Heróis do Xadrez Clássico: Aprenda com Carlsen, Anand, Fischer, Smyslov & Rubinstein [1 ed.] 9788565848053, 9781857446197

Neste livro, Craig Pritchett seleciona cinco grandes enxadristas cujo estilo de jogo é o xadrez clássico - direto, claro

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Portuguese Pages [277] Year 2013

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Capa
Iniciais
Autor
Ficha catalográfica
Página de rosto
Créditos
Agradecimentos
Sumário
Introdução
1. Akiba Rubinstein (1882-1961)
2. Vassily Smyslov (1921-2010)
3. Robert Fischer (1943-2008)
4. Viswanathan Anand (1969-)
5. Magnus Carlsen (1990-)
Leituras Recomendadas
Índice de Aberturas
Índice de Enxadristas
Recommend Papers

Heróis do Xadrez Clássico: Aprenda com Carlsen, Anand, Fischer, Smyslov & Rubinstein [1 ed.]
 9788565848053, 9781857446197

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HERÓIS DO

HERÓIS

CLÁSSICO

XADREZ

DO

XADREZ

CR AIG PRITCHETT

CRAIG PRITCHETT

CR AIG PRITCHETT

CLÁSSICO

CRAIG PRITCHETT XADREZ

HERÓIS DO

CASTRO GIRONA & COLS. Xadrez para Crianças — 2.ed.

XADREZ

O autor apresenta as grandes contribuições desses heróis, compara seus métodos e discute como eles influenciaram e ainda influenciam o desenvolvimento do xadrez. Leia este livro para aprimorar suas habilidades e vencer mais partidas. Guia instrutivo para jogar xadrez clássico de maneira admirável Aprenda com os grandes nomes do xadrez Descubra como as mais famosas mentes do xadrez funcionam

CRAIG PRITCHETT é Mestre Internacional. Duas vezes Campeão Escocês, representou seu país em nove Olimpíadas de Xadrez.

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A Penso Editora é parte do Grupo A, uma empresa que engloba diversos selos editoriais e várias plataformas de distribuição de conteúdo técnico, científi co e profissional, disponibilizando-o como, onde e quando você precisar. A Penso Editora é dedicada exclusivamente às Ciências Humanas e está gradativamente substituindo e ampliando a atuação da Artmed Editora no segmento.

XADREZ

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HERÓIS DO XADREZ CLÁSSICO

Neste livro, CRAIG PRITCHETT seleciona cinco grandes enxadristas cujo estilo de jogo é o xadrez clássico — direto, claro, enérgico, resistente, ambicioso e ainda assim completamente correto.

CASTRO GIRONA & COLS. Iniciação ao Xadrez para Crianças 5.ed.

CLÁSSICO

EMMS, J. Defesa Siciliana FILGUTH, R. (ORG.) A Importância do Xadrez FILGUTH, R. Conto Xadrez FILGUTH, R. Conto Xadrez: Prático FILGUTH, R. Inteligências em Confronto: Campeonatos Mundiais de Xadrez FILGUTH, R. Matrizes Táticas: Exercícios Práticos para o Xadrez Magistral

A P R E N D A

C O M

CARLSEN ANAND FISCHER SMYSLOV RUBINSTEIN

FILGUTH, R. Xadrez de A a Z: Dicionário Ilustrado * HELLSTEN, J. Estratégias de Mestre do Xadrez KASPAROV, G. Táticas de Xeque-mate KASPAROV, G. Xeque-mate! Meu Primeiro Livro de Xadrez LÓPEZ MANZANO & MONEDERO GONZÁLEZ O Xadrez dos Grandes Mestres 400 Conselhos para Melhorar seu Nível Enxadrístico

LÓPEZ MANZANO & SEGURA VILA Iniciação ao Xadrez — 6.ed. MCDONALD, N. Gigantes do Xadrez Agressivo PALLISER, R. Treinamento Completo de Xadrez: Exercite seu Cérebro com 1.200 Quebra-cabeças de Xadrez PRITCHETT, C. Heróis do Xadrez Clássico SADLER, M. Xadrez: Dicas para Iniciantes SEIRAWAN, Y. Duelos de Xadrez: Minhas Partidas com os Campeões Mundiais SEIRAWAN, Y. Xadrez Vitorioso: Aberturas SEIRAWAN, Y. Xadrez Vitorioso: Combinações SEIRAWAN, Y. Xadrez Vitorioso: Finais SEIRAWAN & SILMAN Xadrez Vitorioso: Estratégias SEIRAWAN & SILMAN Xadrez Vitorioso: Táticas WILLIAMS, S. Como Vencer no Xadrez Rapidamente! ZLOTNIK & COLS. Curso de Xadrez — v. 1 ZLOTNIK & COLS. Curso de Xadrez — v. 2

* Livro em produção no momento da impressão desta obra, mas que muito em breve estará à disposição dos leitores em língua portuguesa.

17/setembro/12 18:03

Autor Craig Pritchett é Mestre Internacional de Xadrez. Foi duas vezes Campeão Escocês e representou seu país em nove Olimpíadas de Xadrez.

P961h

Pritchett, Craig Heróis do xadrez clássico [recurso eletrônico] / Craig Pritchett ; tradução: Patrícia Helena Freitag ; revisão técnica: Ronald Otto Hillbrecht. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Penso, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65848-05-3 1. Xadrez. I. Título. CDU 794.1

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052

Tradução: Patrícia Helena Freitag Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Ronald Otto Hillbrecht Vice-presidente da Federação Gaúcha de Xadrez (2002-2003)

Versão impressa desta obra: 2013

2013

Obra originalmente publicada sob o título Chess Secrets: Heroes of Classical Chess, 1st Edition ISBN 9781857446197 © 2009 Craig Pritchett First published in 2009 by Gloucester Publishers plc, London. All rights reserved. This edition is published by arrangement with Gloucester Publishers plc, Northburgh House, 10 Northburgh Street, London EC1V 0AT.

Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edição Editora: Lívia Allgayer Freitag Capa: Tatiana Sperhacke – TAT studio Ilustrações da capa: ©istockphoto.com/somamix1 (Tabuleiro) ©istockphoto.com/urbancow (Mão movendo peça de xadrez) Leitura final: Jonas Stocker Projeto e editoração: Techbooks

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à PENSO EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana 90040-340 – Porto Alegre – RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. Unidade São Paulo Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 – Pavilhão 5 – Cond. Espace Center Vila Anastácio – 05095-035 – São Paulo – SP Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444

Agradecimentos

Acima de tudo, gostaria de agradecer aos feitos criativos de todos os enxadristas e comentaristas mencionados neste livro. Colocando minha própria marca na obra, espero que tenha adicionado valor e dado o crédito devido aos outros, quando apropriado. Também gostaria de agradecer ao time editorial da Everyman, especialmente a John Emms, que me encorajou a escrever este livro, e a Richard Palliser. Mais uma vez, devo a Elaine, Katie e Sally por seu apoio familiar infalível e por sua paciência. Dedico este livro à minha mãe, Isobel Pritchett.

Sumário

Introdução ........................................................................................................................9 1

Akiba Rubinstein (1882-1961) ................................................................................ 13

2

Vassily Smyslov (1921-2010).................................................................................... 63

3

Robert Fischer (1943-2008)....................................................................................113

4

Viswanathan Anand (1969-) ..................................................................................170

5

Magnus Carlsen (1990-) ..........................................................................................226 Leituras Recomendadas ..........................................................................................277 Índice de Aberturas ..................................................................................................279 Índice de Enxadristas ...............................................................................................280

Introdução

Este livro louva o modo de jogar de cinco grandes heróis do xadrez clássico. Com isso, visa tanto entreter quanto instruir o leitor na arte de jogar xadrez “classicamente direto”, que desenvolveu-se no decorrer dos últimos séculos. “Estilo” é uma qualidade difícil de definir no xadrez. Por xadrez “classicamente direto”, infiro uma espécie de universalidade de modo de jogar que, de uma certa forma, abranja todos os estilos e que transcenda os limites dos mesmos – um estilo baseado em qualidades primordiais como clareza, energia, força, ambição e um senso fundamental de “precisão” analítica. Todos os meus heróis são excelentes na arte de encontrar e seguir os planos estratégicos e táticos de uma partida. Eles enxergam o xadrez como um todo orgânico, e não como uma série de fases artificiais. Eles não atacam nem defendem só pelo gosto de fazê-lo, apenas quando a posição exige; eles sentem-se à vontade jogando tanto na abertura quanto no meio-jogo e no final da partida. Meus heróis também tiveram um impacto histórico significativo. Os horizontes do xadrez expandem-se e desenvolvem-se com o tempo, então, escolhi meus heróis não por apenas admirá-los, mas também porque cada um deles foi reconhecido como um gigante da sua época. Todos os meus heróis são grandes sinfonistas do tabuleiro de xadrez. Todos foram capazes de produzir afirmações importantes e influentes que fizeram parte tanto de sua época, quanto dos dias de hoje e dos vindouros.

Meus cinco heróis Meu primeiro herói é Akiba Rubinstein, que jogou no início do século XX, logo após a era pós-Steinitz. Sem Steinitz, que contribuiu grandemente para a nossa compreensão do jogo, dificilmente haveria discussões sobre o estilo classicamente direto da maneira que o descrevi.

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Rubinstein claramente usou as contribuições de Steinitz como alicerces para sua maneira de jogar. Ele rejeitava todos os dogmas, empregava muita energia em seus jogos e sempre buscava novos caminhos. Revitalizou nosso entendimento do que Emanuel Lasker chamou de “método” de Steinitz, transformando-o em uma forma de arte. Nas mãos de Rubinstein, as ideias de Steinitz eram altamente adaptáveis, fatais, sutis e astutas – verdadeiramente estéticas. Meu próximo herói é Vassily Smyslov, um colosso cuja carreira estende-se por quase sete décadas completas, a partir dos anos de 1930. Produto da revolução soviética de xadrez, Smyslov levou o pensamento liberal de seu espírito às alturas mais vertiginosas. Não havia regras para Smyslov, apenas planos inesgotáveis para descobrir e experimentar no tabuleiro. A verdade de uma partida dependia basicamente de as coisas darem certo ou errado. Meu terceiro herói é Bobby Fischer, que, em meados do século passado, agitou o mundo do xadrez. Fischer superou os sovietes. Ele possuia uma capacidade extraordinária de trabalho, aptidão criativa incomparável e uma energia instintiva. Arriscou-se mais do que os seus iguais e, com seu talento para o cálculo, antecipou a era da informática e seu impulso implacável em busca de cada vez mais ideias para variantes cada vez mais precisas. Meu quarto herói é Vishy Anand, que, no momento que escrevo, é o atual Campeão Mundial. A carreira de Anand teve início na era pré-computador, nos anos de 1980. No decorrer dos anos de 1990 e no início do século XXI, ele e outros grandes enxadristas tiveram que ajustar-se ao advento de máquinas de xadrez cada vez mais potentes. Anand obteve sucesso em seu desafio, subjugou o computador e mostrou como fazer seu potencial analítico curvar-se ao nosso próprio individualismo. Meu último herói é Magnus Carlsen, de apenas dezenove anos de idade, e, mesmo assim, o segundo melhor do mundo atualmente. Ele possui habilidades versáteis maravilhosas, domínio total do computador, e consegue jogar praticamente em qualquer posição com a mesma virtuosidade. Tendo produzido muitas partidas dignas de qualquer outra deste livro, ele definitivamente merece ser incluído no meu panteão clássico.

O estilo e o formato deste livro Este livro pode ser apreciado como uma simples coleção de partidas excelentes, mas espero que signifique mais do que isso. Na verdade, espero que este trabalho atraia um público vasto de leitores interessados em aprimorar seu próprio xadrez, ao mesmo tempo que sejam entretidos e introduzidos tanto ao desenvolvimento das noções do xadrez quanto ao estilo classicamente direto. Apresento este livro em ordem cronológica, uma vez que a maneira de jogar de cada herói só pode ser entendida e apreciada em sua totalidade através do conhecimento do legado dos grandes enxadristas que os precederam. Cada capítulo inclui informações biográficas breves, mas espero que elas sejam suficientes

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para que o leitor tenha uma ideia do que fez cada enxadrista agir como agiu. No entanto, meu objetivo principal é focar nos grandes feitos e partidas de cada um desses enxadristas. Decidi não ser reducionista ao extremo ao analisar o estilo de cada enxadrista e ao fazer comparações precisas entre seus modos de jogar ou entre os elementos “típicos” neles. Em um jogo como o xadrez, temo que esse tipo de abordagem não esteja de acordo com a maneira que nós jogamos e refletimos sobre nossos próprios estilos, assim ela facilmente acaba por se tornar artificial. Deste modo, Mikhail Tal foi um grande atacante, ao mesmo tempo que, em muitas de suas partidas, demonstrou um universalismo extraordinário. Considero o estilo no xadrez como algo relacionado a nuança e tendência, e não como algo absoluto. Na verdade, concentrei-me em tentar distinguir e definir nuanças e tendências, assim como o espírito essencial do estilo classicamente direto. No fim das contas, aquele velho e conhecido enigma sobre a “verdadeira” natureza do xadrez permanece existindo. Não importa quão enlouquecedor isso seja, o xadrez continua sendo, ao mesmo tempo, uma ciência, um esporte e uma forma de arte. Isso é bom o bastante para mim e, espero, para meus leitores. Aproveitem o livro! Craig Pritchett

1 Akiba Rubinstein (1882-1961) Rubinstein criou as partidas mais perfeitas desde a época de Steinitz... as demonstrações mais perfeitas dos ensinamentos de Steinitz. Richard Réti, Masters of the Chess Board

Sem o grande exemplo de jogos e ideias do primeiro Campeão Mundial, Wilhelm Steinitz (1839-1900), provavelmente seja justo dizer que a base para o que tenho em mente quando utilizo o termo xadrez classicamente objetivo não teria sido desenvolvido até o tempo de Rubinstein. Steinitz é considerado pela maioria o fundador das regras fundamentais do xadrez posicional “correto”, especialmente em posições fechadas. Sua contribuição principal foi desenvolver a ideia de “equilíbrio” no xadrez, e a noção de que vencer depende muito de vantagens acumuladas suficientes para perturbar o equilíbrio natural em qualquer partida entre enxadristas a favor de ataques bem-sucedidos do que ataques quixotescos. Steinitz submetia fatores posicionais, em especial estruturas de peões, a análises minuciosas. Ele enfatizava o valor das estruturas de peões sólidas, com pontos fortes no centro (normalmente baseados em peões em e4/e5 ou d4/ d5), manobrabilidade e ausência de casas fracas desprotegidas. Steinitz estava à frente de seu tempo no conhecimento que detinha sobre como as peças e peões podem trabalhar melhor em conjunto tanto no ataque quanto na defesa de pontos fortes e fracos. Além disso, o incansável Steinitz também foi um dos primeiros enxadristas investigadores de aberturas realmente profissionais. Incomum para seu tempo, ele criava e examinava meticulosamente muitos planos novos de jogos. Steinitz pensava muito além do que simplesmente como abriria uma partida. Seus sistemas eram fundamentados nas ideias projetadas para ajudá-lo a passar com sucesso por meios-jogos típicos e a chegar ao final do jogo.

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Steinitz baseou-se em um passado enxadrístico que havia mostrado claramente como lidar com ataque e defesa em posições abertas. Onde os reis encontravam-se em perigo, desenvolvimento rápido, criação de linhas abertas e combinações sadias eram difíceis de se conseguir. Steinitz não destruiu tais ideias. O que fez foi incorporá-las e adaptá-las a novas maneiras de pensar sobre como fazer planejamentos em todos os tipos de posições. O segundo Campeão Mundial, Emanuel Lasker (1868-1941), que tomou o título mundial de Steinitz em 1894, admirava muito as conquistas de Steinitz. Em um elogio entusiástico e longo em seu Manual of Chess (1923), ele argumenta que as ideias de Steinitz apontam para um método de jogo que é novo, essencialmente científico, flexível e extremamente produtivo. Em seu cerne, Lasker considerava que “os ensinamentos de Steinitz exigem de nós uma avaliação de valor precisa”. As ideias de Steinitz nos ajudam a avaliar melhor as posições, fazendo-nos criar bons planos. Elas nos ajudam a aprofundar nosso conhecimento do que realmente funciona em um jogo e a aprimorar nossa habilidade de gerar princípios orientadores ou regras que possam ser aperfeiçoadas, resultando no teste destes contra resultados reais alcançados em competições. Em Masters of the Chess Board, Richard Réti comentou sobre a era pós-Steinitz que “a teoria de Steinitz podia ser desenvolvida em duas direções: filosoficamente, como uma teoria geral de luta; ou com a ideia de julgar aquela forma de teoria mais adequada para a execução prática de uma partida de xadrez”. Réti acreditava que Lasker havia utilizado a teoria de Steinitz da primeira forma, enquanto que o rival contemporâneo de Lasker, Siegbert Tarrasch (1862-1934), utilizou-a da segunda maneira. Lasker combatia o enxadrista e achava que o xadrez era basicamente uma disputa de vontades; Tarrasch combatia o tabuleiro, pois acreditava que o xadrez favorecia o enxadrista que entendesse melhor a partida. A situação permaneceu assim até que Akiba Rubinstein tomasse seus primeiros passos internacionais no início de 1900. Rubinstein iria desenvolver um novo estilo que conduz a um equilíbrio entre o completo guerreiro, Lasker, e o estilo professor imparcial, Tarrasch, e que segue ainda mais visivelmente a corrente steinitziana em espírito em comparação aos outros dois. O estilo que Rubinstein desenvolveu incluía o legado clássico de maneiras não só originais mas também com um ar da década de 1900. Novamente, de acordo com Réti, “levou uma geração inteira de mestres de xadrez para extraírem das teorias de Steinitz tudo o que elas continham para o jogo na prática. Rubinstein foi o elemento principal de sua geração”. Em 1912, os sucessos de Rubinstein colocaram-no claramente como o Desafiante natural de Lasker pelo Campeonato Mundial. Estava então no auge de sua competência, e poderia ter ganho este match. Como Steinitz em sua melhor forma, Rubinstein era extremamente criativo, jogava muitas aberturas sutis e possuía um talento para belas combinações assim como para precisão técnica. Infelizmente, enquanto as negociações por um match entre Lasker e Rubinstein

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estava avançando em 1914, a Grande Guerra interveio, destruindo completamente os planos. Fatos biográficos sobre a juventude de Rubinstein são imprecisos. Nascido em uma família grande na pequena cidade de Stawiski, próximo a Bialystok, acredita-se que ele aprendeu xadrez no meio de sua adolescência, mudou-se para Lodz, provavelmente por cerca de 1903, quando a bastante ativa Sociedade de Xadrez de Lodz foi formada, da qual ele tornou-se membro. Rubinstein logo deixou uma marca no Império Russo e no exterior. Em 1907, ele dividiu o primeiro lugar em Ostend e venceu em absoluto em Carlsbad nos dois maiores eventos daquele ano. Na virada de 1907 para 1908, ele venceu o quinto Campeonato Russo. Uma de suas vitórias neste evento tornou-se seu cartão de visitas histórico que ficou popularmente conhecida como sua “Partida Imortal”. A última combinação de Rubinstein nesta partida demonstra de maneira espetacular suas habilidades táticas notáveis, mas a partida como um todo enfatiza ainda mais eficazmente o quanto Rubinstein havia assimilado de Steinitz. As Pretas soltam seus fogos de artifício finais só depois de terem acumulado quantidade suficiente daquelas pequenas vantagens steinitzianas para auxiliar um ataque que derive diretamente da lógica da posição.

Partida 1 G.Rotlewi – A.Rubinstein Campeonato Russo Lodz, 1907 Defesa Tarrasch 1 d4 d5 2 f3 e6 3 e3 c5 4 c4 c6 5 c3 f6 6 dxc5 xc5 7 a3 a6 8 b4 d6 9 b2 0-0 10 d2?! As Brancas comprometem sua dama prematuramente a uma casa que talvez tenham que desocupar em alguns lances. Mais importante é 10 cxd5 exd5 11 e2, com chances para ambos os lados. As Brancas tentarão utilizar as casas fracas que cercam o peão isolado da dama e em algum momento tentarão enfraquecer o próprio peão; as Pretas têm bastante espaço e bom jogo de peças. 10... e7 11 d3? Este, no entanto, é um mau lance que simplesmente permite às Pretas desenvolverem sua ala da dama com ganho de tempo (e isso também traz a consequência da perda de tempo no 14o lance das Brancas). As Brancas ainda deveriam jogar 11 cxd5 exd5 12 e2, mas aceitando o gambito através de 12 xd5?! xd5 13 xd5 deixa as Brancas bem para trás no quesito desenvolvimento e acabaria sendo arriscado. Graham Burgess achou que as Brancas pudessem escapar com um empate após 13... e6 14 d3 ac8 15 e2 fd8 16 b1 d5 17 0-0 e4 18 a2 d5 (apenas sua linha principal), mas facilmente pode haver melhoria nessas linhas.

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11...dxc4 12 xc4 b5 13 d3 d8 14 e2 De fato as Brancas perdem mais um tempo, já que sua dama claramente poderia ter chego à essa casa em um lance. Devido à oposição latente da torre preta na coluna aberta d, no entanto, as Brancas dificilmente tinham algo melhor. 14... b7 15 0-0 e5

Esta é uma manobra comum em posições deste tipo. As Pretas pretendem tomar o cavalo de defesa das Brancas em f3 e abrir as diagonais de ataque para os bispos na ala do rei. Aqui a ideia toma força extra devido aos tempos que as Pretas ganharam na abertura. 16 xe5 xe5 17 f4 As Brancas devem acabar com as ameaças das Pretas ao longo da diagonal b8-h2 e não possuem uma maneira segura de completar seu desenvolvimento sem jogar esse lance de peão um tanto comprometedor e possivelmente enfraquecedor. Tanto 17 fd1 c7 18 ac1 xh2+ 19 h1 b8 quanto 17 ac1 xh2+ 18 xh2 d6+ 19 g1 xd3 perdem material, enquanto que Razuvaev dá 17 h3 ac8 18 ac1 b8 19 fd1 c7, novamente forçando 20 f4, para a clara vantagem das Pretas. 17... c7 18 e4 As Brancas também devem jogar esse lance agora, ou ficarão vulneráveis a uma ruptura de ...e5, que abre linhas para dama e bispo pretos. As Pretas vencem,

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por exemplo, após 18 fd1 e5 19 ac1 (ou 19 f5 e4) 19...exf4 20 exf4 b6+ 21 h1 e3 22 f5 f4, ameaçando ... g4. 18... ac8 19 e5? Mas este é um erro grave, que abre fatalmente as diagonais a7-g1 e a8-h1 para os bispos pretos. As Brancas deveriam ter suportado a tensão no centro por pelo menos mais um lance ao trazer a torre da dama para o jogo. As Pretas claramente permanecem melhores depois de, digamos, 19 ac1 e5 20 f5 b6+ 21 h1 d4, devido a seu espaço extra, melhor desenvolvimento e chances de debilitar os peões e4/f5 brancos, mas as Brancas ainda podem lutar. 19... b6+ 20 h1 g4! Certamente as Brancas viram este lance, mas não viram o que vinha depois, possivelmente um dos lances 22 ou 23 das Pretas, ou os dois.

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e4 Nossos agradecimentos devem ir para Rotlewi por jogar este lance e permitir que Rubinstein demonstrasse sua combinação no tabuleiro em toda sua glória. A mais bela de suas diversas tentativas vãs é 21 e4 h4 22 h3 xd3 23 xd3 xe4 24 xe4 g3 25 hxg4 h4 mate. Após 21 xg4 as Brancas perdem de maneira mais comum para 21... xd3 22 e2 c2 23 c1 g6, ameaçando ...h5. As Pretas também vencem após 21 xh7+ xh7 22 xg4 d2 e 21 h3 h4 22 xg4 xg4 23 hxg4 xd3. 21... h4 22 g3 xc3!

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23 gxh4 d2!

As Pretas oferecem uma segunda torre, forçando as Brancas a abandonarem seu principal bispo de defesa em e4 e alcançando uma das posições mais merecidamente famosas na história do xadrez. As Brancas levarão mate. 24 xd2 Mate também segue após 24 xb7 xe2 25 g2 (ou 25 xc3 xh2 mate) 25... h3 26 xh3 xh2 mate, ou 24 ae1 xe4+ 25 xe4 xh2 mate. 24... xe4+ 25 g2 h3! 0-1

O calmo lance final de torre pelas Pretas leva a um mate em h2 que só pode ser adiado através de sacrifícios infrutíferos de torre e bispo. Se 26 f3 xf3 27 xf3 xh2 mate. O ano de 1908 foi bom para Rubinstein, durante o qual, entre outros êxitos, ele enfrentou e derrotou o campeão americano Frank Marshall, 4½-3½, em um match em Varsóvia. Como Marshall havia acabado de perder para Emanuel Lasker um match pelo título mundial no ano anterior (ainda que por uma margem muito maior, 11½-3½), isto foi especialmente encorajador. No início de 1909, Rubinstein empatou com Lasker em primeiro lugar no grande Torneio de São Petersburgo daquele ano. Ambos acabaram com

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14½/18, 3½ inteiros na frente do empate em terceiro lugar de Duras e Spielmann. Rubinstein derrotou Lasker em sua partida individual merecidamente e, dada a vantagem de pontos com que venceu em São Petersburgo, ele passou a ser levado a sério como o adversário de direito de Lasker. Não foi só o resultado de Rubinstein que impressionou em São Petersburgo, mas também a maneira competente, e ainda assim aparentemente fácil, com que jogou suas melhores partidas. Foi por volta desta época que Rubinstein começou a ter uma reputação de um enxadrista forte especialmente em finais, mas, na verdade, seu jogo sempre teve uma natureza mais universal. Rubinstein jogava abertura, meio-jogo e finais com o mesmo poder e uma mestria de estratégia e tática inigualáveis. Em sua partida em São Petersburgo contra Jacques Mieses (1865-1954), um romântico da velha guarda, Rubinstein nutriu uma pequena vantagem obtida com muito suor, que levou a uma vitória em um final estupendo. A entrada sobre Mieses em The Oxford Companion to Chess faz o comentário injusto e certamente exagerado de que “ele nunca assimilou as ideias posicionais de Steinitz e Tarrasch”. Seja como for, nesta partida ele certamente aprendeu uma lição quanto à arte de jogar xadrez classicamente objetivo.

Partida 2 A.Rubinstein – J.Mieses São Petersburgo, 1909 Gambito da Dama 1 d4 d5 2 f3 c5 3 c4 f6!? A resposta clássica e mais segura é 3...e6, mudando para uma linha principal da Defesa Tarrasch. Mieses, no entanto, geralmente preferia posições abertas, mesmo que, como aqui, ele arriscasse perder meio-tempo ou um pouco mais para alcançar seu objetivo. Logo depois de São Petersburgo, estes mesmos dois enxadristas encontraram-se durante um match em Berlim, Hanôver e Frankfurt. Mieses mudou para uma linha diferente, ainda que parecida, com as Pretas naquele match, 3...cxd4!? 4 cxd5 a5+ 5 d2 xd5 6 c3 a5 7 xd4. Como em São Petersburgo, as Pretas trocam tempo por livre movimentação de peças e nenhuma fraqueza de peão. Rubinstein obteve êxito com esta linha também e venceu o match por 6-4. 4 cxd5 cxd4 5 xd4 xd5 6 e4 f6!? Hoje em dia, o 6... b4 de Maxim Dlugy recebe mais atenção. As Brancas têm duas respostas boas em 7 b5+ (escolha de Garry Kasparov) e 7 e3 (preferida por José Raúl Capablanca). Lasker recomendou 6... c7 no livro do torneio, e se 7 f4 d7, mas 8 a4 impedindo ...e5, como em Z.Varga-J.Horvath, Budapeste, 2000, ainda apresenta alguns problemas para as Pretas.

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c3 e5!? As Pretas forçam uma troca de damas, mas enfraquecem d5. Lasker preferia 7...e6, mas depois disto as Brancas mantiveram uma vantagem, quase 90 anos mais tarde, em O.Cvitan-R.Huch, Passau, 1997, depois de 8 b5+ d7 9 e5 xb5 10 dxb5 fd7 11 0-0 c6 12 f4 a6 13 d6+ xd6 14 xd6 e7 15 c7 c5 16 xe7+ xe7 17 fd1 hd8 18 g5+ f6 19 exf6+ gxf6 20 e3. 8 b5+ d7 9 f5!

As Brancas continuam com o melhor jogo depois desta bela ideia de gambito. O rei preto sofrerá no centro caso aceite o peão, depois de 9... xb5 10 xd8+ xd8 11 xb5 xe4?! 12 e3! c6 13 f3. 9... c6 10 d6+ xd6 11 xd6 e7 12 xe7+ xe7 A fraqueza das Pretas em d5 fica clara logo após o descuidado 12... xe7?! 13 g5!, e se 13... e6 14 f4 com uma vantagem clara. 13 e3 a6 14 xd7+ xd7 15 e2 c8 16 hd1 c5 17 xc5!

As Brancas têm o melhor desenvolvimento, mas as Pretas estão com um bom posicionamento para reagrupar seu cavalo para disputar d4. Lasker sugeriu 17 ac1 e6 18 d5, conservando o bispo branco, mas após 18... xc1 19 xc1 c6 as Pretas parecem ter o controle de d4.

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Com seu lance 17, Rubinstein tenta contestar o controle das Pretas sobre d4 com mais veemência. Ele teria visto que seu lance 19 era promissor e provavelmente também enxergou a situação ameaçadora surgindo após seu lance 25. Em vez de jogar diretamente para impedir o cavalo preto de ocupar d4, ele joga para enfraquecer o apoio das Pretas em e5, enquanto que cria, ao mesmo tempo, possibilidade de jogo na coluna f. 17... xc5 18 ac1 c6 Lasker preferiu 18... c7 (e não 18...0-0? 19 d5!), mas, depois da recomendação de Hans Kmoch, 19 a4! c6 20 e3 0-0 21 c5 d4 22 d3, o ponto e5 das Pretas fica sob séria ameaça, e se 22... xc1 23 xc1 f6 24 c7 f7 25 c8+ f8 26 xf8+ xf8 27 c5, ganhando um peão. 19 d5! Rubinstein deixa as Pretas com uma escolha difícil entre jogar em sua linha principal ou o 19... c4 de Lasker. Nenhuma delas deixa a situação equilibrada. Depois de 19... c4, Lasker recomenda 20 b3 d4 21 e3 f6 22 a4 e7 23 c5 xd5 24 exd5 b4 25 d6+ como melhor para as Brancas. Apesar de que há igualdade material, as Brancas têm uma visível iniciativa na ala da dama e o melhor rei. Pode seguir 25... xd6 26 xb7+ d7 27 a3 c6 28 b4 a8 29 e4 d4 30 g3, com f4 em mente e boas chances.

19... xd5 20 exd5 d4+ 21 d3 e7 22 f4! As Brancas isolam e enfraquecem ao extremo o peão e das Pretas. O rei branco conseguirá atacá-lo ao mesmo tempo em que dá apoio extra ao seu peão passado em d, potencialmente perigoso, da excelente casa de bloqueio e4. 22...f6 23 fxe5 fxe5 24 e4 d6 25 f1!

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A torre branca penetrará agora na sétima fileira trazendo ameaças contra praticamente todos os peões das Pretas, incluindo o débil peão preto em e5. 25... c8 26 f7 c4 27 d3 b4 28 xg7! Este lance temático e estético é também provavelmente mais forte do que a alternativa tentativa de ganho, 28 b3 b5 29 xb5+ xb5 30 xg7. 28... xb2 29 xh7 xg2 30 h6+ d7 As Pretas mantêm seu rei em frente do ameaçador peão passado branco em d. Elas também podem tentar 30... c5 31 e4+ b5 (mas não 31... xd5? 32 d6 mate), e se 32 d6 c6. No entanto, a alternativa do gambito 32 a4+ xa4 33 d6 parece mais perigosa. Se 33... b5, 34 d7 g8 35 d6+ c6 36 e8+ xd7 37 f6+ e6 38 xg8+ f7; embora as Brancas não possam salvar seu cavalo, elas ainda parecem ganhar após 39 b6 xg8 40 xb7 f3 41 h3 g5 42 h4 f3 43 h5. Aqui as Brancas alcançam uma posição aparentemente ganhadora de constrição depois de 33... g8 34 d7 c6 35 c5+ b5 36 xb7 d8 37 d6+ c6 38 e8+ b7 39 e4, e se 39...a5, 40 xe5! a4 41 d6! a3 42 h3 vencendo. Ou se 33... c6 34 d7 d8 35 h8 c6 36 c8 g7 37 f6 b5 38 h4, e as Brancas vencem ao avançar seu peão em h. 31 h7+ d6 32 h6+ d7 33 e4 xa2 34 h7+ d8 35 d6!

O lado negativo da posição do rei preto é que as Brancas podem pressionar ao criar ameaças de mate. As Brancas ameaçam um imediato 36 f6 e h8 mate,

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e se 35... a3+ 36 c4 a4+ 37 d5 a5+ 38 c5, as Brancas ameaçam mate em h8 novamente, ganhando imediatamente. 35... b5 36 c4 a5 Esta é a única maneira de as Pretas impedirem que o rei branco participe ativamente do ataque através de d5. Se, agora, 37 d5 c7+ defende. 37 xb7 a3+ 38 b4 b5+ Isto também é forçado, mas leva a um final perdido de cavalo e peão. 39 xb5 xb5 40 c5 d7 41 d5 a5 42 c5+ e8 43 xe5 f7 44 b7 1-0 O peão branco em d custa às Pretas seu cavalo, e, após 44... xd6 45 xd6+ g6 46 f4 h5 47 g3 a4 48 c4, o cavalo e peão brancos perseguirão o rei preto até h8, seguido por e5-f7 mate.

O ano de 1910 foi relativamente calmo tanto para o xadrez quanto para Rubinstein. Mas ele encontrou e derrotou um Alexander Alekhine muito jovem em uma visita à Moscou. 1911, no entanto, iniciou com o extremamente forte Torneio de San Sebastian. Lasker não participou, mas Capablanca sim, determinado a derrotar a velha guarda europeia no seu debute no Velho Mundo. San Sebastian foi uma disputa apertada entre Rubinstein e o cubano de 22 anos. Capablanca alcançou o primeiro lugar, com 9½/14, mas estava só meio-ponto à frente de Rubinstein e Milan Vidmar, empatados com 9 pontos, e havia vários outros logo atrás destes dois. Capablanca perdeu apenas para Rubinstein, que também foi o único participante invicto. De fato, Rubinstein teria empatado com o cubano se ele não tivesse perdido uma vitória clara na última rodada contra Spielmann. Os resultados de Rubinstein em San Sebastian e em São Petersburgo dois anos antes, incluindo suas duas vitórias impressionantes contra Capablanca e Lasker nestes eventos, estabeleceram sua reputação de segundo melhor do mundo. Mas o recém-chegado Capablanca claramente havia estabelecido um marco de que ele poderia superar Rubinstein dentro de alguns anos e de que, daquele momento em diante, o cubano passaria a ser visto como o homem do futuro a um prazo mais longo.

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A vitória de Rubinstein em San Sebastian contra Capablanca foi tão merecida quanto sua vitória contra Lasker em São Petersburgo. Rubinstein aproveitou a falta de confiança na abertura de Capablanca para ganhar vantagem no início do meio-jogo. Então Capablanca fez uma escolha completamente errada, permitindo que Rubinstein fizesse uma pequena combinação engenhosa para ganhar um peão e depois vencer um final difícil. É digno de nota que o plano-chave contra Capablanca envolveu exatamente o mesmo lance de dama ( c1) que a partida contra Lasker, em São Petersburgo, em 1909.

Partida 3 A.Rubinstein – J.Capablanca San Sebastian, 1911 Defesa Tarrasch 1 d4 d5 2 f3 c5 3 c4 e6 4 cxd5 exd5 5 c3 c6 6 g3 Jogado pela primeira vez em C.Schlechter-F.Duz-Khotimirsky, Praga, 1908. Rubinstein merece grande parte dos créditos por adaptar este lance para um sistema moderno. Steinitz já havia examinado posições nas quais as Brancas (ou as Pretas) cercam um peão isolado da dama baseado em um desenvolvimento e3 e e2 (...e6/... e7), (geralmente) reforçado com um fianchetto de bispo na ala da dama.

Steinitz focou-se em controlar a casa de bloqueio em frente ao peão isolado da dama. Tendo contido o peão isolado da dama, Steinitz procurou centralizar e trocar peças a fim de agravar a vulnerabilidade das casas débeis ao redor do peão isolado da dama e deste próprio peão, o que com frequência mostrava-se decisivo no final. Tarrasch (e outros), no entanto, encontravam cada vez mais maneiras de explorar o espaço, desenvolvimento livre e prospectos de ataque que o peão isolado da dama oferecia, e modelaram a Defesa Tarrasch em um sistema especialmente bem-sucedido. Rubinstein melhorou radicalmente o leque de planos

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possíveis e oportunidades dinâmicas disponíveis para as Brancas, restabelecendo o equilíbrio. 6... e6!? Capablanca já havia utilizado este lance com êxito em seu match em 1909 contra Frank Marshall. Hoje em dia, no entanto, as Pretas geralmente completam o desenvolvimento de sua ala do rei antes de comprometerem o bispo da dama à esta casa sólida, mas essencialmente de defesa, já que pode, às vezes, ser mais ativamente desenvolvido para f5 ou g4. Rubinstein também já havia tido várias experiências notáveis nesta linha jogando de ambos os lados. Em A.Rubinstein-G.Salwe, 3a partida do match, Lodz, 1908, por exemplo, as Brancas estabeleceram uma forte constrição sobre as casas pretas após 6... f6 7 g2 cxd4!? 8 xd4 b6!? 9 xc6 bxc6 10 0-0 e7 11 a4! b5 12 e3 0-0 13 c1 g4!? 14 f3! e6 15 c5 fe8 16 f2! d7 17 xe7 xe7 18 d4 ee8 19 f1! ec8 20 e3 b7 21 c5 xc5 22 xc5 c7 23 fc2 b6 24 b4 a6 25 a5 b8 26 a3 a7 27 xc6 xc6 28 xa7, e as Brancas ganharam. 7 g2 e7 8 0-0 c8?!

Mas este lance mais arriscado provavelmente leva o plano das Pretas de retardarem o desenvolvimento da ala do rei muito longe. Capablanca estava tentando evitar a “teoria” de seu adversário, mas agora as Brancas têm chances de obter uma grande vantagem no centro enquanto o desenvolvimento da ala do rei das Pretas fica para trás. O melhor é 8... f6, depois do qual A.Rubinstein-G.Salwe, 8a partida do match, Lodz, 1908, presenciaram outra impressionante destruição das Pretas com 9 g5 0-0 10 c1 cxd4 11 xd4 xd4 12 xd4 d7? (12... a5 é crítico) 13 e4! dxe4 14 xd7 xd7 15 xe4 c6 16 xf6+ gxf6 17 h6 fc8 18 xc6 xc6 19 xc6 bxc6 20 c1 c8 21 c4, e as Brancas converteram sua clara vantagem de final. 9 dxc5 xc5 10 g5!? As Brancas jogam pelos dois bispos e uma iniciativa a longo prazo sobre as casas brancas. Mas pode ser que o mais direto 10 a4 e7 11 e3, jogando pelo controle das casas pretas, fosse uma maneira mais simples de assegurar às Brancas uma boa vantagem.

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10... f6 11 xe6 fxe6 12 h3 Rubinstein baseia seu plano na posição da torre preta em c8. Esta maneira de jogar pelas Brancas é bem menos convincente se a torre preta ainda não tiver sido removida de a8. Então as Pretas podem consolidar-se rapidamente no centro jogando ... e7, ...0-0 e ... ad8 ou ... ae8. Aqui, no entanto, as Pretas provavelmente logo terão que mover sua torre da dama novamente com perda de tempo. 12... e7 13 g5 0-0? O plano das Brancas funciona bem depois deste lance. 13... d8 seria melhor quando as Brancas já não tivessem mais a opção combinatória que têm nessa partida. De fato, as chances para ambos os lados devem estar equilibradas. 14 xf6! xf6?

Os instintos posicionais de Capablanca e seus poderes de cálculo falharam nesta partida. Rubinstein agora ganha um peão à força e então as Pretas deveriam ter jogado o feio 14...gxf6. Kasparov e outros então avaliaram a posição promissora surgindo após 15 xd5! exd5 16 xc8 xc8 17 xd5+ h8 18 e3 d8 19 f5 como visivelmente melhor para as Brancas, mas as Pretas ainda podem lutar. 15 xd5! h6 Capablanca havia contado com isto, mas não havia percebido a resposta das Brancas e sua intenção com seu lance 17. Ele só havia considerado 16 g2? permitindo 16... e5!, seguido por ... g4, com uma vantagem óbvia para as Pretas. Era, no entanto, tarde demais para voltar atrás. As Brancas vencem imediatamente tanto depois de 15...exd5? 16 xd5+ h8 17 xc8 quanto depois de 15... xf2+? 16 g2 f7 17 f4. 16 g2 cd8 17 c1!

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Capablanca havia, obviamente, visto esta bela refutação de seu jogo a este ponto, mas isso não diminui seu impacto sutil. A posição da dama branca, quase casual, deslocada uma casa para esquerda na primeira fileira, não permite apenas que escape da cravada da torre preta na coluna d, mas também que estabeleça ameaças duplas contra c5 e e6. O mesmo lance de dama também lidou com o golpe impactante em A.Rubinstein-E.Lasker, São Petersburgo, 1909, onde a seguinte posição surgiu após 15... he8.

Aqui as Pretas ameaçam ... xe3 e parecem ter compensação considerável por seu peão sacrificado, mas as Brancas defenderam-se calmamente com 16 c1 xe3 (ou se 16... b8 17 c5 f4 18 d5 xe3 19 c1 e4 20 dxc6 bxc6 21 c3, com vantagem visível) 17 xc6+ bxc6 18 c1!.

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Agora, enquanto as Pretas se contorcem, as Brancas ganham material, e Lasker não conseguiu defender após 18... xd4 19 fxe3 d7 20 xc6+ d8 21 f4! f5 (se 21... d1+ 22 f2 d2+ 23 e1 xg2 24 d4+ e vence) 22 c5 e7 (ou 22... d1+ 23 f2 d2+ 24 e1 xg2 25 a5+) 23 xe7+ xe7 24 xf5 d1+ 25 f2 d2+ 26 f3 xb2 27 a5 b7 28 a6 f8 29 e4 c7 30 h4 f7 31 g4 f8 32 f4 e7 33 h5 h6 34 f5 f7 35 e5 b7 36 d6 e7 37 a6 f7 38 d6 f8 39 c6 f7 40 a3! 1-0. O lance final das Brancas nesta partida impede ... b4, e depois disso as Brancas podem avançar seu peão em e e seu rei para g6, sem perder seu peão em g. Tanto o peão preto em g quanto o em h caem, e as Brancas vencem rapidamente. Voltando para o 17 c1 de Rubinstein-Capablanca: 17...exd5 As Pretas não têm escolha. Elas perdem tanto após 17... xc1 18 xe6+ h8 19 axc1 quanto após 17... xd5 18 xh6 gxh6 19 xe6+. 18 xc5 d2 19 b5 d4 20 d3 xd3 21 exd3 fe8 22 g4!?

As Brancas ainda têm trabalho a fazer, já que as peças pretas estão ativas. Rubinstein protege e2, mas Capablanca provavelmente pensou corretamente

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que a continuação mais cuidadosa das Brancas fosse 22 fe1 c2 23 xe8+ xe8 24 c1 (24 d1 de Kasparov, e se 24... d4 25 g4 ou 24...h5 25 d4, também parece bom), e se 24... e2, 25 f1 d4 26 c8+ f7 27 c7+ e7 28 c5, e as Brancas deveriam ganhar bem rapidamente. 22... d6 23 fe1 xe1 24 xe1 b6 25 e5!? E aqui o 25 b3 a6 26 e5! xa2 27 xd5 de Razuvaev pode ser melhor. As Pretas iriam, obviamente, perder uma peça após 27... xb3? 28 e6+ f8 29 f5+. 25... xb2 26 xd5 c6 27 e6+ f8 28 f5+ e8 29 f7+ d7 30 c4 a6?! Agora as Pretas cometem um erro. Capablanca mencionou que 30... d6! ganha um tempo importante para o avanço dos peões pretos da ala da dama. Ele pensou que as Pretas pudessem então empatar. No entanto, na era moderna, auxiliado por computadores poderosos, Kasparov considera que as Brancas ainda podem ter alguma esperança de vencer depois de 31 f7!. Mesmo assim, qualquer vitória está longe de ser simples, e as Pretas deveriam ter jogado desta maneira. A linha mais complexa de Kasparov segue com 31... e5 32 xg7 b5 33 b3 a5 34 d4 d3 35 f3 c1 36 g8 xa2 37 xh7 c3 38 h6+ e7 39 a6 a4 40 h4 d1 41 d5 xf2+ 42 e4, com uma vitória provável para as Brancas.

31 f7+ d6 32 xg7 b5 33 g8 a5 34 xh7 a4 35 h4 b4 36 h6+ c5 37 h5+ b6 38 d5?! Tendo sido envolvidos em uma corrida tensa em ambos os lados do tabuleiro, os enxadristas atingem agora uma das posições e um dos assuntos mais falados na história do xadrez. Será que Rubinstein, assim como diversos comentaristas afirmaram durante os últimos 100 anos, livrou Capablanca de uma situação difícil? Como mencionado na época, as Brancas poderiam ter vencido bem facilmente com 38 c4 b3 (ou se 38... xa2? 39 b5+!) 39 axb3 a3 40 b5+ c7 41 b4. Agora as Pretas têm uma chance.

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38...b3? Capablanca perde uma oportunidade histórica. Ambos negligenciaram o recurso 38... xa2!, e se 39 xa2?? b3 40 xb3 axb3, as Pretas ganham. Como Rubinstein teria reagido? Ele ainda poderia ter ganho a partida? Kasparov e seus computadores fazem parte dos céticos. Kasparov analisou 38... xa2! 39 h6!? c2 40 h5!?, mas, depois de 40...a3 41 e6 c5!, descobriu que apenas as Pretas têm chances. Talvez 40 e6 seja uma tentativa melhor, mas, depois de 40...b3, 41 h5 c5!, transforma-se em uma das linhas de empate de Kasparov, na qual, depois das trocas em c6, os peões b e h dos dois lados são promovidos simultaneamente, alcançando um empate com final de dama e peão. Kasparov também ponderou se as Brancas conseguiriam reverter para 39 c4!?, mas depois de 39... c2 40 b5+ c7 41 g8 a3 42 h5 a2 43 xa2 xa2 44 h6 a6!, e se 45 h7 (ou 45 g4 e7 46 g5 b6!) 45... a8!, seguido por ... h8, também não é convincente. Mas também pode haver uma justificativa para o 38o lance de Rubinstein, em uma análise pouco conhecida de Vladimir Vukovic, aparentemente desconhecida e não investigada por Kasparov. A principal linha de Vukovic, intensa e bela, dada por Donaldson e Minev, pode carecer de checagem computacional mais a fundo, mas, deixando de lado essa ressalva, há um bom pressentimento com ela: 39 h8!

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39...b3 (ou 39... c2 40 a8 a3 41 h5 c5 42 f7) 40 h5 a1 (após 40... b4 ou 40... c2, 41 h6! vence) 41 xc6 c7 (ou se 41... xc6 42 b8 c7 43 b4 seguido por h6) 42 e4 b2 43 d4 a3 44 h7+ d6 45 b7 a2 46 xb2 g1+ 47 xg1 a1 + 48 b1 xd4 49 f3, e as Brancas vencem. 39 axb3 a3 40 xc6 xb3 Agora, no entanto, a tarefa das Brancas é, mais uma vez, fácil. A torre branca alcançará a coluna a e conterá o peão preto em a, digamos depois de 40...a2 41 b5+ a6 42 b8, seguido por a8. 41 d5 a2 42 h6+ 1-0 O rei preto tem que ir para a coluna a, e depois disso h8-a8 vence. Rubinstein manteve-se nesta boa forma durante o ano de 1911. Ele terminou o ano dividindo o segundo lugar com Schlechter, com 17/25, em Carlsbad, atrás de Richard Teichmann, que jogou o evento de sua vida, vencendo com 18 pontos. No entanto, 1912 foi realmente magnífico. Rubinstein venceu sozinho três eventos, em San Sebastian, Pistyan e no Torneio Nacional Russo em Vilnius, e dividiu o primeiro lugar com Ossip Duras em Breslau. Os resultados de 1912 de Rubinstein confirmaram sua reivindicação de ser o Desafiante por direito de Lasker. Um argumento plausível também poderia ser de um Desafiante por Capablanca, mas ele não jogou na Europa naquele ano e esteve um tanto inativo. A ficha recente de Rubinstein e sua boa forma colocaram-no muito à frente de qualquer outro possível adversário europeu ou do Novo Mundo. Rubinstein derrotou Carl Schlechter, o rival mais perigoso para Lasker na época, duas vezes em San Sebastian. Em 1910, Schlechter e Lasker empataram um match extremamente árduo pelo Campeonato Mundial, 5-5, com Lasker apenas alcançando uma vitória na partida final. Em 1912, Schlechter não era páreo para Rubinstein,que alcançou a seguinte vitória num final magnífico contra ele em sua primeira partida em San Sebastian. Ao longo de sua carreira, Rubinstein defendeu-se de 1 e4 principalmente com 1...e5, respondendo à Abertura Espanhola com uma série de linhas fechadas sólidas e também com a Defesa Aberta. No entanto, assim como contra Schlechter, ele também jogou com frequência o que ficou conhecido mais tarde como a Variante Rubinstein da Defesa Francesa. Rubinstein também organizou muitas das ideias de contra-ataque das Pretas nesta linha, que é baseada em um ...dxe4 anterior. Apesar de conceder metade do centro às Brancas, com um peão sem oposição em d4 e espaço central extra, Rubinstein mostrou que as Pretas ainda podiam completar seu desenvolvimento e atacar d4 com tudo com um ...c5 em algum momento. Em San Sebastian, Schlechter tentou dominar as casas brancas na ala da dama prematuramente no início da abertura, permitindo que seu adversário levasse as peças brancas ao fundo e surgisse com uma pequena vantagem no meio-jogo. Rubinstein movimentou-se bem no meio-jogo, alcançando uma série de ganhos posicionais pequenos mas tangíveis. A vitória inesperada veio de um final com torre e peão jogado habilmente.

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Partida 4 C.Schlechter – A.Rubinstein San Sebastian, 1912 Defesa Francesa 1 e4 e6 2 d4 d5 3 c3 f6 Rubinstein geralmente preferia a sequência de lances 3...dxe4 4 xe4 d7 5 f3 gf6, mas as linhas podem se transpor depois de 6 g5. A partida S.Tarrasch-A.Rubinstein, San Sebastian, 1911, um bom exemplo de como ele jogava esta linha, continuou com 6 d3 e7 7 0-0 0-0 8 xf6+ xf6 9 e5 c5 10 dxc5 c7 11 e2 xc5 12 g5 d7 13 xd7 xd7 14 ad1 c6 15 h5 g6 16 h4 fe8 17 fe1 e7 18 xe7 xe7 19 xe7 xe7, e acabou em empate. 4 g5 dxe4 5 xe4 bd7 Rubinstein sempre jogava desta maneira, visando a uma solução estratégica meticulosa para os problemas de abertura das Pretas. As Pretas também podem passar para a mais vigorosa Variante Burn após 5... e7, e se 6 xf6 gxf6, com jogo agudo. 6 f3 e7 7 xf6+ xf6 8 d3 b6 Se, como aqui, ele sentisse que pudesse fazê-lo com segurança, Rubinstein sempre jogava um fianchetto na ala da dama rapidamente. As Pretas enfrentam três desafios principais nesta linha: encontrar uma boa casa para o bispo da dama, conectar suas peças maiores com eficiência e contra-atacar com ...c5. Aqui o imediato fianchetto na ala da dama é a maneira mais evidente de as Pretas começarem este plano, e o 8o lance das Pretas foi uma inovação recente. 9 e5!? A tentativa de Schlechter de colocar pressão nas casas brancas pode ter sido uma surpresa para Rubinstein, já que ele já havia logrado êxito na defesa contra esta linha em San Sebastian no ano anterior. Hoje em dia as Brancas geralmente procurariam manter sua pequena vantagem em espaço e tempo de forma menos agressiva, como 9 e2 b7 10 0-0-0 (ou possivelmente 10 0-0 0-0 11 ad1). Perceba que as Pretas não têm nenhum problema depois de 9 b5+ d7 ou 9 xf6 xf6 10 e4 b8 11 e5 xe5 12 dxe5 xd1+.

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9... b7 10 b5+ c6 11 xc6+?! Isso não funciona bem para as Brancas. As Pretas também ficam em uma boa situação após 11 xc6 d5! e talvez as Brancas não tenham nada melhor do que jogar o pouco ambicioso 11 e2, mas isso já é bastante equilibrado. Diferente de R.Spielmann-A.Rubinstein, San Sebastian, 1911, que havia seguido com 11 f3 d5 12 xf6 cxb5 13 xg7?! xf3 14 gxf3 g8 15 h6 f6 16 d3 xf3 17 f1 g4 18 f4?! d8 19 c3 e5 20 e3 e4 21 b4 d6 22 h3 h4 23 g1 f7 24 d2 xh3 25 a4 f5 26 c6 d7 27 d5 f4 28 d4 e3+ 29 fxe3, e agora Mieses sugere que as Pretas poderiam ter ganho com 29... h2+! 30 e1 xd5 31 axb5 f3 32 f1 e4. 11... xc6 12 xc6 d5! Este lance poderoso de dama deixa as Brancas com uma escolha difícil. Elas devem ou deixar que as damas sejam trocadas e então jogar um final com uma pequena desvantagem com seus peões f e h separados, ou oferecer um gambito arriscado, com as damas no tabuleiro, jogando 13 xe7 xg2 14 f1 xe7 15 xf6+ gxf6 16 d3 xh2 17 0-0-0.

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e5 xg2 14 f3 xf3 15 xf3 c8 16 0-0-0 Tendo iniciado o final, as Brancas pouco podem fazer com seus peões da ala do rei separados, exceto continuar a defendê-los. Idealmente, elas gostariam de utilizar sua maioria de peões na ala da dama, mas, após 16 c3 d5 17 xe7 xe7 18 a4 (visando a a5), as Pretas é que jogam 18...a5, dificultando o progresso das Brancas naquele flanco. 16... d5! As Pretas possuem vantagem estrutural, mas certamente não é fácil para elas alcançar nada com isto. Então elas agem gradualmente. Ao trocar os bispos, elas trazem seu rei para uma boa casa central e ajudam a aumentar sua influência nas casas pretas centrais. 17 xe7 xe7 18 b1 hd8 19 hg1 g6 20 e5 b4!

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As Pretas dão outro pequeno passo. Elas só podem ter expectativas de progredir se desafiarem a peça defensora branca melhor posicionada, seu cavalo em e5. 21 c3 c6 22 xc6+ As Brancas irão perder esta partida porque permanecem passivas por muito tempo, e alguns comentaristas criticaram injustamente esta troca como sendo parte do deslize. O lance é bom. As Brancas também poderiam ter expectativas de manterem-se no jogo com 22 f4, e se 22...f6 23 g4 d5 24 e3 h5 25 d2, ou com o imediato 22 g4, seguido por e3. 22... xc6 23 d3 d5 24 h3 As torres pretas obtiveram certo nível de atividade, e a partida está perto de um ponto crítico. As Brancas jogam corretamente para forçar a resposta das Pretas, depois do que as torres pretas não terão h5 como um possível posto de ataque. 24...h5 25 f3? Mas este lance é definitivamente ruim. Ele possui a virtude de proteger f5, mas negligencia a força da resposta das Pretas. As Brancas devem ter deixado escapar algo, ou teriam certamente jogado o 25 f4!, que é muito melhor. Então, depois de 25... f5, as Brancas podem jogar decididamente 26 h4!, seguido pela centralização de seu rei em d3. As Brancas possuem bastante espaço e provavelmente deveriam empatar. O jogo poderia continuar com, por exemplo, 26... d6 27 c2 dd5 28 d3 b5 (ou 28...g5 29 xg5 xg5 30 fxg5 xg5 31 a4) 29 b3, e as Brancas defendem-se. Note que as Brancas já não podem se defender de forma segura de qualquer outro jeito. As torres pretas invadem a ala do rei após 25 e3 f5 26 e2 d6 27 d1 f4 28 dd2 d5, ameaçando ... h4, e, se o peão branco for para f3, as Pretas têm ... f5. 25...e5!

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32... e4 33 b4 g5 34 c3 g4 35 c5 h4 36 g2 g6 37 c4 g3 O peão passado preto em g custará às Brancas sua torre. O rei e peão c brancos não apresentam nenhuma ameaça na ala da dama. 38 hxg3 hxg3 39 b5 bxc5 40 bxc5 f3 41 g1 a6+ 0-1 Aparentemente, Rubinstein jogou pouco ou nada de xadrez em 1913. Os biógrafos de língua inglesa de Rubinstein, John Donaldson e Nikolay Minev, não conseguiriam encontrar nenhuma partida de Rubinstein daquele ano nem razões para esta ausência. No entanto, o registro histórico indica, sim, que negociações sérias continuaram ao longo de 1913 e início de 1914 em relação ao match proposto entre Rubinstein e Lasker. Os planos para o match não parecem ter sido deixados de lado depois do fracasso relativo de Rubinstein no grande Torneio de São Petersburgo em 1914. Talvez como punição por sua longa ausência no xadrez de elite, Rubinstein fracassou, embora tenha sido por pouco, em qualificar-se para a final de cinco enxadristas daquele evento. Lasker venceu em São Petersburgo, com 13½/18, à frente de Capablanca 13, Alekhine 10, Tarrasch 8½ e Marshall 8. O estrelato de Rubinstein certamente esmaeceu em São Petersburgo. Ele ficou um ponto atrás dos cinco finalistas na disputada preliminar de turno único de onze participantes. Os cinco finalistas jogaram um final de dois turnos (com os resultados das partidas realizadas na preliminar adicionados a suas pontuações). Lasker só alcançou e então ultrapassou Capablanca nas últimas rodadas. De fato, o jovem cubano na época parecia o legítimo herdeiro do Campeonato Mundial, apesar de que o direito de Rubinstein desafiar ainda permanecesse. Mas, então, no verão boreal de 1914, esperanças muito maiores morreram por toda a Europa. A Grande Guerra irrompeu em agosto e todo o xadrez de elite cessou abruptamente. O match Rubinstein-Lasker, que havia sido marcado para iniciar em outubro de 1914, foi cancelado. Os anos de 1914-1918 foram palco para apenas atividades enxadrísticas locais esporádicas na Europa assolada pela guerra. Donaldson e Minev conseguiram determinar muito pouco da situação de Rubinstein durante a guerra. Isso é

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natural, pois quanto a Rubinstein e outros que viveram estes anos duros na Europa Central ocupada pela Alemanha, especialmente no fim da guerra, que viram a Revolução Russa e a queda da Alemanha, podemos ter certeza de que a vida não era fácil. Quando saiu da casa dos trinta, Rubinstein certamente não era mais o mesmo enxadrista que havia sido antes. Muitos observadores achavam que seu jogo carecia de sua consistência anterior e percebiam que ele começara a fazer mais erros. Infelizmente, a saúde mental de Rubinstein também parecia ter se deteriorado e causou interferência. De acordo com Hans Kmoch, em um obituário complacente em Chess Review (junho de 1961), Rubinstein havia desenvolvido uma condição conhecida como antropofobia, um tipo patológico de extremo acanhamento ou timidez. Parece que este problema aumentou severamente nos anos do pós-guerra, mas Kmoch deixa entendido que as primeiras indicações disso datam a partir de, pelo menos, 1911. Kmoch acreditava que era “um milagre que um homem com essa deficiência ainda conseguisse manter seu lugar entre os melhores por muitos anos”. Então ele escreveu que “muitas anedotas poderiam ser contadas sobre Rubinstein; mas, considerando a mente aflita, estas histórias são muito mais tristes do que engraçadas... ele estava doente”. Donaldson e Minev teorizam que a saúde de Rubinstein possa ter sido afetada de maneira negativa por alguma experiência traumática severa durante os anos de guerra, mas nós simplesmente não sabemos o suficiente para termos certeza. Felizmente, sabemos que em 1917 Rubinstein casou-se com Eugenie Lev e que, com o apoio de sua esposa e de sua família, Rubinstein pôde oferecer ao mundo do xadrez mais 15 anos de partidas da melhor qualidade até sua aposentadoria de fato. Rubinstein até mesmo lançou um segundo desafio pelo Campeonato Mundial após uma série de resultados excelentes em torneios no início dos anos de 1920, incluindo o 1o lugar em Viena em 1922, à frente de Alekhine e Efim Bogoljubow, os dois mais incríveis jovens aspirantes ao título mundial. Ao derrotar Lasker em 1921, Capablanca tornou-se o Campeão Mundial. O desafio de Rubinstein não deu em nada, no entanto, devido à falta de apoio financeiro. Rubinstein continuou sendo um dos gigantes do jogo. Em seu vasto trabalho sobre a era moderna no xadrez, Die Hypermoderne Schachpartie (1925), o Dr. Savielly Tartakower escreveu ainda que “Rubinstein manteve-se capaz de produzir, com mais frequência que muitos dos outros grandes enxadristas, grandes obras de arte, forjadas a partir de um único plano estratégico unificado; a prova disto é evidente nos muitos prêmios de brilhantismo que ganhou, quatro destes em Teplitz-Schönau (1922)”. Inevitavelmente, com o avanço da idade e novas ideias no jogo, algo à parte de seus problemas mentais, Rubinstein começou a descer posições gradualmente nos rankings de xadrez. Tartakower percebeu esta queda, mas, em mais um mo-

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mento de admiração pelas conquistas de Rubinstein, apresentou um novo ponto (e muito moderno) de que Rubinstein, tendo editado uma nova edição de Collijn’s Lärobok no pós-guerra, juntamente com Spielmann e Réti, possa ter dado muitos de seus segredos de abertura quase que de graça. Mesmo assim, Rubinstein manteve grande parte de sua força física da juventude nos anos de 1920. Ele sempre gozou de boa saúde física e continuou a competir vigorosamente, jogando algumas de suas melhores partidas naqueles anos. Em Carlsbad, 1923, ele criou outra obra-prima estratégica em uma variante 6 g3 anti-Tarrasch, desta vez contra o próprio criador da defesa, o Dr. Tarrasch.

Partida 5 A.Rubinstein – S.Tarrasch Carlsbad, 1923 Defesa Tarrasch 1 d4 d5 2 c4 e6 3 c3 c5 4 cxd5 exd5 5 f3 c6 6 g3 f6 7 g2 e7 Na década de 1920, os jogadores das Pretas começaram a atrasar o precoce ... e6, tipicamente jogado nesta linha em muitos dos jogos no pré-guerra, e a mover-se cautelosamente para a linha principal moderna completando antes o desenvolvimento na ala do rei. Os sucessos de Rubinstein contra as linhas prematuras de ... e6 e outras divergências das Pretas contribuíram enormemente para esta tendência. A Partida 3 já inclui algumas “lições” de Rubinstein. Outra ocorreu em A.Rubinstein-F.Marshall, em Breslau, 1912, na qual as Pretas tomaram o centro precipitadamente com 7...cxd4?! 8 xd4 c5 9 b3 b4 10 0-0 xc3 11 bxc3,

e agora percebem que 11...h6, para impedir a cravada poderosa g5, permitiria 12 a3, aprisionando seu rei no centro. Então Marshall jogou 11...0-0 12 g5

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Este lance incrivelmente simples abre o jogo para as torres e rei pretos transitarem por todo o espaço-chave na ala do rei e no centro. As torres brancas carecem de espaço e o rei branco está muito longe do centro e da ala do rei para fazer qualquer coisa. Será que Schlechter pretendia nesse ponto jogar 26 g5, mas então percebeu a refutação de Igor Zaitsev (e provavelmente também de Rubinstein)? Zaitsev dá 26... f6! 27 xf6 xf6, e se 28 f4 exf4! 29 xd5 f3, o peão f branco vence. As Pretas também vencem o final com rei e peão, devido a seu rei forte e sua maioria de peões (3-2), depois de 28 xe5 xe5 29 dxe5+ xe5, e se 30 c2 e4 31 c4 g5 32 c3 f5 33 b4 h4 34 a4 g4 35 a5 f4, seguido por ...g3. 26 dxe5 xe5 27 e3?! Talvez a última chance real das Brancas fosse 27 c1, esperando criar um peão passado em c, mas após 27... f6 28 xf6 xf6 29 c4 e2, e se 30 c2 e1+ 31 c1 xc1+ 32 xc1 e5 33 c2 d4 34 b3 g5 35 d2 f5, as Pretas devem ganhar novamente o final com rei e peão, devido a seu rei forte e seus peões avançados na ala do rei. 27... xe3 28 fxe3 e6 29 e1 As Brancas lutam uma batalha perdida contra o rei preto ativo, a torre remanescente e uma maioria de peões perigosa na ala do rei. A torre branca também será malsucedida se tentar permanecer ativa na ala do rei, depois de 29 g3 h4 30 f3 g5 31 c2 g4 32 f4 xe3 33 xg4 e2+, seguido por ... xh2. 29... f6! As Pretas ameaçam 30... f2, forçando a resposta das Brancas, depois da qual o rei preto dirige-se para e4 com um ataque esmagador. 30 e2 e6 31 c2 e5 32 c4 Com a torre branca em e2 completamente frustrada pela necessidade de defender seu peão e atrasado crônico, as Brancas fazem uma última tentativa de defesa criando um peão passado na ala da dama, mas o processo é lento demais. As Pretas conseguem se defender facilmente na ala da dama ao mesmo tempo em que forçam uma vitória ao combinar ameaças diretas contra o peão branco em e com o avanço rápido de seus peões g e h.

