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ORGANISMO E SISTEMA EM KANT ENSAIO SOBRE O SISTEMA KANTIANO
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ANTONIO MARQUES
ORGANISMO E SISTEMA EM KANT ENSAIO SOBRE O SISTEMA KANTIANO \
.OBRA PUBLICADA COM O PATROCÍNIO CIENTÍFICO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE FILOSOFIA
SBD-FFLCH-USP
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EDITORIAL
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FICHA TÉCNICA: Título: Organismo e Sistema em Kant Ensaio sobre o Sistema Critico Kantiano Autor: António Marques © Copyright by António José Duque da Silva Marques e Editorial Presença, Lisboa, 1987 Capa: Sector Gráfico àa Ed. Presença Composição, impressão e acabamento: Guide - Artes Gráficas, Lda. Tiragem: 1500 exemplares l.!! edição, Lisboa, 1987 Depósito legal n.º 10 732/85 Reservados todos os direitos para a língua portuguesa à EDITORIAL PRESENÇA, LDA. Rua Augusto Gil, 35-A 1000 Lisboa
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NOTA PRÉVIA
O presente texto é, com adaptações de pouca monta, essencialmente o mesmo que, em Dezembro de 1984, apresentei como dissertação de doutoramento na ,Universidade Nova de Lisboa. Efectivamente as modificações foram introduzidas no sentido de eliminar aspectos mais técnicos, sem desistir de uma certa densidade no tratamento das questões. Foi com dificuldade que nos debatemos entre um discurso para especialistas e uma simplificação :excessiva. As prese~_i.nxestigaç§~~ não constituem uma tentativa de interpretação da Crítica da Facufdãile ..de- 'Julgar no seu todo, mas somente um_~__f,.2!:.~ª-- P.~rq~~J~r de colo~ar alguns_l?!P.~~~-ª~ ~ o s da fiío~~f1a kJU1tiana a partir ãe urii põnto de vista que nos pareceu especialmente interessante quanto às respectivas possibilidades sistemáticas. Foi assim que escolhi aquilo que designaremos genericamente por filç~_ofia do orgt;tr!_~mo, contida, ·como se sabe, na segunda parte daquela obra. Pareceu-nos ser uma v~~- priyilegiapa para um novo olhar sobre ·a1ilõ= sofia º'crític~trãnscendental, não SÓ pelo seu valor sistemático, mas rtambém pela capacidade de t.'.'perfurl:far/ o ipróprio sistema daq11_ela filõsofiª• ·---~...1 - -·· · - ·· .. - · · · ------ A me-diaa que progredíamos na elucidação de questões, íamos simultaneamente descob9.11d,o um !Kant_~ª-lY~?: dif~~e~t-~ Jl§gliêl~ ª ~--tt !lQS b-ª_b_i~uámQ~~..~~ ~aI?-t _nem ~ell!pre uní~oc~, por vezes vacilante nos seus conceitos, u~JKant.:_que R9rventura fosse.. mais loqge do_qu~, àJ~rimeir~. v(st~, __permitiiiam.as_~súas· próprias m-emissas. Compreende-se as dificuldades de interpretãçãõ. filõ= soficae técnica. Por outro lado, o desenvolvimento de algumas questões nomeadamente a do organismo, deve logicamente prolong~-se para além da terceira Crítica e adquirir outras formas em textos posteriores, por exemplo no Opus postumum. Ora, este trabalho 1
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não vai além da terceira Crítica, o que, desde l~o, alerta para os limites cronológicos e filosóficos que o con_dicio~am._ _ Gostaríamos sobretudo que as presentes 1nvesttgaçoes nao tivessem resultado num mero exercício (mais ou menos parafraseador) sobre O texto kantiano, mas sim que merec~ssen~ precisamente o nome de investigações filosóficas, no sentido digno da expresão. Tive o privilégio de ter sido orientado no meu trabalho pelo Prof. Doutor Oswaldo Market e de ter beneficiado do seu enorme saber e do seu filosofar original. Profundamente lhe agrad~ço a afectuosa disponibilidade que sempre me demonstrou. Um vivo agradecimento, também, ao P.rof. · Doutor Gerhard ~unke da Universidade de Mainz pelo acolhimento simpáti~o e li'?eral no seu Philosophfrches Seminar, sem o que não tena podido prolongar as minhas investigações. . ., Com o Prof. Doutor ,Friedrich !Kaulbach mantive um dialogo que não só muito influenciou a direcção do meu pensar, como me certificou do verdadeiro sentido do filosofar, e ao Prof. Doutor ·Fernando Gil devo o estímulo, de um pensar talentoso e sempre renovado: A ambos desejo aqui exprimir a minha grat~~-
.
