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Portuguese Pages 460 [471] Year 1963
ENSAIOS E ESTUDOS
sôbre ÁLVARO LINS e sua obra Aconselhamos o ' livro de Álvaro Lins, aos leitores, porque, aos seus méritos intelectuais, amplamente conhecidos, juntamos as quali dades políticas do seu autor, fartamente aqui demonstradas. — A d a lg is a N e r y . • Álvaro Lins, o continuador, na crítica brasi leira, da grande tradição de José Veríssimo. — A fo n s o P e n a Jú n ior.
A obra literária de Álvaro Lins será impres cindível ao futuro historiador da nossa terra. Terá ela, então, o valor que tem a de Sílvio Romero em nossos dias. — S é r g io M i l l i e t . O impressionante riestè livro de Álvaro Lins: o fascínio da sua prosa, que não é apenas fruto #de um instinto de escritor ou de seu aprendizado estilístico. ( . . . ) Um livro bem dotado, um compêndio de mestre para alu nos e para interessados em tomo da aven tura do homem neste século decisivo para o seu destino. — L e o n a r d o A r r o y o . O cque dá a Álvaro Lins a posição, que êle ocupa, de um dos líderes do pensamento bra sileiro, é o seu poder de sustentar a liber dade individual no conflito com as revelações que a vida lhe oferece. —1 A u s t r e g é s e lo d e
Álvaro Lins tem seguido, invariàvelmente, uma linha reta e ascensional. — Rui F a c ó . À parte o crítico Álvaro Lins, existe o ho mem Álvaro Lins, com a sua personalidade atuante, participando do choque ou do amál gama das diversas teses incluídas na obra. Álvaro Lins representa, em essência, o novo intelectual brasileiro, aquele que usa o gabi nete, mas não mora no gabinete. ( . . . ) Um verdadeiro livro — o livro de Álvaro Lins* —. isto é, desperta em nós, uma reação inteira como leitores. Êle é o auto-retrato cultural de um dos intelectuais mais importantes deste País. — P a u lo F ra n c is . Dá-nos Álvaro Lins, com o seu livro, a me-j dida exata da sua coerência e lucidez. Outro" dado que ressalta da .leitura do livro: é como não houve renovação de nossa crítica, como aos críticos atuais faltam uma posição filo sófica e uma ampla cultura, como são for mais e pouco criativos; ora, na leitura dêsses] ensaios de Álvaro Lins, há um prazer de cultura, e ^cultura não bitolada, não acadê mica. — B r Á u lio P ê d ro s o .
Louvá-lo, pelo grande apreço que Álvaro Lins merece, pela sua alta categoria de escritor, pela sua cordial bondade de companheiro, e também pela sua bravura e dignidade de homem que sabe defender suas idéias e seus
Álvaro Lins é, para mim, um dos maiores pensadores que o Brasil tem tido, em qual quer época. Sociólogo, crítico, ensaísta, a sua obra sistematiza-se como o labor de um es pírito embebido nas fontes mais ricas da cul tura contemporânea. Costumo apreseritá-lo na mesma superfície em que situo Gilberto Freyre — isto é: como um brasileiro representativo, um indivíduo personalíssimo — de inteligên-* cia espaçosa, admiravelmente mobiliada, re movendo aluviões de idéias. ( . . . ) Álvaro Lins era e é um bem de raiz nosso. — Assis
ideais. — P e r e g r in o Jú n ior.
C h a t e a u r r ia n d .
A th a y d e .
OS MORTOS DE SOBRECASAGA um quadro ou um panorama da literatura brasileira.
I [ os mortos de sobrecasaca A intensidade com que Á l v a r o L in s . se entrega ao trabalho intelectual e político faz com que êle seja — e tenha sido sempre — um militante. Professor Catedrático de Lite ratura Geral do Colégio Pedro II, cargo que conseguiu em memorável concurso, foi ativa e indispensável sua participação, como mem bro da Comissão. Julgadora, na luta contra o i esbulho da cátedra de Língua e Litera tura Francesa, que circunstâncias da pequena política haviam prèviamente destinado a quem talvez menos merecesse conquistá-la. Redator Chefé do Correio da Manhã, em determinada época, conseguiu mobilizar a opinião pública, em candentes artigos e editoriais, combatendo a ridícula e injustificável espoliação que sé tramava contra um candidato e, depois, con tra um Presidente-eleito desta singular “demo| cracia” tropical. Chefe da Casa Civil,' desse mesmo Pre sidente, foi o articulador objetivo e equilibra do de mil soluções para mil problemas políticos que ameaçavam a estabilidade do Governo e o desenvolvimento progressista do País. Em baixador do Brasil, em Portugal, foi êle, e tão-sòmente êle, quem defendeu a dignidade I nacional naquela passagem inglória em que todos vacilaram, inclusive o próprio Presi dente, numa gratuita e inexplicável subsér: viência ao ditador português. Afastou-se por isso da carreira que brilhantemente iniciara, recusou as compensações em forma de sinecura ou de honrarias ‘que os governos de consciên cia pesada costumam oferecer àqueles contra quem agiram embora tanto lhes devessem.