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e6, mas não conseguiu impedir que as Brancas destruíssem o centro das Pretas com quatro golpes intensos em seus lances 13, 15, 16 e 18, e, depois de 13 c5! e7 14 xe6 fxe6 15 c4! dxc4 16 xc6! bxc6 17 d4 d8 18 xf6! xf6 19 xc4 d5 20 ac1 af8 21 e4 h5 22 f4 a5 23 e5 h6 24 c2 b6+ 25 g2 d8 26 ff2 c8 27 fd2 h8 28 d6 b1 29 xc6, as Brancas estavam ganhando. 8 0-0 0-0 9 g5 A cravada intensifica a disputa por c5 e d5, e após 9...cxd4 10 xd4 h6 leva à linha principal desta abertura nos dias de hoje. A partida A.Rubinstein-S.Tarrasch, em Teplitz-Schönau, 1922, havia seguido com 9 a3 e6!? 10 dxc5 xc5 11 b4 e7 12 b2 e4?! 13 b5 a5 14 xe4! dxe4 15 d4 d5!? 16 c2 f5 17 c3! c4 18 xf5! f6 19 xf6!? (19 e7+ h8 20 xd5 xc3 21 xc3 xb2 22 xe4 seria mais simples) 19...gxf6 20 e7+ f7 21 xd5 xd5 22 fd1 e6 23 c3 fd8 24 d4 f5 25 g4! d6 26 ad1 xb5 27 gxf5+ f7 28 xd5 xd5 29 xd5 xc3 30 c5 xe2+ 31 f1 f4 32 xe4 d8 33 c7+ f6 34 e1 e8 35 f3 d5 36 xb7, e as Brancas vencem. Réti popularizou o plano 9 dxc5 xc5 10 a4 e7 11 e3, visando controlar a coluna c e as casas pretas d4 e c5, mas as Pretas podem levar em consideração a alternativa aguda e algo promissora do gambito 9...d4. 9... e6 10 dxc5 xc5 11 e1

As Brancas pretendem aumentar seu controle do centro redirecionando seu cavalo para d3, possivelmente seguindo-se um salto para f4, atacando d5. O lance 9 das Pretas fez um regresso curto na década de 1980, mas muitos jogadores das Pretas já não ficam mais satisfeitos em entrar em um jogo que Garry Kasparov chama de “final desanimado” após 11 xf6 xf6 12 xd5 xb2 13 c7 ad8 14 c1 xc1 15 axc1, seguido por xe6. As Pretas têm boas chances de empatar, mas as chances das Brancas de, cedo ou tarde, enfraquecer as Pretas ao atacar o peão em e6 e de criar jogo na ala do rei são muito maiores.

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Em uma demonstração no estilo de Rubinstein de como pressionar para as Brancas, A.Yusupov-K.Spraggett, 3a partida do match, Quebec, 1989, seguiu 15... e7 (15... b6 16 xe6 fxe6 17 c4 é parecido) 16 xe6 fxe6 17 c4 f6 18 e3 d6 19 h4 h6 20 e4 fd8 21 h3 f7 22 g2 e8 23 c1 e7 24 c2 b6 25 f4 g6 26 g4 a1 27 c1 b2 28 c2 a1 29 a4 e5 30 xe5+ xe5 31 f8 dd7 32 f4 c7 33 d2 c3 34 d6 h7 35 g5 hxg5 36 hxg5 b4 37 dd8?! (melhor seria 37 g6+! h6 38 f5! e mate, ou se 37... xg6 38 f5+) 37... g6?! 38 f3 f7 39 h8 e5 40 g4! exf4 41 d5! fxe3+ 42 g3! 1-0. 11...d4 12 xf6 Rubinstein joga com grande ambição. As Brancas também podem jogar por uma vantagem bem pequena com 12 e4 e7 13 xf6 xf6 14 d3, e se 14... e7 15 ec5 xc5 16 xc5, como em P.Varga-L.Espig, Saarlouis, 2002. 12... xf6 13 e4 e7 14 xc5 xc5 15 d3 b6 16 f4!

Rubinstein tinha esta posição em mente. As Brancas oferecem um gambito. Olhando retrospectivamente, parece claro que as Pretas deveriam recusar a isca, e partidas subsequentes mostraram que 16... fe8 é sólido como uma pedra. S.Flohr-M.Euwe, Amsterdã, 1932, por exemplo, seguiu com 17 d2 ad8 18 b3 b4 19 ac1 d5 20 xd5 xd5 21 xd5 xd5 22 c4 h5 23 h4 de5 24 xd4 xd4 25 xd4 xe2, e estava totalmente equilibrado.

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16... xb2?! 17 xe6 fxe6 18 b1 xa2 19 xb7 Mas agora, com uma torre forte na sétima fileira, um bispo de casas brancas ameaçador e vários alvos fracos óbvios das Pretas como os peões a, d e e, as Brancas possuem um ótimo jogo pelo seu peão.

19... a6 20 b3 d8 Tarrasch poderia estar contando com este lance e alguns subsequentes para reativar sua dama no centro, mantendo o peão do gambito. Ele não possui uma alternativa melhor, e está claro que deve evitar 20... a5? 21 b5 xb5 22 xb5, momento em que as Brancas têm um ataque duplo ganhador. 21 d7 c8 22 b2 e5 23 a1 f6 As Pretas também devem evitar 23... b6? 24 axa7!, que ameaça mate e vence. 24 e3!

As Brancas têm uma vantagem visível. Os problemas das Pretas provêm principalmente das dificuldades de seu cavalo. Calculando no lance 16, Tarrasch pode muito bem ter enxergado esta posição, mas não deve ter sido fácil julgar quão difícil seria reativar seu cavalo e gerar contrajogo de verdade. As Pretas mantêm seu peão extra, mas provavelmente não por muito tempo.

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24...dxe3 25 fxe3 c6 26 d2! As Brancas ameaçam tanto 27 f1 quanto 27 d5+, ganhando o cavalo preto; então a resposta das Pretas é forçada. As Brancas ainda estão longe de ter uma vantagem promissora, mas agora as Pretas precisam devolver o peão do gambito. Pelo menos elas podem fazê-lo sem permitir que as Brancas dobrem suas torres na sétima fileira, o que seria aniquilador. 26... b8 27 dxa7 cd8 28 e2 h6 29 e4!

O controle firme das Brancas sobre as diagonais h1-a8 e b1-h7 mantém as Pretas sob pressão. O bispo branco em e4 é um poder verdadeiramente inatacável, enquanto que o cavalo preto mal posicionado continua sendo uma preocupação crônica. 29... d7 30 a8 dd8 31 f1! As Brancas ainda podem dar passos bem pequenos para aumentar suas chances. Mas este lance excelente obriga as Pretas a escolherem entre fazer uma troca resultando num final de jogo de torre e cavalo inferior a torre e bispo, e manter as damas no tabuleiro resultando num meio-jogo inferior. 31... d6!?

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Defesa durante o meio-jogo é provavelmente a escolha certa a fazer. Apesar de ter poucas peças no tabuleiro e equilíbrio material, as Brancas têm boas chances no final que surge após 31... xf1+ 32 xf1 xf1+ 33 xf1 f8+ 34 e2 d7 35 a7!, e se 35... f6 36 g6! ameaçando e7. Aqui a defesa não é fácil. As Brancas continuarão a progredir, por exemplo, depois de 36... g4 37 h3 f2 38 h4 h1 (ou 38... g4 39 e7) 39 g4, ou 36... b8 37 e7 b5 38 f3 f8 39 e6, ameaçando g4, h4 e g5, e se 39...h5 40 h3 a5 41 g4 hxg4+ 42 hxg4, renovando aquela ameaça, com uma vantagem visível. 32 xf8+ xf8 33 g2 b4 34 d3 h8!? As Pretas também podem tentar amarrar a dama branca à defesa com 34... e1, mas após 35 h3, ameaçando d6, o rei branco parece seguro no caso de haver qualquer outra tentativa de ataque, como após 35... f2 36 d6 f1+ (ou 36... f6 37 xf6 gxf6 38 g4 d7 39 a7) 37 h4 g5+ 38 h5, e se 38... f7+ 39 g6+ xg6+ 40 xg6, com uma vantagem ganhadora. 35 a7 b2+ Se agora 35... e1, as Brancas jogam 36 f7! e a torre não pode ser tomada devido a d8+. 36 h3 b6 37 a8 d8 38 c3 d7?

Após ter defendido por tanto tempo com este cavalo em uma casa fraca, as Pretas compreensivelmente aproveitam a oportunidade de movê-lo. Mas talvez fosse melhor deixá-lo em b8, pois assim a dama e torre pretas poderiam assediar o rei branco caso a dama branca se afastasse da ala do rei. No entanto, a tarefa defensora das Pretas é claramente desagradável neste caso também, e o máximo que as Pretas podem esperar é alcançar uma versão do final inferior de torre e cavalo contra torre e bispo, já discutido aqui no 31o lance das Pretas. As Pretas poderiam ter tentado algo do tipo 38... e6+ 39 g2 c8 40 d3, e se 40... f8 41 b5 e8 42 xe8 xe8, ou 38... f6 39 c7 f1+ (ou se 39... e6+ 40 g4) 40 g2 f5+ 41 g4 c8 42 xc8 xc8 43 g3, mas as Brancas mantêm chances de vitória em ambas as linhas. 39 c6!

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Ao trocar o segundo par de torres e forçar o cavalo preto a voltar novamente para b8, este lance forte elimina completamente qualquer possibilidade de contrajogo e ganha pelo menos um peão. 39... xa8 40 xa8+ b8?

Manter as damas no tabuleiro causa perdas rápidas. Distanciados, o cavalo e a dama pretos não podem esperar que consigam resistir a um ataque ao cavalo preto feito pelos fortes dama e bispo brancos. As Pretas teriam que jogar com um peão a menos no final que surge depois de 40... b8 41 xb8+ xb8 42 g4, seguido por f5, e tomando o peão preto em e. 41 d5! As Pretas sofrem de duas fraquezas fatais, uma na primeira fileira e outra nas casas brancas. As Brancas ameaçam 42 f7 com ameaça dupla de mate em e8 ou f8 ou, via g6 ou f5, em h7. 41... c7 42 f5! Agora as Brancas ameaçam 43 e6, seguido por 44 e8+ ou por g6. 42... c6 43 c4!

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Essa sutileza ameaça 44 g4, seguido por e4, tomando o cavalo preto e vencendo imediatamente. Após o imediato 43 e6, as Pretas ainda podem seguir com 43... e7 44 f7 d8. 43... d6 Não há nenhum lance bom para as Pretas. É visível que agora 43...h5, 43... b7 e até mesmo 43...g5 fracassam após 44 e6. 44 f7 d8 As Pretas já não têm como defender-se da ameaça dupla das Brancas. 45 g6 1-0 O Rubinstein clássico não foi apenas um maravilhoso intérprete do passado posicional de Steinitz, mas também foi o responsável por novas tendências. No início do século XX, isso significava que as ideias que surgiram depois foram chamadas, para resumir, de “hipermodernismo”. Muitos enxadristas começaram a perceber que não precisavam começar as partidas sempre ocupando o centro de uma vez com 1 d4 d5 ou 1 e4 e5 como foi feito em muitas partidas durante o século XIX. Novas ideias hipermodernas enfatizavam desenvolvimento nos flancos e assimetria. Novos métodos hipermodernos de jogo incluíam os Sistemas Réti e Inglês para as Brancas, incorporando a ideia de que o centro não precisava ser ocupado, pois também podia ser controlado dos flancos. Eles também incluíam todas as variantes das Defesas Índias para as Pretas. Muitos destes novos métodos funcionaram bem, e, onde isso ocorreu, eles influenciaram outros. Embora não costumemos considerar Rubinstein um hipermoderno, não é difícil enxergar similaridades, como entre o 6 g3 de Rubinstein e a Defesa Tarrasch e os Sistemas Réti e Inglês, mais novos. Geralmente quando Rubinstein jogava com as Brancas utilizava o imediato 1 d4, mas ele também foi capaz de compreender intuitivamente como jogar pelos sistemas de fianchetto, e contribuiu com muitas ideias originais para o nosso entendimento deles. Rubinstein era igualmente inovador com as Pretas. Ele nunca foi de só tentar igualar e empatar com as Pretas; ele sempre jogava com determinação. Isto nunca ficava tão claro quanto na resposta de Rubinstein para a Abertura dos Quatro Cavalos, na qual, além de adotar as principais defesas clássicas, ele frequentemente acabava com a simetria clássica através de sua própria Variante Rubinstein, que desenvolvia-se a partir do ousado gambito 4... d4. De acordo com Jan Pinski, em seu trabalho de 2003, The Four Knights, este “é considerado o principal lance após 4 b5 e é, claramente, o caminho mais dinâmico até a igualdade”. Rubinstein já se interessava por esta linha e utilizava-a com êxito nos anos do pré-guerra, mas ele aperfeiçoou e desenvolveu muitas das ideias desta linha nos anos de 1920. E, em 1925, ele jogou uma de suas partidas mais famosas com esta linha, contra Rudolf Spielmann.

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Partida 6 R.Spielmann – A.Rubinstein Baden-Baden, 1925 Abertura dos Quatro Cavalos 1 e4 e5 2 f3 c6 3 c3 f6 4 b5 Ao escrever sobre este lance em Masters of The Chessboard, Réti esclarece que não é à toa que a “Abertura Espanhola dos Quatro Cavalos” (ou Quatro Cavalos) é menos direta que a Abertura Espanhola (3 b5). Seu objetivo principal é desenvolver logo as peças, antes de iniciar uma disputa pelo controle do ponto central forte das Pretas, e5, no início do meio-jogo (normalmente jogando por d4 ou f4). Portanto, Réti escreve que “por esta razão a resposta certa das Pretas não constitui mera defesa. Em vez disso, as Pretas lucrarão mais se utilizarem o jogo lento e não muito lógico das Brancas a fim de obterem a iniciativa”. 4... d4

Réti percebeu que o cavalo preto em d4 “tira proveito do fato de que as Brancas já não conseguem mais mover c3 e que o bispo branco está agora em b5 sem nenhum propósito”. O golpe ousado das Pretas no centro é, no entanto, um lance que exige muito habilidade e que é puramente lógico. As Pretas têm que estar preparadas para continuar com um estilo tático e sem medo de utilizar um gambito. 5 xe5 Esta captura pode levar a resultados bem complicados, mas neste momento as linhas consideradas críticas são 5 a4 e 5 c4, enquanto outros lances são menos convincentes: a) Após 5 a4 c5 6 xe5 0-0 7 d3! b6 8 e5 e8 9 d5 d6 10 e3, alcançamos uma posição que continua sujeita a um grande debate teórico. As Brancas têm um peão extra e uma estrutura de peões sólida, mas suas peças menores estão emaranhadas. As Pretas têm vantagem em tempo e podem esperar que consigam colocar pressão sobre as Brancas, enquanto elas se

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esforçam para desemaranhar suas peças e completar o desenvolvimento em sua ala da dama. Em vez disso, após o menos enérgico 7 d3?!,

As Pretas desenvolveram uma pequena iniciativa em uma das primeiras partidas jogadas nesta linha, S.Tarrasch-A.Rubinstein, San Sebastian, 1912, que seguiu com 7...d5 8 g5 c6 9 d2 e8 10 f4 b5 11 b3 h6 12 h4 xe4! 13 xd8 xd2 14 xd2 xd8 15 e2 xe2 16 xe2 e8 17 f1!? b7 18 c3 f6 19 g4 h5 20 f2 e3 21 d1 h4 22 g3 a5 23 f3 b4 24 g2 bxc3 25 bxc3 a6 26 c4 ad8, e as Pretas venceram de maneira impressionante um final famoso. O 5... xf3+ mais cedo também é possível, mas muito menos emocionante, enquanto que 5...c6 6 xe5 d6 7 f3 g4, e se 8 d3 d5, é uma alternativa mais aguda, no espírito da abertura. b) A situação também não é clara após 5 c4 c5 6 xe5 e7 7 d3 d5 8 xd5 (a partida A.Nimzowitsch-A.Alekhine, São Petersburgo, 1914, também seguiu bem para as Pretas após 8 xd5 xd5 9 xd5 xe4+ 10 e3 d6 11 0-0 e6 12 e1 0-0-0, e as Pretas venceram aqui também) 8... xe4+ 9 e3 d6.

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O maníaco jogo de ataque, Z.Belsitzman-A.Rubinstein, Varsóvia, 1917, seguiu com 10 0-0?! (10 f3 h4+ 11 f2 é melhor, de acordo com Keitlinghaus) 10...b5! 11 b3 b7 12 e1 h4 13 g3 h3 14 c3 h5! 15 cxd4 h4 16 e2 xh2+! 0-1. As Brancas também não foram longe em R.Spielmann-A.Rubinstein, San Sebastian, 1912, após 7 f3!? d5 8 xd4 dxc4 9 f3 xe4 10 0-0 0-0 11 d4 cxd3 12 cxd3 xc3 13 bxc3 g4 14 d4 d6 15 d3 ae8, e as Pretas derrotaram seu adversário. Mais complicado aqui talvez seja 8 xd5, depois do que O.Bernstein-A. Rubinstein, Vilnius, 1912, seguiu com 8... g4 9 d3 c6 10 b3 d7 11 g5 d6 12 b1 g6 13 e3 xf3 14 gxf3 g2 15 d2 xf3+ 16 c1 d8 17 h3 xe3+ 18 fxe3 de5 19 f1 g5 20 e2 d4 21 d2 df3 22 e2 d4, resultando em empate. Como contra 5 a4, as Pretas também podem opor-se a 5 c4 com o agudo 5...c6, e se 6 xe5 d5 7 exd5 d6, ou o menos ambicioso mas sólido 5... xf3+ 6 xf3 d6, e se 7 d3 e7 8 0-0 0-0. c) As Pretas não têm nada a temer após 5 xd4 exd4 6 e5 dxc3 7 exf6 xf6 8 dxc3 e7 (ou 8... c5 9 0-0 0-0) 9 0-0 0-0 10 e3 c6 11 d3 d5, A.Brinckmann-A.Rubinstein, Budapeste, 1929. d) As Pretas também ficam bem cômodas depois de 5 0-0 xb5 6 xb5 c6 7 c3 d6, e se 8 d4 c7 9 h3 e7 10 e3 0-0. Voltando para o lance 5 5... e7

xe5 de Spielmann:

6 f4!? Bogoljubow preparou este lance agudo para seu match contra Rubinstein, em Estocolmo e Gotemburgo, 1920. Rubinstein venceu o match por 6½-5½, mas cambaleou com sua variante favorita anti-Quatro Cavalos. Um dos perigos para as Brancas e para as Pretas nesta linha é a necessidade de preparação profunda e aguda de abertura. Se for pego de surpresa, você provavelmente perderá para

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uma tarefa feita em casa com mais capricho. Cinco anos se passaram, e Rubinstein tinha um aperfeiçoamento em mente para seu 10o lance. A teoria moderna avalia a seguinte alternativa, menos enérgica, 6 f3 xb5 7 xb5 xe4+ 8 e2 xe2+ 9 xe2 d5 10 e1, como praticamente igual, após 10...f6 e possivelmente também após 10...a6. 6... xb5 7 xb5 d6 8 f3 xe4+

9 f2!? Este foi o objetivo de Bogoljubow em 1920. Preservando as damas, as Brancas levam seu rei para uma jornada arriscada, visando levar sua torre para a coluna e rapidamente. Em vez disso, o par de bispos pretos pode até dar uma pequena vantagem às Pretas depois do rápido 9 e2 xe2+ 10 xe2 d8. 9... g4+ As Pretas continuam a trilhar um caminho perigoso, e as Brancas aceitam seu desafio com sua resposta. As Pretas devem ficar bem após 10 g1 d8 (ou talvez 10... c6), como em K.Opocensky-A.Rubinstein, Merano, 1924, que seguiu com 11 h3 f6 12 d4 h5 13 g5 e8 14 c3 f5 15 h2 g4+ 16 hxg4 hxg4+ 17 g3 xh1 18 xh1 f6, com uma partida com chances para ambos os lados. 10 g3 g6!

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Este lance, normalmente atribuído à análise de Richard Teichmann, aperfeiçoa em 10... d8?! 11 h3 h6 12 d4 e7 13 e1 g6+ 14 h2 e8 15 c4, o que permitiu às Brancas protegerem seu rei e alcançarem uma boa vantagem espacial em E.Bogoljubow-A.Rubinstein, 3a partida do match de 1920. 11 e2+!? As Brancas forçam o rei preto a renunciar a seu direito de rocar, mas o lance também permite que as Pretas protejam seu peão em c e garantam o desenvolvimento na sua ala do rei. Em análise realizada muito tempo depois, Paul Keres, citado por Pinski, mostra que as Pretas também sobrevivem após a complicada alternativa 11 h4!? h5. A bela linha principal de Keres segue com 12 xc7+?! d8 13 h3 f6 14 xa8 xh4+!! 15 xh4 e4!, e as Pretas pegam o rei branco em uma rede de mates sensacional. As Brancas têm que entregar sua dama para evitar o mate, mas as Pretas se encontram em uma situação melhor após 16 h5 e7+ 17 g5 xg5+ 18 fxg5 h6 19 g6 fxg6 20 f1 g5+ 21 h5 g3+ 22 g6 xf1. Se, em vez disso, 13 xa8?!, Keres dá 13...g5! 14 fxg5 (ou 14 f3 gxf4+ 15 xf4 d5) 14... xg5 15 f3 g7 com um ataque vitorioso. Aqui as Pretas também ficam com um bom jogo após 12 h3 xb5 13 hxg4 g5, ou 12 f5 g5 13 xg4 gxh4+ 14 f3 xg4+ 15 xg4 g8+ 16 f3 d8. 11... d8 12 e1 A partida anterior entre R.Spielmann-H.Weenink, Scheveningen, 1923, havia seguido com 12 h3 (12 h4? perde para 12... xc2) 12... f6+ 13 h2 e4 14 e1 d7 15 bd4 f5 16 d3 f6 17 a5, e as Brancas ficaram melhor, mas as Pretas deveriam jogar 12... e3+! 13 h2 xc2 14 b1 c6!, e se 15 c3 e7, com vantagem para as Pretas – Pinski. 12... d7 13 bd4 As Brancas têm que oferecer seu peão em c com um gambito. Se 13 c3? e3+ 14 f2 c2, e vence com um simples garfo de cavalo. 13... e3+

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As Pretas só conseguem usar seu xeque descoberto para ganhar o peão branco em c, e devem fazê-lo imediatamente. 14 f2 Não 14 g5?, permitindo 14...h6!, que é vantajoso para as Pretas. 14... xc2 15 xc2 xc2 As Pretas têm um peão extra e provavelmente uma posição melhor. Spielmann, um enxadrista de ataque excepcional, pode ter esperado obter mais compensação do que de fato aparenta na posição. De qualquer forma, ele fracassa em alcançar qualquer coisa concreta. Com seu próximo lance as Brancas visam jogar d4 impedindo que a dama preta crave o cavalo a partir de c5. Em vez disso, após 16 g1 c6 17 b3 d5 18 e5 c5+ 19 h1 e8, as Pretas estão bem – Pinski. 16 b4 a5! As Pretas ainda têm problemas de desenvolvimento. Com seu lance, elas lutam para abrir a coluna a para ativar sua torre em a8 rapidamente, e após 17 d4 a4 elas mantêm uma cravada ativa em b5. 17 a3 axb4 Mas não 17... a4?, devido a 18 g5! e8 19 ab1, e o ataque visivelmente deslocou-se para as Brancas. 18 xb4 f5 19 e3 h6

Após libertar sua torre na ala da dama, Rubinstein volta-se para a ala do rei. Este lance faz parte de um plano tipicamente de longo prazo de abrir um segundo fronte neste flanco. Com seu rei a salvo e poucas fraquezas em sua volta, Rubinstein não perde tempo e avança na ala do rei. O 19... a4 de Pinski, e se 20 d4 g4 21 c3 c5 22 e2 c6, também é bom. 20 ac1!? As Brancas poderiam ter preferido 20 d4 d5 21 c3, mas as Pretas ainda parecem ter boas chances após 21...c5 22 f3 g8. 20... g8 21 g1 g5!

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As Pretas realizaram um progresso nítido na ala do rei. Sua artilharia (torre e peão g) logo estabelece ameaças sérias, fazendo com que as Brancas tenham dificuldade em encontrar uma defesa possível. 22 c3 c8 23 fxg5 hxg5 24 h1 g4 25 d4 d5!

A forte centralização da dama preta em d5 protege as linhas das Pretas em todas as partes do tabuleiro, tanto de ataque quanto de defesa. Era possível errar jogando 25... g6?, permitindo 26 a5 b6 27 c6+ xc6 28 xc6, seguido por xb6, e as Brancas vencem. 26 e3 Não 26 c6+? xc6 27 f6+ d7, e as Brancas perdem. 26...g3!

O peão preto em g simplesmente segue abrindo caminho como bem entende. Agora as Brancas decidem permitir que as Pretas abram a coluna g. Se elas jogarem 27 h3, para manter o jogo fechado, as Pretas continuam em posse cômoda do controle após 27... a8 28 f3 c5 29 c3 c7, e se 30 d4 c4. 27 c3 a8! As Pretas tiveram que evitar a cilada 27...gxh2? 28 c6+ xc6 29 f6+ d7 30 e7+ xe7 31 xe7+ d8 32 e5+ d7 33 e7+, e as Brancas têm um em-

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pate por repetição. Agora, se as Brancas jogarem 28 h3, as Pretas mudam para a linha mostrada na nota para o lance 27 das Brancas após 28...c5 29 f3 c7. 28 f3 gxh2! Agora que a coluna g está aberta, a torre preta olha gananciosamente para o peão débil das Brancas em g2.

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f6+ c8 30 c3 As Brancas poderiam tentar 30 e8+ xe8 31 xe8+ d7 32 xa8, mas após 32...c5 33 d8+ c7, e se 34 e7 xg2 35 xg2 xe7, as Pretas devem vencer. 30... c5 31 d3 h5 32 e5!? As Brancas armam uma última cilada, mas fracassam em função da boa resposta. No entanto, com certeza elas também perdem após 32 c3 c6, com dois peões pretos extra e pressão contínua. 32... xg2!

Bomba! As Pretas destroem a última cobertura de peões brancos na ala do rei. Lembre-se de que o plano das Pretas para a coluna g começou muito tempo atrás, com um passo modesto no lance 19. É claro que as Pretas evitam 32...dxe5?? 33 xe5 g4 34 e8+! e as Brancas dão mate.

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As Brancas têm que aceitar o sacrifício das Pretas. Após 33 xd7 g1+ 34 xg1 hxg1 + 35 xg1 xd7 36 c4 c6, as Pretas controlam todas os possíveis pontos de entrada para sua posição e têm uma vantagem ganhadora. 33 xg2 dxe5 34 xe5 g4+ 35 g3 O jogo das Brancas é um fracasso. Elas perdem material após 35 xh2 f4+ 36 g3 (ou 36 g1 xf6) 36... xd2+ (mas não 36 ... xf6?? 37 e8+! e as Brancas dão mate) 37 g2 xc1, e recebem mate após 35 h1? c6+ 36 xc6 g1 mate. 35... xg3+ 36 xg3 d6 37 xh2 xa2

As Pretas ganham um terceiro peão pela qualidade, e seus bispos poderosos selam o destino das Brancas. 38 g1 xd2 39 h5 b6 40 e5 c5+ 41 f1 b7 42 g3 b5+ 43 e1 e2+ 44 d1 g2 45 c3 As Brancas poderiam ter abandonado antes. Se 45 g5 g1+ 46 d2 xc1 47 xc1 e3+ ou 45 h3 e2+ 46 e1 (46 d2 g4+) 46... b4+. 45... e2+ 0-1 Richard Réti resumiu com eloquência o estilo e legado de Rubinstein em seu livro Modern Ideas in Chess, no qual escreveu que “com Rubinstein tudo é pura tranquilidade, pois com ele, no desenvolvimento de seu jogo, a posição dada a cada peça é a necessária. Não se trata de luta para ele, mas sim de planejamento da vitória, e por isso seus jogos dão a impressão de uma grande estrutura da qual não se deve mudar nenhuma peça de lugar”. Todos os atributos de um enxadrista com grandeza clássica, como descritos por Réti, estão à mostra na última grande partida deste capítulo. Utilizando o Gambito da Dama, seu favorito, Rubinstein exibe exatidão, energia, economia, harmonia e tática bem gerenciada, todos provenientes de um plano de jogo extremamente elaborado. Toda peça e peão, sem exceção, contribui para a causa das Brancas. Veja o rei das Brancas auxiliar discretamente no final desta partida vigorosa; tudo isto alcançado à sotto voce. No final de sua carreira, Rubinstein, com a magnífica pontuação 15/17, trouxe a vitória à Polônia em 1930 nas Olimpíadas de Hamburgo. Dentro de dois anos

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ele aposentou-se do xadrez competitivo; seu estado de saúde mental era grave demais para permitir-lhe que continuasse. Com o apoio de sua esposa e família, Rubinstein sobreviveu à terrível Segunda Guerra Mundial na Europa. Após a morte de sua esposa nos anos de 1950, ele mudou-se para um lar de idosos belga, onde faleceu, no final da “era” Botvinnik.

Partida 7 A.Rubinstein – S.Takacs Budapeste, 1926 Gambito da Dama Recusado 1 c4

f6 2 d4 e6 3 c3 d5 4 g5 bd7 5 e3 e7 6 f3 0-0 7 c1 Rubinstein jogou este lance com frequência no final de sua carreira, visando seguir com 8 c2. Ele preferia o imediato 7 c2 em muitas de suas partidas em momentos anteriores na sua carreira. A mais famosa delas foi A.Rubinstein-R.Teichmann, 4a partida do match, Viena, 1908, que seguiu com 7...b6?! 8 cxd5! exd5 9 d3 b7 10 0-0-0 c5 11 h4 c4!? 12 f5 e8 13 xf6 xf6 14 g4!

14... d6 15 g5 e4 16 h5 e7 17 dg1 a6 18 xh7+ xh7 19 g6+ g8 20 xe4 dxe4 21 h6 f6?! (21...fxg6 22 h4 g5 23 g6 f6 24 h7+ f7 25 h8 xh8 26 xh8+ é melhor, mas insuficiente – Kmoch) 22 hxg7 exf3 23 h8+ xg7 24 h7+ g8 25 f5 c3 26 xe7 1-0. Uma partida anterior entre A.Rubinstein-R.Teichmann, Carlsbad, 1907, havia seguido com 11... c8!? 12 b1 e8 13 dxc5 xc5 14 d4 e4 15 xe4 dxe4 16 db5 a6 17 a4 xb5 18 xb5 xg5 19 hxg5 e7 20 d4 a8 21 b4 c8 22 d6 b5 23 xc8 1-0. Muito depois, B.Spassky-M.Bobotsov, Olimpíadas de Havana, 1966, confirmou os perigos que as Pretas correm nesta linha, após 11...a6!? 12 g4 c4 13 f5 g6 14 xf6 xf6 15 g5 g7 16 xd7 xd7 17 e5 e7 18 f4 b5 19 a3 ad8 20 h5 xe5 21 fxe5 xg5 22 f2 c8 23 dg1 e7 24 f4 h8 25 e4 dxe4 26 d5 de8 27 h6 g5 28 xg5 f6 29 g6 fxe5 30 d6 f7 31 d5 e6 32 hg1

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xg6 33 hxg6 g7 34 h2 e3 35 xe3 f4 36 d5 g4 37 xg4 xg4 38 xh7+ xh7 39 gxh7 f5 40 f6 a5 1-0. O grande plano de ataque de Rubinstein, repetido por Spassky, sobreviveu ao teste do tempo, fazendo com que a maior parte dos enxadristas recorresse ao aperfeiçoamento 7...c5, e se 8 cxd5 xd5 9 xe7 xe7 10 xd5 exd5, com grandes chances. Provavelmente esta linha seja a explicação do porquê Rubinstein mudou de preferência mais tarde. 7...c6 As Pretas adotam a chamada Defesa Ortodoxa. Elas planejam ...dxc4, seguido por ... d5 buscando alternativas aliviantes. Antes de capturarem c4, as Pretas normalmente esperam até que o bispo das Brancas jogue para d3, para, assim, alcançar seu plano com ganho de tempo. A partida A.Rubinstein-G.Maróczy, em Gotemburgo, 1920, foi palco para o menos convincente 7... e8!? 8 c2 dxc4?! 9 xc4 c5 10 0-0 cxd4 11 xd4 a6 12 fd1 a5 13 h4 e5 14 e2 g6 15 g3 e5 16 b3 c7 17 b1 b8 18 f3 a7 19 a5 b4 20 c4 d7 21 d5 xd5 22 xd5 e6?! (22... g4! era melhor – Razuvaev) 23 e4 xd5 24 xd5 ac8 25 cd1 f8 26 b3 b5 27 d6 xd6 28 xd6 c7?! (28... a8! era necessário) 29 h4 f6 30 d5+ h8 31 h5 f8 32 h6 g6 33 e6 f8 34 d7 gxh6 35 h4! 1-0. 8 c2

A linha principal da Defesa Ortodoxa segue com 8 d3 dxc4 9 xc4 d5 10 xe7 xe7, mas Rubinstein gostava de continuar o jogo de tempo, deixando seu bispo em f1 por um lance a mais, particularmente enquanto a resposta ...c5 agora perde um tempo nas linhas principais 7 c2. Takacs responde com o que ainda hoje acredita-se ser o melhor lance “de espera” das Pretas. Ele também pode tentar 8... e4 9 f4 f5, alcançando uma forma jogável da Variante Muro de Pedra da Defesa Holandesa. 8...a6 9 cxd5

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Rubinstein termina o jogo de tempo, visando transpor para uma linha da Variante das Trocas do Gambito da Dama. As Pretas podem evitar a transposição com 9... xd5 10 xe7 xe7, mantendo-se em linhas ortodoxas, como em A.Alekhine-J.Capablanca, Campeonato Mundial (Partida 2), Buenos Aires, 1927, que seguiu de modo reservado com 11 e2 e8 12 0-0 xc3 13 xc3 e5 (a principal ideia libertadora das Pretas) 14 fd1 exd4 15 xd4 f6 16 f3 g4 17 xg4 xg4 18 f5 f6 19 xf6 xf6 ½-½. 9...exd5 10 d3 e8 11 0-0 f8 12 fe1 g4!?

Ambos os lados podem jogar este tipo de posição em diversas maneiras. Basicamente, as Brancas atingiram uma estrutura de peões que às vezes é chamada de “Carlsbad”, que é caracterizada pela típica separação de peões 3-4 brancos/pretos nas colunas a até d. A minoria de peões brancos na ala da dama exerce uma certa influência restritiva na maioria de peões pretos na ala da dama; as Pretas não acharão fácil liberar seu jogo com ...c5. O plano mais comum das Brancas em posições como essa é apressar seus peões a e b para alcançar b5, um clássico ataque de minoria. Então as Brancas podem normalmente trocar peões em c6, deixando as Pretas com um peão atrasado débil na casa que pode ser difícil de defender no final. As Pretas, no entanto, desfrutam de bastante espaço e livre arbítrio nas outras partes do tabuleiro. De fato, elas podem resistir e exercer pressão no centro. Eis aqui dois bons exemplos do ataque de minoria em ação após 12... e6; no primeiro deles as Brancas vencem, no segundo as Pretas defendem muito melhor: a) U.Andersson-A.Sokolov, Reykjavik, 1988: 13 a3 h5 14 xe7 xe7 15 a4 ad8 16 c5 c8 17 b4 f6 18 a4 e4 19 b5 axb5 20 axb5 g5 21 d2 d6 22 bxc6 bxc6 23 a1

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23... h6 24 f1 f6 25 g3 h4 26 f4 ge6 27 xe6 xe6 28 ac1 d7 29 f5 f6 30 xd7 xd7 31 f5 e6 32 xf6 xf6 33 c3 f8 34 a1 e7 35 a7 g6 36 c7 e6 37 7xc6 38 xc6 xc6 f6 39 h3 h5 40 e2 g7 1-0. a

b) J.Capablanca-A.Alekhine, Campeonato Mundial (13 partida), Buenos Aires, 1927: 13 a4 6d7 14 xe7 xe7 15 c5 xc5 16 xc5 c7 17 b4 d7 18 c2 h6 19 a4 d6 20 b1 ec8 21 ec1 g4 22 d2 c7 23 b3 h5 24 c5 xc5 25 xc5 f6 26 b5 axb5 27 axb5 g6 28 xg6 xg6 29 a1 ac8 30 b6 d7 31 a7 h7 32 ca1 f5 33 c2 e7 34 g3 ce8 35 a8 e4 36 xe8 xe8 37 a7 b8 38 h4 h5 39 g2 e6 40 d3 g6 ½-½. d2 6d7?! As Pretas pretendem trocar os bispos de casas pretas, mas este plano fracassa. A maneira correta de atingir este objetivo era jogando o mais enérgico e muito melhor 13... h5!. 14 f4 g5?! As Pretas continuam com seu plano, mas não percebem a resposta esperta das Brancas. Melhor seria 14... h5, com o plano de ... g6, e uma troca dos bispos de casas brancas. 15 h3!

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Agora as Pretas percebem que não podem, como tinham em mente, jogar 15... xf4?, pois perdem para 16 exf4! h5 17 g4 g6 18 f5. Portanto as Brancas mantêm seu bispo na forte diagonal h2-b8. As Pretas também terão que reagrupar seus dois bispos, perdendo tempo. 15... h5 16 h2 g6 17 xg6 hxg6 18 b3! As Brancas também poderiam iniciar um ataque de minoria, mais convencional e um pouco promissor, com 18 a4 e6 19 b4 a5 20 a3 axb4 21 axb4. No entanto, Rubinstein visualiza uma oportunidade ainda mais promissora de induzir uma troca de damas e ativar seus cavalos, com ganho de tempo na ala da dama, alcançando um ótimo final. 18... b6 19 a4 xb3 20 xb3 e6?!

As Pretas deixam as Brancas ganharem controle de a5 e restringem-nas a seguir mais longe. Apesar de ser provável que as Pretas tenham dificuldades a longo prazo na ala da dama independentemente do lance que joguem, elas poderiam ter brigado mais pelo controle de a5, jogando tanto 20...a5 quanto 20... d8. 21 a5! a7 22 f1 d8 23 b4! Este lance garante que a torre preta permanecerá trancada na terrível casa a7 somente para defender seu peão em b. E, sem um prospecto de mobilizar ou seu peão em a ou seu peão em b, as Pretas fazem um grande esforço para respirar na ala da dama. Elas não conseguem nenhum alívio após 23... c7?! 24 xc7 xc7 25 c5 xc5 26 bxc5 nem após 23... xa5 24 bxa5, já que em ambos os casos seu peão em b será alvo de ataque decisivo das torres brancas na coluna b. 23...f5 24 b2 f7 25 d3 g5 26 c2 b6 27 d6 d8?

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Agora, com seus últimos três lances, as Brancas podem forçar a abertura da coluna b, com pressão reforçada em b7 e completo domínio das casas pretas na ala da dama. As Pretas teriam que adotar uma estratégia puramente de espera e jogar 27...f4 ou 27...g6. 28 c5 xc5 29 xc5 xc5 30 bxc5 e7 O rei preto dirige-se para a ala da dama a fim de auxiliar na defesa de seu peão em b e libertar a torre do confinamento em a7, mas agora é tarde demais. 31 b2 d7 32 eb1 c8 33 e2 e7 34 f3! Enquanto as Pretas se movimentam na ala da dama, as Brancas vencerão com uma ruptura na ala do rei, baseada nos lances g4 e h4 para abrir linhas para suas torres.

34... e4 35 g4 g6!? As Pretas não conseguem trocar peões em g4 sem permitir que a torre branca em b1 invada de imediato a coluna h. As Brancas também irrompem a coluna h após 35...f4 36 h1 fxe3 37 fxe3 e6 38 h4!, depois do que um final plausível seria 38...gxh4 39 xh4 g5+ 40 e2 c7 41 d3 e7 42 h8 e4 43 f8 g5 44 a8!, e se 44... f2+ 45 e2 xa8 46 xb7+ d8 47 xc6+ c8 48 xe7 xg4 49 g7, e vence.

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f7 37 h4!

37...gxh4 As Pretas pagam caro pela total falta de capacidade de sua torre em a7. As Brancas vencem novamente por meio de combinações familiares com 37...f4 38 h1 fxe3 39 fxe3 gxh4 40 xh4, e se 40... g5+ 41 e2 e7 42 d3 e4 43 h8+ c7 44 a8!. 38 gxf5 gxf5 As torres brancas penetram todas as linhas. Após 38...g5 39 g4! e8 40 e2! as Brancas irromperão com e4, se necessário, após 40... h8 41 g2 h3+ 42 h2. 39 g7 d8 40 g8 f4 41 h8! As Brancas cercam o peão preto em h por trás e ativam sua segunda torre na ala do rei. A torre preta em a7 só pode olhar desesperadamente para seus próprios peões no centro. 41...fxe3 42 fxe3 d7 43 g2 e8 Ou, se 43... e6 44 h7+ c8 45 g8+ d8 46 hh8 e vence. 44 xh4 e7 45 h8 c7 46 gg8 d7 47 b3!

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As Brancas precisam de seu cavalo e rei para auxiliarem na fase final ganhadora. Como um primeiro passo, elas ameaçam realocar seu cavalo para e5, vencendo de imediato. 47...a5 48 c1 a8 49 d3 b5 A torre preta finalmente conseguiu sair de a7, mas permanece fora de jogo pois o cavalo das Pretas está cravado contra ela na oitava fileira. Se as Pretas tentarem não fazer “nada”, as Brancas cedo ou tarde usarão seu cavalo e rei (e espaço extra) para forçar a torre preta em d7 a deixar a defesa de seu cavalo em d8, e ganhar material. A partida poderia, por exemplo, terminar com 49... c8 50 f4 (ameaçando e6) 50... e7 51 f8 b8 52 a4 c8 53 hg8 b8 54 g6 h7 (ou 54... d7 55 g4 c8 56 f5 b8 57 f4 c8 58 e6+) 55 g4 c8 56 e8 b8 57 e5 c8 58 f5 b8 59 g6 h1 60 g7+ c8 61 d7, e vence. 50 cxb6+ xb6 51 c5 d6 52 a4! c8 53 g4!

E mais uma vez o rei das Brancas faz a diferença. De acordo com Kmoch, as Pretas abandonaram aqui. De fato, não está claro se os lances restantes foram realmente jogados. 53... a8 As Brancas dão mate após 53... c7 54 g7+ b8 (ou 54... b6 55 xd8) 55 hh7. 54 f5 c7 55 h7+ 1-0

2 Vassily Smyslov (1921-2010) O teor de uma partida de xadrez deve ser a busca pela verdade, e o da vitória uma demonstração de sua justeza. Vassily Smyslov, 125 Selected Games

Assim como Rubinstein fez anteriormente, Smyslov via-se principalmente como um artista do tabuleiro. Smyslov não apenas visava à vitória no xadrez, mas também a um ideal que ele chamava de “verdade”. Às vezes ele referia-se a esta verdade como “o triunfo da lógica”. Ainda que de maneira vaga, ele insistia que a verdade deve existir no xadrez, e deve ser tão atingível quanto em qualquer outra forma de arte. Symslov sempre deixou bem claro que para ele o xadrez era uma arte. Ele também insistia que seu ideal de xadrez derivava de outros de seus gostos artísticos mais amplos, em especial a música. Um homem de vasta cultura, era um músico talentoso cuja rica voz de barítono, muitas vezes procurada em momentos fora do tabuleiro em eventos internacionais de xadrez, havia lhe conseguido um teste na Ópera Bolshoi. Certa vez Smyslov escreveu que admirava grandemente um ideal musical que exprimia “beleza rigorosa e harmonia, espontaneidade e elegância, a intuição impecável do artista, a maestria absoluta da técnica e, portanto, completa independência da mesma”. Para Smyslov, tais noções não se aplicavam apenas à música, mas também ao xadrez. De todos os enxadristas deste livro, Smyslov é o que recebe mais facilmente um rótulo de “clássico”. Ele considerava-se abertamente um enxadrista de tradição clássica, e entusiasmava-se com isso. Assim como era um “admirador dos clássicos” na música, também no xadrez considerava-se um “adepto ferrenho da claridade clássica de pensamento”.

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Quando garoto, Smyslov adquiriu uma educação rica em xadrez, assim como na música e em assuntos gerais. Nesse aspecto, beneficiou-se muito com a influência de seu pai, que (dentre outros atributos) era um ótimo enxadrista e dono de uma biblioteca excelente. Ao estudar os livros de seu pai, o jovem Smyslov estabilizou uma fundamentação sólida quanto às ideias e aos jogos de todos os Grandes Mestres. Os escritos de Tarrasch ajudaram Smyslov a “compreender e avaliar o verdadeiro valor e a importância da teoria de Steinitz”. Ele também assimilou as ideias mais radicais dos hipermodernistas, principalmente de seu favorito, Aron Nimzowitsch. Esta rica educação sobre xadrez produziu efeito claro em Smyslov, que não era apenas instruído mas também um forte enxadrista no início de sua adolescência. Refletindo sobre este período de sua vida, Smyslov concluiu que “eu meio que tracei a evolução do pensamento enxadrístico e repeti seus passos básicos no meu próprio desenvolvimento e convenci-me de que qualquer enxadrista com grandes ambições deveria trilhar este caminho”. Mas em que tipo de mundo do xadrez Smyslov estava entrando em meados da década de 1930? Todo mundo compreendia Steinitz naquela época, e o desafio era expandir para novos horizontes. Lasker havia mostrado que a noção do que pode ser geralmente considerado estrategicamente “correto” no xadrez não precisa limitar a criatividade. Os hipermodernistas, os dois Campeões Mundiais, Capablanca e Alekhine, e outros já haviam ampliado bastante a noção de “jogável”. Uma nova “escola” soviética do xadrez também começara a surgir, liderada pelo jovem superstar soviético, Mikhail Botvinnik, que tinha dez anos a mais que Smyslov. Os soviéticos estavam para, de certa forma, cristalizar todos os desenvolvimentos recentes em um novo foco de rigor analítico, pesquisa de aberturas mais ampla e minuciosa, uma abordagem altamente combativa jogando tanto com as Brancas quanto com as Pretas, e uma ética de aptidão física. De acordo com Botvinnik, em uma entrevista em 1984 com Bruce Pandolfini, o cerne da contribuição feita pela Escola Soviética foi “científico”. Os enxadristas mais fortes “estudaram, realizaram pesquisas, publicaram suas análises, usaram estas ideias com sucesso em outras partidas, atraíram outros que também utilizaram suas ideias com êxito, direcionaram a evolução do jogo e enriqueceram-no”. Antes de 1938, Smyslov havia se tornado Campeão Júnior da URSS e já era considerado por muitos uma estrela que começava a despontar neste bravo mundo novo do xadrez soviético. A Segunda Guerra Mundial (1939-45), no entanto, interveio antes que ele pudesse testar suas habilidades a nível internacional. Durante os anos difíceis da guerra, os resultados de Smyslov em eventos soviéticos fortes possibilitaram-no que surgisse, quando a guerra acabou, como o segundo lugar soviético de direito, atrás de Botvinnik. No primeiro grande torneio internacional do pós-guerra, Groningen, 1946, Smyslov terminou em terceiro lugar, atrás de Botvinnik e Max Euwe, o quinto Campeão Mundial (1935-37). Este êxito decisivo assegurou-lhe um convite para competir no torneio de cinco participantes pelo Campeonato Mundial em 1948,

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que ocorreu para decidir quem receberia o título mundial após a morte de Alekhine, que ocorrera dois anos mais cedo. Smylsov era o participante mais jovem e fez um avanço enorme em Haia e Moscou, terminando em segundo. As pontuações finais foram: Botvinnik 14/20, Smyslov 11, Keres e Reshevsky 10½, e Euwe 4. Botvinnik confirmou seu status de favorito, mas o desempenho de Smyslov excedeu as expectativas e também mostrou-se um sucesso criativo. Smyslov impressionou pela maestria de uma grande gama de aberturas modernas dinâmicas. Ninguém igualava-se a Botvinnik neste aspecto, mas Smyslov mostrou que ele também havia trabalhado bastante em cima de seus sistemas de abertura e apresentou novas maneiras de utilizá-los. Além disso, suas melhores partidas demonstraram uma fluência clássica clara. Harmonia, beleza, espontaneidade, elegância, intuição impecável e técnica simples, seus estimados ideais, estavam todos evidentes. A vitória da 24a rodada de Smyslov contra Max Euwe, 45 anos e o competidor mais velho, é um bom exemplo do estilo posicional e com olhos no futuro do jovem russo e de sua maturidade enxadrística em desenvolvimento. A excelente lógica moderna de Smyslov permitiu-lhe que demonstrasse que, em certos tipos de posição, um par de cavalos pode, às vezes, dominar um par de bispos. Bispos com um grande raio de ação tendem a ser mais fortes que cavalos com um pequeno raio de ação na maioria das posições abertas ou semiabertas; mas em partidas com circunstâncias mais concretas e fechadas, nas quais todas as forças das Pretas são bem coordenadas e realizam ameaças contínuas, os cavalos saem triunfantes. Resumindo este novo pragmatismo, Smyslov comentou que “no xadrez não existem leis imutáveis que sejam adequadas para todas as posições”.

Partida 8 M.Euwe – V.Smyslov Campeonato Mundial Haia e Moscou, 1948 Defesa Grünfeld 1 d4

f6 2 c4 g6 3 c3 d5 A ousada invenção de Ernst Grünfeld foi uma revelação nos anos de 1920. As Pretas pretendem jogar ...dxc4, deixando que as Brancas tenham um forte centro de peões. O talento de Grünfeld fê-lo perceber que as Pretas poderiam cercar o centro das Brancas de diversas maneiras. O controle definitivo do centro permanece importante, mas só pode ser alcançado por um lado ou por outro após batalhas complexas envolvendo os flancos. 4 f3 g7 5 b3 dxc4 6 xc4 0-0 7 e4 g4 Para o jovem Smyslov, jogar esta defesa era algo natural. Aqui ele joga sua própria invenção, baseada na manobra flexível ... fd7, normalmente seguida por

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... b6. De g4, o bispo preto ataca o cavalo branco em f3, colocando pressão indireta em d4. Com seu cavalo em d7, as Pretas também abrem caminho para uma possível ação central com seus peões e, f e c. 8 e3 fd7 9 b3 Este recuo preventivo, seguido por d1, continua sendo o padrão. Na 6a partida de seu match pelo Campeonato Mundial em 1957, Botvinnik utilizou a arma de Smyslov contra ele mesmo, mas foi surpreendido pelo ótimo 9 0-0-0!?. Botvinnik reagiu de maneira fraca, permitindo que as Brancas estabilizassem um controle inabalável do centro: 9... c6!? 10 h3 xf3 11 gxf3 b6 12 c5 f5 13 e2 d6 14 e5 xc5+? (ambos os jogadores recomendaram 14... d5! mais tarde, e se 15 c3 xc5 16 dxc5 f4! 17 cxb6 fxe3 18 fxe3 xe5) 15 dxc5 c4 16 f4 fd8 17 g2 xe3!? 18 fxe3 b4 19 xb7 ab8 20 c6 f7 21 d4 e6 22 b5 d5 23 xd5! exd5 24 xc7 dc8 25 xc8 xc8 26 xd5 xc6+ 27 d2 e6 28 c3 1-0. 9... b6

10 a4?! Euwe utilizou este lance para derrotar Smyslov na 14a rodada, mas Smyslov já estava pronto para combatê-lo. As Brancas ameaçam a5 e pretendem desestabilizar o cavalo preto em b6 após a resposta um pouco forçada das Pretas. Provavelmente o melhor lance das Brancas é 10 d1, com uma possibilidade de jogo agudo após 10... c6 11 d5 e5 12 e2 xf3+ 13 gxf3 h5. R.Buhmann-A.Areshchenko, Plovdiv, 2008, seguiu com 14 g1 c8 15 g3 c6 16 a4 d7, em uma partida com possibilidades para ambos. 10...a5 11 d5 xf3! As Pretas estão corretas em jogar este lance de imediato. Elas enfraquecem os peões centrais brancos e diminuem o domínio das Brancas sobre as casas pretas centrais. Jogando contra Euwe na 14a rodada, Smyslov abriu o centro muito cedo, concedendo muito alcance aos bispos brancos após 11... a6!? 12 e2 e6?! 13 h3 xf3 14 xf3 exd5 15 exd5 h4?! 16 e4! ae8 17 g3 d8 18 d6!, com uma ótima partida.

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d6!

Mas este é o lance-chave. Em vez de abrir o jogo, as Pretas fazem melhor mantendo a posição fechada e fortalecem seu domínio sobre as casas pretas. Como as Pretas conseguem completar seu desenvolvimento na ala da dama facilmente contra lances brandos, as Brancas agora decidem forçar trocas na ala da dama, esperando que o jogo aberto que resultará disto ofereça oportunidades para seu par de bispos. 13 b5 b4+ 14 xb4 axb4 15 xc7 Isto é visivelmente melhor que 15 a5?! xb2 16 a2 (ou 16 b1 a4) 16... e5 17 f4 d6 18 e5 b3! – Smyslov. 15... xa4 16 b1 As Pretas também estão bem após 16 xa4?! xa4 17 b3 c3. 16... 6d7 17 b5 c8 18 e2?!

As Brancas planejam d2, conectando suas torres, com bons prospectos. No entanto, as Pretas têm o lance e podem atacar imediatamente o peão vulnerável das Brancas em b. Smyslov achava que as Brancas deveriam ter jogado 18 d4, para controlar b3 e c2, e se então 18...b3 19 xb3 b4 20 d2 xb2, ambos os lados têm chances.

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18...b3! O peão preto em b3 é muito forte. Ele tranca o peão branco em b2 e, após mudar-se de b4, permite que as Pretas impeçam que o cavalo branco chegue a d4. As Pretas ameaçam ... c2, e as Brancas perdem material para um garfo de torre incomum após 19 0-0?! c2 20 d1 xb2, e se 21 xb3 b4!. As Pretas também estão melhor após a sequência 19 d1?! a6, já que 20 xb3 fracassa contra um ataque duplo parecido. 19 a3 xb2! As Pretas tomam um peão. As Brancas ganham dois bispos por dois cavalos, e Euwe, que com certeza havia visto este plano, deve ter esperado que seus bispos fornecessem compensação suficiente para pelo menos garantir o empate. Sem dúvida eles parecem bem ativos. 20 xb2 xa3 21 d2?!

As Brancas planejam hb1, seguido por xb3, o que não apenas ganharia de volta o peão, mas também daria às Brancas uma vantagem nítida no final. Este plano é tentador, mas falho. As Brancas deveriam ter se contentado com 21 d1 c5 22 xc5 xc5 23 xb3 xb3 24 xb3, o que certamente recuperaria o peão. Após 24... c1+ 25 d1 d7 26 d2 a1 27 c3, pretendendo b2, as Pretas ainda teriam um bom controle das casas pretas, os melhores peões e as peças mais ativas, mas as Brancas nitidamente teriam ótimas chances de empatar. 21... a6 22 hb1 ac5 23 d4 Este lance atrai uma refutação enérgica, mas há dúvidas de que as Brancas possuam algo melhor agora. De acordo com Smyslov: a) As Pretas têm uma vantagem nítida após 23 d1 a2!, e se 24 xa2 (não 24 xb3?? xb3+) 24...bxa2 25 a1 a8 26 c3 e6 27 dxe6 fxe6 28 c2 b6 29 b2 e5.

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b) As Pretas também têm boas chances de ganhar após 23 b5 e5, e se 24 xc5 xc5 25 xb3 xf3+ 26 e3 xb5 27 xa3 xb1 28 xf3 f6 29 c3 h5 30 c7 f8. 23...e5!

Depois deste forte empurrão central, o jogo das Brancas fica crítico. As Brancas não querem trocar seu peão passado em d, um de seus poucos trunfos posicionais remanescentes em seu jogo, mas 24 xc5 xc5 25 d1 a2 também falha em impedir as forças das Pretas, e, caso as Brancas recuem seu bispo, as Pretas progridem ao continuar sua ação central com ...f5. Smyslov dá 24 c3 f5!, e se 25 exf5 gxf5 26 b5 b6 27 xd7 xd7 28 xb3 xb3 29 xb3 c5, com uma vantagem ganhadora, ou 24 e3 f5!, e agora sua análise segue com 25 exf5 gxf5 26 f4 (ou se 26 d6 f4 27 c4+ g7 28 xc5 xc5) 26...exf4 27 xf4 a4 28 e3 (ou 28 h6 f7) 28...f4. 24 dxe6 xe6 25 e3 dc5 26 xc5!? Por fim as Brancas ficam sem bons lances e admitem derrota posicional ao trocar um dos bispos. Keres sugeriu 26 c4!? xe4+! 27 fxe4 xc4 28 d3, mas, após o lance de Smyslov 28... b4 29 f3 f5 (o de Kasparov 29...b5 30 c3 c4+ 31 d3 c5+ 32 xc5 xc5 33 xb3 xb3+ 34 xb3 h5 também é bom) 30 c3 b5 31 exf5 gxf5 32 xb3 bxb3+ 33 xb3 xb3+ 34 xb3 f4 35 d2 f7, o rei preto alcançará f5 com uma vantagem ganhadora. 26... xc5 27 c3!? O lance de Kasparov 27 e3 d8 28 c4 g7 29 d5 b6 poderia ter trazido um pouco mais de resistência, ainda assim as Brancas perderiam. 27... a4 28 d2 g7! As Pretas melhoram a posição de seu rei calmamente. Em g7, o rei preto está mais próximo às casas pretas centrais e não estará mais suscetível a nenhum xeque de bispo na diagonal a2-g8, caso seu peão em f se mova.

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29 e3 d8 30 c1 O peão preto em b3 continua eternamente imune. Após 30 d1 a3 ou 30 d1 xd1 31 xd1 f6 32 d2 a2 (Kasparov), o sofrimento das Brancas continua. 30...b6 31 c4 da8 32 d5 Ou se 32 xb3 b4 33 c3 a3, e as Pretas vencem com uma cravada dupla bem interessante. 32... a2 33 cb1 8a4 34 d2?!

A única chance remanescente das Brancas era jogar 34 f4. Agora a torre preta em a4 penetra decisivamente na coluna d. 34... d4+ 35 e2 As Brancas também perdem após 35 c3 xd5 36 exd5 a4+, ou se 35 e3 d3+ 36 e2 xb2+ 37 xb2 g5, com um jogo irresistível. 35... a4 36 xa2 bxa2 37 a1 Ou 37 xa2 c3+ 38 e3 a4 39 b3 a3 40 b2 d1+, com um garfo de cavalo ganhador. 37... c3+ 38 e3 Como alternativa, 38 e1 b4 39 xa2 a4, com uma cravada ganhadora. 38... d1 0-1

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Em 1948, o mundo do xadrez já havia mudado bastante em comparação aos anos de 1930. Havia agora uma Cortina de Ferro política na Europa. Por trás dela, a URSS era, de longe, a superpotência mais forte do mundo em se tratando de xadrez. Profissionalismo incentivado pelo Estado, pelo menos entre os melhores enxadristas, começou a aparecer na URSS e em muitas cidades da Europa Oriental. Nos anos do pós-guerra no Ocidente, a ausência de qualquer tipo comparável de Estado ou mesmo de patrocínio privado para o xadrez profissional significava que o mundo comunista estava para se tornar incontestável no xadrez por uma geração. Muitos enxadristas soviéticos fortes progrediram por volta desta época, e, nesta competitiva “estufa de talentos”, Smyslov primeiro regrediu um passo. Seus resultados no final dos anos de 1940 foram, pelo menos em parte, ofuscados por aqueles jovens novos talentos, como David Bronstein (1924-2006). Rival mais velho de Smyslov, o talentoso soviético da Estônia, Paul Keres (1916-1975) também vivenciou uma renovação significativa da forma, em especial no início dos anos de 1950. Depois de 1948, a FIDE introduziu um novo circuito de classificação de três anos para o Campeonato Mundial. Ele envolvia eventos zonais, um torneio interzonal e um torneio final de candidatos. No primeiro destes novos circuitos no pós-guerra, Smyslov ficou em terceiro lugar, atrás do primeiro lugar compartilhado por Bronstein e Isaac Boleslavsky, no Candidatos em Budapeste, 1950. Após derrotar Boleslavsky em um match eliminatório, Bronstein enfrentou Botvinnik no primeiro match no pós-guerra pelo Campeonato Mundial. O match, que ocorreu em Moscou no ano de 1951, finalizou com um empate 12-12. De acordo com as regras praticadas na época, Botvinnik, por ser o Campeão Mundial, manteve o título. Smyslov não se iludia sobre a dificuldade envolvida em passar por todos os novos obstáculos de qualificação do Campeonato Mundial, mas, apesar de seu contratempo em Budapeste, manteve a crença de que poderia vencer através de um desafio ao título. Ele continuou a trabalhar especialmente na expansão e aprofundamento de seus sistemas de abertura, e deu a devida atenção ao seu condicionamento físico. Sua dedicação produziu efeito instantâneo no circuito seguinte. No Torneio de Candidatos de Zurique em 1953, Smyslov pontuou um enfático 18/28, ganhando o evento por uma margem segura de dois pontos, perdendo apenas uma partida. Bronstein, Keres e Reshevsky, que colocaram bastante pressão mas fracassaram em acompanhar o ritmo do vencedor, compartilharam o segundo lugar. Em seu livro clássico sobre o torneio, The Chess Struggle in Practice, David Bronstein elogia a excelente conquista de Smyslov. Dentre os elementos-chave no arsenal de Smyslov, Bronstein aponta para sua “persistência de ferro e lógica... vontade extraordinária de vencer... [e habilidade de combinar a] realização consistente de um plano com o cálculo tático acurado”. Tecnicamente, Bronstein equiparou Smyslov a Capablanca. No entanto, ele enfatizou que a técnica dos dois não era tediosa ou puramente funcional, mas “uma técnica rara e suprema, baseada em ele-

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mentos combinacionais e cálculo longo e preciso”. Ambos os enxadristas, ecoando Rubinstein que veio antes deles, elevaram a técnica a alturas incríveis. A determinação de aço, claridade estratégica, precisão tática e técnica combinacional esplêndida de Smyslov desempenharam cada uma seu papel na importante partida contra Paul Keres, na 24a rodada de Zurique. Com seu próprio desafio desvanecendo, Keres parece ter decidido que, com as Brancas, ele tem que ganhar esta partida para ter uma chance de vencer o torneio. Smyslov, no entanto, estava determinado a não ceder. Pondo de lado a assimetria, Smyslov visava atingir uma igualdade mais tradicionalmente clássica ao ocupar diretamente o centro com seus peões. Keres procurou forçar ação na ala do rei, mas exagerou na dose. Smyslov aproveitou sua chance de refutar o fraco ataque de flanco realizado pelas Brancas com um clássico contrajogo de força excepcional no centro.

Partida 9 P.Keres – V.Smyslov Torneio de Candidatos Zurique, 1953 Defesa Índia da Dama 1 c4 f6 2 c3 e6 3 f3 c5 4 e3 d3 c6 10 0-0 b7

e7 5 b3 0-0 6

b2 b6 7 d4 cxd4 8 exd4 d5 9

O jogo foi transposto para uma linha principal da calma variante 4 e3 contra a Defesa Índia da Dama. Esta linha também pode ser jogada com o cavalo branco em d2 em vez de c3, o que dá mais proteção imediata para o peão branco em d. 11 c1 As Brancas não se arriscam com seu peão em d. É incerto o jogo que resulta de 11 e2 b4 12 b1 dxc4 13 bxc4 xf3 14 gxf3. Uma velha análise de Bondarevsky segue com 14... xd4?! 15 e4 d8 16 d1 c7 17 xf6+ xf6 18 xh7+!

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h8 19 e4 xb2 20 xb2 c6 21 b5 e5 22 f4!, com chances de ataque. Em vez disso, S.Jovanovic-S.Cvetkovic, Belgrado, 1980, seguiu com 14... c8 15 e4 h5 16 a3 c6 17 d1 f5 18 g3 f4, com chances satisfatórias. Esta escolha mais sólida também pode ser considerada nos lances 12 e 13 das Pretas. 11... c8 12 e1

As Brancas podem mais uma vez considerar 12 e2?!, mas agora é mais especulativo, e, após 12...dxc4 13 bxc4 b4 14 b1 xf3 15 gxf3 xd4 16 e4 d8 (a partida M.Matlakov-A.Lanin, São Petersburgo, 2007, variou para 16... d7 17 cd1 c6 18 a3 a6 19 d6 c7, com bom jogo) 17 fd1 c7 18 xf6+ xf6, 19 e4 fd8 20 xh7+ f8 (Kasparov), as Pretas estão bem. Mais cedo, 12... e8 13 fd1 f8, com ...g6 em mente, também parece sólido para as Pretas. 12... b4 Smyslov, que foi abençoado com instintos que permitiram-no tomar decisões estratégicas importantes com tanta rapidez, explicou que este lance foi “um artifício tático típico, que permite às Pretas ‘aliviarem’ a posição após o recuo forçado do bispo branco para f1 (caso contrário o peão em c4 está perdido), as Pretas tomam o controle de e4”. Com certeza esta é a escolha mais direta e ousada das Pretas. Partidas subsequentes apontaram que as Pretas também podem obter chances satisfatórias após 12... e8 e 12... d6. 13 f1 e4! Uma vez tendo decidido o curso básico, Smyslov normalmente mantinha-se resoluto e lutava de maneira árdua para alcançar seus objetivos. Em vez disso, Z.Franco Ocampos-A.Goldin, Buenos Aires, 2003, seguiu com um mais cauteloso 13... e8, e as Pretas atingem um jogo aceitável após 14 e5 f8 15 a3 c6. 14 a3 Keres evita as complicações incertas de 14 xe4!? dxe4 15 d2 f5, e se 16 f3?! f6! com bom jogo para as Pretas. As Brancas quebram o centro de peões das Pretas, mas as peças pretas tornam-se extremamente ativas nesta linha. Mais

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tarde, em J.Bolbochan-H.Bouwmeester, Olimpíada de Varna 1962, seguiu com 16 a3 a6 17 b4, com chances para os dois lados. 14... xc3 15 xc3 c6 16 e5

Em uma situação em que é necessário vencer, Keres concebe um plano criativo de dobrar suas torres em um ataque feroz na coluna h em frente a seus peões, o que é incomum. Infelizmente para Keres, o plano parece bom o suficiente para empatar, mas não para vencer a partida. Keres, provavelmente correto, evita novamente uma alternativa arriscada, 16 c5!?. As Brancas certamente têm muito a fazer para justificar esta continuação após 16...bxc5 17 dxc5 f6, e se 18 c2 (ou 18 b4 xc3 19 xc3 e7) 18... xb2 19 xb2 a5, e também possivelmente após 16...e5 17 xe5 xe5 18 xe5 f6. A continuação 16 cxd5 xd5 17 c4 h5 também parece inofensiva, como em A.Kveinys-A.Lugovoi, Tallinn, 2001, e outras partidas. 16... xe5 17 xe5 f6 18 h5

A torre branca parece estar sozinha em h5, mas Keres ameaça aumentar a temperatura jogando 19 ch3. 18...g6!

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Este lance de alerta força a resposta das Brancas e dá às Pretas uma opção extra de defesa interessante no próximo lance. É mais forçoso que 18...dxc4, e se 19 xh7?! g6 20 ch3, voltando para a continuação da partida. No entanto, as Brancas podem, em vez disso, jogar 19 ch3 g6 20 g4, alcançando a linha de empate de Bronstein dada em suas notas, abaixo, ao 20o lance das Brancas. 19 ch3 dxc4!

