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Portuguese Pages [777] Year 2010
G/UL/0 CARLO ARGAN
A ARTE MODERNA NA EUROPA de Hogarth a Picasso Tr.u..lu\"::l.O,noi"S"fX'sf'lcio
LORE:-.rzo .l.tAMMI
CoMPAN�LETRAS
Tirulooriglnal· Do HrJsonb Q PiamO: I'arfe maMr7ul lni!Mt11pQ
Revislo:
DonWia�tw eo,.,s.daeosta
--� 4.- ......... �.,.._.,a,..._,/ GWca.to"'-�-cpoolljc.'1o das Obrw r;nmpletasde ArJPn el.al"JOr-.adu por CunLardi, os c!L-...ios hi.'l· . deven:•m ser reunidn-. por lema em lrês vnlumc.-s de r'IL'iólios (Cidsstco amtddsstco. l"'llJlem eprtrsuasdoe De Hosarrb a Pkasso), enquan1o a� crflil-as de .:u1e conlempor-loe-.a :;erl:Jm �nizada� por data de puhlkaç:lo nos AnaLt E.'l..'i:l sc."RUnc.ia pane Mo fni realiz.:u:b
IÓnl,JS
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Sabemos que a periodização histórica, se não se quiser reduzi-la a mera classificação quase entomológica, há de se colocar como um pro blema crítico: a profissão do historiador consiste justamente em formar séries, ligar ordenadamente (isto é: coerentemente) fatos e coisas, enfilei rar, como num colar de pérolas ou num jogo de paciência,
uma
sucessão
de eventos que, seguindo-se um ao outro nào casualmente, mas por uma [one intencionalidade, produzem
um
sentido. Portanto, para compreen
der o sentido de uma periodização histórica é preciso muitas vezes focar a atenção não no início, mas no que julgamos ser sua conclusão; por exem plo, o que chamamos �Idade Média" nasce, digamos assim, �por subtra ção", como forma vazia encerrada entre dois momento.C3), chega 21
a conclusões que são amiúde de uma tragicidade arrepiante. Uma das vir· tudes do criticismo inglês é justamente ter superado dialeticamente
essa
antítese e ter fundado e legitimado uma forma pictórica que não finca raízes, nem mesmo remotas, na oposição entre real e ideal que a cultura barroca deduzira da
Poélicode Aristóteles.
Como atua, posta em contato com a grande maneira, a verdade pobre e a moral miúda, a crônica rala dos holandeses? O gosto italianizante, como dissemos, era relacionado com conteúdos e pressupostos religiosos que a consciência religiosa inglesa não podia aprovar, mas que a burgue· sia inglesa (como testemunha uma gravurA juvenil de Hogarth satirizando um quadro de William Kenl) nào aceitava nem na versão expui'JCada, leiga e social que derAm deles, em arquitetura, Inigojones e Christopher Wren
e, em pintura, Kent e os retratistas vandyckeanos e fmm:esistas do sér meio de um raciocínio bizarro e confuso, separa o tema da linha serpentina do motivo heroiço que inspirara a Michelangelo a torção ·serpenteada" de suas figuras. E Reynolds, olhando para as grandes composições saçras e mitológicas de Tintoreno, não gastará uma palavrA para a quela drAmática e tempestuosa concepção da "históriaft , mas salientará agudamente a çontraposi\."ão vivís sima de mas.'ias de luz e de sombra coloridas. No entanto, para nào recair no anedotismo superficial do qual eram
�
acusa os os holandeses, era necessário, afinal, repropor o problema dos conteudos e, portanto, retomar, mas também refonnar, o conceito de �his tóriaft que estava à base da ane de tradição cl ássica. Hogarth não se con fonna em ser considerado um bom pintor de gênero ou de çostume; ainda que às vezes experimente com êxito escasso o quadro histórico-religioso à
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italiana, em suas melhores obras consegue conferir a suas representações de costume a envergadurn ampla e trágica
das figurnções históricas. Rey
nolds tem consciência do caráter histórico de seus retrntos. Tumer aspira até transfonnar a paisagem numa pintura de história. Compreende-se. A ane italiana, tal como a descrevem os escritores, em em primeiro lugar um esquema; mas, ao lado desse esquema deduzido dos grandes mestres, amiúde mal conhecidos, havia a realidade viva dos pimores e dos gravu ristas italianos que lr.lbalhavam na Inglaterra: pense-se em Pellegrini, em Canaletto, e m Bartolozzi. Uma pinturn como a de Pellegrini, justamente, que influenciou profundamente Hoganh e Reynolds, conservava muito pouco dos pressupostos ideológicos do classicismo barroco: apenas a liberalidade da feitura, a amplidão da composição, a maneir.t solta e dis cursiva, adequada a uma pintura de ideias.Mas era exatamente o tipo de
eloculío pil.1órica de que precisariam artistas, como os ingleses, que pre tendessem principalmente narrar: de fato, independentemente de seus conteúdos remotos, foi absorvida como eloculío pelos pintores que consi deravam a prosa de Teniers ou dejan Steen muito mesquinha e fofoqueira, incapaz de deduzir dos fatos uma moral que não fosse óbvia e banal como um provérbio. Aliás, foi justamente a inteligência critica dos ingleses a des cobrir que, na ane italiana do século
xvm, m
conteúdos ideológicos do
classicismo barroco já haviam decaído ao nível de convenções temáticas, necessárias para alinhavar e desenvolver cena discurso piaórico, mas da me5ma maneira em que o "libreto� servia parn alinhavar e desenvolver o discurso musical do melodrama.
� preciso lembrar, no entanto, que o espírito inglês nasce com o inte resse pr.itico de dar vida a uma pinturn; e que toda a pintura inglesa do século XVIII é uma união indissolúvel de atividade prática e critica. Toda a cultura do Iluminismo é caracterizada pela postura crítica; e, assim como a critica social leva à ação no terreno social, e a política, à a�"ào política, também a critica artística leva à ação artística. O caráter
ativo, de utilidade imediata para o fazer, já é reconhecido por Hoganh (e, entre os escritores, por Richardson, Wehb e Walpole) e será confinnado solenemente por ReynoldTl· dente à diversidade de caracteres e de casos humanos dos quais é ronnada a sociedade. I! preciso lembrar que a teoria do "sublime� surge quando ,. paisagem clara e aberta do Iluminismo COffiC\."3 a se obscurecer pela tem pe.5t.ade iminente da Revolução Francesa, e se desenvolve jusramente nas anos emque aquele evento, que certamente envolve o destino da humani dade inteita, se cumpre dramaticamence sob os olhos espanudos da lngla tem progressista. Já n:lo (: pos.). e seria pcmanto um ótimo desenhi-.t.a. [ ... ) Esfon:ei-me, portanto, pard me acostumar ao exerdcio de uma esp&ie de mem6ria técnka e, reOetindo mmigo mesmo sobre a.-. panes de que os ohjeto.'> sào compostos, l'Onsegui pl>Ul-'0 a pouco tumhiná-las e reen mntrá-las mmo lápi" >l...l Se es. -.e er..a o procedimento de Hogarth, será preciso renunciar a encontrar na emQ\:ào direta um ponto de partida para sua pintura, tão ani mada e esfuziante de emoções e observações agudíssimas. Nào apenas a composição, mas também as figurns singulares sào reconstruídas mne monic.amente, reativadas, quase diria recuperndas e reutilizadas a panir de um material de arquivo ou de repenório, do qual, aliás, resta o docu mento de papéis recobertos por dezenas de çabe\.-as ou de "caracteres". Trata-se, porém, de identificar o interesse a partir do qual era recuperado ou reativado na memória aquele material já arquivado e classificado por �tipos", ao ponto de poder ser considerndo da mesma ordem das letras do alfabeto. O anista é explícito em suas memórias: "dirigi então meus pensamentos para uma maneirn ainda mais inovadora, isto é, a pintura e a gravura de temas morais modernos, campo ainda nào abordado por . ninguém . . Em 7be análise da Beleza! é ainda mais
analysis ofBeoutyiA
preciso: chega a falar não em história, invenção ou ação, mas em intriga e imbróglio; e declar.l que a "mente ativa quer estar sempre ocupada", per.>eguir um objetivo, seguir um rasto. Toda dificuldade que intervenha parn refrear ou desviar essa çorrida mental, ainda mais se for imprevis-
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ta, salientará e reforçará o prazer da aplicação menlal. Daí a satisfação que sentimos resolvendo charadas, explicando ou elabor2ndo alegorias, seguindo o enredo de uma comédia ou de um romance. Assim, a anima· ção indistinta, o orgasmo ou furo,. indefinido se detennin.am pelo fato de existir na realidade um fio a ser seguido, um imbróglio a ser destrinchado, uma mor.tl a deduzir: esse é o sal da crônica cotidiana, que de ouua fonna seria insípida e desimeressante. A necessidade do �fio" ou do enredo, para que as imagens arquivadas na memória se recomponham e vivam desdobr.mdo a partir da crônica um "tema moral moderno", é a causa do caráter cênico das figurações de Hogarth, que conservam sempre o sabor de uma f"f!Cila a soggello.• �Quis colocar na tela quadros semelhantes às representações teauais"; ·esfor cei-me para tralar meus temas como um autor dramático; meu quadro é meu teatro, os homens e as mulheres, meus alares que, mediante certas ações e gestos, devem realizar uma pantomima". Acrescentaríamos que, pelo distanciamento de uma em�o imediata, Hogarth pode chegar a transfonnar suas personagens em máscaras e suas cenas em alegorias e provérbios, sem prejudicar a verdade da ação - porque a alegoria não abstrai, mas realiza em imagem. Julgamos ter chegado o momento de livr-,u fmalmente Hogarth da qua· lificação de �caricaturista" que, especialmente fora da Inglaterra, encontrou um crédito realmente imerecido. Já Fielding, o escritor mais próximo à pin· rura de Hogarth, o defendera comra essa qualificação incongruente: com efeito, seu desenho não exagern, não carrega, evita até a caracterização. A caricatura isola, congela, aspira a esculpir pennanentemente nos traços do rosto os caracteres morais; implica uma sanção; postula, no (X)IO opos to de seu "feio", um �belo" igualmente absoluto; é o oposto da variedade ou variabilidade. A acentuação de Hogarth nunca é algo que se imprime e deforma, transfonnando o anjo em demônio; é sempre algo que resulta de cira.mslâncias imprevistas de lugar e de tempo, da vicissitude dos papéis, da trama, do jogo mímico; e explora, portanto, não tanto a im.isividade, quanto a rapidez e a volubilidade do signo, a instabilidade da luz, a varia· bilidade infinita da cor. Por isso, nas �pantomimasft de Hogarth nunca M um �rotagonista, com uma ação detenninada, mas sempre uma situação, um JOgo complexo de partes e contrapanes, uma aruação densa e movi· �emada. � da trama, que é realmente intriga e imbróglio. participam com Igual a�tond.ade personagens e objetos, num décortão cemdoe coerente, tão che1o de surpresas e de mecanismos secreto..'>, que juSiifica a estranha
