O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Mattos

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harold decampo

tr\mdaQáoCasa de clorge Ánado

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Alle Achnng vor eurenMeinungen!Abcr kleine abweizhende Handlungensind mehr wert! ("Todo o respeitopor vossasopiniões! Mas pequenasaçõesdivergenlesvalent mais!") Nietzschz

e há um Droblemainstante e insisna historiografia literária brasileira, tente esteproblemaé a "questãodaorigem".Nesse sentidoé que sepode dizer - como eu o fiz em"Da razãoantropofágica"- que estamos diantede um "episódioda metafísicaocidental da presença,transferido para as nossas latitudestropicais,(...) um capítuloa apendicitar ao logocentrismoplatonizanteque Derrida, na Gramatologia,submeteua uma lúcida e reveladoraanálise,não por acasosob a instigaçãode dois ex-cêntricos,Fenollosa,o

anti-sinólogo,e Nietzsche,o pulverizadorde ss119265."(t)

No casobrasileiro,esseenÌedo metafísico vê acrescidaà sua intriga uma componente singular de "suspense":o nome do pai ("le nom du père") apresenta-se(ou ausenta-se), desdelogo, submetidoà rasurae em razão, exatamente,de uma "perspectivahistórica". Escreveuem l97OWilson Martins ("Gregório, o Pitoresco"):"Teria realmenteexistido no séculoXVII um grandepoeta brasileiro chamadoGregório de Mattos?Não, com certez.a,pelo menosem termos de história literária; como escreve,na Formaçáo da Literatura Brasileira, o sr. Antonio Candido,'embora tenhapermanecidona tradiçãolocal da Bahia, ele não existiu literariamente (em perspectiva histórica) até o Romantismo, quandofoi redescoberto,sobretudograçasa Varnhagen;e só depoisde 1882e da edição Vale Cabralpôde ser devidamenteavaliado. Antes disso,não influiu, não contribuiu para formar o nossosistemaliterário e tão obscuro permaneceusob os seus manuscritos,que Barbosa Machado, o minucioso erudito da Biblioteca Lusitana (174L-1758), ignora-o completamente, emboraregistrequantoJoão

de Brito e Lima pôde alcançar'(I,18). Muito maistarde,já em pleno séculoXIX e depois da independência,FerdinandDenis tampouco o mencionano Resumoda llistória Liteúria de Portugal e do Brasil; a suainclusão nacronologialiterária do séculoXVII é, pois, um dosmaisespantosos exemplosde involuntária mistificaçãohistórica que se podem aPresentar'"(2) Oswaldde Andrade ("4 Sátirana Literatura Brasileira", 1945)opinavaem sentidodiametralmenteoposto:"Gregório de Mattosfoi semdúüda uma dasmaioresfigurasde nossa literatura. Técnica,riquezaverbal, imaginação e independência,curiosidadee força em todosos gêneros,eis o que maÍcaa suaobra e indica desdeentão os rumos da literatura nacional."(3)

O PÂRADOXO BORGIANO F/OU PESSOANO Estamos,pois,diantede umverdadeiroparadoxo borgiano,já que à "questão da origem" sesomaa daidentidadeoupseudoidentidade de um autor "patronímico". Um dos maiorespoetasbrasileirosanterioresà Modernidade, aquele cuja existência é justamente maisfundamentalpara que possamos coexistir com ela e nos sentirmoslegatários de uma tradiçãoviva,parecenão ter existido literariamente "em perspectiva histórica". Como Ulisses,o mítico fundador de Lisboa, que - no poemade FernandoPessoa- FOI POR NAO SER EXISTINDO, tambémGregório de Mattos,esse"ulterior demônioimemorial" (Mallarmé), pareceter-nosfundado exatamentepor não ter existido,ou por ter sobre-existidoesteticamenteà força de não ser historicamente.O MITO E O NADA QUE É TUDO, completaFernandoPessoa no mesmopoema. Nessaaparentecontradiçãoentre presença (pregnância)poéticae ausênciahistórica,que faz de Gregório de Mattos uma espéciede demiurgo retrospectivo,abolido no passado

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paramelhor ativaro futuro, estáem jogo não apenasa questãoda "existência"(em termos de influênciano deúr factualde nossaliteratura), mas,sobretudo,a da própria noçãode "história" que alimentaa perspectivasegundo a qual essaexistênciaé negada,é dada como uma não-existênciâ(enquanto valor "formativo" em termosliterários).(a)

PERSPECTIVA TISTÓRICA E IDEOI,OGIA SUBSTANCIALISTA De fato, essa "perspectivahistórica" foi enunciadaa partir de umavisãosubstancialista da evoluçãoliterária, que respondea um ideal metafísicode entificaçãodo nacional. Se procedermos,em modo"derridiano", a uma leitura desconstrutorade algunsdos pressupostos básicosdesseque é o maislúcido e elegante(enquantoarticulaçãodo modelo explicativo)ensaiode reconstruçãohistoriográficade nossaevoluçãoliterária,a Formaçãoda Literaturs Brasileira (Momentos Decisivos),1959,de Antonio Candido,obra capital(e,porissomesmo,merecedoranâode culto reverencial,obnubilante,masde discussão crítica que lhe respondaàs instigações maisprovocativas),veremosque o temasubstancialistacirculapor seutexto.Seupropósito (anunciadono Préfacioà primeira edição)é, atravésda leitura "com discernimento",por meio da qual as obras"reüvem na nossaexperiência",acompanhar"as aventurasdo espírito": "Neste caso,o espírito do Ocidente, procurandouma novamoradanestaparte do mundo" (I,10).Nesserastreioaventurosodas andançasdo espírito (o Ilgos, o Ser) do

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Ocidenteà buscade suanovamorada (a casa, o habitáculodo Í,ogos)em terrasamericanas, duas séries metafóricas vão-se perfilando. Uma "animista", outÍa "organicista".A primeira, decididamenteontológica (auscultação da "voz do Ser", tema caro à "metafísica dapresença").A outra,ligadaao pressuposto evolutivo-biológicodaquela historiografia tradicionalquevê reproduzir-sena literatura um processode floraçãogradativa,de crescimento orgânico,sejaregido por uma "teleologianaturalista",sejapela "idéia condutora" de"individualidade"ou "espíritonacional",a operar,semprecom dinamisrnoteleológico, no encadeamentode uma sequênciaacabada de eventos (e a culminar necessariamente num "classicismonacional",correspondente, no plano político, a outro "instantede plenitudè", a conquistada "unidadeda nação").{s) Ambas as sériesmetafóricas,assimindividuadas. se comunicam no substancialismo quelhesdá coloratura.Por issopode-seler na Formaçáo:"A nossaliteraturaé galhosecundário da portuguesa,por suavez arbustode segundaordem no jardim das Musas..."A leitura dessa"literatura pobre e fraca" demanda"carinho e apreço" (semprejuízo do "discernimento",atÍibuto do "espírito críti13

co"), pois:"Se nãofor amada,nãorevelaráa sua mensagem."A leitura "com discernimento", desde que amorosa,"anima" as obras.Vale dizer: dálhes anima, alma,fá-las exprimir a voz do I-OGOS que emigrou do Ocidente e se transplantoupara o não tão edênicoJardimamericano,ondesua"aclimação" será"penosa"e requererá,paraserbem compreendida,o cuidado de nossa escuta (leitura amorosa):"Ninguém, além de nós, poderá dar vida a essastentativas muitas vezesdébeis,outrasvezesfortes,sempretocantes,em que os homens do passado,no fundo de uma terra inculta, em meio a uma aclimaçãopenosada culturaeuropéia,procuravam estilizarpara nós,seusdescendentes, os sentimentosque experimentavam,as observações quefaziam,- dosquaisseformaram osnossos." A dupla sériemetafóricamostrase precatadamenteantiufanista,disfórica:o galhotransplantadoé "secundário"e o arbusto de que foi extraídoé "de segundaordem"; por suavez,a recolhado LOGOS transmigrado e seucultivonanovamoradanãoterá nada deparadisíaco(palavraque significaetimologicamente"jardim"): a terra ê "inculta" e a "aclimação"(a aculturação)há de ser ..penosa".

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A ENCARNAçÁO LITERÁRIA DO ESPÍRITO NACIONAL O impasseseresolvepela adoçãoda "perspectiva histórica". Se ao "espiríto do Ocidente" coube encarnar-senas novasterras da entãoAmérica Portuguesa,incumbeao crítico-historiadorÍetraçaro itinerário de parousía desseIogos que, como uma árvore, ou, um arbusto,teve de ser maismodestamente, replantado,germinar,florescer,para um dia, quiçá,copar-secomoárvorevigorosae plenamente formada: a literatuÍa nacional. O conceitometafísicode história,segundoDerrida, envolve a idéia de linearidade e a de continuidade:é um esquemalinear de desenrolamentoda presenç4obedienteao modelo "épico". Compreende-se,assim,por que se torna necessário,para essa"perspectivahistórica", determinar"quando e como se definiu uma continuidadeininterruptade obrase autores,cientesquasesempÍede integrarem um pÍocessode formação literária" (I,25). Por que se busca individuar "uma tradição contínua"de "estilos,temas,formasou preocupações".Por que é necessárioum "começo":" Já que é precisoum começo,tomei comoponto de partida asAcademiasdos Se-

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lctos e dos Renascidose os primeiros trabalhos de Cláudio Manuel da Costa.arredondando,para facilitar, a data de 1750,na verdadepuramenteconvencional"(I,25). A "perspectivahistórica"é,pois, umaperspectivaideológica.E como tal se manifesta, quandoo critério de pertinênciaque a rege é explicitado:"O leitor perceberáque me coloquei deliberadamenteno ângulo dos nossos primeirosromânticose doscríticosestrangeiros que,antesdeles,localizaramna fasearcádica o início de nossaverdadeiraliteratura, graçasà manifestaçãode temas,notadamente o Indianismo,que dominarãoa produçãooitocentista."Rever "na perspectivaatual" a concepçãodessescríticos,queentenderam"a literatura do Brasil como expressãoda realidadelocal e, ao mesmotempo, elementopositivo na construçãonacional", - eis a tarefa que se propõe a Formaçáo.Esseduplo "esforço" (ou articulação)de "construção"e de "expressão"é visto (e a redundânciaenfática estáno texto original,I,26) comouma "disposição do espírito, historicamentedo maior proveito", que "exprime certa encarnaçãoliPor outro latcrária do espírito nacional".(6) do, num movimento de contrapartida,que IO

postura"disfórica" rcspondeà já sublinhada que a mesmadisposirlr t'rÍlico,é ressalvado proveitosa pode muitas vezesredundar çÍìo rrost:scritores "em prejuízoe desnorteio, sob () rspccto estético",o que, no limite, exclui ccrlls de suasmanifestaçÕes do "terrenoesrrccílico dasbelasletras".

