Teologia Essencial
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Isaias Lobão Pereira Júnior

Teologia Essencial Doutrinas bíblicas ao alcance de todos

Palmas - 2021

Copyright © 2021 by: Isaías Lobão Pereira Junior 1ª Edição - 2021- 300 exemplares 2ª Edição - 2022 Revisão: Vanda Kessia Gomes Galvão Diagramação: Paula Editorações Foto capa: www.freepik.com e Paula editorações Editora: Kelps Impresso no Brasil Printed in Brazil – 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Amanda Moura de Sousa CRB-7/5992 P436t

Pereira Júnior, Isaias Lobão. Teologia essencial: doutrinas bíblicas ao alcance de todos / Isaias Lobão Pereira Júnior. - Palmas: Kelps, 2021. 95 p. ; 14x21 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-89975-20-5

1. Teologia. 2. Bíblia. I. Título.

CDD 230 CDU 27+37

Dedicatórias

PREFÁCIO DO AUTOR O pequeno livro que você tem em mãos apresenta uma série de ensaios produzidos durante vinte anos de atuação na docência teológica. Alguns versam sobre temas clássicos, enquanto outros abordam tópicos contemporâneos. Acredito que a teologia não se deve restringir às academias e estudiosos, pois todos os crentes podem (e devem) aprender a interpretar a Palavra de Deus. Depois de ler o texto, você poderá julgar se consegui alcançar meu intento.

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PREFÁCIO

T

arefa seríssima é a de alguém que apõe seu nome numa obra literária alheia, a pedido do autor. Muitos chegam a pôr o nome do prefaciador na própria capa da obra, dada a importância da figura do mesmo. Creio que eu jamais aceitaria tal coisa, porquanto não me vejo como autoridade em qualquer ciência humana ou divina; sou um leigo amante do conhecimento. Tremendo, sim, e constrangido, mal aceitei prefaciar esta obra, e o fiz no espírito de modéstia e perplexidade. Se ficar bom, tudo bem; se trair a confiança do autor, então ambos se verão prejudicados. O já renomado Rev. Isaías Lobão Pereira Júnior, companheiros por admiração mútua, solicitou que eu apusesse meu nome em sua belíssima obra de profunda beleza; eu, por minha vez, aceitei em vista da consideração que ele demonstra para comigo; na verdade, nem sei por quê. Negá-lo, seria uma grande descortesia e ingratidão de minha parte. Declaro que li seu livro quase de uma assentada, de tão fascinado com a obra. Não o conhecia como escritor, mas apenas como teólogo e conhecidíssimo mestre da sã teologia reformada e das ciências humanas, se assim podemos dizer, porquanto toda ciência chamada humana na verdade é ciência divina, pois João Calvino preceituou que tudo quanto vem para a edificação e bem do gênero

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humano, na verdade procede de Deus, o autor de todas as coisas boas. Para ele, todos nós deveríamos nos sentir servidores dele. Retrocedendo ao ponto de partida, li este precioso livro quase de uma assentada. Qual não foi minha surpresa! Eis que diante de mim se descortinou um genuíno escritor/teólogo, precocemente erudito. Senti-me encantado com a simplicidade, a beleza, a exatidão, a profundidade, a atualidade, a fidelidade, revelando o autor profundo conhecedor da teologia calvinista, mas sobretudo exercendo o poder de síntese. Seu discurso não é um pedregulho; não é um cipoal num emaranhado confuso. Ele discorreu sobre os principais fundamentos da sã doutrina. Vi diante de mim a obra de um genuíno reformador a intimar todos os cristãos a aderirem ao sagrado conteúdo da Escritura por inteiro, sem reserva. Eis uma obra a ser lida pausadamente por todos os que queiram achegar-se aos limiares da divina Escritura, caminhar por todas as suas avenidas, tomar posse dela, amá-la, ensinála, conhecê-la com profundo e abrangente discernimento, sem pôr em dúvida absolutamente nada. Não merece ser ministro da Palavra, ser mestre da sã doutrina, ser testemunha de nosso Senhor Jesus Cristo e ser conhecido por toda a sociedade como um “homem de Deus” se o tal não tem a posse por inteiro da Santa Escritura. Quem ler e reler e meditar este pequeno e preciso livro vai sentir esse vibrante desafio. Quanta lição prática e indispensável já aprendi desde então, com uma só leitura. Eis uma obra literária elaborada sob o uso de uma rara perfeição gramatical; ele faz isso com maestria. Ele é senhor do conteúdo teológico d’agora e de outrora e sabe explaná-lo. Quase sofro infarto quando leio no Facebook alguns textos de 8

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ministros do evangelho. É assustador! É horripilante! Rev. Isaías nos passa a lição de um austero e perene estudante da maravilhosa língua portuguesa e da sã teologia cristã. Não ficou satisfeito em ser seu estudante; quis também ser seu professor – e conseguiu! Enfim, vale a pena debruçar sobre esse pequeno compêndio de teologia, sem nenhuma pressa, e assimilar seu conteúdo. Não só para os leigos da mais elementar cultura, esse é um livro a ser também compendiado pelos eruditos. Reiterando, eis um livro para todos os níveis culturais. Em minha insignificância e quase anonimato, servo dos servos de Cristo, apresento este precioso livro não só aos filhos de Deus, mas a todos os amantes do conhecimento. Boa leitura! Goiânia, 20 de novembro de 2021 Rev. Valter Graciano Martins

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pela vida e salvação. Agradeço minha família, Talita, Ana Clara e o Daniel. E aos diversos leitores que tiveram acesso aos primeiros garranchos deste manuscrito. Em especial a Edvânia Ferreira Gomes, professora, escritora e cidadã honorária do Ancapistão. Ao pastor Diogo Souza Magalhães, que depois ler partes do texto, me incentivou a publicá-lo. As sugestões de Júlia Alves Bandeira, que leu trechos do livro ainda nos primeiros esboços. Como de praxe nesses casos, eu sou o único responsável por quaisquer erros e omissões.

SUMÁRIO PREFÁCIO DO AUTOR.........................................................5 PREFÁCIO.............................................................................7 AGRADECIMENTOS...........................................................11 O QUE É TEOLOGIA? ..........................................................15 TRINDADE..........................................................................27 APLICANDO A SABEDORIA DE DEUS EM TEMPOS DE MUDANÇA...........................................................................45 A COMUNHÃO DOS SANTOS............................................53 O EVANGELHO DA MARAVILHOSA GRAÇA DE DEUS.71 A VERDADEIRA ADORAÇÃO...........................................85 REFERÊNCIAS....................................................................91 AUTOR..................................................................................95

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O fundamento de todo conhecimento verdadeiro de Deus deve ser a clara compreensão mental das Suas perfeições, como reveladas nas Escrituras Sagradas.1

O QUE É TEOLOGIA?

O

termo teologia é composto de duas palavras gregas: Theos (Deus) e logos (palavra, fala e expressão). Ela é, portanto, um campo do conhecimento voltado à compreensão sobre Deus, suas obras e atributos. É o estudo acerca da revelação do nosso Criador. Embora o termo teologia não esteja presente nas Escrituras, ele é bíblico em seu caráter. Fazemos essa afirmação porque, em Rm.3:2, encontramos ta logia tou Theou (os oráculos de Deus); em 1 Pe.4:11, encontramos logia Theou (oráculos de Deus), e, em Lc.8:21, temos ton Logon tou Theou (a Palavra de Deus). Tradicionalmente, a teologia se divide nas seguintes áreas: 1)Teologia Natural – investiga os fatos que se referem a Deus, e como Ele se encontra revelado na natureza. 2) Teologia Exegética – estudo da Bíblia e assuntos relacionados. Principais disciplinas auxiliares: arqueologia bíblica, hermenêutica, estudo das línguas originais e história. 1

PINK, A.W. Os atributos de Deus. São Paulo: PES, 2016, p.7. 15

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3) Teologia Bíblica – examina o desenvolvimento da verdade, de acordo com as Escrituras, tratando-se de uma exposição sistemática do seu conteúdo. Nela, temos a Teologia do Velho Testamento e a do Novo Testamento, bem como de diversos livros bíblicos. 4) Teologia Histórica – observa o desenvolvimento histórico da doutrina, e se volta para matérias correlatas, tais como história bíblica, da igreja, das missões cristãs, e a dos credos e confissões. Nessa vertente, investiga-se ainda o desenvolvimento das variações sectárias e dos diversos movimentos heréticos. 5) Teologia Sistemática – é a organização das doutrinas bíblicas, conforme expressas nos símbolos de fé da igreja, representada pelos diversos grupos cristãos, tais como a dogmática luterana, calvinista, anabatista, anglicana, arminiana ou pentecostal. 6) Teologia Prática – é a aplicação da verdade teológica na vida diária dos crentes, que busca aplicar à vida prática os diversos ensinamentos das outras áreas. Abrange os cursos de homilética, aconselhamento pastoral, liturgia, administração eclesiástica, missões e educação cristã. Sobre a revelação O termo revelação significa desvendar alguma coisa oculta, para que possa ser vista e conhecida. Pode-se afirmar que revelação é o ato pelo qual Deus fez saber aos homens os seus mistérios e vontade; o que ocorreu, a princípio, no mo16

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mento da criação, depois por Moisés e os profetas, e finalmente por Jesus Cristo: “A revelação de Deus é o processo e o resultado da comunicação racional e proposicional entre Deus e a raça humana” (FERREIRA; MYATT, 2007, 115). Nesse sentido, este é o testemunho das Escrituras: “No passado, por meio dos profetas, Deus falou aos pais muitas vezes e de muitas maneiras; nestes últimos dias, porém, ele nos falou pelo Filho, a quem designou herdeiro de todas as coisas e por meio de quem também fez o universo”. (Hebreus 1:1-2, Almeida Século 21).

A teologia cristã é, portanto, construída a partir da revelação que Deus faz de si mesmo. Como afirmou Carl Henry, a “teologia não começa em Deus como uma pressuposição especulativa, mas com Deus conhecido em sua revelação” (HENRY, 2016, 25). E, nesse contexto, a Bíblia é o registro inspirado da revelação divina. Sobre isso, James Packer ressalta: “do ponto de vista do conteúdo, a revelação é ao mesmo tempo indicativa e imperativa, e sempre normativa. As manifestações de Deus sempre são feitas no contexto de uma exigência que pede confiança e obediência àquilo que foi revelado” (DOUGLAS, 1998, 1162).

A Bíblia nos diz que Deus se revela a si mesmo através de suas ações através da história, como também por palavras através de registros feitos através da Escritura sobre esta mesma história, com o objetivo de se tornar conhecido através das gerações, como vemos em 2 Tm 3:14-15 (Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteira17

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do, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus) e Rm 15:4 (Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança). A Bíblia traz iluminação aos seres humanos para que possam reconhecer o valor desta revelação, bem como sua autoridade. Como foi bem destacado por Leon Morris (MORRIS, 1979, 12): No cristianismo, revelação é um termo importante porque significa que Deus tomou a iniciativa em dar-se a conhecer aos seres humanos. Em tal sentido o conhecimento de Deus resulta, não do produto do diligente estudo humano, senão de uma manifestação da graça de Deus e sua vontade de ser conhecido. Os cristãos são tradicionalmente firmes crentes na revelação.

A teologia cristã crê naquilo que o próprio Deus informa de si mesmo, e isso torna-se a base tanto de tudo aquilo que acreditamos a respeito dele. Revelação Geral (ou natural) e Revelação Especial Geralmente, a revelação é dividida em dois tipos: a especial e a geral. A primeira pode ser entendida como toda forma que Deus usou para se tornar conhecido pelo homem pecador, a fim de resgatá-lo do pecado. É o Deus Salvador se desvendando ao homem através do seu poder, glória, natureza e caráter. Nesse ponto, Deus também mostra sua vontade, caminhos e planos. 18

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Já a revelação geral se vincula à manifestação de Deus Criador através da natureza, história e personalidade humana para todas as pessoas em todos os tempos, ao contrário da especial, que é direcionada para determinadas pessoas em épocas específicas (MILLARD, 1997, 55). A revelação especial de Deus foi necessária devido sua natureza transcendente haja vista o homem ser incapaz de alcançar uma ideia sobre Deus com seu próprio pensamento. “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis: porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus...” (Rm 1:19-21).

