Literatura Brasileira - Das Origens aos Nossos Dias [11 ed.] 8526216244


338 22 125MB

Portuguese Pages 360 [366] Year 1995

Report DMCA / Copyright

DOWNLOAD PDF FILE

Table of contents :
Capa
Ficha Catalográfica
Dedicatória
Apresentação
Sumário
Capítulo 1 - A Arte Literária
As manifestações artísticas
A literatura
História da literatura
Leitura
Exercícios e testes
Capítulo 2 - Os Gêneros Literários
Gênero Lírico
Gênero Dramático
Gênero Épico
Gênero Narrativo
Exercícios e testes
Capítulo 3 - O Quinhentismo Brasileiro
As eras e as escolas literárias brasileiras
O Quinhentismo brasileiro
Momento Histórico
A Literatura Informativa
Pero Vaz de Caminha
A Literatura dos Jesuítas
José de Anchieta
Exercícios e testes
Capítulo 4 - Barroco
Momento Histórico
Características
A Produção Literária
Gregório de Matos Guerra
Padre Antônio Vieira
Exercícios e Testes
Capítulo 5 - Arcadismo
Momento Histórico
Características
A Produção Literária
Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio)
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu)
Santa Rita Durão
Basílio da Gama
Exercícios e testes
Capítulo 6 - Romantismo - Poesia
Momento Histórico
Características
As Gerações Românticas
A Produção Literária da Primeira Geração
Gonçalves de Magalhães
Gonçalves Dias
A Produção Literária da Segunda Geração
Álvares de Azevedo
A Produção Literária da Terceira Geração
Castro Alves
Exercícios e testes
Capítulo 7 - Romantismo - Prosa
A Produção Literária
Joaquim Manuel de Macedo
Manuel Antônio de Almeida
José de Alencar
O Teatro Romântico
Martins Pena
Exercícios e testes
Capítulo 8 - Realismo e Naturalismo
Momento Histórico
Características
Romance Realista
Romance Naturalista
Poesia Parnasiana
A Produção Literária
Machado de Assis
Raul Pompéia
Aluísio de Azevedo
Exercícios e testes
Capítulo 9 - Parnasianismo
A Produção Literária
Alberto de Oliveira
Raimundo Correia
Olavo Bilac
Exercícios e testes
Capítulo 10 - Simbolismo
Momento Histórico
Características
A Produção Literária
Cruz e Sousa
Alphonsus de Guimaraens
Exercícios e testes
Capítulo 11 - Pré-Modernismo
Momento Histórico
Características
A Produção Literária
Euclides da Cunha
Augusto dos Anjos
Lima Barreto
Graça Aranha
Monteiro Lobato
Exercícios e testes
Capítulo 12 - Modernismo - A Semana de Arte Moderna
Momento Histórico
A Vanguarda Européia
O Futurismo
O Expressionismo
O Cubismo
O Dadaísmo
O Surrealismo
Os Antecedentes da Semana de Arte Moderna
A Realização do Evento
Exercícios e testes
Capítulo 13 - Modernismo - Primeira Fase
Momento Histórico
Características
As Revistas e os Manifestos
Klaxon
Manifesto Pau-Brasil
A Revista
Verde-Amarelismo
Manifesto Regionalista de 1926
Revista de Antropofagia
Outras revistas
A Produção Literária
Mário de Andrade
Oswald de Andrade
Manuel Bandeira
Antônio de Alcântara Machado
Exercícios e testes
Capítulo 14 - Segunda Fase - Poesia
Momento Histórico
Características
A Produção Literária
Murilo Mendes
Jorge de Lima
Carlos Drummond de Andrade
Cecília Meireles
Vinícius de Morais
Exerícios e testes
Capítulo 15 - Modernismo - Segunda Fase - Prosa
Características
A Produção Literária
Rachel de Queiroz
José Lins do Rego
Graciliano Ramos
Jorge Amado
Érico Veríssimo
Exercícios e testes
Capítulo 16 - Pós-Modernismo
A Produção Literária
Guimarães Rosa
Clarice Lispector
João Cabral de Melo Neto
Exercícios e testes
Capítulo 17 - Produções Contemporâneas
As Vanguardas Poéticas
A Poesia Concreta
A Poesia-Práxis
Exercícios e testes
A Produção Literária no Brasil - Principais Autores e Obras
Revisão Geral (Testes de Vestibulares)
Respostas dos testes de vestibulares
Fontes dos textos de abertura
Bibliografia Básica
Contracapa
Capa Aberta
Recommend Papers

Literatura Brasileira - Das Origens aos Nossos Dias [11 ed.]
 8526216244

  • Commentary
  • decrypted from A81C9554F765453D34E2C028B9553E89 source file
  • 0 0 0
  • Like this paper and download? You can publish your own PDF file online for free in a few minutes! Sign Up
File loading please wait...
Citation preview

LITERATURA BRASILEIRA das origens aos nossos dias

,

JOSE DE NICOLA Autor de Literatura portuguesa - Da Idade Média a Fernando Pessoa Língua, literatura e redação Co-autor de Gramática essencial Gramática contemporân ea da língua portuguesa Como ler poesia Como ler Fernando Pessoa Português - palavras e idéias

11.8 edição

editora scipione

editora scipione DIRETORES

Luiz Esteves Sallum Maurício Fernandes Dias Vicente Paz Fernandez Patrícia Fernandes Dias José Gallafassi Filho Joaquim Nascimento GERÊNCIA EDITORIAL

Aurelio Gonçalves Filho RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Maria Teresa Buco Porto GERÊNCIA DE PRODUCÃO

Gil Naddaf

'

REVISÃO

chefia - Sâmia Rios preparação - Luiz Roberto Dias de Melo revisão - Magali Géara, Miriam de Carvalho Abões e Oswaldo Cogo Filho ARTE

chefia - Antonio Tadeu Damiani coordenação - Sérgio Yutaka Suwaki capa - Sylvio Ulhôa Cintra Filho miolo - Ricardo Azevedo ilustrações - Mariângela Haddad e Rogério Borges pesquisa iconográfica - José de Souza Pessoa, Edson Rosa e Gisele Poletto Porto fotos - Agência Estado, Arquivo do Autor e Laureni Fochetto COORDENACÃO DE PRODUCÃO

José Ántonio Ferraz ' COMPOSICÃO

Diarte Editora e Comercial de Livros coordenação geral - Nelson S, Urata composição - Tereza Miyako Issaka IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Prol - Editora Gráfica Ltda, Editora Scipione Ltda. MATRIZ

Praca Carlos Gomes, 46 01501-040 São Paulo SP DIVULGACÃO

Rua Fagundés, 121 01508-030 São Paulo SP Tel, (011) 239 1700 Telex (11) 26732 Caixa Postal 65131 1995

ISBN 85-262- 1624-4

p.\lT O~

la , ~'t'"o~~

~I3I>~

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS

~

'\~~

?

d'JI

~ODIRErtOP'

EDITORA AFILIADA

Passados cinco anos de seu lançamento, esta Literatura brasileira - Das origens aos nossos dias pedia uma atualização. Aproveitamos a oportunidade e ampliamos ligeiramente uma ou outra abordagem, introduzimos alguns novos textos e algumas questões de recentes concursos vestibulares. Uma nova apresentação gráfica também se fez necessária. Como não houve modificação no que diz respeito à estrutura da obra, gostaríamos de reforçar, mais uma vez, alguns aspectos que nortearam nosso trabalho. Como pretensão maior, procuramos tornar o estudo de literatura agradável e atual , bem como um material para reflexão sobre a nossa realidade. Assim, abordamos todos os estilos de época, seus principais autores e obras, mas sempre com a preocupação de situá-los no contexto em que surgiram. Embora seguindo uma ordem cronológica, do século XVI ao XX, procuramos romper a barreira das datas e do conhecimento fragmentado e estanque; intentamos, por outro lado , relacionar o passado com o presente, a literatura com outras manifestações artísticas, o texto literário com a música popular. Assim é que Oswald de Andrade abre o capítulo sobre o século XVI; Caetano Veloso, o do Barroco; Portinari ih.lstra Vidas secas; o "Abaporu" de Tarsila confunde-se com a antropofagia oswaldiana;' Noel Rosa fala do Positivismo .. . Partindo do princípio de que a literatura é o reflexo de um momento histórico , buscamos destacar, para cada estilo de época, os principais acontecimentos econômicos, políticos e sociais, bem como suas relações com a produção artística. Após o enfoque de cada item, o livro apresenta um bom número de questões analítico-expositivas, que visam explorar a teoria e os textos literários apresentados; no encerramento de cada capítulo constam quest.ões e testes de vestibulares. Por fim, um agradecimento todo especial aos amigos que incentivaram este trabalho e, em particular, ao amigo e historiador Wanderley Scatolin pelas sugestões e críticas relativas às informações históricas contidas na obra.