. (") Recl�o a SOfUlelloé um lipo de impmvl$1�0. na commNtadei/Drfe, ha.o;eada num IOI.ctrosum:l.no. 52
e agudlssima observação de Walpole: �soube conferir um sentido e uma expressão literária ao mobiliário�. Ao dizer que a moral de Hogarth é inseparável da crônica e da anedo la, às quais se entrelaça como um fio revelador, e que essa moral se funda exclusivamente no senso comum ao ponto de explorar, como jã fizera Bruegel, o tesouro inesgmável dos ditados e dos provérbios populares, até os lugares...çomuns mais corriqueiros, não significa atribuir a Hogarth o papel de pintor popular. Rejeitando sem exceção os preceituários eSié tico.. que vinham da Itália e da França, Hogarth remonta às fomes mais genuínas da cultura britânica; sua concepção de uma moral revelada e tomada ativa e operante pela obra de arte deve ser certamente relaciona da a determinadas posições do pensamento inglês da segunda metade do século xvu e de começo do XVIII. I! com sua pinrura que essas correntes do pensamento desenham o primeiro esboço de uma estética autônoma, que se desenvolveria até Turner e Ruskin, chegando a fornecer mais de um argumento às teorias da arte mais recemes e persuasivas. O apanhado será necessariamente rápido e incompleto; mas não resta dúvida de que uma primeira e fundamental objeção às teorias classi· cistas é colocada pelo conceito de 0'1JÚCia( wlt) que Hobbes define como �velocidade da imaginação", sucessão rápida de uma ideia à outra, à qual, porém, há de se acrescentar uma �direção constante" rumo a um objetivo determinado. E.'i.sa última condição já a vimos aceita por Hogarth; e é fácil reconduzir a primeira, a da velocidade da imaginação, à observação sobre o automatismo excessivo da cópia ao vivo e a necessidade de recorrer às lembranças, quase sombrAs de imagens que o traçado fluente de uma nar rJ.ç:lo recompõe e reanima. Quase se poderia falar de "duração", de um transcorrer do tempo que toma o lugar da estabilidade do espaço. Locke, por sua vez, estabelece uma distinção nítida entre argúcia e juízo, porque,
se a argúcia coniste em ter nossas ideias imediatamente prontas na memó ria. a exatidão de juízo e a dare7 ..a de f"J.ciocínio consistem em grande pane não haver confusão entre as ideias e em sermos C'apazes de distinguir aJm precisão uma coi.. "'3 da outrd, mesmo quando a diferença entre elas é mímma. em
Com efeito, continua, enquanto a argúcia consiste principalmente na juslapo.iç}o de idei:.l.s e na capacidade de junra r com presleza e v..triedade aquelas entre as quais se encomre aiRuma semelhança ou congruência, para compor assim quadros
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prazerosos e vl'õàes ;�gr.�dheis; o juízo, ao contrário, comi.sl� justalllc'nlc ru� L'llp.aci não con.'>trói uma teoria da arte, mas pretende conduziras jovens em sua formação artística pela experiência da arte do passado. Eles são bastante interessantes, portanto, como exemplos de crilica vohada a fins didáticos. Especialmente importante é a tese (provavelmente formu lada em oposição à orientação de Gainsborough) de que a arte nào é pro
duto de uma inspiração celeste, mas de uma sólida e refletida experiência
cultur.o�l. Para Reynolds, artista que participa intensamente da tendência iluminista da cultura inglesa, a arte é produto da critica, e só pela capacida
de de julgar e escolher os valores mais certos no vasto ãmbito da tradição
é possível chegar a con.'>tituir um "gosto� perfeito e, graças a ele, uma arte plenamente válida. Os discursos lambém se ressentem, em sua sucessao cronológkOr si mesma uma representação, uma espécie de quadro que os an.istas do 87
passado compuseram; por is.'iO, o.o; holand� solo criti_ca� p:w_imitar �le
ralmente, mas Gainsborough também é cnucado por 1m1t.ar gemalmerueo
real. O ponto de partida, então, é a arte que já. pertence à hi.Crata.o;· e o
aproxinur.
por reação, à ret..ratística animada, ·falante", do.o; veneziano." que trabaltu
vam na lnglatena. A influência de Giovanni Antonio Pellegrini .sobre a for· mação de Reynolds é evidente; não é preciso lembrar que a rica e
comple�
lradição da pintura veneziana se trano;fonna, em Pellegrini, numa fónnub de aplicação facílima, numa feitur.1 extremamente Ou ida, no estilo genérico que poderia se chamar �barroco internacional·. Em suma, era uma manei12 de nobre discurso pk1órico, mas sem nenhum problema de fundo.
De 1750 a 1752, na Itália, Reynolds registra suas impressócs. lbfael não o entusiasma, por Michelangelo sente um interesse meramente
lite
rário. A passagem pela Toscana, na viagem de volta, não lhe proporcio
Correggio. mas se exalta apenas na breve estada em Veneza, que vale por si só por todo o resto da viagem, As anotações de seus ndemos venezianm são ao�:Mações de pintor. Por exemplo, a respeito das Bodas de Candde Tinto na emoções. Começa
a
se aquecer na Emília, na presença de
reno, registra apenas os contrastes de l.'or, de tom, de luz e sombra. Essas anotações, que se destinam a fixar uma imagem na memória, não pcxlem ser to�adas por julgamentos críticos; no entanto, é claro que o objeto da descnçã_o e da análise é a imagem direta, o conjunto dos fatores visuais.
Não se mteressa pela composição, pela persfXX1iva, pelos movimenta'i das figuras, e tampouco pelo conteúdo, pela inten.-;idade dramática da �presentação. Ma_is tan.le, reduziria bastante o valor da pintura veneziana.
JUlgando-a essencJalmente decorativa. Sempre reconheceria nos venezia �os, porém, o mérito de dominar perfeitamente a mecânica da pintura.
tbe lan�uage oft�epainler' [a
linguagem do pintor). A análise do qua·
dro de_Tmtoreno, JUstamente, é uma análise da linguagem, da meclniGI
mais secundá
do efe1to. A regra geral dos venezianos "parece ser a de não deixar �o que um quano do quadro na luz, incluindo as fontes de luz
nas; outro quano é totalmente escuro; a metade restante está em meia-
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·linla ou meia sombra�. O quadro, emão, já não é a representação de uma percepção, mas algo que deve ser percebido, uma imagem que se !orna sensível graças a certos valores que correspondem aos valores da percep ção do real apenas por analogia. No enlanlo, a separação de efeilo e ivamenlr. lercdr.a. o ra: mestre é o ju(zo, que pennile escolher, sem ca1r em rontr.JdJ�O. enttt as
que devem ser esrudados sem ser imiLados
mui1as e diferentes percepções de que é rica a ;�nedo pa.'\..'õado. PanM·
, nào é o grandioso, o maravilhoso,
o monumental barroco: é o estilo do equilíbrio e da evidência. Como a harmonia social se realiza quando os interesses individuais se incorporn.m na visão mais ampla do interesse comum, assim, na ane, a hannonia se dá quando o panicular é superado na visào unitária do �gerar. O ponto de vista elevado é a supernçào, não o oposto do senso comum. No plano dos interesses estéticos, a elevação de RL.oynoldo; nào é a antítese do senso comum de Hoganh, e tampouco da falta de senso comum, do entusiasmo brilhante e fervoroso de Gainshorough. O great slyle não ao;pira à univer salidade transcendente do �sublime�. satisfaz-se com o �geral�: o universal é absoluto,
o
�geral� é relaçJo, média. A �média", justamente, é o gosto,
de novo o gosto estético, cuja origem é a mesma do gosto moral: essa é a base do entendimento do anis1a com a sociedade de que faz pane. Sua tarefa é cumprir. com a técnica e a experiência específica de que dispõe, uma fun�:ão tipicamente social. Como pintor, Reynolds fez apenas retratos, com poucas exceções. Hoganh pinlard muitos �temas momis moderno.'>" e apenas de vez em quan
do isolam uma personagem deixando que falasse sozinha: seus retrAtos são
como monólogo..; no contexto de uma c:umédia. GainsOOmugh pintou mui
tos n.'tratos c algumas paisagens e, no fim da vida, la'>limou ter pintado mais
retr.ttos do que paisagens: à força de bust"3r nas pessoas a naturalidade do
sentimenlo, pen:ebeu que sua vocação era fazer o retrato da natureza. Mas Reynold.s, que pintou apenas retrAtos e não se arrependeu disso, estava convencido de que a única grande pintura era a pintura de história. O retrato em. con..o.;iderado um �gênero� tipicamente imitativo. e Reynolds
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era contrário à pinrura fielmente imitativa; poroutro lado, a pintura de fatos históricos (de Benjamin West, por exemplo) nào ia além da ilusuaçào. Tn
ta-se, portanto, de entender como, par-.. Reynolds, o retrato se toma pin!Wõl
de história, deixando de ser um "gênero", porque, na poética fundamenta sua cultura, o "gênero" é a anlílese da �hiSiória".
o great styleé o estilo da
baJTOC3que
pintura de história porque a história remon
ta dos fatos particulares às ideias gerais.