Nesse mesmo entendimento, Colin Brown afirmou, “apenas Deus pode revelar Deus. O conhecimento de Deus é um dom do próprio Deus que não está à nossa disposição” (KEELEY, 2000, 13). Outro motivo pelo qual Deus se revela de maneira especial é o fato da pecaminosidade do homem, pois os chamados efeitos noéticos2 do pecado nos seres humanos afetaram sua razão, e, por isso, a revelação especial é necessária. Noético vem da palavra grega nous que significa “mente”. Estou falando aqui dos efeitos do pecado no entendimento. 2

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Paulo, por sua vez, destaca em Romanos 1 que mesmo aqueles sem revelação da Escritura não possuem justificativa para a sua incredulidade: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis: porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus...” (Rm 1:19-21).

Como estamos vendo, o ser humano pode conhecer a Deus. A revelação geral e a especial são claras em seus significados, ao ponto do homem poder se assegurar da existência de Deus. Sobre esse assunto, João Calvino argumentou que o ser humano carrega um senso do divino, que o leva a perceber a existência de Deus no mundo ao nosso redor (CALVINO, 2018). E, embora essa faculdade tenha sido corrompida pelo pecado, o ser humano reconhece a autoridade, presença e obras de Deus na Terra. O tratamento clássico dessa doutrina foi expresso nas Institutas da Religião Cristã, livro 1, III: Que existe na mente humana, e na verdade por disposição natural, certo senso da divindade, consideramos como além de qualquer dúvida. Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realida20

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de, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas, de sorte que, como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade.

Acerca da suficiência das formas de Deus se revelar, atenção: não é correto dizer que a revelação geral é insuficiente. Ela não é suficiente para a salvação, mas por nunca ter sido dada para isso. Tal modo continua sendo suficiente para dar ao homem a declaração que Deus intencionou dar através dela. O problema do homem não a compreender ou não se apropriar desse tipo geral não se deve a uma deficiência da revelação, mas a uma falha no próprio homem. No conceito de um Deus que se revela, está inerente a realidade de um Ser que se encontra plenamente cônscio da sua própria existência. Acerca disso, Cornelius Van Til descreve o conhecimento que Deus tem de si mesmo como analítico: “conhecimento que não é obtido mediante a referência a algo que existe fora da pessoa que o exerce” (VAN TIL, 1963, 47). O entendimento que Deus tem de si mesmo não provêm de comparar-se, ou contratar-se, com algo fora dEle. O Deus absoluto e eternamente consciente de quem é tomou a iniciativa de se tornar conhecido por suas criaturas. Portanto, pode-se afirmar que Deus não é um poder cósmico ou energia impessoal. "A premissa básica de todos os escritores da Bíblia é que Deus pode ser conhecido” (CRABTREE, 1963, 58). 21

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A revelação proveniente e determinada por Deus é, portanto, uma comunicação pessoal, originada num Deus pessoal, e acolhida por uma criação também pessoal. Deus, Revelação e Autoridade Publicada entre 1976 e 1983, Deus, Revelação e Autoridade é o título de um tratado de seis volumes de Carl F. H. Henry, um importante teólogo evangélico e comentador da teologia contemporânea. Nesta obra, que é uma verdadeira obra prima, Henry procurou lançar as bases metodológicas para a teologia evangélica. Para ele, o fundamento para a teologia não pode ser qualquer outra coisa além da revelação de Deus encontrada nas Escrituras. Segundo o autor, na revelação Deus compartilha sua mente, e cabe lembrar que Seus pensamentos não são os nossos. Deus também comunica não apenas a verdade sobre Ele e suas intenções, mas aquilo que diz respeito a condição atual do homem e suas perspectivas futuras (HENRY, 1999, 457). A Revelação do Senhor é, assim, uma comunicação racional, transmitida através de ideias inteligíveis e palavras cheias de sentido, ou seja, em forma conceitual-verbal. Com esse ponto de vista, Henry seguiu a abordagem “pressuposicionalista”, baseando toda a teologia exclusivamente na pressuposição do caráter verdadeiro da Bíblia. Ele 22

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parte dos pressupostos teológicos de inerrância, harmonia e veracidade das Escrituras Sagradas, numa abordagem que compreende a Bíblia como documento inspirado por Deus, e testemunha suas ações entre os homens, conduzindo-os à salvação. Autoridade bíblica De forma sobrenatural, através das Escrituras Sagradas, Deus comunica informações essenciais para o destino presente e futuro do ser humano, entre as quais podemos afirmar: 2 Timóteo 3:16,17 (Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra). 2 Pedro 1:19-21 – Nova Versão Transformadora (Além disso, temos a mensagem que os profetas proclamaram, que é digna de toda confiança. Prestem muita atenção ao que eles escreveram, pois suas palavras são como lâmpada que ilumina um lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da manhã brilhe no coração de vocês. Acima de tudo, saibam que nenhuma profecia nas Escrituras surgiu do entendimento do próprio profeta, nem de iniciativa humana. Esses homens foram impulsionados pelo Espírito Santo e falaram da parte de Deus). Por essa razão, ela é um livro normativo, com conceitos e preceitos corretamente entendidos e interpretados, que são os instrumentos usados por Deus para transformar vidas, mudar situações, edificar e moldar os seres humanos.

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Assim, a questão da autoridade do texto bíblico é central para qualquer cristão. A perspectiva cristã tradicional admite que a Bíblia foi toda escrita debaixo da condução de Deus, não contendo erros. Essa é uma posição comumente chamada de conservadora. Como lembra Harold O.J. Brown (1987, 340), “ser um evangélico conservador e aceitar a doutrina da infalibilidade da Bíblia não requer qualquer sacrifício da integridade intelectual da pessoa". A teologia evangélica trata com justiça a revelação bíblica ao invés de deformar e perverter sua mensagem por meio de estranhos critérios, como fazem os modernistas (Ibid). Compreendo que teólogos contemporâneos, posicionados ao lado dos pensadores modernistas, contestariam tal definição. As Escrituras são a única e infalível regra de fé e prática, por serem inspiradas por Deus. Portanto, tudo o que precisaremos para conhecer a verdade de Deus será interpretar corretamente o texto sagrado. Afirmação confessional Os herdeiros da Reforma Protestante afirmam sua crença na Palavra de Deus, como define a Confissão de Fé de Westminster (I.4): A autoridade da Sagrada Escritura, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas provém inteiramente de Deus, sendo Ele mesmo a verdade e o seu autor. A 24

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Escritura, portanto, tem que ser recebida, por ser a Palavra de Deus (WESTMINSTER, 2005).

Sendo assim, a Bíblia é o fiel testemunho de Deus, mostrando quem Ele é e o que requer de nós. Deus é o autor supremo das Escrituras e a sua revelação pretende guiar-nos a um relacionamento com ele. Quem é Deus? A doutrina da Trindade é resposta para a pergunta: Quem é esse Deus que se revelou? Ela é o que, basicamente, define o caráter cristão da doutrina de Deus, e, portanto, distingue como sendo cristão o conceito da revelação, diferente de outros fundamentos possíveis sobre Deus e o conceito de revelação. Esse é o tema que veremos no próximo capítulo.

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Glória sempre seja dada ao Pai Glória ao Filho e ao Santo Espírito. Um só Deus, supremo e redentor, por todos os tempos sem fim. Amém. Hinário Salmos e Hinos nº 35.

TRINDADE

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doutrina da Trindade é talvez, a mais misteriosa e difícil que encontramos nas Escrituras. Por isso, é uma insensatez afirmar que podemos dar uma explicação completa sobre ela. Devido à natureza do assunto, só podemos saber a respeito de Deus e da Trindade o pouco que as Escrituras nos revelam. E, nesse sentido, a tripla personalidade de Deus é, exclusivamente, uma verdade da Revelação. Antes de toda e qualquer criação, Deus era completamente autossuficiente e todo-inclusivo. Tudo o que existia era Deus; não havia nada que não fosse Ele. Sem início, Deus existe para sempre numa essência imutável, escolhendo eternamente ser si mesmo a partir de sua natureza (HORRELL. J. SCOTT, 1994). Além disso, o Ser supremo é infinito em cada uma de suas características, muitas que talvez nunca tenham sido reveladas e nem poderiam ser entendidas pelos seres humanos.3 Vale destacar várias obras que discutem os atributos de Deus, entre elas, Louis Berkof, Teologia Sistemática. - James I. Packer. O Conhecimento de Deus. - João Calvino. As Institutas da Religião Cristã.

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Acreditamos que a razoabilidade da fé na Trindade transparece melhor quando confrontada com o monoteísmo e o politeísmo, em diálogo sobre unidade e pluralidade. No monoteísmo, nos defrontamos com a solidão do Uno. Por mais pleno de vida, riqueza, inteligência e amor que ele seja, não terá jamais alguém do seu lado. Estará eternamente só. Todos os demais seres lhe serão subalternos e dependentes. Se comunhão houver, ela sempre será desigual. Já no politeísmo da compreensão comum, há a noção da pluralidade de divindades, com hierarquias e diferenças de natureza, benéfica ou maléfica. Esvai-se a unidade divina. Enquanto isso, a base para entender-se a Trindade é a personalidade de Deus, apresentado nas Escrituras como um Ser pessoal: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é Santo: habito num lugar alto e santo; mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito” Isaías 57:15 (NVI).

Nesse sentido, visto que o homem foi criado conforme a imagem de Deus, podemos compreender algo da vida pessoal dEle pela observação da personalidade como a conhecemos no ser humano, mesmo sabendo que a personalidade humana é inferior à divina. Uma das objeções mais comuns alegadas contra a doutrina da Trindade é que ela implica no triteísmo (ou crenças 28

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em três Deuses). E, como veremos adiante, a formalização histórica da doutrina se deu nas controvérsias antitrinitárias. Porém, o fato é que as Escrituras nos ensinam que há um só Ser, autoexistente, eterno e supremo, a quem são inerentes todos os atributos divinos. Tanto o Velho como o Novo Testamento ensinam a unidade de Deus. A doutrina de um só Deus – Pai e criador – constitui, portanto, o pano de fundo e a premissa inquestionável da fé da igreja. Herdada do judaísmo, ela foi sua proteção contra o politeísmo pagão, o emanacionismo gnóstico4 e o dualismo marcionita5. Para a teologia, o problema era integrá-la no âmbito intelectual como os novos dados da revelação especificamente cristã. Reduzimos à sua formulação mais simples, no sentido de que se tratava das convicções dadas por Deus para o conhecimento de si à humanidade na Pessoa de Jesus, o Messias, ressuscitando-o dos mortos e oferecendo salvação aos homens por seu intermédio, derramando Seu Santo Espírito sobre a igreja (KELLY, 2009, 190-195). Testemunho Bíblico O Velho Testamento não contém a plena revelação da existência trinitária de Deus, mas traz várias indicações dela. Isso vai tendo maior clareza à medida que a obra redentora O Gnosticismo foi uma heresia refutada pela igreja primitiva. Ele afirmava, entre outras coisas, que o corpo de Jesus Cristo não era real, sendo apenas uma emanação (ilusória) da divindade. 5 Márcion (85-160 d.C.) defendia que a matéria era má, enquanto valorizava o espírito, a salvação proposta por Cristo era só para o espírito e não incluía o corpo. Ele rejeitava o Deus do Antigo Testamento porque achava que este era um ser cruel.