o

autor

Primavera de 1989

" Será que a liberdade é uma bobagem? .. Será que o direito é uma bobagem? . . A vida humana é que é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões. E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens. A liberdade não é um prêmio, é uma sançã.ü. Que há de vir."

(Mário de Andrade) para alexandra pablo thiago para tânia

Capítulo 1 -

A arte literária

7

As manifestações a rtísticas, 8 . Leitura, 10 . A literatura, 12 . Históri a da litera tura, 14 . Leitura, 15 . Exercícios e testes, 16 .

Capítulo 2 -

Os gêneros literários

18

Gê nero lírico, 19 . Gê nero dram ático, 21. G ênero épico, 22 . Gê nero n arrati vo, 22. Leitura, 25 . Exercícios e testes, 26 .

Capítulo 3 -

O Quinhentismo brasileir o

27

As eras e as escolas li te rárias bras ileiras, 28 . O Quinhentismo bras ileiro, 29. M omento h istórico, 29 . A literatura inform ativa, 30. A literatura dos jes u ítas, 33 . Leitu ra, 34 . Exercícios e testes, 35 .

Capítulo 4 -

Barroco

38

M omento históri co, 39. Características, 40 . A prod ução literária , 42. Leitura, 43 , 46 . Exercícios e testes, 4 7 .

Capítulo 5 -

Arcadismo

50

M omento histó rico , 52 . Características , 53 . A produ ção literária, 55 . Leit ura , 56 , 58 , 61 , 63 . Exercícios e testes, 65 .

C apítulo 6 -

Romantismo -

Poesia

70

M omento h istórico, 72 . C aracterísticas, 74 . As ge rações românticas, 76 . A produ ção literá ria d a primeira ge ração, 77 . Leitu ra, 81 . A produ ção literá ria da segu nda geração, 83 . Leitura, 84 . A produção literária d a terce ira geração, 85 . Leitura, 88 . Exercícios e testes, 89.

C apítulo 7 -

Romantismo -

P r osa

94

A produ ção literária, 96 . Leitura, 97 , 101 , 107 . O teatro romântico, 109 . Exe rcícios e testes, 111 .

Capítulo 8 -

Realismo e Natur alismo

114

M omento histórico, 11 6. C a racterísticas, 118 . A produção literá ria , 122 . Le itura , 128 , 135 , 138 . Exercíc ios e testes, 139 .

Capítulo 9 -

Parnasianismo

143

A produção literá ria, 145 . Leitura, 146 , 148, 15 1. Exe rcícios e testes, 152 .

Capítulo 10 -

Simbolismo

156

Momento histórico, 158 . C arac terísticas, 159 . Leitura, 16 1. A produ ção literá ri a , 162 . Leitura , 164 , 168 . Exercíc ios e testes, 169 .

Capítulo 11 -

Pré-Modernismo

172

Momento histórico , 174 . Características , 175. A produ ção literária , 177 . Leitura , 181 , 184, 188, 194 . Exe rcícios e testes, 195.

Capítulo 12 -

Modernismo -

A Semana de Arte Moderna

Momen to h istóri co, 200 . A va nguarda eu ropéia, 202 . Os a nt ecedentes d a Seman a de Art e M odern a , 208 . A reali zação do evento , 213 . Le itura , 215. Exercíc ios e testes, 21 6 .

198

Capítulo 13 -

Modernismo -

Primeira fase

219

Momento histórico, 220 . Características, 222 . As revistas e os manifestos, 224 . A produção literária, 230. Leitura, 232 , 238 , 242 , 247. Exe rcícios e testes, 247 .

Capítulo 14 -

Modernismo -

Segunda fase

252

Momento histórico, 253 . Características, 256. A produção literária, 258 . Leitu ra, 260 , 262 , 267 , 270 , 273. Exercícios e testes, 273 .

Capítulo 15 -

Modernismo -

Segunda fase -

Prosa

277

Características, 278. A produção literária , 281. Leitura, 282, 285 , 289 , 293 , 296 . Exercícios e testes, 298 .

Capítulo 16 -

Pós-Modernismo

302

A produção literária , 304 . Leitura , 309 , 312 , 317 . Exerc.ícios e testes, 321.

Capítulo 17 -

Produções contemporâneas

325

As van guardas poéticas, 329. Leitura, 331 , 333 . Exercícios e testes, 334.

A produção literária no Brasil -

Principais autores e obras

337

Revisão geral (Testes de vestibulares)

344

Fontes dos textos de abertura

358

Bibliografia básica

359

,

CAPITULO 1

A Arte Literária

Autop sicografia

o

poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente . E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm . E assim nas calhas de roda Gira , a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. (Fernando Pessoa)

" A arte é a mais bela das mentiras . "

Claude Debussy, compositor f rancês

As manifestações artísticas é uma dent~e as várias f~r~as de manifestação da arte '. ;omo o sao a pmtura , a arqUitetura , a mUSIca, a dança, a escultura. E Ja que a arte pode revelar-se de múltiplas maneiras, podemos concluir que há entre essas expressões artísticas pontos em comum e pontos específicos ou particulares. Dentre os pontos em comum , o principal é a própria essência da arte, ou seja , a possibilidade de o artista recriar a realidade, transformando-se, assim, em criador de mundos , de sonhos, de ilusões, de verdades. O artista tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções , seus ideais, sua vivência . Um caso que ilustra bem esse poder mágico é o do pintor Cândido Portinari , que sempre demonstrou um profundo carinho pelos meninos de Brodósqui, sua cidade natal, no interior de São Paulo, e, ao desenhá-los , colocava-os em balanços e gangorras. Quando perguntavam ao pintor por que a insistência com crianças em pleno vôo , respondia : " Gosto de vê-los assim, no ar, feito C rianças brincando; desenho a nanquim de anjos" . Portinari.

A

li!eratu~a

Essa possibilidade de recriar a realidade, dando corpo a u ma ou tra verdade , é que levou o pintor espanhol P ablo Picasso a afirmar : " A Arte é uma mentira que revela a verdade ."

O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar assim se m anifesta sob re essa transformação simbólica do mundo : " A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é , parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro _. mais bonito ou mais

8

intenso ou mais significativo ou mais ordenado - por cima da realidade imediata . Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura , de sua experiência de vida, das idéias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo."