As
ideias gerais sào amplas
e
compreensivas, mas nào indelerminadas: nisso Reynold'i corrige Hoganh,
para o qual a história é o mundo do passado, visão longínqua e indislirua, evocada pela imaginação. Pintor de primeiros planos, de acomectmemos humanos vistos de peno como naturezas-mortas, Hogarth consider.l remo
lo, fantástico e confuso tudo aquilo que não pode alcanli:ar com a màO; lanlo
que não faz distin�:'ào entre imaginação e fantasia. Para Reynoldo;, tal dislin
çà.o é fundamental: na pintura de história os italianos sào melhores que os
franceses JX>rque estes, jogando com a fanta.o;ia, deduzem �a ideia do gJ:J.nde
mais dos romances do que da história" e, dessa forma, '-"3em numa "majes
tade fingida" e numa "falsa magnifkênda" A hislória nào é re:.iilidade arual.
nem fantasia: a analogia enue situações atuais e remotas, de que a mente
reconhece a existência pelo movimento da imaginaç.lo, é a prova de que. para além dos fatos JYAiliculares, há as ideias gerais. Reynoldo; invene o pro
cesso de Hogarth, desce do gerAl ao panicular; aliás, prescinde até das fatos.
que sempre penencem à crônica, para focar o motivo constante. geral, dos
fatos: a pessoa. Os retratos de Reynolds, como obrao; de arte, podem sermais
ou menos felizes; masem todos há a "personagem", e a personagem esboça uma ação, executa um gesto, simbólico ou virtual, que alude vagamenle a algo feito no passado e factível no porvir. O �geral", enlào, é essa açào que não pode ser localizada no espa�"O ou no tempo, essa ambivalênda de fato e alegoria, essa remissão do pan..icular da pessoa ou do fato a uma alegoria
que, ela também, pennanece indeterminada, porque é outro o plano ou a dimensão dao; ideias e dos valores.
Atrás da personagem, porém, hã a pessoa. O retraio �heroico"
de
Reynolds, de certo ponto de vista, é semelhante à paisagem "heroica� de _ Claude Lorram: atrás de cada visla há a mesma lei perspectiva, uma ronna geral � narureza; e, no entanto, cada vista representa um lugar diferente e detenmnado. O que o pintor quer demonstrar é aquela lei ou forma;
mas
ela se dá_apenas na vista individuada e singular, que, de fato, nào é exceção
nem �anant�, mas um dos fenômenos diferenciados em que a constância da le1 se v�"!''-"3 . Por outro lado, a pintura não tem função demonstrativa, mas de sohc1taç:lo psicológica: eformando-o em algo vivo e ativo. Em suma, a cor, nos retratos de Reynolds, é aquilo que numa estátua ou busto é o mánnore ou o bronze: uma matéria que não é apenas um meio e que não pode ser dissimulada, porque o valor ou o conceito está justamente na tran.'>posiçào das aparências tr"mseumes do rosto para aquela matéria nobre e eterna. Na relação entre regra e autonomia expressiva cabe a questão fisio nômica da semelhança. A tr.msposiçào alegórica, o ambiente, o cosrume
(") Sarah SiddorL� ( 17!iS-I831), a maL� famosa atriz uigica inglc:sa d�sua t-poça. 105
constiruem sem dúvida o quadro de uma cultura social, que deixa à pG
soa individual
uma margem bastanle restMia - como aquela, aliis, quel
função social deixa ao indivíduo. Cenamente, é possível
�generalizar" os
1r.1ços rambém, a expressão de um rosto, mas é dificil fazê-lo .sem n:air no esquema de um belo canônico; e isso signilkaMa renunciar de
Ulll:l.
vez à poélica barroca dos "afems� Havia, é verdade:, uma possibilic.l.adedr
comungar com aquela poética e ao mesmo tempo reunir O.'i ideais do belo
e do típico: é a que Reynolds
põe em prática na primeira fase tJe sw ati\i· Dtscursos. com a lese da \'ariedadt
dade e à qual alude indireramente, nos
do belo segundo as classes. Há, pc>nanlo, um periodo em que o pint!J �escolhe" o estilo e, com o esrilo, a borough. já no grande retr.uo de George John Althorp é clara uma retomada vandyckiana, ainda que mais controlada, mais severa do que em Gainsborough; a figura se toma mais
delgada par.� deixar espaço a uma paisagem bem mais arejada e exten sa do que antes. O motivo da figura deslocada do centro, perfilada em posturas que a afinam, deixando espaço para uma paisagem mais vasta
.La, menos cenogr.áfica, toma-se frequente: no reuato de Joanna . e profum
Leigh, de Caroline duquesa de Marlborough, de Caroline Moore, de Fran cis Marsham. A ficção entre os elementos do quadro já nào depende da
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composição dos acessórios cênicos, mas da relação tonal entre as cores
das figur.�s e as do fundo de paisagem, da condição da luz, do movimento concorde das linhas nos tecidos e nas árvores.
t um periodo de pesquisa,
como se o pintor quisesse demonstrar a veracidade de lodas as suas teses
criticas ou, inversamente, a multiplicidade de raízes históricas
das quais
pode surgir uma obra de ane; com efeito, é o momen1o em que Reynolds tenta até estnnurar alguns retratos sobre os esquemas da pintur.a de gênero holandesa (cf. lady Caro/ineSco/1 como "Inverno", ITT7), enquanto,
por
outro lado, experimenta quadros religiosos sem nenhurru11 relaç;lo com o retraw (por exemplo, o Sdo}oào BaNsla de
c. 1776). Mas se, como acre
dito, essa mudança nào tanto de estilo quanto de construçlio da imagem deve ser posta em relação com a presença de Gainsborough, como par.�
demonstrar que também ele, Reynolds, possui a noção da paisagem e do
par.� reais, e não uma dimensão indefinida, uma emanação inefável da naturalidade do retrato �de sentimento�, a diferença mais clara é sempre a mesma: Reynolds a natureza é um espaço certo, medível, cheio de coisas
sentimento expresso na figura.
Entào se detenninam pelo menos três ·maneiras� diferentes e estl'l
nhamente contempor3neas de construir ou �evidenciar� a imagem. Uma
é a Lradicional construção baseada em desenho e cla�scuro, ostensi\õl.·
mente classicista, para não dizer neoclássica, acompanhada por um alego rismo já meramente literário, retórico até incomodar, como no retrato U
aparente
realidade uma espécie de Meufubmo·: voltado à evcx."2.ç.lio de mitolt
palavras arcaicas, para atrihuir ::1 eles um sentido profunda e i� mente "moderno· Quanto aos holandeses, Van de Velde e Cuyp certamente rUo sioo
resultado de um encontro casual. Se lemhr.umos a impaciência � Bbll�
para com a pintura de Remhr.mdt, innlvelmenre confundida C'Of1l a �
n a pintura de gênero, e percebermos que 131 imp:�ciência se fundm
sobre o princípio de que a determinaçào linear fo55e um dos can.ctettS do Msublime· e sobre a consequentc ,.-onvicçào da impo.'ir.'iibilidade de incluir Rembrandt naquela categoria estética , não nos surpreender:i que Tumc1'
desenvolvesse, de sua maneirn, uma tese antirn:mhrandti:lna. Ainda que-. p:>r certo, nlo se pos.-.a afinnar qut.> Turnt."1" visa� a uma deterrniNç)o dos contornos, e que seu u.so da (.'Or pres..wpuses..o;e uma rranu fld("tat.h
vezes, uma escrita até topogr.1rH.."41; é f�cil
penxher, rodavia, queo�
de Tumer é o oposto do de Remhrandt A an�lise de Ruskin, desse poltO
de vista, é incontestável: o colortsmo de Tumer é '"ascendente·, no sentido
em que rende para as gamas luminosas mais ahas, ou sej.a, a resolver tudo em luz; o colorismo de Rembrandt é �descendente�. no sentido em (fJC t�nde p31'3 os tons esa.Jros nt3is profundos e a resolver rudo na�Mas a antí1ese, que Ruskin esquematiza na comparaç.\o entre a tseab NiO de valores dos dois pintores, n.io esú apenas nos meios pictórimas Macklin oo mes· mo período. também com a ideia de ediÇÕl-s ilusnou.las. rocou por sua vez as ilustra�-õcs de obra.� de p:xosl.a. A Milmn Gallery, inicialmente "lra�"Õeli da po:x.-sia de Milton, acabou :o;endo emprct.-ndida o:om Cõipital próprio por Fusdi. que ajm."Sé'ntou em 1799 cen'õl de qu:.trent:l. pinruras sobre o Poroísoperdido de Milton. e tenninou. em 1800, em rr-Jcas..'iO comercilll.
