Livro Didático de História - Ensino Médio - Volume 3
 9788538599685, 9788538599692

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a i r ó t His Volume 3

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

C794

Cordeiro, Lysvania Villela. História : ensino médio / Lysvania Villela Cordeiro, reformulação dos originais de: Norton Frehse Nicolazzi Junior ; ilustrações André Müller. – Curitiba : Positivo, 2015. v. 3 : il. Sistema Positivo de Ensino ISBN 978-85-385-9968-5 (Livro do aluno) ISBN 978-85-385-9969-2 (Livro do professor) 1. História. 2. Ensino médio – Currículos. I. Nicolazzi Junior, Norton Frehse. II. Müller, André. III. Título. CDD 373.3 ©Editora Positivo Ltda., 2015

Presidente: Ruben Formighieri Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy Autoria: Lysvania Villela Cordeiro; reformulação de originais de Norton Frehse Nicolazzi Junior Supervisão Editorial: Jeferson Freitas Edição de Conteúdo: Lysvania Villela Cordeiro Edição de Texto: Shirlei França dos Santos Revisão: Sandra Regina de Souza (Coord.) e Alessandra Cavalli Esteche Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka Edição de Arte: Tatiane Esmanhotto Kaminski Projeto Gráfico: YAN Comunicação Ícones: ©Shutterstock/Goritza, ©Shutterstock/Kamira, ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Chalermpol, ©Shutterstock/Maxx-Studio, ©Shutterstock/Leremy, ©Shutterstock/David Arts e ©Shutterstock/Lightspring Imagens de abertura: Acervo pessoal de Lysvania Villela Cordeiro (Santa Bárbara. [ entre 1515 e 1520]. 1 escultura em madeira policromada com douramento. Maline. Museu de Cluny, Paris.) e ©Shutterstock/Be Good Editoração: Rosana da Silva Cunha Ilustração: André Müller Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Vítor Yago Argus Cartografia: Julio Manoel França da Silva e Marilu de Souza Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz Produção Editora Positivo Ltda. Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário 80440-120 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3312-3500 Site: www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento Gráfica e Editora Posigraf Ltda. Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC 81310-000 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3212-5451 E-mail: [email protected] 2018 Contato [email protected] Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

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Transição da Antiguidade para a Idade Média na Europa ............................................. 4 Conceito histórico .....................................................................................6 Feudalismo ...............................................................................................7 Política, economia e religião ...................................................................10 Outro feudalismo: o caso do Japão .........................................................13

Império Bizantino ................................. 17 Outra Idade Média .................................................................................19 Império do Oriente ................................................................................21 Política, economia e religião ..................................................................23 Cultura e influências bizantinas .............................................................27

Árabes .................................................. 31 Outra Idade Média .................................................................................33 Árabes ....................................................................................................33 Política e economia ................................................................................36 Religião: o surgimento do Islam ............................................................36 Cultura e influências árabe-islâmicas ....................................................41

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Transição da Idade Média para a Idade Moderna ..............................................45 Cruzadas ................................................................................................46 Renascimento Comercial e Urbano ........................................................54 Formação da burguesia .........................................................................57 Crise do século XIV .................................................................................58 Transição do feudalismo para o capitalismo ...........................................61

11 e d a d i u g i t n A Transição da Média na para a Idade Europa Museu Nacional Romano

LEUTEMANN, O saque peloscontra vândalos em 455. [ca.[ca. 250]. 1 sarcófago em mármore. Museu Nacional Romano, Roma. SOLDADOS Heinrich. romanos do séculodeIIIRoma lutando tropas godas. 1860-1880]. 1 gravura colorida em metal. Cena de batalha entre soldados romanos e germânicos. O principal personagem é, provavelmente, Ostiliano, filho do imperador Décio. Sarcófago conhecido como Grande Ludovisi.

Ponto de partida O Império Romano, como estudado em volume anterior, ampliou grandemente seu território anexando novas terras e populações. Inicialmente, esse processo garantiu poder e glória aos líderes romanos. Entretanto, por fim, a ampliação das fronteiras acabou gerando o enfraquecimento e a crise econômica que ocasionaram uma onda sucessiva de invasões ao Império Romano do Ocidente e seu desaparecimento em 476. Para iniciarmos nossos estudos, relembre o conceito de bárbaro e destaque os povos que o empregaram na Antiguidade.

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Objetivos da unidade: ƒ resgatar as principais características da civilização romana; ƒ compreender os fatores que levaram o Império Romano à divisão territorial em Oriente e Ocidente, destacando as invasões que fragmentaram o poder político do Império Romano do Ocidente; ƒ localizar temporalmente o período da Idade Média na divisão tradicional da história; ƒ compreender o conceito de feudalismo; ƒ conhecer as principais características do feudalismo, destacando as organizações políticas, econômicas e sociais; ƒ analisar a sociedade medieval, destacando as relações entre os estamentos e o poder da Igreja Católica; ƒ compreender o feudalismo japonês. Nesta unidade, você vai estudar o processo de transição da Antiguidade para a Idade Média na Europa. Oficialmente, o fim do Império Romano do Ocidente ocorreu com as invasões dos povos “bárbaros”. Em 476, as invasões anunciaram o fim de um período de grandes realizações e, consequentemente, o início de um período de “trevas”. Entretanto, não se pode aceitar a ideia de que o Império Romano deixou de existir simplesmente em decorrência das invasões “bárbaras”. Tampouco se deve considerar que o fim do Império Romano significou, de maneira precisa, o fim de um modelo de organização da sociedade e o surgimento de outro completamente diferente. Museu Condé, Chantilly

De acordo com o historiador medievalista Jacques Le Goff, a Idade Média é fruto de um processo de aculturação no qual, pouco a pouco, misturaram-se os costumes dos romanos e dos “bárbaros”. LIMBOURG, Herman; LIMBOURG, Paul; LIMBOURG, Johan. Tosquia das ovelhas [iluminura do mês de julho]. In: As ricas horas do duque de Berry. [entre 1410 e 1416]. Museu Condé, Chantilly. Detalhe.

Museu Condé, Chantilly

Desde a fundação de Roma, em 753 a.C., seus habitantes cultivaram grãos e mantiveram criações de animais, como carneiros e ovelhas. Os “bárbaros”, nas terras ao norte das fronteiras romanas, praticavam a caça como meio de subsistência. Os costumes desses povos, ao serem continuamente misturados e adaptados, deram origem à sociedade feudal.

LIMBOURG, Herman; LIMBOURG, Paul; LIMBOURG, Johan. A caçada do javali [iluminura do mês de dezembro]. In: As ricas horas do duque de Berry. [entre 1410 e 1416]. Museu Condé, Chantilly. Detalhe.

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Conceito histórico Tradicionalmente, o início da Idade Média está situado no século V da Era Cristã. Contudo, o processo que provocou as modificações que transformaram a fisionomia da Europa Ocidental se iniciou muito antes daquele século, bem como se prolongou depois dele. O mesmo ocorre quando as “invasões bárbaras” são identificadas como a causa que determinou o fim do Império Romano do Ocidente, anunciando o começo do Período Medieval. A ideia de “invasões” é rejeitada por vários historiadores. Eles defendem que, na realidade, ocorreram deslocamentos de povos em busca de melhores condições de vida dentro das fronteiras do Império Romano. A aculturação foi recíproca: romanos e “bárbaros” trocavam tanto produtos quanto costumes. É importante destacar que tais deslocamentos e trocas foram, ao mesmo tempo, pacíficos e violentos. Geralmente, fala-se em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, o que não deixa de ser um reflexo da própria mentalidade medieval: alto como símbolo daquilo que é antigo, um passado venerável, e baixo simbolizando o que é recente, porém decadente e imperfeito. Os humanistas denominaram aquele período de medium tempus, o tempo do meio (período interme-

diário). É perceptível que tal denominação assumiu um caráter altamente pejorativo: a palavra meio deriva do latim medius, mesma raiz latina da palavra médio, que é sinônimo de mediano, de medíocre. De acordo com o Dicionário Aurélio, medíocre é um adjetivo que indica a qualidade daquilo que não tem importância, que é ordinário e vulgar. Logo, para os humanistas, a Idade Média foi um período sem importância, um período medíocre. O caráter pejorativo em relação ao medievo europeu data do século XIV, mas somente no século XIX foram estabelecidas as balizas cronológicas que determinaram o seu fim. Para esses historiadores, o Renascimento representou uma ruptura com a Idade Média, bastando, então, escolher uma baliza cronológica precisa para marcar o fim da “Idade das Trevas”. Decidiu-se que o ano de 1453 marcaria o fim da Idade Média, exatamente a data em que a cidade de Constantinopla foi tomada pelos turco-otomanos. Fato que representou o fim do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino. Portanto, tradicionalmente, a Idade Média é concebida como o período de tempo entre o fim do Império Romano do Ocidente (476) e o fim do Império Romano do Oriente (1453), ou Império Bizantino.

Outras versões Foi salientado que a fixação de datas precisas para definir o início e o fim da Idade Média acaba, invariavelmente, sendo uma tarefa falsa, incompleta e arbitrária. Para o historiador medievalista José Luis Romero (2009), o processo de mudanças que culmina na Idade Média começa antes de 476 e continua depois dessa data. O historiador medievalista Jacques Le Goff defende a ideia de “uma longa Idade Média”, que se estende muito além de 1453. A esse respeito, veja o que disse Le Goff em entrevista à revista francesa L’Histoire, publicada em outubro de 1999. [...] Penso que o que devemos compreender como a verdadeira Idade Média é, simultaneamente, uma idade de trevas e uma idade de ouro. Acrescentemos – para estender isso até o século XIX! – que o que herdamos desse período, no que concerne ao ensino e à pesquisa, delimita a Idade Média, a qual iria da decomposição do Império Romano e do mundo antigo, no século V, até o triunfo do humanismo, no fim do século XV, um monstro cronológico! [...] O Renascimento não é a ruptura absoluta, decisiva, que pretendeu ser: há uma longa Idade Média que iria até o fim do século XVIII. Pode-se dizer que a Idade Média só teve fim com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial! LE GOFF, Jacques. Uma longa idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 29.

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De acordo com o texto, responda às questões a seguir. 1. Para o historiador Jacques Le Goff, a Idade Média foi apenas um período de “trevas”? Justifique a resposta.

2. Tradicionalmente, a cronologia estabelece como início e fim da Idade Média os anos de 476 e 1453, respectivamente. O historiador Jacques Le Goff concorda com essa periodização? Justifique a resposta.

Feudalismo A desintegração do Império Romano do Ocidente não ocorreu exatamente no ano de 476. Os dois séculos anteriores já indicavam que uma crise social, econômica e política abatia os territórios romanos. Desse modo, parte-se do princípio que, desde o século III, uma transição foi, gradualmente, substituindo o modelo de organização do Império Romano por outro modelo, resultado de um processo de aculturação entre os costumes romanos e os costumes dos povos “bárbaros”. É importante lembrar que, com as conquistas territoriais romanas, os latifúndios agrários predominaram e que, para essas grandes propriedades rurais serem mantidas, era usada a mão de obra escrava obtida, principalmente, entre os povos conquistados.

Museu de Israel, Jerusalém

Contudo, a partir do século III, a expansão territorial e as conquistas deixaram de ocorrer, gerando a falta de trabalhadores para abastecer os latifúndios. Essa diminuição da oferta de mão de obra foi solucionada pela progressiva libertação dos escravizados e sua substituição por uma nova relação de servidão. Esta se baseava na distribuição de lotes de terras aos escravizados “libertados”, denominados de servos.

o, Servidão é a condição de quem é serv sertar pres de o que se prende à obrigaçã us, viços e/ou tributos. Servo, do latim serv de significa “escravo”. Na prática, apesar consideradas pessoas livres, os servos não eram verdadeiramente livres, pois dependiam de seus senhores.

O novo modelo de organização que passou a vigorar no decadente Império Romano foi denominado de colonato, do latim colonatus. Nesse modelo, um rendeiro recebia um pedaço de terra pela qual deveria pagar uma renda periódica. Os agricultores, sem serem escravizados, estavam perpetuamente ligados à terra, bem como seus descendentes (a regra romana do partus sequitur ventrem, que os filhos seguiam a condição da mãe pelo nascimento, permaneceu durante a Idade Média). Naquele período, o sistema do colonato romano mesclou-se com os costumes “bárbaros”, originando outro modelo de organização econômica, política e sociocultural que, posteriormente, foi denominado feudalismo. De maneira geral, considera-se que o feudalismo consolidou-se a partir do século XI, vigorando até o século XIII e, a partir daí, entrou em decadência.

ILUMINURA do século XV representando uma cena rural. Pintura a bico de pena, folha de ouro sobre papel vegetal, 21 cm × 15 cm. Museu de Israel, Jerusalém. Coleção Rothschild. A aldeia feudal e as terras ao seu redor consistiam no núcleo da sociedade medieval.

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Como o feudalismo foi um modelo com diversas particularidades, deve ser considerado como “um conceito histórico construído com o intuito de servir de ferramenta teórica para o estudo de determinado período na formação do Ocidente” (SILVA, 2008, p. 150). Sendo assim, neste material, são apresentadas algumas características gerais do feudalismo, lembrando que, de acordo com a época e com a região em que existiu, pode haver diferenças. Partindo do princípio de que o feudalismo é fruto da fusão de costumes romanos com costumes “bárbaros”, é fundamental lembrar que nenhuma das duas sociedades era socialmente igualitária. Logo, a sociedade feudal não estava livre de desigualdades. Aliás, a existência do sistema feudal fundou-se exatamente nas desigualdades. Nesse sentido, a propriedade de terras, da qual dependia a sobrevivência da sociedade feudal, é uma das principais características das desigualdades do feudalismo. As relações de propriedade de terra definiam a própria organização social, a qual era dividida, de acordo com cada função, em ordens ou estamentos.

Biblioteca Britânica, Londres

As três ordens que formavam a sociedade feudal eram: oratores, bellatores e laboratores ou aratores. Entre as três ordens, imperava a dependência de homem para homem, o que definiu, de fato, a hierarquia da sociedade feudal.

LAVOURA com bois. Iluminura integrante da obra Luttrell Psalter. [ca. 1325-1335]. Biblioteca Britânica, Londres. Os pastores e agricultores ou, simplesmente, os servos, compunham o grupo dos laboratores, ou aratores, aqueles que eram ligados ao trabalho braçal. MESTRE Cardeal de Bourbon. Vida e milagres do Monsenhor São Luis. [ca. 1482]. Iluminura sobre pergaminho, 37 cm × 21,5 cm. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.

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Biblioteca Britânica, Londres

Biblioteca Nacional da França, Paris

Na esfera da Igreja, estavam os religiosos, aqueles que oravam e formavam o grupo dos oratores.

ILUMINURA do século XV. In: FROISSART, Jean. Crônicas de Froissart (v. IV, parte 1). [entre 1470 e 1475]. Biblioteca Britânica, Londres. Vinculados ao campo militar, aqueles que lutavam e participavam de duelos e torneios, os cavaleiros e senhores, eram chamados de bellatores.

De acordo com o historiador Guy Fourquin (1987), a dependência que gera hierarquia entre indivíduos é a base do feudalismo. Para Fourquin, “um homem, o vassalo, confia-se a outro homem, que escolhe para seu amo, e que aceita esta entrega voluntária. O vassalo deve ao amo fidelidade, conselho e ajuda militar e material. O amo, o senhor, deve a seu vassalo fidelidade, proteção, sustento”. Mas, que motivo leva alguém a ser vassalo de um senhor? A historiadora Flávia Lages de Castro (2007) afirma que o motivo de alguém estar sob o senhorio de outra pessoa é a necessidade de sobrevivência, a qual se baseava na fidelidade, na hierarquia e na honra, valores característicos da Idade Média. Esses valores são observados nas relações de dependência entre indivíduos: a vassalagem e a servidão. A vassalagem consistia-se em uma relação de dependência política, ligava um nobre ao seu senhor por meio de uma cerimônia denominada homenagem. A homenagem era um ato que simbolizava a autoentrega, pela qual o nobre se comprometia com fidelidade ao seu senhor, obrigando-se a combater ao lado dele e prestar todo tipo de ajuda. A servidão, que podia assumir duas formas de sujeição, a do indivíduo e a da terra, estabelecia a relação entre o servo e o senhor. Ao receber um pedaço de terra em servidão, o servo passava a dispor do usufruto da propriedade, mas devia reconhecer que tal terra era domínio de seu senhor. A investidura era o ritual em que o senhor entregava simbolicamente a terra ao vassalo. ILUMINURA do século XV. In: D’ANJOU, René. Tratado da forma e especificações sobre os torneios. Biblioteca Nacional, Paris.

LatinStock/Akg-Images/VISIOARS

No ritual da homenagem, o vassalo, de joelhos, estendia suas mãos para que o suserano as beijasse ou as fechasse entre as próprias mãos. No ritual da investidura, ao vassalo era entregue um saquinho contendo terra ou um graveto de árvore que representavam o feudo outorgado.

A dependência manifestada por rituais como a investidura e a homenagem era indispensável em uma sociedade cujos sistemas jurídicos eram consuetudinários, isto é, baseavam-se nos costumes. Os rituais, portanto, eram cerimônias públicas que oficializavam os contratos entre vassalos e suseranos. Tanto a homenagem quanto a investidura exigiam juramentos de lealdade. Esse juramento assumia um caráter sagrado, de pacto perpétuo, como nos casamentos. E, a exemplo dos casamentos daquela época, esses contratos não deveriam ser rompidos, pois se acreditava que eram eternos. Na prática, porém, havia algumas possibilidades de se romper um contrato, como no caso de um vassalo devolver o feudo recebido (que deveria ser feito com a devolução do objeto que simbolizou o recebimento da terra) ou quando uma das partes era excomungada pela Igreja (pois nenhum cristão podia se relacionar com um excomungado). Assim, pode-se concluir que o feudalismo foi um sistema de organização política, econômica e social que, a despeito das diversidades existentes, baseou-se na propriedade da terra e na dependência entre indivíduos. Ou seja, a sociedade feudal estava fundamentada na desigualdade.

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Política, economia e religião Considerando a Idade Média como fruto de um processo de aculturação em que, pouco a pouco, misturaram-se os costumes romanos e os “bárbaros”, deve-se salientar que a organização político-econômica do período começou a se desenvolver a partir dos séculos IV e V, consolidando-se entre os séculos XI e XIII, para então se desfazer no decorrer dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Note que o intervalo histórico privilegiado é muito mais amplo do que a tradicional periodização empregada para a Idade Média, que vai do século V (476) ao século XV (1453). Do ponto de vista religioso, também ocorreram mudanças, como a expansão cristã na Europa (séculos IV a X), o surgimento e a expansão do islamismo (a partir do século VII), a sistemática perseguição aos “infiéis” e hereges (séculos VIII a XVIII), a divisão da Igreja Cristã (século XI) e a negação do predomínio intelectual da Igreja Católica (séculos XV a XVIII). O processo histórico de mudanças ocorridas na Europa Ocidental entre os séculos IV e XI, período ao qual se atribui o desaparecimento das cidades e o fim das atividades comerciais, é repleto de importantes detalhes. Para compreender as transformações que propiciaram a consolidação do sistema feudal, devem-se levar em conta esses detalhes muito esclarecedores.

Biblioteca Britânica, Londres

O desaparecimento das cidades, por exemplo, pode revelar muitas características do feudalismo. É importante lembrar que, no Império Romano, as cidades eram a base do próprio Estado, estando o campo diretamente vinculado aos centros municipais. O historiador Henri Pirenne (2003) chegou a afirmar que “o campo não era outra coisa que um território da cidade; que não existia sem ela, que só produzia para ela e por ela estava governado”.