•• A linguagem é o m aterial da literatura, tal como a pedra ou o bronze o são da escultu ra, as tintas da pintura , os sons da música . M as importa ter presente que a linguagem não é uma m atéria m eramente inerte como a pedra, mas já em si própria uma criação do hom em ." (W ELLEK , R ené & WARREN , Austin . Teoria da literatura)

Dentre os pontos específicos, o principal é a própria maneira de se expressar que vai caracterizar cada uma das manifestações artísticas . O artista literário se exprime através da palavra oral ou escrita; o pintor, através das cores e formas ; o escultor, das formas obtidas pela exploração das três dimensões: comprimento, largura e altura ; o músico, do som; a dança , dos movimentos corporais acompanhando um determinado som. Veja a seguir alguns temas abordados por vários artistas , cada qual se expressando de uma maneira. 1,/ '1

'O~ /

,

I

" Feito e cumprido tudo, sem se despedir P ança dos filhos e mulher , nem D . Quixote da ama e da sobrinha , saíram uma noite do lugar sem os ve r vivalma , e tão de levada se foram , que ao amanhecer já se iam seguros de que os não encon trariam , por mais que os rastejassem . ' , (D om Quixote de La M ancha , de Miguel de Cervantes)

( D . Quixote e Sancho P ança Picasso)

desenho de

( D . Quixote e Sancho Pança Cândido Portinari)

desenho de

Um em quatro Z

A b

Y

Z&y

A&b Ab

yZ AbyZ quadrigeminados quadrimembra j ornada quadripartito anelo quadrivalente busca unificado anseio" umcavaleiroumcavaloumjumentoumescudeiro Carlos Drummond de Andrade (Observe como Drummond explora ao máximo os significados e a disposição das palavras no papel : o anseio unifica os quatro em um, representados graficam'e nte por uma .única palavra.)

9

Cristo carregando a cruz em um dos Passos, Congonhas do Campo, MG. Observe que Cristo traz, além das marcas tradicionais (a coroa de espinho, as marcas das quedas), uma outra criada pelo artista, uma "mentira " : a marca drf forca no pescoço. E o poder mágico do artista: Cristo é Cristo, mas também é Tiradentes, enforcado em 1792. Aleij"adinho terminou as cenas dos Passos em 1799.

Leitura Traduzir-se

" Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém : fundo sem fundo .

Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta.

Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão .

Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente .

Uma parte de mim pesa, pondera : outra parte delira .

Uma parte de .mim é s6 vertigem : outra parte , linguagem.

Traduzir uma parte na outra parte que é uma questão de vida ou morte será arte? "

GULLA R , Ferreira. I n: Os melhores poemas de Ferreira G ull ar. 2. ed. São Paulo, Global, 1985. p. 144-5.

10

a propósito do texto 1. O poeta coloca o artista como um ser dividido. Faça duas colun as, uma para cada "parte" do art ista, relacionando suas principais características . Comente-as. 2 . A poesia termina com uma interrogação . Que resposta você daria a ela?

o que é Literatura "A literatura, como·toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida , autônoma , independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio . Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista . São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades fatuais . Os fatos que manipulam não têm comparação com os da realidade concreta . São as verdades humanas gerais , que traduzem antes um sentimento de experiência , uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida , e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida , o qual sugere antes que esgota o quadro. A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra . Através das obras literárias, tomamos contacto com a vida, nas suas verdades eternas , comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana ."

COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria iiterária 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. P. 9-10.

a propósito do texto 1. Aristóteles, o clássico filósofo grego, afirmava que "a a rte é imitação". Esta afirmação está de acordo com o texto acima? Justifique su a resposta . 2 . O texto afirma que o artista, ao recriar a realidade , estabelece uma outra verdade. Como é essa outra verdade? 3. Cecília Meireles, poetisa do Modernismo brasileiro, escreveu uma obra in titulada Rornanceiro da Inconfidência, na qual nos reconta os episódios da Inconfidência Mineira .·Veja este péqueno fragmento que fala "do ouro incansável":

" De seu calmo esconderijo, o ouro vem, dócil e ingênuo; torna -se pó, folha , barra, prestígio, poder, engenho ... É tão claro! - e turva tudo: honra, amor e pensamento. " Os versos de Cecília Meireles comprovam o que vai dito no segundo parágrafo do texto ? Justifique.

11

" Lutar com palavras é a luta mais vã . Entanto lutamos mal rompe a manhã . São muitas , eu pouco." Carlos Drummond de Andrade, "O lutador ".

A literatura orno vimos , múltiplas são a s manifestações artísticas e, entre elas, há pontos comuns e pontos distintivos. Mais ainda : sabem os que o principal elemento de distinção é a maneira Algun s co nceitos sobre literatura de se expressar, a matéria-p r ima com "Arte literária é mimese (imitação); é a arte que q ue trabalha cad a artista. A esse imita pela palavra ." respeito, assim se manifestou o crí(Aristóteles , Grécia C lássica) "A literatura é a expressão da sociedade, como tico Alceu Amoroso Lim a:

C

" A distinção entre literatura e demais artes vai operar- se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do Verbo . De que se serve o homem de letras para realizar seu gênio inventiv a ? Não é, por natureza , nem do movimento como o dançarino , nem da linha como o escultor ou o arquiteto , nem do som como o músico, neIT oda cor como o pintor . E sim da palavra . A palavra é, pois, o elemento material intrínseco do homem de letras para realizar sua natureza e alcançar seu objetivo artístico ." L IMA , Alceu Amoroso. A es tética lite rária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, AGIR , 1954. p . 5 4-5.

a palavra é a expressão do homem. " (Louis de Bonald, pe nsador e crítico do Romantismo francês, in ício do século X IX) "A literatura obedece a leis inflexíveis : a da herança, a do meio, a do momento ." (H ypolite Tai ne, pensador determin ista , metade do século X IX) "A literatu ra é arte e só pode ser encarada como arte . É a arte pela arte. " (Doutrina da "arte pela arte", fins do século XIX) "O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sina is, e a sua obra como um fi m e não como u m meio ; como uma arma de combate ." O ean-Paul Sartre, fil ósofo francês, século XX) " É com bons se nt ime ntos que se faz literatura rUI m . " (André G ide, escritor francês, século X X) " A poesia existe nos fa tos ." (Oswald de Anqrade, século XX)

Entretanto, é necessário atentar para o fato de que não basta fazer uso da palavra para produzir literatura. Lembremos que ajunção poética da linguagem ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem , quer na seleção e combinação das palavras , quer na estrutura da m ensagem , com as palavras carregadas de significado. 12

Os clássicos afirmavam que "a arte literária é a realização do belo literário", ou seja~ trabalhando a palavra, o artista literário busca uma expressão formal - o ritmo, o estilo, a forma, as figuras de linguagem - que nos proporcione o prazer estético. Porém, é importante salientar que uma obra literária não se eterniza apenas pelo aspecto formal se não tiver sustentação, também, no conteúdo. O poeta americano Ezra Pound, analisando a relação entre a literatura e a linguagem, afirma: "Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível."

e mais adiante: "A literatura não existe no vácuo. Os escritores, como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade."

Assim é que o artista, esse mágico criador de mundos, tem uma função social e, portanto, uma responsabilidade social. Por outro lado, não podemos esquecer jamais que o Poeta é um fingidor mas é também um homem que tem necessidades relativas à sobrevivência, um homem que passa fome como qualquer outro :

Poética

11 " Que é a Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados."

"Que é o Poeta? um homem que trabalha o poema com o suor do seu rosto. Um homem que tem fome como qualquer outro homem. "

RICARDO, Cassiano. Jeremias sem-chorar. 3. ed. Rio de Janeiro, José Olympio,

1976. p. 11.

Desta forma, apenas como ponto de partida para iniciar nosso trabalho junto à literatura, podemos constatar alguns fatos inegáveis: • a literatura é uma manifestação artística; • a linguagem é o material da literatura, isto é, o artista literário trabalha com a palavra; • em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diánte da realidade e das aspirações humanas. 13

" A obra nasce da consciência ferida do escritor e se projeta ao mundo. Então, o ato de criação é um ato de solidariedade ." Eduardo Galeano, escritor uruguaio.