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O PRTVILÉGIO DA FUNçÃO REFERENCIAL E DA FUNÇÁO EMOTTVA

rlrrtrlrcs literários,maisou menosconscientes rkr scu papel"); 2) recepçáo("conjunto de Ícccptores,formando os diferentestipos de gtriltlico, sem os quaisa obra não vive"); 3) Fica,assim,definido o caráter"convencio- lrnnsmissáo:"um mecanismotransmissor. (rlcmodogeral,umalinguagem, traduzidaem nal", convencionado(e, pois,já nesseprimeiro nível,ideológico)da alegada"perspectiva oitilos),queligaunsaosoutros".Esseesquenurtriádicode "elementos"respondea uma histórica".Essaperspectiva,além de não exklóiade literaturacomo "tipo de comunicacluir outras orientações,supostamentenãoI,25 que postulado em é o está históricas,çÍlo inter-humana"e "sistemasimbólico". NndumaisopoÍtunoe justificado,portanto, - não poderá,ademais,como adiantevererkr que colacioná-locom outro modeloestrumos, deixar de admitir a existênciade uma por RomanJakobIurirÌ,aqueledesenhado de história liteoutÍa noçãonão-homogênea rária, igualmente "sensívelà dinâmica das ron cm "Linguisticsand Poetics'í7)parao fim dc cstudaras"funçõesda linguagem"e, entre obrasno tempo",masdispostaa encará-lapor clus,definir o lugarda "funçãopoética".Esum enfoque nãolinear de evolução.Isto crcveJakobson:"Para se ter uma idéia geral posto,cabepassara uma nova etapado traImpõe-seagoraexa- dcssasfunções,é mister uma perspectivasubalho "desconstrutor". de todo prominaro "modelodeleitura"quecorresponde nrdriados fatoresconstitutivos histórica",que the é soli- ccssolingüístico,de todo ato de comunicação a essa"perspectiva especular vcrbal. O REMETENTE envia uma MENdário como o seu correspondente (de"espelho")no planoquechamarei"semi- SAGEM ao DESTINATÁRIO. Paraser eficnz,a mensagemrequer um CONTEXTO a ológico". que serefere(ou referente,em outra nomen(1,23-25), clutura,algoambígua),apreensível pelo desEm "Literatura como sistema" es- linatário,e que sejaverbal ou suscetível de Antonio Candidoexpõeuma concepção vcrbalização; um parcialnum esqueCÓDIGO, total ou truturalda literatura,articulada nlcntecomumao remetentee ao destinatário ma triádico:1) produçáo("conjuntode pro-

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(ou, em outras palavras,ao codificadore ao decodificadorda mensagem);e , finalmente, um CONTACTO, um canal físico e uma conexãopsicológicaentÍe o remetente e o destinatário,que os capacitea ambosa entrarem ou permaneceÍemem comunicação,"O esquemajakobsonianoé o seguinte:

niritcnra")com a de Literatura e Sociedade, ("A literaturae a vidasocial", 1957-58); I t)(rS oxtc último ensaio,com seu título original "^rtc e Sociedade",Boletim dePsicologia,n0 35-36,Ano X, S.Paulo,1958,vern, aliás,ext)rcssamentereferido em nota de rodapé ao "f'refácio" de 1962à2a. ed.da Formação,à nltura em que a "existênciado triângulo CONTEXTO(REFERENTE) 'urtor-obra-público' em interaçãodinâmica" REMETBNTE MENS^GEM DFSflNATÁFJo ô thda como conditio sinequa non para uma CONTACTO lltcratura"se configurarplenamentecomo rlfitcma articulado".Note-seque, na FormacóDrco 11ío(I,23), entre os três elementosque se Subsumindonele o de Antonio Candido. conjugamno modelo,a MENSAGEM (o texto, a informaçãoestética,a obra) não é posta teremos: cm relevo;antes,a ela sealudemetonimicaRF-ÀLTDADE ("dif.cntd dt É. d. tncnte,pois a ênfaseé dada ao MECANISftalidâ&", 1,2,{) MO TRANSMISSOR, ao veículo da transPRODUIOR COMUNICADO(OBRAI5,2ó) RECEPTOE(COMUNI. (coMuNI-............................... ......CANDO,PUAUCO, mlssão, e não propriamenteà TRANSMISCANTqARTTS CONTACTO 15,2ó) ('d@nto TÀ l-'s'26) & @rtlclo SÀOem si mesma.à MENSAGEM TRANS6186 h6d'L2,|) MITIDA, à sua materialidadeenquanto cóDco

,TEXTO.

("@.i.mlt.t$ls'. ú. rd@iaLd 't!tút qli!o.-,I,z])

Paraexecutara operaçãoque nospropusemos,foi necessáriocomplementara terminologia do vol. I da Formaçáo da Literatura Brasileira ("Introdução: l.Literatura como

Prosseguindona comparação,temos que, puraJakobson,a cadaum dos seis"fatores" tlc seu modelo,correspondeuma dada"funçÍlo da linguagem".Assim, à orientaçãocentÍudâ no REMETENTE. corresoondea

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FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA também chamadapor Karl Bühler KUNDGABEFUNKTION, função de "exteriorização" ou de "expressão";funçãode "exteriorizaçáopsíquica",comodiria J. MattosoCâmara Jr.(8).No modelo de Candido,ao pólo do PRODUTOR ou COMUNICANTE corresponderiaa funçãode exprimir "asveleidades mais profundasdo indivíduo" (1,23-24);ou, como estáexplicitadoem II,364,numapassagem em que sefala da "crítica dos criadores" e de seu aspectoprogramático:"definir as suaspróprias intenções,até então merasveo "soleidadesou impulsossubconscientes", nho interior"; em LS, à p.26, a arte é definida expressãode como"comunicaçãoexpressiva, realidadesprofundamenteradicadasno artista, maisque transmissãode noçõese conceitos"; nessemesmopasso,o papelessencialda "intuição"é frisado;aplaude-se entãona "estética idealista" de Croce, perante a qual a arte "exprime apenastraços irredutíveis da personalidade",aquilo que constituiriao seu "mérito" (sem embargodas objeçõesdo soteóricas"dessaesciólogoàs"consequências tética):"assinalaresteaspectointuitivo e expressivoda arte"; ainda em IJ,30, a obra é vistacomo "veículodassuas(NB: do artista)

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tuspíraçoes individuaismaisprofundas,'.Até a cscolha,reiterada,da palavra"veleidades"é turprium bom índice da tintura emotivo-exprcssivaque colore a posturado COMUMC^NTE (PRODUTOR, ARTISTA) no modclo de Candido: "veleidade", no Pequeno Âurélio, tem asacepçõesde ,,vontadeìmperfcita; intençãofugaz;capricho;leviandãde; utopia; volubilidade";no Dicionário Etimológlco Nova Fronteira, registra-se..vontade lmperfeita, hesitante",como acepçãooriginal, e "pretensão"como acepçãoextensiva, csclarecendo-se que setrata de adaptaçãodo fr, velleité,.do lat. velteitas,-atis, de velle, "querer", Aquilo que Jakobsondenomina FUNçAO EMOTIVA, poderíamos,pois, com apoio em Candido,chamarFUNÇÃO COMUNICATIVO-EXPRESSIVA. Isto implica uma translaçãopara outro.,fator',,o CONTEXTO ou REFERENTE. noqual está ccntradaa FUNÇÃo REFERENCTÁLDENOTATIVA COGÌ{TIIVA Trata-se, de fato, segundoCandido,de interpretaras,.difercntesesferasda realidade"(á que,no ,.sistcma simbólico" que é a literatura, aquelas "veleidadesmais profundasdo indivíduo se transformamem elementosde contactoentre os homens,e de INTERPRETAÇÃO DAS

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DIFERENTES ESFERAS DA REALIDADE"). Ou seja,o queestáemjogoaquisão os "fatoresexternos"ou de "contexto" (I,1.6; I,S, 3-9), "fatores externos"que, como sublinha com toda a nzão o crítico, tornam-se "internos" no momento em que dialeticamente, desempenham"um certo gapel na constituiçãoda estrutura"da obra. E a "matéria do livro" enquanto "fator da própria construçãoartística"(I5,7). A funçãocentrada no fator CONTACTO (a função FATICA, queJakobsonfoi buscarna phatic designação communion de Mallinowski) também é reconhecidano modelo de Candido:como decorre da citaçãoacima,na literatura,enquanto "sistemasimbólico",a funçãoCOMUNICATIVO-EXPRESSIVÁ"exercidapelo COMUNICANTE através do MECANISMO TRANSMISSOR de que dispõe, engendra "elementos de CONTACTO entre os homens",vale dizer.,entre PRODUTOR (COMUNICANTE) e RECEPTOR (COMUNICANDO, DESTINATÁRIO, PUBLICO). Trata-se,no modelo de Candido,mais acentuadamente,de uma funçãoTRANSIVOINTEGRADORA ou melhor dizendo, BITRÀNSITIVA urna vez que essafunção de "vinculação"rru "elo" não ii-a apenasno es-

tabelecimentodo contactolinguístico entre os membros de uma comunidade,mas, no "sistema simbólico" chamado "literatura". afeta o RECEPTOR ou PÚBLICO "como alguémpara quem se exprimealgo" (LS,26). A essaorientaçãovoltadaparao DESïNATARIO, Jakobsondenomina FUNÇAO CONATIVA (do latim, conatum: impulso, esforço,ação que procura impor-se a uma resistência ou suscitarumareação).É o campo daAPPELFUNKTION de Bühler, tunção de "apelo", "exortativa","persuasiva".Aqui Candidoparecesituaro elemento"efeito" do "processode comunicação"(LS,26),já que se trataria,no casoda litetatura,de um processo de tomada de "consciência"da "existência espirituale social"de um povo (PUBLICO), II,369, e da conseqüenteformação de "padrÕes"de "pensamento"ou "comportamento" (r,24). A FUNÇÃO CONATIVA de Jakobsonpoderia,em Candido,com ênfaseno que lhe é distintivo,chamar-seFUNÇÃO CONSCIENTIZADORA.

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ÌVaso modelo de Jakobsonreconheceainda duas outras funQões:a METALINGUÍSTICA, centradano fator CÓDIGO, e a POETICA, fulcrada na própria MENSA-

GEM, auto-referencialportanto,já que enfoca o aspectosensível,a configuraçãomaterial do texto. No modelo de Candido,a função "metalinguística"é vistaapenasenquantoexplicitação do que seja o MECANISMO TRANSMISSOR ("uma linguagem,traduzida em estilos"),cuja funçãoTRANSITIVOINTEGRADORA é enfatizada(l;?3: mecanismo"que liga uns a outros", ou seja,PRODUTORES a RECEPTORES). A tunção "poêtica" tambémnão é postaem relevo,já que o próprio "texto" é introduzidometonimicamenteno modelo triádico, pondo-sea ênfase,maisuma vez,no seu veículo,aquele mesmo MECANISMO provido de função TRANSITIVO-INTEGRADORA. Que a FUNÇÁO POÉïCA e a FUNÇÃO METALINGUÍSTICA possamaliar-senuma prática literária com dominantelúdica ou críticoescritural,é algo que parecenão cabernessa modelizaçãotriádicada literatura como "sistema simbólico" de "comunicaçãointer-humana".(e)

as funções EMOTIVA e REFERENCIAI. na função COMUNICATIVOacopla-das EXi'RESSIVA de exteriorizaçãodas "veleidadesmaisprofundasdo indiúduo" e de "interpretaçãodas diferentes esferasda realidade".