CRESCENZI, Piero de. [Iluminura]. [14--]. Bolonha. Imagem original no Livro das profissões rurais. Biblioteca Britânica, Londres. A autossuficiência dos feudos implicou o fim do comércio, isto é, com cidades menos populosas e menos importantes, os produtos rurais e artesanais vendidos nos mercados urbanos perderam seus consumidores. Os camponeses, sem mercado, produziam o mínimo necessário para a sobrevivência.

Uma confluência de fatores (aproximação dos povos “bárbaros”, fragmentação do poder político em reinos feudais efêmeros, abandono dos centros urbanos, etc.) levou as cidades antigas à decadência. Entretanto, há de se destacar que, por mais arruinadas e despovoadas que se encontrassem, as cidades não perderam toda a sua importância. Os templos greco-romanos incorporaram novas funções: foram reutilizados como igrejas, ou as próprias igrejas foram construídas sobre eles. Os anfiteatros foram abandonados, pois o cristianismo proibiu o circo. Na cidade de Nimes, sul da França, os muros do anfiteatro serviram como defesa para a aldeia que passou a existir entre seus escombros. Assim, ainda havia moradores nas cidades convertidas, basicamente, em centros religiosos. Esses poucos moradores encarregavam-se de prover a subsistência do clero. As mudanças e adaptações ocorridas nas cidades se refletiram diretamente nas atividades econômicas, e o comércio, propriamente dito, deixou de existir.

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Sem comércio, não havia a necessidade de moedas. O escritor Oscar Pilagallo (2009) acrescenta que, “se algo faltasse, ficava mais fácil dar um pulo até a aldeia vizinha e recorrer ao velho escambo”, já que “não havia como nem por que produzir excedentes para comercializar”. Em suma, praticava-se o que alguns economistas chamam de “economia natural”, ou “economia fechada”. Nesse tipo de economia, as unidades bastam-se a si mesmas porque produzem tudo de que necessitam, não há trocas monetárias (que envolvam dinheiro) nem de bens ou, quando existem, as trocas são diretas. As trocas diretas, ou escambo, consistiam em permuta de grãos, ovos, queijo, carnes defumadas, tecidos ou outra matéria-prima. Apesar disso, os historiadores, em geral, concordam que as moedas não deixaram de existir, apenas perderam a importância e continuaram servindo como instrumento de trocas e medida de valores.

Museu Condé, Chantilly

LIMBOURG, Herman; LIMBOURG, Paul; LIMBOURG, Johan. [iluminura do mês de fevereiro]. In: As ricas horas do duque de Berry. [entre 1410 e 1416]. Museu Condé, Chantilly. Detalhe. O feudalismo tinha na propriedade rural o centro do poder político e econômico que um senhor exercia sobre os camponeses e os artesãos que viviam nas suas terras. Feudos como o da imagem eram praticamente autossuficientes. Na iluminura, enquanto algumas mulheres se aquecem diante do fogo no interior da habitação, dois homens trabalham no corte e no transporte de lenha. Entre a habitação e a torre de estocagem de grãos, existem alguns animais confinados. Em um dos lados da baia de ovelhas estão barris de cerveja, do outro aparecem quatro colmeias de abelhas.

Com as atividades econômicas e políticas espalhadas no espaço rural, estabeleceu-se, aos poucos, um novo modelo de organização, que culminou no sistema feudal. O senhor feudal, ao ceder um pedaço de terra ao servo, exercia seu poder político ao mesmo tempo que as relações econômicas do tipo natural eram reforçadas. Da terra, o servo tirava seu sustento e pagava a seu senhor (com produtos e/ou com dias de trabalho). Não necessitavam de moedas e, dessa forma, a terra, e não o dinheiro, era o principal indicador de riqueza. Obrigações e dependências nas relações de suserania e vassalagem •

O pagamento feito pelo servo para a utilização de propriedades de seu senhor, como forno, moinho, ferramentas, etc., era chamado de banalidade.



Corveia era o nome dado à obrigação que o servo tinha de prestar trabalho ao seu senhor.



Capitação era o imposto cobrado por servo que morava em um feudo.



Talha consistia na entrega ao senhor de parte da produção do servo.



Quando um servo morria, seus filhos deviam pagar a taxa da mão-morta para garantir o “direito” de permanecer trabalhando nas terras de seu senhor.



Os servos também eram obrigados a prestar serviço militar em caso de guerras ou batalhas e prestar hospitalidade ao seu senhor.



Em contrapartida, o senhor cedia ao servo o direito de explorar um pedaço de terra e devia garantir segurança a ele.

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Ao contrário da riqueza material, a riqueza espiritual não dependia nem de dinheiro nem de terra. Entretanto, falar em riqueza espiritual não significa fazer referência à profusão de deuses que caracterizou o paganismo na Antiguidade, mas à exuberância de práticas, crenças e dogmas religiosos que marcaram a Idade Média. É essa riqueza que permite uma reflexão a respeito da atitude religiosa dos homens e das mulheres medievais. Os antigos romanos, assim como os povos “bárbaros”, eram politeístas. No século IV, o cristianismo foi tolerado (Edito de Milão, 313) e estabelecido como religião oficial do Império Romano (Édito de Tessalônica, 380), porém isso não significa que o monoteísmo foi incorporado e aceito por todos. Ou seja, as antigas práticas e crenças não foram simplesmente abandonadas por um decreto imperial. A religiosidade medieval e a expansão e consolidação do cristianismo podem ser compreendidas por meio da crença em um único deus, que é antropomórfico; um deus que não tem concorrentes e que, de fato, não é bom nem mau. Enfim, “quando chega o cristianismo, Deus assume um D maiúsculo”, marcando claramente a tomada de consciência da passagem do paganismo greco-romano para o monoteísmo. O Deus cristão tem forma humana: de acordo com o Gênesis, no sexto dia da criação do mundo, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (“e Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus, Ele o criou; e Ele criou macho e fêmea”). O historiador Jacques Le Goff salienta que “o Deus da Idade Média é um Deus oficial”, sem concorrentes. Le Goff afirma que o Deus da Bíblia é todo-poderoso e justo, mas é também “um Deus de cólera, um Deus de vingança” – essa imagem permaneceu durante toda a Idade Média. Além da concepção medieval de Deus, é preciso atentar para o fato de que o paganismo permaneceu existindo paralelamente à consolidação do cristianismo. O termo pagão deriva da palavra latina paganus, que designava o aldeão, aquele que vivia no campo. Com o tempo, esse termo passou a representar os não batizados ou os que eram adeptos do politeísmo. O cristianismo, para assegurar sua hegemonia, passou a condenar qualquer prática ou crença que remetesse aos costumes pagãos. E que costumes eram esses? Basicamente, a superstição, a magia e a bruxaria. Em suma, era a crença de que certos atos provocavam, de maneira oculta e imediata, consequências boas ou ruins. O que o abade Jean-Baptiste Thiers resumiu em seu Tratado das superstições, publicado em 1679: “quem diz superstição, diz necessariamente pacto com o Demônio”. Muitos homens e mulheres medievais aceitavam o cristianismo como uma religião de iguais e que Deus – bom, grande e incorruptível – garantiria a vida eterna aos fiéis virtuosos. Contudo, para os problemas da vida cotidiana, aquelas pessoas buscavam a ajuda de deuses e demônios. Na Idade Média, o monoteísmo cristão conviveu com as idolatrias pagãs. O bispo de Turim, Máximo (que morreu, aproximadamente, entre 466-470), destacou que a idolatria ainda era praticada no norte da Península Itálica, “apesar de que já estava muito cristianizada”. Não só no campo, mas também nas cidades, uma parte significativa continuava pagã. Santo Agostinho (354-430) relatou ter ouvido fiéis dizerem que, “de fato, visito ídolos, consulto pessoas inspiradas e adivinhos, mas não abandono a Igreja de Deus. Sou católico”. Em busca de hegemonia, a Igreja Cristã precisou lutar contra as práticas pagãs, que foram então consideradas heresias, isto é, ideias ou atos que contrariavam os dogmas do cristianismo. Assim, os hereges (pessoas que praticam heresias) foram perseguidos e punidos durante toda a Idade Média. Nesse processo histórico, a Igreja Católica se firmou como uma das mais importantes e poderosas instituições de toda a Idade Média. Os clérigos assumiram grande destaque social (eram os representantes de Deus na Terra), e a Igreja desfrutou de poderes consideráveis, como o recolhimento de alguns impostos, a autoridade para conduzir certos julgamentos e ainda excomungar cristãos desobedientes.

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Outro feudalismo: o caso do Japão Durante a Idade Média, na Europa Ocidental, vigorou um modelo de organização político-econômica e social denominado feudalismo. Entretanto, o mesmo termo também é empregado para designar outras realidades históricas, como o caso do Japão. Assim, em razão das peculiaridades do feudalismo japonês em relação ao sistema feudal europeu, esse tópico é intitulado de “outro feudalismo”. No Japão do século VI, ocorreu uma tentativa de unificação política baseada na figura de um imperador apoiado pela aristocracia da época. Surgiu assim o reino de Yamato. Entretanto, a centralização pretendida não foi alcançada, pois várias famílias aristocráticas (proprietárias de terras) detiveram o poder em suas regiões. Em decorrência do poder político espalhado entre os grandes proprietários, o império tentou, no início do século VIII, ampliar sua esfera de ação decretando a apropriação de todas as terras pelo imperador. A reforma administrativa contribuiu para despertar uma noção de unidade nacional. Contudo, na prática, o poder permaneceu espalhado nas mãos das famílias aristocráticas. Na metade do século VIII, um decreto permitiu que os territórios ainda não ocupados, desbravados para dar lugar a plantações de arroz, fossem convertidos em propriedade privada do desbravador. Essa medida favoreceu o crescimento de propriedades que pertenciam às famílias aristocráticas. As grandes propriedades se desenvolveram por meio da mão de obra de pequenos camponeses, que recebiam o direito de explorar um pedaço de terra em troca de proteção. Mas, para isso, precisavam pagar altos impostos aos seus senhores. Essa situação se tornou cíclica: pequenos camponeses dependiam dos grandes proprietários, os quais mantinham esses camponeses dominados geração após geração.

Acervo pessoal de Norton Frehse Nicolazzi Junior

Consequentemente, os senhores se fortaleceram e exerceram seu poder em âmbito regional. Para garantir os próprios domínios e a submissão dos camponeses, os grandes proprietários formaram milícias. Os soldados contratados para essas milícias, chamados de samurais, mantinham uma relação de fidelidade com seus senhores.

O Castelo de Himeji, construído em meados do século XIV, foi projetado para garantir a segurança contra eventuais ataques. A Garça Branca, como é conhecido, tem um complexo sistema de labirintos e de passagens secretas. Apesar de ser fortemente protegido, o castelo nunca sofreu qualquer tentativa de invasão.

Os samurais, ao garantir os interesses dos grandes proprietários, contribuíram para acentuar a descentralização política. O imperador continuou existindo, mas, a partir dos séculos XI e XII, o xogunato, ou governo dos chefes militares, foi estabelecido. De acordo com a cientista política Célia Sakurai (2007), no xogunato, “o chefe militar, o xogum não substitui o imperador, mas exerce o poder de fato, premiando os seus seguidores mais leais com propriedades alienadas dos inimigos e garantindo a eles uma renda”.

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As constantes disputas entre os diversos xoguns instalaram a desordem e a insegurança no Japão. Os camponeses não tinham alternativa a não ser trocar o próprio trabalho pela proteção de um senhor. Quanto mais camponeses se submetiam a um único senhor, mais forte e poderoso ele se tornava. Assim, entre os séculos XV e XVII, consolidou-se o modelo de organização político-econômica chamado feudalismo japonês. Em suas propriedades, os senhores exerciam plenos poderes graças ao pagamento de impostos e à lealdade política e militar dos camponeses. Nos séculos XVIII e XIX, os feudos japoneses, que já vinham sofrendo mudanças substanciais (expansão das manufaturas, êxodo rural, etc.), passaram a se modernizar e a demandar outras formas de administração. Na Europa, esse período corresponde aos primórdios da industrialização, quando os países industrializados buscaram ampliar suas fontes de matérias-primas e seus mercados consumidores. Nesse contexto histórico, o Japão sofreu muita pressão para se envolver nas relações de comércio internacional, fato que contribuiu para o fim do feudalismo japonês.

Pesquisa Durante o Período Medieval, a estrutura familiar era bastante diferente do modelo de família contemporâneo. Vários aspectos, como os direitos e deveres de cada membro da família e a participação das mulheres e das crianças, evidenciam essa diferença. Faça uma pesquisa a respeito da organização familiar medieval, procurando saber quem fazia parte daquela família e que papel era desempenhado pelas mulheres e pelas crianças. Depois de anotar as informações pertinentes no caderno, responda ao exercício a seguir. (UFPR) Sobre a sociedade do Ocidente Medieval, considere as afirmativas abaixo: 1. Na Alta Idade Média, ocorreu um acentuado processo de urbanização, seguindo o modelo da urbanidade clássica. 2. Nessa sociedade, atribuía-se às crianças uma função na organização social e familiar semelhante àquela estabelecida para os adultos. 3. A noção de solidariedade familiar é um traço essencial da sociedade medieval. 4. As mulheres, na sociedade medieval, eram totalmente excluídas da sucessão. Quando casavam, recebiam como dote bens que seriam administrados pelo marido. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

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Hora de estudo 1. Leia o texto a seguir. [...] A partir dos séculos IV e V, o Império Romano tinha se tornado cristão, depois que os imperadores romanos se converteram, o que significou o fim do paganismo – essa era a palavra usada pelos cristãos para designar a religião romana, com seus inúmeros deuses e deusas. Então, o paganismo desaparece – mais ou menos rapidamente, sem dúvida nunca por completo – e, pouco a pouco, vai deixando lugar para o cristianismo. Os múltiplos deuses pagãos são substituídos por um único deus, o da Bíblia (Antigo e Novo Testamento), embora o Deus dos cristãos compreenda três pessoas (o Pai, o Filho e o Espírito Santo). E os próprios bárbaros se batizam para se tornarem cristãos: na França, o mais famoso convertido é um rei franco, do qual vocês já tenham ouvido falar, Clóvis (por volta do ano de 500 depois de Cristo). LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 14-15.

Com base no texto, analise as seguintes afirmações. I. A Igreja Cristã, por meio de uma aliança com alguns reinos bárbaros, conseguiu consolidar seu domínio espiritual e cultural na Europa Ocidental. II. A conversão de Clóvis e dos francos é uma evidência do completo desaparecimento do paganismo e das práticas religiosas dos “bárbaros”. III. A cultura cristã conseguiu se sobrepor a todos os rituais pagãos que existiam na Europa, tornando a Era Medieval uma época de tranquilidade religiosa. IV. O cristianismo, apesar de proclamar a união de “três pessoas” distintas formando um só Deus, promoveu o fortalecimento de um monoteísmo durante a Idade Média. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) I e IV. d) III e IV. e) II e III. 2. Leia o fragmento a seguir. [...] A casa de Deus, que acreditam uma, está pois dividida em três: uns oram, outros combatem,

outros, enfim trabalham. Estas três partes que coexistem não suportam ser separadas; os serviços prestados por uma são a condição das obras das outras duas; cada um por sua vez encarrega-se de aliviar o conjunto. Por conseguinte, este triplo conjunto não deixa de ser um; e é assim que a lei pode triunfar, e o mundo gozar da paz. ADALBÉRON DE LAON. In: DUBY. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982. p. 77-78. Apud: PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000. p. 91.

De acordo com a leitura do texto e seus estudos, analise as afirmativas a seguir. I. A organização da sociedade feudal estava estritamente relacionada com a religião. II. As ordens tinham funções e atribuições diferenciadas. III. A divisão de função estava restrita apenas à teoria, pois na prática todos desempenhavam as mesmas funções. Após a análise, assinale a alternativa correta. a) Todas as afirmativas estão corretas. b) Todas as afirmativas estão incorretas. c) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. e) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. 3. (UNAMA) Feudo é um termo que possivelmente veio do latim (feodum, ou do latim vulgar feudum). Ele designa a terra que o senhor feudal outorgava a seus servos ou vassalos em contrato de vassalagem. Por este contrato, comum no mundo feudal europeu da Idade Média, as obrigações eram: a) desiguais, pois o vassalo poderia plantar e ter proteção na terra feudal, em contrapartida devia cumprir uma série de obrigações como a corveia, a talha e deveres militares e de hospitalidade para com os nobres, tornando-se seu servo. b) parcialmente desiguais, pois os servos moravam nas terras senhoriais, pagavam impostos e deviam obrigações aos senhores, mas estavam livres para trocarem de senhores caso ocorressem abusos dos donos das terras. c) relativamente igualitárias, porque – tanto os senhores se beneficiavam com o trabalho e impostos dos servos – como estes recebiam terra de graça, roupa, alimentos e proteção senhorial em uma relação de trabalho livre.

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d) desigual e de trabalho obrigatório e gratuito do servo para com o senhor feudal, já que este vassalo não apenas pagava impostos e tinha obrigações como a corveia, mas era tido como escravo ou propriedade de seu senhorio. 4. (UEPG – PR) Sobre a servidão medieval, assinale o que for correto: (01) A servidão foi um tipo de relação social que resultou exclusivamente da desagregação do Império Romano. (02) Servidão e vassalagem foram as únicas formas de relação social existentes na sociedade feudal. (04) Tanto a sociedade romana quanto a germânica eram sociedades igualitárias, e elas produziram, com sua fusão, uma Idade Média basicamente livre de desigualdades. (08) No sistema feudal, as relações de servidão, suserania e vassalagem tendiam a ligar os membros de uma sociedade em uma rede infinita de hierarquias e dependências. (16) O servo detinha a posse útil da terra, devia obrigações e tinha o direito de ser protegido pelo senhor. 5. Para o historiador Giuseppe Sergi, “a Idade Média é uma convenção cronológica que consolidou-se na cultura comum da Idade Moderna e Contemporânea. Tem sua origem nas reflexões que os humanistas dos séculos XV e XVI, animados pela esperança de uma nova era de renascimento cultural e recuperação geral”. Sobre a Idade Média, o historiador Jacques Le Goff afirma que “esse nome foi dado ao período pelos humanistas, a partir do século XIV – Petrarca foi provavelmente o primeiro a empregar a expressão, que sobreviveu até nossos dias, medium tempus ou media tempora. Tratava-se de definir alguma coisa que havia chegado ao fim”.

a) todas as afirmativas estão corretas. b) todas as afirmativas estão incorretas. c) apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) apenas as afirmativas I e III estão corretas. e) apenas as afirmativas II e III estão corretas. 6. (UFCSPA) Em relação ao feudalismo e ao período medieval, analisar os itens abaixo: I. O modo de produção feudal, próprio do Ocidente europeu, tinha por base a economia agrária, comercial e monetária. II. No feudalismo, a posse da terra era o critério de diferenciação dos grupos sociais, rigidamente definidos: de um lado, os senhores, cuja riqueza provinha da posse da terra e do trabalho servil; de outro, os servos que estavam vinculados à terra, mas não tinham a sua posse. III. A propriedade feudal, ou senhorial, pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais. A principal unidade econômica de produção era o feudo. IV. Devido ao caráter monetário do sistema feudal, o servo se sentia estimulado a aumentar a produção, pois isso significava aumento do seu lucro e do senhor feudal. Está(ão) correto(s): a) somente o item II.

Fontes: LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 27.

b) somente o item IV.

SERGI, Giuseppe. La idea de Edad Media. Barcelona: Crítica, 2000. p. 19.

c) somente os itens II e III.

Com base nas informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir.

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I. A Idade Média, como período histórico, é basicamente uma construção intelectual que foi elaborada por homens que viveram entre os séculos XIV e XVI. II. Pode-se considerar que a Idade Média é uma denominação pejorativa, pois foi empregada pelos humanistas para qualificar um obscuro período intermediário entre a Antiguidade e o presente em que viviam. III. Atualmente, em razão das novas descobertas arqueológicas e de novas evidências históricas (como documentos até então desconhecidos), é inegável que a Idade Média foi realmente um período obscuro, uma “Era das Trevas”. De acordo com a análise, pode-se afirmar que:

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d) somente os itens I e IV. e) somente os itens I, II e III.