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de Deus é mostrada mais claramente, como na encarnação do Filho e no derramamento do Espírito. Alguns teólogos divergem quanto às provas bíblicas da Trindade no Velho Testamento. Berkhof, por exemplo, não concorda que a distinção muito utilizada entre Iavé e Elohim, e o plural Elohim sejam provas da doutrina (BERKHOF, 2009). Segundo o autor; é mais plausível entender que as passagens nas quais Deus fala de si mesmo no plural, como em Gn 1:26; – Nova Versão Transformadora (Então Deus disse: "Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós) contém uma indicação de distinções pessoais em Deus, conquanto não sugiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas. Porém, Klaas Runia, professor do Seminário Teológico Reformado Holandês, crê que Gn 1:26 indique a Trindade (KEELEY, 2000, 109-116). Nesse entendimento, a fórmula plural de Gn 1:26, possui caráter trinitário; trata-se, segundo Runia, não de um plural majestático, como alguns querem, ou de um plural deliberativo, como outros interpretam, visto que tais noções eram totalmente desconhecidas dos hebreus. Aqui, o ponto que é essas expressões tem sido consideradas no mesmo nível de palavras como “água” e “céu”, que também aparecem no hebraico. A água pode ser imaginada em gotas individuais de chuva ou em termos da massa de água no oceano. O plural, nesse caso, aponta para a “diversidade na unidade”. Alguns creem que o mesmo acontece com o plural Eloim que aparece em Gn 1:26. Runia segue 30

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o pensamento dos Pais da Igreja, que sempre se referiam a essa passagem como base para a elaboração dos conceitos trinitários. Os escritores do Velho Testamento afirmam o monoteísmo divino. É a partir dele que se definiu a doutrina da Trindade. Deus é uno tanto no Antigo como no novo Testamento em Dt 6:4: (Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, é o único Senhor), Mc 12:29 (Respondeu Jesus: o principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor!); Ef 4:6 (Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos). Assim, vemos acima afirmações claras e inequívocas de monoteísmo: Deus é um só. Essa confissão de fé assinala Israel como uma nação absolutamente dedicada ao monoteísmo e separa claramente a fé religiosa do Antigo Testamento de qualquer das formas de politeísmo. Os nomes de Deus no Velho Testamento também são elementos importantes para entender a Trindade. Muito se escreveu desde o século passado em relação a esse tema, principalmente a escola teológica liberal alemã, que baseou suas pesquisas nas diferenças no uso dos nomes de Deus em todo o Velho Testamento, dando origem a famosa teoria documental.5 Para maiores esclarecimentos veja. Gehard Von Radd, Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: ASTE/TARGUMIN, 2006, para a defesa da posição modernista; e Gleason Archer, Panorana do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2003, para a refutação conservadora.

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No primeiro capítulo de Gênesis, verifica-se que os nomes de Deus estão no plural, Elohim, e, também, Adonai; e a estes plurais do nome divino juntam-se, em geral, verbos e adjetivos no singular., o que representa um fenômeno singular extraordinário, dado que, em hebraico, existe uma palavra singular “El” para Deus. O texto de Deuteronômio 6:4 afirma, em hebraico, palavras no plural: "Iavé, nosso Elohim, é um só Iavé". Isso tudo mostra que Deus, o Senhor, na Sua maneira de ser e nos pactos firmados por Ele com os homens, é mais do que um, ainda que “um só Iavé" quanto à essência do Seu ser. Muito importante ainda é o fato de que, começando no livro de Gênesis, e prosseguindo cada vez mais com nitidez através de outros livros do Antigo Testamento, encontramos uma distinção entre Iavé e o Anjo de Iavé, que se apresenta como uma unidade em essência com Iavé, porém distinto dEle. Tal acontecimento, em que Deus toma a forma de um anjo ou de um homem para falar, visível e audivelmente, é chamado de Teofania. À medida que a revelação vai sendo desenvolvida, mediante uma sucessão de profecias, verifica-se que os profetas atribuem títulos divinos, e adoração divina a este Anjo, e que Este os aceita e se revela como um Ser eterno, o Deus Todo-Poderoso, o Príncipe da Paz, o Adonai, o Senhor de Davi; que vai nascer de uma virgem; ser desprezado e rejeitado pelos homens. Varão de dores e experimentado em trabalhos; levará sobre Si o pecado de muitos e que, acima de tudo, estabelecerá o reino de justiça, que aumentará 32

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até encher a terra. Tais profecias, como o Novo Testamento mostra, foram cumpridas em Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade. Em geral, as referências bíblicas a respeito do Espírito Santo atestam sua personalidade. Há muitas passagens nas quais se percebe que o Espirito Santo é uma pessoa distinta. As Escrituras usam pronomes pessoais para indicá-lo, revelando-o não como uma força abstrata, um poder ou uma coisa. Por exemplo, aquilo que é dito sobre Deus Pai é dito também a respeito do Espírito de Deus. A expressão “Deus disse" e "o Espírito disse" são repetidamente intercaladas. E as obras do Espírito Santo aparecem como obras de Deus. Em Isaías 6:9, Deus diz: "Vai e diz a este povo". No Novo Testamento é citado da seguinte maneira, em At 28:25, começando com estas palavras: "Bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por intermédio do profeta Isaías..." Nesse caso, o apóstolo atribuiu o falar de Deus ao Espírito Santo. O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da Divindade. Esta revelação foi feita na encarnação de Cristo, e no derramamento do Espírito Santo. De acordo com os professores Boettner e Warfield, foi na vinda do Filho de Deus, na semelhança da carne do pecado, para se oferecer a Si mesmo com um sacrifício pelo pecado; e na vinda do Espírito Santo, para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, que a Trindade de Pessoas na Unidade da Divindade foi revelada, de uma vez para sempre, aos homens (BOETTNER; WARFIELD, 2020). 33

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O texto básico para discutir-se a divindade do Filho é João 1:1-2, 14. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

O vocábulo grego logos é traduzido por “Palavra” nas versões modernas, como a NVI, BLH e Bíblia de Jerusalém. O termo indica que o Logos é uma Pessoa divina, que estava no princípio da Criação. Interessante notar que na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, a construção poética de Gênesis 1 tem um paralelo formidável com este texto de João. A expressão de João que o Verbo era Deus, indica a divindade do Verbo, e o verso 14, indica a sua humanidade, quando afirma que ele habitou entre nós. O Espírito Santo é apresentado como a terceira pessoa divina, ligado ao Pai e ao Filho, mas distinto deles, da mesma forma que o Pai e o Filho são distintos um do outro. A sua individualidade está dentro da unidade de Deus. A própria palavra santo sugere sua divindade. Jesus declara que o nome de Deus, em que devem ser batizados aqueles que se tornam seus discípulos, é tripessoal. Portanto vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Mateus 28:19 (NVI).

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Caminhos Equivocados Neste ponto, julgamos importante trazer alertas sobre interpretações erradas de outras vertentes religiosas que parecem ser cristãs por suas formas de se representar, como as Testemunhas de Jeová. Eles se projetam assim: “os servos da congregação que estão encarregados do Salão do Reino dar-lhe-ão boas-vindas com rostos sorridentes e braços abertos. Eles falarão do amor que encontraram na Organização de Deus, a Sociedade Torre de Vigia, a religião das Testemunhas de Jeová.6 As palavras acima são de David Reed, que foi líder dos Testemunhas de Jeová, mas depois se converteu. Elas servem de alerta para a Igreja, pois apesar do zelo, cuidado e postura quase cristã, as Testemunhas de Jeová negam a autoridade das Escrituras, negam a divindade de Cristo e do Espírito, bem como sua pessoalidade. A Trindade para eles é uma forma de politeísmo pagão. Para muitos crentes alheios à história da igreja, tal discurso se apresenta como novidade. As Testemunhas de Jeová desconheciam seus antecedentes históricos. Sua postura teológica pode ser descrita como sendo Ariana, isto é, derivada dos ensinos de Ário do IV século, que negava a preexistência de Cristo. Ele afirmou que Cristo havia sido criado pelo Pai. Segundo esta concepção, Cristo era divino, mas não em igualdade com o Pai. David Reed. A Liberdade Religiosa versus o Domínio da Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová. In Defesa da Fé, no 5 julho/ setembro 1997. 6

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Segundo Gordon D. Fee, hoje as Testemunhas de Jeová declaram arianos autoconscientes. Em uma nota de seu livro, “Paulo, o Espírito e o Povo de Deus”7, Fee afirma: “Foram necessárias muitas décadas para as Testemunhas de Jeová descobrissem que eram arianos. Desde aquele dia eles cessaram de ‘testemunhar’ a respeito do assunto do ‘reino’, como era sua praxe, e em vez disso adotaram seu arianismo antitrinitário com total e intencional vigor” (FEE, 1997, 52).

Quais são, então, as distorções da doutrina da Trindade? Modalismo O termo foi cunhado pelo famoso historiador e teólogo Adolf Von Harnack no século XIX, com o intuito de ensinar sobre a Unidade Divina. Nesse contexto, O Criador fundou uma monarquia cósmica, sendo exclusivo Senhor sobre todas as coisas. É também por Ele que os reis e governadores governam. Entretanto, em sua comunicação com a história, este Deus único se mostrou sob três modos: A mesma e única divindade aparece sob três rostos e mora em nosso meio de três maneiras diferentes como Pai, Filho e Espírito Santo. O mesmo Deus, enquanto cria e nos entrega a Lei, se chama Gordon D. Fee foi um importante erudito pentecostal, especializado em estudos do Novo Testamento. Ele lecionou no Seminário Gordon-Conwell, em Boston e no Regent College, em Vancouver, Canadá. Para Fee a experiência carismática leva-nos a um entendimento mais profundo da Trindade. Veja também, Tom Smail. A Pessoa do Espírito Santo. São Paulo. Editora Loyola.

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Pai; enquanto nos redime, se chama Filho; e, enquanto nos santifica e nos dá sempre a vida, se chama Espírito Santo. Deus teria, portanto, três pseudônimos. Nessa visão, Deus também é indivisível, não existindo comunhão de três pessoas nele; o que existe é a unicidade divina se projetando para os homens mediante três modos diferentes. O modalismo, no entanto, foi condenado pela ampla maioria dos teólogos da igreja para expressar a fé cristã na Trindade. Um dos argumentos que combatem o modalismo possuem base no batismo de Jesus, quando foram manifestadas três pessoas distintas na Trindade - o Pai falando do céu, o Filho saindo das águas, e o Espírito repousando sobre Ele (Mc 1:11). Nos evangelhos, encontramos Jesus, frequentemente, fazendo menção do Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se dirigia ao Pai em oração ( João 17). Subordinacionismo A segunda distorção, afirma também a unidade de Deus, em detrimento as outras pessoas divinas. Segundo o subordinacionismo, deve-se tributar prudente veneração a Jesus Cristo, mas não ao ponto de igualá-lo a Deus, pois tal excesso destrói o sentido autêntico de Deus. Ele pode ser semelhante (homoioúsios) a Deus, porém jamais igual (homooúsios). O Filho seria a primeira criatura, o protótipo de todas as criaturas, mas não Deus. 37

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Ário é o teólogo mais influente que defendeu esta tese. Ele e seus discípulos enfatizavam o fato de que Jesus foi um ser humano perfeitíssimo porque estava cheio do Espírito. Nota-se uma influência muito grande do pensamento filosófico grego em Ário. Na visão ariana, o Logos de João não é Deus, pois Deus não pode se comunicar com o mundo por ser um mistério indecifrável e transcendente, de natureza incomunicável, necessitando de um mediador, o Logos, para se fazer conhecido. Este Logos não é Deus, mas pertence a esfera divina. Jesus, cheio do Espírito, teria alcançado a perfeição a ponto de merecer um nome divino e ser adotado pelo Pai como seu filho. O filho permanece sempre subordinado ao Pai, porque foi criado ou gerado pelo Pai. Essa tese também é chamada de subordinacionismo adocianista ou monarquismo dinâmico, porque, para ela, Jesus mereceu ser adotado pelo Pai. Cristo seria a criatura mais semelhante ao Pai que se possa conceber (homoioúsios), sem, entretanto, chegar à igualdade de natureza com o Pai (homooúsios). Os críticos sempre se deleitaram em escarnecer a doutrina da Trindade porque afirmavam que ela era uma disputa de loucos, sem relevância, pois os teólogos se digladiavam por um iota8. Esta corrente pretendia fazer justiça a duas doutrinas básicas da fé. A unidade de Deus, pois não há ninguém igual a Ele e, ao mesmo tempo, ele possuir um Primogênito, perfei8

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Iota é uma pequena letra do alfabeto grego.

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to, divino porquanto foi adotado por Deus, e proposto como mediador, salvador e caminho exclusivo de acesso ao Pai. O Concílio de Nicéia (325) refutou a doutrina de Ário, e afirmou que Jesus Cristo é o único Filho de Deus. “Cremos em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado desde a eternidade do Pai: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai” (GRUDEM, 1999, 996).