Aos meus colegas Dr.ª Filomena Molder, Dr. Manuel Carrilho e Dr. João Sàágua devo uma contínua disponibilidade para permuta de ideias, só possível por uma comum e sincera entrega à filosofia. ·· No que respeita: à informação bibliográfica cumpre-me agradecer ao• Dr. Leonel Santos o• ter-me facultado o seu ficheiro bibliográfico•, numa altura em que este trabalho ainda se esboçava, ao Prof. Doutor Alexandre Morujão o espírito de aber. t~rJ e a soli~a:ieda~e _aca1é.mica com que me colocou à dispos1çao as espec1es b1bhograflcas do seu Instituto Filosófico e ainda, aos serviços ·da biblioteca do Instituto Alemão de Lisbo~ a eficácia ·com que me fizeram ,chegar parte fundamental da bibliografia necessária. , Uma palavra de muito reconhecimento ao Prof. Doutor Joel Serrão pelo apoio generoso à publicação deste trabalho e por último, m~s não Il!l ordem da gratidão,, um abraço ao Prof. Dout_or. Joan Morais Barbosa, que sempre amigavelmente me tem 1nc1tado nos meus esforços como universitário e como filó-
sofo.
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. «Eu, por meu lado, deduzo toda a organização de seres orgânicos_ (através de geração) e as suas formas posteriores (desta espécie de coisas naturais) segundo leis do desenvolvimento gradual de disposições originais que se encontravam na organização do seu tronco. .. lKant, Sobre o uso de princípios teleológicos na Filosofia (Uber den Gebrauch teleologischer Prinzipen in der Philosophie-Ak. Ausgabe, VII,I, 179). Por isso os seres organizados são os únicos na natureza que, ainda que também só se considerem por si e sem uma relação com outras coisas, devem decerto ser pensados possíveis como fins daquela mesma natureza e por isso como aqueles que primeiramente proporcionam realidade objectiva ao conceito de um fim, o qual é, não, um fim prático, mas. sim fim da natureza e, assim, proporcionam o fundamento para uma teleologia à ciência da natureza, isto é, um modo de apreciação dos seus objectos segundo um princípio particular que doutro modo não estaríamos autorizados a introduzir nela (po:rque não se pode de maneira nenhuma discernir a priori a possibilidade de um tal modo de causalidade).» Kant, Crítica da Faculdade de Julgar (1Kritik der Urteilskraft - Ale. Ausgabe, V, 375-376).
