Dialética do Conhecimento - História da Dialética - Lógica Dialética [Tomo II, 5º ed.]


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Portuguese Pages 490 [423] Year 1969

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Table of contents :
Índice TOMO II:

HISTÓRIA DA DIALÉTICA
7. Gênese da Dialética 335
8. Dialética Materialista 503

LÓGICA DIALÉTICA
9. Método dialético 623
10. Teoria· dialética do Conhecimento 648
11. Programa lógico da Dialética 732
índice Analítico 795
índice de N ornes Próprios 821
Biografia do Autor 825
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Dialética do Conhecimento - História da Dialética - Lógica Dialética [Tomo II, 5º ed.]

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DIALÉTICA DO CONHECIMENTO

bó AUTOR: EVOLUÇÃO POUTICA DO BRASIL 2.• edição - 1947 - esgotado U.R.s.s .• UM NôVO MUNDO 2.• edição - 1935 - esgotado FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO (COLôNIA) B.• edição - 1965 HISTORIA ECONôMICA DO BRASIL 10.• edição - 1967 EVOLUÇÃO POLfTICA DO BRASIL E 6.• edição - 1965

OUTROS ESTUDOS

NOTAS INTRODUTõRIAS Â LõGICA DIAL:tTI-CA 3.ª edição - 1968 ESBOÇO DOS FUNDAMENTOS DA TEORIA ECONOMICA edição - 1966

4.•

O MUNDO DO SOCIALISMO edição - 1967

s·.•

A REVOLUÇÃO .BRASILEIRA -~-• edição - 1968

TRADUÇÕES: História Econílmlca do Braail espanhol, russo Evolução Política do Braail espanhol, inglês (parcial) Formação do Brasil Contemporâneo (Colílnla) inglês (The Colonial Background of Moderli Brazil) A Revolução_ Brasileira espanhol

1

brasiliense soe. AN.

EDITÔRA Rua Buão de ltapetinin11a, 93 SÃO PAUi.O -

BRASIL

12. 0 andar

CAIO PRADO JÚNIOR

DIALÉTICA DO CONHECIMENTO t.a edição 1052

TOMO II HISTORIA DA DIALÉTICA LÚGICA DIALÉTICA

5.a E D IÇA O

1 EDITõRA BRASILIENSE 1969

Revisão Ortográfica BENEDITA AGOSTINHO

ALVES

Capa de MANOEL FERNANDES FILHO

e VERA LúcrA DoMINGUEZ

HISTORIA DA DIALÉTICA

Gf:NESE DA DIALÉTICA RESTRINGIMO-Nos no capítulo anterior à interpretação direta da moderna elaboração científica e do instrumento de que ela se serviu, a Matemática, deixando num segundo plano as repercussões de ordem filosófica que ela comportou. Repercussões da maior importância porque retroagem sôbre seu ponto de partida, e vão influir de maneira considerável nó desenvolvimento da Ciência. Já vimos isso, sob um aspecto restrito, ao assinalar como o retardamento do progresso filosófico relativamente ao da Ciência acabou interferindo diretamente no progresso desta última com os embaraços que concepções anacrônicas opuseram à logificação físico-matemática. Completando agora nosso assunto, vamos em seguida nos ocupar do papel e da participação do· pensamento filosófico na elal:ioração da Ciência moderna; e em particular, daquele traço característico do seu pro~esso, de tão larga significação, e que foi a aplicação de um método relacional de pensamento desenvolvendo-se sob disfarce metafísico, e por isso com as deformações por êle produzidas. :Esse envolvimento metafísico ocorre sobretudq porque ao mesmo tempo que o pensamento relacionál ·metodicamente aplicado solapava de uma parte o edifício metafísico, e abria nêle as primeiras e profundas brechas, permitia-lhe de outro lado, e em virtude das limitações do método, reforçar-se noutros setores. Derivam tais limitações do ponto de vista restrito e · exclusivamente quantitativo em que se colocou a moderna Física; a saber, do fato de se cingir ao relacionamento das feições do Universo na base única da gradação das qualidades, e deixando estas últimas fora de seus objetos, segundo vimos Dialética do Conhecimento 335

Disfarce metafísico dos pro• cessos de elaboração cientÍ• fica

Limitações da concepção quantitativa

O desenvolvimento das Ciências Naturais e a

Metafísica

no capítulo anterior. Essa fôra, como tivemos ocasião de observar, a condição para a aplicação da Matemática e de seu formalismo, tal como se apresentavam e aliás ainda se apresentam na sua maior parte, à elaboração do conhecimento; mas ao mesmo tempo limitou o relacionamento a alguns aspectos restritos das feições universais, deixando em aberto o largo terreno extra-físico, isto é, não-quantitativo, em que o pensamento relacional não penetrará tão cedo. É daí que em boa parte virá a infecção metafísica que invadirá o domínio da Física, procurando enquadrá-la em suas concepções. Foco tão mais virulento e grave que êle é alimentado pelo forte desenvolvimento das Ciências naturais que a partir do séc. XVI e acompanhando o surto gera:l do pensamento moderno, começam a sair da longa estagnação em que se encontravam. Mas essa primeira fase de ressurgimento e restabelecimento do contacto longamente perdido ou quase perdido com a observação concreta e experimentação sistemàticamente empregadas, o que se propunha como tarefa imediata, como observa Engels, era "analisar a natureza em suas diferentes partes, repartir os diversos fenômenos e objetos naturais em classes determinadas, perscrutar a constituição interna dos corpos orgânicos segundo suas múltiplas formas anatômicas"; 219 proceder, em outras palavras, ao reconhecimento preliminar, discriminação e classificação das feições naturais, primeiro momento de todo processo cognitivo. E uma taf atitude em frente à Natureza levaria, como de fato levou, acrescenta Engels, "ao hábito de considerar os objetos e fenômenos da natureza isoladamente e fora de suas grandes conexões de conjunto", o que constitui porta aberta para as concepções da Metafísica, inspirada e calcada precisamente em tais procedimentos rudimentares de um conhecimento em formação. Essa observação de Engels é importante, porque mostra como e porque um setor do conhecimento que tão de perto e imediatamente diz respeito às feições do Universo, e que é a Ciência da Natureza, conservaria por tanto tempo e tão profundamente, a impregnação metafísica; e essa será uma das principais razões do caráter metafísico que assumirá o materialismo do século XVIII, que inspirando-se no empirismo, rebento direto do natu219 Fr. Engels. M. E. Dühring bouleverse la Science-Anti-Dühring). Trad. francesa de A. M. Bracke. Paris, 1931. Tomo I: Philosophie, pág. 9.

336 Caio Prado Júnior

rnlismo dos séculos XVI e XVII,.sofrerá como êste último n influência profunda das ciências naturais. O materialismo será por excelência uma "filosofia da natureza", designação aliás que muitas vêzes lhe será dada; e é clní que levará para a Física as concepções metafísicas rnn que se viu envolvido. Vejamos nos atos da moderna história da cultura as drcunstâncias em que isso se verifica. Para compreendê-los, é preciso antes lembrar que êles se desenvolvem 11 r,artir da situação objetiva que os modernos homens de dencia e pensamento encontram pela frente, e que é a cio completo domínio ideológico da Escolástica: é contra cista, portanto, que abrem luta; e é no terreno concreto dessa luta, e não por inspirações e iluminações misterioHl\S vindas não se sabe donde, que se caracterizarão os rumos que vai tomar a Filosofia moderna; 1!: tanto mais importante notá-lo, que certos aspectos que assume a uvolução filosófica se explicam em grande parte por essa oposição sistemática aos padrões dominantes de pensamento, e que acertada em seu ponto de partida, ultrapassa freqüentemente os limites em que se deveria conter, e com a aparência de combate ao adversário escolástico, vai paradoxalmente favorecer algumas posições filosóficas que êste último representava. 1!: assim que enquanto Descartes visava justo no coração da Escolástica e desmontava com seu método o pensamento metafísico que nela se abrigava, outra oposição, mais espetacular talvez, mas superficial atacava de preferência o que havia de mais aparente, mas nem por isso mais grave na filosofia e nos procedimentos da Escolástica, e que vinham a ser seus métodos de especulação abstrata e desligada dos fatos concretos. Essa especulação, embora t1fetivamente caracterizasse em geral a Escolástica na fase do completa degenerescência a que chega no alvoi,:ecer dos tempos modernos, não constituía o vício mais ·profundo e nuclear de sua filosofia, circunstância essa que já assinalamos no capítulo anterior. Exagerando-lhe o 11lcance, alguns de seus adversários esquecerão o que havia de mais profundo nessa filosofia e que deveria merecer o melhor de suas atenções: serão por isso levados por falsas pistas, e as conseqüências dêsse ato terão granôes t•onseqüências. A pura e vazia especulação da Escolástica se oporá, c•omo é sabido, o método experimental. Mas isso não ucmstituiu privilégio de nenhuma corrente moderna de Dialética do Conhecimento 337

Materialismo e Metafísica

Reação anties• colástica moderna

Escolástica e método experi• mental

Posição respec,, tiva de Bacon e Descartes em frente 'da Escolástica

Experiência e Pensamento

Subestimação do Pensamento pelo empirismo

pensamento, e caracterizará de um modo geral todo conhecimento e pensamento filosófico dêstes últimos três ou quatro séculos. Mas haverá quem se limite a isso, atendendo única e exclusivamente àquele aspecto particular da Escolástica, e fazendo disso o fundamento essencial de sua filosofia. Será essa precisamente a posição do citado empirismo, que inspirando-se sobretuâo nas Ciências naturais e derivando dos métodos nelas predominantemente utilizados o modêlo para sua filosofia, tem em Francis Bacon, como .se sabe, o primeiro e grande expoente e representante. Para se compreender a singularidade de tal. posição, compare-se Bacon a Descartes. :E:ste último assume, com relação à especulação escolástica, uma certa indiferença marcando-a antes com o ridículo que honrando-a com uma oposição a que não fazia jus porque sua esterelidade já se comprovara suficientemente; e reservará por isso o melhor de sua crítica àquilo que verdadeiramente constituía o cerne da Escolástica e tinha profundas raízes ainda bem implantadas no pensamento da época: a Lógica metafísica. Não opõe por isso, como os empiristas no conjunto de suas concepções, a experiência ao pensamento, e não subestima o papel dêste último na elaboração do conhecimento. O que Descartes combate na especulação escolástica é sobretudo o uso que a Escola faz da Razão, e não o pensamento em si. Bacon e os empiristas, pelo contrário, apegam-se únicamente à especulação, e não distinguindo nela suficientemente a forma abstrata e estéril que apresenta, do fato racional que embora mal empregado e deformado, ela exprime, exageram o alvo, e atingem o próprio pensamento e sua participação ativa na elaboração do conhecimento; participação essa que acabam assim inconscientemente por subestimar. É tal diferença entre o racionalismo cartesiano e o empirismo, muito mais profunda que à primeira vista parece, que fará com que enquanto o primeirp chega a um nôvo Método de pensamento que presidirá à constituição e desenvolvimento da Física moâerna, Bacon não irá além da sua indução, que ficará na maior parte restrita aos tratados de Lógica e aos debates da Filosofia, sem maior papel no progresso do conhecimento220. 220 Apressemo-nos em acrescentar, para evitar mal-entendidos, que isso não sig}!ifica a valorização da dedução à custa da indução, porque êsse dua'lismo dedução-indução, proposto pela Lógica corrente, não passa de mais uma das deformações metafísicas do

' Prado Júnior 338 Caio

Isso não exclui todavia o aspecto positivo do empirismo, que acentuando a origem experimental do conhecimento, atenuou a ênfase excessiva que Descartes acabará pondo nos procedimentos racionais, o que o fará degenerar no apriorismo idealista221• Descartes mais o c•mpirismo darão um Newton e a Ciência moderna; Dest•nrtes sem o empirismo, dará na estéril especulação idealista de que o rr6prio Descartes já é uma expressão no Vise-urso do Metodo; e de que Malebranche, o sucessor Imediato e mais autorizado dêsse cartesianismo deformndo e degenerado, é um representante bem típico. O c•mpirismo constituiu assim um freio oposto à inclinação degenerativa do racionalismo cartesiano; inclinação tanto mais acentuada que a abstrata e estéril especulação esfoto do conhecimento. A dedução não se opõe nem se emparelha 1\ Indução, porque enquanto aquela é unicamente um processo formal de explicitação conceptual que vimos anteriormente, e não gera por ísso conhecimentos novos, mas objetiva apenas exprimir o que já se encontra implícito na conceituação existente; a Indução ( tanto quanto se pode concluir dos largos e infindáveis debates travados _pelos lógicos em tômo do assunto), quando não c:onstitui uma dedução .disfarçada, não passa de designação inapropriada de um conjunto de procedimentos experimentais e de observação, em geral muito vagamente caracterizados. :E: nesse sentido nliás que aparece nos empiristas, os pais da moderna indução. - Note-se que é por uma falsa apreciação ainda hoje impregnada de prejuízos e prevenções do empirismo, que a experiência ou a Impropriamente chamada indução experimental se opõe à Metafísica ( donde a tendência em confundir a Metafísica com a posição idealista.) A Metafísica se opõe à Dialética; nos sécs. XVII e XVIII, ao Método cartesiano, primeiro e limitado esbôço da futura Dialética, 221 Interessante observar que foi êsse o aspecto da obra de Descartes que geralmente reteve mais a atenção de seus críticos " da história oficial da Filosofia; o que se verifica, entre outros Nlntomas mais aparentes, no relêvo dado ao Discurso do Método tlm prejuízo das Regras para a condução do espírito, que embora ronstituam o essencial da contribuição cartesiana. para o progresso do conhecimento e para a Física, é conservado num· se1:undo plano; e mesmo freqüentemente interpretado à luz do Dis1111.1·so e de outros refugos de Descartes. O verdadeiro c_artesianismo (, o das Regras, de que o Discurso, como já foi no~ado, não é N1.•não uma aeformação e frustra tentativa de enquadramento do método cartesiano na ortodoxia religiosa e filosófica da época. O 11111is grave dessa deformação do cartesianismo, de que o próprio Duscartes foi o primeiro responsável, resultou em considerar a fa. mosa sucessão de deduções a partir do "Eu penso, portanto existo'', l'Omo expressão do método .cartesiano, quando nada tem a ver 1•11111 êle. O método cartesiano, analisado no capítulo anterior, e 1111e serviu de base para as Ciências físico-matemáticas, não con111Hte na dedução, mas nas operações de relacionamento elabora1lorns da conceituação, e ,não explicitadoras dela, como a dedução. Dialética do Conhecimento 339

Aspecto positi• vo do empiris• mo

Deturpação do cartesianismo

Aspecto negativo do empirismo

Subestimação do Pensamento no materialis• mo

Oposição materialismo• idealismo

colástica ainda conservará durante muito tempo fortes raízes. Nem mesmo Descartes, como notamos, pôde livrar-se dela; e seriam necessários séculos de formação e educação científicas para removê-Ia do caminho da Ciência. Mas essa grande contribuição· do empirismo terá também seus aspectos negativos, porque favorecendo a tendência que ela implica de subestimação do pensamento na elaboração do conhecimento, terá como conseqüência um exagêro no sentido contrário e resultados precisamente opostos àqueles que visava. Isso se verifiêará quando o materialismo moderno, que se enxerta no empirismo dando-lhe amplas perspectivas que dantes não possuía,222 levará as concepções empiristas para o terreno da interpretação geral do Universo, quando então se verificará nitidamente o seu grave papel deformador. E preciso lembrar que o materialismo tem pela frente um adversário poderoso, o idealismo, que se ampara na ortodoxia fideísta. Endossando as teses fundamentais do empirismo que com sua insistência na experimentação e nos dados dos sentidos vinha tão bem ao encontro de suas concepções, os materialistas julgarão, por uma falsa perspectiva cujo alcance não podiam ainda compreender, que exagerando aquelas teses ao máximo e eltminando com isso o quanto possível o f>apel do Eensamento, refutariam o .idealismo que pretenâia tirar âo fato mental_ das idéias a maior parte se não a totalidade do conhecimento, fazendo assim abstração do mundo material e concreto. Dêsse modo, enquanto o idealismo se dirige no sentido da eliminação de um dos têrmos do processo do conhecimento, que é o Obfetioo,223 o materialismo, colocando-se por oposição no extremo oposto, marcha para a supressão do outro têrmo: o Subjetivo. E assim, em conjunto, acentua-se o dualismo que Descartes deixara em germe na sua filosofia, e que presidirá ao desenvolvimento de tôda Filosofia moderna; e em última instância, à eclosão da Dialética materialista. Logo veremos como aquela posição extremada do materialismo o aproximará inconscientemente, no pri222 O empirismo propriamente constitui apenas uma posição em frente ao problema específico do conhecimento e dos métodos de elaboração científica; enquanto o materialismo representa uma concepção filosófica geral. 22s O que o solipsismo, de que o idealismo está sempre· tão próximo, realiza inteiramente, e tem no séc. XVII como representante o médico francês Claude Brunet.

340 Caio Prado Júnior

meiro momento, da Metafísica. Suas premissas empiristas o levarão a considerar o conhecimento como registro eshitico, ou simples projeção da Realidade exterior na mente do homem; não passando o pensamento do instmmento pelo qual se realiza aquêle registro, instrumental passivo, em contraste com as sensações derivadas do mundo exterior e que constituiriam o elemento verdadeiramente ativo e propulsionador da cognição. O conhecimento se faz assim mero colecionamento de sensações, não contribuindo para êle o pensamento e suas operações, c,m princípio, senão com uma seleção, discriminação, classificação e combinação de sensações. Tal posição leva insensivelmente para esta forma Nntil do subjetivismo idealista, que é o sensualismo enpriamente, isto é, transformação no sentido do "nôvo"; mna apenas uma simples sucessão de fases ou estados 100fais dominados pela razão ou sem-razão; ou nos guais predomina uma sôbre outra. A História do racionalísmo fra num círculo predeterminado desde sempre; e já se uomparou ao Universo de Newton e à ação das leis m~cânfoas que regulam de uma vez por tôdas, e segundo um plano preestabelecido e eterno, a marcha de tôdas as

oot,as.

A isso se opõe a historiografia alemã, que mesmo quando não exclui completamente o d,eterminismo racio-

noluta (o que não deixa no entretanto muitas vêzes de ocorrer), esforça-se pelo menos em superar o "duro e 11111

Ob. cit., 252. Dialética do .Conhecimento 409

A historiogra, fia alemã

mecânico dualismo entre a razão e o entendimento de uma parte, e os impulsos, as inclinações e paixões de outra; e em compreender a unidade interna e· totalidade do homem." A sentimentalidade não seria mais o irracional em oposição frontal e irredutível à Razão; mas, acrescenta Meinecke de quem é o texto acima, "haveria de conquistar seu lugar junto ao pensamento, e o homem converter-se em sentimental num ambiente de racionalidade orgulhoso de sua racionalidade"298• ll: nessa tecla que batem os Mosers, Herders e Lessings. Dessa posição, hostil em princípio ao racionalismo, resultam os traços mais carcterísticos da interpretação que o pensamento alemão dá à história, e que iria influir tão profundamente no desenvolvimento do Conhecimento do Homem e na filosofia de Hegel em particular. Em primeiro lugar porque nela se vai destacar, em contraposição ao racionalismo, o papel ativo do Homem concreto e real, e não apenas instrumento de uma Razão abstrata e impessoal, que é a Razão do racionalismo; o papel do indivíduo humano em sua integridade, com a sua inteligência e razão também, por certo, mas uma razão humana que faz corpo com os sentimentos e as paixões que o racionalismo despreza e joga para o domínio do irracional29s.A. São assim fôrças humanas concretas, a própria ação e os impulsos do homem - em contraste com uma Razão abstrata e impessoal - que, para os intérpretes alemães, animam a história e conauzem os fatos da vida coletiva dos homens. A história não é mais que a experiBncia do homem; e Lessing a definirá como educação da raça humana. Fat&res da His- Vista sob êsse prisma, a história não se subordina ou tória condiciona, como pretende o racionalismo, a normas, leis ou princípios abstratos, nem se regula por planos racionais exteriores a ela e aos indivíduos que nela atuam; e para ses Oh. cit., 261. 298-A A reação contra o racionalismo explica certos exageros de exacerbação sentimental que se observam no pensamento alemão e que deram, entre outros, no movimento sobretudo literário do Sturm und Drang e mais tarde no Romantismo. Mas não é êsse o aspecto mais importante daquele pensamento, embora tivesse chamado mais a atenção em virtude dos derivativos a que levou no terreno da literatura. Meinecke, que temos citado pela clareza de sua síntese sôbre o assunto, também. se deixa levar por essa impressão, e acentua indevidamente a valorização sentimental do homem que caracteriza o pensamento alemão do séc. XVIII, em prejuízo do papel que o anti-racionalismo teve na interpretação histórica, onde suas conseqüências são muito mais profundas, pois vão repercutir diretamente no terreno da Filosofia,

410 Caio Prado ](mio,

explicá-la e a interpretar, há de se procurar a sua "iina11(\ncia", isto é, a história dentro da própria história, a 111111 determinação por ela mesma, isto é, a explicação e Interpretação dos fatos pelo próprio conteúdo dêles. O que os historiadores alemães objetivam em sua análise é rtivclar as fôrças interiores que brotam do próprio seio da história e que a iinpelem para frente. Herder propõe o problema nos seguintes têrmos: " ... mostrar como as mais tlfspares cenas [Iiistóricas] se relacionam umas com outras, 11u1·gem umas dás outras, desembocam umas nas outras, 11tmdo em particular e por si somente momentos, condi\'Õtls da progressão"299 • E interpretando a Idade-Média, Uvrder, em oposição ao racionalismo que nela via o mais caracterizado irracional ( pois não era a Idadti-M édia a encarnação das sobrevivências feudais que 1tlnda se erguiam como obstáculo em frente da orOde preencher essa função senão na medida om que ~le se f~ bàSe. O imediato abstrato continua certamente o que vem em primeiro lugar; mas, na qualidade dêste abstrato, 6lo é antes um mediato, de gue é preciso ainda procurar a base ló se quer concebê-lo segundo sua verdade. Essa base deve ser um imediato, mas de tal modo que sua imediatidade seja resultado dn supressão da mediatização". Science de la Logique, tradução hnncesa de S. /ankélévitch. Paris, 1949, II, 243. - Mas essa 1olução de Hege não nos interessa por enquanto, e nem podia ser do Kant, porque implica a derrocada .da Metafísica. E isso já ol1Norvamos que não se deu ainda no tempo de Kant.

1121

Oh. cit., I, 155. Dialé~a do Conhecimento 431

Dedução das categorias

O subjetivismo implícito em Kant

O subjetivismo implícito em Kant

mina portanto minha Razão, meu entendimento e tudo que está nêle, as categorias inclusive. O ato de pensar, o Ato da Razão, será assim o ponto de partida das categorias. Mas são as categorias que, como vimos, tornam o mundo tal qual êle se apresenta a nós; é pois o Ato da Razão, o Pensamento em suma, que realiza êsse passe de mágica. Daí para afirmar redondamente que é aquêle Ato de Pensar que gera o mundo e tudo que nêle existe, é um passo que se transyõe fàcihnente: basta esquecer a coisa-em-si incognoscíve e que nada significa. Esquecimento aliás perfeitamente razoável, porque o que é incognoscível não pode ser pensado, não pode ser objeto do Ato da Razão, não é conhecimento {pois êsse brota justamente do Ato da Razão.) Na realidade não existe, pelo menos ;,ara nós e nosso pensamento: o mundo que conhecemos e produto da Razão, do pensamento. Subjetivismo Fichte assumirá a responsabilidade de quase tôdas de Fichte essas conseqüências implícitas no sistema kantiano. Elas podiam ser desastrosas, como se viu, e o próprio Fichte vacilou em certos pontos; mas aquêle ousado passo tornava pelo menos possível romper as barreiras que seccionavam a Razão kantiana nos compartimentos estanques das categorias. O pensamento e o conhecimento ganhavam com isso uma fluidez que em Kant ficara a meio caminho; e vislumbrava-se com isso um modo ou método de considerar as coisas do pensamento como interligadas, dependentes umas das. outras e constituindo um conjunto ou sistema conceptual completo. Essa idéia será, como veremos, fecunda; mas só como método, porque as bases em que assentava e o ponto de partida que adotava não podiam deixar de levantar protestos. O subjetivismo extremado de Fichte tinha de repugnar se não Kant filósofo, certamente Kant cientista. Aliás a projeção de Fichte e do seu descabelado idealismo só se fêz possível porque dava solução satisfatória ao outro problema pendente; a Harmonização saber, o da harmonização do determinismo com a liberdo determinis- dade do homem, a que Kant não respondera convenientemo com a li- mente com o seu dualismo da Razão Pura e da Razão berdade Prática. Uma vez que da Razão pensante decorria o mundo tal como se apresenta, inclusive o determinismo que a ciência nêle descobre e que lhe serve de base, e decorre também a ação humana que a mesma Razão provoca, não havia mais dificuldades: tudo cofluía harmoniosamente no Eu do pensamento. 432 Caio Prado Júnior

Sendo assim, tôda uma geração de alemães aplaudirá Fichte. O que os preocupava era sobretudo ressalvar sua liberdade de pequeno-burgueses filisteus contra um determinismo histórico que fazia arder as barbas do vizinho ( a França revolucionária.) Punham por isso as suas de môlho; mesmo que com isso comprometessem um pouco a estabilidade e segurança do edifício da Ciência, com ~ue aliás não se preocupavam demasiado como retardatarios que eram nesse terreno. Mas doutro lado havia também aquêles cujo espírito mais arejado, e alarmados embora com o que consideravam os excessos da Revolução Francesa - sobretudo com as tropas de Napoleão - não viam tudo azul na pátria dos principotes ulemães. Do seu número sairão aquêles que darão o grito de reforma; pelo menos o de uma Monarquia constitucional na Alemanha unida. Mas nessa altura, quem fnla em reforma, não rejeitará mais o determinismo, porque precisa dêle, e não o subordinará a um Eu peruante que podia muito bem ser o dos tiranetes alemães. Além disso, no plano geral da cultura européia, Fichte representava uma aberração: o seu subjetivismo não podia ombrear com a Ciência, e desafiá-la como estava fazendo. A posição mais moderada de Kant era preferível. Mas Kant deixara o seu sistema sem fecho, e o fecho que lhe quisera dar Fichte degenerara naquilo que vimos. ~ste último contudo, aproveitando-se da "dedução das cntegorias" de Kant, apontara o caminho do método de rledução a que nos referimos acima e que nas mãos de c}uem não se deixasse cegar pelas concepções da Metal' sica, daria afinal com a saída do assunto. Este será Hegel. Não exageremos contudo. O método de Fichte, tanto cmno o esquema da dedução de categorias de Kant que o inpirara, não serão para Hegel muito mais que lembretes, sugestões aproveitáveis para quem já estava com o pensamento noutro lugar. Qual era êsse lugar e como dwgou Hegel a êle? É isso que vamos agora investigar. Vojamos em primeiro lugar a crítica que Hegel faz ao tratamento que Kant dá às suas categorias: 328 o que r,Jns [as categorias] são em si, fora de suas relações com g cu, igual para tôdas; a delimitação de cada uma com n2s Que Hegel filósofo parte de Kant, é êle mesmo quem o f!ll11fossa: "A filosofia de Kant forma a base e o ;ronto de partida 1111 filosofia alemã moderna"; acrescentando que 'as censuras que potlmn ser dirigidas não diminuem em nada seus méritos." Science 1111 Ir, Logique, cit., I, 49, nota 1.