da dél::ad:l de
131
um inventor sinistro ou até satânico de
laJes ojletrOrfigurativoc;, o român Esse contm�porâneo
tico radical que enfureceria o já olímpico Goethe.
de Goya sem dramas polfticos permanece, afinal, calvinista, como permanece, contra a vontade, católico. Não vê os
Goya
monstros na.scerem OO
sono da razão; os monstros, o Diabo, estão muito mais deste lado quedo outro, e é justamente a razão que os gera, os cria no ninho aquecido da
sociedade e dos cosrumes civis, e lhes confere o rosto sedutor da beleza e
da graça, apenas endurecido pelo brilho de olhos cruéis, como nas dial:us de Niklaus Manuel Deutsch.•
Há um ponto na apologia de Michelangelo proferida por Reynolds que Fuseli não subscreveria facilmente: a
ressalva, meramente didátiQ.,
sobre �a fraqueza relativa dos imitadores e seguidores�. Gosr.ava deles, poderiamos apostar, quanto e mais do que do mest:re. A poética de Fuseli está inteirameme sob o signo do maneirismo: Rosso, Pannigianino, Prima·
ticcio, Tibaldi, Cambiaso. Pela primeira vez, ainda que numa interpretação mais desenhada do que escrita, aquele periodo enigmático da história da
ane italiana foi estudado como um fenômeno autônomo e não secundário.
por uma análise interna que busca os moventes e quer en1ender o sentido
de uma laceração do tecido histórico da civilização, da tr.msiçào atormen· tada de uma visão universal do mundo e da contemplaç-Jo de seus gr:m· eles valores para uma inuospeçç-lo incerta e inquieta do ser humano e de seu destino espiritual.
Quando a ane deixou de fazer parte de um sistema
orgânico do saber e teve de resolver sozinha seus problemas, não pôde senâo se debruçar pensativa sobre sua própria hiSiória, não para enconuar
a solução, mas para descobrir o sinal da contradição mesmo onde Ndo
parecia claro como o sol e cena como um dogma. A natureza já nào l1'3 problema, pelo menos para a arte: distante, l-"'nfundia-se com as fábulas e
os mitos. Ela erA, por cena, o terreno de onde todas as palavras humanas retiravam seu étimo conceitual, seu significado originário; mas agora elas eram apenas signos convendonais, pelos quais se manifesrava, quase que por alegorias, a condição atual do homem, que era profundamente des.�
�
melha te de tudo o que existe na natureza _ pelo contrário, era absoluta· mente m�tura.l, anificial, se nào até arhitr.'iria. Dessa contradição entre sig· . no e Sl� icado, sutilmente expo.'ita recentemenle por Brandi, descende
�
a constltl.Uçào da fonna como anomalia perene, sua imediata aheraç.lo no
�
mesmo a o que a realiza, sua posição simultânea em dois niveis paralelos. de � ne1ra que o significado antigo s6 pode ser lido, como em tr.lll.ssíveis, o ascetismo descrente, a lógica invertida, o capricho. Anda-se por um fio estendido sobre o abismo do contr:assenso e da loucurn, com a elegância do passo do malabarista que parece dançar, mas que, na verdade, tenta não cair, morrendo de angústia. Quem qui sesse reagir ao maneirismo deveria em primeiro lugar reconduzir a arte, daquele espaço maravilhosamente estrelar, parn a órbita da gr:avitaçào his tórica: Annibale Carr.�cci lhe devolveria a noção da narureza, da liberdade, da vida; Caravaggio, a noção da realidade, da necessidade, da morte. Se o que se quebra, no maneirismo, é a ideia de classicismo como síntese de história e natureza, agora que os dois termos estão em conuadi ç-Jo, a arte, como operação humana,
só pode se
re-Alizar inteiramente no
âmbito da vida, da sociedade, da civilização. Os sentimentos já não des cendem, pelos temperamentos, da conjun�:ão dos astros, nem promanam par.I os homens dos horizontes luminosos da narureza. Os moventes da ação são ger.�.dos na sociedade, como faíscas do atrito; os atos se cumprem na sociedade; na sociedade, que pode ser ora paral.O, ora inferno, está o resultado deles; e, como nas tragédias antiga.'i, a morte conclui e pacifk"'3 tudo. A Escola de Fontainebleau, que repete estr:anhamente a aventura cortês do gótico internacional e encontra até na Inglaterr.t repercussões não indignas do eufuísmo nos minialUristas de retratos, descobre no ani t"icial a verdadeira autenticidade humana; sentimentos cultivados como flores na estufa, paixões tingidas como a dança finge a ação, religião como sutil comoção da alma, amor como devoção do coração e perve�o gentil dos sentidos e, em cada ato, a dilação do ritmo que prolonga no tempo a duração da imagem que já não 1em espaço.
Essa
é, acredito, a rererência
histórica mais pertinen[e para a pinturA de Fuseli, que foi, no fundo, um místico da con[radição e nunca soube ou nunca quis escolher, não digo entre Deus e o Diabo, mas enue Petrarca e Aretino. Do ponto de vista visual do maneirismo, que ralvez seja o mais correto, Fuseli vê em Shakes peare não o artista que representa o mundo, mas aquele que realiza em sua obrn a existência do mundo.
A:> categorias complementares do Pitoresco 133
e do Sublime resolviam a questão da natureza, pelo que podia imeressar
uma cultura empirista como a inglesa: o Pitoresco é a teoria da naruR:za
variada, sedutora
c
amiga; o Sublime é a teoria da natureza perene, des
medida e inimiga. Mas es.s.a configuração oposta da natureza depende da
postum diferente da alma humana nos polos contr.\rios do prazer e da dor:
o homem comunica à narureza sua moralidade, nào a deduz dela.
Com bem Pape do Sublime. Shakespeare é algo mai�: é o
efeito, o Pitoresco e o Sublime se definem na obra dos poetas, e é conhecida a natureza comum de
é o gênio do PiiOresco; Mil10n,
no.c;...;as
ideias do belo e do bom:
gênio acima de todas as categorias, e seu olhar percorre todo o horizonte da existência, passando num piscar de olhos do trágico ao cômico. Fuscli o representa criança, alimentado pela Tragédia e pela Comédia.
O gênio de Shakespeare é igualmente nobre, mas muito diferente do
de Michelangelo, que liga todos os aspedo.o; do mundo e todos os movi·
mentos da alma humana numa única forma, e os trano;cende todos numa
ideia unive�l. Shakespeare possui o gênio da agilidade, da sutileza, d2
peneuaç-J.o; da nuidez verbal, da mobilidade d.:Js imagens.
o
ob;eto de
sua �exploração" nào é o espaço arquitetônico da criação, mas o labirimo
infinitamente complexo e obscuro da alma humana. o recorrer cego das
causas e dos efeitos, o percurso ora subterrâneo or-.1 descobeno das pai·
xões, o jogo imprevisível da vontade e do acaso, o impulso obstinado das intenções, a combinação bizarra dos fatos. Michelangelo está
só como
o ápice de uma monlanha; Shakespea·
re é o fruto incrivelmente rico de uma escola e, ainda que se sobressaia a todos os outros, as maneiras da escola, os preciosismos do eufuísmo elisabe(3no, as cadências convencionais do teatro de cone pennanecem lào evidentes em sua obra que os exeget.as poderão lenta r o desmembra· menta do
primeiro in-fo/io entre
os contemporâneos: Marlowe,
Peele.
Chapman. Inclusive como pernonalidade histórica, Shakespeare tem algo do elfo, assemelha-se a Puck de Sonho de uma noilede verrlo; existe e não
existe, e é dificil associar um rosto e uma história ao timbre cambiante, do
gmve ao jubiloso, de uma voz que o tempo transmite com ecos infinitos: a
ambiguidade e a ubiquidade dessa figura , que não se materializa e não se
d�ssolve, e é ao mesmo tempo figura de um homem vivo e de uma época d1stame, sào outra razão de seu fascínio. Como anista também sua naru·
reza é com�sta: não é apenas
poeta
e dl'3maturgo, mas também ator;
3
celebmda flu1dez de seus versos denuncia a extemporaneidade da inven çà? cênica e suas �magens reluzentes permanecem, no entanto, ligadas
fis1cameme a u m ntmo de som, gesto e ação.