Quando afirmamos a divindade de Cristo, precisamos lembrar que existe uma subordinação, mas não como afirmou Ário. Cristo se esvaziou no sentido de deixar de lado seus atributos divinos ao se encarnar. Ele aceitou de bom grado sua missão. Veja abaixo o tópico, a Trindade e a Justificação. Triteísmo O triteísmo afirma as três Pessoas divinas e acredita na divindade do Filho, além de ter a Pessoa do Espírito como Deus em igualdade. Mas, nesse entendimento, os três são substâncias independentes e autônomas. Essa corrente não afirma a relação entre tais substâncias nem a comunhão como constitutiva da Pessoa divina. A Trindade transforma-se, assim, em três deuses. Somam-se os três divinos, como se atrás de cada Pessoa não houvesse um Único. Existem, então, três absolutos e não um, três seres eternos e não um, e três criadores e não um. 39

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A afirmação trinitária destaca a existência objetiva de três Únicos, Pai, Filho e Espírito Santo. Mas não os vê separados e não-relacionados. Crê que as Pessoas da Trindade estão eternamente relacionadas, em comunhão infinita. Pode-se dizer que há três Pessoas de uma única comunhão. O termo usado para explicar a comunhão das Pessoas da Trindade é pericórese, (latim, circumincessio). O sentido seria o fato de envolver - circum - e entrar numa profunda intimidade. Cada membro da Trindade, em algum sentido, habitaria no outro, sem diminuição da total pessoalidade de cada um. Uma breve avaliação Tendo em vista que a doutrina foi duramente atacada, tem-se a necessidade de apresentar uma definição cuidadosa. Portanto, este resumo das distorções históricas acerca da doutrina da Trindade não é de um exercício árido e sem sentido. É a busca do entendimento correto acerca da Pessoa de Deus. Esta busca resulta em crescimento espiritual. Trindade Ontológica e Trindade Econômica Ao discutir a doutrina da Trindade, temos ainda que distinguir o que é tecnicamente conhecido como Trindade Ontológica e Trindade Econômica.

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Por Trindade Ontológica, entende-se a Trindade que subsiste na Divindade, desde toda eternidade. Na sua vida essencial e inata, dizemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são os mesmos em substância, possuindo atributos e poderes idênticos, sendo, portanto, iguais em glória. Isso diz respeito à existência essencial de Deus. Por Trindade Econômica, significamos a Trindade tal como se manifesta no mundo, especialmente na redenção do pecador. Existem três obras adicionais, se assim podemos descrever, que são atribuídas à Trindade, a saber, a Criação, a Redenção e a Santificação. Encontramos nas Escrituras que o plano da redenção toma a forma de um pacto, não só entre Deus e o Seu povo, como também entre as várias Pessoas dentro da Trindade, de maneira que há, por assim dizer, uma divisão de tarefas. Aqui, cada Pessoa toma, voluntariamente, determinada fase da obra. Ao Pai atribui-se, em primeiro lugar, a obra da Criação, assim como a eleição de certo número de indivíduos que Ele deu ao Filho. Ao filho atribui-se a obra da Redenção, para o cumprimento da qual se encarnou, tomando a natureza humana de forma que, como representante de seus eleitos, assume a culpa do seu pecado, para resgatá-los da morte. Ao Espírito Santo são atribuídas as obras de Regeneração e de Santificação, ou a aplicação aos corações dos indivíduos, da expiação objetiva que Cristo realizou. Ele faz isso renovando espiritualmente os corações, operando neles a fé e o arrependimento, glorificando-os finalmente no céu. 41

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A redenção é, pois, um assunto da graça soberana, planejada antes da fundação do mundo, apresentada na forma de um pacto ou aliança. Não é um plano departamentalizado, dispencionalizado ou repartido, mas é uma ação global que envolve toda a Pessoa da Trindade. Ela é planejada pelo Pai, comprada pelo Filho, e aplicada pelo Espírito Santo. A Trindade e a Justificação Como um Deus perfeitamente santo pode prover perdão aos pecadores? A análise tem que passar necessariamente pela impossibilidade do Deus uno salvar e pela possibilidade lógica da pluralidade divina salvar o pecador. De acordo com Horrell, o Deus uno se comprometeria em sua santidade para providenciar a salvação. Se Deus fosse uma só pessoa, ele poderia ser perfeitamente justo e santo, mas seria incapaz de perdoar os nossos pecados sem comprometer sua santidade. Para citar um exemplo interessante nesse tema, no islamismo, Alá fica acima da ponte da morte que passa da via terrestre para o paraíso. Embaixo da ponte estreita fica o abismo do inferno. Um homem que teve uma vida 70% boa e 30% má talvez tenha permissão de passar para o paraíso e na presença de Deus, porém um homem com menos virtude seria empurrado por Alá para o abismo. Pressupondo que nenhum homem é 100% bom (e assim moralmente igual a Alá), Alá deve comprometer sua santidade ao permitir qualquer pessoa entrar no paraíso (HORRELL. J. SCOTT, 1994). 42

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Mas, então, como é que o Absoluto Moral do universo poderia perdoar e ter comunhão com um pecador? Isso é possível porque, na Bíblia, Deus é justo, mas também o Justificador de nossos pecados Rm 3:23-26, (Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.) precisamente porque ele é mais do que uma pessoa. Por causa da pluralidade de pessoas, o Deus Triúno pode ser o Santo Juiz sem se comprometer, o Cordeiro sacrificial que morreu em meu lugar e o Espírito santificador que atua em mim. Conclusão Por vários motivos e em várias tradições teológicas, a doutrina da Trindade foi negligenciada. Entretanto, como pode ser visto, seu ensino é prático, edificante e santificador. Ela está intimamente ligada à doutrina da Igreja. Por conseguinte, as implicações da doutrina da Trindade são importantes para a vida prática da Igreja.

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“A maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás” 9.

APLICANDO A SABEDORIA DE DEUS EM TEMPOS DE MUDANÇA

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eus não muda, Ele é puro e perfeito, mas a cultura humana certamente está em constante mudança. Assim, não há garantia de que as coisas que funcionaram para outras gerações funcionarão em nossos dias. O mundo está envolvido em questões sérias e a Igreja não deve estar indiferente a isso. Logo, as perguntas feitas atualmente não são as mesmas que nossos irmãos do passado ouviram. A cultura ocidental passa por uma transforma ção radical por estarmos vivendo o que é chamado por muitos de Pós-modernidade: uma postura crítica dos valores, conceitos e ideais da modernidade. Stanley J. Grenz definiu quatro suposições filosóficas do pós-modernismo: (1). Não existe um ponto de vista objetivo absoluto em questões de moral e religião e uma expressão comum desta afirmativa é: "você tem sua verdade e eu tenho a minha". (2). A experiência subjetiva supera a lógica e LLOYD-JONES, D. Martin. Rememorando a Reforma. São Paulo: PES, 1996, p. 8.

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os fatos objetivos. Temos liberdade para escolher aquilo em que desejamos acreditar de acordo com o que nos deixa à vontade: "não nos confundam com fatos". (3). A natureza da verdade e a natureza de Deus são conceitos relativos e não absolutos: "você tem o seu deus e eu tenho o meu". 4. O modernismo segmentou o conhecimento e exaltou o indivíduo. O pós-modernismo, por sua vez, buscou reunificar o conhecimento e exaltar a comunidade (GRENZ, 1997). Vemos um exemplo da mudança na mentalidade moderna para a pós-moderna, observa Grenz, na transição da Jornada nas Estrelas para a Jornada nas Estrelas: A Nova Geração. O programa original abordava o individualismo moderno e a autonomia heroica do capitão Kirk com seus amigos Spock e Dr. McCoy através do universo; a série A Nova Geração refere-se a uma comunidade pós-moderna, envolvendo a heteronomia íntima do pessoal da Enterprise. Spock é visto como o padrão do homem moderno: cheio de si, motivado pela lógica e não afeito às emoções. Já o androide Data é o modelo da pós-modernidade: é uma máquina que busca compreender os sentimentos humanos, fascinado pela possibilidade de conhecer suas origens, o cientista que o criou, a quem ele chama de “pai” (GRENZ, 1997). Mercado religioso O pensamento Pós-Moderno tenta esvaziar a religião formal, com a religião deixando a dimensão pública e restringindo-se à esfera pri vada. Na tentativa de se libertar 46

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de uma cultura religiosa com padrões morais absolutos, o indivíduo pós-moderno, assim, criou uma religiosidade interiorizada, subjetiva e sem culpa. Nesse contexto, as pessoas querem optar pela sua “preferência” religiosa sem serem importunadas por opiniões contrárias. Os critérios que orientam essas escolhas são todos íntimos e subjetivos. Semelhantemente, também não tentarão impor sua opção de fé a ninguém. Diante disso, nossa opinião particular é de que a igreja evangélica está perdendo seu rumo. Para nós, um movimento devastador que se infiltrou na igreja foi o modernismo teológico, junto com seu derivado, o pragmatismo. Graças a estes gêmeos malignos, a autoridade da Escritura foi rejeitada e substituída por um falso evangelho centralizado no homem. Isso penetrou na pregação e na adoração comunitária. Boa parte de nossa pregação, cultos de adoração e ensino teológico são dominados por coisas como: “você é o melhor de Deus”, “os passos para o sucesso,” ou “o que eu devo fazer para me sentir bem.” Os poderosos temas bíblicos fugiram dos púlpitos modernos. As mensagens que elevaram a vida espiritual no passado não são mais ouvidas hoje em dia. Temas como a ira de deus, o pecado do homem, a necessidade da salvação, o poder do evangelho e outros mais foram abandonados ou trocados por mensagens pragmáticas de autoajuda. Creio firmemente que tudo isso não passa de tolice.

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Erro neopentecostal Entendo que a versão evangélica da pós-modernidade seja o neopentecostalismo e seus famigerados congêneres. Ele provêm da cultura religiosa popular, corporativista e autoritária. É a religião da lábia, do engano e da corrupção; e favorece o analfabetismo bíblico. O Neopentecostalismo há muito deixou de ser evangélico, tornando uma outra forma de expressão religiosa, distante do pensamento protestante e reformado. Esta nova religiosidade evangélica é um tipo de ocultismo, recheado de citações bíblicas. Para os neopentecostais, a Bíblia é apenas um oráculo a ser consultado. Em Brasília, um jornal local publicava semanalmente um estranho anúncio: “Revela-se por Professia” (sic). A promessa por trás dessa mensagem é a solução imediata dos problemas, dos encostos e das maldições, tal como as inúmeras videntes que infestam os grandes centros urbanos. Normalmente nestas sessões, a vidente se posta diante do pedinte com uma Bíblia aberta. A intenção é encontrar “na palavra” a solução para os problemas. Os versos bíblicos são interpretados fora de contexto, sempre na busca de uma “palavra de bênção”. No neopentecostalismo, as doutrinas bíblicas foram rejeitadas e substituídas por um falso evangelho centralizado no homem. Boa parte da pregação neopentecostal é um mero exercício de autoajuda, com a intenção principal de 48

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acalmar a consciência pecaminosa com promessas de riqueza e bem-estar. Precisamos da Reforma Entende-se por “protestante” ou “protestantismo” todo o conjunto de instituições religiosas surgidas em consequência da Reforma Religiosa dos séculos XVI e XVII. Suas principais vertentes são a luterana, a calvinista, os diversos grupos da chamada Reforma Radical e o Anglicanismo. Todos procuram manter os princípios básicos que formam o princípio protestante da liberdade: a justificação pela fé; o sacrifício expiatório de Cristo; a autoridade, inspiração e inerrância da Bíblia; o livre exame da Escritura e o sacerdócio universal de todos os crentes. Admito que a trilha percorrida pelos reformadores é resposta para a crise da igreja. Alguns podem dizer: “Por que lembrar a Reforma? Ela foi um importante movimento, reconheço que ela foi a melhor para os problemas de seus dias, no longínquo século XVI. Porém, não podemos responder aos questionamentos de nossa geração com os conceitos antigos e ultrapassados dos reformadores”. Penso que os caminhos antigos são os melhores. Ainda creio que caminhar ao lado de Martinho Lutero, Ulrich Zwuinglio, Pierre Viret, John Knox, João Calvino e outros reformadores é a melhor maneira de fortalecer a quase moribunda Igreja brasileira. Minhas convicções a esse respeito foram forjadas na fornalha da incredulidade do ambiente 49