Isto posto,já é possivelchegara uma primeira conclusão.O modelo semiológico,articuladopor Antonio Candidoparadescrever a formaçãoda literatura brasileira,privilegia

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A GENERALTzAçÁo oo MoDELo

noruÁNncoE suAABsot.unzlçÁo EM MODELO DA LITERATURA . O corolário dessaprimeira conclusãoé imediato:a literatura que priviìegiaa função EMOTIVA é, na lição de Jakobson,a literatura romântica,expressão do euJírico.Quando ao privilégio dessafunçãoEMOïVA se alia uma vocaçãoigualmenteenfáticapara a funçãoREFERENCIAL (paraa literarurada 34.pessoapronominal,objetiva,descritiva,tal como caracterizadapela épica), é possível dizer que estamosdiante de um modelo literário de tipo romântico imbuído de aspiraçóesclassicizantes (aspiraçÕes a converterse,num momentode apogeu,em "classicismo nacional").A constituição dessemodelo,repita-se,coincide, não por mero acaso,com o esquemapropostopela historiografialiterária do séculopassado, voltadaparao desvelamento evolutivo-gradualista da "individualidadenacional".E o que refereJauss:"A nova História das LiteraturasNacionaisentrava em concorrência no plano dasidéiascom a históriapolítica,pretendendomostrar,mediante o encadeamentocoerentede todos os fenômenos literários.comoa individualidade

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ideal de uma naçãose desenvolviadesdeos seus começosquase-míticosaté sua plena Asrealizaçãonurn classicismonacional."(r0) sim também poderia seÍ descrito o projeto "dos nossosprimeiÍos românticose dos críticosestrangeiÍosque,antesdeles,localizaram na fasearcádicao início de nossaverdadeira literatura (I,25); projeto que Antonio Candido sepropõeultimar naFormaçáo,"revendoo na perspectivaatual". Trata-sede um projeto que o próprio crítico define como "processo r etilíneo de abr asileir am ento" . (LS,107),"processode construçaogenealógica" (LS,206),com o qual "o ponto de vista moderno" tenderia a concordar.feitas, evidentemente,as ressalvasque deslocamum estágiode reÍlexãoda faseingênuae triunfalistapara a fasepropriamentecrítica:"o que realmenteinteressaé investigarcomo se formou aqui uma literatura, concebidamenos como apoteosede cambucáse morubixabas, de sertanejose cachoeiras,do que como manifestaçãodosgrandesproblemasdo homem de existêndo OcidentenasnovascondiQões (LS; 108). cia" É óbvio que, nem por se definir expressamente como orientado por uma aparente29

mente isenta "perspectivahistórica",esse projeto deixa de se manifestar,ainda nesse nível, como ideológico. De fato, o projeto converteo interesseparticular do Romantismo nacionalista(a perspectivaromânticomissionária)em "verdade" (interesse)historiográficageral("nossaVERDADEIRA literaïura",I,25).Por essaópticadirigida é enfocadona Formaçãoo que seja"literatura" enquanto "sistema simbólico"; todavia, ao conceitoassimresultante.se conferecaráter definitório geral.Ou seja,no conceitodefinidor, as características distintivasdo que seja "literatura" sãotomadasde empréstimoà visãoespecíficae particularizanteque,do fenômeno literário, se faz o próprio Romantismo... Estamos,pois, em pleno "círculo hermenêutico":o modelode explicação, que começapor definir,num plano de generalidade, o que sejaliteratura como "sistemasimbólico", extraiasnotasdistintivasdessadefinição, que se propõe como universal,do próprio fenômeno literário singularizadoque pretendeexplicar(a evoluçãoda literaturabrasileira do arcadismopré-romântico,até o advento,com Machadode Assis,do momento crítico do nacionalismopós-romântico,já, porassimdizer,decantado em"classicismo").

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Âqui secolocaa questãoda "objetividade"e do que nestapossahaverde relativo (de iluhistórica", sório, portanto).(tt)"Perspectiva "ponto de vista histórico" (I,24),"orientação histórica" (I,25) são expressõesque não podem ser aceitascomoverdadesobjetivas,dotadasde unicidadede sentido,apodíticas. em seuseleAntes,devemser reexaminadas mentos lexicais constitutivos.Como "perspectiva", "ponto de vista" ou "orientação", outra coisanão definem senãoum enfoque particularizante:aquele peculiar ao projeto historiográficode nossoRomantismonacionalista; enquanto "histórico" (o "ponto de vista") ou "históricas"(a "perspectiva"ou a "orientação"),só o são na medida em que respondema um conceitotambémparticular e também ideológicode história: a história retilínea,comprometida comumaconcepção metafísicada própria história,a culminar na entificaçãoda idéia de nacionalidade,segundo o "esquemalinear do desenrolamentoda presença"deslindadopor Derrida na Gramada tologia,o mesmoesquemasubstancialista literáevolução marchalinear e contínuada ria, questionadopor Jaussem nossocampode estudos.(12)

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O EFEITO SEMIOLÓGICO A exclusão- o "seqüestro"- do Barroco na Formaçâo da Literatura Brasileira não é, portanto,meramenteo resultadoobjetivo da adoçãode uma "orientaçâo histórica", que timbra em separarliteratura,como"sistema", de "manifestaçôes literárias"incipientese assistemáticas.Tampouco é "histórica", num sentido uúvoco e objetivo, a "perspectiva" que dá pelainexistênciade Gregório de Mattosparaefeito daformaçãode nosso"sistema literârio" (1,24).Essaexclusão- esse"seqüestro" - e também essainexistêncialiterária, dadoscomo "históricos" no nível manifesto, são, perante uma visão "desconstrutora", efeitos,no nívelprofundo,latente,do próprio "modelo semiológico"engenhosamente articuladopelo autor da Formaçáo.Modelo que confere à literatura como tal, tout court, as peculiaresao projeto literário características do Romantismo ontológico-nacionalista. Modelo queenfatizao aspecto"comunicacional" e "integrativo" da atividadeliterária, tal como este se teria manifestadona peculiar síntesebrasileirade classicismo e romantismo ("misturado artesãoneoclássico ao bardo qual romântico",I,28), da emerge"uma lite2)

r0tura empenhada",com"sentimentode mist0o" em grau tão elevadoque chegava,por vozcs,a tolher o "exercícioda fantasia",mas quc, por outro lado, era capazde conquistar "rcntido históricoe excepcionalpoder comunlcativo"e, assim,de tornar-sea "línguageral dumasociedadeà buscado autoconhecimenlo". Nessemodelo, à evidência,não cabe o Burroco,em cuja estéticasão enfatizadasa Í[nçóo poéticae a funçáometalingüística,a do texto e a autotematiza0uto-reflexividade ç0o inter-e-intratextualdo código (meta-sonctosque desarmame desnudama estrutura do sonèto,por exemplo;citação,paráïrasee truduçãocomo dispositivosplagiotrópicosde dlulogismoliterário e desfruteretórico de eslllcmas codificados).(t3) Não cabeo Barroco, e do desperdíolttéticada "superabundância clo", comoo definiu SeveroSarduy:"Contrarlsmente à linguagemcomunicativa,econômica,austera,reduzidaà suafuncionalidade - servir de veículo a uma informação - a llnguagembarrocase comprazno suplemento, na demasiae na perdaparcialde seuobjeto."(r{)O Barroco,poéticada "vertigemdo lúdico",da "ludicizaçãoabsolutade suasformas",comoo tem conceituadoentre nósAffonsoÁvila.(ls)O Barroco oue - na conceD-

ção de Octaüo Paz,referindo-sea Sor Juana Inés de la Cruz, contemporâneade nosso Gregório, - produziu,no espaçoamericano, umpoemacrítico,reflexivoe metalingüístico, um "poema da aventurado conhecimento", Primero Sueío (ca.1685),que se anteciparia, como tal, a essepoema-limite da Modernidadeque é o Coup de Désde Mallarmé...(t6) A seguir,o que é efeito semiológicoimpli cito na estruturado modelo,converte-seexplicitamente em juízo de valor (dubitativo, restritivo) na Presençada Literatura Brasileira (vol.I, "Das origensao Romantismo'r), 1964.Nessaobra, quandojá ia em mais da metadeo séculomesmoda revalorizaçãodo Barroco (Dâmaso Alonso, Gerardo Diego, Garcia Lorca na Espanha;Eliot e os "metaphysical poets" em língua inglesa; Walter Benjamine a reavaliaçãoda "alegoria" como dispositivoestéticono "auto fúnebre" da literaturaalemãdo período;LucianoAnceschie a polêmicaanti-Croceno quadro do "Ermetismo" italiano), coloca-seem dúvida,à vista dos "extremosdo barroco literário'j tanto a "autenticidade" quanto a "permanênciada sua comunicação".Aqui, "autenticidade" e "permanência"pôem-secomovalores"aurá51

na medida a-históricos, llgor!!,não-críticos, por axiológico que um cânon aferidos são lm deverdadeatemlbtoluto,alçadoà condição classide aspirações Romantismo Poral:o do a latejarumavoOlantes,ondejá começaÍia maispalatánome, outro Ole[o"realista"nacional";um Romanvcl,para"classicismo purgado indisciplinae de suas de sua tllmo localistas(no "pitoresco"e no "maflxaçÕes graças ao"rigor" tarlalbrutodaexperiência") | à "contensãoemocional" do arcadismo quelhe serviu devestíbulonatittÊoclássico Vl8ta.Na mesmaobra,na parte da antologia a Gregóriode Mattos,a contribuif0Ecrvada glo denossomaiorpoetabarroco(e um dos maioÍesde toda nossaliteratura)é julgada a "Como hoje a conhecemos, loveramente: luaobraéirregular,valendoporumaminoria dc versos."(Essejulgamentoecoaoutro,de 1955,doensaio"O Escritore o Público":"...o nem ingrandeirregular sem ressonância fluênciaque foi Gregóriode Mattosna sua LS,92).('n fasebrasileira",

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O MODELO LINEAR EA TRADIçÁO CONTÍNUA A Formaçáoprivilegia - e o deixa visível como uma glosaque lhe percorre as entrelinhas- um certo tipo de história: a evolutivolinear-integrativa,empenhadaem demarcar, de modo encadeadoe coerente,o roteiro de "encarnação literária do espírito nacional"(l;26); um certo tipo de tradiçáo,ou melhor, "uma certa continuidadeda tradição" (I,16):aquelaque, "nascidano domíniodas evoluçõesnaturais",foi "transpostapara o do espírito",ordenandoas produçõesdestenuma "continuidadesubstancial",harmoniosa. excÌudentedetodaperturbaçãoquenãocaiba nessaprogressãofinalista(r8) (veja-se,no caso do próprio Romantismoque lhe servede paradigma,a minimizaçãode Sousândrade, por sinal "barroquizante"em largosaspectosde suadicção,notadamenteno Guesa);uma certa concepçãoveicularde Iiteratura:a "emotivo-comunicacional",que preside à vertente "canonizada"de nossoRomantismo.(re) Com basenessespressupostos, constituio seumodelo de descriçãoe de explicação.O modelo é necessariamente redutor: o que nele não cabeé postoà parte,rotuladoàe "manifes36

leçôcsliterárias" por oposiçãoà "literatura" PÍopriamentedita,à literaturaenquanto"sisloma". Aqui, para garantir a eficáciado modolo, reforça-sea sualógicainterna com um lflumento "quantitativo".Jáque nãosepode no80ràquelas"manifestações"um mínimode 0tÍáter sistemáticoe de interaçãotriádica polshouve"produtores",e notáveis,do porte dc Gregório na poesia e do Pe. Vieira na Prosa;houve"textos"- e dosmaioresde nossa lltcratura- aindaque "veiculados"por "me0!nismostransmissores"peculiaresà época: I publicidadeda comunicaçãooral; a "mala dlrcta" dos"códicesde mão"; e houve"públioo": Gregório, escreveSegismundoSpina, rtíol,semdúvida,o primeiro prelo e o primeito jornal que circulou na Colônia"; e mais: "Gozou de extraordinária reputação a sua mordacidadeliterária: o Pe. Manuel Bernurdesa elaserefere(NovaFloresta)e Vieira Ccrtavez se queixoude que maior fruto produziamas sátirasde Gregório do que seus lormões";já que tudo isso é inegável("... o poctaandarilhonão é propriamenteum marjlnal: ao contráÍio, parece inserir-secom muito maior pertinênciana sociedade,na quBlidade de cantadortransmissor de poesia o notícia,comunicador...", J.M.Wisnik),en-

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tão releva mostrar, do ângulo quantitativo, comoé relativoessepúblico ("ralase esparsas I,16;"os círmanifestações semressonância", culospopülaresde cantigase anedotas",LS, Sóassima metáforaontológicada sim92).(20) plicidade da "origern", convencionalmente datável(1750),e a metáforagenealógicada seqüênciacoeÍentede eventos,regidospelo tropismodeum telosou zênitecomum,poderão sustentaÍ-see afirmar-se,tout court, como "perspectivahistórica".