o maneirismo de Shakes
�re está justamente em ser ator ta mo no papel quanto na cena, e mais ainda em querer sê-lo, porque pensa que o destino do..o; homens é serem
134
alares que improvisam sobre a !rama desenhada por uma mào invisível, a mesma que oulrns vezes embaralha o conlexto todo e o transfonna num novelo confuso de fio..'> coloridos. O ator que atua sobre as mbuas do palco já eslá numa dimensão diferenle, numa peffipectiva que allera sua figura e confere ênfase a seus gestos, ressonâncias inaturais a sua voz - excluído
da nalureza por sua própria artificialidade, eslá só perante a plaleia escu
ra, como o homem de Kierkegaard eslá só perante Deus. Sua existência
autêntica é então o ritual da ficção. Para além da dramalicidade do sujei to, há em Shakespeare uma dramalicidade interior da personagem, do herói-alor: anjocaído,assumiu naTerraumafigurahislórica,individualizou -se, e agora não poderia senão representar a si mesmo, desempenhar seu próprio papel, e nada lhe valeria recorrer às aslúcias mais sutis e aos disfar ces mais esrranhos. Sua ação nasce de um erro que, na raiz, ainda é o erro original, aquele pelo qual o homem é homem e nãoan)o e, como homem, nào pode se esquivar da necessidade de agir. Mas, agora que perdeu seu paraíso naturnl e iniciou seu caminho no mundo �artificial� dos homens, as forças que agem sobre ele e condicio
nam sua ação já não são as leis claras da nalu reza, mas presenças obscuras
sobre e subnalumis. Em
Re; lear, é
Edmund, o filho ilegílimo de Glou
chesrer, quem declama o elogio da natureza, ge�adora de bastardos: o que é justo na lei nalural se toma culpa e vergonha na lei social, da mesma maneir-.1 que a paixão nascida do relacionamento social, quando situada na dimensão da natureza, se !orna loucurn desesper-.1da. Toda a primeira fase da obra de Shakespeare é uma busca nas fontes, de Sêneca a Plauto ao 1ea1ro cortês da segunda metade do século
XVI,
de tipos de comporta
mento humano, e daquelas que Fuseli, referindo-se a Rafael, chamaria de "imagens sociais"; é sobre essa plataforma de ficção literária que colocará os grandes protagonistas, os heróis-alares dos dramas hislóricos. Mas a perspectiva histórica, como as perspectivas palladianas do Tealro Olím pico, falseadas artificiosamente para parecer mais verdadeiras, deforma a imagem e amiúde a duplica: a figura será tanto mais verdadeira quanto mais fingida e construída, porque a ficção lhe reslitui, num outro plano, a ambiguidade, a duplicidade, a pluralidade inquietante de aspectos que sào próprios das pessoas vivas. � o caso de Hamlet, de Bru(o, de lady Macberh, das �almas ancípites que formam o lema principal das lragédias violentas e sombrias da terceira fase shakesperiana, a fase do Shakespeare maior� (Praz). Fuseli também é uma alma ancípile, ligada às personagens de Sha kespeare por uma afinidade eleliva: é um (eólico e um critico que aspira à mais livre arividade criativa, um moderno que culrua o amigo, um mora lista com 0 gosto do pecado, um asceta que prarica os riras da impiedade,
135
um racionalista que cavalga o tigre da lou(."Ura. Inglês por eleiç;l.o e mais
calvinista que purüano, consegue objelivar loda a ambiguidade de um ambienle scxial que, iludindo-se por ler fechado a partida com a meufi.Si
ca, reduziu-se a vener.u, por uma espécie de auloidolatria, seus próprial
arquétipos humanos. Fuseli ilustrara o tralado fisionômico de Lavater e
traduzira e estudara os Aforismos sobre o homem do mesmo autor; desb
outra alma ancípite, oscilanle entre a posilividade do pensamemo ilumi nista e a aspiração ao transcendente, entre antropologia e esc:uología, aprendeu a ler nos caracleres do rosto humano os signos das paixões.
interpretadas justamente como conflito entre vocação espiritual eterrena. entre natureza divina e demoníaca. O rosto é máscara; o �tipo� hurm.noéo herói-ator, o teatro é o lugar mágico onde se revelam os arquêtijX)S huma
nos que, no estrépito do mundo, pa.s..am despercebidos. O tipo é sempre
antigo - aliás, sem tempo-, mas ao se realizar veste tr-.1jes mOOemos: as personagens de Shakespeare desenhadas por Füssli são cobertas por uma
velatura seiscentista, que lhe confere o ar v--.Jgamente equívaicismo: lendo qualquer texto de critica, vemos que se costuma lr.i.lar muito mal esses artiSlas. Deles se diz: sào frios, são intelectuais ou (pior) o contrário, conseguem fazer arte apenas quando ultrapassam a teoria. �
é preciso dizer que a o�ra de arte se impõe nesse mo_r_n_�!]!�como�u ção consciente e racional ---:_:- tanto quanto a ciência. Nunca pensariamos em dizer que Galileu era um bom teórico, mas tinha gênio apenas quando brincava com o lustre da catedral de Pisa.• Qe_ve-.se se_rrt� ane dentro das estruturas rn��tais que a geraram, e nunca .P9.�P•:ev� e parâmeuos de julgamento prer"f!Souopensomento meu/flr�Sf!SrràofJePiermri...V ( cri. �qur ...1 dtgo?àforçaquWl..l soiNJaleabom lnoda, t.alwz PJdosofrida I... V amoAPJti§olltJ. Jllbt:t bd milito tempo! a amo, e multo mais que minha vld4 a amo/(...( em primeiro o lt#uo./ 0 aproc:toeoadmtrol...l".
168
periodo arcaico. Mas a concisão extrema e a mesma remissão à Roma republicana se encontram também nas tragédias de Alfieri. A concisão
nio está apenas na construção das frases, mas até na palavra singular:
Alfieri tende sempre a contrair, usando "p,.ego" e não •pregblera" [reza), "lormr e não "logliermr (tirar-me), e assim por diante. A contração extrema serve num ceno sentido para aumentar o "peso específico" da palavra. O diálogo também é extremamente seco, enxuto, acelerado. É famosa uma passagem de Ftlippo:
RUPPO.Udi.sti? GO.KE2.
Udii.
F. G_
Vedesti? Vtdi
F.
Obmbbiol
G. Dunque il sa.çpello... SormaiconJezzo..
F. G
Etnulto Fillppoéancof'?
F. G_
Pensa. Pensdi.
F.
Mi�ut.•
Onze falas estão contidas em apenas três versos. Lembramos também um verso famoso de Ant�Sona:
CREONJE. Sceglie:Sli? ANTfGDNE. Ho scelto. c. Em on? A Mone. c. l'avn�l... O discurso procede por pontos de interrogação, pontos de excla mação, reticências; é uma troca de falas propositalmente segmentadas e
truncadas. � uma suces..">ào assintática, novíssima na história da linguagem
literária; busca-se uma reforma na estrutura da linguagem antes mesmo do que nos conteúdos lógicos.
Para concluir, o papel de Alfieri foi o de marcar a passagem do sen sualismo iluminista ao idealismo, de lançar uma ponte entre Locke e Kant. David também tem essa função, como a terá Canova. No caso deles, a pon(") "nn...PPo Ouvi.'ile?/ GOMFL Ouvi./ F. VISie?/ G. Vi./ F. Oh. r:liva!l G. Endo a suspeita. ../ F.Ji �cenez:...../ G. E Filippo ainda nk1 foi vingadd/ F. Pensa./ G. PmseiJ F. Segue-me_• ("") "I»>NTE. FB:olhe.scc?/ AN'1"1GoNA. E.';,:ollii./ C. Emon?/ A. Morte./ C. Ter-As."
169
te é lançada para o romantismo. David estabelece entre ane e ideologia a mesma relação que, em tempos passados, existia entre ane e religião. No
entanto, nesse mamemo, a ideologia ainda é um fato para poucos, arisl:o.
LTático-iluminado; só após a Revolução Francesa se tomaria consciência popular. Passemos agora ao estilo dos desenhos de David. Num desenho pre paratório para
Os Hordcios,
ele já isola o momento do juramento,
mas
é singular que esse grupo estilisticamente divirja tanto do outro, o das mulheres. Com efeito, estas são tracejadas à pena, em linhas secas e sul·
cadas, à maneira do desenho inglês (pensemos em Flaxman); como para
solidificar a imagem vaga do antigo que o artista tinha em mente. Os dois grupos, nessa folha, são como dois atos da tragédia: os três heróis sào claramente distintos, o gesto do pai ainda é narrAtivo.
Essa composição. que pre·
enfim, na práxis de Alfieri corresponderia à redação em prosa
cede a versificação. Num outro desenho, para uma das mulheres, vemos uma gráfica completamente dive�: o esboço já está preparado,
graças
ao claro-escuro, para a função colorista que a imagem deverá desempe
nhar na pintura. Nessas duas folhas, em suma, convivem pelo menos três
técnicas (esboço, traçado, claro-escuro), como para demonstrar a dispa.
nibilidade extrema de um pintor como David, que se costuma considerar monocórdio.
A mortedeS6cratesé o quadro que segue OjuramenlodosHorricias.
Surge um tema novo: a arte como filosofia. Nesse caso, é a apologia do estoicismo, isto é, de um pensamento que é ao mesmo tempo cognili\'O e moral. Em cena está a Grécia (o pensamento), distinta de Roma (a ação política).
O tema,
quase alferiano, é a morte de quem não teme a mone.
