A origem dos sentimentos morais 9788555710391


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A origem dos sentimentos morais
 9788555710391

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TRADUÇÁO

Clademir Araldi

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A Origem dos Sentimentos Morais

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Jane Zveiter de Moraes Vanessa Costhek Abílio Bartira de Aguiar Roza Ana Rojas Acosta Maria José da Silva Fernandes Cynthia Andersen Sarei Jair Ribeiro Chagas

A Origem dos Sentimentos Morais , PAUL REE TRADUÇÃO

André Itaparica Clademir Araldi

S80-FFLCH-USP

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Copyright © 201 8 by Editora Unifesp . , .1o ong11, · · ,~1· .. • Der Ursprimg der 111oralrsche11 Empfindungen T1tu

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da EFLCH/Unifesp Rée, Paul, 1849-1901 A origem dos sentimentos morais / Paul Rée ; tradução: André ltaparica, Clademir Araldi. - São Paulo : Editora Unifesp, 2018. 168 p.; 14 x 21 cm Tradução de: Der Ursprung der moralischen Empfindungen ISBN 978-85-5571-039-1

r. Filosofia alemã. 1. Título.

2.

Ética - Filosofia. 3. Emoções - Filosofia.

coo Elaborado por Cristiane de Melo Shirayama -

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CRB 8/7610

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A ORIGEM DOS SENTIMENTOS MORAIS

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A amizade tão estimada por ambos os pensadores foi aprofundada a partir de fevereiro de 1876, com intensa troca epistolar e com várias visitas de Rée a Nietzsche na Basileia. O ponto culminante da amizade foi a estada de Nietzsche em Sorrente, de outubro de 1876 a maio de 1877. Com Paul Rée,Albert Brenner e Malwida von Meysenbug, Nietzsche acalenta o sonho de criar um "mosteiro para espíritos livres". De fato, os meses em Sorrento foram de cultivo da filosofia do espírito livre, com caminhadas solitárias, reuniões de leitura e discussão sobre diversos temas e obras de interesse do pequeno círculo, num ambiente de liberdade e franqueza33. Certamente, os frutos filosóficos mais importantes dessa estada resultaram dos diálogos de Rée com Nietzsche, no modo como se concretaram em A Origem dos Sentimentos Morais e em Humano, Demasiado Humano, como mostraremos mais adiante.

O destino reservou várias surpresas desagradáveis a Rée e a Nietzsche nos anos seguintes. Ainda em 1877, Rée fracassa nos planos de defender a tese de habilitação para o ensino universitário em Zurique, onde se encontrava W. Wundt 34 • A maior parte dos anos seguintes transcorre na fazenda de Stibbe, que passa a ser administrada por seu irmão Georg35 . Em 1882, Rée conhece Louise

assistiu a várias preleções, inclusive às de Claude Bernard e às de Ernest Renan. Cf. H. Treiber, "Erliiuterungen" ... , p. 32. 33. Acerca dos meses da estada em Sorrento, cf. P. D'lorio, Le Voyage de Nietzsche à Sorrente. La Genese de la philosophie de l'esprit libre, pp. 57 e s. Em outubro de 1876, ocorreu o último encontro de Nietzsche com Wagner. Nietzsche, Rée e Malwida visitam o casal Wagner em Sorrento. Como era esperado, esse encontro foi um tanto melancólico e perturbador. Mas a presença de Paul Rée marcou também o início de uma nova fase da vida e da obra de Nietzsche. 34. Rée se interessava pelo darwinismo defendido por Wundt. Logo em seguida, no entanto, Wundt se transfere para a Universidade de Leipzig, fazendo grandes avanços na psicologia experimental. 3 5. Paul Rée acompanha Nietzsche, depois de r 879, por várias andanças, em

