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Portuguese Pages [240] Year 2013
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Introdução
© Fundação Odebrecht, 2013
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COMITÊ CULTURAL DA ORGANIZAÇÃO ODEBRECHT Márcio Polidoro (Coordenador) Karolina Gutiez (Secretária Executiva) Aluisio Rebello de Araujo Genésio Lemos Couto Gilberto Sá Marcelo Lyra Marcos Wilson Spyer Rezende Pedro Novis Renato Martins Roberto Dias Rubens Ricupero
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COMISSÃO JULGADORA DA ETAPA FINAL DO PRÊMIO ODEBRECHT DE PESQUISA HISTÓRICA CLARIVAL DO PRADO VALLADARES EM 2011 Márcio Polidoro (Presidente) Eduardo Silva Francisco Soares Senna José Enrique Barreiro Rinaldo Gama PROJETO E AUTORIA Júnia Ferreira Furtado COORDENAÇÃO EDITORIAL Versal Editores EDITOR José Enrique Barreiro PREPARAÇÃO DE TEXTO Maria Beatriz Albernaz PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Karyn Mathuiy
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PESQUISA ICONOGRÁFICA Ileana Pradilla Júnia Ferreira Furtado REVISÃO DE TEXTO Ana Grillo José Grillo
F987m
Malu Tavares
Furtado, Júnia Ferreira, 1960 O mapa que inventou o Brasil / Junia Ferreira Furtado. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Versal ; São Paulo : Odebrechet, 2013. 452 p. : il. ; 32 cm.
CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO
ISBN 978-85-89309-49-3
1. Cartografia - Brasil - História. 2. Brasil- História. I. Odebrecht S. A. II. Título.
PRODUÇÃO GRÁFICA
Pancrom Indústria Gráfica
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Parte da tiragem deste livro é comercializada. Informações podem ser obtidas no site www.versal.com.br.
13-04083
A receita gerada com a comercialização destina-se à Sociedade Amigos de Clarival do Prado Valladares.
15/08/2013
CDD: 526 CDU: 528.9 16/08/2013
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Introdução
“Q
ue vagueie quem quiser vaguear. Que veja a Inglaterra, a Hungria, a França e a Espanha. Eu me contento em viver em minha terra natal. (...) E isso é bastante para mim. Sem jamais pagar por um estalajadeiro (...). Sem jamais fazer juras quando os céus se iluminam de raios, irei saltando sobre todos os mares, mais seguro a bordo de meus mapas que a bordo de navios.” ARIOSTO, SÁTIRA 3
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elebrado entre Portugal e Espanha em 1494, o Tratado de Tordesilhas estabeleceu uma linha imaginária que atravessava o continente americano e definia os limites das terras pretendidas pelos dois países. Apesar dos movimentos de ocupação dos novos territórios, ocorridos ao longo dos séculos XVI e XVII, só na primeira metade do século XVIII, quando se acentuaram os conflitos em áreas próximas à linha de Tordesilhas, evidenciou-se a caducidade do Tratado e teve início a busca de uma solução definitiva para as possessões espanholas e portuguesas na América. As negociações decorrentes culminaram na assinatura do Tratado de Madri, em 1750, que aboliu o meridiano de Tordesilhas e definiu as novas fronteiras das terras americanas dos dois países naquele período. Neste livro, a professora Júnia Ferreira Furtado, da Universidade Federal de Minas Gerais, estuda a parceria intelectual entre o representante diplomático de Portugal na França, dom Luís da Cunha, e o cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, voltada para a elaboração da Carte de l’Amérique méridionale, mapa que consubstanciava o projeto geopolítico advogado por Portugal para as suas possessões na América. A elaboração desse documento teve início em 1720 e desdobrou-se ao longo de três décadas. Embora não tenha sido levada à mesa de negociações do Tratado de Madri (Portugal decidiu, de última hora, por questões políticas, apresentar um outro mapa, o chamado Mapa das Cortes), é a Carte de l’Amérique méridionale que efetivamente, como nos diz a autora, inventa o Brasil, ou seja, dá ao nosso país feições muito próximas ao que hoje constitui o território brasileiro. Resultado do projeto vencedor do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado Valladares em 2011, este livro, de evidente relevância historiográfica, é particularmente especial para a Organização Odebrecht porque vem a público no ano em que o prêmio completa 10 anos. Nesse período, cerca de 1.500 projetos de pesquisa foram encaminhados por graduados, mestres, doutores e pós-doutores de todas as regiões brasileiras, levando o prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica a firmar-se como uma importante iniciativa de natureza cultural. Ao apoiar o trabalho de pesquisadores que se dedicam a temas relevantes e inéditos da História do Brasil – como este, desenvolvido pela professora Júnia Ferreira Furtado –, a Organização Odebrecht cumpre um papel que considera essencial no âmbito de sua ação empresarial: o de valorizar o patrimônio cultural brasileiro e ajudar a preservar a nossa memória para as gerações futuras. ORGANIZAÇÃO ODEBRECHT
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Introdução
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S UMÁRIO
Introdução
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PARTE I | Diplomacia e cartografia das Luzes
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Dom Luís da Cunha Oráculo da geopolítica portuguesa Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville Oráculo da geografia iluminista Bosque de Minerva
O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
PARTE II | Continente de papel Um saber moderno A Carte de l’Amérique méridionale O caso dos irmãos Nunes Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção
da cartografia dos sertões
Espelhos ondulados Os vazios e os simulacros O paraíso e seus mitos
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
Os bens que a velha tem As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento
28 64 94 130 132 168 210 244 286
Considerações finais
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Às vésperas do Tratado de Madri
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A invenção do Brasil
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Lista de abreviaturas Notas Fontes Bibliografia Créditos das imagens Agradecimentos Sobre a autora
369 370 415 429 441 452 454
A diplomacia e o uti possidetis
Uma guerra de imagens
I NTRODUÇÃO Mas não foi em vão, pois, entre tantos
odo livro de história tem, por trás de si, sua própria história. Este começou em fevereiro de 2003, e, por mais estranho que pareça, por culpa de um pintor flamengo, um voo perdido e três irmãos desconhecidos. O que se passou foi o seguinte. Depois de ver a exposição das pinturas de Albert Eckhout — o pintor flamengo — sobre o Brasil holandês do século XVII, na Pinacoteca de São Paulo, deparei-me, na livraria desse museu, com um catálogo da Coleção Brasiliana, pertencente à Companhia Bosch.1 Algumas horas depois, já no aeroporto de Congonhas, me deliciava com a leitura, e com as descobertas de possíveis livros ou documentos, pouco ou nada conhecidos, que poderiam ser fontes instigantes de pesquisa. Tão entretida fiquei, que perdi o avião de volta para casa. Mas não foi em vão, pois, entre tantos tesouros, fiquei magnetizada por um raro manuscrito, quase escondido entre as inúmeras preciosidades que me deslumbravam a cada página. Intitulava-se “Notícias das minas da América chamada Geraes pertencentes à el Rei de Portugal relatada pelos três irmãos Nunes os quais rodaram muitos anos por estas partes”.2 Ali estavam os três irmãos desconhecidos! Intrigada com a descoberta desse documento, dei início a uma pesquisa que, muitos anos depois, acabou resultando neste livro.
tesouros, fiquei magnetizada por um raro manuscrito, quase escondido entre as inúmeras preciosidades que me deslumbravam a cada página.
O Rei Gustavo III da Suécia e seus irmãos. No século XVIII, mapas estavam em toda parte e influenciavam as negociações diplomáticas. 15
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Na página seguinte, Carte de l'Amérique méridionale (edição de c.1742), de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville (1697-1782).
Introdução
D’Anville, que viveu em Paris, entre 1697 e 1782, e foi geógrafo real de Luís XV e Luís XVI. Muito famoso até o século XIX, ele é hoje muito pouco conhecido. Por que esses documentos sobre o Brasil, inclusive a carta dos três irmãos, estariam vinculados a J.B.B. D’Anville? Consultando a famosa obra do historiador português Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, a resposta não custou a chegar.5 Esse trabalho monumental analisa o processo de formação territorial do Brasil, no contexto das negociações diplomáticas estabelecidas entre Portugal e Espanha, na primeira metade do século XVIII, que culminaram na assinatura do tratado de limites das duas Coroas na América, em 1750. Foi quando finalmente se aboliu o Meridiano de Tordesilhas como a linha divisória e definiu-se uma fronteira mais próxima à da que o Brasil tem hoje, imprimindo ao seu território uma feição continental. Jaime Cortesão nos informa que, nos anos 1740, “D’Anville se ocupara longamente da geografia do Brasil e dispusera para esse fim de cartas geográficas fornecidas por dom Luís da Cunha”, embaixador português.6 De fato, em 1748, D’Anville finalizou a sua Carte de l’Amérique méridionale. Esse mapa apresenta o Brasil com as fronteiras muito próximas das que seriam, dois anos depois, negociadas em Madri. Cortesão concluiu que, para produzi-lo, “ele dispôs de elementos de informação portuguesa”. Chegou a essa conclusão a partir de inúmeros topônimos empregados, aos quais o cartógrafo só teria acesso nos mapas portugueses.7 Quais seriam esses documentos? Nos acervos de D’Anville existentes na Bibliothèque Nationale de France, Cortesão buscou em vão as respostas que lhe permitiriam esclarecer esse enigma.8 Mas pelo menos um deles ele conseguiu identificar, graças a uma carta escrita pelo cartógrafo, em 1776, ao então ministro dos Negócios Estrangeiros da França, o duque de Vergennes.9 Trata-se de um mapa do sul do Brasil, traçado pelo engenheiro e comandante militar português, governador da ilha de Santa Catarina, José da Silva Pais.10 Os manuscritos que permitiriam elucidar essa questão repousavam adormecidos nas estantes da sala do conselho da companhia Bosch, em Stuttgart. A “Coleção de oito manuscritos que dizem respeito ao Brasil” agrega duas memórias e uma discussão geográfica sobre as medidas de longitude, escritas pelo próprio D’Anville, nas quais ele esmiúça o processo de confecção do seu mapa da América do Sul e faz referência
Minha expectativa era de que, tendo sido os irmãos Nunes testemunhas oculares de um dos períodos mais conturbados da história de Minas Gerais, o da Guerra dos Emboabas — conflito que opôs paulistas e forasteiros pelo controle da região —, esse documento pudesse trazer novas informações sobre tal momento ainda pouco conhecido da nossa história.3 O próximo passo seria conseguir consultar o relato dos irmãos Nunes, o que, ao contrário do que se pode imaginar, não se revelou tarefa fácil. O catálogo da Coleção Brasiliana não fornecia muitas informações sobre o local onde se encontrava esse acervo, sobre como contatar a pessoa responsável nem sobre como acessar o seu conteúdo. Perdida no site mundial da Bosch, não tive outra saída a não ser enviar um e-mail para o endereço destinado aos consumidores de seus produtos, pedindo maiores informações. Foi com alegria que, poucos dias depois, recebi, aliviada, a resposta da conservadora da coleção, Angelika Merkle. Por ela, fiquei sabendo que se tratava de uma coleção particular de livros e documentos raros, depositada na sede da companhia, em Stuttgart, na Alemanha. Poderia ela me enviar uma cópia impressa ou digitalizada? A resposta foi negativa, mas, depois de muita insistência, foi permitida uma consulta ao documento, que poderia ser reproduzido, em fotografia digital, para efeitos de pesquisa. Tive de esperar até maio de 2004, aproveitando a oportunidade de um congresso de que participei na Bélgica, para viajar de carro até lá e passar um dia descobrindo o precioso acervo da Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, infelizmente ainda pouco conhecido ou acessível aos pesquisadores brasileiros. Ali estão depositadas raridades como um manuscrito, em pergaminho iluminado, da Geografia, de Ptolomeu; a biblioteca portátil, os manuscritos, os diários, correspondência e as aquarelas do príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, referentes à sua viagem ao Brasil, entre 1815 e 1817, cujas ilustrações mereceram a publicação de um catálogo.4 Já de posse da cópia para a minha consulta, percebi que o documento estava encadernado junto com outros, numa pasta que estampava o título: J.B.B. D’Anville – Collection of eight manuscripts concerning Brazil (Coleção de oito manuscritos que dizem respeito ao Brasil). Sob as iniciais J.B.B. D’Anville se escondia o cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon 16
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Introdução
às cartas e documentos que utilizou para tanto. Como cartógrafo de gabinete, fazia seus trabalhos a partir do estudo de vários documentos subsidiários de natureza geográfica, juntando-os e conectando-os como considerava o mais correto. Cinco documentos — entre eles a carta dos irmãos Nunes e dois mapas que também fazem parte da coleção — foram alguns dos que ele utilizou para confeccionar a Carte de l’Amérique méridionale; os demais estavam descritos nas duas memórias em que descreve o processo de sua produção. Nesses escritos, D’Anville conta que os documentos sobre o Brasil, e não só o mapa de Silva Pais, lhe chegaram às mãos diretamente ou por intermédio de dom Luís da Cunha, comprovando, como observara Cortesão, que a colaboração entre os dois fora fundamental no momento de negociação diplomática das fronteiras brasileiras. Dessa forma, enquanto o diplomata contribuía para aperfeiçoar a obra do geógrafo, esse dava forma cartográfica ao projeto geopolítico de dom Luís. A descoberta de documentos elucidativos dessa simbiose traçou o tema da minha pesquisa. Mais do que isso, como a carta foi produzida em estreita colaboração com o embaixador português, este trabalho concentra-se na investigação desse intercâmbio. Os irmãos Nunes acabaram por me conduzir a caminhos que eu jamais imaginara. Não se tratava mais de descobrir algum fato inédito sobre a Guerra dos Emboabas, mas sim de investigar o processo de produção da Carte de l’Amérique méridionale, de autoria de D’Anville, da qual foram produzidas três variações: uma versão preliminar, manuscrita, menor e menos detalhada, datada de 1737, feita para o uso privado do duque de Orleans; outra bastante similar, mas sem a dedicatória, talvez de 1742; e uma versão maior (em três folhas), mais elaborada e detalhada, manuscrita e impressa, datada de 1748.11 O mapa sofreu sucessivas reimpressões na França — as seis primeiras delas, ainda sob a direção de D’Anville, visaram introduzir pequenas modificações de acordo com o conhecimento adquirido sobre o interior do continente.12 O leitor pode se espantar, mas a tese central deste livro propõe que foi esse mapa que inventou o Brasil, e não, como usualmente se pensa, o contrário; isto é, que ele era um espelho fiel do território colonizado pelos portugueses na América. A carta de D’Anville construiu uma nova imagem da América portuguesa, ao traçar uma linha
Primeira edição impressa da Carte de l’Amérique Meridionale (1748), publicada sob os auspícios do Duque de Orléans. Neste mapa, delineia-se a configuração triangular do Brasil.
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imaginária de fronteiras, que não correspondia à realidade da época, mas sim aos novos limites propostos por dom Luís da Cunha, que futuramente deveriam ser negociados. O que estava em vigor até então era o Tratado de Tordesilhas. Legalmente, toda a parte central da América, a leste da cordilheira dos Andes até a linha imaginária do meridiano, que por direito estava em território espanhol, no mapa é representada como sendo de Portugal. Essa inversão, do mapa inventar o território, não era e nem constituía uma novidade. Não raro, o mapa é que precede o espaço que ele representa, e não o contrário: “Mais do que o mapa ser um produto do território, como normalmente se compreende, vindo apenas depois dele — tanto temporalmente quanto conceitualmente — e permanecendo uma resposta a ele, o que ocorre frequentemente é uma curiosa reversão.”13 Exemplo precoce desse fenômeno pode ser visto na galeria da Carta Geográfica do Vaticano. Entre os 124 painéis dispostos na longa e impressionante galeria de 120 metros, localizada numa das alas do Palácio, existe uma carta da península itálica como se a mesma constituísse um espaço homogêneo e coeso, um único país, o que somente muito mais tarde viria a se constituir na Itália moderna. Com isso, reforçava-se o poder temporal da Igreja Católica, então sob a batuta de Gregório XIII.14 Desse modo, observa-se como um documento cartográfico pode se configurar em um projeto político para o futuro. Esse mesmo processo, de antecipação do território por um mapa, pode ser claramente observado na Carte de l’Amérique méridionale, tendo sido esse o primeiro documento a configurar o Brasil como um gigantesco território que se estende, no sentido norte-sul, do atual estado do Amapá e da serra de Rondônia, até a foz do rio da Prata. Desse ponto, a partir do extremo sul, no sentido leste-oeste, o Brasil vai se alargando, à medida que a linha fronteiriça avança para o noroeste, configurando-se num formato triangular, que abarca os atuais estados do Mato Grosso, Goiás e a maior parte da bacia Amazônica, ultrapassando em muito a linha imaginária do meridiano de Tordesilhas. A capacidade de D’Anville de inventar esse espaço fica evidente quando se compara o seu mapa com os que os próprios portugueses fizeram ou utilizaram para representar a América portuguesa como um todo, nessa mesma época. Tanto o mapa do padre Cocleo, produzido por volta de 1699, intitulado Mapa da maior parte da
costa e do sertão, do Brasil, do qual se conhece apenas uma cópia,15 quanto o mapa anônimo Descripçam do Continente da América Meridional que nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz, de 1746,16 limitam a América portuguesa a Tordesilhas. Esse último, inclusive, foi desenhado por ordem do vice-rei do Brasil, Gomes Freire de Andrade, também com o intuito de embasar as negociações em curso com a Espanha, e espelhava o que as autoridades locais consideravam como o território a que a Coroa portuguesa tinha direito de posse. A Carte de l’Amérique méridionale foi, então, o primeiro mapa a desenhar o Brasil nesse formato triangular, muito próximo do atual, e delineava, não seus limites então vigentes, mas as futuras fronteiras que o embaixador português dom Luís da Cunha acreditava deveriam ser negociadas com os espanhóis. De fato, as negociações que desembocaram no Tratado de Madri, em 1750, deram ao Brasil o formato muito próximo a esse que aparece retratado na carta de D’Anville.17 Dom Luís da Cunha defendia a utilização de mapas precisos do ponto de vista geográfico na condução das negociações diplomáticas sobre os limites entre as duas Coroas e, com o intuito de colocar Portugal numa posição vantajosa em relação à Espanha, instigou a Coroa a encetar iniciativas que promovessem o maior conhecimento do seu espaço americano, explorando-o e representando-o em mapas cada vez mais detalhados. Também tomou para si a tarefa de aprimorar a representação cartográfica do Brasil, conforme acreditava serem os interesses de Portugal. Para tanto, aproximou-se e estabeleceu a profícua colaboração com D’Anville, a partir da década de 1720, que resultou na Carte de l’Amérique méridionale. Durante as negociações, das quais participou por toda a primeira metade do século, o embaixador se tornara cônscio da necessidade de construir uma base cartográfica sólida que permitisse a Portugal tomar a dianteira perante a Espanha no processo de negociação das fronteiras na América. Nessa perspectiva, observa-se como os mapas podem ser uma importante arma de persuasão política. Do que se depreende que um mapa configura também uma forma de poder e que sua linguagem nunca é neutra.18 Dom Luís da Cunha não chegou a participar diretamente das negociações em Madri, que tiveram início em 19
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Introdução
1746. Por essa época, estava muito velho, com mais de 80 anos, e, adoentado, ficou em Paris, onde morreu em fins de novembro de 1749. De longe, enquanto foi possível, assessorou os meandros diplomáticos entre os representantes portugueses e espanhóis em curso na corte madrilenha. No entanto, ao contrário também do que se poderia esperar, a Carte de l’Amérique méridionale não foi utilizada nas negociações que culminaram com o Tratado de Madri de 1750. De Portugal vieram ordens para que o embaixador responsável, Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira, não apresentasse esse mapa aos espanhóis. Por que isso ocorreu? Para responder a essa pergunta, este estudo centra-se também nas semelhanças e diferenças existentes entre a Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, e o mapa que lhe é contemporâneo, de origem portuguesa, intitulado Mapa dos Confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional, mais conhecido como Mapa das Cortes, que efetivamente foi o apresentado e guiou as negociações de 1750.19 Compreender o processo de produção da Carte de l’Amérique méridionale e como ela consubstanciou o projeto geopolítico que dom Luís da Cunha advogava para a América portuguesa exigiu uma pesquisa de dimensões quase mundiais. A carta dos irmãos Nunes, que já tinha me levado até Stuttgart, acabou me empurrando para muitos outros lugares. Assim, no Arquivo Histórico do Itamaraty e na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; nos Arquivos da Torre do Tombo e da Universidade de Coimbra, bem como na Biblioteca da Real Academia das Ciências, na Biblioteca da Ajuda e na Biblioteca Nacional de Portugal, todos em Portugal, pude remontar o quebra-cabeça da volumosa correspondência e papéis de dom Luís da Cunha, indispensáveis para compreender seu pensamento e sua associação com o geógrafo francês. Em Salamanca, na Espanha, e nos Archives des Affaires Étrangères, em Paris, pude acompanhar como as cortes estrangeiras monitoravam sua atividade diplomática. Na Newberry Library, em Chicago, nos Estados Unidos, encontrei finalmente as duas memórias manuscritas sobre os limites do Brasil, que D’Anville redigira a pedido de dom Luís da Cunha, e que Jaime Cortesão tanto buscara.20 Na seção de Cartes et Plans, da Bibliothèque Nationale de France, 20
em Paris, pude me debruçar, por todo o ano de 2008, sobre a volumosa coleção de mapas que pertenceu a D’Anville — e que ele vendeu a Luís XVI -, e, dessa forma, acabar de desvendar o processo de produção do mapa. Nas seções de manuscritos e obras gerais, encontrei as referências para compreender a evolução da arte da cartografia na França e de como D’Anville se inseria nesse panorama. Para isso, também foram fundamentais os Archives de l’Académie Royale des Sciences de Paris e os Archives de l’Académie des Inscriptions et Belles Lettres, instituições que tiveram D’Anville como associado. De volta à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, encontrei na Divisão de Cartografia o primeiro atlas que D’Anville produziu para dom João V, por encomenda do embaixador, e, depois, na Sociedade Geográfica de Lisboa, o plano que ele e dom Luís esboçaram para estabelecer uma conexão terrestre entre Angola e Moçambique, na África. Mas as descobertas nunca terminam. Recentemente, por acaso, já envolvida em novo projeto, encontrei perdida na Biblioteca da Universidade de Stanford a cópia em microfilme de um livro – cuja publicação em Londres foi patrocinada por dom Luís da Cunha – sobre o modo como os maridos devem tratar as suas esposas.21 Enfim, o processo de produção da Carte de l’Amérique méridionale insere-se nesse amplo contexto de renegociação das fronteiras entre Portugal e Espanha definidas, desde 1494, pelo Tratado de Tordesilhas, sabendo-se que, ao longo dos dois séculos seguintes, a ocupação dos territórios na América do Sul não se deu de forma tão homogênea como havia sido prevista por esse tratado. No século XVIII, portanto, os limites entre as duas Coroas estavam em litígio, tanto na América quanto no mar do Sul (oceano Pacífico), como foi o caso das Molucas. À medida que esse século avançava e Portugal interiorizava o povoamento do Brasil, Tordesilhas se tornava um embaraço cada vez maior para os propósitos portugueses de soberania na América. Ao estabelecer a divisão das novas terras americanas banhadas pelo oceano Atlântico, a partir de uma linha imaginária posicionada a 370 léguas a oeste de uma ilha não especificada do arquipélago de Cabo Verde, atribuía à Espanha o domínio do centro-oeste da América do Sul, que sistematicamente vinha sendo desbravado e ocupado por Portugal. A imprecisão da localização do meridiano também punha 21
Na página anterior, detalhe do Planisfério, de Alberto Cantino, 1502, com a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Introdução
1782, ano da morte de D’Anville. Nesse intervalo, assiste-se ao fim do governo de dom Pedro II e aos reinados de dom João V, dom José I e os primeiros anos de dona Maria I, durante os quais Portugal estabeleceu importantes negociações e quatro grandes tratados com a Espanha sobre os limites no Brasil: Utrecht, 1715; Madri, 1750; Pardo, 1761; e Santo Ildefonso, 1777. Além de Utrecht e dos preparativos de Madri, dom Luís se envolveu nas negociações europeias de Cambrai, entre 1720 e 1725; Breda, 1747; e na Paz de Aquisgrán, em 18 de outubro de 1748. A extensão do corte cronológico para além de 1749, ano da morte de dom Luís da Cunha, justifica-se pelo fato de as negociações diplomáticas sobre as fronteiras brasileiras terem sofrido inflexão importante no ano de 1750, com o tratado de Madri. Nessa conjuntura, o Mapa das Cortes, e não a Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, foi apresentado por Portugal, refletindo a conformação do território brasileiro que desejavam. Isso levou o cartógrafo a sistematicamente reiterar, junto à comunidade de savants, na Real Academia de Ciências de Paris, a exatidão de sua carta, em memórias redigidas em 1750 e 1779. Os marcos espaciais são amplos. Abrangem a América Meridional26 retratada na carta de D’Anville; o Brasil, local de produção de grande parte dos documentos que subsidiam o trabalho cartográfico do mapa; Paris, local onde D’Anville viveu, produziu sua cartografia, estabeleceu a colaboração com dom Luís da Cunha e debateu seu mapa com a comunidade de savants de seu tempo; e as diversas embaixadas de dom Luís, que incluíram Londres, Utrecht, Hanôver, Haia, Madri, Bruxelas, e Paris, onde morreu em 1749. A Parte I, nos Capítulos 1 e 2, discute como dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville foram alçados à condição de oráculos, tanto por seus contemporâneos quanto por sucessivas gerações; em Portugal e na França, respectivamente. Procura-se, aqui, compreender os significados ambíguos do termo oráculo, que apontam para o caráter profético do trabalho de ambos, mas também para o conteúdo por vezes controverso de suas ideias. O objetivo é também analisar o desempenho tanto da atividade diplomática por parte do primeiro, quanto da cartográfica por parte do segundo. Com essa finalidade, apresenta-se a trajetória pessoal de dom Luís da Cunha enquanto
em dúvida as fronteiras exatas entre as duas Coroas no norte do Brasil — nas bacias dos rios Amazonas, Tocantins e seus afluentes. Já no extremo sul, a disputa centrava-se na margem setentrional do rio da Prata, onde os portugueses, em fins do século XVII, erigiram a Colônia do Sacramento. No início do século XVIII, em 1705, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1700-1713),22 Sacramento, ainda possessão lusa, foi invadida pelos espanhóis,23 tornando-se a pedra de toque das negociações portuguesas e espanholas na primeira metade do século XVIII. Luís Ferrand de Almeida afirma que “o problema foi longamente tratado pelos representantes de Portugal em Madrid e também noutras cortes, como Viena e Paris, mas sem conseguirem alterar a posição espanhola”, sendo seu representante mais importante dom Luís da Cunha.24 Tais fatores fizeram surgir, em Portugal, uma corrente de defensores favoráveis a que as fronteiras entre os dois reinos, no continente americano e no oceano Pacífico, fossem renegociadas em conjunto, posição sistematicamente defendida por dom Luís da Cunha nas diversas negociações em que representou Portugal após a Guerra da Sucessão Espanhola (especialmente durante os Tratados de Utrecht, Cambrai, Breda e Aquisgrán) e que vigorou na culminância de todo esse processo, quando foi estabelecido o Tratado de Madri, em 1750. A Colônia do Sacramento e as Molucas, no oceano Pacífico, segundo dom Luís da Cunha, seriam as duas grandes moedas de troca entre as duas nações, opinião compartilhada por D’Anville, num parecer em que escreveu sobre o tema.25 O presente estudo começa em 1697, ano em que dom Luís da Cunha inicia sua carreira como embaixador de Portugal e, também, de nascimento de D’Anville. É no curso de sua carreira diplomática, em diversas cortes europeias, que dom Luís constrói sua visão acerca do Império português e mais particularmente sobre a geopolítica da América. A partir de 1724, isso o leva a colaborar com D’Anville, e dessa colaboração resultará a confecção do mapa de 1748. Sem pretender fazer um estudo biográfico de dom Luís da Cunha ou de sua carreira como embaixador, este livro lançará mão de sua estada como diplomata na cortes da Europa para assim compreender o contexto e o processo de construção da Carte de l’Amérique méridionale e da colaboração estabelecida com D’Anville. O marco cronológico final é 22
diplomata e de D’Anville, no tocante a sua formação e sua concepção de geografia. Herdeiro da tradição de grandes geógrafos de gabinete, ele desenvolveu uma aguçada metodologia de crítica cartográfica e, para efetivá-la, amealhou uma impressionante coleção de cerca de 10 mil documentos cartográficos. Já o Capítulo 3 aborda a colaboração mútua, a partir de 1724, quando o embaixador servia em Paris. A aproximação entre os dois se deu, primeiramente, no contexto da formação da biblioteca de dom João V, que reunia não apenas livros, mas se tratava de um amplo projeto de transformação e renovação intelectual, de viés iluminista, dotando o reino dos mais modernos equipamentos culturais e científicos. Nesse cenário, a arte da cartografia recebeu atenção particular, em grande parte por insistência de dom Luís da Cunha, pois o processo de negociação das fronteiras americanas exigiram que Portugal conhecesse a geografia de seus territórios da forma mais ampla possível, e a sua associação com D’Anville visou aprimorar esse conhecimento. A Parte II disseca a Carte de l’Amérique méridionale e o processo de produção do mapa em si, investigando diversos aspectos, tais como: o modo como o mapa se situa no contexto da geografia iluminista, a maneira como D’Anville elegia suas fontes e a forma de submissão dessas informações a critérios de validação que garantiam, ou não, a sua confiabilidade. Uma vez escolhidas, como o geógrafo consolidava suas fontes em um mapa marcado pelo signo do Iluminismo? Como se dá o processo de apropriação de relatos geográficos e dos mapas subsidiários? Como se configura um mapa iluminista e como o geógrafo procede à crítica de suas fontes, incorporando algumas e descartando outras? Resultantes de uma visão iluminista do mundo e da natureza, os mapas dessa época progressivamente impõem uma representação do espaço mediada pela matemática e pela geometria, pois se acreditava que, por meio dessas ciências, seria possível fazer da cartografia um espelho perfeito do mundo real, opinião compartilhada tanto por D’Anville quanto por dom Luís da Cunha. Para tanto, o Capítulo 4 apresenta os aspectos gerais da Carte de l’Amérique méridionale e insere este mapa no conjunto da obra e da coleção cartográfica de D’Anville e os capítulos seguintes se debruçam sobre as fontes utilizadas e a conformação geográfica conferida
a regiões específicas da carta. Para tanto, o Capítulo 5 debruça-se sobre o relato dos irmãos Nunes, que deu início a esta pesquisa, abordando sua trajetória, a concepção geográfica que construíram em suas andanças pela região onde corre o rio São Francisco, entre Minas Gerais e a Bahia e, finalmente, de que maneira D’Anville utilizou esse documento para traçar parte do mapa. No Capítulo 6 é abordado o aparecimento e os diferentes significados dos vazios cartográficos que aparecem no Brasil, em especial na região Nordeste, e no Centro-Oeste, entre o rio Tocantins e o São Francisco, e também por que na região amazônica ele dissimula, nas memórias escritas sobre o processo de produção do seu mapa, as fontes de que se valeu. O Capítulo 7 analisa as construções geográficas cujas origens remontam às concepções mitológicas de existência de um paraíso terrestre. Assim, no interior da América do Sul, D’Anville continua a representar alguns mitos geográficos como a presença do lago do Xarais, entidade geográfica que originalmente uniria a corrente hidrográfica dos rios da Prata, Amazonas e São Francisco, cujas proximidades seriam abundantes em tesouros minerais; ou o lago Parima (que aparece na segunda edição do mapa), localizado na Amazônia, que sinaliza a existência do Eldorado; ou a serra das Esmeraldas, localizada no interior das Minas Gerais e arduamente buscada na bandeira de Fernão Dias Paes Leme; ou ainda nomeia a presença das aguerridas amazonas. Interessa arguir a longevidade de tais representações e compreender a aparente contradição existente entre a feição iluminista do mapa e as imagens mitológicas que ele contém. A concepção geopolítica que dom Luís da Cunha desenvolveu em sua longa carreira diplomática, representando Portugal nas principais cortes europeias durante a primeira metade do século XVIII, se torna evidente em três regiões do mapa – as Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento –, analisadas com mais vagar no Capítulo 8: enquanto as regiões mineradora e amazônica tornam-se objetos a serem assegurados a qualquer custo, e, na esteira do deslocamento do eixo econômico do império para o Brasil, o embaixador chega a advogar a transferência do eixo político na mesma direção, a região da Colônia do Sacramento vai se configurando como a grande moeda de troca territorial com os espanhóis. A Parte III concentra-se no contexto político de negociações luso-espanholas das fronteiras na América 23
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
no momento em que a Carte de l’Amérique méridionale é enviada a Madri, para, segundo o desejo de dom Luís, dar a ver a concepção geopolítica que ele acreditava ser a melhor para Portugal. O Capítulo 9 apresenta o modo como começa a se configurar, na concepção geopolítica do embaixador, a ideia do uti possidetis — isto é, a posse a quem colonizou de fato um território —, que ele passa a advogar como instrumento de negociação. O entendimento dessa concepção é fundamental, pois ela se espelha na concepção geográfica que o Brasil apresenta na Carte de l’Amérique méridionale e se configurou, de forma inédita, num importante instrumento de negociação diplomática das fronteiras sul-americanas, no Tratado de Madri, de 1750. Aborda, ainda, os meandros da conjuntura dos anos 1740, marcada por novos arranjos políticos entre Portugal, Espanha, França e Inglaterra, e como eles influíram nas negociações. Discute, então, as diferenças entre o projeto geopolítico de dom Luís, expresso no mapa de D’Anville, e o de Alexandre de Gusmão, encarregado por dom João V de articular as negociações. Por fim, no
Capítulo 10, a título de considerações finais, a linha de fronteiras desenhada para o Brasil nas diferentes versões da Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, é cotejada com as concepções geopolíticas do território brasileiro que dom Luís da Cunha esboçou ao longo do tempo. Ainda que os dois, como savants iluministas, acreditassem que se tratava de um documento neutro, um puro espelho da realidade, o mapa estava carregado de intencionalidades. E, ainda que espelhasse a forma de representação iluminista do mundo, onde a matemática e a geometria eram as ferramentas utilizadas para mediar a relação entre o espaço real e o seu desenho cartográfico, o mapa inventava um Brasil que não existia. Como a Coroa portuguesa decidiu não apresentar o mapa de D’Anville nas mesas de negociação em Madri, busca-se, por fim, compreender por que foi outra carta, o Mapa das Cortes, a utilizada pelos representantes diplomáticos das duas Coroas. Ou seja, por que o mapa que inventou o Brasil foi, durante muito tempo, praticamente esquecido e quase se configurou como um tesouro perdido?
Geógrafos trabalhando, pintura do século XVII, pelo artista holandês Cornelis de Man (1621-1706). 24
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D IPLOMACIA � CARTOGRAFIA das LUZES Parte I
L UÍS DA CUNHA
DOM
Oráculo da geopolítica portuguesa
Ao se autodenominar oráculo do rei,
m 1736, dom Luís da Cunha, ainda servindo como embaixador em Haia, mas já nomeado, desde o ano anterior, para um novo posto em Paris, foi informado da morte de Diogo de Mendonça Corte Real, até então responsável pela condução da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros em Portugal. A notícia o deixou comovido. “Deus o tenha no céu! El rei perdeu nele um velho, fiel e incansável ministro, e eu, um grande Amigo”, declarou.1 Na ocasião, o embaixador completava 39 anos de serviço como diplomata, tendo passado ao longo de todo esse tempo por diversas cortes europeias. Ao saber que dom João V estava prestes a nomear um sucessor e ciente do cabedal que acumulara ao longo desse período, o embaixador profetizou que ele seria o oráculo que Sua Majestade buscaria na Holanda.2 Lisonjeava-se com o fato de que o rei o “tirasse de tão longe para o servir de mais perto, preferindo-me a tantos sujeitos quanto deve haver na nossa terra, muito mais capazes de semelhante emprego”. Contudo, seu longo afastamento do reino o impediu de participar das articulações e intrigas da corte, fundamentais na hora das nomeações régias e não foi ele que acabou sendo nomeado. Insatisfeito, dom
dom Luís da Cunha parecia estar muito consciente do seu papel no estabelecimento de uma política para o império [...]. Por isso, apesar de ter passado a maior parte de sua vida distante da corte, sua intensa correspondência o colocou no centro da vida política, cultural e científica do reino.
Dom Luís da Cunha (1662-1749) no auge de sua carreira: reconhecimento por sua argúcia no trato diplomático. 29
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Oráculo da geopolítica portuguesa
Luís conclui que “poderia ser menos mau Secretário do Estado dos Negócios Estrangeiros, porque o uso [da diplomacia] me poderia haver dado deles mais conhecimento que a qualquer outro que nem os tratou, nem ouviu falar deles, senão muito superficialmente”.3 Ao se autodenominar oráculo do rei, dom Luís da Cunha parecia estar muito consciente do seu papel no estabelecimento de uma política para o império, atribuindo a si próprio um caráter profético, já que um oráculo podia emitir, com voz humana, as respostas advindas de anjos, ou as palavras de Deus nas Sagradas Escrituras.4 Os savants iluministas, como era o seu caso, acreditavam possuir essa missão civilizadora, a ser colocada a serviço do Estado. Por isso, apesar de ter passado a maior parte de sua vida distante da corte, sua intensa correspondência o colocou no centro da vida política, cultural e científica do reino. De longe, por meio de cartas, memórias e da prática política, procurava influenciar as grandes decisões de sua época, fazendo com que suas ideias chegassem aos ouvidos de dom João V. Seus conselhos deveriam servir como espelhos aos príncipes, pois, como filósofo iluminista, o embaixador partilhava da “convicção de trabalhar para fazer avançar o reinado da razão universal”.5
Em 1746, numa carta sua em resposta a Marco António de Azevedo Coutinho, então secretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, observa-se o papel de conselheiro que dom Luís desempenhava na corte. O próprio rei ouvia suas opiniões, levando-as em alta conta quando se tratava dos assuntos de Estado. Na ocasião, dom Luís respondia a um pedido do secretário e do cardeal da Mota, outro que pertencia ao círculo privado de dom João V e, nessa época, talvez fosse o mais importante conselheiro do rei.6 Os dois lhe pediam que escrevesse diretamente ao monarca sobre um assunto importante, a respeito do qual os três já haviam discutido privadamente e compartilhavam da mesma opinião. O assunto não é explicitado na carta,7 mas provavelmente tratava-se da proposta francesa de que Portugal servisse de mediador no Congresso de Paz, em Breda, em fins de 1740. Malgrado os dois gravitarem no centro político decisório da corte, era a dom Luís, ainda que distante em Paris, que recorriam para que aconselhasse o monarca. O velho embaixador, do alto de seus 84 anos,8 com aparente modéstia respondeu: "Não compreendo a razão porque seja necessário [que o rei se] servisse de outras luzes mais que das suas próprias, que serão as que darão mais claridade e [...] força porque os objetos de longe nunca parecem tão grandes como de perto."9 Era apenas um jogo de retórica, pois a pujante produção epistolar de dom Luís não deixa dúvida de que, de longe, ele buscava aconselhar o rei e os altos círculos da nobreza governante que articulavam a política do reinado joanino, e que acreditava em seu poder de influenciar as decisões. Por essa razão, ocupava-se “todos os dias, a maior parte da manhã, em ditar utilíssimas instruções em matérias sempre dignas de atenção”.10 Mas não era apenas dom Luís da Cunha que se achava predestinado a influenciar a política joanina. O próprio dom João V reconhecia que ele ocupava papel de destaque, era uma figura respeitada na corte e, nos últimos anos de sua vida, o seu mais experiente embaixador. Ao escrever à sua filha, dona Bárbara de Bragança, rainha de Espanha a partir de 1746, conta: “Em Paris está, como sabes, dom Luís da Cunha, o qual é hoje o decano dos ministros, e pela sua notória capacidade e largas experiências, todos os mais o respeitam, (...) de sorte que por esta via costumo receber as notícias mais puras e exatas”.11 Por essa época, o rei, bastante doente, já não ouvia os ministros, queixava-se de constantes
Dom João V reinou em Portugal de 1707 a 1750. 30
dores de cabeça e os dispensava, sem resolver as questões para as quais haviam sido chamados. No entanto, continuava a “ler regularmente todos os ofícios [de dom Luís] (...) e resolvia todas as matérias de que eles tratavam por si mesmo”.12 O duque de Luynes, Charles Philippe d’Albert, que escreveu uma importante memória sobre a vida na Corte de Luís XV, foi um dos que atestaram as benesses que lhe devia dom João V. Já próximo da morte, dom Luís recebeu do rei uma reprimenda por manter em sua casa uma concubina, chamada madame Salvador, judia holandesa. A despeito da censura, o duque contou: “Dom Luís (é assim que o chamam ordinariamente) tinha grande consideração do rei seu mestre, que lhe escrevera uma carta fortemente tocante e cheia de bondade para lhe determinar a fazer sair de sua casa a madame de San-Salvador”.13 Como um oráculo, também era constantemente invocado por membros de seu círculo relacional a emitir opiniões sobre a política portuguesa, municiando-os com seus conselhos. Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira, é outro que testemunha a sua influência como conselheiro, a partir da ampla experiência como diplomata. Cerveira, ao ser nomeado embaixador em Madri, no ano de 1746, pediu a dom Luís que, com o seu vasto conhecimento, o instruísse para que assim pudesse desempenhar com afinco a nova função. Pediu-lhe “que divirt[isse] agora o fio das [instruções] que ditava, ocupando o tempo em fazer-me uma instrução tão miúda que me ponha capaz de perceber qual é o verdadeiro interesse de Portugal na conjuntura presente”.14 Poucos meses depois, Cerveira, ao pedir novo conselho sobre como encaminhar o estabelecimento da paz entre Espanha e Portugal, insistiu na sabedoria e na prudência de dom Luís como oráculo de Sua Majestade. Pediu que, de Paris, o embaixador lhe avisasse “de tudo o que devo participar a esta Corte [Madri] ainda [que] sendo por modo de conselho, pois os de Vossa Excelência são livres de suspeita e sempre são cheios de prudência e fundados no grande conhecimento e experiência dos negócios da Europa”.15 Três retratos e um busto de dom Luís da Cunha o apresentam com toda a pompa. Suas vestimentas são as da nobreza, refletindo o seu estatuto social, e, acima de tudo, o luxo afeito aos diplomatas que personificavam os reis junto às cortes estrangeiras. Em todos eles, a vasta peruca, a casaca bordada, os peitilhos rendados, o colete
Dona Maria Ana de Áustria, rainha de Portugal.
de seda, o manto vermelho, as comendas, a cruz da Ordem de Cristo, o pó de arroz na face são elementos de dignificação e, ao mesmo tempo, marcas da sociabilidade e das convenções do mundo da corte e da diplomacia. O primeiro retrato, uma iluminura, o mostra durante o Congresso de Utrecht (1713-1715), ainda no início de sua carreira diplomática, e revela um homem jovem e ambicioso.16 A escultura, datada de 1737, apresenta-o já maduro, mas no auge da sua força. O semblante carregado, as bolsas debaixo dos olhos e a papada, juntamente com a vivacidade do olhar, sugerem a agudeza de seu espírito.17 O segundo retrato, um quadro a óleo, é um instantâneo do seu cotidiano. O embaixador, corpulento em sua meia-idade, encontra-se em seu gabinete, cercado de livros, sentado em sua secretária, ocupado nos afazeres da leitura e da escrita, de todas as manhãs. À sua frente estão vários papéis e cartas seladas, uma pena com seu tinteiro e mata-borrão. Seus trajes são informais, mas seu robe, com punhos e gola de pele, ostenta no peito a cruz da Ordem de Cristo, indicativo de sua nobreza. A seus pés repousa um cão, que ao mesmo tempo imprime à cena um aspecto doméstico e evidencia a fidelidade do personagem a seu soberano. O último, também um óleo, revela um velho 31
Dom Luís da Cunha
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testemunhou sua inteligência e sagacidade, assim como o seu reconhecimento por toda a sociedade parisiense. Contou que dom Luís era um “homem de muito espírito e muito conhecido” e que “todos os ministros estrangeiros o viam como seu pai e se reuniam todas as semanas em sua casa. Estas visitas lhes pareciam um dever e sua amizade um favor”.20 O marquês d’Argenson, que, em 1737, aguardava sua nomeação como embaixador francês em Lisboa, conviveu com ele intensamente. Atestou que, por essa época, “tinha 70 anos. Era um homem consumido nas negociações, nas quais está empregado há 45 anos. Ele tem muito espírito; eu creio que um espírito justo, mas a idade pode ter pesado sobre suas visões e sua perspicácia. Mas a este velho experiente ainda sobram bons golpes e mistérios”.21 O Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de Oliveira, também emitiu uma opinião favorável sobre o embaixador. Oliveira havia entrado na carreira diplomática como embaixador em Viena, tendo servido antes como secretário do conde de Tarouca no Congresso de Utrecht e em Londres. Não teve a mesma sorte que dom Luís da Cunha, e a radicalidade de suas ideias, particularmente as contrárias ao Santo Ofício e à perseguição aos judeus, valeram-lhe o desterro e uma condenação pelo Tribunal da Inquisição. Oliveira esteve em contato com dom Luís em Utrecht e mais tarde em Haia, em 1734, quando viajava com destino a Viena. Quando escreveu suas memórias, em 1741, disse que “a inteireza
Dom Luís da Cunha, em iluminura das Memórias da Paz de Utrecht, c.1715.
No busto de 1737, o luxo afeito aos diplomatas que personificavam os reis junto às cortes estrangeiras.
experimentado e arguto, de quem os anos roubaram a vivacidade da face, mas trouxeram em troca a experiência, indispensável às maquinações do trato diplomático.18 Essas três últimas representações do embaixador revelam, noutras dimensões, a posição de oráculo de Portugal da qual estava imbuído e que conseguiu transmitir a seus contemporâneos, inclusive ao próprio rei. Assim, frequentemente, e à medida que se passavam os anos e a sua experiência no exterior aumentava, as ordens do reino advertiam os embaixadores recém-nomeados a buscarem os seus conselhos. Por exemplo, quando Manuel Freire de Andrade, em 1748, foi nomeado para os Estados Gerais (ou Países Baixos), onde o embaixador servira por vastos anos, foi-lhe ordenado que “todas as notícias que alcançares concernentes à negociação da paz, comunicareis cuidadosamente a dom Luís da Cunha, e nos negócios do vosso ministério procurareis, com a antecipação que for possível, os seus prudentes conselhos”.19 Na corte francesa e entre os demais ministros estrangeiros a serviço em Paris, dom Luís gozava de particular respeito e deferência, inclusive da parte de Luís XV. O duque de Luynes dele tinha boa impressão, e 32
cerimonial desses encontros era mais simples, eles se tornavam mais intimistas. A rainha recebeu o visitante em seus aposentos de pé, junto à mesa, disposta entre duas janelas, logo após ter feito sua toalete, mas antes de assistir à missa matinal.25 A sagacidade e a agudeza de espírito de dom Luís da Cunha foram mencionadas por vários contemporâneos seus. O 4º. conde de Assumar afirmou que ele “era homem de grande sangue-frio”, o que lhe trazia imensa vantagem nas negociações que encetava.26 A Gazeta de Lisboa, ao anunciar a sua morte, registrou que o embaixador servira em vários postos diplomáticos, “confirmando em tod[o]s o alto conceito que tinham formado da sua capacidade”.27 Frei Gaspar da Encarnação foi outro que se espantou com o espírito e a tenacidade do embaixador. Ao comentar sua morte e se referir aos últimos tempos de sua vida, marcada por um primeiro enfrentamento direto com o rei, comentou que “o que em tanto tempo não puderam fazer as forças humanas e reais, fez o poder divino em um instante”.28
de dom Luís da Cunha, junto à estatura corpulenta, à idade avançada, e à ciência conhecida que tem, são atributos mui próprios para o fazerem respeitável”. Para Jorge de Macazaga, cônsul espanhol em Lisboa, em 1736, dom Luís era um “sagaz ministro”.22 O jovem 4º. conde de Assumar, dom João de Almeida e Portugal, que viveu em sua companhia em Paris, entre 1744 e 1745, contou que, numa visita ao Louvre, acompanhando o embaixador, em audiência por Luís XV, percebeu que “todos geralmente na Corte [o] veneram e têm com ele atenções que se não tem com ninguém, até El-rei, que é bastante [ilegível] reservado, lhe falou com grande agrado, perguntando-lhe pela sua saúde, mostrando-se interessado nela”.23 Tal deferência parece ter sido compartilhada também pela rainha, que apresentara o mesmo interesse, pois, quando o rapaz foi apresentado a ela, sem a presença do embaixador, “quis saber da saúde do sr. dom Luís da Cunha”.24 O conde de Luynes relatou uma das audiências privadas que a rainha concedeu ao embaixador. Como o 33
Praça Louis le Grand, em 1725, um dos locais que serviram de residência a dom Luís em Paris.
Dom Luís da Cunha
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com diversas autoridades portuguesas — oriunda, prioritariamente, mas não só, de sua função diplomática —, que grande parte de suas ideias se irradiou. Ainda que tenha vivido praticamente toda a sua ativa vida adulta distante do reino, dom Luís da Cunha manteve uma intensa e ininterrupta troca de cartas com os principais artífices e pilares da política portuguesa de seu tempo, municiando-os com seus conselhos e com sua visão de mundo. Ainda que à distância, procurou influenciar por meio dessas missivas as grandes decisões de sua época. Apesar de a maior parte de suas cartas circular principalmente em esfera privada, algumas delas alcançaram significativa repercussão pública e outras poucas chegaram mesmo a ser produzidas com esse fim, exercendo influência em mais de uma geração da elite governante portuguesa e não apenas nos destinatários a quem eram endereçadas. Além dessa farta correspondência, que em grande parte sobreviveu até os dias de hoje,31 o embaixador produziu alguns textos nos quais procurava extrair lições de sua atuação em diversas embaixadas e, mais particularmente, de sua participação nos grandes tratados de paz europeus. Buscava estabelecer uma nova política diplomática para que Portugal voltasse a ocupar um papel de destaque no teatro do mundo. O mais profícuo e vasto de seus textos o intitulado Memórias da Paz de Utrecht, escrito logo depois de terminado o tratado.32 “Veio a lume em 1716, constando de um plano inicial de quatro partes e suplemento (cinco volumes).” Neles, apresentava e discutia “as causas e as origens da Guerra da Sucessão de Espanha, tal como as negociações em que as partes envolvidas participaram”.33 Era um tratado consagrado à arte da diplomacia, da política, da paz em oposição à guerra. Em 1714, quando enviou os manuscritos do primeiro volume para Portugal, redigiu uma carta ao secretário de Estado, Diogo de Mendonça, apresentando os originais. Com falsa modéstia retórica, afirmou então que, na obra, retratou “o caráter dos príncipes e pessoas que representaram esta grande cena com as cores que fielmente me deram, ou eu as vi”. Acrescentou que “não pude dispensar-me de meter às claras, como às escuras, pelo que é conveniente que nem o painel, nem o autor saiam à luz”.34 Para além dos documentos de caráter diplomático, destacam-se três textos políticos de sua autoria, escritos com o intuito de se tornarem públicos, ainda que alguns tenham sido mantidos secretos por algum tempo pela
João Gomes da Silva, conde de Tarouca, representante de Portugal em Utrecht, juntamente com dom Luís.
O quinto evangelista
Na página seguinte, a batalha na baía de Vigo, em 23 de outubro de 1702, durante a Guerra da Sucessão Espanhola.
Por tudo isso, sua esfera de influência não se restringiu ao período em que esteve vivo, mas transcendeu o seu tempo. Acentuando seu caráter profético, e correspondendo à expectativa do 4º. conde de Assumar de que “só o fim do mundo o poderia fazer sair dele”, o historiador francês, Alphonse de Beauchamp, que, em 1815, escreveu uma História do Brasil, afirmou que dom Luís da Cunha era, entre os portugueses, um quinto evangelista.29 Tal denominação não lhe foi conferida por acaso, nem tampouco fruto de um desenrolar natural do caráter profético de suas ideias, como ele fizera parecer, mas o resultado de uma estratégia muito bem articulada, ainda em vida, por ele próprio, já que acreditava fazer parte da sua missão, como dos demais filósofos iluministas, situar sua ação no vasto campo do devir histórico.30 Por esta razão, a parte mais significativa de seus escritos foi direcionada ao futuro, constituindo um legado seu à posteridade. Assim, ele superaria seu próprio tempo e espaço. Foi a partir de sua extensa produção literária, manifesta em grande parte em sua vasta correspondência 34
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Dom Luís da Cunha
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Frontispício da obra intitulada Casa da Villa de Utrecht onde se tinhão as Conferencias da Paz (1715), gravura de Bernard Picart.
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interesses de Portugal, para que ele seja governado conforme o seu verdadeiro interesse”.37 O terceiro ficou conhecido como seu Testamento Político,38 e acredita-se que foi endereçado ao príncipe dom José, herdeiro do trono. Juntos, esses textos fundaram toda uma agenda que, segundo seu desejo, deveria ser seguida por Portugal nos anos vindouros. Não se sabe exatamente a data em que esses documentos foram escritos, pois só vieram a público após a morte do embaixador. É provável que pelo menos uma primeira versão das Instruções políticas tenha sido rascunhada em Haia por volta do ano de 1736, e a Carta de Instruções escrita quando, mais tarde, dom Luís resolveu enviar as Instruções políticas a seu sobrinho. Não por acaso, esses documentos, onde ele esboçou sua visão da geopolítica portuguesa, se relacionavam a seu sobrinho e a dois pupilos seus — Marco António de Azevedo e Sebastião José de Carvalho —, grandes personalidades de seu tempo, sobre quem dom Luís nutria a expectativa de que viessem a ocupar o papel de espelhos do príncipe, que ele mesmo já havia cumprido. Na Carta de Instruções incitava seu sobrinho a entrar na administração régia, e com efeito ele foi posteriormente nomeado secretário de Estado da Marinha e Ultramar e depois secretário dos Negócios Estrangeiros. Já no Testamento Político, o embaixador sugeria que a melhor indicação para a Secretaria de Estado do Reino era Sebastião José de Carvalho, posteriormente conhecido como conde de Oeiras e depois marquês de Pombal.39 Dessa forma, buscava influenciar mais de uma geração da elite governante portuguesa, já que esses documentos apontavam para o presente e para o futuro do império, e pretendiam provocar ressonância junto a elite e aos sucessivos monarcas.40 E, de fato, à primeira vista, a pretensão do embaixador realizou-se, pois tanto dom José I quanto dom João VI apresentaram-se como herdeiros de seu ideário, concretizando algumas das suas propostas. Por seus escritos, dom Luís da Cunha foi reconhecido a posteriori como um oráculo da política portuguesa, já que os novos dirigentes justificaram ou embasaram suas ações nos textos políticos do embaixador. Foram eles que fizeram cópias de seus papéis políticos circularem no seio da elite governante por longo período após a sua morte, reapropriando-os com diferentes intenções. Sua influência sobre a política pombalina é tão evidente, que Joaquim Veríssimo Serrão considerou dom
heterodoxia das sugestões neles contidas. O primeiro, dedicado a seu sobrinho, dom Luís da Cunha Manuel, é conhecido como Carta de Instruções.35 O segundo, intitulado Instruções políticas,36 começou a ser escrito a pedido de Marco António de Azevedo Coutinho, por ocasião de sua nomeação para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Esse esperava que, por meio de um texto bastante amplo, dom Luís consolidasse seu pensamento e formasse “um sistema do que julga convir aos 36
Luís da Cunha “como uma espécie de oráculo do futuro marquês de Pombal”.41 Seguidamente, as ideias de Pombal foram apontadas como tributárias daquelas traçadas e registradas em seus documentos políticos. Também Camilo Castelo Branco refere-se a ele como “o deão dos embaixadores” e afirma que “nas reformas essenciais de Sebastião José de Carvalho (futuro marquês de Pombal) transluz a educação política de D. Luís da Cunha”.42 Para o autor, Pombal teria sido o executor do pensamento “de
seu mestre”, confirmando assim a perspectiva de dom Luís como “oráculo de Sebastião de Carvalho”.43 A mudança da corte para o Brasil, em 1808, parece ter sido o eco mais vivo, em pleno raiar do século XIX, do impacto da visão de dom Luís da Cunha a respeito da reconfiguração do império português. Não foi mero acaso que, durante esse contexto, avivou-se o interesse pelo seu pensamento, especialmente por parte daqueles que buscavam ver em seu ideário o embrião 37
Uma quermesse, de Sybrandt van Beest, em Haia, século XVII.
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das reformas introduzidas por dom João V. De fato, as Instruções políticas, escritas na primeira metade do século XVIII, parecem ter conduzido o norte da política portuguesa para muito além do tempo em que foram redigidas. Entre tantas outras medidas a serem adotadas por Portugal, sugerem a mudança da sede do império para o Brasil. Alguns portugueses ilustrados — como dom Rodrigo de Sousa Coutinho, secretário da Marinha e Domínios Ultramarinos (1796-1802), ou o próprio príncipe regente, futuro dom João VI —, ao buscarem o pensamento de dom Luís da Cunha, evidenciaram elementos comuns entre a suas práticas e as antigas prescrições do embaixador. Logo, ainda que não se possa dizer que a mudança da corte para o Brasil tenha sido um desenrolar natural e pura aplicação dos ideais esboçados pelo velho embaixador, é sintomático, nesse sentido, que uma cópia manuscrita das suas Instruções políticas fizesse “parte da Coleção de Manuscritos da Coroa, objeto de cuidados especiais, [que] conservada em arquivo separado, [foi] com o Príncipe Regente para o Brasil, ficando por sua determinação ‘junto à sua Pessoa’ e [sendo] um dos poucos manuscritos da dita Coleção que voltou para Lisboa em 1822”.44 Por conservar o manuscrito ao seu lado, fica evidente que o príncipe conferia às Instruções políticas uma importância especial, e a dom Luís da Cunha, o estatuto de oráculo que ele tanto almejara. Também dom Rodrigo de Sousa Coutinho preocupou-se com o destino de um conjunto de cartas do embaixador que ele possuía. Entre elas constavam as Instruções políticas, que dom Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, seu pai, deixara como espólio.45 Uma vez no Brasil, dom Rodrigo teve todo o empenho de preservá-las e, preocupado com o destino desses papéis, escreveu a seu secretário, que permanecera em Lisboa, pedindo “que me diga com toda a individuação se mandou [para o Brasil] os manuscritos de D. Luís da Cunha, que meu pai aí tinha, e que eram seus, tendo-os comprado, e que não tinham nada de comum com os da Corte”.46 Interessante apontar que, ao escrever sugerindo a transferência da sede do império para o Brasil, dom Luís procurou ancorar seu pensamento numa longa tradição familiar, iniciada quando seu “bisavô dom Pedro da Cunha deu ao senhor dom António, grão-prior do Crato”, o mesmo conselho, dizendo que “se poderia Sua Alteza embarcar com os que quisessem seguir, e
passando ao Brasil, cuja vastidão e riquezas eram as que naquele tempo se sabiam”.47 Desse modo, o seu pensamento projetava-se para o futuro, pois, como ele mesmo dizia: “Quero passar no espírito de V.S.a por visionário”, mas, ao mesmo tempo, ancorava-se no passado, nas tradições familiares,48 inicialmente esboçadas por seu antepassado.49 Ainda que não se pretenda fazer aqui uma análise de como a historiografia analisou ou retratou a figura de dom Luís da Cunha, ou como seu pensamento foi apropriado ou reapropriado ao longo do tempo, algumas observações pontuais se justificam. Alguns anos depois da transmigração da corte portuguesa para o Brasil, em 1811, algumas de suas cartas foram publicadas no Investigador Português, jornal que circulou em Londres e que congregava uma parcela importante da elite iluminista de luso-brasileiros emigrados, alguns deles exilados devido à radicalidade de suas ideias.50 A publicação desses papéis aponta para novas identidades que então se estabeleciam entre o pensamento desses intelectuais e o do antigo embaixador, visto por eles como fonte de inspiração heterodoxa e inconformista. Na esteira do surgimento do movimento republicano em Portugal, já no alvorecer do século XX, ocorre novo interesse pelo pensamento de dom Luís da Cunha e, com isso, em 1929, as Instruções foram publicadas pela primeira vez.51 É sintomático que, em 2001, esse interesse tenha renascido, apontando para a longevidade de suas concepções, e uma nova e cuidadosa edição das Instruções tenha sido realizada, no contexto das comemorações dos 500 anos dos descobrimentos marítimos portugueses,52 mais uma vez reforçando a sua configuração como oráculo da política portuguesa.
Cícero Um sentido coevo do termo “oráculo” levanta interessantes considerações acerca da figura do velho embaixador. A acepção de “resposta que davam os demônios debaixo do nome dos falsos deuses da gentilidade”53 aponta para o caráter muitas vezes heterodoxo e radical das ideias de dom Luís, o que fez com que frequentemente ele fosse também visto com suspeita. Por exemplo, quando Marco António de Azevedo Coutinho pediu que ele escrevesse o “sistema do que 38
julgar convir aos interesses de Portugal”, que resultou no complexo texto das Instruções políticas, acrescentou que dom Luís ficasse tranquilo e realizasse a tarefa escrevendo com liberalidade, “não se embaraçando que pareçam coisas novas e possam lá ser mal recebidas”.54 Dom Luís sabia muito bem que suas ideias costumavam ser mal interpretadas na corte, e quando foi preterido na escolha para ministro dos Negócios Exteriores, em 1736, exclamou: “Cara pátria, oh pátria cara se nela se pudera ser profeta!”55 Foram várias as ocasiões em que suas opiniões provocaram rumores em Lisboa. Em 1746, por exemplo, ao circular entre os conselheiros do rei sua sugestão de que Portugal sediasse um congresso para estabelecer a paz na Europa, ele foi acusado de “que não era muito certo na religião, pois [se] mostrava muito francês”.56 Recaía sobre ele a suspeita de que os longos anos vivendo longe da corte incutiram-lhe hábitos e pensamentos estrangeiros. De fato, dom Luís da Cunha encontrou nos países onde residira, especialmente na Inglaterra, na Holanda e, por fim, na França, uma liberdade e uma camaradagem intelectual, que lhe avivaram o espírito e desenvolveram uma percepção aguda e crítica da realidade ao seu redor. Era um livre-pensador, ainda que se esforçasse por manter as aparências, necessárias por estar a serviço do rei e gozar de prestígio nas cortes onde serviu. Em Paris, por exemplo, no mesmo ano de 1746, quando se aproximava a chegada de seu sobrinho dom Lourenço da Cunha, “turbulento e libertino”, ele considerou ser o rapaz dotado de todas as “más qualidades para poder viver em Paris sem se expor e me expor”, já que a cidade respirava “liberdade e deboche”.57 Mais tarde, concluiu, não sem algum pesar, que não poderia mais viver no além-Pireneus, pois “os muitos anos que tenho vivido com as outras nações me fizeram contrair certos hábitos que me não deixam contentar a nossa nobreza e é muito tarde para me repatriar”.58 O Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de Oliveira, que comungava muitas de suas ideias, também comentou que a longa permanência de dom Luís afastado de Portugal tivera consequências, tendo vivido “mais de quarenta anos em ministério”. Na sua opinião, “a ausência introduziu nele bem os seus efeitos. Julgo que não se lembra de Portugal mais do que pela obrigação e amor com que serve ao soberano”. Segundo ele, teria sido “a estimação que nestes países se confere aos
O cardeal João da Mota e Silva era um dos mais importantes conselheiros do rei dom João V.
homens do seu caráter, [que] faz estas sublevações nos [seus] ânimos contra os afetos da pátria”.59 Em Haia, dom Luís encontrou um ambiente de liberdade intelectual e prazeres cotidianos que se ajustava perfeitamente ao seu espírito. Isso o levou a adquirir uma propriedade que se tornou sua casa, mantendo-a até o fim de sua vida, apesar de ter vivido na cidade apenas entre 1728 e 1736, quando serviu como embaixador junto às Províncias Gerais. Demonstrando a alegria com a sua permanência, dizia sobre a quinta que adquiriu: “Na porta nova que lhe fiz lhe dei o nome de Monplaisir”.60 Mas, apesar dessas opiniões que fazem dom Luís parecer um desterrado de Portugal, um pensador heterodoxo e ímpar em relação a seus compatriotas, e em particular em relação à elite dirigente portuguesa, que estaria mergulhada no obscurantismo, o que emerge de sua correspondência é o compartilhamento e a discussão de seu ideário com os seus missivistas de confiança, muitos deles do círculo mais íntimo de conselheiros de dom João V, revelando que, ainda que de forma privada em círculos fechados, ideias heterodoxas circulavam entre setores da elite lusitana. Nesse círculo de sociabilidade de letrados com quem compartilhava suas ideias, havia um especialmente 39
Dom Luís da Cunha
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caro a dom Luís da Cunha. Tratava-se de seus pupilos, cujo exemplo mais vivo foi seu discípulo Marco António de Azevedo Coutinho. Nos anos que serviram juntos em Paris e, depois, quando viveram em Bruxelas e Haia, entre 1726 e 1728, estreitaram a convivência, a camaradagem e a confiança mútua. Adoentado em Bruxelas, dom Luís teve Marco António em sua cabeceira, amparando-lhe as dores. E vice-versa. Quando Marco António caiu doente,61 a assistência de dom Luís serviu para aproximá-los mais ainda. O embaixador descreve ao cardeal da Mota a relação deles do seguinte modo: “Éramos muito amigos, enfermeiros um do outro e nos consolávamos nas nossas misérias, me aliviava de algum trabalho quando a minha cabeça lhe resistia.”62 Em Haia, ambos partilharam das liberdades e prazeres que a vida na cidade proporcionava. A partida de Marco António para Lisboa, em 1728, deixou dom Luís mortificado de saudades (“abraços e mais abraços, saudades e mais saudades”)63 e a correspondência desses primeiros meses são o melhor registro da profunda amizade que ambos devotavam um ao outro. As palavras do saudoso embaixador revelam a falta que lhe fazia o amigo querido e fiel: “Escrevo a Vossa Senhoria com dobradas saudades por ser o primeiro dia que o tempo me permite que o faça no nosso balcão, vendo passar a quantidade de gente que vai e vem da Keremesse, da Haia, e me lembro com grande dor que nele despachávamos e nele comíamos.”64 Noutra carta, fica registrado o intercâmbio intelectual entre os dois e a liberdade com que tratavam os vários assuntos: “Aqui achei a sua carta de 8 do corrente e também convenho em que para falar mais livremente das matérias que ela contém seria melhor estarmos tomando o nosso thé, depois de encarregar a Ana Nunes de ter a porta bem cerrada.”65 A confiança entre eles era tamanha, que, muitos anos mais tarde, quando Marco António de Azevedo já era secretário dos Negócios Estrangeiros, dom Luís da Cunha não hesitou em remeter “um livrinho que se intitula O luxo e se vende secretamente por ser uma sátira contra o governo e já o Colporteur que distribui os exemplares fica na Bastilha”.66 Vários anos mais tarde, sem jamais terem voltado a se encontrar, ainda partilhavam da mesma amizade, confiança e liberdade de espírito. Em 1746, dom Luís escreveu-lhe para comentar sobre um artigo publicado 40
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Vista de Lisboa, em 1755, antes do terremoto no mesmo ano.
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na “Gazeta Eclesiástica, ou janseísta, de que não se sabe o autor, [mas que] ataca[va] mr. Voltaire sobre a religião; ele se defendeu escrevendo uma larga carta ao Pe. Latour a que ele respondeu e porque estes dois papeis são muito bem escritos os remeto a [sua] curiosidade”.67 Poucos meses depois, enviou-lhe o discurso que Voltaire proferira quando tomara posse na Academie Française des Inscriptions et Belles Lettres, “por ser feito em novo gosto e ter sido muito apreciado com a resposta que lhe fez o abade D’Olivet, diretor da mesma Academia”.68 Por novo gosto referia-se ao racionalismo triunfante professado pelos filósofos iluministas franceses, do qual Voltaire será um dos mais importantes expoentes e com quem muito provavelmente tivera contato por meio de D’Anville, que se relacionava com ele em Paris. Emblematicamente, em uma de suas cartas, Marco António chamou o velho embaixador de Cícero. Dom Luís protestou e pediu que “não me torne VSa. a [me] chamar de Cícero, a menos que não seja por alcunha”. O embaixador não descarta a semelhança e, de fato, reconheceu que se parecia com o sábio da antiguidade, de quem era grande admirador,69 porque “eu digo o que sinto sem examinar como digo”.70 No entanto, havia muitos outros aspectos em comum na biografia dos dois, para além da questão da sinceridade, que convém destacar.71 Ambos foram grandes prosadores; deixaram uma produção epistolar significativa; possuíam um domínio incrível da palavra que se revelava numa retórica impecável; formularam sistemas importantes de pensamento; influenciaram os grandes dirigentes de seu tempo (César e dom João V); viveram longos períodos desterrados de sua pátria de origem (exílio para Cícero, serviço para dom Luís) e, por fim, muitas das ideias dos dois apresentavam caráter heterodoxo. O embaixador era, na verdade, um verdadeiro admirador de Cícero, e não se cansou nem se furtou de o citar em sua obra. Logo no primeiro parágrafo das Instruções políticas, dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, lança mão de Cícero para aconselhar o amigo: “porque as forças espirituais, se não caducam totalmente, se enfraquecem com as corporais, apesar dos remédios que Cícero aponta para se poderem conservar umas e outras (...), de sorte que não basta ser velho para ter adquirido as experiências que VSa. me supõem”.72 Aqui ele deixa claro que utilizou os métodos apregoados
por Cícero para que a velhice trouxesse sabedoria e não demência. Noutro trecho, comentando o fato de que poderia vir a ocupar a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, apesar de ter vivido tanto tempo longe da corte, afirma que, “verificando-se a grande máxima de Cícero, enquanto diz que os chamados ao governo devem entrar nele minimo sonitu”, isto é “silenciosamente, discretamente”. Nesse ponto, se refere ao fato de que, no momento certo, mesmo estando afastados de sua pátria, ambos tinham importantes contribuições a dar a seus governos. No entanto, havia mais uma importante proximidade entre eles. Ambos se cercaram de jovens aprendizes. Como dom Luís, “Cícero apreciava a companhia dos jovens e, à medida que ia envelhecendo, dava-lhe imenso prazer recebê-los, colaborar no desenvolvimento de seus talentos e promover suas carreiras”.73 Diogo de Mendonça filho, Marco António de Azevedo e os dois jovens da casa de Assumar, foram alguns dos muitos exemplos de jovens discípulos que transmitiram as ideias de dom Luís para a geração seguinte e contribuíram para garantir sua posição de oráculo.
Academias Ainda que vivendo distante do reino, dom Luís da Cunha teve participação importante na República de Letras, de viés iluminista, que se formava em Portugal em torno de dom João V, seu principal mecenas. Esse grupo de ilustrados buscava construir um novo conhecimento, genuinamente voltado para as questões colocadas pela realidade do império português. Dom Luís da Cunha estava muito cônscio desse papel pedagógico destinado à elite pensante na modernização e transformação da cultura lusitana, pois “que não basta inculcar as pessoas de que [se] conhece as capacidades, é preciso instruí-las”,74 como também da importância da produção de um novo conhecimento revertido em proveito da nação. Na participação nas academias portuguesas e europeias, que se formavam por toda parte como locus de discussão e intercâmbio entre esses savants; nos encontros em diversas capitais da Europa, em que se congregava uma nova sociabilidade intelectual;75 nas viagens, pois o grand tour fazia parte da educação não só das elites portuguesas, mas de todas as redes de intelectuais iluministas das mais diferentes cortes; na prática 42
(salões, círculos, academias)”.77 Não por acaso, dom Luís da Cunha participou das duas maiores academias que funcionaram em Portugal por essa época: a Academia dos Generosos e a Academia Real da História Portuguesa, surgida a partir da primeira; na França e Inglaterra, comparecia ou se mantinha informado do que se passava nas seções das academias científicas locais. A Academia dos Generosos foi fundada, em 1647, entre outros, pelo pai de dom Luís da Cunha — dom António Álvares da Cunha —, pelos condes de Tarouca, da Ericeira (o 4o.) e de Vila Maior, Manuel Teles da Silva, depois 1o. marquês de Alegrete. Durante sua existência, a Academia dos Generosos sediou-se na casa de dom António em Lisboa e exerceu importante influência no
conjunta da diplomacia em diversas embaixadas portuguesas e nos grandes Congressos de Paz que ocorreram na Europa na primeira metade do século XVIII; no contato indireto encetado na troca de correspondência ou na leitura dos mesmos livros ou gazetas, esse grupo compartilhava visões de mundo e estreitava os laços entre si. Em Portugal, na França e mesmo no Brasil, entre fins do século XVII e ao longo do século XVIII, as academias literárias foram importantes centros de convergência desses homens instruídos, onde efetivavam a troca e a divulgação de ideias.76 Como na França, “o homem de letras não existe fora das instituições que se objetivam em um espaço social. Sua atividade depende dos aparelhos culturais do Estado e de todas as redes da sociedade civil 43
A rainha Christine da Suécia, com sua corte, escuta Descartes em uma demonstração de geometria, na tela de Dumesnil, século XVII.
Dom Luís da Cunha
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Alegoria à Academia Real da História, água-forte de 1735.
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espírito do jovem dom Luís,78 realizando suas atividades até 1668, quando foram paralisadas temporariamente. Em sua segunda fase, entre 1693-1696, dom Luís da Cunha desempenhou um papel determinante para o sucesso da instituição durante os três anos seguintes. Em 1696, sua partida para Londres, como embaixador, fez com que seus trabalhos fossem interrompidos de forma permanente.79 Essa primeira academia lançou as bases de articulação da República das Letras portuguesa na primeira metade do século XVIII, e as sociabilidades e as amizades ali estabelecidas foram invocadas por seus participantes ao longo de toda a vida. Como os demais
membros, foi a partir da Academia dos Generosos que dom Luís da Cunha teceu as principais conexões sociais e intelectuais que manteve em Portugal, mesmo residindo no exterior durante todo o resto de sua existência.80 A Academia Real da História foi fundada por dom João V, em 1720, e congregou os grandes expoentes da administração e da intelectualidade portuguesa da época.81 Criada por sugestão de Manuel Caetano de Sousa, depois de realizar seu grand tour europeu, teve entre seus primeiros sócios, o conde da Ericeira, Martinho de Mendonça Pina e Proença, o padre Bartolomeu de Gusmão, Diogo Barbosa Machado, o marquês de Alegrete e o conde de Vila Maior, seu primeiro secretário.82 Com sua criação, os antigos partícipes da Academia dos Generosos juntaram-se a ela. Por indicação régia, em 1723, dom Luís da Cunha se tornou membro, na qualidade de supranumerário.83 Os sócios supranumerários eram aqueles não residentes em Lisboa e, dessa forma, a elite intelectual da capital se conectava com os residentes no interior do país e também no exterior, como era o caso dos diplomatas. A criação dessa academia serviu aos propósitos da elite pensante quanto à formulação de um novo conhecimento, construído segundo as regras do método cartesiano. A submissão estrita às regras metodológicas conferiria a esse conhecimento um estatuto científico. Segundo esse método, o texto histórico a ser produzido pelos membros da instituição deveria ser precedido de uma investigação rigorosa. As fontes históricas encontradas seriam primeiramente submetidas à crítica, segundo esse novo método.84 Era uma história ligada ao poder e, por isso mesmo, era sobretudo uma história administrativa. Dessas duas perspectivas — a preocupação com as fontes e o viés administrativo — decorria a necessidade de coleta e organização dos documentos, principalmente os oficiais. Não por acaso, o papel de guarda-mor da Torre do Tombo foi confiado, inicialmente, por dom João V, a dom António Álvares da Cunha, pai de dom Luís da Cunha, que imprimiu novos rumos à instituição. Dom António esperava que o filho o sucedesse no cargo e, por isso, em sua juventude, ministrou-lhe o preparo intelectual que a função exigia, segundo a nova metodologia nascida nas academias. Isto acabou não acontecendo e, segundo o embaixador, “a Torre do Tombo ficou sem se acabar de reformar, ainda que me dizem que depois se pôs na ordem que meu pai 44
havia começado esta obra e a tinha adiantado, de que fui testemunha, porque queria que o acompanhasse e me instruísse na esperança de que lhe sucederia na continuação dessa reforma”.85 Os embaixadores portugueses, como era o caso de dom Luís da Cunha, eram espectadores privilegiados desse “teatro do mundo” e, por isso mesmo, constantemente produziam textos reflexivos sobre os acontecimentos, a respeito dos quais debatiam com os seus correspondentes. Era uma história eminentemente política, que deveria reconstituir os acontecimentos do passado, mas também instruir a Coroa em sua ação futura. José da Cunha Brochado, nas Memórias particulares ou anedotas da Corte de França, no tempo que serviu como enviado naquela corte, escritas entre 1696 e 1702, apontava como uma das importantes virtudes dos embaixadores — além de “grande desembaraço, muita atenção, grande sagacidade com muita dissimulação, um semblante de muitas caras e um aparato com tanto artifício que sirva a todos os gênios” — a “muita erudição de História Moderna”.86 Brochado, como era de esperar, também foi sócio da Real Academia da História, tendo sido seu primeiro diretor.87 Dom Luís da Cunha refere-se aos diplomatas em termos semelhantes. Para ele, “os Embaixadores (se são como devem ser, e não como eu sou) têm justamente a obrigação de serem uns Jornaleiros Historiadores dos sucessos presentes, necessitando de os combinar com os passados, para poderem formar o seu juízo sobre os futuros”.88 Observa-se aí a missão messiânica da História, de projetar para o futuro a ação dos homens presentes, à luz de ensinamentos passados. Dom Luís da Cunha cumpria, por meio de vários escritos de caráter histórico-político, no seio dos quais as Memórias sobre a Paz de Utrecht têm lugar especial, esse papel destinado a essa República das Letras, em especial aos sócios da Academia Real da História, na construção de um conhecimento moderno, a serviço do Estado. “O poder desses intelectuais repousa enfim sobre sua convicção de produzirem história”,89 mas não apenas a fim de desvendar o passado, pois tinham a missão de instruir os príncipes em seu devir histórico. Essa importante função dos acadêmicos-historiadores, na formação dos monarcas esclarecidos, é acentuada por dom Luís da Cunha em seu discurso de posse na Academia:
entre eles, escolha Sua Majestade um sujeito digno de ter cuidado da educação do Príncipe nosso Senhor, pois sendo tão versados na arte de louvar os Heróis, parece que também devem saber melhor que os outros o modo de forma-los.90
Esse novo conhecimento, porém, não deveria ser produzido apenas de forma individual, o que tornavam as academias espaços privilegiados de intercâmbio de ideias e de sociabilidade. “A Academia é instituída sob o signo da comunicação, o que implicava um ideal de colaboração que condena o trabalho solitário”.91 Seus
O estudo, que fazem da antiguidade, dando-lhes experiência de todos os tempos, os habilita, para que, 45
Frontispício da obra Hesperi et Phosphori. Nova Phaenomena sive observationes circa planetam Veneris, de 1728, por Francesco Bianchini, dedicada ao rei Dom João V, patrono das ciências.
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sócios, por meio da instituição, ainda que distanciados espacialmente, estavam conectados entre si. Mas a produção de um conhecimento coletivo não significava que não houvesse diferenças ou divergências nos discursos dos acadêmicos, ou que a instituição fosse monolítica.92 Ao contrário, o debate era a essência do conhecimento ilustrado. Grande parte do cotidiano de dom Luís da Cunha era despendido na produção de textos que demonstravam o seu domínio sobre a história moderna, como era esperado de um membro da Academia, especialmente sendo ele um embaixador. Como os demais partícipes de uma República de Letras ilustrada, ele fazia parte de um movimento que pretendia deixar suas marcas na transformação do mundo. O philosophe era um ser engajado. O culto da escrita, a certeza de possuírem uma missão civilizadora a serviço do Estado, o gosto pela polêmica, a certeza de que suas opiniões seriam ouvidas faziam com que esses intelectuais iluministas possuíssem a convicção de que faziam e participavam da História. Sua ação, contudo, “se situava no devir his-
tórico”, e seus conselhos deveriam servir tão-somente como espelhos dos príncipes.93
República das Letras Dom Luís da Cunha manteve fortes vínculos de amizade e teceu intensa sociabilidade e correspondência intelectual com alguns membros dessa República das Letras portuguesa, dentre os quais se destacava o 4º. conde da Ericeira, dom Francisco Xavier de Meneses.94 Ao lado de dom Luís e de seu pai, o conde participara da Academia dos Generosos. Depois disso, foi fundador, em Lisboa, de uma Academia Portuguesa (1717), onde mais uma vez demonstrou sua vasta erudição e seu desejo de constituir uma sociabilidade intelectual ao gosto de uma República das Letras. Foi também um dos sócios fundadores da Academia Real da História, participando da elaboração de seu projeto e da redação de seus estatutos. O conde da Ericeira foi um dos grandes epicentros em torno de quem se reuniram os inteligentes do reino.95 Dom Luís destacou que ele tinha “o mais digno e mais elevado lugar, não em uma confusa República de Letras, porém sim em o seu bem regulado império”, na qual se destacava sua “numerosa e seleta biblioteca”.96 Como cabia a um savant de seu tempo, suas conexões intelectuais não se restringiam a Portugal, tendo sido admitido na Royal Society, de Londres, em 1738. O experimentalismo era a base dessa nova ciência, por isso o conde possuía em sua casa um gabinete de física, um museu de história natural e uma vasta biblioteca com cerca de 15 mil volumes, que rivalizava com a de dom João V.97 O cardeal da Cunha se referiu a ele como “homem insigne e versado em todas as línguas e ciências”.98 As questões científicas, especialmente a física newtoniana, mobilizavam cada vez mais os letrados portugueses reunidos em academias científicas, de modo semelhante ao que vinha acontecendo com os ingleses e os franceses. Com dom Luís, encetou um estimulante intercâmbio intelectual, cuja base assentava-se na liberdade de pensamento, a partir de vasta e contínua troca de cartas, pelas quais discutiam e intercambiavam leituras, nem sempre ortodoxas, sempre de forma crítica e inteligente. Em 1741, por exemplo, o conde confessou ao embaixador estar lendo bastante Voltaire e o chama de
Página de rosto de Henriqueida: poema heroico…, de Francisco Xavier de Meneses, conde de Ericeira, 1741. Na página seguinte, ministros plenipotenciários em Baden, onde foi assinado novo acordo (1714) depois do Tratado de Utrecht (1713) e antes do de Antuérpia (1715), relacionados à Guerra da Sucessão Espanhola. 46
Dom Luís da Cunha
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o “antimachiavel do rei da Prússia”.99 Como resultado dessa camaradagem intelectual, a 20 de janeiro de 1744, dom Luís lamentou com pesar a perda do amigo com quem compartilhara tantas identidades, “porque me deixou penetrado da mais viva dor a morte de meu amigo velho o conde da Ericeira, no qual Sua Majestade perdeu um tão fiel vassalo e que pela sua incomparável erudição dava grande crédito a Portugal”.100 Outro ícone dessa República das Letras foi o 2º. conde de Assumar, dom João de Almeida,101 também dileto amigo e correspondente por toda a vida de dom Luís da Cunha. As cartas que trocaram entre si retratam a amabilidade, o respeito e a troca intelectual. Conversavam sobre tudo, especialmente sobre as questões em torno da política portuguesa após a Guerra da Sucessão Espanhola, da qual ambos foram partícipes — o primeiro como militar no front de batalha, e o segundo como diplomata nos acordos que se seguiram. Dom João de Almeida foi nomeado sócio da Academia Real da História, em 1721, e era conselheiro de Estado. Foi a ele que dom Luís encaminhou sua obra Tradução e paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio, celebrados em Utrecht, Baden e Anvers, para que o mesmo a tornasse pública em Portugal.102 Pela correspondência, o velho Assumar e dom Luís estreitavam a amizade, partilhavam e discutiam ideias e também intercambiavam notícias. Dom João de Almeida contava o que se passava no reino e no império, dom Luís punha-o a par das notícias do teatro do mundo europeu. Em 1720, as novas que Assumar dava do Brasil, onde seu filho, Pedro de Almeida, era governador das Minas, revelam reflexões sobre os conflitos que convulsionavam a capitania. A partir da ótica dos Assumar,103 as informações foram importantes para moldar em dom Luís sua concepção, compartilhada por outros membros desse grupo, da centralidade das Minas e do Brasil para o império português, além dos perigos que corriam. Além da troca de cartas, a amizade pessoal entre dom Luís e Assumar revelou-se ainda na incumbência, assumida pelo embaixador, de receber em sua casa, em Paris, na década de 1740, a fim de que se instruíssem, os dois netos de Assumar — João e Luís, filhos de Pedro de Almeida, o 3o. conde.104 Dessa forma, a amizade estendeu-se às outras gerações da casa. O marquês de Abrantes foi outro com quem dom Luís manteve intensa amizade. O relacionamento dos 48
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Rei Felipe V de Espanha concede ao marechal James Fitzjames, duque de Berwick, o título de Cavaleiro do Velocino de Ouro, pelo comando na Batalha de Almansa na Guerra da Sucessão Espanhola.
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Nesse círculo restrito de nobres, do qual dom Luís era integrante ativo, ainda que à distância, priorizava-se a troca de ideias, a liberalidade de pensamento, o compartilhamento de leituras, muitas vezes de caráter heterodoxo, e o intuito era o de serem espelhos dos príncipes e influenciarem a política do reino.
O embaixador e a arte da diplomacia No ano de 1697, dom Luís da Cunha iniciou sua longa carreira como embaixador de Portugal, servindo, até a morte, em diversas cortes europeias. Até 1712, esteve na embaixada na Inglaterra. Lá se envolveu em pesadas negociações com os ingleses, que haviam prometido financiar o exército português em troca da participação portuguesa na Guerra da Sucessão Espanhola. Como resultado dessas negociações surgiu em seu espírito uma profunda desconfiança em relação aos britânicos, para quem, segundo ele, só valiam seus próprios interesses. Ao final do conflito, com vistas a superar diversos impasses ocorridos, foi organizado o Congresso de Utrecht. As negociações preliminares ocorreram em Londres, em 1712, onde ainda servia dom Luís, e o congresso propriamente dito, nos Países Baixos, entre 1712 e 1715. Dom Luís da Cunha foi nomeado 2º. plenipotenciário, auxiliando o conde de Tarouca, que era o 1º. plenipotenciário, na delegação portuguesa. Antes de estabelecer-se em Haia, onde ocorreu o congresso, teve curta passagem por Paris, ocorrida em 1712.106 Com o fim do congresso, em 1715, voltou a Londres; em 1716, esteve em Hanôver, Haia e Londres; em 1717 e 1718, retornou a Haia; e o ano de 1719 passou em Madri, para tentar resolver os impasses criados a partir de um incidente diplomático ocorrido na embaixada portuguesa. Entre 1720 e 1725, esteve em Paris, como emissário para participar do Congresso de Cambrai, de onde saiu devido à ruptura das relações diplomáticas com a França. Entre 1726 e 1727, esteve em Bruxelas; entre 1728 e 1736, novamente em Haia, onde chegou a adquirir uma casa, pensando em ali se estabelecer; e, entre 1736 e 1749, permaneceu em Paris, pois as relações diplomáticas haviam sido restabelecidas, e foi ali que morreu. Se “o século XVII foi descrito como um tempo de guerras, o XVIII [foi] como uma sucessão de congressos”.107 Além de Utrecht e dos preparativos para o Congresso de Madri, que
Detalhes de Alegoria da Paz de Utrecht, por Johannes Drappentier, 1713.
dois caracterizou-se pela camaradagem intelectual, por vezes marcada por ideias discordantes. Quase sempre vivendo em espaços geograficamente distantes, era a correspondência que viabilizava em grande parte esse diálogo. O marquês também era sócio da Academia Real da História, tendo sido inclusive um de seus censores. Descendia da velha nobreza do reino e seus interesses intelectuais se concentravam na arquitetura e na pintura. O intercâmbio de pensamento entre dom Luís e o marquês era constante e, por meio da correspondência, o embaixador buscava — à distância — influenciá-lo e, indiretamente, à política régia, pois o marquês de Abrantes era consultado pelo rei em diversos assuntos. Este preferia, em lugar da convocação de instituições formais, se aconselhar de maneira informal com homens de sua confiança. Em 1729, em mais uma carta a Marco António de Azevedo, dom Luís registra sua relação com o marquês e aponta a ressonância das opiniões deste junto ao rei: “Parece que o marquês de Abrantes ainda não formou totalmente a sua ideia para que o amo sobre ela tome a sua última resolução.”105 50
letras voltados para os negócios exteriores. O diplomata era, antes de mais nada, um homem de letras, e uma ampla cultura era essencial à sua formação. Cabia aos embaixadores tanto negociar quanto representar os soberanos ou príncipes a quem serviam.109 A novidade do século XVIII era o fato de que a diplomacia era “considerada como uma atividade específica, com suas próprias regras, com seus lugares de definição e seu próprio estatuto ‘disciplinar’ e jurídico”,110 exigindo, pois, saberes próprios e mesmo, como salienta dom Luís, uma outra linguagem. Por isso confessou ele “que quando saí da Relação de Lisboa para vir a Londres suceder ao visconde de Fonte Arcada, não sabia mais que despachar um feito, (...) e assim me foi necessário aprender outra língua; e fazer outro estudo”.111 Antes de tudo, a diplomacia era uma arte. Arte de conhecimento, de prudência, de inteligência política, de mediação, de polidez,112 mas também de dissimulação. Qualidades imprescindíveis para o
aconteceu a partir de 1750, dom Luís se envolveu em todas as grandes negociações e tratados europeus da primeira metade do século XVIII, como Cambrai, entre 1720 e 1725, Breda (1747) e a Paz de Aquisgrán (1748). A vida diplomática não era apenas um espaço de negociação política, mas tornou-se ponto importante de formação e sociabilização da República das Letras no espaço continental europeu. Embaixadores eram homens cultos e, nos congressos e nas cortes estrangeiras, estabeleciam intensa cordialidade entre si. O primeiro congresso europeu do século XVIII, em Utrecht, constituiu-se como um momento de inflexão, pois moldou novas formas de política diplomática e foi a grande escola de uma geração de diplomatas que praticamente debutaram nessa oportunidade.108 Vários desses homens continuaram a se encontrar vida afora nas diversas cortes onde serviram e em outros congressos de paz, constituindo uma rede internacional de homens de 51
Vista panorâmica de Londres no século XVIII.
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O conde de Tarouca, dom Luís da Cunha e o duque de Ossuna, representantes de Portugal e Espanha, assinam a paz no parque do Jogo do Malho, em Utrecht, em 6 de fevereiro de 1715.
Ratificações da paz fora da Porta Branca, limite da cidade de Utrecht, em 2 de abril de 1715. 52
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que os funcionários subalternos ascendiam na carreira diplomática, deveriam retribuir com fidelidade a proteção e os favores antes recebidos. Assim se formavam as redes clientelares que conectavam esses homens por toda a vida. Quando estava em Paris, em 1724, dom Luís da Cunha escreveu uma carta de recomendação para Francisco Mendes de Góis, que buscava uma mercê régia.117 A missiva nos permite observar essa teia de sociabilidade e serviço entre embaixadores e seus antigos funcionários. Diz dom Luís:
um papel de destaque, consoante com a riqueza e o poderio da nação no século XVIII.
Os salões e a mesa O iluminista da República das Letras não era um solitário. Constituía-se em sociedade, por meio da conversação. Por isso, “segundo os padrões do establishment literário”, dominar essa arte era fundamental para a troca de saberes e opiniões.119 O médico português Antônio Ribeiro Sanches, um grande savant de sua época, que pertencia ao círculo de dom Luís, malgrado “sua aparência medíocre, tinha uma fisionomia espiritual, dois olhos pequenos mas vivos, um sorriso fino que parecia na conversação ser garantia de sua inteligência, ou o intérprete de seu pensamento”. De Sauvigny,120 que escreveu estas linhas em elogio ao amigo, ressalta que a conversação de Ribeiro Sanches “era sempre interessante, algumas vezes viva e animada”, observando ainda: “Ele não amava a disputa, mas ele se prestava com prazer à discussão e citava sempre a propósito os fatos interessantes para apoiar o raciocínio sólido”.121 A partir de tais comentários, portanto, observa-se que o domínio da retórica exigia argumentação consistente e que a arte da conversação baseava-se na discussão inteligente, diferenciada da mera disputa. Desse modo, a participação na sociedade dos letrados “concretiza[va]-se, substancialmente, nas companhias escolhidas que compartilham os prazeres do encontro, da conversa, do salão, da mesa”.122 O salão era o espaço ímpar de sociabilidade dos homens de letras e, quando dom Luís residiu em Paris, a cidade fervilhava dessas “pequenas sociedades onde os letrados adora[vam] conversar e discutir".123 Frequentemente, comparecia à “casa de me. Tencin, que é uma espécie de museu, onde há muitos anos preside mr. de Fontenelle”.124 Claudine Alexandrine Guérin de Tencin, ou me. Tencin, baronesa de Saint-Matin, mãe de D’Alembert, no famoso salão de sua casa, reunia a nata da elite intelectual iluminista francesa. Por ali circulavam personalidades como o abade Prevost, Montesquieu, Marivaux, Helvetius, entre outros. Bernard Le Bouyer (ou Le Bovier) de Fontenelle, famoso escritor, amigo de Voltaire, e secretário perpétuo da Académie Royale des Sciences de Paris, entre 1699 e 1737, presidia as seções.
Certifico que, no ano de 1710, veio a Londres Francisco Mendes de Góis, onde o conheci, vivendo quase em minha casa com bom procedimento e então o encarreguei de algumas diligências por achar nele a capacidade que para elas se requeria e ali ficou servindo a Joseph da Cunha Brochado até que este ministro voltou para Portugal, pelo que, vendo-se desamparado, buscou o meu abrigo em Holanda e, dali, o levei comigo outra vez a Londres [1715], servindo na minha secretaria e me não pôde acompanhar na embaixada Em Utrecht, entre 1713 e 1715, moldaram-se novas formas de política diplomática. Na gravura de origem holandesa, a assinatura de um dos acordos.
de Castela. Depois o vi voltar de Inglaterra, servindo de secretário a Marco António de Azevedo Coutinho; em todo este tempo e em todas as partes observei sempre nele capacidade, modéstia, fidelidade e desinteresse.118
exercício da função eram “a observação penetrante, a perspicácia, a justa apreciação dos homens, das circunstâncias e das oportunidades, o autodomínio, a moderação e o equilíbrio”.113 Além disso, um embaixador deveria ser “muito familiar, popular e magnífico”.114 A diplomacia, para a qual a arte da conversação era expediente importante, contribuía para fundar e alargar laços de identidade, amizade e clientela. A rede de sociabilidade intelectual que se articula em torno de dom Luís da Cunha, por exemplo, que começa a ser tecida ainda na juventude, na casa de seu pai, sob os auspícios da Academia dos Generosos, constrói-se na vida adulta principalmente a partir dos postos diplomáticos ocupados no exterior, nos quais entrou em contato com vários homens da República das Letras portuguesa e europeia.
Essa capacidade de estabelecer vínculos amistosos, políticos e intelectuais eram essenciais para se enfronhar nas altas hierarquias, não só da própria corte de origem (para angariar postos e mercês), mas da que o embaixador estivesse servindo (para defender os interesses de sua pátria). O marquês d’Argenson, que se preparava para representar a França, em Portugal, em 1737, sabia que, “um embaixador (...) deve ser um homem de sociedade para se ligar com todas as pessoas que pertencem ao governo donde se está servindo, e tudo vai bem para a nossa nação quando se é agradavelmente recebido em toda parte”.115 A diplomacia era organizada em diferentes postos hierárquicos: embaixadores, plenipotenciários, enviados, residentes e secretários,116 que estabeleciam laços horizontais e verticais entre si. A casa de um embaixador era servida por vários postos auxiliares e, à medida 54
A carta também nos permite observar como um funcionário subalterno na carreira diplomática, ao servir diferentes embaixadores, funcionava como elo de conexão entre eles, tal como aconteceu com Francisco Mendes de Góis, que reuniu a tríade dom Luís da Cunha, José da Cunha Brochado e Marco António de Azevedo Coutinho. A diplomacia era, muitas vezes, um primeiro degrau para a ascensão a postos administrativos mais importantes. Não por acaso Diogo de Mendonça Corte Real, Marco António de Azevedo Coutinho e Sebastião José de Carvalho, depois de ocuparem cargos de embaixadores, acabaram sendo recrutados e ascenderam ao cargo de ministro dos Assuntos Estrangeiros. A diplomacia era fonte de conhecimento estratégico, acumulado em benefício do Estado. Essa nova intelectualidade portuguesa, que se reunia em torno de dom João V, e que tinha em dom Luís da Cunha um de seus expoentes, insistia na necessidade de que Portugal se inserisse sob novos patamares na orquestra política europeia, buscando 55
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Jantar de filósofos reunindo Voltaire, Diderot, o abade Maury e o marquês de Condorcet.
Outro salão que o embaixador frequentou em Paris foi o do rico financista Pierre Crouzat, situado na rue Richelieu, que reunia principalmente artistas e colecionadores de arte. Crouzat também fazia parte do círculo do duque de Orleans, regente na França durante a minoridade de Luís XV, de quem D’Anville foi secretário. Ele reuniu uma das mais notáveis coleções de arte de seu tempo, disposta no interior de seu palácio, cujas peças mais preciosas ficavam numa galeria octogonal, inspirada na Tribuna do palácio Uffizi, em Florença.125 No contato com artistas, colecionadores e na observação dessas pinturas, dom Luís apurou sua capacidade de expert ou connoisseur, amplamente reconhecida, até nas gerações seguintes, não só entre a elite intelectual portuguesa mas também a europeia.126 De fato, em suas cartas, dom Luís mostra profundo conhecimento sobre pintura, revelando uma predileção especial pelos pintores flamengos, o que resultará num número acentuado de obras desses artistas na coleção que dom João V reunia em Portugal, muitas delas adquiridas pelo embaixador nas cortes onde serviu. São muitos os seus comentários sobre a excelência da arte
O escritor e filósofo Bernard le Bovier de Fontenelle (1657-1757) foi secretário perpétuo da Académie Royale des Sciences de Paris e membro da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres. 56
dos Países Baixos, baseando-se em seu profundo conhecimento sobre o tema: Acerca do livro que adquiriu para dom João V — de gravuras que reproduziam as pinturas que Rubens produziu para adornar o palácio de Luxemburgo, retratando a vida de Maria de Médicis —, disse ser “um dos melhores que Sua Majestade terá na sua Biblioteca, pela excelência do autor”. Já sobre outras gravuras do mesmo pintor que comprou de um particular afirmou que “semelhante coleção se não achava”. Quanto a dois painéis de pinturas de Rubens, um deles retratando a descida de Jesus da cruz, que a infanta Isabel doara à catedral de Bruxelas, contou que procurou seus novos proprietários e os “vi ambos com grande atenção”. Após estudá-los, recomendou então que o rei os comprasse “porque não é fácil achar dois originais deste autor, e desta qualidade”.127 Desde o período em que se encontrava em Londres (1697-1712), no início de sua carreira diplomática, dom Luís da Cunha já dava mostras do seu conhecimento e erudição. Ele foi um dos grandes compradores de livros para a biblioteca que dom João V compunha. Mas ele não comprava o que lhe era indicado pelos savants do reino de forma acrítica, sua erudição permitia que possuísse um espírito crítico sobre o que estava sendo impresso e era bastante arguto em suas observações sobre suas leituras e sobre os livros que adquiria. Ao longo de suas pesquisas nas bibliotecas e leilões, ele revela sua capacidade de reconhecer raridades, habilidade indispensável a um connoisseur, que era admirada pelo círculo dos homens de letras. Na Inglaterra, em 1697, o tradutor do livro do espanhol Francisco Manuel — The government of a wife, or wholsom and pleasant advice for married man —, Juan Stevens, dedicou a obra ao embaixador, salientando suas luzes e seu entendimento.128 Como homem de letras, frequente nos salões literários, dom Luís da Cunha era igualmente um mestre da arte da conversação. O Cavaleiro de Oliveira contou que “a sua conversação é gostosíssima. A liberdade com que fala de todas as matérias é igual à erudição com que as entende, e com que discorre nelas, (...) tendo residido com grande aceitação nas principais cortes da Europa”.129 Dom João V observou que “em Paris, (...) todos os mais os respeitam e fazem assembleia em sua casa, e nenhum tem dúvida a comunicar-lhe os seus segredos, ou para o conselho, ou por confidência, na certeza de sua probidade”,130 pois era mestre na arte do
Natureza morta com flores (1706), de Van Huysum. Por seu conhecimento da arte flamenga, dom Luís assessorou o rei de Portugal na aquisição de obras holandesas.
convencimento e da persuasão, angariada nos longos anos de exercício em sua carreira diplomática. Desse modo, o monarca destacava um aspecto importante da arte da conversação quando empregada na diplomacia. Tratava-se não apenas de exercício de erudição, mas era parte das estratégias para descobrir segredos ou convencer o interlocutor dos interesses da corte representada pelo embaixador. Atingir os fins desejados, isto é, conseguir arrancar os segredos do representante da nação rival, exigia toda uma habilidade que dom Luís manejava com maestria. Segundo ele: O segredo é um ser moral que tem muitos inimigos, de que se deve defender para se guardar. O primeiro é a natural inclinação com que nascemos a falar; o segundo é a vaidade (...) de que nos deem atenção mostrando que sabemos o que os outros ignoram; o terceiro é a astúcia com que alguns, como por força nos arrancam o que de nós querem saber; o quarto é o da chave de ouro, ou de qualquer outro equivalente metal, que abre as bocas mais fechadas.131
Um embaixador devia dominar uma verdadeira arte para arrancar o segredo mais bem guardado que, segundo ele, consistia ou em saber se aproveitar 57
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Adoração dos magos, de Rubens, 1610, obra à qual dom Luís devotava grande admiração. Ao lado, Descida da cruz, de Van der Werff, 1703.
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Coroação de Maria de Médicis em Saint Denis (1610), uma das 24 pinturas realizadas por Rubens retratando a vida da rainha da França.
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da inclinação natural dos homens para revelar seus segredos, ou em tirar vantagens da vaidade humana que fazia com que alguns falassem além do devido, ou em ter a astúcia de saber conduzir a conversação para o fim almejado ou, por fim, em saber quando o suborno é o único expediente para abrir uma boca mais fechada. No exercício dessa arte era preciso saber o momento oportuno para que determinado assunto fosse abordado, requerendo dissimulação por parte do embaixador. Por essa razão, conhecedor da sua verve e da sua oratória, o conde de Oxford recomendou ao diplomata britânico John Robinson, em Utrecht, “que, por favor, dê a dom Luís uma ocasião de lhe falar, mas eu o suplico de não iniciar; mas se ele mesmo começar e vos oferecer uma ocasião, o faça saber que eu concorro ao que ele me propôs por um intermediário de seu amigo”.132
Dom Luís redigiu um auto-retrato memorável de si mesmo. Nesse texto diz que a despeito de seu “humor melancólico e adusto”, “não era fastidioso na companhia” e sabia entreter os ministros de Estado. Ao invés de frequentar a Corte, preferia chamar os convivas à sua casa pois lá, com liberalidade, os deixava “discorrer sobre os negócios do tempo presente e passado”. Sendo capaz de ouvir tudo que lhe tinham a dizer, com paciência, guardava o que lhe parecia necessário ao Estado português, “sem contradizer o que lhe não agrada, evitando por esse modo todo o gênero de disputa e contestação” que lhe parecia abominável.133 Nos salões e nas embaixadas, esses homens de letras se reuniam principalmente em torno da mesa. Jantares íntimos ou festas espetaculares eram momentos ímpares para estabelecer os contatos, tanto intelectuais 60
quanto políticos, por isso, no caso dos diplomatas, eram indispensáveis ao desempenho do ofício. Dom Luís da Cunha, ao escrever a Marco António de Azevedo suas instruções de como organizar a secretaria de Estado, recomendou que guardasse um dia da semana para — tal como vira em Paris — receber cada ministro estrangeiro em audiência, “servindo-se delas e deles para saber o que se passa; e se, de tempo em tempo, lhes der de jantar, será muito melhor”.134 Sabedor da importância da mesa para criar a camaradagem, aproximar os espíritos e abrir as bocas mais fechadas, grande parte da sociabilidade intelectual, diplomática e política de dom Luís da Cunha ocorria em torno da comida.135 “A arte da mesa se inscrevia naturalmente no quadro diplomático”, e era “uma valorização da refeição como símbolo político”.136 Mas “não poucos philosophes, quando se punham à mesa, esqueciam ‘a doutrina das proporções’ e abandonavam-se a excessos”,137 pois “a digestão facilitava as confidências”.138 Dom Luís da Cunha, ao longo de sua correspondência, relata diversos jantares, dá detalhes dos convivas à mesa, dos assuntos abordados, principalmente nos últimos anos de vida, quando as doenças quase lhe confinaram em casa e muitos ali iam lhe falar. À sua mesa, eram recebidos príncipes e nobres, ministros de Estado, especialmente os de Assuntos Estrangeiros, diplomatas das mais diversas cortes, com muitos dos quais se relacionava desde o início do século, principalmente a partir do congresso de Utrecht, intelectuais e amigos, vários deles portugueses em trânsito. Era quando então se aproveitava para, entre outros, abordar temas de seu interesse ou de Portugal. À sua própria mesa ou nas que ele frequentou em congressos e em cortes estrangeiras, dom Luís participou de momentos ímpares em que, exercitando a arte da conversação, conseguiu arrancar as informações que almejava, ou convencer seu interlocutor de propósitos portugueses. Citemos apenas alguns. Em Londres, em janeiro de 1712, acompanhou o príncipe Eugênio, duque de Saboia numa série de jantares, preliminares ao congresso de Utrecht. O duque lutara na Guerra da Sucessão Espanhola e brilhara por sua capacidade militar. Tanto em Londres quanto depois, já nos Países Baixos, desempenhou importante papel nas negociações que se sucederam à guerra, convivendo intensamente com dom Luís da Cunha. O príncipe era também um savant ilustrado, possuía
coleções preciosas, principalmente de estampas e mapas, e sua corte era conhecida pelo esplendor. Ele foi um herói em sua época e participou de várias batalhas épicas, inclusive na guerra de combate aos turcos. Durante sua estada em Londres, “e ao longo dos dois meses e meio, o príncipe teria sido visitado todos os dias” em sua casa.139 Dom Luís foi seu cicerone em Londres, acompanhando-o em diversos encontros que, como era esperado, davam-se em torno da mesa. A mesa liberava os espíritos e, dos temas políticos, passava-se a conversações mais amenas; por isso, o embaixador afirmou que de todos saía muito tarde, como ocorrera no jantar que o duque de Shumberg oferecera.140 Esse comentário ilustra os excessos que se cometiam à mesa, criando um clima favorável à intimidade e às confidências. No entanto, dom Luís fez uma avaliação pouco positiva dos resultados políticos desses encontros. Revela que “o príncipe Eugênio teve domingo a primeira conferência e não creio por algumas coisas que lhe ouvi que delas saiu mais satisfeito do que entrou, mas não lhe faltam convites, que fazem pouco bem ao seu negócio e muito mal à minha saúde, pois de ordinário sou um dos assistentes, e os meus anos e achaques não permitem estes repetidos excessos”.141 O congresso já se desenrolava em Utrecht quando o príncipe chegou, em abril de 1712. Na ocasião, o cardeal Passionei,142 núncio papal, o convidou para jantar em sua casa. Número sugestivo, eram treze à mesa, sendo um deles dom Luís da Cunha. Apesar das diferentes nações que representavam, a mesa de Passionei “reunia um círculo de fidelidade que se desenhava em torno de Eugênio”,143 e os portugueses, representados por dom Luís e o conde de Tarouca, estavam entre os que mais lhe foram fiéis. “Um hóspede ilustre fazia da refeição um acontecimento.”144 Dom Luís sabia da importância da arte da mesa em proveito da negociação, e, por meio do contato com o círculo imperial, reunido em torno de Eugênio de Saboia, utilizou “círculos privados para obter informações e vantagens durante o congresso”,145 apesar das ordens que recebera do reino para se ater aos encontros com os ingleses. Poucos meses depois, em novembro, em uma nova visita, o príncipe se hospedou na casa do conde de Tarouca. Chegou em seu iate e o conde foi buscá-lo, com toda a pompa, em três carruagens puxadas por seis cavalos cada.146 Os dias de Eugênio em Utrecht foram 61
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na conta dos reparos de guerra. O convite do rei, aparentemente espontâneo, era não só uma deferência a dom Luís, enquanto embaixador português, como fazia transpirar certa camaradagem entre os dois.150 Observa-se que a conversa desenrolara-se durante quatro horas, tempo suficiente para ele expor seu ponto de vista e ser capaz de influenciar seu interlocutor. A sociabilidade à mesa se sucede em sua vida diplomática. Em 1736, quando servia em Haia, cuidava de espinhosos assuntos em torno do bloqueio estabelecido pelos espanhóis na Colônia do Sacramento e do restabelecimento das relações diplomáticas com a França, preparando-se para ali assumir o posto de embaixador. Numa quarta-feira do mês de agosto, foi jantar em sua casa o embaixador inglês, Trevor, quando então aproveitou-se para se inteirar das novas dessa corte. Em Paris, em 1746, embrenhado nas articulações para que Portugal fosse mediador no Congresso de Breda e ele o seu representante, sua mesa era ponto de encontro e articulação política.151 Nela se sentaram dois dos principais ministros franceses, artífices da política da época. “Mr. Argenson viera jantar a esta casa e pouco depois chegara mr. de Chavigny.”152 O primeiro ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e o segundo havia sido embaixador francês em Lisboa. Dom Luís aproveitou-se para informá-los da posição portuguesa nos conflitos com os espanhóis e instruí-los sobre o desejável para dom João V. D’Argenson, por sua vez, dá notícia de um grande jantar que ofereceu a dom Luís da Cunha, em março de 1737, quando se encontrava na expectativa de ser nomeado embaixador em Lisboa. Além de dom Luís, foram convidados Francisco Mendes de Góis e Gonçalo Manuel de Lacerda, ambos a seu serviço, como enviados da embaixada portuguesa.153 Mendes de Góis, por essa época, havia estreitado relações com o cardeal Fleury, primeiro-ministro francês, e era uma figura vista de forma ambígua por D’Argenson e outros membros da corte, que creditam a Mendes o insucesso de sua embaixada. De fato, não ficava muito claro quem era espião de quem, se Fleury se aproveitava de Mendes ou vice-versa (o mais provável é que a espionagem ocorresse dos dois lados). O jantar servia não só para D’Argenson estreitar seu contato com os representantes de Portugal, e assim mover as engrenagens para efetivar a sua nomeação, mas também para que antecipasse uma boa recepção quando chegasse na corte lisboeta.
O príncipe francês Eugênio de Saboia desempenhou importante papel nas negociações depois da Guerra da Sucessão Espanhola.
cheios. No primeiro, jantou na casa de Aníbal, conde de Maffei, diplomata da corte de Saboia, e tomou a sopa na casa de seu anfitrião, onde assistiu a uma comédia. No segundo, jantou na casa de Passionei, e novamente tomou a sopa com Tarouca.147 Essa geografia da mesa reflete a “relação directa [estabelecida] entre as vivências sociais e os contatos políticos estabelecidos”.148 Em 1716, estando nos Países Baixos, dom Luís foi jantar na casa do rei Jorge I, que se encontrava na corte de Hanôver. É importante atentar de que foi o embaixador espanhol quem deu notícias do acontecido, a partir de uma carta chegada em Lisboa, na qual informa que “o ministro [dom Luis da Cunha] saiu a cumprimentar a marcha a SMde. que estava para ceiar e lhe mandou sentar-se à sua mesa e depois teve uma larga conferência, que durou cerca de quatro horas, pertencente a estes negócios”.149 O assunto em questão era um desdobramento do texto do tratado assinado com os espanhóis em Utrecht. Discutia-se a disputa em torno de navios castelhanos confiscados, no Rio de Janeiro, em março de 1704, e que os portugueses não queriam incluir 62
As relações de amizade entre ministros de diferentes cortes eram passaportes com que podiam estabelecer redes pessoais conectadas com seus países de origem. Os embaixadores eram, dessa maneira, os primeiros anfitriões dos que, do exterior, pretendiam passar para o país que os mesmos representavam ou simplesmente se conectar com membros da elite do país que serviam. Dom Luís, por exemplo, escrevia cartas de recomendação àqueles a quem se sentia obrigado a retribuir a amizade, e a mesa era muitas vezes o teatro dessa retribuição. Assim, por exemplo, quando o conde de Huescar, embaixador espanhol em Paris, retornou a Madri, em 1749, dom Luís o recomendou por carta a Tomás da Silva Teles, embaixador português na cidade, pedindo a este também que, quando o conde chegasse, lhe desse um abraço, pois era muito seu amigo.154 De posse dessa recomendação, Silva Teles respondeu que o conde ainda não chegara a Madri, pois se encontrava em Aranjuez, em audiência com os monarcas, mas que “nesta semana determino dar-lhe de jantar e as suas irmãs e cunhadas e dar princípio a comunicação mais particular como tenho com os seus parentes todos”.155 Dessa forma, o círculo se completava e a mesa se mostrava mais uma vez como elemento que interligava os membros da República das Letras. Os jantares que ofereceu em Paris, em nome de dom João V, foram memoráveis e visavam demonstrar à sociedade parisiense a grandeza do monarca que ele representava. Por isso, vários deles foram noticiados no Mercure de France, importante gazeta literária da República das Letras europeia. O número de dezembro de 1721, por exemplo, noticia um grande jantar em sua casa, com cinco serviços de peixe à escolha dos convidados, todos de primeira distinção.156 Em janeiro de 1722, é a vez de dom Luís ser um dos convidados ilustres no batizado do filho de Pedro Nolasco Convay, grande financiador das despesas do rei de Portugal na França, e a cerimônia, cercada de pompa, é minuciosamente descrita no periódico.157 Logo no início do ano de 1723, noticia-se sua eleição, junto com André de Melo e Castro, conde das Galveas, como membro supranumerário da Academia Real da História em Portugal, atestando sua inteligência e capacidade intelectual frente a toda a sociedade de letras europeia.158 No mesmo ano, a gazeta estampa, com grande riqueza de detalhes, a festa que dom Luís deu em Paris
Página de rosto do Tratado de pax entre o muito alto, e muito poderoso Príncipe D. João, o V... e o muito alto, e muito poderoso Príncipe D. Filipe V... Rey Catholico de Hespanha (Utrech, 1715).
na embaixada portuguesa para comemorar o nascimento do 4º. infante de Portugal.159 A mesa constitui mais uma vez um momento ímpar de sociabilização festiva. Festas que “não serviam tanto para o prazer dos convidados, mas para exibir a grandeza, o grandeur de seus organizadores”, e, no caso dos embaixadores, refletiam a do monarca a quem serviam.160 Finalmente, em edição de dezembro de 1749, dom Luís aparece na seção de obituários, por sua morte, ocorrida no dia 9 de outubro. A nota destaca o fato de que ele pertencia à Ordem de Cristo; que era embaixador português junto à Sua Majestade, o rei Luís XV; que, na qualidade de ministro, servira em várias cortes; que fora plenipotenciário em Utrecht e que “era o deão de todos os embaixadores e ministros da Europa”.161 Mesmo na morte, dom Luís torna público, perante toda a sociedade parisiense, não só a sua importância enquanto partícipe dessa sociedade de letras, mas a pompa, o luxo e a riqueza de dom João V, rei magnânimo e erudito, do qual ele era o legítimo representante.162 63
JEAN-BAPTISTE BOURGUIGNON
D’ANVILLE
Oráculo da geografia iluminista
Geógrafos, como D’Anville, herdeiros
m 1802, no elogio escrito à Notice des Ouvrages de M. D’Anville,1 o barão Joseph Dacier afirmava sobre Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville que “os savants, os viajantes, as pessoas esclarecidas de todos os níveis e de todos os países, mesmo os príncipes de seu tempo, por seu desejo de contribuir para o progresso da Geografia” o tinham como um oráculo da Geografia.2 Para atestar sua enorme contribuição ao desenvolvimento da matéria, a Notice lhe atribuía a autoria de mais de 211 mapas, manuscritos e impressos, e de 23 obras de natureza geográfica, além de uma impressionante coleção de mapas que atingia cerca de 6 mil itens.3 Tal como esse elogio escrito por Dacier, ao longo de sua vida e mesmo após a morte, D’Anville foi alvo de uma série de comentários que exaltavam sua competência profissional. Parte significativa da comunidade intelectual, para além da França e de seu próprio tempo, apontou o importante papel que ele desempenhou para a arte da geografia e da cartografia do século XVIII. Condorcet
de uma geografia de matiz renascentista, confinados em seus gabinetes na Europa, produziam mapas de grandes extensões de terra — países, continentes, planisférios — a partir da consolidação de informações retiradas de fontes diversas.
Ao lado, D’Anville, placidamente sentado à mesa de trabalho: um geógrafo pensador e não um oficial mecânico. Acima, Luís XVI instrui o conde de La Pérouse, em 1785, de partida para o mar do Sul, com o auxílio de um mapa de D’Anville. 65
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
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(1743-1794) afirmou “que todas as nações concordam em o considerar o primeiro geógrafo da Europa”.4 O cardeal Dominique Passionei, conservador da Biblioteca e fundador do Museu do Vaticano, que manteve correspondência com D’Anville, o denominou o “deus da geografia”,5 justificando o título pelo fato de que “em sua obra se podia encontrar um grau de perfeição, buscado em vão nas demais”.6 Diderot (1713-1784) tinha-o em alta conta e, por essa razão, D’Anville foi um dos escolhidos para contribuir nos verbetes da Encyclopédie, tendo escrito sobre os ventos etésios.7 Em seu Plan d'une université pour le gouvernement de Russie, Diderot recomendou que os alunos estudassem as obras de D’Anville no que dizia respeito à cartografia antiga.8 Em 1855, Vivien de Saint-Martin (1802-1897), fundador da Société de Géographie Française, ao fazer um balanço do estado atual da cartografia europeia, por ocasião da Exposição Universal realizada em Paris, colocou D’Anville num patamar superior, mesmo quando comparado a Cassini e Delisle. Não se tratava de um elogio qualquer. Jacques Cassini (1677-1756) e Guillaume Delisle (1675-1726) descendiam de famílias tradicionais de geógrafos e deixaram importantes e reconhecidos trabalhos que contribuíram para a transformação da arte da cartografia como um todo. Cassini concebeu o projeto e foi responsável pelo início do primeiro levantamento topográfico da França,9 em uma planta que leva seu nome, “obra memorável que permanece o primeiro modelo dos grandes trabalhos corográficos executados desde então na Europa”.10 Delisle, além da vasta obra cartográfica, destacou-se no desenvolvimento de formas mais precisas para medir as longitudes e representá-las nos mapas.11 Para Saint-Martin, no que diz respeito à cartografia, enquanto “Delisle somente tocou os contornos do conjunto e os contornos exteriores, D’Anville abraçou todos os detalhes em sua diversidade infinita”.12 O alcance de sua obra se deveu à capacidade do geógrafo em “associar a perfeita elegância do seu desenho, a proporção dos detalhes e a harmonia do conjunto à análise aprofundada das fontes, à exatidão da nomenclatura e à determinação rigorosa das posições”.13 Como dom Luís da Cunha, D’Anville cultivou a imagem de si como um oráculo da geografia, apresentando-se como um espírito inato para essa arte. Tal imagem foi incorporada acriticamente pelos seus biógrafos, mas fazia parte de uma estratégia cuidadosamente
Método para estudar a geografia (1718), tratado científico de Nicolas Lenglet du Fresnoy. 66
articulada por ele, consoante os tempos em que vivia, na qual os intelectuais de baixo nascimento procuravam ascensão social, construindo suas carreiras a partir de um talento. Vejamos.
Um geógrafo de gabinete Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville foi o último de uma extensa sucessão de grandes geógrafos franceses de gabinete. Na França, como na Inglaterra, a criação de escolas militares de engenharia gerou a divisão dos produtores de mapas em dois grupos de especialistas, aos quais hoje denominamos indistintamente “cartógrafos”. Os engenheiros militares realizavam medições empíricas e faziam mapas de pequenas regiões, com a ajuda de instrumentos e a partir da observação direta. Já os geógrafos, como D’Anville, herdeiros de uma geografia de matiz renascentista, confinados em seus gabinetes na Europa, produziam mapas de grandes extensões de terra — países, continentes, planisférios — a partir da consolidação de informações retiradas de fontes diversas. D’Anville nunca saiu de Paris. Na pintura que se acredita tratar-se de um retrato seu, sua figura e seu métier estão representados com bastante acuidade.14 Não se trata de fidedignidade em relação a seus traços, sobre os quais não se pode ter certeza, mas aos elementos simbólicos agregados à imagem. Nela, o geógrafo encontra-se placidamente sentado à mesa de trabalho. Suas vestimentas, com punhos de renda, e sua peruca, amarrada por uma fita, indicam que ali está um savant, um gentil-homem, um pensador e não um oficial mecânico, como por exemplo eram os gravadores e impressores de mapas. Outra imagem de D’Anville, uma litografia de Benjamin Duvivier, revela também um homem bem-vestido, com sua peruca exuberante, jaqueta bordada e seus babados, mas sem referência direta ao seu ofício.15 Seu semblante tenso, contudo, revela alguém imerso em reflexões, um verdadeiro inteligente de seu tempo. Uma escultura de D’Anville, que adorna a fachada do Hôtel de Ville de Paris, apresenta o mesmo gentil-homem, com sua casaca, peitilho de renda, chapéu na mão. A estátua foi colocada quando da reforma da fachada realizada no último quartel do século XIX, e D’Anville foi entronizado ali juntamente com outras grandes figuras do iluminismo francês, como D’Alembert, Voltaire e Lavoisier.
Na gravura, Luís XIV com seu séquito em visita imaginária à Academia Royale des Sciences de Paris. Abaixo, engenheiro militar desenha a planta de uma fortificação acompanhado de dois auxiliares, c.1661. 67
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
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Nas três imagens, D’Anville não manipula nenhum mapa ou instrumento matemático, nem mesmo uma pena. Na escultura há um meio globo posicionado a seus pés e, na pintura, há um globo sobre a mesa, posicionado a seu lado, únicas referências ao mundo da geografia. Na primeira, D’Anville olha para baixo e aponta a Terra; na segunda, ele é retratado com o olhar distante. O geógrafo parece refletir sobre o conteúdo do livro que está aberto à sua frente, como se o pintor o tivesse flagrado no meio de uma leitura interessante. Ao fundo, na prateleira, estão dispostos outros livros, cujos títulos não estão legíveis em suas lombadas. Não se trata de uma oficina de impressão de mapas, nem de uma aula régia de cartografia. O trabalho do geógrafo era bastante distinto daquele realizado por gravadores e engenheiros militares. Geógrafos como D’Anville não imprimiam os mapas que desenhavam, nem realizavam medições dos terrenos representados em suas cartas. Os inúmeros livros dispostos nas prateleiras ao seu redor são referências ao grande volume de tratados, relatos, memórias, entre outras publicações por ele coligidas para traçar seus mapas. Trata-se de um conhecimento 68
erudito, abstrato e não prático, afeito a um oficial letrado e não a um oficial mecânico. A produção de mapas era atividade desempenhada por diversos profissionais, “cada aspecto da produção de mapas, do levantamento do território e da compilação do material à impressão e distribuição, envolvia trabalho especializado e materiais aos quais valores eram agregados”.16 D’Anville, como geógrafo, estava no topo hierárquico desses profissionais. Por essa razão, é retratado em seu ateliê, que claramente não representa uma oficina de produção de mapas. Essa imagem revela a natureza de seu trabalho e da metodologia que empregava. No trabalho cartográfico, sua função era a de compilar todas as informações geográficas disponíveis, colhidas por outros, submetê-las à crítica severa, e traçar a carta que seria então impressa e comercializada por terceiros. Para imprimir seus mapas, ele se valia de ateliês de impressão, com artesãos experimentados. A especialização do trabalho cartográfico na França se refletiu na própria terminologia relacionada a essa ciência, para a qual não se encontra similar exato na língua portuguesa, pois em Portugal as divisões das funções 69
Ateliê de gravação. Ilustração da Enciclopédia de Diderot, 1763. Na página ao lado, Interior com geógrafos e matemáticos, c.1680.
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dos grandes geógrafos franceses, não descendia de uma família tradicional do ramo, apontando as possibilidades de ascensão nessa nova sociabilidade intelectual das Luzes àqueles que fossem efetivamente capazes por sua inteligência e habilidade. Era filho do comerciante e mestre alfaiate20 Hubert Bourguignon e de Charlotte Vaugon.21 Seguiu-lhe um irmão, apenas dois anos mais novo, Hubert-François (1699-1773), dito Gravelot, de quem se falará mais adiante;22 e um outro, o caçula, de nome Paul, que se dedicou às finanças.23 D’Anville e Gravelot, com pequena diferença de idade entre eles, eram amigos e, mais tarde, trabalharam em conjunto. Um e outro escolheram sobrenomes diferentes do paterno. Isso não era raro no mundo intelectual das Luzes. Foi assim que François-Marie Arouet se transformou em Voltaire. Essa mudança de nome dos Bourguignon, como no caso de Voltaire, “indica uma disposição para trocar de pele e fazer tábua rasa do passado. Usar uma pele nova iria distingui-lo simbolicamente do pai, da família e das origens burguesas. Ornamentar o pseudônimo literário com uma partícula indicativa de nobreza”, no caso o D’, servia para “relacionar sua futura atividade literária a um lugar no Mundo, o da elite do gosto, que era ao mesmo tempo a elite social”.24 A biografia de D’Anville é em grande parte conhecida a partir dos elogios escritos sobre ele após sua morte, prática comum da tradição iluminista para cultuar os grandes homens de intelecto e seus feitos.25 Vários membros da Académie des Sciences e da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres foram alvos desses escritos laudatórios.26 Lidos como exemplos de um gênero literário e sob o signo iluminista, esses textos exageravam na construção da imagem do self made man, da ascensão devida apenas ao talento inato do indivíduo oriundo de camadas sociais hierarquicamente inferiores. As trajetórias de D’Anville e de seu irmão se prestavam bem a esse gênero, mas é preciso ler as informações escritas nas suas biografias de época com cuidado e a contrapelo, pois sem um patronato de peso, especialmente o régio, isso não era possível. Na verdade, fazia parte da nova sociabilidade da época que esses oficiais letrados, sob o mecenato de poderosos, ascendessem, colocando seu intelecto a serviço do Estado, encontrando reconhecimento e local para o exercício do seu talento nas Academias. Ali, os intelectuais distinguiam-se do restante da sociedade, alinhando-se aos poderosos,
D’Anville: o perfil de um geógrafo gentil-homem, em litografia de Benjamin Duvivier.
não se deram claramente e nem da mesma forma, já que os “cartógrafos” profissionais em atividade estavam a serviço do Estado e eram engenheiros militares formados nas Aulas Régias. Assim, em francês, o ato de lever um mapa diferenciava-se do dresser e do graver. O primeiro termo refere-se ao trabalho dos engenheiros militares que faziam o levantamento de campo e, por isso, “levantavam” (lever) as informações para o mapa; o segundo, ao ato de produção ou de desenho (dresser)17 da carta, de responsabilidade dos geógrafos; e o terceiro, ao processo de impressão (graver), atividade realizada pelos ateliês de impressão.18
Origem e formação D’Anville nasceu em Paris, a 11 de julho de 1697, e morreu na mesma cidade, em 1782, aos 85 anos de idade.19 Sua origem não era nobre e, contrariando as dinastias 70
mas nunca igualando-se a eles. O percurso de D’Anville representa exatamente esse tipo de trajetória. Com poucos recursos para sustentar uma educação de qualidade, sem acesso aos estabelecimentos de ensino restritos à nobreza e gentis-homens, D’Anville e Gravelot começaram seus estudos em uma pequena escola, um pensionato27 de nome desconhecido. Segundo seus biógrafos, bem cedo Jean-Baptiste mostrou aptidão para o estudo da cartografia e interesse na geografia, tendo, por iniciativa própria, começado a copiar alguns mapas. A vocação foi descoberta por acaso, “quando uma carta geográfica tombou sem querer entre suas mãos, quando ele não tinha mais que doze anos, dando-lhe ocasião de manifestar seu gosto pela geografia”.28 Entre os 12 e os 15 anos, D’Anville realizou seu primeiro mapa, terminado em 1712. Tratava-se de uma pequena Carte de la Grèce antiga, onde o autor destacou as principais regiões e cidades. Nela, D’Anville já teria manifestado a inclinação à qual se dedicaria mais
Visão panorâmica de Paris no século XVIII, com a Pont Royal ao centro, e as galerias do Louvre à esquerda.
Carte de la Grèce Antigue, concluída por D'Anville, em 1712. 71
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Collège des Quatre Nations, fundado pelo cardeal Mazarin (ao lado), primeiro-ministro francês até 1661.
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tarde, tornando-se para ele “uma espécie de paixão” conjugar a história e a geografia. Assim, pôs-se a estudar o percurso dos exércitos e a encontrar os campos de batalha, entre outros resquícios da civilização grega.29 Na verdade, como destaca o próprio D’Anville, os dois irmãos mostravam aptidões para o desenho, mas Jean-Baptiste era mais afeito a cumprir uma educação formal que o mais jovem. As habilidades dos dois meninos abriram-lhes as portas do Collège des Quatre-Nations,30 um dos que compunham a Universidade de Paris, também conhecido como Collège Mazarin, pois sua fundação se deveu ao cardeal Jules Mazarin. Este, ao morrer, deixou uma herança a fim de que se estabelecesse um colégio, cujos primeiros sessenta alunos eram gentis-homens ou nobres vindos das quatro províncias francesas. O ingresso dos meninos no colégio, apesar de parecer natural em
escritos biográficos, merece considerações. Em primeiro lugar, eles não preenchiam os requisitos sociais para tal. Além disso, o custo para mantê-los ali era muito mais elevado do que os ganhos esperados para um alfaiate, apesar de D’Anville ter dito que o pai não poupara gastos na educação dos filhos.31 Com certeza, desde o ingresso, as crianças contaram com algum protetor influente, talvez o abade Longuerue, o qual, sabe-se, mais tarde protegeu D’Anville. Seus biógrafos insistem em fazer parecer natural e simples essa ascensão pelo talento, bem ao gosto iluminista, mas tudo indica que o abade Louis du Four de Longuerue, seu grande instrutor na arte da geografia, tenha lhe determinado o caminho profissional a seguir, supervisionado seu trabalho desde a confecção do primeiro mapa e o protegido para entrar no colégio. Ao se mostrar interessado no estudo da cartografia, D’Anville foi introduzido aos savants parisienses, dentre 72
os quais Voltaire, figura central desse ambiente.32 Criança prodígio que fora, o próprio Longuerue (1652-1733) era considerado uns dos maiores savants de seu tempo.33 Dominava o latim, o grego e as principais línguas orientais e se dedicou ao estudo da filosofia, da antiguidade sacra e profana e das belas-letras, tendo sido autor de várias obras versando sobre esses temas.34 Foi o abade que despertou D’Anville para a junção da história e da geografia, cuja expressão se encontrava na cartografia, tornando-se seu primeiro protetor quando ele resolveu dedicar-se integralmente a essa arte.35 Longuerue também reunia um prestigioso salão ilustrado, do qual D’Anville logo se tornou um dos partícipes.36 Frequentar os salões parisienses era atividade fundamental para os savants iluministas. Neles, não se discutiam apenas assuntos de natureza intelectual, especialmente os científicos, como também se forjava a
sociabilidade necessária, principalmente aos que, como D’Anville, vinham de baixo. Era nesses salões, muitos deles capitaneados por mulheres, que se entrecruzavam o mundo da corte, da vida intelectual e os divertimentos mundanos. D’Anville, por exemplo, era um habitué do salão de madame Geoffrin, na rue de Saint-Honoré, um dos mais célebres de Paris. Um quadro da época retrata um desses encontros semanais, no qual esteve presente a nata da inteligência parisiense, muitos deles sócios da Académie Royale des Sciences de Paris. Além de D’Anville, pode-se ver Rousseau, D’Alembert, Fontenelle, La Condamine, Helvétius, Reaumur, reunidos em torno de um busto de Voltaire.37 D’Anville completou sua formação em retórica no Collège des Quatre-Nations, mas Gravelot, menos afeito aos estudos, abandonou o colégio no terceiro ano para se dedicar ao desenho livre. O destino voltaria a reuni-los 73
Na página seguinte, leitura da tragédia L’Orphelin de la Chine, de Voltaire, no salão de madame Geoffrin, em 1755. Na assistência, entre outros expoentes do Iluminismo francês, como La Condamine, Rousseau, Diderot, Montesquieu e D’Alembert, encontra-se D’Anville (à mesa, ao centro, com a mão sobre o joelho).
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quando Gravelot, ao acompanhar o novo governador de São Domingos, o cavaleiro de Rochalard, foi encaminhado para auxiliar o engenheiro Frézier, chefe dessa colônia em 1719. Frézier e Gravelot desenharam um mapa da ilha que, por sua qualidade, foi impresso. Pela primeira vez o irmão dedicava-se à cartografia, já então paixão de D’Anville,38 que, em 1730, desenhou um segundo mapa de São Domingos a partir do de 1719.39 De volta à França, Gravelot não se dedicou diretamente à cartografia, mas ao desenho, realizando muitas das cartelas dos mapas de D’Anville, inclusive a da Carte de l’Amérique méridionale. A formação de D’Anville como geógrafo, por não ter tido acesso à educação jesuítica, a que pertenciam os grandes mestres dessa ciência na França,40 e por não ter cursado os Cursos Régios de Hidrografia, não se aproximava da obtida pela maioria dos geógrafos ou engenheiros militares de seu tempo. De fato, restou-lhe a educação particular, sob orientação de Longuerue, mas também é certo que se valeu de estudos realizados no Collège de France. Ali, deve ter sido aluno de François Chevallier, que ministrava aulas de geometria, aritmética, arte de fortificações, navegação e óptica.41 Chevallier, em 1707, criou um novo método de ensino de cartografia por correspondência, em substituição ao método de triangulação, mais sofisticado, que demandava conhecimento e instrumentos astronômicos especializados. Era perfeito para ser aplicado por leigos interessados. O método era “econômico e simples [pois permitia] desenhar uma carta com a ajuda de um chassi orientado segundo suas amplitudes, fortemente elogiado por Fontenelle”, secretário perpétuo da Academia da qual Chevallier era sócio.42 As primeiras cartas impressas de D’Anville foram produzidas exatamente para compor o livro de seu protetor, o abade Longuerue, intitulado Description historique et géographique de la France ancienne et moderne.43 Os esboços manuscritos do livro foram apresentados ao rei, futuro Luís XV, ainda durante sua menoridade, pelo próprio abade em 1718.44 Continha seis mapas produzidos por D’Anville e o rei parece ter se impressionado com o seu trabalho cartográfico, pois o nomeou para assistir Delisle, que o instruía na arte da cartografia e da geografia histórica, segundo o projeto de ensino traçado por um de seus preceptores, o duque de Bourgogne.45 Chevallier, nomeado professor de matemática do rei em 1717,46 deve ter aprovado a escolha de seu jovem pupilo. D’Anville então produziu, para
Carta circular em que D'Anville utilizou o método do seu professor François Chevallier para o levantamento topográfico de locais específicos.
Folha de rosto do livro do abade Longuerue, em 1719, na qual D'Anville teve suas primeiras cartas impressas. Na página seguinte, o pequeno rei Luís XV em aula, sob a supervisão do cardeal Fleury e do duque Philippe de Orléans. À direita, um de seus preceptores — D'Anville talvez? — apresenta um mapa. 76
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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville Oráculo da geografia iluminista
a instrução privada do rei, sua primeira carta sobre a França antiga (1719) — a Gália.47 A função do mapa era tornar inteligível o estudo que o rei fazia de Les commentaires de César (Os comentários de César),48 realizando a associação entre história e geografia. A partir de então, D’Anville passou a participar como auxiliar da educação do jovem delfim, juntamente com Hermand, matemático e engenheiro-mor do reino. Sua especialidade era a geografia histórica, produzindo mapas que ilustravam e ajudavam o ensino dos fatos históricos, como as campanhas de César ou a formação territorial da França desde a Gália. O quadro que mostra Luís XV recebendo uma lição destaca a importância da geografia e da cartografia na formação do jovem rei e do domínio da geografia como parte fundamental de uma educação superior. Todos os monarcas ilustrados, tais como dom João V, Pedro o Grande, Luís XIV, Luís XV ou Luís XVI, receberam aulas de geografia na infância e, mais tarde, se tornaram importantes patronos dessa matéria. No canto direito da imagem, um dos seus preceptores — D’Anville talvez? — apresenta um mapa; a seus pés, bem como na mesa em frente ao delfim, encontram-se dispostos todos os instrumentos necessários ao aprendizado da geografia.49 Em 1719, com a idade de 22 anos, D’Anville se tornou geógrafo do rei da França,50 recebendo o título de engenheiro e geógrafo ordinário do rei, concedido aos engenheiros de campo e da armada e aos que produzissem cartas geográficas de qualidade.51 O cargo era honorífico, nem sempre resultava em remuneração direta dos cofres régios, mas conferia grande prestígio. Quando concedidas, as pensões variavam “em torno de 100 a 400 livres por ano”.52 O título era ofertado aos que tivessem produzido pelo menos um documento cartográfico aprovado e considerado bom pelo rei. Dacier destaca que a aptidão de D’Anville era tão evidente, que o título lhe foi concedido sem que ninguém conhecesse uma obra de sua autoria.53 No entanto, há indícios de que o título lhe foi outorgado em reconhecimento ao mapa da Gália, feito para uso privado do rei, além dos seis mapas produzidos para a Description historique et géographique de la France ancienne et moderne, de Longuerue. Se o público ainda não conhecia seu trabalho, o rei dele tomara conhecimento desde o ano anterior. De fato, quando o livro veio à luz, em cada uma das seis cartas lia-se, impresso junto a seu nome, o título de
Retrato do conde Carl Gustaf Tessin (1695-1770): pintura típica da época revela a importância da geografia na formação iluminista dos nobres.
geógrafo do rei, o primeiro de uma longa lista ostentada ao longo de sua carreira.54 Foi ao futuro Luís XV que ele dedicou essas suas primeiras cartas. No ano mesmo da outorga do título, D’Anville produziu um outro mapa. Dessa vez, dedicado ao então duque de Orléans (1674-1723) — Philippe — primeiro príncipe de sangue e regente da França. O mapa representava o reino de Aragão.55 A estratégia utilizada por D’Anville — de dedicar seus primeiros trabalhos aos dois homens mais importantes da França — rendeu os frutos esperados e ele pôde usufruir do mecenato de ambos, fundamental em sua carreira. O patronato, especialmente o régio, fazia parte das estratégias de ascensão dos oficiais letrados na República das Letras europeia. A nova edição de 1722 do livro de Longuerue foi acrescida de mais quatro mapas de D’Anville, apresentando os Países Baixos, a Alsácia e a Lorena, a Suíça e a Savoia, e as províncias de Lyon e Borgonha.56 D’Anville bem cedo prestou serviço à casa de Orléans. Primeiro sob o apoio de Philippe e, a partir de 1723, para o novo duque — Luís, o Piedoso (17031752) —, protetor das ciências e das artes em geral, o que incluía a geografia, um dos conhecimentos fundamentais na formação da nobreza, dos príncipes e do próprio rei. “Os Bourbon não cessarão de se interessar pela geografia, por gosto ou por necessidade, porque 79
Na página ao lado, cardeal de Fleury, tutor, regente e primeiro-ministro durante o reinado de Luís XV.