12 o n i t n a z i B o i r Impé Biblioteca Nacional da França, Paris

Istambul, localizada às margens do Estreito de Bósforo.

©iStockphoto.com/Vincent_St_Thomas

Representação do ataque a Constantinopla pelo exército turco comandado por Mohamad II, em 1453.

Ponto de partida A cidade de Constantinopla (atual Istambul) foi fundada pelo imperador Constantino no ano 330. Observe as imagens e debata com seus colegas sobre a importância dessa cidade no decorrer da história e na atualidade. Relembrem e explorem o máximo de características ligadas à cidade.

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Para o fim do Império Romano do Ocidente, é atribuída uma data específica: 476, quando o líder “bárbaro” Odoacro destronou o “último” imperador romano, Rômulo Augusto. Esse episódio é considerado a baliza cronológica que encerra a Antiguidade, dando início à Idade Média. Do Período Medieval, já foram analisadas algumas características, como o feudalismo, modelo de organização político-econômica e social que vigorou na Europa Ocidental.

Objetivos da unidade: ƒ resgatar os principais fatores que ocasionaram a divisão do Império Romano em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente (Império Bizantino); ƒ compreender a importância da cidade de Constantinopla para o comércio e para a formação de uma cultura marcada por traços ocidentais e orientais; ƒ conhecer as principais características políticas, econômicas e sociais do Império Bizantino, destacando também as características da religião ortodoxa; ƒ reconhecer as principais influências bizantinas para as gerações posteriores, destacando a presença dessas influências na atualidade.

Organize as ideias De acordo com as informações apresentadas no parágrafo anterior e observando o mapa que apresenta as máximas extensões do Império Romano, responda à questão proposta.

Julio Manoel França da Silva

IMPÉRIO ROMANO: a divisão Oriente e Ocidente

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 17.

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Observando o mapa, pode-se considerar que o feudalismo, como modelo de organização político-econômica e social, foi instituído em todo o território do Império Romano? Justifique a resposta.

Outra Idade Média Quando se fala de Idade Média, normalmente, faz-se alusão ao Período Medieval europeu, não é mesmo? Contudo, é possível falar de outra Idade Média? Para pensar a respeito da resposta a essa pergunta, observe a ilustração a seguir. QUANDO FALAMOS EM IDADE MÉDIA QUE IMAGEM NOS VEM À MENTE?

CASTELOS FORTIFICADOS! COMBATES E DUELOS DE CAVALEIROS.

MAS A IDADE MÉDIA FOI SÓ ISSO?

André Mülle r. 20 11. Dig i

tal

.

E NÃO HAVIA COMÉRCIO NEM CIDADES!

Os diálogos reproduzidos na ilustração demonstram que existe uma ideia de Idade Média recorrente para a maioria das pessoas: a Idade Média europeia, com seus feudos, castelos e duelos de cavaleiros, a qual sucedeu a Antiguidade e precedeu a Idade Moderna. No entanto, também se pode falar em outra Idade Média, não geograficamente limitada à porção ocidental da Europa. Paralelamente ao Período Medieval europeu, ocorreram, em outras regiões, acontecimentos históricos com características bem distintas daquelas que contribuíram para o aparecimento e a consolidação do sistema feudal. Sendo assim, nesta unidade, é priorizada a história do Império Romano do Oriente, que, ao contrário do Império do Ocidente, sobreviveu às crises que levaram à decadência do Império Romano. Em razão das diferenças históricas abordadas, a denominação de Império Bizantino será usada em referência ao Antigo Império do Oriente.

FEUDOS, AS PESSOAS VIVIAM NO CAMPO...

O termo bizantino refere-se à colônia grega de Bizâncio, que recebeu essa denominação em homenagem ao rei Bizas (ou Bizante). Em 330, sobre as ruínas de Bizâncio, Constantino fundou Constantinopla, que passou a ser a capital do Império Romano do Oriente. O historiador Colin McEvedy ressalta que “os próprios ‘bizantinos’ nunca usaram eles próprios o termo dessa maneira”, pois sempre se consideraram romanos.

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Outras versões A história do Império Bizantino atravessa quase todo o período que tradicionalmente considera-se Idade Média, isto é, de 476 a 1453. Entretanto, tudo aquilo que se convencionou chamar de características medievais não é facilmente identificado nos limites territoriais bizantinos. Portanto, conclui-se que a história medieval, assim como a história bizantina, pode ser analisada de maneiras diferentes, com base em pontos de vista distintos. Logo, falar em “outra Idade Média” pressupõe analisar a história por outros prismas, que resultam em outras versões de um mesmo passado. Para melhor compreender essa noção, leia com atenção os dois textos a seguir, que abordam alguns aspectos da história bizantina. Aqueles que ainda sustentavam, no século IV, que o Império Romano viveria ainda outros mil anos, tinham razão, até o ponto em que identificavam Roma como a nova cidade de Constantino. Contudo, Bizâncio, ao vencer o parasitarismo e a desordem de Roma, criou uma carapaça na qual século após século a criatura viva diminuía de tamanho e seus movimentos se tornavam cada vez mais constritos. Na verdade, o Império Oriental se reduziu a uma província; a província, a uma região urbana: no fim, aquela própria região se contraiu aos limites da cidade, dentro de cujas muralhas, em lotes vazios, de novo se plantavam alimentos para os últimos remanescentes da sua população, antes que se rendessem aos turcos. MUNFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 265-266.

[...] Não foram os merovíngios e carolíngeos que herdaram o Império Romano, mas Constantinopla. “Visto como parte da história do mundo, o Ocidente foi reduzido a uma esquina esquecida cujo centro estava no vale do Mediterrâneo oriental, o Império Bizantino, e mais tarde, também os territórios árabes”. [...] O colapso do Ocidente não se espalhou para o Mediterrâneo oriental, em que, em muitos aspectos, cidades como Constantinopla ou Alexandria, com culturas urbanas, continuaram a se desenvolver, especialmente em termos econômicos, como centros de arte, referência para a educação e entrepostos para o comércio, [...]. [...] O escambo não excluía inteiramente a moeda, nem a autossuficiência interrompeu o comércio completamente. A escrita não foi esquecida. Em Constantinopla, textos científicos e literários foram persistentemente copiados e preservados. GOODY, Jack. O roubo da história. São Paulo: Contexto, 2008. p. 84-86.

Esses textos revelam alguns aspectos da história do Império Bizantino com base em duas perspectivas históricas distintas. Explique como cada fragmento de texto apresenta a importância da cidade de Constantinopla e do próprio Império Bizantino depois do fim do Império Romano do Ocidente.

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Império do Oriente A história do Império Bizantino não reflete com exatidão o Período Medieval europeu, em que vigorou o feudalismo. Além disso, de certa forma, o Império Bizantino também não é facilmente enquadrado nos limites cronológicos tradicionais da Idade Média, pois se pode considerar seu início um pouco antes do fim do Império Romano do Ocidente, em meados do século IV. Em outras palavras, outros aspectos históricos devem ser considerados, como o empreendimento de reconstrução da cidade de Bizâncio, determinado pelo imperador romano Constantino. A cidade, que foi inaugurada em 330, deveria ser a Nova Roma, um centro urbano esplendoroso que lembraria a capital dos primeiros anos do Império Romano. Bizâncio oferecia algumas condições favoráveis às pretensões de Constantino, pois estava estrategicamente localizada no entroncamento das principais rotas comerciais da época. Do Oriente asiático, eram trazidas grandes variedades de produtos que abasteciam o Império Romano, como madeiras, especiarias, púrpura, tecidos e couro. Como as mercadorias invariavelmente passavam por Bizâncio, a cidade desfrutava de um intenso movimento comercial, ou seja, havia muita riqueza circulando na cidade.

Marilu de Souza

ROTAS DE COMÉRCIO: do Oriente para o Ocidente, passando por Bizâncio

Fontes: MCEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 29. DRÈGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a rota da seda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 122-123. [As rotas da Seda, mapa de Patrick Mérienne].

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Biblioteca Britânica, Londres

Os recursos econômicos disponíveis em Bizâncio certamente empolgaram Constantino em sua escolha. Além disso, a localização geográfica também oferecia atrativos fundamentais em uma época em que a aproximação dos povos “bárbaros” era uma ameaça para os domínios romanos. Bizâncio estava localizada em uma península, naturalmente protegida. Tinha três de seus lados banhados pelas águas do Mar Negro, do Mar de Mármara e do Estreito de Bósforo. Com as reformas de Constantino e de outros imperadores que o sucederam, a cidade converteu-se em uma verdadeira fortaleza militar, pois a quarta parte, que ligava a península ao continente, dispunha de muralhas tão fortificadas que protegeu a cidade das várias tentativas de invasão por mais de um milênio. CONSTANTINOPLA [Mapa produzido a partir das descrições de Cristóforo Buondelmonti]. [ca. 1480]. 1 aquarela opaca em pergaminho, 55 cm × 40 cm. Biblioteca Britânica, Londres.

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O escritor Roger Crowley descreve Constantinopla como um lugar fascinante. Suas proteções naturais e suas muralhas tornaram a cidade “a fortaleza mais esplêndida do mundo medieval”. Dentro das muralhas que rodeavam toda a cidade, pode-se observar a Basílica de Hagia Sophia e as ruínas do Hipódromo.

BRAUN, George; HOGENBERG, Franz. Bizâncio, Constantinopla [a partir de Orbis Terrarum civitates]. 1572. 1 gravura colorida a bico de pena, 32 cm × 48,5 cm. Colônia. Constantinopla também foi um importantíssimo entreposto comercial, onde prevaleceu uma sociedade heterogênea que falava mais o Grego do que o Latim. Entre os muros da cidade, foram conservadas as bases da cultura clássica greco-romana, assim como o Império Bizantino serviu, após o século VII, de baluarte do cristianismo diante do avanço islâmico. O historiador Mário Curtis Giordani (1968) resumiu a civilização bizantina em três palavras: “foi oriental, grega e romana. Mais greco-romana que oriental”.

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Décadas depois da inauguração de Constantinopla, a cidade tornou-se a capital do Império Romano do Oriente. A divisão visava assegurar a sobrevivência do Império Romano, que, desde o século III, já exibia sinais de debilidade administrativa e econômica: muitas disputas pelo controle do poder político e o gradativo êxodo urbano decorrente da ameaça “bárbara”. Além da divisão de Teodósio, é importante considerar que, no decorrer do século IV, outras medidas foram adotadas com o intuito de preservar o Império Romano. Nesse sentido, cabe lembrar que o cristianismo, religião perseguida pelos romanos, passou a ser tolerado por meio de dois decretos imperiais, o Édito de Tolerância, de 311, e o Édito de Milão, de 313. Por meio do Édito de Tessalônica, em 380, Teodósio declarou o cristianismo como religião oficial do Império Romano. Além dessa oficialização, o Édito de 380 acabou com a tolerância defendida anteriormente por quase 70 anos, pois proibiu todos os ritos pagãos. A divisão do Império Romano e a adoção do cristianismo como religião oficial representavam as esperanças de que o império sobrevivesse. O que não se confirmou, pois o líder “bárbaro” Odoacro destronou o imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, em 476. Desse modo, o Império Romano do Ocidente deixou de existir. Assim, a inauguração de Constantinopla, em 330, a divisão do Império, em 395, e o fim do Império Romano do Ocidente, em 476, são três acontecimentos históricos que podem indicar o nascimento do Império do Oriente ou Império Bizantino. Já a data do fim do Império Bizantino é bem mais precisa: a primavera de 1453, quando, depois de mais de cinquenta dias de intensos bombardeios, os bizantinos sucumbiram diante da ofensiva turco-otomana.

Política, economia e religião Desde a divisão do Império Romano, os imperadores criaram um governo autocrata fortemente ligado ao cristianismo. No século IV, a conversão de Constantino ao cristianismo e a oficialização dessa religião por Teodósio alteraram a organização política, que se tornou predominantemente monoteísta e cristã. O estabelecimento da aliança entre a Igreja e o Império originou um sistema político que pode ser denominado monarquia monoteísta. Os imperadores bizantinos concentraram em suas mãos o poder de maneira absoluta, conjugando o poder temporal e religioso. Por isso, a autocracia bizantina também é designada de cesaropapista, denominação que combina os termos césar e papa, referentes ao soberano político e ao chefe supremo da Igreja, respectivamente. A divisão do Império Romano despertou tensão na Igreja, que foi pressionada a também dividir o até então centralizado poder papal. O papa partilhou seu poder com os diversos patriarcados existentes, como os de Cartago, Salônica, Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla. Todos os patriarcados deveriam estar sob o controle direto do papa. Entretanto, os imperadores bizantinos, que governavam fundamentados no cesaropapismo, reclamavam a subordinação do patriarca de Constantinopla diretamente a eles, e não ao papa. Obviamente, tal exigência por parte dos imperadores bizantinos acabou gerando desentendimento com o papa. Aliás, os problemas entre a Igreja, representada pelo papa, e os imperadores bizantinos não se resumiram à mera disputa por poder.

iPatriarcados eram dioceses, regiões adm , anas nistrativas nas antigas províncias rom o que estavam, cada uma, sob a jurisdiçã ser em pod dos de um patriarca. Os patriarca comparados às administrações regionais do antigo Império Romano, que gozavam de relativa autonomia, mas deviam se reportar ao poder central.

O imperador bizantino Justiniano (483-565), que governou de 527 até sua morte, contribuiu para consolidar o cesaropapismo e acentuar a rivalidade com a Igreja. O ideal político de Justiniano pode ser sintetizado na fórmula “um Estado, uma Lei, uma Igreja”. Nesse sentido, os objetivos do papado romano e do Império Bizantino se opunham ferrenhamente.

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CRISTO em seu trono entre o imperador Constantino IX e a imperatriz Zoé. [10--]. Mosaico da tribuna sul de Hagia Sophia, Constantinopla. Esse mosaico representa o poder e o caráter divino do imperador bizantino. Nele, o imperador Constantino IX e sua esposa são ilustrados ao lado de Cristo e têm coroas e auréolas que simbolizam os poderes temporal e espiritual.

Séculos depois de o imperador Justiniano ter exacerbado a discórdia com a Igreja, as querelas continuavam minando a relação entre o papado e o Império Bizantino. No século VIII, o imperador bizantino Leão III (675-741) reacendeu a contenda ao implantar a doutrina iconoclasta, que pregava a destruição de ícones religiosos – pinturas e estátuas. O objetivo de Leão III era impedir a idolatria dos ícones religiosos entre os bizantinos. A origem das preocupações do imperador estava no assédio da cidade de Constantinopla pelos sarracenos, grupo de origem árabe adepto do islamismo.

oteísta Islamismo refere-se ao Islam, religião mon século originada na Península Arábica, no início do nismo VII. Entre seus fundamentos, há o expansio esso proc o nder religioso, fato que permite compree seseus de ampliação territorial empreendido por adoração guidores. O Islam também não permite a de imagens.

Na tentativa de evitar a invasão dos sarracenos, foi organizada uma procissão religiosa com a exposição de alguns ícones religiosos. Como as intenções dos sarracenos foram frustradas, atribuiu-se a proteção recebida pela cidade e por seus habitantes à intervenção divina. Os adoradores das imagens consideradas sagradas buscaram ajuda do papa, que decidiu protegê-las e excomungou o imperador bizantino Leão III. A crise da querela das imagens, iniciada por Leão III, perdurou por mais de um século. Era cada vez mais evidente a divisão entre a Igreja do Ocidente e a do Oriente; a separação se concretizou em meados do século XI, no ano de 1054. Ocorreram intensas disputas teológicas entre o papa Leão IX (1002-1054) e o patriarca de Constantinopla, Miguel de Cerulário (1000-1059). O resultado dessa briga foi o Cisma do Oriente (1054), deixando de um lado a Igreja Cristã Latina ou Igreja Católica Apostólica Romana, liderada pelo papa, e do outro a Igreja Cristã Ortodoxa Grega, subordinada ao patriarca de Constantinopla. Enquanto duraram as disputas entre os papas e os imperadores bizantinos, Constantinopla foi constantemente descrita como um cenário de riquezas e prosperidade. Cronistas do século XIII relataram maravilhados que não havia, em todo o mundo, uma cidade tão rica. As atividades rurais e as manufaturas eram complementadas pelo intenso intercâmbio comercial e pela grande circulação de mercadorias.

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Constantinopla destacou-se pela diversidade de suas manufaturas, que apinhavam as ruas daquela cidade em uma época em que os poucos centros urbanos ocidentais eram pobres e medíocres. O historiador Colin McEvedy (2007) retrata tal situação afirmando que, entre as poucas cidades remanescentes da cristandade ocidental, destacava-se Roma, que “reduzira-se a uma constelação de aldeias separadas umas das outras por campos pedregosos. Onde outrora Augusto contara com um contingente de 200 mil cidadãos, o papa a muito custo conseguia alimentos para uma centena”. A expansão do islamismo pelo Mar Mediterrâneo não afetou drasticamente o comércio bizantino. A localização geográfica de Constantinopla e suas muralhas, aliadas a uma eficaz frota produzida em estaleiros próprios, asseguraram vida longa ao Império Bizantino. Os muçulmanos, em especial os turcos, porém, insistiam em sucessivas tentativas de invasão. O escritor Roger Crowley (2008) afirma que as fortificações que protegiam a cidade eram “um osso na garganta de Alá” – um problema psicológico que assolava as ambições e limitava os sonhos de conquista dos turcos. No fim do século XI, apesar do Cisma do Oriente, os bizantinos enviaram uma missão ao papa Urbano II (1042-1099), solicitando auxílio dos cristãos ocidentais para conter os turcos. O papa não só apoiou os bizantinos, afinal era uma oportunidade de salvaguardar a cristandade no Oriente, como decidiu empreender uma luta religiosa de todos os cristãos contra os muçulmanos que ocuparam a região do Oriente Médio. Iniciavam-se assim as Cruzadas, expedições religiosas, de caráter militar, com o objetivo de recuperar a Terra Santa do domínio dos muçulmanos, chamados pela cristandade de “infiéis”.

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As Cruzadas ocorreram até o fim do século XIII, mas não alcançaram o objetivo principal. Nesse meio tempo, as fronteiras do Império Bizantino se reduziram progressivamente. Os turco-otomanos, em contrapartida, expandiram seus domínios até que, no início do século XV, o Império Bizantino resumiu-se à cidade de Constantinopla. A fortaleza do Império Romano do Oriente ainda aguentou as ofensivas turcas por mais cinco décadas. Em 1453, Constantinopla caiu e, com sua queda, encerrou-se uma parte da história bizantina.

ZONARO, Fausto. Mohamad II, o conquistador. 1908. 1 óleo sobre tela, 100 cm × 74 cm. Palácio de Dolmahahçe, Istambul. Os turco-otomanos, chefiados por Mohamad II, em 1453, transpuseram as muralhas de Constantinopla e tomaram a cidade. Oficialmente, essa invasão deu fim ao Império Bizantino.

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Pesquisa Entre as diversas Cruzadas, a Quarta Cruzada representou um duro golpe contra Constantinopla e o Império Bizantino. No ano de 1204, a cidade foi invadida e saqueada pelos cruzados e, segundo o cavaleiro medieval Robert de Clari, que participou da Cruzada, “tudo o que foi estocado durante tantos séculos, tão grandes bens, nem os nobres, nem os ricos, ninguém pôde impedir sua conquista”. O cronista e historiador bizantino Niketas Choniates, também conhecido como Niketas Acominatus, vivenciou a tomada de Constantinopla, que, de acordo com seus relatos, foi exageradamente violenta. Niketas chegou a comparar a bondade dos muçulmanos com a violência dos cristãos, “que trazem a cruz de Cristo nas costas”.

