Plantas Doentes Pelo Uso De Agrotóxicos
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PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas – A teoria da trofobiose –

FRANCIS CHABOUSSOU

PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas – A teoria da trofobiose –

EDITORA EXPRESSÃO POPULAR

Copyright © 2006, by Editora Expressão Popular Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design Impressão e acabamento: Cromosete

Prefácio: Paul Pesson Revisão técnica e apresentação: Luiz Carlos Pinheiro Machado Tradução: Maria José Guazzelli

ISBN 85-87394-87-8

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora. 1a edição: janeiro de 2006 EDITORA EXPRESSÃO POPULAR Rua Abolição, 266 - Bela Vista CEP 01319-010 – São Paulo-SP Fone/Fax: (11) 3112-0941 [email protected] www.expressaopopular.com.br

SUM ÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 9 PREFÁCIO ...................................................................................................... 11

À minha esposa, Jacqueline Thibault, que, em sua vida e sempre ao longo de minha carreira, não cessou de me apoiar e de me dar o exemplo de coragem e de determinação.

Agradecimentos À Editora L&PM, de Porto Alegre/RS, pela concessão dos direitos de tradução; À Patrícia Karina Ferraz da Rosa por sua magnífica digitalização; À Ariana Gomide Porro Ferrari pela ajuda na revisão gráfica do texto.

APRESENTAÇÃO

Os agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e professores brasileiros têm, com esta obra, acesso a um texto fundamental e pioneiro para se entender o verdadeiro e complexo processo de proteção das plantas da ação deletéria dos agentes parasitários: insetos, fungos, bactérias, vírus, ácaros, nematódeos, coccídeos. Francis Chaboussou, ao enunciar, na década de 1970, a teoria da trofobiose, lançou um dos pilares da agroecologia. Com o ciclo do gás etileno no solo e com a teoria da transmutação dos elementos de Kervran, a teoria da trofobiose forma a base em que se apóia a produção de alimentos limpos, sadios, dispensando o uso de agrotóxicos* e de fertilizantes solúveis de síntese química. *

A tradução literal do título deste livro em francês é As plantas doentes pelos pesticidas (Les plantes malades des pestícides). Entretanto, no Brasil, a partir da década de 1970, os pesticidas agrícolas passaram a ser chamados de agrotóxicos, denominação, sem dúvida, mais apropriada e usada na tradução original, posição seguida nesta revisão. (N. do R.)

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Ao longo desta obra, o leitor encontrará uma sólida argumentação científica apoiada em extensa e qualificada bibliografia, demonstrando que os parasitas não atacam as plantas cujos sistemas nutricionais estejam equilibrados. Isto porque, os parasitas têm uma particularidade fisiológica: seu equipamento enzimático digestivo é carente ou insuficiente em enzimas proteolíticas, isto é, enzimas que desdobram as proteínas em substâncias mais simples, como os aminoácidos, assimiláveis pelos organismos. Esse fato, simples, e até mesmo primário, explica porque os fertilizantes solúveis e os agrotóxicos atraem os parasitas, gerando, assim, um ciclo de dependência. Logo, a questão fundamental na proteção das plantas à ação dos parasitas é desenvolver um processo produtivo que permita à planta chegar a um ótimo de proteossíntese, ou seja, à formação de substâncias mais complexas, como as proteínas, que demandam a ação de enzimas para serem desdobradas e utilizadas. Nós que nos preocupávamos com a produção agrícola limpa – animal e vegetal – não tínhamos, até Chaboussou, as formulação e sustentação teórica de uma prática milenar, conhecida e difundida pelos verdadeiros agroecologistas: as plantas cultivadas em solos ricos em matéria orgânica, proveniente de esterco, não são atacadas por pragas e doenças: este fato é explicado pela teoria da trofobiose, pois a nutrição das plantas com substâncias complexas gera uma predominância da proteossíntese, circunstância fisiológica adversa aos parasitas. Chaboussou, como Voisin, apresenta suas posições e os resultados das pesquisas que deram embasamento à sua teoria e as suas conclusões (e parece ser uma “técnica” francesa...) de forma repetitiva e aparentemente, “paciente”. Na verdade, é uma forma sutil de “ganhar” o leitor para suas posições. Por outro lado, Chaboussou, não só apresenta a sua teoria da trofobiose, como denuncia, comprovadamente, o aparecimento de novas doenças pelo efeito do emprego de agrotóxicos. O estudo dos desequilíbrios biológicos produzidos pelos diferentes tratamentos convencionais, antes de controlar os parasitas, como 10

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demonstra Chaboussou, provoca uma perturbação na fisiologia das plantas trazendo, em conseqüência, o agravamento do problema inclusive, transformando em parasitas seres que, antes, mantinham um convívio harmônico com a plantas. São, como chamou o autor, as doenças iatrogênicas, isto é, doenças provocadas pelo uso de supostos remédios. Não é acidental e nem sem causa, que as poucas dezenas de pragas e doenças vegetais registradas há pouco mais de meio século, hoje chega à casa do milhar. Não é acidental, também, que os alertas de Howard, Russell, Rusch, Voisin, Faulkner e tantos outros têm sido, até mesmo menosprezados, pela ciência convencional: há, nessa área, um poderoso jogo de interesses, cuja conta os produtores agrícolas – pequenos, médios e grandes, todos – estão pagando, com o uso crescente dos agrotóxicos e fertilizantes. É bem recente o fracasso da “revolução verde” para confirmar o que está dito e dispensar maiores comentários sobre o assunto, da mesma forma do que está acontecendo com o “agronegócio”, apresentado como panacéia e, hoje, sobrevivendo em crise sobre crise. Chaboussou identificou as causas do problema. Propõe como solução, essencialmente, a correção das carências de elementos minerais no solo, especialmente dos microelementos. Nesse ponto, o cientista expôs ao mundo e de maneira inequíosca, que a causa das infestações parasitárias é, principalmente, os desequilíbrios nutricionais: é a predominância na fisiologia da planta, da proteólise sobre a proteossíntese. Este cientista, ainda preso a uma conduta convencional que ele próprio “destrói”, propõe uma solução baseada na correção em elementos minerais do solo, com ênfase nos microelementos, isto é, um caminho convencional. Ora, o equilíbrio da composição mineral do solo é condição sine qua non para a sua fertilidade. Não é esta a questão em discussão. O problema é como alcançar esse equilíbrio. O caminho proposto por Chaboussou – da correção mecânica das deficiências do solo com a 11

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simples incorporação dos elementos que a análise química registra como carentes – este caminho entra em contradição com sua própria teoria: se o balanço proteossíntese – proteólise, processo fisiológico interno da planta, é a base da proteção vegetal contra os parasitas quando esse balanço é favorável à proteossíntese, as plantas estão protegidas. Entretanto, o mecanismo de proteção é pouco conhecido mas, seguramente, é desencadeado a partir de fatores bióticos, nos quais os microrganismos do solo desempenham papel preponderante. E, seguramente, é através desse mecanismo que o solo se desintoxica, se equilibra e passa a ser um integrante ativo no processo. Na proposição da simples correção das eventuais carências, o solo é apenas um receptáculo passivo. Em diversas oportunidades, especialmente nos últimos capítulos, Chaboussou recomenda a aplicação de fertilizantes, com a finalidade de corrigir os desequilíbrios do solo, especialmente de microelementos. Trata-se de uma contradição com sua própria teoria da trofobiose. É que, o solo desintoxicado e manejado corretamente dispensa o uso de adubos como, aliás, estabelece a nossa lei de fertilidade crescente (A fertilidade do solo, quando manejado sem agressão – aração e procedimentos similares – e com técnicas que estimulem a biocenose é crescente, indo a limites ainda não identificados). Portanto, a partir da teoria da trofobiose, que é a linha mestra do processo, devemos pesquisar os meios bióticos de correção dos solos que têm sido agredidos por decênios pela agricultura predatória. É a partir do equilíbrio biocenótico da fertilidade do solo que se abre o caminho para a produção de alimentos limpos, com a dispensa de agrotóxicos e fertilizantes solúveis. Se o processo for conduzido dialeticamente a partir da participação do animal na desintoxicação do solo e na manutenção e melhoria de sua fertilidade, poder-se-á dispensar o uso de quaisquer produtos químicos externos ao solo, porque, com manejo correto, desencadeiam-se o ciclo etileno e a transmutação dos elementos com baixa energia, os quais, com a 12

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trofobiose, conformam o tripé sobre o qual se ergue a produção agroecológica. Isto, naturalmente, com a sustentação energética da eficiente e gratuita energia solar. Este livro deixa numerosos ensinamentos e aguça a curiosidade para uma série de questões. Talvez, porém, a questão mais significativa diga respeito à atividade dos pesquisadores – fitopatólogos e entomólogos. Modo geral, nossos cientistas debruçam-se sobre o estudo de determinada praga ou doença, pesquisando profundamente aspectos específicos e fazendo um controle com o objetivo da eliminação do parasita. Talvez fosse aconselhável uma análise mais ampla, holística, a começar pelo equilíbrio metabólico e pelas necessidades nutricionais da planta. Dou um exemplo. No início do projeto Alegria, em Taquara, Rio Grande do Sul, em 1964, a infestação de saúva era extremamente intensa. Com o decorrer do tempo, graças ao manejo do Pastoreio Racional Voisin, com a desintoxicação do solo e ausência completa de agrotóxicos e fertilizantes, as saúvas desapareceram, mas as áreas vizinhas continuaram infestadas. Por quê? A ciência convencional não tem explicação para este fato e, diante do fato, fica-se com o fato e desprezam-se as teorias ainda que esposadas por grandes nomes, como diria Claude Bernard. O desaparecimento natural das saúvas deve ser pesquisado sob uma ótica inspirada na análise dos fatores externos que, certamente, interferem nas questões internas do inseto. Em outras palavras, através de uma análise holística, em que os fatores bióticos e abióticos em suas interrelações e contradições levam às causas dos problemas e sobre elas recaí a ação humana. Trabalhar sempre sobre as causas e não sobre os efeitos, no caso, as pragas e doenças. Todos devem ler e meditar sobre este texto: os produtores, para questionarem seus técnicos quando esses recomendam agrotóxicos e ou adubos solúveis; os estudantes, para indagarem a seus professores sobre as posições de Chaboussou; os técnicos, para se capacitarem a 13

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uma conduta de produção sem veneno: o professor para levar aos seus alunos uma posição contrária à agronomia convencional e, finalmente, àqueles pesquisadores, que se distanciaram da realidade que desçam de seu frágil pedestal e venham para a planície onde está a vida e, portanto, a verdade. Quanto às pesquisas fitopatológicas e entomológicas cabe uma reflexão: a quase totalidade dessas pesquisas concentra-se em eliminar (se possível) o parasita. A partir das informações deste texto, seria desejável que se conhecesse o contexto ambiental – manejo e fertilidade do solo, clima, vegetação espontânea, uso de agrotóxicos e fertilizantes solúveis – e relacionar o aparecimento dos parasitas com esses fatores, como Chaboussou analisa a partir do quarto capítulo. Chaboussou, por sua formação e por seu campo de pesquisa, dedicou-se ao controle de parasitas das plantas. Como pesquisador eclético, porém, não esqueceu os animais. Para isso, dedicou, sob o título de “A agricultura biológica e a saúde dos vertebrados”, parte do oitavo capítulo às repercussões dos desequilíbrios nutricionais à saúde animal e seus produtos. A aplicação da teoria da trofobiose – ao dispensar o uso dos agrotóxicos e adubos solúveis – reveste-se de importância singular na proteção ambiental. Essa é, por outro lado, questão transcendental para a própria sobrevivência da espécie humana. As conseqüências da dilapidação ambiental são noticiadas cada vez com maior freqüência: recentemente, a redução do tamanho das ostras cultivadas na baía de Florianópolis motivada pela elevação da temperatura da água do mar, é um exemplo. A biocenose viabiliza o desencadeamento de importantes processos em solos ricos em matéria orgânica, porosos e com limitada compactação, pois se ativa a “nutrição das plantas, via compostos orgânicos mais complexos, que seriam absorvidos diretamente pelas raízes e serviriam de base à construção, pela planta, de seus constituintes, especialmente das proteínas”. Essa teoria, alicerçada em 14

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substantivos resultados experimentais compõem, com a teoria da trofobiose de Chaboussou, a base de um novo e instigante paradigma, este livre das perniciosas dependências econômicas, recuperando o sentido dialético e, por isso mesmo verdadeiro, da desgastada expressão “trabalhar com a natureza”. Aí está para os cientistas sem preconceitos e para os agricultores pesquisadores, a porta aberta para a construção de uma doutrina que ofereça aos produtores a tecnologia da vida, na qual se alcançaria a maravilhosa harmonia da natureza com “sua própria consciência, o humano”. Esta construção estará concluída quando a ciência puder desenvolver um modelo de produção capaz de alimentar a humanidade, sem dilapidação dos recursos não renováveis, através do maravilhoso trabalho da vida do solo, em harmonia com a máxima captação da energia solar pela fotossíntese. A Editora Expressão Popular a reeditar e a Editora L&PM, a ceder os direitos de tradução para a republicação em português, da obra de Chaboussou – a quem os leitores devem agradecer – põem à disposição dos agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e professores, um corpo de doutrina inédito na literatura científica agronômica nacional, que constitui o primeiro pilar para a produção limpa, sem venenos, dispensando agrotóxicos e fertilizantes solúveis de síntese química. É a partir da compreensão da indispensabilidade do emprego de insumos energéticos de origem solar e da dinâmica da vida do solo, que se constrói a agricultura limpa, rentável e sustentável, isto é, que se põe, em prática, a verdadeira agroecologia, caminho seguro para perpetuar a produção de alimentos limpos, como a própria sobrevivência da humanidade está a exigir. Porto Alegre, RS, Verão de 2006. Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Presidente do Instituto André Voisin [email protected] [email protected] 15

PREFÁCIO

Durante minhas aulas de entomologia e de ecologia, no Institut National Agronomique ou no curso superior de especialização do DEA* de entomologia, na Universidade de Paris-VI, freqüentemente tive a ocasião de apresentar a meus alunos os trabalhos de meu colega Francis Chaboussou e sua teoria da trofobiose. É um prazer para mim, hoje, apresentar sua obra ao grande público. Ao fazê-lo, desejaria me esforçar para fazer o leitor compreender a extrema importância desta obra, que propõe aos pesquisadores agrônomos, e aos agricultores, um conceito original e novos caminhos, que resultam de uma reflexão madura baseada tanto nas pesquisas pessoais do autor, como nos múltiplos dados experimentais de origem internacional, oriundos dos laboratórios ou das condições de campo. *

Diplôme d’Etudes Approfondies (Diploma de Estudos Aprofundados). (N. da T.)

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Que me seja permitido, antes de mais nada, apresentar o autor a seus leitores, apesar de ser bem conhecido nos meios da pesquisa agronômica, na França e no exterior. Biólogo de formação, diplomou-se na Universidade de Bordeaux. Ali beneficiou-se dos ensinamentos de entomologia do prof. Feytaud, e de zoologia e biologia dos professores Avel e Bounhiol. Em 1933, entra, como jovem pesquisador, no Institut National de la Recherche Agronomique. Nomeado para a Estação de Zoologia do Centro de Pesquisas Agronômicas de Bordeaux, na região de La Grande Ferrade, em Pont-de-la-Maye, aí desenvolverá toda sua carreira, encerrandoa em 1976, como Diretor de Pesquisa e Diretor da Estação de Zoologia desse Centro. Nesta função, ele teve, inicialmente, a oportunidade de abordar problemas entomológicos da época, como a reprodução de um carabídeo, predador de um coleóptero do gênero Leptinotarsa,* elemento potencial de controle dessa praga, de importação recente ou, ainda, a invasão imprevista de gafanhotos migradores em Landes, seguida de incêndios florestais. Após, se veria confrontado com problemas mais complexos e de grande importância econômica, envolvendo as culturas frutíferas de Agenais, as culturas de milho de Landes e, obviamente, as pragas dos vinhedos da região de Bordeaux. Ele formou, nessa época, alunos excelentes e colaboradores que asseguraram sua sucessão e mantêm, hoje, a reputação do Centro de Pesquisas de Zoologia Agrícola do Sudoeste. A diversidade de problemas entomológicos que apareceram e a necessidade de propor soluções práticas de controle não haviam, então, permitido a Francis Chaboussou aprofundar-se no estudo de um assunto especificamente. Em 1960, entretanto, dois novos problemas se lhe apresentaram e, sobre os quais, enfim, ele espera poder

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Doryphore no original. Corresponde ao “Colorado potato beetle”. (N. Da T.)

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empreender uma tese de doutorado em ciências: por um lado, o estudo dos atrativos sexuais elaborados por fêmeas virgens de lepidópteros (feromônios) e sua aplicação no controle de urna lagarta da videira,* por outro, a análise das causas do aparecimento e proliferação de novas pragas em videiras, os ácaros fitófagos. Após ter bem encaminhado os estudos sobre a lagarta, ele confiou seu prosseguimento a seus colaboradores e, a partir de então, consagrou-se de 1960 a 1969 ao estudo de ácaros da videira. É no curso dessas pesquisas que se elabora o conceito da “trofobiose”, resultando na sua defesa de tese, em 1969, em Paris. A substituição dos arsenicais pelo DDT e por outros inseticidas orgânicos sintéticos, particularmente nos tratamentos dos pomares e vinhedos, teve como conseqüência a aparição, nos Estados Unidos e Europa, de uma nova calamidade, os ácaros fitófagos, até então relativamente pouco danosos; estes microscópicos picadores e sugadores de folhas provocam, por sua proliferação, prejuízos importantes aos vinhedos e pomares. A primeira explicação geral proposta foi de que o DDT e outros inseticidas polivalentes de contato eliminavam os predadores ou parasitas naturais desses ácaros fitófagos. Mas, esses predadores são, essencialmente, outros ácaros, de diversos gêneros, e a hipótese não pôde ser confirmada. Para a videira, o problema apresentava-se sob um aspecto muito complexo, que Francis Chaboussou soube perfeitamente analisar. Três espécies de ácaros intervêm, cada uma podendo proliferar em períodos diferentes da estação e em função das datas de aplicação e da natureza dos diversos tratamentos inseticidas ou fitossanitários aplicados à videira. Foi dissecando experimentalmente estes fenômenos que o autor conseguiu mostrar que a ação dos agrotóxicos utilizados* * *

Po1ycrosis botrana. (N. da T.) No original não existe a palavra agrotóxico. É usada a palavra pesticida. É, entretanto, correto o uso da palavra agrotóxico, criada por A. Paschoal em 1975. (N. do R).

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(particularmente inseticidas, contra larvas do cacho da uva; * ou mesmo fungicidas) repercutia sobre os ácaros, por intermédio da planta. Estes produtos provocam modificações no metabolismo da planta, resultando num enriquecimento dos líquidos celulares ou circulantes em açúcares solúveis e aminoácidos livres. Os ácaros fitófagos picadores e sugadores dos tecidos vegetais encontram-se, assim, favorecidos na sua alimentação. Isto se traduz, conforme as espécies, por um aumento de sua fecundidade e de sua fertilidade, da velocidade do desenvolvimento e do número de gerações e mesmo da longevidade. É, portanto, um fator trófico que está na origem das proliferações dos ácaros fitófagos da videira. A esta dependência estreita entre as qualidades nutricionais da planta e seu parasita, Francis Chaboussou batizou de “trofobiose”. O termo já havia sido utilizado pelos biologistas para designar as relações tróficas de algumas formigas com pulgões, aos quais elas dedicam cuidados particulares, mas o novo sentido dado pelo autor reveste-se de um grande interesse: é o próprio objeto do livro que ele nos apresenta hoje. Na realidade, lendo o livro de Francis Chaboussou, podemos nos surpreender por encontrarmos apenas citações breves de suas próprias pesquisas. Por isso, me parece justo sublinhar, aqui, sua importância na origem do conceito de trofobiose, conceito que pesquisadores posteriores confirmaram e ampliaram. Foi dessa forma que o autor pôde mostrar a ação de fatores edáficos (relação K/Ca) sobre as proliferações de certas cochonilhas de citros, no Marrocos; a incidência da natureza do porta-enxerto sobre as reações de um mesmo enxerto aos tratamentos fitossanitários (proliferações de ácaros fitófagos); e os efeitos favoráveis não-intencionais de certos acaricidas. Ocorre uma desordem ou desequilíbrio metabólico da planta, que se revela favorável aos parasitas sempre que os açúcares solúveis e os aminoácidos livres dos tecidos vegetais estão em excesso, não estando normal*

Polychrosis botrama S. e Clysia ambiguella Hb. (N. da T.)

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mente incorporados na proteossíntese: desordem ou desequilíbrio metabólico da planta, que se revela favorável aos parasitos. As experiências se acumulam pelas pesquisas pessoais, bem como pela revisão bibliográfica. Esta hipótese é confirmada por novas demonstrações e o autor procura aplicá-la às causas tróficas das doenças fúngicas e até de doenças viróticas. Os fungos parasitas são organismos osmotróficos que se nutrem, como os insetos e os ácaros sugadores de seiva, de açúcares e aminoácidos livres dos tecidos vegetais. Nada de surpreendente, portanto, no fato de que todo o enriquecimento dos tecidos com substâncias solúveis favoreça o desenvolvimento das micoses. Os numerosos exemplos citados e analisados pelo autor, neste livro, são provas deste fato. Buscando analisar, segundo os princípios de sua teoria da trofobiose, todos os casos “inexplicados” de proliferação de parasitas, de eclosão de micoses, de aparição de viroses, da ineficiência de certos tratamentos; buscando explicar os efeitos indiretos ou inesperados de diversos tipos de agrotóxicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas), Francis Chaboussou chama a atenção que se chega, sempre, à existência de desequilíbrio entre dois processos fundamentais da fisiologia vegetal: proteossíntese e proteólise. O autor tem consciência clara que esses dois processos são eminentemente complexos e que os mecanismos e fatores em jogo são múltiplos. Da mesma maneira, ele põe em evidência os desequilíbrios do meio interior da planta (teor em açúcares solúveis e em aminoácidos livres), revelando ou suspeitando de causas distantes indiretas, insidiosas: excessos de adubações nitrogenadas solúveis, desequilíbrios de correções de K, Ca, Mg; carência ou excesso em determinados oligoelementos,* muitos dos quais são fornecidos à planta pelos agrotóxicos. *

O termo oligoelemento é usado nesta obra como sinônimo de microelemento, forma mais empregada no Brasil. Foi respeitada a forma original. (N. do R.)

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Em suma, o autor, preocupado com a proteção das culturas contra seus parasitas ou suas doenças, volta-se mais para a planta doente que para o parasita ou agente infeccioso. Admite-se, de muito bom grado, que o homem “que nada lhe falta” sofre, hoje, diversas afecções, que têm origem num excesso de bem-estar (excesso de carne, gorduras, açúcar, excesso de álcool, de fumo e, mesmo, excesso de medicamentos), mas também num excesso de estresse ou de estímulos (excesso de barulho ou de agitação, excesso de automóvel ou de TV). As plantas cultivadas, em particular aquelas culturas industriais, são postas em competição permanente, para um crescimento mais rápido, uma produção mais abundante, uma qualidade mais atraente.Nesses jogos olímpicos da agricultura industrial, as plantas cultivadas são superalimentadas, sofrendo algumas vezes até um empanturramento de nitrogênio; elas são bem tratadas, como os campeões antes da prova (a colheita!), pulverizadas, banhadas freqüentemente com misturas fungicidas, inseticidas, acaricidas, a título preventivo; suas condições de vida são artificializadas ao extremo (ciclos biogeoquímicos acelerados, húmus reduzido, herbicidas, chuva artificial, sob cultura impermeável ou em estufas). Mas, às vezes, o campeão quebra antes da prova: acamamento dos cereais, secamento do pecíolo do cacho de uva, abortamento de frutos; aparentemente saudável, ele contrai, apesar de todas as medidas preventivas, doenças súbitas e desastrosas (micoses, viroses), ele sofre ataques maciços de parasitos(ácaros, pulgões). Então, se chama à cabeceira destas plantas-campeãs os especialistas mais renomados: fitopatologista, virologista, entomologista, imunologista, cada um em sua área, dando seu diagnóstico e sua receita fitofarmacêutica. O próprio agrônomo, que deveria ser o médico generalista de sua cultura, consulta o edafólogo, o climatogista, o geneticista. Como salienta Francis Chaboussou, se estuda muito a doença e não tanto o doente. Ele, médico dos vinhedos de Bordeaux, assusta-se com este excesso de terapêutica e com esta insuficiência de higiene da planta e de seu meio. Nossas culturas industriais, diz ele, 22

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sofrem de doenças cujas causas têm sua origem num excesso de cuidados fitossanitários; ele fala, então, de doenças “iatrogênicas”. Certamente, não se poderia negar os imensos progressos da agricultura industrial, graças, em particular, à seleção, às correções e aos tratamentos fitossanitários! Nós temos, na França, belas culturas e belas colheitas! Mas, voltando a uma comparação, talvez abusiva, porém não desprovida de sentido, podemos também dizer que o homem moderno vive certamente melhor e mais longamente que aquele da Idade Média, eliminaram-se ou controlaram-se muitas das grandes doenças epidêmicas: varíola, tuberculose, peste, malária... Mas ele está, hoje em dia, sujeito a novas e múltiplas doenças orgânicas ou infecciosas (arteriosclerose, câncer, gripe). Do mesmo modo, se é certo que as plantas cultivadas pagaram um pesado tributo a certas calamidades epidêmicas ou certas pragas, bem antes do desenvolvimento do controle químico moderno (requeima da batata que arruinou a Irlanda, Phylloxera que arrasou os vinhedos europeus, bicudo do algodão e cochonilhas dos citros nos Estados Unidos), só se pode constatar a repetição incessante de afecções ou ataques que sofrem as culturas industriais, o que acarreta, como para o homem, um aumento crítico das despesas fitofarmacêuticas. Tão logo desenvolveram-se os tratamentos fitossanitários na França, com a aparição de numerosos inseticidas, fungicidas ou herbicidas sintéticos, nasceram duas palavras novas: “fitofarmárcia” e “fitiatria”, a fitofarmácia teve um grande desenvolvimento, conduzindo ao nascimento da indústria de agrotóxicos, mas, pode-se dizer que a fitiatria, ou medicina das plantas, manteve-se superficial, aparentemente limitada ao universo especializado da parasitologia: estudo de micoses, bacterioses, viroses (fitopatologia) e dos parasitas animais das culturas (especialmente entomologia e nematologia). Certamente os agrônomos, no campo da pesquisa agronômica de fisiologia vegetal, preocuparam-se em melhorar o crescimento, a produção, a resistência das plantas cultivadas, e interessaram-se por tudo 23

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o que diz respeito à nutrição mineral da planta, seus desequilíbrios, suas carências. Mas falta, incontestavelmente, uma ligação estreita entre a fitofarmárcia e a fisiologia vegetal. O estudo das repercussões dos agrotóxicos, de todos os tipos e sob todas as suas formas de aplicação sobre a fisiologia da planta, somente foi abordado de forma superficial: efeitos tóxicos diretos, mais comuns. Os efeitos indiretos, a longo e curto prazos, tais como Francis Chaboussou apresenta em numerosos exemplos, foram negligenciados. Já que o agrônomo se tornou o “generalista” para o estudo das plantas cu1tivadas, não é de se surpreender que tenham sido os agrônomos práticos, isto é, os produtores, os primeiros a notar e a tentar corrigir, empiricamente, os efeitos dos excessos de cuidados tróficos e fitossanitários dispensados às plantas cultivadas de forma industrial. Estes produtores quiseram, de alguma forma, desenvolver o que eu chamaria, de bom grado, uma agroproteção das culturas, com a substituição dos métodos de proteção da agricultura de tipo industrial, os quais abusam, em particular, dos tratamentos fitossanitários, seja a título curativo ou mesmo preventivo. Assim, nasceu o que se chamou de agricultura biológica. O termo, sem dúvida, se prestaria a discussões, mas o uso generalizou-se graças à imprensa e à mídia. Graças, sobretudo, a um grande público apaixonado pela ecologia e obcecado pelos problemas de poluição. Por razões que não nos cabe analisar agora aqui, razões múltiplas e, às vezes, imponderáveis, é lamentável que uma espécie de divórcio se tenha estabelecido entre os agrônomos promissores do que chamei, aqui, a agroproteção das culturas, e a maioria dos agrônomos pesquisadores ou dos próprios quadros da pesquisa oficial. Uma crítica freqüentemente dirigida às teorias desses pioneiros é dizer-se “que não há nada de novo nisto, pois não passa de uma generalização abusiva de alguns dados insuficientes”, ou ainda “estes métodos não podem satisfazer as necessidades de uma produção industrial, isto é, competitiva e cobrindo as necessidades”. 24

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O autor desta obra não contradiria o fato de que, desde há muito, agrônomos, e dos mais renomados, têm chamado a atenção para a importância do estado fisiológico da planta, como elemento de sua resistência às doenças infecciosas e parasitárias ou, ainda, alertando contra os riscos potenciais do abandono da adubação orgânica, do uso abusivo dos adubos nitrogenados solúveis, da redução da atividade biológica dos solos, citando os nomes de A. Demolon, G. Bertrand, J. Dufrénoy, P. Chouard e muitos outros. Sem contar que os trabalhos de numerosos pesquisadores ou biólogos do INRA * são citados trazendo um apoio direto ou indireto à teoria da trofobiose ou aos princípios ecológicos da agroproteção das culturas. Quanto a tratar as pesquisas de Francis Chaboussou uma generalização abusiva, considero, pessoalmente, um julgamento caduco. Este livro, precisamente, aporta muitos fatos em apoio à posição de Chaboussou, se tomamos da literatura científica internacional, que urge, a meu ver, não deixar de testar mais adiante, esse conceito da trofobiose. Sem qualquer dúvida, as condições tróficas oferecidas pela planta a seus parasitas, por mais importantes que sejam, não representam os únicos fatores em jogo nas explosões populacionais de insetos ou de ácaros fitófagos, ou na aparição e expansão de moléstias criptogâmicas, bacterianas ou viróticas. O autor, sem dúvida, em alguns trechos, se deixa levar na direção de algumas afirmações ou hipóteses, nas quais nem todos os leitores o seguirão. No entanto, quando ele se apóia nas belas pesquisas de nosso colega C. Vago, da pesquisa agronômica, sobre os processos de desencadeamento e interligação das doenças infecciosas nos insetos, para tentar explicar (ao menos parcialmente) as eclosões e multiplicação das afecções viróticas nos cultivos industriais, só se pode, no*

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vamente, desejar que a pesquisa se debruce, com atenção, sobre essas hipóteses emanadas da teoria da trofobiose. Igualmente, quando ele examina as incidências secundárias de uma desordem da proteossíntese nas plantas cultivadas (conseqüências eventuais de desequilíbrios nutricionais ou de tratamentos fitossanitários) sobre a alimentação animal ou humana, mesmo que aí esteja, apenas um aspecto muito parcial do problema, a hipótese não é gratuita e merece ser levada em consideração. Sem dúvida, os diversos problemas suscitados foram abordados por um ou outro dos setores da pesquisa agronômica oficial, mas a leitura do livro de Francis Chaboussou, de bom grado, leva a pensar que sua idéia diretriz, expressa na sua teoria da trofobiose, poderia ser, para os diversos pesquisadores, uma linha comum de direção bastante útil. Quanto à afirmação de que os métodos culturais preconizados no contexto da agroproteção das culturas não seriam aplicáveis às culturas industriais, é conveniente sublinhar que o autor , antes de mais nada, deseja que a metodologia geral proposta não seja condenada apenas sobre este critério, mas que seja, antes, testada, verificada ou desmentida. Ele tem consciência que o sugerido, em particular as aplicações foliares de oligoelementos, aproxima-se necessariamente, no plano técnico e agronômico, dos métodos de controle químico da agricultura industrial. Ë evidente que os métodos preconizados devem ser testados quanto a seus efeitos eventuais a longo prazo, pois, como em todas as coisas, o abuso pode ser a origem de novos desequilíbrios. O mérito de Francis Chaboussou neste livro é, partindo de uma idéia simples, demasiadamente simples, já que foi negligenciada por muito tempo por numerosos pesquisadores muito especializados, mostrar que sua teoria da trofobiose pode fornecer uma aproximação, e mesmo uma interpretação de uma quantidade de fatos que permanece inexplicados no campo da proteção de culturas. 26

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O Institut National de la Recherche Agronomique recentemente definiu suas novas orientações no sentido de uma agricultura “mais econômica e mais autônoma” (J. Poly), sem reduzir, no entanto, a produtividade e sua qualidade. Para mim, não há dúvidas de que uma pesquisa destinada a melhor definir os fatores de agroproteção das culturas, em função das espécies vegetais cultivadas e das condições de meio, pode efetivamente ajudar a atingir estes objetivos. Paris, 18 de setembro de 1980. Paul PESSON Professor honorário Institut National Agronomique Paris-Grignon

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PRÓLOGO

Uma eminente especialista em ácaros pôde observar: “Até 1945 os ácaros fitófagos eram tidos como inimigos menores da agricultura. Por outro lado, há quinze anos o desenvolvimento destas espécies predatórias atinge uma elevada significação econômica, ao mesmo tempo que sua lista não pára de aumentar” (ATHIAS-HENRIOT, 1959). Ora, uma tal ascensão dos ácaros à condição de inimigos maiores da agricultura, proliferando tanto sobre plantas de grande cultivo, como o algodão, quanto em videira ou árvores frutíferas, é, concomitante, com o emprego agrícola de um dos primeiros inseticidas de síntese e que deu o que falar: nos referimos ao DDT, ou zidane. Efetivamente, as primeiras multiplicações do que, impropriamente, chamou-se de “aranhas vermelhas” ocorreram em macieiras, em seguida dos tratamentos à base de DDT e dirigidos contra a larva de Carpocapsa sp., ou “bicho das frutas”.

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Mais tarde, por outro lado, o DDT seria, de certa forma, substituído em tais processos “pró-ácaros” por toda uma série de outros agrotóxicos sintéticos, como a maior parte de diferentes ésteres fosfóricos, Parathion à frente, os carbamatos como o Carbaryl , os ftalimidas, como Captan etc. Assim, devido ao emprego de numerosos inseticidas sintéticos, que haviam destronado os produtos minerais, assistiu-se ao nascimento de uma nova indústria: a dos acaricidas. Isto é, impuseram, ao mesmo tempo, aos agricultores novas e pesadas coerções. Sobretudo, como teremos a oportunidade de mencionar neste trabalho, será demonstrado que numerosos acaricidas, em princípio, destinados a exterminar os ácaros, os faziam, paradoxalmente, proliferar, de acordo com o mesmo processo, pouco entendido, e cujo estudo será objeto da primeira parte desta obra. Entretanto, dois diferentes fatos, pelo menos, mereceriam atenção. Por um lado, estes “desequilíbrios biológicos”, com.o foram chamados, não diziam respeito somente às multiplicações de ácaros, mas também de pulgões aleirodídeos, lepidópteros e até mesmos de nematóides. Por outro lado, a utilização de certos agrotóxicos, como os ditiocarbamatos (Maneb, Zineb, Mezineb), acarretam, também, o desenvolvimento não só de pragas, mas de moléstias criptogâmicas como Oidium e Botrytis. Certos observadores registravam até a expansão consecutiva de doenças viróticas. Trata-se de um grave fenômeno que parece estar bem confirmado, como demonstraremos. Sem dúvida, seria suficiente apenas expor a diversidade destes “desequilíbrios” que dizem respeito tanto a vírus, quanto a fungos patógenos ou a ácaros, para perceber que o determinismo deste processo não poderia residir, unicamente, na eventual destruição dos inimigos naturais, que habitualmente é colocada como primeiro argumento. Como pensamos mostrar na primeira parte desta obra tudo se passa como se, por sua ação nefasta sobre o metabolismo da planta, os agrotóxicos rompessem a sua resistência natural. 30

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Em outras palavras: é necessário, daqui para frente, se ter consciência de um fato que, em princípio, não é de, outro modo,surpreendente saber que, o agrotóxico – mesmo não provocando queimaduras ou fenômenos de fitotoxicidade aparentes – pode mostrar-se tóxico para a planta, com todas as conseqüências que isto pode causar sobre a resistência a seus agressores, sejam eles fungos, bactérias, insetos ou mesmo vírus. Assim, esta obra é destinada a todos aqueles que, de perto ou de longe, estão implicados na utilização e recomendação dos agrotóxicos, como técnicos e pesquisadores, mas também aos burocratas, especialmente os encarregados do registro e da colocação destes produtos nas mãos dos usuários. Nos mais de vinte anos que dedicamos a trabalhos sobre este tema, não faltou oportunidade aos diversos responsáveis para tomarem conhecimento de nossas pesquisas e de nossas advertências. Contudo, pode ser que assim reunidas numa mesma obra de síntese, nossas concepções venham a ser acolhidas de outra forma, além do sacudir de ombros ou da conspiração do silêncio. Compreender-se-á, na sua leitura, que este livro é também um grito de alarma, um grito destinado, em primeiro lugar, a ajudar os agricultores a se liberarem da alienação na qual se encontram e que reside numa absurda e arruinadora cadeia de intervenções com agrotóxicos, resultante, ela mesma, de uma cadeia de doenças artificialmente provocadas. Todavia, temos, cada vez mais, confiança no bom senso e na lógica dos agricultores. Já são numerosos os que sentem, confusos, que com o emprego quase desenfreado de agrotóxicos estão na direção errada. Com efeito, os problemas de parasitismo das plantas não cessam de se multiplicar e, é evidente, que não poderia ser de outra forma no contexto atual dos métodos de controle químico. Assim, esperamos confiantes que, ao dar aos agricultores, causas dessas dificuldades e desventuras, nosso trabalho os ajudará a mudar de direção. 31

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Duas tarefas nos pareceram mais urgentes: primeiro, dar a explicação dos perigos que corre a saúde da planta com os agrotóxicos e, especialmente, pelos herbicidas, à fertilidade do solo. Esta responsabilidade é dividida com os adubos solúveis, como pensamos demonstrar. Fm segundo lugar, destacar a natureza das relações que unem a planta ao parasita. Assim, seremos conduzidos à segunda parte desta obra, consagrada à outra face do problema, ou seja, os meios de estimular a resistência da planta em relação a seus diferentes agressores. Tendo como princípio básico o estímulo da proteossíntese por correção de carências, serão consideradas as repercussões benéficas de uma adubação equilibrada e o emprego de oligoelementos. Enfim, julgamos lógico e indispensável expor, num último capítulo, aquilo que, atualmente, podemos concluir das conseqüências de diversas técnicas culturais em relação à uma questão que interessa a todos: a saúde do rebanho e do homem chamados a consumir as colheitas assim obtidas. Não saberíamos concluir este “prólogo” sem expressar toda nossa gratidão ao INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), ao qual tivemos a honra de pertencer durante mais de quarenta anos, e ao qual ficamos, obviamente, profundamente ligados. Não tanto porque nossos superiores e a maior parte de nossos colegas tenham testemunhado um grande entusiasmo em relação a nossas concepções um pouco revolucionárias, mas porque tivemos a vantagem de poder trabalhar com toda a independência de espírito. Nunca seremos capazes de apreciar suficientemente o preço desta liberdade e, até, desta compreensão dada a um desditoso pesquisador, desgarrado num lamentável não-conformismo pela chamada lógica de seus trabalhos. Balizac, 29 de julho de 1980.

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PRIMEIRA PARTE

PLANTAS DOENTES PELA QUÍMICA

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CAPÍTULO I

AS DOENÇAS IATROGÊNICAS NAS PLANTAS

“Devemos ser curiosos para ver se o que vemos é o que sentimos ver. Devemos analisá-lo, abri-lo, virá-lo, olha-lo por baixo e olhar atrás. O conformista, simplesmente, não está programado para isso”. James G. HORSFALL (The story of a nonconformist, 1975.) É realmente uma coisa maravilhosa esta faculdade que têm os insetos de distinguir uma árvore que não está mais em suas condições normais”. Edouard PERRIS (Histoire des insectes du pin maritime.)

1. DEFINIÇÃO Da mesma forma que em patologia humana ou animal, entendemos por “doença iatrogênica”, toda a afecção desencadeada pelo uso – seja moderado ou abusivo – de um medicamento qualquer. Em patologia vegetal trata-se, portanto, do uso de agrotóxicos. Por outro lado, fala-se mais freqüentemente de “desequilíbrio biológico” quando se faz referência a uma proliferação brusca de uma ou outra praga, que ocorre em seguida a um tratamento fitossanitário. É, por exemplo, o caso – do qual voltaremos a falar – das proliferações de ácaros, em seguida a numerosos tratamentos, tanto com fungicidas quanto com inseticidas. Assim, se falamos em “desequilíbrio”, foi porque, segundo a teoria clássica, implicitamente se imputava tais proliferações apenas à

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destruição dos inimigos naturais da nova praga. O freio estando suprimido, o fitófago podia proliferar sem obstáculos. Entretanto, essa teoria defronta-se com certas dificuldades. Assim, ela não saberia explicar: – Como um certo número de agrotóxicos, perfeitamente inofensivos para os inimigos naturais, podem, entretanto, acarretar multiplicação de diversos fitófagos – pulgões, por exemplo? – Por que razão, um agrotóxico não acarretando nenhuma repercussão deste gênero, em uma época determinada do ciclo da planta em questão pode, entretanto, desencadear graves proliferações da mesma praga em outro momento? – Como pode ocorrer, que um inseticida aplicado em tratamento do solo possa provocar proliferações de ácaros do gênero Tetranychus sobre as folhas da batata cultivada a seguir? – Enfim, no campo da patologia vegetal propriamente dita, é evidente que o desenvolvimento de diversas moléstias, tanto viróticas quanto criptogâmicas, não poderia ser atribuído a uma eventual destruição de inimigos naturais, e isto pela simples razão de que esses últimos são praticamente inexistentes! É a razão pela qual, num primeiro momento, julgamos indispensável revisar um certo número de casos de “desequilíbrios biológicos”, provocados pelo uso de agrotóxicos.

2. DESEQUILÍBRIOS BIOLÓGICOS SEGUIDOS DOS TRATAMENTOS DAS FOLHAS COM AGROTÓXICOS A) Proliferações de pragas Ácaros: é o caso por nós estudado, sobre videiras, seguido aos tratamentos da folhagem com agrotóxicos (CHABOUSSOU, 1969). Foi possível mostrar que diversos inseticidas como DDT, Carbaryl e numerosos fosforados acarretam proliferações tanto de ácaros vermelhos 36

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(Panonychus ulmi, Koch), como de ácaros amarelos (Eotetranychus carpini vitis, Dosse) (fig.1). Atualmente, por outro lado, as proliferações de ácaros fitófagos em árvores frutíferas, plantas de grandes cultivos ou videiras, e consecutivas à utilização de produtos fosforados ou clorados, aí incluídos – paradoxalmente – os próprios acaricidas (CHABOUSSOU, 1970), são por demais conhecidos para que continuemos insistindo neste assunto. Entretanto, devemos também chamar a atenção que tais proliferações ocorrem não somente com a utilização de inseticidas, isto é, de produtos com princípios tóxicos em relação aos inimigos naturais dos ácaros (e ainda que o DDT, por exemplo, seja inofensivo para ácaros do gênero Typhlodromus, principais predadores), mas também com os produtos fungicidas, como o Captan, não tóxicos para os parasitas ou os predadores dos ácaros. Pulgões: diversos produtos podem, igualmente, provocar proliferações de pulgões (fig. 2). Por enquanto nos contentaremos em dar dois exemplos. MICHEL (1966) demonstrou experimentalmente através de criações que, sobre o fumo, os tratamentos à base de um fosforado, o Mevinphos, desencadeavam em Myzus persicae aumentos de fecundidade e redução do ciclo evolutivo. Como resultado, produzia-se, no curso da temporada, o aparecimento de uma geração suplementar (fig. 2). Da mesma forma, estudando a reprodução de Aphis fabae sobre o eixo floral da beterraba, SMIRNOVA (1965) constata um efeito positivo do tratamento com DDT sobre a fecundidade do pulgão. O pico máximo deste aumento da reprodução ocorre entre oito e quinze dias após a intervenção inseticida. Veremos, adiante, que pode ocorrer o mesmo com os herbicidas, ao estudar-se o determinismo destas proliferações (MAXWELL e HARWOOD, 1961, e ADAMS e DREW, 1969). 37

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Outros insetos: essas multiplicações “anormais”, após tratamentos das folhas com agrotóxicos, não envolvem somente ácaros e pulgões, mas também os aleirodídeos (van der LANN, 1961) sob influência do DDT; as cochonilhas (KOZLOVA e KURDYUKOV, 1964) pelos fosforados, e também os lepidópteros, seja por um produto clorado, o Dieldrin, no tratamento do solo (LUCKMANN, 1960), seja por um fosforado, como o Demeton (SAVESCO e IACOL, 1958). Enfim, tais “doenças iatrogênicas” envolvem igualmente os nematódeos, cujos níveis de populações são evidentemente muito mais difíceis de controlar. Entretanto, certos fungicidas, como o Thiram ou TMTD, acarretam, sobre cebola, crescimento de populações de Ditylenchus dipsaci (BRESKI e MACIAS, 1967). Da mesma forma, WEBSTER (1967) demonstrou experimentalmente que, tanto em aveia resistente quanto suscetível, os tratamentos herbicidas à base de 2,4-D acarretavam, em comparação às testemunhas, um maior número do mesmo nematóide, Ditylenchus dipsaci. Salientese que este tratamento com 2,4-D provoca na aveia hipertrofia das células, fenômeno provavelmente relacionado com o da proliferação. Como já se pode suspeitar, tais proliferações de pragas que ocorrem pela intermediação da planta, envolvem numerosos outros organismos parasitas, inclusive os vírus, como pensamos mostrar mais adiante.. Se, relativamente, há longo tempo, esses fenômenos foram constatados envolvendo ácaros, pulgões e cochonilhas, é porque estes insetos picadores mantêm-se sobre a planta durante toda a duração de seu ciclo evolutivo e, conseqüentemente, sua multiplicação não poderia passar desapercebida. O mesmo não ocorre com certas ordens de insetos como os lepidópteros, por exemplo, submetidos a metamorfoses que exigem o abandono do vegetal. Também é importante, como veremos a propósito do tratamento do solo, registrar – graças a observadores perspicazes – proliferações de lagartas endófitas do milho, como Ostrinia nubilalis Hb, após certas desinfecções do solo. 38

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B) Desenvolvimento de doenças fúngicas Sobre este assunto, os trabalhos de JOHNSON (1946), que já citamos (CHABOUSSOU, 1972), parecem-nos exemplares. Desde aquela época o autor chamava a atenção que “a reação da planta hospedeira ao DDT podia abrir um novo rumo no que diz respeito ao estudo da resistência do trigo à ferrugem”. Como a seqüência desta obra demonstrará abundantemente, pelo menos esperamos, não é somente a ação do DDT em relação à ferrugem, mas também a de diferentes agrotóxicos quanto a suas incidências positivas sobre o desenvolvimento de várias doenças nos levarão a elucidar o determinismo da resistência da planta a seus agressores. JOHNSON (op. cit.) experimentou diversas variedades de trigo, as quais inoculou com esporos de diversas raças de ferrugem (Puccinia graminis tritici). As plantas foram, a seguir, tratadas com DDT, depois de ter sido previamente estabelecido que este inseticida não acarretava nenhum efeito direto sobre a virulência do fungo. Como conseqüência dessas contaminações artificiais, JOHNSON constatou que na variedade de trigo Khapli, todas as ferrugens tinham produzido lesões, consideravelmente, mais extensas sobre as plantas tratadas com DDT do que sobre os trigos testemunhas. Por outro lado, nesta variedade mais sensível à ferrugem, JOHNSON observou uma relação marcante entre a clorose e a extensão da doença. Parece, assim, bem demonstrado que a exacerbação da suscetibilidade do trigo à ferrugem provocada pelo tratamento com DDT é conseqüência direta das repercussões deste produto clorado sobre a fisiologia da planta. Os trabalhos de JOHNSON explicam determinadas dificuldades de controle de diversas doenças, como daremos exemplos mais adiante, quando as plantas tenham sido tratadas – isto é, “fisiologicamente condicionadas” – por meio de certos agrotóxicos. É, particularmente, o caso do oídio (Uncinula necator, Schw). Efetivamente, pudemos mostrar sobre videira, durante dois anos consecutivos que, em comparação às testemunhas tratadas com água pura, diversos carbamatos 39

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(ditiocarbamatos, como Maneb, Zineb e Propineb) tinham provocado um desenvolvimento altamente significativo de oídio (CHABOUSSOU et alii, 1966) (fig. 3). Da mesma forma, pode-se questionar a responsabilidade destes ditiocarbamatos no recrudescimento dos ataques de mofo cinzento (Botrytis cinerea) constatado há uma quinzena de anos – isto é, desde o emprego destes fungicidas sintéticos – na maior parte dos vinhedos do mundo inteiro. Demonstramos isto no desenvolvimento de nossos experimentos sobre videiras. Tais resultados, alias, só confirmam os já obtidos sobre tomate, onde o Maneb, usado contra o míldio, provocou um aumento na gravidade dos ataques de Botrytis (COX e HAYSLIP, 1956). Pesquisas análogas, conduzidas sobre morangueiros, também mostraram que as parcelas tratadas com zinco ou com Nabam + sulfato de zinco, estavam significativamente mais atacadas por Botrytis (COX e WINFREE, 1957). Veremos, no próximo capítulo, como as análises das folhas realizadas por estes autores permitirão compreender o determinismo desta suscetibilidade. C) “Dificuldades de controle”, “fracassos de tratamentos” ou, às vezes, “ineficácia dos produtos”não significam, muitas vezes, se não uma sensibilização da planta a ser protegida da doença a combater, esta produzida pelo próprio agrotóxico. 1 – Fracassos dos ditiocarbamatos contra o míldio da videira, no final da temporada A partir da utilização dos novos fungicidas sintéticos, numerosas decepções e fracassos foram registrados no controle das doenças da videira. Assim, em 1963, AMPHOUX denunciava as insuficiências do Captan, do Phaltan (2 ftalimidas) e do Zineb (2 formulações), no controle do míldio. Parece-nos útil citar: “A utilização de novos fungicidas (ou seja, as quatro formulações supracitadas) não pode ser concebida sem o 40

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risco de se ver desenvolver, intensamente, o míldio, durante o período de crescimento muito lento da videira: em agosto, setembro e outubro, caso não se tenha o recurso de uma sólida cobertura cúprica, por ocasião dos últimos tratamentos da estação”. AMPHOUX acrescentava esta observação, que nos parece muito importante: “Contudo, continua difícil precisar qual deva ser esta “sólida cobertura indispensável”, já que, em certos casos, no fim da safra, três tratamentos com calda bordalesa a 2% em videiras tratadas com Orthocide 50 (Captan) mostraram-se insuficientes”. Voltaremos mais adiante, sobre as repercussões, tanto dos produtos dessa síntese, como do cobre, que nos esclarecerão sobre a causa desses fenômenos. No momento, daremos um exemplo, dentre outros: Em 1966, DIETRICH e BRECHBUHLER observaram: “em Riesling, o míldio do fim de temporada instalou-se, principalmente, sobre as parcelas tratadas com Euparen (Dichlofuanid) e com F 263-2* (um produto experimental) e, em menor grau, sobre aquelas de Phaltan”. Observemos, por enquanto, que nestes dois casos se trata de dificuldades de fim de temporada. No caso que estudaremos agora, veremos a evolução, na eficácia de um mesmo produto no decorrer da temporada, o que nos permitirá, precisamente, explicar a razão dessa “disparidade sazonal” na ação do produto, que também é encontrada nos inseticidas. 2 – Evolução da eficácia de diversos fungicidas no decorrer da temporada, em relação ao míldio da videira Após os resultados dos ensaios do Instituto Técnico do Vinho (ITV) contra o míldio, LE NAIL (1965) observou a disparidade da eficácia dos diversos fungicidas testados em relação à doença, em função da época dos levantamentos. Retomando a questão (CHABOUSSOU, 1967), evocávamos, em Videiras e vinhos estas repercussões *

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apressadamente qualificadas de “secundárias”. Assim, observávamos: “Ora, todos estes fenômenos só se esclarecerão, a partir do momento em que conhecermos a natureza profunda das repercussões dos agrotóxicos sobre a planta e que pudermos confrontá-las com as respectivas necessidades dos fungos patogênicos e das pragas”. É chegado o momento. No decorrer destes ensaios, sete intervenções antimíldio foram realizadas, em: 25 de maio; 1º, 8, 13, 22 de junho; 1º, 10, 20 de julho e 12 de agosto. Constata-se, no curso dos diferentes levantamentos efetuados nos dias 17 de julho, 25 e 26 de agosto, 25 e 26 de setembro, 16, 17 e 26 de outubro(este último, levantamento envolvendo o peso das folhas), uma grande disparidade na ordem de eficácia dos produtos. Veremos, aqui, apenas as disparidades mais salientes encontradas com os produtos utilizados puros, ou seja: Propineb e calda bordalesa, em duas concentrações: 0,5% e 2%. Ora, em 17 de julho, época do primeiro levantamento após as sete primeiras intervenções, terminadas em 10 de julho, o Propineb (também chamado Mezineb) – um ditiocarbamato de zinco, é o primeiro em eficácia. Na mesma época, a calda bordalesa a 2% está em quarto lugar, e a 0,5% em ultimo (fig. 4). Dois outros tratamentos ocorrem nos dias 29 de julho e 12 de agosto. Os levantamentos de 25 e26 de agosto indicam que o Mezineb recua ao 8º lugar, e que descerá para o 10º e último lugar, no decorrer das observações de 23 e 24 de setembro e, l6 e l9 de outubro. Exatamente ao contrário, a calda bordalesa a 5% não cessa de progredir na ordem de eficácia, à medida que se avança na temporada. Do 8º lugar em 13 e 14 de setembro, passa a 3° nos dias 16 a 19 de outubro. Definitivamente, ela coloca-se à frente dos produtos organocúpricos como cupro-Zineb, cupro-Carbatene, e dos produtos orgânicos puros como Difolatan, Maneb e Propineb. 42

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Face à mediocridade desses resultados, dos produtos orgânicos utilizados, seja associados ao cobre seja empregados puros, não faltou invocar-se uma eventual ausência de sua persistência, se comparada à da calda bordalesa. Contudo, as análises dos produtos que persistem na superfície das folhas, absolutamente não confirmaram esta hipótese. E mais, com certos produtos “ineficazes” registra-se, entre os levantamentos de 17 de julho e 26 de agosto, 25 a 30 vezes mais manchas de míldio. As parcelas tratadas com Mezineb não apresentaram mais que 7,3% de folhas sãs em 23 e 24 de setembro. É evidente que, neste caso, absolutamente, não se trata de uma simples ineficácia dos produtos orgânicos, mas – exatamente como para oídio e Botrytis – de uma estimulação do potencial biótico do míldio provocada, indiretamente, pelas repercussões dos tratamentos repetidos com esses “fungicidas” sobre a fisiologia da planta, assunto que estudaremos ao longo do próximo capítulo. 3 – Disparidade da eficácia de Oxicarboxin e de Triforine em relação à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana, P. HENN) Trata-se de trabalhos realizados por GROVET e HALLAIRE (1973) sobre plantas em casa de vegetação. Os produtos foram utilizados em pulverização sobre a folhagem ou por irrigação do solo, à razão de 10 litros/m 2. Os autores consideraram um eventual efeito fungicida por ação sistêmica. Resultados dos tratamentos por pulverização. No momento da pulverização, os pés de crisântemo possuíam 8 a 10 folhas, e tinham de 14 a 18 na época da inoculação da doença. De modo geral, o Oxicarboxin apresenta um efeito persistente: um só tratamento, aplicado durante o período de incubação, impede o desenvolvimento da ferrugem e protege as plantas durante vários dias, uma contaminação ulterior. Entretanto, de maneira bastante excepcional, os autores avaliaram a gravidade da doença não somente em função dos produtos 43

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utilizados mas, também, segundo a idade das folhas. Assim, puderam constatar, especialmente sobre as testemunhas, uma resistência à doença nas folhas recém-formadas, semelhante à das senescentes. Ao contrário, as folhas de meia-idade (maduras) mostraram-se muito mais sensíveis à doença. Precisemos que tal fenômeno é de ordem geral, especialmente na videira, tanto para o míldio como para o oídio. Isto demonstra bem, se ainda houvesse necessidade, a importância do estado fisiológico do órgão ou da planta inteira na sensibilidade ao que se pode chamar de seus “parasitas” (fig. 5). Por outro lado, no que diz respeito ao determinismo do modo de ação dos produtos, nota-se um fenômeno particularmente interessante: a eficácia dos dois fungicidas testados revela-se muito diferente, segundo a altura de inserção da folha, isto é, segundo sua idade. O gráfico da fig. 6, montado com base nos dados da fig. 5, mostra que a eficácia da Triforine está inversamente relacionada à idade da folha, a ponto de se tornar estimulação da doença para os níveis 12 e 13, que são as últimas folhas formadas. Estes resultados, absolutamente, não são isolados: num segundo ensaio, três tratamentos foram aplicados em 26 de julho e, 5 e 16 de agosto. Ora, vinte e seis dias após o último tratamento, o número de manchas formadas, em função da idade da folha, dá um gráfico sensivelmente análogo ao do experimento precedente. Assim, a aplicação de três tratamentos ao invés de um só, à base de Informe, a 30 g/hl, permitiu a proteção da planta até uma altura mais elevada (10 folhas). A curva relativa aos ataques sobre as testemunhas evidencia a total resistência à ferrugem dos seis níveis mais baixos das folhas. Quando comparadas às testemunhas, as repercussões dos fungicidas mostram uma modificação na doença que envolve, ao mesmo tempo, sua gravidade e a altura das folhas. Se, como para o experimento precedente, se estabelece, uma comparação à testemunha, se a eficácia ocasionada pelos tratamentos produz curvas perfei44

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tamente contínuas e que mostram bem o decréscimo da eficácia dos produtos em função da juventude crescente dos tecidos foliares (fig. 6). Como no caso precedente, parece que o processo teria por efeito estimular a suscetibilidade das últimas folhas formadas na planta. Parece bem demonstrado que esta estimulação da doença – e isto tanto com Oxicarboxin como com Triforine – não seria explicável senão pelo efeito destes “fungicidas” sobre a fisiologia do crisântemo. Nessas condições, a ação anticriptogâmica destes produtos contra a ferrugem nas outras folhas não seria resultado de um eventual efeito tóxico em relação ao fungo parasita. Necessariamente, seria interferência das repercussões destes agrotóxicos sobre o estado bioquímico das folhas. Em princípio, tratar-se-ia de uma ação inversa à do DDT sobre o trigo, que estudamos anteriormente. Antecipando o próximo capítulo, pode-se presumir que estes produtos ajam estimulando a proteossíntese e, portanto, provocando a regressão das substâncias solúveis nos tecidos. Essas substâncias soluveis favorecem não apenas o desenvolvimento da ferrugem, mas também o de uma série de outras doenças (DUFRÉNOY, 1936). Ora, fenômenos semelhantes são encontrados constantemente, por menor que seja o cuidado na condução das observações. Vamos dar um último exemplo, que diz respeito ao controle do míldio do tomate. 4 – Resultados do Prothiocarb contra o míldio do tomate BEYRIES e MOLOT (1977) concluem, dos seus experimentos com Prothiocarb contra o míldio do tomate, que, nas fortes doses utilizadas, entre 1% e 2% as folhas superiores são resistentes, enquanto que as da base são sensíveis. Segundo os autores, isto significa que ou no ápice da planta há maior concentração do produto, admitindose que ele seja verdadeiramente fungicida ou, neste nível, “as modificações dos processos naturais de defesa da planta são bem mais intensos que em outras áreas”. 45

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Estes autores parecem admitir, implicitamente, que o agrotóxico pode ter modificado, favoravelmente, neste caso, a resistência da planta à doença, quando esta regride. Ou num sentido desfavorável, em caso contrário. BEYRIES e MOLOT (op. cit.) observam igualmente que: “A aplicação, no solo, do Prothiocarb aumenta a sensibilidade das folhas da base – que são as primeiras atacadas – em razão da forte umidade relativa existente neste nível”. Falaremos novamente dos fracassos propriamente ditos dos tratamentos e do desenvolvimento de moléstias fúngicas, bacterianas e viróticas relacionadas ao uso dos agrotóxicos. Poderemos tratar melhor destas questões após havermos estudado as repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e, através da teoria da trofobiose, as relações que unem a planta e seus predadores.