Smyslov ficou tentado a tomar a torre branca em h5, mas sua intuição o parou, e com razão. Após pensar bastante ele não conseguiu encontrar nenhuma refutação, mas viu que as Brancas pareciam ter um empate ao alcance após 19...gxh5 20 xh5 e8 21 h6 dxc4 22 d5 xb2 23 g3+ h8 24 h3, e sentiu que as Pretas mereciam mais que isso. Portanto ele recorreu a uma segunda opção: um ataque clássico no centro para enfrentar o ataque das Brancas no flanco. Na verdade, após 19...gxh5 20 xh5 e8 21 a4! (Bronstein), ameaçando 22 a3, as Pretas poderiam ter perdido a partida. Após 21... d6, a melhor resposta das Pretas, as Brancas podem jogar o extraordinariamente forte 22 h6! (Kasparov e Deep Junior), ameaçando 23 c5. Após ter-lhe sido negado o acesso a f4, a dama preta não consegue alcançar as casas-chave na ala do rei, e o rei preto sofre devido à pressão das Brancas sobre a diagonal a3-f8. A linha principal de Kasparov segue com 22... g7 23 xh7+ f8 24 g3 f6 25 c5!, e, depois de 25... f4 ou 25... d8, as Brancas jogam 26 c6, ameaçando a3+ com uma provável vitória. A melhor chance das Pretas pode ser 25... xg3 26 hxg3 bxc5, mas as Brancas ainda estão bem após 27 h6+ g7 28 d2. Perceba que se 25...bxc5 26 dxc5 xg3? 27 xf6 ameaça 28 h6+ e as Pretas levam mate. 20 xh7? Keres se perde em meio a complicações. Ou, quem sabe, ele simplesmente perdeu as esperanças. Deve ter sido neste momento que tornou-se claro para este excelente enxadrista que ele não podia esperar vencer a partida. Assim como Smyslov menciona, as Pretas vencem após 20 bxc4? gxh5 21 d3 (ou 21 xh5 e4!) 21... e8 22 xh5 f8 23 a4 d6 24 f1 f4! 25 a3+ e7 26 h4 f6.

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No entanto, a sugestão de Bronstein, 20 g4! c3 21 xc3 xc3 22 xc3 xd4 23 xd4 xd4 24 c7 gxh5 25 xb7 c8 26 c4, leva a um final com igualdade e ainda teria salvo as Brancas. Aqui Kasparov analisou 20...cxb3 21 xh7 c2 22 d3 c7 23 3h6 c1+ 24 xc1 xc1+ 25 f1 g7 26 h4 xh6 27 xh6 c8 28 h8+ g7 29 h7+ g8, e as Pretas não chegam a lugar algum. 20...c3! As Pretas tiram proveito da posição incômoda da torre branca em h7 para fechar a coluna c e tomar o peão branco em d. Elas planejam defender contra as ameaças de mate das Brancas na coluna h amontoando sua dama e seu bispo na diagonal principal de casas pretas.

21 22

c1 xd4 É claro que não 21...cxb2?? 22 h6 fd8

h6

d4 23 h8+

xh8 24

h7 mate.

Agora o rei preto pode escapar por f8. As Brancas não podem mais dar mate na coluna h nem oferecer qualquer resistência organizada às ameaças das Pretas no centro. 23 c1 g7 24 g5 f6 25 g4 c2! As Pretas ameaçam 26... d1.

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26

e2 d4! Forçando a resposta das Brancas e destruindo com determinação a defesa da casa d4 feita pela dama branca.

27 f4 d1+ 28

xd1

d4+ 0-1

Foram necessários dois desafios pelo Campeonato Mundial para que Smyslov derrubasse Botvinnik. Em 1954, estes dois titãs enfrentaram-se obtendo um empate por 12-12, com Botvinnik, como em 1951, conservando seu título mundial somente como resultado de uma regra que dava este privilégio valioso ao Campeão Mundial no caso de um empate nas 24 partidas. Smyslov, como fizera Bronstein antes dele, teve que curvar-se a um adversário que não era, necessariamente, mais forte que seus Desafiantes. De fato, ambos os homens mais jovens haviam se mostrado como uma ameaça considerável. Se havia qualquer diferença significativa entre eles, essa só poderia ser a vontade extraordinária de Botvinnik vencer, que nesta época era quase incomparável. Botvinnik tinha uma fome enorme de manter seu título mundial no início da década de 1950. Um lutador tão forte quanto Emanuel Lasker, ele sempre teve a mesma atitude “a esperança é a última que morre” e o mesmo espírito lutador que o segundo Campeão Mundial. Foi o primeiro grande enxadrista soviético a surgir nos anos de 1930, o número um mundialmente nos anos do pós-guerra e ainda em seu apogeu; enxadristas tão grandiosos não se curvam facilmente. Apesar de ter fracassado em 1954, Smyslov entendeu que seu jogo era pelo menos páreo ao de Botvinnik quanto à técnica. Sua preparação para partidas, especialmente para as aberturas, havia sido boa até então; concluiu que precisava somente apoiar-se em seus pontos fortes em vez de trocar algum aspecto-chave em sua abordagem do jogo. Por volta desta época, Smyslov percebeu que Botvinnik costumava preparar-se “exclusivamente para um adversário em específico”. Com isto ele quis dizer que Botvinnik, não diferente de Lasker, procurava esquemas de jogo que poderiam debilitar ao máximo seus adversários em tais competições. De qualquer forma, o sucesso

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de Botvinnik nesse aspecto no match de 1954 provou-se o fracasso de Smyslov. Surpreso com as primeiras escolhas de abertura feitas por Botvinnik no match, Smyslov reagiu de maneira fraca, ficando três pontos atrás nas primeiras quatro partidas. Devido a este começo terrível, a conquista de Smyslov em igualar as pontuação e então passar um ponto à frente na 11a partida não era algo de todo desesperançoso. Diferente de Botvinnik, Smyslov costumava colocar menos ênfase em psicologia do que em investigação do que considerava ser “ramificações mais técnicas de esquemas de aberturas planejados, visando a uma avaliação ampla e objetiva”. Enquanto Botvinnik lutava, Smyslov procurava sobretudo jogar por seus pontos fortes clássicos. A vitória de Smyslov na 9a partida foi uma reviravolta importante no match de 1954. Ele havia conseguido sua primeira vitória na 7a partida, mas na 9a partida ele lançou um golpe forte, iniciando uma série de vitórias notáveis (3/3). Nas 1a e 3a partidas do match, a escolha de Botvinnik pela variante estratégica obscura 5... a5 (Winawer) da Defesa Francesa parece ter surpreendido Smyslov. Talvez prudente quanto ao que seu adversário poderia ter preparado para ele nas linhas principais, Smyslov procurou evitar complicações nessas partidas, marcando apenas um mero ½/2. Na 9a partida, no entanto, Smyslov sentiu-se pronto para enfrentar o raciocínio de Botvinnik em sua preparação principal. Isto acabou sendo perigoso, e o defensor do título caiu com uma série espetacular de finesses posicionais e táticas bem embasadas e de combinações excelentes. De acordo com Botvinnik, esta foi a melhor partida de Smyslov no match.

Partida 10 V.Smyslov – M.Botvinnik a Campeonato Mundial (9 Partida) Moscou, 1954 Defesa Francesa 1 e4 e6 2 d4 d5 3

c3

b4 4 e5

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Esta abertura serviu para ambos os jogadores. Botvinnik gostou da natureza desequilibrada da defesa que possibilitava contrajogo; Smyslov gostou do espaço extra das Brancas e da atividade das peças. Smyslov também tentou 4 a3!?, o lance arriscado de Alekhine, contra a Botvinnik. Smyslov venceu a 7 partida no match de 1954 após 4... xc3+ 5 bxc3 dxe4 6 g4 f6 7 xg7 g8 8 h6 c5 9 e2 g6 10 e3!? c6 11 dxc5!? g4!? 12 xe4 d1+ 13 xd1 xf2+ 14 e1 xe4 15 f4 g8 16 d3 xc5 17 xh7 h8 18 d3 xd3+ 19 cxd3 d7 20 e3 0-0-0 21 f2 e5 22 e2 g4 23 h3 h5 24 d4 xe2 25 xe2 exd4 26 cxd4 xd4+ 27 f2, com um final ligeiramente melhor. 4...c5 5 a3 a5!? Botvinnik evita 5... xc3+ 6 bxc3 e7, e agora 7 f3 ou 7 a4, que havia sido jogado anteriormente entre estes dois enxadristas, talvez receando que Smyslov trocaria para o mais forte 7 g4 c7 8 xg7 g8 9 xh7. Mais tarde, Smyslov a venceu a 20 partida em seu match em 1957, após outra escolha diferente e sem a sucesso de Botvinnik: 6... c7 7 g4 f6!? (7...f5 levou a um empate na 14 partida) 8 f3 c6 9 g3 f7!? 10 dxc5 ge7 11 d3 fxe5 12 xe5 xe5 13 xe5 0-0 14 0-0 c6 15 g3 e5 16 e3 f5 17 ab1 xd3!? 18 cxd3 ae8 19 f4!, com uma nítida vantagem. 6 b4 cxd4 Note que as Pretas evitam 6...cxb4?! devido ao perigoso gambito de ataque 7 b5! bxa3+ 8 c3, com compensação significativa de casas pretas na ala da dama. 7 g4 a a Este é o teste decisivo. As 1 e 3 partidas haviam sido palco para o menos ambicioso 7 b5 c7 8 f4 e7 9 f3.

7... e7 8 bxa5 dxc3 9 xg7 g8 10 xh7 d7!? Não foi uma das criações mais felizes de Botvinnik; este lance ligeiramente estranho foi substituído por 10... bc6. Ambas as linhas são incertas quanto à estratégia e tática, mas o cavalo preto desempenha um papel mais ativo no centro, posicionado em c6, e não restringe o desenvolvimento do bispo da dama.

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Em ambas as linhas, a ala do rei das Pretas está praticamente em ruínas, e as Brancas têm um peão passado em h e o par de bispos, que configuram bom potencial de vitória. No entanto, as Pretas podem manter-se na expectativa de cercar e5 e criar tensão imediata no centro ao completar rapidamente o desenvolvimento de sua ala da dama e ao mobilizar sua massa perigosa de peões centrais. Após 10... bc6 11 f4 xa5, um jogo tipicamente moderno, A.Grischuk-R. Vaganian, Izmir, 2004, seguiu com 12 f3 d7 13 b1 0-0-0 14 d3 d4 15 g3, com as Brancas tentando manter o centro para então avançar na ala do rei. Em vez disso, após 11 f3, as Pretas provavelmente deveriam jogar 11... c7, mantendo e5 sob ameaça. As Brancas então seguem com 12 f4 d7 13 a6, e se 13...0-0-0 14 axb7+ ou 13...b6 14 g3 0-0-0 15 d3, buscando despedaçar a ala da dama das Pretas. O lance mais agudo de Bobby Fischer, 12 b5!?, e se 12... d7 13 0-0 xe5 14 xe5 xe5 15 xd7+ xd7 16 d3, também é uma tentativa arriscada.

11

f3 Smyslov preferiu não restringir o alcance de seu bispo da dama na ala do rei, mas 11 f4 xa5 12 f3 também é arriscado. A partida S.Gligoric-A.Dückstein, Zagreb, 1955, continuou então com 12... f8 13 d3 d7 14 g5 (as Brancas também estavam melhor em K.Van der Weide-N.Kelecevic, Triesen, 2006, após 14 d4 a6 15 b1 b5 16 g3 c8 17 e2 c6 18 0-0 xd4 19 xd4 g6 20 e3 e7 21 d3) 14... c8 15 b1 b6 16 h4 f5 17 g4 h6 18 g1, com boas chances para as Brancas. 11... f8?!

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Em retrospecto, sabemos agora que as Pretas deveriam preferir 11... c7. A escolha de Botvinnik tira a pressão de e5 muito cedo e só leva a dama branca para onde ela quer de fato ir (d3). Embora levar seu cavalo para g6 seja um dos objetivos principais para as Pretas nesta linha, infelizmente ele não consegue sair de f8, permanecendo um espectador passivo nesta partida. Botvinnik já havia, de fato, tentado 11... c7 em uma partida de treinamento contra Ragozin, jogada antes de sua defesa do título mundial contra Bronstein em 1951. O cavalo preto em f8 encontrou um futuro mais feliz naquela partida após 12 f4 f8 13 b5+!? (a linha do gambito 13 d3 fg6 14 g3 f5 15 e2! talvez seja melhor) d7 14 xd7+ xd7 15 d3 g4 16 g3 fg6 17 e3 c6 18 h3 c4 19 0-0 cxe5. Aparentemente Smyslov pretendia jogar 12 b5 nesta linha, mas após 12...a6 (não 12... xg2?! 13 f1 g8 14 g1! com ameaças perigosas na ala do rei) 13 xd7+ xd7 14 0-0, que ele achou melhor para as Brancas; tanto 14... c4 quanto 14...d4 se mostraram resilientes desde então. 12 d3 xa5 13 h4! As Brancas punem as Pretas com severidade por terem diminuído a pressão sobre seu peão em e5. Smyslov não tem apenas tempo disponível para melhorar seu jogo avançando seu peão passado em h, ele também tem tempo de reprimir fortemente as casas pretas centrais com seu próximo lance. 13... d7 14 g5!

O bispo branco está posicionado muito bem nesta casa. Ele evita que as Pretas façam o roque e está a um pequeno passo de f6, do qual não irá apenas reforçar o domínio das Brancas sob e5, mas também apoiará o avanço do peão passado branco em h. 14... c8 A última chance de Botvinnik para contrajogo é ativar sua torre via c4 e e4. O 14... c6 mais brando pode ser bem combatido com 15 e2 ou 15 g3 (Kasparov), deixando as Pretas com pouco ou nenhum prospecto de atividade. 15 d4!

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Este lance sutil frustra as Pretas por completo. Após 15... c4, Smyslov planejava a esperta manobra 16 e3 a4 17 b1 xa3 18 b5, quando as Brancas têm um ataque e grande vantagem. 15... f5 16 b1!

Tudo vai bem para as Brancas. De b1 sua torre não apenas ataca o peão preto em b, mas também controla b5, evitando, desse modo, que as Pretas troquem os cavalos em d4 e depois joguem seu bispo para b5, visando reduzir a pressão no jogo através de trocas cautelosas. 16... c4?! Este lance é consistente, mas falho quanto à tática. Smyslov chamou-o de “ideia fatal”, e ele certamente resulta em “uma bela refutação”, mas agora há dúvidas de que as Pretas têm alguma melhoria de verdade. Talvez as Pretas não tivessem nenhuma opção melhor do que defender seu peão jogando 16...b6. No entanto, Smyslov pretendia, então, sacrificar um peão em troca de uma contenção completa após 17 g4 xd4 18 xd4 xa3 19 d3, dando às Brancas uma “vantagem incontestável”. 17 xf5 exf5 18 xb7 e4+?!

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Botvinnik completa seu plano, mas este lance vai de encontro a uma refutação esmagadora. Aparentemente Botvinnik pretendia jogar 18... xg5 19 hxg5 e4+ 20 e2 g6 21 f1! c6 22 b8+ e7 23 a6, embora isto também deva perder para o melhor jogo das Brancas. 19 xe4! dxe4 20 b8+ Botvinnik confessou que, ao jogar seu 18o lance, ele simplesmente “esqueceu” este xeque.

20... c8 21 b5+ xb5 O rei preto está preso em uma rede de mates e só conseguirá escapar a um custo muito alto de material. É claro que se 21... d7 22 xc8+ e mate. Mas agora as Brancas vão uma troca além e seu peão em h irá correr para h8. 22 xb5 e6 23 f6 xg2 24 h5 a6 25 h6 1-0 A excelente forma de Smyslov continuou após o match de 1954 pelo Campeonato Mundial. Em 1955, ele compartilhou o primeiro lugar com Efim Geller no Campeonato da URSS daquele ano, meio-ponto à frente de Botvinnik, a quem derrotou em sua partida individual. Então, em 1956, ele terminou em primeiro lu-

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gar no Torneio de Candidatos em Amsterdã. Smyslov venceu com boa vantagem em Amsterdã, pontuando 11½/18, 1½ pontos à frente do segundo lugar (Keres), e com este êxito classificou-se para seu segundo desafio pelo Campeonato Mundial. Mais tarde no mesmo ano, Smyslov dividiu o primeiro lugar com Botvinnik no Torneio Memorial Alekhine em Moscou. Tais resultados montaram o palco para um memorável recomeço de hostilidades entre estes dois grandes enxadristas no seu segundo match pelo Campeonato Mundial, em 1957. Mais relaxado, experiente e confiante que em 1954, Smyslov acreditava que era “capaz de conquistar a coroa do xadrez”. Com certeza ele estava tão preparado para o desafio quanto possível. As partidas do match de 1957 foram disputadas arduamente, com menores oscilações de sorte que em 1954, mas tornando-se gradualmente a favor de Smyslov. O enxadrista mais jovem abriu um ponto de diferença na 8a partida, e nunca mais foi alcançado naquele match. Smyslov finalmente derrotou seu adversário com uma margem decisiva de três pontos, 12½-9½. Botvinnik lutou corajosamente como nunca antes, e Smyslov só conseguiu aumentar a diferença para dois pontos depois de um final longo e complexo, o qual venceu com as Pretas na 17a partida. A causa de Botvinnik era, naquele estágio final do match, bastante desesperada. Smyslov acabou de uma vez com a resistência de seu adversário, abrindo três pontos de vantagem, com uma vitória na 20a partida. Botvinnik não conseguiu confundir Smyslov em 1957 tanto quanto em seu enfrentamento de 1954. Conforme o match progredia, ficou claro até mesmo para o então campeão que seu adversário estava acabando com ele. Para o final do match, Botvinnik “entendeu que era em questão de avaliação posicional que Smyslov havia atingido superioridade”. Esta diferença entre os dois fica evidente na 17a partida, que pode ter marcado o ponto da virada. Smyslov revela parte daquela “técnica rara e suprema” que Bronstein reconheceu como uma de suas características mais importantes. O processo de vitória de Smyslov envolve muitas combinações detalhadamente analisadas e pontos nos quais apenas um longo cálculo, aliado a julgamentos difíceis, pode auxiliar no progresso. Smyslov adorava a simplicidade relativa dos finais e, como Capablanca e, de fato, Rubinstein, compreendia profundamente a complexidade que com frequência escondia-se neles. Ele achava que “em nenhum outro lugar a lógica do pensamento revela a si mesma como no estágio final da partida”, e dizia que seu próprio caminho para o Campeonato Mundial baseava-se não só na maestria de esquemas de abertura, mas também numa “compreensão a fundo das leis do final de jogo”.

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Partida 11 M.Botvinnik – V.Smyslov a Campeonato Mundial (17 Partida) Moscou, 1957 Defesa Grünfeld 1

f3

f6 2 g3 g6 3 c4 c6 4

g2

g7 5 d4 0-0 6

c3 d5 7 cxd5 cxd5 8

e5!

Acredita-se que a defesa sólida e simétrica das Pretas é melhor enfrentada por esta resposta ativa que visa dissuadir as Pretas de continuar com o lance natural de desenvolvimento 8... c6. 8...b6 Smyslov planeja 9... b7, seguido por ... c6. Após o imediato 8... c6 9 xc6 bxc6, as Brancas enfraquecem os peões pretos da ala da dama, conseguindo chances na coluna c e nas casas pretas da ala da dama. A iniciativa das Brancas é pequena, mas pode ser incômoda. Por exemplo, R.Hübner-W.Uhlmann, Liga Alemã, 1997, continuou com 10 0-0 a6 11 f4 b6 12 a4 b5 13 e1 d7 14 e4! e6 15 d6 fc8 16 e3 a5 17 a3 d8 18 c5 b5 19 e5 xc5 20 xc5 a5 21 c1 a4 22 f1 xf1 23 xf1 a5 24 g2 b5 25 c2 h5 26 ac3 f8 27 xf8 xf8 28 g4! hxg4 29 xg4 e8 30 f4, com um ataque perigoso. As Pretas também não conseguiram igualar em L.Portisch-S.Reshevsky, Palma de Mallorca, 1970, após 10... f5 11 f4 e4 12 a4 a5 13 c1 ac8 14 e1 fd8 15 f3 d6 16 d2 c7 17 e3 h5 18 b3 e5 19 dxe5 xe5 20 c3 xc3 21 xc3 e7 22 d4 e6 23 c5 e8 24 e2 f5 25 d4 xc5 26 xc5 xd4 27 exd4 d7 28 f2 xe1 29 xe1 f8 30 d2, com o melhor final. Uma ideia mais moderna de defesa é desafiar o cavalo das Brancas, jogando 8...e6 9 0-0 fd7, depois do que 10 f4 c6 11 e3 é uma opção arriscada. a A.Karpov-B.Gelfand, 4 partida do match, Sanghi Nagar, 1995, continuou com 11...f6 12 f3 b6 13 f2 d7 14 e4! dxe4 15 xe4 d5 16 e1 b6 17 c3 ce7

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18 b3 a5 19 a3 a4 20 d1 c7 21 c1 ed5 22 d2 e8 23 c4 f8 24 b5 25 e2 e7 26 ec2 b8 27 d2 f8 28 h4! com pressão contínua.

e4

9

g5 Botvinnik dá o primeiro passo de um plano pouco efetivo de trocar este bispo pelo cavalo preto em f6, e então apoiar seu cavalo em e5 ao jogar f4. Mas, com três peças menores no tabuleiro em vez de quatro (como em Karpov-Gelfand na observação anterior), as Brancas não colocam muita pressão sobre as Pretas, que logo igualam. Desenvolvimento simples dá às Brancas chances de estabelecer uma pequena vantagem, como em M.Drasko-Z.Jakovljevic, Vrnjacka Banja, 1999, que continuou com 9 f4 b7 10 0-0 a6 (ou se 10... c6 11 a4) 11 c1 bd7 12 b3 e6 13 c2 xe5 14 xe5 d7 15 xg7 xg7 16 a4 a5 17 fc1, com as melhores chances. 9... b7 10 xf6!? xf6 11 0-0 e6 12 f4 g7 13 c1 f6 14 f3 c6 15 e3 d7 16 e2

Diferentemente da partida entre Karpov-Gelfand, as Brancas não têm nenhum plano de ataque óbvio aqui. O centro e a ala do rei das Pretas não estão sob

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muita pressão, e as Pretas podem se ocupar do desenvolvimento do seu próprio jogo na ala da dama. 16... a5 17 h4 c4 18 h3 Depois de 18 g4, as Brancas iriam pelo menos estabelecer a possibilidade de uma mudança de curso na ala do rei baseada em g5, mas Botvinnik não parece confiar o suficiente em sua posição a ponto de tentar desenvolver qualquer ação no centro e na ala do rei, o que ele pode acabar fazendo ao avançar seus peões g e h. Enquanto ele se contém na ala do rei, Smyslov ocupa solo vago na ala da dama. 18... d6 19 h2 a5 20 fe1 Aqui também 20 g1, para apoiar um g4 mais tarde, parece um pouco mais resoluto. 20...b5 21 d1 b4 22 f2 a6 23 d1 fc8 24 xc8+ Quem sabe até mesmo agora as Brancas deveriam ter preferido 24 g4, mas Botvinnik parece ter decidido jogar somente por um empate ao buscar trocas. Com a estrutura de peões ainda bastante estática e possibilidade de trocas na coluna c, com certeza ele espera empatar, mas as Pretas já estão bem na ala da dama e agora podem pressionar por uma vantagem mais evidente. 24... xc8 25 f1 xf1 26 xf1 c6 27 d3 c2+?!

Smyslov joga por uma vantagem segura no final, mas, com controle pelo menos temporário da coluna c, ele poderia ter tentado alcançar mais com 27... e4!. Então as Brancas teriam que tomar bastante cuidado: por exemplo, após 28 g1 b5 29 g2 a4 30 c2 c4 31 d2? xd4! 32 exd4 xd3, as Pretas têm várias ameaças ganhadoras. 28 xc2 xc2+ 29 f2 xf2+ 30 xf2 c4 31 d1 f7 32 b3!? Talvez as Brancas devessem ter adiado este lance, pois enfraquece c3, mas neste ponto ambos os lados estavam apressando-se para conseguir o controle de tempo no lance 40. As Brancas ainda poderiam ter considerado 32 g4 para tentar restringir a ação das Pretas na ala do rei. 32... d6 33 g2 h5 34 h3

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Agora 34 e1, com o plano de levar este cavalo para d3, poderia ter sido mais simples. 34... e4 35 g4!? E agora Botvinnik decide usar este lance em circunstâncias desfavoráveis. Depois de trocar peões em g4, as Pretas conseguem uma possível entrada para a posição das Brancas na ala do rei. 35...hxg4+ 36 xg4 f5+ 37 h3 f6 38 e1 g7 39 d3 c3 40 xc3 bxc3 41 e1?!

Botvinnik deve ter ficado aliviado de conseguir chegar ao controle de tempo (e naquela época isso também queria dizer que haveria uma prorrogação para o dia seguinte) com seu jogo intacto. Mesmo que agora ele deva perder seu peão h, as Brancas estabelecerão uma fortaleza de defesa aparentemente indestrutível com seu cavalo em c2. No entanto, as Brancas ainda poderiam ter feito o lance selado com 41 b4!, obtendo uma fortaleza ainda mais forte. Desta maneira ele liberta seu peão a e imobiliza o bispo preto na defesa com um empate mais simples. A partida pode continuar com 41...axb4 42 xb4 h6 43 a4! d8 44 c2 h5 45 b4 xh4 46 a5! d8 47 a6 b6 48 g3 g5 49 fxg5 xg5 50 f3, e as Pretas não chegam a lugar algum. 41... h6 42 c2 e7 43 g3?

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Durante a noite, o time de Botvinnik concluiu erroneamente que a melhor chance das Brancas era manter a fortaleza existente. Smyslov e seu time analítico viram mais adiante, percebendo corretamente que as Pretas poderiam progredir neste final de jogo difícil ao explorar alguns temas de Zugzwang bem ocultos. Portanto Botvinnik rejeitou o ativo 43 a3! h5 44 b4, quando na verdade seu peão passado em b provavelmente o salvaria. Uma bela análise de 1994 por Fridstein mostra que as Brancas podem defender-se na posição crítica após 44...axb4 45 axb4 xh4 46 b5 d8 47 g3 g5 48 fxg5 xg5 49 f3 b6. Uma linha de empate continua com 50 e1 f6 51 e2 f4 52 d3 fxe3 53 c2! e5 54 xe3 e6 55 xd5! xd5 56 dxe5 d4 57 b6!. Em vez disso, as Pretas podem até mesmo perder após 44...a4?! 45 b5 xh4? (45... d8 46 b4 há igualdade) 46 b6 e7 47 b7 d6 48 g2 g5 49 fxg5 xg5 50 f3 f6 51 e2 e7 52 b4! d7 53 a6 c2 54 d2 xa3 55 xc2 d6 56 b8 . 43... h5 44 f3 xh4 45 e1 g5 46 fxg5 xg5 47 c2 d6 48 e1?!

Botvinnik mantém sua estratégia puramente de bloqueio. Contudo, Smyslov sugere que as Brancas ainda deveriam ter jogado 48 a3, embora, já tendo ganho o peão branco em h neste momento, as Pretas pudessem interromper em b5 com o bispo o peão passado branco e jogar pela vitória após 48... h4 49 b4 a4! 50 b5 c7. Smyslov utiliza a linha seguinte 51 e1 g5 52 c2 f6 (52... a5 53 e1 b6 54 c2 f6 é outra tentativa) 53 e2 d6 54 d3 e7 55 xc3 d7 56 e1 xa3 57 d3 c7 58 f4 b6 59 xe6 xb5 60 c7+ c6 61 e6 d6 62 g7 b5 63 xf5 b4+ 64 c2 c4 65 h6, e “a forte defesa das Brancas devem ajudá-las a alcançar um empate”. 48... h4 49 c2 h3 50 a1!? Botvinnik ainda impede 50 a3, mas talvez já seja tarde demais, e, após 50... h2 51 f2 e7! 52 b4 axb4 (52...a4 talvez seja ainda melhor) 53 axb4 h4+ 54 f3 g1 55 e2 g2, o jogo das Brancas “permanece crítico” (Smyslov). Perceba que 55 f4 perde para 55... f2 56 e5 (ou 56 b5 g3+ 57 g5 e2) 56... e2 57 xe6 d3, seguido por ...c2 com uma posição ganhadora. 50... h2 51 f2 g3+ 52 f3 h4!

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Agora as Pretas atingem a coluna g, ameaçando invadir a primeira fileira das Brancas. O rei branco tem que ficar na defensiva, já que as Brancas não têm chances após 53 f4 g2 54 e5 f3 55 xe6 e4!, seguido por ... f2. 53 c2 g1 54 e2 Agora 54 f4 f6! mantém as Brancas à distância e vence, por exemplo, após 55 a3 f2 56 b4 axb4 57 axb4 e2 58 b5 d2 59 a3 c2 60 xc2 xc2 61 b6 d8 62 e5 xb6 63 xe6 xd4 64 exd4 f4. A defesa também fracassa após 54 a3 f1 55 b4 axb4 56 axb4 d8 57 b5 c7. 54... g2 55 a1 e7 56 c2 g3 57 e1 d8 58 c2 f6!

As Pretas criam a primeira posição de Zugzwang. O plano de vitória requer que as Pretas forcem as Brancas a jogarem a3 e b4 (que as Pretas irão passar ao jogar ...a4!). As Brancas decidem que têm que deixar isso acontecer. 59 a3 Mover o cavalo branco permite a resposta ...f4, seguida por ...f3, ou, se as Brancas trocarem peões em f4, as Pretas vencem após ... xd4. Em vez disso, mover o rei branco permite que o rei preto avance para a coluna f, com uma boa vantagem. Smyslov dá 59 d3 f2 60 a1 e1 61 c2+ d1 62 a1 (ou se 62 xc3 e2 63 b4 a4!, e se 64 b5 d8 65 b4 d3 66 a3 xe3 67 xa4 xd4) 62... e7 63 c2 d6 64 a1 c1 65 xc3 b4+ 66 d3 b2 67

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c2 xa2, e vence. Aqui, as Brancas também estão perdidas após 60 a3 e7 61 b4 a4! 62 xc3 e2 63 b5 d8! 64 b2 (ou 64 b4 d3) 64... a5 65 c1 d3 66 d1 c4, seguido por ... xb5. E, por último, as Pretas também vencem após 60 xc3 e2 61 a3 e5! 62 b4 exd4+ 63 exd4 d8! e o peão preto em f é promovido. 59... e7 60 b4 As Brancas só atrapalham seus próprios peões em a e b ao jogar 60 a4, contra qual Smyslov dá 60... d6 61 e1 e5! 62 dxe5 xe5 63 d3 d4! 64 exd4 d6 65 c2 (ou 65 xc3 b4+) 65...f4 66 xc3 f3 67 e3 f2 68 d3 f3 69 f1 f4 70 d5 g2 71 e2 g1, e vence. 60...a4! É importante manter este peão para aumentar ao máximo as chances de vitória das Pretas. O peão branco em b não conseguirá avançar além de b5. 61 e1 g5 62 c2 f6

As Pretas criam seu segundo Zugzwang. Desta vez as Brancas têm que mover seu rei, concedendo f3 ao rei preto, ou mover seu peão em b, permitindo que o bispo preto atue decisivamente na diagonal d8-a5. Observe como o cavalo branco não pode se mover sem permitir a ruptura vitoriosa com ...f4. 63 d3 As Pretas também têm uma posição ganhadora após 63 b5 d8! 64 e1 a5 65 c2 g4!, e se 66 e1 c7 67 c2 b6! 68 b4 f4! 69 exf4 xd4, destruindo o calcanhar de Aquiles das Brancas neste final, seu peão em d4. Aqui as Pretas também vencem após 67 d3 c2 68 d2 a5+ 69 xc2 f3 ou 67 d3 b6 68 e2 f4 69 exf4 xd4 (Smyslov). 63... f2 64 a1 o Ou 64 xc3 e2 65 b5 d8, transpondo nas anotações para o 59 lance das Brancas. 64... d8 65 c2 g5! E agora 66 xc3 e2 67 b5 d8, leva à mesma transposição da última anotação. 66 b5 d8 67 b4 b6 68 c2 a5 69 b4 e1 0-1

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O rei preto finalmente chega à ala da dama, forçando a vitória após 70 c2+ (ou 70 xc3 e2) 70... d1 71 a1 c1, e se 72 b6 xb6 73 xc3 a5+ 74 d3 b2 75 c2 b6 76 d2 c7 77 d3 a5. Ter ganho o título mundial em 1957 marcou o auge da carreira de Smyslov. De fato, em 1958 ele perdeu o título para Botvinnik em um match de revanche, ao qual o campeão derrotado tinha direito segundo as regras em vigor de 1951 a 1963. Smyslov nunca mais participou de um match pelo Campeonato Mundial, apesar de ter mantido uma pontuação bastante boa em eventos classificatórios subsequentes, chegando até mesmo ao match final do Candidatos, contra Garry Kasparov, em 1984 (veja a seguir). Embora tenha dado o reconhecimento devido ao jogo habilidoso de seu adversário no match de 1958, que Botvinnik venceu com grande vantagem de 12½-10½, Smyslov atribuiu sua derrota em parte à saúde debilitada. Apesar de aparentemente ter “pego uma gripe e chegado ao final do evento com pneumonia”, com espírito esportivo ele enfatizou que não tinha “nenhuma razão para reclamar de meu destino tendo alcançado meu sonho e me tornado o sétimo Campeão Mundial”. É possível que num nível psicológico mais profundo, Smyslov simplesmente não tinha a mesma ambição implacável de manter-se Campeão Mundial que Botvinnik. Numa repetição de seus matches de 1957 e 1958 com Smyslov, Botvinnik perdeu novamente o título para o jovem Mikhail Tal em 1960, e ganhou-o novamente em 1961 em um match de revanche. O enorme desejo que Botvinnik tinha de vencer em ambos os matches de revanche era evidente. Felizmente, Smyslov continuou a exibir seu talento excepcional por muitas décadas. De fato, ele realizou algumas de suas melhores partidas após perder o foco que tinha de vencer o título mundial, que desempenhou um papel tão importante em seu desenvolvimento nos anos de 1950. Uma das melhores partidas que jogou na década posterior foi a seguinte vitória contra Vladimir Liberzon. Jogando com as Brancas, Smyslov sempre teve uma afeição por 1 e4, mas sua universalidade estratégica, força combinatória e criatividade extrema permi-

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tiam-no jogar todas as aberturas, e ele também era um mestre nas aberturas de flanco, o que não era de surpreender. O conhecimento sutil que Smyslov tinha da pequeníssima iniciativa com 1 f3 e das aberturas com 1 c4 fica em evidência nesta partida. A excelente conclusão desta partida também mostra (mais uma vez) como combinações sólidas normalmente se baseiam na acumulação de pequenas vantagens. Smyslov ganha espaço aqui, melhora sua posição acolá, até que tenha atingido um quê de vantagem que pareça exigir uma decisão de maneira sagaz. Então ele passa pela tensão acumulada com uma série brilhante de sacrifícios feitos no momento certo.

Partida 12 V.Smyslov – V.Liberzon Campeonato da URSS por Equipes, 1968 Abertura Inglesa 1 c4 e5 2 c3 c6 3 g3 g6 4 g2 g7 5 b1 Jogando a Siciliana Fechada Invertida, com um lance a mais, permite que as Brancas adiem sua escolha de definição do centro. As Brancas podem escolher sistemas baseados em d3 e f3, e3 e ge2, ou e4 e ge2, mas antes elas tentam abalar um pouco o jogo das Pretas na ala da dama. Agora as Pretas poderiam jogar 5...a5, para impedir o plano b4-b5 das Brancas, mas isso não é essencial. 5...d6 6 b4 a6

De fato, este lance talvez tenha o mesmo efeito de 5...a5, já que as Brancas provavelmente não chegarão a b5; sem antes jogar a4, para depois jogar b5, as Pretas abrirão a coluna a de qualquer forma. O mais agudo 6...f5 7 b5 ce7 8 e3 f6 9 d4 também é possível. V.Smyslov-D.Levy, Hastings, 1969/1970, continuou com 9...e4 10 ge2 0-0 11 0-0 e6 12

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d5 f7 13 d4 d7 14 f3 exf3 15 xf3 b8?! 16 b2 c8 17 a4 cb6 18 xb6 axb6 19 e4 fxe4 20 xe4 c5 21 c2 d7 22 b3 xb2 23 xb2, com vantagem em espaço. No entanto, as Pretas logo melhoraram em R.Hartoch-N.Spassky, Amsterdã, 1970: 15... b6! 16 e2 c5 17 bxc6 bxc6 18 d2 cxd5 19 xd5 c8 20 a5 exd5 21 cxd5 xd4 22 exd4 f6 23 xb6 axb6 24 xb6 xd4+ 25 f2 d3 26 xd6 c2 27 f3 d4+ 28 h1 e8 29 h3 ee2 30 d8+ g7 31 a3 e8 32 g1 xg1+ 0-1. 7 e3 f5 8 ge2 f6 9 d3 0-0 10 0-0 d7?!

Mas este e o próximo lance das Pretas são muito passivos. As Pretas deveriam tentar estabelecer contrajogo na ala do rei mais rapidamente, baseando-se em planos envolvendo ... h8 e ...g5, normalmente seguido por ... e7-g6, e às vezes ...c6, com possibilidade de ação central. Por exemplo, A.Miles-W.Browne, Las Palmas, 1977, continuou com 10... e7 11 a4 h8 12 b5 axb5 13 axb5 g5 14 f4 h6 15 d2 g6 16 b2 h7 17 a1 xa1 18 xa1 gxf4 19 exf4 h5 20 d5 xd5 21 xd5 h6 22 g2 h4 23 d1 e8 24 fxe5 dxe5 25 g1 c6 26 bxc6 bxc6 27 f3 hxg3 28 hxg3 f4, com um ataque. As Pretas também atingiram chances satisfatórias em M.Sibarevic-W.Browne, Banja Luka, 1979, após 10...g5 11 b5 axb5 12 cxb5 e7 13 f4 h6 14 a4 h8 15 d2 c6 16 h1 e6 17 e4 gxf4 18 gxf4 fxe4 19 dxe4 c4, e aqui em A.Lagunow-C.Pritchett, Liga Alemã, 1992, após 10... h8 11 a4 g5 12 d5 e7 13 f4 gxf4 14 exf4 exd5 15 cxd5 c6 16 dxc6 bxc6 17 h3 e6 18 e3 d7 19 d2 d5. 11 a4 b8 12 b5 axb5 13 axb5 e7 14 a3 e6!? Movendo este bispo novamente, as Pretas admitem arrependimento tácito por seu 10o lance, mas precisam de d7 para o desenvolvimento de sua dama. Agora as Brancas têm uma boa vantagem. As Pretas ainda nem começaram a ação na ala do rei e não será fácil para elas chegarem a ...c6. 15 b3 b6?!

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No entanto, este lance enfraquece muito c6 e só faz as coisas ficarem piores. Em vez de voltar todas suas forças para a defesa, as Pretas deveriam ter preferido 15... h8, e se 16 d4 e4 17 d5 g8 18 d4 d7, tornando mais difícil para as Brancas progredirem. 16 d4 e4 As Pretas não podem permitir que as Brancas troquem peões em e5, seguido por fd1, quando elas mesmas logo precisarão de fôlego. 17 d5 f7 18 d4 d7 Isto também é melhor. Após 18... d7, visando transferir seu cavalo para c5, Smyslov pretendia 19 e6 xe6 20 dxe6 e5 21 d5. 19 b2 g5!? Finalmente as Pretas conseguem esse lance. Mas ele já não tem mais nenhuma força de verdade e enfraquece o peão f das Pretas. 20 ce2 h8 21 a1 g6 22 f4!

As Pretas não têm uma boa resposta para esse lance. Elas devem abrir a coluna f ou permitir 22...g4 23 a7, deixando seu jogo uma ruína posicional e sem qualquer contrajogo. 22...exf3

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Agora o cavalo preto tem que recuar para uma defesa humilhante em e7 a fim de defender seu peão em f, mas 22...gxf4 23 xf4 xf4 24 xf4 perde o peão preto em f de imediato. 23 xf3 e7 24 c6 be8 25 ed4 fxd5!? Com este jogo desprovido de perspectivas posicionais e com pouquíssimo espaço, este lance é uma ótima tentativa nestas circunstâncias. Enxadristas menores já poderiam ter-se curvado a essas alturas, mas não Smyslov! 26 cxd5 xd5 27 xf5!!

Smyslov visualiza a profunda refutação e evita o confuso 27 c2? xf3 28 xf3 g6. 27... xf5 As Pretas têm que recusar o sacrifício da dama branca. Após 27... xb3 28 xg7+ g8 29 cxe7+ xe7 30 xf8 xf8 31 a8+ f7 (ou 31... e8 32 xd6+) 32 d4+ g7 33 xb3, ou 27... xf5 28 xd5 xb2 29 af1, as Pretas perdem um cavalo. 28 xg7+ g8 As Brancas ganham o cavalo preto novamente após 28... xg7 29 c3+ g8 30 xf5 xf5 31 e4!, e se 31... xe4 32 xe4 xe4 33 e1. 29 xf5!!

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Desta vez as Pretas têm que aceitar a dama branca. 29... xb3

30 xg5! O primeiro objetivo realmente importante das Brancas fica claro. Elas acreditam que com torre e uma peça menor pela dama, elas devem ter um ataque ganhador. As Pretas têm duas tentativas de defesa. Elas podem ou buscar fechar a coluna g, reduzir o alcance de ataque da torre branca em g5 (como fazem na partida), ou podem jogar 30...h6 para criar uma casa de fuga para seu rei em h7. Contra a última tentativa, Smyslov pretendia 31 xe7+, e se 31... xe7 32 a8+ e8 33 xh6+ h7 34 g7+ xg7 35 xg7 xa8 36 xa8 xg7 37 g4, com um final ganho de bispo e peão. Ou se 31... xe7 32 xh6+ h8 33 h5 g8 34 f1, e as peças brancas têm tal domínio na ala do rei que serão obrigadas, cedo ou tarde, a perseguir o rei preto exposto. 30... g6 31 h6! O que faz a combinação das Brancas tão impressionante é o modo como seu sucesso depende de uma mistura complexa de tática acurada e bons julgamentos. Elas devem ter previsto este lance belo e preciso do bispo, assim como seus próximos dois lances, já que juntos constituem a base fundamental para seu ataque na ala do rei. Se agora 31... xe3 32 xg6+ hxg6 33 xe3, as Brancas ganham muito material pela dama. Após 31... h8, para vagar g8 para a torre preta, Smyslov planejou 32 d4, e se 32... c4 33 c6 h3 34 f5!, ameaçando não apenas 35 xe8, mas também 35 g2, ganhando a dama preta. 31... e6 32 h4! As Brancas criam uma casa segura para seu rei em h2 e ameaçam desalojar o cavalo importante das Pretas, jogando h5. 32 xe3+ 33 h2

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As Brancas ameaçam tanto 34 h5 quanto 34 xg6+, deixando as Pretas sem escolha no próximo lance. 33... c3 34 f1 c4 35 f2 e1 36 gf5 xb5 Está claro que as Brancas estão ganhando. As Pretas já não podem mais impedir h5, seu cavalo não pode se mover e sua torre não pode sair da sua fileira inicial sem permitir mate em f8. Além disso, elas ainda podem adiar o inevitável por um ou dois lances após 36... e6 37 f6. 37 d2 b1 38 d5+ h8 As Pretas são pegas em uma rede de mates. Se 38... g7 39 f7+ h8 40 c3+ e5 41 xe5 dxe5 42 xc7, ameaçando 43 xe5+ e dá mate. 39 c3+ e5 40 xe5 dxe5 41 xe5 1-0 A carreira de Smyslov continuou na ativa até a virada do milênio. Esta longevidade notável talvez possa ser atribuída a seu excelente condicionamento físico e atitude positiva. Na vida, como no xadrez, Smyslov sempre valorizou a harmonia. Outros interesses foram especialmente importantes, e ele escreveu que sua “paixão por música e canto não trouxe-me apenas prazer, mas também ajudou-me a relacionar com mais calma todas as vicissitudes do destino”. Talvez a maneira com que Smyslov jogava xadrez também tenha desempenhado um papel aqui. De acordo com Max Euwe, na introdução da edição de 1980, em inglês, do livro The Chess Struggle in Practice, de Bronstein, enxadristas como Smyslov e Tigran Petrosian possuíam uma habilidade de fazer bons julgamentos posicionais, o que significa que eles não precisavam esgotar-se com análises contínuas nem cálculos. Enxadristas como Bronstein e Tal, por outro lado, calculavam incessantemente e arriscavam a exaustão. Euwe achava que “Smyslov e Petrosian, apesar de serem capazes de calcular tão profundamente quanto os enxadristas combinacionais por excelência, começavam a calcular somente caso sentissem que algo que valesse a pena pudesse surgir”. Eu hesito em dar muita importância a isso, mas, de qualquer forma, Smyslov desfrutou do desabrochar tardio de sua melhor forma quando estava na casa dos sessenta.

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O desabrocho tardio de Smyslov começou com sua qualificação inesperada para outra série do Candidatos no início dos anos de 1980. Em 1982, jogando um xadrez maravilhoso, ele terminou em segundo no Interzonal de Las Palmas. Smyslov pode ter conseguido, de fato, beneficiar-se de seu estilo econômico de jogar por esta época. Com certeza a fluência de seu jogo em algumas de suas partidas alcançou grandes alturas. A vitória de Smyslov contra o seis vezes Campeão dos EUA, Walter Browne, em Las Palmas é um exemplo disso. É possível entender como as Pretas vencem, mas é difícil acreditar que uma partida de tal nível pudesse ser ganha dessa maneira. Como que enfeitiçados, rei e bispo pretos flutuam pelo tabuleiro aberto, no qual torres estão ativas, alcançando duas casas distantes (a2 e b3), a partir das quais elas lançam uma devastação instantânea e vitoriosa.

Partida 13 W.Browne – V.Smyslov Interzonal de Las Palmas, 1982 Defesa Bogo-Índia 1 d4

f6 2 c4 e6 3 f3 b4+ 4 d2 A principal alternativa das Brancas é 4 bd2, contra qual Smyslov gostava de responder com 4...c5, feliz em trocar o par de bispos por tempo para desenvolvimento e estruturas de peões extremamente sólidas após 5 a3 xd2+ 6 xd2 (ou 6 xd2 cxd4, seguido por ...d5) 6...d6, e se 7 dxc5 dxc5 8 c3 xd1+ 9 xd1 b6 10 g3 b7 11 g2 bd7 12 0-0 e7.

Em Y.Seirawan-V.Smyslov, Tilburg, 1994, as Brancas não conseguiram refutar o jogo das Pretas após 8 c2 bd7 9 0-0-0 c7 10 g3 g4! 11 f4 e5 12 h3 h5! 13 xg4 hxg4 14 xe5 xe5 15 d5 h5 16 xe5+? (16 hd1 e6 17 xe5 xe5 18 h7 d8 19 xd8+ xd8 20 xe5 g6! é aproximadamente igual) 16... xe5 17 h7 f6! 18 d1 f7 19 h8 c6 20 d8 e8 21 h5+ e7 22 d6 e4 23 d3

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e6 24 d6+ d8 25 e5+ d7 26 f7 f5 27 f4 g5 28 e3 e6, e as Pretas venceram. Smyslov também ficava feliz em jogar as estruturas que surgiam após 5 e3 b6 6 d3 b7 7 a3 xd2+ 8 xd2 d6. Ele sabia como fazer bispo e cavalo terem sucesso contra dois bispos nesta linha, como em H.Grooten-V.Smyslov, Tilburg, 1992, que continuou com 9 dxc5 dxc5 10 c2 bd7 11 c3 e7 12 0-0-0 0-0-0 13 d2 g6 14 e5 he8 15 a4 xe5 16 xe5 a6 17 f3 d7 18 g3 e5 19 e4 xe4 20 fxe4 b8 21 d5 g5 22 d2 h5 23 g1 h4, e as Pretas colocaram pressão.

4...a5 Este lance bastante flexível também era um dos favoritos de Smyslov. A resposta das Brancas, que visa restringir certas opções de ...b6 para as Pretas, provavelmente seja o teste crítico. 5 g3 Contra 5 e3, 5 c3 e 5 c2, Smyslov novamente gostava de jogar sistemas baseados em ...d6 e ... bd7, dando-lhe um variedade de maneiras possíveis para completar seu desenvolvimento e reagir no centro com ...c5 e/ou ...e5, com ou sem ...b6. As Pretas também podem levar em consideração linhas baseadas em ...d5. As Brancas fracassaram em K.Spraggett-V.Smyslov, 6a partida do match, Montpellier, 1985, após 5 c3 0-0 6 e3 d6 7 c2 bd7 8 d3 e5 9 0-0 e8 10 e4 exd4 11 xd4 c6 12 ae1 e5 13 h3!? c5 14 e3? xh3! 0-1. Dois exemplos recentes de defesa baseada em ...d5 são A.Moreto Quintana-M. Suba, Benidorm, 2007, que continuou com 5 c2 c6 6 c3 d5 7 cxd5 exd5 8 g3 0-0 9 g2 g4 10 d3 e8 11 0-0 e4, e T.Sanikidze-V.Golod, Plovdiv, 2008, que seguiu com 5 0-0 d5 6 cxd5 exd5 7 g5 c6 8 e3 f5 9 d3 xd3 10 xd3 bd7 11 0-0 0-0 12 d2 e8, com um jogo satisfatório para as Pretas em ambos os casos. 5...d5 Especialistas em aberturas costumam dar crédito a Smyslov e Mark Taimanov pela popularização dessa ideia. Smyslov deve ter ficado insatisfeito com sistemas ...d6 contra 5 g3 por volta de 1980, possivelmente depois de perder em

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L.Polugaevsky-V.Smyslov, Campeonato da Equipe da URSS, 1979, após 5...d6 6 g2 bd7 7 0-0 e5 8 c3 exd4 9 xd4 0-0 10 c2 e5!? 11 g5 h6 12 xf6 xf6 13 d5 d8 14 xb4 axb4 15 c5, e as Brancas colocaram pressão.

A ideia de Smyslov baseia-se em jogar ...dxc4, seguido, após c2 e xc4, de um ataque rápido às casas brancas centrais das Brancas com ... d5. 6 g2 O mais comum. Depois de 6 c2, 6...c5 é possível. A.Chernin-V.Ivanchuk, Varsóvia, 2002, por exemplo, continuou com 7 xb4 axb4 8 dxc5 a5 9 bd2 xc5 10 d3?! c6 11 cxd5 xa2!, e as Pretas ficaram bem. As Pretas também conseguiram um jogo satisfatório em D.Bocharov-A.Kosten, Izmir, 2004, após 7 dxc5 c6 8 g2 d4 9 xb4 axb4 10 bd2 0-0 11 0-0 e7 12 b3 e5 13 g5 h6 14 e4 f5 15 xf6+ xf6 16 e4 xe4 17 xe4 e6 18 d5 g6 19 f4 exf4 20 xf4 fe8. 6...dxc4 Smyslov joga de acordo com sua interpretação original da linha. As Pretas também podem jogar em linhas mais fechadas, como em S.Haslinger-J.Stocek, Port Erin, 2006, por exemplo, que continuou com 6...0-0 7 0-0 bd7 8 c2 c6 9 f4 e7 10 bd2 h5, ou como em A.Giri-M.Miezis, Bussum, 2008, que seguiu com 7... c6 8 c2 d7 9 a3 e7 10 f4 d6!?. A linha complicada 6...0-0 7 0-0 dxc4 8 c2 b5!? também é possível, como em R.Bouhallel-V.Ikonnikov, Liga Francesa, 2005, que continuou com 9 a4 c6 10 c3 b7 11 axb5 cxb5 12 xb5 a6 13 c3 e7 14 fd1 b4 15 b1 a6 16 e3 a8 17 e1 xg2 18 xg2 b8, e as Pretas ficaram bem. 7 c2 c6 8 xc4 d5 Depois de ter vagado d5, Smyslov apressa sua dama para o centro para que ela lute pelas casas brancas centrais e para impedir e4. Agora as Brancas têm que escolher: ou trocam as damas em d5 e jogam por uma pequena vantagem em um meio-jogo sem damas (como na partida), ou mantêm as damas no tabuleiro e jogam por uma pequena vantagem em situações mais complexas.

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xd5 A alternativa principal, 9 d3 0-0 10 c3 h5 (ou 10 0-0 d8 11 c3 h5), leva a meios-jogos complexos nos quais a dama preta ativa em h5, associada à possível pressão na coluna d, deixa-nos sem saber se as Brancas conseguirão estabelecer seu peão e em e4. A partida V.Akopian-V.Smyslov, Moscou, 1992, continuou: 11 a3 xc3 12 xc3 d8 (mais tarde V.Tukmakov-V.Smyslov, Rostov do Don, 1993, viu 12...b6 13 0-0 a6 14 c2 e7 15 fe1 c5) 13 c2 f5!

com jogo incerto. 11... e7 também é jogável aqui, embora as Brancas tenham conseguido obter vantagem em Z.Ribli-V.Smyslov, 2a partida do match, Londres, 1983, após 12 0-0 d8 13 c4 d7 14 fe1. 9...exd5 10 c3 Não é fácil de abalar o controle que as Pretas têm das casas brancas. De fato, seu jogo também foi satisfatório em G.Tunik-P.Maletin, Moscou, 2006, após 10 0-0 f5 11 f4 0-0-0 12 a3 e7 13 c3 e4 14 b5 d7 15 fc1 g5 16 e3 f6 17 d2 e8 18 xe4 dxe4 19 d1 ed8. 10... e6 Smyslov gostava desse lance porque ele fortalecia o centro das Pretas. Jogos posteriores mostraram que 10... f5 e 10... g4 também são jogáveis. 11 c1 a4!

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As Pretas fazem com que seu peão a funcione bem, aumentando as possibilidades de um ...a3 no futuro, enfraquecendo as casas pretas da ala da dama das Brancas. Se as Brancas tentassem evitar isto por conta própria jogando a3, elas enfraqueceriam suas casas brancas. 12 b5?! As Brancas reagem bruscamente. 12 e3 era mais seguro (11 e3 também era bom mais cedo), protegendo d4 e lançando uma pequena ameaça posicional para obter o par de bispos com g5. 12... xd2+ 13 xd2 d8 14 e5!? Ainda era possível jogar 14 e3, protegendo seu peão d, cuja vulnerabilidade temporária se torna crucial durante os próximo lances. 14... a5!

É claro que as Brancas devem ter visto este lance, mas o que foi que deixaram passar? A ativação ousada da torre preta na ala da dama força a resposta das Brancas. Ou, se o cavalo branco retirar-se de b5, o cavalo preto irá simplesmente capturar o peão branco d. Será que as Brancas tinham esperanças de jogar 15 xc6? Se sim, tendo alcançado esta posição, elas fizeram certo em rejeitar este plano. Smyslov teria respondido com 15... xb5, e se 16 xe6!? (ou 16 c2 e4+!) 16...fxe6 17 f7+

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e7 18 xh8 xb2+ 19 d3 xa2 20 b1 b6 21 c1 e8, e, com o cavalo branco trancado em h8, os dois peões passados extras e a torre ativa das Pretas dão a elas jogo mais que necessário em troca do bispo perdido. 15 xc6+ bxc6 16 c3 e7! Evitando 16... d7?!, pois 17 b3 axb3 18 axb3 b8 19 a4! xb3? perde para 20 c5+, mas agora as Pretas têm a iniciativa e levam seu rei rapidamente para d6 a fim de apoiar uma ruptura com ...c5. 17 d1!? d6 18 f3!?

As Brancas estão um pouco pior e não podem impedir que as Pretas ganhem território na ala da dama com ...c5. No entanto, talvez elas tenham mais chances de defender-se no final com 18 e3 c5 19 dxc5+ xc5 20 xc5 xc5 21 c3 b4. 18...c5 19 dxc5+ xc5 20 xc5 xc5 21 c3 b4! O rei preto é uma peça realmente lutadora, e as Pretas planejam ...c5, com ...d4, uma ameaça iminente (revelando um ataque terrível em a2). 22 c1 c5 23 e3 Finalmente! Mas o forte rei das Pretas e seus peões em c e d mostram-se grandes problemas agora. No entanto, as Brancas não se atrevem a jogar 23 a3+?, permitindo que o rei preto chegue a b3 com ameaças ganhadoras. 23...d4 24 exd4 cxd4

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25 a3+? As Brancas se curvam, afinal. Uma vez que o rei preto chegue em b3, o jogo das Brancas estará, quase com certeza, perdido. As Brancas ainda poderiam ter tentado 25 e2 d8 26 a1 (Smyslov sugeriu 26 b3), mas as Pretas ainda têm boas chances após 26... d5 27 f4 (as Brancas não podem melhorar com 27 a3+ b3 28 xd4+ xb2 ou 27 xd4 b6 28 e3 c4+ 29 e4 d5+ 30 f4 xb2, pois em ambos os casos as Pretas estão bem) 27... e3! (27... b6! também é bom), e agora 28 e4 c4+ 29 c2 d3+ 30 xd3 e3+ (ou 30... xb2 31 xb2 xd3) 31 d2 f5 32 xe3 xd3+ 33 f2 d2, ou 28 a3+ a5 (possivelmente também 28... b3 29 c1+ c4!, mas não 29... xb2?? 30 a2+ b1 31 e4+) 29 e4 c4+ 30 c2 d3+ 31 xd3 xb2 32 xb2 xd3. 25... b3 26 d1 c4 Agora, no entanto, as Brancas ficam sem espaço. O cavalo branco em d1 protege b2, mas tem que correr para e4 a fim de bloquear a ameaça 27... e8 das Pretas, seguida por ... e2+. 27 f2 d5! As Pretas manobram seu cavalo para e3 para que ele proteja o bispo e, portanto, libertam o rei preto para o ataque final. Não 27... e8?, embora permita 28 f1 xf1 29 xf1 xb2 30 d3+ xa3 31 a1+ b3 32 b1+ c4 33 b4+ d5 34 xa4, e as Brancas escapam, mas agora, após 28 f1 xf1 29 xf1 e3!, as Pretas vencem rapidamente. 28 e4 e3 29 c5+ a2!

Apenas este lance de beleza lógica vence! As Brancas podem defender depois de 29... xb2? 30 xa4+ xa3 31 b6, mas, depois de 30 xa4 b5, elas perdem uma peça. 30 h3 b3! E agora, de maneira surpreendente, só este lance vence. Basta olhar para o rei e bispo pretos! O domínio das casas brancas na ala da dama exercido pelas Pretas é absoluto. Seu bispo defende seu peão a, que tem de continuar no tabuleiro para vencerem a partida; e rei, cavalo e torre pretos combinam-se agora para acabar com a última tentativa das Brancas na coluna d.

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d7 c4+ 32 d3 0-1 As Brancas não esperaram que lhe mostrassem 32... e5+ 33 xd4 xd7 34 xd7 d8 35 c7 e6, ganhando uma peça. Qualquer outro lance de rei teria permitido às Pretas que capturassem em b2 com seu cavalo. Tive a felicidade de poder observar Smyslov em ação em 1983 durante seu match na semifinal do Candidatos, em Londres, contra Zoltan Ribli. Smyslov jogou um ótimo xadrez neste match e foi uma inspiração. O ex-Campeão Mundial de 62 anos venceu confortavelmente um enxadrista com metade de sua idade (6½-4½). Com modéstia, ele atribuiu grande parte disso à sua harmonia espiritual. Contrariando sua idade, Smyslov irradiava a energia e boa saúde de um homem de 40 anos. Isto, juntamente com sua experiência vasta e seu talento inato, fez dele um adversário perigoso para qualquer um. Sua reserva de contentamento interior, aparentemente inesgotável, também lhe permitiu simplesmente sorrir bastante. Viktor Korchnoi perdeu para Garry Kasparov na outra semifinal, jogada ao mesmo tempo em que Ribli-Smyslov. Não houve muitos sorrisos durante este duro match. Tony Miles e eu, juntamente com o editor Nathan Goldberg, publicamos uma edição especial destes matches, The Battle of Britain. Eu deveria fazer o trabalho pesado, cobrir os eventos “menores”, enquanto Tony desempenhava o papel do repórter em geral, no match como um todo. Na verdade, ambos os matches foram jogados incrivelmente bem e foram impressionantes. Por mais que tentasse, Ribli simplesmente não conseguia incomodar Smyslov, cuja energia, inventividade e grande técnica não podiam ser igualadas por esse adversário. Mas o fator decisivo no match foi como Smyslov conseguiu criar ataques maravilhosos em três das partidas que jogou com as Brancas. Ribli perdeu estas três partidas; cada derrota parecia ser para ele um golpe terrível. A 5a e a 7a partidas deste match resultaram no fim de Ribli. Vitórias como essas geralmente contam mais do que um único ponto. Ribli não foi só derrotado nestas partidas, mas esmagado pela estratégia sutil, tática brilhante e habilidade inata que seu adversário tinha de atacar com as Brancas contra uma defesa que havia sido uma opção segura para Ribli até então.

Partida 14 V.Smyslov – Z.Ribli a 5 Partida do Match Londres, 1983 Defesa Semi-Tarrasch 1 d4

f6 2 f3 e6 3 c4 d5 4 c3 c5 5 cxd5 xd5 6 e3 c6 7 d3 e7 8 0-0 0-0 Smyslov fez uma ótima escolha em enfrentar Ribli com a Semi-Tarrasch. Com o passar dos anos, ele havia alcançado resultados excelentes com as Brancas nesta abertura. Para jogar esta linha, é preciso um conhecimento profundo de posição e um bom entendimento do momento certo de mudar para a precisão tática.

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Smyslov frequentemente fazia com que as posições com o peão isolado da dama, comuns nesta linha, parecessem bem fáceis. Eis aqui dois exemplos bons, surgindo após 8...cxd4 9 exd4 0-0 10 e1 (10 a3 cxd4 11 exd4 transpõe de volta para a partida), nos quais o homem mais velho ensinou lições aos dois jovens astros em duas situações diferentes:

a) V.Smyslov-A.Karpov, Campeonato da URSS, Leningrado, 1971: 10... f6 11 a3 b6 12 c2 b7 13 d3 c8?! (melhor é 13...g6 14 h6 e8 15 ad1 d5) 14 g5 (14 d5! pretendendo 14...exd5 15 g5 g6 16 xe7! é forte) 14...g6 15 ad1 d5 16 h6 e8 17 a4 a6?! 18 xd5 xd5 19 e3 f6!? 20 b3 h5 21 d5! d8 22 d6 c5 23 d7 e7 24 f4 g7 25 b8 xh6 26 xd8+ f8 27 e3 c6 28 xf8+ xf8 29 d8 1-0. b) V.Smyslov-V.Ivanchuk, Moscou, 1988: 10... f6 11 e4 ce7 12 e5 c6 13 d3 h6 14 xd5 b4 15 g3 h4 16 f3 exd5?! 17 e2 e6 18 a3 c6 19 xc6 bxc6 20 a4 c8 21 h3 e7 22 f4 a6 23 c5 xc5 24 dxc5 b5 25 ae1 h7 26 g3 f5 27 d6 g8 28 e7 g6 29 c3 a4 30 e5 ae8 31 d4 b8 32 1e3 a5 33 f4 d1+ 34 e1 a4 35 d2 b3 36 c3 c4 37 f2 e4 38 xf7! d4 39 xd4 xf7 40 xe4+ h8 41 f5 d5 42 xd5 cxd5 43 e6, ameaçando xh6+ e d6, e as Brancas venceram. 9 a3 cxd4 10 exd4

f6

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Hoje em dia, a escolha principal tende a ser 10... f6, pretendendo ...b6, que deve, de fato, ser um pouco melhor. Mas também já se tentou outros lances, incluindo o imediato 10...b6!? e até mesmo o ambicioso 10...a6!?, planejando ...b5. 11 c2 Enfrentando esta posição pela primeira vez no match, Smyslov decidiu não jogar o teoricamente perigoso 11 e4. No entanto, após alguns estudos posteriores, com seu segundo Yuri Averbakh, Smyslov encontrou um aperfeiçoamento a e jogou-o na 7 partida. O desaventurado Ribli caiu na preparação de Smyslov e ficou em apuros após 11... ce7 12 e5 g6 13 h6 g7 14 xg7 xg7 15 c1! b6 16 xd5 xd5 17 xd5 xd5 18 c7! b7 19 g4. Nesta posição, a torre branca domina a coluna c e exerce bastante pressão sobre a sétima fileira.

O peão isolado da dama das Brancas não apenas está seguro, mas também auxilia o desenvolvimento de um ataque forte na ala do rei feito por suas peças restantes (e peão h). O ataque das Brancas visa destruir f7 e g6, pontos fracos das Pretas. Smyslov havia realizado seus primeiros 19 lances em apenas 12 minutos. Então ele demorou mais de uma hora para os próximos cinco lances, mas quando chegou a seu 24o lance, seu adversário estava com grandes problemas. Esta partida esplêndida terminou com uma grande explosão de tática organizada na ala do rei após 19... ad8 20 d1 a5 21 h4! c8 22 d7 e4 23 g5 c6 24 f3! f5 25 a7 a4 (note que os problemas das Pretas também persistem no final após 25... xg5 26 hxg5, e se 26... a8 27 c7 a4 28 dc1 ad8 29 e7 xd4 30 cc7 e8 31 xe6; nesta linha, 30... f4 fracassa por causa de 31 g3 f5 32 f4, e mais cedo 26... a4 perde após 27 d2 c2 28 xc2 xc2 29 b7) 26 e1 c2 27 b4 b3 28 bxa5 bxa5 29 e4 h6 30 e3 b2 31 g4! g5 32 hxg5 h5 33 g3 h4 34 g4 h3 35 g6 h2+ 36 xh2 h8+ 37 g3 xg2+ 38 xg2 c2+ 39 f2 h2+ 40 xh2 xf2+ 41 h3 f1+ 42 g2 h1+ 1-0 (pois as Brancas jogam 43 g3 e1+ 44 g4 com uma posição ganhadora). 11...h6 Ribli pensou sobre esse lance por 35 minutos. Tanto esse lance quanto 11...g6 são bons para as Pretas, mas não 11... xd4!? 12 xd4 xd4 13 xh7+ h8 14 e4, quando as Brancas parecem estar um pouco melhores.