Biblioteca Nacional da França

A historiadora Cécile Morrisson (2009) afirma que a Quarta Cruzada arruinou a “rainha das cidades”. Assim, aquela expedição religiosa acabou se desviando dos seus propósitos originais. O papa Inocêncio III (1160-1216) atribuiu o “desvio” aos venezianos: “vós desviastes e fizestes desviar o exército cristão da boa rota e o colocastes na má”.

OS CRUZADOS atacam Constantinopla. [Iluminura integrante do manuscrito veneziano de Geoffreoy de Villehardouin, ca. 1330]. Biblioteca Nacional da França, Paris. Os cruzados tomaram e saquearam Constantinopla. Em 1204, foi fundado o Reino Latino de Constantinopla. Em 1261, os imperadores bizantinos recuperaram o poder e retomaram o controle sobre o império.

1. Faça uma pesquisa a respeito da Quarta Cruzada e anote as informações que considerar mais relevantes no caderno. Sua pesquisa deve conter informações suficientes para responder às seguintes questões. a) Qual foi a participação dos venezianos na Quarta Cruzada?

b) Que motivos levaram os venezianos a “desviar” o “exército cristão da boa rota”?

c) Quais foram as consequências da Quarta Cruzada para a cidade de Constantinopla e para o Império Bizantino?

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2. Com base em sua pesquisa e no mapa a seguir, explique a razão pela qual o papa Inocêncio III reclamou do “desvio” da Quarta Cruzada e acusou os venezianos de serem os principais responsáveis por tal falha.

Marilu de Souza

A ROTA DA QUARTA CRUZADA (1202-1204)

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 2007. p. 105.

Cultura e influências bizantinas O baluarte cultural do antigo Império Romano, durante a Idade Média, foi, sem sombra de dúvida, o Império Bizantino. Constantinopla conservou, por séculos, muitos traços da civilização romana, porém os romanos do Oriente imprimiram as próprias características na diversidade cultural que incorporaram do Ocidente. As especificidades bizantinas refletem, portanto, a miscelânea de hábitos do Ocidente e do Oriente, dos romanos propriamente ditos e dos gregos. Nas artes, a produção de mosaicos é o grande destaque dos bizantinos. A técnica, caracterizada pela incrustação de pequenas peças coloridas sobre uma superfície, foi amplamente utilizada nos domínios do antigo Império Romano, mas somente com os bizantinos o mosaicismo ganhou projeção e refinamento. Os bizantinos também adotaram um conjunto de práticas jurídicas dos romanos. Tais conhecimentos jurídicos foram motivo de grande preocupação para o imperador bizantino Justiniano, que determinou a completa preservação das leis e jurisprudências dos romanos. Dos reforços do imperador bizantino, surgiu o Corpus Juris Civilis, uma demonstração prática do cesaropapismo. Ao pretender unificar todos os dispositivos legais do mundo romano, Justiniano almejava criar um ordenamento jurídico capaz de ser aplicado a todos os bizantinos.

História

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O IMPERADOR Justiniano e sua Corte. [anterior a 547]. 1 mosaico. Basílica de São Vito, Ravena.

©Wikimedia Commons/Eloquence

Os mosaicos estão presentes na decoração de muitos templos que sofreram a influência da cultura bizantina. Eles também revestem o piso de edificações e são bastante numerosos em Veneza, onde passaram a ser conhecidos como pisos venezianos. A escolha por esse tipo de piso decorre do fato de a cidade ter sido construída sobre pilares fincados no fundo do terreno lodoso da laguna. De tempos em tempos, ocorre afundamento do solo e, consequentemente, de parte dos pisos, o que torna esse tipo de revestimento, formado por pequenos pedaços de cerâmica, mais fácil de ser reparado.

O Corpus Juris Civilis é formado por quatro partes: Codex constitutiorum, reunião de toda a legislação romana; Digesto ou Pandectas, conjunto da jurisprudência romana; Institutiones, os elementos fundamentais do Direito; e Novellae constitutiones post codicem, conhecido simplesmente por Novellae, que são as leis promulgadas pelo próprio Justiniano. Com a sistematização dos saberes jurídicos, a correta aplicação das leis, com base na razão e na justiça, seria atemporal. Ao menos, era esse o desejo de Justiniano, imperador cesaropapista que também determinou a construção de um templo cristão que, assim como o Corpus Juris Civilis, sobrevivesse ao tempo. No ano de 532, um incêndio pôs abaixo a igreja Hagia Sophia do imperador Teodósio. No mesmo ano, Justiniano ordenou a construção de uma nova basílica no mesmo lugar. O poder do líder bizantino, que concentrava poderes temporais e religiosos, fez com que a nova igreja fosse construída em apenas cinco anos. A Basílica de Hagia Sophia, a Sagrada Sabedoria, foi referência da grandiosidade do Império Bizantino durante toda a Idade Média.

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As dimensões da igreja, com seu domo central de 31 metros de diâmetro a 56 metros do solo, e sua ornamentação de mosaicos asseguraram o destaque da Hagia Sophia, ou Santa Sofia, como é conhecida em português.

Hagia Sophia vista da praça do antigo hipódromo. No ano de 1453, com a invasão turca, a igreja foi transformada em mesquita. Mais de cinco séculos depois, em 1935, o edifício foi considerado patrimônio universal da humanidade. Atualmente, a igreja é aberta à visitação pública e funciona como museu.

Codex constitutiorum: Código.

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Institutiones: Institutas.

Novellae: Novelas.

Interpretando documentos A obra mais importante dos romanos, tanto se considerarmos pelos seus próprios méritos intrínsecos como por sua influência na história do mundo é, sem dúvida alguma, o direito. “Não há problema de jurisprudência – disse Lord Bryce – que ele não aborde; apenas ficou um pequeno espaço na ciência política que ele não tratou”. “Daquilo que hoje está mais necessitado o direito estadunidense – disse um jurista estadunidense –, é a eterna influência revigoradora do direito romano”. E o mesmo escritor afirma que, ainda que a população do Império Romano não tenha ultrapassado os 50 milhões, atualmente 870 milhões de pessoas vivem de acordo com sistemas que podem ser atribuídos ao direito romano. BARROW, R. H. Los romanos. México: FCE, 2008. p. 209. Tradução livre.

[…] Todo o conjunto é o monumental Corpus Iuris [Juris] Civilis, segundo a denominação imposta pelos juristas medievais. A pretensão de Justiniano era promover a unificação, reunir em um texto único todo o direito romano, o histórico e o atual [...]. O ordenamento jurídico [...] que promulgou Justiniano estava destinado a funcionar sem um limite estabelecido de tempo, como se fosse uma expressão da razão e da justiça eternas desconectadas das contingências do tempo histórico. SIPERMAN, Arnoldo. La ley romana y el mundo moderno: juristas, científicos y uma historia de la verdad. Buenos Aires: Biblos, 2008. p. 88. Tradução livre.

De acordo com os textos apresentados, explique de que maneira a elaboração do Corpus Juris Civilis, pelo imperador bizantino Justiniano, contribuiu para o fato de parte significativa do mundo ocidental contemporâneo ter sua organização jurídica baseada em tal documento.

Mundo do trabalho Jurista A profissão de jurista ou jurisconsulto teve sua origem no sistema jurídico romano e está ligada à Advocacia. Trata-se de um especialista em leis que presta serviços no estudo e na análise dos códigos legais. Para ingressar no exercício da magistratura, o interessado deve ter o diploma de bacharel em Direito e ser aprovado em concurso público. A profissão é regulamentada pela Lei nº. 8.906, de 4 de julho de 1994, que revogou todos os decretos-leis e leis anteriores.

Você faz História Qual é a importância de as leis serem bem redigidas? E qual é a importância do cumprimento da legislação por todos os cidadãos?

História

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Hora de estudo 1. Sobre a organização política bizantina, assinale a alternativa correta.

d) os religiosos do ocidente ficaram desconfiados dos hereges.

a) Permitiu a participação política de todas as classes que compunham a sociedade bizantina.

e) os senhores feudais romperam com os dogmas da Igreja Católica na Europa Ocidental.

b) Favoreceu o desenvolvimento do modelo de organização política que conhecemos como democracia. c) Contribuiu para o aparecimento de uma poderosa classe de estrangeiros, que tomavam todas as decisões políticas.

4. (UNESP) O culto de imagens de pessoas divinas, mártires e santos foi motivo de seguidas controvérsias na história do cristianismo. Nos séculos VIII e IX, o Império Bizantino foi sacudido por violento movimento de destruição de imagens, denominado “querela dos iconoclastas”. A questão iconoclasta:

d) Restringiu todas as relações comerciais existentes com Constantinopla, pois passou a valorizar apenas a política.

a) derivou da oposição do cristianismo primitivo ao culto que as religiões pagãs greco-romanas devotavam às representações plásticas de seus deuses.

e) Caracterizou-se por concentrar nas mãos do imperador os poderes temporais e espirituais. 2. Sobre o cesaropapismo, assinale a alternativa correta.

b) foi pouco importante para a história do cristianismo na Europa Ocidental, considerando a crença dos fiéis nos poderes das estátuas.

a) Era a denominação dada ao modelo de organização religiosa das tribos árabes durante os séculos XV e XIV a.C.

c) produziu um movimento de renovação do cristianismo empreendido pelas ordens mendicantes dominicanas e franciscanas.

b) Era a denominação dada ao modelo de organização da sociedade medieval ocidental, também conhecido como feudalismo.

d) deixou as igrejas católicas renascentistas e barrocas desprovidas de decoração e de ostentação de riquezas.

c) Contribuiu para o aparecimento de uma preocupação permanente com os direitos humanos e a igualdade entre as pessoas.

e) inviabilizou a conversão para o cristianismo das multidões supersticiosas e incultas da Idade Média europeia.

d) Era o modelo de organização política dos romanos durante o período monárquico, pois foi instituído por Rômulo e Remo.

5. (UFPE) Um estudo da economia bizantina no período medieval:

e) Era a concentração dos poderes temporais e espirituais nas mãos dos imperadores bizantinos, caracterizando um despotismo teocrático. 3. (UFAC) O chamado “Cisma do Oriente” se deu em 1054, quando:

b) Registra a falta de prestígio dos comerciantes, que levavam uma vida urbana simples e sem ostentação.

a) o Papa da Igreja Católica da Europa Ocidental fez aliança com o cristianismo de Constantinopla.

c) Mostra uma atividade comercial pouco desenvolvida e muito semelhante à do feudalismo europeu.

b) o Papa do ocidente se rendeu aos dogmas do mundo americano.

d) Revela a força dessa economia, em razão das pequenas propriedades administradas com o apoio do poder estatal.

c) o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, proclamou a autonomia total da Igreja Oriental em relação à Igreja Católica Ocidental.

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a) Atesta um grande desnível social, com a presença da servidão, de latifundiários aristocratas e de uma Igreja de grande poder político.

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e) Evidencia a falta de apoio do Estado na gestão dos negócios, devido à presença soberana da Igreja.

13 Árabes Biblioteca Nacional da França

GINETES muçulmanos desfilando ao término do mês de Ramadã. In: Al-Hariri al-Maqâmat Maqamat. 1237. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Ponto de partida Para iniciarmos os nossos estudos sobre os árabes, vamos primeiramente analisar essa reprodução de iluminura. 1. O que significam os termos ginete e Ramadã? 2. Cite os elementos presentes na iluminura que nos permitem afirmar que se trata de um “grupo de indivíduos

não europeus ocidentais”.

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Objetivos da unidade: ƒ conhecer as principais características físicas da Península Arábica; ƒ conhecer a organização política, econômica e social das diversas tribos que habitavam a Península Arábica anteriormente à unificação promovida por Muhammad; ƒ analisar a conjuntura histórica que ocasionou o surgimento do islamismo e as transformações ocorridas na Península Arábica em decorrência da difusão da nova religião; ƒ conhecer os fundamentos religiosos do islamismo; ƒ analisar o expansionismo territorial promovido pelos árabes e suas consequências; ƒ conhecer os principais traços da cultura árabe-islâmica; ƒ reconhecer as principais influências árabes para as gerações posteriores, destacando a presença dessas influências na atualidade.

As línguas, os costumes, as lendas, enfim, a cultura árabe sempre despertou atenção e curiosidade no Ocidente. Parte desse interesse vem do fato de que foi a cultura árabe que ajudou o Ocidente a construir uma identidade própria. Em outras palavras, foi pelo contraste de ideias, de personalidades, de experiências e de imagens que o Ocidente olhou para o mundo árabe. O contraponto se ampliou com o aparecimento do Islam, uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica no início do século VII. O Ocidente enxergou no islamismo exatamente o seu oposto, o “outro”. Ou seja, do ponto de vista cultural, político e social do Ocidente, o mundo árabe era completamente diferente.

o O Ocidente deve ser considerado como ou entr ente Ocidente europeu, que primeiram a em contato com o mundo árabe. Depois, partir dos séculos XVI e XVII, o termo também passou a englobar as Américas e a designar de um conjunto, nem sempre homogêneo, características socioculturais.

Muitas vezes, tal diferença foi percebida como sinal de inferioridade e de atraso. A visão do Ocidente não poderia estar mais equivocada, pois a cultura árabe e islâmica, com toda sua diversidade, faz parte da própria história do Ocidente. Portanto, mais do que perceber as diferenças, faz-se necessário compreendê-las. Para isso, é preciso conhecer a cultura árabe-islâmica, objetivo principal desta unidade.

Em um reino distante, o rei Xariar, um nobre descendente dos antigos monarcas persas, descobriu que sua esposa o traía repetidamente. Inconformado, Xariar determinou que a rainha fosse estrangulada. Xariar decidiu que nunca poderia confiar em outra mulher novamente e, para evitar novas traições, resolveu se casar cada dia com uma mulher diferente e, depois de passar uma única noite com a nova esposa, ela deveria ser estrangulada na manhã seguinte. E assim se sucedeu. A ordem real foi seguida à risca, despertando o medo e a resignação de todas as moças e famílias do reino. A cada dia, um novo casamento. Pela manhã, uma jovem estrangulada. A sucessão macabra só foi interrompida quando Xariar se casou com a bela, corajosa e inteligente Xerazade. Xerazade tinha uma memória espetacular e queria acabar com a crueldade do rei. Para isso, despertou a curiosidade do insensível Xariar contando-lhe uma emocionante história. Contudo, pouco antes de o dia raiar, quando o seu triste fim se aproximava, Xerazade parou seu relato na parte mais interessante da história. O rei, curioso para saber o desfecho da história, deixou Xerazade viva para que desse continuidade à história na noite seguinte. E assim se passaram mil e uma noites. Em cada uma delas, Xerazade finalizava o relato da noite anterior

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e começava a contar outra história, ainda mais interessante. E sempre, pouco antes de o dia amanhecer, Xerazade interrompia sua história em um momento decisivo.

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Com o tempo, Xariar se esqueceu da mágoa que nutria pelas mulheres e abdicou do seu plano maligno, permanecendo casado e feliz com a bela Xerazade. BRUNDAGE, Frances. Sherazade inicia sua história. [ca. 1893].In: Histórias das noites da Arábia. Akron: Saralfield, 1924. Xerazade (também conhecida como Sherazade e Sheherazade) conta uma de suas mil e uma histórias para o rei Xariar. Esses relatos revelaram para o Ocidente um mundo até então desconhecido. Personagens de histórias como Simbad, o marujo, e Ali Babá e os quarenta ladrões despertam a curiosidade e o fascínio de leitores do mundo inteiro até os dias atuais.

O relato anterior foi popularizado no Ocidente a partir do século XVIII, quando o orientalista Antoine Galland (1646-1715) adaptou, para o francês, um conjunto de histórias e contos de origem incerta, mas basicamente oriundos do folclore árabe, persa e indiano. Os contos popularmente conhecidos como As mil e uma noites aparecem em registros variados desde os séculos VIII e IX, sendo impossível precisar seus autores e a quantidade exata de relatos. Há, porém, um aspecto em comum na maioria das versões: a narradora de todas as histórias é Xerazade. As fabulosas histórias contadas por Xerazade encantaram o mundo, tornando As mil e uma noites uma das portas de entrada que revelou o mundo árabe ao Ocidente.

Outra Idade Média Existe uma ideia de Idade Média que faz lembrar castelos e fortalezas, cavaleiros e duelos, donzelas e misticismos. Uma Idade Média que é eminentemente europeia e ocidental, com senhores feudais e seus vassalos, com a Igreja Católica e sua visão de mundo. Mas há outras Idades Médias. A Idade Média bizantina, por exemplo, com o intenso comércio que manteve a cidade de Constantinopla como um importante centro financeiro e cultural durante quase todo o Período Medieval. E há uma Idade Média árabe-islâmica, diferente das outras duas, mas não de menor importância. Foi nesse período que, em terras árabes, o Islam surgiu e se dissipou com a língua e a cultura árabes. O processo histórico de expansão árabe-islâmico medieval não apenas é paralelo à Idade Média europeia e à bizantina, como também as entrecruza em diversas ocasiões, e, assim, complementam-se. Em outras palavras, trata-se de um período significativamente importante, em que as diferenças e semelhanças, as permanências e rupturas do passado se interligam e constroem um emaranhado de ações que constituem a história.

Árabes Os povos que viviam nas desérticas regiões da Península Arábica eram chamados, genericamente, de árabes. O termo servia para designar os beduínos, grupos nômades que habitavam tendas e se deslocavam usando dromedários ao norte do deserto de Rub’ al Khali (o “quarteirão vazio”). Havia também árabes sedentários, estabilizados na região costeira banhada pelo Oceano Índico e pela parte sul do Mar Vermelho. No entanto, esses grupos, que viviam em abrigos naturais nos vales bem irrigados do sudoeste arábico, nunca se denominaram árabes.

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Marilu de Souza

PENÍNSULA ARÁBICA

Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009.

O território ocupado pelos antigos árabes tem três fronteiras bem definidas: a oeste pelo Mar Vermelho; ao sul pelo Oceano Índico; e a leste pelo Golfo Árabe ou Golfo Pérsico. Os limites ao norte nunca foram bem estabelecidos, mas se pode considerar que sempre oscilaram próximo ao paralelo 30º. A natureza inóspita da região dos árabes certamente influenciou muitos aspectos da vida cotidiana. Os vendavais nos desertos arábicos mantinham em quase permanente suspensão uma camada de pó microscópico, forçando os árabes a proteger o rosto com panos, véus, para evitar o contato direto da areia com olhos, nariz, boca e orelhas. Entre os beduínos, praticava-se a bigamia e/ou a poligamia. Esta última era favorecida pelas longas ausências daqueles que percorriam o deserto em caravanas ou pastoreavam rebanhos em busca de alimento. A domesticação de animais foi fundamental para o desenvolvimento dos povos árabes. A adoção do camelo e do dromedário supriu a necessidade de deslocamento rápido e eficaz nas desérticas areias arábicas, servindo tanto para o transporte de mercadorias quanto para o combate. Além disso, há inúmeros relatos de que esses animais também serviam de alimento (leite e carne). Além do camelo e do dromedário, os árabes também utilizavam cavalos. Contudo, as duras condições impostas pelo clima desértico faziam dos camelídeos os preferidos para o transporte de cargas. Enquanto um cavalo precisava ser nutrido e hidratado diariamente, um dromedário podia beber, de uma só vez, água suficiente para aguentar até

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17 dias de marcha. Considerando ainda que um dromedário pode percorrer até 300 quilômetros em um dia e carregar mais de 200 quilos, entende-se perfeitamente a preferência dos árabes por tais animais. Com os constantes deslocamentos, os grupos árabes entraram em contato com as rotas comerciais que ligavam o Oriente ao Ocidente. Na Península Arábica, o comércio manteve estreito vínculo com a religiosidade. Majoritariamente politeístas, os árabes cultuavam dezenas de divindades e ídolos, que eram agraciados com santuários e festividades. A diversidade de deuses contribuiu para o desenvolvimento comercial, uma vez que os santuários de culto e adoração se localizavam, normalmente, próximos às principais rotas comerciais e às feiras. Nessas feiras também se presenciavam desafios poéticos e duelos – estes últimos, invariavelmente, acabavam em morte. Tais lutas se deviam ao fato de que tanto a honra quanto a hombridade eram determinantes para o caráter de um árabe. Assim, qualquer calúnia ou difamação poderia originar uma briga. Logo, a desonra pessoal, familiar ou tribal não era aceita entre os árabes, que se organizavam socialmente de maneira hierarquizada. Além disso, de acordo com o historiador Juan Vernet (2004), os árabes davam mais importância “ao homem livre que ao escravo; ao homem que à mulher; ao nobre que ao humilde”.