A composiç;lo é baseada nas ortogonais, eliminando todo plano de esror· ço; o módulo composicional é também um módulo de conten\."ào para as figuras singulares. Como um metrônomo que bate o tempo, David ritma as horizontais e as vertic.:�is: quer alcançar a imperturbabilidade,
ou seja.
o julgamento histórico, mas isso nào quer dizer que o sentimento seja eli·
minado. Sem dúvida, o pintor deve a alguém essa medida moral. Estamn'i no interior de um etlldoOO antigo de Canova não tem nada a ver com Winckelmann, e porque ele nào foi desviado pelo gosto neoclássico, mas ele próprio, em grande parte. o fonnou e dirigiu. Um anisla engajado e consciente como Canova deve ser discutido a partir das obras que licenciou como definilivas, e não pelos estudos preparalórios; e estes, certamente de grnnde interesse e de altís.si· ma qualidade, devem ser examinados em relação e não porcomradiçãoiks obrns. Se a modelagem do esl:�:o é impulsiva, quebrada, quase violent�
no."> contrastes de luz e sombra, e a escultura é perfeitamente polida, com um claro-escuro finamen[e grnduado, é claro que o artista nào se propôs realizar, mas supernr e transfigurar na esrulturn a qualidade plástic:a do esboço. Se o esboço oferece uma imagem de grnnde inren.'iidade visual. o que o artisra quer superar e lransfigurar, porém sem dis.icismo não é o de Escapas (ou de Michelangelo), mas a "bela na1ureza" e a �verdadeira carne" de Fídias e Praxíteles, o amor "natural" pagão que, ao se sublimar, evolui no amor "ideal" cristão("Amorcbe nudo in Grecta e nudo in Roma/ D'un velo candidi.ssimo adornando/ Rendea 11elgremboa Venere celeste' [Amor, que nu na Grécia e nu em Roma/ dum véu hranquíssimo adornado/ devolvia ao colo da Vênus celeste) diria, a respeilo de Pelrarca, Foscolo, o par.alelo literário de Canova). Mas, enlre a "verdadeira carne" de Fídias e o "verdadeiro espíriro" cristão há uma
renúncia, uma separação: a morte. O maior Canova é, como o maior Fos colo, o dos �sepulcrosn (o monumenlo a Maria CriSiina é inaugurado em 1805, os Sepulcros de Foscolo são publicados em 1807). No monumento de Viena, o símbolo da morte e do túmulo é a pirâmide (as descobertas de Champollion marcaram havia pouco o início da arqueologia do Egi1 79
f'IR
to antigo); e a composição assimétrica, de ritmo grave e pausado, é 1oda um lento, melancólico avançar para o limiar escuro da mone: primeiro
as crianças, as mulheres jovens, porque a mone ama a juventude
eo
belo, por úhimo o velho que a invocou inutilmente (o "mendigo ctgo"
de Foscolo). O classicismo idealista de Canova não é nada mais que� movimento da realidade para o nível do símbolo,
essa
inclusão da ideil
de mone na da vida; e o próprio clássico o fascina porque está mono, e a
mesma violência das paixões que o fizeram dramático, enquanto história
(a Antiguidade como dramaticidade: uma ideia cuhivada por Fuseli), ji
se aplacou na "distância certa� que permite vê·las com clareza absoluta
Esse é também o aspecto já quase romântico de Canova: que o afasu un
to mais de David, quanto o aproxima de oulro pintor francês, lngres. que justamente naqueles anos, entre
1806 e 1810, estava fonnando em Roma
sua cuhura clássica, não sem influência profunda de Canova.
119681
180
O NEOCIÁSSJCO
O períoclo chamado neoclássico se apresenta como uma fase com
plerameme nova, estruturalmente diferente de todas as anteriores na his
tória da ane.
Mudam as premissas, mudam os procedimentos, muda a finalidade da operação artística; sobretudo, muda o tipo de relação entre a ane, como disciplina dentilkamente fundada, e as oulr3s disciplinas que conslituem o
sisl:ema cultural das últimas décadas do século XVIII e das primeiras do XIX. De um ponto de vista geográfico, a área de expansão do neoclássico é a área inteira da culturn. ocidental, ou seja, a Europa e os Estados Unidos da América. O princípio unificador é, evidentemente, a cultura iluminis ra, cujo fundamento científico exclui toda diversidade de car.iter ou de orienraçào devido a tJadições locais ou a confissões religiosas. A verdade ncional, matemática é, evidentememe, a mesma parn todos. A unificação da base cultural não implica uma identidade de fenô menos em todos os pontos da área: de fato, se as premissas são comuns, os fenômenos artísticos do periodo neoclássico sào claramente diferen· dados segundo os tempos e os lugares. Isso não depende, no entanto, da persislência de tradições locais, mas da tendência a responder mediante a obl'3 de ane a exigências diferentes, das quais é fácil reconhecer o caráter prãtico e contingente. As diferenças específicas no âmbito das premissas gel'3is comuns põem logo em destaque um aspecto fundamental da ane neoclássica. A racionalidade é uma, mas é regra de vida e não pura facul· d.ade intelectiva; por ser regra de vida, adere a cada dia e em cada lugar às e: próprin"> leóricos ingleses que chamam o neogótico de GoJblc revivalnão chamam o neoclás.o;ico de C/as sic revivai, porque o neoclássico não é período de restauração, mas, esteja ou não relacionado com a Revolução Francesa, é sempre um período de lran.sformaçào, ou de revolução.
Ainda que o tipo seja deduzido da história, não deve ser considern do uma média estatística, mas resultado de um procedimento crítico ou ralional. Há, portanto, algo que está além do tipo e que é comum a lodas as tipologias possíveis, e é naturalmente o processo crítico ou racional que conduz à esquemalizaçào da fenomenologia numa tipologia. O tipo, então, nào prelende ser uma prescrição iconográfica: não é lipo a colu na, o friso, o tímpano; mas é tipo a coluna, o friso e o límpano reduzidos
à fonna geométrica. A possibilidade de redução de uma estnuura ou de uma figura a um esquema geométrico é a verificação certa da racionali
dade do processo crítico com que se chegou a fixar o tipo. O processo de
geomelrizaçào não é tão evidente em Canova ou em David quanto em Thorvaldsen. e ainda antes em Carslens, Barry, Abildgaard, Blake. Domi na as hipóteses arquitetônicas de Boullée e Ledoux e, em geral, daquela
geração de arquitetos nascidos por volta de 1730, que Kaufmann definiu -arquilelos da revolução�. Obviamente, as formas geométricas são sim
bólicas de estruturas racionais; por isso,
se,
realizado o processo de deli
milaç:lo e determinação do tipo, passarmos a verificar a conformidade do tipo a uma forma geométrica, obteremos a prova dos nove da perfeita
racionalidade do processo, e o tipo identificado será um símOOlo racional puro, um símbolo da razão.
Pode-se vercom clareza o que propriamenle significa o tipo em arqui-
187
tetura na teorização-projeção de Boullée e Ledoux, que é uma teori.zlçio -projeçào justamente porque, sobre a base do novo r.�cionalismo q�.�t deve se engajar na existência prático-social, não é possivel ronsl.ituir uma teoria que não seja também projeto. A Sumo leoiÕIJico de Sào Tonús fu��o
dou a cultura ocidental sobre a autoridade do pensamento clássico e da
l pédiacontesta a autoridade do passado e funda revolução cristã; a Encic o
a cultura moderna; a ane neoclássica, arte do projeto, é a .ane da Er�cic/o.
pédia.
Par.� Boullée e Ledoux o objetivo da pesquisa é a cidade, como local
e instrumento operativo de uma sociedade cuja estrutura - repare·se
já não é a hierarquia tradicional das classes, mas a orsanicidade de u10:1 função industrial. Mas a função não é consider.lda, como é coru;identb
hoje pelo pragmatismo urbanístico de nosso século, por seu mecanicismo
utilitário, mas como princípio racional de coordenação de atividades� tintas. Ou seja, pane-se do pensamento de que qualquer atividade resul13 de diversas atividades coordenadas, cada uma tendo uma metodol�
própria, mas todas relacionáveis a uma metodologia de base que reúne e coordena as metodologias paniculares das disciplinas singulares.
J:: claro que uma cidade imaginada como a cidade de Boullée oo de
Ledoux é uma cidade nova, não pode ter um passado; tampouco é Wll3
cidade ideal e utópica como a que imaginavam os arquitetos do Renasci·
menta, e que se apresentava como um organismo espacial unilirio com
evidentes estruturas perspectivas. A cidade é um conjunto de edifkios típicos, cada um com sua função bem detenninada: a quantidade e a dis
tribuição são relativas às exigências funcionais. Não devemos crer que�
quantidade, a qualidade, a distribuição dos tipos seja determinada por mera necessidade prática; a economia também vale enquanto se enqu.adrl
num esquema racional, assim como a r.acionalidade vale enquanto condi· ciona e dá fonna à práti no mesmo problema? Seria possível evitar as implicações místicas do símbolo?Já dis semos que a ronna não significa a função como tal, mas a racionalidade da função no sistema racional da sociedade. Quando Ledoux estuda os edifícios para La Chaux-de-Fonds, nào faz a (ábrica para a decantação da como fariam os arquitetos industriais de fins do século XJX em Alema nha, Poelzig ou Behrens-estudando a estrutura da (ábrica em relação às necessidades de rabricaçào, como se fosse uma grande máquina. Ledoux faz o edifício de fanna que essa opernçào se enquadre num sislema racio nal de operações que, por sua vez, se enquadra num sistema racional de produção que é a produtividade em geral, a qual, ainda, se enquadra num sisl:ema mais amplo de relações: a alividade do homem numa soc-iedade organizada ou "'política�. � indispensável, emào, que, para trazer à tona não aconformidade à necessidade mecânica, mas a racionalidade intrfnse ca da runçào, toda fonna funcional seja levada à qualidade na ronna geo métrica. Além disso, como toda função está sempre coordenada a outras e ela mesma resulta de um conjunto de funções menores coordenadas, a
l
sal
189
forma típica é sempre uma forma resolutiva de várias funções; jl1Sl3men. te ao responder contempor.meamente a várias funçóes e ao signillc:í-las simultaneamente, realiza-se a dialética, ou o movimento processual.qur é o ilerou o método de todo projeto.