algum. Depois da extraordinário sucesso de seu livro Missão em Portugal, que tivemos a honra de publicar, e cujo segundo volume lançaremos em futuro próximo, lembramos a Á l v a r o L in s a conveniência e a oportunidade de colocar novamente ao alcance do público, que é hoje muito mais expressivo seja quan titativa, seja vqualitativamente, algumas dàs páginas definitivas que se encontram incluí das nos vários volumes; hoje esgotadíssimos, do seu Jornal de Crítica. Dentro de critério rigorosíssimo, sobretudo porque aplicado a si próprio, aos seus traba lhos, foram então escolhidos vários ensaios e estudos, que reunimos em três volumes: êste, cujo tonus é a literatura brasileira; A Glória de César e o Punhal de Brutus, cuja temática é a política, e, por fim, O Relógio e o Quadrante, sôbre literatura estrangeira. Nenhum dêstes livros, contudo, pode ser considerado como se fôra reedição, pois sabe mos que Á l v a r o L in s dedicou quase tanto tempo’ e trabalho à sua revisão quanto apli cou em escrevê-los, dada a sua preocupação com a forma e o estilo, isto que lhe garante posição de figura excepcional das letras bra sileiras. A êstes volumes, ainda êste ano, se juntará o livro Girassol em Vermelho e Azul, de en saios polêmicos e documentos pessoais, completando-se assim uma série em conjunto de obras marcantes. Em tôdas elas encontraremos a presença viva de um grande pensador, de um homem engajado na busca de solução para os proble mas fundamentais do nosso tempo.
Voltou à sua cátedra, às atividades jorna lísticas ( agora como diretor do Suplemento ii Literário do Diário de Notícias) e, sobretudo, i à sua brilhante carreira de escritor, da qual i realmente nunca se afastou, em momento ( contínua na outra dobra)
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A . Ê n io
S ilv e ir a
diretor
OS MORTOS DE SOBRECASACA Obras, Autores e Problemas da Literatura Brasileira
ENSAIOS
E
ESTUDOS
1940-1960
{Primeira edição — 5.° Milheiro)
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A. RIO
PE
JANEIRO
OBRAS
DO
AUTOR
História Literária de Eça de Queiroz. Rio de Janeiro, 1939; 2.a edição. Pôrto Alegre, 1945; 3.a edição. Lisboa, 1959; 4.a edição (Em preparo). Alguns Aspectos da Decadência do Império. Recife, 1939. Jornal de Crítica — Primeira Série. Rio de Janeiro, 1941. Poesia e Personalidade de Antero de Quentál. (Plaquete). Rio de Janeiro-Lisboa, 1942. ( Prêmio Luso-Brasileiro para o Centenário de Antero de Quental, “ ex-quo” com o livro Antero, de Fidelino de Figueiredo). Jornal de Crítica — Segunda Série. Rio de Janeiro, 1943. Notas de um Diário de Crítica — Primeiro Volume. Rio de Janeiro, 1943; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1963. (in Literatura e Vida Literária). Palestra sôbre José Veríssimo. (Plaquete). Rio de Janeiro, 1943. Jornal de Crítica — Terceira Série. Rio de Janeiro, 1944. Rio-Branco (O Barão do Rio-Branco. 1845-1912). 2 vols. Rio de Janeiro, 1945. ( Prêmio Felipe de Oliveira, da Sociedade Felipe de Oliveira, e Prêmio Pandiá Calógeras, da Associação Brasileira de Escritores); 2.a edição (Em preparo). Jornal de Crítica — Quarta Série. Rio de Janeiro, 1946. N o Mundo do Romance Policial. (Plaquete). Rio de Janeiro, 1947. Jornal de Crítica — Quinta Série. Rio de Janeiro, 1947. Jornal de Crítica — Sexta Série. Rio de Janeiro, 1951. A Técnica do Romance em Mareei Proust. Rio de Janeiro, 1951; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1956. Roteiro Literário do Brasil e de Portugal — Antologia da Língua Portuguêsa. (Co-autoria de Aurélio Buarque de Holanda). 2 vols. Rio de Janeiro, 1956. Discurso sôbre Camões e Portugal (Ensaio Histórico-Literário). Rio de Janeiro, 1956. Discurso de Posse na Academia Brasileira ( Estudo sôbre Roquette-Pinto). Rio de Janeiro, 1956. Missão em Portugal ( Diário de uma Experiência Diplomática — I ) . Primeira Parte. Rio de Janeiro, 1960. ( Prêmio Jabuti — A Personalidade Literária do Ano, da Câmara Brasileira do Livro). A Glória de César e o Punhal de Brutus. Rio de Janeiro, 1962; 2.a edição. Rio de Janeiro, 1963. Os Mortos de Sobrecasaca. Rio de Janeiro, 1963. O Relógio e o Quadrante. Rio dSr. Afonso Arinos e eu, numa anodina Sociedade de Amigos dos Clássicos, tenho a im pressão que não fica mal terminar esta crônica com a citação de uma sentença do velho, experiente e sábio Francisco Manuel de Melo: Siga cada qual os passos da disciplina a que se ofereceu; porque o caçador que corre à lebre, não vemos que se desvie para prender o gamo. Aquêle que a toda caça se lança, nenhuma alcança(5). Julho de 1942.