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
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‘conhecer a carta’ fazia parte da educação do príncipe, como do homem cortês”.57 O geógrafo começou como instrutor do futuro duque, Louis-Philippe d’Orléans (1725-1785), filho de Luís, o Piedoso, então duque de Chartres. O plano de estudos do pequeno príncipe foi traçado pelo marquês de Balleroi, seu tutor.58 Quando tinha 11 anos de idade, com a supervisão de D’Anville, o menino desenhou um mapa-múndi, que passou a fazer parte da coleção do geógrafo. O príncipe também desenhou quatro cartas, correspondendo a cada uma das partes do mundo — Europa, Ásia, África e América.59 Nas palavras do próprio D’Anville, este “grande príncipe anima meus estudos pelas suas benesses”.60 Por isso, muitas de suas cartas geográficas e obras impressas foram dedicadas aos duques de Orléans, inclusive a Carte de l’Amérique méridionale traçada segundo “o desejo deste grande príncipe”.61 Em 1725, com vistas a uma futura candidatura na Académie Royale des Sciences de Paris, D’Anville apresentou aos acadêmicos “uma carta feita para o rei de Portugal. Ela contém toda a África Meridional desde o Equador, e leu um escrito onde ele a explica”.62 Para quem até então se dedicara somente à geografia histórica da Antiguidade, esta era sua primeira investida pelo campo da geografia moderna, ocorrida às expensas de dom João V e intermediada por dom Luís da Cunha. Em novembro de 1726, voltou à Academia com uma nova carta da França, examinada pelos acadêmicos Maraldi e Chevallier.63 No mês seguinte, os examinadores atestaram sua conformidade às mais recentes observações das coordenadas de latitude e longitude e concluíram “que estava corretamente e propriamente desenhada e o detalhe das costas é preciso”.64 Mas o primeiro grande mapa de geografia moderna produzido por D’Anville foi uma Carte de l’Afrique, de 1727,65 cuja parte relativa à costa ocidental foi apresentada à Academia em janeiro do mesmo ano. Novamente, Maraldi e Chevallier foram designados para seu exame.66 Buscando “uma combinação do antigo e do moderno”, D’Anville reuniu os novos conhecimentos sobre o continente, sem deixar de mostrar, segundo ele mesmo, “o que interessava à antiguidade”.67 Para isso, utilizou tanto as informações fornecidas pelos novos viajantes, muitos deles portugueses, quanto as oriundas das autoridades da Antiguidade, como Plínio e Estrabão. Essa metodologia ele empregará com su-
Dois mapas com detalhes do continente africano, por D'Anville: ao lado, a Etiópia oriental; e abaixo, os reinos de Luanda, Congo, Angola e Bengala, desenhados sob o mecenato de dom João V.
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comprometeu a produzir três cartas gerais e algumas outras particulares da região, sendo uma “Carte générale de la Chine (1730), la Carte générale du Tibet (1733) et la Carte générale de la Chine, de la Tartarie chinoise et du Tibet (1734)”.69 Este trabalho colocou D’Anville em contato com os jesuítas, que eram, então, os maiores produtores de conhecimento astronômico, cartográfico e de ciências naturais das regiões onde atuavam. Para a produção dos mapas, Du Halde mostrou ao geógrafo tudo que dizia respeito às observações astronômicas, realizadas pelos jesuítas em suas missões no Oriente,70 contribuindo com “esta clareza e esta exata justeza que lhe é conhecida”.71 Em 1737, Du Halde patrocinou a publicação, na Holanda, do Nouvel Atlas de la Chine, de D’Anville, com 42 mapas. Esse mesmo atlas foi aumentado e publicado em Paris, já com 64 pranchas. Finalmente, em 1785, acompanhado
cesso em toda a sua obra cartográfica. Como todas as demais, a Carte de l’Afrique conhecerá várias edições e correções sucessivas. Mais tarde, o geógrafo referenciará todas as suas fontes e a maneira como as submeteu ao rigor de sua crítica nas Mémoires da Académie Royale des Inscriptions et Belles-Lettres.
D’Anville e os jesuítas No ano seguinte, em 1728, o jesuíta J.-B. du Halde se associa a D’Anville para produzir uma obra sobre a China e a Tartária, reunindo as descrições de 27 jesuítas que ali estiveram, intitulada Description géographique, historique, chronologique, politique et physique de l’Empire de la Chine et de la Tartarie chinoise.68 D’Anville se 81
Jean Baptiste Colbert apresenta os membros da Académie Royale des Sciences de Paris ao rei Luís XIV, c.1667.
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
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perfeição esta carta”.74 Para tanto, ele mesmo afirmou, “me servi [...] de muitas cartas dadas à luz pelos padres jesuítas missionários naquele país”.75 As observações sobre a forma de composição da carta também foram publicadas num volume, sob o título de Observations géographiques sur la carte du Paraguai par l’Auteur de cette carte.76
entre essas duas ciências, destacando que “parece supérfluo recomendar particularmente o que é muito geralmente conhecido, a necessidade de ser instruído nesta Geografia, quando se quer ser na História”.79 “Durante toda a sua vida, D’Anville teve uma predileção pela geografia antiga”.80 Ele mesmo afirmou que esse era “um objeto que para mim sempre foi precioso”.81 Em sua concepção, a geografia, como uma luz, clarearia o conhecimento da história.82 Na gravura desenhada por seu irmão Gravelot para ornar as páginas de seu livro Géographie ancienne abrégée (1768),83 esta relação é explícita. Posicionada à direita da imagem, a musa da geografia, com a mão esquerda, segura livros e mapas da Ásia, Europa e África; e, com a direita, levanta uma tocha, iluminando o livro escrito pela musa da história. Este se apoia nas costas de uma figura que representa o tempo, sugerido pela ampulheta ao seu lado. Ao fundo, as pirâmides egípcias, as colunas gregas e os castelos europeus são testemunhos do ininterrupto curso da história.
Académie des Inscriptions et Belles-Lettres D’Anville, que “chegou à geografia pela história, prolonga[ndo] uma corrente erudita e humanista”,77 se destacou inicialmente na produção de uma cartografia antiga, cuja produção foi animada por sua nomeação para a Académie des Inscriptions et Belles-Lettres. “Esta instituição, que se ocupa apenas de antiguidades e de geografia antiga, resvala[va] por vezes também sobre a cartografia moderna”.78 Na Géographie ancienne abrégée, ele afirmou a importância da associação
O Paraguai, mapa produzido por D’Anville em 1733, a pedido do jesuíta Du Halde, para a coleção Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangères.
da Description générale de la Chine, do abade Jean
Gobien, procurador em Paris das missões jesuíticas na
Baptiste Gabriel Alexandre Grosier, D’Anville publicou
China. Em 1709, Du Halde assumiu a coordenação da
seu Atlas général de la Chine, corrigindo detalhes das
coleção e, em virtude da bem-sucedida colaboração com
cartas precedentes, conforme observações mais recentes.
D’Anville na cartografia sobre a China, ao preparar o vo-
A colaboração com Du Halde não se resumiu ao
lume sobre as missões do Paraguai, convidou o geógrafo
Oriente. Em 1733, vinha à luz seu mapa do Paraguai, com-
para produzir um mapa da região. Na ocasião, D’Anville
pondo o tomo nove das Lettres édifiantes et curieuses,
escreveu ao religioso: “Não posso responder à honra
écrites des missions étrangères. Publicado em 34 vo-
que V. Revma. me fez de me encomendar uma Carta do
lumes, entre 1702 e 1776, a organização dessa gigantes-
Paraguai, para entrar no Recueil des Lettres édifiantes,
ca obra ficou inicialmente a cargo do jesuíta Charles Le
que por todos os cuidados que dependem de mim, fiz com
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Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, século XVIII.
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Na carta Orbis Veteribus Notus, de 1741, D’Anville coligiu o conhecimento geográfico que os antigos tinham do mundo.
Na sua carta Le monde connu des anciens, de 1741, ou na Orbis Veteribus Notus, D’Anville coligiu o conhecimento geográfico que os antigos tinham do mundo. Por sua dedicação ao estudo da antiguidade, associando história e geografia, foi eleito, em 1754, membro da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres.84 A participação nessa Academia fazia parte do percurso típico de um oficial letrado no seio da República das Letras europeia, conferindo-lhe prestígio85 e abrindo-lhe novas portas. Não sem orgulho, D’Anville passou a ostentar, a partir de 1755, por concessão da Academia,86 na cartela de seus mapas, o título recebido, como se observa na carta para a expedição de Annibal, desenhada para ilustrar o Atlas de géographie ancienne pour servir à l’intelligence des œuvres de Rollin. A Académie des Inscriptions et Belles-Lettres cultuava o estudo das belas-letras, mas também da história, associada à geografia da antiguidade. Medalhas, moedas, inscrições, monumentos, mapas eram importantes objetos de seu interesse enquanto repositórios de memória.87
A gravura produzida por seu irmão para o livro Géographie Ancienne explicita a concepção de D’Anville: a Geografia, como uma luz, clareia a História. 84
No dia 21 do mesmo mês, logo após sua admissão, em nova seção da Academia, o marquês D’Argenson leu publicamente a carta do conde D’Argenson, comunicando que o rei havia escolhido D’Anville para ocupar o cargo de associado, conforme a indicação dos acadêmicos.90 Então, com toda a pompa e seguindo o ritual,91 “m. D’Anville, que estava num dos gabinetes da Academia, foi introduzido na assembleia e tomou lugar na seção entre os associados”.92 Ele foi um acadêmico extremamente
A geografia histórica era uma ciência cultuada desde o século anterior, e encontrou nessa Académie, entre os savants iluministas franceses do século XVIII, o espaço ideal para seu florescimento. Para seus acadêmicos, “a geografia e a cronologia são os dois olhos da história”.88 A geografia moderna ou as ciências da natureza, no entanto, eram mais afeitas à Académie des Sciences, enquanto a Académie des Inscriptions se voltava para as matérias do espírito.89 85
A Palestina, por Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1768.
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
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l’Histoire romaine101, mas a culminância dessa cartografia da França antiga se deu em 1760, numa publicação dedicada ao duque de Orléans, acompanhada de uma ampla memória que desnudava todo o complexo processo de sua produção. Sua Notice de l’ancienne Gaule tirée des monuments romains,102 “em um volume in-4º., [era] obra repleta de pesquisas e de saberes”.103
Inscriptions, D’Anville questiona se as milhas da via romana seriam contadas a partir do centro de Roma, ou a partir das suas muralhas, permitindo que a cidade se reposicionasse relativamente a esse objeto;108 valendo-se de medidas de triangulação que, por ordem do papa, haviam sido tomadas recentemente por engenheiros com o uso de instrumentos matemáticos.109 Entre tantos exemplares de cartas que se referem à Itália, em 1738 desenhou um mapa dos arredores de Roma e, em 1739, uma carta da Itália antiga, “cujo objetivo foi traçar as vias romanas”, para ilustrar o livro de Rollin, no qual se informava que, “na composição dessa carta, o autor muito retocou a que está no segundo volume dessa obra”,110 mostrando o contínuo refazer da sua cartografia. Os mapas, ao longo do século XVIII, mesmo os que se referiam à antiguidade, eram documentos em aberto, sujeitos a contínuas modificações. A cartografia da Itália de D’Anville resultou, em 1744, na publicação de um novo mapa e de sua memória, intitulada Analyse Géographique de l’Italie.111 Dedicada ao então duque de Chartres, a edição justificava-se, segundo o próprio D’Anville, pois ainda que “muitos savants, igualmente distinguidos pela erudição e pela crítica, tenham já
Geografia e história
Milhas romanas, mapa que faz parte dos estudos de D’Anville sobre cartografia antiga.
1755, discorreu sobre a posição das vilas de Taurunum e Singidunum, antigas vilas romanas, na atual Sérvia (Belgrado); em março, leu uma memória sobre um monumento persa esculpido numa montanha do Medie; em abril, o assunto era a posição da Babilônia e, em maio, as medidas chinesas de itinerário.97 Todas essas discussões e outras tantas que ele fez nos anos seguintes resultaram em memórias e mapas publicados, em grande parte, nas Mémoires da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres.98 Na Academia, D’Anville “assentou as bases do conhecimento da antiga França e permitiu aos acadêmicos (...) desenvolver o conhecimento da geografia dos gauleses”.99 Ao longo do tempo, valendo-se de variadas fontes históricas, produziu inúmeras cartas sobre a Gália antiga. Cada nova versão era “mais detalhada que a precedente”,100 e mais aperfeiçoada. Um exemplo interessante é o da carta que compôs em 1745, para o segundo volume da obra de Charles Rollin, Abrégé de
ativo,93 encontrando no seio dessa instituição o ambiente adequado para exercer sua habilidade no domínio da geografia histórica, expressa em inúmeros mapas, memórias e livros sobre o tema. Sete dias depois de assumir o cargo, realizou a “leitura de uma memória de sua composição, na qual pretendia fazer ver que as nascentes do Nilo não são ponto ainda descoberto”.94 No início de julho, leu sobre medidas antigas, entre elas o sehoene egípcio e o stade grego,95 que despertaram muito interesse e foram amplamente discutidas pelos acadêmicos.96 O esclarecimento dessas medidas era fundamental para atingir a perfeição na cartografia histórica, pois muitos dos documentos e mapas antigos eram utilizados pelos eruditos como fontes. Realizar a correspondência entre estas e as modernas era imperativo para aprofundar o conhecimento geográfico, especialmente na feitura dos novos mapas, e ocupava grande parte do tempo dos acadêmicos. Em novembro de 1754, D’Anville apresentou um texto sobre a posição do lago Moerin; em janeiro de 86
Sua principal obra sobre a geografia histórica foi Géographie ancienne abrégée. Publicada em 1769 e reeditada em 1775 e 1810, foi traduzida para o inglês em edições de 1775, 1795, 1801, 1806, 1810 e 1820, o que aponta para sua importância à época.104 Composta de três volumes, sobre a Europa, Ásia e África, respectivamente, a publicação condensava todo o seu conhecimento teórico sobre a geografia e a cartografia dessas regiões do mundo. Como ele mesmo afirma na sua Introdução, o livro era produto de cerca de 15 anos de estudos e de inúmeras cartas sobre o mundo conhecido dos antigos.105 Era dedicado a Louis Phélypeaux, conde de Saint-Florentin, ministro e secretário de Estado, a partir de 1761. Contudo, seu interesse pela geografia da antiguidade não se esgotava em si mesmo, constituindo-se também num caminho para estabelecer relações com a geografia moderna. Vejamos dois exemplos significativos desse processo que se tornou intrínseco à sua obra. O primeiro diz respeito à sua famosa carta do Egito, realizada a partir da compilação de um conjunto de informações oriundas da antiguidade e também de observações feitas por viajantes, inclusive o conhecimento atualizado sobre as nascentes do Nilo, tema que mobilizava os savants da época. Essa carta foi considerada “muito mais exata que a dos seus predecessores”, tornando-se “de grande ajuda à expedição organizada por Napoleão” no século seguinte.106 Nessa obra de D’Anville, segundo Dacier, “a geografia antiga e a geografia moderna se iluminavam e se retificavam uma pela outra”.107 O segundo exemplo refere-se à sua Carte de l’Italie que, tratando não só da geografia da antiguidade da península, como também da moderna, obteve várias versões. Fiel ao seu método, para produzir a cartografia da região, D’Anville mesclou documentos antigos e contemporâneos. Na memória apresentada na Académie des
Pela correção do posicionamento de toda península itálica, a obra Analyse Géographique de L’Italie foi considerada uma das obras-primas de D’Anville. 87
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Orbis Romani pars occidentalis, publicado na coletânea Géographie Ancienne, de D’Anville.
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Itália, em 1744, observou que “há um grande intervalo entre o que é chamado geografia antiga e o estado atual, para que a passagem de um a outro seja imediata”. As mudanças ocorridas na Europa depois da queda do Império Romano eram tão significativas que ele destacou que “deveria existir um estado médio, que antecede e prepara o de hoje em dia”.114 Sua reflexão se aprofundou quando se dedicou, em 1771, ao estudo dos États formés en Europe après la chute de l’Empire romain en Occident.115 Assim, ao se dedicar à realização de um grande manual de geografia, em 1777, sua reflexão sobre a existência de uma Idade Média já estava amadurecida. Segundo ele, em sua época, era “comum não falar com distinção da [idade] antiga da moderna”. Mas, para ele, a existência dessa Idade Média se justificava “pela falta de um estado [unitário] intermediário muito considerável” e pelo surgimento “das nações chamadas bárbaras, que se estabeleceram sobre a fragmentação do Império Romano, tanto no Ocidente, quanto no Oriente”. Ele via nessas entidades “a fundação de novos Estados, mais ou menos conforme eles são atualmente” e ressaltava as especificidades desse período em relação ao que lhe era anterior e o posterior. Propôs então, em relação a esse tempo, que “teria a duração de mais ou menos mil anos, (...) chamar Idade Média”.116 E apontou o fato de que “para que a mudança nesses objetos [Estados europeus] se faça perceber, é suficiente lançar os olhos sobre a carta que tem por título Germanie, France, Italie, Espagne, Isles Britanniques, dans un âge intermédiaire de l’ancienne Géographie et de la moderne”.117 Porém, ao se debruçar sobre a geografia da Rússia, do Império Turco e do Bizantino, D’Anville se deu conta de que a Idade Média não era privilégio apenas da Europa, tendo igualmente ocorrido no continente asiático.118 Se a geografia era até então basicamente uma ciência descritiva, pode-se dizer que D’Anville foi precursor de uma geografia de natureza humana, pois percebeu que o espaço mudava conforme as transformações operadas pela sociedade ao longo do tempo, na forma de “revoluções espantosas que mudaram a face quase inteira da Terra”.119 Dedicando-se “a construir um edifício imenso da geografia de todas as idades”,120 demonstrou que “os movimentos que sacudiram as nações nas migrações que elas sofreram são uma parte essencial das pesquisas a serem feitas em geografia”.121 Para ele, a geografia, tanto quanto a história, era inseparável da ação dos
trabalhado sobre a geografia da Itália, esta nova obra não parecerá supérflua”.112 Em uma das cartas que acompanhava o livro, o geógrafo destacou as diferentes conformações que Sanson, Delisle e ele imprimiram à região, deixando claras as mudanças que fizera em relação às representações anteriores. Sua principal contribuição foi a correção do posicionamento geográfico de toda a península itálica, e muitos consideraram esta como uma de suas obras-primas.113 Para a história, a grande contribuição de D’Anville foi ter destacado a existência de um período que guardava suas próprias peculiaridades, entre a queda do Império Romano e a Era Moderna. A reflexão sobre o tema se desenvolveu paralelamente à confecção de sua cartografia histórica, acompanhando o processo de transformação dos Estados europeus após a queda do Império Romano. Ao se debruçar sobre a configuração da
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Parte dos papéis geográficos de D'Anville com anotações para o Mapa do Paraguai.
D’Anville utilizava como fontes para reformar sua cartografia dos novos mundos.126 Gibbon foi um leitor atento da obra de D’Anville, a qual julgava “exata”, “singular e sensata”.127 Em sua biblioteca possuía 18 obras do geógrafo, entre memórias e mapas, destacando-se as análises geográficas das cartas da Grécia, Itália, Índia, Gália, Rússia, China, Egito e Império Turco; a obra teórica sobre o estudo da geografia; e dois atlas de cartografia antiga e moderna.128 As citações que Gibbon dedicou a ele em seu livro destacam a importância do geógrafo para seu sistema de pensamento, que concebia a história e a geografia como indissociáveis, ambas transformando-se ao longo do tempo pela ação humana. Ao se referir ao império de Carlos Magno, Gibbon cita o livro de D’Anville, États formés en Europe après la chute de l’Empire romain en Occident, que julga “conciso, mas correto e original”, e cujo mapa seria indispensável para o estudo desse período.129 Quando se debruça sobre Bizâncio, afirma que “um bom mapa que cobrisse a última era do império bizantino seria de grande utilidade (acrescentamento) para a geografia”. Mas, como D’Anville
homens e da marca do tempo, ambas simbolizadas pela ampulheta e pela foice presentes na gravura produzida por Gravelot para ornar suas Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie. O inglês Edward Gibbon foi o historiador que melhor compreendeu essa lição de D’Anville,122 que se tornou um dos eixos centrais de sua The history of the decline and fall of the Roman empire.123 Gibbon, para quem “William Delisle [era] o príncipe dos geógrafos, até o aparecimento do grande D’Anville”,124 encantou-se com o seu trabalho e a ele dedicou o maior número de citações, “dezoito no total, mais do que para qualquer outro autor individualmente. E a extensão dessa apropriação indica uma relação destinada a fortemente influenciar Gibbon”,125 autor que viu seu interesse ser despertado pela geografia, conectando-a com a história, durante um grand tour que incluía Paris, Suíça e Itália. Em Paris, onde esteve em 1736, assistiu às reuniões da Académie des Inscriptions e teve contato com a República das Letras parisiense e seus grandes viajantes/exploradores, como Bougainville e La Condamine, os mesmos que 89
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Vista de Paris no século XVIII, por Turgot. Os marcos visíveis são o palácio do Louvre, as Tulherias e a Pont Royal sobre o rio Sena.
Na página seguinte, Grande Galeria do Louvre, por Hubert Robert, 1796. Depois da mudança do rei para Versailles, academias e gabinetes de ciência e arte ocuparam o prédio.
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já estava morto a essa altura, exclama: “Mas, alas! D’Anville não mais!”.130
tinha cerca de 10 anos133 e foi ele quem, após a sua morte, continuou a feitura do catálogo e a organização da coleção de mapas que o geógrafo vendera ao rei.134 No final do século XVIII, a arte da cartografia havia se transformado a ponto de a geografia de gabinete entrar em declínio, mas a origem e a formação de D’Anville, que o levaram a uma trajetória relativamente afastada das tradicionais casas de geógrafos franceses, também dificultaram a formação de uma linhagem que lhe sucedesse. Mesmo fisicamente, D’Anville não estabeleceu seu ateliê no quai de l’Horloge, bulevar que margeava a ilha de Saint Louis, lugar de “conexões históricas com os geógrafos [...] onde se estabeleceram muitos geógrafos e vendedores de mapas no século XVII” e no seguinte, como Guillaume Delisle e Robert de Vaugondy.135 No entanto, não se afastou demais. A oficina na qual trabalhava, e que pertencia ao rei, situava-se nas Galerias do Louvre, anexas ao palácio. Muitos de seus mapas ostentam a informação de terem sido produzidos ali.
O método de D’Anville O método cartográfico de D’Anville, chamado de gabinete, era herdeiro da tradição de geógrafos que lhe precederam, e residia na habilidade de realizar a crítica da extensa documentação (mapas, relatos de viagens, autores da antiguidade etc.) que coligia para produzir cada um de seus mapas. Essa habilidade, exercida com enorme maestria, não deixou herdeiros à altura. No final da vida, não sem certo ressentimento, ele mesmo lamentou que não fora capaz de “formar um aluno, para me dar (como se gosta bem de dizer) um sucessor”.131 Jean-Denis Barbié du Bocage não hesitou, no entanto, em afirmar que ele era “o único aluno que teve m. D’Anville”.132 De fato Du Bocage entrou no serviço de D’Anville quando 90
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carta que produzira do Hemisfério Austral. Era comum no período de eleição que os pretendentes ao cargo apresentassem seus trabalhos nas seções da Academia, e ele se aproveitava da precedência sobre os demais para ganhar apoio à sua indicação. Cassini e Delambre foram indicados para examinar a memória e a carta. Na reunião de 24 de março, os dois apresentaram um longo parecer elogioso sobre o trabalho.139 A nomeação como geógrafo associado da instituição alçava o agraciado ao cargo de primeiro geógrafo do rei, auferindo-lhe uma renda de cerca de 1.000 livres. Esse foi um posto desejado por D’Anville durante anos. Houve eleições em 1751, 1753, 1754 e 1772, sem que ele fosse indicado para disputar qualquer uma delas.140 Finalmente em 1773, “depois da morte de Philippe Buache, os candidatos nomeados para [disputar] a posição de geógrafo associado foram Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, Rigobert Bonne, Jean-Nicolas Buache de la Neuville, Didier Robert de Vaugondy e um desconhecido, chamado Hugin”.141 Apesar de toda a sua origem familiar, Vaugondy e Buache foram vencidos por D’Anville, ficando Bonne em segundo lugar. Dessa disputa, certamente deve ter nascido a rivalidade que mais tarde opôs D’Anville, Bonne e Vaugondy.142 Na vitória de D’Anville, o talento parece ter superado as tradições familiares,143 ainda que sob a mobilização de patronos poderosos. Em seus desentendimentos com outros geógrafos, D’Anville dava mostras de não tolerar a crítica — e, o que era pior, deixava isso claro, pois certamente o conflito tornou-se público em toda a sociedade geográfica parisiense — e de não saber agir com a honra e a dignidade esperadas do ocupante desse cargo, o que significava discutir com liberalidade os assuntos científicos e respeitar as críticas dos especialistas, principalmente daqueles hierarquicamente inferiores. Por outro lado, Vaugondy empenhou-se em desnudar a origem pequeno-burguesa de D’Anville e a disputa entre os dois refletiu o conflito entre os antigos clãs de geógrafos (os messieurs) e os novos talentos vindos de baixo. Ou seja, o pequeno mundo da cartografia parisiense refletia, como era de se esperar, as grandes questões que convulsionavam a sociedade europeia da época — entre a hierarquia assentada em privilégios de nascimento e a abertura aos talentos individuais, dentre os quais D’Anville se destacava como um dos principais expoentes, autointitulando-se oráculo da geografia iluminista.
Como geógrafo do rei, ele passou a ter o direito de se estabelecer em uma das oficinas das galerias. O palácio era a residência do rei, mas não só. Era também moradia de parte da corte, de seus principais administradores e de muitos artistas que desfrutavam do patronato régio, além de abrigar muitas instituições reais. Uma delas era a própria Académie Royale des Inscriptions et Belles-Lettres e outra era a Académie Royale des Sciences de Paris, que congregava a elite dessa República das Letras parisiense. Também ficavam no mesmo prédio uma galeria que expunha as principais plantas militares e a biblioteca do rei. Hermand, matemático régio, tinha ali um gabinete de curiosidades muito frequentado, onde, em outubro de 1721, estiveram o rei e o duque de Orléans para ver, com uma mescla de prazer e curiosidade, “uma máquina que representa o acampamento de uma armada com todas as suas evoluções”, movimentada por meio de um engenhoso sistema de molas.136 Os enormes globos (um terrestre e um celeste) que Coronelli construíra a pedido de Luís XIV, que deslumbraram Paris e, por extensão, a Europa, ali ficaram abrigados entre 1715 e 1722137 e, a partir de 1750, no prédio se estabeleceu a Escola de Construção Naval, que reunia os engenheiros militares e possuía uma extensa coleção de cartas.138 Como se vê, geograficamente, ele se posicionava no coração onde estavam abrigadas as principais instituições que, sob patronato régio, abriam a França ao caminho das Luzes. Dessa forma, ele não só desfrutava do convívio com membros da República das Letras, como também demonstrava publicamente que dela fazia parte, sob patronato privilegiado.
Primeiro geógrafo do rei A eleição de D’Anville para o posto de geógrafo adjunto da Académie Royale des Sciences de Paris, em 1773, foi o coroamento da sua carreira. Porém, a demora com que a mesma ocorreu evidenciava as disputas entre uma carreira assentada no talento e outras que davam continuidade ao monopólio das tradicionais redes familiares de geógrafos. Na eleição, D’Anville enfrentou não só Vaugondy, herdeiro de uma tradicional família de cartógrafos franceses, mas também Buache e Bonne. A vacância do cargo foi anunciada na seção de 17 de março de 1773, uma quarta-feira. Nesse mesmo dia, Robert de Vaugondy leu uma memória sobre uma 92
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Luís XV, rei da França, por Louis-Michel van Loo, 1761.
BOSQUE DE MINERVA O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
Dom Luís da Cunha foi
o início da década de 1720, dom João V deu início a uma série de movimentos para formar uma volumosa biblioteca, instalada em seu palácio, no Paço da Ribeira. A biblioteca régia teve o objetivo de reunir livros, estampas, gravuras, mapas, instrumentos científicos e tudo o mais que fosse necessário ao desenvolvimento do conhecimento humano. Mas também visou demonstrar publicamente a importância que o monarca, como grande mecenas que era, dedicava ao conhecimento e à cultura das Luzes, comportamento típico dos reis ilustrados da época. A biblioteca do Paço não foi a única iniciativa nesse sentido, dom João V criou outras bibliotecas e ampliou algumas já existentes, com vistas à modernização e ao progresso do reino (dois conceitos estruturantes da visão de mundo iluminista). Essas livrarias deveriam ostentar as obras clássicas, mas também o que de melhor e de mais novo estivesse sendo produzido tanto em Portugal quanto no exterior. A primeira instituição beneficiada foi a Universidade de Coimbra, que, alguns anos antes, em 1716, havia sido presenteada pelo monarca com uma nova biblioteca.
constantemente instado não só a comprar, mas também a indicar obras, pinturas e instrumentos, e mesmo a sugerir mudanças no panorama do ensino em Portugal. [...] Pode-se dizer que a livraria régia era a consolidação de um projeto científico mais amplo, de viés enciclopédico e iluminista.
Minerva como protetora das artes e das ciências (c.1680), de Luca Giordano. Acima, visão panorâmica da Praça do Comércio, em Lisboa (século XVIII). 95
Bosque de Minerva
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
vistas à renovação da cartografia do reino — e uma coleção de instrumentos científicos, tudo sob o mecenato de dom João V.2 O núcleo inicial da Livraria Real, em parte desaparecido no terremoto de Lisboa, em 1755, constituiu-se de livros pertencentes ao acervo do Palácio dos Bragança em Vila Viçosa e que, havia algum tempo, dom João IV transferira para Lisboa.3 A princípio, a biblioteca régia foi instalada no segundo andar do Palácio Real, no torreão do edifício projetado sobre o Tejo. Era “uma sala que, por cada face, tem cinco janelas de grades de ferro (...), onde estão os melhores livros que se tem”.4 À medida que o acervo se avolumou, suas instalações ampliaram-se, ocupando alguns recintos do edifício adjacente,5 e, na década de 1730, já se estendia ao salão dos embaixadores, no terceiro andar do palácio. Ali o rei mandou construir longas estantes de nogueira — que se cruzam como em ruas de quatro faces —, estimadas para conter cerca de 20 mil volumes.6 A biblioteca deveria abarcar todos os campos do conhecimento e foi colocada sob a proteção de Minerva, a deusa das ciências e das artes. Seria um “armazém das ciências, tesouro das joias mais ricas, e mais úteis que há no mundo”.7 Era um palácio ou bosque de Minerva, “cada livro daquela numerosa livraria (...) é uma árvore que está permanentemente dando sazonados frutos de sabedoria”. Nesse sentido, a livraria régia era o jardim do Palácio Real.8 A biblioteca real, no entanto, não era apenas um “lugar onde estão muitos livros em estantes”. Ela se constituiu como um espaço irradiador do programa científico joanino, aberto às Luzes, caracterizado pela renovação e abertura do conhecimento.9 Para cumprir esse objetivo, de um lado, a instituição pretendia reunir “as edições mais raras”, mas, de outro, também deveria agregar “grande número de manuscritos, instrumentos matemáticos, admiráveis relógios e outras muitas coisas raras”.10 Entrelaçava o luxo “de coisas preciosas, admiráveis e raras” úteis ao espírito, como as pinturas dos mestres, os manuscritos, os relógios e os instrumentos matemáticos, necessários à observação da natureza e do universo. Sua disposição era tal que instrumentos e livros científicos relacionados estavam dispostos de forma a serem consultados conjuntamente.11 Desse ponto de vista, pode-se dizer que a livraria régia era a consolidação de um projeto científico mais amplo, de viés enciclopédico e iluminista.
A magnífica livraria, ainda existente, foi dividida em três grandes espaços — o primeiro, adornado com uma alegoria da Universidade de Coimbra recebendo o conhecimento das quatro partes do mundo; o segundo, dedicado ao aprendizado; e o terceiro, ao conhecimento. No fundo desse último, no frontão de entrada, um retrato de dom João V com o escudo das armas reais torna público o patronato do rei.1 Ao longo de seu reinado, ele também deu início à construção de uma gigantesca biblioteca no Convento de Mafra, projetada em cruz; e, a partir de 1742, devotou-se ao aumento da biblioteca dos Oratorianos, no Colégio do Monastério de Nossa Senhora das Necessidades. O Colégio das Necessidades desempenhou importante papel no programa científico joanino. Ali os oratorianos ensinavam a nova filosofia de Newton e de Descartes, e os livros, reunidos na biblioteca, eram essenciais para a renovação do ensino das ciências. Suas instalações foram completadas com a construção de um gabinete de história natural, um observatório astronômico — onde realizaram importantes observações com
Tratado de Francesco Bianchini sobre o planeta Vênus, a princípio conhecido como a estrela matutina Phosphorus e a vespertina Hesperus. 96
Mas não se tratou apenas de comprar livros, mas também de produzi-los. A exemplo do que ocorria em outras nações, “essas imponentes ‘bibliotecas’ [como a de dom João V] constituem, com as enciclopédias e os dicionários, uma imagem maior das grandes iniciativas editoriais do século XVIII”.12 Assim sendo, uma pujante coleção de livros de matiz lusitano foi publicada por essa época, movimento editorial que ocorreu paralelamente ao desenvolvimento do próprio mercado livreiro no império português. O esforço de composição da biblioteca régia incluiu não apenas a aquisição de livros, mas também a compra de uma oficina tipográfica, doada à Academia Real da História, e a contratação de tipógrafos e gravadores para a produção de livros, entre eles o célebre Jean Villeneuve.13 Como reflexo dessa pujança, “o número de novos títulos publicados
anualmente triplicou, passando de 300 para 900, assim como o número de impressores, de 13 para 46, só em Lisboa”.14 Por sua vez, vários desses livros foram traduzidos e editados em língua estrangeira, divulgando a cultura portuguesa e os intelectuais que a produziam para além do espaço nacional. Nesses aspectos, os inteligentes portugueses encontravam-se alinhados com a matriz de pensamento racionalista que caracterizava a República das Letras europeia. De fato, sob o selo da biblioteca, artefatos culturais os mais variados chegavam e eram produzidos em Portugal, promovendo um novo sentido de gosto no país.15 Mas de que se tratava o gosto? Para os iluministas, à medida que o século XVIII avançava, tratava-se de um novo sentimento, que aos poucos se instituía e abrangia todos os campos da arte, da literatura, da ciência e por 97
Palácio Real no Paço da Ribeira, onde no torreão, junto ao Tejo, foi instalada a Biblioteca Régia.
Na página seguinte, estúdio de colecionador em Antuérpia.
Bosque de Minerva
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
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Bosque de Minerva
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
Bibliotecas imponentes refletem o espírito enciclopédico do século XVIII.
extensão da cartografia. D’Alembert aponta o desenvolvimento do gosto como um dos principais objetivos da Academia Francesa. Sobre o termo, ele diz que significa “todo gênero de sentimento delicado ao decoro”,16 em tudo oposto às velhas convenções “do exagero e do ridículo”. Essa nova estética, proveniente de um racionalismo triunfante, se contrapunha à teatralidade excessiva que lhe era anterior, e sobre a qual o novo programa artístico e cultural iluminista buscava imprimir um tom mais naturalista, menos artificial. Indicar obras literárias e artísticas, assim como instrumentos científicos, passou a mobilizar membros destacados da intelectualidade lusa. Em Portugal, membros do círculo privilegiado em torno do rei e da Academia Real da História — tais como os marqueses de Abrantes e de Alegrete, o conde da Ericeira, o padre Bartolomeu de Gusmão e seu irmão, Alexandre, o cardeal da Mota e Martinho de Mendonça Pina e Proença (encarregado de dirigir a formação da coleção) — redigiam extensas listas de obras. Na outra ponta dessa rede, cabia aos embaixadores em serviço nas cortes estrangeiras adquirir livros, pinturas, estampas, tapeçarias, mapas, instrumentos
matemáticos e o que mais servisse à curiosidade intelectual dos savants portugueses. Todos os diplomatas receberam encargos de compras régias, destacando-se José da Cunha Brochado, o conde de Tarouca, Francisco Mendes de Góis,17 Sebastião José de Carvalho, o futuro marquês de Pombal e, especialmente, dom Luís da Cunha. O grande impulso na formação da biblioteca real ocorreu exatamente na década de 1720, e como Martinho de Mendonça Pina e Proença, bibliotecário-chefe, reconhecia a vasta cultura de dom Luís, pois convivera com o embaixador em Haia e Utrecht, entre 1717 e 1718, tornou-o um dos grandes compradores do rei. A França, os Países Baixos meridionais (Bélgica) e as Províncias Unidas (basicamente o que hoje constitui a Holanda), locais onde dom Luís da Cunha ocupará postos a partir de 1717, serão por conseguinte os maiores países fornecedores da biblioteca.18 Dom Luís da Cunha foi constantemente instado não só a comprar, mas também a indicar obras, pinturas e instrumentos, e mesmo a sugerir mudanças no panorama do ensino em Portugal.19 Sua capacidade de expert ou connoisseur foi amplamente reconhecida, até 100
pelas gerações seguintes, não só entre a elite intelectual portuguesa mas também a europeia.20 Foi durante o Congresso de Utrecht (1713-1715) que dom Luís, juntamente com o conde de Tarouca, começou a se dedicar com mais afinco às compras reais. No ambiente do Congresso, a diplomacia buscava pretexto para o estreitamento das relações entre os diversos savants europeus, que trocavam gostos e compartilhavam da cultura ilustrada vigente. “Reunidos em Utreque, embaixadores de diversos países contribuíram para um diálogo internacional, baseado na circulação de bens, pessoas e ideias.”21 Ali se formava uma “diplomacia de espírito” em torno de uma “República de inteligentes e de letras”.22 O congresso conformou uma rede de sociabilidade cultural entre os inteligentes ali reunidos,23 incluindo os dois embaixadores portugueses, cujas residências se tornaram locais de intensa boemia erudita. Não por mero acaso, a do conde de Tarouca, primeiro plenipotenciário, foi comparada por Nicolas Chevalier, em sua magnificência, a um Palácio de Júpiter, onde Hércules nascera, fazendo lembrar o ciclo do ouro.24 Não era um elogio qualquer, Chevalier, um renomado colecionador, que se autointitulava marchand de livros e de medalhas, possuía famoso gabinete de antiguidades, que levara consigo quando se mudara de Amsterdã para Utrecht.25 Espelhava o colecionismo vigente no início do século XVIII que, para além de coisas raras e curiosas, como teatro do mundo, começava a refletir o panorama científico da inteligência europeia, inspirando outras coleções, como as que reuniam os monarcas ilustrados, tal qual dom João V. A edição de 1714 do catálogo das peças dessa sua Galeria de Antiguidades foi dedicada justamente a Tarouca, a quem Chevalier reconhecia o “prazer e o gosto”, em cuja casa era capaz de estabelecer com dignidade o difícil equilíbrio entre as negociações públicas e o estudo das ciências, atividades que o embaixador iluminava com seu saber.26 Foi também em Utrecht que dom Luís da Cunha conheceu um importante especialista, ou connoisseur, mais tarde arregimentado em prol do colecionismo do monarca português. Tratava-se de Pierre Jean Mariette, jovem herdeiro de uma importante dinastia do ramo livreiro e do comércio de gravuras, em Paris. Por volta de 1717, com o intuito de diversificar o gosto e os contatos no ramo, Pierre chegou a Utrecht. Por essa época, seu pai o enviara num grande tour pela Europa, que, sabe-se,
Coleção de curiosidades, gravura do livro Teatro das maravilhas da natureza. Escola holandesa, c.1719.
Gabinete de curiosidades, em gravura de 1744. 101
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
começara pelos Países Baixos e pela Alemanha.27 Iniciar a viagem por aí não era um mero acaso. Amsterdã, Haia e Bruxelas eram grandes centros fornecedores das estampas que a Casa Mariette comercializava em Paris. Nada mais natural que, uma vez em Utrecht, ocorresse uma aproximação entre o embaixador e o jovem Mariette, propiciada pelo interesse e gosto comum pelas artes e pelas primeiras encomendas ordenadas por dom João V.28 De fato, alguns anos depois, em 1724, quando dom Luís já se encontrava em Paris e o rei ordenou que ele adquirisse uma coleção de gravuras,29 o embaixador encontrou em Pierre Jean Mariette,30 já à frente dos negócios da família, o fornecedor ideal para satisfazer as demandas régias.31 Dom Luís assim justificou sua escolha perante o monarca:
e seu epicentro foi Paris, onde, então, dom Luís da Cunha se encontrava a serviço. Desta feita, o embaixador pôde contar com a ajuda de seu funcionário Francisco Mendes de Góis, que se dedicou com afinco à incumbência. Algumas dessas compras eram expressões do luxo da corte joanina, mas muitas eram relativas à cultura e erudição, de acordo com o programa científico da biblioteca régia. Como já foi dito, tratava-se não só de afluxo de livros, mas também de instrumentos matemáticos, e mesmo de sábios competentes que pudessem colocar seu conhecimento a serviço do reino. Por essa razão, biblioteca aqui é entendida em sentido amplo, referindo-se a tudo que sirva ao desenvolvimento do conhecimento humano.33 A chegada em Lisboa dos chamados padres matemáticos, os jesuítas João Baptista Carbone e Domenico Capacci, em 1722, exerceu um impacto significativo na organização da biblioteca régia nos quesitos da astronomia e da geografia e também no ensino das duas matérias,34 portadoras dos conhecimentos necessários ao levantamento cartográfico do império que começava a ser posto em prática, conforme insistentemente advogava dom Luís da Cunha, com o objetivo de nortear as negociações diplomáticas sobre os limites territoriais da América portuguesa. Por essas razões, a estruturação das ciências físico-matemáticas no reinado joanino significou não só a produção e
Monsieur de Mariette, que vende as estampas e é o homem mais inteligente e rico nesse gênero, me segurou que a coleção seria mais perfeita se aqui se fizesse toda, porque em Paris se achariam muitas estampas, que em Itália, nem outras partes se não poderia descobrir. Remeto a VSa um borrador do index, que mandei fazer a cada tomo, traduzido em português e só Mariette e seu filho são capazes desse trabalho.32
Um dos ápices das compras régias para aparelhar a biblioteca régia se deu a partir da década de 1720
Apresentação da passarola por Bartolomeu Lourenço de Gusmão, em 1709. Na assistência, dom João entre o núncio apostólico Miguelangelo Conti e a rainha Maria Ana de Áustria.
A máquina voadora do balonista francês Jean Pierre Blanchard (1753-1809). 102
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Abaixo, à esquerda, gravura ilustrativa de uma recepção oferecida pelo conde de Tarouca, seguida do frontispício de um dos muitos catálogos compilados por Nicolas Chevalier. Neste encontra-se a listagem descritiva das festas promovidas pelo conde.
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Delisle e a nova medição do meridiano de Tordesilhas
aquisição de obras científicas, mas também a “organização de museus dos três reinos da natureza, de observatórios astronômicos e de gabinetes de física, onde se realizavam observações e experiências com instrumentos matemáticos”, tudo sob o signo do “cartesianismo, empirismo e da física newtoniana”.35 A partir daí “a biblioteca real no Paço da Ribeira se tornou centro de experimentação científica, e um símbolo do programa de reforma do ensino que D. João V tinha iniciado”.36 O início do levantamento cartográfico do reino e especialmente do Brasil, para servir às negociações diplomáticas com a Espanha, intensificou a aquisição de tudo que pudesse servir à astronomia e à cartografia, desde livros e mapas a instrumentos matemáticos, astronômicos e geodésicos.37 A partir de então, dom Luís da Cunha tomou mais diretamente para si a tarefa de contribuir para a produção das cartas geográficas necessárias ao melhor conhecimento do império português. Desde o Tratado de Utrecht, o embaixador insistia na necessidade de construir uma base cartográfica de peso que permitisse aos diplomatas dar melhor visibilidade ao que era negociado entre as partes, dirimindo dúvidas ou contendas.
Vista do Jogo do Malho, onde os embaixadores e plenipotenciários de Portugal e Castella se congratularam por terem firmado a paz, em 6 de fevereiro de 1715.
“Impressor voltando a cruzela”, ilustração do Tratado da gravura a águaforte, e a buril, e em maneira negra com o modo de construir as prensas modernas, e de imprimir em talho doce, de Abraham Bosse, gravador régio, século XVII. 104
A demanda régia por livros, instrumentos científicos e mapas se acirrou quando, em 27 de novembro de 1720, Guillaume Delisle,38 então o primeiro geógrafo do rei da França, leu na Académie Royale des Sciences de Paris uma memória geográfica, escrita a partir das recentes medidas das longitudes, utilizando novas técnicas e tendo como referências os eclipses dos satélites de Júpiter.39 Junto com essa memória, apresentou o novo mapa-múndi que estava confeccionando para Luís XV.40 O impacto do mapa e do texto completo, intitulado Détermination Géographique de la situation et de l’étendue des diferentes parties de la terre, foi muito além das paredes da Academia, transformando, a partir de então, toda a arte da cartografia, pela reorientação que imprimiu na disposição das terras pelo globo. Mais que isso, o texto atingiu em cheio as pretensões lusas sobre seus territórios de além-mar. Entre inúmeras mudanças na configuração geográfica dos continentes, a partir do reposicionamento dos meridianos, especialmente o da Ilha de Ferros41 e o de Paris, Delisle propunha o reposicionamento do meridiano de Tordesilhas, com implicações evidentes na posse das regiões da Colônia do Sacramento na América, em disputa entre espanhóis e portugueses, e das Molucas, no mar do Sul (oceano Pacífico). Também redimensionava a posição do meridiano no Cabo do Norte (Amapá), desta feita em disputas com os franceses. O texto de Delisle explicava que
Octante, 1750
feito o país perder mais territórios do que seus inimigos em muitos anos.43 Dom Luís da Cunha imediatamente percebeu o impacto que tal novidade traria às disputas luso-espanholas na América meridional. Contou que lhe chegara às mãos uma dissertação geográfica e, que [nela] mr. DeLisle, geógrafo do rei Xmo., determina a situação e a extensão
se verá bem cedo que as Molucas ficam na divisão por-
de diferentes partes da terra, a qual se leu e se apro-
tuguesa, contra a situação que as cartas ordinárias dão
vou, na Academia Real das Ciências e nela assenta que
a essas ilhas. Mas não se dá o mesmo com a Colônia que
injustamente possuímos as terras do Cabo do Norte e
os portugueses estabeleceram na embocadura do rio
a Colônia do Sacramento, sem embargo de nos dar as
da Prata. (...) É ainda pior a propósito do que os portu-
ilhas Molucas.44
gueses nos citaram essa mesma Bula de Alexandre VI nos termos das diferenças que nós temos com eles so-
A dissertação de Delisle invertia o que de fato ocor-
bre a possessão do Cabo do Norte até a entrada do rio
rera em relação à ocupação desses territórios. A região
das Amazonas.42
do Cabo do Norte estava, desde o Tratado de Utrecht, sob domínio português, mas a exata posição da linha de-
A questão da medição das longitudes era tema candente na época. Efetivamente, desde o início do século XVIII, a partir de medições celestes cada vez mais precisas que estabeleceram novos posicionamentos para os meridianos, a febre cartográfica sobre a França fez com que Luís XIV se queixasse dos geógrafos que, com suas medidas acuradas, haviam, em pouco tempo,
marcatória ainda gerava controvérsias com os franceses. Em relação às disputas com a Espanha, desde o Tratado de Saragoça, em 1529, os portugueses haviam comprado as Molucas dos espanhóis, o que agora parecia ter sido um pagamento inútil e, na América, a ocupação da Colônia do Sacramento pelos portugueses estendera suas 105
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
Mapa-múndi de Guillaume Delisle, c.1725: reorientação da disposição das terras pelo globo transformou a cartografia. Na página seguinte, mapa da América, feito por Delisle em 1722 para o rei Luís XIV. Medições celestes mais precisas estabeleceram novos posicionamentos para os meridianos.
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Felipe V, rei de Espanha, 1723.
O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
culo e, como ele o aprovara, parecia a dom Luís que este, sempre favorável aos interesses lusos, não sabia da inclusão de tais temas tão sensíveis a Portugal. Sua opinião foi que Delisle incluíra a discussão sobre Tordesilhas “ex proprio marte”, isto é, por sua própria conta.45 Para entender essa observação do embaixador — de que o duque de Orléans provavelmente não tomara conhecimento dessa parte da dissertação, já que não a apoiaria se soubesse, assim como os primeiros passos dados em Paris por dom Luís em relação ao assunto — é necessário analisar o contexto político francês. O duque de Orléans era, por essa época, regente de França durante a minoridade do futuro Luís XV. Era o primeiro príncipe de sangue e, por essa razão, tinha direitos hereditários ao trono, podendo ser coroado rei na falta de um herdeiro direto de Luís XIV. O duque “controlou a França de 1715 até sua morte em 1723, em uma situação precária, que o encorajou a buscar aliados que pudessem bloquear a ameaça de intervenção espanhola caso Luís morresse”.46 A sucessão de Luís XIV por um descendente direto não estava ainda de todo assegurada e o regente tinha a possibilidade de ascender ao trono. O único herdeiro legítimo vivo, o delfim (futuro Luís XV), neto de Luís XIV, ainda era menor de idade e tinha uma saúde delicada que inspirava temores. Foi a ascensão de Filipe V ao trono da Espanha, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola, que o empurrou a uma aproximação com a Inglaterra e, por extensão com Portugal, tradicionais aliados. Isso aconteceu porque Filipe V também tinha direitos hereditários ao trono francês e, apesar de ter abdicado deles no Tratado de Utrecht, a ausência de um descendente direto do rei morto poderia levá-lo a novas investidas para recuperá-los, atrapalhando as pretensões do regente à Coroa.47 Assim, durante a regência, sob a influência do cardeal Dubois, o duque de Orléans encetou uma aproximação com a Inglaterra. O cardeal era membro da casa de Orléans e no final do século XVII fora enviado como embaixador à Inglaterra. Lá se tornou um admirador da cultura política inglesa e passou a advogar uma aproximação entre os Orléans e os Hanovre, que haviam ascendido ao trono na Inglaterra. Sob o seu patrocínio, quando ainda era secretário dos Negócios Estrangeiros, em 1717, foi assinada a Tríplice Aliança, que selou um compromisso entre Holanda, Inglaterra e França de zelar pela paz na Europa,48 ameaçando a tradicional
possessões até a margem setentrional do rio da Prata, o que, segundo as novas medições, seria território espanhol. Na década de 1720, no contexto da devolução da Colônia do Sacramento aos portugueses, depois dos acordos de Utrecht, a diplomacia portuguesa ainda se debatia com a espanhola sobre a legitimidade e a extensão das possessões portuguesas nessa região do sul do Brasil. Preocupado com as implicações da memória de Delisle nas disputas entre as duas Coroas, dom Luís da Cunha enviou, por meio do secretário de Estado, um exemplar manuscrito da mesma a dom João V. Informou que “não me pareceu fazer algum passo sem dar a V.Sa., quanto mais que o principal que a Corte [França] teve em mandar fazer esta obra, foi a de querer ver os erros que Mr. DeLisle tinha achado nos mapas ordinários”. Contou que o próprio regente, o duque de Orléans, lera o opús-
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aliança franco-espanhola. Dubois teve uma ascensão meteórica nesse período da regência, passando a ocupar o primeiro escalão da administração francesa. Foi secretário, conselheiro de Estado e, finalmente, em 1722, primeiro-ministro. Dom Luís da Cunha chegou a Paris exatamente nesse contexto favorável à Inglaterra, e, por conseguinte, a Portugal, encetado pelo duque de Orléans e seu entourage. Conhecia Dubois, pois ambos haviam sido embaixadores na Inglaterra à mesma época, desfrutava da confiança da casa de Hanovre (jantara em casa de Jorge I em Hanôver, em 1716) e participava do círculo intelectual reunido em torno de madame Tencin, outra partidária da casa dos Orléans, favorável a uma aproximação com a Inglaterra. Durante os anos 1720 de sua estada parisiense, o embaixador conviveu intensamente com esse grupo. Os dois lados defendiam, no contexto da aproximação com a Inglaterra, também um estreitamento das relações franco-portuguesas, pois “o duque de Orléans, no tempo em que foi primeiro-ministro, mandou muitas vezes falar a dom Luís da Cunha para que dispusesse el rei de Portugal a que quisesse fazer com esta Coroa um tratado de comércio”.49 Depois da morte do regente, o cardeal Fleury, que se tornou o mais importante ministro à época, continuou com a política de seu antecessor.50 “O cardeal de Fleury busc[ou], antes de tudo, manter a paz, isto queria dizer conservar a aliança com a Inglaterra e viver em boa inteligência com a Espanha e a Áustria”.51 Quanto a Portugal, dom Luís da Cunha e Francisco Mendes de Góis, seu confiável subordinado na embaixada,52 continuaram a entabular as negociações com o objetivo de estabelecerem um tratado de comércio franco-português e também a intermediação da França nas diferenças territoriais com a Espanha.53 Como a corte portuguesa não se decidia sobre essa mudança de rumo em sua política externa, que poderia ameaçar a tradicional aliança com a Inglaterra, as negociações na França, especialmente no que dizia respeito a um tratado de comércio, eram levadas pelo embaixador e seu auxiliar com muito cuidado e discrição.54 Por isso, nada mais natural que, no contexto da divulgação da dissertação de Delisle, dom Luís da Cunha buscasse a ajuda do regente e de seus ministros, pois o próprio geógrafo também fazia parte da casa de Orléans. A Coroa portuguesa sentiu-se mortalmente ameaçada, sobretudo em relação à região da Colônia do Sacramento,
ainda em disputa com os espanhóis, e encarregou o embaixador de fazer o possível para que a dissertação não fosse publicada ou pelo menos divulgada, pois poderia dar munição à Espanha, que se obstinava em não cumprir as cláusulas acordadas em Utrecht. O reposicionamento do meridiano poderia ser um forte argumento para a posição espanhola de que os portugueses não tinham direitos legítimos, como pretendiam, a estenderem 109
Alegoria da Geografia, página de rosto do Atlas de Frederick de Wit, c.1688.
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
seu território até a margem setentrional do rio da Prata. As orientações que vieram do reino, em março de 1722, determinavam que dom Luís da Cunha procurasse o geógrafo e também se dirigisse diretamente ao duque de Orléans e ao cardeal Dubois e negociasse com eles a não divulgação da obra e a retratação de Delisle. As ordens determinavam que
que a França não teria direitos a reivindicar as possessões nas terras do Cabo do Norte, atendo-se ao acordado em Utrecht em 1713. Num tom tranquilizador, dom Luís informou a dom João V que o cardeal “me tornou a mandar dizer de palavra que executaria o que me tinha prometido” e impediria a publicação do opúsculo.60 Cópia da dissertação foi enviada ao reino a 9 de março de 1721,61 mas não chegou a seu destino. Os espanhóis interceptaram o correio com a correspondência, em Vitória,62 pouco depois de ter cruzado a fronteira.63 Em setembro, Diogo de Mendonça Corte Real, secretário de Estado, ainda sem saber do ocorrido, queixava-se com dom Luís da Cunha de não ter enviado ainda a dissertação e o Atlas de Delisle. Perguntava também “que SMde. (...) me havia ordenado soubesse de VSa. se poderia aí descobrir o que el rei da França costuma dar aos estrangeiros que lhe faziam semelhante oferta”.64 Parece que o secretário ou não entendeu, ou fingiu que não entendeu a estratégia do embaixador de encomendar o Atlas a Delisle, colocando-o dessa forma a serviço do rei de Portugal, pois na mesma missiva Corte Real estranhava o fato de que o geógrafo, que imprimira a memória contra os interesses portugueses, pudesse fazer tal oferta ao rei. Dom Luís apressou-se a responder que a todos os serviços de Delisle pagara “com larga mão”. 65 Com o marquês de Abrantes, que também quis informações sobre o assunto, voltou a insistir que “m. Delisle está mui bem pago do seu trabalho”. E acrescentou que, “posta de parte a sua ciência, é um homem tão avaro que não fará um passo sem lhe proceder o interesse”.66 Deixava claro, como já estava acostumado, que para colocar um homem desse porte a serviço da Coroa era necessário molhar suas mãos. Como ele mesmo dizia, a “chave de ouro ou de qualquer outro equivalente metal (...) abre as bocas mais fechadas”67 e submete qualquer vontade. A 10 de novembro de 1721, dom Luís da Cunha remeteu nova “cópia da Dissertação que fez monsieur Delisle”. Como a mesma havia sido “fundada nas novas observações astronômicas que se tem feito”, o embaixador acreditava “que, para o convencer, seria necessário terem-se feito algumas observações mais modernas que as alegadas e, no caso contrário, não seria de parecer que se procurasse impugnar a opinião de um geógrafo”. Chamava a atenção novamente para a necessidade de se começar a levantar uma cartografia dos territórios portugueses na América a partir das medidas dos territórios
se queixe ao Regente de que este autor assente em uma coisa tão falsa e que suscite uma disputa, que está determinada por tratados solenes entre esta mesma Coroa e a de Castela e assim verá VSa. que meio pode haver para que se retrate daquela opinião, que será menos dificultoso se o livro ainda não estiver impresso. 55
Por ordem de dom João V, dom Luís da Cunha procurou Delisle e fez-lhe ofertas tentadoras em troca da não publicação do opúsculo, encomendando-lhe inclusive um Atlas em sete volumes para enviar ao rei.56 Apesar de ter aceitado a encomenda, o savant não se deixou convencer, e o embaixador falhou em sua missão de impedi-lo de publicar seu texto. Ao perceber que não seria capaz de demovê-lo, dom Luís mudou de alvo e, de acordo com “a segunda parte da ordem” recebida de Portugal, foi procurar as autoridades francesas. Sua primeira providência foi falar ao cardeal Dubois, que também acumulava o título de arcebispo de Cambray, solicitando que não se imprimisse a memória. Este, sensível aos interesses de Portugal, prometeu que o atenderia, mas pediu que, primeiro, o embaixador lhe enviasse por escrito as passagens referidas que feriam os interesses portugueses.57 Dom Luís enviou-lhe os trechos marcados e pediu-lhe que ele ordenasse “ao sr. Delisle de apagar de sua dissertação, em caso que ele a faça imprimir, as passagens em questão”.58 A estratégia de dom Luís da Cunha foi a de apartar o campo da ciência do diplomático, o primeiro não podendo interferir no que tivesse sido acordado em tratados.59 O embaixador não reivindicou que o trabalho não fosse publicado como lhe ordenavam do reino, pois sabia ser impossível impedir que um savant divulgasse descobertas suas sustentadas frente à Académie Royale des Sciences de Paris, mas somente que apagasse os trechos que trouxessem implicações diplomáticas para Portugal. Acreditava que o alinhamento do cardeal com a Inglaterra e sua política claramente antiespanhola o faria tomar o partido de Portugal numa demanda contra a Espanha. Mas não só, também se tratava de reconhecer 110
listagem tanto as obras sobre navegação, ciência militar, cartas náuticas e terrestres, quanto os instrumentos matemáticos, embarcados para o reino, por ele e Francisco Mendes de Góis, nos anos anteriores.73 Essa transitividade também significou a contratação de sábios, que foram, em parte, arregimentados no estrangeiro para ajudarem em diversas funções: indicar e selecionar os objetos a serem comprados no exterior; organizar os artefatos adquiridos; produzir instrumentos matemáticos; instruir sobre sua montagem e uso; e informar sobre as novas metodologias científicas vigentes etc. A alguns sábios foram feitas ofertas para se mudarem para Portugal e ali se empregarem a serviço da Coroa; a outros, que contribuíssem para o sucesso das compras feitas por dom João V em seus países de origem. Em Paris, dom Luís valeu-se do círculo intelectual que girava em torno do príncipe de Orléans, simpático a Portugal e hostil à Espanha de Felipe V, para arregimentar os savants necessários ao cumprimento das ordens que recebera, no sentido de aparelhar o reino com o saber e os instrumentos que contribuiriam para a renovação do conhecimento científico no império português.
e não como pura especulação. Mas continuava a defender sua máxima “de que nem a corte de Espanha nem esta se podem servir contra o que está estipulado nos Tratados e quando fosse possível fazê-lo então seria preciso mostrar o contrário”.68 Compreendendo que ciência e diplomacia nem sempre caminhavam juntas, dom Luís da Cunha justificou perante o monarca a atitude de Delisle em se obstinar em publicar seu estudo, pois não seria “praticável que um homem que havia pronunciado aquele discurso na Academia das Ciências, como membro da mesma Academia, se desdissesse sem que o comessem”.69 No entanto, apesar dos seus esforços e das promessas de Dubois, conforme ele mesmo previra, a dissertação foi publicada pela própria Académie Royale des Sciences de Paris, no ano seguinte, 1722.70 Na impossibilidade de convencer o geógrafo a desdizer a sua teoria, o embaixador insistia em defender que a Coroa deveria se obstinar no que havia sido acordado em Utrecht, procurando diminuir o impacto que um novo posicionamento do meridiano de Tordesilhas poderia ter sobre os domínios territoriais dos portugueses na América. Afinal, sempre defendera o estabelecido nos tratadores anteriores como importante arma diplomática nas negociações seguintes. Nessa linha de pensamento, em carta ao marquês de Abrantes, insistia: “Não entendo que a Dissertação ou opinião de um geógrafo possa prejudicar o que está estipulado num Tratado.”71 Chamou ainda a atenção para a transitividade entre cartografia e diplomacia, aspecto que não deveria ser negligenciado por Portugal em suas futuras negociações.
Instrumentos matemáticos e seus experts A compra de instrumentos matemáticos pelos embaixadores portugueses nas cortes europeias com vistas ao levantamento geográfico do reino e do Brasil teve início em 1721, e dom Luís da Cunha foi um dos principais encarregados dessa tarefa. A primeira ocasião foi quando, logo que chegou a Paris, em 1720, recebeu ordens para adquirir um conjunto de livros dedicados à ciência, matemática e náutica, na Casa Mariette, complementando tal aquisição, ao que parece, com a compra de artefatos científicos.72 Alguns anos depois, em 1729, percebe-se a transitividade entre livros e instrumentos científicos, em um balanço realizado por dom Luís, que incluía na mesma
Esfera Armilar baseada no sistema copernicano, 1764 111
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Um dos primeiros inteligentes contratados por dom Luís da Cunha, em Paris, foi Hermand, renomado matemático e engenheiro.74 Na ocasião em que o rei e o duque de Orléans estiveram em seu gabinete de curiosidade nas Galerias do Louvre, em outubro de 1721, a fim de apreciar a sua última invenção75, dom Luís observou que esse engenho “ensina[va] e mostra[va] as operações dos exércitos mecanicamente, cousa bem curiosa”. Quando o cardeal da Cunha esteve em Paris, em 1722, dom Luís o levou para visitar o gabinete, e Hermand fez funcionar seu interessante invento.76 Em 1723, dom Luís da Cunha estabeleceu um conhecimento mais estreito com o matemático,77 a quem tinha em alta conta. Sobre Hermand, afirmou que “é homem tão estimado como presumido dos seus inventos militares e mecânicos” e sugeriu que dom João V o arregimentasse para seu serviço.78 A engenharia militar abrangia um espectro bastante amplo de conhecimentos, que exigiam profundo domínio da matemática, mecânica, geometria, hidráulica etc.79 Na época, engenheiro, em primeiro lugar, era aquele “que faz máquinas e obras para a guerra ofensiva e defensiva” e, em segundo lugar, o “que faz qualquer gênero de máquinas e engenhos”.80 Percebe-se, então, o forte sentido militar da função, que abrangia não só o conhecimento sobre o deslocamento das tropas no território, mas também o projeto e a construção de instalações militares, o desenvolvimento de armamentos de guerra, o levantamento da geografia dos territórios e a feitura de mapas. Todos esses saberes, que Hermand reunia como engenheiro militar, seriam de grande valia para assessorar dom Luís no desempenho de suas tarefas, afeitas às transformações que se passavam na Engenharia Militar desde a nomeação, por dom João V, de Manoel Azevedo Fortes como engenheiro-mor do reino. Em 1719, Azevedo Fortes tornou-se o primeiro regente da Aula Régia de Fortificação Militar, em Lisboa, e começou a preparar as mudanças que considerava necessárias à formação dos engenheiros militares portugueses segundo os mais modernos ensinamentos81 e sob forte influência da escola francesa.82 No contexto da criação da Academia Real da História, Azevedo Fortes foi nomeado pelo rei para se ocupar das questões de geografia, orientando a formação da biblioteca régia nessa área. Sob a proteção do rei, dentre outras iniciativas, ele publicou manuais técnicos a fim de normatizar a prática
Tratado do modo o mais facil, e o mais exacto de fazer as cartas geograficas..., por Manoel de Azevedo Fortes, 1722.
dos engenheiros militares portugueses, conforme as metodologias modernas, intitulados Tratado do modo o mais fácil de fazer as cartas geográficas assim de terra como de mar, e tirar as plantas das praças (1722) e O engenheiro português (1729).83 Esses manuais não eram simples adaptações da literatura consultada, especialmente a francesa. “A leitura dos tratados estrangeiros não era passiva. Dos vários textos consultados, compilavam-se e discutiam-se as questões mais relevantes, enfatizando o debate entre os vários autores e a própria opinião do lente sobre o assunto.”84 No começo de 1724, dom Luís da Cunha embarcou um óculo ou telescópio para o reino, produzido pelo matemático Hermand,85 “que serve para ver as cortaduras86 e outras obras que os sitiados fazem detrás das muralhas”.87 O óculo foi uma oferta para que o rei o testasse e se certificasse do engenho de seu criador, que entrava a seu serviço e deveria ser alvo de sua 113
Na página anterior, Manoel de Azevedo Fortes (1660-1749), engenheiro-mor do reino, operou importantes mudanças na formação técnica dos militares portugueses segundo os mais modernos ensinamentos em áreas científicas e técnicas.
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graça. Os percalços por que esse invento passou após chegar a Lisboa ilustram os paradoxos decorrentes do volumoso afluxo de instrumentos e novidades científicas que chegavam. Parece que, a princípio, o engenho não gerou muita atenção na corte, o mesmo ocorrendo só depois que dom Luís cobrou a opinião que dele se tivera no reino, mas, então, ninguém sabia onde o mesmo fora parar. Em agosto de 1724, outro sábio francês, Blumenstein, que já se encontrava em Lisboa a serviço do rei, escreveu a Hermand que, no palácio, “o vira deitado a um canto”. Baseando-se nessa informação, dom Luís supôs que, “a ser verdade, já o haviam tirado do caixão em que foi”. Argumentou, então, que “é preciso que apareça, pois era extraordinariamente grande para se perder, nem é natural que o dito Blumenstein inventasse o havê-lo visto”. Desolado, afirmou sentir “que se desencaminhe porque mr. Hermand estava com grande desvanecimento de que SMde. quisesse ver esta
sua curiosidade”.88 Em outubro, dom Luís escreveu que Hermand soubera que o rei “ainda não vira o seu óculo, o que é de grande mortificação para este homem”.89 Finalmente, recebeu notícias, em 1725, que “os livros de mr. Hermand pareceram bem e também o óculo que há poucos dias se achou entre outras encomendas e Blumenstein o armou”. Agradecido da oferenda, dom João V ordenou que se “poderá gratificar este homem o que lhe parecer”.90 O incidente permite se ter ideia do volume de objetos que chegavam, o que por vezes gerava descuidos e desatenções, assim como da importância do mecenato de dom João V nos círculos ilustrados europeus e do seu papel como árbitro desses inventos, apontando para sua erudição intelectual. De fato, o monarca português não era um assistente passivo da renovação intelectual que ocorria no reino. A educação que recebera em criança, “como majestoso ornamento de um Príncipe perfeito”,91 permitia que fosse crítico em relação às questões científicas. Nas áreas de astronomia, matemática, geografia e cartografia — todas ciências afins — tivera aulas com o então cosmógrafo do reino, Manuel Pimentel, tendo adquirido pleno domínio desses campos do saber. Merveilleux, que deixou registradas suas observações sobre o reinado de dom João V, exaltou-o como grande savant e colecionador. Sugeriu que os experts que estivessem em busca de apoio se colocassem a seu serviço, mas só os de grande talento, pois o monarca era um connoisseur e seu gosto superava o de todos os seus súditos.92 “Francisco Xavier da Silva descreveu dom João V como um verdadeiro bibliófilo, que só ficava satisfeito quando o título e a edição que ele desejava estava guardada com segurança no seu palácio”.93 Mas voltemos a 1723, quando dom Luís da Cunha conheceu Hermand. Nesse mesmo ano recebeu ordens do reino para que, sob a orientação do marquês de Abrantes, reunisse tudo o que dissesse respeito à organização das tropas francesas e seus uniformes, e ninguém melhor que Hermand para lhe assessorar nessa empreitada.94 Em outubro, conseguiu que o duque de Orléans autorizasse que ele fosse colocado a serviço de Portugal, passando os desenhos a serem copiados.95 Por ordem do regente, a fim de se dedicar às encomendas de dom João V, Hermand interrompeu a compilação de documentos sobre assuntos militares que vinha realizando para uso educativo do delfim.96 Nesse trabalho, contava
Planetario Lusitano para o ano de 1757 ... pelo padre jesuíta Eusebio da Veiga. 114
com a ajuda de D’Anville,97 pois, para pôr o futuro rei a par das manobras militares, mapas eram ferramentas indispensáveis, pois permitiam uma melhor visão das batalhas, dos movimentos das tropas, e da situação das fortificações. Guerra, geografia e cartografia eram temas constantemente interligados.98 O ano de 1724 foi de inflexão nas compras régias relacionadas aos campos da astronomia e da geografia. Nesse ano, sob a orientação dos jesuítas matemáticos, o rei estabeleceu um observatório no palácio real no Paço da Ribeira, que servia inclusive para seu uso privado, e deu início à construção de um outro grande observatório no Colégio das Necessidades.99 Além desses dois, já existia em operação em Lisboa o observatório do colégio jesuíta de Santo Antão, que abrigava as famosas Aulas de Esfera, e que reunia os inacianos mestres no campo da astronomia.100 Afinando-se com a sugestão do embaixador, de que para rebater a dissertação de Delisle e fazer o levantamento cartográfico do império era necessário realizar observações mais modernas, a instalação do observatório no Paço da Ribeira tinha como primeira missão o estabelecimento do meridiano de Lisboa. Para referendar a sua construção e muni-lo do que de mais moderno houvesse em equipamentos matemáticos, dom Luís da Cunha recebeu a seguinte ordem no mês de agosto: “que encarregue o mais capaz matemático da Academia de Paris [a] mandar-lhe fazer os instrumentos apontados no papel que acompanhava a mesma carta e que sejam com a maior presteza e perfeição que se possam obrar”.101 Esse savant seria encarregado “de fazer obrar perfeitamente os instrumentos que Sua Majestade deseja”, cujas especificações iam numa “Memória inclusa feita em língua latina”. Os instrumentos deveriam ser enviados assim que estivessem terminados, “sem que seja necessário que se acabem todos para virem juntos”. Dom Luís deveria escolher cuidadosamente quem lhe assessorasse no empreendimento. Assim, determinava-se que o dirigente “[d]este ministério [será] um dos matemáticos mais cientes e que os oficiais que obrarem os ditos instrumentos sejam os mais peritos”. Os trabalhos desses oficiais seriam assistidos pelo “matemático [contratado] para os dirigir e evitar que [os instrumentos] tenham qualquer imperfeição que possa haver, porque se deseja que sejam muito exatos e os melhores que aí haja feito”.102 Os inteligentes do reino, contudo, se incumbiam de determinar quais os objetos a serem
adquiridos e como deveriam ser feitos, mostrando-se afinados com o conhecimento mais moderno que então se produzia. Para nortear a construção dos observatórios em Lisboa, o embaixador também foi encarregado de buscar as plantas do observatório da Académie Royale des Sciences de Paris, cujo diretor era Cassini — “o mais capaz matemático da Academia de Paris".103 Com o mesmo fim, o conde de Tarouca conseguiu as plantas de alguns observatórios da Alemanha.104 Obedecendo imediatamente a todas as ordens, dom Luís da Cunha informou ao reino que estaria “fazendo a diligência mencionada no papel em latim que vem a ser o plano exterior e interior de todas as partes do observatório e os debrunhos de todos os instrumentos que nele se acham”.105 Juntamente com esses planos, diversos instrumentos matemáticos foram então encomendados em Paris. A primeira encomenda parece ter sido feita a Sully, oficial mecânico de Bordeaux, que tinha seu gabinete nas Galerias do Louvre. Esse artífice produzia pêndulas de vários tipos. As ordens que dom Luís recebeu determinaram a encomenda a Sully de duas pêndulas para medir longitudes no mar: “Uma há de ser das símplices e outra de quartos e horas, sem repetição.”106 Além dessas, Cassini fez outra pêndula para medir as longitudes; e Lefevre, um micrometre, invenção sua,107 e um meio-círculo azimutal. Depois de prontos esses instrumentos, dom Luís mandou também que fossem feitas as caixas para guardá-los. Essas foram encomendadas a Gilles-Marie Oppenord, arquiteto também pertencente ao círculo do duque de Orléans, conhecido por ter introduzido o estilo Regência.108 Três desenhos foram enviados a Portugal para que o rei escolhesse a caixa que melhor lhe aprouvesse — todas admiráveis por sua “novidade e perfeição” e, da escolhida, foi feito um modelo em tamanho menor. Depois de aprovado, o artífice começou a trabalhar no original.109 Antes de serem embarcados para Lisboa, todos esses instrumentos deveriam ser cuidadosamente testados e avaliados. As ordens eram claras: “Acabado qualquer instrumento VExa. o mandará examinar nas suas operações por pessoas certas na matéria e só com a sua aprovação acertará” o pagamento do mesmo.110 Cassini foi contratado para supervisionar a produção e testar vários dos instrumentos.111 O principal deles foi um grande óculo.112 115
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Jean Dominique Cassini (1625-1712) diante do observatório de Paris.
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Depois de reunir todas essas especificações, o embaixador começou as negociações para ajustar a feitura do instrumento. Primeiramente, antes de fechar o negócio, resolveu consultar mais uma vez D’Osenbray para que o instruísse sobre o preço, “reservando-se a liberdade de ainda pedir mais, porque, sendo a primeira vez que faz esta obra, não pode fazer cabal prejuízo sobre o seu trabalho”.116 Novamente observa-se, nesse trecho, que não se tratava apenas de copiar instrumentos já existentes, mas de inovar na sua produção, e nisso os savants do reino eram aptos a opinar junto aos franceses, buscando equipar o observatório português com o que de mais moderno pudesse ser produzido. Após muita negociação, o embaixador informou que com o “mesmo obreiro, com o qual veio a esta casa o dito Mr D’Osenbray”, ajustaram-se “o preço e o tempo de dar o tal instrumento na forma em que VSa. verá na sua obrigação junta, (...), visto que [em relação a]os outros instrumentos em que também trabalha não há de receber o preço senão quando os entregar”.117 Mas, apesar de todos esses cuidados, quando o grande óculo chegou a Lisboa e foi finalmente testado, percebeu-se que, infelizmente, apresentava vários defeitos.118 Dom Luís também estava aberto para conhecer novos inventos que pudessem vir a ser úteis aos intentos da Coroa portuguesa e muitos artífices iam procurá-lo para mostrar suas criações.119 Certa feita, um “mestre dos relógios da fábrica inglesa” trouxe-lhe um para testar. O embaixador contou que esse mesmo mestre “também me fez ver outro [relógio] que pretende não poder variar no mar e por este modo saber-se a longitude, senão precisamente, ao menos com pouca diferença (...) e a experiência que se fez levando-o em um coche correspondeu ao intento, porque sem embargo dos seus grandes movimentos não variou de um segundo e assim se deve fazer outra experiência no mar”.120 A busca por uma forma eficiente de medir as longitudes durante as viagens marítimas era um desafio maior, visto que as pêndulas desregulavam-se com o movimento dos navios.121 Não se tratava apenas de perscrutar os astros errantes e dessa forma medir as longitudes que permitiriam o aperfeiçoamento da representação dos territórios, mas de adquirir todas as novidades que contribuíssem para o avanço do conhecimento. Assim, dom Luís enviou um microscópio, criado por “Jacques Le Maire, nativo de Paris, aluno de mr. Butterfield, engenheiro inglês, um
Assim, em dezembro de 1724, dom Luís informou ao rei “que fiz consultar mr. Cassini sobre o grande e novo instrumento matemático que SMde. manda fazer e que o dito Cassini respondeu que havia muito tempo que cuidara nele por lhe parecer que seria de muito bom uso, mas que se não atrevera a mandá-lo obrar porque entendera que seria muito caro”.113 Sobre esse instrumento novas instruções foram emitidas do reino, especificando inovações a serem adicionadas. A essas especificações, Cassini juntou outras e dom Luís submeteu-as ao julgamento de outro savant, D’Osenbray.114 O conde de D’Osenbray, Louis-Léon Pajot, era um físico, membro da Académie Royale des Sciences de Paris, que se notabilizara pela invenção de um instrumento para medir os líquidos e outro para medir o vento.115 116
Plantas de fachadas do observatório de Paris, 1692. 117
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matemático célebre ”. De acordo com o diplomata, a invenção foi testada e aprovada pelo
O embaixador era detalhista nos contratos das encomendas e as autoridades reinóis chegaram a cumprimentá-lo, pois o “ajuste feito com os oficiais a respeito do trabalho dos instrumentos matemáticos está bem-feito”.131 Mas, mesmo com todos os cuidados, acidentes podiam acontecer a meio caminho, comprometendo a qualidade desses objetos. Foi o que ocorreu com o sextante que, a despeito de, em Paris, ter-se “reconhec[ido] estar fabricado com toda a diligência, perfeição e exação”, chegou a Lisboa empenado. Assim, lamentou-se que “muito tem custado é o reduzi-lo outra vez a sua perfeita retidão, que totalmente perdeu pelo incômodo que padeceu na viagem, principalmente no plano, entortando-se as travessas de ferro em que se apresenta”. Para evitar que isso se repetisse foi dada a ordem que se cuidasse não apenas de verificar as condições de produção, mas também “se recomenda muito a V.Sa. a cautela e cuidado na condução dos mais instrumentos para que não padeçam”.132 Em 1728, dom João V ordenou a produção de dois relógios, cujos mecanismos deveriam ser os mais modernos, encomendados ao relojoeiro parisiense Sieur Thiout. Suas caixas foram produzidas respectivamente por Sébastien-Antoine Slodtz e Paul-Ambroise, no estilo rococó. “Esse relógio monumental, de 11 pés de altura, era encabeçado pelo brasão real português e tinha uma base de um mármore escocês bastante raro.” A caixa, feita de bronze, lápis-lazúli e mármore, ostentava uma alegoria ao casamento do delfim, dom José, com a infanta espanhola Maria Anna Vitória de Bourbon.133 Ciência, refinamento, luxo e gosto entrelaçavam-se nesses objetos. Na Itália, dom João V tornou-se mecenas do astrônomo Francesco Bianchini, proteção intermediada por João Baptista Carbone.134 Em 1725, o astrônomo mandou de presente ao rei um “raro telescópio, produzido segundo as descobertas de Newton, e produzido pelo astrônomo e filósofo Eustachio Manfredi (1674-1739) da Accademia delle Scienze de Bolonha”.135 Segundo as especificações de Carbone, para que tivessem qualidade e precisão, o italiano mandou construir também dois globos e uma esfera armilar para comporem a biblioteca régia.136 Com o financiamento de dom João V Bianchini publicou, em Roma, o livro Hesperi et phosphori nova phaenomena sive observations circa planetam Veneris, relativo às observações astronômicas que realizou de Vênus, também custeadas pelo rei. Em retribuição, na obra, “o monarca português é elogiado nos termos mais
insigne Pe. Sebastien, carmelita, igualmente bom religioso que inventor e professor de máquinas e instrumentos matemáticos: ele mesmo me falou a favor do oficial que o fez, o qual abalado da fama que se tem estendido da proteção que el rei N.S. dá às ciências e às artes, desejaria ir exercitar a sua em Lisboa porque me deu a memória que remeto a V.S. Se se aprovar a sua proposição farei os exames convenientes. 122
Observa-se que não era apenas a Coroa que mandava contratar esses savants, mas vários apresentavam-se espontaneamente, sabedores do patronato de dom João V à ciência e às artes. Contudo, o embaixador, como um bom expert, considerou alguns desses inventos engenhosos mas impraticáveis. Foi o que ocorreu com a “proposta de mr. Mandel de uma invenção para resgatar com um aparelho despojos de navios naufragados”. Dom Luís contou que seu autor o procurara para vender o invento ao rei e “conseguir uma licença para ir testá-lo junto à costa do Brasil”, mas ele não afiançou a iniciativa.123 Em Paris, dom Luís ainda mandou construir um quarto círculo mural,124 um sextante,125 um quadrante de três pés e, apesar de os desenhos deste, como dos demais, terem vindo do reino, foi recomendado que “se acaso algum dos matemáticos da Academia Real quiser neste instrumento acrescentar ou mudar alguma coisa para maior cômodo do mesmo instrumento VExa. lho conviria”.126 Nicolas Bion (1652-1733), “importante construtor francês de instrumentos”,127 fez um sextante e uma esfera armilar, “composta de três círculos, que serve para examinar as horas, quartos e minutos de cinco em cinco”. Quando estivesse pronto, “reconhecendo-se estar feito com a devida exação”, o instrumento deveria ser imediatamente enviado a Portugal.128 Por essa razão, todos os instrumentos deveriam ser examinados “nas suas operações por pessoas certas na matéria e só com a sua aprovação acertará” a compra.129 Outra esfera armilar foi feita por Maraldi, que a completou em 1728, segundo as especificações que o padre Carbone redigira em Portugal.130 Todos esses instrumentos eram necessários e foram utilizados para estabelecer o meridiano de Lisboa e, assim, dar início ao levantamento cartográfico do Brasil, como advogava dom Luís. 118
encomiásticos sendo a sua acção na promoção das ciências comparada à dos mais famosos mecenas europeus”.137 Dom João é dignificado não só no texto, como também é exaltado na imagem que ilustra o frontispício da obra em que vários adereços remetem a seu patronato despendido no progresso da geografia em geral e à astronomia em particular, bem como à cultura do próprio monarca nessas áreas.138 A cena se centra no retrato do rei, sendo ele sustentado por uma musa que aponta para o futuro, enquanto, no céu, um anjo é o arauto que noticia seu patronato aos quatro cantos do mundo. Esse carrega uma coroa de louros por sobre a cabeça de dom João, fazendo uma alusão a César, imperador dos imperadores. Vários objetos relacionados às ciências da geografia e da cosmografia estão dispostos na imagem. Outra musa, posicionada aos pés do retrato do soberano, lhe oferece uma esfera armilar; um compasso, um telescópio e uma obra de astronomia estão dispostos a seus pés; outro anjo lhe oferece um globo (talvez o planeta Vênus, tema da obra) e, ao fundo, Atlas sustenta, em seus ombros, a Terra. por ordem de dom João V, alguns atlas de conteúdo puramente cartográfico, assim como outras publicações que misturassem estampas e mapas. Dentre as publicações encomendadas, destacam-se o Atlas, em sete volumes, produzido por Guillaume Delisle, em 1721, por encomenda direta de dom Luís da Cunha,142 e um outro que estava à venda em um leilão em Amsterdã e que, a 13 de janeiro de 1722, o conde de Tarouca recebeu ordens para arrematar.143 Tratava-se do Atlas Boendermaker, que revela com maestria a íntima proximidade entre uma coleção de estampas e a cartografia.144 Sua base era “a classificação por país e por continente e a associação entre as cartas, que servem de ponto de partida, e as representações topográficas, de arquitetura, de acontecimentos históricos e os retratos dos que os ‘animam’, no sentido próprio do termo, segundo Theodorus Boendermaker”.145 Tarouca descreveu que “o Atlas tinha tanto de raridade, como decerto pompa”, porque continha 103 volumes.146 Custara 8.900 florins, mas seu preço final deveria se elevar, pois ainda “era necessário encaderná-lo e pôr em boa ordem os volumes que ainda não estão formados”. Atestava seu valor o fato de “as pessoas inteligentes o prefer[ir]em muito a um que el rei da Polônia comprou há anos”,147 e de que “concorriam a vê-lo muitas pessoas das principais da terra”.148 Infelizmente, grande parte
Mapas e estampas Importante artefato da biblioteca régia foi a coleção de estampas que abrangia uma ampla variedade de itens e temas, como gravuras de artistas, retratos de pessoas de d stinção, mapas, vistas de cidades, planos de fortificações etc. Uma coleção de estampas constituía um catálogo visual amplo que ilustrava o estágio do conhecimento humano.139 O colecionismo régio nessa área se acentuou a partir de 12 de julho de 1724, quando dom João V enviou uma ordem a todos os seus embaixadores, encaminhada por meio do secretário de Estado, Diogo de Mendonça Corte Real, para que adquirissem todas as gravuras existentes em seus países de residência, produzidas nos últimos trinta anos.140 Seis meses mais tarde, a 30 de janeiro de 1725, a ordem foi ampliada para abarcar “todas as gravuras que se puder encontrar, desde todos os tempos que elas foram inventadas”.141 Essas duas instruções deram novo impulso ao colecionismo régio, mas, como era usual, as compras não se restringiram às estampas, estendendo-se a tudo que interessasse ao intelecto, ao luxo e ao gosto. Além das estampas propriamente ditas, foram comissionados ou comprados pelos diplomatas portugueses, 119
Imagem satírica da "Passarola" inventada pelo padre Bartolomeu de Gusmão em 1709.
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Atlas compilado por D’Anville, edição em três volumes, c.1724-5. Na página seguinte, Hemisfério setentrional ou as terras árticas, de Delisle: uma das cartas do Atlas.
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dar coerência ao que restara do precioso Atlas, ordens vieram do reino, ordenando ao embaixador que “VSa. só compre aquelas estampas que interromperem a boa ordem que se requer na coleção, (...) citando-se a página em que está no mesmo Atlas”.1511 Em outubro de 1723, Tarouca propôs ao rei que comprasse uns globos de Coronelli, à venda nos Países Baixos, onde ele servia na ocasião. De acordo com Tarouca, “o intento que SMde. tem de formar uma grande biblioteca e o muito que eu estimo haver concorrido para esse efeito na execução das suas reais ordens, me faz desejar que se ponham nela uns excelentes globos que se hão de vender aqui nestas Províncias, feitos pelo padre Vincenzo Coronelli”.152 O embaixador informou ainda que os que estavam à venda em Amsterdã eram “maiores que uns que conheço do conde da Ericeira, porque têm cinco palmos de diâmetro e estão muito bem montados. Entende-se que o preço há de ser entre trezentos e quatrocentos mil reis”.153 Dom João V, no entanto, enviou ordens, em maio do ano seguinte, para que os globos não fossem adquiridos.154 Tarouca, porém, talvez sentindo-se culpado pela perda de grande parte do Atlas e achando-os “tão raros pela grandeza e [porque] eram aqui tão geralmente gravados”, e como não havia “nem cabia no tempo ter resposta”, já os havia comprado por sua conta e risco. Enviou ao reino “no caso que SMde. queira para a Real Biblioteca, da qual na verdade me parece que são dignos”.155 No início de 1724, de Paris, dom Luís da Cunha escreveu a dom João V que o abade de Vayrac propusera a venda de um atlas ao conde da Ericeira.156 Em resposta, no mês de março, o embaixador recebeu ordens para o adquirir para o rei. Cauteloso, afirmou que “eu não os comprarei sem os fazer examinar por pessoa inteligente, por que não tenho boa opinião da probidade do dito abade,157 que fez o ofício de espião mal premiado”.158 O exame e a aprovação foram rápidos porque, em maio, já despachara o Atlas, encarregando Francisco Mendes de Góis de levar os seus pesados volumes. Iam embarcados no navio comprado na França exclusivamente para o transporte das compras régias.159 Entretanto, o barco naufragou e, apesar das primeiras notícias de que o Atlas não se molhara,160 tendo sido resgatado do naufrágio, verificou-se que sofrera danos com a água. Parece ser este o Atlas, ou Recueil de cartes géographiques, cuja autoria Jean-Baptiste Bourguignon
desse Atlas se perdeu durante um incêndio ocorrido na casa de Tarouca, em Haia.149 “Não puderam salvar-se mais que 60 volumes, [e] esses truncados”. O embaixador lamentou profundamente “que ficara uma coleção (...) imperfeita e pouco estimável”, mas, para remediar o dano, propôs que se “lha juntassem mapas e estampas que podem descobrir-se e tornar a fazê-lo tão magnífico como era”.150 Seguindo em parte esse conselho, para 120
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d’Anville reclama para si e que hoje se encontra na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.161 Trata-se de um “Atlas que em 03 volumes [D’Anville] fez para o sr. embaixador”.162 O primeiro volume, intitulado Mundo, reúne as cartas gerais, a Europa e suas principais divisões, detalhes da Ásia, África e América e finaliza com mapas de cartografia de história antiga. O segundo abarca a França, e inclui um mapa geral, mapas históricos, plantas das províncias, rios e uma extensa cartografia de cada uma das dioceses do país. Já o terceiro volume refere-se à Alemanha, Itália, Espanha e Ilhas Britânicas, incluindo cartas gerais ou de áreas específicas desses países. Nenhum desses mapas, no entanto, era de autoria de D’Anville, cuja cartografia por essa época era incipiente, praticamente se restringindo a representações de geografia da Antiguidade, especialmente Gália e Grécia, não tendo se aventurado ainda pela geografia moderna. Mas ele era um jovem cartógrafo e podia ser empregado como expert ou compilador de mapas. Os mapas que constam do Atlas eram, com raríssimas exceções,163 em sua maioria de autores franceses, quase todos de autoria de Nicolas Sanson e Guillaume Delisle, outros ainda de Nolin, hidrógrafo do rei, Bernard Jean Jaillot,164 e Nicolas de Fer.165 Portugal aparece apenas em dois mapas, como parte integrante da Espanha, como era comum na cartografia até o início do século XVIII, o que explica o interesse nacionalista português de realizar sua cartografia de forma autônoma. Há um mapa do país de autoria de Placide,166 de 1700, e um da foz do Tejo de De Fer, que ostenta algumas vistas de Lisboa. O que D’Anville fez foi compilar as melhores cartas existentes, mandando encaderná-las por Padeloupe le jeune, em seu ateliê na place de la Sorbonne. “Antoine Michel Padeloupe, comumente chamado Padeloupe le jeune, que sucedeu Luc Antoine Boyet como ‘encadernador do rei’ [1733], era originário de uma família que ostentava cinco gerações sucessivas de papeleiros e encadernadores.”167 Não é improvável que tenha sido D’Anville quem atestou a qualidade do Atlas de Vayrac para dom Luís da Cunha. De fato, alguns anos depois, Marco Antônio de Azevedo atestou sua competência como expert. Quando este escreveu a Francisco Mendes de Góis em Paris, encomendando um Atlas para o cardeal da Mota, aconselhou-o a procurar D’Anville, “que como se entende na matéria sabe escolher as cartas mais exatas”.168 Seu Atlas, ou Recueil de cartes géographiques,
Na gravura de Leclerc, máquinas para erguer as duas grandes pedras no frontão da entrada principal do Louvre.
Pavilhão dos globos Coronelli, em planta do gabinete de Robert de Cotte. Em Lisboa, globos como esse podem ser apreciados atualmente na Sociedade de Geografia. 122
dada a qualidade dos mapas por ele selecionados, enriquecia a biblioteca régia e engrandecia seu nome junto aos inteligentes portugueses.
O embaixador e o cartógrafo Foi então, no contexto da recuperação do Atlas que se molhara, no primeiro quartel do século XVIII, quando se avolumaram as encomendas científicas, que dom Luís da Cunha se aproximou de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. A aproximação não é de se estranhar, estando o embaixador em contato com Delisle, Cassini e Hermand, intelectuais do círculo da casa de Orléans, à qual D’Anville também estava associado. E, certamente, assim como acontecera com os demais, precisou da licença do duque para recrutá-lo ao serviço de dom João V. Não se sabe exatamente quais desses sábios apresentou D’Anville ao embaixador. Tanto pode ter sido Delisle, com quem dividia a instrução geográfica do delfim; ou Hermand, que era seu vizinho nos gabinetes do Louvre e com quem partilhava a produção dos volumes sobre a história militar francesa também para o delfim, ou ainda Cassini, que foi quem entregou a dom Luís os planos do Observatório Real,169 pois uma das primeiras tarefas confiadas a D’Anville pelo embaixador foi copiar esses planos, com os desenhos dos instrumentos matemáticos do observatório.170 Não é de se estranhar que D’Anville tenha sido arregimentado por dom Luís, visto que tanto ele quanto Delisle, Hermand e Cassini pertenciam ao círculo de intelectuais a serviço da casa do duque de Orléans, que pode ter sido quem o indicou diretamente ao embaixador. Se não se sabe quem os apresentou ou a data exata em que ambos se conheceram, sabe-se que D’Anville foi, ao longo do ano de 1724, arregimentado por dom Luís da Cunha para se colocar a serviço de dom João V, primeiramente auxiliando os demais savants do grupo nas tarefas que já realizavam para o rei e, com o passar do tempo, adquirindo funções de maior destaque. Não foi possível precisar o mês da sua contratação para que copiasse os desenhos do observatório fornecidos por Cassini, mas em fevereiro de 1725 o embaixador informou ao reino que “D’Anville corre com a obra dos instrumentos matemáticos”,171 do que se infere que ele já havia sido contratado há algum tempo para realizar 123
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estratégias de ascensão. O geógrafo, por sua vez, encontrava no rei de Portugal um patrono ilustre e magnânimo em suas ofertas e uma porta de acesso às informações geográficas mais recentes das vastas possessões portuguesas, essenciais para a construção de sua geografia de gabinete. As referências a essa parceria vêm à tona, de modo intermitente, nos papéis dos dois, embora grande parte deles tenha se perdido. No levantamento de seus documentos existentes na embaixada em Paris, que foi realizado após a morte do embaixador por seu sobrinho, há referência a um maço com vinte cartas de D’Anville, que infelizmente não foi localizado.175 À medida que o tempo transcorria, dom Luís foi comprometendo D’Anville em todos os trabalhos de natureza geográfica, matemática e artística de que fora incumbido em Paris. De tal modo que, depois de ter recebido do reino, em 14 de novembro de 1725, “exemplares das observações que se fizeram do eclipse” da Lua em Lisboa, ocorrido em 1º. de novembro do ano anterior, encarregou o geógrafo de “os fazer ver na Academia Real das Ciências”.176 Essa foi a primeira observação astronômica dos padres matemáticos Carbone e Capassi, com vistas ao estabelecimento do meridiano de Lisboa e, ao que tudo indica, já utilizando novos instrumentos vindos
esse trabalho. Em julho de 1724, dom Luís noticiou ao rei que, quanto às estampas, os “dois livros que contêm o estado de gens d’armerie, carabineiros e cavalos ligeiros estão acabados e mr. Hermand nos mostrou”.172 Durante 1724, o embaixador também iniciou a compra de uma coleção de estampas na Casa Mariette, na qual a cartografia era tema correlato. Foi assim que, nessa ocasião, “monsieur D’Anville e mr. D’Hermand fica[ra]m encarregados de continuarem a coleção [de estampas], com bom gosto e ordem da sua encadernação, porque de uma e outra coisa têm muita inteligência”.173 Pelo seu serviço nessa etapa da coleção de estampas e na restauração do Atlas, D’Anville “mand[ou] pedir vinte pistolas”, e dom Luís — ainda que o comissionasse por sua conta sem ordem expressa do reino — a fim de assegurar a qualidade das tarefas, “esper[ava] que SMde. leve a bem, que lhas mandasse dar”.174 Com interesses em comum e servindo-se dos mesmos círculos sociais, o embaixador e D’Anville iniciaram, a partir de então, profícua e longa parceria. Dom Luís da Cunha encontrou em D’Anville um geógrafo novo, ansioso por reconhecimento, pois, sendo ele alheio às tradicionais famílias de geógrafos franceses, o patronato de dom João V vir-lhe-ia a calhar em suas
Medição do meridiano de Paris, em gravura de 1744. 124
da França, visto que coincide com a instalação do observatório no Paço da Ribeira.177 Como D’Anville não era sócio dessa Academia, não poderia ele mesmo ler a memória, tendo sido somente seu portador. Por isso, reportou dom Luís, “a observação do eclipse da lua que VSa. mandou foi lida na Academia de Ciências pelo diretor e todos a louvaram, mas muito mais a atividade com que VMde. protege as mesmas ciências”.178 A descoberta de métodos mais precisos para a medida das longitudes era então uma questão “em que se engajaram os maiores soberanos da Europa”179 e disso não se furtava dom João V, evidenciando seu mecenato frente aos acadêmicos parisienses e colocando alguns deles ao seu serviço. Em sessão no dia 9 de dezembro, o diretor da Academia, Cassini, leu as observações do eclipse da Lua realizadas em Lisboa, junto com as de Maraldi e Delisle, que o avistaram em Paris. As atas da Academia, no entanto, nos relatos sobre o que ocorrera nesse dia, não dão destaque às observações feitas em Lisboa. Além das realizadas em Paris, registra apenas as ocorridas em Lima.180 Nessa mesma ocasião, também foi ordenado a dom Luís da Cunha que procurasse as memórias das observações que “se fizeram no observatório [de Paris], como também as do íntimo satélite de Júpiter feitas no mesmo observatório, assim no ano passado como neste”,181 para serem comparadas com as que então se faziam em Portugal. “Entre 1724 e 1729, os jesuítas italianos a serviço de dom João V realizaram várias observações astronómicas, não apenas em Lisboa mas também noutras partes do reino”.182 Por meio de D’Anville, o embaixador conseguiu mais uma vez as memórias pedidas e as enviou a Lisboa. As observações sobre o eclipse da Lua foram fornecidas por Cassini que “me mandou dizer que me daria também as observações que se fizeram do mesmo eclipse e as do íntimo satélite de Júpiter feitas assim no ano passado como neste”.183 Quando essas memórias chegaram ao reino,184 em 1725, o embaixador foi informado pelo secretário de Estado que “a observação do eclipse da lua que VExa. me mandou feita nesse observatório por mr. Maraldi e pelo mesmo comparada com a [que] daqui se mandou [e] foi recebida com muito aplauso, assim por ser feita com tanta miudeza e exação como se costuma, como também por se conformar em muitos pontos com a mesma que se remeteu a VExa.”. O estabelecimento do meridiano de Lisboa era fundamental para iniciar o levantamento cartográfico
do império português. Assim, comparando as medições entre as duas cidades, pôde-se “julgar com maior fundamento qual seja a diferença entre os meridianos de Lisboa e Paris, a qual até agora se lhe dava a maioria de quase dois minutos, por não se ter recebido até o presente observação alguma feita nesse observatório com o qual se pudesse fazer acertada comparação”. Tomar o meridiano de Lisboa e toda a cartografia daí advinda era assunto de Estado, por isso o secretário recomendou a dom Luís que, daqui “por diante, se comunicarão [as observações] feitas com o possível cuidado e diligência e conforme a vontade de SMde. se poderão confirmar e aperfeiçoar as notícias sobre a diferença”.185 Em 3 de fevereiro de 1725, o embaixador enviou as plantas do observatório da Académie Royale des Sciences de Paris,186 com o desenho de seus principais instrumentos, e deu notícias da feitura dos demais instrumentos necessários que vinham sendo feitos pelos principais artífices locais para equipar o observatório português.187 D’Anville contribuiu em todas essas tarefas. Copiou os planos do observatório, supervisionou os desenhos e a fabricação dos instrumentos e, ainda, a organização das estampas.188 Junto com Hermand, ajudou na organização dos vinte volumes que compuseram essa coleção, adquirida na Casa Mariette.189 Em 1725, dom Luís da Cunha viu as relações diplomáticas entre a França e Portugal se deteriorarem, devido a um incidente diplomático, quando da apresentação do embaixador francês na corte lisboeta. Preocupado e insone, resolveu distrair-se esboçando um plano para estabelecer uma ligação terrestre entre Angola e Moçambique, duas colônias portugueses, situadas respectivamente nas costas leste e oeste da África. D’Anville foi seu principal colaborador na empreitada.190 Intitulado Projeto de um caminho para ligar estabelecimentos portugueses da África, ele continha um mapa e uma memória anexos, ambos de autoria do geógrafo.191 Era este o mapa que, em 1º de setembro de 1725, D’Anville apresentou na Académie Royale des Sciences de Paris, com o qual pôde contar com o mecenato de dom João V. Ao ter que deixar Paris de forma precipitada antes do fim de 1725 devido ao rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, dom Luís confiou a D’Anville a tarefa de substituí-lo na supervisão das compras e dos serviços relacionados à biblioteca régia,192 como a produção de índices para a coleção, que 125
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
os Mariette, pai e filho, faziam, encarregando-o “da perfeição e da expedição” dos mesmos.193 De Bruxelas, o embaixador acompanhava o trabalho de D’Anville, ainda que outorgando-lhe bastante liberdade de ação e endossando-lhe as decisões.194 Em fins de 1725, certamente por ter percebido que os artífices encarregados da construção dos instrumentos não eram capazes de realizar o trabalho com acerto, D’Anville decidiu “empregar Bion na encomenda de alguns instrumentos astronômicos”, em aceitação à sugestão do geógrafo. Em janeiro de 1726, dom Luís escreveu ao secretário de Estado, enviando-lhe “a carta que me escreveu D’Anville na qual VSa. tornará a ver a razão por que foi preciso” contratar Bion.195 Não se sabem as razões apontadas pelo geógrafo, mas é patente a confiança que dom Luís nele depositava. Nesse sentido, escreveu ao reino que, estando D’Anville supervisionando as compras régias em Paris, “não faltará a minha presença”.196
negociações, essa defesa de uma política de abandono da geografia como ferramenta diplomática representou, da parte do embaixador, um recuo breve, momentâneo e estratégico, provocado principalmente pela falta de bons mapas portugueses que pudessem se contrapor às pretensões espanholas sobre as regiões em litígio. De fato, dom Luís da Cunha continuou a se valer da cartografia como expediente fundamental das negociações, e D’Anville, que ao longo de 1724 e 1725, ganhara a confiança do embaixador, foi quem lhe forneceu os subsídios de como conduzir geograficamente as negociações diplomáticas com a Espanha, que não se restringiam ao território da Colônia do Sacramento. Além de todo o apoio na supervisão da aquisição das estampas e dos instrumentos matemáticos, por encomenda do embaixador, o geógrafo comporia um estudo específico sobre o meridiano de Tordesilhas. Ainda que dom Luís argumentasse que as medidas de um meridiano não poderiam pôr em xeque o que ambas as Coroas haviam estabelecido nos tratados anteriores, ele procurou se inteirar da questão do posicionamento geográfico do meridiano de Tordesilhas e das suas implicações sobre os territórios das conquistas portuguesas. A seu pedido, D’Anville realizou um trabalho profundo e detalhado sobre a questão, enveredando por argumentos tanto geográficos quanto diplomáticos. Documento até então desconhecido do público, o estudo do geógrafo era subproduto direto da dissertação de Delisle. Enfim, ao contrário do que sugerira ao secretário de Estado, o embaixador não deixou os geógrafos em paz, cercando-se de argumentos geográficos que subsidiassem os negociadores portugueses no debate. Em 1776, D’Anville relata em carta a Charles Gravier, conde de Vergennes, ministro dos Negócios Exteriores desde 1774, com a ascensão de Luís XVI, “que é real que havia feito há alguns anos, [um trabalho] por solicitação de dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal, sobre os limites do Brasil, contestados entre as duas Coroas de Espanha e Portugal”.200 Também em sua Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, D’Anville se refere ao fato de ter sido solicitado a “tratar desse assunto”.201 Nesse documento, não só revela que emitiu sua opinião sobre o tema, como também o fato de ter tido acesso a documentos oficiais, portugueses e espanhóis, para embasar o seu parecer. Esses certamente foram-lhe fornecidos por dom Luís da Cunha.
Tordesilhas Em 26 de maio de 1724, dom Luís da Cunha recebeu uma ordem do secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real para que interpusesse “o meu parecer à vista dos ofícios que passou o embaixador de Castela, da resposta que se lhe deu, e do papel que sobre o mesmo negócio VSa. fez”.197 Com um histórico das negociações travadas entre as duas partes sobre a Colônia do Sacramento,198 Corte Real buscava trazer a disputa desse território para o campo da diplomacia, afastando-a da discussão geográfica, que fragilizava a posição portuguesa, devido à dissertação de Delisle. Corte Real concluíra “que o tratado de Utreque resolvera o problema, substituindo-se esse acordo ao processo difícil e controverso de determinação da linha de Tordesilhas. Não cabia, portanto, aos geógrafos decidir a questão”.199 Acompanhava o texto um mapa da região do rio da Prata com a proposta portuguesa e a espanhola para o meridiano de Tordesilhas. Essa última situava a Espanha mais a leste, diminuindo assim as possessões lusas. Dom Luís acreditava que não se deveriam cansar os geógrafos com o tema e sim fugir deles, deixando a questão ser resolvida com base, exclusivamente, em acordos diplomáticos. Na realidade, ainda que considerasse importante o uso da cartografia para guiar as 126
A Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille é um manuscrito de próprio punho do geógrafo, em dez fólios, e, ao que tudo indica, é o esboço do trabalho encomendado pelo embaixador e que Jaime Cortesão tanto buscara na Bibliothèque Nationale da França. Esse documento, no entanto, hoje faz parte do acervo da Newberry Library, em Chicago. São pequenas tiras de papel, por vezes reaproveitadas, com muitos cortes e correções, uma apresentação típica dos manuscritos que D’Anville produzia ou copiava para subsidiar seu trabalho.202 Nesse, ele discute os argumentos existentes sobre o real posicionamento do meridiano de Tordesilhas, indicando a melhor estratégia para Portugal adotar nas negociações com a Espanha.203 Seu objetivo era “expor os meios geográficos que são a favor e contra nas diferenças que há entre” as duas cortes.204 Insistia no primado da geografia como norteadora das suas considerações, sublinhando, na conclusão, “que a geografia me dita sobre o que interessa à Demarcação. Isso não depende da vontade humana. A intenção e a habilidade não podem nada sobre as circunstâncias que foram discutidas”.205 Sua reflexão, além de se situar na esteira da dissertação de Delisle sobre as longitudes, baseava-se nas recentes medidas dos meridianos tomadas pelos geógrafos em várias partes do globo, o que era um novo ingrediente nas disputas territoriais entre portugueses e espanhóis. Jaime Cortesão intitulou essa onda como “cultura da longitude”.206 Para os portugueses, o estabelecimento geográfico do meridiano de Tordesilhas permitiria saber se o posicionamento das terras portuguesas embasaria sua pretensão sobre a Colônia do Sacramento e territórios adjacentes e discutir se aquela divisão ainda estaria válida, coincidindo ou não com o domínio que ambas as Coroas de fato haviam colonizado ao longo dos séculos precedentes. O documento se inicia com um histórico das descobertas e das primeiras negociações entre Portugal e Espanha, distinguindo e descrevendo os termos da Bula Papal de Alexandre VI e do Tratado de Tordesilhas, ambos assinados no contexto do expansionismo marítimo do século XV. D’Anville destacou o fato de que o tratado fora vago em não definir com clareza a ilha do arquipélago a partir da qual a medida deveria ser estabelecida, o que complicava ainda mais a discussão sobre o posicionamento do
Manuscrito da Discussion géographique sur la ligne de Démarcation redigido por D’Anville para dom Luís da Cunha.
meridiano. O tratado, referia-se apenas a “trezentas e setenta léguas das ilhas de Portugal”.207 Seria do interesse desse país, de acordo com o geógrafo, tomar a medida a partir da ilha situada mais a ocidente do arquipélago, denominada Santo Antônio, enquanto os espanhóis teimavam em fazer a medição a partir da ilha de São Nicolau, mais recuada, o que lhes era mais favorável. D’Anville destaca ainda que o importante para Portugal era poder reivindicar as terras em torno da Colônia do Sacramento, como contíguas ao Brasil.208 Faz então uma longa discussão de natureza geográfica, baseando-se em vários autores e navegantes, para 127
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O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia
das as Filipinas, que no acordo de Saragoça ficara sob soberania espanhola.216 A partir de então, em linhas gerais, dom Luís da Cunha apoiou-se nesses pontos levantados por D’Anville para encaminhar as negociações: o Tratado de Tordesilhas não tinha mais validade na região de Sacramento; a posse portuguesa da Colônia do Sacramento estava assegurada pelo Tratado de Utrecht, ainda que a mesma estivesse fora dos domínios portugueses estabelecidos em Tordesilhas; e as Molucas claramente eram possessões portuguesas. Portanto, as negociações deveriam abarcar todas essas questões e não se limitar ao território da Colônia, e as Molucas seriam uma das moedas de troca, defendendo a ideia de que a Espanha não podia reivindicar ganhos nos dois lados do globo. Examinando os prós e os contras alinhavados por D’Anville, segundo dom Luís, Portugal poderia se valer tanto da geografia quanto da diplomacia para garantir a posse da Colônia do Sacramento, demonstrando a ilegalidade do pagamento feito em troca das Molucas.217 Há ainda um último ponto a considerar. Ao discutir o posicionamento da linha de Tordesilhas a partir do arquipélago de Cabo Verde, D’Anville faz uma advertência que, segundo ele, seria do interesse de Portugal. Recomenda que a distância de 370 léguas seja medida não a partir do Equador, mas “sobre o paralelo de 17 graus de latitude”, onde estava situado o arquipélago. Por que razão? Segundo ele, partindo do pressuposto de que a Terra não era uma esfera perfeita, os intervalos de longitude seriam menores nessa altura e isso deslocaria a linha algumas milhas a mais para o ocidente. Ele então advertia: “esse debate não podia deixar de lado o novo sistema dos inteligentes sobre o formato da Terra”.218 Ao contrário do que dom Luís da Cunha advogara até então, as reflexõs de D’Anville sugeriam que a negociação dos limites na América não poderia se ater apenas ao que fora estabelecido nos tratados anteriores, mas também no que dizia respeito à geografia. A associação dos dois, a partir dos anos 1720, que culminará na produção da Carte de l’Amérique méridionale, é testemunha inconteste do reconhecimento por parte do embaixador da ligação intrínseca e importante entre diplomacia e cartografia. A essa última devotará cada vez mais atenção, contribuindo diretamente para a produção de uma cartografia do Brasil que subsidiasse as futuras negociações luso-espanholas acerca de suas fronteiras na América do Sul.
estabelecer o posicionamento das ilhas de Cabo Verde, especialmente a de Santo Antônio. A partir dela, sugere que, na discussão, um próximo passo seria situar as 370 léguas. Nesse momento, como era afeito a seu método, faz uma reflexão sobre medidas, pois as léguas, como todas as demais, “variavam sem cessar, seguindo os diferentes séculos e os diferentes países”,209 “sendo o termo lieue/léguas muito ambíguo em si mesmo pela diversidade que esta medida encontra”.210 Desse modo, conclui que a medida mais conveniente seria a légua espanhola, utilizada no tratado, que equivaleria a quatro milhas romanas, ou a 19 lieues francesas. Tomando-se a circunferência da Terra, isso corresponderia, por grau de meridiano, a 17 lieues e meia.211 De um ponto de vista claramente favorável a Portugal, aponta essa estimativa como a mais vantajosa para essa Coroa. Em seguida, estabelece o posicionamento da linha de Tordesilhas sobre o território americano, o que, segundo ele, demandava uma discussão anterior pela qual primeiro situaria a posição da costa do Brasil. Depois de lançar mão das tábuas do cosmógrafo-mor de Portugal, Manuel Pimentel; das observações astronômicas que George Marggraf tomara no nordeste, durante a invasão holandesa; do mapa do brigadeiro português José da Silva Pais; das tábuas de Cassini, conclui que a costa estaria a 36º e 20’ e a linha posicionada a 29º e meio de longitude.212 Ou seja, o meridiano de Tordesilhas se estendia da embocadura do rio Amazonas, junto ao rio de Cayté, até o cabo de Santa Maria, na entrada do rio da Prata.213 D’Anville passa então a examinar a linha do outro lado do globo, no mar do Sul (Pacífico). Um dos grandes pontos levantados por ele, e que dom Luís repetirá à exaustão, era estender a discussão não apenas à América, mas também ao oceano Pacífico, onde as Molucas eram disputadas. D’Anville adverte que, havendo favorecimento dos espanhóis “no que concerne à América meridional, os portugueses tinham igual razão em reclamar as Filipinas”.214 Nesse aspecto, assegurava que “as Filipinas inteiras, mais ainda uma parte de espaço de mar que as separa das ilhas Marianas, também estão na parte portuguesa”.215 Isso era uma grande novidade, já que os portugueses tinham comprado as Molucas pelo Tratado de Saragoça. Ele não tinha dúvidas: não só as Molucas pertenciam geograficamente a Portugal, não necessitando para isso reivindicar a compra que dom João III fizera a Carlos V, como to128
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Na página anterior, Émilie du Châtelet (1706-1749), física e matemática.
C ONTINENTE de PAPEL Parte II
UM SABER MODERNO A Carte de l’Amérique méridionale
Somente a partir de uma leitura crítica
o início de sua carreira, D’Anville tornou-se bastante renomado pela produção de uma cartografia histórica, ligada à sua atuação na Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, pela qual buscava completar o estudo da história por meio da geografia. No entanto, ele também se dedicou à geografia moderna, orgulhando-se de “usar os meios que se pode ter para enriquecer a Geografia pelos novos conhecimentos”.1 Nesse campo, ele reservava um lugar especial à Carte de l’ Amérique méridionale, com primeira edição em 1748, apontando em seus escritos algumas das razões para isso. Em sua visão, o continente sul-americano permitiu, como nenhum outro, o avanço dos conhecimentos geográficos disponíveis em sua época, pois,
da cartografia antiga pelo geógrafo moderno, com melhorias, acréscimos e esclarecimentos, uma nova carta poderia ser realizada. [...] Porém, a Carte de l’Amérique méridionale exigia do cartógrafo uma postura radicalmente diferente, já que para essa região tal tradição não existia.
Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville (1737), produzida para o duque de Orléans, então de Chartres.
[um] continente tão vasto em geografia, compreendendo em longitude a oitava parte da circunferência da terra sobre o Equador e 63 graus de latitude, nos dará oportunidade de juntar às novas aquisições um
Acima, América, de Stephan Kessler, visão do século XVII.
grande melhoramento no detalhe do que se acreditava que fosse conhecido.2 133
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
da tecnologia disponível. Dessa forma, o mapeamento do subcontinente sul-americano se configurava como um adequado laboratório de testes para as teorias sobre o formato da Terra. Por isso, D’Anville escolheu a projeção mericilíndrica para desenhar o seu mapa.5 Frequentemente utilizada por ele para representar os hemisférios, essa projeção apresenta-os como cones que se desenrolam sobre um plano, acentuando, dessa forma, a diminuição da distância entre os meridianos à medida que se aproximam dos polos, o que expressa a sua adesão, por essa época (1748), à teoria newtoniana.6 D’Anville também ressaltou a importância da sua carta diante do desconhecimento de uma extensa área no interior do Brasil, considerado por ele como “objeto de grande especulação (...) em um continente dos mais vastos em geografia (...)”.7 Em suas obras, insistiu várias vezes nesse aspecto, empregando termos como vazio, nu e desconhecido ao se referir a espaços territoriais ainda não conhecidos pelos geógrafos. Segundo ele, as grandes novidades geográficas naquele século seriam observadas no continente sul-americano, pois “o interior desse grande espaço de terra” era ainda desconhecido.8 Esperando contribuir, ele afirma que sua “Carte de l’Amérique méridionale desnuda aos olhos, com o detalhe do local, muitas circunstâncias novas, segundo o estado vazio de nossos conhecimentos em espaços totalmente nus”.9 Em contraposição à ignorância sobre a geografia interior desse continente, D’Anville apresenta seu mapa como aquele que melhor permitiria conhecer “o que nas cartas precedentes se buscou transmitir como coisas vagas e de pura presunção nas suas configurações, o que era anteriormente um vazio absoluto”.10 A memória que escreveu sobre sua Carte de l’Inde, publicada em 1753, apresenta mais uma razão para o importante papel que o geógrafo atribuía à Carte de l’Amérique méridionale. Nessa memória, D’Anville esclarece que a produção do mapa da Índia tinha que se assentar sobre uma base cartográfica herdada da Antiguidade. Para ele, somente a partir de uma leitura crítica da cartografia antiga pelo geógrafo moderno — com melhorias, acréscimos e esclarecimentos — uma nova carta poderia ser realizada. Segundo ele, tal mecanismo poderia ser empregado na cartografia dos três grandes continentes — Ásia, Europa e mesmo África — por terem sido eles representados cartograficamente desde a Antiguidade.11 Porém, a Carte de l’Amérique méridionale
A determinação do meridiano de Paris e a precisão na medida das longitudes foram fundamentais para a a adoção de princípios iluministas na Geografia do século XVIII.
Na página seguinte, índio da tribo Yumbo, que vivia próximo a Quito, local estratégico para a medição do arco meridiano no Equador e o desvendamento do formato da Terra.
Não por acaso, uma das duas expedições organizadas, em 1735, pela Académie Royale des Sciences de Paris, a fim de medir a largura da Terra no equador e nos polos, dirigiu-se à América do Sul. D’Anville, porém, chama atenção para o fato de o continente ser extenso não só no sentido leste-oeste, mas também no norte-sul, permitindo observar, consoante o sistema newtoniano de uma Terra achatada, a contração dos meridianos à medida que esses se aproximam dos polos.3 Por essa época, duas teorias dividiam a comunidade savant europeia acerca do formato da Terra, que não deixavam também de refletir rivalidades e pretensões nacionalistas sobre qual país - França ou Inglaterra — teria o primado da ciência. De um lado, a partir da teoria de Descartes, a escola francesa defendia que seu formato era oblongo, devido ao seu estreitamento no equador e ao seu alongamento no sentido norte-sul. De outro, segundo as proposições de Newton, a escola inglesa sustentava que a Terra era esférica, mas achatada nos polos, como resultado da ação da gravidade sobre o globo terrestre.4 No entanto, as medições realizadas até então eram inconclusivas e apontavam os limites dos métodos e 134
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Visão panorâmica da base medida na planície de Yarouqui, em gravura extraída da obra Viagem ao Equador, de La Condamine.
A Carte de l’Amérique méridionale
exigia do cartógrafo uma postura radicalmente diferente, já que para essa região tal tradição não existia. Tratava-se de um mundo desconhecido — o Novo Mundo. Assim, a América, como entidade geográfica, seria uma construção dos modernos, constituindo-se como o único espaço continental inteiramente elaborado à luz de uma nova e recente geografia. Em seu livro publicado em 1777, Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, ele reafirmou: “Se formos assistir a um aumento considerável dos conhecimentos geográficos, será na América que se poderá encontrá-los, e justamente no interior desse grande espaço de terra.”12 Observa-se assim que a Carte de l’Amérique méridionale só poderia ser construída a partir de um conjunto de fontes coevas, produzidas depois do descobrimento da América, e, visto que a penetração do interior do continente era empreendimento ainda recente, a maioria delas era praticamente contemporânea ao processo de produção cartográfica. Sendo o maior mapa até então produzido por D’Anville, a Carte de l’Amérique méridionale exigiu “três grandes folhas” separadas, cada uma podendo se constituir como uma carta à parte.13 Quando juntas, importam um mapa de aproximadamente 127 centímetros
de comprimento por 80 centímetros de largura.14 O norte, folha 1, foi intitulado Carte du Pérou et Brésil septentrionale de Tierra-Firma, de Guayana et de la Rivière des Amazones. O centro do continente, folha 2, corresponde à Carte qui represente la partie méridionale du Brésil, et du Pérou, Le Chili Septentrional, et le Paraguay. O sul, folha 3, foi representado na Carte du Chili Méridional, du Rio de La Plata, des Patagons et du Détroit de Magellan. A estratégia de separar as partes do continente em três pedaços facilitou a realização de mudanças em áreas específicas, como aconteceria nos anos seguintes. Foram cinco as reimpressões do mapa, datadas respectivamente de 1754, 1760, 1765, 1772 e 1779, nas quais D’Anville alterou pequenos trechos da carta.15 No entanto, por estranho que possa parecer, essas diversas impressões, com suas correções e ajuntamentos posteriores, foram todas publicadas com a data de 1748. A permanência do ano da primeira edição, que traz dificuldades para a identificação correta das diferentes reimpressões,16 não era usual na época, visto que o mais comum era que, quando se inseriam modificações em relação ao original, os geógrafos destacassem tal fato para atrair o interesse na compra da nova edição, ressaltando o grau de precisão alcançado em relação à versão anterior. Para isso era comum 136
l’Amérique méridionale.21 Porém, apesar de não ter imprimido um livro, como fez com outros mapas seus, ele publicou duas memórias sobre o mapa, assim como artigos, logo após a sua impressão, no Journal des Sçavans, que saíram nos meses de março e abril de 1750.22 Esse jornal, ligado à Académie Royale des Sciences de Paris, constituía o principal veículo de publicação dos cientistas franceses. Mais tarde, em 1779, D’Anville redigiu ainda mais duas memórias manuscritas, nas quais se refere às mudanças posteriores que realizou na carta.23 Para conhecermos a Carte de l’Amérique méridionale, comecemos pela análise de sua cartela. Desenhada por Gravelot, “irmão do autor”,24 ela denota, ao mesmo tempo, contenção figurativa e rara beleza, consoante o novo gosto caracterizado pelo racionalismo triunfante, do qual D’Anville era tributário, já que, segundo afirma, “empregava uma parte do seu tempo a formar o gosto e o estilo pela leitura dos nossos grandes escritores”.25 Na cartela, simboliza-se a vitória da cristandade europeia por uma mulher que segura, em uma das mãos, uma cruz, e na outra, um cálice, tendo a seus pés os infiéis
atualizarem a data na cartela e incluírem observações tais como “revista e ampliada em muitos lugares seguindo as Memórias mais recentes”,17 ou ainda “de acordo com as mais novas exatas observações”,18 ou mesmo “tirada de todas as Relações que apareceram até o presente”.19 Humboldt foi um dos que se queixou do fato de D’Anville, “ao fazer importantes correções nas chapas de cobre de seus mapas, não ter gravado o período em que foram feitas”. Segundo o famoso viajante do início do século XIX, entre as consequências desse lapso estava o fato de que os “geógrafos que não sabem as circunstâncias podem ser inclinados ao erro sobre as datas de muitas descobertas”.20 Contudo, as memórias escritas por D’Anville, nas quais desnuda o processo de produção das edições da carta, ajudam a desvendar onde e por que foram realizadas as mudanças, pois tais textos, como o próprio nome indica, eram fontes de repositório da memória de todo o processo de produção dos mapas à época. O geógrafo inglês John Green foi outro que se queixou de D’Anville, pois esse, apesar das promessas, não publicara em livro as suas memórias da Carte de
Página de rosto do livro Considerations Génerales sur l'étude et les conoissance qui demande la composition des ouvrages de Géographie, por D'Anville, 1777. Página de abertura do Diário dos trabalhos dos acadêmicos enviados por Ordem do Rei sob o Equador de 1735 a 1745, La Condamine. 137
Um saber moderno
A Carte de l’Amérique méridionale
Monte Cayambe no Equador, em litografia do princípio do século XIX.
nativos da região. Nessa alegoria do triunfo da civilização sobre a barbárie, os americanos são representados por três figuras masculinas. Os dois da esquerda — um ameríndio selvagem com sua tanga de penas e um nativo da região andina, talvez um inca, vestido com um tecido produzido na região — estão de joelhos, em posição de submissão, mas ao mesmo tempo de adoração à cruz. O da direita, segurando um arco e flechas, está deitado languidamente sobre a moldura da cartela e desvela com um gesto de sua mão o título do mapa. Em volta da moldura estão dispostos elementos regionais da flora e da fauna (um tatu, uma ave e uma preguiça),26 sugerindo a exuberância da natureza tropical do continente. Além do título, a primeira seção da cartela ostenta a dedicatória ao duque de Orléans, primeiro príncipe de sangue da França, grande patrono e patrocinador da obra cartográfica de D’Anville e de quem este era, à época, secretário. Essa referência não só tornava pública a homenagem ao duque, como também conferia status ao mapa, relacionando-o a um dos homens mais poderosos da França, conhecido por sua vasta cultura e por 138
ser grande patrono das artes. Abaixo da data aparece a informação “avec privilege”. Por essa época, não existia na França uma legislação que garantisse o reconhecimento da autoria de uma obra intelectual, assim como os direitos dela decorrentes. No entanto, havia uma instituição, – “a Librarie,27 que supervisionava e controlava o comércio de livros e impressos”. Segundo a legislação, “a proteção para o autor e o desenhista ou gravador residia na permissão ou no privilégio” concedido por esse órgão,28 sendo, de outra maneira, expressamente proibida a impressão de qualquer obra.29 Para cada área havia um censor que examinava os títulos a serem aprovados e, no caso da geografia, isso incluía livros e mapas.30 Mas, mediante o pagamento de uma taxa, que poderia ser repartida entre o autor, o gravador e o editor, e do compromisso de depositar três cópias do mapa na biblioteca do rei, a permissão ou privilégio era concedido. Esses eram de dois tipos: o exclusif ou général e o privilège ou permission simple. O primeiro, mais caro, “garantia direito exclusivo para produzir, distribuir e vender o produto pela França, por um período de três 139
Na página anterior, detalhe da Carte de l’Amérique Meridional com a dedicatória ao duque de Orléans, patrocinador da obra cartográfica de D’Anville.
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Mapa das rotas de La Condamine por mar e terra no curso de sua expedição ao Equador, por D’Anville.
A Carte de l’Amérique méridionale
a vinte anos”. O segundo, mais barato, permitia que o autor vendesse seu trabalho a mais de um editor, e cobria um período de três a seis anos.31 Ao arcar com um privilège simple para a Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville garantia a produção, venda e distribuição de seu mapa, controlando todo o processo de edição, mas por um período mais curto. Conforme estava escrito à esquerda da cartela, e fora anunciado no Mercure de France,32 o mapa podia ser adquirido no próprio ateliê do autor, nas galerias do Louvre. A emissão de um privilégio pela Librarie garantia que a obra estava protegida pelo rei e não poderia ser copiada por outros em território francês. Isso, porém, não impedia a produção de cópias em outros países, como foi o caso da Inglaterra, onde muito cedo apareceu uma versão não autorizada do mapa, intitulado Map of South America, publicada por J. Harrison. Segundo D’Anville, “o que constitui uma das grandes vantagens que distingue a Carte de l’Amérique méridionale (...) é de ter adquirido no país que ocupam os espanhóis um grau de perfeição que não se deixará de se lisonjear”.33 Sem sombra de dúvida, os dados coligidos pela expedição geodésica franco-espanhola, enviada pela Académie Royale des Sciences de Paris, em 1735, a Quito, para medir um arco de meridiano junto ao equador e
assim contribuir para desvendar o formato da Terra, foram fundamentais para o aprimoramento da cartografia de D’Anville na região do Vice-reinado do Peru. Um a um, os membros dessa expedição, à medida que retornaram à França, tornaram-se colaboradores do geógrafo. No entanto, ao contrário do que afirma a cartela, a contribuição da expedição não se restringiu à parte hispânica do continente, já que foram importantes também para o estabelecimento de todo o curso do rio Amazonas:34 Devido a vários percalços, a permanência em terras americanas prolongou-se em demasia e o impacto das observações geodésicas do Peru não foi determinante para a definição do formato da Terra. Desde 1737, a Académie Royale des Sciences de Paris já sabia das observações realizadas na Lapônia, por outra expedição enviada ao polo norte, sob a chefia de Maupertuis, as quais revelaram que, de fato, os newtonianos estavam corretos sobre a forma do globo terrestre.35 Por essa razão, dois dos savants da expedição para medir o arco de meridiano junto ao equador, o francês Charles Marie de La Condamine e o hispano-americano Pedro Vicente Maldonado, resolveram voltar à Europa descendo pelo rio Amazonas, pois o seu curso era de grande interesse entre os acadêmicos europeus, visto que o conhecimento sobre seu posicionamento era, até então, bastante relativo.36 La Condamine era membro da Académie Royale des Sciences de Paris, e Maldonado, um criollo espanhol ilustrado, governador da província de Esmeraldas. Por rotas parcialmente diferentes, os dois percorreram o rio, do Peru até a cidade de Belém do Pará. E as informações que recolheram sobre o posicionamento da sua calha foram, em parte, incorporadas por D’Anville à sua cartografia. Na parte de baixo da cartela, o geógrafo rendeu tributo aos membros da expedição por suas contribuições, mas diferenciou as contribuições de cada um. Escreveu que o estabelecimento do “curso do rio das Amazonas e seus tributários” havia sido feito a partir da “reunião de documentos” que La Condamine trouxera da viagem, além das observações diretas que realizara quando desceu o rio, já que ele havia feito “a comunicação de tudo que se tratasse de uma curiosidade ativa e esclarecedora” do que tivera conhecimento durante a viagem à região. D’Anville se disse ainda “devedor do uso que tinha feito de algumas informações importantes” fornecidas por Pierre Bouguer, chefe da expedição, sem especificar exatamente o que este acadêmico lhe disponibilizou, e 140
com os savants franceses e dar início a uma produção cartográfica que ilustrasse o domínio espanhol sobre a região.49 Ele levantou os dados, mas a carta foi começada e terminada sem a sua presença, já que, em junho de 1747, Maldonado teve que partir para a Holanda a fim de comprar um atlas de 125 tomos para a biblioteca do rei da Espanha50 e de lá seguiu para a Inglaterra, onde morreu em fins de 1748.51 Substituindo-o, La Condamine interferiu em sua finalização.52 No entanto, a cartela do mapa, em espanhol, fazia referência à autoria de Maldonado: “Carta de la provincia de Quito y de sus adjacentes, obra posthuma de don Pedro Maldonado... hecha... sobre las proprias demarcaciones/del difunto autor por el S. D’Anville”.53 Além dessas parcerias, La Condamine também contribuiu com D’Anville em sua Carte de la région du Chiriqui, tirada de um manuscrito por ele comunicado ao geógrafo.54 Uma primeira vista-d’olhos na Carte de l’Amérique méridionale produzida por D’Anville, em 1737, para o uso privado do duque de Chartres, na atribuída a c.174255 e na de 1748 revela o avanço alcançado no conhecimento da geografia da América do Sul. Nos dois primeiros mapas (1737 e c.1742), toda a região central do continente configura-se como um grande vazio e ostenta os dizeres “país desconhecido”. O volume de informações geográficas cresce em número exponencial no mapa de 1748, perceptível pelo detalhamento da hidrografia das regiões andina, amazônica, sudeste e sul do Brasil, revelando o progressivo domínio do interior do continente pelos europeus. Para isso, foi fundamental o acesso obtido por D’Anville aos documentos da expedição franco-espanhola e também, como veremos, das fontes portuguesas fornecidas por dom Luís da Cunha. A Carte de l’Amérique méridionale foi impressa por Guillaume Nicolas Delahaye (1727-1802), descendente de uma família tradicional de impressores. Por essa época, sua oficina estava estabelecida na rue de l’Arbre Sec, logo atrás do Palácio do Louvre. Delahaye já tinha imprimido para D’Anville, em 1746, a Carte de l’Amérique septentrionale, e como o geógrafo pretendia, conforme anunciou no Mercure de France, uma uniformidade, inclusive de escala, entre as duas cartas, essa foi, para além de sua destreza no ofício, mais uma razão para a sua escolha como impressor. Mais tarde, provavelmente pelo mesmo motivo, Delahaye veio a imprimir
de Maldonado, cuja contribuição ele restringe à geografia da “parte setentrional do Peru”.37 Quando La Condamine chegou de volta à França, Bouguer, que chegara antes dele, já havia lido na assembleia da Académie Royale des Sciences de Paris, de 14 de novembro de 1744, sua Narrativa abreviada de uma viagem ao Peru.38 Nela, “fazia a relação da sua viagem e das operações que tinha feito para saber a figura da Terra”.39 Por essa razão, La Condamine resolveu concentrar a divulgação dos seus feitos na Amazônia. Com dados que afirmou na ocasião terem sido coligidos a partir do que observara diretamente no território,40 seus textos, lidos na Académie Royale des Sciences de Paris e depois reunidos em livros, eram destinados a impressionar a comunidade inteligente, mas também o grande público e, por essa razão, sua obra foi publicada como uma narrativa rocambolesca.41 O relato de sua viagem pelo rio foi transformado em livro em duas versões um pouco diferentes: a Voyage sur l’Amazone, de 1745, e o Journal du voyage fait par ordre du Roi a l’Equateur, de 1751. Na publicação do primeiro, La Condamine se associou a D’Anville para a produção de alguns mapas que ilustraram aspectos do relato.42 A Carte du cours du Maragnon ou de la grande route des Amazones veio à luz em 1745 para figurar nessa edição.43 Baseada em levantamentos de longitudes realizados por La Condamine, foi a primeira carta desse rio feita a partir de um esboço fornecido a D’Anville, “cuja habilidade”, afirma La Condamine, “é conhecida, [e] me foi de grande vantagem para concatenar e redigir esses materiais esparsos”.44 Também para acompanhar a edição do livro de La Condamine, o geógrafo produziu uma Carte des routes de m. de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du voyage a l’Equateur.45 Em fins de 1747, os dois começaram a trabalhar na Carta de la Província de Quito,46 mapa financiado e encomendado pela Coroa espanhola, tendo sido terminado e enviado a Madri no começo de 1750.47 É bastante provável que a aproximação de D’Anville com a Coroa de Espanha tenha se dado a partir da camaradagem intelectual que dom Luís da Cunha desfrutou com o duque de Huescar, então seu embaixador em Paris, apesar da rivalidade entre as duas coroas. O mapa de Quito, porém, foi desenhado a partir das anotações de Pedro Maldonado,48 que chegou a Paris em dezembro de 1746, para entrar em contato 141
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Na página seguinte, na carta de D’Anville de 1737, acima, o nome dos Pampas é grafado na vertical e descentralizado. Com o desenvolvimento de seu método de organização dos topônimos, na carta de c.1742, abaixo, o mesmo nome é colocado na horizontal e centralizado em relação à região.
D’Anville. Uma de suas maiores preocupações era com a forma como as informações eram dispostas em cada carta para garantir a sua clareza. Uma das evidências do seu gosto era o cuidado que despendia na grafia e na nomenclatura dos topônimos, em relação às quais D’Anville estabeleceu regras bem estritas: 1) o nome dominante deve vir no centro, na horizontal e em letras maiores; 2) o nome das províncias deve ser centralizado, na horizontal, em letras grossas; 3) o nome dos rios deve seguir seu curso; 4) os nomes dos lugares devem ser de preferência horizontais, mas para evitar “a monotonia fastigiosa e mesmo fatigante, [que] não dá uma ideia da variedade que a natureza colocou na sua obra”, o autor poderia aí experimentar certa liberalidade.61 A análise das cartas de 1737 e c.1742, não idênticas entre si, apesar de muito semelhantes, revela o início da aplicação de seu método de grafia dos topônimos. Assim, por exemplo, o nome dos Pampas, logo abaixo do de Buenos Aires, que aparece na vertical e descentralizado na primeira, é modificado para a horizontal e centralizado em relação ao território a que se refere. Mas é na versão de 1748 que todas as regras são perfeitamente aplicadas. O nome da planície de Tucuman, por exemplo, é espelhado em relação às duas cartas anteriores, para ficar na posição correta para o leitor, da esquerda para a direita. A região do Paraguay é exemplar, e as informações, apesar de abundantes, estão dispostas de forma perfeitamente clara, o que ocorre devido à maestria com que ele manipula os diferentes tamanhos, espessuras, afastamentos e formatos das letras e a maneira como e onde posiciona os topônimos. A letra do nome da região é maior e mais grossa; os nomes dos rios seguem seus cursos; os dos lugares, a maioria missões jesuíticas, estão frequentemente na horizontal, mas quando necessário, para maior clareza, como é o caso de Santa Maria do Iguaçu, a regra é quebrada para ajustar a longa extensão desse nome ao pequeno espaço em branco disponível. Comparando essa região com a das Minas Gerais, observa-se que, em ambas, o formato e tamanho das letras permite hierarquizar os núcleos de povoamentos e diferenciar acidentes geográficos. Nos dois mapas anteriores, isso não acontecia de forma evidente. No de 1737, as urbes são quase todas representadas pelo mesmo símbolo — círculos vermelhos — apesar de algumas poucas e raras, como Buenos Aires, serem encimadas por uma cruz — e, no de c.1742,
sua Carte de Canada, Louisiane et Terres Angloises, de 1755,56 e a Carta de la Provincia de Quito.57 A Carte de l’Amérique méridionale está orientada pelo meridiano de Ferro, que cortava uma das Ilhas Canárias, e que, por essa época, conforme popularizado por Delisle, a cartografia francesa utilizava como primeiro meridiano ou meridiano de referência. Um dos aspectos interessantes desse meridiano é que se tornaria um marco simbólico, por estar a meio caminho entre o Novo e o Velho Mundo.58 Contrariamente ao que era convencional quando se utilizava o meridiano de Ferro, contavam-se as longitudes positivas crescendo para oeste, e não de 0º a 360º para leste. Bem de acordo com o seu estilo, cuidadoso em relação ao estudo e ao estabelecimento comparativo das medidas para configurar sua cartografia, o mapa ostenta quatro escalas diferentes. A primeira, em léguas francesas, é a que o mapa utiliza como padrão de referência. A segunda refere-se a léguas marítimas francesas, inglesas e espanholas, medidas necessárias para a navegação, pois os mapas eram importantes para guiar os navegadores, e a incerteza da navegação “de um vasto oceano” demandava “a prudência de ter esse espaço de mar mais referido”.59 A seguir vinham léguas espanholas que, como explica ele, também eram utilizadas pelos holandeses na Guiana. Por fim, há uma medida de itinerário, que se refere à correspondência entre as horas e as distâncias percorridas por um viajante num dado trecho. Além de mapas, os geógrafos de gabinete utilizavam constantemente os relatos de viagem que descreviam a geografia do lugar: são os chamados mapas mentais. D’Anville tornou-se um especialista na transformação das informações geográficas contidas nesses relatos em representações cartográficas e, como se verá, esse tipo de documento foi utilizado como fonte em várias partes da Carte de l’Amérique méridionale.
Topônimos Uma análise dos três mapas (1737, c.1742 e 1748) revela o desenvolvimento de seu estilo, que atingiu “uma espécie de perfeição”, a ponto de sobre eles ser afirmado que “foram desenhados com tanto de gosto e de clareza”.60 Se dom Luís da Cunha considerava que Delisle era pouco cuidadoso no que dizia respeito ao acabamento de seus mapas, o inverso pode-se dizer de 142
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terem sido simbolizadas apenas por um círculo sem cor. Além disso, nesses dois mapas, pouco se nota em relação a diferenças de tamanhos das letras. Todo esse cuidado não se restringia às representações da geografia física. Bem ao seu gosto de pensar uma geografia humana, D’Anville não deixa de atentar para muitos povoamentos que não existem mais. Nesse caso, o mapa se torna um testemunho vivo da presença humana e da transformação do espaço ao longo do tempo, funcionando como uma enciclopédia, pela reunião de informações etnográficas, de história natural, de geografia ou de história. Tal é o caso das missões do Paraguai, que ele conhecia bem devido às informações recebidas dos jesuítas por ocasião da realização da carta dessa Província para as Lettres edifiántes et curiouses. Assim, no mapa de 1748, ele informa, no canto superior direito, que, “muitos lugares que tem esta marca + designam as vilas ou as missões que não existem mais”.62 Outras informações remontam ao processo de descoberta e colonização do continente. No Chile, o porto próximo ao arquipélago dos Chonos “foi encontrado pelos ingleses em 1741”; o vulcão da Ilha do Fogo foi “visto em 1712”; o arraial de Nossa Senhora de Nieves de Yurimaguas, junto ao rio Amazonas, havia se originado de uma “antiga missão espanhola”; o encontro entre o rio Ené e o Apurinac, no Peru, foi “levantado em 1742”.63 A datação de eventos reflete a temporalidade presente na produção do mapa. A apuração desse gosto, marcado pela contenção e racionalidade figurativa, faz D’Anville praticamente não colorir suas cartas. A base das montanhas (sempre da esquerda para a direita); o litoral; os rios e lagoas, indicando a existência de água, são apenas hachurados.64 Nas duas primeiras cartas, as cores, bem mais presentes, demarcam os limites entre as províncias e distinguem as possessões: as portuguesas, em verde água; as espanholas, em vermelho; as francesas, em amarelo; e as holandesas, em verde. Na de 1748, apenas algumas cópias apresentam cores. Nesse caso, são utilizadas para demarcar as fronteiras externas entre a América portuguesa e a espanhola, e os diversos vice-reinados existentes nessa última, com a linha do equador colorida de marrom.65 No caso do mapa de 1737, produzido para a instrução do duque de Chartres, as cores apresentam claramente sua virtude pedagógica, de ressaltar as divisões políticas do território para o diligente aluno.