UMA LITERATURA INTEGRADA O problemado público(da "recepção"e do "cfcito") na Formaçáoda Literatura Brasilclrn - obra que poderia também chamar-se lllrtória Evolutiva do Romantismono Brarll, já que nela o Barroco não tem porta de eccsso- acabasendotratadopor um critério h0rmonizador,de concordância,que dá ênÍülc aoaspectointegratiyodoprocessorecepclonal. Polemizandocom a sociologialiterária de Robert Escarpit,Jausspondera:"Não se esSotaa relaçãoentre literatura e público ditcndo que toda obra tem seupúblico específlco quepodeserdefinidopela históriae pela tociologia; que todo escritor dependedo meio, das concepçõese da ideologiade seu público, e que a condiçãodo êxito literário 38tánum livro que 'exprima o que o grupo que reveleo grupo a si mesmo'."A oEperava, lNso,a essa"concordânciaentre o projeto da obra e a expectativado grupo social",Jauss chamaconcepçãoresultantede um "objetivlsmo redutor", vendo nela um embaraçoà oxplicaçãoda "açãoretardada"ou "durável" dusobras.A essaperspectivasociológicade-

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terminista, prefere outra, que considera "muito maisambiciosa":a de Auerbach,que se lhe afigura capazde dar contadas "múltiplasrupturasepocaisnarelaçãoentreescritor e Públics".(2r) Público,na Formaçáo,é um "conjunto de receptores"organicamentevinculado a um "conjuntode produtores"por um "mecanismo" queassegura a "transmissão"de um "sistema de obras" ligadaspor (destaque-se) "DENOMTNADORES COMUNS" (r,23).É público visto como componentede um sistema homogêneo,reconciliadoe, assim,definido em funçâode uma literatura descritana perspectivada série acabada(na linha das "HistóriasdaLiteratura Nacionais"do século passado)e que aspiraao classicismo verocêntrico do sentidopleno (aquela"língua geral dumasociedadeà buscade autoconhecimento", I,28).A essepúblico de "agregação',correspondea constituiçãoprogressivade um cânon preferencialde obras e autores,cuja reconstituiçãoincumbe a uma historiografia que se dá por tarefa "representar,atravésda históriadosprodutosde sualiteratura,a essênciadumaentidadenacionalem buscadela mesma".(22)

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Com uma perspectivamais flexível, não encerradanessa"clausura metafísica"(que supóe também um fechamentoepocal,um ciclo evolutivoconcluso),poderiaganharoutra luz o enfoquedo casoGregóriode Mattos. Um poetaque teveum primeiro público efetivo e documentadamente o afetou (não importa se esse público era reduzido, nas condiçõesdo tempo,que não eram apenas brasileiras).{21) Um poeta cuja produção é marcantementerepresentativade um estilo (o Barroco) que por suavez a transcendee que se prolongaem seusefeitos (estilemas) para além dela no espaçoliterário, mesmo depoisque essaobra e seu autor, como tais, tenhamexperimentadoum processode ocultaçãoe passadode ostensivosa recessivosno horizonterecepcional. Por outro lado, uma concepção"objetivista-reducionista ", guiada pelo critério de concordânciaintegrativae pelaverificaçãode uma "densidadeapreciável"(I,16) na relação público-autor("vida literária"), teria dificuldade em lidar com o problema da recepção das literaturasantigas,quando se têm de considerar"obras de autoria desconhecida, propósitosautoraisnão claros,relaçõescom 4l

fontes e modelosapenasindiretamentediscerníveis";quando,enfim, os leitoresvirtuais estãoinscritosno próprio texto, sob a forma do "contextodasobrasque o autor supunha, explícita ou implicitamente,conhecidasdo público que lhe era contemporâneo".(24) No casode Gregório e de nossoBarroco do período colonial essasquestÕessão muito menos complexas,pois, embora não haja uma verdadeira ediçáo crítica de nosso grande avoengodo Recôncavo,há a tradiçãooral, há os apógrafos,há a atestaçãode um público e dasreaçõesquejunto a estesuscitoua língua ferina do "Boca do Inferno"; há,sobretudo,o próprio Barroco, que, como grande código universal da literatura do tempo, dominou nossacenaliteráriadesdeCamões@) e seprolongou em nítidos traços barroquizantesna poesiados próprios árcades,nas"monstruosidadesescritasem portuguêsmacarrônico" do "pai rococó" Odorico Mendese na imploque arruína, sãosubversivade Sousândrade, excêntrico,a construçãoharmoniosade nosso Romantismooficial. Resolver tais questões no plano recepcionalnão pode consistirem simplesmentepostularque,ondenãohajaum público "sistêmico" (denso,concorde,integrado), não haverá literatura propriamente

dita e digna de registro- não haveráhistória avaliávelem termosformativos- mastão-somente "manifestaçõesliterárias", cénario "ralo" e "esparso",limbo afônico ("sem ressonância")onde a voz do Ser ainda não se in-formei nexistente "encorpou",pré-história em "perspectivahistórica"...Que aconteceria de avalizarpor um semelhante setìvéssemos critério "sistêmico" a existêncialiterária de produçõestão remotasno tempo (e só recuperadaspelos eruditosdepoisde séculosde olvido) como as da poesia provençal, por exemplo? Mas, no caso de Gregório de Mattos, há aindauma circunstânciarelevantea considerar e queaguçao paradoxo:comopodeinexistir em "perspectivahistórica"um autor que é fonte dessamesmahistória?"E por intermédio delese dos cronistasda épocaque poderemos reconstruir com grande fidelidade o retrato da sociedadebrasileira do século XVII", assegura S.Spina,falandode Gregório e Vieira. "Talvez a fonte que melhor revelaa opinião da épocasobre os desembargadores e a Relaçãonão sejaa informaçãohistórica tradicional,mas a poesiado baiano satírico Gresório de Mattos e Guerra", salienta +J

Stuart B. Schwartz.(26) Como se pode proclamaressevaziohistoriográfico,contestadopor umainscriçãohistorialqueo textogregoriano exibe gozosamenteem sua trama, seÍrr,no mesmopasso, pôr emquestãoapróprianoção de história que condicionaessaperspectiva excludente? Isso tudo se explica,entretanto,como ensaio (admiravelmentebem conduzidono nível estrito de sua proposta) de escrevera histórialiterária promovendoa primeiro plano a "função ideológica"- no casobrasileiro, o objetivo missionáriode conscientização do peculiar projeto "nacional", ao romântico. Essafunção,dentre as três do conjuntodelineadoem LS,53-56,é dadacomo "importante para o destino da obra e para a sua apreciaçãocrítica". Mas dela tambémse diz, em relação à produção literária , que "de modo algum é o âmago do seu significado, como costumaparecerà observaçãodesprevenida". O autordaFormaçáotevenecessariamente de propenderpara a integração,descurando da diferenciaçáo(LS, 27), a fim de poder configurá-lano desenhoque lhe deu e, pois, 44

executarcom traçoharmoniosoo seuprogÍama: "descrevero processo"(EVOLUçAO LITERARIA dotadade uma certa"CONTINUIDADE DA TRADIçÃO" e de "INTEGRAçÃO ORGÂNrCA" _ou "COERÊNCIA" quantoàs'PRODUÇOES") "por meio do qual os brasileiros" (PUBLICO) "tomaram consciência"(FUNÇAO CONATIVOPERSUASIVA) "da suaexistênciaespiritual e social ATRAVÉS da literàtur a"

(coNcEPÇÃovErcuLARDASOBRAS

COMO "MECANISMO TRANSMISSOR" de um "COMUNICADO"), "combinandode modo vário os valores universais" ( os GRANDES TEMAS.'PADRÓES UNIVERSAIS", CODIFICADOS NUMA "TÓPICA" unificadoÍadas "LETRAS DO OCIDENTE) "com a realidade local" (FUNÇÃo coGNTTIVO- REFERENCT AL) "e,destamaneira,ganhandoo direito de exprimir" (FUNÇÃOEMOTTVO-COMUNICACIONAL, colorida indiretamente por uma alusãoà FUNÇÃO POÉTICA, embora apenas em termosde"ESTILIZAÇÃO"; "estilizar para nós (...) os sentimentos I,10): "o seusonho,a sua dor, observaçôes", júbilo, o seu a suamodestavisãodascoisase (II,369). do semelhante"

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O BAÌROCO DTIVIDOSO

Essaatitude de suspeiçãoirá depoisinspirar, na Presença(I,15-16),a relutância,as judicativas,na abordagemdo Barhesitações roco brasileiro. Numa primeira apreciação generalizadora, asrealizaçõesdo períodoserão implicitamentedesvalorizadas comopouplano no co originais da "criação literária" ("Mas o que ocorre,como expressãode cria-

çãoliterária, é imitaçãoou transposição").A seguir,o crítico - os críticos,pois a obra é de co-autoria,- semostramdispostosa ressalvar, "parcialmente",o "sentimentonatiüsta" ou a "lenta definiçãode uma consciênciacrítica" (vale dizer, aquilo que, em nossoBarroco,a despeitode suaalegadafragilidadeno plano estético,poderia já anunciar características que mereceriamdestaqueno projeto românEssejuízo avaliativo, tico-nacionalista...). marcadopela cautela e pela difidência, no qual parecemesmoinsinuar-se(no matiz depreciativo de termos como "imitação" e "transposição")algo do argumentosilviojulista do "plâgio", a esta altura dos estudos deintertextuaisdificilmente sustentável(3), safoga-semais completamentequando tem menos em mira um poetaconsideravelmente importante do que Gregório, mas de inegáveis méritos artesanais,Botelho de Oliveira. Deüa-seentãoexprimirclaramentecomorejeição:"Estamos,antes,no âmbitodo Barroco vazio e malabarístico,contra o quai se erguerãoos árcades,e que passouà posteridadecomo índice pejorativoda época" (LS, L1.l-1,12). Uma rejeição que não vacila em acomodar-se,sem crítica,aos termos de um clichê questionável:gongorismoigual a mau

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Essatarefa,ao que se pode imaginar,terá sido facilitada pela reservaque o autor da Formaçáo,simpáticoa uma "literatura eminentemente interessada"(I,18), ainda que menor ("pobre" e "fraca", I,1Q)('z?), manifesta quantoao aspectoauto-reflexivoe lúdico da obra literária,pondo-nosde sobreaviso,sempre que vem a calhar,quanto à incomunicabilidadeperanteosleitores,que resultariada conversãoda arte em "mera experimentação de recursostécnicos"(I,28); ou, ainda,alertando-noscontraas"pretensõesexcessivas do formalismo",queimportariam,"nos casosextÍemos, em reduzir a obra a problemasde linguagem,sejano sentidoamplo da comunicação simbólica,seja no estrito da língua" (I,33).€3)

gosto,estilo rebuscadoe oco. (kia-se o verbete "culteranismo"no Diccionario Manual da "Real Academia Espaúola", edição de 1950da EspasaCalpe:"Sistemados culteranosou cultos,que consisteem nãoexpressar comnaturalidadee simplicidadeosconceitos, por meio mas sim falsae amaneiradamente, de vozesperegrinas,construçõesrebuscadas e violentas,e estilo obscuroe afetado").(30) citadas,o Onde reconhecer,naspassagens crítico que faz o elogio da "gratuidade" (1,27)?A "gratuidadeque dá asasà obra de arte", da qual seriamcarentesos autoresbraao invés,de "fidelisileiros,sobrecarregados, dade documentáriaou sentimental,que vincula à experiênciabruta". E que a essareflexãoaindaacrescenta: "Aliás, a coragemou gratuito do é prova de amaespontaneidade durecimento,no indivíduo e na civilização; aospovosjovense aosmoços,parecetraição e fraqueza." É, porém, o mesmocrítico quem,num movimento antiteticamentependular em relaçãoa esselouvordo "gratuito" enquantofator criativo,negaa existênciaem nossaliteratura, "até o Modernismo".de "escritor realmente