História da literatura este ponto é necessário estabelecer uma rápida diferenciação entre arte literária e história da literatura. Quando mestre Aurélio Buar ue de Holanda aponta alliteratura como sendo a "arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso", está se referindo à arte literária; já "o conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época" refere-se ao objeto de estudo da história da literatura.

literatura . (Do latim litteratura) S. f 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época. 3. Os homens de letras: A literatura brasileirafez-se representar no colóquio de Lisboa. 4. A vida literária. 5. A carteira das letras. 6. Conjunto de conhecimentos relativos às obras e aos a utores literários: estudante de literatura brasileira; manual de literatura portuguesa. 7. Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral. 8 . Fam. Irrealidade, ficção: Sonhador, tudo quanto diz é literatura. 9. Bibliografia: Já é bem extensa a literatura dafísica nuclear. 10. Conjunto de escritos de propaganda de um produto indu strial.

" Obras e não livros, movimentos e manifestações literárias sérias e conseqüentes , e não modas e rodas literárias, são, a meu ver, o imediato objeto da história da literatura."

(FE RR EIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. p. 845.)

N

É

que afirma José Veríssimo. Cumpre ao historiador da literatura destacar esses movimentos sérios e conseqüentes, relacionando-os a determinado momento histórico, ou seja, a um momento econômico, político e social. Seria impossível isolarmos , por exemplo, o Romantismo da Revolução burguesa e da Revolução Francesa; o Realismo do Manifesto Comunista de Marx e Engels , do Evolucionismo de Dar14

O

Sobre o estilo " As palav ras certas no I ugar ce rto. " (Jonathan Swift, satírico inglês, autor das famosas Viagens de Gulliver, século XVIII) "O estilo é o próprio homem." "O estilo é apenas a ordem e o movimento que colocamos em nossas idéias." (Buffon, escritor francês, sécul o XVIll) "É a utor de es tilo tão pessoal que es tá impossibilitado de escrever cartas anônimas." (M ário da Silva Brito, escritor ·e crítico literário) " O estilo não é o enfeite: o estilo nasce do caráter mesmo do escritor e é a marca d a sua personalidade. " (Manuel Bandeira , poe ta da segunda fase do Modernismo brasileiro)

win , das lutas proletárias, das transformações econômica s, políticas e sociais da segunda m etade do século XIX; Os Lusíadas da expansão do Império portu gu ês . . . Esses movimentos, em determinado contexto histórico-cultural , apresentam car acterísticas gené . nto no plano formal com o no plano das idéias, resultando assim em estilos de éPoca. Entretanto , cada autor ap resenta um tratamento particular dessas características, resultando disso u m estilo in dividual.

D ois retratos realizados simultaneamente, do is estilos: M ário de A ndrade visto por Anita M aifatti (à esquerda) e por Tarsila do A maral (à direita).

Leitura Não há vagas " O preço do feijão não cabe no poema . O preço do arroz não cabe no poema . Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos .

Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras -

porque o poema , senhores, está fechado : ' não há vagas '

Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores , não fede nem cheira "

G U LLA R , Ferreira . In: Antologia poética. 2. ed. São Paulo, Summus; R io de J aneiro, Fontana, 1977. p . 70 .

15

Nova poética " Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido : Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito, Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:

É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero . Sei que a poesia é também orvalho. Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade."

BANDEIRA, Manuel. In : Antologia poética. 7. ed. Rio de Janeiro, José OlymPio, 1974. p. 154-5.

a propósito dos textos 1. Você percebe ironia no texto "Não há vagas", de Ferreirà Gullar? Em caso afirmativo, comente-a. 2. Em "Nova poética", Manuel Bandeira trabalha com as imagens de um homem de roupa branca , de um caminhão, de uma nódoa (mancha) de lama. Em seguida, afirma: "O poema deve ser como a nódoa . .. ". Se o poema é a nódoa , o que representa o homem de roupa branca? E o caminhão? 3. Eticreva com suas proprias palavras a "teoria do poeta sórdido" . 4. Eduardo Galea no, escritor uruguaio, afirma: " A palavra é uma arma que pode ser bem ou mal usad a: a culpa do crime nun ca é da faca" . Comente.

Exercícios e testes 1. Dê a sua definição de literatura. 2. Na literatura romântica do Brasil (primeira metade do século XIX), vários autores apresentaram como tema a figura do índio, sempre tratado de forma idealizada. Esse fato caracteriza um estilo individual ou um estilo de época? (FUVEST-SP) Leia com atenção e responda às questões 3 e 4. "Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim . Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito. " (Olavo Bilac , " Profissão de fé", Poesias) 16

3. Nos versos acima, a atividade poética é comparada ao lavor do ourives porque, para o autor: a) a poesia é preciosa como um rubi . b) o poeta é um burilador. c) na poesia não pode faltar a rima. d) o poeta não se assemelha a um artesão. e) o poeta emprega a chave de ouro. 4. Pode-se inferir do texto que, para Olavo Bilac, o ideal da forma literária é: a) a libertação d) a rima b) a isometria e) a perfeição c) a estrofação (FUVEST-SP) Leia atentamente e responda às questões 5 e 6. " Penetra surdamente no reino das palavras Lá estão os poemas que esperam ser escritos. ( ... ) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres : Trouxeste a chave?" (Carlos Drummond de Andrade , "Procura da poesia") 5. Pelos trechos apresentados, pode-se afirmar que é condição básica da atividade poética: a) decifrar o sentido latente das palavras b) purificar as palavras para obter uma expressão perfeita c) conter na fragilidade das palavras a tempestuosidade da vida d) descrever o lado obscuro das palavras ambíguas e) fazer uma poesia baseada no ritmo e na musicalidade 6. Os trechos ~o poema acima representam : a) um conselho ao jovem poeta para que observe as regras da gramática b) um convite para explorar os valores virtuais e imanentes das palavras c) um apelo para que as pessoas somente façam poesia quando de posse da chave de ouro d) a valorização do dicionário para o·conhecimento das palavras e) uma colocação cética quanto à in acessibilidade da poesia

17

CAPÍTULO 2

Os Gêneros Literários

o artista inconfessável Fazer O que sej a é inútil. Não fazer nada é· inútil. M as entre faze r e não fazer ma is va le o inútil do fa zer. M a s não faze r pa ra esquece r que é inútil: nun ca o esquece r . M as faze r o inútil sabendo que ele é inútil , e bem sabendo que é inútil e que seu sentido não se rá sequer pressentido, faze r : porq ue ele é mai s difícil d ~ qu e não faze r , e dificil mente se poderá di zer co m m ais desd ém , ou ent ão di zer ma is direto ao leitor Ninguém que o feit o o fo i para nin guém . U oão Cabral de M elo Neto)

"Todos os gêneros são bons, afora o gênero tedi oso." Volta ire, escritor e filósofo francês.

literatura é a arte que se maniA palavra ficção vem do latimfictionem e significa festa pela palavra, seja ela fala'ato ou efeito de fin gir , de simul ar'. É o produto da imaginação, da invenção. Podemos classifida ou escrita . Quanto à forma, o car uma narrativa de fi cção como verossímil ou texto pode apresentar-se em prosa inverossímil: se a fi cção guardar pontos de contato ou verso. Quanto ao conteúdo, escom a realidade , se o eve nto parece r verdadeiro ou provável, será verossímil; caso contrário, se trutura e, segundo os clássicos, conparecer improvável, absurdo, sem contato co m forme a "maneira da imitação" , a realidade , será inverossímil. podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros: o lírico , quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; o dramático, quando "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento"; o épico, quando temos um narrador (este último gênero inclui todas as manifestações narrativas, desde o poema épico até o romance, a novela, o conto). Essa divisão tradicional em três gêneros literários originou-se na Grécia clássica, com Aristóteles, quando a poesia era a forma predominante de literatura. Por nos parecer mais didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros literários, desmembrando do épico o gênero narrativo (ou, como querem alguns, a ficção \) , para enquadrar as narrativas em prosa. Poderíamos reconhecer airida o gênero didático , despido de ficção e não-identificado com a arte literária; segundo Wolfgang Kayser , "o didático costuma ser delimitado como gênero especial , que fica fora da verdadeira literatura" .