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C a p ít u l o 21
Momento de Plenitude: “Os Comediantes”
I — Significado dos amadores à altura dos melhores profissionais ainda inexistentes
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— um grupo de amadores — empreende ram a tarefa de reformar o teatro brasileiro, sobretudo com a temporada dos fins de 1943 no Teatro Ginástico e no Teatro Municipal^). Talvez seja mais exato: a de lançar fun damentos para a criação de um grande e autêntico teatro bra sileiro. Seria mais fácil a pregação teórica, o doutrinarismo esté tico. Mas ninguém cria ou reforma um teatro com teorias. Só o espetáculo opera no concreto, só a representação direta traz conseqüências eficientes. As teorias e teses são etapas ulteriores na construção da cultura teatral. Decidiram-se, pois, Os Comediantes a correr todos os riscos da representação cêni ca. Nenhuma certeza de perfeição havia nos seus projetos. Tinham que contar com as deficiências inevitáveis: umas do ambiente, outras das suas próprias condições. Não surpre endeu a ninguém que houvesse defeitos nos espetáculos. O que causou surprêsa foi o arrôjo, a segurança, o idealismo com que Os Comediantes dominaram as suas dificuldades, tornando bem pequenas as deficiências e realmente grandes as conse qüências positivas. Uma obra de colaboração desinteressada, como a dos Comediantes, não é comum no Brasil. Ficará dêles, ao lado da emoção transmitida pelos espetáculos, a lição de dignidade artística, subordinação de todos os sentimentos à idéia da seriedade em arte, dedicação a uma obra difícil e penosa sem outro interêsse que não fosse o da própria arte.
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C o m e d ia n t e s
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Êste grupo de amadores tomou hoje entre nós o papel de uma escola dramática, no melhor sentido desta palavra. Tenho a impressão de que a Os Comediantes cabe a tentativa de colocar a arte brasileira dentro das modernas correntes do teatro universal.
Operou-se no mundo uma renovação teatral da qual o Brasil (com algumas exceções, está claro) não tomou sequer conhecimento. Estamos, sob êste aspecto, na fase primária do teatro; e talvez que fosse mais justo dizer: ficamos liga dos a um determinado momento em que êle viveu na Europa situações alarmantes de decadência. O papel de associações conscientes e bem orientadas como Os Comediantes seria ten tar aqui a mesma renovação que se realizou na Europa e nos Estados Unidos da América. A situação de tais grupos — asso ciações culturais de várias espécies — tem sido decisiva até em países de grande tradição teatral. Bastaria lembrar a sua signi ficação na Inglaterra, já assinalada em The Cambridge History of English Literature: During the last half-century the English drama has been re-created and restored to literature. This achievement is the work, partly of the writers already discussed, and partly of organizations that have embodied dramatic ideais os ventured boldly in production. Among these associations on enterprises we should name The Independent Theatre, The Elizabetham Stage Society, The Irish National Theatre, The Stage Society, The Drame League, The Vedrenne-Barker seasons at the Court and Savoy, the Frohman season at the Duke of York's and provincial repertory theatres, beginning with Emily Homiman’s Manchester experiment(2).
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A arte cênica é talvez a única arte que não tem caráter individual. Um autor isolado nada significa, porque uma peça que só suporta a leitura, e não a representação, já per deu o seu caráter de teatro. Estão neste caso alguns “misté rios’' de Claudel, pela inadequação ao nosso tempo, algumas peças de Cocteau, pelo artificialismo. São obras de literatura, mas não de teatro. Pois o que caracteriza o teatro é a fusão da arte literária com a arte da arquitetura cênica. Faz-se o teatro com o autor, o ator, o público, o diretor, o cenógrafo,
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