A Poética Ocidental: Tradição e Inovação [1 ed.] 9723105071, 9789723105070

ensaios. poética e crítica de aristóteles. poética leibniziana. poética românica. poética estrutural.

126 1 11MB

portuguese Pages 339 [172] Year 1990

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Table of contents :
Prefácio
Reflexões preliminares
PARTE 1 — Formação da Tradição
CAPÍTULO I Aristóteles. Poética e Crítica
CAPÍTULO II A Poética Leibniziana: A Suiça, Pais das Maravilhas
CAPÍTULO III A Poética Romântica: O Modelo Morfológico
CAPÍTULO IV O Conceito de Linguagem Poética: Wordsworth, Coleridge, Frege
PARTE 2 — Poética Estrutural
CAPÍTULO V Fontes Francesas da Semântica Poética
CAPÍTULO VI Macroestruturas Narrativas. Relações entre a Poética Alemã e a Poética Russa
CAPÍTULO VII Poética Semiótica: O Projecto da Escola de Praga
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A Poética Ocidental: Tradição e Inovação [1 ed.]
 9723105071, 9789723105070

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Prefácio de !

CARLOS REIS

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Tradução de

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

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Tradição

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A POÉTICA OCIDENTAL



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Lubomir Dolezel

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Tradução do original inglês intitulado:

OCCIDENTAL POETICS. TRADITION AND

PROGRESS

LUBOMÍR DOLEZEL 1990

PREFÁCIO À EDIÇÃO PORTUGUESA

Tal como outros intelectuais do seu país, Lubomir Dolezel, checoslovaco de nascimento (1922), vive fora do seu país desde 1968, quando a chamada “Primavera de Praga” terminou abruptamente em repressão e exílio. Até então, Lubomir Dolezel fora Professor da prestigiada Universidade de Carlos, em Praga, integrado no Depar-

SN

tamento de Linguística Checa; depois disso, fixou-se na Universidade de Toronto, no Departamento de Línguas e Literaturas Eslavas, tendo consagrado a sua docência à Literatura Eslava e à Literatura Comparada. Presentemente, Lubomir Dolezelé Professor “Emeritus” daquela Universidade, no que constitui uma distinção apenas concedida a universitários proeminentes. Desde a sua dissertação de doutoramento, apresentada e defendida em Praga em 1958 e intitulada Estrutura do contexto na moderna ficção checa, a pesquisa e

SSIS

Reservados todos os direitos de acordo com a lei

Edição da

INNNIIIIDA

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Av. de Berna / Lisboa 1990

Bel.

a actividade docente desenvolvidas pelo Doletel referiram-se frequentemente a dois domínios articu, entre si: o estudo da Literatura Cj eo das c

Bra

rias, funções e estruturas da narrati É no que a este último aspecto

ária.

respeito que a obra do Professor Dolezel é sobretudo corffbida, divulgada como tem sido em importantes revistás de Teoria

neass

-

do seu âmbito, como a semântica ficcional, o discurso das personagens, a problemática dos pontos de vista, a teoria dos motivos. Tudo isto e também a sua relação com o legado da chamada Escola de Praga, de cujos “trabalhos Lubomir Dolezel tem sido divulgador no Ocidente.

raro desempenhando também funções de assessoria edi-

tm,

dos: a Semiótica, a Poética e a Estilística, a Sociolinguística e a Psicolinguística, as relações entre a Cibernética ea Linguística, a Narratologia e problemas específicos

pm,

Se este é um domínio crucial da reflexão teórica de

Lubomir Dolezel, outros, directa ou indirectamente relacionados com ele, podem e devem ser aqui menciona-

MR

tam no discurso.