von Salomé, por intermédio de ~alwida von Mey~enbug. Esse ano foi marcante também para sua vida e para sua amizade com Nietz. sche. Foi então que o destino reservou uma surpresa muito agradá. vel aos dois amigos. Entretanto, queremos reter por ora o ideal dos dois amigos, de se dedicar às ciências e à paixão do conhecimento. Nietzsche retoma o sonho de viajar a Paris - que terá nova •lt• rupção vigorosa, mas se tornará um pesadelo depois dos encontros e desencontros com Lou Salomé, em 1882, quando o duo de amj. gos se torna um trio (um triângulo quase amoroso), que se desfaz tragicamente nos meses seguintes. Não há dúvidas de que os meses de abril a junho de 188 2 fo. ram muito intensos para Nietzsche, Rée e Lou von Salomé. Nietzsche teve o primeiro encontro com Lou em Roma, no final de abril. Os meses seguintes foram marcados por muitos projetos, amizades, discussões, e por muita disposição de realizar novos modos de vida. Nessa época irrompe a paixão de Nietzsche por Lou, transformando-se logo em pedidos de casamento que foram recusados várias vezes por Lou, que permaneceu firme no ideal de amizade que a unia a Rée e a Nietzsche. A carta de Nietzsche a Paul Rée de 24 de maio de 1882 expressa bem sua disposição: "- Estive calado e ainda permanecerei assim - você sabe em relação a quê. É necessário. - Não se pode ser amigo de modo mais formidável do que agora somos, não é verdade? Meu velho Rée querido!" 36 No mesmo dia, ele escreve a Lou Salomé: Aqui em Naumburg estive até agora completamente calado em relação a ti. Assim fico mais independente e permaneço melhor a reu dispor. - Os rouxinóis cantam durante a noite toda em frente da minha janela. - Rée é, em todos os aspectos, um amigo melhor do que eu sou

várias pensões. Ele planejou uma viagem (que não se concretizou) p:ira América do Norte. Cf. H. Trcibcr, " Erl:iuterungcn" ... , p. 36, not:l 129· 36. Carta n Pnul Réc de 24 de maio de 1882, KSB 6, l94·

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e posso ser; presta bem atenção nessa diferença! - Quando estou completamente só, brado com frequência, com muita freq uência, teu nome para meu maior prazerP 7

N ietzsche repete essa declaração, de que Rée é um amigo melhor do que ele, também a Ida Overbeck. Não nos interessam aqui as desajeitadas declarações de amor de Nietzsche a Lou Salomé; e sim o que elas acarretaram para a amizade entre Nietzsche e Rée. Lembremos que, já no final de abril, o apa ixonado N ietzsche pede que Rée seja med iador do seu pedido de casamento a Salomé. Depois de ter feito pessoalmente uma nova proposta de casamento a Lou (no Luzerner Lõw engarten), Nietzsche pede ajuda também a Ida Overbeck (solicitando sigilo), com as seguintes palavras: - Como poderia eu temer o destino, se ele me fez deparar com a figura completamente inesperada de Lou? Atentai que Rée e eu estamos afeiçoados com os mesmos sentimentos pela corajosa e magnífica amiga - [...]. Falai com a Srta. Lou sobre mim com toda liberdade [...]; sabeis e ad ivinhais o que é mais necessário para mim, para atingir meu objetivo. -Sabeis também que não sou nenhum "homem de ação" e que lamentavelmente não coloco em prática minhas melhores intenções. Sou também, por causa do o bjetivo mencionado, um egoísta mau, mau 38 - e o amigo Rée é em todos os aspectos um amigo melhor do que eu (Lou não quer acreditar nisso )> 9 •

Nietzsche está ciente de que está colocando seus desejos, impulsos e sua paixão acima da amizade com Paul Rée, e parece não temer as consequências. O solitário de Sils-Maria fica doente nos dias que antecedem e que se seguem às declarações de amor a Lou. Quando o livro A Gaia Ciência fica pronto para publicação, em junho de 1882, Nietzsche está " meio morto" 40• Essa crise é bem di37. Carta a Lou von Salomé de 24 de maio de

1882, KSB 6.194s.

38. Nietzsche repete o adjetivo "mau" (base). 39. Carta a Ida Overbeck de 28 de maio de 1882., KSB 6 . 1 96. Conforme Nietzsche conta a seu "velho e querido amigo Rée", na carta de

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ferente das crises de saúde de r879, quando Nietzsche se considerava um "fugitivo errante" 4 '. A denominação fugitivus errans Pode ser atribuída também a Paul Rée, que, apesar das correspondênc· tas com sua mãe e do tempo que passou no latifúndio de seu irmão, f01. também um viandante, um "coração inquieto", sem propriamente ter encontrado um lar. Em 1885 Paul Rée publicou O Surgimento da Consciência e