Outra preocupação de D’Anville dizia respeito à toponímia.66 Nas duas primeiras cartas (1737 e c.1742), os nomes estão escritos em francês, o que contrasta com a versão de 1748, onde os topônimos, com raras exceções (é o caso do Brasil, estampado com a grafia francesa Brésil), figuram em espanhol, português e mesmo nas línguas indígenas. Para D’Anville, a nomenclatura deve respeitar a língua local. E, para isso, os geógrafos tinham que “conhecer entre as nações dominantes, os termos próprios para designar a natureza dos lugares, rios, montanhas, ilhas, etc.”.67 Em relação à toponímia, advogava algumas regras bastante estritas, como o respeito à grafia do nome na língua do lugar cartografado e não na do autor do mapa, seguindo a grafia primitiva do nome, mesmo quando houvesse alterações posteriores.68 Isso exigia um conhecimento e um estudo aprofundado dos idiomas, o que permitiria, segundo ele, a construção de um dicionário de topônimos geográficos, de muita utilidade e interesse.69 Defendia que a nomenclatura era ponto que não podia ser negligenciado na hora de desenhar um mapa. Na Carte de l’Amérique méridionale, seu espírito meticuloso levou-o a cuidar de cada toponímia empregada nos mínimos detalhes. Por exemplo, ele opta pelo topônimo “rio das Amazonas”, 70 mas registra que o mesmo rio, “abaixo do rio Negro, é chamado pelos portugueses rio de Solimoens ou rio dos Peixes”.71 No entanto, o médico Antônio Ribeiro Sanches escreveu, referindo-se à toponímia da Carte de l’Amérique méridionale, que “muitos nomes de rios e de lugares, que se leem no dito Tratado [de Santo Ildefonso], não se acham na Carta de Mr. D’Anville, e pelo contrário, ou porque são escritos por um estrangeiro, ou porque este geógrafo não teve deles conhecimento”.72 De fato, a despeito de todo o cuidado do geógrafo, nuances da escrita das línguas locais lhe escaparam. Solimões é grafado como Solimoens, Baixos como Baxos, Casa como Caza e Boipeba como Buipeba. No caso da América meridional, seria necessário, além do emprego de nomes em português e espanhol, a inclusão de nomes indígenas. Apesar disso, D’Anville demonstra certo domínio no campo linguístico desses idiomas e até mesmo na sonoridade das palavras. Num texto sobre a pronúncia dos topônimos, escrito no canto direito superior da carta, ele alerta o leitor que, para bem ler ou pronunciar os nomes indígenas, é preciso estar prevenido que todo final é fechado, diferentemente dos nomes que são espanhóis ou portugueses; 145
Na página anterior, acima, nos trechos que representam o território das Missões Jesuíticas (à esquerda) e as Minas Gerais (à direita), o formato e o tamanho das letras hierarquizam os núcleos de povoamento e diferenciam acidentes geográficos. Abaixo, cores demarcam os limites entre as possessões. As portuguesas estão em verde água; as espanholas, em vermelho; as franceses, em amarelo; e as holandesas, em verde.
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ilhas formadas pelos braços do rio dos Sauces são habitadas pelos brancos”.77 Mas os indígenas não se constituem apenas como informantes da geografia local. De acordo com o espírito iluminista, uma etnologia nascente converteu os nativos em objetos de estudo dos savants europeus. A cartografia foi um dos suportes materiais para a cristalização das informações e de visões que os europeus tinham sobre esses povos. No entanto, os mapas, ainda que eficientes para dar visibilidade ao conhecimento recolhido por exploradores europeus, apresentavam limites quanto à sua fidedignidade. A dificuldade em registrar o caráter nômade de grande parte desses povos, por exemplo, pode ser observada em vários mapas. Na Carte de l’Amérique méridionale, ao se referir aos nativos que habitavam os pampas, D’Anville informa “que vivem errantes por essas planícies”.78 Quanto aos tupinambás, esses constituíam “uma grande nação e que, de sua primeira morada nas costas do Rio de Janeiro, se estendeu até aqui [interior do nordeste do Brasil] e se espalhou mesmo até a fronteira do Peru”.79 Além dessas, o mapa apresenta várias informações de caráter etnográfico, no que diz respeito às nações indígenas: na Guiana francesa, estão os “amiccouanes, nação de grandes orelhas”;80 no Brasil, “cujo interior é desconhecido em grande parte, os naturais do país são chamados de um nome comum - tapuias”;81 nos pampas se encontravam os “puelches, chamados serranos, ou da montanha”, pois viviam próximo a uma grande Sierra;82 já na Patagônia “se estabeleceram os Argeles e Cesares, que se diz serem misturados com os espanhóis saídos do Chile em 1554”. Curioso é que, no Suriname, D’Anville situou nas cabeceiras do rio de mesmo nome, cuja foz se situa em Paramaribo, uma colônia de “negros muçulmanos”, referindo-se a uma comunidade de escravos fugidos.83
e que não somente esta vogal, mas todas as outras que terminam uma palavra; a sua pronunciação ainda que sendo muito mais marcada, do que comumente a penúltima ou a sílaba precedente a esta, é breve. Observa-se também, que duas vogais, uma junto da outra, não formam ditongos, e se pronunciam separadamente.73
É indicativo do seu conhecimento acerca do significado das palavras indígenas o modo como grafa o topônimo “pampas”. Logo abaixo do nome, ele informa que “as grandes planícies são chamadas pampas, de uma palavra indígena que na língua Quichua do Peru significa propriamente vale”.74 E um indício de que as cópias de seus mapas realizadas fora da França não eram autorizadas por ele é o descuido em relação à grafia dos topônimos. No caso das cópias feitas na Inglaterra, por exemplo, ocorre uma mistura do idioma local com o francês e o inglês. D’Anville tinha razão em se queixar desse seu copista, cujas cópias, dizia, eram “de uma execução grosseira, (...) muito longe de ser elegante, como nas cartas originais”.75 Uma rápida comparação de um mesmo trecho da carta em uma edição francesa e outra inglesa, entre o trópico de Capricórnio e a cidade de Salvador, revela essas discrepâncias. Por exemplo, Cabo Frio se torna Cape Frio, Baxos de Abrolhos é grafado como Banks of Abrolhos, St. Antonio vira St. Anthony e Bahia de Todos os Santos torna-se B. of All Saints. Nesse caso, o copista estava mais interessado em tornar o nome dos locais acessíveis ao público consumidor inglês do que ser fiel à nomenclatura local, como advogava D’Anville firmemente. Não é de se estranhar que esse último se sentisse duplamente traído por essas cópias. O movimento de interiorização da América do Sul, intensificado ao longo do século XVIII, colocou os europeus em contato com diversos povos nativos, muitos deles até então desconhecidos, e os mapas da época, a Carte de l’Amérique méridionale inclusive, são espelhos desse movimento. Mapas indígenas ou os próprios nativos se tornaram grandes fontes de informação sobre a geografia local, indispensáveis para a penetração nessas áreas, e as formas de apropriação do conhecimento geográfico indígena muitas vezes transparece na cartografia produzida pelos europeus.76 Na Carte de l’Amérique méridionale há vários exemplos de contribuições das populações locais para a feitura do mapa. Junto ao litoral dos pampas argentinos, por exemplo, D’Anville escreve que “os índios reportaram que as 146
Fontes De volta à cartela do mapa, se ela não esclarece todo o seu processo de produção, como se queixaram diversos geógrafos, permite tecer algumas considerações. Em primeiro lugar, a despeito de toda a profusão de documentos de que o geógrafo se valeu para desenhar o mapa, muitos oriundos de indivíduos anônimos que 147
Na página anterior, exemplos de informações etnográficas na Carte de l’Amérique méridionale: acima, lê-se que os tupinambás constituíam “uma grande nação que se espalhou … até a fronteira do Peru”, os demais, desconhecidos, eram chamados de “tapuias”. Abaixo, lê-se que na Patagônia, “se estabeleceram os Argeles e Cesares, …” misturados com os espanhóis saídos do Chile em 1554”.
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Na página seguinte, “Guia de Caminhantes”, da Coleção de mapas de diversas regiões do Brasil, de Anastácio de Santana, 1817.
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palmilharam os sertões do interior do continente, alguns dos quais comunicados a ele por meio de documentos fornecidos por dom Luís da Cunha, outros de uma longa tradição que remontava aos séculos XVI e XVII, é somente aos savants da expedição geodésica a Quito que D’Anville rende tributo evidente. Certamente, valia-se do prestígio que seus membros desfrutavam junto à comunidade científica para conferir maior credibilidade a seu mapa. Apontar as redes de informantes/viajantes utilizadas era expediente comum entre os geógrafos. Mas, a expedição geodésica a Quito não era uma expedição qualquer. Ela tinha reconhecimento internacional não só por ter contribuído para a solução de um dos grandes enigmas científicos daquele século - o formato da Terra - como também por ter participado do grande esforço de remodelação geográfica da entidade sul-americana a partir de uma experiência concreta de viagem pela região amazônica e andina, incrementando o conhecimento sobre essas áreas. Simbolizava, como nenhuma outra, o progressivo domínio dos europeus sobre a geografia do globo em geral, e da América em particular, especialmente sobre o primado da observação e da tomada de medidas in loco, utilizando-se para isso de instrumentos matemáticos modernos. Era este o tipo de conhecimento geográfico, em detrimento da geografia de gabinete, que a Académie Royale des Sciences de Paris advogava cada vez mais. D’Anville, ainda um geógrafo à moda antiga, distante em seu gabinete, não partilhava do esforço de reconhecimento empírico do vasto mundo ao seu redor, não era um “viajante artista”.84 Mas, ancorando as informações geográficas dispostas em seu mapa da América do Sul numa das mais importantes expedições científicas do seu tempo, ele compartilhava do trabalho hercúleo de remodelar a feição geográfica de todo o globo, pintado com suas cores, isto é, a seu modo. Como a expedição de Quito, D’Anville - por meio de suas cartas — inseria-se no esforço de publicação e divulgação dos resultados das recentes explorações, e assim dava a ver o continente sul-americano. Quando trazia à luz, na cartela do mapa, as contribuições desses acadêmicos para a produção da sua carta, ao mesmo tempo integrava-se a essa tradição de desvendamento científico do mundo sob o primado da observação direta e legitimava o seu trabalho. Em segundo lugar, ao render tributo a esses viajantes/exploradores, o texto da cartela circunscreve a
região referente à sua contribuição, “que concerne principalmente ao curso do rio das Amazonas e dos seus rios tributários”. Ao ser redigido dessa forma, o texto indica de maneira sub-reptícia que a grande área de interesse e inovação cartográfica do mapa residia na região amazônica, eclipsando as demais visitadas pela expedição. Dessa forma, contribuía para a estratégia de La Condamine de destacar sua importância para o conhecimento do curso desse rio em detrimento dos feitos dos demais membros da expedição. Em terceiro lugar, as contribuições dos expedicionários de Quito são apontadas nominalmente. D’Anville destaca primeiramente La Condamine, a seguir Bouguer e, por fim, Maldonado. Dessa forma, ele hierarquiza suas contribuições, refletindo a hegemonia progressiva que La Condamine alcançou, após seu retorno a Paris, capitalizando para si os louros oriundos da divulgação dos resultados da expedição.85 De fato, percebe-se que a cartela reflete as disputas entre os expedicionários após o seu retorno à Europa,86 pois assim que todos se reuniram em Paris, Maldonado e Bouguer acusaram La Condamine de deslealdade ou mesmo de cometer alguns erros.87 O texto da cartela, no entanto, alinha-se a esse último, ao circunscrever as regiões geográficas a que cada um deles forneceu informações, cabendo a La Condamine aquelas sobre o Amazonas e sua rede de rios, considerada a região mais importante; e a Pierre Bouguer e Maldonado, apenas detalhes da região setentrional de Quito.88 Cotejando o texto da cartela e o das memórias sobre o mapa, uma das questões que salta aos olhos é a desqualificação e apagamento dos integrantes espanhóis da expedição geodésica. Eram eles: Jorge Juan e Antonio Ulloa, além de Maldonado. Na primeira memória sobre a Carte de l’Amérique méridionale, publicada em março de 1750, no Journal des Sçavans, D’Anville reconhece que “o mérito dessa carta é devido aos acadêmicos franceses, que empregaram muitos anos na medida dos graus do meridiano nas vastas extensões do Peru”. Em seguida, nessa mesma memória, ele destaca que “o que há de mais perfeito nessa carta consiste na parte das cercanias de Quito”,89 contradizendo o seu texto da cartela do mapa que enaltecia a Amazônia como a grande contribuição. Na memória, no entanto, ao destacar a área ao redor de Quito, o nome de Maldonado não é sequer mencionado, apesar de ter sido ele quem colheu a maioria das informações geográficas da região, 148
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registradas num mapa primitivo,90 de acordo com a documentação diplomática da época e com o reconhecimento de sua autoria póstuma na cartela da Carta de la Provincia de Quito. Os demais membros da partida espanhola não são nem ao menos referenciados na cartela da Carte de l’Amérique méridionale. Jorge Juan e Antonio Ulloa mereceram apenas uma breve referência na memória por terem contribuído para o estabelecimento de uma região do Chile, ao redor da ilha de Chiloé, tendo o primeiro fornecido “uma memória, que ele fez acompanhar de uma Carta das Costas da América sobre o mar do Sul, desenhada em 1747; e nessa carta a costa é representada em conformidade”.91 D’Anville se refere ainda a Maldonado como “um piloto prático”, que “tomou parte nos trabalhos feitos sobre o terreno, ao visitar a costa nas entradas dos rios”, e usa a mesma expressão para se referir a Jorge Juan e Antonio Ulloa: “dois pilotos espanhóis e práticos do mar do Sul”. O termo piloto — depreciativo em relação a savant — se refere aos que se aventuravam pelo sertão, como os paulistas no Brasil, mas que não possuíam formação científica adequada,92 o que era uma inverdade em relação aos três. Na cartela, D’Anville toma o cuidado de dizer que se valera não só das informações diretas desses viajantes, mas também de memórias e conhecimentos de terceiros trazidos pela expedição, especialmente os recolhidos por La Condamine. No entanto, essa referência ao conjunto de contributos anônimos que lhe permitiram preencher espaços ou incluir enormes vazios na América portuguesa aparece na cartela de forma quase imperceptível. Ele apenas menciona que, para estabelecer o curso do Amazonas, se valeu “de conhecimentos independente das suas [La Condamine] observações diretas”. Por trás dessa imprecisão e dos termos vagos, porém, escondiam-se relatos preciosos, um conjunto inédito de fontes nunca antes compiladas, indispensáveis à consolidação do conhecimento geográfico de um continente ainda pouco conhecido e explorado, muitas delas fornecidas por dom Luís da Cunha. Distantes em seus gabinetes europeus, esses geógrafos lançavam mão desse tipo de documentos, oriundos da observação direta, essenciais para a representação desses espaços recém-explorados. De fato, segundo D’Anville, na sua memória sobre o mapa, “a carta em questão apresenta muitas coisas novas e contém poucas que não tenham recebido qualquer melhoramento”.93Analisando-se suas
memórias e seus textos escritos sobre a Carte de l’Amérique méridionale, bem como sua coleção de mapas que hoje se encontra depositada na Bibliotèque Nationale de France, pode-se rastrear o conjunto de documentos incorporados criticamente na carta de D’Anville, a fim de que ele pudesse cartografar o continente sul-americano de um modo inédito, muitos deles inéditos e de autores desconhecidos.
Mapas Comecemos pela cartografia que ele dispunha na ocasião. A enorme Coleção D’Anville reúne os mapas produzidos pelo geógrafo e aqueles utilizados como fonte de consulta. Apoiar-se em cartas precedentes era parte da metodologia dos geógrafos, cuidando para efetivarem melhorias e não simples cópias, o que seria danoso à sua reputação. D’Anville reuniu 462 cartas do continente sul-americano, o que corresponde a 4,4% do total da coleção de 10.502 itens cartográficos.94 Descontadas as de sua autoria e as produzidas posteriormente a 1748,95 encontra-se o total de 420 mapas utilizados como fontes para a Carte de l’Amérique méridionale (Quadro I). Observa-se que o subcontinente, em seu conjunto — incluindo cartas referentes a toda a América ou apenas a sua porção meridional, ou ainda os mapas-múndi —, representa 9,3% do total dos mapas correspondentes a esse subcontinente, compreendendo 39 cartas. Seguindo a mesma tendência do conjunto da coleção como um todo, a cartografia de regiões circunscritas, que corresponde a 90,7% do total das 420 cartas, é mais numerosa do que as que retratam o subcontinente como um todo. O Brasil constitui a província que agrega o maior número de mapas, totalizando 78 cartas, o que corresponde a 18,6% desse total. Sua grande extensão e sua diversidade geográfica explicam essa predominância. A América espanhola, no seu conjunto, tem a participação mais significativa. São 256 cartas, 60,9% do total, mas distribuídas entre as diferentes províncias ou vice-reinados. Dessas, o Chile e a Audiência de Lima agregam o maior número de mapas. Ao primeiro, podem ser somadas ainda as 27 cartas referentes à terra de Magalhães, já que, segundo D’Anville, esta era uma denominação equivocada, pois a região fazia parte da Audiência do Chile. O grande número de mapas sobre 150
utilizou um mapa da sua costa e ilhas circunvizinhas levantado por La Condamine, que por sua vez se valeu de uma carta do padre jesuíta Magnin, obtida durante a sua estadia na região.101 O Paraguai, com 18 cartas, agrega a cartografia relativa ao rio da Prata, e a da região das missões, objetos da estrita atenção de dom Luís da Cunha. Não se pode esquecer que D’Anville, em 1733, já tinha publicado uma Carte du Paraguay, nas Lettres edifiántes et curieuses. Desde essa ocasião, ele destacara que o acesso a alguns mapas manuscritos produzidos pelos jesuítas era fundamental para o conhecimento da área, já que eles possuíam ali várias missões de catequese. Em suas próprias palavras, em consonância com o pensamento do embaixador, “a cavalaria dos padres”102 fechava o acesso à área, e, por isso, monopolizava o saber geográfico sobre a região.103 Na coleção aparecem seis mapas da lavra dos jesuítas, com destaque para o de Matthias Seutter, com o título de Paraguaia Provincia Societatis Jesu cum adjacentitus novissima descriptis.104 Esse foi publicado em 1732, a partir de um mapa anterior de autoria dos jesuítas, de 1726, atribuído ao missionário Juan Francisco D’Ávila.105 D’Anville também possuía essa carta,106 que apresenta algumas diferenças em relação à de Seutter, especialmente no que diz respeito ao curso do Paraguai e seus afluentes, o mesmo ocorrendo com o lago Titicaca, que aparece posicionado um pouco mais ao norte. A análise do Quadro II reflete, quanto ao período de produção das cartas gerais sobre a América meridional, as tendências da flutuação da produção cartográfica europeia, que cresce em ritmo exponencial ao longo do tempo, considerando-se o século XVIII o de maior produção. Retratando a América como um todo, D’Anville possuía cinco cartas do século XVI, sendo duas versões de uma carta de Ptolomeu,107 uma de Mercator,108 uma de Forlani109 e uma de Van Langren.110 Nesse século, a cartografia oriunda dos Países Baixos, especialmente de Amsterdã, é dominante em nível mundial, o que se reflete em sua coleção. Tal predominância também se dá no século XVII, e 12 mapas (30,8% do total) provêm dessa mesma origem. Lá estão Blaeu, Visscher,111 Jocodus Hondius,112 e uma reimpressão de Mercator (1512-1594).113 Também, a cartografia francesa, que começava a se sobressair no mercado europeu, aparece representada por Sanson e Nicolas du Fer. Como o século XVIII mal começara, esse período está
QUADRO I
h
Local cartografado nos mapas referentes à América meridional96 LOCAL América meridional como um todo* Brasil Guiana Francesa Paraguai Guiana Holandesa Subtotal para a América Espanhola: Província da Terra Firme Audiência do Panamá Audiência de Nova Granada Ilha de Curaçao Ilhas Cuba, Marguerite e de La Trinité Orinoco (Guiana Espanhola) Peru em geral Audiência de Quito Audiência de Lima Audiência de Les Charcal Chili (Ilha de Chiloé) Ilhas Juan Fernandes Chili – Terra Magellanique TOTAL
NÚMERO
%
39 78 21 18 8
9,3 18,6 5,0 4,3 1,9
256 4 38 33 4
60,9 1,0 9,0 7,9 1,0
9
2,1
14 7 18 44 6 46 6 27
3,3 1,7 4,3 10,5 1,4 10,9 1,4 6,4
420
100
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.97 * Foram incluídos nessa categoria os mapas-múndi do continente americano e da América meridional.
o Chile se explica pela grande extensão desse território e pelo fato de que o conhecimento de sua costa era determinante para a navegação do Pacífico; já os da Audiência de Quito, pela presença na região da expedição geodésica franco-espanhola, que reuniu e produziu um conjunto cartográfico significativo da área, fornecido por seus membros a D’Anville. A Audiência do Panamá aparece com o número de 38 mapas, porém apenas a porção inferior desse istmo aparece representada na Carte de l’Amérique méridionale. Do Panamá destaca-se um mapa que Bouguer traçou e levou para a França, e que D’Anville utilizou para desenhar essa porção em sua carta.98 Comparando-o com a Carte réduite de la Mer du Sud,99 de sua autoria, ele conseguiu estabelecer a posição correta do istmo, entre o golfo de Darien, no mar do Sul, e o escudo de Veragua, no mar do Norte (oceano Atlântico).100 D’Anville também 151
Nas páginas seguintes, Americae nova tabula, de Willem Blaeu, 1635.
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A Carte de l’Amérique méridionale
152
153
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A Carte de l’Amérique méridionale
in loco. Durante o governo do conde Maurício de Nassau (1637-1644), representante da Companhia das Índias Ocidentais, foram realizados importantes estudos de Medicina, História Natural e Geografia sobre o Brasil holandês. O conde trouxe consigo um grupo de sábios, encarregados de estudar e ilustrar a natureza e a geografia brasileira. Após o seu retorno, sob o seu patrocínio, foram publicadas em Amsterdã a História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício, Príncipe de Nassau, de Gaspar Barleo [i.e. Barléu],118 e a História Natural do Brasil, de Willem Piso, Georg Marggraf e Johannes de Laet.119 Essas duas obras, além de várias pinturas, como as de Eckhout e Franz Post, disponibilizaram ao público europeu a conformação cartográfica do nordeste brasileiro. Sobre tal região, D’Anville possuía um significativo conjunto de mapas e estampas, totalizando 16 exemplares. As estampas, com suas vistas de cidades, de aparência tridimensional, constituíam também forma de representação cartográfica.
referência no século XVIII, período predominante da coleção de D’Anville. Muitas das cartas foram retiradas dos depósitos do Departamento da Marinha, que, desde 1720, possuía importante acervo cartográfico para utilização em expedições sob o seu patrocínio.114 Dos autores franceses, destacam-se Delisle, com oito mapas, seguido de Sanson, com três. Amsterdã, outro centro importante de produção de mapas na Europa, vem a seguir. No entanto, quando os dados de local e data são cruzados, observa-se que essa cidade domina o conjunto dos séculos XVI e XVII, totalizando 10 mapas do total de 17, quase 59%.115 Em contraste, do total de 22 cartas do século XVIII, a França aparece como o local de produção de 14, atingindo 63,6% do total desse conjunto, o que reflete o deslocamento do eixo da produção cartográfica impressa da Holanda para a França, no século XVIII.116 Outro fenômeno observável pela leitura desse mesmo quadro é a maior diversidade de locais de produção cartográfica no século XVIII em relação aos séculos precedentes. Assim, do século XVI, a Itália comparece apenas com Forlani, e do século XVII, com Coronelli,117 que viveu parte de sua vida em Paris, a serviço de Luís XIV. No século XVIII, figuram ainda a Inglaterra, com Hermann Moll; a Noruega, com Du Fruzier; e a Espanha, com La Fuente.
QUADRO IV
h
Incendia molarum prafecturae Omnium Sanctorum Incêndios em Salvador da Bahia, por Frans Post, 1647.
sub-representado nesse conjunto, mas mesmo o volume de cartas dos dois séculos precedentes juntos não o supera. São 22 cartas, totalizando 56,4% do total. Ter acesso às “coisas novas” era fundamental para assegurar a qualidade de sua Carte de l’Amérique méridionale.
QUADRO III
LOCAL
h
Século de produção das cartas gerais da América meridional TOTAL
%
XVI XVII Subtotal XVIII até 1748
5 12 17 22
12,8 30,8 43,6 56,4
TOTAL
39
100
SÉCULO
h
Local de publicação das cartas gerais da América meridional
QUADRO II
SÉCULO
Século de produção das cartas sobre o Brasil
NÚMERO
França Amsterdã Itália Espanha Inglaterra Noruega
18 13 3 2 2 1
TOTAL
39
% 46,2 33,3 7,7 5,1 5,1 2,6 100
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
Conforme o Quadro III, a França é o país onde foi produzida a maior parte das cartas gerais sobre a América meridional, o que é natural, pois a cartografia francesa lhe era a mais acessível, além de ter se tornado
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
154
TOTAL
%
XVII XVIII até 1748
42 35
54,5 45,5
TOTAL
77
100
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
Examinando-se as cartas sobre o Brasil, a partir dos Quadros IV e V, observam-se lacunas em relação a algumas das tendências das cartas gerais sobre a América. As dificuldades de acesso à cartografia portuguesa, em geral manuscrita e para consumo próprio da Coroa, implicaram uma produção restrita de mapas sobre o Brasil em outros centros. Por essa razão, a cartografia dos Países Baixos sobre o Brasil, sobretudo aquela resultante da invasão holandesa (1630-1654), ocupou papel de destaque na coleção, possivelmente pela coleta de informações
Frontispício da obra Historia naturalis Brasiliae ..., de 1648, do médico e cientista Guilherme Piso, contratado pelo governador da colônia holandesa no Brasil, Maurício de Nassau. 155
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A ilha Henri, no Rio de Janeiro, carta de André Thevet, no manuscrito Le grand insulaire, descrição de ilhas habitadas e desabitadas no Ocidente, Novo Mundo e Mediterrâneo, 1686 À direira, a ilha das Margaias, adaptação do nome Maracajás (atual Ilha do Governador) por Thevet, 1586.
Na página seguinte, plano da cidade do Rio de Janeiro, no século XVI, mapa da Coleção D’Anville.
Baixos, dominam os mapas e as estampas de Blaeu, Post e Marggraf, retratando o Brasil holandês. Em relação à produção da França, espelhando o gradativo predomínio da cartografia desse país, ocorre o inverso, sendo sete os mapas do século XVII; e 15 os do século XVIII. No primeiro caso, aparecem Sanson120 e André Thevet, que produziram algumas cartas no contexto da invasão francesa ao Rio de Janeiro.121 No segundo, destacam-se Coquart, que esteve na expedição de Duguay-Trouin, pirata francês que atacou o Rio de Janeiro em 1711; Philippe Buache, descendente de uma tradicional família francesa de geógrafos; Amédée François Frézier, membro de uma expedição em 1714 ao Chile e Peru, que coletou dados sobre a Bahia e Santa Catarina, a partir dos quais produziu um mapa;122 e La Condamine. Ainda nesse grupo, contabiliza-se uma carta de Delisle, publicada em Nuremberg, na Alemanha. Trata-se da Typus geographicus Chili Paraguay Freti Magellanici, de 1733. Esse mapa retrata um processo típico da cartografia da época, no qual o geógrafo atualiza um mapa precedente, utilizando a placa anterior de outro.123 O comércio dessas placas era rendoso e elas eram arduamente disputadas entre as dinastias de cartógrafos. Originalmente de autoria do jesuíta Alfonso d’Ovalle (1601-1651), o mapa atualizado por Delisle e impresso por Nicolas Techo agrega as informações de Frézier sobre a América do Sul.124 Muitos desses mapas foram produzidos no contexto dos ataques de piratas ou de viagens de estrangeiros
QUADRO V
h
Local de publicação das cartas sobre o Brasil NÚMERO
%
Amsterdã França Portugual Itália Espanha Inglaterra
LOCAL
29 22 13 7 5 1
37,6 28,6 16,9 9,1 6,5 1,3
TOTAL
77
100
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
A conjugação do monopólio português sobre a cartografia do território brasileiro e a visibilidade da cartografia holandesa no período da invasão, conforme se percebe no Quadro IV, implicaram um maior número de mapas sobre o Brasil do século XVII, em detrimento do século XVIII, diferentemente do que ocorrera com a cartografia geral da América e mesmo com o conjunto da coleção. Assim, Amsterdã foi o local de produção do maior número de cartas sobre o Brasil, e não a França, representando, respectivamente, 29 (37,6%) e 22 (28,6%), num total de 77 mapas. No entanto, cruzando os dados de ambos os quadros, observa-se a tendência de declínio da produção cartográfica holandesa, sendo 27 mapas do século XVII e apenas dois do século XVIII. Na produção dos Países 156
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
França Antártica, aliás Rio de Janeiro, mapa realizado nas viagens de Villegagnon e Jean de Léry ao Brasil em 1557 e 1558.
A Carte de l’Amérique méridionale
territoriais, D’Anville teve acesso a cartas manuscritas
ao Brasil. A configuração que D’Anville imprime à baía do Rio de Janeiro, por exemplo, é tributária principalmente das cartas produzidas no contexto da invasão de René Duguay-Trouin, em 1711, considerando-se que ele possuía uma carta resultante dessa expedição, e uma outra que nela se baseava, de autoria do hidrógrafo do rei, Jacques Nicolas Bellin,125 de quem tinha ainda outra, por sua vez copiada de Mannevillete.126 Também em sua coleção consta a publicação Relation d’un voyage fait en 1695, 1696 et 1697 aux côtes d’Afrique, détroit de Magellan, Brésil, Cayenne et isles Antilles, cuja edição de 1698 foi acompanhada dos mapas, de autoria de François Froger,127 que acompanhou Jean-Baptiste de Gennes em viagem à África e ao Brasil, até o estreito de Magalhães.128 Toda essa cartografia de origem francesa foi cotejada com uma linda carta manuscrita portuguesa, de autoria desconhecida, na qual, em folha à parte, D’Anville redigiu uma legenda em francês dos principais pontos do entorno e da cidade.129 Quanto à baía de Todos os Santos, D’Anville baseou-se principalmente na configuração estabelecida por Amédée François Frézier, quando esse viajante passou por Salvador.130 Uma carta náutica inglesa de WH Smith, baseada, segundo o próprio autor, nas observações de marinheiros holandeses e ingleses, também faz parte da coleção.131 Apesar de os portugueses buscarem manter secreto o conhecimento da geografia de suas possessões
portuguesas, sem as quais não poderia ter imprimido ao
Carta topographica de todo o terreno comprehendido desde a Barra do Rio Grande de S. Pedro, the Castilias pequeno, que corre entre a Costa do Mar e a Lagoa de Merim, por Francisco Maldonado, 1737.
seu mapa uma configuração adequada do Brasil. Foram 13 mapas, cuja importância é fulcral. Em grande parte, essa cartografia foi fornecida a D’Anville por dom Luís da Cunha e seu círculo mais próximo. Do conjunto, destacam-se ainda a Carta topográfica de todo o terreno compreendido desde a Barra do Rio Grande de São Pedro, thé Castilhos pequeno, que corre entre a costa do mar e a Lagoa de Merim, tirada por ordem do brigadeiro José da Silva Pais, executada por Francisco de Barbuda-Maldonado;132 a carta manuscrita do rio Tocantins,133 de rara beleza; e a Esquisse au crayon de la Region de Santos au Brésil, desenhada a partir das informações de Manuel Gonçalo de Lacerda, secretário de dom Luís da Cunha.134 Não por acaso, os mapas portugueses mais recentes a que D’Anville teve acesso referem-se, em sua maioria, à bacia do rio da Prata, à região amazônica e às Minas Gerais, pois interessava ao embaixador que essas áreas fossem cartografadas com precisão, por se inserirem em sua lógica geopolítica de limites para a América do Sul. A região do Prata poderia ser intercambiada a fim de garantir a posse da Amazônia e das Minas, pois no início do século XVIII Portugal ainda não estava seguro de que toda a porção mineradora estivesse no espaço intra-Tordesilhas. Quanto aos demais locais de produção cartográfica sobre o Brasil, a Itália aparece com sete cartas, todas de Andreas Antonius Loratii Horatius, geógrafo que adaptou mapas preexistentes, de Marggraf,135 ou da cartografia portuguesa,136 publicando-as em Roma no início do século XVIII. Quase todas as cartas ostentam as armas de Portugal e parecem fazer parte de um atlas.137 A Inglaterra aparece com uma carta do século XVII, de Robert Dudley (1574-1649), geógrafo que trabalhou sob o patrocínio do duque da Toscana e produziu Del Arcano Mare, publicado em Florença.138 Trata-se de uma carta do século XVIII, copiada de um mapa original do autor da foz do rio Amazonas.139 D’Anville, porém, não se apoiou apenas em mapas, mas também em memórias e outros documentos escritos que, correlatos e complementares à cartografia, ajudavam a desvelá-la. 158
casos, são as memórias que “fornecem o socorro que não é possível assegurar” ao utilizar somente um mapa.143 Por essa razão, D’Anville procurou colecionar não apenas mapas, mas suas memórias, ou os relatos de viagem que descrevem os trechos percorridos. A partir de um exemplo, referente ao padre Gumilla e sua obra El Orinoco ilustrado y defendido,144 uma das memórias de que D’Anville se vale na Carte de l’Amérique méridionale, percebe-se que ele não era um receptor passivo nem dessa literatura, nem desses mapas. Ávido crítico desse material, lia-o com agudeza, procedimento necessário para deles extrair de forma segura o maior número possível de informações. Nesse sentido, afirma: “A leitura da obra desse padre mostra as omissões e outros defeitos na carta que ele inseriu. Esta carta deve ser aperfeiçoada pelo estudo da obra em si.”145 É por isso que sua vasta coleção incluía um conjunto de relatos e memórias de viagem, acompanhadas ou não de mapas. Quando o são, as memórias contribuíam para o entendimento e a crítica da carta em questão. Outro autor de quem D’Anville utilizou tanto os diários quanto os mapas foi Amédée-François Frézier. Em sua Voyage de la mer du Sud,146 ele descreveu as viagens que realizou no Chile, Peru e Brasil. O irmão de D’Anville, Gravelot, servira em São Domingos sob o comando de Frézier e o auxiliara na confecção de um mapa da ilha. Além de suas cartas, D’Anville utilizou seus apontamentos e medidas de vários lugares. O geógrafo tinha Frézier em alta conta, e afirmou que, nessa viagem ao mar do Sul, ele “provou sua habilidade, bem como sua exatidão”.147 Sempre preocupado com a conversão de medidas e a transformação do tempo gasto em um itinerário de viagem numa medida cartograficamente representável, D’Anville destaca que, ao estabelecer a distância entre
Itinerários de viagem Mapas encontram muitas formas de expressão e “muitas vezes, os mapas dos viajantes se apresentavam na forma de relatos narrativos sobre as experiências vivenciadas durante a viagem”.140 Relatos de viagem são o que podemos chamar de mapas mentais, já que não adquirem a forma de uma representação pictórica do espaço, mas o descrevem por meio de palavras. Nesse caso, o texto do roteiro configura-se como um mapa, expresso em linguagem escrita. Na pintura anônima que retrata D’Anville em seu ateliê, ele se debruça sobre um livro, e com seu dedo aponta um trecho que acabara de ler, destacando sua importância. Outros muitos estão atrás de sua mesa, dispostos em uma estante. Livros, de que também se valia para apurar seu gosto,141 eram repositórios escritos de importantes saberes geográficos, utilizados para produzir seus mapas. Diferentemente de sua coleção cartográfica, a quase totalidade da coleção de manuscritos e da biblioteca de D’Anville não sobreviveu, mas pistas de documentos coevos, livros, memórias e relatos de viagem que utilizou podem ser encontrados aqui e ali em alguns arquivos, e muito especialmente descritos nas memórias que escreveu para acompanhar seus mapas. “Memórias são acompanhadas de cartas particulares sobre cada um de seus objetos.” De fato, no contexto das viagens de exploração, o mapa é que é geralmente uma ferramenta auxiliar ao texto que descreve a viagem e, quando o primeiro é produzido, assegura ao leitor uma leitura visual do território percorrido.142 É o caso de La Condamine com a publicação de seu relato de viagem pelo rio Amazonas, que, para facilitar a visualização do trajeto percorrido, encomenda a D’Anville mapas para ilustrar seus livros. Nesse e em outros 159
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A Carte de l’Amérique méridionale
e escritor francês Jean de Léry (1536-1613), Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil, autrement dite Amérique. Em alguns casos, Coreal ampliou o texto de Léry, acrescentando suas próprias observações.151
Índios da Patagônia cumprimentam um viajante europeu, litografia de Jules Ferrario, c.1820-30.
Valparaíso e Santiago do Chile em 28 léguas, Frézier não deixou de considerar que “o caminho atravessa um país inculto e deserto, cortado por montanhas e vales, portanto próprio para colocar uma diferença sensível entre a medida do caminho e a da linha direta”.148 Também utilizadas para o instruir na configuração de partes da Carte de l’Amérique méridionale foram as Noticías historiales de Tierra-firme, do padre franciscano Simon, e as Genealogias del Nuevo-Reino de Granada, de Flores Ocariz. Como era afeito a seu método, D’Anville copiara extratos dessas obras, esperando que pudessem servir como fonte de informação para uma futura obra sua. Ele confirma que esses dois livros “e algumas outras memórias, me forneceram muitas circunstâncias locais, muitas das quais se combinam com o detalhe do itinerário”.149 Outra memória de que se valeu se intitula Voyages de François Coreal aux Indes Occidentales, contenant
ce qu’il y a vû de plus remarquable pendant son séjour depuis 1666 jusqu’en 1697.150 Francisco ou François Coreal era um espanhol, cuja identidade é muito duvidosa. Esse livro seria uma tradução francesa de um relato em primeira mão, em espanhol, de várias viagens ao Brasil e à América Hispânica realizadas por Coreal ao longo de 30 anos, de 1666 a 1697. As supostas viagens de Coreal cobrem, aproximadamente, metade dos três volumes. O restante da obra é composto por um conjunto heterogêneo de textos extraídos dos relatos de viagem de Sir Walter Raleigh (1552-1618) e de vários de seus contemporâneos. Muitos estudiosos acreditam que Coreal era o nome fictício de um escritor que, provavelmente, nunca viajou para as terras descritas no livro. Esta teoria é [sustentada] pelo fato de que nenhum original da obra em espanhol tenha sido encontrado e que grande parte da narrativa de Coreal é plágio [da] obra de 1578 do explorador 160
Os relatos de Walter Raleigh e El Orinoco ilustrado, de Gumilla, foram de grande valia para que D’Anville se debruçasse sobre a existência ou não do lago Parima na região amazônica, e discutisse sua possível localização. Também utilizado por ele, a Descripción Geographica y derrotero de la région austral Magallanica, por dom Francisco de Seixas y Loreva (1690),152 relata uma embaixada enviada por Espanha à Mongólia, que retornou pela China, passando pelo estreito de Magalhães.153 Apesar de a maioria dessas jornadas ter sido realizada nos dois séculos anteriores à produção da carta, havia outras mais recentes, como aquelas descritas no Diario de un viaje a la costa del Mar Magallanica em 1745, desde Buenos Aires hasta el estrecho de Magallanes, formado sobre las observaciones de los pp. Cardiel Quiroga, por el Pedro Lozano, ou na Histoire du Paraguay, par le R.P. Pierre François-Xavier de Charlevoix (1756); ou ainda na Voyage around the world by the Amiral Anson (1749).154 Pedro Lozano era um missionário jesuíta em ação perto de Córdoba, nos pampas argentinos. Em 1746, escreveu um relato sobre a região, do qual constava a descrição de uma viagem, realizada pelo padre José Quiroga, que fora encarregado pelo Conselho das Índias de Espanha de realizar observações. A expedição partiu do rio da Prata e foi tentar descobrir uma possível passagem entre a baía de São Julião e o mar do Sul, por um rio chamado Campana.155 A expedição inglesa do almirante George Anson, direcionada ao mar do Sul, se insere no contexto das disputas anglo-espanholas, agravadas a partir da apreensão pelos espanhóis, nas proximidades de Havana, do navio mercante inglês, comandado pelo capitão Robert Jenkins, acusado de contrabando. Os espanhóis mutilaram o capitão e, a partir daí, a escalada das tensões levou a uma guerra entre as duas potências. Intitulada Guerra de Jenkins, o conflito, que se estendeu entre 1739 e 1742, se caracterizou por enfrentamentos esporádicos, ocorridos principalmente no mar. No contexto dessa rivalidade, a Inglaterra intensificou a pirataria em direção às possessões espanholas na América do Sul. Dom Luís da Cunha regozijou-se por esse conflito, pois Portugal poderia retirar dele algumas vantagens com o
Ilustração de Historia natural, civil y geografica de las naciones situadas en las riveras del rio Orinoco, do padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon e Antonio Juglá y Font, 1791.
enfraquecimento da força militar espanhola no cone sul, onde a Colônia do Sacramento encontrava-se sitiada. Disse que “esta guerra nos vem do céu, e é que do céu nos pode vir senão a paz, porque é natural que os nossos vizinhos e nossos êmulos quebrem as cabeças e extenuem as suas forças para resistirem a tão poderosos inimigos”.156 Foi nesse contexto que a frota comandada por Anson partiu da Inglaterra em 1740 com destino incerto, junto com outra dirigida ao Caribe.157 O almirante levava consigo o livro de Frézier e suas cartas, conforme atestou Richard Walter, que redigiu o relato da viagem de Anson. D’Anville possuía tal relato, intitulado A Voyage round the world, no qual colheu medidas utilizadas em várias partes de seu mapa, e duas cartas relativas à expedição. Uma correspondia à ilha de Chiloé (na costa do Chile),158 cuja configuração alterou na edição da Carte de l’Amérique méridionale de 1760. A outra era um mapa da rota de Anson entre o Atlântico (mar 161
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A Carte de l’Amérique méridionale
vários pontos da costa do continente. Halley produziu um mapa de variações dos ventos em 1689 e, em 1701, um da variação do compasso, todos dois importantes para a navegação. D’Anville possuía um mapa de Hermann Moll, geógrafo inglês, desenhado a partir das viagens de Halley, que mostrava a rota percorrida e corrigia a localização de vários pontos da costa sul-americana em relação a estimativas anteriores.162 Outro viajante, cujo relato D’Anville utilizou na produção da Carte de l’Amérique méridionale, foi o padre francês Louis Feuillée que, depois de uma expedição ao Levante entre 1700 e 1701, foi, em 1703, para a Martinica. A expedição ao Levante foi organizada pela Académie des Sciences de Paris, da qual era membro, para que ele e Jacques Cassini estabelecessem as medidas de várias localidades. Finalmente, entre 1707 e 1711, realizou uma longa viagem pelas costas da América do Sul, passando por Argentina, Chile e Peru. Entre 1714 e 1725, publicou em três volumes os resultados científicos de sua expedição163 consultados por D’Anville. Junto da primeira edição de seu livro, publicou uma Carte de
Plano de uma baía nas costas do Chile, descoberta pelo almirante Anson, pirata inglês, em 1741.
do Norte) e o Pacífico (mar do Sul), de Hermann Moll.159
Anson pela América meridional chamava a atenção para
Entre outras informações, Anson forneceu-lhe a distân-
“as sondas e as variações da agulha observadas, e as esti-
cia entre Santiago e Buenos Aires, a partir da notícia que
mativas de erro causadas pela violência das correntes”.161
deu de que um índio havia gastado 13 dias para passar
D’Anville também se apoiou nas medidas tomadas
de uma vila a outra. A partir dessa referência, estimou o
por Edmond Halley. Famoso astrônomo inglês, Halley
caminho em 300 léguas, e afirmou que se podia confiar
também se preocupou em tomar medidas mais preci-
nesse relato, pois Maldonado lhe garantira que “os índios
sas dos meridianos, visitando, para isso, a ilha de Santa
Viajantes
Helena, onde montou um observatório, tendo poste-
como Anson, que durante suas viagens tinham utilizado
riormente realizado duas viagens à América do Sul, uma
instrumentos para estabelecer coordenadas de medidas
em 1698-99 e outra em 1699-1701, como comandante
confiáveis, foram fundamentais para a precisão do mapa
do navio Paramour, da marinha britânica. A partir de
de D’Anville. A cartela do mapa que retrata a rota de
suas observações, D’Anville estabeleceu a localização de
são próprios a fazer com exatidão suas rotas”.
160
162
l’Amérique méridionale dressée sur les observations du R. P. L. Feuillée, impressa em Paris, por Pierre Giffart, que fazia parte da coleção de D’Anville.164 Apesar de dispor de todas essas fontes, uma dificuldade a princípio parecia insuperável, interpondo-se ao processo de produção do mapa: a necessidade de dispor de fontes apropriadas para todo o território do subcontinente a ser representado, especialmente do interior do Brasil, desconhecido para os cartógrafos estrangeiros, como era o seu caso. Como ele próprio admitiu em uma de suas memórias escritas sobre a Carte de l’Amérique méridionale: “as razões de Estado [de Portugal] impediriam que os resultados das recentes observações geográficas e astronômicas [realizadas pelos mesmos] se tornassem públicas”.165 Contudo, a colaboração que estabeleceu com dom Luís da Cunha permitiu que ele tivesse acesso a algumas informações geográficas mais recentes da América portuguesa, muitas delas ainda consideradas secretas por Portugal, já que o embaixador esperava que a Carte de l’Amérique méridionale pudesse vir a ser utilizada nas negociações com a Espanha,
Páginas de rosto de relatos de viajantes europeus no século XVIII. À esquerda, o diário de George Anson, comandante inglês em missão oficial de circunavegação marítima; e, ao lado, o levantamento realizado ao longo do rio Orinoco, pelos espanhóis padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon e Antonio Jugla y Font. 163
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Edmond Halley (1656-1742), astrônomo e matemático inglês.
A Carte de l’Amérique méridionale
mais de perto o espaço a ser representado, constituindo-se como fontes de uma geografia vivida. Ao longo de vários anos de negociações ininterruptas nas diversas cortes europeias, o embaixador reuniu um notável acervo constituído de mapas e relatos manuscritos. A estreita colaboração entre dom Luís da Cunha e D’Anville para a confecção do mapa de 1748 se delineou a partir desse conjunto de documentos (mapas, tábuas de latitudes e longitudes, livros e relatos).166 O exame dessa documentação permite perceber como D’Anville elegia as suas fontes, e selecionava algumas informações em detrimento de outras, submetendo-as a critérios de validação que garantiam a sua confiabilidade, de acordo com suas diversas memórias escritas sobre o mapa. Uma vez escolhidas, ele as consolidou em um mapa marcado pelo signo das Luzes. Essa documentação também ajuda a desvendar as redes de informação que o embaixador teceu não só para se municiar com informações precisas sobre o território brasileiro e sobre o que se passava na região, mas também para compreender as questões despertadas pelo papel que o Brasil e as Minas Gerais, em particular, desempenhavam em sua estratégia geopolítica. Muitos dos elos dessa rede eram membros da elite portuguesa esclarecida, ou funcionários das nações onde serviu, o que pode ser percebido pelo exame da correspondência de dom Luís da Cunha. Alguns desses documentos o embaixador buscou de forma intencional, outros conseguiu quase ao acaso, no exercício de suas atividades diplomáticas cotidianas, que incluíam certo grau de espionagem, não só das atividades das Coroas adversárias, mas também de cidadãos que circulavam pelos países estrangeiros e que poderiam fornecer informações vitais sobre o império português, fossem eles portugueses ou estrangeiros.167 Ciente do poder de atração que as minas brasileiras passaram a exercer, na década de 1720, já em Paris, começou a recolher um conjunto intrigante de mapas sobre a região mineradora e seu entorno. Ele se fez atento para “alguns franceses [que] procuravam correspondência com pessoas das nossas Minas”.168 Assim foi que, na ocasião, recolheu três memórias de franceses sobre o Rio de Janeiro: a memória do capitão Dunssumnet, que foi ao Rio de Janeiro e à Bahia em 1713-1714 e 1718; outra memória de um barco confiscado pelos portugueses, do capitão Gelui de la Rochelle que, em 1718, devia ir para a Guiné aprisionar negros e, por causa de uma
dando a ver o continente sul-americano. Com a precisão que fosse alcançada, que era própria da cartografia de D’Anville, o mapa não deixaria mais dúvidas sobre os territórios de cada Coroa, e guiaria as negociações a serem travadas entre ambas as nações.
Oráculos de uma geografia vivida No que diz respeito à Carte de l’Amérique méridionale, foi preponderante para a configuração do Brasil o acesso a um conjunto de documentos fornecidos a D’Anville por dom Luís da Cunha, colecionados ao longo de suas diversas embaixadas. Distante em seu gabinete na França, esses documentos se tornavam uma janela aberta desde Paris, por meio da qual o geógrafo podia observar 164
tempestade, foi parar no Brasil; e uma terceira que lhe deram dois mercadores de Saint Mallo, porto de onde saiu grande parte das expedições corsárias francesas em direção ao Brasil no século XVIII.169 D’Anville possuía e usou seguidamente as medidas de longitude e latitude determinadas por Manoel Pimentel, cosmógrafo-mor de Portugal, no livro Arte de Navegar, publicado em Lisboa, em 1746.170 D’Anville as considerava bastante exatas e em vários pontos afirma que “não encontro nada que contradiga aqui a autoridade de Pimentel”.171 Entre seus papéis geográficos, encontra-se uma transcrição de próprio punho da página 193 deste livro, que registra as longitudes da Arábia, Pérsia e ilhas adjacentes.172 Mas o interessante é que, desde 1736, ele se baseia nas medidas de “Manoel Pimentel, cosmógrafo do rei”, muito antes de serem publicadas em livro, para estabelecer pontos geográficos do império português e em seu estudo sobre o meridiano de Tordesilhas, realizado a pedido de dom Luís da Cunha.173 O acesso ao manuscrito das tábuas de Pimentel antes de sua publicação só pode ser creditado ao embaixador, que muito certamente as apresentou ao geógrafo. Muitos desses documentos dom Luís da Cunha conseguiu a partir de seu círculo de amizades. Manoel Pimentel, como ele, havia sido membro da Academia dos Generosos. Como demonstração da confiança que existia entre ambos, em várias questões sobre as definições dos limites a serem estabelecidos, o embaixador recomendava que se consultasse o cosmógrafo-mor.174 Em 1681, Manoel Pimentel havia ido, junto com dois comissários enviados pelo rei de Portugal, assistir as negociações que resultaram no Tratado Provisional, o qual se debruçou “sobre o direito das demarcações das conquistas deste reino e as de Castela a respeito da nova colônia do Sacramento, fundada novamente na margem setentrional do rio da Prata”. Ali permaneceu “por três meses, assessorando as negociações com as notícias e papéis geográficos que compôs”.175 A partir de então seu conhecimento sobre a disposição do território brasileiro, especialmente a Colônia do Sacramento, foi constantemente invocado por dom Luís da Cunha como necessário para dirimir questões geográficas. Parece que foi também a partir de Manoel Pimentel que o embaixador teve acesso à cartografia de José da Silva Pais,176 pois o filho de Pimentel era casado com
a filha de Silva Pais.177 Silva Pais era brigadeiro, engenheiro militar e participou da Guerra da Sucessão Espanhola, trabalhando no reparo e construção das fortificações portuguesas.178 A partir de 1722, foi membro do Conselho Ultramarino, especialmente nas questões que diziam respeito à engenharia militar e à cartografia.179 Em 1735, foi para o Brasil para auxiliar na fortificação do Rio de Janeiro, a partir dos planos estabelecidos por João Massé, depois da invasão francesa de 1711.180 Sua nomeação previa que, quando necessário, substituísse Gomes Freire de Andrade, governador da Repartição Sul, o que de fato ocorreu, tendo servido como governador interino no Rio de Janeiro.181 Após sua chegada, participou nessa capitania da Academia dos Felizes.182 Era um savant de seu tempo, possuindo uma livraria “composta por 437 volumes, vários maços de papéis soltos e séries contínuas de gazetas nacionais e
165
Cópia de uma página de A arte de navegar, de Manoel Pimentel, manuscrito colhido entre os papéis geográficos de D’Anville.
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A Carte de l’Amérique méridionale
estrangeiras”.183 Sua biblioteca espelha a circulação da cultura iluminista entre os membros da República de Letras européia e apresenta uma feição “de base racionalista e de vincada filiação cartesiana e newtoniana”.184 No Brasil, fez parte de duas expedições à Colônia do Sacramento, com o objetivo de reparar e reforçar suas fortificações, primeiro se precavendo contra uma possível invasão logo depois do cerco à fortaleza encetado pelos espanhóis,185 tendo sido comandante das operações de desembarque e ação terrestre da grande esquadra enviada de Lisboa, em 1736, e comandada por Luís de Abreu Prego para libertar a fortaleza.186 Depois do armistício foi enviado para o Rio Grande de São Pedro,187 onde “se empregou com [...] zelo e acerto nas suas fortificações e na execução dos seus limites”.188 Foi ainda, por duas vezes (1739-43 e 1746-49), governador de Santa Catarina, “empregando-se com o mesmo zelo na sua fortificação e estabelecimento”.189 Grande conhecedor da arte da cartografia, Silva Pais produziu, em 1737, importante carta da região sul do Brasil.190 O mapa foi produzido de acordo com as normas cartográficas introduzidas em Portugal por Manoel de Azevedo, pois Silva Pais fora aluno das Aulas Régias de Fortificação e Arquitetura Militar,191 e possuía em sua biblioteca exemplares de todas as obras desse engenheiro militar.192 Cópia desse mapa veio parar nas mãos de dom Luís da Cunha,193 não se sabe exatamente como. Pode ter-lhe sido enviado pelas próprias autoridades portuguesas, após 1736, juntamente com outras cartas para a condução das negociações após o cerco da Colônia, ou diretamente por Manoel Pimentel, a quem sempre requisitava que esclarecesse sobre as questões de geografia que envolviam as disputas de território com a Espanha. Certo é que obteve o mapa pouco depois de sua produção, pois o forneceu a D’Anville, quando este ainda fazia seu estudo sobre o posicionamento do meridiano de Tordesilhas, exatamente por essa mesma época.194 D’Anville fez de seu próprio punho uma cópia do mapa195 e dele se serviu para conseguir informações mais precisas do sul do Brasil, particularmente da existência e das feições da lagoa dos Patos, bem como da geografia dessa região até a ponta de Castilhos. Como atesta o geógrafo, “é a essa carta que eu devo o conhecimento de um grande lago, até o presente desconhecido nessa região da América”,196 que “me deu não menos que 50 léguas marítimas de comprimento desse lago, [e] que a minha Carte 166
de l’Amérique méridionale foi a primeira a fazer conhecer”.197 De fato, uma das grandes novidades de seu mapa nessa região residiu na inclusão das lagoas dos Patos e Mirim. Dessa melhoria, o geógrafo se vangloriava afirmando que “esta extensão pude a fazer entrar em comparação com os maiores [geógrafos] que nos fizeram ser conhecidos nesse continente”.198 D’Anville tinha o brigadeiro e a sua carta em alta conta. Esta, ele acreditava, havia sido riscada com precisão, baseada em tomadas de medidas diretas no terreno, segundo os métodos e instrumentos mais modernos.199 Enquanto esteve como governador da ilha de Santa Catarina, Silva Pais deu abrigo à esquadra do corsário inglês, o almirante Anson,200 depois de uma peste a bordo.201 Em seu livro Voyage around the world, Anson se referiu a Silva Pais “como um engenheiro hábil”202 e essa passagem foi mencionada por D’Anville para atestar a sua credibilidade e a de seu mapa.203 Mas as diferentes formas com que D’Anville se apropria dos inúmeros documentos por ele recolhidos para reconfigurar a entidade sul-americana e as maneiras distintas como torna pública essa apropriação levantam interessantes considerações sobre diversos estatutos de verdade que ele concede a essas fontes – cartográficas ou não – e que foram fundamentais para conformar sua concepção de mundo. Assim, na cartela do mapa, ele declara ostensivamente se apoiar nas fontes textuais e cartográficas de La Condamine e dos outros membros da expedição franco-espanhola enquanto esfumaçam-se os que, palmilhando os sertões das gerais, os pampas platinos e as selvas amazônicas, constituíram os verdadeiros olhos do cartógrafo e se tornaram assim os reais oráculos de uma geografia vivida. Ao conferir status distintos ao conjunto de relatos e informações de que dispunha para conformar sua entidade americana, D’Anville não deixa evidente no mapa, mas apenas no debate que se segue à sua publicação, que eram esses homens do sertão que lhe permitiam conferir uma nova dimensão à terra, embora seus relatos não tivessem sido produzidos com tal propósito. Contudo, é na Carte de l’Amérique du Sud, e somente nela, que os três oráculos se encontram e revelam os substratos e as diversas linguagens sob os quais se assentam o mapa: o cartográfico, domínio do sábio francês; a política, palco do diplomata português; e o espaço vivido, nas trilhas percorridas pelos viajantes anônimos ou naturalistas em terras americanas. 167
Na página anterior, América (detalhe), de Stephan Kessler, (1622-1700).
O CASO DOS
IRMÃOS N UNES Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
Como se verá, os irmãos Nunes eram
ara estabelecer na Carte de l’Amérique méridionale a geografia do território entre Salvador da Bahia e o coração das Minas Gerais, D’Anville utilizou como principal fonte o roteiro intitulado Noticias das minas da América chamadas Geraes Pertencentes a El rei de Portugal, relatada pellos tres irmaos chamados Nunes os quaes rodaraó muytos annos por estas partes,1 que deu início a esta pesquisa.2 Ao comparar as informações contidas nesse documento e a conformação geográfica do mesmo território no mapa, a correspondência é evidente. O próprio cartógrafo atestou, em suas memórias sobre o processo de produção da carta, que se baseara no roteiro dos irmãos Nunes para cartografar o trecho entre Salvador da Bahia e o interior das Minas Gerais,3 e, no livro que publicou em 1777 para aprimorar o estudo da geografia, reafirmou que “um itinerário de cerca de 250 léguas me conduziu, partindo da Baía de Todos os Santos, até Vila Rica”.4
cristãos-novos. Por essa razão, sua transumância nos permite esboçar uma trajetória cartogeográfica da saga errante de uma família de marranos no espaço atlântico que se reflete no mapa de D’Anville.
Sinagoga Portuguesa em Amsterdam, por Emanuel de Witte, c.1680. Acima, um detalhe da gravura Acampamento noturno de viajantes sugere o modo de vida itinerante dos irmãos Nunes nos caminhos para as Minas. 169
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
pelo qual, a partir de Salvador na Bahia, em duas rotas distintas - a Travessia de João Amaro e a Travessia de dona Joana -, alcançava-se o rio São Francisco e daí, seguindo sua margem direita, subia-se o rio das Velhas e atingia-se Vila Rica já nas Minas; 2) um relato da Guerra dos Emboabas, conflito pelo controle da área que opôs, entre 1708 e 1711, os paulistas e os recém-chegados, genericamente apelidados de emboabas;5 3) o caminho para a região das esmeraldas; e 4) um rol sucinto de tribos indígenas encontradas ao longo do rio Doce.
Os irmãos Nunes
Página inicial do manuscrito com notícias dos irmãos Nunes acerca de suas travessias entre Bahia e as Minas Geraes.
Os próprios autores do roteiro se autodenominaram “os irmãos Nunes”.6 A identificação nominal dos três irmãos - Diogo, João e Sebastião -, no entanto, só foi possível a partir da consulta ao rol dos culpados de heresia oriundos do Brasil, levantado por Anita Novinsky, junto aos arquivos da Inquisição.7 Portugueses, cristãos-novos, naturais da vila de São Vicente da Beira, parte do concelho de Castelo Branco, bispado da Guarda, próxima à fronteira espanhola, os irmãos Nunes eram descendentes de judeus fugidos das perseguições inquisitoriais na Espanha e convertidos à força ao catolicismo, em Portugal, no final do século XV. Seus pais eram Diogo Nunes, natural de Proença,8 e Clara Henriques, nascida em São Vicente da Beira.9 Logo após o matrimônio dos dois, o casal estabeleceu-se junto à família de Clara, em São Vicente, onde os três meninos nasceram, sem que se possa ter certeza da ordem em que vieram ao mundo. Parece que João foi o primogênito, seguido de Diogo, que nasceu por volta de 1675, e de Sebastião, o caçula. Depois que os filhos cresceram, a família mudou-se para Idanha-a-Nova, reduto onde moravam muitos outros membros da sua parentela. Eram gente humilde. O velho Diogo e seus três filhos dedicaram-se ao pequeno comércio, identificando-se como tratantes10 ou comissários, realizando negócios, transportando mercadorias ou cobrando dívidas, agindo sempre, sob comissão, a serviço de terceiros.11 A itinerância marcava seu modo de vida. Era uma profissão arriscada, muitos morriam nas viagens perigosas que eram obrigados a fazer ou eram assassinados por maus pagadores ameaçados pelas cobranças que se encarregavam de realizar.12
Do que trata esse documento e como chegou às mãos de D’Anville? Foi por meio de dom Luís da Cunha? Quem seriam os Nunes e o que os teria levado à realização desse roteiro? Quais as modificações introduzidas na representação do mapa a partir das informações dadas pelos Nunes, e de que forma o trecho reflete os interesses de domínio territorial da Coroa portuguesa? Como tal documento nos aproxima da concepção geográfica dos territórios percorridos, por meio do que intitulo uma geografia vivida? Como se verá, os irmãos Nunes eram cristãos-novos. Por essa razão, sua transumância nos permite esboçar uma trajetória cartogeográfica da saga errante de uma família de marranos no espaço atlântico que se reflete no mapa de D’Anville. O roteiro Noticias das minas da América chamadas Geraes é constituído de quatro partes: 1) o caminho 170
Os três irmãos Nunes eram filhos do segundo casamento do velho Diogo. Do primeiro matrimônio do pai, tinham três meios-irmãos: Diogo Henriques, Manoel Mendes e Francisco, que também moravam em Idanha-a-Nova, onde eram sapateiros, assim como grande parte de seus tios e primos. Mas alguns indivíduos da família estavam ascendendo socialmente, deixando o mundo dos ofícios mecânicos ao qual pertencia a maioria de seus membros,13 para ingressar no das artes liberais, como era o caso dos primos Diogo Nunes Ribeiro e Antônio Ribeiro Sanches,14 médicos, e Antônio Nunes, estudante de medicina.15 Como eles, a maioria da família residia na Beira, entre São Vicente, Idanha-a-Nova, Covilhã e Proença, mas havia parentes espalhados por todo o império português, como também pela França, Holanda e Inglaterra. Em fins da década de 1720, Diogo Nunes Ribeiro e Antônio Ribeiro Sanches16 estavam em Londres, assim como a prima Clara, professora de judaísmo; os primos Diogo Nunes Henriques e Miguel Nunes estavam em Minas Gerais, onde eram tratantes; José Nunes de Miranda era comerciante no Rio de Janeiro; Gaspar Henrique, capitão de navio, morava em Salvador; Luís Lopes, cirurgião, morrera a caminho da Índia;17 e Ana Nunes estava em Haia, nos Países Baixos.18 O contato dos três irmãos Nunes com o judaísmo se deu ainda na infância. Como comumente ocorria entre as seguidas gerações portuguesas de cristãos-novos, os três meninos foram instruídos pela mãe no recôndito do lar, nos arredores de São Vicente da Beira. Como deve ter ocorrido com os demais, aos 13 anos19 Diogo celebrou o seu bar mitzvah, quando, pelas crenças judaicas, os rapazes se tornam responsáveis por seus atos. Após esse rito iniciático, os meninos assumem a obrigação de cumprir diversos preceitos religiosos, que os irmãos mantiveram por toda a vida em cerimônias que praticavam secretamente, entre si e com outros judaizantes que encontravam em suas andanças. Mais tarde, quando foi preso, Diogo contou aos inquisidores que, quando rezavam o padre-nosso, não pensavam em Jesus, pois não criam nele, já que ainda aguardavam a vinda do messias; também não acreditavam no mistério da Santíssima Trindade, nem nos sacramentos da Igreja Católica, ou no poder da confissão para salvação de suas almas; guardavam “os sábados de trabalho como se fossem dias santos” - o Shabbat; não comiam carne
de porco, lebre, coelho e peixe de pele; e acreditavam que só existia o Deus do céu. Comemoravam a Páscoa e faziam o jejum do Dia Grande (Yom kippur) e o da rainha Ester (Purim), que caía entre os meses de janeiro e fevereiro. No calendário hebreu, o Yom kippur começa no crepúsculo, no décimo dia do mês hebreu de Tishrei (coincide com setembro ou outubro), até o seguinte pôr do sol, e os três rapazes, como era o costume, ficavam “desde a véspera, depois de sair a estrela, até o dia seguinte, às mesmas horas, sem comer nem beber e cea[vam], então, o que se lhe[s] oferecia”. Segundo o Santo Ofício, esses hábitos e crenças eram todos indicativos de adesão ao judaísmo, sendo usados pelos cristãos-novos, onde quer que estivessem, para iniciar uma conversação e identificar seus semelhantes.20 Contudo, para manter as aparências junto à comunidade e ficarem a salvo dos longos braços da Inquisição, os três irmãos Nunes foram batizados pelos pais ainda em São Vicente, e mais tarde foram crismados, já em Idanha-a-Nova. Diogo teve como padrinhos Francisco
Listagem dos Reynos gentios às margens do rio Doce, página do manuscrito dos irmãos Nunes. 171
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
A saga dos três irmãos entre o reino e as Minas Gerais
Judeus portugueses celebrando Pessach, em gravura inglesa de 1725.
Em 1707, quando Diogo tinha perto de 30 anos, ele e João resolveram deixar o reino para buscar oportunidades comerciais em outras praças marítimas do império português. Por essa época, João era solteiro, mas Diogo deixou para trás a esposa.25 Primeiramente, fixaram residência em Luanda e se envolveram no trato negreiro. No entanto, não ficaram muito tempo por lá. Logo perceberam que as oportunidades do outro lado do Atlântico, na América portuguesa, polo complementar deste comércio bipolar com a África,26 eram mais promissoras e, em menos de um ano, aportaram em Salvador da Bahia, com a intenção de se estabelecerem no Brasil. Possivelmente concretizaram essa ideia nas longas conversas mantidas na casa de Diogo, em Luanda, com Manoel Nunes Bernardes, comerciante no Rio de Janeiro. Judaizante como eles, enquanto estiveram juntos os três praticaram em segredo cerimônias e ritos judaicos.27 Não se sabe se Sebastião foi com os dois para a África, mas é certo que os encontrou na Bahia, sem que se saiba quem chegou antes de quem.28 Durante toda a permanência dos irmãos no Brasil, a partir dos contatos feitos em Luanda, os três mantiveram-se envolvidos no comércio de escravos, em seus diversos desdobramentos. É o que revela o exame dos relacionamentos estabelecidos por eles, mescla de negócios, relações familiares e exercício secreto do judaísmo. Cite-se José da Costa, capitão de navios que se destinavam a Angola;29 Antônio Roiz Campos, lavrador de tabaco e proprietário de um curtume no Recôncavo Baiano, sendo o fumo e o couro comercializados na África;30 e Manoel Mendes Monforte, médico, que enviava carregações de pano para serem vendidas em Luanda - todos cristãos-novos.31 O comércio negreiro, entretanto, não se resumia apenas ao intercâmbio estabelecido entre as praças marítimas africanas e brasileiras. Ao longo do século XVIII, o crescimento da produção de ouro e diamantes fez interiorizar as trocas entre o porto de Salvador e a região mineradora. As Minas exigiam cada vez mais a presença do braço escravo e tornaram-se o destino final da maior parte dos cativos que chegavam aos portos brasileiros, conectando essa região interior ao comércio negreiro transatlântico. Calcula-se que, nesse período, cerca de
Lopes e Manoel Rodrigues, respectivamente.21 Onde quer que se encontrassem nos vastos territórios do império português, os três frequentavam a Igreja Católica e se confessavam. Mas era apenas uma formalidade, pois não seguiam os preceitos nem revelavam ao confessor os seus erros de fé, já que não acreditavam que a confissão fosse capaz de perdoar pecados.22 Por volta dos 21 anos, Diogo casou-se com Leonor Henriques, provavelmente parente sua, já que o sobrenome da mãe dele também era Henriques, e mudou-se para a vila de Covilhã, onde a moça residia. Ali continuou a participar secretamente de ritos judaicos, tanto na casa de sua sogra, Brites Henriques, quanto na de sua prima, Ana Nunes, casada com seu cunhado, Antônio Vaz.23 João permaneceu solteiro por toda a vida e Sebastião casou-se com a filha de André de Siqueira, ambos cristãos-novos e judaizantes. Até onde se sabe, nenhum dos três deixou descendência legítima ou ilegítima.24 172
Minas, não só os valiosos escravos, como também louça da Índia, toalhas, roupas, tecidos, bebidas, medicamentos, entre outros produtos manufaturados, oriundos tanto do reino, quanto da Europa, da África e do Oriente. Os Nunes atestaram o dinamismo desse comércio e contaram que, em fins da década de 1720, “El Rei, [deu] permissão para que tudo passe, pagando os direitos reais, os quais estão arrendados em setenta e cinco arrobas de ouro, em cada um ano”.36 Mas esse não era um movimento unidirecional. Os viandantes, no caminho de volta, levavam para o porto de Salvador produtos das fazendas da região - Sertão e Recôncavo -, principalmente couro e tabaco, essenciais para a realização do comércio negreiro na África.37 Considerado pelos portugueses como de terceira qualidade, esse fumo, embebido em melaço e envolto em couro para impedir que ressecasse ou perdesse o aroma, caiu no gosto da nobreza da costa do Benin, que o recebia como parte do pagamento pelos escravos.38
40% dos recém-chegados da África tenham sido redirecionados de Salvador para a área mineradora,32 ou seja, aproximadamente 1.560 cativos ao ano.33 No entanto, apesar da complementaridade comercial entre a Bahia e as Minas e do dinamismo das atividades mercantis estabelecidas entre as duas regiões, logo no início do século XVIII o trato comercial para a área mineradora foi proibido. Seguidas leis foram editadas visando restringir as trocas nessa rota apenas aos gados vacum e cavalar criados nos sertões entre as duas capitanias.34 Segundo os Nunes, era “em Sete Alagoas, onde [ficavam] os visitadores, [qu]e confiscam as fazendas, por cuja causa os mercadores que viajam se juntam no Maquiné, e se preparam para se defender, porque os visitadores são muitos, e bem armados; e só era permitido que passassem os mercadores que levavam, bois, ou outros alimentos”.35 Mas, apesar dessas restrições, da Bahia continuaram a sair mercadorias de toda a natureza com destino às 173
Gamboa, de William Gore Ouseley. No início do século XVIII, as trocas comerciais entre a Bahia e a área mineradora foram restringidas.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Como era comum entre as famílias que se dedicavam ao comércio no império luso-brasileiro,39 os três irmãos se associaram para usufruir desse rendoso circuito comercial.40 Inicialmente, sem grandes créditos para se envolverem diretamente na compra de escravos ou de mercadorias que vinham do reino, os três perceberam que o melhor era se colocar a serviço de terceiros, e, como tratantes, trilhar o caminho que ligava o porto baiano às Minas Gerais. No caso desse eixo comercial,
alguns cavalos44 para o carregamento das mercadorias e tomaram o Caminho da Bahia, também chamado de “Caminho dos Currais”, devido às inúmeras fazendas ao longo de seu traçado e às boiadas que constantemente transitavam por ali para abastecer de carne a população mineradora; ou ainda de “Caminho do Sertão”, devido à natureza agreste de grande parte da região que cortava. Pelo fato de estarem sempre a serviço de terceiros, era forçoso que os tratantes estabelecessem redes de negócio que abarcavam amplos espaços e nas quais se misturavam laços familiares, de amizade e de fé. Por onde passaram, os irmãos Nunes encetaram relações comerciais com membros da sua parentela e com os irmãos de fé. Como eles, vários membros das famílias Nunes, Henriques e Miranda, todos cristãos-novos, muitos deles judaizantes, exploraram essa rota entre as Minas e a Bahia, e frequentemente se associaram para esse fim.45 Numa ponta ficavam os que dispunham de crédito e financiavam as atividades comerciais dos pequenos comerciantes da família. Diogo de Ávila Henriques, por exemplo, estabelecido em Salvador, tinha acesso a letras de crédito recambiadas do Porto e de Lisboa para a Bahia.46 Com esse capital, tornou-se grande importador de negros de Angola, que em parte enviava, por mãos de terceiros - como João Lopes Álvares e Jerônimo Rodrigues -, para vender em Minas.47 Também mandava comprar couro no sertão, que entregava a Antônio de Miranda, dono de curtume na Bahia, para ser beneficiado.48 Uma vez curtido o couro, parte era transformada em solas enviadas para a cidade do Porto, a fim de serem comercializadas por seu pai Jorge Henrique Moreno; parte mandava vender nas Minas; e ainda outra parte era revertida para o comércio negreiro, também em Angola. Um importante homem de negócio foi o primo Diogo Nunes Henriques, natural de Pinhel, arcebispado de Viseu. Os três Nunes tiveram intenso contato com ele em Minas, onde primeiramente se estabeleceu no Curralinho, e mais tarde mudou-se para as Minas de Itacambira, ambas situadas nas Minas Gerais.49 Nunes Henriques adiantava créditos a negociantes volantes, como era o caso dos três irmãos ou de Cristóvão João, e também comprava gado do sertão, que mandava conduzir e vender nos açougues das vilas da região mineradora.50 Os três Nunes frequentaram intensamente
a figura do tratante tornava-se fundamental porque grande parte das vendas se realizava a grandes distâncias dos [grandes] comerciantes, já que [estes] se encontravam nos portos litorâneos ou nas vilas mineiras, [e dos fazendeiros que ficavam no] sertão. O costume de comprar fiado também tornava a figura do tratante essencial para a cobrança de dívidas. Por costume, Escravos lavando diamantes em Curralinho, gravura do Atlas de viagem ao Brasil, de Spix e Martius. Na página seguinte, Tropeiro paulista, por Charles Landseer, século XIX.
o tratante recebia as mercadorias para transportá-las, delas tornava-se devedor a quem lhe contratara, passando-lhe documento escrito. Uma vez vendidas, geralmente pelo sistema de crédito, o tratante tinha que receber o pagamento, o que durava vários anos. De posse do dinheiro, as contas eram acertadas, recebendo o tratante uma porcentagem sobre as vendas.41
Assim, um ano depois de chegarem a Salvador,42 os três seguiram pela primeira vez para as Minas, iniciando a viagem em outubro de 1709.43 Adquiriram
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O caso dos irmãos Nunes
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Acampamento noturno de viajantes (detalhe), de Jean Baptiste Debret.
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
tratante para as Minas, para o que dispunha de três cavalos. Como resultado de sua atividade mercantil, esse Domingos devia a Joseph Ferreira da Silva, comerciante, as fazendas que tinha comprado, mas tinha créditos nas mãos de vários devedores pequenos, provenientes das vendas que realizara.56 Mais tarde, Diogo Nunes se declarou homem de negócio e não mais tratante.57 Homens de negócio era como se denominavam os comerciantes mais ricos, envolvidos em múltiplas atividades mercantis, principalmente o financiamento da atividade dos comerciantes menores.58 Era um sintoma do seu enriquecimento no trato mercantil, que só as Minas Gerais, como nenhum outro ponto do império português no século XVIII, foram capazes de proporcionar.59
a casa que ele possuía em Vila Rica, uma verdadeira “sinagoga”, onde amigos e parentes realizavam vários ritos judaicos. Ali se reuniam ainda “David Mendes, Domingos Nunes (sobrinho de Diogo Nunes Henriques), o senhor de engenho Domingos Rodrigues Ramires que tinha residido no Rio de Janeiro, João da Cruz, o mercador de panos David de Miranda, Francisco Nunes, Duarte Rodrigues, Manuel Nunes de Paz (filho de Diogo Henriques), Manuel Nunes Sanches e muitos outros, todos vizinhos”.51 Negócios, amizade, parentesco e a prática do judaísmo mesclavam-se nas relações estabelecidas entre eles. Na outra ponta dessas complexas redes comerciais ficavam os tratantes, como era o caso dos três irmãos Nunes. Como exemplo, um parente deles, Fernando Gomes Nunes, era contratado por várias pessoas para fazer carregações da Bahia às Minas e dispunha de quatorze cavalos para o negócio, além de duas pistolas e dois revólveres para se proteger dos perigos dos caminhos. Era credor de muitos moradores nas Minas pelas fazendas que vendia. Entre seus devedores estava o cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira, autor do Erário Mineral,52 um caixeiro no Serro do Frio e um padre em Guarapiranga, alcunhado de Quatro Olhos.53 Por sua vez, Fernando devia a várias pessoas na Bahia que lhe tinham dado mercadorias para vender nas Minas, entre elas alguns comerciantes, proprietários de engenhos, um oficial da Casa da Moeda e um médico vindo da Índia que lhe passou produtos de lá.54 Pouco antes de morrer, estava no Caminho do Sertão com três cavalos carregados de mercadorias pertencentes ao comerciante Manoel Sampaio de Freitas e ao senhor de engenho Diogo Henriques Ferreira. Também na Bahia, devia por empréstimos ao mercador Antônio Gonçalves Maciel e a um oficial da Casa da Moeda.55 Outro parente que se dedicou ao mesmo tipo de atividade foi Domingos Nunes,
Entre a América portuguesa, a Inglaterra e a França Os três irmãos permaneceram cerca de 15 anos em Minas Gerais, entre 1709 e 1724, circulando anualmente entre esta capitania e Salvador. Durante esse período foram testemunhas de muitos dos acontecimentos que convulsionaram os primeiros tempos do povoamento da região, como a Guerra dos Emboabas.60 Da pena deles sobreviveu um dos raros testemunhos coevos, não oficiais, do conflito.61 As razões do embate foram várias e se revelam na própria etimologia da palavra emboabas, que é incerta e cujo significado é flexível. Às vezes, era utilizada para designar apenas os portugueses; outras, englobava todos os que não fossem paulistas, como portugueses, baianos, pernambucanos etc. Foi empregada ainda para diferenciar os que tinham aberto as minas, identificados como paulistas, e os recém-chegados, acusados pelos primeiros de não terem contribuído para 176
irmãos, os paulistas também eram responsáveis, com suas arbitrariedades, por desorganizar o comércio, especialmente pelo Caminho da Bahia, no qual os três tinham interesse direto. Mas, diferentemente de grande parte de seus compatriotas, os Nunes tinham uma visão favorável de Borba Gato, paulista, genro de Fernão Dias Paes Leme, nomeado pelo rei superintendente das Minas, responsável por distribuir as lavras e manter a ordem nos tumultuosos primeiros tempos da exploração aurífera. Segundo eles, Borba era “homem de cabeça, mais inclinado a fazer bem, que mal. Assim, favorecia quanto podia aos mercadores, que com tanto trabalho faziam viagens tão longas”.68 Por se colocar ao lado dos comerciantes e tentar apaziguar os instintos erráticos dos paulistas, a Borba eles conferiram valores iguais aos que haviam dado aos europeus. Em Minas, Luís Nunes adquiriu a fazenda da Chapada, ao pé da Serra Vermelha, sem que se possa localizar com exatidão essa propriedade.69 Pouco depois,
o seu desbravamento e de apenas usufruírem as suas riquezas; ou para indicar todos os que utilizavam o Caminho da Bahia, em oposição aos que chegavam de São Paulo.62 Os paulistas se autodenominavam “naturais do solo”, “filhos da terra”, e se opunham a todos os forasteiros, chamados “emboabas por desprezo, que na sua língua quer dizer galinhas calçudas, o que imitavam pelos calções que usavam de rolos”.63 A clivagem que os irmãos Nunes estabeleciam opõe, de um lado, como era de costume, os paulistas; e, de outro, os europeus, por vezes qualificados por eles como brancos e portugueses. Entre os dois grupos, os irmãos marcavam diferenças de cor - europeus brancos e paulistas mestiços - e também culturais - os primeiros eram honrados e civilizados; os segundos, bárbaros, irracionais, traiçoeiros.64 Até a formação militar dos paulistas e portugueses refletia suas diferenças. Sobre os paulistas, os Nunes diziam que “esta gente marchava sem ordem alguma, todos em bando” e vinham “já matando e roubando os portugueses que encontravam”. Já sobre o líder emboaba, Manuel Nunes Viana, diziam que dispôs “sua gente em boa ordem militar. Armou toda sua gente de boas armas. Formou companhias, fez oficiais de cavalaria e infantaria, com suas trombetas e tambores. Marchou esta gente mandada por um official, ficando Viana de reserva”.65 De fato, enquanto os portugueses mimetizavam a organização e as táticas da guerra europeia - honrosa ao olhar dos Nunes -, os paulistas mamelucos - desonrosos - utilizavam as técnicas de guerrilha indígena. A chamada guerra brasílica, tática dos paulistas, era caracterizada por emboscadas e assaltos, oposta em tudo à guerra europeia, realizada pelo embate dos exércitos, com formação tradicional no campo de batalha, onde realizavam grandes manobras, “amparados por rigorosa hierarquia de postos e funções”.66 Na esteira de uma visão emboaba do conflito,67 como era de se esperar devido à sua origem reinol, os três irmãos posicionaram-se a favor dos portugueses e contra os paulistas. Não por acaso, o título da parte do texto em que descrevem os acontecimentos foi De como os Paulistas foram dominados. Na visão deles “eram estes paulistas homens arrogantes [e] facinorosos. Matavam sem piedade, [e sem] nem admitir razão alguma (...). E cada um [era] um régulo. (...) E, muitos daqueles régulos se julgavam soberanos”. Segundo os 177
Paulista com poncho, Thomas Ender, início do século XIX.
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Na página seguinte, As imediações de Vila Rica, c.1766.
os três se fixaram no chamado “sítio (...) dos Três Irmãos”,70 que, segundo eles, ficava depois do Curral do Borba, a seguir ao Roteador das Pedras de Luís Nunes, nas proximidades da lagoa da Itaubira, logo na saída da mata que circundava esse povoado, junto aos Campos de mesmo nome, à pouca distância de Vila Rica.71 Tratava-se de Campos de Itaubira, hoje a cidade de Itabirito. Reiterando tal localização, Diogo contou aos inquisidores que esta sua casa ficava a seis léguas (cerca de 40 quilômetros) de Vila Rica. Para atingi-la, “bastava ir até a Bocayna, e atravessar o Passa-dez, que é um rio, que se passa dez vezes”.72 As terras deveriam ter “umas capoeiras, alguns campos e limitados matos”, como aquela sobre a qual Bartolomeu Alves da Silva pediu confirmação, também nessa região.73 Ali eles descobriram as minas do “Varão, [situadas] onde faz barra o rio da Itaubira”. Nesse local, apenas um dos irmãos possuía “dez ou doze possessões [de lavras], em mais de uma légua de terra, de que era senhor”, localizadas em uma das muitas minas da região aurífera chamada “da Conquista, pelo bom sítio e matos em que está, [e] se julga a melhor das Minas Gerais”.74 Campos de Itaubira era um dos distritos da freguesia de Cachoeira do Campo, pertencente ao termo de Vila Rica. Sua denominação provinha do tipo de vegetação de campos que cobria a região. O sítio dos irmãos ficava nos campos do Curralinho, situado nos arredores de Itaubira.75 Ali, os Nunes eram vizinhos de Diogo Nunes Henriques.76 Apesar de estar continuamente em trânsito, Diogo Nunes considerava este seu local de residência.77 Cachoeira do Campo foi uma das urbes mais antigas de Minas Gerais,78 e palco de alguns dos conflitos da Guerra dos Emboabas. Acredita-se que na igreja de Nossa Senhora do Nazaré, a matriz, o português Manuel Nunes Vianna tenha sido empossado governador pelos insurgentes. Campos de Itaubira, um dos pequenos arraiais que surgiam entre e nas fazendas dispostas em seu entorno, possuía, como era comum a esses povoados, características entre o urbano e o rural. Sua igreja principal era dedicada a Santo Antônio, padroeiro de Portugal. O povoado ficava na região mineradora, e era, ao mesmo tempo, local de trânsito intenso de viajantes, que ali pousavam a caminho de Vila Rica. Por ambos os motivos, era ponto estratégico para o estabelecimento de uma comunidade de refugiados, como era o caso
dos cristãos-novos, muitos deles envolvidos com o trato mercantil, como acontecia com os Nunes e vários membros da sua parentela.79 Não por acaso, pelo menos 25 membros da família foram aí morar no primeiro quartel do século XVIII.80 Dispersos em Portugal, os parentes se reuniam nos perdidos sertões das Gerais.81 Entre 1716 e 1719, Diogo e João também realizaram viagens ao Rio de Janeiro, passando a explorar outro importante eixo comercial que ligava as Minas Gerais ao porto carioca, cada vez mais dinâmico. Na primeira viagem, pouco depois de saírem de sua casa, no Curralinho, encontraram-se com um parente, Miguel Nunes, tratante como eles. Miguel era sobrinho de David de Miranda,82 outro cristão-novo, também tratante do Caminho da Bahia, especializado em comprar panos em Salvador, com os quais fabricava roupas vendidas nas Minas. Como era o costume, os três então viajaram juntos, protegendo-se mutuamente dos perigos do trajeto,83 aproveitando para se conhecerem melhor, revelando uns aos outros sua secreta profissão de fé judaica.84 Como sempre faziam onde estivessem, em suas diversas estadas no Rio de Janeiro, os dois irmãos estabeleceram contatos com outros cristãos-novos judaizantes, com os quais pudessem se associar no trato mercantil, encontrar proteção e pouso na cidade e ainda realizar os ritos judaicos costumeiros. Tal ocorreu com Manoel Dias;85 Manoel Nunes Bernardes, antigo conhecido de Luanda, e quem provavelmente os aconselhara a se envolver no comércio com a praça carioca;86 e Ana Roiz, viúva de Damião Roiz, advogado.87 Uns dos pontos da capitania de Minas, fora das rotas para a Bahia e do Rio de Janeiro, que os irmãos chegaram a atingir em suas andanças foi Pitangui, reduto dos paulistas depois da Guerra dos Emboabas.88 Ali, por volta de 1716, na casa do cristão-novo Antônio Roiz, originário do Fundão, eles se reuniram e cumpriram os ritos judaicos, com mais um sobrinho do anfitrião e um mineiro de quem não se sabe o nome.89 Apesar das rivalidades entre europeus e paulistas, Pitangui parece ter sido um dos grandes redutos dos cristãos-novos portugueses em Minas.90 Outro foi a região do Serro do Frio, onde, de acordo com os Nunes, encontrava-se a “paragem ad’onde (sic) se acham muitas esmeraldas”. Um deles conheceu a região por causa de um paulista a quem devotava amizade e, com ele, chegou até Itacambira. Segundo os Nunes, a viagem começou em Antônio Dias, distrito de 178
O caso dos irmãos Nunes
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Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
barco de volta ao reino. As minas do Varão em Itaubira foram repartidas entre “quatro amigos, os quais [ainda] ficaram tirando ouro mais de ano e meio” depois.97 É muito provável que tenham resolvido fugir quando os longos braços da Inquisição chegaram ao Curralinho. De fato, do total de 51 cristãos-novos denunciados ao Santo Ofício como judaizantes, em Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII,98 25 eram oriundos dessa localidade, vários deles presos e enviados a Lisboa. Do total, três eram mulheres, e nove tinham o sobrenome Nunes. Parece que a prisão de Francisco Nunes Miranda, médico, aparentemente o primeiro cristão-novo preso no século XVIII na capitania, deu início à perseguição e descoberta dos demais familiares e amigos, que, como pedras de um dominó, eram descobertos a partir dos depoimentos dos já encarcerados.99 Tudo indica que os Nunes deixaram a cidade em companhia de Diogo Fernandes Cardoso, da sua esposa, Branca Lopes; sua sogra, Brites Lopes; e ainda duas cunhadas.100 Diogo contou que resolveu voltar a Portugal porque recebera uma carta ameaçadora de sua prima, Ana Nunes, assinada também pelo marido dela, Antônio Vaz, e seus filhos: se ele não retornasse ao reino para fazer a vida com sua mulher, Leonor Henriques, iriam denunciá-lo à Inquisição.101 Não se sabe se tal carta existiu, podendo tratar-se apenas de uma desculpa, já que os três, e não apenas Diogo, resolveram partir juntos, deixando para trás suas propriedades e seus rendosos negócios. O mais provável é que, a essa altura, a fé que verdadeiramente professavam estava prestes a se tornar pública, já que o número de judaizantes com quem haviam partilhado crenças e ritos era amplo e muitos deles
Ouro Preto, inicialmente “buscando o poente”. Quando atingiram o rio Preto, tomaram uma canoa e o curso desse rio foi percorrido até desaguar no Jequitinhonha. Seguindo sua vazante, chegaram às Minas de Araçuaí e finalmente, um pouco mais ao norte, a Itacambira.91 A praça mercantil mais importante para as atividades dos irmãos, no entanto, foi Salvador, onde eles anualmente iam comprar e vender mercadorias. Iniciavam a viagem sempre no mês de outubro, quando começavam as chuvas, essenciais para suprir de água os viajantes e seus cavalos em uma região marcada pelo agreste da natureza.92 Nos vastos sertões estendidos entre as duas capitanias, os Nunes se abasteciam de tabaco, com fornecedores como Antônio Roiz Campos, de alcunha o Romão, lavrador nas proximidades de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano.93 Também realizavam negócios com Manoel Mendes Monforte, já mencionado, proprietário de um engenho, o sítio do Salgado, perto da vila de Cachoeira, a três léguas de Salvador; com Isabel Luiza de Pina, outra proprietária de engenho na região; e com o lavrador de cana, Luís Nunes de Castro.94 Em Salvador, relacionavam-se com vários homens de negócio, alguns deles financiadores de suas atividades, como Antônio do Vale Sarmento, Domingos Nunes Penacor e João Roiz Nogueira, que, apesar de ter a base de seus negócios na cidade, morava nas Minas. Na companhia destes - cristãos-novos e judaizantes como eles - também cumpriam secretamente os ritos judaicos,95 pois, como era típico nessa época, identidade religiosa e familiar contribuíam para a realização dos negócios.96 Por volta de 1724, os três Nunes resolveram deixar o Brasil e retornaram a Salvador, onde tomaram um 180
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Prospectiva da Cidade do Rio de Janneiro. Vista da parte do Norte, na Ilha das Cobras…, Miguel Angelo Blasco, 1760.
A partir do século XVIII, dinamizou-se o eixo comercial entre as Minas Gerais e o porto carioca. Ao lado, duas vistas do Rio de Janeiro do início do século XIX.
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Prospecto da cidade da Bahia, Manoel Roiz Ferreira, c.1786.
Na página seguinte, Antigo palácio da Inquisição de Lisboa, c.1842, depois demolido para dar lugar ao Teatro Nacional D. Maria II. Abaixo, Auto de Fé em Lisboa, século XVIII.
em Londres, onde continuaram a se relacionar. Diogo contou que na urbe londrina passou a se encontrar com Miguel Nunes na sinagoga,105 visitar frequentemente a família de Diogo Fernandes Cardoso106 e ainda ajudou Maria Ayres de Pina a se instalar, emprestando-lhe dinheiro para seu sustento inicial.107 Na Inglaterra, os três Nunes passaram a circular na comunidade de judeus portugueses ali exilados, entre eles vários Nunes - como seus primos, os médicos Diogo Nunes Ribeiro108 e Antônio Ribeiro Sanches, além de sua prima Clara. Por essa época, os dois últimos sobreviviam como professores de judaísmo.109 Como os demais, os irmãos aproveitaram a tolerância ali existente para professar abertamente a religião judaica. Frequentavam regularmente a sinagoga e, para externar sua verdadeira devoção, a conselho do primo Diogo Nunes Ribeiro, resolveram se circuncidar. A circuncisão de Diogo ocorreu em cerimônia “com todas as solenidades com que os judeus costumam em semelhantes ocasiões”.110 A profunda conversão à religião de Moisés e o domínio de suas crenças por parte dos irmãos se revela no fato de que, em Londres, para
já estavam presos. Era apenas uma questão de tempo para que as denúncias arrancadas nos cárceres do Santo Ofício apontassem para os três irmãos. Ao desembarcar em Lisboa, os Nunes não ficaram parados por muito tempo. Como era característico dos tratantes, os negócios exigiam viagens regulares. Começaram frequentando várias feiras no Alentejo, onde aproveitavam para falar sobre suas crenças religiosas a todos os cristãos-novos que conheciam, alargando seus laços de sociabilidade e negócios com a comunidade secreta de judaizantes e também buscando ajuda para organizar uma fuga do reino, já que a Inquisição era uma ameaça real e cada vez mais próxima.102 Numa dessas viagens foram até a vila de Almada, onde visitaram Maria Ayres de Pina, viúva do médico Manoel Mendes Monforte, amigo e antigo parceiro de negócios nas Minas.103 Na casa de Maria Ayres encontraram ainda vários amigos da Bahia,104 entre eles, provavelmente, Diogo Fernandes Cardoso e Miguel Nunes, com quem realizaram ritos judaicos. Tudo indica, no entanto, que o motivo principal da reunião foi acertar os planos da fuga, já que, no ano seguinte, em 1727, todos estavam residindo 182
O caso dos irmãos Nunes
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Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
“espontaneamente”, estratégia comum aos que tentavam minimizar suas penas. Nos meses que se seguiram, se apresentou quatro vezes perante os inquisidores para confessar seus desvios de fé. Confinado entre a sua pequena cela e a 1a. e a 2a. Casa de Audiência, onde prestou seus depoimentos, percorreu - no interior do imenso palácio - espaços bem mais exíguos do que os vastos sertões das Gerais, para os quais ansiosamente sonhava voltar. Finalmente, a 5 de dezembro, apresentou-se à Mesa da Inquisição para ouvir sua pena. A estratégia de colaboração foi bem-sucedida; recebeu uma pena leve e não teve seus bens sequestrados. Finalmente, no dia 10 do mesmo mês, apresentou-se à Casa do Despacho para receber sua penitência: foi instruído na fé católica, confessou, comungou e sofreu castigos com todo o rigor (afinal, acreditava-se que um pouco de mortificação do corpo minimizaria os pecados da alma). No dia 20, já em liberdade, suplicou aos inquisidores que pudesse voltar a Minas Gerais, no Estado do Brasil, onde era morador. Apesar dos vários anos ausente, sentia falta do Curralinho, pois aquela era a sua casa. As autoridades não atenderam a seu pedido. Seria mais fácil vigiar-lhe os passos no reino do que nas infinitas brenhas dos sertões das Gerais e, dessa forma, garantir que “com a vida desse mostras de bom e fiel católico”. Isso significava, de acordo com o entendimento dos inquisidores, realizar atos públicos que atestassem sua reconversão ao catolicismo. Diogo deveria comparecer publicamente todos os anos às quatro festas principais do calendário católico - Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção - e rezar semanalmente, na igreja, o rosário à Virgem. Mas ainda havia outras contrições a serem cumpridas no espaço privado. Em casa, às sextas-feiras, deveria rezar cinco padres-nossos e cinco ave-marias. Livrara-se das estreitas paredes da prisão dos Estaus, mas jamais dos olhos vigilantes das autoridades inquisitoriais. Em 1729, os três Nunes se encontravam em situações muito diferentes. João morrera na França e Sebastião, casado, vivia em Londres, onde podia professar abertamente o judaísmo. Enredado nas malhas do Santo Ofício, Diogo era um penitente no reino.113 Se não voltaram a trilhar os caminhos que separavam o porto de Salvador das Minas Gerais, o roteiro, que tão minuciosamente produziram, serviu a quem desejasse seguir-lhes os passos, nos vastos sertões e campos gerais até Vila Rica, no coração da capitania.
Homem condenado ao fogo pela Inquisição de Goa, século XVIII.
sobreviverem, Diogo e Sebastião se tornaram professores de judaísmo.111 Mas, em 1728, os três Nunes se separaram, tornando, pela primeira vez, bastante distintos os destinos de cada um. Sebastião, por essa época já casado, resolveu permanecer em Londres com a esposa, e Diogo e João partiram para a França. É provável que, como era costume entre as famílias envolvidas no comércio, e como os três já haviam feito anteriormente, tenham resolvido se distribuir por diferentes praças mercantis. Os dois foram morar em Dunquerque, ao norte de Calais.112 Ali, com a morte inesperada de João e a chegada da notícia de que ficara viúvo, o que afastava as ameaças dos parentes de denunciá-lo à Inquisição, Diogo decidiu retornar a Portugal. Mas parece que se enganou, pois o perigo de cair nas mãos do Santo Ofício não havia passado. Diogo chegou a Lisboa em 1729 e, a 7 de setembro, foi dar à porta do Palácio dos Estaus, prédio que abrigava o Tribunal Inquisitorial em Lisboa. Resolveu se apresentar 184
Os sinuosos trajetos do roteiro dos irmãos Nunes
Outras menções no texto apontam para a mesma direção: as duas enchentes do rio São Francisco (1712 e 1721); a residência do governador no palácio da Vila do Carmo, erguida apenas no governo de dom Lourenço de Almeida, iniciado em 1721; o estabelecimento das casas de fundição em Minas (junho de 1724), durante este mesmo governo; a transferência da capital de Mariana para Vila Rica (1724); o retorno ao reino por Manoel Nunes Vianna depois da Guerra dos Emboabas (1726); e por fim a informação da volta dos Nunes a Portugal (c.1724) e da doação das lavras da Itaubira a quatro amigos que continuaram fazendo-as render por mais um ano e meio após a sua partida, avançando a data de escrita do documento para perto de 1728. Portanto pelo menos nessa versão final, já que versões anteriores podem ter existido -, o roteiro parece datar do fim da década de 1720, quando chegaram na Inglaterra. Se é inequívoco que esse documento serviu de fonte para que Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville estabelecesse, na Carte de l’Amérique méridionale, a geografia dessa região, menos evidente é a forma como foi parar nas mãos do geógrafo francês. O que se sabe
Não se sabe a data exata em que os irmãos Nunes escreveram o roteiro que tão detalhadamente descreve o trajeto entre Salvador e Vila Rica. O próprio relato deixa entrever algumas pistas, ainda que desperte indagações. (Sabendo-se que Diogo era analfabeto, sendo capaz apenas de assinar/desenhar seu nome, e que muito provavelmente o mesmo se pode dizer de seus irmãos, utilizaram-se de um escrevente.)114 O texto inicia advertindo que os irmãos se encontravam em Salvador, em 1709, quando resolveram ir às Minas, sugerindo ao leitor que é esta viagem a ser descrita. No entanto, à medida que a leitura se desenvolve, observa-se que vários outros trajetos possíveis entre os dois pontos extremos da estrada são descritos com acuidade e riqueza de detalhes. Tal conhecimento só pode ter sido reunido em inúmeras viagens entre Minas e Salvador, como as que os Nunes anualmente realizavam. É provável, portanto, que o relato tenha sido escrito num período posterior, com informações tomadas em diferentes ocasiões.
Quartel em Vila do Carmo, 1722. 185
O caso dos irmãos Nunes
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Jacob de Castro Sarmento, médico e rabino em Londres no século XVIII.
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
- cujas redes extensas se espraiavam desde o Brasil informações geográficas úteis sobre a conformação do seu território. O roteiro dos irmãos Nunes encaixava-se como uma luva, pois possibilitaria que, graças à aguda habilidade de D’Anville para representar cartograficamente as descrições de trajetos de viagens, a região mineradora fosse situada com mais precisão. Na concepção de dom Luís da Cunha, essa região era um dos bens mais preciosos a serem mantidos sob o domínio da Coroa portuguesa. Era “o bem que a velha tem”,115 sendo, portanto, necessário saber sua posição exata em relação ao meridiano de Tordesilhas para nortear adequadamente as negociações de limites com a Espanha. Se não se pode traçar com certeza o momento em que o roteiro dos Nunes chegou às mãos de dom Luís, podem-se rastrear os contatos que este estabeleceu, nas diversas cortes em que atuou, com membros da ampla comunidade de cristãos-novos portugueses exilados que poderiam ter-lhe fornecido o documento. Na Inglaterra, serviu na embaixada entre 1697 e 1712, e experimentou duas outras curtas estadas, respectivamente em 1717 e 1719. Quando em Londres, conviveu com os médicos cristãos-novos portugueses Fernão Mendes da Costa, que o assistiu em suas enfermidades,116 e Jacob de Castro Sarmento, que comercializava um famoso medicamento, a Água da Inglaterra, à base de quina, várias vezes adquirido pelo embaixador para dom João V.117 Sarmento chegou a ser rabino da sinagoga londrina e, mostrando-se conhecedor da geografia da região mineradora, inseriu em seu livro de medicina, datado de 1735 e intitulado Matéria Médica, Físico-Histórica-Mecânica, Reino Mineral, descrições sobre as regiões auríferas e diamantinas de Minas Gerais.118 Não parece ser mero acaso o fato de o livro ter sido redigido na mesma época em que os irmãos Nunes desembarcaram em Londres. Com efeito, no apêndice da obra, o autor anexou uma carta de próprio punho, endereçada ao secretário da Royal Society, da qual era membro, onde conta que “teve a oportunidade de conversar, com um senhor, recomendado a mim, que veio das Minas de ouro do Brasil, pertencentes ao rei de Portugal, e que trouxe muitos diamantes de considerável valor, recentemente encontrados naqueles lugares”.119 A carta provavelmente foi escrita entre 1731 e 1732 e o texto se refere a acontecimentos ocorridos até 1728, pouco depois de os irmãos chegarem a Londres. Seria esse senhor um dos irmãos
é que o embaixador português, dom Luís da Cunha, lhe forneceu esse documento. Contudo, fica a questão: que caminhos esse interessante documento percorreu entre a pena dos três irmãos, a mão do embaixador e o estúdio do geógrafo em Paris? Não se pode deixar de atentar que, em todos os lugares na Europa onde dom Luís serviu, ele entrou em contato com cristãos-novos portugueses exilados. Com eles exercitou a tolerância em relação às diferentes religiões e, apesar de ter sempre mantido a aparência de bom católico, tornou-se um defensor da liberdade de culto e um severo crítico dos excessos cometidos pela Inquisição. Sempre sequioso de encontrar informações recentes e confiáveis sobre a geografia do interior do Brasil, para nortear as negociações diplomáticas de que participava sobre os limites entre Portugal e Espanha na América, o embaixador buscou entre os cristãos-novos
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Nunes? Não é improvável, visto que, como se verá, no livro de Sarmento, há vários elementos em comum com a visão que os Nunes tinham sobre as Minas. Em Haia, de 1713 a 1714, durante as negociações do acordo de Utrecht; em 1718; e de 1728 a 1736, como representante de Portugal junto aos Países Baixos, o embaixador tornou-se amigo do judeu Álvaro Nunes da Costa, financista da corte portuguesa e credor de grandes somas de dinheiro para o pagamento das despesas da embaixada.120 Dom Luís chegou a comparecer ao casamento do filho dele, ocorrido na sinagoga da cidade. Além disso, em Mon Plaisir, como nomeou a casa que comprou em Haia, teve como criada uma Ana Nunes.121 Seria essa Ana Nunes a mãe ou uma das irmãs de Antônio Ribeiro Sanches? Não é de todo impossível, visto que o pai deste, Simão Nunes, era flamengo.122 Se assim for, ela era outra prima dos irmãos Nunes e, quando em Portugal, residia em Penacor.123 Dom Luís depositava nela total confiança e, quando tratava de assuntos sigilosos e poucos ortodoxos em sua casa, Ana Nunes cuidava de manter a porta bem fechada e sob estreita vigilância, para que o embaixador pudesse falar com inteira liberdade.124 Indício de ela ser de fato uma parenta de Antônio Ribeiro Sanches ocorreu em 1730, quando o embaixador foi encarregado pelo cardeal da Mota, secretário de dom João V, de compor “um catálogo dos melhores autores que escreveram assim da filosofia como da medicina moderna, ajuntando-se os de que se necessita para entender e praticar o que eles ensinam”.125 Para levar a cabo a tarefa, resolveu ir à Universidade de Leiden, onde Antônio Ribeiro Sanches estudava, provavelmente seguindo indicação da criada. Esse o ajudou a compor um pequeno tratado de como reformar o estudo da medicina em Portugal e quais os livros necessários para tanto.126 O embaixador ficou tão impressionado com a capacidade intelectual do médico que o recomendou vivamente a dom João V. Desse momento em diante, os dois estabeleceram uma amizade fraterna, reencontrando-se em Paris, na década de 1740, quando Ribeiro Sanches tornou-se seu médico pessoal, acompanhando-o nas mazelas da velhice e amparando-o em seu leito de morte.127 Durante as estadas de dom Luís da Cunha em Paris, em 1712, onde esteve de passagem a caminho de Haia; entre 1720 e 1725, como emissário português no Congresso de Cambrai; e entre 1736 e 1749, já como
Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas…, 1711, de André João Antonil, pseudônimo de um padre jesuíta. Pelas informações sigilosas, a edição foi recolhida pela Coroa Portuguesa.
embaixador junto à corte francesa, novamente se colocou em contato com os judeus portugueses ali exilados. Tal foi o caso de Pedro Nolasco Couvay, grande financiador das despesas do rei de Portugal na França. Couvay não era apenas um homem de negócios, também “era renomado por seu intelecto, seu espírito, seu gosto e suas luzes”.128 Como um savant de sua época, possuía significativa biblioteca, com 3.731 obras, na qual dispunha de uma coleção “considerável de livros espanhóis e portugueses”,129 como também de mapas e “manuscritos os mais curiosos”, que fazia dela “única na Europa”.130 Entre estes últimos havia preciosas descrições das Minas Gerais, que a Coroa portuguesa tentava a todo custo manter desconhecidas das demais nações europeias que cobiçavam suas riquezas. Dom Luís, sempre atento em recolher documentos e mapas sobre o Brasil, valeu-se várias vezes da coleção de Couvay para municiar D’Anville de informações geográficas sobre o Brasil. O embaixador não se descuidou ainda de acompanhar as movimentações das comunidades de judeus portugueses estabelecidas nos importantes portos franceses de Bordeaux e Dunquerque, sendo essa última 187
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Nunes. O roteiro é o que podemos chamar de um mapa mental, já que não adquire a forma de representação pictórica, mas sim de um texto com informações geográficas. Aos mapas mentais pode-se imprimir uma dimensão cartográfica, que foi o que D’Anville fez com os dois roteiros dos irmãos Nunes, utilizados para configurar o território minerador e situar sua distância em relação à costa brasileira. Desde o início do século XVIII, o Conselho Ultramarino, principal órgão em Portugal de gestão política das conquistas do ultramar, se preocupou com o fato de que a descoberta do ouro poderia acarretar o aumento das invasões estrangeiras no Brasil, e se alarmava com a circulação de informações mais detalhadas sobre a área. Esse temor se ampliou com as tentativas de invasão francesa no Rio de Janeiro, ocorridas em 1709 e 1711, exatamente na mesma época em que os Nunes chegavam às Minas. A descrição desses caminhos e a exata localização de cada um deles eram informações preciosas que, do ponto de vista da Coroa, deveriam ser mantidas fora do domínio público, com o intuito de garantir a soberania portuguesa sobre as riquezas minerais. O cuidado das autoridades, a fragilidade desses documentos e o fato de eles, quase sempre, terem circulado de forma secreta fizeram com que a maioria desses roteiros e mapas não chegasse até nossos dias, ainda que se especule ter sido um tipo de documento extremamente comum à época. Como exemplo, parece ter tido ampla circulação um mapa anônimo, atribuído ao mestre de campo Felix de Azevedo Cunha, acompanhado de um manuscrito que descrevia os caminhos para as Minas, com anotações dos acidentes geográficos, roças, lavras e localidades do trajeto. Esse mapa se encontra desaparecido, mas o manuscrito que o acompanhava sobreviveu e teve algumas impressões mais recentes.132 Um outro roteiro geográfico baseado no mapa de Felix de Azevedo Campos foi redigido por Francisco Tavares de Brito, e publicado em Sevilha em 1732.133 Trata-se de um folheto, sem licença régia, nem do Santo Ofício, publicado por tipógrafo clandestino, autointitulado Antônio da Silva. Ambos descrevem mais pormenorizadamente os caminhos a partir de São Paulo e Rio de Janeiro. Este último roteiro era, até a presente pesquisa, o único remanescente conhecido, produzido claramente com vistas a orientar cristãos-novos até as Minas,134 o que torna o texto dos irmãos uma fonte rica e instigante.
cidade onde, por volta de 1728, João e Diogo residiram. Lá podem ter fornecido o roteiro a quem quisesse se aventurar pelas Minas, chegando até às mãos de dom Luís. Por meio de todos esses contatos, em diferentes cortes e em momentos distintos, o embaixador pode ter tido acesso ao texto dos Nunes. Mesmo sendo impossível precisar a partir de qual deles teve acesso ao documento, são inequívocos os indícios de que o itinerário foi escrito para que servisse de roteiro a outros cristãos-novos contatados pelos Nunes em Portugal,131 na Inglaterra ou na França - cortes nas quais o embaixador desfrutou de contatos diretos com vários judeus portugueses ali residentes. A descoberta das Minas de ouro e o significativo fluxo populacional que lhe seguiu, inclusive o de cristãos-novos, provocou uma produção intensa de roteiros e de mapas, hoje relativamente raros, que descreviam as formas de entrada e acesso à região. É no contexto da corrida do ouro e dos diamantes e da busca das sonhadas esmeraldas, no coração das Minas Gerais, que se situa a notícia dos
O Itinerario Geografico..., de Francisco Tavares de Brito, descrevia o que havia entre a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas do Ouro, em 1731. 188
O éden minerador Em uma simples leitura do texto dos três irmãos, observa-se a recorrência de elementos de exaltação à natureza animal, vegetal e mineral da região, apresentando-a como um novo éden, ainda propício à ocupação. A descrição favorável da natureza da área mineradora - com abundância e diversidade de frutos e alimentos - não se circunscreve ao relato dos Nunes, mas era decorrente do papel central que a região passava a ocupar na cosmologia de muitos portugueses da época: ali encontrava-se um paraíso terrestre reservado à ocupação portuguesa. Em vários trabalhos, tenho identificado esse aspecto como uma visão emboaba das minas,135 proveniente da percepção de que a região estava destinada para e pelos portugueses, em oposição às reivindicações dos paulistas, os verdadeiros descobridores. Desde o século XVI, motivos edênicos eram utilizados para descrever o Brasil,136 a partir do início do século XVIII, porém, esse imaginário se desloca especificamente para as Minas Gerais.137 A ideia da centralidade das Minas, como um espaço destinado aos reinóis, era compartilhada não apenas por indivíduos dos círculos populares, como é o caso dos irmãos Nunes, mas também por membros da elite e da administração luso-brasileira, como o próprio embaixador dom Luís da Cunha.138 A região, a partir de então, passou a ser descrita em vários relatos coevos, principalmente por portugueses que percorreram a área, a partir de elementos do maravilhoso. Os homens eram perfeitos e bem-dotados, a caça e a pesca abundantes, cristalinas as águas dos caudalosos rios e, nas florestas, madeiras de todos os tipos. O mato era alto e virgem e as soberbas serras chegavam às nuvens. Ora, tudo confluía, inclusive os astros, para uma natureza exuberante e farta, coroada pelo ouro, a prata e outros metais.139 Jacob de Castro Sarmento compartilhava dessa mesma visão paradisíaca. “De Londres, fazia a propaganda d[as Minas como] o novo ‘Eldorado’”,140 cujas riquezas infindas não cabiam mais na capitania e para as quais “apenas há lugar na Europa”.141 Como bom propagandista, ele inicia seu livro descrevendo as virtudes terapêuticas do ouro e já na página 9 anuncia que “de todas as Minas de Ouro, as que se conhecem mais ricas, e abundantes no mundo, são as Minas Gerais”. Isso ocorria porque, enquanto nas demais jazidas, como as
Escravos na extração de diamantes, por Carlos Julião, c.1770.
da “Alemanha, Hungria, Transilvânia, Boêmia [e] Peru”, o ouro geralmente era encontrado misturado a outros metais, “nas Minas Gerais (...) raramente se acha o ouro de outro modo, que puro”.142 O autor, como os Nunes, expressa uma visão negativa dos paulistas que, apesar de descobridores, “sem fazer uso algum dos ditames da razão, ou da diligência, largaram o sítio e se retiraram à sua pátria”.143 Em contrapartida, “o contínuo exercício e observação de trabalhar nas Minas, (...) cheios de diligência e método próprio” fez com que tirassem “os Portugueses em tanta abundância o Ouro, que, parece, por não caber já dentro de casa”.144 A visão distinta dos dois grupos - negativa dos primeiros e positiva dos últimos - aparece inclusive na forma como ele grafa as palavras. Enquanto escreve paulistas em letras minúsculas, Portugueses e Europa aparecem em itálico e com a primeira letra maiúscula. As raízes desse discurso edenizador podem ser encontradas na tradição cristã-católica de crença na existência de um paraíso terrestre e no próprio milenarismo português.145 O que é curioso no relato dos três irmãos é 189
O caso dos irmãos Nunes
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que podemos conectar o fenômeno e recuá-lo à tradição judaica, também presente na cultura popular portuguesa, devido à forte presença dos cristãos-novos nessa sociedade, com sua crença na terra prometida - o jardim das delícias anunciado por Deus e revelado por Moisés aos judeus em sua fuga do Egito. As imagens edênicas que os irmãos associam às Minas assumem ainda novos significados quando se compreende a sina errante a que os marranos portugueses eram submetidos naquele momento, remontando ao Êxodo bíblico, vivido pelos judeus na Antiguidade. Vários elementos que eles associam à região podem ser relacionados aos que Deus apontou a Moisés, quando este guiou os judeus do Egito em direção à terra prometida. Em primeiro lugar, Moisés dizia que Deus lhe revelara que essa terra se encontrava próxima a um rio, o Jordão. No roteiro dos irmãos também é um rio, o São Francisco, o elemento geográfico central que orienta os viajantes a encontrar seu destino. Logo no início do roteiro, os Nunes advertem o viajante de que, “para ir da Bahia às Minas Gerais, é necessário ir buscar o rio de S. Francisco”,146 pois é ele que orienta os caminhantes. Nesse trecho gastavam-se entre 25 e 30 dias pelo caminho mais curto, podendo o viajante utilizar algumas variantes.147 O leito do São Francisco era navegável por longo trecho: de Salto, localidade próxima à foz, pouco depois da cachoeira de Paulo Afonso, até a barra do rio das Velhas, já na capitania de Minas Gerais. Apesar disso, essa rede fluvial servia menos como meio de transporte e mais como referencial geográfico, ao permitir a ligação espacial de territórios sertanejos descontínuos. A maioria dos transeuntes se deslocava em cavalos ou mulas por trilhas que margeavam o leito dos rios, mas em alguns trechos usavam-se canoas. Essas eram amarradas “de duas em duas, emparelhadas, e presas uma a outra para que a corrente não vire”,148 cuidado necessário porque as águas do São Francisco em certos trechos eram muito fortes. Os Nunes usavam os dois meios de transporte - possuíam cavalos e uma canoa, pois, certa feita, “repousaram numa das ilhas” do rio.149 Em segundo lugar, do mesmo modo que na região encontrada pelos judeus após cruzarem o rio Jordão em seu êxodo, a vegetação que cobria o sertão do rio São Francisco era hostil à presença humana. A caatinga, típica do semiárido, que se estende por grande parte da região, constitui-se de vegetação rala, baixa, espinhosa 190
e seca a maior parte do ano. Segundo os Nunes, em meio à caatinga, abriam-se uns “campos muito dilatados” que eram chamados de Gerais.150 O termo sertão, em português do século XVIII, significava região distante do mar e de todas as partes, ou ainda que se situa “entre as terras”.151 Referia-se, então, a qualquer região interior, distante do litoral, mas que, por associação, era ao mesmo tempo incerta, desconhecida, longínqua, inculta. No relato dos Nunes, o sertão do São Francisco assume essa dimensão de espaço interior, distante e primitivo, configurando-se como uma fronteira aberta, em grande parte, exterior à civilização - ocupada por animais selvagens, índios ferozes, paulistas incivilizados e escravos fugidos -, mas ao mesmo tempo interna a ela, pois tratava-se de territórios à espera de integração ao projeto de colonização edificado pelos portugueses na América. Os cristãos-novos europeus, que buscavam um lugar seguro para se abrigarem da perseguição inquisitorial, sendo não paulistas, seriam os arautos dessa civilização. Nesse sentido, o sertão estava fora e ao mesmo tempo dentro, já que destinado à ampliação do império luso-brasileiro. Importante lembrar que, por essa época, intensificaram-se as negociações entre Portugal e Espanha pelas terras 191
Detalhe de Paisagem brasileira, de Frans Post, 1652.
Na página anterior, uma visão detalhada da costa brasileira, da baía de Todos os Santos até São Paulo. O mapa de 1764 foi inspirado na Carte de l’Amérique, de D’Anville.
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Cajueiro, c. 1780.
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do interior do continente e a Coroa portuguesa buscava garantir o domínio máximo de territórios a oeste do meridiano de Tordesilhas. Uma das grandes ciladas que os viajantes encontravam pelo caminho era a angústia da sede e, também por essa razão, buscar os rios da bacia do São Francisco era tão importante. Logo no início do relato, os Nunes, que já tinham empreendido a viagem inúmeras vezes, alertavam aos que iam se aventurar pelo Caminho do Sertão que “o maior trabalho nesta viagem é buscar água”. Por essa razão, “em viagem tão dilatada (...) se começa[va] a caminhar em outubro”, quando, “então, favorecem as chuvas aos caminhantes”. Em Minas Gerais, as estações não são bem marcadas, existindo basicamente um período de seca, que vai de abril a setembro, e outro de chuvas, que se estende de outubro a março, quando então as últimas águas fecham o verão. Enquanto a exploração do ouro, por ser feita principalmente nos leito dos rios, era realizada na estação da seca, a viagem no sertão deveria aproveitar-se da estação chuvosa, para facilitar o abastecimento de água, pois grande parte do percurso cortava área de vegetação escassa e rala. Mesmo aproveitando a chuva, cuidados e estratégias eram necessários para se conseguir água em volume suficiente para garantir a sobrevivência ao longo do caminho. Advertiam os irmãos que, num lugar chamado Boqueirão, próximo a uma das primeiras fazendas, chamada Serrinha, logo depois da cidade de Salvador e da travessia da baía de Todos os Santos, havia água limpa,
própria para o consumo humano. Ali, os viajantes deveriam se abastecer, acondicionando a água em odres de couro, levados “em cargas, sobre os cavalos, (...) feitos de dois meios de solas”. Logo depois, no riacho Seco, que como a maioria dos cursos de água da região não era perene, era necessário abrir covas ou buracos mais profundos, “que na língua da terra se chamavam cacimbas”, de onde se tirava água para dar de beber aos cavalos,152 pois esta vinha misturada com barro. Dessa forma, poupava-se a água potável estocada no começo da viagem para os caminhantes. Poções era outro local de abastecimento cujo “nome se lhe deu porque neste lugar se acha água, no mais tempo do ano”.153 Era o rio São Francisco e sua bacia, formada por inúmeros riachos, córregos, poções e lagoas, que aplacaria a sede do viajante. Em terceiro lugar, a Bíblia descreve que, a despeito da paisagem agreste, o leito do rio Jordão estava pontilhado de ilhas de fartura, repletas de melancias - um paraíso em meio ao deserto. Da mesma forma, o rio São Francisco era responsável por um ecossistema diverso e rico que garantia não apenas a água, mas mantimentos aos viajantes. Contam os Nunes que, em uma de suas ilhotas, “defronte da Malhada Grande, e não está povoada, tem uns areais (...). Seu terreno compreende [de] três a quatro léguas”. Nela, sem haver necessidade de plantar, “se criam melancias das mais excelentes”. Essas estavam sempre ao alcance dos transeuntes famintos, pois eram abundantes na ilha, bastando que se deixasse no solo, sem necessidade de semear, as sobras daquelas que foram comidas. De uma única vez, os irmãos Nunes chegaram a colher 36 dúzias! No entanto, era preciso ficar atento, pois eles informam que “em 1712 e 1721 se inundou esta ilha”, sem que houvesse necessidade de alarde, porque isso “sucede muito poucas vezes”.154 Joan Nieuhof, que viajou pelo nordeste do Brasil, em 1640, quando da invasão holandesa, apontou também que entre os frutos que proliferavam naturalmente no Brasil havia a papaia, que “os Americanos apelidam Mamoeira e Pinoguaçu; [e] os nossos às vezes chamam de árvore de melão dada a semelhança de seu fruto com o nosso melão”.155 O paraíso brasileiro se revelava, pela fartura da terra, em grande parte ainda desabitada, que ali não se precisava do suor e do trabalho humano para obter alimento e repasto. Ao longo do relato, os Nunes dão notícias de várias outras frutas que cresciam graças à prodigalidade 192
branca e pena avermelhada; outros de crista vermelha; marrecos; jacu, que é do tamanho de uma perua e é muito saboroso; jacotinga; assuã, que é do mesmo tamanho, é um pássaro negro com as barbas vermelhas; papagaios; araras (...), emas; seriemas [e] outras muitas sortes”. Com tanta diversidade, era “impossível relatar todas”. Alguns animais se assemelhavam aos europeus, como os muitos veados de vários tipos e tamanhos, com ou sem galhadas; já outros eram nativos da região. Esses últimos foram descritos em minúcias, denotando que o leitor a quem o texto se destinava não estava familiarizado com eles, que se tratava de um público europeu. Os Nunes se referem às antas; “pacas, que são maiores que um cordeirinho, são de cor avermelhada, e são muito gostosos. [O] Tatú, do tamanho como uma lebre de cor parda, e [que] tem uma concha em dadinhos;
do rio, como o jenipapo, “uma árvore, que dá uma fruta parecida com o marmelo. (...) O Jenipapo fica um ano na árvore, antes que se possa comê-[lo]”. E informam sobre os alimentos encontrados no caminho que podiam saciar a fome do viajante: “milho, feijão, frutas da terra, inhame (que se planta), e mandobim [amendoim],156 que nasce nas raízes, ao revés das outras plantas; [e] tem alguma semelhança com as favas. Esta planta não cresce mais alto que dois palmos”.157 Outro indicativo da fartura que o rio provia era a lagoa dos Patos, que encantou os irmãos Nunes e ainda deslumbrava os viajantes estrangeiros no século XIX, como o prussiano Von Martius, que intitulou uma gravura sua retratando o local como Lagoa dos Pássaros.158 Apregoavam também os irmãos que “por todos estes sertões há variedade de aves, como patos de asa 193
Ataque de índios botocudos na região de Minas Gerais, ex-voto do século XVIII.
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Visões paradisíacas do Nordeste do Brasil: em obras de Johan Nieuhof, 1703 (à esquerda), e Thierry Frères, 1839. Na página seguinte, as visões de Johann von Spix, c.1831 (acima); e Frans Post, 1638.
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estes não correm muito e, às vezes, matam-nos com um pau. [As] Capivaras, que são como grandes porcos e são anfíbios; são pardas escuras, têm dentes curvos e tamanhos como o dedo de um homem - toda a dentadura é igual -, e são estes animais tão fortes, que atravessam um rio de três léguas andando”. Toda essa diversidade animal, que podia matar a fome do viajante, também reforçava o caráter edênico do sertão. Mas o paraíso encravado brasileiro podia ser considerado até mesmo como mais proveitoso do que a terra prometida do Antigo Testamento, pois enquanto a Bíblia narra a longa luta entre os judeus recém-chegados para expulsar as populações residentes na Palestina, os irmãos - ao descreverem algumas ilhas no meio do São Francisco - apregoavam que muitas delas “ainda não têm dono”, ou seja, podiam ser ocupadas pelas hordas de judeu-portugueses que por essa época andavam errantes pelo mundo. Em relação à ilha de Itaparica, por exemplo, também chamada de ilha do Medo, eles advertem que, mesmo sendo povoada em toda a borda do rio até à localidade de Cachoeira, “a Ilha [em si] não é povoada”. E os que se aventurassem a ocupá-la podiam tomar seu sustento pelas muitas baleias que ali eram pescadas.159 Segundo os Nunes, as sesmarias distribuídas na região Nordeste tinham “três léguas de terra, em longo; [posto] que, no largo, cada um possui quanto pode cultivar”. Isto ocorria “porque, na largura, não tem fim o que está por descobrir, [neste] sertão”.160 Representados como vazios, esses sertões eram, na verdade,
habitados por índios que ainda resistiam à civilização, por isso considerados selvagens ou bravios, como os tapuias,161 que os Nunes descrevem como sendo “da cor de cereja, com grande cabelo, muito corredio”.162 Um quarto ponto a destacar nessa visão edênica dos Nunes em relação às Minas diz respeito ao papel que ela representaria na redenção econômica dos emigrantes portugueses. Para eles, enquanto os reinóis eram diligentes, pobres, desejosos de buscar fortuna;163 os paulistas eram “régulos, se julgavam soberanos”,164 possuidores de “léguas de conquistas que fizeram seus antepassados”.165 Essa clivagem entre pobres - portugueses - e potentados - paulistas - permeou os discursos emboabas da época.166 Os Nunes, como muitos emboabas, viam nas Minas um espaço paradisíaco destinado pelos e para o enriquecimento dos portugueses, especialmente os mercadores, como eles, “que, com tanto trabalho, faziam viagens tão longas”.167 Em meio a essa disputa, os Nunes, como muitos reinóis, encampam a visão que Manuel Nunes Viana produzia de si mesmo como redentor e justiceiro dos pobres. “No discurso de Viana, o sertão - sobretudo o sanfranciscano, onde estava localizado a [fazenda] da Tábua [administrada por ele] - aparece como um lugar mítico que as justiças de El-rei não conseguem alcançar”.168 Como protetor dos emboabas que sofriam com os desmandos dos régulos paulistas, ele “favorecia muito a pobreza”. Os guardas, que “o temiam, fechavam os olhos, deixando passar os ditos [mercadores] com 194
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e, nas proximidades da vila de Sabará, já no território minerador, havia um ribeirão chamado de Inferno, “porque para atravessá-lo era preciso passar por uma ponte de menos de 20 pés de comprimento, correndo o rio por baixo por mais de duzentos de profundidade”,171 formando um horroroso precipício. Já nas proximidades do Recôncavo Baiano, os andarilhos se defrontavam com a serra da Chapada, cuja travessia exigia três jornadas. No primeiro dia, dormia-se no sopé, no “seguinte, se vai dormir no meio da dita Serra, onde se chama Jiboia [e] no seguinte, no fundo”.172 Apesar de a geografia desse espaço sertanejo, em geral, facilitar o deslocamento humano, por todo o percurso era constante a ameaça da fome e da sede, de animais selvagens e peçonhentos, de bandos de negros fugidos ou de índios, alguns antropófagos, que atacavam de surpresa, tornando imperativo que a viagem fosse realizada em grupos fortemente armados. Havia ainda inúmeras febres malignas que acometiam muitos viajantes. Como grande parte dos que percorriam esse trajeto, o cirurgião Luís Gomes Ferreira ficou doente no caminho, permanecendo cinco meses na barra do rio das Velhas atacado de febres altas, sem saber ao certo a natureza do mal, mas sim de estar perto da morte. Tinha delírios seguidos e proferia frases desconexas. Contou em seu livro, Erário Mineral, que as sezões que infestavam a região do São Francisco eram as piores de que tinha notícia e a maleita173 não poupava os que transitavam por ali. Descrevendo essa rota, um morador das Minas contou que a viagem era demorada e “tudo era feroz e contrário à penetração humana nessas terras misteriosas e sinistras”.174 Um ex-voto, dedicado à Nossa Senhora dos Remédios, depositado no Convento de São Bento na Bahia, mostra os perigos mais comuns do caminho, os mesmos que os Nunes encontraram e sobre os quais alertaram aos que desejassem realizar o trajeto. O quadro retrata Agostinho Pereira da Silva saindo de Portugal, vestido galantemente e montado em seu cavalo. Como numa história em quadrinhos: ao vagar pelo sertão, este português recém-chegado vai encontrando diversos perigos - é atacado por uma cobra e dois outros animais peçonhentos (jacarés?), por índios e também pelos paulistas; fica desorientado e sobe em uma árvore buscando avistar a rota correta. Como resultado das agruras que, por vários meses, o rapaz enfrentou, ao
bois”. Nem mesmo os paulistas “se atreviam a executar coisa alguma contra as pessoas que o dito Viana favorecia”, pois esse “meteu muitos em prisão, muito apertada, por crimes muito atrozes que haviam cometido”.169 Sabe-se que essa visão edênica associada ao São Francisco não era um elemento totalmente novo, pois o rio, desde o século XVI, foi descrito por imagens associadas ao paraíso terrestre. Era comum dizer que tinha um sumidouro, que fazia desaparecer aquele mar de água, que só reaparecia a bastante distância, e também que seu curso, em extenso trecho, percorria uma rota circular. Se essa geografia fantástica não aparece no relato dos irmãos Nunes, sem dúvida o rio é visto como fonte de fartura, garantindo o sustento dos viajantes em suas margens, pois não só fornecia a água e o alimento aos andarilhos cansados, como também apontava a rota a ser seguida. Nessa associação que os irmãos fazem da região em torno do rio São Francisco com o paraíso terrestre, e mais propriamente com a terra prometida, configura-se um dos elementos sublineares do mapa mental produzido por eles, e, ainda que o roteiro tivesse como objetivo primeiro orientar os viajantes - principalmente os cristãos-novos - em seu deslocamento na região, ele revela elementos do imaginário coletivo na época sobre a área mineradora - ela era o próprio paraíso terrestre.
Uma geografia vivida Dois aspectos evidenciam que o roteiro não era apenas uma descrição com fins geográficos, mas efetivamente se destinava a orientar aqueles dispostos a percorrer a mesma trilha. De um lado, o texto alinhavava os cuidados e perigos que poderiam ser encontrados, bem como as fontes de água e alimentos necessários ao caminhante para prosseguimento da viagem; de outro, descrevia cuidadosamente o trajeto, apontando os melhores trechos e as formas de percorrê-lo. Arriscado e penoso, o Caminho da Bahia cortava uma região mais plana, em comparação à geografia mais íngreme com que se defrontavam os viajantes que partiam de São Paulo e do Rio de Janeiro, e que tinham que cruzar as escarpas da serra do Mar e da serra da Mantiqueira, percorrendo o Caminho Velho e o Caminho Novo respectivamente.170 Ainda assim, muitos dos seus trechos não eram totalmente planos, 196
fim da viagem não tem mais sua montaria, suas roupas estão em farrapos, está descalço e sem chapéu, e sem os antigos símbolos de sua distinção e importância no reino. A vida dura do sertão, ao fim e ao cabo, igualava todos, até mesmo nos parcos modos de trajar, tornando-os pobres e expostos às intempéries da região e aos desmandos dos paulistas. O ex-voto pode ser tomado como uma ilustração das dificuldades encontradas pelos irmãos. Os Nunes também foram atacados por animais. A um deles “sucedeu que, havendo feito [alto] em um caminho, foi buscar água em uma lagoa. Pôs o pé sobre uma terra movediça e, retirando-se, o pôs onde lhe pareceu estar um grande pau seco. Indo, escorregando, se ajudou de uma mão, [e] a pôs sobre uma cobra, a qual chamam sucuri ubá”. Para advertir o leitor do grande perigo que resultava do ataque dessa serpente, o relato descreve que “este animal cinge um boi, ou cavalo, e o serra de qualidade que lhe esmigalha os ossos e o chupa”. Mas o rapaz conseguiu se safar porque, muito depressa, pegou “um alfanje, [e] deu-lhe um golpe”. Para sua surpresa, “não ficando mais que ferida, a cobra voltou a cabeça sobre os lombos, fincou neles os dentes e [a] língua, de sorte que ali morreu”.175 Mas esse não foi o único ataque de cobras que os Nunes enfrentaram. De outra feita, “dormindo a sesta, com seus camaradas, à sombra de uma árvore”, um deles foi advertido de que “não se meneasse, porque tinha uma cobra coral na joelheira da bota, (...) onde a coral reluzia como o mais fino rubi”. A reação do rapaz foi se levantar para pegar o animal pelo rabo, “porém, temendo [que] lhe escorregasse, bateu com o pé na terra, ainda que receando ser mordido”. A mordida da serpente geralmente era fatal, “pois logo rebenta o sangue pelos olhos, dedos e nariz, e se morre incontinente”. Precavidos, os três traziam consigo o contraveneno para sua picada mortal. Segundo Guilherme Piso (1648), “das próprias víboras [se] prepara antídoto contra elas, o qual se defende de todos os venenos e de todas as coisas envenenadas”. No caso da coral, “cura-se com emplastro preparado com a cabeça da serpente e aposto eficazmente”. Ao mesmo tempo devia-se pingar na ferida “o pó da planta nhambi, [bem] como o suco das folhas da caapeba e da caiatia, [pois] extraem o veneno”.176 Devem ter sido esses os antídotos que os irmãos levavam consigo. Mas não foi necessário utilizá-los, porque, ao
Frontispício do Erario mineral, de Luis Gomes Ferreyra, 1735.
se levantar, “no movimento que fez com o pé, saltou a cobra fora da bota, e um escravo do dito Nunes a matou, com um varapau verde; [pois] que se fora seco, podia [se] quebrar, e corria[-se] perigo de vida”. Escaldados, os Nunes contam que as cobras venenosas do sertão eram muitas: “uma se chama caninana; há a jararaca; a cascavel; outra coral; a cipó. Outra de duas cabeças”.177 Criaturas fantásticas, animais selvagens ou ferozes estavam por todo lado e podiam surpreender o viajante descuidado. Os Nunes advertiam, porém, que “o maior perigo é a onça, e outro [...] o gato dos montes. [...] Havia também muitos tigres, e outra espécie de onça, chamada suçuarana, que é quase alaranjada”.178 Também “nestes caminhos se encontram uns porcos monteses, ruivos de cor, que [se] lhes chamam de queixada branca; os quais, sendo muitos em tropa, em vendo um homem, o acometem. Fazendo-lhe um cerco, o matam e o comem”. Certa vez, um dos irmãos viu, “à borda de uma lagoa, uma tropa de mais de vinte mil”[!]. Era necessário redobrar o cuidado nas épocas de muita estiagem, pois “toda a caça, bichos e animais, quando há grande seca, saem dos matos, para buscar água, e se juntam, infinitos em número”.179 Aproximar-se dos rios para buscar água 197
O caso dos irmãos Nunes
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podia resultar em experiência perigosa. Porém, como a natureza - sábia - sempre tem dois lados, ao caçador experiente o ajuntamento de tantos animais podia resultar em benefício para aplacar a fome em espaço tão dilatado e distante dos núcleos urbanos. Os animais peçonhentos podiam se constituir numa ameaça não apenas ao viajante distraído mas à própria colonização do sertão. Foi o que ocorreu na fazenda do Paulista, cujo nome, contam os Nunes, se devia ao fato de ter sido, “em outro tempo, povoada por um destes homens. E, tendo ali muito gado, resolveu-se desampará-la, pela muita quantidade de onças e morcegos que havia, e lhe matavam o gado. Hoje se descobrem ainda, nesta paragem, ruínas de casas e de currais desta povoação”.180 Outros animais pareciam mais ameaçadores do que verdadeiramente o eram, como o tamanduá, do qual contam os Nunes ser
perigo que representavam às fazendas de gado estabelecidas no sertão, pesadas guerras de extermínio foram deslanchadas contra várias etnias. Isso ocorreu com as tribos dos araraus e dos taboiaras, que vieram a se instalar junto ao rio das Velhas, tributário do São Francisco.185 Encurralados entre conquistadores poderosos, esses tapuias foram progressivamente dizimados ou escravizados. Índios bravios, tenazes e resistentes, representavam um perigo a ser evitado. Os Nunes contam que, perto de Morrinhos, ficava “uma aldeia [subordinada ao paulista] Januário Cardoso, povoada de Tapuias”.186 Numa feita, quando Sebastião Nunes se aproximou dela para pedir água, “como ninguém o entendia, o quiseram matar. Chegou, então, um coronel, seu camarada, que sabia a língua da terra, e lhe salvou a vida”.187 Aqui, observa-se outra informação importante aos viajantes, o papel daqueles que podiam se comunicar com os nativos, chamados “os línguas”. A chamada Língua Geral havia sido criada pelos missionários jesuítas para facilitar a comunicação e a conversão dos indígenas e era amplamente falada no sertão, inclusive pelos paulistas, muitos deles mamelucos. Mas apesar de útil, tratava-se de mais uma referência negativa dos Nunes aos paulistas. Ao se referir a eles como aliados dos tapuias, os igualava na sua condição de feros e incivilizados, o que era acentuado pelo fato de ambos serem falantes da Língua Geral, diferentemente dos cultos europeus que se expressavam em português. A língua era considerada sintoma do grau de civilidade de uma sociedade. No caso das línguas dos nativos, desde o início da colonização, diversos cronistas salientaram a ausência das letras “l”, “f” e “r”, o que significava, para os portugueses, que seus falantes - índios ou paulistas - não tinham nem lei, nem fé, nem rei todos indícios do grau de civilidade dos europeus. Os Nunes chegaram às Minas no auge dos conflitos entre portugueses e paulistas, que culminaram na Guerra dos Emboabas. Essa foi interpretada pelos irmãos, da mesma forma que em outros relatos coevos saídos da pena de portugueses, como resultante das desavenças entre os régulos do planalto e os pobres do reino, pois os dois grupos disputavam as oportunidades abertas tanto no setor mineral, quanto no mercantil - pelas descobertas de ouro e diamantes. Ao tomarem, no texto, o partido emboaba, os irmãos advertem seus leitores de que o ataque dos paulistas - sempre traiçoeiros e desleais - era um perigo contra o qual se acautelar. Esses
do tamanho de um cachorro ordinário. Este, se o não [o] atacam, não acomete a ninguém. Um dos Irmãos Nunes, encontrando no mato este animal, que ainda não conhecia, lhe deu com um pau. Porém, o animal se foi, sem o acometer. Este Tamanduá não corre, sempre anda de trote; as suas garras têm três unhas, [e] é da cor de um urso. Porém, no rabo tem tanto pelo, que o trazendo estendido a direito, arrasta-lhe pelo chão. Este bicho, em vendo uma onça, se abraça com ela de tal sorte que, fincando-se um ao outro as garras, não se separam; assim morrem ambos juntos.181
Presença fugidia e difícil de detectar nos sertões eram os índios, paulatinamente exterminados para dar lugar às fazendas de gado ou reduzidos à condição de escravos. Genericamente, chamados de tapuias pelos portugueses e pelas tribos tupis, os historiadores têm buscado recuperar os rastros de sua existência.182 Sabe-se que o termo tapuia, em tupi, significa “o bárbaro” ou “o contrário”, denotando a visão que tanto portugueses quanto os demais nativos, aliados dos últimos, tinham desses índios, considerados incivilizados e hostis, e muitas vezes acusados de serem antropófagos.183 A região do São Francisco recebeu no século XVIII um contingente significativo de índios de áreas próximas que fugiam das guerras de extermínio empreendidas pelos paulistas, desde fins do século XVII, conhecidas em seu conjunto como a Guerra dos Bárbaros.184 Pelo 199
Na página anterior, um ex-voto, dedicado a Nossa Senhora dos Remédios, depositado no mosteiro de São Bento na Bahia, mostra os perigos mais comuns do caminho para as Minas.