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INTRODUÇÃO 1. A CR1TICA DA FACULDADE DE JULGAR E A PROBLEMATICA DO SISTEMA EM KANT. OS TEMAS FUNDAMENTAIS DO MÚLTIPLO DO CONTINGENTE E DA ' NATUREZA
Devemos, desde já, definir 2._gré!!!~e ...9.J?j~!iv~.4Ê~~,Jr~!?:.~.Y10: mostrar o lugar decisivo que a Jiwsofia do orgãnJfm_o, desenvolvfdanâ.- Cí-ílicã -aa ·Faculdãd"é- dê iulgar;-•õéúpà. na co~~gjujç~o duma filosofia sistemática que nessa mesiii"ã ·oori-se pretenâe 'integralmente expo'sta -riã" sua parte crítica(1). Percorreremos os momentos que -consideramos mais irnportantes-:Oif:·ge.ijê.re -d~§-ªTílosõJ~ã-:crõ _organismo e, paralelamente, verificaremrnt c"õiri~_o seu próprio desenvolvimento acompanha sensíveis modificações ão _P~!!s~iri.ento- kantiano-, da primeira para a terceirª'" Çrfficâ~~ Notaremos como a introdução dessa reflexão sobre· o organismo, ao nível da Crítica da Faculdade de Julgar, é correlata duma outra ideia de natureza e de experiência; daremos conta de como, ainda na terceira Crítica, é através da correcta compreensão da essência da organicidade que o sistema de Kant se distancia do leibnizianismo; .finalmente, e fechando de algum (1) Como se sabe, no fim do Prefácio à K. U., o mesmo Kant declara de maneira peremptória que acaba ali o seu trabalho crítico e que começa o período da filosofia doutrinal (Cf. «Vorrede» à K. U., Ak. V, 170). Serã de tomar à letra e~ta afirm_a ção? A nossa investigação irá no sentido de mostrar que a última Crítica não pode ser entendida como um simples termo de uma propedêutica ao verdadeiro sistema. Pelo contrário, e adaptando a distinção kantiana inserta na segunda parte da J(', r. V. (A 841/B 869) entre critica e metafísica, a última Crítica não é só crítica mas cabe j á numa metafísica ou à K. U. -, cujo plano sistemático não é possível sem ela.
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modo o círculo em que a nossa demonstração se movimentara, acentuaremos devidamente o papel que a filosofia do organismo desempenha na determinação do fim último [Endzweck] da natureza, enquanto consequência última e coroamento de uma nova ·concepção de natureza, integrável num sistema real da própria filosofia. Uma leitura dos comentadores mais representativos da problemática do Kant da última Crítica persuadiu-nos de que não tem sido dado o devido relevo ao lugar sistemático do organismo, ainda que bastante se tenha escrito sobre o lugar sistemático da Crítica da Faculdade de Julgar na obra kantiana. Efectivamente, desde há muito que comentadores ~m~~rtantes da problemática kantiana tentam compreender o s1gn1f1cado duma obra como a Crítica da Faculdade de Julgar no conjunto das três Críticas, e alguns são de opinião que é sobretudo através dela que as duas primeiras se tornam inteligíveis como partes dum todo. Por exemplo, na sua «Introdução» à terceira Crítica na Edição da Academia, Windelband declara que, dum certo ponto de •vista, esta dá ~ (1)., . . Mas, se é bem verdade que é._~ razao_ q~e ~ol_~~a _ a__s~ p_i:opna / e___por si próQria_l!m_pfQj~ctoi_Jamb.é~ ~aQ o_e_m~!!~S que_~~~ ~~pecu!ª-tiva pura, que .produz os. conh:c1mentos própnos oa metafísica, necessita de uma conf1rmaçao ou. de uma refutação através. da experimentação: o método verdadeiramente científico também contém estes elementos. A dificuldade parece , então, colocar-se na seguinte questão que [Kant claramente per\ cebe: apesar das analogias, uma grande diferença persiste entre os conhecimentos da matemática ou da física e os da meta' física, a saber que, por definição, os conhecimentos desta se colocam para lá da experiência. Como, pois, sujeitar a metafísica à contraprova da experimentação? Como nos pode aqui auxiliar a analogia com o método das ciências que já trilham uma via . . . segura? Ora, só há uma maneira, dirá Kant, de resolver o problema, ou seja, separar «o conhecimento puro a priori em dois elementos muito diferentes, isto é, o das coisas como fenómenos e, ~ '.J,.. y em seguida, o das coisas em si. A dialéctica reúne-as de novo "i . J.1 : /~,i, :para ~t~belecer o acordo. com a ideia racional necessária do ~ ·, \,.('