Os Mortos de Sobrecasaca [1, 1 ed.]

Obras, Autores e Problemas da Literatura Brasileira.

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Portuguese Pages 460 [471] Year 1963

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Table of contents :
PRIMEIRA PARTE
LARGUEZAS DE FRONTEIRA PARA A POESIA MODERNA

1. A Poesia Moderna e um Poeta Representativo

I — Carlos Drummond de Andrade como definição do nosso tempo.
II — Sentimento do Mundo em expressão de substância e forma.
III — Humour e Poesia.
IV — Um poeta revolu­cionário.
V — Possibilidades formais do verso: o Enigma, de Drummond, e a Sextina, de Facó .......................................3

2. N a Primeira Linha da Vanguarda

I — Mário de Andrade: a imaginação de um homem e a imagem de um movimento literário em sua obra poética.
II — Murilo Mendes: o positivo e o negativo na originalidade.
III — Poeta “maior” e poeta “menor” : Elegias (Vinícius de Morais); Cancioneiro (Ribeiro Couto).
IV — Consciência artís­tica e beleza formal em Cecília Meireles.
V — João Cabral de Melo Neto: primeiros sinais de um poeta original em sua geração...............................39

3. Poetas do Modernismo

I — Jorge de Lima: poeta regionalista, nacionalista, brasileiro.
II — Outro poeta brasileiro, nacionalista, regionalista: Raul Bopp.
III — E o lado reverso em Bueno de Rivera: um moder­nista retardatário, em Minas Gerais, mas não anacrônico.......60

4. Augusto dos Anjos: um Poeta Moderno e Vivo

I — Figura humana e caracterização poética do autor de ontem, moderno hoje.
II — Filosofia e Destino: a Ponte Buarque de Macedo em direção à Casa do Agra ...................74

5. Silêncio, Palavra e Arte Poética
I — Determinação da forma pelo conteúdo.
II — Vocábulos valorizados e “palavras-ônibus”.
III — O morto e os decassí­labos.
IV — A posição do estreante Thiago de Mello .........89

SEGUNDA PARTE

EXPERIÊNCIAS DE HORIZONTE PARA O ROMANCE CONTEMPORÂNEO

6. Unidade e Divisão

I — Explicação preliminar sobre Octávio de Faria.
II — En­saísta detestável e autêntico romancista. III — O romancista entre o anseio de pureza e os seus demônios. IV — Volta à “divisão” sob um signo de revolta e dilaceramento ............ 99

7. No Subsolo da Natureza Humana

I — As duas fases de Lúcio Cardoso na transformação de Maleita até Mãos Vazias.
II — Por que baixou tão sensivel­mente a categoria de suas novelas A Professora Hilda e o Anfiteatro? .................... 107

8. Sucessos e Insucessos do Menino de Engenho

I — Memória e imaginação na capacidade criadora de José Lins do Rêgo.
II — A volta aos romances do Ciclo da Cana-de-Açúcar.
III — Outra evasão: o fracasso de Eurídice........ 122

9. Valores e Misérias das Vidas Secas

I — Graciliano Ramos em termos de construção do romance e arte do estilo.
II — As memórias do romancista explicam a natureza e a espécie dos seus romances.
III — Romances, nove­las e contos: visão em bloco de uma obra de ficcionista............144

10. Equívoco e Malogro em Grandes Temas

I — Primeiro passo no equívoco de um talvez-romancista: o romance inicial de Gilberto Amado.
II — E o passo segundo no malogro em cheio de um evidente não-romancista: o outro romance de Gilberto Amado................................170

11. 3 Experiências "Várias: a Transbordante, a Incompleta e a Falhada

I — A experiência transbordante: José Geraldo Vieira.
II — A experiência incompleta: Clarisse Lispector. III — E a expe­riência falhada: Gustavo Gorção ................. 180