Dialética do Conhecimento 433

Fôrças reformadoras na Alemanha

Kant, Fichte e Hegel

Dedução kan• tiana e crítica de Hegel

relação às demais e suas relações recíprocas - nada disso foi objeto de um exame, de uma pesquisa"329 • Hegel tocava com essa crítica na própria ferida que Kant deixara aberta. Com conhecimento perfeito de causa e consciência clara da matéria, Hegel apontava o fracasso essencial de seu mestre: êle não fôra capaz de relacionar suas categorias, e as deixara com a rigidez com que as pusera no mundo. Mas Hegel mostra-se injusto, porque não era exato que Kant não tivesse examinado e pesquisado aquelas refações que diz não encontrar no tratamento que o filósofo de Conisberga (hoje seria de Kaliningrado) deu às categorias. É certo que êste último não tinha uma conciência clara do problema; não podia nem ao menos imaginar, imbuído como estava pela Metafísica, que existisse; e o que êle fazia era simplesmente procurar, com seu instinto educado pela Ciência moderna, a explicação de um tipo de pensamento que se chocava com a concepção metafísica fundamental mas insuspeitada que era a sua. Talvez por isso tenha Hegel se enganado: nunca Kant afirmou expressa e precisamente o que estava por detrás de seu pensamento; e acabamos de ver porquê. E se o descobrimos hoje com tamanha facilidade, é precisamente porque Hegel veio depois de Kant. Mas que marchava por êsse caminho, não pode haver Harmonização dúvidas. Todo seu sistema tão laboriosamente arquitedo mundo metado, não tinha outro objetivo, em essência, que harmotafísico e do nizar um mundo concebido metafl.sicamente como constipensamento tuído de um aglomerado desconexo de "coisas" estanques, científico como o tipo de pensamento que via empregado na elaboração da Ciência e que êle mesmo nela empregava. Digamos aliás de passagem que Hegel, cujas raízes também são de um metafísico, somente se livrará da Metafísica e realizará aquela harmonia procurada antes dêle por Kant, suprimindo o mundo real e concreto que faz brotar no seu sistema de um processo que não é preciso de nada; de um puro e abstrato raciocínio lógfoo. Eliminava assim aquêle mundo concreto que se mostrava tão incômodo porque sua fragmentação em "coisas" o tornava rebelde à apreensão do pensamento científico. O estratagema hegeliano reduzia-se em sacrificá-lo em holocausto a êste último. Nesse sentido, como se vê, é ainda como metafísico que Hegel pensa; e usando de sua linguagem, poderíamos dizer que êle negou a Metafísica, afirmando-a. 329

Science de la Logique, 1, 50.

434 Caio Prado Júnior

Mas voltemos a Kant. Até as categorias, o esfôrço semi-inconsciente dêle de fundamentar o tipo de pensamento relacional da Ciência moderna foi mais ou menos bem sucedido. Propôs-se todavia nessa altura a tarefa de ligar, unificar as categorias. É: então que Kant fracassa, porque mais uma vez tropeça na sua concepção metafísica, e dessa vez eara não mais se levantar. É: que procurou tais ligações como que no exterior das categorias, postulando de saída sua rigidez e auto-suficiência, sem vislumbrar o que elas realmente eram: frutos umas das outras, frutos e sementes ao mesmo tempo, cada uma de tôdas a:s demais; tôdas de cada uma delas; sem atinar que não podiam ser consideradas isoludamente e que formavam em conjunto um sistema ( Hegel dirá expressamente, logo em seguida ao texto citado ncima, que o que se deve objetivar no tratamento do assunto são as categorias constituídas em sistema,) Fichte, que naquela altura deu a mão a Kant ( mão aliás que êste energicamente recusou com o empréstimo financeiro que Fichte lhe solicitara ... ), descambou para o subjetivismo, comprometendo o edifício científico por outro de seus pilares. O que estava mal proposto, já o sabemos agora, uram as bases do sistema; mais que isso, a própria concepção geral de que era fruto: o tipo metafísico de r>ensamento. Hegel vai inicialmente pelo mesmo caminho que Kant: esclarecimento, explicação, justificação do relacionamento científico. Nisso é um discípulo e continuador fiel daquele que fôra "a base e ponto de partida" .de sua filosofia. Mas com uma diferença: Hegel logo se torna plenamente consciente de um problema fundamental que para Kant não passara de uma dificuldade incidente a ser resolvida. A época de ambos era diferente; os indivíduos por isso também. É: precisamente na época de Kant - que publica a Dissertação880 com que inaugura a fase Crítica de sua filosofia precisamente no ano do nascimento de Hegel, 1770 -, e com a contribuição aliás decisiva do próprio Kant, que o problema de um nôvo tipo de pensamento diferente do tradicional começa n germinar no terreno fecundo de um ambiente histórico agitado politicamente. e teatro de intensa elaboração científica. Vimos acima a relação entre essas duas aso Trata-se da dissertação latina Sóbre a forma e os prine,'Ípios do mundo sensível e do mundo inteligível.

Dialética do Conhecimento 435

Ligação exterior das cate• gorias em Kant

O sistema das categorias

Contraste de Hegel e Kant

ordens de fatos; e em particular as relações entre a ' política e o pensamento filosófico através do problema ao Conhecimento do Homem. Hegel encontrará assim uma planta já brotada onde Kant podia apenas suspeitar de uma semente cuja forma futura não lhe era dado, ainda conhecer, e que se limitará por isso a cercar de bom adubo e regar copiosamente. Pôde assim Hegel, ao contrário de seu mestre, propor o problema em têrmos claros e precisos. E isso já era meio caminho andado para a solução. Além disso, Hegel encontra já elaborado, ou pelo menos em adiantado estado de elaboração, o historicismo alemão; e finalmente pôde acompanhar direta e pessoalmente essa história em ação numa das fases mais dramáticas e de maior concentração de fatos no tempo, que a humanidade jamais conhecera. Enquanto do seu lado o eremita de Conisberga experimentara apenas a austeridade de uma Universidade de província e longe de qualquer ruído. Tudo isso, e certamente outras circunstâncias mais terão contribuído para fazer de Kant um metafísico avançado e coveiro que abre a cova de sua Metafísica; inconscientemente embora, e pensando mesmo que a estava consolidando com uma aliança de bons vizinhos com a Ciência em crescimento e ameaçadora; e fazer de Hegel doutro lado o coveiro que põe conscientemente a terra sôbre aquela Metafísica que a mesma Ciência matara. A solução he• O modo pelo qual Hegel aborda o problema que geliana está na Kant ensaiara resolver com sua tentativa fadada ao fraHistória casso de harmonizar a concepção metafísica com o pensamento científico,831 inspira-se claramente na visão historicista do mundo que constitui o fundo do pensamento hegeliano. A "deóução das categorias " de Kant, realizada com sua "dedução da representação", faz-se em Hegel hist6ria332 • Fichte, apesar do grande passo que deu 331 Já notamos que não há de buscar isso nos textos expressos de Kant, mas no que se abri&ª atrás dêles, pois Kant nem ao menos suspeitava que fôsse um 'metafísico" na maneira de pensar, ou que houvesse mesmo um tipo metafísico de pensamento. O problema que êle investiga estava proposto pelo plano em que se encontrava o desenvolvimento cultural da humanidade, e por qualquer lado que se abordassem os assuntos na ordem do dia, êles iriam dar, nas mãos de um analista profundo é penetrante, naquele problema. :8 o que ocorreu com Kant e com os demais filósofos da época, Hegel inclusive. 832 Fichte pensava fazer de sua "dedução" uma "história pragmática do espírito· humano" ( W issenschaftslehre.) Mas f.recisamente porque não tem aquêle "instinto histórico" de Bege , não 436 Caio Prado Júnior

além de Kant nesse capítulo que nos interessa aqui diretamente, ainda é um metafísico, e não consegue superar a sua Metafísica. Daí porque deu no -subjetivismo, que é a conseqüência última e necessária de todo racionalismo quando abordado metaflsicamente. Ainda voltaremos adiante sôbre esta questão, mas será interessante notar desde logo como o subjetivismo fichtiano deriva da base metafísica em que êle coloca seu racionalismo. '.e aliás o que também ocorre em Kant, que somente não chegou até nquêle subjetivismo por considerações estranhas ao ass,mto, como vimos acima: a sua sólida formação científica. O Eu ( o "primeiro princípio" do método de Fichte que comanda a sua "dedução" e constitui seu ponto de purtida) é uma entidade metafísica, que "compreende" ou ungloba o Conhecimento ( ou nêle se encarna); Conhecimento êste que êle revela ou exprime através do seu Ato de Razão. Fichte pressupõe a Razão que se conhece, ou pura falar a linguagem filosófica da época, que é o saber puro absoluto ou o saber de si filos6fico; e dessa Razão t)cmhecedora inicial vai sair todo Conhecimento. :e êste cm suma o sistema de Fichte que êle apresenta na sua obra central e máxima, a Wissenscha~slehre. Traduzido em têrmos vulgares e mais acessíveis, o Eu de Fichte ó na realidade o homem culto, o filósofo que "deduz" n realidade ou verdade - para a Metafísica êsses dois têrmos se equivalem - de seu "saber filosófico." ( O que de fato não constitui senão a exposição do conhecimento ou conceituação existente nas suas conexões lógicas. ) Para obviar a êsse subjetivismo, é preciso abordar o racionalismo de outra maneira não metafísica. '.e o que fará Hegel. Hegel, racionalista embora, não parte da Razão. Se para Fichte, como para Kant, a Filosofia tem a Razão ( o eu penso de Kant) e seu Saber Absoluto como co~ço, para Hegel o problema essencial consiste precisamente cm descobrir como se constituiu o Saber Absoluto, o Saber filosófico333• :Esse "racionalismo genético" é a chega a resultado satisfatório. Essa é pelo menos uma das circunstll.ncias que contribuem para colocar Fichte e Hegel, nesse assunto, cm pólos tão distantes. asa Daí a importância que êsse problema do "comêço adquire Eara Hegel". "Se se quer ir ao fundo das coisas, é preciso antes ae tudo procurar o comêço, como base que deve suportar todo o resto, e não ir adiante, antes de se ter assegurado da solidez

Dia'lética do Conhecimento 437

Posição metafí. sica do proble• ma do Conhe• cimento

Hegel procura a gênese da Razão

contribuição fundamental de Hegel para a. Filosofia; dela deriva, direta ou indiretamente, todo seu sistema. E que sua intuição de historiador tenha tido parte apreciável nessa concepção, é o que nos parece fora ôe dúviôa. Mas seja como fôr, o 9-ue Hegel vai de início procurar é a origem da Consciencia (conhecimento) e seu desenvolvimento e transformação através de suas "experiências", até alcançar o Saber Absoluto. Não importa que com o seu idealismo, e seu linguajar confuso,384 Hegel ttinha projetado no primeiro plano uma "consciência" humanizada, de carne e osso que se manifesta e agita, sente, sofre e goza como um ser humano: a transposição em têrmos concretos é fácil pois é só procurar atrás daquela consciência o seu suporte real que é o Homem; e atrás da experiência da consciência hegeliana, a experiência verdadeira e concreta dêsse Homem: sua história real. Teremos então o verdadeiro alcance do pensamento de O fundo do Hegel: a concepção do Conhecimento humano, da Culpensamento de tura, da Ciência, num perpétuo "devenir", formando-se e Hegel se constituindo através da história por obra da inteligência do Homem e condicionada pelas "experiências", pela vida prática dêste último. A Ilu~tração ( a filosofia racionalista do séc. XVIII) já refere, aparentemente, qualquer coisa de semelhante a isso, e já considera a história como um ascenso cultural do Homem. É conhecida, entre outras, a concepção de Voltaire de uma passagem gradual do instinto à perfeição, através das etapas da razão começada até chegar dessa base", Science de la Logique, I, 24. Hegel escreve isso no Prefácio da segunda edição de sua L6gica, cujo primeiro capítulo ( depois da Introdução) se ocupa precisamente do assunto e se intitula Qual deve ser o ponto âe partida da Ci~ncia? Do ponto de vista metafísico, a Razão, considerada como uma "entidade" absoluta existente por si e livre de quaisquer contingências ( isto é, dada desde logo na sua integridade), já contém o Saber filosófico que constitui _precisamente sua substância. 334 O estilo obscuro de Hegel se deve em grande parte, se não na maior, ao fato de êle exprimir seu pensamento antimetafísico com uma linguagem constituída em geral pela Metafísica e para seus fins. Ainda hoje se sofre consideràvelmente de tôdas as restrições e confusões lingüísticas herda~as de um passado Dialética e lin- metafísico em que se constitui a linguagem que ainda somos obriguagem meta- gados a empregar na Filosofia, que é obrigada a se contentar com uma forma de expressão obsoleta e inadequada a_pesar das contrifísica buições trazidas para sua renovação desde Hegel - e por Hegel próprio em particular. As dificuldades ainda são maiores, está claro, quando se emprega uma língua como a portuguêsa que não evoluiu da Escolástica para cá.

438 Caio Prado Júnior

à razão cultivada. Mas a história propriamente não entra Interpretação em nada nessa evolução ou transformação. Para Voltaire racionalista na e a generalidade dos seus colegas racionalistas, a história História não faz mais que realizar essas etapas ou fases 335 como realizaria um plano ou ordem racional exterior à história e impondo-se ( ou não se impondo, como nos mais céticos) a ela. Tanto isso é exato que sem maiores inconvenientes para o conjunto e essencial das concepções da Ilustração, foi possível a Rosseau transferir a Oraem Racional ara o homem primitivo, e fazer dela uma Ordem Natura. A "experiência" humana, que é propriamente a história ( e que em Hegel, embora sob o nome de "experiência da consciência", é essencial e única), torna-se na Ilustração um acidente, uma sucessão de circunstâncias mais ou menos felizes ou infelizes, próprias ou im:eróprias para a realização ou manifestação da racionalidaae. Na realidade, a posição em que se colocam os historiadores do racionalismo em fase da História é invertida: consideram-na da frente para trás; têm como ponto de referência a sua época ( ou a que virá logo em seguida, que já percebem e almejam), e a postulam como padrão ou resultado para que tende ou deve tender todo o passado. Partem com seu pensamento de um estado ou situação posterior ( que para êles é inconscientemente a burguesa) para pesquisarem suas "origens" nas situações anteriores. Julgam estar acompanhando o desenvolvimento da história, mas na realidade seu pensamento está sempre indo de diante para trás, ou para procurar no passado o "início" do presente, ou para "julgá-lo" e o aferir pelos va16res atuais 836 • Isso para aquêles que são mais "evolutivos" como por exemplo Condorcet na sua teoria do progresso. Porque outros não vêem na história mais que

1

335 Dir-se-á que em Hegel a história também "realiza" as fnses da Consciência; mas Hegel é idealista, e fora da sua Consdência, ou da sua evolução não há nada. Voltaire e seus colegas Nito materialistas, e distinguem a Razão, o Conhecimento, elo Homem concreto e de sua História. O que em Hegel portanto é mna auto-história da Consciência, é nos racionalistas uma história vomandada por um elemento exterior a ela e que é a Razão. 836 Essa maneira de ver a história atinge seu climax nos historiadores burgueses de hoje, com uma diferença capital: os rncionalistas do séc. XVIII eram pelo menos revolucionários, e olhavam para o futuro, sendo por isso fecundos; enquanto os historiadores de hoje vêem o ideal e. fim de tudo, a forma defit1itiva, na sociedade atual de que a história passada não é senão uma longa preparação.

Dialética do Conhecimento 439

Concepção ra• cionalista do Conhecimento

Concepção hegeliana do Conhecimento

uma planície monótona e parada em que se levantam algumas elevações de racionalidade, e se marcam depressões de irracionaHdade. Como se vê, apesar de certa semelhança exterior ( e não há dúvida que a historiografia da Ilustração influiu em Hegel, pois contrabalançou nêle o "irracionalismo" latente no hlstoricismo alemão), a concepção relativa ao desenvolvimento do conhecimento é bem diversa da da historiografia do racionalismo. E não só da historiografia, mas, ainda mais profundamente, da própria concepção racionalista em geral do Conhecimento, e que podemos ainda hoje avaliar muito bem nas fortes sobrevivências que dela se conservam no pensamento atual; e que se passam tantas vêzes desapercebidas, é precisamente porque ainda se emaízam tão profundamente "o que é muito conhecido não se conhece", dizia Hegel com razão 837• Segundo êste modo de ver, o conhecimento é como que uma "entidade", um "quê" que existe prefixado e oculto antes de ser descoberto, cabendo à ciência desvendá-lo. A própria linguagem correntemente empregada revela essa maneira de ver. Dir-se-á assim que Newton revelou as leis da dinâmica, como se essas leis já existissem antes dêle à espera do gênio que as formularia 338 • A palavra "descobrir", também empregada na ocorrência, é igualmente sintomática: insinua que certo conhecimento teve sua "cobertura" arrancada, isto é, que preexistia oculta debaixo de tal cobertura. A êsse modo de ver, a concepção hegeliana opõe o de um conhecimento em elaboração permanente; um conhecimento que é "construído", ,que sai do nada e aos poucos se vai constituindo. A diferença é considerável, e um pouco de reflexão atenta ( indispensável no caso porque estamos ainda hoje tão imbuídos daquela primeira concepção, que temos a maior dificuldade em isolá-la a fim de a notar) o mostra claramente839. 837 La Phénoménolofiie de l'Esprit, cit, I, 28. O texto completo de Hegel é o seguinte: O que é bem-conhecido em geral, justamente forque é bem conhecido, não é conhecido." 83 Note-se que o que existia antes de Newton eram os fatos e seu processamento que as leis vieram traduzir no pensamento humano, isto é, exprimir conceptualmente, o que é outra coisa diferente daqueles fatos. sse A concepção vulgar relativamente à formação do indivíduo humano é que êle vai no curso de sua infância adquirindo razão, como se esta fôsse algo de estranho a êle e sua evolução, e de que a criança se apossasse na medida do seu desenvolvimento.

440 Caio Prado lúnlor

Não é difícil descobrir na concepção corrente que se opõe à de Hegel, o ponto de vista racionalista metafísico de Kant, e mesmo o subjetivismo de Fichte. J;: sempre a concepção de uma Razão que se propõe em primeiro lugar, e de onde sai ou por onde se afere o Conhecimento. Daí a especificidade da posição hegeliana que nntes de propor a Razão, investiga-lhe a origem e história. O próprio materialismo metafísico acaba dando nnquela concepção, que o leva àquilo que precisamente combate: o iaealismo. Donde suas incoerências tão exploradas pelos adversários, e a dificuldade gue o materialista Diderot encontrava para refutar o idealismo. J;: que nas suas últimas conseqüências, o seu materialismo ln dar no idealismo. Aliás já foi notado anteriormente cp1e a Metafísica leva necessàriamente ao idealismo; e o mo.terialismo metafísico é pura incoerência. Sobretudo na Nua forma racionalista, porque racionalismo Metafísica idealismo e sub;etivismo. Não há por onde escapar. Mas isso somente se podia perceber depois de Hegel; a foi certamente uma das principais e imediatas razões porque Hegel viu que o racionalismo considerado metafisicamente dava no subjetivismo, que largou o lastro metafísico que lhe vinha no sangue. Para se apanhar o compreender bem a posição de Hegel em frente à história do conhecimento, e sua diferença com relação à do rncionalismo metafísico, deve-se considerar, num e noutro caso, a situação em que se coloca o filósofo ( ou historJndor.) O Racionalista intervém na consideração da marcha dos acontecimentos com sua razão ( que para êle 6 como a Razão absoluta, isto é, igual para todos os homens de todos os tempos, de que êle se infundiu) para julgar tais fatos e atribuir a cada qual um certo pêso uspecífico de racionalidade ou fusteza,; e essa consideraçlfo que faz lhe serve para explicar porque o fato em questão sucedeu desta ou daquela forma. No caso do

=

Racionalismo metafísico e dialético

+

Apossamento que segundo a concepção clássica e ortodoxa · ( que ulnda é a da moral cristã) se realiza bruscamente na idade da razão: sete anos, Aliás naquela moral ( como em outras concepções 6tlcas primitivas) a separação entre o indivíduo concreto e sua razão é feita expressamente com a noção de alma ( sede da Razão distinta do corpo. - Note-se que Conhecimento e Razão são para Ho.e;el - e são de fato - momentos apenas de um mesmo processo: n Razão se forma pelo Conhecimento; e êste pela Razão, numa nltemância que é antes uma simultaneidade, A Razão é como que a forma do conteúdo Conhecimento; e forma e conteúdo, aqui como sempre, se condicionam reciprocamente.

Dialética do Conheclmento 441

Posição do racionalismo em frente dos fatos históricos

Posição de He- Conhecimento propriamente, rotula-o sempre de certo ou gel em frente errado, ou de mais ou menos acertado. Em Hegel, a coisa da Historia se apresenta de maneira inteiramente diversa: o filósofo

Gênese da Razão e do Co• nhecimento

Processo de re• lacionamento e sistemática da conceituação

Natureza da Fenomenologia

( ou sua razão) coloca-se em posição passiva, na de simples espectador e observador da consciência ( conhecimento) no seu desenvolvimento. O progresso do conhecimento não se faz porque é mais ou menos certo ou errado ( Galileu não substituiu a Mecânica de Aristóteles porque esta estava errada), mas simplesmente porque progrediu" por fôrça de sua dialética interior ( veremos melhor essa dialética mais adiante); e foi assim passando de um plano para outro. O filósofo conserva-se do lado de fora dêsse processo e na posição de observador apenas340. Assim em vez de pressupor uma entidade metafísica como a Razão ( seja o eu penso de Kant ou o Eu de Fichte), ou mesmo um Saber absoluto pré-formado que o pensamento trata de revelar ou descobrir ( é essa a posição racionalista), Hegel procura antes a genética da Razão ou Saber absoluto; e a encontra no processo de desenvolvimento do próprio Conhecimento. A Razão é assim êsse Conhecimento - ou antes o Pensamento que o vai elaborando - no seu "devenir"; e não algo que se propõe fora ou antes dêle a ditar-lhe regras ou leis segundo as quais êle há de operar - à moda da Lógica formal clássica. Colocada a questão nesses têrmos, torna-se possível considerar o conhecimento, ou antes a conceituação em que o conhecimento se exprime, nos seus elementos genéticos e constitutivos: a saber, o processo de relacionamento segundo o qual opera o pensamento no curso da elaboração conceptual donde os conceitos se originaram. E isso dará a sistemática da conceituação e com ela o método geral através de que se revela a natureza relacional dos conceitos. Vejamos êsse assunto, que constitui o centro nevrálgico da filosofia de Hegel, com atenção. Ele pertence propriamente, na obra de Hegel, à sua segunda parte, a Lógica, e vem depois da Fenomenologia. Esta última é, como vimos, a história do conhecimento, ou antes, da Consciência que pelo conhecimento se torna Razão. No 340 Para pom1enores a respeito dessa posição de espectador do filósofo, veja-se a Introdução à Fenomenologia "de Hegel, e sua "tradução" em linguagem vulgar feita pelo tradutor francês J. Hyppolite nas notas à sua tradução literal, sobretudo I, 73, nota 18; bem como Génese et Structure de la Phénoménologie. cit., do mesmo autor, pág. 26. 442 Caio Prado Júnior

final dessa história, a Consciência se eleva ao "saber absoluto", o saber-em-si-filos6fico que é o conhecimento de si próprio como conhecedor, que já é a Consciência racionalizada: ela não se ocupa mais com o exterior, a substância, e sim com ela própria. :E:sse "momento" em que a Consciência - já agora elevada à categoria de Espírito - se faz seu próprio objeto, é o que Hegel chama L6gica. Em têrmos mais simples, tal "momento" nada é senão a análise do próprio Pensamento humano; não contudo de um Pensamento interpretado como faculdade abstrata ( como faz a Lógica clássica), e sim do Pensamento concreto e real formado pelo Conhecimento. As experiências anteriores da Consciência através das quais ela se foi elevando até o Saber absoluto ou de si própria, fizeram-na conhecer o mundo inanimado ( Ciências físicas), depois a Natureza orgânica ( Ciências naturais), e finalmente o Homem (Psicologia e Fisiognomia); agora ela vai conhecer o próprio Pensamento e Conhecimento adquirido que constitui êsse Pensamento1141. E isso é LÓGICA. O Pensamento ou Conhecidmento ( o Pensamento é Conhecimento, pois é a ConscMncia conhecedora) tornou-se l6gico, e será objeto da Lógica. Isto é, na realidade, como veremos, tornou-se rdacional ou consciente do rel,acionamento, e será objeto da Lógica dialética de Hegel que constitui a etapa final ( para Hegel) do Conhecimento ou Consciência conhecedora. Sendo a Lógica, para Hegel, o próprio Conhecimento cm sua fase derradeira ou conceptual - pois o conceito ó a expressão final do Conhecimento - a matéria de que Ntl ocupa concretamente é a conceituação, isto é, de sua ustruturação ou "disposição" relativa no pensamento ou conhecimento, bem como das operações mentais a que dá lugar. Em suma, daquilo que constitui propriamente o pen341 E difícil se não impossível traduzir o pensamento idealista du Hegel em linguagem vulgar. Somos obrigados a dizer, para nos tornarmos claros, que "a Consciência conhece isso ou aquilo"; o que em rigor é inadequado e inexato, porque essa Consciência t/lJe conhece à que se refere Hegel - e é precisamente neste ponto que se aparta da Metafísica - é o próprio Conhecimento que evolui. su;eito e predicado da oração se confundem, e nossa linguagem metafl.sicamente estruturada não pode exprimir convenientemente essa identidade do sujeito e do predicado, a não ser no cnso excepcional dos verbos impessoais, como chover, trove;ar, etc., c,m que cnover é o mesmo que chuva, tanto quanto a Consicência 'I"ª conhece é o próprio conhecer.