GRUYAERT, Harry. [Pastor beduíno da tribo Azazme, Deserto de Negev, Israel]. 1995. 1 foto colorida.

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O escritor Jamil Almansur Haddad cita algumas características dos árabes que, modificadas, estavam presentes na Arábia islâmica: era um povo que, eticamente, associava os conceitos de honra e de virilidade; o homem, figura central da sociedade árabe, tinha que ser forte e combativo; as mulheres eram inferiorizadas e consideradas bens, primeiro do pai e depois do marido; a vida no deserto impunha o hábito da hospitalidade e favoreceu o desenvolvimento de um espírito de grupo e de solidariedade.

HARARI, Muhammed Al Kasim. Schefersh Hariri. 1237. Biblioteca Nacional da França, Paris.

No passado, os pastores beduínos das regiões desérticas da Arábia, com suas criações de ovinos e camelídeos, asseguraram comida e transporte para as tribos árabes. Naquela região, práticas semelhantes de pastoreio nômade são empregadas até a atualidade.

Troca de ideias Você consegue imaginar o deserto? O autêntico deserto, aquele de areia, percorrido por longas caravanas de camelos com cargas pesadas e mercadorias raras. A areia está espalhada por todas as partes. Apenas muito longe se avistam algumas palmeiras que se levantam em direção ao céu, separadas por grandes distâncias. É até elas que se dirigem as montarias, pois ali existe um oásis com uma fonte e um pouco de água lamacenta. Logo, a marcha continua. E, finalmente, a caravana chega a um oásis maior, onde há toda uma

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cidade e suas casas brancas em forma de cubos, onde vivem pessoas de pele morena vestidas também de branco, gente de cabelos negros e olhos escuros e brilhantes. Os homens, logo se percebe, são acostumados com as lutas. Percorrem o deserto em seus cavalos, maravilhosamente rápidos, saqueiam caravanas e brigam entre si; oásis contra oásis, cidade contra cidade, tribo contra tribo. É isso que ainda vemos na Arábia atualmente; e assim deve ter sido, sem dúvida, há milhares de anos. [...] GOMBRICH, Ernst H. Breve historia del mundo. Barcelona: Ediciones Península, 2004. p. 140. Tradução livre.

Converse com seus colegas a respeito das condições de vida dos povos que vivem em regiões desérticas. Procure identificar possíveis semelhanças e diferenças entre esse estilo de vida e o seu.

Política e economia Nos desertos arábicos, no período que antecedeu o surgimento do Islam (século VII), espalhavam-se diversos grupos de beduínos – nômades que percorriam as principais rotas comerciais da região em busca de um butim que pudesse ser repartido com o restante da tribo. Além de pilhagens, os árabes também procuravam fontes de água e de alimento para seus rebanhos. Duas das atividades econômicas mais difundidas entre os árabes, os saques e o comércio, influenciaram o modelo de organização política daqueles grupos. Em razão da necessidade de assegurar a proteção e segurança das tribos e caravanas, os árabes protagonizaram um processo de mudanças que transformou o senhor da tribo em xeque, verdadeiro líder político e militar. As disputas, que não se limitaram ao acesso aos verdejantes oásis, mesmo que temporários, também se estenderam ao controle dos diversos grupos. Como não havia nenhuma regra que estabelecesse a sucessão de um xeque, os enfrentamentos eram constantes. Na tentativa de desmerecer determinado líder, a ele eram dirigidos inúmeros impropérios, fato que gerava dúvidas em relação à sua honra e hombridade, dando origem a brigas. De maneira geral, pode-se dizer que os árabes, no período que antecede o surgimento do Islam, tinham sua economia baseada nas pilhagens e no comércio. A agricultura era praticada em pequena escala, principalmente nas áreas litorâneas, mas era insuficiente para abastecer toda a população da região. Politicamente, viviam organizados em clãs e tribos que, até o advento do Islam, nunca atenderam a uma autoridade centralizada. Assim, tem-se um panorama histórico de uma Arábia que vários autores concordam em chamar de pré-islâmica, isto é, anterior ao Islam. Entretanto, é fundamental levar em conta que o Islam não surgiu de maneira natural e voluntária e que alterou completamente o mundo árabe, dividindo-o em dois, o de antes e o de depois. Historicamente, mudanças de fato ocorreram, mas muito mais por meio da retomada de costumes já existentes e que foram, gradativamente, mantidos ou transformados. Portanto, é primordial considerar como viviam os árabes para melhor apreender o processo de expansão da cultura árabe-islâmica.

Religião: o surgimento do Islam Ao contrário de outras religiões, o islamismo tem “certidão de nascimento”, ou seja, sabe-se quando e onde ele surgiu: foi entre 16 de julho e 23 de setembro de 622, na zona costeira ocidental da Península Arábica, denominada al-Hijaz, mais precisamente entre as cidades de Meca e Medina.

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Divanzir Padilha/Nilson Müller. 2011. Digital.

Contudo, é preciso recuar um pouco na história para entender por que o Islam tem uma data de surgimento tão precisa. Para isso, torna-se imprescindível conhecer um pouco da vida de Muhammad (entre 567 e 572-632).

Arábia de desertos, oásis e beduínos: berço do Islam

Muhammad, “o louvado” em árabe, nasceu em Meca, uma próspera cidade que, por conta de seus santuários religiosos, atraía inúmeros fiéis em peregrinações periódicas. Por isso, a feira de Meca era uma das mais conhecidas e importantes de toda a Arábia. Órfão prematuramente, Muhammad foi cuidado pelo avô – chefe da tribo dos coraixitas e, na época, guardião do santuário da Caaba (ou Kaaba) – e, depois da morte dele, pelo tio.

JOMIER, Jacques. Islamismo: história e doutrina. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 15. Apud: CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: geral e Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 147.

©Shutterstock/Zurijeta

[...] O conjunto [da Caaba] formava um panteão no qual se havia colocado todo tipo de estátuas e pedras sagradas. Havia até um ícone de Jesus e de Maria, segundo certos textos. Esse templo era o centro de um culto pagão, com adoração de pedras sagradas, de divindades estelares etc. Todavia, um Deus supremo – Allah em árabe –, o Deus criador, dominava os outros deuses.

O santuário da Caaba, já reconstruído cinco vezes, atualmente tem, aproximadamente, 15 metros de altura e laterais de 12 e 10 metros. A construção cúbica, que abriga em seu interior a Pedra Negra, fica coberta por um manto preto e atrai, anualmente, mais de três milhões de peregrinos para o Hajj. Quinto pilar (preceito) do islamismo, o Hajj estabelece que todo muçulmano deve realizar ao menos uma peregrinação a Meca durante a vida.

Com doze anos, Muhammad, pela primeira vez, acompanhou o tio em uma caravana fora dos limites da Arábia para a Síria. Apesar de os cultos politeístas predominarem na Península Arábica, acredita-se que não era difícil encontrar tribos monoteístas espalhadas ao norte da região. Assim, em suas viagens comerciais, Muhammad entrou em contato com o judaísmo e o cristianismo presentes no Oriente Médio.

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Nessas caravanas, Muhammad valorizava a honestidade, assim passou a ser conhecido como Al Amin, “o confiável”, “o fiel”. Esse traço que marcou a carreira comercial de Muhammad despertou o interesse de Khadija, uma rica comerciante viúva que lhe propôs casamento. Aproximadamente 15 anos mais velha que Muhammad, que tinha 25 anos na época, Khadija lhe deu filhos e condições para que pudesse cuidar dos negócios da família sem precisar se ausentar por causa das caravanas. Por volta dos 40 anos, em um de seus cada vez mais constantes retiros de meditação solitária, Muhammad teve uma visão. De acordo com a tradição islâmica, diante de Muhammad, surgiu o arcanjo Gabriel pedindo-lhe que lesse um pequeno texto. Muhammad alegou ser analfabeto, mas, após o arcanjo insistir muito e algumas tentativas, leu para ele as palavras ao lado destacadas:

Lê, em nome de teu Senhor que criou, Que criou o ser humano de uma aderência. Lê, e teu Senhor é O mais Generoso, Que ensinou a escrever com o cálamo, Ensinou ao ser humano o que ele não sabia. (Sura 96, 1-5).

O trecho apresentado é a primeira revelação feita a Muhammad, alertado na ocasião pelo arcanjo Gabriel de que muitas outras viriam. Temeroso, Muhammad contou o ocorrido apenas para as pessoas mais próximas, como sua esposa Khadija. Passaram-se mais alguns anos até que fosse revelada a missão de Muhammad: ele deveria pregar não apenas para seus parentes e amigos, mas para todo o mundo.

Os cinco pilares do islamismo 1. Testemunhar “que não há divindade senão Deus e que Muhammad é o mensageiro de Deus”. 2. Orar cinco vezes ao dia em direção a Meca – berço do islamismo e lugar sagrado. 3. Pagar para caridade um tributo que corresponde a 2,5% da renda anual do muçulmano. 4. Jejuar no mês do Ramadã, época em que comer, beber e manter relações sexuais são atividades proibidas entre a alvorada e o anoitecer. 5. Fazer uma peregrinação (o Hajj) a Meca, pelo menos uma vez na vida, para aqueles que têm condições físicas e financeiras.

Fotos: Acervo pessoal de Norton Frehse Nicolazzi Junior

FARAH, Paulo Daniel. O Islã. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 24-25.

O segundo pilar do islamismo estabelece que o muçulmano deve orar cinco vezes ao dia em direção a Meca. No interior dos templos islâmicos (as mesquitas), o mihrab indica a quibla, a direção da reza, voltada para a Caaba em Meca. MIHRAB da Mesquita Azul, Istambul.

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MIHRAB da Basílica de Santa Sofia, Istambul.

Os fundamentos religiosos que Muhammad deveria propagar baseavam-se na crença em um único Deus, do qual ele era o único mensageiro. Entretanto, cabe lembrar que os árabes eram majoritariamente politeístas. Além disso, parte significativa de sua economia advinha do comércio realizado nas cidades, que abrigavam os santuários religiosos. Como Muhammad passou a pregar contra a diversidade de deuses e ídolos, criou-se um impasse: como convencer as pessoas a se submeterem, voluntariamente, a um Deus único se a cidade vivia, basicamente, das peregrinações religiosas politeístas? Ao se apresentar como o pregador de um Deus único, Muhammad despertou insegurança entre os ricos comerciantes de Meca e os sacerdotes. Os primeiros viam na pregação monoteísta o fim de seus prósperos negócios; os sacerdotes, por sua vez, enxergavam em Muhammad um inimigo perigoso, que poderia subtrair o relativo poder de que desfrutavam como líderes religiosos. Inicialmente, a oposição ao monoteísmo de Muhammad foi tolerante. Com o tempo, tornou-se agressiva a ponto de proibir a família e os poucos seguidores do pregador de negociarem com os outros habitantes de Meca. A punição imposta pelos comerciantes e sacerdotes equivalia a um banimento, pois significava que não poderiam vender nem comprar, ficando sujeitos à fome e às necessidades.

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Assim, em 622, Muhammad deixou a cidade de Meca e partiu em direção à cidade de Yathrib, onde foi oferecido asilo ao profeta declarado. Talvez os anseios por unidade política entre os habitantes de Yathrib tenham favorecido a aceitação de uma doutrina religiosa única, que pudesse acabar com as disputas na cidade. O episódio denominado de hégira, hijra, que significa "migração", é considerado o marco inicial do calendário islâmico.

ciclo O calendário islâmico é orientado pelo passo lunar, compondo um ano de 354 dias, ao ia base se tão) que o calendário gregoriano (cris m sage no ciclo solar, tendo assim 365 dias. A defa resentre um e outro explica, por exemplo, a prog icas. islâm s iosa siva antecipação de datas relig

Muhammad foi bem acolhido em Yathrib e continuou suas pregações, arrebanhando um número crescente de seguidores. De acordo com o historiador Ernst Gombrich (2004), ao compartilhar as revelações recebidas, Muhammad contava “como Deus manifestou-se para os judeus por meio de Abraão e Moisés, como doutrinou os humanos pela boca de Cristo e como, naquele momento, ele, Muhammad, foi escolhido para ser seu profeta”. O profeta também pregava que era preciso temer somente a Deus e que o destino de todas as pessoas já estava traçado por Ele desde o início. Com isso, Muhammad difundia a ideia de que o fiel deve se entregar totalmente à vontade divina, que isso é o Islam, cujo significado transmite exatamente a ideia de “entrega”, de “submissão”.

O MUEZIM BALIL na Caaba em Meca. [15--]. Miniatura do manuscrito turco Sijer i (Vida do Profeta Muhammad). Biblioteca do Palácio de Topkapi, Istambul. O muadhin, aportuguesado para muezim, é o muçulmano que, do alto de um minarete, anuncia a hora do adhan, a reza. Na iluminura, há a representação de um muadhin no alto da Caaba conclamando os fiéis do islamismo para uma oração.

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A entrega, para ser completa, deveria contemplar um esforço para propagar os ensinamentos de Deus. O esforço, jihad, consiste em tudo o que o muçulmano deve fazer para difundir e proteger o islamismo. Muhammad pregou ainda que a morte de um fiel em defesa de Deus e do próprio profeta seria recompensada com o paraíso. Assim, a mescla do esforço à recompensa originou equivocadas interpretações, sendo a mais comum a que relaciona jihad com a ideia de guerra santa. A promessa de um paraíso pode ter motivado muitos seguidores a empreender uma luta contra os habitantes da cidade de Meca, que, de certa forma, haviam expulsado Muhammad. No décimo ano da hégira, os muçulmanos de Yathrib marcharam em direção a Meca, onde foram recebidos quase sem resistência.

ant (2008), é o “esforço Jihad, de acordo com o historiador Peter Dem que orienta a vida do fiel em favor de Deus”, é o compromisso pessoal s por Deus. O historiador muçulmano de acordo com as leis prescrita ificado de jihad, de “luta” David Levering Lewis (2010) ressalta esse sign mo” e o “empenho conou “empenho”, mas de uma “luta consigo mes tra os inimigos”. o Daniel Farah (2001) O professor de língua e literatura árabe Paul “a noção de uma guerra salienta que o Corão, apesar de desenvolver considera nobres”, “não de autodefesa para proteger os valores que e o assassinato. Entretansantifica a guerra”, já que condena a agressão o árabe jihad foi, inúmeras to, assim como em outras religiões, o term Esse tipo de interpretação vezes, usado com o sentido de guerra santa. batalhas travadas pelos as se prestava, na maioria das vezes, a justificar . muçulmanos com a legitimação da violência

Por determinação do profeta, todos os ícones religiosos existentes no santuário da Caaba foram destruídos, com exceção da Pedra Negra (cuja origem permanece obscura apesar das inúmeras versões a respeito). Muhammad morreu em 632, e o Islam passou a ser difundido não só em Meca e Yathrib, mas em todo o mundo. Nos primeiros anos da hégira, o islamismo foi responsável por unir as diversas tribos árabes ao redor de um elo em comum, a religião. Em poucas décadas, os limites da Península Arábica foram ultrapassados e, além deles, espalhou-se a cultura árabe-islâmica. Atualmente, o Islam é a religião que, no mundo todo, mais cresce em número de adeptos. No entanto, de acordo com o sociólogo Ali Kamel (2007), muitas vezes os fiéis do Islam ainda são vistos pelo mundo ocidental como os “outros”, “como estranhos, como estrangeiros, como exóticos”.

Troca de ideias “Os árabes são muçulmanos, e os muçulmanos são árabes?” A esta “ideia preconcebida” é necessário opor o conjunto da realidade: nem todos os árabes são muçulmanos, e nem todos os muçulmanos são árabes! De fato, em um total de aproximadamente um bilhão e meio de muçulmanos ao redor do mundo no início do século XXI, existem somente uns trezentos milhões de árabes. Desse número, temos de descontar cerca de 8% de cristãos, que conservam a religião adotada por seus antepassados desde o início de nossa era. Os dois maiores países muçulmanos são a Indonésia (com 230 milhões de habitantes, país de maioria muçulmana [87%]), seguida pelo Paquistão (150 milhões), cujos habitantes absolutamente não são árabes! BALTA, Paul. Islã. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 52.

Com base nesse fragmento de texto, converse com seus colegas a respeito da “ideia preconcebida” de que todos os árabes são muçulmanos e de que todos os muçulmanos são árabes. Mesmo equivocada, que fatores justificam o emprego dessa “ideia preconcebida”? Para iniciar a conversa, considere alguns aspectos como a geografia, a religião, a história e a língua árabe.

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Cultura e influências árabe-islâmicas A colonização da América Latina, durante os séculos XVI e XVII, foi possível, em parte, graças às contribuições culturais dos mouros, que, durante sua longa permanência na Península Ibérica, influenciaram portugueses e espanhóis. Atualmente, essa influência está tão disseminada no cotidiano das populações ocidentais que, muitas vezes, não se percebe a origem cultural árabe-islâmica de certos hábitos ou conhecimentos. Os constantes deslocamentos dos povos árabes permitiram a eles que entrassem em contato com diversas culturas, tanto do Oriente como do Ocidente. Sábios, os árabes souberam aproveitar os conhecimentos adquiridos para melhorar suas atividades comerciais e, adaptando algumas ideias estrangeiras, desenvolveram hábitos e costumes bastante originais. No Oriente, os árabes conheceram instrumentos para observar e determinar a altura dos astros; aprenderam a utilizar um sistema numérico hindu, muito mais simples do que os algarismos romanos; com os chineses, conheceram o uso de um tipo de papel e a pólvora. Com o tempo, tais conhecimentos foram aperfeiçoados pelos árabes e apropriados por outros povos.

Os conhecimentos astronômicos permitiram o estudo dos corpos celestes e o desenvolvimento da bússola e do astrolábio. A criação dos algarismos arábicos, com o acréscimo do zero, foi feita por matemáticos árabes, que também estudaram álgebra e trigonometria. No campo da medicina, no Período Medieval, os árabes-islâmicos se destacaram por práticas cirúrgicas inovadoras e pelo emprego da anestesia. O domínio de conhecimentos de química permitiu a descoberta e a produção de inúmeros produtos farmacêuticos. É de origem árabe a utilização na prática clínica de medicamentos como a cânfora, o sândalo e o mercúrio, assim como também é árabe a identificação dos sais e dos ácidos. A vida nas cidades árabe-islâmicas exigia um controle administrativo para evitar a desordem. Algumas instituições municipais foram simplesmente adotadas por portugueses e espanhóis, como a almotaçaria. O al muhtasib árabe virou o almotacé português, que era titular da almotaçaria e foi trazido para o Brasil, durante a colonização portuguesa, para cuidar do ordenamento urbano das vilas e cidades coloniais.