A publicação, em tradução portuguesa, de A Poética Ocidental tem a sua origem remota, pode dizer-se, no contacto pessoal que mantive com o Professor Dolezel na Universidade de Indiana, no Verão de 1985. Para além do conhecimento que de parte de sua obra já possuía, pude então, por assim dizer directamente, apreciar o rigor e a profundidade da sua problematização teórica, evidenciados num inesquecível seminário sobre Semiótica da Ficcionalidade. Mas para além disso, devo dizer também que conheci no Professor Dolezel uma personalidade muito rica e a todos os títulos fascinante, pela sua extensa e diversificada cultura, a que se junta um humor muito fino e um talento de conversador com

-

torial. Para além disso, cumpre mencionar a sua obra Narrative Modes in Czech Literature (Toronto, Toronto University Press, 1973), trabalho fundamental em que Lubomir Dolezel faculta um contributo de relevante importância para a moderna teoria da narrativa, designadamente pelo que diz respeito à fixação e delimitação conceptual do sistema de “pessoas” que intervêm no processo enunciativo, bem como das marcas que projec-

SNANSNANNIINININDISNINAINSNINININIAR

Literária: a já desaparecida PTL A Journal for Theory of Literature and Descriptive Poetics e, além dela, Poetics, Poetics Today, Canadian Review of Comparative Literature/Revue Canadienne de Littérature Comparée, Semiotic Inquiry/ Recherche Sémiotique, Texte e outras mais, em que Lubomir Dolezel tem colaborado, não

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algo de latino e muito de europeu apesar dos longos anos que leva já ausente da Europa. É um pouco da estatura científica de Lubomir Dolezel que a A Poética Ocidental vem confirmar junto do leitor português. Tratando-se, naturalmente, de uma obra de especialista, por certo destinada a um público universitário, A Poética Ocidental analisa e conexiona contributos eventualmente mal conhecidos ainda entre nós: a —

poética de Leibniz, as teorias poéticas de Wordsworsth e Coleridge, as relações entre a poética germânica e a russa, a poética de Mukarovsky e Voditka, etc.; e mal conhecidos também porque, nalguns casos, a proveniência eslava ou germânica desses contributos o dificultava, sobretudo âqueles que habitualmente têm no francês e no inglês idiomas usuais de referência. Deste modo, A Poética Ocidental de Lubomir DoleZel preocupa-se fundamentalmente em demonstrar que a história da Poética ocidental constitui um dominio relativamente desconhecido, naturalmente com excepções como Aristóteles e o Estruturalismo francês; à luz da moderna história da Ciência e das Ideias, o presente trabalho de Lubomir Dolezel procura, com o apoio de autores como

Goethe e Saussure, Jakobson, Propp e Mukarovsky, entre

outros, preencher lacunas ainda em aberto, assim se entendendo melhor os fundamentos e a evolução dessa disci-

plina fundamental dos estudos literários que é a Poética. Razões suficientes para que Seymour Chatman tenha escrito, a propósito desta obra: “Dolezel é particularmente vocacionado para descobrir, em tempos passados, antecedentes de modernos problemas e áreas de conhecimento de teoria literária do século XX. Não conheço nenhum

outro livro que assim tenha traçado a ascendência da poética estruturalista”. Por tudo isso e pelo mais que a leitura desta obra amplamente revelará, a sua publicação pela Fundação Calouste Gulbenkian constitui um acontecimento que cumpre sublinhar de forma bem expressiva. Carlos Reis Julho, 1990

PREFÁCIO

O meu: interesse pelos temas deste livro decorre da minha consciência herdada da minha formação intelectual de que a ligação com a literatura na cultura ocidental, desde a sua origem na Grécia Antiga, seguiu —



duas tradições distintas, paralelas, mas que frequentemente se

chítica X

fogricA

confundem: uma chamada crítica

e a

outra, poética.

FA crítica, um termo de significação plural, usado aqui no sentido de “crítica literária”, é uma actividade axioló-

(

gica e judicativa que integra e reintegra as obras literárias no sistema de uma cultura. A poética é uma actividade

cognitiva que reúne conhecimentos sobre literatura € Os incorpora num quadro de conhecimentos mais vasto adquirido pelas ciências humanas e sociais. Para a crítica a literatura é um objecto de avaliação, para a poética um

| objecto

de conhecimento. Desnecessário será dizer que a crítica literária e a poética se inter-relacionam e bastante frequentemente se entrelaçam; o primeiro capítulo deste livro explora estas conexões e a elas se alude em vários dos outros capítulos. Contudo, o principal objectivo da minha investigação é corrigir a estreita concepção de .