TERCEIRA PARTE

SAGAS DE CAMPO E CIDADE

12. Sagas de dois naturalistas: Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro

I — Por entre algumas oscilações e variações.
II — Aluísio e a sociedade de São Luís do Maranhão.
III — Os três romances em saga de Aluísio Azevedo.
IV — Obras menores e obras para o esquecimento.
V — Júlio Ribeiro: hors de la littérature......................203

13. Sagas de Pôrto Alegre

I — Prestígio do nome - Érico Veríssimo e os romances “fabri­cados" para o sucesso.
II — Érico Veríssimo: uma grande técnica em busca de uma grande temática............................. 220

14. Sagas da Bahia e de Sergipe

I — Jorge Amado: valor instintivo de romancista e miséria objetiva de escritor.
II — Obras Completas de Jorge Amado: um “inacreditável’’ nas aflições entre adjetivo e advérbio.
III — Esplendor de enredo e indigência de estilo em Os Co­rumbas, de Amando Fontes............................ 230

15. Saga de São Paulo

I — Um representante do Modernismo em prosa.
II — Vida e linguagem de São Paulo - Capital na ficção e na crônica de Antônio de Alcântara Machado ...............................251

16. Saga de Minas Gerais

I — Uma grande estreia.
II — A “humanidade” dos bichos em Guimarães Rosa.
III — O risco do crítico no lançamento de um desconhecido.
IV — O outro lado do regionalismo mineiro nos requintes da linha Kafka.
V — O mágico lan­çado ainda mais para a zona de Kafka: os contos de Murilo Rubião ..............................258


17. E uma Saga do Rio de Janeiro em Termos Província-Nação

I — "Mundo” carioca: a Província-Maior.
II — Um romancista, contista e cronista do Rio de hoje: Marques Rebelo ............ 269

QUARTA PARTE

DIONÍSIOS NOS TRÓPICOS

18. Literatura Teatral

I — Esquecimento do problema do teatro no Brasil.
II — Teatro: o patriarca de todos os gêneros.
III — A situação do especta­dor.
IV — O teatro de tese e o teatro livre ...................281

19. Sinais da Presença da Literatura no Teatro

I — A estreia de Marques Rebelo.
II — A estreia de Nelson Rodrigues.................................289

20. Drama Lírico em Cômico Involuntário

I — Narciso volta-se para o Teatro como para um lago.
II — Humorismo involuntário. III — Afinal: o drama chistoso de Afonso Arinos Melo Franco.................294

21. Momento* de Plenitude: “Os Comediantes”

I — Significado dos amadores à altura dos melhores profis­sionais ainda inexistentes.
II — Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues.
III — Outros espetáculos e a posição de Santa Rosa............................301

22. Teatro como Arte Literária e Técnica de Representação

I — A voz e o gesto. II — O público na plateia e a direção no palco.
III — Teatro não tem função educativa.
IV — O teatro, a fortuna e o sucesso.
V — Teoria e prática numa peça de Federico Garcia Lorca..........................310

23. Tragédia ou Farsa ?

I — Álbum de escândalos.
II — Um problema da Tragédia.
III — Álbum de Família em sua estrutura. IV — Sem técnica, sem estilo e sem arte dramática.............. 324


QUINTA PARTE

A LUTA ENTRE JACÓ E O ANJO

24. Uma Esquisita Antologia e os Afrânios da Bahia (ou seja: dos "Exercícios" aos "Divertimentos")

I — “Divertimento literário” : uma nova espécie de antologia.
II — O primeiro Afrânio: um “panorama’’ da literatura como sorriso da sociedade.
III — O segundo Afrânio: um “exercício” literário acerca de Machado de Assis ................................ 335

25. Professores de Filosofia em vez de Filósofos

I — Quadro de uma situação filosófica.
II — Farias Brito num livro de Sílvio Rabelo ....................................................... 355