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universitário, na minha experiência acadêmica, preparando líderes eclesiásticos, e na dureza do trabalho pastoral. A Reforma Protestante modificou completamente a concepção religiosa medieval, que, em muitos aspectos, é semelhante ao modelo evangélico atual. O uso de objetos, como a “rosa ungida”, “óleo santo de Israel”, “maçã do amor”, para despertar a fé das pessoas, mais se parece com a busca incessante de relíquias e objetos santos, tão comuns no catolicismo medieval. O neopentecostalismo pouco tem de reformado e evangélico, mas está carregado de elementos pré-reformados. Os reformadores e puritanos acreditavam encontrar o verdadeiro conhecimento de Deus diretamente da Bíblia. As Escrituras, para tal visão, são autoritativas em todas as esferas da vida, testando a autoridade religiosa, os assuntos de moralidade e questões eclesiásticas. E, nesse contexto, por entender que toda a vida é religiosa, a Bíblia era aplicada à ética, economia, política, em suma, à toda vida. Os grupos reformados surgiram com a luta para que todo o povo tivesse acesso às Escrituras por acreditarem que cada cristão tem o privilégio e a responsabilidade de conhecer a Deus e sua revelação na Bíblia. Firmados na compreensão reformada da justificação dos pecadores pela fé mediante a graça, com foco nas necessidades pastorais e os problemas do seu tempo, os reformadores concentravam-se nas realidades da salvação do pecado: regeneração e santificação; as causas e a cura da hipocrisia e 50

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‘falsa paz’; fé e certeza; oração e comunhão com Deus; consciência e casuística (que poderíamos chamar de “aconselhamento”); resumindo, a obra do Espírito Santo no cristão, a vida de Deus na alma do homem. Aqui suas percepções interiores são excepcionalmente valiosas. Daí sua ênfase na centralidade da pregação, se levantando contra os métodos medievais que usavam a dramatização, chamados de “dramatização dos mistérios”, quando atores profissionais eram pagos para, junto ao altar, representar diante da massa, que eles consideravam inculta e incapaz (LOPES, 1993, 8). Mas, por causa de seu conceito das Escrituras, por entender que sua exposição é o meio ordinário de salvação, e que o homem, por ter a Imagem de Deus é um ser com capacidades racionais, eles rejeitaram condutas antibíblicas praticadas durante o período medieval. Eles enfatizaram muito fortemente a pregação expositiva, não raro, pregando anos a fio em um livro da Bíblia. Cada vez mais necessitamos voltar às Escrituras porque os ensinos básicos precisam ser retomados. Este analfabetismo bíblico, que grassa em nossos arraiais, é como se fosse uma doença que corroí a igreja, mm câncer que precisa ser extirpado. Deus quer que nos tornemos crentes que reflitam uma inabalável confiança nele, com uma fé que nos capacita a encarar a vida religiosa moderna em toda a sua realidade, nos ajudando a permanecer fiéis apesar de tudo.

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Conclusão Nossa tarefa para esta era pós-moderna é restaurar a confiança na verdade. E, nesse sentido, a Bíblia continua sendo a Palavra de Deus, um documento inspirado da revelação divina, quer este ou aquele indivíduo receba ou não o seu testemunho. Devemos, pois, respeito e obediência à Bíblia, não por ser letra fixa e estática, mas porque, sob a orientação do Espírito Santo, essa letra é a Palavra viva do Deus vivo dirigida não só ao crente individual, mas à Igreja em geral. A igreja precisa rever sua atuação, olhando para o Senhor Jesus e lançando-se humildemente de volta às Escrituras, resgatando sua identidade e o seu chamado. Se renunciarmos à Palavra de Deus como verdade absoluta, correremos sérios riscos tanto diante de uma sociedade sem referenciais, quanto também diante de um Senhor zeloso que rege a história, em cujas mãos estão todo o domínio e todo o poder.

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“Cristo é o único Cabeça legítimo da igreja. Nenhum rei, nenhum papa e nenhum político tem qualquer direito de usurpar esse título, nem de pretender ocupar esse ofício”10

A COMUNHÃO DOS SANTOS

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a teologia sistemática, a eclesiologia é uma das principais áreas de estudo e investiga o que a Bíblia ensina sobre a igreja tanto universal (todos os crentes em Cristo) quanto local (encontros locais de crentes em Cristo). Eclesiologia vem de dois termos gregos eclesia (igreja/assembleia) logia (estudo) e refere-se ao estudo da natureza e organização da igreja. A palavra “Eclesia” aparece 114 vezes no Novo Testamento, e, às vezes, traz seu significado do grego clássico como uma assembleia de cidadãos (Atos 19:32, 39, 41). Outras vezes o termo refere-se a uma assembleia de israelitas. No entanto, no texto bíblico, o sentido é direcionado principalmente ao grupo de seguidores de Jesus Cristo, seja em um sentido universal ou, mais frequentemente, no sentido de um grupo local de crentes que se reúnem para adoração. Infelizmente, muitos cristãos dizem, sem muita reflexão, que estudar a forma do governo da igreja é um assunto banal, MACARTHUR, John. A guerra pela verdade. São José dos Campos: Fiel, 2016, p. 204.

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não sendo algo sobre o qual devam preocupar ou discutir. Entretanto, por outro lado, se observamos bem a realidade da igreja, o que realmente acontece em várias denominações é que a principal razão pela qual as pessoas se aborrecem e deixam uma igreja não é devido a diferenças doutrinárias ou ensinos heréticos, mas é algo ligado à maneira como a igreja foi governada ou as pessoas foram disciplinadas (ou não disciplinadas). As pessoas ficam chateadas, as disputas não são resolvidas pacificamente, a supervisão e o aconselhamento regulares não são realizados, logo, os membros da igreja discutem e se dividem. Tudo porque o modelo bíblico de governo e disciplina da igreja foi ignorado. Hodiernamente, as igrejas não têm analisado e se submetido às Escrituras no que diz respeito ao governo bíblico. Por isso, a história da igreja cristã revela abusos e decepções na maneira como a igreja é administrada, desde o despotismo monárquico do papado ao caos democrático das igrejas independentes. A questão governamental eclesiástica, então, é de fato importante, quer seja ou não ignorada pelos crentes modernos. A indiferença de hoje em relação a questões de governo da igreja está em desacordo com as atitudes da igreja do Novo Testamento. Em resumo, a eclesiologia é essencial, pois guia para uma compreensão bíblica de como os cristãos se relacionam uns com os outros, com Deus e com os incrédulos. Uma compreensão firme da eclesiologia beneficia cada crente pessoal54

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mente à medida que proporciona um crescimento saudável da igreja e honra a Deus. A eclesiologia sempre foi um assunto importante na tradição reformada. A forma de governo da igreja determina quais problemas uma igreja enfrentará e como eles serão resolvidos. O teólogo Louis Berkhof afirma: “A concepção reformada (calvinista) é que Cristo, pela operação do Espírito Santo, reúne homens consigo, dotados da verdadeira fé e, assim, constitui a igreja como Seu corpo, a communio fidelium ou sanctorum (comunhão dos fiéis ou dos santos)” (BERKHOF, 2009, 509).

Essa expressão “comunhão dos santos” é encontrada em diversos textos de espiritualidade cristã e trata-se da união espiritual de todos os verdadeiros membros da Igreja que, pela graça, estão unidos a Cristo, formando um único Corpo de Cristo e sendo por isso "pessoas santas em Cristo". Ela está organizada em dois estados espirituais diferentes: a Igreja militante, formada pelos crentes que peregrinam na terra e a Igreja triunfante, composta pelos crentes que moram no Céu. Alister E. McGrath destaca a importância da eclesiologia, dizendo: “A eclesiologia é aquela área da teologia que busca fornecer uma explicação teórica para uma instituição que passou por muita mudança e evolução ao longo dos séculos e que se estabeleceu em um contexto social e político também variável” (MCGRATH, 2005, 543). 55

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Esse é, assim, um tema importante, pois os cristãos precisam compreender como a igreja deve ser governada, sobre quem deve tomar decisões, quais procedimentos devem ser seguidos, e o tipo de autoridade que caracteriza essas decisões ou procedimentos etc. Formas de governo da igreja Ao longo da história eclesiástica, surgiram formas diferentes de governo da igreja. Estas incluem: (1) Episcopal; (2) Congregacional e (3) Presbiteriano. Governo episcopal Na forma episcopal de governo da igreja, o arcebispo tem autoridade sobre o bispo que, por sua vez, preside uma diocese, ou seja, várias igrejas que são cuidadas pelo reitor ou vigário. O arcebispo, o bispo e os reitores são todos sacerdotes ordenados dentro do sistema episcopal de governo da igreja. Esta forma de governo pode ser vista nas Igrejas Metodista, Anglicana, em diversas igrejas pentecostais e em sua forma mais hierárquica (ou seja, com muitos níveis de bispos), na igreja católica romana e nas igrejas ortodoxas. O gráfico indica que o processo de indicação dos líderes da igreja vai em apenas uma direção, de cima para baixo. Nessa forma de governo, a congregação não escolhe quem vai ser seu pastor, somente as autoridades superiores.

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Estrutura do governo episcopal (GRUDEM, 1999): GOVERNO EPISCOPAL Arcebispo Bispo

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Bispo

Fonte: GRUDEM: Wayne, teologia sistemática, 1999, p. 775.

É relevante pontuar, todavia, que tal formato de liderança não tem apoio do Novo Testamento. Segundo Robert L. Reymond, inclusive, é altamente discutível afirmar que o episcopalismo trouxe benefícios para a igreja. Essa análise dependerá da visão do desenvolvimento deste governo na história da igreja desde Cipriano de Cartago, cujas visões sobre o episcopalismo deram origem, no início do período medieval, até o papado e às muitas heresias doutrinárias subsequentes, com abusos políticos e sociais de poder (REYMOND, 1998). Quanto à alegação da Igreja Católica Romana e de outras igrejas episcopais de que sua autoridade chegou a eles através de uma linha ininterrupta de sucessão dos próprios apóstolos até o presente, basta dizer, em primeiro lugar, que tal reivindicação é simplesmente infundada pela história, além de não ser verificável. E mesmo assim, numa sucessão 57

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ininterrupta verdadeira em alguns casos, tal sucessão episcopal, em si, não transmitiria nenhuma autoridade particular. A mera sucessão apostólica ininterrupta não é o critério do Novo Testamento para a autoridade ministerial (REYMOND, 1998, 827). Governo congregacional Na forma congregacional do governo da igreja, tanto a autonomia da igreja local quanto os direitos de seus membros são enfatizados. No sistema congregacional, normalmente adotado, por exemplo, em igrejas batistas, autoridade e poder pertencem à própria congregação. A denominação escolhe quem será seu pastor e não há autoridade sobre ela, de nenhum grupo ou indivíduo. Cada congregação é independente. Nesse tipo de governo, o pastor é considerado o único presbítero na igreja, e há um grupo de diáconos que atuam sob sua autoridade, dando apoio. Nesse sistema, a congregação elege o pastor e os diáconos. A autoridade que o pastor tem varia de igreja para igreja e geralmente vai aumentando à medida que o pastor permanece na comunidade de fé. Geralmente, entende-se que a autoridade do corpo de diáconos é meramente consultiva. Na forma em que esse sistema costuma funcionar principalmente nas igrejas menores, muitas decisões devem ser tomadas pela congregação como um todo.

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O congregacionalismo emergiu no final do século XVI e ganhou força no século XVII, em meio às controvérsias da Guerra Civil e a deposição do rei Carlos I na Inglaterra. Havia vários congregacionais na Assembleia de Westminster. John Owen, por exemplo, era um dos seus principais expoentes. A Declaração de Savoy (1658) é o principal símbolo de fé do congregacionalismo reformado. Segundo Wayne Grudem, existem três formas de governo eclesiástico congregacional não são comumente usadas, mas às vezes encontradas em igrejas evangélicas. São elas: 1) Junta. A primeira é modelada a partir do exemplo de uma empresa moderna, em que a diretoria contrata um executivo para ter autoridade de dirigir os negócios conforme achar melhor. Essa forma de governo também pode ser chamada de estrutura “você trabalha para nós”. 2) Democracia absoluta. Essa posição leva o governo eclesiástico congregacional às últimas consequências. Em tal sistema, tudo precisa ser levado às reuniões da congregação. O resultado é que as decisões são discutidas com frequência de maneira interminável, e, conforme a igreja cresce, tomar decisões torna-se quase impossível. 3) “Sem governo, mas dirigida pelo Espírito Santo”. Algumas igrejas, particularmente igrejas muito recentes, com tendências místicas ou extremamente pietistas, funcionam sem um governo eclesiástico. Nesse caso, a igreja nega a necessidade de qualquer forma de governo; o governo depende inteiramente dos membros da igreja, sensíveis à direção do 59

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Espírito Santo na vida; as decisões são geralmente tomadas por consenso (GRUDEM, 1999, 784-786). Estrutura do governo congregacional (e suas variações) (GRUDEM, 1999). Outras Formas de Governo na Igreja

Fonte: GRUDEM: Wayne, teologia sistemática, 1999, p. 781-782.