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SASNNNNNNISNSNSINISNSNINSIDIINI

O)

velhas ideias. Nenhum livro por si só é capaz de saciar a sede de conhecimento histórico. Deste se espera que

estudos literários que resulta de um conhecimento demasiado acentuado de uma das tradições em detrimento da outra. A história da crítica ocidental tem sido relativamente bem reconstituída tanto em monografias como em estudos de maior alcance; a história

satisfaça aqueles leitores que desejam adquirir conhecimentos sobre teoria poética através do estudo da sua história. Para alcançar este objectivo procedi a uma cuie profunda análise das fases que considero essenciais na evolução da poética teórica Esta abordagem

dadosa

à excepção da sua origem e dos seus estádios mais recentes é praticamente desconhecida E esta

dental



divisória



lacuna que

procura preencher. Explorações em terreno desconhecido trazem geralmente os dissabores da busca inútil, mas também conduzem a descobertas emocionantes. Um dos resultados positivos deste empreendimento é a afirmação (ou reafirmação) de que à poética é legitimo reclamar para o seu panteão clássicos do pensamento literário tais como Aris-

pôs a descoberto uma, óbvia linha na história da disciplina: de um lado, os estádios anteriores ao séc. XX,

o presente trabalho

foind TRA Bi

cionHt

b ESTRUTURAL

(sce.

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tóteles, Goethe e Coleridge. Torna-se, ao mesmo tempo, manifestamente claro que os padrões do estudo cognitivo da literatura foram estabelecidos por um grupo de

intelectuais despretensiosos, tais como J. J. Breitinger,

Wilhelm von Humboldt, Maurice Grammont, Wilhelm Dibelius, M. A Petrovski, Viktor Zirmunskij e muitos outros. Contudo, a poética moderna também tem as suas “estrelas”; os seus protagonistas Ferdinand de Saussure, Roman Jakobson, Vladimir Propp, Jan Mukat —

-

ovsky são uma plêiade de pensadores brilhantes que influenciaram profundamente não só o pensamento literário do séc. XX mas todas as áreas das ciências huma—

"nas é sociais. O nosso interesse actual pela história pode ser uma

reacção intuitiva a essa característica da nossa cultura abarrotada de informação, que é a tendência para o

NAS ISA

esquecimento. Sem uma perspectiva histórica ninguém consegue discernir o que nesta avalancha de informação é realmente novo € o que é apenas uma nova versão de

Até 995

se formularam os. problemas e as questões da poética e do as tendências estruturais do séc. XX, nas quais se delinearam explícitas e sistemá-

"nos

quais

Aticas

outro,

ticas abordagens

estes problemas. Espero que esta reconstituição do crescimento do conhecimento teórico na poética se revele mais compensadora do que uma prematura e, logo, necessariamente superficial visão geral continua da sua história. De modo a não ultrapassar os limites razoáveis de extensão deste livro, concentrei-me fundamentalmente nos estádios que surgiam no período anterior a 1945. 0) desenvolvimento complexo e aparentemente caótico da

eae

poética no período do após-guerra tem de ser e tem sido considerado separadamente. Indirectamente, este trabalho contribui, de facto, para uma melhor compreensão da poética estruturalista € pós-estruturalista do após-guerra ao lembrar-nos que tanto a história como a doutrina do estruturalismo estarão lastimavelmente incompletas e mutiladas se as restringirmos às suas manifestações mais recentes.

A pesquisa para este trabalho exigiu a leitura de um vasto número de fontes primárias e secundárias em várias línguas. O cunho deste esforço é visível não só no próprio texto mas também nas notas de rodapé que são um suporte necessário das principais teses em discussão.

DA

existentes.

Contraí uma dívida de gratidão para com a ComisToronto pela conces-

são Connaught da Universidade de

são, em 1983/84, de uma Bolsa de Investigação em Humanidades, que tornou possível o início da minha

pesquisa para este trabalho. A minha tarefa foi muito facilitada pelos recursos inesgotáveis do sistema de fun-

cionamento das bibliotecas da Universidade de Toronto, especialmente da Biblioteca Robarts Research; a administração e os bibliotecários da Universidade de Toronto, que patrocinaram e engrandeceram este trabalho, merecem-me uma menção especial. Os meus alunos do curso de pós-graduação de 1985/86 no Centro de Literatura Comparada da Universidade de Toronto merecem a minha