A

I

GÊNERO LÍRICO eu nome vem de lira, instru mento musical que acompanhava os cantos dos gregos . Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas; separando-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou

S

19

a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso é definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a combinação das palavras, foram elementos cultivados com mais intensidade pelos poetas . Mas, cuidado! O que foi dito acima não significa que poesia, para ser poesia, precise , necessariamente, apresentar rima, métrica, estrofe . A poesia do Modernismo , por exemplo, caracteriza-se pelo verso livre. A esse respeito, veja o que escreveu Carlos Drummond de Andrade na abertura de uma poesia significativamente intitulada "Consideração do poema" : "Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra , que todas me convêm . As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam , se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas , autênticas, indevassáveis."

A forma ..-é , dentre as várias outras formas fixas surgidas na história da literatura, a que mais resistiu ao tempo , sendo um modelo acolhido pelos poetas ainda nos nossos dias. Quanto ao conteúdo, os poemas líricos se caracterizam pelo predomínio dos sentimentos , das emoções, o que os torna subjetivos . A poesia em geral pertence a este gênero, destacando-se:

Soneto é uma com posição poética de 14 ve rsos di stribuídos em dois quartetos e dois tercetos . Aprese nta sempre uma métrica - m a is usu almente, ve rsos decassíl abos e ve rsos alexand rinos - e um a rima. A palavra sonelo sign ifica originalmente ' pequeno som ' e teria sido usada pela primeira vez por J acopo de Lentini , da Escola Sicilia na (século XIII ), tendo sido m a is ta rde di fundid a por Petrarca (sécul o XI V) . Dentre os melh ores so netistas de Portu gal, destacam -se Camões, Bocage, Antero de Quental. No Bras il , culti va ram o so neto, entre outros, Gregó rio de M atos, Cláudio M anuel d a Costa, Olavo Bilac, Viníciu s de M orais,

Ode e hino: os dois nomes vêm da Grécia e significam 'canto' . Ode é uma poesia entusiástica, de exaltação. Hino é a poesia destinada a glorificar a pátria ou louvar divindades .

Elegia: é uma poesia lírica em tom triste. Fala de acontecimentos tristes ou da morte de alguém. O "Cântico do calvário", de Fagundes Varela, sem dúvida é a mais famosa elegia da literatura brasileira, inspirada' na morte prematura de seu filho. Epitalâmio: poesia feita em homenagem às núpcias de alguém. 20

Sátira : poesia que se propõe corrigir os defeitos humanos, mostrando o ridículo de determinada situação .

bucolismo : exaltação da natureza pura , sábia , bela. O bucolismo caracteriza a li teratura de tradição clássica. bucólico : rela tivo à vida do s pastores, à vida campestre .

GÊNERO DRAMÁTICO rama, em grego , significa , ação'. Ao gênero dramático pertencem os textos , em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto. O gênero dramático compreende as seguintes modalidades: Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em · fi d 1Inguagem Igura a, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror" .

D

Edição de 1967 de " O rei da vela - peça em três atos", de Oswald de Andrade, um dos marcos do teatro moderno no Brasil. O desenho da capa é de Oswald de Andrade Filho.

Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum , de riso fácil , em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza . Tragicomédia : modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente , significava a mistura do real com o imaginário . Farsa : pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que cntIca a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores ('Rindo, castigam-se os costumes'). 21

GÊNERO ÉPICO os palavra epopéia vem do grego, LVSIADAS épos, 'verso' + po ieô , 'faço' e se de Luis de: Ca· refere à narrativa, em forma de vermoês. sos, de um fato grandioso e maraviCOM nlVILECIO aEA .... lhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, curm",/Jo, ",.r..;,6u,_~'" ja característica maior é a presença J..& ÚIf'"fIjM, crú o,;;.. ,..;,.:"" ,.,. «.A1ItOrIit de um narrador falando do passado, (iis~/"p"jJ". 11 7 lo motivo pelo qual os verbos aparecem no pretérito. O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico da história de um povo. Dentre as principais epopéias o maior poema épico da língua portuguesa: O s Lusíadas, publicado em 1572. (ou poemas épicos), destacamos : Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia) Eneida (Virgílio, Roma ; narrativa dos feitos romanos) Paraíso perdido (Milton, Inglaterra) Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália) Os Lusíadas (Camões, Portugal) N a literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século )(VIII: Caramuru (Santa Rita Durão) O Uraguai (Basílio da Gama) Vila Rica (Cláudio Manuel da Costa)

A

GÊNERO NARRATIVO orno já afirmamos, o gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. . Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.

C

22

As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde os fins do século XVIII, comumente são também chamadas de narrativas de ficção. Segundo Afrânio Coutinho : "A ficção distingue-se da história e da biografia, por estas serem narrativas de fatos reais. A ficção é produto da imaginação criadora, embora, como toda arte, suas raízes mergulhem na experiência humana. Mas o que a distingue das outras formas de narrativa é que ela é uma transfiguração ou transmutação da realidade, feita pelo espírito do artista, este imprevisível e inesgotável laboratório. A ficção não pretende fornecer um simples retrato da realidade, mas antes criar uma imagem da realidade, uma reinterpretação , uma revisão . É o espetáculo da vida através do olhar interpretativo do artista, a interpretação artística da realidade ."

Romance : narração de um fato imaginário , mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico , romance policial, romance regionalista, romance de cavalar~a , romance histórico etc .

1I1IOW8 P08!'1IlIlIA8

BRAZ CUBAS ".

........... RIO Di:

J,.

nno

1 1

Publicado em 1881, M emórias póstumas de Brás

Novela: na literatura em língua C ubas, de Machado de Assis, é considerado o marco portuguesa , a principal distinção inicial do R ealismo no Brasil. entre novela e romance é quantitativa : vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas : na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida e, o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de 11m fato passado. Observe um exemplo significativo: A morte e a morte de Ouincas Berro O' Água " Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Ouincas Berro O' Água . Oúvidas por explicar, detalhes absurdos, c0'ltradições no depoimento das testemunhas, lacunas diversas. Não há clareza sobre hora, local e frase derradeira . A família , apoiada por vizinhos e conhecidos, mantém-se intransigente na versão da tranqüila morte matinal, sem testemunhas, sem aparato, sem frase, acontecida quase vinte horas antes daquela outra propalada e comentada morte na agonia da noite, quando a

23

Lua se desfez sobre o mar e aconteceram mistérios na orla do cais da Bahia , Presenciada , no entanto, por testemunhas idôneas , largamente falada nas ladeiras e becos escusos, a frase final , repetida de boca em boca, representou, na opinião daquela gente , mai,s que uma simples despedida do mundo, um testemunho profético, mensagem de profundo conteúdo (como escrevia um jovem autor de nosso tempo) ,"

AMADO, j orge, Os velhos m a rinhe iros, 22, ed, São Paulo, Martins Ed , 1969, p, 18,

./o~~e

Amado fornou -j'f o /fiais popular romancista da I/lOderna lifrrafura brasilrira ,

Conto : é a mais breve e simples n arrativa, centrada em um' episódio da vida , O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto ' 'j á des norteou m ais de um teórico da literatura ansioso por e ncaixar a forma-conto no interior de um quadro fixo de gêneros, Na verdade, se comparada à novela e ao romance , a narrativa curta condensa e potencializa no seu espaço todas as possibilidades da ficção ", Fábula : narrat iva inveross ímil , com fundo didático , que tem como objetivo tra nsmitir uma lição de moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personage ns , Qu ando os perso nagens são 'Seres inanimados , objetos , a fábu la recebe a denominação de apólogo,