Embora se possa encontrar traços do governo congregacional através do testemunho bíblico, ele não é melhor expressão do governo bíblico da igreja. Governo presbiteriano A igreja presbiteriana recebeu esse nome por conta do seu sistema de governo. Berkhof diz que as igrejas reformadas (calvinistas) asseveram que os princípios do governo eclesiástico fundamentais são derivados diretamente da Escritura (BERKHOF, 2009, 535). O cabeça da igreja é Cristo, que governa através de seus representantes, os pres60

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bíteros. Esse é o padrão prescrito nas Escrituras Sagradas e deve ser seguido pela igreja moderna, e, certamente, tem implicações para a saúde espiritual e o bem-estar da igreja se isso for ignorado. O sistema presbiteriano inclui dois elementos de outras formas de governo, autoridade que vem de cima e autoridade que vem de baixo. O Rev. Júlio Andrade Ferreira reconhece as vantagens do sistema ao afirmar: “Poderíamos dizer que, no Presbiterianismo, o governo é exercido de baixo para cima (porque o povo é quem elege), como de cima para baixo (porque os representantes eleitos é que governam)” (FERREIRA, 2018, 595-596). Nesse sistema, cada igreja local elege presbíteros para um conselho (igrejas presbiterianas) ou consistório (igrejas reformadas), e a linha pontilhada indica que toda a congregação elege os presbíteros. O processo de seleção dos futuros líderes envolve tanto a supervisão dos líderes já eleitos quanto a participação dos membros da congregação. Os presbíteros em exercício de sua função podem nomear e rejeitar candidatos. Como etapa final do processo, os membros da igreja votam.

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Governo Presbiteriano

Fonte: GRUDEM: Wayne, teologia sistemática, 1999, p. 777.

Para esse regime, o pastor da igreja é um dos presbíteros no conselho que tem autoridade de dirigir a igreja local, e esse líder terá a mesma autoridade dos outros presbíteros. Os membros do conselho (os presbíteros) são também membros de um presbitério que lidera diversas igrejas locais em uma região. Esse presbitério consiste em alguns ou todos os presbíteros das igrejas locais sobre as quais ele tem autoridade. Além disso, alguns dos membros do presbitério são também membros da Assembleia Geral (somente na IPB é chamado de Supremo Concilio), e normalmente exercem liderança máxima sobre todas as igrejas presbiterianas em uma região ou país. Sobre esse formato de governabilidade, várias denominações empregam a forma presbiteriana de governo da igreja, dentre elas a Reformada, algumas independentes com de62

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terminadas variações, na Igreja Cristã Evangélica do Brasil e nas diversas igrejas presbiterianas. O professor Robert Reymond (REYMOND, 1998, 907) defende a base bíblica do governo presbiteriano, entendida por ele enquanto sendo: "a forma de governo da igreja por presbíteros/ supervisores em tribunais organizados, com esses oficiais executando as responsabilidades de seu cargo em uníssono e em uma paridade uns com os outros, e com o cuidado material e serviço da igreja sendo cuidado pelos diáconos (junta diaconal) sob a supervisão dos presbíteros/ supervisores".

Em sua visão, o autor acredita que a conhecida igreja em Antioquia era organizada em torno de um presbitério, que representava várias congregações, e se juntaram numa grande reunião com os presbíteros em Jerusalém (o presbitério de Jerusalém) como se fosse uma “assembleia geral” (REYMOND, 1998, 906-910). Em Atos 15, os presbíteros da igreja de Antioquia foram a Jerusalém para uma reunião no intuito de discutir e determinar se era necessário que um gentio fosse circuncidado para ser salvo. Após a deliberação, os presbíteros e os apóstolos reunidos decidiram que não era preciso e isso foi aplicado à igreja em Antioquia e todas as outras. Juntos, os presbíteros deliberaram o que deveria ser seguido por todas as igrejas e tornaram pública a decisão do sínodo através de

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uma carta pastoral. Esse é um exemplo bíblico do governo presbiteriano. Uma das principais funções dos presbíteros, nesse contexto, é dirigir as igrejas do Novo Testamento. Em 1Timóteo 5.17 lemos: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem”. Antes, na mesma epístola, Paulo diz que o bispo (ou presbítero) “deve governar bem a sua própria casa [...] pois, como cuidará da igreja de Deus?” (1Tm 3.4-5). Como nos lembra Michael S. Horton: O Novo Testamento prescreve uma ordem em que os pastores e presbíteros são iguais e igualmente responsáveis uns aos outros nos concílios locais, bem como nas grandes assembleias. Conforme vemos no estímulo de Paulo a Timóteo, em uma igreja os pastores comuns são chamados e substituídos mediante um processo de discernimento. O ministro vem e vai, mas o ministério permanece — determinado pela autoridade da Escritura em vez da efetividade ou engenhosidade daqueles que desempenham o ofício (HORTON, 2016, 138).

Logo, os homens escolhidos para tal ofício devem ser qualificados, como demonstram os critérios das Escrituras, conforme resumidos em I Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9. Tais requisitos são padrões indispensáveis aos candidatos ao ofício. Assim, destacamos que qualificação para ser presbítero é centralizada em três aspectos: comportamento moral, conhecimento da doutrina cristã e sua vida familiar. Nesse sentido, Wayne Grudem afirma: 64

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"Quando Paulo alista as qualificações dos presbíteros, é importante o fato de ele juntar requisitos concernentes a traços de caráter e atitudes íntimas com requisitos que não podem ser preenchidos em curto espaço de tempo, senão em um período de muitos anos de vida cristã fiel” (GRUDEM, 1999, 768).

Por isso, a congregação precisa de tempo para sondar atentamente os candidatos ao ministério, avaliando suas vidas pessoais e as famílias. Somente então a igreja será capaz de reconhecer os homens chamados por Deus. Em Atos 14.23 lemos que Paulo e Barnabé conduziram a eleição dos presbíteros. A leitura literal do versículo declara que os presbíteros foram “escolhidos pelo levantar das mãos”, isto é, foram eleitos democraticamente pelo voto da congregação. A estrutura pactual do governo da igreja O governo reformado é uma expressão da teologia do pacto, cuja doutrina ensina que Deus tem um povo representado pelos crentes da era do Antigo Testamento e do Novo Testamento, para o qual Ele tem um plano em todas as eras desde Adão: reunir esse povo em um só corpo. As Escrituras afirmam nitidamente que não há mais distinção entre judeus e gentios perante o Senhor.

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Requisitos para escolhas dos presbíteros Vida irrepreensível (comportamento íntegro) 1Tm 3.2; Tt 1.6.

Esposo de uma só mulher. 1Tm 3.2; Tt 1.6.

Temperantes 1Tm 3.2; Tt 1.7.

Não dado ao vinho 1Tm 3.3; Tt 1.7.

Que governe bem a sua própria casa 1Tm 3.4; Tt 1.6.

Que tenha filhos obedientes 1Tm 3.4-5; Tt 1.6.

Não cobiçoso Tt 1.7.

Apegado à palavra fiel Tt 1.9.

Hospitaleiro 1Tm 3.2; Tt 1.8.

Apto para ensinar 1Tm 3.2; 5-17,Tt 1.9.

Não violento, porém cordato e paciente 1Tm 3.3; Tt 1.7-8.

Não avarento 1Tm 3.3.

Inimigo de contendas 1Tm 3.3.

Experiente 1Tm 3.6.

Mente sóbria e sadia 1Tm 3.2; Tt 1.8.

Não arrogante Tt 1.7.

Não irascível Tt 1.7.

Amigos do bem Tt 1.7.

Justos e piedosos Tt 1.8.

Que tenha domínio de si Tt 1.8.

Fonte: O autor (2021), com base nos livros bíblicos de Timóteo e Tito.

"Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam" (Rm 10:12; e veja também Cl 3:11). Horton (2016b), por sua vez, elabora sua eclesiologia pactual seguindo uma abordagem metodológica cristológica, tomando como ponto de partida Cristo e seu kerygma11. Kerigma é uma palavra grega e significa proclamação ou pregação. Na teologia, ela é usada para sintetizar a mensagem que Jesus proclamava. 11

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Para ele, toda eclesiologia deve ser baseada no ensino, na vida e na obra de Jesus Cristo. Horton também afirma que a igreja é uma comunidade pactual que confessa a Cristo, e explica que Deus ordenou três ofícios permanentes relativos ao governo, administração e socorro na comunidade pactual, a saber, com presbíteros e diáconos. Todavia, o autor faz uma distinção entre “presbítero docente” e “presbítero regente”. Nessa composição, dentro de um ofício há duas ordens, e, na classe de presbíteros estão as duas ordens de ensinar e governar. Os presbíteros em conjunto têm o governo e a supervisão espiritual da Igreja, incluindo o ensino. Apenas aqueles presbíteros que são especialmente dotados, chamados e treinados por Deus para pregar, podem servir como presbíteros docentes. Todos os presbíteros governam, mas alguns também possuem responsabilidades especiais na pregação e ensino. Esse é o porquê, na Igreja Presbiteriana do Brasil, presbíteros leigos são chamados de ‘presbíteros regentes’ e os ministros são chamados de ‘presbíteros docentes’” (HORTON, 2016b, 869-877). Princípios históricos Após séculos de domínio do episcopalismo monárquico conduzido pela igreja romana, a reorganização do sistema de governo bíblico está associada à Reforma Protestante na Suíça e na Escócia, através da influência de João Calvino, Martin Bucer, Theodoro Beza e John Knox, tendo sido, assim, sintetizada nas confissões de fé históricas. 67

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Sob a liderança do vigoroso reformador John Knox, que havia ido para Genebra como exilado e retornou em 1559, o Parlamento criou uma igreja nacional presbiteriana, de orientação reformada e calvinista (1560). A Igreja da Escócia teve grande influência na história do movimento reformado internacional e o presbiterianismo foi a origem do regime político democrático representativo, adotado mais tarde por algumas repúblicas como os Estados Unidos da América.12 A Confissão de Fé, junto com os Catecismos (Maior e Breve), formam o conjunto de Símbolos de Fé de Westminster. Eles foram escritos a pedido do Parlamento inglês a fim de reestruturar a Igreja Anglicana. A Assembleia reuniu-se entre os anos de 1643 a 1653 e os Símbolos de Fé têm, por centenas de anos, servido como o fundamento doutrinário das igrejas reformadas. A forma de governo foi um dos assuntos mais importantes nos debates da Assembleia de Westminster. O conhecimento dos eventos políticos e eclesiásticos da época revelam que, após longos debates, a assembleia se decidiu pelo modelo presbiteriano (TOKASHIKI, 2020). E “era a forma de governo eclesiástico preferida da maioria dos teólogos puritanos” (BEEKE; JONES, 2016, 881). Os puritanos eram defensores da purificação da igreja inglesa em seu culto, teologia e forma de governo. A esse respeito veja: SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 12

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Os princípios do presbiterianismo (ou sistema reformado de governo eclesiástico13 1. Cristo é a cabeça da sua Igreja e a fonte de toda a sua autoridade. 2. Esta autoridade encontra-se escrita na Escritura, de modo que todos têm acesso ao seu conhecimento. 3. Todos os crentes devem estar unidos entre si e ligados diretamente a Cristo, assim como os diversos membros de um corpo que se subordinam à direção da cabeça. 4. Cristo exerce a sua autoridade na Igreja por meio da Palavra de Deus e do seu Espírito. 5. O próprio Cristo determinou a natureza do governo de sua Igreja. 6. Cristo estabeleceu apóstolos como os seus substitutos, entretanto, eram de caráter transitório. O ofício de apóstolo cessou, mas a sua autoridade é preservada pelos seus escritos, isto é, o Novo Testamento. 7. Cristo providenciou líderes para o específico exercício da autoridade por meio de representantes (os presbíteros docentes e regentes), a quem separou para a preservação da doutrina, adoração e disciplina na Igreja. 8. O ofício de presbítero e o termo bispo [supervisor] possuem o mesmo significado. Adaptado parcialmente de REYMOND, Robert L. A new systematic theology of the christian faith, p. 902-903.