Vê-se claramente em Boullée quantos e quais conceitos, todos rela
tivos à suprema ordem racional que se prelende dar à sociedade, concor rem para determinar, por exemplo, a forma do palácio do Municípiooo do palácio de Justi�-a; mas, se a forma em que devem ser expressos todos aqueles conceitos (por exemplo, para o palácio deJustiça, ode severida� e clemência etc.) deve ser uma forma única, em.ào nào signiflcará os COfl·
ceitos singulares, mas o princípio radonal que os í:oordena; aquele, px
exemplo, pelo qual a justiça não é apenas severd, nem apenas demente. mas ao mesmo tempo (e segundo a razão) severa e demente.
Não deveremos nos surpreender, portanto, se descobrinnos que a
mesma forma racional aparece em projetos de edifícios que têm desti·
m o
nações práticas completamente diferentes: é típico, por exe pl , que FI&.
FIIJ.
I7
a mesma forma esférica seja escolhida por Boullée para o cenOláfio de
JH
Newton, e por Ledoux, poucos anos mais tarde, pam a casa dos guardas
campestres. Busquemos a razão da analogia: é claro que, no cenotáliode
mpo. à uni·
Newton, a forma esférica alude ao universo e, ao mesmo te
versalidade do pensamento científico de Newton; na casa para os gwr·
das campestres de l.edoux, por outro lado, a forma esférica corresponde
c uolar os
à ideia de que uma forma giratória é a mais adequada para on campos até o horizonte.
Há, piVid é muito prón ma à de Lessing (relacionada, de resto, à de Diderot), e Urnâioisa é o be� nas aJtes da visão; outra, na poesia. Na retratística, tanlbéffi, o belo �o e harmonia e ��������-!_ e��t!dão de_visà�� �e registrO. . - De retomo a Paris no veràÕ de 1786: c:juatro anos mais [arde voltOU� Roma - cidade que parece nunca ter apreciado, masqueer.� a fonte de SU'l _ moral energ1a - para a execução d ojuramen/o dos Horácios. O quadro devia ser a imagem do trágico em absoluto, como dever moral, sem a pierções, não existem na natureza. Como as proporções e a perspectiva, as cores podem muito bem ser categorias formais que a mente elabora para tomar a visão do mundo , uma força e uma resistência, uma ação e uma paixão, um avançar e um retroceder, uma violência, uma moderaç-Jo. um masculino, um feminino. Daí nast.-eu uma linguagem, um simbolismo possível de ser aplicado em caso.'> semelhantes� .•• A nature7 .a, portanto, é o domínio do justo meio, do equilíbrio proporcional, da relação graduada de qualidade e quantidade. Mas qualidade e quantidade são conceilos enlre os quais é pos.'>ível uma relação dialélica: mais exatamente, são os conceitos que pennitem organi zar em relações ordenadas e harmônicas um cosmo que nos abrange, mas cuja exisrência fenomênica existe apenas a partir dos momentos em que, ao formular esses conceitos de qualidade e quantidade, a mente fonnu lou as coordenadas nas quais os movimenlos indistinlos podem se tomar fenômenos claros e distintos.
A.ionis tas teriam encontrado seu fundamento teórico no gênio de Goethe, e nào no modesto experimentalismo de Chcvreul (mas talvez os impressionislas precisassem justamente de não o encontrAr no campo do idealismo ou gra ças a golpes de gênio). As cores tomam bela e sugestiva a narureza, são a fonte do prazer estético: �as pes.'ioas em gerJ.I sentem grande prazer com a cor. O olho neces.sregr.u.la, foi enviado a uma viagem ao Oriente, até a (nc.Jia (viagem que t:ambt!m exerceu uma for te innuênda sobre sua poéti ca justamente pelo exotismo romântico - que observamos tant:.�s vezes em Dclaçmix). Vohando a P:.aris em 1842, para se tomar autônomo c.le seus pais (que o privaro�m da faculc.l.ac.le c.le dispor dos bens familiares), come çou a se dedicar à atividade de critic..u c.le arte para os jornais. Is so é imponante, porque a atividade de critica figu rativa de Dau c.lelaire prcc..·ede sua atividaU.c rx>ét ica : Asflores do mal, por exemplo, remomam a 1857. A atividade critica de Baudela ire c�-a ern 1845 com o primeiro Sal;lo que resenha, e continua .até 1861, pr.utcament�. emborn os úhimos enO significa que a profis.'iào "du peintre Ido pintor! já é completamente separada da sociedade (as tarefas que tradicionalmente o (") 0Jic tc:m aqui u sc:ntic.lu Uc: 3Jira�vt:l, gradoso.
Ue ou
lugar-r is so há de ser pelo mcno.'i tão livre, quanto não é livre, ao contrário, a atividade do pensamento rncional, a atividade da prática. Então, se a imaginação e a ane desempenham a tarefa de elemento de fennemaçào da sociedade, aquele que permite ao burguês inteligenlc, ao burguês que possui, como diz Baudelaire, "lesavoiret lapropriété" lo
saher c a propriedade] de se situar num plano de supremacia em relaç:lo ao burguês médio e pequeno, a crítica não pode ser um mero elemento de julgamento. Nem sequer continua atual e válido o tipo de critica que se
determinara pelo pensamento iluminista no dt.--correr do século
X\111,
ou seja, a critica sobre a qualidade inlrinsa·a da obra, sobre a rorret,:ào do procedimento anístico. A critica há de ser uma atividade simultânea, absolutamente emrelaçada çom a da ane e, sobretudo, há de ser, como a atividade artística, panicipa> rumo ao simbolismo -, uma sensualidade refinada, até mórbida, que o !orna aceito pelos poi!tes corrompus (poelas corruptos] (e a observa�j..-.10 é muito significativa, porque feila justamente por um poeta corrompu); suas obms são o �resuhado de uma atenção excessiva� e exigem uma atenção igual para serem compreendidas: �Filhas da dor, geram dor�. Com efeito, enquamo Delacroix - emborJ. mais dr.lmático e às vezes alé capaz de um ímpelo mígico - nos arr.1sta com uma impetuosidade, um Srreben, uma tensão dramática, que evidenlememe são vitais, enquanto por trás das matanças sangrentas de Delacroix sempre se encontra a vida, por tr.ís das belíssimas mulheres de logres sempre há a morte (e isso Baudelaire. de cena maneira, o percebeu). llaudelaire define dois outros conceitos interessantes, que poderia· mos chamar antiarte: se a arte é uma atividade que se empreende por contradição, à contracorrente. que se empreende para afinnar nossa pró . pria excepcionalidade, e se es.o.;a já se tornou a única maneir-.1 par3 afirmar no.'i.Sa individualidade, cnlào do outro lado encontra-se o que para Baude laire é a -falsa arte", que na realidade nes se momento se configura como o outro polo, o de que ninguém fala, mas que existe, a arte do mau gosto. a arte que agrada as comissões do Ministério de EducaçJo Nacional, apre ciada pelo Conselho das Belas-Artes, pela Academia, que ganha prêmios do lnslituto e que, mesmo sendo "falsa arte�, Jota os Salões. Num Salão há muitís. imos quadros tradicionalislas, acadêmicos. escolares, aborrecido.'i, contrJ. cinco Delacmix, seis logres etc. Portanto, os dois conceito.ado vivido. mas jus tamente porque c.."'nslituía um V".JZio histórico, acima do qual crd lançado o grande arco cujos extremos simétricos eram o antigo e o moderno. Com procedimentos t.' intenções opostos, os revivals abandonam a nD\.'àO de anligo, que implicava um julgamento de valor, e valorizam a de passado: seu campo nào é o passado históric.."', mas o vivido; não a histó ria, mas a Erlebnislexperiêncial. Nào pregam um retomo aopa.••sado, mas anunl'iam profeticamente o relorno du passado: um retorno quase inde· pendente da vontade c das escolhas humanas, e suscitado, ao contrário, por móbeis misteriosos e profundos ou por arcanas revelações que vêm
de cima. A atividade que promove o revivalé a memória, mas a memória
é apenas um proces.. ':iO da imaginaçJo; e, como a atividade operaliva que
depende da imaginaçJo é a arte, eis que O.'> revivals se manifestam na arte - se não for a própria pr.íxis obsoleta da arte que evoca e reanima as ima gens pálidas do passado. Mas, como as ressu�ências religiosas, os reviva/s püs.'>Uem uma raiz filosófica: todos, mais ou menos direLamente, se filiam ao pensamento platônico, que é fundamentalmenle �imagístico". Rejeitam a filosofia da experiência de origem aristOlélica, porque a experiência se transmite aprofundando-se, expandindo-se, crescendo sobre si mesma por um processo de acumulaçJo semelhante ao da ciênda, enquanto o pen samento platônil'o se propaga no tempo por revivescências sucessivas, as 395
quais são sem dúvida os vários platonismos, de Plotino a Ficino, à escola de Cambridge, até o esoterismo e o simbolismo de Swedenborg e o gélido
revivai platônico de Taylor. O primeiro movimento cultural do mundo moderno que apresenta cara(.1eres semelhantes aos que .seriam mais tarde os dos
reviva/s - isto
é, recupera�"ào do pas.-.ado segundo modalidades que nào sào as da pes quisa historiográlka - é o que se detenninou no círculo intelectual çone dos Ml.-'did, na .segunda metade do século
xv:
da
o neoplatonismo de
Ficino e de Pico que, já po..o;.tulando uma çoncep�:"ào estética do mundo e da vida, transcorre facilmente da esfem da filosofia à da ane, pela poesia de Poliziano e pela pinruro� de Bonicelli. �: uma clara inversão de tendên
• . >sa de Cos· cia - explicável inclusive pela transição da oligarquia burgw
me, o Velho, para o principado de l.orem�o. o Magnífico- em relação ao humanismo do começo do século, o de Salutali e Bruni, no qual a história era posta çomo fundamento de todo o saher e como estrutura unitária tan to do pensamento especulativo, como do agir político. Descendia dessa concepção a busca, positivamente históricJ, de monumentos e documen tos antigos, de dados de fato em que
se
tinha a ceneza de encontr.u
os
precedentes dos pensamentos e das açôcs atuais, e a confinnaçào de seu akance histórko. O moderno era anritético ao antigo em tennos de tem
po,
nào de valor, e nada em mais moderno do ào mais típic.sa allura se idemifica com a hislória da velha burguesia artesanal e merc.mtil. A ideia de revivalse cruza emào com a do reslauro: com procedimen
looposlo ao dos mes1res do século XV, pre1ende-se resga1ar a continuidade da história para além do período- o Renascimemo-em que a arte parece dominada pela "lógica� da história. Mas a teoria do res1auro de Viollet-le ·Duc, que tem a ahrangênda e a sistemática de uma verdadeira teoria da arte, marca o pomo de maior 1ensào, e também o fim, do
Gotblc revlval.
