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Portuguese Pages [256] Year 2017
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Pierre Naveau
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O QUEDO
ENCONTRO SE
ESCREVE ESTUDOS LACANIANOS
Éric Laurent Prefácio Vera Avellar Ribeiro Tradução
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·• · l•:cl11i1111s Mid1clc, Paris, 2014 1',ojdo gr.ífico
/11li(J Abreu+ Lconora Weissmann/Jiló Design Imagem da capa 1.c·11110ra Weissmann Revisão
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N323c.Pr Naveau, Pierre O que do enc;:ontro se escreve : estudos lacanianos / Pierre Naveau ; tradução Vera Avellar Ribeiro . - Belo Horizonte : EBP Editora, 20 l 7. t. 295 p. ISBN 978-85-63061-08-9 Título original: Ce qui de la rencontre s'écrit: études lacanie,mes. l.Psicanálise. I.Lacan, Jacques, 1901-1981. II.Ribeiro, Vera Avellar. III.Título. IV.Título original : Ce qui de la rencontre s' écrit : études lacaniennes. CDU 159.964.2
EBP-MG R. Felipe dos Santos, 588 Lourdes - CEP 30180-160 Belo Horizonte/MG (') 1) 3292 5776 [email protected]. br.
Ostinato rigore Leonardo Da Vinci
Sumário
Apresentação, Fernanda Otoní Brisset 17 Prefácio: O lívro do encontro, Éric Laurent 23
Introdução
33
UMA QUERELA DOUTRINAL 43
A querela do falo 47 O mundo no qual nos abandonamos 48 A castração do pai 50 O silêncio de Helene Deutsch 52 A reivindicação de Karen Homey 56
- ll -
CLÍNICA DA RECUSA 63
II
A mulher que diz não 67 A separação entre o amor e o desejo 68 A vingança 71 A dialética entre a transferência positiva e a transferência negativa 75 Caráter e insistência 76
III
A angústia em um caso de anorexia e de bulimia feminina 79 O momento da angústia 79 Uma mulher orgulhosa 81 O circuito de um gozo autoerótico 83 Dar ao em excesso (en-trop) invisível uma consistência 85 O Outro entalado na garganta 86 O enigma da mulher magra 87 O objeto expulso 88 A obscenidade da coisa 90 Comer demais, dizer demais sobre isso 91 Apagar o fogo que queima em seu corpo 93
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POÉTICA DO IMPOSSÍVEL DE DIZER 97
IV
O Outro, este é o problema
101
A contingência e a marca 102 O horror do gozo sexual Hn O sexo da mulher l 06 A defesa do infinito contra o finito 108 O gozo do idiota 113 A ética do encontro e a ética do celibatário 118
VARIEDADE DOS GOZOS 127 Leitura dos Seminários 16, 17, 18, 19, 20 e 22
V
A abordagem da mulher pelo homem: um caminho lógico 131 O valor de verdade de uma função proposicional Os quantificadores lógicos 136
134
A função fálica (x) e a castração como operação lógica Duas mulheres e dois gozos 141
- 13 -
137
VI
O neurótico e o mestre
145
O mestre/senhor segundo Hegel 146 O mito segundo Kojeve 147 Uma outra leitura 150 O mestre segundo Pascal 15·+ A matriz de Lac:m 157 Neurose obsessi,·a e histeria 159 O obsessivo e a dívida l 61 A histérica e o gozo cio homem 16-1 Conclusiio dessa 110,·a abordagem lla neurose
167
VII
Os dois gozos da histérica
169
Os dois gozos l 71 A recusa do corpo 172 O absoluto do go1.0 175 () ;10 IIICIIOS \1111 176
Vlll
Os homens, as mulheres e os Sl·mbl:mks 179 A hislcrica e.• a 111ulhcr 179 llt11:1 escolha política 181 O cm I>, e: ler o sintoma na dimensão da histeria. Ele toma Sócrates,· como exemplo e afirma que - para assim dizê-lo - o sintoma do sujeito é o sintoma do sintoma do Outro 12 • · O melhor exemplo é o da fala ofensiva (blessante), uma vez que ela é suscetível de deixar marcas no corpo~ Há, em minha opinião, um fio que se estende entre o . título da intervenção de J.-A. Miller para o Congres~o_. da NLS, em 2009, em Paris - «A palavra que fere (Le mot quí blesse)» 13 - e o título de sua intervenção no· Congresso seguinte, da NLS, em 2011, em Londres ::«Ler um sintoma» 14• J.-A. Miller ressaltou que um acontecimento de cor-. po supõe que se tem um corpo 15 • Ter um corpo é di-i,' ferente de ser um corpo. Dizer que um sintoma é um' acontecimento de corpo implica que haja uma divisã9'. entre o ser e o ter, isto é, uma disjunção entre o ser e corpo. O sujeito não é seu corpo. Ele não se identifidrcom este. J.-A. Miller propõe a seguinte definição de ufo\ acontecimento de corpo: « Trata-se, de fato, sempre, de.: acontecimentos de discurso, que deixaram seus rastros no: corpo. E esses rastros perturbam o [funcionamento do
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12 "O sintoma histérico, em resumo, é, para UOM, o sintoma d~·: se interessar pelo sintoma do outro como tal[ ... ]". Cf. lACAN, 2003f, p. 566. 13 MILLER, 2009. 14 MILLER, 2016b. 15 MILLER, 2001.