Elementos da narrativa Nas narra ti \'as d e li cção, podemos perceber , a lé m do na rrado r , três elementos fundame nt a is qu e e ntralll l'lll sua co nstitu ição : o e nredo , a ca rac te ri zação de perso nage ns, o amb ie nte, Quanto ao n a rra do r , depe nde ndo de co mo ele se coloca e m relação ao fato narrado , pode apa rece r e m 1:' pessoa ou l' 1ll :la pessoa do sin gu lar. :"\a lIarraçãu em JOpeJJua, o na rrado r partic ipa dos aco nt ec im e ntos; te remos, ass im , um pe rsonage m com dupl a l'un ~' ão : o personagem-narrador, El e pod e te r uma pa rti cip ação sec undár ia nos acontec ime ntos , de staca ndo -se , ass im , se u pa pel d e na rrador , Po r outro la do , pod e exe rcer pape l fun damental nos aco n tec illll'n tos, se ndo mes mo o perso nagem princi pal. Nesse caso , a na rração em 1a pessoa pe rmit e ao autof' pene trar L' desve ndar co m maior riqu eza o mundo psicológico do pe rso nage m , É impo rt a nt e obser\'ar que nas na rra,iles em 1" pessoa nem tudo o que o narrad o r a firm a co rrespo nde à "verdade", pois é "' lllp l't' Uln a \'isão parcial, ind ividual , d e qu em part icipa ; vej a, por exe mplo, o caso d e Bentinho no ro11 " l 11 ('l' / )11/11 Ca,lIl1urru, de M ac hado de Ass is: sua mulher Capi tu o tra iu ~ El e , pe rso nage m -na rrador , acredita que silll , N,ís, le itores, podemos co nfi a r , se o fato nos é narrado pe lo m a rido q ue sej ul ga traído' ,);i lias lIarrauie,l nll .'J." peJJoa , o na rra do r está fora dos aco nt ec ime n tos , ma s te m ciê ncia de tudo o que acont'T": da í se f' challlado de unijúenfe, () e nredo (: a pnípria narrat i\' a, o u seja, o dese nrolar dos aco nt ec imentos , Segundo R e né W ell e k e Aust ill \\'atTL' n : " ~: habitual dizl'f'-sl' que todos os e nredos e n volve m um conl1ito : o homem co ntra a na tureza. ou ()

'2 4

hOIlH'lll

co n tra os ou tros homen s, ou () ho m e m lut ando con tra si pró prio ".

Os seres que participam do desenrolar dos acontecimentos, isto é, aqueles que vivem o enredo, são os personagens (em português, a palavra personagem tanto pode ser masculina como femin ina). O personagem principal de uma narrativa é cham ado de protagonista , e, dependendo do escritor e do estilo de é poca, pode ser aprese ntado de maneira mais idealizada (como os heróis românticos) ou mais próxima do real. H á personagens que não represe ntam individualidades, e sim tipos humanos, identificados primeira men te pela profissão, pelo comportamento, pela classe social etc. É o caso, por exe mplo, da maioria dos personagens de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antô nio de Almeida , o nde temos o Barbe iro , a Parteira, os M eirinhos, o Major, os ciganos etc. Pode haver perso nage ns extremamente realçados po r dete rminados traços ou compo rtamentos: são personagens caricaturais.

É interessante observar como os bons escritores preoc upam-se com a relação personagem/ nom e próprio. Vej a Graciliano R amos, em Vidas secas: Vitória é o nom e de uma mulher , retirante no rdes tin a, que alimenta pequenos son hos, sempre derrotada; Baleia é o nom e de u[Tl a cachorra que morre em conseqüência da seca, em pleno sertão nordestino. Fica aqu i um a suges tão: ao ler bons autores, preste atenção nos nom es dos perso nage ns . O ambiente é o cenário por onde circulam personagens e o nde se dese nrola o enredo. Em algun s casos, a irTlportância do ambiente é tão fund ame ntal que ele se transfo rma em personagem. Por exemplo: o Nordeste , em grande parte do romance modernista bras ileiro; o colégio interno, em O Ateneu , de Raul Pompéia; o caso mais nítido está em O cortiço, de Aluísio de Azevedo. Observe como sempre há uma relação estreita entre o personagem, seu co mportamento e o amb iente que o cerca; repare como , muitas vezes, at ravés dos obj etos possuídos podemos fazer um retrato perfeito do poss uidor.

Leitura Desencanto " Eu faço versos como quem chora De desalento ... de desencanto . .. Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto .

E nestes versos de angústia rouca , Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca . Eu faço versos como quem morre ."

Meu verso é sangue. Volúpia ardente .. . Tristeza esparsa ... remorso vão ... Dói-me nas veias . Amargo e quente, Cai , gota a gota, do coração.

Manuel Bandeira

a propósito dos textos 1. A que genero perten ce" Dese nca nto ", de Manu er Bande ira? 2. Des taqu e os as pectos form a is (m étri ca, rim a, es trofação etc.) do poema" D esencanto". :lo Você. dir ia qu e a poesia de M a nu el Bandeira é objetiva ou

s ubjeti va~

Ju stifique.

Exercícios e testes 1. (FUVEST-SP) Qual a diferença mais significativa entre a poesia lírica e a épica: o tipo de verso empregado ou o conteúdo? Justifique sua rbposta. 2. (FUVEST-SP) Em que diferem essencialmente o teatro e o romance quanto à form a de composição, uma vez que o mesmo assunto pode ser utilizado por ambos? 3. (UFSC) Leia os textos a seguir , assinale as alternativas corretas e, depois, some os valores atribuídos : a) "Eu faço versos como quem chora De desalen to ... de desencanto ... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. " (Manuel Bandeira) b) " R ecebi os trocados a que tinha direito e fiquei procurando um novo emprego, noutro ramo." (Bento Silvério) c) "Um primeiro sobressalto de pânico apertou-lhe a garganta ... - Padre Estevão! - falou, alto , pensando que talvez houvesse alguém ali, em algu m a parte . " (Antônio CaBado) (01) Os versos do fragmento a aprese ntam características líricas. (02) '0 fragmento b está escrito em prosa, que tem, como unidade de composição básica, o parágrafo. (04) O fragmento c está impregnado de características dra m áticas . (08) A estrofe é a unidade de composição bás ica da prosa. ( 16) A prosa presta-se para a confi ssão amorosa, pessoal ... e a poesia, para a criação de personagens e a est ruturação de lo n gas narrativas. 4. (UFRGS-RS) O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa , quase sempre, conteúdo: a) dramático d) épico b) satírico e) cro nístico c) lírico 5. (UFBA) "Qu ando se atribui ao poeta a missão [ ... ] de nomear as coisas não se está dizendo, na verdade, senão que ele, ao falar delas, revela-lhes a atualidade, a co ndição histórica: tira-as da sombra , do limbo , para mostrá-las , reais, concretas , aos homens. " Assinale a proposição ou proposições que equivalem ao conceito de poeta/poesia expresso no fragmento acima e, depois , some os valores: (O 1) "O poeta/com a sua lanterna/ mágica está sempre/no começo das coisas.lÉ como a água, eterna-/ mente m atutina ." (02) " Não faças versos sobre acontecimentos.lNão há criação nem morte perante a poesia.lDiante dela, a vida é um sol estático ,lnão aquece nem ilumina ." (04) "Dos braços do poeta/ Pende a ópera do mundo/(Tempo, cirurgião do mundo)." (08) "Poesia - deter a vida com palavras ?/Não -libertá-Ia ,lfazê-Ia voz e fogo em nossa voz. Po- / esia - falarlo dia. " (16) "Quero fazer uma grande poesia .lQuando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde/Se eu dormir pelo amor de Deus, me acordem/ Não quero perder nada na vida. " (32) "Andei pelo mundo no meio dos homens! / uns compravam jóias, uns compravam pão/ Não houve mercado nem mercadoria/que seduzisse a minha vaga mão ."