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registram a luta cotidiana contra a sede quanto exaltam os valiosos postos de abastecimento de água no interior do sertão. Os ranchos das Cabras, da Ovelha, da Cabeça do Touro, o riacho dos Porcos, das Araras, o rio das Rãs, do Peixe e do Papagaio nos contam da fartura animal ali disposta e das criações predominantes no sertão. Já outros locais, como o arraial das Formigas, o rancho do Jacaré e a serra das Jiboias remontam à presença constante de pragas e feras. A fazenda das Jabuticabas, do Cocal, o rancho das Canavieiras, o riacho das Canabravas, a vargem das Palmeiras, o Campo Grande, a fazenda das Urtigas Mortas, a Gameleira190 e o Imbuzeiro191 testemunhavam as plantas e frutas encontradas no caminho ou a dureza da vegetação do sertão.192 Outros que deixaram seus nomes gravados, batizando vários trechos ou localidades e fazendas dispostas no caminho, foram os desbravadores dos sertões - fossem paulistas, baianos ou portugueses. A Coroa portuguesa considerava a região “um país habitado de homens poderosos que não conheciam outra lei que a da força”, e que a qualquer preço deveriam ser levados “à boa ordem e sujeição à justiça”.193 Mas, ainda que vistos com desconfiança pelas autoridades, esses régulos sustentavam a colonização portuguesa nos confins do sertão. Seus nomes ficaram inscritos na paisagem como a travessia da Dona Joana, a de João Amaro, o arraial de Matias Cardoso, o do padre Curvelo, o curral do Borba, as lages do Sargento Queirós, a aldeia de Januário Cardoso, o saco do Correia, o Rodeador das Pedras de Luiz Nunes, a fazenda da Viúva, a do Coronel Salvador Cardoso, a do Paulista, a do Pedroso e ainda a dos Três Irmãos Nunes. Mas, embora a razão principal de os Nunes se referirem a esses perigos tenha sido a de acautelar o viajante, tais avisos acabam por reforçar a leitura paradisíaca que os irmãos, como os demais emboabas ilustrados,194 faziam do sertão. Na tradição judaico-cristã, tanto a terra prometida quanto o paraíso somente podiam ser alcançados pelos eleitos depois de muitos percalços e privações. A toponímia também revela que a intervenção divina era frequentemente invocada por esses homens à medida que desbravavam os sertões, inserindo os vários espaços na dimensão do sagrado. Percebe-se tal sacralização em denominações como a do rio de São Francisco, do Hospício dos Frades do Carmo, do arraial de São Pedro Novo, da mata de São João, do rancho da Páscoa, das fazendas de São Eusébio, de Santo Onofre,
Antropophagos do Brazil devorando huns portuguezes. Autor desconhecido, século XVIII.
eram acusados de desestabilizar o comércio empreendido ao longo do Caminho do Sertão, que constituía o modo de vida dos Nunes e da maioria dos que, como eles, percorriam continuamente essa rota. Por causa desses déspotas e de suas tiranias - queixavam-se os três -, “não faltavam discórdias, de que se originavam mortos”, perturbando os “mercadores que, com tanto trabalho, faziam viagens tão longas”.188 Para eles, os paulistas eram “uma gente [que] marchava sem ordem alguma: todos em bandos”, sendo que a maioria desse contingente era constituído de escravos seus, “homens negros, e mulatos”.189 O relato revela que os nomes dados às localidades e acidentes geográficos ao longo do percurso espelhavam as vivências cotidianas desses viajantes pelo sertão, marcadas por perigos, é verdade, mas também pela visão paradisíaca dos locais. Apesar de D’Anville ter transposto para a Carte de l’Amérique méridionale muitos desses topônimos, a linguagem cartográfica, mais simplificada e esquemática, não nos permite apreender a origem semântica desses nomes. A fazenda de Santo Antônio do Urubu era assim chamada porque ali se encontrava o “urubu que é um pássaro como um corvo”. Rancho da Fome, Urtigas, Agreste eram denominações identificadas com a difícil jornada do viajante junto à natureza muitas vezes hostil. Olho d’Água da Serra, Lagoinha, Boqueirão, Canudos, Poções, Lagoa do Junco e a dos Patos, tanto 200
açúcar, vestidos feitos, camisas, bois, pólvora, balas, [e] chumbo de toda sorte”.195 O mesmo ocorria com “Capuame, onde há uma grande feira de gados”.196 Outros eram essenciais para guiar o transeunte. Por essa razão, a partir da “barra da Bahia”, o viajante deveria buscar e seguir uma serra que ali nasce, “que vai tomando o nome das partes por donde passa, e continua o caminho, de sorte que estes três Irmãos a tiveram à vista, pela parte esquerda, [por] setecentas léguas de caminho; e, no fim, vai entrar nas terras de Castela, pela parte ocidental”.197 O registro cuidadoso, no relato dos Nunes, com medições das jornadas gastas entre as diversas localidades, foi essencial para que D’Anville pudesse posicioná-los com precisão em seu mapa, transformando essas medidas de tempo de viagem em intervalos de distâncias. Para tanto era necessário saber com exatidão o tempo gasto nessas jornadas, que podia ser diferente, dependendo das dificuldades encontradas ou dos meios de transporte utilizados. A maior parte da viagem pelo
de Santo Antônio do Urubu e de Santo Antônio do Retiro. Afinal, ao lado da espada, a cruz era um dos pilares que sustentaram a colonização lusitana nos trópicos.
Do mapa mental à Carta de l’Amérique méridionale Contudo, se o relato alertava sobre todos os possíveis perigos durante a viagem, sua principal função era dar a ver a rota a ser trilhada, uma vez que a desorientação acometia frequentemente os viajantes. Assim, os Nunes sublinharam vários acidentes geográficos que deviam ser buscados ao longo do percurso. Alguns, como o arraial de Mathias Cardoso, que ficava a “meio caminho das Minas”, servia de ponto de orientação, mas também para onde se dirigiam os comerciantes porque era ali que “vinham alguns mineiros fazer negócios com a gente que [chegava] de Pernambuco e da Bahia, [e] que traziam negros, armas, cavalos, sal,
O mapa da Freguesia da Manga, na capitania de Minas Gerais, c.1764, assinala o rio São Francisco, sua nascente e afluentes. 201
O caso dos irmãos Nunes
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Mapa de território na capitania da Bahia, entre o rio São Francisco, o Verde Grande e o riacho chamado Gavião, c.1758.
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Caminho da Bahia era realizada marchando “à paulista”. Isto é, acordava-se bem cedo e caminhava-se somente até por volta do “meio-dia, quando muito até uma ou duas horas da tarde, assim para se arrancharem, como para terem tempo de descansar e de buscar alguma caça ou peixe”.198 A exceção era o trecho entre o Agreste e o rio das Rãs, pois, como a distância era muito grande e não havia abrigo seguro entre os dois pontos, os viajantes tinham que partir à meia-noite e somente na noite seguinte iam pernoitar no Curral Falso.199 A viagem era feita a pé, em lombo de burro, ou em redes carregadas por escravos ou índios, e alguns trechos podiam ser vencidos em canoas. O comerciante Antônio Mendes da Costa, por exemplo, vinha pelo caminho, “muito devagar, por trazer sua mulher em uma rede em todo o estado, e buscando índios
para a carregarem às costas”.200 Tantas dificuldades valorizavam em muito a presença de cavalos e animais de cargas, mesmo sendo forçoso desmontar nos locais mais perigosos ou nas passagens dos rios, e deviam ser levadas em consideração pelo geógrafo, na hora de realizar seus cálculos das medidas de distância. O lapso de tempo gasto para percorrer diversos trechos ou a distância entre dois pontos eram informações vitais para os que pretendiam se deslocar por esses caminhos e deveriam ser cuidadosamente medidos e registrados para que o viajante não se perdesse. Esse tipo de cuidado deixava marcas indeléveis num viajante contumaz. Assim é que, frente aos inquisidores, Diogo Nunes, quando instado a denunciar outros cristãos-novos, não teve dúvidas em lembrar as distâncias precisas dos locais 202
onde os encontrara. Percebe-se nos autos que, frequentemente, se esquecia dos nomes ou confundia os parentescos dos cristãos-novos que conhecera em suas andanças e com quem compartilhara cerimônias, crenças e ritos judaicos (claro que tais esquecimentos podiam ser intencionais, para proteger a identidade de possíveis novos perseguidos, o que parece não ter tido bons resultados, pois nas margens do processo, o inquisidor registrou os nomes completos de todos a quem Diogo se referiu). No entanto, ele foi capaz de dizer com precisão - decorridos mais de trinta anos de algumas viagens - que Vila Rica distava seis léguas do seu sítio em Itaubira, enquanto o sítio do Salgado ficava a três léguas da cidade de Salvador da Bahia, distando 14 ou 15 léguas de Santo Amaro. As distâncias também podiam adquirir a forma de espaços de tempo, como era o caso de Guarapiranga, que, de acordo com ele, estava a três dias de jornada da Vila do Carmo. Da mesma forma, o roteiro dos irmãos ordena em jornadas precisas os 25 a 30 dias que o viajante aguarda pela frente, o que não pode ser facilmente percebido no mapa, apesar de os locais assinalados por D’Anville ao longo do caminho se referirem a pousos mencionados pelos três irmãos. Cientes do que ocorria nas estradas, os comerciantes preferiam se deslocar em grupos e, para isso, organizavam comboios bem armados com o objetivo de se autoprotegerem. Quando um dos Nunes foi atacado pela cobra coral, por exemplo, estava acompanhado de seus camaradas e de seus escravos. Um comerciante português, chamado Francisco da Cruz, foi testemunha exemplar do cotidiano dos caminhos, pois, como os Nunes, frequentemente transitava por eles vendendo seus produtos e realizando suas cobranças. Sobre o tamanho das comitivas, contou que - para enfrentar uma dessas viagens - seu “cunhado e dois amigos [juntavam] uma tropa de quarenta negros e quatro homens brancos”.201 O armamento era essencial para garantir a segurança do grupo. Os Nunes trataram de alertar ao leitor de seu roteiro que “nas cabeceiras do rio Verde, se acham pederneiras para as espingardas, muito boas; e [d]as grandes, que servem para os bacamartes [e] valem meia oitava de ouro, cada uma”.202 Aos poucos, ao longo da jornada, estabeleceram-se fazendas e roças, além de algumas poucas estalagens e raros arraiais, que serviam de abrigo para os viajantes e de pasto para os animais. A viagem pelo Caminho
do Sertão era organizada de modo que ao final de cada marcha chegava-se a um local de pouso, mais comumente uma fazenda. O Mapa do território da Capitania da Bahia, compreendido entre o rio São Francisco, rio Verde Grande e o riacho chamado Gavião, de 1759, mostra a rede de fazendas regularmente dispostas ao longo desse trecho, proporcionando pouso aos viajantes, e dividindo o trajeto em jornadas médias de cerca de 37 léguas, distância que podia ser transposta em um dia de viagem de marcha à paulista.203 Muitas das fazendas descritas eram locais onde paravam para descansar e, sob a rede protetora dos cristãos-novos ali residentes, algumas serviam também de locais de culto e de exercício dos ritos judaicos. Isso ocorreu, por exemplo, no sítio do Salgado e na Roça de Antônio Roiz Campos, essa última distante cerca de 15 léguas de Salvador, ambas localizadas nas proximidades da Vila de Cachoeira. Mesmo após a proliferação dos arraiais e pousos ao longo do trajeto, a viagem no sertão continuou a depender prioritariamente do abrigo nessas fazendas próximas. Os pousos, quando existiam, eram incômodos e sujos e compunham-se em geral de umas casinholas e uns barracões, onde eram estocadas as mercadorias descarregadas dos lombos dos burros, para que os animais pudessem descansar e pastar. Na maior parte do trajeto, pernoitava-se com muito pouco conforto. Os comerciantes, precavidos, comumente traziam “consigo sua cama e seus utensílios de cozinha, [e] não deixavam nunca os animais” se distanciarem.204 No início do século XIX, o inglês John Mawe recomendava aos viajantes “se munirem de camas e cobertas, de uma provisão de chá, açúcar, velas, aguardente, sal, sabão, duas marmitas, [além de] um chifre para água”.205 Na Parateca, a primeira localidade a ser atingida junto ao rio São Francisco, podia-se buscar abrigo no “Hospício dos Frades do Carmo, onde habitam três ou quatro frades”.206 O Caminho da Bahia era na realidade um conjunto de estradas e picadas que, com variações, ligavam Salvador, na Bahia, a Sabará e Vila Rica, nas Minas Gerais. O viajante que saía de Salvador atravessava de barco a baía de Todos os Santos, margeando a ilha de Itaparica, seguindo até o outro lado até a vila da Cachoeira, distante 12 léguas, porta de entrada do Recôncavo Baiano. Ali ele podia pegar as variantes. Os Nunes descreveram duas delas. A primeira chamava-se Travessia de João Amaro e era uma trilha que, a partir de São Pedro o Novo, 203
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Na página seguinte, estradas e picadas ligavam Salvador a Sabará e Vila Rica. A viagem começava por barco, margeando a ilha de Itaparica até Cachoeira.
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
cruzava o rio Paruassu ou Paraguaçu e atingia a vila de João Amaro, o mais curto até as Minas. A partir da vila de João Amaro, passava-se a fazenda da Tranqueira, a serra da Chapada, os Campos Gerais, o rio das Contas Pequeno e o Grande, o hospício dos Frades do Carmo, o rio das Rãs, até a fazenda da Parateca, na confluência com o rio São Francisco. Por essa rota, o viajante gastava cerca de trinta dias de viagem até atingir a margem do São Francisco.207 Era ali, na Parateca, que a Travessia de João Amaro se encontrava com a segunda ramificação que os irmãos descreveram a partir de Salvador, denominada Travessia da Dona Joana, assim chamada porque nessa rota a maioria das fazendas que o viajante era obrigado a atravessar ou pousar pertencia a Joana da Silva Guedes de Brito. Joana e sua mãe, Isabel Maria Guedes de Brito, herdaram um sem-número de fazendas no sertão. Segundo os Nunes, só as de Isabel importavam “novecentas léguas de conquistas, que fizeram seus antepassados”. Como residiam em Salvador, aforavam suas terras a terceiros e “neste [seu] tão grande distrito há infinitas herdades, [pelas] quais lhe pagam de foro os habitantes dez mil reis, [a] cada um ano, por cada três léguas de terra, em longo”.208 Mãe e filha eram descendentes de uma índia com Antônio Guedes de Brito, famoso apresador de índios que, por seus serviços, acumulou uma enorme quantidade de sesmarias na região. Ainda de acordo com os Nunes, a partir da Parateca, marco fundamental nesse trecho da rota, um único caminho acompanhava o curso do rio até a foz do rio das Velhas. Dali, passava-se pela vila da Cachoeira, pelo arraial do Cardoso, pela aldeia dos tapuias, cruzava-se os rios Giguitay e Rosário, até a barra do rio das Velhas. O rio tomou esse nome porque os índios o chamavam guaimi, termo que em tupi-guarani significava mulher velha.209 Depois de atravessar o rio Ricudo, o rio Fondo, a serra Vermelha e Itacambira, atingia-se Vila Rica. Nesse último trecho, o caminho tomava o nome de Estrada Real,210 onde, ao longo do tempo, a Coroa procurou aumentar o seu controle, não só para dar mais segurança aos viajantes, mas também para efetivar a cobrança de vários tributos. Por essas duas razões, determinava-se que os viajantes transitassem apenas por ela, evitando embrenharem-se nos matos ou usarem picadas clandestinas. Ao longo da Estrada Real foram construídos registros onde eram feitos o controle de entrada e saída de pessoas e mercadorias e a cobrança dos impostos
sobre as entradas de todas as mercadorias a serem comercializadas na capitania e sobre as passagens dos viajantes pela travessia em rios caudalosos. Esses eram guardados por destacamentos militares, que tinham as funções de fazer o giro dos territórios próximos em busca de contrabandistas, e de encontrar e destruir picadas clandestinas. Em geral, os registros não tinham localização fixa, variavam conforme as necessidades estratégicas e situavam-se em lugares do caminho onde, por algum acidente geográfico, havia dificuldade para os extraviadores buscarem outra rota. No caso do Caminho da Bahia um dos registros mais importantes ficava na barra do rio das Velhas, pois sua travessia era obrigatória para atingir a região mineradora. Os Nunes dão conta que o primeiro registro construído para controlar essa travessia ficava onde morava um tal de Luís Dias. Na época em que escreveram o relato, a “passagem que agora se pratica neste rio das Velhas” passou a ficar um pouco mais à frente, entre as Porteiras de Cima e as Lages do Sargento Queirós.211 Contudo, diferentemente do que está escrito no roteiro dos três irmãos, quem se debruça sobre o mapa feito por D’Anville percorre apenas um dentre os vários caminhos que, a partir de Salvador, podiam ser tomados para atingir as Minas Gerais. Os próprios irmãos abrem o seu roteiro informando ao viajante que havia “três Minas diferentes” e que cada uma podia ser atingida, a partir de Salvador, por caminhos distintos: “a que fica mais perto está a quinhentas léguas de caminho, indo pela Travessia de João Amaro. Outra a oitocentas, pela travessia de Dona Joana. [E] a terceira, sendo de seiscentas [léguas], com pouca diferença, é a do Morro do Chapéu. Estas três Minas eram, até agora, as mais distantes da Bahia”.212 Mas, à medida que o texto se desenrola, várias bifurcações se apresentam para além desses três caminhos principais. Na página 3, fica-se sabendo que, na Parateca, também “fina o Caminho das Contas Pequeno”, que atravessa as fazendas de Isabel Maria Guedes de Brito. Já na 4, o leitor é informado de que a Travessia de Dona Joana é o caminho que chega na fazenda do Rio do Taparacu das Porteiras pela “Carreira Direita, saindo da Bahia até a fazenda da Jatoba”. O que significa que havia também uma “Carreira da Esquerda”, não descrita por eles. O Caminho do Morro do Chapéu atingia o rio São Francisco na altura da fazenda de Santo Antônio do 204
205
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
Na Carte de l’Amérique, as múltiplas rotas entre Bahia e Minas foram reduzidas a uma única trilha, em linha pontilhada. Entre os rios Tocantins e São Francisco, surgiu um grande vazio.
Urubu, depois de atravessar o rio das Contas Pequeno e
a Travessia de João Amaro com a do Caminho do Morro
o Grande. Após o primeiro dia de caminhada, pernoita-
do Chapéu; e dali até Vila Rica pela Estrada Real. Se, no
va-se na fazenda das Palmas e, no dia seguinte, na das
mapa de D’Anville, o caminho é configurado como uma
Lages, situada logo depois do rio das Contas e um pouco
rota linear, pelo relato dos Nunes, que vivenciaram o tra-
adiante do morro do Chapéu, que dava nome à trilha.
jeto, sabemos que ele não era unívoco, mas sim tortuoso,
Depois que se atingia o São Francisco, seguia-se o seu
sinuoso e não linear, e que também não era dado de ante-
leito, cruzando o rio das Rãs e o rio Verde até o arraial
mão, mas resultante de escolhas a partir das várias picadas
de Matias Cardoso. Logo depois chegava-se à fazenda
que podiam ser tomadas e dos locais a serem buscados ou
de Januário Cardoso, grande potentado da região e pro-
evitados. No mapa de D’Anville, ao contrário, o caminho,
prietário, em meio à caatinga, das fazendas de Angicos
reto e certeiro, apresenta-se como uma simplificação da
e Juazeiro, onde, como era costume, criava-se gado
intricada rede de caminhos que cruzavam o sertão. Suas
vacum. Dali seguia-se um único trajeto, que margeava
informações, contudo, configuravam uma novidade car-
o rio das Velhas até Sabará, passando pela fazenda da
tográfica e enalteciam a habilidade e o conhecimento do
Jaguara, por Fidalgo e por Santa Luzia.
cartógrafo sobre o pouco conhecido território interior da
Se o roteiro descreve ou evidencia a existência de
América portuguesa. Sem nomear seus informantes na
múltiplas rotas cruzando os sertões, ao compará-lo
cartela do mapa, apropriando-se de um saber popular,
com a trilha que Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
ele o eternizava como conhecimento erudito, reconhe-
desenhou na Carte de l’Amérique méridionale, de 1748,
cido universalmente como de sua própria lavra, já que
observa-se que o cartógrafo dispôs apenas uma única
a Carte de l’Amérique méridionale foi o primeiro mapa
linha tracejada: de Salvador até a Parateca, misturando
impresso a representar o Caminho da Bahia. 206
posicionamento exato dos rios, montanhas, fazendas e arraiais dispostos nesse trajeto. No entanto, ainda que o relato tenha sido a fonte principal para o estabelecimento desse trecho do mapa, os dois não são idênticos, e a linguagem cartográfica, ao se tornar cada vez mais esquemática na forma de legendas universalmente apreensíveis, eliminava determinadas informações contidas no texto e apagava vivências experimentadas pelos desbravadores da região, registros culturais do espaço. De certa forma, em séculos anteriores, tais registros podiam ser apreendidos pelas pinturas que preenchiam o espaço vazio das cartas sobre a América. Se o caminho foi traçado ao longo de um repertório de experiências vividas que definiram os locais de pouso, os de reabastecimento de água, os de caça e pesca, as trilhas mais seguras e os postos de repasto, além do momento mais propício para começar a viagem - sempre em outubro para beneficiar-se da estação chuvosa -, essas escolhas não podem ser percebidas por quem observa o mapa. Enquanto rios, cadeias de montanhas, vilas e caminhos aparecem claramente, outras informações que dão o tom e revelam a riqueza do relato desapareceram completamente quando a informação textual foi transformada em linguagem cartográfica. Assim, por exemplo, pelo mapa de 1748, é impossível saber que na ilha de Itaparica pescavam-se baleias, que os índios tinham a pele avermelhada, ou perceber as agruras defrontadas pelos irmãos Nunes ao longo do caminho, sobre as quais eles tiveram o cuidado de escrever para alertar os viajantes. O leitor do mapa podia se surpreender ao visualizar, na Carte de l’Amérique méridionale, uma aldeia dos tapuias. No entanto, a maneira como D’Anville dispôs graficamente a informação, parecendo se tratar de apenas mais um povoado, situado logo abaixo do arraial do Cardoso, atenua o impacto. Os Nunes, no entanto, se referiram à aldeia não como ponto de referência a ser buscado pelo viajante, mas sim a ser evitado, tendo em vista o perigo que os tapuias selvagens representavam. Mas, ao dispor o núcleo indígena em uma sucessão linear de povoamentos dos brancos, o cartógrafo não só o inscreve dentro de uma organização espacial dos europeus, como também incorpora a população nativa à população colonial, o que igualmente servia para demonstrar a expansão da fronteira civilizatória da cultura e da sociedade portuguesa na América. A linguagem
Não só isso. Na Carte de l’Amérique méridionale (1748), a oeste do rio São Francisco, bem no coração do Brasil, D’Anville inseriu uma cartela de texto com os seguintes dizeres: “Nesta parte do Brasil se observa um espaço de cerca de 50 mil léguas francesas quadradas, que as cartas precedentes não deram algum conhecimento”.213 Trata-se de um enorme vazio, representado no mapa como um espaço em branco. À primeira vista isso parece ser um defeito, resultante do desconhecimento do cartógrafo dos elementos geográficos nesse trecho. Mas D’Anville atesta esse vazio não como defeito, nem como ausência, mas como um dos grandes acréscimos ao território americano que ele, e somente ele, fora capaz de revelar. Tratava-se de 50 mil léguas quadradas francesas, acrescidas, como um vazio geográfico, no centro-oeste brasileiro. O aparecimento desse território até então desconhecido se explica a partir do estabelecimento no mapa de duas entidades geográficas distintas, ambas localizadas no sertão interior do Brasil. Do lado leste, o rio São Francisco - posicionado graças ao roteiro dos irmãos Nunes -; do oeste, o rio Tocantins. Ao desenhar os dois rios nas posições de longitude que considerava corretas, esse espaço vazio surgiu no meio do mapa, reflexo do que ele acredita ser um maior conhecimento da geografia local, ainda que desenhado como um espaço em branco. O significado desta inserção foi a significativa expansão do território do Brasil, entre os paralelos 10º e 15º, estendendo em muito as possessões lusas no centro-oeste da América, a serem reivindicadas pela Coroa portuguesa. Conforme advogava dom Luís da Cunha, todas as riquezas minerais do planalto centro-oeste do Brasil deveriam estar sob o domínio luso, daí a importância desse acréscimo que incorporava ao território brasileiro as Minas de Cuiabá. Segundo os Nunes, “desde de 1709 [para cá], se descobriram outras [Minas], contíguas às terras de Espanha, chamadas de Cuiabá; as quais distam das Minas Gerais três meses de caminho, tudo [por] terra firme [e] pelo sertão”.214 D’Anville valeu-se das informações contidas no relato dos irmãos para estabelecer não só o posicionamento do São Francisco e seus afluentes, mas também dos pontos principais da região mineradora215 e desenhou a distância entre Salvador e a Bahia como tendo cerca de 250 léguas.216 Por essa razão o caminho é tracejado no mapa, pois a partir das distâncias precisas que os irmãos percorreram é possível estabelecer o 207
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões
os emboabas haviam criado e reproduzido ali a sua civilização. No contexto do império, a riqueza de detalhes com que a região foi representada revela a centralidade que o embaixador conferia às Minas e o incontestável domínio da Coroa portuguesa sobre a região. As negociações entre as duas Coroas deveriam se assentar em bases cartográficas sólidas e, sem escamotear a realidade geográfica, se guiar pelo já acordado em tratados anteriores, respeitando as balizas naturais do terreno e o uti possidetis. Isto é, a posse seria assegurada a quem efetivamente tivesse colonizado o terreno em disputa. Aos olhos do embaixador, a colonização portuguesa da área mineradora, claramente visível no mapa de D’Anville, tornava inquestionável a manutenção da sua posse. Já o vazio que aparece entre os rios São Francisco e Tocantins expande a interiorização da colonização portuguesa no coração oeste da América.
cartográfica se diferenciava mais uma vez da escrita, pois, como se verá, também servia a outros propósitos. A Carte de l’Amérique méridionale espelhava a concepção geopolítica que dom Luís da Cunha advogava para o império português: para ele, as Minas constituíam região vital da América portuguesa e deveriam ser mantidas a qualquer custo. No mapa, o grau de detalhamento das informações geográficas dessa área, incluindo aí todo o sertão da capitania, que se estendia da margem esquerda do São Francisco até Salvador, aponta para essa necessidade. A região se apresenta graficamente como uma entidade geográfica cujo espaço está palmilhado pela presença portuguesa. Todo um conjunto de informações gráficas desenhadas - os rios e as cadeias de montanhas, com seus traçados conhecidos; os caminhos, as vilas e os pousos estabelecidos pelos portugueses - deixa ver que era inconteste que
Mapa de demarcação da região produtiva de diamantes, c.1729. 208
O usuário ou o fim a que se destinavam os dois documentos também influenciaram as escolhas do que representar nesses dois documentos, ainda que ambos tivessem uma natureza cartográfica. Por exemplo, tanto no relato dos irmãos, que foram várias vezes ao Rio de Janeiro, quanto na Carte de l’Amérique méridionale, foi intencional a supressão do Caminho Velho, que partia de São Paulo; ou do Caminho Novo, que ligava o Rio de Janeiro à região mineradora, diferentemente do que ocorrera com o Caminho da Bahia. Entretanto, as razões da supressão desses outros caminhos nos dois documentos são diversas. Vejamos. No caso de D’Anville, quando ele redigiu seu mapa, em fins da década de 1740, o Caminho Novo já era o mais utilizado pelos viajantes e, por isso mesmo, muito mais conhecido. Quanto ao Caminho Velho, entre os documentos que dom Luís lhe forneceu, estavam dois mapas manuscritos dessa área. Apesar de terem servido para ajudar o cartógrafo a estabelecer a geografia dessa região da capitania, o Caminho Velho não aparece tracejado na carta. Para compreender essa supressão é necessário recordar que uma das funções que dom Luís exerceu em suas embaixadas foi monitorar a pirataria, especialmente a francesa, que invadira por duas vezes (1710 e 1711) o Rio de Janeiro. Nesse porto, o ouro brasileiro era embarcado nas frotas que seguiam para o Reino. Descrever os dois caminhos (o Novo e o Velho) por onde, do Rio de Janeiro, podia-se atingir as Minas com relativa facilidade, era informação perigosa demais e não poderia, a seus olhos, alcançar tamanho grau de publicidade. Afinal, dom Luís era um fiel servidor da Coroa portuguesa. Já no relato dos irmãos, a supressão dos demais acessos à região mineradora claramente se encontra no caráter paradisíaco que eles imprimiam ao sertão. Esse era o caminho para a terra prometida destinada aos emboabas cristãos-novos. Cotejar parte da Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, com o relato dos irmãos Nunes nos permitiu discutir alguns dos pontos acerca dos mapas e de sua linguagem simbólica. Mapa e relato possuem correspondências entre si e com a região cartografada, mas nenhum dos dois é um simples espelho, em miniatura, da região. Ambos são uma representação dessa realidade e inúmeras camadas se interpõem entre o real, o relato e o mapa, plasmadas por questões diplomáticas, políticas, econômicas, culturais e mesmo religiosas. Muitas vezes
Caça aos pássaros, c.1778.
essas questões dizem mais sobre as imagens que se configuram, tanto no mapa quanto no relato, do que a respeito da própria região que ambos buscavam representar. Tal é o caso da leitura paradisíaca da região, presente no texto dos três irmãos; ou na demonstração enfática da presença e da colonização portuguesa, no lado leste do rio São Francisco, por parte da Carte de l’Amérique méridionale. Ambas eram reflexos da visão dos emboabas sobre a capitania das Minas Gerais, mas enquanto a primeira adquire um caráter edenizador, a segunda é pragmática, pois se relaciona ao processo de negociação diplomática entre Espanha e Portugal em meados do século XVIII. Essas e muitas outras questões elegeram presenças e mesmo ausências no texto escrito e na imagem cartográfica da América portuguesa. 209
ESPELHOS ONDULADOS Os vazios e os simulacros
cartografia europeia produzida durante os séculos XVI e XVII parecia ter horror ao vazio, mas a partir do século XVIII esse panorama altera-se. Deixando-se de temer o espaço em branco, um vazio geográfico passa a representar vastas extensões, o que revela o relativo desconhecimento que os europeus ainda tinham do território interior da América, África e Ásia. Delisle, a partir de 1700, em seu mapa-múndi1 e em outros dedicados às suas quatro partes do mundo, produzidos a seguir, foi o primeiro a abandonar essa obsessão de preencher todos os espaços geográficos das cartas. Em seu mapa da “América do Norte,2 deixou ‘em branco’ todo o noroeste do continente que era perfeitamente desconhecido”.3 Mas, como nenhum outro geógrafo, D’Anville “baniu de suas cartas todas as maravilhas decorativas”, não hesitando “em deixar os ‘brancos’”.4 J.B. Harley diz: “O que está ausente dos mapas é tão mais próprio de ser inquirido do que o que está presente.”5 A partir dessa sugestão, questões relacionadas aos espaços deixados em branco na Carte de l’Amérique méridionale serão o objeto inicial deste capítulo Nas cartas de D’Anville, os espaços em branco, segundo ele dizia, relacionavam-se a “muitas das circunstâncias
A aparente incoerência entre o texto da cartela, o das memórias e os dados extraídos a partir do emprego de ferramentas digitais [...] nos permitem desnudar o que, em alguns trechos do mapa, se escondeu por trás do discurso empregado por D’Anville, isto é, os dados realmente incorporados ao mapa, os descartados e os não revelados integralmente a seus interlocutores.
Floresta Amazônica, de Von Spix e Von Martius, 1823-31. Acima, Vista de São Luís do Maranhão, 1863. 211
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Os vazios e os simulacros
anteriormente desconhecidas”,6 mas também deixavam às claras os lapsos geográficos ainda existentes. A despeito desses espaços em branco, ele “levou ao extremo o cuidado de preencher os vazios do interior das terras”,7 não mais de encobrindo-os com imagens mitológicas, mas sim com acidentes geográficos aos poucos desvelados pelos que se aventuravam no interior desses continentes, como foi o caso dos irmãos Nunes. Eis por que, a exemplo de outros geógrafos de seu tempo, e bem ao gosto iluminista, seus mapas mereceram diversas reedições, nas quais ele cuidou de corrigir detalhes geográficos considerados incorretos ou preencher espaços em branco com os acidentes recém-conhecidos, revelando o gradativo domínio dos europeus sobre a geografia da Terra.
A sua Carte de l’Afrique foi a primeira a refletir essa concepção. Comparada com as de outros geógrafos, ela “aparece com muitos vazios em qualquer dos lugares, [mais] do que nas demais cartas”.8 Seu objetivo era que seus mapas refletissem “os limites dos conhecimentos positivos em geografia” e que os vazios desnudassem os locais onde se encontravam esses limites.9 Em um trecho de seu livro Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, referiu-se diretamente aos espaços em branco deixados na Carte de l’Amérique méridionale de 1748, bem como à nova configuração espacial que imprimira ao continente, justificando esses vazios não apenas pela ausência, mas pela possível futura presença: “Se, todavia restam ainda muitos brancos,
Antes do século XVIII, os cartógrafos preenchiam os espaços desconhecidos da América: ao lado, carta de Henricus Hondius, 1647; e na página seguinte, de Van Langren, 1595. 212
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Mapa da América Central e do Norte, de Guillaume Delisle, 1700: o primeiro a abandonar “as maravilhas decorativas”.
Os vazios e os simulacros
eles são reservados a outras ocasiões de adquirir novos conhecimentos, o que não acontece tão frequentemente como se desejaria.”10 Ao deixar a carta em branco nos espaços onde a geografia era desconhecida, facilitava-se o seu processo de correção numa futura reimpressão. Dessa maneira, para incluir um novo acidente geográfico num trecho específico, não seria necessário rasurar as três placas de cobre utilizadas na impressão, pois bastava acrescentar o objeto no trecho em branco desejado. Eis aí uma razão para entender por que D’Anville não alterou a data da cartela nas constantes reimpressões da carta, feitas à medida que novas descrições do interior do continente chegavam às suas mãos, pois, para ele,
continuava a ser o mesmo mapa, só que mais preciso. Dessa forma, a Carte de l’Amérique méridionale constituía um único mapa, permanentemente em aberto.
O Nordeste Ao se comparar a primeira versão da Carte de l’Amérique méridionale, a mais simples, de 1737, com as duas seguintes — uma produzida por volta de 1742 e outra, a mais elaborada, em 1748 —, observa-se que se espaços em branco desaparecem em alguns pontos, em outros ampliam-se significativamente. A região das 214
Minas Gerais, com os documentos fornecidos por dom Luís da Cunha; a Amazônia e o Peru, onde D’Anville teve acesso a fontes e a informações trazidas por membros da expedição geodésica ao Peru para medição do Equador; e o Paraguai, sobre o qual dispunha de informações dos missionários jesuítas, foram locais onde a geografia desvelou-se e o mapa aperfeiçoou-se. Já no interior do nordeste do Brasil as informações geográficas desaparecem. Em comparação com as versões anteriores, na carta de 1748 o sertão dessa região configura-se como um grande espaço vazio. Nesse espaço da Carte de l’Amérique méridionale de 1748 está escrito o nome Brésil, que se refere a toda a área de domínio português, limitado em suas fronteiras por uma linha de cor verde, e por isso esse topônimo apresenta-se com o maior tamanho de letra. Logo abaixo, um texto informa: “cujo interior é desconhecido em grande parte. Os naturais desse país são chamados de um nome comum Tapuias”. Os portugueses, pouco interessados em compreender a diversidade das tribos do Brasil, e muito mais preocupados com as alianças que estabeleciam com eles, distinguiam os índios em dois grandes grupos: de um lado estavam os tapuias, que consideravam inimigos, selvagens e antropófagos, de outro, estavam as tribos tupis-guaranis que habitavam o litoral. Enquanto os primeiros eram continuamente combatidos, os últimos foram cooptados pelos portugueses em sua luta contra aqueles que resistiam à civilização, por isso considerados selvagens ou bravios. No mapa, um pouco a nordeste dessa primeira inscrição, junto à vazante do rio Tocantins, D’Anville escreveu: “Tupinambás grande nação, que de sua primeira morada nas costas do Rio de Janeiro se estendeu até aqui e propagou-se mesmo até a fronteira do Peru.” O conteúdo dos dois textos reflete, grosso modo, as formas distintas com que o colonizador representava os nativos, cabendo somente aos tupinambás o qualificativo de grandes, termo ao qual podem ser atribuídos diversos significados. Se o vazio de informações geográficas no interior do nordeste do Brasil podia significar que este era um espaço exterior à civilização que os portugueses construíam na América, ele adquiria ao mesmo tempo, ao ser inserido no interior das fronteiras portuguesas, claramente desenhadas no mapa, um sentimento de pertença e um status de território à espera da integração pelo colonizador. Nesse sentido, ainda que o nome dos
índios esteja gravado nesse espaço, essas terras não pertenciam a eles, e o vazio, melhor do que qualquer outra forma de representação, refletia a negação do direito dos indígenas aos vastos territórios que ocupavam no momento da chegada dos europeus, desde a costa do Rio de Janeiro até o Peru, dos quais vinham sendo paulatinamente alienados. É importante destacar que a folha 1 da Carte de l’Amérique méridionale, que diz respeito aos territórios do norte e nordeste do Brasil, apresenta como seu limite sul na região Nordeste um trecho do baixo São Francisco, que corre no sentido oeste-leste, e que o curso integral desse rio somente é desenhado na folha 2. Apenas um pequeníssimo trecho, na altura da vila de Cachoeira, penetra discretamente e se insinua na folha 1 da carta. O São Francisco, como já se discutiu, faz uma delimitação clara entre, de um lado, o território costeiro e o minerador, fortemente marcados pelos signos do colonizador, e, do outro, o vasto sertão interior, distante do litoral, incerto, desconhecido, longínquo, inculto e, por isso, desenhado pelo geógrafo como um vazio. Esse desaparecimento de informações geográficas evidencia-se na hidrografia local. Na carta de 1737, os cursos superiores de vários rios são desenhados, espraiando-se desde o interior até o litoral onde deságuam. Tal é o caso dos rios Meari, Taboucourou, Siará (i.e., Ceará) e Omarás, todos vertendo a partir do sopé da cordilheira do Brasil até a costa norte no Atlântico. Ao se observar a carta que D’Anville produziu sobre a América de c.1742 já se percebe que alguns dos elementos hidrográficos foram suprimidos, diminuindo o número de afluentes e mesmo desaparecendo os nomes de alguns rios. Apesar das supressões citadas, na carta de 1748 ele foi capaz de alcançar uma maior precisão da hidrografia junto à costa e, com essa representação, superava outros mapas franceses da época. Por exemplo, em sua coleção, ele possuía três versões da carta Amérique méridionale, de 1650, 1669 e 1709, de autoria de Sanson d’Abbeville. Nas três, o curso superior dos rios Meari, Taboucourou e Siará é representado.11 O Meari, grafado como Miary, parte do lago Xarais, no centro-oeste do Brasil, corre no sentido nordeste até desaguar no litoral, na província do Maranhão. Em seu curso, recebe vários tributários, como o Ouoiecoup, Pimaré e Muracou. O Taboucourou, por sua vez, verte no sentido norte e corre paralelo ao 215
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de 1737, grande parte da geografia do interior dessa região então configurada não era assentada no real conhecimento do território, mas sim em pura presunção. Nesse caso, neste trecho, o aumento do vazio na Carte de l’Amérique méridionale apresenta-se não como uma simples ausência, mas como um aperfeiçoamento cartográfico, pois, como defendia o geógrafo, na falta de informações seguras, o melhor é deixar o espaço em branco, a ser preenchido com novas e seguras informações. Esse grande vazio que representa o interior da região do Nordeste brasileiro se explica, em parte, porque a sua coleção de mapas da área é maciçamente dominada pela cartografia holandesa do século XVII, produzida no contexto da invasão da região. Em seu conjunto, ela basicamente retrata o litoral, não esmiúça os acidentes geográficos do interior, que aparece coberto de elementos pictóricos. Sem essas imagens de adorno, sobra o grande vazio. D’Anville possuía um total de 30 cartas referentes ao nordeste, das quais seis são posteriores a 1748, data da confecção do seu mapa, restando 24 cartas e estampas utilizadas como fontes. Dessas, 19 referem-se ao século XVII, ou seja, 79,2%, sendo 17 produzidas no contexto do Brasil holandês (Blaeu, 7; Post, 7; Marggraf, 1; Vissher, 1; e Hondius, 1), sendo a maioria delas estampas com vistas de cidade como Recife, Salvador, ou Itamaracá. Do total, apenas duas não foram diretamente produzidas pelos holandeses,
rio Siope, que, já próximo à vazante, divide-se em dois: o Pará, a oeste; e o Siope, a leste, que deságuam na capitania do Ciará (sic). Interessante observar que, no seu terço médio, o Pará, nas duas primeiras versões dessa carta (1650 e 1669), se conecta ao rio São Francisco, próximo a um lago, mas na versão de 1709 esses rios não se conectam mais e uma cordilheira divide os dois sistemas hidrográficos. Ao se compararem os mapas de Sanson com a Carte de l’Amérique méridionale de 1748 de D’Anville fica evidente que, apesar de a representação desses rios se resumir a suas vazantes, junto à costa, ela é muito mais precisa. Por exemplo, o número de rios representados é maior, suas posições são mais exatas e sua nomenclatura está mais bem estabelecida. Isso fica evidente no sistema de rios que deságuam próximo a São Luís do Maranhão, núcleo urbano situado em posição bastante precisa (latitude e longitude). Os rios Pinaré, Uayou, Meari, Taboucourou e Moniy, sem nenhuma conexão com o sistema fluvial do Centro-Oeste, nem com o Xarais, correspondem aos atuais Pindaré, Grajaú, Mearim, Itapecuru e Munim. Esse processo revela que, enquanto a geografia litorânea do Nordeste se tornou mais conhecida e passou a ser mais bem representada no período que distancia o período de produção dessas cartas, no interior da região ocorreu o inverso. Com esse procedimento, o cartógrafo desnuda que, no mapa 216
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Na Carte de l’Amérique méridionale de 1748, vê-se a ilha de Marajó como uma grande porção de terra e não como um ajuntamento de ilhotas, como era comum na época.
Na página anterior, na Carte de l’Amérique méridionale, c. 1742, o tamanho das letras em Brésil indicava o domínio português sobre o território dos Tapuias, índios considerados hostis.
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mas pelo italiano Horatius, que, no entanto, reproduziu em seu Atlas aqueles mesmos mapas flamengos. Restam assim seis cartas do século XVIII, que representam 20,8% do total. Dessas, três são de Frézier, mas representam apenas a baía de Todos os Santos e Salvador; e três são anônimas, sendo duas delas estampas de Salvador e uma de Olinda. Mas o que parece ter contribuído de forma determinante para que D’Anville deixasse o grande vazio interior foi o fato de que sua maior fonte para desenhar o litoral de toda a região Nordeste até São Luís do Maranhão foi a Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon.12 Mais adiante, discuto a autoria e as peculiaridades dessa carta, que parece ter-lhe sido dada por dom Luís da Cunha. A ausência, na sua coleção, de uma cartografia recente do interior do Nordeste reflete o fato de que, por essa época, essa não era uma área diplomaticamente em disputa e por isso o embaixador não se
preocupou em reunir um acervo que a representasse em detalhes. A exceção é o rio São Francisco, uma importante porta de entrada para a região mineradora, para o qual dom Luís disponibilizou a ele mapas e roteiros, entre eles o dos irmãos Nunes, que permitiram representar o seu curso de forma bastante acurada. Esses aspectos se refletem diretamente na composição da coleção de mapas de D’Anville. Com o intuito de deixar o vazio onde não há informações geográficas seguras, muitos outros elementos da carta de 1737 simplesmente desapareceram na de 1748. Novo exemplo, ainda no Nordeste, é a “Cordilheira do Brasil”, também representada nos três mapas de Sanson. No mapa de D’Anville de 1737, trata-se de um maciço montanhoso que corresponde, grosso modo, ao Espinhaço. Começa no interior da região Sudeste, correndo perpendicular à costa até pouco acima do rio São Francisco, para então dobrar-se em direção ao interior da região Nordeste. Se na sua carta, produzida em
Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon, provavelmente desenhada por Antônio Alves (ou Álvares) da Cunha, sobrinho do embaixador dom Luís. Nas páginas seguintes, "uma cadeia de rochas, chamada Serra dos Órgãos".
Ilha de Itamaracá, gravura holandesa de 1647. 218
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gráficas desenhadas no mapa — rios, caminhos, cadeias de montanhas, vilas e pousos — permite ao leitor apreender a geografia local. Por outro lado, a inserção da parte oeste, marcada por um vazio gráfico, é legitimada pelo discurso do cartógrafo. Essa duplicidade de linguagens (uma pictórica e outra discursiva) mostra não só a presença de elementos geográficos vistos a partir do mapa, mas também as ausências antes não percebidas pela tradição. Essas espelhavam “o vazio real de nossos conhecimentos nos lugares totalmente nus”,16 vazio não desprezível, representando “mais de duas vezes a extensão da França”.17 O cartógrafo, porém, justifica a supressão das informações geográficas dessa região, dispostas em “cartas precedentes”, pois essa “vasta extensão desse continente” havia sido representada como “coisas vagas e de pura presunção”.18 Dessa maneira, o “objeto novo” na parte central do Brasil, agora trazido à luz, se configurava como um amplo espaço vazio atestado por D’Anville não como um defeito, nem mesmo uma ausência, mas como um dos grandes acréscimos ao território americano que ele, e somente ele, fora capaz de revelar. Tratava-se, afinal, de um aumento de 50 mil léguas quadradas francesas, ainda que representadas como um enorme vazio geográfico, localizado no centro-oeste brasileiro. Em primeiro lugar, deve-se compreender como se dá o processo de inserção desse significativo espaço na
Amérique méridionale, de Sanson d’Abbeville, século XVII, em uma das suas três versões.
c.1742, a representação continua a mesma, na de 1748 essa montanha desaparece completamente no Nordeste. Já no Sudeste, D’Anville a representou dividindo-a e desdobrando-a em várias outras, o que é mais condizente com a configuração dos maciços que cobrem a região. Nesse último mapa, ele representou ainda a serra dos Órgãos, correndo paralela à costa, separando o litoral do interior, de maneira que “para ali chegar, em deixando a margem do mar, é preciso atravessar uma cadeia de rochas, chamada Serra dos Órgãos, porque o aspecto dessas rochas parece representar os canudos dos órgãos”.13 A Mantiqueira é outra serra desenhada por ele, e, apesar de não nomeada no mapa, se espraia a sudeste de Vila Rica; a Canastra é representada a oeste da mesma vila; e o serro das Esmeraldas (serra do Espinhaço) corre perpendicular à capitania, dirigindo-se para a região dos
Carte de l’Amérique méridionale, pois, segundo o autor, nenhum mapa precedente o mostrava. Em segundo, deve-se entender o significado geopolítico desse acréscimo. O aparecimento do território até então desconhecido se explica a partir do estabelecimento no mapa de duas entidades geográficas distintas, ambas localizadas no sertão interior do Brasil, em longitudes consideradas mais corretas: do lado leste, o rio São Francisco; do oeste, o rio Tocantins. Tais inserções provocaram significativa expansão do território do Brasil, na altura dos paralelos 10º e 15º, estendendo em muito as possessões lusas no centro-oeste da América. Para representar o rio Tocantins, D’Anville afirma que foi fundamental o acesso a “uma longa carta manuscrita” sobre o curso desse rio, “cuja riqueza em minas de ouro desse país fez descobrir a parte superior”. Segundo ele, a carta havia sido trazida do Pará por La Condamine e Maldonado.19 Já para posicionar o rio São Francisco, além do roteiro dos irmãos Nunes, D’Anville conta que utilizou o mapa manuscrito desenhado por Antônio Alves (ou Álvares) da Cunha, sobrinho do embaixador.20 Parece tratar-se da Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon,21 pois fica evidente, ao se comparar a configuração do São Francisco apresentada nessa carta com a da Carte de l’Amérique méridionale, a semelhança entre ambas. Nos dois mapas,
diamantes. Sobre essa serra, ele informa que a “região das minas de diamantes [...] é adjacente na porção ocidental de uma cadeia de montanhas, ou cordilheira que separa a banda marítima do interior das terras”.14
O rio Tocantins Como já mencionado no Capítulo 5, D’Anville inseriu na Carte de l’Amérique méridionale de 1748, a oeste do rio São Francisco, bem no coração do Brasil, uma cartela de texto com os seguintes dizeres: “Nesta parte do Brasil se observa um espaço de cerca de 50 mil léguas francesas quadradas, que as cartas precedentes não deram algum conhecimento.”15 No lado leste da área central do Brasil, todo um conjunto de informações 222
Vista do sítio do Limoeiro, no rio dos Tocantins, da coleção Prospectos das aldeias e lugares mais notáveis, de João André Schwebel, 1756. 223
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A Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins assinala cachoeiras, ilhas e bancos de areia, c.1734.
Os vazios e os simulacros
o rio Verde e o Paracatu aparecem como tributários da margem esquerda desse rio. No curso imediatamente superior à barra do Paracatu, ambos representam uma lagoa, que D’Anville denomina Parapitinga, e o Tangi aparece como afluente do Paracatu. A utilização desse mapa para o estabelecimento de Minas Gerais fez com que D’Anville não configurasse os limites da capitania, incorporando as comarcas do Rio das Mortes e de Ouro Preto às capitanias mais próximas - São Paulo e Espírito Santo, respectivamente. Contudo, não se deve estranhar essa ausência de limites, visto que, até 1720, década em que dom Luís recolhe a maior parte dos documentos que fornece a D’Anville, Minas não constituía uma capitania autônoma, mas anexa a São Paulo, e a Carte huilée des côtes du Brésil apenas reflete essa configuração política. D’Anville explicou que conseguiu estabelecer uma correspondência entre as duas cartas a partir da nascente do Tocantins, próxima ao arraial da Meia Ponte, e do fato de que alguns “rios que compõem o rio São Francisco” são também próximos ao arraial. Tratava-se do Urucuia e do Paracatu.22 A carta do Tocantins que La Condamine e Maldonado trouxeram do Brasil parece tratar-se, sem sombra de dúvida, da que foi denominada, na coleção D’Anville, Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins — um longo mapa português com
3,33 m de comprimento por 0,65 m de largura. Também pela comparação, estabelece-se tal atribuição, dadas as similitudes entre este mapa e a Carte de l’Amérique méridionale no que se refere à representação do rio Tocantins. A carta de la Condamine e Maldonado abarca praticamente todo o curso do rio, do arraial da Meia Ponte,23 em Goiás, bem próximo de sua nascente, até a Vila de Cametá, já na sua foz, no rio Amazonas.24 Seu objetivo principal é orientar a navegação do Tocantins, estando assinaladas todas as suas cachoeiras, ilhas e bancos de areia. Sabe-se da existência de uma derrota ou expedição no rio Tocantins, que ao que parece deu origem àquele mapa, ocorrida entre 2 de novembro de 1734 e 23 de janeiro do ano seguinte, depois de 15 meses de árdua jornada. Ainda que não tenha sido possível identificar seus participantes, provavelmente três, foi encontrado no acervo do Arquivo Ultramarino de Lisboa um manuscrito que descreve essa viagem.25 Trata-se de um mapa mental que enumera exatamente os mesmos acidentes geográficos dispostos na Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins e, por consequência, na Carte de l’Amérique méridionale. Marco António de Azevedo Coutinho, então servindo como diplomata na Inglaterra, foi quem primeiro teve notícias dessa aventura, por a “ter ouvido nesta Corte”. Mas as
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notícias chegaram um pouco confusas. Diziam que no “estado do Maranhão se descobriram proximamente duas minas”. Azevedo Coutinho logo escreveu ao reino pedindo maiores informações sobre o assunto, temendo que, por essa porta, as Minas Gerais pudessem ser ameaçadas. O secretário de Estado, Antônio Guedes Pereira, lhe respondeu, a 22 de fevereiro de 1738, que a notícia, como lhe chegara, era “inteiramente falsa” e, exagerando no tom, menciona “as minas que de novo se descobriram nos Tocantins e Goiases”. Acrescenta ainda que não havia o que se temer, pois os novos achados “são em grande distância daquele estado” das Minas Gerais e “houve nelas três homens que entrando-se por aquele sertão e servindo-se em algumas partes dos rios de que abunda vieram a sair no Grão-Pará”. Esses viajantes “encontraram tantos embaraços que a mesma experiência os desenganou de não ser possível facilitar-se uma entrada da dita cidade para as referidas Minas [Gerais]”.26 Cópia dessa missiva foi enviada, na mesma ocasião, a dom Luís da Cunha, que estava em Paris, e assim o embaixador tomou conhecimento do que se passava.27 Como ele sempre advertia, as descobertas de minas auríferas no Brasil imediatamente repercutiriam na Europa, especialmente na Inglaterra, que invejava as suas riquezas. De fato, o intuito da viagem havia sido buscar ouro, e as minas do Tocantins começavam a
ficar afamadas. Os viajantes, ao encontrarem os primeiros moradores das margens do rio, após 16 dias de viagem, informaram que seu “destino não era em chegar ao Pará, que era buscar ouro”.28 Do mesmo modo, D’Anville, ao se referir ao Tocantins, referiu-se a “um país rico em ouro”.29 Ao longo da derrota, os expedicionários fizeram várias tentativas para encontrar o metal, algumas delas bem-sucedidas, como no que chamaram “rio do Ouro”, por ali terem encontrado o valioso metal. Para isso, levavam bateias, almocreves e alavancas, ferramentas próprias para a mineração.30 Finalmente, ao chegarem a Belém, reafirmaram mais uma vez o intento da expedição. Ali alcançaram uma licença para partir para o reino e então “dar testemunho daquele descoberto que eu e meus camaradas tínhamos feito das minas de ouro do rio dos Tocantins”.31 Indicativo da riqueza mineral do rio, o mapa manuscrito aponta a localização além do rio do ouro, das Minas da Natividade, já povoadas e exploradas, o que leva D’Anville a registrar esta mesma localidade em sua carta. O cotejamento entre esse relato, o mapa manuscrito e a conformação do rio Tocantins conferido por D’Anville na Carte de l’Amérique méridionale de 1748 revela a relação direta entre os três. No entanto, o sentido vazante-nascente dos textos escritos ao longo do mapa é o inverso da viagem descrita no manuscrito.
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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Os vazios e os simulacros
Seja qual for a explicação, o fato é que a semelhança entre o relato da derrota e o mapa do Tocantins, e de ambos com a representação desse trecho na Carte de l’Amérique méridionale, é impressionante. Lembremo-nos de que o mapa do Tocantins havia sido trazido por La Condamine e Maldonado quando de sua estada no Pará. Não se sabe exatamente quem eram os integrantes da derrota descrita no relato, e o roteiro não serve de pista, pois seus autores não se identificam ao longo do texto, mas sabe-se que, pelo caminho, esses aventureiros vão desbravando o rio e seu entorno; e o relato e o mapa revelam essa contínua descoberta da geografia local. Observa-se que alguns lugares já possuíam denominação própria, como o arraial de São Félix das terras novas, com uma igreja, sob a administração do padre José Pires;33 ou a fazenda de São José, onde permaneceram alguns dias doentes, próxima ao rio Preto,34 ou ainda a casa forte, onde vez por outra se metiam os moradores, quando ameaçados pelos índios.35 Outras localidades são batizadas pelos expedicionários, como “a cachoeira a que chamamos a cachoeira de Maquines”, ou “um rio a que chamamos rio dos Mangues e (...) sete léguas abaixo está um rio a que chamamos de rio de Luzia, que fica a vista de uma serra grande e comprida, chegada muito aos Tocantins”.36 Dar nomes aos acidentes geográficos era ato simbólico de posse, continuamente encetado
Detalhe da Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins.
Sabe-se, no entanto, que houve tentativas de seguir um e outro sentido, e os próprios expedicionários se referem ao fato de, no 38º dia de viagem, terem se encontrado com “a tropa que do Pará haverá mandado o governador daquele estado pelo rio acima”, sob o comando do tenente-coronel Luís Prates.32 Apesar de terem existido outros aventureiros percorrendo o rio, a relação entre esse relato e o mapa manuscrito é evidente. A inversão do sentido da escrita no mapa em relação ao do relato pode ser explicada de três maneiras:
pelos que se consideravam descobridores desses mundos novos. Esse é um argumento a favor da relação direta entre o relato e o mapa, pois os nomes que os integrantes da derrota conferem aos acidentes geográficos do caminho foram transpostos um a um para a Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins, como o rio da Canabrava, a cachoeira comprida dos Corixás, Santa Luzia etc.37 Todos esses topônimos presentes no relato e nessa carta manuscrita também aparecem na Carte de l’Amérique méridionale. Por vezes, a grafia se embaralha, como é o caso do rio dos Mangues, forma que D’Anville utiliza em seu mapa, que foi grafado Magues na carta manuscrita. Essa carta permitiu que D’Anville fosse capaz de imprimir uma configuração extremamente precisa do curso do rio Tocantins. Como era costume seu, ele fez primeiro um esboço de sua autoria, a partir do mapa original. Intitulou-o Amérique. Rivière des Tocantins.38 Nesse mapa primário, como na Carte de l’Amérique méridionale, estão dispostos os morros e serras avistados nas margens, e as contínuas cachoeiras que os intrépidos navegantes encontraram pelo caminho, a cujos números e extensão muitas vezes eles se referem, e que tornaram a viagem extremamente arriscada. Esses acidentes geográficos e suas posições cuidadosamente registradas pelos expedicionários foram determinantes para que o cartógrafo estabelecesse as medidas de distância do rio em sua carta. Assim, por exemplo, D’Anville demarcou
367 léguas entre a cachoeira de Itaboca, junto à foz, e São José, em Goiás, já bem próximo da sua nascente.39 O mapa do Tocantins e o de Antônio Álvares da Cunha permitiram que situasse a posição do Tocantins em relação aos meridianos. Como D’Anville mesmo afirma, essa medida foi conseguida graças ao posicionamento do arraial da Meia Ponte, no alto do rio, já próximo à nascente, referenciado na Carte manuscrite de la navigation de la rivière des Tocantins, e “mais ainda sua correspondência ou ligação com a parte representada na carta de M. da Cunha”.40 Seguindo as orientações que essa cartografia auxiliar lhe apontava, ele posicionou, no sertão interior do Brasil, as duas entidades hidrográficas — o Tocantins e o São Francisco. O primeiro, a oeste, ficou a aproximadamente 32º de longitude, e o segundo, a leste desse último, foi posicionado em seu curso médio a cerca de 25º de longitude, o que revelou a distância de 50 mil léguas francesas quadradas existentes entre os dois rios, território antes desconhecido. É interessante observar que, na carta de 1748, D’Anville desenhou dois arraiais da Meyaponte (sic), tributários de dois rios distintos com esse mesmo topônimo, sendo que um dos arraiais está situado um pouco ao sul do outro. Essa configuração permaneceu nas edições subsequentes do mapa. O primeiro deles foi disposto nas margens de um rio da Meia Ponte tributário do sistema fluvial da região sudeste do Brasil, conectado às bacias dos rios das Mortes, Grande e Paraná, representadas
1. Uma vez tendo chegado ao Pará, ao desenhar o mapa do rio, provavelmente a pedido do governador, o autor inverteu o sentido dos topônimos, orientando-os a partir de Belém. 2. O mapa não ter sido resultado direto do relato e sim de outra expedição ocorrida mais ou menos na mesma época, comandada pelo tenente-coronel Luís Prates. 3. O mapa ter sido produzido no Pará, a pedido das autoridades locais, mas por outra pessoa que, apesar de se servir das informações da expedição que descia o rio, desenhou a carta a partir de Belém. 226
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Amérique. Rivière des Tocantins, esboço de D’Anville: a configuração precisa do rio Tocantins, com as medidas de distância e os acidentes geográficos avistados das margens.
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
No detalhe abaixo, observa-se a dupla inclusão por D’Anville do arraial da Meia Ponte. A repetição deve-se ao cotejo de duas fontes cartográficas com informações divergentes sobre a posição da localidade.
Os vazios e os simulacros
como interligadas. O segundo, mais ao norte, está localizado na bacia do Tocantins, do qual o outro rio da Meia Ponte é tributário. Como explicar essa duplicidade? Como dito anteriormente, D’Anville afirmou que, para essa região, utilizou dois mapas: a longa carta do Tocantins, intitulada Carte manuscrite de la navigation de la rivière des Tocantins, trazida do Brasil por La Condamine, e a do vasto território entre as Minas e o Paraguai, traçada pelo sobrinho de dom Luís,41 provavelmente a que se denomina na sua coleção Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon. A partir da comparação das duas afirmou que “ficou muito feliz porque a posição do arraial da Meia-Ponte, que se vê no alto do rio Tocantins, foi incluída nessa [primeira] carta”, situada “em um país rico em minas de ouro, ocupada por uma nação nomeada Guayazas”. Essa inclusão lhe permitiu conhecer “não somente o lugar conveniente às nascentes do rio, no interior do Brasil, mais ainda sua correspondência ou ligação com a parte representada na carta de m. da Cunha”.42 Por essa última, ele pôde também conhecer “um cantão chamado Cuiabá, rico em minas de ouro”, situado “acima do rio Mbotetei, ao lado do rio Paraguai”.43 Sabe-se então que ele estabeleceu uma conexão entre as duas cartas e,
ao que parece, isso acabou por duplicar os posicionamentos que dispunha para o arraial da Meia Ponte. As posições onde D’Anville situou esses núcleos urbanos podem ser conferidas no Quadro VI. O geógrafo genovês Francisco Tosi Colombina, que fazia levantamentos cartográficos no Brasil a serviço da Coroa portuguesa, fez, a pedido do governador de Goiás, em agosto de 1750, uma avaliação da Carte de l’Amérique méridionale. Ele concluiu que nesse trecho do rio havia muitos erros, e em seu parecer disse que “não se pode fazer fundamento deste mapa de d’Anville”. Sobre o arraial da Meia Ponte, Colombina não menciona as duas localidades com o mesmo nome no mapa, somente conclui que esse estava deslocado em 2o 55’ de latitude. O arraial da Meia Ponte corresponde a hoje cidade de Pirenópolis, e, ao se comparar o mapa de D’Anville a um mapa atual do IBGE, a localidade com o nome de Meia Ponte, situada mais a norte, é a mais próxima de onde está situada essa cidade. Colombina exagera quanto à imprecisão do mapa! Observa-se no Quadro VI que as diferenças de posicionamento das localidades do Centro-Oeste na Carte de l’Amérique méridionale, em relação a medidas atuais, variam para as longitudes entre 53’ (a menor) e 1o50’ (a maior), e para as latitudes de 2o76’ e 9’, o que é quase insignificante, principalmente quando se leva em consideração a dimensão da carta e a falta de medições precisas disponíveis para essas localidades na ocasião em que D’Anville desenhava sua carta. Ao contrário, o mapa apresenta bastante precisão, e se de fato há 2o14’ de diferença na latitude de Meia Ponte em relação à posição de Pirenópolis, na longitude a diferença média é de apenas 1o01’.45 Colombina aponta também o fato de que, na verdade, Meia Ponte estava às margens do rio das Almas, que deságua no rio Maranhão, para então este atingir o Tocantins e “nesse mapa não se acha tal rio Maranhão e suponho equivocasse com o que chama [de rio] do arraial das Almas”.46 Nesse caso ele tinha razão, pois D’Anville situou o arraial não nas margens, mas ao sul do rio das Almas. O outro arraial da Meia Ponte, situado mais ao sul do primeiro, parece corresponder à atual Rochedo, que fica às margens de um rio da bacia do sistema fluvial dos rios Grande-Paraná, que corre para o sul, paralelo à estrada que hoje liga Itumbiara a Goiânia. Considerandose Rochedo como o núcleo urbano representado, a precisão de D’Anville é muito boa, pois há apenas uma 228
QUADRO VI
h
Posição de núcleos urbanos na Carte de l’Amérique méridionale44 COORDENADAS DA CARTE DE L’AMÉRIQUE MÉRIDIONALE
COORDENADAS DO MAPA DO IBGE ATUAL
DIFERENÇAS
Local
Latitude
Longitude m. Ferros
Longitude greenwich
Latitude
Longitude greenwich
Latitude
Longitude
Meia Ponte N Meia Ponte S Santa Ana Cuiabá Villa Boa Rio de Janeiro
-17,99 -18,79 -18,35 -18,36 -16,94 -23,00
-32,80 -32,43 -34,28 -37,90 -33,58 -26,31
-50,47 -50,10 -51,95 -55,57 -51,25 -43,98
-15,85 -17,39 -16,30 -15,60 -15,92 -22,91
-48,96 -49,24 -50,70 -56,09 -50,13 -43,18
-2,14 -1,40 -2,05 -2,76 -1,02 -0,09
-1,50 -0,86 -1,25 0,53 -1,12 -0,80 Fonte: Jorge Pimentel Cintra
a cartografia de gabinete era capaz de representar a Terra de forma acurada, apenas com o artifício da crítica das fontes. Conseguir bons mapas e roteiros era fundamental para esse sucesso. Esses eram como lentes que ampliavam a geografia da América meridional até a mesa do seu gabinete em Paris. Numa outra perspectiva, a presença ou a ausência de determinadas informações no mapa também são importantes para compreendermos o imaginário das pessoas sobre a região. A cartografia não era fruto apenas da observação direta e empírica da natureza, embora houvesse alguns indivíduos que faziam levantamentos topográficos de regiões circunscritas, e geógrafos, como D’Anville, e embaixadores, como dom Luís da Cunha, que acreditavam que os mapas eram espelhos diretos do mundo real. De fato, apesar do banimento das imagens oníricas ou mitológicas nessa cartografia iluminista, várias delas - ecos da crença na existência de um paraíso terrestre48 - teimosa e sub-repticiamente penetravam nos mapas. Mesmo não mais representados de forma pictórica, os espaços oníricos encontravam expressão em símbolos cartográficos que a geografia de matriz iluminista procurava universalizar. Vejamos.
diferença de 1o40’ de latitude e 0,86’ de longitude em relação a medidas atuais dessa localidade. O arraial que ele nomeia de Santa Ana parece ser a atual localidade de Serra Dourada, às margens do rio Pilões, que desemboca no rio Claro, nas proximidades da Serra Dourada. Nesse caso, a precisão também é muito razoável, sendo as diferenças de 2o05’ para a latitude e 1o25’ para a longitude. Cuiabá e Vila Boa também apresentam posições relativas bastante próximas do real. Para as cinco localidades do Centro-Oeste, são maiores as diferenças em relação às latitudes (média de 1o87’) do que às longitudes (média de 1o 01’).47 Eis por que Colombina, na sua crítica ao mapa, refere-se somente às primeiras. Interessante observar que as medidas de latitude, mais fáceis de serem tomadas, bastando para isso medir a declinação do sol com instrumentos adequados, como o quadrante, são mais inexatas do que as de longitude, que, no entanto, são mais difíceis de serem conseguidas, pois exigem a observação de eclipses (geralmente dos satélites de Júpiter) e instrumentos, como pêndulas e telescópios, de grande precisão e alcance. Poder-se-ia inferir daí que, a despeito de não terem mencionado no relato, os expedicionários tomaram medidas de longitude ao longo da viagem? A título de curiosidade, observe-se que, para o Rio de Janeiro - cujo meridiano havia sido medido pelos padres matemáticos Diogo Soares e Domingos Capassi, em 1730, do que D’Anville não parece ter tido notícia -, sua precisão é impressionante, apenas 0,09’ para a latitude e 0,80’ para a longitude de diferença em relação às medidas atuais. De fato, como ele mesmo defendia,
A bacia Amazônica49 Se, no caso do Nordeste e do Centro-Oeste, os vazios são propositais, há outras regiões da Carte de l’Amérique méridionale onde o geógrafo escamoteia 229
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Os vazios e os simulacros
Visão de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, em 1784.
intencionalmente o uso ou a ausência de certas informações. Isso acontece de maneira mais evidente na bacia do rio Amazonas. Para entender o processo de estabelecimento da posição do rio e seus afluentes no mapa - e a forma como ele hierarquiza, seleciona ou descarta o material disponível -, é necessário, primeiramente, realizar uma leitura crítica dos textos nos quais D’Anville descreve o processo de produção da carta. Em segundo lugar, utilizando modernos sistemas de informação, devem-se comparar as coordenadas de vários pontos geográficos dispostos ao longo do rio na Carte de l’Amérique méridionale em relação à cartografia auxiliar que lhe serviu de base e mesmo em relação aos mapas atuais.50 O que se pretende com o uso dessas ferramentas digitais não é avaliar a qualidade dos dados de D’Anville a partir dos que hoje se encontram disponíveis, mas sim compreender o processo de crítica das fontes utilizadas pelo geógrafo. Comecemos pela cartela. No texto inserido na sua parte inferior, D’Anville presta tributo aos que contribuíram “na reunião de materiais que serviram para a construção desse mapa” e afirma que, “no que concerne principalmente ao curso do rio Amazonas e dos rios que nele deságuam”, era devedor das informações recolhidas pelos partícipes da missão franco-espanhola para a medição do arco de meridiano no Equador. Como mencionado no Capítulo 4, o cartógrafo agradece a todos os membros da missão, delimitando e hierarquizando as contribuições de
cada um. Na ordem em que esses savants são apresentados, na referência do pertencimento ou não à Académie Royale des Sciences de Paris e no tipo da contribuição de cada um, D’Anville hierarquizou seus três colaboradores, privilegiando La Condamine, em detrimento de Bouguer e Maldonado. No entanto, ainda que Maldonado viesse em último lugar, fica evidente que o mapa incorporava uma dose de observação do Novo Mundo, produzida em grande parte por membros cultos das elites hispânicas locais, como era o caso desse savant, sem as quais os geógrafos de gabinete, na Europa, não seriam capazes de produzir suas sínteses cartográficas. Maldonado, enviado à Europa, em 1746, pela Coroa espanhola para fazer contato com intelectuais franceses, havia acompanhado La Condamine em sua expedição ao rio Amazonas entre 1743 e 1744. Os dois partiram das cercanias de Quito, usando, no trecho inicial, rotas diferentes. D’Anville considerou tal estratégia “motivo de um digno elogio”, pois, dessa forma, “multiplicaram o conhecimento” sobre a geografia da região.51 La Condamine atingiu o rio a partir de Jaén de Bracamoros, ainda na América espanhola, início do trecho navegável. Maldonado desceu por um afluente chamado Pastaça e os dois se encontraram em Laguna, situada na Província de Mainas, já nas margens do rio Amazonas, ainda em território espanhol.52 Maldonado foi por um caminho mais curto, que passava “por uma garganta ao pé do vulcão de Tonguragua, 230
a grau e meio de latitude austral; por aí se chega[va] à província de Cañelos, atravessando várias torrentes cuja junção faz o rio chamado Pastaça, que entra no Maranhão cento e cinquenta léguas acima do Napo”.53 La Condamine escolheu a rota mais longa e menos conhecida, começando por um largo caminho terrestre, que saía de Tarqui, passando por Guayaquil, Zaruma, Loja e entrava no Amazonas em Jaén de Bracamoros. Dali, de canoa, passando ainda por Borja, acima do rio Pastaça, por onde viera Maldonado, atingiu a foz desse rio e, de lá, desceu até La Laguna, situada na foz do Guallagua.54 Quando, a 19 de julho, chegou a esse vilarejo, Maldonado já se encontrava lá havia seis semanas.55 Dali, desceram juntos até o Pará, ou Santa Maria de Belém do Grão Pará, ou simplesmente Belém.56 Ao longo do caminho, La Condamine realizou várias medições de longitude e latitude, conforme constam do seu relato da viagem. Como exemplo, descreve em detalhes a que realizou na confluência do Napo com o Amazonas. Conta que, “em São Joaquim, [...] partimos [...] com a intenção de chegar à foz do Napo a tempo de aí observar, na noite de 31 para 1º. de agosto, uma emersão do primeiro satélite de Júpiter”. Em seguida, revela como foi feita a operação: “Observei primeiro a altura meridiana do Sol, em uma ilha em frente da boca do Napo. Achei 3º24’ de latitude astral”, concluindo, depois das medições, ter encontrado “pelo cálculo 4 horas e três quartos a diferença entre os meridianos de Paris e a embocadura
do Napo.” Cuidadoso, comenta que “essa determinação será mais exata quando se tiver a hora de observação atual em qualquer lugar cuja posição em longitude seja conhecida e onde essa emersão tenha sido visível”, acrescentando em seguida que “logo depois de minha observação de longitude, pusemo-nos em caminho”.57 No entanto, há discrepâncias entre o que La Condamine observou e o que relatou.58 Ao se referir às medidas astronômicas que realizou, busca legitimar um novo traçado para o curso do rio, em detrimento do conhecido até então. D’Anville, um mestre da arte da crítica cartográfica, por vezes irá descartar as medidas tomadas por La Condamine, ao confrontá-las com a documentação de que dispunha. Em Belém, Maldonado e La Condamine novamente se separaram. Esse conta, em seu diário: “Durante minha permanência no Pará, fiz pelos arredores algumas viagenzinhas de canoa, e disso aproveitei para detalhes de minha carta.” Curioso em relação ao fenômeno da pororoca, foi de canoa do Pará até Caiena, onde embarcou num navio em direção à Europa, enquanto Maldonado embarcou para Lisboa em Belém.59 Ao longo de suas incursões pelo delta do rio, La Condamine não só estabeleceu diversas medidas de distância, como também tomou as latitudes de diversos pontos, produzindo uma cartografia manuscrita de vários intervalos numerados, com indicação dos locais das observações. A coleção D’Anville ostenta um desses originais relativo 231
Nas páginas seguintes, casas de índios na floresta Mata-Mata no Moju, Pará, por Joseph Leon Righini, 1867.
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Carte de la côte septentrionale de l’Ile de Marajo depuis Yaraoubi jusqu’à Anajaheba, por D’Anville, 1763.
Os vazios e os simulacros
ao trecho setentrional da ilha de Marajó, além de uma cópia em cores, realizada pelo próprio geógrafo, da parte sul, entre Yaraoubi e Anajaheba.60 D’Anville também possuía fragmentos de capítulos de um diário de viagem, com observações e apontamentos geográficos da foz do Amazonas, intitulado De l’entré du Pará. Copiado com sua própria letra, os textos não têm autoria clara, mas tudo indica serem também do viajante francês.61 Uma vez na Europa, La Condamine e Bouguer desentenderam-se quando começaram a divulgar resultados nem sempre convergentes de suas observações.62 Na Carte de l’Amérique méridionale as observações de Bouguer serviram de base para delinear a região ao redor de Cuenca, onde ele e os demais partícipes da expedição realizaram as principais medidas para estabelecer o arco de meridiano. A triangulação em Cuenca foi realizada por La Condamine e Bouguer, a partir da observação, em março de 1743, da movimentação de uma estrela, “obtida no mesmo instante por ambos os observadores nas duas extremidades do arco”,63 sendo que o primeiro se encontrava a cinco léguas ao sul de Cuenca, num deserto perto de Tarqui, limite austral do meridiano.64 Logo, Bouguer não dispunha de informações relevantes sobre a calha do Amazonas, a não ser para ajudar no estabelecimento da distância entre essa e a região de Cuenca. Já La Condamine e Maldonado tinham recolhido importantes informações sobre o rio e, na Europa, por razões diferentes, colaboraram com D’Anville. La Condamine concentrou-se na divulgação dos seus feitos na epopeia amazônica,65 associando-se a D’Anville, que produziu alguns mapas que acompanharam a obra que escreveu narrando a viagem e ilustraram aspectos
desse relato.66 A Carte du cours du Maragnon ou de la grande route des Amazones veio à luz, em 1745, para figurar na edição de sua Voyage sur l’Amazone,67 e foi o primeiro mapa desse rio baseado nos levantamentos de longitudes realizados por La Condamine. Esse fez um primeiro esboço, entregue a D’Anville, “cuja habilidade”, afirma o viajante, “é conhecida, [e] me foi de grande vantagem para concatenar e redigir esses materiais esparsos, e enriquecer a minha carta”.68 Como era comum a divisão das tarefas na geografia de gabinete da época,69 La Condamine se responsabilizou pelo levantamento das informações geográficas (lever, em francês) e coube a D’Anville desenhar o mapa (dresser), o que também significava concatenar a série de dados disponíveis. Observa-se, no entanto, que muitas das conformações geográficas sobre a bacia Amazônica, que La Condamine divulgou na Académie como sendo suas, na verdade eram baseadas em informações de terceiros, nem sempre comprovadas por ele.70 Apesar de na cartela do mapa constar a informação “levantado em 1743 e 1744 e submetido às observações astronômicas por m. La Condamine, da Académie Royale des Sciences”, no prefácio de seu livro o viajante francês conta que tais documentos lhe foram “comunicados no país por vários missionários ou viajantes inteligentes” e que coube a D’Anville, “cuja habilidade é conhecida”, utilizando seu método de crítica cartográfica, “concatenar e redigir esses materiais esparsos”.71 Para estabelecer o traçado da bacia do rio Amazonas na Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville utilizou, sem sombra de dúvidas, como uma fonte importante, a Carte du cours du Maragnon, produzida em conjunto com La Condamine. Quatro grandes contribuições
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geográficas desse mapa estão presentes na Carte de l’Amérique méridionale (pelo menos em suas primeiras edições): 1) o desenho do curso do rio Negro;72 2) o desaparecimento do lago Parima e sua substituição pelo Amucu, por meio da conexão das bacias dos rios Rupunuwini, Essequebé e Negro; 3) a conexão entre o Amazonas e o Orenoco, realizada por meio do rio Negro;73 4) a configuração da ilha de Marajó como uma grande porção de terra, em vez de um ajuntamento de ilhotas menores, como era comum na cartografia até então.74 Mas, ao contrário do que se poderia esperar, os dois mapas são divergentes em vários pontos, até mesmo em trechos como o referente à foz do Amazonas, onde La Condamine fizera várias observações astronômicas seguras.75 As diferenças entre esses dois mapas, especialmente no que diz respeito às longitudes, aponta para a utilização, por D’Anville, de outras informações sobre o Amazonas, além daquelas trazidas pelos membros da expedição geodésica. Vejamos agora, grosso modo, os principais documentos auxiliares que D’Anville utilizou para desenhar o rio Amazonas. Em primeiro lugar, cabe destacar o mapa do padre Fritz, missionário a serviço dos espanhóis junto aos índios omáguas e mainas. Numa de suas muitas viagens pela Amazônia entre 1686 e 1725, o missionário desceu
o rio até próximo a sua foz, na cidade de Belém do Pará. Sobre a experiência que acumulou, padre Fritz produziu um diário ou relato manuscrito, usado por outro jesuíta, o padre Pablo Maroni, como base para suas Noticias Autenticas del Famoso Rio Marañon. Uma cópia desse diário, cujos originais estão guardados nos Arquivos do Colégio de Quito, foi fornecida pelo Dr. José Pardo y Figueroa, marquês de Valleumbroso, a La Condamine, que a levou a Paris.76 Com o intuito de defender o domínio da Espanha sobre a região, Fritz desenhou vários mapas da área, mas apenas alguns poucos chegaram até nós. Um deles, com data de 1691, intitulado Mapa Geographica del Rio Marañon o Amazonas, também levado para a Europa por La Condamine, possui uma cartela com uma descrição geográfica do rio e de seus habitantes. Uma outra, um pouco diferente, foi gravada em Quito, no Colégio da Companhia, em 1707, e incorporada com pequenas modificações à edição do volume 12 das Lettres édifiantes et curieuses, de 1717, ficando muito conhecida na Europa.77 Para descer o rio, La Condamine serviu-se do mapa e do diário de Fritz, ambos fornecidos a ele, em Quito, pelo marquês de Valleumbroso, sendo que o mapa era considerado a representação mais fiel até então produzida sobre o seu curso. Mas, assim que chegou à Europa, ele encetou uma campanha para desacreditar as informações 235
Mapa do curso do Maranhão ou do grande rio das Amazonas, coprodução de D’Anville e La Condamine.
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de madeira, de três polegadas de raio, para as latitudes”. A isso juntou sua péssima condição de saúde e concluiu que, “enfim, ele estava tão doente quando desceu o rio até o Pará,” que suas informações não eram confiáveis.79 No entanto, D’Anville, apesar de não mencionar o padre Fritz na cartela, admite em uma das memórias que escreveu sobre a Carte de l’Amérique méridionale, que de fato utilizou o mapa do jesuíta para estabelecer “o detalhe da parte superior do Maranhão”,80 uma das denominações que o Amazonas possuía por essa época e em outros trechos do rio,81 já que La Condamine não havia percorrido tais trechos.82 Outra fonte para o estabelecimento desses trechos foi uma grande carta manuscrita desenhada pelo padre Magnin, presenteada a La Condamine em Borja, e, ainda que o geógrafo visse imperfeições nessa carta, por falta de “rigor geométrico”, o que resultou “em exagerar a extensão dos espaços”, incorporou várias de suas informações, cotejando-as com várias memórias que lhe
do jesuíta78 e garantir a hegemonia da sua representação, com vistas a imortalizar sua importante contribuição ao conhecimento europeu da geografia do Novo Mundo. A Carte du cours du Maragnon, que compôs com D’Anville, foi um importante instrumento dessa campanha. Nela, os dois incluíram, em tracejado, com uma linha mais fraca, o curso do rio desenhado pelo missionário e sobrepuseram a que consideravam ser a mais correta. Com esse expediente, bastante visível no baixo Amazonas, na foz e na ilha de Marajó, apresentando deslocamentos acentuados para leste no caso do mapa de Fritz, ambos buscavam evidenciar as correções que introduziam no curso do rio. La Condamine utilizou as informações do diário do próprio missionário para acentuar a imprecisão da carta de Fritz. Afirmou que “o padre Fritz, sem pêndulo e sem luneta, não pôde determinar nenhum ponto em longitude”. Sobre seus instrumentos de medição disse que “[ele] não dispunha senão de um pequeno semicírculo
Na página anterior, detalhes da Carte de l’Amérique méridionale: 1. o curso do rio Negro; 2. a conexão entre os rios Amazonas e Orenoco, pelo Negro; 3. a substituição do lago Parima pelo Amucu e a conexão dos rios Rupunuwini, Essequebé e Negro; e 4. a configuração inteiriça da ilha de Marajó.
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O grande rio Maranhão ou Amazonas com as missões da Companhia de Jesus, mapa delineado pelo padre Fritz, em 1707. 237
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Descrição dos rios Pará, Curupa e Amazonas, por Antônio Vicente Cochado, 1623.
Os vazios e os simulacros
Álvares Cunha, foram importantes para posicionar a foz do Tocantins, quando este deságua no Amazonas. Vejamos como D’Anville coligiu todas as informações de que dispunha entre a nascente e a foz do Amazonas.90 Para os arredores de Cuenca e Quito, utilizou os dados colhidos pela expedição geodésica. Em suas memórias, afirma que La Condamine considerava a medida justa para o meridiano de Quito como sendo de 5 horas e 21 minutos, ou 80º15’ em relação ao meridiano de Paris. Para efeito da Carte de l’Amérique méridionale, posicionou-o a 60o20’ e poucos minutos a oeste do meridiano de Ferro.91 Isso significava um desvio de sete a oito minutos em relação aos dados de La Condamine. D’Anville estava ciente disso, mas considerou que, pela dimensão da carta, não causaria grandes desvios no mapa.92 Aceitou as medições feitas por La Condamine entre Quito e Jaén, apesar das dificuldades que o mesmo encontrou para realizá-las, e estabeleceu a longitude de Jaén com apenas 0,25º de diferença em relação a Carte du cours du Maragnon. Mas essa diferença vai aumentando à medida que se desce o rio, chegando a valores máximos de 2º60’, no Coari e Purus; e depois declinando para valores na casa de 1º14’, em Belém do Pará, o que revela que as duas cartas não são coincidentes e que D’Anville, nos trechos médios e inferior do rio, não se valeu dos dados do viajante francês. D’Anville conta que, para estabelecer na Carte de l’Amérique méridionale o trecho entre Quito e Laguna, tomou e comparou as observações de La Condamine e Maldonado nas duas rotas que usaram até o rio Amazonas,93 valendo-se desse último para traçar o curso do Pastaça,94 realizado com a ajuda de uma bússola e um gnômone portátil.95 Ambos partiram de Quito com a mesma coordenada e realizaram medições de latitude, direções, velocidade das águas e distâncias percorridas, mas nenhum deles tomou medidas de longitude até a foz do rio Napo, situada a oito dias de canoa a vazante de Laguna, onde os dois se encontraram.96 La Condamine saiu de Laguna no dia 23 de julho e chegou à foz do Napo no dia 31, a fim de observar um eclipse dos satélites de Júpiter, o que não foi possível, a despeito dos esforços, pois vapores no horizonte impediram que o fenômeno fosse avistado.97 Por não terem medido nenhuma longitude até esse ponto, foi preciso que D’Anville calculasse as longitudes a partir das medidas de distância percorrida
foram dadas por Maldonado, quando os dois trabalharam em conjunto na confecção da Carta de la provincia de Quito.83 No que se refere à foz do Amazonas, D’Anville dispunha das medidas tomadas por La Condamine e de um mapa manuscrito do padre Ignácio Reis.84 O religioso era um mercedário “que viveu 12 anos nas margens do rio” Amazonas. O geógrafo encontrou-se com ele na casa de Pedro Nolasco Couvay, em Paris.85 A partir desse encontro, ocorrido em setembro de 1729, conforme as instruções e memórias que o padre lhe forneceu, traçou alguns rascunhos de trechos do Amazonas e seus tributários e uma carta manuscrita da foz,86 que chegou a publicar, no mesmo ano, com o título de Carte du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para en remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noireoù.87 O padre lhe orientou ainda como era a conformação da foz dos rios Madeira, Guatuma, Abacaxi e Urubu, quando esses desaguavam no Amazonas.88 No leito superior dos dois últimos, os mercedários haviam estabelecido suas missões, como as de São Pedro Nolasco e São Raimundo, onde ele missionara, realizando com frequência o percurso entre elas. Além desse mapa manuscrito do padre Ignácio Reis, a longa carta manuscrita do curso do rio Tocantins, trazida do Pará por La Condamine,89 assim como a que lhe forneceu o sobrinho de dom Luís da Cunha, Antônio 238
alcançados.99 De fato, essas medições, em virtude de várias razões, inclusive a tecnologia então disponível, estavam longe de ser perfeitas, mas D’Anville era um especialista não só na sua equivalência, como na transformação de medidas de itinerário em medidas geográficas de distância, e grande parte do sucesso de seu trabalho residia exatamente na maestria com que dominava essa etapa fundamental no processo de construção da cartografia de gabinete.100 A partir de Jaén, ainda usando os dados de La Condamine, D’Anville posicionou as cidades de S.Tiago e Borja, essa última já na calha do rio, o que permitiu que estabelecesse na carta o primeiro ponto do curso do Amazonas. Entre Jaén e a foz do Pastaça, D’Anville dispunha de duas opções principais de dados – os de La Condamine e os de Fritz. Fixou a longitude de Jaén apoiando-se em La Condamine e utilizou as diferenças de distâncias (convertidas para longitudes) medidas pelo padre Fritz, escolhendo portanto uma fonte que,
entre vários pontos coligidos pelos dois viajantes entre Quito e Laguna, passando pela foz do Pastaça, além de utilizar outra documentação subsidiária. O fato de terem escolhido dois itinerários diferentes permitiu que D’Anville pudesse comparar as medidas tomadas por cada um separadamente e, a partir desse cotejamento, estabelecer a diferença de longitude que considerava a mais correta entre os dois pontos. Nesses cálculos, era preciso ter em conta a direção dos cursos d’água tomada pela bússola, o ângulo entre o azimute magnético e o verdadeiro, e a distância percorrida em função da velocidade da embarcação com relação à margem do rio, considerando também o uso de diferentes léguas: francesas, espanholas, marítimas ou as comuns, operação de crítica de fontes na qual ele era um expertise.98 Era preciso levar em conta também as dificuldades que ambos encontraram pelo caminho, como os acidentes do terreno, a força dos ventos ou das águas, que influíam na velocidade da embarcação e portanto nos resultados
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Em 1729, D’Anville publicou um mapa exclusivo incluindo informações de diversas fontes sobre a bacia do Amazonas.
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Floresta virgem, de Charles Etienne Pierre Motte, 1834.
Os vazios e os simulacros
a princípio, era mais confiável, já que o jesuíta havia percorrido muitas vezes esse trecho ao visitar as aldeias sob a sua tutela. Na região entre a foz do Pastaça e Laguna, D’Anville passou a contar com uma terceira fonte: os dados que Maldonado recolhera in loco com o intuito de posicionar o curso e a foz desse rio. A partir deles, D’Anville modificou a medida de longitude da foz do Pastaça em relação à Carte du cours du Maragnon (uma diferença de -1,26º), pois considerou que as medidas de Maldonado eram mais precisas.101 No entanto, desculpou La Condamine pela inexatidão de suas medidas, causadas, segundo ele, ou pelas dificuldades do terreno montanhoso no início do percurso, antes de atingir o rio, ou por ele ter minimizado a força dos ventos, o que influiu nos seus cálculos da distância percorrida em canoa.102 Quanto à foz do rio Napo, a despeito do fato de La Condamine e Maldonado terem tomado a longitude nesse ponto,103 a Carte du cours du Maragnon apresenta um desvio de 3,79º que contaminou todo esse mapa. D’Anville, em seu trabalho crítico para feitura da Carte de l’Amérique méridionale, percebeu esse erro e procurou eliminá-lo, valendo-se principalmente dos dados coligidos pelo padre Fritz. A partir da foz do Napo e no Javari, verifica-se uma coincidência muito grande com a Carte du cours du Maragnon, o que se observa até a altura do Tapajós e do Curupatuba (a média das diferenças entre as duas cartas nos diversos pontos é de apenas 0,04º). A grande discrepância ocorre no Xingu, dadas as contribuições da carta da foz do Amazonas, desenhada a partir do padre Ignácio Reis, e a do Tocantins. Na Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville posicionou a foz do Tocantins a 32o63’ de longitude, deslocada 1o58’ quando confrontada com um mapa atual. Esse posicionamento foi alcançado graças ao estabelecimento das coordenadas do arraial da Meia Ponte, já próximo à nascente do rio, determinando o posicionamento de todo o seu curso. O acesso a essas fontes portuguesas, fornecidas por dom Luís da Cunha, no caso da folha 1 do mapa, permitiu que D’Anville alterasse o posicionamento de vários pontos situados nas proximidades da foz do rio Amazonas, em relação às posições defendidas por La Condamine, o que produziu, nesse trecho, uma série de desvios tanto de latitude quanto de longitude, em relação às medidas atuais. As medidas do francês eram mais 240
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Vila de Monforte na Ilha Grande dos Joanes [Marajó], c.1783: 1. igreja matriz; 2. quartel; 3. Armazém e Pesqueiro Real; 4. casa do Capitão; 5. casa das canoas; e 6. canoa do Ouvidor.
exatas, pois esse, valendo-se dos métodos astronômicos, havia tomado, em três momentos diferentes, a longitude de Belém do Pará. Nesse caso, ele é bastante específico em seu diário ao relatar como e quando realizou as medições, concluindo que: “Achei por várias observações acordes 1º28’ [de latitude e], (...) julguei pelo cálculo que a diferença do meridiano do Pará para o de Paris é de cerca de 3 horas e 24 minutos para o Ocidente.”104 Com efeito, essa longitude de Belém apresenta uma diferença de apenas 0,06o em relação às medidas atuais. Examinemos então as fontes que D’Anville utilizou para posicionar Belém e alguns outros locais próximos à foz do Amazonas. Em relação à posição de Belém, D’Anville difere do valor estabelecido por La Condamine, mas também não utiliza o posicionamento conferido à localidade pelo padre Fritz. É sugestivo o fato de que, ao contrário do que faz para outros pontos e cidades importantes da América (como Caiena, Buenos Aires, Valparaíso, Santos, São Vicente, Olinda e muitas outras), em todas as versões das suas memórias, D’Anville não menciona a medida de longitude tomada por La Condamine em Belém, e muito menos se refere às fontes ou dados que utilizou, ou aos cálculos que
fez para o posicionamento dessa localidade. Num único documento, intitulado De l’entré du Pará,105 há menção à posição da cidade do Pará, mas trata-se apenas da latitude, que coincide com o valor encontrado pelo viajante francês (cerca de 1º20’ ao sul do equador), sem nada mencionar sobre sua longitude, referindo-se apenas às distâncias em relação a outros pontos situados na foz do rio. Na Carte de l’Amérique méridionale, o reposicionamento dessas outras localidades próximas, junto à foz do Amazonas, como é o caso de Guanapu e Jacunda, ou em seu trecho imediatamente superior, caso da foz do Tocantins, também podem ter contribuído para o reposicionamento de Belém. No caso da Carte de l’Amérique méridionale, os ajustes nas cercanias de Belém foram grandes, e, pelo fato de D’Anville ter descartado as medidas de La Condamine, a mesma apresenta uma diferença que poderia ter sido evitada, de 1,6º de longitude ao se comparar com o valor atual. De modo geral, na Carte de l’Amérique méridionale D’Anville desenhou a hidrografia dessa região a partir da seguinte composição: estabelecimento da longitude fundamental em Quito, a partir dos dados da expedição geodésica; aproveitamento das medidas de 242
A aparente incoerência entre o texto da cartela, o das memórias e os dados que se extraem a partir do emprego de ferramentas digitais merece considerações. Essas nos permitem desnudar o que, em alguns trechos do mapa, se escondeu por trás do discurso empregado por D’Anville, isto é, os dados realmente incorporados ao mapa, os descartados e os não revelados integralmente a seus interlocutores. Percebe-se então que seu discurso, como um espelho ondulado, muda conforme o público a que se destina. O texto da cartela da Carte de l’Amérique méridionale buscava validar cientificamente o mapa diante de uma audiência ampla, ancorando-o na prestigiosa missão geodésica, internacionalmente reconhecida. Seu tom laudatório permitia ainda que o geógrafo honrasse o importante contributo da missão ao desenvolvimento da geografia, sem que, claramente, tomasse partido nas disputas que dilaceravam seus membros. As memórias que escreveu sobre a carta, por sua vez, eram destinadas a um público mais restrito e especializado de savants, especialmente os reunidos na Académie Royale des Sciences de Paris. Por meio delas, submetia o processo de crítica cartográfica para a produção do mapa a uma audiência qualificada, sem o que o mesmo não receberia o aval dessa instituição, fundamental para consolidar sua fortuna científica. Nesse caso, garantir a credibilidade da Carte de l’Amérique méridionale significou escamotear, com informações vagas ou ambíguas em alguns trechos do mapa, os dados que realmente coligiu e os que de fato descartou. Da mesma forma que na cartela, ainda que com mais detalhes, os membros da expedição geodésica foram exaltados, em detrimento de outras fontes menos prestigiosas também empregadas. Mas foi possível perceber, com clareza, como D’Anville se posicionou de fato em relação aos dados divergentes coligidos pelos membros da expedição. Para algumas localidades, apesar do prestígio maior de La Condamine, optou pelos dados de Maldonado, por considerá-los mais fidedignos. Por fim, o uso das ferramentas digitais foi capaz de desvelar que, em alguns outros pontos, D’Anville de fato utilizou fontes que na cartela são referenciadas apenas como “material”, sem individualizar seus autores. Algumas delas, como o mapa do padre Fritz, aperfeiçoaram a representação da calha do rio Amazonas, outras nem tanto.
La Condamine entre Quito e Jaén; uso dos dados de Maldonado para a região do Pastaça; utilização do mapa do padre Fritz e outros missionários para estabelecer a regiões entre Jaén e Borja, e deste ao Napo e ao Javari. A partir daí, utilização dos dados coligidos por La Condamine e Maldonado, e, finalmente, do Xingu até a foz, extração de coordenadas de mapas portugueses. Na parte superior da bacia, a eliminação do lago Parima e o estabelecimento de uma conexão entre as bacias Amazônica e do Orenoco, por meio do rio Negro, foram baseadas em La Condamine, considerando-se, no entanto, que este se baseou em informações de terceiros para realizar tal configuração, uma vez que não percorreu esses trechos. O desaparecimento do Parima, e sua substituição pelo Amucu, o que será examinado no Capítulo 7, foi realizado a partir de um mapa e de um diário que La Condamine trouxe consigo de um prussiano, Nicolas Horstman, o qual realizou uma viagem entre Caiena e Belém. Quanto à ligação entre o Amazonas e o Orenoco, D’Anville estabelece não uma, mas três conexões a partir da junção do Caquetá, no alto Orenoco, respectivamente com os rios Iça, Yupura e Negro. Essa tripla ligação foi primeiro estabelecida pelo padre Acuña, que, em seu livro Nuevo Descubrimiento del Gran rio de las Amazonas, relatou a viagem de Pedro Teixeira, entre Quito e Belém, realizada em 1639. Segundo D’Anville, “o Caquetá, que forma essa junção, conforme o que diz o padre Acuña, depois de ter dado seu nome a um pequeno lugar situado nas suas margens, localizado a cerca de 1 grau de latitude norte, espalha suas águas em diferentes braços que serão formadores do rio Negro, rio Yupurá e rio Iça”. Da nascente para a vazante do Caquetá, D’Anville desenha essas três conexões. A primeira acontece a partir das junções dos rios Jaoya e Iça; a segunda, diretamente com o Yupura, no país dos Acanejos; e a terceira, com o Negro, no país dos Orelhudos. Essa última foi atestada a La Condamine por missionários portugueses que, em 1744, fizeram uma viagem pelo rio Negro e, depois, “passando de rio a rio, se encontraram no Orenoco”.106 Essa conexão que de fato existe era “conhecida desde sempre pelos indígenas”. Humboldt, no raiar do século XIX, navegou 12 dias em canoas para a encontrar, conseguindo realizar as medidas de sua localização e estabelecê-la cientificamente, através do Casiquiare.107 243
OPARAÍSO E SEUS MITOS O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
Como então um geógrafo, que
resenças inquietantes e persistentes foram incluídas por D’Anville na Carte de l’Amérique méridionale: três grandes imagens mitológicas representadas como entidades geográficas reais — o lago Xarais, a serra das Esmeraldas e o lago Parima —, além da denominação rio das Amazonas, que substituiu o tradicional topônimo de rio Solimões ou Maranhão, até então majoritariamente utilizados pelos portugueses. Essas três representações e a escolha desse topônimo são evidentes indícios de como antigos mitos, quase sorrateiramente, continuaram presentes nessa carta.1 Se mapas, como foi o caso da Carte de l’Amérique méridionale, podiam legitimar a soberania de um império sobre seu território, por meio de uma representação cartográfica que buscasse espelhar sua real configuração, podiam também, ainda que com o mesmo fim e intencionalmente procurassem o inverso, mitificá-lo,2 ao continuar a representar uma geografia fantástica. Como então um geógrafo, que insistentemente defendia a necessidade de inserir em um mapa apenas os acidentes sobre os quais houvesse um
insistentemente defendia a necessidade de inserir em um mapa apenas os acidentes sobre os quais houvesse um conhecimento empírico positivo, pôde construir uma representação geográfica desses mitos? Qual a explicação para serem mantidos na carta?
Alegoria da América, de José Teofilo de Jesus (1758-1847), com simbologia extraída da cartografia. Acima, uma visão do rio Negro. 245
O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
conhecimento empírico positivo, pôde construir uma representação geográfica desses mitos? Qual a explicação para serem mantidos na carta?
de 1559, seguida da carta de Bartolomeu Velho, de 1561, que denomina este lago de “Eupana”, termo que, por vezes, continua a aparecer na cartografia. Da tradição portuguesa, o Xarais se espalhou para a cartografia flamenga, italiana, alemã, inglesa e outras, onde repercutiu por maior tempo, mesmo após o abandono dessa imagem cartográfica pelos próprios portugueses. Em parte, isso era reflexo do processo tradicional de utilização de um mapa precedente, pelo aproveitamento de sua chapa de gravação ou pela cópia direta, por sucessivas gerações de geógrafos. Também decorria do fato de que a cartografia portuguesa, em geral manuscrita, e que a partir de meados do século XVII abandonara paulatinamente essa forma de representação, era a todo custo mantida pouco acessível aos geógrafos europeus. A Carta Atlântica, atribuída a João Teixeira Albernaz I, desenhada por volta de 1640, foi a última representação cartográfica portuguesa conhecida que ainda mantinha esse mito geográfico. A coleção D’Anville guarda vários exemplares de mapas que apresentam o Xarais e as bacias comunicantes dos rios da Prata e Amazonas. Um deles é a Americae Nova Tabula, de Willem Janszoon Blaeu, publicado entre 1638 e 1640.4 Outros que se destacam são a America Meridionalis, de Gérard Mercator (c.1610),5 ou a Amérique Meridionale, de Nicolas Sanson, em suas diversas versões de 1650, 1669 e 1709.6 As cartas de Guillaume Delisle sobre a região, com três versões ligeiramente distintas, produzidas a partir de 1700, apresentam o Xarais muito próximo dos rios da bacia Amazônica, mas, como a carta de D’Anville, sem estabelecer uma ligação direta entre o Paraguai e o Amazonas.7 Segundo Sérgio Buarque de Holanda, essa configuração geográfica de um lago mítico no centro-oeste do Brasil surgiu pelo fato de os portugueses terem encampado os mitos indígenas, principalmente as lendas dos povos tupis, de que existiria um lago interior de onde partiam dois grandes rios, fronteiras naturais do Brasil. Tal construção estava associada ao paraíso e à transposição para a América de mitos europeus que remontavam à antiguidade. De início, ela foi “assinalada entre os cartógrafos sob o nome de Eupana”, que, segundo esse autor, “era uma simples deformação gráfica do Eupana, ou Upaua, dos naturais do país”.8 Essa imagem foi inicialmente confirmada pelos primeiros viajantes espanhóis que penetraram as
O lago Xarais
O lago Xarais, na Carte de l’Amérique Meridionale, de 1748.
Desde a primeira edição da Carte de l’Amérique méridionale, na folha 2, referente à parte central do continente, porção mediana do Brasil, observa-se a presença do lago Xarais. A imagem geográfica desse lago não era totalmente nova, pois inúmeros mapas, produzidos nos séculos XVI, XVII e início do XVIII, o representam no centro-oeste da América do Sul.3 Essas cartas geralmente desenhavam o lago comunicando as bacias do rio da Prata e do Amazonas e, por vezes, também a do São Francisco, configuração abandonada na Carte de l’Amérique méridionale desde a sua primeira versão, em 1748. No entanto, a representação do lago Xarais como nascente do rio Paraguai persiste. Tal representação da geografia interior da América do Sul teve início com o Planisfério de André Homem,
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hidrografia do centro-oeste da América do Sul, isto é, para a presença do Xarais, foi a necessidade de encontrar limites naturais entre as possessões portuguesas e espanholas, o que aponta para uma intencionalidade. O “mito da ilha Brasil: a ideia de que o Brasil seria uma ilha definida pelo Oceano e pelos sistemas hidrográficos comunicantes do rio Amazonas e do rio da Prata”12 criava tal fronteira natural. Segundo Cortesão, essa configuração geográfica teria surgido durante a União Ibérica, quando as Coroas de Espanha e Portugal estiveram unidas, sob a hegemonia da primeira. Maquiavelicamente, os cartógrafos portugueses teriam feito coincidir a linha do Tratado de Tordesilhas com o traçado desses dois
bacias do rio da Prata e do rio Paraguai9. Cabeza de Vaca foi dos primeiros a ter notícias, pelos índios, da existência desse grande lago interior, onde viviam os índios xarais.10 Ele foi enviado em 1540, como governador da província do Rio da Prata, onde ficou até 1542. Nesse período, ocorreram algumas entradas na região, encetadas por Domingo de Irala, Gonzalo de Mendoza e Francisco de Ribeira, que exploraram o rio Paraguai a partir de um núcleo por eles estabelecido, cujo nome era Porto dos Reis. Jaime Cortesão encontrou outra explicação para a persistência dessa imagem.11 Para ele, uma das razões principais para a representação dessa conformação da 247
No mapa de Nicolas de Fer (1646-1720), a representação do Xarais ou Lago Dourado denota uma visão paradisíaca da América.
O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
No início do século XVIII, a região já era descrita como um grande pantanal, mas, com fontes insuficientes, D'Anville mantém o Xarais.
rios, fazendo a natureza justificar o predomínio português sobre a colonização brasileira.13 Para Cortesão, essa não era uma construção fantástica da geografia brasileira, mas derivava de um mal-entendido — o Xarais era na verdade o Pantanal. Durante a estação das chuvas, o rio Paraguai sai de seu leito e provoca uma enorme cheia das terras baixas situadas no interior do Brasil, o que parecia ser um enorme lago aos índios e aos primeiros viajantes estrangeiros. Vários deles, inclusive, chegaram até a região do Peru e mais ao norte até o rio Amazonas a partir da bacia do Paraguai, seguindo as informações dos índios e perpetuando assim o mal-entendido na cartografia que fundia os rios Paraguai e da Prata por esse lago comunicante das bacias hidrográficas do sul e do norte do Brasil.14 Para se contrapor à ideia da origem política dessa conformação geográfica defendida por Cortesão, Sérgio Buarque de Holanda aponta para a difusão dessa mesma imagem cartográfica entre alemães, italianos e holandeses, os quais fizeram representações semelhantes sem interesses coincidentes em relação ao Brasil.15 Maria de Fátima Costa salientou que a tradição oriunda dos viajantes espanhóis que penetraram pela bacia sul conformou essa criação do Xarais, uma construção imaginária, paradisíaca, da região, que se espelha na presença desse grande lago interior, em cujas redondezas haveria ouro, por isso também chamado Lago Dourado.16 Para ela, essa imagem foi perpetuada pelos relatos de vários cronistas de tradição espanhola 248
que por ali viajaram, como Ulrico Schmidl (1535),17 Alvar Núñez Cabeza de Vaca (1543),18 e Ruy Diaz de Guzmán (1583).19 Para a autora, tratou-se de uma dificuldade de compreensão das peculiaridades da natureza local com sua configuração lacustre e fugidia, que para estes homens foi sempre um lugar de passagem.20 De fato, ainda que essa imagem tenha sido utilizada com propósitos políticos, a crença na existência da bacia comunicante dos dois rios, estabelecida pelo Xarais, é bastante anterior à União Ibérica. Sua origem, tudo indica, é uma mistura dos mitos indígenas aos dos europeus, que sonhavam com a existência do Eldorado e de um lago paradisíaco, conformado pela geografia lacustre do pantanal mato-grossense. No entanto, ainda que não se possa pensar numa estratégia preestabelecida por parte dos portugueses, engana-se Sérgio Buarque de Holanda ao acreditar que a persistência dessa representação não pode ser também creditada a razões geopolíticas. Assim é que, já tendo sido abandonada como representação cartográfica pelos próprios portugueses por volta de 1640, essa imagem ainda constituiu a base do argumento do domínio luso sobre a região apresentado por seus diplomatas durante as negociações com os espanhóis, que resultaram no Tratado Provisional de 1681. No domínio da diplomacia, os portugueses continuavam a se valer e a defender a configuração da geografia da região com os dois rios conectados pelo lago dourado, cujo traçado coincidiria com o do meridiano de Tordesilhas a separar 249
Detalhe da America meridionalis, de Gerard Mercator, 1606.
O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
Essa noção das fronteiras naturais,23 empregada pela primeira vez no caso dos territórios americanos pelos portugueses no contexto do Tratado Provisional, em 1681, disseminada pela diplomacia europeia, refletia-se na cartografia. “De Ortelius a Sanson e até o fim do século XVIII, a tendência dos geógrafos é sublinhar o papel separador dos rios, que eles alargam exageradamente.”24 Na França, por exemplo, foi fartamente empregada durante a Idade Média, fazendo com que, no alvorecer da modernidade, o território que se formava já se apresentasse como coeso, demarcado por fronteiras naturais, como era o caso dos Pireneus que separavam o território francês do espanhol a oeste.25 Como geógrafo, D’Anville não podia se eximir de traçar as fronteiras existentes no continente sul-americano, antes mesmo que esses limites estivessem consolidados. Para tanto, em alguns pontos, consoante a tradição, empregará o conceito das fronteiras naturais. Porém, na primeira versão da carta, como veremos, diferentemente de outros acidentes geográficos, o Xarais não foi inserido com esse propósito.26 No início do século XVIII, entre os portugueses, a ideia do lago Xarais já havia desaparecido quase completamente, pois, capazes de apreender a “sazonalidade imposta pelo ritmo das águas”, passaram a descrever a região como um grande pantanal.27 No entanto, dispondo de fontes insuficientes para que a retirasse de seu mapa, D’Anville persiste nessa representação. Vejamos por quê. Em sua expansão para o oeste, os bandeirantes paulistas foram os grandes responsáveis pela consolidação da imagem pantaneira em oposição ao mito da ilha Brasil e da lagoa dourada. Nos seus primeiros relatos, descreveram as entradas realizadas através da bacia do rio Tietê, a partir de onde alcançaram o rio Paraguai e seus afluentes.28 Por essa rede de rios, que tão sabiamente souberam utilizar, ultrapassaram a linha demarcatória imaginária estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas e, pelo Caminho das Monções, colonizaram a região de Goiás e Mato Grosso, onde novos achados metalíferos foram realizados.29 Várias fontes portuguesas de época então reproduziram e consolidaram a imagem do Pantanal e a característica sazonal das águas da região.30 Os ecos dessa descoberta encontram-se nos relatos oficiais luso-brasileiros31 e também nas correspondências dos moradores locais que, com menos precisão, informavam sobre as
Nesta página e na seguinte, as iluminuras da Crônica do Mundo, de Nuremberg, 1493, mostram seres monstruosos, tais como os orelhudos, da região dos Xarais.
naturalmente as terras das duas Coroas. Neste sentido, afirmaram os negociadores que não faltou a natureza em prover nestas dúvidas (...) inalteráveis divisões do poder divino, cortando e dividindo as terras da contenda com o notável Lago Dourado ou Xarais que, como coração da América, situado quase no centro dela a cinge com dois braços, ou rega com dois rios, um que corre para o norte com o título das Amazonas e deságua em mais de 80 léguas de boca; outro com o nome da Prata, que corta para o sul se difunde em 40 de largo e é mais que maravilhoso acaso um mistério da providência da repartição lançada de norte a sul sem respeito a estes rios, nem a notícia deles (pelo não haver quando se acordou neste meio da divisão da orbe) cortasse tão ajustadamente por estes dois termos, como se os fosse buscar mui de propósito para estas demarcações.21
Na página 252, acampamento no rio Paraguai durante as viagens do conde de Castelnau, Francis de la Porte, à América do Sul em 1843 .
Percebe-se que nesse discurso é o próprio poder divino, com sua providência não alcançada pela razão humana, que criou o que a princípio parece mero acaso. Os negociadores chegam a inverter o decurso dos fatos e a descoberta dos dois rios simplesmente confirmaria a profecia já manifesta no Tratado de Tordesilhas, que havia situado o meridiano exatamente sobre o curso dos rios da Prata e do Amazonas, argumentando que “este parto da natureza tão maravilhoso [...] deixou estes dois rios (Prata e Amazonas) colocados quase debaixo do mesmo meridiano e afastados ao poente das ilhas de Cabo Verde quase as mesmas 370 léguas nomeadas no contrato de Tordesilhas”.22 250
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
expedições empreendidas pelos paulistas. Em 1725, por exemplo, o comerciante português Francisco da Cruz escrevia a Portugal contando que essas viagens eram feitas “com grande risco de vida, [já que] o caminho para elas são ainda por matos e dizem gastar-se mais de seis meses, segundo dizem os paulistas, e a maior parte do caminho é andar por rios e se não come por eles senão caça brava, como são papagaios, macacos, tucanos e várias castas de animais e, sobre o maior perigo, as muitas onças”.32 De fato, o mapa enviado do Brasil por Gomes Freire de Andrade, em 1746, intitulado Descripçam do Continente da América Meridional,33 que consolidava o conhecimento geográfico recolhido por sertanistas, práticos e engenheiros militares portugueses, apresenta a região do Xarais como um território alagado, de onde emergem várias ilhotas. Em Portugal, Alexandre de Gusmão, a partir de mapas produzidos sobre a região, compartilha da visão da geografia lacustre do local como um pantanal, atribuindo tal conhecimento aos práticos paulistas. Escreve ele ao visconde de Vila Nova de Cerveira em 1749: Pelo país que medeia entre o Guaporé e os pantanais do Paraguai, que os espanhóis chamam Laguna de lo Xarayes. (...) Deste espaço de país tem muito melhor conhecimento os nossos sertanejos do Cuiabá e do Mato Grosso, que referem serem quase tudo até os Chiquitos terras que se inundam, em que não pode subsistir gente, senão de passagem no tempo seco, e os rios que ali mostra ao ocidente o dito mapa das missões, provavelmente não são mais que uns desaguadores dos alagadiços.34
Em 1748, depois de receber a Carte de l’Amérique méridionale de D’Anville, enviada por dom Luís da Cunha, o visconde da Silva Teles, negociador junto aos espanhóis, também se mostrava conhecedor da conformação pantaneira do centro-oeste do Brasil, pois estava bem munido de mapas portugueses. Diz ele, referindo-se diretamente ao equívoco de D’Anville de representar o Xarais na Carte de l’Amérique méridionale que, na verdade, “naquele espaço se acham os pantanais, que em todos os mapas antigos, e ainda em alguns modernos vêm representados como um lago que chamam Xarais ou dos orejones, e realmente são uns campos abaixo, que alagando-se com as cheias daquele rio [Paraguai] formam um pequeno mar”.35 No entanto, 252
Para D’Anville, existiam três grandes lagos no continente sul-americano: o Xarais e o Titicaca (acima) e a lagoa Merim (abaixo), que ele representa utilizando o mapa de José da Silva Pais. 253
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Fruto de uma expedição portuguesa em 1791, este mapa informa sobre a bacia do rio Paraguai, possível fronteira natural entre territórios de Portugal e Espanha na América do Sul.
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edição do mapa, de 1748, quanto nas seguintes, de 1754 e de 1760. E, conforme a mitologia associada ao lago, no centro da ilha, o nome dos seus habitantes são inscritos como orelhones ou orejones. Dom Luís da Cunha, de início partidário da existência do lago Xarais, defendia sua utilização para configurar os limites no Centro-Oeste. Nas Instruções políticas, que escreveu a Marco Antônio de Azevedo, dom Luís advogava que “os limites terrestres poderiam ser o rio Paraguai, que nele deságua, subindo por ele até o Xarayes, ainda que o seu nascimento parece vir de mais longe”.36 Em seus escritos, D’Anville advoga a existência de três grandes lagos no continente sul-americano: o Xarais, o Titicaca e a lagoa Merim, conferindo o mesmo estatuto de verdade aos dois lagos reais — o último
ainda que Alexandre de Gusmão, no reino, e Silva Teles, em Madri, soubessem que a região se configurava como uma formação pantaneira e não como um lago, e que o mapa enviado do Brasil por Gomes Freire com a representação do pantanal tenha sido utilizado para compor o chamado Mapa das Cortes mostrado aos espanhóis durante as negociações, mesmo esse último apresenta um lago interior na porção superior do rio Paraguai, ainda que não denominado Xarais. Sem mapas ou roteiros recentes sobre a região, já que os fornecidos por dom Luís da Cunha não representavam a área, e basicamente confiando na tradição espanhola, da qual possuía muitos mapas, e na cartografia dos jesuítas missionários do Paraguai, D’Anville continuou a representar o Xarais, tanto na primeira
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penetrado, refletindo a ideia do uti possidetis, que, por essa época, já advogava como uma das estratégias norteadoras das negociações. Assim, na primeira edição da Carte de l’Amérique méridionale, a linha demarcatória proposta corria paralela ao lago — não mais uma fronteira natural entre os territórios espanhóis e portugueses. Apenas em um trecho muito curto, um pouco a leste do lago, uma pequena cadeia de montanhas cumpre esse papel. Ainda que a linha fronteiriça pareça ter sido colocada nesse local de forma quase aleatória pelo geógrafo, o mapa apresenta uma conformação dos dois territórios de acordo com os princípios advogados pelos portugueses a partir da primeira metade do século XVIII: aos espanhóis ficava assegurada a região das missões do Itatim e da antiga vila
deles uma novidade geográfica por ele revelada — e ao mitológico lago dourado.37 Mas, ao contrário da cartografia precedente, que utilizava o Xarais para configurar o mito da ilha Brasil, ele não o utiliza como uma fronteira natural entre as possessões lusas e espanholas, nem o faz coincidir com o meridiano de Tordesilhas. Nesse trecho, o limite fronteiriço está posicionado no mapa a aproximadamente 10º de longitude a oeste de onde, grosso modo, passaria o meridiano de Tordesilhas, que se situava, aproximadamente, a 34º de longitude. O cartógrafo assume, sem sombra de dúvida, que essa divisão incorporaria ao Brasil territórios espanhóis extra-Tordesilhas, conforme a visão geopolítica de dom Luís da Cunha de que os novos limites do Brasil deveriam se estender a oeste até onde os portugueses tivessem
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a introdução dessa distinção entre o rio e o lago tem conotação claramente geopolítica, pois permite que o trecho médio do rio Paraguai, situado a leste do lago, se configure como uma fronteira natural entre as possessões das duas Coroas, revelada pelo geógrafo e sua carta. Desse modo, a região de Cuiabá e as minas do Mato Grosso permaneceriam sob o domínio português, com o lago claramente em território espanhol e o rio Paraguai como limite das terras dos dois. Dessa maneira, se na edição de 1748 da Carte de l’Amérique méridionale a inserção do mitológico Xarais não pode ser explicada como artimanha política, mas sim como reflexo das fontes de que o cartógrafo dispunha, na de 1765, a situação é inversa. Claramente a nova configuraçào desse elemento geográfico fantástico adquire função diplomática e geopolítica.
Ao lado, mapa manuscrito da região das monções de São Paulo a Cuiabá, c.1720; abaixo, a chapada das minas do Mato Grosso. A região, colonizada por bandeirantes paulistas, compreendia Goiás e ultrapassava a linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas.
Por razões diplomáticas e geopolíticas, na versão de 1765 da Carte de l’Amérique, D'Anville mantém o lago Xarais, mas como uma entidade a oeste do rio Paraguai.
A serra das Esmeraldas
espanhola de Xerez - fundada em 1593 por Ruy Díaz de Guzmán -, posteriormente atacadas pelos paulistas,38 e aos portugueses ficava garantida a posse das regiões do Mato Grosso e de Cuiabá, ricas em minas de ouro, e por eles colonizadas. De fato, D’Anville e dom Luís da Cunha estavam bem informados sobre a ocupação lusa na região que se reflete no posicionamento da linha de limites. De tal ocupação se queixavam os espanhóis, segundo os quais “[as] vizinhanças da laguna dos Xarais, até onde se tem introduzido os portugueses por aquela parte, fazendo-se donos do terreno, distam do mesmo meridiano de [Tordesilhas] até o poente quase 11 graus, distância bastante sensível para que não fosse dissimulável”.39 Na edição de 1765, no entanto, D’Anville corrige a disposição do lago Xarais e apresenta o curso superior do rio Paraguai. Na versão original, o lago se configura como a nascente desse rio, que correria a partir dele em sentido sul. Com a modificação, o Xarais passa a ser representado numa bifurcação que se espraia a oeste do rio, em sua porção medial, tornando rio e lago entidades distintas. Essa alteração, não explicada em suas memórias sobre a carta, em 1779, teria resultado de novas informações fornecidas pelos jesuítas,40 a partir das quais D’Anville passou a situar a fonte do rio a 5 ou 6 graus de latitude, já na região amazônica, a oeste do rio Xingu. Contudo, 256
O Gênesis descreve o paraíso terrestre como um lugar de riquezas e delícias, sendo as pedras preciosas e o ouro indícios seguros de sua aproximação.41 “Ora, o senhor Deus, tinha plantado ao princípio um paraíso, ou jardim delicioso, no qual pôs ao homem que tinha formado. [...] Deste lugar de delícias saía um rio, [...] onde nasce o ouro. E o ouro desta terra‚ excelente: ali se acha também o berilo e outras pedras preciosas” (Gênesis 2:8-12). Procurar tais riquezas significava ao mesmo tempo buscar o paraíso e, ao encontrá-las, estar perto dele. Assim, a partir do século XIV, a busca do ouro e a adoração das pedras preciosas se confunde com a perseguição do paraíso terrestre. Contadores de histórias faziam do paraíso uma região concreta. O Oriente povoava o imaginário europeu com suas riquezas e maravilhas, confundindo-se com o próprio paraíso terrestre, pois desde os tempos clássicos era depositário de histórias surpreendentes: “Jasão fora à Cólquida, para se apoderar do Velocino de Ouro; os Jardins das Hespérides tinham, nas suas árvores, frutos de ouro, que Hércules tinha colhido num de seus feitos heroicos.”42 Marco Polo foi, sem dúvida, quem mais contribuiu para povoar o imaginário medieval sobre a região. Seu Livro das Maravilhas circulou pela Europa, excitando as imaginações sobre a Ásia, e o rápido fechamento das rotas terrestres orientais facilitou a veloz difusão de suas histórias que enumeravam as riquezas dos reinos, especialmente o do grão-cã dos mongóis, cujos
tesouros eram os maiores do mundo, ou o de Murfili, em cujas montanhas não era raro encontrar diamantes.43 Para Sir John Mandeville, África e Ásia eram ambas terras de fantasia. Nelas havia regiões repletas de tesouros guardados por dragões e sobre os quais pairavam aves sem patas que passavam a vida toda no ar; e de mulheres cujos olhos, feitos de pedras preciosas, podiam fulminar um intruso com um simples olhar. Mas tais regiões eram também redutos do Paraíso ou do reino de Preste João e continham várias evidências paradisíacas, como rios em cujas águas corriam pedras preciosas em grande quantidade. Riqueza e brilho eram signos de um passado perdido, que podia ser reencontrado. Ao exprimirem qualidades sobre-humanas, as pedras preciosas faziam parte desse horizonte divino, pois geravam a maravilha e a veneração.44 Por tais razões, possuíam uma simbologia muito especial e ocupavam posição de destaque entre as riquezas materiais oferecidas pela natureza. O movimento de interiorização encetado pela Coroa portuguesa na América, que a custo penetrava o sertão a partir da costa leste do Brasil, era estimulado por esses mitos da antiguidade e reforçado por histórias indígenas sobre grandes riquezas, permitindo o aparecimento de muitas outras lendas que consubstanciavam essas duas tradições.45 A localização geográfica do Eldorado em 257
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respectivamente Em que se trata das pedras verdes e azuis que se acham no sertão da Bahia e Em que se declara o nascimento das esmeraldas e safiras.51 É esse Vapabuçu e suas minas lendárias que sucessivas expedições vão buscar. Antônio Dias Adorno, por exemplo, que deixou Porto Seguro a seguir, em 1574, recebeu a recomendação de encontrar algumas minas. Esse sertanista penetrou grande parte do interior “e com efeito chegou ao pé da serra da banda do leste, e achou nela as esmeraldas”.52 Como resultado, diversas pedras preciosas foram mandadas ao reino e, quando examinadas pelos lapidários, foram consideradas muito boas. Concluiu-se, então, que o sertão era muito mais fértil em gemas do que se pensava e que essas seriam conseguidas com facilidade, o que atraiu aventureiros de toda parte. A união das duas Coroas ibéricas, entre 1580 e 1640, pelo menos temporariamente, retirou os obstáculos impostos aos portugueses pelo Tratado de Tordesilhas à penetração do interior da América e estimulou novas entradas a partir da costa brasileira. Acreditava-se que “esta terra [o sudeste do Brasil] e o Peru é todo um”, como afirmara, em 1550, Tomé de Sousa, primeiro governador-geral.53 Um dos mais ativos nessas diligências foi o 12o. governador-geral, dom Francisco de Sousa, que ambicionava ganhar o título de marquês das Minas, prometido pelo monarca espanhol, Filipe II, a quem achasse ouro no Brasil. Depois de várias tentativas de encontrar os depósitos minerais a partir de Porto Seguro e do Espírito Santo, dom Francisco de Sousa se convenceu de que a lendária lagoa dourada e a serra resplandecente deveriam ser procuradas mais para o sul. Em 1596, Marcos Azeredo, partindo da costa do Espírito Santo, penetrou pelo rio Doce e retornou alguns anos depois com incríveis riquezas encontradas numas serras altíssimas junto de uma lagoa. Ao voltar à Europa, Azeredo depositou várias esmeraldas aos pés de Filipe II e,54 a partir de então, o paraíso não parecia mais estar próximo, mas sim ser a própria Colônia, com sua natureza exuberante e suas riquezas minerais. As notícias minerais do Brasil chegavam ao reino e encantavam os cronistas, que as exaltavam e anunciavam o Brasil como uma porção paradisíaca. Gandavo contou que, aos habitantes de Porto Seguro, “alguns índios (...) deram notícia, segundo a menção que faziam, que [as minas de ouro] podiam estar [a] cem léguas da
terras americanas, no entanto, era imprecisa e refletia o desconhecimento da geografia interior do continente. Seus sinais eram montanhas reluzentes, rios e lagoas repletas de metais e gemas preciosas, com destaque para as esmeraldas. Relacionado na América espanhola ao Peru ou às minas de Potosi, o Eldorado encontrou concretude no Brasil no lago Parima, localizado próximo ao rio Amazonas, mas também foi associado à região das Minas Gerais.46 Segundo Sérgio Buarque de Holanda, o nome Eupana conheceu muitas derivações e localizações, como “o célebre Vupabuçu de Fernão Dias, que Pizarro designa também por Hepabuçu — e ainda Paraupava — em que se reúnem as ideias de ‘mar’ e de ‘lagoa’”.47 Fernandes Tourinho, cuja expedição chegou à região leste das Minas Gerais pelo rio Doce, em 1573, foi quem primeiro se referiu à existência de uma grande lagoa e contribuiu para a construção dessa mitologia lacustre associada a essa área.48 Seguindo informações indígenas, Tourinho supôs ter encontrado jazidas de esmeraldas e safiras, numa lagoa ao norte de Porto Seguro. Em seguida, subindo o rio São Mateus, topou com uma serra de pedras verdes, provavelmente nas fraldas do Espinhaço e, na volta, descendo pelo rio Jequitinhonha encontrou mais pedras verdes, e outras vermelhas, azuis e cristais da maior pureza.49 O mito de um lago dourado passou então a ser associado ao da serra resplandecente, mencionada pela primeira vez por índios aos portugueses em 1550. Segundo Gandavo, “a esta Capitania de Porto Seguro chegarão (sic) certos índios do Sertão a dar novas dumas pedras verdes que havia numa serra muitas legoas pela terra dentro, e trazião algumas dellas por amostra, as quaes erão (sic) esmeraldas”.50 Todos esses achados reforçavam a lenda do Eldorado e contribuíam para que a busca de pedrarias e metais fosse intensificada, na esperança de que, junto delas, se avizinhasse o paraíso, como também que se estabelecesse uma rota para alcançá-las, inicialmente partindo-se de Porto Seguro para adentrar os sertões pelo rio Doce. Segundo Gabriel Soares de Sousa, Fernandes Tourinho, subindo o rio Doce, encontrou “uma pedreira de esmeraldas e outra de safiras, às quais estão ao pé de uma serra”. Um pouco mais ao leste, “está uma serra, que é quase toda de cristal muito fino, a qual cria em si muitas esmeraldas”. As serras de pedras da Bahia, das quais “se enxerga o resplendor [...] de muito longe”, ainda mereceram do autor dois capítulos em separado, intitulados 258
Acampamento de bandeirantes, em desenho do século XIX.
serra das pedras verdes que iam buscar, e que não havia muito dali ao Peru”.55 Ambrósio Brandão, no livro Diálogos das Grandezas do Brasil, escrito em 1618, foi das poucas vozes que afirmaram que as pedras depositadas por Marcos de Azeredo aos pés de Filipe II não eram tão boas quanto pareciam e que as esmeraldas podiam ser “mais tesouro” do que realidade. Contudo, se as pedras verdes não eram esmeraldas, garantia ele que ouro havia sido encontrado na capitania de São Vicente, prometendo muita riqueza.56 “Em 1659, Salvador de Sá, escrevendo a D. Afonso VI, anunciara o projeto de chefiar uma expedição à Serra das Esmeraldas, a partir da vila de Vitória, no afã de repetir a saga de Marcos Azeredo e tantos outros.”57 Essa intenção apontava para o progressivo deslocamento do eixo das expedições cada vez mais para o sul, conforme advogara dom Francisco de Sousa, o que acabou por resultar na hegemonia dos paulistas na empresa de interiorização, consolidada a partir de fins do século XVII. Em 1663, o padre Simão de Vasconcelos escreveu suas impressões sobre o Brasil, em sua “crônica de um novo mundo”, e concluiu que “ali plantara Deus nosso Senhor o paraíso terreal”, confirmando os prognósticos de inúmeras riquezas minerais.58 Reunira informações de fontes variadas, principalmente as
opiniões de capitães, cosmógrafos, índios versados no sertão e moradores de São Paulo.59 Para ele, “o ser do Brasil nos mostra justamente a perfeição das propriedades dele, e estas são tais que parecerão incríveis aos que as não viram”. Para comprovar a bondade da nova terra, enumerou as diversas riquezas encontradas, como “minerais de pedras finas, ferro, chumbo, calaim, prata e ouro”, vindas “de seus serros, vargens, arredores e rios, que podem comparar-se à mesma Índia, Potosi, Maldívia e Peru”.60 Os desbravadores do interior produziam relatos com descrições de rotas percorridas por sucessivas gerações de exploradores. Assim, na década de 1670, partiu de São Paulo a expedição de Fernão Dias, afamado sertanista paulista, em busca das esmeraldas das famosas minas de Sabarabuçu, localizadas nas cabeceiras do rio São Francisco.61 Tratava-se de reencontrar as esmeraldas, mais que as descobrir, visto que suas minas já seriam conhecidas desde o século anterior.62 A saga da expedição é bastante conhecida. Estando já de volta da lagoa de Sabarabuçu, situada aos pés da serra resplandecente descrita por Marcos Azeredo, onde se abastecera de esmeraldas, Fernão Dias foi apanhado pela morte, às margens do rio das Velhas, o que o impediu de revelar sua descoberta às autoridades. 259
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Canal de Passagem, uma vista da encosta do Itacolomi, em Minas Gerais, por Ernest de Courcy, c.1885.
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costa, entre o Espírito Santo e Porto Seguro, podendo ser mais facilmente alcançada pelo rio Doce, encontrando representação cartográfica em vários mapas. Os primeiros a retratá-la são da lavra de João Teixeira Albernaz I. Um deles é o que compõe o Livro que dá razão ao estado do Brasil, de 1616; outro é o mapa da capitania de Porto Seguro, de 1631.64 Em ambos, a serra das Esmeraldas é posicionada “ao norte do rio Doce e a oeste das cabeceiras do rio Cricaré (São Mateus).65 No entanto, os mapas de Albernaz que D’Anville possuía não são os que retratam essa região. Já na carta da America Meridionale, de Coronelli,66 presente em sua coleção, aparece a Serra do Sabarabuçu, próxima a um lago formado pelas águas de um rio chamado Paraná, que pode ser identificado com o rio Grande ou das Mortes.67 Outra carta que fazia parte de sua coleção era a Tabula Americae specialis geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae Firmae et Reg Amazonum, baseada nas relações de Herrera, Laet, Acuña e M. Rodriguez, e atualizada segundo as observações de Delisle, a partir de um mapa de Johann Baptist Homann (1664-1724), cartógrafo alemão.68 Nela estão retratadas junto a um tributário do rio Doce, chamado d’Acecy, as minas encontradas por Sebastião Fernandes Tourinho. De fato, Fernandes Tourinho é o primeiro a se referir a esse rio Aceci, como “afluente do rio Doce, por onde [ele] e seus homens entraram após navegarem sessenta ou setenta léguas a partir do mar”. Depois de percorrerem “quatro léguas no rio Aceci, os exploradores deixaram as canoas e continuaram sua jornada por terra”,69 quando então se “avistou uma pedreira de esmeraldas e outra de safiras”.70 Identificado por Capistrano de Abreu como o rio Suaçuí,71 o Aceci “que nasce na região do Serro Frio, (...) poderia ter constituído um caminho natural para Tourinho chegar à serra do Espinhaço”.72 Mas, conforme afirma D’Anville, foi sobretudo com o auxílio do roteiro dos irmãos Nunes, intitulado Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas,73 que “eu fixei o Serro das Esmeraldas”.74 Observa-se na Carte de l’Amérique méridionale que o posicionamento desse serro num tributário do rio Doce, cuja foz se situa na capitania de Porto Seguro. Seguindo a tradição iniciada pela expedição de Fernandes Tourinho, D’Anville traça o rio Doce, e a partir dele, um tributário que grafa como Asusi, de onde parte um afluente, o rio das Esmeraldas, que termina num pequeno lago. Esse traçado, o mesmo
Entretanto, mais importante do que a descoberta das pedras era a fundação de uma tradição geográfica que situava os locais onde se encontravam essas riquezas. Por essa razão, mais uma vez, repetindo a saga dos antigos exploradores, “desse manifesto faria parte a necessidade de elaborar um roteiro que ensinasse a forma e o lugar do descoberto”.63 No início do século XVIII, estava consolidada a ideia da existência dessa serra das Esmeraldas, que corria mais para o interior, paralela à 260
peça, pois, na língua portuguesa, um “s” entre duas vogais passa a ter som de “z” e não de “ç”, como deveria soar a pronúncia original desse nome. Também a geografia da parte norte do serro das Esmeraldas é configurada por D’Anville a partir da informação dos irmãos. Assim é que, do outro lado da montanha, “nasce outro rio chamado o rio Preto, no qual julga dito Nunes haverá muito ouro por algumas circunstâncias que nele remarcou. Em seguindo este rio vai dar em outro chamado Jequitinhonha, (...) mais adiante fica [I]Tacambira, onde há Minas de ouro”.77 Para garantir a fidedignidade desse relato, seu autor assegura que “até aqui chegou dito Nunes, uns dos três irmãos”.78 Para configurar esse trecho, D’Anville também utiliza a Carte manuscrite des côtes du Brésil, provavelmente de Antônio Álvares da Cunha, seu sobrinho.79 Reflexo claro dessa utilização, para além de situar a serra ou sítio das Esmeraldas na altura da foz do rio Doce, acima dos baixos de Abrolhos, é a presença nas duas cartas de um morro, posicionado logo ao norte, intitulado Cara da Velha. Mas se a presença das sonhadas esmeraldas era indício certo do paraíso, havia aqueles que, como Antônio Blem, outro de cujos textos se serviu D’Anville, que via na maior parte desses achados pura quimera. Sobre “as chamadas Esmeraldas”, diz ele que “se descobriram a quinze dias de jornada do Serro do Frio, porém não são
que consta do relato, se insere na tradição oral a respeito do caminho percorrido desde a expedição de Tourinho até a de Fernão Dias. Segundo um dos irmãos Nunes, ele teria sido convidado a seguir um paulista seu amigo nesse empreendimento, mas não pudera ir por se achar de partida para o reino. Ainda de acordo com ele, estando nas Minas, no lugar chamado Conquista de Antônio Dias, o viajante deveria subir o rio Doce. Ao norte, encontraria o Assusi, e em sua montante, também em sua margem norte, estaria o rio das Esmeraldas, reconhecido por ter em sua barra uma cachoeira e uma corredeira.75 Subindo este rio, em sua nascente “está uma lagoa, junto do serro das Esmeraldas, donde já foi povoação e arraial do descobridor delas Marcos de Azeredo e na mesma paragem as achou Fernão Dias Paes”.76 O irmão ainda avisa que, para quem vem do Espírito Santo, subindo o rio, a primeira cachoeira seria o referencial para encontrar a vazante do Assusi. D’Anville não deixa de registrar essa cachoeira, como todo o restante da configuração fornecida por um dos irmãos Nunes. Todos os elementos geográficos — rio, lago e montanha — associados ao mito das esmeraldas estão ali presentes. A grafia do rio, porém, flutua ao sabor do tempo; de Aceci no relato de Tourinho, passa a Acecy, no mapa de Johann Baptist Homann, a Assesi, no relato dos Nunes e, finalmente, Asusi, na carta de D’Anville. Nesse caso, o seu cuidado com a grafia dos nomes pregou-lhe uma
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Para configurar a parte norte do serro das Esmeraldas na sua Carte de l’Amérique (à direita), D'Anville valeu-se da Carte huilée… (à esquerda), feita pelo sobrinho de dom Luís da Cunha.
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os demais emprega a palavra rio e não rivière. Desse modo, o nome selecionado revela duas inconsistências em relação ao seu próprio método para a escolha dos topônimos: a grafia em francês e não na língua local, e a sua escassa utilização na porção portuguesa do território. Por essa última razão, ele insere um texto próximo à confluência com o rio Negro, que diz: “O rio Amazonas, abaixo do rio Negro, é chamado pelos portugueses rio Solimões, ou rio dos Peixes.” De fato, a nomenclatura do rio até essa época ainda apresentava grande variação: Orellana, Maranhão, Grão-Pará, Peixes, para os colonizadores; ou Paranguazú, Guyerme e Solimões, nas línguas dos nativos que habitavam suas margens. O médico José Rodrigues Abreu revela essas ambivalências.82 Em sua descrição do Brasil, de 1739, denomina o rio de Grão-Pará, mas que, ao se “meter no mar, [já é] o mais opulento rio do mundo com nome das Amazonas”.83 Ele sabia o que estava dizendo, pois foi médico de cabeceira de Antônio de Albuquerque, que governou o Maranhão entre 1691 e 1701 e cuja estada foi marcada por problemas de saúde.84 Por essa razão seu testemunho é ocular: “Dizem que neste rio se pesca uma tal quantidade de peixe, que faz tremer com força o braço da cana, assim que brandamente se toca na isca, fizemos toda a boa diligência para saber se, comido o tal peixe fazia algum efeito notável.” Nesse trecho o autor não só emprega a primeira pessoa do plural, incluindo a si mesmo na ação, como demonstra a preponderância do que viu sobre o que ouviu dizer e, após provar a carne do pescado para ver se produzia alguma alteração no corpo humano, o que só poderia ser feito in loco, concluiu que “não o pudemos alcançar com certeza individual”.85 Bem antes de José Rodrigues Abreu, ainda no século XVI, “o primeiro europeu que o avistou do Atlântico, quando deságua no mar, deu-lhe o nome de ‘Santa Maria do Mar Doce’, pensando que se tratava de um mar que não fosse salobro”.86 Essa denominação se relaciona ao contexto da expansão marítima, onde, usualmente, os designativos escolhidos pelos portugueses faziam referências à religião católica, com suas festividades e santos: Monte Pascoal, Bahia de São Salvador ou Santa Maria de Belém do Grão Pará, que remete a esse primeiro nome que o rio recebeu de seu descobridor. D’Anville não se furta a essa discussão, sabendo que precisa justificar a escolha do topônimo Amazonas que empregou para nomear o rio. Assim, em uma de suas
Da paragem aonde se acham muitas esmeraldas: o roteiro dos irmãos Nunes também auxiliou a consolidação da Carte de D'Anville.
verdadeiras esmeraldas, mas umas pedras verdes transparentes, compridas, e depois de lavradas não têm mais luz que a do vidro comum com a cor desmaiada”.80 Para homens como ele, a colônia se revelava mais como inferno atlântico81 do que como redenção emboaba.
As amazonas
Amazonas, gravura francesa de 1826.