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tllfÍcil, a não ser a dificuldadefácil do rebuscâmcntoverbal" (LS, 101).Que quer dizer al0tamenteestafórmula? O Pe.Vieira, com |!u "discursoengenhoso"(31), é escritorfácil? trtusândradeo é? Euclidesé fácil? Ou todos 3lc$são"falsosrequintados",como o foram, [mutatismutandis",para a crítica adversado llmpo, Gôngora, o "anjo das trevas", o ímonstruoso" Hoelderlindastraduções sofoMallarmé,o "obscuro"...O êxito coollunas, do Euclidesdiflrcil(ou,em outros municativo lormos,o de AugustodosAnjos), torna-os,a Umcomo outro, pseudo-requintados no senlldo pejorativodo verbalismovaníloquo?Topor outrolado,nâoelucidttcsseargumento, dtria a desconfiançado autor da Formação quüntoàsrebuscasdo estilobarroco,na épo0t mesmada revalorizaçãohispânicae iberolmcricanadesseestilo? Para a visão armada de um crítico oue dlrtinguecom Ìucidezentre uma "arte de lSregação"e uma "arte de segregação"(LS, 27);que sustenta:"a própria literaturaherfiética apresentafenômenosque a tornam l[o social,parao sociólogo,quantoa poesia política ou o r om ance de costumes " (LS,ZS;r:a'que afirma: "Os arristasincom-

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em seutempo' preendidos,ou desconhecidos quando a posteripassamrealmentea viver ãadedefine afinal o seuvalor. Destemodo o públicoé fator de ligaçãoentreo autor e a sua própria obra" (LS, 45); que, finalmente,sustenta a "precedênciado estético,mesmoem estudosliterários de orientaçãoou natureza histórica" (1,L6-17);para a visão armada dessecrítico, náo deve ter sido uma decisão simolesrasurar a diferençado Barroco (e, com essegesto,"economizar"todo o Seiscentos) no seumodelode explicaçãodaformação de nossaliteratura.Tanto maisque o Barroco - e nãoapenasentrenós - foi, a seumodo, uma arte da comunicaçãolúdica,do comprometimentopersuasivo,comotambémda afetividadeeróticae da desafeiçãosatírica,ambasformasde afetarum públicode destinatários bastantecorpóreos;nãopor nadaGregório despertouódios e foi "despachado"para Angolí33).A noção quantitativade público rarefeito, à épocada produçãoda obra, não pareceter aqui,no seudeterminismo"objetivista",suficientepesode convencimento.Sobretudo quando,para além do período coÌonial, as relaçõesentre escritore "grandepúblico" em nossomeio acabamsendodefinidas,emblemáticae paradoxalmente,em ter-

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mostambémde "ausência"(LS, 101):"É que no Brasil, embora exista tÍadicionalmente umu literatura muito acessível,na grande m0ioria,verifica-sea ausênciade comunicaelo entre o escritore a massa"(...) "Com lfcito, o escritorsehabituoua produzirpara pÍlblicossimpáticos,masrestritos,e a contar 0oma aprovaçãodosgruposdirigentes,iguaÌmcntereduzidos.Ora, estacircunstância. lià esmagadora maioria dosiletradosque flda ffnda hoje caÍacteÍizao país,nunca lhe permltiudiálogoefetivocoma massa, ou comum p0blicode leitoressuficientemente vastopan iubstituir o apoio e o estímulodaspequenlr élites."Pergunta-se então:guardadasas proporgoes,o que terá mudado essencialm0nteem nosso"sistemaliterário".desdeas ltrülase esparsas manifestações sem ressopré-literatura lìlncia" de nossa assistêmi0t?(3)O fato de Gregório,semprejuízode ter ípcrmanecidona tradiçãolocal da Bahia", nlo ter sidoredescoberto senãono Roman(I,24), não é tambémargumentoirrestltmo pondÍvelpara quem não entretenhauma lineare finalistadahistórialiteráConcepção lla; para quem não a veja da perspectivado 0lcloacabado,masantescomo o movimento [mpre cambianteda diferença;para quem

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estejamaisinteressadonosmomentosde ruptura e transformação(índices sismográficos de uma temporalidadeaberta,onde o futuro já se anuncia)do que nos "momentosdecisivos" (formativosnuma acepçãoretilínea de encadeaescalonamentoontogenealógico) dos com vistasa um instantede apogeuou termo conclusivo.Da perspectivadessatemporalidade não restrita(35), o casoGregório, enquantohiato no horizonterecepcional,não difere fundamentalmentedo casoGôngora, na Espanha;do caso(aindairresolvidoe sem resgate)do Barroco português6);dos casos Caviedese Hernando DomínguezCamargo na América Hispânica, para ficar nesses Façaexemplosde todo em todo expressivos. mosa propósitoum excurso. A"gongorofobia",o horror a Gôngora,trae ignoduzidoem "ausência"("menosprezo rância") do poeta das Soledades,durou, no mínimo,doisséculosna literaturaespanhola; o século XMII, que "reage em direção ao racionalismo,à sobriedade",e no qual"a poesia se converteem prosa"; e o século XIX, "total, absolutamenterefratário a Gôngora". É o que afirma GerardoDiego,em suaintroduçãoà Antología Poéticaen Honor de Gón-

;orr, publicadaem\927,na ocasiãodo terceifo ccntenárioda morte do poeta.(37) O auge do processode rejeiçáo ocorreu, segundo épocadamaistriste l)lcgo,entre"1850-1900, Indigência,triunfo da gongorofobiaoficial", Ité que o resgate(o novo desdobramento, ljora favorável,da históriareceptivada poelll gongorina) começa a apontar com o yunde renovadordas letras hispano-americlnas,Rubén Darío, precedidopelos simbolhtos franceses(que encontravamanalogias antre Gôngorae Mallarmé...).Ainda na Hislurln de la Literatura Espaftolade JuanHurhdo de la Sernae Angel GonzálesPalencia, professores da Universidadede Madri, publipode-seler: "Gôngoraacabou em 1921, ooda londo,por suaspoesiasde maugosto,o coriíCu do culteranismo.defeituosoamaneiramcntoliterário, chamadoassimpor se dirigilGm essaspoesiasa leitores cultos e não ao foi um vícioliterávulgo(...)O culteranismo relativo à expressãoou à forma que se flo C0racterizoupelo amaneirado,rebuscadoe podantesco da linguagem;pelo empoladoe tfctado da frase;pela introduçãode muitas polavrasnovas(tomadaspreferentementedo htlm e do italiano);pelaviolênciado hipérhuto;pelasalusõesmitológicas,históricase

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foi o primeiro a reconhecer,senãoa significaçllo,pelo menosa importânciado maiscomplicadopoetada línguainglesa.")t3e).

geográficas, nãoaomaisconhecido,porérnao mais recôndito, e pelas metáforasextravagantes.Há, portanto, falta de simplicidade, propriedadee clarczana expressão;reunia, assim.o culteranismoos inconvenientesde duas decadênciasliterárias: a decadência alexandrinae a decadênciatrovadoresca."(s) Eis,em suaforma exemplar(inclusiveporque busca antecedentes históricosem outras fasesde "degeneração"ou "decadência"),o clichê da rejeição,com todasasnotasdistintivasqueo lexicalizaramem verbete,parauso de manuais,antologiase dicionários.Nesse sentidoé que se deve entendera súmulade Otto Maria Carpeaux:"Após três séculosde calúniae desprezoda parte dosacadêmicose professores,desprezoque se refletiu até no adjetivo popular 'gongórico',Gôngora celebrou umaressurreiçãovitoriosa,o que tornou antiquadostodososvelhosmanuaisde literatura espanìolae universal."(No mesmoestudo, Carpeauxserefereà analogiaentre Gôngorae JohnDonne:"O destinodosdoispoetas é exatamenteo mesmo.Durante três séculos,Donne foi caluniadoe desprezadopelos acadêmicose professores,ao ponto de desaparecer o seunomedosmanuaisde história literária.Pareceque GeorgeSaintsbury

O casode Gregório de Mattos,o "Boca do lnferno", é, por suavez,muito semelhanteao do poetaperuanoJuandel Valle Caviedes,o "Diente del Parnaso".Segundonos informa o seu mais dedicadoestudiosocontemporâneo,Daniel R. Reedy,Caviedes"escreveua maiorparte de suaspoesiasduranteo último quarteldo séculoXVII, porémgrandenúmero delasnão se publicaramsenãoquasedois séculosdepois,quandoManuelde Odriozola, ajudadopor Ricardo Palma,as incluiu no tomo V dos DocumentosLiterarios del Peru (1873;."trol 6onforme Enrique AndersonImbert, osversosdo "Diente del Parnaso"(alusão a seu estilo mordaz:"mordiscosde mi diente", dizia) "não se publicaram nem em vidanemnosanosimediatosa suamorte,mas se conheciambem. (...) Suapoeisa- satírica, mastambémreligiosae lírica - é dasque têm maior frescor no Peru colonial. Sem dúvida ocuparáum lugar mais destacadodo que uquele que lhe dão as histórias literárias inclusiveesta- quandose editem melhor as Problemasde atribuicãodissuasobras.'{4r)

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cutível,de inexistênciade manuscritosautógrafos,tambémocorremcornCaviedes.Opina RaimundoI-azo:"Tudo em suavida tende a fazê-lo poeta popular, antiacadêmico,de cujaobra inédita,divulgadaoralmente,citam oscríticos,comoconservadas, setecópiasmanuscritas, algumasdasquaisserviramparaas ediçõesde Manuel Odriozola (Documentos, V. Lima, 1873),Ricardo Palma(Flor de Academiasy Dientedel Parnaso,1899)e Rubén FoVargasUgarte (Obras, Lima, 1947).'(42) calizandoo nossoGregório de Mattos no contextodo Barroco ibero-aúericano,o já mencionado DanielR. Reedyconclui:"A importânciadasobrasde Mattostranscendea suaóbvia significaçáocomo reflexóesacuradas sobrea üda brasileirado séculoXVII. Seumérito comopoetapodeseÍ encontrado no talento artísticoque the permitiu expressar-seem suapoesiareligiosae amorosa,bem comoem seuspoemasdesátirasocial.Em seu país, ele é inquestionavelmenteo primeiro poetade importânciamaior e, com Sor Juana Inés de la Cruz e Juan del Valle Caviedes, Mattos deve ser consideradocomo um dos três preeminentespoetas do Novo Mundo nesseperíodo,"(43)

Não muito diferente do destino de Caviedese Gregório, é o do poeta colombiano HernandoDomínguezCamargo,assimresumido por Guillermo Hernándezdel Alba numa "Liminar" à ediçãodo volumededicadoa suavida e obra: "Em resumo:suaobra literária, quasedesconhecida em vida do artista, deuJhefamapósturna,logo enfraquecida;revive-aem SantaFé de Bogotá ao finalizar o séculoXVIII o bibliotecário Manuel del Socorro Rodríguez;em tom menor passaàspáginaseruditasde JoséMaría Vergaray Vergara,historiadorda literatura em Nova Granada,de quem se fazerr'ecovárioscomentaristaspoucofavoráveisa DomínguezCamargo, até chegar agora, depois do novíssimo ensaioreavaliadorde Fernando Arbeláez (1956),à exataapreciaçãode sua obra e a receber a homenagemde quantos saberão regozijar-sediantede tão dilatado horizonte lírico iluminado pelo gênio e o engenhodo melhorpoetagongorinoflorescidona América."(aa) Nessepoeta,dissel*zama Lima, "o gongorismo, signomuitoamericano, aparece com uma apetênciade frenesi inovador, de rebeliãodesafiante, que deorgulhodesatado, o levaa excessos luciferinosparaobter dentro

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do cânongongorinq um excessoaindamais queosde Don tlis...{'s) excessivo Todos essespo€tas- Gregório,Caviedes, Camargo- teriaminexistidoem "perspectiva histórica"?