Dialética do Conhecimento 443

A Lógica de Hegel

Objeto da Ló• gica de Hegel

sarnento como fato real e não como faculdade abstrata independente de seu conteúdo conceptual ou de conhecimentos. A Lógica de Hegel é portanto muito mais ampla que a Lógica clássica ou formal. Esta última ocupa-se unicamente com as operações formais do pensamento ( raciocínio, inferência, dedução ... ) Mas em Hegel, as operações do pensamento não se distinguem do seu conteúdo ( conceitos ou categorias; conceituação em suma.) Não se distinguem no sentido de não se poderem isolar umas das outras: a conceituação é a própria operação mental, como a operação mental é a própria conceituaNatureza e oh• ção342. É um tal isolamento que caracteriza a Lógica jeto da Lógica formal clássica, que se ocupa ou pretende ocupar-se uniclássica camente com a forma do pensamento, e admite que essa forma possa existir independentemente de seu conteúdo que é a conceituação. Na Filosofia clássica pré-hegeliana, enquanto as operações do pensamento e suas leis ou normas se estudavam na Lógica ( como aliás se faz ainda obsoletamente até hoje), a conceituação em si era objeto daquilo que propriamente constituía a Metafísica. Hegel, identificando a forma do pensamento com seu conteúdo, 343 transferiu o tratamento daquilo que dantes cabia à Metafísica, à Lógica. "Pode-se dizer, escreve êle, que a Lógica objetiva tomou o lugar da antiga Metafísica"; 344 Metafísica essa, refere noutro ponto, que "tinha sido destruída até à raiz e eliminada do conjunto das ciências"345. É por isso que Hegel denomina pejorativamente de "metafísico" o tipo de pensamento que servia de base àquela disciplina que segundo êle desaparecera, e que indevidamente cinde a análise das operações do pensamento da do conhecimento. A redistribuição das disciplinas filosóficas realizada por Hegel não constitui pois um traço incidente e singular do seu sistema: representa o resultado de uma superação pelo pensamento filosófico de uma posição específica que é a da Metafísica. É importante notá-lo, porque daí deriva uma reposição original de todo pro342 Em outras palavras, a conceituação não é estática, mas essencialmente dinâmica, e é êsse dinamismo da conceituação que constitui as operações do pensamento. 343 Sem todavia os confundir, e eliminar suas diferenças, o que é outra coisa. Veremos êsse ponto no desenvolvimento do assunto. 344 Science de la Logique, I, 51. 345 Idem, I, 5. 444 Caio Prado Júnior

blema 16gico. O racionalismo kantiano, partindo da conceituação já formada e que apresenta em sua filosofia nas formas da sensibilidade e categorias do entendimento,346 sobrepõe-lhe a Lógica por um ato puramente exterior, um fia,t da Razão. Hegel caracteriza êsse modo de ver ns coisas assim: "O conceito da Lógica, em vigor até aqui, repousa sôbre a separação efetuada de uma vez por tôdas, pela consciência ordinária, entre o conteúdo do conhecimento e sua forma. . . Supõe-se, duma parte, que a mat6ria do conhecimento existe como um munáo inteiramente acabado e fora do pensamento; que êste último é tim si vazio e vem, como forma, aplicar-se exteriormente 1\quela matéria, encher-se dela e somente assim adquire um conteúdo e um conhecimento real"347 • Daí o caráter exclusivamente formal da Lógica clássica, isto é, exterior no conhecimento; as operações do pensamento separadas u independentes do seu conteúdo ou c;onceituação ( ou untes, do processo de elaboração conceptual.) A posição do Hegel, como vimos, é outra. Antes de abordar a L6gka, êle considera a formação e evolução do conhecimento ( consciência conhecedora), e é disso que trata na Feno,nenologia,, E observa aí que tal processo evolutivo desomboca naturalmente na L6gica, que não é assim mais ,.1ue um momento, o final, do processo de evolução do conhecimento, aquêle em que êste último se conceptualiza. Como disciplina filosófica, a Lógica tem portanto como matéria específica não leis do pensamento que extel'irmente regulam ou disciplinam a conceituação, mas "n exposição genética do conceito"348 que descreve a última etapa do "devenir" do conhecimento. · Partindo de tais premissas, Hegel adquire uma nova hnse, bem diferente ae Kant e da Filosofia clássica em geral, para sôbre ela construir a sua Lógica. :e: essa base a pr6-pria natureza da conceituação revelada pela sua g~nese e evolução. E a L6gica se apresentará então não como uma disciplina acabada e dada a -priori na sua jntegl'idade pela Razão sob forma de leis do pensamento, mas ela também, tal como todo conhecimento, como um processo ou continuação de um processo anterior: a história da logificação, o processo genético dessa logificação 846 As formas da sensibilidade e as categorias do entendimento nlto são de fato senão conceitos fundamentais e mais gerais em c111c se enquadram ou a que se subordinam os demais. 347 Science de la Logique, I, 23. 348 Science de la Logique, II, 244.

Dialética do Conhecimento 445

Hegel e a Lógica clássica

O problema 16gico em Hegel

Bases da L6gi■ ca hegeliana

que é aliás o do próprio conceito. Tal é a essência da Lógica hegeliana; essência que fornece desde logo o método com ~ue deverá ser estudada: tratar-se-á de procurar uma 'genealogia dos conceitos", mas não no tipo da "dedução das categorias" de Kant, ou da "dedução da representação" de Fichte; mas uma verdadeira história Genealogia da geneaMgica da conceituação em que os conceitos não conceituação sejam desde logo propostos para se procurar depois ligá-los, segundo Kant ( o que não pode dar senão numa ligação "externa" e formal"); ou segundo Fichte, que apesar dos progressos efetuados relativamente a Kant, ainda procura derivar sua "dedução" da Razão pré-formada, do desenvolvimento do Eu pelo ato da razão ( o que vai dar numa extração dos conceitos, como que de um chapéu de mágico, por aquêle ato da razão); mas uma história que reflita ou exprima a dinâmica interna real e efetiva da conceituação; que seja "uma marcha ininterrupta, pura de tôda contribuição exterior"349 • Não importa, diremos mais uma vez, que Hegel tenha realizado essa tarefa usando de seu estilo e linguajar de idealista em que é tão difícil muitas vêzes separar o que é simples imagem do que constitui Jt>priamente expressão do fundo de seu pensamento; 50 não importa que seus conceitos se personalizem e animem na sua Lógica como sêres reais, ofuscando-se com isso as operações mentais que constituem verdadeiramente o fato concreto do pensamento que está por detrás dêles e de que êles são mera expressão. O certo é que nas formulações idealistas de Hegel se disfarça a análise da conceituação sob um ângulo inteiramente nôvo e que a Lógica clássica ignora Natureza rela, por completo: o do relacionamento. Hegel tocara com clonai da con, o dedo e pusera a nu o caráter mais profundo da conceituação ... ceituação que até êle permanecera mais ou menos oculto e insuspeitado: o verdadeiro processo mental que está na origem e gênese da conceituação e que se disfarça sob a forma acabada em que aquela conceituação se apresenta em seu estágio final, a saber, o conceito como UJrmo designador, como designação e marca ou rótulo identiScience de la Logique, I, 40. Hegel é dotado no mais alto grau de um veio poético de que se serviu largamente para suprir as deficiências da linguagem discursiva. Em boa parte de sua obra - na Fenomenologia em particular - é antes como poeta que êle se exprime e deve ser lido, isto é, procurando-se apreender o conjunto do seu pensamento sem ater-se excessivamente à análise de seus conceitos. 349 350

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ficador das feições do Universo. Essa última visão parcial e deformada da natureza real do conceito considerado npenas em sua aparência exterior, não se fizera sentir excessivamente em níveis baixos do conhecimento em que n simples identificação ocupa o primeiro plano; e por isso a Filosofia clássica se satisfez com ela. Mas tornou-se incompatível com o intenso progresso verificado nos tempos modernos, progresso de que Hegel se constituirá o intérprete no plano da Filosofia. O Conhecimento, mais ou menos estagnado durante séculos, ou estendendo-se npenas em superfície e segundo padrões lógicos estabelecidos desde a Grécia clássica, recomeça modernamente u se aprofundar e alargar precipitadamente seus hori;,:ontes. O que não se fazia desde mais de um milênio e meio, isto é, elaborar e constituir uma conceituação nova se torna tarefa premente e se concentra em menos tlc duzentos anos. O progresso realizado se refletirá como é natural, na evolução e transformação da linguagem, e seria interessante um confronto, sob êsse aspecto, entre o latim que a ciência oficial ainda emprega até o séc. XVII, com o francês, o inglês, o alemão e o italiano do s{ic. XVIII 351 • Está claro que uma tal fabricação ativa e Intensiva de conceitos e conceituação, uma fabricação que so faz progressivamente consciente e perfeitamente delihcrada e propositada - o que se revela na criação expressa de novas palavras e neologismos morfológicos em p;cral - revelasse fatalmente mais dia, menos dia, os processos e métodos segundo que se fazia essa elaboração conceptual; o caráter relacional da conceituação, que a p;l\nese desta revela desde logo, tinha assim por fôrça do se manifestar. E foi o que se deu, cabendo a Hegel ossa revelação em têrmos precisos e perfeitamente claros. De fato, revelada a operação mental que se encontra 1ut gênese da conceituação, e que cqnsiste precisamente no relacionamento, a natureza relacional dos conceitos ficava à mostra. Verificar-se-á que a relação não é apenas 11111n categoria formal, o tipo ou natureza de certos· con,,,,jtos, como pretendia a Lógica clássica, mas o caráter pr6prio e específico de todos êles. Verificar-se-á tam-

...revelada pelo progresso do Conhecimento

Natureza · rela• cional da con• ceituação reve• lada pelo pro• gresso do Co• nhecimento

Natureza relações 351 São essas as línguas principais, poderíamos dizer quase ceptuais nN únicas, em que se exprimirá, até o século passado, a ciência moderna e a nova conceituação por ela elaborada. O espanhol 11 o português marcam passo, refletindo com isso a estagnação cmltural das nações que as empregam. Deixamos de fazer qualquer juízo a respeito de outros idiomas que desconhecemos.

Dialética do Conhecimento 447

das con•

Conceito é lação

Natureza çonceito

bém, em conseqüência, que a relação não é a simples ligação entre dois têrmos aut&nomos e independentes um do outro, mas que ela existe por si, não dependendo em nada de têrmos preexistentes a serem relacionados; e que pelo contrário, são êsses têrmos que dependem da relação, e somente existem em função dela. Assim, para exemplificarmos com o próprio Hegel numa de suas passagens mais explícitas e claras em que êle se refere ao finito e infinito, não somente êsses têrmos são inseparáveis, mas "é essa inseparabilidade que constitui o conceito dêles"352• Em outras palavras, o conceito de finito e infinito não está nesses têrmos, que são apenas designações de "momentos" do processo de relacionamento, e não têm por si sentido algum; cabendo êsse sentido única e exclusivamente à sua relação. O finito contém o infinito, como êste contém aquêle; e ambos se exprimem um pelo outro, não tendo nenhum dêles, por si, conteúdo próprio conceptualmente exprimível: o conceito é essencialmente aquilo que os une; é tão-somente a relação 353 • reÉ ~sse o ponto de vista em que se coloca Hegel; e na base dêle, constituirá a Lógica de relações que denominará transcendental ou especulativa, e que hoje chamamos, para nos conformarmos com o uso geral, aliás mais proprio, de Lógica dialética. Achava-se superada a Metafísica, e revelava-se a natureza profunda da conceituação que aquela disfarçava, desfazendo-se a ilusão do e aparência de conceitos estáticos, fixos e precisamente delimitados da Lógica metafísica. Essa noção de conceitos pretrificados ( que, fruto da Metafísica, lhe dera durante séculos o alimento com que ela se mantivera em vida) se substituía pela da operação conceptual, e da fluidez, mobilidade e dinamismo interiores e próprios da conceituação. A Lógica clássica estaciona nos têrmos ou palavras designadores dos momentos da operação conceptual ( atividade do pensamento), e confunde-se com os conceitos ou conceituação - o que é suficiente num plano elementar e para o emprêgo vulgar e corrente da conceituação -; a Lógica dialética vai mais a fundo, e Science de la Logique, I, 157. Notemos incidentemente que essa maneira de interpretar a noção de infinito põe têrmo às dificuldades e dubiedades a que ela dá lugar no terreno da Matemática, e mostra a esterilidade dos esforços daqueles matemáticos que procuram conceituar o infinito em si, eomo se fôsse uma "entidade" autônoma com atributos ou propriedades próprias exclusivas. 352 353

448 Caio Prado Júnior

considera diretamente a operação conceptual que deu origem àqueles têrmos; e aí localiza, como deve ser, o verdadeiro conceito e natureza da conceituação. Pode assim observar a conceituação não como um aglomerado de conceitos separados e independentes um do outro, tal como exterior e formalmente se apresentam, mas ligados e indissoluvelmente cimentados, como de fato são, no todo a que per!encem e que é o conjunto conceptual em que se relacionam. :6:sse o resultado a que chega a L6gica dialética nas suas premissas: conceituação como relacionamento; o conceito como relação. Mas como opera daí por diante para se constituir em corpo de conhecimentos, em disciplina pr6pria? Como realiza Hegel aquela "genealogia dos conceitos" a que nos referimos, e como se desvenda o relacionamento segundo o qual se realiza a "geração" dos conceitos? Qual em suma o método de Hegel? ~ êsse O mâodo hemétodo que nos dará o essencial da L6gica hegeliana e geliano de todo sistema, Eorque os resultados a que chegou o fil6sofo com a aplicação do seu método, tal como se encontram expostos na Ci~ncia da Lógica (Wissenschaft der Logik) não somente constituem uma primeira tentativa no assunto e por isso mesmo defeituosa, 854 mas ainda conservam na sua maior parte apenas um valor hist6rico, uma vez que a conceituação que Hegel considera é naturalmente a do Conhecimento de sua época, e por isso diferente da de uma fase posterior - sobretudo quando essa fase vem depois de um período de larga e profunda elaboração científica, como ocorreu no século e meio que separam nossos dias de hoje da obra de Hegel. Isso encontra-se aliás contido na pr6pria concepção da L6gica dialética, que segundo vimos aeriva de um processo de elaboração conceptual e representa asssim sempre o têrmo final e última fase ( a qa logificação) daque1e processo específico. Deve assim renovar-se permanentemen.te, e se renova de fato acompanhando o desenvolvimento do conhecimento e da elaboração conceptual que resulta daquele desenvolvimento e o exprime. Foi somente por uma destas incoerências e aberrações muitas vêzes nota.da e tão difícil de explicar - ou antes, explicável so854 Hegel, declarando embora estar seguro da certeza de seu método, reconhece que seu sistema de Lógica ainda tinha muita 11ocessidade de aperfeiçoamento e elaboração em seus pormenores. Science de la Logique, I, 40.

Dialética do Conhecimento 449

Natureza do método hegeliano

O movimento do pensamento

Forma do movimento do pensamento

mente por circunstancias. de ord~m extrafilosófica - que Hegel parece considerar o seu tempo, e em particular sua filosofia, como têrmo final da evolução e do progresso do Conhecimento e da Lógica355 . Assim, do nosso ponto de vista, o que interessa realmente na Lógica hegeliana é o seu método, a sua dialética propriamente. · Pelo que adiantamos mais acima relativamente ao caráter gera] da Lógica dia1ética, isto é, o angulo do qual esta aborda a consideração da conceituação, logo se vê que o traço essencial do método dialético consiste na mobilidade do pensamento. Empregamos as expressões "fluidez", "dinamica" e outras semelhantes; empregadas por Hegel, ou em nome dêle, como fizemos, por êste Hegel que humanizava seus conceitos como na Fenomerwlogia humanizava a Consciência, tais expressões podem parecer ambíguas; apressemo-nos pois em traduzi-las em têrmos mais precisos: concretamente· elas exprimem o movimento do pensamento, isto é, a sucessão de representações que caracteriza os nossos processos mentais em que se originam e formam os conceitos, e _pelos quais êles são chamados à consciência e considerados. lt êsse o verdadeiro sentido, interpretado em têrmos concretos, do "movimento" refe. rido por Hegel quando define o modo como 'fa consciência da forma de que se reveste o movimefl.to de seu ccmteúdo"356. Essa definição é profunda e deve ser meditada. Significa o seguinte: o movimento do pensamento ( o "pensamento" é no caso o conteúdo referido por Hegel em sua definição) se processa segundo um certa forma; em outras palavras, a sucessão de representações se realiza de certa maneira, sejamos ou não conscientes dessa forma ou maneira; isto é, conheçamo-la ou não. Muito antes sequer de os homens cogitarem dos seus processos mentais - e a maioria dos homens nunca se ocupou e por certo nunca se Ocupará com O assunto reservado a psicólogos · ê · filósofos profissionais ou amadores, isto é, desde sempre que houve homens -, O movimento do pensamento dêles existe, e êsse movimento, inconsciente embora, tem uma certa forma, uma determinada maneira de ser, ignorada embora. Será mais ou menos anarqui355 Engels faz a propósito dessa incoerência observações de grande interêsse para a história da época e para a caracterização da posição política de Hegel; observações essas que em parte explicam o desenlace que Hegel deu à sua obra. Veja-se Ludwig Feuerbach, cit., págs. 37 e segs. 356 Science de l,a Logique, I, 39, 40. 450 Caio Prado Júnior

zado - como ocorre por exemplo nas divagações - ou mais ou menos sistematizado e impelido deliberadamente por certas e determinadas vias; e é aquela aDarquia ou esta sistematização, escalonadas em graus infinitos segundo os indivíduos, os momentos ou o estado de espírito em que se encontram, e também segundo as épocas de desenvolvimento cultural, é aquilo que chamamos "forma" do pensamento; forma essa que pode ser, acabamos de vê-lo, bastante "informe." A logfficação constitui precisamente o processo pelo qual se passa de uma forma mais ou menos anarquizada e inorgânica, para a sistematização. :ttsse processo de logificação é também, em geral, inconsciente, e somente se torna consciente num nível já bastante evoluído e adiantado do conhecimento e da sua logificação. É então que êle é notado e se torna consciente; isto é, o movimento do pensamento já suficientemente organizado, e tendo adquirido com isso maturidade suficiente, faz-se a certa altura consciente, percebido; em outras palavras, os homens ( ou antes alguns dêles que depois o transmitem a seus semelhantes) tomam consciencia dos seus processos mentais e da sua maneira de ser ou forma já organizada; nesse momento, tal forma se faz método, expressão consciente da forma do pensamento. É is~o, traduzido em têrmos mais claros e concretos, o que implica a definição de Hegel. Ora a dialética, como método lógico, é precisamente a forma do movimento do pensamento tornado consciente por efeito do progresso moderno e conseqüente maturação do Conhecimento; e revelado afinal por obra de Hegel. É dela, e seguindo as pegadas dêste que a revelou, que nos vamos agora ocupar. Mas antes mesmo de entrarmos na análise mais pormenorizada daquela forma tornada em método dialético, a simples consideração do caráter essencial do Pensamento, que é o seu movimento já abre desde logo perspectivas ignoradas pela Lógica clássica. Essa última, pertencente a uma fase ou: nível do Conhecimento em que não se adquirira ainda consciência plena do movimento do pensamento, considera e toma por objeto categorias fixas em que enquadra o pensamento, e onde portanto êste se imobiliza. A própria estrutura e os pontos de partida da Lógica clássica mostram isso: as idéias ( isto é, as representações mentais ) são postas na camisa-de-fôrça dos t~rmos, que se comprimem ainda mais nas palavras; os têrmos são dispostos e imobilizados numa estrutura rígida que é o juízo; e a Dialética do Conhecimento 451

Sistematização da forma do movimento do pensamento

Natureza da Dialética como método lógico

Posição da Lógica clássica

fim de que êsse juízo não apresente veleidade alguma de movimento, êle é petrificado na proposição; e esta última, por seu turno, enquadrada nas rijas formas indeformáveis do raciocínio formal: o silogismo. :f: sôbre êsses elementos fixados numa imobilidade eterna que a Lógica clássica se constrói, pretendendo vazar em tais moldes rígidos as operações do pensamento e sua marcha na elaboração do conhecimento. Posição da Lógica dialéti• A Dialética procede de modo inteiramente diverso ca porque ela já é consci~ncia do movimento do pensamento que portanto não ignora e despreza, como faz a Lógica clássica; e ao contrário desta última, procura precisaMobilidade do mente ~rovocar no pensamento um máximo de Iluidez, pensamento pois é somente quando êle atinge êsse máximo de mobiliaade que a Dialética opera satisfatoriamente. Note-se que uma tal mobilidade não se obtém espontâneamente e desde logo: hábitos viciados de pensamento ( introduzidos em grande parte pelas con_cepções metafísicas e lógico-formais que nelas se inspiram) embaraçam aquela mobidade357 cujo livre jôgo a Dialética tem por primeiro objetivo alcançar. Por isso é que Hegel recomenda "deixar-se o conteúdo [pensamento, sucessão de representações, conceituação] mover-se segundo a sua natureza. . . e contemplar êsse movimento. Renunciar às incursões pessoais no ritmo imanente do conceito, não intervir com um saber arbitrário adquirido noutro lugar"358 . E acrescenta: "Essa abstração é ela própria um momento essencial da atenção concentrada do conceito"359 . :f: que sem intervenção estranha - e em particular a das formas rígidas da Lógica clássica - a conceituação reproduz naturalmente no pensamento as suas "fases" naturais, a sua genealogia e a 357 Naturalmente concorrem também para isso deficiências orgânicas e psicológicas, isto é, um mau funcionamento do pensamento. Julgamos que o q_ue vulgarmente se entende por intelighicia não é senão mobilidade do pensamento. Mas isso já sai do nosso assunto. 358 Hegel se insurge em particular contra as pretensões da Lógica em ensinar a pensar, • como se, diz êle, pelo estudo da fisiologia e da anatomia se pudesse aprender a digerir e se mover" Science de 1.a Logique, I, 6. Hegel continua que "já há muito" se renunciou a essa pretensão da Lógica; é claro que êle tinha em vista apenas os cientistas que estavam elaborando a ciência moderna e o faziam completamente à margem dos mandamentos a ensinamentos da Lógica clássica ( como já aconselhara Descartes); porque noutros setores se sabe roletariado com a nobreza e a aristocracia, aliança essa verificada em diferentes oportunidades no curso do século passado. Sobretudo na Inglaterra, onde a grande realização de Diaraeli e o motivo de sua fama consiste precisamente em ter conseguido atrair uma parte do movimento operário inglês para a bandeira do Partido Conservador. Notemos ainda que o Romantismo na literatura se alimenta em grande parte do mesmo espírito de oposição simultânea ao regime burguês e ao legítimo movimento do proletariado, 506 Caio Prado ]únior

da Monarquia-feudal, acrescentam se não desde logo a igualdade econômica; pelo menos uma equitativa ·participação de todos os homens na riqueza e no bem-estar. · O primeiro, cronologicamente; dêsses socialistas reformadores, Saint-Simon ( 1760-1825), ainda não se afasta completamente dos antigos quadros ideológicos do racionalismo, e continua acreditando na Ordem burguesa que para êle se trataria apenas de apedeiçoar e escoimar de seus defeitos e vícios. Os seguintes, e em particular Robert Owen (1771-1858) e F. M. Fourier (1772-1837), já propõem reformas mais radicais. Não nos deteremos nelas, por enquanto, e insistiremos apenas no espírito geral que os inspira, e que é nitidamente o mesmo do racionalismo do séc. XVIII, isto é, o de normas ditadas pela Razão em cujo nome o proponente julga estar falando. Uma Razão imanente ao Homem, fora e acima da história e de suas contingências. Ou em têrmos filosóficos, o Pensamento (sujeito) ditando regras para a vida concreta e a ação dos homens (objeto.) Mas enquanto os Planos racionais dos filósofos e pensadores do séc. XVIII tinham dado na Revolução Francesa e na revolução industrial inglêsa, os dos reformadores socialistas darão no fracasso das Comunidades de Owen e dos Falanstérios de Fourier, bem como nas divagações e especulações sem consistência dêste verdadeiro pulular de reformadores que se estende até a segunda metade do século, e que tem em P. J. Proudhon ( 1809-1865) seu representante mais caracterizado, ou pelo menos mais famoso. A razão dessa esterilidade dos reformadores socialistas, em contraste com os sucessos de seus antecessores do racionalismo, prende-se à diferença de situação que no séc. XIX já é inteiramente outra, pois outro era o problema político em equação. 11:sse ponto é de gr.tnde importância, e por conveniência da exfosição - e unicamente por isso, pois a matéria é em si mtimamente interrelacionada - dividi-la-emos em duas partes onde veremos respectivamente os aspectos "teóricos" e os "práticos" do assunto. A. - O problema político do séc. XVIII, que era em última análise o da burguesia ascendente, propunha-se numa sociedade caracterizada sobretudo por uma estrutura político-jurídica em que o estatuto pessoal de cada indivíduo ou grupo social era minuciosamente regulado; regulamentação essa que embora se estendesse por tôda a sociedade e se tivesse estabelecido paulatina e sucessiDialética do Conhecimento 507

Socialismo e racionalismo

Fracasso dosocialismo utópico

Problema político do séc.