Como aponta a cartela da Carte de l’Amérique méridionale, La Condamine desempenhou importante papel na configuração espacial que D’Anville imprimiu à região da bacia amazônica, mesmo em trechos, como o rio Negro, que ele jamais visitou. As impressões do viajante francês também foram fundamentais na escolha do nome do rio, pois na primeira metade do século XVIII vários topônimos distintos ainda eram empregados para designar esse vasto mar de água doce. D’Anville prestava bastante atenção à nomenclatura empregada em seus mapas, buscando respeitar a língua e os usos locais. O nome Riv. des Amazones é impresso no mapa, em fonte destacada em relação aos demais rios que compõem seu sistema, no seu terço médio-superior, logo depois que suas águas entram em território português. Para todos 262
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memórias sobre a Carte de l’Amérique méridionale, escreve que, sobre o “Maranhão, é necessário dizer qualquer coisa sobre a origem de seu nome”.87 Segundo ele, a etimologia desse nome foi atribuída pelos jesuítas Pedro Simão e Manuel Rodrigues à expedição do conquistador espanhol Lopes de Aguirre, que acompanhou Pedro de Urzúa, comandante de uma expedição que partiu do Peru em 1559 em busca do Eldorado. À medida que descia o rio, Aguirre transformava sua expedição numa verdadeira carnificina, matando Urzúa e outros, como Fernando de Guzmán, que sucedeu Urzúa no comando. Assim, os que sobraram com Aguirre após esses violentos conflitos se autodenominaram maranhões, ou “marañones, que foi inventado por eles, para se chamarem uns aos outros, ou para qualificar sua tropa em geral, e Moragnon [ou Maranhão] (...) se tornou próprio do rio, no qual esses sangrentos episódios foram encenados”.88 No entanto, D’Anville não escolhe esse topônimo para designar o rio no seu mapa. A razão, segundo ele, seriam “as mulheres que fizeram dar ao Maranhão o nome de rio das Amazonas”.89 O mito das amazonas remonta à antiguidade e tem uma de suas versões mais difundidas em Estrabão. D’Anville sabe muito bem disso e menciona seu livro XI, onde o sábio descreve essas mulheres, “que habitam nas proximidades de Termodonte”, nos limites do mundo conhecido pelos gregos.90 Ao descreverem as amazonas, os autores da antiguidade apresentam algumas variações: uns dizem que elas cortavam um dos seios para posicionarem o arco, outros não; uns, que matavam seus descendentes masculinos, outros que os entregavam para serem criados pelos pais e ficavam apenas com as meninas. D’Anville percebe que as amazonas americanas assimilaram, entre tantas variações, os traços distintivos do padrão clássico das que habitavam junto ao rio Termodonte.91 A transposição desse mito para a América remonta, inicialmente, a Colombo, que situa a existência dessas mulheres guerreiras em algumas ilhas do Caribe,92 mas acaba sendo aderido de forma permanente ao espaço entre o norte da América portuguesa e as Guianas. Isso se deveu inicialmente à expedição de Francisco Orellana, que, entre 1541 e 1542, desceu o rio em busca do país da Canela.93 Pouco depois de começar a viagem, os expedicionários foram informados, na região dos omáguas, pelo cacique Aparia, que estivera naquelas terras, “que, águas abaixo, no grande rio, se achavam
O rio Amazonas, abaixo do rio Negro, é chamado pelos portugueses rio Solimões, ou rio dos Peixes. D'Anville deixa registrada a controvérsia dos topônimos, optando pelo mais antigo.
Colheita de vegetais pelos índios das bacias do Orinoco e do Amazonas, no Maranhão, 1780.
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Ilustração no frontispício do Traité historique sur les Amazones, de Pierre Petit, 1718.
amazonas, e que apartadas dele e metidas terra adentro estavam as dependências do chefe Ica, muito abundantes em metal amarelo”.94 Foram, no entanto, advertidos que se fossem “ver as amazonas, que chamam na sua língua coniupuiara, que quer dizer grandes senhoras, que víssemos o que fazíamos, porque éramos poucos e elas muitas, e que nos matariam”.95 O frei Gaspar de Carvajal, cronista dessa viagem, relatou o encontro violento e belicoso que finalmente tiveram com elas, quando chegaram nas terras que chamaram de São João, nas proximidades do rio Madeira, pois ali pararam para celebrar as festas em homenagem a esse santo, no dia 24 de junho.96 Também deixou um raro registro sobre o modo como aparentavam: “Estas mulheres são muito alvas e altas, com cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos 265
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Pedro Teixeira teve um sentido inverso às anteriores, partindo de Belém e subindo o rio até Quito, no Peru. No contexto da União Ibérica, pretendia estabelecer a soberania portuguesa sobre a navegação do rio, daí a intencionalidade do abandono do topônimo Orelhana ou o de Maranhão, que Aguirre lhe conferira, ambos impregnados de referências à hegemonia espanhola sobre a região. Dois relatos foram produzidos sobre essa viagem. O primeiro, escrito pelo jesuíta Alonso Rojas, em 1637, descreve a viagem de ida, subindo o rio, e se intitula Relação do descobrimento do rio da Amazonas, hoje S. Francisco de Quito.100 O segundo, de autoria de outro jesuíta, Cristóbal de Acuña, de 1641, que relata a viagem de volta, chama-se Novo Descobrimento do grande rio das Amazonas.101 Logo no início desse último relato, o cronista deixa claro sua opção por esse nome, refutando os demais, e começa pela descrição do “descobrimento do grande rio das Amazonas, o qual, por erro comum dentre os poucos encontráveis na geografia, foi chamado de Marañon”, contribuindo para o início da difusão desse topônimo. Quando descreve as amazonas, afirma que “os cosmógrafos que o têm estudado até hoje não o conhecem por nenhum outro, senão este” e comenta que seria de admirar terem as amazonas usurpado o nome do rio sem que nisto houvesse maiores fundamentos, isto é, sem que elas existissem de fato.102 Nem Pedro Teixeira nem seus dois cronistas chegaram a avistar as amazonas. Rojas conta que “disseram esses índios, ao soldado que os entendia, que nas bandas do norte, onde iam uma vez por ano, havia umas mulheres e ficavam com elas dois meses e se dessa união tinham parido filhos, os traziam consigo e as filhas ficavam com as mães”.103 Acuña garante a seus leitores que “só me prevaleço do que com meus ouvidos ouvi e com cuidado averiguei, desde que pusemos o pé neste rio”. Sobre as famosas amazonas afirmou que, de todas “as longas histórias que, por todo o rio” recolheram, as notícias mais concretas foram fornecidas pelos tupinambás.104 Esses eram capazes de se comunicar na língua geral e, por isso, os portugueses não precisavam de intérpretes para conversar com eles. Acuña é a grande autoridade em que D’Anville e La Condamine se apoiam, tanto para traçar a hidrografia quanto para atestar a existência das amazonas e a escolha da denominação do rio em referência a elas,
e flechas nas mãos”.97 Walter Raleigh, que escreveu em 1591, também atesta seu espírito guerreiro: “Amazonas, iremos presentemente escutar o nome destas virgens, que não apenas são capazes de defender seus territórios e seus vizinhos, mas também de invadir e conquistar tão grandes impérios e tão remotamente distantes”.98 Mas, apesar de ter sido o primeiro a encontrá-las, Orellana não associou o rio a elas, e sim a si próprio. O relato que Carvajal escreveu, denominado Descobrimento do rio de Orellana, tornou público o batismo do rio com o nome de seu desbravador e contribuiu para a polivalência das designações existentes. Foi a expedição de Pedro Teixeira, de 1639, que instituiu pela primeira vez o topônimo de Amazonas para o rio, embora tenha tentado registrar o de São Francisco de Quito, que, segundo ele, seria mais utilizado. De acordo com frei Laureano de la Cruz, que, em 1650, foi missionar junto aos omáguas, nas proximidades dos rios Juruá e Tefé, esse último nome “deram os portugueses ao rio, por acreditarem que o haviam descoberto e navegado os religiosos filhos de São Francisco”.99 A expedição de
Mapa da expedição de Pedro Teixeira, que desceu o rio Amazonas, de Quito à barra do Pará, em 1637. 266
a despeito de saberem não ser este o topônimo mais empregado pelos portugueses. La Condamine buscava ser reconhecido como o novo Acuña, cujo relato considerava de natureza histórica,105 pois, segundo ele, “nada se sabe na Europa de hoje em dia quanto ao que concerne aos países atravessados pelo Amazonas, além do que se havia aprendido há mais de um século pela ‘Relação’ do padre d’Acuña”.106 D’Anville efetivamente concede esse crédito a ele e afirma que La Condamine “fez reviver os escritos de Acuña”.107 Ambos demonstram conhecer a diversidade de nomes pelos quais o rio era chamado. Por que então a escolha de uma nomenclatura sobre as demais e a que não era a mais empregada? La Condamine reflete sobre a toponímia do rio e afirma que os antigos autores espanhóis chamavam o rio de Marañon, mas que mais modernamente, depois de Orellana ter visto as Amazonas, este último nome tornou-se o único a que se referem, pois “foi conservado até hoje, há mais de dois séculos, pelos espanhóis, para [chamar] todo o seu curso”. Quanto aos portugueses havia grande diversidade de designativos. Junto à foz eles o conheciam “senão pelo nome de rio das Amazonas, e mais acima pelo de Solimões [rio dos venenos] e transferiram o apelido de Marañon, ou de Maranhão em seu idioma, a uma cidade e a uma província inteira”. Após essas considerações, conclui: “Usarei [na minha crônica] indistintamente o nome de Maranhão, ou de rio das Amazonas.” 108 A autoridade conferida por D’Anville a La Condamine é, sem sombra de dúvida, determinante para que esse geógrafo opte pelo topônimo Amazonas para batizar o rio. A essas famosas guerreiras, o viajante francês dedica um capítulo inteiro no livro que narra suas aventuras rio abaixo.109 Nele atesta e naturaliza a existência delas, o que não deixa de causar certo mal-estar junto às audiências cultas europeias.110A outra fonte de D’Anville é o padre Ignácio Reis, com quem se encontrou na casa de Pedro Nolasco Convay. Apesar de o título da carta impressa por ele representando a vazante do rio, apoiada nas informações desse padre, apresentar a duplicidade de nomes do rio — Carte du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon —, uma observação, na margem norte do rio, aponta para a existência das amazonas: “No alto desse rio de Cunuris, o padre Acuña acredita que há uma província particular habitada pelas Amazonas, a qual está situada nas montanhas”.111
La Condamine afirma que por toda a parte, “com grande cuidado”, inquiriu os “índios das diversas nações (...) se tinham algum conhecimento das mulheres belicosas que Orellana pretendia ter encontrado e combatido”. Sua fonte de informação principal era, mais uma vez, Acuña, e para confirmar as informações que esse havia dado sobre as valorosas guerreiras, inquiria a todos “se era certo que elas se conservavam fora do comércio dos homens, não os recebendo entre si senão uma vez por ano”. Por toda a parte, a informação da existência delas era confirmada, mas ninguém as tinha visto, e todos diziam que ouviram a história de seus pais, cada um acrescentando um novo detalhe. Dos omáguas, La Condamine diz ter recebido uma das informações mais concretas, pois lhe indicaram um índio, na aldeia de Coari, como uma das raras testemunhas oculares ainda vivas.112 Quando chegaram a essa aldeia, não encontraram o tal índio, que já tinha morrido, mas conversaram com seu filho, de cerca de 70 anos, que confirmou o fato de seu avô, e não seu pai, ter visto as amazonas e que ele chegara a falar com quatro delas. La Condamine intitulou 267
'No alto desse rio de Cunuris, o padre Acuña acredita que há uma província particular habitada pelas Amazonas, a qual está situada nas montanhas', anotação feita por D'Anville em sua Carte particulière du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon, 1729.
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o capítulo referente à questão de “As amazonas americanas — As asiáticas e as africanas”, e assinala a coerência existente entre as histórias que ouviu desse índio Coari, dos tapajós, de um índio Mortigura e de um velho soldado da guarnição de Caiena, tais coincidências para ele reforçavam a veracidade desses relatos. Todas associavam as amazonas às esmeraldas que provinham de suas terras, localizadas nas montanhas distantes do interior das Guianas, que nem os franceses, nem os portugueses haviam ainda penetrado. La Condamine conclui então que, malgrado elas provavelmente não existirem mais, isso não era prova de que nunca tivessem realmente existido.113 Ou seja, o que apresenta é um sofisma: se não se pode provar o contrário é porque o fato é verdadeiro. Sua assertiva foi de que, enquanto as amazonas asiáticas e africanas eram pura lenda, as americanas de fato tinham tido existência concreta. A razão de tantas mulheres se reunirem solitárias, sem a presença masculina, seria porque, fartas de acompanharem seus maridos à guerra e infelizes com a opressão vivenciada em seus lares, onde eram subjugadas por maridos tiranos, tiveram a ideia de “fazer para si um estabelecimento onde pudessem viver na independência, e pelo menos não serem reduzidas à condição de escravas e bestas de carga”. Para o francês, uma sociedade de mulheres guerreiras apartadas da sociedade não seria muito diferente do “que se observa todos os dias em todas as colônias europeias da América”, onde era “demasiado comum que servos maltratados e descontentes fugissem aos bandos para os bosques”.114 Neil Safier observa com perspicácia que “no caso das amazonas americanas, La Condamine pintou então um quadro que fundia as amargas realidades da servidão africana e as duras condições da vida doméstica ameríndia”. Safier ainda aponta que, para estabelecer essa associação entre as amazonas e os quilombos de escravos fugidos, foi determinante a presença de um escravo fugido, de nome Louis, na canoa em que La Condamine viajou de Belém até Caiena.115 O interessante é que numa França em que os iluministas não construíam uma imagem muito positiva das mulheres em suas obras, como em Rousseau, que chegou a afirmar que a mulher virtuosa seria “feita para obedecer ao homem” e deveria “aprender desde cedo a sofrer injustiças e a suportar os erros dos maridos”,116 as amazonas de
La Condamine, localizadas nas franjas da civilização ocidental, eram a imagem da libertação feminina. D’Anville, entretanto, não faz uma clara alusão às amazonas no mapa. Entre a margem setentrional do rio e o sul da fronteira com as Guianas, em um texto explicativo, informa que “nesta altura reina uma cadeia de montanhas”. A opção por tal recurso é coerente com o seu método de deixar em branco, sem informações geográficas consistentes, as regiões desconhecidas, como era o caso do país das amazonas, cujo “centro comum de convergência” eram as “montanhas da Guiana, num cantão onde nem os portugueses do Pará, nem os franceses de Caiena, ainda penetraram”.117 Mais ao norte, passando a linha de fronteira, D’Anville inseriu, numa alusão à associação entre as amazonas e os quilombolas, a existência de “uma comunidade de negros fugidos”, no alto do rio Suriname, que deságua em Paramaribo. Se, no mapa, a alusão às amazonas só pode ser percebida de forma indireta, na escolha do nome do rio, na memória que escreveu sobre a carta, fica claro que não só a escolha desse topônimo para nomear o rio se explica porque D’Anville acreditava na existência delas, como também que essa crença era devida a La Condamine. No texto, escreveu que, “ainda que com o risco de ir muito longe, não é possível deixar de falar dessas mulheres que fazem dar ao Maranhão o nome de Amazonas”. Contou que La Condamine buscou todas as notícias sobre elas, do que concluiu que, numa dupla negativa, “não se pode afirmar que elas não tenham existido”. Assim, ao nomear o grande rio de água doce, as amazonas sutilmente penetraram no mapa e conferiram aspecto mitológico à região cuja representação o geógrafo buscava racionalizar. Por outro lado, a escolha do topônimo Amazonas expressava a hegemonia portuguesa sobre a calha do rio, pois esse nome era correntemente utilizado pelos portugueses apenas junto a foz, na região de Belém, mas pelos espanhóis em todo o território sob o seu domínio. Dessa forma, escolher uma única denominação desde Belém até a nascente era a expressão do projeto luso expresso desde a expedição de Pedro Teixeira de que os portugueses fossem senhores absolutos da navegação do rio. Esse mesmo princípio norteará as negociações encetadas por dom Luís da Cunha com os franceses no Congreso de Utrecht em 1713. Tal adoção revelava que a Carte de l’Amérique méridionale estava afinada com o projeto geopolítico defendido pelo embaixador para a 268
região, que pretendia garantir aos portugueses o domínio das duas margens do rio e, assim, assegurar o monopólio luso sobre a sua navegação.
O Eldorado e o lago Amucu Na primeira versão manuscrita ou impressa do mapa em 1748,118 na folha 1 da Carte de l’Amérique méridionale, que abarca a região amazônica, nota-se que o lago Parima não está presente, o que pode ser observado também nas duas versões mais simples, de 1737 e de c.1742. A primeira informação sobre a existência do Eldorado na região, coincidindo com o lago Parima, remonta à expedição de Gonzalo Pizarro, em 1541. Depois de conquistar Quito, onde teria encontrado um índio que forneceu as primeiras informações sobre um reino situado às margens de um vasto lago interior, cujo imperador se cobria de ouro, Pizarro decidiu realizar, a partir do Peru, uma expedição em busca do Eldorado.119 Mas foi a publicação do relato de Sir Walter Raleigh, The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado),120 em 1596, que “instalou o império mítico no centro das Guianas”.121 Raleigh fez duas entradas na região em busca do Eldorado, a primeira em 1595 e a segunda em 1617. No entanto, apesar de não duvidar da sua existência, nunca conseguiu alcançá-lo. Nessa busca, Raleigh despendeu 22 anos, e perdeu seu filho e fiel companheiro de expedição, Lawrence Keymis.122 Ainda que jamais tenha encontrado o mítico Eldorado, o explorador procurou dar a seu relato sobre a Guiana o estatuto de veracidade. Garantiu que de “tudo isso eu tive conhecimento, e muito mais, em parte por meio de minhas próprias viagens e o resto por conferência [...] tendo comigo um índio que falava muitas línguas e a da Guiana naturalmente”. Foi assim que Raleigh “veio a conhecer as situações, os rios, os reinos a partir do mar do leste até as costas do Peru e, em direção ao sul, do Orinoco até os longínquos Amazonas e Maranhão”.123 Seu principal informante, o índio Juan Martinez de Albújar, que ele conhecera em Trinidad, em 1595, lhe contou que havia sido feito prisioneiro por uma tribo de canibais no sul da Guiana (inglesa), numa região cercada de montanhas, onde havia uma cidade coberta de ouro,
assim como o seu chefe, tudo nas imediações de um grande oceano interior.124 Esse reino seria o Inga e seu imperador, do mesmo modo que os seus ancestrais no Peru, havia construído palácios de ouro “que eram por suas riquezas e raridades mais maravilhosos e excediam a todos da Europa e (...) do mundo”. A cidade de Manoa, sua capital, ele assegurou, “tinha mais abundância de ouro, no seu território, que em todo o Peru e Índias ocidentais”.125 Raleigh não tinha visto nem o reino, nem a cidade ou o seu imperador, mas considerava sua fonte segura. Segundo ele, também os espanhóis haviam lhe garantido que tudo isso era verdade, bem como outras nações indígenas que habitavam as fronteiras do império Inga, com as quais teve contato em suas andanças pelo interior da Guiana. O relato de Raleigh foi fundamental não só na construção e difusão do mito do Eldorado, como também no estabelecimento das rotas para alcançá-lo.126 O império Inga estaria localizado numa vasta planície interior, que cobriria cerca de 2 mil milhas de leste a oeste e 800 milhas no sentido norte-sul, a meio caminho entre as Guianas e o rio das Amazonas, cercado por uma densa floresta, altas montanhas e junto a um enorme lago interior — o Parima. Raleigh prometia infinitas riquezas em ouro e outras mercadorias a quem tivesse a primazia do descobrimento.127 De fato, nos séculos seguintes, inúmeros viajantes/cientistas e aventureiros, inclusive 269
No detalhe da ilustração, as localidades lendárias de Manoa, El Dorado e Lago Parima, do livro Brevis et admiranda descriptio regni Guianae: auri abundantissimi, in America, de Sir Walter Raleigh, século XVI.
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Alexander von Humboldt,128 tentaram localizar o lago Parima, e os geógrafos, seguindo essas descrições, trataram de inseri-lo ou não em seus mapas. No entanto, na primeira versão da Carte de l’Amérique méridionale, de 1748, seguindo as informações que La Condamine angariou em sua expedição de descida do Amazonas, desdenhando a tradição, D’Anville não desenhou o Parima, mas sim o lago Amucu, localizando-o não na Guiana, conforme os relatos de Raleigh, mas na porção portuguesa do território, um pouco mais ao sul, abaixo do rio Orinoco e ao norte do Amazonas. Deve-se tal fato a um mapa manuscrito por um prussiano129 que La Condamine encontrou durante sua viagem no rio Amazonas.130 Tratava-se de Nicolas Horstman, incumbido pelo governo da Prússia de explorar a parte sul da Guiana. Porém, em vez de retornar aos seus patronos holandeses para dar conta das descobertas, Horstman prosseguiu cada vez mais para o sul, penetrando no território português. Havia rumores de que havia se tornado um índio, ou que organizava um levante indígena, ou que tinha traído os holandeses, fornecendo segredos de Estado aos portugueses.131 O certo é que La Condamine se encontrou com ele na cidade do Pará (Belém) e levou para a Europa o mapa do lago Amucu com os rios que nele deságuavam. Hortsman utilizara a rede de rios da região, subindo o Essequebé (cuja foz ficava na Guiana), descendo o rio Negro para atingir o Amazonas, e de lá indo até Belém, onde La Condamine o encontrou.132 Foi essa configuração que D’Anville imprimiu à hidrografia da área, identificando o lago Amucu como o mítico Parima, o que foi objeto de futuras discussões e viagens de descobridores até a região em busca da “verdadeira” geografia local. Esse debate chegou até Humboldt, que nela baseou sua expedição à região, tendo confirmado essa configuração geográfica de D’Anville.133 A relação entre o mapa de Horstman e a geografia que a Carte de l’Amérique méridionale imprime ao lago Amucu e a rede de rios ao seu redor é direta e evidente, saltando aos olhos do observador. D’Anville, em sua primeira memória sobre a carta, impressa no Journal des Sçavans, em março de 1750, confirma que, para esse trecho, utilizou o mapa e um relato do prussiano. Conta ainda que, quando em Belém, La Condamine fez cópias do “desenho em forma de carta” de Horstman e da memória na qual o prussiano descreveu sua viagem. Como era seu costume, D’Anville cotejou os dois 270
documentos e a memória permitiu a ele “reparar as faltas nesse desenho e fazer as correções” necessárias. Para o geógrafo, era extraordinária a menção ao “nome de Rupununi dado a um desses rios que serviram a fazer esta travessia e a proximidade de um lago”, pois, nas antigas cartas, era comum a afirmação de “que o lago Parima é chamado pelos índios Rupunuwini”. Concluiu, então, a partir da existência de um rio Rupununi que deságuava nesse lago percorrido por Horstman, que, “no que toca este famoso lago, [...] o nome Parima é de um outro rio dessa região, que deságua no Rio Negro” e não do lago denominado Amucu.134 Aqui fica bem ilustrado como o seu método de trabalho de crítica cartográfica foi aplicado nessa parte da carta. Ou seja: ele parte do cotejamento de um mapa manuscrito, resultante de uma observação empírica recente, com a sua memória redigida na ocasião, e a comparação dessas informações com aquelas contidas em cartas antigas da sua coleção. Desse modo, o conhecimento mais antigo renovava-se à luz do conhecimento mais novo, tal como se observa quando se refere a uma carta de sua coleção em que o lago Parima havia sido denominado por índios Rupunuwini. Na verdade, ele possuía dois mapas com essa referência. O primeiro era a carta La Guaiane ou coste sauvage, autrement El dorado, et Pais des Amazones, de 1654, de autoria de Pierre Duval d’Abbeville, geógrafo do rei.135 O segundo era de autoria de Nicolas Sanson, intitulado Partie de Terre ferme où sont Guiane et Caribane (1656).136 Além desses dois mapas, D’Anville possuía várias cartas apresentando o lago Parima, com destaque para um de I. Janssonius (séc. XVII), um de G. Blaeu (1630) e um de Vincenzo Maria Coronelli (1690-1691),137 todos do século XVII.138 O mapa manuscrito de Horstman foi a base principal para que D’Anville estabelecesse sua configuração geográfica da área. De novo, acreditando em La Condamine, que trouxe as informações do prussiano e garantiu sua veracidade, fiou-se na narrativa desse aventureiro, desenhando uma comunicação quase perfeita entre as bacias dos rios Negro/Amazonas e Rupunuwini/Essequebé, separados, respectivamente, por dois pequenos istmos e o lago Amucu.139 Observa-se, tanto no mapa de Horstman quanto no de D’Anville, que, a partir da foz, o rio Essequebé recebe dois afluentes à direita, o Cajona e o Mazaroni, com dois trechos de cachoeiras logo depois. No segundo trecho, 271
Detalhe da gravura de A descoberta do grande, rico e belo império de Guaiana, de Sir Walter Raleigh (c.1554-1618).
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O lago Parima, no mapa de Jan Jansson, c.1640.
O lago Parima, no mapa de Pierre Duval, 1654.
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entre os tributários Arussari e Rupunuwini, D’Anville escreve na carta que ali se apresentam 39 saltos sucessivos, informação retirada certamente da memória de Horstman, e não do seu mapa, pois dele não consta tal detalhe. Depois desse segundo trecho de saltos, o rio Rupunuwini deságua no Essequebé. Remontando-se à nascente do Rupunuwini, chega-se, no mapa de Horstman, a três lagos, separados por pequenos istmos. O terceiro, o maior deles, é o Amucu. D’Anville, no entanto, reduz os dois primeiros lagos a apenas um em sua carta, sendo o segundo deles o Amucu.140 A partir desse, flui o rio Pirara, que deságua no Maho, que por sua vez verte para o Tacutu, sendo todos eles tributários do rio Parima, “que os portugueses chamam rio Branco”. A expressão, “coberto de junco” (“couvert de joncs”) que ele grava, logo ao norte do lago e abaixo do topônimo, aponta para o caráter sazonal dessas águas, que se espraiam na época das chuvas. Também fazia parte da metodologia de trabalho de D’Anville estabelecer uma conexão entre o tempo despendido nessas expedições e as medidas de distância, correspondências que também podem ser observadas num dos textos escritos nas bordas do mapa manuscrito de Horstman. Um mês de navegação no trecho inicial do rio, mais lenta devido aos inúmeros saltos, foi o tempo estimado na carta, correspondendo a 50 lieues de distância;141 e 14 dias, no segundo trecho do rio, identificado como B-C no manuscrito de Horstman, onde aquelas dificuldades não mais se impunham, correspondendo a 14 lieues no mapa. O Parima, na carta de D’Anville, seguindo a geografia fluvial sugerida por Horstman, é transformado em rio, mas um outro lago aparece nesse trecho — o Amucu. Nesse primeiro momento, portanto, a Carte de l’Amérique méridionale rompe com a tradição mitológica que, desde Raleigh no século XVI, identificava o lago dourado como o Parima, estando a cidade de Manoa localizada em suas margens. A única referência ao Parima aparece nos escritos que identificam o rio Branco, tributário do rio Negro, que faz a conexão com o Amucu. Não há também, diferentemente dos mapas precedentes, qualquer referência ao Eldorado ou a riquezas minerais. Tudo indicava que, nesse caso, a geografia racional se impôs à mítica. De fato, D’Anville fazia mais uma vez, com aparente sucesso, a aplicação do seu método, realizando a partir de seu gabinete, nas galerias do palácio do
Nas cartas de D’Anville, o mítico Parima desaparece (acima), mas na versão de 1748 (ao lado), um outro lago aparece nesse trecho — o Amucu, resultado das informações de La Condamine sobre a região. 274
Louvre, a crítica das fontes cartográficas e textuais que lhe chegavam às mãos, produzidas por exploradores que trilhavam o vasto interior do Novo Mundo.
O retorno do Parima O posicionamento do Amucu em terras luso-brasileiras não refletia os interesses de franceses, nem de espanhóis ou de holandeses, todos com possessões territoriais na região, cujas fronteiras ainda estavam em disputa com os portugueses. A linha divisória, a 275
O mapa de Nicolas Horstman teve influência direta na configuração de D'Anville em relação ao lago Amucu e à rede de rios ao redor. Nas páginas seguintes, a rocha Comuti no rio Essequebé, vista do interior da Guiana, por George Barnard, 1840.
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Esmeralda, no Orinoco, local da missão espanhola na Guiana, Charles Bentley, 1840.
O sítio de El Dorado, nas cercanias do Amucu, Georges Barnard, 1840.
noroeste do lago, é situada por D’Anville na Carte de l’Amérique méridionale de 1748 quase paralela a uma cadeia de montanhas (o habitat das míticas amazonas?), condizente com o costume de utilizar acidentes geográficos como balizas para estabelecer fronteiras de territórios. Porém, a linha proposta a nordeste não corresponde a nenhuma barreira natural do terreno. Ela é simplesmente posicionada ali pelo cartógrafo. Dessa maneira, a carta de D’Anville permitia que os portugueses pudessem reclamar para si o domínio de um território142 que, pela tradição mitológica, estaria coberto de riquezas minerais. Apesar de procurar desmistificar a geografia local na primeira edição da carta, quando se observam as alterações que D’Anville realizou na folha 1 do mapa — correspondente à região amazônica, na versão de 1760 —, percebe-se, surpreendentemente, que o geógrafo incluiu o lago Parima.143 O processo de reconfiguração dessa região pode ser observado num fragmento de seu acervo,144 que deveria substituir o trecho original,
e na versão manuscrita do mapa, na qual ensaiou algumas possibilidades de inserção do lago.145 A partir de então e até a última revisão de D’Anville na Carte de l’Amérique méridionale, em 1777, o Amucu apresenta a mesma configuração sugerida por Horstman e o lago Parima aparece a noroeste do mesmo, em terreno extraportuguês. Também se observa que a rede de rios, inserida na região a partir de 1760, estabelece uma comunicação fluvial entre o Amucu e o Parima, via afluentes dos rios Mahos, Parima e Essequebé, bem como uma conexão entre o Parima e o rio Orinoco. Dessa maneira, um viajante saindo do Amazonas, via rio Negro e Maho, chegaria ao lago Parima e, de lá, até o Orinoco, podendo transitar por via fluvial entre os territórios português e espanhol. D’Anville justificou a introdução do Parima nas edições do mapa posteriores a 1760, numa das versões revistas da memória que acompanha a Carte de l’Amérique méridionale,146 datada de 1779. Segundo ele, “na parte oriental em relação ao Orinoco, e em direção à parte 278
superior do seu curso, é o sítio que deram anteriormente a um país que se estimou ser muito rico. Esta província tão buscada pelos espanhóis, e que eles se engajaram em empresas que foram todas sem sucesso, é o famoso [El] Dorado”. Esse lago e seu rei dourado “não é outro senão o que foi encontrado chamado Parima, e que é de uma extensão muito vasta na carta da Guiana, de Jean de Laet”. Acrescenta então que não tardou “a fazer entrar esse trecho com todos os seus detalhes particulares, na minha Carte de l’Amérique méridionale”.147 Observa-se que ele não só inclui o lago Parima, como, na sua justificativa, relaciona esse acidente geográfico com o antigo mito do império do Eldorado, revelando que o lago fora encontrado pelos espanhóis. Também, como era afeito ao seu método, faz referência a antigas cartas — no caso, um mapa de Laet — para reivindicar a autoridade dos antigos cartógrafos sobre o acidente geográfico agora incluído na carta. Sobre os mitos que cercam a região, no entanto, ele é incisivo em afirmar que
a origem dessa quimera não é outra coisa que uma narrativa feita a Sebastião Belalcaçar, tenente de Gonzalo Pizarro dada ao governador de Quito (...) por volta do ano de 1536. Um índio que se dizia ser do país de Bogotá contou a Belalcaçar que um rei ou senhor desse país tinha o costume de embarcar para uma cerimônia de religião, num certo lago, situado nas montanhas, o corpo inteiramente nu, e bezuntado de um óleo ou goma, e sobre este ele era todo polvilhado de um pó de ouro, que fazia com que ele todo reluzisse.148
No entanto, se a existência do Eldorado é descrita como quimera pelo cartógrafo, a entidade geográfica identificada como lago Parima é inserida sem grandes questionamentos em seu mapa. Desde 1742, D’Anville esteve envolvido na produção de cartas da área, o que, a partir de 1744, se intensificou com a estreita colaboração de La Condamine. Em 1754, ele realizou a primeira reimpressão modificada da Carte de l’Amérique méridionale, na qual apenas “acrescentou alguns detalhes nas montanhas acima de 279
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Detalhe do Parima na Carte, em sua versão de 1779, e, à direita, fragmento de seu acervo, o qual deveria substituir o trecho original e que desnuda o processo de reconfiguração dessa região.
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Lima”.149 No entanto, apesar de afirmar que os documentos utilizados para configurar a região já estavam em suas mãos desde 1745, os mapas produzidos sobre a região até 1754 não incluíram o Parima, nem mesmo essa primeira revisão do mapa da América do Sul, ocorrida nessa última data. Quanto aos documentos de que dispunha na ocasião, D’Anville se contradiz nas diferentes versões das memórias que escreveu sobre a Carte de l’Amérique méridionale, mas essas contradições não ocorreram por acaso. Na memória, publicada no Journal des Sçavans em abril de 1750, conta que teve em mãos uma carta, entre outras, encadernada “numa compilação de muitos volumes in-fólio de diversas memórias, escritas por um oficial espanhol para o seu rei pouco depois da ascensão de Filipe V ao trono”.150 Na memória que redigiu em 1779, no entanto, informou que a inclusão do Parima se devera porque, “em 1749, M. de la Condamine, colocando sob os meus olhos uma carta da região desse lago, me disse que este documento saíra do gabinete do senhor marquês de La Encenada”.151 Tratava-se do então poderoso ministro do rei espanhol Fernando VI. Tudo indica que se tratava do mesmo mapa e, em sendo assim, afinal quando o teria conseguido? Em 1745, como afirma no primeiro texto, ou em 1749, como diz no segundo? A primeira data é a mais provável, pois a partir de 1744, quando se intensificou a estreita colaboração de La Condamine e com a chegada de Maldonado
em 1746, D’Anville passou a ter acesso a um conjunto de documentos de origem espanhola. Fazer referência ao ano de 1749 visava apenas justificar a não inclusão do Parima na primeira versão da Carte de l’Amérique méridionale em 1748 — tal mapa espanhol não seria ainda de seu conhecimento. No entanto, isso não explica por que, a despeito de a documentação espanhola que assegurava a existência do Parima já ser do seu conhecimento pelo menos desde 1749, na primeira reimpressão modificada, realizada em 1754, ele apenas acrescentou “alguns detalhes nas montanhas acima de Lima”.152 O fato de ele não incorporar o lago Parima nem na primeira edição, nem nessa revisão da carta merece ser analisado. Por que alguém tão obcecado em buscar uma “perfeição cartográfica” teria deixado de aperfeiçoar seu mapa se acreditava na informação sobre a existência do lago? E por que ele o insere em 1760? Antes de buscar uma resposta para essas duas questões é necessário fazer algumas observações. Nem a carta de Laet, a que ele se refere na memória, nem a carta espanhola constam da coleção D’Anville. Isso não significa em absoluto que ele não tenha consultado esses mapas, ou que de fato os tenha possuído, visto que a coleção apresenta algumas lacunas.153 No entanto, é pelo menos intrigante que não exista na coleção nem ao menos uma cópia sua (quando todos os demais a que se refere lá estão), e que se apoie em Laet para justificar sua inclusão na tradição. Laet não produziu um mapa marcante 280
percebeu a existência do Parima. Não escreve nada, porém, para explicar o fato de, na versão de 1748, ter tomado o Amucu pelo Parima. Em sua memória de 1779, conta que Horstman partiu das costas da Guiana em 3 de novembro de 1739, quando então começou sua jornada pelo Essequebé. Valendo-se da estação chuvosa, chegou ao rio Negro em 16 de julho do ano seguinte, descendo por esse rio até a cidade do Pará (Belém). Ele então exime o viajante de seu erro dizendo que
da região, diferentemente das mais conhecidas cartas de Sanson, Hondius ou Blaew, que D’Anville possuía, e que apresentam o lago Parima ocupando grande extensão. A única referência a Laet na coleção é uma carta de Guillaume Delisle, intitulada Tabula Americae specialis geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae Firmae et Reg Amazonum. Secundum relationes de Herrera, de Laet, e P.P. de Acuña e M. Rodriguez, na qual o Parima não aparece representado. Nesse mapa há apenas uma referência textual, próxima ao rio Essequebé, onde se lê: “nessa região está situado o lago Parima, cidade Manoa do Eldorado”.154 D’Anville parece dissimular para se esquivar do que poderia ser entendido, então, como um erro grosseiro da primeira edição do mapa. Como ele concilia a explicação que dera na memória de 1750, quando afirmou que o lago Amucu era de fato o Parima, com a reconfiguração do mapa, em 1760, quando os dois lagos aparecem lado a lado? Primeiramente, ele atesta que a novidade lhe foi apresentada por La Condamine, no mapa pertencente aos espanhóis, no qual o Parima existia em separado do Amucu. Em segundo lugar, aponta o lapso de Horstman, que não
na sua viagem, que lhe custou penas infinitas, porque ele a empreendeu por água, ele tomou transportes, passando perto do lago Parima sem ter conhecimento dele. Ele entrou, entretanto, num lago todo coberto de juncos e nomeado Amucu pelos índios, mas que ele estava enganado de tomá-lo pelo Parima que ele buscava.155
É importante salientar que, a partir de fins de 1747, D’Anville começou a preparar outra carta em conjunto com La Condamine e Maldonado. Tratava-se da Carta de la Província de Quito.156 Esse mapa, produzido a pedido da Coroa espanhola, foi terminado no começo de 1750, quando foi finalmente enviado a Madri. Durante
Mapa da América, compreendendo Peru, Brasil, Terrae firmae e região amazônica, editado por Delisle, de acordo com dados de Herrrera, Laet, Acuna e Rodriguez, século XVIII. 281
O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Pururama: a grande catarata no Rio Parima, por Georges Barnard, 1840.
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
esse período, La Condamine esteve em contato com as autoridades espanholas, entre elas José de Carvajal, então secretário dos Negócios Exteriores do rei espanhol, Fernando VI.157 Por essa época, preparando-se para negociar com os portugueses as fronteiras na América, a Coroa espanhola não só procurava fundar instituições científicas de moldes iluministas, mas também preparar uma cartografia das suas possessões na América. Devido ao caráter de urgência, utilizou para isso impressores franceses, como foi o caso de D’Anville, e enviou especialistas à França para se atualizarem na arte da cartografia, como foi o caso de Maldonado.158 Foi por meio dessa colaboração franco-espanhola que La Condamine e, por extensão, D’Anville tiveram acesso às cartas espanholas da região, instrumentos importantes para a produção da nova carta, na complementação das informações acerca das regiões não visitadas pelos viajantes, desde pelo menos 1746. Rastreada a forma como a carta espanhola chegou às mãos de D’Anville, é necessário enfrentar a questão sobre as razões de ele ter passado a se fiar nela, para depois procurarmos desvendar aquelas que fizeram com que ele não incorporasse o lago Parima na revisão do mapa de 1754, e finalmente os motivos de sua inclusão na revisão seguinte, em 1760. Ao longo da década de 1740, D’Anville estabeleceu uma amizade e uma relação simbiótica com La Condamine. Os geógrafos de gabinete dependiam desses colaboradores que os supriam com relatos e mapas das áreas recém-exploradas. Herman Moll, geógrafo alemão que fez carreira na Inglaterra, estabeleceu uma colaboração parecida com dois grandes viajantes ingleses, William Dampier e Woodes Rogers.159 Da mesma maneira que D’Anville e La Condamine, “cartógrafos como Moll e seus amigos-navegadores, como Dampier e Rogers, inevitavelmente desenvolviam uma relação profissional e pessoal de interdependência muito estreita”.160 Ao contrário de D’Anville, La Condamine, em seus relatos e leituras públicas na Académie Royale des Sciences de Paris sobre as expedições a Quito e ao rio Amazonas, buscava garantir que suas descrições se baseavam primordialmente em observações visuais diretas, dissimulando ao máximo a origem de muitas das informações, ainda que grande parte do que apresentava ao público europeu fosse oriundo de informações de terceiros,161 como o relato de Horstman. De fato, em
alguns locais ele realizou observações astronômicas, mas “em outros, ele teve que confiar em mapas, relatos de viagem, e relatos orais de missionários e índios”.162 Filtrar as notícias oriundas dos informantes encontrados pelo caminho era um desafio para esses viajantes, pois o tempo da viagem não lhes permitia uma visita pessoal a todos os locais de interesse. Ainda que o empirismo devesse guiar o conhecimento a ser produzido segundo o racionalismo iluminista, o que se observa é que, como no caso de La Condamine, devido à vastidão do território, muitos exploradores tiveram que se valer não apenas do ver, mas também do ouvir dizer. A questão era: entre tantas narrativas recolhidas, a quais conferir o estatuto de verdade? A maioria das informações selecionadas a partir dos relatos de terceiros, contrariando o primado do ver sobre o ouvir, após serem eleitas como verdadeiras, muitas vezes eram apresentadas ao público europeu por aqueles intelectuais como oriundas de sua própria observação. Foi o que La Condamine frequentemente fez,163 sustentando algumas conformações geográficas do continente americano que não passavam de ecos de mitos da antiguidade, e ainda por cima como se fossem frutos de sua observação direta. Como D’Anville utilizou-o como principal fonte de informação na conformação da região amazônica, a geografia que ele considerava “verdadeira”, fosse ela fruto da observação de La Condamine, fosse obtida por terceiros, acabou aparecendo no mapa. No caso da inclusão do Parima, foi também determinante o fato de ter sido o mais poderoso ministro do Estado espanhol quem fornecera o documento cartográfico básico. No entanto, durante os anos da colaboração entre D’Anville e La Condamine em Paris, Maldonado e Bouguer já vinham se desentendendo com o último, acusando-o de alguns erros e de escamotear suas fontes, nem sempre seguras.164 A par dessas desavenças, D’Anville mesmo assim continuou confiando e privilegiando as informações trazidas por La Condamine, em detrimento das fornecidas pelos outros dois. Nem as correções que Maldonado tentou introduzir nas pranchas do Mapa da Província de Quito, que D’Anville preparava com La Condamine, foram suficientes para que o geógrafo duvidasse das informações que esse último lhe fornecia. De fato, como aponta Neil Safier, D’Anville não incluiu nessa carta a maior parte das correções sugeridas por Maldonado, conspirando para 282
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O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima
que tudo fosse feito de acordo com a visão do viajante francês.165 A amizade pessoal entre os dois, assim como o respeito que La Condamine usufruía na comunidade de savants iluministas à época, diferentemente de Maldonado que D’Anville considerava um simples piloto prático, além dos interesses diplomáticos luso-franco-ingleses, foram certamente determinantes para que o geógrafo confiasse plenamente nas suas informações, transportando-as para seus mapas. Mas não foi somente D’Anville que, ao buscar uma geografia condizente com os princípios iluministas, acabou por preservar imagens mitológicas do Novo Mundo. Muitas vezes, era a própria observação empírica da realidade que conduzia a uma conformação fantástica do território, tal como aconteceu com o médico português José Rodrigues Abreu, que, em 1734, ainda descrevia o Brasil como uma ilha, fruto de longas expedições que realizou pelo território interior.166 Já Herman Moll, a despeito de várias correções que fez nas diversas edições de seus mapas, continuou até a sua morte, em 1732, a representar a Califórnia baseando-se em Sanson, isto é, como uma ilha, e essa configuração ainda apareceu em seus mapas reimpressos postumamente até 1780, quando os mapas de Delisle já haviam abandonado essa configuração havia muito.167 Resta salientar o caráter geopolítico não tão evidente da inclusão do Parima no mapa após 1760. Na versão manuscrita da Carte de l’Amérique méridionale observam-se algumas interpolações a lápis realizadas posteriormente pelo geógrafo, nas quais ele corrige ou acrescenta elementos cartográficos não constantes na primeira versão manuscrita.168 Não é possível saber exatamente quando essas anotações a lápis foram introduzidas, ou ainda se todas foram inseridas ao mesmo tempo. Porém, tais correções são também indícios das alterações realizadas nas chapas do mapa em épocas posteriores à primeira impressão. Um desses reparos refere-se exatamente à inclusão do lago Parima. Na carta manuscrita, a posição desse lago aparece esboçada a lápis exatamente sobre a linha divisória que ele propõe entre o Brasil e a América hispânica, isto é, abaixo da cadeia de montanhas que dividiria naturalmente os dois territórios. No entanto, quando se observa a versão impressa da carta de 1760, percebe-se que o lago foi deslocado um pouco mais para o norte, ficando situado não sobre a linha divisória, mas no interior
do território espanhol. Observa-se também que a inclusão do Parima fez com que o cartógrafo estendesse o espaço entre o Amucu e a cadeia de montanhas situada um pouco mais ao norte. Com isso, as montanhas não mais coincidem com a linha divisória proposta, pois a mesma é deslocada um pouco mais para o sul. O que parece ser uma simples correção geográfica, sem outra intenção aparente a não ser o aperfeiçoamento da carta, introduz pelo menos duas importantes questões de natureza geopolítica. Em primeiro lugar, o geógrafo abandona a ideia de utilizar os acidentes naturais do terreno, como havia feito na carta de 1748, ao estabelecer os limites entre as Coroas de Portugal e Espanha na região com a maciça cadeia de montanhas. Em segundo lugar, a rede de rios que conecta os dois lagos, permitindo que se transite sem grandes dificuldades entre os territórios português e espanhol, transfere para a negociação diplomática a questão da demarcação da fronteira, que se torna então aparentemente fluida e indistinta, não mais se referenciando a qualquer característica natural do terreno. O aparecimento do Parima, que estivera sempre conectado aos espanhóis, e não aos portugueses, impõe então uma soberania (assentada na mitologia criada desde a expedição de Pizarro) à Coroa de Espanha, enquanto o topônimo Amazonas, mais usual nas cercanias de Belém, dado ao rio, em detrimento de Maranhão ou Orellana, o insere na esfera de influência portuguesa. É evidente então que implicações de natureza geopolítica, contrárias aos interesses lusos, decorrem da inserção do Parima na carta. Resta ainda compreender por que o lago foi omitido da versão de 1754 e finalmente inserido na de 1760, se D’Anville já dispunha do mapa espanhol desde pelo menos 1749. Foi certamente por instâncias de dom Luís da Cunha e do duque de Orléans, ainda que o primeiro tivesse morrido em fins de 1749 e o segundo em 1752, que, mesmo de posse do mapa espanhol por essa época, D’Anville não incluiu o Parima e continuou a representar, até a revisão de 1754, apenas o Amucu, posicionando-o em território português. Por não estar diretamente relacionado ao mito do Eldorado, não era difícil justificar a soberania portuguesa dessa parte do território, principalmente porque a cadeia de montanhas relacionada ao mito das amazonas, que por sua vez dava nome ao rio sob a soberania portuguesa, que serviria como baliza natural dos limites. 284
rede fluvial da região aponta para o uso inconteste da Carte de l’Amérique méridionale. Dom Luís da Cunha havia enviado o mapa de D’Anville para Madri, em 1747, na esperança de que ele cumprisse sua função: dar a ver o continente americano, não deixando dúvida sobre o território que seria acordado entre os diplomatas espanhóis e portugueses. E também mandou cópia para Alexandre de Gusmão em Lisboa. Porém, mesmo de posse dele, Gusmão determinou que fosse composto o Mapa das Cortes especificamente para esse fim, incorporando-se alguns enxertos cartográficos oriundos da Carte de l’Amérique méridionale, desde que fossem favoráveis aos interesses portugueses, o que era o caso do lago Amucu e sua rede de rios. O ano de 1760 deu início a uma nova era nas disputas de limites luso-espanholas. As partidas bilaterais, que, após a assinatura do Tratado de Limites em Madri, começaram a demarcar as fronteiras, tomando as medidas topográficas, questionavam os termos do tratado. Os portugueses se ressentiam de terem aberto mão da Colônia do Sacramento, e os espanhóis, por seu turno, achavam que haviam cedido demais. Nesse sentido, 1760 se apresentava como um momento propício para imprimir uma nova edição do mapa. Efetivamente, a 12 de fevereiro do ano seguinte, o Tratado de El Pardo cancelava o que havia sido acordado em Madri. Nessa nova versão do mapa, não só o lago Parima é representado, mas aparece posicionado claramente em território dos espanhóis, garantindo a esses últimos o direito sobre as possíveis riquezas ali prometidas. Eclipsava-se assim a ingerência portuguesa sobre a Carte de l’Amérique méridionale, impondo-se a influência espanhola, com a colaboração de La Condamine e Maldonado. Razões de Estado e questões geopolíticas ecoavam no paraíso!
Eram os ecos da fidelidade ao antigo amigo e protetor e as injunções geopolíticas que interferiam mais uma vez na Carte de l’Amérique méridionale. Em linhas gerais, a visão geopolítica de dom Luís para essa parte da região amazônica, à qual D’Anville imprimiu uma primeira feição cartográfica em 1748, espelhou-se no Tratado de Madri de 1750, acordado entre as duas Coroas. No tratado ficou estabelecido, pelo artigo IX, que naquela área “continuará a fronteira pelo meio do rio Japurá, e pelos mais rios que a ele se ajuntam, e que mais se chegarem ao rumo do norte, até encontrar o alto da cordilheira de Montes que mediam entre o rio Orenoco e o das Amazonas ou Marañon; e prosseguirá pelo cume destes montes para o oriente até onde se estender o domínio de uma e outra Monarquia”.169 O Mapa dos Confins (conhecido como Mapa das Cortes),170 que dava a ver a linha divisória então negociada, revela, que, ao norte, a divisa seguia exatamente pela grande cordilheira situada a meio caminho entre o Amazonas e o Orinoco, sendo que a linha se interrompe antes de atingir o litoral, pois ali se tratava não mais de terreno luso-espanhol, mas das Guianas. Ao sul dessa linha divisória, observa-se que o território no Mapa das Cortes apresenta a mesma disposição que D’Anville imprimiu. Subindo o rio Negro, penetra-se no rio Branco, depois o Maho e finalmente o Pirara, atingindo o lago Amucu, que não recebe qualquer denominação nesta carta. Depois do Amucu, um pequeno istmo separa o lago do rio Rupunuwini, que deságua no Essequebé, cuja foz já se encontra em território do Suriname. Uma das questões que têm mobilizado a historiografia são as fontes cartográficas utilizadas para a feitura do Mapa das Cortes, citadas imprecisamente por Alexandre de Gusmão.171 A configuração dessa parte da
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OS
BENS QUE A VELHA TEM As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento
Preocupado em garantir que a
om Luís da Cunha rearticulou o papel desempenhado pelas diversas partes do império português, privilegiando a América em detrimento de outras áreas, até mesmo em relação a Portugal. Juntamente com alguns membros da elite administrativa, o embaixador identificou com clareza singular o processo de deslocamento do eixo econômico do império a partir da descoberta das minas de ouro e diamantes no Brasil, e sua importância para o futuro do reino, num contexto de crescente dependência de Portugal em relação às outras potências europeias, particularmente a Inglaterra. Para ele, esse processo deveria ser conjugado com a mudança do centro político para a América portuguesa, mas para isso era preciso consolidar seu território em detrimento dos interesses dos espanhóis. Foi então que, com pragmatismo, perspicácia e tenacidade, dom Luís escreveu sobre a questão, defendendo que “o Brasil, (como são preciosos domínios, é digno de maior resguardo)”.1 Em sua correspondência, e especialmente em suas célebres Instruções políticas,2
posse sobre a região mineradora permanecesse incontestável, dom Luís da Cunha colecionou, com cuidado, as peças cartográficas e os relatos importantes sobre essa região e os forneceu a D’Anville.
Ao lado, Extração de diamante; acima, Escravos lavando o ouro do aluvial: os novos bens da Coroa portuguesa. 287
Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento
“que, na balança do poder, possamos pôr [para dentro] a riqueza, para fazermos uma tal ou qual igualdade com as outras potências”.8 O embaixador via no ouro que deveria verter continuamente do Brasil para o reino a possibilidade de compensar a pequenez geográfica de Portugal e seus limitados recursos econômicos. Por essa razão, segundo seus princípios, a abundância mineral não poderia continuar a enriquecer os cofres das demais nações da Europa, especialmente a Inglaterra. Lamentava-se do fato de que Portugal tivesse ido “cavar nas minas, para que os estrangeiros recolham as suas preciosas produções”.9 Observava, atento, que a maneira como o comércio era realizado entre essas duas nações criava um fluxo contínuo de ouro brasileiro para fora do reino. O metal, transformado em moedas, enriquecia os cofres ingleses.10
das descobertas, mas não tarda a concluir que “as conquistas, que supus ser um acessório de Portugal, eu as tenho pelo seu principal, e ainda garantes de sua conservação, principalmente as do Brasil”.6 Em 1720, exultante, confirmando suas melhores expectativas, informa ao conde de Tarouca que “a frota do Rio (...) vem manifesta do ouro que traz a capitania [e] importa em seis milhões e meio e vinte e três mil cruzados e novecentos e vinte réis”.7 Nesse sentido, percebendo a importância dessa riqueza para que Portugal recuperasse poder e prestígio no teatro das nações europeias, observou que, se de um lado “a providência quis que os estados del rei [dom João V] em Europa não fossem tão estendidos como os dos seus vizinhos”, de outro, “lhe deu fora dela abundantes minas que eles não logram”. Defendia então que Portugal adotasse uma política de tal modo
o embaixador apontou para a crescente dependência econômica de Portugal em relação ao Brasil. Como corolário dessa dependência, advogou que “o príncipe, para poder conservar Portugal, necessita totalmente das riquezas do Brasil, e de nenhuma maneira das de Portugal [...] de que se segue que é mais cômodo, e mais seguro, estar onde se tem o que sobeja, [do] que onde se espera o de que se carece”.3 Sendo assim, o embaixador defendia a transferência da corte para a América, com estabelecimento no Rio de Janeiro, de onde o rei governaria, tomando o título de “Imperador do Ocidente”.4 Essa ideia da centralidade do Brasil toma forma no pensamento de dom Luís à medida que ele, paulatinamente, se conscientiza da importância que os produtos oriundos dessa conquista ultramarina adquiriam no seio da economia do império, em detrimento da supremacia do Oriente. A partir de estratégias geopolíticas elaboradas por ele, o açúcar e o tabaco, entre outros, são vistos como moedas de troca com as demais economias europeias. Mas, entre tantas outras mercadorias, é o ouro que adquire especial relevância e, com ele, o embaixador passa a atribuir enorme importância à região das Minas. Em 1719, ele escreveu ao conde de Assumar, seu velho amigo, e, bem a seu estilo irreverente, afirmou: “Aquele Brasil, [e] aquelas Minas, são o bem que a velha tem.”5 Inicialmente, o embaixador, como outros membros da elite portuguesa, se mostra cético sobre a durabilidade
Extração de ouro em Minas Gerais.
Por força da lei assinada por dom João V em 3 de Dezembro de 1750, determinou-se a revogação da cobrança do quinto. 288
Demarcação do território mineiro pelo Mapa das minas do ouro e S. Paulo e costa do mar que lhe pertence, de 1714. 289
Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Foi durante a sua estada na Inglaterra, entre 1697 e 1709, ao perceber o crescente desequilíbrio da balança de comércio portuguesa, agravada pelo seu envolvimento na Guerra da Sucessão Espanhola, que a valorização das minas no contexto do império e a necessidade de edificar uma política protecionista dessa riqueza começaram a se manifestar. Mas não só. Ele se tornou cada dia mais cônscio do interesse que elas despertavam na Europa e da ameaça que isso representaria para o império marítimo português. Passou então a chamar continuamente a atenção das autoridades reinóis para a necessidade premente de salvaguardá-las da cobiça estrangeira. Entre tantas e seguidas observações nesse sentido, advertiu as autoridades portuguesas de que “toda a segurança da América é precisa porque a riqueza das nossas Minas faz cada dia maior ruído e causa maior inveja”.11 Nas cartas que dirige ao reino e a outros embaixadores portugueses em serviço nas demais cortes europeias, é recorrente a ideia da importância das frotas oriundas do Brasil e de todas as riquezas que traziam a bordo para sustentar a economia do reino. Mesmo de longe, não se descuidava um só instante de pôr-se a par de seu fluxo, especialmente do ouro. Das chegadas e partidas das frotas, tanto recebia quanto dava notícias, mostrando seu interesse constante pelo tema. Em 1712, parabenizou o cardeal da Cunha pela “chegada da nossa frota em [que] totalmente estava afiançada a conservação desse reino”.12 A 11 de janeiro 1714, escreveu aliviado que, por um navio vindo de Lisboa e aportado em “Falmouth, soubemos que a frota do Brasil ia entrando nesse porto de que nos logramos infinitamente, livrando-nos do susto que tivemos com a notícia de que há dias se divulgou de que a dita frota fora derrotada por uma grande tormenta”.13 Para o duque de Cadaval, escreveu em 1721: “Estimo muito que chegasse a frota tão abundante de todos os gêneros e do bom metal como V.Exa. mo participa.”14 Como corolário da importância do ouro do Brasil, era constante o seu temor de ataques piratas.15 No exercício de suas funções de embaixador dispensava especial atenção ao monitoramento de expedições inglesas, francesas e até mesmo russas que para ali pudessem se dirigir. Na Inglaterra, buscava as autoridades locais para espionar as atividades dos franceses;16 e, em Paris, o inverso acontecia. Vemo-lo constantemente pressionando autoridades, exigindo o respeito das nações onde
realizava suas embaixadas aos tratados de amizade estabelecidos com Portugal, à integridade dos seus navios mercantes e dos territórios das suas conquistas. Quando se encontrava na Inglaterra, mostrou-se atento em relação às armadas francesas de Le Clerc, em 1710, e Duguay-Trouin, em 1711, quando se dirigiram ao Rio de Janeiro. Preocupado em garantir que a posse sobre a região mineradora permanecesse incontestável, dom Luís da Cunha colecionou, com cuidado, as peças cartográficas e os relatos importantes sobre essa região e os forneceu a D’Anville. Sem acesso direto às medidas no território das Minas tomadas por ordem da Coroa portuguesa, o geógrafo enfrentou o desafio de estabelecer o posicionamento correto da capitania em sua Carte de l’Amérique méridionale. Segundo ele, “a área principal das Minas de Ouro é determinada em latitude pela posição de Vila Rica”,17 pois ele sabia que, ao estabelecer a posição desse núcleo urbano, seria capaz igualmente de posicionar os principais acidentes geográficos em seu entorno. Sobre essa localização muito se especulou. Domingos Afonso Certão, em 1702, conjecturava: “as minas acham-se ficar em direitura do Espírito Santo, afastado para o sertão, o quanto não se sabe por se não ter ainda descoberto, [...] e para o Rio de Janeiro dizem ser mais perto”.18 Em 20 de junho de 1704, Ambrozio Jauffret forneceu ao governador da Guiana Francesa, o conde de Pontchartrein, uma descrição da região, indicando que a localização do “reino dos Cataguases é na altura de 23 graus distante do Rio de Janeiro, cem léguas [...] terra adentro. Nelas há minas de prata, ouro e esmeraldas”.19 Essa imprecisão se dava porque, apesar de estar na altura do Espírito Santo, o melhor porto de acesso às Minas Gerais era o da cidade do Rio de Janeiro, de onde eram embarcados os quintos régios. José Rodrigues Abreu, que foi às Minas acompanhando o governador Antônio de Albuquerque, em 1711, foi minucioso nas distâncias que separavam as Minas das capitanias do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e São Paulo, não deixando de anotar, como bom empírico, que “poderá haver engano, por ser esta medida mais que pela reflexão, e cômputo dos dias”.20 Como no restante do discurso, às experiências dos práticos, particularmente dos paulistas que percorriam aquelas paragens, contrapunha-se o discurso dos doutos. Ainda assim, afirmou, com certeza, que as Minas ficavam na altura da capitania do Espírito Santo, vinte graus e cinco minutos de latitude, 290
parecia ser dos mais aprazíveis, ao contrário, era “no mais áspero dele”, mas isso se justificava, “por ser lugar onde abunda mais o ouro”. O núcleo urbano é descrito como sendo constituído por “uma rua continuada por espaço de meia légua, [e a mesma] está dividida em três bairros. O primeiro se chama Ouro Preto; o segundo Antônio Dias, onde está o Palácio do governador, casa de moeda, câmera, e cadeia; e o terceiro o Padre Faria”.26 O documento forneceu-lhe também as localizações de alguns outros arraiais da capitania e suas distâncias relativas à Vila Rica, permitindo que as mesmas fossem situadas no mapa. O Padre Faria ficava a duas léguas a leste do centro da urbe e, pouco adiante, na mesma direção, estava situado o Ribeirão do Carmo, hoje Mariana. “Desta segunda vila, para a parte do nordeste e norte, estão as vilas de Sebastião, S. Bartolomeu, e Catas Altas, e para o sueste, o Forquim, os Gualachos, Guaripiranga. (...) Das Catas Altas virando para o norte, noroeste, e oeste, se acha o país chamado Mato Dentro.”27 Essa memória, afirmou D’Anville, lhe foi dada por Pedro Nolasco Couvay, o financiador das compras joaninas em Paris, tendo sido catalogada dessa forma em sua coleção. Em suas memórias, aponta como data para o documento o ano de 1732 e, numa delas, afirma que
a sessenta léguas da costa, “segundo a observação de alguns pilotos, que naquelas terras vimos tomar o sol”.21 Distante em seu gabinete parisiense, D’Anville estabeleceu a altura de Vila Rica, entre 20o e 21º de latitude, e, em termos de longitude, nas proximidades do meridiano do Rio de Janeiro. Para isso, contou com “as melhores cartas, e uma entre outras, me foram comunicadas manuscritas por dom Gonzalo de la Cerda”,22 na verdade, Manuel Gonçalo de Lacerda, enviado à embaixada em Paris, como secretário de dom Luís da Cunha. Como membro do Conselho Ultramarino,23 Lacerda provavelmente teve acesso a tais documentos, tendo entregue a dom Luís um mapa manuscrito “que representa as cercanias de Vila Rica”.24 Também para a localização de Vila Rica foi fundamental uma memória intitulada Descrição das Minas Geraes do Brasil.25 Nela havia uma descrição da vila, com sua exata localização. De acordo com o autor, Vila Rica estava a “setenta léguas ao ocidente da costa do Brasil”, sita “na latitude de vinte graus e vinte e cinco minutos austral”, na capitania das Minas. Esta, por sua vez, ficava por “detrás de montes e serras, que se continuam desde a costa até aquele sítio, que é também monstruoso”. O lugar escolhido para sua fundação não
Segundo D’Anville, Vila Rica localizava-se entre 20º e 21º de latitude, nas proximidades do meridiano do Rio de Janeiro. 291
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a autoria era de Antonio Blem,28 Antônio ou Antoine Blem, ou ainda Belém, originário de Marselha,29 comerciante francês estabelecido em Lisboa,30 “que dissera ser filho de João Batista Blem”,31 e que “esteve no Rio de Janeiro com Francisco da Távora”.32 Como os demais governadores portugueses, Távora era mestre de campo general, e recebeu a patente de governador do Rio de Janeiro por mercê de dom João V, a 2 de junho de 1712,33 chegando à cidade no ano seguinte. É interessante o fato de o novo governador ter chegado ao Rio de Janeiro com um francês em seu séquito, já que a cidade havia acabado de se livrar das duas invasões de piratas vindos da França, o que não deve ter sido recebido com muita tranquilidade pelos moradores. Pouco se sabe da estada de Blem no Brasil, ou por quanto tempo permaneceu, mas com certeza esteve nas Minas Gerais, incluindo uma estada na região diamantina em torno do arraial do Tejuco. Esse périplo lhe permitiu reunir as informações escritas em sua memória.34 Em 1722, já de volta a Lisboa, traduziu para a língua portuguesa e publicou um tratado de puerícia, de autoria do francês Le Notre, que intitulou Escola do mundo, ou instrução de um pae para seu filho.35 Em 1723, dom Luís da Cunha foi informado do retorno de Blem à França por carta vinda de Saint-Malo, na qual lhe avisaram “ter chegado àquele porto um português”. O embaixador não parece ter recebido informações muito abonadoras do recém-chegado, pois observou que esse lhe pareceu “extravagante, parecido a um António da Cunha, com foro de fidalgo, que também veio parar a esta cidade depois de haver contraído na de Nantes várias dívidas e porque aqui não fizesse outras ou alguma ação semelhante às que de lá trouxera o fiz sair desta corte pagando o que já nela estava devendo e ajudando-o para a sua jornada”. Ainda segundo dom Luís, o tal Blem parecia ser “moço bem feito e próprio a ir a Índia, onde se amansam os turbulentos e vêm, às vezes, os grandes homens”.36 Não se sabe a data exata que voltou a Portugal, mas sabe-se, pelas notícias dadas sobre ele pelo embaixador, que não ficou muito tempo na França e, já de volta a Lisboa, acabou por se tornar vice-cônsul desse país.37 Em 31 de maio de 1727, pediu alvará da capela que instituíra dona Isabel de Castilho com a obrigação de missas na igreja de São Bento de Sande, extramuros de Lisboa, na freguesia de São João, que então se achava vaga, por 292
ter morrido Francisca Botelho de Vasconcelos, a herdeira dos bens que a sustentavam. Como ela não tinha herdeiros, nem feito testamento por ser demente, Blem pediu a dom João V para assumir a administração dos seus bens.38 A decisão do rei foi rápida e, em julho do mesmo ano, foi-lhe concedida a administração de “umas casas na freguesia de São João da Praça de Lisboa oriental” que pertencera à falecida.39 Percebe-se que, a despeito do julgamento inicialmente negativo feito pelo embaixador, Blem acumulou em vida mercês régias que apontam para a importância e a utilidade que adquiriu junto ao monarca português. Mas voltemos um pouco no tempo, exatamente a 1723, quando Blem chegava a Paris. Nesse mesmo ano, um suíço, de nome Merveillheux, aportava em Lisboa, regressando de uma viagem a Louisiana, desejoso de se colocar, como naturalista, a serviço do monarca português.40 Esse indicou um alemão, especialista em mineração, chamado Blumenstein, que na época residia na França e que também queria ir para Portugal desfrutar do mecenato de dom João V.41 Foi então que, em Paris, o comerciante francês, Peyrelongue, escreveu a dom Luís intercedendo em favor de Blumenstein. Num primeiro momento, o embaixador afirmou: “Não dei ouvidos, por estar cansado de ouvir projetistas que só procuram ir comendo enquanto se não descobrem os seus enganos.”42 Mas como, algumas semanas mais tarde, o alemão foi-lhe também recomendado por Hermand, 293
Mapa manuscrito da região de São Paulo.
Na página anterior, praça principal de Vila Rica, c.1780.
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Relato sobre o levante em Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto liderado por Filipe dos Santos, em 1720.
O Mapa da capitania de São Paulo e seu sertão destaca as Minas Gerais e Goiás, com todos os seus pousos e passagens, por Francisco Tosi Columbina, c.1750. Nas páginas seguintes, Modo de lavar os diamantes, em arraial do Tejuco, atual cidade de Diamantina, c.1775.
matemático do rei, e recebesse ordens do reino nesse sentido, o embaixador resolveu escrever a Peyrelongue para recolher mais informações sobre o sujeito.43 Blumenstein, que explorava uma mina de chumbo nas cercanias de Lyon,44 entregou então a dom Luís da Cunha um memorial sobre a modernização da tecnologia de mineração do ouro brasileiro.45 Blem, que por essa época estava em contato com o embaixador, leu esse memorial, sem dúvida por intermédio de Couvay e Peyrelongue, e lhe “fez uma resposta sobre as minas do Brasil”.46 Em 1723, Blem redigiu um primeiro manuscrito sobre as minas brasileiras, que ofereceu a dom Luís e no qual afirmava “que a fundição de mr. de Blumenstein as não faria mais proveitosas a sua qualidade”. Esse, por sua vez, informado das críticas, também lhe respondeu. A partir do debate entre os dois, o embaixador sentiu que “pela sua mesma informação [de Blumenstein] se fortifica mais sobre a utilidade da sua manipulação como (...)
verá da carta que ele escreve a PeyreLongue e da resposta que faz às dúvidas do dito Blem”.47 Sobre os dois colaboradores e o debate que travavam, o conde de Tarouca advertiu dom Luís da Cunha de que “Antonio Belém é um francês enxertado em português, todo prezado de saber tudo, (...) e assim não se faça caso do que ele escreveu”.48 Também lhe comunicou que ele e a Coroa davam muito mais crédito ao “memorial que a vós deu Blumenstein”.49 Sobre as duas memórias, “em francês e português sobre as nossas minas do Brasil”, redigidas por Blem, dirigidas a Blumenstein e a PeyreLongue, Diogo Mendonça Corte Real, secretário de Estado, explicou ao embaixador que haviam decidido no reino que as duas deveriam ser examinadas pelas “pessoas práticas nelas, para saber se o que nelas se discorre é acertado”. Quanto a Blumenstein, parece que, a despeito das críticas de Blem, lhe foi feita uma proposta para ir trabalhar em Portugal, pois Corte Real 294
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Modo como se extrai o ouro no rio das Velhas..., c.1780.
Modo de minerar para se tirarem diamantes, c.1775.
de 1710. Tudo indica que o documento que pertenceu a D’Anville tenha sido atualizado, em relação ao primeiro, apenas com algumas poucas informações mais recentes, acessíveis a qualquer morador de Lisboa, como a instalação das casas de fundição, em Minas Gerais, em 1720,54 e o pagamento do donativo pelas câmaras da capitania, quando da ocasião do casamento do príncipe e da infanta de Portugal com os herdeiros espanhóis, em 1728.55 Couvay certamente conseguiu essa nova memória com o aval e a pedido do embaixador. No manuscrito, Blem revela conhecer relativamente bem as técnicas de mineração utilizadas na capitania no início do século, mas que essas posteriormente se alteraram, e ele não teve como noticiar, pois já residia longe da capitania havia muito tempo.56 Blem descreve que “quase todos os montes das Minas Geraes são de terra, e por isso fáceis de penetrar; porém como os mineiros não podem separar o ouro da serra sem água, contentam-se com o que acham no pé
informou a dom Luís “que veremos [então] que resolução toma o dito alemão”.50 De fato, decidido o valor a ser pago ao alemão, a Coroa passou ordens a dom Luís da Cunha de que havia sido “servido [o] ajuste com o dito Blumenstein [para] vir a este reino”, com a recomendação, pelo secretário de Estado, de que “o que ajustar com o dito Blumenstein me participe”.51 Blumenstein e Merveillheux foram então contratados, e o primeiro seguiu para trabalhar em Lisboa.52 Dele se tem notícia nessa cidade na ocasião em que desapareceu o óculo que Hermand enviara de presente para o rei, pois foi Blumenstein que o armou.53 Na verdade, a memória sobre as minas brasileiras, que, segundo D’Anville, Antônio Blem enviou a Pedro Nolasco Couvay, em 1732, e este lhe forneceu, e que hoje se encontra na Coleção Robert Bosch, não devia ser muito diferente daquela entregue a dom Luís da Cunha em 1723, pois a maior parte das informações era resultante da sua experiência na região na década 298
dos montes, sem procurar o que fica nos altos”.57 De fato, nos primórdios, a abundância do ouro de aluvião e a complexidade e os altos custos da extração do ouro nos veios dos altos dos montes contribuíram para que a extração se concentrasse “nos rios ou em terraços pouco acima do nível dos seus leitos, [onde] não havia problema com o uso da água”. Consoante a realidade das formas de extração aurífera então generalizadamente empregadas, no Regimento dos Superintendentes, de 1702, primeira legislação exarada para regulamentar a mineração local, “não [se] previa nenhuma regulamentação para as águas em terrenos mais elevados”.58 Blem sustenta que, nessas lavras, “se desperdiça muito [ouro], porque como esta separação se executa por mãos de Negros brutos”, ela não era feita adequadamente. De fato, “a escravatura era o alicerce da mineração do ouro”, mas hoje é discutível que tal dependência, como sugerem alguns autores, tenha causado “o atraso tecnológico da mineração no Brasil durante o século
XVIII”.59 Blem conta que “há também nas Minas Gerais montes de Serra, que tem ouro de beta, o qual se poderia separar das pedras por meio do fogo com grande utilidade. Porém como os moradores ignoram este artifício, ficam privados deste lucro”.60 O ouro de beta era o que adentrava mais profundamente na terra, em veios. Apesar de mais duradouro que o de aluvião, por vezes não foi explorado, não por ignorância dos mineiros, ou falta de tecnologia, como quer Blem, mas por iniciativa das próprias autoridades. Assim aconteceu, por exemplo, quando, no início do século XVIII, Jorge Soares de Macedo se ofereceu para examinar tal ocorrência nas Minas de Cataguazes e foi proibido pelo então governador da capitania, cujas ordens foram referendadas pelo Conselho Ultramarino.61 Mas isso ocorreu apenas no início porque, em fins da primeira década do século, “a busca de novas minas chegou às nascentes dos cursos de água e subiu nos morros”. Como consequência natural, a Carta Régia exarada pelo governador de Minas, 299
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o conde de Assumar, em 24 de fevereiro de 1724, conhecida como “Provisão das Águas”, regulamentava a forma de repartição da água pelos guarda-mores, indispensável para a mineração no alto dos morros.62 Grande parte dessa descrição negativa da tecnologia empregada na mineração não correspondia exatamente à realidade,63 mas era resultado de uma visão emboaba das minas, onde os paulistas eram acusados pelos portugueses de todos os problemas e desatinos, constituindo uma “legenda negra”, que começou a ser construída pelos jesuítas e pelos emboabas.64 Consoante essa visão, Blem afirma que a região “é governada por homens que não viram tirar ouro mais que aos paulistas, os quais foram sempre muito ignorantes nesta arte” e devido às técnicas que utilizam “leva a água mais ouro do que se recolhe”. Ele então sugere que esse “dano se poderá reparar se usassem dos vários instrumentos, que os mestres mineiros da Europa inventaram para separar o ouro da serra, porém como aqui há grande vigilância para que não passem estrangeiros a aquele Estado, ficam sempre os seus moradores na ignorância”.65
A despeito dessa visão negativa, D’Anville retirou do texto de Blem várias informações de natureza geográfica: a localização de Vila Rica, das principais vilas e das comarcas da capitania, a distância dessa em relação a São Paulo, Espírito Santo e demais capitanias adjacentes, e a disposição de alguns rios, como um que “corre [na] comarca do rio das Mortes, que depois de passar por vários campos e montes, se vai meter no célebre rio de Paraguai, que forma depois de muito curso o rio da Prata, o qual passa por Buenos Aires e Nova Colônia”.70 A partir dessa informação, no seu mapa, o rio das Mortes — que nasce nas proximidades de Vila Rica — passa pela Vila de São José (hoje Tiradentes) e nas cercanias de São João del Rei, desaguando no rio Grande, um afluente do Paraná, tributário do rio da Prata. Essa conexão de rios explica a insistência de dom Luís de que a ocupação da Colônia do Sacramento, possessão portuguesa estabelecida na foz desse último rio, por forças estrangeiras, poderia pôr a perigo o domínio luso sobre as minas auríferas. Assim, na década de 1740, no contexto da guerra de Jenkins, que opôs espanhóis e ingleses, quando esses últimos despacharam duas expedições (sendo uma delas a do almirante Anson, que passou pelo litoral do Brasil) para invadir possessões de Espanha no além-mar, dom Luís da Cunha temeu que se apoderassem de Buenos Aires. Dali, conjecturou, os ingleses logo seriam donos “do rio da Prata, tomando [depois] Montevidéu, mais ainda do rio Paraguai, e das missões dos jesuítas, de onde irão entestar com os paulistas, tirando deles por meio de suas fazendas o ouro das nossas minas, e por consequência o comércio de nossos mercadores”.71 No entanto, outras apropriações que D’Anville faz do texto de Blem são menos evidentes. Ao falar da descoberta de minas de prata no Rio Grande do Sul, Blem se refere à Companhia de Jesus e utiliza a expressão “a cavalaria PP. da Companhia”,72 a mesma que o geógrafo, pouco depois, utilizou para se referir à presença jesuítica no Paraguai numa carta escrita ao jesuíta Du Halde, coordenador da publicação da monumental obra intitulada Lettres édifiantes.73 A desconfiança em relação aos jesuítas era compartilhada também pelo embaixador, que não se cansou de advertir a Coroa dos excessivos poderes dispostos pela Ordem em Portugal, tema marcante nas suas Instruções políticas. No pensamento de dom Luís, a oposição aos jesuítas deveria se articular a partir de várias razões: na
Entretanto, Blem não compartilha com dom Luís da Cunha da importância da riqueza de Minas Gerais para sustentar a economia luso-brasileira ou de sua centralidade econômica no interior do império. Na verdade, em seu discurso de tom moralista, que se coaduna com o de Nunes Marques Pereira, no Compêndio Narrativo do Peregrino da América (1728),66 ou com o do padre Antonil, em sua Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas (1711),67 ele percebe as riquezas como efêmeras, trazendo mais mal que bem, pela desagregação moral que causam.68 De acordo com essa visão, no final de sua memória escreve que, por conclusão direi que as riquezas do Brasil se devem considerar temporais, e não perpétuas, porque o ouro que estava perto d’água se tem tirado a maior parte, e Na página seguinte, carta com a localização das aldeias de índios e das missões jesuíticas arrasadas, a partir da Carte de l’Amérique de D’Anville.
em poucos anos se acabará de tirar o que fica. Os Diamantes estão acabados; os Topázios são poucos, e de pouco valor; as esmeraldas são falsas; e a prata só aparece de longe. De sorte que podemos dizer, que estas e as outras riquezas do mundo são todas aparentes, e que a maior parte delas só servem de embaraçar aos homens o caminho da salvação, que é a única felicidade que não caduca.69 300
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disputa pelo domínio da cartografia das áreas das missões, nas questões religiosas — por ser favorável à tolerância em relação aos cristãos-novos -, na constituição, pela Companhia, de uma força paralela aos interesses do Estado. Sobre as missões, afirmou: “Estou informado que os jesuítas que governam todas aquelas aldeias não permitem viver nelas algum espanhol; nem obedecem a El Rei, ou ao seu Geral, senão quando querem; e se lhes vão algumas ordens que eles esperam ser contra os seus interesses, fazem conselho e sem as abrirem as lançam no rio.”74 Além disso, em relação à ocupação dos jesuítas nas missões instaladas nas pradarias do extremo sul do Brasil, onde se abatia muito gado para o corte, acusou-os de quererem “ser senhores absolutos de todas aquelas matanças”.75 Após entrar em contato com o padre jesuíta Daubenton, confessor do rei da Espanha, observou ser “raro o jesuíta que não tenha o que eles chamam espírito da Companhia, isto é [o de] contribuir a tudo que direta ou indiretamente pode vir a ser útil à Sociedade [de Jesus]”.76 Intrigante é a informação de que dom Luís da Cunha entregou ao geógrafo francês “uma carta manuscrita traçada por dom António Alv(ar)es da Cunha seu sobrinho”,77 escrita “segundo as noções que uma estada
de muitos anos nessa parte do Brasil [...] lhe permitiu adquirir”.78 António Álvares ou Alves da Cunha, 1º. conde da Cunha, foi governador de Mazagão e Angola (meados de 1750), membro do Conselho Ultramarino, deputado da Junta dos Três Estados (a partir de 1761), vice-rei do Brasil (1763-1767) e presidente do Conselho Ultramarino (1768-1791). Primogênito do seu irmão mais velho, dom Luís da Cunha conquistou-lhe o título, barganhado como recompensa por seus serviços e os de seu pai.79 Todos esses cargos, porém, foram ocupados na segunda metade do século XVIII e, como a Carte de l’Amérique méridionale foi produzida na década de 1740, tal informação aponta para uma passagem do conde pelo Brasil em período anterior à sua estada como vice-rei. É D’Anville quem informa a origem desse documento e a biografia do ofertante, e não se pode duvidar de sua informação, pois, apesar de uma ligeira confusão, parece saber exatamente de quem está falando. Na segunda memória, redigida em 1750, informa que o conde na ocasião era “governador do Mazagão, na costa da África”.80 Alguns anos depois, na memória de 1779, acrescentou a informação biográfica: “atualmente desempenha funções de embaixador junto aos estados Generais das Províncias Unidas”.81 Aí reside pequena
Topo do pico de Itacolomi, em Minas Gerais, por Ernest de Courcy, c.1885. 302
confusão, pois esse a quem ele se referia era o meio-irmão de António Álvares da Cunha, dom José Vasques Álvares da Cunha, sucessor do título. Esse foi ministro plenipotenciário de Portugal nos Países Baixos, de 1766 a 1776, com algumas ausências, preenchidas por Domingos Luís da Costa, agente comercial.82 A estada de António Álvares da Cunha no Brasil pode ter ocorrido quando seu pai e irmão do embaixador, dom João Lourenço da Cunha, que servira na Índia e a caminho do Reino, passou pelo Brasil. Sobre isso, o próprio dom Luís da Cunha dá notícia. Ao sugerir ao rei que se mudasse para o Brasil, o embaixador afirmou que “o lugar mais próprio da sua residência seria a cidade do Rio de Janeiro”, justificando sua escolha pelas informações que seu irmão reunira in loco: “meu irmão dom João, que nela esteve, vindo da Índia, me segurou que era muito saudável e parecido ao nosso”. Entre as vantagens que o embaixador arrola para justificar sua escolha, baseada nas observações do irmão, constava a situação geográfica da cidade, “estando tão próxima das minas de ouro e diamantes”.83 Observa-se assim que dom João trouxera na bagagem notícias sobre o clima e a fertilidade do solo, a posição geográfica da cidade e as distâncias desta às Minas Gerais. É possível que seu filho o acompanhasse na ocasião ou que tenha apenas desenhado o mapa.84 O mapa desenhado então “era uma carta ideal traçada por António Alves da Cunha, seu sobrinho [...] que se estende desde Vila Rica, capital do distrito das Minas do Ouro, até o rio Paraguai”.85 Na coleção de D’Anville, a única carta disponível que corresponde a essa descrição é a Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon, uma cópia feita pelo geógrafo de uma carta portuguesa.86 Esse mapa, como o título ostenta, se estende desde o Maranhão até o extremo sul do Brasil, sendo o único da coleção que retrata a região de Vila Rica. Efetivamente utilizado por D’Anville para traçar a rede urbana de Minas Gerais em torno de Vila Rica, essa carta também serviu ao traçado do rio São Francisco e sua confluência com o rio das Velhas, e também para reforçar o traçado e a ligação entre os rios das Mortes, Grande e Paraná. No catálogo de livros de Louis-Charles-Joseph de Manne,87 constava uma seção de manuscritos e cartas oriundas do gabinete de D’Anville, herdadas desse
geógrafo. Dessa relação, consta uma Nouvelle Relation de la rivière des Amazones, et Description de l’interieur du Brésil qui renferme des mines d’or et des pierres précieuses.88 Trata-se de um documento in-quarto, de 120 folhas, cuja descrição esclarece ser ele um “manuscrito muito interessante composto a partir das memórias particulares fornecidas, em 1729, por M. Couvay, cavaleiro da Ordem de Cristo, a qual fala da missão dos capuchinhos e dos jesuítas daquele país, como da sua linguagem”.89 Conclui-se, portanto, que D’Anville havia redigido um manuscrito a partir das informações de Couvay, tanto no que diz respeito à região das minas de ouro, diamantes e pedras preciosas, quanto à região amazônica. Colocando juntos os mapas e as memórias que dom Luís da Cunha e Couvay lhe forneceram sobre as Minas Gerais, D’Anville foi capaz de situar a posição da capitania em relação às que lhe eram adjacentes. Três mapas manuscritos de sua autoria, a partir de esboços produzidos por Gonçalo Lacerda, consolidam os apontamentos que reuniu, estabelecendo a posição relativa da área mineradora em relação a São Paulo, o que considerava uma das novidades e grandes contribuições de seu mapa. Ele informa que todas essas fontes portuguesas foram utilizadas como base e definiram “a maneira de representar as cercanias de São Paulo, e o intervalo até Vila Rica, [como] [...] coisas novas na Carte de l’Amérique du Sud”.90 303
Mapa manuscrito da região de São Paulo, provavelmente desenhado por António Alves da Cunha.
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efetivar seus constantes deslocamentos pelo território.93 Já a forma que o cartógrafo encontra para hierarquizar os núcleos urbanos, inserindo-os no mundo que os portugueses criaram na América, revela-se na escolha do tamanho e tipo das fontes. Tal escolha, não aleatória, também fazia parte da metodologia gráfica por ele desenvolvida com vistas a criar um espaço cartográfico racionalmente inteligível. Como exemplo, a toponímia Salvador ou Cidade da Bahia (capital) é escrita em maiúsculas, negritada e com uma fonte maior, enquanto a do Rio de Janeiro (cidade) é escrita em negrito e com uma fonte um pouco menor, mas maior que Villa Rica (vila), que também não recebe negrito. Nessa perspectiva, a Carte de la Amérique méridionale de D’Anville desnudava como incontestável a presença portuguesa na área mineradora, pois “há muito tempo que as minas de ouro e diamantes que SMde. gloriosamente possui não dão somente matéria aos discursos mas ainda muito mais à inveja”.94 Dom Luís da Cunha defendia que as negociações entre as duas Coroas deveriam se assentar em bases cartográficas sólidas e, sem escamotear a realidade geográfica, se guiar pelo já acordado em tratados anteriores, respeitando as balizas naturais do terreno e o uti possidetis, que assegurava a posse a quem efetivamente havia colonizado a área disputada. A colonização portuguesa da região mineradora, claramente visível no mapa de D’Anville, tornava inquestionável, aos olhos do embaixador, a manutenção da sua posse.
Enquanto a expedição geodésica de Quito foi fundamental para que pudesse configurar a região amazônica, o Peru, o Panamá e o Chile, o estabelecimento da região mineradora foi devido particularmente aos documentos entregues por dom Luís da Cunha ou, por intermédio desse, por Couvay. Na Carte de l’Amérique méridionale, o grau de detalhamento de informações cartográficas sobre as Minas aponta para a necessidade de garantir sobre elas o domínio da Coroa. Todo um conjunto de informações gráficas desenhadas nessa área — os rios e cadeias de montanhas com seus traçados conhecidos, os caminhos, vilas e pousos estabelecidos pelos portugueses — torna inconteste o fato de que os emboabas haviam ali criado e reproduzido sua civilização. A riqueza de detalhes com que a região foi representada desnuda a centralidade no contexto do império que o embaixador conferia às Minas. Observa-se na Carte de l’Amérique méridionale que, entre os paralelos 10 e 25 sul, a parte leste do rio São Francisco apresenta-se como uma entidade geográfica cujo espaço está palmilhado pela presença portuguesa. Contrasta com a parte a oeste do mesmo rio onde um vazio cartográfico se impõe.91 Assim, na região que corresponde, grosso modo, à capitania de Minas Gerais e seu entorno (Rio de Janeiro, sul da Bahia, São Paulo e Espírito Santo), todo um conjunto de informações gráficas desenhadas no mapa — caminhos tracejados, vilas, arraiais e pousos hierarquizados entre si — são testemunhos da colonização e da penetração dos portugueses, que interiorizaram o povoamento da região sudeste do Brasil para muito além do litoral. É evidente que a porção oeste do São Francisco não constituía um deserto despovoado, ao contrário do que sugere a imagem gráfica de D’Anville. Uma significativa população indígena ocupava as ainda pouco conhecidas extensões do sertão interior. Ao conferir diferentes significados aos espaços socioculturais dentro do mapa, “observa-se que os modos de vida considerados provisórios”, como era o caso dos indígenas, são considerados como exteriores, “quer dizer, sem lastro com o mundo qualificado como civilizado e desenvolvido”.92 Assim, a ausência do colonizador fez com que a geografia dessa região permanecesse oculta, impedindo o geógrafo de inscrevê-la no mapa, ainda que a mesma fosse conhecida pelos indígenas que dela tinham domínio para 304
O Cabo do Norte Em fins do século XVII, os conflitos entre franceses e portugueses se concentraram na região do chamado Cabo do Norte, entre a margem norte do rio Amazonas e o rio de Vicente Pinzón, o que, grosso modo, hoje corresponde ao território do Amapá. O avanço da França nessa região iniciou-se a partir do ano de 1663, quando foi criada a Companhia da França Equinocial, cujo objetivo era estimular a ocupação da região da Guiana, sob a bandeira francesa. Em 1688, “o projeto francês de controlar as terras e o Amazonas foi [finalmente] posto em marcha”.95 Nesse ano, os franceses, comandados por De Ferrolles, ameaçaram o forte de Araguari. “Mas foi só em 1697 que se resolveram a atacar as fortalezas de 305
Ao contrário do que mostra o mapa, a porção oeste do São Francisco não constituía um deserto despovoado. Muitos indígenas ocupavam o sertão.
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Macapá e Parú, que foram destruídas dando início ao conflito luso-francês pela posse da região.”96 Com vistas a resolver o conflito, em 1699, Luís XIV e dom Pedro II assinaram um acordo de limites relativo às possessões das duas Coroas na Amazônia. O acordo havia sido negociado pelo segundo marquês de Cascais, embaixador extraordinário na corte francesa. Em novembro do mesmo ano, foi nomeada uma comissão portuguesa para determinar os limites da Guiana francesa e, a 4 de março do ano seguinte, assinado o Tratado Provisório.97 Nesse tratado, os portugueses comprometeram-se a evacuar e demolir os fortes construídos ao norte do rio Amazonas, como o Araguari, Camaí, e especialmente o de Macapá (ou Massapá). Na Carte particuliere du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon, de 1729, desenhada por D’Anville a partir de esboço do padre jesuíta Ignácio Reis, observam-se os fortes portugueses da região, sendo que alguns por essa época ainda permaneciam em ruínas, como o forte do Desterro ou o do Exílio.98 Por seu turno, “a França se comprometeu a provisoriamente não fazer nenhum estabelecimento na margem norte do rio e a considerar as terras situadas entre Macapá e o rio Iapoc (Oiapoque) ou Vicente Pinzón a ser regulado posteriormente”.99 A posição portuguesa no conflito foi a de que a eles pertencia, por direito, todas as terras do Cabo Norte, situadas entre o Amazonas e o rio de Vicente Pinzón, que entendem ser o mesmo que o Oiapoque. Aos franceses caberia apenas o território ao norte do Oiapoque. Esses, por seu turno, arguiam a dificuldade de identificar exatamente tais rios.100 Uma das cópias da Carte de l’Amérique méridionale apresenta exatamente essa questão. Onde se localizaria o rio de Vicente Pinzón e sua foz? Nela D’Anville grafou, em vermelho, três possíveis localizações para a baía desse rio que trariam impacto na demarcação da fronteira entre as duas Coroas. Na primeira delas, escolhida como marco divisório no mapa impresso, o Cabo do Norte seria o lugar da baía de Vicente Pinzón ou Calcuene; na segunda, o rio Arawari é identificado como o Pinzón, deslocando os limites um pouco mais para o norte; na terceira, o rio Oiapoque e Pinzón são coincidentes e a baía estaria localizada na sua foz. A primeira opção foi a utilizada na versão impressa do mapa, mas as duas outras, se adotadas, implicariam perdas de território mais pesadas para os franceses.
A escolha do tamanho e tipo das fontes fazia parte da metodologia gráfica desenvolvida por D'Anville a fim de criar um espaço cartográfico inteligível.
Resposta ao embaixador da França sobre a posse do Cabo do Norte, por Roque Monteiro Paim, por ocasião da invasão do Rio de Janeiro em 1711. 306
A 18 de junho de 1699, França e Portugal assinaram um tratado de amizade e aliança. Porém essa aproximação entre os dois países não foi duradoura. No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1700-1713), novas hostilidades se iniciaram a partir de 1704, visto que, nesse ano, Portugal abandonou a política de neutralidade na qual se mantivera até então e assumiu a defesa da posição inglesa. A guerra, que acabou por envolver quase todas as nações da Europa Ocidental, teve reverberações significativas na América, pois o campo de batalha entre portugueses, franceses e espanhóis não se limitou à Europa. Além das duas invasões de piratas franceses no Rio de Janeiro, a França passou a questionar os limites das suas possessões na região amazônica, nas fronteiras entre o Brasil e a Guiana. Em janeiro de 1712, abriram-se os trabalhos em Utrecht com vistas a superar diversos impasses ocorridos durante o conflito; e em setembro, dom Luís da Cunha recebeu ordens de se apresentar nos Países Baixos, onde foi nomeado segundo plenipotenciário, sendo o conde de Tarouca o primeiro plenipotenciário. Dom Luís então deixou Paris, onde se encontrava provisoriamente à espera de instruções. De lá, enviou ao embaixador José da Cunha Brochado, seu substituto na Inglaterra, um resumo das questões a serem negociadas com os franceses. “O ponto principal é que a ribanceira dos Amazonas, da parte norte, nos fique livremente com a entrada desde o cabo” de Vicente Pinzón.101 Ainda que um mapa anônimo francês, do início do século XVIII, projetasse a linha de Tordesilhas logo a oeste da foz do rio Amazonas, tirando de Portugal o direito à calha do rio, desde os tratados estabelecidos com a França em fins do século anterior, Portugal considerava que tinha assegurado seu direito sobre esses territórios. Como consequência, a posição que os dois embaixadores deveriam sustentar em Utrecht era basicamente se aterem ao já acordado entre as duas nações. Apesar de dom Luís da Cunha afirmar na missiva, “não me lembro agora a demarcação que mais nos convinha para fazer nossa a ribeira de uma e outra parte”, o importante era que se garantisse o “direito de edificar, fortificar, e levantar os antigos fortes que demolimos, que esta foi a maior pedra de escândalo”. Como referido nos tratados até então estabelecidos, portugueses e franceses tinham ficado de regular posteriormente os terrenos entre o Oiapoque e o rio Vicente Pinzón e o embaixador acreditava que essas
Acima na Carte particulière du cours de la rivière des Amazones observam-se os fortes portugueses do Paru e do Desterro ou do Exílio, demolido. Abaixo, três possíveis localizações para o rio de Vicente Pinzón.
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Detalhe do mapa com as desembocaduras do rio Amazonas e margens vizinhas, por D’Anville.
“largas terras de que nós e os franceses nos abstivemos, não são de grande utilidade e assim não farão eles grande força em cedê-las”. A posição dos portugueses era de que os limites deveriam ser estabelecidos exatamente no rio de Vicente Pinzón, que para eles coincidiria com o chamado rio Oiapoque. O embaixador avaliava que conseguir essas terras não seria difícil, já mantê-las era outro caso, pois “o ponto é que saibamos guardá-las e usar delas ao mesmo tempo em que deixamos incultas e sem uso as imensas terras do Grão-Pará”.102 Assim, chamava a atenção para o fato de que pouco adiantava apenas a posse, pois essa sempre seria precária e passível de ser contestada se as terras não fossem efetivamente colonizadas. Essa sua observação é mais uma demonstração de que, à medida que o embaixador encaminhava as sucessivas negociações portuguesas, ao longo da primeira metade do século tornava-se mais claro, em sua concepção geopolítica sobre a América, a importância da colonização dos territórios pretendidos. De fato, os dois embaixadores em Utrecht já previam as imensas dificuldades que os portugueses enfrentariam para colonizar a região: “Jesus que grande negócio era esse para nós103 — exclamava cerca de dois anos mais tarde Tarouca,
criticando a inércia em restaurar os fortes de Araguari e Camaú nas terras do Cabo do Norte, o que poderia levar a que os franceses levantassem de novo dificuldades” na efetiva posse dos portugueses sobre o território.104 Se essas terras não pareciam ao embaixador de muita valia para os franceses, o acesso à navegação do rio era outra história. As negociações versavam não apenas sobre as possessões territoriais, mas também sobre o direito de comércio na região, para o qual a abertura da navegação do rio e seus tributários era essencial. Dom Luís contou que em Utrecht “estão dois franceses que vêm para regular o comércio e que são mais especulativos que práticos, [...] e não duvido que estejam intentados da navegação das Amazonas pela leitura de 4 livros de viagens, porque hoje as vizinhanças do Brasil são todo o estudo de França e de toda a Europa”.105 Desse modo, salientava a falta de conhecimento do território por parte dos negociadores franceses, cujas informações provinham, acreditava, de apenas quatro livros de viagem, e mais uma vez chamava a atenção para o interesse que o Brasil despertava nas cortes europeias. As negociações com os franceses a respeito do Maranhão foram entabuladas em Utrecht a partir do início 308
ministério, nem o ministério estrangeiro nessa Corte. Todos e em todos os dias falam e são respondidos e não adiantam nada, como mula de Atafona”.113 Essa metáfora — a mula de Atafona — utilizada pelo embaixador ilustrava bem o que acontecia no reino, onde inúmeros centros de poder dificultavam a tomada de decisões. Atafona é um moinho de água utilizado desde a antiguidade, puxado por uma mula que anda o dia inteiro em círculos. Seu interlocutor nessa carta era, como ele, um ácido crítico da política interna para quem “tudo nasce dos poucos homens que El-rei tem em seu serviço, quero dizer, que ninguém sabe fazer a sua obrigação por não haver disciplina nem doutrina, nem escola; não sabemos mandar, nem sabemos obedecer”.114 A grande dificuldade, que desde cedo se impôs para estabelecer os limites do território a ser devolvido, foi a falta de mapas da área. Quando o congresso começou, dom Luís angustiou-se com o fato de que o conde de Tarouca, que vinha munido das instruções para nortear a posição portuguesa, chegara “sem uma boa carta daquele estado [do Maranhão], nem tampouco da parte do rio da Prata, com a explicação das terras que SMde. ali pretende”. Desolado, confessou que “sempre imaginei que o Conde de Tarouca vinha provido de todos estes documentos, pois as promessas dos tratados têm mais força quando são assistidas da mesma justiça”.115 Por justiça, o embaixador se referia a qualquer documento — mapa, tratado, relação — que justificasse a posse histórica de um território e a injusta ocupação do mesmo pela potência inimiga. Mapas começavam a ser utilizados, de forma cada vez mais sistemática, para justificar e definir as fronteiras negociadas entre nações rivais. De fato, dom Luís salienta que as poucas instruções vindas do reino, para piorar as coisas, eram confusas, pois os instruíam a reafirmar acordos contraditórios no que dizia respeito à abertura ou não da navegação do Amazonas aos estrangeiros. A falta ou a imprecisão das ordens forçaram dom Luís da Cunha e o conde de Tarouca a agir com certa liberdade em relação a esse ponto. Percebendo que seria impossível conciliar a confirmação do antigo tratado com a proibição do comércio francês no rio Amazonas, resolveram se ater ao segundo ponto, que lhes parecia mais importante, pois “se pedíssemos a confirmação do tal tratado não tínhamos ação para exigir a diferença do dito comércio e procurar esta com a revogação do mesmo tratado era contra a
de 1713 e, como previra o embaixador, desenrolaram-se de forma relativamente rápida e eficiente, muito diferente do que viria a acontecer com as negociações com os espanhóis. Os três pontos discutidos entre os representantes das duas Coroas versaram sobre “[a França] ceder o direito que queria ter sobre as terras do Cabo do Norte e que desistisse da navegação do rio das Amazonas com a qual em último lugar queria ficar, ainda consentindo em não usar da sua entrada” na foz do rio.106 Em janeiro, Tarouca e dom Luís se reuniram com os representantes da Inglaterra, sob a batuta do conde de Stratford, “que prometera [que] o Tratado Provisional sobre as terras do Maranhão ficaria decisivo”, comprometendo-se também a servir de mediador na negociação com a França.107 Apesar dessas promessas, os dois temeram “que a preço do novo armistício, [os ingleses] quisessem lograr a permissão de navegar no rio das Amazonas”.108 Para dom Luís, a questão mais espinhosa e que os franceses “procuram com ardente desejo” era “que ficasse livre [...] a entrada e navegação do rio das Amazonas”.109 Os dois embaixadores portugueses então passaram a pressionar os ingleses que, “tendo feito até então mais ofício de mediadores que de bons aliados [...] deviam empenhar-se nesse negócio por nos haverem prometido a restituição das ditas terras”.110 Foi nesse ponto, que os portugueses se impressionaram de como eram meticulosas as instruções que os embaixadores franceses haviam recebido, bem diferentes das que possuíam os dois portugueses, cujas ordens eram genéricas e ambíguas. Como documentação de apoio às suas reivindicações, os dois não dispunham mais do que de uma cópia do Tratado Provisional do início do século, apesar de que vinham, já havia algum tempo, insistentemente, pedindo instruções e mapas que pudessem nortear a sua atuação. Cartas iam e vinham, mas queixava-se dom Luís ao secretário de Estado: “daí não veio documento algum mais que o Tratado Provisional”.111 Ele esperava que José da Cunha Brochado, que já cuidara de negociações com os franceses em 1710, tivesse em seu poder algum documento ou mapa que os pudesse guiar, pois não tinham recebido do reino nenhuma instrução ou documentos a respeito do Maranhão.112 Exasperado com a falta de rumo no reino em estabelecer uma política clara pela qual eles pudessem se orientar, escreveu a Brochado queixando-se da secretaria de Estado, pois não compreendia “este 309
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quarto” do terreno em disputa.121 Ainda que, como veremos, os portugueses tenham vencido a “guerra” com os franceses em Utrecht, disputada mais no campo da diplomacia do que no da cartografia, essa foi uma lição que dom Luís da Cunha levou por toda a vida. A partir daí, advogou incessantemente o uso de mapas para guiar as negociações, insistindo na importância dos mesmos como instrumentos diplomáticos e reiterando a necessidade de Portugal produzir uma cartografia precisa da América para municiar e justificar seus pleitos. Para ele, a centralidade do Brasil para o império e a necessidade de definir com precisão suas fronteiras, garantindo assim a soberania portuguesa na América, marcariam o século XVIII. Ou seja, a guerra continuaria a ser travada nos congressos de paz, e os mapas seriam armas poderosas de convencimento e persuasão. Apesar da aparente desvantagem, sem mapa algum da região, os representantes portugueses se apegaram aos tratados anteriores. Essa era outra das máximas de dom Luís: o respeito ao que tivesse sido anteriormente acordado. Apesar de advogar que antigos tratados eram poderosos instrumentos de negociação, pois historicamente ancoravam os argumentos pretendidos, sabia que eram sempre provisórios e respeitados ou desrespeitados conforme a conjuntura do momento. Quanto à navegação do rio Amazonas, os representantes portugueses garantiram que estava vedada aos franceses havia muito tempo, porque o rio ficava abaixo da linha divisória estabelecida pelas duas nações, cujo marco era o rio de Vicente Pinzón. Apresentaram então uns “papéis que achamos em poder de José da Cunha Brochado”, já apresentados em 1710 por esse embaixador aos franceses em Haia. Neles se provava que “a patente que o cardeal de Richelieu acordou com a Companhia, chamada do Cabo do Norte, se disse que ela era contra producente, pois lhe não dava permissão de negociar mais que de 3 graus e 3 quartos até 4 graus e 3 quartos e que o rio de Vicente Pinson ficava em 3 graus exatos e se disse também que, nesta forma, assim como lhe não disputávamos a posse daquela demarcação, assim pretendíamos que o dito rio fosse o limite dos dois domínios”.122 O tiro saiu pela culatra. Basear-se nessas medidas em graus sem dispor de um mapa confiável acabou sendo um argumento que se voltou contra as pretensões portuguesas. Não sem razão, dom Luís queixou-se com o cardeal da Cunha que “nós nos achamos sem uma boa
instrução”. A solução do impasse veio quando eles perceberam, logo na primeira conferência, “que os franceses em nenhum modo quereriam confirmar o dito tratado, por começar por uma aliança ofensiva contra Castela, nem tampouco revogá-lo”. Foi então, informa, que “ousamos oferecer-lhe a alternativa para nos responderem como fizeram que se não falasse no dito tratado e nestas circunstâncias ficamos livres”.116 Uma certa liberalidade por parte dos embaixadores era esperada nas negociações, principalmente num momento em que as comunicações entre as cortes eram lentas e custosas. Jean-Baptiste Colbert de Torcy, ministro de Estado da França, foi informado pelo embaixador francês em Utrecht, que “o bravo Tarouca disse que a distância de Portugal e a incertitude dos ventos para ali fazerem passar um expresso o fazem tomar para si de resolver as demandas de sua corte”.117 Por ser a liberalidade inerente ao posto de embaixador, dom Luís da Cunha insistia que dois importantes pré-requisitos para a escolha de um diplomata eram a sua habilidade ou inteligência e a sua probidade.118 O conde de Tarouca e dom Luís da Cunha experimentaram tanta liberdade de manobra em Utrecht que, em dado momento, o conde apresentou na mesa de negociação “um papel em branco que seu mestre lhe enviara para tomar a resolução que ele considerasse apropriada a seu serviço”.119 Bem ao contrário, as instruções dos franceses deixaram dom Luís da Cunha e Tarouca “admirados [com] a miudeza delas e os documentos e mapas com que vinham autorizadas”.120 Ou seja, a realidade dos plenipotenciários franceses era bem diferente daquela primeira impressão de dom Luís. Não eram homens sem prática, baseando-se apenas em quatro relatos de viagem. De fato, num curto espaço de tempo, entre dezembro de 1712 e fevereiro de 1713, os franceses haviam se munido de cartas e documentos para sustentar suas posições frente aos portugueses, o que permitiu que insistissem no primado da cartografia para configurar o território situado entre o Amazonas e o Oiapoque, já que só eles possuíam esses mapas. Como relataram a seu rei, Luís XIV, “nós sobrepusemos as cartas, nós medimos o terreno”. Apesar dessa vantagem inicial, os termos acordados foram mais favoráveis aos interesses de Portugal e os plenipotenciários da França tiveram que se justificar a seu rei porque não conseguiram demover os portugueses que “não quiseram jamais ceder que um 310
Cours du Maragnon ou du fleuve des Amazones do padre Fritz, c.1700, primeiro a representar o rio com acuidade.
carta daquele estado”.123 Os franceses possuíam, entre tantos outros mapas, um que mostrava que o rio Pinzón se encontrava posicionado, segundo essas medidas, nas possessões francesas. Como relata dom Luís, isso “lhes deu um novo argumento para pretender a posse de parte daquelas terras, que segundo a demarcação da sua carta correm desde 3 graus e 3 quartos até o rio de Vicente Pinzón”.124 Quanto aos portugueses, dom Luís confessou, “não tínhamos algum documento por onde possamos mostrar que a nossa posse daquela banda vai sempre seguindo o curso do rio”.125 Os únicos recursos de que dispunham eram a astúcia diplomática126 e o expediente de pressionar os ingleses seus aliados para que arrancassem dos franceses o que pretendiam.127 Usaram sabiamente o artifício de tratar primeiro da regulação dos limites de cada Coroa, que os franceses estavam mais predispostos a aceitar, para depois abordar a questão da navegação do rio Amazonas. Para tanto, convenceram os representantes ingleses de que “a liberdade da navegação do rio que pretendiam os franceses seria mui prejudicial ao comércio de Inglaterra”. Conseguiram então arrancar uma promessa e, por ordem da própria rainha,128 os ingleses
encarregados de conduzir os trabalhos “disseram que primeiro cuidássemos em regrar a dita divisão e ao depois trataríamos da outra dependência”.129 A estratégia de primeiro negociar o território, sem recorrer a expedições de limites, como ocorrera no tratado anterior, revelou-se boa, pois, conforme dom Luís avaliou, não encontrou grande resistência da parte francesa. Assim redigiram “o projeto do tratado que entregamos aos ingleses para que o pusessem na mão dos franceses como fizeram”. Ficaram então aguardando e, segundo dom Luís, “posto que até agora nos não tenham respondido ouvimos que só dificultam o artigo no qual el rei de França deve confessar que as duas margens do rio Amazonas indefinidamente nos devem pertencer querendo que o nosso domínio não se estenda da parte setentrional mais que desde a entrada do dito rio até donde tínhamos o último forte”.130 Conforme haviam prometido, os ingleses de fato apresentaram a Luís XIV um ultimatum, o qual foi fundamental para que a solução do conflito se desse de forma rápida e favorável às pretensões portuguesas. Nesse ultimato, a rainha da Inglaterra declarava que “sem essas condições não haveria paz”, que a proposição dos 311
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Na página seguinte, Alegoria da Paz de Utrecht na ocasião em que foi assinado um dos tratados, em 1713.
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franceses era inaceitável e que eles deveriam recuar “da pretensão de entrar pelo rio das Amazonas, sem ter mais liberdade ou posse do que tinham de antes. [E] Que as terras de uma e outra parte do rio ficariam pertencendo a Portugal e poderíamos conservar as terras da disputa e levantar os fortes que foram demolidos”.131 Em março, dom Luís da Cunha escreveu triunfante ao reino que “às sobreditas pretensões acordou el rei de França e os ministros ingleses nos diziam que nos vinham dar aquela notícia tão prontamente”.132 Dessa forma em relação à questão da navegação do Amazonas e, apesar da resistência dos oponentes, conseguiu-se vedar aos franceses a navegação não só do seu curso, como também dos portos de entrada do rio. Segundo o embaixador, o objetivo desses em manter aberta a navegação do Amazonas era tirar pelo mesmo rio a prata do Peru.133 Ele advogava esse privilégio para os portugueses, pois “o comércio por este rio [...] era fácil, chegando as tropas portuguesas até o Quito e vizinhança do mar do Sul [oceano Pacífico].134 Ele julgava “de suma importância ter esta porta franqueada no Peru” e rogava que “praza a Deus que saibamos fazer delas, o uso que os franceses intentavam, [que] muitas vezes me disseram que era de negociarem com o Peru até onde a dita ribeira tem o seu nascimento”.135 Anos mais tarde, dom Luís contou a Marco António de Azevedo que o argumento utilizado para vedar o rio Amazonas aos franceses “e nos ganhou a causa no congresso de Utrecht” havia sido um “projeto do padre Acuña sobre a navegação do rio das Amazonas”. O papel, que “ficou nas mãos do conde de Tarouca”, tinha sido enviado por José da Cunha Brochado.136 O padre Cristóbal de Acuña, jesuíta do Colégio de Cuenca, havia sido encarregado de acompanhar a expedição pelo rio Amazonas comandada por Pedro Teixeira,137 entre 1636 e 1638, com cerca de mil membros, até as cabeceiras do Peru, chegando a Quito, e depois retornando a Belém. O relato intitulado Relación del Descubrimiento del rio de las Amazonas foi publicado pelo padre, em 1641.138 A expedição fazia parte, no contexto da União Ibérica, de um conjunto de iniciativas tomadas pelo governador do Grão-Pará, que almejava garantir a posse da região amazônica para os portugueses, neutralizando os invasores holandeses e franceses e delimitando as fronteiras com os espanhóis. Segundo dom Luís, a realização da expedição sustentava-se na ideia de “que el rei de Espanha se devia
amparar do Maranhão e fazer descer pelo dito rio toda a prata do Peru para ali embarcar sem risco”. Assim, por esse mesmo princípio, “no nosso tratado ficou proibida aos franceses a navegação do dito rio e se nos cederam as suas duas margens indefinidamente afim que não pudessem tirar pelo mesmo rio a prata do Peru”.139 Os dois diplomatas sustentaram então que era de “suma importância ter esta porta franqueada no Peru o qual o rei de França [acabou por reconhecer] que nos toca e lha fechamos”.140 Novo acordo provisional foi assinado então entre as duas partes em Utrecht a 11 de abril de 1713. Por ele, “tudo se conseguiu”, festejava dom Luís da Cunha: “SMde. fica senhor não só das terras do Cabo do Norte, mas também das duas margens do rio Amazonas, indefinidamente”.141 Pelo artigo 12, “fica excluído para todos os franceses o comércio do Maranhão”. Segundo o “artigo 5, o comércio se abrirá [apenas] no continente das duas Coroas, como se fazia antes”, ainda que o artigo 7 definisse que “os franceses podem entrar nos portos onde costumavam entrar antes da guerra”. Dom Luís afirmava que isso não seria problema, era pura retórica, pois que “não me lembre que jamais fossem ao Brasil”.142 Chama a atenção para o fato de que ele e Tarouca conseguiram muito mais do que lhes fora ordenado, pois “não se esperavam dantes mais que aquelas [terras] em se achavam os fortes de Araguari e Camaú, mas agora nos ficam cedidas, sem alguma limitação, antes com grande aumento, de nos darem em propriedade toda a margem setentrional do rio das Amazonas”.143 Considerava que “se os franceses intentarem em ir ao Brasil, na forma em que o podem fazer os ingleses e holandeses, não se poderão servir do tratado de Utrecht”. Aliviado, em maio escreveu ao cardeal da Cunha que “tenha VExa. muitas boas festas e segura paz com a França, de que este correio leva o Tratado”.144 A Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, ainda que não recue os limites até o rio Oiapoque, expressa com bastante clareza a geopolítica de dom Luís da Cunha para a área que não conferia muito valor às ditas terras, mas sim à garantia de navegação do rio. A linha divisória, estabelecida pela utilização do Cabo do Norte como baliza geográfica, inicialmente corre paralela e depois ascende em relação à calha do rio Amazonas, a uma distância razoável, garantindo aos portugueses não só a soberania sobre as duas margens, como o monopólio 312
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da sua navegação, assegurando-lhe o direito de reconstruir os fortes demolidos ou abandonados no início do século XVIII.
A Colônia do Sacramento No Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, fundos, baixos, alturas e derrotas que há na Costa do Brasil, de Luís Teixeira, produzido por volta de 1585, não se observa qualquer vestígio da presença portuguesa na foz do rio da Prata, aparecendo somente a fortaleza espanhola de Buenos Aires. Esse panorama, no entanto, modifica-se durante o reinado de dom Pedro II no ano de 1680, quando foi fundada a Colônia do Sacramento, estabelecida por uma expedição portuguesa capitaneada por dom Manoel Lobo, então governador do Rio de Janeiro. Nessa ocasião, ali aportaram cinco navios, com cerca de 440 pessoas que, desde o início, tinham intenções expansionistas e para lá se dirigiram com o objetivo de assentar um povoamento duradouro.145 Primeiro enclave português situado no rio da Prata, na margem setentrional do rio, oposta a Buenos Aires, a fundação da Colônia foi de interesse vital para a Coroa, pois era local estratégico para que Portugal pudesse usufruir do contrabando da prata explorada pelos espanhóis na área andina.146 Sua fundação teve como objetivo imediato facilitar o acesso dos comerciantes portugueses, principalmente os do Rio de Janeiro, ao comércio com as possessões espanholas, cujo saldo era recebido em prata.147 A Colônia provocou reação imediata da parte de Espanha e, poucos meses depois, foi invadida e destruída por uma expedição enviada pelo governador de Buenos Aires. O governador dom José Garro reuniu “um exército de 250 espanhóis e 3.000 índios das missões jesuíticas do Paraná e Uruguai e, na madrugada de 6 para 7 de Agosto de 1680, fez tomar de assalto a Colônia, aniquilando parte da guarnição (houve cerca de 120 mortos)”.148 Em 1681, por tratado provisional assinado entre Portugal e Espanha, o território da Colônia foi devolvido aos portugueses, que trataram de enviar nova expedição para restaurar a fortaleza e repovoá-la. Esse tratado, que tinha sido “celebrado em 1º. de maio de 1681 entre o sr. rei dom Pedro, de gloriosa memória, e Carlos 2º. rei de Castela”, definia que as possessões das duas Coroas 314
Planta topográfica da praça da Nova Colônia de Sacramento, por José da Silva Pais, 1736.
na região do rio da Prata respeitariam o princípio de al presente la tiene, “desta forma ficou estabelecido que a Colônia do Sacramento ficasse pertencendo à Coroa portuguesa”.149 Ao receberem de volta o território, os portugueses reconstruíram o sítio destruído. A colonização da área, que na primeira ocupação se restringira à fortaleza, na década de 1690 começou a se expandir para fora do bastião, constituindo um cinturão agrícola para sustentar os moradores. No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola, em 1705 a Espanha expulsou novamente as tropas portuguesas ali aquarteladas. No Congresso de Utrecht, depois de negociar as questões que envolviam a região amazônica com os franceses, foi a vez de os representantes portugueses se sentarem com os espanhóis. A discussão versou não só sobre a devolução da Colônia do Sacramento, como também sobre a restituição de dois navios portugueses que haviam sido presos em Buenos Aires, sob a acusação de contrabando. Dom Luís da Cunha queixou-se também da brevidade das 315
Na página anterior, o mapa das capitanias hereditárias, de Luís Teixeira em Roteiro de todos os sinaes, conhecimentos, fundos, baixos, alturas e derrotas, que ha na Costa do Brasil, desde cabo de Santo Agostinho até o estreito de Fernão de Magalhães (c.1585-1590).
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como mediadores, as discussões foram custosas e demoradas. Para dom Luís da Cunha, a restituição da Colônia do Sacramento e a cessão, por parte da Espanha, das terras em seu entorno se justificavam, não “por ambição de lucro”, mas “somente para a segurança daquele estado, em que os nossos aliados deviam estar sempre em grande cuidado e atenção”. Segundo ele, era evidente “que tínhamos naquelas regiões mais terras do que podíamos povoar”.152 Mencionou-se então, pela primeira vez, trocar com os espanhóis o território da Colônia por um equivalente de terras. Dom Luís da Cunha discutiu essa questão intensamente com os embaixadores de Espanha, durante o ano de 1713. Mas, por essa época, assumiu uma posição ambígua em relação à questão, afirmando que não saberia precisar a justa equivalência, que não tinha instruções sobre o assunto e que não se atrevia a propor nada sem ordens expressas do rei.153 Para ganhar tempo, pois os ingleses pressionavam para que um acordo fosse assinado, quando finalmente as ordens chegaram, dom Luís alegou que não dispunha das cifras necessárias para decodificá-las.154 Apesar dessas evasivas, confessou mais tarde que “as ordens que em Utrecht tivemos [foram] para não admitir algum equivalente pela dita Colônia que não fosse em Europa”.155 A rainha da Inglaterra, que intermediava as negociações, pressionava para que Portugal aceitasse um equivalente na América e desistisse das pretensões na Europa, a que o embaixador contra-argumentou que “fica mui caro o que interessamos no Brasil pelo que deixamos de adquirir nessas fronteiras” com a Espanha.156 Sugeriu ao conde de Tarouca que “outro meio havia ainda que poderia conseguir o domínio destas duas praças [Albuquerque e Puebla]”, reivindicadas por Portugal na fronteira com a Espanha, admitindo ainda “fazer um pouco de fingimento (sem o qual não se costuma negociar)”.157 O embaixador revela nesse trecho um aspecto importante das estratégias de negociação diplomática, qual seja, o de usar, sempre que necessário, de artifícios falsos para ludibriar os adversários. Mas, nesse caso, apesar dos esforços dos dois plenipotenciários, as negociações acabaram efetivamente tendendo não para a troca, mas para a devolução do território aos portugueses.158 Uma segunda restituição da Colônia a Portugal foi então acordada no Tratado de Utrecht, finalmente assinado, entre Portugal e Espanha, a 6 de fevereiro de 1715. Pelo texto, ficou decidido “que as raias, e limites das
Este documento, guardado por dom Luís durante toda sua vida, foi escrito pelo ministro dos negócios exteriores, Diogo de Mendonça Corte Real, e descrevia as negociações sobre a Colônia de Sacramento entre Portugal e Espanha.
instruções recebidas a esse respeito, que praticamente se resumiam a uma cópia do Tratado Provisional de 1681, e da falta de mapas em que se basear para delimitar claramente os limites da Colônia. Pediu então que o cosmógrafo-mor, Manoel Pimentel, fosse consultado.150 A resposta do rei, após consultar o cosmógrafo, foi de que a Colônia não era de importância alguma a Portugal e de muita para meus reais interesses, mas o que conviria mais a esse reino [é que] se formasse outra colônia no território português para resguardar sua própria jurisdição do que expor-se a novas contingências.151
Interessante observar que ficamos sabendo dessa resolução por intermédio do embaixador espanhol em Lisboa, pois, como se sabe, a atividade diplomática conjugava-se com uma boa dose de espionagem de parte a parte, e dessa maneira o seu representante informava às autoridades na Espanha os bastidores da negociação em Portugal. Os termos do tratado que luso-espanhóis negociavam em Utrecht iam e vinham e, tendo os ingleses 316
duas monarquias fiquem no mesmo estado que antes da presente guerra” e que, “especialmente, se restituirão à Coroa de Portugal o Castelo de Noudar com o seu distrito, a Ínsua do Verdoejo, e o Território, e Colônia do Sacramento”.159 A expressão al presente la tiene, que constara do Tratado Provisional, gerou muitas controvérsias ao longo das negociações em Utrecht. Afinal, quais eram as terras que os portugueses ocupavam na ocasião? Os espanhóis insistiam que o território da Colônia a ser restituído aos portugueses deveria se limitar ao que eles possuíam até a assinatura do Tratado Provisional, em 1681, o que praticamente correspondia à fortaleza então existente. Os portugueses achavam que, pelo Tratado de Tordesilhas, tinham direito a toda a margem setentrional do rio da Prata. Consoante às intenções expansionistas na área, as instruções que Tarouca e dom Luís receberam em Utrecht questionavam “se podíamos meter o Artigo da restituição da Colônia, tirando-lhe a cláusula como al presente la tiene que se achou no Tratado Provisional”, dada a diferença com que a expressão era interpretada pelas duas partes.160 Dispondo de certa independência para manobrar a negociação, os dois embaixadores se regozijaram de que “também é de consequência o que logramos sobre a Colônia, pois há tempos trazemos premeditado que se não falasse na Colônia, sem dizer juntamente o território, e com efeito fizemos um plural, como, por exemplo, quando dizemos no artigo 6º: ‘Que o território e Colônia fiquem compreendidos’”.161 Foi a partir dessa liberalidade que dom Luís e Tarouca, “tiraram a cláusula de como al presente la tiene, que VMde recomendou” e incluíram o termo Colônia e território, uma criação dos dois, “porque [...] o metemos no Tratado da Paz, sem que para isso tivéssemos ordem”. O que isso significava e quais as consequências que uma simples mudança de termos poderia acarretar? Com isso, os dois embaixadores esperavam provar “que a restituição e cessão del rei de Castela contém as duas coisas, não só a Colônia, mas [o] território que lhe pertence”.162 Desta forma, especificamente em relação à Colônia, o Tratado de Utrecht, assinado entre Espanha e Portugal, em 1715, declarava que
Planta da fortaleza de São Gabriel, na Colônia de Sacramento, abrangendo o litoral do Uruguai até Maldonado e o rio da Prata. mas cederá assim em seu nome, como de todos os seus descendentes, sucessores, e herdeiros, de toda a ação, e direito, que pretendia ter ao dito Território e Colônia, fazendo a desistência pelos termos mais fortes, como se elas aqui fossem declaradas, para que o dito Território, e Colônia fiquem compreendidos nos domínios da Coroa de Portugal. (art.14).163
Inicialmente, os dois plenipotenciários se regozijaram com os termos do acordo, pois “nos pareceu que ganhamos muito nesta paz”.164 Isso porque, ambos sabiam, os portugueses tinham projetos expansionistas para toda a margem do Prata, especialmente em Montevidéu165 e na ponta de Maldonado,166 e os termos genéricos poderiam abarcar toda a margem setentrional do rio da Prata. Porém, o mais certo é que a expressão havia sido cuidadosamente escolhida pelos embaixadores devido à dificuldade em definir em termos mais precisos o território pretendido. Conforme dom Luís reclamava, à medida que se aproximavam as negociações, “nos acharemos mui
Sua Majestade Católica não somente restituirá o território, e Colônia do Sacramento, sita na margem setentrional do rio da Prata, a Sua Majestade Portuguesa; 317
Nas páginas seguintes, a praça da Colônia do Sacramento no rio da Prata, à esquerda, em mapa iconográfico de 1776; e à direita, em planta da época sob o domínio espanhol em 1777.
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embaraçados por falta de explicação no que pertence às terras boreais do Rio da Prata, as quais, de acordo com o Tratado de cessão de Carlos III, deviam dar-se a esta Coroa, porque se diz que as terras da margem daquele rio servia de limite entre as duas monarquias; porém não se explica quais hão de ser as terras e que extensão hão de ter”.167 Ou seja: a falta de mapas adequados impediu que se estabelecesse um texto que precisasse com mais clareza os limites negociados. De fato, dom Luís da Cunha comentou: “já que por afora se não podia assinalar um distrito, no tempo adiante se virá a regular a demarcação, para o que fica feito este ato solene de cessão”. O acordo, acreditava, não deixava “dúvida na propriedade [portuguesa], mas somente nos limites” do território.168 Logo depois de assinado o Tratado de Utrecht, a proposta de trocar a Colônia com os espanhóis por um equivalente - fosse na Europa, fosse na própria América - voltou à mesa de negociações, pois o texto acordado também estabelecia uma cláusula prevendo que uma oferta poderia ser oferecida pelo rei espanhol
com prazo determinado de um ano. Ainda em 1715, dom Luís comunicou ao reino que, como era de desejo dos portugueses, de fato, “os espanhóis oferecem Albuquerque com seu território e a Puebla com seu território como equivalente pela Colônia do Sacramento”, ficando então à espera da decisão portuguesa. Segundo a opinião do conde de Tarouca, era provável que o rei aceitasse a oferta,169 porém tal troca não se efetivou. Ao longo de todo o ano de 1716, o embaixador espanhol em Lisboa negociou diretamente com Diogo de Mendonça, ministro dos Negócios Exteriores, oferecendo em nome de Filipe V um equivalente em território ou a compra da Colônia do Sacramento.170 Mas a troca acabou não acontecendo de fato, e em 1716 a Colônia foi novamente devolvida aos portugueses, o que configurou uma terceira refundação do sítio. Nos anos que se seguiram, seu desenvolvimento urbano e comercial chegou ao auge.171 No entanto, ao contrário do que dom Luís da Cunha esperava, a sua restituição a Portugal renderia ainda muitas reviravoltas e
Planta da Colônia de Sacramento, anônimo, s.d. 320
exigiria a continuidade dos esforços diplomáticos nos muitos anos que se seguiram. Os espanhóis insistiam: o termo território, inserido no acordo pelos dois embaixadores, correspondia apenas à campanha172 em torno da fortaleza, e eles se obstinavam em restituir apenas o território limitado ao alcance de um tiro de canhão,173 que correspondia a cerca de três quilômetros ao redor da fortaleza. O que parecia ter sido um lance de astúcia política, isto é, a inclusão da palavra território, rapidamente se transformou em pesadelo. Por isso, pouco depois, tentando se explicar à Coroa, dom Luís da Cunha se lamentou em relação ao termo território que “já com a mesma confusão [do termo al presente la tiene], o metemos no Tratado da Paz”.174 A ideia de dimensionar o território português ao alcance de um tiro de canhão foi sugerida pelo governador de Buenos Aires. Dom Baltasar Garcia Ros havia escrito ao rei espanhol alertando-o dos prejuízos que a reocupação da Colônia iria provocar aos seus interesses, mas quando o rei se decidiu por não entregar a Colônia, como ele sugerira, já era tarde demais. O ato formal de entrega já havia sido realizado. Nessa correspondência, o governador enumerou três possibilidades de interpretar o termo território: a primeira, que se limitaria ao alcance de um tiro de canhão; a segunda, que incluiria a campanha, onde os portugueses criavam gado e exploravam o couro; e a terceira, que abrangeria todas as terras pretendidas por Portugal, compreendendo toda a margem setentrional do rio da Prata. Contudo, impossibilitados de desistirem da entrega da Colônia aos portugueses sem que novo conflito armado se iniciasse, os espanhóis passaram a se obstinar, a partir de então, em interpretar o termo território com referência apenas ao alcance de um tiro de canhão em torno da fortaleza.175 Como a Espanha se recusava a seguir o que Portugal entendia que havia sido acordado em Utrecht, impondo uma limitação ao território da Colônia, foi necessário continuar os esforços diplomáticos para pôr fim à disputa. O próximo lance se desenrolaria em Madri, para onde dom Luís da Cunha se deslocou em 1719, chegando em agosto desse ano. Sua principal missão consistia em pressionar a Espanha a cumprir o acordo. Nas negociações diplomáticas que se seguiram, a cartografia de novo se impôs como ferramenta indispensável. Como encontrar mapas precisos que justificassem as
pretensões portuguesas? Dom Luís da Cunha insistiu, mais uma vez, junto ao rei, que “quanto ao território da Colônia do Sacramento, seria mui conveniente que se me mandasse um mapa especial daquele país se é que o há, declarando quais são os limites que SMde. deseja”.176 Insistia que “os negócios desta natureza se ajustam à vista dos mapas e depois se mandam executar por comissões que vão regular os limites”.177 Como nada chegava do reino, dom Luís resolveu, uma vez em Madri, procurar o confessor do rei, o jesuíta Daubenton, “procurador geral das Índias Ocidentais, o qual me daria as notícias daquele país, por haver estado muitos anos daquelas partes”, “dizendo-lhe que de suposto me constava que ele se não metia nos negócios políticos,178 me parecia falar-lhe em um, porque nele se interessava a Companhia e debaixo deste suposto lhe pratiquei o do Território da Colônia do Sacramento, porque devia confinar com as missões dos jesuítas”.179 Dom Luís pediu-lhe então um mapa da área, entre os muitos que pertenciam à coleção dos jesuítas, usando assim o interesse da Ordem pela região das missões a favor dos portugueses. Observa-se também que ele não só empregou a palavra território, tal qual constava do tratado, como grafou a palavra com letra maiúscula, conferindo-lhe uma entidade independente da fortaleza propriamente dita, insinuando também que o Território da Colônia confina com as missões jesuítas, claramente assumindo uma área muito mais ampla do que apenas a fortaleza original ou os meros três quilômetros do seu entorno. Com a ajuda de Daubenton, dom Luís conseguiu um velho mapa de um tal padre Castañeda, cujas “letras estavam apagadas”, mas que veio a ocupar um papel simbólico, pois provavelmente esse foi o primeiro mapa que o embaixador conseguiu da área e também o primeiro da coleção de mapas de dom Luís. Ele não ficou com o original, que pertencia à Companhia, mas o mandou copiar sem, no entanto, demonstrar grande entusiasmo, pois “como é muito antigo, não me dá melhor luz do país e rios que entram no da Prata que os modernos, ainda que igualmente confusos”.180 Essa referência à rede de rios se explica pelo fato de que dom Luís da Cunha pretendia que o rio de “São João faça por aquela parte os nossos limites, [e] seria de opinião que nos sustentássemos nesta posse sem inovar cousa alguma, deixando correr os pretextos de um e outro governador enquanto esta corte não fala na matéria”.181 Assim, ele aponta um acidente natural 321
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Mapa manuscrito da embocadura do rio da Prata, com detalhe na página ao lado, c.1740. A linha vermelha representa o que os espanhóis entendiam como território português; já a amarela espelha a pretensão portuguesa.
do terreno, no caso o rio São João, para definir o limite do território da Colônia. Esse expediente de utilizar um acidente natural — cadeia de montanhas ou rio — sustentará muitas das pretensões portuguesas de limites na América no contexto do Tratado de Madri (1750). Por essa época, esse jesuíta insistiu com dom Luís da Cunha que a única forma de resolver definitivamente a questão seria Portugal se contentar com uma troca de territórios, pois “ainda que se ajustem os limites, sempre haverão de haver algumas diferenças, porque [...] não se trata de mais ou menos terreno, pelos imensos espaços que as duas Coroas possuem naquele Novo Mundo”.182 Os rumores de que Portugal estava para adotar uma política expansionista na região, apossando-se das terras que considerava suas por direito, amedrontavam o embaixador pois podiam intervir negativamente nas negociações que conduzia em Madri.183 Dom Luís sustentava
que a propalada iniciativa de Portugal de construir uma fortaleza em Montevidéu “dará maior causa a que os castelhanos procurem evitar o dano que se lhes pode seguir, pois hão de supor que faremos mais fortificações até o rio Negro”, um dos tributários do rio da Prata. Defendeu então “que nos sustentássemos nesta posse sem inovar cousa alguma”.184 É nessa embaixada que se inteira com os padres jesuítas em Madri sobre as peculiaridades da região da Colônia do Sacramento e começa a defender que a falta de utilidade dessa possessão, aliada aos altos custos políticos e econômicos para sua manutenção, justificava que a melhor opção para resolver o impasse com os espanhóis era a troca por um território na América. Como não recebera ordens nesse sentido, e por ter sido repreendido por ter tocado no assunto com o confessor do rei, dom Luís se justificou dizendo que “só falei em que se podia dar esta 322
esperança aos jesuítas para que eles contribuíssem quanto mais ao ajuste dos limites, porque, como digo, parecia mui conveniente pôr fim a esta questão”.185 As informações que recolhe sobre os benefícios advindos da manutenção da Colônia sob a bandeira portuguesa não são nada animadoras. Uma das poucas atividades na região provinha “das matanças dos bois, por serem os seus couros a única utilidade que dali se tira”.186 Em Portugal, uma das raras vozes nesse sentido era a do duque de Cadaval, conselheiro do rei, que sustentava “que um rei cujas conquistas produziam tanto ouro não tinha necessidade de um território cuja principal riqueza se constituía na extração de couros”.187 Paulatinamente, dom Luís da Cunha passou a defender posição análoga. A questão da Colônia continuava a se arrastar e nada se resolveu em Madri. Começou então a se organizar o congresso de Cambrai. Em setembro de 1720, dom Luís
da Cunha e o conde de Tarouca foram nomeados representantes de Portugal, tendo como secretário Alexandre de Gusmão, e os dois esperavam incluir a questão da Colônia nas negociações. No entanto, permaneceram em Paris,188 pois foram impedidos de participar formalmente pelos ingleses, com a justificativa de que os portugueses não haviam participado da Quádrupla Aliança, estabelecida entre Holanda, Inglaterra, França e Espanha, para garantir a paz mundial.189 Assim, retido em Paris, dom Luís da Cunha tentou conseguir a intermediação dos ministros franceses e do embaixador inglês para articular as negociações, à margem de Cambrai, e, desta feita, encerrar a contenda em relação à Colônia. Para convencer as autoridades francesas, especialmente o cardeal Fleury, de intermediarem as negociações com os espanhóis nos termos favoráveis a Portugal, dom Luís redigiu uma memória na qual mostrava que o 323
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português em Madri, o senhor de Belmonte, Pedro Álvares Cabral. Seus criados, quebrando as regras diplomáticas protocolares, libertaram e abrigaram na embaixada um indivíduo que havia sido preso pelas autoridades de justiça locais.194 Não sem razão, assim que soube do acontecido, dom Luís da Cunha temeu que o episódio trouxesse o reinício das hostilidades militares entre as duas nações, cujos reflexos não se dariam na Península Ibérica, mas na América. Não se cansava de alertar que “é da minha obrigação lembrar a VExa. que da menor desavença que tivermos com a Espanha se hão de ver logo os efeitos, não nas nossas fronteiras, mas no Rio da Prata, enquanto se não tomar alguma conclusão”.195 Apesar das promessas do ministro espanhol, José Patinho, de que não haveria retaliações, como previra o embaixador, o incidente teve repercussões diretas no Prata e os espanhóis decretaram o bloqueio à Colônia, e novas e custosas negociações tiveram que ser novamente entabuladas para se tentar resolver o impasse.196 Por essa época, a audácia dos espanhóis e o perigo que o cerco representava às pretensões portuguesas de determinação na bacia do Prata,197 levou dom Luís a abandonar o tom quase sempre pacífico de suas recomendações à Coroa. Em julho de 1736, questionava as autoridades em Portugal sobre qual seria a estratégia para retaliar a ofensiva militar espanhola: “ou de não dar ouvidos as proposições dos mediadores enquanto não lhe se restituir a Colônia, caso que seja tomada, ou a de ir entretendo a negociação [e] mandar passar ao rio da Prata as forças que tiver no Brasil para a recuperar e ainda atacar Buenos Aires se possível”. Agora, era ele que se queixava do fato de que a projetada fortaleza de Montevidéu nunca saíra do papel, mas advertia que ainda era tempo de levantá-la, “pois com ela ficamos em quanto se disputar até onde estenderá o território da Colônia para a parte do rio Uruguai; se por ventura se falar de um equivalente em Europa quanto mais tivermos que largar melhor”.198 De fato, a partir de 1736, os portugueses vão inaugurar uma era mais agressiva de ocupação sistemática da região sul do Brasil, com a construção de fortes (Jesus Maria José, em 1737) e a vinda de imigrantes açorianos (1740).199 Dom Luís da Cunha, em Haia e depois em Paris, e Marco António de Azevedo, em Londres, procuravam convencer as autoridades inglesas a socorrerem Portugal militarmente, a fim de repelir o ataque espanhol na
No mapa de D’Anville de 1737, o Brasil termina em uma bifurcação até as margens do rio da Prata, incluindo a Colônia do Sacramento.
rei de Espanha “quer reduzir [a Colônia] somente àqueles espaços que a artilharia da praça cobre” e buscava provar a ilegalidade deste ato. Escreveu à Coroa, então, que, à vista de tudo o que lhe informaram os franceses e o embaixador espanhol, “a intenção desta corte é não permitir que a Colônia tenha maior território que o sobredito, assim que, sendo neste caso maior a despesa que fizermos em a sustentar, do que a utilidade que dela nos resulta, venhamos a largá-la pelo equivalente que nos quiserem oferecer”.190 O embaixador deixa claro nesse trecho um ponto ao qual ele se apegará daí por diante, a de que a falta de interesse econômico da Colônia justificava sua troca por um equivalente. Efetivamente, em 1721, o marquês de Capecelato, ministro espanhol, escreveu ao seu embaixador na França, o marquês de Grimaldo, que, “sem embargo o assinalado na Paz de Utrecht,191 [...] esforçou-se o embaixador Dom Luís da Cunha à solicitar se assinalassem limites ao referido território”.192 Mas nada resultou de efetivo uma vez mais. Em fins de 1735, os espanhóis impuseram um severo bloqueio à Colônia do Sacramento. Esse episódio chamado de “Grande Sítio” e que, “durante quase dois anos [1735-1737], levou os habitantes da Colônia às raias da inanição”,193 ocorreu a partir de um incidente diplomático provocado pela inabilidade do então embaixador 324
de 1737, de autoria de dom Jose de Amichi, representam o território da Colônia correspondendo apenas ao entorno da fortaleza, ocupando somente a ponta da península que se projeta sobre o rio da Prata, limitado ao que corresponderia à distância de um tiro de canhão. Numa perspectiva completamente diferente, a cartografia portuguesa apresenta o território se espraiando para muito além da península, interiorizando-se cada vez mais na campanha, distanciando-se da fortaleza, chegando a ocupar toda a margem setentrional do rio da Prata. Os mapas intitulados O Grande Rio da Prata na America austral e Portuguesa201 e a Carte manuscrite de l’embouchure de rio da Prata,202 ambos produzidos na década de 1740, sob o impacto do cerco espanhol à fortaleza, retratam as variações portuguesas de representar esses domínios. No primeiro caso, o próprio título do mapa sugere que o grande rio da Prata se estende pela parte austral da América portuguesa. Ou seja, toda a margem setentrional era de direito português, não se estabelecendo nenhuma linha divisória em torno da Colônia. A fortaleza é desenhada em vermelho sem que se estabeleça nenhum limite em relação ao terreno em seu entorno. O segundo propõe uma linha divisória, grafada em amarelo, posicionada imediatamente a oeste da fortaleza. Essa linha, posicionada mais ou menos ao
Colônia. No entanto, os ingleses vacilavam. Dom Luís comentou consternado que “os ingleses não farão caso da sua garantia, antes darão outras cores ao sucesso, querendo remeter toda a mediação. De longe se sabe às vezes melhor o interior das cortes”. No entanto, ele exagerava no tom quando dizia que apenas à distância pudera perceber que os ingleses prometiam uma coisa e faziam outra, pois desde seus longos anos servindo em Londres (1697-1712) aprendera a lição que a Inglaterra só servia aos seus próprios interesses. Mas, nesse caso, ele contava que eram justamente os interesses da Inglaterra na região, para além das antigas alianças com Portugal, que fariam com que o país viesse em socorro, pois o próprio “embaixador de Espanha bem faz entender que a nossa Colônia lhe é de grande prejuízo porque por ela comerciavam os ingleses”.200 Exame dos mapas espanhóis e portugueses dessa época apontam para as formas bastante distintas que ambas as Coroas entenderam ser o território a que os portugueses tinham direito. Logicamente, mais do que serem retratos da realidade, essas cartas pretendiam legitimar o que cada nação entendia como sendo seu de direito. Os mapas eram, nessa perspectiva, antes de mais nada, instrumentos de poder. Mapas espanhóis, como o Plano, perfil y elevación de la Colônia del Sacramento,
O grande Rio da Prata na America Austral e Portuguesa, anônimo, 1740. 325
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No mapa de D’Anville, a Colônia de Sacramento era representada como uma área circular descontínua em relação ao território do Brasil.
como moeda de troca entre as duas Coroas rivais. Outra evidência dessa intenção é o fato de que, em versões da carta onde as fronteiras foram coloridas, a Colônia não ter sido circulada nem com a cor que representava as fronteiras dos territórios espanhóis (amarelo), nem com a dos portugueses (verde). Dom Luís da Cunha tirou importantes lições das intermitentes negociações em que se envolveu sobre a questão da Colônia do Sacramento ao longo da primeira metade do século XVIII. Essas lições tornaram-se a base ancilar sobre a qual edificou seu pensamento geopolítico. Segundo sua visão, três grandes questões se interpunham nas negociações entre Espanha e Portugal em relação aos seus territórios na América. A primeira dizia respeito, após Utrecht, à indefinição das duas grandes potências, França e Inglaterra, de se envolverem como mediadoras nas negociações lusoespanholas sobre a questão da Colônia do Sacramento, o que o levou a concluir que o assunto deveria ser objeto de negociação direta entre as duas Coroas e não seria resolvido no contexto dos grandes tratados de paz europeus. A segunda se referia à imprecisão sobre a verdadeira medida do meridiano de Tordesilhas, e os limites a serem respeitados por ambas as nações, preocupação que levou o embaixador a encomendar a D’Anville um arrazoado de natureza geográfica, que sustentasse as pretensões portuguesas, o que resultou na Discussion géographique sur la ligne de Démarcation.206 A terceira era resultante da invasão, por parte dos portugueses, de territórios no centro-oeste e na Amazônia, que, por direito, pertenciam à Espanha, uma vez que as diferenças com a França haviam sido resolvidas em Utrecht e não retornaram à
que corresponderia a de Tordesilhas, sobe pelo território até o Rio Grande do Sul, mostrando que todo o território a oeste dela estaria sob a posse de Portugal. Em 1737, dom Luís da Cunha retornou a Paris, pois as relações entre Portugal e França, rompidas desde 1725 devido a um incidente diplomático,203 haviam sido restabelecidas nesse ano e ele foi nomeado embaixador. De lá, monitorava o que acontecia na bacia do Prata, acionando os representantes diplomáticos de outras nações, principalmente o da Inglaterra, e as autoridades francesas para que prestassem auxílio militar ou intermediassem uma negociação com os espanhóis. Tentava acompanhar o dia a dia do cerco, com suas idas e vindas, informando-se se a Espanha havia conseguido tomar o bastião português ou se o ataque havia sido repelido. Em novembro, regozijava-se “pelo bom sucesso que até os 25 de abril e 13 de maio haviam tido as armas de SMde. [portuguesa] em América” e pedia que “queira Deus que assim continue até o fim desejado”.204 Como estava ciente que as forças ali aquarteladas eram insuficientes, o embaixador buscava apoio militar da França e da Inglaterra, como também defendia que tropas portuguesas de outras praças brasileiras fossem em socorro da fortaleza.205 Para dom Luís, como para Alexandre de Gusmão, a posse da Colônia do Sacramento era dispendiosa e pouco proveitosa. A soberania dos portugueses sobre ela só fazia sentido na medida em que de sua posse dependesse a manutenção do direito sobre as minas de ouro. Na Carte de l’Amérique méridionale, a Colônia é apresentada como uma área circular, que se estende para além da fortaleza, mas não muito. Essa imagem cartográfica coaduna-se com a ideia de a mesma vir a ser utilizada 326
europeias, mas passaria forçosamente por toda uma reorientação geopolítica dos limites entre as duas Coroas na América. Dom Luís estava ciente do papel que o Brasil passara a ocupar no seio do império português e que era forçoso garantir o máximo de território possível nas regiões Centro-Oeste e amazônica, mantendo certa segurança no sul. Passou então, de forma intransigente, a defender que a grande riqueza de Portugal nesse momento se encontrava nas minas de ouro recém-descobertas na região das Minas Gerais, e que a região da Colônia do Sacramento, na foz do rio da Prata, por sua absoluta falta de interesse econômico, seria a grande moeda de troca com os espanhóis durante as negociações.
mesa de negociação ao longo do século. Como as disputas territoriais com os espanhóis não se limitavam à Colônia do Sacramento, o embaixador passou a advogar que a questão da definição dos limites abarcasse o Brasil como um todo, e mesmo além, incluindo — como aconselhara D’Anville — a região das Molucas no mar do Sul. O documento produzido por D’Anville para o embaixador - Discussão geográfica sobre a linha de Demar– cação estabelecida para fixar os limites entre as descobertas e estabelecimentos de Portugal e aqueles de Castela - teve como objetivo, segundo seu autor, “expor os meios geográficos que são a favor e contra nas diferenças que há entre” as duas Cortes.207 D’Anville insistiu no primado da geografia como norteadora das suas considerações e, na conclusão, apontou que isso era o “que a geografia me dita sobre o que interessa à Demarcação. Isso não depende da vontade humana. A intenção e a habilidade não podem nada sobre as circunstâncias que foram discutidas”.208 Observa-se que, em linhas gerais, os pontos levantados por ele foram os mesmos nos quais dom Luís da Cunha se apoiou, a partir de então, para encaminhar as negociações: o Tratado de Tordesilhas não tinha mais validade na região da Colônia do Sacramento; a posse desta estava assegurada a Portugal pelo Tratado de Utrecht, ainda que estivesse fora dos domínios portugueses estabelecidos em Tordesilhas; as Molucas eram claramente possessões portuguesas; as negociações deveriam abarcar todas essas questões e não se limitar ao território da Colônia e as Molucas seriam uma das moedas de troca. Portugal deveria defender a ideia de que a Espanha não podia reivindicar ganhos nos dois lados do globo. Examinando os prós e os contras, Portugal poderia se valer da geografia e da diplomacia para garantir a posse da Colônia, demonstrando a ilegalidade do pagamento que havia sido feito em troca das Molucas e o que havia sido estabelecido em Utrecht.209 A invasão dos portugueses de territórios na área mineradora, no Centro-Oeste, e também na região amazônica - que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, deveriam pertencer à Espanha -, e a compra das Molucas dos espanhóis - território que já seria português de direito, segundo o mesmo Tratado -, além da própria imprecisão da localização desse meridiano, segundo dom Luís, exigiam que novos e mais precisos limites fossem estabelecidos. Sua atuação o ensinara que qualquer negociação com a Espanha não se resumiria às fronteiras 327
O documento Demonstração fácil e concludente do direito que tem a Coroa Portuguesa, de 1715, mapeia as terras sob o seu domínio, graças a acordos diplomáticos com a Espanha, a partir do tratado provisional de 1681.