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b6 13

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c4

13... d8 Ribli joga bem neste momento. Ele contra-ataca o peão branco em d4, enquanto que seu bispo da dama pode se desenvolver via d7. É claro que ele não deveria jogar 13... xd4? 14 xd4 xd4 15 a4 c7 16 xd4 b5 17 xh6!, e as Brancas vencem. 14 e2 d7 15 e4 ce7! Mais uma vez, admiravelmente inabalado pelo realinhamento da dama e do bispo brancos na longa diagonal de casas brancas, Ribli fez certo em fortalecer suas defesas na ala do rei e no centro. Ao mesmo tempo, ele libera as casas na ala da dama para seu bispo da dama e procura trocá-lo. 16 d3 a4? Mas tudo começa a dar errado a partir daqui. Antes de trocar os bispos, Ribli força a torre branca para uma casa que no fim das contas é melhor para ela. As Pretas deveriam ter jogado o imediato 16... b5! 17 h7+ f8, e se 18 g3 xd3 19 xd3 ac8 20 h3, com um jogo igualado, na opinião de Smyslov. Além disso, se as Pretas receavam ter a dama branca em h7, elas também deveriam ter considerado 16... g6. O mal julgamento de Ribli custa-lhe caro. As Pretas não precisam necessariamente manter a dama branca sempre fora de h7, já que não fica claro que ela possa alcançar qualquer coisa sozinha lá. No entanto, constata-se que, com a torre em e1, a pressão extra das Brancas sobre a coluna e faz uma diferença significativa.

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h7+ f8 18 e1 b5 19 xb5 xb5 20 g3 g6? Ribli continua tentando defender, mas esta pode ter sido sua última chance de impedir o pior. As Pretas tinham que tentar o lance mais puramente defensivo 20... g8, que adiciona importante proteção extra para h6 e f6, assim como para sua primeira fileira. 21 e5 de7 As Pretas depositaram toda sua esperança no contrajogo, mas sua posição parece crítica agora. De fato, elas enfrentam diversos perigos na defesa. Smyslov dá: a) 21... xe5 22 dxe5 e7 (ou se 22... de7 23 h5 f5 24 xg7) 23 xg7 h8 24 f5+ exf5 25 e6!, com um ataque ganhador. b) 21... df4 22 xf4 xf4 23 f5 g6 (ou 23...exf5 24 d7+) 24 xh6! e vence. 22

xh6!

Sem um cavalo em g8, as Brancas podem sacrificar. É óbvio que o bispo branco não pode ser tomado por causa do mate em f7. As Pretas também devem perder após 22... xe5 23 xe5! xe5 24 xg7+ e8 25 dxe5, ou 22... xd4 23 xg6+ xg6 (ou se 23...fxg6 24 xe6!) 24 h5 gxh6 (ou 24... xh5? 25 xg7+) 25 xf6, ameaçando g8+, tomando a torre preta em a8, e se 25... e7 26 g8+ e8 27 xh6. As Brancas também poderiam jogar 22 h5, que parece forçar uma transposição de volta para a partida após 22... xe5 23 xh6, ou para nossa última variante após 22... xd4 23 xg6+ xg6 24 xh6!. As Pretas também não conseguem defender nesta linha após 22... xe5 23 dxe5 f5 (ou se 23... xe5 24 xh6!) 24 xg7 xg7 25 xh6. 22... xe5 23 h5!

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Está tudo horrível para as Pretas agora, e seu próximo lance é um pouco forçado. Se elas deixarem seu cavalo ser tomado em e5, jogando 23... f5 24 xf6 xh6 25 dxe5, as Brancas vencem após 25... f5 26 ac1!, ameaçando c7 (Smyslov). Em vez disso, mates-surpresa de dama e cavalo surgem de repente no tabuleiro após 23... xd4 24 xf6 gxh6 25 xh6 mate, ou 23... 5g6 24 xg7+ xg7 25 xg7+ e8 26 f6 mate. 23... f3+ 24 gxf3 f5 24... xh5? permite, de novo, 25 xg7+. 25 xf6 xh6 26 d5! Este lance também prejudica. As brancas ameaçam irromper em e6. O lance também serve a um propósito muito maior de vagar uma casa-chave na longa diagonal de casas pretas.

26... xb2 A dama das Pretas apressa-se cautelosamente para aquela diagonal. Isto não as salva, mas não havia nenhuma alternativa melhor. As Pretas também perdem após:

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a) 26...gxf6 27 dxe6 g5+ 28 h1 fxe6 29 g1 f4 30 g7!, ameaçando h8+ e escapando de todos os mates das Pretas após 30... xf3+ 31 g1 d1+ 32 xd1 xd1+ 33 g2 d5+ 34 f3 d2+ 35 h3 – detectado por um espectador, John Nunn, enquanto a partida estava sendo jogada. b) 26... f5 27 g8+ e7 28 xe6+!, e se 28...fxe6 29 xe6+ f8 30 h7 mate – Smyslov. c) 26... xd5 27 h8+ e7 28 xd5+ xd5 29 xa8 vence. h8+ e7 28 xe6+! Tendo desobstruído d4, agora as Brancas querem desobstruir as outras duas casas que continuam ocupadas na longa diagonal com uma série de sacrifícios e xeques forçados. 28...fxe6 29 xg7+ f7 Ou 29... d6 30 e4+ e as Brancas ganham a dama preta de imediato. 30 d6+! De qualquer modo, a dama preta logo estará perdida. 30... xd6 31 d5+!

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Parece até que as Brancas conseguiram o impossível nas casas pretas. Ribli está perdido. As Pretas não têm material de compensação suficiente por sua dama, e seu rei continua exposto a ameaças de ataque. 31... xd5 32 xb2 b6 33 b4+ f6 34 e1 h8 35 h4 hd8 36 e4 d6 37 c3+ e5?! No apuro de tempo, as Pretas perdem um peão, o que encurta seu tormento. 38 xe5 xe5 39 f4 f7 40 fxe5+ e6 41 c4+ 1-0

3 Robert Fischer (1943-2008) Se os soviéticos eram a antítese da tese de 1930, então Fischer era a nova síntese... uma dialética que teria agradado Karl Marx. Andrew Soltis, Bobby Fischer Rediscovered

Se a Escola Soviética levou o xadrez adiante para uma nova era com mais aventuras, pesquisas aprofundadas e riscos calculados, Bobby Fischer foi o encarregado de levar este espírito ao seu limite. De certa forma, Fischer antecipou o que Kasparov descreveu como uma mudança que somente começou de verdade com o auxílio de computadores cada vez mais modernos durante os anos de 1990. Como enxadrista, Fischer devotou sua vida à busca obstinada pelas verdades mais precisas no xadrez, baseadas em variantes. “Na nossa era, as evidências das variantes estão se tornando cada vez mais convincentes (diferentemente da regra anterior, que afirmava que ‘em qualquer variante mais longa há erros’)”(Kasparov). Muito antes de haver qualquer auxílio de computadores (que hoje nos ajudam a analisar variantes de forma muito mais acurada) não havia nenhum mestre mais notável que Bobby Fischer na arte de enredar seus adversários em uma rede de variantes confusas, complexas e normalmente corretas. É claro que isso não quer dizer que Fischer era apenas uma máquina de cálculo ou um “memorizador” de livros. Muito à frente de todos seus colegas enxadristas, em seus melhores anos ele formulava planos complexos e intrinsecamente corretos quase que rotineiramente. Mas há uma concepção, de fato real, de que Fischer parece ter sido impulsionado por um desejo quase fanático de encontrar a verdade no xadrez em uma série de variantes claras e corretas. Nesse sentido, Fischer estava à frente de seus colegas, mas é claro que ele também utilizou fundações já existentes. A nova Escola Soviética já havia expan-

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dido, aprofundado e aguçado o xadrez, baseada na verificação definitiva do rigor analítico. Fischer realizou grande parte da conclusão deste trabalho, beneficiando-se da riqueza de materiais disponíveis em livros do pós-guerra escritos pelos soviéticos e em suas excelentes revistas de xadrez. Fischer prestou atenção a todas as grandes ideias soviéticas sobre iniciativa, sistemas dinâmicos de abertura, assunção de riscos e assim por diante, e absorveu sua abordagem analítica ao jogo. Isto levou-o a reconhecer a necessidade de planos grandiosos, mas também, talvez mais do que qualquer um de seus colegas, a desconfiar deles. Fischer calculava vigorosamente em seus jogos com o objetivo de decidir não só qual a melhor maneira de desenvolver seus planos, mas também quando ele poderia divergir deles. Possivelmente este espírito manifestava-se mais na abordagem de Fischer ao material. Se, em qualquer momento de uma partida, Fischer pensasse que poderia ganhar material de maneira segura, ele quase sempre tomava-o. De fato, muitas vezes seu jogo era extremamente predatório nesse sentido. Às vezes ele ficava exuberante, mas seus instintos em relação a material eram, sobretudo, infalivelmente mortais. De acordo com Soltis, esta ênfase em material no xadrez de Fischer era característica. Soltis sugere que o estilo de Fischer exemplifica uma maneira nova e mais moderna de jogar xadrez, baseada na conquista de “uma harmonia perfeita entre posição e material”. Os soviéticos expandiram a superestrutura de concepções; Fischer fundamentou com ainda mais firmeza as concepções quanto à subestrutura do material, usando seu talento de criação de variantes quase sempre corretas para alcançar esta façanha. Sem dúvida, Fischer desenvolveu muito cedo uma habilidade acentuada de perceber, nutrir e converter as vantagens oferecidas por pequenos ganhos. Ele possuía maestria, técnica e recursos analíticos para ultrapassar a maioria dos obstáculos que seus adversários colocassem em seu caminho, e muitas vezes terminava tais passagens com o surgimento de uma bela combinação. Foi exatamente assim que o mais carismático dos primeiros adversários soviéticos do jovem Fischer, Mikhail Tal, perdeu pela primeira vez do americano de 18 anos, em Bled, 1961. Com apenas 24 anos, Tal já era um ex-Campeão Mundial e naquele momento ele tinha um placar de quatro vitórias e três empates contra Fischer em partidas de enfrentamento direto. Tal jogou relativamente mal, mas não se pode deixar de notar a qualidade analítica e a maestria da maneira brusca, e quase assustadora, com que ele é retirado do tabuleiro. Com o pedido mais sincero de desculpas a Karl Marx e às linhas de abertura no Manifesto Comunista dele e de Friedrich Engels, um “espectro” estava, de fato, “rondando” o xadrez soviético europeu naquela época. Este espectro era o enxadrista americano adolescente Bobby Fischer.

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Partida 15 R.Fischer – M.Tal Bled, 1961 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2 f3 c6 A Variante Najdorf era a preferida de Fischer quando jogava a Siciliana com as Pretas. Também era sua maior arma contra 1 e4, e alcançou sucesso notável com ela, conseguindo manter-se um passo à frente da teoria “conhecida” durante sua carreira. Contra a linha principal, 2...d6 3 d4 cxd4 4 xd4 f6 5 c3 a6 6 g5, ele lutou de forma consistente pelas variantes complexas que surgem após 6...e6 7 f4 e7 8 f3 c7 9 0-0-0 bd7, assim como pela obscura Variante do Peão Envenenado em que há controvérsias quanto à captura do peão, 7... b6. Quando Fischer enfrentava a Najdorf, ele quase sempre respondia com 6 c4. Durante a maior parte dos anos de 1960, parecia que só Fischer realmente conhecia os segredos de como jogar a Najdorf, tanto com as Pretas quanto com as Brancas; ele acumulou diversas vitórias jogando com ambos os lados. 3 d4 cxd4 4 xd4 e6 5 c3 Fischer também tirou bastante vantagem de uma linha mais aguda durante sua carreira, 5 b5 d6 6 f4 e5 7 e3 f6 8 g5, incluindo vitórias importantes em dois de seus matches no Torneio de Candidatos em 1971. Ele jogou um belo gambito posicional em R.Fischer-M.Taimanov, 2a partida do match, Vancouver, 1971, que continuou com 8... a5+?! 9 d2! xe4 10 xa5 xa5 11 e3 d7 12 1c3 xc3 13 xc3 d8 14 b5 e6 15 0-0-0 b6 16 f4, com compensação mais que suficiente pelo peão branco. As Pretas melhoraram isto em a R.Fischer-T.Petrosian, 1 partida do match, Buenos Aires, 1971, após 8... e6! 9 1c3!? (9 d2 é melhor) 9...a6 10 xf6 gxf6 11 a3 d5! 12 exd5 xa3 13 bxa3 a5 14 d2 0-0-0, apesar de acabarem perdendo nesta partida, as Pretas estavam melhores. 5... c7 6 g3 f6?!

Este é um erro grave, permitindo que as Brancas desenvolvam com tempo. Aparentemente Tal pretendia jogar 6...a6, alcançando uma linha principal pa-

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drão e a favorita de longe de Fischer quando jogava com as Brancas após 7 g2 f6 8 0-0. A partida mais famosa de Fischer nesta linha é R.Fischer-M.Taimanov, 4a partida do match, Vancouver, 1971, que continuou com 8... xd4 9 xd4 c5 10 f4 d6 11 d2 h6 12 ad1 e5 13 e3 g4!? 14 xc5! dxc5 15 f3 e6 16 f4 d8?! (melhor 16...0-0) 17 d5 xd5 18 exd5 e4 19 fe1 xd5 20 xe4+ d8 21 e2 xd1+ 22 xd1+ d7 23 xd7+ xd7 24 e5 b6?! (melhor é 24... d6) 25 f1 a5 26 c4, quando a peça menor melhor, a torre e o rei das Brancas forneceram-lhes uma plataforma sólida para que elas explorassem a falta de espaço das Pretas e sua vulnerabilidade nas casas brancas em um final notável.

A partida terminou com 26... f8 27 g2 d6 28 f3 d7 29 e3 b8 30 d3+ c7 (as Brancas também estão melhores após 30... e7?! 31 b5! d8 32 xd8 xd8 33 e4) 31 c3 c6 32 e3 d6 33 a4 e7 34 h3 c6 35 h4 h5!? (Taimanov receava g4 e h5, seguidos por h4 e g5) 36 d3+ c7 37 d5 f5 38 d2 f6 39 e2 d7 40 e3 g6 41 b5 d6 42 e2 d8 43 d3 c7 44 xd6 xd6 45 d3 e7 46 e8 d5 47 f7+ d6 48 c4 c6 49 e8+ b7 50 b5 c8 51 c6+ c7 52 d5 e7 53 f7 b7 54 b3 a7 55 d1 b7 56 f3+ c7 57 a6 c8 58 d5 e7 59 c4 c6 60 f7 e7 61 e8! (Zugzwang) 61... d8 62 xg6 xg6 63 xb6 d7 64 xc5 e7 65 b4 axb4 66 cxb4 c8 67 a5 d6 68 b5 e4+ 69 b6 c8 70 c6 b8 71 b6 1-0. Hoje em dia as Pretas normalmente preferem 13... e6 nesta variante, e se 14 xc5 dxc5 15 d5 xd5 16 exd5 d6 17 f4 0-0 18 fxe5 xe5.

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A partir daqui, G.Guseinov-B.Macieja, Antalya, 2004, continuou com 19 c4 d6 20 fe1 fd8 21 f4 f8 22 b1 e8 23 e5 b6 24 b3 f6 25 f5 d6 26 f2 b5 27 f1 bxc4 28 bxc4 g8, e M.Carlsen-Y.Pelletier, Biel, 2006, seguiu com 19 d6 xb2 20 c4 xd2 21 xd2 ab8 22 a4 fd8 23 e1 f8 24 e5 d7 25 e4 f6, e as Pretas estão bem em ambas as partidas. 7 db5 b8 8 f4 e5?!

As Pretas realmente deveriam ter escapado para uma forma da Siciliana Sveshnikov, jogando 8...e5!? 9 g5 a6 10 xf6 (ou imediatamente 10 a3) 10...gxf6 11 a3. Enquanto g3, o lance extra das Brancas, parece mais útil para as Brancas do que a dama preta estar em b8 em vez de d8, como numa Sveshnikov-padrão, ainda assim isso é mais ativo para as Pretas do que o que realmente ocorreu na partida. 9 e2! Esse lance de alerta coloca muita pressão sobre o jogo das Pretas. Ao cobrir a diagonal d1-h5, as Brancas ameaçam 10 d4, seguido por 0-0-0, acompanhado de devastação na coluna d. As Brancas também aumentam a probabilidade de trocar bispo por cavalo em e5, seguido de f4 e e5, que ganham espaço. 9... c5?! A defesa tipicamente ativa de Tal envolve um gambito duvidoso. Tal sugeriu mais tarde o puramente defensivo 9... g8 10 d4 f6, que está longe de ser confortável, mas pelo menos evita a perda de material. Fischer então considera de maneira correta que, após 11 0-0-0 a6 12 d6+ xd6 13 xd6 xd6 14 xd6, as Brancas têm “um final promissor”. Mas pelo menos as Pretas ainda podem lutar. Contra 9...a6, 9...d6 e 9... b4, as Brancas respondem 10 d4 com pressão esmagadora no centro. 10 xe5 xe5 11 f4 b8 12 e5 a6 Agora já é tarde demais para 12... g8, já que as Brancas ganham facilmente após 13 e4 e7 14 d2, seguido por bd6+ e 0-0-0 – Fischer. 13 exf6 axb5 14 fxg7 “Eu queria o peão”, disse Fischer. A sugestão de Keres, 14 e4 f8 15 d4, também parece boa, mas a decisão de Fischer talvez seja ainda mais forte. 14... g8 15 e4 e7 16 d4 a4?!

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Este lance fracassa, mas as Pretas podem estar perdidas de qualquer forma. Botvinnik sugeriu 16... c7, mas, depois de 17 d3, as Brancas ameaçam f6+, e, com o peão preto isolado em h7 (e com 0-0-0 disponível, como na partida), é improvável que as Pretas consigam defender. 17 f6+ xf6 18 xf6 c7 19 0-0-0! As Brancas podem desistir de maneira segura de seu peão a a fim de conectar suas torres e gerar ameaças perigosas no centro. Seu rei está são e salvo na ala da dama, já que a torre e a dama pretas não conseguem criar nenhuma ameaça de verdade contra ele lá. 19... xa2 20 b1 a6 Tal faz um esforço de fortalecer suas defesas ao longo da terceira fileira em vão. Ele também perde após 20... a5 21 b3, ameaçando h5, ou 20... a5 21 h5 d5 (21...d6 22 xd6) 22 xd5 exd5 23 e1+. 21 xb5 Mais simples era 21 h5! d6 (ou 22...d5 23 xd5) 22 he1, ameaçando xe6+, e se 22... e7 23 h6 d7 24 xh7. Mas Fischer confessou que ele “estava tão interessado em capturar material e não estragar isso” que ele só tinha olhos ao peão preto em b. Ele também havia visualizado o belo sacrifício de dama em seu 23o lance. 21... b6 22 d3 e5

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Ou se 22... d8 23 h6 f5 24 h5+ e7 25 g4, e o rei preto será levado a campo aberto. 23 fxe5! Não é difícil de ver isso, e é extremamente útil – os peões brancos em f6 e g7 custarão uma segunda torre às Pretas depois de elas tomarem a dama branca, pois as Pretas não conseguirão manter seu peão h. Tal pode ter esperado por 23 xe5+ xe5 24 fxe5 xg7, quando ele poderia continuar lutando, mas é claro que ele não poderia acreditar que Fischer permitiria isso. 23... xf6 24 exf6 c5 Após 24... b6? 25 hf1, a situação está bem pior. 25 xh7 g5 26 xg8 xf6 27 hf1 xg7 28 xf7+ d8 29 e6 h6

Os dois peões extras das Brancas garantem-lhe uma vitória fácil. As peças pretas não têm a mínima atividade, e, após 29... c7 30 f5, os peões brancos em g e h vencem rapidamente. 30 xd7 xd7 31 f7 xh2 32 dxd7+ e8 33 de7+ d8 34 d7+ c8 35 c7+ d8 36 fd7+ e8 37 d1 b5 38 b7 h5 Ou se 38... xg3 39 xb5, e os peões brancos b e c vencem. 39 g4 h3 As Pretas também sofrem porque seu rei está exposto e porque perdem agora um terceiro peão. Depois de 39... xg4? 40 h1, as Brancas ameaçam h8 mate , e se 40... d4 41 h8+! xh8 42 b8+. 40 g5 f3 41 e1+ f8 42 xb5 g7 43 b6 g3 44 d1 c7 45 dd6 c8 46 b3 h7 47 a6 1-0 Assim como Vassily Smyslov quando adolescente, o jovem Bobby Fischer foi um dos enxadristas mais instruídos do mundo, assim como de um talento formidável. Era uma atividade de tentativas e erros para Fischer, que não tinha a influência de um pai enxadrista nem de uma biblioteca bem abastecida. Mas, quando o jovem entrou em contato com livros pela primeira vez nos anos de 1950, foi amor à primeira vista. De acordo com seu professor nova-iorquino de xadrez, Jack Collins, com o qual Fischer estudou uns dois anos começando em junho de 1956, Fischer “devorava livros de xadrez mais do que qualquer outra pessoa que vivesse, não

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apenas para o conhecimento enxadrístico, mas ele amava também a erudição”. Os gostos de Fischer iam da International Chess Magazine de Steinitz até as partidas mais recentes e os artigos teóricos nos Shakhmaty v SSSR e Shakhmatny Bulletin. Fischer foi um dos primeiros enxadristas modernos a analisar propriamente, apreciar e adaptar algumas das grandes armas do passado para um combate contemporâneo. Já não nos surpreendemos mais quando alguém na era pós-Fischer, como Garry Kasparov, revive o antigo Jogo Escocês, ou até mesmo o aventureiro Gambito Evans. Fischer premeditou esta tendência duas ou três décadas antes. Fischer gostava de jogar o Gambito Evans às vezes, embora reservasse essa linha principalmente para partidas de exibição. Ele tinha menos restrições quanto ao Gambito do Bispo do Rei, o chocante 9 h3 de Steinitz em um atalho há muito esquecido da Defesa dos Dois Cavalos, a Variante das Trocas da Abertura Espanhola, que ele transformou em uma arma verdadeiramente poderosa, e outras linhas, que ele jogou com sucesso nos anos de 1960. Ao entrevistar Fischer para Chess Life & Review um pouco antes de ele tornar-se Campeão Mundial em 1972, Svetozar Gligoric demonstrou admiração pela “nova” maneira com que Fischer lidou com a abertura na última partida (21a) do match. Fischer confessou, sem nenhuma expressão no rosto, que ele havia, na verdade, “encontrado a ideia em um livro de Anderssen [a coleção das partidas de Anderssen feita por Gottschall, 1912]... é a maneira como eles costumavam jogar antigamente”. Informado e cheio de surpresas, o xadrez de Fischer também constituía-se de atividade contínua dividida em blocos. Desde que aprendeu o jogo aos 6 anos, sua paixão precoce por xadrez foi alimentada dentro do Brooklyn Chess Club e por uma série de mentores adultos, incluindo o Presidente do Brooklyn Club, Carmine Negro. Fischer jogou em vários eventos júnior e adulto, até que em 1956-58 ele deu um grande salto quanto à força de seu jogo. No verão boreal de 1956, aos 13 anos, Fischer ganhou o Campeonato Júnior de Xadrez dos EUA. Naquele ano, foi convidado para enfrentar alguns dos enxadristas americanos mais fortes no Rosenwald Memorial em Nova Iorque. Terminou apenas em oitavo, mas venceu de Donald Byrne de maneira sensacional em uma partida que ficou conhecida como “Partida do Século”. Às custas de muito trabalho e estudo, Fischer começava a se tornar um especialista a nível mundial de aberturas modernas complexas, tais como sua favorita Variante Najdorf da Siciliana, a Defesa Índia do Rei e a Abertura Espanhola. Ciente até mesmo das partidas soviéticas mais ocultas, ele colecionava e analisava todo o material que encontrasse sobre suas aberturas favoritas, numa tentativa de descobrir as verdades e inverdades de suas próprias ideias. Em 1957, Fischer venceu o Aberto dos EUA, seguido logo após da primeira vitória das oito que viriam em todos os oito Campeonatos (fechados) dos EUA de que participou. No Interzonal de Portoroz de 1958, terminou em quinto lugar, e aos 15 anos de idade tornou-se o Grande Mestre mais jovem da história do xadrez. Apenas os melhores soviéticos o detinham naquela época, especialmente Tal e Tigran Petrosian, que qualificaram-se pelos dois Torneios de Candidatos, realizados em 1959 e 1962, e venceram títulos mundiais em 1960 e 1963, respectivamente.

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Então veio o Campeonato dos EUA em 1963-64. Aqui Fischer finalmente mostrou ao mundo que equiparava-se, sem dúvidas, a qualquer grande enxadrista. Ainda com apenas 20 anos, Fischer conseguiu seu quinto título nacional consecutivo, com um placar perfeito de 11/11. Mesmo que o Campeonato dos EUA não pudesse ser comparado em força a um evento equivalente na URSS, este resultado era simplesmente incrível. Certa vez Kasparov caracterizou Fischer em sua fase madura como “o pupilo mais bem-sucedido da Escola Soviética”. Ele iria se tornar o principal professor nos anos seguintes. A vitória inspirada de Fischer sobre Robert Byrne no Campeonato dos EUA de 1963/1964 – uma das partidas mais notáveis jogadas no século XX – foi um magnífico presságio.

Partida 16 R.Byrne – R.Fischer Campeonato dos EUA Nova Iorque, 1963 Defesa Grünfeld 1 d4 Aos 13 anos, Fischer também havia usado a Defesa Grünfeld em sua “Partida do Século” contra o irmão de Robert Byrne, Donald. A bela combinação que segue o erro das Brancas em seu 11o lance foi um prenúncio do que estava por vir. D.Byrne-R.Fischer, Nova Iorque, 1956, seguiu com 1 f3 f6 2 c4 g6 3 c3 g7 4 d4 0-0 5 f4 d5 6 b3 dxc4 7 xc4 c6 8 e4 bd7!? 9 d1 b6 10 c5 g4 11 g5? (11 e2!) 11... a4! 12 a3 (12 xa4 xe4 é muito forte para as Pretas) 12... xc3 13 bxc3 xe4! 14 xe7 b6 15 c4 xc3! 16 c5 fe8+ 17 f1 e6!!

18 xb6 (não 18 xe6 b5+ 19 g1 e2+ 20 f1 g3+ 21 g1 f1+ 22 xf1 e2 mate, e se 18 xc3 xc5!) 18... xc4+ 19 g1 e2+ 20 f1 xd4+ 21 g1 e2+ 22 f1 c3+ 23 g1 axb6 24 b4 a4 25 xb6 xd1 26 h3 xa2 27 h2 xf2 28 e1 xe1 29 d8+ f8 30 xe1 d5 31 f3 e4 32 b8 b5 33 h4

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h5 34 e5 g7 35 g1 c5+ 36 f1 g3+ 37 e1 b4+ 38 e2+ 40 b1 c3+ 41 c1 c2 mate (0-1). 1... f6 2 c4 g6 3 g3 c6 4 g2 d5 5 cxd5 cxd5 6 c3 g7

d1

b3+ 39

c1

7 e3!? As Brancas esquivam-se da linha principal 7 f3 (veja a Partida 11, Botvinnik-Smyslov), e dão a impressão de estarem jogando apenas por um empate. A ambição de abertura das Brancas está restrita a apenas desenvolverem suas peças para casas modestas e razoavelmente seguras. 7...0-0 8 ge2 c6 9 0-0 b6 10 b3 Aparentemente as Brancas não têm como aprimorar seu jogo. Talvez elas devessem preferir 10 f4 para forçar as Pretas a defenderem seu peão d, jogando 10...e6, e então só jogar 11 b3, que Fischer avalia de forma correta como conducente a uma igualdade. Pelo menos isso eliminaria as possibilidades de as Pretas jogarem ...e5, como logo acontece. 10... a6 11 a3 e8

Fischer não gostava de empates rápidos, e prepara ...e5. As Pretas podem igualar rapidamente e sem correr riscos, jogando 11... d7, e se 12 d2 fd8 (ou 12... fc8 13 fc1 c7) 13 fc1 ac8. 12 d2

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Byrne deve ter ficado pensando se Fischer realmente iria jogar ...e5, e sem dúvida passou pela sua cabeça qual 12o lance seria melhor para restringir ou até mesmo impedir isso. Uma partida posterior, S.Balster-A.David, Liga Alemã, 1998, continuou com 12 e1 e5 13 dxe5 xe5 14 f4 c8 15 cxd5 xd5 16 xd5 d3 17 e2 e5 18 e4 f5 19 f4 xe4 20 xe4 fxe4 21 xe4 h8 22 b1 d7 23 c1 e6 24 f3 d4+ 25 g2 e1+ 26 h1 xf3 27 xf3 b7 0-1. Em vez disso, Fischer sugeriu que 12 c1 era “uma boa alternativa”, sem falar mais nada, e deixou-nos na tentação de saber mais. As Pretas poderiam responder 12... c8, e se 13 e1, quem sabe novamente 13...e5. 12...e5 ! – Fischer. É provável que ele esteja certo, mas a situação está extremamente complexa agora. Fischer confessou que ele “estava um pouco preocupado quanto a enfraquecer seu peão d, mas achava que a intensa atividade que as peças menores obteriam não dariam tempo para que as Brancas o explorassem”. “Para realizar tal lance, você deve acreditar de verdade nos seus poderes!”, escreveu Kasparov. E com certeza ele está certo! Fischer não precisava ter corrido nenhum risco nesta posição, pois um empate com as Pretas contra um de seus principais adversários não teria sido um resultado ruim. Mas quando achava que podia jogar um lance forte, quase sempre aceitava o desafio em nome do jogo. 13 dxe5 Apesar de as Brancas estarem vulneráveis nas casas brancas após esta troca, com d3 como um alvo imediato, elas podem tentar colocar pressão suficiente sobre o peão preto em d para compensar. Kasparov acha que a alternativa 13 ac1 exd4 14 exd4 c8 15 fe1, e se 15... e4 16 xe4 dxe4 17 d5 f5 18 f4 e5 19 xc8, é duvidosa e obscura. 13... xe5 14 fd1? Muitos dos grandes enxadristas, e posteriormente computadores, dedicaram muito tempo para a análise desta posição, e ainda não é absolutamente claro o que poderia acontecer. Pelo menos podemos afirmar que a escolha de Byrne é, sem dúvida, ruim. É a torre “ruim” em d1. As Brancas fatalmente enfraquecem f2 movendo sua torre f para lá, embora isso ainda não fosse fácil de avaliar.

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O correto seria 14 ad1!, depois do qual a “refutação” original de Fischer 14... e4!? 15 xe4 dxe4 16 xe4 xd2 17 xd2 c4 18 xa8 xd2 19 d1 c4? fracassa contra o alerta entreato de Yuri Averbakh 20 c6! (20 bxc4? xa8 é melhor para as Pretas devido a seu par de bispos e ao peão débil branco em c), e se 20... xa3 21 xe8 xe2 22 d7. Depois de muito trabalho, Fischer sugeriu, então, 14... c8, e após 15 b2 f5 ou 15 c1 d7 16 cd1 ad8 as Pretas estão ligeiramente melhor. O jogo das Brancas está ainda pior depois de 15 xd5?! xd5 16 xd5 d8 e se 17 f4 xd5! 18 xd5 b7 19 d8+ (ou 19 d2 c6! 20 d5 xd5 21 xd5 xd5 22 fxe5 xe5) 19... xd8 20 xd8+ xd8 21 fxe5 xe5. Aqui, Robert Hübner sugeriu posteriormente 15 d6!?, e após 15... e4 (15... g4!? de Kasparov pode ser melhor) 16 xe4 dxe4 17 xe5 xe5 18 c1, as Brancas parecem estar organizando seu desenvolvimento com controle suficiente no centro para manter a igualdade. Fischer também considerou 14 ad1 d7, mas o rejeitou devido a 15 c2 ac8 16 b1, pretendendo d2, seguido por fd1. No entanto, após o 16... g4 de Hübner, e se 17 h3 h5 18 f4 f3+ 19 h1 h6, as Pretas ainda podem estar um pouco melhor. Hübner seguiu com essa análise, sugerindo que, após os próximos lances 20 cxd5 xf1 21 xf6+ xf6 22 xf1 cd8 23 d5, as Brancas com certeza ainda poderiam lutar. 14... d3!

Este belo lance só funciona de verdade porque f2 foi enfraquecido. Ignorando a tática por um momento, as Pretas ameaçam aumentar seu domínio sobre as casas brancas centrais seguindo com o forte 15... e4. 15 c2? Essa é a única maneira de as Brancas defenderem contra 15... e4, mas infelizmente elas tiveram que permiti-lo. As Pretas estão visivelmente muito melhor após 15 d4 e4 16 xe4 dxe4 17 b2 c8, “com forte pressão” (Fischer), mas isso era relativamente melhor para as Brancas. Fischer também dá 15 f3 h6 16 f4 g7!, renovando a ameaça de ... e4, com pressão contínua, e a linha tática 15 f4 e4 16 xe4 dxe4 17 ab1 c8 18 xd3 (ou se 18 b4 xf4 19 gxf4 xd2 20 xd2 d3 21 bd1 a5 22 d6 c3 23

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xd3 exd3 com uma vitória técnica – Kasparov) 18... c3! 19 e2 xd3 20 g4 f5 21 h3 xb1 22 xd8 exd8 23 f1 d1 24 g2 d3 25 xd3 exd3, e vence. 15... xf2!!

Byrne deve ter considerado esse lance, mas não deve ter notado a força explosiva do 18o lance de Fischer que seguiria. 16 xf2 g4+ 17 g1 xe3 18 d2 xg2!! As Brancas estavam esperando por 18... xd1? 19 xd1, quando, nas palavras de Fischer, “as Brancas estão bem de novo”. Em vez disso, as Pretas desistem de seu cavalo, visando dominar o jogo nas duas grandes diagonais e nas colunas e e d. 19 xg2 d4! As Pretas desobstruem a grande diagonal de casas brancas para que seu bispo em a6 participe do ataque.

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xd4 b7+ 21 f1 A pressão das Pretas sobre o centro e sobre a grande diagonal preta torna-se clara após 21 g1 xd4+ 22 xd4 e1+! e vence. Fischer também dá 21 f2 d7!, e se 22 ac1 h3 23 f3 h6 24 d3 e3+ 25 xe3 xe3 26 xe3 e8+ 27 f2 f5, vencendo.

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21... d7! 0-1

Fischer esperava conseguir jogar a bela linha ganhadora 22 f2 (as Brancas também estão perdidas após 22 db5 h3+ 23 g1 h6) 22... h3+ 23 g1 e1+!! 24 xe1 xd4, mas Byrne deve ter ficado surpreso com a transformação perturbadora de suas chances nos últimos seis lances, e não suportou continuar jogando. Agora todos esperavam grandes feitos do jovem Grande Mestre americano. Mas o que ele fez? Ele parou de jogar! Fischer recusou-se a assumir seu lugar no Interzonal de Amsterdã de 1964, negando-se, deste modo, qualquer chance de tornar-se o Desafiante de Petrosian ao título mundial em 1966. Infelizmente essa política de começar a jogar e parar de repente aumentou num grau alarmante daquele momento em diante, e tornaram-se decisões cada vez mais definitivas. É difícil ter certeza do porquê de Fischer ter parado ou retornado várias vezes ao xadrez competitivo nos seis anos que se seguiram. Já existia uma pequena atividade própria na complexa psicologia de Fischer, e não há nenhum consenso sobre muitas de suas ações. Em 1964, o próprio Fischer tratou como importante o prêmio em dinheiro do Interzonal de Amsterdã, que era pouco; mas, se dinheiro fosse mesmo o problema, certamente poderia ter sido resolvido com apoio financeiro privado. Mais ou menos 18 meses depois, um Fischer mais enferrujado finalmente aceitou um convite para jogar no Torneio Memorial Capablanca em 1965, em Havana. Todo mundo suspirou aliviado. Mas o formato de jogo foi extraordinário. Naquela época, o Departamento de Estado dos EUA impedia cidadãos americanos de visitarem Cuba e não abriu exceção nem mesmo para seu número um no xadrez. Então Fischer teve que jogar suas partidas no Clube de Xadrez Marshall via teletipo. Fischer dividiu o segundo lugar em Havana e então, felizmente, continuou jogando. Logo pegou o ritmo de novo, venceu seis títulos nacionais consecutivos no Campeonato dos EUA de 1965/1966, e então terminou em segundo atrás de Boris Spassky, mas à frente do Campeão Mundial Petrosian, na segunda Copa Piatigorsky, em Santa Monica, 1966. Ele estava, pelo menos provisoriamente, de volta ao xadrez.

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Resumindo a essência do estilo de Fischer quando maduro, Elie Agur enfatizou sua mistura de “coerência” e “paradoxo”. Ele argumenta que enxadristas clássicos, como Fischer, irão mudar constantemente a conduta de seus jogos, em resposta perspicaz aos “elementos mutáveis do xadrez que são vários e contraditórios”. Agur acredita que, como consequência, é difícil de “prever quando tais enxadristas irão mudar de um conjunto de considerações para outro e dar preferência para, digamos, considerações posicionais dinâmicas em vez de materiais”. Com certeza muitas das partidas mais notáveis de Fischer são espantosamente imprevisíveis nesse sentido, tal como sua famosa vitória, com as Pretas, contra Lajos Portisch em Santa Monica. O jogo de Fischer nesta partida tem uma coerência posicional satisfatória que é incomum para ele. Mas isso tudo resulta de duas decisões surpreendentes, e à primeira vista não muito óbvias, em seus lances 9 e 11, altamente perspicazes.

Partida 17 L.Portisch – R.Fischer Santa Monica, 1966 Defesa Nimzo-Índia 1 d4

f6 2 c4 e6 3

c3

b4 4 e3 b6

A principal arma de Fischer contra 1 d4 nos anos de 1950 e 1960 era a Defesa Índia do Rei, mas ele também gostava de jogar todas as Defesas Índias, exceto a monótona Índia da Dama. Ele também jogava muitas Defesas Grünfeld e Benoni Moderna, assim como a linha 4...b6 contra 4 e3 na Nimzo-Índia. Todas essas linhas dão chances para as Pretas jogarem por assimetria e desigualdade. Todas também foram inspiradas em exemplos grandiosos dos soviéticos. Efim Geller jogava maravilhosamente a Defesa Índia do Rei; Smyslov interpretava sutilmente a Grünfeld; Tal esquentou a Benoni Moderna; e Bronstein, Keres, Smyslov e Botvinnik foram pioneiros de muitos caminhos para as Brancas e para as Pretas na 4...b6 da Defesa Nimzo-Índia.

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Fischer absorveu tudo isso e adicionou muitas ideias novas, e muitas vezes de tirar o fôlego, a todas essas aberturas. Ele fez uma afirmação tipicamente confiante sobre 4...b6 em My 60 Memorable Games, dizendo que todos “os outros lances já foram analisados até a morte”. Esse foi o estilo de Fischer dizer “Estou interessado principalmente em novos caminhos”. 5 ge2 Uma das principais ideias por trás deste lance é enfrentar a resposta mais simples das Pretas, 5... b7, jogando 6 a3 e7 7 d5!, com boas perspectivas nas casas brancas centrais. Isso explica a resposta mais ativa de Fischer, 5... a6, colocando pressão sobre c4, uma ideia de Bronstein. Um desenvolvimento mais simples, 5 d3 b7 6 f3, também é possível para as Brancas, mas permite que as Pretas lutem por mais controle na grande diagonal de casas brancas. As Pretas têm um jogo sólido após 6...0-0 7 0-0 e agora 7...d5, 7...c5 ou o preferido de Fischer, 7... xc3 8 bxc3 e4. As Pretas também podem jogar o mais ambicioso 6... e4 7 0-0 f5!.

Uma partida importante nessa linha, S.Gligoric-B.Larsen, Havana, 1967, continuou com 8 xe4?! (8 d5 xc3 9 bxc3 c5 10 a3 ba6 deve ser a prova mais difícil) 8...fxe4 9 d2 xc3 10 bxc3 0-0 11 g4 f5! e as Pretas ficaram bem. Em vez disso I.Rabinovich-A.Alekhine, Campeonato da URSS, Moscou, 1920, continuou sem causar danos com 7 c2 f5 8 0-0 xc3 9 bxc3 0-0 10 d2 h4 11 f3 xd2 12 xd2 c6 13 e4 fxe4 14 xe4?! a5 15 ae1?! xe4 16 xe4 h5 17 a4 xc4! 18 e2 b5 e as Pretas logo ganharam. Mais tarde, I.Aloni-R.Fischer, Netanya, 1968, mudou para 13 ae1 a5 14 b1 d6 15 e1 g5 16 e2 e5 17 e4 fxe4 18 fxe4 xf1+ 19 xf1 c5 20 g1 a6, com uma pequena vantagem estrutural. 5... a6 6 g3 Essa é a tentativa mais aguda das Brancas, ameaçando tomar controle do centro, jogando e4. Depois do calmo 6 a3, as Pretas podem ficar felizes com sua posição após jogar: a) 6... xc3+ 7 xc3 d5 8 b3 c6, e agora L.Evans-R.Fischer, Campeonato dos EUA, Nova Iorque, 1965, continuou com 9 e2 0-0 10 a4 dxc4 (10... d7 11

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0-0 fd8 também é possível) 11 a3 e8 12 b4 e7 13 0-0? (13 b5 b7 14 0-0 é crítico) 13... ed5 14 c1 c6 15 f3 b5, e as Pretas tiveram um bom peão extra. b) 6... e7, e, se 7 f4 d5 8 cxd5 xf1 9 xf1 xd5 (9...exd5 10 g4 0-0! 11 g5 e4 também é possível) 10 cxd5 exd5 11 h5 c6 12 e6 g6 13 e5 f6 14 xd8+ xe5 15 xf7 xf7 16 dxe5 d7 17 f4 c5, o cavalo poderoso das Pretas e o bloqueio das casas brancas compensam totalmente o peão sacrificado. 6... xc3+ 7 bxc3 d5

Depois desse lance, as Brancas têm o par de bispos, mas seus peões em c foram dobrados e o bispo das Pretas exerce uma pressão significativa sobre c4. As Brancas podem trocar peões em d5 a fim de ganhar um peão extra no centro, mas isso permite que as Pretas troquem os bispos de casas brancas, custa tempo de desenvolvimento e deixa as Pretas com um plano de ação óbvio tanto nas casas brancas na ala da dama quanto na coluna c, ao jogarem por ...c5. 8 f3!? As Brancas defendem indiretamente seu peão em c4 e ameaçam 9 e4. Mas Fischer estava preparado para isso e seus lances 9 e 11, belamente concebidos, mandaram o plano de Portisch para os livros de história. As Pretas conseguem chances dinâmicas após 8 cxd5 xf1 9 xf1 xd5 (9...exd5 talvez também seja bom). Uma partida crítica, S.Gligoric-L.Portisch, Wijk aan Zee, 1975, continuou com 10 d3 bd7 11 e4 a5 12 e5 d5 13 c4 b4 14 b3 c6 15 b2 0-0 16 c3 a6 17 b5 b7 18 e1 fd8 19 h4 f8 20 e4 e7 21 h5 f5 22 f4 xg3+ 23 fxg3 c5 24 hh4 cxd4 25 xd4 h6, com um bom jogo para as Pretas. Hoje em dia a ideia do gambito 8 a3 xc4 9 xc4 dxc4 10 0-0! (10 a4+ d7 11 xc4 c6 12 xc6+ xc6 é aproximadamente igual), e se 10... d7 11 b1!, é considerada a linha principal. Mas não 11 e4?!, que permite o ativo 11... b5!, como em L.Szabo-V.Hort, Wijk aan Zee, 1973, que continuou com 12 d5 bd7 13 dxe6 fxe6 14 e5 xe5 15 e1 d5 16 a4 0-0-0 17 xa7 he8 18 ab1

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b8, com boas chances. Na verdade Fischer pretendia 8...dxc4?!, mas teve sorte em empatar em L.Portisch-R.Fischer, Olimpíada de Siegen, 1970, após 9 e4 d7 10 e2 c6 11 c2 0-0-0 12 0-0 h5 13 fd1 h4 14 f1 h5?! 15 d5!, e as Brancas tinham uma vantagem clara. 8...0-0

9 e4?! As Brancas deveriam preferir 9 cxd5. A.Lombard-B.Larsen, Interzonal de Biel, 1976, continuou com 9... xd5 (9...exd5 também é possível) 10 e4 b7 11 e2 xe2 12 xe2 c5 13 0-0 a6 14 xa6 xa6 15 a3 fc8, com atividade. 9...dxe4! Portisch confessou que isso foi um choque. Ele esperava 9...dxc4?!, como em A.Saidy-R.Fischer, Campeonato dos EUA, Nova Iorque, 1965/1966, que havia continuado com 10 g5 h6 11 d2?! bd7 12 e5 d5 13 f5 exf5 14 xd5 e8 15 xc4 xe5 16 xd8 xc4+ 17 xe8+ xe8+ 18 d1 xd2 19 xd2 e2+, e as Pretas venceram. É claro que tanto Portisch quanto Fischer já haviam descoberto o aperfeiçoamento 11 h4!, e se 11... b7 12 xf6 (ou possivelmente também 12 h5) 12... xf6 13 xf6 gxf6 14 xc4, com uma vantagem no final. 10 xe4 xe4 11 xe4 d7!

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Surpreendentemente, as Pretas não precisaram defender sua torre em a8. As Pretas planejam ... c6, seguido por ... a5, colocando pressão sobre o peão débil das Brancas em c4. Fischer havia descoberto que após 11... d7 12 xa8 c6 13 xf8+ xf8, a dama preta fica mais forte que as torres brancas. Normalmente as torres estariam melhor, mas aqui os peões débeis brancos na ala da dama estão sob um risco considerável e suas torres estão inativas. O peão em c4 das Brancas está em perigo imediato. Seus peões em c3 e a2 também são fraquezas a longo prazo, e elas também têm problemas de desenvolvimento. No caso de uma troca de bispos de casas claras, como parece provável devido à pressão das Pretas sobre c4, o bispo remanescente das Brancas ficará restringido por seus próprios peões e estará muito mais fraco que o forte cavalo das Pretas. 12 a3?! Portisch deveria ter centralizado seu bispo em vez de mandado-o para o flanco. Após 12 d3 f5 13 e2 (13 xa8?! c6 ainda está bom para as Pretas) 13... c6 (Fischer), a sugestão de Hübner 14 f4, e se 14... fe8 (ou 14... e7 15 0-0 g6 16 e5 c5 17 a4 fd8 18 a5) 15 0-0 a5 16 e5 c6 17 c5 xd3 18 xd3 bxc5 19 ab1, teria oferecido às Brancas chances muito maiores do que nesta partida. 12... e8 13 d3 Após 13 0-0-0 c6 14 d3 f5 15 e2 a5, “as chances das Pretas são visivelmente melhores” – Kasparov. 13...f5 14 xa8?! Ganhar duas torres pela dama branca continua duvidoso, mas Portisch já não tinha mais muitas opções. Com seu bispo em a3 em vez de f4, as Brancas irão lutar agora para defender após 14 e2 c6, e se 15 0-0 e5 16 d5 e4 (Soltis). Aqui as Pretas também podem jogar 14... a4 15 c1 c6. 14... c6 15 xe8+ xe8 16 0-0 a5 17 ae1 xc4 Fischer criticou esse lance, achava-o “muito rotineiro”. Em vez disso, sugeriu o “esmagador” 17... a4! 18 b4 xc4 19 xc4 xc4 20 xe6 a5 21 e7 d2 22 fe1 e4, e se 23 f3 xa2!. As Pretas também devem vencer facilmente após 23 h4 h6!, e se 24 e7 xc3 25 xc7 d5, ou 23 e5 xa2 24 xf5 h6!.

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xc4 xc4 19 c1 c5! No entanto as Pretas ainda estão bem. Agora elas ameaçam trocar peões em d4, seguido por ...b5 e, cedo ou tarde, ... d5, alcançando posições em que a maioria de peões móveis pretos na ala da dama e a pressão contínua sobre os peões isolados brancos em d e a provavelmente vencerão. As Pretas obtêm vantagens semelhantes após 20 d5 e5, seguido de um eventual ... d6. 20 dxc5 bxc5 21 f4 h6! Agora as Pretas podem vencer ao mobilizar sua maioria de peões na ala do rei. Após 22 h4 e5! 23 xe5 xe5 24 f4 f3+ 25 gxf3 a4, “os peões brancos estão muito desconectados” – Fischer. 22 e2 g5 23 e5?! O bispo das Brancas fica fatalmente imóvel nesta casa. Então, talvez a última chance práticas das Brancas fosse jogar 23 e3, mas mesmo aqui, após 23... b5, e, se 24 f3, para permitir que o bispo branco fuja para f2, o 24... e5! de Kasparov, seguido por ... c4, deveria ganhar rapidamente. 23... d8 24 fe1 Ou se 24 f4 d2! 25 fe1 e4 (Fischer). 24... f7 25 h3 f4! Agora o bispo das Brancas não consegue escapar de e5. 26 h2 a6! Fischer tem tempo até de proteger seu peão a de uma possível contra-ameaça b8 antes de proceder para seu próximo lance. 27 e4 d5!

E as Brancas estão completamente amarradas. As Pretas ameaçam ganhar a qualidade jogando 28... e3 (que visivelmente também vence após 28 f3). As Brancas também estão perdidas após 28 4e2 f3! 29 gxf3 (ou 29 e4 fxg2) 29... d2. 28 h4 e3 29 1xe3 Ou se 29 f3 d2 30 g1 f2, e vencem. 29...fxe3 30 xe3 xa2 Com um peão passado extra em a, a torre e o bispo brancos não são páreos para a dama preta. 31 f3+ e8 32 g7 c4 33 hxg5 hxg5 34 f8+ d7 35 a8 c6 0-1

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Mais tarde, em 1966, Fischer marcou 15/17, no primeiro tabuleiro, na Olimpíada de Havana. Então ele ganhou seu oitavo título nacional no Campeonato dos EUA de 1966/1967, e, no início de 1967, ele conseguiu dois primeiros lugares brilhantes em Mônaco e Skopje. Como resultado, Fischer era o favorito para vencer o Interzonal de Sousse de 1967. Com força total, ele liderou a batalha de 23 enxadristas e abriu uma boa vantagem de 8½/10. Então ele, sem demora, ...retirou-se do torneio! Ninguém entende o que realmente aconteceu na cabeça de Fischer quanto a isso. Ele aparentemente contestou o fato de ter que jogar um itinerário apertado de partidas (incluindo possíveis adiamentos) no meio do evento. Mas não era um itinerário impossível e, de qualquer forma, era principalmente devido a uma dispensa especial religiosa de não jogar nas sextas-feiras ou até que o sol se pusesse aos sábados que havia sido solicitada pelo próprio Fischer. Apesar da boa vontade da maioria dos participantes e de uma aparente disposição de ser flexível por parte dos organizadores (apesar de terem que arcar com duas indenizações dos dois enxadristas que enfrentariam o americano nas rodadas 11 e 13), nada conseguiu persuadir Fischer de voltar para o tabuleiro para a 13a rodada, pelo menos não em tempo! Após a intervenção da Embaixada dos EUA, a hesitação infeliz de Fischer e, por último, uma tentativa de voltar rapidamente de Túnis a Sousse, Fischer não conseguiu alcançar o salão do torneio antes do começo da 13a rodada. Este foi o fim. O adversário de Fischer da 13a rodada, Bent Larsen, protestou justificadamente por ter sido solicitado a adiar a partida uma vez que ela havia começado. Aparentemente Fischer, ainda hesitante, nem havia deixado claro se iria participar da partida mesmo que ela fosse adiada. Mas o desfecho foi que, ressentido e responsabilizando todo mundo por seus problemas, Fischer foi embora, negando a si mesmo a possibilidade de mais um desafio pelo título mundial, desta vez em 1969. O comportamento impulsivo e bizarro de Fischer na Tunísia era mais parecido com o comportamento disparatado de um filme dos Irmãos Marx do que racional. Quem sabe se alguém (exceto Fischer, é claro) tivesse mostrado a Sabedoria de Salomão, as coisas poderiam ter acabado melhor. Um grande amigo de Fischer, Svetozar Gligoric, provavelmente resumiu a situação em seu “Game of the Month”, coluna na Chess Life & Review em que escreveu: “Não tem por que discutir se Fischer estava certo sobre suas reclamações porque tudo isso é da menor importância em comparação com a necessidade de sua presença na luta pelas maiores honras. Também não tem por que culpar Fischer; pois foi ele quem mais sofreu... Ele simplesmente não deveria ter-se deixado prender em uma posição impossível que o forçasse a retirar-se sem nenhum bom motivo.” De volta ao tabuleiro, o jogo de Fischer em Sousse foi, é claro, completamente equilibrado, até mesmo sereno. Ele não era só o melhor enxadrista do mundo. Sua maestria era inigualável. Elie Agur escreveu que “todo enxadrista clássico, uma vez que seu comando do jogo e sua autoconfiança tiverem amadurecido, demonstra

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uma tendência crescente de negociar linhas que são menos previsíveis e calculáveis mas que manifestam uma visão maior do jogo”. A batalha de titãs entre Fischer e Leonid Stein, três vezes Campeão da URSS e vencedor recente, à frente de todos os outros enxadristas soviéticos, no Torneio Memorial Alekhine em Moscou, 1967, atesta essa força crescente e grandeza definitiva.

Partida 18 R.Fischer – L.Stein Interzonal de Sousse, 1967 Ruy Lopez 1 e4 Fischer comentou esse lance em My 60 Memorable Games com a frase: “Nunca abri com o peão d por princípios”. Ele parece nunca ter traído este princípio, pelo menos não em partidas individuais com tempo normal. Mesmo quando jogou um Gambito da Dama magnífico, na 8a partida de seu match pelo Campeonato Mundial contra Boris Spassky em 1972, com cautela Fischer assegurou-se de que somente transporia após abrir com 1 c4. 1...e5 2 f3 c6 3 b5 a6 4 a4 A Defesa Espanhola era a principal resposta contra 1...e5 de Fischer jogando com as Brancas, e ele geralmente jogava as linhas abertas. Mas, em meados dos anos de 1960, inspirado por novas ideias do mestre holandês, Johan Barendregt, ele utilizou a antiga Variante das Trocas como uma arma surpresa e perigosa após 4 xc6 dxc6 5 0-0.

Normalmente Fischer também estudava as influências mais importantes e históricas, e a excelente demonstração do potencial das Brancas nesta linha mostrado a seguir deve mais a Emanuel Lasker do que à moderna Escola Holandesa. Os peões brancos em e4 e f5, uma marca registrada de Lasker, deixam um “bura-

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co” aparentemente feio em e5, mas eles também reprimem as Pretas, especialmente o desenvolvimento do bispo de casas brancas das Pretas. R.Fischer-W.Unzicker, Olimpíada de Siegen, 1970, continuou com 5...f6 6 d4 exd4 7 xd4 e7 8 e3 g6 9 d2 d6 10 c4 0-0 11 d3 e5 12 xe5 xe5 13 f4 d6 14 f5! e7 15 f4 xf4 16 xf4 d7 17 e1! c5 18 c3 ae8 19 g4! d6 20 g3 e7 21 f3 c5 22 e5! e, com uma série de lances de preparação bem julgados, as Brancas não haviam apenas eliminado sua fraqueza em e5, mas também mobilizado sua maioria de peões na ala do rei, com chances de ataque.

Implacável, Fischer continuou a espremer seu adversário e afinal venceu após 22...fxe5 23 fe4 c6 24 xe5 fe8 25 xe7 xe7 26 e5! h6 27 h4 d7 28 f4 f6 29 e2 c8 30 c4+ h7 31 g6 xe2 32 xe2 d7? (as Pretas deveriam jogar 32... d6!) 33 e7! xe7 34 xe7 g5 35 hxg5 hxg5 36 d5 c6 37 xc7 f3 38 e8 h6 39 f6 g7 40 f2 d1 41 d7 c4 (ou se 41... xg4 42 f6+ g8 43 f7+) 42 g3 1-0. 4... f6 5 0-0 e7 6 e1 b5 7 b3 d6 8 c3 0-0 9 h3 b7

De todas as diversas possibilidades das Pretas neste ponto, esta era uma das mais incomuns. É provável que Stein estivesse tentando pegar seu adversário desprevenido. As Pretas planejam uma manobra longa com seu cavalo da dama que termina com ele colocado em d7. Apesar de essas coisas não serem tão claras nos

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anos de 1960, o resultado é perder algum tempo em linhas similares que surgem em uma Defesa Breyer que geralmente começa com 9... b8 10 d4 bd7. 10 d4 a5 11 c2 c4 12 b3 b6 13 bd2 bd7!? As Pretas podem transpor para uma linha da Variante Smyslov (que geralmente começa com 9...h6), jogando 13... e8 14 f1 h6 15 g3 f8. No entanto, Stein pode ter receado que Fischer estivesse pronto para isso, já que ele mesmo havia jogado com as Brancas em L.Stein-A.Lutikov, Moscou, 1966, que continuou com16 a4 bxa4 17 bxa4 a5 18 d3 g6 e terminou em empate. De fato, não havia dúvidas de que Stein estava certo em ser cauteloso. R.Fischer-S.Gligoric, Zagreb, 1970, mais tarde seguiu: 16...c5 17 d5 c4 18 b4 c8 19 e3 d7 20 a5 c8 21 d2 h7 22 h2 e7 23 f5 g5 24 xg5 hxg5 25 g4, e posteriormente as Brancas venceram. 14 b4

Fischer espera ganhar espaço na ala da dama e também exercer pressão no centro com este lance, que resulta em um jogo menos ambicioso em P.Keres-S. Gligoric, Interzonal de Zurique, 1959, que continuou com 14 b2!? c5 15 f1 e8 16 a4 f8 17 g3 c7 18 d3?! (18 d5! é melhor) 18...c4 19 bxc4 bxc4 20 d2, e agora as Pretas deveriam ter jogado 20...d5!. Curiosamente, embora Fischer não tivesse como saber na época, ele alcança agora uma posição da 10a partida de seu match do Campeonato Mundial de 1972 contra Spassky, com um lance extra para as Brancas (a torre de Spassky estava em e8 em vez de f8). Aquela partida surgiu de uma ordem de lances numa Variante Breyer normal e levou a uma das melhores vitórias de Fischer naquele match. As Brancas também podem pensar em usar seu peão em b3 (que ainda estaria em b2 em uma Breyer normal) para estabelecer um centro de peões forte, tal como após os lances 14 f1 e8 15 g3 f8 16 d5 c6 17 c4. 14...exd4 As Pretas concedem um peão extra no centro, pois estão interessadas em obter contrajogo. Elas planejam seguir com um rápido ...a5 ou ...c5. As Pretas não

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podem responder ...c5 imediatamente, pois isso as fariam perder seu peão e, e, após o imediato 14...a5, as Brancas podem jogar 15 b3, controlando e possivelmente ocupando a5, com pressão contínua. 15 cxd4 a5 16 bxa5 c5 17 e5

O jogo torna-se bastante agudo e tático. As Pretas possuem potencial visível na ala da dama, mas as Brancas podem ativar seu peão extra no centro, criando chances de ataque. As Brancas também poderiam pensar em 17 b2, primeiramente visando enfraquecer o domínio das Pretas sobre c4, jogando a4, antes de tomar qualquer atitude mais drástica no centro. A partida poderia continuar com 17... xa5 18 a4 b4 19 c4 c7 20 e5 dxe5 21 dxe5 d5 22 fd2, um plano que havia sido completado com sucesso pelas Brancas em uma partida anterior, D.Ciric-K.Robatsch, Wijk aan Zee, 1967, mas com uma ordem de lances da Breyer, com a torre preta em e8 em vez de f8! 17...dxe5 18 dxe5 d5 19 e4 b4! Este lance importante leva o bispo branco de volta e exerce pressão crítica sobre d3. As Pretas não têm tempo para 19... xa5?! 20 eg5!, e, após 20...h6 21 d3 g6, as Brancas provavelmente ganham após o 22 e6 de Fischer ou 22 xf7 xf7 23 e6 (ou 23 xg6+) de Kasparov. 20 b1 xa5 21 e2! Fischer aperta ainda mais a pressão e agora ameaça 22 e6. Ele rejeitou duas outras tentativas de ataque sedutoras, mas aparentemente prematuras. Após 21 eg5!? xf3! 22 xf3 de Keres, Kasparov sugere que as Pretas podem defender com 22... b6, e se 23 e2 6d5 24 d2 c4 25 a3 a6. Contra 21 e6!? fxe6 22 fg5, Kasparov dá 22... a6! 23 xh7 f5!, e se 24 c3 e5! 25 xe5 xe5 26 h5 ed3 27 g5 d4 28 f6+, com um empate por xeque perpétuo. 21... b6?

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A pressão tem efeito em Stein. Embora pareça perigoso permitir que as Brancas sigam com sua ameaça principal, as Pretas deveriam permitir isso. A melhor defesa das Pretas reside em manter seu cavalo em d7 para defesa na ala do rei e jogar 21... e8!. Então Fischer não consegue visualizar nenhuma vantagem de fato para as Brancas após 22 e6 (ou 22 d1 c7) 22...fxe6 23 eg5 xg5 24 xg5 (Keres e Euwe sugeriram 24 xh7+?! xh7 25 xg5+ g6 26 xe6, mas isso é refutado por 26... h4!, e se 27 f4+ xf4 28 xe8+ f7) 24... f8 25 h5 h6. Kasparov também dá 25 e4 c4 26 d2 a4 27 c3 a3 28 xb5 d5 29 e4 xb5 30 xb4 xb4 31 ab1 a5, e as Pretas sobrevivem. 22 fg5! Agora, no entanto, a força descomunal das Brancas é liberada, e as forças superiores de Fischer na ala do rei começam a criar fraquezas potencialmente exploráveis nos peões pretos na ala do rei. 22... xe4 Após 22...h6?, Fischer pretendia 23 h7! e8 (ou 23... xh7 24 xc5+) 24 hf6+, e se 24... xf6 25 xf6+ gxf6 (ou 25... xf6 26 exf6) 26 g4+ f8 27 xh6+ e7 28 e6 d6 29 g3+ c6 30 e4+ 4d5 31 exf7 h8 32 xd5+, com um ataque promissor, ou 24...gxf6 25 g4+ h8 26 d6 xd6 27 f5 g7 28 xh6+ e dão mate. E, contra 22...g6?, Fischer dá 23 e6 f5 24 f7, ameaçando tanto b2 quanto b2 com uma vantagem promissora, e Kasparov considera 24 xc5, e se 24... xc5 25 e7, ainda mais forte. 23 xe4 g6 24 h4 h5 25 g3! Este lance discreto aumenta o prospecto de três ameaças de ataque bastante assustadoras: 26 e6, 26 e6 e 26 xf7. As Pretas apressam-se em trazer seu cavalo em b6 de volta para o jogo. 25... c4 26 f3

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Fischer sugeriu que ele deveria ter preferido “forçar mais” com 26 e6 f5 27 f3, visando transpor de volta para o jogo após 27... g7 28 f4 h8, sem permitir às Pretas a possível defesa 28... f6 (veja a nota para o lance 28 das Pretas). As Brancas também podem jogar o talvez mais forte 27 f7 nesta linha, e, após 27... xf7 28 exf7+ xf7 29 xf5 gxf5 30 f3 g6 31 g4 d5, que Fischer supôs um empate provável, Kasparov sugere que 32 f4! f7 33 h6! vença. Hübner achava que o imediato 26 xf7 xf7 27 xg6 g7 28 h6 também venceria. Um fim possível, descoberto pelos computadores de Kasparov, continua com 28... f8 29 xg7 xg7 30 e6 h4 31 b8+ f8 32 f7+ g7 33 f4 h8 34 ad1 h6 35 b8 f6 36 e4!. 26... g7 Para tornar o drama ainda maior, enquanto as Pretas pensavam neste lance, houve um corte na eletricidade no salão, e, na escuridão, Fischer preocupou-se quanto à possibilidade de as Pretas escaparem jogando 26... d3, e se 27 d1? xc1!. “Então a luz voltou, e eu percebi claramente que após 27 xd3! xd3 28 g5!... as Brancas penetram decisivamente nas débeis casas pretas” – Fischer. 27 f4 h8 28 e6! Bem na hora! As Pretas estavam prestes a impedir este lance, jogando 28... a6. 28...f5 Esta era a fraqueza nos peões das Pretas pela qual Fischer estava jogando. As Pretas não podem melhorar com 28...f6?, é claro, pois após 29 h4 f5 30 xg6 elas logo perdem. Mas será que 28... f6 teria salvo as Pretas?

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A principal linha de análise crítica e complexa de Fischer continua com 29 exf7 xa1 30 f8 + xf8 31 c7+ g8 32 xg6 (ameaçando tanto 33 g5, como após 32... a8, quanto 33 e8) 32... d5 33 b7 f6 34 f4, renovando a ameaça de g5, mas permitindo a defesa-surpresa 34... h7 35 xh7+ xh7 36 d5+ f7 (mas não 36... h8 37 xh5, e se 37... a8 38 g5 g7 39 xh7 xh7 40 xh7+ xh7 41 xa1) 37 xf7+ xf7 38 xa1, e Fischer duvidava de que as Brancas pudessem ganhar este final. Kasparov, no entanto, encontrou o incrível recurso 34 e6!, que parece forçar uma vitória magnífica após a complexa variante: 34... a8 35 xb5 d6 36 b1 d4 37 xd4 cxd4 38 b3 b8 39 g3 h4 40 g5 b5 41 f7+!. 29 xf5!

Na verdade, as Pretas não podem aceitar este sacrifício. As linhas podem não ser totalmente calculáveis, mas parecem funcionar. Após 29...gxf5, Fischer planejava 30 g3+ e agora: a) 30... f8 31 g6 e8 (ou 31... d6 32 e5) 32 h6+ xh6 33 xh6+ g8 34 g5, e o jogo das Pretas logo entrará em colapso. b) 30... h7 31 g5+ (o 31 g5 de Forster, e se 31... g8 32 ad1 e8 33 d7 g7 34 c7 a6 35 a7 b4 36 b7, pode ser até mais simples) 31... xg5 32 xg5 d3 33 c7+ g6 34 f7+ xg5 35 g7+ e vencem. Mais tarde, Hübner descobriu uma defesa muito melhor, 32... a3! na variante ‘b’, apenas para ser descartada por Kasparov, que sugere que as Brancas provavelmente ainda venceriam após 33 f4! f8 34 ad1, mas isso não é nem um pouco fácil. A linha vencedora mais notável de Kasparov continua com 34... d3 35 a4 b2 36 b1 xa4 37 e5 e8 38 e7 g8 39 h4 c3 40 xf5+ g6 41 f8 c6 (ou 41... g7 42 e8 xf8 43 xh5+ g8 44 e7 f7 45 e8+ f8 46 be1 d1 47 xd1 xd1 48 h6) 42 e6 xe6 43 e8 xf8 44 xe6 xb1 45 e4+. É claro que análises como essa, que se estendem, não se esqueçam, desde o lance 28 e que têm uma miríade de variantes secundárias plausíveis, sobre as quais eu mal comentei, requerem tempo considerável de humanos e, de fato, de computadores. Com certeza está acima da habilidade de qualquer ser humano fazer previsões desde o início com algo perto da acurácia completa!