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Número de F. Livres hibernantes De E. carpini vitis Boisd., em 800 cm em lenho de 2 anos

Fig 1. Multiplicação do ácaro amarelo da videira, Eotetranychus carpini vitis Boisd por Carbaryl e Parathion (Carbaryl = Sévin) (CHABOUSSOU, 1969.) 47

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População do pulgão preto

Fig. 2. Multiplicação do pulgão preto da beterraba, Aphis fabae Scop., consecutiva a diversos tratamentos com agrotóxicos (Dados do Serviço da Proteção de Vegetais/experimentos de homologação de 1964.) Ordenadas logarítmicas.) 48

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Coeficiente de ataque em 400 cachos

Fig. 3. Coeficientes de ataque de oídio sobre cachos de uva, em função dos diferentes fungicidas utilizados contra o míldio. (Cepa Cabernet-Sauvignon, método de blocos, 4 repetições. Ensaios 1966, em Latresne [INRA].) 49

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Cepa peso das folhas em gramas

Fig. 4. Resultados dos experimentos de controle de míldio, conduzidos em 1964 pelo Institut Technique du Vin (ITV). Este esquema dá, em diversas datas, a ordem de eficácia dos produtos testados, por ordem decrescente da esquerda para a direita. 50

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Número médio de manchas por folhas

Fig. 5. Repercussões de dois fungicidas, Triforine e Oxicarboxin, em relação à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana), em função da idade da folha. (Segundo dados de GROUET e HALLAIRE, 1973.) – Número médio de manchas por folha, em função da sua idade e dos tratamentos aplicados em uma unica pulverização. (observação 15 dias após tratamento). 51

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Percentual de Eficácia, em comparação às testemunhas

Fig. 6. Eficácia de Oxicarboxin e de Triforine contra a ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana), e em função da idade da folha, comparada às testemunhas. (Segundo dados de GROUET e HALLAIRE, 1973.) 52

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CAPÍTULO II

FISIOLOGIA E RESISTÊNCIA DA PLANTA

“O grande erro da terapêutica moderna foi estudar a doença sem se preocupar com o terreno onde ela evolui” Dr. Albert LEPRINCE (La médicine électronique, 1962). “Este trabalho (seleção de linhagens resistentes dentro das populações) é, aliás, delicado, porque a imunidade, a tolerância e a hipersensibilidade são funções das condições do meio”. P. LIMASSET e E.A. CAIRASCHI (La lutte contre les maladies à vírus des plantes. Monografia INRA, 1941.)

INTRODUÇÃO Acreditamos ter mostrado que a proliferação de pragas e, com mais forte razão, o desenvolvimento de doenças, desencadeadas pelo uso de agrotóxicos, não poderiam ser explicados somente pela destruição dos eventuais inimigos naturais. No quarto capítulo, nos propomos a expor suas causas tão profundamente quanto possível. Já sabemos que se trata de fenômenos indiretos, que se atêm à modificação da fisiologia da planta sob a ação dos produtos fitossanitários; quer se tratem de inseticidas, de fungicidas e, com mais forte razão, dos herbicidas. Assim, coloca-se em questão o problema das relações entre a planta e o que podemos justamente chamar; seus “parasitas”. Estudando-o através de um caso particular compreenderemos melhor toda a importância das repercussões dos agrotóxicos sobre a saúde e a resistência do vegetal assim tratado... E, freqüentemente, maltratado! 55

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1. AS DUAS CONCEPÇÕES DO DETERMINISMO DA RESISTÊNCIA Pelo termo “resistência” não entendemos a capacidade da planta de suportar, sem muitos danos, o ataque deste ou daquele predador, e, pelo termo “tolerância”, a não receptividade ou imunidade (parcial ou total). Atualmente, há concordância em se reconhecer neste fenômeno uma causa sobretudo, bioquímica, e não mecânica. Contudo, duas concepções estão presentes para explicar este processo. Segundo a teoria clássica, a resistência da planta procederia da presença de substâncias antagônicas nos seus tecidos, tóxicas ou apenas repulsivas ao “parasita” em questão. Ao contrário, para nós que destacamos toda a importância da nutrição sobre o potencial biótico dos organismos vivos, a imunidade estaria, antes de mais nada, relacionada com a ausência dos elementos nutritivos necessários ao crescimento e ao desenvolvimento do parasita – seja vegetal ou animal. É a nossa teoria da trofobiose, que desenvolveremos no decorrer do próximo capítulo. É possível perguntar-se em que medida essas duas teorias não poderiam concordar entre si, já que, na presença de substâncias reputadas como tóxicas ou antagônicas nos tecidos, encontrar-se-iam, na realidade, correlacionadas à ausência de fatores nutricionais. Se isto fosse demonstrado, seria o único critério a ser considerado para a resistência da planta. Veremos em que medida justifica-se tal posição, pelo estudo de um exemplo, o da resistência do milho à helmintosporiose. 2. CONDICIONAMENTO FISIOLÓGICO DO MILHO E RESISTÊNCIA À HELMINTOSPORIOSE A) Pesquisa de fatores antagônicos O estudo de um determinado condicionamento da planta como fator de resistência à helmintosporiose foi ilustrado pelos trabalhos 56

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de MOLOT (1969) – já vimos que em suas pesquisas sobre a eficácia de um fungicida, o Prothiocarb questionava o seu modo de ação. Quanto à resistência do milho ao fungo Helminthosporium turcicum, diversos fatores foram revisados: densidade de plantio, emasculação da espiga e duração da luminosidade. O determinismo bioquímico da resistência foi pesquisado pela análise de folhas, que envolveu açúcares e fenóis, elementos provavelmente relacionados ao processo. Na França, frisa MOLOT, esta doença só afeta, raramente, as culturas de Landes e dos Pirineus-Atlânticos. Em condições naturais, a doença jamais é observada sobre plântulas. As primeiras manchas só aparecem em torno do estágio da 7ª e 8ª folha, e continuam a se desenvolver após a floração. As folhas atacadas podem se dessecar prematuramente provocando, às vezes, importantes quedas nos rendimentos. Por outro lado, as condições de luminosidade (ou seja, o fotoperíodo), como se sabe, efetivamente, podem modificar a resistência da planta às doenças fúngicas e influem sobre a suscetibilidade do milho à helmintosporiose. Assim, as plantas cultivadas sob fotoperíodos curtos são muito mais sensíveis à moléstia. Teremos ocasião de retomar este fenômeno, que não é específico nem do milho, nem da helmintosporiose. Após ter exposto estes primeiros dados, MOLOT conclui: “Parece ser a composição química da planta que exerce uma influência predominante nos fenômenos de resistência”. Portanto, não se trata de qualquer barreira mecânica no processo de resistência. Por outro lado, refere-se a diversos trabalhos, que estabelecem: a) existe um gradiente de teores em glicídios ao longo do colmo; b) essa concentração de açúcares condiciona a resistência do milho em relação a um outro fungo patógeno, Diplodia zeae. MOLOT orientou seus trabalhos sobre a pesquisa das eventuais relações entre o teor em glicídios dos colmos e a resistência a outras doenças, as fusarioses. É necessário resumir os resultados desses estudos, ainda que saiamos do caso da helmintosporiose. 57

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MOLOT (op. cit.) chega à conclusão que “quanto mais elevada for a concentração em glicídios dos colmos em fim de período vegetativo, mais baixa será a percentagem de quebra na maturidade”. (Estas conclusões resultam de observações sobre 17 linhagens, em que os teores de glicídios foram avaliados em 15 de setembro, enquanto a avaliação da quebra – que se admite estar em estreita relação com a doença – foi feita em meados de outubro, ou seja, um mês mais tarde.) Entretanto, tal conclusão não existe sem levantar certas dificuldades que não escaparam a seu autor. MOLOT completa: “Ora, os glicídios, compostos importantes da nutrição carbonada dos fungos, favorecem o crescimento miceliano. Portanto, pelo menos nas concentrações em que eles existem, não é possível atribuir-lhes um papel fungistático. Ao contrário, é permitido pensar que eles variam correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de inibir o crescimento miceliano”. Temos que subscrever esta conclusão, mas devemos confirmar, enfaticamente, que é sob um outro ângulo, bem diferente da ação de eventuais substâncias antagônicas ou tóxicas, que divisamos os problemas do determinismo da resistência. E, os resultados relatados adiante podem, aliás, conduzir-nos, como no estudo que vamos abordar,aos fatores de resistência do milho à helmintosporiose. B) O “fator A”, de BECK, e a resistência do milho à lagarta e à helmintosporiose O “fator A”, posto em evidência por BECK, no milho, determinaria a resistência à lagarta (Ostrinia nubilalis Hb). Trata-se de um produto quimicamente identificado como 6-metoxibenzoxazolinona e que teria também correlação negativa com o grau de sensibilidade à helmintosporiose. (Estimativa pelo método das médias das concentrações logarítmicas). MOLOT (op. cit.) observa: “Do ponto de vista biológico, isto significa que o comportamento do milho está na dependência da 58

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concentração do fator A nos tecidos. Notemos, entretanto, que teores muito elevados desta substância, principalmente na linhagem B 49 não tornam a planta imune. Além disto, uma linhagem ainda mais resistente que a B 49, contém muito pouco de 6-metoxibenzoxazolinona. Concluise que, se o fator A pode ser considerado como um fator de resistência à helmintosporiose, ele não intervém sozinho no mecanismo de defesa da planta”. Parece que com tais observações – cuja honestidade científica deve ser louvada – chegamos ao âmago do problema. Isto implica que a existência de uma resistência elevada do milho, mesmo com um fraco teor nos tecidos do fator A, não poderia ser considerada como uma exceção, que, em gramática, pareceria confirmar a regra.. Se elevados teores do fator A não produziriam resistência, e se em outras linhagens a resistência manifesta-se, a despeito de um baixo teor de 6metoxibenzoxazolinona (cuidadosamente identificada), é porque este produto não provoca nenhuma toxicidade em relação ao fungo patógeno. Voltamos, obrigatoriamente, à nossa concepção de resistência relacionada com a ausência ou, pelo menos, a carência dos elementos nutritivos necessários ao desenvolvimento do parasita. Em relação ao processo de resistência do milho a Ostrinia, SCOTT e GUTHRIE (1966) parecem tê-lo demonstrado perfeitamente. Suplementados com uma dieta artificial adequada, os milhos resistentes foram perfeitamente aceitos pelas lagartas de Ostrinia nubilalis. Este regime alimentar permitiu-lhes completar um ciclo perfeito, absolutamente comparável ao que poderia ter-se desenvolvido às expensas de uma linhagem suscetível. Portanto, aí está a demonstração de que, se um inseto não ataca as linhagens de milho ditas “resistentes”, é porque ele não encontra nos tecidos dessas plantas (N. do R.) os elementos nutritivos necessários para seu desenvolvimento e sua reprodução. E isto, sem que estejam presentes, obrigatoriamente, eventuais produtos tóxicos nos tecidos. 59

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Aliás, o próprio BECK parece ter-se dado conta da insuficiência de sua teoria da imunidade da planta pela existência de substâncias antagônicas; ele reconhece que “pesquisas deveriam ser empreendidas envolvendo um melhor conhecimento das relações entre a nutrição do inseto, o estado fenológico da planta e o comportamento do animal”. Bem entendido, é o mesmo processo que deve ser posto em ação no que diz respeito ao estudo das relações entre o fungo patógeno e a planta. Em outros termos, o problema consiste em determinar como o fator A pode inibir o desenvolvimento da helmintosporiose se ele não é, realmente, um fungicida (os fitopatologistas têm preferido empregar os termos anticriptogâmico ou fungistático, o que nos parece significativo). Em outras palavras – e toda a questão está aí, em relação a uma planta ou uma linhagem resistente, no caso, o milho – o fungo parasita morre envenenado ou perece de inanição? A resposta a esta questão parece estar na terceira parte do trabalho de MOLOT, que envolve o que ele denomina: “o modo de ação dos compostos fenólicos”. Revisando os trabalhos anteriores referentes à resistência do milho à helmintosporiose, MOLOT lembra que: “O crescimento miceliano em presença de compostos fenólicos depende da cultura (KIRKHAM, 1957) e da presença ou ausência de nitrogênio no meio (KIRKHAM, 1954). Assim, um aumento da relação N/fenóis diminui a toxicidade dos compostos fenólicos em relação ao gênero Venturia. Um aporte de nitrogênio afeta, não somente a toxicidade dos fenóis, mas também sua concentração na planta”. Eis aí sobre o que refletir, quanto ao mecanismo da resistência de compostos fenólicos. Se realmente agem como tóxicos, é necessário então, explicar como a adição de certos produtos nitrogenados pode ter a função de contraveneno? Sabe-se – como observa o próprio MOLOT – que certos fungos, especialmente os que atacam a madeira, usam os fenóis e seus derivados como substâncias nutritivas... 60

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Entretanto, a toxicidade dos fenóis em relação ao fungo, absolutamente não nos parece demonstrada e, o papel nutricional do nitrogênio nos parece, ao contrário, evidente no desenvolvimento e na virulência de Helminthosporium. Os fatos nos parecem muito fáceis de explicar se os consideramos sob o ângulo do crescimento e da reprodução do agente patógeno. É isto que nos propomos a estudar agora, analisando os resultados obtidos pelo tipo de fertilização sobre a resistência da planta à helmintosporiose. C) Fertilização e resistência da planta à helmintosporiose. Analisaremos antes o trabalho aprofundado de SHIGEYASU Akai (1962), relativo à influência das repercussões potássicas sobre a helmintosporiose do arroz. Anteriormente, ele observa que, certos autores,como ONO e OKAMOTO, já haviam mostrado que a aplicação de potássio provoca uma diminuição do número de manchas de Helminthosporium sobre as folhas. Os experimentos de SHIGEYASU (op. cit.) foram desenvolvidos a partir do arroz cultivado em solução nutritiva e tratado de maneira a ser submetido a excessos ou carências de N ou de K. Ora, a menor percentagem de manchas de grandes dimensões foi constatada com o tratamento “excesso de K”, enquanto a mais elevada foi encontrada nos tratamentos para “carência de K” ou “carência de N”. Por outro lado, a natureza da fertilização afeta igualmente a taxa de germinação dos conídeos. De 37,7% nas testemunhas, passa a 25,3% para o “excesso de K”, a 51,0% para a “carência de K”, a 74,3% para “o excesso de N” e, enfim, a 90,4% para a”carência de N”. Estes dados destacam a importância do condicionamento da planta pela fertilização, em relação à resistência à doença. Neste caso, evidenciam a influência primordial do nível de potássio sobre a resistência, por intermédio – como veremos agora – de suas repercussões no teor dos elementos nitrogenados solúveis nos tecidos. 61

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SHIGEYASU (op. cit.) realizou com efeito, análises de folhas (sadias e doentes); um a cinco dias após a inoculação da doença. Essas análises foram conduzidas, simultaneamente, sobre o teor de K e de diversos aminoácidos livres como glutamina, asparagina e alanina. Ora, de maneira geral, verifica-se que as folhas atingidas contêm nitidamente menos aminoácidos que as folhas sadias. Presume-se que esta deficiência resulta de seu consumo pelo fungo parasita. O autor observa que: “A taxa de germinação dos conídeos é proporcional à quantidade de aminoácidos livres contidos nas folhas e, quanto mais elevado for o teor de aminoácidos livres, mais alta será a taxa de germinação” (dos conídeos, N. do R.). Quanto ao teor de potássio nas folhas, parece ter pouca importância, ao menos a partir de um certo nível. Isto confirmaria o fato de que este elemento não agiria, por si próprio, sobre a resistência, mas por intermédio de suas repercussões sobre o metabolismo da planta. Por outro lado, registra-se “uma correlação positiva entre o teor de aminoácidos dibásicos das folhas do arroz e o crescimento das manchas de helmintosporiose”. O autor acrescenta: “Neste experimento, o teor de aminoácidos dibásicos era baixo. Ao contrário, as folhas de arroz das parcelas com carência de potássio e de nitrogênio apresentavam quantidades importantes de aminoácidos dibásicos e um número elevado de manchas de Helminthosporium, de pequenas dimensões”. Após ter observado que as folhas da parcela com excesso de nitrogênio apresentavam os teores mais elevados de alanina, SHIGEYASU (op. cit.) conclui: “Se a atividade de síntese das proteínas, a partir de aminoácidos livres, decresce nas plantas deficientes em potássio – como já foi demonstrado por diversos autores em várias plantas – este fenômeno pode favorecer o desenvolvimento de manchas sobre as folhas de arroz das parcelas com carência de potássio”. 62

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Observemos rapidamente este processo que une a sensibilidade da planta a uma deficiência na proteossíntese. Em resumo e com efeito, devido ao papel fundamental que desempenha no metabolismo da planta e especialmente nos metabolismos glicídico e fosfatado e devido ao paralelismo entre o teor de potássio e a intensidade da fotossíntese, o potássio encontra-se na base de um metabolismo ligado à resistência da planta, pelo favorecimento da síntese de proteínas e, conseqüentemente, pela regressão das substâncias solúveis que acarreta. Encontra-se, pois, na base de um metabolismo ligado à resistência da planta. Torna-se necessário precisar que o potássio não age só, mas sim segundo seu equilíbrio com os outros elementos, especialmente catiônicos (CHABOUSSOU, 1973). Assim, SHIGEYASU (op. cit.) observa, no arroz, a importância do antagonismo K/Mg. Da mesma forma deve-se considerar a influência do Mg e do P nas parcelas onde a relação K/N está desequilibrada por um excesso de N. Enfim, o autor também procedeu a ensaios de fertilização com oligoelementos. Os primeiros resultados evidenciaram que: “A sensibilidade à helmintosporiose diminui pela aplicação de iodo, zinco e manganês. Além disso, estes tratamentos parecem ter efeito favorável sobre o desenvolvimento vegetativo”. Um comentário impõe-se imediatamente: não é por acaso que esta terapia com oligoelementos age positivamente sobre o crescimento, isto é, sobre a proteossíntese. É este último processo que acarreta a resistência da planta à moléstia, por regressão das substâncias solúveis nos tecidos. Voltaremos a este ponto fundamental ao longo deste livro, especialmente no próximo capítulo. Prosseguindo sua análise, SHIGEYASU (op. cit.) precisa que o excesso de fósforo, a adição de cobalto e a carência de magnésio aumentam a sensibilidade do arroz ao Helminthosporium. Este fato levao a concluir que é absolutamente impossível discutir sobre a sensibilidade do arroz em relação a este parasita, apenas sob o ângulo da fertilização potássica. 63

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Este ponto de vista – a priori bastante evidente – encontra-se confirmado pelos trabalhos de BOGYO (1955), que tratam da influência dos aportes de potássio e cálcio sobre a aparição e a gravidade de Helminthosporium turcicum em milho. De maneira geral, enquanto o potássio aumenta a resistência, o cálcio agrava a sensibilidade. Este fenômeno parece ter relação com o equilíbrio K/Ca na planta, do que falaremos mais adiante. Um ponto importante sublinhado pelo autor: “uma vez que a planta disponha de quantidades suficientes de potássio assimilável, a cal aplicada em doses crescentes não provoca aumento da doença”. Quer dizer, esta é toda a importância dos fenômenos de troca e assimilação no metabolismo e resistência da planta. Em resumo, dois anos de experimentos permitem a BOGYO concluir: “A adubação potássica bem como o uso de esterco permitem uma diminuição significativa da gravidade dos ataques de Helminthosporium turcicum”. Retenhamos, por enquanto, este efeito benéfico da fertilização orgânica sobre a resistência da planta em relação à doença: a isto, igualmente, voltaremos ao longo desta obra. Definitivamente, os resultados de BOGYO e SHIGEYASU encontram-se para confirmar a ação benéfica da fertilização potássica, quando esta é feita num contexto nutricional da planta, caracterizado por um ótimo de proteossíntese. Ou seja, correlativamente, com a existência nos tecidos de, um mínimo de substâncias solúveis sensibilizadoras. Esta concepção de determinismo bioquímico da resistência será confirmada, a seguir, pelo estudo das relações entre determinados fatores ambientais ou culturais e a resistência do milho à helmintosporiose. D) Determinismo bioquímico das repercussões de diversos fatores sobre a resistência do milho à helmintosporiose 1 – Idade da planta Como assinalado anteriormente, as plantas jovens de milho jamais são atacadas: as primeiras manchas, com efeito, só se desenvol64

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vem ao nível da 7ª e 8ª folhas, continuando a se estender após a floração. Ora, sabe-se que em todas as folhas jovens a síntese protéica é predominante, daí ter-se um mínimo de substâncias solúveis nos tecidos. Aqui, ainda, a resistência também está ligada a um fenômeno de carência em elementos nutricionais em relação às necessidades do fungo parasita. Propomo-nos a mostrar neste trabalho que se trata de um fenômeno de ordem geral. Quanto ao processo inverso, ‘da suscetibilidade aos ataques de parasitas de diversas ordens, parece que se explica pela existência de um estado bioquímico caracterizado, ao contrário, qualquer que seja o fator em jogo, por uma proteólise dominante e pela abundância de substâncias solúveis nos tecidos. Assim se explica, notadamente, como veremos adiante, a característica sensibilidade na época da floração, tanto nos cereais como nas árvores frutíferas. Inversamente, a resistência das folhas maduras a doenças e insetos sugadores, como os pulgões, parece ligada ao fato de, nestes órgãos maduros, a maior parte do nitrogênio estar concentrada em proteínas e, conseqüente-mente, o teor em compostos solúveis ser relativamente baixo. 2 – Influência da luminosidade A energia luminosa apresenta uma influência positiva sobre as sínteses. Ao contrário, com luminosidade alterada e em penúria de água estas são reduzidas. Neste caso, a abundância de aminoácidos e ácidos orgânicos é que sensibiliza nutricionalmente a planta em relação aos organismos patogênicos. A influência da luminosidade é confirmada pelo do fotoperíodo e, portanto, em condições iguais, à da latitude. MOLOT lembra que se YOUNG et. alii. (1959) assinalam um crescimento de sensibilidade do milho à Diplodia zeae quando se desloca um mesmo híbrido de um estado do norte dos Estados Unidos, como Minnesota, para um estado mais meridional, como o 65

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Missouri ou Oklahoma, é porque a latitude diminui e, com ela, o comprimento do dia. Parece se tratar de um fenômeno de ordem geral. Assim, UMAERUS 1959) assinala que a variedade de batata “Sebago”, considerada como altamente resistente em dias longos, no Maine, mostra-se, ao contrário, uma das variedades mais suscetíveis à requeima (Phytophthora infestans) em dias curtos, na Flórida. 3 – Influência da emasculação da espiga Esta operação, segundo MOLOT (op. cit.), tem por objetivo aumentar a sensibilidade do milho em 25% em relação à helmintosporiose. Ora, o corte deste órgão reprodutor tem por resultado aumentar o teor de glicídios das folhas, porque sua migração para os órgãos reprodutores não ocorre mais. Todavia, os glicídios não são os únicos a não mais migrarem; ocorre o mesmo com os compostos nitrogenados solúveis. Como chegamos à conclusão de que, sozinho,o teor de glicídios nos tecidos não afetaria a resistência, somos induzidos a pensar que ela possa estar inversamente relacionada ao teor em compostos nitrogenados solúveis. A operação de emasculação acarreta, provavelmente, uma regressão dessas substâncias. 4 – Influência da região de cultivo Com a mudança de região, é evidente que certas condições de cultivo encontram-se simultaneamente modificadas. Isto ocorre com a latitude, sendo a energia recebida pela planta diferente. Não é impossível que esta influência possa interferir na França, apesar das diferenças de latitude estarem longe de alcançar a mesma escala que nos Estados Unidos (oito (8) paralelos, em vez de 17 nos Estados Unidos). Todavia, os departamentos de Landes e Pirineus-Atlânticos, regiões assinaladas por MOLOT como as mais atacadas pela helmintosporiose, são também as mais meridionais. Este fenômeno concordaria, portanto, com o fato de uma grande sensibilidade des66

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te mesmo milho em relação a Diplodia ou da batata à requeima, nos estados do sul dos Estados Unidos. Vimos, estudando as repercussões da fertilização potássica ou nitrogenada, que a nutrição da planta pode estar igualmente em discussão. Vimos também, a importância dos oligoelementos. Em Landes, onde a helmintosporiose ataca com maior intensidade, os solos – silicosos – são particularmente deficientes em cobre,. carência esta que tem por resultado aumentar o teor dos tecidos em produtos nitrogenados solúveis e, portanto, em elementos nutricionais suscetíveis de sensibilizar o milho em relação a diversas moléstias e especialmente à helmintosporiose. Confirmaremos estas considerações, pelas conseqüências benéficas resultantes das correções do solo e de pulverizações cúpricas ou à base de complexos de oligoelementos, em relação àquilo que se pode chamar “estado geral” da planta e sua resistência contra toda uma gama de doenças ou pragas. 3. DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES REFERENTES ÀS RELAÇÕES ENTRE O MILHO E A HELMINTOSPORIOSE A respeito da podridão do colmo, provocada pelos ataques das fusarioses, MOLOT (op. cit.) evidenciou uma correlação altamente significativa entre o teor em glicídios dos colmos em 15 de setembro e as percentagens de quebra em meados de outubro, isto é, correspondente aos danos de Fusarium. Entretanto, MOLOT, muito justamente, observa que, como os glicídios são elementos importantes da nutrição carbonada dos fungos, não seria possível lhes atribuir qualquer papel fungistático. Ao contrário, diz ele, e sempre com a mesma preocupação de explicar a resistência pela presença de um produto tóxico ao patógeno nos tecidos (fitoalexina), acrescenta: “Pode-se pensar que eles (os glicídios) variam correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de inibir o crescimento miceliano”. 67

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Em resumo, podemos constatar que, mesmo munida de estudos estatísticos (com transformações angulares), a hipótese do papel dos glicídios como inibidores ou fungistáticos em relação às fusarioses não se confirmou. Por outro lado, MOLOT observa que MESSIAEN (1957), “trabalhando sobre um material mais heterogêneo, não obteve uma relação linear entre o índice refratométrico e a percentagem de colmos doentes”. Por outro lado, MOLOT assinala duas séries de trabalhos que põem o nitrogênio em questão. Primeiro TURK et alii. (1957) estabeleceram que, ao nível dos colmos e dos pedúnculos da espiga, o material sensível aparece sempre deficitário emcarboidratos, e que existe uma correlação entre a resistência a Diplodia e a relação N/sacarose. Quanto às pesquisas de KIRKHAM (1954-1957), elas evidenciam que “o crescimento miceliano em presença de compostos fenólicos – reputados como inibidores – depende também, como para a helmintosporiose, da idade da cultura e da presença ou ausência de nitrogênio no meio”. Assim: “Um aumento da relação N/fenóis diminui a toxicidade dos compostos fenólicos em relação ao gênero Venturia”. Esta é, pelo menos, a interpretação do pesquisador sobre os fatos. É curioso se constatar que, apesar da impossibilidade de evidenciar qualquer fator antagônico, o autor obstina-se na procura de eventuais compostos tóxicos face ao fungo parasita, como se uma toxicidade fosse o único meio de inibir seu desenvolvimento. A importância das relações de elementos onde o nitrogênio aparece como numerador, em relação ao crescimento dos patógenos, deveria orientar as conclusões para uma direção totalmente diferente! Uma vez que o excesso de glicídios e mesmo de fenóis não conseguiria explicar a inibição do crescimento miceliano, deveríamos perguntar-nos se esta inibição não poderia resultar de uma carência nutricional e, no caso, de uma insuficiência em certos elementos nitrogenados. 68

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Em outras palavras: a função positiva entre o valor da relação N/ fenóis e a virulência do fungo resultam, não da eventual toxicidade dos fenóis face ao patógeno, mas sim do efeito positivo do nitrogênio sobre seu desenvolvimento. Aliás, foi exatamente a esta conclusão que fomos conduzidos pelo estudo da virulência da helmintosporiose em relação ao arroz, provocada por diversos tipos de fertilização; da mesma forma que pela análise do determinismo bioquímico das repercussões de diferentes fatores do meio ou dos tratosculturais sobre a resistência do milho à mesma doença. Esta concepção do determinismo da resistência da planta, baseada nos elementos nutricionais que ela pode oferecer ao parasita, será amplamente verificada ao longo deste trabalho. Tratase da nossa teoria da trofobiose, que nos propomos a expor e estudar no curso do próximo capítulo. BIBLIOGRAFIA BECK S.D. 1965. Resistance of plants to insects. “Ann. Rev. Ent.”, pp. 207-282. BOGYO Dr. 1955. L‘effet des apports de potassium et de chaux sur l’apparition de l‘Helminthosporium turcicum chez le Mais. “Revue de la Potasse”, outubro de 1955. KIRKHAM D.S. 1954. Significance of the ratio between the water soluble aromatic and nitrogen constituents of apple and pear in the host parasite relationships of Venturia species. “Nature”, 173, pp. 690-691. KIRKHAM D. S. 1957. The significance of polyphenolic metabolites of apple and pear in the host relations of Venturia inaequalis and Venturia pirina. “J. gen. Microbiol.”, 17, p. 491. MIESSIAEN C.M. 1957. Richesse en sucre des tiges de Mais et Verse parasitaire. “Rev. Pathol. veg. Entomol. agric.”, 36, 4, pp. 209-213. MOLOT P.M. 1969. Recherches sur la résistance du Mais à l’Helminthosporiose et aux Fusarioses. “Ann. Phytopartho”: (I) Rôle de la composition chimique de la Plante, pp. 55-74. (II) Facteurs de résistance, pp. 353-366. (III) Mode d ‘action des composés phénoliques, pp. 367-383. SCOTT G.E. et GUTHRIE W.D. 1966. Survival of European corn borer larvae 69

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on resistant com treated with nutritional substances. “J. Econ. Ent.”, pp. 12651267. SHIGEYASU Akai. 1962. Application de potasse et apparition d Helminthosporiose sur Riz. “Revue de la Potasse”, section 23, 7 p. De TURK E.E., EARLY E.B., HOLBERT J.R. 1937. Resistance of com hybrids related to carbohydrates. “III. Agric. exper. Stn. Ann. Rept”, 49 (1936), pp. 43-45. UMEARUS V. 1959. The relationship between peroxydase activity in potato leaves and resistance to Phytophthora infestans. “Amer. Potato J.”, 36, pp. l24-l3l. YOUNG H.C., WILCOXON R.D., WHITEHEAD M.D., de WAY J.E., GROGAN C.O., ZUBER M.S. 1959. An ecological study of the pathogenecity of Diplodia maydis isolates inciting stalk rot of corn. “Plant Dis. Rept.”, 43, pp. 1124-1129.

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CAPÍTULO III

A TEORIA DA TROFOBIOSE

“Num programa de controle integrado, os fatores tróficos deverão ser amplamente considerados: fungicidas e inseticidas não deverão mais ser selecionados, quando com igual eficácia, unicamente segundo sua relativa inocuidade aos inimigos naturais das pragas, mas também em função de sua ação profunda sobre a planta e considerando-se suas eventuais repercussões por trofobiose sobre a dinâmica das populações de pragas”. Pierre GRISON Princípios e métodos de controle integrado (Accademia Nazionale dei Lincei. Quaderno no 128, pp. 211-230. Rome, 1968)

1. A “TROFOBIOSE” COMO TEORIA DA RESISTÊNCIA DA PLANTA O caso estudado no capítulo precedente, envolvendo o determinismo da resistência de diversas plantas à helmintosporiose, mostrounos a impossiblidade de evidenciar a eventual existência de qualquer fator antagonista a este fungo. Inúmeras vezes a hipótese das “fitoalexinas” ou “alexinas” (literalmente: compostos de proteínas) como explicação do fenômeno da imunidade foi posta em dúvida por diferentes pesquisadores. Assim, WOOD (1972) chama a atenção contra esta hipótese precisando que “se existem numerosas asserções segundo as quais a resistência seria ligada à presença de tais toxinas nas plantas sãs, a maior parte delas não são muito convincentes”. No que diz respeito à resistência do milho a Helminthosporium 71

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turcicum, OBI (1975) observa que numerosos tipos de resistência a este fungo não poderiam ser imputados a uma eventual produção de fitoalexinas. Por outro lado, KIRALY et alii. (1972) salientam que certas observações sobre as ferrugens do trigo (Puccinia recondita Rob e Desm. e P. graminis Pers.) conduzem ao conceito da “resposta hipersensitiva” de uma planta hospedeira à infecção. Este tipo de resistência é caracterizado pela desorganização, escurecimento e morte (necrose) das células nos locais da infecção. Estes mesmos autores fazem o relato de experiências mostrando que a necrose hipersensitiva em relação à produção de uma fitoalexina é apenas uma conseqüência e não a causa da resistência da batata e feijão a Phytophthora infestans e do trigo às ferrugens. Eles concluíam assim: “Em outras palavras, na interação natural de incompatibilidade hospedeiro-patógeno, não era a necrose dos tecidos do hospedeiro que inibia ou impedia o patógeno de prosseguir seu crescimento, mas, antes da necrose, um ou vários mecanismos desconhecidos que inibem ou mesmo matam o patógeno”. É o estudo dos fatores de sensibilidade da planta que nos ajudará a dissecar as causas do fenômeno inverso, o da resistência. Para tanto, torna-se necessário retomar os trabalhos do patologista francês DUFRÉNOY, ao qual a Academia de Agricultura acaba de prestar uma homenagem. DUFRÉNOY (1936), analisando as repercussões de diferentes fatores culturais sobre a resistência da planta, como as fertilizações e adubações orgânicas, ressalta que: “O que varia na célula é a concentração de determinadas substâncias absorvidas do meio exterior; em condições desfavoráveis à sua utilização, estas substâncias podem se acumular nas soluções ditas ‘vacuolares’, na forma de sal mineral ou ácidos orgânicos”. DUFRÉNOY precisa que estas “condições desfavoráveis” podem ser decorrentes de desequilíbrios na adubação, tanto dos macronutrientes, como os “clássicos” N, P, K, ou dos oligo-elementos. Transcre72

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vemos a causa de sensibilidade, tal como concebido por DUFRÉNOY: “Toda circunstância desfavorável à formação de nova quantidade de citoplasma, isto é, desfavorável ao crescimento, tende a provocar, na solução vacuolar das células, um acúmulo de compostos solúveis inutilizados, como açúcares e aminoácidos; este acúmulo de produtos solúveis parece favorecer a nutrição de microorganismos parasitas e, portanto, diminuir a resistência da planta às doenças parasitárias”. (fig.7)

Fig. 7. Célula vegetal (folha de Helodea canadensis) . (Segundo GUINOCHET, 1965.)

Em outras palavras: um estado de proteólise dominante nos tecidos conduz a uma sensibilidade em relação aos parasitas. Esta concepção, efetivamente, parece confirmada pela análise do fenômeno inverso: o da resistência. Assim, TOMIYAMA (1963), analisando os fenômenos fisiológicos e bioquímicos da resistência das plantas, assinala que a fungo-toxicidade dos compostos fenólicos, “admitindose que ela exista, não é muito elevada”, e que os outros grupos importantes de toxinas também não são altamente tóxicos. Seus próprios experimentos referentes a Phytophthora infestans parasitando

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as células epidérmicas das folhas de batata mostram que a maior parte das hifas intracelulares continuam vivas quando sobrevém “a morte hipersensível”. Estas hifas intracelulares parecem precisar de dez horas ou mais para morrerem, após a morte hipersensível da célulahospedeira. Em resumo, tudo leva a crer que, sem nenhuma intoxicação, o fungo parasita morre simplesmente de inanição. Deduz-se, conseqüentemente, que a resistência da planta deveria ser inerente a um ótimo de proteossíntese. É, efetivamente, o resultado da análise de TOMIYAMA (op. cit), tendo registrado que “observouse um aumento das proteínas nos tecidos resistentes”. É, também, isto que sugere outra observação do mesmo autor: “O acúmulo de amido, o aumento de protídeos, os compostos fenólicos e a respiração indicam que os materiais transportados estão relacionados com um metabolismo acelerado no tecido que se mostra resistente ao ataque de parasitas”. Assim, não é devido a qualquer efeito tóxico dos compostos fenólicos que se exerce a resistência, mas sim como conseqüência de uma carência de elementos nutricionais solúveis. A própria carência é resultante de um estímulo da proteossíntese, que é acompanhada da produção de fenóis. Aliás, TOMIYAMA termina seu trabalho observando a necessidade de mais estudos profundos relacionados aos fatores nutricionais. Parece justificada nossa concepção da trofobiose, segundo a qual: “Todo o processo vital encontra-se sob a dependência da satisfação das necessidades do organismo vivo, seja ele vegetal ou animal” (CHABOUSSOU, 1960). Em outras palavras, isto significa que a planta ou, mais precisamente, o órgão será atacado somente na medida em que seu estado bioquímico, determinado pela natureza e pelo teor em substâncias solúveis nutricionais, corresponda às exigências tróficas do parasita em questão. É útil observar que estas relações de ordem nutricional já haviam sido suspeitadas em 1956 por GARBER. Esse autor escreveu: “Se o 74

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parasita prolifera ou metaboliza extensivamente num hospedeiro, o hospedeiro deve fornecer todos os elementos nutritivos requeridos pelo parasita; pela mesma razão, um hospedeiro suscetível apresenta um ambiente inibidor ineficaz”. GARBER (1956) fornece o exemplo de alterações na virulência de mutantes bioquímicos de Klebsiella pneumoniae. Os mutantes que necessitam de treonina, tirosina, leucina, histidina ou uracilo guardam sua virulência. Ele conclui que a relação nutricional encontrase, assim, perfeitamente demonstrada. Ele continua: “Se o parasita não pode proliferar ou metabolizar exclusivamente no hospedeiro, ele não pode ser virulento”. Gostaríamos de fazer aqui uma segunda observação em relação às substâncias solúveis como elementos nutricionais indispensáveis aos diversos parasitas. É óbvio que afirmando isto não pretenderíamos que todos os parasitas – como ácaros, insetos, fungos parasitas ou vírus – sejam tributários de um regime alimentar idêntico. Na realidade, isto seria testemunhar uma profunda falta de conhecimento da diversidade das necessidades nutricionais destes vários organismos. Todavia, todos estes organismos – que se pode qualificar de “inferiores” –, devido a seu equipamento enzimático, exigem alimentar-se de substâncias solúveis, as únicas capazes de assimilarem. Assim, é graças a um estado predominante de proteólise nos tecidos da planta, que pode ser conseqüência de diversos fatores – entre os quais os tratamentos com agrotóxicos – os quais nos ocuparemos de estudar nos próximos capítulos- que o parasita encontra os elementos solúveis que lhes convém. Por isso é capaz de crescer e se multiplicar numa planta já prejudicada no seu crescimento normal. A seguir, vamos expor nossos conhecimentos relativos às necessidades nutricionais das principais pragas e dos fungos patógenos. As exigências dos vírus serão tratadas no quinto capítulo, consagrado a essa grave questão. 75

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2. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DOS “PARASITAS” ANIMAIS* Com o estudo do que determina a seleção da planta pelo inseto ou ácaro, podemos afirmar que estamos no âmago da entomologia agrícola. De início, coloca-se uma questão fundamental: a escolha do animal é devida a uma resposta a fatores atrativos ou repulsivos emitidos pela planta, ou esta se encontra selecionada pela superioridade que oferece ao fitófago? São numerosos os trabalhos desenvolvidos para responder a esta questão tão delicada, que exige muita atenção para não se cair na armadilha do finalismo. Entretanto, diversos métodos de pesquisa foram colocados em jogo. Citamos, especialmente, as observações dos insetos em seu meio natural, sua ação predadora, o exame do divertículo esofágico e dos excrementos, as adaptações estruturais, os métodos histológicos e determinados métodos especiais, dos quais o mais recente é dos mais interessantes: criações sobre meios nutritivos artificiais ou sintéticos. Assim, diversos autores puderam mostrar a estreita relação existente entre a morfologia das mandíbulas de Acridae e de Tettigonidae e as formas de sua apreensão do alimento. Isto se constitui na demonstração das relações que unem a anatomia do inseto ao seu comportamento alimentar e à sua nutrição. Todavia, em relação à descoberta e ao ataque da planta, dois tipos de resposta do inseto foram distinguidos. O inseto seria governado por dois tipos de estímulos: a) Os “token stimuli” (ou estímulos sinais), cuja natureza pode ser olfativa ou gustativa, mas cuja característica seria acusar a presença de produtos desprovidos de qualquer valor alimentar nos tecidos da *

Segundo certos puristas, o termo “parasita” deveria ser reservado aos inimigos naturais das pragas, que usam o corpo destas para efetuar uma parte de sua evolução. Contudo, decidimos conservar este vocábulo para designar as próprias pragas, pois caracteriza bem a natureza das relações que ligam a planta e os organismos – sejam eles quais forem – que vivem às suas expensas.

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planta. Entre estes, pode-se citar: os glicosídeos, os alcalóides, as saponinas, os óleos essenciais, os taninos etc. b) Os estímulos gustativos, que respondem à existência de fatores nutricionais, tais como glicídios, protídeos, vitaminas etc. É de duvidar que as controvérsias sobre a respectiva ação dessas duas categorias de estímulos não tenham sido desprovidas de intenções extracientíficas. Por exemplo, em relação à infalibilidade, real ou suposta, do que foi convencionado chamar de instinto. THORSTEINSON (1957) mostrou que os “token stimuli” exercem sua máxima ação sensorial em relação a uma dieta quando esta apresenta o maior valor nutritivo. Foi o que vimos com os trabalhos de SCOTT e GUTHRIE, no capítulo precedente. Esses autores conseguiram fazer as lagartas de Ostrinia nubilalis consumirem os milhos reputados resistentes, suplementando-os com uma dieta adequada. É, também, o que se verifica nos trabalhos de KENNEDY (1951), sobre pulgões, que “Há uma espécie de discriminação sensorial exercida pelos pulgões que está associada ao desenvolvimento fisiológico das plantas, mais do que à classificação botânica, e que está ligada à nutrição dos afídeos, quando esta é avaliada pela fecundidade”. Esta discriminação é exercida especialmente em função da idade da folha de uma mesma planta. Assim, KENNEDY (op. cit.) observa que as folhas em crescimento e as senescentes mostram-se mais suscetíveis, em relação a Myzus persicate e Aphis fabae, que as folhas maduras das mesmas plantas. A hipótese para explicar tais efeitos é que a nutrição oferecida por esses dois tipos de folhas é especialmente rica em compostos orgânicos nitrogenados solúveis e de alto valor nutritivo: aminoácidos livres e amidos. Estes compostos formam-se especialmente nas partes em crescimento (com diferentes nuances entre as folhas muito jovens e jovens), e quando do período de senescência, quando os protídeos dissociamse em aminoácidos. A proteólise, então, predomina sobre a proteossíntese (KENNEDY, 1958). 77

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Deve-se, também, notar a preferência dos pulgões por galhas e plantas atacadas por moléstias viróticas. Assim, Aphis fabae reproduzse cerca de uma vez e meia mais rápido sobre plantas com estas doenças que sobre plantas sãs. Veremos novamente este fenômeno, ligado à composição bioquímica da planta, quando estudarmos as doenças viróticas. Esta correlação entre a escolha da planta pelo animal e seu valor nutricional é encontrada, igualmente, em outros insetos como, por exemplo, o bicho-da-seda (Bombyx mori) ou nos ácaros (CHABOUSSOU, 1969). Trata-se de determinar, o mais precisamente possível, não apenas os elementos nutricionais que entram em jogo, e que sabemos serem, de maneira geral, produtos solúveis (aminoácidos e glicídios redutores), mas também seu equilíbrio no metabolismo móvel da planta. Agora, vamos examinar o que sabemos sobre as necessidades nutricionais das principais ordens de insetos. De uma maneira geral, os insetos têm necessidade de: 1. Sais minerais: o potássio é indispensável aos coleópteros, lepidópteros, dípteros e blatários. 2. Glicídios: as necessidades são muito variadas. 3. Aminoácidos: foi possível mostrar que dez aminoácidos são comuns aos insetos e aos vertebrados. A diferença reside em que, nos insetos, estes aminoácidos devem estar disponíveis sob forma livre, e não sintetizados em protídeos ou proteínas mais complexas, como para os vertebrados. 4. Lipídios: numerosos insetos são capazes de sintetizar suas reservas lipídicas a partir de hidratos de carboidratos. 5. Esteróis: os insetos são incapazes de sintetizar o núcleo esterol e devem, portanto, encontrá-lo obrigatoriamente na sua dieta. Assim, a produção de ovos viáveis de Musca domestica exige a presença de colesterol, já que outros esteróis são incapazes de substituí-lo (BERGMANN, 1965). Confirmando esta ação, LE BERRE e PETAVY (1965) puderam mostrar a relação entre a presença de 78

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esteróis no meio nutritivo e a viabilidade dos ovos de Locusta migratoria. Os autores HARLEY e THORSTEINSON (1967) experimentaram 20 produtos químicos vegetais, estudando o desenvolvimento da longevidade e do comportamento alimentar de um gafanhoto, Melanotus bivittatus Say. Concordando com os resultados apresentados, eles concluem que “no comportamento alimentar deste inseto, o papel dos produtos químicos secundários é informá-lo sobre as dietas a escolher”. Os esteróis mostraram o maior efeito, simultaneamente, sobre o comportamento alimentar, a longevidade e o crescimento do gafanhoto. Assim, chega-se à hipótese de que a distribuição dos esteróis na planta poderia fornecer o mecanismo das relações entre o inseto e a planta-hospedeira. Estudando o caso dos ácaros, veremos que também reagem positivamente à presença de esteróis na dieta. Ë necessário observar que as repercussões dos esteróis foram muito menos estudadas que as dos aminoácidos ou glicídios e, por outro lado, os quais veremos a importância,conforme mostraram DUPEYRON e DUPEYRON (1969), o enriquecimento da planta em nitrogênio protéico é acompanhado de um aumento de esteróis. 6. Vitaminas: somente as vitaminas do grupo B, hidrossolúveis, são indispensáveis aos insetos. Os meios nutritivos artificiais contêm, ordinariamente, dez vitaminas. Os equilíbrios nutricionais Dos diferentes fatores nutricionais antes enumerados, os glicídios e os aminoácidos foram os mais estudados e, especialmente, as repercussões de seu equilíbrio sobre o potencial biótico do inseto em questão. A princípio, distinguimos os alimentos energéticos, que mantêm a vida – trata-se principalmente dos glicídios – e alimentos plásticos, 79

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necessários à formação de novos tecidos, que são os produtos nitrogenados. Contudo, observou-se que esta distinção não é absoluta: os carboidratos podem ser necessários para a utilização das proteínas da dieta. As experiências conduzidas com soluções nutritivas artificiais parecem confirmar este fato, tanto do ponto de vista da preferência quanto do nível do potencial biótico. Esses trabalhos referem-se principalmente a pulgões, mas também a alguns outros insetos e ácaros. Em relação aos pulgões, recordaremos as pesquisas de MITTLER e DADD (1965) com Myzus persicae. Elas estabeleceram que, se o açúcar é fundamental para a vida larval, uma mistura de aminoácidos essenciais, potássio, magnésio e fosfatos é necessária para que se produza um crescimento apreciável. Sem aminoácidos a longevidade permanece inalterada, mas a fecundidade é muito baixa. MITTLER (1967) observa o efeito fago-estimulante dos açúcares: a nutrição é medíocre ou inexiste nas dietas que apresentam um baixo teor em sacarose (menos de 5%). O mesmo ocorre com baixas concentrações em aminoácidos (menos de 1%). Para a sacarose, a escala ótima situase entre 10 e 20%. Para os aminoácidos, a ingestão do alimento aumenta com as concentrações crescentes na dieta, indo até 3%. Após este limite, ela decresce levemente. O autor observa que isto explica as diferenças nos ataques em função da época, já que as concentrações em sacarose e aminoácidos variam ao longo de todo o ano. Acrescentaremos que o mesmo ocorre com todos os outros fatores suscetíveis de agir sobre a fisiologia da planta, como vimos antes, especialmente os tratamentos com agrotóxicos e a fertilização. São considerações análogas que desenvolve HOUSE (19671969), após ter estudado o comportamento alimentar da mosca Pseudosarcophaga affinis, em relação a dietas sintéticas. Os resultados mostram uma preferência nítida por uma dieta equilibrada. Esse autor especifica “que os fatores não nutricionais, como óleos essenci80

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ais, glicosídios etc... e, suscetíveis de atuar sobre a atratividade por seu gosto, odor ou cor, e outros ‘token stimuli’, absolutamente não são responsáveis pela preferência”. Em resumo, a escolha do inseto recai sobre uma dieta bem determinada: a dieta F, contendo l,125% de aminoácidos e 1,5% de glicose. A aptidão de elaborar as proteínas depende do equilíbrio da dieta, especialmente dos aminoácidos, sais e os outros elementos nutritivos, como a composição em minerais. Estes resultados foram confirmados por diferentes pesquisadores e voltaremos a eles, quando estudarmos as repercussões dos agrotóxicos sobre a multiplicação de pulgões. O estudo do comportamento dos lepidópteros conduz às mesmas conclusões. Assim, vimos que a resistência do milho à lagarta de Ostrinia nubilalis não pode ser explicada por eventuais efeitos tóxicos de uma substância que estaria presente nos tecidos. Ao contrário, BECK e HANCE (1958) mostraram que um determinado número de aminoácidos tem efeitos significativos em relação ao comportamento de nutrição dos primeiros estágios larvais da lagarta. Assim, a duração média dos períodos de ingestão do alimento é aumentada por um determinado número de aminoácidos, particularmente pela L-alamina, o ácido de £-aminobutírico, a L-serina e a L-treonina. Sem dúvida, não é necessário procurar em outro lugar a causa do ataque em milhos reputados resistentes, quando são artificialmente suplementados por uma dieta adequada que contenha estes elementos nutricionais- como tivemos a oportunidade de assinalar antes (SCOTT e GUTHRIE, 1966). Ainda nos lepidópteros, KNAPP et alii. (1965) observaram que as linhagens de milho resistentes a Heliothis zea não apresentavam nenhuma diferença na composição das proteínas em aminoácidos. Essas linhagens resistentes mostraram nas amostras não protéicas, uma concentração menor em aminoácidos, em relação às linhagens suscetíveis que, ao contrário, revelavam concentrações muito elevadas. 81

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O mesmo ocorre com os açúcares redutores: uma linhagem suscetível, MP17 x MP319, tem 22,53% desses açúcares, em relação ao peso de matéria verde, enquanto uma linhagem resistente, como F44 x F6, tem apenas 15,03%. Também o estudo do comportamento alimentar da lagarta do algodoeiro, Earias fabia, mostrou que são as diferenças nos teores em aminoácidos das diversas dietas que explicam sua utilização pelas larvas, com repercussões inerentes sobre o crescimento (MEHTA e SAXENA, 1973). A própria natureza dos aminoácidos também intervém. Os experimentos referentes às preferências alimentares de trips, conduzidos com duas espécies, sobre videiras e mamona, mostraram que as videiras atacadas apresentavam uma ausência total de lisina, histidina e tirosina. MARDZHANJAN et alii. (1965), estudando a causa da multiplicação do ácaro Tetranychus urticae pelo DDT, sobre algodoeiro, observaram o desaparecimento de certos aminoácidos livres, especialmente a histidina, entre outras perturbações bioquímicas. Ainda referente aos trips, SAXENA (1970) evidenciou que as variedades de cebola resistentes continham glicina, histidina e cistina. Isto parece, pois, ser uma confirmação do papel “dissuasivo” de um aminoácido como a histidina. Assinalaremos enfim, antes de passarmos ao caso dos ácaros, que existe uma correlação positiva direta entre as espécies de plantas selecionadas pelos acrídios e seu valor, no que se refere à longevidade, ao crescimento e ao potencial de reprodução desses insetos (MULKERN, 1967). Os ácaros foram mais especificamente estudados devido a suas multiplicações após os tratamentos com numerosos agrotóxicos. Diversos métodos de pesquisa foram utilizados como as repercussões da fertilização, e dos agrotóxicos, a criação sobre plantas (elas mesmas condicionadas por determinadas soluções nutritivas) e, enfim, a criação direta sobre meios nutritivos artificiais. 82

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Freqüentemente, o nitrogênio solúvel foi questionado (CHABOUSSOU, 1969). A espécie Tetranychus urticae, fácil de criar, foi particularmente estudada. STORMS e NORDDINK (1970), a propósito do teor de aminoácidos nas plantas, precisam que o substrato dos ácaros é constituído pelo conteúdo vacuolar das células. Para os ácaros, como para os insetos, são exatamente as substâncias solúveis que interferem nas repercussões nutricionais da dieta. Segundo RODRIGUEZ (1967), T. urticae seria capaz de sintetizar numerosos aminoácidos a partir da glicose: como alanina, ácido aspártico, cistina, ácido glutâmico, glicina, prolina, serina e treonina. Para esta espécie de ácaros, os aminoácidos essenciais seriam arginina, histidina, isoleucina, leucina. metionina, fenilelanina, tirosina e valina. Assim, estaria confirmado, como observa RODRIGUEZ, que, qualitativamente, as necessidades em aminoácidos dos ácaros são iguais, não apenas às dos insetos, mas também, e, grosseiramente, análogas às do rato. Entretanto, as substâncias nitrogenadas não constituem os únicos elementos nutricionais dos ácaros: os glicídios também intervêm, como demonstrado inicialmente por FRITZCHE (1961). Assim, no feijão, a fecundidade de T. urticae difere segundo a variedade e está em estreita relação com o teor de açúcares redutores nas folhas. Quadro 1. Fecundidade de T. urticae, em função da variedade de feijão e do teor de açúcares redutores nas folhas. Fecundidade