26

CAPÍTULO 3

o Quinhentismo Brasileiro

História pátria Lá vai uma barquinha carregada de Aventureiros Lá vai uma barquinha carregada de Bacharéis Lá vai uma barquinha carregada de Cruzes de Cristo Lá vai uma barquinha carregada de Donatários Lá vai uma barquinha carregada de Espanhóis Paga prenda Prenda os espanhóis ! Lá vai uma barquinha carregada de Flibusteios Lá vai uma barquinha carregada de Governadores Lá vai uma barquinha carregada de Holandeses Lá vem uma barquinha cheinha de índios Outra de degradados Outra de pau de tinta Até que o mar inteiro Se acoalhou de transatlânticos E as barquinhas fi caram Jogando prenda coa raça misturada No litoral azul de meu Brasil (Oswald de Andrade)

"Na escola literária não há discípulos; só há mestres." Carlos Drummond de Andrade

As eras ·e as escolas literárias brasileiras literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras , que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era N acional , separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas de escolas literárias ou estilos de éPoca. Dessa forma , temos:

A

E ra C I . I {QUinhentiSmO (de 1500 a 1601) (d 15~Oom~808) Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768) e a Setecentismo ou Arcadismo (de 1768 a 1808) Período de transição (de 1808 a 1836)

Era Nacional (de · 1836 até nossos dias)

Romantismo (de 1836 a 1881) Realismo (de 1881 a 1893) { Simbolismo (de 1893 a 1922) Modernismo (de 1922 até nossos dias)

As datas que marcam o início e o fim de cada época têm de ser entendidas apenas como marcos. Toda época apresenta um período de ascensão, um ponto máximo e um período de decadência (que coincide com o período de ascensão da próxima época) . Dessa forma podemos perceber·, ao final do Arcadismo, um período de Pré-Romantismo; ao final do Romantismo, um Pré-Realismo , e assim por diante. De todos esses momentos de transição, caracterizados pela quebra das velhas estruturas (apesar de "o novo sempre pagar tributo ao velho " ), o mais significativo para a literatura brasileira foi o Pré-Modernismo (entre 1902 e 1922), em que se destacaram Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos e Lima Barreto. 28

"E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até terça-feira d' oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril , que topamos alguns sinais de terra." Pero Vaz de Caminha

o Quinhentismo brasileiro uinhentiSmO é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introuç o da cultura européia em terras brasileiras . Não podemos falar em uma literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim, numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu. Desta forma, espelhando diretamente o momento histórico vivido pela Península Ibérica , temos uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas como principais manifestações literárias no século XVI.

g).

MOMENTO HISTÓRICO "E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo." Pero Vaz de Caminha

Europa no século XVI vive o A auge do Renascimento com uma cultura humanística desmantelando os quadros rígidos de uma cultura medieval; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional; há o abandono do campo, o que leva a um surto de urbanização. Em conseqüência desta nova realidade ecoriômica e social, o século XVI marca, também, uma ruptura da Igreja: de um lado, as

Os jesuítas no Brasil " Quaisquer qu e sej am os méritos especificamente pedagógicos do ensino j esuítico , não há negar que era mentalmente conse rvador , reacionário com rel ação às orientações reformi stas da época e anticientífico; es truturalmente, es tava condenado por a ntecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil (s imples prolonga mento do que então ocorria em Portugal) .

( ... ) !Jém disso, é preciso notar que o latim era, no caso , não um instrumento de cultura intelectual, mas um instrumento indireto de catequese , destinando-se, como se destinava , à formação de missionários . É preciso aceitar a idéia de que a ~

29

novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestan.;te; de outro, as forças tradicionalistas ligadas à cultura medieval dos dogmas católicos reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos tri-' bunais e nos Index (relação de livros proibidos) da Inquisição, em um movimento conhecido como Contra-Reforma.

catequese, e não a instrução , era o único propósito dos jesuítas e a própria razão de ser das suas atividades. Não vai nessa observação censura alguma , mas apenas o desejo de ver claro num processo que os historiadores têm geralmente desfigurado através de interpretações superficiais . A conquista espiritual do Brasil pelos jesuítas foi, no século XVI, um prolongamento da ideologia medieval; ninguém poderia simbolizála melhor, nas perspectivas da história intelectual, do que José de Anchieta." (MAR TINS , Wilson. História da inteligência brasileira. São Paulo , Cultrix/ EDUSP, 1976. v . I , p. 22 e s.)

Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta-se em pleno século XVI com duas preocupações distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no caso português, do movimento de Contra-Reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltad0s para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira etc.), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese. Por outro lado, afora a carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, uma vez que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, pois esses religiosos só pisaram o solo brasileiro a partir de 1549 .

A LITERATURA INFORMATIVA "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. Beijo as mãos de Vossa Alteza ." Pero Vaz de Caminha

literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da "terra nova", sua flora, sua fauna, sua gente. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado, pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil no século XVI. A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro

A

30

do europeu saído do mundo temperado e se defrontando com um mundo tropical , totalmente diferente, novo, exótico. Ao nível da linguagem, a exaltação da terra transparece no uso exagerado de adjetivos, empregados quase sempre no superlativo. É curioso perceber que foi essa exaltação a principal semente do sentimento de nativismo que surgiria a partir do século XVII, elemento essencial para as primeiras manifestações contra a Metrópole .

Pero Vaz de Caminha scrivão da armada de Cabral , Pera Vaz de Caminha nasceu por volta de 1437 , provavelmente na cidade do Porto : teve trágico fim na Índia (Calicut) , ainda no ano de 1500, assassinado que foi pelos mouros. A sua "Carta a EI-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil " , além de ter inestimável valor histórico , é um trabalho de bom nível literário . O texto da carta mostra claramente aquele duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã. Veja-se este fragmento :

E

"Nela até agora não pudemos saber que haja ouro , nem prata , nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro ; nem lho vimos . A terra, porém , em si, é de muito bons ares. ( ... )

Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente . E; esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute, bastaria , quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento de nossa santa fé."

Leitura Carta a EI-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil (fragmentos)

"I

Sen hor ~, posto que o capltao -mor desta vossa rota e assim os ou ros capl aes escrevam a Vossa Alteza a ~ do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não de ixarei tam bém de dar disso minha conta

I

I. (. .. )

Senhor : é uma referência a D. Manuel, mais ad iante tratado por Vossa Alteza . capitão-mor: referência a Pedro Álvares Cabral, capitão de toda a esq uad ra; cada nau tinha um capitão , subordinado ao capitão-mor . nova: notícia (apenas o primeiro nova, substantivado por um arti go a; não co nfundir com o adjetivo nova que aparece em segu ida) . minha conta: meu relato .

31

aves, dia , a n;,"""""""'==~õT-"""';-;;';'=~

de longo : para adia nte, no sentido de seguir em frente. oitavas de Páscoa : a sem ana que vai desde q domin go de Páscoa até o domingo seguin te, conhecido como Pascoela. topamos : encon tramos. fura-buxos: tipo de ave ma rinha comum no litoral tropical. horas de véspera : fi m de tarde, próximo das 18 horas (véspera = vespe rtino, vesperal). terra chã : terre no plano e de pouca altitude; pla nície . nem estimam : nem se im portam; nem se preocupa m. vergonhas : órgãos sexu ais . alcatifa: ta pete.

E dali houvemos vista d ' homens, que andavam pela praia , de 7 ou 8 , segundo os navios pequenos disseram , por chegarem primeiro . ( 00. ) A feição deles é serem pardos, maneira d' avermelhados, de bons rostos e bons narizes , bem feitos . Andam nus, sem nenhuma cobertura, I nem estimam I nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas I:ergo~ . E estão acerca disso com tan a mocencla como têm em mostrar o rosto . ( 00. ) O capitão, quando eles vieram , estava assentado em uma cadeira e uma a ca I a aos pés por estrado, e bem vestido , com um colar d' ouro mui grande ao pescoço. Acen eram tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro . E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal , como que havia também prata . Mostraram -lhes um papagaio pardo, que aqui o capitão traz , tomaram -no logo na mão e acenaram para a terra , como qu e os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram dele menção . Mostraram-lhes uma galinha , quase havia medo dela e não lhe queriam pôr a mão, e depois a tomaram como espantados ." CAMI N H A , Pera Vaz o Carta a EI-R ei Dom M a nu el. Introdução, atualização do /exto e no/as de M . Vieeas Guerreiro . L isboa, Imprensa Nacional, 1974.