26. Visão de José Veríssimo: uma Consciência da Literatura

I — Crítico e professor.
II — Juízo sobre a obra de José Verís­simo.
III — Um legado para a história literária...................371

27. Legenda para João Ribeiro: Clássico e Moderno

I — A juventude num corpo velho e gasto. II — Ter sempre

20 anos sem vender a alma ao Diabo................................ 387

28. A Liderança Literária , o Ensaio e a Crítica em Mário de Andrade

I — Vinte anos depois.
II — A Coleção Joaquim Nabuco e Alguns Aspectos da Literatura Brasileira.
III — O Empalhador de Passarinho em termos mágicos e lógicos............................ 393

29. Biografia e História da Literatura

I — Lúcia Miguel Pereira e a vida de Gonçalves Dias.
II — Viana Moog e um engenhoso projeto de história literária........ 415

30. Por uma História Literária do Brasil e por uma Literatura Brasileira

I — Escritores e Homens.
II — Condições de um “estilo” pró­prio e brasileiro.
III — Ah, logrados indígenas!
IV — As péta­las de flores num ramo úmido e escuro.
V — Projeto de uma História Literária do Brasil.
VI — Um povo jovem ante fórmu­las requintadas, belas, estratificadas e mortas......................... 431
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ENSAIOS E ESTUDOS

sôbre ÁLVARO LINS e sua obra Aconselhamos o ' livro de Álvaro Lins, aos leitores, porque, aos seus méritos intelectuais, amplamente conhecidos, juntamos as quali­ dades políticas do seu autor, fartamente aqui demonstradas. — A d a lg is a N e r y . • Álvaro Lins, o continuador, na crítica brasi­ leira, da grande tradição de José Veríssimo. — A fo n s o P e n a Jú n ior.

A obra literária de Álvaro Lins será impres­ cindível ao futuro historiador da nossa terra. Terá ela, então, o valor que tem a de Sílvio Romero em nossos dias. — S é r g io M i l l i e t . O impressionante riestè livro de Álvaro Lins: o fascínio da sua prosa, que não é apenas fruto #de um instinto de escritor ou de seu aprendizado estilístico. ( . . . ) Um livro bem dotado, um compêndio de mestre para alu­ nos e para interessados em tomo da aven­ tura do homem neste século decisivo para o seu destino. — L e o n a r d o A r r o y o . O cque dá a Álvaro Lins a posição, que êle ocupa, de um dos líderes do pensamento bra­ sileiro, é o seu poder de sustentar a liber­ dade individual no conflito com as revelações que a vida lhe oferece. —1 A u s t r e g é s e lo d e

Álvaro Lins tem seguido, invariàvelmente, uma linha reta e ascensional. — Rui F a c ó . À parte o crítico Álvaro Lins, existe o ho­ mem Álvaro Lins, com a sua personalidade atuante, participando do choque ou do amál­ gama das diversas teses incluídas na obra. Álvaro Lins representa, em essência, o novo intelectual brasileiro, aquele que usa o gabi­ nete, mas não mora no gabinete. ( . . . ) Um verdadeiro livro — o livro de Álvaro Lins* —. isto é, desperta em nós, uma reação inteira como leitores. Êle é o auto-retrato cultural de um dos intelectuais mais importantes deste País. — P a u lo F ra n c is . Dá-nos Álvaro Lins, com o seu livro, a me-j dida exata da sua coerência e lucidez. Outro" dado que ressalta da .leitura do livro: é como não houve renovação de nossa crítica, como aos críticos atuais faltam uma posição filo­ sófica e uma ampla cultura, como são for­ mais e pouco criativos; ora, na leitura dêsses] ensaios de Álvaro Lins, há um prazer de cultura, e ^cultura não bitolada, não acadê­ mica. — B r Á u lio P ê d ro s o .