Variedades de feijão

Açúcares redutores(mg/g mat. seca)

Alta

Saxa

10,44

Média

Goldregen

8,24

Baixa

Prinsa

3,90

FRITZSCHE explica, igualmente, as diferenças de fecundidade do mesmo ácaro em relação a diversas hortaliças, bem como a influ83

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ência do estado fisiológico da planta – o lúpulo, no caso – sobre a gravidade dos ataques. O mesmo autor também evidencia um fenômeno ao qual voltaremos: a influência de certas práticas culturais sobre a multiplicação do ácaro vermelho, Panonychus ulmi Koch, em macieiras. Trata-se da natureza da adubação: a cobertura morta de palhas propicia populações relativamente fracas, em comparação a uma fertilização à base de adubos verdes. FRITZSCHE (op. cit.) também mostrou que em feijão a carência em potássio acarreta uma elevação no teor de açúcares redutores. Daí o efeito nefasto de numerosas adubações desequilibradas (fig. 8). A influência do estado fisiológico da planta sobre a nocividade do ácaro foi diversas vezes demonstrada, especialmente por POE (1971). O autor observa que em morangueiro T. urticae multiplica-se de uma forma mais acelerada sobre plantas com frutos que sobre morangueiros em crescimento e sem frutos. Ora, na análise, as folhas das plantas com frutos mostraram níveis mais altos de sacarose, em comparação às plantas sem frutos. Efetivamente, DABROWSKI (1973) mostrou, após RODRIGUEZ, que um certo número de açúcares apresentaram um efeito de fagoestimulação significativamente mais elevado que o mais eficaz dos aminoácidos utilizado isoladamente. MEHROTRA (1963) demonstrou que T. urticae possui numerosas glucosidases capazes de hidrolisar diversos carboidratos, como maltose, sucrose, trealose, melilose, lactose, melisitose e rafinose. Da mesma forma, esse trabalho sugere que T. urticae contém todas as enzimas necessárias para a utilização das fostato-hexoses no processo de Embden-Meyerhof, exceto a desidrogenase lática. Chega-se à conclusão de que são, antes de tudo, as relações entre as substâncias nitrogenadas e os glicídios que determinam, tanto a suscetibilidade da planta ao ataque, como a fecundidade do ácaro. RODRIGUEZ (1967) demonstrou que os elementos nutritivos 84

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servem, efetivamente, de estimulantes de nutrição e que, pelo menos numa primeira aproximação, um certo equilíbrio entre aminoácidos e glicídios assegura o máximo de fecundidade. Assim, os ensaios de criação sobre dieta artificial mostraram que se a longevidade de T. urticae é aumentada abaixando-se o nível de aminoácidos a 0,5% e mantendo-se o da sacarose em 2%, a fecundidade e a fertilidade são reduzidas em média de 50%. A dieta ótima para o desenvolvimento dos ovos apresentaria uma proporção aminoácidos/sacarose de 1,5 a 2%. Acrescentemos que, como nos insetos outros fatores alimentares estreitamente ligados também repercutem sobre a reprodução e o ataque à planta. Isto ocorre com os elementos fosforados (CANNON e CONNEL, 1965). Determinadas contradições parecem se explicar pela natureza do metabolismo da planta e em função das respectivas proporções dos diversos elementos nutritivos. Assim, HENNEBERRY (1963) registra uma maior fecundidade de T. telarius (igual a T. urticae) com o aumento do N fornecido e absorvido e, ao contrário, uma redução no teor do P e do total de carboidratos. A contradição com certos resultados precedentes do autor, segundo ele próprio, se explicaria porque, neste estudo, o total de carboidratos e de fósforo estão em correlação negativa com o nitrogênio absorvido. Ora, nas plantas deficientes em nitrogênio, um teor elevado em glicídios implica uma queda na formação de proteínas. Isto também explicaria que nos estágios ulteriores da planta, quando o tamanho das folhas é função das possibilidades fotossintéticas, o efeito inverso pudesse se produzir. Na conclusão desse estudo, relativo às necessidades nutricionais dos insetos e dos ácaros, os pontos principais que se destacam podem ser assim resumidos: 1. A suscetibilidade da planta é função da existência de fatores nutricionais em seus tecidos, especialmente elementos solúveis presentes no vacúolo das células e, em particular, aminoácidos e glicídios 85

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redutores, como no caso de moluscos e crustáceos. Parece bem estabelecido que numerosos insetos e ácaros sejam desprovidos de todo poder proteolítico. 2. Como pensamos ter demosntrado, parece, em uma primeira aproximação, que, um certo equilíbrio entre os elementos nitrogenados e os glicídios seja necessário para assegurar, a cada espécie animal, uma dieta ótima para seu crescimento e sua reprodução. Entretanto, a própria natureza destes elementos pode interferir, já que as diferentes espécies não têm exigências nutricionais idênticas, como seria fácil de prever. 3. Vimos também, rapidamente, diversos fatores, ambientais ou da natureza da planta, que confirmam a influência da nutrição sobre a suscetibilidade. Além da variedade, a idade da folha, a época do ano e a natureza da fertilização, todos estes, fatores os quais voltaremos a mencionar. 4. Com o caso de Ostrinia nubilalis, viu-se como SCOTT e GUTHRIE (1966) puderam tornar sensível um híbrido resistente, suplementando-o com uma dieta nutricional adequada (contendo principalmente ácido ascórbico, além de outras substâncias nutritivas). Isto levou os autores a concluírem que: “Os experimentos de criação mostram que, apesar das larvas comerem folhas podendo conter a toxina ou o repulsivo (tese de BECK), elas continuam a sobreviver e a se desenvolver rapidamente”. Isto constitui a demonstração de que a resistência encontra-se realmente ligada a uma carência da planta em elementos necessários à praga. O inverso também foi tentado, isto é, tornar resistente uma planta sensível através de uma suplementação nutricional. Assim, KIRCHER et alii. (1970) mostraram, em alfafa, que nenhum dos sucos de variedades resistentes tornou resistentes os colmos dos clones sensíveis ao pulgão Theriophis maculata. Isto prova, salientam eles, que a causa da resistência está excluída de toda a ação tóxica ou repulsiva. 86

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Ao contrário, como para Ostrinia nubilalis em relação ao milho, foi possível mostrar que Solanum demissum, resistente a Leptinotarsa, é perfeitamente aceita a partir do momento em que se infiltra suas folhas com suco extraído da batata, Solanum tuberosum. Os autores concluem que a resistência de S. demissum resulta da sua não aceitação como alimento, e esta anorexia provoca a atrofia dos ovários do inseto. Portanto, dispomos de duas provas suplementares da estreita correlação entre o valor nutricional da planta em relação ao parasita e do ataque que disto resulta. Sobre este assunto, veremos o que se refere aos parasitas vegetais e especialmente os fungos patógenos. 3. AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DOS FUNGOS PATÓGENOS Contrariamente aos entomologistas e aos acarologistas, que se debruçaram entusiasticamente sobre as necessidades dos animais como objeto de seus estudos, parece que aqueles fungos parasitos tinham tentado muito menos os fitopatologistas. Exceto alguns raros casos, eles sequer se preocuparam com os problemas que envolvem as relações entre a planta – definida por seu estado bioquímico – e sua resistência aos agressores. No máximo, como no estudo do caso da helmintosporiose, certos patologistas consagraram-se à pesquisa de produtos antagonistas. Vimos que, semelhante ao caso dos insetos, esta via levava de fato, a um impasse. Assim, exatamente como para a causa do ataque à planta pelas pragas, somos reconduzidos ao estudo dos fatores nutricionais necessários a desses organismos inferiores. Ao nosso conhecimento, HORSFALL e DIMOND (1957) são os primeiros a tomarem como hipótese de trabalho as eventuais relações entre a suscetibilidade da planta à doença e o conteúdo em açúcares dos tecidos. Eles observaram que uma carência em boro e certos tratamentos com reguladores de crescimento tinham por resul87

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tado afetar o teor dos tecidos em glicídios e, conseqüentemente, a sensibilidade da planta ao seu eventual parasita. Estes autores, trabalhando sobre Alternaria solani do tomate, anotaram a observação de um prático, segundo o qual as Bull plants,* isto é, carregadas de folhas mas desprovidas de frutos, mostraram-se índenes aos ataques de Alternaria. Efetivamente, a emasculação de todas as flores tinha por resultado imunizar a folhagem em relação à doença. E, reciprocamente, as plantas com abundância de flores mostraram-se altamente suscetíveis à doença. Os autores concluem: “Os frutos tiram das folhas alguma substância que é responsável pela ‘resistência’ em relação à Alternaria, a qual não poderia ser, senão o açúcar”. Ora, se esta tentativa de relacionar o estado bioquímico da planta à doença é meritória, é necessário se dar conta, por tudo que foi visto, que atribuir a resistência apenas ao teor dos tecidos em açúcares é concluir de maneira um tanto precipitada. Prosseguindo sua tentativa de demonstração, HORSFALL e DIMOND (op. cit.) recordam a observação corrente, da maior suscetibilidade a Alternaria das folhas velhas de tomateiro do que das jovens. Estes autores justificam o fato porque estes órgãos senescentes contêm menos açúcares. Contudo, a idade das folhas afeta igualmente a natureza e a quantidade dos elementos nitrogenados. Com efeito, a proteólise sendo predominante nas folhas velhas, estas mostram-se mais ricas em produtos nitrogenados solúveis que, como vimos, são nutricionalmente sensibilizadores em relação aos fungos parasitas. Em resumo, reencontramos aqui esta noção fundamental de que a resistência não poderia ser atribuída a esta ou aquela substância a priori considerada antagonista, presente nos tecidos da planta-hospedeira, mas muito mais a uma carência nutricional. No caso de Alternaria, a resistência estaria ligada a uma deficiência em elemen*

Em inglês no original. (N. da T.)

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tos nitrogenados solúveis ou, mais exatamente, a uma relação muito baixa N solúvel/glicídios. Como já observamos no caso da helmintosporiose, os açúcares não apresentam qualquer propriedade fitotóxica, muito ao contrário. Há outra observação de HORSFALL e DIMOND (op. cit.) que pode dar lugar a uma interpretação totalmente contrária. Os autores observaram que as mudas de tomate, em trânsito pelos mercados, tornavam-se suscetíveis à Alternaria durante a noite. Eles acreditaram poder concluir que era devido ao consumo do açúcar que ocorre nesse período. Contudo, com mais lógica, se pode atribuir tal sensibilização, neste período do ciclo circadiano, à destruição das proteínas e à translocação dos produtos nitrogenados que delas derivam. Esta atividade fornece ao fungo parasita os elementos nitrogenados necessários a seu desenvolvimento. Portanto, esta é a razão pela qual a distinção que fazem HORSFALL e DIMOND, de “moléstias a altos e baixos teores em açúcar”, poderia ser, mais logicamente, transformada em moléstias medidas em função da relação nitrogênio solúvel/glicídios redutores. Assim, a helmintosporiose, estudada no segundo capítulo, classificada por esses autores como “moléstia a baixo teor em açúcar”, deve ser normalmente classificada entre as doenças com a relação N solúvel/glicídios relativamente elevada, já que o açúcar não mostra qualquer efeito antagonista ao fungo. Esta concepção não apresenta somente um interesse teórico, mas nos permite, por um condicionamento apropriado da planta, resistir melhor às diversas agressões que ela pode sofrer. Veremos isto através da natureza e equilíbrio da fertilização, pela utilização de tratamentos foliares com produtos nutricionais (macro e oligoelementos) e tratamentos da semente, cuja terapêutica se realiza através de uma ação indireta sobre o metabolismo da planta. Analisando as concepções de GRAINGER (1967), igualmente baseadas sobre o teor em açúcares dos tecidos, chegaremos à mesma conclusão. 89

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Observando que a suscetibilidade das plantas às moléstias varia durante todo o ciclo evolutivo de crescimento, GRAINGER recorda que os patologistas distinguem “ataques primários” e “ataques secundários”, separados por um intervalo de boa saúde relativa, em numerosas doenças de cereais. Outro exemplo, a requeima da batata (Phytophthora infestans), cujas infecções são muito graves sobre os brotos recém-saídos dos tubérculos, é incapaz de contaminar as batatas na metade do ciclo de crescimento. Daí a relatividade dos termos genéticos de “sensibilidade” e de “resistência”. Assim, podemos já supor, como veremos confirmado, abundantemente, adiante, tal concepção é perfeitamente justificada. GRAINGER não parece dar valor absoluto à “resistência”, exclusivamente definida geneticamente, ao contrário, ele vê uma relação entre o ataque da planta e seu estado bioquímico caracterizado pela relação Cp/Rs na qual Cp representa o peso total dos carboidratos e Rs o peso seco residual dos tecidos (fig. 9). Esta relação expressaria o potencial de vulnerabilidade do hospedeiro tanto em relação a bactérias patogênicas quanto a fungos parasitas. GRAINGER estabelece, com efeito, , em princípio, que os glicídios são elementos nutricionais dos quais, antes de tudo os fungos patógenos têm necessidade. Ele escreve: “Essas substâncias contribuem (com o nitrogênio e a cinza*), não somente para a própria constituição do agente patógeno, mas também constituem igualmente uma fonte de energia para seu crescimento, já que o nitrogênio e a cinza não são matérias energéticas”. O próprio GRAINGER deve reconhecer que esta relação nem sempre é estreita e que o crescimento da planta também parece intervir. É porque, diz ele, torna-se necessário estabelecer uma relação inversa entre os dois fatores: Rs expressando a amplitude de *

Por “cinzas” termo de tradução do artigo, pensamos que se deve entender como a soma diversos elementos minerais.

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crescimento num dado período. Ora, precisamente, Rs representa, em parte, o teor em proteínas que está estreitamente ligado ao crescimento. Conseqüentemente, a relação Cp/Rs escolhida por GRAINGER se aproxima muito da C/N, ou de glicídios/elementos nitrogenados. GRAINGER é forçado a concordar que, se a maioria dos fungos parasitas são exigentes em glicídios como, por exemplo, a requeima da batata (Phytophthora infestans), alguns outros, como os Pythium têm “pouca atração” pelos açúcares. Neste caso é, portanto, sobretudo às expensas dos elementos nitrogenados que eles se desenvolvem. Ferrugens e carvões também fariam parte desta categoria de fungos. Conclui-se que as necessidades nutricionais dos fungos poderiam se mostrar diferentes segundo a categoria à qual eles pertencem, o que nos parece bastante normal. Assim, retomemos as concepções de HORSFALL e DIMOND, mas corrigidas, levando-se em consideração o teor dos tecidos em nitrogênio solúvel, principalmente sob a forma de aminoácidos livres. Indicamos, por fim, que GRAINGER propõe uma verdadeira escala do “potencial de vulnerabilidade” da planta, baseada na relação Cp/Rs. Assim, o que ele chama “a fase da barreira fisiológica” correspondente, de fato, à imunidade, seria caracterizada por uma relação inferior a 0,4; 0,5 ou 1, segundo o gênero do agente patogênico. A fase denominada “primeira fase receptiva” corresponde a uma relação Cp/Rs entre 0,4 e 1 para os agentes patogênicos pouco exigentes em glicídios ou entre 0,5 e 1 para os agentes patogênicos “normais”. Quanto à fase dita “epidêmica”, ela intervem, quando a relação Cp/Rs se eleva entre 1 e 10: quanto mais se eleva a relação, mais grave é a epidemia. GRAINGER distingue uma “fase de tolerância”, que ocorreria após uma fase de hipersensibilidade. Neste caso, a relação cai de 10 para 1, e a planta tende a superar a moléstia, caso ela tenha sido atacada. 91

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Enfim, na fase “hipersensível”, Cp/Rs é maior que 10: é o caso dos brotos recém-saídos de sementes, bulbos ou tubérculos, com altos teores de glicídios (fig. 10). GRAINGER observa que, devido à influência dos fatores ambientais, estas diferentes fases da sensibilidade à doença não se apresentam sempre da mesma maneira. “Certos hospedeiros são nãoreceptivos durante uma grande parte do período em que as temperaturas são adequadas a uma atividade intensa da maior parte dos parasitas. Por outro lado, as fases de hipersensibilidade, extremamente perigosas, e as fases de tolerância, menos receptivas, ocorrem quando as temperaturas são relativamente baixas e os agentes patogênicos menos ativos”. É o que interpretamos disto fazendo notar que a proteossíntese encontra-se inibida com baixas temperaturas, causando uma elevação no teor dos tecidos em substâncias solúveis. Este fenômeno está ligado à exacerbação da sensibilidade da planta em relação à moléstia, já que a natureza e a gravidade da doença são determinadas pela natureza e pelo nível das substâncias solúveis, nutricionalmente necessárias ao parasita em questão. Observemos que, para os fungos patógenos, a questão da “procura” da planta hospedeira não existe, uma vez que os esporos, emitidos em número considerável, estão quase sempre presentes no meio ambiente. Aqui, talvez ainda mais que para as pragas, é o estado fisiológico da planta ou do órgão que atua na sensibilidade ou, caso se prefira, na resistência. Estas considerações nos levam à noção de “períodos críticos” no ciclo anual fisiológico da planta. São épocas no curso das quais a fisiologia e a resistência dos órgãos evoluem devido a certos processos metabólicos que acompanham, como por exemplo, o crescimento, a maturidade e a senescência da folha ou bem a formação e o desenvolvimento dos órgãos reprodutores, a fisiologia, cuja resistência dos órgãos evoluem. Como nos preocuparemos ao longo desta obra a 92

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folhagem da planta pode, segundo a época considerada,encontrar-se mais ou menos sensível – ou resistente – aos ataques das diversas pragas. Precisamente, são os diversos fatores capazes de intervir na fisiologia e, portanto, no estado bioquímico da planta ou do órgão que iremos estudar agora, como já fizemos, rapidamente, no caso da helmintosporiose. 4. OS DIVERSOS FATORES CAPAZES DE AGIR SOBRE A PROTEOSSINTESE E, PORTANTO, SOBRE A RESISTÊNCIA DA PLANTA Estes diferentes fatores podem ser classificados em três categorias: a) Fatores intrínsecos, que envolvem a constituição genética da planta, entre os quais se pode distinguir: 1. A espécie e a variedade. 2. A idade dos órgãos ou da planta. b) Fatores abióticos, que, provisoriamente, consideraremos em conjunto: 3. O clima: energia solar, temperatura, umidade, precipitação e eventuais influências cósmicas (lua). c) Fatores culturais. Distinguimos: 4. O solo: tanto do ponto de vista da composição química quanto da estrutura e aeração. 5. A fertilização: na qual distinguiremos fertilização, mineral e os oligoelementos e, enfim, a adubação orgânica 6. A prática de enxertia: está demonstrada a influência do portaenxerto sobre a fisiologia do enxerto e reciprocamente. 7. Os tratamentos com agrotóxicos: que colocamos como causa do desencadeamento de “desequilíbrios biológicos”. A influência da espécie e da variedade, que ninguém contesta, deu lugar a importantes pesquisas de ordem genética visando obter as 93

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variedades resistentes. Todavia, não se deveria perder de vista, como haveria a tendência de fazê-lo, que os genes não são mais que um dos fatores que governam o metabolismo da planta. Como pôde observar GROSSMANN (1968): “A produção de plantas resistentes foi, até aqui, reservada à genética. É uma via penosa e que conduz, freqüentemente, a um sucesso apenas temporário”. Ele acrescentava ainda esta reflexão a propósito da prática de determinadas terapêuticas: “Talvez fosse mais simples e mais eficaz, no futuro, conferir a resistência às plantas pela aplicação de produtos químicos”. Está colocado o problema da modificação do metabolismo da planta no sentido da resistência, ou seja, na direção inversa da que conduz aos “desequilíbrios biológicos”, pelas repercussões dos agrotóxicos e que evocamos no primeiro capítulo. Antes de podermos tomar a via inversa destes fenômenos, ou seja, estimular em vez de reprimir a resistência, é necessário analisar o processo nefasto. Pensamos ter explicado pela incidência dos agrotóxicos sobre o metabolismo que agora será estudado mais de perto e em função de nossa teoria da trofobiose. Assim, o próximo capítulo será consagrado às repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e às modificações bioquímicas acarretadas pela aplicação de diversos produtos fitossanitários: inseticidas, fungicidas e herbicidas. Após já termos estudado as necessidades nutricionais dos diversos parasitas, será possível explicar a causa das multiplicações de pragas e do desenvolvimento das moléstias pela distorção do metabolismo da planta. Veremos que ela vai no sentido previsto pela teoria da trofobiose: é, ao menos, o que nos propomos demonstrar, ou seja, a inibição da proteossíntese.

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Teor em açúcares redutores

Fig. 8. Teores em açúcares redutores em diferentes níveis da folhagem de feijão, em função do tipo de carência na solução nutritiva. (Segundo FRITZSCHE, 1961) 95

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Fig. 9. Escala de sensibilidade da batata à requeima (Phytophthora infestans) em função da relação Cp/Rs, expressando a relação entre o peso total dos carboidratos contidos na planta inteira (Cp) e o peso seco residual (isto é, menos os carboidratos). (Segundo GRAINGER, 1967) 96

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A) Potencial de vulnerabilidade da aveia (observada e testada) em relação a Helminthosporium avenae, em função da época do ano.* B) Aveia: relação Cp/Rs, em relação com as fases da doença que ela revela. 97

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CAPÍTULO IV

AS REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS SOBRE A FISIOLOGIA DA PLANTA

“Para que esta evolução seja possível [a da medicina da planta], é indispensável estudar a fundo a fisiologia vegetal, especialmente nossos conhecimentos sobre a circulação da seiva, se trata também de estudar as modificações provocadas na planta pelos produtos químicos”. Paul MÜLLER Le développement de la Phytopharmacie. (3º Congrès International de Phytopharmacie, Paris, 1952)

1. A PARTICIPAÇÃO DOS AGROTÓXICOS NO METABOLISMO DA PLANTA A utilização de diversos hormônios, de herbicidas e o emprego dos adubos foliares – técnicas presentes na prática agrícola corrente – bastariam para mostrar que os tecidos vegetais deixam-se penetrar por numerosos produtos ditos “fitossanitários”. Ao contrário, é necessário observar que muitas vias de entrada são possíveis: • Antes de tudo, pela folha, durante os tratamentos clássicos com inseticidas e fungicidas. • Igualmente, pela raiz, como conseqüência, não somente, da desinfecção do solo contra pragas, fungos patógenos ou nematódeos, mas também pela queda de agrotóxicos provenientes dos tratamentos da folhagem. Estas conseqüências são mais importantes do que se poderia supor a princípio. 101

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Apenas mencionaremos a esterilização do solo devido a tratamentos cúpricos prolongados e à destruição das minhocas pelos ditiocarbamatos. • Pela semente, como resultado de tratamentos das sementes contra insetos ou moléstias das plântulas e cujas repercussões indiretas sobre a fisiologia da planta podem explicar tanto a ação benéfica procurada, como os efeitos tóxicos. • Existe, enfim, uma quarta via, que diz respeito, em particular, às árvores frutíferas: trata-se do tronco e galhos, por ocasião dos tratamentos de outono, inverno ou de pré-brotação. WILLAUME (1937) demonstrou que os óleos de antraceno apresentavam uma ação estimulante sobre o crescimento das árvores. Esta ação parece ligada à propriedade da substância de crescimento apresentada pelo ácido antracênico contido nesses óleos. Sabe-se que em determinadas diluições os óleos de antraceno podem acelerar a germinação dos grãos de trigo. Certamente, é esta ação que provoca diferenças nas épocas de eclosão dos ovos de inverno dos “aranhas vermelhas”, em árvores frutíferas, segundo elas tenham sido tratadas ou não com os óleos de antraceno. No que diz respeito à penetração dos agrotóxicos nas folhas, que constitui a via mais freqüente, sabe-se que a cutícula e as paredes cuticulares das folhas contêm numerosos lipídios que facilitam a absorção dos compostos lipossolúveis. Este fato acentua, pois, toda a importância da solubilidade das moléculas sobre as repercussões indiretas dos agrotóxicos. Foi bem destacado, com efeito, que: “De fato, é mais precisamente a afinidade do agrotóxico, pelos corpos graxos de um lado e pela água, por outro, que vai condicionar sua penetração no organismo animal ou vegetal. Ele deve antes atravessar uma primeira barreira essencialmente lipídica (cutícula cerosa dos vegetais, tegumentos dos insetos e dos animais superiores). É necessário, para isto, possuir uma certa solubilidade nos lipídios. Após, é 102

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necessário que ele passe pela fase aquosa, que o veiculará até seu local de ação. Esta fase aquosa constitui o meio vivo ao nível da célula, como ao nível dos transportadores celulares (seiva, linfa, sangue). Uma certa hidrossolubilidade é, portanto, necessária. E é, conseqüentemente, isto que chamamos de coeficiente de separação entre o óleo e a água que condicionará seu transporte do meio exterior até seu local de ação”. (Collectif , 1979). Esta citação exige duas observações: a primeira é que os autores exprimem-se como se o agrotóxico só pudesse agir no âmago do organismo visado, seja ele animal ou vegetal. Ora, classicamente, um fungicida, à parte os produtos sistêmicos, tem reputação de agir na superfície, pela barreira tóxica que ele constitui, pelo menos em princípio, em relação aos esporos. Temos, portanto, uma nova atitude envolvendo o modo de ação dos anticriptogâmicos que implicaria uma ação dita curativa ou erradicante. Isto nos conduz a uma segunda observação: de que maneira se produz esta ação e no que a modificação na fisiologia da planta, sob ação do produto, pode intervir? É isso, precisamente, com que teremos que nos preocupar ao longo deste trabalho. O fato de que a cutícula e as paredes cuticulares das folhas contêm numerosos lipídios que facilitam a absorção de compostos lipossolúveis explica, por exemplo, que um sal metálico como o óxido de cobre hidratado resultante da aplicação da calda bordalesa, possa penetrar na folha, como há muito tempo haviam afirmado MILLARDET e GAYON (1887) e, mais recentemente, demonstrado por STRAUSS (1965). A espessura da cutícula bem como o número e a repartição dos estômatos também podem influir na penetração das caldas. Assim, podem ser parcialmente explicadas as diferenças de sensibilidade em relação a um mesmo agrotóxico, segundo a espécie e a variedade da planta. Todavia, talvez seja a pressão osmótica das células que regule, acima de tudo, a penetração das caldas. 103

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Quando o suco celular é isotônico ou hipertônico em comparação à calda, não há risco de queimaduras, pois não há possibilidade de penetração. Ao contrário, quando é hipotônico, as alterações são mais freqüentes, pela plasmólise das células. MENZEL (1935) constatou que certas variedades de macieiras e de pereiras, que apresentam uma forte pressão osmótica (30 a 38 atmosferas), são quase completamente insensíveis às queimaduras por produtos cúpricos, enquanto que outras variedades com baixa pressão osmótica (5,3 a 13,7 atmosferas) eram fortemente alteradas. É sem dúvida, a esse fator que é necessário repontar as diferenças nas penetrações dos produtos segundo o estado fisiológico da planta no momento do tratamento. Por sua vez, o estado fisiológico depende dos fatores abióticos, da idade dos tecidos, e da alimentação da própria planta. Assim, a luz, favorecendo a abertura máxima dos estômatos, aumenta a permeabilidade da folha. Uma elevação de temperatura pode agir neste mesmo sentido: em tempo quente, um tratamento com nicotina acarreta queimaduras, enquanto que este inseticida não provoca nenhum fenômeno fitotóxico quando utilizado com baixas temperaturas e sob baixa insolação. O mesmo se passa com os produtos à base de enxofre. Esta influência da luz e da temperatura parece ser um fenômeno de ordem geral. Assim, SARGENT (1964) pode mostrar que o 24 D penetra mais rapidamente nas folhas de feijão com luminosidade elevada do que na obscuridade. No que diz respeito à influência da idade, as plantas senescentes deixam-se facilmente penetrar pelos produtos. Enfim, a alimentação da planta também interfere, por sua influência sobre a pressão osmótica das células e, pois, a repercussão dos adubos. COIC (1964), por exemplo, estabeleceu que uma alimentação amoniacal pode traduzir-se simultaneamente por uma redução dos cátions minerais, tais como Ca++ e Mg++ e, ao contrário, por uma maior absorção de ácido fosfórico. Assim, é possível se perguntar se 104

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a penetração dos inseticidas fosforados na planta, como o Parathion, não poderia se encontrar ligada à nutrição e, portanto, à adubação. Parece evidente que também a natureza química do agrotóxico influi: enquanto os ésteres fosfóricos, como o Parathion, desaparecem rapidamente da superfície das folhas, penetrando na quase totalidade ao final de apenas dois dias (KHAMI, 1960), os produtos clorados, como o Carbaryl, por exemplo, persistem muito mais tempo. Referente às suas relações com a planta, pode-se dizer, também, que os produtos orgânicos sintéticos (talvez por isso sejam orgânicos) apresentam uma afinidade toda particular pelos tecidos vegetais. Ainda a respeito da penetração dos agrotóxicos nos tecidos da planta e de suas repercussões – benéficas ou maléficas – sobre o metabolismo, cabe considerar a influência eventual dos adjuvantes. Assim, PARMENTIER (1969) pôde evidenciar que no controle de Oidium em cereais: 1. “O cobre, o manganês e o cádmio podem ser utilizados em baixa concentração sem fitotoxicidade, mas somente se o tensoativo estiver em concentração suficiente”. 2. “O controle pode ser realizado com a ajuda de um número considerável de produtos, mesmo os mais simples, desde que sejam acompanhados de um tensoativo”. PARMENTIER acrescenta: “Este tipo de controle apresentaria a particularidade de que a escolha do produto de tratamento seria baseada numa outra qualidade que não seu valor fungicida, mas principalmente seu valor nutritivo”. O mesmo autor, evocando “a influência de certas práticas culturais, especialmente a influência dos adubos nitrogenados, segundo sua dose e sua época de aplicação”, estima que “esta influência poderia agir sobre os estados fisiológico e bioquímico da planta-hospedeira, em concordância com a teoria da trofobiose”. PARMENTIER (1973). É necessário sublinhar a importância de tais observações? De uma parte, elas parecem confirmar que os diversos produtos experimentados 105

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agiram por via interna, e, portanto, graças a uma modificação benéfica do metabolismo e, por outra parte, que se trata de uma ação intermediária dos oligoelementos. Teremos ocasião de voltar a esse assunto nos capítulos consagrados à fertilização e aos tratamentos foliares. 2. REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS SOBRE O METABOLISMO DA PLANTA Se esta questão parece não preocupar, atualmente, os fitopatologistas e os responsáveis pelo registro dos produtos, é necessário registrar, entretanto, que diversas explicações foram-lhe consagradas. Mencionaremos, especialmente, as de POIGNANT e THIOLLERE (1952), de RIPPER (7º British Weed Control), de BRUISMA (1965), de CHABOUSSOU (1965, 1969). O que se depreende desses estudos? Dada a multiplicidade dos produtos usados, a diversidade de plantas que sofreram suas ações, bem como as condições ambientais, concebe-se que as conclusões podem ser apenas de ordem geral. Nem por isto são menos importantes. Um primeiro fato parece bem estabelecido: a despeito das barreiras que devem ultrapassar e ás quais falamos antes, todos os agrotóxicos, sejam minerais e, com mais forte razão, orgânicos, sejam fungicidas, inseticidas ou acaricidas, todos penetram mais ou menos nos tecidos das plantas (sobretudo se estão associados a certos tenso-ativos) e, portanto, agem sobre seu metabolismo. Assim, os agrotóxicos podem enriquecer a planta com o metal ou metalóide contido na sua fórmula: cobre, ferro, zinco, enxofre, fósforo etc... Outros – é o que veremos adiante – parecem intervir pela própria estrutura de sua molécula. É, bem entendido, o caso dos hormônios sintéticos, mas é também, como igualmente veremos, o caso dos produtos clorados, como o DDT. Ainda que praticamente retirados do comércio 106

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atualmente, isto não diminui o interesse de seu estudo, pois sua ação pode ser comparada à das substâncias de crescimento (fig. 11). Certas contradições surgem na natureza das repercussões. Assim, parece que um mesmo produto não conduz, necessariamente, às mesmas conseqüências em todos os casos. Isto se explica porque a incidência do agrotóxico não é só função de sua natureza química e de sua dose, mas, também, do estado inicial da planta e de sua nutrição; mas também da época das intervenções em relação a seu ciclo fisiológico anual. No limite, pode-se até dizer que, em função da natureza da planta e de seu estágio, cada caso é diferente. De maneira geral, foi mostrado que os agrotóxicos apresentam uma ação sobre os principais processos fisiológicos, como respiração, transpiração e fotossíntese. Assim – e é principalmente isso que nos interessa com atenção à nossa teoria –, se pode afirmar que, por sua ação sobre os processos antagonistas de proteossíntese e de proteólise, os agrotóxicos são capazes de modificar, de uma maneira mais ou menos acentuada e mais prolongada, a relação entre as substâncias nitrogenadas e os glicídios, por sua ação sobre os processos antagonistas de proteossíntese e proteólise. O mesmo processo ocorre envolvendo as relações entre as diferentes formas de nitrogênio, ou seja, os critérios do nível de proteossíntese, correlacionados ao processo de resistência. Por seus efeitos indiretos e nutricionais, estes processos parecem explicar as repercussões maléficas e, também, benéficas dos agrotóxicos, até agora utilizados sob um ângulo totalmente diferente do estímulo da resistência da planta. Veremos a confirmação disto pelo estudo de diversos tipos de ação de agrotóxicos. 3. REPERCUSSÕES DO DDT (DICLORODIFENILTRICLORETANO) SOBRE A FISIOLOGIA DA PLANTA Desde 1949, CHAPMAN e ALLEN assinalam diferenças na sensibilidade das plantas ao DDT, segundo sua natureza botânica. 107

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Registra-se um aumento da proteossíntese, do tamanho das folhas, da velocidade do crescimento e do rendimento em videira e batata, mas um definhamento e redução de colheita em pepino. Sobre trigo Khapi, FORSYTH (1954) constata que “o DDT altera o metabolismo de tal forma que os aminoácidos e os açúcares acumulam-se na folha, o efeito parecendo resultar de uma inibição de síntese das proteínas e dos carboidratos”. Este fato aproxima-se dos resultados obtidos por JOHNSON (1946). Ele havia demonstrado que a exacerbação da sensibilidade do trigo à ferrugem, acarretada pelo tratamento com DDT, era conseqüência direta das repercussões deste produto sobre a fisiologia da planta. Aliás, JOHNSON sublinhava, desde esta época, que: “A reação da planta-hospedeira ao DDT podia abrir uma nova via envolvendo o estudo da resistência à ferrugem”. Efetivamente, os resultados de FORSYTH relacionam a sensibilidade do trigo com a abundância das substâncias solúveis nutricionais nos tecidos. Isto confirma nossa hipótese de que é através do processo de proteossíntese dominante, que estaria estimulada a resistência à ferrugem. Os efeitos sensibilizadores dos herbicidas agiriam no processo inverso. Aliás, os trabalhos de ALLEN e de CASSIDA (1951), relativos à influência de DDT sobre feijão, trazem indicações suplementares sobre o modo de ação deste produto. Enquanto o DDT estimula o crescimento quando o feijão cresce numa solução nutritiva não tamponada, na qual a auxina está ausente, quando a auxina está presente, registra-se uma inibição de crescimento (fig.12). PILET, a respeito destas repercussões, registra que a natureza físico-química do protoplasma está em jogo e que o equilíbrio entre a síntese e a decomposição das proteínas, rompido pelas auxinas, pode se deslocar em um sentido ou noutro, segundo o citoplasma aumente de volume ou cesse de crescer. 108

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Aí está a explicação das diferentes ações do 2-4 D e do DDT, não apenas segundo a dose utilizada, mas também em função dos diferentes fatores que agem sobre a fisiologia da planta, seja: sua natureza botânica ou, dito de outra maneira, sua constituição genética, a época da intervenção, as condições ecológicas e, enfim, a nutrição, que, por sua vez, depende da natureza da fertilização. 4. REPERCUSSÕES DO 2-4 D SOBRE A FISIOLOGIA DA PLANTA Exatamente como para os outros produtos, MENORET (1960) observa diferenças nas repercussões, segundo a planta tratada e a dose utilizada. Assim, na soja, o tratamento das raízes acarreta uma diminuição das proteínas nas folhas, mas um aumento delas no colmo e na raiz. Nos dois casos, contudo, observa-se um aumento considerável do nitrogênio aminado solúvel e do residual. Ou seja, condições eminentemente favoráveis ao desenvolvimento de diversas moléstias. Em raros casos, principalmente com fortes doses de 2-4 D e nos tecidos jovens, registra-se uma tendência ao estímulo da proteossíntese. De maneira geral, o 2-4 D (assim como diversos herbicidas como Oxynil, Chlrophame * e Propanil) perturbam a transmissão do código genético pelo RNA. É, aliás, a razão pela qual o 2-4 D) encontra-se normalmente classificado entre os inibidores da síntese protéica. (Collectif, 1979.) Por outro lado, é necessário sublinhar que, sejam quais forem as repercussões dos agrotóxicos sobre o metabolismo da planta e, portanto, sobre sua resistência, elas guardam estreita relação com sua nutrição. A propósito da ação do 2-4 D, ALTERGOT e POMAZONA (1963)

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Oxynil e Chlrophame: nomenclatura desconhecida. Provavelmente se refere a Ioxynil e Chloroprophame, respectivamente. Ambos são herbicidas que atuam em nível de código transmissor. (N. da T.)

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salientam que como todos os processos fisiológicos da planta estão aumentados pelas substâncias de crescimento, esta necessita de uma rápida alimentação complementar. Assim, esses autores, experimentando, com diversas plantas como trevo, milho e fava, obtiveram um aumento da capacidade redutora e sintetizadora das plantas tratadas com uma solução nutritiva contendo 2-4 D. Todavia, utilizado só e na concentração 10-5, o 2-4 D inibe a síntese das proteínas e aumenta as formas não protéicas do nitrogênio. Esta inibição não se limita só às plantas adventícias. Os efeitos inibidores do 2-4 D podem ser nefastos ao cereal a proteger, provocando fenômenos de sensibilização em relação às doenças. ALABUSCHEV (1962), que obteve aumentos de colheita de trigo, podendo atingir 15 a 20% com o 2-4 D, nota que a qualidade do cereal também deve ser levada em consideração. As proteínas são as principais substâncias que determinam o valor nutricional de uma planta. Ora, importantes modificações podem se produzir no conteúdo protéico, de um lado, devido às condições do solo – e, portanto, da fertilização –, e ainda aos tratos culturais, ao clima e à variedade. Os trabalhos desse autor mostraram que, em relação ao teor em proteínas, obtém-se resultados diferentes segundo a época de aplicação do 2-4 D e as doses utilizadas. Tudo isto revela o quanto pode ser delicado o manejo destes “hormônios sintéticos” que, aplicados no outono, ainda conservam sua toxicidade na primavera, acarretando uma ação depressiva sobre a microflora do solo. (ALABUSCHEV., op. cit.) O produto utilizado em baixa dose pode mostrar uma ação inibidora em relação ao crescimento do cereal a proteger e, conseqüentemente, sensibilizá-lo a diversas doenças. Agora, vamos examinar as repercussões dos diversos agrotóxicos sobre as árvores frutíferas e sobre a videira. 110

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5. REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS SOBRE A FISIOLOGIA DAS ÁRVORES FRUTÍFERAS E DA VIDEIRA A) Repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia do pessegueiro Durante muito tempo, a “necrose hibernal”, também chamada “doença café com leite” do pessegueiro deixou perplexos tanto os fitopatologistas que se debruçaram sobre a questão, quanto os produtores que sofriam as conseqüências desta misteriosa “afecção”. No que ela consistia? Uma vez terminados os últimos tratamentos, na queda das folhas e no momento da poda é que os estragos manifestam-se em toda sua extensão. Contudo, esses estragos aparecem mais cedo, pelo fim do outono, mas mesmo assim é necessário estar alerta e não descuidar da vigilância do pomar. Os sintomas são os seguintes: a casca, que normalmente seria vermelha, apresenta, em algumas áreas, grandes manchas de coloração variável, geralmente de um marrom mais ou menos claro. Nos casos graves, essas manchas podem se estender rapidamente, sobre vários centímetros, até que o ramo, tendo mudado completamente de coloração, morre, murchando pela extremidade. A casca está efetivamente morta e recobre uma madeira parcialmente marrom. GROSCLAUDE (1964-1966-1969), autor desta descrição, pôde estabelecer que estas alterações eram devidas às repercussões nefastas de determinados tratamentos com agrotóxicos. Os produtos em questão eram, especialmente, Ziram, Azinphos e, segundo toda a probabilidade, o Parathion era igualmente responsável. Segundo os resultados dos questionários realizados junto aos produtores, “pareceria que se pode aplicar as mesmas conclusões ao Thiram ou “TMTD (tetrametildisulfuros)”. Isto não seria surpreendente, observa GROSCLAUDE, dado o estreito parentesco químico entre Thiram e Ziram: ambos são ditiocarbamatos, como Zineb e o 111

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Maneb, que citamos a propósito de suas implicações no desenvolvimento de moléstias como Oidium e Botrytis. Assim, estamos em presença de uma manifestação de um tipo particular fitotoxicidade, diferente do que se chama comumente de “queimaduras”, que aparecem logo após a aplicação do agrotóxico. Contudo, aí não há simplesmente uma diferença de natureza; esses fenômenos assinalam a existência de repercussões insidiosas dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta. Incidências, aliás, plenamente confirmadas pelas análises dos ramos, envolvendo duas formas de nitrogênio e os açúcares redutores, conforme o quadro adiante: Quadro 2. Resultados das análises dos ramos de pessegueiro, em função da natureza dos tratamentos Origem das amostras

NSolúvel

Ninsolúvel

Açúcares

Açúcares

redutores

/N total

Parcela Ziram Ramo são

0,050

0,413

0,745

1,60

Parcela Ziram Ramo doente

0,057

0,475

0,632

1,18

Parcela testemunha Ramo são

0,083

0,587

0,415

0,61

Se damos crédito, esses dados são importantes como prova de que o (ou os) agrotóxico(s) utilizado(s) neste caso o Ziram inibiu o processo de proteossíntese no pessegueiro, devido à regressão das duas formas de nitrogênio, sobretudo o insolúvel, simultaneamente à elevação do teor de açúcares, em comparação às testemunhas. Deve-se observar que na parcela “Z” – ramo são, pelo menos em aparência – os dados mostram, em comparação à testemunha não tratada, uma regressão da taxa de nitrogênio insolúvel. Isto significa que, apesar de ainda não aparente, existe um fenômeno de fitotoxidade. Isto confirma o caráter insidioso que as repercussões dos agrotóxicos podem tomar. Estas inibições de proteossíntese provocam, ao mesmo tempo – não tenhamos medo de repetir – uma sensibilização da planta em relação a suas pragas (ácaros, pulgões, lepidópteros etc.), e às próprias 112

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moléstias, pelo enriquecimento dos tecidos em substâncias solúveis. É a razão pela qual questionamos imediatamente se tais perturbações no metabolismo celular não poderiam se encontrar na origem do desencadeamento das moléstias viróticas, como também suspeita POLJAKOV em suas observações sobre a batata. Os experimentos de GROSCLAUDE sobre as incidências dos agrotóxicos responsáveis pela moléstia “café com leite” reforçam a importância da nutrição da planta sobre as manifestações da doença. GROSCLAUDE (1966) pôde mostrar que um complemento de adubação orgânica, sob a forma de esterco de curral, atenua os danos acarretados pelos agrotóxicos, se comparada a uma fertilização estritamente mineral. Quadro 3. Alteração de ramos de pessegueiro, em função do tratamento com Ziram e da natureza da fertilização Tratamentos com agrotóxicos Testemunha Tratamento com Ziram

Natureza da fertilização

Ramos alterados

A: com matéria orgânica

4

C: só adubo NPK

13

D: com matéria orgânica

57

F: só adubo NPK

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Esta regressão nas alterações produzidas pelo Ziram, graças ao emprego de esterco de curral, nos parece muito significativa e esclarecedora. Ela confirma plenamente a ação positiva da matéria orgânica fermentada sobre a proteossíntese, como já tivemos ocasião de mencionar (CHABOUSSOU, 1974 e 1979). Repercussões que se traduzem correlativamente- como nos ocuparemos adiante- sobre a resistência às moléstias e, em particular, em relação às moléstias viróticas CHABOUSSOU, 1974; MEHANI, 1969). B) Repercussões de diversos acaricidas sobre a fisiologia da macieira São raros os pesquisadores que, até aqui, se preocuparam com as

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repercussões dos inseticidas ou fungicidas sobre a fisiologia e a bioquímica das plantas e da macieira, em particular. Esta é a razão porque acreditamos ser importante analisar o interessante trabalho de BLAGONRAVOVA, que trata das repercussões de diversos acaricidas e inseticidas sobre os teores de nitrogênio protéico e não-protéico nas folhas de macieira (variedade Reinette Simirenko) (CHABOUSSOU, 1977). Resumimos, adiante, essa comunicação à Academia de Agricultura. O autor estudou, sobre a fisiologia da macieira, as incidências de seis produtos, Phosalone, Benzophosphate, Bromopropylate, Chlorphenamidine, mistura BCPE + CPAS,* e Dicofol. As testemunhas, para comparação, foram tratadas com água pura. Os resultados estão resumidos nas fig. 13 e 14. Como se pode constatar, as repercussões mais acentuadas, em comparação às testemunhas, dizem respeito a Dicofol, Chlorphenamidine e à mistura BCPE + CPAS. 1. Repercussões do Dicofol Esse produto acarreta, ao contrário dos outros, um muito nítido aumento do nitrogênio protéico: em 6 de julho, o teor era o triplo que nas testemunhas. Contudo, esta elevação é seguida de uma queda importante em meados de agosto. Inversamente, até o mês de julho, ou seja, no curso da primeira parte do ciclo vegetativo, os teores em nitrogênio não-protéico regridem, em comparação aos da testemunha. É apenas no fim de agosto – começo de setembro, isto é, na época em que todas as folhas entram em proteólise, que os teores em nitrogênio solúvel se elevam nitidamente acima dos das testemunhas. Estas repercussões parecem explicar porque com o emprego deste acaricida e, ao contrário de numerosos outros produtos, não se constata *

Refere-se à mistura Dimite + Chlorfensulphide, respectivamente. (N. da T.) Esses produtos são conhecidos sob o nome comercial de Anilix ou Milbex. (N.do R.)

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proliferações secundárias de Tetranychus em fim de estação. Isto é conseqüência, não somente da eficácia imediata do produto, mas também graças a seu efeito prolongado sobre a proteossíntese, produzindo assim, como veremos adiante, uma ação trófica prolongada “antiácaro”. 2. Repercussões do Chlorphenamidine As fig. 13 e 14 mostram que as incidências deste produto são quase inversas às do Dicofol, ou seja, uma regressão do nitrogênio protéico em comparação às testemunhas, que se prolonga até meados de agosto. Por outro lado, e parece correlativamente, registra-se um considerável aumento de nitrogênio não-protéico (x 2,8). Em outras palavras, na primeira parte do ciclo vegetativo da macieira, ou seja, aproximadamente até meados de julho, o Dicofol exerce um claro efeito positivo sobre a proteossíntese, enquanto, ao contrário, se registra uma regressão do Chlorphenamidine. As repercussões de ordem bioquímica deste último produto parecem explicar a constatação de sua medíocre eficácia sobre videira* tanto em relação à aranha vermelha (Panonychus ulmi) quanto à aranha amarela (Eotetranychus carpini vitis). A elevação considerável da taxa de nitrogênio solúvel, registrada desde o mês de junho, com este produto, só pode provocar um nítido aumento do potencial biótico dos ácaros. Este fenômeno supera largamente o efeito acaricida imediato e mais ou menos fugaz exercido pelo produto no momento de sua aplicação. 3. Repercussões da mistura BCPE + CPAS (Anilix) Em início de estação, as repercussões desta associação de agrotóxicos são bastante comparáveis às de Dicofol. Assim, em relação às testemunhas constata-se um aumento do nitrogênio protéico, que se prolonga até o mês de agosto. No final de setembro, registra*

Repercussões semelhantes foram registradas com Omethoate e Tetradifon.

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se uma clara elevação do nitrogênio não protéico, que apresenta um teor mais elevado, ou seja, 2,3 vezes mais que as testemunhas. O efeito positivo sobre a proteossíntese até o mês de agosto é seguido, no fim da estação, de uma considerável regressão. Ora, se esta associação de agrotóxicos, efetivamente comprova um efeito acaricida imediato, por outro lado registram-se, diversas vezes, graves proliferações, ditas “secundárias”. Sobre laranjeiras, no Marrocos, nós mesmos pudemos constatar consideráveis multiplicações do ácaro(Brevipalpus), cujos ataques provocaram a quase totalidade da queda das folhas. Este fenômeno parece resultar de um estado de proteólise acentuada da folhagem, no caso onde, como na macieira, uma tal mistura provocaria,- como tudo faz pensar - as mesmas repercussões fisiológicas sobre citros. 4. Repercussões do inseticida Phosalone Comparado aos outros agrotóxicos que acabamos de revisar, este produto parece caracterizar-se por efeitos muito mais moderados sobre a composição bioquímica das folhas. Assim, em junho e julho registra-se um muito leve aumento do teor de nitrogênio protéico, que regride em agosto e, finalmente, atinge os mesmos valores das testemunhas (fig. 13). Os teores do nitrogênio não-protéico apresentam uma peculiaridade muito importante referente à resistência: quase constantemente são inferiores ao das testemunhas. Sabe-se que, fazendo exceção a muitos outros agrotóxicos o Phosalone caracteriza-se, de maneira geral, pela ausência de repercussões estimulantes ao desenvolvimento dos ácaros. Tal propriedade deste agrotóxico parece explicar-se por dois processos: – ação positiva sobre a proteossíntese, no início do ciclo vegetativo (13); – manutenção, a seguir, do teor de nitrogênio não-protéico em nível constantemente inferior ao das testemunhas, durante todo ciclo vegetativo da macieira (fig 14). 116

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Em resumo: o Phosalone, além de uma ação acaricida imediata, por contato, parece, igualmente, apresentar uma ação anti-ácaro, por um efeito trófico prolongado. Contudo, trata-se apenas de um “efeito não-intencional” e cuja ação benéfica é devida ao puro acaso. É, contudo, a tais efeitos indiretos, via ação da fisiologia da planta, que pode ser explicada, por exemplo, a ação anticriptogâmica de diversos produtos que não apresentam, no sentido literal, eficácia fungicida. É, especialmente, o caso de “fungicidas” clássicos como a calda bordalesa ou o enxofre. 6. REPERCUSSÕES DE DIVERSOS INSETICIDAS SOBRE A FISIOLOGIA DA VIDEIRA Durante vários anos de pesquisa, estudamos, nas condições reais de campo, as repercussões sobre a fisiologia da videira, de diversos inseticidas utilizados no controle de Eudemis botrana(Polychrosis botrana); os agrotóxicos mais usados eram DDT, Carbaryl, Parathion, Diazinon, Mevinphos, Carbophenothion e arseniato de chumbo (CHABOUSSOU, 1969). Em 1960, o tratamento foi feito em 24 de maio e as análises foram realizadas sobre as folhas recolhidas em 15 de junho, ou seja, vinte e um dias após o tratamento. O DDT provocou um aumento significativo do nitrogênio total e do nitrogênio insolúvel. Também constatou-se uma perturbação nos elementos catiônicos: o mesmo produto clorado aumentou, em comparação às testemunhas, o teor de K, enquanto diminuiu os de Ca e de Mg. No mesmo ano, um segundo tratamento foi efetuado a 6 de julho, e as análises foliares realizadas sobre levantamentos efetuados em 5 de setembro, ou seja, sessenta e um dias após o tratamento. O DDT continuava provocando um aumento significativo do nitrogênio insolúvel e total, mesmo após tanto tempo de intervenção. Outra repercussão estatisticamente significativa foi a regressão do teor de cálcio, tanto com Mevinphos quanto com Carbaryl. Entre as não significativas nota-se, com estes dois agrotóxicos, uma regressão 117

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do magnésio e um aumento do potássio (cepa em experiência: Merlot tinto). Em 1961, com cepa Cabernet-Sauvignon, tratamento em 6 de julho e análises sobre folhas colhidas em 17 de julho (onze dias após o tratamento): nenhuma repercussão significativa. Contudo, registra-se com todos produtos experimentados, ou seja, DDT, Parathion, Mevinphos e Carbaryl, um aumento do teor de potássio e uma regressão, aparentemente correlativa, do cálcio nas folhas. Em 1962, com cepa Merlot branco, as análises foram realizadas em 14 de junho, ou seja, nove dias após o tratamento de 5 de junho. Nessa época e com esse intervalo, um determinado número de repercussões significativas são registradas: – aumento do potássio com Carbaryl, – aumento do magnésio com Parathion e Carbophenothion, – aumento do cálcio com Parathion, – aumento do fósforo com Parathion, Diazinon e Carbophenothion – o que parece lógico, já que são produtos fosforados – mas também com DDT. A fig. 15 traz os resultados das repercussões do DDT, Parathion e Carbaryl, em comparação com as testemunhas e sobre cada uma das seis parcelas tratadas. Essas diferentes repercussões agem também de forma distinta sobre as multiplicações de cada uma das duas espécies de Tetranychus (fig. 16). Isto faz supor que as exigências nutricionais desses ácaros são, também, diferentes. Quando estudarmos os herbicidas, vamos retomar as perturbações acarretadas pelos agrotóxicos sobre os equilíbrios catiônicos (onde estão implicados K, Ca e Mg), condicionantes do fenômeno da proteossíntese e, portanto, da resistência da planta. 7. CAUSAS DE CERTAS AÇÕES ANTIFÚNGICAS Diversos produtos, de difícil qualificação quanto à ação fitossanitária, podem apresentar um efeito indireto positivo sobre a 118

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resistência da planta. Como exemplo temos a ação antifúngica do arseniato de chumbo contra sarna e septoriose da pereira (DARPOUX e ARNOUX, 1958); do Parathion, eficaz contra ferrugem coroada do azevén (COURTILLOT, 1965); do 2-4 D (em determinadas doses), contra Botrytis da fava (MOSTAFA e GAYED, 1956); do Carbaryl contra Alternaria do algodoeiro ABO e DAHAB, 1965) etc. Estes casos põem em questionamento o modo de ação dos agrotóxicos, especialmente dos fungicidas. Tratar-se-ia de uma ação antagonista, tóxica, em relação ao fungo parasita, mas sendo exercida por via interna, sistêmica? Isto foi o que perguntaram dois autores como SOMERS e RICHMOND (1962), testando Captan contra Botrytis do feijão. O produto foi aplicado sobre as raízes para tentar destruir o fungo por via endoterápica. Utilizado desta maneira, este agrotóxico mostrou-se eficaz. Contudo, análise das folhas mostrou que o máximo de Captan encontrado só representava uma pequena fração daquela requerida para a inibição da germinação dos esporos in vitro. Assim, os autores concluíram que: “A repercussão do produto sobre o metabolismo do hospedeiro seria responsável pela ação anticriptogâmica observada sobre as folhas após aplicação sobre as raízes”. É desnecessário ressaltar a importância destas constatações, que põe em discussão o modo de ação e, portanto, o da utilização dos diversos agrotóxicos. Devemos enfatizar que determinados especialistas em controle moléstias por via química colocaram em dúvida a eficácia fungicida dos produtos correntemente utilizados. Assim, PARMENTIER (1979) contesta seriamente a eficácia de produtos – ainda admitidos para a venda – contra ferrugens ou escaldadura do centeio. Por outro lado, segundo ele, o enxofre merece ser conservado, pois: “Não somente é barato e não apresenta toxicidade, como proporciona, freqüentemente, aumentos de rendimento desproporcionais à sua eficácia anticriptogâmica, independentemente da presença de parasitas”. 119

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Esses fatores podem ser apenas interpretados como uma ação indireta e benéfica sobre a fisiologia da planta a proteger, isto é, uma ação positiva sobre a proteossíntese, provocada pelo enxofre. Efetivamente, TURREL (1950) e TURREL e WEBER (1955) demonstraram que o enxofre elementar em pó constitui um nutriente para as folhas de limoeiro, sendo encontrado nas proteínas da planta. É efetivamente a este efeito “secundário” que um velho autor como MARTRES (1862) atribuía a regressão do Oidium pelo enxofre. É útil citá-lo: “O efeito do enxofre é notável; posto em contato com o micélio e as caulículas de Oidium, ele os destrói; mas é sua ação sobre a vegetação geral da planta que dá, sem dúvida, a maior contribuição a seu sucesso. Fez-se, há diversos anos, experiências muito interessantes sobre os efeitos do enxofre como adubo, dando à vegetação de diversas plantas um estímulo plenamente favorável a seu desenvolvimento. As videiras tratadas com enxofre, sobretudo com o orvalho, sentem particularmente o efeito deste tratamento quando estão doentes; imediatamente, as folhas pálidas e retorcidas reverdecem tornam-se lustrosas e maleáveis, os sarmentos alongam-se e, se o mal não é muito forte, vê-se as inflorescências esbranquiçadas, que começam a cobrir a baga, desaparecerem, da mesma maneira que desaparecem, sobre o corpo dos animais submetidos a uma alimentação sã e abundante, os parasitas que os prejudicam”. Assim, por uma espécie de premonição notável, este modesto observador punha em evidência o efeito anticriptogâmico do enxofre por ação positiva sobre o crescimento da planta, isto é, a proteossíntese. Inversamente, NIGHTINGALE (1932) e EATON (1941) mostraram que as plantas ricas em nitrogênio e pobres em enxofre continham em seus tecidos grandes quantidades de nitrogênio aminado livre, nitratos e carboidratos (glicídios). Eles imputam este fenômeno a uma diminuição do teor de redução dos nitratos e a uma menor síntese das proteínas, acompanhada de uma proteólise elevada. 120

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O fenômeno de carência em enxofre, – sobreo qual voltaremos a falar – explica a sensibilidade das plantas a diversas moléstias, pelo efeito nutricional favorável ao desenvolvimento dos parasitas. Assim, o estudo do modo de ação do enxofre por sua participação no metabolismo ou sua carência, só reforça nossa concepção da trofobiose e da conveniência de uma terapêutica orientada para a estimulação da proteossíntese. É o que veremos na segunda parte deste trabalho, estudando as repercussões da fertilização e dos tratamentos foliares, com aportes de macro e microelementos, no metabolismo da planta. Veremos que a clássica calda bordalesa não é exceção à regra de ação indireta sobre a fisiologia da planta – neste caso, benéfica como o enxofre. Veremos agora as repercussões nefastas acarretadas sobre as plantas pelos agrotóxicos. 8. REPERCUSSÕES NEFASTAS DE DIVERSOS FUNGICIDAS Por comodidade, arbitrariamente separamos o estudo das repercussões do DDT, substâncias de crescimento, inseticidas e acaricidas. Na realidade, o que nos interessa são as repercussões desses diversos agrotóxicos na fisiologia da planta, segundo suas incidências sobre a proteossíntese e, portanto, sobre a resistência do vegetal a seus inimigos. Antes de abordarmos o problema das repercussões dos agrotóxicos sobre a própria vida e fertilidade do solo, gostaríamos de estudar a influência da época e da repetição das intervenções na fitotoxidade dos agrotóxicos. Assim, BESEMER (1956), experimentando sobre macieiras, pôde mostrar que: • Geralmente, o período de sensibilidade e, até, de hipersensibilidade em relação aos agrotóxicos começa, para as árvores frutíferas, pouco antes da floração, para terminar somente um mês após a floração. Isto não significa que depois as árvores tornar-se-iam resistentes às queimaduras e outros fenômenos fitotóxicos. 121

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A razão deste fato é que, na época em torno da floração todas as folhas perdem simultaneamente seu poder de síntese e procedem, até a uma certa decomposição de suas próprias proteínas. As substâncias solúveis são assim postas à disposição dos órgãos reprodutores. É este estado de proteólise dominante que explica a sensibilidade aos agrotóxicos e às diversas moléstias, numa determinada época. • Em segundo lugar, BESEMER (op. cit.) pôs em evidência a influência nefasta da repetição dos tratamentos. Assim, Ziram e Ferbam manifestam ação fitotóxica somente após a quarta aplicação em macieira. Os três primeiros tratamentos apresentam, ao contrário, uma certa influência benéfica no desenvolvimento das folhas. Como já suspeitávamos, estudando os resultados de GROSCLAUDE sobre o pessegueiro, o inseticida Azinphós adicionado ao Ziram agrava os danos. A repetição de tratamentos e misturas de produtos são prática corrente. Não raro, 20 a 30 intervenções sucedem-se nos pomares em cultivo “químico”. Não é de surpreender que as diminuições de rendimento tenham sido constatadas um ano, ou mesmo dois, após o experimento com tratamentos consecutivos de Ziram (BESEMER, op. cit.). Isto confirma as repercussões a longo prazo na fisiologia das plantas perenes e, portanto, na diminuição da resistência às moléstias. A estas incidências nefastas e incontroláveis, resultantes de tratamentos diretos sobre as plantas, somam-se as repercussões indiretas dos agrotóxicos sobre a fertilidade do solo, via nutrição da planta. 9. REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS SOBRE A NUTRIÇÃO DA PLANTA E A FERTILIDADE DO SOLO A) NAR ou “net assimilation rate”,* critério do metabolismo da planta *

Em inglês, no original: taxa líquida de assimilação. (N. da T.)