gratidão por uma razão especial: eles provaram, pelo interesse constante e pela participação activa, que as dificeis questões teóricas levantadas pela minha história da poética são acessíveis a alunos de literatura suficientemente motivados. Recebi encorajamento e comentários criticos de vários amigos e colegas que leram total ou parcialmente o meu manuscrito: Vernika Ambros, Mieke Bal, Nancy Rubin, David Savan, Susan Suleiman e Nancy Traill. A eles quero expressar a minha gratidão e apre-

sentar as minhas desculpas pelas muitas falhas que ainda irão encontar neste livro. Colin Dowsett, Laura Wu e Edith Klein proporcionaram-me inestimável assistência técnica. Por fim, devo especial gratidão a Irwin Titunik,

poeticista, os seus conselhos foram-me preciosos. Todos os capítulos, na forma que apresentam, são aqui publicados pela primeira vez; versões prévias e consideravelmente diferentes dos capítulos VI e VII foram publicadas in Stephen Bann, John E. Bowilt, eds., Russim Formalism 1973:73-84 e in Strumenti critici, 1, 1986:5-48, respectivamente. Deixo aos meus leitores a tarefa de julgarem o que neste trabalho se conseguiu e em que é que se falhou. Espero que ele possa servir não só como uma fonte de informação sobre a história da poética mas também como uma introdução a questões actuais de teoria literária. Isso confirmaria a minha crença optimista, ainda que antiquada, de que é estudando o passado que compreendemos melhor. as nossas perplexidades do presente. .

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VOS

da minha responsabilidade; no interesse dá orientação do leitor são dadas referências das traduções inglesas

da Universidade de Michigan, pela sua minuciosa revisão do meu manuscrito; sendo ele próprio um proeminente

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das fontes secundárias contém apenas obras a que fiz referência, mas é suficientemente rica para estimular leituras e estudos adicionais. Todas as traduções dos textos não-ingleses são fundamentalmente

Toronto, Maio de 1987

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A lista bibliográfica

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SIDA IDA SASASINSNISINISISNSDIIINIIIIIDIII

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REFLEXÕES PRELIMINARES

l. A poética estrutural do séc. XX teve origem nas ideias radicais do Formalismo Russo. Como qualquer movimento de vanguarda, o Formalismo definiu os seus pressupostos e postulados em oposição à tradição precedente. Através do tempo em que se foi desenvolvendo, a poética estrutural preservou sempre o seu carácter vanguardista, desafiando a instituição literária e crítica e associando-se intimamente a tendências inovadoras nos

campos da arte, da ciência e do saber de um modo geral. É sinal de maturidade quando uma disciplina ou um sistema de pensamento olha para o seu passado numa atitude positiva. A poética estrutural já atingiu este ponto e começou a descobrir a sua história e préhistória. Digressões pelo passado como as que fizeram Gérard Genette (1976; 1979) e Tzvetan Todorov (1977) são tudo menos viagens sentimentais. Eles propuseram-se descobrir problemas contemporâneos em cenários passados. Reconstituindo a interacção ideológica, os conflitos e problemas existentes no passado, o historiador ajuda-nos a situar as ideias contemporâneas num quadro de referência

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multidimensional, evidenciando assim muitos aspectos

Se encararmos a poética como uma ciência da

outro modo passariam despercebidos. A pesquisa dos ascendentes da poética estrutural e uma reconstituição da sua formação mostra-nos que ela assume uma posição privilegiada, se bem que algo desprotegida, dentro da diversidade do pensamento literário. A concepção superficial que encara a poética estrutural como um ramo elitista ou periférico dos estudos literá-

dessas ideias, que de

tura

é

mas também a inevitável labuta quotidiana corrente”,

a

2. A A história, da poéticaé uma história do pensamento teórico. Como tal, situa-se entre duas disciplinas: a história das ideias e a história da ciência. Espera-se, portanto, que um estudo da evolução da poética constitua um passo importante na compreensão dos problemas essenciais e das relações mútuas entre as duas áreas mencionadas da história do pensamento. A. O. Lovejoy, um pioneiro da história das ideias, parece ter-se alheado das teorias. Na enumeração das áreas existentes na sua disciplina que vão da história da filosofia, passando pela história literária e pela “literatura comparada”, até à vertente histórica da sociologia Lovejoy apenas registou um domínio teórico: a história da teoria económica. —