Como Doullée, Viollet-le-Duc distingue o prohlema específico da arte, como sistema operativo, do problema estético gemi: a sua é certamente a primeira impostação do prohlema da arquitetura em tennos de linguística constnuiva. Um sistema consrnnivo possui certamente sua própria racio nalidade, que permite reçonsuuí-lo em sua lotalidade partindo de um só dos seus elementos, mas se 1ra1a de uma r.Jcionalidade específica, interna ao sistema, e não de uma lógica dada a priori, çom suas leis imuláveis. O siscema. que não se justifica a partir de nenhum ·universal" (nem a nature za. nem o espaço, nem as leis da estática: mas lampouco a espiritualidade cristã, o éthos popular, a tradi�"ào), justifica-se apenas em relaç3o à sua própria hislória. E como os materiais e as técnicas sào apenas os meios para a realização dess.a historicidade intrínse, de resultado piCiórico: uma aniculação de norações çromáticas, ou simplesmente a maneira de aplicar a cor sobre a tela. Consulta es.-.es textos porque podem ajudá-lo a encon trar a palavra mais apropriada, que afinal é a palavra mais atual: o pintor não tem outros problemas senão os da pintura. O fato de que consegue extrair de Velázquez, de Rubens, de Franz Hals o segredo da trnnsparência de um tom castanho, da nota alta de um
rosa,
do agudo de um branco não
implica um julgamento histórico, a não ser que a história da arte tenha, em relação .às outras histórias, o traço singular de que nela tudo é presente e visível, nada é confiado à memória. No véniceda parábola impressionista, a figura.ção de Cézanne, que resolve a experiência histórica numa sensa ç-do visual que carrega a plenitude e a densidade da consciência, parece jã excluir toda possibilidade de reuivol ou, ao menos, empumt-la e circuns crevê-la no âmbito da ambiguidade simbolista. No entanto, o reviva/conrestado reaparece sob ou1ros aspeçtos, mais sutilmente insidiosos: já não se apresenta como um hisloricismo sui gene ris, que pertenceria apenas à arte, mas como não historicismo. Propõem -se pomos de referência muito distantes, com o quais não existe nexo his lórico: o Extremo Oriente, a Polinésia, mais tarde a África negra.
A-. obras
que são promovidas do nível do documento elnográfico para o nível da arte são o produto de outras culturas e de ou1ras técnicas; sua razão his-
411
tórica, admitindo que a tenham, nos esçapa. Nào podem ser assumidas pela civilização europeia a
de sua p-.nir ..
historkidade, inclusive porque
o parâmetro da his[Oricidade é só europeu, mas sào aceitas na
base
de
uma artisUcidade mera·histórica. De resto, está se fonnando uma teoria e uma critica de arte como �visibilidade pur.t�: urna separação sempre mais radical é posta entre os conteúdos narr.Jtivos e conceiiUais, como compo
nentes históricos, e o significado autônomo e intrínseco das formas, suas
estrutums, sua �vida··. A busca da significação intrínseca das formas recon· duz a concepções fundamentais e originárias do espaço e do tempo.
Uo
mundo e da vida, a cosmologias e mitologias remotas e profundamente enrn.izadas no in-:.:onscieme coletivo. A arte, portanto, é o revivalde con cepções mítico-mágicas, que o historicismo e o cientificismo modernos (ainda que em contmste entre si) igualmente reprimem. Aproximadamen· te nos mesmos anos, é divulgada em versões mais ou menos correras a famosa mensagem de Nietz..o>che, o eterno retomo: nessa volla fatal a urna dimensão nào histórk'a enxerga-se um çaminho de salvação, que nào é direcionado ao futuro, como o finalismo cristão e o progressismo laico. mas ao passado remoto - é, enfim, volta ao âmago, recuperação de uma condição de unidade, ou pelo menos de indistinção, entre humanidade c cosmo. Se a arte é o modelo de uma atividade nào teleológica, seu campo nào é a história, é a vida: ressurge assim o pensamento de uma socialidadc aulênlica da arte. Será a arte, com seu perpétuo revivol, que reconduzir.i a sociedade às generosas fontes da vida, das quais o industrialismo sem pre mais a afasta.
Entre o fim do século XIX e o do revlval. O passado que se rerupera não é história: são experiências ancestrais, impulsões profundas, motivações inconfessadas e inconscientes, complexos que se apegam viscern.lmente ao pai, à mãe, aos lugares da infància, tabus sexuais, instintos reprimi dos, Ido/a da tribo exterminada a que se reduz a humanidade, uma vez removida a ideia de história. Considerando que o único princípio que conta é o de indistinção, todo discurso é uma çadeia de mentiras invo luntariamente verdadeiras c revelador.Js, um contexto de lapsos em que c.Jda coisa significa outra,
c
nunca é ela mesma. Tudo volta a aflorar do
pass .. ado, tendo perdido o peso que o prendia ao fundo; a única lei é a do acaso: todo enconuo com os fatos do passado é purnmente fortuito. Não se contesta a história, constata-se sua inconsistência: é mistificação atribuir uma ordem àquilo que é casual. Então, o rt?Vival já não é processo,
e sim
jogo do espírito; mas (pararmseando Schiller) o espírito nunr sua capacidade de
produzir outros originais. . pr.1ticou (e outros depois dele, ao ponto de gerar um gênero Picasc;o artístico) a pintum e a escuhur.1 d"aprêsas obms-primas do passado: o caso mais ramoso e mais manirestameme antirrevivalista é o de Las meninas de Vclázquez. O meio da transcri\."àO é um sistema de signos de origem cubista, que para Picas.'io constitui uma escritura espontânea, quase auto mática. Ele deixa que esse meio extremamente sensível e ativo registre e anote tudo o que ele mesmo, Picasso, vive no tempo físico em que tr.J.balha sobre o quadro de Velázquez: a luz que entra pela janela, os ruído.o; que chegam de fora, as coisas que estào no ateliê, os pensamentos e as lem branças que con.-,ciememente ou não passam por sua cabeça e cenamente
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- ;�liãs, em primeiro lugur - a obra de Velázquez, que naquele momento
L• o objeto principal de sua :.ucnç-lo e de seus atos de pintor, e sem dúvi da os influencia, orientando numa direção determin:.�da as múlliplas e
complexas experiência." de st.-u .'�t:'r aqui-agor.t. Mas nl.o é Pieasso quem remonta em peretvlna..,::lo O, mas o
que se conserva e se tmnsmite, na trJnsposi�.,-ão hisrórica, f! juSiamente a quaiK.lade ou autenticK:Jai.Jc.: da obra de arte. Não se 1ra1.a, entào. da cradu
c;io de uma lins;u:t�m antiga JY.tr-.a uma linguagem moderna: só um arti'it:l
autêntico e original pocJe
>re cran.o;mirir a mens.agem de outro artista reo:h c ..
auténtico e original. N:lo a sodeUadc, portanto, com seus meiOs de infor
maplo e comunicaçào, m:�s apenas o artista pode as. o;egurar a presença da ane na condição presente da «:ulcura; e n:lo a assegura isolando, Oal do meio mecã· nim e industrial (a tese de Baudelaire e dos simbolistas), ou se admitia sua imponância, e entilo era predso enfrentar decididamente o problema . Já aceitá·la como auxílio mec:'lni«:o_s_ign�ficav� adf:'litir que o_ào havia uma realidade cena, o�j�tiva, imUiável: a câmerA funcionava como uma reti· na. o que regis_trava (;1--.a-Uina realidade vista pelo organismo complexo, inclusive psicolügicamentc, do olho humano. A novidade de Manet e dos imprcs.'iionistas estãV-a iodà nisso: o qúe é �r���L dº---�-!! -q__� �_Qf;E-3-J!._�tt;_ria l bruto a ser elal)()�do no nível do intel_e_�o e _d_o -�ci�ín_i