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A NAR ou net CO 2 assimilation rate dos anglo-saxões, permite avaliar o nível de assimilação da planta graças à análise do CO2 em luz infravermelha. Em experimentos sobre folhas de macieira, HEINRICKE e FOOT (1966) puderam mostrar que dois inseticidas fosforados, Gusathion e Diazinon, reduziam, muito nitidamente, a NAR da folhagem, após mais de uma semana da aplicação. Estudos anteriores, dos próprios autores, tinham mostrado os mesmos efeitos contrários de diversos agrotóxicos, como Aramite, Sulfenona, Tetradifon e 2-45T, sobre o nível de fotossíntese das folhas de macieira. HEINRICKE e FOOT (op. cit.) observam que esta regressão da NAR excedia o intervalo recomendado entre as aplicações, podendo, portanto, repercutir sobre os rendimentos, devido à diminuição do potencial de fotossíntese das árvores. Estes autores não vislumbraram eventuais repercussões sobre a diminuição da resistência da macieira em relação às moléstias. Mas esta sensibilidade é ligada a uma inibição da proteossíntese, igualmente confirmada por SHARMA (1975). Pela técnica da NAR, SHARMA (op. cit.) mostrou que diversos herbicidas aplicados no solo provocam repercussões sobre a fisiologia das folhas. Também é necessário não perder de vista que os agrotóxicos aplicados sobre a folhagem podem contaminar o solo, por escorrimento, de uma forma mais grave do que se supõe a priori. B) Repercussões de diversos fungicidas sobre as minhocas e a microflora do solo O relatório do grupo internacional de controle integrado em pomares (IOBC), relativo à reunião ocorrida em Bolonha, em 1972, salienta, de um lado, a importância da fertilização e de outro, dos tratamentos com agrotóxicos sobre a resistência da macieira a Oidium nas folhas e às moléstias dos frutos. Está bem especificado que o Captan estimula particularmente o desenvolvimento de Oidium. 123

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Da mesma forma, as fertilizações nitrogenadas excessivas e os tratamentos a base dos fungicidas Captan, Tuzet, Maneb, Metiram e Mancozeb aceleram a maturação dos frutos e reduzem, por isso mesmo, sua resistência em relação aos parasitas de armazenazenamento, tais como Gloesporium e Nectria. Esta sensibilização parece ter sua origem – como é regra geral – num processo de ordem nutricional. Os autores do relatório salientam que “o nitrogênio total aumenta após quase todos os tratamentos fungicidas”. E, também, que existem diferenças importantes no teor de aminoácidos, segundo o agrotóxico usado. Está bem especificado nesse relatório coletivo que certos fungicidas anti-Oidium, como Dinocap e Binapacryl fazem os ácaros regredirem, por um efeito tóxico imediato, mas estimulam, em seguida, sua multiplicação por um pós-efeito trófico indireto. Entretanto, ainda há mais: após a decomposição do material vegetal (principalmente folhas), contendo os fungicidas sistêmicos que lhe foram aplicados (Benzimidazol, Benomyl, Thiophanate etc), a grande maioria desses compostos entram no ecossistema do solo podendo, assim, afetar os processos de decomposição. É bem conhecido que os fungicidas sistêmicos inibem certos organismos saprófitas do solo, tanto as micorrizas, como também sobre a videira como sobre a macieira. Enfim, Benomyl, Thiophanate e Thiabendazole mostraram-se muito nocivos em relação a minhocas (Lumbricus terrestris). Esta influência nociva em relação às minhocas explica o fato de que as folhas caídas permaneçam intactas após pulverizações com fungicidas sistêmicos, já que os oligoquetas são em grande parte responsáveis pela decomposição da folhagem morta. O relatório precisa que “após as aplicações de Benomyl, as modificações na microflora podem causar o desenvolvimento de certos fungos parasitas, anteriormente sem importância, como é o caso de Alternaria, na regido do Lago de Constança”. 124

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Estudos precisos de diversos pesquisadores, envolvendo as repercussões dos agrotóxicos em relação aos microorganismos do solo, confirmam o exposto, conforme veremos. C) Repercussões de diversos agrotóxicos – especialmente herbicidas – sobre os microrganismos do solo e sobre a nutrição da planta. PURUSHOTHAMAN et alii. (1973) estudaram o teor dos solos em ácido indolacético ou IAA, observando que a presença nos solos, dessa substância de crescimento estava suficientemente provada, ainda que se pudesse fazer reservas quanto à sua origem. Estes autores observaram que as auxinas podem se acumular de diversas maneiras: 1. por excreção do sistema radicular das plantas; 2. por decomposição da matéria orgânica; 3. por síntese, graças a certos organismos do solo. Assim, se estimou que: 77% das bactérias, 60% dos fungos e 46% dos actinomicetos são capazes de produzir o IAA. Esta constatação levou os autores a estudarem os efeitos do Formothion (inseticida organofosforado endoterápico), do Benomyl (um carbamato), e do Pentachloronitrobenzeno ou PCNB e de um antibiótico, o sulfato de estreptomicina, sobre o metabolismo do IAA no solo. Tratavam-se de experimentas de laboratório em que o solo seco recebia, ou não, triptofano ou glicose. Como se sabe, o triptofano é um precursor do IAA; primeiro, convertido em triptamina é, em seguida, desaminado em indol-3-acetoaldeído, este último dando, a seguir, o IAA. Os resultados indicam que, mesmo tendo originalmente muito pouco de IAA, o solo o contém em grandes quantidades quando temse o cuidado de suplementá-lo com triptofano. O tratamento do solo com sulfato de estreptomicina inibe a elaboração do triptofano em IAA, o que confirma que sua conversão é, em grande parte, microbiológica. 125

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Os inseticidas e fungicidas testados nesses experimentos provocaram um decréscimo no teor em IAA no solo, sendo a regressão mais acentuada com Formothion do que como Benomyl ou Pentachloronitrobenzeno. Quadro 4. IAA sintetizado (em y /25mg de extrato de solo) em função dos diferentes tratamentos do solo. Tratamentos

I.A.Asintetizado

Solo + triptofano + glicose

189,02

Solo + triptofano + glicose + Formothion

30,32

Solo + triptofano + glicose + Benlate

85,57

Solo + triptofano + glicose + Pentacloronitrobenzeno

114,20

Solo + triptofano + glicose + estreptomicina

55,26

Solo + glicose, sem triptofano

32,32

VLASSAL e LIVENS (1975), referindo-se a numerosos trabalhos que estabeleceram a extrema sensibilidade da nitrificação em relação aos agrotóxicos, evidenciaram os efeitos nefastos de alguns deles, idênticos aos dos adubos nitrogenados, sobre as atividades da microflora do solo e um efeito inibidor do BHC, ou hexaclorociclohexano, sobre os microrganismos nitrificantes. Num segundo trabalho, esses mesmos autores estudaram os efeitos de vários agrotóxicos, em diversas concentrações, sobre a amonificação e a nitrificação, com especial atenção sobre a ação dos produtos em presença de adubos amoniacais. Pensamos interessante especificar o detalhe. Esses experimentos foram conduzidos sobre dois tipos de solo, ambos cultivados com beterraba açucareira. O solo A, proveniente de planície, apresentava 3,3% de húmus; o solo B tinha tido um cultivo de 15 anos de beterraba, com rotação de cereais, e não acusava mais do que 1,9% de húmus. (Pode-se perguntar se, eventualmente, não haveria aí uma relação de causa e efeito entre a cultura da beterraba, os tratamentos com agrotóxicos que ela comporta e o baixo teor de húmus que subsiste.)

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Os agrotóxicos testados incluíam cinco herbicidas, dois inseticidas: (Heptacloro (l kg/ha) e Aldrin (3kg/ha) + Aldicarb e, em outro, Oxamyl e Prophos. (Obs.: o Oxamil é um carbamato nematicida.) De maneira geral, os agrotóxicos apresentaram um menor efeito retardado no processo de nitrificação, no solo A que no solo B, devido ao teor mais alto em húmus do primeiro. No entanto, os resultados confirmam que a maior parte dos carbamatos provocam uma regressão da nitrificação no solo, na dose padrão de aplicação. A nitrogenase é, sobretudo, afetada pelo Oxamyl. Os autores concluem que não apenas a nitrificação é sensível a certos produtos, mas que o próprio processo da fixação de nitrogênio pelas bactérias é afetado por alguns agrotóxicos. Especialmente os produtos nocivos à nitrogenase são indesejáveis, pois impedem a fixação do nitrogênio do ar. Essas pesquisas foram confirmadas por trabalhos relacionados não, mais a plantas anuais como a beterraba, mas a culturas perenes, como as árvores frutíferas. SHARMA (1975) estudou o efeito de diversos agrotóxicos sobre a NAR de macieiras cultivadas em estufa. Assim, ele evidenciou que produtos tão diferentes quimicamente como Diazinon, Dicofol, Omite, Leptofos e o Thiram ou TMTD fazem a NAR decrescer em mais de 10%. Pulverizações repetidas de Dicofol reduzem significativamente a NAR da folhagem de macieira. Sozinhos, os tratamentos de Dodine não mostraram nenhuma influência significativa sobre a NAR. Além disto, SHARMA (op. cit.) estudou as repercussões de diversos agrotóxicos aplicados no solo sobre a NAR das folhas de macieira Golden Delicious. Foi demonstrado que: – Monuron faz decrescer a NAR em 45% – Atrazine faz decrescer a NAR em 37% – Simazine faz decrescer a NAR em 12%. 127

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SHARMA precisa, também, que: “A influência dos herbicidas sobre a NAR apareceu dez dias após o tratamento e este efeito persistiu no restante do período experimental, ou seja, quarenta dias”. Isto significa que durante pelo menos quarenta dias, a proteossíntese da árvore frutífera encontrar-se-á afetada. Só podemos nos perguntar quais serão, nestas condições, as conseqüências sobre sua resistência em relação às moléstias e às pragas que se multiplicam às expensas das substâncias solúveis presentes no vacúolo das células. Esses resultados, envolvendo a folhagem da planta crescendo em solo tratado, parecem explicáveis pelo que se passa ao nível do solo. VICARIO (1972), procedendo a uma revisão bibliográfica, antes de dar seus próprios resultados, recorda os pontos de vista de MOYER. Este pesquisador refere que os tratamentos com agrotóxicos, que destroem um grande número de microrganismos do solo, podem provocar uma toxicidade indireta em relação às plantas, atribuída a uma não-disponibilidade de fósforo. Esta hipótese parece concordar com a propriedade que possui a matéria orgânica e, especialmente, o húmus, de favorecer a assimilação do fósforo pelas plantas, como veremos a propósito da influência da natureza da fertilização sobre a resistência da planta. Esta questão será revista mais adiante, a propósito da influência da natureza da fertilização sobre a resistência da planta. MOYER observa que determinados agrotóxicos, principalmente os que contêm nitrogênio, são eles próprios cátions e que por isso podem deslocar outros cátions do complexo de troca, tais como Ca, Mg e Zn. VICÁRIO (op. cit.) pôde mostrar que 2-4 D - 2-4-MCPA e Malathion, afetam P, K, e Ca, assim como o total de N trocável, nos solos argilosos. Estas modificações, que lembram nossos próprios resultados com diversos agrotóxicos em tratamento de folhas da videira, não podem senão repercutir sobre o metabolismo e, portanto, sobre a resistência da planta. Os trabalhos de GAWAAD et alii. (1973) confirmam a influência inibidora de diversos inseticidas de solo, tais como Kepone, Endrin, 128

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Dyfonate e um certo PP 221* (provavelmente um produto de experimentação) sobre a amonificação da peptona e a nitrificação do sulfato de amônia. Esses autores estabeleceram que os inseticidas e, em primeiro lugar os clorados, têm uma influência inibidora sobre a atividade dos fungos (especialmente os actinomicetos) e bactérias que participam da amonificação, e sobre os nitrobacter que participam da transformação dos nitritos em nitratos. Resumo O conjunto desses trabalhos mostra que todos os agrotóxicos incorporados ao solo, seja intencionalmente para desinfecção, nãointencionalmente, após tratamentos de controle de insetos ou fungos ou tratamentos herbicidas, são capazes de afetar a fisiologia da planta através de sua nutrição. Os herbicidas parecem os mais perigosos, devido a sua dupla ação: efeito direto no momento do tratamento, ainda que subletal, em relação à planta e ação indireta, pela inibição da nitrificação ou da amonificação, conseqüente à destruição dos microrganismos do solo. ROTINI e SEQUI (1974) já tinham salientado que: “O emprego de inseticidas e herbicidas causa grandes problemas no que diz respeito à integridade das características do solo”. A matéria orgânica e o húmus que dela deriva podem, de certa forma, servir de “tampão”, reduzindo um pouco o atraso provocado por este ou aquele agrotóxico na nitrificação. Contudo, pode-se perguntar o que acontece com a matéria orgânica e o húmus assim “tratados”? ROTINI e SEQUI (op. cit.) observam, oportunamente, que “se deveria considerar mais a influência dos inseticidas e dos herbicidas sobre as enzimas do solo”.

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Estes mesmos autores, por outro lado, observam: “Se um herbicida comporta-se como um inibidor das enzimas do solo, todo o sistema ecológico poderá sofrer modificações profundas, e a própria fertilidade do solo poderá ser alterada”. Efetivamente, é o que confirmam os diferentes trabalhos que analisamos. Portanto, podemos nos perguntar quais podem ser as conseqüências provocadas pelos diversos agrotóxicos – herbicidas à frente – sobre a resistência da planta assim perturbada em sua nutrição? É necessário questionar em que medida as inibições da proteossíntese não apresentariam uma influência indireta, mas certa, sobre o desenvolvimento das doenças e, especialmente das doenças viróticas, eventualidade à qual já fizemos alusão. São estas importantes questões que nos propomos tratar no próximo capítulo.

Fig. 11. Fórmulas comparadas do DDT e do 2-4 D 130

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Fig. 12. Repercussões de DDT pó a 70% sobre videira. À esquerda, planta testemunha; à direita, planta tratada (segundo DELHAYE, Bull. Horticole. Liège, 1950). Observar as deformações das folhas, idênticas às que podem ser provocadas por uma substância de crescimento. 131

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Fig. 13. Repercussões sobre os teores de nitrogênio protéico em folhas de macieira, acarretadas por diversos tratamentos com produtos acaricidas. (Segundo BLAGONRAVORA, 1974.) 132

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Fig. 14. Repercussões sobre os teores de nitrogênio não-protéico em folhas de macieira, em seguida a diversos tratamentos com produtos acaricidas. (Segundo dados de BLAGONRAVORA, 1974) 133

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Fig. 15. Equilíbrio dos elementos catiônicos K/Ca/Mg nas folhas de videira, para cada uma das seis parcelas do quadrado latino, correspondente aos tratamentos: DDT, Parathion, Carbaryl e testemunha, em 14 de junho, após a intervenção inseticida de 5 de junho de 1962. 134

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Fig. 16. Níveis das populações totais de Panonychus ulmi e Eotetranychus carpini vitis em 9 de julho de 1962, para o conjunto das seis parcelas do quadrado latino e em função do equilíbrio K/Ca/Mg nos tecidos foliares, em 14 de junho de 1962. (Experiência a campo aberto, CHABOUSSOU, 1969, tese) 135

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CAPÍTULO V

CAUSA DO DESENCADEAMENTO DE MULTIPLICAÇÕES DE PRAGAS E DE DOENÇAS PROVOCADAS PELOS AGROTÓXICOS

“E através dos fenômenos de nutrição que podemos atingir os organismos vivos”. Claude Bernard

1. A TROFOBIOSE COMO EXPLICAÇÃO DO AUMENTO DA SENSIBILIDADE DA PLANTA AOS PARASITAS PELA AÇÃO DOS AGROTÓXICOS Os capítulos precedentes nos mostraram que: • determinados agrotóxicos agravam o desenvolvimento, tanto de doenças fúngicas, como também, como veremos adiante – viroses – com a multiplicação de pragas, como ácaros, pulgões, aleirodídeos, Todos organismos picadores, mas também os lepidópteros, como, por exemplo, a Ostrinia nubilalis, do milho. • estes ataques não são, absolutamente, devido ao desaparecimento de eventuais fatores antagonistas; • ao contrário,o desenvolvimento das pragas tem por origem um aumento do seu potencial biótico (ação positiva especi-

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almente sobre a fecundidade, longevidade e velocidade de reprodução desses organismos); • estas modificações são de origem nutricional ou trófica: a teoria da trofobiose é proposta como exp1icação do que foi convencionado chamar de “desequilíbrios biológicos”. Vimos também que, mesmo sem serem idênticas, as necessidades nutricionais dos diferentes “parasitas” são constituídas de substâncias solúveis, como aminoácidos livres ou glicídios redutores. Conseqüentemente: • é criando um estado de proteólise dominante que os agrotóxicos sensibilizam a planta; • é, inversamente, por estímulo da proteossíntese, através de diversas técnicas, que reforçaremos a resistência da planta. É pelo estudo, tão aprofundado quanto possível, das relações entre as repercussões dos agrotóxicos sobre a bioquímica da planta e o desenvolvimento das pragas e das doenças, que poderemos. É o que propomos fazer ao longo deste capítulo. 2. CAUSAS DAS PROLIFERAÇÕES DE ÁCAROS Conforme tratamos no primeiro capítulo, pudemos demonstrar pelas criações, que o ácaro(Tetranychus), alimentado à base de folhagem tratada com o produto responsável por sua multiplicação, tinha seu potencial biótico aumentado. Isto ocorria pela elevação de sua fecundidade (no sentido do número de ovos postos diariamente) e de sua longevidade (os ácaros fazem postura até sua morte), pela redução de seu ciclo evolutivo (aptidão de chegar mais cedo à idade reprodutiva) e por uma maior proporção de fêmeas na população (distorção na proporção de sexos). (CHABOUSSOU, 1969) (fig. 17). Um determinado número de produtos sintéticos, indiferentemente, inseticidas ou fungicidas, podem também intensificar as multiplicações dos ácaros. Destacam-se, sobretudo, DDT, Carbaryl, Captan e diversos ésteres fosfóricos. Nas condições em que aceleram a prolifera142

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ção, esses produtos provocam uma inibição da proteossíntese. É este enriquecimento dos tecidos da planta em substâncias solúveis que repercute, de maneira positiva, sobre o potencial biótico desses animais (fig. 18 e 19). Este gênero de determinismo já havia sido aventado por alguns pesquisadores. Assim, em 1965, MARDAJANIAN et al., numa comunicação à Academia de Ciências da Geórgia*, assinalavam que “a multiplicação de Tetranychus após tratamentos com DDT era decorrente das mudanças na composição bioquímica das folhas e, conseqüentemente, do regime de nutrição dos ácaros”. Efetivamente, as análises de folhas do algodoeiro submetidos a estes tratamentos, efetuadas a cada cinco dias, evidenciaram diversos fenômenos, como: – flutuações na atividade da peroxidase; – queda regular do teor de clorofila; – aumento da pigmentação antociânica; – enfim, diminuição do teor de nitrogênio protéico; – e, ao contrário, aumento da concentração de fósforo. Apenas estes dois últimos processos bastariam para explicar o aumento da fecundidade dos ácaros que se nutrem das folhas assim tratadas. Mencionamos efim, que a proporção de glicídios diminui, o teor de amido aumenta e certos aminoácidos desaparecem como, por exemplo, a histidina. Semelhantes perturbações no metabolismo da planta foram igualmente registradas por outros pesquisadores, como SMIRNOVA (1965), que se preocupou com o determinismo da multiplicação sobre beterraba tratada também com DDT, o que veremos adiante. Em relação ao fenômeno, aparentemente paradoxal, que constitui a multiplicação dos ácaros por produtos acaricidas destinados, em

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princípio, a destruí-los, como já mostramos, (CHABOUSSOU, 1970), merece atenção o fato de que, tão logo isto foi demonstrado, os pesquisadores tentaram elucidar seu determinismo sem evocar uma suposta destruição dos inimigos naturais ou um processo qualquer de resistência. Este foi o caso de WAFA et alii. (1969). Esses autores – os quais pode-se supor que tenham sido, previamente alertados por determinados fracassos de tratamentos –, estudaram dois tipos de repercussões conseqüentes a aplicações repetidas de diversos acaricidas sobre citros. Primeiro, procederam a observações escalonadas envolvendo o nível das populações do ácaro (Eutetranychus orientalis), (Klein), dos citros. Segundo, confrontaram esses dados com a composição bioquímica das plantas cítricas sobre as quais foram mantidas essas populações. O experimento comportava sete “tratamentos”: AmidithionFormothion; Amidithion e Formothion em aplicações alternadas; Amidithion e Demeton alternados; Amidithion, Formothion e Demeton alternados com intervalos de duas semanas sem tratamentos, e Formothion e Demeton em tratamentos alternados. Os autores registraram que os inimigos naturais dos ácaros eram raros e não podiam interferir de maneira sensível sobre o equilíbrio das populações. Resumindo, segundo os autores, os resultados indicam que os acaricidas fosforados. quando utilizados só, em aplicações repetidas, provocam um aumento da infestação dos ácaros durante um período prolongado. Este efeito positivo sobre a multiplicação do ácaro pelos acaricidas fosforados é atribuído à ação dos produtos sobre a composição bioquímica da planta. Assim, os autores registram com Amidithion, Formothion e Demeton uma elevação do nível dos glicídios solúveis. Isto tanto nos caules quanto nas folhas dos citros. Esta constatação concorda com os resultados obtidos por FRITZSCHE (1961) sobre feijão e por nós mesmos sobre videira, em 144

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relação a Eotetranychus carpini vitis (CHABOUSSOU, 1970). Devemos observar que o potencial biótico, via fenômeno da nutrição, não depende somente dos glicídios, mas de um regime alimentar correspondente a um certo equilíbrio: Substâncias nitrogenadas £ solúveis glicídios redutores. É, portanto, este equilíbrio que vamos ver relacionado com a multiplicação dos pulgões. 3. CAUSAS DAS PROLIFERAÇÕES DE PULGÕES Trata-se de um fenômeno análogo ao das proliferações de ácaros, mas que talvez não sensibilize os observadores com a mesma intensidade. Freqüentemente, a presença de colônias abundantes de pulgões após este ou aquele tratamento é debitada a uma simples resistência ao agrotóxico (fig 4). Tanto é verdade que se confunde, freqüentemente, multiplicação e resistência. Entretanto, como disse antes, MICHEL (1964) obteve, sobre fumo tratado com Mevinphos (inseticida fosforado), uma multiplicação maior de Myzus persicae em comparação às testemunhas (fig. 20). Esta elevação do potencial biótico resulta de um processo triplo: a) aumento da fecundidade: a média de postura passa de 25,09 na testemunha para 31,69, sobre fumo tratado com Mevinphos, a l cm3/ l, e para 46,30, em fumo tratado com Mevinphos a 2 cm3/l; b) aumento da longevidade dos indivíduos: as relações entre o número de indivíduos que chegam a se reproduzir em comparação com o número dos indivíduos instalados são as seguintes: – Testemunhas ............................ 69,60% – Mevinphos: 2cm3 /l ................... 74,40% – Mevinphos: 2cm3 /l ................... 87,43% c) redução do ciclo evolutivo: isto é, a aptidão dos indivíduos, alimentados sobre as folhas tratadas com agrotóxicos, para reproduzi145

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rem-se mais precocemente. Em outras palavras, as gerações sucedemse em ritmo mais rápido devido a este fenômeno. Estudando a reprodução de outro pulgão, Aphis fabae, sobre hastes florais de beterrabas tratadas com DDT, SMIRNOVA (1963) constata que a fecundidade do pulgão é diferente segundo o tempo decorrido entre o tratamento e a contaminação artificial. O efeito mais agudo sobre a fecundidade de Aphis fabae ocorre entre nove e quinze dias após a aplicação do inseticida. Segundo o autor, esta exacerbação da oviposição está correlacionada com a concentração em nitrogênio não-protéico das plantas assim tratadas. Por outro lado e em concordância com os resultados de WAFA et alii. (op. cit.) referentes aos ésteres fosfóricos sobre citros, registrou-se igualmente, nas hastes florais da beterraba tratadas com DDT, um aumento nos açúcares pela ação do agrotóxico, em relação às testemunhas. Essas análises evidenciam que a multiplicação dos pulgões pelo DDT resulta de um estado de proteólise dominante, criado pela ação do agrotóxico, e de um estado nutricional da planta, que depende do equilíbrio dos produtos nitrogenados e dos glicídios. Depende, também, da própria natureza desses elementos (presença ou predominância deste ou daquele aminoácido) que tem como característica serem substâncias solúveis, isto é, assimiláveis por esses organismos. Essas inibições da proteossíntese são conseqüência de diversos agrotóxicos e das substâncias estimulantes de crescimento utilizadas como tais. MAXWELL e HARWOOD (1960) mostraram que o tratamento das favas com 2-4 D provoca no pulgão Macrosiphum pisum uma taxa de reprodução claramente mais elevada que nas testemunhas. Como no caso precedente, este aumento de fecundidade parece ter relação com o crescimento dos teores de aminoácidos livres na seiva. ADAM e DREW (1969), mostraram também, com trabalhos sobre aveia e cevada, que as populações de duas espécies de pulgões, Rhopalosiphum padi e Macrosiphum avenae, achavam-se associadas às 146

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aplicações de 2-4 D. Estes aumentos do potencial biótico dos pulgões pelos hormônios de crescimento foram confirmados por criações em laboratório. Especialmente no caso da beterraba e dos cereais, fica evidente a importância das interações entre o estado fisiológico da planta devido à ação de diferentes agrotóxicos sobretudo inseticidas e herbicidas que lhe são aplicados, e o desenvolvimento das doenças fúngicas e viróticas. Estas últimas são favorecidas, simultaneamente, por um estado onde predomina a proteólise e pela resultante multiplicação dos pulgões vetores. Voltaremos adiante sobre esta questão fundamental, a propósito das doenças por vírus. Não se pode concluir este parágrafo, dedicado aos pulgões, sem evocar o caso da filoxera da pereira (Aphanostigma piri). Trata-se, ainda, de um “desequilíbrio biológico” que deixa os entomologistas e técnicos encarregados do controle perplexos e impotentes. Todavia, começa-se a suspeitar da provável influência de determinadas condições capazes de interferir no estado fisiológico da planta. Assim, MOUSSION (1979) recorda as repercussões de diversas técnicas culturais, trabalho do solo, fertilização e, enfim, “a utilização de antiparasitários”. Todavia, o autor não precisa que esses fatores poderiam agir por intermédio de suas repercussões sobre o metabolismo da planta. A julgar pelas experiências apresentadas, talvez o problema básico resida neste ponto. Após ter recordado a influência positiva de um excesso de nitrogênio sobre o desenvolvimento dos pulgões, MOUSSION (op. cit.) chega a esta observação “inesperada” – diz ele – feita pelos agentes do INRA, no curso de testes em 1962, com um novo inseticida, Demeton-methyl. As parcelas que receberam aplicações deste produto foram invadidas por Aphanostigma piri e a colheita foi muito prejudicada. Ele não questiona, se esta proliferação foi resultado de um processo análogo ao das outras multiplicações de pulgões e ácaros. Este 147

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fato coloca sob suspeição a influência do Demeton-methyl na fisiologia e estado bioquímico da pereira assim tratada. MOUSSION (op. cit.) menciona, igualmente, um fato muito significativo a nossos olhos. Trata-se da “insuficiência” (para empregar sua expressão) de diversos outros inseticidas, entre os quais o Parathion – óleo diesel, bem como de diferentes “inseticidas polivalentes”, tenham eles ação de contato, ingestão ou inalação. MOUSSION precisa, também, que os “inseticidas polivalentes”, de contato ou sistêmicos, como “Azinphos-methyl”, Vamidothion e Omethoate, devem ser evitados nos pomares atacados por esta filoxera. Não apenas se mostram ineficazes, como, ele observa , “apresentam os mesmos inconvenientes do Demeton-methyl, citado anteriormente”. Em outras palavras, esses produtos, não só são apenas ineficazes, mas parecem exacerbar a multiplicação do parasita, como no caso do Demeton-methyl. A fim de demonstrar este efeito favorável ao pulgão, ao invés de se constatar, com uma espécie, que Diazinon, Bromophos, Dichlorfos, Endosulfan, Pirimicarb e Parathion- óleo diesel “foram um fracasso total”, bastaria, simplesmente, observar com cuidado, os níveis de população nas árvores assim tratadas e verificar se são superiores ou não às levantadas sobre as testemunhas. E não comparar com os resultados de um produto padrão, cujas repercussões sobre a planta podem mascarar o fenômeno de estimulação. Seria necessário, em suma, proceder como COX e HAYSLIP fizeram para o desenvolvimento de Botrytis sobre tomates tratados com Ditiocarbamatos contra a Phytophthora (p. 29). 4. CAUSAS DA MULTIPLICAÇÃO DE LEPIDÓPTEROS Se as proliferações de ácaros, pulgões e aleirodídeos, desencadeadas por toda uma gama de agrotóxicos, “saltam aos olhos”, é porque estes parasitas permanecem sobre a planta durante a maior parte de seu ciclo. Ora, o mesmo não ocorre com os lepidópteros, cujas exigências de metamorfose levam-nos a mudar de meio e, portanto, a 148

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deixar a planta-hospedeira. Entretanto, vimos pelas observações de LUCKMANN (op. cit.), que tratamentos do solo com um inseticida clorado como o Dieldrin podiam aumentar as populações de tortrice (Ostrinia nubilalis), no milho. Com os trabalhos de TITOVA (1968), temos resultados tabulados envolvendo os diversos processos que podem ser responsáveis pelo aumento do potencial biótico do inseto. TITOVA (op. cit.) conduziu seus estudos simultaneamente em laboratório e a campo, envolvendo diversos lepidópteros nocivos, avaliando os indivíduos sobreviventes após o tratamento, bem como sua descendência. Assim, as experiências conduzidas com lagartas de Heliothis armigera, alimentadas com tomateiro tratado com DDT e Carbaryl, apresentaram os seguintes resultados: Quadro 5. Resultados sobre o potencial biótico das mariposas oriundas de lagartas alimentadas com folhas de tomateiro tratado com DDT e Carbaryl. Tratamentos

Fecundidade das fêmeas

Longevidade (em dias)

Peso (em mg) das crisálidas

Mortalidade das crisálidas

Testemunhas

452

15,2

278-285

DDT

664

22,6

306-303

46,6%

Carbaryl

478

20,1

266-270

43,0%

46,5%

O mesmo autor realizou experiências com Agrotis segetum sobre plântulas de trigo, cujos grãos tinham sido tratados com Lindane. A alimentação das lagartas às expensas desse trigo mostrou que: • a duração do estágio larval é levemente prolongada com o trigo oriundo de grãos tratados com Lindane – 39,4 dias contra 32,4 no testemunha; • o peso das crisálidas é aumentado, como no caso precedente:

Testemunhas Trigo oriundo de grãos-lindane 149

machos 233 276

fêmeas 260 mg 326 mg

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As crisálidas de A. segetum mantidas a 5 – 6º C, durante três meses, apresentavam apenas 16,9% de mortalidade quando provenientes do “trigo-lindane”, contra 72,5%das testemunhas. Isto parece constituir um fenômeno geral, já que as crisálidas de H. armigera mantidas durante quatro meses à mesma temperatura de 5 – 6ºC, apresentavam 49% de mortalidade nas larvas oriundas das folhas tratadas com lindane, contra 92% para as larvas alimentadas com trigo-testemunha. O autor conclui assim: “Tudo isto mostra uma forte resistência às condições experimentais adversas, em função dos tratamentos químicos”. O modo de alimentação das lagartas afeta igualmente a proporção de crisálidas em diapausa bem como a fecundidade das fêmeas da geração seguinte: Alimentação com trigo tratado Testemunha DDT Carbaryl

: : : :

fecundidade por fêmea 43 191 326

TITOVA (op. cit.) conduziu observações sobre lagartas de Hadena sordida recolhidas em trigo no Casaquistão, tratadas com Methylparathion. O autor constatou, em comparação às testemunhas: – um aumento do peso das lagartas – uma diminuição da mortalidade larval. As análises da hemolinfa das lagartas mostraram a influência dos tratamentos com agrotóxicos. Assim, parecem particularmente afetados os teores dos íons Na+ e K+. Em Heliothis, nas lagartas tratadas com “folhas DDT, Carbaryl e Methyl-parathion”, a relação Na/K é inferior, em comparação às testemunhas. Esta relação, tomada como indicador da intensidade metabólica, revela que em seguida a tratamentos inseticidas os indivíduos sobreviventes apresentam um metabolismo reduzido, e que são mais resistentes a numerosos fatores 150

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ambientais adversos, aí incluídos os tratamentos químicos. Este último ponto corresponde ao que pudemos evidenciar nos ácaros, com o Parathion (CHABOUSSOU, 1968). Levando-se em consideração as repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e as conseqüências resultantes sobre o potencial biótico das pragas, por efeito nutricional, todo o controle químico deve ser retomado sobre novas bases, bem como o controle dito “integrado”. Veremos novas provas disto estudando as relações entre a planta e o agrotóxico e o desencadeamento de doenças, que este último pode provocar. 5. O DESENVOLVIMENTO DAS DOENÇAS FÚNGICAS E BACTERIANAS CAUSADAS PELOS AGROTÓXICOS A) Os ditiocarbamatos no desenvolvimento das doenças das plantas No primeiro capítulo, referimo-nos aos “desequilíbrios biológicos” provocados pelo emprego dos agrotóxicos no campo das doenças, como o desenvolvimento da ferrugem do trigo pelo DDT ou do Oidium e Botrytis na videira, pelo Maneb, Zineb e Propineb ou Mezineb (CHABOUSSOU, 1966). Também fizemos referência aos fracassos dos tratamentos com estes mesmos produtos, no fim da estação de produção que, na realidade, acabam sendo processos de sensibilização da planta em relação à moléstia a combater. A este propósito GREWE (1967) observava: “Zineb e sobretudo Maneb favorecem a infecção dos cachos de uva por Botrytis cinerea, a tal ponto que, em numerosas regiões, o mofo cinzento tornou-se o problema patológico mais importante na agricultura”. No sul da Flórida, a extensão desta moléstia em tomateiros é atribuída à utilização de Maneb e Zineb contra Phytophthora (COX e HAYSLIP, 1956). Efetivamente, estes dois autores mostraram que, em tomateiros, os carbamatos da série etilada, tais como Zineb e Maneb, provocavam a recrudescência dos ataques de Bobrytis. 151

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Estas repercussões nefastas do Maneb e Zineb foram encontradas por COX e WINFREE (1957) também sobre morangueiros. Isto demonstra a generalidade do fenômeno e levou estes autores a concluírem: “É tentador associar o aumento da concentração de zinco nas folhas com o crescimento aparente da suscetibilidade à infecção por Botrytis. É bem conhecido que os excessos nos níveis dos oligoelementos podem induzir a desequilíbrios em processos de grande importância biológica”. COX e WINFREE (op. cit.) fazem alusão ao acúmulo do zinco nas folhas tratadas com Zineb. Quadro 6. Concentração de zinco nas folhas de morangueiro (em ppm) segundo os tratamentos com agrotóxicos Tratamentos

Folhas velhas

Folhas jovens

Testemunha

16

44

Zineb

208

155

Nabam+ZnSO4

203

121

Thylat

17

41

Phygon

26

48

L.S.D.01

31

20

Os aumentos em zinco nas folhas, produzido pelo Zineb e pela mistura Nabam + Zn SO 4, são acompanhados de alterações no metabolismo normal da planta. Assim, COX e WINFREE (op. cit.) observam: “As diferenças envolvendo o conteúdo protéico, ainda que não significativas, são sugestivas, em particular no que diz respeito às folhas velhas, nas testemunhas e nos tratamentos Zineb e Nabam + Zn SO4. Estas amostras contêm, em média, os seguintes valores”: Quadro 7. Teor de nitrogênio protéico das folhas Testemunhas ....................................................... 3,18 Zineb ................................................................. 3,08 Nabam + Zn SO 4 ............................................................................... 3,06

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Este fato conduziu os autores à seguinte conclusão: “O trabalho reforça a hipótese de que estas aplicações de fungicidas biditiocarbamatos podem aumentar a suscetibilidade de certas plantas a Botrytis”. Como demonstram as análises já citadas, e em concordância com a teoria da trofobiose, este processo parece se encontrar relacionado com a diminuição da proteossíntese constatada por estes autores. Esta sensibilização da planta por agrotóxicos como os ditiocarbamatos não envolve somente as doenças fúngicas, mas também as moléstias viróticas e bacterianas que, como as precedentes, encontram-se em fase de expansão na agricultura. Como se surpreender, se esta expansão procede de um mesmo determinismo? B) Agrotóxicos e doenças bacterianas Uma das doenças bacterianas mais graves é o “fogo bacteriano da pereira” provocado por Erwinia amylivora.* Esta doença foi detectada recentemente em Aquitaine, num pomar de Passe-Crassane, em Labatut (Landes). Esta doença penaliza toda esta região, mas poupa determinados produtores de Amou. Ocorre que estes conservam certos métodos particulares de controle químico, aos quais voltaremos, pois nos parecem estar relacionados com a imunidade das árvores assim tratadas, ainda que não especificamente em relação a Erwinia amylivora. Começa, atualmente, uma preocupação com as causas desta “explosão” de doença. Entre elas estão vagamente implicadas “as técnicas culturais”, sem que aí se incluam, entretanto, os tratamentos com agrotóxicos. Contudo, diversas observações os colocam claramente em questão. Assim, FIERET e LARGE (1976) assinalam: “as substâncias de crescimento, empregadas para melhorar a fixação das flores, agravaram a tendência à segunda floração, e esta técnica deverá ser abandonada ou melhor dominada”. *

Agente da doença “Fire blight”. (N. da T.)

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O questionamento das substâncias de crescimento no desenvolvimento da doença bacteriana, que se pode qualificar “de empírico”, parece plenamente justificado. Como vimos, estes produtos provocam uma inibição da proteossíntese e, conseqüentemente, um enriquecimento dos tecidos da planta em substâncias solúveis, nutricionalmente sensibilizadoras. Outra conclusão: estes mesmos autores observam que “as adubações nitrogenadas, freqüentemente muito pesadas, têm uma influência marcante, sobretudo nos pomares não irrigados”. Sabe-se que um excesso de fertilização nitrogenada, especialmente com adubos amoniacais como o sulfato de amônia, correntemente usado, tem como primeiro resultado aumentar o nível de nitrogênio solúvel nas plantas. Assim, exatamente como para as substâncias de crescimento citadas anteriormente, é por um fenômeno de inibição ou redução da proteossíntese que a árvore frutífera se tornaria mais sensível à doença bacteriana. Observações importantes devem ser efetuadas envolvendo as repercussões dos agrotóxicos, por efeito indireto, sobre a fisiologia da planta. Em primeiro lugar, se deve recordar que podem ter incidências nefastas as substâncias de crescimento aplicadas intencionalmente sobre as árvores frutíferas, como a maior parte dos fungicidas e inseticidas sintéticos. Estas intervenções podem, perfeitamente, ser suficientes para colocar a planta num estado de sensibilidade tanto em relação às pragas quanto às diversas doenças. O processo de sensibilização é o mesmo, seja com pulgões, seja com bactérias, seja a inibição ou interrupção da proteossíntese.. É comum observar-se que, em Landes, as pereiras atacadas pela bacteriose de Pseudomonas syringae são infestadas também por filoxera (FIERET e LARGE, op. cit.). Por outro lado, é necessário assinalar que podem agir sobre a fisiologia das árvores frutíferas, os agrotóxicos aplicados intencional154

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mente* sobre as folhas e ramos, e os herbicidas, prática corrente agora, não apenas sobre cereais e hortaliças, mas também sobre árvores frutíferas e videira. Está bem demonstrado que todos estes agrotóxicos apresentam repercussões – algumas vezes mesmo a longo prazo – sobre a bioquímica destas plantas perenes. Já se sabia que Monuron provoca aumento do nitrogênio total e do nitrogênio solúvel nas hortaliças (COOKE, 1955). RIES et alii. (1963) estudaram, sobre pessegueiros das varidades Redhaven e Richhaven, as repercussões de Simazine e Amitrol, em relação ao teor em nitrogênio das folhas. Tanto sobre pessegueiros quanto sobre macieiras, a mistura Simazine (4 libras por acre, ou seja, aproximadamente 4,5 kg/ha) + Amitrol (2 libras por acre, ou seja, aproximadamente 2,25 kg/ha) provocam, em comparação às parcelas limpas à mão, níveis de nitrogênio mais elevados nas folhas. Esta elevação foi de 3,59% em comparação às parcelas limpas à mão, e de 3,02% em comparação às com cobertura plástica do solo. A destruição das invasoras era idêntica. Repercussões como a estimulação de crescimento ou o aumento do número de galhos laterais desenvolvidos sobre cada ramo podem, à primeira vista, parecer benéficas. É de se temer, todavia, que estes aumentos de vigor, traduzidos bioquimicamente por aumentos de nitrogênio nos tecidos e, sobretudo, de nitrogênio solúvel, não sensibilizem as árvores em relação às diversas doenças, em especial às viróticas. Examinaremos o assunto mais adiante. Que os tratamentos com agrotóxicos podem produzir repercussões sobre a sensibilidade – ou caso prefira, inibir a resisistência às doenças das árvores frutíferas por suas incidências sobre a fisiologia dessas plantas – nos parece perfeitamente demonstrado (como mostramos com o enxofre) por certas repercussões – benéficas – produzidas por determinados produtos. *

São chamados tratamentos preventivos, isto é, a aplicação do agrotóxico sem que haja a ocorrência de praga ou de doença. (N. do R.)

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Não é por acaso que os pomares da região de Amou (Landes), a que fizemos referência antes, são poupados de ataques de Erwinia amylivora, o “fogo bacteriano”. Nessa área, com efeito, notaremos que as árvores são tratadas por meio de produtos cúbricos contra P. syringae. LAGAUDE (1979) observa, a propósito das moléstias bacterianas do tomateiro: “Os produtos ricos em cobre podem ser utilizados. Embora os produtos cúpricos não sejam bactericidas, foi possível notar que exerciam uma ação contrária às bactérias”. Em consequência, há unanimidade de que a ação devidamente provada do cobre em relação às doenças bacterianas é indireta. A nosso conhecimento, ninguém tentou explicar até agora este fato. Ora, no que nos concerne e, segundo nossa concepção da trofobiose, o cobre poderia ter uma ação positiva sobre a proteossíntese, como oligoelemento, melhorando o metabolismo da planta. Quanto a esta ação do cobre, observamos que: a) em nossos próprios experimentos sobre videiras (cepas Semillon e Sauvignon), a calda bordalesa provocou uma clara regressão do nitrogênio aminado e amoniacal, bem como dos glicídios solúveis totais nas folhas (CHABOUSSOU: resultados não publicados). b) PINON (1977), por outro lado, diz em seu trabalho que: “A análise das folhas da amostra colhida no fim da floração revela uma influência dos fungicidas antimíldio. Os níveis de nitrogênio total e de nitrogênio solúvel das folhas são menos elevados no caso do tratamento com calda bordalesa”. Estes resultados, que exprimem a regressão das substâncias solúveis nutricionalmente sensibilizadoras, parecem explicar o efeito não fungicida, mas antimicótico e antibacteriano, dos produtos cúpricos, por sua ação sobre o metabolismo da planta. Isto ocorreria por intermédio da influência do oligoelemento cobre sobre enzimas como a polifenoloxidase e, portanto, positivamente sobre a proteossíntese. Assim estaria explicada a polivalência dos produtos cúpricos em relação a toda uma gama de doenças, aí compreendidas 156

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as bacterianas e as viróticas. Voltaremos a este propósito na fertilização e nos tratamentos foliares à base de oligoelementos. Uma última observação a propósito do “fogo bacteriano” (Erwinia amylivora): FIERET e LARGE (op. cit.) ressaltam que, em sementeira, “nenhum ataque foi observado sobre as plantas sensíveis. Após as considerações precedentes, podemos nos perguntar se esta imunidade em sementeiras não seria devido a uma dupla circunstância: estas plantas jovens, em período de crescimento ativo, são fisiologicamente resistentes – como se constata através de outras doenças como, por exemplo, a causada por Phytophthora cambivora em castanheiras,* por outro lado, pode também que esses indivíduos ainda não tiveram tempo de ser sensibilizados pelos tratamentos repetidos com agrotóxicos,que, habitualmente, são aplicados no pomar. Enfim, hã um outro desencadeamento de doenças mais preocupante: as diversas doenças que atingem os cereais, o que vamos examinar agora. C) Agrotóxicos e doenças dos cereais Recentemente, um técnico de uma empresa de agrotóxicos observava que: “O mercado francês dos fungicidas destinados aos cereais está em plena expansão. Enquanto em 1973 menos de 5% dos cereais recebiam um tratamento fúngico durante seu desenvolvimento, em 1978 mais de 30% das áreas semeadas foram tratadas (esta percentagem atinge quase 40% para o trigo mole de inverno)”. O autor prossegue: “Os fungicidas de aplicação nas partes aéreas dos cereais considerados como um meio ocasional de preservar uma cultura comprometida, atualmente são parte integrante do seu sistema de produção, da mesma forma que a adubação, os herbicidas e até os reguladores de crescimento” (DUPERRAY, 1979).

*

Refere-se à castanheira européia. (N. da T.)