De pervivênciase trata: FoÍleben, como diz ÌValter Benjaminquandofala da sobrevivênciadasobrasliteráriasparaalémdaépoca gueasüu nascer,('4

Gôngoraficou obliterado ou excluÍdoda convivêncialiteráriapor maisdedoisséculos. Entrea mortedeGregório(1695)e o ParnasoBrasileire,deJanuáriodaC\nha Barbosa, em cnjo ? vol. (1831)já aparecemversos seus,medeiam13ó anos; 155 entre aquela datae o Florilégiode Varnhagen(f850); 187 sea referênciafor à edição Vale Cabraldas Obras Poéticas(1882).Nesseinterregno, além da famana tradiçãooral da Búia, a deseuspoemas(que,se"coletamanuscrita" gundoAntônio Houaiss,"deveter começado maspor terceiros, cedosobtodososaspectos, já quepareceimprovávelquedopróprioGregório"),constituiu-se atravésdosapógrafos, "A tradiçãomanuscritapôde sersustentada, assirqaolongodo séolo XVIU, quandoGregóriojá nãoexistia"(...) -Trata-sedeapógrafos que 'queriam'guardarGregóriode Mattos,apógrafosque,lidosepisodicamente, sustentarama pervivênciade suaobra".(6)

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PoRrJMÀHlsrónn coxsrtr,an A história literária, renovadapela estética darecepção,deve,segundoJauss,conteruma "função produtiva do compreenderprogressivo". Cabe-lhefazera críticatanto dos processosde inclusão(â constituiçãoda "tradição"), comodosprocessosde exclusão(a crítica do "olvido").{48) Assim,pode-seconcluir,não lhe serádado aceitarsimplesmenteo sentimentodo passado enquanto"lugar comum",como,ao invés, parecesustentaÌa Formação(I,11), onde se lê: "Quando nos colocamosante um texto, sentimos,emboapa e, comoosantecessores imediatos,que nosformaram,e oscontemporâneos,a que nosliga a comunidadede cultura; acabamoschegandoa conclusõesparecidas,ressalvadaa personalidadepor um pequeno timbre na maneirade apresentá-1as." Nietzschejá nos alertavacom relaçãoa essa aceitaçãoresignadada tradiçãocomo sefora uma segundanâtureza (atitude que vê, na busca da originalidade,uma "ilusão"; loc. cit.). Ié-se em Aumra: "Por trás dos sentimentoshá ju2os e estimativasde valor que nos foram legadosna forma de sentimentos

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(propensões,aversôes).A inspiraçãoque provém do sentimentoé neta de urnjuízó _ muitasvezesde um juízo falso _ e, em todo caso,nãode teu própriojuÍzo.Confiar em seu sentlmento,- isto signifìcaobedecermais ao seu avô e à suaavó,e aosavósdeles,do que aos deusesque estãoem nós: nossa'rarãà-e nossaexperiência."(ae) Nessaordem de idéías. argumentandoagoracomJausse Starobinski, ép_r^eciso quea interpretaçãocríticanãoanule a "tunçãodiferencial,'da obra, sua .,função transgressora". A crítica não deve,portunto, excluira exceçãoe assimilaro dessemelhanté em favorda constituição de um cânonimutá_ ver de obras,tornadoaceitávele convertido em.patrimôniocomum:deve,antes,.,manter OfterglS-a dasobrasenquantodiferença;;e, 1 assim,"pôr em relevo a descontinuidaãedá liteÌatura em relação à históría da socie_ dade.'(so) "É sabidoque a tradição- entendidacomo passadovivo - nuncase nos dá feita: é uma criação'',escreveOctaüo paz em..Homenaje a Sor Juana Inés de la Cruz en su Tercór Centenario",ensaiode 1951,que preludia o rcy gande livro_de 1992sobre a autora de Primero Sueío.(sr)

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De fato, se pensarmos,com Walter Benjamin, que "a históriaé objeto de uma corÌstrução, cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio,masantesum tempocarregadode agoridade"; se entendeÍmosque "é irrecuperável, arriscadesaparecer, toda imagemdo passadoque nãosedeixereconhecercomosignificativa pelo presentea que visa"; se ponderarmosque"articular historicamenteo passado nãosignificareconhecêlocomoeledefato foi", teremosconjurado,por um lado, a "ilusãoobjetivista"e, por outro, a "ilusão positivista" do encadeamentocausaldos fatos como avalde suahistoricidade.(52)

comoprocesso conclusivo, do que cessoabeÍo-.Uma históriaonãe comopro,eleu"ri-os momentosde.rupturae transgressão e que a.tradiçãonãode um modo,.esËn_ :."ï:ldl qatista" (..a.formação da conrinuiAaae ú-t-ü_ ria, - espéciede transmissão ou to.f,a.niie

que

no tempo

o moü_ 1oIï911..: Ts:gura mentoconjunto, definindo oslin.ârn"nto,OL t1I pq* comoelaé concebida n. forrnãl 24),mascomouma..Aiafetica ção,.1, ãafei_ guntae da resposta", um coÌlstantee renovado questionarda diacroniapela sincro*ã.'

Compreenderemos, então,queuma coisaé a determinação,objetivamentequantificável, do primeiro público da obra, outra a história de suarecepção.Que envolvefasesde opacidadeou de prestígio,de ocultaçãoou de reüvescência.Que não se alimentado substancialismode um "significadopleno" (hipostasiado em "espÍrito" ou "caráter nacional"), rastreadocomo culminaçãode uma origem "simples",dadade uma vez por todas,"datável", Poderemosimaginarassim,alternativamente,umahistórialiteráriamenoscomoformaçãodo que como transformagáo.Menos

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A ORIGEM VERTIGINOSA

Gôngora e Quevedo, e antes de ambos Camões,que aosdois influencioue já anunciava no maneirismo o código barroco, não abolem a contribuição diferencial - as di-fer€ncias chamadasGregório de Mattos, Caviedes,Domínguez Camargo,Sor Juana Inés de la Cruz, Nessesentido, não há propriamente "literaturas menores", apassivadas diante do cânon radioso, do ..significado tr anscendental" das liter atur as di tas "maiores". Assim como os cânonesnão são "etemos" e o belo é historicamenterelativo, também não há falar em influência de mão única,que não sejareprocessada e rediferenciadano novo ambiente que a recebeu (como apontaMukarovskya propósitoda questãoda literatura dos "povos pequenos")(5r). Nessa acepçâodiferencial, o Barroco americano, comoo definiu kzama Lima, é uma ..arteda contraconquista".A esse processochamamos,desdeOswaldde Andrade,..devoração antropofágica".(5s)

como BarNossaliteratur4articulando-se roco. não teve inflincia (in'fans, o que não iãr"f Ì.Iaoteve origem"simples"'Nuncafoi in-fárme,Já "nascèu"adulta,formada,no falandoo código pianodosualoresestéticos, 'maiselaborado daépoca.Nele,no movimento de seus"signosem rotação",inscreveu-se como"diferendesdelogo,siigularizando-se (Derrida) õ;. o ""Àá"it"''"ntoda diferença" iroduz-sedesdesempre:não dependeda iencarnuçao" datadadêumLOGOSauroral' daorigemcomoumsol quedecidadaquestão Assimtambéma ,irrmsistemahèliocêntrico. formal(e crítica)dacontribrrição maturidade nrinoriunuputua nossaliteraturanãoficana do ciclo sazonalcronologicaãep-endência mËnteptopostopela Formaçõo'Anterior.e aprópria u.ìr" .icio,põeemquestão "*i"rioi queo rege'Nossa"origem" idéiagradualista nem"simnãofoi pontual, iitt.afiu,pottunto, genéticoples" (númaacepçãoorganicista, parafalar !muriònaria).Fói-"vertiginosa", àgoru.o*o WalterBenjamin,quandoretonïaapalavraUrsprungemseusentidoetimoa noçãode "salto"' de iãnúá. ou" "nuolue "tiansioimação".t53)

Da perspectivade uma historiografianãolinear, não-conclusa,relevante para o presentede criação,quetenhaem contaos,.câmbiosde horizonte" de recepçãoe a maquinação"plagiotrópica"dospercursosoblíquose

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dasderivaçÕes descontínuas(56); a pluralidade e a diversidadedos "tempi"; as constelações transtemporais (porém não desprovidasde "historicidade",como asüslumbravaBenjamin)(s4'dessaoutra "perspectivahistórica", Gregório de Mattos existiu e existe - viveu e pervive- maisdo que,por exemplo,um Casimiro de Abreu ("o maior poeta dos modos menoresque o nossoRomantismoteve", segundoa Formação,II, 194),e que hoje quase só pode ser relido como Kitsch (veja-se a paródiaoswaldianados "Meus oito anos");o frouxo e quérulo Casimiroque, tendo publicadoAs primaverasem 1859,foi contemporâneo exato de Baudelaire e de Sousândrade...É com Gregório, com sua poesiada "funçãometalingüística"e da "funçãolúdicopoética", com suapoética da "salvaçãoatravés da linguagem" (ÌWisnik),que "sincronizam" e "dialogam"o JoãoCabral,engenheiro de poemascombinatórios,ou a vanguarda que,já em 1955,propugnava por uma "obra de arte aberta" e por um "neobarroco"($).É o legado de Gregório que reclamam,quase nos mesmostermos,Oswaldde Andrade,fazendonos anos40 um balançode nossaliteratura, e Mário Faustino,inesquecívelcompanheiro de geração,ao escreverna década

Ainda que Gregório de Mattos tenha ficado provisoriamenteconfinado na memória local e na "tradição manuscrita',(que, todavra,tevetorçasparaprolongar-seatravésdos réculosXVII e XVII!; ainda que só tenha lido resgatadoem letra impressa cerca de 150anosdepoisde sua morie; ainda que tenha pesado renitentementesobresuarepu-