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9. Em cada igreja local deve haver uma pluralidade de diáconos, auxiliando os presbíteros e exercendo o ministério da misericórdia. 10. A eleição dos oficiais é um inerente direito dos membros da igreja. 11. A admissão ao ofício deve ser pela ordenação, com oração e imposição de mãos dos presbíteros. 12. Em casos de dificuldades na igreja local quanto à doutrina, disciplina, culto e governo é resolvida administrativamente pelos concílios superiores. Conclusão Pode-se concluir que o sistema de governo presbiteriano é herança do ensino de toda a Escritura Sagrada. Isso não deve ser entendido como uma posição arrogante, mas deve ser ensinado com simplicidade, respeito e amor.

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“Os cristãos modernos têm a tendência de fazer da satisfação e da autorrealização a sua religião. Demonstramos muito mais interesse na autorrealização do que agradar a Deus”.14

O EVANGELHO DA MARAVILHOSA GRAÇA DE DEUS

G

raça é um importante termo teológico que significa favor imerecido, concedido àqueles que nada merecem. A graça de Deus aos pecadores revela-se no fato de que Ele mesmo, pela expiação de Cristo, pagou toda a pena do pecado. Por conseguinte, ele pode justamente perdoar o pecado sem levar em conta os merecimentos ou não merecimentos. Os reformadores protestantes do século XVI bradaram a uma só voz: Somente a Graça! Eles combateram a degenerada religião medieval que apresentava Cristo como um regente feroz que ameaçava os seres humanos com a condenação eterna. Naquele período, a única esperança encontrada pelas pessoas era o sistema sacramental romano, no entanto, era uma esperança vazia. Os jejuns, as confissões, as peregrinações, o enxame de relíquias veneradas, o panteão de santos e intercessores não conseguiam acalmar as almas aflitas, que, em desespero, encontravam a morte, incertas de seu destino. PACKER, James I. Na dinâmica do Espírito: Uma avaliação de práticas e doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 94. 14

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De acordo com a Palavra de Deus, podemos então entender que a graça está intimamente ligada ao amor e a eleição soberana. Leia o que Deus revelou a Moisés durante o período que Igreja da antiga aliança atravessava o deserto. Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosse o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito. (Deuteronômio 7:6-8). Ao Israel de Deus da nova aliança, a Bíblia ensina que o amor de Deus é perfeito, desinteressado, gratuito e livre: Deus nada tem a ganhar com ele, já que ele é infinito e perfeito. Pelo contrário, Deus se sacrificou por nós, enviando Jesus, para morrer a nossa morte. Não houve outra razão, a não ser o amor. Rm 5:8 (Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores). O abuso da graça Existem duas tendências perniciosas que, vez por outra, abatem a fé cristã. Uma delas é associar a salvação com a exigência de regras e leis: também chamado de legalismo. Os legalistas não acreditam que somente um relacionamento pessoal e profundo com Cristo é suficiente para satisfazer 72

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a Deus, acrescentando regras e deveres sobre comer, vestir ou aparência para os verdadeiros crentes. A outra tendência é a licenciosidade, também conhecido como antinominianismo, que significa literalmente ser contra a lei, e tem como característica o desprezo pelo padrão de santidade exigida por Deus para seu povo. O principal erro dos libertinos é confiar no ensino da “livre graça” como direito de continuar no pecado. Adeptos dessa vertente buscam satisfazer os seus interesses, desejos e valores. Ao caminharmos pela história do cristianismo, observamos que diversos movimentos foram marcados tanto por tendências legalistas quanto por tendências licenciosas. Muitos no passado se entregaram avidamente a práticas legalistas, objetivando receber o favor de Deus. Os judeus convertidos, por exemplo, na época do Novo Testamento, insistiam na guarda do sábado, na prática da circuncisão e na rígida dieta alimentar da lei mosaica. Já os cristãos no período medieval procuravam adquirir as bênçãos de Deus através de jejuns, penitências ou sacrifícios. Atualmente, muitos evangélicos no Brasil ainda respeitam regras denominacionais, tais como tamanho e forma de roupas, proibição de diversões como ir à praia, frequentar piscinas e jogar futebol ou assistir televisão. Sem perceber, os legalistas se escondem por detrás de seus esforços religiosos e constroem para si castelos de arrogância. Essas fortalezas do engano, com aparência de piedade, conduzem o penitente ao orgulho. O legalismo confi73

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gura, portanto, uma forma de manipulação e não estabelece um relacionamento transformador com Deus. Para perceber isso, atente para o contraste entre o legalismo e o evangelho da graça. O legalismo é obra humana e se fundamenta na blasfema noção de que o ser humano pode agradar a Deus com suas penitencias e campanhas de fé, enquanto o evangelho da graça foi nos dado por Deus e não exige nenhum esforço da parte do ser humano para alcançar a salvação. O legalismo enfatiza o que o homem faz por Deus, enquanto o evangelho da graça ensina que Deus fez tudo pelo ser humano para salvá-lo. Tito 3:5 – Nova Versão Transformadora (Ele nos salvou não porque tivéssemos feito algo justo, mas por causa de sua misericórdia. Ele nos lavou para remover nossos pecados, nos fez nascer de novo e nos deu nova vida por meio do Espírito Santo). O legalismo pode ser ilustrado com a imagem da escada da salvação, na qual o ser humano zelosamente tenta subir por sua justiça própria, na esperança de encontrar-se com Deus no último degrau. Ao mesmo tempo, em sentido oposto, o evangelho da graça pode ser ilustrado com Deus descendo a escada da encarnação de Jesus Cristo e encontrando-se conosco, que temos a condição de pecadores e estamos no primeiro degrau. O legalismo diz: alcance, o evangelho diz: obtenha. O legalismo diz: tente, o evangelho diz: receba. O legalismo diz: esforce-se, o evangelho diz: confie. O legalismo diz: desenvolva-se a si mesmo, o Evangelho negue-se a si mesmo. 74

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A verdadeira mensagem do evangelho confronta todo este estado de coisas e a Bíblia alerta para a futilidade do legalismo: Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus. Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade. (Cl 2:18-23).

Pensando na reforma protestante com relação ao entendimento do Evangelho, o conceito de “só pela graça” é um golpe mui severo ao orgulho humano. ”. Efésios 2:8-9 – Nova Versão Transformadora (Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar). Nele, não há lugar para a autossuficiência, nem para a arrogância do que pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que aos olhos da sociedade parecem mui nobres e heroicos.

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O pecador em fuga No Evangelho não temos o homem buscando a Deus, porque ele está morto em seus delitos e pecados: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados. (Efésios 2:1). Biblicamente, o homem foge desesperadamente de Deus, aquele que lhe pode dar a vida eterna. No Evangelho não temos um homem bom. Temos a dura realidade da indiferença e da rebeldia, que rejeita a oferta divina porque o homem não é bom para querer, voluntariamente, seguir o melhor caminho e se entregar sinceramente a Deus. O pecado não é uma fraqueza ou um vício pelo qual não somos responsáveis, mas um antagonismo ativo e intencional contra Deus. O Catecismo Maior de Westminster na resposta à pergunta 24 (O que é pecado?) diz o seguinte: “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra, à criatura racional” (WESTMINSTER, 2005, 120). Os pecadores livres e prazerosamente optam pelo pecado. Está na natureza humana amar o pecado e odiar a Deus. Assim afirma o apóstolo Paulo: “O pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8.7). É importante lembrar que amamos nosso pecado; temos prazer nele, buscamos oportunidades para praticá-lo. Todavia, por sabermos instintivamente que somos culpados diante de Deus, inevitavelmente tentamos camuflar ou negar nossa própria pecaminosidade, e há muitas maneiras de 76

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fazer isso. Elas podem ser resumidas, grosso modo, a três categorias: encobri-lo, justificá-lo e ignorá-lo. Pecar não nos dá liberdade, ao invés disso, ele nos escraviza e nos prende numa armadilha mortal. Nos escraviza e nos prende num círculo de outros pecados. Adão comeu o fruto proibido e tentou fugir de Deus, escondendo sua nudez com folhas de parreira. Caim matou o irmão e em seguida mentiu para Deus. Pedro negou Jesus por três vezes. Paulo perseguiu os cristãos. Todos os exemplos da escravidão do pecado. Paulo escreveu aos Romanos sobre os riscos disso, dizendo: Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração á forma de doutrina a que fostes entregues. (Romanos 6:17). Assim, o Cristão não deve se submeter ao pecado, visto que fomos completamente libertos através do precioso sacrifício de Cristo: Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. (Rm 8:2). A maravilhosa mensagem do evangelho é esta: Deus agiu em Cristo e busca o homem indiferente. Deus fez isto através da graça irresistível. O poder da Graça Deus não nos ama em função do que somos, porque senão ele amaria somente os amáveis, perfeitos, bons, justos e bonitos. O amor de Deus é para aqueles que nada são, para os sujos, malcriados, perversos e sem escrúpulos. Graça é o 77

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favor de Deus aos que nada merecem, a não ser a condenação. A pessoa amada por Deus não tem nenhum valor em si; o que lhe dá valor é o fato de ser amada por Deus. Você conhece o hino Amazing Grace de John Newton? Ele é considerado o mais famoso hino evangélico da língua inglesa. Já foi entoado por artistas famosos em grandes concertos ao redor do mundo. Fazendo uma pesquisa na internet, você encontra diversas interpretações desta canção. Newton escreveu-o em 1779. A letra, traduzida por mim, afirma: Maravilhosa Graça. Como é doce o som que salvou um desventurado como eu. Eu estava perdido, mas agora fui encontrado. Fui cego, mas agora vejo. Sua Graça ensinou meu coração temer. E aliviou os meus medos. Quão preciosa foi a revelação no primeiro momento em que eu acreditei. Através de muitos perigos, labutas e armadilhas eu já passei, esta Graça trouxe-me até aqui. E a Graça me conduzirá ao meu lar. Newton foi traficante de escravos africanos. Depois de convertido, se tornou pastor. Ele baseou o hino em I Crônicas 17:16-17, onde o Rei Davi expressa sua convicção de não ser digno de construir a casa do Senhor, e clama: Quem sou eu, ó Senhor Deus, e que é a minha casa, para que me tenha trazido até aqui? 78

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Anos depois, ao crescer muito mais na fé, lamentou profundamente ter feito parte deste abominável tráfico, descrito tão dramaticamente pelo famoso poeta brasileiro Castro Alves. Newton, então, tornou-se forte e eficaz guerreiro contra a escravatura. O ex-traficante de escravos nunca esqueceu do seu passado. Colocou na parede do seu escritório uma placa com versículo: Pois lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou (Dt 15:15). Achou importante relembrar a si mesmo e aos outros, o quanto a maravilhosa graça de Jesus havia feito por ele. No túmulo de Newton, lê-se: "John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir". Newton foi um grande pregador da graça. Ele é uma prova suficiente de que Deus salva os pecadores somente pela graça. A Graça que liberta Deus proclamou o dever de rejeitar o pecado e fazer o que é certo, por causa da nova vida recebida em Cristo. Nós fomos libertados da lei para servimos a Deus no Espírito. E, entre ensinos de engano, o antinominianismo é outra forma de abusar da graça e já se manifestou na igreja de 79

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diferentes maneiras, por exemplo, no abuso de autoridade dos papas medievais, que mantinham relacionamentos com meretrizes, apoiados por súcias de malfeitores. Outras situações similares incluem prelados gananciosos e promíscuos que se esgueiravam pelas ruelas das cidades atrás de bordéis, reis gananciosos com interesses no poder temporal, sustentavam a opulência da igreja e fiéis subjugados pelo sistema sacramental romano. Na época da Reforma, Calvino enfrentou o partido dos libertinos em Genebra. Eles abusaram da graça quando abandonaram seus votos matrimoniais. Usavam a expressão “comunhão dos santos” para troca de esposas. Calvino os enfrentou com a Palavra de Deus e, ainda assim, alguns dos libertinos tomaram de assalto a Igreja de Genebra e queriam participar da Ceia do Senhor. Os libertinos desembainharam suas espadas E Calvino foi para frente da mesa da comunhão, afirmando que não dividiria o Corpo de Cristo com insolentes. Diante da coragem de Calvino, os libertinos abandonaram a igreja. O apóstolo Paulo combateu o ensino dos libertinos também. Para o apóstolo, é uma perversão da graça argumentar que ela resulta em liberdade, aumentando quando o pecado cresce, e que, por isso, as pessoas deviam continuar a pecar, no intuito da graça poder predominar. Veja o que está escrito na Palavra de Deus: Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? (Romanos 6:1-2). 80