Nenhuma razão se adianta para esta inclusão privilegiada. Pelo contrário, Lovejoy neutraliza imediatamente este privilégio quando pretende que a história da teoria económica está “tão intimamente ligada” à história económica que as duas se podem agrupar (Lovejoy, 1948: 1 e ss.). É óbvio que Lovejoy se sente pouco à vontade com a história das teorias, 1. e. com a meta-história das ideias.



genuíno inclui não só as revoluções científicas

superada pelo reconhecimento de que o seu sistema teórico é o apogeu e síntese de ideias fulcrais e repetidamente testadas sobre literatura. A poética estrutural é herdeira de uma vasta experiência histórica. rios

litera-

pressuposto que retomarei mais tarde então, naturalmente, procuraremos inserir a sua história na esfera da história da ciência Tal posição pode revelar-se irónica se pensarmos na nossa recente aspiração a uma história dramática das “revoluções científicas” (cf. Kuhn, 1962). Convém lembrar, contudo, que um cenário kuhniano —

À acumulação de

e

raras

da“ciência

saber adquirido através da “ciência cor-

rente” torna necessário um novo paradigma teórico. Nenhum esforço destes precede as tão apregoadas “revoluções” no pensamento literário; elas não são substitutos de paradigmas teóricos, mas sim anúncios de deslocações de poder na instituição cultural.

À TRADIÇÃO

DE Pes QuisA

nossa investigação sugere que a compreensão da

Pta

sioução da Poética

semasos



é possível

se

ce

NO a

não isolarmos as

conceito

jada nãde Tradição depesquisa”: “Uma tradição de pesquisa é um conjunto de pressupostos gerais sobre entidades e processos num determinado campo de pesquisa, e sobre os métodos adequados à investigação de problemas e à construção domínio” (Laudan, 1977: 81). Por outras palavras, uma tradição de pesquisa é a gradual construção dos alicerces teóricos de um domínio específico do estudo empírico. de teorias nesse

Como a própria expressão indica, uma

tradição de

pesquisa tem uma longa história. Através desta história ela envolve-se não só no “debate sobre os seus fundamentos conceptuais” mas também num confronto cons-

tante com outras tradições de pesquisa, incompatíveis ou 2 po

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19

contraditónias. “Qualquer disciplina intelectual, científica ou não-cientifica, tem uma história repleta de tradições de pesquisa: empirismo e nominalismo na Filosofia, voluntarismo e determinismo na Teologia, behaviourismo e freudismo na Psicologia, utilitarismo e intuicionismo na Ética, marxismo e capitalismo na Economia, mecanicismo e vitalismo na Fisiologia” (ib.: 78). E, podemos acrescentar, poética, critica psicanalitica, etc., no estudo da literatura. Foucault tegitimou um acesso à história do pensamento que transcende a consciência dos agentes do pas-

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peooção A Poste fina

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própnio”, ela não pode ser escrita “sem um quadro de referência, um padrão de selecção e avaliação que variará conforme o tempo e a teoria literária vigentes” (Wellek, 1955, 1: 5). 3. O conceito de tradição de pesquisa associado ao historicismo reformado proporciona ao nosso estudo um método de “reconstituição sistêmica”. Não estamos interessados na história de “ideias elementares”* isoladas, nem na busca pedante de “precursores”. De uma reconstituição histórica sistémica, a poética surge como um conjunto

sado. Ele deixou inequivocamente claro que o “inconsciente positivo”é um factor significativo, e talvez decisivo, na construção de um sistema de ideias. Referindo-se especialmente ao período “clássico” da ciência, Foucault notou

elaboradode pressupostos, conceitos e métodos que progressivamente se vai construindo numa sólida abordagem

que o seu 'epistema' “não estava certamente presente na consciência dos cientistas; ou que a sua parte consciente era superficial, limitada e quase fantasista” (Foucalt, 1966: xi). Enquanto Foucault insiste na reconstituição de um período histórico em termos do seu próprio “epistema', tal periodo histórico, paradoxalmente, só é acessível a um observador historicamente distanciado. Uma concepção parecida de história do pensamento é a de Hintikka,