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seguinte:"Gregório é o nossoprimeiro poeta 'popular', com audiênciacerta não só èntre intelectuaiscomo em todas as camadassociais,e conscienteaproveitadorde temase de ritmos da poesia e da músicapopulares;o nossoprimeiro poeta 'participantet,no senti_ Oocontemporâneo;poeta de admiráveisre_ cuÍsostécnicos;e um barroco típico: assimi_ ladore continuadorda experiêncianeoclássica da Renascença,sensualistavisual. 'fusionista' (harmonizadorde contrários),'feísta' (utilizando temas conven ci o n ál m ent e 'feios'),amantedosp-ormenores, culteranista, conceitualistaetc."(se) É ele quem agoraressuscita,como muito bem soube ver James Amado,falandoem especialde CaetanoVeIoso,na novaoralidade,lúdicae sofisticada. dos"tropicalistas"baianos,neotrovadoresda cra eletrônica.(o)

taçãoa "morte civil" daacusação de "plâgio", a ausência dopoeta,numsentidomaisfundamental , foi meramenteürtual ou larvada (mascarada). Presente,como inscriçãoem linha d'água,Gregório sempreesteve,no miolo do própriocódigobarroquistade que ele foi operadorexcepcional entrenós.Um (Gerardo "estilocoletivo"ou"arquitetônico" Diego),quepersistiuem traçosóbviosmesmo na obra dos opositoresnominaisdesse código(osárcades mineirosdatardo-barroca VilaRica). migrando Esseestiloinsidioso,pervasivo, já parao interiordo Romantismo, convertido num repertóriotransepocal de recursosexpressivos, é queexplica,em proporçãoponderável,a insurreiçãoaparentemente deslocadano tempo,regressivae progressiva,do Guesasousandradino.Uma insurreição contraa dominantecomunicativado código SilvioRomedoperíodo.Apesardospesares, ro soubeavaliá-lacorretamente comoinfraçáo da norma: "o poeta sai quaseinteiramenteforadatoadacomumdapoetização do seumeio;suasidéiase linguagem têm outra para explicação estrutura".Nãoencontrando o autordaHistóriada Literatuo fenômeno. 68

ra Brasileira,perplexo,atribuiu-oà imperÍcia formal: ao poeta "quaseinteiramentedesconhecido"faltaria"a destrezae a habilidadeda forma". Da obra de Sousândrade,dessetencmoto clandestino, que subverte o pacto harmonioso- a "toada comum" - de nossoRomantismocanônico,a Formaçáo (que endossaquasesemdiscrepânciaessepacto e a partilha hierárquicade autoresdele decorrente) praticamente trâo dá conta. Registra cautelosamentea originalidadedo poeta ("Um original", ll,207 -208), relegado ao discreto conjunto dos "menores". Relatiüza, a seguiç esseaspectode noüdade, obtemperandoque o "ar de procura", legítimo como "inquietação",nempor isso"favorecea plenitudeartística". Em outras palavras, a Formação rePete, subscrevendo-o,o juizo romeriano: a inovação- o excessoformal, já que entram no argumentoalusõesa "preciosismo"e ,.mau 8osto" - são interpretadoscomo carênciade perfeiçãono plano estético.Mas, releva notrarrcom uma agravante:de Sousândradeé consideradoagoraapenaso liwo de estréi4 Harpas Selvagens,1857(II,416). O Guesa, um poema longo, em XIII Cantos,que, na opiniãorefratáriado próprio SflvioRomero, convirialer "por inteiro", nãoé sequerobjeto

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de avaliação,emborareferidonanotíciabiorelativaaopoeta([I,381).SousânbliográÍica drade,ao contráriode Gregório,editou-se o que,nemporisso,lheproinsistentemente, porcionoumaior escutajunto aopúblico seu que constituiriaaÍinal o aucontemporâneo, normatiditório"integrado"do Romantismo histórica"da vo. Vale dizer,na"perspectiva Forma$q também Sousândrade, o barroquistailegível- segundoospadrõescomuns do tempo- nãoexistiu,nãorepercutiu,não influiu, pelo merìosno que toca à suaobra (aindaquehojenãoseposmaisfundamental história saescrever semo autordoGuesauma perÍododenossalitenãoconvencional desse pode não ratura, como se escÍever,sem a disrupçãode Hoelderlin, a do Romantismo recepcional De umaperspectiva alemão).(ó1) maisampla,todavia,quedêcontado heteÍogêneoe dodescontÍnuo nahistória,a obrado e arrevesado do"meicoetâneo "preciosista" goCasimiro"estáprecisamente entreaquelas querompemtãototalmentecomo horizonte literárias,que seu familiar de expectativas público só se pode constituiÍprogressivaA grandeconcórdiada "literatura mente,(62) integrada"sósedeixaestabelecer- e recapitular comotal - pondoà margem,"des-agre-

(comoantes, gando"o Guesasousandradino parasimplificara "questãodaorigem",Gregórioe o Barrocohaviamsidosegregados no limbo...).

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O PARADIGMAABERTO "...I'impossible'tâche da taàrcteur'(Benjamin), voilàcequevau ürc aussi'déconstruction':

riana é dadopor "monótonona maior parte", coma ressalvado "pitoresco"e do "saboroso" de seus"melhoresmomentos".A preferência vai para a obra lírica, que é considerada"talvez superior" e à qual se concedemmesmo "alguns momentosda mais alta poesia", no todo de uma obra "irregular", da qual se salvaria apenas"urna minoria de versos").

ressalvar,num outro plano, Seránecessário que é o próprio autor da Formaçáo quem acaba,implicitamente,por abrir a possibilidade de se repensaraquela sua primeira "perspectivahistórica".Na "Dialética da Malandragem",notável ensaio de 1970,como que refaz, em outro desenho,o tÍaçado evolutivolinear desseseu livro de 59, desconstruindo-o e reconstruindo-onum novo percurso,agorafraturado e transtemporal("expressõesrutilantes,que reaparecemde modo periódico", Dial.,88),recuperadoantespelas viasmarginaisdo quepelaestradareal.Nesse novo desenho,não linearizado,mas constelar, mosaical,o antes inexistente"Boca do Inferno" passaa ter voze vez.Ê eleagoraum dos precursoresda comicidade"malandra" em nossaliteratura,valorizado,nessaóptica renovada,nãopelo veio sério-estético dapoesia lÍrica, amorosae religiosa,maspela sátira (Na Presença,I,70, emborase desabusada.(63) reconheçaa preeminênciado poetana sátira brasileir4 o quinhãosatíricoda poesiagrego-

Nessaautodesconstrução do modelo semiológicode leitura da Formação,por força da qual a "musapraguejadora"de Gregório de Mattos é resgatadade seuanterior seqüestro sociológico,nãorrais õper4 parecelícito afirmar, o esquema"épico" da buscado momento logofânicode "encarnaçãoliterária do espírito nacional" (1,26) e do roteiro de seu retorno, hegeliano-ascensional, a si mesmo, í'consciência convertidoem real" de seu"significado histórico" 0I,369). Nunca Mário de Andrade esteve tão certo, nunca foi (talvez involuntariamente)melhor teórico do nacional, quando,no rastreioontológicodo "caráter" do homembrasileiro,chegounão à identidade conclusa,plen4 mas à diferença: ao "descaráter" irresolvido e questionantede seu anti-herói macunaímico.(Essaperquiriçãoda "identidade"ou 'caráter nacional",no

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Machado de Assis de "Instinto de Nacionalidade",1873,já haüa perdido,refira-se,todas assuaspretensõesde ubicaçãolocalistae de entificação substancialista;deriva talvez daí, dessadesmistiÍicaçãodo Romantismo,a superioridadecríticadaúltima faseda obra machadiana,onde o ceticismo agônico ensaia, em passofigurado de reflexão, a "carnavalizaçã:o"do esprit de finesse,,.)(ú).

suscetível de "racionalizações ideológicas", entre asquaisseinclui o próprio "nacionalismo" romântico),que sedeixamvislumbraras contradiçõesantinormativas que - pÍÌra usar uma outÍa formulaçãoda "Dialética" - "facilitarão a nossainserçãonum mundoeventualmente aberto"(65), "O caráterdo personagem cômico não é o fantoche dos deterministas, mas a clarabóiaa cujo raio aparecevisivelmente a liberdadede seusatos".observaW. Benjarnin num ensaioonde também sublinha a impossibilidadede "elaborar um conceito não-contÍaditório",a partir do "mundo exterior do homemagente",parao fim de "lhe dar por núcleo o caráter"(6).De sua parte, Mikhail Bakhtin, ao considerara criseda "integridade épica",monológic4fala no "gaio excesso",no resíduo"não-encamável",no "excedenteirrealizadode humanidade"correspondente a uma "dinâmica do desacorde", que teria vazãono mundo "carnavalizado" do riso.(64

Na "Dialéctica" o que importa não é mais depreendera funçãointegrativa,que responderia pelo "encorpar-se" de uma tradição contínua,até o momento em que o LOGOS (o "espírito") nacionalterminassepor se fazeÍ caÍne, amadurecidoe transubstanciado numa identidade social conclusa. Releva, agora, no plano do que se poderia chamar (com Jauss)a funçáoantecipadorada literatura, discernir uma antitradição, eversiva, fragmentária(aquelasperiódicas"expressões rutilantes", não explicáveispor um causalismo oÍganicista),capazdenospropor modelos sujeitosao de condutanão-monológicos,não (autoritária), lei da iden' da constrangimento tidade (coesa)e da homogeneidade(excludente do estranho).E é no não-fechamento, na exorbitânciadessecaráterinconcluso(não

Gregório de Mattos, "o primeiro antropófago experimentalda nossapoesia",como o viuAugusto de Campos(6), contribuiupione! peÍÌsaressepararamenteparaquepossamos digma aberto, não-dogmático,não-verocên-

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POSTSCRTPTUM, 1987 trico. E é por issotambémque o reivindicamos,no tricentésimoqüinquagésimo aniverúrio deseunascimento na"cidadedaBahia". São P6ulo, novcmbro da 198ó; r,.Írâo rcvista: junho/julho dc 19&7;.8sto dc 1988.

foi,emcerA "DialéticadaMalandragem" por uràensaiode 1966 ta medid4antecipada (publicadoem revistaem 1968),que encontrou a necessária ediçãocursivaem liwo repelanoite(SãoPaulo,Edicente,A educaçáo toraAtica, 1987).Trata-sede "Literaturade Essetexto,ocupado doisgumes". sempÍecom nacional,seapresena questãodaidentidade ta,discretamente, comouma"sondagempreliminar".Emborasedeclaremaisvoltadopara o "fatohistórico"do queparao "fatoestético", nãopor acasoproclamaa intençãode desenvolverseuenfoqueatravésdesubidase descidasentÍe os séculosXVI e XIX, sem subordinação à "seqüência cronológica estrita", ou seja,desprendendo-se da sucessiüdadelinear.Seucritériopassaa sero oximoresco"sentimentodos contrários",atitude que "procuraver em cadatendênciaa componenteopost4de modoa apreendera realidadedemaneiramaisdinâmica,queé sempre dialética".O Romantismo continuaa ser por seu"maiorpoderde comunienfatizado caçãoimediata".Maso Barrocoe o "esúlo porvezesno barroco"(aindaquesubsumidos de conceitomaisneutroe desdiferenciador 77

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Classicismo e "estiloclássico") sáovistos agorapoÍumanovaóptica.Delesdecorreria uma "linguagemproüdencial"que, pelo ,.senso dosextremos e dasoposições" (porsuacapacidadede adequar-se à "realidadeinsólitaou desconhecida"), teria gerado"modalidades tãotenazes de expressão que,apesardapassagemdasmodasliterárias,muitodelaspermaneceucomoalgocongenialao País".Fica assimreconhecida a congenialidadg valedi zer, a ação duradourado Barroco.Desse mesmo"estilo barroco"de "extremos"e que,naPnesença "contradiçôes" (I,22),inspiravareservas quanto"à suaautenticidade" e à "permanência da suacomunicação,'. Aqui, nessemodooximoresco de ler a tradição,já se preparaa grande"virada"metodológica autodesconstrutora da"Dialética".