A Ilusão da Liberdade da Vontade. Depois de novos fracassos na tentativa de defender a tese de habilitação para o ensino universitário (em 188 5-1886), Rée decide cursar medicina em Berlim, onde permanece de outubro de 1885 a abril de r888. Em seguida ele se muda para Munique, onde conclui o curso de medicina em março de 1890. Apesar das poucas informações disponíveis, é provável que Paul Rée tenha passado boa parte dos anos seguintes, de 1890 a 1900, na propriedade de seu irmão, trabalhando de modo altruísta como médico dos empregados do vasto latifúndio. Depois que seu irmão vendeu a propriedade, em 1900, ele se mudou para Celerina (Engandina, Suíça), cidade próxima a Sils-Maria, residindo no Hotel Misani, onde trabalhou como médico local, ainda de modo altruístaF. Morreu com 5 r anos, em 28 de outubro de 19or, numa caminhada costumeira pela encosta de Charnadüra, provavelmente de modo acidental4 3.

18 de junho de 1882 (Ksn 6, n. 242) . Rée estava com Lou em Stibbe. Assim como em várias outras vezes, ele não responde a essa carta de Nietzsche; é digno de nota que, apesar de estimar sobremaneira a amizade com Nietzsche, Rée não valorizava muito a escrita de cartas, nem sua datação e assinatura. 41. Em carta a Paul Rée do final de julho de J 879, Nietzsche assina a cor· respondência a seu amigo da seguinte forma: "Friedrich Nietzsche, outrora professor, agora fugitivus errans''. Paul Rée estava em viagem a Nassau, e Nietzsche passava por um período de graves adoecimentos. Cf. carta a Paul Rée do final de julho de 1879, KS B 5.431. 42. Ele já havia se hospedado várias vezes nesse hotel com Lou Salomé, entre 1883 e 1885. Cf. H. Treibcr, "Erliiuterungen" ..., p. 42. 43• Apesar das especulações de que Paul Rée poderia ter se suicidado, no "pro· tocolo oficial" suíço consta que a morte teria sido acidental: morte por afo·

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" Pois o único amor que perdura é o amor infeliz" , assim Rée se expressa no capítulo 7 desta o bra. Se a suposta amizade estelar de Rée e Nietzsche teve um fim trágico, e não perdurou (pelo m enos "nesta Terra" !), o amor infeliz (não correspondido) de Nietzsche por Salomé também se apagou aos poucos. Talvez Rée buscasse algum tipo de consolo no pessimismo schopenhaueriano, segundo o qual o amor nos dá poucas satisfações e muitos sofrimentos. No entanto, Nietzsche procurou ao longo de sua vida amizades que perdurassem, que fossem vivas, fortes, que suportassem até mesmo as tormentas da paixão. Ainda em 1883, ele reconhece em Rée a virtude da modéstia: " Rée sempre foi em relação a mim de uma modéstia comovedora, quero reconhecer isso expressamente a ele" 44 , Será que Nietzsche e Rée começaram a se distanciar um do outro antes mesmo de conhecerem Lou von Salomé? Essa suspeita é suscitada pela carta a Paul Rée do fin al de agosto de r88 r (n. 144)4 s, que Nietzsche escreve em Sils-Maria, semanas após ter tido a visão do eterno retorno. Melancólico, ele recusa o convite para encontrar-se com Rée: Ah, meu querido amigo Rée, permaneçamos juntos nas alturas da atitude corajosa, da visão clara, voemos juntamente pelo passado e pelo

gamento, após ter caído desmaiado (em consequência da queda no p recipício) no rio Jnn. Próximo do local da queda fora m encontrados um r elógio dourad o, um envelope do Berliner Zeit1111g e óculos de neve. Segundo H . Treiber, a morte de Paul Rée continua sendo um enigma. Acerca das possíveis ca usas da morre, dos documentos oficiais e das notícias veiculadas em Celerina, cf. H. Treiber, "Erliiuterungen" ..., pp. 42- 5 5. 44. Carta a H einrich Kõselitz de 21 de abril de 1883, KSB 6.366. A irmã de Nietzsche, Elisabeth, expressou de modo tenaz sua antipatia e desdém por Paul Rée em cartas, chamando-o de "astucioso", "desumano", pessoa com "caní ter fraco", remetendo também à opinião de R. Wagner, para quem Paul Rée era um "pérfido companheiro" (ei11e11 heimtiickischen Gesellen). Ferdinand Tonnies, que conviveu com Rée e Salomé, re:igiu a essas difamações da controvertida irmã de Nietzsche, expressando-se de modo muito positivo sobre a pesso