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Não acreditamos que os agricultores se regogizem com a necessidade na qual parecem encontrar-se, ou seja, a necessidade de recorrerem a tratamentos fúngicos... Nosso problema é saber se esta necessidade não Resultaria, precisamente, da utilização de herbicidas e outros reguladores de crescimento – denunciados como favorecedores do desenvolvimento da helmintosporiose – e cuja utilização, como sublinha o autor, agora entrou na prática corrente. Referente aos cereais, recordemos que JOHNSON (1946) já demonstrou experimentalmente que o DDT provoca um aumento da sensibilidade do trigo à ferrugem, como conseqüência direta das repercussões deste produto organoclorado na fisiologia do cereal. Obviamente não é mais questão de tratar os cereais com DDT ou outros produtos clorados, já interditados. Todavia, observa-se que as incidências deste produto podem, perfeitamente, ser comparadas às provocadas por uma substância de crescimento como 2-4 D. Aliás, já se observou que: “Os herbicidas podem ter uma ação favorável ou desfavorável sobre o estado sanitário das culturas”. “Parece que os ataques graves de esporão do centeio, observados há alguns anos, e a multiplicação da fusariose são, em parte, devidos à utilização de herbicidas que destruiriam apenas parcialmente as gramíneas” (LEMAIRE e RAPILLY, 1970). Registremos o fato fazendo, porém, as mais expressas reservas quanto ao processo da sensibilização do cereal que é sugerido pelos autores. Eles escrevem: “Além disto, os produtos à base de hormônios, que têm uma influência sobre a fisiologia dos cereais, podem torná-los mais receptivos a certas moléstias transmitidas no momento da floração. Parece que certos parasitas são favorecidos diretamente por diversos herbicidas e que, no futuro, será importante escolher a substância ativa, objetivando destruir as ervas invasoras, mas também levando em conta os parasitas presentes no solo”. Assinalemos em seguida que, no caso do cereal encontrar-se condicionado de tal forma a ser fisiologicamente resistente (segundo 158

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nossa teoria, porque se encontrará num estado de proteossíntese dominante), ele estará, ao mesmo tempo, imunizado, seja qual for o nível de inoculantes, no biotipo. Veremos adiante, a propósito de Pyricularia oryzae (do arroz), e da influência dos oligoelementos na fertilização, que o nível do inoculante seria negligenciável se o estado fisiológico – em outras palavras, o terreno, no sentido biológico do termo – fosse o fator determinante da relação planta-parasita. Um fato parece confirmar este ponto de vista: trata-se da época em que se produzem as contaminações. Segundo os autores, este período de hipersensibilidade corresponderia ao momento da floração, o que se enquadra perfeitamente em nossa teoria da trofobiose e nas concepções de DUFRÉNOY. Com efeito, é no momento da formação da inflorescência que todas as folhas perdem seu poder de síntese, e mesmo realizam uma determinada decomposição de suas próprias proteínas. Isto ocorre para alimentar os órgãos reprodutores com substâncias solúveis. Nestas condições, parece normal – se é possível se dizer assim – que este estado de proteólise dominante favorece o ataque de diversos fungos patógenos e, mesmo, como veremos adiante, provoca o desencadeamento de doenças viróticas. A situação de proteólise pode estar eventualmente agravada pela ação proteolítica, ou, simplesmente, proteoinibidora, agravada por um ou por outro agrotóxico, especialmente um herbicida, que pode agir direta ou indiretamente através de repercussões sobre a nutrição da planta. D’AGUILAR et alii. (1977) observam que: “Nos últimos anos viu-se o surgimento e a multiplicação inquietante de numerosas e graves doenças fúngicas e bacterianas de origem telúrica. O fato é observado por todos os laboratórios que estudam as traqueomicoses, traqueobacterioses, e agentes da podridão do colmo e das raízes. Os agentes de enfraquecimento bacteriano e de origem viral também são igualmente numerosos e preocupantes”. Segundo RIDE (INRA, Angers), eles representam fenômenos complexos cujo estudo 159

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etiológico necessita do concurso de diversas disciplinas e, na maioria dos casos, de uma experimentação bastante longa. Todavia, acreditamos que esses trabalhos só apresentarão resultados, caso seja procurada a elucidação das relações que unem a planta e o parasita, caso se disponha de uma hipótese de trabalho a este respeito. Para as doenças viróticas, bem como para as outras afecções, propomos nossa teoria da trofobiose, segundo a qual a sensibilidade da planta encontra-se em estreita relação com o nível das substâncias solúveis nos tecidos. Este estado de proteólise encontra-se, simultaneamente, sob a dependência da nutrição da planta e das repercussões dos agrotóxicos (além de outros fatores, principalmente ambientais). D’AGUILAR et alii. (op. cit.) observam igualmente que: “A adubação ou o emprego de fungicidas específicos podem causar desequilíbrios biológicos: cada vez mais se tem consciência deste fenômeno em fitopatologia, seja relacionado com as modificações do substrato (turfa, húmus), adubações mais ricas ou práticas que forçam o crescimento. Estes diferentes fatores agem sobre a fisiologia do hospedeiro, tornando-o mais sensível”. E mais adiante: “Para LEMAIRE e JOUAN (INRA, Reunes), o agravamento progressivo dos danos de Phytophthora sp. No colo dos tomates em estufas pode estar relacionado com a utilização excessiva de Benzimidazol, em tratamento da folhagem e do solo”. Em resumo, e como observava POLJAKOV (op. cit.), após suas pesquisas sobre as repercussões do tratamento das sementes com diversos fungicidas: “Um dos principais fatores determinante da resistência aos fungos é o estado fisiológico da planta-hospedeira”. Isto implicaria, portanto, em que o eventual efeito antimicótico obtido não seria proveniente de uma ação fúngica de superfície, mas sim de uma ação antimicótica através da modificação benéfica do metabolismo, sob a ação do produto. POLAKOV (op. cit.) precisava: “o ácido ditiocarbâmico, usado durante quatro anos no controle de Phytophthora na batata, provocava um aumento de outras moléstias, em particular de viroses”. 160

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Podemos nos perguntar se o emprego generalizado de herbicidas e ditiocarbamatos, que exercem um efeito inibidor da proteossíntese, não estaria englobado num processo de sensibilização dos cereais em relação às doenças viróticas? Assim, poderiam se explicar os danos do nanismo amarelo da cevada, cujo desenvolvimento acelerou-se nestes últimos anos sem que se tenha, até agora, uma explicação realmente satisfatória para este fato. É este o duplo problema: responsabilidade dos agrotóxicos de toda a ordem no desencadeamento das doenças viróticas, de um lado, e a ordem de aparição na planta das diversas afecções e, de outro, o que nos propomos abordar agora. 6. AGROTÓXICOS E DESENCADEAMENTO DAS DOENÇAS VIRÓTICAS - SUCESSÃO DAS DOENÇAS NAS PLANTAS A) Agrotóxicos e desenvolvimento das viroses nas hortaliças MARROU (1969) observa: “Desde que os horticultores familiarizaram-se com os principais parasitas de suas culturas, e desde que dispõem de fungicidas eficazes, as doenças viróticas passaram a ter uma importância predominante. Essas doenças são temidas, porque sua origem parece misteriosa e seu desenvolvimento insidioso”. Nesta proposição, registramos um julgamento: o fato de que os produtores se familiarizaram com os principais parasitas de suas culturas. Em outras palavras, aprenderam com a ajuda visível desse autor a reconhecê-las. Isto se aplica particularmente às doenças viróticas. Em segundo lugar, MARROU faz uma aproximação entre dois fatos: • primeiro: utilização de novos fungicidas, qualificados de “eficazes” – o que “se discutirá mais adiante – e que têm por característica serem produtos de síntese, como os ditiocarbamatos (Zineb, Maneb e Mezineb), cuja responsabilidade no desenvolvi161

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mento de certas doenças fúngicas como Oidium e Botrytis já demonstramos; • segundo: a predominância de doenças viróticas, ou seja, uma categoria de moléstias que na batata, segundo POLJAKOV (op. cit.), estaria recrudescendo, devido, precisamente, à utilização dos ditiocarbamatos... Provavelmente não é nesta relação de causa-efeito, via metabolismo da planta, modificado pelo agrotóxico, que pensa MARROU. Ele parece deixar subentendido que as doenças viróticas somente teriam se desenvolvido a partir do momento em que os agricultores dispuseram de fungicidas considerados a priori eficazes, isto é, suscetíveis de eliminar as doenças fúngicas e bacterianas. Em outras palavras, a doença virótica ocuparia doravante o “terreno” até então ocupado pelo fungo parasita ou pela bactéria. Este desenvolvimento da doença virótica seria, de certa forma, o resultado da destruição de um “concorrente” eliminado pelo fungicida reputado “eficaz”. Todavia, o mínimo que se pode dizer é que os fatos não parecem estar em acordo com esta concepção. Devemos observar que, freqüentemente, se encontram, simultaneamente, presentes na mesma planta doença fúngica e doença virótica. RUSSEL (1972) assinala que, na beterraba açucareira, a Alternaria – que ele qualifica de “doença fúngica associada” – encontra-se sobre as folhas das plantas infectadas pelo vírus. RUSSEL (op. cit.) assinala, ademais, que as folhas velhas da beterraba açucareira infectadas pelo vírus BMYV (Beet Mild Yellowing Virus) – o mais comum na Grã-Bretanha e no norte da Europa – são predispostas aos ataques de fungos parasitas, ditos “de fraqueza”, entre os quais o Alternaria parece o mais importante. O vírus absolutamente não faria concorrência ao fungo patógeno mas, talvez, até favoreceria seu desenvolvimento. Admite-se, em patologia humana, que todo o ataque micótico ou bacteriano é sem162

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pre precedido de um ataque viral, ele próprio condicionado pela capacidade da célula em aceitar ou recusar a ordem do vírus de modificação de seu metabolismo. Assim, chegamos à concepção de uma sucessão das moléstias, cuja seqüência seria basicamente iniciada pelas doenças viróticas. Teremos sua confirmação pelo estudo de fenômenos análogos nos insetos realizado por VAGO. Essa concepção do mecanismo do desenvolvimento das doenças viróticas estaria em perfeita oposição com àquela relativa à eliminação das doenças fúngicas, graças à suposta “eficácia” dos novos fungicidas sintéticos. Temos boas razões para manter sérias reservas quanto a esta “eficácia”. Como primeiro exemplo, citamos MARROU, em relação a hortaliças: no controle químico de Phytophthora cactorum do morangueiro, os doze produtos testados (sulfato de cobre – Calda bordalesa –, Diclofuanid, Nabam, Dexon, Difolatam, Captan, Demosan, Mancozeb, Vitavax, Tiabendazole, Udonkor e Daconil), segundo o experimentador, nenhum merece ser considerado eficaz (NOURRISSEAU, 1970). Da mesma forma, em relação às doenças dos cereais, das quais falamos antes. Um especialista, PARMENTIER (1979) contesta totalmente a eficácia das pulverizações fúngicas qualificadas de “específicas” para controlar tanto os parasitas do pé, como a escaldadura da cevada (Rhyncosporiose, no original. N. do R.) e, também as ferrugens. Quanto a SOENEN (1975), seguro de sua experiência de longos anos de testes com agrotóxicos em culturas frutíferas, sublinha que “os últimos antifúngicos desenvolvidos não são necessariamente fungicidas ou fungistáticos, mas intervêm de um modo ou de outro na relação bioquímica entre o patógeno e seu hospedeiro”. Diz, também, que “em culturas frutíferas, o valor de um fungicida se estabelece mais por seus efeitos secundários que por sua atividade em relação de um determinado fungo”. 163

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Já recordamos este caso a propósito do enxofre, o qual retomaremos adiante. Caberia perguntar se, por um fenômeno de mascaramento ou de confusão de sintomas, esse desenvolvimento das doenças viróticas não seria ilusório, caso não fosse confirmado pelo pesquisador especialista que o relata. Sabe-se que nem sempre é possível atribuir às infecções virais sintomas realmente característicos. São poucos os sintomas que efetivamente podem ser associados a viroses. Há diversas convergências de sintomas entre determinados fenômenos de carência e as infecções virais. Isto se explicaria porque toda a nutrição deficiente do vegetal, como por exemplo a relacionada a carências, pode ser a origem do desencadeamento da doença. Todavia, um conjunto de observações em cereais, árvores frutíferas e hortaliças mostra que parecem existir relações entre o desenvolvimento das doenças viróticas e a utilização, freqüentemente repetida sobre uma mesma cultura, dos novos fungicidas sintéticos. Somos induzidos a perguntar se um processo análogo ao que estudamos, envolvendo a sensibilização, pelos ditiocarbamatos, da videira e das árvores frutíferas a Oidium e Botrytis, não estaria agindo no estímulo do desenvolvimento das doenças viróticas? Sobretudo, se estas fossem as primeiras a se manifestarem na seqüência das diversas afecções. Dentro desta hipótese, seria por um distúrbio do metabolismo celular que o agrotóxico teria provocado a proliferação do ou dos vírus em primeiro lugar. Ora, estes só se multiplicam às expensas das formas simples do nitrogênio (aminoácidos). Assim, novamente somos conduzidos a encarar todas as proliferações de vírus como capazes de resultar da incidência de qualquer fator que favoreça na planta um estado fisiológico caracterizado por proteólise dominante, incluindo as repercussões dos agrotóxicos. De novo devemos precisar que a ação nefasta deste ou daquele agrotóxico pode perfeitamente se encontrar superposta a uma má nutrição da planta. Esta, por sua vez, pode resultar de uma fertiliza164

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ção desequilibrada (excesso, por exemplo, de adubos nitrogenados, ou carências minerais). As doenças viróticas poderiam, portanto, ser desencadeadas por uma conjunção – provavelmente mais freqüente do que se poderia pensar a priori – de práticas culturais desfavoráveis à proteossíntese. Assim, estaria explicada a noção de “latência” das doenças nas plantas. Nas árvores frutíferas, a existência de “vírus latente” conduziria, segundo MORVAN (1969), “ao absurdo da noção de plantas sem vírus”. Esta afirmação acentua a importância das condições ambientais, incluindo-se os tratamentos com agrotóxicos. Por um condicionamento desfavorável à proteossíntese, o metabolismo da planta seria capaz de favorecer o desenvolvimento do vírus e, até, de criá-lo. A este respeito, as constatações de LÉPINE na virologia humana e os trabalhos de VAGO, envolvendo as doenças dos insetos, que trataremos adiante, nos parecem fundamentais. Eis o que escreve o especialista em doenças humanas: “Com os progressos da terapêutica antinfecciosa e a redução das moléstias bacterianas, vemos aumentar o número de doenças causadas pelos vírus, que tendem cada vez mais a ocupar o primeiro plano da patologia infecciosa” (Pierre LÉPINE, 1973). Ora, esta observação, posta em paralelo com as constatações de MARROU, envolvendo o desenvolvimento das doenças viróticas nas hortaliças como conseqüentes do emprego de certos agrotóxicos, nos parece impressionante. Numerosas questões se colocam, como: • em que nível a regressão das doenças bacterianas pode estar relacionada com o aumento das doenças viróticas? • e, em que este aumento estaria ligado aos “progressos da terapêutica”? Dever-se-ia considerar, também para as plantas, a utilização de novos medicamentos e, especialmente, dos antibióticos? Estes são suscetíveis de agir, não apenas em relação ao agente patogênico, mas, também, indiretamente, por intermédio do próprio paciente? 165

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No que diz respeito às questões relativas à patologia humana são, bem entendido, os médicos que devem responder e, antes de tudo, refletir sobre isto. Seria importante saber em que medida se poderia extrapolar da patologia humana para a patologia vegetal ou inversamente. Isto, bem como o estudo do desenvolvimento das doenças viróticas nos insetos, poderia nos trazer alguma luz no que diz respeito aos problemas da mesma ordem, que se colocam nos vegetais. Analisaremos, agora, os notáveis trabalhos de Constantin VAGO sobre: “L’enchainement des maladies chez les Insectes” (1956).* B) Os trabalhos de Constantin VAGO sobre a sucessão das doenças nos insetos 1. Influência da natureza da alimentação sobre o desenvolvimento das doenças No lepidóptero Vanessa urticae L., VAGO demonstrou que dois modos de alimentação favorecem o desenvolvimento de poliedrose:* • a alimentação contínua com folhas murchas, contendo pouca clorofila e em vias de amarelecimento; • a alimentação com urtigas, mas com diferentes repercussões sobre a poliedrose, segundo a natureza do solo de onde provinham as plantas: – alimentadas com urtigas provenientes de um solo argiloso, as larvas de primeira idade são atacadas pela poliedrose numa proporção de 15 a 19%; – aquelas que consumiram urtigas, desenvolvidas numa terra arável, de aluvião, apresentam apenas 4%. 2. Bicho-da-seda, Bombyx mori L. Alimentadas desde seu nascimento com folhas muito maduras, os “bichos” apresentavam, desde a primeira muda, uma poliedrose *

“A sucessão das moléstias nos insetos”. (N. da T.)

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elevada, com a afecção persistindo durante toda a duração da fase larval. Estas experiências acentuam a importância da alimentação e da nutrição sobre a resistência do organismo aos agentes patogênicos. Como não colocar estes resultados em paralelo com as repercussões que envolvem a natureza da fertilização e a resistência da planta a pragas e doenças? As pesquisas de VAGO envolvendo as incidências da ingestão de substâncias tóxicas talvez sejam as mais importantes para nós, pelas conclusões a que podem conduzir. 3. Influência da ingestão de produtos químicos em pequenas doses Em 1949-1951, a Estação de Sericicultura de Alès (INRA) (transformada em Estação de Pesquisa de Patologia Comparada INRA – CNRS – EPHE) teve que se preocupar com uma epidemia anormal de uma doença* que atingia diversas regiões. Os levantamentos realizados chegaram a resultados que se podem qualificar de fundamentais. Esta doença atacava de uma forma claramente mais intensa nos departamentos de Gard, Ardèch e Lozère. Ora, esta região era limitada ao norte, por uma determinada fábrica de produtos químicos. A gravidade da moléstia era simultaneamente função da proximidade desta fábrica e da direção dos ventos dominantes. Os sintomas da doença em questão eram semelhantes aos da grasserie, exceto pela turgescência. Os tecidos adiposos e sangüíneos apresentavam lesões avançadas, e isto ocorria mesmo quando as lagartas aparentemente não possuíam nenhum sintoma da doença. As lagartas recolhidas nesta área confirmaram o efeito favorável da nutrição sobre os ataques da doença: 2% de poliedrose na alimenta*

“Grasserie”, no original. (N. da T.) Grasserie é uma doença do bicho-da-seda caracterida por um inchaço (gorduroso) anormal dos anéis do corpo do inseto. (N. do R.)

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ção com as folhas recolhidas fora da zona contaminada; 20% – ou seja, 10 vezes mais – com as folhas colhidas na zona contaminada. Outro ponto: a alimentação apenas com folhas provenientes da zona contaminada apresentava: – 13% de poliedrose com folhas previamente lavadas; – 23% de poliedrose com folhas não lavadas. Este resultado parece indicar (como faziam prever os resultados da alimentação com folhas murchas, em Vanessa) que as repercussões dos resíduos de venenos, apesar de importantes, não são as únicas em questão. O veneno pode também ter agido após penetração nos tecidos, por modificação da bioquímica da folha. VAGO não deixou de ver uma relação com fluoroses que atacavam o gado na mesma região, e de que havia um caso semelhante na Itália. Esta doença era, com efeito, provocada pela ingestão do fluoreto de sódio (NaF), que era o constituinte essencial das emanações da fábrica em questão. Acrescentaremos que os fatores ecológicos igualmente influem: um abaixamento da temperatura acarreta um agravamento espetacular da doença. Contudo, alguns outros resultados de VAGO nos parecem ainda mais importantes, no sentido de que eles podem modificar totalmente nossa maneira de considerar o desencadeamento das doenças viróticas. Trata-se de provocar viroses sem haver infecções prévias. 4. Obtenção de viroses, no bicho-da-seda, sem infestação prévia Graças a múltiplas precauções, VAGO conseguiu excluir todo o aporte externo de vírus. Os experimentos envolveram as repercussões de uma determinada alimentação do bicho-da-seda com uma planta não-habitual, Maclura aurantiaca. Em comparação com a alimentação “normal”, às expensas de Morus alba, registra-se: – um menor volume de ingestão de alimento; – uma mortalidade precoce; 168

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– o desencadeamento de uma virose: a partir da terceira idade * a poliedrose intensifica-se no lote “Maclura”. No curso da quarta e quinta idades ela provoca na ninfose, a eliminação da quase totalidade do lote. Nas testemunhas, a mortalidade é inferior a 20%. Talvez os experimentos com o fluoreto de sódio sejam os mais significativos. Para rastrear os efeitos “secundários” do veneno era indispensável obter uma ação subletal. Para isto, as folhas de amoreira foram mergulhadas numa solução de NaF puro, a 0,01% Os resultados foram dos mais comprobatórios: – alimentação com folhas contaminadas: 85%de viroses; – alimentação com folhas sãs: 8% de viroses. A partir do décimo-terceiro dia a virose torna-se importante e subitamente os casos são mais numerosos: a curva da doença assinala rapidamente a perda quase total do lote. Baseadas em suas experiências, cujo rigor é inatacável, as conclusões de VAGO nos parecem de tal importância que se torna indispensável transcrevê-las quase integralmente. Ele inicia afirmando: “Parece possível desencadear uma virose aguda, não apenas sem infecção experimental prévia, mas igualmente na ausência controlada do aporte de vírus”. VAGO acrescenta: “Os meios que permitem a obtenção deste efeito são de natureza variada e os fatores responsáveis podem estar ligados à alimentação, às intoxicações por certas substâncias químicas, bem como às condições climaticas-fisiológicas”. Em contrapartida, os fatores de não-aparição de virose correspondem a um estado fisiológico ótimo, isento de qualquer distúrbio de ordem patológica ou parapatológica. VAGO observa: “Estas duas considerações traduzem os fatores de desencadeamento de virose como sendo problemas fisiológicos que, apesar da natureza variada dos efeitos externos, podem convergir para um mecanismo preciso na escala celular”. Para VAGO: “O desencadeamento das viroses por fatores não infecciosos nos aparece sob forma de um complexo, com uma parte primária, 169

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englobando processos patológicos diversos e, secundariamente, representada pela virose”. Ora, como não comparar o que ocorre nos insetos com o que se passa nos vegetais onde, com freqüência, encontram-se associadas afecções fúngicas e doenças viróticas? Como, também, não ver confirmada nossa hipótese do desencadeamento das doenças viróticas pelas repercussões dos agrotóxicos sobre o metabolismo celular? À luz dos resultados de VAGO, este processo parece cada vez mais provável. Aliás, o próprio VAGO não deixa de fazer alusão aos ‘vírus em dormência” dos vegetais, designados mais freqüentemente sob o termo de “vírus latentes”, dos quais fizemos referência antes. É este fenômeno que nos propomos estudar imediatamente.. C) Latência e desencadeamento das doenças nas plantas 1. Latência dos fungos parasitas nas árvores frutíferas GROSCLAUDE (1966) observava que, devido à autoridade das teorias pasteurianas relativas à assepsia dos seres vivos, temos ainda dificuldades em admitir que um vegetal são possa, em seu estado normal, abrigar impunemente fungos ou bactérias patógenas, mantendo-se esses parasitas em “estado latente”. E, contudo, estes exemplos são freqüentes. GROSCLAUDE (op. cit.) define uma “infecção latente” como uma infecção “que não produz temporariamente nenhum sintoma visível, mas. que é capaz de se exteriorizar em determinadas circunstâncias”. Todo o problema consiste em saber quais podem ser os fatores suscetíveis de fazer mudar este estado. Os fitopatologistas ficam sempre embaraçados quando se trata de definir patogenia. Todavia, reconhecem que não existe limite bem nítido entre saprófitas e parasitas. Não vamos nos ater na distinção pouco sutil entre a “contaminação latente” (geralmente na superfície do hospedeiro) e a “infecção quiescente” (exteriormente visível, mas que não evolui). O importan170

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te, acreditamos, é saber se o agente patogênico tem ou não potencial para evoluir às expensas de seu hospedeiro. GROSCLAUDE (op. cit.) dá diversos exemplos de fungos parasitas latentes”: Stereum purpureum, agente do “chumbo” e que, após inoculação, pode aparecer com um ou dois anos de atraso; Cytospora das arvores frutíferas que, para uns seriam saprófitas e, para outros, patogênicos; enfim, as podridões, “bons exemplos de doenças com períodos de incubação longos e mal definidos”. Na cerejeira “SaintLucie”, GROSCLAUDE (op. cit.) pôde constatar, após inoculação, uma latência de dois anos em cinco arvores, enquanto as vinte e duas árvores restantes permaneciam aparentemente sãs, apesar da presença de Armilariella nas raízes. Entre os fungos “latentes”, GROSCLAUDE assinala que se pode incluir as “podridões de armazenagem”, como Sclerotinia fructicola, agente da moniliose na Austrália, e Gloesporium, Botrytis, Trichoseptoria, Cylindrocarpon, etc., todas doenças recrudescentes após o emprego de novos agrotóxicos sintéticos.* Em definitivo, podemos concluir com GROSCLAUDE, que “a assepsia numa árvore, se ela pode existir, é um estado totalmente excepcional, exceto, talvez, durante as primeiras semanas de sua vida”. Sua segunda conclusão é a seguinte: “O poder patogênico só pode se manifestar se o agente encontra em seu hospedeiro condições convenientes de desenvolvimento”.. Se podemos referendar semelhante formulação, divergimos, entretanto, no que diz respeito às únicas condições que limitariam este desenvolvimento. GROSCLAUDE vê apenas duas: – o antagonismo entre os próprios microrganismos; – a reação do hospedeiro, traduzindo-se por barreiras físicas ou químicas. *

Aliás, segundo BONDOUX (1963), é no pomar e não no depósito de frutas que se deve iniciar o controle das doenças de armazenagem dos frutos. Acrescentaremos que é o condicionamento adequado da árvore que deve preservá-la destes ataques.

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Em resumo, de acordo com as concepções clássicas, não haveria imunidade ou resistência, se não por um antagonismo, seja por concorrência ou por barreira física. Acreditamos ter demonstrado e traduzimos, em nossa teoria da trofobiose, que nas relações entre hospedeiro e parasita, antes de tudo, influem os fatores nutricionais suscetíveis de satisfazerem este último. Daí a importância do “condicionamento” da planta pela natureza do solo e pela fertilização “corretiva” que se pode fazer. Consideremos, por exemplo, o caso da “moléstia do chumbo” da videira. BRANAS (1974) assinala que é a carência em boro que provoca esta moléstia. A prova? Este definhamento se cura por transplante, ou seja, por uma alimentação em um outro solo e, também, pelo aporte de boro na folhagem ou solo. Aliás, esta carência em boro foi identificada em Portugal, com a moléstia da “maromba” no vale do Douro. (Voltaremos, mais adiante a este importante fenômeno que reside na convergência entre carências e doenças.) Outro exemplo é o de Armillariella mellea, agente de uma “podridão”. Os trabalhos de GARD mostraram, em ameixeiras na região de Ente, a imunidade a este fungo patógeno nos solos que tinham, pelo menos 30% de CaCO3. Segundo GUYOT (1931-1935), o mesmo ocorre com nogueiras: Armillariella sp. não se desenvolve em solos que contenham de 20 a 30% o de carbonato de cálcio. Através de culturas em laboratório, GUYOT demonstrou a influência inibidora dos sais de cálcio e magnésio, assim como a ação estimuladora do potássio (carbonato, sulfato, nitrato) em relação a Armillariella sp. Mais adiante aprofundaremos a questão das relações entre fertilização e resistência da planta. Os resultados acima coincidem perfeitamente com o fato de que numerosas moléstias parecem ter por origem uma carência do solo em cálcio, ou, mais exatamente, uma relação catiônica Ca/K + Mg muito baixa. Isto resultaria numa redução da proteossíntese. 172

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Por outro lado, os oligoelementos intervêm de maneira importante na fisiologia e, portanto, na resistência da planta. Assim, o iodo,pincelado nas raízes, mostrou-se um excelente remédio contra Armillariella sp. Ora, o iodo é um oligoelemento que parece essencial ao metabolismo – e, portanto, à saúde da planta. ROUBINE e ARTSICHOSKAIA (1960) observam que: “A nutrição mineral parece ser o fator decisivo determinante da resistência que as plantas oferecem à infecção: o excesso de nitrogênio a deprime, o potássio e o magnésio melhoram-na, os oligoelementos intervêm energicamente, especialmente zinco, lítio e iodo”. Da mesma forma, SHIGEYASU (1962), no decorrer de seus experimentos de controle da helmintosporiose do arroz, por fertilização com oligoelementos, nota que: “A sensibilidade à helmintosporiose diminui pela aplicação de iodo, zinco e magnésio. Ainda mais, esses tratamentos parecem favorecer o desenvolvimento vegetativo”. SHIGEYASU (op. cit.), continua, observando que “o efeito favorável dos tratamentos com oligoelementos sobre o desenvolvimento vegetativo do arroz não é acrescentado a seus efeitos positivos sobre a resistência à moléstia: ele é, na realidade, a origem”. Interpretamos isto da seguinte maneira: a ação positiva dos oligoelementos sobre o desenvolvimento vegetativo, isto é, sobre a proteossíntese, acarreta a resistência da planta à doença. Isto ocorre pela regressão concomitante das substâncias solúveis necessárias ao desenvolvimento dos parasitas. Definitivamente, confirma-se que a “latência” deste ou daquele patógeno resulta de uma insuficiência nos elementos nutritivos que lhes são oferecidos. Inversamente, a interrupção da “latência” poderá provir de uma má nutrição do vegetal, seja devido a uma carência (tanto de macro como de oligoelementos), ou a uma inibição da proteossíntese, por um agrotóxico qualquer. Todavia, outros fatores podem agir sobre a fisiologia da planta e, portanto, sobre sua resistência. Trata-se da influência do porta-enxerto sobre a fisiologia do enxerto e vice-versa. 173

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2. Latência das doenças viróticas: influência do porta-enxerto Segundo VAGO: “A análise do complexo – problemas metabólicos com aparição tardia de viroses agudas – trouxe elementos particularmente bem assimilados em patologia comparada. Com efeito, ela simboliza, neste momento, junto com a lisogenia das bactérias, os ‘vírus em dormência’ dos vegetais e o vírus da drosófila, a questão do problema da infecção dos vírus sem infecção prévia”. Não se poderia negar que os resultados de VAGO, analisados anteriormente, são extremamente inquietantes em relação às questões que envolvem as repercussões dos diversos agrotóxicos sobre a suscetibilidade das plantas às doenças viróticas e bacterianas. Se o desencadeamento de uma doença virótica pode ser resultante de má nutrição ou ingestão de um veneno, como o fluoreto de sódio, por que não poderia ocorrer o mesmo nas plantas, onde os tratamentos com agrotóxicos perturbam o metabolismo? Estes, principalmente em intervenções repetidas, inibem o processo da proteossíntese, estabelecendo, conseqüentemente, um estado eminentemente favorável ao desencadeamento das diversas doenças. Assim, poder-se-ia explicar como se originou esta concepção, já mencionada antes, do “vazio da noção de mudas sem vírus” nas árvores frutíferas. MORVAN (1970) escreve: “Os vírus latentes propriamente ditos correspondem a uma concepção diferente. No caso da macieira, por exemplo, são os vírus que não provocam nenhum sintoma sobre o conjunto das variedades comestíveis. Tal evidência foi, no início, fruto do acaso. Espécies, como as macieiras ornamentais, com frutos pequenos, manifestaram anomalias inesperadas quando se colocou, sobre elas, enxertos de árvores normais”. Esta observação mostra toda a importância do estado fisiológico das árvores, pelo menos sobre as manifestações dos sintomas das doenças viróticas e, até, sobre a própria causa do seu desencadeamento. Estas interferências recíprocas entre porta-enxerto e enxerto repercutem sobre 174

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a nutrição deste último e, portanto, sobre sua suscetibilidade em relação às diversas doenças, inclusive as viróticas. Assim, não é por acaso que a doença “Sharka” manifesta-se, particularmente, nos damasqueiros enxertados sobre um determinado porta-enxerto, o Brompton. E que, inversamente, SUTIC (1975), obtém resistência em relação à mesma doença, por enxertia das plantas sobre porta-enxertos especiais. Realmente a resistência das árvores assim enxertadas parece estar ligada a um nível elevado de proteossíntese provocado pela natureza da nutrição. Em relação à suscetibilidade a “Sharka”, seria do maior interesse comparar o estado bioquímico dos enxertos suscetíveis sobre Brompton ao dos enxertos resistentes obtidos por SUTIC. Formulamos a hipótese de que, nestes últimos, a proteossíntese mostra-se mais intensa, o que deveria se traduzir por um nível mais baixo das substâncias solúveis como aminoácidos e glicídios redutores. Pesquisas análogas também deveriam ser empreendidas para explicar a razão da resistência da ameixeira a “Sharka”, quando enxertada sobre Saint-Julien. DO VALE (1972) mostrou, em relação aos porta-enxertos dos limoeiros, que as combinações que davam os melhores resultados apresentavam baixas quantidades de açúcares solúveis nas folhas colhidas na primavera. Ocorre o inverso com os porta-enxertos que dão resultados medíocres. Fenômenos análogos foram registrados na videira: o porta-enxerto Riparia X Rupestris 3309 provoca, nas folhas das cepas européias enxertadas, um acúmulo de aminoácidos, seguido da redução de sua transformação em proteínas. Ou seja, um fenômeno que, segundo nossa teoria da trofobiose, sensibiliza o enxerto às diversas doenças. Voltaremos a estudar a importância da enxertia em relação à resistência da videira às doenças e pragas. A natureza fisiológica do porta-enxerto não explica tudo o que se refere ao desenvolvimento atual das doenças viróticas: neste caso, ainda, parece que os agrotóxicos carregam uma pesada responsabilidade. 175

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3. Agrotóxicos e doenças viróticas A análise da proposição de MARROU, referente ao desenvolvimento das doenças viróticas nas hortaliças, nos levou a suspeitar dos novos fungicidas sintéticos como causa deste fenômeno, da mesma forma como foram responsabilizados pela sensibilização de diversas plantas em relação a Oidium e Botrytis. Contudo, paradoxalmente, se procurou controlar as doenças viróticas com agrotóxicos. Mas isto com diversas causas, Os resultados obtidos foram os mais diversos, em sua maioria decepcionantes, por razões agora mais fáceis de serem compreendidas. A partir de determinados resultados sobre fumo, com o 2-4 D em relação aos vírus X e Y, LIMASSET et alii. (1948), conduziram experimentos sistemáticos com este mesmo fitormônio sintético. Os resultados mostram que o hormônio absolutamente não impediu a contaminação nem destruiu o vírus, mas “simplesmente” manifestou uma ação inibidora muito forte em relação à sua multiplicação. Os experimentos in vítro mostraram que o 2-4 D era desprovido de qualquer ação própria inativante. Sobre a planta, esta ação era apenas temporária, e, com as doses utilizadas, o fumo sofria deformações características. Em resumo, tratava-se de repercussões indiretas, induzidas pelo 2-4 D sobre a fisiologia do fumo. Estas eram perfeitamente capazes de modificar a resistência à doença virótica e aos fungos parasitas. Assim, foi na redução de glicídios nos tecidos que MOSTAFA e GAYED (1956) viram a razão da eficácia do 2-4 D em relação a Botrytis, na fava. Por outro lado, CORS et alii. (1966), apoiando-se em que o aumento da utilização dos fungicidas sistêmicos levantava a questão de sua interferência sobre a multiplicação dos vírus, realizaram diversos experimentos, principalmente em tratamento de sementes. Tratava-se do vírus do mosaico da cevada, BMV. Os produtos Plantvax e Benomyl favorecem o aumento da concentração de vírus nas folhas, na maioria das condições. 176

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Todavia, praticamente não resultam destes experimentos conclusões bem definidas envolvendo as relações entre crescimento da planta, concentração de vírus nas folhas e aspecto das plantas artificialmente infectadas por BMV. Exceto, talvez, pela existência de uma certa interferência entre a ação dos fungicidas e a infecção pelo vírus. A mesma ausência de conclusão geral resulta da revisão bibliográfica de SMITH (1973) no que diz respeito às repercussões das substâncias de crescimento em relação à resistência das plantas às pragas ou doenças. Todavia, as concepções de VAN EMDEN (1964) trazem alguma luz sobre estes fenômenos, confirmando plenamente nossa posição. Experimentando Chlormequat contra pulgão da couve, Brevicoryne brassicae, VAN EMDEN sugere que a aplicação deste produto acarretou reduções na reprodução dos afídeos, pela regressão do nível de aminoácidos e nitrogênio total nos tecidos, em seguida da aplicação de Chlormequat. Com este produto, e dentro das condições em que foi utilizado, VAN EMDEN obteve resultados inversos aos de MICHEL (op. cit.) com Mevinphos sobre Myzus persicae, e aos de MAXWELL e HARWOOD (op. cit.) com 2-4 D, que, ao contrário, aumentaram a reprodução de Macrosiphum pisum, em fava. Pode-se mencionar, entretanto, que estes diferentes resultados integram-se perfeitamente em nossa concepção da trofobiose, segundo a qual, não temos pena em repetir: • a sensibilização da planta a seus diferentes parasitas está correlacionada com uma inibição da proteossíntese, ou seja, do que se poderia chamar mais comumente, mas com exatidão, de um certo envenenamento da planta; • quanto ao estímulo da resistência, ao contrário, ela vai de mãos dadas com a da proteossíntese e com a redução concomitante do nível das substâncias solúveis. Os herbicidas utilizados em cereais, cuja seletividade os técnicos 177

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observam jamais ser total – também inibem a proteossíntese nestas plantas. Por suas incidências, simultaneamente diretas sobre a planta e indiretas sobre a vida do solo, favorecem o desenvolvimento das doenças viróticas, como suspeitam, agora, observadores cada vez mais numerosos. As árvores frutíferas sofrem repercussões “acumuladas” de fungicidas, inseticidas, acaricidas e, agora, de herbicidas. Não seria de surpreender que posteriormente sofressem uma desregulagem celular, caracterizada por um estado predominante de proteólise, resultando, finalmente, numa infecção por esta ou aquela doença virótica. A batata é cultivada através de segmentos de tubérculos. Este procedimento repete as eventuais desordens fisiológicas de uma geração à outra. Não é por acaso que POLJAKOV (1966) constata o desenvolvimento de diversas doenças e, especialmente, viroses em batata, após tratamentos com ditiocarbamatos. Estes efeitos nefastos dos herbicidas e outros agrotóxicos podem ser exacerbados quando os cereais estiverem em mau estado, vegetativo no início do ciclo, seja devido a uma queda de temperatura ou a um desequilíbrio da fertilização. Resta estudar em que medida se pode explicar a multiplicação ou mesmo a infecção de origem eventualmente endógena dos vírus, sob a influência de diversos fatores. 4. As causas do desencadeamento e da multiplicação de vírus pelos agrotóxicos Em patologia animal ou humana, MONTAGNIER (1973) observa, a propósito dos vírus cancerígenos, que existem argumentos em favor da presença de um sistema “de vigilância” nas células diferenciadas, que controla seu estado de diferenciação, graças a uma proteína especial. MONTAGNIER (op. cit.) observa que: “À exclusão dos outros programas, a manutenção do programa de diferenciação, ao nível pós178

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transcricional, dependeria da síntese desta proteína e de seu estado funcional. Como as outras células do mesmo tecido diferenciado produzem a mesma proteína, é possível que a manutenção do estado de diferenciação de cada célula dependa do teor global desta proteína, graças a um intermediário do tipo hormonal”. O mesmo autor acrescenta: “O importante é que toda a alteração na atividade desta proteína acarretaria, seja qual fosse a causa, um relaxamento do controle e também o alargamento da ‘abertura’ de diferenciação. Novos programas apareceriam, novas mensagens poderiam ser lidas e, por meio delas, talvez, programas mitogenéticos”. MONTAGNIER (op. cit.) observa que nos camundongos esta capacidade de produzir interferon: – diminui com a idade; – é sensível às radiações; – baixa nas células tratadas pelos hidrocarbonetos cancerígenos. Assim, com MONTAGNIER, pode-se imaginar que os hidrocarbonetos diminuem as sínteses protéicas de uma célula ou de um grupo de células. MONTAGNIER prossegue: “Esta ação, reversível, não tem conseqüências duráveis para a maioria das sínteses, mas ela tem por efeito, diminuir, durante um certo tempo, a produção de proteínas de vigilância (como o interferon) e, também, enfraquecer o controle de “abertura de diferenciação das células”. Conseqüentemente, pode resultar a saída de novos programas e, entre eles, programas mitogenéticos, sejam embrionários ou provenientes de pró-vírus integrados mitogenéticos. Pela freqüência dos casos vistos neste trabalho, nos perguntamos: se os agrotóxicos exercem uma ação inibidora na proteossíntese – estimulando a sensibilidade da planta às doenças fúngicas e provavelmente, bacterianas – não poderiam, igualmente, por um mecanismo análogo, encorajar a elaboração e a multiplicação dos vírus nas plantas assim tratadas? Em apoio a esta hipótese, MONIER (1977) precisa que a expressão das informações necessárias à multiplicação dos vírus, normalmen179

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te reprimida, “pode ser desbloqueada sob a influência de diversos fatores, por exemplo: radiações ionizantes, luz ultravioleta, substâncias químicas cancerígenas ou mutagênicas, vírus cancerígenos para DNA, hormônios”. Da mesma forma, os resultados de VAGO levam a pensar que os agrotóxicos poderiam acarretar a multiplicação dos vírus nas plantas, por um mecanismo análogo. Esta concepção une-se à de Maurice ROSE e Jore d’ARCES (1957), segundo a qual: “Sob a influência de condições particulares, desviando o metabolismo habitual,seja em seu equilíbrio, seja nas velocidades de suas diversas reações, certos ácidos nucléicos normais poderiam tornar-se, mais ou menos patogênicos, para o organismo que os contém”. Finalmente, “a célula poderia, assim, fabricar seus próprios vírus e, um número cada vez maior de biologistas, inclina-se a pensar dessa maneira”. Vimos com os trabalhos de VAGO que entre estas condições particulares às quais fazem alusão os autores, figura a alimentação. No que diz respeito à planta, são o solo e sobretudo a fertilização que estão em questão. É ela que estudaremos no próximo capítulo.

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Fig 17. Repercussões do Carbaryl em duas doses, em relação à fecundidade de Panonychus sobre videira (cepa Muscadelles), vinte dias após o tratamento (CHABOUSSOU, 1969.) 181

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Fig. 18. Fecundidade global de Tetranychus urticae criado sobre feijão tratado com Parathion, em comparação com a fecundidade no feijão testemunha (CHABOUSSOU, 1969.) 182

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Fig. 19. Relação entre fecundidade e longevidade de 18 fêmeas de T. urticae alimentadas sobre folhagem testemunha e sobre folhagem tratada com Parathion, a 5 g/hl. (CHABOUSSOU, 1969.) 141. 183

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Fig. 20. Fecundidade e sucessão das gerações de Myzus persicae criado sobre fumo tratado com Mevinphos ou Phosdrin em duas doses e na testemunha (5 tratamentos: 5 e 24 de junho, 8 e 20 de julho e 2 de agosto). (MICHEL, 1964.) 142 184

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SEGUNDA PARTE PROTEÇÃO DA PLANTA POR ESTÍMULO DA PROTEOSSÍNTESE

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CAPÍTULO VI

FERTILIZAÇÃO E RESISTÊNCIA DA PLANTA Entretanto, “o biologista não poderá se satisfazer, a longo prazo, com uma solução que se detenha no mal e não em suas causas. Portanto, ele deve preparar as bases de um sistema que o conduza; a não mais considerar somente a ilusória erradicação de uma só espécie através da química, mas ao conjunto de uma agrobiocenose, como recomenda a própria FAO. Nesse conjunto, como integrar-se-ão, harmoniosamente, tanto os aspectos da ‘trofobiose’, no sentido de CHABOUSSOU (1961), como a evolução dos organismos auxiliares (onipresentes mas pouco visíveis) e, ainda, a competição interespecífica no próprio meio, ele mesmo em constante transformação, apesar ou devido à sua domesticação pelo homem”. Pierre GRISON, Princípios e métodos de luta integrada, (Accademia Nazionale dei Lincei. Quaderno no 128), Roma, 1968. “Uma nutrição normal aumenta a resistência da planta”. Albert DEMOLON “Qualquer adubação que deixe a planta em sua condição fisiológica ótima confere-lhe o máximo de resistência. Conseqüentemente, trata-se de fornecer à planta a adubação adequada, que lhe aporte os diversos elementos que ela exige, nas proporções relativas a suas necessidades efetivas. Portanto, tanto o excesso como a carência de um ou diversos elementos, que rompem o equilíbrio fisiológico normal da planta, são capazes de diminuir sua resistência natura”. F. LABROUSSE, (Annales Agronomiques, 1932) “Insetos e fungos não são a verdadeira causa da doença das plantas. Eles só atacam plantas ruins ou plantas cultivadas incorretamente”. Albert HOWARD (Testament Agricole)

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1. AS CONDIÇÕES DA PROTEOSSÍNTESE COIC resume, assim, o que se sabe, atualmente, sobre a síntese das proteínas: “Imaginemos uma fábrica onde máquinas de fabricação de ferramentas fabricariam peças individuais, e também aquelas que constituem essas máquinas ferramentas, elas próprias; e onde outras máquinas montadoras realizariam a montagem dessas peças, tanto para construir as máquinas de fabricação de ferramentas, como para as máquinas montadoras”. “Transpondo isto para a célula viva (não considerando, aqui, o fato de que a célula ainda se divide em duas células semelhantes a si mesma), temos uma imagem grosseira de seu funcionamento químico”. “A máquina montadora nº 1 (ácido desoxiribonucléico ou DNA) pode autocopiar-se com a ajuda de certas peças individuais (nucleotídeos de desoxiribose); ela realiza, assim, a montagem da máquina montadora nº 2 (ácido ribonucléico ou RNA), com a ajuda de peças individuais análogas (nucleotídeos de ribose). Esta máquina no 2 (RNA) procede, por sua vez, à fabricação de máquinas ou materiais extremamente diversos (proteínas), entre os quais figuram as máquinas ferramenta (enzimas), que servem à fabricação de peças individuais variadas, especialmente nucleotídeos e aminoácidos”. As ligações peptídicas que necessitam de energia ocorrem em presença de ATP (trifosfato de adenosina) e com a intervenção da coenzima A. O esquema da fig.21 destaca a intervenção das substâncias, isto é, dos diversos elementos que entram em jogo nesta síntese das cadeias protéicas, a partir da alimentação da planta e da fotossíntese (antigamente chamada assimilação clorofiliana). A respeito dessas substâncias que constituem a matéria vegetal, recordaremos que: – 95%da matéria seca das plantas é composta de quatro elementos: carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio; 192

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– 4% pelos seguintes oito elementos : potássio, fósforo, cálcio, magnésio, silício, enxofre, cloro e sódio; – 1% (ou menos) do peso seco restante é constituído pelos microelementos, também chamados oligoelementos, que podem ou não ser indispensáveis. É a partir destes treze elementos, ditos “macro”, e dos oligoelementos (Cu, Fe, Zn, Mo, Mn, Li, B etc...), que se faz a síntese das proteínas, cujo ótimo, segundo nossa teoria, está ligado a um máximo de resistência da planta. É, pois, evidente que a adubação, pela quantidade e natureza dos elementos nutricionais que fornece à planta, constitui um dos fatores fundamentais da proteossíntese. Vamos estudá-la sob a ótica de suas repercussões no metabolismo da planta e, conseqüentemente, sobre o que se pode chamar de sua saúde. 2. OBJETIVO DA ADUBAÇÃO Antes de abordar o estudo das repercussões sobre o metabolismo e a resistência da planta, elemento por elemento, é útil recordar rapidamente o objetivo da adubação. A curto prazo, ela tem o papel de fornecer à planta todos os elementos de que necessita para se desenvolver e dar uma colheita “rentável”. É o ponto de vista geralmente adotado pela agricultura clássica, e que ninguém sonha contestar.* A longo prazo, é oportuno prever a manutenção da fertilidade do solo, além de não se provocar eventuais descontroles através de agrotóxicos, introduzidos intencionalmente ou não no solo. Em segundo lugar, é necessário evitar qualquer desequilíbrio alimentar da planta, seja este resultante de desequilíbrios de ordem quantitativa dos elementos colocados no solo ou da própria natureza

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Atualmente, essa posição é contestada pela própria trofobiose em conjunto com o ciclo etileno no solo, pela transmutação dos elementos com baixa energia, sintetizada na “lei da fertilidade crescente”. (N. do R.)

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destes elementos. Não é indiferente que estes elementos tenham origem sintética ou biológica. Referimo-nos, especificamente, ao problema das repercussões dos adubos nitrogenados. Deixando de lado a questão do teor de resíduos tóxicos na produção, provenientes de agrotóxicos, nitratos ou nitritos, é necessário preocupar-se com o valor nutricional das colheitas, em função da fertilização. Apesar da relativa escassez de documentos disponíveis sobre este tema, trata-se de uma questão fundamental, pois toca de muito perto a saúde dos animais domésticos e do próprio homem. Estudaremos, portanto, as repercussões da fertilização mineral e orgânica, sob o ângulo de suas incidências na proteossíntese. Para comodidade de análise, abordaremos uma a uma as incidências de diversos elementos minerais sobre o metabolismo, observando as repercussões de seu equilíbrio. Da mesma forma, este estudo nos levará à questão das repercussões dos oligoelementos e de sua utilização terapêutica. 3. PAPEL DOS ADUBOS NITROGENADOS Repetidamente os fertilizantes nitrogenados, especialmente os amoniacais, têm sido citados como causadores de efeitos nefastos. Efeitos que se referem à sensibilização da planta em relação a doenças e insetos. Enumeraremos rapidamente alguns exemplos. Segundo VAN EMDEN (1966), a reprodução de pulgões (Brevicoryne brassicae e Myzus percicae) cresce com a elevação do teor de nitrogênio solúvel no floema, conseqüente do uso de adubos nitrogenados. BREUKEL e POST (1959) registram um importante crescimento das populações de Panonychus ulmi em macieira após a adubação do pomar com sulfato de amônia. METCALF (1970) constata que a fecundidade de Saccharosydne saccharivora – a cigarrinha da cana-de-açúcar – e o teor de nitrogênio nas folhas aumentam após aplicação de sulfato de amônia. 194

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ADKRISSON (1958) registra que, em algodoeiro, a aplicação de nitrato de amônia provoca um nítido aumento das populações de Heliothis zea. (Similarmente aos agrotóxicos, constata-se que, as proliferações devido aos adubos nitrogenados não envolvem somente os insetos picadores ou os ácaros que se nutrem de seiva ou de suco celular, mas que elas também envolvem os lepidópteros.). De maneira geral, os adubos nitrogenados provocam o desenvolvimento de numerosas doenças, como ferrugens, Oidium no trigo, Uromyces na beterraba, Cladosporium no tomate, Sclerotinia na cenoura e requeima da batata (HERLIHY, 1970). Igualmente, quando em grande abundância, o nitrogênio favorece a ferrugem da ameixeira, sarna da macieira, o míldio da videira (VILLEDIEU, 1932), o Botrytis da videira (SCHELLENBERG, 1935, in GROSCLAUDE, 1961). STETTER (1971) demonstrou, experimentalmente, que uma suplementaçãoo de nitrogênio, na ordem de 124kg/ha, fornecido pelo nitrato de cálcio, aumenta a sensibilidade do trigo de inverno em relação à podridão-das-raízes (Ophiobolus graminis), bem como à cercosporiose-das-raízes (Cercosporella herpotrichoides). PARMENTIER (1973) realizou trabalhos muito interessantes com cereais. Após ter recordado que, no caso de Eresiphe graminis, a adubação nitrogenada tem um papel determinante na invasão parasitária demonstrou, experimentalmente, a influência das práticas culturais precedentes e o fato de que a infecção por Oidium, aumenta com a quantidade de nitrogênio incorporado. PARMENTIER (op. cit.) observa que existe um “limite de sensibilização ao nitrogênio, expresso em unidades de nitrogênio aplicado, a partir do qual o trigo apresenta uma elevação brutal da invasão parasitária. Este teto é variável, segundo as práticas culturais precedentes”. Num segundo experimento, o mesmo autor evidenciou que a percentagem de colmos sem Oidium é mais elevada nos colmos de 195

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espiga longa. No curso de dois anos consecutivos, o número médio de pústulas por colmo mostrou-se tanto mais elevado quanto mais leve ou menos desenvolvido fosse o colmo. Em outras palavras: esses resultados confirmam inteiramente nossa concepção, já que, definitivamente, a sensibilização do trigo ao oídio está na razão inversa do crescimento, isto é, do nível da proteossíntese. Aliás, PARMENTIER evoca, “de acordo com o conceito da trofobiose”, a influência de certas práticas culturais e, especialmente, a “dos adubos nitrogenados, segundo sua dose e sua época de aplicação”. Um outro fator importante reside na natureza sob a qual se apresenta o adubo nitrogenado em sua repercussão sobre a resistência da planta. Assim, SOL (1967) mostrou que a fava cultivada em solução nutritiva apresentava uma sensibilidade diferente quando o nitrogênio era amoniacal ou nítrico. O primeiro tipo de adubo sensibiliza muito mais a fava em relação a Botrytis. Isto porque as folhas dessas plantas apresentam, em seus tecidos e exsudatos, teores mais elevados em aminoácidos (3 a 4 vezes mais) e em açúcares, comparandose às plantas cultivadas em solução com nitrogênio nítrico. Em outras palavras: o nitrogênio sob forma amoniacal acarreta um nível mais baixo de proteossíntese do que sob a forma nítrica. Segundo VAN EMDEN (1966), é um fenômeno análogo que explica por que o sulfato de amônia, correntemente usado pelos agricultores, mostra-se particularmente “eficaz” para aumentar o conteúdo de aminoácidos nas folhas e, portanto, sensibilizar as plantas em relação às doenças, se comparado às repercussões menos nefastas dos adubos nítricos. A “murcha de STEWART”, no milho, é agravada pela fertilização com nitrato de amônia, mas não o é pela forma reduzida do nitrogênio. Assinalamos, enfim, que uma fertilização rica em nitrogênio, geralmente, também favorece o desenvolvimento das doenças bacterianas das folhas. Isto ocorre com a chamada “queima bacteriana” do fumo. Contudo, se pode limitar e até suprimir os estragos, graças a um 196

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aporte conveniente de potássio. Como nos casos dos ácaros e dos pulgões, as plantas com carência de potássio mostram-se, especialmente, mais sensibilizadas à infecção. Referente às “relações entre a nutrição das plantas e doenças do arroz”, TROLLENIER e ZEHLER (1977) observam que “um grande número de organismos patogênicos dependem de constituintes solúveis das células, como açúcares e aminoácidos. Estes compostos acham-se em concentrações elevadas nas plantas abundantemente providas com nitrogênio, assim como nas plantas carentes em potássio”. Os mesmos autores acrescentam: “A carência em potássio restringe a fosforilação, de forma que, se acumulam os carboidratos com reduzido peso molecular e os compostos nitrogenados solúveis. Alguns estudos indicam que há quantidades mais elevadas de compostos com baixo peso molecular nas variedades suscetíveis, que nas variedades resistentes”. Estas constatações nos levam a considerar o equilíbrio N/K na resistência da planta e a estudar o papel do potássio no metabolismo. 4. PAPEL DO POTÁSSIO E DOS ADUBOS POTÁSSICOS NO METABOLISMO E NA RESISTÊNCIA DA PLANTA A) Papel do potássio no metabolismo da planta O potássio é um elemento essencial no metabolismo. Muito móvel, ele se encontra particularmente localizado nos tecidos meristemáticos, onde se opera a fotossíntese. Ora, a proteossíntese é tributária da glicogênese e, mais precisamente, da decomposição dos glicídios, que fornecem suas cadeias carbonadas aos protídeos. Assim se explicaria o papel do potássio na proteossíntese, sua carência se acompanha de um problema geral da condensação em proteínas. A carência de potássio provoca um aumento das enzimas de decomposição. ROUTCHENKO e LUBET (1966) mostraram, no milho, que o fornecimento excessivo de N (NH4) e P, em relação às disponibi197

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lidades de K, parece ser o principal responsável pelo acúmulo de NH4 na planta e, portanto, pela intoxicação amoniacal resultante. Isto parece ser um fenômeno de ordem geral. MITCHELL et alii (1976), nesse sentido, mostraram que a carência de K afeta a composição da farinha de gergelim. No caso de carência de K constata-se acúmulo de todos os aminoácidos livres, exceto a cistina. Os autores resumem assim seus resultados: “Os acúmulos e reduções observadas nos teores de proteínas das plantas carentes em K apóiam a hipótese segundo a qual um aporte adequado de K é necessário para que os aminoácidos sejam utilizados de forma apropriada na síntese de proteínas”. Esses resultados se explicam pelo fato de que numerosas enzimas são ativadas de forma seletiva pelo K que, por este motivo, tem participação em diversos processos biossintéticos, como a fosforilação e a síntese do ATP (trifosfato de adenosina). Daí a importância do equilíbrio N/K, já que o potássio influi na síntese das proteínas e, portanto, como veremos adiante, na resistência da planta a seus diversos agressores. Contudo, antes de abordar este assunto, devemos fazer uma observação de ordem geral, porque ela é, pensamos, válida para os diversos elementos. Uma coisa é reconhecer a importância do potássio; outra, é a maneira de colocá-lo à disposição da planta. É aí que a natureza da alimentação do vegetal, ou seja, a natureza dos adubos, nas condições normais de cultivo, influi na resistência da planta e no seu valor nutricional. Com efeito, como vermos adiante, os aportes de adubos potássicos geralmente, mas nem sempre, são benéficos. KOCH e MENGEL (1972) nesse sentido mostraram que as leguminosas reagem aos adubos potássicos de uma forma completamente diferente das outras famílias de plantas. Como vimos antes, as plantas não leguminosas mostram, com o aporte de adubos potássicos, um decréscimo dos teores em aminoácidos solúveis, em correlação com seu efeito positivo sobre a proteossíntese: é o inverso do que esses autores consta198

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taram com uma leguminosa como o trevo vermelho. Os autores concluem que: “A nutrição potássica das leguminosas afeta a fixação do nitrogênio pelo Rhizobium leguminosarum”. Esta conclusão é de uma importância fundamental para a prática da adubação. Sabe-se, também, que os adubos nitrogenados solúveis provocam o desaparecimento das leguminosas. Assim, podemos perguntar se, devido a sua toxicidade em relação aos microrganismos do solo – Como dissemos antes, compartilhada com a de diversos agrotóxicos – não teríamos a explicação dos efeitos nefastos provocados pelos adubos solúveis, correntemente denunciados pelos agrobiologistas. B) Repercussões do potássio sobre a resistência da planta Uma primeira observação em relação ao potássio: trata-se de um elemento necessário em grandes quantidades, já que deve estar presente nos locais onde as sínteses são muito ativas, especialmente nos meristemas. Ele constitui um caso bastante particular, no sentido de que só existe sob forma de íons K, contrariamente ao N, P, Ca, Mg, que entram nas combinações orgânicas permanentes. Presente na seiva e no protoplasma, o potássio está estreitamente ligado à migração dos aminoácidos: do lugar onde são formados, para os locais onde são utilizados. De fato, os casos em que o excesso de potássio foi assinalado como nocivo são extremamente raros. Bem ao contrário, ao inverso dos adubos nitrogenados, a maior parte dos autores concordam em considerar que os adubos potássicos conferem aos vegetais uma maior resistência, tanto às doenças como às pragas. Realmente, como acabamos de ver, um tal processo resulta – afora as repercussões sobre as leguminosa – em grande parte do seu efeito positivo sobre a proteossíntese, com a regressão correlativa das substâncias solúveis que ele origina. LEFTER e PASCU (1970) evidenciaram uma relação linear entre a relação N/K 20 e a sensibilidade da macieira à sarna (fig. 22). 199

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SCHAFFNIT e VOLK (1930) observaram que o K também estimula a resistência da macieira ao Oidium, do míldio da videira e à ferrugem dos cereais. Observa-se, igualmente, que o potássio provoca uma resistência do pessegueiro às doenças ditas “fisiológicas”. A videira é bem conhecida por suas exigências de potássio. Elas são mais importantes em dois períodos de sua vegetação: no início, no momento da formação de folhas e, após, no período de lignificação do sarmento. Todos os fatores que agem de um modo qualquer sobre o metabolismo (temperatura, teor em água, hormônios, inibidores, substâncias tóxicas) têm uma ação indireta sobre o potássio celular e sua distribuição. Vimos que isto ocorre com diversos agrotóxicos, como o Carbaryl, que aumenta o K ao mesmo tempo em que diminui o Ca (fig. 23). Por outro lado, HOFFMANN e SAMISH (1969) observam que as necessidades da videira em K diminuem quando os níveis de Ca no solo são baixos. Assim, eles consideram que um alto nível de Ca pode anular os efeitos desfavoráveis de um excesso de potássio. Estes mesmos autores também observam que a concentração dos aminoácidos constitui o melhor critério para a determinação do estado nutricional do K na videira. Assim, na cepa Semillon, a 0,65% de K correspondem 50 ppm de aminoácidos, enquanto que a 0,28% de K a concentração de aminoácidos se eleva a 950 (fig. 24). Estes dados revelam uma deficiência no processo da proteossíntese. Podese temer, neste caso, repercussões nefastas sobre os rendimentos e sobre a qualidade do vinho e, obviamente, sobre a resistência em relação a diversas doenças. Acrescentemos que o ótimo de concentração de K não seria uma constante, mesmo para um período análogo da videira e um nível homólogoda folha. Já chamamos a atenção para o fato de que o teor dos elementos é função não apenas do clima e dos agrotóxicos aplicados sobre a videira, mas também da constituição genética (influ200

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ência da cepa) e da natureza do porta-enxerto. Ou seja, de todos os fatores que devem ser levados em conta para a pesquisa de um equilíbrio ótimo. Referente às pragas tivemos ocasião de demonstramos, experimentalmente, as repercussões benéficas das fertilizações potássicas em relação à resistência de Citrus às cochonilhas. Realizamos uma experiência de adubação mineral conduzida sobre uma parcela de bergamoteiras. Estes ensaios – origem puramente agronômicos – tinham por objetivo, primitivamente, demonstrar que o aporte maciço de potássio no solo acarretava um aumento de K nas folhas e, correlativamente, uma redução de Ca, que se encontrava em excesso no solo. Este excesso nos fazia suspeitar de um desequilíbrio no metabolismo das árvores, provocando sua sensibilidade em relação aos ataques das cochonilhas (CHABOUSSOU, 1974) Exceto para as testemunhas, os tratamentos foram: CaCO 3, H2S04 e KN03. As observações foram feitas sobre duas espécies de cochonilhas: Lepidosaphes beckii e Saissetia oleae. A fig. 25 mostra, em 1970, diferenças consideráveis nas populações, em função da fertilização. Em comparação às testemunhas, confirma-se o efeito positivo do cálcio sobre a multiplicação de Lepidosaphes beckii. Na colheita, as populações nos frutos são aproximadamente o triplo. Os “tratamentos potássicos” reduzem o nível das cochonilhas quase à metade. Em 1971 (os ensaios estavam implantados desde 1965), as diferenças ainda se acentuam entre as populações, especialmente sobre galhos finos e folhas. Os tratamentos potássicos reduzem as cochonilhas a um terço das presentes nas testemunhas (fig. 26). Esta regressão das cochonilhas está ligada a fatores nutricionais e, provavelmente, à relativa diminuição das substâncias solúveis da seiva, em particular dos aminoácidos. Este processo parece ocorrer por intermédio do estabelecimento, na planta, de um novo equilíbrio catiônico. Se compararmos a população de L. beckii nos frutos colhidos, com os valores da relação K/Ca+Mg das cascas, constata-se que 201

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a regressão das populações parece estar ligada ao aumento desta relação (fig. 27). Inversamente, a diminuição desta mesma relação, pelo tratamento CaCO3, está ligada à multiplicação da cochonilha, se comparada às testemunhas (fig 27). Este último resultado confirma, portanto, a hipótese dos efeitos favoráveis na multiplicação desse inseto, de um excesso de cálcio no solo, como na região de Rharb. A generalidade deste processo é confirmada pelos resultados análogos obtidos com uma segunda espécie de cochonilha, a Saissetia oleae. Em resumo, estes resultados demonstram que uma correção adequada do metabolismo da planta, graças a fertilizações apropriadas (neste caso, o aporte de potássio), permite obter uma regressão sensível nas populações das pragas fitófagas, apenas pela via nutricional. Veremos a seguir, a respeito da influência do cálcio, que ele pode ter o mesmo efeito para as doenças. 5. PAPEL DO CÁLCIO E DAS CORREÇÕES CALCÁRIAS NO METABOLISMO E RESISTÊNCIA DA PLANTA A) Papel do cálcio no metabolismo da planta WALLACE et alii.(1966) observam que: – as plantas superiores parecem necessitar de grandes quantidades de cálcio; – a questão destas necessidades é, ainda, extremamente confusa. Talvez o cálcio seja o elemento essencial menos compreendido. Paradoxalmente, as plantas calcífugas parecem acumular mais cálcio que as calcícolas. Isto significa uma diferença fundamental no metabolismo do cálcio nestas duas categorias de plantas. Podem ser diferenças na fixação do Ca sobre os locais de troca iônica ou nas modalidades de uso deste elemento. Estes fenômenos ocorreriam, 202

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portanto, nas partes aéreas das plantas, pois nas raízes a evolução do teor de Ca é praticamente idêntica numa espécie calcífuga, como o tremoço, e numa calcícola, como a fava (BOUSQUET, 1971). Outro fato importante referente ao metabolismo do cálcio: são os numerosos “equilíbrios” em que está implicado. Já mencionamos o equilíbrio K+/Ca++, mas o cálcio está ligado a diversos outros elementos. No milho, FALADE (1973) mostrou que o cálcio estimula a absorção de K + e de Mg ++ até um determinado nível na solução nutritiva, mas a inibe, ao contrário, em outros níveis. O potássio age da mesma forma para a absorção de Ca++, enquanto o Mg++ comportase de forma semelhante para a absorção de Ca e de K +. SHEAR (1975) observa que, elevando-se suficientemente o teor de Mg, a absorção de Ca pode ser aumentada. Estas interrelações complexas podem explicar certos resultados aparentemente contraditórios referentes às relações entre o Mg e as afecções por carências de Ca, que nos ocuparemos mais adiante. Assim, o blossom end rot* ou BER do tomate, bem como o coração negro do aipo, estão relacionadas com os baixos valores da relação Ca/ total de sais solúveis. Ora, como vimos, a suscetibilidade da planta está ligada a um teor elevado do nitrogênio nos tecidos, o que parece significar que, nesse caso, o equilíbrio catiônico é pouco favorável a um ótimo de proteossíntese. Outra relação clássica é a do cálcio e fósforo. O Ca estimula a absorção de fosfatos no milho, com certos teores de cátions, mas não apresenta estes efeitos com outros, como para K e Mg (FALADE, 1973). Daí a importância, como veremos adiante, da relação Ca/P na planta, no que diz respeito a sua resistência às doenças.