Louvá-lo, pelo grande apreço que Álvaro Lins merece, pela sua alta categoria de escritor, pela sua cordial bondade de companheiro, e também pela sua bravura e dignidade de homem que sabe defender suas idéias e seus

Álvaro Lins é, para mim, um dos maiores pensadores que o Brasil tem tido, em qual­ quer época. Sociólogo, crítico, ensaísta, a sua obra sistematiza-se como o labor de um es­ pírito embebido nas fontes mais ricas da cul­ tura contemporânea. Costumo apreseritá-lo na mesma superfície em que situo Gilberto Freyre — isto é: como um brasileiro representativo, um indivíduo personalíssimo — de inteligên-* cia espaçosa, admiravelmente mobiliada, re­ movendo aluviões de idéias. ( . . . ) Álvaro Lins era e é um bem de raiz nosso. — Assis

ideais. — P e r e g r in o Jú n ior.

C h a t e a u r r ia n d .

A th a y d e .

OS MORTOS DE SOBRECASAGA um quadro ou um panorama da literatura brasileira.

I [ os mortos de sobrecasaca A intensidade com que Á l v a r o L in s . se entrega ao trabalho intelectual e político faz com que êle seja — e tenha sido sempre — um militante. Professor Catedrático de Lite­ ratura Geral do Colégio Pedro II, cargo que conseguiu em memorável concurso, foi ativa e indispensável sua participação, como mem­ bro da Comissão. Julgadora, na luta contra o i esbulho da cátedra de Língua e Litera­ tura Francesa, que circunstâncias da pequena política haviam prèviamente destinado a quem talvez menos merecesse conquistá-la. Redator Chefé do Correio da Manhã, em determinada época, conseguiu mobilizar a opinião pública, em candentes artigos e editoriais, combatendo a ridícula e injustificável espoliação que sé tramava contra um candidato e, depois, con­ tra um Presidente-eleito desta singular “demo| cracia” tropical. Chefe da Casa Civil,' desse mesmo Pre­ sidente, foi o articulador objetivo e equilibra­ do de mil soluções para mil problemas políticos que ameaçavam a estabilidade do Governo e o desenvolvimento progressista do País. Em­ baixador do Brasil, em Portugal, foi êle, e tão-sòmente êle, quem defendeu a dignidade I nacional naquela passagem inglória em que todos vacilaram, inclusive o próprio Presi­ dente, numa gratuita e inexplicável subsér: viência ao ditador português. Afastou-se por isso da carreira que brilhantemente iniciara, recusou as compensações em forma de sinecura ou de honrarias ‘que os governos de consciên­ cia pesada costumam oferecer àqueles contra quem agiram embora tanto lhes devessem.

algum. Depois da extraordinário sucesso de seu livro Missão em Portugal, que tivemos a honra de publicar, e cujo segundo volume lançaremos em futuro próximo, lembramos a Á l v a r o L in s a conveniência e a oportunidade de colocar novamente ao alcance do público, que é hoje muito mais expressivo seja quan­ titativa, seja vqualitativamente, algumas dàs páginas definitivas que se encontram incluí­ das nos vários volumes; hoje esgotadíssimos, do seu Jornal de Crítica. Dentro de critério rigorosíssimo, sobretudo porque aplicado a si próprio, aos seus traba­ lhos, foram então escolhidos vários ensaios e estudos, que reunimos em três volumes: êste, cujo tonus é a literatura brasileira; A Glória de César e o Punhal de Brutus, cuja temática é a política, e, por fim, O Relógio e o Quadrante, sôbre literatura estrangeira. Nenhum dêstes livros, contudo, pode ser considerado como se fôra reedição, pois sabe­ mos que Á l v a r o L in s dedicou quase tanto tempo’ e trabalho à sua revisão quanto apli­ cou em escrevê-los, dada a sua preocupação com a forma e o estilo, isto que lhe garante posição de figura excepcional das letras bra­ sileiras. A êstes volumes, ainda êste ano, se juntará o livro Girassol em Vermelho e Azul, de en­ saios polêmicos e documentos pessoais, completando-se assim uma série em conjunto de obras marcantes. Em tôdas elas encontraremos a presença viva de um grande pensador, de um homem engajado na busca de solução para os proble­ mas fundamentais do nosso tempo.

