A terra e o homem no Nordeste [4 ed.]

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Têm eles, geralmente, um ofício de pedreiro, marceneiro, carpinteiro, mecânico etc., que lhes garante uma renda certa." São os artesãos, chama-

dos na região de “artistas”, e ter uma “arte” constitui uma garantia de

segurança econômica para os dias incertos. Nos

brejos

pernambucanos,

a propriedade

também

está

muito

dividida. Há pequenos sítios em brejos como o da Serra do Vento, em Belo

Jardim,

o da

Serra

Vermelha,

em

Caruaru,

e os de Bezerros

e

Camocim de São Félix, em que os pequenos proprietários apanham um pouco de café, de castanha de caju, uma vez que o cajueiro é usado no sombreamento do cafeeiro, um pouco de pimenta-do-reino, cultivada junto aos cajueiros que lhe servem de suporte, e algumas fruteiras — laranjeira, mangueira, abacateiro, jaqueira etc — plantadas no meio do cafezal; tudo

isto, porém, é insuficiente para manter uma família?



uma verdadeira promiscuidade vegetal no uso da terra, desde que o proprietário, dispondo de pequena área, procura aproveitá-la ao máximo, embora

o rendimento

seja insignificante. Não conhecendo

os processos

melhor

preço para o açougue que o gado comum

engordado

em cercados, sendo muito usados para a fabricação de “carne-de-sol”, alimento muito apreciado no Agreste e Sertão nordestinos. Carne-de-sol assada com feijão-macassar, manteiga do sertão derretida e farinha de mandioca é prato regional hoje largamente apreciado mesmo nas cidades litorâneas, nas capitais dos Estados nordestinos. É muito frequente, também, cada família criar dois ou três porcos, os “capados”, visando com a sua venda, no fim do ano, atender aos gastos extraordinários da

época de “Festa” — Natal e Ano Bom —-. As “miunças”, cabras, sobretudo, são encontradas não há vacas.

em

todas

as casas fornecendo,

às vezes, leite, quando

—s=> Em certos trechos da caatinga agrestina onde domina o clima semiárido mas os. solos são arenosos e profundos, como ocorre em Lajedo,

Surubim, Vertentes e Distrito de Capoeiras, em Pernambuco, a propriedade é bastante dividida e os pequenos proprietários dedicam-se à cultura

técnicos de conservação do solo e não dispondo de dinheiro para adquirir

de

ciente

farinha a tração animal são encontradas com frequência, e a farinha constitui um produto comercial por excelência destes pequenos proprie-

adubos, têm eles uma produção mínima, sendo a renda auferida insufipara

orçamento

a manutenção

trabalhando

da

família.

“alugado”,

O

sitiante complementa

o seu

como camarada, diriam no Sul do

país, para os grandes e médios proprietários vizinhos, ou emigra no estio para a área açucareira, a fim de trabalhar nas usinas em moagem, deixando à mulher a guarda e administração de sua gleba. Engaja-se, assim, no grande exército formado pelos trabalhadores sem terra que, a partir de setembro, migram para a região da Mata, voltando à gleba em março, com as primeiras chuvas.

Também CF

pelo domínio absoluto de garrotes para a “recria”. Estes, engordados, alcançam

o pequeno

proprietário

se preocupa com o auto-abaste-

cimento, procurando nas exíguas áreas de que dispõe plantar algumas covas de roça” — macaxeira (aipim) e mandioca — um pouco de milho, 'sempre associado ao feijão e à fava, e criar alguns animais. Estes são representados

por uma vaca de leite ou um garrote, criados presos “na

(corda”. A vaca destina-se ao fornecimento de leite à família e à obtenção [de “crias” que, ao serem apartadas, são vendidas visando à aquisição de roupas. O garrote é quase sempre adquirido em feiras de gado, com 'um ou dois anos de idade, e passa a ser engordado para ser vendido quando reformar. A feira de gado de João Alfredo, por exemplo, caracteriza-se

tubérculos,

2

Bernardes, Nilo, Observações sobre a paisagem agrária no município de Areia. “Anais da Associação de Geógrafos Brasileiros”, vol. VI, tomo II, págs. 60 a 62. Lacerda de Melo, Mário e Andrade, Manuel Correia de, Um Brejo de Pernambuco (Região de Camocim

de São Félix), págs. 19 e 20. Separata do “Boletim Carioca

de Geografia”, Rio de Janeiro, 1961.

142

mandioca,

inhame,

cará

e batata.

Casas

de

tários. Tém eles nível de vida modesto, mas bem superior aos assalariados; suas casas se distribuem pela paisagem, próximas umas das outras, sempre

construídas de alvenaria e com um terraço na frente. Para se locomoverem e transportar os produtos do sítio para a cidade, têm quase sempre um

cavalo

“de

cangalha”,

um

burro,

um

jumento,

ou, às vezes, um

pequeno carro de boi puxado por dois “boiatos” — animais novos ainda não formados — numerosos sobretudo nos distritos vizinhos de Capoeiras, em São Bento do Una, e Cortés, em Garanhuns. Aí, nos dias de feira, as estreitas estradas carroçáveis, ladeadas por cercas vivas de avelós (Foto

nº 11), ficam durante horas praticamente obstruídas por estes pachorrentos e vagarosos veículos que vão à vila, dirigidos pelos pequenos

proprietários, carregados de produtos do sítio destinados à venda, e voltam à tarde com os mantimentos da semana. Eles lembram as carroças

dos colonos alemães e poloneses, puxadas a cavalo e muito encontradas em Santa Catarina e no Paraná; lembram também aquelas outras de pneumático, a tração anímal, usadas largamente no vale do Apodi, no Riu Grande do Norte. Há, assim, uma correspondência entre as pequenas propriedades e os veículos de tração animal, uma vez que o pequeno proprietário não dispõe de meios para adquirir um jipe ou um caminhão. | O veículo

1

sobretudo

a tração animal»

carroça, ou o carro de bois — serve para

transportar a família e a produção do sítio, sem ser muito oneroso às suas parcas finanças. Estas vilas, como as cidades agrestinas próximas aos brejos, têm grandes feiras, uma vez que a menor concentração fundiária permite maior divisão do dinheiro: diminui o número de ricos e de pobres,

aumentando

o de remediados. Por isto feiras como as de Camocim de “ 143

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