xvm

vamente no correr dos séculos para atender a necessidades práticas de ordem econômica, política e de disciplina social, tinha-se afinal transformado, com o desaparecimento ou transformação daquelas necessidades que corresOs privilégios pondiam a épocas passadas e mortas, em simpies privilédo Antigo Re- gios caducos e parasitários que beneficiavam umas categime gorias sociais, em particular a Nobreza e o Clero, em prejuízo do resto da po ulação. Inúteis e injustificáveis ôo ponto de vista socia , tais privilégios, serviam unicamente para acobertarem e coonestarem a ociosidade e inutilidade daquelas classes que à custa dêles participavam com partes de leão da riqueza pública, com dano manifesto não só das demais classes da nação, mas ainda do conjunto da riqueza nacional cujo progresso e desenvolvimento se embaraçava nos obstáculos que êles antepunham à produção econômica. Os privilégios do Antigo Regime instalavam-se no mais íntimo do organismo social como parasitas monstruosos pelo vulto e ação perturbadora, e insinuavam-se direta ou indiretame1,1te na vida de todos os indivíduos não privilegiados, e até mesmo dos menos privilegiados, emliaraçando-lhes tôdas as atividades e iniciativas. A cada passo que davam ou pretendiam dar, fôsse em suas ocupações econômicas, fôsse mesmo na mais elementar rotina de sêres humanos, esbarravam logo pela frente com a barreira de algum privilégio que eram obrigados a contornar. Não é possível entrar aqui em pormenores relativos à organização social e política da Monarquia-feudal, mas o que foi dito já exprime suficientemente a situação em vigor, e explica não somente a insatisfação profunda e A luta contra generalizada que observamos na época, mas ainda a acoos privilégios lhida e ampla repercussão que tinham os projetos de reforma dos pensadores racionalistas que embora variando muitas vêzes consideràvelmente nos pormenores, uniam-se em côro para verberarem os privilégios feudais e pugnarem pela sua abolição. Observemos contudo desde logo que essa luta contra os privilégios não era tão simples como poderá parecer a quem os considera unicamente em si e isoladamente. Atrás dêles se abrigava tôda uma estrutura política e jurídica complexa de que os privilégios não representavam senão um aspecto particular e mais aparente; estrutura essa que se inspirava, como referimos, num espírito de regulamentação minuciosa ·que retinha tôda a sociedade estreitamente interligada. O combate aos privilégios significava assim o combate

1

508 Caio Prado Júnior

geral a tôda aquela regulamentação, e dava necessàriamente nêle. Disfarçando-se embora, para os efeitos práticos de propaganda, e de maneira mais ou menos velada e inconsciente atrás da luta popular contra os privilégios, o ataque em conjunto às instituições do Antigo Regime era decorrência natural daquela luta: não era possível mexer numa só de suas peças sem afetar as demais partes e o conjunto. Daí tôda ordem de contradições e incoerências aparentes que ocorrem sempre em situações semelhantes, e que tornam tão complexa; a interpretação do historiador e a tarefa do político. O camponês, por exemplo, que lutava contra os privilégios do seu senhor, lutava ao mesmo tempo, sem o saber, a favor de reformas que o privariam do uso dos pastos comunais e lhe vedariam o acesso à floresta onde se abastecia de lenha e de frutos silvestres; o Rei que procurava cercear os privilégios da Nobreza a fim de tributar-lhe as propriedades, feria direitos que pertenciam ao próprio sistema em que se fundava o Trono; o filho segundo que se revoltava contra os privilégios da primogenitura, atingia um dos :i;>ilares da classe de que êle também desfrutava os privilegios 398• Em suma, a estrutura do regime da Monarquia-feudal era solidária em suas diferentes partes, e o que prejudicava certos indivíduos, por outro lado os beneficiava, e vice-versa. As reivindicações assim se embaralham, e os conflitos sociais se dispersam em choques isolados e desarticulados. Há um tipo contudo de relações sociais que não obtinha vantagem alguma do Antigo Regime, e que pelo contrário sufocava debaixo de todo o pêso dêle: são as reTações burguesas e capitalistas de produção. Os que se beneficiavam delas encontram aí um terreno comllll! onde podem atar uma aliança que não é excessivamente perturbada por divergências particularistas; e êsse terreno é tanto mais favorável que se amplia ràpidamente com o desenvolvimento das re1ações burguesas que mercê de circunstâncias favoráveis de. tôda ordem, se multiplicam e crescem em proporções. Assim aquêles que se acham nelas engajados aumentam de número, de poder, de prestígio econômico e social; e vão por isso predominando e polarizando a luta por reivindicações que assim se organiza; e se organiza naturalmente debaixo 398 ~ o caso de Chateaubriand, filho-segundo de família nobre, e cuja oposição aparente ao Antigo Regime em certas passagens de sua vida, bem como seu pseudoliberalismo, tinham suas raízes mais profundas em tal circunstância.

Dialética do Conhecimento 509

Solidariedade interna da estrutura monarco-feudal

Relações capitalistas de produção no Antigo Regime

de sua bandeira, que não dependendo em nada do Antigo Regime, se ergue sem excessões contra t6das as restrições e a complexa regulamentação vigente que direta ou indiretamente, real ou aparentemente embaraçava o progresso de um estilo burguês de vida. Dêsse modo, e acima de t6das as reivindicações partiLiberdade e cularistas que se fundem momentâneamente num bloco Igualdade único, levantam-se os princípios de aparência tão simples e clara de Liberdade e Igualdade dos racionalistas ( filósofos, pensadores e economistas), e que se inscreverão mais tarde na divisa da Revolução Francesa399• Representam êles a abolição de quaisquer peias, de ordem pessoal, opostas à livre ação dos indivíduos. Todos os cidadãos ( os súditos do Rei são agora cidadãos na Nação), e cada um dêles em particular, nivelados juridicamente e livres, passaria a gir como entendesse melhor e julgasse conveniente a seus interêsses. O Estado não intervinha mais como dantes para dizer a cada um o que lhe convinha: todos tinham a livre escolha, livre de tutelas do poder público e escolhendo por conta própria o seu destino. Pretendia-se com isso, em oposição à rigidez da Monarquia feudal, conceder à sociedade e à vida coletiva um máximo de fluidez e inestruturação - exatamente a situação que convinha a um n6vo tipo de relações para que elas se pudessem desenvolver livremente, e desembaraçadamente criar as suas próprias restrições diferentes das anteriores, como logo se veria. Natureza da li• A Liberdade e Igualdade do racionalismo têm êsse herdade e sentido concreto e preciso: é a negação da regulamentaigualdade ção estreita e rigorosa da Monarquia feudal. Nada mais que isso. O que importa lembrar para os anacrônicos que ainda hoje falam na "liberdade" e na "igualdade" invocando o exemplo e a inspiração da Revolução Francesa e do liberalismo inglês. Liberdade e igualdade aquelas que iá perderam todo sentido que lhes dava há mais de século e meio a afirmação contrária da regulamentação política e jurídica da Monarquia feudal, hoje enterrada sob sete palmos de terra bem socada. . . Mas se hoje a crença naquela liberdade e igualdade não tem mais sentido, tinha-o ainda enquanto perduravam sobre399 A Fraternidade inscreveu-se nela também, mas como apêndice de última hora, e não teve outro conteúdo que o entusiasmo revolucionário do momento. Permaneceu por isso letra-morta, enquanto suas colegas, no sentido que lhes emprestavam as fôrças dominantes da Revolução, se traduzem logo nos fatos.

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vivências, em vias de extinção embora, do Antigo Regime; e constituíam por isso uma fôrça dirigida contra essas sobrevivências. Mas por uma ação de retôrno, elas iam favorecer novos privilégios, os da burguesia vitoriosa: é em virtude e por fôrça daqueles princípios que a burguesia proletarizará as massas populares, e transformará artesãos, camponeses e modestos mercadores, em miseráveis vendedores de fôrça de trabalho. A Liberdade e Igualdade apresentavam-se assim com um duplo aspecto e sentido: de um lado, eram armas ideológicas voltadas contra os antigos e odiados privilégios que ainda crepitavam com o lusco-fusco de ,brasas que se apagam; mas de outro, constituem os fundamentos sôbre que se estruturavam novos privilégios tão odiados como os antigos. E não havia, dentro das concepções clássicas do racionalismo metafísico, como separar aquêles dois aspectos, aproveitando-se de um e descartando-se do outro: eram como imagem refletida em espelho refletor. Os reformadores socialistas que partiam com seus sistemas dos mesmos princípios filosóficos que os racionalistas do séc. XVIII, encontravam-se assim em frente de um problema insolúvel: extrair daqueles princípios uma Orâem Racional que não fôsse a Ordem burguesa. Pois se êles se tinham estruturado precisamente para o fim se não expresso pelo menos substancialmente implícito de não se resolverem senão na Ordem burguesa! Como expressão de "essências" eternas e imutáveis, êles não podiam sofrer contingências e transformações ditadas pela história: tinham de conservar-se tais quais. Mas tendo sido configurados com vistas para a Ordem burguesa, dêles nãp podiam sair senão os privilégios burgueses. Assim os Absolutos de que o socialismo racionalista precisava para estruturar e justificar seus projetos de reforma social e política, isto é, a Liberdade, a Igualdade, a Ri~.zão, a Justiça, as Leis Naturais, êsses Absolutos se voltavam agora contra êle. Contradição aliás de que se valerão os retrógrados fantasiados de reformadores que citamos acima, para tentarem fazer a roda da história girar em sentido contrário. O seu pensamento contudo não será mais fértil que o dos socialistas utópicos, e se reduz à supressão dogmática dos Absolutos do racionalismo - embora substituindo-os por outros não menos gongóricos e balofos na sua bôca, como Deus, Pátria e Família -. Está claro que com tal supressão, a contradição assinalada desaparece, mas à custa do retôrno, de contrabando, dos antigos Dialética do Conhecimento 511

Duplo caráter da liberdade e igualdade

Contradições do socialismo racionalista

Ideologia da reação política

privilégios. Mesmo contudo que isso se desse - como de fato ocorreu em algumas instâncias de menor importância - nada custaria aos novos privilegiados, como não custou, mudarem de roupa e se fantasiarem com aquêles antigos privilégios. Não se viu isso caricaturalmente representado pela nobreza de Napoleão, os titulares da Restauração e os Lordes de salsicha e cerveja do Parlamento inglês? Fracasso do Para os reformadores socialistas todavia, aos quais Socialismo repugnavam tanto uns como outros privilégios, os feuutópico dais como os burgueses, a contradição se insinuava fatalmente ~or todos os poros do pensamento. Em Proudhon, que é aêles o de maior envergadura400, e que procurou colocar o problema em tôda a sua extensão filosófica, o que vemos por isso é um esfôrço desesperado para escapar do círculo de ferro em que a Metafísica retém seus propósitos de reforma. Propósitos que vão desembocar afinal no mais acabado grotesco: a sua Filosofia da Miséria dá na Miséria da Filosofia de Marx, lápide que encerra para sempre a carreira do socialismo utópico, tão bem começado por Sint-Simon, Fourier e Owen, e fadado a tão triste fim. A sua breve história, produto ideológico de um proletariado ainda na infância, é semelhante ao balbuciar incoerente e desconexo de uma ·criança que começa apenas a falar, mas que dentro em pouco será homem maduro que exprime com precisão um pensamento poderoso. l!: interessante notar bem êsses aspectos da evolução Insufici~ncia ideológica da primeira metade do séc. XIX, porque nêles da Metafísica se começam a perceber as circunstâncias históricas novas que levarão ao descarte definitivo da Metafísica que no século anterior ainda se mostra suficientemente amolgável para conter a solução do problema político então pendente. O nôvo problema do séc. XIX, que será o do proletariado, demandava entro avanço do Conhecimento do Homem; e êsse avanço já não será mais possível nos quadros Superação do tradicionais e clássicos da Metafísica. O socialismo utópiracionalismo co fizera a experiência, e fracassara: a Metafísica tinha metafísico portanto de ser su,Perada. Da identidade, que constitui a essência da Metafisica - a Liberdade, a Igualdade, a Ra400 Proudhon não cabe propriamente entre os utópicos, e os combate; mas suas premissas filosóficas são as mesmas. Proudhon acabará, como se sabe, no anarquismo, êsse mar comum em que se confundem, com um proletariado imaturo e cheio de ilusões, desde o pequeno-burguês desesperado e o aristocrata decaido, até o burguês falido e o inteletcual acovardado.

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zão. . . os Absolutos enfim, sempre idênticos a si pr6prios - o pensamento filosófico devia passar para outro pólo: o da diferença, isto é, a Relatividade de todos aquêles Absolutos, para desembocar afinal naqueles mesmos princípios, mas colocados agora já noutro plano pela ação deliberada e cientificamente conduzida de novos homens: a Liberdade que liberta o homem de suas necessidades e limitações; a Igualdade que não seja a da exploração do homem e constitua o ombro a ombro do companheirismo e da solidariedade na ação pelos mesmos objetivos; a Razão que é o Conhecimento concreto, elaborado e construído pela inteligência humana na base imediata e exclusiva de sua experiência e visando o bem-estar de todos. Mas antes de chegar até aí, havia ainda, e há para nós nestas páginas, um bom caminho a percorrer. Sigamo-lo pacientemente, ou impacientemente se preferirem; mas sigamo-lo sempre, porque a História poàe às vêzes demorar, mas seu movimento fatal não cessa ... Vejamos pois os motivos que chamamos, em oposição aos acima mencionados, de práticos, e que se articulam com os teóricos para explicar a diferença da situação no séc. XIX com relação à do século anterior, e também porque o Eroblema do proletariado demandava soluções novas e diferentes das aa burguesia ascendente e vitoriosa na fase histórica precedente. B. - A revolução ou reforma burguesa significara, em última instância, uma modificação do regime de pro- Revolução bur• priedade. Espremidos até darem a sua última e mais guesa e regime íntima substância, os acontecimentos que marcam a pas- de propriedade sagem da Monarquia para o Constitucionalismo burguês se reduzem a isto que é o essencial: o direito ao uso e gôzo dos bens, materiais ou não, da produção coletiva de riqueza ( ou de sua maior parcela, ao menos), mudara de titular, passando do Nobre para o Burguês. A transferência foi na maior parte das vêzes efetiva e bem concreta: de pessoa física a outra pessoa física de Monseigneur: um tal a Monsieur um outro, de Milord fulano a Mister beltrano. Mas houve também transmutações de nobres em burgueses, de monseigneurs em messiéurs, de milords em misters, sobretudo na Inglaterra, onde as coisas correram mais suavemente, e os "milords" não perderam como os "monseigneurs" sua cabeça na guilhotina. Mas isso não interessa aqui, e não é o nobre ou aristocrata pessoa física, nem o burguês de carne e osso que nos ocupa; e sim nobres e burgueses como pessoas de direito, isto é, ocupando Dialética do Conhecimento 513

certas posições pr6R,rias e específicas na estrutura econômica, social e pohtica, e ligaaos a relações determinadas O Nobre e o e particulares de produção: de um lado o Nobre que ex'Burguês plora servos ou semi-servos com que se relaciona através ae estatutos segundo os quais o servo deve certas prestações ao senhor que tem direito a elas; de outro, o Burguês que explora operários comprando dêles, em troca de salário num mercado livre sujeito à lei da oferta e da procura, a mercadoria fôrça de trabalho. É: a essas personagens, abstratas do ponto de vista individual e biológico, mas bem concretas do ponto de vista coletivo e sociológico, que nos referimos aqui. A distinção é importante, e logo veremos porquê. Para simplificar a exposição, embora com o risco de esquematizá-la e deixar ao leitor a tarefa de completar o esquema, diremos portanto que com a revolução burguesa do séc. XVIII, o que fundamentalmente ocorreu foi a transferência do uso e gôzo da maior parte da riqueza coletiva, antes à disposição dos nobres, para os burgueses. Uso e gôzo que se resumem no direito de propriedade e são por êle assegurados. Foi isso o que ocorreu. E como ocorreu? Simplesmente ( "simplesmente" para n6s que precisamos apenas compreender os fatos, e não determiná-los) pela modificação Relações jurí- das relações sociais: de pessoais, elas se tomam reais, dicas pessoais como diria um jurista; isto é, de relações diretas entre e reais pessoas com direitos e obrigações recíprocos definidos juridicamente por estatutos próprios e específicos para cada um, ou para cada categoria social - o Rei, os Príncipes de sangue, os Nobres subdivididos em várias subcategorias entre as quais figura também o alto Clero, o Terceiro Estado onõe se aglomeram, mas bem distintos uns dos outros, Mestres, Artífices, Vilões e mais uma série de categorias, subcategorias e subsubcategorias, num em,ranhado que até hoje os especialistas do assunto ainda não conseguiram deslindar por completo - dêsse tipo de relações de natureza puramente pessoal em que somente a pessoa e sua posição na ·sociedade são tomadas em consideração, passa-se a um tipo de simplicidade transparente, êste que conhecemos ainaa hoje e que se realiza unicamente através do "vil metal corrente e sonante", do dinheiro. No Antigo Regime, para se definir e identificar alguém, isto é, para determinar o tipo de relações sociais de que participa, rocorria-se a seu estatuto jurídico; no nôvo regime, isso se fará pela profissão e ocupação que 514 Caio Prado Júnior

dizem logo, e com bastante aproximação, de quanto dinheiro dispõe. Enquanto dominavam relações pessoais, quando elas se encontravam ainda em seu estado puro o que na realidade nunca ocorreu por completo - se alguém desejava entrar em relações com outrem, como por exemplo adquirir um objeto qualquer, era preciso antes consultar seu próJ>riO estatuto pessoal e o do eventual vendedor a fim de verificar se um podia comprar e o outro vender; bem como indagar do preço pelo qual -se devia juridicamente fazer a transação. Hoje, isto é, de acôrdo com o tipo burguês de relações, o assunto todo se resolve simplesmente como uma consulta ao bôlso do comprador e à prateleira do vendedor, e um livre debate entre ambos para a determinação do preço. A diferença é grande, como se vê; mas afora dificuldades de ordem política geral, a transformação das relações de um tipo para outro se liquidava simplesmente com a abolição dos estatutos. Ficava assim de pé unicamente a transação monetária, a manobra financeira. Abolida a complexa regulamentação medieval, sobraria entre os indivíduos um único traço de união, um só tipo de relações: o do dinheiro, que teria designações diferentes conforme a relação particular que lhe coubesse estabelecer e atar, mas que será sempre dinheiro: salário, entre patrão e empregado; renda fundiária, entre proprietário da terra e lavrador; preço, entre vendedores e compradores de mercadorias; furo, entre emErestador e prestamista; inter~sse, entre o proprietário ae máquinas industriais e o conjunto daqueles que para êle trabalham; capital, finalmente, nas relações que envolvessem o conjunto da sociedade: proprietários e não proprietários, empregados e empregadores, vendedores e compradores, etc. O capital constitui o sistema geral e mais amplo de tôdas as relações burguesas. Os leitores desculparão essa insistência no esquematismo, porque do contrário teríamos de trazer para cá um tratado de Economia Política. E o que está aí é 'suficiente para o essencial que pretendemos esclarecer, e que é a relativa simplicidade do processo de transformação do regime monárquico-feudal para o burguês. Trata-se apenas de substituir um tipo de relações por outro que já se encontrava, embora em plano subordinado, no regime anterior. A sociedade feudal conhecia a moeda e as transações monetárias; conhecera-as sempre, porque já vinham do mundo que a precedera: a Antiguidade. E em última Dialética do Conhecimento 515

Transformação das relações jurídicas

Relações reais na sociedade

feudal

instância, se as suas relações não se resolviam sempre em moeda - isso em grande parte porque nwna época em que não se usavam ainda nem papel-moeda nem títulos de crédito, mas somente metais preciosos, o ouro e a prata em espécie, o dinheiro era escasso e insuficiente para as transações que se realizavam - se tôdas as transações não se resolviam em dinheiro, era em moeda que geralmente se fixavam os valores. As relações monetárias já existiam portanto na sociedade feudal; e embora envolvidas num véu espêsso de relações pessoais e absorvidas por essas últimas, não somente se faziam sentir, como ofereciam um manejo muito mais simples. Não smá apenas por efeito dessa simplicidade maior que as transações monetárias e as relações por elas determinadas foram ganhando terreno em preFatl>res de de. juízo das outras de natureza pessoal; muitos outros fasenvolvimento tôres e circunstâncias diversas contribuíram para isso; e das relações embora não possamos analisá-los aqui, o fato é que com reais o desenvolvimento das relações mercantis e sua multiplicação acelerada, tanto por efeito do crescimento da população, seus contactos mais íntimos graças à melhoria aos meios de transporte e maior segurança dos caminhos, bem como sua concentração em centros populosos; como sobretudo por efeito do estabelecimento de rotas ultramarinas que não somente estimularam consideràvelmente o comércio como lhe forneceram os metais africanos, asiáticos e americanos necessários para o seu giro; o fato é que as relações estabelecidas em bases monetárias se foram desenvolvendo precipitadamente, em prejuízo da ganga de relações pessoais em que se achavam envolvidas. E assim, quando. alcançamos o séc. XVIII, tanto nobres como burgueses, e igualmente as demais classes, aõem de outro recurso que o rudimentar Conhecimento ao Hoin:em à sua disposição, bem como seus métodos empíricos. Sairá daí o socialismo reformador e utópico. Vejamos como· isso se deu. Por instinto, os socialistas sentem desde logo o ponto As soluções do nevrálgico dó problema: a distribuição das riquezas. Po- socialismo diam fàcilmente observar, e sentiam-no em sua carne ( ou utópico sentia-o a classe que representavam ideologicamente) que as .riquezas, os bens, a produção, todos os benefícios enfim desta vida terrena - e já não cogitavam excessivamente da outra que a burguesia materialista se incumbira de extirpar de suas crenças - se concentravam num extremo da sociedade, e rareavam cada vez mais no resto; chegando ao limite que era da ·simples subsistência, no outro extremo. Limite tão baixo que o homem se desumanizava, pois era obrigado a alienar o que havia nêle de mais pessoal: os seus gestos e ações, o seu próprio pensamento. O problema era portanto de distribuir melhor e mais equitativamente a riqueza. Observarão ainda que o que presidia a tal distribuição era o direito de p:opriedade: é em nome e por fôrça dela que os indiv1duos se apropriavam de sua quota-parte da riqueza e dos bens. A atenção dos socialistas se firmará portanto na Propriedade4oõ, Começa aí a deformação metafísica. Os socialistas Deforinação da não verão na prara a. maior parte de nossas necestidade sidades, e não envolve aí confusão ou dificuldade alguma. Se perguntarmos a um quitandeiro: quanto custa a dúzia de ovos?, e êle responde quinze cruzeiros, a situação torna-se absolutamente clara para ambos: comprador e vendedor. E na base daque1a transmissão oral do pensamento ( isto é, uma proposição verbal do vendedor· que se funda no conceito de quantidade), podemos formar uma série de considerações, elaborar portanto novos pensamentos, do maior rigor objetivo, pois verificados na prática serão confirmados. É: assim que será exato que pagando quinze cruzeiros ao quitandeiro, receberemos doze ovos; saberemos ainda. que êsses doze ovos ocuparão aproximadamente um certo volume, e que portanto poderemos transportá-los na cesta que trazemos conosco e gue é suficientemente grande para isso; podemos .ainda avaliar a soma que nos resta depois de efetuada a compra, e o ônus porcentual que trará para nosso orçamento, isto é, a quantia monetária de que dispomos mensalmente, confrontando aquêle . 6nus com as importâncias destinadas a outras despesas e necessidades ... Tôdas essas considerações e outras muitas do mesmo Legitimidade gênero, giram em tôrno do conceito de quantidade, ou do conceito de dêle se utilizam, e grifamos as palavras que nelas Iem:. quantidade bram mais ·direta e imediatamente aquêle conceito. Saindo dêsse terreno elementar, o conceito de quantidade não se mostrará menos útil e seguro, tanto que a própria Matemática, até há pouco tempo atrás, era mesmo definida, e com tôda legitimidade, ci~ncia da quantidade; e apesar de tôdas as modificações havidas ilestes últimos anos com a bomba atômica e outros assuntos de igual interêsse, não se poderá no entanto afirmar que a experiência humana tenha sido tão grande a ponto de •neces754 Caio Prado Júnior

sitar o abandono do conceito tão duramente tratado. por Russell. Tanto na vida corrente, como em quase todo o domínio do conhecimento, o conceito de quantidaàe tem resistido e resiste ainda; e resistirá com certeza indefinidamente, porque nada indica sua inconveniência ( a melhor prova disso está em que a crise que sofre não é. ao menos suspeitada senão por um número insignificante de pessoas), a não ser no setor mais apurado da Matemática atual: a teoria dos números. No entretanto, e ªEesar disso, já proclamam os metafísicos sua expulsão da órbita conceptual. Dir-se-á que isso somente diz respeito à Matemática; mas a Matemática é precisamente, entre outras coisas, a nossa compra de ovos. Não é possível, a não ser nos domínios da Metafísica, dividir o conhecimento em categorias estanques segundo as pessoas e assuntos, e elaborá-lo conforme essas categorias: uma elaboração para cada qual. E Eortanto se nas esferas superiores o conceito de quantiâade é inconveniente, e precisa ser descartado e esquecido, então ·a modificação tem -de ser geral. Mas porque a intransigência de Russell? Procurando sabê-lo, vamos d_ar no coração de suas concepções ( que são as da generalidade dos logísticos) e na pista errada em que coloca a sua Lógica. Como metafísico que é, e considerando o conceito como uma "coisa" ( êle o chama de "entidade", outros colegas diriam "ente" ou "ser matemático"), e sendo o atributo essencial de um conceito-coisa a não-contradição, não é para Russell admissível um conceito que não seja absolutamente isento de contradição. Um conceito, como qualquer "coisa" ou "entidade" tem de ser sempre idêntico a si próprio; se não é real, não tem "existência", e há de ser eliminado se sub-reptlciamente se introduziu no pensamento e na linguagem. E como num setor do conliecimento o conceito de quantidade se mostrou contraditório, isto é, não-id~ntico a si próprio, há de sofrer aquela pena máxima. E que se propõe em seu lugar? O conceito de ordem, que efetivamente pode ( em principio) representar todos os papéis da quantidade, preenclier tôdas suas finalidades, com a vantagem de satisfazer outras mais para que a quantidade é imprestável; e finalmente, última ratio e decisiva, não é contradit6rio ( ou pelo menos assim se afirma), o que desde logo lhe concede foros assegurados de "realidade" no reino da Matemática ( a exist~a matemática é a não-contradição, já afirmara Poincaré, tão Dialética do Conhecimento 755