Voltou à sua cátedra, às atividades jorna­ lísticas ( agora como diretor do Suplemento ii Literário do Diário de Notícias) e, sobretudo, i à sua brilhante carreira de escritor, da qual i realmente nunca se afastou, em momento ( contínua na outra dobra)

EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A . Ê n io

S ilv e ir a

diretor

OS MORTOS DE SOBRECASACA Obras, Autores e Problemas da Literatura Brasileira

ENSAIOS

E

ESTUDOS

1940-1960

{Primeira edição — 5.° Milheiro)

EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A. RIO

PE

JANEIRO

OBRAS

DO

AUTOR

História Literária de Eça de Queiroz. Rio de Janeiro, 1939; 2.a edição. Pôrto Alegre, 1945; 3.a edição. Lisboa, 1959; 4.a edição (Em preparo). Alguns Aspectos da Decadência do Império. Recife, 1939. Jornal de Crítica — Primeira Série. Rio de Janeiro, 1941. Poesia e Personalidade de Antero de Quentál. (Plaquete). Rio de Janeiro-Lisboa, 1942. ( Prêmio Luso-Brasileiro para o Centenário de Antero de Quental, “ ex-quo” com o livro Antero, de Fidelino de Figueiredo). Jornal de Crítica — Segunda Série. Rio de Janeiro, 1943. Notas de um Diário de Crítica — Primeiro Volume. Rio de Janeiro, 1943; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1963. (in Literatura e Vida Literária). Palestra sôbre José Veríssimo. (Plaquete). Rio de Janeiro, 1943. Jornal de Crítica — Terceira Série. Rio de Janeiro, 1944. Rio-Branco (O Barão do Rio-Branco. 1845-1912). 2 vols. Rio de Janeiro, 1945. ( Prêmio Felipe de Oliveira, da Sociedade Felipe de Oliveira, e Prêmio Pandiá Calógeras, da Associação Brasileira de Escritores); 2.a edição (Em preparo). Jornal de Crítica — Quarta Série. Rio de Janeiro, 1946. N o Mundo do Romance Policial. (Plaquete). Rio de Janeiro, 1947. Jornal de Crítica — Quinta Série. Rio de Janeiro, 1947. Jornal de Crítica — Sexta Série. Rio de Janeiro, 1951. A Técnica do Romance em Mareei Proust. Rio de Janeiro, 1951; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1956. Roteiro Literário do Brasil e de Portugal — Antologia da Língua Portuguêsa. (Co-autoria de Aurélio Buarque de Holanda). 2 vols. Rio de Janeiro, 1956. Discurso sôbre Camões e Portugal (Ensaio Histórico-Literário). Rio de Janeiro, 1956. Discurso de Posse na Academia Brasileira ( Estudo sôbre Roquette-Pinto). Rio de Janeiro, 1956. Missão em Portugal ( Diário de uma Experiência Diplomática — I ) . Primeira Parte. Rio de Janeiro, 1960. ( Prêmio Jabuti — A Personalidade Literária do Ano, da Câmara Brasileira do Livro). A Glória de César e o Punhal de Brutus. Rio de Janeiro, 1962; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1963. Os Mortos de Sobrecasaca. Rio de Janeiro, 1963. O Relógio e o Quadrante. Rio dSr. Afonso Arinos e eu, numa anodina Sociedade de Amigos dos Clássicos, tenho a im­ pressão que não fica mal terminar esta crônica com a citação de uma sentença do velho, experiente e sábio Francisco Manuel de Melo: Siga cada qual os passos da disciplina a que se ofereceu; porque o caçador que corre à lebre, não vemos que se desvie para prender o gamo. Aquêle que a toda caça se lança, nenhuma alcança(5). Julho de 1942.