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O ensino apostólico é claro: aqueles que foram justificados por Cristo morreram para o poder do pecado, que agora não pode mais escravizá-los. Logo, é responsabilidade de todo cristão viver de modo digno de sua nova posição. O cristão está unido a Cristo, na Sua morte e ressurreição. Por isso, não devemos ser escravos do pecado, pois fomos crucificados com o Filho de Deus. Devemos viver no poder da ressurreição daquele que venceu a morte e está vivo para sempre. Devemos considerar nossa crucificação e ressurreição como eventos consumados. O cristão deve, portanto, considerar sua nova condição e o domínio de sua vida não deve ser do pecado nem das paixões. Considerar, nesse sentido, é pensar e agir como se algo fosse realidade. Deus ofereceu Jesus Cristo como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Um resgate foi pago para nos libertar, a absolvição foi declarada, visto que Deus, em seu Filho, suportou o julgamento e sofreu a pena imposta ao pecador. Sacrifício expiatório Cristo não morreu como um acidente na história, nem como ação de homens (judeus ou romanos) maus, nem morreu como mártir ou um injustiçado. Ele não morreu apenas como meu representante, ele morreu em meu lugar, pois é por causa de sua morte que serei poupado da morte final. Ele morreu a minha morte, por minha causa e em meu lugar. 81

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A razão principal da morte de Cristo Jesus foi para receber a Ira de Deus no lugar dos pecadores. Deus é santo e Ele tem que punir os pecadores. Mas porque Ele também é amoroso, quis enviar Seu Filho para levar sobre si a punição de Sua ira, a fim de que os pecadores pudessem receber Sua misericórdia. O apóstolo Paulo nos diz, "Cristo morreu em nosso favor" (Rm 5.8), então, ninguém pode apontar o dedo para outra pessoa ou grupo pela morte de Jesus. Nossos pecados foram a razão de Jesus ser crucificado. Ele não tinha de morrer; porém, essa foi sua escolha. E porque Jesus nunca quebrou a Lei de Deus, Ele poderia morrer como um substituto no lugar daqueles que a quebram. Como 2 Co 5.21 explica, Ele se "tornou pecado por nós, aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus". O valor da cruz de Cristo está naquilo que realizou e não na dor que provocou. A cruz revela a generosidade de Deus. Nela, Deus não poupou nada, pelo contrário, nos deu o que tinha de mais precioso, caro e perfeito. Haveria, diante da demonstração de generosidade de Deus na cruz, alguma dádiva que Ele nos negaria? Alguma bênção que seria maior do que seu próprio Filho? Ver a vida na perspectiva da cruz significa vê-la inteiramente em termos de rendição. Foi isso que a cruz representou para Cristo. Cristo crucificado é tudo o que precisamos. E quando Paulo optou por uma mensagem, ignorou as exigências de gregos e judeus, porque ele sabia que a morte e ressurreição 82

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de Cristo são o que a alma humana necessita. Nada mais além disso. Tudo deve sujeitar-se à Cruz, render-se ao seu poder e glória, aceitar sua primazia na redenção. Mas a cruz também é loucura, escândalo e vergonha. Não fascina como os sinais, nem seduz como a sabedoria. A cruz é sofrimento, renúncia, entrega e dor. Mas para aqueles que reconhecem nela o triunfo de Cristo, ela se transforma no poder e na sabedoria de Deus. Conclusão Cumpre a nós, como resposta ao sacrifício pascal de Cristo, buscar uma vida de santificação e consagração. Não temos o direito de viver do jeito que quisermos, mas temos que nos submeter ao Senhor, que nos resgatou de uma vida de pecado. Nesse sentido, a santidade se inicia dentro da pessoa, como um desejo correto de expressar-se corretamente. É uma questão não apenas da ação que desempenho, mas das motivações que me levam a executá-las. A motivação, os objetivos, a paixão, o desejo, os anseios, as aspirações, as metas e a direção de uma pessoa santa é agradar a Deus, tanto pelo que se faz como pelo que se evita fazer. Em outras palavras, praticam-se coisas boas e evitam-se as más e devemos trabalhar para manter nosso coração ativamente obediente a Deus. Agradar a Deus é a resposta humana à iniciativa divina de buscá-lo e redimi-lo. Deus exige daqueles que foram redimidos nada menos do que a santidade. Por isso, ser santo não é uma opção. É nossa obrigação! 83

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A erudição bíblica não pode ser estéril, porque de fato, o conhecimento de Deus é frutuoso. Almejamos uma mente cheia de conhecimento a serviço de um coração devoto”.15

A VERDADEIRA ADORAÇÃO

O

labor teológico deve se transformar em doxologia. Em outras palavras, a teologia deve conduzir o povo de Deus ao culto e a adoração.

Adoração é o reconhecimento, pelo homem finito, do valor infinito de Deus. É prostrar-se perante Ele, compreendendo e reconhecendo Sua grandeza e poder infinito. A adoração bíblica é centralizada em Deus e não nos seres humanos. Ela não tem por objetivo primordial edificar, elevar, purificar ou consagrar os adoradores. Esses resultados são secundários. O propósito da adoração é glorificar a Deus. Na adoração, visualizamos a origem da nossa existência e o destino para o qual fomos chamados. Em sua adoração, o crente constata que é livre, tendo as palavras de pessoas libertadas, resgatadas. Diante de Deus somos livres para falar, orar, confessar e revelar os segredos de nosso coração. Livres para cantar, louvar e adorar. COSTA, Hermisten Maia Pereira. Introdução à metodologia das ciências teológicas. 2ª. Goiânia: Cruz, 2015, p. 393 15

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O crente foi liberto por Cristo Jesus, e por isso pode adorar a Deus, num encontro sagrado em que o Pai concede perdão, auxílio, consolo e direção. Então, respondemos com louvor, frequentemente recordando os grandes atos divinos redentores. Temos que reconhecer em nosso relacionamento com Deus que Ele não pode ser subjugado por nós. Ele é soberano e grandioso. Sempre que alguém aspira de algum modo “exercer poder” sobre Deus, afetar ou influenciá-lo por intermédio de obras das mãos humanas, e, assim, a verdadeira adoração é destruída. Portanto, devemos nos preocupar com o conteúdo das canções entoadas em nossos cultos. As canções devem ser profundamente bíblicas e centralizadas em Deus, focalizando a Pessoa e a obra redentora de Jesus Cristo. Sem isso, corremos o risco de apresentar uma mensagem distorcida. Aquilo que Calvino denominou “invenção de formas errôneas de adoração” (CALVINO, 2018). Teologia da glória Há alguns anos, visitei uma igreja no Distrito Federal. Acompanhei atentamente, como sempre faço, as canções entoadas no chamado período de louvor. Nenhuma surpresa. A mesma dieta magra de conteúdo bíblico que é servida em muitos cultos. As canções apresentadas celebravam um Deus tão genérico que um membro de qualquer seita se sen-

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tiria à vontade. E isso, infelizmente, é o padrão em muitas de nossas igrejas. Pontuamos que o período de cânticos se transformou num desfile de bobagens e generalizações. Para tal observação, a sentença de John Payne é relevante (PAYNE, 2015, 14): De modo geral, o culto evangélico tem-se tornado radicalmente informal, presunçosamente inovador, e biblicamente empobrecido. A maior parte disso deve-se em grande medida ao abandono da liturgia centrada em Deus e regida pela Bíblia. O que tem sido descartado é a herança litúrgica protestante que, por século, levou com fidelidade os cristãos a adorarem a Deus de forma bíblica, além de nutrir sua fé em Cristo mediante os meios ordinários da Palavra e dos sacramentos

Fiquei pensando no famoso hino: “A Conversão”. Aqui vertido conforme a letra do Hinário Novo Cântico (hino 334): Em cegueira eu andei e perdido vaguei, Longe longe do meu Salvador;

Mas da glória desceu e Seu sangue verteu, Prá salvar um tão pobre pecador. [Estribilho] Foi na cruz foi na cruz onde um dia eu vi, Meu pecado castigado em Jesus! Foi ali pela fé que meus olhos abri, E eu agora me alegro em Sua luz!

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Já ouvia falar dessa graça sem par, Que do céu trouxe Cristo Jesus! Mas eu surdo me fiz, converter-me não quis Ao Senhor que por mim morreu na cruz. Mas um dia senti meu pecado, e vi Sobre mim o castigo da Lei! Apressado fugi, em Jesus me escondi, E abrigo seguro nele achei. Que ditoso, então, foi o meu coração, Conhecer o excelso amor, Que levou meu Jesus a sofrer lá na cruz, E salvar este pobre pecador. Este hino apresenta doutrinas evangélicas basilares. Justificação pela Fé, encarnação, morte substitutiva de Cristo. Fala do pecado como preço que o ser humano não pode pagar, a função da lei como aio que conduz a Cristo E a cegueira do pecador em enxergar a salvação em Cristo é uma forte metáfora da inabilidade do homem natural para discernir as verdades espirituais. Lutero chamou toda teologia baseada na especulação humana de “Teologia da Glória”. Essa Teologia da Glória “leva o homem a ficar perante Deus e propor uma barganha, baseada em suas conquistas éticas em cumprir a Lei”. Essa teologia pode gerar uma praga, o orgulho espiritual algo que Deus odeia. A adoração ou a pregação que faz as pessoas 88

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sentirem-se bem consigo mesmas ou satisfeitas com suas próprias palavras e pensamentos arrogantes sobre Deus. Essa glória condena a alma do homem e o separa de Deus. No raciocínio de Lutero, ele seguia uma lógica. Para ele, os teólogos da glória, além de entender mal Deus e a salvação, não conseguiram ver as coisas pelas perspectivas da cruz, e destorceram a realidade, avaliando tudo de maneira errada (SHAW, 2004, 26). A Teologia da Glória alimenta os períodos de louvor, genéricos em seu conteúdo, por isso, podem agradar membros de quaisquer seitas. Teologia da cruz Em contrapartida, a Teologia da cruz apontava o caminho para a igreja atordoada e os cristãos desorientados em um mundo pós-moderno, trazendo decisões adequadas que podem liberar o poder da cruz em nossas igrejas (SHAW, 2004, 27). Precisamos colocar as perspectivas da cruz em tudo que pregamos. Se incentivarmos a necessidade de nosso povo por doutrina, a teologia da cruz se propagará. Quando a cruz é levantada com orações de confissão, hinos e músicas de louvor, sermões encharcados de Cristo e outros elementos que olham para a vida com a perspectiva da grandeza que a cruz representa, acontece algo diferente com as pessoas. A mensagem da cruz é o centro do cristianismo. Entretanto, ela é uma mensagem desagradável acerca de nós mes89

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mos. Somos pecadores, herdamos uma natureza destroçada e estamos sob a ira de Deus. Nossos esforços e religiosidade não pode nos salvar. Por isso, a Teologia da Cruz desmascara o estado desesperador de todos os seres humanos, porque ela revela a tolice de nosso orgulho. Conclusão Portanto, a Teologia da Cruz não traz o anúncio de uma mensagem para fortalecer o homem, mas para derrubá-lo. A cruz é o espelho no qual observamos a nossa indignidade. e é nela que enxergamos o amor, a graça e a misericórdia de Deus. Por isso o cristianismo sem a cruz não afronta a sabedoria humana. Precisamos, urgentemente, de um evangelho que arranque o pecador de sua cômoda situação. De um evangelho que destrua sua tola arrogância. E a morte de Jesus Cristo na Cruz do Calvário foi o caminho escolhido por Deus para nos libertar de nossos pecados. Ela é a base para o nosso perdão e o fundamento da nossa liberdade.

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AUTOR

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lém de ser professor de história no Instituto Federal do Tocantins, é pesquisador do GPGIM (Grupo de Pesquisa em Gestão, Inovação e Mercados) do Instituto Federal de Goiás e do GAT-UnB (Grupo de Estudos da Antiguidade Tardia). É Mestre em Teologia pela Faculdade EST, tendo bacharelado e licenciatura em História pela Universidade de Brasília. Em 2021, se filiou ao (IBDR) Instituto Brasileiro de Direito e Religião. Aluno da turma de 2019 Summer School do Instituto Mises Brasil e é Membro da World Reformed Felowship e da Society of Biblical Literature.

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