Conexões As influências árabe-islâmicas também podem ser observadas no dia a dia, em uma conversa ou em leituras diversas. Muitas palavras em português têm origem árabe. Leia, a seguir, um pequeno exemplo de algumas palavras aportuguesadas provenientes do convívio com os árabes. Um fulano, funcionário da alfândega, resolveu aproveitar uma propriedade da família e montar um alambique para produzir álcool. Interessado nos consumidores estrangeiros, decidiu fabricar uma bebida artesanal, temperada com alecrim, laranja, limão e damasco. Depois de envasado o líquido, as garrafas seriam expostas em um armazém todo revestido por azulejos coloridos, onde o produto seria apreciado acompanhado de carne de javali, assada conforme receita da família, arroz, azeitonas, alcaparras e azeite. Assim, o comerciante esperava que seus lucros atingissem cifras elevadas em pouco tempo. Todas as palavras destacadas foram aportuguesadas e indicam não apenas a influência árabe no vocabulário, mas também algumas das principais características culturais árabes. Alfândega (al-fundaq, alojamento de mercadores e mercadorias) e armazém (al-mahazán, entreposto, celeiro) referem-se às atividades comerciais, álcool (al-kohol) e alambique (al-’anbíq, aparelho para destilação) relacionam-se à química, e cifra (sifr) à matemática. mouros: habitantes do norte da África, antiga província romana da Mauritânia. almotaçaria: relativo a almotacé, que é o inspetor encarregado pela aplicação dos pesos e medidas e pela taxação dos gêneros alimentícios.

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Interpretando documentos Por séculos, os árabes haviam sido os donos absolutos desse comércio [de especiarias orientais], mantendo segredo sobre suas rotas. Em ótima posição geográfica, entre os três continentes, saíam dos portos da Península da Arábia e ganhavam o mundo. [...] Buscavam ouro no Sudão, cultivavam, na Arábia, o café da Etiópia e o difundiam por onde andavam, também seus costumes alimentares: a bebida feita dos grãos de café, o hábito de regar as comidas com azeite da oliveira, a paixão pelos pratos vermelhos de açafrão, o consumo extravagante do alho e da cebola. Nesse périplo, levaram a cana-de-açúcar asiática para o Egito e a todo o norte da África, ilha de Creta, Sicília e Espanha. [...] NEPOMUCENO, Rosa. O Brasil na rota das especiarias: o leva e traz de cheiros, as surpresas da nova terra. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005. p. 20.

Julio Manoel França da Silva

IDADE MÉDIA ÁRABE-ISLÂMICA

Fontes: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 59 e 61. DRÈGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a rota da seda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 122-123. [As rotas da Seda, mapa de Patrick Mérienne].

1. Relacione as informações apresentadas no texto e no mapa para justificar a seguinte afirmação: O processo histórico de expansão árabe-islâmico medieval não apenas é paralelo à Idade Média europeia e à bizantina, como também as entrecruza em diversas ocasiões, e, assim, complementam-se.

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2. O Islam está presente na África desde o século VII, principalmente no extremo norte e nas regiões banhadas pelas águas do Mar Vermelho e do Oceano Índico. Entretanto, a presença islâmica foi se espalhando ao sul do Deserto do Saara até chegar em regiões tropicais. Ouro, marfim e escravizados eram produtos de interesse dos povos árabes, que levaram sua religião à diversidade étnica e cultural dos africanos. A historiadora Claudia Lima afirma que a disseminação do islamismo na África “resultou, antes de tudo, de ter o Islam aprendido a tolerância, a adaptabilidade, a capacidade de respeitar o modo de viver tipicamente africano das sociedades tradicionais”. Nesse sentido, pesquise informações a respeito da presença islâmica na África, priorizando os fatores que caracterizaram a rápida expansão e a relativamente fácil aceitação do Islam naquele continente. Depois, reúna-se com seus colegas e debatam acerca da importância da religião islâmica na África contemporânea.

Hora de estudo 1. Entre as contribuições culturais árabe-islâmicas, assinale o que for correto. (01) Astronomia: a necessidade de localização no deserto favoreceu o desenvolvimento astronômico. (02) Matemática: algarismos arábicos e o número zero. (04) Medicina e química: descoberta de substâncias e o uso da anestesia. (08) Arquitetura e urbanismo: planejamento e organização de cidades. (16) Vocábulos da língua portuguesa de origem árabe: javali, garrafa, arroz, azeite, laranja. 2. Leia o fragmento a seguir. O Islã, como o cristianismo, é uma fé expansionista e monopolista da verdade. Os consecutivos impérios árabes e muçulmanos expandiram a fé muçulmana, a língua árabe e padrões culturais comuns. Hoje, perto de 95% da população do Oriente Médio é muçulmana. No entanto, quando o Islã ali chegou, possivelmente 95% era cristã. A diminuição do cristianismo na zona de seu nascimento gerou um conflito duradouro entre essas duas religiões rivais. Nos últimos duzentos anos, a influência do cristianismo também diminuiu na Europa, mas a relação antagônica com o Oriente Médio só se exacerbou por fatores econômicos e geopolíticos. Os Estados muçulmanos do Oriente Médio se enfraqueceram; mas a região cresceu em importância estratégica – afinal, muito do petróleo do mundo está lá – e tornou-se espaço privilegiado para as rivalidades com e entre as potências europeias.

Considerando seus conhecimentos e o fragmento de texto sobre o islamismo, analise as seguintes afirmações. I. O islamismo teve seu processo de expansão relacionado à busca por riquezas e territórios mais férteis, dado que a origem da religião islâmica foi a Península Arábica. II. Um pilar religioso do islamismo é o livro sagrado denominado Corão, com preceitos que devem ser fielmente seguidos pelos muçulmanos, pois são considerados verdades absolutas. III. A justaposição de vários fatores – religiosos, estratégicos e econômicos – explica por que o Oriente Médio capta tanta atenção de políticos, de jornalistas e da opinião pública internacional. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) I, II e III. 3. Sobre o islamismo, responda às questões a seguir. a) Quem é o profeta da religião islâmica? b) Em que cidade o islamismo começou a ser difundido? c) Que denominação recebe a saída de Mohammad de Meca para Yathrib ou Medina? d) Qual é o livro sagrado do povo muçulmano?

DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2008. p. 16.

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4. Sobre a religião islâmica, analise as afirmativas a seguir. I. Os árabes sempre foram politeístas e, de acordo com os preceitos sagrados do Corão, permanecem cultuando vários deuses. II. A característica mais marcante da religião islâmica é a sua grande liberalidade, pois os fiéis muçulmanos podem escolher como e quando realizar suas orações. III. O islamismo é a única religião ainda existente no mundo contemporâneo que nunca teve qualquer relação com eventos violentos, como guerras ou ataques terroristas. De acordo com a análise: a) todas as afirmativas estão corretas. b) todas as afirmativas estão incorretas. c) apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) apenas as afirmativas I e III estão corretas. e) apenas as afirmativas II e III estão corretas. 5. (ENEM) Existe uma regra religiosa, aceita pelos praticantes do judaísmo e do islamismo, que proíbe o consumo de carne de porco. Estabelecida na Antiguidade, quando os judeus viviam em regiões áridas, foi adotada, séculos depois, por árabes islamizados, que também eram povos do deserto. Essa regra pode ser entendida como: a) uma demonstração de que o islamismo é um ramo do judaísmo tradicional. b) um indício de que a carne de porco era rejeitada em toda a Ásia. c) uma certeza de que do judaísmo surgiu o islamismo. d) uma prova de que a carne do porco era largamente consumida fora das regiões áridas. e) uma crença antiga de que o porco é um animal impuro. 6. Leia o fragmento a seguir. O encontro entre islã e o “Ocidente” não é recente. Ambos se definiram, num grau significativo, por sua diferenciação um do outro. Historicamente, as relações entre as civilizações oscilam entre os polos de diálogo e conflito. Elas se chocam quando (e porque) não há comunicação aberta. O relacionamento

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entre Islã e Ocidente não é uma exceção. De fato, o primeiro aspecto que sobressai é a semelhança entre ambos – comparado às outras civilizações do Oriente, pelo menos até o advento da modernidade secularista no Ocidente com as revoluções políticas e industriais dos séculos XVIII-XIX. DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2008. p. 346.

Com base no texto, responda às questões a seguir. a) Explique como se constitui a relação entre a civilização islâmica e o Ocidente. b) Considerando o processo de expansão árabe-islâmico, justifique o trecho do texto que afirma que “o primeiro aspecto que sobressai é a semelhança entre ambos (Islam e Ocidente) – comparado às outras civilizações do Oriente”. c) “Historicamente, as relações entre as civilizações oscilam entre os polos de diálogo e conflito”. Considerando essa afirmação, cite um aspecto que caracterize o diálogo e outro que caracterize o conflito entre o Islam e o Ocidente. 7. (UEG – GO) O mundo islâmico, cotidianamente presente nos noticiários internacionais, possui um rico passado que remonta à Idade Média. Acerca da trajetória dessa civilização naquele período, julgue a validade das sentenças a seguir. I. Em virtude das divergências religiosas e culturais entre muçulmanos e cristãos, poucas foram as influências da civilização islâmica sobre o mundo Ocidental até o final do século XV. II. Originalmente nômades, os povos árabes possuíam uma forte tendência para a atividade comercial, altamente lucrativa em virtude de, até o século XV, o Oriente Médio ser a única rota comercial ligando a Europa às Índias. III. A região islâmica, tendo como figura o profeta Maomé, fundiu elementos judaicos e cristãos em uma mesma fé, espalhando-se rapidamente por todo o Oriente Médio e pelo Norte da África, a partir do século VII. a) As sentenças I e II são verdadeiras. b) As sentenças I e III são verdadeiras. c) As sentenças II e III são verdadeiras. d) Todas as sentenças são verdadeiras.

14 a i d é M e d a d I a Transição d a n r e d o M e d a d I para a ©Wikimedia Commons/Mel22

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Acervo pessoal de Lys Villela

BENINNG, Simon. Setembro. [ca. 1540]. 1 aquarela sobre pergaminho, 9,5 cm × 14 cm. Museu Victoria e Albert, Londres.

PARTICIPANTES e espectadores de um torneio [página dupla do manuscrito do Livro dos torneios, de René de Anjou, criado entre 1480 e 1490]. Biblioteca Nacional da França, Paris.

CENA de uma escola medieval. [15--]. 1 escultura francesa em madeira colorida com ouro. Museu de Cluny, Paris.

Ponto de partida As três imagens representam cenas do cotidiano europeu na Idade Média. Média Observe-as e produza um texto sobre as principais atividades retratadas e os estamentos representados, relacionando as atividades aos respectivos grupos.

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Objetivos da unidade: ƒ retomar as principais características da sociedade dade medieval europeia; ƒ conhecer as diferentes interpretações para a denominação “Idade das Trevas”, atribuída à Idade Média; ƒ analisar a conjuntura histórica em que se originou a organização do movimento cruzadista, destacando suas principais características e consequências; ƒ compreender a conjuntura europeia que levou ao Renascimento Comercial e Urbano, marcante no fim da Idade Média, relacionando-o ao movimento das Cruzadas; ƒ analisar o surgimento da burguesia; ƒ conhecer os principais fatores que geraram a crise do século XIV.

Em pleno século XVIII, o chamado “Século das Luzes”, século do Iluminismo e da Revolução Francesa (1789), o poeta germânico Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) afirmou, contrariando o senso comum da época, que a Idade Média não havia sido um “período de trevas”: “Noite da Idade Média, sim! Mas noite resplandecente de estrelas!”. O medievalista francês Jacques Le Goff (1999) explicou melhor a opinião de Lessing: deve-se compreender a Idade Média como, “simultaneamente, uma idade de trevas e uma idade de ouro”.

e Tradicionalmente, considera-se como Idad do fim o e Média o intervalo de tempo entr a Império Romano do Ocidente, em 476, e s tomada da cidade de Constantinopla pelo tam valo inter O turco-otomanos, em 1453. ulos (séc bém é dividido em Alta Idade Média V ao X) e Baixa Idade Média (séculos XI ao XV).

Bastaria aceitar a posição de Lessing e de Le Goff para negar que a Idade Média foi somente um período de “escuridão”, de retrocessos, superstições e misticismos. Que houve “trevas”, não há dúvidas, porém também houve transformações, desenvolvimentos e avanços nos mais variados campos da atuação humana. Identificar tanto o lado ruim quanto o lado bom da Idade Média é tarefa relativamente fácil. Difícil é pontuar de maneira exata quando aconteceram as mudanças, ou seja, é mais complicado indicar uma data precisa para todas as transformações (boas ou más). Também é pouco provável que exista um acordo quanto ao que foi bom ou ruim e que mudanças foram positivas ou negativas. O que pode ter sido bom para um cristão da Europa Ocidental no século XI pode, por outro lado, ter sido extremamente ruim para um muçulmano no Oriente Próximo, e vice-versa. Por isso, para compreender melhor a história do período final da Idade Média, é necessário considerá-lo como uma época de mudanças. Muitas delas começaram antes dos séculos X e XI. Outras ainda não haviam se completado depois do século XV. Assim, para evitar injustiças em relação ao passado e à história, preferiu-se denominar esse processo histórico, com suas rupturas e permanências, de “transição da Idade Média para a Idade Moderna”. Transição, nesse sentido, é a passagem de determinado modelo de organização da sociedade para outro. Não há como precisar quando exatamente o modelo da Idade Média deixou de existir por completo, nem quando o modelo moderno se impôs definitivamente. Essa imprecisão caracteriza a transição, pois muito do que é considerado moderno já existia antes do fim da Idade Média, assim como muito do que é aceito como medieval continuou existindo durante a Idade Moderna.

Cruzadas Cruzadas foi a denominação dada às peregrinações que se tornaram uma das mais conhecidas características da Idade Média. Desde os anos finais do Império Romano do Ocidente, em 476, já ocorriam peregrinações incentivadas pela Igreja Cristã. O objetivo daquelas jornadas podia ser alcançar alguma graça divina, ser absolvido de um pecado ou pagar alguma promessa.

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Entre os locais de peregrinação, certamente se destacavam Roma e Jerusalém. Como forma de demonstrar a fé, anualmente afluíam centenas, ou milhares, de cristãos para aquelas cidades. Para chegar a elas, os mais variados caminhos e estradas passavam por territórios controlados pela cristandade. Entretanto, a facilidade de acesso a Jerusalém deixou de existir a partir do século VII, pois o controle político da região, até então cristã, foi perdido para os persas e, depois, para os árabes muçulmanos.

Julio Manoel França da Silva

O CONTROLE DE JERUSALÉM

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 33, 34 e 37.

Após a invasão árabe-islâmica, em 638, a cidade de Jerusalém continuou a receber os peregrinos cristãos, apesar de a quantidade de visitantes ter reduzido consideravelmente. Nos séculos seguintes, o fato de a cidade estar sob domínio dos sarracenos, chamados pelos cristãos de infiéis, tornou a peregrinação ainda mais sagrada. As dificuldades para chegar a Jerusalém representavam, na imaginação dos cristãos, um desafio divino. Ultrapassar o desafio era uma prova que reforçava a fé do peregrino.

de Os bizantinos denominavam os árabes e i sarracenos, termo do grego sarakeno o do latim saraceni, que significa “o pov rerefe acas das barracas”. A alusão às barr o -se ao nomadismo característico do pov e árabe, com suas caravanas de beduínos es. acampamentos itinerant

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Biblioteca Britânica, Londres

Até o fim do século XI, houve poucos incidentes entre os fiéis das três grandes religiões monoteístas. A cidade de Jerusalém recebia judeus, cristãos e muçulmanos em relativa tranquilidade. Contudo, a partir do início do século XII, por vários fatores, entre eles o avanço árabe-islâmico, a situação começou a mudar.

BREYDENBACH, Bernhard von. Cidade de Jerusalém [imagem original no livro Peregrinação à Terra Santa]. 1486. 1 xilogravura, 150 mm × 160 mm. Biblioteca Britanica, Londres. Representação da cidade de Jerusalém, centro de importância religiosa para judeus, cristãos e muçulmanos, protegida por suas muralhas. Com as Cruzadas, as peregrinações à Terra Santa adquiriram características de guerra religiosa.

A expansão territorial árabe, acompanhada pela disseminação da religião islâmica, deixou o mundo cristão apreensivo. A rapidez com que aconteceu tal processo chamou a atenção da Igreja, que passou a considerar os muçulmanos como “bárbaros” e o profeta Muhammad como o anticristo. Para os cristãos, o islamismo representava uma ameaça.

A divisão da cristandade também influenciou, a seu modo, o acesso à cidade de Jerusalém. Para os bizantinos, os cristãos ocidentais eram “bárbaros”, sendo chamados genericamente de francos. Os cristãos do Ocidente, por sua vez, consideravam os bizantinos um povo fraco que, diante da riqueza comercial e dos desenvolvimentos da vida urbana, preferia evitar guerras.

ILUMINURA integrante da obra Le Livre des faiz monseigneur saint Loys, confeccionada a pedido do Cardeal de Bourbon e da Duquesa de Bourbon. Biblioteca Nacional da França, Paris. Os cruzados levaram suas espadas para defender, militarmente, a cidade sagrada de Jerusalém. O sinal da cruz aparecia nas roupas, nos escudos e nos estandartes dos cristãos que peregrinavam para libertar a Terra Santa.

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Biblioteca Nacional da França, Paris

É conveniente recordar que a própria cristandade estava dividida. Na porção ocidental da Europa, predominavam os reinos germânicos, vivendo no meio rural e praticando uma economia de subsistência. A cristandade ocidental era influenciada pelo papa. Na porção oriental, território do Império Bizantino, a vida urbana e o comércio subsistiam. A cristandade bizantina sofria a interferência do imperador, que governava de acordo com o sistema cesaropapista, concentrando poderes temporais e religiosos.

Como os cristãos do Ocidente valorizavam a guerra e as batalhas e acreditavam que uma de suas principais funções era lutar por Deus, logo se evidenciaram as divergências entre eles, os bizantinos e os muçulmanos. Nesse processo, a Igreja teve um papel ativo, defendendo que a luta dos cristãos contra os “infiéis” era justa e legítima, uma verdadeira “guerra santa”. Assim, o espírito guerreiro dos cavaleiros medievais floresceu justificado pela Igreja, havia uma missão religiosa que consistia em proteger os fracos e os oprimidos em nome de Deus. A mentalidade guerreira, uma característica dos povos “bárbaros” que “destruíram” o Império Romano do Ocidente, foi reforçada por uma oportunidade magnífica de se empunhar espadas e lutar por Deus e pela Igreja: a cidade sagrada de Jerusalém estava nas mãos dos “infiéis”.

A ideia de "guerra santa" apoiava-se na noção de guerra justa, articulada por Santo Agostinho. Segundo a historiadora Márcia Maria de Medeiros, para as Cruzadas, “tomou outra proporção e, pode-se dizer, se completou: a guerra ‘válida’ é aquela que se volta para uma reta intenção, dirigida para esse fim por uma autoridade legítima e com objetivo defensivo ou de retomada de um bem injustamente adquirido”.

Os motivos religiosos para reconquistar a Terra Santa, denominação dada a Jerusalém, eram mais do que suficientes, mas não os únicos. Uma “revolução agrícola”, ocorrida entre o primeiro e o segundo milênio da Era Cristã, possibilitou um aumento da produção de alimentos e, consequentemente, promoveu o crescimento demográfico na Europa Ocidental. O aumento populacional ocasionou a escassez de terras cultiváveis e de trabalho para todos.

Interpretando documentos 1. Os livros medievais eram manuscritos e, em alguns casos, traziam em suas páginas desenhos em miniaturas, chamados de iluminuras. No século XV, um duque francês, Jean de Berry (1340-1416), encomendou um livro de horas aos irmãos Limbourg. Tais livros continham orações e devoções e eram usados para a orientação dos laicos.

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As iluminuras dos irmãos Limbourg são uma fonte histórica rica em informações sobre o cotidiano medieval. Analise as imagens e responda às questões a seguir.

LIMBOURG, Herman; LIMBOURG, Paul; LIMBOURG, Johan. [iluminura do mês de março]. In: As ricas horas do duque de Berry. [entre 1410 e 1416]. Museu Condé, Chantilly. Iluminura que apresenta a semeadura das terras do Castelo de Lusignan durante o mês de março.