Oswald de Andrade esc reveu u m li vro de poesias intitulado Pau-Brasil ( 1924) . O s primeiros poemas do livro têm um tít u lo ge ral: " Históri a do Bras il "; nesses poem as, o poeta recri a algun s tex tos do século X V I , da ndo- lhes " form a poética". Sobre a Carta de Caminha , ass im escreveu O swald de And rade: A descoberta "Segu imos nosso cami nho por es te ma r de longo Até a oitava da Páscoa Topamos aves E houvemos vista de terra"

Os selvagens " M ost rara m-lhe um a galinha Q uase hav iam medo dela E não queri am pôr a m ão E de pois a toma ra m como es pan tados"

a propósito dos textos 1. Co mo Caminh a vê o na ti vo bras il eiro em se u as pec to físico e em sua relação co m a na tureza? 2. ' Passados qu ase cinco séc ulos , como você vê o índio brasileiro ? 3 . Nos fr agmentos aprese nt ados, há ind íc ios da preocupação portu guesa co m a ex ploração m ateri al da nova terra ?

32

4. Destaque um aspecto do texto apresentado que o caracterize co mo literatura informativa. 5 . Você tomou contato com a recriação que Oswald de Andrade fez a partir da Carta de Caminha. Escolha um trecho da Carta e faça você uma " recriação " .

A LITERATURA DOS JESUÍTAS onseqüência da Contra-Reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo primeiro que determinou toda a sua produção, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro . Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dós trabalhos na Colônia.

C

José de Anchieta "grande pialry" ('supremo pajé branco'), como era chamado pelos índios, nasceu na ilha de Tenerife, Canárias, em 1534. Veio para o ·Brasil em 1553; no ano seguinte fundou um colégio em pleno planalto paulista, embrião da cidade de São Paulo . Faleceu no litoral do Espírito Santo, na atual cidade de Anchieta, em 1597 . Anchieta nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese: a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos (Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil); várias poesias, seguindo a tradição do verso medieval (destaque para o " Poema à Virgem" ou, no original em latim, "De Beata Virgine Dei Matre Maria " ); vários autos, também de natureza medieval, segundo o modelo deixado por Gil Vicente, misturando a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas , sempre preocupado em caracterizar os extremos como o Bem e o Mal , o Anjo e o Diabo.

O

33

Leitura A Santa Inês " Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo!

Virginal cabeça pola fé cortada, com vossa chegada, já ninguém pereça .

Cord.eirinha santa, de lesu querida, vossa santa vinda o diabo espanta.

Vinde mui depressa ajudar o povo, pois, com vossa vinda, lhe dais lume novo.

Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo .

Vós sois, cordeirinha , de lesu formoso, mas o vosso esposo já vos fez rainha .

Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tão pura.

Também padeirinha sois de nosso povo , pois, com vossa vinda , lhe dais lume novo."

Vossa formosura honra é do povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo .

A N CHIETA , José de. In. J osé de Anchi eta A GIR , 1977. p. 28-9.

Poesia . 3. ed. R io de J aneiro,

a propósito do texto

o crítico Edu ardo Po rtell a ass im se m an ifesta sobre a poesia de J osé de An chieta: "Mas acredito que, em certo sentido , Anchieta deve ser entendido como uma manifestação da cultura medieval no Brasil. E medieval não somente pelo seu comportamento, ao realizar uma poesia simples, de timbre didático, porém medieval também pela sua forma poética, seus ritmos, sua métrica ."

1. Q ual a m étri ca utili zada po r 2 . Qual o esquem a de

An c hi e t a ~

r im a ~

3. Al gun s versos têm a m es ma fun ção de um refrão. Quais são esses v e rsos~

4 . A q ua rta estrofe es tá ce ntrada em'" um a o posição. Co m ente-a a partir da a ntítese a prese nt ada .

34

Exercícios e testes 1.

o séc ulo XVI marca,

na Europa, o Renascimento ; na literatura portuguesa, esse período é co nhecido como Classicismo, pois é todo voltado para a cultura clássica de Grécia e R oma. A partir do quadro apresentado , responda : a) Podemos falar em R enascimento no Brasil do século XVI ? Justifique . b) Comente a seguinte a firmação de Oswalp de Andrade , poeta modernista, autor do M anifesto da Poesia Pau-Brasil:

"Contra a fatalidade do primeiro branco aportado e domina ndo diplomaticamente as selvas selvagens. Citando Virgílio para tupiniquins. O bacharel. ,. 2. No Modernismo brasileiro de 1922 (e depois no movimento tropicalista de Caetano e Gil) , temos uma retom ada do século XVI , uma tentativa de redescoberta do Brasil. O swald de Andrade, po r exemplo ; reescreve trechos d a carta de Caminha , da ndo-lhes form a poética; Murilo M endes revê a história do Bras il co m toqu es de ironia . Leia a tentamente o seguinte texto de Murilo Mendes e comente a sua visão do século XVI: A carta d e P ero Vaz "A terra é mui graciosa, Tão fértil eu nunca vi . A ge nte vai passear, No chão espeta um caniço , No dia seguinte nasce Bengala de castão de oi:-o. Tem goiabas, melancias, Ba nan a que nem chuchu. Quanto aos bichos, tem-nos muitos, De plumage ns mui vistosas .

T em macaco a té demais Diamantes tem à vo ntade Esmeralda é para os trouxas . Reforçai, Senhor , a a rca, Cruzados não faltarão, Vossa perna encanareis, Salvo o devido respeito. Ficarei muito saudoso Se for embora daqui. "

3. Leia atentamente a letra d a música " Jóia" , de Caetano Veloso . Ela nos coloca duas imagens; comente-as : " beira de ma r beira de mar beira de maré na a mérica do sul um selvagem levanta o braço abre a mão e tira um caju um momento de grande amor de grande amor

copacaba na copacabana louca total e co mpletamente louca a menina muito contente toca a coca-cola na boca um momento de pu ro amor de puro amor"

(VELOSO , Caetano . j óia . LP Philips nO 6349 132, 1975 . L. 2, f. 2.) 4. A literatura dos jesuítas está diretamente ligada à: a) R evolução de Avis , oco rrida em Portugal no final do século XIV b) política de D . Manuel, o V enturoso c) criação da Companhia de J esus e à Contra-Reforma d) descoberta do caminho m arítimo para as Índias e) carta de Pero Vaz de Caminha 5. "Os primeiros escritos da nossa vida document am precisamente a instauração do processo: são ........ .. que viajantes e missionários europeus colheram sobre a . ..... ... e o . brasileiro ." (Alfredo Bosi) Qual alternativa preenche corretamente as lac unas? ' a) informações - indústria - comércio b) análises - agricultura - comércio c) histórias - realidade - passado

d ) inform ações - natureza - hom em e) análises - mulher - cl ima

35

6 . Assinale a alternativa incorreta sobre José de Anchieta : a) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos . b) Foi o mais importante jesuíta -em atividade no Brasil do século XVI. . c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo urlla cartilha sobre a gramática d.a língua dos nativos . d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico. e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos. 7. A respeito da Carta de Caminha, podemos afirmar que : a) não há preocupação com a conquista material. b) a única preocupação era a catequese dos índios. c) é representativa do pensamento contra-reformista. d) apresenta tanto preocupação material quanto espiritual. e) não cita, em momento algum, os nativos brasileiros. 8. (FUVEST-SP) Entende-se por literatura informativa no Brasil: a) O conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena d) os poemas do Padre José de Anchieta e) os sonetos de Gregório de Matos

36

"Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çaradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha.' ,

----...~

-