Inconveni~ncia do concei, to de quantidade

Substituição do conceito de

quantidade pelo de ordem

Matemática pura e aplicação prática

Natureza do problema lógico do conceito de quantidade

longe embora de Russell.) Mas de que modo o conceito de ordem funciona como o de quantidade? e que quantidade quer dizer, número e um número só pode ser conceituado convenientemente e explicado coerentemente quando êle é considerado como posição, isto é, ordem que ocupa numa seqüência. Tudo isso afirmam os matemáticos, e de certo modo têm razão. Mas se fôssemos generalizar a substituição do conceito de quantidade pelo de ordem, e aquêle fôsse inteiramente abandonado e varrido de nossa conceituação, aconteceria que ao comprarmos a nossa dúzia de ovos seríamos incapazes de nos representar diretamente, como ocorre, o número doze como um certo conjunto imediatamente apreendido sob seus vários aspectos: volume, preço, desfalque orçamentário, etc.; e para chega.r a essas considerações ( se é que lá chegaríamos) teria o nosso pensamento que passar previamente por uma operação complexa que consistiria, em suma, em colocar os ovos em correspondência, um depois do outro, respectivamente com uma moeda atrás da outra; o que aliás seria no caso, como na generalidade dos casos possíveis, impraticável, porque não somente o preço que habitualmente consideramos .é o da dúzia, e não de cada ôvo; mas ainda porque precisaríamos dispor de uma escala monetária que correspondesse com o preço dos ovos; uma escala de partes alíquotas correspondentes às partes alíquotas da escala de dúzias de ovos. A essa altura intervêm os matemáticos e afirmam nada ter a ver com ovos ( embora com certeza os consumam ... ) e com compra de ovos ( embora, também com certeza, sejam compradores de ovos); e que sua Matemática não interfere e nada tem a ver com a Realidade física e concreta, que poderia desaparecer, se é que efetivamente existe, sem que sua Ciência sofresse o menor desfalque. Mas como não somos da mesma opinião, tanto quanto não são todos aquêles que compram, vendem e praticam uma infinidade de outros atos em ,ue precisam de Matemática, nos afastamos dos "puros , e vamos tratar da nossa vida e procurar resolver concretamente o problema suscitado. Recapitulando o assunto, verificaremos que êle se apresenta em resumo da seguinte forma: o conceito de quantidade nos é indispensável, e não podemos nem queremos abandoná-lo; mas doutro lado, êle é inaceitável em certos setores da Matemática que são tão importantes como aquêles que em756 Caio Prado ]únior

pregamos correntemente em nossa rotina diária. Precisamos pois conservar e ao mesmo tempo eliminar o conceito de quantidade, o que nos leva a cogitar da necesidade de seccionar a Matemática em categorias distintas para objetivos diferentes. Mas já vimos que isso é impossível. Como sairemos da dificuldade? Em primeiro lugar, despindo-nos dos preconceitos metafísicos que fazem dos conceitos categorias rígidas, estanques e impermeáveis, sempre id~nticos a si próprios; e admitindo, como realmente é o caso, que quaisquer conceitos não são senão partes de um sistema conceptual em função de que existem; e somente nessa função; não tendo nenhuma existência, ou antes, nenhum sentido autônomo. E que, nessas condições, o pensamento pode livremente passar de um para outro conceito sem que isso signifique estar-se ocupando de outro assunto. Noutras palavras, os conceitos ao se apresentarem à nossa consciência, ao se fazerem representações mentais presentes, não permanecem aí necessàriamente imóveis e estáticos, mas pelo contrário se podem modificar, e efetivamente se modificam sem que por isso o pensamento esteja divagando e passando para outra ordem de considerações. Apliquemos isso, agora, ao conceito de quantidade. Ao caracterizarmos, por exemplo, uma certa feição da Análise dialética do proble• Realidade objetiva a fim de a fixar na memória e trans- ma mitir a outrem a caracterização feita, podemos usar, entre outras formas possíveis de caracterização, a seguinte: aqu~le bosque tem 51 árvo-res; encontram-se no armazém 28 sacos ele arroz; a cubagem mínima de um quarto de dormir deve ser de 22m8. . . Estaremos nesses casos empregando uma conceituação qoontitativa, isto é, empregando para caracterizar a feição considerada ( bosque, arroz, quarto de dormir ... ) o conceito de quanticliide. Mas ao afirmar que tal bosque tem 51 árvores, não estaremos naturalmente pensando que o número 51. está "contido" naquele bosque, que faz parte de sua narureza ou essência. O que efetuamos com o pensamento é simplesmente caracterizar o bosque por comparação com outros possíveis bosques diforentes dffle ( maiores ou menores), ou com outras quaisquer coleções de indivíduos. Se todos os bosques contassem sempre 51 árvores, a caracterização por êsse número 51 seria inócua, e nem se consideraria; 1:iastaria dizer bosque, e já se saberia do que se trata: do tamanho dêle, da imagem que produz em nossa vista quando o contemplamos, do tempo que Dialética do Conhecimento 757

A conceituação quantitativa implica uma "comparação" de coleções

Análise da operação mental na conceituação quantitati• va

levaria para atravessá-lo, da impressão estética que produz, etc.· A comparação entre coJeções diferentes .é portanto uma ·condição essencial para. ocorrer ou tomar-se útil a conceituação quantitativa: Essa conceituação quantitativa implica portanto uma comparação, um confronto entre coleções diferentes. Como sé faz isso? Através de um sistema conceptual preexisténte · em nosso conhecimento ( que é a Aritmética), _elaborado pela humanidade no curso de seu desenvolvimento, e que transmitido por tradição, nos é ensinado em nossa infância - precisa• mente, nos casos normais, entre os 4 e 5 anos -: a numeração ou série de números. Quando contamos uma coleção, logo confrontamos, por uma operação formal mais ou menos inconsciente, e que é a reprodução de operações praticadas na nossa aprendizagem dos números ( operações de aprendizagem estas que são reprodução aa. quelas a que procederam nossos remotos antecessores da espécie humana quando elaboraram e inventaram o sistema conceptual da numeração), confrontamos o número obtido com tal série de números; o que nos dá ime~ata e automàticamente uma infinidade de comparações .com tôdas as coleções que consideramos em outros momentos de nossa existência, coleções que vimos, de que ouvimos falar, que imaginamos. E são essas comparações que fazem possível a caracterização, individualização ou discriminação da coleção que estamos considerando no momento. Caracterização essa que· nos permite considerações como as seguintes; êsse bosque é maior, menor º? igual ,àq~ele outro, ou àquele de que ~o~ falar~m, q~e vrmos ha dias ou de que lemos a descnçao: e e maior ou menor de tanto ou quanto; servindo tais considerações para uma infinidade de outras que possam porventura interessar-nos, como sejam as de ordem econômica ( utilização industrial do bosque e sua lenha); de ordem estética ( impressão estética que produziria outro bosque maior ou menor naquele local) ; jurídicas ( se se trata de uma partilha judicial); efo. ~ assim que opera e ta] é o sentido e finalidade da conceituação quantitativa e do emprêgo do conceito de quantidade. Considere-se agora o que aconteceu no curso dêsse procedimento mental descrito, e que ocorre de cada vez que nos utilizamos do conceito de quantidade. O nosso pensamento, ao considerar uma certa coleção, passou daí para a série de números com a qual, por um confronto e operação de correspondência entre as partes ou indi758 Caio Prado ]únior

víduos da coleção ( no caso as árvores) e os •indivíduos" da série ( que s.ão os números), .e -numerou ou contou a coleção; e com isso colocou a coleção na posição que lhe cabe na escala numérica. Classificando-a, como antes já classificara uma infinidade de outras coleções: a comparação se realiza pois automàticamente entre a nossa coleção considerada e a infinidade já considerada anteriormente; A ordem .respectiva em que tôdas se colocam na escala ou série de números, nos dá a ·comparação exigida. Aí temos o conceito de ordem associado ou relacionado com ·o de número ou quanti- Ordem e quan. dade; e verifica-se que êsse conceito de quantidade so- tidade mente tem sentido aentro de tal associação ou relação; dentro do sistema conceptual formado pela conjugação ordem-quantidade. E vice-versa, chegaríamos ao mesmo resultado se partíssemos, em outras instâncias, do conceito de ordem: teríamos de recorrer também ao de quantidade, ou antes ao sistema de relações conceptuais em que também figura a ordem. Concluímos portanto que os conceitos de quantidade e de ordem, longe de se excluírem, de:eendem mutuamente um do outro; e nada têm de "entidades" absolutas, estanques e sempre i~nticas a si_ próprias; mas ao contrário se transformam um no outro ( se substituem em nossa representação mental presente) no curso de nossas operações ou processos de pensamentos; e o que interessa precipuamente nêles não é cada um dêles por .si e em si ( pois como vimos, considerar que uma coleção compõe-se de tantos indivíduos - quantidade -, não interessa senão para o fim de estabelecer comparações e confrontos, o que implica a ordem), mas precisamente aquela transformação de um no outro, ou antes, a operação ou processo mental de transformação do conceito de quantidade no de ordem, e dêste último no de quantidade. Processo êsse em que o pensan_iento passa do número da coleção ( quantúúide), para o ordenamento das coleções em geral (ordem), e de retômo ao número da coleção considerada enriquecido com as comparações e confrontos efetuados com outras coleções566, 566 Note o leitor que êsse_ movimento do pensamento corresponde ao processo dialético dá afirmação, negação e negação d.à negação. Não constitui aliás senão a aplicação do método lógico da Dialética, isto é, fato de tornar consciente e plenamente perceDialética do Conhecimento 759

Análise dialéti• ca das relações entre os con• ceitos de ordem e •quantidade

Conteúdo e forma de con• ceituação quan• titativa

A quantidade implica ordem

Os conceitos de quantidade e ordem não são portanto senão momentos de um processo pensante; e o problema que enfrentamos acima não consiste pois em saber se êste ou aquêle conceito deve ser eliminado ou niio, e sim em anafisá-lo dialeticamente como fizemos, verificando como se estabelecem suas ligações, como se relacionam. Note-se bem que tal relacionamento não foi feito arbitràriamente, nem resulta de normas ou categorias lógicas exteriores ao processo pensante ( à moda da Lógica clássica); êle ( o relacionamento) constitui a reprodução da gênese e história efetivas da conceituação quantitativa tal como ela se elaborou no curso da formação e evolução histórico-cultural da humanidade; e assim o relacionamento que descobrimos já preexistia de fato em nosso entendimento; embora forma1imdo como se achava, não exibisse senão sua aparência, conservando-se o processo efetivo em que se funda no íntimo da nossa esfera subliminar. li: aí que fomos surpreender aquêle processo e revelar o relacionamento que implica. E êsse relacionamento é tal como expusemos acima porque o conceito de quantidade e a série de números em que se apoia, foram elaborados pela humanidade nos seus mais primitivos estágios culturais através da operação de enumeração ( que se reproduz sob forma condensada e dirigida pelo ensinamento, na aprendizagem infantil de cada indivíduo), isto é, confrontando os indivíduos ou melhor partes de uma coleção, um por um, respectivamente com os elementos de uma escala ou série a princípio bem concreta e material: os dedos da mão, e do pé, os membros do corpo considerados numa certa ordem, as articulações ( do pé, joelho, da coxa, do braço, do antebraço, da mão, etc.); depois com contas enfiadas e dispostas assim em sucessão; e finalmente com os números que são elementos de uma escala ou série Euramente conceptual, precisamente a série de números, de emprêgo, está visto, muito mais cômodo e expedito. Forma-se assim a conceituação numérica e o conceito de quantidade, que sintetiza aquela conceituação. Vemos portanto que o conceito de quantidade tem sua origem remota em operações concretas que implicam ordenamento ( de partes anatômicas do corpo humano, de contas, de representações mentais que são os números), e pois ordem. Não é assim de estranhar que a Matemática, bido e conhecido o funcionamento do pensamento no curso de sua operação de contagem das árvores do nosso bosque. 760 Caio Prado ]únior

revolvendo a conceituação quantitativa, como fêz, tenha dado naquele ordenamento, e a tenha conceptualizado no conceito de ordem. Tal ordem já se encontrava na esfera subliminar dos matemáticos, como se encontra na de todos os homens portadores de uma certa ·cultura, fundamentando seu conceito de quantidade; e se os Freges, Cantors, Dedekinds, Russells e outros elaboradores da moderna teoria dos números não fôssem metafísicos e conhecessem a Dialética, não teriam chegado àquela ordem, a partir da quantidade e dos números, ao acaso, desordenadamente e sem perceberem muito bem o que estavam fazendo; e sim teriam procedido metodicamente e com plena consciência do assunto, como nós acima. Teriam procurado dialeticamente, utilizando-se, além da Matemática, de conhechnentos psicológicos, psico-pedagógicos, antropológicos, etc., a gênese e história efetivas e reais do conceito de qua,ntúlade; e descobririam então as relações dêste conceito com o de ordem. E verificariam então que tal conceito não é uma "entidade" absoluta, impermeável, imutável e estanque, mas liga-se com outros conceitos e somente existe em função dêles. E não se proporia portanto o problema de eliminar conceitos existentes e substituí-los · por outros. Os conceitos de quantidade e ordem são apenas momentos de um processo, e é êsse processo, e não seus momentos, que sobretudo importa e tem sentido. Tal processo ou operação mental irá nos casos correntes e ordinários ( contagens e avaliações para fins práticos imediatos), irá da enumeração (quantidade) para a série ordenada de números (ordem), e daí de retôrno à consideração originária, mas com a enumeração ou contagem enriquecida· com comparações e confrontos, do maior interêsse, da coleção contada ou enumerada com outras coleções. O mesmo processo irá, no caso da Teoria matemátioa dos nú.meros, da ordem para a quantidade; e de retôrno à ordem enriquecida667, O processo é no fundo o mesmo em ambos os:ca567 Não podemos aqui desenvolver êsse processo que já entra para o terreno específico da Matemática. Assinalaremos apenas que questões complexas que assentam ainda em bases precárias, como a dos números cardinais e ordinais, e a do infinito, se resolveriam assim desde logo. Notamos ainda a perspectiva que se encontra no mesmo processo para a generalização e sistematização da Geometria de maneira mais ampla e profunda que a realizada pelo formalismo axiomático (Hilbert), porque suscetível de compreender êste último e fundamentar seus axiomas. A Geometria euclidiana não é senão a qoontidade (implícita na operação de

Dialética do Conhecimento 761

Relacionamento dos concei• tos de quantidade e ordem

sos, apenas com o atraso ou adiantamento de uma fase da sucessão de momentos ( ordem-quantida,de-otdem, em vez de quantidade-ordem-quantidade.) Não é preciso assim eliminar a útil quantidade, nem tampouco discutir a preferência e:id.gida pelos matemáticos para a ordem. As contradições que êles encontram na conceituação quantitativa deveria ter-lhes servido de sinal de que o que estava em jôgo não eram conceitos rígidós é sempre id~nticos a si · pr6prios, mas um processo dialético, e se procedessem segundo um método dialético, teriam procurado não eliminar um dos têrmos da contradição, ·e sim superá-la ou a suspender, como procedemos acima no caso de um exemplo elementar. Isso lhes teria aberto novos e novos horizontes; e as contradições encontradas, longe de constituírem um espantalho; seriam pelo . contrário bem-vindas e sinais precursores de um nôvo impulso de sua Ciência no caminho infinito do progresso que está à sua frente. Como se vê, é grande a tarefa da Dialética nesse Tarefa da Dia• setor da reestruturação da conceituação existente. O nosso lética exemplo se refere à Matemática e conceituação dos fatos físicos, porque estávamos tratando particularmente da posição da Logística568 que surgiu precisamente para resolver as contradições e incoerências surgidas. no seio da conceituação matemática. Mas o problema é muito mais amplo e se estende por todo o campo do Conhecimento. . É tôda a conceituação científica que precisa Reestruturaser refundida e reestruturada sôbre novas bases. Embora ção da concei- verificando suas deformações no que diz respeito à repretuação sentação conceptual dos fatos concretos, e à profunda impregnação metafísica que nela se observa, não é evidentemente possível, todavia, rejeitá-la em bloco, o que significaria recomeçar tôda a evolução cultural da huma.niâade, e reelaborar integralmente, a partir de suas pre,.; missas experimentais, todo Conhecimento humano e a con~ transposição rig1da), que se relaciona dialeticamente com a ordem, em que se apoiam outras geometrias e a Topologia em particular; lus A Logística se relaciona com a Matemática, e com a con•. ceituação matemática dos fatos físicos em particular. :l!: 2or lllil.a. incompreensão do fundo da questão e por efeito de uma daquelas· confusões de que a Metafísica é em última instância a responsávél; · que os logísticos têm procurado coordenar, com recurso ao simples formalismo, a Lógica clássica e a Logística, tarefa irrealizável que tem por conseqüência, como vimos, deformar ainda mais a con-. ceituação matemática e encerrá-la inteiramente nos quadros rígidos da Lógica metafísica. 762 Caio Prado Júnior

ceituação que o exprime. Isso não é realizável,• nem mesmo imaginável, e precisamos aceitar, como ponto de partida, a conceituação existente e tal como se apresenta. lt ela que encerra e exprime, como Conhecimento, a milenar experiência_ d~ e_spécie humana, a. m~ior e. principal part~ de seu patnmomo cultural. Const1tu1 portanto um dado que não é possível pôr de lado. O que há a fazer é. saneá-la, procurando restabelecer seu conteúdo e sentido deformados pela Metafísica e pelo modo com .que se empregou durante séculos o fmmalismo da Lógica clássica. O estado deplorável em que se apresenta a conceituação existente ou antes a maneira falseada com que é considerada e interpretada, provém das concepções metafísicas que durante milênios, desde o início provàvelmente da elaboração consciente e racional do conhe~ cimento ( racional em oposição à simples elaboração empírica) vêm deformando os resultados do processo de pensamento ( que são a conceituação e o conhecimento).; a saber, deixando de lado aquêle processo propriamente, para conservar apenas, e considerar unicamente, segundo vimos no capítulo anterior, o momento final de cada um de seus ciclos que são as identidatles expressas verbalmente; identidades que aparecem ·assim inteiramente desligadas umas das outras, uma vez gue o pr9cesso pensante em que se geraram, e donde derivam, além de sua própria existência, a sua articulação mútua, a unidade de seu conjunto e sistemática geral, aquêle processo é desprezado, propriamente ignorado, recalcando-se para a esfera subliminar; e restando apenas, da interconexão das identidades, suas ligações formais ( como a cl,assificação) expressas no formalismo da Lógica. Nessas condições, a natureza e o sentido da conceituação não se poderá buscar onde êle. é encontrado, isto é, naquele processo que lhe deu origem; e sim no interior dos próprios conceitos, na sua mesma identidade, que é tudo quanto dela sobra. Daí a Metafísica, seus problemas insolúveis e sist~mas explicativos tão precários, fantasiosos e inadaptáveis- aos fatos reais e concretos do pensamento e conhecimento. Para explicar os conceitos, a Metafísica não encontrará outro recurso, e tomando por padrão a grosseira analogia das impressões sensíveis, e as da vista em particular, quer atribuHos também a impressões produzidas no Pensamento por Sêres exteriores: objetos materiais e morais; coisas ou entidades que existiriam no mundo exterior ao Pensamento: o mundo material e tangível, para os Dialética do Conhecimento 763

Ponto de parti• da da reestruturação

Parcialidade da visão dos fatos do pensamen• to

Explicação me• tafísica dos conceitos

materialistas; o mundo c1a,s idéias, ou ambos, para os idealistas. :É a inversão metafísico-idealista que forja assim um Universo segundo o modêlo conceptual; e que será tal como êsse modêlo metaflsicamente constituído de identid,ades ou conceitos estanques e isolados um do outro, um aglomerado de coisas materiais e entidades morais representadas respectivamente por objetos tangíveis e por abstrações, como o Bem e o Mal, .a Justiça, Deus. . . e todos os demais conceitos, devidamente "entificados", e que não encontram um correspondente pelo menos aproximado no plano da sensibilidade; o que não exclui outros Sêres de categorias intermediárias e mais ou menos tangíveis conforme as opiniões. . . E a Filosofia quebrará a cabeça para explicar essa confusão e harmonizá-la com os dados concretos da experiência. Em suma, é daquela imagem que a Ciência e o Conhecimento em geral, concebidos metaflsicamente, julgarão estar-se ocupando; e daí a deformação tremenda de suas formulações e da conceituação que apresentam. Trata-se hoje, pois, de reinterpretar essa conceituação à luz da concepção do U Diverso tal como êle realmente se apresenta, isto é, como uma unidade coesa e interconectada em tôdas as suas partes, e não pulverizado em "coisas" e "entidades";_ reinterpretação aquela que nos dará então . a conceituação na sua pureza originária, tal como se elaborou na base da experiência humana e se apresenta naturalmente como produto da função pensante, e sem a .deformação metafísica nela introduzida. Reconstituição E para realizar isso, não há senão reconstituir a origem da gênese da real da conceituação e seus conceitos; recompor os proconceituação cessos que a geraram, o que se fará pela redescoberta do processo histórico de elaboração daqueles conceitos que se apresentam na Metafísica e sua Lógica sem história e como que introduzidos no entendimento humano, não se sabe bem como, já prontos e acabados e como pílulas gnosiológicas. Reconstituição difícil e laboriosa, mas que hoje não é impossível, porque o Conhecimento já alcançou, graças à Dialética, o processo do pensamento humano, o seu dinamismo de função orgânica; sendo assim o Homem capaz, num esfôrço retrospectivo, de descobrir Genética dos aquela genética de seus conceitos, a história da elaboconceitos ração dêles; e revelar assim a conceituação na sua sistemática e portanto com seu verdadeiro sentido e conteúdo experimentais. 764 Caio Prado Júnior

Essa a grande tarefa atual da Dialética como Lógica. No futuro, e quando ela se generalizar para todos os homens, a elaboração conceptual não soirerá mais as contingências que até hoje lhe impuseram os rígidos quadros lógico-metafísicos através dos quais ela é obrigada a se exprimir. A Ciência e o Conhecimento em geral não se apresentarão mais, como se dá ainda hoje na generalidade dos casos, como um aglomerado de conceitos; e muito menos de conceitos mumificados em fórmulas verbais. Ninguém mais de bom-senso poderá afirmar com a segurança de um Tarski, e com audiência de tantos ouvintes, admiradores e discípulos, que "tôda teoria científica é um sistema de proposições." Todos os homens, e os cientistas em particular, terão uma visão correta de sua função pensante; e o processo do pensamento, o seu dinamismo natural e gerador da conceituação, não permanecerá mais, em sua maior parte, enterrado na esfera subliminar das atividades mentais e oculto sob o véu espêsso do formalismo lógico-metafísico. :f:le será conhecido, e por isso, na medida dêsse conhecimento, a conceituação poderá ser desde logo adequadamente interpretada e empregada. Está claro contudo que não é possível parar a evolução do conhecimento e interromper a elaboração conceptual enquanto se realiza aquela limpeza e até que ela esteja terminada; até que a conceituação atual esteja dialeticamente estruturaaa. Nem é possível essa estruturação sem uma permanente elaboração conceptual nova. A própria Dialética surgiu do progresso anterior do conhecimento, realizado como foi embora nos quadros da Metafísica; e é do progresso futuro da conceituação, portanto, que depende o desenvolvimento dela e sua ação saneadora. Tivemos aliás, rouco acima, um pálido exemplo como essa ação da Dialetica depende sempre de novos conhecimentos, pois para encontrarmos o relacionamento dialético dos conceitos de qualidade e ordem, tivemos de recorrer a considerações de natureza psicológica e antropológica que há meio século apenas não poderiam talvez ser feitas. O processo de elaboração conceptual continuará portanto ininterrupto; e isso até para o fim, se não houvesse outros motivos, que naturalmente são numerosos, de tornar possível a tarefa logificadora da Dialética. E por isso, a par dessa tarefa, e confundindo-se mesmo com ela na generalidade dos casos, a dialética Dialética do Conhecimento 765

Dialética e progresso da elaboração conceptual

Elaboração dialética da conceituação

deverá também presidir à elaboração conceptual que se está processando e processará cada vez num ritmo mais acelerado neste mundo atual em franco progresso de atividades; e deverá particularmente orientar a elaboração da Ciência propriamente, para o que se oferecem desde já largas perspectivas. Noutras palavras, é de um ponto de vista âialético, e dentro de uma concepção lógico-dialética que se terá de prosseguir, daqui para o futuro, na construção e desenvolvimento da cultura humana. Isso porque o papel da Metafísica não é mais apenas perturbador, mas já hoje franca e totalmente esterilizador. Considere-se por exemplo o Conhecimento do Homem, cuja elaboração se acba hoje inteiramente obstruída ( além das contingências político-sociais que já referimos) pelas "entidades" sem conta que se aglomeram à sua frente, e impedem o pensamento científico de vislumbrar os verdadeiros fatos reais da vida concreta dos homens que se disfarçam por detrás delas. E já não se trata mais unicamente das "entidades" tradicionais de ordem moral e jurídica ( o Bem, o Mal, o Direito, a Justiça ... ) , e sim também destas outras novas que jorram aos borbotões de uma Sociologia lógico-metafísica que os pensadores burgueses se esforçam por estruturar como um tapume opaco corrido em frente da existência concreta dos homens 569 • Quanto a outras ciências, e para não nos alongarmos Embargos no assunto, é suficiente lembrar os freios impostos ao opostos pelo homem de ciência por concepções fideístas; e quando não fideísmo ao suas, as do meio em que vive e trabalha, e ·onde as sanprogresso do Conhecimento ções são severas. . . Aqui o impacto da Metafísica é direto, e vai destruir, no seu germe, as mais largas e profundas concepções científicas. Quando se obriga um cientista a acreditar em almas do outro mundo e Espíritos sobrenaturais a que êle tem de prestar contas, ou quando 569 Referimo-nos aqui em particular à Sociologia mais recente que adota ou pretende adotar métodos imitados aos das Ciências naturais de cem anos atrás ou mais, e que alguns costumam denominar etnográfico ou antropológico; métodos êsses que consistem essencialmente, como os da vetusta Ciência natural pré-darwiniana que lhes serve de modêlo, em catalogar fatos e classificá-los sob rubricas conceptuais convenientes que, escusado dizer, imediatamente se entificam e passam a ser examinadas em si e na sua "essência." Citemos ao acaso algumas daquelas rubricas que nossos pseudo-sociólogos manejam com ares de grande sabedoria, e que colhemos na abundantíssima literatura que há a respeito, particularmente nos Estados Unidos, onde ela faz furor entre acadêmicos e provectos universitários: Cultura de Folk, Folkways, Bias, Clique, Gradient, Mob, Rapport, Self, Milling, Mores .••