300

a

C a p ít u l o 21

Momento de Plenitude: “Os Comediantes”

I — Significado dos amadores à altura dos melhores profissionais ainda inexistentes

s

— um grupo de amadores — empreende­ ram a tarefa de reformar o teatro brasileiro, sobretudo com a temporada dos fins de 1943 no Teatro Ginástico e no Teatro Municipal^). Talvez seja mais exato: a de lançar fun­ damentos para a criação de um grande e autêntico teatro bra­ sileiro. Seria mais fácil a pregação teórica, o doutrinarismo esté­ tico. Mas ninguém cria ou reforma um teatro com teorias. Só o espetáculo opera no concreto, só a representação direta traz conseqüências eficientes. As teorias e teses são etapas ulteriores na construção da cultura teatral. Decidiram-se, pois, Os Comediantes a correr todos os riscos da representação cêni­ ca. Nenhuma certeza de perfeição havia nos seus projetos. Tinham que contar com as deficiências inevitáveis: umas do ambiente, outras das suas próprias condições. Não surpre­ endeu a ninguém que houvesse defeitos nos espetáculos. O que causou surprêsa foi o arrôjo, a segurança, o idealismo com que Os Comediantes dominaram as suas dificuldades, tornando bem pequenas as deficiências e realmente grandes as conse­ qüências positivas. Uma obra de colaboração desinteressada, como a dos Comediantes, não é comum no Brasil. Ficará dêles, ao lado da emoção transmitida pelos espetáculos, a lição de dignidade artística, subordinação de todos os sentimentos à idéia da seriedade em arte, dedicação a uma obra difícil e penosa sem outro interêsse que não fosse o da própria arte.

O

C o m e d ia n t e s

301

Êste grupo de amadores tomou hoje entre nós o papel de uma escola dramática, no melhor sentido desta palavra. Tenho a impressão de que a Os Comediantes cabe a tentativa de colocar a arte brasileira dentro das modernas correntes do teatro universal.

Operou-se no mundo uma renovação teatral da qual o Brasil (com algumas exceções, está claro) não tomou sequer conhecimento. Estamos, sob êste aspecto, na fase primária do teatro; e talvez que fosse mais justo dizer: ficamos liga­ dos a um determinado momento em que êle viveu na Europa situações alarmantes de decadência. O papel de associações conscientes e bem orientadas como Os Comediantes seria ten­ tar aqui a mesma renovação que se realizou na Europa e nos Estados Unidos da América. A situação de tais grupos — asso­ ciações culturais de várias espécies — tem sido decisiva até em países de grande tradição teatral. Bastaria lembrar a sua signi­ ficação na Inglaterra, já assinalada em The Cambridge History of English Literature: During the last half-century the English drama has been re-created and restored to literature. This achievement is the work, partly of the writers already discussed, and partly of organizations that have embodied dramatic ideais os ventured boldly in production. Among these associations on enterprises we should name The Independent Theatre, The Elizabetham Stage Society, The Irish National Theatre, The Stage Society, The Drame League, The Vedrenne-Barker seasons at the Court and Savoy, the Frohman season at the Duke of York's and provincial repertory theatres, beginning with Emily Homiman’s Manchester experiment(2).

#

A arte cênica é talvez a única arte que não tem caráter individual. Um autor isolado nada significa, porque uma peça que só suporta a leitura, e não a representação, já per­ deu o seu caráter de teatro. Estão neste caso alguns “misté­ rios’' de Claudel, pela inadequação ao nosso tempo, algumas peças de Cocteau, pelo artificialismo. São obras de literatura, mas não de teatro. Pois o que caracteriza o teatro é a fusão da arte literária com a arte da arquitetura cênica. Faz-se o teatro com o autor, o ator, o público, o diretor, o cenógrafo,

302

*