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29... f8 30 e4? E até mesmo Bobby Fischer era humano! Aqui, no calor da hora e passando um sufoco no tabuleiro, ele não percebe a continuação correta, apontada na época pelo enxadrista inglês John Littlewood. As Brancas deveriam ter jogado 30 h4! xh4 31 xh4, e se 31... xf5 32 e7+ g8 33 d8+ g7 34 c7+ g8 35 e7, ou 31... f6 32 g3!, a que Kasparov adiciona 32... e8 33 b1 a7 34 g5 xa1 35 h6+ h8 36 xg6. 30... xf4 31 xf4 e8?

Stein, que estava com graves problemas de tempo, perde, por sua vez, a excelente oportunidade de empate 31... xa2! 32 xa2 xa2, e se 33 e5 g5 34 g3. O 34... b4! de Kasparov parece melhor, pretendendo 35 xc4 bxc4 36 e5+ f6 37 d6 e8 38 xc5 d3 39 xd3 cxd3, e as Pretas devem defender-se. 32 ad1 a6 Agora é tarde demais para 32... xa2, que é enfrentado mais facilmente por 33 d7, e se 33... a6 34 b7!. Após o lance do texto, Fischer sugere que a mesma ideia 33 b7! teria sido mais forte que sua resposta real (embora ela também ganhe), e: a) Se 33... a7 34 d7 b6 35 d6 – Soltis. b) 33... xa2 34 d7 (Fischer), com Kasparov adicionando 34... b6 35 c7 c4 36 d8 f6 (ou 36... f8 37 xe7+ xe7 38 h4) 37 xe7+ xe7 38 g4 e vence. 33 d7 xe6 Isso perde uma qualidade, mas as Pretas devem eliminar o peão forte das Brancas em e, ou não terão chances. 34 g5 f6 35 f3 xf4 36 e6+ f6 37 xf4 e5 38 b7 d6 39 f1 Esse lance simples defende a torre branca em e1 e termina definitivamente o sufoco. Se, agora, 39... xf3 40 xe8 d2+ 41 e2 xf4 42 f8+ g5 43 xf4 xf4 44 xd2, e vencem. 39... c2 40 e4 d4 41 b6 d8 42 d5+ f5 43 e3+ Este foi o lance secreto. Não importa para onde o rei preto se mova, as Brancas continuarão com 44 e2, enfraquecendo os peões pretos da ala da dama com uma vitória fácil ao avançar seus peões na ala do rei.

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43... e6

Ou se 43... f6 44 e2 b4 45 f4, seguido por c4 e vencem. 44 e2 d7 45 xb5+ xb5 46 xb5 c6 47 a4 c7 48 e2 g5 49 g3 a8 50 b2 f8 51 f4 gxf4 52 gxf4 f7 53 e6+ d6 54 f5 a8 55 d2 xa4 56 f6 1-0 A abordagem de idas e vindas de Fischer continuou após Sousse. Em 1968, após meio ano de pausa, ele terminou em primeiro em Netanya e Vinkovci, e então parou novamente. Fischer parece ter gasto grande parte do ano de 1969 discutindo sobre projetos que nunca se materializaram, incluindo a possibilidade de um match curto contra Botvinnik que seria realizado nos Países Baixos. Fischer também recusou-se a jogar nos Campeonatos dos EUA de 1968/1969 e 1969/1970 pelo fato de que o itinerário de 11 rodadas era muito curto para permitir que um enxadrista excepcional como ele se recuperasse no caso de um começo ruim. Perder este último evento parecia negar-lhe a chance de qualificar-se na zona americana para um lugar no próximo interzonal; mas um milagre aconteceu! Em 1970, a vida de Fischer e o xadrez uniram-se novamente. Primeiro, ele deixou-se atrair de volta para o jogo no match de 1970 da URSS contra o Resto do Mundo, em Belgrado, onde ele destruiu Petrosian (3-1) no segundo tabuleiro. Então Fischer venceu o Campeonato Mundial de Blitz não oficial em Herceg Novi, seguido por dois primeiros lugares em torneios em Rovinj/Zagreb e Buenos Aires. Mais tarde naquele ano, Fischer participou da Olimpíada de Siegen, atingindo a segunda melhor pontuação no primeiro tabuleiro. O Campeão Mundial Boris Spassky fez a melhor pontuação, mas estava claro para todos que Fischer poderia lidar com Spassky em um match pelo título. Como resultado, nos bastidores, Pal Benko renunciou generosamente a sua qualificação no Interzonal Palma de Mallorca em favor de Fischer. Fischer competiu devidamente e completou o Interzonal, vencendo com 18½/23, 3½ inteiros à frente do resto dos participantes, e vencendo nas suas últimas oito partidas do evento. Será que agora ele permaneceria no percurso até a série de matches do Torneio de Candidatos? Um dos “clientes” mais desafortunados de Fischer em Palma foi o jovem de 18 anos e promessa brasileira Henrique Mecking, que congelou diante da esco-

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lha inesperada de Fischer pelo recente favorito de Larsen, 1 b3. Fischer parece ter descoberto um buraco sério na educação enxadrística do jovem brasileiro em relação a variantes que haviam sido analisadas anteriormente por Alekhine e Nimzowitsch. Como sempre, Fischer mostrou que havia pesquisado minuciosamente os registros históricos. Fischer não apenas entendia como jogar posições como essa. Ele também estava muito mais provido de leituras de jogos-chave e análises dos anos de 1920 e 1930 do que seu adversário.

Partida 19 R.Fischer – H.Mecking Interzonal de Palma de Mallorca, 1970 Ataque Nimzowitsch-Larsen 1 b3 d5 Nimzowitsch costumava preferir a sequência de lances 1 f3 d5 2 b3, que tem a vantagem de impedir os sistemas mais críticos 1 b3 e5. No entanto, Fischer estava convencido o suficiente de que as Brancas poderiam transpor para uma forma ativa da Siciliana Invertida, com alguma esperança de reter uma iniciativa na abertura após 1...e5 2 b2 c6 3 c4 f6 4 e3 e7 5 a3 0-0,

e agora 6 d3 ou 6

c2. Por exemplo:

a) Em R.Fischer-V.Tukmakov, Buenos Aires, 1970, as Brancas estabeleceram um bom jogo na ala da dama e conseguiram mover seu pequeno centro adiante, contra uma ação indecisa de abertura, após 6 d3 d5 7 cxd5 xd5 8 c3 d6 9 f3 f5 10 c2 fd8 11 d1 h6 12 h3 e6 13 d2 d7 14 e2 h8?! 15 0-0 g6 16 b4 a6 17 c1 ac8 18 fd1 f5 19 a4 a7? (correto seria 19... b6 20 c5 xc5 21 bxc5 d5) 20 b3 b6 21 d4 f4 22 e4 b5? (um erro em uma posição ruim; as Brancas também vencem após 22... xe4 23 xe4 xb3 24 d3 f6 25 g6!, e se 25... xa4 26 dxe5) 23 g4 f6 24 dxe5 xe5 25 xc8 xc8 26 d5 1-0.

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b) Em R.Fischer-U.Andersson, partida de exibição, Siegen, 1970, as Brancas adotaram uma forma original de ataque na coluna g que posteriormente tornou-se “padrão” para as Pretas em muitas posições tipo ”porco-espinho”: 6 c2 e8 7 d3 f8 8 f3 a5 9 e2 d5 10 cxd5 xd5 11 bd2 f6!? 12 0-0 e6 13 h1! d7 14 g1 ad8 15 e4 f7 16 g4!

16...g6?! 17 g3! g7 18 ag1 b6 19 c5 c8 20 h4 d7?! 21 e4 f8 22 f5! e6 23 c5 e7 24 xg7 xg7 25 g5! f5 26 f3 b6 27 gxf6+ h8 28 xe6 xe6 29 d4 exd4 30 c4 d3 31 xd3 xd3 32 xd3 d6 33 c4 e6 34 e5 d8 35 h4 d6 36 g4 f8 37 h5 e8 38 e4 d2 39 h3 g8 40 hxg6 xg6 41 f4 f8 42 g5 d6 43 xd6+ 1-0. 2 b2 c5 3 f3 c6 Mais tarde o próprio Fischer lançou dúvidas sobre a abertura das Brancas de maneira dramática. T.Petrosian-R.Fischer, 6a partida do match, Buenos Aires, 1971, continuou com 3...f6! 4 c4 d4 5 d3 e5 6 e3 e7 7 e2 ec6 8 bd2 e7 9 0-0 0-0 10 e4 a6 11 e1 b5 12 g4 xg4 13 xg4 c8 14 e2 d7 15 c2 b8 16 fc1 e8 17 a3 d6 18 e1 g6 19 cxb5 axb5 20 b2 b6 21 ef3 a8 22 a3 a5 23 d1 f7 24 a4 bxa4 25 bxa4 c4 26 dxc4 bxc4 27 xc4 xc4 28 e2 xb2 29 xb2 fb8 30 a2 b4 31 xf7+ xf7 32 c7+ e6, e as Pretas ganharam com muita dificuldade. O forte jogo por espaço de Fischer nesta partida baseia-se em exemplos anteriores, incluindo a famosa G.Lisitsin-M.Botvinnik, Campeonato da URSS, Moscou, 1944, que seguiu: 4 e3 e5 5 b5+ c6 6 0-0 d6 7 e2 ge7 8 d3 e6 9 bd2 b6 10 e1 d7 11 f1 0-0 12 c4 d4 13 e4 c7 14 d2 g4 15 e2 f5 16 g3 e4

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17 dxe4 xg3 18 hxg3 fxe4 19 h2 f5 20 g4 g6 21 f1 f7 22 g3 af8, e as Pretas venceram. A atuação fraca de Petrosian contra Fischer é enigmática. Existe alguma melhoria para as Brancas? Após 1 f3 d5 2 b3 c5, Nimzowitsch geralmente jogava 3 e3, para que, se 3...f6!?, as Brancas possam responder com o ativo 4 d4!. P.Rethy-G.Barcza, Budapeste, 1936, tomou um curso alternativo interessante, continuando com 1 f3 d5 2 b3 c5 3 b2 f6 4 e3 e5 5 h4!? e6 6 f4 c6 7 b5 e4 8 c4 dxc4 9 f5 f7 10 xc4 xc4 11 bxc4 h6 12 0-0 d3 13 h5+ f7 14 c3 ce5 15 d5 0-0-0 16 xe5 xe5 17 ac1 xd2 18 fd1 a5 19 g6 hxg6 20 xh8, e as Brancas venceram. 4 e3 f6 Outra ideia possível é 4... g4, mas isso deu bem errado em A.Nimzowitsch-S.Rosselli del Turco, Baden-Baden, 1925, se bem que com a ajuda de um jogo bastante feroz das Pretas, após 5 h3 xf3 6 xf3 e5? 7 b5 d6 8 e4! d4 9 a3 f6 10 c4 d7 11 h5+ g6 12 f3 c7 13 g4 f7 14 f4 h5 15 f3 exf4 16 xc6 bxc6 17 0-0 g5 18 c3 d8 19 ae1 e7 20 e5 f5 21 cxd4 xd4 22 e4 e7 23 h4 d7 24 exf6 xf6 25 hxg5 1-0. 5 b5

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5... d7 Suspeito que Fischer não teria escolhido jogar esta linha contra um grande colega clássico, como Vassily Smyslov. Kasparov reclama que Mecking não conseguiu jogar ...g6 em vários momentos nesta partida. De fato, o andamento de B.Sliwa-V.Smyslov, Budapeste, 1952, demonstra uma boa razão para isto. Smyslov jogou 5... b6 com robustez, e depois de 6 xc6+?! xc6 7 e5?! c7 8 d3 g6! 9 d2 g7 10 c1 0-0 11 0-0 b5 12 a4 c4! 13 bxc4 bxc4 14 a3 a6! as Pretas já tinham um ótimo jogo. 6 0-0 e6 7 d3 e7

Alekhine achava que as Brancas já tinham uma pequena vantagem aqui, devido à pressão que as Brancas exercem sobre e5. Não é fácil para as Pretas batalharem por e5, pelo menos a curto prazo. Por exemplo, após 7... d6?!, Alekhine percebe que as Brancas têm uma possibilidade perigosa de gambito, 8 e4!, e se 8...dxe4 9 dxe4 xe4 10 e1. 8 xc6 Esta troca “pertence” ao plano das Brancas de controlar e5, e o lance é feito com frequência sem maiores considerações. Às vezes as Brancas também jogam 8 bd2 0-0 9 xc6 xc6 10 e5, que pode transpor depois de 10... c8. Em vez disso, A.Nimzowitsch-A.Rubinstein, Semmering, 1926, continuou com 10... e8 11 f4 d7 12 xd7 (12 g4 também é possível) 12... xd7 13 e4 f6 14 f3 f7 15 a4 b6 16 ae1 a6 17 f5 dxe4 18 xe4 e5 19 e3 b5 20 g3 h8 21 f3 bxa4? (21... d6 era correto) 22 xe5!, e as Brancas ganharam um peão, pois as Pretas tinham que evitar 22...fxe5?? 23 xe5 f6 24 xf6 gxf6 25 xf6 mate. 8... xc6 9 e5 c8 10 d2 0-0 11 f4 d7

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Talvez 11...b5 seja um pouco melhor, e se 12 f3 d7 13 h3 xe5 14 h5 h6, como em A.Kharlov-A.Raetsky, São Petersburgo, 1999. 12 g4 Alekhine preferia o mais fluído 12 xc6 xc6 13 e4. Ele achava que o plano de ataque direto da Nimzowitsch era “tão sólido e seguro quanto isso, com algumas chances promissoras”, mas percebeu que exigia que as Brancas colocassem quase todas suas fichas na ala do rei, com risco possível para “os outros trunfos posicionais das Brancas, tais como o excelente controle que o bispo branco tem da grande diagonal de casas pretas e a elasticidade dos peões centrais brancos”. É claro, não agora 12...f5?? 13 xg7+! xg7 14 xc6+ f6 15 xd8, e as Brancas vencem. 12... xe5 13 xe5 f6?! Imagino (embora não saiba!) que Mecking devia ter, na melhor das hipóteses, uma vaga lembrança dos precedentes históricos. Se tivesse percebido que estava seguindo A.Nimzowitsch-R.Spielmann, Nova Iorque, 1927, ele poderia ter jogado algo totalmente diferente, ou pelo menos tentado defender neste momento com 13...g6, seguido por ... d7 ou ... d7, permitindo que seu peão f avançasse para f6 ou até mesmo para f5. Imagino (embora mais uma vez eu não saiba!) que Fischer já podia ter pensado sobre a possibilidade de 13...g6 em análise feita em casa. Além disso, suspeito que Kasparov, que sugere que esta ideia aparentemente mais flexível devesse ter recebido “consideração séria”, tenha desejado, como eu, ter sido capaz de perguntar a Fischer o que ele pensava sobre isso. Alekhine e Nimzowitsch sequer mencionam isso. 14 f3!

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As Brancas jogam para manter o bloqueio em e5, tornando difícil para as Pretas alcançarem os lances libertadores naturais ...f6/...f5. Sem esses lances, ou algum outro reforço de defesa urgente, o rei preto corre o risco de perder suas forças no centro e na ala da dama. Enquanto isso, as torres e o cavalo brancos podem utilizar f3 como um posto eficiente para atacar na ala do rei. 14... e7!? Mecking finalmente diverge de A.Nimzowitsch-R.Spielmann, Nova Iorque, 1927, que seguiu com 14... xe5!? 15 fxe5 c7!? 16 h5 h6? (as Pretas deveriam ter jogado 16... e8!, que permitem que defendam após 17 h3 h6 18 f3 f5 19 h4 d8, como apontado tanto por Nimzowitsch quanto por Alekhine) 17 af1 g6? (as Pretas tinham que jogar 17... e8, embora 18 g3 f5 19 xh6 xe5 20 f4 seguido por f3 dê às Brancas alguma vantagem – Alekhine) 18 xh6 xe5 19 f6 h5 20 xh5 gxh5 21 f3 c7 22 h6 f6 23 h4 e8 24 hxf6, e as Brancas venceram. Aqui as Brancas também mantém uma pequena vantagem após 15... a5!? (ou 15...f5!? 16 exf6 xf6 17 xf6 xf6 18 f1) 16 g3 g6 17 f3!, e se 17... c3 18 f1 f5 (as Pretas têm que evitar 18... xc2?, que permite 19 g5 xd3 20 xh7 b5 21 gf3, e vencem – Tait e Jacobs) 19 exf6! xf6 20 d2!, que possibilita as Brancas jogarem pela troca de torres, deixando-as com a melhor peça menor e um jogo mais ativo, como após 20... cf8 21 xf6 xf6 22 f3! a1+ (ou 22... xf3 23 xf3) 23 f1 xf1+ 24 xf1. 15 af1 a5?! Kasparov certamente está certo em sugerir que as Pretas devessem preferir 15...g6!, e se 16 h3!? g7 17 xg7 xg7 18 f3 f6, seguido por ... g8. 16 g3

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16... xe5? Mecking entrega um peão para alcançar o que ele espera ser um final possível de defender. Mas Fischer logo mostra que o peão extra que ele obtém é o suficiente para ganhar com as Brancas, mesmo que ele seja isolado, dobrado e atrasado. As Pretas ainda poderiam ter lutado muito mais seguindo o conselho de Kasparov (e sem dúvida de Smyslov) e jogado 16...g6!. 17 fxe5 f5 As Pretas não podem mais jogar 17...g6?, pois após 18 f6! ele enfrenta estrangulamento completo na ala do rei. Um fim possível poderia ser, então, 18... c7 19 f3 e8 20 g5 f8 21 h3 h5 22 f4 g7 23 g4, e vencem. 18 exf6 xf6 19 xg7+! Isso é simples e fácil de ver, mas também é fascinante! 19... xg7 20 xf6 xg3 21 hxg3 e8 22 g4!

Fischer avança seu peão extra e débil em g para g5. Isso ajuda a assegurar a posição de sua torre em f6 e, a longo prazo, oferece oportunidades de jogar pela troca do peão em g6. As Pretas poderiam ter chances razoáveis de empate, não fosse pela superioridade visível do cavalo e da torre brancos e as oportunidades de explorar a enfermidade contínua das Pretas nas casas pretas. 22...a4 23 f3 axb3 24 axb3 g7

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Infelizmente as forças das Pretas só atrapalham umas às outras após 24...e5!? 25 g5!, e se 25... g7 26 d6, ameaçando e6+. 25 g5 e5 26 h4! As Pretas conseguiram evitar que o cavalo branco ocupasse e5, só para descobrir que o cavalo pode dirigir-se para f5 e que a torre branca agora tem acesso à forte casa d6. 26... d7 As Pretas também sofrem se não contestarem f5: por exemplo, após 26...e4 27 f5+ g8 28 d6 e7 29 dxe4 dxe4 30 g6 hxg6 31 xg6+ h7 32 g5 d7 33 c4, e as Brancas vencem. 27 d6 e6 28 f2 f7 29 b6 e7 30 e4! A miséria das Pretas nas casas pretas as persegue até o final desta partida. As Brancas detêm o peão e preto em e5, e agora ele torna-se um alvo óbvio. 30...dxe4 31 dxe4 c4 32 b4! Ao conservar seu peão, as Brancas não permitem às Pretas nem a menor alusão a contrajogo nas colunas c e d 32... g4 33 e3 d7 34 g6+

Depois de as Brancas trocarem esse peão, elas continuam com um peão forte extra em g2. O cavalo branco também consegue ganhar o peão débil das Pretas em e5 via casa g6. 34... f8 35 gxh7 xh7 36 g6+ e8 37 xe5 c8 38 xc4 d8 39 d6 g7 40 f2 c7 41 xc8 xc8 42 d6 1-0 Após ter ganho suas últimas oito partidas do Interzonal, Fischer surpreendeu todos ao ganhar as próximas seis, em seu match das quartas de final do Torneio de Candidatos em Vancouver, 1971. Sua vítima, Mark Taimanov, 45 anos de idade, aparentemente não conseguiu suportar a tensão psicológica de uma batalha com o americano de 28 anos, que era simplesmente muito forte para ele. O match foi bem mais disputado do que o placar 6-0 sugere, mas Taimanov fez muitos erros não forçados para escapar dessa surra terrível. Melancólico, ele relatou para o Conselho de Supervisão da Federação Russa de Xadrez, após o

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match, que “se Fischer tiver uma vantagem minúscula e o adversário não tiver contrajogo, pode-se considerar o resultado uma conclusão inevitável”. Então Fischer marcou mais um placar 6-0, no match da semifinal do Candidatos, contra Bent Larsen. Sem dúvida, Larsen parecia sofrer mais que seu adversário com o calor infernal do verão de Denver, onde o match foi disputado, e ele também recusou com desprezo o empate banal à disposição, pois ele esforçou-se ferozmente com o único objetivo de vencer após um começo ruim no match. Mas, como contra Taimanov, Fischer venceu todas as disputas-chave e os pontos críticos de todas as partidas. Isso parecia magia negra. Era assustador. Então, agora, somente o Tigran Petrosian “de aço” estava entre Fischer e um match com Spassky. Fischer venceu a primeira partida no seu match final do Candidatos, que foi realizado em Buenos Aires, mas Petrosian finalmente parou a sequência de 21 vitórias de Fischer, vencendo com as Brancas na segunda partida. De fato, Fischer conseguiu manter o placar nivelado nas cinco primeiras partidas. No entanto, Petrosian também sofreu um colapso total de forma e autoconfiança, assim como Taimanov e Larsen haviam feito antes dele. Fischer venceu as últimas quatro partidas do match, vencendo confortavelmente, 6½-2½. Agora Fischer era visivelmente o número um na avaliação mundial. As coisas não pareciam bem para Spassky. Em meados de 1971, Grandes Mestres soviéticos, Isaac Boleslavsky, Lev Polugaevsky, Lev Shamkovich e Evgeny Vasiukov, tentaram analisar os pontos fortes e fracos de Fischer em um relatório em conjunto, que apresentaram para Petrosian e Spassky. Dentre os pontos que observaram nesse documento interessante, estavam os seguintes: 1. “Num todo, o jogo de Fischer é de uma natureza posicional-estratégica (um plano claro permeia seu jogo do início ao final da partida), mas ao mesmo tempo também é rico em conteúdo tático.” 2. “O classicismo de Fischer está sempre presente: ele nunca deixa passar uma oportunidade de obter simplificações vantajosas e de jogar um final favorável se ele não visualizar soluções concretas no meio-jogo.” 3. “No geral, proficiência no final é um de seus pontos mais fortes.” É claro que era mais fácil apreciar os pontos fortes de Fischer do que confrontá-los. Todas as três peculiaridades estilísticas listadas acima são expostas na a vitória mais bela de Fischer no match contra Petrosian, a 7 partida.

Partida 20 R.Fischer – T.Petrosian a 7 Partida do Match Buenos Aires, 1971 Defesa Siciliana

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1 e4 c5 2 f3 e6 3 d4 cxd4 4 xd4 a6 5 d3 c6 Petrosian havia jogado com sucesso este lance despretencioso em seu match de 1969 pelo Campeonato Mundial, contra Boris Spassky, mas deve ter sido arriscado repeti-lo contra Fischer, que certamente poderia ter preparado algo novo contra ele. O principal inconveniente desta linha é sua placidez. Ela não tenta obter nada muito além de uma igualdade tediosa. Deixe um enxadrista dinâmico como Fischer abrir uma pequena vantagem numa linha como essa, e você provavelmente estará fadado a defender por um longo tempo, correndo risco de perder sem dar nenhum golpe de verdade em seu adversário. É um mistério, embora talvez seja uma indicação de sua falta de autoconfiança nesse ponto do match, o porquê de Petrosian ter evitado as alternativas principais e mais ambiciosas das Pretas, 5... c7, 5... f6 e 5... c5, ou o porquê de ele não ter repetido 4... c6, com o qual ele havia ganho a batalha teórica da abertura (mas perdido o ponto) na primeira partida do match. 6 xc6 bxc6 7 0-0 d5 8 c4 As Brancas jogam pela troca de ambos os peões em d5, deixando as Pretas com um peão isolado em d. Isso não seria um problema para as Pretas se elas não estivessem tão atrás no quesito desenvolvimento de peças. Além disso, Fischer encontra uma nova maneira de tirar vantagem deste problema em seu lance 12.

Em seu match de 1969, Petrosian conseguiu sobreviver na abertura contra o 8 d2 mais lento de Spassky, após 8... f6 9 e2 e7 10 b3 0-0 11 b2 a5 12 f4 g6 13 ad1 d7 14 c4 a4 15 f5 exf5 16 exf5 f6, na 1a partida, ganha por Petrosian, e após 9 b3 b4 10 b2 a5 11 c3 e7 12 c4 0-0 13 c2 h6 14 a3 a6 15 fe1 b6, na 17a partida, que Petrosian perdeu. 8... f6 As Pretas têm que andar com suas peças. Elas entram em apuros após 8...d4?! 9 e5!, quando apenas as Brancas estão ativas. M.Adams-Dao Thien Hai, Campeonato Mundial da FIDE, Nova Déli, 2000, por exemplo, continuou com 9... e7 10 d2 g6 11 f3 c5 12 e4 a7 13 b4! cxb4 14 xd4 xe5 15 f4 g6 16 e3 d7 17 c6, e as Brancas venceram.

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9 cxd5 cxd5 A partida A.Beliavsky-B.Kurajica, Saraievo, 1982, que fornece mais um sinal de perigo para as Pretas nessa linha, continuou com 9...exd5 10 exd5 xd5?! 11 e4! a7 12 d4 d7?! 13 c3! xc3 14 xc3, e devido ao seu péssimo desenvolvimento as Pretas já estavam com grandes problemas. 10 exd5 exd5 Em vez disso, P.Smirnov-T.Gasparian, Yerevan, 2004, viu 10... xd5 11 e4!, que também parece melhor para as Brancas, embora um pouco mais complexo. Essa partida dramática continuou com 11... d6 12 c3 xc3 13 bxc3 b8 14 a4+ d7 15 xa6 c7 16 d1 xh2+ 17 h1 e5 18 xd7 xd7 19 a3 d6 20 d1 b6 21 a5 f5 22 f3 c8 23 e5 g8 24 c4 e7 25 c5 xe5 26 cxb6+ d6 27 xd6+ xd6 28 c1 f4 29 c4 g5 30 b7 d8 31 a4 b8 32 c8 g4 33 e2 a7 34 a8 b8 35 a5 d6 36 xb8 xb8 37 a6 g3 38 fxg3 1-0. 11 c3 e7 12 a4+! Este foi um lance novo e parece ter sido recebido com choque. Talvez as Brancas pudessem contar com um pequeno avanço, jogando 12 e3 0-0 13 d4, mas as Pretas conseguiram completar seu desenvolvimento tranquilamente após 13... d6 em B.Parma-A.Suetin, Havana, 1969, que logo terminou em empate. O novo lance de Fischer é mais enérgico e desorganiza o desenvolvimento das Pretas. Ele fez com que essa variante nunca mais fosse calma para as Pretas. 12... d7?! Após uma longa pausa pensando, Petrosian decide oferecer um sacrifício especulativo de qualidade. Mas Fischer recusa a isca, preferindo, em vez disso, forçar uma troca de dama e entrar no que acaba sendo um final promissor.

Se tivesse percebido quão difícil seria sua tarefa de defesa nesse final, talvez Petrosian tivesse convencido-se de jogar o melhor lance das Pretas, 12... d7. Despreparado para o lance 12 de Fischer, no entanto, Petrosian defrontou-se com uma escolha prática difícil. Após 12... d7, Petrosian provavelmente temia que Fischer fosse desenrolar um plano preparado de colocação ótima de peças a fim de tirar o máximo de vantagem do peão isolado d preto.

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Após 12... d7, Kasparov recomenda 13 c2! 0-0 14 e3, seguido por d4 e fe1, e, com o peão preto em d bem bloqueado, as Brancas podem contar com um meio-jogo agradável. Em vez disso, Soltis sugere 13 d4 e6 14 f4 0-0 15 fe1, e se 15... a5 16 e5 fc8 17 a4 b4 18 ed1 xa4 19 a3, embora possa haver alguns riscos relacionados à dama branca em d4, onde ela pode estar sujeita a possíveis ataques pelas peças pretas. 13 e1! As Brancas poderiam capturar material com segurança, mas este lance leva a uma vantagem clara e sem riscos no final. Após 13 b5 axb5 14 xa8 0-0, e se 15 a5 d4 16 xb5 (ou 16 d1) 16... b7 17 f3 c6 18 a3 d3 (Speelman), surgem complicações difíceis de decifrar. As Brancas podem acabar melhores, mas isso também pode vir a dar errado. Além disso, Petrosian tinha a reputação de sacrificar qualidades em posições como essa e sobreviver. Então por que arriscar-se? Como as Pretas não podem rocar após o lance seguinte, elas são meio que forçadas a trocar damas, já que, se jogar em 13... a7, as Brancas podem jogar 14 d4! sob circunstâncias mais favoráveis, e se 14...0-0 15 e5! (Soltis). 13... xa4 14 xa4 e6 15 e3 0-0

As Brancas têm um forte domínio central, espaço extra e uma vantagem nítida no desenvolvimento. Os peões pretos em a e d são alvos em potencial, e as Brancas têm chances reais de expandir mais na ala da dama, especialmente se elas conseguirem trocar os bispos de casas pretas, portanto eliminando a peça menor mais ativa das Pretas. As Brancas ameaçam 16 c5, e, se as Pretas jogarem 15... d7 para impedir isso, Kasparov dá 16 d4 0-0 17 f4, ou 17 a3 a5 18 f4, com uma vantagem nítida. 16 c5 fe8 17 xe7 xe7

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18 b4! Esse lance tem dois propósitos principais. Ele apoia a transferência do cavalo branco para a casa c5, que é forte, e também firma o peão preto a na casa vulnerável a6. As Pretas gostariam de livrar suas peças da preocupação de defender seu peão jogando ...a5, mas agora elas sempre têm que levar em consideração a resposta b5 das Brancas, que estabelece um peão passado forte em b. As Pretas não têm opções ativas. Após 18... b8 19 a3 a7 20 c5 b6, o 21 ac1 de Kasparov, e se 21... f8 22 f4 g6 23 f2, é forte, com o rei branco dirigindo-se para d4. As Pretas também não conseguem resolver seus problemas depois de 18... c7 19 ac1 xc1 20 xc1 b8 21 a3. Portanto, Petrosian decide mover seu rei para mais perto do centro, ao mesmo tempo em que planeja defender seu peão a jogando ... c8. 18... f8 19 c5 c8 20 f3

20... ea7!? Parece estranho abandonar a coluna aberta e dessa maneira, mas o lance prepara para um plano bastante inteligente de ativar o bispo preto, o que poderia ter obtido sucesso contra um adversário inferior. O plano é falho, mas as Pretas estão correndo perigo de qualquer forma.

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Talvez 20... d7 fosse um pouco melhor, mas após 21 ec1!, e se 21... e5 22 f1, mantendo um bom domínio de c4 e impedindo qualquer possibilidade das Pretas ativarem seu cavalo naquela casa, as Brancas visivelmente ainda fazem um progresso considerável. As Pretas poderiam tentar 20... xe1+ 21 xe1 e8, com o objetivo de levar seu cavalo para b5. No entanto, as Brancas têm boas chances após a sugestão de Soltis: 22 a4 b8 23 a3 c7 24 c1, e se 24... b5 25 xb5 axb5 26 c3, e a sugestão de Kasparov: 22 f2 c7 23 a3 h6 24 f4 b5 25 e5 também é forte. Aqui, os problemas das Pretas também persistem após 21... d7 22 c1, e se 22... e7 23 xd7, seguido por c5. Após o lance da partida, a torre branca assume um posto forte em e5 imediatamente, atacando de forma direta o pobre peão preto em d. Mas a verdadeira surpresa e o melhor lance da partida vêm a seguir. 21 e5 d7 22 xd7+!

Este é um dos lances mais famosos de toda a carreira de Fischer. Muito já foi dito sobre sua natureza surpreendente. Por que as Brancas trocariam um cavalo tão magnífico por um bispo medíocre? Por que as Brancas não jogaram 22 a4 simplesmente, que parece, à primeira vista, ser a resposta mais natural para o plano das Pretas de jogarem ... b5? Na verdade, o raciocínio de Fischer era completamente concreto. Depois de trocar seu cavalo, as torres brancas dominarão a coluna c assim como a e, e seu bispo com longo raio de ação dominará o cavalo das Pretas. O rei branco, mais ativo, também pode dirigir-se diretamente para d4, e seus peões da ala da dama continuam ameaçadores. As peças Pretas continuam completamente limitadas à defesa de seus peões débeis a e d. Além disso, após 22 a4 c6! 23 c1 d7!, e se 24 xd7+ xd7, as Pretas escapam do pior e podem ter esperanças de defender. Após o lance da partida, as Pretas continuam numa situação difícil. Elas podem lutar um pouco, mas parecem não conseguir resistir ao melhor jogo. Mesmo

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hoje, o lance 22 de Fischer ainda é considerado pela maioria uma das demonstrações mais impressionantes da arte dos enxadristas universais de assegurar a manutenção da pressão por meio da transformação correta de um conjunto de vantagens posicionais para outro. 22... xd7 23 c1 As Brancas ameaçam 23 c6, praticamente forçando a resposta das Pretas para impedir isso e conceder acesso à casa c7, tão forte quanto àquela. 23... d6 24 c7 d7 25 e2 g6 As Pretas têm apenas lances “únicos”, sendo que quase tudo mais “ativo” se volta contra elas. Após 25... b6?! 26 ee7, as Brancas dominam a sétima fileira, ou, após 25... e8?! 26 xe8+ xe8 27 a7 b8 28 a4, as Brancas mobilizam seus peões da ala da dama com vantagem. 26 f2 h5 27 f4 h4!? As Pretas também estão em apuros após 27... b6!? 28 ee7 f6 29 f3, e se 29...d4 30 e5, ou após 27... b8!? 28 a3 bb6 29 f3, e se 29... bc6 30 c2 xc2 31 xc2 d4 32 d3. 28 f3 f5?! As Pretas também enfraquecem sua segunda fileira. Há controvérsias de que as Pretas tenham qualquer defesa nesse momento.

29 e3 d4+!? As Pretas pouco podem esperar defender se permitirem que o rei branco atinja d4, após 29... f6 30 d4 e4 31 ec2 (Polugaevsky), ou 29... e7 30 d4+ d8 31 ec2. 30 d2 b6!? Agora as Brancas podem dobrar suas torres na sétima fileira, mas o que mais as Pretas podem fazer? O tormento das Pretas continua após 30... f7!? 31 c4+ f6 32 a3, ou 31 e5 f6 32 a5, e 30...a5?! encontra a refutação enérgica de Kasparov 31 b5 f6 32 c4 e4+ 33 d3 b8 34 g4!. 31 ee7 d5 32 f7+ e8 33 b7 xb4?!

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Petrosian efetivamente abandona a partida. As Pretas perdem após 33... b6 34 xb6 xb6 35 g7, e após 33... b8 34 a7 (ameaçando h7), e se 34... a8 35 xa8+ xf7 36 c4. 34 c4 1-0 As Pretas não conseguem se defender da ameaça 35 h7 f6 36 h8+ f8 37 f7+ e mate. No início de 1972, a opinião predominante no mundo do xadrez era de que Boris Spassky certamente perderia seu título mundial para Fischer. Isso no caso, é claro, de o americano irritadiço e imprevisível ser persuadido tanto para iniciar o match quanto para completá-lo. As duas coisas aconteceram por um triz. Depois de negociações complexas, a FIDE e os participantes acabaram escolhendo Reykjavik para sediar o match. Fischer parecia feliz em jogar na Islândia. Infelizmente, ele recusou-se a aparecer na data escolhida para começar o match, no início de julho, pois ele achara o prêmio muito baixo. Felizmente, e de forma totalmente inesperada, um financista britânico, Jim Slater, ofereceu-se na hora para dobrar o dinheiro em questão, e Fischer pareceu satisfeito. O Presidente da FIDE, Max Euwe, reagindo com rapidez, adiou imediatamente a data de início do match, confiando no espírito esportivo dos russos em aceitarem isso. E eles o fizeram, mas, ao mesmo tempo, Euwe insistiu em dar um ultimato “estilo Sousse” para Fischer, solicitando que ele chegasse à Islândia até o meio-dia de 4 de julho. Fischer chegou como devido, algumas horas antes do horário limite. Quase uma semana depois, após mais algumas negociações menos importantes, a primeira partida do match começou. Jogando com as Pretas, Fischer pressionou demais em uma posição equilibrada, e acabou perdendo. Isso pode tê-lo chateado. De qualquer forma, citando barulho excessivo no salão e uma quebra nos acordos de televisão, Fischer recusou-se terminantemente a voltar ao salão para jogar a segunda partida do match, e foi considerado ausente. Com 2-0 negativos no match, o próximo passo de Fischer foi exigir que a terceira partida fosse jogada sem espectadores nem câmeras em uma antessala. Felizmente Spassky salvou o match ao concordar com isso. Com as Brancas, no entanto, ele jogou mal e perdeu. Tendo causado estrago, Fischer, mais animado,

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parecia satisfeito e, exigindo outras várias condições menos escandalosas, concordou em retornar ao salão, onde prosseguiu e empatou a 4a partida, venceu a 5a partida, e o resto é história. Spassky deve ter ficado abalado psicologicamente por causa de tudo isso. Foi ele quem teve que fazer quase todas as concessões de verdade, fora do tabuleiro, e não o seu adversário. Com isso, ganhou uma reputação a nível mundial por seu notório espírito esportivo, mas perdeu o match. Diplomata veterano da FIDE, Harry Golombek, que havia sido juiz em vários campeonatos mundiais anteriores e que estava presente durante todo o match, resumiu sua opinião da situação dessa maneira: “Defensores de Fischer disseram que ele estava aumentando o status do enxadrista... Financeiramente isto é verdade, mas pode-se pôr isso em dúvida olhando outros aspectos. Em se tratando da mais pura verdade, é devido a seu xadrez maravilhoso que se terá que perdoar seu comportamento (que seria imperdoável vindo de um enxadrista inferior). Justiça, regras e razão não vêm ao caso. Se os organizadores quiserem ter Fischer em seus eventos, terão que aceitar a presença em meio a eles de uma versão modernizada de um dos Césares imperiais mais devassos.” Fischer venceu o match confortavelmente, 12½-8½, com uma de suas duas derrotas sendo a ausência na segunda partida. Spassky teve poucas reclamações sobre o resultado do match. Ele pode não ter jogado o seu melhor, mas, nesse momento, Fischer estava jogando, no geral, um nível mais alto que ele e havia derrotado-o. Sempre cortês, Spassky exaltou apenas as virtudes do vencedor. Em uma entrevista logo após o match, feita por Gligoric, Spassky enfatizou como “a energia tremenda do xadrez de Fischer e seu desejo ardente de vencer” haviam impressionado-o. Acima de tudo, ele estava impressionado pela habilidade de Fischer de jogar lances com facilidade e fluência notáveis, observando que “ele era muito econômico, não resolvia grandes problemas do mundo, apenas jogava. Se ele visse um lance bom, ou até mesmo regular no tabuleiro, ele jogava-o de imediato e fim”. Induzido a falar sobre as fraquezas de Fischer, Spassky observou: “Talvez... sua maior fraqueza resida no fato de que ele é direto no xadrez, como uma criança. Bem, esse é um de seus pontos fortes, mas ao mesmo tempo uma fraqueza, de certa forma... ele terá que se acostumar com mais alternativas, alternativas que exigem mais sensibilidade, e ele terá que saber mais... ele ainda é imperfeito”. Infelizmente, Fischer nunca mais teve a oportunidade de trabalhar suas fraquezas e aperfeiçoar seu jogo, muito menos em competições longas. Afora jogar em um match de revanche, 20 anos inteiros mais tarde, contra Spassky já muito mais fraco, Fischer fracassou completamente em retornar ao xadrez; uma das perdas mais tristes da história do xadrez. A vitória de Fischer na 13a partida do match, em Reykjavik, foi uma obra de arte épica. Imperfeita em partes, no entanto ela ressoa toda a energia infantil em seu estado natural, a objetividade, a profundidade e até mesmo a mágica que Spassky vivenciou com frequência quando sentava-se para enfrentar Fischer em seu “Match do Século”, em 1972.

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Partida 21 B.Spassky – R.Fischer a Campeonato Mundial (13 Partida) Reykjavik, 1972 Defesa Alekhine 1 e4

f6 2 e5

d5 3 d4 d6 4

f3 g6

Aparentemente, a escolha de Fischer pela astuciosa Defesa Alekhine foi uma surpresa para os soviéticos. Embora Fischer já tivesse jogado essa linha algumas vezes, ele nunca havia arriscado jogá-la contra enxadristas do nível de Spassky. É uma abertura segura o suficiente, mas concede espaço às Brancas cedo, e talvez não fosse jogada por Fischer se não fosse por razões principalmente psicológicas e esportivas. Nesse ponto do match, Fischer tinha uma vantagem boa de dois pontos (três pontos considerando as partidas de fato, descontando a derrota de Fischer por não ir à segunda partida), e deve ter tido confiança de que o elemento surpresa fosse funcionar. Além disso, ele já tinha ganho as partidas três e quatro com escolhas-surpresa contra 1 d4, as quais Spassky havia enfrentado de maneira insuficiente. Spassky também já havia jogado bem contra a primeira linha de defesa de Fischer contra 1 e4, a Najdorf da Siciliana, obtendo um empate e uma vitória contra a Variante do Peão Envenenado de Fischer, nas a a partidas 7 e 11 . 5 c4 b6 6 b3 g7 7 bd2 Spassky não consegue responder de forma ativa nesta partida, e Fischer iguala quase de imediato. Este e o próximo lance das Brancas não levam a lugar o algum, especialmente seu lance equivocado, o 9 , depois do qual ele já está pior. A surpresa parece ter dado frutos, pois Spassky evita tanto 7 g5 quanto 7 e2, que na época já eram conhecidos por serem mais difíceis de lidar.

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Um pouco depois, A.Karpov-E.Torre, Interzonal de Leningrado, 1973, continuou fortemente com 7 g5 d5 (ou 7...e6!? 8 f3 e7 9 e4 dxe5 10 g5 b4+ 11 c3 a5 12 f6 com uma pequena vantagem) 8 f4 c6 9 c3 f6 10 f3 f5 11 0-0 d7 12 bd2 fxe5 13 fxe5 0-0 14 f2 a5 15 c2 xc2 16 xc2 f5 17 d1 e6 18 f1 c5 19 h3 cxd4 20 cxd4 c6 21 b3 d7 22 a3 f7 23 g4 e4 24 g5 1-0. 7...0-0 8 h3 a5!

8 0-0 teria sido mais útil para as Brancas. Agora Fischer tira proveito dos dois meios-tempos que as Brancas lhe deram para conseguir espaço extra na ala da dama. 9 a4?! Spassky faz mais um lance de rotina, mas desta vez ele também é descuidado. Surpreendentemente, agora as Pretas podem unir-se e capturar o peão branco em a. Sem dúvida Spassky não percebeu o contragolpe dinâmico de Fischer, baseado no desenvolvimento incomum ... a6-c5. As Brancas deveriam ter preferido 9 c3. 9...dxe5 10 dxe5 a6 11 0-0 c5 12 e2 e8 13 e4 bxa4 14 xa4 xa4 15 e1 Pelo menos Spassky acordou. Ele está com um peão a menos, mas tem algum tempo e compensação espacial que lhe permitem proceder como se fosse um gambito especulativo. As Brancas poderiam ter recuperado seu peão jogando 15 c4, mas isso permitiria que as Pretas alcançassem um final de dois bispos promissor e fácil de jogar, após 15... d7 16 xc7 c8 (ou 15...b5 16 xc7 d8). Em vez disso, as Brancas tomam a decisão prática de largar o peão e, como Kasparov coloca, jogar na “esperança de criar pressão e, quem sabe, também um ataque na ala do rei, mantendo em mente que o peão extra do adversário não está desempenhando nenhum papel especial no momento”. 15... b6 16 d2 a4 17 g5 h6 18 h4 f5 Esse é um momento crítico e difícil da partida para os dois jogadores. As Pretas instigam as Brancas a avançarem seu peão g, portanto criando um possível enfraquecimento em seus peões na ala do rei. De f5, o bispo preto também pode ser trocado pelo cavalo branco em e4, o que é vantajoso em algumas linhas.

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Fischer pode ter evitado o imediato 18... e6 devido à sugestão de Kasparov 19 c3, e se 19... d5 20 xd5 xd5 21 c4 c6 22 d4 d7 23 c5. Em linhas como essa, com as Pretas um tanto limitadas, é provável que, tendo um lance como g4 à disposição, as Pretas tenham oportunidades melhores de contra-ataque bem-sucedido. Após 18... d7, a sugestão de Kasparov 19 d2, pretendendo levar a dama branca para b4, parece boa para as Brancas. 19 g4?! As Brancas permitem-se ser tentadas, mas isso acaba sendo um lance que enfraquece em vez de fortalecer. De acordo com Smyslov, as Brancas teriam tido mais chances de obter um jogo compensatório por seu peão após 19 d4, e se 19... xe4 (mas não 19... xe5?! 20 xf5 gxf5 21 g3) 20 xe4 c6 (ou 20...c5 21 f3) 21 f4 e6 22 e2, seguido por c3. 19... e6 20 d4 Agora, se 20 c3, as Pretas podem jogar o ativo 20... a5!, e se 21 e4 d5 22 xa4 a8 23 a3 b5 24 c5 xa3 25 bxa3 xa3 (Kasparov). Note que esta linha só funciona para as Pretas porque o peão branco g está em g4 em vez de g2. 20... c4 21 d2 d7 22 ad1 fe8?! Agora Fischer escorrega, dando às Brancas uma chance-surpresa de voltar para o jogo. O caminho mais simples de as Pretas seguirem era jogar 22... xe5 23 xh6 g7, depois do que as Brancas parecem estar num sufoco. Capturar o peão branco em e5 no 21o lance das Pretas também poderia ter sido efetivo. 23 f4 d5 24 c5 c8 25 c3?!

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Mas as Brancas perdem sua chance. O brilhante 25 e6 de Smyslov era melhor, e se 25... c4 26 e2 xb2 27 f5! com jogo perigoso das Brancas. Para ser justo com Spassky, no entanto, nada disso era remotamente fácil de avaliar. Existem dois ramos analíticos principais: a) A linha principal de Smyslov, que segue: 27... xd1 28 xg7 xg7 29 e5+ f6 (29... h7 30 xd5, e se 30... d8 31 f3 a3 32 xe7 a2 33 b3 seguido por f5, também parece bom para as Brancas) 30 xd5 b2, e agora 31 g5! (a sugestão de Kasparov para fortalecer o original de Smyslov 31 d4!? g5) 31...hxg5 32 fxg5 d8 33 d7 parece melhor para as Brancas. b) A linha de Timman: 27... c4 28 exf7+ xf7 29 xe7+ xe7 30 xe7+ f8 31 d7+, e se 31... xd7 32 dxd7 c3 33 e3! gxf5 34 xc3 a3 35 d8+ xd8 36 xd8 a2 37 a3 d1 38 f6, e as Brancas surgem com uma qualidade a mais e com algumas chances de vencer. Portanto, de acordo com Kasparov, o 25...a3! de Lodewijk Prins é o melhor lance das Pretas, levando a um jogo completamente obscuro após 26 bxa3 xa3 27 h2, e se 27...fxe6 (ou 27... xd4+ 28 xd4 f6) 28 cxe6 xd4+ 29 xd4 e6, e agora 30 f5 ou 30 b5. 25...e6 26 h2

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25... d7?! Fischer, humano também, dá o seu próprio escorregãozinho. Apesar de as Brancas ainda terem compensação espacial por seu peão, o jogo das Pretas parece muito mais sólido do que alguns lances antes, e poderiam ter feito um progresso claro aqui, jogando 26... f8!, e se 27 e4 xe4 28 xe4 c5 29 f3 c6 (Kasparov). 27 d3?

No entanto, a indecisão de Spassky ataca novamente. Em vez de deixar passivamente as Pretas voltarem com suas peças, sem nenhuma resistência, como na partida, as Brancas deveriam ter jogado 27 xd7! xd7 28 d3, com a ameaça clara de sacrificar seu cavalo em e6, seguida por c4. De novo, para ser justo com Spassky, esta ideia passou completamente desapercebida por todos os analistas contemporâneos (me pergunto se Fischer enxergou-a). Mas ela parece manter as Brancas bem no jogo: por exemplo, após 28... f8 (ou se 28...b6 29 xe6 fxe6 30 c4 f7 31 cxd5 xf4+ 32 g3) 29 xe6! xe6 30 c4 b6 31 e2 a3 32 bxa3 xa3 33 xd5 (Kasparov). 27...c5 28 b5 c6 29 d6 xd6 30 exd6 xc3 31 bxc3 f6 32 g5 hxg5?! Como Smyslov apontou, as Pretas poderiam ter ganho com facilidade jogando 32...c4 33 b4 hxg5 34 fxg5 f5 35 xd5 exd5, e se 36 xd5 xe1 37 xe1 a3. 33 fxg5 f5 34 g3

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34... f7?! Aqui também Fischer poderia ter jogado o mais simples 34...a3 35 e5 xe5 36 xe5 ed8 37 f1 a4 (Smyslov), que acaba por completo com a chegada dos recursos das Brancas, f1-f4-h4. 35 e5+ xe5 36 xe5 b5?! É claro que todos os comentaristas aproveitaram o benefício da retrospectiva! Se Fischer tivesse percebido quão forte a manobra f1-f4-h4 das Brancas poderia ser, provavelmente ele teria jogado o mais acurado 36... ed8 37 f1 e8 (ou 37...a3), que dá a seu rei uma rota via d7, c6, e até mesmo b5, longe da ala do rei, na segurança da ala da dama. 37 f1 h8 38 f6! É possível que Fischer simplesmente não tenha visto esse Zwischenzug diabólico. As Pretas ganham facilmente após o imediato 38 f4, respondendo 38... h7, e o rei preto pode voltar com segurança para a ala da dama, via e8, d7 e c6. De repente, após o lance do texto, as Pretas já não conseguem apressar seu rei para fora da vulnerável ala do rei. Agora as Pretas podem apressar seu peão a em direção à casa de promoção, mas as Brancas poderão proteger a1 adequadamente com seu bispo, desobstruindo a grande diagonal de casa preta com o ousado sacrifício do peão c4.

38...a3 39 f4 a2 40 c4 xc4 41 d7 d5?! Aparentemente, Fischer jogou este lance bem rapidamente para forçar as Brancas a fazerem um lance secreto difícil. No entanto, Kasparov sugere que ele provavelmente deixou a vitória escapar (em termos estritamente objetivos!) ao não jogar o notável sacrifício de peão 41...e5!, e se 42 xe5 hd8 43 f6 e2 44 e1 xd7 45 xe2 a1 46 xa1 xa1 47 h4 g7, e as Pretas vencem o final de torres. 42 g3 a3+ 43 c3 ha8 Spassky encontrou o lance secreto correto, e, apesar de ainda não estar claro, as Brancas devem sobreviver ao final da partida. Após o lance do texto, a partida assume uma natureza semiforçada. Fischer ainda pode colocar pressão por uma vitória ao desistir de seu bispo por três peões e desprendendo seu rei da ala do rei. Ao contrário, as Pretas só conseguem empatar após 43...a1 44 xa1

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xa1 45 h4!, e se 45... ha8 46 h7+ com um empate por repetição, mas não 45... aa8?? 46 xh8 xh8 47 h7+, quando as Brancas vencem.

44 h4 e5 45 h7+ e6 46 e7+ d6 47 xe5 xc3+ 48 f2 c2+ 49 e1 xd7 50 exd5+ c6 51 d6+ b7 52 d7+ Até agora, nós ainda devemos estar na análise da véspera de ambos os jogadores (com certeza de Fischer). Perceba que as Brancas perdem após 52 e6? a3 53 d7+ c8 54 d8+ c7! (Kasparov). 52... a6 53 7d2 xd2 54 xd2 b4

55 h4! A avalanche de peões pretos na ala do rei é ameaçadora, mas as Brancas ainda têm seu último trunfo na ala do rei. Ao jogar h4-h5, elas criam um peão passado perigoso e obtêm boas chances de empate. 55... b5 56 h5 c4 57 a1 Não, é claro, 57 h6?? c3+ 58 d3 a1 , e as Pretas vencem. 57...gxh5 58 g6 h4 59 g7! Isso está certo mais uma vez. Os três peões pretos devem, cedo ou tarde, triunfar sobre o bispo após 59 xh4? g8 60 xa2 xg6. 59...h3 60 e7 g8!

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Não sabemos se este notável lance de torre, que a afoga, também fez parte da análise de Fischer na véspera. Não importa sua exata proveniência, ele continua sendo uma ideia brilhante. A torre preta estará completamente imóvel, mas a ideia irá tirar bispo e peão brancos de ação, estabelecendo uma batalha tensa e incomum entre a torre branca e os cinco peões (bastante) passados das Pretas. De acordo com Botvinnik, a “solução paradoxal” de Fischer para seus problemas nesse momento foi “sua realização mais criativa... Nada parecido havia acontecido antes no xadrez. Spassky estava espantado e logo perdeu... Smyslov encontrou um empate para as Brancas, mas será que teria encontrado-o no tabuleiro, sentado em frente a Fischer?” Gligoric percebeu que as Brancas poderiam se dar mal aqui após o plausível 61 f6, que permite a elegante linha promissora 62...h2 62 c2 e8! 63 h1 (ou 63 d2 f4) 63... e2+ 64 d1 g2 65 xh2 g1+ 66 c2 c3. 61 f8

61...h2 As Brancas podem defender depois de 61...c3+ 62 d3 h2 63 f1 f4 64 d1! f3 (64... a4 65 c2!) 65 d4 f2 66 d3 c6 67 c2!, pois seus rei e torre conseguiram posicionar-se de maneira que o rei preto não consiga atravessar a coluna

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d, via d5 e e4, ou forçar por entre seus peões na ala da dama. Aqui as Pretas podem tentar o sacrificatório 67...a1 68 xa1 d5 69 d3 c2 70 xc2 e4 (análise até agora feita pelo compositor de finais Robert Burger), mas, após a continuação 71 f1! f3 72 c5 xg7 73 xf2+ g3 74 xh2, as Brancas defendem (Soltis). 62 c2 c6 63 d1 b3+ 64 c3

Isso não é um bom sinal. Spassky poderia ter assegurado o meio-ponto imediatamente jogando 64 b2!, e se 64...f4 (ou 64...h1 65 xh1 d5 66 d1+ e4 67 c1 d3 68 d1+ e2 69 c1 f4 70 xc4 f3 71 c1 f2 72 xb3) 65 d6+ c7 66 d1! f3 67 c3 f2 68 b2, alcançando uma posição em que o rei preto nunca possa atingir a coluna d ou as casas b4/a3, e as Brancas defendem, como mostrado por Gligoric. Apesar de as Brancas ainda não terem comprometido o empate, o lance de Spassky permite que as Pretas ativem seu rei ao sacrificar seu peão h, para que elas ainda possam colocar bastante pressão pelo ponto inteiro. 64...h1 65 xh1 d5 66 b2 f4 67 d1+! As Brancas ainda defendem, mas têm que evitar 67 h8?? c3+ 68 a1 f3 69 xg8 f2, e as Pretas dão mate. 67... e4 68 c1 d3 69 d1+?

O erro final – as Brancas perdem um tempo essencial. Kasparov chamou o lance de Spassky de “um lapso trágico”. O empate de Smyslov poderia ter sido assegu-

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rado com 69 c3+! d4 (ou se 69... e2 70 xc4 f3 71 c1) 70 f3 c3+ (ou 70... e4 71 c3 f3 72 xc4+ e3 73 c1) 71 a1 c2 72 xf4+ c3 73 b4+ d3 74 f1 xg7 75 b2. As Brancas também podem empatar nesta linha após a alternativa 73 f3+ d2 74 a3, e se, agora, 74... xg7 75 xb3 c7 76 b2 (Gligoric e Timman). 69... e2 70 c1 f3 71 c5 Agora as Brancas estão um lance tarde demais após 71 xc4 f2 72 c1 f1 73 xf1 xf1, e as Pretas vencem. 71... xg7 72 xc4 d7 73 e4 Ou se 73 c1 d1. 73... f1 74 d4 f2 0-1

Os peões a e b das Pretas vencem com facilidade após 75 f4 xd4 76 xd4 e2 77 f4 f1 78 xf1 xf1, ou se 75 e5 d1 76 xb3 e1.

4 Viswanathan Anand (1969-) Eu diria que hoje em dia é impossível trabalhar sem computador. E você não tem que fazer tudo mecanicamente. Ele lhe permite fazer coisas incrivelmente criativas... há posições que posso trabalhar hoje que antigamente eram impossíveis de trabalhar sozinho. Vishy Anand, entrevistado por Outlook Business

O espírito de todo enxadrista clássico talvez seja essencialmente artístico. Rubinstein, Smyslov e Fischer eram todos enxadristas extremamente criativos. É claro que todos queriam vencer as partidas, mas também desejavam fazê-lo em grande estilo. Não necessariamente buscavam forçar a situação; em vez disso, buscavam desvendar e desenvolver-se usando as verdades estratégicas e táticas fundamentais, quaisquer fossem elas, em qualquer posição dada, e para qualquer lugar que elas os levassem. Quando obtinham êxito contra adversários honrosos, eles sempre produziam grandes obras de arte do xadrez. Então não é de surpreender que Vishy Anand tenha enfatizado a criatividade em vez de mecanismos e hábitos em resposta a uma pergunta sobre o impacto do computador no xadrez, colocada a ele por uma revista de negócios indiana logo após ele ter ganho o Campeonato Mundial de 2008. Perguntado na mesma entrevista se achava que o computador pudesse ter universalizado a abordagem dos enxadristas renomados ao xadrez a tal ponto que o estilo estivesse agora morto, Anand repudiou enfaticamente essa ideia. Na era do computador, Anand permanece fiel às tradições do melhor xadrez classicamente direto. No seu melhor, seu jogo é caracterizado por todas as virtudes clássicas principais: claridade, energia, dureza, ambição e um senso fundamental de correção analítica. Nas mãos de Anand, o computador moderno é uma ferramenta que o ajuda a aumentar sua pesquisa e preparar sistemas e planos

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que lhe permitirão, com seus pontos clássicos fortes, maximizar o escopo para expressão durante o jogo. Mas isso não foi sempre assim. De fato, a carreira de Anand é de interesse especial porque percorre o período no final dos anos de 1980 e 1990, quando o computador passou de um acessório de treinamento pouco útil, que exige tempo e que custa relativamente caro, para um acessório poderoso, relativamente em conta e essencial no arsenal de um enxadrista sério. Durante este período, Anand passou a fazer cada vez melhor uso do computador. Hoje, ele é um dos melhores mestres do mundo nesta arte. Os primeiros sucessos de Anand foram, por necessidade, alcançados totalmente sem computadores. Assim como Smyslov e Fischer, ele aprendeu a jogar quando era muito jovem, e cresceu rapidamente na categoria júnior. Aos 6 anos, entrou para um clube local excelente, Tal Chess Club (em Chennai, sua cidade natal), onde desfrutava de jogos de lógica, livros de xadrez e xadrez Blitz. Anand tornou-se Campeão Júnior nacional em 1983, Campeão Indiano em 1985 e Campeão Mundial Júnior em 1987. Em 1988, tornou-se um Grande Mestre, o primeiro da Índia. Durante estes primeiros anos, Anand ganhou uma reputação mundial de um jogador extremamente rápido, jogando e ganhando com frequência partidas próximas à velocidade de uma partida Blitz. Ele tinha uma visão apurada para tática e instinto posicional invejável. Após tornar-se Grande Mestre, decidiu optar pela vida de enxadrista profissional. Alguns anos depois, começou a jogar em circuitos de torneios internacionais de xadrez de alto nível; terminou em 1o, à frente de Garry Kasparov e Anatoly Karpov, no Reggio Emilia em 1991, e qualificou-se para a série do Candidatos de 1993, perdendo por pouco para Karpov nas quartas de final. Anand queria ter a oportunidade de jogar contra um Campeão Mundial, e ele acabou obtendo o direito de desafiar Kasparov, dois anos mais tarde. O match ocorreu em 1995, em Nova Iorque, pela autodenominada Associação Profissional de Xadrez (Professional Chess Association – PCA), em vez de pela FIDE, devido à separação de Kasparov da FIDE em 1993. Havia um ciclo e campeonato paralelo pela FIDE, mas, como Kasparov era indiscutivelmente o número um na época, o match da PCA foi o “importante”. Anand provou que era bastante, mas ainda não o bastante para Kasparov. Depois de oito empates seguidos, Anand venceu a 9a partida, abrindo um ponto de vantagem. Mas então a coragem de Anand falhou, e a experiência de Kasparov em matches, melhor preparação e o maior espírito de combate começaram a ter efeito psicológico. De qualquer forma, Kasparov igualou de imediato com uma vitória na 10a partida, e então começou a abrir vantagem no match, e a boa forma de seu adversário começou a decair visivelmente. Kasparov venceu confortavelmente por 10½-7½. Olhando por um lado puramente de jogo, Anand fez o suficiente neste match para mostrar que poderia derrotar Kasparov se conseguisse algum tipo

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de poder sobre ele. Mas, neste ponto, Kasparov era muito melhor que qualquer outro, mesmo em termos de preparação. Em uma entrevista de 1998, na New in Chess, Viktor Korchnoi expressou esse ponto de vista: “No tabuleiro, Anand é um igual de Kasparov ou até mesmo mais forte, mas Kasparov é mais forte em casa”. Essa vantagem fez efeito em todos os tipos de torneios e matches de xadrez. A 9a partida do match foi, no entanto, um indicador de possíveis feitos mais notáveis por vir de Anand. Por reputação, o sucesso contínuo de Kasparov com a Scheveningen da Siciliana contra Karpov, nos dois primeiros matches dos cinco que tiveram pelo Campeonato Mundial, convenceu Karpov de que ele deveria abandonar seu favorito de longa data 1 e4 e mudar para 1 d4 e aberturas de flanco. Anand jogou 1 e4 melhor que Karpov, fazendo com que Kasparov mudasse da Scheveningen para a Variante Dragão da Siciliana até o fim da defesa de seu título em 1995, após sua derrota na 9a partida.

Partida 22 V.Anand – G.Kasparov a Campeonato Mundial (9 Partida) Nova Iorque, 1995 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2 f3 d6 3 d4 cxd4 4 xd4 f6 5 c3 a6 6 e2 Esta foi a quinta partida de Anand no match com este lance. Contudo, sua primeira vitória contra Kasparov havia sido com 6 f4. Naquela partida, ele caiu na análise que Kasparov havia feito em casa, mas conseguiu derrotá-lo quando surgiram complicações. V.Anand-G.Kasparov, Tilburg, 1991, seguiu: 6 f4 e6 7 d3 bd7 8 0-0!? (8 f3 é mais comum) 8... b6!? 9 e3 xb2 10 db5 axb5 11 xb5 a5 12 b1 xb5 13 xb2 xb2 14 a1 b6 15 xb6 xb6 16 c3 e7 17 b1 fd7 18 xg7 f6 19 h6 e7 20 b5?! (melhor 20 g4! – Anand) 20... g8?! 21 d1 e5?! 22 f5 c5? (as Pretas tinham que jogar 22... d8, enquanto 20...e5! e 21... g4! eram aperfeiçoamentos para antes) 23 xd6!

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23... g5 24 xh7 xe4 25 xb6 d8 26 d3 e3+ 27 f1 xb6 28 xe4 d4 29 c3 1-0. 6...e6 7 0-0 e7 8 a4 c6 9 e3 0-0 10 f4 c7 11 h1 e8 Kasparov jogou esse lance durante sua carreira. Ele frustrou constantemente Anatoly Karpov em seus matches pelo Campeonato Mundial de 1984/1985 e de 1985. Seu mérito principal era sua flexibilidade extrema. Ele prepara o recuo de defesa ... f8 e aumenta as chances de ...e5, uma ruptura enérgica no centro. Ele também adia sutilmente uma decisão sobre o desenvolvimento do bispo da dama das Pretas, que pode tanto permanecer sólido na diagonal c8-h3 quanto jogar pela grande diagonal de casa branca em b7.

As Brancas têm um pouco mais de espaço, mas não está claro como elas devem proceder para aumentar a pressão sobre as Pretas. A maioria dos planos, especialmente aqueles baseados no avanço g4-g5 na ala do rei, podem ameaçar as Pretas, mas eles também comprometem as forças das Brancas, permitindo que as Pretas contra-ataquem. Anand não foi longe na 1a partida do match, após 12 d2 d7 13 ad1 ad8 14 b3 c8 15 f3 b6 16 f2 d7, e as Pretas haviam igualado confortavelmente. As Pretas também defenderam com sucesso nas partidas 3a, 5a e 7a, após 12 d3 b4 13 a5 d7 14 f3, e agora 14... ac8, como jogado nos últimos dois desses enfrentamentos, neutralizando de modo eficaz a configuração das Brancas. 12 f3 d7 Kasparov tomou o título de Campeão Mundial de Anatoly Karpov, jogando a 12... b8 na 24 partida de seu match de 1985, em Moscou. Isso também se deve à flexibilidade considerável e continua crítico até hoje. No entanto, Kasparov deve ter ficado preocupado quanto a seu adversário estar bem preparado para enfrentar seu favorito.