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Em inglês no original. (N. da T.). A blossom-end-rot é uma doença fisiológica que produz uma colaboração pálida nas flores, no decurso da floração. Ocorre em condições desfavoráveis, com excesso de N e/ou carência de Ca. (Yepsen, 1966). (N. do R.)

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Estes fenômenos estão sempre relacionados com o processo da proteossíntese, em que o íon Ca forma complexos com as proteínas. Isto se expressa, também, da seguinte maneira: “as proteínas apresentam uma afinidade considerável com o cálcio”. Também as vitaminas A e C estão estreitamente relacionadas ao metabolismo do cálcio. Efetivamente, são as relações que ligam o cálcio à matéria orgânica do solo e às leguminosas que parecem as mais interessantes. E, também, as mais suscetíveis de nos fazer entender melhor o papel do cálcio no processo da proteossíntese e, conseqüentemente, na resistência da planta. B) Adubação orgânica e cálcio ALBRECHT (1941) estima que a fertilidade de um solo está relacionada com o teor de cálcio trocável. E que este cálcio trocável se encontra, ele próprio, relacionado com o teor do solo em matéria orgânica. Ele observa que, por outro lado, o acúmulo de matéria orgânica, a partir de blue-grass* não aumenta somente o Ca trocável, mas também o Mg trocável. ALBRECHT (op. cit.) observa que a matéria orgânica modifica não somente a mobilidade do cálcio, mas também, do nitrogênio e do hidrogênio. Esse autor estima que Ca e H devem ser colocados à parte entre os cátions, devido a suas propriedades particulares. “O cálcio é um agente para encorajar a completa combustão da matéria orgânica”. Um trabalho recente chega à conclusão que “o cálcio aumenta a estabilidade biológica da matéria orgânica, enquanto a elevação do pH tem uma função oposta” (LINÈRES, 1977). Segundo ALBRECHT, “uma explicação mais plausível do alto teor de matéria orgânica do solo chernozem é de que o elevado nível *

Em inglês no original. Gramínea do gênero Poa. (N. da T.). Poa protensis, pastoazul. (N. do R.)

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de Ca e de outras bases provoca grande fixação de nitrogênio, tanto simbiótico quanto não simbiótico. Esta fixação produz mais carbono e eleva o teor de matéria orgânica, apesar de aumentar sua destruiçao pelos microorganismos, em meio tão favorável”. Os trabalhos de LINÈRES (op. cit.) confirmam esta conclusão: “A saturação das moléculas pelo Ca parece ser o fator determinante da estabilização biológica dos humatos cálcicos, bem como do conjunto da matéria orgânica dos solos com nível cálcico elevado”. Em resumo, o aumento do nitrogênio e do cálcio não são absolutamente processos independentes. E este processo está relacionado com a matéria orgânica. Por outro lado, ALBRECHT distingue o tipo de vegetação segundo a relação silício/cálcio. A “vegetação carbonada”, que pode resultar, com seu baixo teor em outros elementos nutritivos, é reconhecida como “desmobilizadora” em relação aos íons, enquanto que a vegetação de leguminosas, com uma baixa relação Si/Ca e um alto teor em outros elementos além do silício, no solo, é conhecida como “mobilizadora”destes íons. Portanto, isto justifica, de outro modo que só pelo enriquecimento do solo em nitrogênio, a prática de adubação verde com leguminosas, preconizada desde sempre pelos agrobiologistas e, agora, novamente, pela agricultura clássica. Ainda é necessário mencionar uma outra relação clássica: a do cálcio e fósforo. O Ca, estimula no milho, a absorção de fosfatos a certos níveis de cátions, mas não de outros. Tudo como ocorre com K+ e o Mg ++ (FALADE, 1973). Veremos adiante o papel da relação Ca/P no mecanismo da resistência da planta. Enfim – e aí talvez esteja o ponto mais importante do metabolismo do cálcio – este elemento apresenta relações de certa forma privilegiadas com os oligoelementos. Isso ocorre, por exemplo, com o boro, apesar das funções deste elemento não estarem ainda muito claras. Contudo, parece provado que o boro é capaz de manter o cálcio sob forma solúvel. 205

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Assim, tanto o boro fornecido através das raízes como por pulverizações foliares aumenta o movimento do Ca nas maçãs. O cálcio, além do equilíbrio que manteria com numerosos elementos, é considerado, ele próprio, como desempenhando o papel de um oligoelemento, ou quase, e o de um antitóxico, em relação a eventuais excessos de elementos como o Mg, Cu, Fe, Mn e Zn e, talvez, de outros íons (WALLACE et alii., 1966). Este é um aspecto importante a ser retido, considerando-se a terapêutica pelos oligoelementos, que abordaremos no próximo capítulo. C) Repercussões do cálcio sobre a resistência da planta Tudo o que vimos, referente ao papel do cálcio no metabolismo da planta parece colocá-lo no centro dos fenômenos que resultam na proteossíntese e inclusive, como veremos adiante, daqueles fenômenos – extremamente complexos – como as relações com a matéria orgânica, isto é, com a intervenção dos microrganismos. Voltaremos a este assunto mais adiante. A importância do cálcio na resistência da planta é surpreendente. SHEAR (1975) enumerou pelo menos trinta afecções ou doenças causadas por carências de cálcio. Citemos entre elas: – as necroses ou “coração negro ou marrom”; – a necrose “hipocotiledonar” do feijão; – as rachaduras da cenoura, cereja, tomate; – o coração negro do aipo; – o bronzeamento da batata etc. SHEAR (op. cit.) ressalta, por outro lado, todas as dificuldades em admitir-se a carência de Ca como causa destas diversas doenças. Ele escreve, a propósito: “A despeito de uma monumental evidência, a aceitação universal de um inadequado teor de cálcio como fator geral da origem dessas doenças foi lento. Mesmo se o papel ou papéis específicos do cálcio como redutor ou preventivo dessas doenças ainda não estão determinados, à compreensão da função da nutrição com 206

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cálcio, que pode ser afetada por cada uma das condições discutidas anteriormente, é essencial, se quisermos reduzir as perdas econômicas acarretadas por estes distúrbios”. No que diz respeito ao papel do cálcio, acreditamos ter mostrado que ele se encontra em estreita relação com a estimulação da proteossíntese, como veremos confirmado. Entretanto, SHEAR também faz alusão aos diferentes fatores ecológicos suscetíveis de agirem indiretamente sobre o metabolismo do cálcio na planta (e, acrescentaremos, dos outros elementos). Estes são, principalmente: – solo seco (considerado o fator mais importante da necrose do tomate); – inversamente, as regas sucessivas; – altas temperaturas. Observamos, de passagem, que todos estes diferentes fatores unemse para provocar uma inibição da proteossíntese. Assim, KYDREV e TJANKOVA (1960), estudando as relações entre as modificações provocadas pela seca e a infecção das plantas por Puccinia triticina Erikss, evidenciaram que a seca provoca na planta certos fenômenos considerados como favoráveis à infecção, especialmente a elevação do teor de nitrogênio não-protéico e a queda do teor de auxinas. Também no trigo, SLUKHAI e OPANASENKO (1974), encontraram que o déficit em água perturba o metabolismo dos compostos nitrogenados, com uma redução da síntese protéica e o aumento considerável de certos aminoácidos, como a asparagina e a prolina. Efetivamente, parece que o acúmulo de prolina é característico do metabolismo das plantas deficientes em água (RUHLAND, 1958). Acrescentaremos que é desnecessário procurar em outro lugar a causa de certas multiplicações bruscas e aparentemente inexplicáveis de insetos como, por exemplo, pulgões e cochonilhas. Uma deficiência das plantas em água provoca uma hidrólise das proteínas nas folhas e, con207

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seqüentemente, um enriquecimento em nitrogênio solúvel, que acarreta uma multiplicação de pulgões como, por exemplo, Aphis fabae, Myzus persicae e Brevicorynae brassicae (WEARING e VAN EMDEN, 1967). Assim, estes fatores ecológicos sobrepõem-se aos da carência em cálcio. Além das necroses e rachaduras, pode-se citar as fusarioses, Verticillium do tomate e Phytophthora do moranguinho, entre as moléstias relacionadas com a carência em cálcio. As carências “conjugadas” de Ca e Mg provocam a necrose e a morte dos brotos do aspargo. Uma tal ação nefasta das carências de cálcio se encontra, por outro lado, confirmada pelo efeito inverso produzido pela estimulação da resistência das plants pelas correções calcárias. Assim, por exemplo: • aumenta a resistência do tomate a Botrytis, com aportes sucessivos, seja de cal hidratada, seja de gesso agrícola, a doença parece se encontrar inversamente ligada à relação Ca/P (STALL, 1963 e STALL et alii. 1965) (fig. 28); • em relação ao mofo cinzento, em terreno calcário, os diversos ditiocarbamatos não acarretam os mesmos graves inconvenientes assinalados anteriormente. VERONA (1976) evidenciou a ação benéfica da cianamida cálcica* em relação a diversas doenças. Isto ocorre, por exemplo, com a helmintosporiose do milho (BOGYO, 1955), com Phytophthora capsicii, Armillariella mellea, Pythium ultimum, Verticillium alboatrum, Fusicoccum amygdali e Giberella zea. VERONA (op. cit.) salienta a importância da quantidade de cianamida colocada, bem como da época de aplicação. A cianamida exerce uma influência inibidora indireta, via metabolismo da planta e, portanto, seu emprego deve ser repetido e contínuo. VEZ (1972) mostrou como a doença de cereais, Cercosporella herpotrichides, era fortemente inibida pelas correções à base de *

Adubo nitrogenado muito usado na Europa. Pouco conhecido no Brasil. (N. da T.)

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cianamida, enquanto um ataque tardio se manifestava principalmente nas parcelas que haviam recebido nitrato de amônia. (Isto confirma os efeitos nefastos dos compostos amoniacais em relação à resistência das plantas às moléstias, devido ao aumento do teor de nitrogênio solúvel nos tecidos.) Conhece-se outros exemplos da importância do cálcio. GUYOT (1935) demonstrou o papel antagonista do calcário e dos sais de magnésio em relação ao desenvolvimento da podridão (Armillariella mellea).* GARD (1929) demonstrou que os superfosfatos atacam o cálcio e diminuem o teor deste no solo, favorecendo a aparição de focos de podridão em nogueiras, provocados por Armillariella mellea. Esta doença não existiria nos solos contendo de 20 a 25% de carbonato de cálcio. O cálcio permite manter o pH do solo em limites favoráveis à atividade biológica e à assimilação dos elementos nutritivos. Assim, a calagem, na razão de 9t/ha, fez o pH passar de 3,8 a 4,3 após 24 semanas da aplicação. Segundo o Research Branch Report,* de Quebec (1973), este fenômeno produz um acúmulo de nitrogênio na forma de NO3, e não de NH4, como ocorre em condições mais ácidas. Ora, vimos que, sob forma nítrica, o nitrogênio é muito menos capaz de sensibilizar a planta a doenças do que sob forma amoniacal... Contudo, não é seguro que este fenômeno ocorra diretamente por intermédio da mudança de pH. HUBBELING e CHAUDHARY (1969) salientam que o pH do solo não tem influência direta sobre a reação de plântulas de tomate a Verticillium. Em duas variedades de tomate, os autores observam que: “Uma nítida parada de crescimento e uma coloração vascular marrom demonstraram que um forte ataque do fungo está correlacionado com uma deficiência em Ca”. Da mesma forma, CORDEN e EDGINGTON (1960) haviam demonstrado que os tomates com carência de Ca eram claramente * *

Podridão ou fendilhamento anular das raízes. (N. do R. ) Em inglês no original. Relatório da Divisão de Pesquisa. (N. da. T.)

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mais suscetíveis a Fusarium que as plantas normais. As plantas tratadas com o ácidob – naftaleno acético (NAA) mostravam-se nitidamente resistentes, mas a resistência induzida por este produto era nula nas plantas deficientes em Ca. Esta observação é fundamental: ela constitui uma demonstração suplementar da influência indireta dos agrotóxicos sobre a resistência da planta a seus agressores, seja ela anulada ou, ao contrário, estimulada. Em outras palavras, o efeito buscado de resistência – erroneamente chamado fungicida” – deve, obrigatoriamente, passar por um novo estado fisiológico a planta, diferente de seu estado inicial. Vimos que este estado é caracterizado por um metabolismo com proteossíntese dominante. Assim se explicam as constatações desses mesmos autores, de que: “os cátions, tais como os íons monovalentes, como Na+, NH+4 e K+, que estavam em competição com os íons Ca++, tinham aumentado os efeitos da doença”. Isto nos conduz ao estudo da noção do equilíbrio catiônico e de suas conseqüências. 6. EQUILÍBRIO CATIÔNICO E RESISTÊNCIA DA PLANTA Como vimos antes, em numerosos casos os adubos potássicos aumentam a resistência da planta, parece através da elevação do teor de K nos tecidos. Em outros casos, ocorre o contrário com o cálcio. Em cada um desses dois casos, as relações K/Ca e K + Na/Ca + Mg encontram-se modificadas, num ou noutro sentido: o novo equilíbrio condiciona o metabolismo e o nível de proteossíntese da planta, que poderá ser intensificado ou reduzido. Para um nível máximo de proteossíntese, concebe-se que o valor dessas relações pode variar, segundo a natureza genética da planta. BOGYO (1955) observa que se o K provoca uma regressão de helmintosporiose no milho, o cálcio, ao contrário, a aumenta. Todavia, observa-se igualmente que, quando o milho dispõe de K assimilável em quantidade suficiente, a cal aplicada em doses crescentes não provoca mais aumento da doença. 210

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Portanto, não há absolutamente contradição no fato de que num caso o cálcio estimule a resistência à doença e, noutro, faça o inverso. Em termos ideais, se trata de um equilíbrio que resulta num metabolismo caracterizado por um ótimo de proteossíntese. Este ótimo é obtido por um determinado equilíbrio entre K e Ca, provavelmente diferente para cada família de plantas. Os trabalhos de CRANE e STEWART (1962), com Mentha piperita, parecem confirmar este ponto de vista. Essas pesquisas fundamentalmente colocaram em concorrência fatores que interferem no crescimento, como a luz (dias curtos e longos) e o equilíbrio K/ Ca da solução nutritiva. Se resumirmos seus resultados, podemos dizer que: 1. Os dias curtos acentuam o teor dos compostos solúveis nos tecidos e, portanto, segundo nossa teoria, sensibilizam a planta em relação a seus diferentes agressores. (Recordemos o exemplo das repercussões da latitude sobre a sensibilidade da batata a Phytophthora infestans.) 2. Os efeitos do valor da relação Ca/K (ou inversamente) sobrepõem-se aos principais efeitos atribuídos aos dias longos ou curtos: dito de outra maneira, ao fotoperíodo (fig. 29). Num contexto de síntese de proteínas com alto teor em glutamina, um elevado teor de K nos tecidos e baixo de Ca provoca uma concentração maior de N protéico e, ao contrário, uma menor de N solúvel. Ou seja, condições favoráveis a um estímulo da resistência da planta. As três carências artificialmente provocadas, em K, Ca e S acarretam, nas folhas, a presença de aminoácidos especiais, em que a glutamina parece estar em equilíbrio com a asparagina. Estas variações em aminoácidos poderiam ser correlacionadas com “períodos críticos”, efetivamente, constatados no curso do ciclo evolutivo da planta, tanto em relação às pragas (Tetranychus sp., por exemplo) quanto às doenças. 211

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Quanto às carências em oligoelementos, às quais serão mais especialmente tratadas no próximo capítulo, CRANE e STEWART (op. cit.), mostraram que elas conduzem a conclusões análogas. Assim, as carências em Cu e em Mn provocam aumento do nitrogênio solúvel nas folhas, sobretudo da glutamina. Estas carências levam à sensibilização da planta a seus agressores. E, efetivamente o inverso que se obtém com a correção das carências. 7. INFLUÊNCIA DOS OUTROS ELEMENTOS – ENTRE OS QUAIS O MAGNÉSIO – NO METABOLISMO E RESISTÊNCIA DA PLANTA Insistimos sobre a influência do potássio e do cálcio no metabolismo da planta e elaboração das proteínas, fator que nos interessa, particularmente, na resistência do vegetal, em relação a seus diferentes parasitas. Contudo, é evidente que, além destes dois elementos, muitos outros intervêm na cadeia das sínteses protéicas. Aliás, eles figuram no esquema da fig. 21, com o sentido das flechas indicando as principais “vias” do metabolismo. Além dos oligoelementos e do enxofre, dos quais já falamos e dos quais trataremos no próximo capítulo, é conveniente examinarmos, brevemente, o papel do magnésio. Sabe-se que o magnésio faz parte da molécula da clorofila. É, portanto, lógico que ele também intervenha nas cadeias de decomposição e de síntese dos glicídios. As substâncias ricas em energia (ATP) servem de intermediárias para as sínteses e degradações. Ora, os compostos ricos em energia, utilizados na cadeia de degradação das “oses” (açúcares), são compostos fosforilados, e os sistemas enzimáticos destas mesmas cadeias necessitam, em sua maioria, da presença de Mg. A reação ADP + P =ATP só pode ocorrer na presença de Mg. Daí a importância bioquímica das relações entre P e Mg. É possível dizer que “o ‘dínamo celular não pode funcionar sem magnésio”. 212

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O metabolismo do fósforo também está estreitamente relacionado com o cálcio. Portanto, não é surpresa constatar-se a existência de um antagonismo Ca-Mg. É porque esta relação justifica o fato de ser possível, numa primeira aproximação, contentar-se com a relação K/Ca para quantificar, sumariamente, o metabolismo da planta e, em particular, o da proteossíntese. É estabelecido, claramente, que a relação K/Ca influi na proporção de Mg utilizada pelo vegetal, o que se explica pela influência do Ca sobre a absorção do Mg. Assim, se admite que: K + Ca + MG = constante. Existe uma nítida correlação entre N e Mg nas folhas das árvores, com curvas de variação destes dois elementos sendo análogas. Assim, o teor de Mg nas folhas de macieira, expresso em percentagem de matéria seca, é, por exemplo: – Folhas doentes, em início de clorose: .... 0,14 a 0,20 % – Folhas sãs: ................................................ 0,30 a 0,45 % Estas insuficiências, também chamadas “subcarências”, porque nem sempre muito aparentes, podem ser provocadas involuntariamente pelos agricultores, pela utilização abusiva de outros adubos, como os produtos ‘nitrogenados sintéticos. Estes produtos podem também bloquear os oligoelementos no solo. Assim, a relação K/Mg no solo condiciona a quantidade de Mg utilizada pelo tomateiro. Quando esta relação é muito elevada, há clorose. É necessário chamar a atenção sobre as relações do Mg com os oligoelementos. Assim, para diversas enzimas implicadas no metabolismo das “oses”, o Mg pode ser substituído pelo Mn, apesar da atividade final do sistema não ser a mesma. 213

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Em resumo, é normal registrar-se fenômenos análogos de carência com o Mg, Fe e Mn. Finalmente, consideremos as relações Ca/Mg, por um lado, e Ca/ matéria orgânica, por outro, e a relação deles com os diferentes oligoelementos, antes de passar ao estudo das repercussões desses últimos, nos parece racional estudar, em primeiro lugar, as repercussões da adubação orgânica sobre a resistência da planta, pelo ângulo eventual de sua influência na proteossíntese. É o que nos propomos fazer agora. 8. REPERCUSSÕES DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NA RESISTÊNCIA DA PLANTA A SEUS DIVERSOS PARASITAS A) Concepção de certos pesquisadores, práticos e agrobiologistas Já em 1946, DEMOLON escrevia: “Como indicou Gabriel BERTRAND, é possível que o emprego de adubos sintéticos e a diminuição dos aportes de adubo orgânico venham um dia a tornar mais freqüentes, para nós, estas manifestações patológicas”. O eminente agrônomo que foi DEMOLON aludia a certas doenças adquiridas por carências, como a “podridão” da beterraba, eficazmente tratada por correções à base de borato de sódio, na razão de 15 kg/ha. Além disto, DEMOLON observava também que: “O número de doenças viróticas aumenta rapidamente. Elas existiam anteriormente, houve um reforço de sua virulência, ou foram introduzidas com as novas variedades?” Essas questões já haviam sido colocadas por outros práticos e agrobiologistas. Assim, em sua obra Testament Agricole*, onde resu*

“Testamento Agrícola”. (N. da T.) Esta obra será publicada pela Editora Expressão Popular. (N. do R.)

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miu suas observações e os resultados de sua longa carreira, HOWARD coloca “o problema do paralelismo inquietante entre o desenvolvimento dos parasitas, o dos tratamentos antiparasitários e da fertilização exclusivamente mineral”. Em relação ao chá* ele constata que a compostagem obtida através de uma técnica própria de fabricação – o processo INDORE – causa “uma melhoria do crescimento, da vitalidade em geral e um aumento da resistência às doenças”. Ele explica este fenômeno “pela ação estimulante do húmus sobre o desenvolvimento das micorrizas”. A respeito da videira, ele comenta: “A vida prolongada das espécies de videira é a característica do Oriente, da mesma forma que o emprego de esterco e a ausência relativa de danos causados por insetos e fungos”. Quanto às doenças viróticas, das quais voltaremos a falar mais adiante- ele observa: “uma das plantas estudadas em PUSA foi o fumo. Em primeiro lugar, viu-se aparecer, nas minhas culturas, plantas malformadas (neste meio tempo se pôde demonstrar que um vírus era o responsável). O vírus desaparecia quase totalmente quando se tinha o cuidado de obter boas sementes, de fazer as plântulas crescerem convenientemente nas sementeiras, de zelar por um bom transplante e pelo trabalho do solo: finalmente, o vírus desapareceu quase inteiramente”.**

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Refere-se ao chá-da-Índia. (N. da T.). Thea sinensis L. (N. do R.) Devido a sua vasta e longa experiência, HOWARD necessariamente tornou-se filósofo e teorizador. Assim, às vezes, ele resumiu suas concepções de maneira um pouco contundente e não conformista, de seu próprio estilo como estas que deixamos à meditação do leitor: “A ciência perde-se num labirinto de detalhes”. “O problema jamais é considerado em seu conjunto”. “O aumento do número de pesquisadores obscureceu mais do que clareou vastos problemas biológicos”. Enfim: “O trabalho de equipe não é um remédio para os inconvenientes do retalhamento dos problemas. A renda tecida pelo trabalho de equipe freqüentemente é cheia de buracos”.

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Podemos escutar daqui os protestos dos virologistas: segundo eles, o vírus não teria desaparecido, mas no máximo, suas manifestações. E é, sem dúvida, isto que HOWARD quis dizer. Todavia, e como já vimos a propósito dos trabalhos de VAGO e da incidência dos agrotóxicos sobre a planta, é certo que um condicionamento adequado da planta por uma nutrição equilibrada e ativa possa aniquilar o próprio vírus. É, pois, o que discutiremos adiante. Devemos, igualmente, citar um outro agrobiologista. RUSCH (1972)* escreve: “A agricultura biológica facilita consideravelmente a solução do problema (o das doenças e pragas). As plantas, que na agricultura química não poderiam sobreviver sem ajuda de produtos fitossanitários, podem ser cultivadas sem o socorro de nenhum deles, desde que as condições naturais ótimas sejam efetivamente preenchidas”. Estas duas posições referentes à proteção da planta podem ser resumidas de uma forma lapidar. · A agricultura “clássica” assegura: “Minha planta cresce bem, porque não está doente”. Subentendido: pelo fato de que devemos destruir os eventuais parasitas, é necessário intervir, freqüente e quimicamente, com os diversos agrotóxicos. O melhor, como é freqüentemente preconizado, é “cobrir a planta” de produtos, constituindo-se uma “barreira”. Certo, hoje se preconiza, mais ou menos, um controle dito “integrado”, que não é mais do que um tipo de compromisso entre a luta “química” e a luta “biológica”. Contudo, ambos, e com todas as contingências que isto comporta, visam a destruição da praga. Vimos, nos capítulos precedentes, todas as dificuldades e todos os inconvenientes que isto acarreta.

*

A obra básica de Ruch é La fècondité du sol, Le courrier du livre, Paris, 1972. O original, em alemão, foi publicado em 1968, pela Karl T. Haus Verlag. O nome do autor é H. P. Rusch. O original grafou-se sem o “c” (Rush). (N. do R.)

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Diametralmente oposta é a atitude da agricultura biológica. Esta é feita com o objetivo de “dissuadir” o parasita de atacar a planta. Sua atitude pode ser concretizada na fórmula: “Minha planta não está doente porque cresce bem”. Isto se justifica, segundo nossa teoria da trofobiose, na medida em que o crescimento “ótimo”, do qual fala RUSCH, corresponde a um ótimo de proteossíntese. Assim, somos conduzidos a nos perguntar em que a adubação orgânica, da qual falamos antes, pode estimular a proteossíntese. Qual seria o processo em jogo? Ora, Didier BERTRAND (1974) observava: “Se o emprego de matéria orgânica é recomendado nas culturas desde há muito tempo, as razões científicas deste emprego foram pouco estudadas”. Contudo, nos últimos anos, um certo número de fatos foram estabelecidos. Eles nos permitem ver mais claramente a causa deste fenômeno e explicar, ao menos parcialmente, esta “propriedade indeterminada da matéria orgânica” a que faziam referência PILAND e WILLIS (1937) a respeito da assimi1ação do cobre e do manganês pelo trigo. Esses autores mostraram, em experiência de laboratório, uma nítida influência sobre o crescimento da gramínea, de um simples disco de papel-filtro misturada ao quartzo que servia de suporte. Para comodidade da exposição e, ainda que esta separação seja um pouco artificial, podem ser distinguidos dois tipos de repercussões da matéria orgânica: as que se relacionam mais especificamente à vida do solo, e as outras, com a vida da planta. Estes dois tipos de influência repercutem, finalmente, sobre o metabolismo e, portanto, sobre a resistência da planta. B) Propriedades da matéria orgânica em relação ao solo A maior parte dos autores reconhecem que a adubação orgânica tem um certo número de propriedades: – melhoria da capacidade do solo no que diz respeito à retenção de água; 217

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– melhoria, igualmente, da microflora do solo; – além disto, a adubação orgânica proporciona ao solo alimentos minerais, em quantidades não desprezíveis, sobretudo N, S, P, Mg e K. A matéria orgânica contém também os oligoelementos, que libera no curso de sua decomposição. Em solo ácido, por exemplo, a matéria orgânica faz o manganês passar ao estado reduzido, aumentando assim sua mobilidade e disponibilidade para as plantas. Ao contrário, teria sido observado que o adubo orgânico diminui a concentração de zinco disponível no solo, enquanto o extrato de alfafa a aumenta. Quanto à celulose, constituinte essencial do filtro de papel da experiência de PILAND e WILLIS, à qual já nos referimos, aumenta consideravelmente o teor de boro solúvel. Pela importância dos oligoelementos na fisiologia da planta e, em articular, na proteossíntese (que veremos confirmada no próximo capítulo) parece que temos aí uma das razões pela qual a adubação orgânica e, especialmente, as compostagens, estimulam a resistência. Além disto, parece ocorrer o mesmo processo com os macroelementos. No que diz respeito ao nitrogênio, lembrando que sua liberação e sua estocagem mineral são fenômenos microbianos, DELAS et alii. (1973) distinguem dois tipos de evolução no solo: 1. Nos materiais ricos em nitrogênio, isto é, com relação C/N baixa, a decomposição vai se traduzir por uma liberação do nitrogênio mineral; ela começa na primavera para atingir seu máximo no fim do verão.* 2. Se, ao contrário, a relação C/N for elevada, por exemplo, a matéria orgânica sendo uma palha ou esterco* pouco decomposto, os microrganismos vão, em primeiro lugar, retirar o nitrogênio necessário à sua síntese de proteínas. Há, portanto, aproveitamento microbiano do nitrogênio ao invés de sua mineralização. Daí o efeito * *

Não esquecer que o autor refere-se ao Hemisfério Norte. (N. do R.) Refere-se a esterco misturado com restos vegetais. (N. da T.)

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depressivo do enterramento das palhas nas culturas, sem o aporte complementar do nitrogênio mineral. Estes resultados experimentais parecem explicar por que os “inventores” da compostagem insistem num “amadurecimento” conveniente antes de seu emprego. Outro ponto importante da ação da adubação orgânica é o da estabilização da estrutura dos solos. Isto ocorre, primeiro, graças ao trabalho dos microrganismos que se desenvolvem rapidamente, às expensas das substâncias carbonadas. Após, num segundo estágio, pelos produtos transitórios provenientes da humificação. Assim, se chega ao último estágio: os ácidos húmicos, cuja evolução é muito lenta. LEMAIRE (1972) demonstrou experimentalmente que o efeito depressivo da palha desaparece ao cabo de dois meses de decomposição em estufa, e que é necessário esperar três meses para obter efeitos estimulantes. Ele acrescenta: “Pode-se imaginar que no curso da fermentação as substâncias de efeito depressivo desapareçam ou se transformam, dando nascimento às substâncias de efeito estimulante”. Efetivamente, experimentando adubação orgânica em azevém, LEMAIRE obteve, pela utilização da matéria orgânica, “um efeito específico, traduzido por um estímulo do crescimento e um aumento dos rendimentos”. Certamente estes fatos são bem conhecidos pela maioria dos agricultores e, principalmente, dos agrobiologistas. Contudo, seria útil demonstrá-los experimentalmente. Diversos outros trabalhos também permitem melhor compreender o mecanismo desta estimulação do crescimento pelas diversas substâncias contidas no húmus. FLAIG (1965) mostrou que no curso da formação das substâncias húmicas há liberação, por ação microbiana, de compostos facilmente assimiláveis, como NH4 e NO3, que podem, portanto, servir diretamente à alimentação das plantas. Esse autor identificou diversos ácidos, produtos da degradação das ligninas ou de compostos fenólicos que mostraram influência 219

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sobre a fertilidade do solo e sobre a amplitude de crescimento do vegetal. Por outro lado, a ação microbiana prossegue, pela formação de fenóis e de quinonas, ainda produtos da decomposição das ligninas no solo, e que se formam, portanto, quando da compostagem dos materiais vegetais. FLAIG observa que quinonas e fenóis são pouco estáveis, mas que, em compensação, são 10 a 100 vezes mais ativos que os produtos resultantes diretamente da degradação da lignina. FLAIG indica que a ação destas substâncias fisiologicamente ativas depende das condições de meio, como a quantidade dos elementos nutritivos assimiláveis (fator que parece não ser considerado pelos patologistas que procuram combater as doenças pelo emprego das diversas substâncias de crescimento), e dos fatores ambientais, como temperatura, luz e umidade. Isto permite explicar as contradições entre diversos autores no que se refere à influência das frações húmicas sobre o metabolismo do vegetal. Assim, chegamos a um segundo tipo de ação da matéria orgânica. C) Propriedades da matéria orgânica em relação à planta Está confirmado que, além do aporte de substâncias nutritivas, a adubação orgânica fornece à planta substâncias de crescimento, permitindo a assimilação das primeiras. De uma maneira geral, a ação dessas substâncias de crescimento se traduz por um aumento do nível de respiração e de clorofila e, “referente à parte central do metabolismo, por reações de “fosforilação” localizadas nas mitocôndrias. Assim, a fosforilação oxidativa permite à planta armazenar energia para formação de ADP e ATP. Segundo FLAIG, “as duas reações, de combustão do hidrogênio e de formação de ATP, estão acopladas. Este acoplamento se reduz à medida que a concentração de substâncias fisiologicamente ativas aumenta, isto é, que o teor de fosfatos minerais aumenta e o de ATP diminui”. Ora, observa ele,”para uma 220

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intensidade determinada de interação, o aumento do teor de fosfato na célula acelera os processos metabólicos ligados à presença dos íons de fosfato”. Finalmente, estes processos criam os produtos necessários à síntese da matéria vegetal, como os açúcares. Os derivados glicídicos participam da elaboração de compostos aromáticos, que por sua vez produzem as ligninas, bem como os compostos cetônicos precursores dos aminoácidos e das proteínas. Essas relações entre a matéria orgânica e a assimilação do fósforo têm sido confirmadas desde então por diversos trabalhos. Assim, KUTE et alii. (1967) mostraram que em solo calcário, na presença de colóides húmicos, os rendimentos aumentam nitidamente com o aporte de adubos fosfatados. Isto se explica porque “o húmus, claramente, fez a planta aumentar a utilização das reservas fosfóricas do solo e da adubação orgânica fornecida”. Da mesma forma, trabalhando em laboratório sobre discos de beterraba, VAUGHAM e MAC DONALD (1971) confirmaram que os ácidos húmicos estimulam a capacidade de absorção do fósforo. Também é necessário mencionar os trabalhos de POONIA e RHUMBLA (1974) relativos à fertilização da cevada. Estes autores mostraram que a aplicação de esterco era muito eficaz para a produção de matéria seca num solo sódico, desde que esse fosse aplicado com gesso agrícola. Não ocorre o mesmo fenômeno com o carbonato de cálcio. Os autores relatam que: “O desempenho medíocre da colheita de cevada em um solo tratado com gesso agrícola, sem aplicação de adubo orgânico, indica que, apesar da carência em cálcio ser o principal fator de um crescimento, medíocre da planta, os problemas de condições físicas do solo e outras deficiências nutricionais eram igualmente importantes”. POONIA e RHUMBLA (op. cit.) observam também o aumento gradual de potássio, em resposta às aplicações de adubo orgânico. Além disto, uma aplicação de matéria orgânica em solo tratado com gesso 221

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agrícola propicia uma absorção total de Ca, Mg, Na, N e P, de 3 a 5 vezes maior. Está confirmado que a matéria orgânica fermentada estimula a assimilabilidade dos elementos. Em resumo, os diferentes trabalhos que acabamos de revisar, relacionados às repercussões da matéria orgânica fermentada em relação ao solo e à nutrição da planta, convergem, perfeitamente, para acentuar seus efeitos positivos sobre o crescimento da planta. Vimos,que a planta assim adubada assimila melhor os oligoe1ementos, o fósforo e, mesmo, o potássio. Trata-se de um processo extremamente complexo e temos ainda muito a aprender, especialmente sobre os fenômenos da elaboração das substâncias de crescimento durante a fermentação da matéria orgânica. Estes fenômenos explicam a estimulação da proteossíntese que daí resulta, tendo como conseqüência a resistência da planta, resistência que diz respeito, inclusive às doenças viróticas, como veremos a seguir. D) Adubação orgânica e resistência da planta às doenças viróticas Foi, ao longo do quarto capítulo que tratamos, pela primeira vez, dos efeitos benéficos da adubação orgânica sobre a resistência da planta. Assim, pudemos constatar que sobre árvores de pessegueiro que receberam esterco as repercussões nefastas do Ziram eram um pouco atenuadas. As análises dos ramos mostraram que se tratava de um efeito positivo da matéria orgânica fermentada sobre a proteossíntese. Veremos, no caso de uma doença virótica – que consideramos exemplar – que a regressão provocada pelo adubo orgânico procede, verdadeiramente, do mesmo fenômeno. MEHANI (1969) havia constatado na Tunísia, na variedade de alcachofra “Violet de Provence”, a existência de um mosaico cujas repercussões são particularmente freqüentes no segundo e, sobretudo, terceiro ano de cultura. Essa doença virótica é, evidentemente, acompanhada de quedas consideráveis de rendimento. 222

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Ora, na França, onde havia trabalhado, MEHANI observara que estas mesmas alcachofras jamais manifestavam os sintomas da doença. No entanto, transportadas para a Tunísia, elas exteriorizavam o mosaico e não se restabeleciam mais. Esta contradição levou o autor a estudar a influência dos adubos orgânicos sobre as manifestações da virose. Os experimentos foram baseados no fato de que, durante sete anos, uma plantação de alcachofras “bem cultivada” não apresentou sintomas de degenerescência. Isto parece provar que, como na França, graças a certos fatores culturais, o vírus podia, senão desaparecer (para demonstrá-lo teria sido necessário realizar análises), pelo menos permanecer indefinidamente neste “estado latente”, que falamos anteriormente. Segundo o próprio autor, “a freqüência desta degenerescência podia ser vista como resultado de fatores desfavoráveis a um bom desenvolvimento da planta”. As experiências de MEHANI, efetivamente, mostraram que o emprego de esterco reduziu consideravelmente os sintomas e repercussões nefastas da degenerescência, como mostra o gráfico da fig. 30. Entretanto, não se poderia perder de vista, na análise desse processo, que a ação dessas adubações orgânicas é, de fato, superposta aos aportes minerais. Tudo se passa como se a fertilização orgânica, favorecendo a assimilação dos elementos, isto é, a proteossíntese, tivesse, ao mesmo tempo, estimulado sua resistência em relação às manifestações nefastas do vírus. Resumindo, os experimentos de MEHANI (op. cit.) trazem a demonstração científica das constatações empíricas dos práticos e agrobiologistas que citamos no início deste capitulo. Os resultados também concordam com as conclusões apresentadas por CHOUARD (1972) depois de uma missão na China, e que cremos necessário reproduzir: “As práticas dos camponeses chineses que me foram relatadas absolutamente não consistem em destruir os vírus ou eliminá-los, mas em atenuar e, às vezes, fazer desaparecer, nas condições locais particulares, a expressão dos sintomas da contaminação viral. O frio 223

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noturno e a luz intensa têm estas propriedades, e ninguém sabe realmente, até este momento, qual é a base científica rigorosa da atenuação dos sintomas sem desaparição do vírus”. CHOUARD acrescentava: “Não é, pois, desprovida de interesse, longe disso, a utilização dos métodos empíricos que eu chamaria de ‘sintomatológicos’”. Após termos estudado as relações entre as repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e o desenvolvimento das doenças viróticas, acreditamos ser perfeitamente possível que um condicionamento adequado da planta, através da nutrição, possa, ao contrário de certos agrotóxicos, não fazer desaparecer apenas os sintomas, mas também o próprio vírus De qualquer forma, temos aí uma solução agronômica que não é mais empírica – como já vimos e como veremos confirmado mais adiante – que o uso de agrotóxicos, especialmente nos fungicidas, no controle fitossanitário. É isto que nos propomos estudar no prõximo capítulo, consagrado à proteção da planta, através – como no mosaico da alcachofra – da fertilização do solo e de tratamentos à base de oligoelementos, estes últimos tendo sido, deliberadamente, deixados de lado, ou quase, até aqui. Devemos chamar a atenção de que, se a adubação orgânica pode levar aos resultados interessantes que acabamos de expor, é necessário que os adubos orgânicos e compostagens contenham, não apenas substâncias de crescimento, mas também oligoelementos.

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Fig. 21. Intervenção dos elementos minerais no metabolismo do nitrogênio. (Esquema ROUTCHENKO, documento pessoal.) 225

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Fig. 22. Correlação entre o grau de ataque do fungo da sarna da macieira (Endostigma inaequalis) e a relação N % / K2O % nas folhas (Segundo LEFTER, PASCU e POP, 1970.) 226

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Fig. 23. Influência dos diversos inseticidas sobre a relação K / Ca nas folhas da videira. (CHABOUSSOU, 1969.) 227

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Fig. 24. Relação entre o teor em K nas folhas de videira (cepa Semillon) e seu conteúdo em aminoácidos. (Segundo HOFFMANN e SAMISH, 1969.) 228

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Fig. 25. Influência do tipo de correção sobre bergamoteiras em relação às populações da cochonilha (Lepidosaphes beckii), Newman, em 1970. (Experimento CHABOUSSOU: Sidi Bouknadel, 1970.) 229

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Fig. 26. Influência do tipo de correção sobre bergamoteiras em relação às populações de Lepidosaphes beckii , Newman, em 1971. (Experimento CHABOUSSOU: Sidi Bouknadel, 1971.) 230

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Fig. 27. Contaminação dos frutos (bergamotas) por Lepidosaphes becckii Newman, na colheita, segundo os diferentes tipos de correção e em função dos valores da relação K/Ca + Mg nas cascas. (10 de outubro de 1969). 231

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Fig. 28. Correlação entre os ataques de Botrytis em tomate e a relação Ca/P nos tecidos foliares, em função das correções à base de cal hidratada. (Segundo os dados de STALL et alii. 1965.) 232

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Fig. 29. Esquema referente às influências conjugadas do fotoperíodo e do equilíbrio dos elementos catiônicos K e Ca, em relação aos fenômenos de proteogênese, de proteólise e do teor nas folhas de certos aminoácidos, em Mentha piperita. (Segundo CRANE e STEWART, 1962.) 233

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Fig. 30. Influência do esterco superposto a dos adubos minerais, sobre as manifestações do mosaico da alcachofra. (Segundo dados de MEHANI, 1969.) 234

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CAPÍTULO VII

A CORREÇÃO DAS CARÊNCIAS COMO TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS

“Segundo SEZARY, os medicamentos ditos específicos, como o mercúrio, não seriam específicos em relação aos germes patológicos, mas apenas agiriam nas reações do organismo. Em outras palavras, mercúrio, bismuto e arsênico não matariam o agente microbiano — o espiroqueta — mas aumentariam a vitalidade do organismo, de tal forma que este encontraria no medicamento um auxílio para lutar contra a infecção. É a razão por que estes medicamentos podem curar lúpus, psoríase, reumatismo blenorrágico, erisipela, asma etc.”. Dr. Albert LEPRINCE (La Médicine Electronique) “Uma proveitosa via de proteção da planta seria aberta se tivéssemos mais informações sobre os mecanismos naturais da resistência às doenças. Produtos químicos sistêmicos, capazes de alterar o metabolismo da planta para induzir a resistência, poderiam encontrar um lugar de destaque, para proteger os vegetais”. Joseph KUC (The plant fights back, 1961) “O controle de Oidium (dos cereais) pode ser enfrentado com a ajuda de um número considerável de produtos, mesmo os mais simples, desde que sejam acompanhados de um tensoativo. Este tipo de controle, teria a particularidade de que a escolha do produto seria baseada, em primeiro lugar, numa outra qualidade que não o seu valor fungicida, ou seja, seu valor nutritivo”. G. PARMENTIER (Parasitica, XXV, nº 3, 1969)

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1. CARÊNCIAS E DOENÇAS Um agrônomo, no sentido estrito da palavra, observou: “Não se exclui que existem relações entre as carências e determinadas doenças, especialmente bacterianas e viróticas. As doenças podem favorecer as manifestações de carência e vice-versa. Por exemplo, as árvores com carência de boro ou zinco poderiam ser mais sensíveis a determinadas doenças viróticas ou bacterianas”. (TROCMÉ, 1964.) É curioso que esta aproximação não tenha incitado os patologistas a certos questionamentos, especialmente, de saberem se, efetivamente, não haveria relação de causa e efeito entre carência e patogenia, além da convergência de sintomas. Acreditamos não haver dúvida de que a carência antes e, depois da doença, constituem uma seqüência obrigatória. Propomo-nos a dar vários exemplos, a seguir: 1. Em relação à videira COOK e GOHEEN (1961) observam, no momento da colheita, a similaridade de sintomas nas cepas com enrolamento foliar e nas videiras com carência de potássio. Na análise, nota-se, os dois tipos de videiras mostram carências de K e Mg, que são praticamente idênticas nos limbos. A única diferença, no caso do enrolamento, é que o K se acumula nos pecíolos e a concentração de Mg, aí, é baixa. É praticamente o inverso que ocorre com carência apenas de K. 2. Ora, sempre com a videira Os fenômenos desse tipo, põe como causa as carências no desenvolvimento de doenças viróticas, que poderiam ser muito mais freqüentes do que, geralmente, se imagina. Parece significativo que, em Latresne, * DELAS e MOLOT (1967) tenham observado que: “O vinhedo apresenta numerosos ataques de doenças viróticas: as manifestações que elas provocam (descolorações, enrolamentos, modifica*

Trata-se do vinhedo experimental do INRA, Bordeaux.

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ções da forma das folhas), tornaram mais difícil a identificação dos sintomas de carência”. Esta confusão seria bastante lógica se, como se pode pensar, as carências estiverem na origem do desencadeamento das doenças viróticas, como acontece seguidamente, toda a dificuldade consiste em determinar o limite entre a causa e o efeito. Mas, prosseguimos. 3. Carência de boro e chumbo da videira BRANAS (1971) registra que a carência de boro provoca o “chumbo” da videira. Ele observa que se trata de um enfraquecimento curável pelo transplante para um terreno com nutrição mais favorável ou por aporte de boro nas folhas ou no solo. Essa carência foi identificada, em Portugal, como a doença da “Maromba” do vale do Douro. Falaremos do boro e de outros oligoelementos mais adiante. É necessário registrar que, também é a carência do solo em boro que está na origem de uma doença da beterraba, isto é, da instalação de um fungo patógeno, o Phoma betae. 4. Carência de boro e “vírula” do damasqueiro PENA e AYUSO (1970) observaram que “diferentes razões levam a pensar em uma origem viral, mas a evolução da doença e o resultado das análises foliares conduzem à hipótese de uma carência de boro”. Os autores ainda raciocinam, aqui também, como se estas duas eventualidades sejam excludentes entre si, mas tudo leva a crer que uma é conseqüência da outra. Depois, PENA e AYUSO (op. cit.) propuseram-se a estudar as incidências dos aportes de boro no solo, em relação ao eventual restabelecimento das árvores atingidas. Eles notaram indícios de uma interação vírus carência no boro. Infelizmente, apesar de nossos esforços, não pudemos obter os resultados de seus trabalhos. À primeira vista, parece mais racional corrigir a carência de um oligoelemento diretamente no solo, porque se conhece as quantidades 243

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que se coloca. Contudo, os resultados são aleatórios, porque não se sabe se a planta realmente pôde absorver, devido a eventuais fenômenos de bloqueio. Ao contrário, as pulverizações foliares dão resultados muito mais rápidos no que diz respeito à identificação de uma carência. Voltaremos ao assunto, no próximo capítulo. 5. Carência de cobre e swollen shoot virus do cacau* LOCKARD e ASOMANING (1965), trabalhando com nutrição de cacau (Theobroma cacao), observam o inchamento de brotos em plantas com carência de cobre, que se parecem com os causados pelo swollen shoot virus. Isto leva os autores a sugerirem a hipótese de uma interação: nutrição vírus no cacau. Entretanto, esses autores propõem uma seqüência inversa à nossa, a saber: o vírus competindo com a planta por alguns de seus produtos metabólicos, provocaria uma deficiência de cobre, daí os sintomas observados. Todavia, seus experimentos não conseguiram confirmar esta hipótese. Mas eles constataram o agravamento da doença na ausência de luz, isto é, por falta de energia recebida pela planta. É a confirmação de que a doença estaria relacionada a uma deficiência da proteossíntese, e que a causa primária da aparição do vírus seria exatamente a carência de cobre, pois sabemos o papel desse oligoelemento, para a proteossíntese. 6. Enfraquecimento de macieiras na Itália REFATITI et alii. (1970) constataram, a partir de 1965, enfraquecimentos das macieiras, numa região restrita da província de Sondio, na Itália. Os sintomas são: definhamento dos brotos, providos de raras folhas de cor verde-pálida, levemente enroladas; os

*

A grafia, no original de Chaboussou, cita os nomes das viroses em inglês, mas trazemos significados como, “Vírus do inchamento do ramo do cacau”, não ocorre no Brasil, Ceplac, 2006. (N. do R.).

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corimbos, freqüentemente incompletos, apresentam alterações na cor de suas pétalas; a colheita, evidentemente, é reduzida e de medíocre qualidade. Até então nenhuma infecção fúngica ou bacteriana havia sido registrada nas árvores enfraquecidas. Em compensação, “sintomas de Stem Pitting Virus Disease* e de Blister Bark* (dois vírus) haviam sido observados sobre os galhos principais e o tronco. O fenômeno foi detectado sobre árvores de todas as idades, a partir de cinco anos. Os autores consideram estranho que a doença só afete uma área limitada e de cultivo relativamente recente. Observam que as condições ambientais não parecem muito diferentes das de outros cultivos de macieiras na Itália. Como não questionara natureza do solo, já que, às vezes, de um metro para o outro a concentração em oligoelementos é extremamente variável? Um congressista que assistia a esta comunicação observou que tinha encontrado sintomas semelhantes, em pereiras, onde os indicadores revelaram a presença de vírus latentes. Ora, vimos anteriormente, que é necessário entender esta noção: numerosos fatos nos fazem pensar que a doença pode ser desencadeada por determinados fatores ambientais, por intermédio da nutrição e, sem necessidade de infecção prévia. Outra razão de suspeitar de carências como origem desta doença é que esses pesquisadores obtiveram uma “cura” através de pulverizações à base de produtos cúpricos e com zinco. Penetrando na planta e agindo como medicamentos internos, como já sugerimos e como trataremos adiante, esses elementos poderiam ser a origem da resistência, pela modificação benéfica do metabolismo da planta.

* *

“Vírus da acanaladura do tronco”. Sarasola e Sarasola, 1975. (N. do R.) “Vírus da pústula da casca”. Sarasola e Sarasola, 1975. (N. do R.)