766 Caio Prado Júnior

pelo menos êle é forçado a respeitar tais entidades, está claro que seu pensamento se encontra, de início, emasculado ao menos pela metade quando enfrenta qualquer problema; e tudo quanto sai dêle não poderá deixar de refletir a amputação sofrida. A situação tende aliás a se agravar com a crise geral do mundo burguês, pois vemos hoje o espetáculo inacretável ainda há uns poucos decênios, de homens de ciência saírem à liça com argumentos catados em seus conhecimentos científicos, em favor das mais grosseiras sobrevivências de superstições religiosas. É evidente que não há inteligência, não há erudição que resista a uma tal confusão com crendices de baixa extração. É somente nas Ciências físicas que êsse impacto político-religioso da Metafísica parece fazer menos estragos. Mas é aparência apenas, porque os preconceitos metafísicos também se insinuam no íntimo da elaboração física, e vão dar, como já se tem visto, no livre-arbítrio das partículas elementares da matéria e outras quejandas tolices. Mas onde a Metafísica, no terreno das ciências físicas, faz mais estragos, é no hermetismo em que encerra cada vez mais o pensamento dos pesquisadores, correndo-lhes ante os olhos a cortina espêssa de conceitos por êles mesmos criados - ou por antecessores seus -, e que confundem com a luz brilhante da Realidade objetiva. A crise da Física atual, de que assinalamos acima alguns aspectos mais graves, é bem a comprovação do despenhadeiro em que ameaça cair a ciência; se é que já não caiu ou está caindo. Depois do que foi dito, não insistiremos mais no assunto; e mostraremos unicamente, através de um exemplo concreto, a posição falsa em que se colocou a elaboração científica e que acumula à sua frente obstáculos cada vez maiores. Escolheremos tal exemplo no capítulo mais importante da elaboração contemporânea da Física, e que diz respeito à fusão das teorÚJS corpusculares e oriilulat6rias da Física clá~sica. Como é por aí que se manifestam os sintomas mais graves da crise, o nosso exemplo é particularmente ilustrativo e palpitante. Na Física clássica, como se sabe, consideravam-se dois campos distintos e portanto duas ordens de fatos que pareciam completamente estranhos uns a outros: de um lado, aquêles a que se atribuíam por "suporte" os corpúsculos (moléculas, átomos, eléctrons e outras partículas subatômicas); corpúsculos êsses que não são, Dialética do Conhecimento 767

Metafísica e elaboração das ciências físicas

Corpúsculos e ondas

em última instância, mais que fantasias com que se vestiram sucessivamente, e às vêzes simultâneamente, as partículas com que Newton propusera construir o Universo. De outro lado, estavam e ainda estão para muitos físicos, os fatos cujo "suporte" são ondas: a transmissão da luz e os fenômenos electromagnéticos; e como essas ondas tinham de ser de alguma substância, inventou-se o éter. Imaginados êsses "suportes", os fatos constatados Os fatos físicos experimentalmente passaram a ser investigados e intere seus "supor• pretados em função dêles, não se pondo mais a sua reates" lidade em dúvida. Para os fatos de suporte corpuscular, serviu desde logo a teoria matemática criada por Newton para a conceituação dos fatos da Gravitação Universal, e que por extensão se aplicou a quaisquer corpos e fôrças além dos Corpos Celestes e das fôrças da gravitação; inclusive por conseguinte aos corpúsculos. A hipótese corpuscular newtoniana, isto é, a explicação do Universo como um agregado de partículas ou corpúsculos, inspirada em Demócrito, não representa aliás, como já foi visto anteriormente, senão uma forma de dispor o Universo de modo a poder exprimi-lo com a conceituação matemática da Mecânica, e que inicialmente objetivava apenas a Gravitação Universal, o movimento dos Corpos Celestes. A inversão metafísico-idealista aparece aqui já claramente, e ela se foi consolidando na medida em que a generalidade dos fatos parecia enfileirar-se docihnente na interpretação corpuscular. A primeira dificuldade surgiu com relação à transmissão âa luz. Ela já vinha aliás desde o berço da Mecânica moderna, e Newton encontrou sérias dificuldades para enquadrar certos fatos luminosos no seu esquema corpuscular. Seu contemporâneo Huygens entendeu mesmo que não era possível admitir um "suporte" corpuscular para a luz, isto é, considerar a luz, como pretendera Newton, composta de "pequenos corpos emitidos de substâncias luminosas"; e propôs uma hipótese ondu1,at6ria, para a qual, século e meio depois, Thomas Young e A. J. Fresnel criariam uma conceituação matemática adequada. Depois disso, a explicação ondulatória se aplicou tão convenientemente aos fatos luminosos em geral, que não houve mais dúvida: a luz era transmitida ou transportada por ondas de éter. Havia ainda, é certo, alguns daqueles fatos que não se explicavam muito bem por ondas; mas eram aparentemente de importância secundária, e os fí768 Caio Prado Júnior

sicos fecharam para êles os olhos, esperando que algum dia se esclarecesse a "aparente" anomalia. E assim mais essa "coisa" que eram as ondas de éter, ganhou foros de realidade. Com os corpúsculos de Newton passou a constituir mais uma das "entidades" de que se compunha o Universo. Mas com o correr dos tempos e aperfeiçoamento técnico dos meios de experimentação e observação ( com o desenvolvimento da experiência humana, portanto), começou-se a constatar fatos que se comportavam ao mesmo tempo como .se seu "suporte" fôssem corpúsculos e ondas; e o que a princípio parecia simples anomalia perfeitamente sanável, tornou-se aos poucos, pelo contrário, em norma invariável: todos os fatos luminosos, examinados mais atentamente, evidenciavam um "suporte" simultâneamente corpuscular e ondulatório. O mesmo ocorria com os fenômenos elétricos; e finalmente o reino por excelência dos corpúsculos, a matéria, também se apresentava como manifestação de ondas! Mais ou menos pela mesma época, chegava-se à conclusão final e inapelável de que o éter não existia, e as ondas luminosas e electromagnéticas ficavam sem seu apoio: eram ondas de nada. Houve alguns protestos, mas logo se abafaram. O veredito da ciência com relação ao éter era definitivo, e não houve ajeitamento que o salvasse. Os físicos mais conservadores e coerentes tiveram de se calar: as ondas luminosas e electromagnéticas eram mesmo de "nada". Consolaram-se ràpidamente porque nessa altura já Ernst Mach se incumbira, como referimos acima, de acalmar os escrúpulos e pruridos "realistas" dos físicos, explicando-lhes que essa tal "Realidade'' somente em parte era exterior ao pensamento humano, sendo portanto perfeitamente legítimo que êste a completasse convenientemente de acôrdo com as necessidades da Física ou de qualquer outra ciência. Não havia pois nada de absurdo em postular onàns de nada, d~de que o pensamento soberano dos físicos assim o decretasse. E o decreto foi solenemente lavrado e promulgado. Mas isso resolvia somente parte da dificuldade, que persistia com relação aos fatos que se apresentavam "suportados" simultâneamente por corpúsculos e ondas. Aqui a questão parecia muito mais grave. Podia-se em rigor falar em ondas sem especificar sua constituição: era só declarar de início que tal era uma questão à parte, uma Dialética do Conhecimento 769

"Suportes" si• multâneamente corpusculares e ondulato• rios

Eliminação do éter

Identidade da onda e do corpúsculo

Conceituação matemática dos fatos de "suporte" corpus• cular e ondulatório

vez que para os fins da conceituação matemática, pouco importava que as ondas fôssem de qualquer natureza: água, éter ou outra substância. A sua conceituação dizia respeito a ondas em geral, e não a certas e determinadas ondas. Tal conceituação era aliás muito mais ampla, pois aplicava-se a qualquer fato periódico - à oscilação de um pêndulo como às vibrações de uma corda musical -; e por isso também às ondas que são um fato periódico, como logo percebe um veranista de beira-mar. Mas no caso da simultaneidade corpúsculo-onda, o assunto se complicava, porque as mais vulgares observações evidenciavam plenamente tratar-se de "coisas" nitidamente distintas: um corpúsculo não era uma onda, e uma onda não podia ser um corpúsculo. Não teria sido contudo difícil para os físicos saltar mais êsse obstáculo do bom-senso, tão bem armados estavam com a técnica de fabricação da Realidade pelo pensamento ensinada por Mach. Era só decretar sumàriamente: onda e corpúsculo são a mesma coisa. Mas nesse caso apresentava-se uma dificuldade mais séria, pois se era J)OSSÍvel a mesma conceituação matemática para ondas de éter e ondas de nada, o mesmo não ocorria com os corpúsculos-ondas. Os fatos de "suporte" corpuscular e ondulatório exigem respectivamente conceituação própria e específica. A teoria matemática das ondas inspirava-se, como foi assinalado, na propriedade de periodicidade das ondas, e empregavam-se por isso as funções circulares que são periódicas, isto é, crescem e decrescem sucessiva e alternadamente entre os dois extremos zero e um, passando por todos os valores intermediários para os diferentes valores da variável. Mas um corpúsculo, por mais que se ajeite segundo os ensinamentos de Mach, não tem e não pode ter nada de periódico. Seu modêlo é uma bola de bilhar ou um grão de areia que pode ser reduzido pela imaginação até a dimensão ae um ponto geométrico: ainda assim, lá ficará êle parado e imóvel, e portanto sem nenhuma periodicidaae que implica movimento. Talvez não para os discípulos de Mach, mas certamente para os fins da conceituação matemática, que é o que importava. Diante disso, físicos e matemáticos põem mãos à obra para resolverem o nôvo enigma que a Matemática lhes proporcionava. Muitos esfregam as mãos de satisfeitos: que seria do mundo, e que monotonia não seria a sua, se os físicos e matemáticos não tivessem quebra770 Caio Prado Júnior

-cabeças para resolver! 57º Era preciso inventar uma teoria matemática capaz de conceituar os fatos como se fôssem simultâneamente suportados por corpúsculos e ondas. O importante era aquela conceituação que permitiria interpretar os fatos físicos, e por conseguinte descobrir o seu determinismo. E nisso estavam plenamente com a razão: Ciência e conhecimento em geral não é outra coisa que isso, a saber, conhecer o determinismo, ou mais precisamente, o relacionamento no espaço e no tempo dos fatos da Realidade objetiva, a fim de colocá-los com isso sob o contrôle do Homem. Mas como nem por um momento cogitaram de se destacar da concepção de "coisas" constituintes do Universo, arquitetaram suas teorias matemáticas com o mesmo critério de sempre, isto é, misturando-as com as impregnações metafísicas de "coisas" e sendo por isso obrigados a torcerem essas suas "coisas" até os limites da insanidade mental. Que não exageramos, os leitores logo verão. Depois de 1930 apareceram várias propostas de conceituação matemática dos corpúsculos-ondas: em particular a chamada teoria das matrizes de Heisenberg, e a Mecânica ondulatória de de Broglie. Não satisfizeram sobretudo porque eram quase puramente matemáticas. Descreviam corretamente os fatos no seu conjunto, mas deixavam na sombra as "coisas" constituintes do Universo. E era o que se queria: "coisas" por absurdas que fôssem, mas "coisas". Um jovem físico inglês, P. A. M. Dirac, descobrira ou fabricara essas "coisas": partículas que podem estar e estão mesmo ordinàriamente, ao mesmo tempo, em mais de um lugar; e dotadas de propriedades "ondulatórias". O que não quer dizer que as partículas "ondulem" ou apresentem qualquer característica normal e concreta de uma onda, e sim apenas que se encontram num certo "estado" chamado transacional ( como isso cheira à potência em ato de Aristóteles ) consistente em que quando observadas por um experimentador, _elas imediatamente saltam para um dos diferentes pontos que antes ocupavam simultâneamente, sendo que a probabi570 Infelizmente ao citar aquêle que assim se manifesta a respeito do assunto, somos obrigados a declinar o nome de alguém que certamente não deveria figurar aqui, tanto pela grandeza de sua obra, como largueza incomum de sua genial visão: Albert Einstein. Citamo-lo contudo para edificação daqueles que ainda têm alguma dúvida sôbre a tremenda fôrça deformadora da inteligência que é hoje a cultura burguesa.

Dialética do Conhecimento 771

Conceituação dos corpúsculos-ondas

As partículas ondulatórias de Dirac

Comportamento da partícula ondulatória

Papel do expe• rimentador no determinismo dos fatos

lídade de ser encontrada num dêsses pontos de preferência a outro qualquer, é dada por uma função matemática formalmente semelhante às que se usam para conceituar as ondas. Nessas condições, a posição do corpúsculo não depende do seu determinismo próprio, mas do ato do observador que sôbre êle experimenta. Chegava-se assim não somente ao absurdo de uma partícula pluripresente, isto é, simultâneamente em mais de um lugar, mas ainda fazia-se depender a sua "normalização", a saber, a sua concentração ou localização num só ponto, dos caprichos de um físico que a observasse. Enquanto não observada, a partícula de Dirac permanece em mais de um ponto; não que se divida e partilhe entre tais pontos: é na sua integridade que se encontra em todos ~les. A posição no espaço não é uma determinação exterior das partículas, e sim interior delas; é um atributo de sua "essência", do tal "estado transacional"571. Mas logo que um Dirac lança sôbre ela seus olhares indiscretos, a partícula hipocritamente se recompõe, e vai muito bem comportada ocupar um único lugar e fazer-se uma partícula igual àquefas que nós outros mortais conhecemos. Quanto ao lugar dessa recompo• sição e normalização, êle não é determinado pela própria partícula ou quaisquer outros fatôres objetivos, e sim pela.s observações do experimentador. Se êste faz uma só experiência, existe uma certa probibilidade, mas somente uma probabilidade, de a partícula escolher um ou outro lugar; se as experiências forem repetidas, então 571 lt só empregando uma linguagem metafísica que se pode "explicar" o assunto. Dirac não se preocupa evidentemente com essa explicação", como físico que é; mas acha perfeitamente natural e legítimo ( porque com isso vai ao encontro de suas necessidades teóricas de conceituação dos fatos que considera) afirmar por exemplo, no caso da interferência de dois feixes luminosos, que cada fóton se encontra parcialmente ( e isso sem perder sua unidade e individualidade) em cada feixe; e que a interferência nunca se dá entre dois fótons, mas sempre de cada fóton consigo mesmo ..• O leitor são-tomé que desejar verificá-lo êle mesmo, poderá consultar o próprio Dirac. The Principles of Quantum Mathematics, 3d., Oxford, 1947. - Assinalemos incidentemente que as "partículas" de Dirac não constituem senão abstrações que nada se assemelham a "coisas" concretas, pelo fato de que tais "partículas" são conceituadas matemàticamente por um operador, isto é, uma expressão que indica unicamente uma operação a ser efetuada com as funções representativas de ondas. Ora, uma "operação a ser efetuada" é algo bem diferente daquilo que podemos entender por uma partícula ou um corpúsculo concreto e real.

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a partícula se localizará respectivamente num ou noutro ponto um certo número de vêzes. Note-se bem que as probabilidades da localização neste ou naquele ponto não dependem de nenhum determinismo próprio da partícula, sim exclusivamente do cálculo efetuado pelo experimentador. 1!:sse é um ponto fundamental da teoria quântica, e não pode ser sofismado e torcido para o fim de se apararem as suas arestas mais incômodas. A localização da partícula não depende do determinismo da Realidade objetiva, e sim do observador. Aliás, como foi assinalado, essa localização somente se verifica como conseqüência da observação efetuada; e sem essa observação, as partículas que constituem todo o Universo e suas manitestações - matéria, luz, eletricidade, magnetismo, etc. - seriam sempre pluripresentes 572• Como se vê, o idealismo, com a Mecânica quântica, ou antes, a interpretação metafísica e extracientíiica que lhe é dada, triunfa em tôda linha: a Realidade objetiva curva-se docilmente ao Pensamento humano; o seu determinismo não se encontra nela própria, mas na vontade do homem; ou de Deus, que não é senão a sublimação do homem. E seria assim - de fato se a Mecânica quântica fôsse outra coisa mais que uma conceituação matemática dos fatos físicos - e até aí perfeitamente justificada e correta - armada sôbre suportes metafísicos de "coisas" supostamente constituintes do Universo. As formulações da Mecânica quântica apenas confirmam o que há século e meio ou mais Kant já demonstrara filosoficamente, isto é, que a Metafísica leva necessária e fatal- Metafísica e mente ao idealismo, por mais materialista que seja sua idealismo inspiração inicial. O materialismo da Ciência física concebida sôbre bases metafísicas, acabara desembocando, na sua mais alta floração que é sem dúvida a Mecânica quântica, no idealismo. Nem podia ser outro o resultado da inversão metafísica, idealista em essência. Mas se a irresponsabilidade e inconseqüência• idealista se rejubilam com as conclusões da Mecânica ºquântica, o mesmo não podia ocorrer com todos aquêles, e em particular os cientistas, de mentalidade já não dize572 Certos físicos, para conservarem a noção intuitiva de espaço, onde a pluripresença é naturalmente inconcebível ( a não ser para Deus ... ) dizem que as partículas estão "fora" do espaço, e que é nossa observação que as localiza especialmente. Voltamos com isso às formas da sensibilidade de Kant. Outros físicos falam em espaços probabilísticos. . . "Risum teneatis."

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mos apenas científica, mas simplesmente sensata. Ninguém pode, de boa-fé e sã consciência, satisfazer-se com explicações que implicam a pluripresença de corpúsculos e quejandas tolices. Sem contar que a Mecânica quântica, tal como se apresenta, constitui em última análise Negação do a negação formal do determinismo da Natureza, e pordeterminismo tanto de tôda a Ciência, inclusive da própria Mecânica quântica, que sem o postulado do determinismo não seria subsistente. Para disfarçar a incoerência, os físicos, inclusive Dirac, inventaram uma complicada explicação pela qual o Universo é dividido em categorias dlstintas: Macrocosmo, que abrange os fatos que se processam na escala humana, e por isso se enquadram normalmente nas nossas percepções e experiências vulgares, e se podem assim compreender intuitivamente; e doutro lado, o Microcosmo, que abrange a esfera dos fatos subatômicos e se encontra além da nossa compreensão. ~ nada mais nada menos que a coisa-em-si de Kant. Para problemas engendrados pela Metafísica, está claro que só pode haver soluções metafísicas. Depois da divisão do Universo em "coisas", dividem-se agora as "coisas" em categorias ainda mais profundamente separadas. Aliás a moda está pegando, e já se fala em três Universos: o da nossa escala, que seria o Cosmo; o da escala subatômica, Microcosmo; o da escala inter-estrelar, Macrocosmo; cada qual com seu corpo próprio de concepções e explicações científicas exclusivas. Os físicos metafísicos continuam acreditando com os Escolásticos que dando um nome e apondo uma etiquêta à sua ignorância, transformam-na em conhecimento. ~ a decomposição cultural metafísico-burguesa que segue imperturbável sua marcha para o aniquilamento! Está claro que nenhum espírito científico pode encontrar-se satisfeito. E nos círculos de ciência burguesa a par da manifesta má-fé de alguns, o que se encontra é o cepticismo da maioria, vagamente atenuado por uma esperança ainda mais vaga de uma recomposição da Ciência num futuro que não se imagina nem quando nem como virá. Virá com a Revolução, porque para grandes males, grandes remédios: não se apagam com simples argumentos teóricos nem com o bom-senso, vinte e cinco séculos de tradição e deformação metafísicas, sobretudo quando estas representam, como de fato ocorre, um sustentáculo da ordem vigente. Não é portanto para suprir a Revolução indispensável e fatal que estamos aqui teorizando; 774 Caio Prado Júnior

mas pelo contrário, a fim de contribuir para a teoria da própria Revolução. E no terreno em que presentemente nos encontramos, essa teoria é a seguinte. Corpúsculos e ondas não passaram nunca, como ainda não passam, de "suportes" nipotéticos criados a propósito para explicar os fatos. Na base dêsses "suportes", construiu-se o Universo: partículas materiais e de éter animadas por fôrças de atração e repulsão, ou ainda mais metafisicamente, por certa propriedade ou qualidade que reside dentro delas e as constitui, e que seria a "energia". Mas partículas, ondas, matéria, éter, fôrça, atração, repulsão, energia e tudo mais que vem com isso, não são senão conceitos que exprimem relações, e que a Metafísica encarnou ou materializou nos fatos concretos e objetos tangíveis; isto é, exprimem constantes ou pJI

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importaitcia da forma verbal na filosofia grega, 187. ideais de Platão, 213, 215, 360, enrijecimento do formalismo da. Lógica aristotélica, 218. e conteúdo das expressões algébricas, 251. formalismo matemático e relações, 263, 265; 270, 280, 286, 293. proteção antimetafísica do formalismo matemático, 296, das operações do pensamento e Matemática, 312. das proposições, 325n. absoluta do conhecimento, 328. e .conteúdo do formalismo matemático, 330n. da conceituação e conhecimento, 330, aplicação formal das conclusões da Física, 351. dos fenômenos (Kant), 430. do movimento do pensamento, 450-451, 454, 466, 473, 618-619. da conceituação disfarça a natureza desta, 469. ver Conhecimento ( conteúdo e forma); Formalismo matemático; Matéria e forma; Pensamento ( conteúdo e forma); Simbolismo. Formas da sensibilidade (Kant), 101, 445, 670, 749, 773n. Formalismo matemático, 280, 287, 296, 584, 762n, de Hilbert, 146, 332. conteúdo do, 330n. ver Simbolismo. Frações (Matemática), ver Números. Gefühlphilosophie, 420n. Geocentrismo e heliocentrismo, 38. Geografia, 358n., 363n., 428n, Geologia, 364, 589. Geometria. origem da conceituação da, 135. não-euclidiana, 147, 297. e Matemática, 218. origem na ·prática, 220, método de exposição da, 223, 465n, construção geométrica, 234. euclidiana, 234 e segs. ensino da, 239n. papel das figuras na, 242-243. emprêgo da régua e do compasso na, 244. 804 lndice Analítico

lugar geométrico, 247. 270. a construção geométrica é expressão de relações, 2470248. proporção, razão geométrica e abandono das figuras no tratamento matemático, 250. cartesiana, 269. tratamento relacional da, 459-462. generalização da, ~la dialética da quantidade e ordem, 761n. ver Figuras geométricas. Ginástica racional, 694n. Gramática. substantivos abstratos e concretos, 47; origem na. Grécia, 187. confronto com a Matemática, 273, 288, 312, 745. e L6gica, 327. identidade do sujeito e predicado da · oração, 443n. novas formas gramaticais do futuro, 733n. relações do sujeito, predicado e objeto da oração, 788n. ver Linguagem e Proposições. Grandezas (Matemática), 267, 270. ordenadas, 129. conceituação algébrica das, 142. como critério de discriminação no interior das qualidades, 226. numéricas, 228 ( ver Números.) individualização das, 229. em geral, 249, algébricas, 250. na concepção geral da Física, 286, infinitesimais e evanescentes, 287. como fundamento da Matemática, 297. Universo composto de, 482. Gravitação Universal, 20, 25, 386, 500, 644, 717, 775, 779 e segs. elaboração da teoria da, 780 e segs. Harmonia preestabelecida (Filosofia), 668. Heliocentrismo e geocentrismo, 38. Hidrodinâmica; 272. Hidrostática, 255, 272. Higiene, 632n. Hipótese e conjectura, 645n. na ciência, 24-25, 27, 39, 112, 113. em Platão, 195-197. em Newton, 283. método hipotético-dedutivo, 492. ver Ensaios e erros.