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Fotos: Museu Condé, Chantilly

a) Descreva em seu caderno as principais características do feudalismo que podem ser observadas. b) Sobre a economia da Europa Medieval, explique como era a economia do sistema feudal.

c) Considerando as práticas agrícolas medievais, cite uma de suas principais características.

d) Explique a afirmação: “o principal elemento definidor da riqueza era a terra”. LIMBOURG, Herman; LIMBOURG, Paul; LIMBOURG, Johan. [iluminura do mês de setembro]. In: As ricas horas do duque de Berry. [entre 1410 e 1416]. Museu Condé, Chantilly. Iluminura representando a colheita da uva durante o mês de setembro. Ao fundo, é possível observar o Castelo de Saumur.

2. (UFTM) Assinale a alternativa que caracteriza corretamente o período da história europeia representado na imagem a seguir. a) A agricultura era a base da economia, praticada em grandes propriedades rurais denominadas feudos; o rei concentrava amplos poderes, submetendo os nobres a seu domínio. b) Os monarcas tinham poderes absolutos, justificados pela teoria do direito divino; havia reduzida mobilidade social, pois a sociedade estamental dependia do nascimento. c) A sociedade vivia, em sua maioria, no campo e estava dividida basicamente em senhores e servos; a economia centrava-se na agricultura e procurava a autossuficiência. d) As atividades mercantis eram favorecidas pela produção de excedentes e pela estabilidade social; o trabalho estava organizado em corporações, comandadas pelos nobres. e) A vida urbana era ainda reduzida, mas a burguesia ampliava sua riqueza e questionava a autoridade dos reis; a servidão constituía a base das relações de trabalho.

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No mesmo período, a partir do século X, um tímido Renascimento Comercial e Urbano alterou a vida em determinadas regiões do Ocidente cristão, como o norte da Península Itálica. Inicialmente inexpressivo, tal renascimento tornou-se gradativamente mais importante, pois reativou antigas rotas comerciais no Mar Mediterrâneo, estimulou o uso de moedas e incentivou o deslocamento de pessoas. Também devem ser consideradas as relações sociais da época, que eram rigidamente hierarquizadas. A impossibilidade de alteração do status social motivou muitas pessoas a buscar novas oportunidades. Os mais humildes e desprovidos de riquezas desejavam mudanças, assim como o costume medieval que valorizava a primogenitura no recebimento de heranças incentivou nobres a buscar terras próprias. Desse modo, os diversos fatores citados influenciaram o acesso à cidade de Jerusalém, já que juntos se tornaram motivo e justificativa para algumas das mais famosas peregrinações da Idade Média, as Cruzadas. No século XI, os cristãos do Ocidente estavam, ao mesmo tempo, maravilhados e temerosos. Maravilhavam-se com as riquezas e belezas da capital bizantina, a cidade de Constantinopla, e temiam os árabes-islâmicos, que avançavam em suas conquistas territoriais subjugando milhares de cristãos. Constantinopla também despertava o interesse dos árabes-islâmicos, que tentaram invadi-la inúmeras vezes, sempre sem sucesso. Alguns peregrinos, no retorno de Jerusalém, comentavam no Ocidente as dificuldades que os bizantinos enfrentavam para evitar a invasão dos turcos, um dos grupos de “infiéis”.

Biblioteca Britânica, Londres

Os comentários chegaram até o papa Urbano II (1042-1099). Em 1095, segundo o historiador Colin McEvedy (2007), o papa atendeu a uma missão de “constrangidos bizantinos que necessitavam de ajuda para erguer uma força de voluntários visando a combater os turcos”. Considerando-se o Cisma do Oriente, de 1054, que dividiu oficialmente a cristandade, fica fácil entender o constrangimento dos bizantinos. Urbano II viu, no apelo bizantino, uma extraordinária oportunidade de demonstrar o poder da Igreja Católica. Afinal, as forças ocidentais poderiam não só salvar o Oriente, mas avançar até Jerusalém e reconquistar a própria Terra Santa. No fim do século XI, a cristandade ocidental começou a pregar a necessidade de uma Cruzada cristã contra os “infiéis”. No ano de 1096, depois que o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, oficializou a luta contra os “infiéis” para reconquistar a Terra Santa, os cruce signati, soldados de Cristo marcados pelo sinal da cruz, partiram em direção ao Oriente. A Primeira Cruzada era uma massa disforme de cristãos e, apesar da presença dos nobres, composta de muitas pessoas que não sabiam e nem podiam lutar: mulheres, crianças e idosos.

ILUMINURA integrante da obra Crônicas de Froissard, de Jean de Froissard, v. IV, parte 1. [entre 1470 e 1475]. Biblioteca Britânica, Londres. Enquanto os nobres batalhavam, o clero se encarregava de controlar a produção e o acesso ao conhecimento. Durante a Idade Média, o poder da Igreja foi muito amplo e até mesmo limitava as atividades militares com a trégua da “paz de Deus”.

O que se viu nessa Cruzada se parecia mais com qualquer guerra da época do que com uma missão religiosa. Pilhagens e massacres viraram rotina entre muitos cristãos que, aparentemente, tinham vários outros motivos para lutar além da defesa da cruz. A diversidade de intenções fica explícita nos relatos de um observador anônimo do século XII. Leia parte desse relato na página seguinte.

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[...] As intenções daquela variedade de homens eram diferentes. Alguns, na verdade, ansiavam por novidades e foram em busca de informações de novas terras. Outros foram estimulados pela extrema pobreza em que viviam nas suas casas; estes homens foram lutar, não apenas contra os “infiéis”, mas também contra simpatizantes do nome cristão, em qualquer lugar onde aparecesse a oportunidade de reduzirem sua pobreza. Havia outros que eram oprimidos por dívidas ou desejavam fugir dos serviços impostos pelos seus senhores, ou quem esperava ser castigado pelos seus vergonhosos pecados. Muitos desses homens fingiam adorar Deus e tentavam fugir dos seus problemas e ansiedades. Uns poucos, que ainda não tinham se curvado ao demônio, podiam, com dificuldade, ser encontrados com propósitos verdadeiros e motivados pela fé e, pelo amor à majestade divina, lutavam sinceramente, derrubando seu próprio sangue, pelo Santo de todos os santos. ANNALES Herbipolenses, s.a. 1147, in MGH, SS, XVI, 3. In: BRUNDAGE, James. The Crusades: a documentary history. Milwaukee, WI: Marquette University Press, 1962. p. 115-121. Disponível em: . Acesso em: 29 nov. 2014. Tradução livre.

Outras versões (ENEM) Os cruzados avançavam em silêncio, encontrando por todas as partes ossadas humanas, trapos e bandeiras. No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. Lá, os cristãos tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos, todos os que a fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos até os altares, tinham sido levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos, massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura. MICHAUD, J. F. História das cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956. (Com adaptações).

Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hégira, que os franj se apossaram da Cidade Santa, após um sítio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas. MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Com adaptações).

Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos acima, que tratam das Cruzadas. I. Os textos referem-se ao mesmo assunto — as Cruzadas, ocorridas no período medieval —, mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período histórico. II. Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Média e revelam como a violência contra mulheres e crianças era prática comum entre adversários. III. Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa. É correto apenas o que se afirma em: a) I. franj: cruzados.

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b) II.

c) III.

d) I e II.

e) II e III.

Organize as ideias Museu Lázaro Galdiano, Madri

Analise os documentos a seguir. “[...] nos monastérios, até o século XIII, havia uma sala especial chamada scriptorium (do latim scribere, ‘escrever’), onde os monges redigiam livros de devoção que eles mesmos ilustravam [...].” LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 100.

Considerando a imagem e o fragmento de texto, sobre a difusão do conhecimento na Idade Média, é correto afirmar que: a) os livros, na Idade Média, eram difundidos livremente, inclusive pelos clérigos. b) os monges escreviam, principalmente, romances de cavalaria. c) a imagem representa o acesso democrático às obras literárias. d) para a religião cristã, a literatura deveria honrar a Deus e os clérigos divulgaram esse ideal. PARRAL, Mestre de. São Jerônimo em seu escritório. [entre 1480 e 1490]. 1 óleo sobre madeira, 176 cm × 100 cm. Museu Lázaro Galdiano, Madri.

e) a imagem enfatiza o caráter laico da cultura medieval.

Entre os religiosos, poucos tinham acesso às obras disponíveis. A imagem retrata o interior de um monastério e a complexa e demorada elaboração de um manuscrito. No livro aberto sobre a mesa, estão sendo acrescentados títulos e notas marginais.

Entre o fim do século XI e o fim do século XIII, ocorreram várias Cruzadas, que mesclavam interesses religiosos com a busca pessoal por riquezas e terras. Os benefícios espirituais prometidos pela Igreja, como a remissão dos pecados e a vida eterna no paraíso, caso a morte ocorresse em batalha, atraíram cruzados e alimentaram esperanças de se encontrar fortuna e territórios. Os cristãos alcançaram parcialmente seus objetivos. Em um primeiro momento, reconquistaram Jerusalém e criaram vários estados cristãos na costa litorânea do Oriente Médio. O controle cristão na região atingiu seu auge em meados do século XII. Entretanto, a partir de então, os “infiéis”, os muçulmanos, demonstraram mais habilidade militar e fervor religioso em manter o controle da região. Se as Cruzadas de reconquista da Terra Santa não lograram sucesso, por outro lado, abriram as portas para um produtivo intercâmbio comercial e cultural com o Oriente. Em outras palavras, as Cruzadas inauguraram uma nova era, de fusão entre as tradições judaicas, cristãs, bizantinas e islâmicas.

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As transformações impulsionadas pelas Cruzadas continuaram acontecendo muito tempo depois da última peregrinação oficial para libertar a cidade de Jerusalém. Foram aquelas mudanças que caracterizaram o período de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Troca de ideias As Cruzadas não libertaram Jerusalém do jugo islâmico. Entretanto, abriram as portas para um produtivo intercâmbio comercial e cultural com o Oriente. Leia o texto a seguir e converse com seus colegas a respeito do intercâmbio cultural propiciado pelas Cruzadas. [...] as Cruzadas alcançaram um benefício que nunca havia sido pensado pelos cruzados: os cristãos conheceram no distante Oriente a cultura dos árabes, suas construções, seu sentido de beleza e sua erudição. E ainda não tinha passado cem anos desde a Primeira Cruzada, quando os escritos do professor de Alexandre Magno, os livros de Aristóteles, foram traduzidos do árabe para o latim e lidos e estudados com empenho na Itália, França e Alemanha. GOMBRICH, Ernst H.. Breve historia del mundo. Barcelona: Ediciones Península, 2004. p. 168-169. Tradução livre.

Produzam um texto que apresente as relações entre o movimento das Cruzadas e o aumento da influência árabe e bizantina na Europa.

Biblioteca Nacional da França, Paris

Renascimento Comercial e Urbano

REVEL, Guillarme. Armorial d’Auvergne Bourbonois et Foretz de Guillarme Revel. [14--]. Biblioteca Nacional da França, Paris. As cidades na Europa Ocidental, nos primeiros séculos da Idade Média, praticamente não tiveram importância. Contudo, do século XII em diante, o afluxo de camponeses fez com que os centros urbanos extrapolassem os limites das muralhas de proteção e crescessem em todas as direções.

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Desde meados do século III, os territórios do antigo Império Romano experimentaram a aproximação dos chamados povos “bárbaros”. A porção ocidental do Império sofreu mais, tendo se extinguido no último quartel do século V, mais precisamente no ano de 476. As transformações decorrentes do intercâmbio entre romanos e “bárbaros” favoreceram o surgimento de um novo modelo de organização da sociedade, que foi denominado de feudalismo. Entretanto, a consolidação do sistema feudal consistiu um longo processo histórico de mudanças e adaptações. Em geral, os historiadores concordam que o feudalismo só alcançou o seu pleno estabelecimento na Europa Ocidental por volta do século X. Prova disso é o fato de ser bastante comum se afirmar que o feudalismo atingiu o auge entre os séculos IX e XII.

Considere-se Europa Ocidental como a porção relativa aos territórios, naquele continente, que pertenciam ao antigo Império Romano do Ocidente, com exceção da Península Ibérica, ocupada por grupos islâmicos a partir do século VIII.

©Wikimedia Commons/Jh

eald

Quando se diz que o feudalismo chegou ao auge, está se afirmando que chegou ao seu apogeu, ao ponto mais elevado de desenvolvimento. Consequentemente, essa concepção de história e do passado medieval implica pensar que, após o auge, o feudalismo entrou em decadência. Apesar de não ser errado pensar assim, tal simplificação não contempla uma série de especificidades em relação à substituição do sistema feudal.

Biblioteca Britânica, Londres

FABRICANTES de tijolos. Ilustração integrante da Bíblia de Utrecht. Biblioteca Britânica, Londres. Renascimento Comercial e Urbano foram processos históricos paralelos, que se completavam mutuamente. Nas cidades, atividades artesanais se desenvolveram para atender ao crescimento populacional. Fábricas de tijolos e de vidro indicavam que as construções urbanas se multiplicavam. MANDEVILLE, Sir John. Vidraceiro do poço de Memnon [imagem original no Livro de Viagens do Sir Jonh Mandeville]. [ca. 1410]. Biblioteca Britanica, Londres.

Em outras palavras, o feudalismo, após seu auge, foi deixando de existir. Em algumas regiões, o processo foi mais acelerado. Em outras, o sistema feudal custou a desaparecer. Nesse processo, uma transformação merece destaque especial: o Renascimento Comercial e Urbano na Europa Ocidental. Com a vida eminentemente rural, baseada em uma economia agrária de subsistência, que caracterizou o feudalismo, a importância das cidades e das atividades mercantis foi ressurgindo. Chamar esse processo de Renascimento Comercial e Urbano significa que algo que já havia existido voltou a existir. Obviamente, o referido renascimento pressupõe que a importância das cidades e do comércio desapareceu por certo intervalo de tempo, justamente o período de desenvolvimento e consolidação do feudalismo.

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Assim, durante os séculos XI e XII, uma série de fatores se combinou aleatoriamente e favoreceu a valorização das atividades comerciais. Um dos fatores foram as Cruzadas, que colocaram a população da Europa Feudal novamente em contato com cobiçadas mercadorias. Pelas rotas comerciais, terrestres e marítimas, tecidos finos, especiarias, perfumes, tapetes e, até mesmo, escravizados eram transportados da Ásia para a Europa desde os últimos séculos da República Romana (509-27 a.C.). Na região de Jerusalém, assim como nos territórios bizantinos, o comércio permaneceu, por todo o Período Medieval, como uma importante atividade econômica. Na época das Cruzadas, a maioria dos produtos orientais era inacessível para o mundo feudal. Quando alguns ocidentais se viram diante de belas e ricas cidades, como Constantinopla, com suas feiras e mercados, eles despertaram para a oportunidade de fazer fortuna com o comércio. Eventualmente, a missão religiosa de resgatar Jerusalém era abandonada e os peregrinos se ocupavam em saquear as cidades que estavam no caminho. Assim, vários contratos comerciais foram selados entre ocidentais e mercadores orientais. Nesses casos, não importava a origem étnica do comerciante, tampouco a orientação religiosa. A Igreja condenava as relações entre cristãos e “infiéis”, mas cristãos de cidades como Veneza, Gênova, Pisa, Florença, na Península Itálica, ou de Bruges, Ghent, Antuérpia, Lubeck, no litoral do Mar do Norte, comercializavam intensamente com judeus, bizantinos e muçulmanos. Com o tempo, as transações comerciais foram se intensificando e, com elas, alguns vilarejos se destacaram como centros urbanos e comerciais. Na mesma época, alguns povoados tiveram um aumento demográfico significativo. A “revolução agrícola”, ocorrida entre os séculos X e XII, contribuiu para o aumento da população urbana. Com as inovações técnicas na agricultura, uma parcela da mão de obra rural, que foi substituída por novas ferramentas, migrou para as vilas. Palácio Público, Siena

Os povoados e as vilas foram aumentando em tamanho e importância e, aos poucos, constituíram-se nas principais cidades medievais. A necessidade de organizar a vida urbana fez surgir estruturas políticas e econômicas, como administradores e impostos urbanos. Em tais centros urbanos, a vida assumiu características completamente distintas da vida nos feudos. A vida urbana era, de fato, mais livre do que a vida rural. Desde o renascimento das primeiras cidades medievais, ser um citadino, um habitante da cidade, era sinônimo de ser livre. Mas a liberdade exigia certos cuidados, pois as cidades ainda estavam expostas a diversos perigos, como o assédio de bandidos e estrangeiros. Como proteção, foram construídos muralhas e portões de acesso ao redor de várias cidades. Essas construções restringiam a entrada na cidade durante o dia e permaneciam fechadas à noite.

LORENZETTI, Ambrogio. Alegoria do bom governo. [ca. 1337-1339]. Palácio Público, Siena. Detalhe.

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O surgimento de uma classe social caracterizada pela vida urbana relacionada às atividades comerciais é um dos elementos do processo de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Biblioteca Municipal, Módena

Essas cidades medievais, que renasceram com o desenvolvimento do comércio, eram chamadas de burgos, e seus habitantes, de burgueses.

MERCADORES. Escola Lombarda (manuscrito latino Da Sphera, n. 209). [14--]. Biblioteca Municipal, Módena. A cidade, o centro por excelência do comércio, com suas muralhas oferecia segurança aos mercadores. Foram os comerciantes, habitantes dos antigos burgos, que formaram a nascente classe social da burguesia.

Formação da burguesia Burgo deriva do termo germânico burgs, que significa “pequena cidade”. No latim medieval, burgus significava “pequena fortaleza”. Por isso, durante a Idade Média, o habitante dos burgos era o burguês, do latim burgensis. Assim, burguês passou a ser a denominação daquele que vivia nos burgos, nas cidades medievais. Como a maioria dos burgueses dependia do comércio, ser burguês virou uma distinção social caracterizada pelas atividades lucrativas desenvolvidas. O enriquecimento da burguesia alterou definitivamente a hierarquização da sociedade feudal, que era baseada nas relações de dependência entre os senhores e seus servos. Os antigos senhores passaram, progressivamente, a perder poder político e econômico, que se restringia, cada vez mais, aos limites dos próprios feudos. Ou seja, nas cidades, os senhores não desfrutavam de nenhum direito ou privilégio que um burguês não pudesse também pleitear. Talvez essa tenha sido uma das mais importantes mudanças ocorridas na Idade Média e que se fizeram presentes na Idade Moderna: a formação de uma classe social para quem os privilégios de nascimento foram perdendo importância. Nesse processo histórico da formação da burguesia, as estruturas políticas predominantes do feudalismo, como a descentralização do poder, foram substituídas por outro modelo político gradativamente. De acordo com o historiador José Luis Romero (2009), a burguesia, em geral, compartilhava a ideia de que as relações abstratas entre um indivíduo e o Estado eram incomparavelmente preferíveis às relações pessoais entre servos e um senhor. Explicando melhor, as relações comerciais de que a burguesia dependia exigiam certas condições e a segurança que somente um poder centralizado podia oferecer. Por exemplo, como o comércio dependia de moedas que pudessem ser facilmente trocadas por produtos, era mais fácil um Estado organizar a cunhagem de moedas únicas com validade em determinado território do que cada senhor feudal ter as próprias moedas. Da mesma maneira, era possível estabelecer regras comerciais e impostos válidos para todos em um Estado governado por um poder centralizado, ao contrário das restrições impostas por algum senhor.

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Enfim, a burguesia, como classe social que surgiu na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, aos poucos foi adquirindo poder econômico e, cada vez mais, representação política. Assim, o crescimento e a consolidação da classe burguesa contribuíram para o fim da Idade Média e o fim do próprio feudalismo.

