mas não OH–.
D-4. Faça o balanço das seguintes reações usando OH–, mas não H+.
Respostas D-1. (a) + 1 (b) +2 (c) +6
(d) +2 (e) (f) +2 (g) +3 (h) +4 (i) +2 (j) +3 (k) +1 (l) +2 (m) +4 (n) +3 (o) +2 (p) 0 (q) –3 (r) –2 (s) +3 (t) 0 (u) –4 (v) +5 (w) –2 (x) +4 (y) +8/3 (z) –2/3
A reação (f) é chamada de reação de desproporcionamento, pois um elemento em um estado de oxidação é transformado em dois estados de oxidação diferentes - um maior e outro menor do que o estado de oxidação original.
A meia-reação balanceada para o As2S3 em (g) é
Como o As2S3 é um composto único, devemos considerar as reações juntas. A carga resultante no número de oxidação para os dois átomos de As é 2(5 – 3) = +4. A variação resultante no número de oxidação para os três átomos de S é 3[6 – (–2)] = +24. Portanto, 24 + 4 = 28e– estão envolvidos na meia-reação.
______________ *Um método completamente diferente para o balanceamento de equações redox complexas por inspeção foi descrito por D. Kolb, J. Chem. Ed. 1981, 58, 642. Para alguns problemas desafiadores de balanceamento de equações redox, veja R. Stout, J. Chem. Ed. 1995, 72, 1125.