NOTAS (') O presente estudofoi elaborado a partir das notas de preleçãodo curso"Semiologiada evoluçãoliterária: o modelo barroco e suaprodutiüdade na poesiabrasileira", que ministrei no Semestrede Primavera de 1978 naUniversidadedc Yale,comoFulbright-HaysVisiting ProfessoÍ.Voltei a oferecer o mesmo cuÍso em outras oportunidades,no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e, no Semestrede Primavera de l!)81, na Universidade do Texasem Austin, como Tinker Visiting Professor.Deilhe uma primeira rcdaçãoorganizadaem novembrode 1986,para apresentá-lo,sob forma de conferênci4 em 11 de dezembrodo mesmoano, no Simpósiocomemo rativo dos 3í) anosde nascimentodo poeta: 'GÍegório de Mattos : O Poetada Controvérsia",Salvador,Bahia; patrocínio: Universidade Federal da Bahia, Centro de Estudos Baianos da UFBA, Academia de l-etras da Bahia, Fundação Gregório de MattoVPMS. Em 2 de agostode 1988,expus noramente o tema, sob o título 'O Barroco e a Historiografia Literária Brasileira", no Curso de Especializaçãoem Cultura e Arte Barroca promoüdo pela UniversidadeFederalde Ouro Preto, MG. (1) "Da razío antropofágica: a Europa sob o signo da devoração" (1980), Colóqulo/Letras, Lisboa, Gulbenkian, n062,julho de 1981;republicado com o subtítulo "Diálogo e diferençana culiurabrasileira"em Doletim Blbliogrdlicq SãoPaulo,BibliotecaMáriode Andrade,

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v. 44,ncs,1-4,janeiro a dezembrode 1983,OutÍos estudosmeuspcrtinentesao Barroco e ao câsoGregório de Mattos: "Poéticâ sitrcrônica", Correio da ManhÍ, Rio de Janebo,2,10.ü , hoje em A Arte no IlorizonÍe do Proúvel, SãoPaulo,Perspectivq 196$ 'Teúo e História'' (dezembrode 1967)e "Uma Arquitextura do Barroco" (28,3.71),ambosem A Op€raçãodo Texto, São Paulo, Perspectiva,1976.Refiram-setambémaspassagerui sobre Barroco e "barroquisno" em Augusto e Haroldo de Campoq Re/Vlsáo de Sousôndrode, São Paulo, Edi@s Invençãq 1964;2a"ed., Rio de Janeiro, Nova I'rontclra, 1982,

a') Wilson Marliry 'Gregório, o Pitoresco", Suplemetrto LiteÍario de O Estado de S, Paulq 213.70.Note-se como, ao u.sara er.pressão"mistiÍicaçáo histórica', W. Martins canega ascoresdo exc€ío de A. Candido por ele (Martins) preüamentecitado, dandolhe uma conotação "apocalÍptica". (3) Conferênciapronunbiadana Biblioteca PúbücaMunicipal de SãoPaulo,em 1945.Cf. BoletimBibllogúnco, anoII, v. VII, abril-maio-junhode 1945. (4) Note-se que o me.smoprocesso de 'mitiÍicação" da origem se repcte, com sinal trocado, na culminação da cadeia evolutiva proposta pela historiogrúa linear,

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destavez com Machado de Assis. Gregório, o "inexistente", é uma'ausência" quesecarregapervasivamente de 'pre.sença', que deixa rastÍoq por mais que se intenterasurá-la;Machado,nacionalpor nãoser nacional ("um brasileiro em regra", só que "à cata do eÍravagante",abusivamente pelo "demônioda imiassaltado taçãode inlgesese alemães",no retratopretensamente objetivoquelhe fez em 1897o truculentoSflvioRomeÍo), é uma 'pÍesetrçã" que se ausent4 evasivamcnte, ocmpreque sepretenda"entificá1a"...

(t Hans Robert Jauss,"Literaturgeschichte als Provokation der LiteraturwissenschaÍt"e 'Geschichte der Kunstund Historie",em'Uteroturgeschichtcals PrcÌokstion, Frankfurt a.M., Suhrkamp, 1970;Pour une csthéaiquede la réception, Paris, Gallimard, 1978.Segundo Jauss,o "escopo supremo" dos "patriarcas" oitoc€ntistasdas Históriasda Literatura Nacionais,tais como Gervinus (Alemanha), De Sanctis (Itália), Ianron (França), fora exatamente"ÍepÍes€ntar, atÍavésda bistória dos produtos literários (Dlchtwerke), a essência de uma entidade nacionalem buscade si mesma". (6) Os grifos não estão no original. Acrescentei-os para melhor úualizar o problema. Como elucida Gayatri ChakÍavoíy Spivak,em seuexcelenteprefácio à traduçáoparao inglêsda GÍamotologia(Of crsmmatology, Baltimore/Londres, The John Hopkins University Presg196), o deslindede determinadasséric,smetafó-

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ricas e de certosesquemasretóÍicospode "desbalancear" a equaçãode "unidadee ordem" que constituio sistemaenunciativodo tcxto e pôr a nu "estrutuÍasde cancclamcnto"que lhe serviramde lastro;oferece-se, assim,uma instânciapropícia à "leitura desconstruti(7) Ensaioapresentado numSimpósiode 1958,incluídoem Th.A.Sebeok(org.)Style in Language,Cambridge, Mass.,The M.I.T Prcss,1960;cm port. cm Roman Jakobson,Lingüísticae Comunicaçáo,SãoPaulo,Cultrix/EDUSP,1969(trad.de I.Blikstcine J. PauloPaes). Ver tambómasminhasconsideraçóes sobreo modelo jakobsonianoem "Comunicaçãona poesiade vanguarda", A Arte no Ilorizonte do Provável,cit. na nota 1. (8)

ção psíquicâe de apelo (no sentidode Bühler)." No entanlo,Jakobson,desde 1923,em seu livro sobro o versotcheco,haviaconsiderâdo"errônea"a identificação pura e simplesentre a "linguagempoética" e a "linguagememocional",por nãolevarem contaâ radical difercnça funcional entre ambas";assim,desde 1958,haviacomplctadoo modelotriádicodc K.Bühlcr: Dsrstellungsfunktion, Kundgabefunktion, Appelfunktion, i. é, "funçãode "representação" ou "expositiva"; "funçãode exteriorizaçâo"ou "expressiva";"funçãode apelo"ou "conativa",com outrastrês:"fática", e "poética".Na concepçãodc cstilo "metalingüísticâ" pelo idealismocroceano, influenciada de A. Candido, se manifestauma tendônciasimilar: como no casode MattosoCâmara(quecitaW.Urban)o clcmentointuitivo é realçado;ou, nas palawasdc Mattoso:é "pelo contrasteemocionalem facedo que é intclectivo"que "se devecaracterizaro estilo". (9)

O notávellingüístabrasileiroJ.MattosoCâmaraJr.,que foi discípulode Jakobsonnos E.LT.A.,rcvcla,não obstante,em suas"Consitlcraçõessobrc o estilo" (1955)1 republicadasem Dispersos,Rio de Janeiro,Fundação GetúlioVargas, 1972,umatcndôncia atÍatarenglobada ou indistintamenteo "poótico" e o "emotivo". Nesse scntido, mostra, antcs, uma influôncia da estilística Escreve: "afetiva"de CharlesBally,alunode Saussure. "A soluçãoparaintroduziroselementosemocionaisno sistemaintelectivodalínguaéqueestána basedo estilo, em última análise.Assim compÌeendido,podemosdefinir o estilo como - um conjunto de processosque fazemda línguarepresentativa um meiode oxterioriza-

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GeorgeSteiner,em After BâbeV spectsof fanguage ond Translation(l,ondres,N.Iorque,Toronto,Oxford um pontode vistaquc UniversityPÍess,1975),expressa merecereflexão;glosandoum vsrsodc Shelley("Languageis a perpetualOrphic song"),escrevc:"Se postuque a linguagem larmos,como me parecenecessário, humanaamadureceuprincipalmenteatravósde suas funçõesherméticae criativa,que a evoluçãodo gônio da linguagemem suaplcnitudeé inseparávcldo impulsoparao ocultamentoe a ficção,entãoteremosconseguidofinalmentenosacercardo poblemade Babcl(...) Ambigüidadc,polissemia, opacidade,a violaçãode se-

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qúênciasgramaticaise lógicas,incompreensões recíprocas,a capacidadepara mentiÍ - issotudo não são patologiasda linguagem,massim as raízesdo seugênio." (10) "Geschichtcder Kunst und Historic", cit. na nota 5, p. 215(ed.alemã);p.88 (ed. francesa). (11) A "objetiüdade" faz parle do "idcal do crítico", um ideal "nuncaatingidoem virtudedaslimitaçócsindividuais e mctodológicas",segundose Iô na Formação (I,31).A rcduçãodo "arbítÍio" em "bcnefícioda objetividade";a "humildadcde umavcrificaçãoobjctiva,a que outrospoderiamtcr chcgado",que abateo "orgulho inicial do crítico, como lcitor insubstituível",e "o irmana aos lugares-comuns de scu tempo" (1,32);a noçáo de um "esquclotodo conhecimentoobjetivamenteestabclecido", queo críticorccobririacom"a sua linguagem própria,asidóiase imagcnsqueexprimem a sua üsão" (I,39), são outros tópicos que ajudam a compreendcra posiçáodo autorda Formaçáopcrante o problema. (72) Argumentandocontra a concepçáoda história como uma "sóric Ícchada",quc envolvcriaa "ilusão de um começooriginal e de um fim definido"; criticando a definição de história de A.C.Danto ("A stoÍy is an

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account,I shall sayan explanation,of how the change Írom the beginningto the end took place"),que lhe parececorresponderàquclaque,na poéticade Aristótcles,se dá à "fábula" (mythos),Jauss,em contraposiçâo a essaidéia de uma "narrativahistórica"homogênea,presididapela"unidadedafábulaépica"àmaneira aristotélica,escrcve:"Se a lógica narrativa,que fica assiminteiÍamcntefechadano campoda poéticaclássica,tiveÍ em mira, tarnbém,dar conta do que há de contingentena história,ela poderiaentãoseguiro paradigmado romancemoderno.Este, dcsdeFlaubert, aboliuprogramaticamente a teleologiada fábulaépica e desenvolvsu técnicasnarrativasdestinadasa ÍeintÍoduzir na históriapassadao horizonteabcrtodo futuro; a substituiro narradoroniscientepor umapluralização de pcrspectivasdiversamentesituáveis;a destruir a ilusãoda totalidadefechadapor meio de cventossurpreendcntes,que 'incidemdc través',os quaisdeixam manifestaa impossibilidade de totalizara história,exa:. tamentepor tcrcm permanecidoainda inexplicáveis." ('Geschichtedcr Kunst ...",cit.na r,ota5, pp.229-2j0, cd. al.;101-102, ed.fr.). J.Dcrrida,porseulado,quando faza críticaao "modelolinear" e ao "conceitotradicional do tempo", que lhe é solidário,mostrandocomo esse"pensamcntolinear" podc implicaruma "redução da história",esclarecequc estáentendcndo,por esse modclo("associado a um esquemalincar dc dcsenrolamcntoda prcsença"),o "modeloépico".Esse"modclo cnigmáticoda linha", quc dcterminaria,por dentro, "toda ontologiâ,de Aristótelesa Hegcl", envolvcria, segundo a desconstruçãodcrridiana da história da filosofia, "o recalcamentodo pensamcntosimbólico pluridimensional"(cf, JacquesDerrida, De la crâm-

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matologie,PaÍis,Minuit, 1967,pp. 127_130; crematot383r.Sjo P1u_lo,PeÍspecrivq 192J,pp. 106108; trad.