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Com Karpov precisando vencer para salvar seu título, aquela partida famosa de 1985 seguiu: 12... b8 13 d2 d7 14 b3 b6 15 g4 c8 16 g5 d7 17 f2 f8 18 g2 b7 19 ad1 g6 20 c1 bc8 21 d3 b4 22 h3 g7 23 e3 e7 24 g1 ce8 25 d1 f5 26 gxf6 xf6 27 g3 f7 28 xb6 b8 29 e3 h5 30 g4 f6 31 h4 g5 32 fxg5 g4 33 d2 xe3 34 xe3 xc2 35 b6 a8 36 xd6? (as Brancas tinham que jogar 36 xb8 xb8 37 h3 “com sérias complicações” – Kasparov) 36... b7 37 xa6 xb3 38 xe6 xb2 39 c4 h8 40 e5 a7+ 41 h1 xg2+ 42 xg2 d4+ 0-1. Muito depois, V.Anand-V.Ivanchuk, Morelia, 2008, diferenciou-se da partida de 1985 continuando com 17... b7 18 g2 a5 19 ad1 xb3 20 cxb3 c6 21 b4 b5 22 a5 bc8 23 f5 e5 24 g3 f8 25 d4 exf5 26 exf5 b7 27 xc6 xc6+ 28 g2 xg2+ 29 xg2 c6 30 d5 e7 31 c3 ½-½. Em vez disso, M.Carlsen-V.Anand, Wijk aan Zee, 2008, jogada logo antes da partida de Ivanchuk, divergiu mais cedo, 13... f8 14 f2 d7 15 g4 e5 16 f5 exf4 17 xf4 e6 18 ad1 e5 19 xe5 dxe5 20 g5 d7 21 d5 c6

22 g2 c5 23 h4 xc2 24 c1 xa4 25 b3 a5 26 c3 g6 27 h3 h5 28 f3 xd5 29 exd5 g7 30 xh5 gxf5 31 xf7+ xf7 32 g6+ g8 33 h7+? (33 xf5 xd5+ 34 hf3 d1+ 35 f1 d5+ 36 1f3 empata) 33... f8 34 xf5+ e7

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35 xg7+ d6 36 f7 xd5+ 37 g1 bd8 38 h7 d4+ 39 g2 g4+ 40 h1 g8 41 f6+ c7 42 e7 e4+ 0-1. Antes dessa experiência, em 1995, Anand pretendia opor-se a 12... b8 com 13 g4. P.Svidler-G.Kasparov, Linares, 1998, mais tarde continuou com 13... d7 14 g2 b6 15 g5 b7 16 g4 f8 17 f5 exf5 18 xf5 de5 19 d5 d8 20 b3 e7 21 f4 c8 22 d4 xd5 23 exd5 d7 24 b3 g6 25 c4 e7 26 g1 ce8 27 ae1 g7 28 g3 c7, acabando em empate. Em vez disso, as Brancas encontraram tempo para desenvolverem um ataque após o descentralizador 12... a5!?, em V.Anand-V.Topalov, Dortmund, 1996, que continuou com 13 g4 d7 14 g2 f8 15 e1 b6 16 d1 b7 17 h4 c6 18 de2 b4 19 d2 d8 20 g5 f6 21 d4 fxg5 22 fxg5 c6 23 df2 c8 24 ce2 c5 25 xc6 xc6 26 d4 d7 27 e5 dxe5 28 f3 c6 29 xe5 xg2+ 30 xg2 c7 31 g4 h8 32 h3 d5 33 g6 h6 34 xh6 gxh6 35 g7+ xg7 36 xh6 xg2+ 37 xg2 xh6 38 g6 1-0. Voltando para o 12... d7 da partida: 13 b3 a5!?

O último lance das Brancas ameaçou 14 a5, com domínio nas casas pretas da ala da dama. A resposta das Pretas evita isso, mas permite que as Brancas ganhem espaço na ala da dama, ao mobilizar seu peão b nos próximos lances. As Pretas podem, e provavelmente devem, tentar defender seu território, sem fazer nenhuma concessão espacial na ala da dama, jogando 13...b6, e se 14 g4 c8 15 g5 d7. Esta linha leva de novo a um jogo altamente complexo. O espinhoso Desenvolvimento Porco-espinho garante várias oportunidades de contrajogo, enquanto as Brancas sondam um ataque com todas as forças ao rei preto. A.Grischuk-S.Rublevsky, 3a partida do match, Elista, 2007, continuou de maneira intensa: 16 g2 b7 17 f3 b4 18 h3 g6 19 d2 f8 20 f2 g7 21 f1 e7 22 d4 e5 23 fxe5 dxe5 24 e3 d8 25 a5 bxa5 26 c5 f8 27 xb7 xb7 28 b6 b8 29 xa5 c6 30 b4 e6 31 h4 xa5 32 bxa5 f4 33 xh7+ f8 34 d5 e6 35 hf3 d8 36 xf4 exf4 37 xf4 c6 38 e5 c4 39 h3 g8 40 xe6

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fxe6 41 b3 xb3 42 cxb3 xe5 43 b7 d2 44 xg5+ 47 h1 g4 48 b5 a4 49 c8 ½-½. 14 xa5 xa5 15 d3 ad8 16 fd1!

xa6 xh2+ 45

g1 h5 46 b4

O enxadrista holandês John van der Wiel sugeriu esse lance excelente depois de fracassar em desmembrar as defesas das Pretas em J.Van der Wiel-L.Polugaevsky, Haninge, 1989, após 16 g4!? c6 17 b4 c7 18 g5, devido à resposta incisiva 18...d5 19 gxf6 dxe4 20 c4 exf3 21 b5 xf6 22 bxc6 c8 23 a3 xc6 24 xc6 xc6, com contrajogo considerável. Após o texto, as Brancas pretendem avançar seu peão b para b5, enquanto mantêm um controle maior no centro, especialmente da casa d5. Agora está muito mais difícil para as Pretas contra-atacarem com ...d5. Por exemplo, após 16...e5 17 f5, as Brancas mantêm uma influência contínua em d5 e na coluna d em geral. 16... c6 17 b4 c7 18 b5 d7 As Pretas devem agir com cautela. As Brancas estão visivelmente melhor após 18...axb5?! 19 axb5 d7 20 a4!. 19 ab1 axb5 Os prospectos das Brancas residem na ala da dama e no centro, não em um ataque ao rei preto, e é extremamente difícil para as Pretas livrarem-se da pressão incômoda das Brancas. As Pretas enfrentam um risco sempre presente de que elas possam acabar entrando em um final perigoso, como após 19... c8?! 20 e5 dxe5 21 fxe5 xe5 (21... d5? falha por causa de 22 xd5 exd5 23 xd5 xe5 24 f4) 22 d4 c7 23 xf6 xf6 24 xd7, quando “as Brancas irão criar peões passados perigosos já que as Pretas não trocaram os peões a” – Anand. 20 xb5! Ambos os lados devem tomar cuidado com sua tática. As Pretas voltariam para o jogo após o impreciso 20 axb5?! c8! 21 a4 xc2 22 b6 xd3 23 xd3 c7 24 e5 dxe5 25 fxe5 d5 26 xd5 exd5 27 xd5 f5, e as Pretas alcançam uma igualdade notável.

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20... xb5?! Agora as Brancas alcançam uma posição bastante dominante na coluna b, e, com seus peões a, c e e prontos para avançar, ameaçam pressionar ainda mais as Pretas. Anand esperava o mais duro 20... a5. As Brancas ainda podem ter uma vantagem após 21 xd6 xa4 22 b6 xd6 23 xa5 (ou se 23 xd6!? xd6 24 xa5 xf4 25 xb7 xc2 26 d8 xd8 27 xd8 xe4 28 b4 xf3 29 xf4 d5 30 xf6 gxf6 31 xf6, com um final empatado) 23... xd3 24 cxd3 xd1, mas as Pretas podem oferecer resistência considerável. 21 xb5 a8 22 c4 e5

As Pretas tomam medidas para impedir que as Brancas joguem e5, mas agora o bispo branco alcança b6 com força total. 23 b6 c8 A dama preta tem que recuar, pois se 23... c6? 24 xc6 bxc6 25 c5! e as Brancas ganham material. 24 fxe5 dxe5 25 a5 f8 26 h3 e6 27 d5!

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Esse forte sacrifício posicional de qualidade finalmente rompe a resistência das Pretas. Se as Pretas aceitarem o sacrifício, as Brancas retomam com seu peão e; depois disso seus peões c e d, apoiados por seu par de bispos, combinam-se com seu espaço extra considerável na ala da dama e jogam contra b7 a fim de tornarem a tarefa de defesa das Pretas um pesadelo. Se as Pretas não aceitarem o sacrifício imediatamente, elas podem ser forçadas a fazer isso após um lance com o qual as Brancas coloquem mais pressão sobre e5, como c7. Kasparov decide que ele deve aceitar a troca de imediato, mas isso não o salva. Após a partida, Anand disse que as Pretas deveriam ter tentado o lance de espera 27...h5, apesar de que 28 c7 ainda pareça difícil de lidar. Jon Speelman e Danny King sugeriram 27... ac8 28 bd1 h5, mas não 28... c6?! 29 xe5 xe5 30 xe5 xc4 31 d4, quando, após jogar e5, os bispos fortes das Brancas irão mostrar-se decisivos. 27... xd5 28 exd5 g6 29 c5 e4 30 e2 e5 Kasparov ativa sua torre, mas isso não lhe fornece contrajogo suficiente. As Pretas também podem tentar levar seu bispo para e5, jogando 30... e7 31 d6 f6, mas isso também é ineficaz após 32 d7 f8 33 c7. 31 d7!

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Este e o próximo lance das Brancas são decisivos. O peão preto b está prestes a cair e a torre branca pode defender facilmente seu peão g. Depois de 31... g3 32 xb7 g5 33 g1, as Pretas podem aumentar a pressão. 31... g5 32 g1 e3 33 d6 g3 34 xb7 e6 As Pretas ameaçam mate e armam uma última cilada com este lance. As Brancas têm que criar uma casa de fuga para seu rei em g1, é claro, mas não jogando 35 f1? b8! 36 xb8 xh3+ 37 g1 e5!, quando as Pretas empatam. 35 h2! 1-0

Agora não há empate após 35... e5 36 traz esperanças.

xa8, e 35... e8 36 d7 também não

Talvez a coisa mais importante que o computador trouxe ao xadrez tenha sido uma compreensão muito mais profunda e muito menos dogmática de o que “funciona” no xadrez. Devido à sua capacidade fantástica de calcular variantes com acurácia, mecanismos modernos de análise nos surpreendem com frequência, não só mostrando-nos as pequenas mancadas em nossos próprios cálculos, mas também, e ainda de forma mais significante, indicando minúcias táticas surpreendentes de uma partida. Anand expressa muito de suas opiniões em sua entrevista para Outlook Business, e elas salientam sua afirmação de que estilo de xadrez está longe de morto. “Quando olhamos para o passado”, ele lembra, “tendemos a pensar nos enxadristas Românticos, Neorromânticos e assim por diante. Mas eles também usavam o que funcionava. Se algo não funcionava, eles paravam de usá-lo”. Muito pouco ou nada mudou nesse sentido desde o alvorecer do xadrez. Nossa próxima partida ilustrativa é um bom exemplo. Em uma partida-chave pelo Campeonato Mundial da FIDE de 2000, Anand escolhe uma abertura cuja teoria foi elaborada em seus primórdios por Wilhelm Steinitz. Depois de um tempo, Steinitz, um gênio da investigação de aberturas subestimadas e, a propósito, muito admirado por Fischer, desistiu da linha. Nos dias de hoje, Anand e seus computadores tinham uma quantidade maior de informação disponível sobre a abertura e revisaram-na, descobrindo reviravoltas novas e um tanto perversas que faziam um teste prático valer a pena.

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Depois dessa partida, o próprio Anand meio que abandonou a linha. Ela serviu ao propósito e, como as anotações sugerem, tendo sido jogada bastante por Anand e outros nos dois anos antes do Campeonato Mundial da FIDE de 2000, não estava só ficando mais fácil de entender como as Brancas estavam reinterpretando a linha, mas também de detectar mais maneiras eficientes de as Pretas as enfrentarem. Tem sido assim que as ideias têm fluído durante toda a história do xadrez. Talvez vejamos essa linha ser jogada com frequência no xadrez de alto nível de novo no futuro. O Campeonato Mundial da FIDE de 2000 foi um dos pontos altos da carreira de Anand. Foram realizadas partidas curtas de base eliminatória que envolviam praticamente todos enxadristas de alto nível do mundo; não era fácil vencer esse evento, já que um ou dois escorregões pequenos em qualquer fase poderiam resultar no fim até mesmo do favorito. Anand havia lutado, chegando na final do primeiro destes campeonatos mundiais eliminatórios em 1997/1998, só para perder contra o polêmico favorito (e portanto mais confiante), defensor do título de Campeão Mundial da FIDE, Karpov. Dado o elemento de oportunidades relativamente variadas devido ao formato, chegar à final de novo (no terceiro campeonato) foi uma façanha notável. Anand derrotou Alexei Shirov com determinação, 3½-½, na final de 2000, em um match organizado para compor-se de seis partidas. Na partida final do match contra Shirov, Anand mostrou uma grande habilidade na arte de jogar partidas fechadas. Associamos com mais frequência Anand aos jogos abertos ou semiabertos, caracterizados, em especial, por desenvolvimento rápido das peças. Nessa partida, Anand ganha vantagem gradualmente ao tomar espaço com seus peões a um custo alto para o desenvolvimento de suas peças. Todos os grandes enxadristas podem ajustar seu jogo quase sem esforço como aqui, e Anand, um grande talento universal, fez o ajuste de forma natural, sem pestanejar. Muitos de nós considerariam seu jogo inicial notavelmente original, em especial seus lances 9 e 13, longe de rotineiros. Anand, cujo único interesse, é claro, era encontrar os melhores lances nas posições que surgiam, considerou isso “normal”.

Partida 23 V.Anand – A.Shirov Final do Campeonato Mundial da FIDE a 4 Partida do Match Teerã, 2000 Defesa Francesa 1 e4 e6 2 d4 d5 3 c3 f6 4 e5 fd7 5 ce2 Essa é uma forma bem antiga da Variante Steinitz (4 e5), que desfrutou de um breve revival por volta da virada do milênio. As Brancas preparam-se para jogar c3 e f4, controlando o centro com peões, mas usam um tempo precioso que

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poderia ser utilizado para desenvolvimento mais direto de peças. Esta ideia antiga não deve ser subestimada, mas, ao longo de grande parte de sua carreira, Anand preferiu mais fluidez oferecida pelo desenvolvimento da linha principal, 5 f4 c5 6 f3 c6 7 e3. 5...c5 6 f4 Depois de 6 c3, as Pretas podem transpor de volta para a partida, jogando 6... c6, ou procurar complicações nas posições que surgem após 6...cxd4 7 cxd4 f6. A partir dessa posição, V.Anand-E.Bareev, Shenyang, 2000, havia seguido: 8 f4 b4+ 9 d2 b6 10 xb4 xb4+ 11 d2 xd2+ 12 xd2 e7 13 exf6+ gxf6 14 e1 b6 15 f3 c6 16 b5 d7 17 xc6 bxc6 18 e2 ae8 19 he1, atingindo um final complexo que as Brancas acabaram virando a seu favor. 6... c6 7 c3 b6

As Pretas obtêm um jogo bom após 7...cxd4 8 cxd4 b4+ 9 c3 0-0 10 f3 f6 11 d3 fxe5 12 fxe5 xf3 13 xf3 h4+ 14 f2 xd4, como em A.Minasian-S. Lputian, Campeonato Armênio de Xadrez, Yerevan, 1996, que atingiu essa posição por uma ligeira transposição. Mas será que o primeiro Campeão Mundial, Wilhelm Steinitz, viu esse sacrifício de qualidade um século atrás, quando escolheu jogar 11 a3, em W.Steinitz-B.Vergani, Hastings, 1895?

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Steinitz venceu aquela partida e admitiu que foi devido a um desempenho pobre de seu adversário, após 11... xc3+!? 12 bxc3 a6?! 13 a4 a5?! 14 d3 c7 15 c2 f5 16 g4! g6 17 gxf5 exf5 18 h4! b6?! 19 h5 g7 20 hxg6 h6 21 h2! h8 22 h4 d8 23 a3 c6 24 h5 c4 25 h4 xa3 26 xf5+ xf5 27 xf5 f8 28 d7+ e7 29 xd5 ad8 30 b3 hf8 31 xa3 xa3 32 xa3 xf4 33 e2, e as Brancas estavam vencendo. Outra linha obscura é 7...b5, depois da qual V.Anand-A.Morozevich, Frankfurt (rápido), 2000, havia continuado: 8 a3 c4 9 f3 b6 10 g4 f5 11 gxf5 exf5 12 g2!? (melhor 12 h4! – Psakhis) 12... e7 13 0-0 h6 14 f2 e6 15 f1 g5?! 16 fxg5 hxg5 17 h4! g4!? 18 g5 c8 19 h2 a5 20 g3 a6 21 e3 a4 22 c2 f8 23 f2 d7 24 e6 1-0. Aqui, V.Anand-A.Shirov, Xadrez Avançado, Leon, 2000, havia divergido mais cedo com 8...cxd4 9 xd4 xd4 10 cxd4 b4 11 a4 a5 12 d2 e7?! (12... a6) 13 f3 0-0 14 b5! b6 15 b3 a6 16 xa6 xa6 17 a5! d7 18 e2 b8 19 f2 xe2+ 20 xe2 c6 21 hc1 fc8 22 a2 c7 23 ac2 ac8 24 a6! f8 25 g4 e8 26 f5 d7 27 f4 g5 28 e3 h6 29 f6 f8 30 d3 a5?! 31 xc7+ xc7 32 xc7+ xc7 33 xg5! hxg5 34 xg5

34... xb3 35 h4 a1 36 c1! b3 37 e3 a5 38 g5 c4 39 c1 1-0 – um final magnífico! 8 f3 f6 As Pretas geralmente jogam esse lance cedo contra esse sistema. Em uma tentativa de explorar o desenvolvimento das peças brancas ao fundo, as Pretas visam abrir as colunas c e f, e podem ter a oportunidade de sacrificar um cavalo em e5 ou d4 em algumas posições, destruindo o centro de peões brancos em d4 e e5, e obtendo ameaças de ataque. As Pretas também podem conseguir sacrificar qualidade em f3 para ganhar o peão branco d. Ambos os lados precisam ser meticulosos. As Pretas se atrapalharam completamente em uma partida anterior mais antiga, A.Anderssen-E.Flechsig, Leipzig, 1877, que continuou: 8... e7 9 a3 0-0 10 g3!? f6 11 d3 cxd4 12 cxd4 fxe5 13 fxe5 dxe5 (13... xf3 14 gxf3 xd4 também é bom) 14 dxe5 xe5 15

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e2 g4? (as Pretas deveriam ter jogado 15... xf3+ 16 gxf3 d7 ou 15... xd3+ 16 xd3 d7) 16 h3 d6!? 17 xh7+ xh7 18 hxg4+ g8 19 f1 b3?! 20 h3 e5 21 xe5 a4 22 b3 1-0. 9 a3 e7 10 h4 0-0 11 h3

Ao escrever para a New in Chess, Anand aponta que “precisando de apenas um ponto de três para tornar-me Campeão Mundial, decidi jogar uma partida normal ...” . Vamos refletir sobre a “normalidade” dos últimos três lances das Brancas com mais atenção. São certamente lances bons, mas para jogá-los é necessário um conhecimento profundo sobre a posição. O 9o lance das Brancas é provavelmente o mais fácil de entender. As Brancas desejam jogar b4 cedo ou tarde, tanto para assegurar um ganho espacial seguro na ala da dama, quanto para resolver a tensão no centro ao encorajar as Pretas a trocarem seu peão c5 pelo peão branco em d. Apesar de não desenvolver nenhuma das várias peças Brancas que precisam ser desenvolvidas, com certeza o lance promove um plano de jogo sensato. o O 10 lance das Brancas, mais um lance de peão, também tem seus porquês. Em primeiro lugar, ele desencoraja qualquer contrajogo possível das Pretas baseado em ...g5. Perceba que o peão h das Brancas também pode desempenhar um papel mais agressivo em qualquer ataque direto futuro na ala do rei, ou avançando para h5 (especialmente se as Pretas tiverem jogado ...g6) e talvez também para h6, ou apoiando um avanço agressivo de uma peça menor para g5. O 11o lance das Brancas é (finalmente) de uma peça, mas a torre do rei das Brancas talvez não seja a peça mais óbvia que a maioria dos enxadristas apressaria-se para desenvolver nesse momento. Contudo, esse lance também é bem fundamentado, ativando a torre branca de maneira muito útil na terceira fileira. Cedo ou tarde a torre pode surgir em g3, desempenhando um ataque duplo, mas no momento ela age principalmente como um bastião defensivo estendendo-se até a casa c3 das Brancas, que pode se tornar vulnerável. Mas é claro que lances como esse perdem muito tempo precioso, não é? E o que acontece com o desenvolvimento do resto das peças brancas? Será que as

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Pretas não podem explorar o que parece, à primeira vista, uma abordagem paciente e até mesmo perigosamente exótica de as Brancas solucionarem o problema de ativação de suas peças? Todas as perguntas são boas – joguemos! 11...a5!

De fato as Pretas revidaram com força, e esse lance, que evita b4 pelas Brancas e ameaça debilitá-las nas casas brancas na ala da dama jogando ...a4, é excelente. Para manter a flexibilidade de seus peões da ala da dama e impedir que as Pretas ganhem mais espaço aí, as Brancas devem fazer outro lance de peão aparentemente modesto. Na verdade, ambos os lados haviam chegado a essa posição um contra o outro em uma partida de xadrez rápido mais cedo. Shirov havia feito muitos erros naquela partida, e aqui houve uma melhoria nítida. Após 11... a5?, as Brancas conseguiram realizar todo seu potencial nas alas da dama e do rei e no centro em V.Anand-A.Shirov, Frankfurt (rápido), 2000, que continuou: 12 b4! cxb4 13 axb4 c4 14 g3 a5 15 d3 f5 16 g5! d8 17 h5 xg5 18 xg5 f8 19 h5 f7 20 g3 g6 21 xc4 dxc4 22 b5! xb5 23 a3 b6 24 h6 b7 25 xg6+! hxg6 26 xg6+ h8 27 xf7 g8 28 f8 1-0. 12 b3 c7 13 eg1 Se os lances 9 a 11 das Brancas requerem explicação, imagine esse lance? Esse cavalo, sejamos claros, viajou desde sua casa inicial em b1 só para mover-se pelas laterais até o outro lado do tabuleiro e assumir um posto em g1, a casa inicial de seu igual na ala do rei. E tudo isso no espaço dos 13 primeiros lances da partida! Mas esse também é um bom lance. É essencial para as Brancas impedirem ...b5, um lance que não só ganharia espaço útil na ala da dama, mas que também traria consigo a ameaça de ...b4, enfraquecendo severamente a cadeia de peões brancos no centro. Por outro lado, as Pretas realmente devem ter feito o suficiente até agora para terem certeza da instauração de uma partida pelo menos equilibrada. 13...a4!? Esse lance não é ruim. De fato, dada a posição de Shirov no match, é provavelmente a melhor maneira de jogar para fazer com que as Pretas compliquem e

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lutem por um ponto inteiro em vez de meio. Mas o caminho mais simples para a igualdade agora poderia ter sido jogar 13...b6, e se 14 e3 (14 d3 cxd4 15 cxd4 fxe5 16 fxe5 cxe5! parece melhor para as Pretas – Psakhis) 14... a6, trocando bispos com pouco a recear na posição.

14 b4 fxe5 15 fxe5 dxe5! Agora que as Brancas chegaram à desejada casa b4 na ala da dama, as Pretas têm que simplesmente balançar o jogo das Brancas no centro. Como já foi discutido, o texto é um sacrifício completamente temático, e também é bem justificado na atual posição. 16 dxe5 xe5 17 xe5 xe5+ 18 e2 xh4+?!

Mas as Pretas erram aqui. Deve ter sido muito tentador capturar esse peão, já que as Brancas não podem capturar o bispo sem perder sua torre. As Pretas também ganham o peão com tempo, devido ao xeque. Surpreendentemente, no entanto, as táticas conspiram para perturbar as Pretas, e o melhor a fazer depois desse lance, do qual arrependeram-se logo após jogar, é visarem defender um final de partida inferior. As Pretas deveriam ter mantido as damas no tabuleiro. De fato, depois do recuo temático e lógico 18... c7!, os dois peões das Pretas e seu possível jogo

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contra o rei descoberto das Brancas teriam dado-lhe grandes chances – provavelmente tão boas quanto as das Brancas – em um meio-jogo altamente obscuro. 19 d1 f6?! Dessa maneira as Pretas perdem mais material. A melhor chance das Pretas agora era esforçarem-se para defender no final desconfortável que surge após 19... xe2+ 20 xe2 f2 21 e3 e5 22 xf2 xf2 23 g3. Lev Psakhis, no entanto, fez o comentário possivelmente mais adequado sobre esse lance. Psakhis estava “convencido de que Shirov entendia plenamente a necessidade de trocar damas... mas o estado desfavorável do match ditou um curso diferente”. 20 f3 xc3?! A dama preta entra em um território perigoso, do qual não escapará. Mas as Pretas também enfrentam uma luta trabalhosa contra rei e torres ameaçadores das Brancas após 20...g5 21 xh4 xf1+ 22 xf1 xf1+ 23 e2 xc1 24 xc1 gxh4 25 xh4. Elas também estão perdidas após 20...e5 21 xh4 e4 22 f4. 21 b2 b3+ 22 c1 e5 Infelizmente as Brancas não estavam ameaçando capturar só o bispo em h4 das Pretas, mas também a dama preta com 23 e5 ou d2. Então mais uma peça se vai, e mesmo que as Pretas consigam quatro peões passados pela troca, eles não são fortes o suficiente e elas só podem esperar mesmo terminar a partida com o máximo de entretenimento possível para os espectadores. 23 xh4 f5 24 d1 e4 25 xb3 axb3 26 d2 e3 27 f3 ae8 28 d1 c4 29 e2 e4 30 c1

As Brancas só precisam encontrar um meio efetivo de consolidação. Os quatro peões pretos não estão posicionados tão bem quanto deveriam se quisessem causar mais do que uma simples irritação nas forças extras das Brancas em seu caminho até a vitória. 30... e6 31 c3 g6 32 h2 d3 33 xd3 cxd3 34 b2 d2 35 xb3 g3 36 b2?! As Brancas poderiam ter jogado o mais exato 36 c2 de imediato, mas isso já não faz diferença agora e Anand ainda tem a vitória em suas mãos.

Heróis do xadrez clássico 36...g5 37 c2 c8 38 d3 g4 39

e5 c1 40 h1 xg2 41

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h4! 1-0

Shirov teve seus créditos; ele conseguiu bolar uma cilada final, mas com cautela Anand conseguiu evitá-la. Após 41 d4?, as Pretas poderiam ter salvo a situação ao jogar um lance-surpresa 41...d1 +! 42 xd1 d2+! 43 xd2 exd2, ganhando a torre das Brancas. Depois de ganhar o título mundial da FIDE, Anand voltou bem consagrado para a Índia. Ele participou de um desfile com carros coloridos pelas ruas de Chennai logo antes de ser coroado pelo Chefe de Justiça do Supremo Tribunal de Madras. Anand havia sido bem apoiado por seu patrocinador, a empresa de educação e tecnologia da informação, NIIT, e já era uma celebridade em todo o país. O Ministro-chefe do Estado de Tamil Nadu premiou-lhe com uma casa em Chennai. Além de seu prêmio de 500.000 dólares por vencer o evento, isso também era útil. Anand venceu o título merecidamente. Não era apenas o favorito, seu desempenho havia sido consistente por anos e ele havia mantido-se entre os três primeiros lugares no topo da classificação da FIDE desde julho de 1996. Um grande artista em todos os torneios mundiais com os melhores enxadristas, Anand também era reconhecido como igual de Kasparov no xadrez rápido e Blitz, e havia ganho anteriormente o Campeonato Mundial de Blitz em 2000. Em 2000, Anand também já havia ganho várias vezes o prêmio indiano Desportista do Ano, sendo o primeiro em 1985, e (de 1997 a 2003) seis Oscars do Xadrez. Infelizmente, Anand nunca teve um match de revanche do Campeonato Mundial contra Kasparov com limite de tempo normal (ou o que começava a ser chamado agora de tempo “clássico” para diferenciar do Blitz). Apesar de esforços repetidos para reunir os dois Campeões Mundiais resultantes da separação de Kasparov com a FIDE em 1993 e criação da PCA, levou mais ou menos seis anos para algo acontecer. Enquanto isso, a PCA desfez-se e de repente Kasparov perdeu seu título mundial “clássico” para Vladimir Kramnik, em Londres, 2000. Kasparov tentou um match de revanche contra Kramnik, mas esse último conseguiu evitar o desafio. No início de 2005, Kasparov aposentou-se do xadrez de repente, ainda enquanto número um, aparentemente para participar cada vez mais ativa-

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mente da política russa, mas também parece que estava farto por não ter chegado a lugar algum em sua tentativa de derrotar Kramnik. Durante esse período apreensivo no xadrez de alto nível, de maneira louvável Anand permaneceu afastado da politicagem e declarou seu desejo de simplesmente continuar jogando xadrez. Seu bom desempenho continuou durante esses anos, com muitos outros sucessos em torneios. A colocação de seu rating entre os três primeiros do mundo também permaneceu firme até abril de 2007, quando tornou-se o número um pela primeira vez. Dessa forma, a trajetória de Anand continuou ascendente de maneira firme e ele continuou produzindo ótimas partidas. Na Partida 24, ele extorque um final virtuoso contra Ruslan Ponomariov no Torneio MTEL, em 2006. Nesta partida, a técnica de Anand é do mais alto nível, lembrando a caracterização de Bronstein: “raro, supremo”.

Partida 24 V.Anand – R.Ponomariov Sófia, 2006 Defesa Caro-Kann 1 e4 c6 2 d4 d5 3 c3 dxe4 4 h7 9 d3 xd3 10 xd3

xe4

f5 5

g3

g6 6

f3

d7 7 h4 h6 8 h5

Os participantes entravam em uma das linhas principais. Esta posição tem sido bastante popular por mais de um século. Certa vez nos anos de 1960, Botvinnik queixou-se de que era de surpreender que esta linha ainda fosse jogada com tanta frequência já que só havia tido uma inovação de verdade das Brancas em décadas – jogando 8 h5 antes de trocar bispos em d3. No entanto, Boris Spassky e outros no decorrer do tempo valorizaram o domínio ligeiramente maior que as Brancas têm em espaço nessa linha (que tende a

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ser acentuado se tiverem o peão h branco em h5 em vez de h4). Anand jogou esta variante com ambas as cores, embora tenda a preferir a causa das Brancas. 10...e6 11 f4 gf6 As Pretas optam por linhas envolvendo roque pequeno, que encoraja um jogo mais disputado por ambos os participantes, dado que os reis estão em lados opostos do tabuleiro. Nos tempos de Botvinnik, as Pretas costumavam preferir o roque grande, geralmente introduzido pelos lances 10... c7 11 d2 e6 12 0-0-0 gf6, mas também atingido com frequência pela posição da partida com 11... a5+ 12 d2 c7 13 0-0-0 gf6, com um lance extra jogado por ambos os lados. O antigo plano de roque grande continua possível para as Pretas. Geralmente elas visam alcançar uma igualdade estável a longo prazo, muitas vezes baseada em trocas ao longo da coluna d após ...c5 e ...cxd4. No entanto, as Pretas não podem subestimar a pressão potencial das Brancas nessas linhas antigas, que pode persistir por meio de muitas transformações em diferentes tipos de finais. As Brancas podem defender o centro e normalmente buscam, após uma troca de seu cavalo mal colocado em g3, começar um ataque enérgico com sua minoria na ala do rei, usando as casas pretas centrais como postos avançados para suas peças menores.

As Pretas sucumbiram a um plano trabalhado de forma brilhante nessas linhas em V.Anand-R.Leitão, São Paulo (rápido), 2004, após 14 e4 0-0-0 15 g3 e7 16 xf6 xf6 17 e2 b8 18 b1 a8 19 c4 c5 20 c3 cxd4 21 xd4 a6 22 f3 xd1+ 23 xd1 d8 24 e1 e8 25 e5 f6 26 g4 xe5 27 xe5 c6 28 c3 d7 29 b3 c6 30 b2 d7 31 a4 b8 32 f4 c8 33 g5 c5 34 e3 xe3 35 xe3 d1 36 g6! fxg6 37 xe6 d7 38 xg6 h1 39 xg7 xh5 40 e5, e as Brancas venceram. Um plano híbrido interessante para as Pretas surge depois de 11... a5+ 12 d2 b4 13 c3 e7 14 c4 c7 15 0-0-0 gf6. V.Anand-B.Macieja, Liga Alemã, 2006, continuou: 16 de1!? b5!? 17 c5 0-0 18 e2 fe8 19 g4 e5 20 f5 exd4 21 g5 hxg5 22 xg5 h7? (melhor o obscuro 22...d3! 23 ed4! – Anand) 23 f4 c8 24 exd4 xc5 25 c2 f8 26 eg1 e4 27 e5 f6 28 h6 fxe5 29 hxg7 e7 30 xe5 d6 31 f4 xe5 32 fxe5 1-0.

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Craig Pritchett Voltando para o 11... gf6 de Ponomariov:

12 0-0-0 e7 13 e4 As Brancas costumam buscar a troca de seu cavalo relativamente mal posicionado em g3 por seu equivalente mais ativo das Pretas em f6, e buscam a não menos importante libertação do peão branco em g, devido a seu papel na ação com formação de pinça feita com a minoria de peões na ala do rei. 13... xe4 Com esse e seu próximo lance, as Pretas começam a bolar um plano para trocar damas e entrar no final. O imediato 13...0-0 também é possível, depois do qual o perspicaz 14 xf6+ xf6 15 g4!? é uma opção tremendamente perigosa, apesar de que as Brancas também podem jogar por uma pequena vantagem com lances mais brandos. 14 xe4 f6 15 d3 d5 As Pretas também podem jogar 15... a5, depois do qual 16 b1 0-0 17 e5 transpõe para Carlsen-Ernst, Partida 29. As Brancas retêm chances melhores em D.Svetushkin-T.Gelashvili, Atenas, 2006, que divergiu dessa sequência após 16... g4 17 e2 b5 18 d3 0-0-0 19 d2 f6 20 e5 d6 21 c4 a5 22 c5 xe5 23 c4 c7 24 dxe5 xd3 25 xd3 d5 26 h4.

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15...0-0 também é possível, e transpõe para a variante mencionada na anotação sobre o 13o lance das Pretas, com ambos os lados tendo jogado um lance extra. 16 c4 e4 17 xe4 xe4 18 e3 0-0

As Brancas não tinham como evitar a troca de damas, e as Pretas atingiram um jogo sólido com espaço suficiente para manobras. Não obstante, as Brancas ainda têm uma ligeira vantagem nessa posição, já que possuem vantagens em espaço, mesmo com suas forças reduzidas. As Brancas controlam mais casas no centro, e sua minoria de peões na ala do rei ainda pode avançar no tabuleiro de forma útil, negando espaço às Pretas naquele setor. As Pretas ainda têm que encontrar um plano de contrajogo bom na ala da dama e no centro. As Brancas fizeram um avanço impressionante na ala do rei e no centro em V.Kramnik-E.Bareev, Wijk aan Zee, 2003, que continuou com 18... d6 19 b3 f6 20 g4 b5!? 21 d2 d7!? 22 c2 d8 23 f3 f6 24 e5+ c7 25 c5! xe5 26 dxe5 c8 27 h3 e7 28 f3 hf8 29 d6 a5 30 g5! hxg5 31 xg5 f5 32 d1 a4 33 b4 c8 34 fd3 a7 35 d8+ xd8 36 xd8+ b7 37 c3 a6 38 d3 c7 39 e4 b7 40 d1 c8 41 d8+ b7 42 f4 c8 43 d7+ c7 44 d3 c8 45 d8+ b7 46 f6! g6 47 hxg6 fxg6 48 g5 1-0. 19 e5 d6 As Pretas escondem suas intenções por enquanto. As Brancas lograram êxito em manter a vantagem contra um plano mais direto e convencional, baseado em ...c5 e ...cxd4, em partida anterior, A.Strikovic-V.Korchnoi, Torcy, 1990: 19... fd8 20 g4 c5 21 f3 cxd4 22 xd4 xd4 23 xd4 g5 24 f1 e8 25 b3 d8 26 c3 f6 27 g6 d6 28 c2 f7 29 b4 b6 30 a3 e5 31 d2 c7 32 e3, com uma maioria móvel ameaçadora de peões na ala da dama.

192 20 f3

Craig Pritchett g3 21 h3

f5 22

f2 ad8 23 g4

e7

As Brancas alcançaram a mesma cadeia restritiva de peões com f3, g4 e h5 na partida Strikovic-Korchnoi acima. Pode parecer que as Pretas têm menos pontos fracos em comparação com aquela partida, mas ainda é difícil para elas ativarem suas forças no outro flanco. As Pretas não teriam resolvido seus problemas após a alternativa plausível 23... xe5 24 dxe5 xd1+ 25 xd1. Seu jogo teria ficado totalmente passivo e, o que é pior, mais vulnerável a um possível desastre na coluna d após uma das duas continuações dadas por Anand: 25... d4 26 f4! c5 27 xd4 cxd4 (ou 27... d8 28 d3 cxd4 29 e2) 28 d3 d8 29 e2, e 25... d8+26 e1 d4 27 f4 c2+ (ou 27...c5 28 d3) 28 e2 d4+ 29 f1. 24 d3 b5!? Essa ruptura costuma ser duvidosa e pode fracassar de forma dramática, como com Kramnik acima, se as Brancas jogarem c5, mirarem em d6 e controlarem a coluna d com mais rapidez e eficiência do que as Pretas fizerem bom uso de d5. Aqui Ponomariov combina a ruptura com um plano sutil de levar seu bispo para a5, mirando no peão branco em d. É preciso precisão das Brancas para manterem suas chances vivas contra isso. 25 b3 c7 26 hh1! Só desta forma o plano perspicaz das Pretas funciona após 26 c2 b6! 27 c3 a5+, e se 28 c2 b6. 26... b6 27 c5!

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E agora somente este belo lance! As Brancas podem permitir que seus peões na ala da dama sejam rompidos (e seus peões em c dobrados) somente se suas torres ainda controlarem a coluna d e puderem penetrar em d6. O peão branco em c5 fixa o peão preto em c6 como alvo. Além disso, o peão branco em c4 e seus peões em formação de pinça da ala do rei impõem um bloqueio ao cavalo preto, garantindo que o bispo branco seja a peça menor mais eficaz. 27... fe8!? Ainda assim parece que as Pretas ainda possam oferecer uma resistência mais agressiva após 27...a5 28 a4! (ou as próprias Pretas jogam ...a4) 28...bxc4 29 bxc4 xc5 30 dxc5 b8!. Pelo menos, isso poderia ter trazido chances melhores. Anand fornece uma análise extraordinária como justificativa, sugerindo que as Pretas devessem desistir de seu cavalo por três peões. As Pretas podem conseguir defender, por exemplo, após 31 d7 (31 e1 b3 32 d7 também é obscuro) 31... b4 32 xe7 fb8 33 e1 xa4 34 c3 xc4 35 d2 d8+ 36 c2 d5 37 e1 dxc5 38 e3 a4, e talvez as Brancas já não possam mais fazer nenhum progresso.

28 c2 bxc4 29 bxc4 xc5 30 dxc5 e5 31 d6! Após perder o que foi provavelmente sua última chance de verdade de defender, as Pretas agora esforçam-se para enfraquecer as forças das Brancas. As tor-

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res brancas dominam a coluna d. As Pretas estão seriamente desprovidas de casas úteis para suas peças, especialmente para seu cavalo, e já não podem esperar que consigam criar qualquer distração na ala da dama. 31... b8 32 hd1 b7 33 d8! As Brancas progridem ao trocar uma torre e penetrar em d7 com a outra. As Pretas não podem evitar isso jogando 33 d8 f8, devido a 34 8d7!, e se 34... eb8?? 35 d8+ xd8 36 xd8 mate.

33... xd8 34 xd8+ h7 35 f8 f6 36 e1! Os peões brancos débeis na ala da dama podem não parecer muito inspiradores, mas o jogo das Pretas está em dificuldades em ambos os lados. Levando seu bispo para c3, as Brancas aumentam essa pressão. O cavalo das Pretas mal pode se mover, sua torre não está em atividade, e os três peões brancos na ala do rei, reforçados por suas peças bem posicionadas, continuam a debilitar a ala do rei das Pretas.

Depois de seu bispo alcançar c3, o plano promissor das Brancas envolve o avanço de seu peão em a para a sexta fileira, depois do qual torre e bispo brancos irão se juntar para lutar pelo domínio de a7. Nela, a tática-chave será a habilidade das Brancas de manobrarem sua torre para b7.

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Nos lances que seguem, as Pretas conseguem se mover um pouco na ala do rei, mas estão muito atrasadas e lentas para fazerem algum impacto de verdade. 36... d7 37 c3 g8 38 a4 g6 39 a5 gxh5 40 gxh5 g7 41 b8 e7 42 a6 f7 43 a5 f5 44 b6!

As Pretas deram o seu melhor, mas esse lance as mata. Os peões passados brancos vencem rapidamente após 44...axb6 45 cxb6, seguido por a7. Ou, se as Pretas recusarem a oferta, jogando 44... e6, as Brancas vencem após 45 e8+ f7 (ou 45... e7) 46 a8!. 44... e3+ 45 c3 e6 46 c8! O bispo branco permanece imune em b6. Então, este lance, ganhando o peão preto em c, é decisivo. 46... f5 47 xc6 d1+ 48 b4 d2 Não tem como impedir os peões brancos a e c de chegarem nas casas de promoção após 48... e3 49 d6 e7 50 c6 axb6 51 d7 e8 52 c7 c8 53 a7 (Anand). 49 xa7 b2+ 50 a3 b1 51 b6!

Agora é fácil. A torre branca desobstrui a coluna c para o avanço de seu peão c mais adiantado. 51... a1+ 52 b3 e4 53 fxe4+ xe4 54 c6 d3 55 c7 b1+ 56 a3 1-0

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Em Wijk aan Zee, alguns meses antes em 2006, Anand havia ganhado uma bela partida contra um dos Grandes Mestres de alto nível mais jovens, Sergey Karjakin. Com 16 anos na época, Karjakin havia tornado-se o enxadrista mais jovem a ganhar o título de Grande Mestre alguns anos antes, com apenas 12 anos. Comparado a tais enxadristas, Anand, com 37 anos, deve ter parecido um veterano. Kasparov havia aposentado-se com quase 42 anos. Por quantos anos Anand podia esperar manter-se no mais alto nível? Já é quase senso comum acreditar que outro resultado da revolução do computador foi reduzir a idade com a qual enxadristas podem progredir no jogo. Antigamente, com as informações enterradas em livros e revistas, não era fácil para os jogadores jovens acessarem os meios com os quais eles poderiam aprender sobre o jogo. Com o advento de computadores poderosos e muitas vezes com livre acesso a bancos de dados com partidas e diversas informações sobre xadrez além de sites para jogar online, ficou bem mais fácil. Anand tem uma ideia sábia sobre isso. Em sua entrevista para Outlook Business, ele simplesmente disse: “Estou ciente de que o xadrez está se tornando muito jovem... Mas me parece que, se você for motivado e treinar fisicamente, você consegue lidar com isso”. Nunca faltou nem dedicação nem motivação para Anand. É evidente que ele também se mantém em boa forma física e segue uma dieta saudável. Ele irá durar bastante. Apesar de terem computadores, os colegas jovens de Anand também têm que ralar muito se quiserem equiparar-se a seu nível de habilidade. Junte todas as habilidades de Anand e você terá um pacote formidável que simplesmente não se programa de uma vez. Anand tem todos os atributos necessários a um enxadrista, como imaginação, compreensão posicional, habilidade de calcular bem, resiliência mental e espírito de luta. Ele também usa o computador de forma magnífica. E o mais importante de tudo, Anand acumulou uma experiência vasta e, assim como Smyslov, tem uma abordagem calma do xadrez e não se deixa levar pelas emoções, o que é invejável. Ele se conhece bem e quase nunca comete o erro de subestimar seu adversário. Referindo-se a seu excelente 1o lugar em Wijk aan Zee, em 2004, ele contou para a New in Chess: “Não senti como se fosse um colosso naquele momento, mas sim que eu parecia ser mais estável que os outros”. Em Wijk aan Zee, em 2006, Anand não só derrotou seu adversário muito mais jovem, Karjakin, mas também deu-lhe uma lição vinda de um mestre. Ambos haviam preparado uma variante longa e complicada, usando computadores. Mas enquanto as preparações de seus computadores anulavam uma a outra, o instinto superior de Anand fez a diferença, levando-o à descoberta de uma série de temas de ataque ocultos que Karjakin nitidamente não havia avaliado. De maneira interessante, Anand teve que encontrar seu lance decisivo, 27o, no tabuleiro, o que foi uma lembrança agradável de que mesmo hoje é provável que os computadores não consigam fazer todo seu trabalho e de que seu cérebro deve sempre dirigir e avaliar as suas análises de maneira inteligente. O jogo termina com a emoção de uma caça ao rei bem à moda antiga.

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Partida 25 S.Karjakin – V.Anand Wijk aan Zee, 2006 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2

f3 d6 3 d4 cxd4 4

xd4

f6 5

c3 a6 6

e3

Em seu livro de melhores partidas, Anand escreveu que o Ataque Inglês era “uma variante bastante difícil e complexa de analisar... As posições são tão traiçoeiras que você nunca pode ter certeza de que seus planos estão corretos; a vantagem é que adversário tem o mesmo problema!”. As Brancas planejam uma combinação dos lances f3, d2, 0-0-0 e g4, seguidos por g5, mas há tantas combinações desses elementos e tantas maneiras possíveis das Pretas defenderem, que as coisas podem ficar enormemente complexas em pouco tempo. Para jogar bem as linhas 6 e3, é necessário um nível alto de habilidades estratégicas, analíticas e técnicas, assim como uma boa preparação feita em casa. Anand, um dos peritos em ambos os lados nesta variante, sobressai-se nesta partida em relação a todos esses pontos. 6...e5 Muitas vezes as Pretas esforçam-se para jogar ...e5 em um lance em linhas da Najdorf, contando com o bom controle que as Pretas têm no centro, com prospectos de ação na ala da dama a fim de contrabalançar a possível pressão das Brancas sobre a coluna d, e com expectativas de conseguir o controle de d5. Jogar pelas linhas da Scheveningen da Siciliana, com um centro pequeno após 6...e6, também é possível. Anand deve ter lembranças boas quanto às posições que surgem após 6...e6 7 f3 b5 8 g4 h6 9 d2 bd7 10 0-0-0 b7!? (o lance agudo de Topalov: 10...b4 11 a4 e5, e se 12 xb4 d7, pode ser melhor) 11 h4 b4 12 a4 a5 13 b3 c5 14 a3. Em parte a linha saiu um pouco de moda para as Pretas devido ao sucesso de Anand contra elas.

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V.Anand-A.Khalifman, Shenyang, 2000, continuou: 14... c8 (14... xa4 15 axb4 c7 16 bxa4, e se 16...d5 17 e5, também parece bom para as Brancas) 15 xb4 c7 16 b1 cd7 (mais tarde, V.Anand-R.Kasimdzhanov, Leon [rápido], 2005, divergiu com 16... fd7 17 b2 d5 18 d2 dxe4 19 f4 f6 20 e2 d5 21 c4 d7 22 g5 xe3 23 xe3 d5 24 hf1 c5 25 c3 hxg5 26 f5 xc4 27 xg7+ e7 28 xc4 hg8 29 hxg5 e3 30 f5 e5 31 fxe6 xg7 32 d7+ xd7 33 xg7 1-0) 17 d2 d5 18 h3 dxe4 19 g5 hxg5 20 hxg5 d5 21 fxe4 xe3 22 xe3 e5 23 hf1 xa3 24 g6 xg6 25 xe6 fxe6 26 xe6 e7 27 b6 f8 28 d8+ xd8 29 c7+ xc7 30 xc7 d7 31 b8+ e7 32 e5+ e6 33 g1 f7 34 b6 hd8 35 a2 f8 36 xd7 xd7 37 f5+ e7 38 f1 c8 39 f7+ d6 40 e5+ 1-0. Muitas vezes as Brancas também jogam 8 d2, que também pode levar a possibilidades únicas, como após o agudo 8...b4 9 a4 bd7 10 0-0-0 (10 c4 bxc3 11 xc3 b7 também foi jogado), e agora 10...d5 11 exd5 xd5 12 c4 7f6, como em P.Leko-V.Topalov, Campeonato Mundial da FIDE, San Luis, 2005, ou 10... a5 11 b3 b7 12 a3 c7 13 axb4 d5, como em A.Motylev-I.Cheparinov, Wijk aan Zee, 2006. 7 b3 e6 8 f3 e7

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Após o alternativo 8... bd7, V.Anand-R.Kasimdzhanov, Campeonato Mundial da FIDE, San Luis, 2005, continuou: 9 d2 b5 10 0-0-0 b6 11 f2 c4 12 xc4 bxc4 13 a5 c8 (as Pretas ofereceram uma resistência mais teimosa em V.Anand-B.Gelfand, Wijk aan Zee, 2006, jogando 13... d7 14 d2 e7 15 hd1 b8 16 c5 c7 17 xd6 xa5 18 xe6 fxe6 19 xe7 b7 20 d6, mas ainda ficaram sob uma pressão muito forte e acabaram perdendo) 14 b6 d7 15 g3 g6 16 d2 h6 17 f4 g4 18 f3 b8 19 h3 f6 20 c5 exf4 21 gxf4 c8 22 xd6 d8 23 b4 b6 24 a3 h5 25 b1 xf4 26 d5 xd5 27 xd5 b8 28 hd1 c3 29 d7 1-0. 9 d2 0-0 10 0-0-0 bd7 As Brancas venceram uma batalha na coluna d, em V.Anand-L.Van Wely, Wijk aan Zee, 2001, após 10... c7 11 g4 c8 12 b1 bd7 13 f2 b5 14 g5 h5 15 h4 b4 16 d5 xd5 17 xd5 a5 18 h3 a4 19 c1 cb8 20 g4 f4 21 xf4 exf4 22 xd7 xd7 23 d2 b5 24 e2 c8 25 xf4, e as Brancas venceram. 11 g4 b5 12 g5 b4 13 e2 e8

Ambos os lados correram para esta posição, que já havia sido jogada antes. Karjakin quer provar que o cavalo preto em e8 está mal posicionado; no entanto, o discernimento de Anand sobre as possibilidades das Pretas comprova-se mais profundo. 14 f4 Por causa dessa partida, Karjakin mudou sua conduta e tentou um lance de peão diferente na ala do rei, 14 h4, durante o match de revanche, S.Karjakin-V. Anand, Wijk aan Zee, 2007. No entanto, as Pretas viraram o jogo a seu favor depois de 14...a5 15 b1 b6 16 g3 a4 17 c1 d5 18 xb6 xb6 19 exd5 d8 20 c4 c7 21 dxe6 xd2 22 exf7+ h8 23 xd2 b5 24 xb5 xb5 25 f5 xf7 26 xe7 xe7 27 d8+ e8 28 hd1 g8, e as Pretas conseguiram vencer no final. 14...a5 15 f5 a4 16 bd4 Ambos os lados ainda estavam dentro da sua preparação doméstica. Após 16 fxe6 axb3 17 cxb3 fxe6 18 b1 a5 19 c1, as Pretas estão bem. 16...exd4 17 xd4 b3 18 b1

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Anteriormente, M.Borriss-J.Gallagher, Liga Alemã, 2003, havia seguido: 18 cxb3 axb3 19 a3 c8+ 20 b1 c4, e as Pretas estavam melhor. 18...bxc2+ 19 xc2 b3! Esse lance ainda era previsível para os dois adversários. O bispo preto está perdido, mas pode se entregar para criar chances de ataque na coluna a. 20 axb3 axb3 21 a3 e5 22 h4 a5 Até esse lance já era conhecido! A torre preta vaga a8 para a dama, garantindo um acúmulo de forças na coluna a, ao mesmo tempo em que fica de olho no peão branco em e, que está ligeiramente vulnerável. 23 c3?! Anteriormente, P.Leko-F.Vallejo Pons, Mônaco (rápido), 2005, havia continuado de maneira não convincente para as Brancas: 23 e2 d5 24 xd5 xd5 25 exd5 xa3 26 bxa3 d6 27 c5 e8 ½-½. O lance do texto pode ter sido o aperfeiçoamento que Karjakin pretendia, mas mais tarde descobriu-se que as Brancas deveriam jogar 23 b4. 23... a8 24 g2

24... c7!

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Karjakin pode ter pensado que esse lance não era possível, mas esse sacrifício brilhante leva a uma refutação total. As Pretas ameaçam ... b5, forçando uma ruptura na coluna a, então as Brancas têm que aceitar o cavalo das Pretas. Aparentemente Anand encontrou essa ideia no tabuleiro. Por outro lado, o próprio sacrifício é meio que um lance “individual”. Se as Pretas não trocarem esse cavalo, elas não poderão libertar o resto de suas peças na ala do rei nem atacar nada. Mas certamente não era fácil resolver todas as táticas subsequentes, que incluem uma mistura sutil de sacrifícios de material e lances brandos. 25 xc7 Se 25 d2 a7 26 h3 b8, ou 25 b6 xa3! 26 bxa3 b5 27 xb3 xa3+, e as Brancas estão terminantemente perdidas na ala da dama. 25... c8! As Pretas apressam suas peças maiores para a ala da dama. As Brancas têm que aceitar uma peça menor agora, pois se 26 b6? c4 27 xb3 xa3+ 28 bxa3 xa3 29 b2 b8 30 b6 a6 31 e5 a1+ 32 xa1 xb6+ 33 c2 xg2+ 34 c3 dxe5, e vence – Ftacnik. 26 xe7 c4!

O mesmo tema novamente, desta vez o outro cavalo das Pretas participa na batalha para destruir o domínio das Brancas em a3. 27 g6?! Este lance fracassa rapidamente. De acordo com Ftacnik, as Brancas poderiam ter tentado o lance-surpresa 27 c5!?, embora as Pretas ainda mantenham uma pequena vantagem na análise da linha principal de Ftacnik, que segue: 27... xa3 28 bxa3 xa3+ 29 c1 xc5+ 30 d2 c2+ 31 e1 b2 32 g6 f6. Em vez disso, 27 d4?! c6 28 xc4 xc4 29 c3 ca8 30 c1 e2 leva a uma derrota forçada. 27...hxg6 28 fxg6 xa3+ 29 bxa3 xa3 30 gxf7+ Ou se 30 xf7+ h8 31 d4 a1+! 32 xa1 a2 mate. 30... h7 31 f8 +

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Deparado com uma série de ameaças de mate baseadas no controle que as Pretas têm das coluna a e c, as Brancas não tinham nenhuma opção. Karjakin tem uma torre e dois bispos a mais, mas seu rei está vulnerável e logo ficará descoberto e receberá mate. 31... xf8 32 xf8 a1+ 33 b2 a2+ 34 c3 Ou se 34 xb3 a4+ 35 c3 c2+ 36 d3 c4 mate. 34... a5+ 35 d3 b5+ 36 d4

Ou 36 c3 c2+ 37 d4 36... a4+ 37 c3 c4+ 0-1

c4 mate.

A versão eliminatória do Campeonato Mundial da FIDE foi sendo menos focada depois de 2000, com apenas dois outros eventos depois dessa data, em 2002 (vencido por Ruslan Ponomariov) e em 2004 (vencido por Rustam Kasimdzhanov). Em 2005, a FIDE mudou para um torneio de dois turnos com os enxadristas da elite para a decisão do título, o primeiro em San Luis (México) foi vencido por Veselin Topalov, com Anand e Peter Svidler empatados em 2o. Depois de Kasparov aposentar-se, sua série do Campeonato Mundial “Clássico” também entrou em declínio, com o Campeão Mundial “Clássico”, Kramnik (que só havia defendido seu título uma vez, contra Peter Leko em 2004), parecendo incrivelmente isolado, desprovido de credibilidade e, o pior, sem nenhum patrocinador significativo. Por isso a FIDE organizou um match de reunificação dos títulos de Topalov e Kramnik. Realizado em Elista, em 2006, foi vencido por Kramnik. Então a FIDE organizou um segundo torneio de dois turnos pelo Campeonato Mundial em 2007. Anand venceu o evento realizado na Cidade do México, marcando 9/14, um ponto à frente do segundo lugar, Kramnik e Boris Gelfand. Agora Anand segurava merecidamente o que passou a ser chamado de título mundial absoluto. No entanto ainda havia duas amarras:

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1. Kramnik tinha o direito de desafiar Anand para um match por seu título absoluto, em 2008. 2. Topalov, que não havia jogado na Cidade do México, tinha a opção de jogar um match contra o vencedor da Copa do Mundo da FIDE de 2007 (o sucessor do antigo Campeonato Mundial eliminatório da FIDE), para depois ter o direito de desafiar o vencedor do Anand-Kramnik. Sim, complicado! Mas, de volta à Cidade do México, 2007! Se a Partida 25 foi um exemplo de que uma boa preparação de abertura desempenhou um papel importante na vitória de Anand, a Partida 26, da Cidade do México, fornece um contraste impressionante. O Ataque Inglês contra a Najdorf da Siciliana fornece mais uma vez o principal campo de batalha. Desta vez Anand joga com as Brancas. Suspeitando de uma surpresa nas linhas principais durante a abertura, Anand tentou sair das preparações dos dois participantes, mudando para uma linha relativamente menos teórica no seu lance 9. Isso forçou os dois a contar principalmente com seus próprios meios desde cedo, estabelecendo o potencial para uma grande batalha. O jogo logo ficou obscuro, o que satisfazia os dois adversários. Em situações obscuras como essa, Anand tem a sorte de poder contar cegamente com suas habilidades intuitivas bem aperfeiçoadas. Isto, aliado a seu poder de luta e talento tático, o faz sobreviver ao jogo. Mas foi por pouco. Ambos os lados tiveram que lutar sem diretrizes claras em muitos lances nesta partida. Em seu livro de melhores partidas, Anand escreve que o Ataque Inglês muitas vezes leva a complicações que confundem, e diz também que, se isso acontece, ele acha bom “não calcular muito, pois a árvore de variantes pode ser enormemente densa; é melhor esperar para ver o que meu adversário jogará, e isso elimina de imediato grande parte dos caminhos possíveis”. A capacidade de fazer tudo isso bem e tomar decisões boas rapidamente, com base na intuição, com certeza é remanescente de Smyslov e Fischer em seu auge. Anand faz muito disso em sua partida, e quando ele tem a chance de progredir para um lance preciso calculável, ele é mortal.

Partida 26 V.Anand – A.Morozevich Campeonato Mundial da FIDE Cidade do México, 2007 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2

f3 d6 3 d4 cxd4 4

xd4

f6 5

c3 a6 6 f3

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Alguns enxadristas gostam de entrar no Ataque Inglês com essa sequência de lances em vez de 6 e3. A principal razão disso é evitar a possibilidade obscura (após 6 e3) 6... g4, que ou força as Brancas a recuarem seu bispo para c1 ou a entrarem na variante crítica 7 g5 h6 8 h4 g5 9 g3 g7 10 h3, e agora ou 10... e5 ou 10... f6. 6...e5 É claro que a principal alternativa é 6...e6. As Pretas também podem tentar tirar vantagem da sequência de lances das Pretas jogando ou 6...b5!? ou 6... b6!?, mas Anand tem um bom histórico contra esses dois lances: a) V.Anand-V.Topalov, Wijk aan Zee, 1999, viu as Brancas comprimirem seu adversário após 6...b5!? 7 a4 b4 8 d5 xd5 9 exd5 g6 10 e3 b7 11 c4 c7 12 b3 d7 13 d2 f6 14 e2 a5 15 0-0-0 c8 16 d4 g7 17 b5 d8 18 g4 d7 19 b1 c5 20 h4 h5 21 d4 f8 22 hg1 d7 23 xg7+ xg7 24 d4 xb3 25 cxb3 f8 26 c2 hxg4 27 fxg4 xh4 28 e3 e5 29 f2 e7 30 h1 xh1 31 xh1 g5 32 h7 c7 33 a2 a6 34 h2 d3 35 h8+ e7 36 a8 f6 37 g5 g7 38 d2 e4 39 g4 d7 40 f6 d8 41 c1 1-0. b) Em V.Anand-R.Ponomariov, Wijk aan Zee, 2005, as Brancas desenvolveram uma iniciativa de longo prazo na ala do rei após 6... b6!? 7 b3 e6 8 f4 bd7 9 g4 e7 10 e2 h6 11 h4 c7 12 0-0-0 b5 13 a3 b8 14 g2 c5 15 g5 h5 16 e3 a4 17 d3 g6 18 b1 b7 19 e2 e5 20 f2 c6 21 gxh6 b6 22 f4 f6 23 fxe5 dxe5 24 f1 0-0 25 c5 b7 26 e6 fxe6 27 xb6 c6 28 g1 h7 29 df3 e8 30 c5 xc5 31 xc5 d7 32 e3 e7 33 g5 xg5 34 f7+ xf7 35 xf7+ h8 36 hxg5 c6 37 b4, e uma vitória no final baseada na mobilização de sua maioria de peões na ala da dama. 7

b3

e6 8

e3

bd7

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As Pretas também podem jogar o radical 8...h5?!, visando impedir que as Brancas desenvolvam sua pressão tradicional na ala do rei baseada em g4. No entanto, essa ideia enfraquece a ala do rei, deixando dúvidas de que as Pretas conseguirão fazer o roque pequeno de forma segura. As Brancas podem mudar seu foco de atenção para d5 e para a ala da dama, após 9 d5 xd5 10 exd5 bd7 11 d2 g6. V.Anand-V.Topalov, Wijk aan Zee, 2008, continuou: 12 0-0-0 b6 13 a5 h6 14 xh6 xh6 15 b1 c8 16 b4 f8 17 c4 g7 18 g3 h8 19 c1 c7 20 h3 ce8 21 hd1 e7 22 a3 d8 23 d2 bd7 24 c3 a5?! (Anand preferiu 24... c5 25 b4 cd7 26 g4 hxg4 27 fxg4 a5 28 g5 h5 29 e4 “com uma ligeira vantagem”) 25 xd7 xd7 26 f4 f6 27 f1 b6 28 h3 d7?! (28...b5 29 f5 b4 30 axb4 axb4 31 f3 f8 32 g4 era melhor, mas ainda era bom para as Brancas) 29 f5 f8 30 e3 e4 31 g4 hxg4 32 hxg4 e5 33 f4 d8 34 g5 h5 35 f6+ g8 36 xe4 fe8 37 a2 a4 38 c3 c7 39 d4 c5 40 xc5 1-0. 9 g4 De acordo com Anand, 9 d2 leva direto para as linhas principais, mas o lance do texto também é possível. Uma virtude provável é que, ameaçando g5, ele força as Pretas a decidirem se devem firmar seu cavalo em f6, jogando 9...h6. Essa é uma opção possível, mas não fundamental. 9... b6 10 g5 h5

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Em h5, o cavalo preto, pelo menos por enquanto, bloqueia com eficiência qualquer ataque súbito das Brancas baseado no avanço h4-h5. Apesar de estar temporariamente na borda do tabuleiro, ele pode, cedo ou tarde, ficar ativo de novo em f4. O jogo das Brancas é relativamente fácil de jogar após o lance um pouco passivo 10... fd7, como em K.Sakaev-N.De Firmian, Copenhagen, 2003, que continuou: 11 d2 c8 12 0-0-0 c7 13 b1 e7 14 h4 c4 15 xc4 xc4 16 h5 b6 17 f2 d7 18 g3 b5 19 h2 b6 20 f4 a4 21 d5 xd5 22 exd5 f6 23 h6 g6 24 gxf6 xf6 25 fxe5 dxe5 26 d6 d7 27 g5, e as Brancas venceram. 11 d2 c8 12 0-0-0 e7 13 g1 0-0 14 b1 c7

A partida jogada anteriormente, P.Leko-V.Anand, Dortmund, 2003, havia seguido: 14...g6 15 f2 c4 16 xc4 xc4 17 a4!? e6 18 b6 c7 19 d2!? c6 20 d5!? xd5 21 exd5 c8 22 d3 d7 23 c4 f6 24 gxf6 xf6 25 d2 f7 26 c1 f5, e as Pretas tinham um bom jogo contra os peões brancos débeis da ala do rei. 15 f2 c4 16 xc4 xc4 Em vez disso, F.Vallejo Pons-G.Kasparov, Linares, 2004, continuou: 16... xc4 17 h4 g6 18 d2 c7 19 a4 b5 20 b6 b8 21 d5 xd5 22 xd5. Após a captura do bispo de Morozevich, Anand segue um plano simples de casas brancas e parece obter algo. 17 d5 xd5 18 xd5 f5 19 gxf6 xf6 As Pretas devem evitar 19... xf6 20 d3 xe4? 21 g2! e as Brancas vencem. 20 e2 f4?! É tentador recentralizar o cavalo preto o mais rápido possível, mas isso só simplifica a tarefa das Brancas ao deixá-las com a (potencialmente) melhor peça menor. Anand recomendou apenas aguardar, com um lance como 20... cf8, 20... f7, 20...g6 ou 20... h8.

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xf4 xf4 22 d3 d7 23 c1 cf8 24 a3! As Brancas preparam uma rota para seu cavalo em direção a d5. Mesmo que isso não garanta nenhuma vantagem significativa, pelo menos é algo para as Brancas trabalharem. As Pretas não podem contestar o controle sobre d5, mas têm perspectiva de contrajogo contra os peões atrasados brancos em f e h, e seu bispo também tem várias casas pretas disponíveis. 24... h8?! De acordo com Anand, as Pretas deveriam ter jogado o imediato 24... h3 25 g3 h6. Da maneira como foi jogado, Anand consegue um pouco de tempo para abrir alguma ação na ala da dama. 25 a2 h3 26 g3 h5 Se 26... h6 27 c3 h4 28 g2, e o cavalo das Brancas atinge d5 com rapidez. 27 g2 h4 28 h3 h6 29 b3 Esse é um momento bastante instrutivo. Controlar casas como d5 definitivamente não trará uma vantagem promissora se esse controle não for utilizado para dar um golpe mortal na posição do adversário em outro ponto. Então as Brancas enfraquecem as Pretas na ala da dama primeiro. Anand rejeitou 29 b4 h5 30 d5 h4 31 g4 d8 32 f4 exf4 33 xf4 e5, depois do que todas as peças Pretas permanecem ativas, e ele não conseguiu ver como as Brancas poderiam fazer qualquer progresso. 29...b5 30 b4 h5 31 f1 As Brancas tentam evitar a linha 31 xa6 h4 32 g4 d8 33 g3 h4. 31... h4 32 g2 Mas agora Anand percebe que, se 32 xa6, as Pretas podem jogar 32... xe4!. 32... h5 33 xa6 h4 34 g4 f6?!