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C ONSIDERAÇÕES FINAIS
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ÀS VÉSPERAS DO
TRATADO DE MADRI A diplomacia e o uti possidetis
A ênfase na negociação como meio de
oi a partir das disputas de soberania portuguesa sobre as regiões da Amazônia e da Colônia do Sacramento, e sua preocupação com o domínio sobre a produção aurífera das Minas Gerais, que dom Luís da Cunha começou a articular algumas das questões que se tornaram as pedras angulares de seu pensamento sobre as estratégias a serem adotadas nas negociações de limites com a Espanha: 1) a utilização das balizas naturais do terreno; 2) o respeito aos tratados prévios; e 3) a ideia do uti possidetis, ou seja, o de “dar por boa a posse em que cada um estivesse”.1 Examinaremos aqui como esses dois últimos expedientes diplomáticos configuram-se no pensamento de dom Luís da Cunha, já que utilizar as balizas naturais do terreno para esse tipo de negociação não constituía novidade. Durante a época moderna, a definição das fronteiras estava diretamente relacionada ao exercício da soberania por parte das monarquias.2 De fato, nesse período, quase todas as coroas da “Europa Ocidental iniciaram um intenso processo de incorporação de territórios
garantir a soberania dos territórios exigiu novas lógicas jurídicas e táticas diplomáticas para embasar as pretensões expansionistas das nações.
Os Embaixadores, por Hans Holbein, o jovem, 1533. Desde o séc. XVI, a cartografia e a diplomacia caminhavam juntas. Acima, Fernando VI e Bárbara de Braganza nos jardins de Aranjuez, por Francesco Battaglioli, 1756. 331
Às vésperas do Tratado de Madri
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A diplomacia e o uti possidetis
(através da herança, da conquista ou do pacto)”,3 utilizando fartamente o expediente da guerra (jus belli) e do pacto (jus tractum), negociados pela via diplomática (jus legationis) para angariar territórios e alargar suas fronteiras, tanto no solo europeu, quanto no além-mar. Porém, a partir do Congresso de Utrecht, “a tentação de alargar os limites através da guerra foi cada vez mais cerceada por necessidades de ordem internacional, expressas na teoria de equilíbrio de poderes e reconhecida pela primeira vez no Congresso”.4 Essa ênfase na negociação como meio de garantir o domínio/soberania dos territórios exigiu novas lógicas jurídicas e táticas diplomáticas para embasar as pretensões das nações em constante disputas por territórios. Ao longo de seus escritos, dom Luís da Cunha, com coerência e transparência, apresentou suas estratégias de encaminhamento e as justificativas das demandas portuguesas. A América meridional foi, no século XVIII, um dos palcos onde se desenrolaram os conflitos territoriais entre as nações europeias, o que exigiu a redefinição das fronteiras sistematicamente negociadas em diversos tratados ao longo do século. Para Portugal, e em particular para dom Luís da Cunha, não se tratava apenas de negociar os limites do Brasil, mas de compreender que este “funcionava como fronteira de Portugal”,5 isto é, paulatinamente, a América portuguesa substituía o Oriente, como uma reserva natural de riquezas para o reino. Dessa maneira, justificava-se o esforço de deslocar sua própria fronteira externa para regiões cada vez mais distantes do litoral, tomando para o domínio da Coroa territórios que teoricamente, por tratados anteriores, pertenciam a outras nações ou eram considerados desertos, terra incógnita, ainda à espera de serem colonizados. “O Brasil pode portanto ser visto como uma sociedade de fronteira durante largo período da sua história”, particularmente no século XVIII.6 Nesse século a necessidade de renegociação dos seus limites passou a direcionar o grosso da política cartográfica portuguesa para a América, em detrimento do próprio reino,7 e todos os esforços régios concentraram-se para realizar a cartografia do Brasil.
apresentadas em mapas, memórias, ocupações posteriores ou linhas imaginárias. Mesmo respeitando os mapas como reflexos do território em papel, frente a uma cartografia fugidia e imprecisa, os tratados já estabelecidos não podiam ser questionados. Assim, em 1721, quando se encontrava em Paris e os conflitos sobre a Colônia do Sacramento se acirravam e os espanhóis tentavam provar que a posse portuguesa era ilegítima, baseando-se no Tratado Provisional de 1681, dom Luís argumentou que o tratado de “Utrecht tira toda a dúvida, por ser posterior, o que é tão certo que ainda quando no mesmo Tratado se acham dois artigos contrários um ao outro, só o último é válido, porque as partes ao mesmo tempo não devem e não podem querer e deixar de querer uma mesma coisa, pelo que a ulterior disposição deve ser a regra de qual foi a vontade dos contratantes”.8 No mesmo sentido, quando estava em Haia, na década de 1730, negociando os direitos disputados entre Portugal e a Holanda pelo comércio na África, ele concluiu que “o fundamento que me parece mais sólido é o da posse em que ficamos depois do Tratado de Trégua”,9 estabelecido entre as duas potências em 1641. Ou seja, o que um tratado estabeleceu, somente outro tratado poderia abolir. A diplomacia era sua especialidade; e a negociação de tratados, sua missão. Vem daí o seu cuidado em guardar os papéis das negociações anteriores, em relatar seus principais acontecimentos preservando-lhes a memória, como nas Memórias da Paz de Utrecht, e em apegar-se, nas negociações seguintes, ao previamente acordado. Porém, dom Luís estava cônscio de que, frequentemente, as potências mais fortes desrespeitavam os textos assinados, muitas vezes pela força das armas ou pela ocupação quase silenciosa de um território ainda não colonizado por quem legitimamente detinha sua posse.
O uti possidetis Se a história e a cartografia histórica eram sistematicamente invocadas na hora das negociações dos territórios em disputa, era a efetiva colonização do espaço que, em última instância, justificava a manutenção da sua posse e servia de argumento para que a potência rival, ainda que tivesse tido direitos sobre tal território, não possuísse mais legitimidade sobre o mesmo. Ou seja, o jus de fato se sobrepunha ao jus de direito. Em
O respeito aos tratados prévios A questão do respeito aos tratados anteriores se articulou no pensamento de dom Luís da Cunha pela necessidade de legitimar os direitos de posse historicamente adquiridos, ainda que contrários a demarcações 332
1714, no contexto do Tratado de Utrecht, consciente do artifício da ocupação (uti possidetis) como assegurador da posse, dom Luís da Cunha relembrou o acontecido quando a Companhia de Comércio da Escócia recebeu permissão para colonizar o território do golfo de Darien, hoje situado entre Colômbia e Panamá. Na ocasião, os escoceses pediram que o direito se estendesse a todas as “terras não possuídas por alguma potência de Europa - as terras não habitadas”, ou seja, consideraram que estas últimas não podiam ser reivindicadas por nenhuma potência europeia porque não haviam sido colonizadas/povoadas por nenhuma delas. Apesar desse direito não ter sido concedido, por “não ser da conveniência de Inglaterra que ela continuasse” nesse intento, o embaixador lembrou o argumento utilizado nessa ocasião pela Companhia para advertir, em relação ao Brasil, que seria “bom prevenirmos com atos possessórios de todos os lugares ainda desertos que pareçam próprios para semelhantes estabelecimentos”.10 Ele já dera conselho semelhante em 1712, quando foi informado de uma expedição inglesa, capitaneada por um certo capitão Thomas Blau, com planos de “estabelecer uma nova colônia, que, ainda que não consta a parte onde se intenta, basta que seja na vizinhança do Brasil para recebermos um dano incomparável”. Conjeturou que “se acaso fosse nas ilhas de Santa Catarina ou na dos Patos, temos por certo que perderíamos o grande proveito das nossas minas, usurpando-nos os ingleses a maior parte daquele comércio”. Novamente, aparece o argumento da transitividade da posse de locais estratégicos no litoral, como garantia do domínio das Minas Gerais, peça-chave dentre as possessões portuguesas. Como preventivo para tal dano, sugeriu que se “devia mandar logo, sem a menor dilação, ordem ao Brasil para que se despache qualquer embarcação às ditas ilhas de Santa Catarina e dos Patos com gente que levasse umas cabanas,11 o que bastaria para provar que temos posse delas”. A efetiva colonização seria o contraponto mais forte para neutralizar juridicamente uma possível colonização inglesa, pois, “nestes termos, não deixarão as outras potências de ajudar-nos a sustentar um direito indubitável”. E concluía: “o mesmo se devia fazer em outros quaisquer portos que houver na costa do Brasil desde o rio das Amazonas até o da Prata, porque sendo esta uma prevenção de mui pouco custo nos livra de muitas questões
Reconfiguração da lagoa dos Patos e da Merim na versão da Carte de l’Amérique de 1779.
que poderá alterar-nos a cobiça dos outros a quem vai despertando a riqueza das nossas minas”.12 Foi a partir dessa perspectiva que o embaixador paulatinamente construiu a ideia do uti possidetis como um elemento complementar e até mais forte do que o acordado em tratados anteriores. Tal conceito articula-se com mais clareza durante o funesto ano de 1736, quando seu temor de uma possível perda da hegemonia portuguesa sobre o Brasil se concretizou. A Colônia do Sacramento estava novamente em perigo, cercada pelos espanhóis, e os franceses tinham invadido mais uma vez o território brasileiro, apoderando-se da ilha de Fernando de Noronha. Além disso, outro fato importante ocorrido nesse ano foi o levante dos sertões da capitania de Minas contra o imposto da capitação, sobre o qual dom Luís deve ter tomado conhecimento. Por essa época, o uso do conceito do uti possidetis ainda era duvidoso para a diplomacia portuguesa. Nesse mesmo ano, dom Luís da Cunha recebeu ordens para transladar-se para Paris e começar a negociação com a França tendo em vista o entendimento com a Espanha.13 As relações diplomáticas franco-portuguesas, rompidas desde 1725 devido a um incidente diplomático,14 haviam sido restabelecidas e ele foi nomeado embaixador. De Paris, dom Luís passou a monitorar o que acontecia na bacia do Prata, acionando os representantes diplomáticos de outras nações, principalmente da Inglaterra, e autoridades francesas para que 333
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esses países prestassem auxílio militar a Portugal, ou intermediassem uma negociação com os espanhóis. Ele tentava acompanhar o dia a dia do cerco, com suas idas e vindas, informando-se se a Espanha havia conseguido tomar o bastião português ou se o ataque havia sido repelido. Em novembro se regozijava “pelo bom sucesso que (...) haviam tido as armas de SMde. [portuguesa] em América, [e] queira Deus que assim continue até o fim desejado”.15 Como estava ciente que as forças aquarteladas na região do Prata eram insuficientes, o embaixador buscava apoio militar, como também defendia que tropas portuguesas de outras praças brasileiras fossem em socorro da fortaleza.16 De novo veio à tona a questão da troca de territórios, e dom Luís da Cunha começou a conjecturar sobre as possíveis bases para a concretização dessa operação. Ao mesmo tempo, ele tentava influenciar os ministros franceses a convencerem os espanhóis e ainda conseguir apoio na corte portuguesa para a ideia. Nessa ocasião, Jean-Jacques Amelot de Chaillou, ministro francês para os Negócios Estrangeiros, o aconselhara de que “qualquer porção de país que Espanha nos desse em América, sempre nos meteria em novos embaraços que era o que cuidadosamente e reciprocamente deveríamos evitar” e o teria arguido se estava informado “do que SMde. poderia desejar em Europa”. Para ganhar tempo, pois não tinha ordens sobre o assunto, dom Luís foi evasivo,17 respondendo que o assunto havia sido tratado em Utrecht, mas que ele não se lembrava do que ficara acordado.18 Tratava-se de uma de suas estratégias dilatórias, de acordo com a qual “um pouco de fingimento” sempre era necessário para o encaminhamento adequado das negociações, pois ele possuía uma coleção detalhada de documentos que descreviam minuciosamente toda a questão da Colônia.19 Além do mais, em 1736, produzia um arrazoado, intensamente discutido com Alexandre de Gusmão, secretário pessoal de dom João V, que resultou em um documento síntese, base para as futuras negociações, conhecido como Dissertation.20 Nele, Alexandre de Gusmão resumiu seu pensamento a respeito da questão, e dom Luís da Cunha, que discordou de algumas das posições defendidas por ele, incluiu suas observações e corrigiu o texto antes que viesse a ser apresentado aos franceses.21 Uma das pendências entre os dois foi se o conceito do uti possidetis seria favorável ou não aos interesses 334
portugueses. A dúvida residia nas dificuldades de saber ao certo quais territórios estavam na posse de quem, já que no contexto da guerra os acontecimentos evoluíam de forma rápida e as notícias demoravam a chegar à Europa. Assim, num dado momento, Gusmão não sabia se os portugueses já tinham tomado Montevidéu, ou se já tinham fundado um povoado no Rio de São Pedro, como fora ordenado pelo rei. Precavida, a Coroa portuguesa, sob a influência de Gusmão, recomendou a dom Luís que o melhor seria que “se reponham as coisas in status quo, referindo-o ao tempo das últimas hostilidades”. Seria mais prudente do que decidir pelo “uti possidetis, porque é incerto o que teremos conservado ou perdido até que lá cheguem ordens, visto que a Espanha continuamente vai aumentando forças naquelas partes”.22 Depois da longa discussão entre os dois, que se traduz em diversas versões que a Dissertation tomou, Alexandre de Gusmão finalmente consolidou a posição portuguesa em um outro documento conhecido como a Grande Instrução, de outubro de 1736.23 Os manuscritos desse documento foram guardados cuidadosamente por dom Luís da Cunha.24 Entre inúmeros tópicos, a Grande Instrução ordenava que os embaixadores conseguissem o máximo de terras em torno da Colônia de Sacramento e não que a mesma se tornasse uma moeda de troca com a Espanha.25 Isso era exatamente o contrário do que, por essa época, já advogava dom Luís da Cunha.26 Também na margem setentrional do rio da Prata, descartava o uso do uti possidetis como argumento a ser invocado na disputa, pois contínuos embates ainda se travavam entre as forças espanholas e portuguesas na região, tornando difícil prever quem estaria na posse do que quando se dessem as negociações. Como suas consequências seriam incertas, advertia-se que esse argumento só deveria ser invocado como última arma de negociação. Por essa época, no entanto, dom Luís da Cunha já considerava o uti possidetis como tópico central de sua argumentação. Tal posição baseava-se, porém, na invasão de Fernando de Noronha pelos franceses, e não no cerco da Colônia do Sacramento pelos espanhóis. Vejamos.
A ilha de Fernando de Noronha Em novembro de 1736, quando ainda se arrastavam as primeiras tentativas de negociação com a Espanha acerca da Colônia, as mais funestas previsões de dom Luís 335
Na página anterior, dom Luís da Cunha, em seu gabinete de trabalho. Nas páginas seguintes, a ilha de Fernando de Noronha na Carte de la partie de l'Ocean vers l'Équateur, por Philippe Buache, e em uma carta manuscrita portuguesa.
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pareciam estar prestes a se realizar. Na ocasião, ele havia recebido uma carta do reino com “a notícia da ocupação da ilha de Fernão de Noronha [que] veio confirmada pelas notícias que comunicou o vice-rei da Bahia, dadas por uma embarcação nossa que ali aportou”.27 O secretário de Estado, Antônio Guedes Pereira, contou que “o governador daquela capitania” havia sido informado “que em uma ilha contígua, chamada de Fernando de Noronha, se achavam estabelecidos alguns franceses que mostravam serem piratas”. O governador dera ordens de os desalojar e prender, no que foi bem-sucedido. Num papel incluso, o secretário ordenou a dom Luís da Cunha que procurasse “averiguar se os ditos homens são ou não piratas e, segundo o que achar, passe os ofícios convenientes naquela corte”.28 Para cumprir essas ordens, o embaixador começou a movimentar suas redes de informação em Paris e soube, por um de seus informantes no governo,29 que um certo “capitão Lesquelin, por ordem desta Companhia da Índia (francesa), com nove homens, desembarcara na ilha”.30 Se as primeiras informações não eram ameaçadoras, já que se tratava de apenas oito homens, as consequências futuras da ação não poderiam ser mais danosas, pois “sobre estas informações tomou a Companhia a resolução de fazer naquela ilha, a que deu o nome da Delfina, um grande e útil estabelecimento”.31 Dom Luís chama a atenção para o fato de que, como parte do ato possessório, os franceses tinham renomeado a ilha. Esse ato de nomeação como contíguo ao ato de posse acompanha todo o processo de expansão marítima da era moderna, com os europeus renomeando os acidentes geográficos à medida que deles vão tomando conhecimento. “Dar-lhes nomes justos, (...) equivale a tomar posse.”32 O embaixador também procurou demonstrar que, apesar de se tratar inicialmente de poucos homens, a Companhia decidira enviar mais trezentos homens. Era urgente, pois, que “lhe embarace a expedição, contando porém que, depois dela feita, serão inúteis as diligências que se fizerem ou por via da força ou de negociação para que o desista da empresa”.33 Diante da ameaça de colonização francesa, ele aconselha o rei de que os portugueses deveriam se antecipar e encetar eles mesmos uma colonização efetiva da ilha. Essa insistência em povoar uma região estava diretamente ligada à ideia de, mais tarde, poder justificar a sua posse pela colonização ali estabelecida. Não era mais o caso de somente levantar marcos de pedra, edificar cruzes ou reivindicar
a primazia da chegada. Tratava-se de instituir uma sociedade e uma ordenação administrativa, de “interiorizar a metrópole”.34 Essa noção de direito de posse pela colonização aparece claramente nas reflexões de dom Luís a respeito da invasão de Fernando de Noronha. Era melhor que ali houvesse “uma tal ou qual povoação para que se não diga que não pertence a alguma nação, [pois] deve ser da primeira que dela tomar posse e renovando assim a que tivemos”. Assim, adverte que “é para temer que chegando os ditos navios com os mais trezentos homens e mais petrechos tornem a revalidar o ato possessivo que os outros fizeram”. Esses dois trechos ilustram a importância da colonização para a renovação da posse obtida pela primazia da chegada. A revalidação da posse portuguesa pelo descobrimento ou dos franceses pela conquista seria assegurada à nação que tivesse a primazia da colonização, assentando no território um povoamento estável. Por isso, afirma que, ainda que se diga que a terra “deve ser da primeira [nação] que dela tomar posse”, é “uma tal e qual povoação” que “revalida o ato possessivo”.35 Está aí claramente articulado, pela segunda vez em seu pensamento, ainda que não nomeado, o direito do uti possidetis. É interessante observar que D’Anville possuía uma Carte Portugaise manuscrite de l’Isle de Fernao de Noronha, que apresenta na legenda: “no.10 — igreja e povoação que os franceses fizeram” na ilha. Já outro mapa de sua coleção, de autoria de Philippe Buache, intitulada Carte de la partie de l’Ocean vers l’Équateur, de 1737, onde junto ao arquipélago de Fernando de Noronha aparece o texto “ilha de Fernando de Noronha, nomeada Delfina em 1734 por um navegador francês”,36 apresenta a ilha em detalhes e junto à ruína do velho forte vê-se a cruz de madeira plantada pelos franceses em 1734. “Dar nome à ilha e plantar uma cruz de madeira” eram encenações integrantes das cerimônias com que os franceses estabeleciam suas possessões no Novo Mundo.37 Estabelecer um marco, renomear um acidente geográfico e inseri-lo em mapa sob o domínio de uma outra nação também eram formas importantes de possessão, principalmente porque os mapas eram bastante utilizados como repositórios de memória nas negociações diplomáticas sobre o direito ancorado no passado que as diferentes nações teriam sobre os territórios em disputa.38 Nessa perspectiva, a ilha Delfina 338
não era uma simples curiosidade ou aberração cartográfica. Tratava-se de um ato político declarado de posse por parte da França, avançando mais uma vez sobre as possessões portuguesas. No contexto do cerco espanhol à Colônia do Sacramento e da invasão da ilha de Fernando de Noronha, em 1736, dom Luís da Cunha instigou a Coroa para que ela encetasse uma política mais ativa e francamente expansionista na região sul do Brasil. Ele sugeriu então ao rei: 1) “mandar passar ao rio da Prata as forças que tiver no Brasil para a recuperar e ainda atacar Buenos Aires se possível”;39 2) construir “a projetada fortaleza de Montevidéu, porque [...] se por ventura se falar de um equivalente em Europa quanto mais tivermos que largar melhor”;40 3) povoar essa fortaleza “à sombra da gente e navios que foram da Bahia e Rio de Janeiro”;41 4) fortificar e povoar as ilhas como, por exemplo, a de Santa Catarina.42 São posições bastante diferentes da que tomara em 1720-1721, quando temia que qualquer ação portuguesa poderia provocar mais retaliações por parte de Espanha.43 Ao recomendar a fortificação da costa e o estabelecimento de uma política agressiva de proteção do território, o embaixador deixou claro que, para ele, “o conceito de fronteira tinha uma ligação directa com a defesa do território e da soberania do rei, face ao exterior”.44 Não deixa de ser sugestivo e não pode ser visto como mera coincidência que, em 1737, como ele advertira no ano anterior, a Coroa portuguesa tenha dado início ao povoamento e à colonização mais efetiva da região de São Pedro, com a edificação de vários fortes.
ainda: “Uma fortificação de terra brevemente se levanta e com boa artilharia se defende sendo forte a guarnição”.45 Como se viu, num primeiro momento, Alexandre de Gusmão e, por extensão, a Coroa portuguesa temeram a adoção pura e simples do conceito do uti possidetis para resolver suas disputas com a Espanha na região do rio da Prata. Mas, paulatinamente, e por insistência do embaixador, esse conceito vai se configurando como o elemento central das negociações, que deságuam em Madri em 1750. Sob inspiração de dom Luís da Cunha, “nas conferências que precederam à assinatura do Tratado [de Madri] ficou resolvido que se renunciasse de todo ao estabelecimento de linhas imaginárias de demarcação”. Ou seja, os acordos anteriores não seriam mais válidos e os novos limites passariam a ser determinados a partir dos dois princípios que ele advogava: que “fossem determinados pelos rios e montes mais notáveis e conhecidos” — as chamadas fronteiras naturais e que ficasse “cada uma das partes contratantes com o que
A Dissertation Juntando suas reflexões sobre a Colônia do Sacramento e a ilha de Fernando de Noronha, em fins de 1736, dom Luís da Cunha articulou claramente em seu texto o conceito de uti possidetis, que de sua correspondência passa para a Dissertation, que vinha redigindo com Gusmão. Entre as diversas medidas para manter o controle de áreas estratégicas do território, escreveu ao rei que construísse a fortaleza em Montevidéu, povoando-a “à sombra da gente e navios que foram da Bahia e Rio de Janeiro, porque é mais fácil ajustar-se quando se faz sobre o que de uti possidetis, que de outra maneira”. E 339
O bispo de Chavigny, embaixador em Lisboa a partir de 1739, e (na página seguinte) o marquês D’Argenson, secretário dos Negócios Exteriores, foram peças-chave para que Portugal conseguisse o apoio dos franceses nas negociações com a Espanha.
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possuía naquela data” — o uti possidetis —, “excetuadas as mútuas cessões que fossem feitas”.46 A Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, espelha claramente esses conceitos. Os vazios geográficos representam as áreas despovoadas. Estas, ainda que não colonizadas, podiam estar na posse de uma das duas Coroas porque estariam circunscritas pelos seus novos limites fronteiriços. A linha divisória desenhada pelo geógrafo respeita tanto os limites naturais do terreno, como é evidente na lagoa Merim, quanto o povoamento efetivo do território. E deixa claro, como no caso da Colônia do Sacramento, os territórios passíveis de ser intercambiados entre as duas Coroas. Nesse sentido, ela era uma expressão evidente da política que dom Luís da Cunha advogava para as negociações de fronteira na América.
ilustrado, Ensenada foi sucessivamente secretário da Fazenda, Marinha, Guerra e Índias e secretário de Estado. Apoiado por dona Maria Bárbara, seria nomeado, em 1747, seu secretário particular. José de Carvajal, que também contava com o apoio da rainha, era amigo do embaixador português Vila Nova de Cerveira e sua nomeação visou criar um clima favorável à aproximação com Portugal. Porém, nos anos seguintes, a política externa espanhola foi bastante ambígua, oscilando entre uma aproximação ora com a França, ora com a Inglaterra (o que era dificultado pela obstinação dos ingleses em manter sob seu domínio a península de Gibraltar). Quanto às pendências com Portugal, especialmente no que concernia à América, durante muito tempo não se decidiu se as negociações seriam feitas em separado ou no conjunto das alianças que a Espanha negociaria com os demais países europeus em Breda (1747) e Aquisgrán (1748). Pouco depois de chegar, Cerveira iniciou as primeiras negociações e, em 12 de novembro de 1746, escreveu ao secretário de Estado em Portugal, Marco António de Azevedo Coutinho, relatando a primeira conferência que tivera com o marquês de la Ensenada. Nessa primeira conferência, os dois discutiram “a possibilidade de resolver as pendências da Colônia do Sacramento e as relações comerciais entre os dois países”, iniciando uma longa negociação, que se arrastará nos anos seguintes.51 Foi nesse momento que se iniciou intensa troca de informações entre Vila Nova de Cerveira, em Madri, a Corte, em Lisboa (especialmente com Marco António de Azevedo Coutinho e Alexandre de Gusmão) e dom Luís da Cunha, em Paris, visando orquestrar as ações para encetar as negociações.52 A partir de então, ocupando seu papel de oráculo do rei, e seguindo as determinações de dom João V, o velho embaixador tratou de aconselhar o que achava que deveria ser feito. Vila Nova de Cerveira, por sua vez, o encarregou de fazer “uma instrução tão miúda que me ponha capaz de perceber qual é o verdadeiro interesse de Portugal na conjuntura presente”. Sua opinião era tão importante para ele, que rogou a dom Luís que o informasse qual era o seu arbítrio e pedia que tivesse “o trabalho de me mandar uma planta de paz geral, tal qual V.Exa. entende que pode ser, atendendo ao estado das coisas presentes e que possa ser para o tempo futuro firme e segura”,53 pois o considerava “fonte perene de sólidos, claros, seguros conselhos (...) como oráculo de toda matéria”.54
As negociações em Madri A partir de meados de 1746, com a morte, no dia 9 de julho, de Felipe V, pró-francês e abertamente avesso ao entendimento com Portugal, a Coroa portuguesa efetivou esforços para restabelecer, em bases mais promissoras, as negociações com a Espanha. Essa reaproximação foi a culminância da estratégia diplomática portuguesa, encetada a partir de 1727-1728, com a realização do duplo casamento dos príncipes herdeiros e das princesas descendentes das duas casas reinantes. A negociação envolveu o casamento da infanta espanhola, Maria Ana Vitória, com dom José, herdeiro do trono português, e o matrimônio da princesa portuguesa, dona Maria Bárbara, com Fernando, sucessor do trono espanhol.47 Tal estratégia visava criar um clima futuro favorável para Portugal.48 Quando soube da morte do rei espanhol e da ascensão de Fernando VI, dom João V escreveu uma carta a sua filha, agora a nova rainha, exortando que o amor filial a levasse a colaborar com a reaproximação com a Espanha e a retomada das negociações.49 A partir daí, tudo começou a evoluir rapidamente. Em setembro de 1746, logo após a ascensão de Fernando VI ao trono, o visconde de Vila Nova de Cerveira partiu para Madri para assumir seu posto de embaixador de Portugal.50 A coroação trouxe mudanças na corte espanhola. O marquês de la Ensenada foi nomeado secretário de Estado e, no ano seguinte, dom José de Carvajal chegou ao posto de secretário dos Negócios Estrangeiros. Homem 340
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Cuiabá, na Carte Méridionale de 1779.
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buscava formar opiniões favoráveis aos interesses de Portugal. Para eles, dom Luís redigia textos e mais textos em francês defendendo as posições portuguesas e contestando as espanholas. Como cabia à atividade diplomática uma boa dose de espionagem, também sondava as autoridades francesas com quem se relacionava sobre suas posições em relação às disputas com a Espanha.62
Apesar de afastado do centro das negociações, pois sua avançada idade e sua saúde delicada não recomendavam sua transferência para Madri, dom Luís desempenhou importante função, articulando de Paris o apoio da Coroa francesa às pretensões portuguesas. Aproveitava-se do fato de que a tradicional aliança hispano-francesa estava fragilizada, o que era reconhecido mesmo na corte espanhola. A ascensão dos novos ministros de Estado na França, com a morte do cardeal Fleury (1743) — especialmente a do conde D’Argenson,55 secretário de Estado e da Guerra; do marquês D’Argenson,56 secretário dos Negócios Exteriores, do bispo de Chavigny57 e do conde de Maurepas,58 todos partidários da Casa de Orléans e opostos aos interesses dos Bourbon espanhóis —, criava um panorama favorável para uma aliança luso-francesa,59 já que dom Luís sempre mantivera relações amistosas com os Orléans. Ele e Marco António de Azevedo se consideravam amigos de Chavigny e ambos acreditavam que este seria peça-chave para conseguir o apoio dos franceses nas negociações com a Espanha.60 Chavigny, a partir de 1739, havia servido como embaixador francês em Lisboa, estabelecendo fortes laços com o país. O contato do velho embaixador com os Orléans passava também pela amizade que estabelecera com D’Anville, outro dos fiéis servidores da casa, e com o marquês D’Argenson, com quem se relacionava desde 1737, quando de sua nomeação como embaixador francês em Portugal, ainda que esta tenha acabado por não se efetivar.61 O marquês D’Argenson e Chavigny eram comensais frequentes da mesa de dom Luís da Cunha, quando então este
Dom Luís e os mapas do Brasil Quando, ainda no segundo semestre de 1746, Vila Nova de Cerveira começou a entabular as primeiras conversações com as autoridades espanholas para dar início às negociações entre as duas partes, percebeu que as instruções que recebera quando partira de Lisboa eram insuficientes e as novas custavam a chegar,63 especialmente no que dizia respeito à questão da Colônia do Sacramento.64 O primeiro documento mais minucioso que lhe caiu às mãos sobre o assunto foi-lhe oferecido pelo próprio marquês de la Ensenada, a quem se queixara da falta de conhecimento aprofundado das negociações anteriores entre as duas Coroas. De posse desse relato espanhol, notou que o mesmo vinha acompanhado de um mapa e apresentava apenas uma versão parcial dos episódios, pois justificava somente os interesses e as pretensões que a Espanha tinha na disputa.65 Começou então a demandar instruções mais exatas de Portugal, rogando que “com a brevidade possível me remeta tudo o que entender que pode instruir-me, não porque me pareça tratar aqui este negócio, mas para saber responder se me falarem”.66 Por essa mesma época, dom Luís da Cunha deu início a uma nova e profícua produção de textos sobre o assunto. Ocupava o papel destinado a um savant iluminista — de se tornar conselheiro e espelho de seu príncipe, de oráculo no teatro do mundo. Em grande parte coligiu a documentação sobre o assunto que reunira durante toda a vida, nela inserindo sua própria visão,67 pois constituía-se numa memória viva de tudo que fora negociado pelos portugueses na primeira metade do século. Apesar de escrever a seu sobrinho queixando-se que estava cansado de redigir tantos relatórios,68 sentia um enorme prazer na posição de conselheiro da qual o rei o encarregara, manobrando os cordões da negociação pela Europa. Além de conselhos, o velho embaixador percebeu que poderia contribuir também com a parte cartográfica. 342
Desde o Tratado de Utrecht advogava que mapas deveriam nortear a negociação das fronteiras entre as nações e, a partir de 1724, estabeleceu a colaboração com D’Anville. Esse, a seu pedido, começara a trabalhar na cartografia da América desde 1737, e vinha aprofundando seu conhecimento sobre a geografia do continente. O interesse de dom Luís em contribuir para a produção de mapas do Brasil respondia também ao anseio do visconde de Vila Nova de Cerveira, também ciente de que mapas seriam um importante instrumento nessa negociação de fronteiras e que deveriam se munir dos que pudessem ilustrar a posição portuguesa. Logo nas primeiras audiências que tivera com Carvajal, este lhe assegurara “que tinha mapas, relações e documentos, e por eles se provava que as minas do Cuiabá estavam na demarcação da Espanha, e que no rio Maranhão se usurpara uma certa porção de terra que também tocava a Espanha”.69 Dom Luís da Cunha, que recebia cópias de todas essas cartas, prometeu então a Cerveira que lhe enviaria um mapa que retratasse a posição portuguesa, como também a relação de La Condamine sobre o Amazonas,70 e um outro, de autoria de D’Anville, que representava as missões jesuíticas do Paraguai. Trata-se da Carte du Paraguay, que o geógrafo publicara no Recueil des Lettres édifiantes, em 1733.71 Dom Luís prometeu ainda os “dois discursos largos sobre a linha divisória”, que D’Anville produzira a seu pedido em 1737.72 Cerveira foi informado do conteúdo desses discursos, pois em julho de 1747 chegou a mencionar a Carvajal que, segundo a “opinião dos geógrafos modernos”, as Molucas, as Filipinas e as ilhas Marianas estariam na porção portuguesa, “segundo as novas medidas do meridiano de Tordesilhas”, exatamente a opinião que D’Anville expressara nesses papéis.73 Também recebeu mapas, pois mais satisfeito, em fevereiro de 1747, afirmou que já possuía em seu poder “dois dos melhores mapas, que há, e nos podem servir para regular os limites dos nossos domínios”,74 mas, no mês seguinte, se queixou que o primeiro mapa que dom Luís lhe prometera ainda não tinha chegado.75 Tratava-se de “um pequeno mapa para verificar a sua opinião a nosso favor”, que D’Anville “ultimamente” fazia, a seu pedido.76 Caía a noite de 18 de agosto de 1747 em Madri quando um apressado viajante adentrou os muros da cidade.77 Estava empoeirado e cansado depois de cerca de dez dias de viagem acelerada desde Paris, onde, por
essa época, servia dom Luís da Cunha.78 As cidades de Blois, Poitiers, Bordeaux e Bayonne — todas em solo francês —, Vitoria, Miranda de Ebro, Burgos, Aranda de Duero, Boceguillas e Alcobendas79 — estas já na Espanha —, serviram apenas de pousos breves, suficientes para repousar o corpo doído da jornada do dia, trocar ou descansar os cavalos e alimentar-se precariamente — somente o necessário para recuperar as energias gastas na viagem. Mas as dores que lhe assaltavam o corpo já faziam parte do seu cotidiano, comum a todos aqueles encarregados de levar, com presteza e segurança, a correspondência entre os embaixadores portugueses dispersos pelas cortes europeias e, também, entre estes e as autoridades do reino. A seu encargo estava levar com rapidez, apesar de haver quem dissesse o contrário e o chamasse de tartaruga,80 a correspondência do embaixador. Uma vez no interior da cidade, o correio81 se deslocou com rapidez, pois as ruas sinuosas e as vielas estreitas, ainda quentes pelo calor do dia, eram suas velhas conhecidas. Sem demora percorreu o caminho até a casa de Vila Nova de Cerveira82 e já tarde da noite bateu à porta, mas, apesar do adiantado da hora, Cerveira não se encontrava. A preciosa encomenda foi, por isso, entregue aos criados do diplomata,83 e o visconde foi imediatamente avisado da chegada das novas de Paris.84 Junto das cartas enviadas por dom Luís estava um mapa manuscrito da América do Sul,85 que vinha acompanhado de uma carta explicativa, ambos de autoria de Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, geógrafo do rei da França.86 Tratava-se da cópia menor da Carte de l’Amérique méridionale, impressa no ano seguinte. Sequioso como estava por mapas de qualidade, sem poder encontrá-los em Madri, Cerveira recomendou a dom João V, opinião compartilhada por dom Luís da Cunha, que recompensasse regiamente o geógrafo.87 Dom Luís sabia da “dificuldade de regular os confins na América”. Por essa razão, defendia que, depois de estabelecido o acordo, se nomeasse uma comissão demarcatória para que “pessoas práticas” fizessem “um exame [...] dos mesmos lugares”. Mas isso não seria possível, segundo ele, “sem um mapa na forma que aponta mr. D’Anville”,88 pois esta carta era, na sua visão, o mais perfeito espelho do território brasileiro até então realizado. A Coroa portuguesa tinha conhecimento do grau de precisão do mapa de D’Anville. E por essa mesma razão, apesar de dom Luís ter enviado uma cópia menor 343
Nas páginas seguintes, vista da Calle de Alcalá, de Antonio Joli, Madri, c.1750.
Às vésperas do Tratado de Madri
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A diplomacia e o uti possidetis
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Às vésperas do Tratado de Madri
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A diplomacia e o uti possidetis
ao visconde de Vila Nova de Cerveira,89 o mesmo não foi apresentado aos espanhóis. Ordens vieram do reino, diretamente da pena de Alexandre de Gusmão, para que assim fosse feito. Um novo mapa estava sendo preparado em Portugal e logo seria enviado ao embaixador em Madri, estabelecendo as negociações em outras bases.
exploração econômica que justificasse tal dispêndio,94 por isso, e devido à crescente importância econômica da região mineradora, advogava, em terceiro lugar, que Sacramento fosse negociada em troca de outras praças mais importantes. Como quarto ponto, dom Luís da Cunha tinha cada vez como mais certo que as fronteiras entre Brasil e Espanha na América deveriam ser negociadas em conjunto e não se limitar à questão do extremo sul do Brasil. A Colônia do Sacramento e as Molucas seriam os pontos principais de troca, e as novas fronteiras que fossem estabelecidas deveriam se guiar pelas balizas naturais do terreno e pela predominância do uti possidetis, ou seja, cada Coroa ficaria com as terras que efetivamente tivesse colonizado. Como quinto ponto, dom Luís sustentava que os mapas, o mais precisos possível, deveriam guiar estas negociações, como espelhos dos territórios negociados e, após a assinatura de um tratado definitivo, fossem estabelecidos marcos que sinalizassem os novos limites e se fizesse um levantamento cartográfico o mais detalhado possível dos territórios americanos, estabelecendo sem sombra de dúvida a linha demarcatória entre os territórios das duas Coroas. Apesar da ascendência do velho embaixador sobre Alexandre de Gusmão, isso não foi suficiente para impedir que surgissem algumas diferenças na forma de encaminhar as negociações com a Espanha. Essas divergências já tinham começado a tomar forma na redação da Dissertation, mas se tornaram evidentes na construção dos argumentos e da cartografia que precederam o acordo diplomático em Madri, em 1750. Ao contrário do que defendia dom Luís, Gusmão procurara salientar nesse texto a impossibilidade de se saber a real posição do meridiano de Tordesilhas, apesar de ter conhecimento das estimativas de Delisle e de que medidas precisas haviam sido tomadas no Brasil.95 Outra divergência dizia respeito à troca da Colônia do Sacramento. Foi somente em setembro de 1748 que Gusmão aventou pela primeira vez trocá-la por um equivalente de terras, mas esse deveria ser apontado na Europa e não na América. Não era, portanto, um mecanismo para intercambiar possessões de uma e outra Coroa na América, nem se tratava de pensar as fronteiras americanas no seu conjunto e assim garantir a posse por parte de Portugal de grandes extensões de terra, por exemplo, na Amazônia ou no Centro-Oeste.96 Ainda que o tom do discurso de
Dom Luís da Cunha versus Alexandre de Gusmão Apesar dos esforços de dom Luís da Cunha, sua morte, em novembro de 1749, impediu que tomasse parte das últimas negociações para solucionar as questões territoriais na América finalizadas em Madri no ano seguinte. Ainda que tenha se envolvido, de Paris, nas negociações preliminares, foi Alexandre de Gusmão quem finalmente se destacou como o grande artífice da negociação dos limites, negociada por Vila Nova de Cerveira.90 Segundo Isabel de Cluny, sua ação, “desenvolvida nas negociações, que visavam pôr fim aos problemas no Brasil e no rio da Prata, foram tomadas a partir das propostas sugeridas por dom Luís da Cunha”.91 Porém, apesar de Alexandre de Gusmão ter ao fim e ao cabo posto em prática as principais ideias propostas ao longo do tempo pelo velho embaixador, a visão geopolítica de ambos e as estratégias utilizadas para a negociação dos limites foram divergentes em vários aspectos, apesar de terem convergido no texto final negociado. Ao longo de toda a sua correspondência, dom Luís da Cunha deixou bastante clara sua opinião a respeito de como encaminhar as negociações de limites. Em primeiro lugar, acreditava que as novas medidas dos meridianos terrestres não deixavam dúvidas de que a Colônia do Sacramento estava fora dos domínios portugueses estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, assim como grande parte da região mineradora (centro-oeste do Brasil) e da amazônica. Essa segurança em grande parte se assentava nas duas memórias sobre Tordesilhas que D’Anville produzira a seu pedido.92 Tal assertiva impunha, como segundo ponto, que a negociação deveria se basear nos acordos diplomáticos já realizados, e o Tratado Provisional e o de Utrecht creditavam, sem sombra de dúvida, a Portugal o domínio da Colônia do Sacramento.93 Segundo ele, no entanto, a manutenção dessa praça para os portugueses era cara e ali não havia 346
Gusmão se altere a partir dessa data, ele ainda continuou cético de que seria possível encontrar um equivalente que satisfizesse ambas as partes. No entanto, a questão da troca encontrou repercussão em Portugal e o assunto começou a ser discutido na corte com mais seriedade, inclusive com a participação de Gusmão. As instruções régias de 22 de novembro de 1748 determinaram finalmente a cessão da Colônia do Sacramento.97 Mas, em maio do ano seguinte, em vista da lentidão das negociações com a Espanha, ele perguntava a Cerveira, afinal, “qual é, pois, o equivalente que se oferece a Sua Majestade pelo dito território e Colônia?”. Entre irritado e descrente com a concretização dessa proposta, Gusmão desafiou o visconde a que “lance VExa. os olhos pelo mapa e conhecerá facilmente que nada podemos pretender, que não seja para Espanha de muito valor ou de mais grave consequências, que o que temos proposto”.98 Mas, ao final, no curso das negociações, os portugueses abriram mão da Colônia do Sacramento, que se tornou a importante moeda de negociação, conforme advogara dom Luís da Cunha havia muitos anos. Em janeiro de 1750, não sem grandes repercussões, ela foi entregue aos espanhóis, no acordo assinado em Madri. Apesar das divergências iniciais de Alexandre Gusmão, o Tratado de Madri de 1750, devido principalmente à iniciativa dos portugueses, acabou por ratificar a maioria dos pressupostos advogados por dom Luís da Cunha. A questão não se resumiu à Colônia do Sacramento, nem mesmo apenas à América, mas incluiu as Molucas, localizadas no mar do Sul ou oceano Pacífico, como grandes moedas de troca oferecidas pelos portugueses pelas possessões no Centro-Oeste e na Amazônia, neste último caso garantindo o monopólio português sobre as duas margens de toda a extensão do rio. Não se configurou nenhum equivalente de território na Europa. Os ajustes territoriais se configuraram tendo como princípio o uti possidetis, guiando-se sempre que possível pelos limites naturais do terreno. Desta maneira, todo o sertão interior da América ficou sob a posse dos portugueses. Porém, apesar dessas convergências, Alexandre de Gusmão continuou divergindo de dom Luís da Cunha em um ponto fulcral. Essa divergência se tornará clara, como se verá a seguir, na forma diferenciada como ambos encaminharam a construção do conhecimento cartográfico sobre a América portuguesa no alvorecer das negociações de 1750.
Alexandre de Gusmão, secretário pessoal de dom João V.
Fronteiras do império Em suas Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, livro em que, já perto do final da vida, condensou seus ensinamentos sobre a arte da cartografia e os conhecimentos necessários para produzi-la, D’Anville afirmou que os mapas mostravam “não apenas os limites das províncias, mas as províncias mesmo [quando] são ignoradas”.99 Isso seria possível porque mapas eram, na concepção iluminista que ele e dom Luís compartilhavam, espelhos perfeitos do território, projeções gráficas sobre o papel do mundo real, ainda que a própria região ou suas fronteiras fossem desconhecidas. Nesse caso, eram os espaços deixados em branco que desnudavam a localização desses territórios e dessas fronteiras ainda não conhecidas. Mas havia uma outra ideia ainda subjacente a essa sua afirmativa. Ao sustentar que os limites das províncias podiam ser ignorados, D’Anville, como o embaixador, partilhava da tese de que os limites podem existir ainda que não se soubessem onde se situavam, cabendo à cartografia revelá-los, dando-os a ver e, assim, possibilitando que os mesmos se tornassem conhecidos e dessa forma respeitados. Com essa crença revelava que 347
Às vésperas do Tratado de Madri
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
A diplomacia e o uti possidetis
No mapa da foz do rio das Amazonas, século XVIII, observa-se a representação de Marajó ainda como um arquipélago.
os mapas podiam ser uma invenção e não apenas um
que viesse a ser constituído. Era esse o desejo de dom
reflexo do território, antecipando o território que re-
Luís da Cunha ao encomendar a D’Anville a Carte de
presentam e não o inverso.100
l’Amérique méridionale: contribuir para o sucesso das
D’Anville apontava para a importância que a car-
posições portuguesas na negociação com a Espanha,
tografia desempenhava nesse processo de definição e
mas o mapa que deveria servir a esse propósito teria
consolidação das fronteiras. Desnudava o papel geo-
que ser um espelho o mais perfeito possível do espaço
político dos mapas de se anteciparem ao próprio terri-
representado. Dessa forma, poria definitivamente um
tório, representando-o e desvelando-o ao espectador,
fim a meio século de contendas entre as partes, já que
mesmo quando as próprias províncias ou seus limites
não restariam mais dúvidas sobre o território em ques-
fossem ignorados. Nesse caso, os mapas se tornam uma
tão. No século XVIII, um século extremamente bélico,
arma política de negociação, dando a ver o território
a transitividade entre cartografia e diplomacia permitiu
como as partes consideram que deveria ser ou queriam
que os tratados políticos e as delimitações de fronteiras 348
Ainda que Marco António de Azevedo se queixasse com Cerveira de que não podia entender por que razão o ministro espanhol não concordava imediatamente com a proposta portuguesa, visto que o volume de terras devolutas que sobrariam para cada uma das duas potências era imenso,105 resolver esse diferendo não seria tarefa fácil. Impunha muita negociação diplomática, e os mapas nesse contexto estavam destinados a desempenhar papel significativo. A segunda questão referia-se à “falta de mapas e notícias bastantes dos sertões por onde hão de passar os confins”, exatamente por não serem colonizados pelos europeus.106 Segundo D’Anville, “os espanhóis, ainda que ocupem muito de vasto na América meridional, não conhecem nada de províncias particulares do Rio da Prata, do Uruguai e do Paraguai”, ou mesmo do Chile, cujas possessões se estendem ao que nos mapas era chamado “Terre magellanique”.107 Com esta afirmação, o geógrafo chamava a atenção para o relativo desconhecimento que a Espanha tinha dos seus territórios no Novo Mundo,108 mas não diz o mesmo sobre os portugueses. Muito ao contrário, estava ciente de que os portugueses se preparavam havia algum tempo para negociar com os espanhóis, intensificando o conhecimento cartográfico sobre os sertões interiores do Brasil. Afirmou estar “informado que a corte de Portugal enviou os astrônomos a esse país para observar: mas eu tenho razões para acreditar que as razões de estado impedirão que os resultados dessas observações se tornem públicos”.109 Referia-se à missão dos padres matemáticos110 e queixava-se, desolado, de “ser privado desse recurso, que em vão solicitei”,111 o que tornava mais complexo o estabelecimento das longitudes concernentes ao continente sul-americano na carta que acabara de produzir desse continente. Mas, seguindo seu método costumeiro, realizou um longo processo de crítica das fontes de que dispunha, muitas fornecidas pelo embaixador, para definir de que forma o continente se estendia entre os meridianos que cortavam a região.112 No entanto, não se pode deixar de registrar aqui que tal desconhecimento do continente sul-americano por parte dos espanhóis era relativo, pois há vários mapas e obras de geografia sul-americana produzidos por eles nessa época, apesar de que não raro as informações e relatos fossem contraditórios,113 ou representassem apenas a parte povoada pelos espanhóis.
se conectassem intrinsecamente ao aprimoramento da cartografia em bases iluministas.101 Diplomacia e geografia se fundiam e se completavam, e a colaboração entre o embaixador e o geógrafo era mais um capítulo das conexões estabelecidas no seio de uma República das Letras europeia iluminista, colocada a serviço dos Estados nacionais para a consolidação de suas fronteiras. No trecho de seu livro que se segue à afirmação sobre o reconhecimento do papel dos mapas para revelarem os territórios e suas fronteiras, D’Anville, não por acaso, se refere à América do Sul. Segundo ele, “é no imenso espaço interior da América meridional (e não em um reino da Europa) que não se pode dispensar de traçar vagamente linhas de separação entre diferentes potências da Europa, tendo ali estabelecimentos sem limites bem definidos”.102 Ou seja, D’Anville sabia que as fronteiras que ele desenhava não correspondiam à realidade, mas não se furtou a propô-las e, ainda que as fronteiras fossem imprecisas, cabia aos geógrafos desenhar os limites, contribuindo para o grande debate que se estabelecia no campo das negociações diplomáticas entre Espanha e Portugal. Esses mapas não seriam então, como acreditavam os iluministas (entre eles, o próprio geógrafo e o embaixador), objetos neutros, descarnados, mas, sim, carregados de subjetividade e de intencionalidade política, construindo, e não revelando, a delimitação desses territórios coloniais no continente sul-americano. Às vésperas do Tratado de Madri, os negociadores portugueses propuseram duas linhas gerais para nortear as negociações, advogadas por dom Luís da Cunha, que acabaram sendo aceitas pela Espanha: “Em primeiro lugar, que nas terras já povoadas por qualquer das partes, cada uma [das Coroas] conservaria o que tivesse ocupado” e, “em segundo lugar, que se procurasse constituir a raia pelas balizas mais conspícuas e notáveis de montes ou rios grandes”.103 Duas questões surgiram da aplicação desses corolários. A primeira delas referia-se à existência de muitas terras não colonizadas nem por uma nem por outra Coroa — uma imensidão de “terras desertas, onde sobravam tantas a cada uma das Coroas que não poderia povoar em muitos séculos”.104 Essas terras evidentemente desertas do ponto de vista dos colonizadores, há séculos eram o habitat de tribos indígenas que vinham sendo progressivamente exterminadas, expulsas ou escravizadas. 349
A
INVENÇÃO DO BRASIL Uma guerra de imagens
A Carte de l’Amérique
os anos que antecederam à assinatura do Tratado de Madri, mapas iam e vinham
méridionale constitui um oráculo
entre Lisboa, Madri e Paris, “para inteli-
valioso. Ela antecipou e inventou o
gência dos limites apontados no Plano”
território brasileiro com as feições
produzido para resolver as questões.1 Por sua impor-
continentais que hoje conhecemos.
tância, a cartografia era invocada por todas as partes. Se mapas davam a ver os possíveis territórios a serem intercambiados na América, ou sua impossibilidade, também serviam para representar por onde deveria passar a raia em negociação. Por essa razão, cada Coroa tratava de “traça[r] com um risco vermelho” ou de qualquer outra cor, “ou passar uns fios de seda”,2 demarcando numa carta suas pretensões territoriais.3 Mapas, como o de La Condamine, da Amazônia;4 o de Diogo Soares, um dos padres matemáticos, que representava o rio de São Pedro
Carte de l'Amérique méridionale, na versão de 1779, com a inclusão do Parima, o alto Paraguai e o entorno da Lagoa Merim.
e Curitiba; o do Paraguai, de D’Anville, foram alguns dos reunidos pelos portugueses, entre tantos outros, e apresentados aos espanhóis para facilitar o processo de negociação.5 Outros foram intencionalmente escondidos ou utilizados apenas em parte pelos portugueses, 351
A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Uma guerra de imagens
como foi o caso da Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, ou a Descripçãm do Continente da América Meridional, produzida no Brasil às instâncias do vice-rei Gomes Freire de Andrade.6 Em 1747, quando dom Luís enviou a Carte de l’Amérique méridionale para Cerveira, em Madri, esta ainda não tinha seu aspecto acabado, mas tratava-se de um “pequeno mapa para verificar a sua opinião a nosso favor”.7 Jaime Cortesão acreditou tratar-se de uma carta manuscrita, que datou de 1742, cuja cópia fotográfica encontrou no Arquivo do Itamaraty.8 Na coleção D’Anville há uma carta também intitulada Carte de l’Amérique méridionale, muito semelhante à que traçara para o duque de Chartres, em 1737, porém esta não ostenta nem a dedicatória nem a data. Possui apenas uma página e suas dimensões são muito mais reduzidas que as da carta impressa de 1748. Mede apenas 47 centímetros de altura, por 34,5 centímetros de comprimento, o que se ajustaria perfeitamente ao pequeno mapa descrito por Cerveira. Teria sido esta a produzida em 1742, enviada a Madri em 1747 e referenciada por Cortesão? Se não se pode descartar esta provável datação (1742), certo é que se pode dizer com bastante segurança que não se trata do exemplar enviado para subsidiar as negociações em Madri, visto que a visão geopolítica que dom Luís advogava para o Brasil não se ajustava mais a essa configuração. Isso fica evidente na região da Colônia do Sacramento, que é representada de forma contínua ao território do Brasil na primeira versão e descontínua na segunda, favorecendo a política de troca de territórios que o embaixador passou a advogar; e na região amazônica que, na de 1742, restringe a soberania portuguesa ao baixo Amazonas, nas cercanias de Belém, respeitando o Meridiano de Tordesilhas. A carta impressa em 1748 é bem mais condizente com o que o embaixador defendia por essa época e, se não dispomos do exemplar enviado para Madri, é certo que ele deve ter sido bem próximo da versão manuscrita final da Carte de l’Amérique méridionale.9 Esta não apresenta o rio Jauru, na porção superior do rio Paraguai, conhecido em Lisboa desde 1743 e a respeito do qual dom Luís não tinha informações seguras. Nas suas Instruções políticas advogou que “os limites terrestres [da América portuguesa] poderiam ser o rio Paraguai, que nele deságua, subindo por ele até o Xarayes, ainda que o seu nascimento parece vir de mais longe”.10 A partir do Xarais, a fronteira seguiria “uma linha para west por espaço de 100 léguas, segundo se vê no
mapa, até encontrar o rio Madeira, que vai confundir a sua corrente com a do rio das Amazonas”.11 Que mapa seria esse a que o embaixador se referia de forma tão direta nas Instruções sem que houvesse necessidade de nomeá-lo? Tudo indica se tratar de uma das versões manuscritas da Carte de l’Amérique méridionale. Não só era dos poucos mapas da época a imprimir essa configuração ao centro-oeste do Brasil, já que a cartografia portuguesa havia abandonado a representação do lago dourado, quanto a linha divisória que propunha era exatamente esta que dom Luís da Cunha apontava. Sabe-se que tais instruções foram inicialmente escritas em 1736, mas que não foram enviadas na ocasião, sofrendo sucessivos ajustes até próximo à morte do embaixador em 1749.12 De que forma as fronteiras portuguesas na América foram configuradas na cartografia de D’Anville, até se consolidarem na Carte de l’Amérique méridionale, de 1748, e posteriormente em suas diversas reedições? Até que ponto essas configurações corresponderam às visões geopolíticas que dom Luís da Cunha formulou para a América? Para tanto é necessário cotejar as conformações do Brasil que a Carte de l’Amérique méridionale estabelece nas suas diferentes versões com a cartografia apresentada pelos portugueses durante as negociações em Madri, e, dessa forma, compreender como as diferentes concepções geopolíticas de dom Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão se espelharam em cartografias distintas. Apesar de dom Luís da Cunha ter enviado mapas de D’Anville para Madri e para o reino, esperando que fossem utilizados nas negociações, por fim decidiu-se em Portugal produzir um “mapa geral (...) que bastará para a demonstração de tudo” que se pretendia.13 Intitulado Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional, ficou conhecido como o Mapa das Cortes, porque foi o que afinal serviu “para ajustar o Tratado da divisão dos limites na América meridional assinado [entre as duas Cortes] em 13 de janeiro de 1750”.14 Os dois mapas baseavam-se em duas concepções geopolíticas muito diferentes, como analisaremos mais adiante.
A bacia do Prata Percebe-se que os limites entre as duas Coroas referenciados por D’Anville ao longo de sua cartografia da América variou com o decorrer do tempo. Comecemos 352
pela região da bacia do Prata e os mapas utilizados para configurar esta área. D’Anville possuía exemplares tanto da cartografia portuguesa quanto da espanhola, além, é claro, de mapas produzidos pelos jesuítas. Seus mapas da bacia do Prata e do Paraguai totalizam 12 exemplares. Descontando-se dois de sua autoria e um de Bellini, que é posterior a 1748 e se baseia no seu próprio mapa, ele dispunha de nove mapas da região. D’Anville contou ainda com memórias e relatos dos missionários da região que utilizara na produção de seu mapa Le Paraguay.15 É bastante sugestivo observar de que maneira D’Anville representa a região da bacia do Prata em seus diversos mapas, nos quais o viés político é marcante, e como se apropria dessa cartografia de base para configurá-los. Sua representação se modifica ao longo do tempo e observa-se que é sempre um reflexo do que dom Luís da Cunha entendia serem os interesses dos portugueses. Seu primeiro mapa da região, desenhado para os jesuítas, intitula-se Le Paraguay, inserido nas Lettres édifiantes de 1733. Nele, D’Anville não estabeleceu nenhuma linha de demarcação, estendendo o território do Brasil até a margem norte do rio da Prata, incluindo a Colônia do Sacramento. Justificou na memória que escreveu sobre ele que “não se contesta ao Brasil as bordas do mar, até o rio da Prata, onde os portugueses possuem a Colônia do Sacramento, junto das pequenas ilhas de São Gabriel”. Dada essa “continuação do Brasil” até a margem setentrional do rio da Prata, D’Anville não traçou limites nessa área.16 Porém, apesar de não haver nenhuma linha desenhada, a foz do rio da Prata e sua junção com o Paraná e o Paraguai, até a lago Xarais e, acima dela, um pequeno rio que sai um pouco a leste, configuraram um limite natural do terreno entre as possessões das Coroas de Portugal e Espanha. Observa-se que esse mapa estava bastante afinado com a proposta que os portugueses sustentavam naquela época, pois esses “supõem que lhes pertence toda a costa que corre desde a capitania de São Vicente até as margens do rio da Prata”. 17 A visão dos espanhóis, por seu turno, era radicalmente oposta, e seus mediadores argumentavam que “o Conselho de Índias tem provas que parecem incontestáveis de que a extensão da demarcação das costas dos portugueses de norte a sul não é mais que de 370 léguas, o que termina efetivamente no fim desta capitania e cai sobre aquilo que os espanhóis chamam nos seus títulos Água de Peruega e, por consequência, há mais de duzentas e vinte e cinco léguas ao
Dom Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira, 1791.
rio da Prata”.18 A Carte manuscrite de l’embouchure de rio da Prata, produzida no contexto das negociações dos anos 1740, pertencente à coleção de D’Anville, mostra bem esse diferendo, utilizando duas linhas com cores diferentes. O amarelo demarca as pretensões portuguesas; e o vermelho, as espanholas. Ainda que nessa época essa configuração do Brasil, estendendo-se sem limites até a costa setentrional do rio da Prata, não era mais a que D’Anville representasse em seus mapas, ou dom Luís da Cunha advogasse, foi o mapa Le Paraguay o apresentado pelos portugueses ao se iniciarem as negociações em Madri. Tal estratégia convinha bem a Portugal, pois ele apresentava como tábula rasa, na falta de demarcação clara de fronteiras, todo o processo de disputa que esse território sofrera entre as duas Coroas, desde a criação da Colônia do Sacramento, em 1680. A opção por esse mapa teve início em 1747, quando Vila Nova de Cerveira procurava na cidade “mapas da América meridional para ir examinando por onde os castelhanos confinam com os nossos descobrimentos no Brasil, conforme as suas mesmas cartas geográficas”. Entre as que lhe caíram nas mãos constou uma que fora feita “pelos padres da Companhia do Paraguai” e que Cerveira achou bem adequada. Vendo-se frustrado em seu desejo de alcançar um exemplar desse mapa na 353
A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Uma guerra de imagens
cidade, escreveu “a dom Luís da Cunha para que o mandasse procurar em Paris”. Como era seu costume, dom Luís recorreu diretamente a seu autor. D’Anville “tom[ou] por sua conta fazer copiar o dito mapa, já emendado no ano de 1732”.19 No ano seguinte, Marco Antônio de Azevedo, ao listar os mapas que Cerveira podia apresentar aos negociadores espanhóis, concordou com a utilização desse mapa. A 26 de março de 1749, quando finalmente deu-se a primeira conferência com José de Carvajal, ministro espanhol, Cerveira principiou a conferência “com o mapa à vista que fizeram os jesuítas do Paraguai, e emendou mr. D’Anville no ano de 1732”. O ministro espanhol, no entanto, “preferiu um exemplar impresso em tafetá, para poder melhor passar uns fios de seda que assinalassem os ditos limites”. Cerveira aceitou o expediente, apesar de achar que o procedimento mais fácil era simplesmente marcar com um lápis vermelho num mapa de papel.20 Ao produzir sua Carte de l’Amérique méridionale, para o estudo do duque de Chartres, em 1737, D’Anville já modificara por onde deveria passar a fronteira nessa região, pois, desde 1734, passara a advogar a necessidade de reformar a configuração do Paraguai. Afirmou que era necessário fazer uma extensão do território do Brasil até a possessão que os portugueses tinham na margem setentrional do Prata, a Colônia do Sacramento, mas esta tinha que ser interrompida na região de Montevidéu onde os espanhóis haviam se instalado.21 Observa-se assim que, na carta de 1737, na região sul do Brasil, a linha de limites corresponde exatamente a essa nova percepção da configuração geopolítica. A raia, perpendicular à costa e não muito distante dela, coincide grosso modo com o local por onde passaria o meridiano de Tordesilhas. Dessa forma, alonga os domínios do Brasil até a foz do rio da Prata, mas esses não abarcam toda a margem setentrional do rio. De fato, o território português toma na base final a forma de uma forquilha ou de um Y invertido. Uma das duas extremidades corresponde à Colônia do Sacramento e a outra à ponta de Castilhos, ou Maldonado. No espaço entre as duas estaria Montevidéu, possessão que os espanhóis haviam assegurado e fortificado, em 1736. A raia divisória não acompanha o rio Paraguai, nem utiliza o Xarais como elemento natural para dividir o terreno, o que deixa claro que não foi esse que dom Luís tinha nas mãos quando se referiu a um mapa nas suas Instruções políticas. Neste, de 1737, D’Anville projeta uma província do
Paraguai, autônoma, que se estende entre as possessões portuguesas, a leste, e o rio Paraguai, a oeste, no território ocupado em grande parte pelas missões jesuíticas. O mapa de 1737 refletia com precisão o contexto político da região nessa época. Mais que tudo, refletia o interesse de dom Luís de mostrar às autoridades francesas como as posses de ambas as Coroas naquela região estavam embaraçadas e alimentavam uma situação explosiva. A continuidade do território brasileiro, acompanhando aparentemente o que mais ou menos conformava o meridiano de Tordesilhas, fazia com que a presença dos espanhóis em Montevidéu parecesse extemporânea e incômoda aos direitos dos portugueses. A imagem do mapa legitimava claramente a Colônia do Sacramento frente ao olhar inquisitivo dos franceses, a quem o embaixador tentava convencer por serem intermediários nas negociações. É bastante provável que esse mapa tenha sido desenhado juntamente com a dissertação que, em 1737, D’Anville produziu sobre o meridiano de Tordesilhas, dando a ver os interesses portugueses conforme a concepção de dom Luís da Cunha. A proximidade entre os limites que D’Anville advoga na dissertação e esse mapa, além da coincidência de datas, é suficiente para estabelecer a relação entre os dois. A outra versão dessa carta, talvez de 1742, sem a dedicatória ao príncipe de Orléans, apresenta a mesma raia divisória, e não seria portanto a que dom Luís teria enviado a Madri, visto que não refletia mais a visão geopolítica que sustentava os limites do Brasil em meados do século XVIII. Sem sombra de dúvida, é a primeira versão da Carte de l’Amérique méridionale, de 1748, que apresenta a configuração mais acabada da proposta que dom Luís, em fins dessa década, defendia para os limites com a Espanha. Nela, a Colônia do Sacramento não aparece mais conectada ao território do Brasil, configurando-se como um enclave português às margens do Prata. Visualmente, essa apresentação da Colônia como uma porção isolada era mais favorável para convencer os dois lados das vantagens de uma possível troca de territórios, como ele advogava. Bastava olhar o mapa para concluir que a mesma seria de interesse dos espanhóis, que ficariam livres dessa incômoda e pontual presença portuguesa no estuário do rio. Apesar de territorialmente diminuta, ela era de consequências econômicas e políticas importantes. Além de ser por ali que os comerciantes luso-brasileiros drenavam a prata peruana para 354
O Centro-Oeste e a Amazônia
seus domínios, a Colônia era ponto de constante tensão entre as duas Coroas, desde que fora criada em 1680. Livrando-se dela, a Espanha poderia completar sua hegemonia sobre toda a margem setentrional do Prata. Todavia, mais que convencer os adversários, essa configuração fazia parecer aos portugueses, para quem a entrega da Colônia também não era ponto pacífico, que abriam mão de um território insignificante em troca de porções significativas de terreno no Centro-Oeste e na Amazônia. De fato, a troca da Colônia, enfim acordada em Madri, provocou bastante mal-estar em Portugal, e os adversários da ideia, especialmente a Companhia de Jesus, encetaram uma campanha difamatória contra Alexandre de Gusmão, culpando-o pessoalmente pelo acontecido. As críticas eram injustas, Gusmão resistira enquanto pôde à troca, aceitando-a apenas nos momentos finais da negociação. Ao contrário, dom Luís da Cunha foi ferrenho defensor desta política22 e a Carte de l’Amérique méridionale contribuía visualmente para diminuir o impacto do que no reino se chamou de a entrega da Colônia. Em linhas gerais, a raia desenhada nessa carta na porção sul do território assegura a posse de uma estreita faixa litorânea no Rio Grande do Sul, colonizado pelo brigadeiro José da Silva Pais, com o estabelecimento, em 1737, do forte de Jesus, Maria e José e era consoante a proposta “feita em 1714, durante as negociações do Tratado de Utrecht, e que admitia o prolongamento do Brasil, exclusivamente até a embocadura do Prata por uma língua de terra, de 10 léguas de profundidade, a partir da capitania de São Paulo”.23 A partir do extremo sul do Brasil, na porção inferior da lagoa Merim, a linha contorna-a pelo oeste e, a partir daí, utilizando montes e rios, vai interiorizando-se cada vez mais no sentido noroeste até atingir o rio Paraguai; daí dirige-se ao norte, coincidindo com o curso desse rio até atingir o lago do Xarais. As versões de 1754, 1760 e 1765 não alteram a configuração das bacias do Prata e do Paraguai, e somente na de 1779 acrescenta uma parte norte do curso do rio Paraguai na porção superior do lago do Xarais, incluindo neste trecho dois tributários — o Supoaiva (?) e o Jauru (já no Mapa das Cortes sua embocadura foi utilizada como limite). Esse artifício permitiu que a raia divisória, que, num pequeno trecho na porção inferior do lago, já vinha acompanhando o curso do Paraguai, continuasse na parte superior, utilizando o rio como limite natural.
Em todas as versões da carta, a partir do rio Paraguai, a linha penetra cada vez mais para o noroeste até atingir o Amazonas entre São Pedro e Nossa Senhora de Guadalupe. Trata-se exatamente da última povoação portuguesa e da primeira espanhola existentes no curso do rio. Observa-se que, até atingir esse ponto, a raia passa por um território que, com a exceção do rio Madeira, é totalmente desconhecido. O traçado do Madeira D’Anville deveu principalmente a Ignacio dos Reys. Foi na casa de Convay, em 1729, que ele desenhou três cartas da região a partir dos desenhos e instruções desse religioso.24 Duas davam detalhes da embocadura do Madeira e alguns tributários, como os rios Urubu, Uatuma25 e Abacaxi,26 nas redondezas de onde o padre estabelecera sua missão.27 A partir dessas informações, D’Anville estabeleceu a conformação da rede fluvial em torno da foz do Madeira. Sem elementos geográficos seguros entre o Xarais e o Amazonas (o curso do alto Purus, desconhecido, é insinuado apenas por um tracejado), a linha divisória configura-se nesse trecho apenas pela geometria. Dessa forma, uma linha ascendente vai se interiorizando cada vez mais a noroeste e corta o Madeira exatamente num trecho com poucas informações geográficas. Nessa região, um texto do geógrafo informa que 22 saltos de cachoeiras interrompem o curso do rio entre as possessões portuguesas e as missões espanholas. Está configurado, portanto, um elemento natural que separa os domínios das duas Coroas e justifica a artimanha do autor de traçar uma fronteira sem um referencial seguro. Sem elementos geográficos conhecidos, o traço corre linear, sem se sobrepor a serras ou rios, que poderiam configurar elementos demarcatórios naturais, até atingir o rio Amazonas. Sem sombra de dúvida, com esse traçado ficava garantida a posse portuguesa de todas as regiões mineradoras do Centro-Oeste: Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Isso significava também “preservar a estrada fluvial das monções, que ligava [São Paulo] a Cuiabá e, finalmente, unir Mato Grosso aos territórios da Amazônia”.28 A partir do rio Amazonas uma linha meio artificial, que se curva para leste, separa as missões jesuíticas dos portugueses da dos espanhóis, cortando perpendicularmente vários rios da região. É preciso chamar a atenção 355
A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Uma guerra de imagens
Mapa manuscrito de partes do rio Amazonas, de Ignacio dos Reys, 1729.
O Cabo do Norte e as Guianas
para o fato de que, nesse trecho, D’Anville representa as bacias do rio Negro e do Solimões comunicando-se en-
Quanto às Guianas, D’Anville valeu-se das medições que Richer e La Condamine tomaram da foz do Aprouak, o primeiro, e da baía de Vicente Pinzon, o segundo, determinadas a partir do meridiano de Caiena.30 Isso permitiu que estabelecesse com precisão a linha proposta para o limite que, a partir desse cabo, segue mais ou menos perpendicular até a região do lago Amucu. É preciso salientar que, em linhas gerais ele faz uma junção dos interesses franceses e portugueses nessa região. Assim é que, desde fins da década de 1720, a cartografia francesa advogava a distinção entre o Oiapoque e o rio de Vicente Pinzon, para diminuir as pretensões dos portugueses nas terras do Cabo Norte.31 Valendo-se em grande parte das observações dos viajantes franceses que percorreram o litoral da região — principalmente La Condamine, que, na viagem entre Belém e Caiena, traçou esboços ao longo do seu trajeto e tomou as medidas dos locais percorridos —, D’Anville manteve esse estratagema. Sua Carte manuscrite de la Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique, de 1745, já mostra claramente a separação dos dois rios.
tre si, segundo as informações de Gumilla e de Acuña, referendadas por La Condamine, sem que o viajante francês jamais tenha atingido a parte superior do rio.29 O trecho em torno do Amucu foi estabelecido a partir das informações da viagem do prussiano Horstman, e a posterior inclusão do lago Parima graças, segundo ele, a fontes castelhanas não mencionadas. Enquanto a inclusão do Amucu foi favorável aos interesses dos portugueses, a inclusão do Parima, nas versões posteriores a 1760, fortaleceu os interesses da Espanha nessa região. Na região Amazônica é visível o acréscimo do território português em relação às duas versões mais simples da Carte de l’Amérique méridionale, a de 1737 e a de c.1742, que abarca apenas o baixo Amazonas. Na de 1748, a fronteira abrange quase toda a porção oeste da bacia e setentrional da planície em torno da calha do rio, estendendo-se, a norte, até a Guiana holandesa e, a oeste, até o vice-reinado do Peru, para muito além do meridiano de Tordesilhas que, grosso modo, passa junto à foz do rio, próximo à ilha de Marajó. 356
o projeto geopolítico que dom Luís da Cunha defen-
O local escolhido na carta de 1748 para o início da linha divisória é então o rio e a baía de Vicente Pinzon. Porém, ainda que, à primeira vista, o mapa conformasse apenas os interesses franceses, na verdade o mais importante para os portugueses ficava preservado. Com essa divisão, a América portuguesa ficava na posse de todos os seus antigos fortes construídos nos limites do que considerava seu território por direito e, mais importante ainda, garantia o domínio sobre o estuário e todo o curso do Amazonas, podendo fazer valer as interdições de comércio nessa área às nações estrangeiras. O mapa, nesse sentido, refletia a culminância de um lento processo de construção da hegemonia portuguesa na calha do Amazonas, defendida por dom Luís da Cunha, desde Utrecht, e enfim alcançado com o Tratado de Madri de 1750.32 Evidencia-se assim que a representação das porções sul, oeste e norte do Brasil na Carte de l’Amérique méridionale de 1748 de D’Anville, e não nas versões de 1737 e c.1742, ilustra as ideias advogadas por dom Luís da Cunha para o território brasileiro por essa época. No sul, desde a capitania de São Paulo, o Brasil se prolonga numa estreita faixa litorânea que margeia as lagoas dos Patos e Merim, e termina pouco antes da foz do rio da Prata, não se estendendo até a Colônia do Sacramento e os Sete Povos das Missões, posicionados evidentemente em região para além do meridiano de Tordesilhas, mas sob o domínio luso. O mapa deixa evidente as possibilidades de troca entre esses dois terrenos. A oeste a linha de limites preserva na porção portuguesa as áreas de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, garantindo o seu domínio sobre esse coração minerador da América, conectando-as à região amazônica, conforme advogava dom Luís da Cunha e os emboabas ilustrados, que viam nas minas brasileiras o “baú que a velha tem”. No norte, apesar de grande parte dessa área estar posicionada também em território extra-Tordesilhas, os portugueses garantiam a total jurisdição de toda a calha do Amazonas e mesmo de grande parte dos seus tributários da margem setentrional, estendendo o território luso até as fronteiras com as Guianas e com o vice-reinado do Peru. Dessa forma, o mapa não era apenas resultado do processo de desvelamento da geografia do continente, permitido pela progressiva interiorização dos europeus no território, como pretendia D’Anville, mas dava a ver
dia ser o favorável aos interesses dos portugueses na América. Não era, pois, um documento neutro como acreditavam os iluministas, mas carregado de intencionalidade, ainda que para isso não fosse necessário distorcer o território apresentado, mas, antes, configurá-lo da forma mais realista possível.
Carte de l’Amérique méridionale versus Mapa das Cortes No ano de 1749, os meses que se sucederam à decisão portuguesa de ceder a Colônia do Sacramento foram marcados por uma tensão sem precedentes. Os portugueses insistiam que os espanhóis apontassem um equivalente a ser intercambiado e se arraigavam ao fato
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Guiana, Antilhas e Martinica, no detalhe do mapa manuscrito por D’Anville, em 1745.
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“que se procurasse constituir a raia pelas balizas mais conspícuas e notáveis de montes ou rios grandes”.33 Espanhóis e portugueses travaram então um episódio sem precedentes na longa batalha diplomática pela definição das fronteiras do Brasil. O tratado de 1750 não pôs fim aos diferendos entre as duas Coroas. As divergências de limites na América meridional ainda se estenderão até os séculos XIX e XX, já num contexto pós-independência, desta feita envolvendo as jovens nações americanas. Porém, sem dúvida a negociação representou um marco ao conferir à América portuguesa feições muito próximas às do Brasil atual. O acordo eliminou o Tratado de Tordesilhas e, pela primeira vez, em vez de uma linha demarcatória imaginária, constituiu limites a partir de experiências concretas, fosse a colonização efetivada ou os limites naturais do terreno, ainda que em vários casos ambos tenham sido produzidos pela invenção humana. Essa disputa foi uma guerra de imagens cartográficas. Antecipando-se aos espanhóis, os portugueses foram capazes de elaborar um documento cartográfico base, apresentado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira. Conhecido como o Mapa das Cortes,34 esse documento era o espelho da posição que Portugal defendia em termos de formato das possessões das duas Coroas na América. Como os Andes acabaram formando uma barreira natural à interiorização dos espanhóis, a partir da costa oeste, os vastos sertões do planalto central do continente foram mais facilmente atingidos pelos exploradores luso-brasileiros, apesar de pertencerem à Coroa espanhola, conforme definido pelo Tratado de Tordesilhas. Com um sábio uso da rede de rios que cortava a região, os portugueses acabaram colonizando o Centro-Oeste, e, à medida que os exploradores penetravam pelo interior, aumentava o conhecimento geográfico desses territórios. Essa precedência, e o relativo desconhecimento dos espanhóis em relação às reais dimensões do interior do continente americano, permitiu que Portugal assumisse a dianteira das negociações e garantisse, no tratado assinado em Madri, que a linha demarcatória fosse estabelecida a partir do Mapa das Cortes. Uma última dimensão, portanto, desse estudo abarca as visões geopolíticas de Alexandre de Gusmão, grande articulador do Tratado de Madri, e de dom Luís da Cunha, expressa no mapa de D’Anville a partir
Tratado de Madri, assinado em 13 de janeiro de 1750.
Maria Barbara de Braganza, filha de Dom João V, foi rainha da Espanha de 1746 a 1758.
de que era legítima a posse que detinham desse enclave. Nesse contexto, qualquer vazamento de informações para a Espanha poderia ser extremamente prejudicial. Não se tratava mais de apenas indicar um equivalente de terras que pudesse ser trocado entre as duas cortes, mas, como advogara durante anos o próprio dom Luís da Cunha, a questão passou a tomar uma forma muito mais abrangente, implicando não só a definição de uma nova e ampla linha demarcatória entre todos os territórios na América, mas também o envolvimento das regiões em disputa no mar do Sul - Molucas e Filipinas. Esboçava-se uma negociação que abarcava dimensões mundiais e todo cuidado era pouco. A negociação baseou-se em invocar tratados, autoridades e documentos históricos do processo de colonização da América, inclusive mapas históricos e coevos que pudessem ser utilizados para justificar a posse pretendida por cada parte. Em se tratando de invasões dos territórios adversários, estabeleceu-se que se lançaria mão em primeiro lugar do direito de uti possidetis, em que “cada um conservaria o que tivesse ocupado”, e em segundo lugar 358
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da comparação entre o Mapa das Cortes e a Carte de l’Amérique méridionale. As diferenças denotam que, apesar do pensamento político de dom Luís ter sido, em grande parte, levado a cabo pelos negociadores, por influência do próprio Gusmão, a produção cartográfica do território e a forma de condução geopolítica das negociações foram divergentes. Quais eram essas diferenças? Por que, para servir aos propósitos que ambos entendiam serem os da Coroa portuguesa, o Mapa das Cortes distorcia as dimensões da América, enquanto a Carte de l’Amérique méridionale procurava restabelecer, sob princípios muito claros, suas reais dimensões? Desde o primeiro quartel do século XVIII, em grande parte por insistência de dom Luís da Cunha, a Coroa portuguesa não poupou esforços para reunir um conjunto cartográfico de peso sobre o Brasil, com vistas a municiar seus embaixadores em negociações na Europa, a partir da Guerra da Sucessão Espanhola. Em 1719, o Conselho Ultramarino, órgão gestor da política colonial portuguesa, recomendou que se incentivasse a produção de mapas sobre o Brasil.35 Depois de quase trinta anos de levantamentos geodésicos locais e regionais, e utilizando muitos relatos e mapas de sertanistas, em 1746, por ordem de Gomes Freire de Andrade, então vice-rei do Brasil, foi realizado o mapa intitulado Descripção do continente da América Meridional. Produzida no Brasil, esta carta consolidava o conhecimento cartográfico no e sobre o território brasileiro, assim como o posicionamento de Portugal em relação ao continente sul-americano, já esboçando uma linha divisória com as possessões espanholas, que ainda respeitava os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Esse mapa foi então enviado a Gusmão para que servisse de base para a cartografia a ser produzida durante as negociações.36 De Lisboa, uma cópia seguiu para Madri.37 Em dezembro de 1748, Cerveira recebeu instruções sobre os mapas que poderiam ser mostrados. Inicialmente, a lista incluía o mapa de Diogo Soares, para a região do Rio Grande do Sul; o Le Paraguay, de D’Anville, para a bacia do Prata; o de Gomes Freire, para o Sudeste, incluindo Goiás e Mato Grosso. Dali até o Amazonas, seria usada a Carta das Missões dos Moxos, que compunha o tomo 12 das Lettres edifiántes, e finalmente, para o Amazonas, o de La Condamine e D’Anville. Nesse momento, os portugueses se conformavam com “os mapas que já houver, porque se 360
tivéssemos de esperar por outros que agora se mandassem formar no mesmo país ficaria a conclusão do Tratado para as calendas gregas”.38 A despeito dessa primeira ordem, no dia 28 de dezembro, a Coroa ordenou a Cerveira que, “quanto ao mapa mandado por Gomes Freire de Andrade, não convém comunicá-lo da sorte que está”. A justificativa para tal decisão foi que “nele apontou o governador a raia que lhe parecia conveniente estabelecer-se, sendo a sua ideia por falta de inteira notícia das nossas razões muito inferior ao que justamente devemos pretender”.39 Esse limite se assemelhava bastante com a proposta na Carte de l’Amérique méridionale, de 1737, abrangendo uma parte pequena da Amazônia e concordando em linhas gerais com o meridiano de Tordesilhas. As instruções o advertiam de que, se fosse necessário “valer-se daquele mapa, pelo que respeita ao caminho de São Paulo para o Cuiabá, e até o Mato Grosso (que é somente o que ele contém de mais particular) poderá VExa. ou fazer copiar só aquela parte, ou o mapa todo suprimindo o que aponta a respeito da futura raia”. Cerveira foi então avisado de que “o mapa geral que tenho prometido a VExa. e que bastará para a demonstração de tudo, ainda não está acabado.40 Observa-se, no entanto, que, entre 14 e 28 de dezembro de 1748, a Coroa desistiu de apresentar apenas fragmentos ou cópias dos mapas já na posse do embaixador e produzir um novo mapa com a linha divisória que pretendia negociar. Por que a Coroa optou por esse procedimento, quando seu diplomata em Madri já possuía uma cartografia com razoável confiabilidade para guiar os trabalhos diplomáticos? Em 1749, o novo mapa, finalmente acabado, seguiu para a Espanha. Confeccionado sob os auspícios de Alexandre de Gusmão, o Mapa das Cortes se tornou de fato a peça cartográfica chave para o estabelecimento dos limites no Tratado de Madri.41 No entanto, a despeito do que haviam dito as autoridades portuguesas, as diferenças entre ele e o mapa que Gomes Freire havia mandado confeccionar não se limitavam à proposição da raia. O Mapa das Cortes apresentava sérias inexatidões:42 “vários centros urbanos importantes do interior do Brasil foram empurrados para o oriente, sendo que a cidade de Cuiabá foi deslocada para leste em cerca de 5º, situando-se bem mais próxima de onde passaria o meridiano de Tordesilhas, e a distância entre os meridianos de Belém 361
Na página anterior, o mapa Descripçam do Continente da America Meridional, de 1746, produzido por ordem do vice-rei, Gomes Freire de Andrade, sintetizou todo o conhecimento geográfico dos portugueses sobre o Brasil.
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Fragmento manuscrito para correção do mapa da América do Sul, por D’Anville.
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e da Colônia de Sacramento foi estabelecida em apenas 7º e 20’”.43 Esses e vários outros deslocamentos decorriam do fato de o mapa estar viciado nas longitudes, apesar de só as latitudes estarem numeradas na carta. Com esse estratagema, toda a América portuguesa foi deslocada para leste e “a área extra-Tordesilhas do Brasil era (...) bastante diminuída, o que dava a impressão de haver poucos ganhos territoriais para os portugueses a oeste deste meridiano”.44 Quando as distorções da carta são corrigidas, posicionando os acidentes geográficos corretamente em relação aos meridianos, tornam-se evidentes os ganhos territoriais que os portugueses procuravam escamotear dos espanhóis.45 Evidencia-se dessa forma que o projeto geopolítico de Alexandre de Gusmão se assentava numa ilusão cartográfica – um espelho deformado da América portuguesa –, “mais desenhado para enganar do que para informar”.46 Por seu turno, a Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, que espelhava a concepção geopolítica de dom Luís da Cunha, representava o território português com feições muito mais próximas do que ambos acreditavam ser o real, a partir das informações disponibilizadas pelo embaixador, por La Condamine e por outros sábios e viajantes, reunindo-as a partir de um método de crítica de geografia. Este era o desejo do embaixador: Apenas uma carta exata poderia pôr fim a mais de meio século de disputas territoriais. De fato, mesmo dispondo de fontes incompletas para muitas regiões, não se
observa o deslocamento geográfico do Brasil para leste.47 Isso evidencia as máximas que, segundo dom Luís, deveriam guiar as negociações: sem escamotear a realidade geográfica, baseando-se em mapas precisos, as negociações deveriam se guiar pelo já acordado em tratados anteriores, respeitando o uti possidetis e as balizas naturais do terreno. As discrepâncias entre a Carte de l’Amérique méridionale e o Mapa das Cortes denotam que a visão geopolítica do território e a forma de condução das negociações entre ambos eram divergentes. Para o experiente embaixador, tratava-se de apresentar o território com maior acuidade, partilhando com os representantes espanhóis o conhecimento que os portugueses reuniram, e encaminhar diplomaticamente a solução dos conflitos, valendo-se dos tratados já acordados. Nesse aspecto, o mapa de D’Anville era um espelho fiel do Brasil inventado pelos portugueses naquele momento. Para Gusmão, impunha-se a necessidade de escamotear as reais feições do território, de modo que as negociações, tomando proveito do relativo desconhecimento dos espanhóis no tocante a significativas porções de terra, se fizessem de maneira que os mesmos aceitassem as proposições portuguesas.48 Paradoxalmente, os dois mapas colocavam em lados opostos dois antigos aliados: Alexandre de Gusmão e dom Luís da Cunha. Com a intenção de bem servir aos propósitos que entendiam ser os da Coroa portuguesa, ambos inventaram um novo Brasil, usando artifícios diferentes: o Mapa das Cortes distorcia as suas dimensões e a Carte de l’Amérique méridionale procurava restabelecer, sob princípios muito claros, a espacialidade real no interior do continente americano, ainda que muitas conformações mitológicas do continente ainda permanecessem. No contexto do Tratado de Madri, a visão de Alexandre de Gusmão saiu vencedora e, a despeito dos esforços posteriores de D’Anville na defesa de sua conformação territorial da América, foi o Mapa das Cortes que serviu como base para o estabelecimento do tratado e passou a ser considerado o mapa que teria inventado esse novo Brasil. Mas o tratado também previu que partidas bilaterais deveriam estabelecer os marcos de pedra que demarcassem os limites na América. Quando começaram a tomar as medidas locais, as distorções do Mapa das Cortes se tornaram evidentes. 362
Durante muito tempo, a Carte de l’Amérique méridionale de D’Anville, de 1748, foi considerada um tesouro perdido. Sua primazia e importância para a construção do território brasileiro, estendendo-se continentalmente numa feição triangular, muito a oeste do determinado pelo meridiano de Tordesilhas, foram esquecidas. Isso ocorreu devido ao fato de, intencionalmente, a carta não ter sido apresentada aos espanhóis durante as negociações, a despeito de dom Luís da Cunha ter enviado uma cópia, talvez em tamanho reduzido, para Cerveira. Optou-se por usar o Mapa das Cortes. Logo depois, houve quem duvidasse da qualidade da Carte de l’Amérique méridionale. Em 1750, Francisco Tosi Colombina, engenheiro genovês contratado por Portugal, indicado pelo próprio D’Anville, para participar da expedição de limites no Brasil, após estudá-lo por ordem do conde dos Arcos, então governador de Goiás, concluiu “que não se pode fazer fundamento deste mapa de D’Anville para a referida Coroa e pelo que respeita ao interior da América, que pertence a esta Coroa, é muito errado e nem serve para fazer acertar a divisão dos governos e bispados dela”.49 Colombina, que já se encontrava no Brasil há quase um ano, tendo rodado algumas partes de Goiás, tinha conhecimento de outras capitanias por levantamentos geodésicos locais, especialmente o realizado pelos padres matemáticos. Por essa época, os portugueses já dispunham de dados de longitude e latitude bastante precisos, o que permitiu que Colombina fosse rigoroso em sua crítica. A maioria dos desvios que ele aponta na Carte de l’Amérique méridionale estão na ordem de um grau de latitude ou longitude, o que é insignificante, especialmente quando se leva em conta a dimensão do mapa; que se tratava de um produto da cartografia de gabinete; que, para muitas regiões, D’Anville não dispunha de dados; e que, devido à própria imprecisão dos instrumentos e métodos da época, as medidas de que dispunha não eram perfeitas. Saliente-se que, por exemplo, para muitos pontos da bacia Amazônica a carta era geometricamente mais acurada que o mapa de La Condamine, o qual havia tomado in loco medidas de latitude e longitude de diversos pontos. As contínuas negociações entre as duas Coroas após o Tratado de Madri (tratados do Pardo, 1761, e de Santo Ildefonso, 1777) mostraram-se propícias para que D’Anville se levantasse em defesa de sua Carte de l’Amérique méridionale e para isso redigisse duas novas
memórias, em 1779, nas quais, com algumas variantes, esclarecia as fontes utilizadas na confecção do mapa e a profícua colaboração estabelecida com dom Luís da Cunha.50 No entanto, isso não foi suficiente para reverter o relativo esquecimento que se abateu sobre esse mapa. Interessante observar que em todas as negociações de fronteiras nas quais o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil se envolveu entre fins do século XIX e início do século XX, os mapas de D’Anville foram invocados como provas documentais do direito possessório do Brasil sobre os territórios em disputa. Nas negociações com o Suriname, em 1897, o barão do 363
A map of South America, versão inglesa não autorizada da carta de D’Anville, em 1791.
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Deste livro, o que se espera é que a Carte de l’Amérique méridionale de 1748 não se configure mais como um tesouro perdido. Ela uniu dois grandes savants de seu tempo, dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. Foi graças aos dois, ao fundirem política, diplomacia, geografia e cartografia, e produzirem, em conjunto, um mapa que deu a ver as fronteiras que os portugueses desejavam para sua possessão americana, que o Brasil continental foi inventado. Essa invenção configurou-se como um projeto futuro, que começou a ser posto em prática pelo Tratado de Madri, de 1750. Nesse sentido, se o embaixador português e o geógrafo francês são considerados oráculos da geopolítica iluminista, a Carte de l’Amérique méridionale constitui um oráculo valioso do território brasileiro de feições continentais que ela ajudou a construir.
Rio Branco afirmou que “D’Anville traçou as fronteiras da Guiana Holandesa de acordo com os levantamentos oficiais tomados na Holanda”. E afirmou que o governo britânico havia utilizado a mesma carta em seu favor, nas negociações com a Venezuela, em 1896.51 Esse estratagema invertia a realidade na qual a carta foi produzida. Tendo, na realidade, inventado o Brasil, e não servido aos propósitos de holandeses ou espanhóis, a Carte de l’Amérique méridionale era então invocada pela diplomacia de diferentes países como um documento histórico, que comprovava o domínio anteriormente assegurado de uma das partes dos territórios em litígio. Ou seja, deixava-se de lado o fato de que o mapa havia se adiantado ao espaço que representava e fazia-se uso dele como prova de que os limites ali desenhados efetivamente já existissem.
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Na página anterior, Carta Geographica de que se serviu o ministro plenipotenciario de S. Magestade Fidelissima para ajustar o tratado de limites na America Meridional, uma das cópias do Mapa das Cortes. Acima, o verso do mesmo mapa com a assinatura dos negociadores das duas Coroas.
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MO
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NL
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RBC
Robert Bosch Collection
SGL
Sociedade Geográfica de Lisboa
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
N otas [ Introdução ] 1
KOPPEL, Susanne. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1992.
14 MALAFARINA, Gianfranco. The Gallery of maps in the Vatican. Modena: F.F. Panini, 2006.
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Notícias das minas da América chamada Geraes pertencentes à el Rei de Portugal relatada pelos três irmãos Nunes os quais rodaram muitos anos por estas partes. In: KOPPEL, Susanne. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, p.201.
15 Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas. Lisboa: Kappa/ Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004, p.163. Esse mapa pertence ao Arquivo Histórico do Exército no Rio de Janeiro.
O livro mais recente sobre o assunto é ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
16 Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas, p.161. Esse mapa pertence ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin.
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17 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.IV, p.820 e 875.
LÖSCHNER, Renata e KIRSCHSTEIN-GAMBER, Birgit (orgs.). Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied - ilustrações da Viagem ao Brasil de 1815-1817. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. Petrópolis: Kapa Editorial, 2001.
18 “Todo mapa é retórico. [...] A retórica permeia todas as camadas de um mapa. [...] Mapas nunca são neutros ou deixam de expressar um valor ou são completamente científicos”. HARLEY, John Brian. The new nature of maps: essays in the history of cartography. Baltimore/London: The Johns Hopkins University Press, 2001, p.37.
Existem duas edições dessa obra: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1950-1963, 10 vols., e CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, 4 vols. A primeira edição, mais extensa, agrega também todos os documentos primários consultados pelo autor, dispostos conforme o tema abordado nos diferentes volumes.
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CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.4, p.875.
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CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.4, p.87.
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CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.4, nota 6, p.857.
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Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ). Manuscritos. 30,1.005 n.014. Carta de D’Anville ao Sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico em tempos feito a pedido de dom Luís da Cunha (1776).
19 FERREIRA, Mário Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: a cartografia a serviço da diplomacia, vol.23, n.37, p.53-74. 20 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.4, nota 6, p.857. 21 É evidente que todas essas pesquisas só foram possíveis com os auxílios financeiros que recebi ao longo desses anos, listados ao final do livro. 22 Os portugueses se envolveram nesse conflito a partir de 1704. 23 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento e a formação do sul do Brasil. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna de Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e Social/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.163-182. 24 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Alexandre de Gusmão, o Brasil e o Tratado de Madrid (1735-1750). Coimbra: INIC/Universidade de Coimbra, 1990, p.9.
10 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.4, p.8.
25 Chicago. Newberry Library (NL). Doc.552, f.J8 e K9. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablir pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille..., Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville.
11 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.III, nota 5, p.787, e v.IV, nota 5, p.908. 12 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, premier Géographe du Roi, Membre de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres... Paris: Imprimerie de Delance, 1802, p.98-99.
26 O mesmo que América do Sul. Chama-se “Equador, porque divide o globo em duas partes iguais, chamam-se setentrional e meridional as duas partes iguais da superfície terrestre separadas pelo equador”. DAINVILLE (?), François de (S.J.). Le langage des géographes: termes, signes, couleurs des cartes anciennes, 1500-1800. Paris: Éditions Picard, 1964, p.11.
13 KING, Geoff. Mapping reality: an exploration of cultural cartographies. Londres: Macmillan, 1996, p.1-2.
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ANTT. MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Cartas de 1728-1736 de dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo Coutinho, 5 de junho de 1736. Apud: CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.165.
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As palavras exatas de dom Luís da Cunha foram: “Este é o Oráculo que S. Majestade nos foi buscar a Holanda.” ANTT. 370
BLUTEAU, Rafael. Oráculo. In: Dicionário da língua portuguesa. Ampliado por Antônio de Morais. Lisboa: Oficina de Thadeo Ferreira, 1739, v.VI, p.97.
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MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle. Paris: PUF, 1994, p.15.
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AUC. CDLC. Doc.828, Carta de 16 de maio de 1746, p.1-1v.
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Era estratégia para manter a privacidade sobre determinados assuntos que fossem segredos de Estado, já que a segurança do sistema de correspondência era relativamente precária. Assim os correspondentes, especialmente os embaixadores, utilizavam cifras ou faziam referências evasivas a assuntos tratados em diferentes missivas. Sabe-se que, de tempos em tempos, o próprio embaixador queimava parte de seus papéis e de sua correspondência que poderia ser comprometedora, impedindo o historiador de ter acesso à totalidade de sua produção epistolar. Porém, tudo indica, como se verá adiante, que se tratava de propor o rei de Portugal como árbitro das negociações europeias.
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d’Albert). Mémoires du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV, t.2, p.12 (outubro de 1749). 21 D’ARGENSON, René-Louis de Voyer. Journal et mémoires du marquis d’Argenson. Paris: Vve de J. Renouard, 1859, t.1, p.248 (março de 1737). 22 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens de Francisco Xavier de Oliveira. Amsterdã: [s.n.], 1741, t.1, p.137. Segundo informações de Inocêncio de Oliveira, só o primeiro tomo das memórias foi publicado. AGS. Estado Portugal, legajo 7182. Cartas de Jorge de Macazaga, cônsul espanhol em Lisboa, de 6 de novembro de 1736. 23 Carta de 10 de fevereiro de 1745. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração: correspondência do conde de Assumar, para seu pai, o marquês de Alorna, p.43. 24 Carta de 25 de outubro de 1744. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.30. 25 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV. (1735-1758), t.1, p.262 (11 de junho de 1737).
Após sua morte, em 1749, “em um livro de Dom Antônio Caetano de Souza achamos que o embaixador dom Luís da Cunha tinha 88 anos menos poucos meses de idade”. ANTT. MNE. Caixa 562, Cartas de dom Luís da Cunha a Marco António, 1745-1748, ofício de 3 de novembro de 1749. Dom Luís nasceu a 23 ou 25 de janeiro de 1662. CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.20.
26 Carta de 27 de março de 1750. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.128. 27 Lisboa, 30 de outubro de 1749. In: Notícias Históricas de Portugal e Brasil (1715-1750). Coimbra: Editora da Universidade de Coimbra, 1961.
AUC. CDLC. Doc.828, Carta de 16 de maio de 1746, p.1-1v. Há uma cópia desta carta em ANTT. MNE. Caixa 562, Cartas de dom Luís da Cunha a Marco António 1745-1748, M.E. III. A. Fr. C.3- no.3, Carta de 16 de maio de 1746.
28 ANTT. Legação de Madri. Carta do padre Frei Gaspar da Encarnação para Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda Caixa 612 — 555/11, 4 de janeiro de 1750.
10 AUC. CDLC. Doc.894, Carta de Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal em Madri, p.1-1v, Lisboa, setembro de 1746.
29 BEAUCHAMP, Alphonse de. Histoire du Brèsil, depuis sa découverte en 1500 jusqu’en 1810. Paris: A La Librairie d’Éducation et de Jurisprudence d’Alexis Eymery, 1815.
11 FERREIRA, A. Pinto (ed.). Correspondência de D. João V e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747). Coimbra: Liv. Gonçalves [Deposit.], 1945, p.195.
30 MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle, p.15.
12 FERREIRA, J.A.P. Estudo preliminar. In: FERREIRA, A. Pinto (ed.). Correspondência de D. João V e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747), p.172.
31 A vasta correspondência de dom Luís, além de cópias de várias de suas cartas se encontram em profusão espalhadas por vários arquivos em Portugal, particularmente nos ANTT - fundos, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Manuscritos da Livraria, na Biblioteca Nacional de Portugal (Seção de Reservados — Manuscritos), Arquivo da Universidade de Coimbra e na Biblioteca da Ajuda. No Brasil aparecem na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional e no Arquivo do Itamaraty.
13 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV (1735-1758). Paris: Firmin Didot Frères, 1862, t.2, p.12 (outubro de 1749). 14 AUC. CDLC. Doc.894, Carta de Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal em Madri, p.1-1v, Lisboa, setembro de 1746.
32 ANTT. CUNHA, dom Luís da. Memórias da Paz de Utrecht, 1715. Manuscritos da Livraria, maço 967. Ver: CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.91.
15 AUC. CDLC. Doc.917, Carta de Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal em Madri, p.1, Escorial, 10 de novembro.
33 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.89.
16 BNL. Reservados. Dom Luís da Cunha em Memórias da Paz de Utrecht, c. 1.715, PBA 450A.
34 ANTT. Arquivo do Conde de Linhares. “Memórias de dom Luís da Cunha datadas de Utrecht, em 1714” (incompletas). Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, do Conselho de Sua Majestade e seu secretário de Estado. vol.1, f.2. Utrecht (20-VI-1714) (grifo meu). Nuno Saldanha aponta essa mesma transitividade no discurso que dom Luís da Cunha escreveu quando tomou posse como sócio-supranumerário da Academia de História Portuguesa em 10 de março de 1723. SALDANHA, Nuno. Poéticas da imagem, p.280.
17 Amsterdã. Rijksmuseum. Dom Luís da Cunha, 1737, mármore, por Jan Baptist Xavery. 18 Palácio das Necessidades. MNE. Dom Luís da Cunha. Escola francesa, 1745.
[ Capítulo 1 ] 1
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MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Apud: CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.165.
19 Manuscrito da Biblioteca da Casa de Bragança, BDM, 2º./CXIII. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís da Cunha e o Brasil. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. De Cabral a Pedro I: aspectos da colonização portuguesa no Brasil. Porto: Universidade Portucalense, 2001, nota 15, p.268 (grifo meu).
ANTT. MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Apud: CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.165.
20 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV, t.1, p.262. (11 de junho de 1737). LUYNES, Duc de (Charles Philippe
35 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Luís da Cunha Manuel. Apud: Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, p.173-179. 371
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
36 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva), p.181-373. 37 BAC. MS 175A. Cartas de Marco António de Azevedo para dom Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís da Cunha e o Brasil, p.271. 38 CUNHA, dom Luís da. Testamento Político (1748). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. ALMEIDA, Luís Ferrand de. A autenticidade do testamento político de D. Luís da Cunha. In: Anais da Academia Portuguesa de História, vol.XVII, Lisboa, 1968, p.81-114. 39 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A autenticidade do testamento político de D. Luís da Cunha. In: Anais da Academia Portuguesa de História, vol. XVII, Lisboa, 1968, p.81-114. 40 Como os demais iluministas franceses, “Voltaire desfrutava do sentimento de contribuir para o progresso da civilização, porque ele revelava aos homens os traços de ‘barbárie’ que atrasavam o mundo em sua marcha em direção às ‘Luzes’”. MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle, p.16. 41 SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal (1640-1750): a Restauração e a monarquia absoluta. 2ª. ed. Lisboa: Verbo, 1982, v.5, p.330. 42 BRANCO, Camilo Castelo. Perfil do marquês de Pombal, p.97 e 99. 43 BRANCO, Camilo Castelo. Perfil do marquês de Pombal, p.99 e 100. 44 SILVA, Abílio Diniz. D. Luis da Cunha e o Brasil, p.261. 45 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva), p.169. 46 Apud: SILVA, Abílio Diniz. Introdução, p.169. 47 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.363. 48 O conceito de linhagem constitui força estruturante das sociedades de Antigo Regime. 49 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.371. 50 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas, p.170. 51 AZEVEDO, Pedro (org.). Instruções inéditas a Marco António de Azevedo Coutinho. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1929. 52 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva). 53 BLUTEAU, Rafael. Oráculo. In: Dicionário da língua portuguesa, v.VI, p.95. 54 BAC. MS 175A. Cartas de Marco António de Azevedo para dom Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís da Cunha e o Brasil, p.271. 55 ANTT. MNE. Livro 789. Dom Luís da Cunha, embaixador em Haia – 16 cartas de 1728 a 1736, dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, n.7. 56 BN. Maço 16, no.45. Cartas de dom Luis da Cunha para Alexandre de Gusmão, f.8. 57 AUC. CDLC. Doc.745. Carta de dom Luís para Marco António de Azevedo, 17 de janeiro de 1746. 58 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha, embaixador em Haia – 16 cartas de 1728 a 1736- dirigidas a Marco António de Azevedo, f.14, Haia 5 de junho de 1736. 59 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens de Francisco Xavier de Oliveira, t.1, p.137.
60 ANTT. MNE. Caixa 789, Dom Luís da Cunha em Haia, 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, n.5, 12 de maio de 1729.
83 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.107-108.
61 “Recebi a carta de VM com a inclusa para o enviado [Marco António de Azevedo] que lha não entreguei porque há três dias que lhe repetem as sezões e como é a terceira recaída me tem com cuidado de sorte que parecendo-me que a carta de VM poderia fazer-lhe abalo.” ANTT. MNE. Caixa 1. Maço 1, Doc.15, 4 de fevereiro de 1727.
85 CARTA a Marco António de Azevedo Coutinho, 18 de fevereiro de 1742. Localizado em ANTT. MNE. Caixa 561. Doc.42,
62 ANTT. MNE. Livro 795. Cartas de dom Luís da Cunha e outras pessoas do serviço de Sua Majestade de Haya nos anos de 1728, 1729 e 1730. f.55, 20 de maio de 1728. 63 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia, 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, n.4, Haia 16 de dezembro de 1729 64 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia, 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, n.5, 12 de maio de 1729. 65 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39. Bayona 22 de março de 1729. 66 ANTT. MNE. Caixa 561, M.E III A.Fr.C2. n.188, 28 de novembro de 1744. 67 AUC. CDLC. Doc.814, Ofício de dom Luís da Cunha para a Secretaria de Estado, 2 de maio de 1746. 68 Trata-se de Pierre-Joseph Thoulier d’Olivet. AUC. CDLC. Doc.834, Oficio de dom Luis da Cunha para a Secretaria de Estado, 23 de maio de 1746. 69 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva), p.181 e 184. 70 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia, 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de Azevedo Coutinho, n.6, Haia 18 de março de 1729. Em outro momento, dom Luís escreve a Francisco Mendes de Góis ressaltando essa mesma característica: “V.Mce. me conhece o meu humor franco, livre e sincero.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1. Minutas de cartas de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis. Doc.23, 18 de março de 1727. 71 EVERITT, Anthony. Cícero: uma vida. Lisboa: Quetzal editores, 2004. 72 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva), p.181. 73 EVERITT, Anthony. Cícero: uma vida, p.150. 74 BNL. Seção de Manuscritos. Reservados. Cód.10.484, Carta de dom Luís da Cunha, f.88. 75 BLACK, Jeremy. Italy and the Grand Tour, p.2-3. 76 No Brasil destacam-se a Academia Brasílica dos Esquecidos e a dos Renascidos. Cf. KANTOR, Iris. Esquecidos e Renascidos. 77 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle, p.6. 78 PALMA-FERREIRA. Academias literárias dos séculos XVII e XVIII, p.31-38. 79 SILVA. Introdução, p.27-29; CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.23-24; KANTOR. Esquecidos e Renascidos, p.45-57. 80 SILVA. Introdução, p.34. 81 MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real da História. 82 MOTA. A Academia Real da História, p.33. 372
In: O sol e a sombra: política e administração na América portuguesa do século XVIII. 1a. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.185-252.
84 MOTA. A Academia Real da História, p.60.
104 A correspondência de João com seu pai, Pedro de Almeida, que se encontrava servindo como vice-rei na Índia, é primorosa para reconstruir esse e outros momentos da vida do rapaz. MONTEIRO, Nuno Gonçalo. (org.) Meu pai e meu senhor muito do meu coração: correspondência do conde de Assumar, para seu pai, o marquês de Alorna.
86 Memórias particulares ou anedotas da Corte de França, apontadas por José da Cunha Brochado no tempo que serviu como enviado naquela corte, 1696-1702, f.41. Localizado em BNF, seção de manuscritos. Portugais 18.
105 ANTT. MNE. Caixa 789, doc. 7, 4 de outubro de 1731.
87 MOTA. A Academia Real da História, p.47.
106 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.74-86.
88 CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso que o Secretario da Academia lhe fez de estar nomeado Académico Supranumerário, p.87.
107 BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.12.
89 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle, p.15.
108 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.327. 109 CARDIM. A prática diplomática em Europa do Antigo Regime, p.42-46; CLUNY. Os diplomatas de negociação e de representação em Portugal no século XVIII, p.53-68.
90 CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso que o Secretario da Academia lhe fez de estar nomeado Académico Supranumerário, p.86.
110 FRIGO, Daniela. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne: modèles et pratiques entre l’Italie et l’Europe, p.31.
91 MOTA. A Academia Real da História, p.54. 92 CUNHA. Elites e Acadêmicos na cultura portuguesa setecentista, p.11.
111 CUNHA. Instruções políticas, p.190. 112 FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne: modèles et pratiques entre l’Italie et l’Europe, p.31.
93 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe du XVIIIe siècle, p.15.
113 MAGALHÃES, José Calvet de. A acção diplomática no pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos XVII e XVIII, p.14.
94 Sobre a trajetória intelectual do conde da Ericeira ver MOTA, Isabel Ferreira da. Os grandes amadores. In: A Academia Real da História, p.148-154.
114 BNF. Seção de Manuscritos. Portugais 18. Memórias particulares ou anedotas da corte de França, apontadas por José da Cunha Brochado no tempo em que serviu como enviado naquela Corte, 1696-1702, f.40-41.
95 Emprego aqui a mesma expressão utilizada pelo conde de Tarouca ao se referir ao Atlas de Theodoro Broendermaker: “As pessoas inteligentes o preferem”. BNL. Arquivo do Conde de Tarouca. AT 26, v.11, 2 de abril de 1722. O dicionário de Raphael Bluteau de 1739 registra os termos intelectual e intelectivo como aquele “dotado de faculdades, inteligente. O que tem potência capaz para compreender e entender as coisas do discurso”. O autor reconhece a existência de uma virtude e uma alma intelectual dotada de entendimento. Por esta razão, o termo será empregado neste livro como correlato a savant, letrado, inteligente ou philosophe. BLUTEAU. Dicionário da língua portuguesa, p.159.
115 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson, p.226. 116 Sobre os tipos e as hierarquias na carreira diplomática da época cf. CARDIM. A prática diplomática em Europa do Antigo Regime, p.42-46; CLUNY. Das embaixadas itinerantes às embaixadas permanentes, p.42. 117 CLUNY. Dom Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.171-177. Cluny acredita tratar-se de sua nomeação como agente especial em Paris (p.171).
96 ANTT. MNE. Livro 779. Relações de dom Luis da Cunha pendente a sua residência na corte de Londres em qualidade de enviado extraordinário de 6 de janeiro de 1705 até o fim do dito ano, f.205v-206, 2 de junho de 1705.
118 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 2. Doc 2. Minutas de cartas de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, 1716 a 1719. 119 CHARTIER, Roger. O homem de Letras. In: VOVELLE, Michel. O homem do Iluminismo. Lisboa: Editorial Presença, 1997, p.133.
97 Não se está ainda “em presença, entenda-se, da gramática museológica enciclopedista e iluminista. Aqui, nestes pequenos gabinetes privados, impera a desordem, tão ao gosto maneirista, na exibição dos naturalia et artificialia (...), vive de uma grande ideia, de um grande e utópico desígnio – reconstruir o universo numa só sala”. BRIGOLA, João Carlos. Introdução. In: Colecionismo no século XVIII – textos e documentos. Porto: Porto Editora, 2009, p.xi-xii.
120 Louis Bénigne François Bertier de Sauvigny foi intendente de Paris, entre inúmeras medidas reformadoras, a partir de 1785, mandou realizar os planos das diversas paróquias de Paris para melhor organizar a tributação. 121 DE SAUVIGNY, Louis. Catalogue des livres de feu M. Sanchès, p.25 e 27.
98 AUC. CDLC. Doc.641, Oficio para a secretaria de Estado, 26 de dezembro de 1743.
122 CHARTIER, Roger. O homem de Letras, p.128.
99 ANTT. Manuscritos da Livraria, 1944. Carta de dom Francisco Xavier de Mendonça a dom Luís da Cunha, 15, setembro de 174.
123 CHARTIER, Roger. O homem de Letras, p.129. 124 ANTT. Manuscritos da Livraria, n.1944. Cartas de dom Francisco Xavier de Mendonça (4º. conde da Ericeira) a dom Luís da Cunha, f.312, 23 de setembro de 1743.
100 ANTT. MNE. Caixa 561, doc.42, 20 de janeiro de 1744. 101 Era pai do conde de Assumar que foi governador das Minas, Pedro de Almeida. 102 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.90.
125 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal. Cambridge: Harvard University Press, 2002, p.44.
103 SOUZA, Laura de Mello e. Teoria e prática do governo colonial: Dom Pedro de Almeida, conde de Assumar.
126 CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do colecionador. In: D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia 373
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
em Portugal, p.113-118; SALDANHA, Nuno. Poéticas da imagem. Lisboa: Caminho Editorial, 1995, p.286.
fez na corte de Paris em 18 de agosto de 1715 o excelentíssimo senhor Dom Luís Manoel da Câmara, conde da Ribeira Grande. Lisboa: José Lopes Ferreira, 1716.) A questão era tão delicada que, quando o tratado estabelecido entre espanhóis e portugueses em Utrecht estava pronto para ser assinado, como o embaixador espanhol já mandara de volta os coches e não podia fazer uma entrada de praxe e com pompa, devido à impossibilidade de manter o protocolo, decidiu-se por assinar o acordo no parque. ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715.
127 ANTT. MNE. Livro 794, f.101v,109, 109v (grifo meu). 128 MANUEL, Francisco. The government of a wife, or wholsom and pleasant advice for married man: in a letter to a friend. Londres: Jacob Thomson, 1697 129 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens de Francisco Xavier de Oliveira. Amsterdã: [s.n.], 1741, t.1, p.137. 130 FERREIRA. A. Pinto (ed.). Correspondência de D. João V e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747). Coimbra: Liv. Gonçalves [Deposit.], 1945, p.195. 131 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas, p.194.
147 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396.
132 Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.389.
148 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.271.
133 AUTO-RETRATO de D. Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. (org.) Testamento Político de D. Luís da Cunha. Lisboa: Biblioteca Nacional, p.181-183. Esse auto-retrato foi esboçado por Dom Luís mas a missiva foi assinada por seu secretário Gonçalo Galvão de Lacerda.
149 Arquivo Geral de Simancas. Estado, Legajo 7091, f.1-1v, Lisboa 23 de fevereiro de 1717. 150 De fato, este não era o primeiro encontro entre os dois. Quando a rainha Anne morreu, o novo rei, que era eleitor de Hanôver, passou por Haia, onde se encontrava dom Luís, a caminho da Inglaterra. Dom Luís conseguiu se encontrar com ele e apresentar os interesses de Portugal. O encontro foi alvissareiro, pois escreve que passou a ter mais esperanças de um apoio inglês. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para cardeal da Cunha - inquisidor geral, f.441-445, 27 de setembro de 1714.
134 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.195. (grifo meu). 135 CAMPORESI, Piero. Hedonismo e exotismo: a arte de viver na época das Luzes. São Paulo: Unesp, 1996. 136 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.395. 137 CAMPORESI. Hedonismo e exotismo, p.14.
151 AUC. CDLC. Doc.359. Ofício de dom Luís para a Secretaria de Estado, 17 de agosto de 1746.
138 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.397. 139 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.243.
152 AUC. CDLC. Doc.788. Ofício de dom Luís para a Secretaria de Estado, 1º. de abril 1746.
140 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.244, Londres, 26 de janeiro de 1712.
153 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson, t.1, p.248. 154 AUC. CDLC. Doc.1105. Carta de dom Luís da Cunha para Tomás da Silva Teles, 12 de maio de 1749.
141 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.246v, Londres, 2 de fevereiro de 1712 (grifo meu).
155 AUC. CDLC. Doc.1106. Carta de Tomás da Silva Teles para dom Luís da Cunha, 12 de maio de 1749.
142 O cardeal era um núncio papal em serviço na corte parisiense, onde se conectou com vários savants. Participou como embaixador em Utrecht, desempenhando papel importante na redação do acordo final.
156 Mercure de France. Decembre, p.158, Journal de Paris. 157 Mercure de France. Janvier de 1722, p.193-196, Journal de Paris. 158 Mercure de France. Mars de 1723, p.565-566, Nouvelles des Pays Etrangères, Nouvelles de l’Acadèmie des Anonimes et Royale de l’Histoire de Lisbonne.
143 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396. 144 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396. 145 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.264. 146 Carruagens eram símbolos importantes de dignificação, e como os embaixadores representavam seus príncipes, deviam se apresentar de forma adequada. Dois momentos ímpares em que dom João V se valeu desse expediente para se fazer representar com toda a pompa foram a entrada pública que o conde da Ribeira Grande fez em Paris quando ali chegou como embaixador, em 1715, e a troca das princesas de Espanha e Portugal, em rio Caia, na fronteira entre os dois países, em janeiro de 1729. (Notícia da entrada pública que
5
MASCART, Jean. La correspondance de d’Anville. Ciel et Terre - Revue populaire d’astronomie, de météorologie et de physique du globe, vol.33, p.10, 1912.
6
Apud: MARCEL, M. Gabriel. Lettres inédites du cardinal Passionei à D’Anville. Bulletin de géographie historique et descriptive. Paris, n.3, p.433, 1904.
7
Segundo D’Anville, etésios era como os antigos chamavam os ventos que anualmente sopravam nas seis ou sete semanas que sucediam o solstício do verão. D’ANVILLE, Jean-Baptiste B. Ethésiens. In: DIDEROT, Denis & D’ALEMBERT. L’Encyclopédie ou Dictionnaire raisonnée des Sciences, des Arts et des Métiers. Paris: Briasson, 1756, tomo VI, p.50-51. WITHERS, Charles W. J. Placing the Enlightenment: thinking geographically about the Age of Reason, p.175.
8
KAFNER, Frank Arthur e KAFNER, Serena. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: The encyclopedists as individuals: a biographical dictionary of the authors of the “Encyclopédie”. Oxford: Voltaire Foundation, 1988, p.11.
9
Sobre a Carta de Cassini há uma substantiva bibliografia correlata. A título de exemplo: PELLETIER, Monique. 0Les cartes des Cassini: la science au service de l’État et des régions. Paris: Éditions du CTHS, 2002.
Arthur e ARAGO, M. F. Oeuvres de Condorcet. Paris: Firmin Didot Frères, 1847, v.2, p.528. 22 TOOLEY, Ronald Vere. Gravelot, [Bourguignon], Hubert-François. A dictionary of mapmakers. Londres: Map collectors’ circle, 1965, v.2, p.204-205. 23 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Éloge de monsieur Gravelot. In: Le Nécrologe des hommes célèbres de France (1772-1775). A Paris: de l’Imprimerie de Moreau, 1974, v.9, p.132-145. D’ANVILLE, Jean-Baptiste B. Histoire de l’art en France. Gravelot. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril de 1853, p.70. “Já faz algum tempo que a morte havia levado desta família um irmão mais novo, e seu nome de batismo era Saint-Paul. Este, depois de ter estudado finanças com um notário, se tornou muito hábil nestes domínios, sobre o que ele encheu muitos portfólios com escritos com pesquisas e discussões profundas sobre esta matéria.” 24 LEPAPE, Pierre. Voltaire: nascimento dos intelectuais no século das Luzes. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.33. 25 Le Nécrologe des hommes célèbres de France. A Paris: de l’Imprimerie de Moreau, 1767-1782. 17 vols. 26 D’ALEMBERT, M. Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise. Paris: Panckoucke, 1779. 27 É o próprio D’Anville quem informa que “os dois mais velhos, entre os quais a diferença de idade não diferia mais que aproximadamente um ano e meio, entraram ao mesmo tempo num pensionato, para começar seus estudos”. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril de 1853, p.69; KAFKER, Frank Arthur. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: The encyclopedists as a group: a collective biography of the authors of the “Encyclopédie”. Oxford: Voltaire Foudation, 1996, p.11.
10 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la cartographie en Europe. Bulletin de la Société de Géographie, Paris, p.248, julho-dezembro de 1855.
28 MICHAUD, Louis-Gabriel. Anville (Jean-Baptiste Bourguignon D’). In: Biographie universelle ancienne et moderne. Paris: s.e., 1811, v.2, p.97. Esta mesma história edificante é relatada em DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In: DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.18.
11 DAWSON, Nelson Martin. L’atelier Delisle: l’Amérique du nord sur la table à dessin. Sillery, Quèbec: Editions du Septentrion, 2000. 12 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la cartographie en Europe, p.248.
29 “O mais velho dos dois, chamado D’Anville, indo mais rápido que o outro por sua aplicação, cursou retórica às Quatro-Nações”. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot, p.69. MICHAUD, Louis-Gabriel. Anville (Jean-Baptiste Bourguignon d’), p.97.
13 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la cartographie en Europe, p.248-249. 14 Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville. Museu de Versalhes, anônimo, séc. XVIII.
160 HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública, p.23.
17 Em inglês a distinção semântica também não é clara. O verbo survey refere-se ao lever; e printer ao graver. Quanto ao dresser, a correlação não é exata, podendo corresponder ao design, como o desenhar ou o traçar em português.
162 Isabel Cluny discute o papel de representação do soberano de que os embaixadores estavam investidos enquanto diplomatas nomeados: “Os embaixadores são pessoas públicas que os príncipes mandam a outras cortes”. CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.51-53.
374
CONDORCET, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat (marquis de). Éloge de M. D’Anville. In: CONDORCET O’CONNOR, Arthur e ARAGO, M. F. Oeuvres de Condorcet. Paris: Firmin Didot Frères, 1847, v.2, p.536-537.
15 Portrait de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, por Benjamin Duvivier. BNF-MFILM SG PORTRAIT-1382.
161 Mercure de France. Decembre de 1749, p.207 – Morts.
DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In: MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, premier Géographe du Roi, Membre de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres... Paris: Imprimerie de Delance, 1802, p.38.
4
159 Mercure de France. 23 Novembre de 1723, p.1046-1047, Journal de Paris e Decembre de 1723, p.1.344-1.354, Feste donnée a Paris, par M. L’Ambassadeur de Portugal.
30 KAFKER, Frank Arthur. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, p.11.
16 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, p.9.
31 “Seu pai, homem de probidade, não conheceu limites para a educação de seus filhos, sem poupar nas despesas, contanto que suas habilidades pudessem ser socorridas; e algum sucesso que ele tivera em vida foi sua recompensa.” ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot, p.69.
18 SAFIER, Neil. Measuring the New World: Enlightenment science and South America. Chicago: Chicago University Press, 2008, p.153.
32 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19. 33 MICHAUD, Louis-Gabriel. Longuerue (Louis Dufour, abbé de). In: Biographie universelle ancienne et moderne, v.25, p.79-80.
19 ARCHIER, A. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: ANFÄNGEN, Von Den; WELTKRIEG, Bis Zum Ersten. Lexikon zur geschichte der kartographie. Wien: Franz Duticke, 1986, p.18-21.
[ Capítulo 2 ] 1
de la Section de Géographie. Paris, v.41, p.93-145, 1926.
2
DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.38.
3
DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.38. Sobre a coleção D’Anville ver DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque nationale. In: Comité des travaux historiques et scientifiques: Bulletin
34 MICHAUD, Louis-Gabriel. Longuerue (Louis Dufour, abbé de). In: Biographie universelle ancienne et moderne, v.25, p.80.
20 PEDLEY, Mary Sponberg, The commerce of cartography: making and marketing maps in eighteenth-century France and England, p.259, nota 93.
35 KAFNER, Frank Arthur e KAFNER, Serena. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: The encyclopedists as individuals: a biographical dictionary of the authors of the “Encyclopédie”. Oxford: Voltaire Foundation, 1988, p.11.
21 CONDORCET, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat (marquis de). Éloge de M. D’Anville. In: CONDORCET O’CONNOR, 375
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
36 “Ele teve o prazer de ser acolhido e de ser admitido na sociedade do abade Longuerue, na qual a conversação foi para ele uma fonte inesgotável de conhecimento.” DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19. 37 Anicet Charles-Gabriel Lemonnier, Lecture de la tragédie de L’Orphelin de la Chine de Voltaire dans le salon de Madame Geoffrin, 1812. Rueil-Malmaison, Musée National des Châteaux de Malmaison et de Bois-Préau. 38 ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot, p.69. 39 BNF. DCP. Ge D 14032 - Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Carte de l’isle de Saint-Domingue avec partie des isles voisines, dressée sur diverses pièces et instructions particulièrement sur la dernière carte de Mr Frézier et sur les mémoires de M. Buttet. Paris: chez l’Auteur, outubro de 1730. 40 DAINVILLE, François de (S.J.). Histoire et Geographie. In: L’éducation des jésuites (XVIe-XVIIIe siècles). Paris: Les Éditions de Minuit, 1978, p.427-472. “A formação dos geógrafos franceses por seus professores jesuítas influenciou fortemente a arte da cartografia.” 41 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits de la France, p.163. 42 DAINVILLE, François de (S.J.). L’éducation des jésuites (XVIe-XVIIIe siècles), p.417. 43 LONGUERUE, Louis Du Four (abée). Description historique et géographique de la France ancienne et moderne. Paris: J.-H. Pralard, 1719. 2 partes em 1 volume. 44 GRELL, Chantal. De l’Antiquité aux temps modernes: l’histoire utile aux princes de France, au siècle des Lumières. In: BERNIER, M. A. Parallèle des anciens et des modernes: rhétorique, histoire et esthétique, p.93. 45 GRELL, Chantal. De l’Antiquité aux temps modernes: l’histoire utile aux princes de France, au siècle des Lumières, p.93. 46 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits de la France, p.163. 47 AAIBL. Mémoire de Mr. D’Anville sur ses Cartes de l’ancienne Gaule, f.1. O mapa pode ser encontrado em BNF. DCP. Ge DD 2987 (365) - Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. La France ancienne dedié au roi. 1719. 48 Les commentaires de César. Paris: Vve J. Camusat et P. Le Petit, 1650. Ver: PELLETIER, Monique. Cartographie de la France et du monde de la Renaissance au siècle des lumières. Paris: Bibliotèque Nationale de France, 2001, p.95-96. A edição de conde Turpim de Crisse foi acompanhada dos mapas de D’Anville. TURPIN DE CRISSE, M. le Cte. Commentaires de César, avec des notes historiques, critiques et militaires. Amsterdã, Leide: les Libraires associés, 1787, 3v., in-8o. 49 Louis XV enfant recevant une leçon, en présence du cardinal de Fleury et du Regent. Escola Francesa, século XVIII. Paris, Museu Carnavalet. 50 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.26. 51 DAINVILLE, François de (S.J.). Le langage des géographes, p.IX. 52 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, p.30. Livre era a moeda francesa da época. Um livre podia ser dividido em 20 sous, que, por sua vez, era dividido em 12 deniers. 53 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.26. 54 Os seis mapas representavam, respectivamente, a Gália Antiga, a França Antiga, a França Moderna e seus países vizinhos e três mapas regionais da França.
55 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Aragon et pays voisins entre Campsan, Monzon, Deca et Pampelune, ca 1719. 1 fl. BNF. Ge D 10605.
74 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, doc 549, f.1.
56 LONGUERUE, Louis Du Four (abée). Description historique et géographique de la France ancienne et moderne, enrichie de plusieurs cartes géographiques. Paris: sl., 1722. 2 partes em 1 volume. (Desta feita a obra não apresenta o local de edição.)
75 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, doc 549, f.1.
57 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes et voyageurs français au XVIIIe. siècle. Lille: University Paul Valéry de Montpellier, 1972, p.21. 58 Louis-Philippe foi duque de Chartres de 1725 a 1752, e então duque de Orléans até sua morte. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Mesure conjecturale de la terre sur l’équateur, en conséquence de l’étendue de la mer du Sud. Paris: Chaubert, 1736, p.559. 59 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Mesure conjecturale de la terre sur l’équateur, p.559, nota 1. 60 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Meridionale de 17 de novembre 1749, f.169, dezembro de 1749. 61 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Meridionale de 17 de novembre 1749, f.169, dezembro de 1749. 62 AASP. Process verbaux, 1725, 1o. Septembre. 63 AASP. Procès-verbal, 1726, 27 Novembre. 64 AASP.Procès-verbal, 1726, 4 Decembre. 65 BNF. DCP. Ge DD 2987 (7772) - Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Carte d’Afrique, 1727. FURTADO, Junia F. Entre Angola e Moçambique: um projeto português de ligação terrestre entre as duas costas da África e suas fontes europeias e africanas. In: PAIVA, Eduardo França e SANTOS, Vanicléia Silva (orgs.). África e Brasil no mundo moderno. São Paulo: AnnaBlume; Belo Horizonte: PPGH-UFMG, 2012, p.83-115.
94 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.95, 28 de maio.
76 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Observations géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangères, v.8, p.254-266.
95 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.124, 19 de julho.
77 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.25.
96 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.129, 30 de julho.
78 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.16.
97 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.162; 1755, f. 6, 15, 33, 36, 55, 61, 70 (diferenças de longitude e latitude entre Alexandria e Sagene), 91 (situação da antiga Martessur na Bétique), 108 (descrição da Dácia conquistada por Trajano); 1756, 25, 27 (discurso para servir de introdução à Nova Carta do Canadá), 51 (sobre Helesponto), 90, 91 (Remarques géographiques sur le Fretum Gaditanum), 124, 148 (se as milhas sobre a via romana são contadas a partir do centro de Roma e posicionar a cidade relativamente a este objeto), 175 (Carta das costas da Grécia).
79 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie ancienne abrégée, v.1, p.viij. 80 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19. 81 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie ancienne abrégée, v.1, p.viij. 82 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19. 83 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie ancienneabrégée. Paris: Chez Merlin, libraire, 1768. 3 vols. 84 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire. Paris: Presses Universitaires de France, 1988.
98 Outra obrigação dos acadêmicos era a de depositar seus escritos nas mãos do secretário geral (obligation de laisser entre les mains du secretaire tous les écrits qu’ils auront composés). Esses escritos eram depois publicados nas Memórias da Academia. KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.195-196.
85 Em geral, somente os pensionários, e não os associados, recebiam remunerações. Para D’Anville, tratou-se principalmente de uma honraria, pois, enquanto pertenceu à casa, não auferiu renda da instituição. KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.197-198.
66 AASP. Procès-verbal, 1727, 21 Janvier.
86 Em seção do dia 17 de junho de 1755, a Academia “concedeu a m. D’Anville a permissão de inscrever a qualidade de acadêmico em todas as suas cartas e de se servir do privilégio dessa Companhia como o sr. m. Delisle se serviu da da Academia de Ciências”. BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1755, f.85, 17 de junho.
67 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.63-64.
87 LE GOF, Jacques. Documento/monumento. In: Enciclopédia Einaudi. Memória – História. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1997, v.1, p.95-106.
102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Notice de l’ancienne Gaule tirée des monuments romains... Paris: Desaint & Saillant, 1760.
68 DU HALDE, Jean-Baptiste. Description géographique, historique, chronologique, politique et physique de l’Empire de la Chine et de la Tartarie chinoise, enrichie des cartes générales & particulières de ces pays, de la carte générale & des cartes particulières du Thibet & de la Corée & ornée d’un grand nombre de figures & de vignettes gravées en taille-douce. Paris: P.G. Lemercier, 1735.
88 DURANTON, Henri. La recherche historique à l’Académie des Inscriptions: l’exemple de l’Histoire de France. In: Colloque Historique Franco-Allemand. Bonn: L. Röhrscheid, 1976, p.211.
103 AAIBL. Mémoire de Mr. D’Anville sur ses Cartes de l’ancienne Gaule, f.1.
69 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine). Apud: Recueil de mémoires orientaux: textes et traductions publiés par les professeurs de l’Ecole spéciale des langues orientales vivantes à l’occasion du XVIe Congrès international des orientalistes réuni à Alger, avril 1905. Paris: E. Leroux, 1905, p.395. Esta publicação reúne os contratos firmados entre D’Anville e Du Halde entre 1728 e 1735.
89 BÖDEKER, Hans Erich. Academias. In: FERRONE, Vicenzo e ROCHE, Daniel. (eds) Diccionario Histórico de la Ilustración. Madri: Alianza Editorial, 1998, p.224. 90 Para o recrutamento havia a obrigatoriedade que todos os acadêmicos tivessem sua eleição confirmada por uma concordância régia. Para a investidura, o acadêmico deveria ter pelo menos 25 anos. KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.192.
105 BNF. DCP. GE D 12426 - Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Le monde connu des anciens pour l’intelligence de l’histoire ancienne de M. Rollin . [Paris]: [Vve Estienne], janeiro de 1740.
70 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine), p.395. 71 DU HALDE, Jean-Baptiste. Préface. In: Description géographique, historique, chronologique, politique et physique de l’Empire de la Chine et de la Tartarie chinoise, p.xlviij. Apud: Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine), p.397.
376
e sextas no Louvre. Também constava como obrigação a contínua apresentação dos trabalhos de investigação realizados (obligations de travaux). KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.192-194.
99 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.265. 100 “plus deteillée que les précedentes”. AAIBL. Mémoire de Mr. D’Anville sur ses Cartes de l’ancienne Gaule, f.1. 101 ROLLIN, Charles. Abrégé de l’Histoire romaine de Rollin, ou l’on suivi le plan de cet auteur. Par Ant. C**. Paris: Brunot-Labbe, 1818.
104 TOOLEY, R. V. Map and map-makers. Londres: B.T. Batsford, 1949, p.43.
106 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.208. 107 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In: DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.22.
91 A pompa e o ritual nas academias régias eram, como em qualquer instituição do Antigo Regime, formas de exteriorizar e publicizar a honra e distinção que as cercavam. A partir desses rituais, os acadêmicos criavam toda uma sociabilidade, apenas a ele afeitas, e tornavam evidente que se distinguiam do restante da sociedade.
72 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine), p.398-399.
92 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.92, 21 de maio.
73 Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangères. Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811. Nouvelle édition, tomo 9, p.254.
93 Os acadêmicos tinham entre suas principais obrigações a de comparecerem assiduamente às assembleias (obligation d’assiduité), que aconteciam todas as terças
108 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1756, f.148, 7 de setembro de 1756. 109 Position des points discutés dans l’Analyse Géographique de l’Italie, d’Anville, 1744. BNF. K- 1707. 110 BNF. DCP. Ge DD 2033 (RES). Carte de l’Italie, d’Anville, 1739. 111 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse Geographique de l’Italie. Paris: Veuve Estienne et fils, 1744. 112 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse Geographique de l’Italie, p.vii. 377
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
128 KEYNES, Geoffrey (org.). The Library of Edward Gibbon: a catalogue of his books. Londres: The Bibliography Society, 1950, p.51-52.
113 “e atingiu seu mais alto grau na sua Carta da Itália. DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.29. “a eficiência do seu método geral de trabalho foi evidenciado no seu mapa da Itália”. CRONE, C.R. Maps and their makers: an introduction to the history of cartography. 5a.ed. Kent/Inglaterra: Dawson/ Archon Books, 1978, p.90.