História, ver Homem. Historicismo, 419, 420, 435, 491, 582. Homem. Conhecimento do, 357, 610n. · caráter específico do Conhecimento do, 372-373. natureza do, 373, 374, 561, 616. objeto do Conhecimento do, 377, 496, 610. desenvolvimento moderno do Conhecimento do, 379 e segs. finalidade prática do Conhecimento do, 382. natureza e finalidade do Conhecimento do, 387. relações sociais do, 389, 514 e segs., 545, 556-564. teoria e prática do Conhecimento do, 396, 404, 532. problema do Conhecimento do, 399, 579. -sujeito e homem-objeto do ·. Pensamento e Conhecimento, 400, 401, 402, 491, 532, 553, 554, 561-562, 570-571, 577, 600. estímulo no séc. XVIII do Conhecimento do, 403. problema humano do séc. XVIII na Alemanha, França e Inglaterra, 408. historiografia franco-inglêsa no séc. XVIII, 408. historiografia alemã no séc. XVIII, 409. autodinamismo da História, 410-411, 419, 420-422, 488, 544, 582, 606, 614, 617-618. base científica para o Conhecimento do, 412. impossibilidade do Conhecimento do, 419-420. relações entre Filosofia e Política de um lado, e Conhecimento do, 435. interpretação racionalista da História, 439, 484 e segs., 582. o mecanicismo no Conhecimento do, 484-485. . ininterpretação dialética da História, 486 e segs. quantidade e qualidade no Conhecimento do, 488 e segs., 576. negatividade das situações históricas, 489. lei fundamental do desenvolvimento histórico, 491.

a experimentação nos fatos humanos, 498. desabrochar do Conhecimento do, 502. o. problema do proletariado e Conhecimento do, 512, 513. nível do Conhecimento do, na primeira parte do séc. XIX, 523-526. aplicação dos conhecimentos físicos e dos do, 524. contribuição do socialismo utópico para o Conhecimento do, 533. projeção normativa para o futuro do Conhecimento do, 546. fatos históricos e relações, 556. concepção dialética e metafísica do, 561. interpretação dialética da História, 564 e segs. problema fundamental do, 579. interpretação metafisica da História, 582. Dialética e Conhecimento do, 604, 618, · 662-663. Conhecimento normativo do, 608 ( ver Ação humana.) características do fato social, 610, 611, 612. integrado no Universo, 650, 661, 662, 663, 664, 703-704, 713, 730. condicionamento do, 659. como indivíduo pensante e indivíduo conhecedor, 636. -fera, 693. subordinação à Natureza, 699n. ponto de vista da Historiografia, 706n. e suas necessidades, 731. idealismo e Conhecimento do, 742. conhecedor de si próprio, 787. ver Ação Humana. Idealismo, 18, 40-41, 42, 49-50, 60, 67, 103, 121. dos cientistas, 29: 735n. argumento tirado da elaboração matemática pelo, 128, 135, 144, 282. origens do, na filosofia grega, 183 e segs., 199. em Platão, 195, 214. fecundidade do, em oposição ao materialismo,· 202. moderno, 340-341. em face da ciência moderna, 352. ressurgimento moderno do, 354, 773. especulação idealista alemã, 406. índice Analítico 805

no séc. XIX, 413. contemporâneo, 430n, raízes metafísico-racionalistas do, 441. e mecanicismo, 483, 484. derivado da separação do Objeto e do Sujeito do Pensamento, 525, 649. destino do, 552. ·caracterização do, 588. raízes psicológicas do, 691n. premissas ideológicas do, 734-735. resistência do, 735. e Conhecimento do Homem, 742. contribuição do, 743-744. e materialismo metafísico, 773-774. Idéias. mundo plat&nico de, 195, 214, 221. e forma, 216. ver Conceitos e noções. Identidade ( Lógica), 12, 102, 217, 415, 462, 473, 477. dos conceitos, 469, 755, 756, 759, 761, 763. como expressão da "essência", 469. e diferença, 513, 665, 673, 678n. inclui a inidentidade, 592. natureza da, 717 e segs. concepção metafísica da, 720, 723, 724, 763, 785. e relacionamento, 723. Identificação, 69, 225, 358, 473, 477, 716 e segs., 725-729. base qualitativa da, 122. e silogismo, 166. natureza da, 171 e segs. e qualificação, 175, 190. e conhecimento (Platão), 193. processamento da, 208 e segs. quantitativa, 226-227. e relacionamento, 730. ver Conhecimento qualificativo-identificador. Ilimitado (Pitágoras), 179. Ilustração (Filosofia da), 411, 412, 417, 418, 439. Imagem sensível, 103. relações com as noções teóricas, 34. relações com a sensação, 63-65, localização cerebral das, 64. mobilidade e interligação das, 65. indeterminação e imprecisão das, 72. ordenamento das, 75. evocação da representação sensível, 95-96, 104. visual, 468n., 477. 806 lndice Analítico

ver Coordenação; Imaginação; Intuição; Representação sensível. Imaginação. teorias clássicas da, 63. natureza da, 64. dinamismo da, 66-67. papel nas culturas primitivas, nas crianças e em geral, 69-70. experiência mental, 71. nas técnicas esportivas, 71n. e pensamento abstrato, 72, 105-106. no conhecimento científico, 73. no conhecimento filosófico, 74. conhecimento imaginativo, 75-76, 79. e teoria do conhecimento, 74. complexo imaginativo, 76-79. contr&le da, 80-81. e ação, 95-96. como ponto de partida dos processos pensantes, 678. ver Imagem; Intuição; Representação sensível. Imperativo categórico (Kant), 381. Implicação ( Lógica), 322. Impressão sensível, 47, 679. ver Sensação. Inclusão (Lógica}, 323, 634. e silogismo, 203. Incognoscível, 179, 432 .. número oposto a fen&meno (Kant), 373. Individual, têrmo ou conceito, 204n. Individualidade, 12, 720. das relações conceptuais, 315. das classes naturais, 359. natureza da, 476-477. Indução, 22-23, 112, 113, 338n. Inferência, 19, 23, 44, 322n., 443. das noções abstratas, 47-48. como explicitação formalizada, 165. na Matemática, 277, 307 ( ver Matemática.) Infinitesimal (Matemática), 35, 146, 287, . 292, 482. Infinito, 129, 761n. natureza do, 448. Instinto, .734. instintivismo, 672, 703. Inteligência (Psicologia), 452n. Introspecção, 99, 100, 103, 111, I~:),, 155, 550, 629. Intuição. na elaboração científica, 31. natureza da, 72-73, 289-290, 466.

na Matemática, 73, 99, 144-145, 147, 289, 291, 747. interpretação idealista da, 145n. das figuras na Geometria, 242-243. e pensamento conceptual, 290n., 291. Intuicionismo (Matemática), 31, 145, 298, 316. Intuitivismo, 290n., 685n., 703, 721n., 722n. de Jacobi, 420n. ilusão do, 678. Inversão idealista e metafísica, 36-37, 48-49, 100, 173, 180, 182, 190, 190ri., 210, 211, 279, 281, 284, 317, 318; 320, 382n., 348, 359, 428, 481, 495n., 661n., 691n., '722, 724n., 764. como--origem das concepções metafísicas, 207-208. em Platão, 214. em Aristóteles, 215-216. dos números e das figuras geométricas, 221, 223, 230. origem psicológica da, 293. de grandezas, 297. · no materialismo moderno, 342, 347. na Física, 351, 481-482, 775, 776, 784. na Economia Política, 392n. do conceito jurídico de propriedade, 528~529. em Hegel, 585-586. em Engels, 590, 594, 595, 596. distinção entre a inversão idealista e a metafísica, 596. da concepção corpuscular da Física, 768. ver Coisas e entidades ( entificação.) Legalismo (Filosofia), 18. Lei [s.] . empíricas, 18. lógico-formais e psicológicas, 164, 454, 455. impropriedade da designação de, 271n. interpretação metafísica dos fatos físicos, 284. natural, 383-384, 409, 525, 582, 606. históricas e físicas, 409. da Dialética (Engels), 591, 593, 594, 595. distinção entre leis do pensamento e do mundo exterior, 600-601. do Conhecimento, 601, 618. variabilidade das leis históricas, 6.06n.

Liberdade e necessidade, 399-401. a '1iberdade" como conceito, 86. liberdade política, 381, 510-511, 513, 521, 522n. contradição entre, 402, 412. na História, 409, 418, harmonização da liberdade com o determinismo, 432-433. liberdade e conhecimento, 616, 618. Limite. matemático, 35. . e forma (Pitágoras), 180, 230. Linguagem, 14, 58, 253, 273, 623, '732, '733. e imaginação nos primitivos ( Levy-Bruhl), 69. e conceito, 87, 632. como expressão do pensamento, 98-99. a intuição não se exprime verbalmente, 144. distinção entre pensamento e, 150-154. transformação em pensamento e vice-versa, 155-156. . precisão e fixação do pensamento pela, 155, 156-157. como representação. sensível, 154n., 159. natureza e estrutura da, 159, 163. e Lógica, 164, 327. estabiliza e consagra o seccionamento do Universo realizado pela· "iden. tificação", 212-213. · como matéria-prima do Conhecimento, 320. . entificação metafísica da, 325-326. concepção lotcalista da, 329. forma "ideal da, 330. e Filosofia, 437. reflexo do progresso moderno da ciência na, 447. emprêgo do latim, 44'7, 728. natureza e origem da, 632. natureza da "palavra", 633. formas verbais como embaraço do pensamento, 637-638. deforma a descrição dos "processos", 679-680. . como instrumento de interação social, 693. ver Gramática e Verbalismo. Linha ( Matemática.) reta, 135. origem histórica das cônicas, 245-246. lndice Analítico 807

Literatura, 273. Lógica.. formal clássica: maneira habitual de · pensar, 11. indutiva, 22. natureza da, 54, 288, 451. relações com a Psicologia, 115, 619, 672n., 740. como forma exterior ao Conhecimento, 121, 373, 453, 635. linguagem e pensamento · na Lógica clá.'Ssica, 151. . linguagem e, i64, 327. como sistemática conceptual, 164, 288, 634, 738, 739. valor pragmático da, 167, logicismo, 168. platônica, 189 e segs., 215. aristotélica, 203 e segs. matemática, 310, 319, 321, 323, 618, 740n., 751n. objeto da, segundo a Logística, 327. sistema lógico nJl elaboração das Ciências Naturais, 369. relacionamento conceptual e a nova, 372. concepção clássica da, 424, 444-446, 449, 451, 634. · objeto da Lógica de Hegel, 443-445. clássica e de Hegel, 443, 449, 454-455, 466. dialética: constituição, 448, 599 e segs'., 605, 617-618, (ver Dialética.) geral e único, 493, 619. aristotélica e dialética, 493. origem e natureza da Lógica formal, 632-636. objeto da pesquisa na, 683ri., 736, 738-739. . platônica-aristotélica e Metafísica, 724. como expressão da Razão absoluta, 736. separação entre o Conhecimento e a, 745. . ver Logificação; Logística; Logomaquia; Matemática e Lógica. Logicalismo ( Círculo de Viena), 327-330, 722n. Logificação, 123, 124, 164, 179, 186, 187, 189, 194, 199, 203, 204, 218, 288, 330, 335, 336, 632, 635, 730, 739-740. matemática, 254-255, 288, 312. em Descartes, 265. 808 lndice Analítico

do conhecimento moderno, 332-333. das Ciências Naturais (Darwin), 369. origem e, natureza da, 373. em Hegel, 445. como sistematização do pensamento, 451. gênese da, na organização da concei. tuação, 468. papel do Conhecimento do Homem na logificação dialética, 486-487, 492-493, 494, 546, 580, 584, 599; 604 e segs., 619. . Logística, 87, 146, 229, 584, 636, 702, 722n., 723n., 740n., 748, 750; 762n. paradoxos e, 304-305 ( ver Paradoxos lógico-matemáticos.) origem histórica da, 310-311. natureza e evolução da, 312 e segs. cálculo de classes, proposições e relações, 323-324. estado caótico e tratamento casuístico da, 326. . Círculo deViena, 327-330 (ver Logicalismo.) e logificação em geral do Conhecimento, 332, 492n. métodos da, 752-753. objetivo real da, 751n., 752-753. causas do fracasso da, .753. concepção das leis de Newton na, 784. definições e axiomas na, 785. Logomaquia, 586n., 636. logicismo, 168. Logos, 180, 198, 213. Luz (Física) 25, 353n., 644, 691n., 768. teoria matemática da, 26, 274. e Geometria, 255. Macrocosmo e microcosmo, 774. Mocroscópico e microscópico. esferas distintas do Universo, 40. Magia, 70, 697, 701. Marxismo, 548, 562, 573, 625. atingido e delineado por Marx, 538-539. , caracterização e sistematização do, 541-542. e Filosofia, 563n., 578. como teoria da revolução do proletariado, 579, 605. e Conhecimento do Homem, 579. fases do, 590. natureza do, 618. e Dialética, 640.

papel do, na filosofia contemporilnea, 741. . Massa, (Física) 2.1, 28, 267, 280-281, 351, 456, 482, 712,. 716, 717-719, 775, 776, 783. repre~entação sensível da, 30. história do conceito moderno de, 283 e .segs. entificação do conceito de, 776. Matemática. . e Lógica, 19, 22, 218, 255, 264 ( Des. cartes), 288, 311n. a intuição na, 31, 73, . 99, 144-145, 146, 289 e segs., 747. conjecturas na, 113. singularidade da, como ramo do · Conhecimento, 127, 220. origem experimental da, .130-131, 143, 147, 220. origem histórica da, 132 e segs. sistematização da conceituação . da, 140, 145, 289, 291, 309n., 332, 744. elaboração abstrata da, 140, 143-145, 180.. . empirismo e abstração na histo.'ria da elaboração da, 145-147. pura, 147-148, 272-273, 287-288, 332, 745, 756. . natureza relacional da linguagem da, 163. . e relacionamento; 218, 727, 729. natureza do conhecimento matemático, 223 e segs. objeto originário e ~specífico da, 228-229. concepção matemática do .Universo (Pitágoras), 230. descoberta dos irracionais, 232. tratamento relacional direto da, 250. como . processo formal de relacionamento, 253-254, 729. logificação da, 254-255, 288 e segs., 312. aplicação do método matemático,. 255-256, 265, 270 ( ver Análise .matemática.) universal (Descartes), 264. como método, 264, 272, 273, 274, 275, 277, 306, 310n., 311 619, 727, 729, 730. conceituação matemática, 270-271, 274, 291, 345. e Gramática, 273, 288, 312, 745. confusão entre Matemática como mé-

todo e como aplicação do método, 275. · fundamentos da, 289. rigorização da, 289. relações matemáticas transmutadas em "entidades", 296. aritmetização da, 297. introdução da noção de "classe" na, 299-300. paradoxos lógico-matemáticos, 304-305, 310, 312. como processo de pensamento, 305-308. axiomatismo: caráter atual da, 307-308. formalização do raciocínio matemático, 310. metafisicização da, 312 e segs. relações e "coisas" ou "entidaaes" na, 315, 345. interpretação . modei:na da conceituação físicosmatemática, 342 e segs. expressão matemática da Física moêlerna, 345. qualidade e quantidade na, 4.72. papel da emotividade na .elaboração da, 497n. como sistema lógico-formal 635n. separação da Física, 745 e segs. e Logística, 762n. ver Formalismo matemático; Lógica matemática; Simbolismo. Matéria, 13, 25, 179, 230n., 281, 282, . 343, 344, 345, 346, 482, 595-596. a substilncia universal dos milésios, 178. e forma, 180, 215-216, 423-424. dos fenômenos (Kant), 430. e ondas (Física), 769. Materialismo, 41, 42-43, 49, 103. interpretação materialista .vulgar do Conhecimento 53, das sensações 60, e crítica do idealismo, 60. interpretação materialista. vulgar das figuras geométricas, 135, 222. origem do, na filosofia grega, 183 e segs., 199. esterilidade do materialismo grego em contraste com o idealismo, 202. caráter metafísico do moderno, 336. moderno, 340, 345 e segs. . •. dialético: origem, 354; 535, 589 ( ver Dialética. ) tendência idealista do materialismo metafísico, 587. 1ndice Analítico 809

metafísico resultante da separação do Sujeito e Objeto do pensamento, 648-649. e panteísmo, 662. infiltração idealista no, 734. e problemas do pensamento, 735, 741-742. metafísico e idealismo, 773-774. Mecânica. moderna, 20. quântica, 34, 35, 40, 672, 709, 710, 712, 772n. newtoniana, 37, 117, 709-712, 783. reforma da, 37, 117. experiência de Morley-Michelson, 117, 679. e matemática, 255 de Arquimedes, 257. aristotélica, 259, 709-712. a "história" nos fatos físicos, 581n. estática e dinâmica, 597n. elaboração conceptual da, 717, 718-720. racional, 746. ondulatória, 771. Mecanicismo, 347, 426, 486, 594-595, 664, 668. no Conhecimento do Homem, 375, 609n. generalização do, 481. deriva da separação d,1 Sujeito e do Objeto do pensamento, 525. característica fundamental do, 595n. crítica de Hegel, .397n. como concepção da História, 606, 607. como "estrutura" da con~eituação científica moderna, 743. Universo do, 784. Medida. medição (Matemática), 133, 228, 254. da qualidade, 486, 489, 490, 576. Memória, 265, 624, 633. Metafísica. método metafísico em oposição ao dialético, 11. posição julgadora e crítica exterior à História, 16-17. estaticidade da, 29-30, 556n. deformação metafísica do Conhecimento, 48-49. harmonização com a Ciência, 92, 93, 426 e segs. ( Kant), 436 (Hegel), 730. concepção metafísica do Pensamento, 111. 810 lndice Analítico

confunde ou isola um do outro pensamento e linguagem, 151, 154. concepção metafísica do Conhecimento, 195n., 225n., 470-471, 660, 666-672. origem como concepção filosófica, 207 e segs., 216-217, 259n., 336, 562, 786. deformação metafísica dos conceitos matemáticos, 229. concepção de "coisas" 244 ( ver C oisas.) origem e permanência da, 259n., 636. natureza do pensamento metafísico, 263, 656n. e Universo newtoniano, 286. introduzida no interior da Matemática, 302-303, 312-314. derrocada da, 354. método da, 355-356. e preconceito metafísico como obstáculo ao progresso do Conhecimento, 364, 767. pensamento metafísico na Economia Política, 388-389. natureza da, segundo Hegel, 424, 444. superação da, 425 e segs., 448, 561, 572 (Marx.) racionalismo, subjetivismo e, 437, 441. papel nas concepções políticas do séc. XIX, 512-513. concepção metafísica do Homem, 561. interpretação metafísica da História, 581. natureza da deformação metafísica do Universo, 599. como ideologia de um mundo de classes, 604. concepção do determinismo pela, 608. e Ciências sociais, 610n. interpretação da Lógica pela, 634. e inversão idealista, 69ln., ( ver Inversão idealista. ) concepção da Verdade pela, 708, 709. compreensão e explicação dos conceitos pela, 722, 763. e Lógica aristotélica, 724. Universo da, 728-729. e idealismo, 773. e fideísmo, 776. concepção metafísica do Universo, ver Coisas; Disposição Inicial; Fatos. ver Inversão idealista e metafísica. Método. metafísico e dialético, 11.

de relacionamento (Análise matemática), 141. racionalístico ( filosofia grega), 181. analítico (Platão), 193-194. construtivo (Geometria), 234, 244. postulacional e de Euclides, 235n. a Matemática como método de pensamento 254 ( ver Matemática.) cartesiano, 264, 339n. axiomático, 307. metafísico, 355-356. nas Ciências Naturais, 366. na Química, 371. e Lógica, 372.. subjetivo (:fichet), 432. revelador da sistemática da concei.tuação, 442, 449, 454. como consciência da forma do movimento do pensamento, 450, 454, 473, 476, 619. particular e geral, 492, 619. de Marx, 543, 546-550, 559, 574, 580. eclosão do método relacional, 582 e segs. dialético, 590, 599, 601, 603, 604, 606, 618, 619, 641, 786, ( ver Dialética.) de interpretação da História e norma de ação, 618. generalização do, 619. etnográfico e antropológico ( Sociologia), 776n. Mimetismo. do passado nas classes sociais dominantes, 579-580. da criança, 628n. Mineralogia, 40. Misticismo, 135, 701, 703. Modificação produzida pela ação como condição da elaboração do Conhecimento, 652 e segs. Molécula, 12, 32. Mônadas, 668. Moral, ver :ttica. Movimento, 277, 456, 457-459, 672, 710-711, 718, 720, 781-782. mecânico ou local, 15, 21. uniforme e variável, 21. potencial, 21. . negação do, ( Zeno de Eléia). 18L em Aristóteles e Galileu, 258-263. conceituação pela Análise matemática, 274. em Engels, 594, 595. como relacionamento no te111R~ 597.

como fato fundamental da Matemática moderna e da Física, 746. Muitos e um, ver Unidade ou uniformidade ... Multiplicidade, idem. Naturais (Ciências), ver Ci~ncias Naturais. Necessidade, ver Liberdade e necessidade. Negação (Dialética), 420, 421, 759n. natureza da, 453, 454 e segs. emprêgo da, na conceituação geométrica, 459 e segs. na conceituação qualitativa, 466 e segs. noção geral da, 476-477. manejo da, por Hegel, 478. no domínio dos fatos humanos, 489, 503, 559, 563, 569, 571. natureza conceptual da, 592. papel da, nos processos do pensamento, 644-646. na dialética do Sujeito e Objeto do Conhecimento, 667. Neoplatonismo, 726. Noções teóricas, 36, 47-48. projeção exterior ao pensamento das, 48-49, ( ver Inversão idealista.) representação sensível das, ver Imaginação. ver Conceito. Nome, ver Denominação. Nominalismo, 46, 92. Norma. da ação humana, 383-384. exterior à História, 410. ensinamento normativo da História, 411. conhecimento dialético e sua projeção normativa para o futuro, 546. de ação como expressão do determinismo humano, 577, 615, 616. e teoria revolttcionária, 577. Conhecimento · normativo do Homem, 608. de ação como método de interpretação da História, 618. ver Ação humana. Nous Cvot,ç), 198, 213, 417. Novelà policial como campo de observação dos processos de pensamento, 113n. Nôvo. na História, 409, _4~5,. 496. 1ndice Analítico 811

entificação metafísica das, 325-326. função proposicional, 325n. ver Gramática. Propriedade (Direito), 513-514. classes possuidoras, 521. natureza rela e interpretação metafísica da, 528-529, 566. a noção de, no Direito Romano e Burguês, 529n. Psicanálise, 65, 124n. Psicologia, 17, 63, 64, 67, 99, 102, 115, 124, 124n., 165n., 443, 626, 665, 679, 706. genética, 81n., 132, 220-221, 227, 228, 301, 628n., 674, 703. e Lógica, 115, 618, 672n., 740. clássica e relações do pensamento e da linguagem, 151-152. e Dialética, 618, 632. tratamento clássico da, 628n. esferas da, 674. Psiquismo, 103, 106, 685-686. ( ver Estado mental.) Puritanismo, 408n. Qualidade [s] 266, 472. conceituação qualitativa, 111. natureza da, 122. na identificação, 174-176. natureza relacional da, 174-175. qualificação, 175, 190, 194, 198, 202 (Aristóteles), 210, 465-476 ( análise dialética da qualificação. ) relatividade das, 211. concepção metafísica da, 210, 217. relação com a "quantidade", 225, 227n. intensidade da, 226. "movimento" qualitativo, 258n., 595n. primeiras e segundas, 343-344, 668. e essências, 360. na Química, 369. ne~ativa do phlogisticon, 371. análise dialética da, 479 e segs. e quantidades nos fatos históricos, 576. e quantidade na evolução da conceituação, 738, 740. Quântica (Mecânica), ver Mectinica qutintiça. Quantidade, 266, 472. conceituação quantitativa, 111. natureza da, 225 e segs., 758, 760, 761. papel da conceituação quantitativa, 229. 814 lndice Analítico

limitações da conceituação quantitativa, 254, 267, 335. análise dialética da, 479 e segs., 757 e segs. e qualidade nos fatos históricos, 576. natureza conceptual da, 591, 592. crítica de Hegel ao quantitativismo, 597n. e qualidade na evolução da conceituação, 738-740. analisada pelos logísticos, 753 e segs. e ordem, 755 e segs. Qüididade, 12. Química, 40, 665. evolução histórica da, 369, 371. e Dialética, 487n. Raciocínio, 124, 164, 206, 427, 443. e imaginação, 72. formalização do, 167. matemático reduzido à construção geométrica, 234. na Geometria construtiva, 238-239, 244. matemático no ensino da Geometria, 239n. como essência da Matemática, 305-308. formalização do raciocínio matemático, 310. concepção clássica do, 424. Racionalismo, 404, 409, 411, 412, 420, 427, 436, 439. na filosofia grega, 178, 181 (Parmênides e eleatas), 183, 184, 186, 198. em Descartes, 338-339. origem do racionalismo do séc. XVIII em contingências práticas, 382. anti-racionalismo na Alemanha do séc. XVIII, 407, 410, 420n., ( irracionalismo de Jacobi) 420n., 440. e subjetivismo, 437, 441. na política do séc. XIX, 511, 523. oscilação do racionalismo entre o determinismo mecanicista e o idealismo, 525. contraste do racionalismo dos sécs. XVIII e XIX, 532-533. rejeição do, 721n. Razão, 56. exterior e anterior ao Conhecimento, 54, 493. e Lógica, 121. como princípio unificador do Universo. 179.

sobreposta aos sentidos, 181. na filosofia de Sócrates, 187. na Escolástica e em Descartes, 338. como padrão dos julgamentos, 381. concepção da, no séc. XVIII, 382, 396, 407, 409, 410, 445 ( Kant. ) pura e prática (Kant), 413, 432, 552. desenvolvimento da, na dialética hegeliana, 420-422. papel na elaboração do Conhecimento, 427-428, 429-430. ponto de partida do Conhecimento no ato da, 432, 437-438, 446, absoluta, 441. genética da, 442. concebida pelo socialismo utópico, 506-507. inspiradora das soluções políticas, 539-540, como "entidade" pensante, 665n. Realismo. ingênuo, 38, 41, 184 ( filosofia grega.) escolástico, 92. moderno, 257. Reconhecimento e identificação, ver Identificação. Redintegração: lei psicológica de Bradley, 108n. Referido e referente ( logicalismo), 722n. Reflexão, 96, 97. Reflexo condicionado, 53-54. Reformismo (Política.) do racionalismo metafísico, 525. como concepção do movimento operário, 534n., 572. Régua e compasso, 244, 246. Relação [ões], 12, 48, 78, 89, 117-119. caráter relacional dos conceitos, 48-49, 108. o pensamento como operação de relacionamento, 88-89, 457, 597n., 624, 779-780. concepção metafísica das, 90-91. têrmos da, 90, 240, 264, 303, 317, 448, 458, 556, 460-461, 673, 783. natureza relacional do Conhecimento, 91-93. relacionamento e dinamismo da conceituação, 110. ensaios de relacionamento, 111. na numeração, 130, 134, na Geometria, 136-139. algébricas, 141-142, 250-253, 263, 269. expressão das relações conceptuais na linguagem, 161-164.