dois pr pressupostos gerais, um ontológico e outro epistemológico: a) a literaturaé a arte da linguagem produzida pela actividade criativa.da poiesis; Cotab)a poética é uma actividade cognitiva que se rege pelos Tequisitos gerais da investigação científica. Esta natureza da poética

que especificou a tarefa da seguinte maneira: “Todas as mais gerais de um pensador mulados de Forma explicita. e

a ser

e

reconstituição histórica da concepçõese pressupostos raramente são por ele forTêm demero ser deduzidos dos

pi

5

pm

indirectos, das suas implicações “conjuntas gre quando articula: nO trasideias” (Hintikka, 1981 a: 13). Não deverá escapar à nossa atenção que estas recen-. tes reformulações de historicismo foram antecipadas nas reflexões de Wellek sobre o método da história da crítica

pr Messias seus puirieçe efeitos crio

sen

literária; enquanto a história tem de ser traçada “em toda a sua complexidade e multiplicidade” e “por direito

à

literatura.

A tradição

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constituída por (RES

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Po

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traduz-se em duas definições lapidares, separadas por décadas mas muito próximas no sentido: “A poética éa se interessa pela poesia enquanto arte” (Zirmunskij, 1928: 17). “A poética é o estudo sistemático da literatura enquanto literatura” (Hrushovski, 1976: Xv). As duas concepções gerais de poética são explicitamente reafirmadas em termos diferentes por todos os representantes proeminentes da poética moderna, incluindo Jakobson, Mukarovsky e Lotman. Enquanto muitos críticos literários

ciência que

* “ideia elementar”, conceito de A. O. Lovejoy, exprime um elemento ideológico permanente e duradouro (numa cultura, tradição, etc.). (N. da T,).

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jcientífica que recuse abordagens deterministas e Tedutoras smtp

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da arie literária defendê-la na práticaacultural, Se a ER da literatura, pode€justificar teoricamente es ificidade literatura for considerada como uma forma de ideologia moral, então, não há necessidade de desenvolver literatura independente da filosofia, da ética ou da ciência política. A conexão lógica entre as duas concepções de poética é corroborada pela explicação dada por um sinologista sobre a ausência de teoria literária na China Antiga: “A teoria literária (...) não chegou a desenvolver-se na China Antiga, porque os conou de

um estudo de

fucionistas

os únicos antigos pensadores chineses que dignaram falar de literatura se recusaram a encará-la como uma entidade autónoma, separada da moral, dos rituais e da política” (Hoizman, 1978: 22).

se





4.

21

A

tema conceptual

e dos seus princípios metodológicos. história da poética, como a história de qualquer disciplina j set eta científica, é, &antes de mais, uma história de hipóteses, de pesrese ieorias, de métodos. m de. observação e análise, de formaNão atingiremos ção e deformação de conceitos, “uma verdadeira compreensão da evolução da poética se não reconstituirmos esta história “imanente”.

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ST

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etc..

resultado principal dameannossa reconstituição é a dese

coberta de modas.de poética, de sistemas conceptuais

Andina:

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emp re

es eia 4 ic] = ade crer to

reconhecimento de que as duas concepções de poética estão logicamente ligadas. Uma ciência da literatura só é ossivel se a literatur como uma activi-

o

contagiosa que destrói a poesia, os poeticistas têm facultado muitas análises perceptivas, subtis e perspicazes, que muito engrandecem a nossa compreensão da poesia e a nossa experência estética O mais importante, contudo, é o

spt -idg

encaram o método científico como uma espécie de doença

cr

20

O inventário dos temas gerais da

poética

é,

até

Êroblemas metodológicos foram criados. para, fazer frente gerais que da tradição. de nas. suas váriasa pesc

Eres de desenvolvimento. Neste processo, constituíram-se vários modos complementares: poética teórico-prática, “universal-particular, exemplificativa-analítica, normativadescritiva, sincrónica-histórica-comparativa, retórica-linguiística-semiótica, etc.. Esta expansão dos sistemas epistémicos da poética associada ao progresso geral do pensamento científico — desloca cada vez mais problemas da investigação literária para a esfera de acção da análise cognitiva. Na continuidade da tradição de pesquisa, os problemas da poética surgem como sucessivos aperfeiçoamentos de um número limitado de themata* fundamentais (no sentido apontado por Holton, 1973). Acompanharemos os themata da poética desde que entraram na sua história e observá-los-emos aquando do seu reaparecimento, significativamente reformulados, enriquecidos e definidos —

certo ponto, determinado pelo contexto cultural, pela atmosfera intelectual de um certo período histórico, pelos

com maior precisão.