129 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall of the Roman empire, v.3, p.127, nota 105. 130 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall of the Roman empire, v.3, p.701, nota 7.
114 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse Geographique de l’Italie, p.XXXVI.
131 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.110.
115 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. États formés en Europe après la chute de l’Empire romain en Occident. Paris: l’Imprimerie Royale, 1771.
132 DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Avant propos. In: DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.15.
116 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie de Lambert, 1777, p.96-97-98.
133 DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque nationale. In: Comité des travaux historiques et scientifiques: Bulletin de la Section de Géographie. Paris, v.41, p.98, 1926.
117 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.98.
134 “Barbié foi encarregado do catálogo geral e da classificação.” DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque nationale, p.99, 1926.
118 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.98.
135 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.24.
119 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.36. 120 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.24.
136 Mercure de France. Octobre, 1721, p.186-187, Journal de Paris.
121 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.107.
137 RICHARD, Hélène. Les globes de Coronelli. Paris: Bibliothèque Nationale de France, 2006, p.27.
122 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time and place’: ‘rational geography’, French erudition and the emplacement of history in Gibbon’s mind. Studies on Voltaire & the Eighteenth Century, v.355, p.45, 1997.
138 Informações sobre o que estava abrigado no Louvre por essa época em PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.43. 139 AASP. Procès-verbal 1773, f.58, 17 de março de 1773. AASP. Process verbaux 1773, f.67-72, 24 de março de 1773.
123 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall of the Roman empire [1776-1788]. Londres: Penguin, 1976-1994, 3 vols.
140 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography: making and marketing maps in eighteenth-century France and England, p.281, nota 5.
124 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall of the Roman empire, v.3, p.379, nota 3.
141 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.114-115.
125 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time and place’: ‘rational geography’, French erudition and the emplacement of history in Gibbon’s mind, p.45, 1997.
142 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy family of mapmakers.
126 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time and place’: ‘rational geography’, French erudition and the emplacement of history in Gibbon’s mind, p.46-47.
143 “A eleição de D’Anville, com Bonne em segundo lugar, era claramente baseada no mérito.” “D’Anville’s election, with Bonne second, was clearly based on merit.” PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.115.
127 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time and place’, p.48 e 49.
[ Capítulo 3 ] 1 2 3 4
5
DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal. Cambridge: Harvard University Press, 2002, p.67-68. DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.113. SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: a Restauração e a monarquia absoluta [1640-1750]. 2a.ed., v.5. Lisboa: Verbo, 1982, p.407. ANTT. Manuscrito da Livraria. Mss 729. CASTRO, Manuel Baptista de. Chronica di Maximo Doutor e Principe dos Patriarcas Sao Jeronymo. Particular do Reyno de Portugal, f.511v. DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.67.
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BRASÃO, Eduardo. Correspondência de dom Francisco Xavier de Meneses (1731-1733), p.72 e 177. Apud: SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: a Restauração e a monarquia absoluta, p.407. BLUTEAU, Rafael. Suplemento ao Vocabulário português e latino que acabou de sair à luz, ano 1721. Lisboa, 1727-1728, v.2, p.225. Apud: DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.68. ALEGRETE, Manuel Teles da Silva. Colecçam dos documentos estatutos e memorias da Academia Real da Historia. Lisboa: Officina de José António da Sylva, 1727, p.10. BLUTEAU, Rafael. Livraria. In: Vocabulário português e latino... Coimbra: No Collegio das Artes da Companhia de
Jesus, v.5, 1728, p.163. http://www.brasiliana.usp.br/ dicionario/edicao/1.
autres fêtes aussi donnés par son Excellence en differentes occasions. Utrecht: N. Chevalier, 1714, p.80.
10 SOUSA, Antônio Caetano de. História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Lisboa: Oficina de José António da Sylva, 1741, tomo VIII, p.272-273.
25 CHEVALIER, Nicolas. Recherche curieuse d’antiquités venuës d’Italie, de la Grece, d’Egypte, & trouvées à Nimegue, a Santen, au château de Wiltenburg proche d’Utrecht, dans le château de Britten proche de Leyde, & a Tongres. Utrecht: Chez N. Chevalier, 1709.
11 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.8; SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do astrônomo Bianchini. In: Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2009, p.53.
26 CHEVALIER, Nicolas. Recherche curieuse d’antiquités venuës d’Italie, p.1v. 27 Depois da Alemanha e dos Países Baixos, o jovem Jean-Pierre foi para Viena, contratado para organizar a coleção de estampas do príncipe Eugênio, em grande parte adquirida na Casa Mariette. CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do colecionador. In: D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.113-115.
12 CHARTIER, Roger. Bibliotecas sem muros. In: A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2ª ed. Brasília: UNB, 1998, p.71. 13 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Dom João V e a Biblioteca Real. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna de Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e Social/ Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.213214. CLUNY, Isabel e BARATA, Paulo J.S. A propósito de um documento da política cultural joanina. Leituras – Revista da Biblioteca Nacional de Portugal, v.3, n.3, p.133, abr/out 1998.
28 A amizade era um conceito estrutural na sociabilidade do Antigo Regime e adquiria uma dimensão hierárquica e desigual. HESPANHA, M. e XAVIER, Ângela. As redes clientelares. In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal; o antigo regime. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. v.4, p.381-393.
14 CLUNY, Isabel e BARATA, Paulo J.S. A propósito de um documento da política cultural joanina, p.133.
29 As instruções régias chegaram a 12 de junho de 1724. BRANDÃO, Fernando de Castro. História diplomática de Portugal, p.132. ANTT. MNE. Legação de Londres. Carta de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha. Livro 14 (12-VII-1724). Apud: CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do colecionador, p.113. Sobre a formação da coleção régia de estampas ver: MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime (orgs.). Catalogues de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, par Pierre-Jean Mariette. Lisboa/Paris: Fundação Calouste Gulbenkian/Bibliothèque Nationale de France/Fundação da Casa de Bragança, 2003, 3v; FURTADO, Júnia Ferreira. Colecionismo e gosto. In: Oráculos da geografia iluminista: dom Luís da Cunha e D’Anville na construção da cartografia sobre o Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2012, cap.5.
15 HONTANILLA, Ana. El gusto de la razón: debates de arte y moral en el siglo XVIII español. Madri: Iberoamericana, 2010, p.11. 16 D’ALEMBERT, M. Preface. In: Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise. Paris: Panckoucke, 1779, p.XXVI. 17 CARVALHO, Augusto da Silva. Um agente de Portugal em França, Francisco Mendes de Góis. Anais da Academia Portuguesa da História, Lisboa, série II, vol.2, p.211-240, 1949. CLUNY, Isabel. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006. 18 Estas compras no estrangeiro se seguiram por todo o século XVIII. Só para se ter uma ideia do volume das compras anuais, apenas em Paris, em 1759, estavam estocados mais de 3 mil livros que aguardavam o embarque para Portugal. ANTT. Manuscritos da Livraria. Cartas oficiais escritas de Paris por monsenhor Salema a Luís da Cunha Manuel, f.173, 10 de setembro de 1759.
30 Le cabinet d’un grand amateur, P.J. Mariette, 1694-1774. Paris: Musée du Louvre, 1967. 31 Já de volta à França, Jean-Pierre Mariette recebeu em Paris a patente de impressor em abril de 1722. Gravador, impressor e crítico de arte, redigiu muitos catálogos e obras sobre arte. 32 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, 23 de março de 1725.
19 Em 1730, a pedido do cardeal da Cunha, dom Luís visitou a Universidade de Leyden para melhor conhecer seu curso de Medicina e esboçar uma proposta para o ensino dessa ciência na Universidade de Coimbra. Nessa ocasião, além de uma proposta de ensino, mandou compor dois catálogos nos quais listou os livros necessários à reforma. BNL. Reservados. Maço 62, no.2, no.210 e 240.
33 FINDLEY, Paula. Possessing nature: museus, colleting, and scientific culture in early modern Italy. Berkeley: University of California Press, 1996. 34 ALMEIDA, André Ferrand de. Os jesuítas italianos em Portugal e a política científica de D. João V. In: A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1991, p.85-100.
20 CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do colecionador. In: D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal. Lisboa: Livros Horizontes, 1999, p.113-118; SALDANHA, Nuno. Poéticas da imagem. Lisboa: Caminho Editorial, 1995, p.286.
35 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Dom João V e a Biblioteca Real. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna de Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e Social/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.209.
21 CLUNY, Isabel. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006, p.301. 22 FUMAROLI, Marc. La diplomatie de l’esprit. De Montaigne à La Fontaine. Paris: Hermann, 1994. FUMAROLI, Marc. Diplomatie de l’espirit. Colloque l’Europe des Traites de Westphalie. Paris, 1968.
36 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do astrônomo Bianchini. In: Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2009, p.53.
23 FUMAROLI, Marc. La diplomatie de l’esprit. De Montaigne à La Fontaine.
37 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do astrônomo Bianchini, p.51-54.
24 CHEVALIER, Nicolas. Relation des fêtes que son excellence Monseigneur le comte de Tarouca a donné au sujet des naisssances des deux Princes de Portugal, et de plusieurs
38 Delisle estudou astronomia com Cassini. Foi membro da Academia de Ciências e primeiro geógrafo do rei, a partir 379
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51
Notas
52 “Devo dizer a VExa. que não há em Paris outra pessoa com quem o cardeal de Fleury fale com tanta abertura como Francisco Mendes.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 2, doc.71.
de 1718, além de tutor do futuro Luís XV. DAWSON, Nelson Martin. L’atelier Delisle: l’Amérique du nord sur la table à dessin. Sillery, Quèbec: Editions du Septentrion, 2000. SOBEL, Dava. Longitude: the true story of a lone genius who solved the greatest scientific problem of his time. Nova York: Penguin Books, 1995. A Lua oferecia inúmeras dificuldades em virtude de seu movimento em relação às estrelas não ser bem conhecido, apesar de haver quem defendesse a viabilidade do sistema, como o astrólogo alemão Johannes Werner, em 1514. Mas, no século XVIII, o mais comum foi a utilização dos satélites de Júpiter e Vênus para a medição das longitudes. SOBEL, Dava. Longitude, p.23. AASP. Process verbaux, 1720, mercredi, 27 novembre, 1720. O meridiano de Ferros era assim denominado porque utilizava como referência o meridiano que corta esta ilha, situada no arquipélago das Canárias. Foi empregado pela primeira vez por Ptolomeu e seu uso foi popularizado pelo Guillaume Delisle. Por essa época, esse meridiano começou a ser usado na cartografia como um meridiano “internacional”. AASP. Process verbaux, 1720, 18 decembre, 1720. Delisle faz uma confusão no texto entre o Tratado de Tordesilhas e a Bula Pontifícia que a antecede e reduz a posição de Tordesilhas a 100 léguas do arquipélago de Cabo Verde. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, v.2, p.330-331. SOBEL, Dava. Longitude, p.27. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.73, 9 de março de 1721. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.73-74, 9 de março de 1721 (grifo do autor). BLACK, Jeremy. European international relations, 1648-1815. Basingstoke: Palgrave, 2002, p.146. Alguns anos depois, em 1725, o novo duque de Orléans demonstrou que ainda tinha pretensões ao trono da França. Isso porque o rei Luís XV se restabelecia de uma perigosa doença e fora rompido o acordo de matrimônio entre o infante (futuro Luís XVI) e a infanta espanhola. Dom Luís escreveu ao reino que “o Duque e a Duquesa de Orléans sofrem com impaciência a ruptura do matrimônio do infante porque o Duque se ainda não perde as esperanças de poder suceder na Coroa”. Rio de Janeiro. BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de dom Luís da Cunha de Paris -1725, f.50, 13 de março de 1725. PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits de la France, p.197-198. “É constante que seria uma dobrada utilidade para a França se pudesse fazer com Portugal um tratado do comércio em prejuízo do que Inglaterra e Holanda têm naquele reino.” ANTT. MNE. Caixa 560. Documentos diplomáticos de França, ME.III-A- Fr.C1.no.174, 1723. Em 1725, com o rompimento dos esponsais do infante francês, dom Luís informou que se conjeturava que a escolhida seria uma descendente do trono inglês. “Desse fato, que a doença de el rei cristianíssimo precipitou, se segue no meu entender estar ajustado o matrimônio, que até agora me pareceu impossível, como mandei dizer, do sobredito príncipe com a princesa de Inglaterra.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de dom Luís da Cunha de Paris -1725, f.50, 13 de março de 1725. PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits de la France, p.199.
53 Numa passagem dom Luís da Cunha se mostra cético da durabilidade da aliança da França com a Inglaterra, apesar de ter negociado insistentemente a sua aproximação com Portugal. “Bem sei que o cardeal desejará fazer florescer o comércio de França, mas repare VMce. em que não faz mistério de querer tirar parte dele a Inglaterra, de que se deve concluir que a amizade destas duas Coroas é, como sempre disse, acidental, e que será necessário que as águas que se desbordarão tornem a tomar o seu antigo curso.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.28. Carta de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, 13 de abril de 1727. 54 Por isso insistia com Francisco Mendes de Góis que grande parte da correspondência entre os três deveria ser destruída. Em carta de próprio punho dom Luís o advertiu que “Faça VMce. reflexão em que o cardeal guarda as cartas ostensivas e será grande o perigo se elas passam à notícia de outras pessoas.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.56. Carta de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, setembro de 1727. Mais tarde, em 1736, em nova negociação para se aproximar da França, escreveu que “em consequência então das minhas ordens falei ao mr. de F[enelon] perguntando-lhe se as linhas do tratado para tratar comigo, pois eu as recebera para negociar com ele com todo o segredo”. ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.135, Haia, 22 de maio de 1736. 55 Carta de 25 de marco de 1725. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, p.333. 56 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.388, 27 de outubro de 1721. 57 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.126, Paris, 12 de maio de 1721. 58 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.125, Paris, 9 de maio de 1721. 59 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, p.333. 60 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.126-127, Paris, 12 de maio de 1721. 61 “Quanto à dissertação do mesmo Mr. De Lislle, fui eu que a remeti a VSa. em 9 de março”. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.389, Paris, 27 de outubro de 1721. 62 “Quando dei notícia a VS . da Dissertação que Mr. De Lislle havia pronunciado na Academia das Ciências, lhe remeti a cópia, e como não chegou às mãos suponho que ficou em Vitória com outras coisas mais que se tomaram ao postilhão e assim mandarei outra cópia na posta que vem.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.411, Paris, 3 de novembro de 1721. a
63 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, p.334. ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.67, nota 51. 64 Carta de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha em que lhe fala dos Atlas de Delisle oferecidos ao rei 380
83 FERNANDES, Mário Gonçalves (org.). Manoel Azevedo Fortes: cartografia, cultura e urbanismo (1660-1749). Porto: GEDES, 2006;
e lhe pergunta o que se deve dar de oferta. 30 de setembro de 1721. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.222-223. 65 “Eu lhe respondo ser escusada a diligência porque Mr de Lisle está muito bem pago do seu trabalho.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.388-389, 27 de outubro de 1721.
84 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio, p.140 (grifo da autora).
66 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.395-396, 27 de outubro de 1721.
86 BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa, v.2, p.573.
85 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.35, Paris, 24 de janeiro de 1724. 87 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.357, Paris, 10 de julho de 1724.
67 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas. (Edição de Abílio Diniz Silva), p.194.
88 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Livro 793. Dom Luís da Cunha, f.453, Paris, 28 de agosto de 1724.
68 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.421, Paris 10 de novembro de 1721. Cópia em BNRJ. Manuscritos. 30,1,005 n.030. Cartas a Diogo de Mendonça Corte Real, tratando da dissertação de Delisle.
89 ANTT. MNE. Livro 793, f.543-544, Fontainebleau, 30 de outubro de 1724. 90 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.186, 26 de julho de 1725.
69 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.389, Paris, 27 de outubro de 1721.
91 Apud: DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.35.
70 DELISLE, M. Determination géographique de la situation et de l’etendue des diferentes parties de la terre. Des Sciences. Paris: Academie des Sciences de Paris, 1722. p.365-384. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.224-225.
92 MERVEILLEUX, Charles-Frédèric. Memoires instructifs pour un voyager dans les divers états de l’Europe. Amsterdã: H. Du Sauzet, 1738, t.1, p.177. 93 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.69.
71 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.395, Paris, 27 de outubro de 1721.
94 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise. In: MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime. (orgs.) Catalogues de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, par Pierre-Jean Mariette, p.59. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f.333, Paris, 23 de agosto de 1723.
72 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.86. 73 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1 (1724-1727). Minutas de cartas de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, doc.1. 74 “(...) é o primeiro engenheiro de el rei e ele o ensina e mostra as operações dos exércitos mecanicamente, coisa bem curiosa”. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f. 333, Paris, 23 de agosto de 1723.
95 BAC. Manuscrito 592, série azul. Apud: ALMEIDA, Luís Ferrand de. O naturalista Merveilleux em Portugal, p.288. 96 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise, p.59. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f.451-452, Paris, 8 de novembro de 1723.
75 Mercure de France. Outubro, 1721, p.186-187, Journal de Paris. 76 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f.333, 23 de agosto de 1722. MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise. In: MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime (orgs.). Catalogues de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, par Pierre-Jean Mariette, v.1, p.59.
97 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise, p.59. 98 FURTADO, Júnia Ferreira. Guerra, diplomacia e mapas: a Guerra da Sucessão Espanhola e a América portuguesa na cartografia de D’Anville. Topoi, Rio de Janeiro, v.12, n.23, p.66-83, jul.-dez. 2011.
77 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f. 333, Paris, 23 de agosto de 1723.
99 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.92. 100 “Em atividade desde 1545, quando os jesuítas se instalaram em Portugal, o Colégio de Santo Antão dispôs a partir de c.1590 de uma Cadeira específica para o ensino das Matemáticas aplicadas à Ciência Náutica, Astronomia, Cosmografia (i.e., Esfera), Geometria Prática, Geografia e Arte de Fortificar.” BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio, p.181
78 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f. 357, Paris, 10 de julho de 1724. 79 FURTADO, Júnia F. História da Engenharia. In: STARLING, Heloísa Maria Murguel e GERMANO, Lígia Beatriz de Paula (orgs.). Engenharia: História em construção. Belo Horizonte: EdUFMG, 2012, p.21-69
101 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.415, Paris, 7 de agosto de 1724.
80 BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa, v. 3, p. 117. 81 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). São Paulo: EDUSP, 2012, p.203-206.
102 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 14, f.115, 19 de julho de 1724.
82 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio, p.102. 381
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
103 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.415, Paris, 7 de agosto de 1724. 104 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.86. 105 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.448, Paris, 28 de agosto de 1724. 106 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta ao conde de Tarouca, f.199v, 13 de outubro de 1725.
146 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março de 1723.
125 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca e a dom Luís da Cunha, f.199, 23 de outubro de 1725.
147 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 2 de abril de 1722 (grifo meu).
126 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa.
148 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março de 1723.
127 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.86.
163 Há alguns poucos mapas de Wischer (entre outros, Viena, Utrecht, Reno e Escócia), um da Bavária de Homann, um da Itália de Rossi e um de Auvergne de Vanlochan. Há também estampas de Mariette referentes ao Japão, abadias da França e uma das dioceses francesas.
131 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa.
149 “Nos desvãos dessa casa, a que chamam graneiros, e servem de guardar os moveis tinha eu todo o meu fato (...) . Às 10 horas da noite pegou fogo nos ditos graneiros e com tal violência que dentro em 1 hora queimou toda a morada, sem que eu salvasse dela mais que uma boa parte da baixela e duas tapeçarias, perdendo tudo o mais que tinha. Nos poucos minutos que me deu liberdade um tão arrebatado incêndio só cuidei em salvar pessoalmente já com evidente perigo os papeis mais importantes do serviço. (...) Estando os tomos separados em diversas casas da minha morada sucedeu nela o incêndio o qual entre outras perdas causou a do Atlas.” BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 2 de outubro de 1722.
132 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca e a dom Luís da Cunha, f.199, 23 de outubro de 1725.
150 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março de 1723.
166 Placide de Sainte Hélène le père (1649-1734).
133 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.46.
151 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f. 123, 30 de agosto de 1724.
128 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa.
107 “Ele entregará a VSa. um micrometre da invenção de monsieur LeFevre e pelo que toca aos mais instrumentos matemáticos verá VSa. a memória junta.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.88, 13 de março de 1725.
129 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa. 130 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.86.
108 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.45-46. 109 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.46. 110 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 14, f.127, 17 de setembro de 1724. 111 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.88, 13 de março de 1725.
134 ALMEIDA, Anfré Ferrand de. Os jesuítas matemáticos e os mapas da América portuguesa (1720–1748), p. 79-92.
112 “Fico entregue do conhecimento em que vêm os livros e o telescópio, mas o navio ainda não chegou”. ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca e a dom Luís da Cunha, f.181, 6 de junho de 1725. 113 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724. 114 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.625, Paris, 25 de dezembro de 1724.
135 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.87.
152 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 8 de outubro de 1722.
136 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.87.
153 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 8 de outubro de 1722.
137 BNP. Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII, p.184-185.
154 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta para o conde de Tarouca, f.5v, 8 de maio de 1723.
138 SILVA, Cândido Marciano. D. João V patrono do astrónomo Bianchini, p.56.
155 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 6 de maio de 1723. Os globos ainda existem em Lisboa e hoje pertencem ao acervo da Sociedade de Geografia de Lisboa, tendo sido restaurados. SERUYA, Ana Isabel (dir.). Globos Coronelli. Lisboa: Instituto Português de Conservação e Restauro, 2004.
139 CUNHA, Lygia da Fonseca Fernandes. A coleção de estampas Le Grand Théâtre de l’Univers. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2004, vol.III, tomos CII-CXXV; CAETANO, Joaquim Oliveira (coord.). Gravura e conhecimento do mundo: o livro impresso ilustrado nas coleções da BN. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1998.
115 HASSENFRATZ, Jean-Henri. Encyclopédie méthodique. Physique. A Paris: Hôtel de Thou, t.2, 1793, p.231. 116 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
140 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise. In: MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime (orgs.). Catalogues de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, par Pierre-Jean Mariette. Lisboa/Paris: Fundação Calouste Gulbenkian / Bibliothèque Nationale de France / Fundação da Casa de Bragança, 2003, v.1, p.55. ANTT. MNE. Registro de Diogo Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca. Livro 14, f.122v-123, 12 de julho de 1724.
117 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.625, Paris, 25 de dezembro de 1724. 118 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.187v, 25 de julho de 1725. 119 O mesmo ocorria com a Académie Royale des Sciences de Paris, onde inúmeros savants apresentavam seus inventos que eram examinados, avaliados e aprovados ou não pelos acadêmicos. Por exemplo, a 27 de janeiro de 1725, mr. Lonbardeur “apresentou uma máquina de sua invenção para britagem e peneiramento, etc. e foi nomeado mr. Reaumur et Nicoler” para o exame da mesma. AASP. Process verbaux, 1725, 27 de janeiro de 1725.
141 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise, v.1, p.55. BNL. Reservados. AT.26.12, 8 de março de 1725 142 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.388-389, 27 de outubro de 1721.
120 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.89, 23 de março de 1725.
143 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 19 de fevereiro de 1722. “Ordenou-me Sua MAde, em carta de VM, de 13 de janeiro do ano passado, que comprasse o Atlas que ajuntava Theodoro Broendermaker e que por ele desse ate 10 mil florins pouco mais ou menos.”
121 SOBEL, Dava. Longitude. 122 ANTT. MNE. Documentos diplomáticos de França, caixa 560, ME.III-A- Fr..C1.no.18, 2 de março de 1723; ME.III-A- Fr..C1.no.19;
144 BNL. Arquivo do Conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março de 1723.
123 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.142-143, carta de 27 de março de 1724.
145 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise, p.80. 382
par le Sieur d’Anville, geographe du Roy: T.1. Le Monde; TII: La France; T.III: l’Allemagne, l’Italie, l’Espagne, les Iles Britanniques (avec un index manuscrit).
124 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca e a dom Luís da Cunha, f.197, 13 de outubro de 1725.
162 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 3. Correspondência de Marco António de Azevedo para Francisco Mendes Góis. Doc.42, Lisboa ocidental, 14 de agosto de 1729.
164 Os Jaillot eram uma família que teve várias gerações de geógrafos. No caso tratava-se de Bernard Jean Hyacinthe Jaillot (1673-1739). 165 Nicolas de Fer (1646–1720), filho de um comerciante de mapas, executou mais de seiscentos mapas, sendo sua obra mais famosa l’Atlas Curieux où le Monde représenté dans les cartes générales et particulières du Ciel et de la Terre. 167 HORNE, Herbert P. The binding of books: an essay in the history of gold-tooled bindings. Nova York: The Grolier Club, 1884, p.44. 168 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 3. Correspondência de Marco António de Azevedo para Francisco Mendes Góis. Doc.42, Lisboa ocidental, 14 de agosto de 1729. 169 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale portugaise, p.64-65. 170 “Planos do observatório da Relação de Monsieur D’Anville.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, Bruxelas, 29 de outubro de 1725. 171 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725. 172 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f. f.357, Paris, 10 de julho de 1724. 173 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725.
156 Carta de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha sobre vários negócios, inclusive a compra de um Atlas, 29 de fevereiro de 1724. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.252-254.
174 “Da outra carta de mr. D’Anville que por minha ordem corre com a coleção de estampas e está reformando os Atlas que se molharam.” ANTT. MNE. Caixa 789. f.23v, Bruxelas, 25 de janeiro de 1726.
157 Referia-se às conexões do abade com a Espanha. Em 1727, Vayrac se valeu dos savants portugueses para atestar, na introdução do seu livro, a qualidade do mesmo. ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.54, 27 de outubro de 1727.
175 ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356, ano 1756. 176 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
158 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.142, Paris, 27 de março de 1724.
177 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.94. CARVALHO, Rômulo. A astronomia em Portugal no século XVIII. Lisboa: ICLP, 1985, p.37-53.
159 “Parte para esta corte Francisco Mendes de Góes o qual entregará a VSa. uma caixa com os Atlas do Abbé Vayrac que hoje remeti ao Harve.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.142, Paris, 11 de maio de 1724.
178 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
160 “Porque agora me escreve Pedro Nolasco Convay que o navio naufragara, mas que venturosamente os Atlas não se molharam.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.319, Paris, 26 de junho de 1724.
179 “Des recherches qui ont été faites jusqu’à present pour trouver les longitudes & des moyens que l’on peut tenter pour parvenir à leur découverte.” AASP. Process verbaux, 1722, 15 de avril de 1722.
161 BNRJ. Divisão de Cartografia. At, 015, 02, 001-003. Atlas, ou Recueil de cartes géographiques, D’Anville, Collection de cartes géographiques en trois volumes que son Excellence l’Ambassadeur a fait choisir pour son usage
181 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.583, Paris, 4 de dezembro de 1724 e f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
180 AASP. Process verbaux, 1724, 9 de dezembro de 1724.
383
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
182 “A obra de Capassi, intitulada Lusitania Astronomice Ilustrata, nunca foi impressa e reúne as observações astronómicas feitas em Coimbra, Porto e Braga entre 1726 e 1727.” ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.97 e 98.
ocidental, 14 de agosto de 1726”. ANTT. MNE. Caixa 789, cópia de cartas de dom Luís da Cunha para a corte de Lisboa, escritas de Bruxelas de 4 de janeiro até 27 de dezembro de 1726, f.41, 8 de março de 1726. 195 ANTT. MNE. Caixa 789, cópia de cartas de dom Luis da Cunha para a corte de Lisboa, escritas de Bruxelas de 4 de janeiro até 27 de dezembro de 1726, f.9, 11 de janeiro de 1726.
183 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
196 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725.
184 Em 25 de dezembro de 1724, dom Luís escreveu: “Remeto a VS a observação q. Mr. Maraldi fez do último eclipse da lua comparada com a que VSa. me remeteu. Espero a do íntimo satélite de Júpiter.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.624, Paris, 25 de dezembro de 1724.
197 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.284, Paris, 18 de junho de 1724. 198 “Demonstracion (sic) convincente de la extension del territorio, em que está situada la Colonia del Sacramento, por Diogo de Mendonça Corte Real.” Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo I, p.230-243.
185 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.158, 17 de janeiro de 1725. 186 “Remeto a VSa. em primeiro lugar a resposta que deu o obreiro que faz os instrumentos matemáticos, ao papel que VSa. me mandou, e em segundo mando a VSa., pelo postilhão Manoel da Costa, um livro que contém os planos e relação do observatório de Paris.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.43-44, 3 de fevereiro de 1725 e DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Eighteenth-century Portugal, p.86.
199 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.69. 200 BNRJ. Seção de Manuscritos. 30, 1.005 n.014. Carta de D’Anville ao sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico em tempos feito a pedido de d. Luis da Cunha, 28 de agosto de 1776. 201 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville, doc.552, 10 fólios.
187 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta ao conde de Tarouca, f.115, 19 de julho de 1724. 188 “Pelo que respeita à coleção das estampas vai também a outra memória, ambas assinadas por mons. D’Anville, que corre com uma e outra obras, a que deu grande facilidade às últimas ordens.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.88, 13 de março de 1725.
202 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille. 203 NL. Vault box. Ayer MS 1918. D’Anville, Jean-Baptiste Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning the papal line of demarcation between Spain and Portugal in South America, giving a detailed account of the dispute between the 2 countries... [manuscrito] 1734-1746. Descrição: 3 itens (19 folhas); 41 cm ou menor.
189 “Ajunto a esta a memória das estampas que mr. Mariette tem dado com os seus preços e a dos volumes que se ficam encadernando.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725. 190 Ver FURTADO, Júnia Ferreira. Entre Angola e Moçambique: um projeto português de ligação terrestre entre as duas costas da África e suas fontes europeias e africanas. In: FRANÇA, Eduardo Paiva (org.). Os Angolas no Brasil, o Brasil em Angola – África, Europa e América e a construção do mundo moderno. São Paulo: Annablume, no prelo.
204 NL. Vault box. Ayer MS 1918. [manuscrito] Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.A1. 205 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Ligne de Demarcation, f.3. 206 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.2, p.349.
191 MOTA, Avelino Teixeira. Dom Luis da Cunha e a carta da África Meridional de Bourguignon d’Anville (1725). Separata da Revista Portuguesa de História, tomo X, 1962, 16p.
207 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.B2 (grifo do autor).
192 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do astrónomo Bianchini. In: Estrelas de papel, p.54.
208 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.2.
193 “Remeto a VSa. a conta dos preços de cada estampa de que se compõem os 20 volumes, de que deixei para se embarcar, com o resumo do que também custou a sua encadernação e o trabalho de fazer e copiar os seus index. (...) Ao sair de Paris ajustei com o mesmo encadernador que daqui por diante (...) mr. D’Anville ficou encarregado da perfeição e da expedição. Para sempre me deve remeter os tais index em francês para que aqui se traduzir em português.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, Bruxelas, 29 de outubro de 1725. 194 “Logo recebi a terceira carta que respeita a coleção de estampas, escrevi a mr d’Anville na conformidade que VSa. me advertisse, ele me tinha escrito a carta que remeto na qual VSa. verá a desculpa que Mariette buscou para a demora, porque a notícia dos passaportes que mandava buscar para a nossa jornada lhe deu esta ocasião.” Lisboa 384
2
RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, d’Anville, 1779, f.1.
3
Newberry Library. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Documents pertaining to the papal line of demarcation dividing South America between Spain and Portugal 1734-46, Vault box. Ayer MS 1918, f.D-3.
4
BROC, Numa. La figure de la terre. In: La Géographie des Philosophes, p.42-50. SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.8.
18 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9163. Map of South America, Herman Moll. Londres: D. Midwinter, T. Bowles, P. Overton, ca. 1717.
5
AGUILLAR, José. História da cartografia, v.1, p.218.
6
D’Anville estava ciente de que qualquer projeção impunha a deformação do objeto representado e, ao longo de sua produção, não se prendeu a uma única forma, variando conforme a localização da área representada no globo terrestre.
19 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9156. Amérique méridionale divisée en ses principales parties, Nicolas Sanson. Paris H. Iaillot, 1709, 1 f. em cor; 46,5 x 65 cm.
7
RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connaissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, f.1.
8
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.64.
9
RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, f.2.
16 Por essa razão, Jaime Cortesão afirmou, equivocadamente, tratarem-se de duas versões diferentes impressas em 1748. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, vol.III, nota 5, p.787, e vol.IV, nota 5, p.908. 17 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9155. Amérique Méridionale, 1669, Nicolas Sanson. Paris: chez Pierre Mariette, 1669, 1f. 40 x 56 cm.
20 HUMBOLDT. Relation historique du voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent fait en 1799, 1800, 1802, 1803 et 1804. Apud: SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.123. 21 GREEN, John. Remarks in support of the new chart of North and South America, p.6. 22 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.522-533, March, 1750. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.625-673, abril de 1750.
10 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, f.2.
23 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connaissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, d’Anville, agosto de 1779, 11p. e BC. n.539 (2). Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, d’Anville, 31 de agosto de 1779, 15 ½ p.
11 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éclaircissemens géographiques sur la carte de l’Inde. Paris: l’Imprimerie Royale, 1753.
13 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville, à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Méridionale, de 17 de novembro de 1749, dezembro de 1749, p.328.
211 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.C2.
14 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9169. Carte de l’Amérique méridionale, impressa, 1748. Outro exemplar da mesma carta pode ser visto em Ge DD 2987. 9169, neste caso a largura da folha é de 78,5 centímetros.
215 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.J8.
como também o Paraguai. DACIER, Joseph, Notice des ouvrages de M. D’Anville, p.98-99.
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.63.
210 “Le terme de lieue étant assez équivóque en lui meme par la diversité que la medida epreuve”. NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.C.2.
214 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.H7.
218 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.C2-D3.
1
209 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.25.
213 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Ligne de Demarcation, f.
217 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.G6.
[ Capítulo 4 ]
12 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.64.
212 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.D3.
españolas (1500-1822). Salamanca: Universidad de Salamanca/Centro de Estúdios Brasileños, 2008, p.55.
216 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.J8. PÉREZ, José Manuel. Introdução: a formação territorial do Brasil a través dos mapas manuscritos nos arquivos espanhóis: reflexo de três séculos de história compartida. In: CABRIA, Juan Vicente. Cartografia manuscrita de Brasil em las colecciones
24 À esquerda cartela aparece a atribuição à Gravelot: “du dessin du sr. Gravelot, frère de l’Auteur”. “do desenho do sr. Gravelot, irmão do Autor”. In: Carte de l’Amérique méridionale, d’Anville, 1748 25 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.42. 26 Desde as descrições de André Thevet, que veio ao Brasil entre 1555 e 1556, a preguiça era objeto de admiração e incredulidade por parte dos europeus. No que foi a primeira descrição desse animal para o público europeu, Thevet assegura que o animal não se alimentava e vivia de vento. FURTADO, Júnia F. Le merveilleux, le monstrueux et le singulier dans la cosmographie de la terre d’Andre Thevet, p. 193-212.
15 Na de 1754, acrescentou montanhas nas proximidades de Lima; na de 1760, alterou o curso do Orenoco e seus afluentes; na de 1765, corrigiu a posição do lago do Xarayes, no interior do Brasil; na de 1772, modificou o traçado das ilhas Malouines e, finalmente, na de 1779, reconfigurou a parte sul do Brasil, que correspondia à região do Paraná,
27 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie. [1781] Paris: Aubel, 1984. 28 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, p.103. 385
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
29 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie, p.14.
45 BNF. DCP. Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du voyage a l’Equateur.
30 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie, p.7. 31 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, p.104.
46 A carta manuscrita, de 1750, pode ser vista em BNF. DCP. Ge DD 2987 (10660) (1), (2), (3), (4). Carte générale de l’audience de Quito, entre 2o 30’ N et 6o. Sud, et jusqu’à confluent Hullaga-Manation. Outra cópia manuscrita em BNF. DCP. Ge DD 2987. 10661.
32 Mercure de France. Lettre de M. d’Anville, à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Méridionale, de 17 de novembro de 1749, dezembro de 1749, p.169. 33 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.65.
47 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.149. 48 Todo o processo de produção e de disputa em torno dessa carta foi esmiuçado em: SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. In: Measuring the New World, p.123-165.
34 FURTADO, Júnia Ferreira e CINTRA, Jorge Pimentel. A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada. Revista Brasileira de História. [on-line], São Paulo, vol.31, n.62, p.273-316, 2011.
49 Em 31 de outubro de 1746, dom José de Carvajal, secretário dos Negócios Estrangeiros, comunicou ao conde de Huescar, embaixador espanhol na França, que “dom Pedro Maldonado, homem ilustre, sábio e utilíssimo para o Rei, te entregará esta que servirá para sua apresentação, que depois o estimarás por seu mérito e se tens tempo o poderás ouvir coisas bem amenas”. Carta n.18 de Carvajal a Huescar, 31 de outubro de 1746. Apud: OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI: correspondencia reservada entre D. Jose de Carvajal y el Duque de Huescar, 1746-1749. Madri: Escuela de Historia Moderna, 1975, p.104. Maldonado foi eleito membro correspondente da Academia de Ciências em 24 de março de 1747
35 AASP. Process verbaux, 1737, f.188, mercredi 13 novembre de 1737. “Mr. Maupertuis a lû um écrit sur son voyage du nord pour la mesure de la terre.” 36 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.91-114, jan.-jun.2009. 37 BNF. DCP. Ge ANGRAND 11. Cartuche de la Carte de l’Amérique méridionale, Jean-Baptiste Bourguignon d’ Anville.
50 Carta n.104 de Huescar a Carvajal, de junho de 1747. Apud: OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI, p.203.
38 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império, p.47.
51 Carta n.318 de Huescar a Carvajal, de 1747. Apud: OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI.
39 Carta de 10 de fevereiro de 1745. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.49. Nas páginas seguintes, 49-53, o autor, o jovem conde de Assumar, que assistiu ao evento, faz uma detalhada exposição da apresentação de Bouguer.
52 SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. In: Measuring the New World, p.123-165. 53 BNF. DCP. Ge DD 2987 (10878).
40 Como aponta Neil Safier, a despeito da pretensão de La Condamine, muitas das informações inseridas em seus relatos foram adquiridas através de terceiros. SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês, p.91-114.
54 “Carte de la région du Chiriqui, tirée d’un ms comuniqué par la Condamine”. BNF. DCP. Ge DD 2987 (10673) (2).
41 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: Edusc, 1999, p.47-48. 42 Segundo o próprio La Condamine, “terminada a questão da configuração da terra, e atenuada a curiosidade pública nesse particular, cri interessar mais à assembleia pública de 26 de abril último [1745], com uma relação de viagem pelo rio Amazonas que desci desde o ponto em que começa a ser navegável até à embocadura, percorrendo uma extensão de mais de mil léguas”. LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.31. 43 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du Maragnon ou de la grande riviere des Amazonas dans sa partie navigable depuis Jaen de Bracamoros jusqu’à son embouchure et qui comprend la province de Quito et la Côte de la Guyane depuis le Cap de Nord jusqu’à Esquebé (sic), etc., d’Anville. A primeira cota refere-se à versão impressa, e a Segunda, à manuscrita.
63 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 64 Na França, desde meados do século XVII, aparecem manuais que buscam uniformizar o desenho de mapas, tais como L’Ingénieur français, de Jean-Louis Naudin (1699) ou Les Règles du dessein et du lavis, de Nicolas Buchotte (1722). Regras desse tipo são introduzidas em Portugal a partir dos manuais publicados por Azevedo Fortes. BUENO, Beatriz Piccolotto. Decifrando mapas: sobre o conceito de território e suas vinculações com a cartografia. Anais do Museu Paulista, v.12, p.193-236, jan/dez 2004. “A padronização dos códigos de representação, encabeçada por Azevedo Fortes é visível na série de desenhos dos engenheiros militares da geração seguinte.” (p.222)
81 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 82 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 83 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 84 SØRENSEN, Madeleine Pinault. Les voyagers artistes em Amérique du Sud au XVIIIe siècle. In: LAISSUS, Yves. Les naturalistes français en Amérique du Sud, XVIXIX siècles. Paris: Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 1995, p.43-55. 85 SAFIER, Neil. Measuring the New World.
65 “As tintas de maior uso entre os desenhadores [de mapas] são a tinta da China, o carmim, a aguada de rios, o rohão, o bistre, o verde-bechiga, o verde-lírio, o anil fino, o vermelhão e a aguada de tabaco.” FORTES, Manoel Azevedo. FORTES, Manoel A. O engenheiro português. Lisboa: Oficina de Manoel Fernandes da Costa: 1728, tomo I, p.413.
86 Neil Safier destaca que, também durante a confecção do mapa de Quito, D’Anville perceptivelmente tomou o partido de La Condamine em detrimento de Bouguer e Maldonado, apesar de o último ser o verdadeiro autor da carta. Assim, várias correções propostas pelo último não fizeram parte da versão final do mapa. SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.128-135.
66 Sobre esta questão na cartografia do Brasil, ver: KANTOR, Íris. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos da informação toponímica (1750-1850). Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.17, n.2, p. 39-61, jul.-dez. 2009.
87 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império, p.45-46. 88 Apesar de restringir a contribuição dos dois à região de Quito, Bouguer comunicou a D’Anville uma carta do Golfo de Panamá (1744, [S.l.]: [s.n.], 1 carte ms; 30 x 35,5 cm, BNF. DCP. Ge DD 2987 (9189)), que o geógrafo utilizou como base para sua Carte manuscrite de l’istme et la baye de Panamá et contrées adjacentes. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9187 B).
67 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.81. 68 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.68.
56 TOOLEY, Ronald Vere. Delahaye [De La Haye]. In: A dictionary of mapmakers, v.1, p.351. Delahaye ficou na rue de l’Arbre Sec até 1767 e se estabeleceu na place du Chevalier du Guet, a partir de 1781.
73 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
59 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.52. 386
62 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
69 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.80-81.
58 WASHBURN, Wilcomb E. As ilhas Canárias e a questão do meridiano de referência: a busca do rigor na medição da terra, p.213-220. FURTADO, Júnia F. Um cartógrafo rebelde? José Joaquim da Rocha e a cartografia de Minas Gerais. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.17, n.2, p. 175-176, jul.-dez. 2009.
44 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.34. Na cartela do mapa aparece a informação “levantado em 1743 e 1744 e submetido às observações astronômicas por m. La Condamine, da Real Academia de Ciências. Aumentado do curso do rio Negro, e de outros detalhes tirados de diversas memórias e roteiros manuscritos de viajantes modernos”. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542). Carte du cours du Maragnon ou de la grande rivière des Amazones.
61 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.66-67.
55 Este mapa não está datado. É muito semelhante à versão de 1737, produzida para o duque de Chartres, mas não é idêntico. Alguns topônimos desapareceram, como o rio da Prata, ou a ponta de Castilhos; outros foram corrigidos. Parto do pressuposto de que se trata de um exemplar do mapa feito a pedido de dom Luís da Cunha, e que Jaime Cortesão data de 1742. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, vol. III, nota 5, p.787, e vol. IV, nota 5, p.908.
57 Na carta de Quito aparece a mesma conjugação entre D’Anville como desenhista, Delahaye como gravador e Gravelot como autor da cartela. SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: Measuring the New World, p.123-129. Observa-se que isto configura estratégia evidente de busca de uniformização da cartografia que ele produzia da América do Sul.
80 Essa mesma observação aparece em seu mapa intitulado Carte de la Guiane françoise ou du gouvernement de Caïenne. Porém nessa carta a informação se refere aos Armaboutous, que habitam o interior do território. Abaixo de seu nome aparece a seguinte observação: “que tem grandes orelhas sobre seus ombros e muitos furos nas faces”. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9568). Carte de la Guiane françoise ou du gouvernement de Caïenne, D’Anville, 1729, 1f., manuscrito e impresso, 40 x 49 cm.
60 DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Avant propos, p.9.
89 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.523 (grifo meu). 90 SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. In: Measuring the New World, p.123-165. 91 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.671.
70 A utilização do topônimo rio das Amazonas será discutida no Capítulo 9.
92 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.523.
71 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
93 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier, p.523.
72 KANTOR, Íris. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos da informação toponímica (1750-1850), p.44-45. 74 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
94 DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque nationale, p.21.
75 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.111.
95 Estas são principalmente de Bellin, hidrógrafo do rei, bastante conhecido por suas cartas marítimas, algumas delas baseadas nos mapas de D’Anville.
76 “O mapa que era produzido pelos europeus era, em parte, dependente da contribuição dos nativos. Essa contribuição se configurou numa variedade de formas, incluindo não somente o fornecimento de informações, mas também de pessoal. O desejo dos cartógrafos europeus de se apoiar em inúmeras fontes para produzir seus mapas foi importante para este processo, como também sua desesperada necessidade de informação”. BLACK, Jeremy. Visions of the world, p.66-67.
96 Esta classificação está de acordo com a adotada no catálogo da coleção do Departament des Carts et Plans da BNF. A organização que resultou nessa classificação começou a ser feita pelo próprio D’Anville e, após sua morte, foi continuada por Barbié du Bocage. Ver: DU BUS, C. Les collections d Anville à la Biblioteque nationale, p.21. 97 Foram incluídas aí duas cartas do fundo Ge D 10691, que não constavam da classificação original, porque se tratam de duas cartas fornecidas por Gonçalo de Lacerda, secretário de dom Luís da Cunha, e copiadas por D’Anville, referentes à região de Santos. BNF. DCP. Ge D 10691. Esquisse au crayon de la Region de Santos au Brésil, d’Anville, ca.1740.
77 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 78 Sobre os pampas afirma que “é o mesmo nome que se dá aos índios que vivem errantes nessas planícies”. In: Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 79 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. 387
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
representar o conhecimento geográfico. BARBER, Peter. (ed.) The map book. Londres: Weidenfeld & Nicolson, s/d, p.134.
98 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9189). Golfe de Panama. 99 BNF. DCP. Ge 2987 (9682) ou Ge D 10890. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Carte réduite de la Mer du Sud selon la nouvelle hypothese de la longitude, 1736.
113 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9153). America Meridionalis, Gérard Mercator, [ca1610], 44 x 57 cm.
100 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.530.
114 CRONE, C.R. Maps and their makers, p.70. 115 “Amsterdam estava então [1630] rapidamente se desenvolvendo como o centro cartográfico da Europa. O capital oriundo das empresas ultramarinas financiou o desenvolvimento técnico de instrumentos e gravadores para a produção de globos, Atlas e mapas de parede em escala massive”. CRONE, C.R. Maps and their makers, p.81.
101 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.531. 102 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Doc.549, Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay. Doc.549, Addition à la lettre de Mr. D’Anville à Mr. De la Roque.
116 “Cientistas, engenheiro e os funcionários públicos foram responsáveis pelas mais importantes e distintivas inovações em cartografia no século XVIII na Europa. Eles dominaram a cartografia da época como nenhum outro grupo nacional havia feito até então”. KONVITZ, Josef. Cartography in France, 1660-1848: science, engineering, p.XVIII.
103 Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, “Observations geographiques sur la Carte du Paraguai par l’auteur de cette carte”. Paris: Chez J.G Merigot le jeune, 1781, v.IX. O manuscrito dessa memória se encontra na Newberry Library. 104 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9445). Paraguaia Provincia Societatis Jesu cum adjacentitus novissima descriptis, Matthias Seutter, 1740.
117 Vincenzo Coronelli (1650-1718) foi o cartógrafo italiano mais prolífico da época. BLACK, Jeremy. Visions of the world, p.64. 118 BARLEO, Gaspar. Rerum per octennium in Brasilia, et alibi nuoer gestarum. Amsterdã: Ioannis Blaeu, 1647.
105 FERREIRA, Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: a cartografia a serviço da diplomacia. Varia Historia, Belo Horizonte, vol.23, n.37, p.56, 2007.
119 PISO, Willem, MARGGRAF, Georg, et LAET, Johannes. Historia naturalis Brasiliae. Auspicio et beneficio Illustriss. I. Mauritii Com Nassau. Leiden: Franciscum Hackium/ Amsterdã: Ludovicus Elzevirium, 1648.
106 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9446). Paraguaria Provincia Societatis Jesu cum adjacentibus novissima descriptio – 1722, Michaeli Angelo Tamburino Soc. Jesu Praep. Generali XIV, Ano 1726.
120 “Nicolas Sanson (…), um homem de vastos interesses, como cientista e antiquário, que esteve sob a influência de René Descartes. (...) Como matemático, ele é conhecido como inventor da projeção sinusoidal (conhecida como Sanson-Flamsteed) na qual o formato das áreas é preservado.” CRONE, C.R. Maps and their makers, p.83.
107 BNF. DCP. Ge DD 2987 (8496). Oceanus occidentalis, Claude Ptolemée, Lugduni, 1535, 1 f. 35 x 50 cm. BNF. DCP. Ge DD 2987 (8497). Oceanus occidentalis, Claude Ptolemée, Oceanus occidentalis, 1535, 35,5 x 49,5 cm. 108 BNF. DCP. Ge DD 2987 (8498). Mercartor America sive india nova, Gerard Mercator, Duysburgi: Mercatorem, 1595, 44,5 x 50,5 cm. “Em 1569, Mercator produziu uma projeção que tratava a terra como um cilindro, assim os meridianos eram paralelos e não convergentes para os polos. Os mapas que usam a projeção de Mercator expandem as terras temperadas em relação às terras tropicais. Usa as linhas de projeção que são importantes na navegação criando ângulos entre altitude e longitudes. Foi ele que estabeleceu a Europa no centro e no hemisfério norte, o que dava primazia à Europa em relação aos outros continentes. Como toda projeção, o mapa de Mercator apresenta distorções. Isso é inerente ao fato de representar um objeto tridimensional em apenas duas dimensões. Não há mapa correto num mapa de projeção, as distorções aumentam a área representada. Foi ele também quem fortificou a representação do mundo como um retângulo, que não revela a circularidade da terra.” BLACK, Jeremy. Visions of the world: a history of maps. Grã-Bretanha: Octopus Publishing Group, 2003, p.48-50.
121 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9474). André Thevet, L’isle Henrii. 1586. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9475). André Thevet, L’isle des Margaias, 1586 – 15 x 18,5 cm. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9480). Gouffre de la riviere de Guanabara ou Janaire, André Thevet, 1586, 15 x 18,5 cm. 122 D’Anville possuía esse mapa da ilha de Santa Catarina e uma do mar do Sul de Frézier. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9475). Amédée-François Freézier. Carte particuliere de i’Isle de S.te Catherine située à la côte du Bresil. Paris, JCNyon, 1716. 21X31; BNF. DCP. Ge DD 2987 (9175). Carte reduite pour l’intelligence du voyage de la Mer du Sud. Amédée-François Frézier, ca.1716, 21 x 16,5 cm. 123 “Jan Jansson e seu filho Joan Jodocus Hondius, impressor, tendo, em 1606, comprado as placas do Atlas de Mercartor de sua família, republicaram seu mapa com o acréscimo de mais 36 de sua autoria no Mercartor-Hondius Atlas, que continha 143 mapas. Estes subsequentemente apareceram em edições em seis línguas”. CRONE, C.R. Maps and their makers, p.81.
109 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9152). La descritione de Cullo (sic) ao Peru, Paolo de Forlani, [da Verona] ca.1560, 53 x 38,5 cm. A América do Sul de Mercator tinha um curioso formato quadrangular que só foi corrigido depois das viagens de Drake ao longo da costa oeste”. CRONE, C.R. Maps and their makers, p.74.
124 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9167). Typus geographicus Chili Paraguay Freti Magellanici ex Ppbg Alfonso d’Ovalle e Nicol. Techo nec non de Brouwer, Narbouroug, de Beauchesne etc. a Guiliel de I’Islio descripts in superque secundum recentiores du Frezier relations retificato cui accedit ichonographia urb. Cap. S Iago editoribus. Nuremberg: Homannianis heredibus, 1733, em coul 49 x 63,5 cm.
110 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9170). Delineatio omnium orarum totius Australis partis Americae, dictae Peruvianae Arnolius Florentuit (Arnold Florent) van Langren, [Anvers], [1596], 41 x 57 cm.
125 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9484). COQUART, A Plan de la Baye et de la ville de Rio de Janeiro, prise par l’escadre commandé par M. Duguay Troüin, apres 1711 – 24,5 x 33 cm; BNP. DCP. Ge DD 2987 (9486). BELLIN, JN Plan de la baye de Rio de Janeiro. Paris, Bellin, 1764 - 1 f. - 31,5 x 49 cm.
111 Blaeu e Visscher referem-se a duas dinastias tradicionais de cartógrafos dos Paises Baixos, séculos XVI e XVII. 112 Hondius foi um dos cartógrafos mais famosos da sua época. Foi um dos primeiros a utilizar a projeção de Mercator para 388
126 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9483). MANNEVILLETE, J. B. Nicolas Denis d’. Plan de la Baye et du port de Rio de Janeiro. Paris: JN Bellin, 1751. 55 x 38 cm.
y costumbres de los indios sus habitadores, com nuevas y utiles noticias de animales, arboles, frutos, aceytes, resinas, yervas, y raìces medicinales: Y sobre todo, se hallaràn conversiones muy singulares à nuestra Fé, y casos de mucha edification. Madri: Manuel Fernandez, 1741
127 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9482). Entree de la Riviere de Ianeyro a la côte du Bresil, François Froger, séc. XVIII, 15 x 10,5 cm. Paris: Nicolas le Gras, 1700
145 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.529.
128 FROGER, François. Relation d’un voyage fait en 1695, 1696 et 1697 aux côtes d’Afrique, détroit de Magellan, Brésil, Cayenne et isles Antilles, par une escadre des vaisseaux du roy, commandée par M. De Gennes, Paris, quay de l’Horloge, 1698, in-16, 200 p., avec des cartes et des figures, 1699.
146 FRÉZIER, Amédée. Relation du voyage de la mer du Sud aux côtes du Chili, du Pérou et de Brésil, fait pendant les années 1712, 1713 1714. Ouvrage enrichi de quantité de planches en taille-douce. Paris: Pierre Humbert, 1717.
129 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9487 e 9488). Plan de la ville de St Sebastien à la coste du Bresil ou autrement la Baye de Rio de Janeiro. Sec. 18, Manuscrite em coul; 50 x 34 cm; f.2 legende, ms; 30 x 20,5 cm.
147 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.632.
130 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9497). FRÉZIER, A F. Plan de la Baye de tous les Saints située à la côte du Brésil. Paris: JC Nyon, 1716. 20,5 x 14,5 cm; BNP. DCP. Ge DD 2987 (9499). FREZIER, A F. Plan de la ville de Saint Salvador capitale du Brésil. Fonbonne scupt. Paris: Nyon, 1714. 21,5 x 32 cm; BNP. DCP. Ge DD 2987 (9501). FRÉZIER, Amédée-François. Brésil: Bahia de todos los Santos. Paris: J C Nyon, 1716. 1 f. 18 x 11 cm.
149 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.528-529.
148 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.632.
150 Relation Voyages de François Coreal aux Indes Occidentales, contenant ce qu’il y a vû de plus remarquable pendant son séjour depuis 1666 jusqu’en 1697. Amsterdã: J. Frederic Bernard, 1722. 151 http://www.wdl.org/pt/item/379/ (acesso em 04/09/2009)
131 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9504). SMITH, WH. Carte Anglaise des Côtes du Brésil depuis la Rivière de Ypernim jusqu’à Sergipe del rey. Londres: Dalrymple, 1779. 64,5 x 49 cm.
152 SEIXAS Y LOVERA, Francisco de. Descripcion geographica, y derrotero de la region austral Magallanica. Que se dirige al Rey nuestro señor, gran monarca de España, y sus dominios en Europa, Emperador del Nuevo Mundo Americano, y Rey de los reynos de la Filipinas y Malucas. Madri: Antonio de Zafra, 1690.
132 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9471B). (Suite) Huilé (?) Portugais du Lagoa de Merin, de la main de M. d’Anville, F. Barbuda Maldonado, Carta topográfica de todo o terreno... 1737, ms, 25,5 x 74,5 cm.
153 BROSS, Mag. America and the east: early geographies. (1921) Londres: Mag Bross, 2008, p.64.
133 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins. Manuscrita em cor, 65 x 333 cm.
154 ANSON, A Voyage round the world, in the years 1740, 41, 42, 43, 44. Londres: John and Paul Knapton, 1749.
134 BNF. DCP GE D 10691 (1) e (2). Esquisse au crayon de la Region de Santos au Brésil, ca 1740.
155 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.663-664.
135 DCP. Ge DD 2987 (9473). Maritima Brasiliae universae/ Andreas Antonius Horatii inv. Et delin. Rome: Rossi, 1700 – 43,5 x 57 cm.
156 BNL. Reservados. Cartas Avulsas de dom Luís da Cunha. Maço 62, n.2. Doc.226, Carta para o cardeal da Mota, 14 de dezembro de 1739.
136 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9476). HORATIUS, Andreas Antonius. Pianta di S. Vicenzo/ Andreas Antonius Horatii. H. Vicent sc. Rome, Rossi, 1700, 39,5 x 52 cm.
157 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.47. 158 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9401). Plan d’une baye de la côte du Chili, 174.., por George Anson, 22 x 29 cm.
137 Como exemplo BNF. DCP. Ge DD 2987 (9474). Provincie de S. Vicenzo e del Rio de Janeiro, Andreas Antonius Horatii inv. Et delin; Vicent sc. Rome, Rossi 1700. 39 x 51,5 cm.
159 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9408). Carte de la partie méridionale de l’Amérique méridionale avec la route du Centurion, 174.., por George Anson, 50,5 x 49 cm.
138 GUNN, Geoffrey C. First Globalization: the Eurasian Exchange 1500-1800. Lanham/Boulder/New York/Toronto/ Oxford: Rowman Littlefied Publishers, 2003, p.121.
160 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.638-639. 161 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9408).
139 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9551). Carte de l’embouchure de l’Amazone, Robert Dudley, século XVIII, ms., 37 x 34 cm.
162 Está escrito na cartela desse mapa: “Foi ultimamente publicado um mapa de duas folhas da América do Sul, copiado de um mapa francês muito errado de 1703 e, para enganar o mundo, dedicado ao Dr. Halley, e pretende na dedicatória ter sido corrigido por suas descobertas”. Esta observação lança luz sobre as disputas territoriais no além-mar entre duas potências rivais e como os mapas podiam servir para enganar o adversário. BNP. DCP. Ge DD 2987 (9172). A new and exact map of the coast, countries and islands, Herman Moll, 1711, coul., 66 x 49,5 cm.
140 DYM, Jordana. Mais calculado para enganar do que para informar: os viajantes e o mapeamento da América Central (1821-1945). Varia Historia, Belo Horizonte, v.23, n.37, p.85, jan/jun 2007. 141 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.42. 142 DYM, Jordana. Mais calculado para enganar do que para informar, p.81-109. 143 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.63.
163 FEUILLÉE, Louis E. Journal des observations physiques, mathématiques et botaniques, Faites par l’ordre du Roy sur les Côtes Orientales de l’Amérique Méridionale, & dans les Indes Occidentales, depuis l’année 1707. jusques en 1712. Paris, 1714, 2vol. FEUILLÉE, Louis E. Journal des
144 GUMILLA, Joseph (S.J., Le P.) El Orinoco ilustrado y defendido, historia natural, civil y geographica, de este gran rio, y de sus caudalosas vertientes: Govierno, usos, 389
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
retirando-se para o exército”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 58, no.64, Marechal de campo, serviços de 1778.
observations physiques, mathématiques et botaniques, Faites par l’ordre du Roi sur les Côtes Orientales de l’Amérique Méridionale, & aux Indes Occidentales. Et dans un autre Voyage fait par le même ordre à la Nouvelle Espagne, & aux Isles de l’Amérique. Paris, 1725, 3o.vol.
178 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790.
164 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9174). Carte de l’Amérique Méridionale dressée sur les observations du R. P. L. Feuillée. Á Paris: chez Giffart, 1714, 25 x 33,5 cm.
179 Como tal, “servindo nesta corte desde o referido ano de 1722 se lhe remeteram por este Conselho várias contas dos governadores da América com várias plantas, para examinar o estado das fortificações daquelas conquistas a que não somente respondeu com prontamente, mas vendo o erro de muitas fez novas plantas (...). No dito ano foi por ordem de Vossa Majestade à Ilha Terceira examinar o novo porto da cidade de Angra e os mais daquela ilha, mostrando por um mapa a capacidade dele, o estado de suas fortificações e o que nele se devia obrar”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1.
165 RBC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Discussion Géographique de la longitude qui convient au continent de l’Amérique Méridionale. 166 BC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Coleção de oito manuscritos e tratados dos quais cinco se referem ao Brasil... Documento no. 229 do Catálogo. 167 BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs: au temps de Louis XIV. 168 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 790, f.269, Paris, 8 de setembro de 1721.
180 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: José da Silva Paes, p.206. 181 “Foi encarregado do governo do Rio de Janeiro, que exercitou 2 anos e 1 mês e 15 dias e ultimamente no de sargento mor de batalha”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 58, no.64.
169 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 790, f. 291 –306; 311-313; 332. 170 PIMENTEL, Manoel. Arte de Navegar: em que se ensinam as regras práticas e os modos de cartear e graduar a balestrilha por via de números e muitos problemas úteis à navegação e Roteiro das viagens e costas marítimas de Guiné, Angola, Brasil, Índias e ilhas ocidentais e orientais. Lisboa: Oficina de Francisco da Silva, 1746.
182 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: José da Silva Paes, p.207. 183 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e modalidades de uma livraria particular no século XVIII. In: História das ideias. O livro e a leitura. Coimbra, vol.20, p.157, 1999.
171 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.650.
184 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e modalidades de uma livraria particular no século XVIII, p.162.
172 BNF. NAF 6502-6503. Papiers geographiques de d’Anville, f.299.
185 “E passando por ordem de VMde ao Rio de Janeiro a empregar-se no seu real serviço sucedendo os castelhanos bloquear a Nova Colônia de Sacramento ser encarregado da expedição dos socorros reparos das suas fortificações e defesa dela”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1.
173 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville, doc.552. 174 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha Livro 786, Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris 2 de setembro de 1712, f.403.
186 “E chegando àqueles mares a esquadra que comandava o coronel Luís de Abreu Prego com observância da ordem que teve de VMade pelo seu secretário de Estado, se embarcou na [nau] capitânia dela com o intento de surpreender Montevidéu, o que não se pudera praticar pelas tormentas que sobrevieram não darem lugar a esta satisfação. E passando ao Rio da Prata, dispersa a dita nau das mais, se combateu por duas vezes com duas fragatas inimigas, obrando ali várias ações de seu valor. E achando-se na praça da Colônia, rude ficando as suas ruínas, e pondo a sua melhor defesa, concorreu com as suas disposições e influiu com seu ardor bélico o assalto que se fez sobre o acampamento inimigo, que foi destruído e saqueado, trazendo-lhe uma peça de artilharia e queimando-lhe o seu abarracamento, depois de abandonarem o campo precipitadamente”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1.
175 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 58, no.64, f.15.. 176 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: José da Silva Paes. Boletim do Arquivo Histórico militar, Lisboa, v.51, p.201-223, 1982. PIAZZA, Walter F. O Brigadeiro José da Silva Paes, estruturador do Brasil Meridional. Florianópolis: Editora da UFSC, 1988. 177 O filho de Manoel Pimentel, de nome Luís Pimentel, se casou com a filha de José da Silva Pais, de nome Clara Joaquina. Tudo indica que o relacionamento entre as duas famílias se deu a partir do conhecimento estabelecido entre José da Silva Pais e o engenheiro militar Francisco Silva Pimentel, irmão de Manoel, durante as batalhas travadas nas fronteiras entre Portugal e Espanha durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Em Monsanto, José da Silva Pais “foi pego na batalha com os espanhóis” e teve que “arrimar a porta com o peito descoberto para examinar o que era preciso para o rendimento dele e ferido o engenheiro Francisco Silva [Pimentel] e retirados alguns engenheiros holandeses, pelo perigo, ficara ele só com a empresa e pelo grande trabalho e disposição com que houve de conseguir rendimento do dito castelo e no choque do sítio dele ser dos primeiros que se misturou com os inimigos e com valor
187 O “presídio do Rio Grande [foi] fundado em 1737 pela expedição de Silva Pais, que justamente procurava criar um ponto de apoio para tentar salvar a Colônia”. KUHN. Fábio. Uma fronteira do império: o sul da América portuguesa na primeira metade do século XVIII. Anais do Além Mar, Lisboa, v.VIII, p.108, 2007 188 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. 390
the Castilhos pequeno, que corre entre a costa do mar e a Lagoa de Merim tirada por ordem do brigadeiro José da Silva Paes, executada por Francisco de Barbuda-Maldonado, ms, 25,5 x 74,5 cm.
189 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. 190 Carta Topográfica de todo o terreno comprehendido desde a Barra do Rio Grande de S. Pedro thé Castilhos pequeno, que corre entre a Costa do mar & a lagoa de Merim. Tirada por ordem do Brigadeiro dos Exércitos de Sua Majestade, José da Silva Paes.
196 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.645. 197 BC. n.539(1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, d’Anville, f.4.
191 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e modalidades de uma livraria particular no século XVIII, p.152. 192 Possuía a Representação a Sua Magestade sobre a forma e direcção que devem ter os Engenheiros para melhor servirem o Reyno e suas conquistas (1720), Tratado do modo mais fácil e o mais exato de fazer as cartas geográficas (1722), O engenheiro Português, (1729), Lógica racional, geometrica e analytica, obra utilissima e absolutamente necessaria para entrar em qualquer sciencia, e ainda para todos os homens, que em particular quiserem fazer uso do seu entendimento (1744). Apud: ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e modalidades de uma livraria particular no século XVIII, p.171, 173-174, 183-184.
198 BC. n.539(1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, d’Anville, f.4. 199 Sobre a carta de Paes, D’Anville afirmou “que eu creio dada pela bússola”. NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville, doc.552, f.G6. 200 “E na ocasião em que se aportou naquela ilha, uma esquadra inglesa e deu a costa nela uma fragata espanhola se houve com tal acordo e disposição na hospitalidade de uns e outros que sendo presente tudo a V.MAde.” ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1
193 “Uma carta portuguesa manuscrita & das melhores circunstâncias, desenhada pela diligência do Brigadeiro Jozé da Silva Paez & que eu recebi de M. Dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal”. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.644.
201 ANSON, George. Proceedings at St. Catherine’s, and a description of a place, with a short account of Brazil. In: A Voyage round the world, in the years 1740, 41, 42, 43, 44. Londres: John and Paul Knapton, 1749, p.42-56.
194 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville, doc.552, f.G6.
202 ANSON, George. A Voyage round the world, in the years 1740, 41, 42, 43, 44, p.44.
195 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9471B). Suite Huilé Portugais du Lagoa de Merin, 1737, Carta topográfica de todo o terreno compreendido desde a Barra do Rio Grande de São Pedro,
203 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.645.
[ Capítulo 5 ] 1
RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes Pertencentes à El rei de Portugal relatada pellos tres irmaos chamados Nunes os quaes rodaraó muytos annos por estas partes. n.229, doc.555 (1).
6
Segundo eles, eram “chamados os três irmãos, que são os de quem se teve esta Relação e se chamam Nunes de sobrenome”. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1, f.6.
2
A primeira análise que fiz sobre esse documento resultou na publicação de um artigo, junto com meu colega Neil Safier: FURTADO, Júnia Ferreira e SAFIER, Neil. O sertão das Minas como espaço vivido: Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville na construção da cartografia europeia sobre o Brasil. In: PAIVA, Eduardo França (org.). Brasil-Portugal: sociedades, culturas e formas de governar no mundo português (séculos XVI-XVIII). São Paulo: Editora Annablume, 2006, p.263-277. Muitas das análises que então propusemos são retomadas aqui de forma mais vertical. Também utilizei esse documento no livro Oráculos da geografia iluminista, especialmente nos Capítulos 8 e 9.
7
NOVINSKY, Anita. Inquisição, rol dos culpados: fontes para a história do Brasil, século XVII. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1992, p.28, 58, 103.
8
Há aqui uma dúvida, pois existem duas Proenças nas Beiras (na BeiraR: nas Beiras – Beira Alta e Beira Baixa?). Proença-a-Velha faz parte do concelho de Idanha-a-Nova e Proença--a-Nova faz parte do concelho de mesmo nome, mas o mais certo é tratar-se da primeira.
9
ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Todas as informações sobre os irmãos foram retiradas desse processo.
3
D’ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon. Second lettre de monsieur D’Anville, à messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.661-662, abril de 1750.
4
D’ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de géographie. Paris: Imprimerie de Lambert, 1777, p.67.
5
ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
10 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. Sobre seus avós, Diogo só soube informar o nome de um. Tratava-se de Diogo Gomes, que vivia de sua fazenda, morador em São Vicente da Beira, provavelmente pai de sua mãe. 11 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio: a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999, p.327-329 (2ª. edição: 2006). 12 FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio: conexões mercantis entre as minas do ouro e a Bahia durante o século XVIII. In: FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; SAMPAIO, A. C. Jucá de; CAMPOS, Adriana Pereira (orgs). Nas rotas do 391
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Segunda confissão realizada a 3/11/1729.
império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo português. Lisboa: Instituto de Investigações Científicas e Tropicais/Vitória: EDUFES, 2006, p.165-192.
31 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.198-206; ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
13 Nas sociedades de Antigo Regime, como era o caso de Portugal e demais países europeus por essa época, as profissões cindiam-se em dois grandes universos: as artes liberais e as artes mecânicas. Nas primeiras se enquadravam os médicos; e nas últimas os pequenos comerciantes e os sapateiros. Enquanto as primeiras eram honrosas, as segundas eram desonrosas.
32 GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil: das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975, p.165. 33 RIBEIRO, Alexandre Vieira. O tráfico atlântico de escravos e a praça mercantil de Salvador, c.1680-c.1830. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005, p.195. (Dissertação, Mestrado em História.)
14 O famoso médico português cujo nome completo era Antônio Nunes Ribeiro Sanches. 15 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
34 O argumento era de que dessa forma se evitava os descaminhos do ouro. Providências nesse sentido estiveram contidas nas ordens e bandos do governador da Repartição Sul, dom Artur de Sá e Menezes, de 23 e 25 de setembro e 20 de dezembro de 1701, medidas reforçadas pela carta régia de 9 de dezembro de 1702. Essas leis foram renovadas pelo governador seguinte, dom Álvaro de Silveira Albuquerque, em atos de 16 e 25 de setembro de 1702, e de 10 e 13 de março de 1703. ANASTASIA, Carla Maria Junho e FURTADO, Júnia F. A Estrada Real na História de Minas Gerais. História & Perspectivas. Uberlândia, v.20/21, p.33-53, jan/Dez 1999; e FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio: conexões mercantis entre as minas do ouro e a Bahia durante o século XVIII.
16 O périplo de Ribeiro Sanches assim foi descrito por dom Luís da Cunha, que o conheceu na Universidade de Leiden, em 1730: “havendo estudado em Coimbra, se formou em Salamanca, depois estudou em Pádua, depois em Londres, e ultimamente estuda debaixo de Boerhaave, e estudará ainda três anos para se crer perfeito nesta ciência, a fim de ir praticar em Paris”. BNL. Reservados. Maço 61, n.2, doc.10. 17 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729 e Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 18 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39. Correspondência de dom Luís da Cunha com Marco António de Azevedo Coutinho. Bayona, 22 de março de 1729.
35 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1, f.6. 36 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1, f.6.
19 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729 e Auto de questionamento da fé realizado a 7/11/1729.
37 VERGER, Pierre. Bahia and the west African trade 1549-1851. Ibadan: Ibadan University Press, 1964; FURTADO, Júnia F. From Brazil’s central highlands to Africa’s ports: trans-Atlantic and continental trade connections in goods and slaves. Colonial Latin American Historical Review, v.21, p.127-160, 2012.
20 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Confissões realizadas a 7/09, 3/11 e 7/11/1729 e Auto de questionamento da fé realizado a 7/11/1729. 21 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
38 VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos. 4ª.ed. Salvador: Corrupio, 2002, p.30-31; COSTA E SILVA, Alberto. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. Rio de Janeiro: Eduerj, 2004, p.43.
22 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Confissões realizadas a 7/09, 3/11 e 7/11/1729 e Auto de questionamento da fé realizado a 7/11/1729. 23 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
39 O caso dos Pinto de Miranda é examinado em SANTOS, Eugênio dos. Relações da cidade e região do Porto com o Rio de Janeiro e Minas Gerais no século XVIII. Anais do I Colóquio de Estudos Históricos Brasil-Portugal PUCMG, Belo Horizonte, 1994; e o de Francisco Pinheiro e seus agentes em SANTOS, Eugênio dos. Relações da cidade e região do Porto com o Rio de Janeiro e Minas Gerais no século XVIII. Anais do I Colóquio de Estudos Históricos Brasil-Portugal. Belo Horizonte: PUC-MG, 1994.
24 Pelo menos até o ano de 1729, quando se perde o rastro de Sebastião, e Diogo e João já haviam morrido. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 25 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Segunda confissão realizada a 3/11/1729. 26 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000; COSTA E SILVA, Alberto. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Ed. UFRJ, 2003.
40 FURTADO, Júnia F. From Brazil’s central highlands to Africa’s ports: trans-atlantic and continental trade connections in goods and slaves. 41 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio, p.327.
27 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 28 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
42 É o que se depreende examinando a cronologia e a geografia reveladas nas três confissões de Diogo junto ao Santo Ofício. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro.
29 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos. Fontes para a História de Portugal e do Brasil (Brasil-século XVIII). Lisboa: Imprensa Nacional, sd, p.154-157; ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
43 “Achávamo-nos na Bahia de Todos os Santos, no mês de outubro, em 1709, quando resolvemos fazer [uma] viagem para as Minas Gerais; assim chamadas por estarem no meio daquelas conquistas.” RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes... n.229, doc.555 (1), f.1.
30 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.52; ANTT. IL. Processo
44 Os cavalos eram essenciais para o transporte das mercadorias. Domingos Nunes, tratante nas Minas, tinha 392
para tanto três cavalos. (NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.96-97). Manoel Madureira Pinto, que em 1733 encontrava-se na Bahia de partida para as Minas, possuía para seu comércio uns “cavalos e seus trastes”. (MO. CBG. Testamento de Manoel Madureira Pinto, L2(6), f.80v-83). Lucas Pereira do Lago, natural da Bahia, declarou em seu testamento que estava “para seguir viagem para as Minas e levo em minha companhia escravos, cavalos e os mais produtos necessários para o caminho e negócio”. (MO. CBG. Testamento de Lucas Pereira do Lago, L6(12), f.127-132). 45 Mais detalhes em FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio: conexões mercantis entre as minas do ouro e a Bahia durante o século XVIII; FURTADO, Júnia F. From Brazil’s central highlands to Africa’s ports: trans-atlantic and continental trade connections in goods and slaves.
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46 Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência. Casa do Pilar. Testamento de João Gonçalves Batista, cód.67. Auto 802, p.81. 47 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.79-84. 48 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.50-53. 49 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 50 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.89-91. 51 NOVINSKY, Anita. Ser marrano em Minas Colonial. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.40, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010201882001000100008&script=sci_arttext
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52 FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral. Organização de Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2002. 2v. (Coleção Mineiriana).
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53 Trata-se do padre Manoel da Silva. Mau pagador, só acertou a dívida depois de executado judicialmente. SALVADOR, José Gonçalves. Os cristãos-novos em Minas Gerais durante o ciclo do ouro (1695-1755): relações com a Inglaterra. São Paulo: Pioneira, 1992, p.39.
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54 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.105-107.
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55 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.105-107.
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56 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.96-97.
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57 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro, folha de rosto.
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58 FURTADO, Júnia F. Negociantes e caixeiros. In: Homens de Negócio, p.197-272. 59 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio; STUMPF, Roberta Giannubilo. Cavaleiros do ouro e outras trajetórias nobilitantes: as solicitações de hábitos das Ordens militares nas Minas setecentistas. Brasília: Universidade de Brasília, 2009 (Tese: doutorado em História). RODRIGUES, Aldair Carlos. Limpos de Sangue: Familiares do Santo Ofício, Inquisição e sociedade em Minas colonial. São Paulo: Alameda, 2011.
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60 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas.
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61 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (1), f.11-17.
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62 Como exemplo, nos textos da época: “todos os reinóis e os mais não sendo paulistas” (Códice Costa Matoso. Coord. 393
de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999, v.1, p.198), “levantamento e sublevação universal dos naturais do reino de Portugal contra os paulistas e naturais de toda a Serra Acima” (Códice Costa Matoso, v.1, p.193), “logo paulistas e taubateanos, também tidos por paulistas, como todos naturais de Serra Acima” (Códice Costa Matoso, v.1, p.230). Ver também: RUSSELL-WOOD, A.J. Identidade, etnia e autoridade nas Minas Gerais do século XVIII: leituras do Códice Costa Matoso. Varia Historia, Belo Horizonte, v.21, p.100-118, 1999; e ROMEIRO, Adriana. Um visionário na corte de D. João V: revolta e milenarismo nas Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001, p.195-197. Códice Costa Matoso, v.1, p.206. “Emboabas chamavam aos do Reino, palavra que quer dizer galinha com calças”, p.202. Ao descreverem os que se envolveram na guerra dizem: “aquele Europeu era homem honrado e tinha razão no que dizia”; já Manuel Nunes Viana era “homem de muito bem”, “homem de bom e grande coração”, “homem de valor e satisfação”, o “aborreciam mentiras e enganos”, “capitaneava ele esta gente, e a sua, (…) entre os quais havia alguns brancos de Europa”. Em relação aos paulistas, dever-se-ia ter “sempre o cuidado do que aqueles ânimos cavilosos podiam premeditar”, eram “soberbos e presumidos”, cometiam crimes atrozes, como degolar os portugueses que achavam. Valentim Pedroso, paulista, era “homem afamado em arrogância e crueldade”. RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.11-16. RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.14. ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.180. FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia Amaral (orgs.). Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séc. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295. RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (1), f.11-12. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.6. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.6. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.6. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15. Requerimento de Bartolomeu Álvares da Silva, morador na freguesia da Cachoeira do Campo. Termo de Vila Rica, pedindo carta de confirmação de sesmaria de meia légua em quadra, na paragem chamada Curralinho, 1765. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. No processo ele é identificado como “morador no Curralinho, distrito das Minas de Ouro Preto, Bispado do Rio de Janeiro”. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro, folha de rosto. BARBOSA, Waldemar de Almeida. Curralinho. In: Dicionário Histórico, geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995, p.63-64.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
79 De acordo com Augusto de Lima Jr., “os judeus e cristãosnovos (…) atiraram-se para as terras ultramarinas, buscando a fortuna e a redenção na largueza dos sertões infindos, onde dificilmente chegariam as importunações do Santo Ofício, por essa razão, segundo o autor, a migração para as Minas constituiu-se principalmente de “emigrados de Portugal, e de outras partes da Europa, onde predominavam os cristãos-novos ou mesmo judeus, vindos da Holanda, que até 1720 eram quase exclusivamente homens solteiros” LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, p.35 e 75.
101 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Segunda confissão realizada a 3/11/1729.
80 Levantamento realizado a partir de NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos.
106 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
102 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 103 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 104 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 105 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729.
81 Em 1765, quando Bartolomeu Alves da Silva pediu a confirmação da sua sesmaria no Curralinho, ainda eram seus vizinhos Domingos Nunes da Silva e João Nunes Pereira. AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15.
107 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Quarta confissão realizada a 14/11/1729. 108 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
82 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos, p.77.
109 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
83 Ver FURTADO, Júnia F. Transitar na Estrada Real: o cotidiano dos caminhos. In: COSTA, Gilberto (org.). Os Caminhos do Ouro e a Estrada Real. Lisboa: Kappa/ Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005, p.192-205.
110 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 111 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
84 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729.
112 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
85 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Segunda confissão realizada a 3/11/1729.
113 Todas as informações retiradas de ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro.
86 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
114 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
87 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729.
115 Rio de Janeiro. Arquivo do Itamaraty. Ofícios de dom Luís da Cunha, 1719-1723, f.41, Madri, maio de 1719.
88 CUNHA, Vagner da Silva. Violência na vila de Pitangui (1709-1789): “a que sempre foi a mais rebelde e a mais renitente”. Belo Horizonte: UFMG, 2009. (Dissertação, mestrado em História.)
116 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Correspondência de dom Luís da Cunha. Livro 779, f.347v.
89 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729.
117 FURTADO, Júnia F. A medicina na época moderna. In: STARLING, Heloísa Maria Murguel, et alli. (orgs.) Medicina: História em exame. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 2011, p.53.
90 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.79.
118 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, PhysicoHistórica-Mechanica, Reino Mineral. Londres: 1735, p.2-15 e 148-154. Sobre Jacob de Castro Sarmento ver: CARDOZO, Manoel. The Internationalism of the portuguese Enlightenment: the role of the Estrangeirado. In: ALDRIDGE, A. O. The Ibero-American Enlightment. Urbana: University of Illinois Press, 1971, p.153-154, 165-167.
91 RBC. Da paragem ad’onde se acham muitas esmeraldas, n.229, doc.555 (3), f.19. 92 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1. 93 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 94 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
119 SARMENTO, Jacob de Castro. A letter from Jacob de Castro Sarmento, M.D. and F.R.S. to Cromwell Mortimer, M.D. Secr. R.S. concerning Diamonds lately found in Brazil. Apud: Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.199.
95 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 96 FURTADO, Júnia F. A interiorização da metrópole. In: Homens de Negócio, p.57-72.
120 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.149-152.
97 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9.
121 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39, Bayona, 22 de março de 1729.
98 NOVINSKY, Anita. Marranos and the Inquisition on the Gold Route in Minas Gerais, Brazil. In: BERNARDINI, Paolo e FIERING, Norman (eds.). The Jews and the Expansion of Europa to the West, 1450-1800. New York/Oxford: Bergham Books, Oxford, 2001, p.215-241. 99 FERNANDES, Neusa. A Inquisição em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2000, p.97.
122 Simão Nunes era vendeiro e, na década de 1720, pelo menos dois dos seis ou sete filhos dele já se encontravam fora de Portugal. Antônio e Manoel moravam em Londres, onde o primeiro era professor de judaísmo e estudava medicina e o segundo para ser boticário. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729.
100 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
123 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 394
139 ABREU, José Rodrigues. Historiologia Médica, fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de António de Sousa da Silva, 1739, t.2, p.514-528.
124 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39, Bayona, 22 de março de 1729. 125 BNL. Reservados. Maço 62, n.2, doc.210, Relação de dom Luís da Cunha, caderno 1, f.2v-3, Haia, 29 de junho de 1730. 126 BNL. Reservados. Maço 61, n.2, doc.10. 127 ANTT. MNE. Correspondência da Legação Portuguesa em Paris. Caixa 562, f.229, 10 de outubro de 1749. 128 Avertissement. In: Catalogue des livres de la bibliothèque de feu Mr. de Couvay, chevalier des ordres du Roi de Portugal. Paris: Chez Damonneyville, 1755, f.iv. 129 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, d’Anville, 31 Aout 1779, f.13-14. “Sr. Pierre Nolasque Couvay, secretário do rei, cavaleiro das ordens do Rei de Portugal, nascido a Lisboa & morto à Paris em 1751 com 65 anos, viveu 40 anos nesta cidade & ele é renomado por suas grandes riquezas, seu espírito, seu gosto & suas luzes.” Catalogue des livres de la bibliothèque de feu Mr. de Couvay, p.v. 130 Catalogue des livres de la bibliothèque de feu Mr. de Couvay, p.v. 131 “Os cristãos-novos que desde o primeiro instante correram para as Minas (…) organizavam roteiros para os que necessitavam fugir de suas terras da Europa, e atingirem as terras do ouro e dos diamantes”. LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.133. 132 DERBY, Orville. Um mappa antigo de partes das Capitanias de S. Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v.II, p.197-220, 1897. 133 BRITO, Francisco Tavares. Itinerário Geográfico, 1732. In: Códice Costa Matoso. Coord. de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999, v.1, p.898-910. Cópias do manuscrito podem ser encontradas em: Coimbra. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Ms.148. f.6v-8v. e Lisboa. Biblioteca da Ajuda. Ref.54-XIII-4, n.24. 134 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.133. 135 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia Amaral. (orgs). Modos de governar: ideias e práticas políticas no Império Português (sécs. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295. 136 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. 6ª ed. Brasiliense: São Paulo, 1994; SOUZA, Laura Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. 137 Para análise da fusão do mito do Eldorado ao do paraíso terrestre e seu deslocamento progressivo para as Minas ver: FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na terra: o paraíso e a busca dos diamantes nas Minas setecentistas. In: História e meio ambiente: o impacto da expansão europeia. Funchal: CEHA, 1999. p.445-458. 138 FURTADO, Júnia F. “O oráculo que Sua Majestade foi buscar”: dom Luís da Cunha e a geopolítica do novo império luso-brasileiro. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). Na trama das redes: política e negócios no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2010, p.373-400. Em dom Luís não se observa um caráter edenizador das Minas, mas é seu pragmatismo que o leva a reconhecer a importância e centralidade da região para a economia portuguesa, chegando nas suas Instruções Políticas a sugerir a mudança da corte para o Brasil, com vistas a melhor assegurar o domínio português sobre a região mineradora.
140 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.133. 141 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p. 11. 142 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.11. 143 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.9-10. 144 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.10-11 (grifos do autor). 145 Para o milenarismo português como base para a edenização de Minas Gerais ver ROMEIRO, Adriana. Um visionário na Corte de Dom João V: revolta e milenarismo nas Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001; GOMES, Plínio F. Um herege vai ao paraíso: cosmologia de um ex-colono condenado pela Inquisição (1680-1744). São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 146 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), p.1. 147 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), p.1. 148 ABREU, José Rodrigues. Historiologia Médica, fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de António de Sousa da Silva, 1739, t.2, 517, 520-521. 149 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. 150 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 151 BLUTEAU, Raphael. Sertão. In: Dicionário da língua portuguesa. Lisboa: Oficina de Simão Thadeo Ferreira, 1739, p.613. Locais cobertos de árvores densas e vegetação, ou seu oposto, de deserto também podiam aparecer associadas ao termo sertão. 152 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1-2. 153 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.4. 154 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.11. 155 NIEUHOF, Joan. Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, p.328. 156 Mandobim: o mesmo que amendoim ou feijão cru. 157 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.7. 158 São Paulo. Fundação Maria Luiza e Oscar Americano. Carl Friedrich Phillip von Martius (atribuição). Lagoa das Aves no rio São Francisco. 159 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.2. 160 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 161 NEVES, Erivaldo Fagundes. Introdução. In: NEVES, Erivaldo Fagundes e MIGUEL, Antonieta. Caminhos do sertão: ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia. Editora Arcádia, 2007, p.9-10. 162 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5. 395
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
163 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.11-12. 164 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.12. 165 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 166 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.86-88; ANDRADE, Francisco Eduardo de. A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p.287-290. 167 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.11. 168 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.168. 169 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.12-16. 170 ANASTASIA, Carla Maria Junho e FURTADO, Júnia Ferreira. A Estrada Real na História de Minas Gerais, História & Perspectivas, v.20/21, p.33-53, 1999. 171 BRITO, Francisco Tavares de. Itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos do Rio de Janeiro até as Minas do Ouro. In: Códice Costa Matoso. Ed. de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999, v.1, p.905. 172 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.2. 173 Sezão, maleita ou febre maligna era como se chamava a malária. FURTADO, Júnia F. (org.) Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2002, v.1, p.293-294. 174 FURTADO, Junia Ferreira Homens de Negócio, p.190. 175 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. 176 PISO, Guilherme. Livro terceiro: que trata dos venenos e seus antídotos. In: PISO, Willem, MARGGRAF, Georg, et LAET, Johannes. Historia naturalis Brasiliae. Auspicio et beneficio Illustriss. I. Mauritii Com Nassau. Leiden: Franciscum Hackium/Amsterdã: Ludovicus Elzevirium, 1648, p. 49 (grifo do autor). 177 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.8. 178 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.7-8. 179 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. 180 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.4. 181 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.7. 182 RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Gentios Brasílicos: índios coloniais em Minas Gerais. Campinas: Unicamp, 2003 (Tese, doutorado em História); LANGFUR, Harold Lawrence. The forbidden lands: colonial identity, frontiers violence and the persistence of Brazil’s eastern Indians, 1750-1830. Stanford: Stanford University Press, 2006. 183 SANTOS, Márcio Roberto Alves. Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco e do Verde Grande de 1688-1732. São Paulo: Edusp, 2010, p.44. 184 PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec, 2002.
185 Márcio Roberto Alves dos Santos, Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco e do Verde Grande de 1688-1732, 81.
209 COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo Horizonte: BDMG, 1997, p.218.
186 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5. 187 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5-6.
210 “E, logo, à [Parateca]. Aqui se encontra a Estrada Real, junto ao Rio de São Francisco, onde se mete o Rio das Rãs, e acaba esta travessia de João Amaro”. RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3.
188 RBC. De como os paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.11-12.
211 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5.
189 RBC. De como os paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.15 e 12.
212 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1.
190 Árvore grande, cuja madeira macia é muito utilizada para fazer utensílios, produz-se látex de sua casca. 191 Árvore própria do semiárido brasileiro, cujas raízes têm tubérculos reservadores de água, sendo os frutos, bagas comestíveis, muito apreciados.
Um dos exemplares desse mapa pertencente à BNF integra a Coleção D’Anville: BNF. DCP. Ge DD 2987 (84 B). Mappe-Monde dressée sur les observations de Mrs. de l’Académie royale des sciences et quelques autres et sur les mémoires les plus récens, à son altesse royale monseigneur le duc de Chartres. Paris: chez l’Auteur, G. Delisle, 1700.
194 Um desses emboabas ilustrados foi o médico português José Rodrigues Abreu, que esteve nas Minas Gerais durante a Guerra dos Emboabas, acompanhando o governador Antônio de Albuquerque, e também escreveu um relato edenizador das Minas. É muito significativo o fato de que as imagens da capitania que sustentam o paraíso do autor são muito semelhantes às dos irmãos Nunes: a riqueza mineral, a conformação edênica do rio São Francisco, a presença da serpente e o fechamento do espaço minerador. FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro, p.277-295.
2
BNF. DCP. Ge C. 7902. L’Amérique septentrionale dressée sur les observations... de l, Académie royale des sciences. Paris: chez l’auteur, G. Delisle, 1700.
3
BROC, Numa. La Géographie des Philosophes: géographes et voyageurs français au XVIIIe. siècle. Paris: Éditions Ophrys, 1975, p.28.
4
BROC, Numa. La Géographie des Philosophes: géographes et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.35.
5
195 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5.
HARLEY, John Brian. The new nature of maps: essays in the history of cartography. Baltimore/Londres: The Johns Hopkins University Press, 2001, p.86.
6
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.63.
7
LE GENTIL, Georges. Découverte du monde. Paris: Presses Universitaires de France, 1954, p.177.
8
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.63.
9
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.32.
193 “Motins do sertão. Carta de Martinho de Mendonça de 29 de junho de 1736 e 17 de outubro de 1737”. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v.1, p.649 e 662, 1986.
196 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 197 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. 198 ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil, por suas drogas e minas. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp, 1982, p.182. 199 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 200 LISANTI FILHO, Luís. Negócios coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília: Ministério da Fazenda/São Paulo: Visão Editorial, 1973, v.1, p.336. 201 ANTT. Testamentária de Francisco Pinheiro. Carta 167, maço 29, f.271. 202 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.9. 203 AHU. Mapoteca, n.167/980. 204 MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: Edusp/Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, p.109. 205 MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil, p.118. 206 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 207 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1-2. 208 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 396
214 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 215 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.661-662. 216 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connaissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.67.
[ Capítulo 6 ] 1
192 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1-20.
213 Carte de l’Amérique méridionale, d’Anville, ms. 1748.
15 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, ms. 1748. 16 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 17 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, D’Anville, f.4. 18 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.658-659. 19 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 20 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 21 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António Álvares da Cunha?). 22 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f. 23 O arraial da Meia Ponte, atual Pirinópolis, foi fundado por volta de 1729. GALVÃO JÚNIOR, José Leme. Pirinópolis. In: PESSOA, José e PICCINATO, Georgio (orgs.). Atlas de centros históricos do Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007, p.90-95. 24 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des Tocantins. Manuscrita em cor, 65 x 333 cm. 25 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, 21 fol. 26 ANTT. MNE. Livro 16, f.23v-24, 22 de fevereiro de 1738. 27 ANTT. MNE. Livro 16, f.24, 22 de fevereiro de 1738. 28 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.6. 29 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 30 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.14. 31 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.9. 32 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.18. 33 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.5. 34 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.6. 35 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.8.
10 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.66. 11 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9154). Amérique Méridionale, Nicolas Sanson, à Paris: chez lauther et chez Pierre Mariette, 1650, 1f., 40 x 55 cm; BNF. DCP. Ge DD 2987 (9155). Amérique Méridionale, Nicolas Sanson, à Paris: chez l’auther et chez Pierre Mariette, 1669, 40 x 56 cm; BNF. DCP. Ge DD 2987 (9156). Amérique Méridionale, Nicolas Sanson, à Paris: H. Iaillot, 1709. 12 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon. 13 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, f.4. 14 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.4. 397
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
39 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.660.
60 BNF. DCP. Sh Pf 166 Div 1 pièce 8 B. Route de Mr. La Condamine le long le la cote Nord de l’Ile Marajó ou Joannès. Dessin original de M. de La Condamine, 1736; BNF. DCP. GEC- 9798. Carte de la côte septentrionale de l’Ile de Marajo depuis Yaraoubi jusqu’à Anajaheba, 1763, D’Anville. Para toda a rota de La Condamine desde Paris ver: BNF. DCP. Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du voyage a l’Equateur, D’Anville.
40 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.660.
61 RBC. n.229 (558). Chapitre II. De l’entré du Pará... (manuscrito do próprio punho de D’Anville), 8 ½.
41 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.2.
62 SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: Measuring the New World, p.123-165.
36 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.11. 37 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará, f.9, 10, 11. 38 BNF. GE D 10688. Amérique. Rivière des Tocantins. ca 1730, 1 fls, au crayon.
63 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.37.
42 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.2.
64 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.47.
43 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.3.
65 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação, p.47-48. 66 Segundo o próprio La Condamine, “terminada a questão da configuração da terra, e atenuada a curiosidade pública nesse particular, cri interessar mais à assembleia pública de 26 de abril último [1745], com uma relação de viagem pelo rio Amazonas que desci desde o ponto em que começa a ser navegável até à embocadura, percorrendo uma extensão de mais de mil léguas”. LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.31.
44 Esta tabela foi elaborada pelo Prof. Jorge Pimentel Cintra, a quem agradeço a colaboração. D’Anville tomou as medidas a partir do meridiano de Ferros, que é o meridiano de origem do mapa. 45 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir do programa de cartografia digital (Map Info). 46 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1951, tomo II, parte III, p.139-144.
67 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du Maragnon ou de la grande riviere des Amazonas dans sa parti navigable depuis Jaen de Bracamoros jusqu’à dan embouchure eh que comprend la province de Quito et la Côte de la Guyane depuis le Cap de Nord jusqu’à Esquebé (sic), etc., D’Anville. A primeira cota refere-se à versão impressa e a segunda à manuscrita.
47 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir do programa de cartografia digital (Map Info). 48 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 6ª ed. Brasiliense: São Paulo, 1994. 49 Ainda que a narrativa seja diferente, essa parte que se segue foi baseada no artigo CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique Méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol.31, n.62, p.273-316, 2011, a quem rendo coautoria nessa seção e agradeço a frutífera colaboração.
68 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.34. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542). Carte du cours du Maragnon ou de la grande route des Amazones. 69 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography: making and marketing maps in eighteenth-century France and England. Chicago: The University of Chicago Press, 2005.
50 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir do programa de cartografia digital (Map Info).
70 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês, p.91-114.
51 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.532.
71 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.34.
52 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.103-104. 53 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.45.
72 Nos dizeres “aumentado do curso do rio Negro, e de outros detalhes tirados de diversas memórias e roteiros manuscritos de viajantes modernos”, que aparece impresso na cartela da Carte du cours du Maragnon, buscava deixar evidente que o curso do rio Negro era novidade.
54 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p. 47.
58 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.91-114.
73 Esta conexão, no entanto, já havia sido sugerida no Magni Amazoni Fluvii, mapa do conde de Pagan, de 1655 e nos relatos de viagem de Pedro Teixeira e Cristóval Acuña, que juntos haviam descido o rio, sendo que o último, em 1637, deixou um relato da empreitada, intitulado Nuevo Descubrimiento del Gran rio de las Amazonas. Ver CINTRA, J.P. Magni Amazoni Fluvii: o Mapa do conde de Pagan. In: Anais do Iº Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. Paraty, maio 2011, p.1-20. https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/CINTRA_ JORGE_PIMENTEL_1.pdf.
59 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.113.
74 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.115.
55 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.64. 56 CINTRA, J.P. e FREITAS, J.C. Sailing down the Amazon River: La Condamine’s Map. Survey Review, Londres, v.43, n.323, p.550-566, outubro de 2011. 57 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.73.
398
Como exemplo dessa configuração tradicional, ver a carta, sem autoria identificada, intitulada Embouchure de la rivière des Amazones, séc.18. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9552).
89 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 90 Para detalhes ver CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada, p.273-316. Os trechos a seguir são retirados desse artigo.
75 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada, p.304. 76 CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, nota 16, p.44. O marquês, um erudito, era neto de Cristóval Acuña. Ele forneceu várias informações sobre o rio Amazonas a La Condamine e deu várias sugestões das questões principais a serem descobertas. Pedro Texeira descera o Napo para atingir o Amazonas, uma terceira rota possível. SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.95.
91 Como curiosidade, no seu mapa, o posicionamento se dá a 60o43’. Em relação a Greenwich corresponde a 78º06’, o que é muito próximo do valor atual de 78º35’. 92 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.524-525. 93 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.535-538. 94 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.64.
77 Sobre as diferentes versões ver: ALMEIDA, André Ferrand de. Samuel Fritz and the mapping of the Amazon. Imago Mundi, v.55, p.113-119, 2003.
95 Gnômone ou gnômon: Instrumento que, projetando sombra num plano horizontal, marca e mede a altura do sol; podendo funcionar também como relógio solar.
78 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.77. 79 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.44.
96 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.65 e 73.
80 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.627.
97 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.65.
81 Ver figura 8 em CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada, p. 302.
98 Para distâncias menores, como a largura de um rio ou profundidade da corrente em certo ponto, D’Anville deveria ainda fazer a equivalência de medidas, já que Maldonado utilizou a vara, medida que equivalia a três pés espanhóis, e La Condamine a toesa do Peru.
82 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada, p.287.
99 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.535-536. 100 Sobre o tema escreveu: ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Traité des mesures itinéraires anciennes et modernes. Paris: l’Imprimerie Royale, 1769. Sobre sua metodologia de conversão de medidas ver FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da Geografia iluminista, cap. 4.
83 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre de Monsieur d’Anville, p.438-439. 84 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre de Monsieur d’Anville, p.555. 85 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre de Monsieur d’Anville, p.554.
101 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.537-538.
86 BNF. DCP. GE DD 2987 (9553). Carte particuliere du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon, 1729, ms, 36 x 46 cm.
102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.540-541. 103 Na foz do rio Napo, La Condamine tomou medidas de latitude e longitude: a primeira resultou como sendo 3,40º, a segunda 4 horas e três quartos, o que equivale a 71,25º. Esse valor significa uma diferença em relação a medidas atuais de 3,79º em longitude nesse ponto, enquanto que na Carte du cours du Maragnon, devido aos ajustes, o desvio é de 3,22º.
87 BNF. DCP. GE DD 2987 (9550). Carte du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para en remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noireoù l’on a marqué entre autres circonstances,les établissements des Portugais, et un grand nombre de Missions établies chés les indiens, dressée sur les Mémoires du P. Ignacio dos Reys... par le Sr D’Anville, 1729, 34 x 53,5 cm.
104 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.112.
88 BNF. DCP. GE DD 2987 (9555). Carte manuscrite de la partie de la Riviere del Amazonas voisine de celle de Madère et de celle de Guatuma et d’Urabu, 1729, Ignacio dos Reys, ms, 19 x 23 cm; BNF. DCP. GE DD 2987 (9556). Petite carte manuscrite de la mission des Abacaxis proche la Riviere des Amazonas et celle de Madere, 1729, Ignacio dos Reys, ms, 19 x 23 cm.
105 RBC. n.229 (558). Chapitre II. De l’entré du Pará... (manuscrito do próprio punho de D’Anville), 8p. e ½. 106 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.10. 107 PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2012, p.108.
[ Capítulo 7 ] 1
2
SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.91-114, jan.-jun.2009. 399
HARLEY, J.B. Maps, knowledge and power. In: COSGROVE, Denis e DANIELS, Stephen. (eds.) The iconography of landscape: essays on the symbolic representation, design, and use of past environments.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
3
4
Nova York: Cambridge University Press, 1988, p. 277-312.
21 AI. 343-1-1. Colônia do Sacramento, Tratado Provisional 1680-1725, p.128-129.
FURTADO, Júnia F. As índias do conhecimento ou a geografia imaginária da conquista do ouro. Anais de História de Além-mar, Lisboa, vol.4, p.155-212, 2003.
22 AI. 343-1-1. Colônia do Sacramento, Tratado Provisional 1680-1725, p.210-211. 23 MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria. São Paulo: Moderna/Edunesp, 1997, p.39-41.
BNF. DCP. Ge DD 2987 (8501). America Nova Tabula, BLAEU/Willem Janszoon, ca.1640.
5
BNF. DCP. Ge DD 2987 (9153). America Meridionalis, Gérard Mercator, ca.1610.
6
BNF. DCP. Ge DD 2987 (9154). Amérique Méridionale, N. Sanson d’Abbeville, 1650; Ge DD 2987 (9155). Amérique Méridionale, N. Sanson d’Abbeville, 1669; e Ge DD 2987 (9156). Amérique Méridionale divisée en ses principales parties, N. Sanson d’Abbeville, 1709.
7
Notas
24 DAINVILLE, François de (S.J.). Frontières. In: Le langage des géographes: termes, signes, couleurs des cartes anciennes, 1500-1800. Paris: Éditions Picard, 1964, p.272. 25 DION, Roger. Les frontières de la France. Paris: Hachette, 1947. POUNDS, N.J.G. The origin of the idea of natural frontiers in France. Annals, Association of American Geographers, v.44, n.1, p.51-62, 1951. 26 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.60-61.
BNF. DCP. Ge DD 2987 (9157). L’Amérique Méridionale dressée sur les observations de Mrs de l’Académie Royale des Sciences, Guillaume Delisle, 1700; Ge DD 2987 (9158). America Meridionalis concinnata juxta observationes, Guillaume Delisle, séc. XVIII; e Ge DD 2987 (9159). L’Amerique Méridionale dressée sur les observations de Mrs de l’Académie Royale des Sciences, Guillaume Delisle, 1700.
8
HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 6ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.40.
9
GANDÍA, Enrique de. Los falsos dorados. In: História crítica de los mitos y leyendas de la conquista Americana. Buenos Aires: Centro Difusor del Libro, 1946, p.124.
27 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente, p.63, 177-206. 28 TAUNAY, Afonso (org.). Relatos Monçoeiros. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1976. 29 HOLANDA, Sérgio B. Monções. São Paulo: Brasiliense, 1990. 30 Uma das exceções a essa regra, porque essa nova representação não foi totalmente hegemônica, foi José Rodrigues Abreu, que, ainda que compartilhasse do círculo de ilustrados portugueses, continuou a representar a região a partir de três círculos concêntricos de rios e montanhas, coroados pelo lago Xarais. Ver: FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro, p.277-295.
10 CABEZA DE VACA, Alvar Núñez. [1542 e 1555] Relation et commentaires du gouverneur Alvar Nuñez Cabeza de Vaca sur les deux expéditions qu’il fit aux Indes. Paris: Mercure de France, 1980, p.234-254.
31 Carta 918. Maço 12. f.124. Apud: LISANTI, Luis F. Negócios coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília: Ministério da Fazenda; São Paulo: Visão Editorial, 1973.
11 CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957/1971. 2 v.
32 Carta 161. Maço 29. f.201. Apud: LISANTI, Luis F. Negócios coloniais, v.1, p.291.
12 MARQUES, Alfredo Pinheiro. A cartografia dos descobrimentos. Lisboa: Elo, 1994, p.65. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas.
33 Descripção do continente da América Meridional que nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz. Mapa manuscrito existente na Biblioteca Brasiliana da USP que abriga a coleção de Guita e José Mindlin, e publicado em FERREIRA, Mário Clemente. Uma ideia de Brasil num mapa inédito de 1746. Oceanos, Lisboa, v.43, p.184-195, 2000 e RODRIGUES, Ana Maria (coord.). A construção do Brasil. Lisboa: Catálogo de Exposição no Palácio da Ajuda, 2000, p.141.
13 Sobre a disputa entre os dois historiadores ver: HOLANDA, Sérgio B. Um mito geopolítico: a Ilha Brasil. In: Tentativas de mitologia. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.61-84. 14 CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, t.1, p.347-355. 15 HOLANDA, Sérgio B. O extremo oeste. São Paulo: Brasiliense, 1986, p.92-93. 16 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente: o Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Estação Liberdade/Kosmos, 1999.
34 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749 (grifo meu). 35 ANTT. MNE. Livro 824, Em que são revistados os principais documentos de toda a negociação do visconde Thomas da Silva Teles, f.122, 11 de outubro de 1748.
17 Ulrico Schmidl era um alemão que viajou para a América do Sul, como participante da expedição de Pedro de Mendoza em 1535 e permaneceu na região da bacia do rio da Prata até 1553. Em 1567, ele publicou um relato de sua viagem. SCHMIDL, Ulrico. Ander theil dieses weltbuchs von schiffahrten. Frankfurt: Meno, Teodoro de Bry, 1567. 18 Cabeza de Vaca foi o segundo Adelantado na região do Rio da Prata. Ele conduziu uma expedição ao rio Paraguai em 1543. A publicação do seu relato de viagem se deu em 1555. CABEZA DE VACA, Alvar Núñez. Naufragios y Comentarios. Madri: Anaya y Oronoz, 1992. 19 Guzmán era um criollo nascido no Paraguai, que também viajou pela área. Seu manuscrito foi finalizado em 1612, mas publicado somente em 1835. GUZMÁN, Ruy Díaz de. La Argentina. Madri: Historia 16, 1986. 20 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente, p.63. 400
61 LIMA JÚNIOR, Augusto de. Primeiros descobridores. In: A capitania das Minas Gerais, p.21.
39 JUAN, Jorge e ULLOA, Antonio de. Disertación histórica y geográfica sobre el meridiano de demarcación entre los dominios de España y Portugal y los parajes por donde passa en la America Meridional conforme á los tratados y derechos de coda Estado, y las más seguras y modernas observaciones. Madri: Imprensa de A. Marin, 1749.
62 ANDRADE, Francisco Eduardo. Empresas de descobrimento de Minas: o estilo heroico de Fernão Dias Pais. In: A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica/PUC-MG, 2008, p.67.
40 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98.
63 ANDRADE, Francisco Eduardo. Empresas de descobrimento de Minas, p.65.
41 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso.
64 Livro que dá razão ao estado do Brasil, João Teixeira Albernaz I, 1616. A cópia mais antiga que se conhece pertence à Biblioteca Pública do Porto.
42 LIMA JÚNIOR, Augusto de. A capitania das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1978, p.17.
65 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das Minas Gerais, p.108.
43 POLO, Marco. O livro das maravilhas; a descrição do mundo. Porto Alegre: LPM, 1985, p.207-208.
66 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9161). America Meridionale, Vincenzo Maria Coronelli, Veneza, 1690-1691.
44 FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na Terra: o Paraíso e a busca dos diamantes nas Minas setencentistas. In: História e Meio Ambiente. O impacto da extensão europeia. Funchal: Ed. CEHA Centro de Estudos de História do Atlântico, n.26, p.445-457, 1999. (Coleção Memórias)
67 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das Minas Gerais, p.110. 68 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9166). Tabula Americae specialis geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae Firmae et Reg Amazonum. Secundum relationes de Herrera, de Laet, e PP de Acuña e M Rodriguetz atiorunq observationes recentiores de signata e dita par G. de l’Isle, Herdeiros de Johann Baptist Homann, século XVIII, em coul 49X64.
45 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 46 FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na Terra: o Paraíso e a busca dos diamantes nas Minas setencentistas, p.445-457; de DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias: o maravilhoso geográfico nas representações sobre o sertão da América Portuguesa — séculos XVI a XIX. Belo Horizonte: UFMG, 2009. (Dissertação, mestrado em História).
69 DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias, p.117. 70 SOUZA, Néri de Almeida. Peregrinação, conquista e povoamento. Mito e “realismo desencantado” numa hagiografia medieval portuguesa. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol.21, no40, p.70, 2001.
47 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.40. 48 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.40-41.
71 ABREU, J. Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Ed. Itatiaia/ Ed. da Universidade de São Paulo, 1989, p. 104.
49 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das Minas Gerais (1585-1735): dos mitos aos fatos. In: RESENDE, Maria Efigênia Lage de e VILLALTA, Luiz Carlos (orgs.). História de Minas Gerais: as Minas Setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, vol.1, p.107.
72 DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias, p.17. 73 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas. In: Noticias das minas da America chamadas Geraes pertencentes à el rei de Portugal, relatada pelos três irmãos chamados Nunes os quais rodarão muytos annos por estas partes, f.18-19.
50 GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil. História da Província Santa Cruz. [1576] Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Ed. da Universidade de São Paulo, 1980, p.63. 51 SOUSA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Recife: Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 2000, p.52-53 e 308-310.
74 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.662.
52 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil e do que obrarão seus filhos nesta parte do Novo Mundo [1663] 2ª.ed. Rio de Janeiro: Typographia de João Ignácio da Silva, 1864, tomo I, p.28.
75 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas, p.18.
53 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.41.
77 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas, p.19.
36 Como já foi dito, as Instruções começaram a ser escritas em 1736, mas não se sabe exatamente quando alcançaram sua versão final.
54 LIMA JÚNIOR, Augusto de. Primeiros descobridores. In: A capitania das Minas Gerais, p.19-20.
37 De acordo com D’Anville: “eu dei conhecimento de um lago, até então ignorado nessa área”. Vangloria-se de ter representado “não somente o Titicaca do Peru, mas também a laguna dos Xarayes”. RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, D’Anville, f.10.
56 BRANDÃO, Ambrósio F. Diálogos das grandezas do Brasil. [1618]. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 1997, p.42.
38 FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento da área de fronteira entre Mato Grosso e a América espanhola no século XVIII: a procura de informações geográficas e cartográficas por portugueses e castelhanos. In: OLIVEIRA, Francisco Roque de; VARGAS, Héctor Mendoza. (orgs.). Mapas de la
60 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil e do que obrarão seus filhos nesta parte do Novo Mundo, tomo I, p.34.
mitad del mundo: la cartografía y la construcción territorial de los espacios americanos siglos XVI al XIX. Lisboa/México: Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa/ Universidade do México, 2010, p.276.
76 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas, p.18-19.
78 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas esmeraldas, p.19.
55 GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil; História da Província Santa Cruz, p.65.
79 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte manuscrite des côtes du Brésil, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António Álvares da Cunha?) 80 RBC. n. 555 (2). Extrait d’une lettre ecrite de Lisbonne le 11 Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me l’a communiquée. Relation du sr. Antonio Blem a son retour des mines de diamans, f.6.
57 ROMEIRO, Adriana. Um visionário na Corte de dom João V, p.47. 58 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil, T.1, p. 1, 24.
81 SOUZA, Laura de Mello e. Inferno atlântico: demonologia e colonização — séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
59 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil, T.1, p.17, 21, 24.
82 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO, 401
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séc. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295.
107 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.10. 108 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.42.
83 ABREU, J. R. Historiologia Médica fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de António de Sousa da Silva, 1739, t.2, p.528 (grifo do autor).
109 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] As amazonas americanas — As asiáticas e as africanas. In: Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.81-85.
84 SOUZA, Laura de Mello e. Os nobres Governadores de Minas, mitologias e histórias familiares. In: Norma e conflito. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. p.185.
110 Sobre a construção e os paradoxos do mito das amazonas em La Condamine ver SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.106-111.
85 ABREU, J. R. Historiologia Médica, t.2, p.518 (grifo meu). 86 PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2012, p.39.
89 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.13.
111 BNF. DCP. GE DD 2987 (9550). Carte du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para en remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noire où l’on a marqué entre autres circonstances, les établissements des Portugais, et un grand nombre de Missions établies chés les indiens, dressée sur les Mémoires du P. Ignacio dos Reys ... par le Sr. D’Anville, 1729, 34 x 53,5 cm.
90 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.13.
112 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.81.
91 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.30. 92 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.24-25.
113 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.81-83.
93 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27; GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. Manaus: Editora Valer, 2007, p.97-108; PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio, p.42-45 e 71-77.
114 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.84. 115 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.107.
94 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27.
116 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. 3a.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p.439-440.
87 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.8. 88 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.8 (grifos do autor).
95 CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento do rio Orellana. São Paulo: Nacional, 1941, p.30.
117 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas, p.84.
96 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27, e GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia, p.104.
118 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9168B) (1).
97 CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento do rio Orellana, p.60-61.
119 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, p.11.
98 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado), p.199
120 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado).
99 MADERUELO, Rafael Díaz (ed.). La Aventura del Amazonas — Crônicas de Fray G. de Carvajal, P. Arias de Almesto e A. de Rojas. Madri: Dastin, 2012, p.214, nota 10.
121 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed: exploration, geography, and a British El Dorado. Chicago: University Of Chicago Press, 2001, p.25.
100 ROJAS, Alonso de. Relação do descobrimento do rio das Amazonas, hoje S. Francisco de Quito e declaração do mapa onde está pintado. São Paulo: Nacional, 1941.
122 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.17. 123 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado), p.149 (grifo do autor).
101 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande rio das Amazonas. Rio de Janeiro: Agir, 1994. 102 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande rio das Amazonas, p.49 e 152.
124 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.27.
103 ROJAS, Alonso de. Relação do descobrimento do rio das Amazonas, p.111.
125 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado), p.193-194 (grifos do autor).
104 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande rio das Amazonas, p.152-153.
126 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.26.
105 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.95, jan.-jun.2009. “Assim, o francês insinuava que nenhum conhecimento relevante havia sido obtido desde a viagem de Acuña, cem anos antes.”
127 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the great and Golden city of Manoa (which the Spaniards call Eldorado), p.194, 196, 197. 128 HUMBOLDT, Alexander von. Relation historique du voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent fait en 1799, 1800, 1802, 1803 et 1804. 3 vols. Stuttgart: F. A. Brockhaus, 1970.
106 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.45. 402
145 BNF.DCP. Ge C 11339 (rés). Carte de l’Amérique méridionale de d’Anville, manuscrito do mapa de 1748.
129 Graham Burnet, seguindo as informações de Humboldt, afirma que Horstman era holandês. No entanto, no manuscrito do mapa, pertencente a D’Anville, percebe-se que tinha origem germânica, pois lê-se “Nicolas Horstman nativo de Hildesheim na Westphalie”. D’Anville afirma que ele era cirurgião e Burnet que era comerciante. Este mesmo autor, no entanto, salienta que a vida de Horstman foi cercada de mistérios. BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.30-31. 130 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9612). Carte huilée de la route de Nicolas Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis Rio Esquibé jusqu’à Rio Negro, 17.. [communiqué par M. de La Condamine]1 carta manuscrita; 49,5 x 32,5 cm. 131 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.30-31. 132 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11. 133 Humboldt, na esteira de La Condamine e D’Anville, de quem era admirador, concluiu que o Amucu era de fato o verdadeiro local da fábula do Eldorado. BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.31. 134 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.552-553, March, 1750. 135 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9561). 136 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9562). 137 Os maravilhosos globos de Coronelli, como já foi dito, para deleite de toda a elite parisiense, até 1720, ficavam expostos nas galerias do Louvre, onde D’Anville passou a ter sua oficina. 138 Guiana sive amazonum regio. Amstelodami: I. Janssonius, 17eme, BNP. DCP. Ge DD 2987 (9559); Guiana sive amazonum regio. Amstelodami: Guiljelmus Blaeuw, 1630. BNP. DCP. Ge DD 2987 (9560) e America Meridionale Venetia. BNP. DCP. Ge DD 2987 (9162. Os dois 1 folha em cor, o segundo 2 folhas. 139 “Mas, antes de descer mais abaixo representando o rio das Amazonas, não se pode omitir uma comunicação quase inteiramente praticada entre o rio Negro e o Essequebé.” ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier, p.552. 140 Esta simplificação pode ser atribuída a duas razões. A primeira refere-se a uma questão de escala, visto que o segundo lago apresenta dimensões muito reduzidas e não teria tamanho suficiente para figurar na carta. A segunda, ao caráter sazonal dessas águas, visto que o próprio Horstman indicou que os lagos se apresentavam cobertos por juncos, o que levaria D’Anville a concluir tratar-se de um único lago. 141 Lieue ou léguas: medida francesa de distância que variava conforme a região. A légua comum correspondia a aproximadamente 3,333 metros ou 2.500 passos. KONVITZ, Josef. Cartography in France, p.XIX-XX. 142 Observa-se que, de fato, em fins do século XVIII, o barão do Rio Branco vai utilizar este mapa de D’Anville nas negociações com os britânicos sobre a Guiana, procurando provar a antiguidade da posse portuguesa sobre a região do Amucu. RIO-BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior (barão do). Mémoire sur la Question des limites entre les états-unis du Brésil et la Guyane Britannique. S.l., se., 1897. 143 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9169B) (1). 144 BNF. DCP. GE D 10.658. Deux fragments d’une Carte de l’Amérique du Sud montrant partie de la nouvelle Grenade et l’estuaire de rio de la Plata, D’Anville.
146 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11. 147 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11. 148 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11. 149 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98. 150 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.664, Avril, 1750. 151 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11. 152 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98. 153 Os mapas da coleção referentes à “Guiana holandesa e seus detalhes” vão da entrada Ge DD 2987 (9592) a (9613), sendo que faltam as de número 9593, 9595 e 9606 a 9608. O número 9612 corresponde ao mapa de Horstman. As demais entradas existentes são relativas ou às cartas holandesas do século XVII ou aos mapas de Nicolas Bellini, posteriores e em grande parte baseados na própria cartografia de D’Anville. 154 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9166). 155 RBC n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.12. 156 A carta manuscrita, de 1750, pode ser vista em BNF. DCP. Ge DD 2987. 10660. (1), (2), (3), (4). Carte generale de l’audiencie de Quito entre 2o 30’ N et 6o. Sud, et jusqu’à confluent Hullaga-Manation. Outra cópia manuscrita em Ge DD 2987. 10661. 157 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.149 158 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.134. 159 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati: Herman Moll and his intellectual circle. Lewiston/NY: Queenston, 1997, p.71-85. 160 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati, p.83. 161 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.97-102. 162 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.59-60. 163 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.97-102. 164 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.105-106. 165 SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: Measuring the New World, p.123-165. 166 FURTADO, Júnia F. As índias do conhecimento ou a geografia imaginária da conquista do ouro. Anais de História de Além-mar, Lisboa, vol.4, p.155-212, 2003. 167 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati, p.38. 168 BNF. DCP. Ge D 10.657. Versão manuscrita da Carte de l’Amérique méridionale, 1748. 169 Tratado de Madri. http://www.info.lncc.br/madri.html (acesso em 07/07/2009) (grifo meu). 170 BNRJ. ARC.030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Medirional. No anno de 1749, verso. 403
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
a cartografia a serviço da diplomacia. Varia Historia, Belo Horizonte, vol.23, n.37, p.53-69, 2007.
171 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001. FERREIRA, Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid:
[ Capítulo 8 ] BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.205-205v, Londres, 1 de setembro de 1711.
1
ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luis da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, 15 de abril de 1713. 2 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas. (Edição de Abílio Diniz Silva), p.181-373. 3 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.371. 4 Henequim, grande leitor de Vieira, acalentava o sonho “de uma América Meridional unida sob o cetro do Infante D. Manuel, à espera da realização do Quinto Império”. A autora destaca a continuidade dessa ideia no pensamento de Vieira e de dom Luís da Cunha, que inspiraram os sonhos de Henequim e do Infante. ROMEIRO, Adriana. Um visionário na Corte de Dom João V. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001, p.43 e 165. 5 Arquivo do Itamaraty. Ofícios de dom Luís da Cunha, 1719-1723, f.41, Madri, maio de 1719. 6 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.279. 7 ANTT. MNE. Livro 137. Cartas para o Conde de Tarouca em Holanda que principiou em julho de 1717 e findou em 13 de outubro de 1725, carta de 26 de julho de 1720. 8 ANTT. MNE. Livro 790, f.375 e 376, Paris, 20 de outubro de 1721. 9 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio de Azevedo Coutinho, p.279. 10 Além do comércio, dom Luís aponta diversos subterfúgios utilizados pelos ingleses para se aproveitarem das riquezas do Brasil. Umas delas era o fato de que “têm os ingleses feito do nosso Brasil uma ordinária escala aos seus navios da Índia, não sei se em dano nosso, mas é certo que em grande proveito seu”. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.65, Londres, 19 de novembro de 1709.
16 Em carta ao cardeal da Cunha confessa “que terça feira passada estava tão aflito com o sucesso do Rio de Janeiro, que não tive coração para doer-me com V.Illma. daquelas desgraças, nem agradecer-lhe o favor que me fez de boas novas suas”. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luis da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.248, Londres, 16 de fevereiro de 1712. 17 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.65. 18 Carta de Domingos Afonso Certão a dom João de Lecastro, Bahia, 15 de janeiro de 1702. Apud: ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e comentário crítico de Andrée M. Diniz Silva. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNPCDP), 2001, p.441. 19 Este manuscrito faz parte do acervo do Arquivo Nacional de Paris e está publicado em: JAUFFRET, Ambrozio. Relação que faz Ambrozio Jauffret, natural da cidade de Marseille, ao Primeiro Ministro de Sua Magestade Sereníssima, o Sr. Conde de Pont Chartrein, informando-o de todo o estado do Rio de Janeiro... Apud: MANSUY, Andrée. Mémoire inédit d’Ambroise Jauffret sur le Brésil à l’époque de la découverte des mines d’or (1704). Coimbra: Separata do V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1965. 20 ABREU, J. R. Historiologia Médica, fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de António de Sousa da Silva, T.2, p.516. 21 ABREU, J. R. Historiologia Médica, T.2, p.516. As medidas feitas a partir da medição da posição do sol utilizavam o astrolábio. 22 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.648.
11 ANTT. MNE. Livro 790. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, f.270, Paris, 8 de setembro de 1721.
23 “Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda [por] estar servindo à minha satisfação do lugar de deputado da junta da Casa de Bragança de capa e espada por espaço de três anos. Ei por bem fazer-lhe mercê além de outra, em satisfação dos serviços do dito seu pai, de um lugar de conselheiro de capa e espada do Conselho Ultramarino (...), 17 de fevereiro de 1724”. ANTT. Chancelaria de dom João V. Livro 63, f.358. “Dom João por graça de Deus, rei de Portugal, faço saber aos que esta minha carta de privilégio de Desembargador virem que por parte de Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda, conselheiro de capa e espada do meu Conselho Ultramarino, me foi apresentada sua petição pedindo-me lhe fizesse mercê mandar passar carta com teor dos privilégios que tem e gozam pelas ordenações do reino, regedor e desembargador da casa de suplicação (...). 27 de junho de 1724”. ANTT. Chancelaria de Dom João V. Livro 65, f.123-123v.
12 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luis da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.324v, Utrecht, 18 de novembro de 1712. 13 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha até o fim da negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, secretário de Estado de Sua Magestade, 2 de janeiro de 1714 até 18 de abril de 1715. Em 11 de janeiro de 1714, f.4v-5. 14 Apud: RAU, Virginia. Cartas de dom Luís da Cunha para o 1º. duque de Cadaval (1715-1725). Separata da Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, tomo XII, 1947, p.37. 15 Como exemplo, no contexto das invasões francesas ao Rio de Janeiro, escreveu ao cardeal da Cunha que “com grande susto me deixa a notícia de que a esquadra de Brest entrara em Canárias aos 10 de julho, ainda que [para] se reparar do dano que sofreu com o mau tempo que encontrou, pois se vê que vai ao Brasil, e que poderá encontrar a nossa frota”.
24 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, d’Anville, agosto de 1779, f.3. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.661. 404
44 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, f. 374, 23 de agosto de 1723. 45 “Fazem do presente a S. Majestade que Deus o guarde o memorial que a vós deu Blumenstein”. ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, livro 14, f.27, carta de 27 de julho de 1723. 46 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, f.407, Paris, 7 de outubro de 1723.
25 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay. 26 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.1. 27 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.1. 28 “Duas cartas endereçadas em 1732 à M. Couvai, cavaleiro de Cristo, por um de seus amigos (Dom Antonio Blem) que havia morado alguns anos naquele país, a primeira me forneceu uma descrição do distrito das minas de ouro de Villa Rica, com a indicação de sua latitude.” ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.662. 29 Inocêncio Francisco da Silva equivocadamente o dá como português, nascido de pais franceses. SILVA, Inocêncio Francisco da. Dicionário bibliográfico português. Lisboa: Imprensa Nacional, 1867, tomo 8, p.105. 30 LABOURDETTE, Jean-François. La nation française a Lisbonne de 1669 a 1790: entre Colbertisme et Liberalisme. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, 1988, p146. 31 ANTT. Mercês de D. João V. Alvará a Antonio Blem. Administração de capela. D. João V, Livro 18, f.367, 31 de maio de 1727. 32 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, Livro 14, f.48v, 18 de outubro de 1723. 33 ANTT. Chancelaria de dom João V. Livro 39, f.7, 2 de junho de 1712. 34 RBC. n.555 (2). Extrait d’une lettre ecrite de Lisbonne le 11 Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me l’a communiquée. Relation du sr. Antonio Blem a son retour des mines de diamans, 6 ½ p. 35 BLEM, Antonio. Escola do mundo, ou instrucção de um pae para seu filho, pertencente ao modo com que se deve viver no mundo, dividida em diálogos, por Le Noble na lingua francesa e traduzida na portuguesa. Lisboa: Oficina da Música, 1722, tomo I, e 1724, tomo II. 36 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 1723, Livro 792, f.416, 18 de outubro de 1723. 37 LABOURDETTE, Jean-François. La nation française a Lisbonne de 1669 a 1790: entre Colbertisme et Liberalisme. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, 1988, p.146. 38 ANTT. Mercês de D. João V. Alvará a Antonio Blem. Administração de capela. D. João V, Livro 18, f.367, 31 de maio de 1727. 39 ANTT. Chancelaria de Dom João V. Mercê a Antônio Blem. Livro 69, f.338, 24 de julho de 1727. 40 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia em Portugal, p.109. 41 Sobre “Blumenstein, me ordenou respondesse a VSa. que como deste homem tínhamos já notícia pelo suíço Merveillheux”. ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, livro 14, f.27, carta de 27 de julho de 1723. 42 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, f.333, 23 de agosto de 1723. 43 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, f. 333, 23 de agosto de 1723.
47 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, f.407, 7 de outubro de 1723. 48 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, Livro 14, f.48v, 18 de outubro de 1723. 49 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, livro 14, f.27, carta de 27 de julho de 1723. 50 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca, f.40, 21 de setembro de 1723. 51 ANTT. MNE. Legação de Londres, Livro 14, Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca, f.27, 27 de julho de 1723. 52 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, livro 14, f.27, 40, 41, 66v. ver também CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.105-110. 53 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.186, 26 de julho de 1725. 54 “Os tributos que pagão estes moradores são primeiramente vinte por cento do ouro que tiram da serra, que são obrigados a levar a casa de moeda para ali ser fundido e cunhado.” RBC. n. 555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.4. 55 “Com a ocasião dos casamentos do príncipe e infanta deste reino se repartiu um novo tributo a todos os povos do Brasil, a que chamam donativo, e tocou as Minas Geraes cento e cinquenta arrobas de ouro, que se dividirão em seis anos, e pagam vinte cinco arrobas cada ano por este título, repartindo este tributo as câmaras pelos moradores.” RBC. n. 555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.5. 56 REIS, Flávia Maria da Mata. Entre faisqueiras, catas e galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas do século XVIII (1702-1762). Belo Horizonte: UFMG, 2007. (Dissertação, mestrado em História.) 57 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.2-3. 58 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no Códice Costa Matoso. Varia Historia, Belo Horizonte, v.21, p.159, 1999. 59 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no Códice Costa Matoso, p.158. 60 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.2-3. 405
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
79 BN. Reservados. Maço 62, n.2. Doc. 7. Cópia da petição manuscrita dirigida ao rei dom João V, 13 de fevereiro de 1728. ANTT. Ministério do Reino. Decretos. Maço 6, n.22, julho de 1738.
61 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.111. 62 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no Códice Costa Matoso, p.159. 63 REIS, Flávia Maria da Mata. Entre faisqueiras, catas e galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas do século XVIII (1702-1762). 64 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da conquista do ouro, p.277-295. ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.33. 65 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.2-3. Sobre a proibição de se passarem estrangeiros às Minas e o impacto técnico dessa proibição ele comenta que “Neste lugar devo fazer menção de uma suspensão desta Corte, para a qual não posso achar razão; e é que vindo a ela de passagem o Barão de Leyen, cavalheiro irlandês, insigne na arte de beneficiar minas e fundir minerais, como se viu nas obras que se estabeleceu na Sibéria, por ordem do czar Pedro, el Rei nosso senhor o admitiu ao seu serviço, dando-lhe a patente de coronel, com soldo dobrado, com condição de que havia de ir às Minas ensinar a aqueles mineiros aquela arte; porém há mais de oito anos que logra este soldo, e que solicita ir satisfazer o que está obrigado, sem que a Corte se resolva a mandá-lo às Minas”. 66 PEREIRA, Nunes Marques. Compêndio Narrativo do Peregrino da América. [1728] 6ª. ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1939. 67 ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. 68 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas, p.34-39. 69 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.7. 70 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.2. 71 BNL. Reservados. Maço 62, n.2. Doc.137, f.3v. 72 “Mas não deixa de haver Prata no Brasil, porque ao Sul de Santos, de fronte do Porto da Ubatuba, e [no] Rio Grande, a que chamam porto de S. Pedro há uns montes para a parte do ocidente, abundantes em betas de prata; porém como a cavalaria PP. da Companhia do Paraguai correm aqueles campos, não se pode ir desfrutar aqueles montes senão com mão armada e com bastante poder”. RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.6. (grifo meu). 73 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Doc.549, Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay. Doc.549, Addition à la lettre de Mr. D’Anville à Mr. De la Roque. 74 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha. Livro 789, f. 452. 75 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha. Livro 789, f.294 e 299. 76 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha. Livro 789, f.633. 77 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 78 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659.
80 “Dom António Alves da Cunha seu sobrinho & atualmente governador de Mazagão na costa da África”. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 81 “Dom António Alves da Cunha seu sobrinho que eu creio atualmente ocupando as funções de embaixador junto aos Estados Gerais das Províncias-Unidas”. RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, d’Anville, agosto de 1779, p.2. 82 Ver: http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=19304 83 CUNHA, D. Luís da. Instruções políticas. Edição de Abílio Diniz Silva, p.366. 84 Era muito raro que os governadores levassem a família quando serviam no além-mar, mas há, ainda que raras, exceções. 85 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.659. 86 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António Álvares da Cunha =?). 87 Era filho de Nicolas-Joseph De Manne, e foi secretário de D’Anville, sendo mais tarde nomeado conservador da Biblioteca real e responsável por organizar as suas coleções sitas na rue Richelieu, inclusive a coleção D’Anville. 88 MANNE, Louis-Charles-Joseph de. Catalogue des livres de feu M. de Manne... Suivi de manuscrits, lettres autographes, et autres documents provenant du cabinet de m. d’Anville. Paris: François, 1863, p.246. 89 MANNE, Louis-Charles-Joseph de. Catalogue des livres de feu M. de Manne..., p.246. 90 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur D’Anville, p.663. 91 “Etendue de païs deserte t peu connu”. Suite du Bresil, depuis la Baye de tous les Saints jusqu’a St. Paul, D’Anville. Acervo pessoal. 92 BORGES, Maria Eliza Linhares. A hermenêutica cartográfica em uma sociedade miscigenada. In: ANASTASIA, Carla M. J. e PAIVA, Eduardo F. (orgs.). O trabalho mestiço: maneiras de pensar e formas de viver - séc. XVI a XIX. São Paulo: Annablume, 2002. p.105-122. 93 As contribuições dos povos nativos na configuração da geografia europeia dos territórios ainda desconhecidos foi significativa, pois foram os grandes informantes e guias para a penetração dos territórios onde habitavam. São inúmeros os exemplos. James Cook foi um dos inúmeros exploradores europeus do século XVIII que dependeu dos indígenas locais, no seu caso os maoris, para recolher informações sobre a Nova Zelândia quando por ali passou em 1773, a bordo do Endeavour. Contou que, depois que um nativo traçou um mapa da costa norte da ilha, pegou um papel e copiou o desenho que o chefe havia feito no deque do navio. WITHERS, Charles W. J. Placing the Enlightenment: thinking geographically about the Age of Reason. Chicago: Chicago University Press, 2007, p.106. 94 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408, Ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737. 406
116 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312v-313, Utrecht, 13 de abril de 1713. 117 AAE. Correspondência Política. Hollande 242, f.36, feuille de nouvelles de la Haye, 16 de fevereiro de 1712. Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.501. 118 “Ainda que VSa. não ignora quais são as circunstâncias de que necessitam os ministros que VSa. indicar a SMde. para o servirem utilmente nas cortes estrangeiras, falarei de duas que neles devem juntamente concorrer; que são a habilidade e probidade, porque uma sem a outra ou é insignificável, ou pode ser prejudicial.” CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.187. 119 AAE. Correspondência Política. Hollande 236, f.312, Roussi à Torcy, 8 de agosto de 1712. Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.501. 120 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713 (grifo meu). 121 AAE. Correspondência Política. Hollande 248, os plenipotenciários franceses ao rei, 10 de fevereiro de 1713. Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.718. 122 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713. 123 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.282v, Utrecht, 2 de outubro de 1712. 124 ANTT. MNE. Livro 787, f.20-21, 14 de fevereiro de 1713. 125 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.310, Utrecht, 13 de abril de 1713. 126 “Ouvi dizer sempre aos bons estadistas que não estava o ponto em negociar depressa, se não em negociar bem, quando uma coisa e outra se não conseguir.” Apud: MAGALHÃES, José Calvet. A acção diplomática no pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos XVII e XVIII, p.23. 127 Observa-se esse expediente em vários momentos. Assim, em abril, quando nova rodada de negociações é realizada, primeiro eles se reuniram, “na segunda [feira], com os aliados e ontem [13 de abril] com os inimigos”. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.254, Utrecht, 13 de abril de 1712. 128 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.313, Utrecht, 13 de abril de 1713. 129 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.21, 14 de fevereiro de 1713. 130 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.310, Utrecht, 13 de abril de 1713. 131 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.46, 12 de março de 1713. 132 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.46, 12 de março de 1713. 133 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8, Paris, 1 de maio de 1747.
95 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Desco-brimentos Portugueses, 1991, p.38. 96 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.38. 97 BRANDÃO, Fernando de Castro. História diplomática de Portugal, p.121. 98 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9550). 99 LEVASSEUR, E. Le Brésil. Paris: H. Lamirault et cia., 1889, p.2. 100 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.39. 101 Ao cardeal da Mota escreve que, “suposto que não tínhamos algum documento por onde possamos mostrar que a nossa posse daquela banda vai sempre seguindo o curso do rio, procuraremos que nesta forma nos fique para que os franceses em nenhuma o possam navegar e um dia passamos por ele o comércio que os ditos franceses pretendiam estabelecer com o Peru”. BNL. Reservados. Cod 11209. Cartas de dom Luís para o cardeal da Cunha – Inquisidor geral, f.310. 102 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta 28, 6 de setembro de 1712 (grifo meu). 103 BNL. Arquivos do conde de Tarouca. AT 164. Carta particular de Tarouca para o marquês de Alegrete, Haia, 17 de novembro de 1715. 104 MIRANDA, João Manuel da Silva Alves. As relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia na época de Pedro, o Grande (1700-1725). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 2095, p.93. 105 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta 64, 24 de fevereiro de 1713. 106 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.312, Utrecht, 13 de abril de 1713. 107 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1º. Secretário de Estado de S. Majestade, f.4, 6 de janeiro de 1713. 108 ANTT. MNE. Livro 787, f.19, 14 de fevereiro de 1713. 109 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713. 110 ANTT. MNE. Livro 787, f.19-20, 14 de fevereiro de 1713. 111 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713. 112 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Livro 786, carta de dom Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.403, Paris, 2 de setembro de 1712. 113 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta 64, 24 de fevereiro de 1713 (grifo meu). 114 Carta de José da Cunha Brochado ao conde de Viana, de 6 de outubro de 1708. Apud: MAGALHÃES, José Calvet. A acção diplomática no pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos XVII e XVIII. In: A diplomacia na História de Portugal: Actas do Colóquio. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1990, p.25. 115 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f. 282v, Utrecht, 2 de outubro de 1712. 407
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
estudo. Revista Portuguesa de História, Coimbra, tomo XVI, p.333-341, 1976. 148 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento e a formação do sul do Brasil, p.168. 149 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino. Livro 793, Paris, 1724, f.285-286. 150 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 786, Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 2 de setembro de 1712, f.403. 151 AGS.. Estado (Portugal), Legajo 7084, f.1, Madri, 31 de dezembro de 1716. 152 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1713, f.7, 6 de janeiro de 1713. 153 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, cartas 71 a 74, de fevereiro a abril de 1713. 154 Londres. Public Record Office, S.P.84/243. f.254-259, lettre de Strafford à Saint-John, Utrecht, 9 de agosto de 1712. Apud: BÉLY, Lucien. Chiffres et déchiffreus, p.155. 155 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 789, f.335, Madri, 5 de janeiro de 1720. 156 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.47, 12 de março de 1713. 157 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.52, 12 de março de 1713. 158 Em novembro de 1714, dom Luís se queixa de que os espanhóis apresentaram “a ridícula oferta do equivalente que sobre ser de uma légua de terra inútil e que com tantos títulos provamos nossa, vem depois de havermos muitas vezes declarado que nenhum equivalente aceitaríamos na América”. ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros papeis que dizem respeito a paz de Utrecht. Carta de dom Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.94v, 30 de novembro de 1714. 159 http://www.info.lncc.br/utrech2.html (grifo meu). 160 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, Madri, 15 de dezembro de 1719 (grifo meu). 161 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715. 162 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do Conde de Tarouca e de dom Luis da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715 (grifo meu). 163 http://www.info.lncc.br/utrech2.html (grifos meus). 164 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul da América portuguesa. Porto Alegre: F. P. Prado, 2002, p.92. 165 “Em 1723, o governo português promoveu a fundação de Montevidéu, que serviria de apoio à Colónia. Contudo, em 1726, os espanhóis arrasaram este povoado.” FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001, p.39.