relacionamento na identificação, 173-174, 209-211, 349n., 476, 634. na Matemática, 218, 223, 239, 240, 243. relacionamento por grandezas numéricas, 227. natureza relacional da quantidade, 229. números irracionais e, 232 .. escamoteação das, na Geometria cons; trutiva, 237-245. e "coisas" ou "entidades", 240, 243, 244, 253, 256, 285, 315, 346, aso, 470, 4'/6, 749, 750. o relacionamento geométrico independe das figuras, 245, 256. o "'lugar geométrico" implica, 247, 269-270. a construção geométrica é expressão de, 248. "razão geométrica" e, 250. tratamento direto das relações matemáticas, 250. determinação de, no movimento mecânico, 261-263. natureza das, 265, 447, 457, 624. expressão algébrica das relações geométricas, 269-270. determinação de relações físicas, 285. desmembramento das, pela Metafísica, 286, 323, 775-776. concepção metafísica e natureza real das, 315n. feitas "entidades" por Russell, 318, 321. e "universais", 319. cálculo de, 324. suporte para, 346, complexidade do relacionamento na Física moderna, 350. relacionamento como método nas Ciências Naturais, 365-366. relacionamento na ,Química, 372. generalização do · relacionamento na elaboração científica moderna, 372. aplicação particularista do relacionamento, 374. aplicação do relacionamento no Conhecimento do Homem, 374-377. relacionamento na elaboração da Economia Política, 388-389, 392, e "entidades" na Economia Política. 391. o progresso do Conhecimento revela 1ndice Analítico 815

a natureza relacional da conceituação, 425, 446-447. relacionamento das categorias conceptuais ( Kant e Hegel), 433-435. relacionamento e genética da conceituação, 442. análise relacional da conceituação (Hegel), 446-448. operação de relacionamento, 457. relacionamento na Geometria, 493-494. relacionamento revelado pela Dialética, 464-465. a formalização do relacionamento dá as "identidades", 470. conceituação relacional dos fatos humanos, 547, 556-563. pesquisa de, em Marx, 548, 550. fatôres do pensamento relacional de Marx, 550-551, 554. relacionamento do Homem-sujeito e Homem-objeto, 554, 560, 561, 562. História e relacionamento, 580, 582. manejo do relacionamento, 583. relacionamento deformado pela Metafísica, 583-584. relacionamento materialista, 589. Dialética e relacionamento, 593-594. como expressão conceptual da unidade universal, 597, 601, 624. relacionamento como conteúdo do método dialético, 623. mobilidade do pensamento e, 624, 779-780. relacionamento na elaboração do Conhecimento, 642-644, 714 e segs. natureza do relacionamento dialético, 673. relacionamento dos conceitos na Mecânica, 719. identidade e relacionamento, 723. sistematização do relacionamento, 728. relacionamento e identificação, 729. relacionamento da quantidade e da ordem, 759, 760, Relatividade ( teoria da), 28, 40, 120, 644, 672, 691n., 709, 710, 712, 746n., 783. Religião, ver Fideísmo. Representação conceptual, ver Conceito e Conceituação. Representação mental, 47, 84, tipos de, 52. elaboração da, 53. natureza da, 85. transformação da, 104. 816 lndice Analítico

sucessividade da, 624-625. organização da sucessividade da, 629-631, 644. Representação sensível, 35, 39, 45, 72. das noções teóricas, 30. do átomo, 30, 32, 35. da estruturá cristalina, 30. da fôrça, 30. da massa, 30. das partículas subatômicas, 32. na explicação científica, 74. dos conceitos matemáticos, 222, 223, 750. dificuldade da representação das relações matemáticas, 245. das linhas curvas, 245. de grandezas (Descartes), 267-268. na Física moderna, 346, 351, 744, 750. artificialidade e inutilidade da, na elaboração científica, 351. limitação da, 467. ver Imagem e Imaginação. Retórica grega, 185, 312. Revelação ( teoria da), 50. Revolução. e Dialética, 114. socialista, 114, 504n. Francesa, 378n., 380, 384, 385, 397, 407, 416-418, 433, 497, 503, 553, 569. burguesa na França e na Inglaterra, 393, 395, 503, 518. problema da revolução burguesa, 395. e reforma na Alemanha, 406, 433, 553, 569. interpretação dialética da, 490-491. caráter da revolução burguesa, 504, 513 e segs. teoria da revolução do proletariado, 573, 605. e Filosofia, 774, 786. Romantismo, 398, 410n., 420n., 506n, Saber, ver Conhecimento. Salto qualitativo, 416, 490, 602. Sensação [ões], esfôrço muscular e noção física de "atração", 21. confrontada mecânicamente com o Conhecimento, 53. como "entidade" metafísica, 59, e atividade, 59n. interpretação materialista vulgar e idealista da, 60.

relação com imagens sensíveis, 63-65. orgânicas, 66, 72. e qualidade, 175. explicação da, na filosofia grega, 202, 649n. interpretação materialista vulgar, 341. em Kant, 430. e Conhecimento, 625n. como "limite" do indivíduo pensante, 670. como início do processo pensante, 675, 677-680. objetividade das, 687. ver Imagem; Imaginação; Impressão sensível; Intuição; Sensibilidade· Sentidos. Sensibilidade. interpretação clássica da, 61 e segs. dinamismo da, 62, 67. unidade da, 61. e Conhecimento, 68. interpretação na filosofia grega, 202. interpretação no materialismo moderno, 341-342, 345. em Kant 428 (ver Formas da sensibilidade.) hibernação da, 677. predominância da, 687. e pensamento, 714. ver Coordenação da sensibilidade e Sensação. Sensualismo (Filosofia), 66, 67, 344, 346, 354, 428n., 625n. raízes epistemológicas na imaginação, 74. moderno, 340. tendência idealista do, 587. Sentidos. função dos, 60-61, 69. tratamento na Psicologia clássica, 61-63. interpretação na filosofia grega, 202. ver Sensação. Ser, 12. em Parmênides, 180, 182, 190, 199, 216n., 231n. a cópula, 180, 203, 294. problema do Ser e do Pensamento na filosofia moderna, 412, 416. Silogismo. e operações matemáticas, 19. crítica de Descartes ao, 148, 168. como explicitação formalizada, 165-167. em Aristóteles, 202-205.

aplicação do, na Geometria euclidiana, 236, 452. Simbolismo, 623n., 730. algébrico introduzido na Matemática grega, 251. matemático, 252n. algébrico moderno, 263. papel do, na elaboração matemática, 280, 291, 310. como proteção antimetafísica, 332, 425, 584, 786. Técnica do, 698n., 750. Simultaneidade, 691n. sucessão e, ( tempo e espaço) 597n. Sintaxe lógica, 328. Síntese. a priori, 101. nas operações matemáticas (Kant)• 129. kantiana rejeitada 317 e aproveitada por Russell, 321. dialética, 464, 475, 705. análise e, 715n. Sistema racional, ver Teoria científica. Soberania popular, 385, 404. Social. conteúdo e circunstâncias sociais do conhecimento e do pensamento, 58, 84n., 89, 106, 115, 659, 683, 693-696, 698, 790. socialização do conhecimento e pensamento pela linguagem e pela "forma" lógica, 167. participação social no desenvolvimento da filosofia grega, 205-206. natureza social da ação humana, 609n., 611, 615n. o fato social entificado na "Sociedade", 627, 694. Socialismo, 400n., 408n., 504n., 534n. utópico, 506 e segs., 527 e segs., 539, 554, 560. e movimento operário, 555. ver Revolução socialista. Sociologia, 85, 116, 610n., 664, 694, 699, 706, 706n., 776. ver Homem ( Conhecimento do) e Social. Sofística, 16. na Grécia, 186-187, 206, 312, 424. Solipsismo, 50, 669. Sturm und Drang, 410n., 420n. Subat8mica (partícula), ver Partícula Subjetividade. subjetivismo do idealismo, 42, 552.

tndice Analítico 81';

esfera subjetiva e objetiva, 50. como ponto de partida da Crítica ao Conhecimento, 52. relações entre esfera subjetiva e objetiva, 60. confusão da esfera subjetiva e objetiva, 173. esfera subjetiva e objetiva na filosofia grega, 202, 207. o Subjetivo e o Objetivo na filosofia moderna, 340. subjetivismo pós-kantiano, 413. subjetivismo de Fichte, 431-433, 437. subjetivismo e racionalismo, 437, 441. tendência subjetivista de Hegel, 584. subjetivismo da criança, 687. dessubjetivização . resultante do desenvolvimento do Indivíduo pensante, 688, 699. participação subjetiva, nos objetos do conhecimento, 689, 691n. Substância. universal na filosofia grega, 177, 178. substituição da, pelos números ( Pitágoras), 179. de Spinosa, 180, 662, 669, 670. Substantivos abstratos e concretos, 47. Sucessão, 260n. sucessividade no processo pensante, 123, 164, 550, 624-625, 644. dos fatos, 546, 580-581. e simultaneidade ( tempo e espaço), 597n. Sujeito e objeto do pensamento e conhecimento, 56, 60, 413-414, 600, 648-649. no Conhecimento do Homem, 373, 377, 396-397, 399, 400, 495, 507, 524, 532, 553, 577, ( ver Homem-sujeito e Homem-objeto.) a separação do, dá origem ao determinismo mecanicista ou ao idealismo, 525. relacionamento do, no Conhecimento do Homem, 554, 560, 561-562. identidade na diversidade do, 577. dialética do, 659, 662, 663, 664 e segs., 679 e segs., 703 e segs. relacionamento do, 673, 703. síntese do, 704. Tecnologia. contribuição de Marx para a, 589. Telepatia, 694. 818 lndice Analítico

Tempo, 35, 82, 227, 277, 346, 350, 597n., 672, 784. relação tempo-espaço, 260n. concepção metafísica do, 285. processo de conceituação do, 292-293. Teologia, 566, 567, 702. Teorias.] explicativa, 19-21, 23-24, 28, 642. matemática, 26, 35. passagem da consideração dos fatos para a, 24, 27-28. como sistema de idéias, 28. aplicabilidade a fatos desconhecidos, 28. como sistema racional, 36-38. veracidade e precariedade das, 39. desarmonia das, 39-40. natureza das, segundo Einstein, 41. caráter crescentemente abstrato das, 42. conteúdo da, 85-86. sistematização provisória da, 112-113. necessidade da teoria para a ação humana, 552. revolucionária do proletariado, 573. e prática, 578 ( ver Ação humana.) ver Física. Termodinâmica, 272. Têrmos. gramaticais, 203, 204. lógicos, 451, 459 e segs. de relações, ver Relação, têrmos da. Topologia, 73, 146, 291, 761n. Trabalho ( Economia Política.) interpretação metafísica do conceito de, 530. análise das relações de, 556-559. Trabalho (Física), 719. Transformismo, 363-364, 374n. Tropismo, 69, 107, 122n., 171-172, 198. Um e muitos, ver Unidade ou uniformidade .•. Unidade (Matemática), 129. e frações, 133. e pontos geométricos, 230. como critério de comparação das "coisas" (Descartes), 265. Unidade ou uniformidade na multiplicidade ou diversidade, 89-90, 177 e segs., 183, 198, 199, 206, 207, 213, 372, 580n. muitos e um (Platão), 91, 191, 206, 207.

umao e diferença ou separação, 153. em Platão, 190. Universais, 83, 89-90, 319, 320, 326, 328n., 358. problema dos, 44-45, 718. opostos aos individuais, 204n. e relações, 319. Universo. pensamento e unidade do, 116, 583, 589, 598-599. concepção metafísica do, 217 ( ver Coisas e Disposição Inicial.) concepção matemática do, (Pitágoras) 230. concepção metafísico-materialista moderna do, 345, 784. concepção dialética do, 372 ( ver Dialética.) interpretação quantitativa do, 480-481. relações do Homem com o, 662, 663, 666, 703-704, 713. progresso da concepção unitária do, 663-664. criação do, 777n. Valência (Química), 33. Velocidade (Mecânica), 21, 672, 775, 776, 782, 783.

entificação do conceito de, 776. Verbalismo, 87, 98, 100, 168, 586n., 636, 702, 725, 750-751, 765, 784. consagração do, na Logística, 326. ver Linguagem. Verdade. critério da, segundo o comodismo, 38-39. absoluta, 39, 309, 693, 710n., 736. matemática, 127. oposta à Opinião por Parmênides, 180, 182. dedução da, do Saber filosófico, 437. como resultante da manipulação conceptual, 636. definição clássica da, 683n. natureza da, 706 e segs. e objetividade, 721. Verificação do conhecimento, 24, 26, 27, 96, 111, 112, 113, 119, 120, 191. Vista (sentido), 72. complexidade da, 62. concepção na filosofia grega, 649n. ver Imagem sensível visual. Vitalismo, 664, 743. Voluntarismo, 518n. Zoologia, 363n., 634. ver Ci~ncias Naturais.

lndice Analítico 819

íNDICE DE NOMES PRÓPRIOS CITADOS Abel (N. H.), 146. Alberto Magno, 258. Anaxágoras, 183, 198, 213, 417. Anaximandro, 177. Anaximenes, 177. Apolônio, 246n., 249. Architas, 246n. Aristarco de Samos, 256, 781. Aristóteles, 112, 122n., 168, 180, 181, 183, 184, 189, 194, 199, 202-205, 206, 207, 210, 215-218, 234n., 237, 257, 258, 259, 261, 264, 276, 330, 345, 359, 369, 442, 465, 466, 478, 480, 494n., 534, 636, 702, 710, 712, 724, 725, 738, 745, 771, 790. Arquimedes, 249, • 257, 273. Atwood ( máquina de), 283, 284n. Bacon (Francis), 22, 24, 92, 114, 257, 338, 342n., 669, 729, 737. Bacon ( Roger), 257. Bain, 64, 114. Beer (Max), 537n., 538n., 569n, Bell (E. T.), 148, 288n., 289n., 300n., 302, 304n., 306, 315n, Bergson (Henri), 15, 671, 721n., 722n, Berkeley_ (George), 44, 50, 344, 348. Bernouilli (Jean), 143. Bernstein ( Eduard), 541n. Berthollet (C. L.), 371, 488n. Bichat (M. F. X.), 744. Binet (L.), 65. Bodin (Jean), 379n., 386n. Boole (George), 299, 309. Bosanquet (Bernard), 324n., 585n. Bougainville ( L. A.), 357. Boyle (Robert), 343, 670. Bradley ( F. H. ) , 108n., 324n. Bréhier (ll:mile), 354n., 403n., 455n. Brouwer (L. E. J.), 298. Brunet (Claude), 340n.

Buffon, 364, 374n. Burke ( Edmont), 403, 404. Byron (John), 357. Cantor (Georg), 300, 302, 303, 746n., 761. Caraça (Bento de Jesus), 221n. Carnap (Rudolf), 327, 328, 329, 330, 751. Carnegie ( Andrew), 505. Carteret ( Philip), 357. Castillon (G. F.), 310n. Catarina da Russia, 385. Cauchy (A. L.), 35, 146, 287, 292, 297. Chateaubriand (F. R. de), 506, 509n. Círculo de Viena, 327, 328n., 329, 330, 586n., 722n. Coleridge (S. T.), 506. Condillac (E. B. de), 664, 742. Condorcet, 385, 403, 408, 409, 439. Cook (James), 357. Copérnico, 38, 780, 781. Courant ( R.), 300n. Croce ( Benedetto), 585n. Cuvier (G.), 364. Dalton (J.), 371, 372. Dampier (W. C.), 2l6n., 364n. Darwin (Charles), 361, 362, 363n., 365, 369, 492, 519, 640n., 790. Darwin ( Erasmus), 364. De Bonald ( L. G. A.), 506. de Broglie ( L. ), 31, 750, 771. Dedekind (J. W. R.), 303, 746n., 761. de Maistre (J.), 506. Demócrito, 74, 184, 199, 424, 535n., 649, 664, 768. Descartes, 25, 50, 92, 114, 131, 141, 142, 146, 148, 168, 258, 200..270, 272, 275, 276, 279, 287, 297, 305, lndice de Nomes Próprios Citados 821

333, 337, 338, 339, 340, 343, 344n., 368, 369, 373, 375, 376, 377, 382, 399, 415, 426, 427, 452n., 492, 631n., 664, 668, 669, 671, 710n., 719, 738, 729, 737, 742, 790. De Vries (Hugo), 365. Diderot, 51, 403, 441. . Dietze, 79n. Dinostrato, 247. Diocles, 247. Diofante, 145, 249, 250, 253. Dirac (P. A. M.), 771, 772, 784. Disraeli ( Isaac), 506n. Dumas (Georges), 65n., 79n., 95n., 687n. Duns Scott, 257. · Durkheim (:i;;mile), 610n. Ebbinghaus (Hermann), 63, 64n. Eddington (A. S.), 42, 672, 778. Einstein (Albert), 19, 28, 29, 30, 34, 37n., 41, 119, 128, 147, 581n., 599n., 691n., 746, 746n., 771n. · Empédocles, 183. Engels (Friedrich), 38, 54n., 84n., lOln., 336, 348n., 355, 406n., 450n., 488n., 497n., 502, 506, 534, 538n., 541, 542, 549n., 561n., 563, 573n., 574n., 580, 589-601, 606, 618, 626, 738, 786, 787. Enmale (Richard), 497n. Epicuro, 535n., 664. Eratóstenes, 256. Euclides, 140, 145, 234, 236, 238n., 242, 243n., 250, 255, 256. Eudócio, 249. Euler ( Leonhard), 287n. Fermat (Pierre de), 143, 269n., 369. Feuerbach (Ludwig), 600. Fibonacci ( Leonardo de Pisa), 134n. Fichte ( Johann Gottlieb), 318n., 413, 414, 431-433, 435, 436, 437, 441, 446, 502, 553, 664, 670. Figueiredo (Cândido de), 159. Fourier (F. M. C.), 507, 512, 527n., 532, 533n. Fourier (J. B. J. ), 143, 274. Frederico, o Grande, da Prússia, 385. Frederico Guilherme, da Prússia, 418n. Frege (Gottlob), 146,301,302,304,310, 746n., 761. Fresnel (A. J.), 25, 768. Galileu, 21, 141, 258, 259, 260, 261, 262, 263, 273, 281n., 345, 425, 442, 822 1ndice de Nomes Pr6prios Citados

498, 500, 654, 710n., 711, 712, 718, 719, 782n. Galois (:11:variste), 113, 114, 115, 146, 292, 315, 628n., 645n., 779, 790n. Gauss (Karl Friedrich), 128, 146, 292, 297. Gibbon (Edward), 403, 408, 408n., 409. Goblot (Edmond), 22, 235n., 641n. Gõdel ( teorema de), 148. Goethe, 364, 398, 407, 419. Grócio, 261n., 263, Hecht ( Selig), 33n. Hegel, 15, 54, 93, 266, 324n., 355, 398, 404-502, 534, 535, 541, 548, 550, 551, 552, 553, 555, 559, 570, 576, 580, 582, 584, 585, 586, 588, 588n., 597n., 600, 606, 626, 628n., 631n., 632, 640, 644, 647, 666n., 738, 739, 743, 750, 786. Heisenberg (Werner), 771. Heráclito, 178, 180, 183, 213. Herder (J. G. von), 406, 407, 410, 411, 419. Hero de Alexandria, 249n., 255n., 256. Heródoto, 132n., Hilbert (David), 145, 146, 332, 761n. Hiparco de Nicéia, 256, Hipias, 247. Hogben ( Lancelot), 221n. Holbach, 664. Hooke (Robert), 279, 471. Humboldt, 358n., 363n., 367. Hume (David), 92, 341, 344, 386, 403, 408, 408n., 427, 428, 583, 670, 698n. Huygens (Christian), 25, 279, 345, 710n., 719, 768. Hyppolite (J. ), 405n., 414n., 442n., 455n. Infeld ( Leopold), 29n. Inhelder (B.), 80n. Jacobi (Friedrich Heinrich), 420n. James (William), 61, 64, 721n. Jeans (James), 41, 280n., 671, 672, 778. José I de Portugal, 385. Kant (lmmanuel), 50, 5ln., 67, 91, 92, 93, 101, 102, 122n., 128, 130, 179, 317, 318, 322, 331, 348, 354n., 381, 412, 413, 414, 418, 420n., 426-437, 441, 445, 446, 473, 494, 552, 584, 656n., 664, 670, 724, 738, 739, 743, 749, 773, 774, 788n.

Kepler, 258, 263, 281n., 345, 780, 781, 783. , Koupalov (P.), 53n. Lagrange (Joseph Louis), 292. Lafande (André), 90n., 121n., 322, 342n., 455n., 483n. Lamarck (J. B. ), 364, 365n., 367, 369. Lambert (J. H.), 310n. Lamennais (H. F. R.), 506. La Mettrie (J. O.), 664, 742. Laplace (P. S.), 428n., 584. Lavoisier (A. L.), 371, 488n. Le Chapelier (lei), 522, 567. Legendre (A. M.), 274. Leibniz ( Gottfried Wilhelm), 50, 92, 146, 287, 292, 310n., 344, 344n., 412, 668, 670, 742. Lénin (V. 1.), 37, 50n., 84n., 428n., 549, 590, 594, 601-605, 626, 743, 786, 787. Leonardo da Vinci, 258, 261n., 729. Lesniewsyi ( St. ) , 333n. Lessing ( Gotthold Ephraim), 406, 410. Leucipo, 183. Leverrier ( Urbain Jean Joseph), 526. Levi-Cività ( T.) 128. Lineu, 361, 364, 376, 377. Linguet ( S. N. H.), 382. Locke (John), 92, 343, 386, 401, 427, 428, 669, 670. Lutero, 406n. Mach (Ernst), 15, 37, 747, 748, 749, 750, 769, 770, 777, 778, 784, 788n. Malebranche (Nicolas), 339. Martius (C. F. P. von), 358n. Marx (Karl), 54, 84n., 388, 392, 394n., 397, 398, 404n., 406, 406n., 488n., 496, 502, 504, 506, 531, 534-589, 600, 601, 606, 606n., 618, 626, 668n., 722n., 738, 741, 787, 790. Mascheroni ( Lorenzo), 244n. Maxwell {James Clerk), 25, 746. McTaggart (J. M. E.), 324n. Meinecke ( Friedrich), 408n., 409, 410, 411, 420. Menaechmus, 246n. Michelson (Albert Abraham), 117, 680. Mileto ( Escola de), 177, 178, 180, 181, 182, 184, 190n., 198, 205. Minkowski ( "mundo" de), 599n. Moliere, 518. Montalembert ( M. R.), 506. Montechrétien (Antoine), 386n.

Montesquieu, 382, 383, 403, 408, Morais ( dicionário de), 159. Morley (E. W.), 117. Mõser (Justus), 410. Moutier, 103n. Müller (Adam), 506. Napoleão, 433, 512. Necker (Jacques), 379n. 397n. Newton (Isaac), 25, 118, 146, 279, 280-283, 285, 287, 292, 339, 345, 351, 386, 409, 426, 440n., 471, 709, 710, 717, 719, 747, 768, 769, 775, 780, 783, 784, 790. Nicodemo, 247. Nieuwied ( Príncipe Maximiliano), 358n. Nordmann (Charles), 30n., 147n. Offner (Max), 65. Ogden ( C. K.), 698n. Orléans (Duqúe de), 519. Owen (Robert), 507, 512, 527n., 531, 532, 533n. Painlevé (P.), 30. Pápus de Alexandria, 249, 261n. Parmênides de Eléia, 74, 180, 181, 182, 190, 196, 196n., 199, 216n. Pascal (Blaise), 279. Pasteur (Louis), 692. Pavlov ( I. P. ), 53n. Peano (G.), 146, 310. Peirce (Benjamim), 308, 309. Peirce ( Charles Sanders), 77n, Pereira (Lúcia Miguel), 689n. Petty (William), 386, 388, 393n, Piaget (Jean), 80n, Pitágoras, 179, 180, 230, 231, 232. Pitt (William), 404. Platão, 44, 74, 91, 106, 127, 128, 135, 138, 180, 181, 186, 188, 189-197, 199, 200, 201, 202, 204, 205, 206, 207, 210, 213, 214; 215, 216, 221, 230, 233, 234n., 24'9, 282, 318, 319, 322, 330, 345, 359, 360, 424, 464, 465, 466, 478, 492, 534, 636, 649n., 66ln., 663, 677n., 702, 724, 725, 748, 750. Plekhanov (G. H.), 598. Plutarco, 73. Pohl (J. E. ) , 358n. Poincaré (Henri), 18, 19, 20n., 32, 37, 38, 39, 40, 124n., 145, 146, 289n., 294, 295, 297, 298, 311, 315, 316, _332n., 348n., 497n., 628n., 748, 755, 790n. 1ndice de Nomes Próprios Citados 823

Pombal ( Marquês de), 385. Protá~oras, 187, 288. Proudhon (P. J.), 507, 512, 543. Proust (J. L.), 371, 488n. Ptolomeu, 38, 781. Quesnay (François), 403. Ray (John), 361. Rey (Abel), 346. . Reybaud (Louis), 538n., 543. Riasanov (D.), 590n. Ricardo (David), 388n., 392, 398, 505, 530, 531n., 558, 566, 568, 573. Ricci (M. M. G.), 128, 147. Richards (I. A.), 698n. Riemann ( Georg Friedrich), 32, 128, 147. Robbins (H.), 300n. Robertson (William), 408, 408n. Rosenthal ( M.), 623n. Rousseau 0-J·), 403, 407, 439, 485. Ruge (Arnol ), 537, 538n., 552, 554, 569n. Russel (Bertrand), 44, 112, 113, 114, 115, 146, 303n., 304n., 313-326, 333, 333n., 425, 479n., 487n., 748, 750, 753, 754, 755, 756, 761, 784. SairÍt-Hilaire (Augusta de), 358n., 363n. Saint-Hilaire ( ll:tienne Geoffroy), 364. Saint-Simon, 385, 507, 512, 527n., 531, 532. Sartre (Jeàn-Paul), 15, 671. Schelling (F. W. J. von), 413, 415, 416, 487n., 664, 670. Schumann (A.), 79n. Shakespeare (William), 407. Smith (Adam), 388-394, 403, 404, 505; 526, 558, 566, 568. Smithsonian Institution, 610n. Sócrates, 181, 182, 186, 187, 188, 189, 201, 206, 399, 400, 649n. Soury (Jules), 96,

824 1ndice de Nomes Pt6prio, Citados

Southey (Robert), 506. Spencer (Herbert), 365n. Spinosa (Baruch), 92, 180, 344n., 400, 401, 412, 413, 662, 668, 670, 742, Spix (J, B. von), 358n. Stahl (G. E.), 371. Stálin (J.), 84n,, 604, 626, 786, 787 Steiner (Jacob), 244n. Stern (W.), 687n. Stevinus (Simon), 258, 261n., 263, 345. Stuart (James), 417. Stuart Mill (John), 22, 114, 347n., 777n. Szeminska ( A. ), 80n. Tales, 177, 180, 249. Tarski ( Alfred), 152n., 166n., 751, 765. Tomás de Aquino, 258. Turgot (A. R. B.), 395. Tycho-Brahé, 281n., 781, 782. Ullmo (J.), 283n. Vauvenargues, 403. . Vico ( Giovanni Battista), 484, 496. Viete (François), 263. Voltaire, 395, 403, 408, 409, 438. Wallace ( Alfred Russell), 368. Wallace (W.), 324n. Wallis (Samuel), 357, Ward (James), 76. Watson (J. B.), 152n. Weierstrass (Karl), 32, 146. Whitehead ( A. N. ), 778. Winckelmann (Johann Joachim), 406. Wittg_enstein (L.), 327, 333, 333n. Wundt (Wilhelm Max), 79n, Young (Arthur), 402, 403, 404, 519. Young (Thomas), 25, 33, 768. Zeller (Eduard), 178. Zenio de Eléia, 181, 182, 230, 304, 459,

Biografia do Autor CAIO PRADO JúNIOR

Nascido em São Paulo, aqui fêz seus estudos secundários no Colégio São Luiz, e em Eastboume, Inglaterra. Formado pela Faculdade de Direito, hoje incorporada à Universidade de São Paulo, em 1928, obteve Livre Docência em Economia Política na mesma Faculdade em 1956, com a sua tese "_Diretrizes Para Uma Política Econômica Brasileira". Deputado Estadual em 1947, teve seu mandato cassado em 1948, quando o Partido Comunista do Brasil foi declarado ilegal. Em 1966, recebeu o título de Intelectual do Ano, sendo agraciado com o prêmio Juca Pato.