Crise do século XIV Os três primeiros séculos do segundo milênio foram um período de muitas e profundas mudanças para a Europa Ocidental. O feudalismo atingiu o seu auge, sucedido por um longo processo de desaparecimento. As cidades e o comércio recuperaram importância e possibilitaram que uma nova classe social, a burguesia, despontasse no cenário medieval. Resumidamente, esses acontecimentos criaram condições para que, no século XIV, uma crise se abatesse sobre a Europa Ocidental com consequências que ultrapassaram os limites geográficos daquele território. A crise do século XIV foi um momento de mudanças súbitas, de dificuldades. Com outros fatores, o aumento populacional nos centros urbanos e o crescente desenvolvimento das atividades comerciais foram os causadores de tal crise. A “revolução agrícola”, ocorrida entre os séculos X e XII, permitiu a produção de mais alimentos, sendo acompanhada pelo crescimento demográfico e aumento da população urbana. Entretanto, os centros urbanos não estavam devidamente preparados para suportar um inchaço populacional, pois não tinham uma estrutura física que oferecesse boas condições de vida. Faltavam água corrente, sistema de esgoto e de coleta de lixo. As moradias eram construídas sem planejamento e construções feitas de materiais inflamáveis se sobrepunham em estreitas ruas. No espaço urbano, conviviam pessoas e animais, principalmente os domésticos e de tração. Dessa forma, cavalos, burros, cães, galinhas, porcos e, na maioria das vezes, algum gado, dividiam o mesmo espaço com a população humana. Os detritos de todos eles se acumulavam nas ruas e passeios, que aguardavam a chuva limpar a cidade. Em suma, as cidades medievais eram sujas, um ambiente propício para o aparecimento de ratos, baratas, piolhos, pulgas e outros transmissores de doenças. Na Europa Ocidental, o início do século XIV foi marcado por condições climáticas atípicas, que comprometeram a produção agrícola. Para o historiador Marco Antônio de Oliveira Pais (1994), “a conjugação de chuvas torrenciais e de más colheitas inaugurou um período de fome”. Como a população havia crescido significativamente nas últimas décadas, a falta de alimentos gerou uma situação extremamente perigosa. Some-se à escassez de comida a grande concentração de pessoas nas imundas cidades medievais. Eram muitos em um espaço relativamente pequeno e todos com fome. A desnutrição, como se sabe, debilita o sistema imunológico, tornando o desnutrido potencialmente suscetível a contrair doenças. Nesse sentido, o fortalecimento das transações comerciais entre Oriente e Ocidente tornou aquela situação perigosa, implicando uma combinação dramática e altamente mortífera. As dezenas de embarcações que cruzavam as águas do Mar Mediterrâneo repletas de mercadorias orientais para serem vendidas na Europa Ocidental também levavam muitos ratos em seu interior. Esses seres, infestados de pulgas, difundiram uma verdadeira praga pela Europa: a Peste Negra. Não há dados precisos a respeito dos danos causados pela epidemia, mas estimativas indicam que, aproximadamente, um terço da população europeia sucumbiu diante da terrível pestilência. A fome, a peste e a diminuição populacional e do comércio, juntas, resultaram em um período de crise para a Europa Ocidental. A crise colocou em xeque todo o sistema feudal, com suas estruturas políticas, econômicas e sociais, de modo que, ao fim do século XIV, o feudalismo estava em pleno processo de desaparecimento. Na mesma época, outro modelo de organização político-econômica começava a aparecer, o capitalismo.

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Biblioteca Nacional da França, Paris Museu da Comunidade, Louvain

A PESTE em Louvain. 1578. Museu da Comunidade, Louvain.

ILUMINURA original da obra O livro das horas de Angers. [entre 1430 e 1435]. Biblioteca Nacional, Paris. A pestilência devastadora gerou uma crise na Europa Ocidental. Eram tantos os mortos que não havia mais espaço para os corpos nos cemitérios, tampouco madeira para os caixões. Estima-se que, durante o verão de 1348, um terço da população europeia tenha sucumbido à Peste Negra. Nessa época, o costume de sepultar defuntos de famílias ricas no interior das igrejas não pôde ser seguido à risca. Como a peste não escolhia entre ricos e pobres, os milhares de mortos eram jogados em valas comuns.

Interpretando documentos 1. Com base nos textos, faça o que se pede a seguir. [...] Tanto nas aldeias como nas cidades, a latrina fica junto ou perto da porta dos fundos da maioria das casas, sem qualquer preocupação com o cheiro... nem com as moscas, que tinham tão pouca distância a percorrer para os alimentos que as pessoas comiam. Não havia noção de como as doenças podem ser disseminadas pelas bactérias. As pessoas consideravam como um fato normal que seus corpos oferecessem hospitalidade para parasitas, que variavam dos tricuros [parasitos intestinais] relativamente inofensivos à sinistra solitária, que pode alcançar trinta centímetros de comprimento. A solitária pode sair inesperadamente por qualquer orifício, inclusive – o mais alarmante – pelos cantos dos olhos da pessoa. LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no início do primeiro milênio. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 105-106.

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[...] da mesma forma que a Aids, a epidemia, em geral, e a peste negra, em particular, foram consideradas como uma punição do pecado. Na desordem, procuravam-se responsáveis e bodes expiatórios: eram os judeus e os leprosos. Dizia-se que eles tinham envenenado os poços. Houve um desencadeamento de violência contra os que apareciam como os instrumentos de um Deus vingativo, que fustigava suas criaturas lançando sobre elas a doença. [...] Chamava-se “lepra” a muitas doenças. Toda erupção pustulenta, a escarlatina, por exemplo, qualquer afecção cutânea passava por lepra. Ora, havia, com relação à lepra, um terror sagrado: os homens daquele tempo estavam persuadidos de que no corpo reflete-se a podridão da alma. O leproso era, só por sua aparência corporal, um pecador. Desagradara a Deus e seu pecado purgava através dos poros. DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998. p. 87, 89, 91.

a) Relacione as condições sanitárias da Europa durante a Baixa Idade Média com a disseminação de doenças.

b) Explique de que maneira a sociedade medieval relacionou a disseminação da Peste Negra e de outras doenças com a religião.

2. (ENEM) A Peste Negra dizimou boa parte da população europeia, com efeitos sobre o crescimento das cidades. O conhecimento médico da época não foi suficiente para conter a epidemia. Na cidade de Siena, Agnolo di Tura escreveu: “As pessoas morriam às centenas, de dia e de noite, e todas eram jogadas em fossas cobertas com terra e, assim que essas fossas ficavam cheias, cavavam-se mais. E eu enterrei meus cinco filhos com minhas próprias mãos [...]. E morreram tantos que todos achavam que era o fim do mundo.” TURA, Agnolo di. The Plague in Siena: An Italian Chronicle. In: BOWSKY, William M. The Black Death: a turning point in history? New York: HRW, 1971. (Com adaptações).

O testemunho de Agnolo di Tura, um sobrevivente da Peste Negra, que assolou a Europa durante parte do século XIV, sugere que: a) o flagelo da Peste Negra foi associado ao fim dos tempos. b) a Igreja buscou conter o medo da morte, disseminando o saber médico. c) a impressão causada pelo número de mortos não foi tão forte, porque as vítimas eram poucas e identificáveis. d) houve substancial queda demográfica na Europa no período anterior à Peste. e) o drama vivido pelos sobreviventes era causado pelo fato de os cadáveres não serem enterrados.

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Transição do feudalismo para o capitalismo Assim como o feudalismo não desapareceu de maneira súbita, tampouco o capitalismo surgiu repentinamente. Entre o fim de um e o começo do outro, houve um período de transição, a passagem do feudalismo para o capitalismo. O feudalismo, com sua população eminentemente rural e economia agrária de subsistência, foi sendo, desde os séculos X, XI e XII, substituído por outro tipo de organização da sociedade. Politicamente, o advento do capitalismo foi acompanhado por um processo de contínua centralização do poder. Economicamente, o comércio exigiu alguns elementos que eram dispensáveis nos feudos medievais, como moedas e regras bem definidas para as trocas mercantis. A intensa descentralização política, com cada senhor estipulando regras próprias em seus domínios, era um obstáculo inconveniente para o desenvolvimento comercial. Desde cedo, os mercadores perceberam que o sucesso comercial estava intimamente relacionado à formação de um conjunto político forte e unificado. Assim, fazia-se necessária a existência de um Estado no lugar daquela variedade de feudos independentes.

Museu do Louvre, Paris

A quase inexistência de moedas nos feudos era outro empecilho para o comércio. Nos feudos, as necessidades de consumo eram supridas com trocas naturais, em que um produto era trocado por outro, como uma quantidade de ovos por certa quantidade de leite. Nesse tipo de troca, não se objetivava o lucro, trocava-se aquilo que se considerava justo. Contudo, com a mercantilização da economia, o lucro passou a orientar as transações comerciais.

MASSYS, Quentin. O prestamista e sua esposa. 1514. 1 óleo em painel, 71 cm × 68 cm. Museu do Louvre, Paris. Na obra, o mercador de joias e de metais preciosos aparece satisfeito com suas moedas, ao lado de sua esposa, que folheia um livro ornamentado com iluminuras. A dinamização das relações comerciais exigiu a monetização da economia, isto é, a cunhagem de moedas. Apesar do sucesso econômico da burguesia, a Igreja Católica condenava a usura, isto é, o lucro excessivo advindo de juros.

A busca por vantagens nas trocas tornou indispensável a utilização de moedas. Uma moeda forte e confiável exigia, em contrapartida, um governo também forte e confiável. Logo, fica fácil compreender os fatores que favoreceram o surgimento, quase paralelo, dos Estados centralizados e do capitalismo. E, como ambos atendiam aos interesses e expectativas da nascente classe burguesa, criou-se um estreito vínculo entre os Estados, a burguesia e o capitalismo. Como na história nada é estático e imutável, os Estados, a burguesia e o capitalismo também sofreram mudanças e adaptações, transformando-se no decorrer dos séculos e assumindo novas formas e características. Apesar de ainda na atualidade existirem Estados, burguesia e capitalismo, eles são completamente diferentes daquilo que foram na época de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

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Hora de estudo 1. Leia o fragmento a seguir. [...] Uma ‘villa’ [...] é o centro de um grande domínio. Do ponto de vista dos materiais, a construção permanece em geral bastante modesta, mesmo quando se usa a pedra: não se pode falar de castelo. Enfim, a ‘villa’ é um domínio com um prédio principal que pertence ao senhor; em consequência, é um centro de poder, não apenas de poder econômico, mas também de poder em geral sobre todas as pessoas, os camponeses e os artesãos que vivem nas terras ao redor. Desse modo, quando se passa a dizer, em francês, ‘la ville’ (o italiano conservará o termo città), marcar-se-á bem a passagem do poder do campo para a cidade. O termo ‘villa’, esse se aplicará à aldeia nascente a partir dos séculos IX e X. LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1988. p. 12.

b) Cite uma consequência que pôde ser verificada na Europa Ocidental com o desenvolvimento das relações comerciais com o Oriente.

3. (UTFPR) As Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições de caráter “militar” organizadas pela Igreja, para combater os inimigos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis. O movimento estendeu-se desde os fins do século XI até meados do século XIII. Sobre esse assunto, assinale a alternativa INCORRETA: a) O termo Cruzadas passou a designar esse movimento em virtude de seus adeptos serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes.

I. O fragmento aborda o surgimento das cidades medievais logo após as invasões dos povos denominados “bárbaros” pelos romanos.

b) As peregrinações em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja.

II. O fragmento trata das vilas e de suas características, afirmando que um modelo geral vai se consolidar nos séculos finais do primeiro milênio da Era Cristã.

c) O movimento cruzadista foi motivado pelo predomínio da Igreja sobre o comportamento do homem medieval.

III. Um aspecto priorizado pelo fragmento é a organização política, que era centralizada, pois essas vilas são o que posteriormente foi chamado de países.

d) Muitos nobres passaram a encarar as expedições à Terra Santa como uma real possibilidade de ampliar seus domínios territoriais.

De acordo com a análise, pode-se afirmar que:

e) As Cruzadas Medievais foram um conjunto de fatos isolados e em nada influenciaram a superação da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Idade Média.

Agora, analise as afirmativas a seguir.

a) todas as afirmativas estão corretas. b) todas as afirmativas estão incorretas. c) apenas a afirmativa I está correta. d) apenas a afirmativa II está correta. e) apenas a afirmativa III está correta. 2. A respeito das Cruzadas, faça o que se pede a seguir. a) Explique de que maneira as Cruzadas se relacionaram com o desenvolvimento comercial verificado entre a Europa Ocidental e o Oriente.

4. Sobre o mundo feudal, assinale a alternativa correta. a) A característica básica da sociedade feudal era a acessível mobilidade entre classes distintas. b) A economia feudal fundou-se na economia natural, caracterizada pela troca de produtos sem objetivar lucro. c) Apesar da supremacia religiosa da Igreja Católica durante o período medieval, essa instituição nunca interferiu na cultura e na política do sistema feudal. d) O período medieval ficou conhecido como uma época de fartura de alimentos, em decorrência dos avanços técnicos relacionados à agricultura praticada nos feudos.

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e) Politicamente, a sociedade medieval era organizada com os diversos feudos devendo obediência diretamente aos reis. 5. (FGV) Chegam a Jerusalém a 7 de junho de 1099. Jejuam e fazem procissões em redor da cidade, esperando que as suas orações deitem abaixo as muralhas, do mesmo que as trombetas de Josué tinham derrubado as de Jericó. A chegada a Jafa de navios genoveses, pisanos e venezianos é para eles de um grande auxílio [...] A cidade tão cobiçada é tomada a 15 de julho de 1099. Assistimos, então, à pilhagem e ao massacre sistemático de toda a população. Depois do regresso dos cruzados ao Ocidente, a posse de Jerusalém torna-se precária.

c) A difusão e a assimilação da cultura germânica pelo Império Bizantino, alterando significativamente o modo de viver dos povos orientais. d) A ampliação do universo cultural dos povos europeus, possibilitada pelo contato com a rica cultura dos povos orientais. 7. (UDESC) De certo modo a sociedade medieval teve uma estrutura muito mais estática e hierárquica que outras sociedades. Nela o ser humano estava, ao menos teoricamente, submetido à onipotência divina. Tendo em vista essas características do período medieval, discorra a respeito da arte e da sua função nesse período, na Europa Ocidental.

8. Sobre a Idade Média, faça o que se pede. TATE, G. Dois séculos de confronto entre o Oriente e o Ocidente. In: ARNEVILLE, M. B. D’ e outros, As Cruzadas. Trad. Cascais: Pergaminho, 2001, p. 22.

O texto acima refere-se à

a) Pode-se afirmar, atualmente, que a Idade Média foi um período de obscurantismo, uma “Idade das Trevas”? Justifique a sua resposta.

a) terceira Cruzada e revela os interesses bizantinos nessa expedição. b) reconquista Ibérica e apresenta as motivações religiosas dessa empreitada. c) sétima Cruzada e demonstra a forte presença da monarquia francesa. d) primeira Cruzada e revela a forte religiosidade da peregrinação armada. e) quarta Cruzada e revela a participação exclusiva dos fiéis franceses. 6. (UFRN) Em 1095, atendendo ao apelo do papa Urbano II para que iniciassem uma guerra contra os muçulmanos, os nobres cristãos, motivados por ideais religiosos e econômicos, organizaram as Cruzadas. Considerando-se o conjunto dessas expedições, que se prolongaram até 1270, pode-se destacar como uma de suas consequências: a) O enfraquecimento do comércio italiano no Mar Mediterrâneo, em razão da insegurança e dos perigos gerados pelos conflitos militares. b) O fortalecimento da autoridade dos senhores feudais, cujas finanças foram consolidadas com a exploração dos territórios do Oriente.

b) Considerando a sociedade medieval, cite um dos grupos que a compunham.

c) Com base na questão anterior, explique a função do grupo social citado.

9. (UDESC) Leia o excerto para responder à questão a seguir. “Há fome. Cada grão de trigo semeado não dá mais de três, ou de quatro, quando o ano é realmente bom. Uma miséria. O obsidiante fantasma: atravessar o Inverno, aguentar até a Primavera para ir então à natureza, por brejos e matas, arrancar o sustento, armar ciladas, lançar as redes, procurar as bagas, as ervas, as raízes. Enganar a fome. De fato, este mundo parece vazio; na verdade, está sobrepovoado. Há três séculos que a população desatou a crescer, desde

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que abrandaram as grandes vagas de peste que durante os primórdios da Alta Idade Média, haviam assolado o mundo Ocidental.”

c) possuíam autonomia política, pouco se preocupando com os feitos dos senhores feudais e suas guerras constantes.

(DUBY, Georges, 1989, p. 10.)

d) firmavam uma hierarquia social rígida, onde a liberdade ficava restrita ao direito de assistir aos atos religiosos católicos.

Assinale a alternativa que contém o grupo social que mais se adapta à descrição referente ao cenário medieval acima. a) A dura realidade da fome que se abatia sobre todos os grupos sociais da ordem feudal indistintamente. b) A realidade vivida pelos membros do clero, que, por serem da Igreja Católica, praticavam o voto de pobreza. c) A realidade da massa camponesa, base da sociedade feudal, que enfrentava períodos de escassez devido à baixa produtividade do cultivo de alimentos, entre outros fatores. d) A realidade dos cavaleiros, que não sabiam cultivar a terra. e) A realidade dos senhores feudais, que ficavam à mercê da produção dos servos do feudo. 10. (UFPE) A disseminação da Peste Negra na Europa, durante a Idade Média, provocando uma grande mortalidade, contribuiu para: a) O aumento crescente das atividades manufatureiras, devido à concentração da população nas cidades; b) O êxodo de parte da população para o oriente, esvaziando as cidades mais importantes; c) O aumento das superstições e da religiosidade, devido ao desespero e ao medo da morte; d) O aumento relativo da população do campo, uma vez que ocorreu a morte de boa parte dos habitantes das cidades; e) O enfraquecimento do poderio militar europeu, que sofreu, na época, frequentes invasões dos povos bárbaros. 11. (UESPI) Muitas análises historiográficas focalizam diferentes aspectos históricos e culturais da Idade Média. Não podemos esquecer as desigualdades e o forte poder da Igreja nesse período. No contexto da vida urbana medieval, as cidades: a) dependiam exclusivamente das atividades agrícolas, todas administradas por senhores feudais. b) tinham relações com a intensificação do comércio, fazendo, em muitas delas, trocas de produtos com cidades do Oriente.

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e) conseguiram manter na Europa e durante o feudalismo, uma vida comercial agitada, devido ao crescimento de burguesia. 12. (UFBA) A passagem da Idade Média para a Idade Moderna não foi repentina, de uma hora para outra. Na verdade, as gerações que viveram naquele período nem sempre tiveram plena consciência de que experimentavam mudanças importantes na história. Muitas coisas que havia na sociedade medieval continuaram a existir na Idade Moderna. (SCHMIDT, 2005, p. 102). A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre o desenvolvimento do processo histórico na passagem do feudalismo para o capitalismo, pode-se afirmar: (01) O período referido foi marcado por bruscas mudanças climáticas e grandes quedas demográficas, fatores que, articulados, impediam a ocorrência de qualquer mudança social ou política. (02) Os cientistas, os clérigos e os mercadores, conscientes de viverem momentos decisivos na história mundial, fortaleceram seus domínios a fim de impedir o crescimento das cidades, por ameaçarem as relações de poder então existentes. (04) A distribuição da população entre campo e cidade, que predominava na Idade Média, sofreu profundas alterações na Idade Moderna, em virtude da expansão da industrialização nos centros urbanos. (08) Os valores sociais, morais e mesmo certos aspectos políticos do mundo europeu continuaram a revelar a presença de forte influência da Igreja Católica, apesar da crítica aos fundamentos da religião e da ciência, que se instalou na Europa com a Idade Moderna. (16) Concepções econômicas do mundo medieval europeu foram influenciadas pela expansão das relações comerciais entre territórios da Europa, associada aos acontecimentos da expansão marítimo-comercial do século XV, resultando no enfraquecimento dos conceitos de “justo preço” e de “lucro limitado”. Somatório: ________________