etc.. Contudo, sendo uma tradição de pesquisa, a poética não se rege pelo devir acidentado das mudanças culturais. Pelo contrário, a poética cultiva uma continuidade lógica e epistemológica através da constante revisão do seu sis-

a) O primeiro thema fundamental da poética, o conceito de literatura como estrutura,é tão velho como o

seus pressupostos filosóficos, estéticos, científicos,

*

Holton prefere esta forma grega a temas,

thema em vez de tema. (N, da T.).

o mesmo acontecendo com

tar”

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23

1

a

envolvimento do Ocidente com a literatura. À expressão teórica deste conceito o modelo mereológico da poética tem sido fortemente inspirada pela filosofia da ciência. A sua primeira versão, o modelo aristotélico da tragédia (estudado no Capítulo segue os postulados gerais da teoria aristotélica da ciência; o alcance do modelo reduz-se às “essências” universais

que afirmou o papel activo da poiesis como representação. No séc. XVIII a crise da mimesis vulgarizada deu origem à primeira formulação de uma poética não-mimética a poética dos mundos possíveis ima-



ND),



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*



a

dee

VII. O avanço do modelo mereológico de uma fase lógica para uma fase morfológica e desta

tulos V e

É

orgânica, ela apreende a literatura como um sistema específico de significação. Começa, então, a história da versão semiótica do modelo mereológico (ver Capí-



possível da ficcionalidade.

as DENTE

da poética foi dominada pelo modelo orgânico oriundo da filosofia contemporânea das ciências naturais (história natural). A poética morfológica romântica alargou substancialmente o alcance do modelo mereológico: tomou-se possível (como se demonstra no Capítulo Il) representar obras individuais e concretas como estruturas altamente organizadas. No séc. XX as potencialidades da poética morfológica evoluíram para uma narratologia estrutural (Capitulo VN. Entretanto, a poética teórica atingiu uma nova fase no seu desenvolvimento um estádio semiótico; liberta da metáfora

ginários (Capítulo ID). Este estimulo da poética leibniziana foi ignorado durante muito tempo, porque a

poética estrutural aceitou a teoria não-referencial do significado de Frege-Saussure como à base da semântica literária (ver Capítulos IV e V). Enquanto estrutura “auto-referencial”, a literatura não precisa de um “mundo”, real ou imaginário, como universo de discurso. Só a poética contemporânea tem construído uma teoria moderna, não-mimética da relação entre a literatura e o “mundo”; o incidente leibniziano aparece-nos agora como o começo de um trajecto significativo na tradição de pesquisa a poética do mundo

(genéricas) da arte poética. No segundo estádio do seu desenvolvimento, no Romantismo, a mereologia

AR RR

O problema da criatividade poética como thema da fistônia da poética é tão velho como o problema da representação; na verdade, os dois podem considerar-se complementares. No grandioso modelo aristotélico de homem-agente, a actividade poética é o exemplo por excelência da produção (poiesis) (cf. Capítulo D. Durante séculos a visão aristotélica foi anulada pela poética

para uma fase semiológica representa o percurso principal da história da poética.

normativa que submeteu a criatividade à obediência a regras. Na histórica rebelião contras as regras, ocorrda no séc. XVII, a livre imaginação humana foi

b) Desde os seus começos que a poética se tem preocupado com a relação entre arte poética e o “mundo”. A doutrina da mimesis é uma velha formulação deste thema. A concepção platónica de mimesis como imitação foi posta em causa pela reforma aristotélica

proclamada soberana na criatividade artística. A poética romântica ligou inextricavelmente a individualidade

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do poeta e a originalidade do seu trabalho (ver Capítulos IL e ID. No séc. XX, o thema da criatividade poética foi reformulado na teoria semiótica do sujeito

|

25

(apresentada no Capitulo VID; as potencialidades criativas da imaginação humana estão em tensão dialéctica com as condições históricas e as convenções culturais.