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2. A TERAPÊUTICA PELA CORREÇÃO DE CARÊNCIAS A) Correção de macroelementos Como vimos no capítulo anterior, conforme o caso, o aporte de K ou Ca no solo estimula a resistência da planta. A correção da carência produz um novo equilíbrio nos elementos catiônicos, especialmente na relação K/Ca, que parece ser uma das mais importantes. Assim, NGUYEN et alii. (1972), em seus trabalhos sobre “a influência da adubação nitrogenada, fosfatada e potássica na incorporação dos aminoácidos às proteínas e os rendimentos da alfafa”, concluem que: “A fertilização com K aumentou levemente a concentração de N total, diminuiu o acúmulo dos aminoácidos livres e favoreceu sua incorporação às proteínas”. O problema é que esse equilíbrio é difícil de ser conseguido através de adubos solúveis. A própria adubação potássica, benéfica neste caso, pode ser nefasta em outros, por exemplo, afetando a fixação de nitrogênio pelo Rhizobium leguminosarum, provavelmente pela destruição desta bactéria (KOCH e MENGEL, 1972). Também está bem estabelecido, sem dúvida, por um processo análogo, que as aplicações de nitrogênio solúvel dificultam ou inibem totalmente a fixação do nitrogênio atmosférico. Assim, na fertilização das pastagens que tenham leguminosas,seria necessário evitar a utilização de nitrogênio na forma solúvel, sob pena de vê-las desaparecerem. Esses fatos, há muito constatados pelos agrobiologistas, fizeram com que se banissem todos os adubos solúveis, com alguma aparência de razão. Os adubos provocam repercussões múltiplas, diretamente sobre a nutrição imediata da planta e, indiretamente, sobre a vida e fertilidade do solo, pela ação tóxica sobre os microrganismos. Se o adubo foi distribuído ao nível do solo, torna-se impossível a generalização dos efeitos desta ou daquela correção, em relação à resistência da planta. 246

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O mesmo não ocorre quando os elementos nutricionais são fornecidos à planta sob forma de pulverizações foliares, especialmente no caso dos oligoelementos. B) Correção do elementos menores ou oligoelementos Já tivemos a oportunidade, especialmente ao longo do segundo capítulo, de mostrar toda a importância dos oligoelementos na resistência da planta. Isso se explica, por seu papel nas “máquinas ferramentas” que são as enzimas e, portanto, sua importância no fenômeno da proteossíntese, ligado à resistência. Entretanto, antes de analisarmos o modo de ação de determinados fungicidas clássicos, veremos exemplos de controle de doenças ou insetos, pela simples ação dos oligoelementos. 1. Oligoelementos e brusone do arroz PRIMAVESI et alii. (1972) dedicaram-se ao controle desta moléstia durante vários anos. Observando que ela se torna cada vez mais devastadora em todo o mundo, eles citam que dois autores, SALLEBERRY-RIBEIRO 1970) e SANCHEZ NEIRA (1970) verificaram a ineficácia dos fungicidas. Não é, pois, a primeira vez que encontramos constatações igualmente desiludidas. Assim, eles recomendam, finalmente, correções equilibradas, como medida preventiva. PRIMAVESI et alii. (op. cit.) puderam mostras as influências benéficas do manganês e do cobre. Este último elemento aumentou a quantidade e a qualidade da colheita. Eles chegam a esta importante conclusão: “É evidente que a contaminação da semente, do solo e da água, pelos esporos de Pyricularia não tem influência sobre a saúde da planta quando a nutrição está equilibrada. Mesmo em variedades suscetíveis a doença não sobrevive. Pode-se admitir que os níveis de 18 ppm de manganês e 2 ppm de cobre são suficientes para manter as plantas em bom estado de saúde nos solos estudados”. 247

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São estudos de diversos anos, com conclusões categóricas e até revolucionárias: “É evidente, dizem eles, que nem o clima, que nos três primeiros anos mostrou-se muito favorável à Pyricularia oryzae, permitindo o desenvolvimento da doença nas diferentes regiões do Estado [no Brasil], nem a presença de esporos podem ser responsáveis pelos ataques devastadores nas lavouras de arroz. O desequilíbrio mineral, que torna a planta suscetível ao ataque, parece ser o fator decisivo”. Seria difícil ressaltar com mais vigor e clareza a importância do estado fisiológico da planta na sua resistência à doença. Quanto à ineficácia dos fungicidas, assinalada por diversos autores - e que concorda com as observações, do mesmo gênero, os cereais (PARMENTIER, op. cit.) e as árvores frutíferas (SOENEN, op. cit.) – ela se explica realmente pelo fato de que os produtos comerciais, normalmente usados, não modificariam a fisiologia do arroz num sentido favorável, ao nível da proteossíntese. Parece ocorrer o contrário com os oligoelementos que, colocados no solo, têm ação sobre a nutrição da planta. Isto, veremos agora, confirmado por alguns exemplos. 2. Os Oligoelementos e a requeima da batata MUDICH (1967) recorda que, segundo GALILOV, a suscetibilidade da batata às doenças pode ser reduzida com a aplicação, no solo, de determinados oligoelementos, como Cu, Mn, B e Zn. MUDICH realizou experimentos para estudar os efeitos do aporte simultâneo de diversos oligoelementos com o superfosfato, em relação à requeima. Ora, nesses experimentos, só o molibdênio, ao contrário do Cu, Zn e Mn provocou um decréscimo na sensibilidade da batata à requeima. Segundo MUDICH (op. cit.), os oligoelementos só favorecem a saúde da planta se utilizados juntamente com um adubo dito “de base”. De certa forma os oligoelementos agem como “catalisadores”, 248

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estimulando a atividade das enzimas e, conseqüentemente, acelerando a elaboração de proteínas e substâncias de reserva, a partir dos macroelementos. Assim, relembramos que, o molibdênio favorece simultaneamente a fixação microbiológica do nitrogênio, a amonificação e, enfim, o índice de nitrificação. Através do índice de nitrificação se pode ter uma boa avaliação da atividade biológica global do solo. 3. Os Oligoelementos e “enrolamento do lúpulo” PRUSA (1965) observa, antes de tudo, que as experiências para demonstrar o caráter infeccioso da doença não puderam provar sua origem virótica. Mas, foi possível, o autor estabelecer, claramente, a relação entre as condições de nutrição e a variabilidade das manifestações externas da doença. PRUSA (op. cit.), pôde igualmente estabelecer, num experimento de campo, que a doença foi inibida pela aplicação de sais de diferentes elementos, sobretudo, B, Mg, Mn, Ni, I e Zn. Por outro lado, as análises de folhas mostram nas plantas doentes, um conteúdo mais baixo de zinco e uma concentração mais elevada de P, K e Ca. As diferenças em relação aos outros elementos são variáveis. Na Alemanha Federal, esses resultados levaram a combater a doença com preparados e “fungicidas” à base de zinco, como sulfato de zinco e Zineb, que agem indiretamente sobre o metabolismo da planta. Estes tratamentos substituem os fungicidas clássicos à base de cobre, que aumentam a intensidade da doença causada por Pseudoperonospora. Efeitos similares ao do zinco podem ser obtidos com boro e magnésio. Nas plantas doentes o teor destes elementos é mais baixo que nas sãs. Este novo exemplo de controle por tratamento à base de oligoelementos confirma a estimulação da resistência pela modifica249

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ção benéfica da fisiologia da planta. O próprio autor reconhece que se trata de uma “terapia sintomática” da doença. O agravamento da doença pelos produtos cúpricos nos leva a questionar se, na maioria dos casos, ou até em sua totalidade, os produtos antifúngicos não teriam ação indireta. É o que nos propomos analisar no próximo parágrafo. 4. Oligoelementos, pulgões e doenças viróticas. RUSSEL(1972) observa que a resistência ao vírus da icterícia da beterraba,* compreende diversas formas: – a resistência aos pulgões vetores do vírus; – a resistência à inoculação dos vírus; – a tolerância aos vírus. Esse mesmo autor observa, “cada uma delas pode ser afetada por diversos fatores, capazes de diminuir seriamente a resistência. Por exemplo, os fatores que modificam a concentração de glicídios e aminoácidos nas folhas afetam a resistência aos pulgões, bem como a resistência à inoculação do vírus”. RUSSEL (op. cit.) observa que “a resistência também é afetada variando-se as concentrações de certos macro ou oligoelementos no solo”. Assim, os sais de lítio, zinco ou níquel estimulam o estabelecimento dos pulgões na planta, enquanto o boro repele os afídeos A transmissão do vírus seria aumentada pelo lítio e boro mas inibida pelo cobre e zinco. RUSSEL (op. cit:) sugere que os oligoelementos podem agir diretamente sobre o ataque de pulgões, e indiretamente modificando o metabolismo dos tecidos foliares. Considerando-se o comportamento dos pulgões, os dois fenômenos devem estar estreitamente ligados.Estes *

Icterícia, ou amarelecimento, da beterraba é causado pelo vírus BYV (Valíela, 1969). (N. do R.)

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insetos se nutrem e preferem substâncias solúveis. Por esta razão, seja em folhas muito jovens, seja em senescentes ricas em substâncias solúveis, eles serão mais atraídos pelas plantas atacadas por vírus, porque elas encontram-se em estado de proteólise dominante. Aliás, sua fecundidade é superior em plantas com virose do que em plantas sadias. Um fato parece confirmar este ponto de vista: o boro, que repele o ataque de pulgões, também é o oligoelemento cuja carência é responsável pela doença do coração da beterraba, provocada por Phoma betae. Como mencionei antes, esta afecção é eficazmente controlada com incorporações no solo de borato de sódio, Bórax. É um exemplo onde a melhoria da resistência da planta à moléstia parece concordar com sua imunidade relativa ao pulgão. Quando estudarmos o papel do boro na fisiologia da planta, veremos que se trata de um efeito positivo desse oligoelemento sobre a proteossíntese, de acordo com nossa teoria.* 3. EFICÁCIA DOS FUNGICIDAS CLÁSSICOS COMO CORRETIVOS DE CARÊNCIAS A) o caso da calda bordalesa Em sua obra, clarividente, A evolução científica e a agricultura francesa, DEMOLON observa que a calda bordalesa clássica a 2%, formulada por MILLARDET, em 1886, não pôde ser igualada. Prosseguindo, ele sublinha: “Se, desde essa época, foram realizados progressos quanto à época e modo de aplicação(contra o míldio), o mesmo não ocorreu com a explicação do papel aparentemente específico do cobre. Quando as pesquisas identificarem o mecanismo de ação *

Não se pode esquecer que a fisiologia da planta depende de sua fertilização e da influência dos agrotóxicos aplicados. Por exemplo, na beterraba, não adiantaria dosar bem os oligoelementos se os agrotóxicos, eventualmente aplicados, dessem um efeito contrário.

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do cobre, poderão se abrir novas vias capazes de conduzir mais longe e melhorar uma situação que, por mais satisfatória que seja, penaliza a viticultura com elevados custo”. Como se pode constatar, estas linhas, escritas em 1946, ainda permanecem atuais.Entretanto, é hora de questionarmos determinadas dificuldades inerentes ao modo de ação do cobre e da calda bordalesa. Sua origem é, como se sabe, essencialmente empírica: percebeu-se que as videiras das extremidades das fileiras, aspergidas com sulfato de cobre para afastar os gatunos, não sofriam com o míldio, quando comparadas às outras. Resumindo brevemente a questão, diremos que a dificuldade para explicar a ação, em princípio fungicida, deste preparado, residia na insolubilidade em água, dos produtos depositados ou transformados na superfície da folha. Numerosas teorias foram propostas, mas nenhuma é realmente convincente. SOMERS (1965), especialmente, questionou “como o cobre tem concentração tóxica suficiente para atacar o fungo (esporo), quando a solubilidade de calda bordalesa pulverizada é tão baixa”. Ele chega até a concluir que a formação de complexos cúpricos, a partir de reações entre a calda bordalesa e os exsudatos da folha ou do esporo reduzem a apreensão de cobre pelo esporo. Esse autor acredita que os complexos hidrossolúveis de cobre, existentes na calda bordalesa, são menos eficazes do que o ânion cúprico livre, na penetração do esporo. É uma posição ainda vigente. É necessário, igualmente, expor a posição de VILLEDIEU (19201932), mesmo que seja uma opinião controvertida. Ele diz que a ação da calda bordalesa seria, na realidade, devido à cal livre que contém. Ele teria demonstrado que o cobre não se dissolve na água da chuva, ou que a pequena quantidade dissolvida é impotente para matar os esporos do míldio. Baseando-se em SCHAFFNIT, VILLEDIEU reitera que o míldio absolutamente não se acostuma ao cobre, como havia sido sugerido, 252

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mas que “o abuso dos adubos químicos, especialmente o excesso de nitrogênio, que a uma nutrição desequilibrada, torna o.vinhedo muito mais sensível aos ataques de míldio e até de oídio”. Esta observação nos conduz de volta à questão das relações: Planta --------Parasita --------Agrotóxicos Os trabalhos de PANTANELLI (1921), referentes ao míldio, mostraram a sensibilidade da folha, em relação ao fungo parasita: “A composição mais favorável ao ataque é caracterizada por uma forte proporção de açúcar, comparado ao amido, e de compostos nitrogenados e fosforados, relativamente insolúveis, isto é, em relação à albumina, nucleínas e protídeos. Os ácidos livres parecem não ter importância”. Em outras palavras, o míldio não é exceção à regra nutricional dos organismos patógenos: ele só se desenvolveria às expensas de substâncias solúveis encontradas na planta-hospedeira. Aliás, é a razão pela qual as folhas “adultas” são mais atacadas no outono e pouco suscetíveis no verão, enquanto as folhas muito jovens permanecem sem danos. Isto se deve à ausência quase completa de compostos nitrogenados solúveis na água.* É necessário saber em que medida o complexo sulfato de cobre-cal da calda bordalesa altera a fisiologia da videira e explica uma eventual resistência, induzida indiretamente. De acordo com resultados recentes, parece que esse processo poderia, efetivamente, existir. PINON (1977) constatou: “A análise das folhas colhidas no fim da floração revela uma influência dos fungicidas antimíldio. Os teores de nitrogênio total e solúvel das folhas são menos elevados, no caso do tratamento com calda bordalesa”.

*

Segundo CHAMPIGNY (1960), em Bryophyllum daigremontianum a relação N protéico/N dos aminoácidos é de 17,4, nas folhas muito jovens; 15,9 nas jovens e 28,8 nas adultas.

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Isto significa, pois, que a calda bordalesa mostrou um melhor efeito sobre a proteossíntese do que os outros produtos testados. Isto poderia explicar a causa de sua eficácia, concordando com nossa teoria. B) O caso do Enxofre Já comentamos no capítulo quarto o caso do enxofre. Parece comprovado que sua eficácia reside, principalmente, na sua ação positiva sobre a proteossíntese. O enxofre elementar, aplicado sobre as plantas, é encontrado em suas proteínas. Isto, aliás, não escapou à obsevação de certos agricultores, que notaram o seu efeito benéfico sobre a vegetação da planta. Por outro lado, ele também pode agir sobre a resistência da planta através da fertilização do solo. Um exemplo nos é dado pela colza.* Há alguns anos, na região de Landes, Gasconha, desenvolvem-se novas culturas, especialmente a colza. A implantação dessa oleaginosa nesses solos leves, ácidos e altamente podzolizados, ao invés dos habituais solos calcários, exigiu pesquisas relacionadas às correções. As pesquisas realizadas pelo Centro de Pesquisa do INRA – Bordeaux, que foram objeto de comunicação à Academia de Agricultura (COURPRON et alii., 1973), podem ser assim resumidas: A semeadura de colza (variedade Sarepta) foi realizada em meados de outubro, na quantidade de 4 kg de semente/ha. O aporte de cal teve influência reduzida nos rendimentos. Ao contrário, a adubação com enxofre levou a um aumento da produção de 150% sobre a testemunha, fosse qual fosse a dose utilizada (50 a 100 kg/ha, em forma de sulfato de amônia, distribuído em diferentes épocas). Quanto às causas desse fenômeno, cremos melhor dar a palavra aos pesquisadores: “Nas condições particulares deste experimento, o efeito espetacular do aporte de enxofre é explicado pela correção da carência do solo neste elemento, mas, sem dúvida, também, porque *

A colza também é chamada de canola (canadá). (N. do R.)

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esta adubação, favorecendo o crescimento da colza, protegeu-a de um ataque severo da mosca das sementeiras (Phorbia platura). Observou-se que, no momento da floração, as manifestações deste ataque (dessecamento parcial ou total da inflorescência e mal formações do talo) eram muito mais numerosas nas parcelas testemunhas que nas que receberam sulfato de amônia. Levantamentos efetuados em diferentes estágios vegetativos confirmam a clara diferença entre o desenvolvimento das plantas das parcelas que receberam enxofre e o das plantas provenientes das parcelas testemunhas”. Em resumo, a adubação, à base de enxofre, ou seja, a incorporação no solo de um elemento indispensável ao crescimento da planta provocou, simultaneamente, um aumento espetacular dos rendimentos e uma resistência aos ataques da mosca.Isto se explica, em definitivo, pelo efeito positivo da incorporação do enxofre sobre o nível da proteossíntese. C) Como atua o Maneb? Ao longo do quarto capítulo, vimos que SOMERS e RICHMOND (1962), testando Captan nas raízes de feijão, contra Botrytis, concluíram que sua ação antifúngica resultava da repercussão do produto sobre o metabolismo do hospedeiro. Ocorreria o mesmo quando os outros produtos sintéticos mostram-se eficazes? O caso do Maneb foi estudado por fitofarmacêuticos do INRA. VIEL e CHANCOGNE (1966) observam que as suspensões de Maneb na água absorvem oxigênio e que ocorre uma decomposição, com solubilização do manganês. Segundo os autores, nenhum dos produtos da decomposição estudados mostrou atividade suficiente, em relação aos esporos, para explicar “o poder fungicida do Maneb”. A presença de monosulfeto de etileno tiuram não é suficiente para explicar a ação do Maneb. VIEL e CHANCOGNE concluem: “É provável que exista um produto intermediário de decomposição, pouco estável, o qual não conseguimos identificar”. 255

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É difícil conceber que um produto pouco estável, fugaz, possa mostrar qualquer eficácia. Não seria melhor pesquisar a ação do manganês sobre a planta? Os próprios autores observam que este elemento se solubiliza. Evidentemente, a solubilização favorece sua penetração nos tecidos e, conseqüentemente, sua ação em relação à resistência aos fungos patógenos – benéfica ou nefasta, segundo a dose e as repetições dos tratamentos. O estudo dos oligoelementos em relação à fisiologia da planta nos permitirá entender melhor seu modo de ação na estimulação da resistência e a maneira pela qual podemos utilizá-los para este fim. 4. OS OLIGOELEMENTOS NA FISIOLOGIA E NA RESISTÊNCIA DA PLANTA A) Como abordar o problema Ainda temos muito que aprender sobre o papel dos diversos oligoelementos na fisiologia e, portanto, na resistência da planta a seus diversos agressores. Sabemos que são indispensáveis à proteossíntese e que sua ação positiva neste processo é seguramente favorável. Inversamente, toda a carência provoca uma inibição da proteossíntese e o desencadeamento de doenças, segundo um mecanismo que seria supérfluo repetir. Estas inibições no crescimento, fenômeno geral provocado por toda a carência, tornam difícil e até quase impossível determinar, apenas pelos sintomas, exatamente qual elemento que está em falta. Exemplo: confusões possíveis entre carências em ferro e manganês e entre potássio e magnésio. Sabemos também, da necessidade de um equilíbrio entre macro e microelementos, ao nível da planta, como vimos no caso de helmintosporiose no arroz. É útil entrar em alguns detalhes deste assunto. Diversos pesquisadores encontraram uma estreita relação positiva entre a concentração em aminoácidos dibásicos nas folhas do arroz e 256

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o crescimento do tamanho das manchas de Helmintosporium. São registradas quantidades importantes de aminoácidos dibásicos e um número elevado de manchas de helmintosporiose nas parcelas com carência de K e de N. Um dos aspectos do problema é encontrar um equilíbrio K/N conveniente. Por outro lado, SHIGEYASU Akai (1962) também observa que a sensibilidade à helmintosporiose diminui com a aplicação de iodo, zinco ou manganês. (São mais dois oligoelementos, I e Zn, que parecem confirmar os resultados benéficos obtidos por PRIMAVESI et alii. (1972) com o cobre e manganês, no solo.) Observando que a carência de Mg, ou o excesso de P, ou a adição de Co aumentam a sensibilidade do arroz a esse fungo, SHIGEYASU Akai conclui: “não é possível discutir a proteção do arroz através da adubação apenas pelo ângulo do potássio”. É a procura de um equilíbrio entre os macroelementos e, destes, com os oligoelementos necessários à planta que permitirá chegar-se a um ótimo de proteossíntese. Antes, é necessário nos afastarmos do empirismo em que ainda nos encontramos, revisando o que sabemos sobre o metabolismo dos oligoelementos. B) Classificação dos oligoelementos – Sinergismos e antagonismos – Lei do ótimo de concentração nutritiva Para julgar o papel dos oligoelementos, como assinalava COIC, “basta saber que são indispensáveis ao funcionamento das máquinasferramentas, como são chamadas as enzimas que presidem a fabricação de peças soltas do metabolismo”. Isto o leva a distinguir os elementos que são integralmente parte da enzima dos que são simplesmente ativadores. Estes últimos não apresentam, pois, ação especifica, já que podem ser substituídos por um outro elemento. Ferro, cobre, zinco e molibdênio fazem parte do primeiro grupo; manganês, cloro e boro, do segundo. Um dos aspectos que nos interessa diretamente, referente às re257

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percussões dos oligoelementos sobre a fisiologia da planta, reside nas suas relações com os outros elementos e entre eles próprios. Assim, essas ações parecem de ordem sinérgica. É assim que encontramos, freqüentemente, associados em sua ação, o cobre eo manganês. PILAND e WILLIS (1937) constatam que o trigo cultivado em solução hidropônica tem seu crescimento afetado quando as soluções nutritivas contêm só cobre ou só manganês – mesmo na presença de papel-filtro, que pode ser visto como a matéria orgânica necessária. Quando os dois elementos estão presentes, o crescimento está assegurado. São concentrações precisas de cobre e manganês no solo, obtidas através de uma fertilização e nutrição adequadas, que PRIMAVESI et alii. (1972) associam à estimulação da resistência do arroz à Pyricularia oryzae. Estes resultados aproximam-se de determinados efeitos antifúngicos obtidos com fórmulas mistas organo-cúpricas de cobre, manganês ou zinco, nas quais os produtos ativos estão presentes em doses baixas, sendo ineficazes, se utilizados sozinhos. Por isto questionamos se não se trata de uma ação indireta de tais fórmulas, que passaria, obrigatoriamente, por uma modificação benéfica da fisiologia da planta. Segundo nossa concepção, isto consistiria numa estimulação da proteossíntese. Em outras palavras, não se trataria da adição de eventuais efeitos tóxicos, já que cada um dos elementos é utilizado abaixo do nível de eficácia, mas sim de uma ação sinergética dos oligoelementos sobre a proteossíntese, com o respectivo aumento da resistência. Os efeitos tóxicos provocados na planta pela repetição dos tratamentos parecem justificar esta posição, assunto que abordaremos nos quarto e quinto capítulos. Sinergismo e antagonismo entre elementos são noções muito próximas e, freqüentemente, difíceis de separar. Assim, se Mn e Cu são 258

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capazes de agir sobre a resistência da planta, provavelmente por sinergia, estes dois oligoelementos são antagonistas no metabolismo, exatamente como cobre e boro ou zinco e cádmio. Como nos macroelementos – relação K\Ca, por exemplo –, encontramos a noção de equilíbrio, que, por sua vez, está relacionada com a “lei do ótimo de concentração nutritiva” elaborada por Gabriel BERTRAND. Trabalhando com o manganês, G. BERTRAND conseguiu estabelecer que o efeito deste oligo-elemento cresce com a quantidade utilizada. Contudo, isto só é válido dentro de certos limites: acima de uma determinada dose, as plantas são cada vez menores e menos viçosas. Em resumo, obtém-se um máximo de efeito num ótimo de concentração, que nem sempre é a mais elevada. É uma lei que se deveria ter presente quando são utilizados oligoelementos para a proteção da planta, uma vez que, agindo sobre o metabolismo, as repercussões destes produtos podem ser de interesse fundamental em relação à sua resistência. Grosso modo, três casos podem ocorrer: a) O primeiro é o que acabamos de ver: ressalvando-se que as necessidades são diferentes segundo a natureza da planta e efeito almejado, existe um ótimo na quantidade utilizada para o crescimento da planta. Por exemplo, as leguminosas exigem mais molibdênio que as gramíneas, mas a planta não tem tendência à saturação; b) A toxicidade é marcante nas concentrações dos elementos que mal ultrapassam o valor “ótimo”. É o caso do boro, em relação à beterraba; c) O terceiro caso, bastante raro, é quando o elemento praticamente não é tóxico, mesmo em doses fortes. Ele pode apresentar um efeito favorável, devido a um modo de ação diferente, chamado “do tipo farmacodinâmico”. O iodo, no homem e mamíferos, ilustra bem este caso: um excesso de iodo jamais se torna muito grave. Contudo, um mesmo oligoelemento pode entrar em um ou outro caso da lei do ótimo de concentração nutritiva, dependendo da es259

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pécie vegetal ou animal em questão. Isto é explicado, como observam GOUDOT e BERTRAND (1968), pelas diferenças nos sistemas enzimáticos existentes nos seres vivos. C) Equilíbrio entre oligoelementos e cálcio Pela mesma razão, explica-se que os efeitos dos oligoelementos dependem de seus antagonismos com os outros elementos. A propósito das repercussões do cálcio utilizado como corretivo, vimos que STALL (1963) obteve, como mostramos, reduções muito significativas de ataques de Botrytis em folhas e frutos do tomate, graças a correções com cal hidratada ou calcários dolomíticos. Contudo, ele chama a atenção para o fato de que a doença aumenta, após determinadas pulverizações à base de oligoelementos, nas parcelas tratadas com uma dose média de cal hidratada, enquanto este fato não é constatado nas parcelas tratadas com altas ou baixas doses. Isto explica a importância da natureza dos solos na resistência da planta à doença. STALL (op. cit.) relaciona a distribuição de Botrytis, na Flórida, com a concentração de calcário no solo. A doença ataca pouco nos solos calcário-alcalinos, sejam estes de origem natural ou resultantes de calagens repetidas. Aplicações de Maneb e Zineb, que devemos considerar como tratamentos com os oligoelementos manganês e zinco, respectivamente, provocam agravamento da doença nos solos pobres em cálcio, e menos nos solos calcários. Devemos observar que estas repercussões dependem do número e da freqüência das aplicações, isto é, definitivamente, da quantidade de olzgoelementos com que os tecidos foram artificialmente enriquecidos. Os resultados de COX e WINFREE (1957), que apresentamos,(no capítulo cinco), explicam como esta acumulação pode ser nociva. Recordemos que, segundo as análises destes autores, após tratamentos com Zineb ou Nabam + sulfato de zinco, as folhas jovens dos morangueiros tratados continham 3,5 vezes mais 260

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zinco que as testemunhas, enquanto que as velhas chegavam a 13 vezes mais. Nessas condições, parece evidente que o ótimo de concentração nutritiva foi ultrapassado e, que as alterações no metabolismo do morangueiro não só podem sensibilizá-lo, em relação a Botrytis, mas também em relação a outras doenças, como, Phytophthora e doenças viróticas, sendo que estas podem até aparecer antes. Algumas sementeiras de morangueiro, chegam a receber trinta tratamentos com fungicidas, inseticidas e acaricidas! Os produtores, que acreditam estar seguros contra doenças e insetos, conseguem o resultado inverso, sensibilizando os morangueiros em relação a Verticillium e Phytophthora. O melhor meio para não incorrer em tais erros é: • ter consciência de que todo o produto fitossanitário age, principalmente, sobre a fisiologia da planta e, que esta ação pode ser benéfica ou nefasta, se estimulam ou inibem a proteossíntese; • por outro lado, como se trata, em definitivo, de nutrir a planta, adequar a distribuição das pulverizações nutritivas que são tratamentos à base de oligoelementos, durante os períodos em que as necessidades nutricionais da planta são importantes. É o que veremos a seguir. D) Equilíbrio entre oligoelementos e fósforo Outro antagonismo clássico é o de determinados oligoelementos com o fósforo, como, por exemplo, Zn e PO4. O Mn, quando em boas condições, catalisa o transporte dos fosfatos; um excesso de P em relação ao equilíbrio Ca/Mg pode acarretar uma carência de manganês, particularmente no pessegueiro. Aliás, está bem estabelecido que o excesso de correções calcárias podem tornar o manganês não assimilável. 261

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Por outro lado, sob certas condições, que precisariam ser melhor definidas, os oligoelementos aumentam a concentração de P no tecido das plantas e de diversos grupos de combinações fosfóricas, reforçando, assim, a chegada do cálcio nas células. A partir do que se sabe sobre o papel do cálcio, este fenômeno pode estar na origem da estimulação da resistência (POLJAKOV, 1972). Os efeitos benéficos do cálcio sobre a resistência da planta justificam plenamente a sua presença nas fórmulas à base de oligoelementos desenvolvidas por algumas firmas comerciais. Outras relações importantes dos oligoelementos referem-se ao boro. Por isso, vamos consagrar-lhe um estudo particular. E) O boro no metabolismo da planta O papel do boro, como de resto, de outros oligoelementos, permanece obscuro. Já vimos os graves efeitos que sua carência provoca na planta. Inversamente, um aporte de boro na adubação do morangueiro estimula a acumulação da vitamina C (PISKUNOV, 1965). Os trabalhos de BAILEY e METTARGUE (1944) esclareceram um pouco a questão do papel do boro e de outros oligoelementos, como cobre, zinco, e manganês, estudados em tomate cultivado em solução nutritiva. Esses pesquisadores trabalharam na influência desses elementos na atividade de diversas enzimas: catalase, invertase, oxidase e peroxidase. Antes de mais nada, a resposta das enzimas a estes elementos depende da dose utilizada, que não é, necessariamente, a mais alta, obedecendo à lei do ótimo de concentração nutritiva. • Três enzimas apresentam um máximo de atividade com 1 ppm de zinco: são elas a peroxidase, a catalase e a oxidase; • Três enzimas apresentam o mesmo máximo com 1 ppm de boro: são a invertase, a peroxidase e a catalase (fig. 31). Duas enzimas, invertase e catalase, mostram a maior resposta à dose de 0,01 ppm de cobre. 262

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Em relação ao manganês, se o ótimo de atividade da peroxidase é a 1 ppm, esta dose provoca um efeito depressivo sobre as outras três. Esses autores não explicam tal fenômeno, mas observam que a peroxidase é uma enzima protéica a base de ferro e fósforo, e que ferro e manganês estão estreitamente associados na fisiologia da planta. Portanto, o manganês poderia afetar o ferro, como mencionado antes, , o que explica as dificuldades em separar os sintomas de carência em ferro, das carências do manganês. Também, BAYLEY e METTARGUE chegaram a esta conclusão (op. cit.): “Estes resultados sugerem que as respostas enzimáticas são expressões das condições metabólicas gerais da planta, antes que das influências diretas dos oligoelementos sobre as enzimas. HEINICKE e NELLER sugerem que a atividade da catalase mede o estado metabólico dos tecidos e pode servir como indicador das respostas fisiológicas das plantas ao seu ambiente”. Esses autores também observam que a oxidase responde ao cobre porque a polifenol-oxidase é uma enzima protéica à base de cobre, mas este fato poderia ser uma exceção. Com efeito, WYND evidenciou uma uniformidade considerável das respostas da catalase, da peroxidase e da invertase em relação aos tratamentos com iodo. Assim, o iodo, como o manganês e o boro fariam parte dos ativadores de enzimas. Isto explicaria seus efeitos benéficos sobre a resistência da planta, já citados (ROUBINE e ARTSICHOVSKAIA, 1960; GARD, 1932). Ademais, como já citado, o iodo, não apresentando efeitos tóxicos mesmo em altas doses, poderia ser experimentado nos preparados fitossanitários, já que na pior das hipóteses eles se mostrariam inofensivos. Quanto ao boro e, considerando nossas preocupações referentes á resistência da planta, está, atualmente estabelecido que, em razão das relações com a invertasa, ela pode afetar o mecanismo dos glicídios e, em consequência, reforçar essa resistência, como vimos quando das carências desse elemento. 263

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Vejamos uma nova prova com os trabalhos de RAJARATNAM (1971-1972): esse autor trabalhou com dendezeiro, que pode ser atacado por duas moléstias: Bud Rot* (broto vermelho) e Little Leaf* (folha pequena). Estas duas afecções são, na realidade, dois estágios da mesma doença. Alguns pesquisadores atribuem à carência de boro, e outros, a ataques de agentes patogênicos ou de insetos. RAJARATNAM observa que estes dois pontos de vista são corretos, porque o aumento da suscetibilidade à doença pode, perfeitamente, sobrevir como um efeito secundário do estado bioquímico dos tecidos carentes em boro. (É, pois, um pesquisador que se une às nossas concepções...) No entanto, o autor vê a razão na ausência de polifenóis nos tecidos – leucontocianinas – nos tecidos. Segundo sua opinião, estes produtos estão associados à resistência a vírus, fungos parasitas e até a ataques de insetos. RAJARATNAM se detém na teoria da resistência associada à presença, na planta, de fatores tóxicos antagonistas aos parasitas. Acreditamos já ter demonstrado toda a fragilidade dessa posição. Na realidade, a presença de polifenóis, cuja toxicidade absolutamente não foi demonstrada, é, ao contrário, concomitante à carência de fatores nutricionais. Veremos uma nova prova, com as pesquisas do próprio RAJARATNAM (1972) sobre as relações da nutrição em boro do dendezeiro e sua suscetibilidade a um tetranyque, Tetranychus piercei. Foram feitas culturas hidropônicas, com ou sem boro na solução nutritiva e artificialmente contaminadas pelo ácaro. As folhas das plantas cultivadas em solução sem boro foram as mais intensamente prejudicadas, sem que tenha sido detectada a leucocianidina. As das plantas cultivadas em solução com boro foram as menos atacadas, e, também, as que apresentaram mais leucocianidina. Contudo, e como já indicado antes, isto não comprova que a presença ou ausência de leucocianidina tenha relação de causa e efeito *

Em inglês no original. (N. da T.)

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com o maior ou menor ataque de Tetranychus. Mas, a ação do boro sobre o metabolismo dos glicídios e proteínas poderia estar relacionada com a nutrição dos ácaros. Isto é provado pelas repercussões da carência de boro, que produz uma inibição do crescimento, isto é, da proteossíntese, provocando maior concentração de substâncias solúveis nos tecidos. Em resumo, estes resultados confirmam a validade da terapêutica pelo boro, desde que se considere a dose utilizada e o número de tratamentos realizados. Isto a fim de não ultrapassar o ótimo de concentração nutritiva, que poderia levar a níveis de toxicidade. Chegaremos a este resultado através de intervenções apenas nos períodos ditos “críticos” do ciclo fisiológico anual da planta em questão. Essas épocas são caracterizadas por necessidades nutricionais particularmente elevadas. É a questão que vamos abordar, para terminar este capítulo. 5. TRATAMENTOS “NUTRITIVOS” ATRAVÉS DE PULVERIZAÇÕES FOLIARES A) Os períodos críticos do ciclo anual da planta A existência de períodos críticos no ciclo da planta cultivada constitui uma das bases de nossa teoria da trofobiose. Se em determinadas épocas as folhas se encontram mais sensíveis a ácaros, pulgões ou fungos patógenos, é porque estão numa fase em que a proteólise predomina sobre a proteossíntese. Por exemplo, se considerarmos o caso das plantas perenes, como a videira ou as árvores frutíferas, o estágio de botão floral caracterizase por uma síntese dominante, efetuada, sobretudo, a partir das reservas do lenho constituídas no ano precedente. Ao contrário, no momento da formação da inflorescência, todas as folhas perdem, simultaneamente, o poder de síntese e procedem, até, a uma certa decomposição de suas próprias proteínas. Assim, a planta 265

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em estágio de floração e, mais ainda, em estágio de fruto jovem, é marcada por uma proteólise acentuada, com queda nítida do conteúdo protéico nas folhas maduras. Essa época de floração constitui, pois, um primeiro período de sensibilidade acentuada para as plantas perenes. Para as rosáceas é a época sensível à sarna e, também aquela de sensibilidade aos danos dos agrotóxicos, com riscos de rugosidade ou russeting. Nos cereais é o estágio sensível a Oidium e à ferrugem. Este período crítico se prolonga do estágio 3-4 folhas até a floraçãoespigamento. Trata-se de uma época difícil na alimentação da planta, especialmente para o manganês. É, também, o período em que as árvores frutíferas manifestam necessidades nutricionais intensas, ou seja, os estágios D, F2 e 1 de FLECKINGER. Em relação à videira, estes estágios “famintos” corresponderiam ao estágio G da formação do cacho (estágio de BAGGIOLINI), e ao do início da maturação. Contudo, parece que outras épocas podem se mostrar sensíveis, dependendo das necessidades nutricionais particulares da planta. É o que vamos nos esforçar em destacar. B) Ciclo fisiológico da macieira e suas necessidades nutricionais ANDUS (1955) observa que na macieira existem dois valores mínimos nos teores de auxinas (o zinco está ligado à síntese das auxinas) correspondentes à queda de frutos: “queda de junho” e “queda na maturidade”. Por outro lado, MASON e WITFIELD (1960), através de análises de N, P, K, Ca e Mg, distinguem dois períodos especiais de atividade: fim de abril e fim de junho. São dois períodos em que os teores dos cinco elementos analisados mudam de forma apreciável nos tecidos, ainda que por um curto espaço de tempo. 266

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Estes dois períodos coincidiriam, portanto, de um lado, com um crescimento rápido das folhas (abril) * e, de outro, com o momento de crescimento dos rebentos (junho). Pode-se presumir que estes dois períodos correspondem às necessidades nutricionais mais intensas das árvores e que, logicamente, é nestas épocas que devem ser realizados tratamentos destinados a corrigir as carências e a nutrir as plantas (fig. 32). C) Ciclo fisiológico da videira e períodos de sensibilização Dois grandes períodos podem ser distinguidos no ciclo anual da videira: 1. Da brotação à parada de crescimento, que resulta na formação da folhagem; 2. Da parada de crescimento à queda das folhas: é o período de uma intensa proteossíntese, com elaboração de reservas glucídicas. A primeira fase é a época da floração, quando se encontra, como dissemos antes, o período sensível a doenças como míldio e Botrytis. A este respeito, é interessante analisar a fundamentação dos chamados “tratamentos de segurança”. Contestou-se a validade dessas intervenções, reprovando-se seu empirismo. Elas absolutamente não se baseavam na evolução do parasita – única considerada na fitopatologia clássica – mas na da videira. As restrições eram inerentes a esta ótica, que se baseia unicamente no comportamento do patógeno em relação ao clima. Em outras palavras, se abstraía o hospedeiro, que deve, obrigatoriamente, estar num estado bioquímico bem determinado para que o fungo parasita possa se desenvolver. É o que vimos no início deste capítulo, analisando brevemente as repercussões da calda bordalesa. Entretanto, é necessário voltar a ela, para aprofundar a questão, na medida do possível. *

Chaboussou refere-se ao Hemisfério Norte. (N. do R).

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I. Sobre a época das intervenções Segundo a concepção de “tratamento geminado”, ou seja, dois tratamentos com calda bordalesa* envolvendo a aparição e o desenvolvimento das inflorescências, MOREAU e VINET (1930) recomendavam: – um primeiro tratamento quando os botões florais começam a se separar, ou seja, o estágio H de BAGGIOLINI; – um segundo tratamento, dez a doze dias mais tarde. Esses mesmos autores observavam: “Após a floração, a ação dos tratamentos de segurança continua a se exerce”. Isto dá, pois, a pensar que a eficácia prolongada destes tratamentos só poderia ter por origem uma ação indireta sobre a resistência da videira, por repercussão sobre seu metabolismo. Ora, como nós vimos, efetivamente, que a calda bordalesa provoca uma regressão do nitrogênio total e solúvel na folha, fenômeno provavelmente relacionado à resistência da videira, segundo nossa concepção da trofobiose. 2. Sobre o modo de ação da calda bordalesa Reiteradas vezes têm sido constatado que, em doses iguais de cobre na calda, o oxicloreto de cobre sempre se mostra menos eficaz que a calda bordalesa, em relação a diversas doenças, especialmente o míldio (fig. 33). HORSFALL (1975) lembra que o óxido de cobre desprovido de cal não pôde controlar os insetos da batata, tão bem quanto a calda bordalesa e, conseqüentemente, não se obteve nenhum sucesso no tratamento dessa planta. HORSFALL (op. cit.) observa que a calda bordalesa estimula a batata. *

A qual, freqüentemente, adiciona-se arseniato de chumbo, contra as lagarta do cacho – este produto pode ter uma ação antifúngica. (Chaboussou). No original Tordeuses de la grape. Tordeuse – nome de diversas borboletas (Tortricides), cuja largarta enrola as folhas das plantas em cartuchos, fazendo um estojo protetor (Petit, 1983) (N. do R.)

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Estas diferenças de repercussões, certamente associadas a suas incidências sobre a fisiologia da planta – como bem observa HORSFALL – devem corresponder a diferenças na composição dos produtos. Especialmente, observa-se que o cálcio deve ter um grande papel na eficácia da calda bordalesa. Além disto, o enxofre do sulfato de cobre pode também ter uma influência benéfica na estimulação da planta, isto é, na proteossíntese. Assim, esta “associação” empírica de cobre, enxofre e cálcio, que constitui a calda bordalesa, poderia explicar sua notável eficácia em relação a toda uma gama de doenças, graças a seu efeito positivo sobre a proteossíntese.* Isto não significa que ela seja a última palavra em termos de tecnologia. Se é pela satisfação das necessidades nutricionais da planta que agem os produtos fitossanitários quando se mostram eficazes (exceção feita aos venenos contra insetos), devem ser buscadas fórmulas específicas para cada tipo de planta e cada tipo de solo. É como procedem algumas firmas que fabricam produtos nutricionais deste gênero. Queremos, ainda, recordar a propriedade “repelente” da calda bordalesa, diversas vezes apresentada, especialmente a propósito de Leptinotarsa sp. MURBACH (1967) realizou uma experiência interessante, exatamente relacionada a Leptinotarsa sp. Esse autor, numa experiência precedente, havia constatado que, ao contrário dos produtos cúpricos, o Fentinacetato não tinha efeito repelente em relação a Leptinotarsa sp., mas provocava uma forte diminuição do número de posturas e de larvas, enquanto o Maneb parecia não ter qualquer influência. Assim, uma segunda experiência foi realizada. Estavam sendo comparados: Oxicloreto de cobre (e não calda bordalesa), Fentinacetato, Maneb e testemunha. *

A calda bordalesa, fungicida clássico contra o míldio da videira é igualmente eficaz contra oídio.

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Os resultados foram os seguintes: Quadro 8. Repercussões dos produtos sobre a população de Leptinotarsa sp. Tratamentos

Posturas

Insetos perfeitos na primavera

População de mais de l0 larvas - % de pés de batata

Oxicloreto de cobre

57

3

0,5%

Maneb

190

40

16,0%

Fentinacetato

122

31

1,09%

Testemunhas

296

35

33,6%

Segundo o autor, conclui-se que os fungicidas cúpricos, exclusivamente por sua ação repelente, são capazes de assegurar uma proteção praticamente suficiente contra a Leptinotarsa sp. O Fentin-acetato não mostrou efeito repelente, mas os insetos só atacaram muito levemente as folhas tratadas, cessando rapidamente de se alimentar. Daí a queda na fecundidade. Quanto ao Maneb não teria mostrado nenhuma ação perceptível sobre a densidade da população. Pode-se perguntar se as repercussões desses diferentes produtos não seriam, antes de tudo, devido a suas incidências sobre a fisiologia da planta. E, se este efeito “repelente” do cobre não seria, basicamente, resultado das mudanças produzidas no estado bioquímico dos tecidos, antes do que dos resíduos na superfície? O comportamento de Leptinotarsa sp. em relação à folhagem tratada com Fentinacetato exige reflexão. Veremos, então, ao longo do próximo capítulo, que uma adubação adequada às vezes é suficiente para “dissuadir” Leptinotarsa sp., de não se alimentar da batata. Ao contrário, MURBACH (op. cit.) observa que “os inseticidas correntemente utilizados contra esta praga favorecem a multiplicação dos pulgões vetores da batata, por eliminarem seus inimigos naturais” (P. BOVEY e MEIER, 1962). Isto ocorre a tal ponto que estes autores recomendam “limitar, ao estritamente necessário, o uso de produtos para controlar Leptinotarsa sp., a fim de prevenir um aumento maciço de infecções virais”. 270

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Estas observações agregam-se às de POLJAKOV, já referidas, que descrevem o desenvolvimento de moléstias viróticas na batata, após a utilização de ditiocarbamatos no controle da requeima. Assim, é possível ter-se reservas quanto ao processo observado por BOVEY e MEIER para explicar este fenômeno. Mesmo admitindo-se que a destruição dos inimigos naturais interfira em algum nível na multiplicação dos pulgões, ainda é necessário que a planta se encontre num tal estado fisiológico que o vírus possa se multiplicar, fato que, geralmente, se perde de vista. No que se refere à incidência dos produtos sintéticos sobre a fisiologia da planta, está demonstrado que os “inseticidas fosforados”, usados no controle de Leptinotarsa sp., causam repercussões semelhantes às dos ditiocarbamatos, utilizados contra Phytophthora, ou seja, provocam na planta um estado predominante de proteólise. Ora, vimos que tal estado favorece, simultaneamente, a multiplicação de pulgões e de vírus. É a este menosprezo pelas incidências indiretas dos agrotóxicos que deve ser imputado o agravamento dos problemas fitossanitários e a impossibilidade, cada vez maior, de resolvê-los unicamente pela destruição do parasita. Por isso, acreditamos que a única perspectiva racional consiste na medicação interna da planta, baseada na concepção da trofobiose.* Veremos os resultados nos próximos capítulos. 6. DETERMINAÇÃO E TRATAMENTOS DAS CARÊNCIAS Os exemplos que vimos antes sobre o assunto, nos recorda: – de um lado, a igualdade dos sintomas entre carências e doenças. – de outro, da luta contra diversas doenças em relação ao solo, tratamento da folha ou imersão de grãos em meio de certos *

O Fentinacetato é usado como esterilizador de insetos, causando quebras cromossômicas. (N. da T.) Esta posição visionária de Chaboussou deveria ser analisada por todos os pesquisadores que se dedicam ao controle das pragas e doenças. (N. do R.)

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oligoelementos (fig. 34), bem como, a ação de produtos clássicos como a calda bordalesa e enxofre, só podem ser explicados por seu efeito benéfico – sobre a fisiologia da planta. O mesmo ocorre com a ação de novos fungicidas sintéticos, quando se mostram eficazes. Parece justificada nossa hipótese dos produtos terem uma ação do tipo “medicamento” através de interferências favoráveis no metabolismo da planta. Segundo nossa teoria, se essas repercussões se mostram benéficas, é porque são exercidas num sentido positivo sobre a proteossíntese. Isto quer dizer que estes aportes permitiram corrigir as carências que se opunham à realização da proteossíntese. Assim, o problema do controle dos parasitas da planta se volta definitivamente para: 1. a determinação da ou das carências; 2. os meios de corrigi-las sem, no entanto, atingir qualquer limite de toxicidade, limite este, alcançado rapidamente com numerosos produtos sintéticos, o que estudamos ao longo dos quarto e quinto capítulos. Em resumo, trata-se de atingir um equilíbrio envolvendo macro e microelementos. É um trabalho difícil mas não desencorajador. Afinal, se com nossa concepção da proteção da planta ainda estamos no empirismo, o que dizer de um método que consiste em atingir o parasita tratando a planta, sem se preocupar com as repercussões sobre a “saúde” dela, suscetível de ser “perturbada” pela ação interna dos agrotóxicos? Pensamos ter dado ampla demonstração de nossa posição. A determinação das carências só pode ser feita através de análise foliar. Devido aos complexos fenômenos de bloqueio ou de trocas que ocorrem no solo, a análise deste freqüentemente chega a resultados de difícil interpretação. O contrário ocorre com o “diagnóstico foliar”, ou melhor ainda, a análise dos extratos frescos dos tecidos condutores, desenvolvido por ROUTCHENKO (1975). 272

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Pelas características desta obra, não nos é possível entrar em detalhes a respeito dos números ótimos já obtidos e relativos aos diversos elementos, e para as diferentes categorias de plantas. Diremos, simplesmente, por nessecidade profissional, que algumas firmas especializadas na elaboração de fórmulas “nutricionais” já reuniram dados que permitem determinar limites para afirmar que há carências, graças ao confronto das doenças constatadas com os resultados dos pesquisadores, de determinar os “limites”* fora dos quais podese afirmar que há carências. Ainda há importantes progressos a serem conseguidos nesta direção, especialmente no que se refere à escolha dos elementos a serem analisados. Sobre isso, precisamente, gostaríamos de fazer uma observação: estamos, perfeitamente, de acordo com os especialistas que afirmam que as análises, para serem utilizáveis, devem ser rápidas e de fácil interpretação. Coloca-se, pois, o problema dos elementos a analisar e, o de saber, o que se entende por análise “completa”. Assim não cessamos de insistir e, esperamos ter demonstrado ao longo dessa obra, a resistência da planta é função de um mínimo de substâncias solúveis nos tecidos foliares, especialmente nitrogênio. A questão é se bastaria realizar estas análises nos períodos críticos do ciclo vegetal para saber se a planta encontra-se num estado anormal de proteólise e, portanto, de carência. Essas análises realizadas ao longo dos períodos críticos do ciclo que falamos antes. Contudo, essas análises não poderiam indicar a natureza dos elementos- macro e microelementos- em que a planta se encontra carente. Também seria necessário fazer análises de K, Ca, Mg e dos principais oligoelementos: Fe, Mn, Zn, B, Ni; e, ainda, pode-se acrescentar: Co, Mo e Li. *

No original, fourchettes. “Limite entre dois valores extremos”. (Petit Robert, 1983), ( N. do R. )

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Somente através de experiências e cruzamento de dados a respeito de um determinado tipo de planta - da qual conhecemos, mais ou menos, as exigências nutricionais - quais são, de preferência, será possível escolher os elementos a serem analisados. Propositadamente, deixamos o P de lado. De maneira geral, sabese que as variações de P estão relacionadas às do cálcio, que deverá obrigatoriamente ser analisado. Portanto, nesse caso, a análise do fósforo será supérflua, exceto em casos particulares. Os elementos catiônicos, como vimos muitas vezes e, especialmente, no capítulo anterior, parecem ter grande importância. É fundamental conhecer a relação K/Ca que condiciona, em grande parte, o metabolismo da planta, especialmente a quantidade de magnésio utilizado pelo vegetal. K e Ca, aliás, são antagonistas ao Mg e nos parece significativo que a soma K + Ca+ Mg seja uma constante. Quanto aos oligoelementos, os quais vimos a importância em relação à resistência da planta às doenças, veremos novas provas para estudar suas repercussões sobre a qualidade dos produtos. Será o tema do último capítulo, quando teremos ocasião de examinar o papel de certos microelementos, que deixamos de lado até aqui e de considerar a melhor maneira de fazer participar no metabolismo da planta para o maior benefício de sua resistência e da qualidade da colheita.

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Fig. 31. Resposta de diversas enzimas a diferentes concentrações de boro na solução nutritiva, em folhas de tomateiro. 275

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Fig. 32. Estágios críticos do ciclo fisiológico da videira e das rosáceas. A) Videira: estágio G de BAGGIOLINI, de desenvolvimento do cacho. É o estágio em que as folhas, em estado de proteólise e, portanto, sensíveis às doenças, guardam suas reservas para assegurar a floração e a frutificação. O mesmo processo ocorre nas árvores frutíferas e cereais. B) Rosáceas: estágio do desenvolvimento acentuado dos frutos. A partir do mês de julho, macieiras e pereiras servem-se de suas reservas das folhas adultas para assegurar o crescimento e aprovisionamento do fruto em cálcio. 276

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Fig. 33. Resultados de experimentos da eficácia de diversos produtos contra o míldio da videira. Eles mostram, em particular, para uma mesma dose de cobre, a nítida superioridade do sulfato de cobre(sob a forma de calda bordalesa): nas fórmulas 7-8-9, 10-11-12 e 13-14-15, sobre o óxido de cobre: fórmula 1-2-3. 277

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Fig. 34. Regressão da Sclerotinia do girassol por imersão das sementes em diversas soluções de oligoelementos. (Segundo dados de P. V. POLYAKOV, 1971.) 278

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CAPÍTULO VIII

TÉCNICAS AGRÍCOLAS E QUALIDADE DAS COLHEITAS “O objetivo principal dos pesquisadores trabalhando com produção vegetal é satisfazer as necessidades em oligoelementos, para obter a maior produção e melhor qualidade possíveis”. Yves COÏC et Claude TENDILLE. Causes connues des variations des oligo-elements dans les végétaux. Ann. Nutr. Amm. 1971. 25 – B97 – B131.) “A produção de plantas resistentes foi, até agora, reservada à genética. É um caminho difícil, e que, freqüentemente, conduz, como sabemos, a um sucesso apenas temporário. Talvez fosse mais simples e eficaz, no futuro, conferir resistência às plantas pela aplicação de produtos químicos”. E. GROSSMANN(Confered Resistance in the Host. 1968) (World Review of Pest Control)

1. OS OLIGOELEMENTOS: CORRECÃO DE CARÊNCIAS E FATORES DE QUALIDADE O EXEMPLO DA VIDEIRA Em repetidas vezes encontramos neste trabalho a videira e sua produção, como objeto principal de nossas pesquisas. No capítulo anterior vimos como a carência em boro pode desencadear a “doença do chumbo” na videira. Agora vamos examinar, à luz de experiências de diversos autores, de que maneira as incorporações, seja de macro ou microelementos obtiveram melhorias, tanto nas videiras, como, na qualidade do vinho. Com isto se atinge um resultado duplo: aumento da resistência da planta e melhor qualidade da produção a ser consumida, em relação aos vertebrados ligados ao nível de proteossíntese.