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Anand esperava 34... d8, que teria colocado mais pressão contra f3 e restringido as opções das Brancas. Anand achou que ainda conseguiria jogar por uma vitória após 35 e2 xh3, e agora, quem sabe, 36 g1 (as Brancas devem evitar 36 xb5?, permitindo 36... h1+ 37 a2 c1 38 c3 a1+ 39 b3 b1, e o peão branco em b cai) 36... h2 37 xb5, que defende a primeira fileira das Brancas. No entanto, o peão passado preto em h torna-se um fator importante, e, nesse posição em específico, as Pretas também têm o tático 37... xc2 38 xc2 h2+ 39 b1 xg1+ 40 a2, com complicações. 35 e2?! Após a partida, Anand preferiu 35 f1 xh3 36 g1!, protegendo sua primeira fileira antes de tomar b5. 35... xh3 36 xb5 d8

Agora Anand achou que as Pretas deveriam ter invadido a primeira fileira das Brancas, jogando 36... h1+ 37 a2 c1. Desta vez as Brancas podem proteger seu rei em b3 e seu peão em b2, após 38 g2 a1+ 39 b3 b1 40 c3, ou

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imediatamente 38 c3. No entanto, o peão preto em h irá tornar-se um fator, e uma corrida de peões irá acontecer, com os peões brancos na ala da dama provavelmente sendo mais perigosos que o peão preto em h. 37 b8 f6 38 b4 xf3 Isso é melhor que 38... xf3 39 xf3 hxf3 40 a4, e se 40...h5 41 g2 h4 42 c6 c7 43 b7 (Anand), depois do que as peças brancas dominam, enquanto o bispo preto tornou-se um elemento débil. 39 d5 f7 40 a6 h5 41 g2 h4?

Esse parece ser o erro fatal. As Brancas têm espaço suficiente na ala da dama com o qual trabalhar, mas parece que as Pretas podem agarrar-se em todo esse material de maneira obstinada, jogando 41... e6!, e se 42 a8 g8! (um lance “feio” de computador que os dois enxadristas não viram). As Brancas ainda parecem melhores, mas as Pretas podem ter um plano complicado para aliviar seu jogo nessa posição, jogando ... h7, ... h6 e ... g5 (Anand). 42 xd6 e7 43 xe5 xb8 As Pretas estão ficando com cada vez menos contrajogo, embora as Brancas devam sempre se cuidar com o peão preto em h. As Pretas estão num sufoco após 43... h7 44 xf8 xf8 45 g5, e se 45...h3 46 h5+ g8 47 a2, ou se 45... h6 46 g4 h5 47 e6+ h7 48 f4, ou 45...g6 46 g4 h3 47 h4+ h6 48 g5 g7 49 f4 f1+ 50 a2 f7+ 51 b3, com posições promissoras para as Brancas em todos os três casos. 44 xb8+ h7 Jogar pela troca de damas é mais resiliente que tentar defender posições com as damas no tabuleiro após 44... f8 45 g4 h5 46 c8, e se 46...h3 47 f4, ou 45...h3 46 h4+ g8 47 c8, e vence (Anand). 45 c7 f8 46 xf7 xf7 47 g4 f1+ 48 a2 h1 49 e5

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Mas agora o peão branco em e ganha. As Pretas perdem seu bispo após 49...h3 50 e6 h2 51 h4+ g6 52 e7 xe7 53 xe7+ g5 (ou se 53... f6 54 d5+ e5 55 e3) 54 h7 g6 55 c4, ou elas perdem seu peão h aqui após 50... e1 51 h4+ g6 52 e7 xe7 53 xe7+ xe7 54 xh3. 49... c5 50 e6 h6 51 c4 h3 Ou se 51... f8 52 c8 f1 53 e7 xe7 54 h8+ g5 55 xe7, e vencem. 52 xc5 h2 53 e3 a1+ Ou 53... g1 54 e7 h1 55 e8 e vencem. Mas é claro que, após o lance do texto, a dama preta não se equipara à torre, cavalo e peão passado em e brancos. 54 xa1 h1 + 55 a2 e4 As Pretas permitem o final mais bonito. Após 55... g6, Anand iria jogar 56 d5 e4 57 e7, ameaçando c8 (ou primeiro c4). 56 e5! 1-0

As Pretas perdem sua dama tanto depois de 56... a8 57 e7 g6 59 d6 quanto depois de 56... xe5 57 g4+.

e8 58

f5+

Anand e Kramnik se enfrentaram pelo título mundial em 2008, em Bonn. Em um match com 12 partidas programadas, Anand conseguiu a liderança no início e terminou como vencedor com uma rodada de antecedência, 6½-4½.

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Este resultado foi excelente para o defensor do título, e merecido devido ao percurso do jogo. Escrevendo para New in Chess, Garry Kasparov, impressionado, considera esse “um ótimo resultado para Anand, que merecia ganhar... Não será fácil para a geração mais jovem tirá-lo de seu caminho... Anand superou totalmente a preparação de Kramnik”. Sem dúvida essa opinião era compartilhada por muitos, tanto por simples fãs quanto por peritos. Com as Brancas, no início do match, Anand parece ter surpreendido seu adversário ao jogar 1 d4 (ou talvez, mais precisamente, ao escolher as variantes inesperadas de 1 d4). Com as Pretas, Anand deu um golpe ainda mais forte, colocando Kramnik em maus lençóis em um atalho negligenciado e superagudo da Variante Merano, que mostrou ser a ruína de Kramnik. Anand abriu dois pontos de vantagem depois das cinco primeiras partidas, devido às duas vitórias esmagadoras com a Merano, na 3a e 5a partida. Kramnik tentou refutar o jogo das Pretas, mas não havia submetido a linha ao mesmo grau de exame minucioso que seu adversário. Como resultado, ele acabou se cansando, perdeu o seu caminho e começou gastar energia com ataques errados em ambas as partidas. Anand e seu time, para dar crédito a eles, haviam realizado um trabalho enorme em cima do labirinto confuso e quase impermeável de complicações que poderiam surgir após o lance 14 das Pretas. Eles não conseguiram resolver tudo, mas Anand estava precavido com uma série melhor de variantes possíveis que pudessem suceder e havia desenvolvido um conhecimento mais profundo da dinâmica das posições. Para que ninguém pense que tais preparações antes de um match dão resultado sem terem sido bem examinadas, observem as palavras do próprio Anand sobre a difícil decisão que enfrentou quando teve que optar por repetir ou não a linha na 5a partida, depois que seu efeito-surpresa já tinha sido gasto na 3a partida. Em sua entrevista para a Outlook Business, Anand confessa com franqueza que, ao ficar fazendo previsões sobre os possíveis resultados da linha jogada na 3a partida (com 15... d6), “continuei encontrando falhas pelo resto do dia [até antes da 5a partida], até que à meia-noite me ocorreu algo”. Pela manhã, os segundos de Anand disseram-lhe que a linha havia “desmoronado, e assim continuou até que às 14h30, quando Radek [Wojtaszek] checou com [19... e7] e ela se manteve”. Às 14h35, armado com aquela informação esparsa, Anand foi para o salão para o início programado da partida, às 15h. Ele admite que “estava tão tenso... as pessoas perguntavam [depois se Kramnik] deveria ter repetido... mas a pergunta também é se eu deveria ter repetido”. Não há dúvidas de que Kramnik estava em desvantagem devido à falta de familiaridade com as linhas jogadas nas partidas 3a e 5a, em comparação com Anand. Mas também é verdade que, especialmente com as Brancas, ele poderia ter jogado melhor e não precisaria ter necessariamente perdido. Anand venceu as duas partidas porque lutou muito mais que seu adversário, e as duas apre-

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sentaram momentos críticos de julgamento e análise para ele. Ele não venceu só por causa do auxílio de seus segundos e computadores, embora com certeza tenham ajudado.

Partida 27 V.Kramnik – V.Anand a Campeonato Mundial (5 Partida) Bonn, 2008 Defesa Semieslava 1 d4 d5 2 c4 c6 3 f3 f6 4 c3 e6 5 e3 Ambos os lados dirigem-se para a linha principal da Variante Merano. Kramnik demonstra interesse em testar seu adversário com seu Gambito Anti-Moscou, moderno e ultra-agudo, 5 g5 h6 6 h4 dxc4 7 e4 g5 8 g3 b5. Anand havia mostrado conhecimento e bom desempenho nesta linha no ano anterior ao do match, e é provável que Kramnik não quisesse abusar da sorte permitindo isso.

Anand encontrou um plano maravilhoso de um gambito no 17o lance, em L.Aronian-V.Anand, Campeonato Mundial da FIDE, Cidade do México, 2007, que continuou: 9 e5 h5 10 h4 (posteriormente as Pretas igualaram com facilidade, em M.Carlsen-V.Anand, Morelia, 2008, que divergiu: 10 f3!? h4 11 f2 b7 12 e2 bd7 13 xd7 xd7 14 0-0 e5! 15 a4 a6 16 d5 h6) 10...g4 11 e2 b7 12 0-0 bd7 13 c2 xe5 14 xe5 g7 15 ad1 0-0 16 g3 d7 17 f3 c5! 18 dxc5 e7 19 h1?! (ou 19 fxg4!? xc5+ 20 f2 c6 21 gxh5 e5) 19...a6 20 a4 c6 21 d5?! exd5 22 exd5 e5! 23 f4 g7 24 dxc6 xc5 25 d5 e4 26 e1 e6 27 xh5?! f5! 28 h2 ac8 29 b4 fe8 30 axb5 axb5 31 e1 f7, e as Pretas venceram.

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Anteriormente, V.Kramnik-V.Anand, Campeonato Mundial da FIDE, Cidade do México, 2007, havia continuado: 9 e2 b7 10 0-0 (10 e5 d5) 10... bd7 11 e5 g7 12 xd7 xd7 13 d6 a6 14 h5 f8 15 xf8 xf8 16 e5 b6 17 b3 0-0-0 18 bxc4 xe5 19 c5 a5 20 e4 b4 21 d6+ xd6 22 cxd6 d7 23 a4 xd6 24 f3 b6 25 axb5 cxb5 26 xb7+ xb7 27 h5 d5, e as Pretas garantiram um empate confortável. O calcanhar de Aquiles de Anand (sem dúvida já corrigido) havia sido seu jogo em T.Radjabov-V.Anand, Wijk aan Zee, 2008, que divergiu: 14 e1 f8 15 g3 g7 16 d6 f8 17 xf8 xf8 18 b3!? b4!? 19 a4 c3 20 a3 a5 21 d5!, e as Brancas venceram. 5... bd7 6 d3 dxc4 7 xc4 b5 8 d3 a6

Isso pode ter sido uma surpresa para Kramnik, já que, em partidas anteriores, Anand havia basicamente usado a sequência 8... b7 9 e4 b4. Em vez disso, após 9 0-0 a6 10 e4 c5, o jogo transpõe para uma das linhas principais da Variante Reynolds. A.Morozevich-V.Anand, Campeonato Mundial da FIDE, Cidade do México, 2007, havia continuado: 11 d5 c4 12 c2 c7 13 dxe6 fxe6 14 d4 c5 15 e3 e5 16 f5 g6 17 h6 g7 18 f3 e6 19 h3 c8 20 h4 e7 21 fe1 d5 22 xe7+ xe7 23 d5 b7 24 g4 d4, e as Pretas obtiveram o melhor em um empate disputado. 9 e4 As Brancas podem jogar linhas mais brandas, mas contra todas elas as Pretas utilizam ...c5 rapidamente. As forças das Pretas estão configuradas para jogar esse lance libertador clássico, e as Brancas não podem impedi-las. Mas, com o próximo lance do texto, elas visam estabelecer um peão passado em e5 como base para uma pressão a longo prazo no meio-jogo, tanto no centro quanto contra o rei preto. 9...c5 10 e5 10 d5 c4 11 dxe6 fxe6 12 c2 é a rota principal para a Variante Reynolds, contra a qual as Pretas têm menos opções do que na rota tomada em Morozevich-Anand, acima. 10...cxd4

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xb5 Essa é a Variante Blumenfeld, que data da década de 1920. O sacrifício do cavalo das Brancas continua sendo o principal ponto de discussão teórica desse sistema hoje em dia. 11...axb5 12 exf6 gxf6 13 0-0 b6 14 e2 b7!? É estranho que esse lance natural tenha sido pouco investigado antes que Anand, seus segundos e seus computadores tenham descoberto seu grande potencial inexplorado. Parece ter pego Kramnik de surpresa. As Pretas oferecem seu peão b por chances de ataque, em especial na coluna g e ao longo da diagonal de casas brancas, com o foco principal em g2. No entanto, geralmente as Pretas preferiam defender seu peão em b, com 14... a6 ou 14...b4.

15

xb5 g8!? Na 3a partida, Anand preferiu 15... d6!?, que elimina o possível recurso das Brancas, f4-g3, bloqueando a coluna g. Deparando-se com toda a linha pela primeira vez naquela partida, Kramnik achou difícil encontrar seu caminho em meio às complicações confusas. Na 5a partida, Anand pegou seu adversário de surpresa usando um lance 15 diferente.

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Kramnik ficou com muito pouco tempo na 3a partida, que continuou de maneira espetacular: 16 d1 g8 17 g3 g4 18 f4! xf4 19 xd4 h5 20 xe6 fxe6 21 xd7 f8! 22 d3 g7 23 xg7 xg7 24 gxf4 d8 25 e2 h6! 26 f1 g8 27 a4 g2+ 28 e1 h3

29 a3? g1+ 30 d2 d4+ 31 c2 g4?! 32 f3? f5+ 33 d3 h3!? (33... xd3+! 34 xd3 c4+, ou se 34 xd3 g2+ vence de imediato) 34 a5 g2 35 a6 xe2+ 36 xe2 f5+ 37 b3 e3+ 38 a2 xe2 39 a7 c4+ 40 a1 f1+ 41 a2 b1+ 0-1. a Aqui vão algumas anotações importantes sobre o curso da 3 partida, que trouxe complicações enormes para ambos os participantes. A maior parte das variantes abaixo derivam do time de Anand, incluindo seus computadores:

1. Antes da partida, o time de Anand havia descoberto que as Pretas podem quase com certeza (pelo menos) empatar após 16 xd4, jogando o inspirador (somente na linha principal) 16... xd4 17 d1 xh2+ 18 xh2 h4+ 19 g1 xg2 20 xd7+ e7 21 xg2 hg8+ 22 f3 h5+ 23 e3 c5+ 24 d2 ad8 25 f1 xd7+ 26 e1 c8 27 e3 a5+ 28 d2 xd2 29 xd2 e5+ 30 e2 a5+, levando a um xeque perpétuo. 2. O time também havia rejeitado 18 d2?!, uma velha recomendação da Chess Informant, que falha devido a 18... e7! 19 xd7 (19 xg4?! xb5 é um sacrifício de qualidade bastante forte) 19... ag8! 20 b5, e agora, em sua principal linha de análise, outro empate extraordinário acontece por xeque perpétuo após 20...d3 21 xd3 xg3+ 22 hxg3 xg3+ 23 f1 xd3 24 xd3 d4 25 c4 b4 26 a3 g2+ 27 xg2 g4+ 28 h2 h4+. 3. Ainda outra demonstração de virtuosidade analítica excêntrica e auxiliada por computadores surge (somente na linha principal) com 19 xd4 f8! 20 xd7 d8 21 ad1 xd7 22 xd7 xg3 23 hxg3 xg3+ 24 h2 xf3 25 c2 g2+ 26 h3 c6 27 7d6 xf2 28 d8+ e7 29 d3 h2+ 30 xh2 f2+ 31 h3 g2+ 32 h4 g5+ 33 h3 g2+, empatando novamente.

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4. As Brancas poderiam ter empatado após 29 d1 g1+ 30 d2 g2 31 e3 xf2+ 32 e2 a5+ 33 c3 f5 34 b4! ameaçando f8+, e o rei preto será pego desprotegido. 5. É provável que as Brancas sobrevivam após 32 d3!. Mais tarde os computadores de Anand “descobriram” que a maneira “correta” de vencer (somente na linha principal) era mais cedo na partida com 31 ... f5+ 32 b3 c1 33 a5 d5+ 34 c4 b7+ 35 a4 c2 36 a6 d7+ 37 b5 c4+ 38 b3 d3+ 39 a2 b1+ 40 b3 c2 41 a2 e4 42 b7 d1 43 a3 xb7 44 xb7 c4 45 b3 d6+ 46 b2 d2+ 47 a3 xa5+ 48 b2 c3+ 49 a3 c5 – ufa! a Voltando para o 15... g8 da 5 partida:

16

f4

d6 17

g3

As Brancas bloqueiam a coluna g devidamente. Elas não conseguem nenhuma vantagem após 17 xd6 xd6 18 fd1, quando o mais simples para as Pretas deve ser 18...e5!?, e se 19 xd4 xd4 20 xd4 xg2, e as Brancas perdem se tentarem impedir a ameaça de empate das Pretas por xeque perpétuo. 17...f5!

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As Pretas têm que agir com urgência, atacar o bispo branco em sua casa de bloqueio e abrir a coluna g para contrajogo. Como na 3a partida, o rei preto não terá um futuro com um roque convencional, e terá que encontrar segurança em outro lugar. 18 fc1! Tomar a coluna c e proteger c5, que caso contrário pode servir de posto útil para a dama preta na ala do rei, é provavelmente o melhor a fazer. O plausível 18 e5?! perde para o recurso diabólico 18...d3!, e se 19 xd7+ e7 20 e1 f4 e vencem. As Brancas também perdem após 19 xd3 xe5 20 xd7+ f8 21 fe1 f4 22 xe5 fxg3 23 hxg3 xg3, ou 19 xd7 xb5, e se 20 f6+ d8 21 d2 g6. As Pretas também parecem melhores após 18 fd1?! f4 19 h4 a5!, e se 20 a4 xb5! (20... c5, e se 21 xd4 xf3 22 xd7+ xd7 23 xd6+ xd6 24 xf3 b8, também pode ser possível) 21 axb5 e5, com um ataque forte, evidente, por exemplo, na linha 22 xe5 xg2+ 23 f1 xh2 24 f3 h1+ 25 g2 xh4, com pressão contínua para as Pretas. 18...f4 19 h4 e7!

As Pretas têm que jogar dessa maneira. Ao trocar bispos, as Pretas removem um defensor-chave da ala do rei e abrem espaço para seu rei em e7. 20 a4 xh4 21 xh4 e7 22 a3!?

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As Brancas se deparam com uma escolha difícil mais uma vez. Além disso, estavam ficando com apuro de tempo novamente. Ao ativar sua torre, assim elas também adicionam mais defesa na terceira fileira. Mas as Brancas tinham outros lances, incluindo a sugestão obscura de Peter Heine Nielsen 22 h5. Os computadores também dizem que um empate fantástico aparece (somente na linha principal) depois de 22 g3 fxg3 23 hxg3 g5 24 xd7, contanto que as Pretas encontrem 24... ag8! 25 a5 d6 26 a3 xg3+ 27 fxg3 xg3+ 28 xg3 xg3+ 29 g2 xg2 30 f2 g5 31 c7 e4+ 32 h2 h5+. As Pretas têm um jogo mais fácil após 22 b4!? xg2+ 23 xg2 g8 24 f3 d3+ 25 f2 xf3 26 xb6 xg2+ 27 f1 xb6 28 xd3 d5. Aqui, a concentração das forças das Pretas em volta do rei branco garante-lhes pelo menos um empate. 22... ac8 Anand muda seu interesse de forma correta para a coluna c. Aparentemente ele não pode mais aumentar a pressão na coluna g. Perceba que 22... xg2+ 23 xg2 g8 falha por causa da boa interposição 24 f3!. 23 xc8 xc8 24 a1 c5 25 g4 e5!

As Brancas têm dois peões passados potencialmente perigosos na ala da dama. Eles são compensados pelo par de peões extras das Pretas no centro e por suas peças bem centralizadas. Provavelmente ambos os lados estão “bem”, mas pode ser que as Brancas tenham que jogar com um pouco mais de cuidado do que as Pretas nesta posição incomum e bastante desequilibrada, devido ao controle que as Pretas têm da coluna c e a seu ameaçador peão passado em d. Entrevistado por Hartmut Metz após o match, é interessante como Anand parecia bem otimista quanto às suas chances nesse ponto, apesar de ter confessado que não tinha certeza de que tinha algo verdadeiramente objetivo na posição. Dito isso, ele já havia visto a combinação final da partida nesse momento. Dada a frustração compreensível de Kramnik por mais uma vez não chegar a lugar algum contra a abertura provocativa de Anand e, é claro, pelo apuro de tempo das Brancas, talvez não seja de surpreender que Anand analisa melhor do que seu adversário nos lances finais da partida.

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26

f3 f6 27 e1!? Kramnik não estava em boa forma nesta partida. Depois ele disse que havia considerado e então rejeitado 27 xd4?, devido à resposta 27... e5?, crendo que iria ganhar o peão mais tarde, em circunstâncias melhores. É óbvio que aqui as Pretas deveriam jogar 27... xd4! 28 d1 f6, como veremos mais tarde na partida. Peter Heine Nielsen dá 27 e1 como um aperfeiçoamento possível, protegendo g2 e d3 e possibilitando os recuos de defesa f1 e d1, e se entrincheirando. 27... c5 28 b4 c3 29 xd4?

Jogar este lance falho, mesmo que a refutação seja boa e um pouco oculta, indica que a exaustão mental e psicológica quase completa deve ter sido atingida. Kramnik, tendo perdido o senso do perigo, levou apenas um minuto para fazer essa captura ruim, mesmo que ainda tivesse 15 minutos de tempo remanescente disponível. Ainda era possível jogar 29 h5, depois do qual o jogo das Pretas poderia estar um pouco mais confortável, mas as Brancas ainda podem continuar lutando. 29... xd4 30 d1 f6 31 xd4 xg4 32 d7+ f6 33 xb7 c1+ 34 f1 e3!

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Kramnik pode ter percebido só 34... xh2? 35 xh2 xf1 36 f3, e as Brancas ganham esse final de jogo, quando elas jogam seu 27o lance. Mas esse lance vence para as Pretas. 35 fxe3 fxe3 0-1 As Pretas ameaçam 35...e2, e a força da torre preta e do peão em e3 é tanta que as Brancas têm que perder sua torre e seu bispo após a linha forçada 36 c7 xc7 37 g3 c1 38 g2 c2+ 39 f3 f2+. Resumindo os pontos fortes do maduro Anand após seu match contra Kramnik, Evgeny Bareev, a New in Chess chamou atenção para “firmeza na defesa, cálculo excelente, nenhum problema de tempo, um repertório vasto de aberturas, qualidade de jogo consistente durante um torneio inteiro, habilidade de explodir no momento necessário, estabilidade quando tudo está se desdobrando e nenhuma deficiência nítida”. Isso é um bom resumo das características que formam um Grande Mestre classicamente correto. Bareev chamou atenção para algumas deficiências no jogo de Anand, principalmente de natureza psicológica, em especial quando “a abertura não funciona e seu adversário age com vigor e força”, mas ninguém é perfeito! Um atributo que Bareev não identifica, pelo menos não diretamente, é a total falta de dogma, ou seja, a habilidade de identificar e jogar lances que funcionem, mesmo quando pareçam ser completamente paradoxais e difíceis de justificar. Esse talento excepcional é, para mim, inerentemente “clássico”, e é um traço que define todos os cinco grandes enxadristas deste livro. O lance 11 de Anand na Partida 28, que parece feio à primeira vista, mas que é na verdade completamente justificável, é um exemplo. Anand sacrifica sua estrutura de peões por compensação dinâmica apenas suficiente para dar-lhe uma oportunidade de pressionar seu adversário chinês. Se você consegue liberar a inibição e fazer lances como esse, pode ter certeza de que você tem um enorme talento natural para o xadrez. Esta é uma decisão marcante no xadrez de alto nível. A opinião neutra de Anand sobre isso, também dada à Outlook Business, é puramente prática, de que “no xadrez, esta sensação sempre esteve lá; se você não consegue refutar algo, este algo tem o direito de existir”. Quase posso ouvir Rubinstein, Smyslov e Fischer ecoando esse pensamento para os viajantes, e imagino-os levantando a sobrancelha cada vez que alguém possa duvidar. Eles estariam de acordo com Anand, quando ele sugere que bons lances tendem, na maioria das vezes, a serem obtidos da “imposição de seu olhar pessoal em vez de deixar a posição decidir”. Nesta bela partida, Anand transforma seu lance 11, ignorado por muitos, em um feito de força considerável e grande beleza.

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Partida 28 V.Anand – Wang Yue Linares, 2009 Defesa Eslava 1 d4 d5 2 c4 c6 3

f3

f6 4

c3 a6

Ninguém foi capaz de refutar esse lance de aparência meio estranha, e que tornou-se a última moda nas últimas duas décadas. Ele só gasta tempo e enfraquece as casas pretas? Bem, na verdade não. Ter um peão em a6 é um traço comum em muitas linhas do Gambito da Dama, Aberturas Eslava e Semieslava. Então por que não jogá-lo mais cedo? As Brancas podem escolher uma grande variedade de maneiras para enfrentar a linha. Anand pega emprestado um desenvolvimento parecido com o da Catalã que já havia sido utilizado com bons resultados pelo maior enxadrista da Armênia, Levon Aronian. 5 a4 e6 6 g3 Em uma Catalã “normal”, nenhum jogador terá movido seu peão a ainda (e as Brancas normalmente já fizeram o roque, com seu cavalo da dama ainda em b1). Ainda é difícil de dizer se essas diferenças realmente trazem qualquer vantagem especial para um dos jogadores ou não. 6...dxc4 7 g2 c5

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Ao usar dois lances para impulsionar seu peão para c5, as Pretas “perdem” mais meio-tempo. Mas, fazendo isso, elas esperam atingir igualdade liquidando os peões no centro, trocando damas e recuperando seus meios-tempos “perdidos”, enquanto as Brancas jogam para recuperar seu peão em c. 8 dxc5 xd1+ 9 xd1 xc5

Anteriormente, L.Aronian-E.Bacrot, Khanty Mansiysk, 2005, tinha seguido: 9... c6 10 e3 d5 11 0-0 xe3 12 xe3 xc5 (as Pretas também tiveram que se esforçar em L.Johannessen-J.Hammer, Tromsoe, 2006, que seguiu: 12...c3 13 bxc3 xc5 14 c4 a7 15 ab1 d7 16 g5 d8 17 e4 e7 18 ed6+ xd6 19 xd6+ e7 20 fd1, e as Brancas tinham uma vantagem promissora) 13 xc4 e7 14 ac1 d7 15 fe5 xe5 16 xe5 d6 17 xd7 xd7 18 xb7 a7 19 c6+ e7 20 b3, e as Brancas acabaram ganhando após um final trabalhoso e longo. 10 e5 d5!? As Pretas visam controlar e3, mas devido à resposta de Anand, talvez elas devessem preferir um jogo mais lento, como 10... e7 seguido por ... bd7. As Brancas mantêm uma vantagem, mas as Pretas ainda podem esperar jogar por igualdade gradual. 11 e3!

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Isso foi um choque. As Brancas deixam as Pretas enfraquecerem seus peões e e f, mas elas apostam na vantagem de desenvolvimento e oportunidades para ativar suas torres rapidamente no centro. Os peões pretos na ala da dama e algumas das casas pretas nessa posição mostram-se alvos possíveis. Em vez disso o jogo terminou em nada em D.Yevseev-S.Atalik, Groningen, 1998, após 11 xc4 e7 12 0-0 c6 13 c3 d8 14 e4 b4 15 d1 d7 16 b3 e8 17 d2 f6 18 xb4+ cxb4 19 f3 b5 20 a5 ab8 21 dc1 dc8 22 axb5 axb5 23 c5 c7, e as Pretas empataram com facilidade. 11... xe3 12 xe3 xe3 13 fxe3 c3 As Pretas exploram o fato de que as Brancas ganharão seu peão c de qualquer forma ao desistir dele em uma oferta a fim de separar os peões brancos a e c. As Brancas também mantêm uma vantagem depois de um desenvolvimento simples, como 13... d7 14 xc4 e7 15 f2 b8 16 hd1. Aqui as torres brancas estão extremamente bem posicionadas, com a possível infiltração em c7, uma preocupação para as Pretas. O bispo catalão das Brancas também é muito forte, e seu cavalo pode atacar várias casas. Mesmo que as Pretas cheguem em ...b5, c6 torna-se débil. 14 b4!

No entanto, Anand está determinado a manter as colunas c e d abertas. As Brancas irão cercar o peão preto em c no devido tempo. 14... d7 15 d3! Para manter a iniciativa das Brancas, também é fundamental evitar a troca de cavalos. Ainda não é fácil para as Pretas desembaraçarem suas peças na ala da dama e então desenvolvê-las. 15... b8!? As Pretas decidem por um plano engenhoso para ativar sua torre e trocar cavalos, mas isso ainda deixa seu bispo restringido. A sugestão de Dorian Rogozenko, 15... f6, pretendendo ativar o cavalo preto em g4 ou d5, poderia ter sido ainda melhor. A linha principal de Rogozenko segue: 16 c1 g4, e se 17 e4 e3 18 f3 c2 19 f2 d1+ 20 e1 e3 21 d2 c4+ 22 xc2 (ou 22 c3 b5) 22...e5,

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igualando. Ele também dá 16 f3 d5, e se 17 e4 f6 18 e5 d5, seguido por ... d7. Nessa segunda linha, quem sabe as Brancas podem tentar alcançar um pouco mais, jogando 17 f2, e se 17... d7 18 hc1 c8 19 xd5 exd5 20 c5 c6 21 xc3 e7 22 ac1. 16 0-0 b5 17 axb5 xb5 18 fc1 e5 19 xe5 xe5 20 xc3!

O bispo preto ainda tem o problema crônico da falta de casas. As Brancas poderiam ter jogado 20 b5, e se 20...axb5? 21 xc3 0-0 22 a8 d7 23 c7 xa8 24 xa8 e8 25 c8 f8 26 c6, quando o bispo está perdido. As Pretas, no entanto, certamente teriam respondido 20... xb5 21 c6+ d7 22 xb5 xb5 23 xc3 0-0, e não é fácil ver como as Brancas progridem. Após o lance do texto, a resposta das Pretas é forçada. Elas perdem seu bispo novamente se tentarem manter seu rei no centro, após 20... e7? 21 c7+ d7 (ou 21... f6 22 ac1) 22 d1 d8 23 c6, e vencem. 20...0-0 21 c6! As Brancas esforçam-se para conseguir o máximo que suas chances permitem. Esse lance não só limita ainda mais o potencial de atividade do bispo das Pretas, protegendo as casas b7 e d7, mas também mantém b5 fora do alcance da torre preta, que começa a parecer bem perdida em e5. Agora a torre preta apressa-se para d8, antes que as próprias Brancas assumam a coluna d, comprimindo ainda mais o jogo das Pretas. 21... d8 22 e4 f8?! As Pretas tomam uma decisão fatídica de apressar seu rei de volta para o centro. Talvez elas receiem sofrer em finais com seu rei ainda na ala do rei, como após 22...g6 23 f2 g7 24 e3. Mas, enquanto as Brancas parecem melhores aqui, não está claro que elas possam atingir muita coisa, apesar da grande atividade de suas forças e de sua vantagem espacial. Considerando de forma concreta, apesar de existirem possibilidades interessantes no ar, como 25 c5, 25 a5 ou 25 d3, as Pretas podem conseguir levar seu rei de volta para a ação central e defender, com 24...f5.

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O imediato 22...f5, e se 23 f2 fxe4 24 e3, também pode ser uma opção jogável. 23 f2 e7? Mas agora as Pretas se confundem com a tática. Elas ainda deveriam ter jogado o mais discreto 23...g6, mas não, é claro, 23... d7?? 24 d1 e7 25 cd3, e as Brancas ganham aquele bispo de novo. 24 b5! Agora essa ruptura é esmagadora. Na linha principal, as torres brancas entram com determinação na sétima fileira.

24...axb5 25 a7+ f6 As Pretas não têm nenhuma alternativa. As Brancas também vencem após 25... f8 26 c7 b4 27 d3 xd3 28 xc8+ e7 29 exd3 ou 25... d7 26 d3. 26 f3+ g6 27 fxf7 g8 28 fc7 h5 29 h4 f6 30 a8

E o bispo preto cai. 30... c5 31 cxc8 xc8 32 xc8 b4 33

d7 1-0

5 Magnus Carlsen (1990-) Um dos pontos mais fortes de Magnus é seu vasto repertório de aberturas. Vivemos em uma era de abundância de informação, e o novo campeão pode ser aquele que lida melhor com isso. Ele tem que saber tudo, como um computador. Simen Agdestein, New in Chess

A citação acima é de um artigo que faz um balanço da carreira de Magnus Carlsen, escrito em meados de 2006. Aos 16 anos, Magnus havia, até aquele momento, sido um Grande Mestre por alguns anos, jogado sua primeira Copa do Mundo da FIDE, e chegado ao 60o lugar nos rankings mundiais. As palavras de Agdestein apontam tanto para os atributos de seu compatriota quanto para os desafios que tem que enfrentar. Estava claro que encontrávamos em Carlsen um enxadrista dotado de uma grande variedade de habilidades universais. Criado na era do computador, a dúvida não era se iria se tornar um grande enxadrista, mas se chegaria a ser o número um do mundo. Agdestein, um Grande Mestre norueguês e ex-jogador de futebol internacional, era especialmente bem qualificado para expressar essas palavras. Ele havia feito parte da aventura de Magnus Carlsen desde que começou a ganhar força significativa em eventos de xadrez escolares, por volta de 2000. Agdestein estava ciente de quão excepcionalmente talentoso Carlsen era como enxadrista, e de como ele ambicionava “saber tudo, como um computador”. Amigo da família, confidente, mentor e treinador, Agdestein havia colaborado com a família de Carlsen na produção do livro Wonder Boy – How Magnus Carlsen became the youngest chess grandmaster in the world. Nesse trabalho íntimo, empático e introspectivo, Agdestein registra em crônicas a história de Carlsen e o

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xadrez desde os primeiros passos até a obtenção do título de Grande Mestre, aos 13 anos, 3 meses e 27 dias de idade, em 2004. Wonder Boy deveria ser indicado para pais de qualquer talento precoce e para todos os treinadores de xadrez. O jovem Magnus cresceu em um ambiente familiar e de treino, que agiu tanto como um apoio sólido para o desenvolvimento de suas habilidades enxadrísticas, quanto como uma proteção contra qualquer pressão indevida que ameaçasse perturbar a vida escolar e familiar. Acima de tudo, a rotina de Carlsen colocava a noção de aprendizagem através da diversão em seu centro. Ele cresceu em um ambiente enxadrístico disciplinado mas divertido, e estava longe de ser uma “estufa” de talentos insalubre. Esse equilíbrio foi alcançado através de um método de treinamento leve que visava primeiramente facilitar o autoconhecimento de Carlsen e sua capacidade de desenvolver suas próprias habilidades. Era baseado em exposição regular ao jogo em muitos torneios competitivos. Essa mistura funcionou. Entrevistado pela New in Chess logo após seu filho ter se tornado o Grande Mestre mais jovem do mundo, o pai de Magnus, Henrik, disse: “Tudo ocorreu mais rápido que o esperado... Até agora Magnus gostou de tudo que fez, e eu odiaria vê-lo perder essa alegria no jogo”. A capacidade de jogar com ideias e simplesmente regozijar-se em descobrir o que as peças podem fazer é uma grande virtude clássica e um motivador importante para todos os grandes enxadristas deste livro. Como Magnus coloca despreocupadamente, na mesma entrevista da New in Chess: “Gosto de posições abertas com pouca tática... ameaçando e ameaçando, quando tenho a iniciativa... talvez sacrificar alguns peões”. Ao ganhar sua primeira norma de Grande Mestre com um 1o lugar compartilhado no Grupo C em Wijk aan Zee, em 2004, Magnus venceu uma bela partida, como descrito acima. A maestria do computador não desempenhou um papel decisivo no resultado. Carlsen impressionou devido à sua visão e tática.

Partida 29 M.Carlsen – S.Ernst Wijk aan Zee, 2004 Defesa Caro-Kann 1 e4 c6 2 d4 d5 3 c3 dxe4 4 xe4 f5 5 g3 g6 6 h4 h6 7 f3 d7 8 h5 h7 9 d3 xd3 10 xd3 e6 11 f4 gf6 12 0-0-0 e7 13 e4 a5

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Os primeiros lances desta variante já foram discutidos nas anotações da Partida 24, Anand-Ponomariov, que divergiram aqui com 13... xe4 14 xe4 f6 15 d3 d5. 14 b1 0-0 As Brancas recuperam seu peão e podem ter uma ligeira vantagem devido ao fato de suas peças estarem um pouco mais ativas e devido à sua maioria de peões na ala da dama após 14... xh5 15 d2 f5 16 d6+ xd6 17 xf5 exf5 18 xh5, e as Pretas devem perder seu peão f ou o h. As Pretas também podem refletir sobre 14... xe4 15 xe4 f6 16 e2 xh5!? (16... b5!? também já foi tentado). Essa linha, no entanto, trouxe bons resultados para as Brancas, em Y.Pelletier-P.H.Nielsen, Internet, 2004, após 17 c1 f6 18 e5 d7 19 g4 f8 20 xd7 xd7 21 h5 c7 22 d5 cxd5 23 c4 ad8 24 cxd5 exd5 25 e3, e as Brancas têm um ataque perigoso.

15

xf6+ xf6 16 e5 ad8 17 e2 É possível que as Brancas possam melhorar nesse lance, jogando 17 g3!. E.Bacrot-K.Asrian, Moscou, 2005, continuou: 17... h8 18 d3 d5 19 a3 d7 20 g4 g5 21 c7 c8 22 d6 fd8 23 e5 g8 24 b4 e4 25 c4 h7 26 d6, com uma vantagem nítida das Brancas. 17...c5!?

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Esse lance provocativo encoraja um sacrifício de cavalo perigoso. Provavelmente as Pretas deveriam preferir o precavido 17... b6!, para que, após 18 g6?!, elas possam jogar 18... a3!, e se 19 c1 fxg6 20 xe6+ h8 21 hxg6 g8 22 a1 d6. Em vez disso, V.Anand-E.Bareev, Moscou, 2002, seguiu em direção a um resultado pacífico imediato após 18 c3 c5 19 e3 d5 20 a1 c7 21 g4 xe3 22 fxe3 f6 23 d3 b6 24 hf1 fe8 25 f3 e5 26 dxe5 xe5 27 xe5 ½-½. 18 g6!

O sacrifício de cavalo das Brancas é muito mais forte do que na nota anterior. E, em retrospecto, está claro que as Pretas deveriam recusar a oferta. Após 18... fe8 19 xe7+ xe7 20 dxc5, as Pretas ainda podem continuar lutando, jogando 20... ed7 21 e3 d5, apesar de que depois de 22 d3!, e se 22... xe3 23 xe3 ou 22... b4 23 a3, as Brancas estão melhor. 18...fxg6? 19 xe6+ h8 20 hxg6! Agora, no entanto, o rei das Pretas está correndo um grande perigo. No tabuleiro, Carlsen estava convencido de que as Brancas devem estar ganhando. A ameaça imediata das Brancas é 21 xh6 gxh6 22 xe7. Isso deixaria as Pretas sem defesa contra as ameaças seguintes, 23 xh6+ e 23 g7+. É lógico que as Pretas deveriam defender seu bispo com uma de suas torres, mas os dois lances disponíveis de torre contêm falhas táticas. As defesas das Pretas desmoronam logo após 20... fe8?! 21 xh6 gxh6 22 f7, e se 22... g8 23 h7 mate. As Pretas também perdem após 20... de8?! 21 xh6+! gxh6 22 xh6, devido ao ataque duplo das Brancas: 23 g7+ e 23 h1. Já que 20...cxd4?! 21 xh6 gxh6 22 xe7 visivelmente também não traz nenhuma esperança, a resposta efetiva das Pretas é forçada. 20... g8 21 xh6! Mas o jogo das Pretas cede à pressão em h6 de qualquer forma. Após 21... xh6 22 xh6+ gxh6 23 xe7, as Brancas dão mate mais uma vez com sua dama em h7. 21...gxh6 22 xh6+!

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As Brancas têm uma torre a menos, mas têm um ataque de mate. 22... xh6 23 xe7 f7 24 gxf7!

Parece que os dois jogadores não sabiam, Carlsen com certeza não sabia, que a partida até aqui estava seguindo os passos de uma anterior, P.Almagro Llanas-J.Gustafsson, Madrid, 2003, na qual as Brancas forçaram um empate por repetição nesse ponto. As Pretas livraram-se do sufoco após 24 f6+ g8 25 h1 h6 26 e7 f7 27 f6 h6 28 e7 f7 ½-½. Carlsen viu mais adiante na posição! 24... g7

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25 d3!? As Brancas poderiam ter ganho imediatamente, jogando a sequência final mais precisa 25 e5+! xf7 26 d3, e se 26... b6 27 f3+, dando mate rapidamente. Agora as Pretas poderiam ter jogado 25... b6 26 g3+ g6 (ou se 26... h7 27 e4+ e dão mate) 27 xg6+ xg6. Felizmente as Pretas preferem abandonar a partida de maneira mais honrosa, forçando as Brancas a encontrarem um final muito mais estético e valioso para esta bela partida de ataque. 25... d6 26 g3+ g6 27 e5+ xf7 Ou se 27... h7 28 h5+ h6 29 f5+ h8 30 e5+ h7 31 g7 mate. 28 f5+ f6 29 d7 mate (1-0)

O fim agora é simples, talvez, mas ainda belo e atraente. Ninguém mais parou o garoto de 13 anos, e ele logo conseguiu sua segunda norma de Grande Mestre, em março de 2004, com um rating sólido de 2660, em um Aberto de Aeroflot bastante intenso, em Moscou. Logo veio sua terceira e última norma, no Aberto de Dubai. No evento em Aeroflot, o ex-treinador de Kasparov, Alexander Nikitin, havia dito que a promessa de Carlsen, aos 13 anos, só poderia ser comparada àquela do jovem Kasparov. Entre Moscou e Dubai, Carlsen conseguiu assustar Kasparov, marcando ½-1½ contra ele em um evento de xadrez rápido em Reykjavik, um resultado que chegou imediatamente às manchetes de todo o mundo. Em meio a tanta agitação, o time de Carlsen manteve-se com os pés no chão. Enquanto outros se entusiasmaram, sua ideia na época foi resumida claramente nas palavras de Agdestein, em sua entrevista para a New in Chess, em 2006: “Calculamos nosso sucesso em termos de o que aprendemos, não de quantos pontos marcamos”. Em Wonder Boy, Agdestein relata que, quando Dirk Jan Ten Geuzendam perguntou “E quanto a Karjakin?” a Nikitin, esse último respondeu “Não, ele só estuda bastante. Esse talento é real!”. O livro de Agdestein coloca tais comentários de forma consistente, mas mais comedida. Sobre os dois garotos de alto nível e com 13 anos de idade, ele escreve que eram “ambos grandes talentos que devem se

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desenvolver em seu próprio ritmo, e ambos se tornarão estrelas mundiais”. No entanto, Agdestein e outros abrem uma exceção para a excelente memória de Magnus. “A memória de Magnus é incrível”, escreve Agdestein. Após uma sessão de treinamento mútuo, em 2004, Peter Heine Nielsen notou que Carlsen não tomava notas, só lembrava das coisas. Carlsen nem sempre tinha uma recordação completa, mas quando sua memória começava a trabalhar era formidável. Uma memória poderosa pode ser de ajuda significativa na negociação de complexos labirintos de variantes em planos estratégicos complexos com os quais hoje em dia se confrontam os melhores enxadristas em qualquer abertura. Ela certamente ajuda Carlsen a ter um ótimo desempenho com as Pretas em uma linha bastante intensa da sua favorita Sveshnikov da Siciliana.

Partida 30 I.Cheparinov – M.Carlsen Wijk aan Zee, 2005 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2 f3 c6 3 d4 Contra os devotos ferrenhos da Sveshnikov, às vezes vale a pena desviar nesse ponto, jogando 3 b5, que não é só um lance sólido, mas uma maneira boa de jogar por uma pequena vantagem na abertura a fim de evitar as complexidades teóricas da Sveshnikov. As Pretas podem esperar igualar nessa linha, mas têm que trabalhar duro para isso. As Pretas certamente ficaram muito atrasadas no desenvolvimento, em M.Carlsen-T.Radjabov, Nanjing, 2009, um esmagamento unilateral, que continuou com 3...e6 4 0-0 ge7 5 c3 a6 6 a4 b5 7 c2 b7 8 e2 d5 9 e5 d4 10 e4 b6 11 d3 d8 12 a4 d5 13 axb5 axb5 14 cxd4 cxd4 15 bd2 f4 16 d1 b4 17 b3 xe4 18 dxe4 fd3 19 g5 c8 20 fxd4 xb2 21 e2 c4 22 fc1 c5 23 xb5 0-0 24 xc5 xe5 25 e7 1-0. 3...cxd4 4 xd4 f6 5 c3 e5 6 db5 d6 7 g5 a6 8 a3 b5

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Desde sua introdução nos anos de 1970, esse lance agudo tornou-se o ponto de partida para um dos sistemas de contra-ataque mais complicados da Defesa Siciliana. A casa d5 das Pretas pode estar visivelmente fraca, mas os peões pretos d6 e e5 dão-lhes um bom domínio no centro e uma base para jogar em ambos os flancos. Se o cavalo branco em a3 estivesse em e3, as Brancas teriam muito mais controle sobre as casas d5 e f5 e uma vantagem nítida, mas ele não está, e levará mais dois ou três tempos para reposicioná-lo. 9 xf6 Ao desistir do par de bispos, as Brancas capturam um dos defensores de d5, enfatizando mais ainda a fraqueza daquela casa. Ao fazer isso, as Pretas ficam sujeitas a peões dobrados em f, já que fazer a captura com a dama permite que as Brancas joguem d5 com um tempo extra importante. A principal alternativa das Brancas é 9 d5 e7 10 xf6 xf6, que foi jogada na Partida 31, um ano depois. 9...gxf6 10 d5 g7 11 d3 e7 12 xe7 xe7 13 c4

Com o lance enérgico do texto, as Brancas esperam por algo como 13...bxc4?! 14 xc4, trazendo seu cavalo à ativa no centro e para mais perto da excelente casa e3, de onde poderia reforçar ainda mais o domínio das Brancas sobre d5 e f5, tornando difícil para as Pretas mobilizarem sua potencialmente perigosa massa de peões centrais. As Pretas podem, e de fato devem, jogar com mais vigor do que isso. As Brancas também podem adotar um plano mais discreto, baseado em uma rota de fuga de volta para o centro para seu cavalo, via c2. Com jogo agressivo, as Pretas podem alcançar uma igualdade altamente dinâmica, como em V.Ivanchuk-T.Radjabov, Sófia, 2008, que continuou com 13 0-0 0-0 14 c3 f5! 15 c2 b8 16 exf5 e4 17 e2 (ou 17 e1 xf5, e se 18 e3 g6 19 d5 e5) 17... xf5 18 b4 g5 19 f4 (ou 19 xd6!? bd8, e se 20 g3 f6 21 ad1 e6) 19...exf3 20 xf3 be8 21 c6 e5 22 xe5 dxe5 23 c1 xc1 24 axc1 e6 25 fe1 f6 26 cd1 d8, acabando em empate.

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13...f5! As Pretas têm que mobilizar sua massa de peões centrais e vale a pena oferecer um gambito para alcançar isso. O par de bispos pretos dá um bom apoio para seus peões centrais, e podem tornar-se letais se conseguirem abrir linhas. Além de oportunidades em outras partes do tabuleiro, as Pretas também podem ter esperanças de exercer pressão na coluna aberta g. 14 0-0 0-0

15 cxb5!? Com certeza é perigoso aceitar o peão do gambito. Como alternativa, 15 h5 b8 16 exf5 e4 17 ae1 b7 18 e3 bxc4 19 xc4 d5 20 xd5 xd5 21 f6 xf6 22 xd5 xb2 tem sido considerado bom para as Pretas há tempos. Por conseguinte, V.Topalov-M.Carlsen, Nanjing, 2009, diferenciou-se com 18 g4 fe8 19 cxb5 d5 20 bxa6 c6 21 c1 (21 b3 pode ser mais crítico agora e havia sido usado anteriormente por Shirov para derrotar Carlsen, mas o norueguês, como era de se esperar, conseguiu consertar essa linha altamente obscura) 21...exd3 22 xc6 e2 23 h3 xb2 24 f6 xg4 25 hxg4 xa2 26 b1 f8 27 c3 xa6 28 xd3 xf6, e as Pretas sobreviveram. Uma linha mais aguda é 15 f3!? d5! 16 cxd5 fxe4 17 xe4 b8!, pretendendo ... b6 e uma transferência rápida da torre para a ala do rei ou centro. De fato, as Brancas não devem subestimar as chances de contrajogo das Pretas. P.Smirnov-T.Radjabov, Tripoli, 2004, conclui de maneira surpreendente: 18 ad1!? (18 fd1 pode ser perigoso) 18... b6 19 d3 d7 20 xh7+ h8 21 e3 h6 22 c2 d6 23 g3 h3 24 fe1 f5 25 f4 exf4 26 e7 b6+ 0-1. 15...d5!

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Não tem volta quando se chega nessa posição. As Pretas devem simplesmente ganhar o controle de e4 para libertar seus peões e e f, mesmo que lhe custe um segundo peão. 16 exd5 e4 17 e2 b8 18 ab1 Mesmo com dois peões a mais, é surpreendentemente difícil para as Brancas coordenarem suas forças e oferecerem uma defesa resistente, e mais difícil ainda é fazer bom uso de seu material extra. O cavalo branco em a3 continua posicionado de maneira perigosa na margem e desempenha um papel muito pequeno na partida. Com o próximo lance do texto, as Brancas superprotegem b2 como uma ação preliminar para a possível captura em a6, mas o plano das Pretas de transferir sua torre para a ala do rei via b6 estabelece ameaças de mate imediatamente. Esse plano também parece crítico após 18 c4 f4 19 fe1 f5 20 ad1 b6, e se 21 bxa6 h6 (ou talvez 21... g6). 18... b6 19 e3!? Paralisadas, as Brancas não fazem nada quanto a 19 bxa6?! g6, que estabelece algumas ameaças terríveis na ala do rei. As defesas das Brancas entram em colapso, por exemplo, após 20 b5 f4, e se 21 h1 h4! 22 xe4!? h6 23 h3 xh3 24 g3 g5 25 g1 fxg3 26 f4 h4. 19... g6 20 c2 h4 21 b6

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Infelizmente para as Brancas, o bloqueio de defesa 21 f4?! perde para 21...exf3 22 xf3 e5 23 h3 (ou 23 g3 xg3) 23... g3 24 e2 xh3, ameaçando ... d4+ e ... g5, com um ataque vencedor. 21... h8 22 c4 Agora 22 f4?! perde para 22...exf3 23 xf3 e5 24 h3 g3 25 e2 d4+ 26 h1 fg8 27 xf5 (ou se 27 g1 f4, ameaçando ...f3 e ... xh3) 27... xf5 28 xf5 xh3+ 29 gxh3 xh3+ 30 h2 xf5, e as Brancas não podem defender contra a ameaça de ... f3+. 22... g8 23 g3 E dessa vez 23 f4?! exf3 24 xf3 xc4 simplesmente perde uma peça. 23... h3 24 fd1 Aqui 24 f4?! é um pouco mais complicado, mas as Pretas ainda parecem ter um jogo vencedor após 24... f6 25 f2 (ou 25 d6 xg3+ 26 hxg3 xg3+ 27 xg3 xg3+ 28 h1 d4) 25... xg3+ 26 hxg3 xg3+ 27 xg3 xg3+ 28 g2 d4+ 29 h1 h4+ 30 h2 xf4, ameaçando tanto 31... b7 quanto ...e3, e se 31 a5 e3 32 b7 f3+ 33 g2 xb7 34 xb7 e2 35 d6 h3+ 36 h2 f1+ e dão mate. 24... h6 25 f4!?

As Pretas ameaçam irromper em definitivo, por exemplo, após 25 d6, jogando 25...f4! 26 xf4 (ou se 26 xe4 xh2+ 27 f1 fxg3) 26... xh2+ 27 f1 f6 28 e3 h6 29 d4 h1+ 30 e2 g4+ e dão mate. As Brancas tentam impedir esse plano com sua dama. Elas também pretendem levar seu cavalo para perto da ação em e5. 25... f6 26 e5 xe5! A dama preta, cedo ou tarde, irá irromper na ala do rei ao capturar o peão branco em h2, mas elas têm que esperar o momento certo, ou o rei branco pode escapar via f1. Esse belo lance, no entanto, dá conta do recado, permitindo domínio suficiente das casas pretas para invadir em definitivo a posição das Brancas. Trocar o “forte” bispo preto não parece algo óbvio à primeira vista, pois o par de bispos normalmente é um dos pontos fortes em relação à posição das Pretas nessa linha. Aqui, no entanto, a tática justifica a transação. Em especial porque a dama branca já não pode mais controlar a casa f4.

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xe5+ f6 28 f4 g4?! Ambos os lado estão com problemas de tempo, e agora as Pretas deixam passar 28...a5!, ameaçando 29... a6, que, ao impedir que o rei branco escape para o centro via f1, exceto se houver perda irrecuperável de material, parece ganhar de imediato. O 28... h4?! alternativo, que é parecido com o lance do texto, deixa o rei branco escapar após 29 d6, e se 29... xh2+?! (29... h6!) 30 f1 h1+ 31 e2 f3+ 32 d2, com complicações sinistras. 29 c7 g8! De forma correta, as Pretas decidem repetir a posição, impedindo o rei branco de fugir, ao jogar 29... xh2+?! 30 f1 h1+ 31 e2 f3+ 32 d2, que, mais uma vez, está longe de claro. Felizmente para as Pretas, mesmo que as Brancas não precisem recuar sua dama agora para f4, elas ainda parecem ter um jogo promissor nítido contra outras continuações das Brancas.

30 e1 Esse lance visa impedir ...e3, mas, ao moverem sua torre de d1 para e1, de maneira quase imperceptível as Brancas diminuem suas chances de defesa e contrajogo nas linhas em que as Pretas perseguem seu rei até o centro. Assim é que a partida segue. Após 30 b7 xb7 31 xb7 e3!, as Pretas ameaçam mate em dois e parecem vencer, após a continuação praticamente forçada 32 fxe3 xh2+ 33 f1 xc2 34 d6 h2! 35 f3 c4+ 36 g1 (ou 36 e1 xg3! 37 a8+ g7 38 b7+ g6) 36... h4! 37 f1 xg3 38 a8+ g7 39 b7+ h6, e as Brancas levarão mate. 30... xh2+ 31 f1 h1+ 32 e2 f3+ 33 d2 xf2+ 34 d1 Esse lance deixa as Pretas liberarem g4 para seu bispo, e as Brancas logo perdem. As Brancas também estão perdidas após 34 c3 h2, e se 35 bc1 d2+ 36 c4 a5, ameaçando tanto mate com 37... b4 quanto 37... a6+. É visível que as Pretas têm muitas ameaças vencedoras nessa posição, e que as Brancas só teriam prolongado essa agonia ao jogar dessa maneira. 34...f4!

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Agora não há chance nenhuma para as Brancas. Se 35 vencem de imediato. 35 c3 fxg3 36 xe4 g4+ 37 c1 c8 0-1

xf4

g4+, as Pretas

Sem dúvida, Carlsen cresceu em uma progressão após ganhar o título de Grande Mestre, mas ele ainda tinha que fazer muita coisa para alcançar o topo. Seu rating foi suficiente para receber um convite para jogar na eliminatória do Campeonato Mundial da FIDE em 2004, mas ele não era páreo para um dos favoritos do evento, Levon Aronian, e perdeu para ele na 1a rodada. Carlsen jogou bem pela Noruega na Olimpíada de Xadrez de 2004, mas depois sofreu um certo contratempo com uma performance não muito boa no ano seguinte, em Drammen. Seu resultado, no Grupo B, em Wijk aan Zee, 2005, foi muito melhor, mas longe de maravilhoso. Na verdade, o rating de Carlsen caiu de 2581 para 2528, no período de outubro de 2004 a julho de 2005. Mas Agdestein disse que “para aqueles que estavam próximos a ele, isso não havia sido uma preocupação”. Afinal de contas, Carlsen ainda tinha apenas 14 anos. Agdestein acredita que sua queda tenha sido resultado de uma combinação de “aberturas experimentais, um pouco de má sorte e busca pela ampliação de limites”. Os resultados de Carlsen começaram a melhorar novamente a partir de meados de 2005. Ele parecia entrar em forma através de uma série de torneios fortes. No final daquele ano, ele já estava em 10o no evento eliminatório da Copa do Mundo da FIDE. Esse resultado trouxe-lhe um lugar na próxima rodada do Campeonato Mundial, os matches de Candidatos, e um rating FIDE de 2625. No início de 2006, Carlsen era um dos três jogadores mais jovens (os outros eram Hikaru Nakamura e Pentala Harikrishna) colocados em evidência por Viktor Korchnoi em um artigo na New in Chess sobre a nova geração. Korchnoi procurou atributos firmes em seus jogos. Ele focou-se numa busca por evidências do “amor sem fronteiras pelo xadrez enquanto arte, um esforço para jogar de maneira incomum, buscando e encontrando ideias novas e brilhantes... a criatividade humana em oposição ao domínio do computador e ao trabalho mercenário”. Felizmente ele disse que encontrou tudo isso. Classificou a “personalidade combativa” de Magnus Carlsen como a mais forte.

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Na Partida 31, Carlsen luta com as Pretas em outra Sveshnikov da Siciliana, que é muito menos tática do que na Partida 30. O equilíbrio quase perfeito do meio-jogo exige que ambos os lados lutem com todas as forças. Carlsen luta melhor que seu adversário e então extrai até a última gota de iniciativa possível. Carlsen dividiu o 1o lugar com Alexander Motylev, da Rússia, nesse torneio, alcançando um rating impressionante de 2741.

Partida 31 J.Smeets – M.Carlsen Wijk aan Zee, 2006 Defesa Siciliana 1 e4 c5 2 f3 c6 3 d4 cxd4 4 xd4 f6 5 c3 e5 6 db5 d6 7 g5 a6 8 a3 b5 9 d5 Jogar esse lance permite que as Brancas conduzam a partida para linhas menos desequilibradas e taticamente complexas do que após 9 xf6. Provavelmente as Pretas não tinham uma resposta melhor que o brando lance de bispo que utilizam. Se tentarem impedir esse percurso, jogando 9... e6, as Brancas jogam 10 xf6 gxf6 11 c3, e se 11...f5 12 exf5 xf5, ganhando um tempo em uma das linhas principais após 9 xf6. 9... e7 10 xf6 xf6 11 c3 g5

Esse é o ponto de partida para a linha principal da variante: 9 d5. As Pretas conservam o par de bispos e desobstruem o caminho para um possível ...f5. O principal foco das Brancas costuma ser ganhar espaço na ala da dama e manter um bom domínio na coluna d. No entanto, às vezes é possível escolher planos baseados em h4 (tanto sem fazer o roque pequeno ou adiando-o) que busquem ganhos na ala do rei. 12 c2 e7 As Pretas procuram simplificar sua tarefa de defesa, trocando os cavalos. Elas também podem conservar mais peças no tabuleiro, jogando 12...0-0, e, após 13 a4

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bxa4 14 xa4 a5 15 c4, as Brancas podem ter uma ligeira vantagem, mas o jogo continua complexo e cheio de possibilidades para os dois lados. 13 cb4 As Brancas também podem jogar por mais vantagem com 13 a4 ou 13 xe7 xe7 14 a4, mas o lance do texto, visando manter o cavalo em d5, é o mais natural. 13...0-0 14 a4 bxa4 15 xa4 Essa é uma imagem comum nessa linha. As Brancas enfraqueceram em parte a ala da dama das Pretas, e se agarram com toda força a d5 esperando, cedo ou tarde, mobilizar seu peão b, que pode se tornar um peão passado. A resposta das Pretas não é forçada, mas normalmente é jogada para ter certeza de que seu peão a vulnerável não se torne um alvo em a6 e para ganhar espaço na ala da dama.

As Brancas podem agir com sua dama em a4, como em G.Kamsky-M.Carlsen, Khanty Mansiysk, 2005, que continuou: 15 xa4 a5 16 b5 xd5 17 xd5 e6 18 c6 b8 19 a2 c8 20 0-0 d8 21 b4 h8 22 d2 a6 23 b5!, com uma nítida vantagem em espaço para as Brancas, que ganharam no final. Depois as Pretas melhoraram nesse ponto, em V.Anand-M.Carlsen, Linares, 2008, que seguiu: 15... xd5 16 xd5 d7 17 a2 a5 18 d3 c6 19 0-0 b8 20 c4 h8 21 b3 f5 22 exf5 ½-½. Também deve ser possível intercalar os lances 15 h4!? h6 antes de recapturar em a4. 15...a5 16 xe7+ As Brancas desenvolveram chances de ataque em uma partida relativamente antiga nessa linha, A.Motylev-G.Agamaliev, Bydgoszcz, 1999, após 16 b5!? d7 17 xe7+ xe7!? 18 c6 xc6 19 xc6 b8 20 a2 b6 21 d5 g6 22 h4! g7 23 h5 f5 24 d2 g5 25 g3 h6 26 exf5 xf5 27 0-0!, e as Brancas venceram no final. Não há dúvidas de que Carlsen teve melhorias. 16... xe7 17 c4 d7 18 d5 e8 As Brancas mantêm seu controle de d5 e têm alguns prospectos na ala da dama, mas as Pretas estão bem desenvolvidas e bem posicionadas para defender na ala da dama. Colocando sua dama em e8, as Pretas deixam d8 para seu bispo

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de casas pretas, de onde ele pode defender a5 e libertar a torre da dama para desenvolvimento. A longo prazo, as Pretas também têm possibilidade de ação na ala do rei, baseada em um possível ...f5. 19 a2 d8 20 0-0 Mais ou menos neste ponto, o jogo das Brancas perde sua contundência e elas começam a cair numa passividade cada vez maior. As Brancas não podem dizer que conseguiram muito na abertura, mas 20 b4 pode ter sido mais forte, tentando tirar proveito de suas vantagens da ala da dama antes de as Pretas limitarem-nas naquele flanco, jogando ...a4. 20... c8 21 b3 As Brancas estão nitidamente preocupadas em manter o controle de a4, mas, fazendo isso, elas permitem que sua dama, torre e bispo fiquem em posições desconfortáveis na ala da dama. Talvez elas devessem ter simplesmente deixado as Pretas jogarem ...a4, preferindo o lance de desenvolvimento mais simples 21 e2. 21... b8 22 c2 h8 23 fa1?!

As Brancas planejam oferecer uma troca de bispos em a4, mas param de cuidar a ala do rei por um momento, onde as Pretas têm um contragolpe dinâmico que acaba com seus planos. As Brancas deveriam ter jogado 23 e3, ficando de olho em f5 e d5, embora o jogo das Pretas esteja bom após 23... e6, e se 24 d5 b6! 23...f5! 24 a4 As Brancas atêm-se a seu plano original de trocar bispos. Se conseguirem tempo para trocar peões em f5 ou permitirem às Pretas trocarem peões em e4 jogando 24 f3, as Pretas conseguirão conservar seu par de bispos e mudar sua dama para um posto promissor em g6, com bons prospectos. 24... xa4 25 xa4 fxe4! Mas esse lance mostra que as Pretas estão pressionando. As Brancas não conseguem recuperar o peão de imediato, já que 26 xe4? permite a resposta com um garfo 26... b5. As Brancas têm que passar para uma defesa cuidadosa.

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26 4a2 f7! O jogo das Pretas se ilumina com cada lance que é feito. Após a resposta das Brancas, a torre preta faz uma entrada-surpresa na partida em b3, logo seguida de seu bispo em h4, e de repente todas as peças pretas começam a dirigir-se para a ala do rei das Brancas. 27 c4 b3 28 e1 Com nervos de aço. Não, é claro, 28 xb3?? xf2+ e mate em dois. 28... h4 29 g3!?

As Brancas têm algumas escolhas difíceis. Isso enfraquece f3, criando uma casa que possa ser usada pela torre da dama das Pretas. Mas o lance alternativo 29 e2?!, mesmo que não seja totalmente claro, pode ser até mesmo pior após algumas linhas possíveis, como 29... d3 30 a1 d4, e se 31 xa5? xf2+! 32 xf2 d1+ 33 xd1 xf2+ e dão mate, ou 29...e3 30 f3 (se 30 xe3? xe3) 30... f2+ 31 h1 fb8, e se 32 xa5?! g6 33 a2 xc2 34 xc2 d3 35 g4 d1+ 36 g2 g1+ 37 h3 f8 e vencem. 29... f3! 30 b3 E não 30 gxh4? xf2 31 xe4 f1+ 32 g2 f2+ 33 h3 f3+ 34 g4 g2+, e dão mate. 30... d8 31 xe4 h5! As Brancas defenderam bem, mas as Pretas ainda têm algumas cartas na manga. Elas planejam ...h4, abrindo mais linhas para atacar o rei branco. As Brancas não devem tentar bloquear isso jogando 32 h4?, contra o qual Carlsen havia preparado o explosivo 32...g5! 33 hxg5 xg5, com sua linha principal brilhante seguindo: 34 e2 (ou se 34 g2 h4 35 gxh4 e6! 36 hxg5 h3+ 37 g1 g3+ 38 fxg3 f1 mate) 34...h4 35 gxh4 h5 36 hxg5 xg5+ 37 f1 h6 38 g4 (ou 38 e1 xf2 39 xf2 h1+ 40 e2 xf2+ 41 xf2 h2+) 38... h3+ 39 g2 g3!, e vence. 32 e2 h4 33 b2 g6 34 g2?

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A pressão finalmente influencia as Brancas e elas tomam uma decisão errada. Talvez tenham negligenciado o lance 35 das Pretas. As Brancas deveriam ter jogado 34 d2 g7 35 e3, buscando trocar um par de torres. As Pretas continuam ativas, mas as Brancas ainda podem lutar. A partida pode continuar, por exemplo, com 35...hxg3 36 hxg3 f5 37 g4!? f3 38 e2 xe3 39 xe3 (ou 39 xe3 b6 40 d5 d4) 39... h8, e se, digamos, 40 e4 h3 41 b4!? (ou 41 c5?! dxc5 42 xe5+ h7) 41...a4 42 b5 a3 43 a2 b3, e a luta ainda perdurará por bastante tempo. 34...hxg3 35 hxg3 xg3+!

Esse sacrifício repentino termina de uma vez com a resistência das Brancas. As Pretas ganham um peão, mas, o que é mais importante, todas suas peças participam de um ataque, primeiro levando o rei branco para o meio do tabuleiro e depois apanhando-o lá. Se, agora, 36 xg3 f3+ 37 h2 g7!, seguido por ... h8 e dão mate. Ou se 36 fxg3 f1+ 37 h2 g7 38 e4 h8+ 39 h4 xh4 40 gxh4 xh4+ 41 g3 h3+ 42 g4 f3+ 43 g5 h5 mate. 36 f1 f3 37 e4 h5 38 e3 g5 39 e1 gf3 40 f1 c1! O ato final envolve de maneira apropriada o antes bispo “mau” das Pretas, que agora move-se decidido para o jogo ao lado “ativo” dos peões pretos e, d e a,

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antes considerados limitantes. As Brancas têm que desistir de seu peão b agora, pois 41 b1 a3!, seguido por ... b4+, forçará um xeque de dama vencedor em h1 ou a captura do peão branco em f. 41 a2 xb3 42 g3 h6 43 g4 xg3

44

O sacrifício final, e dessa vez ele foi simples. Se 44 fxg3 xg3 h1+ 0-1

h1 mate.