filosofia, em ciê macro-ciências modernas, Sendo um estudo científico da literatura, a poética desafia todas as formas de provincianismo cultural e académico. Tanto na estabilidade dos pressupostos gerais como na vitalidade dos modos e themata, a poética revela características de uma tradição de pesquisa firmemente estabelecida mas em constante evolução. Em contraste

d) A relação entre literatura e linguagem é um thema orientador da poética em todos os seus estádios. O constituinte crucial deste thema é o conceito de linguagem poética, criado para captar as oposições formais, semânticas e funcionais entre a poesia e o discurso corrente. Esta matriz contrastiva é o que está por detrás da controvérsia Wordsworth-Coleridge e da filosofia da linguagem de Frege (Capítulo IV) e que reaparece na semântica dupla de Saussure (Capitulo V). Ao sublinhar a especificidade da linguagem poética face à linguagem prática, o Formalismo Russo reteve o thema no centro de interesse da poética moderna. A semiótica da Escola de Praga deu, então, o passo necessário para integrar a linguagem poética no sistema funcional da comunicação humana (Capí-

em

e

com teorizações especulativas sobre literatura, enredadas numa monótona espiral de argumentos repetitivos e incon-

cludentes, A poética comproxou, ao longo da sua história,

-

ja possibilidade an

do crescimento Arg ea controlado do conhecimento sobre literatura. A poética contemporânea no espírito da sua tradição continua a servir como medula cientítica à investigação literária e como fiel protectora da autonomia da arte poética. O

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A tradição de pesquisa da poética ocidental estendepor milénios, ligando a estética aristotélica à semiótica contemporânea da arte poética A sua evolução deve-se a intelectuais oriundos de muitos países e culturas diferentes, desde a Grécia Antiga à Suíça do séc. XVII e à Alemanha do séc. XIX. Com origem na França, Rússia e -se

Checoslováquia, a poética estrutural do séc. XX transformou-

movimento de alcance e cooperação internacionais sem precedentes. A dimensão int tica só tem correspon -se num

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a poética teórica an sidameno opesimentado e adop tado ideias, “modelos, métodose conçeitos. desenvolvidos d na -

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ARISTÓTELES. POÉTICA E CRÍTICA

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A Poética

de Aristóteles tem sido geralmente reconhe-

cida como a pedra basilar da cultura literária ocidental. Depois de mais de dois milénios de pensamento aristotélico,'? novas abordagens desta obra podem ser acolhidas com cepticismo. Contudo, as décadas mais recentes assinalaram um novo estádio no estudo dos escritos de Aristóteles, um estádio no qual a sua obra tem sido reconhecida como uma fonte de inspiração vital para a ciência, a filosofia, a lógica e a estética modernas (cf. Tatarkiewicz, 1961; Veatch, 1974; Bames et al., eds., 1975/79). Neste novo contexto, a Poética, que tão frequentemente tem servido de instrumento para justificar

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Um estudo altamente instrutivo sobre

a investigação aristotélica pré-

-modemna, incluindo o seu ramo arábico, encontra-se em During, 1968.

Como observou Veatch, “a ironia” da presente actualidade de Aristóteles resulta do facto de que “a

própria origem da chamada ciência

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filosofia

modernas [como também da poética moderna] foi, a princípio, associada certamente no pensamento de homens como Galileu e Descartes a um —

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Capítulo



repúdio categórico de Aristóteles” (Veatch, 1974: 4).

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28

conhecimento” (Else, op. cit.: 2). Desde os seus começos que o estudo da literatura se caracteriza por uma ausência de reflexão epistemológica. Consequentemente, os funda-

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ou refutar doutrinas ou práticas poéticas específicas, pode finalmente ser estudada unicamente pelos seus méritos. A publicação de dois excelentes e exaustivos comentá-

29

«adpegão os

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aos leitores menos proficientes na língua grega” 1980: 5).

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nos (Else, 1957; Dupont-Roc, Lallot, 1980) permite agora que um não-lassicista enfrente com alguma segurança esse dificil e parcialmente obscuro texto que é a Poética: “O texto grego da Poética torna-se agora acessível mesmo

(Todorov,

Os estudos de incidência aristotélica têm dedicado muita atenção a conceitos-chave, ainda que isolados, da

Poética, tais como mimesis, mythos, katharsis, etc.. O REconsi e um centro de interesse | sii