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A) Os oligoelementos nos solos dos parreirais: repercussões sobre a qualidade do vinho BERTRAND et alii. (1966), precisam antes de darem os resultados de seus experimentos: “A cultura da videira tem um problema muito particular, do ponto de vista dos adubos”... “Sabe-se que um desequilíbrio em oligoelementos provoca uma diminuição dos rendimentos, bem como modificações de qualidade, para as árvores frutíferas. Portanto, seria desejável ver quais as repercussões sobre a produção de vinho”. Os experimentos desses autores foram realizados na região de Pech Rouge, do INRA, Montpellier. Eles observam que o tratamento das folhas é necessário no caso de haver problemas graves, mas que nesta técnica ignoram-se as quantidades absorvidas de cada produto. Corre-se o risco de cair num desequilíbrio por excesso. Como já vimos, os ditiocarbamatos utilizados em tratamentos repetidos provocam excessos de zinco ou manganês nos tecidos, tornando-os tóxicos. Contudo, a técnica de pulverizações foliares é preciosa no controle das diversas doenças das plantas, bem como na melhoria da qualidade, desde que criteriosamente utilizada. BERTRAND et alii. (op. cit.) realizaram experimentos com aportes de boro, molibdênio e magnésio no solo. Pode-se contestar a classificação de “oligo” ao magnésio, mas ele tem uma importância considerável sobre a fisiologia da planta e sobre a saúde dos vertebrados que consomem o vegetal assim adubado. Sempre em relação ao magnésio, BERTRAND observa que a bruma do mar carregada pelo vento é uma fonte não negligenciável desse elemento. Mesmo na região parisiense, onde este aporte é menor que na propriedade de Pech Rouge, ele atinge 1 kg/ha/ano. Referente ao rendimento, o magnésio mostrou um efeito adverso. Ao contrário, o molibdênio e o boro tiveram repercussões positivas. 284

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Quanto à qualidade: a) Magnésio: provoca um aumento do teor de açúcar; o ótimo da dose de Mg se situaria em torno de 2,5 kg/ha. Este valor propicia a melhor densidade do mosto; b) Molibdênio: a quantidade de matéria seca aumenta com maiores teores, a ponto do máximo ainda não ser atingido com 0,8 kg/ha. Inversamente, o teor mínimo de cinzas é obtido com aproximadamente 0,2 kg/ha. A densidade e a acidez volátil aumentam como a matéria seca enquanto o grau alcoólico tem seu ótimo com aproximadamente 0,35 kg/ha; c) Boro: a densidade e acidez total crescem com o teor de boro, enquanto a acidez volátil atinge o mínimo com aproximadamente 6kg de borato/ha. O grau alcoólico tem seu ótimo com aproximadamente 0,35 kg/ha; d) Os resultados da degustação são assim caracterizados por BERTRAND et alii. (op. cit.): “Todas as amostras das parcelas que receberam aporte de magnésio são melhores à degustação e mais coloridas. O vinho da parcela testemunha pode ser considerado como um vinho branco manchado, e os outros vinhos, como rosés”. “As amostras de vinhos provenientes das parcelas que receberam aporte de molibdênio são melhores à degustação”. “Os vinhos provenientes de parcelas tratadas com boro são pouco coloridos. A diferença com a testemunha é pouco sensível”. Os pesquisadores observam que não foram colocados nem zinco, nem manganês. Contudo, detectou-se baixos teores destes elementos. Estas possíveis pequenas deficiências podiam provocar modificações no teor de açúcar, já que o zinco joga um papel essencial na síntese destes últimos. Isto demonstra que os diversos nutrientes devem ser associados num equilíbrio conveniente, a fim de se obter resultados satisfatórios 285

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nos diferentes objetivos visados: rendimento, resistência da planta e qualidade da colheita. Veremos isto confirmado pelo exemplo a seguir e pelos resultados obtidos através de preparados industriais que associam oligo e macroelementos, em função das necessidades nutricionais especiais de cada tipo de planta cultivada. B) Tratamentos foliares da videira através de oligoelementos DOBROLYNBSKIJ (1975) estudou, especialmente, a influência de zinco e do manganês sobre a qualidade do vinho, determinada, neste caso, não pela degustação, mas em função do teor de aminoácidos associados presentes nos bagos de uva. Esse autor observa que as diferenças evidentes na composição da uva e, portanto, dos vinhos, dependem das particularidades biológicas da planta, isto é, da cepa, mas também das condições de crescimento, isto é, clima, (fator bem conhecido dos viticultores) e, igualmente agrotecnia. Isto engloba não apenas os processos culturais como a fertilização, enxertia mas também os tratamentos com agrotóxicos, especialmente pelos oligoelementos que são usados, freqüentemente, em excesso. DOBROLYNBSKIJ (op. cit.) preconiza uma intervenção antes da floração geral e outra no momento da formação dos grãos. Isto parece corresponder aos estágios G e J de BAGGIOLINI. Ele utilizou uma fórmula na qual a calda bordalesa foi associada a 0, 05% de sulfato de zinco e 0, 05% de sulfato de manganês. As análises mostraram que estes tratamentos a base de oligoelementos (cobre, zinco e manganês, mais enxofre e cálcio da calda bordalesa) provocaram nas duas cepas tratadas, Aligoté e CabernetSauvignon, uma queda dos aminoácidos livres e um aumento dos aminoácidos associados. O conteúdo dos aminoácidos livres decresce às custas da alanina, ácido glutâmico, ácido aspárgico e outros, enquanto aumenta a concentração de uma série de aminoácidos indispensáveis: valina, glicina, 286

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leucina + isoleucina, cistina + cisteina, lisina, histidina, tirosina e fenilalanina. Na cepa Aligoté, a percentagem de aminoácidos associados em relação ao total, é: Testemunha 56,2%

Calda bordalesa + ZnSO 4 60,1%

Calda bordalesa + MgSO 4 59,1%

DOBROLYNBSKIJ precisa, nas suas conclusões, que estes oligoelementos, aumentando o número dos aminoácidos indispensáveis, melhoram proporcionalmente o valor nutricional das uvas. Estes resultados também estão correlacionados com o aumento da produtividade e a elevação do conteúdo de açúcar das bagas. Essas repercussões benéficas dos oligoelementos se explicam pelo seu papel no metabolismo da planta, que tratamos no capítulo anterior. Sabe-se que o zinco é necessário à síntese da clorofila e à do ácido indolacético ou IAA, cujo precursor é o triptofano. Sem o IAA – hormônio indispensável – as plantas enfraquecem, e nas árvores frutíferas se instala a doença chamada roseta das folhas, em que o alongamento das hastes não se produz normalmente. Em resumo, o zinco está ligado à síntese das auxinas, e à sua ação. Daí os efeitos positivos dos tratamentos à base deste oligoelemento, já que as carências ou subcarências (difíceis de serem identificadas apenas por observação visual) são muito mais freqüentes do que se poderia imaginar. BERTRAND et alii. (1961) observam que o número de enzimas conhecidas que tem o zinco como constituinte é muito elevado. Assim, as modificações histológicas provocadas pelos problemas de funcionamento das cadeias enzimáticas podem ser melhor explicadas. Segundo BERTRAND e colaboradores, é necessário não esquecer 287

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que estas cadeias variam com as espécies, pelo menos em importância funcional, tanto que os sintomas observados em um caso não são necessariamente os mesmos para as outras plantas. Por isso a dificuldade de identificar as carências apenas pela observação visual e a necessidade de recorrer-se às análises de folhas ou de suco celular. O manganês, como o zinco, é indispensável aos animais e aos vegetais. Gabriel BERTRAND descobriu um fato novo, capital, ainda que mal conhecido: o da subcarência, que não tem manifestação patológica aparente, pelo menos num primeiro momento, mas causando uma redução de rendimentos que pode ser bastante elevada. Descoberta em aveia, Didier BERTRAND estima que as subcarências em manganês são muito mais freqüentes do que se supõe. Isto parece confirmado pela contraprova dos resultados benéficos, já relatados em videira. COÏC mostrou, na Bretanha, que o manganês e o zinco podem se encontrar bloqueados, isto é, não assimiláveis, devido a correções calcárias exageradas. Daí o interesse pelos tratamentos foliares, mesmo se o manganês não se comporta como um ativador de enzimas. Já vimos o papel que ele pode desempenhar na resistência da planta às doenças, especialmente a helmintosporiose e Sclerotinia do girassol. Presume-se que sua ação positiva sobre a proteossíntese da videira, como acabamos de ver, se acompanha igual e correlativamente, com iguais repercussões sobre a resistência às doenças. C) A técnica do controle por complexos sinérgicos de oligoelementos Pelo menos duas razões são favoráveis à utilização de complexos de oligoelementos: Primeiro, os efeitos de sinergismo, precisamente e como já assinalamos, como aqueles do cobre e do manganês sobre o crescimento. E que deveria se traduzir, teoricamente, segundo a nossa concepção, por um efeito positivo sobre a resistência da planta. Ora, efetivamente, parece que é o que se passa. Assim, DUFRÉNOY (1930) observa que: “HOAGLAND e SNYDER obtêm moran288

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gueiros mais vigorosos e mais resistentes a Oidium e Tetranychus numa solução contendo 26 elementos do que numa com 12 elementos”. Apesar de ignorarmos a causa exata do processo, podemos registrar o fato e aproveitar estes resultados empíricos, embora menos incertos que os decorrentes do uso de agrotóxicos, clássicos. Esses últimos, mostram, ao contrário, uma vez mais incertos nos seus resultados e, muito mais perigosos para a saúde da planta, como pensamos haver demonstrado antes. Sem entrar em detalhes, apresentamos uma fórmula especialmente estudada para a videira, que contém Zn, Mo, Mn, Fe, B, Co, Ca e Mg. Transcrevemos, adiante, o que nos escreveu o autor dessa fórmula, referente aos resultados obtidos: “O que posso afirmar é que em todos os vinhedos assim tratados no meio-dia,* na França [segue a enumeração das propriedades vitícolas], constatou-se modificações benéficas após as aplicações dos oligoelementos. Os tratamentos acrescidos de aplicações de zinco e manganês no inicio do período vegetativo, e boro, a partir da floração, melhoraram a qualidade do lenho, tornou-se mais amadurecido e mais duro, aumentaram consideravelmente o tamanho do cacho, particularmente sensível em Carigan, Syrah, Mouvèdre e Sauvignon, e o espessamento da casca da uva”. Referente às doenças, meu correspondente acrescentava: “O conjunto destas condições faz com que, nestas propriedades, Botrytis não seja mais considerada uma moléstia grave, mesmo não tendo sido feito tratamento especifico contra ela”. “Paralelamente, houve redução e, após, desaparecimento total da esca* (Stereum hirsutum) e erradicação da excoriose (Phoma reniformis)”.*

* * *

Meio-dia (Midi) significa também o Sul da França e ou da Europa. (N. do R) Doença causada por S. Hissutum, chama-se “esca”. Pommer, 2003. (N. do R.) A doença causada por P. Rerriformis, chama-se “excariose” ou “podridão branca da uva”. Pommer, 2003. (N. do R.). As citações no original são, respectivamente, Esca e Excoriose. (N. do R. )

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O programa desses tratamentos compreende cinco aplicações, entre o rebrote e a formação do cacho. Conhecendo bem nosso correspondente, acreditamos não ser possível debitar a um otimismo exagerado ou a uma propaganda interesseira os fatos registrados. Eles acompanham os resultados das repercussões benéficas dos oligoelementos sobre a resistência de diversas plantas por estimulação da proteossíntese em conseqüência da correção de carências. DOBROLYNBSKIJ e FREDOLENKO (1969), ressaltando as relações de zinco e fósforo nas folhas da videira, observam que: “O aumento da quantidade de nucleoproteínas e fosfatídeos nas folhas, por influência do zinco, é extremamente importante. Sabe-se que um aumento das nucleoproteínas, que são colóides hidrófilos, podem explicar a influência favorável do zinco sobre a resistência da videira à seca, ao calor e à geada”. Por outro lado, a maior quantidade de compostos fosforados nos cachos repercute na qualidade do vinho. Finalmente – nesse trabalho os autores só enfocam a influência do zinco – este elemento provoca: – um aumento da produtividade; – uma melhoria da qualidade (devida, como mostraram seus trabalhos posteriores, ao acréscimo das cadeias de aminoácidos); – uma aceleração da maturação dos cachos. Estes trabalhos confirmam resultados práticos de controle e demonstram que a utilização criteriosa dos oligoelementos permite um aumento dos rendimentos, sem baixar a qualidade. Esses fatos se explicam, pela simples razão de que estas técnicas têm por base a estimulação da proteossíntese, como bem o demonstram as análises da planta, ainda que esses métodos fossem empíricos, no início, vimos que a fórmula complexa, desenvolvida para o tratamento da videira, comportava um certo número de oligoelementos além do magnésio que, como vimos, certos sábios o incluia entre eles. Este 290

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elemento é dos mais importantes para a videira, como estimamos necessário mostrar em seguida. D) Secamento do engaço nos vinhedos: causas e tratamentos Os secamentos do engaço foram registrados na Suíça, Alemanha e no Leste da França, nos anos 1950-1960. Os sintomas manifestavamse entre a metade e o fim da maturação, por necroses no pedúnculo, no eixo principal do cacho e suas ramificações. Fenômenos que podem, finalmente, resultar no secamento completo do cacho. Os porta-enxertos S04* e 5 BB** favorecem esta afecção. Determinadas cepas, como Gewurztraminer, na Alácia, mostram-se mais sensíveis. Como a carência de Mg é decorrente de uma deficiência do solo ou de um excesso de fertilização potássica, pode se inferir que o portaenxerto atua por um processo semelhante. O porta-enxerto 44-53 sensibiliza, igualmente, o enxerto em relação ao secamento do engaço. Efetivamente, seja por um desequilíbrio hormonal ou por um déficit alimentar, é uma carência de Ca e Mg que está na origem desta afecção. Isto se traduz por relações mais elevadas de K/Ca, de K/Mg e de K/Ca + Mg nos engaços. O aporte ao solo de MgSO 4 diminui claramente os ataques de secamento do cacho. Também se constata uma correlação altamente significativa entre o teor em Mg das folhas e o secamento do engaço. Assim se explicam, por exemplo, os excelentes resultados de pulverizações com sulfato de magnésio sobre uma associação portaenxerto - enxerto particularmente sensível, como Cabernet-Sauvignon enxertada sobre “SO4*”. Duas a três pulverizações de MgSO4 a 5%: uma no início da floração; a segunda oito a dez dias após e, a terceira oito a dez dias após a segunda, deram resultados muito significativos: * **

Seleção Oppenheimer 4. (N. da T.) Kober 5BB. (N. da T.)

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– em 1973, os cachos atacados caem de 51-52% nas testemunhas para 3,1 -3,66% nas plantas tratadas; – em 1972, duas intervenções fizeram a doença involuir de 100% para 50,5%. Por isso o interesse de tratamentos preventivos com fórmulas à base de complexos de oligoelementos e magnésio, como aquela citada. Estas intervenções, baseadas em análises prévias, capazes de evidenciar as subcarências, deveriam permitir evitar-se os graves inconvenientes resultantes das carências e, especificamente, da carência de magnésio. Estas carências, exatamente como na medicina humana e veterinária são, na realidade, o leito das doenças, especialmente, as viróticas. Admite-se a esse respeito, do ponto de vista nutricional, a qualidade está ligada ao nível de proteínas: o valor alimentar da colheita será, pois, função não apenas de fatores genéticos, mas, também, de práticas culturais. Por isso, chegamos, para concluir este capítulo e, também esta obra, a examinar as repercussões da fertilização mineral e orgânica, e também dos agrotóxicos (afora o problema dos resíduos), sobre a qualidade da colheita. 2. FERTILIZAÇÃO MINERAL E QUALIDADE DA COLHEITA A) Considerações gerais Como observou COÏC, “na agricultura, geralmente, a preocupação é maior com a quantidade do que com a qualidade”. Às vezes nos preocupamos com uma certa qualidade, mas que só diz respeito a um critério comercial. Freqüentemente, trata-se apenas de um aspecto exterior. Assim, os frutos “manchados” são, comercialmente, de “má qualidade”. É, igualmente, de má qualidade toda a colheita maculada com resíduos de qualquer agrotóxico. 292

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Contudo, o que aqui entendemos por “qualidade” reside no seu valor nutricional, isto é, na sua composição em elementos nutritivos. Ora, esta pode estar alterada pela forma como a planta foi condicionada, através das técnicas de cultivo. Já vimos que a planta e sua produção podem ser modificadas pelos adubos que receberam ou pelos tratamentos com agrotóxicos que sofreram. Afora toda a questão dos resíduos, os agrotóxicos e os adubos são igualmente capazes de modificar, num ou noutro sentido, o valor nutricional da planta, por ação sobre o seu metabolismo. Os agrobiologistas há muito se deram conta disto e louvam obter colheitas de melhor qualidade, graças a seus métodos de cultivo. Contudo, antes de discutirmos esta polêmica, devemos estudar a maneira como podem variar determinados critérios, em função de técnicas usadas. Ora, a forma de adubação é precisamente uma das principais, como também é a que, nesse sentido, temos mais informações. B) Adubação e qualidade do trigo I. A questão dos adubos nitrogenados Ao longo do sexto capítulo, foi evidenciado, o papel, freqüentemente nefasto, dos adubos nitrogenados sobre a resistência da planta aos seus diversos parasitas. Isto porque os aportes de nitrogênio solúvel ao solo provocam excesso de nitrogênio solúvel nos tecidos das plantas, não convertido em proteínas. Esta primeira observação já confirma os inconvenientes da adubação nitrogenada solúvel em relação à qualidade da colheita. Com efeito, a questão é se obter a mais alta concentração em protídeos e proteínas. Aliás, COÏC não dissimula que “a adubação nitrogenada coloca árduos problemas em cultivo intensivo”. Ele precisa: “Um aumento de aportes, especialmente, de adubos nitrogenados para melhor satisfazer as necessidades das culturas permitiu aumentar os rendimentos e, correlativamente, os resíduos de matérias orgânicas 293

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nitrogenadas. Disto resulta um aumento continuo da quantidade de nitrogênio fornecido pelo solo às cultura”. Ora, vimos antes e, falaremos adiante, a propósito da adubação das pastagens dos inconvenientes deste nitrogênio mineral em relação às bactérias úteis e à fertilização do solo. Inconvenientes ainda mais acentuados, tratando-se dos adubos nitrogenados amoniacais. Segundo COÏC: “A nutrição amoniacal, comparada à nutrição nítrica, leva a um acúmulo de nitrogênio orgânico solúvel e, mais especificamente, de aminas (glutamina ou asparagina, conforme as espécies vegetais)”. Ainda COÏC: “quando os protídeos são constituídos por uma certa proporção de nitrogênio orgânico solúvel, a variação da proporção deste nitrogênio solúve,l no qual a composiçãoo em aminoaçidos daquela da proteína, como a variação de composição deste nitrogênio solúvel, modifica a composição dos protídeos totais”. A adubação nitrogenada solúvel e os tratamentos com herbicidas, que inibem a proteossíntese por provocarem excesso de nitrogênio solúvel no cereal, podem alterar a qualidade do grão, medida pela riqueza em proteínas. Pode-se questionar se o excesso de nitrogênio mineral ou orgânico no solo, provocado por estas técnicas, não atuariam no bloqueio do potássio. Sabe-se que excesso ou deficiência de potássio são nefastos, podendo conduzir a um acúmulo de nitrogênio solúvel na planta, como observou COÏC. Inversamente, toda a prática que favoreça a proteossíntese melhora, simultaneamente, a resistência da planta e a qualidade da colheita, como no caso de correções de carências e, especialmente, o enxofre. 2. A questão do enxofre Segundo o COÏC: “A deficiência em enxofre traduz-se por um acúmulo de nitrogênio solúvel, isto é, de aminoácidos e de peptídeos que não puderam ser utilizados na construção das proteínas”. 294

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Por outro lado, os aportes de enxofre, corrigindo uma carência ou subcarência, melhoram, simultaneamente, os rendimentos e a qualidade do grão: é, em particular, o que sobressai dos resultados de BYERS e BOLTON (1979). Esses autores, trabalhando com o trigo de primavera, mostraram que a adição de enxofre ao nitrogênio solúvel pode aumentar a produção de 40 a 110%; a relação N/S parece fundamental: os grãos dos tratamentos que deram as produções mais elevadas em matéria seca e proteína bruta apresentavam uma relação N/S em torno de 15. A composição do grão inteiro em aminoácidos, também foi, significativamente, modificada pelos tratamentos de fertilização. Assim, o trigo, cultivado sem aporte de enxofre e com o nível mais elevado de nitrogênio continha menos da metade do total de cistina e de metionina (em relação à percentagem total dos aminoácidos) encontradas no grão daquele trigo cultivado com quantidades adequadas de adubos à base de enxofre. Os grãos das plantas carentes em enxofre, além das deficiências de cistina e de metionina, apresentaram menos treonina, leucina, isoleucina e lisina. Comprovadamente, estas repercussões da fertilização com enxofre repercutem sobre o valor nutricional do cereal. BYERS e BOLTON (op. cit.), a partir de seus resultados, concluem pela necessidade de se dispor de uma quantidade adequada de enxofre, sobretudo quando se propõe a utilizar altas doses de nitrogênio. Isto, afim de assegurar ao grão, a mais alta, qualidade possível, seja qual for o cultivar considerado. Estes mesmos autores registram que “interesses opostos podem surgir entre agricultores que buscam o máximo de produção, consumidores interessados na qualidade do grão – determinada pelo teor em proteínas – e industriais preocupados com o valor de panificação do trigo, ou seja, o índice de tenacidade ou W. Segundo BYERS e BOLTON (op. cit.), estas três exigências podem ser satisfeitas, des295

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de que se assegure à planta uma concentração suficiente em enxofre, sobretudo quando se faz elevadas aplicações de adubos nitrogenados solúveis. Mas isto não resolve os outros inconvenientes deste tipo de adubo, evocados antes, especialmente a redução que pode provocar nas bactérias úteis. Em resumo, parece demonstrada a importância do enxofre na fertilização, em relação aos rendimentos, à qualidade da colheita e à resistência às doenças. Como todos estes processos resultam na existência de um nível máximo de proteossíntese na planta, é evidente que a fertilização com enxofre, por mais interessante que seja, não é a única variável em jogo. Como pensamos ter demonstrado, ao longo dessa obra, a proteossíntese depende ainda de um certo número de parâmetros, especialmente dos oligoelementos de que ela pode dispor, para assegurar ao máximo o seu metabolismo. É esse fator que, vamos examinar em seguida. 3. A questão dos oligoelementos É opinião geral que a fertilização com P, K, Ca e Mg não oferece problemas, pois se trata “apenas” de restituir as exportações. Isto pode ser correto considerando-se apenas os rendimentos, mas se considera, diferentemente, se encaramos a resistência da planta e seu valor nutricional. DOMSKA (1973), em experimentos a campo, com trigo e cevada, mostrou que a melhor qualidade é atingida somente através de um equilíbrio bem determinado entre os aportes de adubos nitrogenados, fosforados e potássicos, que não corresponde, necessariamente, às doses mais elevadas: ao contrário, autor observa que as doses máximas de fertilizantes fizeram decrescer as quantidades de proteínas no grão de trigo. Por “fertilizantes” entenda-se os adubos solúveis NPK. DOMSKA (op. cit.) observa que este tipo de adubação faz com que “a maioria dos 296

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aminoácidos decresçam, exceto alguns, como a prolina, isoleucina, leucina, fenillanina e alanina” Ao contrário, precisa DOMSKA, quando os oligoelementos são acrescentados, a concentração e o valor nutricional da proteína aumentam. DOMSKA, que testou B, Cu, Zn, Mn e Mo, observa que estes oligoelementos aumentam a concentração do total de aminoácidos (de 91,7g para 101,3g, e de 70,6g para 80,6g); a concentração dos aminoácidos livres (de 331,2 para 396,1 e, de 240,1 para 267,6 mg/ % em peso); bem como o valor biológico da proteína (75 para 77e 55 para 61, segundo o índice EAA). * Contudo, aqui também se trata de respeitar um certo equilíbrio. DOMSKA observa que o valor biológico do grão de cevada baixou, ao longo dos experimentos de 1966 ao nível mais baixo de adubação NPK. Esse valor também ocorreu em 1965: o índice EAA passa de 73 para 56, devido a doses muito fortes de oligoelementos. Neste caso, provavelmente, estava-se fora do ótimo de concentração nutritiva, sobre a qual insistimos antes. C) Adubação e valor nutricional das pastagens 1. Nutrição e potencial biótico Certamente, é uma empreitada bastante difícil determinar o valor nutricional deste ou daquele alimento em relação a esta ou aquela espécie de animal doméstico, no contexto de nossos conhecimentos atuais. E, contudo, foi possível observar que: “O conhecimento da alimentação adequada a cada raça, em função do trabalho específico que lhe é solicitado, é uma das bases da ciência da criação.” (Maurice ROSE e Jore d’ARCES, 1957.) Entretanto, pelo que precede, pôde-se demonstrar é um estado nutricional específico da planta ou órgão que, segundo nossa teoria *

EAAI: Essencial Amino Acid Index. Expressão em inglês do índice criado por Oser (1951), para definir a qualidade da proteína por seu conteúdo em aminoácidos essenciais. (N. do R.)

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da trofobiose, determina a suscetibilidade, ao contrário, ou a resistência à doença ou inseto. Assim, devemos admitir o mesmo, para a saúde dos vertebrados, em função da composição de sua alimentação. Efetivamente, Maurice ROSE e Jore d’ARCES, em sua obra Evolution et Nutrition* (1957), de onde retiramos a citação precedente mostram, através de diversos exemplos, a importância da natureza da alimentação sobre a saúde e sobre o desenvolvimento dos animais. Assim, eles citam o caso do rebanho Limousin Criado em solo granítico quase desprovido de elementos fosfocálcicos, o rebanho Limousin produzia bois robustos, apreciados para o trabalho, mas de pequeno porte. Os agricultores decidiram melhorar as pastagens com adubação de cálcio e fosfatos e também, com irrigação, o que permitiu o cultivo de raízes e a extensão das pastagens. A raça “Limousin”, recebendo forragens mais abundantes e mais nutritivas, transformouse rapidamente: registrou-se, simultaneamente, o desenvolvimento rápido do esqueleto, o aumento da massa muscular e uma notável precocidade. Outro exemplo típico da influência da alimentação sobre o “fenótipo” dos animais é o do cavalo bolonhês. Esses autores referem que VISEUR registrou a presença de dois tipos nesta raça, desde o século 17: “o bolonhês grande e o pequeno, reversíveis de um tipo para o outro. Isto ocorre quando sua descendência vive alternadamente sobre os planaltos, as colinas férteis e no vale, ou nas encostas mais ou menos áridas”. Da mesma forma, os fracassos das importações de gado Limousin na Argélia, durante a colonização, seria explicável pela natureza diferente da alimentação. Estes diversos exemplos acentuam a importância da alimentação dos rebanhos sobre sua constituição. Não há por que se espantar que ela possa também repercutir sobre sua saúde. *

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O principal do que sabemos dessas relações é o produto, sobretudo das carências, pelo menos onde puderam ser formalmente estabelecidas. É esta questão que nos propomos examinar a seguir. 2. Carências e estado sanitário dos rebanhos Como observa PERIGAUD (1970), as carências dos alimentos em oligoelementos podem provocar fenômenos de ordem patológica nos animais. É o exemplo clássico da miopatia provocada pela carência de selênio. O mesmo autor ainda se refere: “Os sintomas das outras carências são múltiplos e ‘não específicos’. Seguidamente, constatase apenas a infertilidade, mas a maioria dos sintomas são característicos de deficiência em energia, nitrogênio, fósforo, ou de más condições na criação”. É surpreendente se encontrar a mesma dificuldade que já encontramos, nas plantas, para caracterizar os sintomas desta ou daquela carência em oligoelementos. Tanto nos animais como nos vegetais, parece que todas as carências repercutem sobre o conjunto do metabolismo do indivíduo, com toda a gama de seqüelas que isto traz ao funcionamento normal do organismo. Aliás, daí as dificuldades observadas por VAGO (1956) “para explicar os numerosos estados patológicos, baseando-se apenas na unidade “doença”. Por agora, tentaremos esclarecer a natureza das relações entre a alimentação com uma pastagem obtida através de um determinado tipo de fertilização e o estado sanitário de rebanho que a consome. 3. Relações entre alimentação e doença Primeiro se tentou abordar e até resolver este árduo problema através de análises. Ou seja, analisaram-se os fenos para confrontar os resultados com as análises dos tecidos de animais que correspondessem a um estado sanitário conhecido. A priori, se arriscava a um fracasso, especialmente com os oligoelementos. Pela análise dos fenos procurava-se determinar: 299

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– de uma parte, o início da carência; – de outra, o início da toxicidade. Quanto à análise dos tecidos animais, que deveria complementar a do feno, é um método válido em determinados casos, como na pesquisa de selênio, mas que fracassa na maioria das vezes. PERIGAUD (1970) observa que “a análise individual não tem nenhum significado e se trabalha apenas sobre valores médios”. Por outro lado, é difícil imaginar como a confrontação desses dois tipos de análise poderia dar informações úteis quanto às necessidades dos animais. Buscando determinar estas exigências nutricionais através de análises puramente minerais e freqüentemente relativas a um único elemento, tangencia-se os conteúdos, por não se conhecer o assunto com a devida profundidade. Os pesquisadores envolvidos com este delicado tema parecem estar bem conscientes disto. Admitindo que se pudesse identificar as carências, se perceberia que nem todas são “primárias”, isto é, diretamente ligadas à insuficiência de um elemento na ração. Algumas são “secundárias’ isto é, induzidas pela presença de um outro fator alimentar que interfere na utilização metabólica do alimento ingerido (PERIGAUD, 1970). À maioria dos observadores não escapou esta importante noção das relações que unem o solo, a planta e a saúde do animal que dela se nutre. PERIGAUD (op. cit.) observa, a respeito dos oligoelementos: “A pobreza do solo em oligoelemento disponível repercute sobre a composição dos vegetais que nele se desenvolvem e daí sobre o animal que deles se nutre. Determinados tipos de solo produzem forragens cujo teor em alguns oligoelementos é freqüentemente inferior ao limite de carência definido pelo animal”. Como os dados obtidos pelo método de análise do feno não conduziam a um diagnóstico preciso, passou-se a testes terapêuticos, isto é, substituiu-se o pelo sintético método analítico . Com efeito, o início de carência foi determinado pelo processo de análise de feno, temos direito de questionar até onde ele é válido. 300

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Primeiro, o elemento em questão deve ser considerado sob o ponto de vista de seu papel na fisiologia da planta, especialmente, como pensamos ter demonstrado a importância, na elaboração das proteínas, consideradas como um fator de qualidade na alimentação de vertebrados. Ora, nenhum oligoelemento, como já vimos, age sozinho sobre o metabolismo da planta, mas sim num contexto fisiológico em que outros macro ou microelementos intervêm, igualmente, e em função dos métodos culturais usados. Examinemos, por exemplo, o caso do cobre, cuja carência é geral. PERIGAUD (op. cit.) observa que “a concentração bruta do solo em cobre parece não ser suficiente”. Ela diz que: – um solo carente em cobre (na Normandia), cultivado intensivamente com azevém, produz uma forragem com 0,7 ppm de cobre; – sobre o mesmo solo, os campos nativos, com baixo rendimento alcançam 7,3 ppm; – enfim, em “solos normais”, a cultura superintensiva não tem mais que 3 a 5 ppm de cobre, isto é, menos que a pastagem extensiva em solo pobre. Assim, PERIGAUD questiona: “Em que medida o aumento considerável da produção através de plantas selecionadas, da aceleração dos ritmos de corte, das técnicas de fertilização,* da irrigação etc... tem repercussões sobre a concentração de oligoelementos nas forragens?”. A esta questão, podemos, talvez, aportar um início de resposta. E, em seguida, para explicar estas disparidades na concentração de cobre nas forragens, segundo os três casos mencionados, seria necessário saber no que consistem as diferenças entre os métodos de cultivo. Quando PERIGAUD qualifica os cultivos de intensivos ou mesmo “superintensivos”, isto não corresponderia a um emprego exagerado de adubos solúveis, como é o mais comum? Ou até à utilização de *

Grifado por Chaboussou (N. do R.)

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herbicidas? (Para, como alguns preconizam, selecionar as espécies forrageiras interessantes). Por enquanto, retenhamos apenas a provável utilização de adubos químicos solúveis. Já vimos, antes, que os adubos nitrogenados solúveis – e, às vezes, os adubos potássicos, podem apresentar um efeito contrário sobre a colonização da rizosfera pelas bactérias (com diferenças nas repercussões segundo a categoria de bactérias) (TROLLDENIER, 1970). Especificamente, a nutrição potássica das leguminosas afeta a fixação de nitrogênio pelo Rhizobium leguminosarum (KOCH e MENGEL, 1972). Ainda nas leguminosas, os aportes elevados de adubos potássicos aumentam o teor dos aminoácidos solúveis na planta. Em outras palavras, eles inibem a proteossíntese e diminuem, portanto, o valor nutritivo da forragem. BETAEGHE e COTTENIE mostraram, numa longa experiência de trinta e seis anos, que a fertilização com os adubos aplicados nas parcelas NPK praticamente provoca o desaparecimento do cálcio. Os autores constatam que isto leva a uma diminuição significativa do pH e da produção. Ora, vimos, no sexto capítulo, que o papel do cálcio é fundamental na proteossíntese, devido a suas relações privilegiadas com os microrganismos e a matéria orgânica. O cálcio, associado à matéria orgânica, aumenta a fixação de nitrogênio. Ele também mobiliza os oligoelementos. Assim se explica que seu desaparecimento possa provocar o bloqueio dos oligoelementos e, portanto, em cadeia, o dos elementos nutritivos assimiláveis, num processo resumido no esquema da fig. 35. PERIGAUD (1970) constatou que o excesso de adubos nitrogenados pode provocar hipocupremias e queda de fertilidade do rebanho. PERIGAUD e DEMARQUILLY observam que, “na Bretanha, os casos de baixa fertilidade das vacas aparecem nos solos pobres em cobre, nas explorações onde as doses empregadas de nitrogênio ultrapassam 100 kg/ha”. 302

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PERIGAUD e DEMARQUILLY salientam, em contrapartida, que os agricultores que não utilizam nitrogênio em suas pastagens têm um rebanho com fecundidade superior a dos outros. É que a carência em cobre pode influenciar a diversidade da flora e a composição mineral das plantas. Assim, a quantidade de capim Timothy* no feno pode ser dobrada e a do trevo vermelho aumentada de 5 a 12 vezes, pelo aporte de cobre ao solo (COÏC e TENDILLE, 1971). PERIGAIJD (1970) especifica que “em solo muito pobre, estas espécies, adubadas com macroelementos com dosagens elevadas, são muito carentes em cobre”. Definitivamente, todos estes fenômenos têm por origem as repercussões nefastas dos adubos solúveis sobre os microrganismos do solo. Em particular, o cobre é mais assimilável graças ao desenvolvimento bacteriano, como referem COÏC e TENDILLE (1971). A carência ocorre com a destruição das bactérias. Como se sabe, o cobre interfere no teor de proteínas altamente digestíveis da matéria verde. Este fenômeno implica que um pasto jovem, rico em cobre, pode vir a provocar deficiência deste elemento (PERIGAUD e DEMARQUILLY, 1975). Esta constatação levanta diversas questões. Que critérios definiram esta carência? Quais são os sintomas apresentados pelo animal? Sua origem é realmente uma deficiência em cobre, ou estaríamos na presença de uma carência nutricional mais complexa como, por exemplo, uma carência de proteínas? Neste caso, o cobre contido no pasto jovem poderia estar acima do ótimo de concentração nutritiva e, com este teor, influenciaria, desfavoravelmente, o processo de proteossíntese. Como já observamos, geralmente os sintomas da maioria das carências são “múltiplos e não específicos”, “secundários”, e não “primários”.

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Assim, a tetania do pasto, que pode ser provocada por excesso de adubos nitrogenados ou potássicos, seria, proveniente da diminuição da digestibilidade do magnésio sob influência de um excesso de K ou N. Contudo, PERIGAUD e DEMARQUILLY (1975) indicam que esta doença “parece ser mais um problema de metabolismo de origem endócrina do que conseqüência do nível de digestibilidade do magnésio do pasto”. Esta observação aproxima-se à de COPPENET, a propósito dos efeitos complexos da adubação, que envolve diversos fatores difíceis de dissociar. Esse autor observava: “o estágio da exploração e o ciclo são mais importantes sobre a concentração de fósforo no azevém do que o teor de fósforo no solo e da adubação fosfatada”. Só resta dizer que é no nível da composição bioquímica da planta que se deve buscar a causa das repercussões sobre a saúde do rebanho que a consome. Resumindo, o que foi evidenciado quanto às repercussões da adubação sobre a qualidade do grão de trigo, pode ser transposto, com grande aproximação, para a qualidade da forragem e a saúde do rebanho. A respeito da flora das pastagens; fixemos que: – pela existência de seus nódulos de Rhizobium, as leguminosas enriquecem o solo em nitrogênio orgânico, benéfico para o crescimento e a qualidade da planta; – as leguminosas mobilizam também o cálcio e provocam uma baixa relação Si/Ca; – o cálcio, nas suas relações (ainda obscuras) com a matéria orgânica e os microorganismos do solo, aumenta a fixação do nitrogênio e favorece a assimilação dos micronutrientes; – ao contrário, os adubos nitrogenados e potássicos solúveis, provavelmente por seus efeitos tóxicos sobre as bactérias, como Rhizobium, acarretam o desaparecimento das leguminosas e, conseqüentemente, também do cálcio assimilável e dos oligoelementos como o cobre. Assim, pela via nutricional, resultam problemas mais ou menos graves na saúde do rebanho, provavelmente oriundos, em última 304

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análise, de uma deficiência da forragem em proteínas e oligoelementos (fig. 35). Assim, não seria surpreendente constatar, em relação à saúde dos animais e, mesmo, a do homem, repercussões sobre sua saúde e seu potencial biótico, podendo encontrar resultados, diametralmente opostos, pela realização de técnicas culturais que, a despeito de seu empirismo, produzem na planta um estímulo à proteossíntese, ao contrário do esperado. Veremos agora os resultados dos métodos usados pelo que se convencionou chamar de “agricultura biológica ou ecológica”. 3. AGRICULTURA BIOLÓGICA E A SAÚDE DOS VERTEBRADOS A) os critérios de qualidade ou valor nutritivo da alimentação A alimentação ideal seria a que, além de assegurar um bom crescimento, favorecesse, simultaneamente: a fecundidade, a fertilidade, a resistência às doenças e, enfim, a maior longevidade possível. O problema, que não é pequeno, consiste em determinar os caracteres bioquímicos do alimento que corresponderiam, para cada espécie animal, às normas de uma alimentação ideal. Diversas fórmulas foram propostas, sem que nenhuma pudesse obter adesão unânime. Contudo, em relação aos vertebrados - como aludimos antes - se está de acordo em reconhecer como critérios positivos a existência de altas concentrações em proteínas e, também, em determinados aminoácidos e em vitaminas. Veremos a demonstração disso, com os resultados de SCHUPHAN, que serão apresentados mais adiante. Referente aos animais, uma série de observações seguras e fatos que se assemelham entre si fornecem uma base sólida para determinar o bom estado sanitário de um rebanho. Outro bom indicador, mais imediatista, é a conta paga pelos criadores aos veterinários!... é o que faremos com os resultados alcançados pelos agrobiologistas. 305

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B) Os resultados da “agricultura biológica” BRUGGER (1975), que parece caracterizar bem uma posição bastante corrente, escreve: “A pretensão da agricultura ‘biológica’ de ser a única que produz alimentos de qualidade irrepreensível e de valor superior, do ponto de vista biológico, deve ser refutada com vigor”. O mesmo autor insiste: “por razões de ordem jurídica e objetiva, determinados limites deveriam ser impostos à propaganda em favor dos produtos biológicos”. Entretanto, se nosso autor, – que está perfeitamente em seu direito – contesta a superioridade dos produtos da agricultura biológica, em relação aos da agricultura “clássica” ou “química”, ele não apresenta nenhuma prova e fica no estágio da afirmação. Por isso, baseados em fatos e na qualidade das colheitas, vamos analisar objetivamente os resultados obtidos pela agricultura biológica e identificar, se realmente não apresentam alguma superioridade em relação à agricultura “química”. E, aqui, deixando de lado a questão de resíduos de agrotóxicos (os agrobiologistas salientam a sua ausência em seus produtos), para enfocarmos o ponto de vista do valor nutritivo das plantas assim cultivadas. Para sermos o mais objetivos possível vamos recorrer, não diretamente aos agrobiologistas, mas a um pesquisador oficialmente encarregado de apreciar os resultados das explorações agrobiológicas. A saúde do rebanho nas explorações agrobiológicas será o primeiro ponto enfocado. Quando o CORDES (Comitê d e Organização de Pesquisas sobre o Desenvolvimento Econômico e Social), organismo do “Comissariado Geral de Planejamento”, nos deu a honra de perguntar nossa opinião sobre a pesquisa de Yves LE PAPE, resumida no relatório A agricultura biológica afirmamos que: “O mínimo que se pode dizer desse trabalho é que nos parece escrupuloso, imparcial e, na medida em que é humanamente possível, objetivo”. E, podemos, mesmo, acrescentar: “Sem dúvida, ele não 306

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provoca um impacto considerável nos diversos meios agrícolas, sejam estes favoráveis, ou não, às concepções da agricultura biológica”. Foi excesso de otimismo. Na realidade – e, ao contrário do que sugerimos - este interessante relatório, segundo nosso conhecimento, não foi objeto de nenhuma discussão oficial. Contudo, como os fatos aí relatados continuam os mesmos, necessariamente terão que ser considerados num futuro mais ou menos próximo. Um primeiro fato nos chamou a atenção na leitura desse relatório: a unanimidade das repercussões benéficas sobre a saúde das plantas, animais e do próprio homem produzidas pelo emprego das técnicas da agricultura biológica. Tal convergência não é apenas fruto do acaso. A respeito da saúde dos animais, o relatório observa que a reconversão das explorações de “agricultura química” para “agricultura biológica” deu-se essencialmente em razão do estado sanitário do rebanho. O relatório precisa que: – 68% dos agricultores são motivados pelas numerosas doenças do rebanho, que haviam tido na agricultura “química”; – 18% destes apresentavam problemas de saúde em sua própria família. O relatório precisa que, depois da conversão, o estado sanitário melhorou nitidamente. Citamos: “75% [dos agrobiologistas] registraram uma importante diminuição dos custos veterinários. A nosso conhecimento, nenhum caso de febre aftosa foi registrado na Bretanha, nos agricultores biológicos, apesar dessa doença ter atacado, gravemente, nessa região, na primavera desse ano. Por outro lado, no Finistère, onde a vacina não é obrigatória, não foi registrado nenhum caso de febre aftosa. Como explicar fatos tão surpreendentes?”. Vemos uma só resposta a esta questão: a superioridade da qualidade da alimentação obtida elaborada graças às técnicas da agricultura biológica. 307

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Isto nos leva a questionar os elementos que atualmente dispomos como critérios bioquímicos válidos para identificar a qualidade dos produtos vegetais, em função dos diferentes modos de cultivo. A este respeito, habitualmente se faz referência aos trabalhos de SCHUPHAN (1974), que se estenderam por doze anos. Os trabalhos de SCHUPHAN Em resumo, os trabalhos de SCHUPHAN comparam diversos tipos de adubação, em culturas como espinafre, repolho crespo, batata e cenoura. São consideradas a fertilização clássica NPK, utilizada isoladamente e associada ao esterco, só esterco e, enfim, compostagem biodinâmica. Foram feitos três tipos de constatações: – evolução da composição mineral do solo; – composição das colheitas em diversos constituintes orgânicos e minerais; – repercussões sobre a saúde de bebês alimentados com produtos obtidos desses diferentes tipos de fertilização. No que se refere às transformações constatadas no solo, SCHUPHAN registra: 1. A função reguladora do húmus na nutrição das plantas. 2. Sobre turfa, com o composto biodinâmico, concentrações extremamente elevadas em K2O, O2, Na, P 2O5, Ca e Mn. SCHUPHAN justifica este segundo ponto pelas quantidades elevadas de elementos fornecidos a cada ano, e também pelo nível relativamente moderado das colheitas. Contudo, pelo que se sabe dos fenômenos ditos “de troca” e de “mineralização”, provocados pela fertilização orgânica, é questionável se são apenas estes os processos em questão. Vimos que, ao longo do capítulo sexto, a matéria orgânica estimula a proteossíntese, principalmente quando previamente fermentada. Veremos, adiante, uma demonstração suplementar. 308

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A respeito dos oligoelementos, a concentração de ferro aumenta com dois tipos de adubação orgânica: esterco e composto biodinâmico. Além disto, com o composto biodinâmico, as concentrações do solo, em magnésio, são mais elevadas do que com os outros tratamentos. A respeito da composição da planta, indicamos sumariamente os seguintes resultados: Com a adubação orgânica: a) constata-se, se de um lado, a elevação das concentrações de elementos minerais (exceto sódio), bem como a redução da presença de compostos indesejáveis, como nitrogênio nítrico e aminoácidos livres, que são produtos nefastos para a alimentação dos vertebrados, incluído o homem; b) por outro lado, como a adubação puramente química aumenta o teor de água nos tecidos, com a aplicação de esterco, aumenta-se o teor de matéria seca em 96%, se comparado ao tratamento químico com NPK; c) a concentração de vitamina C (ou ácido ascórbico), seu teor, sempre comparado ao tratamento NPK, aumentou em 78% com o esterco e 64% com o composto biodinâmico; d) em resumo, estes resultados provam que a fertilização orgânica estimula a proteossíntese, tanto nas hortaliças estudadas, como nos cereais, forragens e árvores frutíferas, como vimos antes. Do ponto de vista dietético, o fato mais significativo reside na propriedade da fertilização orgânica de aumentar o teor de aminoácidos sulfurados (metionina e cistina) nas proteínas. Estes são os mais importantes para a nutrição do homem e dos animais. Inversamente, os adubos nitrogenados solúveis, principalmente quando usados em grandes quantidades, provocam, por exemplo, em espinafre, reduções consideráveis na concentração de metionina nas proteínas. Acreditamos ser útil citar SCHUPHAN integralmente: “Os dados do quadro 6 indicam uniformemente baixas concentrações em aminoácidos livres devido à fertilização orgânica, tanto com ‘esterco’ 309

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quanto com ‘composto biodinâmico’. Mostram também altas concentrações com a associação ‘esterco’ mais NPK e apenas NPK, devido à concentração de nitrogênio do adubo mineral usado”. Aproveitemos para ressaltar os efeitos nefastos dos adubos nitrogenados solúveis, que já comentamos nesta obra, em relação à resistência da planta e da qualidade do trigo ou forragens. Este tipo de adubo, por diversas razões já citadas, inibe a proteossíntese. Não é necessário buscar outras razões para todos os seus inconvenientes. As experiências de SCHUPHAN, relativas ao valor nutricional dos produtos vegetais para bebês, referiram-se, apenas, à comparação do consumo das hortaliças obtidas com esterco e associação esterco mais NPK. Os resultados foram claramente superiores com os produtos oriundos do último modo de adubação. E, aqui, em seguida, a opinião dos pediatras: “os teores mais elevados em constituintes não calóricos: vitaminas, minerais e oligoelementos”. Citemos resumidamente os resultados globais obtidos com esterco e composto biodinâmico. Comparado com fertilização apenas de NPK, são os seguintes os percentuais de aumento: – determinação sobre batata e espinafre, separados: análise da batata: • matéria seca + 23% • % proteína + 18% • ácido ascórbico + 28% • açúcares totais + 19% • metionina + 23% análise do espinafre: •K +18% •Ca+10% •P +19% •Fe +77%

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Enfim, os constituintes nefastos ou indesejáveis, normalmente provenientes de um metabolismo imperfeito, mostram consideráveis regressões, devido ao estímulo da fertilização orgânica, se comparada ao tratamento NPK: • regressão dos nitratos 93% • regressão dos aminoácidos livres 42% • regressão do sódio 12% Assim, os trabalhos de SCHUPHAN parecem concordar com os resultados empíricos obtidos pelos agrobiologistas e, que têm a pretensão de fornecer produtos com maior valor nutricional do que os da agricultura “clássica” ou “química”. Esse maior valor nutricional, parece se explicar pela natureza de seus métodos, quais sejam: – o cultivo de leguminosas que enriquecem o solo em nitrogênio orgânico e cálcio; – os aportes moderados de correções de cálcio-magnésio; – a escolha de adubos insolúveis (pó de rocha); – a utilização privilegiada de estercos e compostos fermentados e ricos em oligoelementos e substâncias de crescimento; – o não-uso de adubos solúveis que apresentam toxicidade em relação às bactérias úteis e ameaçam a vida e a fertilidade do solo; – enfim, a recusa aos agrotóxicos sintéticos, inclusive herbicidas, suscetíveis, de poluir, não apenas os produtos com resíduos, mas também sensibilizam as plantas a doenças e alteram a qualidade da colheita, por inibição da proteossíntese. É, efetivamente, um conjunto de disposições que só pode resultar no aumento do processo da proteossíntese e, portanto, do valor nutricional das culturas. Essas diversas técnicas parecem explicar, por seus efeitos sobre a elaboração das proteínas, os resultados de que se orgulham os agrobiologistas: técnicas brandas e pouco onerosas, resistência das plantas às pragas e doenças, superioridade do valor nutricional das colheitas que levam a uma excelente saúde do reba311

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nho e até do homem. Assim, se encontraria fechado o ciclo que, através da planta, vai do solo ao homem e aos animais domésticos, e que é a característica e objeto da agricultura. Ainda restam grandes progressos a serem alcançados, principalmente sobre a abertura de espírito, mas parece que uma via mais racional está disponível. Pensamos ser útil expressar em grandes linhas nossas conclusões gerais.

Fig. 35. Esquema da cadeia das repercussões dos adubos solúveis em relação à qualidade das forragens e da saúde do rebanho. 312

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CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. SOBRE A NATUREZA DAS RELAÇÕES HOSPEDEIROPARASITA Recentemente foi observado que: “A maioria de nossos conhecimentos sobre as relações hospedeiro-parasita das doenças das plantas ainda se restringe aos processos descritivos. A transposição desses conhecimentos para relações bioquímicas e fisiológicas precisas, como as que possibilitam o progresso da medicina, constitui o trabalho mais importante a ser realizado”. * Foi o que tentamos nesta obra, procurando responder a um determinado número de indagações. Assim, a respeito das repercussões dos agrotóxicos, que representam o volume maior de nossos trabalhos, questionamos: 1. Por que diversos agrotóxicos provocam multiplicações de ácaros, pulgões, lepidópteros etc? 315

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2. Por que os ditiocarbamatos acarretam o desenvolvimento de Oidium e Botrytis nas plantas tratadas? 3. Por que diversos produtos notoriamente não fungicidas apresentam ação antifúngica? 4. Por que a causa da ação da calda bordalesa e do enxofre em relação a numerosas doenças fúngicas ainda não foi explicado? Sobre as incidências nefastas ou benéficas da fertilização, perguntamos: 5. Por que os adubos nitrogenados solúveis são unanimemente reconhecidos por sensibilizarem as plantas em relação a doenças e pragas? 6. Por que, inversamente, o potássio e uma fertilização equilibrada conferem à planta resistência a estas mesmas pragas e doenças? Sobre o clima e os fatores ambientais: 7. Por que uma queda de temperatura sensibiliza a planta às doenças fúngicas? 8. Por que, ao contrário, temperaturas mais altas e fotoperíodo longo as tornam mais resistentes? Sobre determinadas práticas culturais: 9. Por que, em determinados casos, a enxertia sensibiliza o enxerto a ataques de ácaros ou doenças e, em outros casos, provoca efeito contrário? 10. Por que, na maioria dos casos, o trabalho do solo estimula a resistência? Enfim, a respeito do metabolismo da planta – que, em última análise, é o ponto principal: 11. Por que folhas muito jovens ou folhas maduras são resistentes, enquanto folhas de idade intermediária ou folhas velhas são, ao contrário, suscetíveis? 12. Enfim, por que as folhas são mais sensíveis no momento da floração? A esta série de questões – cuja lista poderia ser alongada – con316

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seguimos dar uma única resposta: a resistência está associada, positivamente, ao nível de proteossíntese nos tecidos. Isto significa que nossa teoria da trofobiose tem chance de dar um passo adiante na explicação destes fenômenos. Ou seja, fazer avançar os meios a serem desenvolvidos para proteger a planta. Julgamos necessário voltar a falar sobre os riscos dos agrotóxicos, ainda usados sem se levar em consideração sua ação indireta sobre a resistência da planta. 2. EXPLICAÇÃO DAS REPERCUSSÕES DOS FUNGICIDAS Se, na medicina, o registro de medicamentos considerados eficazes é dado após testes em animais, os médicos devem reconhecer, honestamente, que ignoram quase completamente a maneira como os produtos agem. Acreditamos válido recordar, através de uma citação do Dr. LEPRINCE, que SEZARY estimava que os produtos não seriam específicos em relação aos germes patogênicos, mas que exerceriam uma ação indireta no organismo, aumentando sua “vitalidade”. Ou, em outras palavras, modificando favoravelmente “o terreno”, noção cara a Claude BERNARD e, cada vez mais, levada em consideração. É esta a ênfase dada por nossa teoria da trofobiose, que pretende, além disto, definir o terreno como “meio nutricional” em relação ao parasita. Portanto, a eficácia de um “fungicida” qualquer resultaria de uma ação antinutricional em relação ao parasita em questão, simplesmente por um efeito favorável à proteossíntese. Assim se explicaria a ação antifúngica, em relação a certas doenças, de produtos não fungicidas como os arsenicais para o controle da sarna, do Parathion contra a ferrugem coroada do azevém, do Carbaryl em relação a Alternaria do algodoeiro etc. Cabe a mesma explicação para os efeitos pró-fúngicos dos ditiocarbamatos e pró-ácaros de diversos agrotóxicos, inseticidas e fungicidas. 317

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Também estaria explicado o modo de ação antifúngica de produtos clássicos como o enxofre ou a calda bordalesa, que há muito tempo comprovam sua utilidade. Enfim, também se teria a explicação da ineficácia freqüente de produtos registrados como “fungicidas”, que falham quando utilizados e cuja eficácia é formalmente colocada em dúvida por pesquisadores experientes. As falhas são tantas, que se permite definir como “fungicida” qualquer produto não necessariamente tóxico em relação ao patógeno em questão, mas que, através de um efeito não-intencional, porém benéfico, sobre a estimulação da resistência da planta tratada, pode ter ação antifúngica, em uma determinada dose, sobre um determinado tipo de folha e num determinado período do ciclo fisiológico. Isto ocorre através de um efeito de ordem antinutricional em relação ao parasita. Assim, são os efeitos não intencionais dos produtos sobre a fisiologia da planta que podem provocar graves repercussões sobre sua suscetibilidade, bem como o desencadeamento das doenças. É este ponto importante que gostaríamos de retornar nas conclusões gerais. 3. GRAVIDADE DAS REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS SOBRE A PLANTA O quarto capítulo desta obra tem por objetivo as repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta. Como vimos, elas se explicam em função de nossa teoria da trofobiose, tanto pela ação eficaz dos produtos, quanto nos casos freqüentes de ineficiência e o desencadeamento de novas afecções, que analisamos no quinto capítulo. A este respeito levantamos o caso – tão inquietante do ponto de vista agronômico – das doenças viróticas, em recrudescimento nos últimos anos. 318

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Achamos útil, para entender a eventual causa deste grave problema fazermos uma aproximação com o que ocorre nos insetos, segundo trabalhos de VAGO. Diremos brevemente que, nosso eminente colega demonstrou que, nos insetos pode haver desencadeamento de doenças viróticas, mesmo havendo controle para impedir o contato de vírus com os insetos. O desencadeamento ocorre por má nutrição ou ingestão de produtos químicos como, por exemplo, o fluoreto de sódio, em doses baixas. Pelo que conhecemos das repercussões dos agrotóxicos (especialmente herbicidas) sobre a fisiologia da planta e sua má nutrição, que pode ser decorrente dos efeitos tóxicos sobre os microrganismos do solo, podemos nos perguntar se as primeiras repercussões nefastas desses produtos não seriam as de favorecer a elaboração dos vírus. Muitos agrotóxicos, especialmente os herbicidas, inibem a proteossíntese. Além disto, os agrotóxicos, como “toda uma série de tratamentos químicos e físicos (aquecimento, irradiação ultravioleta, ultra-som, ação leve de ácidos e bases etc.)”,* possivelmente, “modifiquem a estrutura e as propriedades de uma proteína sem separar nenhum dos aminoácidos que a constituem”. Efetivamente, diversos herbicidas como o 2-4D, Ionoxyl, Chlorpropham, e Propanil, perturbam a transmissão do código genético do RNA e inibem a síntese de proteínas. Foi demonstrado que: a) os herbicidas e inseticidas provocam profundas modificações no metabolismo do nitrogênio; b) pode haver alteração do caráter das proteínas, no que se refere à sua composição em aminoácidos (SELL et alii., 1949). Nestas condições, é de se espantar com a atual disseminação das doenças viróticas, especialmente nos cereais? Extensão que poderia ter por origem, não apenas os efeitos dos herbicidas sobre o cereal, mas *

“As doenças das plantas: modos de desenvolvimento e métodos de controle”. Collectif. Traduzido do inglês (Publicação INRA).

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também as incidências da má nutrição, pela ação tóxica dos herbicidas e adubos nitrogenados solúveis sobre os microorganismos do solo, como já foi demonstrado. CONCLUSÕES AS RAZÕES DAS ATUAIS DIFICULDADES DE CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS As considerações precedentes, que constituem um extremo resumo deste trabalho, talvez permitam compreender as razões das dificuldades atuais de controle das doenças e pragas. Salta aos olhos que elas são provenientes da insuficiência, para não dizer inexistência, de trabalhos referentes às relações planta-parasita. Ora, a este respeito, propomos uma teoria, a da trofobiose. Que seja posta a prova! Assim, com base no conjunto dos fatos expostos neste trabalho e em concordância com as concepções de certos fitopatologistas como DUFRÉNOY, será possível verificar se ela é eficaz. Em segundo lugar, é hora dos fitofarmacêuticos fazerem sua autocrítica e, até, sua “mea culpa”. Como elo de ligação entre fabricantes de agrotóxicos e usuários, é grande sua responsabilidade. Até agora, os fitofarmacêuticos consideraram mais os casos notórios de fitotoxicidade ou queimaduras, para excluir um agrotóxico da lista de produtos registrados, do que sua repercussão sobre a fisiologia e, portanto – repetimos – sobre a resistência das plantas. A fitiatria está, atualmente, no mesmo ponto que estaria a medicina, se negligenciasse as eventuais repercussões de um antibiótico ou cortisona, no organismo de um paciente! Esta atitude é particularmente condenável, em relação aos herbicidas: recentemente, num simpósio quase oficial, realizado na França, não houve uma só comunicação referente às repercussões desses produtos sobre os microrganismos e a vida do solo! Por isso as dificuldades de se encontrar soluções viáveis no controle de pragas e doenças. Um fracasso do controle químico exige outra 320

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intervenção com agrotóxico, tão grande é a crença na destruição – contudo muito problemática – do agente patogênico através de envenenamento químico! Isto apenas torna o problema mais grave: é necessário compreender que, se por este método visamos o parasita, é à planta que atingimos a cada golpe. Daí esta sucessão de doenças, verdadeiramente, “iatrogênicas”, a começar pelas doenças viróticas, se a alteração do metabolismo celular, provocada pelos efeitos cumulativos dos diversos agrotóxicos, realmente tiver como primeiro resultado a formação de, pelo menos, a multiplicação dos vírus. Por isso o desencorajamento e amargura dos fitopatologistas pesquisadores, responsáveis por encontrar meios para controlar esta proliferação de doenças, que se queixam de ser relegados ao papel de “bombeiros de plantão”. Só vemos um meio para eles saírem desta posição subalterna: mudarem de objetivo. Ou seja, procurar evitar o estímulo da sensibilidade da planta ao invés de buscar simplesmente a destruição do parasita. Esta nova perspectiva supõe o questionamento dos fatores genéticos como único meio de se obter esta resistência, bem como levar em consideração todos os fatores ambientais capazes de agir neste sentido. Se deverá considerar, principalmente, a adubação e as pulverizações foliares nutritivas, sob a perspectiva de uma correção de carências e subcarências, segundo um primeiro esquema sugerido no sétimo capítulo. Quanto aos entomologistas, esperamos que este trabalho contribua para fazê-los refletir que o potencial biótico de todo o animal está estreitamente ligado ao valor nutricional do alimento disponível. Isto ocorre, especialmente, com as espécies fitófagas que eles devem combater. E que, para a praga, esta “qualidade” do vegetal é função, não apenas da variedade botânica ou da espécie da planta, mas também da maneira como ela foi “condicionada” pelos tratos culturais, como trabalho do solo, adubação e... tratamentos com quaisquer agrotóxicos. 321

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Assim, nossos colegas deveriam ser levados a rever a concepção do equilíbrio das espécies e da limitação das pragas apenas pelo processo da predação e do parasitismo. Esta revisão provavelmente será dolorosa para alguns, pois questiona toda uma técnica sobre a qual muito se investiu: queremos falar do controle biológico.* Estamos absolutamente conscientes da revolução que nossas concepções trazem à área de fitiatria, bem como dos interesses que elas podem lesar. Certamente, a evolução será mais lenta e mais difícil de ser alcançada no nível intelectual. Todavia, se ela já ocorreu com agricultores que sofreram as graves dificuldades evocadas, por que também não ocorreria no espírito dos pesquisadores? Para o bem da agricultura, esperamos que esta evolução ocorra o mais rapidamente possível. Ficaremos felizes se nossa obra puder contribuir para isto. Última observação, para terminar: Poderíamos ter apresentado mais argumentos para nossa tese, pelo estudo de diversos outros pontos aos quais rapidamente fizemos alusão, especialmente, como: – as repercussões da enxertia sobre a suscetibilidade do enxerto a ácaros e doenças, sobre as quais constituímos um dossiê bastante importante; – sobre os experimentos de controle com antibióticos e substâncias de crescimento, cujo sucesso é tributário da nutrição da planta e, confirmando a regra geral, do nível de proteossíntese; – enfim, sobre as relações entre a natureza da adubação e a suscetibilidade da planta a doenças viróticas, a respeito do que colecionamos numerosas referências. Contudo, a eles renunciamos, para não ampliar ainda mais esta obra. Talvez examinaremos estas questões em outro trabalho, volta-

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Marianne LEVY, 1955, Les protéines, Coll.. “Que Sais-Je”.

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do às soluções práticas de proteção da planta, com base em resultados obtidos através de técnicas inspiradas em nossa concepção da trofobiose e, aos quais, já fizemos alusão brevemente. Bordeaux-Balizac: junho-agosto 1980.

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