O ano de 2007 foi mais um salto para o superstar norueguês de 16 anos. Começou com uns tropeços, com uma performance relativamente fraca de 2610 de Carlsen na sua primeira vez no Grupo A, em Wijk aan Zee. Ele cometeu muitos erros não forçados e confessou mais tarde que não era “um enxadrista perfeito, tenho que aperfeiçoar quase tudo”. Mas a habilidade que o time de Carlsen tinha de aprender com a experiência o e de se recuperar logo botou a situação nos eixos. Carlsen terminou em 2 logo após Wijk, em um torneio tão forte quanto aquele, Morelia/Linares. Dessa vez o seu desempenho de rating no torneio alcançou 2782 pontos. Campeão Mundial, Anand, que venceu em Morelia/Linares, achava que isso era um avanço para Carlsen, e adicionou que “certamente ele está crescendo muito rápido”. De janeiro de 2007 a janeiro de 2008, Carlsen melhorou seu rating de 2690 o o para 2733, e seu lugar na classificação mundial foi de 24 para 13 . Isso foi alcançado com uma série excelente de resultados em uma enorme quantidade de torneios em 2007, incluindo um 1o lugar excepcional em Biel (desempenho de 2753), e a chegada à semifinal da Copa do Mundo da FIDE, em dezembro de 2007, onde foi eliminado somente pelo vencedor Gata Kamsky. Nesse período, o jogo de Carlsen começava a mostrar visivelmente uma maturidade crescente e força constante. Sua técnica estava sendo aperfeiçoada com sua capacidade de colocar cada vez mais pressão sobre seus adversários. No início de 2008, estava claro que agora ele era um membro plenamente aceito da elite de enxadristas e que estava para estabelecer-se entre os dez melhores. Na primavera boreal de 2007, o novo e melhorado Carlsen deu um susto em um dos cinco melhores enxadristas mundiais, Levon Aronian, durante a primeira

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rodada de match do Candidatos da FIDE. O resultado só foi decidido com uma partida Blitz, após um empate apertado, 3-3, com tempo normal e 2-2 no desempate rápido. Aronian teve que procurar no fundo de suas reservas de habilidades e de sua experiência para derrotar o jovem adversário. Agora Carlsen era capaz de jogar um xadrez verdadeiramente bom e consistente, como ficou provado com a qualidade excepcional de sua técnica no final da partida, vencendo a 3a partida de seu match contra Aronian. Maestria do final de jogo como essa é comparável aos feitos de todos os grandes enxadristas deste livro, desde Rubinstein.

Partida 32 M.Carlsen – L.Aronian a 3 Partida do Match Elista, 2007 Abertura Inglesa 1

f3 f6 2 c4 b6 3 g3 c5 4 g2 b7 5 0-0 e6 6 c3 e7 7 e1 d5 Enquanto Aronian estava visivelmente preparado para entrar em linhas principais da Defesa Porco-espinho, após 7 d4 cxd4 8 xd4 d6, como muitos jogadores da Porco-espinho, ele tem o devido respeito pela chances das Brancas no jogo mais agudo após 7 e1 d6 8 e4 a6 9 d4 cxd4 10 xd4 c7 11 e3, seguido por c1. Por isso o lance do texto, que leva a partida para uma forma da Defesa Índia da Dama. Além de 7...d5, muitas vezes as Pretas também jogam 7... e4. As Brancas não acham fácil obter uma vantagem contra nenhuma dessas duas defesas. Uma tentativa particularmente crítica após 7... e4 é a linha complexa e desequilibrada 8 d4 xc3 9 bxc3, e agora: a) V.Topalov-M.Adams, Campeonato Mundial da FIDE, San Luis, 2005, continuou: 9... e4 10 f1 d6 11 h4 d7 12 d5 0-0 13 a4 h6 14 h3 exd5 15 cxd5 f6 16 a3, com complicações que acabaram a favor das Brancas. b) Bu Xiangzhi-S.Sulskis, Gibraltar, 2008, seguiu: 9... c6 10 d5 a5 11 e4 xc4 12 f4 g5 13 c1 b5 14 f1 0-0 15 b1 exd5 16 exd5 b6 17 d6 f6 18 xg5 xg5 19 g4 f5 20 xg5+ xg5 21 xg5, quando o par de bispos das Brancas e o espaço extra dá boas chances às Brancas. 8 cxd5 Com esse lance, as Brancas esperam com 8...exd5 9 d4, transpondo para uma variante da Defesa Índia da Dama que, enquanto sólida para as Pretas, oferece às Brancas um leque mais flexível de opções. Anteriormente naquele ano, V.Topalov-M.Carlsen, Linares, 2007, havia seguido: 8 d4 dxc4 9 dxc5 xc5 10 a4+ bd7 11 xc4 0-0 12 d1 c8 13 h4 e7 14 h3 e8 15 d4 xg2 16 xg2 e5 17 b7 c5 18 g5 fg4 19 h3 c6 20 hxg4 xd4 21 b5 ½-½ (25).

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8... xd5 9 d4!?

A linha mais antiga costumava seguir com 9 e4 xc3 10 bxc3 0-0 11 d4 cxd4 12 cxd4 c6 13 b2, que dá às Brancas algo para trabalharem, devido a seu centro de peões bom e desenvolvimento mais livre, como em B.Damljanovic-V. Gashimov, Olimpíada de Bled, 2002, em que as Pretas defenderam pobremente em todos os setores, após 13... a5!? 14 e5! c8 15 c1 d6 16 e2 f6?! 17 g4 d7 18 e3 h8 19 h4! xc1 20 xc1 c8 21 d1 a4 22 d5! e5 23 h3 d8 24 h5 g6 25 f3 f8 26 h5! g5 27 c1! d8 28 f5 b4 29 c2 e7 30 e6 xe6 31 xe6 e as Brancas venceram. É claro que as Pretas podem melhorar nesse ponto, mas hoje em dia, 9... b4! 10 d4 cxd4 11 xd4 8c6, e se 12 xc6 xd1 13 xd1 xc6, que parece chegar perto de uma igualdade plena, tornou-se mais popular. Não é de todo claro que as Brancas podem conseguir muita coisa. B.Damljanovic-Y.Pelletier, Liga Francesa, 2008, continuou: 14 f4 g5 15 d6 xd6 16 xd6 d8 17 xd8+ xd8 18 a3 a6 19 b4 ½-½. Após o lance 9 de Carlsen, o intermezzo 9...cxd4 10 a4+! impede um pouco o desenvolvimento das Pretas. Ele deu uma pequena vantagem às Brancas, pois suas peças estão mais ativas, em L.Aronian-D.Jakovenko, Khanty Mansiysk, 2007, que seguiu: 10... d7 11 xd5 xd5 12 xd4 xg2 13 xg2 0-0 14 c6 c5 15 b5 d7 16 e3 h8 17 d4 xb5 18 xb5 a6 19 d4 f6 20 ac1 fd8 21 c4 b5 22 xc5 xd4 23 xd4 xd4 24 ec1 g6 25 c7, com chances contínuas no final. 9... xc3 10 bxc3 e4!? Aronian continuou determinado a evitar a transposição para linhas mais antigas, após 10...0-0 11 e4 cxd4 12 cxd4 c6. Mas, após a forte resposta das Brancas, ele perde o controle de e4, e as Brancas estabelecem um centro de peões estável. Embora as Pretas consigam trocar os bispos de casas claras, a simplificação obtida não compensa totalmente o tempo gasto para alcançar isso, deixando as Pretas com algumas dificuldades para completar o desenvolvimento.

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Por falar nisso, é importante mencionar que se acredita que as Brancas têm uma vantagem após 10...0-0 11 e4 d7 (11... c6!? é interessante, embora as Pretas não tenham durado muito em S.Savchenko-S.Fedorchuk, Alushta, 2000, após 12 d5 a5 13 f4 exd5 14 exd5 f6?! 15 e5! e8 16 h5 g6 17 f3 h5 18 g5! xe5 19 xf6 xe1+ 20 xe1 d6 21 e7 f8 22 f4! xf4 23 gxf4 d8 24 d6 xg2 25 xg2 g5 26 f5 c6 27 c7 1-0) 12 f4!, em grande parte devido ao sucesso das Brancas em V.Kramnik-V.Anand, Las Palmas, 1996:

12...cxd4 13 cxd4 f6 14 e5 b4 15 e3 c8 16 d5 exd5 17 exd5 d6 18 c6 xc6 19 xd6 a4 20 xf8 xd1 21 e7 c7 22 xd1 d7 23 h3, e as Brancas venceram com um belo ataque. Anteriormente, V.Anand-S.Tiviakov, Wijk aan Zee, 1996, havia continuado: 12... f6 13 d3 cxd4 14 cxd4 b4 15 d2 c8 16 ec1 xc1+ 17 xc1 a8 18 f3 c8 19 c4 a6 20 f1 d8 21 b3 f8 22 e3 c8 23 c2 b7 24 d3 e7 25 a4 xc4 26 xc4 xc4 27 xc4, e as Brancas venceram com seus peões melhores, espaço extra e par de bispos. 11 e5 xg2 12 xg2 0-0 13 e4 c8 As Brancas têm um centro de peões bom e uma vantagem boa em espaço, e aquele tempo extra também conta. As Pretas não acham fácil desafiar o importante cavalo branco, já que levar seu cavalo para d7 cederia c6. As Brancas também têm um bom jogo após 13... f6!? 14 g4 cxd4 15 a3 (Carlsen). Então

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a partida pode continuar com 15... e8 16 xf6+ xf6 17 a4!, e se 17... d8 18 cxd4 d7 19 ac1, com uma vantagem clara. 14 g4 f6?! Carlsen não gostou desse lance, que visivelmente deixa as Brancas desenvolverem um ataque na ala do rei. Em vez disso, as Pretas deveriam continuar com um desenvolvimento natural e desafiar o cavalo branco, jogando 14... c6, depois do qual Carlsen pretendia jogar 15 h6 f6 16 xc6 xc6 17 g1 h8 18 e5, que, embora ainda obscuro, ele pensava que seria bom para as Brancas. 15 f3 h8 16 h4! c6 17 g5!

As Pretas finalmente conseguiram desenvolver seu cavalo, mas as Brancas conseguiram melhorar sua posição nesse ínterim. É claro que agora não 17... xg5? 18 hxg5, e as Brancas abriram uma linha de ataque letal ao longo da coluna h. 17...cxd4 18 xf6 gxf6 19 cxd4?! Aqui, Carlsen cometeu um erro; ele disse que seu raciocínio estava um pouco “preguiçoso” nesse ponto. As Brancas têm uma vantagem nítida após o mais exato 19 f4! d8 20 cxd4, e se 20... xd4?! 21 ed1! e5 22 xe5 ganha um peão para as Brancas, mas aqui Carlsen só havia considerado 21 ad1? xf3! e não olhou adiante. As Brancas também estão bem nessa linha após 19...dxc3 20 xf6+ g8 21 xc3, devido aos peões pretos desconectados na ala do rei e à porosidade da ala do rei. 19...e5 20 xc8 axc8 21 d5 a5 22 h5! Apesar da simplificação, as Brancas ainda têm chances ligeiramente melhores aqui, devido a seus peões melhores e especialmente à posição ruim do rei preto, que está longe da ação central. As Brancas pretendem enterrar ainda mais o rei das Pretas, jogando h6 e h4-f5. 22... c4 23 h4 d6 24 h6 c3?! Aronian começa a cometer alguns erros aqui, apesar de que, para ser justo com ele, ainda tivesse que negociar dificuldades inúmeras, ocultas e muito distantes nesse final de jogo traiçoeiro. As Pretas fazem certo em ocupar a coluna c, mas deveriam ter preferido 24... c4!, acertando o peão e. Então, após 25 ac1 fc8 26 xc4 xc4

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27 f5, elas podem jogar 27... xe4!, e se 28 d6 c5, com chance contínua de defesa com o cavalo preto cobrindo d7. Provavelmente as Brancas devem preferir 27 f3, mas isso daria às Pretas um tempo, permitindo-as jogar 27... g8, visando colocar seu rei de volta à ativa rapidamente, após, digamos, 28 f5 xf5 29 exf5 f8. 25 ac1

25... fc8? Aparentemente Aronian jogou esse lance de imediato, revelando que ele ainda não havia percebido a força do 27o lance das Brancas. Agora parece que as Pretas estão perdidas. Mas as Pretas ainda poderiam ter resistido, jogando 25... xe4, e se 26 xc3 xc3 27 d6 b5!, pretendendo firmar seu cavalo em c3, se necessário, jogando ...b4. Isso dificultaria muito mais para as Brancas adentrarem com sua torre para proteger seu peão d. Carlsen, que não tinha percebido 27...b5, pensava que isso seria o suficiente para salvar as Pretas. 26 xc3 xc3 27 f5!!

É nítido que as Brancas não podem fazer nenhum progresso sem esse lance, mas Carlsen merece grande crédito por criar as condições nas quais esses lances funcionam. É claro que as Brancas têm que destruir o bloqueio das Pretas

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em d6, desbloqueando seu peão passado para que avance, para assim ter alguma chance promissora. O aprisionamento do rei preto na ala do rei mostra-se um fator decisivo. 27... xf5 28 exf5 g8 O rei preto se apressa para o centro. Defesa puramente passiva, digamos, seria jogar 28... c7, que apenas permitiria que o rei branco se juntasse à ação, após 29 f3, com d6, ganhando controle da coluna c, seguido por e4-d5, uma ameaça ganhadora. 28...b5 29 b1 a6 30 a4 também não traz esperanças, e se 30... c5 31 axb5 axb5 32 d6, e vencem. Após a partida, o computador de Carlsen encontrou o engenhoso 28... c4, que protege e4, que se apresenta como uma casa crítica, mas que também forneceu sua brilhante refutação. As Brancas vencem após 29 d6 g8 30 d1 c8 31 g4! f8 32 g5! d8 (ou se 32...fxg5 33 d7 d8 34 f6 seguido por c1) 33 d7 e7 34 g6! fxg6 35 fxg6 hxg6 36 h7!, seguido por c1. 29 e4!

A chave para a vitória é o uso que as Brancas fazem dessa casa para transferir sua torre para g7. Mais tarde, Aronian confessou que não havia previsto toda a força desse plano maravilhoso. Nós podemos compreendê-lo. Com uma torre ativa no controle da coluna c, uma maioria de peões na ala da dama (2-1) e com seu rei aparentemente dirigindo-se para o centro, era de se pensar que as Pretas quase “deveriam” ter boas chances de empatar. Mas a tática, muitas vezes difícil de enxergar, agora vai decididamente contra elas. Se, agora, 29... c7 30 g4+ ou transpõe de volta para a continuação da partida, ou vence rapidamente após 30... h8 31 d6 d7 32 c4 d8 33 d7. 29... f8 30 g4 c7 As Pretas também estão perdidas após o mais simples 30... d3 31 g7 xd5 32 xh7 g8 33 g7+ h8 (ou 33... f8 34 g4) 34 xf7 – Carlsen. 31 g7 b5 32 xh7 g8

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Mas esse é o tipo de lance que realmente destrói o coração de um defensor. Depois de ter trabalhado tanto para voltar para o centro, as Pretas descobrem que seu rei tem que se esconder no canto do tabuleiro. Más notícias! Mas as Pretas perdem de maneira simples se não jogarem dessa maneira após, digamos, 32...b4 33 h8+ e7 34 h7, e o peão branco h é promovido. 33 g7+ h8 Ou se 33... f8 34 g4, e o peão branco h triunfa de novo. 34 d6 d7?!

De acordo com Carlsen, 34... b7 teria exigido uma ação mais engenhosa das Brancas. Mas parece que elas ainda podem ganhar, ao permitir que as Pretas promovam, após a continuação forçada 35 f3 b4 36 e4 a5 37 d5 a4 38 c6 b3 39 axb3 axb3 40 xb7 b2 41 d7 b1 + 42 c7, e agora 42... c1+ 43 d8 xh6 44 xf7 ou 42... c2+ 43 d6!, seguido em ambos os casos por e7, garante que o peão branco d seja promovido. 35 f3 b4 Se 35... xd6 36 xf7, as Brancas seguem com e4, como na partida. 36 e4 xd6 Ou se 36...a5 37 d5 a4 38 g4, parando os peões pretos na ala da dama e vencendo. 37 xf7 a6 38 g4! As Pretas apresentaram a defesa mais obstinada possível, mas agora os peões brancos efetuam a ruptura decisiva. O rei das Pretas, mal posicionado, encontra-se em meio a uma rede de mates, como após 38... xa2 39 xf6 b3 40 g5 b2 41 f8+ h7 42 b8, ameaçando b7+, seguido por g6. 38... g8 39 h7+ h8 40 g5! Esse final é encantador. 40...fxg5 41 f6! 1-0

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As Pretas não têm como se defender da ameaça das Brancas f5-g6, seguida por f8 mate, exceto se recuarem com sua torre para a passividade completa e sem esperança após 41... b6 42 f5 a5 43 g6 b8 44 a7 – de tirar o fôlego! No início de 2008, as coisas andavam rápido para Carlsen. De 13o na classificação mundial no início do ano, passou para 5o (rating 2765) em abril. O salto foi resultado do sucesso em dois torneios consecutivos de alto nível. Primeiramente, Carlsen empatou em 1o com Aronian, em Wijk aa Zee (um desempenho de 2830), e depois seguiu para um ótimo 2o lugar, atrás de Aronian, em Morelia/Linares (um desempenho de 2808). O ano continuou no mesmo ritmo. Carlsen, como sempre, jogou em muitos eventos, só que dessa vez eles não incluíram nenhuma falha significativa e ele obteve desempenhos acima de 2800, em Baku e no Torneio de Aerosvit, em Foros. Em termos puramente de rating, a vitória de Carlsen em Foros foi o seu melhor resultado (um desempenho de 2881). Com resultados como esse e um lugar sólido entre os cinco melhores do mundo, não poderia haver mais nenhuma dúvida do talento desse jovem. Aos 17 anos, a única pergunta era quão mais longe ele conseguiria ir. Será que Carlsen o poderia esperar estabelecer-se como o 1 do mundo em algum momento? Até mesmo o time sempre protetor e cauteloso de Carlsen começava a imaginar o inimaginável. Enquanto em Wijk aan Zee, em 2007, Carlsen havia pensado bastante sobre as razões de seus vários erros não forçados; um ano depois, seu aumento de confiança era nítido. Em uma entrevista para a New in Chess, Carlsen sentiu-se apto a dizer até mesmo que “Fischer era muito bom em fazer suas vitórias parecerem simples, jogando lances supostamente normais. Penso que eu também posso fazer isso às vezes”. A comparação com Fischer não é inapropriada. Afinal, juntamente com Carlsen, ele é um dos cinco grandes enxadristas clássicos que escolhi para comporem este livro. Em seu melhor, todos esses enxadristas jogam de maneira destemida, sutil, artística, sólida e poderosa. Não ficam constrangidos pela tradição e são capazes de contar com suas fontes quando necessário e de criar suas próprias tendências. O fã normal de xadrez muitas vezes cai na armadilha de acreditar que os grandes enxadristas não só sabem sobre tudo, mas que também lembram de

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tudo. Na verdade, até mesmo os grandes enxadristas são acometidos de esquecimentos frequentes. Isso aconteceu com Carlsen, contra Kramnik, na Partida 33. Pego desprotegido, sua memória, normalmente tão afiada, foi acometida pela confusão. A marca de um bom enxadrista em tais situações é que ele pode restringir suas opções e ainda jogar bem. É preciso coragem, determinação, lances sólidos e planos originais para fazer isso. Faça isso direito e até mesmo Campeões Mundiais podem sair chateados. Depois de perder o fio da meada na abertura, Carlsen complica contra Kramnik, continua enérgico e faz todas as coisas simples bem. Incapaz de encontrar o calcanhar de Aquiles de seu adversário, Kramnik perde o rumo e cai.

Partida 33 V.Kramnik – M.Carlsen Wijk aan Zee, 2008 Abertura Inglesa 1 f3 f6 2 c4 e6 3 9 d1 a6

c3 c5 4 g3 b6 5 g2 b7 6 0-0 e7 7 d4 cxd4 8

xd4 d6

Carlsen configura seus peões de forma ofensiva na terceira fileira, o que caracteriza as Defesas Porco-espinho, e convida as Brancas para virem até ele. As Brancas agora escolhem uma antiga linha que busca trocar o bispo de casa branca e (de preferência) um cavalo, em vez de uma das linhas mais críticas e sangrentas baseadas em sistemas envolvendo um prematuro e4. Dessa forma, as Brancas esperam reduzir o potencial de contrajogo das Pretas e a sua capacidade de defender seus peões d, b e c e sua casa débil, c6. 10 g5 xg2 11 xg2 c6 12 f4 0-0 Muitas das partidas importantes nessa linha datam dos anos de 1970 e 1980, antes de Carlsen nascer, e ela não tem sido muito popular desde então. De fato, após a partida, Carlsen confessou com franqueza que ele não conseguia se

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lembrar de nenhuma teoria detalhada da linha. Então, considerando a teoria, ele já estava sozinho. Felizmente, como essa linha é essencialmente posicional e talvez não o teste mais difícil da Porco-espinho, as Pretas podem jogar sem muita preparação específica. Mas é claro que, para lograr êxito, o defensor deve entender os planos por trás das variantes. A esse respeito, Carlsen prova estar bem preparado e consegue resolver maravilhosamente bem os problemas que surgem. 13 ce4 Não há derrotas rápidas. As Brancas podem trazer bastante pressão para afetar d6, mas as Pretas podem defender o peão ao mesmo tempo em que continuam um desenvolvimento normal. As Pretas têm respostas boas para outros lances também, por exemplo: a) T.Nyback-A.Beliavsky, Liga Alemã, 2004, continuou: 13 b3 b8, com bastante ação para os dois lados, após 14 ge4 d8 15 a3 e8, assim como 16 g5 xg5 17 xg5 b5!. b) I.Ivanov-S.Shipov, Guelph, 2005, seguiu: 13 f3 c7 14 b3 fd8 15 b2 b7 16 e4 xe4 17 xe4 b5!, e as Pretas não tinham por que preocupar-se com suas chances. c) H.Hoeksema-M.Marin, Liga Holandesa, 2007, desenvolveu-se em favor das Pretas, após 13 ge4 e8 14 b3 a7 15 b2 f5! 16 d2 g5 17 f3 e5 18 h5 f6 19 h3?! g5! 20 g1 g4 21 g2 h5 22 ab1 h4 23 e3 h7 24 e2 f7 25 xf6 xf6 26 f4 g5, com bom jogo. 13... e8!

É possível trocar cavalos em e4, mas o lance do texto é temático e mais forte. O recuo do cavalo preto protege d6 e, com ... a7 a seguir, e talvez ... a8, aumenta as chances de obterem bom contrajogo, com três peças menores no tabuleiro, baseado em uma ruptura com ...b5.

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Agora as Brancas têm que voltar-se para a situação de seus cavalos mal posicionados, especialmente o cavalo em g5, que agora não está fazendo nada. Ambos os cavalos podem avançar, com ...h6 e possivelmente ...f5. No entanto, é importante perceber que esse último avanço não pode ser realizado pelas Pretas a menos que elas possam manter ao mesmo tempo uma iniciativa significativa; caso contrário, resultará somente em grande fraqueza. 14 b3 a7 15 b2 d7 Uma partida anterior nessa linha, A.Wojtkiewicz-L.Ftacnik, Budapeste, 1993, continuou: 15...b5 16 f3 a8 17 ac1 h6 18 ed2 d7 19 g1 b7 20 e4 bxc4 21 xc4 c7 22 d3 d5 23 b1 f6, com jogo desequilibrado mas praticamente igual. 16 ac1

16... c7!? Uma partida ainda mais antiga, P.Van der Sterren-S.Kindermann, Munique, 1988, também havia utilizado com sucesso o plano-padrão usado por Ftacnik na anotação anterior, e seguiu: 16... a8 17 g1 b5 18 f3 bxc4 19 xc4 d5 20 c5 d8 21 cc1 f6, com chances para ambos os lados. Carlsen, tendo esquecido a teoria, surge com um plano original. Ele é mais ambicioso do que buscar contrajogo na ala da dama, baseado em ideias ... a8 e ...b5. Tendo jogado o lance do texto, as Pretas meio que precisam prosseguir com uma arriscada avalanche de peões na ala do rei. Carlsen (declarou que) achou que os processos eram reveladores. Em anotações sobre a partida na New in Chess Magazine, ele escreveu que rejeitou 16... a8, com ...b5 em mente, porque ele “não tinha certeza se ...bxc4, bxc4 iria realmente melhorar sua posição”. Mas, após ter sido pego desprotegido, talvez, lá no fundo, sua decisão de jogar o lance do texto foi menos fundamentada em uma avaliação puramente técnica do que em um instinto mais básico de buscar uma luta, na qual ambos os jogadores teriam que lutar com forças iguais. 17 f3 f5

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Seja lá o que estava ou não no nível do subconsciente, Carlsen agora havia chegado à conclusão pragmática e sem dúvida correta de que “ir para ...f5 e ...g5 era só seguir as exigências da posição”. 18 c3 g5 19 d2 Kramnik recua do que parece ser uma captura arriscada de peão. Após 19 e3 g4 20 d2 g5 21 xb6, Carlsen pretendia 21... a8 22 f3 e5 (ou quem sabe 22... b8 23 f2 e5), com boa compensação. 19...g4 20 e1 Nenhum dos participantes gostou da aparência de 20 d4?! g5 21 e3 e5, que deixa o cavalo das Brancas estranhamente inerte em d4, tendo que defender f3 e bloquear qualquer prospecto óbvio de ação na ala da dama ou na coluna d. 20... g5 21 e3 ff7 As Pretas jogam com precisão. Com seu lance anterior, elas forçaram um enfraquecimento significativo da ala do rei das Brancas e das casas centrais brancas. O lance do texto conecta as torres pretas e prepara para levar seu cavalo em c7 de volta para f6, planejando ocupar e4. 22 g1 e8 23 e2 f6 24 f4 e8 25 c3 g7 As Pretas poderiam ter levado seu cavalo para e4 no lance anterior. Mas as Brancas mal podem evitar que ele chegue naquela casa, exceto talvez, trocando seu bispo forte por ele em f6, que parece uma transação bastante duvidosa. Nesse ponto e de cabeça fria, Carlsen acreditava que a posição estava “equilibrada ou talvez ligeiramente melhor para as Brancas”. As Brancas têm pouco espaço para manobrar e vulnerabilidades significativas nas casas brancas, mas Kramnik ainda queria pressionar um pouco mais, e encontra uma possibilidade na ala da dama. 26 b4 e4 27 b3 ge7 28 a4?! Infelizmente, Kramnik calculou mal e foi seduzido de forma fatal pela chance de uma captura duvidosa de peão. O único lance que poderia levar a algum lugar era a sugestão que Nigel Short deu mais tarde 28 h4, e se 28...gxh3 29 xh3 f6 30 xf6 xf6 31 f4 e4 32 f3. As Brancas aliviam um pouco a pressão de suas casas brancas nessa linha, mas ainda é difícil para elas fazerem algum progresso de verdade. Aqui as Pretas também podem pensar em 28... f6.

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28... e5 29 xa6? As Brancas tiveram que recuar, perdendo dois tempos, jogando 29 b3, levando a uma posição que Carlsen avalia como ligeiramente melhor para as Pretas. As Pretas também estão muito melhor após 29 c5? c4!. 29... a7

30

b5 Só agora ficou claro para Kramnik que após 30 xb6? eb7 31 d4 f6 as Pretas ameaçam ... f3+ e ... d7, ganhando material. Kramnik ofereceu um empate, que Carlsen recusou, já que agora ele pode entrar em um final nitidamente vantajoso. 30... xb5 31 cxb5 xa2 32 c8+ f7 33 fd3 As Brancas estão com sérias dificuldades. Seu rei está enterrado na ala do rei, seus peões em b são fracos e suas peças estão totalmente descordenadas. As Pretas têm um domínio perigoso das casas brancas na ala do rei e pressão com potencial de vitória na sétima fileira.

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Os problemas das Brancas continuam após 33 xe5 dxe5 34 fd3 f6, ameaçando ... g5, seguido por ...e4. As Brancas buscam trocar o par de cavalos em e5, mas não resulta em melhora de suas chances. 33... f6 34 xe5+ dxe5 35 c2 ea7 36 g2 g5 37 d6 e4 38 xf6 xf6 39 f1 O crônico problema das Brancas quanto ao mal posicionamento de seu rei mostra-se a fraqueza decisiva. Pode ter havido pequenas melhoras aqui e ali para as Brancas durante os últimos lances, mas é difícil acreditar que alguma delas as salvariam. O rei branco simplesmente não consegue escapar da multidão de peças pretas e também não consegue obter nenhum contrajogo. As Brancas perdem imediatamente após, por exemplo, 39 xb6 a1, seguido por ... f3. 39... a1 40 e2 Depois desse lance, as Brancas já não podem mais defender contra a ameaça das Pretas de dobrarem suas torres na oitava fileira sem perder seus peões em b. Mas, após 40 cd2 b1 41 d1 xb4, e se 42 xb6 b2, as Pretas dobram decididamente as torres na sétima fileira.

40... b1 41 d1 xb4 42 bb1

g2 xb5 43

f4 c5 44 b2 b5 45

f1 ac7 46

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Tudo o que as Pretas precisam fazer é pastorear seu peão b em direção à casa de promoção. Cedo ou tarde, as Brancas terão que capturá-lo, perdendo o domínio de sua primeira e/ou segunda fileira, resultando em ameaças de mate. As torres brancas não podem contar com nenhuma ameaça real contra o peão preto em b, como por exemplo, após 46 g2 c1 47 xc1 xc1 48 xb5 f3 49 e2 e1 50 b2 g5, seguido por ...e5 e o avanço do peão preto em h – Carlsen. 46... b7 47 b4 c4 48 b2 b4 49 db1 f3 50 g2 d7 51 h3

Ou se 51 xb4 xb4 52 xb4 d1 53 e2 e1+ 54 f1 d3+, e vencem. 51...e5 52 e2 d2 53 hxg4 fxg4 54 xd2 xd2 55 b2 f3 56 f1 b3 57 g2 c2 0-1 De acordo com Jan Timman, que escreveu no fim de 2008 para a New in Chess, “Carlsen é um enxadrista impressionantemente completo que joga muitos tipos diferentes de partidas e parece sentir-se em casa em todos eles”. Para mim parece que isso resume claramente a universalidade do estilo classicamente direto de Carlsen. Carlsen é um adversário extremamente difícil de se enfrentar, e que, mesmo se for pêgo de surpresa como na Partida 33, provavelmente irá encontrar maneiras de lutar independentemente das complicações. Em parte, essa universalidade deve se dar pelo fato de que Carlsen foi uma criança da era do computador. Ele absorveu uma grande quantidade de informações de qualidade sobre o xadrez que enxadristas mais velhos não poderiam esperar absorver sem a ajuda, em sua juventude, dos queridos computadores de hoje. Timman coloca assim: “Ele pertence a uma geração diferente... Ele cresceu com o computador, o que significa que ele pode operar de maneira eficiente em todos os tipos de condições e não é prejudicado por antigos preconceitos”. Mantenho, no entanto, o somente “em parte”, porque ainda há grandes enxadristas, como Anand, que conseguiram superar essa desvantagem ao abraçar completamente a era do computador no meio de sua carreira. Como Anand disse, os computadores não ditaram o fim da criatividade no xadrez. Deixando esse ponto de lado, enxadristas extremamente talentosos como Carlsen e Anand ainda jogam de uma maneira que os fazem “diferentes”.

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Em questão de estilo, Timman diz sobre Carlsen: “Penso que ele está no seu melhor em posições técnicas”. Eu concordaria prontamente que essa visão aponta para uma verdade importante sobre Carlsen. Tenho certeza de que Timman esteja se referindo àquela “técnica rara e suprema” identificada por Bronstein e aplicável, em suas melhores partidas, aos nossos cinco grandes heróis clássicos. A técnica de Carlsen chega ao ápice na Partida 34, sua primeira vitória contra Anand em tempo normal. Ele cria uma fraqueza estrutural na posição de Anand logo no início da partida, e a explora constantemente, até um final longo e extremamente disputado. No geral, a técnica de defesa de Anand também é de impressionar, e ele perde uma ou outra chance de salvar a partida. Essa batalha técnica de pesos-pesados, que acaba sendo vencida por Carlsen, não é um sucesso de natureza apenas mecânica, mas de conhecimento profundo, tática excelente, compromisso total e paixão inabalável.

Partida 34 M.Carlsen – V.Anand Linares, 2009 Defesa Semieslava 1 d4 d5 2 c4 c6 3

c3

f6 4 e3 e6 5

f3

bd7 6

c2

d6 7 g4

Esse gambito agudo é uma boa alternativa para entrar nas linhas principais 6 c2 da Anti-Merano. As Brancas fazem uma oferta ousada a fim de ganharem espaço antes que as Pretas tenham tempo de atacar de maneira ousada também, tanto na ala da dama, no estilo Merano, com ...dxc4 seguido por ...b5, quanto no centro, baseado em chegar a ...e5. Aceitar o peão é nitidamente perigoso, mas as Pretas também têm uma série de lances razoáveis para recusar o gambito. Esses incluem a sensata resposta 7...h6, como em A.Morozevich-B.Gelfand, Campeonato da Equipe Russa, 2008, que continuou: 8 h3 dxc4 9 e4 (ou 9 xc4 b5 10 e2 b7 11 e4) 9...e5 10 xc4

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exd4 11 xd4 e5 12 e2 g6 13 e3 f4 14 xf4 xf4 15 0-0-0 a5 16 d2 g5 17 h4 xg4 18 xg4 xg4 19 xc6 bxc6 20 d7+ f8 21 xg4, com chances para ambos os lados. 7... xg4 8 g1 f6 Muitos defensores tendem a não tentar manter o peão extra, para não arriscarem atrasar o desenvolvimento, como em A.Dreev-J.Geller, Sochi, 2004, que continuou: 8... xh2 9 xh2 xh2 10 xg7 f6 11 g2!? d6 12 d2 b6 13 e4 f4 14 cxd5 exd5 15 exd5 xd2+ 16 xd2 b7 17 0-0-0 cxd5 18 e1+ d8 19 g5 c8 20 h3, com bom jogo para as Brancas. 9 xg4 xf3 10 xg7 f6 11 h3 f5!?

Anteriormente, L.Aronian-A.Morozevich, Linares, 2007, havia seguido com 11...h6 (as Brancas talvez possam manter uma pequena vantagem após 11...dxc4, jogando 12 d2) 12 d2 e5 13 g3 h5 14 cxd5 exd4 15 e4 xe4 16 xe4+ e5 17 xe5+ xe5 18 f3 cxd5 19 b5+ e7 20 exd4 d6 21 f1 e6 22 e1 ac8 23 d3 c6 24 f5 b6 25 b3 b4 26 xb4+ xb4 27 xd5 f6 28 d6 e7 29 d5 f6 ½-½. Anand não espera por um aperfeiçoamento de Carlsen, e joga o seu primeiro. Mas permitir que os seus peões centrais sejam dobrados implica alguns riscos. As Pretas esperam que seu centro sólido mostre-se completamente impermeável no final que seguirá. 12 xf5 exf5 13 cxd5 cxd5 14 b5 b4+ 15 d2 xd2+ 16 xd2 e7 17 d3 e6 18 c7 Mas essa tática engenhosa mantém as Brancas com uma pequena vantagem. Com sua torre ainda em g7, as Brancas podem trocar seu cavalo pelo bispo preto, sem deixar que as Pretas ajustem seus peões ao recapturar em e6 com se peão f. Os peões pretos desconectados d e f, permanecem fixos em casas brancas e são alvos em potencial para o excelente bispo das Brancas, que é um pouco mais forte que o cavalo preto posicionado puramente para defesa. O jogo das Pretas pode não estar perdido, mas as Brancas têm alguma coisa. 18... ag8 19 xe6 xe6 20 xg8 xg8

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Carlsen estava com mais receio de 20... xg8, e se 21 c1 g2 22 e2 h2, com ação suficiente contra os peões brancos em h e f para manter a balança equilibrada. Em vez disso, como na partida, as Brancas provavelmente deveriam preferir 21 e2, e se 21... c8 22 f3 c7 23 a4, ou se 21... e4!? 22 c1, ou 21... g2?! 22 f3.

21 e2 e7 22 f3! A posição das Pretas continua um pouco desconfortável. Elas só podem esperar passivamente para ver quão mais as Brancas conseguem aumentar a pressão. De f3, o rei branco cria a possibilidade de f4, atacando o peão f das Pretas. 22... c8

23 a4! Agora o peão a das Brancas dirige-se para a5, ganhando espaço na ala da dama. É útil reprimir os peões a e b das Pretas, fazendo do peão preto em b7 um alvo a longo prazo, negando acesso a b6 à torre preta e negando também uma possível ação contra o peão branco em b. 23... c7 24 a5 h6 25 h4! O peão branco em h apressa-se para h5. De lá, negará ao cavalo preto o acesso a g6, facilitando o trabalho das Brancas de levarem seu rei para f4 sem problemas. Isso também quer dizer que, se as Brancas capturassem o peão preto em

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h6 mais tarde, o peão passado branco que surge em h estaria bastante avançado e potencialmente ameaçador. 25... f6 26 h5

As Brancas fizeram um progresso definitivo e ameaçam f4. As Pretas não podem responder a isso com 26... g5 27 g1+ xh5??, já que isso leva à rede de mate cômica 28 f4 g6+ 29 xf5 h4+ 30 f4 g6+ 31 xg6+ fxg6 32 h1 mate. Anand decide que sua chance agora reside em levar seu cavalo de e7 para d6. 26... c8 27 f4 d6 As Pretas têm que continuar com seu plano. Após 27... e7?! 28 f3, a posição das Brancas melhora, com rupturas e4 perigosas no ar que libertarão o peão branco em d e deixarão o rei preto livre para ser atacado. A partida pode continuar com, por exemplo, 28... c8 29 f1 c7 30 e4 fxe4 31 fxe4 dxe4 32 xe4+ e6 33 b1! f5+ 34 d3 d5 35 a2 d7 36 g1!, e se 36... d6 37 g6+ c7 38 xd5 xd5 39 xh6 xa5 40 f6, com um final ganhador de torre e peão.

28 g1 c8 29 f3 e6?! Com seu cavalo em d6, as Pretas têm mais problemas em defender possíveis rupturas pela torre branca na coluna g. Mas, com o lance do texto, as Pretas deixam a torre branca ter acesso a g7 sem oferecer nenhuma resistência.

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Carlsen sugeriu que 29...a6 pudesse ter sido melhor, continuando a batalha para impedir a torre branca de chegar a g7 ou g8 (com o peão preto em h correndo um sério perigo). As Brancas ainda podem conseguir pressionar após 30 a1 c7 31 a4, e se 31... c1 32 b4 h1 33 b6 e7 34 e5, quando 34...f4 parece perder para 35 exf4 xh5+ 36 f5 f6+ 37 xd5 xf5 38 xb7+ d8 39 xa6. Note, no entanto, que 31 d1 c6! 32 g1 c8! só repete a posição após 29...a6. Se, em vez disso, 29... c4?!, as Brancas podem jogar 30 xf5, seguido por e4-e5+, com ameaças perigosas de ataque. 30 g7 h8 31 c2 Com a torre preta temporariamente forçada a adotar um papel de defesa em h8, o bispo branco agora vai para b3. Isso crava o peão preto em d, aumentando as chances de um e4. 31... c8 32 b3 h8 33 g1 c8 34 g7 h8 35 g2 c8 36 g1 e8!

Os últimos dois lances das Brancas colocaram as Pretas em Zugzwang. As Pretas já não podem evitar e4, e esse é o único lance que as mantém no jogo, além de 36...a6, que leva para exatamente a mesma situação após 37 g7 h8 38 g2 c8 39 g1. Muito pior para as Pretas seria 36... h8?! 37 c1 c8 38 c5!, e se 38... xc5 39 dxc5, seguido por e4. As Brancas têm que evitar a armadilha 37 g8?? f6 38 xc8 xh5 mate, mas, com essa resposta, as Brancas garantem a vantagem. 37 e4 fxe4 38 fxe4 f6 39 e5

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39... e4 As Pretas não podem permitir 39... xh5+? 40 e3, ameaçando 41 d1, assim como a ameaça secundária também forte h1. 40 e3 b6 41 axb6 axb6 42 d3! Vencer ainda está longe de fácil. Esse lance começa uma triangulação engenhosa para perder um lance. As Brancas gostariam de jogar 42 g4, ameaçando xe4, e se 42... g5 43 f4, seguido por f6+, mas 42... c1! defende. Agora o cavalo preto tem que mover-se, ou, se a torre preta mover-se, a torre branca ou se apodera da coluna c ou alcança g8. 42... f2+ 43 e2 e4 44 e3 f6 Ficando rapidamente sem bons lances de defesa, as Pretas tomam outra decisão boa: oferecer um de seus peões em um gambito para obter contrajogo. As Pretas também poderiam ter tentado 44... g5, e se 45 a1 f6, embora a análise post mortem indique que as Brancas provavelmente ainda teriam chances de vencer após 46 exf6 e4 47 a6 xf6 48 xb6+ f5 49 d1. Nessa linha, muito pior para as Pretas é 45... e4?! 46 a6 b8 47 a7 g3 48 d1, com uma vantagem nítida. 45 g6 c1 46 xh6?! Ambos os lados começam a mostrar sinais de fatiga por aqui e cometem algumas imprecisões. De acordo com Carlsen, as Brancas deveriam ter jogado 46 exf6!, e se 46... e1+ 47 d3 xf6 48 xd5+ f5 49 f3, ou se 48... xd5 49 xf6 d1+ 50 c3 xd4 51 xb6, mantendo chances promissoras. 46... h1 47 c2 h3+?

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Como resultado do erro das Brancas, as Pretas poderiam ter salvo o jogo agora, jogando 47... e1+. Carlsen pretendia 48 f3, mas negligenciou 48... f1+ 49 g4 g1+, ou 49 e2 f2+ 50 d1 f1+ e o rei branco não pode escapar de um empate por xeque perpétuo. 48 f4 h4+ 49 f3 d2+ 50 e2? As Brancas colocam a vitória em risco mais uma vez. Carlsen deveria ter jogado 50 g3!, e se 50... xd4 51 xf6+ xe5 52 f5+ e6 53 h6 c4 54 d3 d4 55 h7 xd3+ 56 g4, ou se 54... c8 55 h7 h8 56 g5 e4+ 57 xe4 dxe4 58 h5, vencendo nos dois casos. 50... h2+ 51 d1 c4 52 xf6+ e7 53 g6 d2+ 54 c1 xd4 55 b3 xe5 56 xb6 h4 57 f5 f3?

Anand faz o último erro, aquele que perde a partida. As Pretas ainda poderiam ter salvo o meio-ponto, jogando com firmeza 57... h1+!, e se 58 b2?! c4+! 59 bxc4 xh5, chegando a um empate teórico num final de torre contra torre e bispo. As Pretas também podem lutar após 58 c2 f3 (Carlsen). 58 h6 d4 59 h7! Talvez Anand simplesmente não tenha visto esse lance. Agora ele tem que perder uma qualidade, chegando a uma derrota em um final de jogo teórico de torre e peão contra cavalo e peão.

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59... xf5 60 b8 d4 Ou se 60... xh7 61 b7+ d6 62 xh7. 61 b2 d6 62 h8 xh8 63 xh8 As forças das Pretas estão bem colocadas de uma maneira incomum, então as Brancas ainda têm algum trabalho técnico a fazer. No entanto, não há dúvidas sobre a vitória a longo prazo. As Brancas devem, cedo ou tarde, lograr êxito na separação entre as peças pretas e seu peão, e na captura do mesmo, ao mesmo tempo em que protegem seu próprio peão.

63... c5 64 h5 c6 65 h4 b4 66 a3 d4 67 h5+ d5 68 b2 c6 69 a3 c5 70 h4 O principal problema das Brancas é pensar na melhor maneira de acionar seu peão e levar seu rei para o centro a fim de conectá-lo à sua torre em um ataque final ao peão preto em d. Ainda é possível que as coisas deem errado para as Brancas, por exemplo, depois do impulsivo 70 b4+? c4 71 b5 d3 72 b2 d2 73 c2 c3 74 xd2 xb5, com um jogo teoricamente empatado. 70... b4 71 h8 c6

Agora as Brancas conseguem forçar o rei preto a recuar, avançar seu próprio peão uma casa e levar seu rei em direção ao peão preto, com uma vitória relativamente fácil.

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72 h5+ d6 73 b4 d3 74 h3 e5 75 b3 d2 Ou se 75... d5 76 c3 e4 77 h4+ e3 78 d4, e vencem. 76 c2 c6 77 h4 d5 1-0 Em novembro de 2009, após outro ano bom, Carlsen alcançou um rating maior que 2800 pela primeira vez e o segundo lugar na classificação mundial. Topalov estava em primeiro (com rating 2810), mas Carlsen (com 2801) estava com apenas 9 pontos atrás de Topalov. Anand (2788), Aronian (2786) e Kramnik (2772) ocuparam do terceiro ao quinto lugares, respectivamente. Este salto do número quatro do mundo, no início de 2009, se deu em grande parte ao 1o lugar de Carlsen no Torneio Nanjing Pearl Spring, no outono boreal. Carlsen venceu, em Nanjing, por uma margem extraordinária de 2½ pontos à frente do segundo colocado, Topalov, atingindo um desempenho de rating extraordinariamente alto de 3002. Antes disso naquele ano, ele e Topalov haviam empatado em 1o no MTel Masters, em Sófia. Esses dois certamente têm assunto para tratar. De acordo com Kasparov, entrevistado no meio do ano pelo jornal norueguês VG, Carlsen agora tinha o que era preciso para se tornar o número um do mundo. Kasparov recém havia anunciado que tinha assinado um contrato de um ano de treinamento com Carlsen, e disse: “Com tantas vitórias acontecendo com relativa facilidade para seu talento imenso e espírito combativo, o ingrediente final fundamental, trabalho duro, lhe garantirá seu lugar na história”. Assim, não há como confundir a ambição. Kasparov só compete com Fischer na afirmação de que foi o melhor enxadrista de todos os tempos e que viu praticamente tudo. Espen Agdestein, irmão de Simen, que está ajudando a montar o contrato e a atrair patrocinadores, enfatizou que Kasparov “treinará somente uma pessoa no mundo, e essa pessoa é o Carlsen, porque ele acredita que Carlsen é o jogador com o maior talento”. Bem, se cuidem, Topalov, Anand, Aronian, Kramnik & cia. Ele é dos grandes! Anos interessantes parecem estar por vir no mundo do xadrez. Não será fácil para Carlsen, nem para qualquer outro, conseguir conquistar e manter a posição de número um por muito tempo. Alguma aposta a favor ou contra Carlsen? O estilo clássico completo de Carlsen parece ser bom para enfrentar Topalov. De qualquer forma, ele foi derrotado pelo búlgaro em várias ocasiões nos últimos anos, jogando com as Brancas, incluindo uma vez em Sófia e outra em Nanjing, ambas em 2009. É provável que Topalov seja o maior atacante do mundo, mas enxadristas universais, como Carlsen, muitas vezes lidam bem com a agressividade. Geralmente eles jogam tão bem na defesa quanto no ataque e possuem um potencial perigoso de contrajogo. Talvez em respeito ao grande talento de ataque de Topalov, Carlsen evite as linhas mais agudas da Semieslava na Partida 35, preferindo, em vez disso, seguir um curso posicional mais discreto. Topalov reage bem no início, mas parece incapaz de domesticar seus instintos de ataque o suficiente para maximizar a segurança. Ele

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erra o momento de sua ruptura do centro pela igualdade, cedendo muito espaço para Carlsen, o que aumenta o potencial de manobrabilidade de suas peças. Nessa partida, Topalov fecha os olhos por um segundo e Carlsen o acerta sem misericórdia quando obtém uma vantagem. Mas Carlsen e Kasparov podem ter certeza de que Topalov trabalhará bastante para reparar seu próprio jogo numa tentativa de preservar seu próprio lugar no mundo do xadrez.

Partida 35 M.Carlsen – V.Topalov Sófia, 2009 Defesa Semieslava 1 d4 d5 2 c4 c6 3 f3 f6 4 c3 e6 5 g5 h6 Normalmente as Pretas escolhem esse 5o lance quando desejam jogar a variante moderna 6 h4 dxc4 7 e4 g5 8 g3 b5. Elas devem, no entanto, também estar preparadas para enfrentar a Variante Moscou, após uma troca em f6, como nessa partida. Se as Pretas desejarem jogar as linhas mais antigas e superagudas da Variante Botvinnik, elas podem alcançá-las de forma direta, jogando 5...dxc4, e se 6 e4 b5 7 e5 h6. 6 xf6 xf6 7 e3 d7 8 d3 dxc4 9 xc4 g6 10 0-0 g7 11 e4

Essa é uma posição importante na linha principal. As Brancas têm um pouco mais de espaço; as Pretas têm um jogo sólido e com um bem importante a longo prazo, o par de bispos. Se permitido, as Brancas irão jogar e5, visando restringir ainda mais as Pretas e exercer pressão nas casas pretas. Agora as Pretas podem bloquear esse avanço, jogando 11...e5, ou, como elas jogam na partida, continuar com seu desenvolvimento e permitir o avanço. Finais complexos podem surgir após 11...e5 12 d5 b6 13 b3 g4 14 c1 0-0 15 h3 xf3 16 xf3 xf3 17 gxf3. M.Carlsen-S.Karjakin, Nice (às cegas), 2009,

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havia continuado: 17... fd8 18 fd1 f6 19 dxc6 bxc6 20 xd8+ xd8 21 d1 d6 22 c5 f8 23 f1 h5 24 e3 e7 25 e2 g7 26 c2 h6 27 a5 d7 28 xe5+ d6 29 a5 g7 30 f4 xb2 31 e5+ e7 32 b4, com alguma vantagem. Antes ainda, A.Graf-G.Spiess, Leipzig, 2007, presenciou uma abordagem ligeiramente diferente para as Brancas. Aquela partida seguiu: 13 dxc6 bxc6 14 e2 0-0 15 a4 g4 16 c5 fd8 17 c2 xf3 18 xf3 d4 19 b3 d6 20 a4 ad8 21 a5 d7 22 a4 h5 23 c4 f8 24 d1 xd1+ 25 xd1 d6 26 e2 c8 27 c5 e6 28 xe6 xe6 29 b4, com uma pequena vantagem para as Brancas. 11...0-0 12 e5 e7 13 e2 b5

Topalov tipicamente escolhe um plano ambicioso e vivaz. As Pretas também podem preparar a ala da dama para a ruptura possivelmente bem-sucedida ...c5, de uma forma mais restrita, baseada em planos de ...b6. É claro que é importante que as Pretas desenvolvam suas peças na ala da dama antes de jogarem ...c5; caso contrário, as forças mais bem desenvolvidas das Brancas irão muito provavelmente dominar. O jogo das Pretas logrou êxito em N.Pert-A.Dreev, Gibraltar, 2005, que continuou: 13...b6 14 fe1 a6 15 d3 b7 16 e4 fd8 17 ac1 b5 18 h4 ab8 19 e3 dc8 20 e2 c5 21 xb7 xb7 22 f4 c4 23 d5 exd5 24 xd5 e6 25 cd1 e8 26 f4 f5, quando o peão branco em e5 mostrou-se um alvo e a maioria de peões pretos na ala da dama (3-2) ofereceu bons prospectos de longo prazo, para o final da partida. As Pretas não tinham nada com o que se preocupar em I.Naumkin-N.Vitiugov, Cappelle la Grande, 2008, após 13... b8 14 a4 b6 15 fe1 b7 16 ad1 fd8 17 h4 b4 18 h5 g5 19 e4 b5 20 a2 bxa4 21 b1 e7 22 c2 c5, quando o controle que as Brancas tinham da diagonal b1-h7 mostrou-se insuficiente. No entanto, a partida J.Rowson-P.Schlosser, Liga Francesa, 2006, viu as Brancas vencerem bem após 13...a6 14 d3 b6 15 h4 b7 16 e4 ab8 17 ac1 b5 18 fe1 fc8 19 h5 g5 20 h2 c5 21 xb7 xb7 22 g4 bb8 23 d5 exd5 24 xd5 e6 25 cd1 d8 26 c7 c6 27 xa6 xa6 28 d6 xa2 29 ed1 c4 30 e6 c3 31 xd7 e8 32 exf7+ xf7 33 xf7 xe2 34 dd7 1-0.

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d3

14... b7 Topalov evita o prematuro 14...b4?! 15 a4 c5, que levou a um jogo difícil para as Pretas em A.Graf-M.Kraemer, Liga Alemã, 2006, após 16 ac1 cxd4 17 e4 b8 18 c7 d8 19 fc1 b6 20 xb6 axb6 21 a7 d5 22 cc7 xe4 23 xe4 h8 24 g3 b5 25 xd4! xe5 26 c6 xc7 27 xc7 b6 28 e7+ g7 29 xc8 a6 30 b3 xa2 31 d6 b2 32 c2, e as Brancas venceram. 15 e4 fd8?!

Carlsen não gostou desse lance, pensando que a torre preta deveria ficar em c8. Então talvez as Pretas poderiam melhorar, jogando algo como 15...a6, e se 16 ac1 ab8 17 fd1 (ou 17 fe1) 17... fc8 18 h4 a8, poupando um lance no plano das Pretas. Ainda assim as Pretas deveriam evitar 15... ab8 16 ac1 c5?! 17 xb7 xb7 18 d5!, e se 18...exd5 19 xd5 e6 20 e4, depois do qual as Brancas estão bem. Z.Gyimesi-N.Firman, Miskolc, 2004, continuou: 20... fb8 21 fe1 g5 22 b3 g4 23 h4 xe5 24 f5 f8 25 de7 h5 26 c6 b2 27 xe6 fxe6 28 c2 a8 29 xe6 f6 30 d6 b6 31 e4 e8 32 xe8+ xe8 33 xa7 d4 34 xb5, e as Brancas venceram.

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16 ac1 É claro, não 16 xb5?! xe5!, que é bom para as Pretas. 16... ab8 17 fd1 a6 18 h4

As Brancas planejam h5, enfraquecendo as Pretas nas casas brancas da ala do rei. Essa ideia-padrão enfraquece de forma proveitosa o jogo das Brancas, enquanto elas basicamente esperam as Pretas agirem com ...c5. O desenvolvimento das Pretas ainda não consegue apoiar adequadamente esse lance libertador, e elas estariam perdidas novamente após a linha post mortem 18...c5?! 19 xb7 xb7 20 e4 bb8 21 d5, e se 21...exd5 22 xd5 e6 23 f4 xa2 24 e6 f6 25 xd8+ xd8 26 b7 fxe6 27 e5 f8 28 e1, com um jogo ganhador. 18... a8

19 c2?! As Brancas também precisam de alguns lances de espera de alto nível, mas não é fácil decidir sobre o local correto para suas torres. Após a partida, Carlsen disse que deveria ter simplesmente continuado com 19 h5 g5 20 h2, e se 20...c5 21 xa8 xa8 22 g4, com uma pequena vantagem. Já é um ponto de discussão a dúvida de se a torre do rei branca estaria melhor colocada em e1 ou d1. Em e1, ela dá mais apoio ao peão branco em e5, que pode virar um alvo de ataque. Na posição dada, no entanto, certamente parece

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questionável se dobrar as torres brancas na coluna c beneficia ou não as Brancas. A manobra das Brancas visa impedir ...c5, mas Carlsen deve ter deixado passar o 20o lance das Pretas, incomum e bastante astuto, que fortalece o apoio das Pretas para uma ruptura de peões. 19... dc8 20 dc1 f8!

Esse lance inesperado é uma surpresa para Carlsen. As torres brancas impedem o imediato 20...c5?, que leva a uma terrível cravada na coluna c, após 21 xa8 xa8 22 e4, e se 22...c4 23 b3 b6 24 d6, ganhando um peão. Mas, após o próximo lance do texto, reforçando o apoio a ...c5, Carlsen estava inseguro quanto ao que fazer. A resposta que as Brancas deram não é a melhor. Mas agora é tarde demais para 21 h5?! g5 22 h2 c5!, com um bom jogo para as Pretas. Talvez 21 e3 c5 fosse melhor, com chances para ambos os lados. 21 a4?! c5?! Aparentemente os dois jogadores negligenciaram a melhor resposta das Pretas, 21...b4! 22 b1 c5!, com um jogo excelente. Após 23 xa8 xa8 24 dxc5 xc5 25 bd2 xc2 26 xc2 c8, as Pretas podem até estar um pouquinho melhores, devido ao peões brancos potencialmente fracos em e e a. 22 axb5 cxd4 23 xd4 xe4?

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No calor da hora, Topalov erra feio. Apesar de seu escorregão no lance 21, ele ainda poderia ter garantido chances boas de contrajogo, jogando 23...axb5 24 xa8 xa8, e se 25 f4 d8, devido à posição desprotegida do rei branco e a possíveis recursos, como ... xe5 e ...g5 (Carlsen). Topalov possivelmente não viu ou subestimou o perigo envolvido em permitir que o cavalo branco em d4 chegue a c6. 24 xe4 xc2 25 xc2 axb5 As Pretas já não podem impedir a resposta das Brancas e estão tendo que fazer um grande esforço. As Brancas ganham material após 25... xe5 26 c6 xb5 27 d2 a8 (ou se 27... e8 28 xe5 xe5 29 f6+) 28 e7+ f8 29 xd7, e o mais simples 26 d2 talvez seja ainda melhor (Carlsen). 26 c6 b6 27 f4 As Brancas têm um domínio esmagador. As Pretas não podem trocar o forte cavalo das Brancas em c6 jogando 27... b8, por causa da refutação divertida 28 a7!, seguida por c8. Assim as Pretas tentam expulsar o cavalo de c6 com outros meios, mas isso só deixa as Brancas desenvolverem um ataque esmagador na ala do rei.

27... a8 28 e7+ h7 29 h5! As Brancas alcançaram uma preponderância assustadora de forças na ala do rei, e esse enfraquecimento nas casas brancas na ala do rei é conclusivo. A relativa falta de defensores das Pretas significa que sua posição está pronta para alguns sacrifícios. Por exemplo, após 29... d8 30 hxg6+ fxg6 31 xg6!, e se 31... xg6 32 d3! f7 33 d2 e7 (ou 33... b7? 34 d6+) 34 c5, as Brancas ganham material e permanecem com um ataque forte. 29... a6 30 hxg6+ fxg6

Heróis do xadrez clássico

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31 c7! Com a torre rival na sétima fileira, as Brancas devem ganhar pela força. Após 31... d8, as Brancas jogam 32 d3!, e se 32... xc7 33 g5+ hxg5 (ou 33... h8 34 f7+ h7 35 xg6 mate) 34 xg6+ h8 35 h5+ e dão mate. As Pretas também perdem após 32... xe7 33 xd7 a1+ (ou se 33... f8 34 f6+ h8 35 xg6 e dão mate) 34 f2 h4+ 35 f3, que transpõe de volta para a continuação da partida. 31... a1+ 32 f2?

Mas agora as Brancas dão outra chance para as Pretas. As Brancas deveriam ter jogado 32 h2!, e se 32... d8 33 d3! xe7 34 f6+!, ou se 33... xc7 34 g5+, como na nota anterior. Aparentemente Carlsen havia calculado errado a linha 32... xe5, que na verdade perde por força após 33 f6+ xf6 34 d5+ g7 35 xe5 f8 36 xg7+ xg7 37 f6+ h8 38 b8+. 32... d8? As Brancas têm sorte. Em vez disso, 32... a4 ainda poderia ter causado um pouco de confusão. As Brancas conservam as melhores chances após a resposta forçada 33 c6, mas não há nenhuma linha que leve è vitória imediata. Em vez disso, as Pretas defendem após 33 f6+? xf6 34 exf6 xf4+ 35 g3 xf6.

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d3! E está tudo claro novamente. Nós já vimos a continuação de mate após 33... xc7 34 g5+! na anotação sobre o 31o lance das Brancas. Ter a torre preta em a1 e o rei branco em f2 (em vez de em a6 e g1, respectivamente) não muda o resultado da partida.

33... xe7 34 xd7 As Brancas também podem vencer jogando 34 f6+. 34... h4+ 35 f3 h5+ Ou se 35... h8 36 xg7 xg7 37 f6 a7 38 d8, e dão mate. 36 g3 1-0 As Pretas não têm mais xeques e só podem evitar a ameaça das Brancas 37 f6+ levando seu rei de volta para a primeira fileira e permitindo 37 xg7 xg7 38 d7+ f8 39 f6, ganhando a dama das Pretas ou dando xeque-mate.

Leituras Recomendadas

O xadrez é afortunado por ter um registro tão rico e extraordinariamente diversificado. Eu encorajaria qualquer um que esteja interessado em um dos enxadristas deste livro e nas ideias de desenvolvimento na história do xadrez a ler este livro. Guie-se pelas fontes que cito abaixo, mas não pense que elas abordam exaustivamente o assunto. Elas são simplesmente livros, DVDs, periódicos e fontes online que consultei com mais frequência enquanto escrevia este livro. Agrupei os títulos de acordo com o capítulo para o qual mais contribuíram, com um grupo final de seis livros que passam de uma maneira geral por todos os capítulos.

Livros Capítulo 1, Rubinstein Die Hypermoderne Schachpartie, Savielly Tartakower (Edition Olms, 1981) Masters of the Chess Board, Richard Réti (Batsford, 1993) Modern Ideas in Chess, Richard Réti (Dover, 1971) Rubinstein’s Chess Masterpieces, Hans Kmoch (Dover, 1960) The Four Knights, Jan Pinski (Everyman Chess, 2003) The Life & Games of Akiva Rubinstein, Vol.1, John Donaldson & Nikolay Minev (Russell Enterprises, 2006) Capítulo 2, Smyslov 125 Selected Games, Vassily Smyslov (Cadogan Chess, 1995) My Best Games of Chess 1935-1957, V.V.Smyslov (Routledge & Keegan Paul, 1958) The Battle of Britain, Tony Miles, Craig Pritchett & Nathan Goldberg (Chess Express, 1983)

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The Chess Struggle in Practice, David Bronstein (Batsford, 1980) The World Chess Championship 1948, Harry Golombek (BCM Classic Reprint, 1982) Capítulo 3, Fischer Bobby Fischer goes to War, David Edmonds & John Edinow (Faber & Faber, 2004) Bobby Fischer Rediscovered, Andrew Soltis (Batsford, 2003) Chess Praxis, Aron Nimzovich (Dover, 1962) Das New Yorker Schach Turnier 1927, A.Alekhine (Walter de Gruyter, 1963) Fischer: His Approach to Chess, Elie Agur (Cadogan Chess, 1992) Fischer versus Spassky, Harry Golombek (Barrie & Jenkins, 1973) Hypermodern Chess, Fred Reinfeld (Dover, 1958) My 60 Memorable Games, Bobby Fischer (Simon & Schuster, 1969) My System, Aron Nimzowitsch (Batsford, 1994) Nimzo-Larsen Attack, Byron Jacobs & Jonathan Tait (Everyman Chess, 2001) Russians versus Fischer, Dmitry Plisetsky & Sergei Voronkov (Everyman Chess, 2005) Capítulo 4, Anand My Best Games of Chess, Vishy Anand (Gambit, 1998) Viswanathan Anand: My Career (Vols. 1&2), Viswanathan Anand (ChessBase DVDs, 2008) World Chess Championship 1995: Kasparov vs. Anand, Daniel King (Cadogan Chess, 1995) Capítulo 5, Carlsen Wonder Boy, Simen Agdestein (New in Chess, 2004) Obras Gerais Garry Kasparov on Modern Chess (Parts 1-3), Garry Kasparov (Everyman, 2007-2009) Garry Kasparov on My Great Predecessors (Parts I-V), Garry Kasparov (Everyman, 2003-2006) Lasker’s Manual of Chess, Emanuel Lasker (Dover, 1960) The Best of Chess Life & Review (Vols. 1&2), ed. Bruce Pandolfini (Simon & Schuster, 1988) The Golden Dozen, Irving Chernev (Oxford University Press, 1976) The World’s Greatest Chess Games, Graham Burgess, John Nunn & John Emms (Robinson Publishing, 2004) The Oxford Companion to Chess, D.Hooper & K.Whyld (Oxford University Press, 1984)

Periódicos e Recursos Online Chess, Chess Informant, ChessBase Magazine, Europe Échecs, New in Chess Magazine e Schach Magazin 64, assim como os sites de ChessBase, ChessCafé e The Week in Chess.

Índice de Aberturas

Abertura dos Quatro Cavalos 46 Abertura Inglesa 93, 245, 253 Ataque Nimzowitsch-Larsen 143 Defesa Alekhine 160 Defesa Bogo-Índia 99 Defesa Caro-Kann 188, 227 Defesa Eslava 221 Defesa Francesa 32, 78, 180 Defesa Grünfeld 65, 85, 121 Defesa Índia da Dama 72

Defesa Nimzo-Índia 127 Defesa Semieslava 212, 260, 269 Defesa Semi-Tarrasch 106 Defesa Siciliana 115, 151, 172, 197, 203, 232, 239 Defesa Tarrasch 15, 24, 38 Gambito da Dama 19 Gambito da Dama Recusado 55 Ruy Lopez 134

Índice de Enxadristas

Os números em negrito indicam que o enxadrista jogou com as peças pretas. Anand 172, 180, 188, 197, 203, 212, 221, 260 Aronian 245 Botvinnik 78, 85 Browne 99 Byrne 121 Capablanca 24 Carlsen 227, 232, 239, 245, 253, 260, 269 Cheparinov 232 Ernst 227 Euwe 65 Fischer 115, 121, 127, 134, 143, 151, 160 Karjakin 197 Kasparov 172 Keres 72 Kramnik 212, 253 Liberzon 93 Mecking 143 Miesis 19 Morozevich 203

Petrosian 151 Ponomariov 188 Portisch 127 Ribli 106 Rotlewi 15 Rubinstein 15, 19, 24, 32, 38, 46, 55 Schlechter 32 Shirov 180 Smeets 239 Smyslov 65, 72, 78, 85, 93, 99, 106 Spassky 160 Spielmann 46 Stein 134 Takacs 55 Tal 115 Tarrasch 38 Topalov 269 Wang Yue 221