134 ANTT. MNE. Livro 787 Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, 15 de abril de 1713. 135 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.312, Utrecht, 13 de abril de 1713. O conde de Tarouca partilhava da mesma opinião: “se nós soubéssemos aproveitar daquela navegação (...) se navegarmos por este rio como é possível impedir-nos os castelhanos a entrada e o comércio no Peru, e esta consideração além de outras muitas bastava para que estimássemos infinitamente o que conseguimos”. BNL. Reservados ACT. AT 164, Haia, 17 de setembro de 1709. Apud: MIRANDA, João Manuel da Silva Alves. As relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia na época de Pedro, o Grande, p.93. 136 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8, Paris, 1 de maio de 1747. 137 GUEDES, Max Justo. Os limites territoriais do Brasil a norte e nordeste. In: ALBUQUERQUE, Luis de (org). Portugal no mundo. Lisboa: Publicações Alfa, 1989, v.5, p.202-228. Max Justo Guedes, em consonância com Jaime Cortesão, aventa que a organização da expedição foi encetada para impedir a expansão das missões jesuíticas no alto Amazonas. 138 ACUÑA, Cristóbal. Nuevo Descubrimento del Gran rio de las Amazonas. Madri: Iberoamericana, 2009. 139 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8, Paris, 1 de maio de 1747. 140 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, 15 de abril de 1713. 141 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312, Utrecht, 13 de abril de 1713. 142 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.313-313v, Utrecht, 13 de abril de 1713. 143 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, 15 de abril de 1713. 144 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312, Utrecht, 13 de abril de 1713. 145 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento e a formação do sul do Brasil. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna de Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e Social/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.167. 146 Ao longo do século XVIII, a essa iniciativa vieram outras com objetivo de aumentar a presença dos portugueses na região hoje correspondente aos atuais estados de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, onde houve a vinda de casais de imigrantes açorianos e a fundação do forte de Jesus, Maria e José que deu origem à cidade do Rio Grande. FRANZEN, Beatriz Vasconcelos. A presença ibérica no extremo-sul do Brasil (séculos XVII-XVIII). Mare Liberum, Lisboa, n.4, p.255-259, dez.1992. LAZZAROTTO, Danilo. História do Rio Grande do Sul. 7ª.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2001. 147 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colônia do Sacramento nos princípios do século XVIII, uma fonte importante para seu 408
180 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.311, Madri, 29 de dezembro de 1719. 181 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.29, Madri, 15 de maio de 1719. 182 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.292, Madri, 18 de dezembro de 1719. 183 Refere-se a um parecer de Antônio Rodrigues da Costa junto ao Conselho Ultramarino que, entre outras questões, defendia a ideia de levantar um forte em Montevidéu, ao qual, por essa época, se opunha dom Luís: “sobre o território da Colônia visto mandar-me o despacho que siga o parecer de Antônio Roiz da Costa que assim o julgo mais acertado, porém permita-me dizer-lhe que sendo o primeiro fim do dito voto evitar a guerra que sobre o tal território da Colônia possa sobrevir entre as duas coroas, a segurança que busca com a construção de outra fortaleza no sítio de Montevidéu 23 léguas distante da primeira dará maior causa a que os castelhanos procurem evitar o dano que se lhes pode seguir pois hão de supor que faremos mais fortificações até o rio Negro”. ANTT. MNE. Livro 789, f.29, Madri, 15 de maio de 1719, e Livro 793, f. 284-285, Paris, 18 de junho de 1724. 184 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.29, Madri, 15 de maio de 1719. 185 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.335, Madri, 5 de janeiro de 1720. 186 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.294, Madri, 18 de dezembro de 1719. 187 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do Sacramento, p.74. 188 Mas no dia 12 Alexandre de Gusmão parte para Roma, em missão junto à Santa Sé. 189 FARIA, Ana Leal. Arquitetos da Paz: a diplomacia portuguesa de 1640 a 1815. Lisboa: Tribuna, 2008, p.139-140. 190 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.645, agosto de 1720. 191 O acordo estipulara o prazo de um ano para que a Espanha oferecesse um equivalente, mas que já tinha caducado. 192 AGS. Estado (Colônia de Sacramento), Legajo 7439, 14 de março de 1721. 193 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul da América portuguesa, p.119. 194 SILVA, Abílio Diniz. Introdução (O incidente diplomático de Madrid – fevereiro de 1735). In: CUNHA, D. Luís da. Instruções políticas. Edição de Abílio Diniz Silva, p.112-115. 195 ANTT. MNE. Caixa 2, maço 2. Cartas de dom Luís da Cunha. Doc.48, Luís da Cunha para Marco António de Azevedo. Paris, 3 de julho de 1741. 196 Dom Luís da Cunha informa que, para não parecer que tivessem faltado com a sua palavra, os espanhóis justificavam que a invasão da Colônia não tinha “nada de comum com
166 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do Sacramento: um bastião português em terras do futuro Uruguai. Lisboa: Bertrand, 2006, p.67. 167 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 786, cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 2 de setembro de 1712, f.403 (grifos meus). 168 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715. 169 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.264-266, 18 a 20 de janeiro de 1715. 170 “E tendo presente tudo o que há passado na dependência do equivalente oferecido por minhas ordens que as estão dadas e neste assunto pela via reservada.” AGS. Estado (Portugal). Legajo 7084, f.1, Madri, 31 de dezembro de 1716. 171 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul da América portuguesa, p.109-119. 172 Termo que se referia ao entorno agrícola. 173 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do Sacramento, p.84-85. 174 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.264-266, 18 a 20 de janeiro de 1715. 175 A correspondência de dom Baltasar Garcia Ros sobre a Colônia vai ser apresentada diversas vezes nas negociações futuras, inclusive por parte dos portugueses, sob a batuta de Alexandre de Gusmão. Dom Luís, que possuía cópia dessas cartas, vai discordar dessa tática, porque, segundo ele, elas sugeriam uma posse contestada e não pacífica do território. 176 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, Madri, 15 de dezembro de 1719. 177 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, Madri, 15 de dezembro de 1719. 178 É apenas um jogo de aparências (por parte do confessor) e de retórica (por parte do embaixador). Dom Luís vai chamar a atenção mais tarde, o que é bastante conhecido pela historiografia, que esse religioso respirava política, principalmente no que concernia aos interesses da Companhia: “Pe. Daubenton (...) o qual suposto diga que não entra nas outras [matérias que não seja da igreja], nem por isso deixa de ouvir a quem nelas lhe fala tomando a precaução de que as não promoverá e que somente dirá o seu parecer em caso que o dito [rei] lhas comunique, o que de ordinário sucede, porque como ele quer que se creia que governa pelas regras da consciência, é certo que todos os negócios vão topar nesse princípio e nessa forma o dito confessor é o que tem mais parte nas resoluções”. ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f. 632-633, agosto de 1720. 179 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.292, Madri, 18 de dezembro de 1719. 409
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
198 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.359, oficio para a secretaria de Estado, 17 de agosto de 1736. 199 KUHN. Fábio. Uma fronteira do império: o sul da América portuguesa na primeira metade do século XVIII. Anais do Além Mar, Lisboa, v.VIII, p.103-121, 2007. 200 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, Oficio para a Secretaria de Estado, 20 de julho de 1736. 201 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9451). 202 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9450). 203 O rompimento ocorrera devido a uma questão de protocolo, pois o abade de Livry, embaixador francês em Portugal, obstinou-se a só apresentar oficialmente sua embaixada depois de receber a visita em sua casa do secretário de Estado Marco António de Azevedo, o que foi considerado uma afronta por parte do rei de Portugal. 204 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.387, oficio para a secretaria de Estado, 6 de novembro de 1736. 205 De fato, em 26 de outubro de 1737 teve notícias que “se entendia haverem saído [embarcações espanholas] com intento de sitiar novamente a praça. Este receio obrigou o governador Gomes Freire de Andrade a mandar logo para o rio da Prata as primeiras duas fragatas da nossa esquadra que tinham voltado a reparar-se no Rio de Janeiro e entrando, depois destas partirem, as outras três, as fez também consertar e partir para o mesmo rio”. ANTT. MNE. Livro 16, f.20, 26 de outubro de 1737. 206 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation établie pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, 10 fólios. 207 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.A1. 208 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552,. Ligne de Demarcation, f.3. 209 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne de Démarcation..., f.G6.
o caso de Pedro Álvares Cabral e assim não se sabia qual fora o motivo daquelas hostilidades”. Ao pressionar a Inglaterra sobre o caso, pois esta nação afiançara que não haveria retaliações por parte da Espanha, conta que falara com seu embaixador, “mr Trevor, que está a sua maneira envergonhado de ver como Patinho enganou a sua corte”. AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, Ofício para a secretaria de Estado, 20 de julho de 1736. 197 O secretário de Estado Antônio Guedes Pereira manteve os diplomatas na Europa, especialmente Marco António de Azevedo Coutinho (Inglaterra) e dom Luís da Cunha (França) informados do que se passava dia a dia na Colônia. ANTT. MNE. Livro 16. Exemplo: f.10, 27 de abril de 1737: “Chegou um bergantim da Colônia, que de lá partiu no principio de janeiro, a notícia que trás de mais consideração é que os espanhóis faziam novas e maiores prevenções depois que receberam um socorro de gente, artilharia de bronze, morteiros e outras munições e se supunha, por algumas conjecturas e também depunham alguns desertores, que o seu desígnio era intentarem novamente o sitio da Colônia”. f.20, 26 de outubro de 1737: “o navio de aviso despachado do Rio de Janeiro trouxera a de estar tudo sossegado no rio da Prata, não é verdade porque quando partiu o dito navio tinham os espanhóis saído do seu porto da Barregan com 4 fragatas, 2 paquebotes e 8 lanchões, armados em guerra a cruzar defronte da Colônia, ao mesmo tempo que três fragatas novas (as principais de Espanha) foram obrigadas de uma tormenta a virem reparar-se ao Rio de Janeiro. E depois deste chegou já outro navio de aviso com a notícia de que com efeito pretenderam os ditos espanhóis, no dia 16 de maio, sondar o dito canal e lançar alguma gente na nossa costa, mas que sendo observados da praça mandou o governador dar-lhes caça por três bergantins e um iate, que obrigaram os 3 paquebotes a retirarem-se, amparando-se das suas fragatas e os lanchões a fugirem precipitadamente pelo rio abaixo, sem que se saiba se foram parar a Montevidéu ou se experimentaram alguma infelicidade”.
[ Considerações finais] Às vésperas do Tratado de Madri 1
2 3
4 5
Carta de Tomás da Silva Teles para Marco António de Azevedo Coutinho, 9 de setembro de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, t.1, p.92-93. CLUNY, Isabel. Os conceitos de soberania, limite e fronteira. In: D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.99-102. CARDIM, Pedro. La jurisdicción real y su afirmación en la Corona portuguesa y sus territórios ultramarinos (siglo XVIXVIII): reflexiones sobre la historiografia. In: PÉREZ, Francisco José Aranda e RODRIGUES, José Damião (eds.). De Re Publica Hispaniae: una vindicación de la cultura política en los reinos ibéricos en la primera modernidad. Madri: Sílex, 2008, p.362. CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.100. PEDREIRA, Jorge M. Brasil, fronteira de Portugal. Negócio, emigração e mobilidade social (séculos XVII e XVIII). In: CUNHA, Mafalda Soares da (coord.) et alli. Do Brasil à metrópole: efeitos sociais (séculos XVII-XVIII). Évora: Universidade de Évora, 2001, p.51.
6
PEDREIRA, Jorge M. Brasil, fronteira de Portugal. Negócio, emigração e mobilidade social (séculos XVII e XVIII), p.49. O autor destaca que esta concepção, no século XVIII, do Brasil como fronteira de expansão do império português encontra similar nas teorias de Turner da fronteira em permanente avanço nos EUA no século XIX.
7
ALEGRIA, Maria Fernanda e GARCIA, João Carlos. Aspectos da evolução da Cartografia portuguesa (séculos XV-XIX), p.71.
8
ANTT. MNE. Livro 793, f.286-287. Paris, 18 de junho de 1724.
9
ANTT. MNE. Livro 795, p.7 (grifo meu).
10 BNP. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.435-435v, Utrecht, 21 de junho de 1714. 11 KUHN, Fábio. Uma fronteira do império: o sul da América portuguesa na primeira metade do século XVIII, Anais de História de Além-Mar, v. 8, p.108-113, 2007. 12 ANTT. MNE. Livro 786, f.403. Paris, 2 de setembro de 1712. 13 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.3, p.630. 410
estudos. São Paulo: Alameda, 2005, p.7-37. FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio. 35 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408. Oficio para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737 (grifos meus). 36 Isle de Fernand de Noronha nomée I. Dauphine em 1734 par un navegater[navigateur] François. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9523). 37 SEED, Patrícia. Cerimônias: os teatrais ritos franceses de tomada de posse política. In: Cerimônias de posse na conquista européia do Novo Mundo (1492-1640). São Paulo: Unesp, 1999, p.63-99. 38 A Carte Portugaise manuscrite de l’Isle de Fernao de Noronha, pertencente à coleção, catalogada como BNF. DCP. Ge DD 2987 (9525). 39 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, ofício para a Secretaria de Estado, 20 de julho de 1736. 40 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.359, ofício para a Secretaria de Estado, 17 de agosto de 1736. 41 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.346, ofício para a Secretaria de Estado, 24 de agosto de 1736. 42 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408, ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737. 43 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.70-71. 44 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.122. 45 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.346, ofício para a Secretaria de Estado, 24 de agosto de 1736. Este trecho de documento também pode ser visto apud: SILVA, Abílio Diniz. Introdução, p.114. 46 RIO-BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do). Questão de limites. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1845-1847, v.1, p.21 (grifo meu). 47 FUERTES, Amália Yrizar. Tiempo de bodas: Tratados matrimoniales entre las dinastías ibéricas (1727-1728). In: ALBUQUERQUE, Martim de; GUERREIRO, Inácio; PORTELA, Feliciano Novoa; CASTELLANOS, Elena Postigo (orgs.). Encontros e desencontros ibéricos: Tratados hispano-portugueses desde a Idade Média. Lisboa: Chaves Ferreira Publicações, 2006, p.171-185. 48 FUERTES, Amália Yrizar. Tiempo de bodas: Tratados matrimoniales entre las dinastías ibéricas (1727-1728), p.163-164. 49 AUC. CDLC. Doc.884, ofício de Marco António de Azevedo a dom Luís da Cunha, Lisboa a 30 de julho de 1746, f.1. (grifos no original). 50 AUC. CDLC. Doc.894. Lisboa, setembro de 1746; e Carta de 14 de agosto de 1746. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração: correspondência do conde de Assumar, para seu pai, o marquês de Alorna, p.70. 51 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, t.I, p.23-26. 52 A intensidade desse intercâmbio pode ser percebida pelo significativo e extenso conjunto de cartas coligidas por Jaime de Gusmão, que constituem a parte IV, intitulada Negociações, de sua obra. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, t.I e t.2.
14 O rompimento ocorrera devido a uma questão de protocolo, pois o abade de Livry, embaixador francês em Portugal, obstinou-se a só apresentar oficialmente sua embaixada depois de receber a visita em sua casa do secretário de Estado Marco António de Azevedo, o que foi considerado uma afronta por parte do rei de Portugal. 15 AUC. CDLC. Doc.387, Ofício para a Secretaria de Estado, 6 de novembro de 1736. 16 ANTT. MNE. Livro 16, f.20. 26 de outubro de 1737. 17 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1713, f.52. 12 de março de 1713. 18 ANTT. MNE. Caixa 560. ME.III-A- Fr.C1., no.124. Documentos diplomáticos de França, 1737. 19 ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356. Lista dos papéis que se acham na secretaria do Ministério da Corte de Paris...., 1756. 20 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional, p.44. 21 AUC. CDLC. Doc. 387. Oficio para a Secretaria de Estado, 6 de novembro de 1736. 22 Cf. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.3, p.627. 23 “Grande Instrução” redigida por Alexandre de Gusmão e dirigida a dom Luís da Cunha e Marco António de Azevedo Coutinho na qual se propõe uma mudança nas relações diplomáticas de Portugal... Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte 3, t.1, 1950-1963, p.420-454. 24 Trata-se dos “3 volumes in-folio com o título Papéis que el rei me mandou sobre a Colônia do Sacramento, 1ª., 2ª., e 3ª. partes”. ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356, ano 1756. 25 Na Grande Instrução, “o diplomata português [Alexandre de Gusmão] lembrava que o fim principal da negociação era não desistir de Sacramento, mas conseguir o ‘território adjacente’ à Colônia”. FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001, p.45. 26 ANTT. MNE. Livro 793, f.290-291. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 1724. 27 ANTT. MNE. Caixa 559. M.E. III-A-Fr-C.2, no.5. Missão portuguesa em França — despachos da França desde o ano de 1736 até ao ano de 1756. Cópia da carta que o secretário de Estado António Guedes Pereira escreveu a Marco Antônio de Azevedo em 26 de novembro de 1736. A carta do vice-rei pode ser vista em CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte 3, t.1, 1951, p.470-473. 28 ANTT. MNE. Livro 16, f.23v Carta do secretário de Estado António Guedes Pereira para Marco Antônio de Azevedo Coutinho, Lisboa, 22 de fevereiro de 1738. 29 AUC. CDLC. Doc. 408. Ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737 (grifo meu). 30 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737. 31 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737. 32 TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1983, p.27. 33 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737 (grifos meus).
53 AUC. CDLC. Doc.894. Carta de Tomás da Silva Teles para dom Luís de 3 de setembro de 1746, p.1-1v.
34 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A interiorização da metrópole. In: A interiorização da metrópole e outros
54 AUC. CDLC. Doc.894, p.1-1v. (grifo meu). 411
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Notas
55 Não confundir o marquês D’Argenson com o conde. O então conde D’Argenson era Marc-Pierre de Voyer de Paulmy, que foi chanceler do duque de Orléans (1723-1740), depois ministro de Estado (1742) e secretário do Estado e da Guerra (1742-1757). 56 René-Louis de Voyer d’Argenson, autor dos famosos diários sobre a corte de Luís XV. D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson.
75 Carta de 25 de março de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.85.
95 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.3, p.602.
76 Carta de 17 de agosto de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.98.
97 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional, p.47.
77 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747. 78 Esse era o tempo médio que a posta portuguesa gastava à época para percorrer os cerca de 1.300 quilômetros que separavam Paris de Madri. Cf. AUC. CDLC. Doc. 1017, Escorial, 30 de outubro de 1747. Com bom tempo e bom caminho (especialmente entre maio e outubro) o percurso podia ser percorrido por um correio rápido entre cinco e sete dias. No inverno podia alongar-se por até 15 dias. Localizado em Arquivo da Universidade de Coimbra, Coimbra. OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI: correspondência reservada entre D. Jose de Carvajal e o Duque de Huescar, 1746-1749. Madri: Escuela de Historia Moderna, 1975, p.80.
57 Denis-François Bouthilier de Chavigny, bispo e filho de Léon de Bouthilier, conde de Chavigny, que foi ministro dos Assuntos Estrangeiros. Ambos, pai e filho, eram ligados à casa de Orléans. 58 Jean-Frédéric Phélypeaux, conde de Maurepas, era secretário da Marinha e utilizou os homens de ciência, especialmente os reunidos na Académie des Sciences de Paris, com o intuito de desenvolver os conhecimentos náuticos em prol da Marinha francesa. 59 A disputa entre as duas casas se acirrou durante a Guerra da Sucessão Espanhola, quando Louis d’Orléans disputou com Felipe V, Bourbon, o trono da Espanha, sendo preterido pelo segundo, conforme ficou acordado em Utrecht em 1713.
79 Paris. AAE. Correspondência Política II. Livro 501. Viagem da Infanta dona Luiza de Madri a Versailles. Espanha.
60 AUC. CDLC. Doc.884, Ofício de Marco António de Azevedo a dom Luís da Cunha, Lisboa, a 30 de julho de 1746, f.3.).
80 Segundo o conde de Huescar, os correios de dom Luís caminhavam como tartarugas. Carta de Versailles, 20 de fevereiro de 1747. Apud: OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI, p.150.
61 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson, tomo 1, p.248.
81 Carta de seu sobrinho, dom Luís da Cunha Manoel, de 23 de fevereiro de 1750. Apud: CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal. Lisboa: Livros Horizontes, 1999, p.234. ANTT. MNE. Caixa 2, maço 2. Doc.117, Paris, 28 de novembro de 1746.
62 AUC. CDLC. Oficio de dom Luís para a Secretaria de Estado, doc.794, 11 de abril de 1746. 63 Carta de 23 de setembro de 1746. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.21-22.
82 AUC. CDLC. Doc. 894, Lisboa, setembro de 1746.
64 Carta de setembro de 1746. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.19-20.
83 CARTA do conde de Assumar de 24 de março de 1746. Apud: MONTEIRO. Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.58.
65 Carta de 28 de novembro de 1728. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.31-32.
84 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747. 85 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747.
66 Carta de 28 de novembro de 1728. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1953, parte IV, tomo I, p.32.
86 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, página de rosto.
67 ANTT. MNE. Caixa 564. Doc.356, ano 1756.
87 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.100.
68 AUC. CDLC. Doc.836. Ofício de dom Luís da Cunha para dom Luís da Cunha Manoel, 23 de maio de 1746. 69 Carta de 6 de fevereiro de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.75.
88 AUC. CDLC. Doc.1017. Carta de Tomás da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal em Madri, para dom Luís, Escorial, 30 de outubro de 1747.
70 Carta de 25 de março de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.85.
89 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1. Madri, 21 de agosto de 1747. 90 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, 10 vols.
71 BNF. GD 2836. Le Paraguai, 1733, D’Anville. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangéres. [1733] Toulouse: NoelEtienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811, v.8, p.254-266.
91 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.221. 92 NL. Vault box. Ayer MS 1918. D’ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning the papal line of demarcation between Spain and Portugal in South America, giving a detailed account of the dispute between the 2 countries... [manuscrito] 1734-1746.
72 Carta de 17 de agosto de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.98.
93 ANTT. MNE. Livro 793. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 1724, f.284-292.
73 Carta de 9 de julho de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.93.
94 ANTT. MNE. Livro 789. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Madri, 1719 -1720. Breve Informação para o Sr. Antonio Guedes Pereira, f.645. ANTT. MNE. Livro 793. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 1724, f.291.
74 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.81. 412
108 Segundo Mario Clemente Ferreira, grande parte desse desconhecimento se devia à falta de transitividade do conhecimento entre os jesuítas e as autoridades espanholas, nos territórios dominados pelos primeiros, que configuravam muito do território fronteiriço entre as duas Coroas, devido aos conflitos de interesse entre as duas partes. FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento da área de fronteira entre Mato Grosso e a América espanhola no século XVIII: a procura de informações geográficas e cartográficas por portugueses e castelhanos, p.281.
96 ANTT. MNE. Caixa 612, 11 de setembro de 1748.
98 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. 99 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie de Lambert, 1777, p.60.
109 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, D’Anville, f.14.
100 KING, Geoff. Mapping reality: an exploration of cultural cartographies, p.1-2. 101 AGUILLAR, José. Historia de la cartografia: la tierra de papel, v.1, p.227.
110 ALMEIDA, André Ferrand de. Os jesuítas matemáticos e os mapas da América portuguesa (1720-1748). Oceanos, Lisboa, no. 40, p. 79-92, 1999.
102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie, p.60-61.
111 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, D’Anville, f.14
103 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. 104 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749.
112 RBC. n.537 – Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, D’Anville, 14 ½ p.
105 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. 106 ANTT. MNE. Caixa 826. Carta de Marco António de Azevedo a Tomás da Silva Teles, Lisboa, 14 de agosto de 1748.
113 FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento da área de fronteira entre Mato Grosso e a América espanhola no século XVIII: a procura de informações geográficas e cartográficas por portugueses e castelhanos, p.276-281.
107 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, D’Anville, f.14.
A invenção do Brasil 10 CUNHA, D. Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio de Azevedo Coutinho, p.370.
1 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, 8 de fevereiro de 1749. 2 Carta de 2 de abril de 1749. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte IV, tomo I, p.279. 3 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 8 de fevereiro de 1749. 4 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 16 de maio de 1749. 5 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.112-113, Lisboa, 14 de dezembro de 1748. 6 Descripção do continente da América Meridional que nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz. 7 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Vila Nova de Cerveira para Marco António de Azevedo, f.16-16v, Madri, 17 de agosto de 1747. 8 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.III, nota 5, p.787 e vol.IV, nota 5, p.908. No entanto, Cortesão comete equívocos ao datar as cartas impressas de D’Anville, o que se explica pela manutenção da mesma data em todas as versões. De fato, ao contrário do que acredita o autor, a versão que apresenta as nascentes do Paraguai a 5 ou 6 graus de latitude é mais tardia que a que apresenta esta nascente próximo a 12º, ainda que esta última seja mais próxima do real. 9 D’Anville. Carte de l’Amérique méridionale de d’Anville, manuscrito de 1748. BNF. DCP. Ge C 11339 (rés) e BNF. DCP. CeC 6149. A versão manuscrita apresenta esboços a lápis de futuras correções realizadas por D’Anville nas versões subsequentes.
11
CUNHA, D. Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio de Azevedo Coutinho, p.370 (grifo meu).
12 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, D. Luís da. Instruções políticas. (Edição de Abílio Diniz Silva), p.137-145. 13 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.114v, Lisboa, 28 de dezembro de 1748. 14 BNRJ. ARC.030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional. No anno de 1749, verso. 15 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangéres. [1733] Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811, v.8, p.254-266. 16 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations géographiques sur la carte du Paraguai, v.8, p.265. 17 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Carta de dom Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.99, 30 de novembro de 1714, f.104. 18 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Carta de dom Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.99, 30 de novembro de 1714, f.99 (grifo do autor). 19 ANTT. MNE. Livro 826, Carta de Vila Nova de Cerveira para Marco António de Azevedo, f.16-16v, Madri, 17 de agosto de 1747. 413
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
Fontes
Antônio G., FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia das Minas Gerais: da Capitania à Província. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p.15.
20 Carta de 2 de abril de 1749. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte IV, tomo I, p.279. 21 NL. Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, doc.549,f.4, 21 de março de 1734.
42 Intenso debate vem sendo realizado sobre a intencionalidade ou não desses desvios. Jaime Cortesão é partidário da intencionalidade dos erros, assim como Mário Clemente Faria. Mais recentemente, João Carlos Garcia defendeu que não havia intencionalidade, mas os desvios eram decorrências de uma tradição cartográfica jesuítica que servira de base para a carta (Seminário Luzes nos Trópicos. São Paulo, USP, 2004). Novas informações sobre a intencionalidade dos erros em: FERREIRA, Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: a cartografia ao serviço da diplomacia, Varia Historia, v.23, n.37, p.51-69, 2007.
22 Carta de 2 de abril de 1751. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.156-157. 23 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.III, p.754. 24 BNF. DCP. GeDD 2987 (9553). Carte particuliere de l’entree du Para, 1729, Ignacio dos Reys, 1729, ms, 36 x 46 cm. 25 BNF. DCP. GeDD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone, de l’Urubu et du Uatuma, 1729, Ignacio dos Reys, 1729, ms, 20,5 x 31,5 cm. 26 BNF. DCP. GeDD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone et du Madeira, confluent de l’Amazone et du Rio Abacaxis, Ignacio dos Reys, 1729, ms, 19 x 23 cm.
[ Fontes textuais manuscritas ]
Documentos de autoria de dom Luís da Cunha: • I-13,04,005 — Memorial da Corte de Versalhes • I-16,03,036 — Ofícios diplomáticos • I-14, 02,021 e I-14, 02,022 e 13,1,37 — Memórias da Paz de Utrecht • 13,2,7 — Tratado da Paz e Amizade... • 01,1,032 e 09,1,027 — Máximas discretas sobre a reforma necessária da agricultura, comércio, milícia, marinha, etc. • 01,2,015 — Carta de instrução ao rei dom José I • 09,1,009-010 — Memórias políticas, 1699-1706 • 09,1,011-013 — Ideias da guerra de 1702 • I-14,04,001 — Despachos de Londres
43 COSTA, Antônio Gilberto (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas. Lisboa: Kappa/ Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004. p.31.
27 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre de Monsieur d’Anville, p.554.
44 COSTA, Antônio Gilberto (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas, p.30-31.
28 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1984, v.III, p.754. 29 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, D’Anville, 31 de agosto de 1779, f.10.
31 GUEDES, Max Justo. Os limites territoriais do Brasil a norte e nordeste. In: ALBUQUERQUE, Luís de (org). Portugal no mundo. Lisboa: Publicações Alfa, 1989, v.5, p.211. 32 BNL. Reservados. Cód. 11209. Cartas de dom Luís para o cardeal da Cunha — Inquisidor geral, Utrecht, f.312, 13 de abril de 1713. 34 BNRJ. Cartografia. ARC.030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Medirional. No anno de 1749.
47 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique Méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada.
35 ALMEIDA, André Ferrand. A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1991.
48 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional, p.87.
36 Descripção do continente da América Meridional que nos pertence... Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas, p.161. Esse mapa pertence ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin.
49 Exame da Carta da América Meridional de D’Anville (1748) por Tosi Colombina. Apud: CORTESÃO, Jaime. Apud: Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.139-144. Como atesta o jovem conde de Assumar, foi D’Anville que, a pedido e a serviço de Portugal, sugeriu a contratação de Colombina ao rei. Carta de 2 de abril de 1751. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração, p.163.
37 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.112v, Lisboa, 14 de dezembro de 1748. 38 ANTT. MNE. Livro 826, f.112v-113. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 14 de dezembro de 1748.
50 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779 e RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779.
39 ANTT. MNE. Livro 826, f.114. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 28 de dezembro de 1748. 40 ANTT. MNE. Livro 826, Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.114-114v, Lisboa, 28 de dezembro de 1748. 41 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001. COSTA,
51 RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior (barão do). Mémoire sur la Question des limites entre les États-Unis du Brésil et la Guyane Britannique. S.l., se., 1897, p.2. 414
• 343-1-14 — Conde de Tarouca a dom Luís da Cunha e Diogo de Mendonça Corte Real, embaixadores do rei de Portugal em Utrecht, 1713-1714
• I-14,04,017 — Correspondência de Paris, 1725 • I-32,33A,027 — Carta de dom Luís da Cunha a Tomé Joaquim da Costa Corte Real relatando uma caçada (1759) • I-28,27,011, n. 001 — Ofício a Aires de Sá e Melo, sobre o Tratado de Paz existente entre Madri e Portugal (1764) • 30,1,004, n. 001 — Carta de Diogo Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha sobre o Congresso de Cambrai • 30,1,004, n. 005 — Carta de Diogo de Mendonça Corte Real sobre a Colônia do Sacramento • 30,1,004, n. 007 — Carta de dom Luís da Cunha sobre o tratado com a França (1738) • 30,1,005, n. 030 — Cartas a Diogo de Mendonça Corte Real, tratando da dissertação de Delisle • 30,1,005, n. 039 — Carta sem especificar o destinatário tratando da corte (1736) • 30,1,008, n. 020 — Carta de dom Luís da Cunha sobre a Colônia do Sacramento • 30,1,009, n. 027 e n. 028 — Carta de Marco Antonio de Azevedo Coutinho para dom Luís da Cunha sobre o tratado de neutralidade com a Espanha • 30,1,010, n. 007 — Lista de documentos de 1736
46 DYM, Jordana. “Mais calculado para enganar do que para informar”: os viajantes e o mapeamento da América Central (1821-1945). Varia Historia, Belo Horizonte, v.23, n.37, p.81-109, jan/jun. 2007.
33 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749.
p Conde de Tarouca:
Cartas de ou para dom Luís da Cunha:
45 Ver: Projeção nos meridianos do Mapa das Cortes. Apud: COSTA, Gilberto A. (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas, p.31. CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique Méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada. Revista Brasileira de História. [online], São Paulo, v.31, n.62, p.273-316, 2011.
30 BNF. DCP. GeDD 2987 (9558). Carte manuscrite de la Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique. 1745, Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. Ms; 75 x 62 cm.
• 343-1-2 e 343-1-3 — Memórias da Paz de Utrecht, 1715, v.1. • 343-1-4 — Ofícios de Londres dirigidos ao conde de Assumar, 1705-1711 • 343-1-5 e 343-1-6 — Memórias da Paz de Utrecht, 1715, v.2 • 343-1-7 e 343-1-8 — Memórias da Paz de Utrecht, 1715, v.3 • 343-1-9 — Ofícios de Madri e Paris dirigidos ao conde de Assumar, 1719-1732 • 343-1-10 — Ofícios de Bruxelas e Haia, 1717-1732 • 343-1-11; 343-1-12 e 343-1-13 — Instrução política de dom Luís da Cunha, composta em 1737
1 | BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (BNRJ)
p
Documentação Rio Branco: • Doc. 6. — Carta de José da Cunha Brochado a dom Luís da Cunha, 17/1/1713. Maço 638. Estante 340, prateleira 1, v.7
Série Espanhola / Arquivo Geral das Índias: • Doc. 27: 1721 — Informe del padre Samuel Fritz acerca del rio Maranon o Amazonas, Sevilha 77-3-18. Estante 340, prateleira 1, v.8 Série Espanhola / Arquivo Geral de Simancas: • Instruções dadas por el-rei a dom Luís da Cunha. Secretaria de Estado, Legajo 7.400, fl.28. Estante 340, prateleira 1, v.9 Série Brasileira / Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: • Doc. 7 — Memória que dom Luís da Cunha apresentou à rainha da Inglaterra. 1711. Estante 340, prateleira 1, v.12 • Doc. 24: Primeiro despacho para dom Luís da Cunha, remetido por expresso que partiu em 22 de outubro de 1740. Estante 340, prateleira 1, v.13 • Doc. 27: Parecer sobre a carta geográfica da América Meridional, publicada por D’Anville em 1748, principalmente sobre a parte percorrida pessoalmente pelo encarregado do exame, Francisco Tosi Columbina, que o assina. 1750. Coleção Martins. Estante 340, prateleira 1, v.14
Outros: • 11,2,033 — Documentos de José da Cunha Brochado sobre a diplomacia Cartas de ou sobre D’Anville • 30,01,005, n. 013 — Carta de [Philippe] Buache ao Sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico para a corte portuguesa – 28/08/1776 • 30,1,005, n. 014 — Carta de D’Anville ao Sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico em tempos feito a pedido de dom Luís da Cunha (1776)
3 | INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS — IEB/USP SÃO PAULO Coleção de Yan de Almeida Prado: • Doc. 19 — Cartas de Alexandre de Gusmão datadas de 1741 a 1750
2 | ARQUIVO HISTÓRICO DO ITAMARATY (AHI) RIO DE JANEIRO Série Documentos Encadernados: limites
• Doc. 3873. f.14b-16A — Carta de Dom Luís da Cunha a Gusmão datada de 6/12/1746
p
Dom Luís da Cunha:
• f.38b-40B — outra de 11/02/1748
• 343-1-1- Colônia do Sacramento — Tratado Provisional, 1680-1725
• f.45A-46b — Carta de Dom Luís da Cunha a Gusmão datada de 6/12/1746 415
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
Coleção Lamego: • Códice 136, doc. 27.12
• Mss 950 — Cartas oficiais escritas de Paris por monsenhor Salema a Luís da Cunha
4 | ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO (ANTT) LISBOA
p
• Mss 967 — CUNHA, dom Luís da. Memórias da Paz de Utrecht, 1715
Registro de correspondência de vários embaixadores (caderneta 170B da sala dos índices), v.21
• Mss 1944 — Cartas de dom Francisco Xavier de Mendonça (4º. conde da Ericeira) a dom Luís da Cunha
Ministério do Reino: • Decretamento de Serviços. Dom Luís da Cunha. Caixa 283, Maço 299, n. 51 • Decretamento de Serviços. Maço 58, n. 64. José da Silva Pais • Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, n. 19. Decretos, maço 6, n. 22
• Códice 283, Maço 299, n. 51 — Cartas oficiais escritas de Paris por monsenhor Salema a Luís da Cunha Manuel Manuscritos do Brasil: • n. 25, catálogo 532, cód. 2, cad. 3 Papéis do Brasil: • Regimento dado por El Rei Dom João, mas escrito por Alexandre de Gusmão, ao novo governador das Minas, Martinho de Mendonça Pina e Proença, com referências muito particulares ao sistema da capitação a inaugurar naquela capitania, 30 de abril de 1733
Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE): • Caixa 1, maço 1 — Minutas de cartas de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góes • Caixa 62, maço 2 • Caixas 507, 559, 561, 562, 789, 825, 826, 916, 926, 929
Chancelaria de dom João V:
Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado: • Livros 59, 78, 135, 137
• Livro 39, f.7 — Francisco de Távora • Livro 63, f.358 — Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda • Livro 65, f.123 e 123v — Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda
Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Correspondência de dom Luís da Cunha: • Livros 775 (mau estado), 776, 777, 778, 779, 780, 781, 782, 783, 784, 785, 786, 787, 788, 789, 790, 791, 792, 793, 794, 795, 796
Mercês de dom João V: • Alvará a Antonio Blem. Administração de capela. 31-05-1727. D. João V, Lv.18, f.367 Inquisição de Lisboa:
Legação dos Países Baixos: • Caixa 789. Cartas de 1728-1736 de dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo Coutinho
• Processo 7488 — Diogo Nunes Arquivo do conde de Linhares: • Memórias de dom Luís da Cunha datadas de Utrecht, em 1714. (incompletas) • Volume1 — Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, do Conselho de Sua Magestade e seu secretário de Estado. In: Memórias de dom Luís da Cunha datadas de Utrecht, em 1714 (incompletas), f.1-1v
Legação de Londres: • Livro 14. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa • Livro 16 Legação de Madri: • Caixa 612 • Caixa 612 — 555/11
Arquivo da Casa da Fronteira e Alorna: • n. 118 — Cartas Avulsas 5 | BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL (BNP)
Documentos diplomáticos de França: • Caixa 560 • Caixa 561 • Caixa 564, doc. 356, ano 1756 — Lista dos papéis que se [encontravam] na secretaria do Ministério da Corte... Secretaria de dom Luís da Cunha
Reservados:
Manuscritos da Livraria: • Mss 67 — Documentos de Cambrai • Mss 374 — Carta que escreveu ao Infante Dom Manuel, o embaixador Dom Luís da Cunha, mandando-lhe o projeto das condições da Quádrupla Aliança e discurso sobre elas que por mandado do sr. Infante fez o mesmo embaixador. • Mss 492 — Correspondência de Diogo de Mendonça a Marco António de Azevedo Coutinho • Mss 638 — Correspondência de Luís da Cunha Brochado para dom Luís da Cunha • Mss 729 — CASTRO, Manuel Baptista de. Chronica di Maximo Doutor e Principe dos Patriarcas Sao Jeronymo. Particular do Reyno de Portugal 416
p
Maços:
p
Códices:
• 16, n. 45 — Cartas de dom Luís da Cunha para Alexandre de Gusmão • 30, n. 31 • 62, n. 2 • 242 • 1.608 — Cartas de dom Luís da Cunha ao 2º. conde de Assumar • 1.759 • 2.634 • 2.968 • 3.016 — O grande Cunha em Haia • 3.662 • 10.484 • 10.721
• MS 5 — Cartas do secretário de Estado para o conde de Tarouca
• 11.209 • 11.253
• Mss 775 — Correspondência de dom Luís da Cunha (Londres, 1697-1699)
Arquivos do conde de Tarouca:
10 | BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA (BPE)
• AT. 268 • AT 2611 • AT 2612 — Correspondência do conde de Tarouca, 1724 • AT 2618 — Correspondência do conde de Tarouca, 1727 • AT 164 • AT 165 • AT 1801
• Cod. CXX/203, p.76-78 (157, 158, 161). Três cartas de Joseph da Silva Paes 11 | BIBLIOTHÈQUE NATIONALE DE FRANCE (BNF) PARIS Sítio Richelieu:
6 | ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (AUC)
p
Seção de Manuscritos:
p
Manuscrits Français (Fr):
Cartório de Dom Luís da Cunha p
Documentos: • 20, 22, 33, 60, 67, 96, 112, 119, 141, 153, 183, 223, 342, 346, 359, 387, 396, 408, 409, 413, 427, 641, 745, 784, 788, 790, 794, 814, 828, 833, 834, 836, 866, 871, 884, 894, 917, 994, 1017, 1059, 1091, 1096, 1105, 1108, 1127, 1131, 1061, 1064
7 | BIBLIOTECA GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (BGUC) • Cód. 148, Miscelânia, p. 1-16. Notícias geográficas de varias terras, rios, montanhas, etc. compreendidos nos limites do governo de S. Paulo e Minas e também nos do Rio de Janeiro 8 | BIBLIOTECA DA AJUDA (BA) • 51-II-27. Cartas de dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal em Paris, para Alexandre de Gusmão • 54-V-32(4). Doc. 11. Cartas de dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal em Paris, para Alexandre de Gusmão • Ms. 16, n. 45. Cartas de dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal em Paris, para Alexandre de Gusmão • 51-IX-33, f.475-482. Parecer tocante à vedação dos caminhos das vilas de S. Paulo para o rio São Francisco • 51-VI-41. Diário do conde da Ericeira dom Francisco Xavier de Meneses 9 | BIBLIOTECA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA (BACL) Série Azul: • MS 101 — Cartas para o marquês de Abrantes • MS 175A — Cartas de Marco António de Azevedo para dom Luís da Cunha • MS 178 — Cartas do conde de Tarouca para dom Luís da Cunha • MS 591 • MS 592 • MS 602 • MS 608 — Cartas de dom Luís da Cunha — de Haia, 1736 • MS.608A — Instruções • MS 610A • MS 617A — Cartas de Paris • MS 618A
• Portugais 25, 107, f.321-344v — Noticia e justificação do titulo e boa fé com que se obrou a nova Colônia do Sacramento nas terras da capitania de S. Vicente, no sitio chamado S. Gabriel nas margens do Rio da Prata, e Tratado Provisional sobre o novo incidente causado pelo governador de Buenos Aires, ajustado nesta corte de Lisboa pelo duque de Iovenaso, Príncipe de Chelemar, embaixador extraordinário de El Rei Católico, etc. Lisboa, 1681 • Portugais 29, 87, f.161 — Frota do Rio de Janeiro. Mapa do ouro e mais cargas, 1723 • Portugais 30, 1, f.6-16 — Tratado de Paz oferecido pelos embaixadores plenipotenciários de França, ao Barão de Lelienroot, embaixador plenipotenciário de Suécia, em Haya, 20 de julho de 1697 • Portugais 31, f.8 e 9 — Carta do Conde da Ericeira, Dom Francisco Xavier de Meneses, ao duque de Cadaval, 12 de fevereiro de 1711 • Portugais 31, f.18-19 — Carta do Conde Assumar para o mesmo, 18 de março de 1711 • Portugais 18 — Memórias Particulares ou Anedotas da corte de França, apontadas por José da Cunha Brochado, no tempo que serviu como enviado naquela corte, 1696-1702 (cópia manuscrita da Biblioteca da Academia Real das Ciências de Lisboa) • Portugais 18, f.60-101 — 67 cartas escritas por José da Cunha Brochado, durante sua embaixada na França, 1698-1702 • Portugais 38 — Cartas e negociações de José da Cunha Brochado, na Inglaterra, em 1710-1712 (66 cartas) • Fr. 22.147 (3) • Fr. 22.233 — Correspondence du abbé Bignon • Manuscrits Français — Nouvelle acquisition française (NAF): NAF 6502-6503 — D’Anville — Papiers géographiques — Notes et extraits divers relatifs à la géographie Ancienne et Moderne de l’Armenie, de la Grèce, de la Turquie, d’Europe et d’Asie (Syrie, Palestine et Arabie), de l’Egypte et de l’Ethiope (Voyages de Granger et de le Noir du Roule; extraits de mémoires de M. De Maillet): f.101 — Comentários sobre a Carta do Paraguai f.652 — Mesures Itinéraires des Romains, des Chinois et des Arméniens NAF 989 — Carte des voyages d’Otter en Asie NAF 1030 — Papiers de Guilhem de Clermont-Lodéve, Baron de Sainte-Croix (1746-1809): f.284 — Lettre sur M. Anville n
n
Série Vermelha: • MS 3 — Cartas de dom Luís da Cunha para Diogo de Mendonça
n
417
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
NAF 1208 — (Collection Marquis Léon de Laborde. v. 45). Répertoire Alphabétique d’Artistes et Artisans, tirés de l’État Civil Parisien (XVIe-XVIIIe siècle): HAYE, Guillaume Nicolas de La Haye, graveur, 1758, graveur, géographe du roi, n.18.095 NAF 2473 — Viagem de Paris a Bordeaux — journal des voyages du Sr. Otter de Constantinople à Ispahan, d’Ispahan à Bassora, de Bassora à Constantinople et son retour a France (1736-1743). On a joint en tête du volume une “Carte pour servir au voyage de M. Otter, dressé par d’Anville, en mars 1748, et gravé à la fin d’avril de 1748”
Mémoires et documents/Fonds divers/Portugal: • 1 — doc. 1139 a 1802 — Carta e conselhos de dom Luís da Cunha • 2 — doc. 1143 a 1166 — Sobre a Colônia do Sacramento • 4 — doc. 1640 a 1660 — Memórias das negociações entre Portugal e França • 9 — Correspondência com embaixadores franceses
n
p
Memoires et documents/ Fonds divers/ Espanha: • 263 — Memórias sobre a Colônia do Sacramento • 340 — Tratado de Fontainebleau France et états divers: • 445 (1703/1735) — Memórias sobre negociações • 448 — Guerra de Portugal
Département des Cartes et Plans (DCP) • Ge F pièce 13821 Rés (1) et (2) — ROBERT DE VAUGONDY, Didier (1723-1786). 4 lettres échangées entre Didier Robert de Vaugondy et Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville à propos d’une erreur de calcul commise par ce dernier dans ses "Considérations géographiques" (p.48-49). Contenu dans: 2 lots de lettres adressées ou reçues par Gilles et/ou Didier Robert de Vaugondy, 12 février 1754 • Ge FF 4837 — Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Lettre de M. D’Anville,... au R. P. Castel,... au sujet des pays de Kamtchatka et de Jeço et réponse du R.-P. Castel. (S. l.), 1737
Correspondência política: • v.120 — Portugal — (1510-1759) — microfilme 11056 Fonds de France: • 1990 (1700-1739) — Colonies de l’Amérique • 1996 (1730-1737) — Colônia do Sacramento • 2010 (1713-1773) — Tentativas de estabelecimentos franceses na América desde o século XVI • 2115 — Memória sobre as diferenças entre Portugal e a Espanha na América do Sul Fonds divers: • 19 (1699-1819) — Guiana Francesa — Memórias sobre limites
Sítio Tolbiac: • Banque DOSS Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Lette a M. Henin. In: Recueil. Dossiers biographiques Boutillier du Retail.
13 | ARCHIVES DE L’ACADÉMIE ROYALE DES SCIENCES (AASP) PARIS
12 | ARCHIVES DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES (AAE) PARIS
Process verbaux, années: • 1722, 1723, 1724, 1725, 1726, 1727, 1728, 1729, 1730, 1731, 1732, 1733, 1734, 1735, 1736, 1737, 1738, 1739, 1740, 1741, 1742, 1743, 1744, 1745, 1746, 1748, 1749, 1750, 1751, 1752, 1753, 1754, 1771, 1772, 1773, 1774, 1775
Portugal: • 5 • 8 • 11 • 83
14 | ARCHIVES DE L’ACADÉMIE DES INSCRIPTIONS ET BELLES LETTRES (AAIBL) • Pasta de D’Anville: • Mémoire de l’Amérique Septentriole, de D’Anville • Mémoire sur les nons des peuples et des villes..., de D’Anville • Mémoire sur ses Cartes de l’ancienne Gaule, de Mr. D’Anville • Syracuses, par Mr. D’Anville
Correspondência Política II. Espagne: p
Livros: • 334 — Carta para Antônio Guedes Pereira • 335 — Carta a dom Luís da Cunha • 338 — Carta de dom Luís da Cunha e Guedes Pereira • 420 — Lista dos navios que se armam em França para a América • 431 — Carta para Antônio Guedes sobre projeto de paz entre Espanha e Portugal • 437 — Memória sobre a Colônia do Sacramento • 441 — Memória para o fim da hostilidade • 446 — Memória para o fim da hostilidade • 452 — Correspondência com dom Luís da Cunha • 456 — Tratado de Paz entre Portugal e Espanha • 470 — Carta de dom Luís da Cunha • 472 — Carta de dom Luís da Cunha • 475 — Projeto de neutralidade entre Portugal e Espanha, por dom Luís da Cunha • 488 — Carta de dom Luís da Cunha • 501 — Viagem da Infanta dona Luiza de Madri a Versalhes • 504, f.214-215 — Carta de Puyzieulx a Vaulgrenant
15 | BIBLIOTÈQUE DE L’ACADÉMIE DES INSCRIPTIONS ET BELLES-LETTRES (BAIBL) • Registre — Journal des délibérations et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, années: • 1721, 1722, 1723, 1724, 1725, 1726, 1727, 1728, 1729, 1730, 1731, 1732, 1733, 1734, 1735, 1736, 1737, 1738, 1739, 1740, 1741, 1742, 1743, 1744, 1745, 1746, 1748, 1749, 1750, 1751, 1752, 1753, 1754, 1755, 1756 • ANVILLE, Jean Baptiste Bourguignon d’. Prospectus d’une édition complète des ouvrages imprimés et manuscrits de d’Anville, et des 62 cartes qui y sont annexées, proposé par suscription, sans aucune avance des fonds. 8pp in oct. Voy rec. in 4o HR 1 (vo.10) • Correspondance de P. M. Benin avec divers et avec d’Anville 418
• n. 558 — Chapitre II. De l’entré du Pará... (manuscrito do próprio punho de D’Anville), 8 ½ p. • n. 562 — Estrait du voyage de M. Caperon, capitaine d’infanterie de la garnison de Caïenne, aux sources d’Oyapock et du Camopi en 1730 et 1731. Communiqué par M. del la Condamine, 1 ½ p.
16 | NEWBERRY LIBRARY CHICAGO — USA (NL) • Vault box. Ayer MS 1918 — D’ANVILLE, Jean Baptiste Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning the papal line of demarcation between Spain and Portugal in South America, giving a detailed account of the dispute between the 2 countries... [manuscript] 1734-1746 • Doc. 552 — Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablie pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, 10 fólios • Doc. 549 — Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, 4 fólios • Doc. 549 — Addition à la lettre de Mr. D’Anville à Mr. De la Roque, 2 fólios • Doc. 552 — Ligne de Demarcation, 3 fólios
18 | ARQUIVO GERAL DE SIMANCAS (AGS) Estado, Portugal: • Legajo 7082 • Legajo 7084 • Legajo 7091 • Legajo 7182 Estado, Colônia de Sacramento: • Legajo 7439 19 | ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU)
17 | ROBERT BOSCH COLLECTION STUTTGART — ALEMANHA (RBC)
Códices:
• n. 229 — ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Collection of eight manuscripts concerning Brazil: • n. 537 — Discussion géographique de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique méridionale, 14 ½ p. • n. 539 (1) — Mémoire sur un accroissement considérable de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique méridionale, agosto de 1779, 11p. • n. 539 (2) — Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, 31 de agosto de 1779, 15 ½ p. • n. 555 (1) — Noticias das minas da America chamadas Geraes pertencentes à el rei de Portugal, relatada pelos três irmãos chamados Nunes os quais rodarão muytos annos por estas partes, 21 p. • n. 555 (2) — Brésil. Extrait d’une lettre écrite de Lisbonne le 11 Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me l’a communiqué. Relation du sr. Antonio Blem a son retour des mines de diamants, 6 ½ p. • n. 555 (3) — Brésil. Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Convay, 6 ½ p.
• Cód. 248, f.250 — Provisão régia de 18 de novembro de 1729 Manuscritos Avulsos de Goiás (MAG): • Caixa 1, doc. 12 — Roteiro da derrota do rio Tocantins até Belém do Pará 20 | SOCIEDADE GEOGRÁFICA DE LISBOA (SGL) • Manuscritos. Res 3-C-16 e Res 3-C-17 — Description Geographique de la partie de l’Afrique, qui est au sud de la ligne Equinoxiale, représentée dans une Carte que j’ai dressée par l’ordre et conforment au dessein de Son Excellence Monseigneur Dom Louis da Cunha. 21 | ARCHIVES DÉPARTEMENTALES DE L’ORNE • Fonds de la Société historique et archéologique de l’Orne. Cote 252J224
[ Fontes cartográficas manuscritas e impressas ] 1 | BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (BNRJ)
2 | BIBLIOTECA DE GUITA E JOSÉ MINDLIN, SÃO PAULO • Descripção do continente da América Meridional que nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz. 5 de dezembro de 1746. 93 x 80 cm
Divisão de Cartografia • AT. 002,04,014. Atlas geral, d’Anville, 17... • AT. 015,02,001/003. Atlas, ou Recueil de cartes géographiques, d’Anville, Collection de cartes géographiques en trois volumes que son Excellence l’Ambassadeur a fait choisir pour son usage par le Sieur d’Anville, geographe du Roy: T.1. Le Monde; TII: La France; T.III: l’Allemagne, l’Italie, l’Espagne, les Iles Britanniques (avec un index manuscrit) • BA. Cód. 52-XII-25. Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, fundos baixos, alturas e derrotas que há na Costa do Brasil, desde o cabo de Santo Agostinho até o estreito de Fernão de Magalhães, ca.1585-1590 • ARC. 030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Medirional. No anno de 1749
3 | BIBLIOTECA NACIONAL FRANÇOIS MITERRAND, PARIS Sítio Tolbiac: • J- 1697. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Atlas de géographie ancienne pour servir à l’intelligence de l’Histoire des empereurs, par Crevier, gravé d’après les cartes originales de d’Anville (16971782). Paris: Ledoux et Teuré, 1819 • J- 16552 (2). Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. L’Empire de Russie, son origine et ses accroissemens, 1772 419
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
• Ge DD 2033 (RES). Recueil factice des cartes de d’Anville suit une première page intitulée “Liste générale des cartes de d’Anville”. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Paris, 17.. • Ge DD 2039. Atlas de géographie ancienne pour servir à l’intelligence des oeuvres de Rollin, gravé d’après les cartes originales de d’Anville. Paris: Ledoux et Tenré, 1818 • Ge DD 2987 (100 B). Hémisphère occidental ou du nouveau monde. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1761 • Ge DD 2987 (365). La France ancienne, dedié au roi. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1719 • Ge DD 2987 (1186). Carte d’une partie du cours de la Loire et de quelques positions de lieux, dans l’espace d’environ quatre degrés de longitude: pour servir à la mesure de la terre sur les parallèles. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1734 • Ge DD 2987 (1626). Carte huilée des côtes d’Espagne et de Portugal depuis Lisbonne jusqu’à Gibraltar, Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17.. • Ge DD 2987 (1700 B). Carte des opérations militaires dans la région située entre Alcantara et Almeida, autour de Ciudad Rodrigo. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, entre 1700 e 1710 • Ge DD 2987 (4997). Parallèle du contour de l’Italie selon les cartes de MM. Sanson, de l’Isle et d’Anville. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17.. • Ge DD 2987 (7772). Carte d’Afrique. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1727 • Ge DD 2987 (8166 B). Carte de la Côte de Guinée et du pays, autant qu’il est connu, depuis la Rivière de Serre-lione jusqu’à celle des Camarones. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1729 • Ge DD 2987 (8252). L’Ethiopie occidentale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1732 • Ge DD 2987 (8255) — Royaumes de Loando, Congo, Angola, Benguela & c. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1730 • Ge DD 2987 (8302). Carte de l’Ethiopie orientale située sur la mer des Indes entre le cap Guardafouin & le cap de Bonne-Espérance, dressée sur les meilleurs mémoires principalement sur ceux des portugais par le Sr d’Anville géographe ordre du roi, Delahaye sculpsit, 1727 • Ge DD 2987 (8501). Americae Nova Tabula, Willem Janszoon Blaeu, c. 1.640 • Ge DD 2987 (9003). Carte de l’isle de Saint Domingue avec partie des isles voisines. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1730 • Ge DD 2987 (9168B). Carte de l’Amérique Méridionale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1760 • Ge DD 2987 (9401). Plan d’une baye de la côte du Chili..., Mr. Anson • Ge DD 2987 (9469B). Carte manuscrite des côtes du Brésil • Ge DD 2987 (9471B). Suite huilée Portugaise du Lagoa de Merin, José da Silva Paes • Ge DD 2987 (9474). Provincie de S. Vicenzo e del Rio de Janeiro, Andreas Antonius Horati, 1700 • Ge DD 2987 (9487). Plan de la ville de St Sebastien à la coste du Brésil ou autrement la baye de Rio de Janeiro. Séc. XVIII, Manuscrite en coul; 50 x 34
Sítio Richelieu: p
Département des Cartes et Plans (DCP): • GD 2836. Le Paraguay, 1733. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge A 1191 (RES). Nouveau plan routier de la Ville et Faubourgs de Paris, avec ses Principaux Edifices et Nouvelles barrières. M. Pichon, Ingénieur Géographe, 1789 • Ge C 7902. L’Amérique septentrionale dressée sur les observations... de l’Académie Royale des Sciences. Delisle, G., Paris: l’auteur, 1700 • Ge C 9798. Carte de la côte septentrionale de l’Île de Marajó depuis Yaraoubi jusqu’à Anajaheba. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge C 11302. Canevas circulaire pré-imprimé, orienté vers le nord, destiné à cartographier une trentaine de types de bâtiments, lignes ou zones géographiques prévues dans la légende, à partir de la vue que l’on a d’une paroisse du haut de son clocher. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1720-1780 • Ge C 11339 (RES). Carte de l’Amérique Méridionale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge D 10605. Aragon et pays voisins entre Campsan, Monzon, Deca et Pampelune. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, c. 1719 • Ge D 10658. Fragments d’une Carte de l’Amérique du Sud montrant partie de la nouvelle. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge D 10659. Carte de L’Amérique Méridionale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, [s.d., 1742?], manuscrita • Ge D 10691. Esquisse au crayon de la Region de Santos au Brésil. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, c. 1740 • Ge D 10692. Manuscript sur l’a Carte de l’Amérique méridionale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge D 10739 (B). Carte de la province romaine dans la Gaule pour la continuation de l’Histoire romaine de M. Rollin. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, [Paris]: [s.n.], maio de 1743 • Ge D 10743. Carte de l’Italie..., où l’objet principal a été de tracer les voyes romaines, pour l’intelligence de l’Histoire romaine de Mr Rollin. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, gravé par P. Bourgoin, julho de 1739 • Ge D 10868. Carte particulière des royaumes d’Angola, de Matamba et des Benguela. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, setembro de 1731 • GE D 10890. Carte réduite de la Mer du Sud selon la nouvelle hypothèse de la longitude. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1736 • Ge D 11795 (RES). Carte de l’Amérique Méridionale, Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1737, manuscrita • Ge D 12426. Le monde connu des anciens pour l’intelligence de l’histoire ancienne de M. Rollin. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, [Paris]: [Vve Estienne], janeiro de 1740 • Ge D 14032. Carte de l’isle de Saint-Domingue avec partie des isles voisines, dressée sur diverses pièces et instructions particulièrement sur la dernière carte de Mr Frézier et sur les mémoires de M. Buttet. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Paris: l’Auteur, outubro de 1730 • Ge DD 866. A complete Body of ancient geography (Atlas). Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Londres: for R. Sayer, s/d. 420
• Ge DD 2987 (9451). O grande Rio da Prata na América Austral e Portuguesa • Ge DD 2987 (9450). Carte manuscrite de l’embouchure de Rio da Prata, c. 1.740 • Ge DD 2987 (9474). L’Isle Henri, André Thévet, 1586 • Ge DD 2987 (9523). Carte de la partie de l’Ocean vers l’Équateur, Philippe Buache • Ge DD 2987 (9525). Carte Portugaise manuscrite de l’Îsle de Fernão de Noronha • Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du Maragnon ou de la grande rivière des Amazones. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge DD 2987 (9549). Detalhe da Carte huilée des embouchures de la rivière des Amazones et cotes voisines. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge DD 2987 (9550). Carte particulière du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1729 • Ge DD 2987 (9551). Carte de l’embouchure de l’Amazone, Robert Dudley • Ge DD 2987 (9552). Embouchure de la rivière des Amazones, séc. 18. Ge DD 2987 (9682) ou Ge D 10890. Carte réduite de la Mer du Sud selon la nouvelle hypothese de la longitude. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1736 • Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la navigation de la rivière des Tocantins • Ge DD 2987 (9612). Carte huilée de la route de Nicolas Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis Rio Esquibé jusqu’à Rio Negro, 17... • Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du voyage a l’Equateur. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge DD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone, de l’Urubu et du Uatuma, 1729, Ignacio dos Reys, 1729 • Ge DD 2987 (9558). Carte manuscrite de la Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1745 • Ge DD 2987 (9687). Représentation du cours primaire des vents de traverse qui regnent le long des côtes dans la Mer Atlantique et celle des Indes. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Ge DD 2987 (9898). Carte pour le mémoire de Mr. d’Anville sur le mille romain. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17… • Ge DD 4796 (68). Atlas général de d’Anville avec les cartes des deux hémisphères revues et augmentées des découvertes de 1786, par Barbié du Bocage. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1736-1787 • IFN- 7710100. Carte topographique du diocèse de Lizieux. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, gravé par Delahaye, ca. 1730 • Sh Pf 166 Div 1 pièce 8 B. Route de M. La Condamine le long le la cote Nord de l’Ile Marajó ou Joannès. Dessin original de M. de La Condamine, 1736
5 | NEWBERRY LIBRARY (NL) • Ayer 135. A87 1740. Atlas portatif pour servir à l’intelligence de l’Histoire philosophique et politique des establissmens et du commerce des Européens dans les deux Indes, du Abée Raynal. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Amsterdã: E. van Harrevelt, & D.J. Chanquion, 1740-1773. (47 mapas, seis deles têm o nome do Sr. D’Anville, um é desenhado por padres jesuítas e um é de D’Anville com La Condamine) • Ayer 135. G7 1896. Venezuela. No. 1 Appendix no. III. Maps to accompany documents and correspondence relating to the question of boundary between British Guiana and Venezuela... Londres: Harrison and Sons, [1896] 6 | ACERVO PESSOAL (AP) • Carte de l’Amérique méridionale. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1779, em 3 fólios • Suite du Bresil, depuis la Baye de tous les Saints jusqu’à St. Paul. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Suite du Bresil. Depuis la Barre d’Iguape jusqu’à la Riviere de la Plata. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • A map of South America. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Publicado sob patrocínio do duque de Orléans, desenhado e gravado por J. Harrison, 115 Newgate street, janeiro de 1791 • Mapa dos Confins do Brasil com as terras da Coroa de Espanha na América, Mapa das Cortes. (Cópia legítima colorida do mapa do Tratado de Limites de Madri de 1750, oferecida a Marcos Carneiro de Mendonça pelo prof. Rodolfo Garcia, diretor da Biblioteca Nacional, por ter ele propiciado a compra do exemplar original para esta instituição) • Mapa dos Confins do Brasil com as terras da Coroa de Espanha na América, Mapa das Cortes. (Fac-símile em preto e branco do original pertencente à Biblioteca Nacional) 7 | IEB/USP • Col. ML. 67.4. n. 55. Roteiro ilustrado de terras minerais do Brasil/ o Capp.m mor Manoel Francisco dos Santos Soledade. Lisboa Ocydental, 1729. 8 | BIBLIOTECA DA RAINHA DA DINAMARCA • Juliane Marie Atlas. Imagem de uma sala de cadetes, por Johann Friederich von Wecker, 1762 9 | ROBERT BOSCH GMBH COLLECTION STUTTGART — ALEMANHA (RBC) • n. 229. Collection of eight manuscripts concerning Brazil. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’: • 2 mapas manuscritos da região de São Paulo 10 | ARQUIVO HISTÓRICO DO ITAMARATY RIO DE JANEIRO (AHI) • Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Medirional. No anno de 1749. 78 x 57 cm 11 | BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL (BNP) Seção de Cartografia • BA. Cód. 52-XII-25. Roteiro de todos os sinais que há na Costa do Brasil, Luís Teixeira, ca. 1.585-1.590.
4 | DAVID RUMSEY COLLECTION (CATÁLOGO ON-LINE) Carte de l’Amérique méridionale de d’Anville, 1748: • http://www.davidrumsey.com/luna/servlet/detail/ RUMSEY~8~1~4428~410017:-Composite-of-Amerique-Meridionale?qvq=q:d%27Anville;lc:RUMSE Y~8~1&mi=43&trs=332
12 | BIBLIOTECA PÚBLICA DO PORTO • CMεeA P24 (45). Planta da Colônia do Sacramento, c.1752. 421
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
[ Fontes cartográficas manuscritas e impressas ] • Julho, p.161 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Julho, 18, p.168 [incompleto] • Julho, p.174 — Nouvelles des Pays Étrangers • Julho, p.203-204 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Setembro, p.547-548-549 [incompleto] • Setembro, p.557-559 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Setembro, p.600 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Outubro, p.773 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Outubro, p.795-796 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • 23 de novembro, p.1046-1047 — Journal de Paris • Dezembro, p.1191-1192 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Dezembro, p.1227 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Dezembro, p.1228 e 1238 — Journal de Paris • Dezembro, p.1344-1354 — Feste donnée a Paris, par M. L’Ambassadeur de Portugal
1 | MERCURE DE FRANCE: Anos 1721-1750: p
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1721: • Agosto, p.164-165 — Journal de Paris (Notícias de Tarouca) • Setembro, p.3-9 — Instructions necessaires aux voyageurs pour faire leurs observations; avec un adresse aux marchands & aux missionaries que se trouvent dans les pays étrangers & que peuvent rendre des services considèrables à la Géographie • Setembro, p.9-20 — Les defauts de nos grandes collections des voyages... • Setembro, p.89-95 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie de Rhetoriciens et Royale de l’Histoire de Lisbonne • Setembro, p.95-96 — Journal de Paris • Outubro, p.186-187 — Journal de Paris • Dezembro, p.358 — Journal de Paris 1722: • Janeiro, p.68-72 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Janeiro, p.118-119 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Janeiro, p.131-132 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Janeiro, p.150-152 — Feste donnée a Paris, par l’Ambassadeur du Czar • Janeiro, p.193-196 — Journal de Paris • Fevereiro, p.142 — Charges et Dignitez des Pays Étrangers — Portugal • Fevereiro, p.147-148 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Março, p.5-6 — Extrait de la declaration ... sur la nouvelle Isle qui s’est formée entre l’Isle Tercere & l’Isle de Saint Michel • Março, p.110-111 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Abril, p.148-149 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de la Haye • Abril, p.156-158 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Maio, p.125- 136 — Nouvelles Littéraires
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1749: • Maio, p.97-102 — Extrait d’une lettre ... sur la passage au nordest le l’Asie • Junho, p.127-128 — Pièces littéraires • Outubro, p.162-164 — Carte géographique de M. Bellin • Dezembro, p.169 — Lettre de M. d’Anville, à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amérique Méridionale, de 17 de novembro 1749 • Dezembro, p.207 — Morts
p
1750: • Janeiro, p.81-93 — Lettre sur la publicacion du Relation du voyage de la mer du Sud, de M. Anson
2 | LIVROS E ARTIGOS ABREU, José Rodrigues. Historiologia médica, fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de Antônio de Sousa da Silva, 1733-1755, 4v. ACUÑA, Cristóbal de. [1641] Nuevo descubrimiento del gran rio de las Amazonas. Madri: Iberoamericana, 2009.
1723: • Janeiro, p.191-192 — Journal de Paris • Fevereiro, p.347 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de la Haye • Fevereiro, p.348-349 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de Lisbonne • Março, p.565-566 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie des Anonymes et Royale de l’Histoire de Lisbonne • Abril, p.768-769 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de Lisbonne • Julho, p.160 — Nouvelles des Pays Étrangers — Nouvelles de la Haye
ACUÑA, Cristóbal de. [1641] Novo descobrimento do grande rio das Amazonas. Rio de Janeiro: Agir, 1994. ALMEIDA, Francisco José de Lacerda e. Travessia da África. Introdução de Manuel Múrias. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1936. ANSON, George. A voyage round the world, in the years 1740, 41, 42, 43, 44. Londres: John and Paul Knapton, 1749. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e comentário crítico de Andrée M. Diniz Silva. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNPCDP), 2001. 422
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Traité des mesures itinéraires anciennes et modernes. Paris: l’Imprimerie Royale, 1769. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril de 1853, p.69-70. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangéres. [1733] Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éloge de monsieur Gravelot. In: Le Nécrologe des hommes célèbres de France. (1772-1775) A Paris: de l’Imprimerie de Moreau, 1974. AUTO-RETRATO de D. Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. (org.) Testamento Político de D. Luis da Cunha. Lisboa: Biblioteca Nacional, p.181-183, 2013. AZEVEDO, Pedro (org.). Instruções inéditas a Marco António de Azevedo Coutinho. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1929. BARLÉU, Gaspar. Rerum per octennium in Brasilia, et alibi nuper gestarum. Amsterdã: Ioannis Blaeu, 1647. BEAUCHAMP, Alphonse de. Histoire du Brèsil, depuis sa découverte en 1500 jusqu’en 1810. Paris: A La Librairie de l'Éducation et de Jurisprudence d'Alexis Eymery, 1815. 3v. BEAUVAL, Jacques Basnages (ou Basnage) de. Annales des Provinces-Unies, contenant les choses les plus remarquables arrivees en Europe, et dans les autres parties du monde, depuis les negociations pour la paix de Munster, jusqu’a la paix de Breda. Haia (The Hague): Charles le Vier, 1719-1726. BERREDO, Pereira de. Annaes Historicos do Estado do Maranhaõ, em que se da’ noticia do seu Descobrimento, e tudo o mais que nelle tem succedido desde o anno em que foy descuberto até o de 1718. Lisboa: na Officina de Francisco Luiz Ameno, Impressor da Congregaçaõ Cameraria da Santa Igreja de Lisboa, 1749. BESTERMAN, Theodore (ed.). Correspondence de Voltaire. In: Les œuvres complètes de Voltaire. Genebra: Institut et Musée Voltaire, 1971. BESTERMAN, Theodore (ed.). Correspondance de Voltaire. Paris: Gallimard, 1977. 13v. BLEM, Antonio. Escola do mundo, ou instrucção de um pae para seu filho, pertencente ao modo com que se deve viver no mundo, dividida em diálogos, por Le Noble na lingua francesa e traduzida na portuguesa. Lisboa: Oficina da Música, 1722, tomo I, e 1724, tomo II. BLUTEAU, Rafael. Livraria. In: Vocabulário português e latino... Coimbra: No Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1728. 8v. http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/edicao/1 BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa. Ampliado por António de Morais. Lisboa: Oficina de Thadeo Ferreira, 1739. BLUTEAU, Rafael. Suplemento ao Vocabulário português e latino que acabou de sair à luz, ano 1721. Lisboa, 1727-1728, 2v. BOUGAINVILLE, Louis Antoine de. Voyage autour du monde. Genebra: Éditions de Crémille, 1973. BRANDÃO, Ambrósio F. Diálogos das grandezas do Brasil. [1618]. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 1997. BRASÃO, Eduardo (ed.). Diário de D. Francisco Xavier de Meneses, 4º. Conde da Ericeira (1731-33). Coimbra: Coimbra Editora, 1943. BRASÃO, Eduardo. Correspondência de D. Francisco Xavier de Meneses (1731-1733), p.72 e 177. Apud: SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: a Restauração e a monarquia absoluta, [1640-1750]. 2a. ed., v.5. Lisboa: Verbo, 1982, p.407.
ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Ethésiens. In: DIDEROT, Denis & D’ALEMBERT. L’Encyclopedie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Paris: Briasson, 1756. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Analyse geographique de l’Italie. Paris: Veuve Estienne et fils, 1744. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations générales sur l’étude et les connoissances que demande la composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie de Lambert, 1777. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Dissertation sur l’étendue de l’ancienne Jérusalem et de son temple, et sur les mesures hébraïques de longueur. Paris: Prault fils, 1747. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Eclaircissemens géographiques sur l’ancienne Gaule, précédés d’un Traité des mesures itinéraires des Romains et de la lieue gauloise. Paris: Vve. Estienne, 1741. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éclaircissemens géographiques sur la carte de l’Inde. Paris: l’Imprimerie Royale, 1753. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. États formés en Europe après la chute de l’Empire romain en Occident. Paris: l’Imprimerie Royale, 1771. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne abrégée. Paris: Chez Merlin, libraire, 1768. 3v. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne abrégée. Paris: Chez P. Théophile Barrois, 1782, tomo I, contenant Europe. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne et historique, composé d’aprés les cartes de d’Anville par L.B.D.M. Paris: Egron, 1807. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. L’Empire Turc considéré dans son établissement et dans ses accroissemens successifs. Paris: l’Imprimerie Royale, 1772. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. L’Euphrate et le Tigre. Paris: l’Imprimerie Royale, 1779. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Mémoire instructif pour dresser sur les lieux des cartes... d’un canton de pays renfermant dix ou douze paroisses... S.l., S.e., julho de 1743. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Mesure conjecturale de la terre sur l’équateur, en conséquence de l’étendue de la mer du Sud. Paris: Chaubert, 1736. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Notice de l’ancienne Gaule tirée des monuments romains... Paris: Desaint & Saillant, 1760. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.522-533, março de 1750. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Seconde Lettre de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur la Carte qu’il a publié de l’Amérique Méridionale. Journal des Sçavans, Paris, p.625-673, abril de 1750. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Proposition d’une mesure de la terre dont il résulte une diminution considérable dans sa circonférence sur les parallèles. Paris: Chaubert, 1735. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Recueil factive des cartes de d’Anville, suit une première page intitulée ‘Liste générale des cartes de d’Anville’. Paris, 17... ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Réponse de M. d’Anville au Mémoire envoyé à l’Académie royale des sciences, contre la mesure conjecturale des degrez de l’Équateur, en conséquence de l’étendue de la mer du Sud. S.l., 1738. 423
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[Capa]
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Detalhe da página de rosto da Coleção das cartas geográficas em três volumes, que sua Excelência o Embaixador fez escolher para serem usadas pelo senhor d’Anville, geógrafo do rei, séc. XVIII. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
[Guarda]
WOLF, Hans. America: early maps of the New World. Munique: Prestel, 1992.
Esfera armilar realizada segundo o sistema de Ptolomeu. Adam Heroldt, 1648. Latão. Science Museum, Londres.The Bridgeman Art Library.
p. 2
Os atributos das ciências ou Natureza morta com globo terrestre, cartas geográficas, livros e vaso (detalhe). Jean Baptiste Simeon Chardin, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Museu Jacquemart-André Images/Scala, Florença.
p. 5
Lição de geografia. Pietro Longhi, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Galleria Querini-Stampalia, Veneza. Cameraphoto Arte Venezia/The Bridgeman Art Library.
WOLKENHAUER, W. J.B. Bourguignon d’Anville. In: Deusche Rundschau für Geographie und Statistik, v.19, 1897, p.468-471.
VOSS, Jürgen. Das Elsaß als Mittler zwischen deutscher und französischer Geschichtswissenschaft im 18. Jahrhundert. In: Colloque Historique Franco-Allemand. Bonn: L. Röhrscheid, 1976, p.334-350.
WOLKENHAUER, W. J.B. Nouvelle biographie générale. Paris: s/e., 1859, v.2, p.868-870.
WASHBURN, Wilcomb E. As ilhas Canárias e a questão do meridiano de referência: a busca do rigor na medição da terra. In: DOMINGUES, Francisco Contente e BARRETO, Luís Filipe. (orgs.) A abertura do mundo: estudos de História dos descobrimentos europeus. Lisboa: Editorial Presença, 1986, v.1, p.213-220.
WOOD, Denis. The power of maps. Nova York: Guilford Press, 1992. WOODWARD, David (org.). Five centuries of map printing. Chicago: Chicago University Press, 1975.
WIJLER, Jacob Samuel. Isaac de Pinto, sa vie et ses oeuvres. Apeldoorn: CMB Dixon, s.d. WILFORD, John Noble. The mapmakers. Nova York: Vintage, 2000. WILKEN, Patrick. Império à deriva: a Corte portuguesa no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
p. 14
O rei Gustavo III da Suécia e seus irmãos. Alexander Roslin, 1771. Óleo sobre tela (162 x 203 cm). Museu Nacional, Estocolmo/The Bridgeman Art Library.
WOODWARD, David. Maps and the rationalization of geographic space. S. l., 1992(?) [mimeo].
p. 15
Natureza morta (detalhe). Jacob van der Heyden, s.d. Óleo sobre madeira (51.3 x 44.4 cm). Hamburger Kunsthalle, Hamburgo/The Bridgeman Art Library.
p. 17
Carte de l’Amérique Méridionale [Mapa da América Meridional]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, c.1742. Tinta sobre papel (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
WOODWARD, David. Maps as prints in the Italian Renaissance: makers, distributors and consumers. Londres: the British Library, 1996.
WITHERS, Charles W. J. and LIVINGSTONE, David N. (orgs.). Geography and Enlightenment. Chicago: Chicago University Press, 1999.
WOODWARD, David. The study of history of Catography: a suggested framework. American Cartographer. v.1, p.101-115, 1974.
WITHERS, Charles W. J. and LIVINGSTONE, David N. Introduction: On Geography and Enlightenment.
YOLTON, John W. (ed.). Enlightenment. 2a. ed. Oxford: Blackwell, 1996.
p. 8
O Reino da Ciência (detalhe). Karl Konrad Huber, 1790. Afresco. Amorbach, Bavaria. Bildarchiv Steffens/The Bridgeman Art Library.
p. 10/11
Filósofo fazendo uma exposição sobre o planetário. Joseph Wright of Derby, 1766. Óleo sobre tela (147 x 203 cm). Derby Museum, Derby/White Images/Scala, Florença.
p. 12/13
Geometria. Maerten van Heemskerck, séc. XVI. Coleção privada. Foto: Bonhams, London, UK/ The Bridgeman Art Library.
p. 18
Mapa da América Meridional (publicado sob os auspícios do senhor duque de Orléans). JeanBaptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 20
Planisfério de Cantino (detalhe). Anônimo, 1502. Pergaminho (105 x 220 cm). Biblioteca Estense, Modena/De Agostini Picture Library/Scala, Florença.
p. 25
Geógrafos trabalhando. Cornelis Man, séc. XVII. Óleo sobre tela (81 x 68 cm). Hamburger Kunsthalle, Hamburgo/The Bridgeman Art Library.
[ Capítulo 1 ] p. 28
D. Luís da Cunha. Autor desconhecido, s.d. Óleo sobre tela. Palácio das Necessidades, Lisboa.
p. 29
Congresso diplomático. Francesco Guardi, c.1753. Óleo sobre tela (106 x 170 cm). Ca’ Rezzonico, Museo del Settecento, Veneza. The Bridgeman Art Library.
p. 30
D. João V, rei de Portugal. Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela (103 x 79 cm). Museu dos Biscainhos, Braga.
p. 31
Dona Maria Ana de Áustria. Pompeo-Girolamo Batoni (atribuído), séc. XVIII. Óleo sobre tela (90 x 68 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.
p. 32a
D. Luís da Cunha. In Memórias da Paz de Utrecht. Autor desconhecido, c.1715. Iluminura. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 32b
Busto de D. Luís da Cunha. Jean Baptiste Xavery, 1737. Mármore (80 x 66 x 31 cm). Rijksmuseum, Amsterdã.
p. 33
Vista da praça Louis le Grand com as construções realizadas por ocasião do casamento do Rei Luís XV. Escola francesa, séc. XVIII. Coleção particular/The Stapleton Collection/ The Bridgeman Art Library.
p. 34
440
Os geógrafos. John Brown, séc. XVIII. Bico de pena e grafite sobre papel (18,1 x 25,7 cm). Yale Center for British Art, Paul Mellon Collection, New Haven/The Bridgeman Art Library.
[ Introdução ]
WOODWARD, David (ed.). Art and cartography: six historical essays. Chicago/Londres: University of Chicago Press, 1987.
WILLS JR, John E. 1688: o início da era moderna. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
p. 6/7
João Gomes da Silva, conde de Tarouca. Andreas Schmutzer, c.1730. Água-forte e buril. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. 441
p. 35
Batalha na baía de Vigo, 23 de outubro de 1702 (Guerra de Sucessão espanhola). Autor desconhecido, 1705. Óleo sobre madeira (59 x 82,5 cm). Rijksmuseum, Amsterdã.
p. 36
Frontispício da Casa da Villa de Utrecht onde se tinhão as Conferencias da Paz. In Memórias da Paz de Utrecht. Bernard Picart, 1715. Gravura. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 37
Uma quermesse. Sybrandt van Beest, séc. XVII. Óleo sobre madeira (22.5 x 29 cm). Haags Gemeentemuseum, Haia/The Bridgeman Art Library.
p. 39
Cardeal João da Mota e Silva. In Retratos de cardeaes, bispos, e varoens portuguezes illustres em nobreza, armas, letras, e santidade (estampa 9). Autor desconhecido, 1791. Gravura. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 40/41
Vista de Lisboa. Escola inglesa, 1755. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris/The Bridgeman Art Library.
p. 43
A rainha Christine da Suécia, rodeada por sua corte, escuta o filósofo René Descartes fazendo uma demonstração de geometria. Louis Michel Dumesnil, séc. XVII. Óleo sobre tela (97 x 126 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/ The Bridgeman Art Library.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Créditos das imagens
Página de rosto do livro Henriqueida: poema heroico, com advertencias preliminares das regras da poesia epica, argumentos, e notas. Francisco Xavier de Meneses, conde de Ericeira, 1741. Biblioteca da Universidade de Toronto, Toronto. Ministros plenipotenciários no Congresso de Baden. Autor desconhecido, 1714. Óleo sobre tela. Museu do Palácio de Versailles, Versailles/The Bridgeman Art Library.
Alegoria da Paz de Utrecht (detalhes). Johannes Drappentier, 1713. Gravura (35,1 x 42,2 cm). Rijksmuseum, Amsterdã.
p. 51
Vista panorâmica de Londres. Escola francesa, séc. XVIII. Gravura (30 x 44 cm). Museu TavetDelacour, Pontoise/The Bridgeman Art Library.
p. 52
Embaixadores e plenipotenciários de Portugal e Castela assinando a Paz no interior do Malho, aos 6 de fevereiro de 1715, representando o conde de Tarouca, D. Luís da Cunha, o duque de Ossuna e os secretários. In Memórias da Paz de Utrecht. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 54
Assinatura do Tratado de Utrecht em 11 de abril de 1713. Escola holandesa, séc. XVIII. Gravura. Coleção particular/The Bridgeman Art Library.
p. 56
Jantar de filósofos reunindo Voltaire, Diderot, o abade Maury e o marquês de Condorcet. Autor desconhecido, séc. XVIII. Gravura. Coleção particular/White Images/ Scala, Florença.
p. 56
Bernard le Bouvier de Fontenelle. Jean Baptiste Greuze, 1723. Óleo sobre tela (129 x 96,5 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/Giraudon/The Bridgeman Art Library.
p. 57
O duque de Berwick recebe de Felipe V o tosão de ouro. Jean Auguste Dominique Ingres, séc. XIX. Óleo sobre tela. Palácio de Liria/Coleção do duque de Berwick y Alba, Madrid/Giraudon/The Bridgeman Art Library
p. 50
p. 53
Branca aos 2 de abril de 1715. In Memórias da Paz de Utrecht. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Alegoria à Academia Real da História. Francisco Vieira Lusitano. Gravado por Pedro de Rochefort, 1735. Sanguínea, água-forte e buril (27 x 19,5 cm). Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Frontispício do livro Hesperi et Phosphori. Nova Phaenomena sive observationes circa planetam Veneris. Francesco Bianchini (Roma), 1728. Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa. xxxxxxxxxxxxx
Natureza morta com flores. Jan van Huysum, 1706. Óleo sobre tela. Hamburger Kunsthalle, Hamburgo/ The Bridgeman Art Library.
p. 58
Descida da Cruz. Peter Paul Rubens, 1703. Bayerische Staatsgemäldesammlungen — Alte Pinakothek, Munique.
p. 59
Adoração dos magos. Peter Paul Rubens, 1610. Óleo sobre tela (346 x 438 cm). Museu do Prado, Madri/ The Bridgeman Art Library.
p. 60
Coroação de Maria de Médicis em St. Denis, 13 de maio de 1610. Peter Paul Rubens, 1621-1625. Óleo sobre tela (394 x 727 cm). Museu do Louvre, Paris/ The Bridgeman Art Library.
p. 62
Príncipe Eugênio de Saboia. Jacques ou Jakobus van Schuppen, séc. XVIII. Óleo sobre tela (152 x122 cm). Victoria Art Gallery, Bath/The Bridgeman Art Library.
p. 63
Página de rosto do livro Tratado de pax entre o muito alto, e muito poderoso Principe D. João, o V... e o muito alto, e muito poderoso Principe D. Filipe V,... Rey Catholico de Hespanha. Feito em Utrech, a 6 de Fevereiro de 1715. Autor desconhecido, c.1715. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Embaixadores e Plenipotenciários de Portugal e Castella trocando as Ratificaçoens da Paz fora da Porta
p. 65
p. 66
p. 67a p. 67b
Jean-Baptise Bourguignon d’Anville. Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela (81,3 x 64,3 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/RMN/Other Images Luís XVI valendo-se de um mapa para dar instruções a Lapérouse, em 29 de junho de1785. Nicolas-Andre Monsiau, 1817. Óleo sobre tela (172 x 227 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/The Bridgeman Art Library. Ilustração do livro Método para estudar a geografia. Onde é dada uma descrição exata do universo, formada a partir das observações da Academia Real de Ciências e de autores originais. Com um discurso preliminar sobre o estudo desta ciência & um catálogo de cartas geográficas, relações, viagens & descrições necessárias à geografia, de M. L’abée Lenglet Dufresnoy, s.d.William L. Clements Library, Ann Arbor. Luís XIV visitando o jardim do Rei. Sebastien Le Clerc, c.1665. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris/The Bridgeman Art Library. Engenheiro desenhando a planta de uma fortificação, acompanhado de dois auxiliares. In Desenhos e
plantas de todas as praças do reino de Portugal pelo tenente-geral Nicolao de Langres, francez, que servio na guerra da Acclamação. Nicolau de Langres, c.1661. Desenho(36 x 48 cm). Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 74/75
p. 76a p. 76b
p. 77
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p. 79 p. 80a
p. 80b
p. 82
Vista do Collège des Quatre Nations em Paris. Victor Jean Nicolle, c.1810. Aquarela sobre papel. Museu Nacional do Castelo de Malmaison, Rueil-Malmaison. Cardeal Mazarin em seu palácio. Robert Nanteuil, c.1658-60. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris/The Bridgeman Art Library. Leitura da tragédia L’Orphelin de la Chine de Francois Marie Arouet, conhecido como Voltaire, no Salão de madame Geoffrin na rue Saint Honoré. Anicet Charles Gabriel Lemonnier, 1812. Óleo sobre tela (129 x 196 cm). Museu do Castelo de Bois-Preau, Rueil-Malmaison/The Bridgeman Art Library. Canevas Circulaire (reimpressão). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, séc. XVIII. Biblioteca Nacional da França, Paris. Folha de rosto do livro Description historique et géographique de la France ancienne et moderne, do abade Louis Du Four Longuerue, 1719. Biblioteca Nacional da França, Paris. O rei Luís XV, criança, recebendo lição em presença do cardeal Fleury e do regente o duque Philippe de Orléans. Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela (23 x 23 cm). Museu da Cidade de Paris, Museu Carnavalet, Paris/The Bridgeman Art Library. Cardeal Fleury (André Hercule de Fleury). François Stiemart, séc. XVIII. Óleo sobre tela (160 x 129 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/ The Bridgeman Art Library. Conde Carls Gustaf Tessin. Jacques-André-Joseph Aved, s.d. Óleo sobre tela (149 x 116 cm). Museu Nacional de Estocolmo/The Bridgeman Art Library. Mapa da Etiópia oriental, situada sobre o mar das Índias, entre o Cabo Guardafouin e o Cabo da Boa Esperança. Jean-Batiste Bourguignon d’Anville, 1727 (43 x 64,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Reinos de Luanda, Congo, Angola, Benguela dentre outros. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1730 (49 x 64,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Jean Baptiste Colbert apresenta os membros da Academia Real de Ciências ao rei Luís XIV. Autor desconhecido, c.1667. Óleo sobre tela (340 x 590 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles. O Paraguay, onde os Padres da Companhia de Jesus difundiram suas missões. Jean-Baptiste Bourguignon
Interior com geógrafos e matemáticos (detalhe). Escola francesa, c.1680-90. Óleo sobre tela. Museu Municipal, Cambrai/Giraudon/The Bridgeman Art Library.
p. 94
p. 69
Ateliê de gravação (ilustração da Enciclopédia). Escola francesa, 1763.Gravura.Coleção particular/ The Bridgeman Art Library.
Minerva como protetora das artes e das ciências. Luca Giordano, c.1680 (73,5 x 88 cm). National Gallery, Londres/The Bridgeman Art Library.
p. 95
p. 70
Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville. Pierre Sinom Benjamin Duvivier (desenhista) e Augustin de SaintAubin (gravador), séc. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Praça do Comércio em Lisboa. Gaspar Frois Machado (atribuído), séc. XVIII. Gravura (62,5 x 43,5 cm). Museu da Cidade, Lisboa.
p. 96
p. 97
p. 71b
Perspectiva de Paris, desde a Pont Royal. Escola francesa, séc. XVIII. Gravura. Museu da Cidade de Paris, Museu Carnavalet, Paris/The Bridgeman Art Library. Carte de la Grèce, D’Anville (1712). In: MANNE, Louis-Charles-Joseph de. Oeuvres de d’Anville. Paris: F.G. Levrault, 1834.
p. 83
p. 84a
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p. 85 p. 86
p. 87 p. 88
p. 89
p. 90 p. 91 p. 92
D’Anville, 1733. (30 x 31 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. A Academia de Ciências e das Belas Artes com dedicatória do autor ao rei. Sebastien Le Clerc, séc. XVIII. Gravura. Coleção particular/White Images/Scala, Florence. Orbis Veteribus Notus. In Géographie ancienne, abrégée. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1763 (data do mapa)/1768 (data de publicação do livro). Coleção particular. Ilustração do livro Géographie ancienne, abrégée de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. Gravelot (Hubert-François Bourguignon), 1769. Coleção particular. A Palestina. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1767 (38 x 43, 5 cm).Biblioteca Nacional da França, Paris. Carte pour la mémoire de M. D’Anville sur le mille romain. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, séc. XVIII (40 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Analyse géographique de l’Italie. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1744. Biblioteca Nacional da França, Paris. Orbis Romani pars occidentalis. In Géographie Ancienne, abrégée. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1763 (data do mapa)/1768 (data da publicação do livro). Coleção particular. Fragmento de informações geográficas retirado de Mapas Jesuítas sobre o Paraguai. In Papéis geográficos de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, s.d. Biblioteca Nacional da França, Paris. Mapa de Paris, conhecido como Mapa Turgot (fragmento), 1734-1739. Gravura. The Print Collector/Heritage-Images/Scala, Florença. Vista da Grande Galeria do Louvre. Hubert Robert, 1796. Óleo sobre tela (112 x 143 cm). Museu do Louvre, Paris/The Bridgeman Art Library. Luís XV, rei da França, usando vestes sacras. Louis Michel van Loo, 1761. Óleo sobre tela (227 x 184 cm). Museu do Palácio de Versailles/White Images/ Scala, Florença.
[ Capítulo 3 ]
p. 68
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p. 72
p. 98/99
Palazzo Pitti/ Galleria Palatina. Florença/ De Agostini Picture Library/G. Dagli Orti/ The Bridgeman Art Library. p. 100
Página de rosto do livro Hesperi et Phosphori. Nova Phaenomena sive observationes circa planetam Veneris. Francesco Bianchini, 1728 (Roma). Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.
A biblioteca Vergennes no Palácio de Versailles. Escola francesa, séc. XIX. Cromolitografia. Biblioteca das Artes Decorativas, Paris/Archives Charmet/ The Bridgeman Art Library.
p. 101
Terreiro do Paço. Francisco Zuzarte, séc. XVIII. Tinta da china com aguada sobre papel (48 x 67,5 cm). Museu da Cidade, Lisboa.
Coleção de curiosidades. In Theatre de Merveilles de la Nature. Levin Vincent (escola holandesa), c.1719. Biblioteca das Artes Decorativas, Paris/ The Bridgeman Art Library.
p. 101
Frontispício do Catalogue raisonné des diverses curiosités du cabinet de feu M. Quentin de Lorengére. Quentin de l’Orangerie, 1744. Gravura. Coleção BIU Médicine, Paris.
Estúdio de colecionador em Antuérpia. Cornelis de Baellieur, séc. XVII. Óleo sobre tela (73 x 185 cm). 443
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
p. 102a
A máquina voadora de Jean Pierre Blanchard. François Nicolas Martinet, séc. XVIII. Gravura. Museu do Ar e do Espaço, Le Bourget/The Bridgeman Art Library.
p. 103a
Ilustração no livro Relation des fêtes que son excellence Monseigneur le comte de Tarouca a donnés au sujet des naisssances des deux Princes de Portugal, et de plusiers autres fêtes aissi donnés par son Excellence en differentes occasions, de Nicolas Chevalier.Autor desconhecido, 1714 Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.
p. 104a
p. 114
Apresentação de Bartolomeu Lourenço de Gusmão à Corte portuguesa do “instrumento para se andar pelo ar”, em 8 de agosto de 1709 na Sala das Audiências do Palácio Real. Bernardino de Souza Pereira, 1940. Óleo sobre tela. Museu Paulista, São Paulo.
p. 102b
p. 103b
Créditos das imagens
Folha de rosto do livro Relation des fêtes que son excellence Monseigneur le comte de Tarouca a donnés au sujet des naisssances des deux Princes de Portugal, et de plusiers autres fêtes aissi donnés par son Excellence en differentes occasions, de Nicolas Chevalier, 1714 Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Vista do Jogo do Malho, onde os Embaixadores, e Plenipotenciarios de Portugal, e Castella se congratulárão de terem firmado a Paz aos 6 de fevereiro, de 1715. In Memórias da Paz de Utrecht. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 116
Giovanni Domenico Cassini diante do Observatório de Paris. Léopold Durangel, 1879. Óleo sobre tela. Biblioteca do Observatório de Paris, Paris/Scala Archives, Florença.
p. 117a
Elévation d’un des costez du Bastiment de l’Observatoire du costé du levant. François d’Orbay, 1692. Desenho a bico de pena e tinta chinesa (28,9 x 43,3 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 117b
Profil du bastiment de l’Observatoire couppé depuis la tour du Levant à celle du Couchant. François d’Orbay, 1692. Desenho a bico de pena e tinta chinesa (24,6 x 46,8 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 119
Figura da nova Barca inventada em Lisboa no ano de 1709 (Passarola). Atribuído a Bartolomeu Lourenço de Gusmão, 1727. Desenho a nanquim. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 120
p. 104b
Ilustração no livro Tratado da gravura a água-forte, e a buril, e em maneira negra com o modo de construir as prensas modernas, e de imprimir em talho doce. Abraham Bosse, 1801. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 105
Octante. Anônimo, 1750. Madeira e metal. Coleção particular/The Bridgeman Art Library.
p. 106
Mapa-múndi desenhado a partir das observações dos senhores da Academia real de Ciências. Guillaume Delisle, c.1725 (50 x 64,3 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 107
Mapa da América desenhado para uso do Rei em 1722 por Guillaume Delisle e aumentado de novas descobertas em 1763 por Phil. Buache, seu genro. Guillaume Delisle, 1763 (48,5 x 61,3 cm [imagem] em folha de 50,3 x 63,6 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 122a
p. 108
Felipe V, rei de Espanha. Jean Ranc, 1723. Óleo sobre tela (144 x 115 cm). Museu do Prado, Madri/ The Bridgeman Art Library.
p. 122b
p. 109
Alegoria da Geografia. Página de rosto do Atlas de Frederick de Wit, c.1688. Royal Geographical Society, Londres/The Bridgeman Art Library.
p. 111
Esfera armilar baseada no sistema copernicano. Bonifazio Borsari, 1764. Bronze. Museu Cívico de História e Arte Modena/Alinari/The Bridgeman Art Library.
p. 112
Manoel de Azevedo Fortes, engenheiro-mor do reino. Pedro de Rochefort, 1729. Água-forte e buril (19,7 x 13,7 cm [imagem] em folha de 21 x 15 cm). Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 113
p. 121
444
Página de rosto do Atlas ou compilação de cartas geográficas. Coleção das cartas geográficas em três volumes, que sua Excelência o Embaixador fez escolher para serem usadas pelo senhor d’Anville, geógrafo do rei. Autor desconhecido, séc. XVIII. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Hemisfério setentrional. As terras árticas. In Atlas ou compilação de cartas geográficas. Coleção das cartas geográficas em três volumes, que sua Excelência o Embaixador fez escolher para serem usadas pelo senhor d’Anville, geógrafo do rei. Anônimo, séc. XVIII. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Representação das máquinas que serviram para içar as duas grandes pedras que cobrem o frontão da entrada principal do Louvre. Sébastien Le Clerc, séc. XVII. Coleção Michel Hennin. Estampas relativas à história da França. Tomo 170. Biblioteca Nacional da França, Paris. Corte do Pavilhão dos Globos, gabinete Robert de Cotte. Autor desconhecido,1703. Desenho a bico de pena e aquarela (35,6 x 28,8 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 124
Medindo o Meridiano de Paris. In La Meridienne de Paris de Cesar-Francois Cassini de Thury. Autor desconhecido, 1744. Gravura. Academia de Ciências, Paris/Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 127
Discussión géographique sur la ligne de démarcation établie pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille. Jean-Baptiste Bourguignon d'Anville, c.1737. Manuscrito. Newberry Library, Chicago.
p. 128
Folha de rosto do livro Tratado do modo o mais facil, e o mais exacto de fazer as cartas geograficas... de Manoel de Azevedo Fortes, 1722. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Folha de rosto do livro Planetario Lusitano para o anno de 1757, Dedicado Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Dom João, Calculado para o Meio Dia do tempo verdadeiro no Meridiano de Lisboa, do padre Eusebio da Veiga da Companhia de Jesus, impresso na Oficina de Miguel Manescal da Costa, 1756. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Madame de Chatelet-Lomont. Maurice Quentin de la Tour (a partir de), séc. XVIII. Óleo sobre tela (45 x 38 cm). Coleção particular/The Bridgeman Art Library.
[ Capítulo 4 ] p. 132
Mapa da América Meridional desenhado para o duque de Chartres. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 133 América. Stephan Kessler, s.d. Óleo sobre tela (153,3 x 250 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação da Fundação Estudar. p. 134 Página de rosto do primeiro capítulo. In La Meridienne de Paris, de Cesar-Francois Cassini de Thury, 1744. Gravura. Academia das Ciências, Paris. The Bridgeman Art Library. p. 135 Indio Yumbo das vizinhanças de Quito, Equador, com frutas e árvores. Escola americana, s.d. Óleo sobre tela. Museu da América, Madri/Index/The Bridgeman Art Library. p. 136 Vista panorâmica da Planície de Yarouqui. In Voyage a l’Equateur, de Charles Marie de la Condamine. Autor desconhecido, c.1750. Gravura. Academia das Ciências, Paris/Archives Charmet/The Bridgeman Art Library. p. 137a Página de rosto do livro Considerations Géneralessur l’étude et les conoissances qui demande la composition des ouvrages de Géographie, de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1778. Newberry Library, Chicago. p. 137b Primeira página da introdução ao Journal des Travaux des Academiciens Envoyes par Ordre du Roi sous l’Equateur depuis 1735 jusqu’en 1745, de Charles Marie de La Condamine. Autor desconhecido, 1751. Gravura. Biblioteca do Instituto de França, Paris. p. 138 Cartela do Mapa da América Meridional publicada sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville (cartógrafo), GuillaumeNicolas Delahaye (gravador), Gravelot (desenhista), 1748 (124 x 77 cm). Biblioteca Nacional de Paris, Paris. p. 139 Monte Cayambe no Equador. In Le Costume Ancien et Moderne, volume II, de Jules Ferrario. Paolo Fumagalli, c.1820s-30. Litografia colorida. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. p. 140 Carte des routes de Mr. de la Condamine tant par Mer que par Terre dans le cours du Voyage à l’Équateur. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1749 (20 x 22,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 143a Mapa da América Meridional desenhado para o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 143b América Meridional publicada sob os auspícios do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 144a Idem (detalhe da cartela 2). p. 144b Idem (detalhe da cartela 2). p. 144c Idem (detalhe da cartela 1). p. 146 Idem (detalhe da cartela 3). p. 149 Guia de caminhantes. Coleção de mapas de diversas regiões do Brasil. Anastácio de Santana, 1817. Aquarela e desenho a nanquim (53 x 75 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. p. 152/153 Americae nova tabula. Willem Jansz Blaeu (cartógrafo) e Guiljelmum Blaeu (editor), 1635 (42,5 x 56,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. 445
p. 154
Incendia molarum prafecturae Omnium Sanctorum [Incêndios em Salvador, Todos os Santos]. Frans Post, 1647. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 155
Frontispício do livro Historia naturalis Brasiliae …: in qua non tantum plantae et animalia, sed et indigenarum morbi, ingenia et mores describuntur et iconibus supra quingentas illustrantur, de Guillelm Pison e Franciscum Hackium, 1648. Acervo de Obras Raras da Universidade Federal de Minas Gerais.
p. 156a
A ilha Henri. In Le grand insulaire, et pilotage d’André Thevet. Angoumoisin, cosmographe du Roy, dans lequel sont contenus plusieurs plants d’isles habitées, et deshabitées, et description d’icelles, em dois tomos. André Thevet, 1586 (15 x 18,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 156b
Rio da Guanabara ou de Janeiro, ilha das Margaias. André Thevet, 1586 (17,5 x 13 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 157
Mapa da cidade de São Sebastião na costa do Brasil, ou baía do Rio de Janeiro. Anônimo, séc. XVIII (50 x 34 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 158
A França Antártica, aliás Rio de Janeiro (das viagens que Villegagnon e Jean de Lery fizeram ao Brasil nos anos 1557 e 1558). Anônimo, 1800 (16,5 x 23,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 159
Carta topographica de todo o terreno comprehendido desde a Barra do Rio Grande de S. Pedro, the Castilias pequeno, que corre entre a Costa do Mar e a Lagoa de Merim tirada por ordem do Brigadeiro Joze da Silva Pais. Francisco de Barbuda Maldonado, 1737 (25,5 x 74,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 160
Índios da Patagônia cumprimentando um viajante europeu. In Le Costume Ancien et Moderne, volume II. Jules Ferrario, c.1820-30.Litografia colorida. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library.
p. 161
Ilustração do livro Historia natural civil y geografica de las Naciones situadas en las riveras del Rio Orinoco, do padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon, Antonio Jugla y Font. Autor desconhecido, 1791 (27,8 x 40 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 162
Plano de uma baía nas costas do Chile. George Anson, c.1741 (22 x 29 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 163a
Viagem ao redor do mundo. George Anson, editado por Arkstée e Merkus (Amsterdam e Leipzig), 1749. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 163b
Ilustração do livro Historia natural civil y geografica de las Naciones situadas en las riveras del Rio Orinoco, do padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon, Antonio Jugla y Font. Autor desconhecido, 1791 (27,8 x 40 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 164
Edmond Halley. Thomas Murray, c.1690. Óleo sobre tela (76,5 x 63,9 cm). Royal Society, Londres.
p. 165
Página de A arte de navegar, de Manoel Pimentel, volume I. In Papéis geográficos de D´Anville. Séc. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 166
América (detalhe). Stephan Kessler, séc. XVII. Óleo sobre tela (153,3 x 250 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação da Fundação Estudar.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Sinagoga Portuguesa em Amsterdã. Emanuel de Witte, c.1680. Óleo sobre tela (108 x 123,4 cm). The Israel Museum, Jerusalém/Doação, Coleção M. Fischer/The Bridgeman Art Library. Acampamento noturno de viajantes. In Viagem pitoresca ao Brasil, volume II, de Jean Baptiste Debret. Thierry Frères, 1835. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 183a
Nomes dos Reynos gentios por onde se passa pella Banda do Rio Doce. In Noticias das Minas da America chamadas Geraes Pertencentes a el rei de Portugal Relatada pelos três irmaons chamados Nunes os quais rodárão muytos anos por estas partes. Séc. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart. Judeus portugueses celebrando a festa da Páscoa ou Jantar de judeus portugueses na casa de Álvaro Nunes da Costa. In Religious Ceremonies and Customs. Bernard Picart, 1725. Gravura. Coleção particular/ Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. Gamboa, Bahia. William Gore Ouseley, 1835. Aquarela sobre papel (26 x 39,5 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação da Fundação Estudar. Escravos lavando diamantes em Curralinho. In Atlas de uma viagem ao Brasil, de Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Philipp Martius, 1835-50. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. Interior de um rancho brasileiro na província de São Paulo com um mercador viajante, seus escravos e mercadorias. Charles Landseer, séc. XIX. Óleo sobre madeira (27,8 x 34,9 cm). Coleção particular. Foto: Christie’s Images/The Bridgeman Art Library.
p. 179
Carta geográfica do termo da Vila Rica, Minas Gerais. Anônimo, c.1766. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 180a
Praia de Botafogo com Dois irmãos, Gávea e Corcovado ao fundo. Autor desconhecido, 1800. Aquarela sobre papel (19,3 x 28 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação, Coleção Brasiliana–Fundação Estudar.
Frutas do Brasil. Thierry Frères, 1839. Litografia (29,8 x 23,6 cm [gravura] em folha de 52,6 x 34,6 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 195a
America. Johann Baptist von Spix, 1823-1831. Gravura (46 x 59 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 195b
O Rio São Francisco. Frans Post, 1638. Óleo sobre tela (62 x 95 cm). Museu do Louvre, Paris/A. Dequier–M. Bard.
p. 197
Erario mineral dividido em doze tratados, dedicado, e offerecido á purissima, e serenissima Virgem Nossa Senhora da Conceyção. Luís Gomes Ferreyra, 1735. Instituto de Estudos Brasileiros/IEB-USP/Acervo Yan de Almeida Prado, São Paulo.
Antigo Palácio da Inquisição de Lisboa. Charles Legrand, c.1842. Litografia (12,3 x 20,2 cm). Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Auto de Fé em Lisboa. Escola francesa, séc. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris/ Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 184
Homem condenado ao fogo pela Inquisição de Goa. Escola francesa, séc. XVIII. Biblioteca das Artes Decorativas, Paris/Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 185
Vista ou perspectiva de um lado dos quartéis da Vila de N. Srª.do Carmo. José Rodrigues de Oliveira, 1722. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 186
Jacob de Castro Sarmento. In Materia medica, physico-historico-mechanica... de J. de Castro Sarmento. Autor desconhecido, 1758. Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
p. 187
Frontispício de Cultura e opulência no Brasil, do padre João Antonio Andreoni (Antonil), 1711. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 188
Frontispício de Itinerario Geografico com a verdadeira descripção dos caminhos, estradas, rossas, citios, povoaçoens, lugares, villas, rios, montes, e serras, que ha da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas do Ouro, de Francisco Tavares de Brito, 1732. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Escravos britadores de pedra para a extração de diamantes. In Notícia summaria do gentilismo da Asia: com dez riscos illuminados — Desenho 50. Carlos Julião, c.1770. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 198
Guerra dos Emboabas (ex-voto). Anônimo, 1749. Mosteirinho de Nossa Senhora do Monte Serrat.
p. 200
Antropophagos do Brazil devorando huns portuguezes. Autor desconhecido, séc. XVIII. Gravura sobre papel (17,1 x 12,0 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 201
Mapa da Freguezia da Manga na Capitania de Minas Gerais (região norte de Minas Gerais, desde a nascente
p. 210
Floresta Amazônica. In Plantarum Cryptogamicarum Brasiliensium, de Johann Baptist von Spix and Carl Friedrich von Martius, 1823-31. Gravura colorida. Biblioteca Pública de Neuchatel, Suíça./De Agostini Picture Library/The Bridgeman Art Library.
p. 211
Vista de São Luís do Maranhão. Joseph Leon Righini, 1863. Óleo sobre tela (49,6 x 98,7 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/ Doação da Fundação Estudar.
p. 212
America Pars Meridionailis. Henricus Hondius, 1647. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 213
Delineatio Totius Australis Partis Americae. Arnold Florent van Langren, 1595. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 214
Mapa da América Central e do Norte. Anônimo, a partir de Guillaume Delisle, 1700. Coleção particular/The Bridgeman Art Library.
Suite du Brésil, depuis la Baye de Tous les Saints jusqu’à St. Paul, extraído da Carte de l’Amérique, por Jacques Nicolas Bellin, 1764. Coleção particular.
p. 216
p. 191
Paisagem brasileira. Frans Post, 1652. Óleo sobre tela. Rijksmuseum, Amsterdã.
Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, c.1742. Tinta sobre papel (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 217
p. 192
Desenho da planta do cajueiro, com dois ramos entrecruzados, com um fruto amarelo e outro vermelho, e tendo numa das pontas um pássaro de plumagem castanha. Autor desconhecido, c.1780. Aquarela e nanquim (27,4 x 38,7 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
Mapa da América Meridional (detalhe) publicado sob os auspícios do duque de Orléans, Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 218
Itamaracá. In Rerum per octennium in Brasilia, de Caspar van Baerle Amstelodami [Amsterdã], 1647. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 219
Carte manuscrite des côtes du Brésil (coleção D’Anville). Anônimo, séc. XVIII (66 x 44 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Vista do Rio de Janeiro tomada do outeiro da Glória. Willem Roelofs, 1801. Aquarela sobre papel (26,5 x 44,5 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação, Coleção Brasiliana — Fundação Estudar. Prospectiva da Cidade do Rio de Janneiro. Vista da parte do Norte, na Ilha das Cobras no baluarte mais chegado a S. Bento, da qual parte se ve diminuir em
p. 194a
Ataque de índios botocudos na região de Minas Gerais com danos e mortes. In Catálogo de iconografia - ex-voto 59, coleção Alberto Lamego. Julio Caio Veloso, s.d. Instituto de Estudos Brasileiros — IEB/USP, São Paulo. Ilustração. In Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil, de Johan Nieuhof, 1703. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
do Rio São Francisco até o limite do atual Estado da Bahia). Anônimo, c.1764. Desenho a tinta (84,8 x 61 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. p. 202
Mapa do território da Capitania da Baía, compreendido entre o Rio de S. Francisco, o rio Verde Grande e o riacho chamado Gavião. Anônimo, c.1758. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 205
Ilha de Itaparica. Johann Moritz Rugendas, 1835. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 206
Mapa da América Meridional publicado sob os auspícios do duque de Orléans (detalhe da cartela 2). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 208
Mapa da demarcação da região produtiva de diamantes. Anônimo, c.1729. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 209
Caça aos pássaros. Autor desconhecido, c.1778. Aquarela e nanquim (33,3 x 21,8 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
[ Capítulo 6 ]
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446
Baía — prospecto visto pela frente de uma porção da cidade da Baía. Manoel Roiz Ferreira, c.1786. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 183b
p. 189
Acampamento noturno de viajantes (detalhe). In Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, volume II, de Jean Baptiste Debret. Thierry Frères, 1835. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Paulista com poncho. Thomas Ender, séc. XIX. Desenho a lápis sobre papel (28 x 20,2 cm). Gabinete de Estampas, Viena.
p. 181
p. 182
Noticias das minas da América chamadas Geraes Pertencentes a El rei de Portugal Relatada pellos tres irmaons chamados Nunes os quaes rodárão muytos annos por estas partes. Séc. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart.
p. 177
p. 180b
proporção o seu prospecto, até a barra, como o Risco representa. Elevada por Ordem do Ill.mo e Ex.mo Senhor Conde de Bobadella, a quem a Cidade deve a mayor parte da sua prente Grande e Magñ. Miguel Angelo Blasco, 1760. Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro.
p. 194b
p. 222
América Meridional, Sanson (cartógrafo) e Pierre Mariette (editor), séc. XVII (28 x 20 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 223
Collecçam dos prospectos das aldeas, e lugares mais notaveis que se acham em o mapa que tiraram os engenheiros de expediçam principiando da cidade do Pará the a aldea de Mariua no Rio-Negro, onde se acha o arrayal, alem dos prospectos de outras tres ultimas aldeas chamadas Camarâ, Bararuâ, Dari; situadas no mesmo rio. João André Schwebel, 1756. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 224/225 Carte manuscrite de la navigation de la rivière des Tocantins [Mapa manuscrito da navegação do rio Tocantins]. Anônimo, c.1734. Manuscrito (65 x 330 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 226
Idem (detalhe).
p. 226/227 América. Rio Tocantins. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1730 (24 x 64 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 228
Mapa da América Meridional (detalhe) publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 230/231 Prospecto da cidade de S. Maria de Belém do Grão-Pará. De 20 de maio de 1784. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/ Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira. p. 232/233 Casas de índios na floresta Mata-Mata no Moju, Pará. Joseph Leon Righini, 1867. Óleo sobre tela (24 x 45,3 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação Fundação Estudar.
p. 220/221 Arredores da Fazenda Mandioca, Rio de Janeiro, Autor desconhecido, 1838. Óleo sobre tela (30,1 x 43,7 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação Coleção Brasiliana– Fundação Estudar. 447
p. 234
Mapa da costa septentrional da Ilha de Marajó desde Yaraoubi até Anjaheba. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1763. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 235
Carte du cours du Maragnon ou de la grande route des Amazones dans sa partie navigable depuis
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
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Jaen de Bracomoros jusqu’à son embouchure et qui comprend la Province de Quito, et la côte de la Guiane depuis le Cap de Nord jusqu’à Essequebè/ levée en 1743 et 1744 et assujetie aux observations astronomiques [Mapa do curso do rio Maranhão ou do grande curso das Amazonas em sua parte navegável, a partir de Jaen de Bracomoros, até sua desembocadura e que compreende a Provincia de Quito, e a costa da Guiana desde o Cabo do Norte até o Essequebe, desenhado em 1743 e 1744 e submetido às observações astronômicas pelo Sr. de la Condamine]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1743- 1744 (38 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 236
p. 237
p. 238
América Meridional publicada sob os auspícios do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). JeanBaptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Carte du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para en remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noire où l’on a marqué entre autres circonstances, les établissements des Portugais, et un grand nombre de Missions établies chés les indiens dressée sur les Mémoires du P. Ignacio dos Reys... [Mapa do curso do rio das Amazonas ou do Maranhão desde a entrada do Pará remontando até a confluência do Rio Negro onde marcamos, dentre outras circunstâncias, os assentamentos portugueses e um grande número de Missões estabelecidas junto aos índios desenhado a partir das memórias do P. Ignacio dos Reys...]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1729 (34 x 53,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 240/241 Floresta virgem às margens do rio Paraíba. In Viagem pitoresca ao Brasil de Jean Baptiste Debret. Charles Etienne Pierre Motte, 1834. Gravura (22,3 x 35 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
El gran río Marañon o Amazonas con la Misión de la Compañía de Jesus. Padre Samuel Fritz, 1707. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 242
Descripção dos Rios Para Curupa e Amazonas discuberto e sondado por mandado de Sua. Mag. de por Ant. o Vicente Patrão de Pernambuco. Antônio Vicente Cochado, 1623 (46,5 x 59 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 244
Alegoria da América. José Teófilo de Jesus, s.d. Óleo sobre tela. Museu de Arte Sacra, Salvador. Paul Maeyaert/The Bridgeman Art Library.
p. 254/255 Ideia topográfica do rio Paraguay desde o prezidio de Nova Coimbra até Vila Real. Anônimo, c.1792. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 245
Forte brasileiro São Gabriel no rio Negro (detalhe). In Views in the Interior of Guiana. George Barnard (gravador), s.d.Litografia. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library.
p. 256a
Mapa da região das monções de São Paulo a Cuiabá. Anônimo, c.1720. Desenho a tinta ferrogálica (55 x 104,5 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 246
Mapa da América Meridional (detalhe), publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 256b
Configuração do chapado das Minas do Mato Grosso. Anônimo, s.d. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 257
Mapa da América Meridional (detalhe) publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
América Meridional. Nicolas de Fer, séc. XVII (21 x 28 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 248
America Meridionalis (detalhe). Gerard Mercator (cartógrafo) e J. Hondius (editor), 1606 (35,8 x 49,5 cm em folha de 48,5 x 57,2 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 249
Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’ Anville, c.1742. Tinta sobre papel (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 250/251 Seres monstruosos, dentre eles os orelhudos (detalhes). In Crônica do Mundo de Nuremberg. Anônimo, 1493. Iluminura. Coleção particular. p. 252
p. 253
p. 253
Acampamento no rio Paraguai durante as viagens do conde de Castelnau, Francis de la Porte, a América do Sul. Autor desconhecido,1843.Gravura. De Agostini Picture Library/M. Seemuller/The Bridgeman Art Library. Mapa da América meridional (detalhe), publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris. Idem. 448
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América Meridional, publicado sob os auspícios do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). JeanBaptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 264b
Colheita de vegetais pelos índios das bacias do Orinoco e do Amazonas (Maranhão). Escola italiana, 1780. Gravura. Coleção particular/Mithra-Index/ The Bridgeman Art Library.
p. 265
Amazona. Ilustração no frontispício de Traité historique sur les Amazones, de Pierre Petit. Autor desconhecido, 1718. Talha doce (16 x 23 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 266
Mapa do rio Amazonas, desde Quito até a Barra do Pará. Pedro Teixeira, 1637. Desenho a tinta ferrogálica (41,5 x 28,5 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 267
Mapa do curso do rio Maranhão ou do grande curso das Amazonas em sua parte navegável, a partir de Jaen de Bracomoros, até sua desembocadura e que compreende a Provincia de Quito, e a costa da Guiana desde o Cabo do Norte até o Essequebe, ... submetido às observações astronômicas pelo Sr. de la Condamine (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1743-1744 (38 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 269
Eldorado. Ilustração de Regni Guianae, de Sir Walter Raleigh. Autor desconhecido, séc. XVII. Gravura. Biblioteca Nacional de Mapas e Planos, Paris/ Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 270
A Descoberta do grande, rico e belo Império de Guaiana. In Newe Weld un Americanische Historien por Johann Ludwig Gottfried, de Sir Walter Raleigh. Autor desconhecido, a partir de Theodore de Bry, 1631. Litografia. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library.
p. 272
Guiana siue amazonum regis. Jan Jansson, s.d. (37,5 x 48,5 cm em folha de 48,5 x 58 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 273
La Guaiane, ou coste sauvage, autrement El Dorado, et païs des Amazones, aujourdhuy France E-quinoctiale [A Guiana, ou costa selvagem, também El Dorado e país das Amazonas, hoje França Equinocial]. InQuarante lieues françaises, de Pierre Duval, 1654 (39 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 274a
Mapa da América Meridional, desenhado para o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste
Prospecto da Vila de Monforte na Ilha Grande dos Joannes. José Joaquim Freire, séc. XVIII. Aquarela (33,5 x 18,5 cm em folha de 35 x 24 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira.
[ Capítulo 7 ]
p. 247
1826. Gravura. Biblioteca das Artes Decorativas, Paris.Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 259
Acampamento de bandeirantes. Autor desconhecido, séc. XIX. Crayon e aguada sobre papel (20,3 x 31,2 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 260
Canal de passagem: vue le versant de l’Itacoulumi. In Six semaines aux mines d’or du Brésil (desenho 29). Ernest de Courcy, c.1885. Desenho. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 261a
Carte manuscrite des côtes du Brésil (detalhe) (coleção d’Anville). Anônimo, séc. XVIII (66 x 44 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 274b Mapa da América Meridional (detalhe), publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 275 Carte huilée de la route de Nicolas Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis Rio Esquibé jusqu’à Rio Negro / [communiqué par M. de La Condamine]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville (cartógrafo), Nicholas Horstmann (autor adaptado) e Charles-Marie de La Condamine (autor adaptado), séc. XVIII (49,5 x 32,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 276/277 A rocha Comuti no Rio Essequibo (detalhe). In Twelve Views in the Interior of Guiana.George Barnard (gravador), a partir de Charles Bentley, 1840.Litografia.Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. p. 278 Pirara e Lago Amucu — o sítio de El Dorado. In Twelve Views in the Interior of Guiana.George Barnard (gravador), a partir de Charles Bentley, 1840. Litografia.Yale Center for British Art, Paul Mellon Collection.The Bridgeman Art Library. p. 279 Esmeralda, no Orinoco– local da Missão Espanhola. In Twelve Views in the Interior of Guiana.Paul Gauci (gravador), a partir de Charles Bentley, 1840. Llitografia. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. p. 280a Mapa da América Meridional (detalhe da cartela 1). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville,1779. Coleção particular. p. 280b Fragments d’une carte de l’Amérique du Sud montrant partie de la Nouvelle Grenade et l’estuaire de rio de la Plata [Fragmento de um mapa da América do Sul, mostrando parte da Nova Granada e o estuário do rio da Prata]. Jean-Baptiste Bourguignon d‘Anville, 1748. Tinta sobre papel (20 x 20 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 281 Tabula Americae specialis geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae firmae et Reg. Amazonum, segundo Herrera, Laet,P.P. d’Acuna e M. Rodriguez e observações de G. Delisle, séc. XVIII (49 x 64 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 283 Pururama: a grande catarata no Rio Parima. In Twelve Views in the Interior of Guiana. Paul Gauci (gravador), a partir de Charles Bentley, 1840. Litografia. Coleção particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library.
[ Capítulo 8 ]
p. 261b
Mapa da América Meridional (detalhe), publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 286
Extração de diamante. In Notícia summaria do gentilismo da Asia: com dez riscos illuminados. Carlos Julião, s.d. Desenho. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 262
Roteiro dos irmãos Nunes — Da paragem aonde se acham muitas esmeraldas, séc.XVIII. Manuscrito. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart.
p. 287
Escravos lavando o ouro de aluvião, vigiados pelo escravo mestre, brandindo chicote. Autor desconhecido, 1814. Gravura. Universal History Archive/UIG/The Bridgeman Art Library.
p. 263
Ilustração de Amazonas. In Histoire des voyages autour du monde, de J. Dufay, publicado por Courvalet & Co., Paris. Autor desconhecido,
p. 288a
Extração de ouro em Minas Gerais. Autor desconhecido, s.d. Óleo sobre madeira. Museu do Ouro, Sabará. 449
p. 288b
Alvará em forma de Lei, por que V. Magestade há por bem annullar, cassar, e abolir a Capitação, que pagaõ ao seu Real Erario os moradores das Minas geraes. Lisboa 3 de dezembro de 1750. Coleção particular.
p. 289
Mapa das minas do ouro de S. Paulo, e a costa do mar que lhe pertence. Anônimo, 1714. Desenho a tinta ferrogálica (54,5 x 66 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 291
Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular.
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
p. 292
Créditos das imagens
Praça principal de Vila Rica. Autor desconhecido, c.1780. Aquarela (38 x 50 cm). Instituto de Estudos Brasileiros-IEB/USP, São Paulo/Acervo Yan de Almeida Prado.
p. 307b
p. 293
Mapa manuscrito da região de São Paulo. Anônimo, s.d. Desenho. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart.
p. 308
p. 294
Relato sobre o levante em Vila Rica, em 1720. Instituto de Estudos Brasileiros/IEB-USP, São Paulo/Coleção Alberto Lamego.
Carte huilée des embouchures de la rivière des Amazones et côtes voisines (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, séc.XVIII. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 311
p. 295
Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que devem os descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como tambem o camiho de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens. Francisco Tosi Columbina, séc. XVIII. Nanquim (65 x 45,2 cm em folha de 66,5 x 48 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Cours du Maragnon ou du fleuve des Amazones. Padre Samuel Fritz, c.1700. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 313
Alegoria da Paz de Utrecht. Johannes Drappentier, 1713. Gravura (35,1 x 42,2 cm). Rijksmuseum, Amsterdã.
p. 314
Roteiro de todos os sinaes, conhecimentos, fundos, baixos, alturas e derrotas, que ha na Costa do Brasil, desde cabo de Santo ... Luís Teixeira, s.d. Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.
p. 296/297 Modo de lavar os diamantes– Arraial do Tejuco. Autor desconhecido, c.1775. Aquarela e nanquim (17 x 22 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. p. 298
p. 299
p. 301
p. 302
p. 303
p. 304
p. 306a
p. 306b
p. 307a
p. 315
Modo de minerar para se tirarem diamantes — Arraial do Tejuco. Autor desconhecido, c.1775. Aquarela e nanquim (17 x 22 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 316
Modo como se extrai o ouro no rio das Velhas e nas mais partes que a Rios. Autor desconhecido, c.1780. Aquarela. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros-IEB/USP, São Paulo/Coleção Yan de Almeida Prado.
p. 317
Suite du Brésil. Villages d’Indiens et Missions ruinées. Extraída da Carte de l’Amérique de D’Anville. Anônimo, séc.XVIII. Coleção particular. Cume do pico de Itacolomi. In Six semaines aux mines d’or du Brésil. Ernest de Courcy, c.1885. Desenho. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Mapa manuscrito da região de São Paulo. Anônimo, s.d. Desenho. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart. Demonstração do rio São Francisco, em Minas Gerais. Anônimo, s.d. Desenho a tinta ferrogálica (35,5 x 67,5 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Mapa da América Meridional, desenhado para o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Resposta ao embaixador da França sobre a posse do Cabo do Norte. Roque Monteiro Paim, 1699-1711. Manuscrito. Fundação Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. Mapa do curso do rio das Amazonas ou do Maranhão desde a entrada do Pará remontando até a confluência do rio Negro onde marcamos, dentre outras circunstâncias, os assentamentos portugueses e um grande número de Missões estabelecidas junto aos índios desenhado a partir das memórias do P. Ignacio dos Reys (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1729 (34 x 53,5 cm).
450
Mapa da América Meridional (detalhe), publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Planta topográfica da Praça da Nova Colónia: com o seu novo desenho. José da Silva Pais, 1736. Desenho a tinta (63,7 x 42,2 cm em folha de 67,5 x 45,5 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
[ Considerações finais] Às vésperas do Tratado de Madri Os embaixadores. Hans Holbein, o jovem, 1533. Óleo sobre madeira (207 x 209,5 cm). National Gallery, Londres/The Bridgeman Art Gallery.
p. 331
Fernando VI e Bárbara de Braganza nos jardins de Aranjuez. Francesco Battaglioli, 1756. Óleo sobre tela (68 x 112 cm). Museu do Prado, Madri/ The Bridgeman Art Library.
p. 339
Theodore de Chavigny ou Chavignard. Escola francesa, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Coleção particular/Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
p. 333
Mapa da América Meridional (cartela 2, detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular.
p. 340
p. 334
Dom Luís da Cunha em seu gabinete de trabalho. Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Coleção particular.
Marc-Pierre de Voyer-de-Paulm, conde de Argenson. Hyacinthe Rigaud (ateliê de), séc. XVIII. Óleo sobre tela (135 x 104 cm). Museu do Palácio de Versailles, Versailles/The Bridgeman Art Library.
p. 342
p. 336
Ilha de Fernando de Noronha. Anônimo, séc. XVIII (40,5 x 52 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Mapa da América Meridional (cartela 2, detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular.
p. 337
Plan de l’Isle de Fernand de Noronha Située sur les Cotes du Bresil à l’E.N.E. de Rio Grande. Levée sur les Lieux en 1734 par un Officier de la Compagnie des Indes et la Coupe de cette isle avec les Bancs et Dangers qui l’environnent [Planta da Ilha de
Demonstracion convincente de la extension del territorio, en que está situada la Colonia del Sacram[en]to. In Papeis origin[ais] pertencentes à entrega da Collonia do Sacramento, raros e particullares. 1725-1736. Manuscrito. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Planta da fortaleza de São Gabriel, na Colônia de Sacramento. Anônimo, s.d. Desenho a tinta ferrogálica (22 x 32 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 318
Mappa iconographico da Praça da Colônia do Sacramento. Anônimo, 1776 (35 x 44 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 319
Planta da Praça da Colonia do Sacramento no Rio da Prata, tomada pelos Espanhoes em 1777. Anônimo, s.d. (40,5 x 49 cm, em folha de 42,5 x 51,6 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 320
Planta da Collonia do Sacramento. Anônimo, s.d. Manuscrito. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 322
Carte manuscrite de l’embouchure de Rio da Prata. Anônimo, c. 1740. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 323
Carte manuscrite de l’embouchure de Rio da Prata (detalhe). Anônimo, c. 1740. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 324
Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, c.1742.Tinta sobre papel (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 325
O grande Rio da Prata na América Austral e Portuguesa. Anônimo, 1740 (43 x 68,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 326
Mapa da América Meridional, publicado sob os auspícios do duque de Orléans (detalhe). Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 327
Demonstração fácil e concludente do direito que tem a Coroa Portuguesa e o domínio das terras... 1715. Manuscrito. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
Fernando de Noronha. Situada nas costas do Brasil...]. Ph. Buache (editor), 1737 (49 x 64, 5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 330
p. 344/345 Vista da Calle de Alcalá. Antonio Joli, c.1750. Óleo sobre tela (76,8 x 119,7 cm). Coleção particular/Rafael Valls Gallery, Londres/The Bridgeman Art Library. p. 347
Alexandre de Gusmão. Oswaldo Teixeira, séc. XX. Óleo sobre tela. Museu Paulista, São Paulo.
p. 348
Embouchure de la rivière des amazones. Anônimo, séc. XVIII. Impresso (21 x 22 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
A invenção do Brasil p. 350
Mapa da América Meridional, publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular.
p. 351
Floresta virgem às margens do rio Paraíba (detalhe). In Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, de Jean Baptiste Debret. Charles Etienne Pierre Motte, 1834. Gravura (22,3 x 35 cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
p. 353
Dom Tomás da Silva Teles –Visconde de Vila Nova de Cerveira. In Retratos de cardeaes, bispos, e varoens portuguezes illustres em nobreza, armas, letras, e santidade (imagem 40). Autor desconhecido, 1791. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
p. 356
Carte manuscrite de la partie de la Riviere del Amazonas voisine de celle de Madère et de celle de Guatuma et d’Urabu. Ignacio dos Reys, 1729 (19 x 23 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 357
Carte manuscrite de la Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique [Mapa manuscrito da Guyana com as Antilhas até a Martinica]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1745. Manuscrito (75 x 62 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 358
raya dos dominios de huma e outra Corôa na America Meridional, assignado em Madrid a 13 de Janeiro de 1750. Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.
Tratado de limites das conquistas entre... D. Joaõ V Rey de Portugal, e D. Fernando VI Rey de Espanha, pelo qual [foi] abolida a demarcação da Linha Meridiana, ajustada no Tratado de Tordesillas de 7 de Junho de 1494, se determina individualmente a
451
p. 359
Maria Barbara de Braganza Rainha da Espanha. Domenico Dupra, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Museu do Prado, Madri/The Bridgeman Art Library.
p. 360
Descripçam do Continente da America Meridional que nos pertence com os Rios, e Montes, que os Certanejos mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisaõ se faz. Anônimo, 1746. Coleção Guita e José Mindlin, São Paulo.
p. 362
Fragments d’une carte de l’Amérique du Sud montrant partie de la Nouvelle Grenade et l’estuaire de rio de la Plata [Fragmento de um mapa da América do Sul, mostrando parte da Nova Granada e o estuário do rio da Prata]. Jean-Baptiste Bourguignon d‘Anville, 1748. Tinta sobre papel (20 x 20 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 363
A Map of South America. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1791. Impresso. Coleção particular.
p. 364
Carta Geographica de que se serviu o ministro plenipotenciario de S. Magestade Fidelissima para ajustar o tratado de limites na America Meridional, assignado em 13 de Janeiro de 1750 em Lisboa (67 x 60 cm). Biblioteca Nacional da Espanha, Madri.
p. 365
Idem (verso).
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL
Fontes
Agradecimentos
rimeiramente, gostaria de agradecer à Organização Odebrecht, em especial a Márcio Polidoro, e à comissão julgadora da edição 2011 do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica Clarival do Prado Valladares — iniciativa relevante e praticamente solitária neste país —, pelo acolhimento deste projeto. Na preparação editorial deste livro pude contar com uma equipe preciosa: a Versal Editores, na pessoa de José Enrique Barreiro e de todo o seu time; a Maria Beatriz Albernaz, que cuidou com afinco da preparação e editoração do texto, a despeito das minhas tantas idas e vindas; a Ileana Pradilla, que realizou a cuidadosa pesquisa iconográfica; a Karyn Mathuiy, pelo precioso projeto gráfico, que permitiu dar maior visibilidade a essa pesquisa; a Flora Thomson-DeVeaux, pela versão para o inglês, e a Norma Luz Arteaga de Medina, pela versão para o espanhol. Da mesma forma, agradeço à Bosch Company, por ter me permitido o acesso à sua coleção e, em particular, a Angelika Merkle, por ter me recebido com imensa disponibilidade e gentileza. O dia da descoberta desse precioso acervo foi compartilhado com Neil Safier e Íris Kantor, amigos queridos, que viveram comigo muitos dos esforços, mas também dos prazeres, decorrentes dessa pesquisa. Com ambos desenvolvi, ao longo desses anos, uma cumplicidade acadêmica e uma camaradagem intelectual, resultado de nosso amor pelos mapas e de nossa amizade. Os apoios institucionais que recebi no Brasil foram imprescindíveis para a fase de concretização da pesquisa. O CNPq me concedeu uma bolsa de Produtividade em Pesquisa, que teve vigência a partir de 2006. Além desta, pude contar ainda com um bolsista de Iniciação Científica, a partir de 2007, e com o auxílio financeiro decorrente do Edital Universal de 2008, ambos concedidos por essa instituição. O Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares/ IEAT/UFMG me acolheu, no ano de 2007, como professora residente. Ao diretor Carlos Antônio Leite Brandão e ao conselho diretor, particularmente a João Antônio de Paula e Sérgio Danilo Junho Pena, sou imensamente grata pelo acolhimento num mo-
mento importante para a abertura de novos horizontes de pesquisa. Gostaria de agradecer especialmente à Reitoria da UFMG, nas pessoas de Ronaldo Tadeu Pena, Heloísa Maria Murgel Starling, Clélio Campolina Diniz e Rocksane de Carvalho Norton pelo apoio constante. Agradeço à Capes, que durante o ano de 2008 me concedeu uma bolsa de pós-doutorado, fundamental para a realização da pesquisa na França e que permitiu tanto o acesso à documentação cartográfica de D’Anville, como a uma bibliografia indispensável ao refinamento teórico deste livro. A Companhia das Índias/UFF me concedeu um apoio de pesquisa em 2007 por meio do projeto Raízes do Privilégio, financiado pela Faperj, do qual participei como pesquisadora associada. Gostaria de agradecer a todos os seus membros, e especialmente a Rodrigo Bentes Monteiro, Ronaldo Vainfas e Márcia Motta. Da Fapemig recebi, entre 2009 e 2010, uma bolsa de pesquisa no escopo do seu projeto Pesquisador Mineiro II. No exterior, pude contar com algumas instituições e colegas que me acolheram, permitindo que a pesquisa alcançasse a abrangência internacional necessária para realizar os objetivos a que me propus, ao me aventurar a cruzar os destinos de um embaixador português e um cartógrafo francês, num mundo europeu muito mais globalizado do que se poderia esperar. Em 2007, obtive uma bolsa de pesquisador visitante na Newberry Library, concedida pelo The Hermon Dunlap Smith Center for the History of Cartography, que me abriu o acervo dessa instituição. Por isso, agradeço especialmente a James Ackerman, Robert Karrow Jr., James Grossman e Diane Dillon, que me acolheram com enorme carinho. Em 2008, fui recebida como pesquisadora visitante da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) durante meu período de pós-doutoramento. Lá, pude contar com a acolhida e a amizade inestimáveis de Serge Gruzinski e o apoio sempre amável dos membros do Cerma, especialmente de Lydia Robin, Cláudia Damasceno Fonseca, Carmen Bernand, Louise Bénat-Tachot, Carmen Salazar-Soler. Em Lisboa, onde estive como professora visitante pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, não tenho palavras
P
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para agradecer a Nuno Gonçalo Monteiro, por todo o apoio em inúmeras estadas. Agradeço a todos os funcionários de bibliotecas e arquivos por onde passei buscando pistas sobre dom Luís da Cunha e D’Anville. Agradeço especialmente ao embaixador Álvaro da Costa Franco, do Arquivo Histórico do Itamaraty; a Maria Dulce de Faria, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; a Helène Richard e Catherine Hofmann, do Département des Cartes et Plans da Bibliothèque Nationale de France, e, por meio delas, a todos os funcionários desse setor, que durante um ano de pesquisa foram sempre amáveis e solícitos; a Margarida Lages e Manuel Côrte-Real, do Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que prontamente disponibilizaram os retratos de dom Luís da Cunha para reprodução; a Maria Joaquina Esteves Feijão e a Conceição Chambel, da Biblioteca Nacional de Portugal; a Helena Greco, da Sociedade Geográfica de Lisboa; e a Diná Marques Pereira Araújo, do Acervo de Obras Raras da Universidade Federal de Minas Gerais. Os colegas e amigos que, de alguma forma, contribuíram com alguma sugestão, documento, apoio ou amizade, são preciosos e inúmeros. Correndo o risco de esquecer algum, agradeço a Eddy Stols, Luís Felipe de Alencastro, André Ferrand de Almeida, Jorge Pimentel Cintra, Laura de Mello e Souza, Mary Pedley, Mathew Edney, João Carlos Garcia, Evaldo Cabral de Mello, Lucile Haguet, Diogo Ramada Curto, Arno Wehling, Modesto Florenzano, Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, Jean-Marc Besse, Marie-Thérèse Mandroux-França, Herbert Klein, Karen Wigen, Roberta Stumpf, Tiago dos Reis Miranda, Laurent Vidal, Mafalda Soares
da Cunha, Marco Antônio Silveira, Maria Fernanda Bicalho, Pedro Cardim, Fernanda Olival, Carla Lois, Jordana Dym, Antônio Gilberto Costa, Friedrich E. Renger, Márcia Maria Duarte Santos, Katia Queirós Matoso, Rákóczi István, Catarina Madeira Santos, Maria Emilia Madeira Santos, Abilio Diniz Silva, Anna Canas Delgado Martins e Ângela Domingues. A Maria de Fátima Gouvêa fica um agradecimento marcado por muitas saudades. Ao Departamento de História da UFMG, paticularmente aos professores Maria Efigênia Lage de Resende, Eliana Dutra, Regina Horta Duarte, Mauro Condé, Thaïs Pimentel, Maria Eliza Linhares Borges, José Newton Coelho Meneses, João Pinto Furtado e Eduardo França Paiva. A Cássio Ramiro Mohallem Contrim não tenho como agradecer os “mimos” materializados em mapas e documentos sobre a nossa história, e a Luiz Phillipe do Carneiro de Mendonça, por me disponibilizar os que pertenceram a Marcos Carneiro de Mendonça. Por fim, last but not least, quero agradecer a minha família, que, de uma forma ou de outra, compartilhou a construção deste livro, a meus pais, Ilda e Evaldo; a meus irmãos Beatriz, Marisa e Marcos; a meus cunhados e cunhada, Sérgio, Jason e Liliana. A Li An e Vera Andrade, tia e amiga querida que deixou muitas saudades. A Lucas, Clara e Alice é mais difícil ainda dizer qualquer coisa. Para eles, todo o meu amor, e o agradecimento especial por conseguirem sobreviver à minha vida dedicada à história com inúmeros gestos cotidianos de generosidade e amor, que não passaram despercebidos. Para com vocês, minha dívida mas principalmente minha gratidão e meu amor são eternos.
Belo Horizonte, outono de 2013.
Agradecimento especial A Organização Odebrecht agradece ao Grupo Bosch por ter cedido gentilmente, para esta publicação, imagens do acervo da Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. 453
Sobre a autora
Júnia Ferreira Furtado é mineira, de Belo Horizonte. Graduou-se em História na Universidade Federal de Minas Gerais onde hoje é professora titular de História Moderna. Realizou mestrado e doutorado em História Social na USP e fez estudos de pós-doutoramento na Universidade de Princeton (2000) e na École des Hautes Études en Sciences Sociales (2008). Foi professora residente do IEAT/UFMG e agraciada com a Short-Term Fellowship, concedida pelo Hermon Dunlap Smith Center for the History of Cartography, da Newberry Library, (2007); com a Bolsa Luso-Afro-Brasileira, pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2010); e com a Cátedra Joaquim Nabuco, do Center for Latin American Studies, da Universidade de Stanford (2012). Tem vários artigos e livros publicados sobre a História Moderna Luso-brasileira, entre eles “Chica da Silva e o contratador dos diamantes: o outro lado do mito” (Companhia das Letras, 2003, Menção Honrosa Casa de las Américas, 2004).
Este livro foi composto na fonte Andrade Pro e impresso em papel couché matte pela Pancrom Indústria Gráfica, para a Versal Editores, em São Paulo, em outubro de 2013.