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corpo. Eles ali fazem sintoma, mas somente enquanto o sujeito em questão estiver apto a ler esses rastros, a decifrá-los» 16 • Talvez não tenhamos sido o suficientemente atentos ao que J.-A. Miller ressalta aqui - a saber, que os acontecimentos de corpo são «acontecimentos de discurso». J.-A. Miller extrai disso a segtJinte consequência: para que ele possa decifrá-los, é preciso então que o sujeito chegue a pensar que ele pode encontrar os acontecimentos dos quais esses sintomas são os rastros 17• Isso é particularmente verdade, quando um sintoma é o efeito de um acontecimento traumático. A esse respeito, J.-A. Miller enfatiza «a incidência da língua sobre o corpo do ser falante» 18 . Uma tal incidência deixa, de fato, rastros. Foi o que incitou Lacan a falar do «traumatismo da língua». J.-A. Miller evocou longamente o traumatismo da língua por ocasião de uma conferência pronunciada por ele sobre Descartes, em Touraine, em 3 de maio de 1997 19 . Com efeito, ele insistiu, nessa ocasião, sobre o fato de que «o sujeito que busca a análise [ ... ] sofre [em seu corpo, pode-se precisar1essencialmente das coisas que lhe disseram» 20 • De fato, ele está doente de um
16 MILLER, 2001. Grifo meu. 17 MILLER, 2001, p. 67-70. 18 «O que distingue o corpo do ser falante é que seu gozo sofre a incidência da palavra.» Cf. MILLER, 2016b. 19 MILLER, 2003b, p. 8. Laure Naveau se referiu muitas vezes a essa conferência por ocasião de seu testemulho de passe. 20 MILLER, 2003b, p. 8.
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certo 111írnc:ro de enunciados, O lraumalísmo, indicou de, ,.,(;, portanto, na verdade, urna questão ele língua» 21 1 l{c~co11l,c:,;íl111w;, com efeito, a palavra que fere - cada 11rri e c:idn 1m1,1 de 116s passou por essa cxpcríéhcia ...:., , ..-pressou 4 , isso não significa que a contingência em questão seja a única. O encontro aconteceu. A coisa estaria feita de uma vez por todas? Conhecemos a canção. A de La Rochefoucauld e de seus casamentos infelizes, assim como a de Prévert e de seus inevitáveis «amores mortos». Não! De minha parte, não é assim que leio o último parágrafo do último capítulo do Seminário 20 de Lacan. Pois, o que diz Lacan? O amor é novamente po~to em questão, a cada instante, em função do saber mconsciente que, a cada momento, o suporta. O que
3 l.ACAN, 2011, p. 19. 4 LACAN, 2008c, p. 1O1.
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Lacan diz, de fato, é que, se eu amo, eu quero saber. E, em particular, quero saber o que advirá do encontro. Mas, se eu quero saber, isso quer dizer que falo disso. O amor põe em jogo o falasser, isto é, o ser que, no sentido de Spinoza, é afetado pela fala. Então, é mais a alegria (laetitia) que se experimenta ao fazer ouvir sua voz. Pois a fala de amor é - devido ao que ela inventa no calor da ocasião - o que dá ao gozo sua alegria (gaieté), a partir da irresistível atração suscitada pela excitação do desejo. O desejo, certamente inapreensível, isto, no entanto, não se diz, ou se escreve entre as palavras ou nas entrelinhas. Ocorre, então, quando isso acontece, que alguma coisa de claro, uma ligação inédita ou sem precedentes se destaca sobre o fundo da indizível opacidade sexual. É então que o homem apaixonado ou a mulher apaixonada descobre que o amor «se suporta de uma certa relação entre dois saberes inconscientes». Sonhos, lapsos, atos falhas, quiproquós o mostram - sabe Deus o quanto eles se multiplicam ao longo da própria experiência do encontro! Para que o amor tenha, na atualidade da paixão, a tonalidade mais viva, é preciso que a contingência do encontro tome a se multiplicar no tempo e, assim, se renove constantemente através da impossível conversação entre os dois «amantes» (quer se entenda essa palavra no sentido dos séculos XVII ou XXI). O fato de ela ser impossível não impede ·que ela exista! Este é o batimento de urna abertura, tal como a palpitação da vida. Para retomar os termos de Marivaux, o amor, de fato, vive de «surpresas» e de